Post on 14-Mar-2016
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[ 1 ]
por Cristiane G. Sant´Ana
Copyright © 2012 por Cristiane G. Sant´Ana http://cristianegsantana.blogspot.com.br/
ESTE LIVRO É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LOCAIS E ACONTECIMENTOS SÃO IGUALMENTE PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DO AUTOR OU USADOS DE FORMA FICCIONAL. QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENTOS REAIS, LOCAIS OU PESSOAS VIVAS OU MORTAS, É MERA COINCIDÊNCIA.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou
reproduzida em qualquer meio sem a autorização por escrito da escritora.
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Vampiros
Fim dos tempos
Cristiane G. Sant´Ana
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Sumário
Capítulo 1
Doença Capítulo 2
Resistência Capítulo 3
Parabéns
Capítulo 4
Mortes
Capítulo 5
A decisão
Capítulo 6
Revolta
Capítulo 7
Miriam
Capítulo 8
Adam
Capítulo 9
A equipe Capítulo 10
Valores
Capítulo 11
Salt Like
Capítulo 12
Casa Branca
Capítulo 13
Revelações
Capítulo 14
Miriam
Capítulo 15
Horror
Capítulo 16
Cláudio
Capítulo 16
Noite Sombria
Capítulo 17
Luta Final
Dedicatória
Esse ano foi muito difícil para mim. Se pudesse arrancaria o
mês de dezembro de 2012 do calendário. Perdi a luz no fim de todos os tuneis de minha vida. Sou filha adotiva e fui criada por uma mulher
muito guerreira, cheia de amor e fé.
Maria Nildete Valle Lacerda, você ensinou-me a andar, falar, amar, perdoar, correr atrás dos meus objetivos, só não me ensinou a viver sem você.
Apesar de ter partido, ainda resta muito dela dentro do meu
coração, nas fotografias, nas plantas que tanto gostava... A propósito,
a plantinha que ela me deu, poucos meses antes de falecer estava muito feia. Agora, a plantinha está cheia de vida e nascendo vários
lindos brotinhos. Gosto de pensar que é um sinal de Deus, dizendo-me que ela está bem...
Mãezinha, descanse em paz!
Cristiane G. Sant´Ana
Fim dos Tempos
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Capítulo 1
Doença Elizete acordou com os gritos de sua filha. Correu até o
quarto da menina e a encontrou tremendo de frio. Aquele era o
segundo dia, em que Eva acordava no meio da noite aos
berros.
- Mãe – gritou a garotinha. – Estou sentindo muitas
dores – queixou-se. – Estou morrendo de frio! - exclamou
tremendo embaixo dos cobertores.
Elizete ficou paralisada ao notar, que a íris dos olhos da
menina estava vermelha. Decidiu acender a luz, para ter
certeza do que estava vendo.
Os olhos da menina estavam cor de sangue. Não havia
mais dúvida, a menina havia pegado a famosa epidemia, que
rapidamente se alastrava pelo mundo.
Elizete sentou-se ao lado da pequena e frágil menininha
de seis anos. Sentiu uma pontada no coração, ao deparar-se
com aqueles pequenos olhos vermelhos irradiando muita
tristeza e sofrimento.
Elizete abraçou a filha com carinho e acariciou seus
lindos cabelos dourados. Sentia-se angustiada e impotente
diante daquela situação. Não havia nada que pudesse fazer
para amenizar o sofrimento da filha, pois milhares de pessoas
estavam morrendo e as que sobreviviam eram internadas em
hospícios ou aprisionadas em presídios de segurança máxima.
Aquela maldita doença afetava diretamente o cérebro,
Fim dos Tempos
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tornando suas vítimas, seres irracionais e extremamente
perigosos, ou seja, não conseguiam diferenciar o certo do
errado, o bem e do mal, tornando-se assassinos cruéis e
sanguinários.
Infelizmente a ciência ainda não havia descoberto nada
que pudesse impedir o avanço daquela doença. A pessoa
contaminada costumava levar de três a cinco dias, para tornar-
se extremamente selvagem.
Eva já estava sofrendo há dois dias. Precisava levá-la
novamente ao hospital.
- Mamãe, não estou aguentando sentir tanta dor, por
favor, me ajude! – suplicou a menina chorando
compulsivamente.
Elizete encostou a cabeça da filha em seu peito e
acariciou levemente suas costas. Sentiu as lágrimas de Eva
encharcar a blusa de seu pijama. Apertou-a junto a seu corpo e
notou que as cobertas não a estavam aquecendo, pois o corpo
da menina continuava gelado.
Levantou-se e seguiu até o guarda roupa. Abriu a porta
do mesmo com cuidado para que a porta não despencasse,
pois há muito tempo, o bendito guarda-roupa dava sinais de
que precisava ser trocado.
Elizete olhou para o interior do guarda-roupa a procura
de mais cobertores. Notou com alegria a existência de um
edredom pesado, nunca antes usado, pois ainda estava com a
embalagem lacrada.
Pegou-o e seguiu até a cama da filha. Colocou o
edredom sobre o corpo pequeno e gelado da menina.
- Agora não sentirá mais frio. Irei até a cozinha para
Fim dos Tempos
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pegar um remédio, a fim de aliviar sua dor. Fique quietinha. A
mamãe já volta – pediu carinhosa, afastando-se em direção a
cozinha.
Ao retornar notou que a menina parecia mais pálida.
Colocou a mão em sua testa e percebeu que a temperatura de
seu corpo havia caído bruscamente.
- Mamãe, está doendo muito – choramingou a menina
com os olhinhos assustados e atormentados pela dor.
Abriu o frasco e deu-lhe dois comprimidos analgésicos,
mas sabia que o medicamento aliviaria sua dor
momentaneamente.
Elizete deitou-se ao lado da menina, abraçando-a com
força para que com o calor de seu corpo, pudesse esquentá-la.
Ouviu o barulho de chuva. Sentiu que algumas gotas
estavam molhando seu rosto. Levantou-se correndo para fechar
a janela que ficava ao lado da cama.
Voltou-se a deitar com a filha, tentando aquecê-la sem
nenhum sucesso. De repente um raio clareou o céu seguido de
um forte barulho de trovão. Nesse instante sentiu as pequenas
mãozinhas de Eva, apertá-la com força.
- É apenas um trovão, filhinha – informou Elizete. – Não
se preocupe, a mamãe está com você – abraçou-a com força
tentando acalmá-la.
Elizete já não conseguia dormir duas noites seguidas.
Seu corpo pedia cama. Tudo o que mais desejava era fechar os
olhos e dormir. Mas não poderia se dar ao luxo de dormir, pois
o esposo chegaria do trabalho em questão de minutos.
Evanílson trabalhava no período noturno. Gostava de tomar
café logo que chegava a casa. Só depois se dirigia ao quarto
Fim dos Tempos
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para descansar.
Observou com satisfação a filha que finalmente
conseguira dormir. Levantou-se a contragosto, pois precisava
preparar o desjejum de Evanílson. Ele chegaria a poucos
instantes. Seus olhos estavam pesados, insistiam em fechar-se.
Lutou contra o sono e foi para a cozinha.
Ouviu o barulho da porta da sala sendo aberta, mas
continuou preparando o café da manhã.
- Bom dia, querida – cumprimentou Evanílson, entrando
na cozinha abruptamente. – Esse café está cheirando lá fora –
aproximou-se da esposa, depositando-lhe um leve beijo em
seus lábios.
- Estou cansadíssima – confessou Elizete, colocando o
café na xícara do marido. – Essa é a segunda noite, que Eva
não consegue dormir por causa das dores. Estou exausta! –
desabafou.
- Precisamos encontrar um bom médico, que acabe de
vez com isso – disse levantando-se da mesa preocupado. – Vá
trocar de roupa, enquanto eu troco nossa filha – disse
Evanílson seguindo em direção ao quarto da menina.
Precisamos levá-la ao Hospital. Não aguento mais, ver nossa
menininha sentindo tantas dores.
- Você sabe que essa epidemia, ainda não tem cura –
alertou Elizete.
- Mas precisamos fazer alguma coisa; Não posso mais
vê-la cansada e a menina sofrendo dessa maneira – desabafou
Evanílson.
Pegou Eva com carinho nos braços e seguiu em direção
ao carro. Sentiu o corpinho gelado da menina. Colocou-a no
Fim dos Tempos
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banco traseiro. Voltou novamente a casa, a fim de pegar o
grosso edredom que estava no quarto da menina.
- Evanílson? Já estou quase pronta. Falta somente
colocar os sapatos – gritou a esposa de seu quarto.
- Vou pegar o edredom que está no quarto de Eva, pois
ela está gelada – informou seguindo até o quarto da menina.
Pegou o edredom e abriu o guarda-roupa em busca de
uma blusa de frio. Logo avistou o que procurava. Pegou o
casaco e seguiu até o carro.
Abriu a porta e vestiu a blusa de frio em Eva, que
dormia pesadamente. Depois cobriu com o edredom seu
corpinho gelado.
Fechou a porta e sentou-se no banco da frente
esperando pela esposa, que não demorou a sentar-se a seu
lado. Seguiram em direção ao Hospital. Em menos de quinze
minutos estavam diante de um dos melhores hospitais público
de São Paulo.
Pegou a menina e seguiu com pressa até a recepção.
- É um caso de emergência! – exclamou segurando a
filha nos braços. – Nossa filha está com os sintomas da
epidemia anunciada na televisão.
A moça olhou para eles com indiferença.
- Sua filha não é a única – disse mostrando um corredor,
repleto de pessoas se contorcendo de dores. – Estamos com
falta de médico no Hospital. Veja! – disse apontando para a
sala superlotada de gente gemendo de dor. – Sua filha não é a
única! Todos estão passando pelo mesmo sofrimento. Todos
estão com a maldita epidemia.
- Não tem médicos nesse hospital? – indagou aos
Fim dos Tempos
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berros. Não pode nos negar atendimento. Pago meus impostos
e quando preciso, tenho o direito de ser atendido – bradou
furiosamente.
- Temos apenas um médico. Infelizmente, não é um
pediatra. Ele está atendendo somente adultos e a fila está
enorme. Não sei se conseguirá atender a todos – informou com
sinceridade a moça da recepção.
Nesse momento, o pediatra de Eva abriu a porta da
recepção. Estava abatido e parecia bastante cansado.
Os olhos de Evanílson se iluminaram ao notar a
presença daquele rosto familiar.
- Doutor Sandro? – indagou a moça surpresa. – O
senhor não dormiu nada! – exclamou admirada. – Faz
exatamente quatro horas que saiu desse hospital.
- Vanessa, não dá para dormir com tantas pessoas
doentes – disse assinando o livro de presença.
- Doutor Alessandro, como vai? – cumprimentou Elizete.
- Atordoado diante de tantos casos de morte, por causa
dessa epidemia – disse o médico.
- Eva está apresentando os sintomas dessa maldita
epidemia – disse Evanílson. – Por favor, nos ajude! – suplicou
de joelhos no chão.
O Médico olhou para o homem a sua frente. Pegou-o
pelo braço constrangido diante da situação.
- Levante-se! – disse constrangido. – Vamos até o meu
consultório.
Seguiram o médico até uma pequena sala.
Elizete colocou a menina na cama para ser examinada.
O médico aproximou-se e examinou os olhinhos vermelhos cor
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de sangue. O sorriso foi se desfazendo lentamente, ao colocar
a mão na testa da menina para verificar a temperatura.
- Quantos dias Eva está com a temperatura baixa? –
indagou o médico.
- Há dois dias, doutor – informou o pai da menina.
- A temperatura de Eva está extremamente baixa. Só
pessoas mortas tem a temperatura tão baixa – disse tão baixo,
como se estivesse falando consigo mesmo.
- O que disse doutor? – indagou Elizete, preocupada.
O médico pegou o estetoscópio para ouvir as batidas do
coração da menina. Encostou o aparelho sobre o peito de Eva.
A menina não se afligiu, com o contato do aparelho frio em seu
corpo.
As feições do médico se contraíram. Parecia muito
preocupado.
- O que está acontecendo doutor? – indagou a mãe,
preocupada.
- Acho que meu aparelho deve estar quebrado – disse
com raiva. – Aguardem um minutinho que irei à procura de
outro aparelho – informou saindo do consultório.
Retornou minutos depois, com um novo aparelho. Ele
colocou o estetoscópio nas costas da menina. Seu rosto parecia
ainda mais preocupado.
- Por favor, Elizete, venha até aqui para que possa ouvir
seu coração. Assim saberei se o estetoscópio está quebrado.
Elizete aproximou-se do médico. Ele colocou o aparelho
frio em seu coração.
- Como desconfiei, o aparelho está funcionando
perfeitamente. Mas quando coloco o aparelho no corpo de Eva,
Fim dos Tempos
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seus batimentos cardíacos estão sumindo, mal consigo ouvi-los.
- Dr. Alessandro o que está acontecendo com a minha
filha? – indagou Elisete preocupada, olhando atentamente para
o médico.
- O que está acontecendo? – indagou o pai.
– Todos nós gostaríamos de saber. Estamos sofrendo
uma epidemia, infelizmente ainda não conseguimos descobrir a
cura para esse tipo de vírus – disse o médico pensativo.
- O que vai acontecer com Eva?
- Seu coração está parando, mas continuará viva como
os outros pacientes portadores desse vírus.
- O que quer dizer com isso?
- Quando o coração deixa de bater, o normal seria que a
pessoa entrasse em óbito. Mas com esse vírus, a pessoa
continua viva. Infelizmente, tornam-se extremamente
perigosos, como se fossem pessoas loucas. Não conseguem
discernir o certo do errado. Temos que afastá-los do convívio
familiar. Essas pessoas contaminadas pelo tal vírus, necessitam
viver isolados da sociedade, pois são extremamente perigosos e
letais.
- Isso é loucura! – gritou o pai da menina. – Acredita
mesmo que deixaremos nossa filha ser levada para um lugar
cheio de pessoas loucas?
- Acredite, é o melhor a ser feito – preveniu o doutor.
O médico olhou assustado para a menina que tremia
violentamente, como se estivesse morrendo de frio.
- Aaaiii! – gemeu a menina – Estou com muita dor,
mamãe. Faça alguma coisa, por favor!
- Doutor, acabe com a dor de Eva – disse a mãe,
Fim dos Tempos
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nervosa. – Se quiser podemos pagar para que dê a menina um
remédio bem forte.
- Nenhum remédio conseguirá diminuir essa dor. Mas
acredite, já está chegando ao fim. Em poucas horas não sentirá
mais dores.
- Por favor, acabe com a dor da minha filha, nem que
seja por alguns segundos – disse o pai, olhando a menina que
se contorcia de dor na maca do consultório.
- Não adiantará dar-lhe remédios. A dor voltará em
segundos – disse o médico impaciente – Sua filha se
transformará num monstro em menos de meia hora.
O pai da menina agarrou o médico pelo avental e deu-
lhe vários murros no estômago, parecendo totalmente
descontrolado.
- Pare com isso, Evanílson – gritou a esposa, segurando-
o pela camisa com força. - Isso não vai diminuir a dor, que
nossa filha está sentindo.
- Esse maldito doutorzinho, está dizendo que nossa filha
se transformará num monstro – disse com raiva, acertando o
rosto do médico e arrancando-lhe sangue dos lábios.
Nesse momento, os olhos da menina tornam-se ainda
mais vermelhos. Eva que observava tudo deitada na maca
levantou-se com agilidade sobrenatural e atacou o médico, com
enormes garras e seus dentes ficaram afiados e pontudos.
Em poucos minutos, o rosto do médico ficou totalmente
desfigurado e coberto de sangue. A menina bebia daquele
líquido com ferocidade. Sugava cada gota de sangue, como se
estivesse sentindo um prazer indescritível.
De repente aquela estranha criatura, para de sorver o
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sangue de sua vítima e olha na direção de sua mãe... Em
frações de segundos, avança de forma tão eficaz, que não
deixou margem para qualquer tentativa de fuga a sua mãe. Era
um novo ser... Um ser hediondo, cruel e sanguinário. Era a
própria figura do demônio... Um demônio que se fazia presente
no mundo atual...
Com enormes garras, arrancou-lhe um enorme pedaço
da pele do braço da pobre mulher. O sangue jorrou na parede
branca, tingindo-a de vermelho.
Não demorou para que a menininha, devorasse parte do
braço daquela mulher.
Era uma criança ou era um demônio? Aquilo não se
parecia com Eva. Aquela criatura devorava a mãe como se
estivesse diante de um banquete. A menina não demonstrava o
menor sinal de culpa, pelo contrário, parecia que estava
fazendo a coisa mais natural do mundo.
O pai assistia aquela cena macabra, totalmente
incrédulo e paralisado. Não tinha forças para sair do lugar. Não
conseguia acreditar no que via... Tinha apenas uma certeza:
não sairia vivo dali.
Fim dos Tempos
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Capítulo 2
Resistência Tudo ao meu redor me remetia ao apocalipse. Parecia
que o fim dos tempos havia chegado. A raça humana estava à
beira da extinção.
Os vampiros haviam tomado conta do mundo.
Felizmente, ainda havia resistência humana em poucos países.
Mas seria uma questão de tempo, para que aqueles seres
cruéis e sanguinários acabassem com tudo.
Mihnea governava o mundo com o apoio de seu
poderoso exército de vampiros. Esse exército era implacável,
com todos aqueles que não se submetiam as ordens de
Mihnea.
Os humanos viviam escondidos e aterrorizados, diante
dessa nova realidade. Saíam de seus esconderijos subterrâneos
durante o dia, contando com a sorte de não serem descobertos
e aniquilados.
Alguns humanos haviam se tornado espiões dos
vampiros, revelando o esconderijo de famílias inteiras. No
início, em troca de proteção. Mas para que não fossem
confundidos com os demais humanos, ganhavam um sinal nas
mãos. Assim não eram atacados por nenhum vampiro.
Os humanos, desconfiados daquele sinal, acabaram
descobrindo que aquela marca, servia para que os vampiros
pudessem identificar seus espiões.
Depois dessa descoberta, os traidores já não
conseguiam trabalho com os humanos, nem mesmo comprar
Fim dos Tempos
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alimentos lhes era permitido.
Diante desse dilema, os vampiros, com raiva
saqueavam, roubavam e quebravam os comércios, deixando
milhares de pessoas desesperadas com os enormes prejuízos.
Todos os dias deixavam uma grande quantidade de alimentos
para seus delatores.
A noite nenhum humano era visto perambulando pelas
ruas, pois a morte era certa. Ficavam trancafiados em seus
esconderijos, temendo serem descobertos e atacados.
Os vampiros cresciam em número e crueldade.
Estávamos vivendo o fim dos tempos, pois não havia
regras ou limites para nada. Tudo estava fora de controle.
Mihnea conseguiu aumentar seu poder sobre a terra,
mas não pensou no equilíbrio da natureza. Havia um grande
número de vampiros, mas não havia sangue suficiente para
todos eles. Com isso, muitos animais já estavam em extinção.
Nos hospitais não havia uma única gota de sangue.
Diante daquele caos, Catharina recordou-se das palavras
de Vlad IV, pois quando era o rei dos vampiros, temia que
Mihnea se tornasse rei algum dia. Com Vlad IV as coisas
transcorriam em seu estado habitual. Mas ele alertara a todos
sobre seu irmão, Mihnea. Infelizmente ninguém poderia
acreditar que as coisas chegariam a esse ponto.
Vlad IV previra o que estava acontecendo. Sempre
acreditou que se Mihnea tomasse o poder, o mundo estaria em
risco. Recordou-se das palavras de seu grande amor, antes
dele falecer:
“Precisa viver para criar o rei dos vampiros. Ele é a
salvação da raça humana. Não deixe que Mihnea se aproxime
Fim dos Tempos
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dele – alertou cuspindo sangue pela boca. – Ele tentará matá-lo
para tomar o poder. Crie nosso filho de modo que governe
nossa espécie com sabedoria. Ensine-o a respeitar a raça
humana. Sem eles, a vida na Terra chegará ao fim”.
Mihnea tomou o poder, assim que Vlad IV morreu.
Catharina foi obrigada a viver escondida durante todos esses
anos, para que Mihnea não encontrasse Adam e o matasse.
Agora, seu filho completara dezoito anos de idade. Mas
Catharina sentia que Adam, ainda não estava preparado para
enfrentar aquele demônio.
Após a morte de Vlad, os anos se passaram muito
depressa. Catharina sentiu o desejo de chorar, ao recordar-se
de todas as dificuldades que passou, durante todos aqueles
anos, para criar o filho. Como dois irmãos podiam ser tão
diferentes? Vlad IV era um homem bom, mas Mihnea era a
figura ativa de seu pai, Vlad III, o impalador.
Catharina sempre tomou muito cuidado com a criação
de Adam, pois temia que se tornasse maldoso e cruel, como o
avô. Aquele ficara conhecido mundialmente por sua crueldade,
cujo maior prazer era empalar seus inimigos. Matava-os de
forma lenta e dolorosa.
Mihnea também costumava empalar seus inimigos.
Matava-os com requintes de crueldade. Fazia isso lentamente e
saboreava cada momento.
Os humanos não tinha muito que fazer. A arma mais
poderosa contra todos eles era o sol. Durante o dia podiam
viver “normalmente” no mundo, como se nada houvesse
acontecido. Mas a noite era uma tortura constante. Ninguém
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conseguia dormir em paz. O medo fazia parte da vida de cada
um deles.
Ninguém se atrevia a manifestar-se contra as forças de
Mihnea, pois os que haviam feito isso acabaram morrendo de
maneira impiedosa.
Isso serviu para aterrorizar os que tinham desejo de
lutar contra o poder de Mihnea. Ele costumava arrancar todas
as partes dos corpos de seus inimigos e jogá-los na rua. Fazia
isso, para que todos soubessem o que acontecia com quem não
o obedecia ou era seu inimigo.
Fim dos Tempos
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Capítulo 3
Parabéns Catharina estava orgulhosa do filho. Ele era um bom
rapaz. Fazia faculdade durante o dia e a tarde trabalhava no
supermercado. Havia se tornado gerente do estabelecimento.
Sabia da importância de nunca revelar sua condição
vampírica, ou melhor, Adam sabia que era metade humano,
metade vampiro. Mas escondia sua árvore genealógica abaixo
de sete chaves.
Bastava saber, que seu pai foi um escritor famoso de
Literatura fantástica e que muitos de seus livros, foram parar
nas telas do cinema. Com o tempo, revelou que seu pai era um
vampiro. Ele somente a transformou quando sua vida estava
por um fio. Então, ele pertencia as duas espécies. Era metade
vampiro, metade humano, pois a transformação dela ocorreu
após ter ficado grávida. Quanto sua descendência, isso
esconderia até o fim. Bastava saber do que havia lhe revelado.
Adam lutaria com seu tio, quando chegasse o momento
certo. Será que existe o momento certo para colocar a vida de
um filho em risco? Não. Ninguém poderia julgá-la, pois não era
justo colocar a vida de seu único filho em risco para salvar
quem quer que fosse.
Naquela noite, havia preparado um jantar especial.
Finalmente, fizera dezoito anos! Mihnea nunca conseguiu
encontrá-lo durante todos aqueles anos.
Passaram por sérias limitações financeiras, apesar de
todo o dinheiro deixado pelo pai de Adam. Mas, não podia se
Fim dos Tempos
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queixar, pois todos viviam dessa maneira, desde que aquele
demônio tomou conta do mundo.
Os vampiros reinavam, enquanto os humanos viviam
parecendo criminosos, ou seja, viviam escondidos como se
houvessem feito algo errado.
À noite os humanos se recolhiam. Enquanto os vampiros
saíam para destruir, tudo o que haviam construído horas antes.
