Post on 13-Nov-2018
ISSN 2177-8892 2355
UM ESTUDO DO RATIO STUDIORUM E A SUA INFLUENCIA NO
PROCESSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
INTRODUÇÃO
Nos séculos XIV e XV, começava-se a perceber um movimento contrário a
supremacia da igreja, reivindicando alguns dogmas. Mesmo que estes movimentos
fossem duramente punidos, eles retomam a força com Martinho Lutero, um sacerdote da
igreja que resolve, por insatisfação das atitudes tomadas pela mesma, colocar em
questão alguns destes dogmas já questionados, anteriormente, e comportamentos
mantidos pelo clero, diante a sociedade. Este movimento de opor-se a Igreja Católica foi
conhecido como Reforma Protestante e ganhou força no mundo. A igreja, com isso,
ficou enfraquecida.
Com a Reforma Protestante surge, então, o Protestantismo, ocasionando uma
cisão religiosa intensa, e um movimento contrário a ele, provocando mudança na
história do mundo, que segundo Matos (2011), são considerados pelos historiadores por
dois aspectos: Contra-reforma e Reforma Católica:
Ao analisarem as ações da Igreja Católica Romana após o surgimento
do protestantismo, os historiadores falam em dois aspectos: Contra-
Reforma e Reforma Católica. O primeiro foi o esforço da Igreja
Romana para reorganizar-se e lutar contra o protestantismo. Essa
reação ocorreu tanto no plano dogmático quanto político-militar. Já a
Reforma Católica revelou a preocupação de corrigir certos problemas
internos do catolicismo em resposta às críticas dos protestantes e de
outros grupos. (Matos, 2011)
A igreja católica lança mão de algumas estratégias interessantes a fim de que
pudessem resgatar o máximo de fiéis possíveis aos seus domínios eclesiásticos. A maior
delas foi a Sociedade de Jesus, depois conhecida como Companhia de Jesus, liderada
por Inácio de Loyola e é dela que surgem os ideais pedagógicos debatidos neste artigo.
A educação brasileira teve inicio no Brasil colônia através do método
pedagógico dos jesuítas intitulado como Ratio studiorum ou simplesmente o Plano de
estudos da Companhia de Jesus, esta foi sintetizada em um livro denominado “O
método pedagógico dos jesuítas: introdução e tradução” escrito por Leonel Franca, S.J.,
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em 1952. É interessante notar que este método trouxe à tona a educação tradicional
utilizada no período da Idade Média, demarcada de atitudes que aos olhos da atualidade
são incompreensíveis, mas, que se pensarmos no processo de construção da educação de
hoje, foi de importância para as análises críticas e mudanças convenientes à época, tudo
isso é ratificado pela importância dada ao criador e a organização de muitos colégios do
qual foi fundado e dirigido pelo método, por cerca de dois séculos, como foi respaldado
pelo Franca (1952).
Todavia, o mundo vivia em um momento conflituoso de disputas políticas, o
Brasil, que se encontrara no seu período colonial, também estava mergulhado por
disputas internas que causavam ao país cada vez mais o esquecimento da cultura que já
existia antes mesmo de ser uma colônia, muito desse “esquecimento” era proposital,
para que se formasse o homem do qual o europeu estava culturalmente associado, e
neste caso, a educação, de uma forma geral, era a porta para este progresso.
A Educação Física (EF), por sua vez, também já contava com um contexto
histórico, do qual, começava a firmar seus passos como algo constituído e de
importância social desde os primórdios da sociedade com as atividades físicas
realizadas no cotidiano, perpassando depois pela sociedade Grega, Ateniense e Romana,
onde em cada uma delas, se caracterizou a educação física de forma peculiar. No
entanto, a Idade média, foi um período que demarcou de forma, um tanto quanto,
negativa, uma vez que, a educação física passa de formadora de cidadãos e hábitos
saudáveis, para uma mera prática conduzida para cavaleiros.
