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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
Repensando a Formação de Administradores Por: Mauro Roberto de Seixas Raposo Orientador: Prof. Marco Antonio Chaves
Rio de Janeiro, RJ, abril/2001
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
Repensando a Formação de Administradores Por: Mauro Roberto de Seixas Raposo Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Docência de Ensino Superior
Rio de Janeiro, RJ, abril/2001
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Agradecimentos
À Universidade Candido Mendes que
tornou possível a realização deste
trabalho monográfico
Ao Professor Marco Antonio Chaves,
professor de Metodologia da Pesquisa,
que demonstrou, além de sua grande
competência profissional, uma enorme
paciência para me auxiliar.
A minha Tia, Professora Lenira Z. de
Seixas que, além de todo o incentivo a
minha carreira de estudante, efetuou a
revisão de meu trabalho monográfico.
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Dedicatória
Que este trabalho venha a ser um
instrumento para as instituições de
ensino terem uma nova visão da
formação de pessoas na área de
Administração de Empresas.
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Dístico
“Quando o mar está calmo, qualquer barco navega bem”
Shakespeare, apud Waldez Ludwig
“Todavia, uma coisa muito importante
podemos prever, com respeito aos
administradores do futuro: é que eles
serão numerosos. Muito
provavelmente no futuro os
administradores virão a ser mais
numerosos e importantes do que hoje.”
Peter F. Drucker
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Sumário
Resumo............................................................. 6 O processo evolutivo........................................ 8 História da Administração................................ 10 História da Engenharia..................................... 14 História da Medicina........................................ 17 A administração na atualidade......................... 19 A similaridade evolutiva.................................. 23 Conclusão......................................................... 26 Bibliografia....................................................... 31 Anexos.............................................................. 33
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Resumo
Os estudos no campo da Administração são recentes,
e, como tal, encontram-se em processo evolutivo constante, fazendo com que
a vastidão de novos conceitos e suas complexidades leve-nos a refletir sobre a
formação atual de administradores.
Procurar-se-á demonstrar que em outros campos do
conhecimento, tais fatos fizeram com que o processo de ensino fosse revisto e
adaptado à nova realidade descortinada.
Demonstrado o fato da similaridade evolutiva com
outras áreas, dever-se-á repensar num primeiro momento o processo de
formação atual, onde será respondido o seguinte questionamento: Estamos
formando profissionais da área de Administração de forma adequada ao que
exige a nova realidade?
Em um segundo momento, deve-se responder aos
seguintes questionamentos: O ato de administrar uma organização é
assegurado somente aos bacharéis de Administração, devidamente registrados
no Conselho de Administração? Existem pessoas que não sejam bacharéis em
Administração exercendo funções restritas de administradores? Em existindo
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pessoas não bacharéis exercendo funções restritas de administradores, estão
elas infringindo alguma lei? O que o Conselho vem fazendo a esse respeito?
Os dois fatos em análise precisam ser respondidos e
em seguida procedidas as modificações que se façam necessárias, para
podermos assegurar, não só a continuidade da expansão do conhecimento,
como também a valorização daquele que por vocação optou por seguir a
carreira de Administrador.
O que de pior pode acontecer é nada fazermos por
acomodação, ou simplesmente, pelo medo de sermos os precursores nesse
processo.
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O Processo evolutivo
A administração científica, surgida em 1900, vem
sofrendo um processo permanente, isso para se adaptar não só às constantes
evoluções, como também às necessidades que ainda estão por vir.
Em um breve sobrevôo pelos acontecimentos das
últimas décadas, pode-se verificar o surgimento de subdivisões de campos de
atuação dos administradores, tais como: Finanças, Recursos Humanos,
Marketing, etc..., principalmente focado no advento da globalização da
economia, quando as exigências que recaem sobre os profissionais atuantes
nas áreas de administração, tornaram-se por demasia complexas, exigindo
uma melhor especialização.
Nota-se que tais fatos, no momento atuando sobre a
formação de administradores, já ocorreram em outros campos de atuação,
originando o desmembramento em subáreas de formação. Entre elas, pode-se
citar a Engenharia e a Medicina, que por força de novos conhecimentos
precisaram reavaliar o processo de formação em busca de uma melhor
capacitação e criação de um cenário mais promissor ainda. A decisão tomada
por essas áreas permitiu, como hoje está demonstrado, a continuidade de seu
processo evolutivo, levando-se então ao questionamento: Será que tal
momento também é chegado à área de Administração?