A revolta fazia parte do sentimento humano. Mas
ninguém se atrevia a fazer absolutamente nada, pois temiam
serem empalados lentamente pelo homem que governava a
maior parte do globo terrestre.
Catharina estava sentindo-se muito fraca naquela
manhã. O sangue que alguns amigos haviam doado, já estava
chegando ao fim.
Quando Adam abriu o Alçapão, sentiu alegria ao notar
que estava acompanhado por Miriam. Era uma boa moça.
Adam era apaixonado por ela, mas Miriam nunca havia
percebido absolutamente nada. Ela se apaixonara por um
amigo deles. Vivia sofrendo pela apatia do rapaz. Isso deixava
Adam muito triste.
Seu filho era parecido com o pai. Alto, magro, cabelos
lisos e negros, pele clara e olhos azuis. Era um homem muito
bonito e inteligente. Mas como nem tudo é perfeito, Adam era
muito tímido e às vezes isso o atrapalhava.
Catharina olhou para Miriam e sorriu. Era uma moça
encantadora e gostou dela desde o início. Era uma mulher
simples e boa. Não era uma bonequinha, muito pelo contrário,
tinha traços exóticos e marcantes, sua simpatia e bondade,
cativavam a todos os que a rodeavam.
Fim dos Tempos
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Miriam não enxergava maldade nas pessoas. Era uma
pessoa tão inocente, que durante cinco anos, nunca enxergou
o amor, que Adam nutria por ela.
- Tia Cathy! - disse piscando Miriam – Adam me
convidou para jantar com vocês – disse aproximando-se de
Catharina e beijando-a no rosto. – Ele sabe que adoro sua
comida. Espero que não se importe.
- Fico feliz em tê-la conosco essa noite. Hoje é um dia
muito especial – disse olhando para o filho, que aparentemente
parecia chateado. - Estamos comemorando o aniversário de
Adam – disse olhando para ela, pois sabia que havia esquecido
a data.
- Meu Deus, que vergonha! – disse Miriam colocando a
mão nos lábios. – Esqueci o seu aniversário! Parabéns, meu
amigo querido – disse aproximando-se e beijando-o com
carinho no rosto.
Adam parecia meio decepcionado. Mas ao ter os braços
de Miriam ao redor de seu corpo, sorriu. Ela o abraçou e deu-
lhe vários beijinhos no rosto.
- Me perdoa? – piscou sorrindo. – Eu não consigo
lembrar nem mesmo do meu próprio aniversário!
- Não esquenta. – disse afastando-se dela e olhando-a
nos olhos. – O que importa é estarmos sempre juntos e
podermos contar um com o outro.
- Sim. Você sabe que sempre poderá contar comigo. E
quando sentir vontade de chorar, sabe que encontrará um
ombro amigo – disse sentando-se na cadeira. – Apesar de
nunca tê-lo visto chorar – concluiu sorrindo.
- Ele nunca foi de chorar – disse Catharina servindo o
Fim dos Tempos
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jantar. – Espero que gostem.
Catharina serviu uma lasanha a bolonhesa. Era feita com
carne de soja, pois ninguém conseguia encontrar carne em
lugar algum.
- Parece delicioso – disse Miriam esfregando as mãos.
- Você não parece feliz. – afirmou Catharina olhando
para o filho. - Aconteceu alguma coisa, Adam?
- Como posso estar feliz, vivendo num mundo doente
como esse? – Adam estava tenso.
- Hoje não é dia para tristeza – disse Miriam levantando-
se e abraçando Adam. – Sei que o mundo está difícil de
entender. Ninguém tem certeza de absolutamente nada. Mas
isso é tudo o que temos. Precisamos aprender a conviver com
essa realidade.
- Não posso ficar sentado, enquanto o mundo está
desmoronando a minha frente. Não me conformo, com as
coisas que estão acontecendo. Não consigo esquecer o que
ocorreu com a família de Leonardo – desabafou, batendo a
mão na mesa.
Leonardo era um dos poucos amigos de Adam. Eles
eram vizinhos desde pequenos e na noite anterior, o
esconderijo de sua família foi revelado. No dia seguinte,
encontraram a família inteira morta. Havia partes dos corpos,
espalhados por todos os cantos do quarteirão.
- Sei que não está sendo fácil. Mas ninguém pode fazer
nada – disse Catharina, olhando com tristeza para Adam.
- Será? – indagou. – Será que ninguém pode impedir o
massacre que acontece todas as noites? Isso tem que acabar! –
Adam levantou-se e seguiu até a geladeira, pegando uma jarra
Fim dos Tempos
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com água. - As pessoas são felizes durante o dia, mas quando
chega a noite, começa o pânico. Vem à pergunta, quem será
atacado hoje? Que família amanhecerá morta? Pergunto a
vocês, isso é vida? Alguém precisa acabar com tudo isso. Chega
de tantas mortes.
- Depois falaremos sobre esse assunto. Vamos jantar ou
a comida esfriará – disse Catharina, consternada.
Adam mal tocou na comida. Estava apreensivo e
bastante revoltado pelo que aconteceu a família de seu amigo.
Miriam tentou fazê-lo sorrir, mas ele parecia estar longe dali.
Foram dormir cedo. Quanto menos barulho fizessem,
mais seguro estaria o esconderijo, visto que, os vampiros
tinham os ouvidos aguçadíssimos.
Miriam não conseguiu dormir naquela noite. Levantou-se
várias vezes, ficou sentada pensando em tudo o que Adam
havia dito. Estava com um sentimento estranho aquela noite.
Sentia que alguma coisa estava errada, seu coração estava
pesado e tentou segurar as lágrimas. Adam estava certo.
Alguém precisava fazer alguma coisa, antes que fosse tarde
demais. Mas quem enfrentaria aqueles malditos demônios?
Miriam seguiu em direção a cama de Adam. Ele estava
acordado.
- Não consigo dormir – sussurrou Miriam, deitando-se ao
seu lado. – Estava pensando nas coisas que você falou durante
o jantar.
- Esqueça – disse baixinho. – Só falei besteiras. Ninguém
enfrentaria os vampiros, pelo menos, não as pessoas normais –
disse colocando a mão na boca, para abafar a risada.
- Mas você tem razão. Alguém precisa acabar com o
Fim dos Tempos
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terrorismo que vivemos. Não podemos viver assim por muito
tempo. O sangue está acabando. Eles estão cada vez mais
perigosos e famintos.
- Conversaremos amanhã. Precisamos fazer silêncio ou
acabarão nos descobrindo.
Miriam abraçou Adam e acabou adormecendo ao seu
lado. Mas Adam, não dormiu aquela noite. Precisava fazer
alguma coisa para acabar com tudo aquilo.
Catharina acordou bastante fraca naquela manhã. Mas
precisava disfarçar, para que Adam não percebesse o quanto
estava debilitada.
Estava bastante pálida e sentia muita tontura. Voltou a
deitar-se ou cairia no chão a qualquer momento. Era uma
vampira e precisava de sangue. Pessoas de confiança sabiam
disso. Mas estava cansada de viver incomodando a todos com
seu problema.
- Bom dia, mamãe – disse Adam dando-lhe um beijo no
rosto.
- Estou um pouco indisposta essa manhã. Esquente o
café e o pão está no armário. Vou ficar um pouco mais na
cama. Não consegui dormir direito essa noite.
- Não se preocupe, eu cuidarei de tudo.
Adam olhou para a mãe e notou que estava
enfraquecida. Foi até a geladeira e notou que não havia uma
única gota de sangue.
Miriam levantou-se e notou que Adam parecia
preocupado.
- Ainda está pensando nas coisas que disse ontem? –
disse Miriam aproximando-se dele.
Fim dos Tempos
[ 26 ]
- Não. Nesse exato momento, estou preocupado com
algo mais urgente do que isso.
- O que é?
- Minha mãe não está bem. Parece que está fraca
demais essa manhã. Não consegue levantar-se da cama.
Miriam não sabia do segredo que escondiam. Adam
achou melhor poupá-la de mais uma preocupação. Pensou que
o melhor a fazer, seria levá-la ao hospital, pois o médico de sua
mãe sabia de tudo. Sempre mantinha uma bolsa de sangue
guardada para ela.
- Mãe? – disse puxando sua blusa. – Vou levá-la ao
hospital.
Ela estava muito pálida e fraca. Apenas sorriu e tentou
levantar-se da cama sem sucesso.
- O que ela tem Adam? – indagou Miriam preocupada.
- Ela tem anemia. Vou levá-la ao hospital e nos
encontramos na faculdade – piscou, pegando a mãe nos
braços.
- Vou com vocês – informou pegando sua bolsa.
- Não! – gritou Adam, irritado. – Isso pode demorar. É
melhor ir para a faculdade, nos encontramos lá.
Catharina ficou preocupada ao ver lágrimas escorrerem
pelos olhos de Miriam. Parecia ter ficado magoada, pelo modo
rude com que Adam recusou sua ajuda.
- Não fique triste, minha filha. Ele apenas está
preocupado comigo.
- Desculpe, Miriam, pois não tive a intensão de ser
grosseiro.
Ela apenas sorriu e foi embora.
Fim dos Tempos
[ 27 ]
Adam pegou um táxi. Não poderia levar sua mãe ao
hospital. Ele costumava vir ao esconderijo deles, para fazer a
transfusão. Mas agora era caso de emergência. Cada segundo
era vital para vida de sua mãe.
Ao chegar, notou que aquele lugar parecia o verdadeiro
inferno.
Havia muitas pessoas doentes. Algumas haviam sido
atacadas por vampiros à noite. Agora sabia que o veneno era o
causador do frio e da baixa temperatura. Pois sua mãe
costumava contar os sintomas que havia sentido.
Também não conseguia esquecer-se de quando Eduardo
foi atacado. Sentiu muito frio e apagou durante horas. Eduardo
foi a pessoa mais próxima que perdeu para aqueles malditos
vampiros.
Sentia falta dele. Sua mãe nunca viveu com ele, como
marido e mulher. Mas era como um pai para Adam.
Infelizmente foi atacado e virou um vampiro sanguinário. Ele a
mãe foram obrigados a mudar de casa, pois ele se tornava
mais cruel dia a dia.
Adam seguiu até a sala do doutor Fernando. Era um
homem negro, magro e muito alto. Era uma das melhores
pessoas que havia passado por suas vidas. Sabia do problema
de sua mãe e sempre mantinha uma bolsa de sangue, caso ela
precisasse.
O doutor estava em sua sala. Tinha os olhos tristes e
perdidos, olhando para um pedaço de papel a sua frente.
Adam aproximou-se e bateu na porta de sua sala. Ela
estava aberta. Ele parecia distante daquele lugar, não ouviu.
Somente quando ele chamou por seu nome, olhou.
Fim dos Tempos
[ 28 ]
- Como vai Adam? – levantou-se e pediu que entrasse.
- Eu estou bem, mas minha mãe precisa de sua ajuda.
Ele olhou para Adam, com um sorriso triste no rosto.
- Ela precisa de sangue! Sinto muito, mas dessa vez não
poderei ajudá-lo. Minha esposa foi atacada. Dei o sangue que
havia guardado para sua mãe – disse num tom amargurado. -
Ângela está cada dia mais violenta, por que isso está
acontecendo com ela?
- Depende de quem a transformou.
- Deve ter sido um demônio. Ela parece endemoniada.
Não conseguirei viver a seu lado por muito tempo! – desabafou
com lágrimas nos olhos e sentou-se na cadeira. Ficou
paralisado novamente, olhando para aquela folha em branco.
Adam sentiu pena daquele homem. Sabia que teria de
matá-la ou afastar-se dela. Infelizmente, o médico não teria
outra opção. Foi assim com tio Eduardo.
Despediu-se do doutor e saiu. Já não poderiam contar
com sua ajuda.
Cada vez mais, as portas estavam se fechando. Sentia
que precisava fazer alguma coisa. Mas o quê?
Voltou desorientado para casa. Disse à mãe que a noite
voltaria com sangue. Pediria a alguém que fizesse a doação.
Enquanto isso, Miriam estava a caminho de sua casa. Ela
ficava a poucas quadras da faculdade. Teria que passar em seu
esconderijo, a fim de pegar o livro da biblioteca.
Quando chegou a quadra onde morava, notou que havia
muitas pessoas nas ruas. A primeira coisa que chamou sua
atenção foi à mão jogada no chão. Naquela mão havia um anel,
semelhante ao que havia dado a sua mãe. Seu coração bateu
Fim dos Tempos
[ 29 ]
mais depressa ao ver outra parte do corpo, era um braço onde
havia uma tatuagem escrita seu nome.
- Mãeeee – gritou caindo no chão desesperada. Logo em
seguida, levantou-se do chão e seguiu completamente
desnorteada em direção à faculdade.
Fim dos Tempos
[ 30 ]
Capítulo 4
Mortes Estava exausto ao chegar à faculdade. Ao abrir a porta,
notou que havia muitas pessoas em volta da mesa de Miriam e
algumas estavam ao redor de Victor.
Ao entrar, Miriam correu em sua direção. Seus olhos
estavam vermelhos, parecia ter chorado muito.
- Adam, ainda bem que chegou! – exclamou soluçando
de tanto chorar.
- O que aconteceu, Miriam?
- Aqueles demônios atacaram o meu esconderijo – disse
em prantos. – Matou toda minha família. O que vou fazer da
minha vida? – agarrou-se a ele desesperada.
- Tem certeza? Como soube disso? – indagou confuso,
abraçando-a.
- Fui até minha casa hoje pela manhã, pois havia
esquecido um livro, que precisava devolver na biblioteca da
faculdade – respirou fundo e continuou. – Quando cheguei ao
quarteirão de casa, havia pedaços de corpos espalhados por
toda a rua. Reconheci as roupas de minha mãe – disse
chorando com desespero. – Ao chegar próximo do esconderijo,
vi a cabeça de minha mãe jogada em frente ao portão –
desabou a chorar.
- Calma! – disse passando as mãos por seus cabelos. –
Vamos sair da faculdade e providenciar o enterro.
O celular de Miriam tocou. Era uma vizinha que a
conhecia desde pequena. Ligou para tranquilizá-la quanto ao
Fim dos Tempos
[ 31 ]
enterro. Os vizinhos da rua em que morava, fizeram um rateio
para providenciar tudo. Ela e Adam saíram da faculdade e
seguiram para o velório.
Adam ligou para o proprietário do supermercado,
dizendo que não poderia comparecer naquele dia.
Chegaram quando já estavam fechando o caixão.
Abriram novamente, para que Miriam se despedisse. Ela chorou
ainda mais, quando olhou para as pessoas presentes, sentia
gratidão por terem providenciado tudo. As pessoas pareciam
comovidas ao ver a expressão de dor no rosto de Miriam.
Ela seguiu o caixão de seus pais, com uma expressão de
muito sofrimento e dor. Nunca havia visto Miriam tão triste,
nem mesmo, quando Cláudio havia terminado o namoro.
Ninguém disse uma palavra durante todo o percurso. Ao
chegarem ao local em que seriam enterrados, Miriam
aproximou-se dos caixões.
- Eu juro que me vingarei dessa maldita espécie até os
últimos dias de minha vida. Acabarei com eles ou eles acabarão
comigo – afastou-se e saiu daquele lugar, não esperando para
ver os caixões sumirem debaixo da terra.
Adam ficou preocupado e saiu com ela.
- Você está bem? – indagou Adam.
- Não – disse com voz baixa. – Mas preciso ficar, pois a
partir de hoje, não posso mais viver com a cabeça enterrada
em esconderijos, enquanto eles acabam com a raça humana.
- O que vai fazer?
- Ainda não sei. Mas preciso fazer alguma coisa.
Adam ficou preocupado com Miriam. Precisava ficar de
olho nela naquela noite, pois poderia se meter em confusão.
Fim dos Tempos
[ 32 ]
- Fique comigo. Venha morar em minha casa. Eu e
minha mãe adoraríamos tê-la conosco.
- Você sempre foi o meu melhor amigo, mas não poderei
aceitar seu convite.
- Por quê?
- Porque vou para o interior de São Paulo. Lá existe um
grupo de pessoas que, se organizaram para atacar os vampiros
durante o dia. Eles conseguiram matar alguns clãs – disse
entusiasmada, entregando-lhe um recorte de jornal. – Olhe e
veja! Alguém já começou a fazer alguma coisa.
- Onde encontrou essa reportagem?
- Cláudio me entregou, assim que soube da morte de
meus pais.
- Não seja ridícula! – disse enraivecido. – Isso é suicídio!
Ele é um inconsequente! Imagino que não a acompanhará
nessa luta insana! – disse com desdém.
- Não. Eu não preciso que ninguém me acompanhe nas
coisas “insanas” que pretendo fazer – disse com raiva.
Ele a abraçou com força, a ponto de sentir o coração de
Miriam batendo sobre seu peito. Ele precisava fazer alguma
coisa, a fim de impedi-la de ir ao encontro da morte. Estava
com a cabeça quente, mas precisava acalmá-la e tentar
convencê-la a desistir da loucura que estava prestes a fazer.
Afastou-se dela um pouco e olhou em seus olhos.
- Fique em casa essa noite, por favor – disse em tom de
súplica. – Amanhã, se ainda pensar dessa maneira, terá o meu
apoio.
- Está bem. Ficarei com vocês essa noite. Mas não
mudarei de ideia – seus olhos tinham um brilho estranho. -
Fim dos Tempos
[ 33 ]
Preciso fazer alguma coisa, senão morreria me sentindo uma
covarde.
Miriam e Adam caminharam até o esconderijo. Ela
estava visivelmente abalada, cansada e confusa. Ao chegarem,
Catharina que não fora avisada do que havia acontecido, logo
notou que alguma coisa estava errada.
- Vocês chegaram muito cedo. Não foi trabalhar Adam?
Miriam está com os olhos vermelhos, andou chorando? Pelo
amor de Deus me digam o que está acontecendo – disse
sentando-se na cadeira aflita.
- Tia, aqueles malditos atacaram minha família ontem à
noite! – disse chorando novamente.
- Meu Deus! Vocês providenciaram o enterro?
Precisamos correr e providenciar as coisas – disse levantando-
se da cadeira e caindo no chão.
Miriam ajudou Catharina a se levantar. Adam sentiu-se
mal, pois acabou esquecendo-se completamente do problema
de sua mãe. Pior que já estava na hora de todos se
recolherem.
- Preciso sair e buscar sangue com um vizinho. Minha
mãe tem anemia e está precisando fazer uma transfusão.
Miriam olhou para ele atônita. Correu e pôs-se a sua
frente, impedindo que saísse do esconderijo.
- Meu sangue é O positivo, posso doar a qualquer
pessoa com o fator Rh positivo.
- Eu vou buscar as agulhas. Minha mãe tem o mesmo
fator sanguíneo que o seu. Obrigada, por nos ajudar.
Ele foi buscar todas as coisas necessárias para fazer a
transfusão. Miriam notou que Catharina ao receber o sangue,
Fim dos Tempos
[ 34 ]
sua aparência melhorava consideravelmente. Após receber a
última gota de sangue, a cor de suas faces voltou ao normal.
Toda a fraqueza havia desaparecido como por encanto.
Ela levantou-se e foi preparar o jantar.
- Sinto muito pelo que aconteceu a seus pais, Miriam. –
disse Catharina com lágrimas nos olhos, pois a mãe de Miriam
era uma de suas poucas amigas.
- Obrigada, tia. A partir de amanhã, irei para o interior
de São Paulo. Em Jundiaí existe um grupo de pessoas que
estão aniquilando os vampiros durante o dia. Eles conseguiram
eliminar um pequeno grupo. Preciso me juntar a eles.
- Jundiaí? – indagou recordando-se do lugar com
saudade. - Sabe que isso é muito perigoso e arriscado – disse
cortando os legumes. – Fique mais uns dias aqui e pense
melhor no que irá fazer.
- Não posso ficar de braços cruzados – disse chorando.
– Senão a morte de meus pais terá sido em vão. Não quero
mais acordar e ver famílias sendo destruídas todos os dias. Não
posso ficar esperando ser a próxima vítima. Se eu tiver que
morrer, que morra lutando.
Miriam parecia decidida. Catharina recordou-se com
tristeza de tudo o que ocorrera em sua vida. Se fosse como
Miriam, mais decidida, talvez tivesse conseguido salvar seu
esposo. Mas as coisas no mundo sombrio eram muito
perigosas.
- Acalme-se, minha filha – disse soltando a faca e
aproximando-se de Miriam. – Não faça as coisas sem pensar.
Você está muito cansada e com os nervos a flor da pele. Vá
tomar um banho e descansar. Um bom banho e alguns minutos
Fim dos Tempos
[ 35 ]
de descanso irão ajudá-la a se acalmar um pouco – disse
dando-lhe um beijo na testa. – Agora vá fazer o que eu lhe
pedi - disse sorrindo afetuosamente.
Miriam foi ao pequeno banheiro. Abriu a torneira do
chuveiro e deixou que a cascata de água morna caísse sobre
sua pele. Ficou mais ou menos uns quinze minutos no chuveiro.
Tia Catharina tinha razão, pensou Miriam. Estava mais
calma. Mas ainda pensava em partir. Ninguém a conseguiria
convencer-lhe do contrário. Ouviu que alguém entrou no
quarto.
- Miriam – chamou Catharina. – Deixei uma toalha em
cima da cama e roupas para você vestir. Temos o mesmo
corpo, acredito que ficarão bem em você.
- Obrigada, tia Cathy - respondeu do banheiro. - Não sei
o que seria da minha vida sem vocês – disse com sinceridade.
Catharina voltou à cozinha, a fim de terminar o jantar.
Adam estava sentado na cozinha com a cabeça baixa. Parecia
ainda mais triste do que ontem.
- Filho, não pode ficar assim! – disse Catharina afagando
seus cabelos. – Miriam precisa de um ombro amigo, para
chorar suas dores. Então, você precisa tentar ficar inteiro.
- Mãe, ela falou que irá se juntar a um bando de
malucos que atacam vampiros – disse preocupado. – Sabemos
que isso é suicídio! Me ajude a impedi-la de fazer essa loucura
– disse chorando – Eu não saberia viver sem ela – desabafou.
- Precisa respeitar sua dor. Podemos apenas tentar
convencê-la de que isso é loucura, mas não podemos impedi-
la. Ela tem o direito de fazer alguma coisa pela morte de seus
pais.
Fim dos Tempos
[ 36 ]
Miriam entrou na cozinha. Ela estava visivelmente um
pouco mais calma.
- Tia, precisa de ajuda para terminar o jantar?
- Não. Quero que vá descansar um pouco. Pedirei que
Adam a chame quando estiver pronto. Vá dormir um pouco
para repor as energias.
Miriam saiu chorando da cozinha. Adam a seguiu até o
quarto onde dormiam.
- Posso fazer alguma coisa por você? – disse Adam
preocupado ao vê-la tão triste.
- Sim. Fique aqui comigo. Esse é o último dia, que me
permitirei ter um sentimento como esse.
Ela deitou-se na cama. Adam permaneceu ao seu lado.
Miriam havia adormecido. Adam aproveitou para observá-la
melhor. Passou as mãos, por seus lindos cabelos negros e
encaracolados. Eles ainda estavam úmidos e cheiravam a
chocolate. Miriam era louca por chocolate, sempre fora uma
chocólatra assumida, pensou sorrindo.
Ele se aproximou de seu corpo e sentiu a leve fragrância
de morango. Ela havia passado o hidratante de sua mãe...
Olhou para aquele lindo rosto, seus lábios eram carnudos e
sensuais. Tinha uma pequena pinta ao lado direito da boca. Ele
sentiu o desejo de beijá-la, mas como sempre não teve
coragem.
