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2015/2REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO
REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO
ÍNDICE
Nota Editorial — Obrigações
dos académicos e intelectuais:
pensar, agir e intervir
Jorge Bento
Actividade física e consumo
de substâncias tóxicas
em estudantes universitários
José Vasconcelos-Raposo, Pedro Silva,
Carla Maria Teixeira
Análise multidimensional
dos indicadores de rendimento
desportivo de equipas
profissionais de Futebol
Ricardo Belli, Gonçalo Dias, José Gama,
Micael Couceiro, Vasco Vaz
Impacto da orientação às metas
na percepção da eficácia coletiva
no contexto do voleibol juvenil
José Luiz Lopes Vieira, Luciana Ferreira,
Francielle Cheuczuk, José Roberto Andrade
do Nascimento Junior, João Ricardo Nickenig
Vissoci, Lenamar Fiorese Vieira
9
19
34
51
64
78
96
Análise cinemática da corrida
com pés descalços em indivíduos
que normalmente correm calçados:
Impacto da utilização do calçado
sobre a cinemática da corrida
Letícia Parada Moreira, Leonardo Rodrigo Duarte,
Débora Dias Farraretto Moura Rocco,
Alexandre Galvão da Silva
Abordagem empírica da noção
de prontidão motora no contexto
da disciplina de Educação Física
Cláudia Malafaya, Go Tani, José Maia
A Escola e o Desporto
José Augusto Santos
2015/2
Pablo Greco (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS)
Paula Mota (UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO)
Paulo Farinatti (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO)
Paulo Machado (UNIVERSIDADE MINHO)
Pedro Sarmento (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Ricardo Petersen (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)
Sidónio Serpa (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Silvana Göllner (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)
Valdir Barbanti (UNIVERSIDADE SÃO PAULO)
Víctor da Fonseca (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Víctor Lopes (INSTITUTO POLITÉCNICO BRAGANÇA)
Víctor Matsudo (CELAFISCS)
Wojtek Chodzko-Zajko (UNIVERS. ILLINOIS URBANA-CHAMPAIGN)
FICHA TÉCNICA DA RPCD
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Publicação quadrimestral da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto [ISSN 1645-0523]
DESIGN E PAGINAÇÃO
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COLABORAÇÃO Noémia Guarda
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Greca — Artes Gráficas
TIRAGEM 500 exemplares
FOTOGRAFIA NA CAPA
Juliana Melo, 2015
© A REPRODUÇÃO DE ARTIGOS, GRÁFICOS
OU FOTOGRAFIAS DA REVISTA SÓ É PERMITIDA
COM AUTORIZAÇÃO ESCRITA DO DIRECTOR.
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REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, 91 4200.450 Porto — Portugal Tel: +351—225074700; Fax: +351—225500689 www.fade.up.pt expediente@fade.up.pt
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A Revista Portuguesa de Ciências do Desportoestá representada na plataforma SciELO Portugal
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CORPO EDITORIAL DA RPCD
DIRECTOR Jorge Olímpio Bento (UNIVERSIDADE DO PORTO)
CONSELHO EDITORIAL Adroaldo Gaya (UNIVERSIDADE FEDERAL RIO GRANDE SUL, BRASIL) António Prista (UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA, MOÇAMBIQUE)
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Gaston Beunen (UNIVERSIDADE CATÓLICA LOVAINA, BÉLGICA)
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Jorge Mota (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
José Alberto Duarte (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Maia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Michael Sagiv (INSTITUTO WINGATE, ISRAEL)
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Rafael Martín Acero (UNIVERSIDADE DA CORUNHA, ESPANHA)
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Robert M. Malina (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE TARLETON, USA)
EDITOR CHEFE António Manuel Fonseca (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
EDITORES ASSOCIADOS Amândio Graça (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
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João Paulo Vilas Boas (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
José Maia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
José Oliveira (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
José Pedro Sarmento (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
Júlio Garganta (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
Olga Vasconcelos (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
Rui Garcia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
CONSULTORES Alberto Amadio (UNIVERSIDADE SÃO PAULO)
Alfredo Faria Júnior (UNIVERSIDADE ESTADO RIO JANEIRO)
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Carlos Balbinotti (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)
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Duarte Freitas (UNIVERSIDADE DA MADEIRA)
Eduardo Kokubun (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)
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Francisco Alves (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Francisco Camiña Fernandez (UNIVERSIDADE DA CORUNHA)
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Francisco Martins Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL PARAÍBA)
Glória Balagué (UNIVERSIDADE CHICAGO)
Gustavo Pires (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Hans-Joachim Appell (UNIVERSIDADE DESPORTO COLÓNIA)
Helena Santa Clara (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Hugo Lovisolo (UNIVERSIDADE GAMA FILHO)
Isabel Fragoso (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Jaime Sampaio (UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO)
Jean Francis Gréhaigne (UNIVERSIDADE DE BESANÇON)
Jens Bangsbo (UNIVERSIDADE DE COPENHAGA)
João Barreiros (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
José A. Barela (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)
José Alves (ESCOLA SUPERIOR DE DESPORTO DE RIO MAIOR)
José Luis Soidán (UNIVERSIDADE DE VIGO)
José Manuel Constantino (UNIVERSIDADE LUSÓFONA)
José Vasconcelos Raposo (UNIV. TRÁS-OS-MONTES ALTO DOURO)
Juarez Nascimento (UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA)
Jürgen Weineck (UNIVERSIDADE ERLANGEN)
Lamartine Pereira da Costa (UNIVERSIDADE GAMA FILHO)
Lilian Teresa Bucken Gobbi (UNIV. ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)
Luis Mochizuki (UNIVERSIDADE SÃO PAULO)
Luís Sardinha (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Luiz Cláudio Stanganelli (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA)
Manoel Costa (UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO)
Manuel João Coelho e Silva (UNIVERSIDADE DE COIMBRA)
Manuel Patrício (UNIVERSIDADE DE ÉVORA)
Manuela Hasse (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Marco Túlio de Mello (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO)
Margarida Espanha (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Margarida Matos (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Maria José Mosquera González (INEF GALIZA)
Markus Nahas (UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA)
Mauricio Murad (UNIVERS. ESTADO RIO DE JANEIRO E UNIVERSO)
Ovídio Costa (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
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PROGRAMA OPERACIONAL CIÊNCIA,
TECNOLOGIA, INOVAÇÃO DO QUADRO
COMUNITÁRIO DE APOIO III
NORMAS DE PUBLICAÇÃO NA RPCD
TIPOS DE PUBLICAÇÃOINVESTIGAÇÃO ORIGINAL
RPCD publica artigos originais relativos a todas as áreas das ciências do desporto;
REVISÕES DA INVESTIGAÇÃO
A RPCD publica artigos de síntese da literatura que contribuam para a generalização do conhecimento em ciências do desporto. Artigos de meta-análise e revisões críticas de literatura são dois possíveis modelos de publicação. Porém, este tipo de publicação só estará aberto a especialistas convidados pela RPCD.
COMENTÁRIOS
Comentários sobre artigos originais e sobre revisões da investigação são, não só publicáveis, como são francamente encorajados pelo corpo editorial;
ESTUDOS DE CASO
A RPCD publica estudos de caso que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto. O controlo rigoroso da metodologia é aqui um parâmetro determinante.
ENSAIOS
A RPCD convidará especialistas a escreverem ensaios, ou seja, reflexões profundas sobre determinados temas, sínteses de múltiplas abordagens próprias, onde à argumentação científica, filosófica ou de outra natureza se adiciona uma forte componente literária.
REVISÕES DE PUBLICAÇÕES
A RPCD tem uma secção onde são apresentadas revisões de obras ou artigos publicados e que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto.
REGRAS GERAIS DE PUBLICAÇÃOOs artigos submetidos à RPCD deverão conter dados originais, teóricos ou experimentais, na área das ciências do desporto. A parte substancial do artigo não deverá ter sido publicada em mais nenhum local. Se parte do artigo foi já apresentada publicamente deverá ser feita referência a esse facto na secção de Agradecimentos.Os artigos submetidos à RPCD serão, numa primeira fase, avaliados pelo editor-chefe e terão como critérios iniciais de aceitação: normas de publicação, relação do tópico tratado com as ciências do desporto e mérito científico. Depois desta análise, o artigo, se for considerado previamente aceite, será avaliado por 2 “referees” independentes e sob a forma de análise “duplamente cega”. A aceitação de um e a rejeição de outro obrigará a uma 3ª consulta.
PREPARAÇÃO DOS MANUSCRITOSASPECTOS GERAIS
Cada artigo deverá ser acompanhado por uma carta de rosto que deverá conter:
— Título do artigo e nomes dos autores; — Declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado.
FORMATO:
— Os manuscritos deverão ser escritos em papel A4 com 3 cm de margem, letra 12 com duplo espaço e não exceder 20 páginas; — As páginas deverão ser numeradas sequencialmente, sendo a página de título a nº1.
DIMENSÕES E ESTILO: — Os artigos deverão ser o mais sucintos possível; A especulação deverá ser apenas utilizada quando os dados o permitem e a literatura não confirma; — Os artigos serão rejeitados quando escritos em português ou inglês de fraca qualidade linguística;
— As abreviaturas deverão ser as referidas internacionalmente.
PÁGINA DE TÍTULO:
— A página de título deverá conter a seguinte informação: — Especificação do tipo de trabalho (cf. Tipos de publicação); — Título conciso mas suficientemente informativo; — Nomes dos autores, com a primeira e a inicial média (não incluir graus académicos) — “Running head” concisa não excedendo os 45 caracteres; — Nome e local da instituição onde o trabalho foi realizado; - Nome e morada do autor para onde toda a correspondência deverá ser enviada, incluindo endereço de e-mail
PÁGINA DE RESUMO:
— Resumo deverá ser informativo e não deverá referir-se ao texto do artigo; — Se o artigo for em português o resumo deverá ser feito em português e em inglês — Deve incluir os resultados mais importantes que suportem as conclusões do trabalho; — Deverão ser incluídas 3 a 6 palavras-chave; — Não deverão ser utilizadas abreviaturas; — O resumo não deverá exceder as 200 palavras.
INTRODUÇÃO:
— Deverá ser suficientemente compreensível, explicitando claramente o objectivo do trabalho e relevando a importância do estudo face ao estado actual do conhecimento; — A revisão da literatura não deverá ser exaustiva.
MATERIAL E MÉTODOS:
— Nesta secção deverá ser incluída toda a informação que permite aos leitores realizarem um trabalho com a mesma metodologia sem contactarem os autores; — Os métodos deverão ser ajustados ao objectivo do estudo; deverão ser replicáveis e com elevado grau de fidelidade; — Quando utilizados humanos deverá ser indicado que os procedimentos utilizados respeitam as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração de Helsínquia
de 1975); — Quando utilizados animais deverão ser utilizados todos os princípios éticos de experimentação animal e, se possível, deverão ser submetidos a uma comissão de ética; — Todas as drogas e químicos utilizados deverão ser designados pelos nomes genéricos, princípios activos, dosagem e dosagem; — A confidencialidade dos sujeitos deverá ser estritamente mantida; — Os métodos estatísticos utilizados deverão ser cuidadosamente referidos.
RESULTADOS:
— Os resultados deverão apenas conter os dados que sejam relevantes para a discussão; — Os resultados só deverão aparecer uma vez no texto: ou em quadro ou em figura; — O texto só deverá servir para relevar os dados mais relevantes e nunca duplicar informação; — A relevância dos resultados deverá ser suficientemente expressa; — Unidades, quantidades e fórmulas deverão ser utilizados pelo Sistema Internacional (SI units). — Todas as medidas deverão ser referidas em unidades métricas.
DISCUSSÃO:
— Os dados novos e os aspectos mais importantes do estudo deverão ser relevados de forma clara e concisa; — Não deverão ser repetidos os resultados já apresentados; — A relevância dos dados deverá ser referida e a comparação com outros estudos deverá ser estimulada; — As especulações não suportadas pelos métodos estatísticos não deverão ser evitadas; — Sempre que possível, deverão ser incluídas recomendações; — A discussão deverá ser completada com um parágrafo final onde são realçadas as principais conclusões do estudo.
AGRADECIMENTOS:
— Se o artigo tiver sido parcialmente apresentado publicamente deverá aqui ser referido o facto; — Qualquer apoio financeiro deverá ser referido.
REFERÊNCIAS
— As referências deverão ser citadas no texto por número e compiladas alfabeticamente e ordenadas numericamente; — Os nomes das revistas deverão ser abreviados conforme normas internacionais (ex: Index Medicus); — Todos os autores deverão ser nomeados (não utilizar et al.) — Apenas artigos ou obras em situação de “in press” poderão ser citados. Dados não publicados deverão ser utilizados só em casos excepcionais sendo assinalados como “dados não publicados”; — Utilização de um número elevado de resumos ou de artigos não “peer-reviewed” será uma condição de não aceitação;
EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS:
ARTIGO DE REVISTA
1 Pincivero DM, Lephart SM, Karunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. Int J Sports Med 18: 113-117 LIVRO COMPLETO Hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London: Academic Press Inc. Ltd. CAPÍTULO DE UM LIVRO Balon TW (1999). Integrative biology of nitric oxide and exercise. In: Holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254FIGURAS
— Figuras e ilustrações deverão ser utilizadas quando auxiliam na melhor compreensão do texto; — As figuras deverão ser numeradas em numeração árabe na sequência em que aparecem no texto; - As figuras deverão ser impressas em folhas separadas daquelas contendo o corpo de texto do manuscrito. No ficheiro informático em processador de texto, as figuras deverão também ser colocadas separadas do corpo de texto nas páginas finais do
manuscrito e apenas uma única figura por página; — As figuras e ilustrações deverão ser submetidas com excelente qualidade gráfico, a preto e branco e com a qualidade necessária para serem reproduzidas ou reduzidas nas suas dimensões; — As fotos de equipamento ou sujeitos deverão ser evitadas.QUADROS
— Os quadros deverão ser utilizados para apresentar os principais resultados da investigação. — Deverão ser acompanhados de um título curto; — Os quadros deverão ser apresentados com as mesmas regras das referidas para as legendas e figuras; — Uma nota de rodapé do quadro deverá ser utilizada para explicar as abreviaturas utilizadas no quadro.
SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS— A submissão de artigos para à RPCD poderá ser efectuada por via postal, através do envio de 1 exemplar do manuscrito em versão impressa em papel, acompanhada de versão gravada em suporte informático (CD-ROM ou DVD) contendo o artigo em processador de texto Microsoft Word (*.doc). - Os artigos poderão igualmente ser submetidos via e-mail, anexando o ficheiro contendo o manuscrito em processador de texto Microsoft Word (*.doc) e a declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado.
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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa,Porto Portugal(+351) 914 200 450e-mail: rpcd@fade.up.pt
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INTRODUCTION:
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MATERIAL AND METHODS:
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RESULTS:
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information, and present only the most relevant results. — Importance of main results is to be explicitly stated. — Units, quantities and formulas are to be expressed according to the International System (SI units). — Use only metric units.
DISCUSSION:
— New information coming from data analysis should be presented clearly. — Do no repeat results. — Data relevancy should be compared to existing information from previous research. — Do not speculate, otherwise carefully supported, in a way, by insights from your data analysis. — Final discussion should be summarized in its major points.
ACKNOWLEDGEMENTS:
— If the paper has been partly presented elsewhere, do provide such information. — Any financial support should be mentioned.
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EXAMPLES:
PEER-REVIEW PAPER
1 Pincivero DM, Lephart SM, Kurunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. In J Sports Med 18:113-117COMPLETE BOOK Hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London:Academic Press Inc. Ltd.BOOK CHAPTER Balon TW (1999). Integrative
biology of nitric oxide and exercise. In: Holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254FIGURES
— Figures and illustrations should be used only for a better understanding of the main text. — Use sequence arabic numbers for all Figures. — Each Figure is to be presented in a separated sheet with a short and precise title. — In the back of each Figure do provide information regarding the author and title of the paper. Use a pencil to write this information. — All Figures and illustrations should have excellent graphic quality I black and white. — Avoid photos from equipments and human subjects.TABLES — Tables should be utilized to present relevant numerical data information. — Each table should have a very precise and short title. — Tables should be presented within the same rules as Legends and Figures. — Tables´ footnotes should be used only to describe abbreviations used.
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9 — RPCD 15 (2): 09-18
Nota Editorial
Obrigações dos académicos
e intelectuais: pensar, agir
e intervir
1. Segundo a mitologia grega, Zeus mandou transmitir a Epitemeu a ordem de criar os
seres destinados a povoar a Terra. Epitemeu falou da ordem divina ao seu irmão Prometeu;
e este advertiu-o sobre a necessidade de pensar bem naquilo que ia fazer. Mas Epitemeu
(em grego clássico significa: o que primeiro faz e depois pensa) não tomou muito a sério
o conselho; criou seres dotados de requisitos para encararem as exigências da vida e do
meio, distribuiu por eles os pressupostos, capacidades e qualidades existentes e no final
inventou o ser humano, nu e desprovido de tudo.
Ao ver a desgraça da sua criação, cheio de inquietações e remorsos, Epitemeu recorre
de novo a Prometeu (o que primeiro pensa e depois faz) e este admoesta o irmão pelo erro
cometido, mas disponibiliza-se a ajudá-lo a remediar o mal. Pela calada da noite, enquanto
os deuses dormiam, escala o céu para roubar e depois entregar aos entes humanos o fogo
divino, a alma, o espírito, a razão, as artes, a linguagem, as técnicas, as astúcias e demais
meios que lhes possibilitam revestir a nudez original, soltar-se e ir além dela, superá-la,
transcendê-la, desmedir-se, ter um segundo nascimento e adquirir a sua verdadeira e ma-
tricial natureza: a que é dada pela cultura.
Não vou narrar e explanar o mito em pormenor, nem trazer aqui as duras consequências
sofridas por Prometeu, devido ao seu assombroso e generoso feito, impostas pela fúria, raiva
e sede de vingança de Zeus. Quero apenas reter o essencial do episódio mitológico. Epitemeu
inventou a criatura humana, num ato de pouca ou nenhuma reflexão; primeiro fez e depois é
que pensou no ser débil, frágil e sem nada que pôs na Terra. Não fora a ajuda e coragem de
EJorge Olímpio Bento 1
1 Diretor da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto
Sabedoria é saber o que fazer.
Habilidade é saber como fazer.
Virtude é fazer.
DAVID STARR JORDAN, 1851-1931
11 — RPCD 15 (2)
Prometeu e esse ser não teria sobrevivido. Ao cabo e ao resto, o mito convida a termos pre-
sente a lição e a fatura da nossa dupla origem, a não esquecermos o modo como começou o
nosso começo, a sopesarmos devidamente a herança recebida dos nossos criadores.
Gosto, portanto, desta passagem da mitologia grega, por colocar no centro dos nossos
olhares a necessidade do pensar inteligente e do fazer consequente. Acho-a particular-
mente adequada para desenhar o quadro de obrigações que impendem sobre os professo-
res, especialmente sobre os que laboram no setor da formação superior.
Como refere Manuel Ferreira Patrício, “em educação, é preciso pensar o que se faz e fazer
o que se pensa”.1 No desporto, na educação física e na vida também! A coerência e corres-
pondência entre o pensar e o fazer constituem um mandamento vinculativo do nosso agir,
da maneira de ser e estar condignamente na vida.
2. Todavia, na área do Desporto e da Educação Física, temos uma tradição de separação en-
tre o fazer o pensar, entre a prática e a teoria, com nítido menoscabo dos segundos parâme-
tros e, concomitantemente, com frágeis alicerces para os primeiros. Esse atavismo requer
ser superado, para não se continuar a incorrer na distração e insanidade de Epitemeu e na
grave lacuna apontada por Leonardo Da Vinci (1452-1519): “Quem pensa pouco, erra muito.”
Por conseguinte devemos pensar a Educação e o Desporto com toda a radicalidade
com que deve ser pensado tudo o que é humano. À luz do postulado de Terêncio (cerca
de 190-150 a.C.): “Homo sum: humani nihil a me alienum puto – Sou homem: nada do que
é humano reputo alheio a mim.”
Isto implica que necessitamos de valorizar a teoria. E porquê? Porque, sublinhou Fer-
nando Pessoa, “só os espíritos superficiais desligam a teoria da prática, não olhando a
que a teoria não é senão uma teoria da prática e a prática não é senão a prática de uma
teoria”. Isto é, o culminado e o transcendido (a prática) devem ser balizados e guiados
pelo culminante e transcendente, pelas bitolas e referências, pelos princípios e ideais da
teoria. E implica outrossim que os quadros académicos, os mestres e doutores tenham
na devida conta e assumam, sem escusas e rodeios, a obrigação de serem produtivos, de
produzir conhecimentos que orientem e guiem, amparem e alimentem a ação daqueles
que não são cientistas nem teóricos.2
Para o alcance desta implicação acorda-nos o oportuno lembrete de Gilberto Freyre
(1900-1987): “Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades.” Sem serem divul-
gados e postos ao serviço do bem público, os resultados do labor científico, intelectual e
teórico não teriam justificação suficiente.
Dito de outro modo, os quadros académicos têm que corresponder à sua condição de in-
telectuais; têm que honrar e fazer jus ao seu estatuto de seres bidimensionais. Para tanto
não lhes basta ser competentes no exercício académico, dentro do perímetro universitário;
são desafiados a mostrar e comprovar a sua proficiência numa intervenção exterior ao seu
múnus particular. Ou seja, têm que oscilar entre recolhimento e exposição pública, entre o
estudo, a acumulação e reflexão de saberes, conhecimentos e dados e a divulgação e conver-
são destes em instrumentos orientadores da atividade do respetivo grupo sócio-profissional.
É desta forma que eles concretizam o seu ofício de ‘intermediário’ ou ‘passador’ entre o
mundo das ideias e a praça pública ou cidade.
Pierre Bourdieu (1930-2002) enfatizou, sobremaneira, a deontologia dos académicos,
intelectuais e teóricos, exortando-os a respeitar e cumprir exemplarmente a sua pertença
ao ‘partido do contra’, a contribuir ativa, empenhada e responsavelmente para renovar e
superar o estado das coisas e dos factos estabelecidos.
Deste axioma brota a diversidade de obrigações dos mestres e doutores, em especial
a de ‘ser produtivo’, tal como assinala António Teixeira Fernandes, “o primeiro e principal
objetivo da ciência consiste em produzir conhecimentos”.
Um académico, um mestre ou doutor deve, portanto, ser membro zeloso da sociedade de
produtores (característica da era moderna e industrial), orientar-se pela vontade e capaci-
dade de produzir e não conformar-se apenas ao papel de consumidor passivo.
Esta exigência comporta, entre outras, a obrigação e a responsabilidade da autoria de
publicações. Tal como afirmou Jorge Luís Borges (1899-1986), “publicamos para não pas-
sarmos a vida a fazer rascunhos”.
3. Levemos um pouco mais longe a reflexão acerca da obrigação de produtividade e acerca
das implicações que o estatuto de ‘intelectual’ ou ‘teórico’ comporta.
A Modernidade e o Iluminismo deixaram um legado insubstituível, que não pode ser es-
camoteado. Em concordância com essa herança, todo o especialista em qualquer ramo do
conhecimento e da ciência deveria obrigar-se, como vimos, a ser ‘intelectual’. Ora isto in-
clui que ele tenha que consolidar e desdobrar a sua competência numa autoridade moral e
estética, própria e afirmativa de um homem de saber. É isto que confere significado social
abrangente à sua particularidade. Para não se enquadrar na moldura talhada pelo cinzel de
Ortega y Gasset: “Dantes os homens podiam facilmente dividir-se em ignorantes e sábios,
E
1 Esta afirmação foi feita pelo Professor Manuel Ferreira Patrício num conferência proferida na
FADEUP, em data que não recordo. Ao longo deste texto surgem citações, cuja fonte não consigo
apresentar. Peço desculpa aos leitores por não ter tido o cuidado, quando as recolhi, de fazer o
registo devido. Agora “Inês é morta”.2 A palavra ‘teoria’ provém do grego, congregando dois vocábulos num só: theion (divino, superior)
+ orao (ver). O ‘teórico’ é aquele que tem como função vislumbrar e apontar aquilo que é divino e
superior, para servir de guia e objetivo da prática.
Não tenho presente quem é o autor (Aristóteles, Fernando Pessoa ou outro?) desta afirmação:
“Não há nada mais prático do que uma boa teoria”.
13 — RPCD 15 (2)
em mais ou menos sábios ou mais ou menos ignorantes. Mas o especialista não pode ser sub-
sumido por nenhuma destas duas categorias. Não é um sábio porque ignora formalmente
tudo quanto não entre na sua especialidade: mas também não é um ignorante porque é ‘um
homem de ciência’ e conhece muito bem a pequeníssima parcela do universo em que traba-
lha. Teremos de dizer que é um sábio-ignorante – coisa extremamente grave, pois significa
que é um senhor que se comportará em todas as questões que ignora, não como um ignoran-
te, mas com toda a petulância de quem, na sua especialidade, é um sábio.”3
Para o mesmo intuito converge a observância do conselho de Kant (1724-1804), de que
é curial utilizar publicamente a razão. Sob pena de ser ‘imaturo’, de ficar refém do uso ‘pri-
vado’, em vez de ser humano livre e liberto pelo emprego da universalidade da razão. Isto
quer dizer que o olhar restrito, curto e fechado não constitui a matéria-prima da individuali-
dade e especificidade de um académico; ao invés, é no contexto institucional e comunitário
que se situa a matriz da sua identificação e profissionalidade. Sendo mais preciso, o inte-
lecto é de ordem geral e não de acantonamento ‘privado’. Consequentemente a identidade
dos académicos modela-se, institui-se, edifica-se e afirma-se no relacionamento, na cum-
plicidade, no casamento e comprometimento com as causas coletivas, gerais e universais,
respeitantes a todos, à Universidade, ao País, à sociedade, ao desporto e à educação.
Francisco de Assis Magalhães Gomes (1906-1990), pioneiro da pesquisa nuclear no
Brasil, é taxativo nesta matéria: “O filósofo, o humanista, o cientista podem continuar na
sua torre de marfim para contribuir com as meditações que fazem no seu gabinete, na
sua biblioteca, no seu laboratório, para aumentar e enriquecer a inteligência e o espírito
do homem. Essa torre, porém, deve ter uma janela de onde se observa o mundo e uma
porta para que, quando a ocasião o exija, eles participem das agruras dos seus irmãos
e os sirvam com sua sabedoria e seus conselhos. Compete a todos correrem o risco e a
responsabilidade da condição humana. No convulsionado mundo de hoje, o engajamento
não é só um imperativo moral, é também uma contingência.”4
Do mesmo teor é a recomendação tecida por Zygmunt Bauman, um dos pensadores
que melhor descreve as misérias, os dramas e o modo de funcionamento do mundo con-
temporâneo: “O preço do silêncio é pago na dura moeda corrente do sofrimento humano.