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Vejamos então a história da evolução dos campos de
conhecimento da Administração, Engenharia e Medicina, para podermos ter
uma base de dados que permita uma resposta segura quanto ao momento atual
da Administração em relação aos processos dos campos ora comparados.
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História da Administração.
O pensamento que será adotado sobre a história da
Administração será o de Alfred Chandler Jr., pertencente ao movimento
“Revisionista” dos historiadores norte-americanos, sendo considerado um dos
mais sérios historiadores da Administração.
Chandler dividiu a história da Administração em duas
fases. A primeira, onde encontramos os Economistas Clássicos dos séculos
XVIII e XIX, e as origens do pensamento administrativo, iniciando-se por
Adam Smith, em 1776, que mencionava o princípio da especialização dos
operários numa manufatura de agulhas até Frederick Halsey, em 1891. E a
segunda fase, iniciada em 1900 com Frederick W. Taylor, conhecida como da
Administração Científica, que dura até os dias de hoje, também considerada a
do surgimento do Administrador-pensador.
Os Economistas Clássicos trataram de modo amplo os
temas fundamentais da Administração, contribuindo para tornar essa nova
ciência conhecida e respeitada, mas não foram muito além.
A cronologia da era dos Economistas Clássicos pode
ser definida como:
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1776 Adam Smith Aplicação do princípio de especialização aos operários: controle e remuneração.
1800 James Watt Mathew Boulton
Padronização de procedimentos operativos. Especificações. Métodos de trabalho. Planejamento. Incentivos de remuneração. Tempo Standard. Uso de auditoria.
1810 Robert Owen Necessidade de práticas de Administraçãode Pessoal e treinamento.
1820 James Mill Análise dos movimentos Humanos. 1832 Charles Babbage Ênfase no método científico.
Especialização. Divisão de trabalho. Estudo de tempos e movimentos. Contabilidade de custos. Estudo das cores.
1835 Marshall, Laughlin e outros
Reconhecimento e discussão da importância das funções administrativas.
1850 Mill e outros Amplitude de controles 1855 Henry Poor Princípios de organização, comunicação e
informações aplicadas às ferrovias. 1856 Daniel M. Callum Uso de organograma. 1871 W. S. Jevons Estudo de movimentos. Estudo do efeito
de diferentes ferramentas usadas pelo operário. Estudo da fadiga.
1881 Joseph Wharton Estabeleceu os primeiros cursos em nível colegial para o estudo da Administração.
1886 Henry Metcalfe Henry Towne
A arte e a ciência da Administração. Filosofia Administrativa. A ciência da Administração.
1891 Frederick Halsey Plano de prêmios no pagamento de salários.
A segunda fase iniciou-se por volta de 1900 nos
Estados Unidos, com Frederick Winslow Taylor. Basicamente, essa
Administração surgiu com o propósito de buscar “eficiência nas
Organizações”, dando-se então ênfase às tarefas.
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A fim de alcançar elevada eficiência industrial,
buscavam a aplicação dos métodos da ciência aos problemas da
Administração. Seus principais métodos foram a “Observação e a
Mensuração”. Sua principal preocupação era a tentativa de eliminar o
fantasma do desperdício e das perdas sofridas pelas indústrias americanas e
elevar o nível de produtividade através do método de Engenharia Industrial,
cuja análise constituiu a chamada “Organização Racional do Trabalho”
Teve como principais seguidores: Gatt, Gilbreth,
Barth, Ford.
Uma outra corrente de pensamento surgiu com as
experiências de Hawthorne, que deram origem ao movimento das relações
humanas nos negócios, e foram conduzidas por cientistas sociais entre 1927 e
1932. A “Teoria Comportamental” enfatiza a Administração a partir da
compreensão e do estudo do comportamento do trabalhador. Um dos
participantes dessa experiência foi Elton Mayo, cientista social australiano da
Universidade da Pensilvânia, que iniciou suas atividades experimentais em
uma fábrica têxtil, quando foi chamado para exercer a função de consultor,
substituindo um engenheiro antes contratado para a realização de estudos de
Administração Científica, de acordo com os princípios de Taylor, mas que não
obteve o sucesso esperado.