Miriam parecia um anjo. Ela era toda iluminada. Sua
bondade e simpatia encantavam a todas as pessoas. Nunca
pôde entender como Cláudio a trocara por Milena.
Se conseguisse conquistar o coração daquela mulher,
jamais pensaria em outra... Viveria para fazê-la feliz. Ela
Fim dos Tempos
[ 37 ]
parecia um lindo anjo, dormindo naquele lugar horrível... Às
vezes tinha a impressão que Miriam era um anjo, que Deus
enviou a terra, para que aprendêssemos através de sua
bondade.
Ele não poderia deixá-la partir. Morreria se ela fosse
embora. Miriam era sua melhor amiga, seu primeiro amor.
Como poderia viver sem ela?
Seus olhos se encheram de lágrimas, segurou para não
cair no choro. Seu coração estava apertado, não sabia o que
fazer, a fim de impedi-la de ir embora.
Catharina apareceu no quarto e observou o quanto
Adam amava aquela mulher. Seus olhos refletiam todo o amor
e admiração que sentia por Miriam. Não podia entender como
ela, nunca havia notado o quanto Adam a queria.
- Filho o jantar está na mesa. Acorde Miriam, pois ela
precisa se alimentar.
Catharina saiu do quarto enxugando as mãos no
pequeno avental. Lembrou-se com saudade de seus pais.
Catharina os havia perdido da mesma maneira. Michel e Mihnea
acabaram com sua família.
Sentiu o desejo de vingança, assim como Miriam. Mas
nunca obteve sucesso em sua empreitada. Muito pelo contrário,
houve um empate. Mihnea acabou com Andrew Vlad, enquanto
ela acabou com a Condessa Bathory. Ninguém saiu ganhando
naquela história.
Fim dos Tempos
[ 38 ]
Capítulo 5
A decisão Ao acordar, Catharina olhou em direção ao sofá, aonde
Miriam havia dormido, mas já havia se levantado. Correu até a
cozinha para ver se ainda estava em casa. Encontrou-a coando
o café da manhã, ainda não havia partido.
- Bom dia, tia Cathy! – disse animada. – Estava
preparando o café para vocês.
- Não havia necessidade de fazer isso, minha menina.
Você é quem precisa de cuidados.
- Estou bem, tia. Queria fazer alguma coisa para
agradecer-lhes, pois vou embora hoje.
- Não vá embora. Fique aqui conosco. Já estava feliz por
ter ganhado uma filha. Sempre desejei ter uma menininha para
cuidar – disse com carinho.
- Adoraria ter sido sua filha. Mas não posso ficar, o
mundo precisa de mim – disse sorrindo. – Eu vou embora, mas
quando precisar de uma mãe, sei onde posso encontrar – disse
dando-lhe um beijo no rosto.
Adam aproximou-se da cozinha.
- Meu Deus! Vocês mulheres falam alto pra caramba –
disse sorrindo ao ver que Miriam, parecia menos triste aquela
manhã.
- Acordei cedo e já preparei o café para vocês. Preciso ir
até a faculdade para me despedir do pessoal.
- Ainda não esqueceu aquelas maluquices, Miriam –
disse Adam, nervoso. – Não vá embora, fique! – implorou. –
Fim dos Tempos
[ 39 ]
Sabe que está preste a cometer suicídio? – disse olhando-a
com insistência. - Nós te amamos e precisamos de você aqui.
Não posso permitir que vá ao encontro da morte.
- Não vou mudar de ideia Adam – disse aproximando-se
dele – Sei que você se preocupa comigo, mas preciso ir
embora. Preciso fazer alguma coisa ou morrerei.
- Eu morrerei se você partir – disse Adam num sussurro.
Catharina saiu da cozinha. Será que teria coragem de
confessar o amor que sentia por Miriam?
- O que você disse? – indagou Miriam.
- Que se você partir, eu morrerei – disse vermelho.
- Não morrerá. Sentirá minha falta porque somos
amigos. Mas irá me esquecer, assim que encontrar uma nova
amiga.
Ele aproximou-se de Miriam e segurou seu rosto,
fazendo-a olhar em seus olhos.
- Eu não quero que vá. Fique aqui comigo. Eu preciso de
você, mas do que você precisa de mim.
Ela ficou paralisada diante do que havia ouvido. Ele a
soltou. Parecia arrependido do que havia dito.
- Se não o conhecesse, poderia jurar que iria se declarar
para mim, somente para me convencer a ficar – disse sorrindo.
– Meu amigo, eu preciso ir embora. Você mora no meu
coração. Sempre estará comigo.
Catharina ouviu a conversa. Ficou com pena do filho,
mais uma vez, Adam havia perdido a oportunidade de dizer a
Miriam o quanto a amava.
Tomou o desjejum em absoluto silêncio. Quando Miriam
terminou, levantou-se da mesa e levou sua xícara até a pia.
Fim dos Tempos
[ 40 ]
- Não se atreva a fazer mais nada – disse Catharina. –
Apenas sente-se ao nosso lado, pois queremos aproveitar cada
segundo que nos resta com você.
Miriam olhou para Catharina com os olhos cheios de
lágrimas e sentou-se ao seu lado. Ela estava bastante
emocionada ao pegar a mão de Catharina.
- Tia Cathy, muito obrigado. – disse com voz
embargada. – Vou sentir falta de vocês. São as únicas pessoas
que tenho agora. Eu amo vocês e quando tudo isso chegar ao
fim, voltarei – disse abraçando Catharina.
- Não vá embora minha filha. Sei que está entrando
numa causa justa, mas extremamente perigosa – disse
Catharina preocupada, tentando convencê-la a ficar. – Você faz
parte dessa família. Fique conosco!
Miriam ficou comovida com a demonstração de carinho e
preocupação de Catharina.
- Eu sei que posso contar com vocês, tia. Mas preciso
fazer alguma coisa, mesmo que cometa um grande erro e me
arrependa. Estou feliz por saber, que tenho alguém que se
preocupa comigo. Mas preciso vingar a morte de minha mãe,
isso tem que acabar. Não posso ver a raça humana ser
exterminada e ficar de braços cruzados.
- Eu e Adam nos preocupamos com você. Não faz ideia
como a amamos! Quando sentir falta de nós ou de um lar,
nossa porta sempre estará escancarada para recebê-la – disse
Catharina sorrindo com ternura.
Elas ficaram abraçadas por um longo tempo. Miriam
tinha os olhos cheios de lágrimas e lutava ferozmente para não
cair no choro. Saiu daquele esconderijo com a sensação de que
Fim dos Tempos
[ 41 ]
não seria fácil, viver sem o carinho daquela família.
Miriam e Adam seguiram para a faculdade. Não
conversaram durante o caminho. Miriam estava com o coração
apertado e com uma louca vontade de chorar. Mas a partir
daquele dia, teria que aprender a lutar contra sua própria
fraqueza. Medo, fome, frio, saudade ou derrota eram palavras
que deixaria de pronunciar. A partir daquele dia, elas seriam
eliminadas de seu vocabulário. Para vencer essa luta precisaria
de muito otimismo e determinação.
Agora palavras otimistas fariam parte de seu dia a dia.
Determinação, coragem, vitória, persistência e amor fariam
parte de sua vida. Não poderia entrar numa guerra como
aquela se pensasse de forma negativa.
Lembrou-se de uma frase que sua mãe sempre
costumava dizer: “Tudo posso, naquele que me fortalece”. Essa
frase levaria como um estandarte naquela nova empreitada. Se
Deus estiver ao meu lado, nenhum inimigo será mais poderoso
do que eu.
Adam sentiu que Miriam realmente deixaria aquela
cidade. Não havia mais nada que pudesse falar ou fazer, a fim
de fazê-la desistir daquela loucura.
O caminho da faculdade pareceu infinitamente mais
longo, naquela manhã. As ruas pareciam mais compridas e as
horas, pareciam passar com velocidade assustadora.
Quando chegaram à faculdade, as coisas pareciam
agitadas. Havia um grande tumulto nos corredores. Os
vampiros haviam descoberto mais esconderijos. Ouviu que
alguém gritava e chorava de maneira escandalosa.
Ao entrar em sua sala, notou que ali também estava um
Fim dos Tempos
[ 42 ]
completo caos. Havia muitas pessoas ao redor da mesa de
Cláudio, que parecia em estado de transe, ou seja, totalmente
paralisado e perdido.
- O que houve? – indagou Miriam a uma amiga.
- A família do Cacau foi atacada – disse um amigo. – Ele
e a namorada estavam na casa de Henrique. A família dela,
também foi atacada. Ele parecia em estado de choque, não
disse uma única palavra desde que chegou.
Adam não se aproximou de Cláudio, pois já havia muitas
pessoas ao seu redor. Sentiu ódio daqueles malditos vampiros.
Se soubessem que ele era metade vampiro, sua vida correria
perigo, naquele momento. A revolta dentro daquela sala era
imensa. Começou a se amaldiçoar por ter em suas veias
sangue assassino.
Miriam sentou-se ao lado de Cláudio, pegou em sua mão
e apertou-a com força.
- Cláudio, sei como está se sentindo – disse olhando
para ele com amor. – Eu tomei uma decisão importante essa
manhã, decidi me juntar a um grupo de exterminadores, que
lutam bravamente na cidade de Jundiaí. Lembra-se do recorte
de jornal que me entregou ontem? Se quiser vir comigo,
partirei quando terminar as aulas - disse acariciando seus
cabelos.
Cláudio olhou para ela e levantou-se para abraçá-la.
Nesse momento, Adam decidiu sair daquela sala. Não
aguentaria ver mais nada. Cláudio havia trocado Miriam pela
garota mais rica da universidade, Milena. Era uma boa moça,
apesar de ser rica e mimada, não era arrogante ou exibida,
muito pelo contrário, era simples e se importava com as
Fim dos Tempos
[ 43 ]
pessoas e gostava de ajudá-las. Muitas vezes as pessoas
aproveitavam-se disso, pedindo dinheiro emprestado ou livros e
nunca devolviam. Corria o burburinho de que Cláudio estava
com ela, apenas por ser uma garota milionária.
Adam estava sentando no chão do corredor, aguardando
que o sinal tocasse para o início da aula. Assim que observou o
professor se aproximando, decidiu entrar.
Naquele dia, ninguém conseguiu prestar atenção em
absolutamente nada. Todos estavam preocupados com os
assassinatos ocorridos com familiares dos alunos daquela sala.
Houve alguém que cogitou a possibilidade de haver algum
espião entre eles. Seria possível haver um espião naquela sala?
Mas ninguém tinha o famoso sinal dos espiões na mão.
No intervalo, as pessoas disseram que a família de
Cláudio, foi encontrada mutilada, assim como a família de
Miriam. Que havia parte de seus corpos até na rua vizinha.
Cláudio não esboçava nenhuma reação. Não conseguia
chorar. Ficou sentado na cadeira, com o olhar perdido e
desorientado durante todas as aulas.
Após o término das aulas, muitas pessoas se dirigiram
ao cemitério, a fim de acompanhar o enterro dos pais de
Cláudio e Milena.
Miriam aproximou-se de Adam que parecia muito
chateado e aborrecido.
- Você irá ao cemitério, Adam? – indagou Miriam.
- Infelizmente, não poderei comparecer. Faltei ontem ao
meu emprego e não seria aconselhável faltar hoje também.
- Entendo – disse num tom desaprovador.
- E você irá ao enterro?
Fim dos Tempos
[ 44 ]
- Sim. Gostava muito dos pais de Cláudio.
- Claro. Você era como uma filha para eles – disse num
tom sarcástico, ao recordar-se do pouco caso que faziam dela.
- Não entendi a ironia – disse Miriam com raiva.
Adam não disse mais nada, apenas se afastou descendo
as escadas rapidamente.
- Espere! – gritou Miriam. - Não me deixe falando
sozinha. Está chateado porque vou ao enterro?
- Não.
- Está mentindo – disse com um sorriso encantador no
rosto.
- Eles esnobaram você a vida inteira. Não entendo
porque deveria ir ao enterro daqueles esnobes.
- Porque vivi uma linda história de amor com o filho
deles. Não é por eles, mas por Cláudio. Ele precisa de apoio.
Quero que saiba que ele pode contar comigo, pois sei que está
precisando de um ombro amigo.
- Você não consegue esquecê-lo, não é? Mesmo depois
do que ele fez. Eu admiro a facilidade com que consegue
perdoar as pessoas.
- Essa não é hora para mágoas. Sei muito bem, como é
difícil perder os pais de maneira tão estúpida.
- Está encontrando motivos para estar junto dele. Será
que nunca vai conseguir esquecer esse cretino?
Miriam balançou a cabeça e sorriu.
- Está com ciúmes? – provocou.
- Ciúmes? – repetiu. – De quem? Daquele ser
desprezível? Deve ter perdido o juízo. – disse descendo os
últimos degraus da escada.
Fim dos Tempos
[ 45 ]
Ele voltou-se para Miriam e sorriu.
- A única coisa boa de toda essa história, é que você não
poderá partir. Estarei esperando por você em casa.
Ele saiu da faculdade com o coração feliz. Ela não
poderia partir, pois o enterro tomaria grande parte de seu
tempo. Não conseguiria chegar ao interior antes do anoitecer.
Esperou o ônibus que o levaria até seu emprego. Ele
não demorou a aparecer. Cumprimentou o motorista e sentou-
se ao lado do cobrador.
- Como vai, Adam? – cumprimentou Alemão, o cobrador
de ônibus.
- Ninguém vive bem no meio desse caos, Alemão.
Mataram mais pessoas essa noite, essa vida está um inferno! –
explodiu revoltado.
- Você conhecia as vítimas?
- Sim. Sempre morre alguém que conhecemos.
- Não sei quando tudo isso irá acabar – disse Alemão. –
Eles mataram minha namorada, pois o esconderijo dela
também foi descoberto.
- Sinto muito, cara – disse Adam pesaroso.
- Estou cansado de acordar todos os dias e me deparar
com a morte. Todos os dias morre alguém que conheço. Fico
pensando, quando chegará a minha vez? – desabafou com
tristeza. – Estou cansado, meu amigo. Gostaria de ser o
próximo, estou extremamente farto de viver com medo de
morrer.
- As coisas irão melhorar, precisa acreditar – disse
levantando-se do banco, pois desceria no próximo ponto.
- Acreditar? O mundo está virado de cabeça para baixo.
Fim dos Tempos
[ 46 ]
Meses atrás as pessoas viravam vampiras. Com a falta de
sangue, estão matando de maneira bárbara as pessoas que
encontram. Não quero estar vivo, quando as coisas ficarem
ainda pior.
- Não desanime. Para tudo há uma saída, acredite –
disse saindo do ônibus.
Ao chegar ao supermercado, encontrou a figura
bonachona de seu patrão. Era um turco com enormes bigodes.
Ele vivia sorrindo e tinha um sotaque de turco muito arrastado
e difícil de entender.
- Hoje Adam está bom pra trabalho? – indagou com o
sorriso de sempre.
- Sim. Hoje trabalharei em dobro, a fim de recuperar a
falta de ontem.
- No necessário trabalhar tão duro. Faisal entende que
Adam estava muito triste, pais de amigo morrendo. Agora vá
trabalhar, menino – disse segurando e enrolando com os
dedos, um dos bigodes.
Adam foi até as prateleiras verificar se havia
necessidade de repor as mercadorias. Ao chegar ao depósito,
notou que os vampiros haviam levado grande parte dos
alimentos.
Precisava encontrar uma forma de acabar com aquela
bagunça. Seu Faisal estava tendo muito prejuízo. O pior de
tudo é que repassava o prejuízo para os clientes, fazia isso
aumentando o preço das mercadorias. Se continuassem dessa
maneira, os alimentos ficariam tão caros, que ninguém teria
dinheiro suficiente para comer todos os dias.
Havia pensado muito em como diminuir os prejuízos e
Fim dos Tempos
[ 47 ]
encontrou uma solução. Decidiu procurar o turco.
- Senhor Faisal – chamou. – Pensei numa maneira de
acabarmos de uma vez por todas, com os prejuízos.
- Fala filho, Faisal está ouvindo – disse colocando
algumas mercadorias no lugar.
- Pensei em construir um grande cofre de prata.
Colocaríamos as mercadorias todas as noites nesse cofre.
Ele parou o que estava fazendo e sorriu.
- Faisal não entende o que Cláudio dizer.
- Disse que se colocássemos as mercadorias, num
grande cofre de prata, evitaríamos a falência.
- Quanto custa cofre desses, menino? – perguntou o
turco interessado.
- Não faço a menor ideia. Mas posso verificar para o
senhor.
- Cláudio é menino inteligente – disse enrolando um dos
bigodes com os dedos. – Eu ficar satisfeito com o que disse.
Procura saber quanto custa, Faisal manda fazer um desse pra
mercado.
A tarde sentou-se no escritório e ligou para várias
pessoas que faziam cofres. Mas ninguém trabalhava com prata.
Um dos comerciantes se interessou e disse que faria o tal cofre
e não cobraria caro. Em troca faríamos propaganda de seu
produto.
O turco aceitou a proposta e o comerciante entregaria
na semana seguinte.
Adam saiu do supermercado e foi direto para casa. Ao
chegar, Miriam já havia retornado do enterro, mas parecia
ainda mais triste.
Fim dos Tempos
[ 48 ]
- Filho? Olha quem está aqui – disse apontando para
Miriam. – Teremos a companhia dela por mais essa noite.
- Como foi o enterro, Miriam? – indagou Adam.
- Triste como qualquer outro. O enterro dos pais de
Milena foi junto. Ela desmaiou e foi difícil conseguir acalmá-la.
Adam notou que Miriam escondia alguma coisa.
- Sinto que tem algo a me dizer – disse sem rodeios.
- Não adianta querer esconder nada de você! –
exclamou sorrindo. – Falei com Cláudio e Milena sobre o grupo
de exterminador de vampiros. Eles irão junto comigo. Todos
desejam acabar com essa maldita espécie assassina – disse
com raiva.
- Eles irão com você? Irão se unir ao grupo, tem
certeza?
- Sim. Combinamos de partir pela manhã.
- Eu poderia dizer milhares de coisas para impedi-la,
mas sinto que seria inútil. A única coisa que posso fazer, é
torcer para que não morra.
Ela sorriu e segurou a mão de Adam. Ele estava com as
mãos frias como sempre. Puxou-a para junto de si e abraçou-o
com carinho.
Logo em seguida, Catharina os chamou para jantar. Eles
se afastaram, mas Adam a puxou novamente para perto dele.
- Não vá, por favor – disse com lágrimas nos olhos.
- Você sabe que faria qualquer coisa por você, mas isso
está fora de questão – disse seguindo em direção à cozinha.
Durante o jantar ninguém disse uma única palavra.
Catharina tentou iniciar uma conversa, mas eles respondiam
com monossílabas. Acabou desistindo e permaneceu calada
Fim dos Tempos
[ 49 ]
também.
Foram dormir mais cedo naquela noite. Quando
Catharina ouviu o galo cantar, observou que Miriam já havia
partido. Deixara apenas um bilhete, agradecendo por tudo e
dizendo que jamais se esqueceria do amor recebido naquela
casa. Adam não fez nenhum comentário. Apenas tomou o café
e partiu para a faculdade.
Horas depois, Catharina sentiu que pessoas pisavam em
cima de seu esconderijo. Ficou quieta, com receio que fosse
algum espião dos vampiros.
Logo depois, percebeu que haviam desistido e foram
embora. Após o almoço, recebeu o telefonema de Adam. Disse
que chegaria mais tarde, iria com o dono do supermercado
buscar o cofre de prata, pois o comerciante havia passado a
noite inteira fazendo o bendito cofre.
Catharina preparou o jantar. Lembrou-se com saudade
da época em que os pais eram vivos. Sua vida era tranquila e
confortável.
Seu coração disparou ao recordar-se de Eduardo. Ele
sempre cuidou dela e de Adam após a morte de Vlad.
Infelizmente, fora atacado pelos vampiros de Mihnea e o
veneno que tomou conta de seu corpo, era ruim. Ele se
transformara num assassino cruel e impiedoso.
Agora, Edu fazia parte da cúpula de vampiros que
serviam a Mihnea. Sentia muita saudade da época em que
eram amigos, pensou com tristeza.
As horas passaram tão rápido, que ao olhar para o
relógio, seu coração disparou. Começou a andar de um lado
para o outro, pois estava chegando o horário de recolhida.
Fim dos Tempos
[ 50 ]
Adam ainda não havia chegado. Decidiu ligar para saber onde
estava.
O celular de Catharina começou a vibrar em cima da
mesa. Ela atendeu o telefone correndo, pois sabia que era
Adam.
- Adam, é você meu filho? – indagou preocupada.
- Sim. Mãe, estava tentando ligar para a senhora nesse
momento, pois não conseguirei chegar em casa a tempo. Terei
que dormir no esconderijo do Sr. Faisal.
- Está bem, mas tome cuidado com o horário.
- Estou a uma quadra do esconderijo do Sr. Faisal, não
fique preocupada. A senhora ficará bem?
- Sim. Não se preocupe.
- Boa noite, mãe. Amanhã nos veremos.
- Eu te amo, meu filho – disse mais tranquila. – Tome
muito cuidado, pois não saberia viver sem você – disse
desligando o celular.
Catharina foi dormir mais cedo naquela noite. Horas
mais tarde, notou que os vampiros andavam em cima de seu
esconderijo. Sentiu o coração bater mais forte, quando ouviu o
alçapão ser aberto. Correu e escondeu-se embaixo da cama.
- O Dr. Mihnea ficará feliz, quando souber que
encontramos a entrada do esconderijo do filho de Vlad – disse
um dos vampiros, sorrindo de maneira exagerada.
- Cuidado – alertou um deles. – A mãe dele é uma de
nós. Ela protegerá Adam como uma fera.
Ouviu que desciam as escadas. Olharam ao redor da
cozinha, não encontrando ninguém. Um deles dirigiu-se ao
cômodo que servia como quarto, mas também não encontrou
Fim dos Tempos
[ 51 ]
nada. O banheiro estava completamente vazio.
- Será que alguém os informou a respeito dos planos de
Mihnea? Quem os alertou dizendo que os atacaríamos essa
noite?
- Não faço a menor ideia – disse um deles, esfregando
as mãos. – Mihnea ficará furioso quando souber que eles
deixaram o esconderijo.
Catharina ouvia tudo quieta. Até notar que um rato
preto, seguia em sua direção. Não aguentou e soltou um grito.
- Você ouviu? – disse o vampiro mais alto. – Teremos
que vasculhar esse maldito cubículo. Tem alguém aqui.
Eles começaram a quebrar tudo o que encontravam pela
frente. Catharina sentiu que a qualquer momento, seria
descoberta. Agradeceu a Deus, por Adam estar longe naquela
noite.
Viu os pés de um deles se aproximar. Notou que suas
garras, seguravam por um dos lados da cama e a arremessou
contra a parede com violência.
Aquele maldito ser a olhava com olhos cor de brasas.
Havia satisfação e orgulho, por vê-la encolhida naquele chão.
- Ora, ora, ora – disse passando as garras no rosto dela
com suavidade. – É a esposa de Vlad IV! É um prazer conhecê-
la, majestade – disse com ironia. Tem alguém que adoraria
revê-la. Veja o que encontrei, Sandro! – gritou com orgulho
exagerado.
O outro se aproximou olhando para Catharina com
satisfação.
- Ela continua tão bonita, quanto na época em que foi
tirada essa foto – disse olhando para a fotografia que tinha nas
Fim dos Tempos
[ 52 ]
mãos. - Essa é a vantagem de ser uma vampira. Não
envelhecemos como todo mundo. Não é verdade minha
senhora?