Fazer as perguntas certas constitui, afinal, toda a diferença entre sina e destino, entre
andar à deriva e viajar. Questionar as premissas supostamente inquestionáveis do nosso
modo de vida é provavelmente o serviço mais urgente que devemos prestar aos nossos
companheiros humanos e a nós mesmos.”5
Para os académicos vale também esta máxima de Fernando Pessoa: “Porque sou do
tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura.” E esta outra de Ortega y
Gasset: “Só é possível avançar quando se olha longe.” E ainda o testemunho de Alberto
Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa):
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver o Universo…Por isso a minha aldeia é tão grande Como outra terra qualquerPorque eu sou do tamanho do que vejoE não do tamanho da minha altura…
Viver sem a claridade e altura dos sonhos, causas, ideais e utopias é viver sem alma e alento,
com o ânimo anestesiado; é apenas sobreviver na caverna bafienta do degredo escuro e rasteiro.
Em suma, os académicos e intelectuais são desafiados a um permanente estado de pron-
tidão, como formula Vergílio Ferreira (1916-1996): “Fatiguemos o nosso espanto, a nossa
interrogação, até que ela nos canse de a enfrentarmos. Como solução (será uma solução?)
não temos outra. Porque Deus não é solução, como um regresso à infância é impossível.”6
4. Em conformidade com os pontos e abordagens anteriores, o ‘ser intelectual’ estrutura-se no
poder, na assertividade, fulgurância e luminosidade da linguagem e da palavra. É esta a ferra-
menta que ele tem à mão para exercer o seu mister e é com ela que lavra e semeia o seu destino.
Mestres e doutores são ‘profissionais da palavra’ e do ministério de a escrever e dizer
com estilo erudito e perfumado, claro e sublime, belo e magnífico. Devem, pois, ser for-
mados e entender-se como cultores do uso maior e do poder superior da palavra. A lógica
científica, filosófica e epistemológica requer a companhia colaborante, cúmplice e fiel de
um correspondente nível retórico.7
Na feliz proposição de José de Alencar (1829-1877), “todo o homem, orador, escritor ou
poeta, todo o homem que usa da palavra (…) como um instrumento de trabalho (...) deve
estudar e conhecer a fundo a força e os recursos desse elemento de sua atividade”.8
A palavra não é inferior, nem anda desavinda da ciência. Ambas andam de mão dada e
caminham lado a lado. A palavra vincula ao mistério; a ciência vincula às coisas. Na pala-
vra mora a intimação da pergunta; na ciência mora a possibilidade da resposta. A palavra
mergulha no obscuro; a ciência vai pelo caminho da luz. A ciência está vinculada à raciona-
lidade da cabeça; a palavra brota da sensualidade do coração.
3 Peço desculpa ao leitor, mas não consigo lembrar-me de onde retirei esta citação.4 Não tenho presente a fonte deste texto. Sei apenas que o recolhi de um prospeto ou revista
que, em tempos, me foi oferecida na Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.5 Zygmunt Bauman, Globalização, As consequências humanas, p. 11. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1999.
6 Vergílio Ferreira, Invocação ao meu corpo. Lisboa: Livraria Bertrand, 1978.7 Para Millôr Fernandes, “erudito é um sujeito que tem mais cultura do que a que cabe nele”.8 In: Fausto de Barreto e Carlos de Laet: Anthologia Nacional ou Collecção de Excerptos
dos Principaes Escriptores da Língua Portugueza do 20º ao 16º Século, 14ª Edição.
Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1929.
E
15 — RPCD 15 (2)
Com as palavras inventamos o que não existe. Temos intimidade com os mares, ventos,
trovões e crepúsculos da natureza e com os fenómenos urbanos e sociais. Escrevemos
livros sobre o nada. Criamos o inviável. Fazemos nascer magias e mistérios de maravilha,
a partir do inominado e do insignificante; e esculpimos poemas e primaveras com entulhos
e inutensílios. Pomos pássaros multicores a cantar nos dedos das mãos. Rasgamos a escu-
ridão com raios de luz. Experimentamos o gozo de conceber e gerar. Sentamo-nos no trono
de Deus, proclamando-nos donos, arquitetos e sujeitos do oitavo dia da criação.
Só quem vive em estado de palavra pode enxergar a inexistência e dar-lhe corpo, feições
e forma. Talvez seja por isto que Manoel de Barros, escritor pantaneiro, afirma: “Gosto mais
de viajar por palavras do que de trem.”9
Por idêntico diapasão afina François-René de Chateaubriand (1768-1848): “Aquiles só existe
graças a Homero. Tirai deste mundo a arte de escrever e provavelmente tereis tirado a glória.”
Sim, como reza a Bíblia, no princípio era o Verbo. Adão começou por nomear os animais,
as coisas, as plantas, etc. Foi assim, por passarem a ter nome, que os seres principiaram a
existir. O mundo era e é mudo, só falado existe e na dimensão que as palavras lhe outorgam.
“O mundo das palavras é que cria o mundo das coisas”, escreveu Jacques-Marie Émile La-
can (1901-1981), a tal ponto que não há entre ambos correspondência real, porque a todo
o domínio da existência é impossível exceder aquilo que o afirma, a palavra em que é dito.
O sentido não é transcendente aos sinais que o dizem e manifestam. Parafraseando Martin
Heidegger (1889-1976), os sinais das palavras são o feitio, o figurino e a morada do Ser.
Podem estas lucubrações soar a exagero ou a um adorno barroco. Todavia, como se vê,
não estamos sós, não somos os únicos a segui-las e subscrevê-las. Atente-se ainda nas
insuspeitas declarações de mais nomes clarividentes, preclaros, ilustres e insignes:
Ludwig Wittgenstein (1889-1951): “Os limites da nossa linguagem são os limites do nosso mundo.” Fernando Savater, pensador espanhol: “A linguagem é o tapete mágico simbólico deste permanente sobrevoar ativamente a realidade para tentar chegar a ser plenamente real. Sem nunca o conseguir totalmente, claro…”
Boaventura Sousa Santos, sociólogo com reputação além dos muros da velha Universidade
de Coimbra:
“Cada método é uma linguagem e a realidade responde na língua em que é perguntada.”
Voltemo-nos para o campo dos poetas, na busca de outro tipo de reforço das posições
expostas. Comecemos por Sophia de Mello Andresen (1919-2004):
De longe muito longe desde o inícioO homem soube de si pela palavraE nomeou a pedra a flor a águaE tudo emergiu porque ele disse.
Invoquemos Manuel Alegre:
Com palavras se fazem coisasCom elas se desfazemAs palavras não deciframSão enigmasMatéria obscuraLuminosa.Com palavras se navega.Com palavras se naufraga.Com palavras.
E culminemos a incursão na poesia com o poema A Palavra, de Miguel Torga (1907-1995):
Falo da natureza.E nas minhas palavras vou sentindoA dureza das pedras,A frescura das fontes,O perfume das flores.Digo, e tenho na vozO mistério das coisas nomeadas.Nem preciso de as ver.Tanto as olhei,Interroguei,AnaliseiE referi, outrora,Que nos próprios sinais com que as marqueiAs reconheço, agora.10
E
10 Miguel Torga, Antologia Poética, p. 378. Lisboa: Dom Quixote,1999.9 Manoel de Barros, Retrato do Artista Quando Coisa. Rio de Janeiro: Edit. Record, 1998.
17 — RPCD 15 (2)
5. Nesta era de subalimentados de sonhos, ideias e ideais, cuidemos de libertar e soltar a
palavra e a linguagem das peias da pasmosa e imobilizadora mediocridade, de a colocar no
cardápio diário como uma apetecível e alimentícia iguaria poética.
A linguagem escrita ou falada é e sempre será uma arte de distinção e eleição. A Palavra
é contra o analfabetismo, contra a injustiça e a mentira que, por incrível que pareça, ainda
existem e têm livre-trânsito nas decisões e circunstâncias, nas indignidades e iniquidades
que tecem, apoquentam, atropelam e agrilhoam a vida individual e coletiva.
Não esqueçamos que a verdade mora nos interstícios das palavras. E que a linguagem
representa a forma das ideias e do pensamento, da sua acuidade ou obliteração, do seu
rigor ou da falta dele. Logo a qualidade da linguagem dá-nos a medida da exatidão e preci-
são das ideias e do pensamento. Ambiguidades, dificuldades, confusões e imprecisões da
linguagem traduzem desordens e turbações do raciocínio. O mesmo é dizer que, quando
trabalhamos, exercitamos e cultivamos a nossa linguagem, estamos a aprimorar a nossa
dimensão espiritual, lógica, cogitativa e pensante.
O escritor Vergílio Ferreira (1916-1996) é perentório: “Se nenhum pensar precede ou
ultrapassa a palavra em que é pensar, é na própria palavra – e não fora dela – que se de-
cide a validade e significação desse pensar”. E prossegue: “O que tu és, a tua língua o diz
e o pensa (…) A realidade da tua língua é o espírito que a trespassa (…) Sabemos o nome
das coisas e elas são-nos submissas, conhecemos o caminho reto até elas. Jogamo-las
no jogo que nos apetecer, todo o nosso espírito se implanta no mundo e em si pela estra-
da livre da sua claridade.” 11
Mia Couto, integra-se no mesmo coro: “Recriamos a língua na medida em que somos ca-
pazes de produzir um pensamento novo (…) Nesse caminho lhe fomos somando colorações.
Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas – o racionalismo trabalha que nem lixí-
via. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a gra-
ça da dança. É urgente recuperar brilhos antigos. Devolver a estrela ao planeta dormente.”12
Estas respeitáveis apreciações e conjeturas permitem concluir: O real tem a medida da
palavra. Palavra elevada – realidade alta; palavra medíocre – realidade baixa. Tudo é a
superfície polida da palavra, a rede vocabular em que tudo se entretece.
Indo mais fundo, a palavra é expressão do que não temos, do que ainda não atingimos,
nem somos. As palavras, que fazem com que as ‘coisas’ elevadas desapareçam, criam a
incomodativa sensação de penúria, de perda, de vazio e de ausência. Por isso, na profissio-
nalidade académica, necessitamos de fabricar, empregar, difundir e popularizar palavras
novas, substantivas, aumentativas, leves, aladas, azuis, criadoras que estimulem e incen-
tivem os outros a apropriar-se delas e a recriar a sua vida de modo condizente, a levantar
voo e seguir viagem até às estrelas mais distantes.
11 Vergílio Ferreira, Invocação ao meu corpo. Lisboa: Livraria Bertrand, 1978..12 Mia Couto, Perguntas à Língua Portuguesa (texto divulgado na internet).
13 Rubem Alves, Um céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas. Campinas, SP: Verus Editora, 2005.14 Valter Hugo Mãe lança livros no Brasil, entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, 12 de abril de 2012. 15 João Ubaldo Ribeiro, Observações de um usuário, in O Estado de S. Paulo, 29 de maio de 2011.16 Exposição GILBERTO FREYRE – INTÉRPRETE DO BRASIL, patente no Museu da Língua Portuguesa,
São Paulo, de 27 de Novembro de 2007 a 4 de Maio de 2008.
EJosé Saramago (1922-2010) comprovou, por experiência própria, que a tarefa é complexa e
ingente: “A expressão vocabular humana não sabe ainda, e provavelmente não o saberá nunca,
conhecer, reconhecer e comunicar tudo quanto é humanamente experimentável e sensível.”
As palavras, disse um autor desconhecido, são sempre insuficientes para nos dizermos. As coi-
sas comunicáveis pela palavra comum são superficiais, epidérmicas. As ‘coisas’ profundas só
são exprimíveis pela arte. Ora a arte não está ao alcance de todos; é ‘coisa’ rara, própria dos ouri-
ves e escultores que põem à mostra, na filigrana e talha do verbo, a forma e o teor do magma es-
caldante das verdades íntimas. São os literatos que dão às palavras o sal e o sol, o brilho e a luz, o
saber e o sabor, o encanto e o esplendor, tornando-as uma festa do arco-íris das nossas emoções.
Mas…quem, se não os académicos, tem que estar preparado para aceitar o repto de
transpor esta fasquia?
Na esteira de Rubem Alves, um mestre ou doutor deve ser um agente e propagador da sensi-
bilidade essencial. Deve aspirar a enternecer, a engravidar de beleza os ouvidos que o escutam
e os olhos que o leem; a ir além da estrita racionalidade e ser uma instigação ao encantamento.
Quem os ler e ouvir há-de assim desejar ver-se e medir-se por uma imagem luminosa.13
Um mestre ou doutor deve mirar-se neste enlevo de Valter Hugo Mãe: “Eu fico maravi-
lhado quando alguma frase me transcende. Fico a admirá-la. Sem perceber muito como foi
possível mas procurando entendê-la lucidamente, como a incorporá-la, quase suplicando
para que essa frase passe a fazer parte de mim.”14
Para tanto a linguagem académica não pode quedar-se na rasura e abdicar de se alcan-
dorar às alturas da excelsitude. Falamos de coisas diferentes e irradiamos mensagens dife-
rentes consoante o nível da linguagem. O recado de João Ubaldo Ribeiro é suficientemente
explícito: “A norma culta, a dominante, a que é ensinada como correta (….) é necessária
para preservar e aprimorar a precisão da linguagem científica e filosófica, para refinar a
linguagem emocional e descritiva, para conservar a índole da língua, sua identidade e, con-
sequentemente, sua originalidade. Ao contrário do que entendi de certas opiniões que li
sobre o assunto, a norma culta não tem nada de elitista, é ou devia ser patrimônio e orgulho
comuns a todos. Elitismo é deixá-la ao alcance de poucos, como tem sido nossa política.”15
Façamos então, nós os pertencentes a carreiras e possuidores de formações acadé-
micas, um uso apropriado, criativo e inclusivo do vastíssimo instrumentário das pala-
vras. Como testemunhou Gilberto Freyre, “escrevendo, venho vivendo uma arte mistu-
rada a uma ciência”. Para tanto “uso as palavras intuitivas sem repelir as lógicas, as
cotidianas sem repudiar as raras, as populares sem deformar as eruditas, as sensíveis
sem repelir de todo as abstratas”.16
Ademais, aos académicos, cientistas, intelectuais e teóricos deve servir de arrimo, de
bengala e bússola esta passagem, da autoria de António Risério, que brilha esplendorosa
no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo: “Nossa matéria-prima é a palavra. A pa-
lavra, como som, como sentido, como prática, como senha, como signo cultural distintivo,
como argamassa social, como história, como objeto, como entidade mutável e mutante.”
Falada ou escrita, se for certeira, culta, pertinente e elevada, a palavra continua a ser
a espada mais afiada e cortante para abater a escuridão e abrir caminhos de luz. É essa
espada que os académicos têm o dever indeclinável e irrecusável de erguer e brandir con-
victa e insistentemente contra o desconhecimento, contra a ignorância, contra a má-fé,
contra a baixeza e a vulgaridade, contra o descaso e o destrato, contra tudo o que avilta,
ofende e rebaixa, atrapalha, escurece e entorpece o desejável, aprumado, nobre, reto e
decente curso da cidadania e da dignidade da vida humana.
Enfim, a linguagem é verdadeiramente materna e o nosso lídimo berço parturiente. Dá-
-nos o inestimável e insubstituível leite de integração no mundo: os valores, princípios, so-
nhos e ideais, as atitudes, inclinações e predisposições; as fórmulas e os modos de pergun-
tar e responder, de observar e entender, de aperceber e valorar, de ser e estar. Mediante a
linguagem somos, estamos e cooperamos na construção do mundo.
Escrever e publicar, pensar, agir e intervir são, muito justamente, modalidades que se
inscrevem na acurada e sensata, equilibrada e bem proporcionada ementa de imperativos
profissionais, éticos, morais e sociais dos docentes académicos. É esse precisamente o
desporto árduo e imprescindível que lhes compete treinar e praticar. Como no palco des-
portivo, eles expõem-se aos julgamentos dos ouvintes e leitores, sabendo que a palavra,
dita ou escrita, é como a pedra atirada: uma vez arremessada, já não pode ser corrigida ou
recolhida, ficando entregue à sorte da avaliação crítica e inclusive desabonadora. Porém
não têm alternativa; é este o fado livremente escolhido pelos que optam e lutam por ter
lugar e assomar na varanda da carreira académica e intelectual.
19 — RPCD 15 (2): 19-33
Actividade física
e consumo de substâncias
tóxicas em estudantes
universitários
KEYWORDS:
Substâncias tóxicas. Droga. Consumo.
Género. Actividade física.
RESUMO
A população universitária tende a ser vista como estando acima da média no que se refere
aos consumos de substâncias tóxicas. Alguma literatura sugere que a prática de activida-
de física é um factor de prevenção no consumo de substâncias tóxicas. No entanto, outros
estudos indicam que os jovens envolvidos em práticas desportivas apresentam maior ten-
dência para consumirem álcool, tabaco e outras substâncias. Com o propósito de con-
firmar estes dados levamos a cabo o presente estudo tendo como amostra estudantes
universitários que frequentaram regularmente a biblioteca da Universidade. Foi aplicado
um questionário a 209 indivíduos, (115 do sexo feminino e 94 do sexo masculino). Através
da aplicação de um teste de Mann-Whitney, constatou-se regularidades nos consumos
de cerveja, bebidas destiladas e derivados da cannabis significativamente superiores nos
praticantes de actividade física. Os resultados apontam para uma relação positiva entre
o consumo de determinadas substâncias tóxicas e a prática de actividade física na forma
de recreação e lazer. A comparação por sexo evidenciou os indivíduos do sexo masculino
como consumidores mais regulares de vinho, cerveja, bebidas destiladas, cannabis e de
outras substâncias declaradas. Os indivíduos do sexo feminino, apresentaram consumos
mais regulares de apenas medicamentos.
AUTORES:
José Vasconcelos-Raposo 1
Pedro Silva 1
Carla Maria Teixeira 1
1 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro — ECHS – Polo 1.Vila Real, Portugal
Correspondência: José Vasconcelos-Raposo. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
ECHS – Polo 1.5000 – 881. Vila Real, Portugal. (jvraposo@utad.pt).
SUBMISSÃO: 20 de Maio de 2015ACEITAÇÃO: 22 de Agosto de 2015
01
21 — RPCD 15 (2)
01Physical activity and use of drugs
among university students
ABSTRACT
The university student population tends to be seen as being above the
average in what refers to drugs use. Some literature suggests that the
practice of physical activity is a prevention factor for substance abuse.
However, other studies indicate that young adults involved in sports
present a larger tendency to consume alcohol, tobacco and other sub-
stances. With the purpose of confirming these data we carried out the
present study. The sample consisted of university students that used
the University library services on regular basis. 209 individuals (115 fe-
male and 94 male) voluntarily collaborated in this study. Through the
application of the Mann-Whitney test it was verified regularities in the
beer consumptions, distilled beverages and other products derived from
cannabis were significantly superior among those who were physically
active. The results present a positive relationship between the consump-
tion certain substances and the practice of physical activity in the rec-
reation and leisure form. The comparison between, males and females
evidenced the males are more regular consumers of wine, beer, distilled
beverages, cannabis and of other declared substances. The female indi-
viduals presented more regular consumptions of prescribed medicines.
KEY-WORDS:
Substance abuse. Drug consumption.
Gender. Physical activity.
INTRODUÇÃO
Pretendemos esclarecer desde já que qualquer referência a “droga” ou “substância tóxica”
encontrada ao longo deste artigo, significa toda a substância que, quando introduzida no
organismo vivo, pode modificar uma ou mais das suas funções (17). Assim, por substâncias
tóxicas entendemos todas as substâncias com propriedades psicoativas.
Desde há muito tempo que as sociedades se debatem com o problema do abuso de subs-
tâncias tóxicas que, sendo universal, constitui uma preocupação para os jovens e para as
famílias. O consumo de substâncias ilícitas constitui um dos grandes flagelos sociais e
humanos vai para mais de um século, porém, nos meados do século passado (XX), tomou
dimensões diferentes passando a constituir um problema de saúde pública.
Numa breve resenha da história da utilização das substâncias tóxicas, Morel, Boulanger,
Hervé e Tonnelet (21), entre outros aspectos, descrevem-nos como o consumo das subs-
tâncias em causa não é uma questão individual mas sim colectiva. Mais que o consumo e
as dimensões que este assume nas múltiplas sociedades, o consumo abusivo não é uma
questão exclusivamente biológica ou psicológica, mas também, e talvez fundamentalmen-
te, uma dimensão cultural. Por esta razão, os autores defendem que qualquer intervenção
requer o envolvimento alargado de vários grupos sociais, entre eles os políticos, os profis-
sionais da saúde, e nós acrescentaríamos os da doença (médicos e enfermeiros), os edu-
cadores e os indivíduos que tenham vivido as consequências do consumo abusivo. Entre os
profissionais da saúde nós incluímos os professores de Educação Física e Desporto.
Num comunicado à imprensa em 2002, o Director-Geral e Alto-Comissário da Saúde (11,
27) em Portugal afirmou que a prática de actividade física regular surge como um factor
de prevenção de comportamentos de risco, entre os quais o tabagismo, o alcoolismo e o
abuso de substâncias tóxicas. Estas afirmações levam-nos, de certo modo, a pensar que
os praticantes de actividade física regular consomem menos substâncias tóxicas que os
indivíduos sedentários. No entanto, outros estudos levados a cabo pela American Psycho-
logical Association (4) e pelo National Institute on Drug Abuse (23) mostraram que os jovens
que estavam envolvidos em práticas desportivas apresentavam maior tendência para con-
sumir álcool, tabaco e outras drogas.
O consumo de substâncias tóxicas, apesar de representar um problema social e de saú-
de pública de grandes dimensões, tem merecido pouca atenção por parte dos investigado-
res na área da psicologia do desporto e do exercício. Esta escassez é, ainda, mais acentu-
ada quando a população alvo são os estudantes universitários.
23 — RPCD 15 (2)
01A pouca investigação levada a cabo nesta área parece sugerir que na realidade a prática
de actividade física não tem os benefícios que a priori se poderia imaginar ter. No que se
refere ao consumo de substâncias tóxicas entre estudantes universitários, há relatos que
indicam que este é comum e a sua incidência é variável em função do tipo de substância
em causa (15). Por sua vez, Dunn e Wang (12) afirmam que o padrão ou tendência para o con-
sumo não tem sofrido alterações ao longo dos últimos dez anos.
Tradicionalmente, na opinião de Pate (26), o envolvimento em actividades físicas e despor-
tivas tem estado associado à ideia de que estas exercem um efeito preventivo no âmbito
da saúde, uma vez que são referidas como comportamentos promotores de hábitos de
saúde, assim como minimizadores da adesão a comportamentos de risco (19, 24, 25, 26). Este
tipo de crença, na ausência de investigação científica, tem-se reproduzido ao longo dos
anos, apesar de existir um conjunto de estudos que sugere que os indivíduos com maior
envolvimento em actividades recreativas tendem a ter maiores consumos (12, 16, 18).
No estudo de Pate (26) foram comparados dois grupos em função do nível de envolvimen-
to em actividades físicas: baixo e elevado. Os resultados obtidos evidenciaram que “ … little
or no involvement in physical activity was associated with cigarette smoking, marijuana use,
poor dietary habits, television viewing, failures to wear a seat belt, and perception of low
academic performance (p. 1579). No entanto, não foi encontrado qualquer tipo de relação
entre um nível baixo de actividade física e consumo de cocaína, prática sexual, actos de
violência e auto-percepções relativamente ao peso. No caso das mulheres, a baixa activi-
dade física estava positivamente relacionada com o consumo de álcool.
Dunn e Wang (12) estudaram 2.436 estudantes com o objectivo de identificar o tipo de
relação entre actividade física e uso de substâncias tóxicas. Os resultados evidenciaram
que a participação poderá servir como factor protector ou preventivo no que se refere ao
consumo de tabaco e álcool. No entanto, não foi encontrada qualquer relação estatistica-
mente significativa que permita afirmar que a actividade física reduz as possibilidades de
envolvimento em comportamentos de consumo de outras substâncias tóxicas.
Num estudo que envolveu 5.065 estudantes do ensino superior (5), verificou-se que 44%
dos estudantes inquiridos praticavam alguma actividade desportiva ocasionalmente, sen-
do as actividades de maior adesão os desportos de equipa (21%) e a ginástica ou atletismo
(15%). Não possuímos, no entanto, dados relativos ao tipo de prática de actividade física ou
desportiva destes estudantes – desporto federado ou de recreação. Se tivermos em conta
os motivos enunciados por Vasconcelos-Raposo e Figueiredo (29), considerados como os
mais importantes para a participação dos jovens nas actividades desportivas, verificamos
que estão incluídos, para além do aperfeiçoamento de habilidades (skills) e do desenvol-
vimento do fitness, os motivos: “divertimento” e “estar com os amigos”. Ainda de acordo
com os mesmos autores, são vários os estudos que revelam ser considerados como im-
portantes, para a prática de actividade física, os motivos de ordem social para a prática de
actividade física e desportiva, como o divertimento, fazer novas amizades e o estar com os
amigos. Um desses estudos está representado no Quadro 1.