Portanto, a relação entre a educação do Ratio Studiorum com o processo
histórico da educação física é de grande importância, porque, remete a questões de
formação e negação, uma vez que a educação física, também explora a cultura popular,
através da atividade física, dança, jogos populares, rituais, e na educação cristã, isso não
é levado em consideração, o corpo é deixado em segundo plano, e as atividades
culturais não são levadas em consideração.
No Brasil há uma espécie de etnocídio da população indígena e mais tarde dos
negros que são obrigados a se adaptar aos costumes dos europeus. O mesmo ocorre
dentro da educação, pois não há uma adequação, flexão da mesma, mas, sim, uma
imposição de método, hábitos, conceitos a serem seguidos pela sociedade, não só
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brasileira. Na educação física que vem se fortalecendo junto a sociedade pelas suas
expressões populares, praticas corporais e educação comportamental, a educação
idealizada pelo cristianismo, trás sérios problemas para a evolução da mesma, em
consequência disso, diz-se que este período é considerado “idade das trevas”,
principalmente, pelo seu declínio cultural. (AGUIAR & FROTA, 2002)
Por estas questões históricas e levando em consideração que o mundo vivia um
contexto de profunda reforma de pensamento: do medieval para o iluminista, tem-se a
redefinição de questões como o de entendimento do que seria o homem, sociedade e
educação, uma vez que o período iluminista era contrário ao clero e a nobreza, que se
faziam soberanos no período medieval, com seus ideais religiosos. Estes, que ratificam
o impasse no processo histórico da educação física pautada na sociedade.
Com isso, chega-se a uma resposta a pergunta que move esta pesquisa
caracterizada como bibliográfica, tendo o objetivo de desvendar a inserção da educação
física no período do Ratio Studiorum, advinda de inquietação do porque não identificar
a mesma dentro do método pedagógico jesuítico, sabendo que neste período a EF já
havia dados os seus primeiros passos na sociedade.
1. O processo histórico do Ratio Studiorum
Segundo (HANSEN, 2001 apud LIMA, 2008) “Ratio” significa “razão”,
“ordem”, “organização”. Mais do que conteúdos específicos o Ratio demonstra os
processos de ensino e aprendizagem, portanto não é um tratado teórico de pedagogia,
mas um “código prático de leis pedagógicas”.
Diante do contexto histórico vivido (Reforma, Contra-Reforma e Reforma
Católica), surge a consolidação da Companhia de Jesus e a sua intermediação no campo
da educação através de um plano educacional que se estruturará, diante dos fatos, para a
reestruturação da imagem da igreja sobre a sociedade, que será desenvolvida através de
um plano pedagógico de ensino jesuítico, que terá o objetivo de se ter “Uma escola a
serviço do Senhor”. (CAMBI, 1999)
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A construção deste plano foi idealizada por Inácio de Loyola e constituída a
partir de um histórico de aplicações em escolas clássicas da Companhia de Jesus
(Colégio de Messina; Colégio de Palermo; Colégio Romano) assim como, uma
sequencia de aprimoramentos da organização do Ratio Studiorum, para que se chegasse
ao que estudamos hoje. Com base no texto de Leonel Franca (1952), caracteriza-se estes
momentos de construção em 6 pontos a seguir:
1- Colégio de Messina: Foi o primeiro suspiro do método, sendo o primeiro
colégio clássico da Companhia de Jesus, organizado com base no modelo do colégio de
Paris, modus parisiense, tinham-se aulas de hebreu, retórica, grego, lógica e gramática.
Através de relatórios enviados, foi constatado o êxito do colégio que passava a ter
demandas cada vez maiores, pelo número dos alunos que nele se interessava.
2- Colégio de Palermo: Diante ao sucesso do Colégio Messina , em 1549,
clamava-se por um colégio como aquele e em Novembro foi efetivado o desejo, o
colégio de Palermo, as diferenças entre eles, era basicamente a metodologia, mas desde
o seu princípio, o êxito era como o de seu irmão de Messina.