- Sabe que seu cunhado a quer morta? – disse
mostrando as mandíbulas. - Como deseja morrer, ilustre
rainha? – indagou gargalhando de forma demoníaca.
Catharina estava cansada de viver escondida. Não podia
sair durante o dia, pois o sol era um inimigo. Quando chegava
a noite, havia inimigos ainda mais vorazes e furiosos, caçando-
a como se fosse um animal. Estava cansada dessa vida. De
certa forma, estava aliviada por saber que seu fim havia
chegado.
- Não respondeu minha pergunta – informou um deles,
lançando suas garras sobre ela.
Catharina tentou correr, mas eles eram mais ágeis e
velozes do que ela. Um deles pegou sua cabeça e com enormes
garras cortou sua pele.
- Vamos deixá-la um pouquinho desfigurada – sorriu
segurando seus cabelos – Seria muito difícil matá-la com essa
carinha linda. Diga-me, nunca desconfiaram que era muito
nova, para ter um filho adulto? – indagou curioso. – Dá até
para se apaixonar por ela, não é Sandro?
- É mesmo, a senhora é muito esperta. Pintou algumas
mechas de cabelo na cor branca, para envelhecer essa carinha
de menininha – disse Sandro, o vampiro, que ria de maneira
exagerada.
Catharina recordou-se de que pintou os cabelos, para
tornar-se mais velha, assim as pessoas não desconfiariam que
também fosse uma vampira.
Fim dos Tempos
[ 53 ]
- Infelizmente, temos que matá-la. A ordem é para
levarmos sua cabeça até Mihnea – disse Sandro puxando seus
cabelos com força.
O outro foi até a pia e abriu uma das gavetas, tirando de
lá um facão, olhou para Catharina e cuspiu no chão.
- Irá se juntar a seu esposo, Vlad IV – disse olhando-a
com arrogância. - Ah! Ia me esquecendo, se for para o inferno
encontrará com a Condessa Bathory – empunhou o facão na
altura do pescoço de Catharina. - Boa sorte, rainha dos
derrotados! – finalizou passando o facão pelo pescoço dela.
Seu corpo caiu no chão sem vida. Sandro olhava sorrindo, para
a cabeça que segurava em suas mãos.
- Missão cumprida! – declarou Sandro subindo as
escadas, a fim de sair daquele esconderijo subterrâneo.
- Não levaremos a outra parte do corpo?
- Não. A cabeça dessa vadia é o suficiente. Afinal, Adam
precisa saber o que aconteceu a sua mãe – sorria com
satisfação, olhando a cabeça que tinha nas mãos.
Precisavam correr a fim de chegarem antes do pôr-do-
sol. Mihnea tinha urgência em saber, se aquela ordem fora
cumprida.
Chegando ao palácio dos governadores, pediram para
falar com Mihnea. A autorização para que entrassem, não
demorou.
Eles andaram por um longo corredor, parecia que nunca
chegariam. Sandro suava frio, pois tinha horror a lugares
fechados e sem janela.
Ao chegarem ao fim do corredor, havia uma enorme
sala, aberta cheia de janelas, onde os vampiros bebiam um
Fim dos Tempos
[ 54 ]
verdadeiro coquetel de sangue.
- Fizeram o que mandei? – indagou Mihnea num tom
nada amistoso. – Espero que tenham concluído a missão –
disse num tom ainda mais rude.
- Sim. Nós concluímos a missão – disse Sandro,
orgulhoso.
Mihnea tinha os olhos cor de brasas. Notou um sorriso
sombrio em seu rosto. Sandro pensou que um único sorriso no
rosto de Mihnea, deveria ser algo muito raro, pois um sorriso
naquele rosto, definitivamente não combinava. Ele tinha o rosto
com feições dura como pedra. Era um ser rude e cruel. Aquele
sorriso foi tão feio, que chegou a dar medo.
- Mataram Catharina e o filho? – indagou desconfiado.
- Catharina está aqui – disse tirando da sacola a cabeça
de Catharina. – Mas o filho dela não estava no esconderijo.
O sorriso se desfez com rapidez. Suas feições voltaram
ao normal, eram duras e frias como sempre. Sandro concluiu
que Mihnea era bipolar, pois ele conseguia ir da felicidade a
fúria em questão de segundos.
Seu rosto mostrava uma fúria incontrolável. Sandro teve
certeza, que Mihena poderia matar alguém de pavor com
apenas aquele olhar sombrio, perverso e furioso.
Notou que suas pernas fraquejavam, mas tentou
controlar-se. Não poderia demonstrar sua fraqueza, diante do
todo poderoso rei dos vampiros, pois não desejava voltar às
ruas e passar fome novamente.
- Por hora, estou satisfeito. – disse abrandando a fúria
em seu olhar. – Pelo menos mataram essa cadela maldita –
disse olhando para a cabeça de Catharina.
Fim dos Tempos
[ 55 ]
Ele aproximou-se de Sandro e arrancou-lhe das mãos, a
cabeça de Catharina. Pegou com extremo cuidado, era como se
estivesse pegando algo muito valioso. Ergueu a cabeça dela
para que todos olhassem.
- Esse é o fim de pessoas que me tem como inimigo.
Demorou em encontrá-la, mas aqui estamos nós dois – disse
baixando a cabeça e olhando-a nos olhos.
- Junte-se aos derrotados, cadela maldita!
- Olhe, essa é Catharina! Esposa de Vlad IV, o antigo rei
dos vampiros. Ela tornou meu irmão um homem fraco. Disse
que a mataria – sorriu. – Finalmente a vadia está morta. Seu
filho, em breve, também estará em minhas mãos – sorria
diabolicamente.
Ele jogou a cabeça dela no chão, pisando em cima dela
com seus lindos e lustrosos sapatos de couro.
- Esse é o fim de quem me enfrenta! – exclamou
olhando com arrogância, para todas as pessoas presentes
naquela sala.
Ninguém se atreveu dizer uma única palavra. De
repente, um dos vampiros começou a bater palmas, sendo
seguido pelas demais pessoas presentes.
Mihnea sorria satisfeito, estava sendo ovacionado por
todos os vampiros. Seus planos estavam começando a dar
certo. Era admirado e temido por todos.
Mihnea olhou em direção a Eduardo e sorriu.
- Olhe Edu, Catharina já não faz parte de nossos
inimigos. Acabamos com mais um deles, meu amigo.
Eduardo sentiu uma pontada no coração ao ver a cabeça
de Catharina no chão. Recordou-se do tempo em que eram
Fim dos Tempos
[ 56 ]
humanos. Desde que se tornara um vampiro, não conseguia
mais sentir pena, amor, saudades, enfim, aquele veneno
mudara tudo dentro dele. Mas observar seu grande e único
amor, sendo pisada por Mihnea, sentiu ódio daquele homem
cruel e arrogante.
- Eduardo, pise na cabeça dessa maldita vadia. Ela
sempre o rejeitou. Acreditava que era superior a qualquer
pessoa. Julgava-se a última bolachinha do pacote – concluiu
sorrindo - Venha, pise nessa maldita cretina.
Eduardo sentiu raiva de Mihnea. Não entendia porque
estava sentindo-se assim... Ele se tornara seu amigo, desde
que deixara de ser apenas um ser humano estúpido e fraco.
Mas estava sentindo uma forte dor, ao pisar na cabeça
de Catharina. Aquilo doeu mais, do que quando soube que
Catharina estava grávida de Vlad.
Mihnea sorria com satisfação. Aquele sorriso debochado
trouxe grande revolta dentro de Eduardo. Aquele maldito
cretino, jamais deveria ter matado Catharina, pensou. Ele
percebeu que ainda amava Catharina, aliás sempre soube que
a amava, pois muitas vezes foi obrigado a mentir, quando dizia
não saber onde estava escondida.
- Agora a meta é encontrar o meu sobrinho. Se ele ficar
do nosso lado, então não precisará juntar-se ao pai e a mãe –
disse Mihnea, observando a reação de Eduardo e de todos os
presentes.
Fim dos Tempos
[ 57 ]
Capítulo 6
Revolta No dia seguinte, Adam acordou e ligou para a mãe, mas
ela não atendeu a nenhuma de suas ligações. Isso o deixou
bastante preocupado durante todo o dia. Mas só não voltou
imediatamente para casa, porque ela tinha o costume de
esquecer-se de carregar o celular.
Foi para a faculdade. Ao entrar na sala de aula, olhou
para a carteira onde Miriam costumava sentar-se, estava vazia.
Na hora do intervalo, decidiu ficar sentado na sala de aula,
afinal não queria conversar com ninguém. Queria ficar sozinho
em silêncio, aproveitaria para estudar para a prova que seria
aplicada, após o intervalo. Mas não conseguiu se concentrar na
apostila a sua frente.
Olhava novamente para a carteira em que Miriam
costumava sentar-se. Pensou o quanto era feliz e não sabia.
Lembrou-se de todos os momentos que passaram juntos e
sentiu uma saudade tão forte, que chegava a doer à alma.
Havia um enorme vazio naquela sala. Miriam conseguia
preencher qualquer vazio, com sua alegria contagiante. Era
muito otimista e decidida em tudo o que fazia. Miriam era o
grande amor de sua vida, mas infelizmente nunca tivera
coragem de revelar seus sentimentos. Sempre teve medo de
que se afastasse dele, quando soubesse que era apaixonado
por ela.
Já não era paixão o que sentia por aquela mulher,
sorriu. Como pude deixá-la partir? Por que não revelei meus
Fim dos Tempos
[ 58 ]
sentimentos? Por que permiti que fosse embora com aquele
cretino? Adam sabia que aquelas perguntas, poderiam ser
respondidas com apenas uma palavra, medo de ser rejeitado.
Definitivamente não merecia seu amor. Ela estava
arriscando sua vida, para acabar com um problema que não era
só dela, pois acabar com os vampiros, era um problema de
todos.
Estava muito envergonhado por tentar dissuadi-la de
uma causa tão nobre. Precisava fazer alguma coisa, a fim de
ajudá-la. Não poderia se acovardar diante de um problema
como aquele. Havia acabado de tomar uma decisão. Quando
chegasse em casa, informaria a sua mãe que partiriam para
Jundiaí. Ele iria se juntar ao grupo de exterminadores, que
Miriam tanto falara.
No supermercado, havia uma grande multidão de
pessoas fazendo compras. Foi até o armário e vestiu o
uniforme. No refeitório, pegou o cartão de ponto e introduziu-o
na máquina. Notou que havia um aviso grampeado ao cartão.
O Sr. Faisal, pedia-lhe que fosse até sua sala.
Meu Deus! Fizera algo errado? Seguiu até o escritório do
turco. Bateu na porta. Ela abriu-se no mesmo instante. Notou
que o Sr. Faisal, andava de um lado para o outro falando ao
telefone, animadamente.
Sentei-me na cadeira e aguardei a triste notícia de
minha demissão. Aquele homem costumava colocar bilhetes no
cartão de ponto, quando decidia demitir funcionários. Ele
mesmo costumava grampear esse tipo de recado.
Demorou uma eternidade, até que desligasse aquele
maldito telefone. Olhou para mim, com uma expressão
Fim dos Tempos
[ 59 ]
indecifrável no rosto. Enrolou os bigodões, com uma de suas
mãos e sorriu.
- Você precisa ver depósito de Faisal – disse abrindo a
porta. – Venha, olhos de Adam precisa ver o que aconteceu.
Seguiu aquele homem com medo. Teve vontade de sair
correndo dali. Não tinha a menor vontade de ver o que havia
acontecido. Mas precisava ficar e ver com seus próprios olhos,
a besteira que havia feito.
Chegando ao depósito, notou que estava tudo limpo e
organizado. Isso nunca aconteceu desde que havia entrado
naquele supermercado. Sempre havia uma grande sujeira, pois
os vampiros costumavam quebrar e rasgar todos os produtos
que encontravam pela frente. Isso acontecia todas as noites.
Andando mais adiante, próximo aonde havia instalado o
cofre de prata, notou que havia um vampiro caído frente ao
cofre. Tinha as mãos completamente derretidas. Seu rosto
estava desfigurado e parecia morto.
- Nunca mais Faisal ter prejuízo! Eu compro mais desses
cofres e põe mercadorias mais baratas pra venda – disse com
seu português indecifrável. - Baixar valor de mercadorias! Faisal
não ter prejuízo. Hoje Adam vai ser minha sócio. Mal posso
esperar para falar a funcionários de mercado, que não mandar
mais pessoas embora. Você faz milagre no mercado. Merece
recompensa, por ajudar Faisal no fechar mercado.
Adam sempre esperou que o turco reconhecesse seu
desempenho. Estava satisfeito por poder ajudá-lo a livrar-se
dos grandes prejuízos que tinha todos os dias. Mas precisava
fazer muito mais, do que se tornar sócio de um dos maiores
supermercados da região.
Fim dos Tempos
[ 60 ]
- Me sinto lisonjeado por oferecer-me sociedade. Mas
estou partindo para o interior. Esse será o meu último dia de
trabalho, Sr. Faisal.
- Menino não falando sério! – exclamou sem acreditar. –
Pensa melhor no oferta de Faisal. Não necessário dinheiro pra
ser minha sócio. Adam tem oferta muito boa, não pode perder.
- Me sinto grato, Sr. Faisal. Mas preciso fazer algo pelo
mundo em que vivo. Vou morar no interior. Lá existe um grupo
de exterminadores de vampiros. Quero me juntar a eles.
- Faisal sentir orgulho conhecer Adam – disse
abraçando-o – Vou levar ideia de Adam para pessoas tem lojas.
Falar que Adam inventor do cofre. Mas pensa fazer coisa
perigosa, vampiros matar você!
- Alguém precisa detê-los, Sr. Faisal. Eles estão
aniquilando a raça humana.
- Ninguém tem coragem enfrentar vampiros, pois são
fortes. Mata pessoas rapidamente. Não faz isso menino, porque
é perigoso. Isso vai matar mãe de Adam.
- Preciso fazer isso. Alguém precisa começar a fazer
alguma coisa ou seremos obrigados a viver em esconderijos a
vida inteira. Obrigado por tudo, meu amigo – disse estendendo
a mão para Faisal.
Faisal apertou a mão de Adam com força e se despediu
dele com lágrimas nos olhos.
- Faisal sentir falta de você. Adam é como filho para
Faisal.
Faisal pagou há ele muito mais do que devia. Adam saiu
do supermercado feliz. Agora, teria que convencer sua mãe a
deixar o esconderijo, para viverem em Jundiaí. Sabia que
Fim dos Tempos
[ 61 ]
aquela cidade, trazia muitas recordações tristes para ela. Mas
tinha certeza que entenderia e o acompanharia nessa louca
aventura.
Ao chegar próximo de sua casa, notou que os vizinhos
estavam na rua. Uma criança correu em sua direção.
- Adam, sua mãe foi atacada ontem à noite – disse o
menino triste. – Sinto muito! Vovó queria entrar em contato
com você, mas não tinha o número do seu celular.
- Onde está sua avó?
Não deu tempo de o menino responder, pois a avó já
estava a sua frente. Os olhos dela estavam vermelhos e
inchados, provavelmente por ter chorado a perda da amiga.
- Adam, sua mãe foi atacada. Tentei entrar em contato
com você, mas anotei errado o número de seu celular. Fizemos
o enterro dela, espero que não se importe.
- Gostaria de ter participado – disse chorando. - Mas
entendo que não podiam esperar, tia Beth – disse olhando nos
olhos da velha vizinha.
- Não encontramos a cabeça dela. Vasculhamos cada
centímetro do esconderijo de vocês, as ruas vizinhas e nada.
Adam não conseguiu dizer uma única palavra. Os
vampiros haviam acabado com a única pessoa que tinha na
vida.
Sentou-se na guia da calçada e chorou muito, tentando
aliviar a dor que dilacerava seu coração. Nunca havia chorado
tanto em sua vida.
- Fique conosco, não é seguro ficar no esconderijo de
vocês. Eles podem voltar, Adam.
Ele não queria ficar naquela rua nem por mais um
Fim dos Tempos
[ 62 ]
segundo. Queria ir embora daquele lugar. Agradeceu, mas
rejeitou o convite. Disse que dormiria na casa de seu patrão.
Voltou cabisbaixo para o supermercado. Não poderia
partir naquela noite, pois não daria tempo de chegar antes do
pôr-do-sol.
No mercado, o turco, observava satisfeito a enorme
clientela de seu estabelecimento. Viu que Adam acabara de
entrar. Correu em sua direção, bastante animado com
esperança de que houvesse mudado de ideia.
- Adam, mudar de ideia?
- Posso passar a noite em seu esconderijo? – indagou
ignorando sua pergunta.
- Claro. Acontecer alguma coisa em casa de Adam? –
indagou o turco preocupado.
- Minha mãe foi atacada ontem à noite – disse com
dificuldade. – Amanhã irei para o interior, hoje não será mais
possível. Não conseguirei chegar antes do pôr-do-sol.
- Faisal sente muito o que acontecer a mãe de Adam.
Foi culpa de Faisal – disse amargurado. – Se não fosse com
Faisal comprar cofre, mãe de Adam estar viva agora – disse
com seu português estranho.
O turco sentou-se no chão, colocou as duas mãos na
cabeça em sinal de desespero.
- Ninguém tem culpa pelo que aconteceu – disse
estendendo a mão para ajudá-lo a levantar-se. – Se pensar por
esse lado, acabou salvando minha vida.
- Faisal pode fazer alguma coisa por Adam? – perguntou
preocupado. – Fala o que precisar e Faisal ajuda. Faz enterro
de sua mãe.
Fim dos Tempos
[ 63 ]
- Tudo já foi providenciado. Meus vizinhos se
incumbiram dos preparativos. Só preciso de um lugar para
passar a noite.
- Fica o tempo que precisa no esconderijo de Faisal.
Será um prazer ter companhia de amigo – disse abraçando
Adam. – Sabe que pode contar com Faisal sempre que precisar.
Adam estava arrasado. O turco deu-lhe as chaves de seu
esconderijo e mandou-o embora. Percebeu que precisava ficar
sozinho.
Adam passou o resto da tarde chorando. Por que sua
mãe? Era uma pessoa muito boa, não fazia mal a ninguém.
Miriam estava certa, alguém precisava fazer alguma
coisa. As coisas não podiam continuar desse jeito. Se houvesse
partido com Miriam, agora sua mãe estaria viva.
Fim dos Tempos
[ 64 ]
Capítulo 7
Miriam Miriam havia passado apenas uma semana em Jundiaí.
A luta dos exterminadores era constante. De manhã lutavam
para acabar com os espiões, à noite exterminavam os vampiros
que tentavam invadir a cidade.
Não foi fácil chegar até o grupo de exterminadores.
Ninguém dizia onde se escondiam, pois tinham receio que fosse
uma espiã de vampiros.
Decidiu entrar numa escola de artes marciais. Precisa
aprender a lutar, a fim de defender-se com maior facilidade dos
vampiros. Decidiu sair à caça daqueles malditos seres, sem a
companhia de ninguém. Pegou um enorme facão e um
machado que comprou na loja da cidade e saiu pelas ruas
escuras de Jundiaí.
No início sentiu medo de aproximar-se dos vampiros.
Mas no terceiro dia, sentia-se mais confiante. Sentia que podia
vencer aquela luta.
Em menos de uma semana, todos a cumprimentavam
na rua com admiração. Havia matado sete vampiros nos três
dias que estava na cidade. Descobrira também um espião deles
infiltrado na cidade. O delegado o colocou atrás das grades.
Assim, conquistou a confiança dos moradores daquele lugar e
uma senhora a levou até Israel.
Israel era o líder dos exterminadores. Miriam ficou
surpresa ao conhecê-lo, pois esperava que fosse um homem
forte, alto e musculoso. Mas ele era justamente o contrário
Fim dos Tempos
[ 65 ]
disso tudo, era baixinho, magro e parecia não possuir força
alguma. Mas era inteligente, corajoso e sabia artes marciais
como ninguém.
Costumava dizer que os vampiros só poderiam vencê-
los, se notassem que tinha medo de enfrentá-los. Por isso
medo era um luxo, que não poderia fazer parte da vida de um
exterminador.
Naquela noite, as coisas tomaram um rumo inesperado
em sua vida. Sempre sonhara em casar-se, ter seus filhos e
viver tranquilamente. Mas seus planos agora eram diferentes,
viveria para matar. Sabia que não teria um único dia de
tranquilidade em sua vida, enquanto não conseguisse matar
todos os vampiros e derrubá-los do poder.
O grupo de exterminadores dormia durante o dia e só
trabalhava a noite. Rodava toda a cidade, procurando por
vampiros, assim a cidade impedia que eles tomassem conta de
Jundiaí, como já haviam feito com outras cidades.
Miriam havia conquistado a admiração dos habitantes e
também havia se destacado no grupo. Todos queriam fazer a
ronda a seu lado. Estava correndo o boato de que ela não
temia nada.
Isso a deixou feliz, pois batalhava consigo mesma todas
as noites para vencer o medo. Naquela noite, estava no posto
de gasolina, abastecendo um dos carros da ronda, quando
decidiu descer e comprar um refrigerante. Ao voltar novamente
para o carro, ouviu uma grande gritaria.
Notou que havia uma grande quantidade de
adolescente. Usavam roupas rasgadas e falavam muito alto.
Um deles tinha nas mãos uma garrafa de vinho e empurravam
Fim dos Tempos
[ 66 ]
com grosseria uma mocinha.
De repente, o grupo inteiro avançou em direção da
moça. Começaram a arrancar-lhe os membros de seu corpo.
Cada um pegou sua parte. Bebiam todo o sangue que escorria
do corpo daquela pobre criatura.
Logo, apareceram mais grupos. Só então, percebeu que,
estavam sendo atacados por um grande número de vampiros.
Um deles apontou para o posto e começaram a correr com
velocidade assustadora naquela direção.
Miriam ficou petrificada. Não conseguia se mexer.
Entrou em pânico.
- Meu Deus, me ajude – disse olhando para o grupo,
que estava cada vez mais próximo ao posto. – Não posso ficar
parada aqui, senão morrerei.
Miriam tentou colocar a chave na ignição, mas estava
tão nervosa, que não obteve sucesso. Suas mãos tremiam
demais.
- Preciso me acalmar – disse consigo mesma. – Um,
dois, três – contou respirando fundo. - Vamos Miriam, coloque
a chave com calma no contato – disse tentando controlar o
nervosismo.
Finalmente conseguiu dar a partida e saiu cantando
pneus. Precisava chegar ao casarão e avisar a todos. Chegando
lá, percebeu que não havia ninguém por ali. Decidiu falar no
rádio amador, mas não sabia como mexer naquilo.
Ouviu o barulho de alguém entrando na casa. Correu e
se escondeu embaixo de uma mesa. Reconheceu os sapatos de
Israel, só então saiu.
- Israel, um enorme grupo de vampiros está atacando o
Fim dos Tempos
[ 67 ]
posto de gasolina. Precisamos avisar aos exterminadores –
disse quase sem fôlego.
- Eu fui até o posto, para abastecer o meu carro. Vi que
atacavam os trabalhadores. Saí daquele lugar, pois não havia
mais nada a fazer – Seu rosto tinha uma expressão de dor. - A
maioria já estava morta – disse perplexo sentando-se
pesadamente numa cadeira a sua frente. - Corri para casa, a
fim de avisar a todas as pessoas da cidade e principalmente
aos exterminadores.
Ele levantou-se e correu em direção ao radioamador.
Ligou o aparelho e alertou todas as pessoas da cidade que
estavam sendo atacados, por um grande clã de vampiros. Pediu
que se trancassem em suas casas. Que usassem facas ou
qualquer material pontiagudo para se defenderem.