QUADRO 1 – Motivos apresentados no estudo Buonamano, Cei e Mussimo (6) retirado de Vasconcelos-Raposo e Figueiredo (28)
MOTIVOS PERCENTAGEM
Divertimento (necessidade de gozo, jogar e experienciar momentos de prazer) 49.2%
Motivos de ordem física (ter saúde, ser mais forte) 32%
Razões sociais (estar com os amigos, realização pessoal pelos outros) 8.9%
Competição (competir consigo mesmo e com os outros) 4.2%
Competências (aprender novos “skills”, improvisar “skills”) 2.9%
Estatuto social (ganhar um estatuto social, ganhar dinheiro e ser popular entre os outros) 2.8%
Estes resultados obtidos num estudo realizado em Itália por Buonomano (6) com uma
amostra de 2.589 rapazes e raparigas com idades compreendidas entre os 9 e os 18 anos
de idade de diferentes zonas de Itália, aos quais foi aplicado um questionário de resposta
aberta, elaborado pelos próprios autores. Em relação à população universitária, Balsa e col. (5) constataram ainda que as actividades que assumiam maior importância no contexto das
actividades de lazer dos estudantes eram as que se relacionavam com as sociabilidades,
entre as quais, passar tempo no café, cervejaria ou pastelaria (43%) e a frequência de bares
e discotecas (36%). No entanto, apesar de 44% dos estudantes terem elegido a prática de
actividade física e desportiva como uma das suas actividades de lazer, estes autores pare-
cem não as ter associado às actividades que se relacionavam com sociabilidades. Achamos
que a prática de actividade física é uma actividade que, quando realizada em equipa ou em
grupo, provoca por si só a sociabilidade, para além de esta última ser um factor de motiva-
ção para a procura de actividade física e desportiva. E o facto de a sociabilização propor-
cionar o convívio, poderá aumentar significativamente a promiscuidade para o consumo de
certas substâncias. Tendo estes aspectos em mente as perguntas orientadoras do nosso
projecto foram: Há diferenças entre praticantes e não praticantes de actividade física ao
25 — RPCD 15 (2)
01nível do consumo de substâncias tóxicas? Serão essas diferenças significativas entre géne-
ro? O interesse e a curiosidade de caracterizarmos os padrões de consumo de substâncias
psicoactivas em estudantes universitários, relacionando-os com os seus hábitos de prática
de actividade física, resultaram da controvérsia de factos sobre a real influência que activi-
dade física pode desempenhar na prevenção das toxicodependências.
As substâncias seleccionadas e os motivos que nos levaram a inclui-las no questionário
que apoia o nosso estudo foram: (1) no que diz respeito às substâncias ilícitas: as mais
consumidas pelos Portugueses verificadas no Relatório Anual de 2001 do Centro de Infor-
mação sobre a Droga e a Toxicodependência (7, 15) – LSD, heroína/ opiáceos, cocaína/ crack,
ecstasy, derivados da cannabis; (2) no que diz respeito às substâncias lícitas: o tabaco, pelo
facto de ser responsável por cerca de 20% da mortalidade total (11) e também porque os
agregados familiares portugueses têm vindo a afectar um peso crescente da sua despe-
sa em tabaco (14); a cafeína, vulgarmente designada por café, que costuma também fazer
parte dos padrões de consumo dos Portugueses; o álcool, pelo facto de, segundo a DGS (10,
11), Portugal ser o 3.º país da União Europeia (EU) com maior consumo per capita de álcool
puro, e os fármacos ou medicamentos porque se tem verificado um consumo crescente de
medicamentos por parte das populações.
Em relação à substância álcool, decidimos especificá-la no questionário em vinho, cerveja
e bebidas destiladas, uma vez que num estudo de Correia e Negreiros (8) sobre o consumo de
substâncias lícitas e ilícitas por jovens estudantes das escolas profissionais do distrito da Guar-
da se verificaram padrões de consumo diferentes relativamente a estas bebidas alcoólicas.
De acordo com o Center for Disease Control (15), existem seis factores de risco para a saú-
de que contribuem para a morbilidade e mortalidade, são eles: inactividade física, consu-
mo de tabaco, álcool, droga, comportamentos sexuais de risco, maus hábitos alimentares
e lesões (acidentais ou não). Tendo em consideração que os comportamentos e hábitos de
saúde tendem a estabelecerem-se nas primeiras duas dezenas de anos, o presente estudo
apresentou-se-nos como relevante na medida em que, no contexto universitário onde nos
inserimos, sabe-se muito pouco sobre esses hábitos entre os estudantes de ambos os sexos.
Averiguámos os tipos de consumo que pressupunham o uso contínuo de pelo menos uma
vez por mês de cada uma das seguintes substâncias: cafeína, vinho, cerveja, bebidas desti-
ladas, LSD, heroína/ opiáceos, cocaína/ crack, ecstasy e derivados da cannabis. Em relação
ao tabaco, considerámos os tipos de consumo que pressupunham pelo menos o uso de um
maço de tabaco durante o período de um mês. Quanto aos fármacos/ medicamentos, achá-
mos que só seria pertinente analisar os tipos de consumo que se verificassem pelo menos
uma vez por dia e que fossem de carácter permanente.
METODOLOGIA
A nossa amostra foi constituída por 209 indivíduos. Estes frequentaram a biblioteca da
Universidade onde o estudo se realizou no período das duas semanas durante as quais foi
aplicado o nosso questionário. Dos estudantes que corporizaram a amostra, 45% (n = 94)
foram do sexo masculino e 55% (n = 115) do sexo feminino. Existe um certo equilíbrio per-
centual entre os dois géneros, deduzindo-se, portanto, que esta variável não será indutora
de variabilidade nos resultados. A média de idades dos estudantes foi de 23.1 anos, sendo
18 anos a idade mínima e 44 anos a idade máxima. Mais de metade da amostra concentrou-
-se na faixa etária 18 – 23 anos de idade.
Este estudo integrou três tipos de variáveis: (1) variáveis de caracterização que incluem o
sexo e a idade; (2) variáveis relativas à prática e tipo de actividade física e desportiva, a saber,
praticante ou não praticante e desporto federado ou desporto de recreação (incluímos no des-
porto de recreação o desporto universitário, o jogging, as actividades de academia, as danças
sociais e os desportos praticados entre amigos) e (3) variáveis relativas ao consumo de subs-
tâncias tóxicas, nomeadamente, café, vinho, cerveja, bebidas destiladas, tabaco, LSD, heroína/
opiáceos, cocaína/ crack, ecstasy, derivados da cannabis e medicamentos ou fármacos.
As variáveis alusivas ao consumo de café, vinho, cerveja, bebidas destiladas, LSD, he-
roína/ opiáceos, cocaína/ crack, ecstasy e derivados da cannabis foram categorizadas em
sete níveis de consumo: (1) não consumo; (2) uma vez por mês; (3) uma vez em duas sema-
nas; (4) uma vez por semana; (5) duas a quatro vezes por semana; (6) uma vez por dia; e (7)
mais que uma vez por dia. Uma vez que ao nosso estudo interessava averiguar a existência,
ou não, de uma maior regularidade ao nível dos consumos, apenas constaram no nosso
questionário opções de resposta que incluíam o “não uso” de uma qualquer destas subs-
tâncias ou o seu uso mínimo de uma vez por mês até mais do que uma vez por dia.
As variáveis alusivas ao consumo de tabaco foram também categorizadas em sete níveis
de consumo: (1) não consumo; (2) um maço por mês ou menos; (3) um maço por semana;
(4) um maço em cada três dias; (5) um maço em cada dois dias; (6) um maço por dia e (7)
mais do que um maço por dia.
As variáveis relativas aos consumos de fármacos ou medicamentos foram classificadas
em: (1) não consumo; (2) uma vez por dia e (3) mais do que uma vez por dia.
Portanto, as variáveis independentes estão relacionadas com os hábitos de prática de ac-
tividade física – “praticante de actividade física” e “não praticante de actividade física” – e
com o género, e as variáveis dependentes dizem respeito ao consumo das substâncias psi-
coactivas cafeína, tabaco, fármacos/ medicamentos, vinho, cerveja, bebidas destiladas, LSD,
heroína/ opiáceos, cocaína/ crack, ecstasy, derivados da cannabis e outras substâncias.
27 — RPCD 15 (2)
01O questionário utilizado foi concebido pelos autores do presente estudo. O objectivo do
questionário é identificar quais as substâncias psicoactivas que os estudantes consumiam
actualmente, a regularidade do seu consumo e os seus hábitos de prática de actividade físi-
ca – praticante ou não praticante, tipo de prática e número de sessões semanais. Todos os
questionários incluíram uma pequena introdução inicial na qual garantimos total anonimato
e confidencialidade, o que foi reforçado pelo método de amostragem e recolha de dados
abaixo descritos. Nesse texto, apelámos ainda, de forma clara, para que o inquirido não con-
siderasse como actividade física as formas de actividade laboral ou doméstica, nas suas
respostas. Todas as respostas do questionário foram fechadas, à excepção de uma, na qual o
inquirido poderia, eventualmente, mencionar uma outra substância consumida regularmen-
te por si e que não constasse no questionário, bem como a sua regularidade de consumo.
A técnica de amostragem utilizada no presente estudo caracterizou-se pela ausência de
qualquer tipo de contacto entre os autores do presente estudo e os sujeitos que, volunta-
riamente, preencheram os questionários. No local onde tinham acesso aos questionários
não existia qualquer tipo de informação sobre o estudo, assim como também não se pres-
tou qualquer informação sobre as pessoas que realizavam o estudo.
Quanto às condições de entrega e recolha dos questionários, optámos por colocar dia-
riamente no balcão da biblioteca da Universidade onde o estudo se realizou 60 inquéritos
e 60 envelopes. Cada leitor preenchia então o seu questionário, introduzia-o no envelope,
lacrava-o e, seguidamente, introduzia este último numa caixa de cartão com uma ranhu-
ra na parte superior, disponibilizada para o efeito. Os inquéritos foram levantados diaria-
mente ao fim da manhã (por volta das 13:00h) e ao fim do dia à hora de encerramento da
biblioteca (23:30h). Deste modo, pudemos ter a certeza de que os inquéritos não foram
preenchidos todos num só dia, num determinado período, e sim ao longo do dia, durante
duas semanas (em dias úteis).
Para o tratamento de dados recorremos ao SPSS – 18. Para procedermos à análise descri-
tiva dos nossos dados utilizámos as percentagens para quantificar os valores obtidos. Recor-
remos ainda à estatística indutiva, mais concretamente, ao teste de Mann-Whitney (p < .05).
RESULTADOS
VARIÁVEIS RELATIVAS À PRÁTICA DE ACTIVIDADE FÍSICA
Mais de metade dos estudantes da amostra (56.9%) possuem hábitos de prática de acti-
vidade física contra 43.1% dos inquiridos que responderam não possuir quaisquer hábitos
de prática de actividade física. A recreação e o lazer foram a forma de actividade física
preferida destes estudantes (87.7% do número de estudantes que pratica actividade física,
N = 119). Apenas 14 estudantes (11.8%, N = 119) praticam desporto federado.
VARIÁVEIS RELATIVAS À REGULARIDADE DE CONSUMO DAS SUBSTÂNCIAS LÍCITAS
Café: grande parte dos indivíduos consome café uma vez por dia, ou mais que uma vez por
dia (22% e 28.2%, respectivamente) e 21.5% dos estudantes da amostra não consome café.
As restantes formas de consumo assumiram proporções pouco significativas. Os resulta-
dos obtidos com o teste de Mann-Whitney não revelaram diferenças significativas na regu-
laridade do consumo de café entre sexos (p = .751) e entre praticantes e não praticantes
de actividade física (p = .802).
Vinho: mais de metade dos estudantes constituintes da amostra referiu não consumir vi-
nho (52.6%), seguindo-se com 16.7 % a quantidade de estudantes que respondeu consumir
vinho apenas uma vez por mês, com 12% os que consomem apenas uma vez em duas se-
manas e com 10% a quantidade de estudantes que consomem vinho uma vez por semana.
As restantes formas de consumo não assumiram proporções significativas. Os resulta-
dos obtidos com o teste de Mann-Whitney revelaram não haver diferenças significativas na
regularidade do consumo de vinho entre praticantes de actividade física e não praticantes
(p = .490). Em relação às diferenças entre sexos, verificaram-se diferenças estatistica-
mente significativas (p = .001), que parecem indicar os indivíduos do sexo masculino como
consumidores regulares mais expressivos de vinho.
Cerveja: o valor mais expressivo obtido no consumo de cerveja foi o dos não consumi-
dores, com 45%. Seguem-se os consumos de cerveja de entre duas a quatro vezes por
semana com 15.8%, os consumos de apenas uma vez por mês com 13.9%, os consumos
de uma vez por semana com 11% e os consumos de uma vez em cada duas semanas com
9.1%. As restantes formas de consumo não pareceram ser suficientemente expressivas
para merecerem o nosso destaque. Os resultados obtidos com o teste de Mann-Whitney
revelaram existir diferenças significativas na regularidade do consumo de cerveja, quer
em relação à variável sexo (p = .001), quer em relação à variável prática de actividade fí-
sica (p = .046). Os indivíduos do sexo masculino consomem cerveja mais regularmente do
que os indivíduos do sexo feminino e os praticantes de actividade física consomem cerveja
mais regularmente do que os não praticantes.
Bebidas destiladas: a maioria dos estudantes inquiridos afirmou não consumir bebidas
destiladas (49.8%). A seguir a este valor, destaca-se a percentagem de estudantes que
consomem este tipo de bebida uma vez por mês (24.4%), os que consomem uma vez em
cada duas semanas (12%) e os que consomem uma vez por semana (9.1%). As restantes
formas de consumo sugerem valores pouco expressivos. Verificámos a existência de di-
ferenças significativas na regularidade do consumo de bebidas destiladas em relação às
variáveis sexo (p = .001) e prática de actividade física (p = .003). Os indivíduos do sexo
masculino apresentam consumos mais regulares de bebidas destiladas do que os indivídu-
os do sexo feminino e os praticantes de actividade física também apresentaram consumos
mais regulares do que os não praticantes.
29 — RPCD 15 (2)
01Tabaco: na nossa amostra, 68.4% dos estudantes referiram ser não fumadores. Em rela-
ção às restantes formas de consumo, parece-nos que estas se encontram relativamente
equilibradas em termos de percentagem, assumindo estas, isoladamente, valores pouco
expressivos. No entanto, constatámos, ao analisar as frequências acumuladas, que 19.7%
dos estudantes fumam um maço de cigarros em cada 3 dias, ou mais. Não se verificaram
diferenças significativas na regularidade do consumo de tabaco em relação às variáveis
sexo (p = .189) e prática de actividade física (p = .650).
Medicamentos: Registou-se uma elevada percentagem de estudantes que não conso-
mem medicamentos (87.6%). No entanto, 11% dos estudantes inquiridos referiram consu-
mir algum tipo de medicamento uma vez por dia e 1.4% referiram consumir algum tipo de
medicamento mais do que uma vez por dia. Os resultados obtidos com o teste de Mann-
-Whitney revelaram existir diferenças significativas (p = .001) no consumo regular de me-
dicamentos entre os dois sexos, apresentando o sexo feminino consumos mais regulares
de medicamentos. Em relação às diferenças entre praticantes de actividade física e não
praticantes, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas na regularidade
do consumo de medicamentos (p = .881). Tentamos agrupar os medicamentos referidos
pelos estudantes constituintes da amostra, pelos subgrupos fármaco-terapêuticos com
maior encargo financeiro no Sistema Nacional de Saúde (SNS) no ano de 1998 (os últimos
dados disponíveis), de forma a podermos estabelecer comparações. No entanto, a dificul-
dade manifestada pelos próprios estudantes em especificar o tipo de medicamento que
consumiam, dificultou este procedimento. Realçamos, no entanto, os medicamentos mais
consumidos: a pílula contraceptiva, as vitaminas e os antidepressivos e psicotónicos foram
os que apresentaram os valores mais expressivos.
VARIÁVEIS RELATIVAS À REGULARIDADE DE CONSUMO DAS SUBSTÂNCIAS ILÍCITAS
LSD: a maioria esmagadora dos estudantes inquiridos declarou não consumir LSD (97.1%).
Quanto às restantes formas de consumo, estas apresentaram-se inexistentes ou quase
insignificantes. Em relação às diferenças entre sexo e entre prática de actividade física,
estas também não se mostraram significativas.
Heroína: à semelhança dos consumos de LSD, os consumos de heroína são quase nulos.
Apenas três indivíduos referiram consumir heroína, havendo, assim, uma percentagem de
não consumidores de 98.6%. As restantes formas de consumo são inexistentes ou muito
insignificantes. Tendo em conta o alto grau de dependência capaz de provocar a heroína, os
estudantes que referiram consumir uma vez por mês e uma vez em duas semanas prova-
velmente falsearam as suas respostas ou encontram-se de momento, numa fase inicial de
consumo desta substância. Os resultados obtidos com o teste de Mann-Whitney revelaram
não existir diferenças significativas em relação à regularidade do consumo de heroína/
opiáceos na variável sexo (p = .441) e na variável prática de actividade física (p = .400).
Cocaína: à semelhança das duas substâncias anteriores, o consumo de cocaína reve-
lou-se praticamente inexistente. A percentagem de não consumidores atingiu os 98.1%,
apresentando-se as restantes formas de consumo como nulas ou muito pouco significati-
vas. Os resultados obtidos com o teste de Mann-Whitney revelaram não haver diferenças
significativas (p = .767) na regularidade do consumo de cocaína/ crack entre praticantes
de actividade física e não praticantes. Em relação às diferenças entre sexos, também não
se verificaram diferenças estatisticamente significativas (p = .827).
Ecstasy: o ecstasy apresenta a taxa mais elevada de estudantes não consumidores –
99%. Na nossa amostra, apenas dois indivíduos referiram consumir ecstasy uma vez por
mês. Os resultados obtidos com o teste de Mann-Whitney revelaram não haver diferenças
significativas (p = .218) na regularidade do consumo de ecstasy entre praticantes de acti-
vidade física e não praticantes. Em relação às diferenças entre os dois sexos, também não
se verificaram diferenças estatisticamente significativas (p = .200).
Cannabis: apesar de a grande maioria dos estudantes inquiridos não consumir derivados
da cannabis (84.7%), esta apresentou-se como a substância ilícita consumida mais regular-
mente pelos estudantes universitários. A forma de consumo com maior percentagem é a que
se reporta aos consumos de cannabis uma vez por mês (5.7%). Segue-se a percentagem de
indivíduos que consome de entre duas a quatro vezes por semana (3.3%) seguida pela per-
centagem de indivíduos que consome mais do que uma vez por dia (2.9%). A percentagem de
indivíduos que consome cannabis ou derivados uma vez em duas semanas ou uma vez por
dia é de 1.9% e 1.4%, respectivamente. Os resultados obtidos com o teste de Mann-Whitney
revelaram existir diferenças significativas (p = .009) na regularidade do consumo de canna-
bis ou derivados entre praticantes de actividade física e não praticantes, apresentando os
praticantes consumos mais regulares de cannabis. Em relação às diferenças entre sexos,
também se verificaram diferenças estatisticamente significativas (p = .020), que indicaram
os indivíduos do sexo masculino como consumidores regulares mais expressivos.
Em relação às diferenças de regularidade de consumo das substâncias ilícitas LSD, he-
roína, cocaína e ecstasy entre sexos e praticantes e não praticantes de actividade física,
pretendemos reforçar o número demasiado reduzido de consumidores. No futuro, outros
estudos deverão assumir o consumo de ecstasy como seu objecto de estudo. Esta é uma
substância que promove a sociabilidade e o seu consumo tende a ocorrer em momentos
específicos do dia e da semana, assim como em alguns lugares, nomeadamente em dis-
cotecas, onde hoje surge um movimento no sentido de serem criadas condições para um
consumo em condições de segurança para os próprios indivíduos.
31 — RPCD 15 (2)
01OUTRAS SUBSTÂNCIAS
As outras substâncias referidas que não constavam no nosso questionário, foram os cogu-
melos mágicos, a gasolina e o chá, mas em proporções bastante reduzidas. A regularidade
de consumo dessas substâncias assumiu diferenças estatisticamente significativas (p = .026)
em relação ao sexo, sendo os indivíduos do sexo masculino os consumidores mais regulares
de outras substâncias. Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas (p = .774)
entre os praticantes de actividade física e os não praticantes em relação à regularidade do
consumo de outras substâncias. Relativamente a este tipo de substâncias também deverão ser
realizados estudos especificamente desenhados para o efeito.
DISCUSSÃO
Antes de darmos início à discussão dos dados, importa relembrar que a amostra do nosso
estudo é tendenciosa na medida em que visou estudar os comportamentos de consumo en-
tre os estudantes que, à partida, foram definidos como aqueles em que o consumo deveria
ser muito reduzido ou nulo, uma vez que satisfaziam o critério de estudantes empenhados:
frequentar a biblioteca, interesse pelos cartazes afixados na biblioteca (o que os levava a
ler o cartaz por nós afixado, convidando ao preenchimento do questionário) e praticantes
de actividade física, portanto aderentes a comportamentos de saúde.
Os participantes neste estudo apresentam índices bons de participação em actividade fí-
sica (56.9%), quando comparados com a população portuguesa em geral que apresenta os
maiores índices de inactividade da União Europeia (13, 20, 28). A interpretação destes valores
apresenta-se difícil, na medida em que os dados recolhidos não nos permitem tirar ilações
suficientemente consolidadas para fazer qualquer tipo de sugestão, para além da consta-
tação dos números. De qualquer forma, reforçam a validade dos critérios de ordem teórica
que orientaram a inclusão na amostra de indivíduos com maior adesão a comportamentos
de saúde e menor índice de consumo de substâncias tóxicas.
Os resultados do estudo permitiram-nos constatar que o álcool e o tabaco foram as
duas drogas mais consumidas, aparecendo a cannabis como a droga ilícita preferida. Não
foram reportados por parte da nossa amostra consumos significativos de substâncias ilí-
citas ou de outras substâncias. Os resultados do presente estudo apresentam valores de
consumo superiores aos verificados em estudantes canadianos e idênticos aos padrões
de consumo verificado nas instituições universitárias norte americanas (2). De facto, num
estudo levado a cabo por Adlaf, Gliskman, Demers e Newton-Taylor (2), constatou-se que
17.1% dos estudantes canadianos inquiridos fumavam. Tal como no nosso estudo, não se
verificaram diferenças entre os sexos. Os resultados do presente estudo não confirmam
as interpretações de Pate (26), que sugeriram que a actividade física se apresentava como
um elemento preventivo para o consumo destas substâncias. Apesar de na literatura da
especialidade (19) se fazer constar que a participação em actividades físicas parece estar
associada com bons hábitos alimentares, comportamentos sexuais em que os praticantes
de desporto tendem a permanecer virgens até mais tarde (em especial as mulheres) e con-
sumos reduzidos de álcool (1), os nossos resultados sugerem que esta ideia (ou crença) não
é tão linear como a sugestão é feita na literatura. Tal como se verifica nos estudantes norte
americanos (19), o consumo de tabaco e álcool são as substâncias tóxicas mais consumidas
pelos sujeitos por nós estudados.
Os indivíduos do sexo feminino revelaram apenas superioridade nas regularidades dos
consumos medicamentosos em relação aos indivíduos do sexo masculino. Em relação às
restantes substâncias, verificaram-se regularidades superiores nos indivíduos do sexo
masculino nos consumos de: vinho, cerveja, bebidas destiladas, cannabis e de outras
substâncias. Quando analisámos os medicamentos em causa, constatámos que a maioria
destes consistiu de suplementos alimentares, como vitaminas e psicotónicos e, no caso
específico das mulheres, da pílula. Estes resultados, de alguma forma, expressam os cui-
dados que tivemos na constituição da amostra com a expectativa de integrarmos no estudo
os indivíduos aparentemente mais empenhados na vida académica.
Constatamos que os consumos de cerveja, bebidas destiladas e derivados da cannabis,
foram significativamente superiores nos praticantes de actividade física em relação aos
não praticantes. Este facto dá ênfase às nossas presunções de que as actividades que
promovem a sociabilidade e o convívio entre indivíduos aumentam significativamente o
risco de consumo de substâncias como o álcool, o tabaco e outras drogas. Portanto, pen-
samos existir uma relação entre os dois seguintes factores: (1) o facto de as actividades
que se relacionavam com sociabilidades terem assumido maior importância no contexto
das actividades de lazer, como se sugere no estudo de Balsa et al. (5), nas quais incluímos
as actividades físicas e desportivas; (2) o facto de se ter verificado nos estudos da APA (4,
23) maior tendência para o consumo de álcool, tabaco e outras drogas, por parte dos jovens
praticantes de actividades desportivas. Verificámos em vários estudos (22, 29) que entre os
principais factores de motivação para a prática desportiva, se situam os de natureza social:
divertimento, necessidade de gozo, estar com os amigos e fazer novas amizades.
Não pretendemos, com este estudo, denegrir a imagem do desporto, mas apenas alertar os
jovens, os pais e a população em geral para os possíveis “caminhos” que nos poderão surgir
após a prática desportiva: os jantares da equipa, os encontros no café depois do “joguito” de
futsal com os colegas da firma, as saídas com os amigos do ginásio, entre outras, são formas
de convívio proporcionadas pela prática da actividade física e do desporto que podem intervir
como agentes facilitadores para o consumo de certas substâncias (lícitas ou ilícitas). De acor-
do com o American College of Sports Medicine (3), praticar regularmente uma actividade física
com intensidade moderada a elevada, traz benefícios consideráveis para a saúde. No entanto,
a prática desportiva por si só, despida de qualquer tipo de transmissão de valores não se apre-
senta como um bom promotor de comportamentos preventivos, antes pelo contrário.
A vida universitária segue-se a um dos períodos de maior exigência sócio-cultural para o
adolescente e jovem adulto. É, caracteristicamente, uma fase da vida em que os indivíduos
estão sujeitos a desafios novos e constantes e onde a experimentação, a todos os níveis,
deve ser encarada como fazendo parte do desenvolvimento das múltiplas facetas que cons-
tituem a vida do estudante. Na Europa, construímos presentemente uma sociedade em que,
de alguma forma, o culto do individualismo e do consumismo é uma consequência inevitável.
Assim, quando nos deparamos com uma ausência de politicas que visem a promoção dos
hábitos e comportamentos de saúde associadas ao desinvestimento no sistema educativo e
à desvalorização da actividade física como promotora da saúde, é “natural” que até entre os
estudantes mais aplicados academicamente, como aqueles que estudamos, prevaleça esta
atitude para a experimentação assumindo comportamentos de risco para a saúde.
Por outro lado, ao longo das décadas assistimos a uma completa incapacidade por parte
dos profissionais da educação física e desporto em fazerem prevalecer os seus contributos
para a educação das classes dirigentes sobre o valor da actividade física como agente pre-
ventivo de um conjunto alargado de patologias. Devemos destacar que uma percentagem das
verbas que os governos gastam no âmbito da saúde está directamente relacionada com as
despesas com medicamentos, assim como no pagamento de serviços curativos para as cha-
madas doenças hipocinéticas (as que resultam da falta de movimento), como por exemplo do-
enças cardiovasculares, diabetes, depressão, ansiedade, perturbações renais e osteoporose.
Importa realçar que os sujeitos por nós estudados participavam em actividades físicas que
ocorreram em contextos sem qualquer tipo de supervisão pela parte de profissionais da área
das ciências do desporto, recreação e saúde. Este aspecto deverá ser devidamente considera-
do em estudos futuros, uma vez que o tipo de orientação cognitiva que é promovida durante os
programas de exercício é determinante para a adesão aos comportamentos de saúde.