3- Colégio Romano: Perante o crescente sucesso da implementação dos dois
colégios, foi instituído o maior de todos, Colégio Romano, que também teve o sucesso
esperado dos dois anteriores, a frente dele 14 jesuítas, para professores, era necessário
apenas que demonstrassem competência e eficiência, o modo parisiense ainda era o que
vingara, e a partir desta experiência no colégio Siciliano, foi se constituindo o Ratio
Studiorum, um dos primeiros esboços do mesmo.
Com a expansão das experiências positivas dos colégios, cria-se a necessidade
de uniformizar o método, afim de que a prática seja realizada exatamente como
planejado pelos idealizadores, sendo em Roma, a centralização dos estudos em ordem.
Apesar de se pensar que a expansão era dos próximos colégios era precipitada, as
demandas políticas e até mesmo o entusiasmo pela aceitação do método foi maior,
chegou a ser considerada, por Bacon(apud FRANCA, 1952) uma referencia em
pedagogia: No que concerne à Pedagogia basta uma palavra: consulta as escolas dos
jesuítas; não encontrarás melhor”. A uniformidade, passa, então, de necessidade para
realidade.
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“É o próprio Inácio nas próprias constituições que determina se
elabore um Estatuto em que se trace, por miúdo, quanto se refere à
ordem e ao método dos estudos nos colégios e faculdades. Um Ratio
Studiorum na intenção do Fundador, deverá ser o complemento
natural e indispensável das Constituições” ( FRANCA, 1952, p. 17)
Para tanto, começam a analisar que se precisa um plano de ensino e estudo,
uniforme e sistemático para que se fortaleça o trabalho iniciado pela Companhia de
Jesus, o que consequentemente beneficiaria o Clero, que começa a perder espaço. Para
tanto prosseguimos até:
4- Ratio de 1586: Conta com materiais pedagógicos anterior ao período dela e
adiciona uma coletânea de diretivas e ordenações, descritas pelos professores do
Colégio Romano, contribuindo para a construção de um código geral do ensino. Mas
esta edição não tinha caráter de execução obrigatória, apenas de análise crítica e
examinação pelas autoridades mais competentes dos melhores colégios da Companhia,
para que se chegassem ao denominador comum, as críticas chegaram e apontaram a
imprecisão e prolixidade do documento e a exaustão do debatido tema pedagógico nela
exercido, como os deveres dos professores jesuítas.
5- Ratio de 1591: nesta edição foi possível visualizar mudanças bruscas quanto a
estrutura, uma vez que fora retirada a discussão pedagógica, da mesma, e justificou-se
em um conjunto de regras aos administradores, professores e estudantes, o que se
aproximava a um manual de instruções, desta forma pôs-se, este sistema em fase de
análise.
6- Ratio de 1599 e Edição de 1832: Após uma série de revisões feitas na ultima
versão, fora oficialmente ratificada e promulgada como uma lei. A edição de 1832
tratou-se de uma adaptação daquilo que já existia pelo tempo, já que o próprio Ratio
deliberava isto.
A expansão do método demonstra o incontestável êxito atingido pelo Ratio, que
segundo Franca (1952), não é um tratado de pedagogia e sim “uma coleção de regras
positivas e uma série de prescrições práticas e minuciosas.” (FRANCA, 1952, p.43),
assim, conseguiu direcionar de forma clara e concisa, a formação daquilo que se
buscava por homem, sociedade e educação, aproximadamente dois séculos.
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2. A Educação Física e os impasses da sua trajetória histórica na idade média
A Educação física (EF) conta com uma ampla teorização com os fundamentos da
mesma, e uma grande discussão de definição do que seria. Podemos dizer que existem
varias vertentes para se entender educação Física, que pode ser: uma educação por
intermédio de atividades corporais; sendo esporte de rendimento; sendo movimento;
sobre o movimento; pelo movimento. (COLETIVO DE AUTORES, 2012).