Por sorte a prefeitura, havia comprado radioamador,
para as pessoas de baixa renda e agora todos possuíam o
aparelho.
Resolveram sair da casa, pois seria um alvo fácil para o
ataque. Muniram-se com revolveres, e facões pontiagudos.
Miriam correu e pegou seu machado e subiu numa árvore
muito alta. Logo em seguida, Israel também se juntou a ela.
Ficaram perplexos observando o massacre que ocorria na
cidade.
Miriam olhava para tudo com pavor. Aquilo parecia um
filme de terror, digno dos grandes vencedores de bilheteria em
Hollywood. Havia muitos grupos e eram infinitamente em maior
número e força, do que as pessoas que viviam na cidade.
A barbárie se deu por longas horas. As ruas estavam
tingidas de vermelho. Havia partes de corpos por toda a rua.
Fim dos Tempos
[ 68 ]
Eles eram infinitamente fortes, abriam as portas como se
estivessem puxando a gaveta de um armário. Ficamos
encobertos pelas folhas das árvores. Era um esconderijo
perfeito. Não podiam nos ver daquele lugar. Israel tentou
descer da árvore várias vezes, mas Catharina o impediu. Se
descessem daquela árvore, morreriam como os outros.
Estavam cada vez mais violentos. Pareciam estar
famintos e descontrolados. Ninguém poderia acreditar que
aqueles seres, já foram humanos e civilizados algum dia.
Nesse momento, viram a filhinha do vizinho. Mirna
deveria ter mais ou menos dois anos de idade. Parecia ter
acordado naquele momento. Saiu em busca dos pais, pois
gritava por “mamãe”, chorando o tempo todo. Parecia estar
apavorada.
Aonde teriam ido os pais daquela pobre criança. Com
certeza deveriam estar mortos. Israel não se conteve. Correu
para tentar salvar aquela pobre garotinha. Catharina tentou
impedi-lo novamente, mas ele não ouviu. Israel desceu a
árvore rapidamente e seguiu em direção da criança. Nesse
instante, um vampiro saiu da casa ao lado. Tinha as roupas
completamente sujas de sangue. Ao ver Israel pulou o muro,
atacando-o com a criança no colo. Miriam não pensou em mais
nada, desceu daquela árvore e com o machado em punho,
arrancou-lhe a cabeça. Ele caiu desfalecido no chão.
O sol começava a despontar no céu. Nesse momento a
rua ficou completamente vazia. Eles estavam abrigados nas
casas, para fugir dos raios solares.
Aproximou-se de Israel e da garotinha. Notou a abertura
de dois orifícios no pescoço de Israel. Ele estava contaminado
Fim dos Tempos
[ 69 ]
pelo maldito veneno. Em breve se tornaria um deles.
Israel era valente e amava as pessoas daquela cidade.
Amava seu país, o Brasil. Era o homem mais patriota que já
havia conhecido. Era um homem simples, tanto no jeito de falar
como no modo que se vestia. Era um verdadeiro democrata.
Sempre ouvia a todos. Acatava o que a maioria decidia nas
reuniões. Jamais deixou que sua liderança, fosse tomada pelo
autoritarismo.
Não era um homem feio, mas também estava longe de
ser bonito. Era um homem comum. Não gostava de chamar
atenção. Tinha dificuldade em lidar com elogios. Não tinha
namorada ou esposa, apesar de ter trinta e cinco anos.
Miriam sentou-se no chão ao lado de Israel. Ele tinha o
olhar pedido, parecia desejar ficar em silêncio. Apenas
observando o cenário horripilante a sua frente. Notou lágrimas
escorrerem por suas faces.
De repente, Israel começou a tremer e bater o queixo,
como se estivesse com muito frio. Miriam tirou seu casaco e
ofereceu a ele. Mas não adiantou, pois o veneno era o
causador desse sintoma. O veneno corria por suas veias,
envenenando cada parte de seu corpo. Ambos sabiam que em
breve se tornaria um deles.
- Os vampiros dominaram essa cidade Miriam – disse
batendo o queixo - Lute para que grupo de exterminadores não
desista de nossos ideais – disse olhando para ela. - Vamos,
prometa-me que fará o que estou lhe pedindo – ordenou
nervosamente.
Miriam balançou a cabeça afirmativamente.
- Eu prometo que continuaremos lutando para acabar
Fim dos Tempos
[ 70 ]
com todos eles – prometeu segurando suas mãos, que já
começavam a ficar frias.
- Obrigado, confio em você. Soube desde o primeiro dia,
que seria uma aliada fiel – disse segurando seu rosto. – Tenho
mais um pedido a fazer.
- Pode falar Israel. Farei qualquer coisa para ajudá-lo.
- Está vendo aquele machado jogado no chão? – disse
apontando para a ferramenta. – Corte a minha cabeça com ele.
Prefiro morrer a viver como um deles. Antes, leve a garotinha
para trás da árvore. Não deixe que veja essa cena. Procure
levá-la pelo caminho oposto a que estão os pais dela. Eles
estão atrás da cerca. Infelizmente estão mortos.
Miriam levantou-se para pegar a ferramenta. Levou a
garotinha para trás da árvore.
- Mirna, preste atenção no que vou lhe dizer – disse
segurando suas mãos. – Preciso que fique olhando para a rua.
Não vire para trás, a não ser que chame pelo seu nome. Se
fizer o que estou pedindo, lhe darei essa bala. – disse tirando
uma bala que estava no bolso de sua calça.
- Está bem, farei o que me pediu. Sabe quando
chegarão os meus pais, tia? - indagou a menina mais calma.
- Não irão demorar. Depois falaremos sobre isso.
Miriam deixou a menina atrás da árvore e seguiu até o
machado. Tinha as mãos trêmulas ao pegá-lo.
Olhou para Israel. Ele parecia sereno e tranquilo diante
da morte.
- Adeus, Miriam! Obrigado por atender meu pedido.
Miriam levou o machado ao alto e decepou a cabeça
daquele corajoso homem. Pela primeira vez, sentiu-se mal por
Fim dos Tempos
[ 71 ]
matar um vampiro.
Prometeu a si mesma, que falaria da coragem e
determinação desse maravilhoso homem, quando tudo
chegasse ao fim. Todos os que viveram sob sua liderança,
jamais o esqueceria.
Pegou Mirna e saiu com ela em seu colo. Não fazia a
menor ideia, do que iria fazer a partir daquele momento. A
única certeza que tinha, era que precisava procurar um lugar
para passar mais uma noite. Agora teria a menininha para
cuidar. Sorriu ao olhar a garotinha loira de olhos azuis, era tão
inocente... Parecia tão tranquila a seu lado...
Saiu vagando pelas ruas sem destino. Acreditando que a
sorte a levaria a algum lugar. Pediu a Deus, que guiasse seus
passos.
Por onde passava, havia o sinal da devastação deixada
pelos vampiros. As ruas estavam cobertas pela cor vermelha e
corpos estavam por todas as ruas por onde passavam.
Próximo à pracinha da cidade, avistou alguns
sobreviventes do famoso grupo de exterminadores. Agora, mais
pareciam pobres coitados. Não havia nada que lembrasse o
poderoso grupo, que matava todos os vampiros que
encontravam. Não havia o menor sinal dos caçadores
impiedosos, corajosos e destemidos. Tudo o que via, eram
pessoas amedrontadas e perdidas.
Haviam restado pouquíssimas pessoas do grupo. O astro
rei, já clareava totalmente a cidade. A noite fora uma luta
inglória. Eles atacaram a cidade em grande número. Estavam
ferozes e famintos. A falta de sangue nas cidades dominadas os
deixou ainda mais ferozes e animalescos.
Fim dos Tempos
[ 72 ]
Alguns sobreviventes da grande chacina choravam
nervosamente. Uns por perderem parentes e amigos, outros
por sentirem-se impotentes diante daquele massacre. Era uma
cena triste de se ver.
No meio da turma, avistou Milena e Cláudio. Ambos
estavam sentados no chão, pareciam tristes e desanimados.
Aproximou-se deles e assim que Cláudio a avistou, mostrou
seus lindos dentes brancos, num sorriso que iluminou tudo a
sua volta. Aquilo foi suficiente para que percebesse, o quanto
seria difícil arrancá-lo de seu coração.
- Estou feliz por vê-la – disse Cláudio levantando-se do
chão. – Acho que não aguentaria perder mais ninguém
conhecido.
- Também estou muito feliz por encontrá-los vivos –
disse Miriam, sorrindo.
- Venham, precisamos falar com os sobreviventes do
grupo - ordenou Miriam. - Agora podemos atacá-los. O sol está
reluzente nesse momento. Vamos atacar as casas em que
estão escondidos e aniquilar com todos eles de uma só vez.
- Você não consegue enxergar que essa é uma luta
perdida? – perguntou Cláudio com raiva. – Não consegue
enxergar que quase morremos, bancando heróis? Está maluca
se pensa que irei continuar com essa maluquice.
Milena não falava nada. Estava quieta e cabisbaixa.
Parecia ter se assustado de verdade com tudo aquilo. Mas seus
olhos se iluminaram ao notar a presença de Mirna.
- Quem é essa garotinha linda? – disse aproximando-se
e pegando-a no colo.
- É a filha do nosso vizinho – respondeu Miriam, olhando
Fim dos Tempos
[ 73 ]
para a garotinha que parecia não entender nada do que estava
acontecendo.
- Os pais dela estão mortos? – indagou Cláudio.
Miriam apenas balançou a cabeça afirmando.
- O que faremos agora? – disse Cláudio limpando a calça
com as mãos.
- A primeira coisa a ser feita, é procurarmos um lugar
para nos escondermos. A noite logo chegará e precisamos
encontrar um lugar seguro para passarmos essa noite.
Notou que o grupo se aproximava deles. Pareciam
interessados no que estava dizendo.
- O que vocês acham de procurarmos algum lugar para
passarmos a noite? Depois, podemos pensar com calma o que
faremos. O que acham? – indagou Miriam, lembrando-se de
Israel.
- Alguém sabe o que aconteceu com Isa? – perguntou
um deles.
- Eu sei o que aconteceu. Ele estava junto comigo.
Miriam relatou tudo o que havia acontecido. Revelou o
desejo de Israel, quanto ao grupo.
Nesse momento, viu a chama de extreminador acender
dentro de cada um deles. Saíram em busca de algum lugar
seguro para passarem a noite. Não havia mais armamento
pesado. Apenas facas e facões. Então decidiram que naquela
noite, apenas se esconderiam e não os atacariam como das
outras vezes. O mais importante no momento, era encontrarem
um lugar para se esconderem.
Miriam, Cláudio e Milena, já estavam acostumados a
fazerem esconderijos. Decidiram cavar um buraco bem fundo.
Fim dos Tempos
[ 74 ]
Usaram madeiras para cobrirem o buraco, pegaram grama
sintética e cobriram o esconderijo. Fizeram uma pequena
abertura, numa das madeiras para conseguirem sair.
Pegaram grande quantidade de alimentos e se dirigiram
para o esconderijo. Pegaram também, cobertores e colchões
das lojas. Fizeram um grande buraco no chão, para que
usassem como banheiro.
Era mais ou menos, quatro horas da tarde e estava tudo
pronto. Mirna havia perguntado pelos pais muitas vezes. Agora
parecia mais calma.
Milena tinha jeito com crianças. Deu leite para a menina
e colocou-a para dormir. Passaram a tarde inteira combinando
o que fariam se o esconderijo fosse descoberto. Mas na
realidade, todos sabiam que se fossem descobertos, morreriam.
A noite chegou. Estava chovendo muito. Os trovões
faziam grandes estrondos. Mirna havia dormido agarrada ao
pescoço de Miriam. Havia algumas goteiras, mas não chegava a
incomodar ninguém. Parecia que os vampiros, também não
saíram de suas casas naquela noite.
Todos pareciam tranquilos. A maioria dormia e quando
alguém roncava era acordado imediatamente, não podiam fazer
nenhum barulho, pois os vampiros podiam escutar um espirro a
quilômetros de distância.
O sol apareceu timidamente no céu. Miriam saiu do
esconderijo e preparou-se para sair daquela cidade. A maioria
dos sobreviventes, optou por fazer parte do grupo, mas alguns
decidiram ficar na cidade.
Esses infelizmente, acabariam morrendo. Esse era um
novo mundo, onde bens materiais não valiam absolutamente
Fim dos Tempos
[ 75 ]
nada. Mas alguns ainda tinham dificuldade em se adaptar a ele.
Muitos morriam por não conseguir largar os bens que haviam
juntado a vida inteira.
Miriam estava confusa. Nunca pensou em se tornar líder
de coisa alguma. Mas era preciso que alguém tomasse a
liderança, a fim de evitar a dispersão do grupo. Era necessário
também, alguém que orientasse a todos, ou ficariam correndo
de um lado para o outro, sem saber o que fazer.
Miriam decidiu comprar alguns jornais. Mostrou ao
grupo, uma notícia de primeira página. Havia uma cidade nos
Estados Unidos, que ainda não fora atacada pelos vampiros.
O grupo decidiu que partiriam para os Estados Unidos.
Juntar-se-iam aquele grupo, a fim de ajudar a exterminar os
vampiros que tentassem atacar aquela cidade.
A cidade em questão era Salt Lake City. Cidade mais
populosa do estado de Utah. Os vampiros não conseguiam
entrar naquela cidade, ou talvez não tivessem interesse por
aquele lugar. A taxa de mortes por ataques vampíricos era
praticamente zero.
Decidiram partir. Deixariam o Brasil para se unir a um
novo grupo de exterminadores. Depois voltariam para o Brasil,
com técnicas mais eficazes. Lá aprenderiam como se livrar dos
vampiros de maneira mais eficiente. Infelizmente no Brasil, as
pessoas haviam se acostumado a viver em esconderijos
subterrâneos. Acostumaram-se a ideia de viver com o medo.
Estavam se acostumando as mortes. Ninguém tinha coragem
de enfrentá-los.
Os vampiros estavam cada vez mais violentos. Estavam
mais difícil de serem exterminados. Precisavam tomar novos
Fim dos Tempos
[ 76 ]
ares, se continuassem por aqui, com certeza, acabariam como
todos eles, conformados com essa nova realidade. Precisava
fugir daqui, não queria se conformar com aquela situação.
Precisava salvar o que restou do grupo de exterminadores...
Fim dos Tempos
[ 77 ]
Capítulo 8
Adam Adam procurou nos jornais notícias do poderoso grupo
de exterminadores da cidade de Jundiaí. Seus olhos ficaram
paralisados diante das fotos tiradas daquela cidade.
Eram fotos sobre o ataque vampírico que fizeram
milhares de vítimas. Adam sentou-se na guia da calçada, com
mãos trêmulas, segurava o jornal que mostrava as ruas de
Jundiaí, tingidas de sangue. Havia corpos espalhados por todas
as ruas daquele lugar. O massacre foi grande. Parecia não
haver sobrevivido ninguém para contar a história.
Aquilo não podia ter acontecido, pensou desesperado.
Além de perder sua mãe, havia perdido o grande e único amor
de sua vida, Miriam. Precisava fazer alguma coisa. Não podia
continuar de braços cruzados, vendo a raça humana ser
devastada.
Adam ouvira alguém falar sobre a cidade de Peruíbe,
litoral Paulista. Muitas pessoas estavam se mudando para lá.
Parece que o litoral sul do estado de São Paulo, estava
resistindo aos ataques. Ainda havia vida noturna por aqueles
lados. As pessoas podiam sair à noite. Esta era sua chance de
montar um grupo de exterminadores. As pessoas daquele
lugar, ainda não haviam sido contaminadas pelo medo.
Adam foi até a rodoviária e comprou uma passagem
para Peruíbe. Havia uma grande procura de passagens por
aquele lugar. Ficou na fila por horas, mas conseguiu. Não daria
tempo para despedir-se do turco pessoalmente. Decidiu pegar
Fim dos Tempos
[ 78 ]
o celular para despedir-se do amigo.
- Consegui comprar minha passagem, Faizal – disse
Adam. – Estou a caminho de Peruíbe. Parece que aquele lugar,
ainda não foi dominado pelos vampiros. Deveria vir comigo.
Você corre perigo vivendo entre eles.
- Não pode sair daqui. Minha vida está aqui Adam. Por
que não ficar no São Paulo? Aqui poderia ser sócia de Faisal –
disse na esperança de fazê-lo desistir.
- Não posso, preciso fazer minha parte. As coisas não
podem continuar desse jeito.
- No jornal, Faisal ver que pessoas lutar contra vampiro,
morrer! Isso é perigoso! Não vai, Adam. Fica no São Paulo. –
disse o turco preocupado.
- Preciso ir meu amigo. As coisas em Peruíbe estão mais
calmas. Lá as pessoas ainda não foram contaminadas pelo
terror. Então, será mais fácil conseguir pessoas para se juntar
ao grupo de matadores.
- Sabe que tem um lugar no mercado de Faisal. Quando
querer, volta. Boa sorte, amiga.
- Obrigado. Nunca me esquecerei do quanto me ajudou.
- Eu nunca esqueci que menino, ajudar Faisal não
perder o mercado.
- Adeus amigo - disse desligando o celular.
A viagem foi agitada. Todos estavam preocupados com
o horário. Na verdade, ninguém acreditava que em Peruíbe
havia vida noturna. Mas todos decidiram arriscar. Ninguém
tinha nada a perder, pois na cidade de São Paulo tudo já estava
perdido.
Ao chegar a Peruíbe, Adam ficou entusiasmado com as
Fim dos Tempos
[ 79 ]
lindas praias. Parecia estar em outro mundo. O povo daquela
cidade não parecia tão assustado, como as pessoas que viviam
na capital.
Muitos estavam nas praias. O sol brilhava com força,
naquele céu azul e límpido, apesar de ser tarde. Não havia sinal
de poluição naquele lugar. Estava no paraíso. Se soubesse
disso antes, talvez houvesse conseguido salvar sua mãe. Agora
era tarde, não havia mais nada a ser feito. Lembrou-se que ela
odiava ouvir lamentos.
A noite estava se aproximando. Precisava procurar um
lugar para ficar. Olhou sem esperança para um rapaz que
varria a calçada em frente à padaria.
- Boa tarde. Meu nome é Adam – estendeu-lhe a mão
apresentando-se. O rapaz apertou-a com um largo sorriso no
rosto. – Acabo de chegar de São Paulo. As coisas por lá estão
totalmente fora de controle. Como as coisas estão por aqui?
- Sou Edgar, muito prazer. – disse cumprimentando-o. -
Em Peruíbe as coisas são menos perigosas. Encontrará algumas
pousadas e hotéis no centro. Precisa ver se ainda possuem
vagas.
- Por aqui há muitos ataques e saques vampíricos?
- Não. Ainda podemos nos dar ao luxo de sair à noite.
Mas por prevenção, trancamos as portas e janelas. Há sempre
grupos que fazem ronda a noite, afinal ninguém está seguro
nesse mundo.
- Já houve ataques por aqui? – perguntou Adam
- Claro. Existe um lugar no mundo onde aqueles
malditos não ataquem?
- Conhece algum lugar onde posso ficar?
Fim dos Tempos
[ 80 ]
- Não tem onde ficar? – indagou desconfiado.
- Não. Perdi tudo quando meu esconderijo foi atacado
por vampiros. Minha mãe morreu e eu não tenho mais
ninguém.
Um senhor que parecia ouvir a história se aproximou.
- Estava dizendo que não tem onde ficar? – perguntou
um senhor idoso, com mais ou menos sessenta anos de idade.
- Sim. Preciso de um lugar para ficar.
- Tem trabalho, rapaz?
- Não. Mas amanhã irei procurar emprego.
- O que sabe fazer? – indagou o homem.
- Era gerente de um hipermercado em São Paulo.
- Tem como comprovar o que está dizendo?
- Sim – disse tirando a carteira profissional da mochila. –
Olhe minha carteira profissional.
Ele pegou a carteira da mão de Adam e conferiu. Depois
olhou para ele e pediu que o acompanhasse até sua sala.
Adam seguiu aquele homem meio desconfiado. Entrou
numa belíssima sala.
- Sou o proprietário dessa padaria. Estou precisando de
um gerente, pois estou ficando velho e cansado – informou
com um sorriso franco no rosto. - Mas não posso pagar a
mesma quantia que ganhava – disse desanimado. - Mas posso
compensar-lhe, oferecendo um quarto para morar. Venha, vou
lhe mostrar o quarto.
Adam seguiu o simpático senhor. Ele parou em frente a
uma velha porta e abriu-a. Era um quarto pequeno. Tudo muito
limpo e organizado. Possuía uma confortável cama e um bom
guarda-roupa. Havia também um antigo aparelho de televisão.
Fim dos Tempos
[ 81 ]
Notou contrariado que não havia uma única janela naquele
cubículo. Mas ficou animado com o lugar e a simpatia do velho.
Além do mais, aquilo parecia uma mansão visto o esconderijo
onde viveu com sua mãe.
- Então, irá ficar ou não? – indagou o senhor curioso.
- Sim.
Combinaram o valor do salário. Não era a mesma
quantia que ganhava com o turco, mas dava para viver
tranquilamente com a quantia, mesmo porque não teria
despesas. Até mesmo a comida era por conta do Sr. Artêmis.
O outro rapaz trabalhava como ajudante geral. Também
morava na padaria. Seu quarto era tão bom quanto o dele,
apenas um pouco menor.
O Sr. Artêmis deu-lhe o resto do dia livre, para que
arrumasse suas coisas no quarto e descansasse da viagem.
Começaria somente amanhã. O pouco tempo que ficou na
padaria, permitiu que percebesse que o clima entre os
funcionários era muito amistoso. Diferente do hipermercado do
Sr. Faizal. Lá cada um fazia seu trabalho. Não havia espírito de
cooperação, espírito de equipe.
Recordou-se que tentou mudar e propor que
trabalhassem em equipe, mas não obteve sucesso. Quando
hábitos ruins são arraigados, fica difícil de mudá-los em pouco
tempo.
Sr. Faizal havia providenciado uma excelente
infraestrutura, a fim de facilitar o trabalho de todos. Mas seus
funcionários não sabiam aproveitar todos os recursos que
tinham em mãos. Cada um fazia apenas sua parte, não se
importando com o todo. Com isso, geraram uma enorme
Fim dos Tempos
[ 82 ]
burocracia em todo o processo, fazendo com que um processo
extremamente simples, se tornasse algo complexo.
Adam notou que na padaria, não havia nenhuma
infraestrutura para facilitar absolutamente nada. Mas o trabalho
em equipe se incumbia de tornar as coisas simples e práticas.
Sendo assim, o resultado era plenamente satisfatório.
Havia uma cooperação natural entre cada setor.
Percebeu que todos, ajudavam no setor que mais havia
necessidade. O padeiro ajudou a cozinheira na hora do almoço,
o rapaz da limpeza, ajudou o garçom a servir os pratos até as
mesas e etc.
Notou que a clientela, saía da padaria, satisfeitos por
serem atendidos prontamente. Não havia espera em nenhum
dos setores, apesar de haver poucos funcionários e uma vasta
clientela. Todos saíam ganhando no final. Os clientes não
esperavam e os funcionários não ficavam sobrecarregados de
serviço.
Soube que o Sr. Artêmis pagava o melhor salário da
região. Reconhecia e vangloriava-se que o sucesso de sua
padaria, era devido ao excelente atendimento e a qualidade
com que tudo era feito. Reconhecia que o sucesso de sua
padaria era devido ao esforço de seus funcionários. Todos
vestiam a camisa da empresa e faziam o que era preciso para
que tudo fosse feito, com excelência e praticidade.