Do presente estudo podemos concluir que o consumo de substâncias tóxicas é uma re-
alidade para todos os tipos de estudantes, dos mais aos menos empenhados academica-
mente. Os valores por nós identificados sugerem que o consumo, neste grupo, tende a
ocorrer em contextos de convívio sociais ou facilitadores deste. A literatura sugere que
os comportamentos dos estudantes relativamente a estes consumos são transitórios e
que tendem a diminuir com o passar dos anos. De qualquer forma, somos da opinião que
instituições como são as universidades deverão ter o cuidado de proporcionar as oportuni-
dades para os estudantes terem uma prática regular de exercício físico, mas em contextos
devidamente supervisionados por profissionais devidamente treinados para o efeito.
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01
35 — RPCD 15 (2): 34-50
02Análise multidimensional
dos indicadores de rendimento
desportivo de equipas
profissionais de Futebol
PALAVRAS CHAVE:
Comportamento coletivo. Probabilidades
de interação. Jogador centróide.
RESUMO
Este estudo teve como objetivo principal efetuar uma análise multidimensional dos indicado-
res de rendimento desportivo de equipas profissionais de futebol. Deste modo, usámos três
métodos distintos: (1) categorização do tipo de ações ofensivas de jogo; (2) probabilidades de
interação entre jogadores e (3) jogador centróide. A amostra consistiu na observação e análise
de dois jogos de uma equipa profissional de futebol, escalão seniores, referentes à Primeira
Liga Portuguesa. Foram analisadas 517 ações ofensivas coletivas e 571 interações intra-equi-
pa. Os resultados indicam maiores probabilidades de interação nos jogos analisados entre os
seguintes jogadores: defesa central, defesa direito e guarda-redes. Os dados mostram ainda
que as ações coletivas Tipo II ocorreram em maior número, ou seja, com início e progressão,
sem possibilidade de finalização imediata. A análise do jogador centróide mostra que o jogador
6 (médio defensivo) foi aquele que apresentou a melhor classificação global face ao número
de interações realizadas no primeiro jogo (g_6=0.5954). Além disso, no segundo jogo, os resul-
tados mostram que o jogador 10 (médio ofensivo) apresentou melhor posição no ranking face
ao número de interações efetuadas (g_10=0.6057). Conclui-se que a análise multidimensional
implementada neste estudo permite descrever os indicadores de rendimento desportivo rela-
cionados com a performance coletiva, fornecendo ao treinador informação relevante sobre a
forma como as equipas se auto-organizam dentro do campo.
AUTORES:
Ricardo Belli 1
Gonçalo Dias 1
José Gama 1
Micael Couceiro 2,3
Vasco Vaz 1
1 FCDEF, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
2 Ingeniarius, Lda., Mealhada, Portugal
3 Instituto de Sistemas e Robótica, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
Correspondência: Gonçalo Dias. FCDEF-UC. Estádio Universitário de Coimbra, Pavilhão 3,
3040-256 Coimbra, Tel: +351 239 802 770. (goncalodias@fcdef.uc.pt).
SUBMISSÃO: 12 de Janeiro de 2015ACEITAÇÃO: 31 de Agosto de 2015
Multidimensional analysis of the sport performance
indicators in Football professional teams
ABSTRACT
The main objective of this study was to investigate the multi-dimensional
sports performance indicators in professional football teams. We used
three different methods: (1) categorization of the type of offensive game
actions; (2) probability of interaction between players and (3) centroid
player. We analyzed two matches and observed 517 offensive collective
actions and 571 intra-team interactions. The results indicate a higher
probability of interaction from the following players: central defender,
right defender and goalkeeper. The data also show that Type II collec-
tive actions (i.e., starting and running) occurred more frequently, without
any possibility of immediate termination. The analysis of the player cen-
troid indicates that player 6 (defensive midfielder) was the one who had
the best overall rating regarding the number of interactions performed
during the first game (G_6=0.5954). In the second game, the results
show that player 10 (midfielder) had the higher ranking regarding the
number of interactions performed (g_10=0.6057). We concluded that
the multidimensional analysis implemented in this study allowed us to
follow the sport performance indicators related with the collective per-
formance. This method provides relevant information to the coach about
the self-organization processes in field-invasion team sports.
KEY WORDS:
Collective behavior. Probabilities of interaction.
Centroid player.
37 — RPCD 15 (2)
02INTRODUÇÃO
A análise do jogo tem vindo a ser usada para investigar os indicadores de rendimento des-
portivo relacionados com o comportamento coletivo de equipas profissionais de futebol (16, 17, 18, 19, 31, 37). Estes indicadores podem ser apresentados sob a forma de informações
quantitativas, tais como: estatística das ações dos atletas no campo, as quais permitem
acompanhar os eventos mais relevantes do jogo (4, 15, 22, 27, 36), bem como, ainda, através do
estudo das probabilidades de interação entre jogadores (15, 36) e, também, através da aná-
lise do desempenho do jogador centróide, ou seja, aquele que apresenta maior influência
nas ações de jogo e no nível de interação da equipa (2, 7).
Neste sentido, estudos recentes indicam que as maiores probabilidades de ocorrência de
interação em equipas profissionais de futebol tendem a ocorrer, maioritariamente, entre os
jogadores que assumem as posições de defesas laterais, médios e atacantes (15, 36). Nesta
base, Vales et al. (34), Vaz et al. (36) e Gama et al. (15) identificaram que no futebol profissional
ocorre um maior número de ações coletivas ofensivas incompletas, i.e., com recuperação
da posse de bola e manutenção da mesma, com progressão no terreno de jogo, sem que
haja possibilidade de finalização imediata (i.e., Tipo II, cf. materiais e métodos).
Por seu lado, no que diz respeito à análise do centróide em equipas profissionais de
futebol, investigadores como Frencken e Lemmink (12), Yue et al. (36), Bourbousson et al. (3),
Frencken et al. (13) e Folgado et al. (11) sugerem que este método permite mapear os indica-
dores relacionados com a performance coletiva. Além disso, fornece informação relevante
ao treinador sobre a tendência de desempenho intra e inter-individual que emerge das
ações de jogo e a forma como as equipas organizam o seu comportamento coletivo (1, 8, 9, 26).
A literatura sugere ainda que os indicadores de rendimento desportivo em equipas pro-
fissionais de futebol podem conjugar a análise do tipo de ações de jogo ofensivas, as proba-
bilidades de interação entre jogadores e o método do jogador centróide, de forma a enten-
der melhor a dinâmica da coordenação entre jogadores e o consequente comportamento
coletivo (2, 7, 15, 36). Neste sentido, Bartlett et al. (1) defendem uma visão multidimensional dos
indicadores do jogo de futebol como opção robusta para aferir a performance da equipa e
dos seus intervenientes, algo que, per si, a análise notacional (e.g., estatística de jogo) não
permite realizar de forma inequívoca.
Esta abordagem integradora pode, eventualmente, permitir ao treinador obter um maior
número de informação quantitativa e qualitativa do rendimento da sua equipa e dos inter-
venientes que compõem a mesma, otimizando assim a sua intervenção pedagógica em con-
texto de treino e competição. Tais evidências, que estão bem patentes no âmbito da análise
contemporânea dos desportos coletivos, podem ainda constituir uma matriz inovadora no
modo como se mede o comportamento que ocorre em contexto competitivo (10, 20, 23, 25).
À luz destes pressupostos, parece que a conjugação das três abordagens apresentadas
neste estudo, nomeadamente: (1) categorização do tipo de ações de jogo ofensivas; (2) pro-
babilidades de interação entre jogadores e (3) jogador centróide podem fornecer algumas
respostas aos treinadores sobre a forma como as equipas interagem no campo (3, 11, 12), bem
como, ainda, permitir conhecer melhor a dinâmica de interação entre jogadores ao longo
de uma época desportiva (12, 15).
Face ao exposto, perante a escassez de investigação conhecida através desta matriz in-
tegradora, o objetivo deste estudo é efetuar uma análise multidimensional dos indicadores
de rendimento desportivo em equipas profissionais de futebol. Deste modo, pretende-se
que esta abordagem possa ser útil para a evolução da análise dos desportos coletivos,
bem como para descodificar os “jogadores-chave” que mais influem na dinâmica do com-
portamento coletivo.
MATERIAL E MÉTODOS
A amostra consistiu na observação e análise de dois jogos de uma equipa profissional de
futebol, escalão seniores, referentes à Primeira Liga Portuguesa, época 2010/2011. A equipa
analisada ficou em segundo lugar na Primeira Liga Portuguesa, e os jogos observados foram
disputados contra o principal adversário (vencedor da Liga), no formato fora-casa, com um
espaço temporal de uma “volta competitiva”. Neste estudo, analisámos 517 ações ofensivas
coletivas e 571 interações intra-equipa. Todos os participantes da amostra possuíam com-
petência e capacidade legal para participarem de livre vontade na investigação, sendo que o
estudo foi realizado ao abrigo do código de ética da Universidade de Coimbra e da Convenção
de Helsínquia em pesquisa com seres humanos. O registo espacial das condutas compor-
tamentais dos jogadores foi efetuado através do campograma que é proposto pela Amisco®
(Figura 1), estando validado para a análise de jogos de futebol de alto rendimento (15).
39 — RPCD 15 (2)
02
FIGURA 1. Campograma e zonas de jogo (adaptado de Gama et al.15).
A sua estrutura abrangeu uma divisão do campo em 24 zonas que são compostas por 4
corredores e 6 setores (14, 15). Salientamos que a análise de dados que abrangeu as ações
dos jogadores, durante a fase ofensiva de jogo, tinha início na recuperação da bola e era
finalizada quando a equipa perdia a mesma, isto em qualquer zona do campo (5, 15, 16, 36).
De acordo com os estudos realizados por Vales et al. (34), Vaz (35), Gama (14), Vaz et al. (36)
e Gama et al. (15), caraterizámos as ações coletivas ofensivas de jogo que asseguram um
início, uma progressão e uma finalização, podendo ser agrupadas da seguinte forma: 1)
Ações coletivas ofensivas Tipo I: caracterizam ações coletivas completas (e.g., início, pro-
gressão e finalização), sem possibilidade de finalização a curto prazo; 2) Ações coletivas
ofensivas Tipo II: representam ações coletivas incompletas (e.g., início e progressão), sem
possibilidade de finalização imediata e 3) Ações coletivas ofensivas Tipo III: identificam
ações coletivas com origem em bola parada, com possibilidade de finalização a curto prazo.
Neste estudo, contemplou-se, como ação colectiva ofensiva, o conjunto de ações regista-
das entre o início/recuperação da posse de bola até ao instante da perda da mesma (14, 34, 35).
ANÁLISE DO CENTRÓIDE
A primeira aplicação do método do centróide foi apresentada por Frencken e Lemmink (12)
no Congresso Mundial de Ciência e Futebol. Nesta ótica, outros investigadores (3, 7, 11, 13, 39)
seguiram os mesmos pressupostos teóricos na análise deste desporto coletivo, ainda que
não tenham usado todos os fundamentos que estão plasmados neste estudo, os quais fo-
ram agora aplicados em equipas profissionais de futebol.
Tal como iremos verificar de seguida, foi necessário realizar uma abordagem mais por-
menorizada destes conceitos no presente trabalho, usando, para o efeito, maioritariamen-
te, a investigação de Couceiro et al.(7) Assim, para estabelecermos o jogador centróide, foi
idealizada, com base na literatura (7), uma matriz adjacência antissimétrica ponderada (ver,
em detalhe, o estudo de Couceiro et al.(7)). No contexto dos desportos coletivos, como é o
caso deste estudo, interpretámos a conetividade normalizada como uma medida de coope-
ração entre um jogador e os restantes elementos da equipa. No entanto, um jogador pode
apresentar uma conetividade elevada com outros jogadores mas, ainda assim, ser incapaz
de produzir consenso de interação entre esses jogadores. Por outras palavras, o jogador
pode interagir com muitos jogadores diretamente que, por outro lado, não interagem entre
si. Este facto, conhecido como coeficiente de agrupamento do jogador, foi representado
com base na literatura (7) por uma medida associada ao grau de inter-conetividade na vizi-
nhança do jogador (cf. resultados).
Determinámos, também, uma métrica típica das redes sociais, com aplicabilidade prática
no âmbito das Ciências do Desporto, denominada como jogador centróide (7). Neste sentido,
considerando que o objetivo principal deste estudo incidiu na análise do jogo de futebol, tal
como qualquer outro desporto coletivo, foi dada prioridade ao desempenho coletivo (i.e., in-
teração global entre jogadores). Neste contexto, o jogador localizado no topo da hierarquia,
apresentando o valor de “interação” mais elevado, designado através da literatura (7) como
jogador centróide (7, 15) (cf. resultados). Logo, no contexto dos desportos coletivos, esse atleta
pode ser considerado como aquele que mantém a “equipa unida” na rede de interações e
mais influi na dinâmica do comportamento coletivo (7).Finalmente, para mensurar o nível de
interacção dos jogadores, foi utilizado o método de Probabilidades de Frequência Relativa (14,
15, 28, 29, 36). Nesta base, a probabilidade de uma interacção ocorrer, i.e., tal como está a ser defi-
nida, resulta na frequência relativa da ocorrência A. Posto isto, a probabilidade de ocorrência
de uma interacção que não é passível de ser concretizada é 0, sendo que, a probabilidade de
ocorrência de uma interação concretizavel é 1 (15, 36).
Perante os elementos anteriormente apresentados, ao relacionarmos o conceito de jo-
gador centroíde com a análise de redes sociais, verifica-se que estas abordagens, ainda
que distintas, podem ser complementares, uma vez que ambas retratam o nivel de intera-
ção e conexão entre jogadores, bem como os elementos mais relevantes no contexto das
ações individuais e coletivas.
41 — RPCD 15 (2)
RESULTADOS
PRIMEIRO JOGO
PROBABILIDADES DE INTERACÇÃO ENTRE JOGADORES
O Quadro 1 representa as probabilidades de ocorrência de interação entre jogadores no jogo.
QUADRO1. Probabilidades de ocorrência de interação entre jogadores no jogo.
PARA/DE 12 4 23 27 6 10 17 18 8 14 31 20 15 5
POSIÇÃO GR DC DE DC MD MO MC ME MD DD PL S S S
12 GR - 0.05 0.13 0.00 0.03 0.04 0.03 0.06 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
4 DC 0.44 - 0.04 0.31 0.08 0.00 0.20 0.06 0.29 0.47 0.00 0.44 0.00 0.00
23 DE 0.00 0.05 - 0.15 0.18 0.13 0.13 0.19 0.00 0.00 0.00 0.14 0.00 0.00
27 DC 0.11 0.08 0.09 - 0.03 0.00 0.00 0.06 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
6 MD 0.33 0.23 0.22 0.15 - 0.17 0.20 0.00 0.14 0.03 0.00 0.14 0.00 1.00
10 MO 0.00 0.03 0.04 0.00 0.08 - 0.10 0.13 0.29 0.17 0.36 0.14 0.00 0.00
17 MC 0.00 0.10 0.09 0.08 0.26 0.30 - 0.19 0.14 0.17 0.09 0.14 0.00 0.00
18 MIE 0.11 0.03 0.30 0.31 0.10 0.00 0.07 - 0.00 0.00 0.09 0.14 0.33 0.00
8 MID 0.00 0.10 0.04 0.00 0.08 0.13 0.10 0.00 - 0.13 0.00 0.00 0.00 0.00
14 DD 0.00 0.30 0.00 0.00 0.08 0.04 0.13 0.00 0.14 - 0.18 0.00 0.00 0.00
31 PL 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.09 0.00 0.13 0.00 0.03 - 0.14 0.33 0.00
20 S 0.00 0.05 0.00 0.00 0.05 0.09 0.03 0.19 0.00 0.00 0.18 - 0.00 0.00
15 S 0.00 0.00 0.04 0.00 0.05 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 - 0.00
5 S 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.09 0.00 0.33 -
Legenda: GR = Guarda-redes; DE = Defesa esquerdo; DD = Defesa direito; DC = Defesa central; MD = Médio defensivo; MC = Médio centro;
MO = Médio ofensivo; MIE = Médio esquerdo; MID = Médio direito; PL = Ponta de lança; S = Suplente.
Verifica-se que as maiores probabilidades de ocorrência de interação ocorreram entre
o jogador 4 (defesa central) e jogador 14 (defesa direito) (47%), seguido, de perto, pelo
jogador 4 (defesa central) e jogador 12 (guarda-redes), com 44%.
02TIPO DE AÇÕES COLETIVAS
O Quadro 2 representa as ações coletivas observadas no jogo.
QUADRO2. Ações coletivas observadas no jogo (Tipo I, II e III).
AÇÕES COLETIVAS TIPO I TIPO II TIPO III TOTAL
1ª Parte 53 53 29 135
2ª Parte 24 47 11 82
Total 77 100 40 217
Os dados mostram que foram registadas 217 ações coletivas ofensivas durante o jogo,
predominando em maior número as ações coletivas Tipo II (e.g., 100). Em menor número,
ocorreram as ações coletivas Tipo III (e.g., 40).
JOGADOR CENTRÓIDE
O Quadro 3 mostra a classificação global das interações entre jogadores no primeiro jogo.
QUADRO 3. Classificação global das interações entre jogadores (centróide) no primeiro jogo.
CLASSIFICAÇÃOINTERAÇÃO EFETUADA INTERAÇÃO RECEBIDA
JOGADOR JOGADOR
1 6 0.5954 4 0.5665
2 4 0.5472 17 0.5539
3 17 0.4999 14 0.5396
4 14 0.4419 6 0.4734
5 8 0.3723 10 0.4299
6 23 0.3592 23 0.4266
7 18 0.3453 8 0.3536
8 10 0.3450 18 0.2658
9 12 0.3231 12 0.2384
10 27 0.2980 31 0.2222
11 20 0.2364 27 0.1925
12 15 0.1268 20 0.1914
13 31 0.1236 15 0.0651
14 5 0.0217 5 0.0001
Os resultados mostram que o jogador 6 foi aquele que apresentou a melhor classificação
global face ao número de interações realizadas (g_6=0.5954), sendo seguido pelo jogador
4 (g_4=0.5472). Relativamente ao número de passes recebidos pela equipa, o jogador 4
(g_4=0.5665) manteve a liderança do ranking.
43 — RPCD 15 (2)
ZONAS DE INTERAÇÃO
A Figura 2 descreve as zonas de interação da equipa no jogo, com sucesso e insucesso.
FIGURA 2. Zonas de interação da equipa no jogo, com sucesso e insucesso.
Observa-se que as situações do jogo levaram a equipa a uma predominância de intera-
ções no meio campo defensivo, nas zonas 2 e 3, ou seja, pelos corredores centrais (2CD,
2CE, 3CD e 3CE).
NETWORKS
A Figura 3 mostra a network de interações estabelecidas pelos jogadores no jogo.
FIGURA 3. Network representativa do total de interações dos jogadores.
02Verifica-se que o maior número de interações efetuadas com sucesso entre jogadores da
mesma equipa ocorreu entre o jogador 4 (defesa central) e o jogador 14 (defesa direito),
resultando num total de 12 interações. Os resultados indicam ainda que o jogador 4 (defe-
sa central) foi o mais interventivo no jogo, totalizando 76 ocorrências, sendo estas obtidas
através de 40 interações efetuadas e 36 interações recebidas.
SEGUNDO JOGO
PROBABILIDADES DE INTERAÇÃO ENTRE JOGADORES
Quadro 4 representa as probabilidades de ocorrência de interação entre jogadores.
QUADRO 4. Probabilidades de ocorrência de interação entre jogadores.
PARA/DE 12 4 18 2 27 6 10 20 8 11 30 25 7 33
POSIÇÃO GR DC DE DD DC MD MO ME MD AV AV S S S
12 GR - 0.00 0.00 0.00 0.03 0.02 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.05
4 DC 0.25 - 0.08 0.14 0.23 0.24 0.07 0.00 0.05 0.00 0.06 0.00 0.00 0.25
18 DE 0.00 0.25 - 0.05 0.05 0.05 0.07 0.25 0.05 0.00 0.06 0.33 0.17 0.05
2 DD 0.00 0.23 0.05 - 0.00 0.07 0.07 0.00 0.24 0.00 0.12 0.00 0.00 0.00
27 DC 0.00 0.19 0.22 0.00 - 0.22 0.07 0.00 0.14 0.00 0.06 0.10 0.00 0.00
6 MD 0.00 0.26 0.04 0.33 0.18 - 0.00 0.08 0.00 0.20 0.00 0.19 0.00 0.30
10 MO 0.00 0.00 0.09 0.10 0.05 0.05 - 0.13 0.10 0.40 0.06 0.00 0.00 0.00
20 MIE 0.00 0.05 0.30 0.00 0.20 0.10 0.13 - 0.19 0.20 0.12 0.10 0.33 0.05
8 MID 0.00 0.07 0.04 0.24 0.15 0.15 0.33 0.00 - 0.00 0.24 0.00 0.17 0.00
11 AV 0.00 0.00 0.00 0.00 0.05 0.00 0.07 0.04 0.00 - 0.18 0.00 0.00 0.00
30 AV 0.00 0.00 0.00 0.14 0.05 0.07 0.20 0.17 0.19 0.20 - 0.05 0.17 0.05
25 S 0.00 0.02 0.00 0.00 0.00 0.02 0.00 0.21 0.00 0.00 0.00 - 0.17 0.25
7 S 0.00 0.00 0.04 0.00 0.03 0.00 0.00 0.13 0.05 0.00 0.12 0.00 - 0.00
33 S 0.75 0.07 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.24 0.00 -
Legenda: GR = Guarda-redes; DE = Defesa esquerdo; DD = Defesa direito; DC = Defesa central; MD = Médio defensivo; MC = Médio centro;
MO = Médio ofensivo; MIE = Médio esquerdo; MID = Médio direito; PL = Ponta de lança; S = Suplente.
Constata-se que as maiores probabilidades de ocorrência de interação emergiram entre
o jogador 12 (guarda-redes) e jogador 33 (suplente) (75%), seguido do jogador 2 (defesa
direito) e jogador 6 (médio defensivo), com 33%.
45 — RPCD 15 (2)
TIPO DE AÇÕES COLETIVAS
O Quadro 5 representa as ações coletivas observadas no jogo (Tipo I, II e III)
QUADRO 5. Ações coletivas observadas no jogo (Tipo I, II e III).
AÇÕES COLETIVAS TIPO I TIPO II TIPO III TOTAL
1ª Parte 49 65 24 138
2ª Parte 55 65 17 137
Total 104 130 41 275
As ações coletivas Tipo II, foram as que ocorreram em maior número (130), seguindo-
-se 104 ações Tipo I. Por último, e em menor número, ocorreram as ações coletivas Tipo
III (41 ocorrências).
JOGADOR CENTRÓIDE
O Quadro 6 mostra a classificação global das interações entre jogadores no segundo jogo.
QUADRO 6. Classificação global das interações entre jogadores (centróide) no segundo jogo.
CLASSIFICAÇÃOINTERAÇÃO EFETUADA INTERAÇÃO RECEBIDA
JOGADOR JOGADOR
1 10 0.6057 18 0.5869
2 18 0.4694 10 0.5733
3 20 0.4565 11 0.5568
4 11 0.4485 4 0.5324
5 30 0.4200 20 0.4518
6 25 0.4046 8 0.4489
7 6 0.3984 30 0.4352
8 8 0.3830 12 0.3296
9 4 0.3632 6 0.3206
10 27 0.2796 2 0.3107
11 2 0.1994 25 0.2705
12 12 0.1050 27 0.2589
13 7 0.0943 33 0.1023
14 33 0.0263 7 0.0303
Os resultados indicam que o jogador 10 foi o que apresentou melhor classificação global
face ao número de interações efetuadas (g_10=0.6057), sendo seguido pelo jogador 18
(g_18=0.4694). Neste contexto, relativamente ao número de passes recebidos pela equipa,
o jogador 18 mostra o valor mais elevado (g_18=0.5869).
02ZONAS DE INTERAÇÃO
A Figura 4 descreve as zonas de interação da equipa no jogo, com sucesso e insucesso.
FIGURA 4. Zonas de interação da equipa no jogo, com sucesso e insucesso.
Constata-se uma grande utilização dos corredores centrais direito e esquerdo, nome-
adamente: setores 2 e 3 (2CE, 2CD, 3CE, 3CD), sendo que a progressão dos jogadores
ocorreu com maior sucesso pelos corredores laterais.
NETWORKS
A Figura 5 mostra a network de interações estabelecidas pelos jogadores no jogo.
FIGURA 5. Network representativa do total de interações dos jogadores.
47 — RPCD 15 (2)
O maior número de interações efetuadas com sucesso entre jogadores da mesma equipa
ocorreu entre o jogador 18 (defesa esquerdo) e o jogador 20 (médio esquerdo), resultando
num total de 12 interações. Além disso, o jogador 4 (defesa central) apresentou o maior
número de interações efetuadas com sucesso (43).
Os resultados mostram ainda que o jogador número 6 (médio defensivo) foi aquele que
mais interveio no jogo, com 79 intervenções, sendo estas obtidas através de 41 interações
efetuadas e 38 interações recebidas.
DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi analisar os indicadores de rendimento desportivo em equipas
profissionais de futebol, usando, para o efeito, três métodos distintos, nomeadamente (1)
categorização do tipo de ações ofensivas de jogo; (2) probabilidades de interação entre jo-
gadores e (3) jogador centróide. Deste modo, pretende-se que esta abordagem possa ser
útil para a evolução da análise dos desportos coletivos, bem como para descodificar os
“jogadores-chave” que mais influem na dinâmica do comportamento coletivo.
Neste sentido, relativamente às maiores probabilidades de ocorrência de interação no
primeiro jogo, estas emergiram entre os jogadores 4 (defesa central) e jogador 14 (defesa
direito). Já no segundo jogo, os resultados mostram que as maiores probabilidades de
ocorrência de interação ocorreram entre o jogador 12 (guarda-redes) e jogador 33 (su-
plente). Face ao exposto, os estudos de Vaz et al.(36) e Gama et al.(15) indicam que as maiores
probabilidades de ocorrência de interação tiveram lugar entre o jogador 1 (guarda-redes)
e o jogador 5 (defesa esquerdo), assim como, entre o jogador 17 (extremo esquerdo) e o
jogador 8 (médio centro).