Hoje, para (Coletivo de Autores, 2012, p. 50), A Educação Física “é uma prática
pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais,
como jogo, esporte, dança e ginástica”.
Sendo a atividade física um componente da Educação Física, é caracterizado,
desta forma, o processo histórico, da mesma, iniciado desde os primórdios da sociedade
com os aspectos da vida cotidiana. Desta forma, o inicio da educação física no Brasil,
ocorre no período colonial com os índios que possuíam as relações estipulas por
atividade física. A atividade física, portanto, é considerada:
Como qualquer movimento corporal, produzido pela musculatura
esquelética, que resulta em gasto energético (7), tendo componentes e
determinantes de ordem biopsicossocial, cultural e comportamental,
podendo ser exemplificada por jogos, lutas, danças, esportes,
exercícios físicos, atividades laborais e deslocamentos. (PITANGA,
2002, p.03)
A partir das relações de atividade física, a EF processa ascendência de uma
importância social no mundo, passando pela antiguidade grega que educavam seus
jovens a exercícios rigorosos longe dos seus clãs, com o objetivo de prepara-los para as
atividades guerreiras que “pretendiam, sobretudo, disciplinar a alma, expulsar o
demônio e promover a aquisição do caráter masculino próprio do guerreiro primitivo”
(LUZURIAGA, 1990 apud AGUIAR &FROTA, 2002, p. 02). O exercício Físico teve
grande importância na constituição de sociedade grega. (AGUIAR & FROTA, 2002).
Desta forma, “De um modo geral, pode-se conceituar a Educação Física grega
como um conjunto de atividades com a finalidade de desenvolver a perfeição física e os
valores morais, buscando a formação do indivíduo forte, saudável, belo e virtuoso.”
(AGUIAR &FROTA, 2002, p. 03). Este tipo de caracterização da educação física é
voltado para o militarismo, formação de guerreiros, muito pautado no que
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posteriormente conheceríamos como a Educação física militarista. Esta Educação física
militarista foi a segunda fase da educação física (1930 – 1945) não pode ser confundida
com a educação militarista, no entanto, ela partia de objetivos afins, tentando obter uma
juventude capaz de suportar o combate, a luta, suficientemente rígida para “elevar a
Nação” à condição de servidora e defensora. (GHIRALDELLI, 1991)
Para Atenas, a Educação Física caminhou no sentido cívico. O físico não era o
único a ser levado em consideração, a formação do caráter ateniense era um dos
objetivos da educação física nesta sociedade. (AGUIAR & FROTA, 2002)
[...] compreender tanto o cultivo do corpo, a beleza física, com o
sentido moral e social. Ambos os aspectos predominam aqui sobre o
intelecto e o técnico. Os jogos e esportes, o canto e a poesia, são
instrumentos essenciais dessa educação, de tipo ainda minoritário,
embora com espírito cívico e, em certo sentido, democrático, por ser
patrimônio de todos os homens livres. (LUZURIAGA, 1990 apud
AGUIAR &FROTA, 2002, p. 04).
Em Roma a Educação Física era vista de uma forma diferente, seus aspectos
estavam voltados para a saúde corporal e higiene. Mais tarde este tipo de educação
física seria vislumbrado por outras sociedades, e era chamado de Higienista e foi a
primeira fase da educação física (até 1930) defende “Mente sã em corpo são.”
Enfatizando a questão da saúde, para a formação de homens e mulheres sadios, fortes e
dispostos ao trabalho, uma vez que esse tipo de homem é interessante ao mercado
capitalista vigente. (GHIRALDELLI, 1991)
No entanto, com o surgimento do cristianismo, o ideal de formação de homem e
sociedade foi modificado, portanto, a educação física passa a ser esquecida como uma
prática rica e importante para o mundo, tendo então o ideal das práticas esportivas como
o seu principal foco, mas, é necessário que se ressalte, que o conceito de esporte ainda
não era concreto neste período.