Outra importante contribuição à “Escola
Comportamental” foi a de Chester Barnard, formulador da “Teoria da
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Aceitação da Autoridade”. Ele afirmava que os funcionários determinavam
se uma ordem dada por um superior seria importante ou não em vista das
metas ou interesses pessoais.
Além desses, Douglas M. McGregor, foi um outro
importante contribuinte dos estudos da Administração, pois foi ele quem
apresentou, através das “Teorias X e Y”, as diferenças básicas e principais
entre a visão de Taylor que era mais pessimista aprovando a manipulação do
trabalho e punindo o aumento da produção (Teoria X), e a visão de Mayo que
era mais otimista e observava o psicológico do trabalhador e suas relações
com os demais (Teoria Y).
Paralelamente à Teoria de Taylor e Mayo, surgiu uma
outra corrente formada por anatomistas e fisiologistas da organizacionais.
Essa escola era formada principalmente por executivos da época, dentre eles
Henri Fayol e James Mooney, e era chamada de “Teoria Clássica”. Tinha
como preocupação básica aumentar a eficiência da empresa por meio da forma
e disposição dos órgãos competentes da organização (fisiologia) e das sua
inter-relações estruturais (anatomia). Neste sentido esta corrente é inversa à
abordagem da Administração Científica de cima para baixo (da direção aos
departamentos). Com essa visão permitia a melhor maneira de subdividir a
empresa a partir de um chefe principal e dava ênfase à estrutura.
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História da Engenharia
O termo Engenharia foi dado à profissão cujo
conhecimento é aplicado na utilização eficaz dos materiais e das forças da
natureza, ou seja, o acúmulo do conhecimento utilizado para modificar a
relação homem/natureza.
A Engenharia desenvolve-se paralelamente aos meios
de produção e é muito bem assessorada pelos recursos científicos.
A história da Engenharia pode ser dividida em duas
partes: Antiga e Moderna.
A Engenharia Antiga surgiu no final do período
neolítico e trata das atividades em que se esboça um conteúdo entre o intuitivo
e o empírico.
Já a Engenharia Moderna foi reconhecida ao ser
fundada, na França, a École Nacionale et Chaussés des Ponts, em 1747,
quando se passa a unir os conhecimentos através da pesquisa do homem
somados aos conhecimentos científicos.
A passagem de um período para o outro ocorreu de
forma gradativa.
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A Engenharia a princípio estava dividida em Militar e
Civil, sendo a Civil toda Engenharia que se prestava a servir às obras não
destinadas às Forças Armadas.
A partir da Engenharia Civil começaram a surgir as
engenharias das mais diversas, como por exemplo: mecânica, eletrotécnica, de
minas e até as novíssimas nuclear e genética.
No período da Idade Média a Engenharia no Velho
Mundo ficou um pouco estagnada e restrita às construções religiosas.
Somente a partir de meados do século X, com o surgimento da vida urbana e
muitas modificações no sentido econômico, o que tem muita influência com o
desenvolvimento tecnológico, é que a Engenharia retomou seu
desenvolvimento.
A partir do Renascimento, começaram a surgir
indivíduos que partem para a união propriamente dita da Engenharia com a
ciência e a pesquisa, formando assim os alicerces da nova Engenharia.
Um dos mais expressivos colaboradores para o
surgimento da Engenharia foi Leonardo da Vinci que exerceu, entre outras
atividades, a de engenheiro civil, militar e, frustradamente, aeronáutico. Outro
gênio precursor da Engenharia moderna foi Galileu Galilei, que estudou, entre
tantas coisas, a resistência dos materiais e flexão das vigas.
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No século XVII, a matemática e a física caminharam
rapidamente para uma grande revolução, levando junto a base das
engenharias. Podemos citar alguns fatos importantes dessa época.