Além disso, as ações de jogos observadas neste estudo estão em linha com os resulta-
dos de Vales et al.(34), Vaz et al.(36) e Gama et al.(15), sendo maioritariamente obtidas ações
Tipo II. Por seu lado, ao analisarmos as zonas de interação preferenciais dos jogadores,
verifica-se uma grande utilização dos corredores centrais direito e esquerdo, nomeada-
mente: setores 2 e 3 (2CE, 2CD, 3CE, 3CD), o que também está em conformidade com
Vales et al.(34), Vaz et al.(36) e Gama et al.(15).
Em concordância com nossos resultados, os estudos de Yokoyama e Yamamoto (37),
Gama et al. (15) e Belli (2) sugerem que o comportamento coletivo e o tipo de ações emer-
gentes ao longo dos jogos analisados estão sujeitos a várias “transições de fase” e “flutu-
ações críticas”, evidenciando assim que o jogo de futebol é dotado de grande variabilidade
02de ações (16, 17, 18). Desta forma, no que diz respeito à análise do centróide, os resultados
sugerem que o “jogador-chave”, ou seja, com maior influência nas ações de jogo, não foi,
necessariamente, o mesmo do ponto de vista do ranking de performance ao longo dos dois
jogos. Por exemplo, no primeiro jogo, o jogador-chave foi o jogador 6 (médio defensivo) e,
no segundo jogo, o jogador-chave foi o jogador 10 (médio ofensivo). Estes resultados vão
ao encontro das conclusões obtidas por Frencken e Lemmink (12), Yue et al. (39), Bourbous-
son et al. (3), Frencken et al. (13) e Folgado et al. (11), quando referem que este método permite
mapear os indicadores relacionados com a performance coletiva e descrever a dinâmica
do comportamento intra e inter-individual (1, 6, 8, 9, 26).
Ainda no seguimento da aplicação do jogador centróide, considerando os estudos de
Duch et al. (10), Peña e Touchette (30), Sargent e Bedford (31), Couceiro et al. (7), Gama et al. (15), a nossa investigação permite retratar o maior nível de conexão dos jogadores-chave,
algo que pode ser útil no âmbito da análise de outros desportos coletivos, tendo aplicações
práticas na mensuração do rendimento desportivo (7).
Ao compararmos os nossos resultados com o conceito de centralidade descrito no es-
tudo de Grund (20), os nossos dados indicam que a estrutura e o nível de conexão das ne-
tworks são caraterizadas por uma alta intensidade (i.e., elevado controlo de oportunida-
des de interação), que nem sempre traduzem, efetivamente, numa alta centralização, a
qual, hipoteticamente, pode estar associada a um desempenho menos eficaz ou falta de
articulação da equipa numa determinada fase do jogo. Isto pode indicar que as equipas
profissionais de futebol tendem a efetuar uma avaliação direta e sistemática das intera-
ções dos seus pares, atuando, maioritariamente, em função das possibilidades de acção
que emergem ao longo do jogo. Deste modo, o passe, enquanto elemento chave no futebol
profissional, quando bastante “estabilizado”, pode afinar e direcionar o comportamento
coletivo e a dinâmica de orquestração da equipa rumo ao melhor rendimento desportivo.
Logo, neste estudo, constatam-se diferentes níveis de interações entre jogadores com re-
levância para o resultado final da ação, mas distintas face aos padrões que emergem do
número de passes, dos jogadores envolvidos e da sua localização no campo.
Posto isto, tendo em conta os estudos “clássicos” de Hughes e Franks (22, 23), esta abor-
dagem permite retirar informações importantes do jogo para o treino, uma vez que esta-
belece uma relação quantitativa e qualitativa da performance e uma consequente opera-
cionalização na análise de equipas profissionais de futebol. Em suma, estes indicadores de
rendimento desportivo possibilitam o mapeamento dos eventos mais relevantes do jogo,
bem como a avaliação das probabilidades de interação entre jogadores, o seu nível de co-
nexão e a tendência de desempenho que resulta das ações seus intervenientes.
CONCLUSÕES
Os resultados deste estudo permitem concluir que uma análise multidimensional do jogo
de futebol tem vantagens para o treinador tanto no treino como na competição, uma vez
que através dos indicadores de rendimento desportivo de equipas profissionais de futebol
pode conjugar a análise do tipo de ações de jogo com as probabilidades de interação entre
pares e o jogador centróide, algo que poderá alargar o conhecimento sobre a forma de
atuar da sua equipa.
Conclui-se ainda que é possível obter uma visão multidimensional dos indicadores do
jogo de futebol enquanto opção potencialmente credível para aferir a performance da equi-
pa e dos seus intervenientes, algo que a análise notacional parece não facultar de forma
robusta. Nesta ótica, emergem aplicações práticas para o treinador relativas à tendência
de desempenho intra e inter-individual que resultam das ações de jogo, facultando algu-
mas respostas face ao modo como as equipas auto-organizam o comportamento e rendi-
mento desportivo.
Posto isto, uma abordagem desta natureza pode ser complementada com outros indi-
cadores e outros métodos que permitam aumentar o poder explicativo das variáveis apre-
sentadas neste estudo. Para tal, sugere-se que futuros trabalhos analisem estes e outros
indicadores de rendimento desportivo em equipas profissionais de futebol, transversais a
outros desportos coletivos, usando, para o efeito, uma amostra mais robusta do ponto de
vista do número de jogos analisados.
02REFERÊNCIAS
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03Impacto da orientação
às metas na percepção
da eficácia coletiva no contexto
do voleibol juvenil
PALAVRAS CHAVE:
Orientação às metas. Eficácia coletiva.
Desempenho.
RESUMO
Este estudo investigou o impacto da orientação às metas sobre a eficácia coletiva de jovens
atletas de voleibol, medalhistas e não medalhistas. Foram sujeitos 185 atletas das equipes
masculinas e femininas participantes do Campeonato Paranaense Sub-18 2014. Como ins-
trumentos foram utilizados o Questionário de Orientação às metas e o Questionário de Eficá-
cia Coletiva para o Esporte. Na análise dos dados, utilizou-se o teste “U” de Mann-Whitney,
a correlação de Spearman e a Regressão Simples Multivariada (p<0.05). Os resultados
evidenciaram que os atletas medalhistas apresentaram escores superiores em todas as di-
mensões da eficácia coletiva (Habilidade, Esforço, Persistência, União e Preparação) e maior
orientação para a tarefa em comparação aos atletas não medalhistas (p<0.05). A orientação
para a tarefa apresentou impacto significativo na percepção de eficácia coletiva tanto dos
atletas medalhistas quanto dos não-medalhistas (p<0.05), todavia com maior destaque para
os não-medalhistas. Concluiu-se que no contexto do voleibol juvenil a orientação para a ta-
refa é um fator chave para a percepção de eficácia coletiva dos atletas, principalmente para
atletas que ainda estão em busca do melhor nível de desempenho.
AUTORES:
Luciana Ferreira 1
José Luiz Lopes Vieira 1
Francielle Cheuczuk 1
João Ricardo Nickenig Vissoci 1
José R. A. do Nascimento Junior 1
Lenamar Fiorese Vieira 1
1 Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Estadual de Maringá. UEM-UEL. Maringá – PR (Brasil)
Correspondência: Luciana Ferreira. Rua Paranaguá, número 565, bloco 11, apto 22. Zona 7.
Maringá –PR, Brasil. (luferreira.ed@gmail.com).
SUBMISSÃO: 5 de Dezembro de 2014ACEITAÇÃO: 31 de Agosto de 2015
51 — RPCD 15 (2): 51-63
53 — RPCD 15 (2)
Impact of the goal orientations in the perception
of collective efficacy in the youth volleyball context
ABSTRACT
This study investigated the impact of the goals orientation on the collec-
tive efficacy among young volleyball players (medalists and non-medalists).
Participants were 185 athletes from male and female teams participating of
the Under 18 Paraná’s Championship. Data collection was conducted with
the Task and Ego Orientation Sports Questionnaire and the Collective Effi-
cacy Questionnaire for Sports. For data analysis, Mann-Whitney, Spearman
Correlation and Multivariate Simple Regression were conducted (p<0.05).
The results showed that medalists athletes had higher scores in all dimen-
sions of collective efficacy (Skill, Effort, Persistence, Preparation and Un-
ion) and higher task orientation compared to non-medalists (p<0.05). Task
orientation had significant and moderate impact on the medalists’ and non-
medalists’ perception of CE (p<0.05), however most notably for the non-
medalists. It was concluded that for the young volleyball context the task
orientation is a key factor for the athletes’ perception of collective efficacy,
especially for athletes who are still in search of better performance.
KEY WORDS:
Goals orientation. Collective efficacy.
Performance.
INTRODUÇÃO
O que leva muitas vezes uma equipe de baixo nível técnico vencer um adversário tecnica-
mente superior? Qual a importância do trabalho em grupo dentro de uma equipe esporti-
va? Questões como estas têm sido amplamente discutidas e trabalhadas por treinadores
esportivos, visto que altos níveis de auto eficácia e eficácia coletiva (EC) têm sido aponta-
dos como fatores chaves para o sucesso esportivo (5, 16, 23, 38). Nesse contexto, a EC tem sido
apontada a como uma das propriedades psicológicas importantes para o sucesso de uma
equipe esportiva (10, 19). Dessa forma, compreender os processos psicológicos envolvidos
na construção da EC das equipes de sucesso no esporte pode proporcionar implicações
teóricas e práticas para as ciências do esporte.
A EC pode ser considerada como uma variável compartilhada da capacidade coletiva do
grupo em se organizar com sucesso e realizar as tarefas em equipe (41). Assim, a forma como
os atletas interagem, se comunicam e são organizados em grupos, definem os resultados
cognitivos, comportamentais e afetivos no esporte (3, 9). Recentes investigações têm identifi-
cado que o comportamento do treinador influencia a percepção de EC do atleta (15, 28) por meio
de elementos como o feedback positivo, o suporte social e as instruções fornecidas durante
os treinamentos (40). Tais fatores criam um ambiente satisfatório para a prática esportiva (2, 12), cujas particularidades podem ser estudadas a partir de um dos principais elementos
da Teoria de Orientação às Metas (TOM) (12). Além de ser considerada uma das cinco fontes
clássicas de EC (3), a Orientação às Metas (OM) tem sido apontada por pesquisadores como
um importante fator psicológico interveniente no desempenho esportivo (5, 6, 29).
Conceitualmente a OM se refere às estruturas de metas situacionais criadas pelos pares
(treinadores, pais, amigos), podendo ser caracterizada a partir de duas distintas orienta-
ções: Orientação para o Ego (OE) e Orientação para a Tarefa (OT) (36). A OT é atribuída ao
esforço, maior persistência e interesse do atleta (7), o qual tem como parâmetro sua pró-
pria referência de rendimento. Dessa forma, o atleta está focado em habilidades pessoais
associadas com o nível de habilidades já adquiridas e não as compara com outros compa-
nheiros e/ou adversários. A OE está associada a uma maior competitividade, com elevação
da ansiedade durante a competição, avaliando o seu desempenho na comparação com o
resultado dos outros para comprovar a sua capacidade (14). As duas orientações devem ser
analisadas dentro de um determinado contexto, não devendo uma ser considerada mais
relevante do que a outra (32). Os dois tipos de orientações devem ser entendidos dentro da
perspectiva da TOM, visto que não estabelecem um perfil dos sujeitos e não podem ser uti-
lizadas como rótulos, uma vez que podem estar presentes ou ausentes ao mesmo tempo,
em diferentes situações e com diferentes intensidades, em um mesmo indivíduo (7, 12).
03
55 — RPCD 15 (2)
Estudos recentes têm revelado associação entre as OM estabelecidas pelos treinadores
e o comportamento individual de atletas (1, 29), entretanto, são escassas as pesquisas que
exploraram as relações entre a OM e as variáveis da dinâmica de grupos (6, 16). Dessa forma,
o presente estudo teve como foco a análise da influência da orientação às metas dos atletas
sobre a percepção de EC da equipe a partir da abordagem da Teoria de Orientação as Metas.
Estudos na área do esporte já têm apontado evidências empíricas sobre a relação entre a
OM e a EC (5, 6, 27, 29), indicando que uma forte disposição na orientação para a tarefa auxilia
no conceito de cooperação, e, consequentemente, na melhor percepção da EC. Já uma alta
orientação ao ego pode contrariar esse conceito, visto que um atleta com esta orientação
está mais preocupado com o seu resultado individual do que o sucesso da equipe (5, 21, 27).
Apesar de tais achados, ainda não há um consenso na literatura a respeito da relação di-
reta da OM sobre a EC no contexto esportivo em geral, uma vez que as pesquisas existentes
avaliaram apenas atletas de futebol (5, 29), remo (27), basquetebol e handebol (17), apresentando
evidências da relação positiva entre as OM, o clima motivacional satisfatório e a percepção
de EC. Contudo, ainda não existem evidências empíricas que confirmam se a relação entre
tais variáveis é semelhante em atletas de diferentes níveis de desempenho competitivo.
Diante disso, em uma tentativa de expandir o conhecimento e a compreensão a respeito
das relações entre OM e a EC no contexto esportivo, o presente estudo teve como objetivo
investigar a OM e a EC de atletas de voleibol, buscando especificamente verificar o impacto
das OM na percepção de EC de jovens atletas de equipes de diferentes níveis de desempe-
nho (medalhistas e não-medalhistas).
METODOLOGIA
SUJEITOS
Fizeram parte do estudo as 16 equipes de voleibol participantes do Campeonato Paranaen-
se Sub-18 de 2014, totalizando 185 atletas, sendo 95 do sexo masculino e 90 do sexo femi-
nino. Os atletas apresentaram uma média de idade de 17.27±1.25 anos e uma experiência
média como atletas de 4.0±2.4 anos. O critério para a definição dos grupos (medalhistas
e não-medalhistas)– foi o nível de desempenho esportivo (participação no Campeonato
Paranaense Sub-18, que é a principal competição para jovens atletas do estado).
Medalhistas – Atletas das equipes que terminaram a competição na 1ª, 2ª e 3ª posição
(n =71). Não-medalhistas – Atletas das equipes que terminaram a competição da 4ª po-
sição em diante (n = 114).
INSTRUMENTOS
Para verificar a orientação às metas dos atletas foi utilizado o Task and Ego Orientation
Sports Questionnaire (TEOSQ) (7), validado para a língua portuguesa como Questionário
de Orientação às Metas (13). O instrumento é composto por 16 itens distribuídos em duas
subescalas: Orientação para a Tarefa e Orientação para o Ego. O questionário é respondido
numa escala Likert de 5 pontos, num continuum de “1” (discordo totalmente) a “5” (con-
cordo totalmente). Para a análise dos dados, médias ponderadas dos resultados dos itens
de cada dimensão foram calculadas, inseridos na análise como variáveis observadas. A
Análise Fatorial Confirmatória (AFC) revelou ajuste aceitável [X2 (100) = 164.77; p = 0.001;
X2/gl = 1.65; CFI = 0.92; GFI = 0.90; TLI = 0.91; RMSEA = 0.05; P (RMSEA <0.05) = 0.16],
atestando aplicabilidade do TEOSQ a nossa amostra. A confiabilidade composta para a
consistência interna foi satisfatória (Orientação Tarefa = 0.78; Orientação Ego = 0.80).
Para mensurar o nível de Eficácia Coletiva dos atletas foi utilizado o Questionário de Efi-
cácia Coletiva para o Esporte (CEQS) (37), adaptado para o contexto brasileiro por Paes (33). O
instrumento é composto por 20 itens distribuídos por cinco subescalas: Habilidade, Esforço,
Persistência, União e Preparação. Os itens são respondidos numa escala do tipo Likert de
9 pontos, num continuum de “1” (nada confiante) a “9” (extremamente confiante). Para a
análise dos dados, médias ponderadas dos resultados dos itens de cada dimensão foram
calculadas, inseridos na análise como variáveis observadas. Para verificar a estrutura fa-
torial do instrumento para a amostra do estudo foi conduzida uma AFC, a qual apresentou
ajuste aceitável [X2 (159) = 343.74; X2/gl = 2.16; CFI = 0.90; GFI = 0.89; TLI = 0.89; RMSEA =
0.08]. Os valores da confiabilidade composta para a consistência interna foram satisfatórios
(Habilidade=0.83; Esforço=0.81; Persistência=0.80; União=0.77; Preparação=0.75).
PROCEDIMENTOS
A pesquisa está integrada ao projeto institucional sob o parecer do Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos (COPEP) nº 339.11. Inicialmente foi solicitada a autoriza-
ção para realização da pesquisa junto a Federação Paranaense de Voleibol. Para a coleta
de dados foram contatados os técnicos das equipes participantes do Campeonato Esta-
dual Sub-18 do Paraná de 2014. A coleta dos dados ocorreu no local da competição, após
a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com duração média de 35
minutos, no primeiro semestre de 2014.
03
57 — RPCD 15 (2)
ANÁLISE DOS DADOS
A análise preliminar dos dados foi realizada por meio do teste de normalidade de Kolmo-
gorov Smirnov. Como os dados não apresentaram distribuição normal serão expressos
em Mediana (Md) e Quartis (Q1-Q3). Para a comparação entre os grupos (medalhistas e
não-medalhistas) foi utilizado o Teste “U” de Mann-Whitney. Para analisar a relação entre
a qualidade da relação treinador-atleta e a eficácia coletiva dos atletas utilizou-se a matriz
de correlação de Spearman. A significância adotada foi p<0.05. Tais análises foram condu-
zidas com o auxílio do software SPSS versão 19.0.
Para verificar o impacto da orientação as metas sobre a eficácia coletiva dos jogado-
res (medalhistas e não-medalhistas), foram conduzidos diferentes modelos de regressão
com as variáveis que obtiveram correlação significativa (p<0.05). A existência de outliers
foi avaliada pela distância quadrada de Mahalanobis (DM2) e a normalidade univariada das
variáveis foi avaliada pelos coeficientes de assimetria (ISkI<3) e curtose (IKuI<10) uni e
multivariada. Como os dados não apresentaram distribuição normal, utilizou-se a técnica de
Bootstrap de Bollen-Stine para corrigir o valor dos coeficientes estimados pelo método da
Máxima Verossimilhança (30) implementado no software AMOS versão 18.0. Para verificar a
adequação da amostra para a análise proposta, aplicamos a técnica de Bootstrapping (26).
Não foram observados valores de DM2 indicadores da existência de outliers, nem correlações
suficientemente fortes entre as variáveis que indicassem problemas com a multicolineari-
dade (Variance Inflation Factors<5.0). Partindo das recomendações de Kline (24), a interpre-
tação dos coeficientes de regressão teve como referência: pouco efeito para coeficientes <
0.20, médio efeito para coeficientes até 0.49 e forte efeito para coeficientes > 0.50 (p<0.05).
RESULTADOS
Como se pode verificar no Quadro 1, os jogadores medalhistas apresentaram maior nível
em todas as dimensões de eficácia coletiva (Habilidade, Esforço, Persistência, União e Pre-
paração) em comparação aos atletas não-medalhistas (p<0.05). Em relação à orientação
às metas, nota-se que os atletas medalhistas demonstraram maior orientação a tarefa
(p=0.016) em comparação aos atletas não medalhistas. Não houve diferenças significati-
vas na orientação para o ego (p>0.05).
QUADRO 1. Comparação do nível de eficácia coletiva e da orientação às metas dos jovens atletas
de voleibol em função do desempenho na competição.
VARIÁVEIS
MEDALHISTAS
(n=71)NÃO MEDALHISTAS
(n=114) P
Md (Q1-Q3) Md (Q1-Q3)
Eficácia Coletiva
Habilidade 8.00 (7.25 – 8.75) 7.12 (6.00 – 8.00) 0.001*
Esforço 8.25 (7.50 – 8.75) 8.00 (7.18 – 8.50) 0.006*
Persistência 8.00 (7.00 – 8.50) 7.25 (6.50 – 8.00) 0.003*
União 8.00 (7.25 – 8.75) 7.50 (6.50 – 8.25) 0.004*
Preparação 8.25 (7.50 – 8.50) 7.25 (6.50 – 8.00) 0.001*
Orientação às metas
Orientação para o Ego 2.00 (1.56 – 2.78) 2.11 (1.63 – 2.66) 0.938
Orientação para a Tarefa 4.00 (3.56 – 4.22) 3.77 (3.55 – 4.00) 0.016*
*Diferença significativa – p<0.05.
Ao analisar a correlação entre as dimensões de eficácia coletiva e as orientações as metas
dos jogadores medalhistas, observou-se que a dimensão de orientação para a tarefa apre-
sentou correlação significativa com as seguintes subescalas da EC: habilidade (r=0.37), es-
forço (r=0.36) e preparação (r=0.36). Já para os atletas não-medalhistas, a orientação para
a tarefa se correlacionou com todas as variáveis da EC: Habilidade (r=0.32), Esforço (r=0.32),
Persistência (r=0.33), União (r=0.27) e Preparação (r=0.33). Contudo a orientação para o
ego não apresentou correlação significativa com nenhuma variável em ambos os grupos.
Para verificar o impacto da orientação às metas na eficácia coletiva, após a análise de corre-
lação, foi conduzido um modelo de regressão entre a orientação para a tarefa e as subesca-
las da eficácia coletiva que apresentaram correlação significativa (p<0.05).
03
59 — RPCD 15 (2)
FIGURA 1. Modelo de regressão do impacto da orientação as metas sobre a eficácia coletiva
dos atletas medalhistas e não-medalhistas.
Verificou-se que a orientação para a tarefa apresentou impacto significativo (p<0.05) na
variabilidade da habilidade (8%), do esforço (9%), da persistência (11%), da união (8%) e
preparação (11%) para os atletas não medalhistas (Figura 1). Já para os atletas medalhis-
tas, observou-se que a orientação para a tarefa apresentou impacto significativo (p<0.05)
na variabilidade da habilidade (12%), esforço (13%) e preparação (13%).
QUADRO 2. Análise de regressão entre as variáveis com correlação significativa para os jovens atletas de voleibol.
VARIÁVEL
DESFECHO
VARIÁVEL
PREDITORAR β R2
ERRO –
PADRÃO
RÁCIO
CRÍTICOP
Não-medalhistas
Habilidade
Orientação
para a Tarefa
0.32 0.28 0.08 0.347 3.06 0.002
Esforço 0.32 0.29 0.09 0.244 3.271 0.001
Persistência 0.33 0.33 0.11 0.240 3.776 0.001
União 0.27 0.29 0.08 0.282 3.186 0.001
Preparação 0.33 0.33 0.11 0.282 3.777 0.001
Medalhistas
Habilidade
Orientação
paraa Tarefa
0.37 0.34 0.12 0.316 3.049 0.002
Esforço 0.37 0.37 0.13 0.296 3.281 0.001
Preparação 0.37 0.36 0.13 0.279 3.268 0.001
Em relação às trajetórias individuais do modelo de regressão (Quadro 2) para os atletas
não medalhistas, verificou-se que o aumento da orientação para a tarefa possui um efei-
to moderado sobre a habilidade (β=0.28), esforço (β=0.29), persistência (β=0.33), união
(β=0.29) e preparação (β=0.33). Para os atletas medalhistas, verificou-se que o aumento
da orientação para a tarefa possui um efeito moderado sobre a habilidade (β=0.34), esfor-
ço (β=0.37) e preparação (β=0.36).
DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo investigar a OM e a EC de atletas de voleibol, bus-
cando especificamente verificar o impacto das OM na percepção de EC de jovens atletas
de equipes de diferentes níveis de desempenho (medalhistas e não-medalhistas). De uma
forma geral, observou-se que a OT apresentou um impacto positivo sobre a percepção
de EC tanto dos atletas medalhistas, quanto dos não-medalhistas (Figura 1). Ressalta-se
que, independente do nível de desempenho, quanto maior o foco na tarefa, melhor será a
confiança do jogador em relação às habilidades e capacidade do grupo em realizar uma
tarefa de forma bem-sucedida (20), visto que esses atletas estarão mais preocupados no de-
senvolvimento da sua competência, auto superação, e não somente com o desempenho ou
resultado imediato (22). Tal resultado encontra suporte nos princípios da TOM, que apontam
que a orientação esportiva é um aspecto fundamental para o sucesso de um atleta inde-
pendente do seu nível competitivo, entretanto, o padrão motivacional adaptado tem mais
tendência a se desenvolver quando os indivíduos adotam uma orientação para a tarefa (8).
Pesquisas recentes (5, 6, 29) encontraram resultados semelhantes aos do presente estudo
com atletas de diferentes modalidades esportivas (voleibol, basquetebol, futebol e remo),
indicando que uma forte tendência para a OT pode desenvolver melhores percepções de
EC, enquanto uma forte disposição na OE pode, eventualmente, contrariar o conceito de
colaboração que é necessário para a realização coletiva (27).
No entanto, percebeu-se que a OT é um elemento mais interveniente para os atletas não-
-medalhistas, uma vez que apresentou impacto sobre todas as dimensões de EC, indicando
que para atletas que ainda não alcançaram o sucesso, o foco na tarefa é imprescindível para
a melhor percepção de todos os aspectos da EC (27). Acredita-se que a ausência de impacto da
OT sobre a percepção de União dos atletas medalhistas pode estar relacionada às seguidas
entradas e saídas de atletas ao longo da temporada, influenciando assim a percepção de
união (34), uma vez que estas equipes disputam mais competições ao longo da temporada e
possuem uma rotatividade maior de jogadores. Outra dimensão de EC que não sofreu efeito
03
61 — RPCD 15 (2)
da OT nos atletas medalhistas foi a Persistência, resultado que pode ser explicado pelo su-
cesso alcançado pela equipe na competição, uma vez que indivíduos que ainda não alcança-
ram o sucesso tendem a serem mais persistentes na busca dos objetivos (39).
Embora a análise de regressão tenha apontado que a OT apresentou impacto na EC dos
atletas independente do nível de desempenho competitivo e que seja mais importante para
a percepção das dimensões de EC dos atletas não-medalhistas, verificou-se que os atletas
medalhistas apresentaram maior percepção de EC em todas as subescalas (Quadro 1),
indicando que acreditam mais na capacidade dos seus companheiros e se sentem mais
confiantes para a obtenção de um bom desempenho (27). Assim, pode-se dizer que jovens
atletas bem-sucedidos em uma competição possuem melhor percepção das habilidades,
persistência, união e preparação da equipe frente aos obstáculos a serem superados em
detrimento a atletas malsucedidos (3).