Durante a Idade Média, por sua vez, a construção de educação física
praticamente muda de foco, porque, a igreja nega o militarismo e o corpo, que nas
primeiras fases da educação física, eram os principais objetos de intervenção. Esta
reação da igreja se dá a fim de expandirem os seus ideais de perfeição do qual
necessitava que a sociedade seguisse e viam nas práticas realizadas anteriormente, algo
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que as impediam, portanto haveria de ter mudança, o foco agora era a mente e o
comportamento, todos subjugados pelos ideais cristãs postos pela igreja.
O corpo agora é objeto da ciência e a filosofia cartesiana contribuiu,
em grande medida, para essa nova abordagem culminando com o
dualismo psicofísico proposto por Descartes, em que o homem
constitui-se de duas substâncias distintas: a pensante (privilegiada), de
natureza intelectual – o pensamento, e a extensa de natureza material –
o corpo (ARANHA, 1993 apud AGUIAR &FROTA 2002, p. 06).
A educação física passa pelas “idades das trevas”, como é chamada a idade
média, longe daquilo que a conheciam, os novos rumos por ela tomados foram a
educação cavalheirescas, que perdurou durante toda a idade média e que Aguiar &Frota
(2002, p. 06) “preconizava a formação do homem valoroso e cortês, honrado e fiel”,
assim como, “Cultivava-se em grande medida as destrezas físicas e corporais, como o
manejo do arco e da lança, corrida, equitação, esgrima, natação e caça.” (AGUIAR
&FROTA 2002, p. 06).
No entanto, essas práticas não eram universais à sociedade, apenas
cavalheirescas, por isso, pode-se dizer que a educação física perpassa esse período,
escondida da sociedade, diferente do que era anteriormente, retardando um pouco a sua
expansão e confirmação como uma disciplina educacional, em vista que não fazia parte
da educação formal, porque não tinha a sua importância validade na Idade média.
A Idade Média é denominada de “idade das trevas” principalmente
pelo declínio cultural que se abateu sobre o mundo ocidental. No
campo educacional subsistiu apenas as escolas e mosteiros da
educação cristã primitiva, até o surgimento da Renascença. (AGUIAR
& FROTA 2002, p. 06)
Portanto, a construção do processo histórico da educação física retorna a todo
vapor no período da renascença onde a Educação Física irá iniciar o a sua consolidação
na sociedade e no âmbito educacional, desta forma ela ficará fora do Ratio Studiorum,
porque a igreja não consegue fazer a relação entre as importâncias destas práticas à
formação do homem que não julgava mais importante os desenvolvimentos dessas
atividades que eram características da educação física importantes para a formação do
homem que eles buscavam. Neste caso, há uma mudança de ideal pedagógico de
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homem, sociedade e mundo, do qual a educação física não fazia parte por ser pré-
concebida como educação para o corpo.
3. O ideal pedagógico de sociedade, homem e educação na idade média com o
Ratio Studiorum.
O ideal de sociedade, homem e educação pensado no período do Ratio, é
importante, para que se visualize como era atingido um determinado objetivo a partir
desta pedagogia, levando em consideração o contexto histórico e social, do qual, vivia-
se. Segundo LIMA (2008, p.60) é que “[...] para a Companhia de Jesus, quando
tratamos de virtudes existem três grandes pilares: espiritualidade, disciplina e trabalho
que também, na concepção da Ordem, significa ação.”. Desta forma o pensamento
pedagógico abordado pelo Ratio Studiorum, transpassa por questões da realidade,
principalmente pela cultura social que tinha a religião como um guia de
comportamentos. Tudo isso irá destinar-se as relações de homem, sociedade e educação
do qual se discutia neste período, seu objetivo maior era que se alcança-se estas três
vertentes para que obtivessem uma educação capaz de formar o homem perfeito
esperado pela igreja e a serviço dela e de Deus, a partir de uma sociedade concreta de
valores firmes, estruturados e vigentes.