Estava feliz por ter a oportunidade de fazer parte
daquela equipe. Mas como nem tudo é perfeito, o Sr. Artêmis
tinha problemas seríssimos em sua vida pessoal. Havia perdido
a esposa há três meses. Ela foi uma das poucas vítimas dos
vampiros naquela cidade.
Fim dos Tempos
[ 83 ]
Seu único filho era um problema constante. Tinha mais
de trinta anos, usava drogas e não havia se casado. Ainda
morava na casa do pai e como não trabalhava, era sustentado
pelo Sr. Artêmis.
Sua esposa fora atacada por que estava procurando pelo
filho. Saíra de madrugada, escondida do Sr. Artêmis. Ele havia
prevenido que não seria seguro sair em busca de Júlio. Mas ela
estava muito preocupada e decidiu não lhe dar atenção.
Acabou morrendo vítima de um ataque vampírico.
Desse dia em diante, as pessoas da padaria verificaram
o grande esforço que Júlio fazia para mudar de vida. Todos
notaram que se sentia culpado pelo que aconteceu a sua mãe.
Decidira mudar de vida, mas o pai havia perdido a confiança
nele, culpava-o pelo que havia acontecido a esposa.
Naquela tarde, Júlio apareceu na padaria. Estava
ajudando no balcão, quando o pai chegou. O Sr. Artêmis o
colocou para fora, acusando-o de querer roubar seu caixa, pois
isso já havia acontecido algumas vezes.
Fazia três semanas que havia chegado a Peruíbe. Estava
se adaptando a sua nova vida. Às vezes chorava muito ao
recordar-se da mãe e de Miriam. Mas sabia que não poderia
viver se lamentando.
Hoje era seu dia de folga. Estava deitado na cama
assistindo televisão. As notícias não eram boas. A cidade de
São Paulo estava totalmente dominada pelos vampiros. Já não
havia necessidade de espiões, esses estavam sendo devorados
por eles, pois a maioria das pessoas havia abandonado a
cidade.
Então, começaram a atacar as cidades litorâneas. Adam
Fim dos Tempos
[ 84 ]
ouviu bater em sua porta. Levantou-se para atender. Levou um
susto ao se deparar com Júlio.
- Desculpe incomodá-lo em seu dia de folga, Adam –
desculpou-se Júlio.
- Não há problema algum. Aconteceu alguma coisa?
- Não. Só precisava de um amigo para desabafar – Disse
entrando no quarto. - Depois que abandonei as drogas, não
tenho mais amigos – sorriu com tristeza.
- Em que posso ajudá-lo?
- Meu pai tem grande admiração por você. Percebo que
gostaria de tê-lo como filho. Mas infelizmente, sou o único filho
que ele tem nessa vida – sentou-se na cama. – Poderia me
ajudar a conquistar a confiança de meu pai novamente? O que
posso fazer?
- Gostaria de poder ajudá-lo, Júlio – disse em pé ao lado
da porta. – Mas infelizmente não sei como fazer isso – disse
pensativamente. – Você abusou da confiança que ele tinha em
você. Não é com conversa que conseguirá convencê-lo, mas
através de suas atitudes.
- Não posso trabalhar aqui, porque ele cismou que
desejo somente roubar o caixa da padaria. Não sei o que
fazer. Desde a morte de minha mãe, me arrependo todos os
dias pelas coisas que fiz. Não posso trazê-la de volta, mas
preciso fazer alguma coisa para conquistar o perdão de meu
pai.
- Fico feliz ao ouvir que pretende mudar. Mas precisa
saber que sua mudança, não deve ser por causa de seu pai ou
qualquer outra pessoa. Precisa mudar, porque isso fará bem a
você mesmo.
Fim dos Tempos
[ 85 ]
- Tem razão.
- Estava ouvindo o noticiário. Ouvi dizer que os vampiros
estão se voltando para atacar as cidades litorâneas. Parece que
a cidade de São Paulo foi totalmente devastada, não há mais
pessoas naquele lugar.
- Verdade.
- Eu vim para Peruíbe, a fim de montar uma equipe de
exterminadores de vampiros. Perdi minha mãe e uma amiga
por causa desses malditos infames.
- Nem me fala... Perdi minha mãe por causa deles
também.
- Sabe onde posso encontrar pessoas com o desejo de
atacá-los? Agora que estão a caminho do litoral, precisamos
nos unir, a fim de impedi-los.
- Gostaria de fazer parte desse grupo.
- Poderia me ajudar a formar uma equipe? Afinal, você
conhece muitas pessoas na cidade.
- Sim. Se quiser podemos sair agora.
Adam e Júlio saíram da padaria. O sr. Artêmis sorriu
satisfeito ao ver o filho em companhia de Adam. Talvez agora,
ele estivesse realmente desejando mudar sua vida, sorriu
satisfeito.
Júlio soube que houvera ataques na noite anterior.
Procurou por alguns amigos, mas a maioria não atendia a porta
ou mandava dizer que não estava.
- Eu sei que eles estão em casa. Mas não os culpo por
não me receberem, talvez pensem que vim pedir dinheiro. Já
fiz isso outras vezes.
- Pelo jeito nossa missão não será fácil – disse batendo
Fim dos Tempos
[ 86 ]
nos ombros de Júlio. – Mas não podemos desistir. Os vampiros
já começaram sua onda de ataques pela cidade. Quanto mais
cedo montarmos a equipe de exterminadores, maiores as
chances de evitar o caos que aconteceu em São Paulo.
Um rapaz se aproximou deles, parecendo constrangido.
- Desculpe, mas não pude deixar de ouvir o que diziam
– disse timidamente. – Meu nome é Rogério – disse
estendendo a mão. - Vocês estavam dizendo que pretendem
montar uma equipe para combater os vampiros?
- Sim. Estamos à procura de pessoas para acabar com
os vampiros. Infelizmente, não há lugar para as duas espécies.
Eles deixaram isso bem claro ao atacar e devastar a cidade de
São Paulo. Precisamos evitar que também acabem com a
cidade de Peruíbe. Vim de São Paulo, perdi minha mãe e uma
amiga maravilhosa – disse Adam emocionado. – Vim para cá
para montar uma equipe de exterminadores. Não posso vê-los
acabando com mundo, sem fazer nada.
- Gostaria de me juntar a vocês nessa missão. O pai de
meu amigo foi uma das pessoas atacados por esse bando
miserável, ontem à noite. Tenho certeza, que podemos juntar
um grupo de pessoas em pouco tempo.
- Então, o que estamos esperando para falar com seu
amigo? – disse Adam animadamente.
Adam estava animado. Rogério conhecia muitas
pessoas. Ele parecia ser um excelente rapaz. Conseguiram um
grande número de pessoas rapidamente para se juntar aquela
causa. Mas as pessoas pareciam desconfiadas da mudança
repentina de Júlio.
A reunião começaria amanhã. Adam teria que pesquisar
Fim dos Tempos
[ 87 ]
durante a noite como agiriam, mesmo porque, não fazia a
menor ideia de como destruí-los. Precisava tomar muito
cuidado, pois não sabia o que fazia mal a ele, já que fazia parte
das duas espécies.
Júlio e Adam caminhavam animadamente em direção à
padaria. Todo o comércio fecharia às dezoito horas. Pois todos
estavam apavorados com a onda de ataques da noite anterior.
- Eu estou feliz por tê-lo conhecido, Adam – disse
caminhando. – Você percebeu que ninguém presta atenção no
que digo? – disse desanimado. – Pelo jeito não tenho que
provar só ao meu pai minha mudança. A missão que tenho é
muito maior, terei que provar a cidade inteira.
- Júlio, não tem que provar nada a ninguém – disse
fitando-o seriamente. – Precisa provar somente a você mesmo,
que realmente mudou.
Júlio sorriu, balançou a cabeça concordando.
- Gostaria que as pessoas pensassem como você. No
fundo, elas esperam que eu prove alguma coisa.
Ao chegarem, a padaria estava lotada de clientes. Todos
haviam deixado para comprar as coisas na última hora. Adam
correu para ajudar no Balcão. Júlio olhou para o pai e
perguntou timidamente se poderia ajudar.
- Júlio, eu prefiro que fique longe da padaria. Já me deu
prejuízos demais! - gritou nervoso.
Júlio deixou a padaria ressentido. Os funcionários
ficaram comovidos, com a tristeza com que o rapaz deixou a
padaria. Mas ninguém falou absolutamente nada. Perceberam
também que o Sr. Artêmis, parecia muito triste depois do
ocorrido.
Fim dos Tempos
[ 88 ]
Todos haviam saído. Adam estava fechando as portas do
estabelecimento, quando o Sr. Artêmis, apareceu ao seu lado.
- Adam, preciso dizer que Júlio não é um homem de
confiança. Não empreste dinheiro a ele.
- Eu sei que ele já errou muito. Ele próprio me
confessou. Mas desde a morte de sua esposa, disse que tem se
esforçado muito para mudar – informou Adam. – Parece
sincero.
- Ele sempre diz isso, quando apronta – piscou.
- Eu não sei como foi das outras vezes, mas prefiro
acreditar nele. Sinto que tem o desejo de mudar. Passamos a
tarde juntos, me pareceu honesto.
- Não acredito mais em suas histórias.
- Sei que não deve ser fácil acreditar no que ele diz,
mesmo porque, já aprontou diversas vezes. Mas acredito que
será mais fácil para ele mudar, se encontrar um pouco de
apoio. Se virarmos as costas para ele, será ainda mais difícil
que ocorra alguma mudança.
- Você diz isso, porque não sabe das coisas que já fez –
acrescentou balançando a cabeça.
- Em todo caso, prefiro acreditar que está falando a
verdade. Estamos montando um grupo para atacar os
vampiros. Ele irá participar desse grupo.
- Está falando sério? – indagou incrédulo.
- Sim. Ele parece determinado em vingar-se da morte da
mãe.
- Gostaria de poder acreditar nele, tanto como você –
disse o velho partindo tristemente.
Adam pegou seu notebook e fez uma pesquisa
Fim dos Tempos
[ 89 ]
minuciosa sobre vampiros. Precisava saber como atacá-los,
quais seus poderes e fraquezas.
Decidiu que ensinaria artes marciais e como manejar um
facão com agilidade. Infelizmente o sol não poderia ajudá-los,
pois os ataques de vampiros costumavam ser no período da
noite. Atacá-los a noite era perigoso demais, visto que eram
muito mais ágeis e fortes que os humanos, mas não havia
outra opção.
Soube que um cientista brasileiro, tentava reproduzir um
líquido semelhante ao sangue, mas até o presente momento,
não havia conseguido nenhum avanço significativo. Muitos
outros países lutavam para conseguir tal façanha, mas até
agora, ninguém conseguiu produzir nada que pudesse
substituir o sangue.
Enquanto isso, a raça humana ia se extinguindo dia a
dia.
Fim dos Tempos
[ 90 ]
Capítulo 9
A equipe No dia seguinte, a notícia de grandes ataques
vampíricos corria por toda a cidade. Haviam feito um grande
número de vítimas. As pessoas estavam preocupadas e
começavam a pensar em deixar a cidade.
Júlio entrou na padaria procurando por Adam. Parecia
não ter dormido durante a noite, pois tinha enormes olheiras ao
redor dos olhos.
- Adam, houve muitos ataques de vampiros durante
essa noite. Precisamos tentar descobrir o esconderijo desses
malditos. Eles saquearam alguns comércios. Você não faz ideia,
dos prejuízos que os comerciantes tiveram. Por sorte, não
invadiram a padoca do meu pai.
- Infelizmente não poderei sair agora, pois tenho que
cumprir meu horário de trabalho. Só poderemos nos reunir
quando for almoçar. Podemos nos reunir no meu quarto ou em
qualquer outro lugar.
O Sr. Artêmis olhava para Júlio o tempo todo. Ouviu a
conversa e se aproximou de Adam.
- Adam, vá se juntar ao grupo. Reúna todos os
exterminadores e comecem a montar uma estratégia. Ficarei
em seu lugar. Esse serviço é mais importante do que qualquer
outra coisa – disse Artêmis pegando o papel das mãos de
Adam. – Eu posso fazer isso. Vá antes que mude de ideia –
disse sorrindo.
Saíram da padaria e seguiram para reunir o grupo. Em
Fim dos Tempos
[ 91 ]
poucos minutos, estavam todos na Igreja. O padre havia
permitido que usassem a paróquia para se organizarem.
A notícia sobre um grande número de exterminadores,
havia se espalhado rapidamente por toda a cidade. Havia
muitas pessoas curiosas, a fim de saber quem estava à frente
daquele grupo.
Adam, Júlio e Rogério estavam no púlpito da Igreja.
Havia mais ou menos trinta pessoas, aguardando o início da
reunião.
Todos pareciam admirados, com a presença de Júlio a
frente daquele grupo. Algumas senhoras se juntaram e
trouxeram alguns petiscos e sucos para contribuir de algum
modo, com o corajoso grupo de jovens.
- Quero que saibam que essa luta não será fácil –
constatou Adam. - Correremos risco de vida. Mas para mim, é
melhor morrer lutando, do que ficar sentado esperando a morte
chegar. Não haverá individualismo nessa batalha. Tudo o que
for feito, será de acordo com a aprovação da maioria. Assim
não existirão culpados ou heróis individuais. Precisamos salvar
essa cidade. Precisamos impedir que dominem Peruíbe, como
fizeram com a cidade de São Paulo.
- Precisamos começar o mais rápido possível –
acrescentou Júlio. – Não podemos esperar que continuem
matando as famílias de nossa cidade.
- Então, quem está dentro dessa loucura? – indagou
Rogerio.
Todos sem exceção levantaram as mãos. Júlio parecia
empolgado por fazer parte da equipe. Pela primeira vez em sua
vida, notou que algumas pessoas pareciam admirar sua atitude.
Fim dos Tempos
[ 92 ]
Júlio também havia feito pesquisas, sobre os pontos fracos dos
vampiros. Havia conseguido alguns revólveres e balas de prata,
com uma fábrica de armamentos bélicos.
Rogério providenciou alguns facões e machados. Mas
ainda não era suficiente para todos. Precisariam de mais
armamentos. Adam propôs que fossem a cidade e tentassem
arrecadar dinheiro ou armamentos com os comerciantes locais.
A maioria aceitou a ideia e partiram para a difícil
empreitada de conseguir algum dinheiro. Para a surpresa da
maioria do grupo, todos já sabiam o que pretendiam fazer, não
foi difícil arrecadar dinheiro e armamentos para aquela missão.
Decidiram que começariam aquela noite. Dividir-se-iam
em quatro grupos. Depois foi proposta uma votação, para a
escolha dos líderes de cada grupo.
Ao fazerem a contagem dos votos, Júlio não conseguiu
segurar a emoção, por ter sido um dos escolhidos.
- Obrigado por acreditarem em mim – disse limpando as
lágrimas com a palma da mão. - Prometo não decepcioná-los.
A partir daquele momento, as pessoas que ainda tinham
algum tipo de desconfiança em relação à mudança de Júlio,
decidiram apoiá-lo. Adam notou com satisfação, que ele estava
conseguindo recuperar a confiança das pessoas.
O primeiro grupo era liderado por Adam, o segundo por
Júlio, o terceiro por Rogério e o quarto integrante dos líderes
era uma mulher, Maebi. Era admirada e quase idolatrada por
todos naquela cidade.
Era uma mulher muito bonita. Era do tipo mignon, olhos
e cabelos castanhos e feições muito delicadas. As pessoas da
cidade confiavam nela, pois havia entregado o próprio pai,
Fim dos Tempos
[ 93 ]
quando esse matou o irmão recém-nascido.
As pessoas sabiam que o pai de Maebi, era um homem
muito rude e violento. Todos tinham medo do Sr. Inácio. A
maioria sabia o que ele havia feito. Mas ninguém tivera a
coragem de entregá-lo a polícia.
Maebi estava cansada de ver a crueldade de seu pai. Ele
costumava espancar a esposa e os filhos com frequência. Era
um homem grosseiro e impiedoso. Certo dia, decidira que
aquele bebê não era seu filho. Bateu em sua esposa, quase
matando-a. Até que um dia, chegou muito bêbado e jogou a
criança contra a parede com violência. Disse que não
aguentava aquela criança bastarda berrando em seu ouvido. O
bebê foi internado no hospital. Ficou meses na U.T.I. (Unidade
de Terapia Intensiva). Havia fraturas por todo o corpo, inclusive
no crâneo.
A mãe havia alegado que a criança havia caído da cama.
Uma vizinha que presenciara o ocorrido comentou com algumas
pessoas. Em pouco tempo a cidade inteira sabia o que havia
acontecido, mas ninguém fez absolutamente nada.
A cidade ficou comovida quando o bebê entrou em
óbito. Ninguém tinha coragem de denunciá-lo, tinham medo de
sua fúria, caso não fosse preso. Até mesmo os policiais, sabiam
do que havia acontecido, mas fingiam que não sabiam de nada.
Maebi decidiu que faria o exame de DNA, mesmo com a
criança estando morta. Precisava passar na cara dele, que
havia matado o próprio filho. Quando o exame saiu. Voltou
correndo para casa e contou a sua mãe o que pretendia fazer.
- Filha seu pai é muito perigoso. Não faça isso, pelo
amor de Deus – suplicou a mãe.
Fim dos Tempos
[ 94 ]
Ele chegou naquele exato momento. Seus olhos
pareciam soltar faíscas.
- O que deseja me dizer, Maebi? – indagou com raiva.
- Que você é um assassino maldito, pois matou seu
próprio filho – disse entre os dentes.
- Como sabe que o filho era meu? – indagou com
sarcasmo.
- Olhe com seus próprios olhos – disse entregando o
exame de DNA da criança.
Ele pegou o papel e passou os olhos rapidamente,
demonstrando desinteresse.
- Não gostava daquela criança. Mesmo que fosse meu
filho, não vou morrer de trabalhar para sustentar mais um inútil
dentro dessa casa.
Ela não podia acreditar no que havia acabado de ouvir.
Saiu de sua casa e foi direto a delegacia. Denunciou o pai por
assassinato.
Ele foi preso. Alguns meses depois, a cidade inteira
comentava que ele havia se arrependido. Maebi foi fazer-lhe
uma visita na cadeia.
- O que faz aqui? – disse com grosseria.
- Vim vê-lo apodrecer atrás dessas grades – disse Maebi.
- Eu me arrependo do que fiz.
- Você se arrepende de ter matado seu filho? – indagou
incrédula. – Ou apenas se arrependeu do que fez, porque está
preso?
- Das duas coisas.
- Deve estar satisfeito. Nunca deu valor a sua família.
Sempre odiou cada um de seus filhos. Consegue se lembrar de
Fim dos Tempos
[ 95 ]
pegar um filho no colo? De dizer palavras que não fossem
ofensivas? De abraçar algum de nós? – Aguardou por uns
instantes para ver se dizia alguma coisa.
- Não.
- Então, agora que está longe de nós, deveria estar feliz.
Agora não tem mais família. É um homem só. Destruiu o amor
que todos tínhamos por você, quando matou meu irmão.
Agora, a vida lhe reservou a solidão, pois bichos como você
nasceu para viver só.
Saiu da delegacia com a cabeça erguida. Já não sentia
ódio de seu pai, apenas sentia pena daquele pobre homem.
Nunca mais ninguém o visitou. Ele morreu sete meses
depois, com uma depressão avassaladora. Os policiais
costumavam dizer, que ele chorava todas as noites.
Maebi era uma guerreira. A vida lhe ensinara a enfrentar
as diversidades muito cedo. Vivendo sob a tirania de seu pai,
aprendeu a viver sem medo. Costumava dizer que era filha do
Sr. Inácio e ter um pai como aquele, era preciso viver
enfrentando o medo constantemente. Então, o que para os
outros era uma situação difícil, para ela era uma situação
corriqueira.
Foram comprar mais armamentos. Depois decidiram
dividir, tudo o que haviam conseguido entre os quatro grupos.
Marcaram a zona em que cada grupo atuaria. Se reuniriam
novamente às seis horas da tarde em frente a catedral.
Precisariam se alimentar para iniciar a caça aos vampiros.
Adam e Júlio seguiram para a padaria. Os funcionários
pareciam orgulhosos ao verem Júlio entrar. Seu pai estava com
os olhos vermelhos de tanto chorar. As pessoas da cidade
Fim dos Tempos
[ 96 ]
vieram cumprimentá-lo, pela atitude de coragem de Júlio.
Júlio esperou que o pai viesse lhe dizer alguma coisa,
mas apenas o olhou de forma desconfiada. E depois pediu que
servissem o jantar para Adam e Júlio. Quando haviam
terminado de jantar, o Sr. Artêmis, pediu a Adam que o
seguisse até sua sala.
Ao chegarem na sala, pediu que sentasse.
- Adam, desejo sorte a todos vocês. Estou feliz por Júlio
tê-lo como amigo, talvez assim ele consiga se libertar de seus
erros e vícios – disse sentando-se na cadeira. – Gostaria que
soubesse que estou orgulhoso de Júlio, mas não quero que ele
perceba, talvez assim consiga ter raiva suficiente para me
provar, que estou errado por não acreditar em sua mudança, e
talvez assim, consiga mudar de verdade.
- Fique tranquilo que jamais revelarei o que o senhor
acabou de confessar.
- Obrigado. Vá, pois terão uma longa noite pela frente.
Adam voltou a mesa e notou que Júlio parecia chateado.
- Meu pai estava dizendo a você que não sou boa
companhia. Não é?
- Claro que não. Apenas desejou boa sorte ao grupo.
Depois recomendou que tivéssemos muito cuidado.
Ele balançou a cabeça e sorriu.
- O velho é barra! – disse chateado. – Nunca irá me
perdoar. Ele acha que sou culpado pela morte de minha mãe –
disse levantando-se da cadeira. – Acho que ele tem razão. Se
não houvesse saído aquela noite, ela estaria conosco nesse
momento.
- Não pode viver se lamentando. Minha mãe dizia, que
Fim dos Tempos
[ 97 ]
as pessoas perdem tempo demais se lamentando. Precisamos
fazer coisas, que nos faça feliz, lamentar não trás felicidade a
ninguém.
Ele sorriu escancaradamente.
- Sua mãe está certa, cara! – disse seguindo em direção
ao balcão. – José me serve um guaraná bem gelado.
Adam aguardou que Júlio terminasse seu refrigerante.
Seguiram em direção a catedral. Já havia um grande número
de pessoas aguardando.
Fizeram um sorteio para ver quem ficaria na zona mais
perigosa. Júlio foi o sorteado.
Os grupos seguiram para a área demarcada pelo sorteio.
Júlio estava ansioso para começar aquela aventura. Entraram
num carro e começaram a rodar por toda a cidade. Andaram
todos os luagres e nem sinal dos vampiros. Decidiu parar um
pouco e desceram do carro para esticar as pernas..
O Celular de Júlio tocou. Ele atendeu prontamente.
- Alô! Quem está falando? – indagou curioso.
- É o Edgar que trabalha na padaria do seu pai. Estão
tentando entrar na padaria, Júlio. Estão fazendo uma barulheira
danada na porta – Ouve um minuto de silêncio. - Estão
tentando arrombar a padaria. Eles estão quase conseguindo
abrir a porta de ferro – gritou desesperado.
- Fique escondido. Chegaremos em poucos minutos –
disse desligando o celular.
Olhou para seu grupo e sorriu.
- Vamos, estão tentando entrar na padaria de meu pai.
Um funcionário que dorme por lá, acabou deligar. Estão
tentando saqueá-la.