• Lei de Hook – Elasticidade dos Materiais (Robert Hook);
• Geometria Analítica (Descartes);
• Cálculo Diferencial, integral e infinitesimal (Newton e Leibniz)
Na École Nacionale et Chaussés des Ponts, foram
compilados e definidos os conhecimentos da época sobre técnicas da
construção e analisados os avanços decisivos da tecnologia de materiais,
contribuindo com a primeira Revolução Industrial de meados ao fim do século
XVII e com a Segunda, no século XIX.
No século XX, motivado por sucessivos avanços da
ciência e pela tendência à racionalização das obras engenhosas que
aumentaram sua complexidade, surgiram as especializações da Engenharia.
A relação mais antiga sobre ensaio de Engenharia no
Brasil foi trazido da Holanda, através de Miguel Timermans em 1648. A
primeira escola de Engenharia criada no Brasil, foi a Academia Real Militar,
em 1810.
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História da Medicina no Brasil
O início do ensino médico no Brasil, em 1808, trouxe
ao País a formação de profissionais, pois até então os estudantes que
desejassem tornar-se médicos, precisavam ir para a Europa para dar
continuidade aos estudos.
Pode-se dividir em 3 fases a medicina no Brasil:
• Medicina dos físicos e cirurgiões, curiosos e feiticeiros;
• Medicina pré-científica;
• Medicina Científica.
A primeira fase, da Medicina dos físicos e cirurgiões,
curiosos e feiticeiros, estendeu-se desde os primórdios do povoamento do
Brasil, até 1808, com a chegada do rei D. João, quando foram fundadas as
escolas de Salvador e do Rio de Janeiro.
Esta primeira fase que trata da época do povoamento do
Brasil, é a evocação da cirurgia rudimentar e da precária clínica dos físicos,
cirurgiões-aprovados, cirurgiões-barbeiros, aprendizes, sangradores,
boticários, curandeiros, pajés, padres jesuítas, feiticeiros e curiosos -
denominações que receberam profissionais da época.
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Para estudo, esse período pode ser dividido em cinco itens:
• Medicina Indígena;
• Medicina Jesuítica;
• Medicina Africana ou Negra;
• Medicina no Brasil-Holandês;
• Medicina Ibérica.
A Segunda fase, da Medicina Pré-científica, é a fase
caracterizada pela criação, em 1808, das Escolas de Salvador e do Rio de
Janeiro. Na época da separação do Brasil, quando passamos a ser Reino,
foram surgindo os doutores das faculdades nacionais, que eram instruídos
segundo os moldes das escolas francesas.
No final do século XVIII, Montpellier instruiu médicos
brasileiros. Em 1866, fundou-se em Salvador a Gazeta Médica da Bahia, um
marco para a Medicina Científica.
A terceira fase, da Medicina científica, é a que vivemos
hoje, onde um dos fatos marcantes, foi o surgimento do Médico-de-família, no
século XIX. Devido aos avanços do conhecimento científico, tornou-se
inviável a formação do médico da forma antiga, sendo, a partir de então,
criada a figura das especializações médicas.
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A Administração na atualidade
Segundo a Enciclopédia Barsa, a “administração
caracteriza-se pelo conjunto de princípios, normas e funções que têm por
objetivo ordenar, redigir e controlar os esforços de grupos de indivíduos que
se associam para a obtenção de um resultado comum”.
Muitos administradores afirmam que a Administração
serve apenas na tarefa de tomar decisões sobre definição de objetivos e a
utilização dos recursos necessários, isto é, zelar pela eficácia e eficiência da
organização (Maximiniano, Antonio Cesar A. in Introdução à Administração.
P.22).
A prática administrativa, como fenômeno social, é muito
antiga, existindo praticamente desde as primeiras organizações. Hoje em dia
vale a pena questionar se a Administração é uma ciência ou uma arte.
O conceito atual que se iniciou em 1900 com os estudos de
Taylor, demonstra que o estudo da Administração como corpo organizado de
conhecimentos é bastante recente. À medida que a quantidade de empresas
cresce e tornam-se complexas, os próprios gerentes e os pesquisadores de
diversas disciplinas preocupam-se em consolidar o conhecimento derivado da
prática administrativa.