Os comportamentos, neste período, eram muito previsíveis, até porque, havia um
limiar de comportamento que deveria ser seguido, Segundo Cambi (1999, p. 121):
[...] um novo “tipo” de homem (igualitário, solidário, caracterizado
pela virtude da humanidade, do amor universal, da dedicação pessoal,
como ainda pela castidade e pela pobreza), que do âmbito religioso
vem modelar toda visão da sociedade e também dos comportamentos
coletivos, reinventando a família [...], o mundo [ ...], e o da política
[...]
Para esta concepção do que deveria ser a sociedade, na realidade, é a visão de
mundo que advém das lentes da igreja, uma concepção pautada na sociedade perfeita
que tem, sobretudo, a Deus. É destes conceitos, que então, para CAMBI (1991), nasce
uma nova sociedade pautada nos princípios evangélicos que tem na igreja o seu ideal
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para guiar as suas vidas, já que buscam o tempo inteiro pela sua a perfeição das relações
entre estipulado e a ação.
Portanto, a sociedade que encontramos neste período, é aquele que se pauta nos
princípios de Deus e que busca esses princípios, na igreja, como um limiar de condutas
a serem seguidas para alcançar-se a glória eterna, ou seja, era uma sociedade que se
sustentava por intermédio da religião, a igreja era a instituição humana mais alta que se
tinha na época em todos os sentidos, projetando-se uma sociedade orgânica e
colaborativa, como afirma CAMBI (1991).
O homem, todavia era um espelho do que se tinha na sociedade, ele era temente
a Deus e que cumpria com os mandamentos exigidos pela igreja, a fim da sua salvação
eterna, ratificando a ideia de que a Companhia de Jesus formava o homem ajustado a
vida da sociedade do século XVI (LIMA, 2008). Portanto, a relação do que se pensava
por homem, neste período, era relacionada pela intermediação na sociedade pela
religião. Assim “O ensino segundo o Ratio busca desenvolver a capacidade de assimilar
e aplicar conhecimentos intervindo na sociedade em que está inserido. Nessa sociedade
tal intervenção não podia estar desligada das práticas das virtudes cristãs.” (LIMA,
2008, p. 61)
A pedagogia jesuítica pensava na formação do homem, pautado nos princípios e
valores religiosos com o intuito, não unicamente, de formação profissional, mas,
sobremaneira, de servidão a Deus. Além disso, percebe-se que é uma formação
hierárquica, até mesmo na maneira como estão dispostas as regras do mesmo do Ratio
Studiorum, tendo como o princípio “a centralização, a uniformidade e a invariância.”
(LIMA, 2008, p. 63)
Para que se alcance este homem, do qual a pedagogia jesuítica deseja formar a
educação precisará estar pautada nos princípios que foram pensados por eles, para tanto,
o método jesuítico é aquele que estará remetendo a este objetivo, defendido por LIMA
(2008, p.62) que: “A educação jesuítica segue dois princípios básicos: educação
humanista e educação ativa.”. Para FRANCA (1952 apud LIMA, 2008):
Na concepção do Ratio, o curso secundário deve ser essencialmente
humanista, pendente mais para a arte do que para a ciência. Sua
finalidade não é transformar os adolescentes em pequeninas
enciclopédias que depois de alguns anos já precisam ser reeditadas.
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Todo o esforço do educador deve concentrar-se, nesta fase da vida, em
desenvolver as capacidades naturais do jovem, em ensinar-lhe a servir
se da imaginação, da inteligência e da razão para todos os misteres da
vida. Os conhecimentos positivos de geografia ou de física poderão
estar antiquados no cabo de poucos lustros; o raciocínio seguro, o
critério na apreciação dos homens, a capacidade de expressão exata,
bela e enérgica de uma alma harmoniosamente desenvolvida
representam aquisições humanas de valor perene.