Tais achados vão ao encontro da literatura (6, 25), que tem identificado que atletas de me-
lhor nível competitivo ou mais bem-sucedidos possuem maior eficácia coletiva em relação
às suas habilidades, além de serem mais confiantes na qualidade e capacidade da equipe
em apresentar um bom desempenho competitivo (31). Diversas investigações (11, 23) também
têm encontrado que a melhor percepção de EC está intimamente relacionada com o suces-
so esportivo, uma vez que quanto mais o atleta acredita e confia em seus companheiros de
grupo, melhor a coesão e o foco dos membros para obter sucesso na tarefa (19).
Percebeu-se também que os atletas medalhistas possuem maior foco na tarefa (Quadro
1), sugerindo que atletas bem-sucedidos são mais focados nas metas e objetivos da equi-
pe, além de serem mais interessados e esforçados em melhorar o desempenho individual
e coletivo (4). Pesquisas (18, 40) reforçam os achados deste estudo, destacando que a OT é
mais presente que a OE nos esportes coletivos, visto que nestas modalidades os atletas
são incentivados a conduzir os seus esforços em função do grupo em detrimento de suas
metas pessoais (40). Em contrapartida, Sari, Ilić e Ljubojević (35) verificaram que atletas
turcos de basquetebol eram mais orientados para o ego, entretanto, tal achado pode estar
relacionado pelas especificidades culturais dos países.
Apesar dos achados serem relevantes para a área da Psicologia do Esporte, algu-
mas limitações necessitam ser destacadas. Primeiramente, a restrição a apenas jovens
atletas do estado do Paraná, o que não representa a realidade de jogadores de voleibol
do Brasil. Contudo, a amostra pode ser considerada representativa uma vez que foram
avaliados todos os atletas participantes da principal competição juvenil do estado. Em
segundo lugar, foram analisados atletas de apenas uma modalidade esportiva (voleibol),
impossibilitando a generalização dos resultados para todo o contexto esportivo juvenil
brasileiro. Além disso, destaca-se que o delineamento transversal adotado produziu um
conjunto de predições significativo, entretanto, não necessariamente de relacionamen-
tos causais, visto que apenas designs longitudinais permitiriam inferências mais pro-
fundas dos padrões de causalidade. Diante disso, novos estudos devem continuar ana-
lisando as relações entre estas variáveis com atletas de outros esportes, de diferentes
regiões do país, além do uso de delineamentos longitudinais.
CONCLUSÃO
Os achados deste estudo apresentam significativas contribuições teóricas e práticas para
a área da Psicologia do Esporte, uma vez que destaca as orientações para meta como um
preditor da percepção de EC no contexto do voleibol juvenil. Apesar de já ser estabelecida
na literatura a importância da EC em esportes de alta interdependência, como no caso do
voleibol, nossos achados contribuem para o entendimento de seus antecedentes psico-
lógicos e são inéditos na medida em que analisam jovens atletas de diferentes níveis de
desempenho competitivo. Por meio dos resultados obtidos pode-se concluir que a orien-
tação para tarefa tem impacto significativo na percepção da eficácia coletiva no contexto
do voleibol juvenil independente do nível de desempenho dos atletas. Contudo, os atletas
medalhistas percebem maior eficácia coletiva e são mais orientados para a tarefa.
Dessa forma, algumas implicações práticas podem ser destacadas para os profissionais
que trabalham no contexto do voleibol juvenil. Em primeiro lugar, os resultados indicam
que treinadores de jovens atletas devem trabalhar para que os seus atletas estejam foca-
dos nas metas e objetivos da equipe e não em seus desempenhos individuais, visto que o
foco na tarefa e nas metas comuns da equipe favorecem a melhora da percepção de com-
petência individual e coletiva. Outra contribuição refere-se à compreensão e entendimento
das fontes de eficácia coletiva no contexto esportivo, visto que destaca a importância de
os atletas serem voltados para a tarefa para o aumento da percepção de eficácia coletiva.
03
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03
65 — RPCD 15 (2): 64-77
Análise cinemática
da corrida com pés descalços
em indivíduos que normalmente
correm calçados. Impacto
da utilização do calçado sobre
a cinemática da corrida
PALAVRAS CHAVE:
Cinemática. Tecnologia de amortecimento.
Corrida de rua.
RESUMO
O objetivo do presente estudo foi comparar o padrão cinemático de corrida em indivídu-
os calçados e descalços. Foram recrutados 8 indivíduos, com idades compreendidas en-
tre 18 e 51 anos, praticantes de corrida de rua, que normalmente utilizam calçados com
tecnologias de amortecimento em seus treinamentos diários. O indivíduo, primeiramente,
correu numa esteira ergométrica, com seus tênis habituais de treino, durante 5 minutos,
à velocidade de 8 km/h, para familiarização e ambientação. A cada 1 minuto, a velocidade
era incrementada em 1 km/h, até atingir-se 85% da frequência cardíaca de reserva do in-
divíduo. Atingida a FC alvo, realizou-se uma filmagem digital a uma frequência de 120 Hz,
no plano sagital, durante 15 segundos. Após o indivíduo caminhar durante 3 minutos a 5
km/h, repetiu-se o procedimento, desta vez descalço. Foram encontradas alterações sig-
nificativas nos padrões cinemáticos da corrida descalço em relação a calçado nos ângulos
de flexão de tornozelo (112.8 ± 7.91° e 100.8 ± 9.04°, respectivamente) e joelho (163.3 ± 4.03° e 151.1 ± 5.67°); ângulo do joelho em relação ao eixo horizontal (97.1 ± 3.04° e 89.6 ± 3.16°); e no ângulo do tornozelo em relação ao eixo vertical (76.9 ± 6.20° e 93.9 ± 4.55°). Os
resultados encontrados sugerem que tais alterações podem estar relacionadas à diminui-
ção da força de reação do solo e à possível ergonomia com pés descalços.
AUTORES:
Letícia Parada Moreira 1
Leonardo Rodrigo Duarte 1
Débora Dias F Moura Rocco 1
Alexandre Galvão da Silva 1
1 LAFES: Laboratório de Fisiologia do Exercício e Saúde, Faculdade de Educação Física e Esporte da Universidade Santa Cecília – Santos/SP– Brasil
Correspondência: Letícia Parada Moreira. Rua Laurindo Mirabelli, nº 165, Parque Continental
São Vicente – SP. CEP: 11348-38. (l_parada_m@hotmail.com).
04
SUBMISSÃO: 10 de Dezembro de 2014ACEITAÇÃO: 31 de Agosto de 2015
Kinematic analysis of barefoot running in individuals
who usually run with shoes. Impact of using
the footwear on the race kinematics
ABSTRACT
The aim of the present study was to compare kinematic patterns of race
running with shoes and barefoot. It was recruited 8 individuals, aged
between 18 and 51 years old, practitioners of street racing, which typi-
cally use shoes with cushioning technologies in their daily training. The
individual first ran on a treadmill, with their usual training shoes, during
5 minutes, at a speed of 8 km/h, for familiarization and ambiance. Every
1 minute, the speed was increased by 1 km/h, until it hit 85% of the heart
rate reserve. When it hit the target heart rate, it was held a digital foot-
age at a frequency of 120 Hz, in the sagittal plane, during 15 seconds.
After the individual walked for 3 minutes at 5 km/h, the procedure was
repeated, this time with bare feet. Significant changes were found in the
kinematic patterns of racing barefoot in relation to racing with shoes, on
ankle flexion angles (112.8 ± 7.91° and 100.8 ± 9.04°, respectively) and
knee (163.3 ± 4.03° and ± 5.67 151.1°); knee angle relative to the hori-
zontal axis (97.1 ± 3.04° and 89.6 ± 3.16°); and the ankle angle in relation
to the vertical axis (76.9 ± 6.20° and 93.9 ± 4.55°). The results suggest
that such changes may be related to decreased ground reaction force
and a possible ergonomy in the race with bare feet.
KEY WORDS:
Kinematics. Cushioning technology. Street racing.
INTRODUÇÃO
O movimento do corpo humano é definido fisicamente como um complexo sistema de seg-
mentos articulados em equilíbrio estático ou dinâmico, gerando forças internas e externas
no eixo articular, provocando deslocamentos angulares nesses segmentos (1).
Durante o exercício físico, a sobrecarga articular e os efeitos dos mecanismos motores
exercidos pela sobrecarga, tanto da dinâmica muscular quanto no dispêndio de energia,
são fatores que podem influenciar no desenvolvimento biomecânico da marcha (20).
A corrida é hoje em dia uma das atividades esportivas que mais desperta adeptos por causa
dos seus benefícios à saúde, como também por sua conveniência e natureza econômica (21).
O aumento dessa prática esportiva tem elevado o número de lesões. Um estudo recente (7),
avaliando a prevalência de lesões por corredores no último ano, demonstrou que 55% dos in-
divíduos que participaram da pesquisa haviam sofrido lesões musculoesqueléticas nos doze
meses anteriores. Refletindo o potencial que a prática regular de corridas tem em provocar
lesões musculares e articulares.
A cinemática dos movimentos dos membros inferiores da corrida em adultos vem sendo
estudada de maneira extensiva na literatura. Apesar da ampla divulgação – pela mídia,
treinadores e, claro, pelos próprios fabricantes de calçados – da ideia de que correr sem
um calçado provido de amortecimento e/ou controle de movimentos possa representar um
grande risco à integridade dos membros inferiores e pés, os estudos não são conclusivos
para comprovarem tal fato (14). Alguns grandes fabricantes de calçados esportivos, per-
cebendo isso, já começaram a se movimentar, criando uma onda de lançamentos de tênis
chamados “minimalistas”, com solados baixos e planos, desprovidos de qualquer tecnolo-
gia de amortecimento ou controle de movimentos.
Analisando a estrutura anatômica do corpo humano (10), observa-se que temos plenas condi-
ções de correr descalços. Vale ressaltar que sempre o fizemos para garantir nossa sobrevivência.
Desde a invenção do tênis moderno – com bolsas de ar nos calcanhares, espumas de
diferentes densidades para evitar a pronação, placas estabilizadoras que percorrem toda
a entressola – no início da década de 1970, já se foram mais de 40 anos. Ele foi inventado
com o intuito de “corrigir” o movimento natural de pronação do pé – que, na verdade, é
uma combinação de três movimentos diferentes em três eixos anatômicos: eixo ântero-
-posterior, látero-lateral e crânio-caudal – e propiciar uma passada mais confortável para
corridas de longa distância, aterrissando nos calcanhares – graças à densa “almofada”
sob eles – e terminando o movimento no antepé, ganhando alguns centímetros a mais no
movimento, que se inicia à frente do centro de gravidade do corpo (11).
Porém, diversos estudos encontraram resultados diferentes dos esperados pelos inventores
dos tênis modernos. Neles, o impacto do pé calçado com o solo no momento da aterrissagem,
em comparação ao pé descalço, foi maior em todas as medições. Tais resultados sugerem que
aterrissar com os calcanhares – e não no médiopé ou antepé, como se faz correndo descalço
– pode ser mais lesivo, mesmo contando com toda tecnologia disponível (5, 6, 9, 17, 23, 25). Os índices
de lesões nos últimos 40 anos, ao contrário do que seria o esperado, aumentaram em 10% (11).
Um estudo (20) com corredores profissionais, calçados com tênis minimalistas, foi realizado
com o objetivo de relacionar padrões cinemáticos à Economia de Corrida (ECO) – consumo de
oxigênio em determinada velocidade submáxima de corrida (corredores mais econômicos ten-
dem a ser mais rápidos consumindo menos oxigênio). Nos resultados, os padrões cinemáticos
por ele encontrados nos corredores mais econômicos foram similares aos padrões encontra-
dos por outros autores, que realizaram estudos semelhantes com corredores descalços (5, 17).
Com base nessas informações, sabe-se que a característica mais intrínseca da corrida
com pés descalços em relação à corrida com pés calçados é a forma de aterrissagem: no
mediopé ou antepé quando descalço, e nos calcanhares quando calçado (5, 6, 9, 17, 25). A lite-
ratura explora aspectos como a força de reação do solo e os movimentos da articulação
subtalar (“pronação”) na fase de apoio da corrida (3, 5, 6, 8, 9, 18, 19, 21). Porém, não foi encon-
trado nenhum estudo que comparasse outros diversos aspectos cinemáticos que possam
ser modificados com a simples retirada do calçado de indivíduos que normalmente correm
calçados.
A hipótese do estudo é a de que a corrida com pés descalços apresente diferenças cinemá-
ticas em comparação com a corrida utilizando calçados. Nesse sentido, o presente estudo teve
como objetivo identificar alterações em padrões cinemáticos da corrida, após breve período
de adaptação à corrida com pés descalços, em indivíduos que normalmente correm calçados.
METODOLOGIA
AMOSTRA
O estudo foi constituído por 08 indivíduos adultos, praticantes de corrida de rua, de ambos
os gêneros, que foram recrutados nas assessorias esportivas e academias instaladas em
Santos, São Vicente e Praia Grande. Os sujeitos da pesquisa corriam recreativamente em
média 30 minutos, três vezes por semana na rua ou na esteira e também praticavam mus-
culação. A coleta dos dados foi realizada em academia na cidade de Praia Grande, entre
Agosto e Setembro de 2012, em dias e horários previamente agendados com os voluntá-
rios do estudo e com os pesquisadores.
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Foram adotados como critérios de inclusão: indivíduos com idades compreendidas entre
18 e 60 anos, que pratiquem corrida a pelo menos um ano, ininterruptamente, utilizando
tênis com tecnologias modernas de amortecimento e/ou controle de movimento em seus
treinamentos diários.
Foram adotados como critérios de exclusão: indivíduos que corram, mesmo que ocasional-
mente, com os pés descalços ou com tênis minimalistas, que apresentam ou apresentaram
lesões osteomioarticulares nos últimos 3 meses, ou então que possuam limitações ortopédi-
cas ou patológicas que os impeçam de correr por 20 minutos em esteira ergométrica.
Todos os sujeitos participantes do estudo assinaram, em duas vias, o Termo de Con-
sentimento Livre e Esclarecido, com detalhes sobre o estudo e a garantia do anonimato
quanto à sua identidade. Os procedimentos utilizados respeitam as normas internacionais
de experimentação com humanos (Declaração de Helsinki, 1997)(24), e tais procedimentos
foram realizados pelos próprios pesquisadores, após diversas baterias de testes para de-
terminação de variáveis espaciais e temporais e fixação dos métodos.
O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Santa Cecília, sob o protocolo
número 91.968.
INSTRUMENTO
Os instrumentos utilizados foram: esteira ergométrica da marca Lion Fitness, modelo X-4;
filmadora digital da marca GoPro, modelo HD Hero2; frequencímetro da marca Garmin, mo-
delo Forerunner 405; Frequencímetro da marca Oregon, modelo SE139 Smart Trainer; sof-
tware Kinovea – Video Analysis Software for Sports.
PROCEDIMENTOS
Foram analisados seis padrões cinemáticos no momento do primeiro contato do pé com o
solo na corrida com pés calçados e com pés descalços: ângulos articulares do tornozelo
(Figura 1), joelho (Figura 2), quadril (Figura 3) e cotovelo (Figura 4); ângulo do joelho em
relação ao eixo horizontal – dado por uma linha entre o epicôndilo lateral do fêmur e o
maléolo lateral interseccionando com uma linha horizontal a um ângulo reto perpendicular
ao solo (Figura 5); e ângulo do tornozelo em relação ao eixo vertical – dado por uma linha
correndo paralelamente à sola do tênis ou do pé interseccionando com uma linha vertical
a um ângulo reto perpendicular ao solo (Figura 6).
FIGURA 1. Ângulo articular do tornozelo. FIGURA 2. Ângulo articular do joelho.
FIGURA 3. Ângulo articular do quadril. FIGURA 4. Ângulo articular do cotovelo.
FIGURA 5. Ângulo do joelho em relação ao eixo horizontal. FIGURA 6. Ângulo do tornozelo em relação ao eixo vertical.
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FIGURA 7. colocação de marcas refletivas em proeminências anatômicas nas seguintes localizações no lado direito:
1. tubérculo maior do úmero; 2. epicôndilo lateral do úmero; 3. processo estilóide da ulna; 4. trocanter maior do fêmur;
5. epicôndilo lateral do fêmur; 6. maléolo lateral; 7. tuberosidade do 5º metatarso.
Os testes foram realizados da seguinte forma:
1. Pré-teste: colocação de marcas refletivas em proeminências anatômicas (Figura 7) nas
seguintes localizações no lado direito: 1. tubérculo maior do úmero; 2. epicôndilo late-
ral do úmero; 3. processo estilóide da ulna; 4. trocanter maior do fêmur; 5. epicôndilo
lateral do fêmur; 6. maléolo lateral; 7. tuberosidade do 5º metatarso.
2. Medição da frequência cardíaca de repouso: colocação da cinta do frequencímetro no
indivíduo sentado e mensuração da frequência cardíaca de repouso durante 5 minutos;
3. Corrida com pés calçados: calçados com seus tênis de corrida habituais, os indivíduos
correram por 5 minutos na esteira ergométrica, à velocidade de 8 km/h, para familia-
rização e ambientação. Houve um incremento de 1 km/h a cada 1 minuto, até que sua
frequência cardíaca atingisse 85% de sua frequência cardíaca de reserva, calculada
pela fórmula: FC reserva = ([220-idade] – FC repouso) x 0.85 + FC repouso4. Atingida a
FC alvo, realizou-se uma filmagem digital a uma frequência de 120 Hz, no plano sagital,
durante 15 segundos. A filmadora esteve a uma distância de 1.70 metros da esteira,
a uma altura de 1.10 metro do solo, apoiada sobre um tripé. Em seguida, o indivíduo
caminhou por 3 minutos à velocidade de 5 km/h para volta à calma;
4. IV. Após 20 minutos para descanso, o mesmo indivíduo realizou procedimento seme-
lhante à etapa III, só que dessa vez com os pés descalços.
ANÁLISE DOS DADOS
Após a realização dos testes, as filmagens digitais foram processadas no software Kinovea,
separadas quadro a quadro, e selecionado o quadro do momento de primeiro contato do
pé direito do indivíduo com o solo na corrida, nas etapas de corrida com pés calçados e
descalços. Depois de selecionado o quadro, no mesmo software foi realizado, através de
ferramenta específica, a medição dos ângulos articulares do tornozelo, joelho, quadril e
cotovelo; ângulo do joelho em relação ao eixo horizontal; e ângulo do tornozelo em relação
ao eixo vertical.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados estão apresentados como média + ou – erro padrão e utilizamos o programa
Statistics 12.0 para o procedimento estatístico.
As variáveis utilizadas foram submetidas ao teste de Kolmogorov-Smirnov para consi-
derar a distribuição normal. As variáveis que não apresentaram esta distribuição foram
analisadas após transformação logarítima.
Para características de angulações articulares foram submetidos à análise de variância
de um caminho (one away ANOVA) para amostras repetidas com nível de significância <0.05.
RESULTADOS
O gráfico 1 apresenta os ângulos articulares do tornozelo. Todos os indivíduos apresenta-
ram uma maior dorsoflexão quando calçados (p=0.013), com média de 100.8 ± 9.04°, ante
112.8 ± 7.91° quando descalços.
GRÁFICO 1. Médias dos ângulos articulares do tornozelo no momento de contato com o solo
entre os grupos calçado e descalço.
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73 — RPCD 15 (2)
Também foi encontrado um aumento significativo (p=0.000) na extensão do joelho quan-
do os indivíduos correram com os pés calçados (163.3 ± 4.03°) e com os pés descalços
(151.1 ± 5.67°), conforme apresentado no gráfico 2.
GRÁFICO 2. Média da extensão de joelhos no momento de contato com o solo entre os grupos calçado e descalço.
Em relação aos ângulos das articulações do quadril e do cotovelo, não foram observadas
diferenças entre os grupos, com médias de 159.8 ± 5.06° para indivíduos calçados e 158.6
± 8.23° para descalços e 80.8 ± 12.24° no grupo calçado, e nos indivíduos descalços foi de
85.9 ± 15.23° respectivamente (Quadro 1 e Quadro 2).
QUADRO 1. Média, desvio padrão e valor P do ângulo articular do quadril no momento de contato com o solo
entre os grupos calçado e descalço.
QUADRO 2. Média, desvio padrão e valor P do ângulo articular do quadril no momento de contato com o solo
entre os grupos calçado e descalço.
Observamos no gráfico 3 diferenças estatisticamente significativas no ângulo do joelho
em relação ao eixo horizontal, (p=0.000) entre os grupos calçado e descalço. Nos indivídu-
os correndo calçados, a média foi de 97.1 ± 3.04°, e nos indivíduos correndo descalços foi
de 89.6 ± 3.16°. Mas a maior diferença se deu no ângulo do tornozelo em relação ao eixo
vertical (P=0.000), como podemos ver no gráfico 4. Nos indivíduos calçados, a média foi de
76.9 ± 6.20°; nos indivíduos descalços, encontramos a média de 93.9 ± 4.55°.
GRÁFICO 3. Angulação do joelho em relação ao eixo horizontal no momento de contato com o solo
entre os grupos calçado e descalço.
GRÁFICO 4. Angulação do tornozelo em relação ao eixo vertical no momento de contato com o solo
entre os grupos calçado e descalço.
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75 — RPCD 15 (2)
DISCUSSÃO
O presente estudo confirmou a hipótese que a corrida com pés descalços e calçados
apresenta importantes diferenças cinemáticas em algumas articulações durante a prá-
tica da corrida. Dentre as variáveis cinemáticas analisadas o ângulo articular do torno-
zelo (p=0.013), do joelho (p=0.000), o ângulo do tornozelo em relação ao eixo vertical
(p=0.000) e o ângulo do joelho em relação ao eixo horizontal (p=0.000) apresentaram dife-
renças significativas. Em relação aos ângulos articulares do quadril e cotovelo não foram
encontradas diferenças significativas.
Em relação ao ângulo articular do tornozelo, os resultados mostram que há uma dorso-
flexão mais acentuada quando o individuo corre calçado, forçando a uma aterrissagem no
retropé, corroborando com diversos estudos (5, 6, 9, 17, 23, 25). Esse tipo de aterrissagem causa
maiores forças de reação do solo, elevando as forças que agem nas articulações e, conse-
quentemente, aumenta a probabilidade de lesões.
Estudos utilizando eletromiografia (12, 13, 15) demonstraram que o músculo tibial anterior,
principal responsável pela dorsoflexão, sofre uma fadiga precoce quando solicitado con-
centricamente. Isso leva a crer que a “pronação excessiva” dos pés, no momento da fase
de apoio da corrida, e considerada por muitos (8, 16, 18) uma das principais causas de lesões
no referido esporte, pode estar relacionada à essa fadiga precoce do músculo tibial ante-
rior. Esse é um dado bastante relevante da pesquisa, pois demonstra um possível benefício
da corrida descalço em relação à corrida calçado, tendo em vista a menor probabilidade de
lesões no joelho decorrentes da alta solicitação do tibial anterior.
Além da dorsoflexão, o tibial anterior é o responsável pela sustentação excên-
trica do arco do pé no momento do apoio na corrida, e participa ativamente do
movimento de inversão, antagônico à “pronação”. Por isso a queixa constante de
ardência na região tibial anterior em corredores que aterrissam no retropé.
O joelho é a principal articulação do membro inferior quanto à absorção de impactos
na corrida. Ele é a região anatômica mais acometida por lesões (7, 20). Em nosso estudo, o
ângulo de flexão do joelho dos indivíduos correndo calçados foi mais próximo a 180°, um
ângulo raso. E, quanto mais próximos desse valor, maiores as forças de reação do solo (10,
14, 17) que, além de serem prejudiciais aos joelhos, atingem as articulações do quadril e a co-
luna vertebral. É plausível afirmarmos que, quanto mais flexionados os joelhos na hora do
impacto, maior será a capacidade de seus músculos flexores absorverem excentricamente
as forças verticais de reação do solo e retorná-las na forma de impulsão.
Os ângulos encontrados na articulação do quadril não apresentaram diferenças signifi-
cativas entre a corrida calçada e descalça. Porém, levando em consideração que os indiví-
duos flexionaram mais o joelho quando descalços, a aterrissagem deu-se mais próxima da
projeção vertical do centro de massa no solo (22) fazendo com que o movimento translató-
rio do centro de massa fosse mais uniforme, independentemente da angulação do quadril
houve menos desacelerações e acelerações.
O ângulo de flexão do cotovelo, apesar de não apresentar significância, não deve ser to-
talmente desprezado. Quando correndo descalços, os indivíduos apresentaram uma maior
extensão do cotovelo, o que faz com que os punhos pendulem mais próximos à região
do quadril e mais paralelos ao corpo, baixando o centro de gravidade, provocando menor
oscilação vertical, contribuindo com um mais eficiente deslocamento do centro de massa
à frente. Tartaruga (20) demonstrou em sua investigação evidências de que, quanto mais
estendidos os cotovelos, mais econômicos eram os indivíduos (20).
Como já foi dito, para não haver desacelerações desnecessárias, o ideal seria que o pé
tocasse o solo logo abaixo do centro de gravidade do corpo, que seria dado por um ângu-
lo de 90°. Porém, na medição do ângulo do joelho em relação ao eixo horizontal, quando
calçados, os indivíduos apresentaram um valor médio de 97.1 ± 3.04°. Esse valor indica
que o ponto de contato com o solo estava à frente do centro de gravidade, enquanto que,
descalços, a média angular ficou em 89.6 ± 3.16°, muito próxima do ideal.
Corroborando com os resultados encontrados na amplitude de flexão do tornozelo, ao
medirmos o ângulo do tornozelo em relação ao eixo vertical, a média dos indivíduos cal-
çados foi de 76.9 ± 6.20°, muito mais obtuso que quando descalços, com média de 93.9 ±
4.55°, mesmo considerando que a altura do solado dos tênis na região dos calcanhares era
consideravelmente mais alto que a parte da frente. Ou seja, calçados, os indivíduos ater-
rissaram no retropé com uma dorsoflexão bastante acentuada. Enquanto isso, descalços,
a aterrissagem foi num ângulo raso, maior do que 90°, evidenciando um contato com o solo
prevalentemente com o mediopé.
Se relacionarmos a amplitude angular de tornozelo, joelho e quadril, veremos que,
descalços, os indivíduos apresentaram um “efeito de mola” do membro inferior, mais
capaz de absorver o impacto e acumular energia para a fase de impulsão da corrida.
Enquanto isso, o membro inferior dos indivíduos calçados apresentou um aspecto mais
rígido, menos capaz de dissipar as forças de reação do solo, podendo aumentar a sobre-
carga sobre as articulações.