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Com a existência das organizações, foi necessário aos
administradores criarem um acervo de soluções e repertório de técnicas
administrativas que aumentam e ganham em complexidade, geração a
geração. É nesse acervo que encontramos diversas teorias, tais como: clássica,
neoclássica, burocrática, de sistemas, de contingências e muitas outras.
Um dos maiores estudiosos da Administração moderna,
Peter Drucker, já estudou quase tudo o que os executivos fazem, pensam ou
enfrentam, e por isso ele é considerado, por muitos, como patrono da moderna
administração. Parte desse sucesso deve-se ao seu extremo poder de antever
situações e circunstâncias, baseado em sintomas muitas vezes pouco aparentes
aos demais mortais, que derivam em conseqüentes denominações de fórmulas
e princípios simples facilmente exeqüíveis no dia-a-dia das organizações.
Administrar é necessário em todos os tipos de organização
ou atividades organizadas, é necessário onde quer que as pessoas trabalhem
em conjunto e procurem alcançar uma meta comum. Uma vez que se
administra os outros e somos administrados constantemente, pode-se concluir
que com o aumento dos conhecimentos de administração a vida tornar-se-á
mais confortável e previsível.
A administração é necessária nas organizações, e também é
universal uma vez que usa uma mesma massa sistemática de conhecimentos,
incluindo leis, princípios e conceitos que tendem a ser verdadeiros, em
organizações, governos, instituições educacionais, sociais, religiosas, etc...
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Sem elas as pessoas estariam entregues a si próprias e trabalhariam para a
obtenção apenas de seus objetivos independente das demais.
Acredita-se que a organização certa é uma utopia, existindo
apenas organizações com pontos fortes e fracos, limitações distintas e
aplicações específicas. Já ficou claro que a organização não é um absoluto, e
sim, uma ferramenta para tornar as pessoas produtivas quando trabalham em
conjunto. Como tal, podemos definir que uma estrutura organizacional é
adequada para determinadas tarefas em determinadas condições e
determinadas épocas.
Amparando-se em tais fatos, pode-se notar que a arte do
bem administrar está ligada a um grande número de conceitos complexos,
dificultando sobremaneira a captação em sua totalidade por uma só pessoa.
Esse fato já foi vislumbrado em outras carreiras, como a de Engenharia e a de
Medicina.
Não se deve partir da premissa errônea de que existe
apenas uma maneira correta de administrar, pois as variáveis são enormes e
determinadas por fatores externos, às quais deve-se estar atento, pois,
tratando-se de um estudo recente, a cada dia novos conceitos e modelos são
criados.
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Peter F. Drucker disse “... uma coisa muito importante
podemos prever, com respeito aos administradores do futuro: É que eles
serão numerosos. Muito provavelmente no futuro os administradores virão a
ser mais numerosos e importantes do que hoje.”. Drucker já antevia o
crescimento da ciência da Administração, e, em conseqüência, o aumento de
sua importância na vida moderna.
Destacam-se alguns conselhos de Peter F. Drucker:
• Deve-se aprender a ver as mudanças sociais, tecnológicas, econômicas e
demográficas como oportunidades e não como ameaças;
• Os empreendedores mais bem sucedidos sempre foram homens e mulheres
humildes, que tinham consciência de que o sucesso de hoje pode ser o
fracasso de amanhã e vice-versa;
• Inovação é trabalho. Ações sistemáticas, deliberadas e disciplinadas são o
que realmente conduz uma empresa ao progresso;
• A simplicidade tende ao desenvolvimento, a complexidade, à
desintegração;
• Na Administração estratégica, a eficiência é importante, mas a eficácia é
vital;
• Defender o ontem, isto é, não inovar, é mais arriscado do que fazer o
amanhã.
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A similaridade evolutiva
Hoje as instituições de ensino estão atreladas num modelo
de formação de administradores na forma como esta foi concebida, ou seja,
forma-os como generalistas e propicia aos mesmos cursos de especialização.
Reside nesse ponto a dúvida quanto à validade de tal atitude, pois o fato vem
de encontro ao processo evolutivo de outras ciências, tais como as já citadas
de Engenharia e Medicina, que se subdividiram na busca de uma melhor
formação de seus profissionais.
É fato notório, que a ciência da Administração é tão
complexa e extensa quanto as de Engenharia e Medicina, então, não seria o
momento de repensar “Os administradores do futuro”?