É importante notar que a educação é voltada aos olhares e vigília da Igreja e de
Deus e para se caracterizar ainda mais o tipo de educação autoritária e hierárquica que
se tinha através do Ratio, Lima (2008, p. 63-64) afirma:
De acordo com a Igreja,a autoridade vem de Deus, a hierarquia é
entendida como uma verdade revelada e a obediência ao superior é
legitima, é obedecer a Igreja Católica. Para que esta obediência seja
alcançada o sacerdote deve representar entre seus alunos a pessoa de
Cristo.
Se pensarmos sistematicamente, como este ideal está organizado, perceberemos
que ele é um só. Não se pode estudar a educação jesuítica sem entender a sociedade e o
homem, e vice-versa. Tudo porque eles se completam, a ideia de nenhum deles não
pode estar desvinculada, das demais. No entanto, uma ideia está acima deles, a religião.
Sem esta, portanto nenhuma destas três vertentes teria sentido. Portanto, estudar o Ratio
Studiorum é entender as relações sociais nele inseridas e como estava sendo formado o
ideal de homem, no período vigente do Ratio Studiorum.
METODOLOGIA
A presente pesquisa é classificada como bibliográfica, pois, segundo Gil (2008),
é produzida através de material já elaborado anteriormente, sendo este, constituído,
principalmente, de livros e artigos.
O desenvolvimento da mesma iniciou-se a partir de uma reunião teórica de
estudos que debatiam o início do processo histórico da educação no Brasil, dentro da
disciplina Educação Brasileira, que faz parte do curso de Mestrado em Educação da
Universidade Federal do Pará. Este conhecimento serviu de base para a construção de
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um seminário de embasamento teórico para se compreender o pensamento pedagógico
brasileiro que entoa a trajetória da educação no Brasil.
Após, o termino da disciplina os estudos em torno da educação no período
colonial tomou um caminho mais focado a responder a indagação de como estaria
inserida a educação física neste contexto, uma vez que, conhecia ao histórico da mesma
e sabia que já estava em um processo de construção, mas que nos debates da educação
brasileira ela não estava inserida.
Desta forma, dividi o artigo em três tópicos: um que define o processo histórico
de construção do Ratio Studiorum para que se entenda a educação no período do qual
estudaríamos; o segundo trata da trajetória da educação física e os impasses, que no
período histórico em questão, impactou no trajeto de solidificação da EF como uma
disciplina educacional e de importância para a formação do homem; o terceiro tópico
analisa como é o ideal de homem, sociedade e educação inserido no Ratio Studiorum, o
que ratifica a exclusão da educação física e a ascensão dos novos ideais cristãos. Para
isso foram fundamentais autores que classificaram definições e expuseram o processo
histórico aqui pautado como, principalmente: Franca (1952), que teoriza o Ratio
studiorum; Cambi (1999) e Lima (2008), que nos contextualiza nos ideais pedagógicos
vigentes no Ratio; Aguiar & Frota (2002); Coletivo de Autores (2012); para
entendermos as definições e processo histórico da educação física.
Foi a partir desta organização lógica e destes principais autores, assim como
outros, que transpassaram por esta pesquisa, é que se pautaram as definições sobre o
tema proposto, chegando a resposta da indagação realizada sobre a inserção da
educação física no período do Ratio Studiorum.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Ratio Studiorum foi constituído dentro de um processo histórico que
necessitava ascender os ideais cristãos mais precisamente a igreja católica, que sofria
pelas mudanças ocorridas por conta da Reforma Protestante. Mas com o que se via no
contexto, era necessário que houvesse uma reconstituição no pensamento da população,
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para que se chegasse a alcançar este objetivo. É neste momento que a educação começa
a aparecer, nesta relação que será decisiva para a sua constituição. O processo histórico
da EF, já havia sido iniciado, mas, que entraria num estado de estagnação no período da
idade média, exatamente, no período que irá vigorar o Ratio Studiorum.
Mas esta relação não é tão simples de se identificar, uma vez que, nem antes,
muito menos neste período, ainda não se tinha a educação física constituída como uma
disciplina educacional com objetivos claros à formação do ser humano. O que se tinha,
era um conjunto de práticas que projetavam a futura educação física que posteriormente,
fora conhecida pelo mundo, de forma organizada e precisa dos seus objetivos, é verdade
que estes variarão a época da qual estaremos nos posicionando.
O ideal de homem Pré-Ratio Studiorum, todavia, modificará, e então, aquela
formação de homem viril defendida por Aguiar & Frota (2002), do qual cultuava o
corpo, cuidava da higiene, preparava-se para as batalhas e valorizava a cultura popular,
será alterado para o homem perfeito, intelectual, que busca construir uma família e é um
servo de Deus, defendido por Lima (2008).
A sociedade e a educação tomariam, também, novos rumos, concomitantemente.
Se o ideal de homem modificará, a sociedade, consequentemente será diferente, e acima
de tudo para que essas mudanças aconteçam é necessário que a formação, ou seja a
educação seja vista de outra maneira. É desta forma que a educação influenciada pelo
cristianismo, o Ratio Studiorum, irá fortalecer a mudança. A sociedade passa a ter
novos conceitos cívicos e objetivos de vida, como a busca incansável pela família
perfeita e a obrigação cristã. Mas esta concepção inicia dentro das escolas, neste caso as
escolas jesuíticas que reafirmarão a importância de um intelecto bem estruturado, que
será usado para Deus.
Apesar de toda a importância dada ao protótipo de educação física anteriormente
a construção do Ratio Studiorum, ela não fará parte do método, porque este método
mudará as concepções de homem, sociedade e educação, e por conta das questões
relativas ao que era conduzido como educação física (lembrando que ainda não era
constituída como disciplina educacional) não seria vista com grande importância para a
formação do homem buscado pelo método jesuítico, e portanto, seria remetida ao ideal
de formação esportiva, a educação cavalheiresca, que pretendia formar um homem
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cortez com destrezas físicas, como denominado por Aguiar & Frota (2002). Esta
educação muito remete ao que seria a Educação Física pós 1964, que não objetivava a
formação do ser, mas sim, neste caso, da superação do individual, sendo este um valor
da sociedade moderna, obtendo o culto ao atleta-herói e buscando a valorização da
competição e do individualismo. (GHIRALDELLI, 1991)
O êxito alcançado pelo Ratio Studiorum é incontestável, por ter sido, um método
de ensino bem estruturado e renovador para a época. A educação sempre foi vista um ar
de superação da realidade, e o Ratio, foi a busca pela melhoria da sociedade e da
ascensão da, o entendimento de que pela educação jesuítica existiria a elevação do
homem à Deus. Contudo, é necessário que se analise os lados negativos do qual ela
trouxe, e a influencia que ela provocou no processo histórico da educação física foi um
retardo e uma perda lastimável não só a educação e especificamente a educação física,
mas, de uma forma geral, as relações culturais que já haviam sido estipuladas antes do
seu processo de construção. O que pode ser considerado um etnocídio dos povos
indígenas no Brasil, que no período colonial tiveram que se adequar aos costumes
europeus e métodos de ensino exportado deles, sem que a sua cultura popular fosse
levada em consideração.
A educação física também discute a cultura e se no Ratio Studiorum, ela fosse
estabelecida com bons olhos, poderia ter tido uma relação diferente, e o processo
histórico da mesma haveria de ter caminhado de forma significativa, como, uma
disciplina educacional, pautada na cultura popular, nas práticas corporais e no ensino da
formação do cidadão conveniente e idealizado para o período em que se vigorou o
método pedagógico dos jesuítas, o Ratio Studiorum.
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