Fim dos Tempos
[ 98 ]
Todos pareciam petrificados com a notícia. Júlio sorriu
diante de tal reação. Tentou chamá-los de volta ao planeta
terra, mas pareciam estátuas tomadas pelo terror. Apenas
sorriu e seguiu sozinho até o carro. Quando estava para dar a
partida, notou que um rapaz batia no vidro.
- Júlio, abra a porta – ordenou Lucas. – Fiquei um pouco
assustado com a notícia, mas não posso deixá-lo partir sozinho.
Júlio sorriu abrindo a porta. Saiu cantando os pneus. Ao
chegar em frente à padaria, ficou apreensivo ao notar que já
haviam arrombado a porta. Pedia a Deus que não tivessem
encontrado o Edgar.
Saiu do carro correndo. Pegou o revólver e conferiu para
ver se estava carregado. Entrou na padaria e não viu nenhum
deles. Correu em direção aos quartos, que havia no fundo
daquele estabelecimento.
Não havia nenhum deles por lá. Abriu a porta de Edgar,
mas a luz estava apagada.
- Edgar? gritou.
- Estou aqui, Júlio – disse com voz rouca, uma voz muito
diferente da voz de Edgar.
Não era seu amigo, estava certo disso, pois de Edgar
era seu amigo desde a infância. Olhou devagar para cima. Lá
estava um homem grudado ao teto, parecendo um lagarto.
Seus olhos eram vermelhos, pareciam soltar faíscas.
A besta pulou ferozmente sobre ele. Não pensou duas
vezes, atirou três vezes mirando no coração do vampiro. A fera
caiu morta no chão. Nesse momento, ouviu um barulho atrás
dele. Virou-se e atirou prontamente. Por sorte, errou o alvo,
senão teria matado Lucas.
Fim dos Tempos
[ 99 ]
- Júlio, está louco? - indagou colocando a mão no
coração.
- Precisa tomar cuidado, Lucas! – exclamou colocando
munição na arma. Fez sinal de silêncio para Lucas – Abriu
bruscamente a porta do quarto de Adam.
- Nós estávamos esperando por você – disse dois
vampiros, segurando Edgar pelo pescoço. – Hoje você não
escapará, filho do poderoso Vlad IV.
- Desculpe, deve estar me confundindo – disse atirando
na cabeça do vampiro. A bala de prata começou a corroer
aquele corpo, como se fosse algum tipo de solda. O outro
correu e pegou Edgar pelos cabelos. Mas Júlio mirou em sua
testa e apertou o gatilho. Acertou a fera. Espirrou sangue preto
por todos os lados daquele quarto. A prata corroeu a cabeça
daquele ser maldito. Sua cabeça derretia como se fosse um
sorvete. O cheiro era insuportável. Prendeu o nariz com os
dedos, a fim de amenizar o cheiro podre, que exalava daquele
corpo. No final, havia somente as roupas usadas por aquele ser
sombrio.
- Do que ele estava falando? Indagou Júlio confuso. –
Quem é esse tal de Vlad IV? Quem é o filho do tal poderoso
Vlad?
- Sei lá, deve ser doido! – disse Edgar visivelmente
abalado. – A única coisa que sei nesse momento, é que não
ficarei mais nesse lugar nem por um minuto.
Júlio tentou acalmá-lo sem sucesso. Já havia decidido
pedir demissão pela manhã.
Saiu do quarto de Adam em companhia de Edgar. Lucas
parecia ter virado estátua. Não conseguia se mexer. Havia
Fim dos Tempos
[ 100 ]
pavor em seus olhos.
- Lucas – disse sorrindo. – Está vivo ou decidiu fazer
companhia aos vampiros? – brincou.
Ele parecia tão assustado, que não conseguiu responder
sua pergunta. Parecia uma estátua. Júlio foi até a cozinha da
padaria, pegou um copo com água, colocou um pouco de
açúcar e entregou para Lucas.
- Beba – ordenou. – É água com açúcar, dizem que
ajuda a acalmar.
- Você é muito maluco, Júlio. Não ficou com medo?
- Fiquei morrendo de medo – mentiu. – Mas se ficasse
parado, ele nos mataria.
- Me perdoe, acho que não consigo matar ninguém, nem
mesmo os vampiros – disse envergonhado.
- Não precisa se desculpar. Dá próxima vez será mais
fácil – disse saindo em direção à porta.
Ouviram gritos que vinha do final da rua. Era a casa de
um viúvo. Havia uma grande quantidade de vampiros em frente
a casa do pobre homem. Notou que havia mais ou menos, sete
ou oito deles.
- Malditos! - Falou entre os dentes. – Vamos, Lucas.
Agora não dá pra ficar paralisado. Se isso acontecer,
morreremos.
- Fica tranquilo, Júlio. – garantiu Lucas. – Agora as
coisas ficarão boas. Se você conseguiu matar dois deles, juntos
poderemos acabar com muito mais – disse correndo em direção
ao final da rua.
Júlio sorriu e acompanhou Lucas em sua corrida
destemida.
Fim dos Tempos
[ 101 ]
- Uhuuu! Vamos matar esses malditos – disse atirando
na direção dos vampiros. – Se preparem para morrer, seus
malditos.
Lucas acertou um deles com sua arma. Viu que o
maldito caiu no chão. Júlio pegou seu machado e acertou na
cabeça de um deles. O outro pulou sobre o muro com
velocidade assustadora.
- Se não soubesse que é um vampiro, pensaria que
estava possuído pelo capeta, maldito – disse Júlio, olhando
para o vampiro que estava andando sobre o muro. Adam o
acertou derrubando-o do muro.
Nesse momento Lucas virou em sua direção e mirou o
revólver.
- O que está fazendo, Lucas? – disse Adam , assustado.
Ele apenas apertou o gatilho e a bala passou de raspão
sobre sua cabeça, acertando o vampiro que estava atrás dele.
Adam olhou aliviado ao notar que a fera, caiu inerte no
chão. Era maravilhosa a sensação de vê-los sofrer. Eles
derretiam como vela, quando a bendita prata entrava em
contato com seu corpo.
- Cuidado, Lucas – gritou Edgar atirando no vampiro que
se jogara sobre Lucas.
Adam decepou a cabeça do último deles, com seu
precioso machado.
Quando todos os vampiros foram aniquilados, o viúvo e
suas filhas pareciam aliviados. Batiam palmas, freneticamente.
Uma cena muito engraçada de ser vista.
- Você é muito doido, Júlio – disse uma delas. – Parece
que não tem medo da morte!
Fim dos Tempos
[ 102 ]
- Aliás, todos vocês parecem malucos – disse o pai das
meninas. – Estão de parabéns. Muito obrigado, por salvar
minha família.
Júlio saiu caminhando lentamente. Parecia andar sobre
nuvens. Havia sido elogiado por pessoas que a vida inteira,
havia falado coisas ruins a seu respeito.
Ouviu o celular tocar. Olhou no visor. Era Adam.
Atendeu.
- Corre com seu grupo para cá, Júlio. Meu grupo correu
ao ver o primeiro grupo de vampiros. Estou completamente só.
Tem um grupo grande de vampiros, atacando casas de Itariri.
Preciso de ajuda, pois são mais de vinte vampiros.
- Estaremos aí em quinze minutos. Ligue para Rogério e
Maebi também.
- Já fiz isso, mas só consegui falar com você e Maebi.
Infelizmente, Rogério não atende o telefone.
Júlio desligou o telefone e seguiu em direção a Itariri.
Levou consigo somente Lucas. Edgar decidiu que não iria mais
fazer parte daquela loucura. Confessou que não era tão louco,
pois tinha medo da morte. Então agradeceram por sua ajuda e
partiram.
Ao chegarem, avistaram Adam e Maebi aguardando sua
chegada.
- Demorou muito, Júlio! – disse Adam nervoso – Onde
está o seu grupo?
- Grupo – disse sorrindo. – Que grupo? – Sobrou apenas
Lucas. Vamos parar de conversar e entrar logo naquela casa,
antes que devorem todos por lá – disse correndo pela rua.
Adam, Maebi e Lucas se olharam e sorriram. Saíram e
Fim dos Tempos
[ 103 ]
correram atrás de Lucas.
Ao chegarem ao portão, se abraçaram. Então, entraram
bruscamente na casa. Tudo estava revirado naquele lugar.
Haviam jogado os móveis, eletrodomésticos, rasgado
almofadas... O caos estava por todos os lados. Era um clã
destrutivo. Parecia um bando de loucos. O silêncio era irritante.
Não conseguiam saber, em que parte da casa eles se
encontravam.
Adam ficou assustado, quando Maebi levantou a arma
em sua direção. Ela mirou e atirou rapidamente. Apenas sentiu
que garras enormes bateram em suas costas. Virou-se e
observou que um vampiro muito velho estava atrás dele. Por
pouco não arrancou sua cabeça com aquelas enormes garras
afiadas. Maebi atirava sem parar, havia muito deles grudados
no teto.
Aquele barulho alertou os demais. Rapidamente a sala
estava tomada por aqueles seres sombrios e furiosos.
- Estão procurando por nós? – indagou um deles. –
Estamos aqui, por que não vem nos pegar.
Maebi disparou sua arma em cima deles, mas eram
rápidos demais e não estavam conseguindo acertá-los. Isso
parecia diverti-los. Nesse momento, Lucas puxou seu machado,
correu em direção deles. Conseguiu decepar a cabeça de um
deles e não parou mais de decepar cabeças.
Não havendo tempo para carregar a munição dos
revólveres, Adam e Maebi pegaram seus machados e facões
cortando cabeças e membros de vários deles. Sobrara apenas
dois, que fugiram com extrema rapidez, em direção ao andar
superior da casa.
Fim dos Tempos
[ 104 ]
Subiram para exterminar com os dois vampiros que
haviam escapado. Abriram diversas portas e não encontrou
ninguém. Na última porta daquele corredor, ao abrirem,
ouviram um grito aterrorizado. Notaram que a voz vinha
debaixo da cama. Adam abaixou-se e viu que toda a família se
escondia ali.
A família parecia aliviada ao vê-los. Saíram do
esconderijo e desceram até a sala. Ficaram surpresos com a
grande quantidade daqueles malditos seres estirados no chão.
O cheiro daquela casa virava o estômago. Decidiram sair dali.
Ao saírem, o homem apontou para cima do telhado de
sua casa. Lá estavam os dois vampiros fugitivos. Eles andavam
sem dificuldade em cima do telhado.
Maebi pegou sua arma e atirou contra eles. Mas com
rapidez desceram as paredes como se fossem aranhas. Em
poucos minutos, estavam embaixo. Lucas pegou seu machado
e acertou a cabeça de um deles.
Júlio arrancou a cabeça do último vampiro.
O pai da família, caiu de joelhos e agradeceu ao grupo.
- Não sei como agradecer por salvar minha família.
Digam-me, como posso ajudá-los?
- Apenas reze por nós! – disse Maebi, sorrindo. - Peça a
Deus que nos dê sabedoria e forças para continuar essa
batalha.
- Mas pelo que ficamos sabendo, havia mais pessoas
fazendo parte desse grupo. Não me digam que os vampiros
mataram todos eles? – indagou uma garotinha.
- Felizmente, não estão mortos. Mas ficaram muito
assustados e deixaram o grupo – disse Lucas com o rosto
Fim dos Tempos
[ 105 ]
coberto de sangue. – Onde posso lavar meu rosto?
- Venha, vou levá-lo ao banheiro para que lave seu rosto
– disse uma das filhas do homem. - Mais alguém gostaria de
limpar-se? – disse uma senhora, olhando para o grupo que
estava com rosto, mãos e roupas imundas. Havia sangue por
todos os lados. Era um sangue preto, fétido e de espessura
muito grossa.
- Agradecemos, mas precisamos voltar para nossa casa
– disse Adam, olhando para o céu que começava a aparecer os
primeiros raios solares.
Eles entraram nos automóveis e partiram em direção ao
centro. Lucas convidara-os para tomar café. Ele era muito rico.
Herdaria um verdadeiro império de restaurantes no litoral.
- Eu pagarei pelo café – disse Lucas sorrindo, pois sabia
que alguns deles, não tinham onde cair morto. - Vamos para a
padoca do Sr. Artêmis. Sei que o pão daquele lugar é o melhor
da cidade. Além do mais, impedimos que fizessem um
verdadeiro arrastão por lá. Então, deve estar tudo em ordem e
poderemos nos deliciar com aquele pão maravilhoso.
Ao chegarem à cidade, as pessoas já os aguardavam.
Haviam preparado uma verdadeira festa. Foram recebidos
como heróis. Estavam sendo chamados de “Quarteto
fantástico”.
O pai de Júlio estava visivelmente orgulhoso do filho. O
pessoal do final da rua, havia narrado como Júlio partiu para
cima dos vampiros. Os desistentes confessaram que não teriam
condições de acompanhá-los.
- Eles são muito loucos. Não tem medo de morrer, ainda
não alcançamos esse estágio. Acovardamo-nos diante da morte
Fim dos Tempos
[ 106 ]
– disse Edgar, sorrindo.
- Mas você lutou ferozmente junto a eles – disse
Adriana. – Por que não se junta a eles?
- É mesmo, porque não se junta a nós? – indagou Júlio,
ao chegar.
- Como disse os desertores, não sou tão louco como
vocês. Ainda pretendo viver por longos e longos anos – disse
sorrindo.
Daquele dia em diante, ficaram conhecidos como o
Quarteto Fantástico. Todas as noites Adam, Júlio, Lucas e
Maebi saíam para atacar os vampiros. Mas aquelas pestes
pareciam pragas, quanto mais matavam, mais apareciam.
Adam decidiu comprar um lançador de chamas, isso facilitou
muito o trabalho de todos eles.
A prefeitura e os moradores da cidade resolveram
contribuir com um bom salário. Assim, poderiam dedicar-se
somente em exterminar vampiros.
A cidade de Peruíbe ganhou notoriedade no mundo.
Todos conheciam o famoso “Quarteto Fantástico”. Todos os
jornais do Brasil, falava do famoso e destemido grupo de
exterminadores de Peruíbe. Mas ninguém tinha coragem de
juntar-se a eles.
Grande parte das pessoas achava que eram verdadeiros
suicidas. O povo já não tinha coragem de lutar por seus ideais,
pois haviam perdido a esperança e a fé.
Fim dos Tempos
[ 107 ]
Capítulo 10
Valores Eles estavam cansados. Aquela noite fora a mais difícil.
Os vampiros estavam com ódio do famoso quarteto fantástico.
Estavam cada vez mais furiosos e sanguinários. A luta contra
eles havia sido muito cansativa. Mas nenhum deles temia
aqueles malditos seres.
Todos os dias, havia notícia daqueles jovens corajosos e
destemidos, que gostavam de brincar com a morte
diariamente. Isso acabou por torná-los conhecidos entre vários
clãs de vampiros. Quando abriam os jornais e avistavam a
fotografia deles, rosnavam com ódio, pois estavam
atrapalhando os planos de Mihnea.
Adam estava estranho naquela manhã. Chegou
determinado a procurar por esconderijos de vampiros. Todos
estavam esgotados. Queriam apenas tomar banho e dormir. A
ladainha de Adam acabou deixando os demais componentes do
grupo irritados.
- Cara, você está louco? – disse Lucas com raiva. – Se
não formos descansar, não conseguiremos ficar de pé à noite.
- Se não forem comigo, irei sozinho.
- Pare com essa frescura, Adam – disse Maebi irritada e
com sono. – Sabe que ninguém tem condições, de travar
batalha nenhuma nessas condições. A não ser que deseja
morrer. Para tudo tem limite. O meu chegou aqui. Não vou
procurar nada agora. Só quero dormir. Amanhã se as coisas
forem mais tranquilas à noite, até podemos procurar por
Fim dos Tempos
[ 108 ]
esconderijos durante o dia.
Júlio estava tão cansado que não quis discutir.
Permaneceu em silêncio. Estava travando uma terrível batalha
contra o sono naquele momento. Seus olhos insistiam em
fechar-se a todo instante.
Adam notou o cansaço do amigo e percebeu que estava
sendo arrogante. Precisava pensar no bem estar de seus
amigos. Abaixou a cabeça, envergonhado.
- Me desculpem. Disse olhando para Júlio. Vejo que não
consegue manter os olhos aberto – disse olhando para Júlio.
- Pois é meu amigo. Se não for embora nesse exato
momento, dormirei aqui mesmo – disse com um sorriso
cansado no rosto.
- Peço desculpa. Não tenho o direito de colocar a vida
de ninguém em perigo.
Eles se entreolharam e abraçaram-se. Depois cada um
foi para sua casa. Adam seguiu para o quarto que o Sr. Artêmis
havia cedido gentilmente, pois já não trabalhava mais na
padaria.
Todos os dias seu lençol era trocado e tudo estava
milimétricamente limpo. Era uma maneira de o velho
agradecer, por ter salvado seu filho das drogas.
Júlio era outra pessoa, nunca mais havia usado
entorpecentes, não fazia uso de bebidas alcoólicas e ajudava o
pai quando acordava. Sempre dava um jeito de ajudar o velho
na padaria. Dizia que precisava fazer alguma coisa por seu pai,
pois o velho era tudo o que ele tinha.
Aos poucos, o Sr. Artêmis foi confiando na mudança do
filho. Ficava para morrer de alegria, quando seus clientes
Fim dos Tempos
[ 109 ]
elogiavam Júlio.
A relação entre os dois havia melhorado
consideravelmente. Mas nunca tocaram no assunto da morte
da mãe do rapaz. Isso o deixava muito triste, pois tinha
certeza que seu pai, ainda o culpava pela morte da mãe.
Maebi se tornou a melhor amiga de Júlio. Ambos eram
inseparáveis. Passavam a maior parte do tempo juntos.
Combinavam em todas as coisas. Havia uma cumplicidade
natural entre os dois. Todos achavam que formavam um lindo
casal.
Já Lucas e Adam viviam desconectados desse mundo.
Pensavam o tempo inteiro em vampiros, como encontrariam
seus esconderijos, planejavam novas armas para atacá-los,
enfim, viviam para proteger as pessoas e o planeta. Estavam
tão mergulhados nessa histeria, que acabaram esquecendo-se
de suas próprias vidas.
Adam estava cada dia mais fechado. Nunca permitiu que
nenhuma garota se aproximasse dele. Sempre respeitou às
moças que se aproximavam, mas fazia questão, de mantê-las a
distância de sua vida pessoal.
Naquela manhã Adam acordou saudosista. Sentia falta
de ouvir a voz de Miriam. Por que não conseguia esquecê-la? –
pensou. Ainda podia sentir seu aroma de flores. Sentiu
vontade de chorar. Recordou-se da mãe e de Eduardo, enfim,
recordou-se das pessoas que fizeram parte de sua vida.
Agora estava completamente sozinho no mundo.
Patrícia, prima de sua mãe, havia mudado para os Estados
Unidos, nunca mais tivera contato com ela. Ela se apaixonou
por Eduardo. Mas ele nunca correspondeu a esse amor. Então,
Fim dos Tempos
[ 110 ]
ela decidiu partir em busca de alguém que a amasse de
verdade.
A amizade entre sua mãe e Patrícia, havia ficado
estremecida por causa de Edu. Patrícia costumava dizer que
minha mãe era egoísta, pois deveria dizer a Eduardo que
jamais se casaria com ele. Minha mãe nunca teve coragem de
dizer isso a ele.
Soube pouco tempo antes de sua mãe falecer, que
Patrícia havia se casado com um milionário do ramo petrolífero.
Essa foi à última notícia que tiveram dela.
Levou um susto, ao notar que Maebi chegara
sorrateiramente na igreja.
- Tenho algo para lhe mostrar – disse entregando-lhe
um jornal. – Olhe o grupo de exterminadores de Salt Lake. A
líder é uma brasileira.
Adam não desejava conversar com ninguém naquele
dia. Queria ficar quieto com seus pensamentos. Queria sentir
saudade das pessoas que havia perdido. Mas sabia que
magoaria Maebi, se não olhasse para aquele jornal.
Passou os olhos rapidamente, através daquele monte de
letras e sorriu. Notou que ela parecia chateada, por não
demonstrar interesse naquela notícia.
Pegou novamente o jornal das mãos de Maebi, somente
para não ser indelicado olhou para as fotografias que estavam
estampadas.
Seus olhos ficaram petrificados ao ver a figura de uma
mulher jovem e muito magra. Ela era parecida com Miriam.
Mas era apenas coincidência, pois o massacre em Jundiaí, não
deixara sobreviventes.
Fim dos Tempos
[ 111 ]
- Você leu toda essa matéria? – indagou Adam.
- Sim.
- Sabe o nome dessa mulher?
- Não. Eles não fazem comentários, sobre o nome das
pessoas que fazem parte do grupo.
- Ela é muito parecida com uma amiga – disse sorrindo.
- Júlio deseja falar com você. Recebemos uma proposta
do tal grupo de exterminadores de Salt Lake. Desejam unir
forças para acabarmos com os vampiros.
Adam ficou sentado intrigado com aquela mulher. Ela se
parecia com Miriam, mas sabia que aquilo era somente uma
coincidência.
- Desculpe, Maebi. Não ouvi o que acabou de dizer.
- Está muito pensativo. Aconteceu alguma coisa, Adam?
Parece preocupado!
- Não estou preocupado, Maebi. Apenas um pouco
nostálgico. Essa mulher me fez lembrar de uma amiga muito
querida, foi somente isso.
- O grupo de exterminadores de Salt Lake entrou em
contato conosco. Deseja marcar uma reunião para unirmos
forças e iniciarmos uma guerra contra os vampiros.
- Eu concordo em iniciarmos a tal guerra, mas
precisaremos de mais pessoas. Não temos gente suficiente,
para iniciarmos absolutamente nada.
- A reunião será em Salt Lake. Eles mandarão o avião.
- Se todos estiverem de acordo, quando partiremos?
- Será amanhã à tarde. Só estou preocupada com uma
viagem tão longa. Acho muito perigoso arriscarmos viajarmos
durante a noite.
Fim dos Tempos
[ 112 ]
- É um risco que precisaremos correr.
Naquela noite, a ronda não foi feita como de costume.
Comunicaram ao prefeito da cidade, sobre o convite que
haviam recebido. Ele ficou preocupado por não ter ninguém
fazendo a ronda na cidade. Isso poderia trazer risco de vida aos
moradores. Então decidiram deixar Lucas, Maebi e Edgar no
comando da cidade. Mas não contavam, com a recusa de Edgar
em participar do grupo.
Edgar foi categórico ao recusar-se a participar da ronda.
Disse que admirava a coragem deles, mas que ainda não
conseguia se livrar do pavor de morrer.
- Prefeito, me sinto lisonjeado ao ser chamado para
participar desse trabalho. Mas nunca serei como eles. Morro de
medo da morte. Eles foram predestinados para fazer o que
fazem.
Adam observava tudo em silêncio.
- Olhe para Adam – disse Edgar apontando para o rapaz.
– Ele nasceu para ser um caçador de vampiros. Eu sou tão
corajoso como vocês – disse apontando para as pessoas que
trabalhavam na prefeitura. - Jamais serei um herói. Não
consigo me tornar nem mesmo herói de minha própria vida.
Adam aproximou-se de Edgar e sorriu. Lembrou-se que
há um ano, também tivera o mesmo pensamento. Achava-se
incapaz de mudar alguma coisa nesse mundo. Nessa época,
procurava encontrar dificuldades, para não fazer o que era
preciso. Somente quando mudou sua forma de pensar,
deixando de lado as dificuldades que encontraria, e pensando
somente em dar o primeiro passo, foi que as coisas se
concretizaram.
Fim dos Tempos
[ 113 ]
Hoje aprendeu que para vencer é preciso “começar”. A
diferença entre as pessoas comuns e as bem sucedidas, é que
as pessoas que têm sucesso na vida, não ficam perdendo
tempo discutindo suas limitações. São pessoas que vão atrás
do sucesso, não ficam paradas esperando que a sorte bata em
sua porta.
- Edgar, era muito parecido com você. Sentia-me
incapaz e impotente diante dos meus problemas – disse Adam.
- Não existe essa história de ser predestinado para fazer algo.
Não pense que sou acariciado pelo destino em realizar as coisas
com sucesso – disse com um sorriso cansado no rosto. – Eu
apenas realizei as coisas que precisava fazer. Como saberá se
terá sucesso ou não, se não fizer?
- Pensando dessa maneira acho que tem razão. Mas é
um preço muito alto que pagarei, se descobrir que não terei
sucesso realizando essa tarefa suicida.
- As pessoas que alcançam sucesso em seus feitos, são
aquelas que não ficam enumerando suas limitações, ao
contrário, enumeram as possibilidades das coisas darem certo.
Edgar tinha os olhos cheios de lágrimas. Aquelas
palavras tocaram seu coração profundamente.
- Você tem razão meu amigo – disse olhando em seus
olhos. – Vá ao encontro desse grupo. Sei que você deseja
salvar esse mundo, mais do que qualquer outra pessoa.
Obrigado, por mostrar-me a importância de acreditar em mim
mesmo.
- Edgar, ninguém foi criado para ser um derrotado. Às
vezes as pessoas nos comparam com outras pessoas e nos
mostram o quanto somos limitados e incapazes... O pior é que
Fim dos Tempos
[ 114 ]
muitas vezes, acreditamos. Não permita que as pessoas
destruam seus valores, comparando-o com outras pessoas, pois
cada um tem seu valor individual. Agora, vá e conquiste suas
vitórias. Lute por algo em que acredita, pois você tem um
grande potencial! Eu acredito em você, pois sei que é capaz de
proteger essa cidade.
Fim dos Tempos
[ 115 ]
Capítulo 11
Salt Lake Não havia sido fácil deixar a cidade de Peruíbe. Sabia
que podia confiar em Edgar, pois era um bom homem. Seus
medos e incertezas ainda estavam arraigados dentro dele, pois
para acabar com a autoestima de uma pessoa, é muito fácil e
rápido. Mas para reconstruí-la é um processo difícil e
demorado.
A gratidão daquelas pessoas, fez com que quase
desistisse daquela ideia. Mas estava partindo por uma causa
maior. Alguém precisava fazer alguma coisa, a fim de
exterminar de uma vez por todas, com os vampiros da terra.
Era metade vampiro e metade humano. Não conseguia
sentir-se mal por desejar acabar com sua espécie. Eles eram
ruins, impiedosos e cruéis.
Adam não conseguia sentir-se culpado, pois jamais
poderia juntar-se a uma causa sangrenta e suicida. Eles
estavam acabando com a raça humana. Não havia sangue para
todos. Os animais estavam praticamente extintos. Onde tudo
isso iria parar? Por que o rei dessa espécie, não conseguia
enxergar o fim eminente de todos? – pensou Adam.
Ao chegar a Salt Lake, Adam e Júlio notaram que aquele
lugar parecia tranquilo. Tudo por ali era diferente, parecia que
estávamos num outro mundo. Tudo era calmo, organizado e
limpo.
Adam observou atentamente as pessoas que estavam
no aeroporto. As pessoas pareciam felizes. Não pareciam
Fim dos Tempos
[ 116 ]
desconfiadas diante de uma pessoa desconhecida. A nuvem
negra que assolava o mundo, ainda não havia chegado naquele
lugar.
Júlio notou que um senhor os aguardava. Ele estava
segurando uma placa na mão com o nome dele e de Adam.
- Olhe, Adam – disse apontando para o senhor com a
placa na mão. Ele está nos aguardando.
Adam aproximou-se do senhor e sorriu com simpatia.
- Sou Adam e esse é Júlio. Somos os exterminadores de
Peruíbe, no Brasil. É muita gentileza, mandarem vir nos buscar
– disse estendendo a mão para cumprimentá-lo. - Qual é o seu
nome, senhor?
- Me chamo Michael. É um grande prazer conhecê-los.
Nosso líder não poderá atendê-los, agora. Mas pediu que os
levassem ao hotel. Ficarei a disposição durante todo o dia. E
amanhã irei ao hotel, buscá-los para a reunião com nossos
líderes.
- É um prazer também conhecê-lo, Sr. Michael – disse
Adam com sinceridade. - Já que a reunião foi adiada, poderia
nos deixar no hotel? Precisamos descansar da viajem, pois foi
muito longa e cansativa. Retorne somente amanhã, para nos
levar até a reunião. Não sairemos do hotel hoje, sendo assim
não haverá necessidade de ficar a nossa disposição. Eu e Júlio
precisamos descansar, pois essa viagem nos deixou exaustos –
disse Adam sorrindo.
O Sr. Michel os deixou no hotel. Ao entrar naquele lugar,
Adam ficou maravilhado com o requinte ostensivo existente ali.
Jamais vira um lugar como aquele. Desde que nasceu, viveu
somente em esconderijos subterrâneos.
Fim dos Tempos
[ 117 ]
O quarto era muito confortável. Os lençóis eram brancos
e limpos. Havia televisão, rádio, computador, e um lindo
banheiro, com uma enorme banheira de hidromassagem.
Decidiram através do par ou ímpar, a fim de saber quem
teria o privilégio de usá-la primeiro. Estavam exaustos! Caíram
num sono profundo, assim que seus corpos se recostaram
naquela cama limpa, macia e cheirosa.
Adam acordou, com uma pessoa batendo
insistentemente na porta de seu quarto. Júlio levantou-se para
abri-la.
Era um homem de um metro e noventa, branco com
cabelos loiros e olhos castanhos. Parecia bastante assustado e
confuso.
- A cidade está sendo atacada por vampiros – disse o
homem visivelmente apavorado. – Soube que fazem parte do
famoso grupo de exterminadores do Brasil – fez uma pausa
para recuperar o fôlego. – Por favor, nos ajude – suplicou o
pobre homem.
- Peça às pessoas que usem a prata, a fim de afastá-los,
pois quando um vampiro entra em contato com esse tipo de
metal, dissolvem como se fosse sorvete.
- Preciso de um lança chama. Serve o que os cozinheiros
usam na cozinha para flambar ou dourar alimentos. Isso nos
ajudará a mantê-los à distância.
O homem desapareceu correndo pelo corredor, a fim de
cumprir suas ordens. Adam foi até a janela. Verificou que havia
um grande pânico nas ruas.
Eles ainda não haviam chegado até aquele local, pois
tudo estava em ordem, tirando as pessoas, que corriam de um
Fim dos Tempos
[ 118 ]
lado para o outro, totalmente desgovernadas.
- Maldição! – gritou Júlio. - Não trouxemos os machados
e o lança chama. Será uma luta cansativa e perigosa.
- Vamos procurar na cozinha e ver o encontramos –
Adam saiu do quarto, seguido por Júlio.
Ao entrarem no elevador deram de cara com o gerente
do hotel. Trazia em suas mãos quatro lança chamas, dois
machados e alguns facões.
- Espere que isso ajude! – disse entregando os
instrumentos. – Em que posso ajudá-los? Nunca tivemos um
ataque desses por aqui, não sabemos o que fazer – disse
colocando as mãos na cabeça, em sinal de desespero. – O pior
é que a nossa líder não se encontra aqui. Acho que prepararam
uma armadilha.
- Não temos tempo para discutir – disse Júlio pegando
as armas. – Apenas use o lança-chamas, para mantê-los
afastados do hotel.
Desceram pelo elevador. Não optaram pelas escadas,
para evitar a fadiga. Seria uma luta difícil. Se todos se
juntassem a eles, as coisas seriam mais fáceis. Mas sabiam que
as pessoas, acabavam fugindo com medo daqueles demônios.
- Então, vamos destruí-los! – disse Adam com o sorriso
de sempre. – Não tenha medo, Sr... – coçou a cabeça tentando
lembrar o nome daquele homem.
- Me chamo Justin – disse o gerente.
- Se tiver medo, eles se alimentarão de seu medo –
disse Adam convicto. – Coragem meu novo amigo. Essa guerra
é nossa!
Saíram correndo em direção à porta que os levaria a
Fim dos Tempos
[ 119 ]
rua. Muitas pessoas se aglomeravam na entrada do Hotel. Não
havia mais tempo, para pedir que saíssem daquele lugar. Todo
o tempo, seria para a grande matança que se daria.
Ao abrirem a porta, notou que estavam por todas as
partes. Por que não haviam entrado no hotel? – pensou Adam.
A porta era cor de prata!
- Essa porta é de prata, Justin? – indagou Adam.
- Sim.
- Vamos voltar para dentro do hotel – disse Adam
observando que se continuassem lá fora morreriam, pois havia
muitos vampiros, para apenas três homens acabar com eles.
Ao entrarem as pessoas gritaram apavoradas.
- Há algum lugar, nesse hotel onde não existem janelas?
- Sim.
Peguem toda a prata que tiverem e tragam-na para o
saguão – ordenou Júlio. – Alguém sabe como entrar em
contato com os exterminadores?
- Infelizmente, os telefones do hotel não estão
funcionando. Tente no meu celular – disse Justin entregando-
lhe o aparelho. Procure pelo nome de Cacau, ele está no lugar
de nossa líder.
Adam pegou o aparelho e logo encontrou o nome.
Cacau já estava a caminho da cidade, pois uma pessoa já o
havia informado do ataque. Disse que estariam no hotel em
menos de quinze minutos. Notou pela voz de Cacau que estava
apavorado diante de todo aquele caos.
- Fique tranquilo, podemos vencê-los. Já acabamos com
um Clã maior do que esse - mentiu Adam.
Adam jamais atacara um número tão grande de
Fim dos Tempos
[ 120 ]
vampiros. Eles viviam em Clãs. Mas esse com certeza, não
pertenciam a um único Clã. Com certeza, havia vários Clãs.
Aprendera que os vampiros não eram unidos. Todos
desejavam uma fatia do poder, por isso a existência de vários
Clãs, pois assim poderia haver vários líderes entre eles.
Mas somente um deles, reinava com poder absoluto
entre a espécie. Havia somente um único rei. Seu poder era
absoluto.
Os líderes dos clãs lhe obedeciam. O rei dessa espécie
era o filho do poderoso e temido, Vlad Tepes III. Ele iniciou
essa nova espécie, através de um pacto satânico.
Poder e juventude fizeram parte desse contrato. Em
troca, a necessidade de sangue os faria matar, destruir e
corromper a grande e maravilhosa criação divina de Deus, o
homem.
Os poderes desses Clãs variavam muito. Quanto maior
o parentesco, com a Linhagem direta de Vlad III, maior o
poder.
Se houvesse linhagem direta, apenas uma mordida
conferida por um descendente direto de Tepes III, lhes
conferiam poderes inimagináveis.
Por esse motivo, Mihnea, era invencível e respeitado por
todos os vampiros. Era o próprio filho do poderoso Vlad III.
Após a morte de Vlad III, seu filho mais novo e o
primeiro a transformar-se num vampiro pelo próprio pai,
assumiu o poder. Chamava-se Vlad IV, sempre foi o filho
preferido, pois era fruto do amor da única mulher que seu pai
realmente amou.
Mas Vlad IV foi assassinado pelo próprio irmão, Mihnea.
Fim dos Tempos
[ 121 ]
Esse alegou que Vlad IV, rei dos vampiros, havia se juntado a
causa humana.
Com a morte de Vlad IV, Mihnea, assumiria o poder, até
que o filho de Vlad IV atingisse a maioridade. Mas Mihnea
enganou a todos os vampiros, dizendo que o filho de Vlad IV
havia nascido morto. Apenas alguns vampiros de sua confiança,
sabiam que aquilo não era verdade.
A noite estava fria e sombria. O cheiro de morte estava
impregnando a cidade. Cacau fechou o carro e correu em
direção à porta de entrada do hotel. Justin ouviu o amigo pedir
para abrir. Ficou aliviado, ao ver a figura assustada de Cláudio.
- Nunca vi tantos vampiros! – exclamou Cacau
admirado. – Onde estão os exterminadores?
Justin apontou para Júlio e Adam, que estavam na sala.
O olhar de Cacau iluminou-se, quando chegou perto de Adam.
- Ora, ora, ora! – disse sorrindo – Não se recorda de
mim, Adam? – indagou Cacau.
Adam o observou melhor, mas não conseguia se
recordar.
- Desculpe, não me recordo de você. Afinal, todos os
dias, conhecemos pessoas diferentes – disse esforçando-se
para se recordar. – De onde nos conhecemos?
- Da faculdade, meu caro Adam – disse sorrindo. – Sou
Cláudio amigo de Miriam. Estudávamos na mesma sala.
Adam olhou para a figura a sua frente, não poderia
imaginar, que o garoto mais popular da faculdade, se
transformara num homem obeso e barrigudo. Como ele
conseguiu escapar do massacre ocorrido em Jundiaí? – pensou
Adam curioso.
Fim dos Tempos
[ 122 ]
- Nossa que surpresa agradável! – disse Adam. - Você
está bem diferente... Não o reconheci. Você estava com Miriam
e Milena na época do massacre em Jundiaí?
- Sim. Mas escapamos e viemos para Salt Lake.
Soubemos que havia resistência nessa cidade e resolvemos nos
juntar a eles. O líder desse grupo foi exterminado, quando
viajava para Ohio, a fim de visitar seus filhos. Então elegeram
Miriam, como Líder dos exterminadores.
- Miriam está viva? – indagou Adam, surpreso.
- Na verdade, ainda não recebemos notícias, desde que
ela e Milena partiram. Resolveram se infiltrarem no meio deles,
para ver se conseguiam descobrir o que o rei deles estava
fazendo aqui.
- Mas soube que Mihnea estaria se dirigindo ao Brasil,
para comandar o exército de vampiros brasileiros – indagou
Adam. – Meu Deus, isso tudo só pode ser uma armadilha.
- Será? – indagou surpreso.
- De quem foi à ideia de nos trazer até os Estados
Unidos? – indagou Adam, desconfiado.
- A ideia foi de todos. A decisão tomou força, quando
soubemos dos planos de Mihnea, em organizar exércitos
vampíricos, a fim de exterminar de vez com a raça humana.
Desde então, estamos entrando em contato com
exterminadores de todos os países. Queremos unir forças, para
exterminarmos de vez, com esse maldito exército.
- Agora, precisamos nos preocupar em conter o ataque
de vampiros, que está ocorrendo nesse exato momento. Depois
pensaremos no resto – rebateu Adam.
Mais exterminadores chegavam a cada minuto. A sala
Fim dos Tempos
[ 123 ]
em que estavam já não cabia mais gente. Estava animado com
a possibilidade de ter tantas pessoas para lutar.
- Ataque é a palavra de nosso plano de ação – disse
Adam olhando para todos. – Não podem ter medo. Se eles
notarem medo em seus olhos, sinto informar que estarão
mortos.
- Esses malditos só morrem com a prata atravessando o
coração, ou melhor, quando a prata entra em contato com seu
corpo, é fatal – disse Júlio.
- Não pensem em nada quando estiverem diante deles,
apenas que estão diante de um poderoso caçador. Se
bobearem se tornarão sua caça. Ataquem, não pense em mais
nada. Se for alguém conhecido, ataquem. Pois a pessoa que
conheceram, já não existe mais – Adam andava de um lado
para o outro. – Revólver com balas comuns de nada servem. Se
não tiverem balas de prata, não usem nada. Se houver
machados, arranque-lhes a cabeça.
Alguma dúvida? – perguntou Júlio ansioso.
Ninguém se pronunciou. Júlio e Adam caminharam até a
porta de saída, acompanhados por mais ou menos duzentos e
vinte homens.
Frente a porta, os vampiros apareceram diante deles
sem demora. Estavam extremamente famintos e selvagens.
Esses eram os vampiros mais perigosos, não havia sobrado
vestígios da inteligência humana em nenhum deles.
Adam pegou seu lança chamas e mirou no primeiro
deles, que ficou sendo consumido pelo fogo rapidamente. Isso
chamou a atenção dos demais.
Para surpresa de Adam, ao invés de se afastarem com
Fim dos Tempos
[ 124 ]
medo, fizeram justamente o contrário, aproximaram-se com
grande velocidade para atacá-los.
Com o machado nas costas, começou o duelo de Titãs.
Adam com destreza usou seu machado, decepando diversas
cabeças.
Júlio atirava neles sem errar um único tiro, afinal com a
experiência vivida em Jundiaí, tornaram-se extremamente ágeis
e certeiros em cada investida.
Torceu para que aquele exército não debandasse diante
do perigo, como aconteceu em Peruíbe. Mas ao virar-se para
trás, havia menos de quinze homens lutando ferozmente. Os
demais haviam desaparecido.
A luta foi muito difícil e bastante cansativa. Com o
despontar do sol, os vampiros corriam rua abaixo, a fim de
encontrarem abrigo. Precisavam se proteger dos raios solares,
que começavam a clarear o céu impiedosamente.
- Excelente trabalho! – disse Cacau. – Miriam ficará feliz
ao saber da ideia desse lança chamas.
- O trabalho ainda não terminou. Precisamos atacá-los,
enquanto está cedo. Precisamos levar o sol até seus
esconderijos – informou Adam.
Adam olhou com tristeza ao seu redor, havia corpos
incendiados e cabeças por todos os lados. Havia muitos
humanos, com veneno no corpo. Muitos já estavam em fase de
transformação.
- Precisamos matá-los – afirmou Adam, olhando para
Cacau.
- Está louco? Nós cuidaremos de todos deles – insistiu
Cacau.
Fim dos Tempos
[ 125 ]
- Não serão mais eles, quando ocorrer à transformação.
O sangue desse Clã é hostil e sanguinário. Acreditem, temos
que matá-los ou teremos mais inimigos para conter depois.
Cacau tinha dificuldade em exterminar seus conhecidos.
Havia perdido muitos exterminadores, que antes de fugirem,
foram mortos em sua grande maioria. Dos quinze homens que
ficaram para a luta, sobraram apenas dez.
A morte cercava todos os lugares, por onde passava os
olhos. A vida boa havia acabado. Agora a guerra dera início e
só Deus sabia quando isso iria acabar, e quem seriam os
vencedores. Sentia falta de Miriam e Milena – pensou Cacau.
- Precisamos descobrir o que aconteceu a Miriam e
Milena – disse Cacau com voz embargada.
- Não podemos permitir que fiquem escondidos dentro
da cidade. À noite voltarão a nos atacar e farão mais vítimas –
disse Júlio ignorando o que Cacau, havia acabado de dizer. –
Vamos atacar seus esconderijos.
- Voltaremos ao Hotel e pediremos ajuda de mais
pessoas, pois com o sol se tornarão mais vulneráveis – disse
Adam batendo na enorme porta de prata.
Cacau sentou-se nas escadas em frente ao hotel e olhou
o triste cenário a sua frente. Havia corpos por toda parte. A
luta foi grande e exaustiva. As lâmpadas haviam sido todas
quebradas, pois os vampiros enxergavam melhor no escuro. A
rua estava completamente vermelha. Era um verdadeiro mar de
sangue. O cheiro era insuportável, chegava a dar ânsia.
- Vamos entrar Cacau! –Júlio ficou preocupado com o
rapaz, que ficou totalmente desorientado diante daquele triste
cenário.
Fim dos Tempos
[ 126 ]
Cláudio levantou-se e entrou juntamente com eles.
Como podiam pedir a ajuda daquelas pessoas? Ninguém teria
coragem de enfrentar os vampiros, principalmente quando se
deparassem, com o mar de sangue que os aguardava lá fora.
- Matamos um grande número deles, mas com o nascer
do sol, muitos correram e se esconderam para fugir da luz do
sol. Precisamos encontrá-los e matá-los. À noite, já não serão
tão vulneráveis e já não teremos a ajuda do sol – Adam olhava
para o rosto de todos. Estavam apavorados. O medo havia
tomado conta de todos por ali.
- Quem virá conosco? – indagou Júlio com esperança.
Ninguém se mexeu, ficaram mudos e estáticos.
- Então, desejem-nos sorte – disse Júlio, abrindo a porta
e saindo ao lado de Adam. Cacau foi seguido por mais sete
homens.
- Eu notei que a maioria entrou no restaurante. Lá com
certeza deve haver algum frízer cheio de carne – informou
Adam, descendo as escadarias da frente do hotel. - O sangue
os ajudará a repor as energias. Precisamos ser rápidos, quanto
mais vulneráveis estiverem, mais fácil acabaremos com eles.
Dirigiram-se ao restaurante e ao entrarem no cômodo,
onde ficava o frízer, notou que eles brigavam como animais por
pedaços de carne crua.
Adam foi surpreendido por uma besta, que com força
sobrenatural, segurou seu pescoço. O grito que soltou, alertou
as outras feras em sua direção.
Apenas conseguiu levantar o braço e puxou a cortina
que impedia a entrada do sol. De repente, um grande feixe de
luz penetrou aquela sala.
Fim dos Tempos
[ 127 ]
Olhou os corpos a sua frente, estavam incendiando-se
de maneira rápida e definitiva. Havia uma grande quantidade
de vampiros pegando fogo, naquele lugar. À medida que o
feixe de luz aumentava mais vampiros eram devorados por
aqueles raios solares.
O cheiro não era bom. Era um cheiro de coisa podre
misturado ao cheiro horripilante da morte.
Os demais exterminadores correram e abriram todas as
cortinas, em pouco tempo, tudo estava pegando fogo. Saíram
correndo dali, pois em poucos minutos o fogo atingiria a
cozinha e havia botijões de gás por todos os lados.
Ficaram a alguns metros e a explosão clareou todo o
quarteirão. Ficaram olhando alguns deles, tentarem se livrar do
fogo, mas não conseguiram e morreram carbonizados.
Os olhos de Adam teimavam em fechar-se. A maioria
extava completamente sem forças, para continuar aquela
interminável caçada. Estavam exaustos e com muito sono.
Mas algumas pessoas, que observavam de suas casas o
que havia ocorrido, decidiu ajudá-los. Em pouco tempo, havia
uma grande quantidade de vampiros pegando fogo, correndo
pelas ruas de Salt Lake.
Adam, Júlio, Cacau e os demais exterminadores, mal
conseguiam manter os olhos abertos. Decidiram descansar e
recomeçar a noite.
Comeram alguma coisa no hotel. Subiram para o quarto,
a fim de dormir um pouco. À noite precisariam de forças, para
impedir novos ataques. As pessoas haviam encontrado
coragem para lutar contra a morte. Por sorte, não sucumbiram
ao comodismo de viverem em esconderijos e permitir que
Fim dos Tempos
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aqueles seres tomassem conta de sua cidade.
Era um povo bom e unido. A maioria era de uma religião
conhecida como “Mórmons”. Naquela manhã resolveram fazer
jejum, para que Deus os abençoasse com a vitória.
Todos decidiram dormir para encontrarem forças para
mais uma noite de luta. Adam não conseguia parar de pensar
em Miriam.
Deitado em sua cama, apesar do cansaço, pensou nela
durante o tempo que conseguiu manter-se acordado. O que
teria acontecido? Por que ela e Milena não haviam entrado em
contato?
Precisava parar de ficar pensando... A noite seria mais
longa e tenebrosa que a primeira, pois os que conseguiram
fugir levaria a notícia de como haviam resistido. Viriam com
mais ira, mais fome e ódio. Precisavam estar preparados!
O Livro completo estará no Blog da autora a
partir do dia 23/12/12.
http://cristianegsantana.blogspot.com.br/