Deve-se refletir sobre a evolução do conhecimento da
Ciência administrativa e a evolução da formação de novos administradores, e
responder se não é chegada a hora de mudarmos esse tipo de formação a
exemplo do que ocorreu em outras ciências.
A evolução vem sempre acompanhada de novos
conhecimentos, que desvendam uma nova e infinita forma de abordagem do
novo. Cabe aos formadores ficarem atentos aos novos fatos e, sem medo de
quebrar os paradigmas, repensar e adaptar-se a essa evolução.
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A segunda questão, em análise, a ser respondida, não
menos preocupante, é o fato de que, hoje, os administradores não têm amparo
algum efetivo do Conselho Federal de Administração, pois podemos constatar
pessoas sem a formação adequada ocupando cargos restritos de
administradores. É fácil encontrar engenheiros, médicos, contadores e
advogados ocupando cargos de Gerente Administrativo, de marketing, de
finanças, etc.., porém não vemos administradores clinicando, fazendo
intervenções cirúrgicas, assinando plantas, sendo responsáveis técnicos por
construções, assinando petições em juízo, assinando balanços, etc.... Serão os
tratamentos profissionais iguais?
Entende-se, que a ciência da Administração é nova, porém
não tão pouco evoluída e importante, a ponto de permitir às pessoas
encarregadas da formação de novos administradores ficarem indiferentes ao
fato de ser chegada a hora de repensar a forma como o fazem. Cabe ao
Conselho Federal de Administração pensar que somente ele pode fiscalizar e
impedir que pessoas não qualificadas exerçam cargos específicos de
administradores, valorizando assim a profissão, conforme requer sua
importância para a sobrevivência das organizações nos dias altamente
competitivos do mercado globalizado.
O exposto não é fantasia, é a própria realidade, que deve
ser verificada. De forma alguma pode-se ficar acomodado, sem nada fazer,
para depois ficar culpando esse ou aquele e eximindo-se da responsabilidade a
que nos vemos envolvidos hoje.
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Administrar é uma arte, mas antes de tudo é uma ciência,
devendo-se então tratar o assunto da forma como deve e merece ser tratado,
sem preconceitos e sem medo de dar-se poder àqueles que realmente são seus
detentores.
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Conclusão
A ciência da Administração experimentou um crescimento
expressivo que é irreversível e inquestionável, cabendo ao administrador
adequar-se ao processo evolutivo mantendo favorável o horizonte a novas
evoluções técnicas.
No princípio, os horizontes de conhecimento no campo
científico da Administração eram bem reduzidos, o que tornava viável e
adequado a formação de administradores como hoje ainda acontece. Porém,
outras áreas de conhecimento científico também iniciaram sua história com
pouco conhecimento e em determinado momento viram-se obrigadas a
modificar seu ponto de vista inicial.
Hoje um recém-formado em Administração se vê com
problemas para exercer com eficiência sua profissão, pois é impossível
adquirir todos os conhecimentos no período de quatro anos, que é o tempo de
estudo nas Universidades do Brasil para administradores.
A demonstração cabal disso é a grande diversidade de
cursos de extensão universitária na área de Administração existentes hoje no
Brasil. Invariavelmente o administrador se vê obrigado a escolher algum, pelo
simples fato de que em sua formação acadêmica nem todos os conhecimentos
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foram passados, e os que foram transmitidos em sua maioria ocorreram de
uma forma superficial, exigência do exíguo tempo disponível.
O intuito não é o de condenar a forma como hoje as
instituições estão formando os administradores, mas sim a de levar-se à
conclusão de que é chegada a hora de modificarmos o processo.
No início os engenheiros eram formados tão somente como
engenheiros militares ou engenheiros civis, porém a grande evolução do
conhecimento na área, obrigou a modificar-se a sua que hoje está subdividida
em engenharia civil, eletrônica, elétrica, de minas, etc...
Com alguma diferença, o mesmo fato observou-se com a
Medicina que se viu forçada a modificar a formação dos médicos, criando a
obrigatoriedade da residência médica e da especialização.
Então vejamos, o mesmo processo evolutivo que
observamos nas carreiras de Medicina e Engenharia pode ser observado na
área de Administração. Por que então não procedermos modificações também
na formação de administradores?
Se observarmos o mercado de trabalho nos dias de hoje, as
empresas já vêm adotando essa separação, pois, quando as mesmas efetuam
suas contratações de pessoal, já o fazem por segmentação, ou seja, Gerente
Financeiro, Gerente Administrativo, Gerente de Marketing, Gerente de
Recursos Humanos, etc..
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Se o nível de conhecimento na área de Administração já é
tão extenso que dificulta o domínio adequado por um profissional generalista
e se o mercado já exige um profissional de conhecimento específico, por que
não migrarmos para um modelo de formação como o de engenheiros e
médicos?
O modelo proposto numa primeira fase de subdivisão
poderia ser: Gestor de Finanças, Gestor Administrativo e Gestor de Marketing.
Outro fato relevante dentro desse processo de mudanças na
formação de novos administradores diz respeito ao Conselho Federal de
Administração que precisa modificar o seu atual posicionamento de
acomodação e passar a fiscalizar com eficácia a ocupação de cargos restritos a
administradores por pessoas não qualificadas.
Se um administrador ensejar ocupar uma cargo específico
de um médico, de imediato o Conselho de Medicina abre um processo contra
o mesmo, ficando ainda o transgressor sujeito a prisão. Será que, quando um
médico exerce a função de um administrador num hospital, ele sofre a mesma
punição por parte do Conselho de Administração? Será que existe alguma lei
que o puna com prisão, pelo exercício ilegal da profissão?
Pode um administrador exercer o papel de advogado,
assinando petições a Juízes, ou defender um cliente em tribunal como o faz
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um advogado perante a justiça, da mesma maneira como um advogado ocupa
o cargo de administrador numa Empresa?
Quando um profissional de outra área ocupa o cargo de
Administrador de uma empresa ele paga anuidade ao Conselho de
Administração como o faz um profissional formado na área e inscrito no
referido conselho?
Acredito que os fatos aqui expostos são suficientemente
relevantes para levar as Instituições de ensino, o Conselho de Administração e
o Governo a repensar a formação de administradores, pois de nada adianta a
evolução de uma ciência, se não evoluímos o seu processo acadêmico, como
também não devemos continuar a formar administradores sem assegurar-lhes
que eles terão uma carreira protegida como as demais.
O fato de não se resguardar a carreira de Administração,
permitindo que qualquer pessoa de outra formação, ou ainda, o que ocorre em
alguns não raros casos, sem nenhuma formação superior a exerça, caracteriza-
se em enganar as pessoas que optam pela referida carreira, pois formam-se em
algo que a princípio não é necessário para exercê-la.
A Administração deve ser dada a Administradores, ou
então, deve-se abandonar a formação dos mesmos tornando-a somente um
curso de extensão curricular para pessoas de qualquer formação.
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Bibliografia
LODI, João Bosco. História da administração. 10ª ed. São Paulo: Livraria
Pioneira, 1993.
DRUCKER, Peter Ferdinand. Introdução à administração. 3ª ed. São Paulo:
Livraria Pioneira, 1998.
CHIAVENATTO, Idalberto. Teoria geral da administração: abordagem
prescritivas e normativas da administração. Vol 1, 5ª ed. São Paulo:
Makron Books, 1997.
CHIAVENATTO, Idalberto. Teoria geral da administração: abordagem
prescritivas e normativas da administração. Vol 2, 5ª ed. São Paulo:
Makron Books, 1998.
ENCICLOPÉDIA BARSA. Rio de Janeiro/São Paulo: Enciclopédia
Britanica Editores Ltda, 1964-1977
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. 2ª ed.
São Paulo: Editora Atlas, 1985
SANTOS FILHO, Lycurgo de Castro. História geral da medicina Brasileira.
São Paulo: HUCITEC: Editora da Universidade de São Paulo, 1991.
31
BAZZO, Walter Antônio & PEREIRA, luiz Teixeira do Vale. Introdução a
Engenharia. Florianópolis: Editora da Universidade Federal de Santa
Catarina, 1997.
FOLHA DE SÃO PAULO. Enciclopédia Ilustrada. São Paulo, 1998.
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