Algo que não era objetivo de pesquisa e que não teve significância estatística, mas que
merece ser comentado foi a maior velocidade de corrida dos indivíduos quando descal-
ços. A 85% da frequência cardíaca de reserva, cinco dos 8 indivíduos atingiram maiores
velocidades quando descalços. Os outros 3 mantiveram a mesma velocidade. Esses dados
corroboram com um estudo (20), o qual analisou a Economia de Corrida (ECO – consumo
de oxigênio em velocidades submáximas de corrida) em corredores profissionais de nível
nacional que correm com tênis de perfil baixo. Os padrões cinemáticos encontrados por
04
ele nos indivíduos mais econômicos foram similares aos do nosso estudo, com um menor
ângulo do joelho na fase de apoio, o deslocamento à frente do centro de massa, a maior
amplitude do cotovelo e o ângulo de flexão do tornozelo.
A inserção de corridas descalças nos treinamentos, com o intuito de alterar a cinemática,
pode ser benéfica aos atletas, assim como a substituição de tênis ditos “modernos” – com
calcanhares altos e macios, suportes para o arco do pé e entressolas rígidas, que impedem
o movimento natural dos pés – por tênis minimalistas, com solados baixos e sem qualquer
tipo de amortecimento e controle de movimentos subtalares.
Sendo assim, os resultados encontrados sugerem que a corrida com pés descalços,
comparada à corrida com pés calçados, pode diminuir a incidência de lesões causadas
pelo impacto e por movimentos acessórios das articulações. Portanto, fazem-se neces-
sários mais estudos correlacionando as variáveis cinemáticas, cinéticas, anatômicas e fi-
siológicas da corrida descalço, para determinar com mais precisão a Economia de Corrida
e por quais mecanismos ela se dá. Além disso, um estudo epidemiológico comparando os
níveis de lesão em corredores que normalmente correm descalços com os que correm
calçados seria bem vindo.
Podemos citar algumas limitações desta investigação, como o fato dos indivíduos utiliza-
rem seus próprios calçados para as análises e, eventualmente, o mau estado de conservação
dos mesmos pode ser um ponto negativo à cinemática da corrida. Pode-se destacar também
que as análises da corrida com pés calçados e descalços foram efetuadas no mesmo dia
com apenas 20 minutos de descanso entre ambas e que talvez a fadiga possa ter interferido
na segunda avaliação. Por outro lado nos baseamos na hipótese de que os avaliados esti-
vessem bastante adaptados aos seus calçados mesmo que gastos serviam ao propósito do
estudo. Vale ressaltar também que a intensidade de exercício proposto foi confortável para
esses indivíduos justamente para tentar minimizar a questão da fadiga no segundo teste.
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04
79 — RPCD 15 (2): 78-95
05Abordagem empírica
da noção de prontidão motora
no contexto da disciplina
de Educação Física
PALAVRAS-CHAVE:
Prontidão motora. Regressão quantílica.
Função discriminante. Crianças e adolescentes.
Educação Física.
RESUMO
A literatura disponível não permite identificar, com facilidade, formas e processos condu-
centes à operacionalização da prontidão motora no domínio pedagógico. No presente es-
tudo assume-se que a prontidão motora envolve aspetos relacionados com a proficiência
motora e a aptidão física, de modo que possa ser avaliada por meio de testes específicos.
Daqui que o objetivo desta pesquisa seja o de operacionalizar a PM associada à aptidão físi-
ca. Para o efeito (1) recorre-se à análise da função discriminante para verificar a presença
de diferenças nas categorias de prontidão esperadas ao longo dos vários anos de escolari-
dade; (2) apresenta-se um “aptidograma” com base na distribuição do desempenho a partir
da regressão quantílica cujos valores possam servir de indicadores de distintos níveis de
prontidão motora. A amostra total é composta por 2986 crianças e jovens, do 5º ao 9º
ano de escolaridade, que foram avaliados em cinco testes motores: dinamometria manual,
impulsão horizontal, corrida vai-vem, corrida de 50 jardas e corrida/marcha da milha. Os
resultados mostram incrementos do desempenho em ambos os sexos ao longo dos anos
de escolaridade, tendo os meninos desempenhos médios superiores. Os perfis configura-
cionais de PM são inferiores aos esperados em cada ano de escolaridade, com exceção dos
alunos do 5º ano, em ambos os sexos, e dos meninos do 9º ano. Os “aptidogramas” mos-
tram resultados diferenciados por ano e sexo, salientando o diferencial de PM.
AUTORES:
Cláudia Malafaya 1
Go Tani 2
José Maia 3
1 Departamento de Expressões, Escola Básica de Leça da Palmeira, Matosinhos. Portugal
2 Laboratório de Comportamento Motor, Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP. Brasil
3 CIFI2D & Laboratório de Cineantropometria e Gabinete de Estatística Aplicada, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Porto, Portugal
SUBMISSÃO: 1 Junho de 2015ACEITAÇÃO: 15 Agosto de 2015
Correspondência: Maria Cláudia d’Athayde Malafaya Tavares de Lima. Escola Básica de Leça da Palmeira,
Rua do Sol Poente, 4450-793 Leça da Palmeira, Portugal (cmalafaya@netcabo.pt).
Em conclusão, os valores de reclassificação da função discriminante traduzem não
só insuficiência de prontidão motora em diferentes anos de escolaridade, mas tam-
bém heterogeneidade e variabilidade interindividual existentes em crianças e jovens
do mesmo ano de escolaridade. Os valores da regressão quantílica e do “aptidograma”
resultante são informação útil para os professores ajuizarem com maior rigor os níveis
de PM dos seus alunos.
81 — RPCD 15 (2)
Empirical approach to motor readiness
within the Physical Education context
ABSTRACT
The available literature does not easily identify forms and processes
conducive to the operationalization of motor readiness in the educa-
tional field. In the present study it is assumed that MR involves as-
pects related to motor proficiency and physical fitness, so that it can
be assessed by specific tests. Therefore the aim of this research is
to operationalize the motor readiness associated with physical fitness.
For this purpose (1) the discriminant function analysis is used to verify
the presence of differences in the categories of readiness expected
over the years of schooling; (2) a “physical aptitudegram” based on
the distribution of performance using quantile regression whose val-
ues can serve as indicators of different levels of MR is presented. The
sample comprised 2,986 children, from 5th to 9th grade. Physical fit-
ness was assessed by five tests: handgrip, standing broad jump, shut-
tle run, 50-yard dash and 1-mile walk/run. The results show perfor-
mance increments in both sexes over the years of schooling, with boys
having higher performances. In both sexes (with the exception of 5th
grade girls and boys and 9th grade boys) configurational profiles of MR
is lower than expected for each grade. The “physical aptitudegrams”
show results differentiated by year and sex, stressing differential MR.
In conclusion, the reclassifications of discriminant function values
reflect not only insufficiency of PM in different school years, but also
heterogeneity and interindividual variability in children and young
of the same grade. The resultant values of quantile regression and
“physical aptitudegram” are useful tools for teachers to deem more
rigorously the motor readiness levels of their students.
KEYWORDS:
Motor readiness. Quantile regression. Discriminant function.
Children and adolescents. Physical Education.
INTRODUÇÃO
É atualmente reconhecido que o estudo da prontidão motora (PM) de crianças e jovens
assume enorme importância pedagógica (4, 14, 15, 18, 20, 21). Os níveis de PM de cada criança ou
jovem expressam um pré-requisito essencial para realizar com sucesso as exigências de
uma tarefa motora ou de uma situação de aprendizagem (6, 20, 21).
A relevância pedagógica atribuída a esta temática resulta da necessidade sentida pelos
professores de Educação Física (EF) em identificar os níveis de PM de crianças e jovens
de forma a adequar as propostas didático-metodológicas das aulas às características dos
alunos, respeitando as diferenças interindividuais existentes em cada turma e entre tur-
mas do mesmo ano de escolaridade (13, 15, 28).
No presente estudo assume-se que a PM envolve aspetos relacionados com a proficiência
motora e a aptidão física, de modo que possa ser avaliada por meio de testes específicos.
A aptidão para aprender habilidades motoras é atribuída à combinação entre proficiência
motora prévia e uma série de experiências apropriadas (27). A proficiência motora altera-se à
medida que a criança se desenvolve e o seu desenvolvimento é acompanhado por uma me-
lhoria nos níveis de desempenho (18, 20). Em contexto escolar, cabe à disciplina de EF o desen-
volvimento harmonioso da aptidão física e da proficiência motora, cujo propósito é contribuir,
entre outros aspetos, para a PM das crianças e jovens (14). Ademais, orientar o processo de
aprendizagem de habilidades motoras, adequando as opções pedagógicas às características
da população escolar, é uma responsabilidade primordial dos professores de EF.
Um modo relativamente simples, embora limitado, para determinar o estado de profi-
ciência motora é marcar o nível de desempenho motor (DM), isto é, expressá-lo de forma
quantitativa e qualitativa. Como a recolha de informação do DM passa pela administração
de testes motores, o tratamento dos dados obtidos em diferentes testes pode ajudar a
traçar um perfil multidimensional de desempenho de cada aluno e, desta forma, ter uma
ideia do seu nível de PM. Além disso, o acompanhamento e monitorização dos resultados
do DM de crianças e jovens podem contribuir de forma decisiva para a promoção da prática
de atividades físico-desportivas ao longo da vida (9).
No que se refere ao aspeto de aptidão física associado à PM, ressalte-se que níveis di-
ferenciados de aptidão física expressam elementos fundamentais para o sucesso motor,
propiciando êxito na atividade e criando expectativas de manutenção futura de estilos de
vida ativos e saudáveis (2, 25, 26).
05
83 — RPCD 15 (2)
Existe uma grande variedade de testes para avaliar a aptidão física, sendo as baterias de
testes EUROFIT (7), AAHPER (1) e Fitnessgram (29) as mais referenciadas na literatura inter-
nacional. Similarmente, está disponível um conjunto diversificado de trabalhos visando à
apresentação e discussão conceitual da PM (ver, por exemplo, Malafaya, Tani & Maia (17)).
Contudo, não obstante o valor intrínseco desta informação, o fato é que nem sempre é pos-
sível vislumbrar o(s) modo(s) de operacionalizar a PM. Na literatura em língua portuguesa
foram identificados somente dois estudos que se aproximam desta noção (14, 15), ambos com
crianças do 1º ciclo do ensino básico. A sua abordagem, exploratória, recorre aos proce-
dimentos da análise de variância multivariada e da função discriminante, centrando a sua
atenção na construção de perfis da aptidão física e de coordenação motora grossa.
Da revisão da literatura disponível não se conseguiu identificar qualquer estudo publica-
do em países lusófonos que se debruce sobre a PM em crianças e jovens dos 2º e 3º ciclos
do ensino básico. Deste modo, a intenção desta pesquisa é contribuir para um melhor co-
nhecimento da PM, apresentando uma proposta relativamente simples que permita a iden-
tificação dos níveis de PM associados à aptidão física dos alunos. Daqui que os propósitos
deste estudo sejam: (1) verificar a presença de diferenças nas categorias de prontidão
esperadas ao longo dos vários anos de escolaridade com base nas matrizes de confusão
geradas pela análise da função discriminante; (2) apresentar um “aptidograma” com base
na distribuição centílica do DM a partir da regressão quantílica e que pode servir de indica-
dor de distintos níveis de PM.
METODOLOGIA
AMOSTRA
A amostra deste estudo é oriunda do projeto educativo “Desafios à Vida mais Saudável
na Escola e na Família”, uma pesquisa com um delineamento longitudinal-misto realizada
na Escola Básica de Leça da Palmeira, no concelho de Matosinhos (Norte de Portugal). A
amostra é composta por 2986 indivíduos (1598 do sexo masculino e 1388 do sexo femini-
no) do 5º ao 9º ano de escolaridade, com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos
(Quadro 1). Para a realização do estudo foi obtido consentimento escrito, livre e informado
dos encarregados de educação de todos os alunos. O projeto foi aprovado pela Comissão
de Ética da Universidade do Porto, pela Direção da Escola e pelo seu Conselho Pedagógico.
QUADRO 1. Distribuição da amostra por idade, ano de escolaridade e sexo.
ANO DE ESCOLARIDADE
SEXOIDADE
TOTAL10 11 12 13 14 15
5º
♂ 212 132 20 8 372
♀ 211 117 15 3 346
Total 423 249 35 11 718
6º
♂ 10 206 121 47 24 2 410
♀ 12 202 104 23 8 1 350
Total 22 408 225 70 32 3 760
7º
♂ 2 183 106 23 7 321
♀ 162 95 12 2 271
Total 2 345 201 35 9 592
8º
♂ 157 81 26 264
♀ 122 80 10 212
Total 279 161 36 476
9º
♂ 149 82 231
♀ 123 86 209
Total 272 168 440
TOTAL 445 659 605 561 500 216 2986
Algumas restrições levaram a que nem sempre fosse possível obter toda a informação
sobre os alunos inicialmente sinalizados. O Quadro 2 apresenta o número de alunos em
relação aos quais foi possível recolher informação completa em todos os testes adminis-
trados. Ressalte-se que a informação omissa, cujo padrão é aleatório (do inglês missing at
random), em nada limita a análise dos dados nem condiciona a sua generalização.
QUADRO 2. Número de alunos da amostra com informação completa.
SEXOANO DE ESCOLARIDADE
TOTAL5º 6º 7º 8º 9º
Masculino 245 344 298 233 215 1335
Feminino 242 302 246 176 185 1151
TOTAL 487 646 544 409 400 2486
05
85 — RPCD 15 (2)
TESTES MOTORES
Para mapear a PM de cada criança e jovem foi utilizado um conjunto variado de testes
marcadores de distintas facetas da aptidão física. A avaliação da aptidão foi concebida em
termos normativos e recorreu a um conjunto de testes das baterias EUROFIT (7), AAHPER
(1) e Fitnessgram (29), conforme o Quadro 3.
QUADRO 3. Testes e componentes da aptidão física utilizados para mapear a PM.
TESTES MOTORES COMPONENTES DA APTIDÃO
Dinamometria manual Força estática da mão
Impulsão horizontal Força explosiva dos membros inferiores
Corrida de 50 jardas Velocidade
Corrida vai-vem Agilidade
Corrida/marcha da milha Resistência cardiorrespiratória
A essência da avaliação normativa é diferenciar níveis de aptidão física de crianças e
jovens e situar os seus valores num grupo de referência por ano de escolaridade e sexo. No
caso do presente estudo, o grupo de referência é a população estudantil dos 2º e 3º ciclos
da Escola Básica de Leça da Palmeira.
Os testes foram aplicados pelos professores de EF de acordo com procedimentos des-
critos nos manuais das respetivas baterias.
CONTROLE DA QUALIDADE DE INFORMAÇÃO
O controle da qualidade de informação foi efetuado em três etapas: (1) após a apresen-
tação do projeto e da estrutura da avaliação, todos os professores de EF da Escola foram
treinados na aplicação dos testes das distintas baterias; (2) foi efetuado um estudo de
teste-reteste numa subamostra de alunos dos dois sexos e distintos anos de escolaridade,
sendo que os retestes foram realizados num espaçamento de duas semanas; (3) foram
calculados os coeficientes de correlação intraclasse para se ajuizar da qualidade da in-
formação obtida, conforme sugestões de Baumgartner (3). Os resultados do coeficiente de
correlação intraclasse (R) e respetivos intervalos de confiança (IC 95%) são apresentados
no Quadro 4. Os valores indicam a elevada qualidade da informação obtida.
QUADRO 4. Estimativas de fiabilidade: sujeitos retestados (n), coeficiente de correlação intraclasse (R) e respetivos intervalos de confiança a 95%.
TESTES N R IC 95%
Dinamometria manual (kg) 213 0.96 0.95 a 0.97
Impulsão horizontal (cm) 248 0.95 0.94 a 0.96
Corrida de 50 jardas (seg) 243 0.96 0.95 a 0.97
Corrida vai-vem (seg) 234 0.94 0.92 a 0.95
Corrida/marcha da milha (min) 242 0.93 0.91 a 0.95
PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS
Foi efetuada uma análise exploratória com a finalidade de verificar a normalidade das dis-
tribuições dos resultados em cada teste, identificar a presença de outliers e calcular as
principais estatísticas descritivas. Esta análise foi realizada no software SPSS 20.
A primeira etapa da operacionalização da PM recorreu à análise da função discriminante,
tal como sugerido por Lopes (14) e Maia e Lopes (15). O fator principal foi o ano de escolari-
dade, e as análises foram realizadas separadamente por sexo. Nesta etapa, os resultados
mais importantes dizem respeito à matriz de confusão onde se verificou a dimensão dos
alunos mal classificados no seu ano de escolaridade quanto a PM esperada. Isto é, estes
resultados expressam a percentagem de casos reclassificados nos seus grupos originais
(i.e., anos de escolaridade) a partir dos coeficientes produzidos pelas funções discriminan-
tes. Este procedimento foi realizado no software SYSTAT 13. A segunda etapa da opera-
cionalização da PM foi efetuada com base no cálculo dos valores da distribuição quantílica
(neste caso percentílica, P20, P40, P50, P60 e P80) em função do ano de escolaridade e
sexo, com recurso à regressão quantílica (do inglês quantile regression) descrita por Ko-
enker e Hallock (11) e implementada no software STATA 13. Assim, partindo da distribuição
esperada dos níveis finais de período, numa escala de 1 a 5 (escala de níveis determinada
pelo Ministério da Educação e Ciência português (23)), foi considerado que o nível mínimo
de PM de um qualquer aluno para responder às exigências das aulas no que se refere a
sua aptidão física se situaria, em todas as provas, entre o P20 e o P40, ou seja, no nível 2.
05
87 — RPCD 15 (2)
RESULTADOS
As principais estatísticas descritivas (média e desvio-padrão) de cada teste, por ano de
escolaridade e sexo, são apresentadas no Quadro 5. Os resultados mostram incrementos
do desempenho em ambos os sexos ao longo dos anos de escolaridade, tendo os meninos
desempenhos médios superiores.
QUADRO 5. Média e desvio-padrão (M ± dp) para cada teste motor, por ano de escolaridade e sexo.
TESTE SEXOANO DE ESCOLARIDADE
5º 6º 7º 8º 9º
Dinamometria manual (kg)
♂ 18.9 ± 4.3 22.4 ± 6.1 25.6 ± 5.9 30.3 ± 6.7 34.3 ± 6.3
♀ 18.1 ± 3.7 21.4 ± 4.3 23.7 ± 4.7 26.5 ± 4.2 26.4 ± 4.3
Impulsão horizontal (cm)
♂ 133.2 ± 23.9 150.3 ± 28.3 161.0 ± 26.2 175.7 ± 28.7 186.0 ± 26.4
♀ 119.3 ± 20.9 132.8 ± 22.2 137.0 ± 23.0 145.4 ± 24.6 142.8 ± 23.6
Corrida 50 jardas (seg)
♂ 8.7 ± 0.9 8.2 ± 0.9 7.8 ± 0.9 7.6 ± 0.9 7.0 ± 0.7
♀ 9.2 ± 0.9 8.6 ± 0.8 8.4 ± 0.8 8.3 ± 0.8 8.1 ± 0.7
Corrida vai-vem (seg)
♂ 11.8 ± 1.3 11.4 ± 1.1 10.8 ± 1.0 10.4 ± 0.9 10.1 ± 0.8
♀ 12.4 ± 1.3 12.1 ± 1.1 11.7 ± 1.1 11.4 ± 1.1 11.4 ± 1.0
Corrida/marcha da milha (min)
♂ 9.8 ± 1.9 9.1 ± 1.9 8.6 ± 1.6 8.2 ± 1.8 7.7 ± 1.4
♀ 11.1 ± 1.9 10.6 ± 1.8 10.3 ± 1.6 9.7 ± 1.7 9.7 ± 1.7
Nos Quadros 6 e 7 estão os resultados das matrizes de confusão obtidas das duas funções
discriminantes, significativas nos meninos (Wilks´ L=0.48, F=54.32, p<0.001) e meninas (Wi-
lks´ L=0.58, F=33.71, p<0.001). As frequências absolutas (n) e percentagens (%) assinala-
das a negrito referem-se aos alunos corretamente classificados no seu ano de escolaridade.
Os resultados mostram que a percentagem total de reclassificação correta é muito baixa.
Nos Quadros 8 e 9 são apresentados os principais resultados da regressão quantílica (P20,
P40, P50, P60 e P80) para cada ano de escolaridade de meninos e meninas. Estas tabelas
expressam a ideia de “aptidograma”, por incluírem, por ano de escolaridade, a distribuição dos
centis mais importantes para marcar diferentes bandas de PM. Do ponto de vista operacional,
e tal como referido anteriormente, a “banda” de resultados entre o P20 e o P40 em todos os
testes e em cada um dos anos de escolaridade expressa a PM mínima para responder com
sucesso às exigências das aulas no que concerne ao desenvolvimento de aptidão física.
QUADRO 6. Matriz de confusão (reclassificação) dos meninos dos diferentes anos de escolaridade (%CC=percentagem de reclassificação correta; %CJK=percentagem de reclassificação correta com base no procedimento de re-amostragem de Jackknife para validação cruzada da solução obtida).
ANO DE ESCOLARIDADE
5º 6º 7º 8º 9º %CC %CJK TOTAL
5º n 174 41 26 4 0 245
% 71.0 16.7 10.6 1.6 0.0 71 69
6º n 123 104 73 24 20 344
% 35.8 30.2 21.2 7.0 5.8 30 29
7º n 45 68 97 50 38 298
% 15.1 22.8 32.6 16.8 12.8 33 32
8º n 9 24 47 71 82 233
% 3.9 10.3 20.2 30.5 35.2 30 30
9º n 2 5 28 29 151 215
% 0.9 2.3 13.0 13.5 70.2 70 70
Total 1335
% total de reclassificação correta 45%
QUADRO 7. Matriz de confusão (reclassificação) das meninas dos diferentes anos de escolaridade (%CC=percentagem de reclassificação correta; %CJK=percentagem de reclassificação correta com base no procedimento de re-amostragem de Jackknife para validação cruzada da solução obtida)
ANO DE ESCOLARIDADE
5º 6º 7º 8º 9º %CC %CJK TOTAL
5º n 168 49 14 7 5 242
% 69.4 20.2 5.8 2.9 2.1 69 69
6º n 97 82 58 32 30 302
% 32.1 27.2 19.2 10.6 9.9 29 27
7º n 40 55 56 42 53 246
% 16.3 22.4 22.8 17.1 21.5 24 23
8º n 7 19 34 63 53 176
% 4.0 10.8 19.3 35.8 30.1 38 36
9º n 9 24 25 66 61 185
% 4.9 13.0 13.5 35.7 33.0 35 33
Total 1151
% total de reclassificação correta 37%
05
89 — RPCD 15 (2)
QUADRO 8. Valores percentílicos nos testes motores por ano de escolaridade – Sexo masculino (resultados da regressão quantílica).
ANO DE ESCOLARIDADE
TESTEPERCENTIL
20 40 50 60 80
5ºDinamometria manual (kg)
15.3 17.2 18.5 19.4 22.1
Impulsão horizontal (cm)
112 128 134 140 153
Corrida 50 jardas (seg)
9.41 8.89 8.63 8.47 7.96
Corrida vai-vem (seg)
12.92 12.03 11.68 11.38 10.63
Corrida/marcha da milha (min)
11.26 10.20 9.35 9.02 8.15
6ºDinamometria manual (kg)
17.3 20.3 21.5 22.7 26.4
Impulsão horizontal (cm)
125 141 149 156 175
Corrida 50 jardas (seg)
8.87 8.33 8.10 7.89 7.43
Corrida vai-vem (seg) 12.30 11.59 11.29 10.97 10.48
Corrida/marcha da milha (min)
10.50 9.29 9.00 8.33 7.45
7ºDinamometria manual (kg)
20.7 23.9 24.3 26.1 30.4
Impulsão horizontal (cm)
140 155 160 167 180
Corrida 50 jardas (seg)
8.43 7.93 7.72 7.46 7.12
Corrida vai-vem (seg) 11.55 10.95 10.68 10.45 9.96
Corrida/marchada milha (min)
10.00 8.52 8.24 8.07 7.26
8ºDinamometria manual (kg)
24.3 28.1 30.2 31.8 36.0
Impulsão horizontal (cm)
151 169 178 185 200
Corrida 50 jardas (seg)
8.39 7.61 7.48 7.19 6.78
Corrida vai-vem (seg) 11.12 10.56 10.33 10.09 9.60
Corrida/marcha da milha (min)
9.40 8.38 8.13 7.48 6.51
9ºDinamometria manual (kg)
28.8 32.4 33.7 35.7 40.0
Impulsão horizontal (cm)
164 180 186 193 210
Corrida 50 jardas (seg)
7.41 7.01 6.89 6.73 6.49
Corrida vai-vem (seg) 10.61 10.18 9.98 9.75 9.46
Corrida/marcha da milha (min)
8.59 7.51 7.36 7.23 6.45
QUADRO 9. Valores percentílicos nos testes motores por ano de escolaridade – Sexo feminino (resultados da regressão quantílica).
ANO DE ESCOLARIDADE
TESTEPERCENTIL
20 40 50 60 80
5ºDinamometria manual (kg)
14.8 16.7 17.8 18.9 21.3
Impulsão horizontal (cm)
100 113 118 123 135
Corrida 50 jardas (seg)
9.85 9.32 9.07 8.87 8.49
Corrida vai-vem (seg)
13.55 12.76 12.40 12.02 11.23
Corrida/marcha da milha (min)
12.56 11.35 11.15 10.37 9.30
6ºDinamometria manual (kg)
17.6 20.3 21.8 22.7 24.3
Impulsão horizontal (cm)
115 126 132 136 151
Corrida 50 jardas (seg)
9.25 8.75 8.53 8.34 7.84
Corrida vai-vem (seg)
12.99 12.36 12.07 11.78 11.11
Corrida/marcha da milha (min)
12.17 11.08 10.36 10.08 9.10
7ºDinamometria manual (kg)
19.7 22.4 23.4 24.7 27.3
Impulsão horizontal (cm)
118 131 137 144 156
Corrida 50 jardas (seg)
9.03 8.55 8.30 8.05 7.63
Corrida vai-vem (seg)
12.36 11.83 11.52 11.28 10.84
Corrida/marcha da milha (min)
11.51 10.48 10.17 9.58 9.08
8ºDinamometria manual (kg)
22.8 24.6 26.1 27.8 30.3
Impulsão horizontal (cm)
123 139 144 151 166
Corrida 50 jardas (seg)
8.90 8.34 8.14 7.97 7.50
Corrida vai-vem (seg)
12.19 11.50 11.30 11.13 10.47
Corrida/marcha da milha (min)
11.25 10.20 9.50 9.18 8.27
9ºDinamometria manual (kg)
23.0 24.9 26.4 27.5 30.0
Impulsão horizontal (cm) 120 137 142 148 160
Corrida 50 jardas (seg)
8.71 8.19 8.03 7.89 7.43
Corrida vai-vem (seg)
12.03 11.55 11.31 11.12 10.61
Corrida/marcha da milha (min)
11.12 10.06 9.35 9.09 8.22
05
91 — RPCD 15 (2)
DISCUSSÃO
Este estudo pretendeu, essencialmente, verificar a presença de diferenças nas categorias de
prontidão esperadas nos vários anos de escolaridade e apresentar um “aptidograma” com
base na distribuição centílica do DM que pudesse servir de indicador de distintos níveis de
PM. Em contexto escolar, pensa-se que este assunto assume particular importância, pois é
solicitado ao professor de EF que tome decisões pedagógicas adequadas às características
dos seus alunos. Tal facto exige que possua um conhecimento relativamente preciso sobre
os níveis de PM dos seus alunos, considere as diferenças interindividuais existentes e avalie
o que foi trabalhado e conseguido ao longo de cada período ou ano de escolaridade.
Operacionalizar o conceito de PM não é tarefa fácil, até porque da literatura consultada
(ver Malafaya, Tani & Maia (17)) não é fácil identificar formas e processos conducentes à
sua objetivação, sobretudo no domínio pedagógico. É reconhecido que o conhecimento dos
níveis de PM dos alunos assume um papel fundamental na organização mais eficaz do
planeamento das aulas e na orientação do processo de aprendizagem (14, 15, 18, 28). No entanto,
na literatura da especialidade não se encontram ainda métodos objetivos que, de forma
clara e explícita, ajudem os professores a resolver este problema (12, 14). A título de exem-
plo, Malina (21) propõe e define procedimentos para diagnosticar a PM, mas nada refere em
concreto sobre a sua operacionalização, nem apresenta suporte empírico que valide a sua
proposta. Entre os procedimentos sugeridos por alguns autores são propostos indicadores
da proficiência motora quantificados por meio dos resultados do desempenho de tarefas
(como, por exemplo, a distância do salto ou o tempo gasto para completar um percurso) e
de alguns componentes da aptidão física (como, por exemplo, agilidade, velocidade, força
e resistência aérobia) (8, 21), sem, contudo, se referir como definir valores de corte para de-
terminar, de modo preciso, a PM dos alunos.
O recurso a testes motores marcadores de distintas facetas da aptidão física reflete a
opção feita por conteúdos de baterias internacionalmente conhecidas e aceites, de fácil
aplicação e mensuração. Ora, tal como esperado, os resultados mostram incrementos sig-
nificativos nas médias do desempenho em ambos os sexos ao longo dos anos de escolarida-
de, e que os meninos têm desempenhos médios superiores às meninas nos cinco testes rea-
lizados (análises estatísticas não incluídas no texto). A diferença de médias do desempenho
entre sexos, com superioridade dos meninos, está em consonância com o estudo realizado
anteriormente por Malafaya, Chaves e Maia (16) na mesma amostra, e é bem conhecido na
literatura internacional (ver, por exemplo, Malina, Bouchard & Bar-Or (22)), se bem que possa
esbater-se quando se corrige para diferenças dimensionais (ver, por exemplo, as sugestões
de Nevill, Ramsbottom & Williams (24) com base na metodologia alométrica).
O propósito primeiro deste artigo foi verificar a presença de diferenças nas categorias de
prontidão esperadas nos vários anos de escolaridade, em cada sexo, a partir da análise de
perfis da PM associada à aptidão física expressa nas soluções da função discriminante (14, 15).
Os resultados apresentados nas matrizes de confusão (reclassificação dos sujeitos nos seus
grupos originais) permitem verificar o número de alunos cujo perfil de PM está de acordo
com o esperado para o seu ano de escolaridade e o de aqueles que estão mal classificados.
Existem, em ambos os sexos, alunos que expressam perfis correspondentes aos do seu grupo
original, mas existem também alunos em relação aos quais tal não se verifica. Nos meninos,
a precisão de casos corretamente classificados nos 5º e 9º anos de escolaridade – 71% e
70.2% respetivamente – é relativamente elevada, ou seja 7 em cada 10. Nos 6º, 7º e 8º anos
a ausência de precisão é expressiva, situando-se entre 30.2 e 32.6%. Quando se toma, por
exemplo, os meninos do 7º ano (n=298), somente 97 (32.6%) estão corretamente classifica-
dos no seu ano face ao que é esperado quanto ao seu desempenho motor; pelo contrário, 45
alunos têm desempenhos correspondentes ao esperado para os alunos do 5º ano, 68 a alunos
do 6º ano, 50 aos do 8º ano e 38 aos do 9º ano. Nos outros anos de escolaridade a ausência
de reclassificação elevada é praticamente inexistente. A percentagem total de casos corre-
tamente classificados é muito baixa, somente 45%. Nas meninas a situação é semelhante
em praticamente todos os anos de escolaridade, correspondendo a uma percentagem muito
baixa de classificação correta, entre 22.8 e 35.8%. A exceção são as alunas do 5º ano, cuja
percentagem de classificação correta é de 69%. A percentagem total de casos corretamente
classificados é de 37%. Resultados equivalentes aos obtidos pelos alunos de Leça da Palmei-
ra, realçando a presença de percentagens elevadas de alunos mal classificados nos diferen-
tes anos de escolaridade, foram apresentados por Maia e Lopes (15) num estudo realizado em
crianças açorianas dos 6 aos 10 anos de idade do 1.º ciclo do ensino básico, e confirmados
por Sousa, Lopes, Seabra, Garganta e Maia (28) num estudo realizado em Amarante com uma
amostra semelhante. Os resultados obtidos poderão ter alguma explicação na forte variabili-
dade individual existente entre crianças do mesmo ano de escolaridade e na heterogeneidade
etária de cada ano de escolaridade, sobretudo quando se consideram diferenças nos níveis
maturacionais (22). Acrescente-se, também, que uma parte substancial deste diferencial de
prontidão, em termos populacionais, pode ser explicada por efeitos genéticos, uma vez que a
variação do desempenho nestas provas possui estimativas de heritabilidade de nível modera-
do a elevado (5, 22).
A forte variabilidade interindividual é também claramente visível nos valores da distri-
buição centílica (P20, P40, P50, P60 e P80) para cada ano de escolaridade de meninos e
meninas. A título de exemplo, veja-se o caso dos meninos do 5º ano de escolaridade cuja
05
93 — RPCD 15 (2)
“banda” de resultados apresenta a seguinte variação: de 15.3 a 22.1 kg, na dinamometria
manual; de 9.41 a 7.96 seg, na corrida de 50 jardas; de 112 a 153 cm, na impulsão horizon-
tal; de 12.92 a 10.63 seg, na corrida vai-vem; de 11.26 a 8.15 min, na corrida/marcha da
milha. Estas amplitudes de valores expressam distintos níveis de PM. Esta variabilidade é
fruto das diferenças esperadas no desempenho de crianças e jovens da mesma idade cro-
nológica, e que são bem conhecidas por todos mas nem sempre percebidas. Este retrato
do estado de prontidão, de natureza multifacetado, tem também alguma virtualidade face
ao seu caráter distintivo em função do ano de escolaridade e sexo.
Importa referir que a noção de PM assumida neste manuscrito é, de certo modo, restri-
tiva ainda que útil. O conceito de PM em EF é muito mais vasto e complexo do que o da PM
marcada por um conjunto de indicadores de aptidão física. Deve igualmente referir-se que
a variabilidade interindividual reflete o efeito da influência diferenciada de vários fatores
(maturação biológica, crescimento físico, características comportamentais, ambiente físi-
co e sociocultural, experiências motoras anteriores) (10, 19, 22). Não obstante esta limitação,
considera-se que a informação resultante da avaliação da aptidão física pode tornar-se um
auxiliar importante para o professor estimar o estado de PM de cada criança (15), ainda que
de uma forma parcelar. Ora, de acordo com os documentos oficiais para a EF propostos pelo
Ministério da Educação de Portugal para os 2º e 3º ciclos do ensino básico, a matéria ads-
trita à aptidão física é de ensino transversal a todos os anos de escolaridade, devendo ser
desenvolvida em cada ano de escolaridade ao longo de cada ano letivo. Na sua prática peda-
gógica, o professor de EF é confrontado com a necessidade de conhecer os níveis de PM de
cada criança a fim de planear e organizar as aulas de forma adequada e ajustada às carac-
terísticas dos seus alunos. Um dos problemas que o professor necessariamente enfrenta
é a ausência de documentação oficial, ou proveniente da literatura da especialidade, que o
ajude a determinar os níveis de PM dos seus alunos. De acordo com o nosso conhecimento
não existe na literatura da especialidade uma apresentação de valores de corte para definir
graus ou níveis de insuficiência na aptidão física avaliada de modo normativo em contexto
escolar e nos testes motores administrados neste estudo. O recurso à avaliação criterial
operacionalizada na bateria Fitnessgram também não resolve este problema, porque a sua
definição de apto ou inapto (estar ou não na zona de aptidão saudável) não apenas carece de
validação transcultural, como não apresenta qualquer preocupação no que se refere à PM.
Assim, e conforme ao anteriormente referido na metodologia, foi considerado que o nível
mínimo de PM de um qualquer aluno para responder às exigências das aulas relativas à
sua aptidão física se situaria, em todas as provas, entre o P20 e o P40, ou seja, no nível
2. Valores abaixo do P20 expressam insuficiência para responder às exigências das aulas,
situando-se o aluno no nível 1. No que concerne à organização e otimização da estrutura
didático-metodológica das aulas, o professor deve estar particularmente atento a estes
alunos de forma a prever situações de aprendizagem facilitadoras do desenvolvimento da
proficiência motora, propondo tarefas com exigências ajustadas aos seus níveis de compe-
tência e que coloquem desafios alcançáveis aos alunos.
CONCLUSÕES
Verifica-se em ambos os sexos a presença de perfis de configuração da aptidão física in-
feriores aos esperados para os seus anos de escolaridade originais. A percentagem total
de casos corretamente classificados é muito baixa, respetivamente de 45% nos meninos
e de 37% nas meninas. Esta situação traduz insuficiência em aspetos da aptidão física nos
diferentes anos de escolaridade, à exceção dos alunos do 5º ano em ambos os sexos e do
9º ano nos meninos. Os valores de reclassificação apresentados neste estudo são revela-
dores da heterogeneidade e variabilidade interindividual existente em crianças e jovens do
mesmo ano de escolaridade. Os valores resultantes da regressão quantílica e o “aptidogra-
ma” obtido com base nesses resultados são um auxiliar precioso para ajudar o professor a
operacionalizar o valor da PM dos seus alunos.
A informação deste estudo faculta aos professores de EF uma ferramenta de enorme rele-
vância pedagógica uma vez que os valores normativos de referência apresentados podem ser
utilizados para avaliar os níveis de PM dos alunos relativos ao seu ano de escolaridade e sexo.
05
REFERÊNCIAS
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97 — RPCD 15 (2): 96-103
06A Escola
e o Desporto
PALAVRAS-CHAVE:
Escola. Desporto. Fenómeno social e cultural.
RESUMO
O Desporto é um fenómeno social cada dia mais importante e com múltiplas implicações
nas relações entre todas as sociedades humanas. Consubstancia-se como realidade plu-
ral que concretiza todas as expressões do humano. O Desporto radica-se na necessidade
humana de desafio e transcendência. O Desporto dá ao homem a possibilidade de se elevar
acima dos limites da sua expressão biológica. Daqui releva a dimensão cultural do Des-
porto. Citius, Altius, Fortius. A divisa olímpica não pode ser somente validada através da
súmula das competências físicas, mas deve ser subsidiária duma axiologia que transporta
o movimento desportivo significativo para lá da dimensão da corporeidade. Desporto como
cultura e definidor de valores deve encontrar na escola o seu lugar genésico. Por isso, urge
redimensionar a Educação Física e o Desporto escolar, ultrapassando o resistente dualis-
mo que secundariza as coisas do corpo. A sociedade portuguesa, através da sua política
educativa, deve eleger o Desporto como motor determinante de desenvolvimento e pro-
gresso alocando-lhe os meios adequados para a efetivação da sua elevada missão social.
AUTOR:
José Augusto Santos 1
1 CIFI2D, Faculdade de DesportoUniversidade do Porto, Portugal
Correspondência: José Augusto Rodrigues dos Santos. CIFI2D, Faculdade de Desporto. Universidade do Porto. Rua
Dr. Plácido Costa, 91. 4200-450, Porto, Portugal. (jaugusto@fade.up.pt).
The School and the Sport
ABSTRACT
The Sport is a social phenomenon increasingly important with multiple
implications on the relationship between all human societies. It is em-
bodied as plural reality embodying all expressions of human. The Sport
is rooted in human need to challenge and transcendence. The Sport
gives man the ability to rise above the limits of their biological expres-
sion. Hence highlights the cultural dimension of Sport. Citius, Altius, For-
tius. The Olympic motto cannot be validated only through the summary
of the physical skills, but must be subsidiary of an axiology that carries
Sport beyond the dimension of corporeality. Sport as culture and crea-
tive force of values should find in school their founding place. Therefore,
it is urgent resize the Physical Education and School Sports, overtaking
tough dualism that minimizes the issues of the body. The Portuguese
society, through its education policy, shall elect Sport as key driver of
development and progress allocating to Sport the appropriate means for
the realization of its high social mission.
KEYWORDS:
School. Sport. Social and cultural phenomenon.
SUBMISSÃO: 17 de Maio de 2015ACEITAÇÃO: 31 de Julho de 2015
99 — RPCD 15 (2)
O Desporto é a forma mais conseguida de elegia do Corpo. Este, como realidade incon-
tornável, comporta todas as expressões que definem o humano – espírito, alma, emoção,
imanência e transcendência.
O Desporto como realidade polissémica engloba uma diversidade de vertentes que lhe
granjeiam a importância social que hoje merece. Desporto é biologia, psicologia, biomecâ-
nica, desenvolvimento, mitologia e fundamentalmente cultura. É como realidade cultural
de expressão polimórfica que o Desporto se constituiu como o fenómeno socialmente mais
pregnante dos séculos XX e XXI.
Por isso o Desporto não é coisa menor em qualquer tipo de sociedade, desenvolvida ou
em vias de desenvolvimento, laica ou religiosa, agrícola ou industrial, insular ou continen-
tal, setentrional ou meridional. O Desporto atravessa as sociedades hodiernas com um
lastro transformador que vai muito além do seu campo específico e direto de intervenção.
Por isso o Desporto é economia, ciência, investigação, ensino e promoção social. Essa
polissemia concetual determina-lhe a importância e responsabilidade social que poucos
levam até às últimas consequências. O valor do Desporto como indutor de elevação in-
telectual, científica e cultural de uma sociedade deve merecer, dos que ocasionalmente
ocupam as cadeiras do poder político, a atenção e suporte adequados ao cumprimento da
missão essencial que lhe está cometida.
O Desporto entendido somente na sua expressão utilitária, higienista, corporalmente
formadora deixa na penumbra a sua essencialidade como fenómeno cultural. Não quer
significar que aquelas expressões devam ser entendidas como menores ou de reduzida
importância sociológica, mas que somente através da sua expressão cultural pode o Des-
porto abrir as portas de realização humana e social que estiveram fechadas, até há bem
pouco, pela consideração dualista do corpo.
O Desporto expande o humano abrindo-lhe territórios renovados e renovadoras de so-
nho, volúpia e paroxismo. O Desporto dá ao Homem o que ele nele procura. É um pai gene-
roso que oferece na medida do que se pede. Saúde, fruição estética, descarga adrenérgica,
sentido de partilha, espírito de corpo, cooperação, desafio e superação.
Para mim, como professor, o Desporto é o fundamento ético, estético, científico e axio-
lógico da Educação Física. Consubstancia uma realidade social e cultural que importa in-
terpretar e desenvolver, transformando-o em meio de educação. A escola, mesmo visando
a formação completa do ser, não pode considerar as atividades físicas desinseridas do
contexto de cultura que lhe dão significado.
Para mim, como atleta e treinador, o Desporto é uma aventura constante que me coloca
desafios recorrentes que tento ultrapassar com o espírito em festa e o corpo mortificado.
A procura dos limites do humano através do Desporto é a grande aventura ecuménica do
século XXI. Não sei se o Desporto sobreviverá aos séculos vindouros, mas, mesmo que
feneça nas poeiras do tempo, criou história imortal do que melhor o humano construiu.
O Desporto cria as sínteses mais criativas do humanismo hodierno. As ciências do Ho-
mem estão tocadas pelo demónio da fragmentação, do reducionismo. Em alguns momen-
tos, e.g. na investigação científica, essa procura do elemento desligado do todo é condição
sine qua non para a evolução e progresso. Mas, quando vamos à procura do infinitamen-
te pequeno temos que ter o infinitamente grande – o Homem, como referência. Todas as
aventuras reducionistas são válidas e justificáveis quando em movimento de feedback re-
gressam ao Homem que as determina.
Por isso, o Desporto é um campo magnífico das mais conseguidas sínteses. O Desporto,
ao contrário de outras áreas de intervenção social, nunca perde de vista o ser atuante
(dimensão motora), o sujeito sensível (dimensão afetiva) e o sujeito pensante (dimensão
cognitiva). Todo o ato desportivo está impregnado da totalidade do ser. Esquecer isto é
perder de vista a inteireza inquebrantável do Homem.
Raras expressões culturais humanas conseguem abordar o Homem na sua pluralidade.
Teatro, cinema, música, sim, têm o Homem quase completo como referência. No entanto,
só a Dança e o Desporto conseguem elevar o Homem na sua integralidade. O sujeito atu-
ante, sensível e cognitivo só na Dança e Desporto é abordado de forma não disjunta. Nunca,
como nestas realidades culturais – dança e desporto, a expressão motora é recoberta,
com o manto etéreo e significativo, da cognição e emoção.
Assumindo como postulado que o Desporto é fundamentalmente substanciado em ex-
pressões motoras, estas são sempre enriquecidas pelos domínios da cognição e afetivida-
de o que torna o ato motor realização cultural, isto é, humana.
Esta aventura gnosiológica de tornar o ato motor uma realidade cultural entronca na
própria evolução filogenética da espécie. A evolução do cérebro humano dá-nos uma ima-
gem clara do que está investido ou comportado no ato motor e por consequência no Des-
porto. O cérebro humano, embora deva ser entendido na sua integridade complexa, evoluiu
do cérebro reptiliano, para o cérebro dos mamíferos inferiores até chegar ao neocórtex
que caracteriza a espécie humana e lhe permite o pensamento abstrato e a criatividade.
Assim, em cada expressão motriz o homem transporta toda a sua ancestralidade filoge-
nética. Em cada gesto desportivo estão implicados os mecanismos arcaicos de agressão
e fuga, afetividade e sentido de território, compreensão e inteligência. No entanto, a visão
integrada é essencial para compreender a ação desportiva. O mesmo aparelho neuro-ce-
rebral que elabora o pensamento é o mesmo que prepara, desenrola e controla a ação. In
benevolentiae o desporto diviniza o homem; in malevolentiae o desporto reduz o homem à
sua condição de animal predador propiciando a emergência dos seus instintos primários e
naturais de agressão.
Quando se fala de inteligência emocional, pretende-se dar uma noção de unidade a con-
ceitos que não são dispersos, mas complementares. Afirma-se que a razão pensa a obra
e a emoção ergue-a. Penso que própria conceção da obra já tem um lastro de emoção a
06
101 — RPCD 15 (2)
determiná-la. No Desporto, o problema da emoção/afetividade é de capital importância já
que, pela negativa, abre os caminhos da irracionalidade e desumanização e, pela positiva,
os da motivação transformadora.
O Desporto está impregnado de sociedade. O Desporto consubstancia uma certa forma
de uso social do corpo, ainda agora manchado pelo estigma duma conceção dualista que
privilegia os valores ditos intelectuais em detrimento dos valores corporais, fazendo trans-
por para uma atividade não diretamente produtiva a competição económica e social. Mas,
enquanto a competição económica é cega, anárquica e brutal, a competição desportiva é
controlada, racionalizada, tornada eticamente aceitável.
Imediatamente após o 25 de Abril, alguns pensadores de esquerda, mais fundamenta-
listas, tocados por uma visão redutora dos fenómenos sociais, proclamavam o desporto de
competição, em especial o futebol, como fenómeno de massas alienante. Esqueciam-se
de um princípio fundamental na análise política da realidade: quando uma sociedade se
caracteriza pela restrição de liberdade de ação e pensamento, em que a mensagem ema-
nada do poder é a verdade única aceitável, então o Desporto está alienado. Nesse caso, a
alienação não toca somente o Desporto, mas também as restantes instituições sociais.
Numa sociedade alienada tudo está alienado menos aqueles focos de insubmissão que
resistem, como faróis de liberdade, contra a lógica política vigente. Em todo o mundo, muitos
desses faróis de liberdade tiveram nascimento no âmbito do Desporto. Quer isto significar
que mesmo em sociedades totalitárias, sonegadoras das mais básicas liberdades individuais,
o Desporto pode-se constituir como contrapoder pois é um fator indutor de pensamento livre
e iniciativa transformadora. No seio do Desporto é difícil criar exércitos de escravos, razão
pela qual, muitos sistemas políticos ditatoriais trataram com especial desvelo os campeões
desportivos tentando arregimentá-los como modelos exemplares das virtudes do sistema.
O Desporto treina o corpo e o pensamento e este raramente se deixa prender nas baias da
submissão. O medo pode impedir o pensamento de voar, mas o gérmen da pergunta permane-
ce incontornável em estado larvar. Todo o pensamento livre ou ansiando liberdade levantará
muitas vezes a questão: Porquê? Um desportista é por natureza questionante, isto é, interro-
gador da realidade em que se move. A capacidade de pergunta é um dos sintomas de liberdade.
Por comodismo ou interesse imediato, o Desporto pode fazer coincidir os seus interes-
ses com os do poder político ou económico que o controlam. Hoje, muitos fundos financei-
ros procuram no Desporto uma capa de legalidade e dignidade que intrinsecamente não
lhes corresponde. Os fundos especulativos, com a mesma facilidade com que destroem a
economia dos países, espraiam-se, como veraneantes de ocasião, nas praias promocionais
do Desporto. A força promocional do Desporto é fogo em que muitos plutocratas se quei-
mam mas que permite uma imagem falsa de utilidade social a muitos outros.
Mas, para lá da sua utilização desvirtuada, o Desporto ainda mantém um módico de ilu-
são e sonho que permite preencher de cor a vida de muitos.
Por isso, os nossos campeões são modelos referenciais cujos êxitos afirmam a sua ex-
celência individual e, quer queiramos quer não, elevam a imagem do país. Que eles sejam
muitas vezes assumidos por quem para a dignificação do Desporto pouco contribuiu, são
contas de outro rosário.
Para onde vai o Desporto Português? Que novas rotas deve seguir?
Tendo como referência os pressupostos filosóficos, políticos e sociológicos atrás aborda-
dos procurarei avançar na resposta a essas perguntas.
Para onde vai o Desporto Português não sei. Qual a rota segura que deve seguir sei-o há
bastante tempo, e não tem nada de novo.
A solução do Desporto Português passa pela Escola.
Esta afirmação, repleta de gratuitidade na boca dos políticos, é de crucial importância
para estruturar uma prática desportiva com alicerces seguros. Daqui dimana a importân-
cia social, pedagógica e formativa da educação física.
O Desporto na escola deve ser abordado numa dupla vertente: (1) como meio de forma-
ção e educação psico-motora, e (2) como prolegomenon para a prática desportiva de com-
petição. Ambas são socialmente importantes e devem merecer a atenção, reconhecimento
e suporte dos poderes públicos instituídos.
Urge que a escola seja a fonte renovadora dos desportistas de elite que representem
Portugal nos areópagos desportivos internacionais. E por isso o Desporto escolar tem que
ser levado a sério. A escola, começando com a educação física escolar, bem expressa nos
curricula, deve ser o ponto de partida do Desporto escolar que, se funcionar bem, deverá
ser o viveiro onde o Desporto de alta competição encontre o seu húmus renovador.
Para conseguir tal desiderato, o Desporto escolar deve ser redimensionado, permitindo que
cada escola responda ao pulsar desportivo regional, desenvolvendo centros de excelência
que não se compadecem com horários limitados e meios reduzidos que lhe estrangulam a
operacionalidade. A implementação de um quadro de treinadores especificamente vocaciona-
do para o treino no âmbito do Desporto escolar, ocupando espaços e tempos fora dos tempos
letivos usuais, corretamente pagos e apoiados por uma estrutura dirigente, é condição sine
qua non que permitirá o salto quantitativo e qualitativo que o Desporto nacional necessita.
A visão política economicista da sociedade, que atravessou como veneno os últimos go-
vernos, tem impulsionado uma política niilista cuja sanha redutora tem afetado a eficiência
formativa da educação física. Quem retira espaço de intervenção da educação física e des-
portiva na escola contribui consciente ou inconscientemente para a debilitação da saúde
física e mental da nossa sociedade.
06
Em 1933, Fernando Pessoa, com o humor cáustico que o caracterizava, referia-se assim
aos benefícios da ginástica e educação física: – “Quando, em 1907, o Prof. Egas Moniz me
passou, para fins gimnásticos, para as mãos de Luiz Furtado Coelho, para ser cadáver só
me faltava morrer. Em menos de três meses e a três lições por semana, pôs-me Furtado
Coelho em tal estado de transformação que, diga-se com modéstia, ainda hoje existo –
com que vantagens para a civilização europeia, não me compete a mim dizer” (in Forum
Olímpico de Portugal).
A educação física escolar deve ser o ponto de partida do Desporto escolar, mas também
deve desenvolver os saudáveis hábitos duma prática desportiva que ajude a erradicar a
doença e se constitua como suporte cultural e higiénico duma vida social bem preenchida.
Médicos, trolhas, professores, juristas, carpinteiros, eletricistas, engenheiros, técnicos
de limpeza, polícias, bombeiros, advogados, cirurgiões e até políticos cumprirão com maior
proficiência as tarefas sociais que lhes estão cometidas se a sua corporeidade estiver es-
truturada numa educação física plenamente formadora.
A Escola é o centro de promoção da cultura intelectual, corporal e artística de um povo.
Nunca se lhe devem sonegar os meios para ela cumprir essa elevada missão.
REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO
2015/2
2015/2REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO