Vampiros - Fim dos Tempos

129

description

Agora, Mihnea é o rei dos vampiros. Seu desejo de transformar os vampiros na espécime predominante, tem sérias consequências. Tudo está fora de controle. Os vampiros tomaram conta do mundo. Poucos humanos sobreviveram aos ataques. O número de vampiros cresce desordenadamente. Não há sangue para todos. Os animais estão praticamente em extinção. O mundo vive um caos. Estamos vivendo a beira do “Apocalipse”. Durante o dia, os humanos saem de seus esconderijos em busca de trabalho, comida, enfim, de uma vida “normal”. A noite escondem-se em esconderijos subterrâneos, a fim de não serem executados. Até que os delatores aparecem. Esses recebem a proteção dos vampiros, contudo revelam esconderijos de famílias inteiras. Agora, Mihnea é o ser mais poderoso do mundo. Sua crueldade e ambição não tem limites. Adam descobre que é filho de Vlad IV, portanto o verdadeiro herdeiro do trono. Agora, a luta não será apenas pelo poder, mas pela sobrevivência...

Transcript of Vampiros - Fim dos Tempos

Page 1: Vampiros - Fim dos Tempos
Page 2: Vampiros - Fim dos Tempos

[ 1 ]

por Cristiane G. Sant´Ana

Copyright © 2012 por Cristiane G. Sant´Ana http://cristianegsantana.blogspot.com.br/

ESTE LIVRO É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LOCAIS E ACONTECIMENTOS SÃO IGUALMENTE PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DO AUTOR OU USADOS DE FORMA FICCIONAL. QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENTOS REAIS, LOCAIS OU PESSOAS VIVAS OU MORTAS, É MERA COINCIDÊNCIA.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou

reproduzida em qualquer meio sem a autorização por escrito da escritora.

Page 3: Vampiros - Fim dos Tempos

[ 2 ]

Vampiros

Fim dos tempos

Cristiane G. Sant´Ana

Page 4: Vampiros - Fim dos Tempos

[ 3 ]

Sumário

Capítulo 1

Doença Capítulo 2

Resistência Capítulo 3

Parabéns

Capítulo 4

Mortes

Capítulo 5

A decisão

Capítulo 6

Revolta

Capítulo 7

Miriam

Capítulo 8

Adam

Capítulo 9

A equipe Capítulo 10

Valores

Page 5: Vampiros - Fim dos Tempos

Capítulo 11

Salt Like

Capítulo 12

Casa Branca

Capítulo 13

Revelações

Capítulo 14

Miriam

Capítulo 15

Horror

Capítulo 16

Cláudio

Capítulo 16

Noite Sombria

Capítulo 17

Luta Final

Page 6: Vampiros - Fim dos Tempos

Dedicatória

Esse ano foi muito difícil para mim. Se pudesse arrancaria o

mês de dezembro de 2012 do calendário. Perdi a luz no fim de todos os tuneis de minha vida. Sou filha adotiva e fui criada por uma mulher

muito guerreira, cheia de amor e fé.

Maria Nildete Valle Lacerda, você ensinou-me a andar, falar, amar, perdoar, correr atrás dos meus objetivos, só não me ensinou a viver sem você.

Apesar de ter partido, ainda resta muito dela dentro do meu

coração, nas fotografias, nas plantas que tanto gostava... A propósito,

a plantinha que ela me deu, poucos meses antes de falecer estava muito feia. Agora, a plantinha está cheia de vida e nascendo vários

lindos brotinhos. Gosto de pensar que é um sinal de Deus, dizendo-me que ela está bem...

Mãezinha, descanse em paz!

Cristiane G. Sant´Ana

Page 7: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 6 ]

Capítulo 1

Doença Elizete acordou com os gritos de sua filha. Correu até o

quarto da menina e a encontrou tremendo de frio. Aquele era o

segundo dia, em que Eva acordava no meio da noite aos

berros.

- Mãe – gritou a garotinha. – Estou sentindo muitas

dores – queixou-se. – Estou morrendo de frio! - exclamou

tremendo embaixo dos cobertores.

Elizete ficou paralisada ao notar, que a íris dos olhos da

menina estava vermelha. Decidiu acender a luz, para ter

certeza do que estava vendo.

Os olhos da menina estavam cor de sangue. Não havia

mais dúvida, a menina havia pegado a famosa epidemia, que

rapidamente se alastrava pelo mundo.

Elizete sentou-se ao lado da pequena e frágil menininha

de seis anos. Sentiu uma pontada no coração, ao deparar-se

com aqueles pequenos olhos vermelhos irradiando muita

tristeza e sofrimento.

Elizete abraçou a filha com carinho e acariciou seus

lindos cabelos dourados. Sentia-se angustiada e impotente

diante daquela situação. Não havia nada que pudesse fazer

para amenizar o sofrimento da filha, pois milhares de pessoas

estavam morrendo e as que sobreviviam eram internadas em

hospícios ou aprisionadas em presídios de segurança máxima.

Aquela maldita doença afetava diretamente o cérebro,

Page 8: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 7 ]

tornando suas vítimas, seres irracionais e extremamente

perigosos, ou seja, não conseguiam diferenciar o certo do

errado, o bem e do mal, tornando-se assassinos cruéis e

sanguinários.

Infelizmente a ciência ainda não havia descoberto nada

que pudesse impedir o avanço daquela doença. A pessoa

contaminada costumava levar de três a cinco dias, para tornar-

se extremamente selvagem.

Eva já estava sofrendo há dois dias. Precisava levá-la

novamente ao hospital.

- Mamãe, não estou aguentando sentir tanta dor, por

favor, me ajude! – suplicou a menina chorando

compulsivamente.

Elizete encostou a cabeça da filha em seu peito e

acariciou levemente suas costas. Sentiu as lágrimas de Eva

encharcar a blusa de seu pijama. Apertou-a junto a seu corpo e

notou que as cobertas não a estavam aquecendo, pois o corpo

da menina continuava gelado.

Levantou-se e seguiu até o guarda roupa. Abriu a porta

do mesmo com cuidado para que a porta não despencasse,

pois há muito tempo, o bendito guarda-roupa dava sinais de

que precisava ser trocado.

Elizete olhou para o interior do guarda-roupa a procura

de mais cobertores. Notou com alegria a existência de um

edredom pesado, nunca antes usado, pois ainda estava com a

embalagem lacrada.

Pegou-o e seguiu até a cama da filha. Colocou o

edredom sobre o corpo pequeno e gelado da menina.

- Agora não sentirá mais frio. Irei até a cozinha para

Page 9: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 8 ]

pegar um remédio, a fim de aliviar sua dor. Fique quietinha. A

mamãe já volta – pediu carinhosa, afastando-se em direção a

cozinha.

Ao retornar notou que a menina parecia mais pálida.

Colocou a mão em sua testa e percebeu que a temperatura de

seu corpo havia caído bruscamente.

- Mamãe, está doendo muito – choramingou a menina

com os olhinhos assustados e atormentados pela dor.

Abriu o frasco e deu-lhe dois comprimidos analgésicos,

mas sabia que o medicamento aliviaria sua dor

momentaneamente.

Elizete deitou-se ao lado da menina, abraçando-a com

força para que com o calor de seu corpo, pudesse esquentá-la.

Ouviu o barulho de chuva. Sentiu que algumas gotas

estavam molhando seu rosto. Levantou-se correndo para fechar

a janela que ficava ao lado da cama.

Voltou-se a deitar com a filha, tentando aquecê-la sem

nenhum sucesso. De repente um raio clareou o céu seguido de

um forte barulho de trovão. Nesse instante sentiu as pequenas

mãozinhas de Eva, apertá-la com força.

- É apenas um trovão, filhinha – informou Elizete. – Não

se preocupe, a mamãe está com você – abraçou-a com força

tentando acalmá-la.

Elizete já não conseguia dormir duas noites seguidas.

Seu corpo pedia cama. Tudo o que mais desejava era fechar os

olhos e dormir. Mas não poderia se dar ao luxo de dormir, pois

o esposo chegaria do trabalho em questão de minutos.

Evanílson trabalhava no período noturno. Gostava de tomar

café logo que chegava a casa. Só depois se dirigia ao quarto

Page 10: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 9 ]

para descansar.

Observou com satisfação a filha que finalmente

conseguira dormir. Levantou-se a contragosto, pois precisava

preparar o desjejum de Evanílson. Ele chegaria a poucos

instantes. Seus olhos estavam pesados, insistiam em fechar-se.

Lutou contra o sono e foi para a cozinha.

Ouviu o barulho da porta da sala sendo aberta, mas

continuou preparando o café da manhã.

- Bom dia, querida – cumprimentou Evanílson, entrando

na cozinha abruptamente. – Esse café está cheirando lá fora –

aproximou-se da esposa, depositando-lhe um leve beijo em

seus lábios.

- Estou cansadíssima – confessou Elizete, colocando o

café na xícara do marido. – Essa é a segunda noite, que Eva

não consegue dormir por causa das dores. Estou exausta! –

desabafou.

- Precisamos encontrar um bom médico, que acabe de

vez com isso – disse levantando-se da mesa preocupado. – Vá

trocar de roupa, enquanto eu troco nossa filha – disse

Evanílson seguindo em direção ao quarto da menina.

Precisamos levá-la ao Hospital. Não aguento mais, ver nossa

menininha sentindo tantas dores.

- Você sabe que essa epidemia, ainda não tem cura –

alertou Elizete.

- Mas precisamos fazer alguma coisa; Não posso mais

vê-la cansada e a menina sofrendo dessa maneira – desabafou

Evanílson.

Pegou Eva com carinho nos braços e seguiu em direção

ao carro. Sentiu o corpinho gelado da menina. Colocou-a no

Page 11: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 10 ]

banco traseiro. Voltou novamente a casa, a fim de pegar o

grosso edredom que estava no quarto da menina.

- Evanílson? Já estou quase pronta. Falta somente

colocar os sapatos – gritou a esposa de seu quarto.

- Vou pegar o edredom que está no quarto de Eva, pois

ela está gelada – informou seguindo até o quarto da menina.

Pegou o edredom e abriu o guarda-roupa em busca de

uma blusa de frio. Logo avistou o que procurava. Pegou o

casaco e seguiu até o carro.

Abriu a porta e vestiu a blusa de frio em Eva, que

dormia pesadamente. Depois cobriu com o edredom seu

corpinho gelado.

Fechou a porta e sentou-se no banco da frente

esperando pela esposa, que não demorou a sentar-se a seu

lado. Seguiram em direção ao Hospital. Em menos de quinze

minutos estavam diante de um dos melhores hospitais público

de São Paulo.

Pegou a menina e seguiu com pressa até a recepção.

- É um caso de emergência! – exclamou segurando a

filha nos braços. – Nossa filha está com os sintomas da

epidemia anunciada na televisão.

A moça olhou para eles com indiferença.

- Sua filha não é a única – disse mostrando um corredor,

repleto de pessoas se contorcendo de dores. – Estamos com

falta de médico no Hospital. Veja! – disse apontando para a

sala superlotada de gente gemendo de dor. – Sua filha não é a

única! Todos estão passando pelo mesmo sofrimento. Todos

estão com a maldita epidemia.

- Não tem médicos nesse hospital? – indagou aos

Page 12: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 11 ]

berros. Não pode nos negar atendimento. Pago meus impostos

e quando preciso, tenho o direito de ser atendido – bradou

furiosamente.

- Temos apenas um médico. Infelizmente, não é um

pediatra. Ele está atendendo somente adultos e a fila está

enorme. Não sei se conseguirá atender a todos – informou com

sinceridade a moça da recepção.

Nesse momento, o pediatra de Eva abriu a porta da

recepção. Estava abatido e parecia bastante cansado.

Os olhos de Evanílson se iluminaram ao notar a

presença daquele rosto familiar.

- Doutor Sandro? – indagou a moça surpresa. – O

senhor não dormiu nada! – exclamou admirada. – Faz

exatamente quatro horas que saiu desse hospital.

- Vanessa, não dá para dormir com tantas pessoas

doentes – disse assinando o livro de presença.

- Doutor Alessandro, como vai? – cumprimentou Elizete.

- Atordoado diante de tantos casos de morte, por causa

dessa epidemia – disse o médico.

- Eva está apresentando os sintomas dessa maldita

epidemia – disse Evanílson. – Por favor, nos ajude! – suplicou

de joelhos no chão.

O Médico olhou para o homem a sua frente. Pegou-o

pelo braço constrangido diante da situação.

- Levante-se! – disse constrangido. – Vamos até o meu

consultório.

Seguiram o médico até uma pequena sala.

Elizete colocou a menina na cama para ser examinada.

O médico aproximou-se e examinou os olhinhos vermelhos cor

Page 13: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 12 ]

de sangue. O sorriso foi se desfazendo lentamente, ao colocar

a mão na testa da menina para verificar a temperatura.

- Quantos dias Eva está com a temperatura baixa? –

indagou o médico.

- Há dois dias, doutor – informou o pai da menina.

- A temperatura de Eva está extremamente baixa. Só

pessoas mortas tem a temperatura tão baixa – disse tão baixo,

como se estivesse falando consigo mesmo.

- O que disse doutor? – indagou Elizete, preocupada.

O médico pegou o estetoscópio para ouvir as batidas do

coração da menina. Encostou o aparelho sobre o peito de Eva.

A menina não se afligiu, com o contato do aparelho frio em seu

corpo.

As feições do médico se contraíram. Parecia muito

preocupado.

- O que está acontecendo doutor? – indagou a mãe,

preocupada.

- Acho que meu aparelho deve estar quebrado – disse

com raiva. – Aguardem um minutinho que irei à procura de

outro aparelho – informou saindo do consultório.

Retornou minutos depois, com um novo aparelho. Ele

colocou o estetoscópio nas costas da menina. Seu rosto parecia

ainda mais preocupado.

- Por favor, Elizete, venha até aqui para que possa ouvir

seu coração. Assim saberei se o estetoscópio está quebrado.

Elizete aproximou-se do médico. Ele colocou o aparelho

frio em seu coração.

- Como desconfiei, o aparelho está funcionando

perfeitamente. Mas quando coloco o aparelho no corpo de Eva,

Page 14: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 13 ]

seus batimentos cardíacos estão sumindo, mal consigo ouvi-los.

- Dr. Alessandro o que está acontecendo com a minha

filha? – indagou Elisete preocupada, olhando atentamente para

o médico.

- O que está acontecendo? – indagou o pai.

– Todos nós gostaríamos de saber. Estamos sofrendo

uma epidemia, infelizmente ainda não conseguimos descobrir a

cura para esse tipo de vírus – disse o médico pensativo.

- O que vai acontecer com Eva?

- Seu coração está parando, mas continuará viva como

os outros pacientes portadores desse vírus.

- O que quer dizer com isso?

- Quando o coração deixa de bater, o normal seria que a

pessoa entrasse em óbito. Mas com esse vírus, a pessoa

continua viva. Infelizmente, tornam-se extremamente

perigosos, como se fossem pessoas loucas. Não conseguem

discernir o certo do errado. Temos que afastá-los do convívio

familiar. Essas pessoas contaminadas pelo tal vírus, necessitam

viver isolados da sociedade, pois são extremamente perigosos e

letais.

- Isso é loucura! – gritou o pai da menina. – Acredita

mesmo que deixaremos nossa filha ser levada para um lugar

cheio de pessoas loucas?

- Acredite, é o melhor a ser feito – preveniu o doutor.

O médico olhou assustado para a menina que tremia

violentamente, como se estivesse morrendo de frio.

- Aaaiii! – gemeu a menina – Estou com muita dor,

mamãe. Faça alguma coisa, por favor!

- Doutor, acabe com a dor de Eva – disse a mãe,

Page 15: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 14 ]

nervosa. – Se quiser podemos pagar para que dê a menina um

remédio bem forte.

- Nenhum remédio conseguirá diminuir essa dor. Mas

acredite, já está chegando ao fim. Em poucas horas não sentirá

mais dores.

- Por favor, acabe com a dor da minha filha, nem que

seja por alguns segundos – disse o pai, olhando a menina que

se contorcia de dor na maca do consultório.

- Não adiantará dar-lhe remédios. A dor voltará em

segundos – disse o médico impaciente – Sua filha se

transformará num monstro em menos de meia hora.

O pai da menina agarrou o médico pelo avental e deu-

lhe vários murros no estômago, parecendo totalmente

descontrolado.

- Pare com isso, Evanílson – gritou a esposa, segurando-

o pela camisa com força. - Isso não vai diminuir a dor, que

nossa filha está sentindo.

- Esse maldito doutorzinho, está dizendo que nossa filha

se transformará num monstro – disse com raiva, acertando o

rosto do médico e arrancando-lhe sangue dos lábios.

Nesse momento, os olhos da menina tornam-se ainda

mais vermelhos. Eva que observava tudo deitada na maca

levantou-se com agilidade sobrenatural e atacou o médico, com

enormes garras e seus dentes ficaram afiados e pontudos.

Em poucos minutos, o rosto do médico ficou totalmente

desfigurado e coberto de sangue. A menina bebia daquele

líquido com ferocidade. Sugava cada gota de sangue, como se

estivesse sentindo um prazer indescritível.

De repente aquela estranha criatura, para de sorver o

Page 16: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 15 ]

sangue de sua vítima e olha na direção de sua mãe... Em

frações de segundos, avança de forma tão eficaz, que não

deixou margem para qualquer tentativa de fuga a sua mãe. Era

um novo ser... Um ser hediondo, cruel e sanguinário. Era a

própria figura do demônio... Um demônio que se fazia presente

no mundo atual...

Com enormes garras, arrancou-lhe um enorme pedaço

da pele do braço da pobre mulher. O sangue jorrou na parede

branca, tingindo-a de vermelho.

Não demorou para que a menininha, devorasse parte do

braço daquela mulher.

Era uma criança ou era um demônio? Aquilo não se

parecia com Eva. Aquela criatura devorava a mãe como se

estivesse diante de um banquete. A menina não demonstrava o

menor sinal de culpa, pelo contrário, parecia que estava

fazendo a coisa mais natural do mundo.

O pai assistia aquela cena macabra, totalmente

incrédulo e paralisado. Não tinha forças para sair do lugar. Não

conseguia acreditar no que via... Tinha apenas uma certeza:

não sairia vivo dali.

Page 17: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 16 ]

Capítulo 2

Resistência Tudo ao meu redor me remetia ao apocalipse. Parecia

que o fim dos tempos havia chegado. A raça humana estava à

beira da extinção.

Os vampiros haviam tomado conta do mundo.

Felizmente, ainda havia resistência humana em poucos países.

Mas seria uma questão de tempo, para que aqueles seres

cruéis e sanguinários acabassem com tudo.

Mihnea governava o mundo com o apoio de seu

poderoso exército de vampiros. Esse exército era implacável,

com todos aqueles que não se submetiam as ordens de

Mihnea.

Os humanos viviam escondidos e aterrorizados, diante

dessa nova realidade. Saíam de seus esconderijos subterrâneos

durante o dia, contando com a sorte de não serem descobertos

e aniquilados.

Alguns humanos haviam se tornado espiões dos

vampiros, revelando o esconderijo de famílias inteiras. No

início, em troca de proteção. Mas para que não fossem

confundidos com os demais humanos, ganhavam um sinal nas

mãos. Assim não eram atacados por nenhum vampiro.

Os humanos, desconfiados daquele sinal, acabaram

descobrindo que aquela marca, servia para que os vampiros

pudessem identificar seus espiões.

Depois dessa descoberta, os traidores já não

conseguiam trabalho com os humanos, nem mesmo comprar

Page 18: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 17 ]

alimentos lhes era permitido.

Diante desse dilema, os vampiros, com raiva

saqueavam, roubavam e quebravam os comércios, deixando

milhares de pessoas desesperadas com os enormes prejuízos.

Todos os dias deixavam uma grande quantidade de alimentos

para seus delatores.

A noite nenhum humano era visto perambulando pelas

ruas, pois a morte era certa. Ficavam trancafiados em seus

esconderijos, temendo serem descobertos e atacados.

Os vampiros cresciam em número e crueldade.

Estávamos vivendo o fim dos tempos, pois não havia

regras ou limites para nada. Tudo estava fora de controle.

Mihnea conseguiu aumentar seu poder sobre a terra,

mas não pensou no equilíbrio da natureza. Havia um grande

número de vampiros, mas não havia sangue suficiente para

todos eles. Com isso, muitos animais já estavam em extinção.

Nos hospitais não havia uma única gota de sangue.

Diante daquele caos, Catharina recordou-se das palavras

de Vlad IV, pois quando era o rei dos vampiros, temia que

Mihnea se tornasse rei algum dia. Com Vlad IV as coisas

transcorriam em seu estado habitual. Mas ele alertara a todos

sobre seu irmão, Mihnea. Infelizmente ninguém poderia

acreditar que as coisas chegariam a esse ponto.

Vlad IV previra o que estava acontecendo. Sempre

acreditou que se Mihnea tomasse o poder, o mundo estaria em

risco. Recordou-se das palavras de seu grande amor, antes

dele falecer:

“Precisa viver para criar o rei dos vampiros. Ele é a

salvação da raça humana. Não deixe que Mihnea se aproxime

Page 19: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 18 ]

dele – alertou cuspindo sangue pela boca. – Ele tentará matá-lo

para tomar o poder. Crie nosso filho de modo que governe

nossa espécie com sabedoria. Ensine-o a respeitar a raça

humana. Sem eles, a vida na Terra chegará ao fim”.

Mihnea tomou o poder, assim que Vlad IV morreu.

Catharina foi obrigada a viver escondida durante todos esses

anos, para que Mihnea não encontrasse Adam e o matasse.

Agora, seu filho completara dezoito anos de idade. Mas

Catharina sentia que Adam, ainda não estava preparado para

enfrentar aquele demônio.

Após a morte de Vlad, os anos se passaram muito

depressa. Catharina sentiu o desejo de chorar, ao recordar-se

de todas as dificuldades que passou, durante todos aqueles

anos, para criar o filho. Como dois irmãos podiam ser tão

diferentes? Vlad IV era um homem bom, mas Mihnea era a

figura ativa de seu pai, Vlad III, o impalador.

Catharina sempre tomou muito cuidado com a criação

de Adam, pois temia que se tornasse maldoso e cruel, como o

avô. Aquele ficara conhecido mundialmente por sua crueldade,

cujo maior prazer era empalar seus inimigos. Matava-os de

forma lenta e dolorosa.

Mihnea também costumava empalar seus inimigos.

Matava-os com requintes de crueldade. Fazia isso lentamente e

saboreava cada momento.

Os humanos não tinha muito que fazer. A arma mais

poderosa contra todos eles era o sol. Durante o dia podiam

viver “normalmente” no mundo, como se nada houvesse

acontecido. Mas a noite era uma tortura constante. Ninguém

Page 20: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 19 ]

conseguia dormir em paz. O medo fazia parte da vida de cada

um deles.

Ninguém se atrevia a manifestar-se contra as forças de

Mihnea, pois os que haviam feito isso acabaram morrendo de

maneira impiedosa.

Isso serviu para aterrorizar os que tinham desejo de

lutar contra o poder de Mihnea. Ele costumava arrancar todas

as partes dos corpos de seus inimigos e jogá-los na rua. Fazia

isso, para que todos soubessem o que acontecia com quem não

o obedecia ou era seu inimigo.

Page 21: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 20 ]

Capítulo 3

Parabéns Catharina estava orgulhosa do filho. Ele era um bom

rapaz. Fazia faculdade durante o dia e a tarde trabalhava no

supermercado. Havia se tornado gerente do estabelecimento.

Sabia da importância de nunca revelar sua condição

vampírica, ou melhor, Adam sabia que era metade humano,

metade vampiro. Mas escondia sua árvore genealógica abaixo

de sete chaves.

Bastava saber, que seu pai foi um escritor famoso de

Literatura fantástica e que muitos de seus livros, foram parar

nas telas do cinema. Com o tempo, revelou que seu pai era um

vampiro. Ele somente a transformou quando sua vida estava

por um fio. Então, ele pertencia as duas espécies. Era metade

vampiro, metade humano, pois a transformação dela ocorreu

após ter ficado grávida. Quanto sua descendência, isso

esconderia até o fim. Bastava saber do que havia lhe revelado.

Adam lutaria com seu tio, quando chegasse o momento

certo. Será que existe o momento certo para colocar a vida de

um filho em risco? Não. Ninguém poderia julgá-la, pois não era

justo colocar a vida de seu único filho em risco para salvar

quem quer que fosse.

Naquela noite, havia preparado um jantar especial.

Finalmente, fizera dezoito anos! Mihnea nunca conseguiu

encontrá-lo durante todos aqueles anos.

Passaram por sérias limitações financeiras, apesar de

todo o dinheiro deixado pelo pai de Adam. Mas, não podia se

Page 22: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 21 ]

queixar, pois todos viviam dessa maneira, desde que aquele

demônio tomou conta do mundo.

Os vampiros reinavam, enquanto os humanos viviam

parecendo criminosos, ou seja, viviam escondidos como se

houvessem feito algo errado.

À noite os humanos se recolhiam. Enquanto os vampiros

saíam para destruir, tudo o que haviam construído horas antes.

A revolta fazia parte do sentimento humano. Mas

ninguém se atrevia a fazer absolutamente nada, pois temiam

serem empalados lentamente pelo homem que governava a

maior parte do globo terrestre.

Catharina estava sentindo-se muito fraca naquela

manhã. O sangue que alguns amigos haviam doado, já estava

chegando ao fim.

Quando Adam abriu o Alçapão, sentiu alegria ao notar

que estava acompanhado por Miriam. Era uma boa moça.

Adam era apaixonado por ela, mas Miriam nunca havia

percebido absolutamente nada. Ela se apaixonara por um

amigo deles. Vivia sofrendo pela apatia do rapaz. Isso deixava

Adam muito triste.

Seu filho era parecido com o pai. Alto, magro, cabelos

lisos e negros, pele clara e olhos azuis. Era um homem muito

bonito e inteligente. Mas como nem tudo é perfeito, Adam era

muito tímido e às vezes isso o atrapalhava.

Catharina olhou para Miriam e sorriu. Era uma moça

encantadora e gostou dela desde o início. Era uma mulher

simples e boa. Não era uma bonequinha, muito pelo contrário,

tinha traços exóticos e marcantes, sua simpatia e bondade,

cativavam a todos os que a rodeavam.

Page 23: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 22 ]

Miriam não enxergava maldade nas pessoas. Era uma

pessoa tão inocente, que durante cinco anos, nunca enxergou

o amor, que Adam nutria por ela.

- Tia Cathy! - disse piscando Miriam – Adam me

convidou para jantar com vocês – disse aproximando-se de

Catharina e beijando-a no rosto. – Ele sabe que adoro sua

comida. Espero que não se importe.

- Fico feliz em tê-la conosco essa noite. Hoje é um dia

muito especial – disse olhando para o filho, que aparentemente

parecia chateado. - Estamos comemorando o aniversário de

Adam – disse olhando para ela, pois sabia que havia esquecido

a data.

- Meu Deus, que vergonha! – disse Miriam colocando a

mão nos lábios. – Esqueci o seu aniversário! Parabéns, meu

amigo querido – disse aproximando-se e beijando-o com

carinho no rosto.

Adam parecia meio decepcionado. Mas ao ter os braços

de Miriam ao redor de seu corpo, sorriu. Ela o abraçou e deu-

lhe vários beijinhos no rosto.

- Me perdoa? – piscou sorrindo. – Eu não consigo

lembrar nem mesmo do meu próprio aniversário!

- Não esquenta. – disse afastando-se dela e olhando-a

nos olhos. – O que importa é estarmos sempre juntos e

podermos contar um com o outro.

- Sim. Você sabe que sempre poderá contar comigo. E

quando sentir vontade de chorar, sabe que encontrará um

ombro amigo – disse sentando-se na cadeira. – Apesar de

nunca tê-lo visto chorar – concluiu sorrindo.

- Ele nunca foi de chorar – disse Catharina servindo o

Page 24: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 23 ]

jantar. – Espero que gostem.

Catharina serviu uma lasanha a bolonhesa. Era feita com

carne de soja, pois ninguém conseguia encontrar carne em

lugar algum.

- Parece delicioso – disse Miriam esfregando as mãos.

- Você não parece feliz. – afirmou Catharina olhando

para o filho. - Aconteceu alguma coisa, Adam?

- Como posso estar feliz, vivendo num mundo doente

como esse? – Adam estava tenso.

- Hoje não é dia para tristeza – disse Miriam levantando-

se e abraçando Adam. – Sei que o mundo está difícil de

entender. Ninguém tem certeza de absolutamente nada. Mas

isso é tudo o que temos. Precisamos aprender a conviver com

essa realidade.

- Não posso ficar sentado, enquanto o mundo está

desmoronando a minha frente. Não me conformo, com as

coisas que estão acontecendo. Não consigo esquecer o que

ocorreu com a família de Leonardo – desabafou, batendo a

mão na mesa.

Leonardo era um dos poucos amigos de Adam. Eles

eram vizinhos desde pequenos e na noite anterior, o

esconderijo de sua família foi revelado. No dia seguinte,

encontraram a família inteira morta. Havia partes dos corpos,

espalhados por todos os cantos do quarteirão.

- Sei que não está sendo fácil. Mas ninguém pode fazer

nada – disse Catharina, olhando com tristeza para Adam.

- Será? – indagou. – Será que ninguém pode impedir o

massacre que acontece todas as noites? Isso tem que acabar! –

Adam levantou-se e seguiu até a geladeira, pegando uma jarra

Page 25: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 24 ]

com água. - As pessoas são felizes durante o dia, mas quando

chega a noite, começa o pânico. Vem à pergunta, quem será

atacado hoje? Que família amanhecerá morta? Pergunto a

vocês, isso é vida? Alguém precisa acabar com tudo isso. Chega

de tantas mortes.

- Depois falaremos sobre esse assunto. Vamos jantar ou

a comida esfriará – disse Catharina, consternada.

Adam mal tocou na comida. Estava apreensivo e

bastante revoltado pelo que aconteceu a família de seu amigo.

Miriam tentou fazê-lo sorrir, mas ele parecia estar longe dali.

Foram dormir cedo. Quanto menos barulho fizessem,

mais seguro estaria o esconderijo, visto que, os vampiros

tinham os ouvidos aguçadíssimos.

Miriam não conseguiu dormir naquela noite. Levantou-se

várias vezes, ficou sentada pensando em tudo o que Adam

havia dito. Estava com um sentimento estranho aquela noite.

Sentia que alguma coisa estava errada, seu coração estava

pesado e tentou segurar as lágrimas. Adam estava certo.

Alguém precisava fazer alguma coisa, antes que fosse tarde

demais. Mas quem enfrentaria aqueles malditos demônios?

Miriam seguiu em direção a cama de Adam. Ele estava

acordado.

- Não consigo dormir – sussurrou Miriam, deitando-se ao

seu lado. – Estava pensando nas coisas que você falou durante

o jantar.

- Esqueça – disse baixinho. – Só falei besteiras. Ninguém

enfrentaria os vampiros, pelo menos, não as pessoas normais –

disse colocando a mão na boca, para abafar a risada.

- Mas você tem razão. Alguém precisa acabar com o

Page 26: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 25 ]

terrorismo que vivemos. Não podemos viver assim por muito

tempo. O sangue está acabando. Eles estão cada vez mais

perigosos e famintos.

- Conversaremos amanhã. Precisamos fazer silêncio ou

acabarão nos descobrindo.

Miriam abraçou Adam e acabou adormecendo ao seu

lado. Mas Adam, não dormiu aquela noite. Precisava fazer

alguma coisa para acabar com tudo aquilo.

Catharina acordou bastante fraca naquela manhã. Mas

precisava disfarçar, para que Adam não percebesse o quanto

estava debilitada.

Estava bastante pálida e sentia muita tontura. Voltou a

deitar-se ou cairia no chão a qualquer momento. Era uma

vampira e precisava de sangue. Pessoas de confiança sabiam

disso. Mas estava cansada de viver incomodando a todos com

seu problema.

- Bom dia, mamãe – disse Adam dando-lhe um beijo no

rosto.

- Estou um pouco indisposta essa manhã. Esquente o

café e o pão está no armário. Vou ficar um pouco mais na

cama. Não consegui dormir direito essa noite.

- Não se preocupe, eu cuidarei de tudo.

Adam olhou para a mãe e notou que estava

enfraquecida. Foi até a geladeira e notou que não havia uma

única gota de sangue.

Miriam levantou-se e notou que Adam parecia

preocupado.

- Ainda está pensando nas coisas que disse ontem? –

disse Miriam aproximando-se dele.

Page 27: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 26 ]

- Não. Nesse exato momento, estou preocupado com

algo mais urgente do que isso.

- O que é?

- Minha mãe não está bem. Parece que está fraca

demais essa manhã. Não consegue levantar-se da cama.

Miriam não sabia do segredo que escondiam. Adam

achou melhor poupá-la de mais uma preocupação. Pensou que

o melhor a fazer, seria levá-la ao hospital, pois o médico de sua

mãe sabia de tudo. Sempre mantinha uma bolsa de sangue

guardada para ela.

- Mãe? – disse puxando sua blusa. – Vou levá-la ao

hospital.

Ela estava muito pálida e fraca. Apenas sorriu e tentou

levantar-se da cama sem sucesso.

- O que ela tem Adam? – indagou Miriam preocupada.

- Ela tem anemia. Vou levá-la ao hospital e nos

encontramos na faculdade – piscou, pegando a mãe nos

braços.

- Vou com vocês – informou pegando sua bolsa.

- Não! – gritou Adam, irritado. – Isso pode demorar. É

melhor ir para a faculdade, nos encontramos lá.

Catharina ficou preocupada ao ver lágrimas escorrerem

pelos olhos de Miriam. Parecia ter ficado magoada, pelo modo

rude com que Adam recusou sua ajuda.

- Não fique triste, minha filha. Ele apenas está

preocupado comigo.

- Desculpe, Miriam, pois não tive a intensão de ser

grosseiro.

Ela apenas sorriu e foi embora.

Page 28: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 27 ]

Adam pegou um táxi. Não poderia levar sua mãe ao

hospital. Ele costumava vir ao esconderijo deles, para fazer a

transfusão. Mas agora era caso de emergência. Cada segundo

era vital para vida de sua mãe.

Ao chegar, notou que aquele lugar parecia o verdadeiro

inferno.

Havia muitas pessoas doentes. Algumas haviam sido

atacadas por vampiros à noite. Agora sabia que o veneno era o

causador do frio e da baixa temperatura. Pois sua mãe

costumava contar os sintomas que havia sentido.

Também não conseguia esquecer-se de quando Eduardo

foi atacado. Sentiu muito frio e apagou durante horas. Eduardo

foi a pessoa mais próxima que perdeu para aqueles malditos

vampiros.

Sentia falta dele. Sua mãe nunca viveu com ele, como

marido e mulher. Mas era como um pai para Adam.

Infelizmente foi atacado e virou um vampiro sanguinário. Ele a

mãe foram obrigados a mudar de casa, pois ele se tornava

mais cruel dia a dia.

Adam seguiu até a sala do doutor Fernando. Era um

homem negro, magro e muito alto. Era uma das melhores

pessoas que havia passado por suas vidas. Sabia do problema

de sua mãe e sempre mantinha uma bolsa de sangue, caso ela

precisasse.

O doutor estava em sua sala. Tinha os olhos tristes e

perdidos, olhando para um pedaço de papel a sua frente.

Adam aproximou-se e bateu na porta de sua sala. Ela

estava aberta. Ele parecia distante daquele lugar, não ouviu.

Somente quando ele chamou por seu nome, olhou.

Page 29: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 28 ]

- Como vai Adam? – levantou-se e pediu que entrasse.

- Eu estou bem, mas minha mãe precisa de sua ajuda.

Ele olhou para Adam, com um sorriso triste no rosto.

- Ela precisa de sangue! Sinto muito, mas dessa vez não

poderei ajudá-lo. Minha esposa foi atacada. Dei o sangue que

havia guardado para sua mãe – disse num tom amargurado. -

Ângela está cada dia mais violenta, por que isso está

acontecendo com ela?

- Depende de quem a transformou.

- Deve ter sido um demônio. Ela parece endemoniada.

Não conseguirei viver a seu lado por muito tempo! – desabafou

com lágrimas nos olhos e sentou-se na cadeira. Ficou

paralisado novamente, olhando para aquela folha em branco.

Adam sentiu pena daquele homem. Sabia que teria de

matá-la ou afastar-se dela. Infelizmente, o médico não teria

outra opção. Foi assim com tio Eduardo.

Despediu-se do doutor e saiu. Já não poderiam contar

com sua ajuda.

Cada vez mais, as portas estavam se fechando. Sentia

que precisava fazer alguma coisa. Mas o quê?

Voltou desorientado para casa. Disse à mãe que a noite

voltaria com sangue. Pediria a alguém que fizesse a doação.

Enquanto isso, Miriam estava a caminho de sua casa. Ela

ficava a poucas quadras da faculdade. Teria que passar em seu

esconderijo, a fim de pegar o livro da biblioteca.

Quando chegou a quadra onde morava, notou que havia

muitas pessoas nas ruas. A primeira coisa que chamou sua

atenção foi à mão jogada no chão. Naquela mão havia um anel,

semelhante ao que havia dado a sua mãe. Seu coração bateu

Page 30: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 29 ]

mais depressa ao ver outra parte do corpo, era um braço onde

havia uma tatuagem escrita seu nome.

- Mãeeee – gritou caindo no chão desesperada. Logo em

seguida, levantou-se do chão e seguiu completamente

desnorteada em direção à faculdade.

Page 31: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 30 ]

Capítulo 4

Mortes Estava exausto ao chegar à faculdade. Ao abrir a porta,

notou que havia muitas pessoas em volta da mesa de Miriam e

algumas estavam ao redor de Victor.

Ao entrar, Miriam correu em sua direção. Seus olhos

estavam vermelhos, parecia ter chorado muito.

- Adam, ainda bem que chegou! – exclamou soluçando

de tanto chorar.

- O que aconteceu, Miriam?

- Aqueles demônios atacaram o meu esconderijo – disse

em prantos. – Matou toda minha família. O que vou fazer da

minha vida? – agarrou-se a ele desesperada.

- Tem certeza? Como soube disso? – indagou confuso,

abraçando-a.

- Fui até minha casa hoje pela manhã, pois havia

esquecido um livro, que precisava devolver na biblioteca da

faculdade – respirou fundo e continuou. – Quando cheguei ao

quarteirão de casa, havia pedaços de corpos espalhados por

toda a rua. Reconheci as roupas de minha mãe – disse

chorando com desespero. – Ao chegar próximo do esconderijo,

vi a cabeça de minha mãe jogada em frente ao portão –

desabou a chorar.

- Calma! – disse passando as mãos por seus cabelos. –

Vamos sair da faculdade e providenciar o enterro.

O celular de Miriam tocou. Era uma vizinha que a

conhecia desde pequena. Ligou para tranquilizá-la quanto ao

Page 32: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 31 ]

enterro. Os vizinhos da rua em que morava, fizeram um rateio

para providenciar tudo. Ela e Adam saíram da faculdade e

seguiram para o velório.

Adam ligou para o proprietário do supermercado,

dizendo que não poderia comparecer naquele dia.

Chegaram quando já estavam fechando o caixão.

Abriram novamente, para que Miriam se despedisse. Ela chorou

ainda mais, quando olhou para as pessoas presentes, sentia

gratidão por terem providenciado tudo. As pessoas pareciam

comovidas ao ver a expressão de dor no rosto de Miriam.

Ela seguiu o caixão de seus pais, com uma expressão de

muito sofrimento e dor. Nunca havia visto Miriam tão triste,

nem mesmo, quando Cláudio havia terminado o namoro.

Ninguém disse uma palavra durante todo o percurso. Ao

chegarem ao local em que seriam enterrados, Miriam

aproximou-se dos caixões.

- Eu juro que me vingarei dessa maldita espécie até os

últimos dias de minha vida. Acabarei com eles ou eles acabarão

comigo – afastou-se e saiu daquele lugar, não esperando para

ver os caixões sumirem debaixo da terra.

Adam ficou preocupado e saiu com ela.

- Você está bem? – indagou Adam.

- Não – disse com voz baixa. – Mas preciso ficar, pois a

partir de hoje, não posso mais viver com a cabeça enterrada

em esconderijos, enquanto eles acabam com a raça humana.

- O que vai fazer?

- Ainda não sei. Mas preciso fazer alguma coisa.

Adam ficou preocupado com Miriam. Precisava ficar de

olho nela naquela noite, pois poderia se meter em confusão.

Page 33: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 32 ]

- Fique comigo. Venha morar em minha casa. Eu e

minha mãe adoraríamos tê-la conosco.

- Você sempre foi o meu melhor amigo, mas não poderei

aceitar seu convite.

- Por quê?

- Porque vou para o interior de São Paulo. Lá existe um

grupo de pessoas que, se organizaram para atacar os vampiros

durante o dia. Eles conseguiram matar alguns clãs – disse

entusiasmada, entregando-lhe um recorte de jornal. – Olhe e

veja! Alguém já começou a fazer alguma coisa.

- Onde encontrou essa reportagem?

- Cláudio me entregou, assim que soube da morte de

meus pais.

- Não seja ridícula! – disse enraivecido. – Isso é suicídio!

Ele é um inconsequente! Imagino que não a acompanhará

nessa luta insana! – disse com desdém.

- Não. Eu não preciso que ninguém me acompanhe nas

coisas “insanas” que pretendo fazer – disse com raiva.

Ele a abraçou com força, a ponto de sentir o coração de

Miriam batendo sobre seu peito. Ele precisava fazer alguma

coisa, a fim de impedi-la de ir ao encontro da morte. Estava

com a cabeça quente, mas precisava acalmá-la e tentar

convencê-la a desistir da loucura que estava prestes a fazer.

Afastou-se dela um pouco e olhou em seus olhos.

- Fique em casa essa noite, por favor – disse em tom de

súplica. – Amanhã, se ainda pensar dessa maneira, terá o meu

apoio.

- Está bem. Ficarei com vocês essa noite. Mas não

mudarei de ideia – seus olhos tinham um brilho estranho. -

Page 34: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 33 ]

Preciso fazer alguma coisa, senão morreria me sentindo uma

covarde.

Miriam e Adam caminharam até o esconderijo. Ela

estava visivelmente abalada, cansada e confusa. Ao chegarem,

Catharina que não fora avisada do que havia acontecido, logo

notou que alguma coisa estava errada.

- Vocês chegaram muito cedo. Não foi trabalhar Adam?

Miriam está com os olhos vermelhos, andou chorando? Pelo

amor de Deus me digam o que está acontecendo – disse

sentando-se na cadeira aflita.

- Tia, aqueles malditos atacaram minha família ontem à

noite! – disse chorando novamente.

- Meu Deus! Vocês providenciaram o enterro?

Precisamos correr e providenciar as coisas – disse levantando-

se da cadeira e caindo no chão.

Miriam ajudou Catharina a se levantar. Adam sentiu-se

mal, pois acabou esquecendo-se completamente do problema

de sua mãe. Pior que já estava na hora de todos se

recolherem.

- Preciso sair e buscar sangue com um vizinho. Minha

mãe tem anemia e está precisando fazer uma transfusão.

Miriam olhou para ele atônita. Correu e pôs-se a sua

frente, impedindo que saísse do esconderijo.

- Meu sangue é O positivo, posso doar a qualquer

pessoa com o fator Rh positivo.

- Eu vou buscar as agulhas. Minha mãe tem o mesmo

fator sanguíneo que o seu. Obrigada, por nos ajudar.

Ele foi buscar todas as coisas necessárias para fazer a

transfusão. Miriam notou que Catharina ao receber o sangue,

Page 35: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 34 ]

sua aparência melhorava consideravelmente. Após receber a

última gota de sangue, a cor de suas faces voltou ao normal.

Toda a fraqueza havia desaparecido como por encanto.

Ela levantou-se e foi preparar o jantar.

- Sinto muito pelo que aconteceu a seus pais, Miriam. –

disse Catharina com lágrimas nos olhos, pois a mãe de Miriam

era uma de suas poucas amigas.

- Obrigada, tia. A partir de amanhã, irei para o interior

de São Paulo. Em Jundiaí existe um grupo de pessoas que

estão aniquilando os vampiros durante o dia. Eles conseguiram

eliminar um pequeno grupo. Preciso me juntar a eles.

- Jundiaí? – indagou recordando-se do lugar com

saudade. - Sabe que isso é muito perigoso e arriscado – disse

cortando os legumes. – Fique mais uns dias aqui e pense

melhor no que irá fazer.

- Não posso ficar de braços cruzados – disse chorando.

– Senão a morte de meus pais terá sido em vão. Não quero

mais acordar e ver famílias sendo destruídas todos os dias. Não

posso ficar esperando ser a próxima vítima. Se eu tiver que

morrer, que morra lutando.

Miriam parecia decidida. Catharina recordou-se com

tristeza de tudo o que ocorrera em sua vida. Se fosse como

Miriam, mais decidida, talvez tivesse conseguido salvar seu

esposo. Mas as coisas no mundo sombrio eram muito

perigosas.

- Acalme-se, minha filha – disse soltando a faca e

aproximando-se de Miriam. – Não faça as coisas sem pensar.

Você está muito cansada e com os nervos a flor da pele. Vá

tomar um banho e descansar. Um bom banho e alguns minutos

Page 36: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 35 ]

de descanso irão ajudá-la a se acalmar um pouco – disse

dando-lhe um beijo na testa. – Agora vá fazer o que eu lhe

pedi - disse sorrindo afetuosamente.

Miriam foi ao pequeno banheiro. Abriu a torneira do

chuveiro e deixou que a cascata de água morna caísse sobre

sua pele. Ficou mais ou menos uns quinze minutos no chuveiro.

Tia Catharina tinha razão, pensou Miriam. Estava mais

calma. Mas ainda pensava em partir. Ninguém a conseguiria

convencer-lhe do contrário. Ouviu que alguém entrou no

quarto.

- Miriam – chamou Catharina. – Deixei uma toalha em

cima da cama e roupas para você vestir. Temos o mesmo

corpo, acredito que ficarão bem em você.

- Obrigada, tia Cathy - respondeu do banheiro. - Não sei

o que seria da minha vida sem vocês – disse com sinceridade.

Catharina voltou à cozinha, a fim de terminar o jantar.

Adam estava sentado na cozinha com a cabeça baixa. Parecia

ainda mais triste do que ontem.

- Filho, não pode ficar assim! – disse Catharina afagando

seus cabelos. – Miriam precisa de um ombro amigo, para

chorar suas dores. Então, você precisa tentar ficar inteiro.

- Mãe, ela falou que irá se juntar a um bando de

malucos que atacam vampiros – disse preocupado. – Sabemos

que isso é suicídio! Me ajude a impedi-la de fazer essa loucura

– disse chorando – Eu não saberia viver sem ela – desabafou.

- Precisa respeitar sua dor. Podemos apenas tentar

convencê-la de que isso é loucura, mas não podemos impedi-

la. Ela tem o direito de fazer alguma coisa pela morte de seus

pais.

Page 37: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 36 ]

Miriam entrou na cozinha. Ela estava visivelmente um

pouco mais calma.

- Tia, precisa de ajuda para terminar o jantar?

- Não. Quero que vá descansar um pouco. Pedirei que

Adam a chame quando estiver pronto. Vá dormir um pouco

para repor as energias.

Miriam saiu chorando da cozinha. Adam a seguiu até o

quarto onde dormiam.

- Posso fazer alguma coisa por você? – disse Adam

preocupado ao vê-la tão triste.

- Sim. Fique aqui comigo. Esse é o último dia, que me

permitirei ter um sentimento como esse.

Ela deitou-se na cama. Adam permaneceu ao seu lado.

Miriam havia adormecido. Adam aproveitou para observá-la

melhor. Passou as mãos, por seus lindos cabelos negros e

encaracolados. Eles ainda estavam úmidos e cheiravam a

chocolate. Miriam era louca por chocolate, sempre fora uma

chocólatra assumida, pensou sorrindo.

Ele se aproximou de seu corpo e sentiu a leve fragrância

de morango. Ela havia passado o hidratante de sua mãe...

Olhou para aquele lindo rosto, seus lábios eram carnudos e

sensuais. Tinha uma pequena pinta ao lado direito da boca. Ele

sentiu o desejo de beijá-la, mas como sempre não teve

coragem.

Miriam parecia um anjo. Ela era toda iluminada. Sua

bondade e simpatia encantavam a todas as pessoas. Nunca

pôde entender como Cláudio a trocara por Milena.

Se conseguisse conquistar o coração daquela mulher,

jamais pensaria em outra... Viveria para fazê-la feliz. Ela

Page 38: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 37 ]

parecia um lindo anjo, dormindo naquele lugar horrível... Às

vezes tinha a impressão que Miriam era um anjo, que Deus

enviou a terra, para que aprendêssemos através de sua

bondade.

Ele não poderia deixá-la partir. Morreria se ela fosse

embora. Miriam era sua melhor amiga, seu primeiro amor.

Como poderia viver sem ela?

Seus olhos se encheram de lágrimas, segurou para não

cair no choro. Seu coração estava apertado, não sabia o que

fazer, a fim de impedi-la de ir embora.

Catharina apareceu no quarto e observou o quanto

Adam amava aquela mulher. Seus olhos refletiam todo o amor

e admiração que sentia por Miriam. Não podia entender como

ela, nunca havia notado o quanto Adam a queria.

- Filho o jantar está na mesa. Acorde Miriam, pois ela

precisa se alimentar.

Catharina saiu do quarto enxugando as mãos no

pequeno avental. Lembrou-se com saudade de seus pais.

Catharina os havia perdido da mesma maneira. Michel e Mihnea

acabaram com sua família.

Sentiu o desejo de vingança, assim como Miriam. Mas

nunca obteve sucesso em sua empreitada. Muito pelo contrário,

houve um empate. Mihnea acabou com Andrew Vlad, enquanto

ela acabou com a Condessa Bathory. Ninguém saiu ganhando

naquela história.

Page 39: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 38 ]

Capítulo 5

A decisão Ao acordar, Catharina olhou em direção ao sofá, aonde

Miriam havia dormido, mas já havia se levantado. Correu até a

cozinha para ver se ainda estava em casa. Encontrou-a coando

o café da manhã, ainda não havia partido.

- Bom dia, tia Cathy! – disse animada. – Estava

preparando o café para vocês.

- Não havia necessidade de fazer isso, minha menina.

Você é quem precisa de cuidados.

- Estou bem, tia. Queria fazer alguma coisa para

agradecer-lhes, pois vou embora hoje.

- Não vá embora. Fique aqui conosco. Já estava feliz por

ter ganhado uma filha. Sempre desejei ter uma menininha para

cuidar – disse com carinho.

- Adoraria ter sido sua filha. Mas não posso ficar, o

mundo precisa de mim – disse sorrindo. – Eu vou embora, mas

quando precisar de uma mãe, sei onde posso encontrar – disse

dando-lhe um beijo no rosto.

Adam aproximou-se da cozinha.

- Meu Deus! Vocês mulheres falam alto pra caramba –

disse sorrindo ao ver que Miriam, parecia menos triste aquela

manhã.

- Acordei cedo e já preparei o café para vocês. Preciso ir

até a faculdade para me despedir do pessoal.

- Ainda não esqueceu aquelas maluquices, Miriam –

disse Adam, nervoso. – Não vá embora, fique! – implorou. –

Page 40: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 39 ]

Sabe que está preste a cometer suicídio? – disse olhando-a

com insistência. - Nós te amamos e precisamos de você aqui.

Não posso permitir que vá ao encontro da morte.

- Não vou mudar de ideia Adam – disse aproximando-se

dele – Sei que você se preocupa comigo, mas preciso ir

embora. Preciso fazer alguma coisa ou morrerei.

- Eu morrerei se você partir – disse Adam num sussurro.

Catharina saiu da cozinha. Será que teria coragem de

confessar o amor que sentia por Miriam?

- O que você disse? – indagou Miriam.

- Que se você partir, eu morrerei – disse vermelho.

- Não morrerá. Sentirá minha falta porque somos

amigos. Mas irá me esquecer, assim que encontrar uma nova

amiga.

Ele aproximou-se de Miriam e segurou seu rosto,

fazendo-a olhar em seus olhos.

- Eu não quero que vá. Fique aqui comigo. Eu preciso de

você, mas do que você precisa de mim.

Ela ficou paralisada diante do que havia ouvido. Ele a

soltou. Parecia arrependido do que havia dito.

- Se não o conhecesse, poderia jurar que iria se declarar

para mim, somente para me convencer a ficar – disse sorrindo.

– Meu amigo, eu preciso ir embora. Você mora no meu

coração. Sempre estará comigo.

Catharina ouviu a conversa. Ficou com pena do filho,

mais uma vez, Adam havia perdido a oportunidade de dizer a

Miriam o quanto a amava.

Tomou o desjejum em absoluto silêncio. Quando Miriam

terminou, levantou-se da mesa e levou sua xícara até a pia.

Page 41: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 40 ]

- Não se atreva a fazer mais nada – disse Catharina. –

Apenas sente-se ao nosso lado, pois queremos aproveitar cada

segundo que nos resta com você.

Miriam olhou para Catharina com os olhos cheios de

lágrimas e sentou-se ao seu lado. Ela estava bastante

emocionada ao pegar a mão de Catharina.

- Tia Cathy, muito obrigado. – disse com voz

embargada. – Vou sentir falta de vocês. São as únicas pessoas

que tenho agora. Eu amo vocês e quando tudo isso chegar ao

fim, voltarei – disse abraçando Catharina.

- Não vá embora minha filha. Sei que está entrando

numa causa justa, mas extremamente perigosa – disse

Catharina preocupada, tentando convencê-la a ficar. – Você faz

parte dessa família. Fique conosco!

Miriam ficou comovida com a demonstração de carinho e

preocupação de Catharina.

- Eu sei que posso contar com vocês, tia. Mas preciso

fazer alguma coisa, mesmo que cometa um grande erro e me

arrependa. Estou feliz por saber, que tenho alguém que se

preocupa comigo. Mas preciso vingar a morte de minha mãe,

isso tem que acabar. Não posso ver a raça humana ser

exterminada e ficar de braços cruzados.

- Eu e Adam nos preocupamos com você. Não faz ideia

como a amamos! Quando sentir falta de nós ou de um lar,

nossa porta sempre estará escancarada para recebê-la – disse

Catharina sorrindo com ternura.

Elas ficaram abraçadas por um longo tempo. Miriam

tinha os olhos cheios de lágrimas e lutava ferozmente para não

cair no choro. Saiu daquele esconderijo com a sensação de que

Page 42: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 41 ]

não seria fácil, viver sem o carinho daquela família.

Miriam e Adam seguiram para a faculdade. Não

conversaram durante o caminho. Miriam estava com o coração

apertado e com uma louca vontade de chorar. Mas a partir

daquele dia, teria que aprender a lutar contra sua própria

fraqueza. Medo, fome, frio, saudade ou derrota eram palavras

que deixaria de pronunciar. A partir daquele dia, elas seriam

eliminadas de seu vocabulário. Para vencer essa luta precisaria

de muito otimismo e determinação.

Agora palavras otimistas fariam parte de seu dia a dia.

Determinação, coragem, vitória, persistência e amor fariam

parte de sua vida. Não poderia entrar numa guerra como

aquela se pensasse de forma negativa.

Lembrou-se de uma frase que sua mãe sempre

costumava dizer: “Tudo posso, naquele que me fortalece”. Essa

frase levaria como um estandarte naquela nova empreitada. Se

Deus estiver ao meu lado, nenhum inimigo será mais poderoso

do que eu.

Adam sentiu que Miriam realmente deixaria aquela

cidade. Não havia mais nada que pudesse falar ou fazer, a fim

de fazê-la desistir daquela loucura.

O caminho da faculdade pareceu infinitamente mais

longo, naquela manhã. As ruas pareciam mais compridas e as

horas, pareciam passar com velocidade assustadora.

Quando chegaram à faculdade, as coisas pareciam

agitadas. Havia um grande tumulto nos corredores. Os

vampiros haviam descoberto mais esconderijos. Ouviu que

alguém gritava e chorava de maneira escandalosa.

Ao entrar em sua sala, notou que ali também estava um

Page 43: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 42 ]

completo caos. Havia muitas pessoas ao redor da mesa de

Cláudio, que parecia em estado de transe, ou seja, totalmente

paralisado e perdido.

- O que houve? – indagou Miriam a uma amiga.

- A família do Cacau foi atacada – disse um amigo. – Ele

e a namorada estavam na casa de Henrique. A família dela,

também foi atacada. Ele parecia em estado de choque, não

disse uma única palavra desde que chegou.

Adam não se aproximou de Cláudio, pois já havia muitas

pessoas ao seu redor. Sentiu ódio daqueles malditos vampiros.

Se soubessem que ele era metade vampiro, sua vida correria

perigo, naquele momento. A revolta dentro daquela sala era

imensa. Começou a se amaldiçoar por ter em suas veias

sangue assassino.

Miriam sentou-se ao lado de Cláudio, pegou em sua mão

e apertou-a com força.

- Cláudio, sei como está se sentindo – disse olhando

para ele com amor. – Eu tomei uma decisão importante essa

manhã, decidi me juntar a um grupo de exterminadores, que

lutam bravamente na cidade de Jundiaí. Lembra-se do recorte

de jornal que me entregou ontem? Se quiser vir comigo,

partirei quando terminar as aulas - disse acariciando seus

cabelos.

Cláudio olhou para ela e levantou-se para abraçá-la.

Nesse momento, Adam decidiu sair daquela sala. Não

aguentaria ver mais nada. Cláudio havia trocado Miriam pela

garota mais rica da universidade, Milena. Era uma boa moça,

apesar de ser rica e mimada, não era arrogante ou exibida,

muito pelo contrário, era simples e se importava com as

Page 44: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 43 ]

pessoas e gostava de ajudá-las. Muitas vezes as pessoas

aproveitavam-se disso, pedindo dinheiro emprestado ou livros e

nunca devolviam. Corria o burburinho de que Cláudio estava

com ela, apenas por ser uma garota milionária.

Adam estava sentando no chão do corredor, aguardando

que o sinal tocasse para o início da aula. Assim que observou o

professor se aproximando, decidiu entrar.

Naquele dia, ninguém conseguiu prestar atenção em

absolutamente nada. Todos estavam preocupados com os

assassinatos ocorridos com familiares dos alunos daquela sala.

Houve alguém que cogitou a possibilidade de haver algum

espião entre eles. Seria possível haver um espião naquela sala?

Mas ninguém tinha o famoso sinal dos espiões na mão.

No intervalo, as pessoas disseram que a família de

Cláudio, foi encontrada mutilada, assim como a família de

Miriam. Que havia parte de seus corpos até na rua vizinha.

Cláudio não esboçava nenhuma reação. Não conseguia

chorar. Ficou sentado na cadeira, com o olhar perdido e

desorientado durante todas as aulas.

Após o término das aulas, muitas pessoas se dirigiram

ao cemitério, a fim de acompanhar o enterro dos pais de

Cláudio e Milena.

Miriam aproximou-se de Adam que parecia muito

chateado e aborrecido.

- Você irá ao cemitério, Adam? – indagou Miriam.

- Infelizmente, não poderei comparecer. Faltei ontem ao

meu emprego e não seria aconselhável faltar hoje também.

- Entendo – disse num tom desaprovador.

- E você irá ao enterro?

Page 45: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 44 ]

- Sim. Gostava muito dos pais de Cláudio.

- Claro. Você era como uma filha para eles – disse num

tom sarcástico, ao recordar-se do pouco caso que faziam dela.

- Não entendi a ironia – disse Miriam com raiva.

Adam não disse mais nada, apenas se afastou descendo

as escadas rapidamente.

- Espere! – gritou Miriam. - Não me deixe falando

sozinha. Está chateado porque vou ao enterro?

- Não.

- Está mentindo – disse com um sorriso encantador no

rosto.

- Eles esnobaram você a vida inteira. Não entendo

porque deveria ir ao enterro daqueles esnobes.

- Porque vivi uma linda história de amor com o filho

deles. Não é por eles, mas por Cláudio. Ele precisa de apoio.

Quero que saiba que ele pode contar comigo, pois sei que está

precisando de um ombro amigo.

- Você não consegue esquecê-lo, não é? Mesmo depois

do que ele fez. Eu admiro a facilidade com que consegue

perdoar as pessoas.

- Essa não é hora para mágoas. Sei muito bem, como é

difícil perder os pais de maneira tão estúpida.

- Está encontrando motivos para estar junto dele. Será

que nunca vai conseguir esquecer esse cretino?

Miriam balançou a cabeça e sorriu.

- Está com ciúmes? – provocou.

- Ciúmes? – repetiu. – De quem? Daquele ser

desprezível? Deve ter perdido o juízo. – disse descendo os

últimos degraus da escada.

Page 46: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 45 ]

Ele voltou-se para Miriam e sorriu.

- A única coisa boa de toda essa história, é que você não

poderá partir. Estarei esperando por você em casa.

Ele saiu da faculdade com o coração feliz. Ela não

poderia partir, pois o enterro tomaria grande parte de seu

tempo. Não conseguiria chegar ao interior antes do anoitecer.

Esperou o ônibus que o levaria até seu emprego. Ele

não demorou a aparecer. Cumprimentou o motorista e sentou-

se ao lado do cobrador.

- Como vai, Adam? – cumprimentou Alemão, o cobrador

de ônibus.

- Ninguém vive bem no meio desse caos, Alemão.

Mataram mais pessoas essa noite, essa vida está um inferno! –

explodiu revoltado.

- Você conhecia as vítimas?

- Sim. Sempre morre alguém que conhecemos.

- Não sei quando tudo isso irá acabar – disse Alemão. –

Eles mataram minha namorada, pois o esconderijo dela

também foi descoberto.

- Sinto muito, cara – disse Adam pesaroso.

- Estou cansado de acordar todos os dias e me deparar

com a morte. Todos os dias morre alguém que conheço. Fico

pensando, quando chegará a minha vez? – desabafou com

tristeza. – Estou cansado, meu amigo. Gostaria de ser o

próximo, estou extremamente farto de viver com medo de

morrer.

- As coisas irão melhorar, precisa acreditar – disse

levantando-se do banco, pois desceria no próximo ponto.

- Acreditar? O mundo está virado de cabeça para baixo.

Page 47: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 46 ]

Meses atrás as pessoas viravam vampiras. Com a falta de

sangue, estão matando de maneira bárbara as pessoas que

encontram. Não quero estar vivo, quando as coisas ficarem

ainda pior.

- Não desanime. Para tudo há uma saída, acredite –

disse saindo do ônibus.

Ao chegar ao supermercado, encontrou a figura

bonachona de seu patrão. Era um turco com enormes bigodes.

Ele vivia sorrindo e tinha um sotaque de turco muito arrastado

e difícil de entender.

- Hoje Adam está bom pra trabalho? – indagou com o

sorriso de sempre.

- Sim. Hoje trabalharei em dobro, a fim de recuperar a

falta de ontem.

- No necessário trabalhar tão duro. Faisal entende que

Adam estava muito triste, pais de amigo morrendo. Agora vá

trabalhar, menino – disse segurando e enrolando com os

dedos, um dos bigodes.

Adam foi até as prateleiras verificar se havia

necessidade de repor as mercadorias. Ao chegar ao depósito,

notou que os vampiros haviam levado grande parte dos

alimentos.

Precisava encontrar uma forma de acabar com aquela

bagunça. Seu Faisal estava tendo muito prejuízo. O pior de

tudo é que repassava o prejuízo para os clientes, fazia isso

aumentando o preço das mercadorias. Se continuassem dessa

maneira, os alimentos ficariam tão caros, que ninguém teria

dinheiro suficiente para comer todos os dias.

Havia pensado muito em como diminuir os prejuízos e

Page 48: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 47 ]

encontrou uma solução. Decidiu procurar o turco.

- Senhor Faisal – chamou. – Pensei numa maneira de

acabarmos de uma vez por todas, com os prejuízos.

- Fala filho, Faisal está ouvindo – disse colocando

algumas mercadorias no lugar.

- Pensei em construir um grande cofre de prata.

Colocaríamos as mercadorias todas as noites nesse cofre.

Ele parou o que estava fazendo e sorriu.

- Faisal não entende o que Cláudio dizer.

- Disse que se colocássemos as mercadorias, num

grande cofre de prata, evitaríamos a falência.

- Quanto custa cofre desses, menino? – perguntou o

turco interessado.

- Não faço a menor ideia. Mas posso verificar para o

senhor.

- Cláudio é menino inteligente – disse enrolando um dos

bigodes com os dedos. – Eu ficar satisfeito com o que disse.

Procura saber quanto custa, Faisal manda fazer um desse pra

mercado.

A tarde sentou-se no escritório e ligou para várias

pessoas que faziam cofres. Mas ninguém trabalhava com prata.

Um dos comerciantes se interessou e disse que faria o tal cofre

e não cobraria caro. Em troca faríamos propaganda de seu

produto.

O turco aceitou a proposta e o comerciante entregaria

na semana seguinte.

Adam saiu do supermercado e foi direto para casa. Ao

chegar, Miriam já havia retornado do enterro, mas parecia

ainda mais triste.

Page 49: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 48 ]

- Filho? Olha quem está aqui – disse apontando para

Miriam. – Teremos a companhia dela por mais essa noite.

- Como foi o enterro, Miriam? – indagou Adam.

- Triste como qualquer outro. O enterro dos pais de

Milena foi junto. Ela desmaiou e foi difícil conseguir acalmá-la.

Adam notou que Miriam escondia alguma coisa.

- Sinto que tem algo a me dizer – disse sem rodeios.

- Não adianta querer esconder nada de você! –

exclamou sorrindo. – Falei com Cláudio e Milena sobre o grupo

de exterminador de vampiros. Eles irão junto comigo. Todos

desejam acabar com essa maldita espécie assassina – disse

com raiva.

- Eles irão com você? Irão se unir ao grupo, tem

certeza?

- Sim. Combinamos de partir pela manhã.

- Eu poderia dizer milhares de coisas para impedi-la,

mas sinto que seria inútil. A única coisa que posso fazer, é

torcer para que não morra.

Ela sorriu e segurou a mão de Adam. Ele estava com as

mãos frias como sempre. Puxou-a para junto de si e abraçou-o

com carinho.

Logo em seguida, Catharina os chamou para jantar. Eles

se afastaram, mas Adam a puxou novamente para perto dele.

- Não vá, por favor – disse com lágrimas nos olhos.

- Você sabe que faria qualquer coisa por você, mas isso

está fora de questão – disse seguindo em direção à cozinha.

Durante o jantar ninguém disse uma única palavra.

Catharina tentou iniciar uma conversa, mas eles respondiam

com monossílabas. Acabou desistindo e permaneceu calada

Page 50: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 49 ]

também.

Foram dormir mais cedo naquela noite. Quando

Catharina ouviu o galo cantar, observou que Miriam já havia

partido. Deixara apenas um bilhete, agradecendo por tudo e

dizendo que jamais se esqueceria do amor recebido naquela

casa. Adam não fez nenhum comentário. Apenas tomou o café

e partiu para a faculdade.

Horas depois, Catharina sentiu que pessoas pisavam em

cima de seu esconderijo. Ficou quieta, com receio que fosse

algum espião dos vampiros.

Logo depois, percebeu que haviam desistido e foram

embora. Após o almoço, recebeu o telefonema de Adam. Disse

que chegaria mais tarde, iria com o dono do supermercado

buscar o cofre de prata, pois o comerciante havia passado a

noite inteira fazendo o bendito cofre.

Catharina preparou o jantar. Lembrou-se com saudade

da época em que os pais eram vivos. Sua vida era tranquila e

confortável.

Seu coração disparou ao recordar-se de Eduardo. Ele

sempre cuidou dela e de Adam após a morte de Vlad.

Infelizmente, fora atacado pelos vampiros de Mihnea e o

veneno que tomou conta de seu corpo, era ruim. Ele se

transformara num assassino cruel e impiedoso.

Agora, Edu fazia parte da cúpula de vampiros que

serviam a Mihnea. Sentia muita saudade da época em que

eram amigos, pensou com tristeza.

As horas passaram tão rápido, que ao olhar para o

relógio, seu coração disparou. Começou a andar de um lado

para o outro, pois estava chegando o horário de recolhida.

Page 51: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 50 ]

Adam ainda não havia chegado. Decidiu ligar para saber onde

estava.

O celular de Catharina começou a vibrar em cima da

mesa. Ela atendeu o telefone correndo, pois sabia que era

Adam.

- Adam, é você meu filho? – indagou preocupada.

- Sim. Mãe, estava tentando ligar para a senhora nesse

momento, pois não conseguirei chegar em casa a tempo. Terei

que dormir no esconderijo do Sr. Faisal.

- Está bem, mas tome cuidado com o horário.

- Estou a uma quadra do esconderijo do Sr. Faisal, não

fique preocupada. A senhora ficará bem?

- Sim. Não se preocupe.

- Boa noite, mãe. Amanhã nos veremos.

- Eu te amo, meu filho – disse mais tranquila. – Tome

muito cuidado, pois não saberia viver sem você – disse

desligando o celular.

Catharina foi dormir mais cedo naquela noite. Horas

mais tarde, notou que os vampiros andavam em cima de seu

esconderijo. Sentiu o coração bater mais forte, quando ouviu o

alçapão ser aberto. Correu e escondeu-se embaixo da cama.

- O Dr. Mihnea ficará feliz, quando souber que

encontramos a entrada do esconderijo do filho de Vlad – disse

um dos vampiros, sorrindo de maneira exagerada.

- Cuidado – alertou um deles. – A mãe dele é uma de

nós. Ela protegerá Adam como uma fera.

Ouviu que desciam as escadas. Olharam ao redor da

cozinha, não encontrando ninguém. Um deles dirigiu-se ao

cômodo que servia como quarto, mas também não encontrou

Page 52: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 51 ]

nada. O banheiro estava completamente vazio.

- Será que alguém os informou a respeito dos planos de

Mihnea? Quem os alertou dizendo que os atacaríamos essa

noite?

- Não faço a menor ideia – disse um deles, esfregando

as mãos. – Mihnea ficará furioso quando souber que eles

deixaram o esconderijo.

Catharina ouvia tudo quieta. Até notar que um rato

preto, seguia em sua direção. Não aguentou e soltou um grito.

- Você ouviu? – disse o vampiro mais alto. – Teremos

que vasculhar esse maldito cubículo. Tem alguém aqui.

Eles começaram a quebrar tudo o que encontravam pela

frente. Catharina sentiu que a qualquer momento, seria

descoberta. Agradeceu a Deus, por Adam estar longe naquela

noite.

Viu os pés de um deles se aproximar. Notou que suas

garras, seguravam por um dos lados da cama e a arremessou

contra a parede com violência.

Aquele maldito ser a olhava com olhos cor de brasas.

Havia satisfação e orgulho, por vê-la encolhida naquele chão.

- Ora, ora, ora – disse passando as garras no rosto dela

com suavidade. – É a esposa de Vlad IV! É um prazer conhecê-

la, majestade – disse com ironia. Tem alguém que adoraria

revê-la. Veja o que encontrei, Sandro! – gritou com orgulho

exagerado.

O outro se aproximou olhando para Catharina com

satisfação.

- Ela continua tão bonita, quanto na época em que foi

tirada essa foto – disse olhando para a fotografia que tinha nas

Page 53: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 52 ]

mãos. - Essa é a vantagem de ser uma vampira. Não

envelhecemos como todo mundo. Não é verdade minha

senhora?

- Sabe que seu cunhado a quer morta? – disse

mostrando as mandíbulas. - Como deseja morrer, ilustre

rainha? – indagou gargalhando de forma demoníaca.

Catharina estava cansada de viver escondida. Não podia

sair durante o dia, pois o sol era um inimigo. Quando chegava

a noite, havia inimigos ainda mais vorazes e furiosos, caçando-

a como se fosse um animal. Estava cansada dessa vida. De

certa forma, estava aliviada por saber que seu fim havia

chegado.

- Não respondeu minha pergunta – informou um deles,

lançando suas garras sobre ela.

Catharina tentou correr, mas eles eram mais ágeis e

velozes do que ela. Um deles pegou sua cabeça e com enormes

garras cortou sua pele.

- Vamos deixá-la um pouquinho desfigurada – sorriu

segurando seus cabelos – Seria muito difícil matá-la com essa

carinha linda. Diga-me, nunca desconfiaram que era muito

nova, para ter um filho adulto? – indagou curioso. – Dá até

para se apaixonar por ela, não é Sandro?

- É mesmo, a senhora é muito esperta. Pintou algumas

mechas de cabelo na cor branca, para envelhecer essa carinha

de menininha – disse Sandro, o vampiro, que ria de maneira

exagerada.

Catharina recordou-se de que pintou os cabelos, para

tornar-se mais velha, assim as pessoas não desconfiariam que

também fosse uma vampira.

Page 54: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 53 ]

- Infelizmente, temos que matá-la. A ordem é para

levarmos sua cabeça até Mihnea – disse Sandro puxando seus

cabelos com força.

O outro foi até a pia e abriu uma das gavetas, tirando de

lá um facão, olhou para Catharina e cuspiu no chão.

- Irá se juntar a seu esposo, Vlad IV – disse olhando-a

com arrogância. - Ah! Ia me esquecendo, se for para o inferno

encontrará com a Condessa Bathory – empunhou o facão na

altura do pescoço de Catharina. - Boa sorte, rainha dos

derrotados! – finalizou passando o facão pelo pescoço dela.

Seu corpo caiu no chão sem vida. Sandro olhava sorrindo, para

a cabeça que segurava em suas mãos.

- Missão cumprida! – declarou Sandro subindo as

escadas, a fim de sair daquele esconderijo subterrâneo.

- Não levaremos a outra parte do corpo?

- Não. A cabeça dessa vadia é o suficiente. Afinal, Adam

precisa saber o que aconteceu a sua mãe – sorria com

satisfação, olhando a cabeça que tinha nas mãos.

Precisavam correr a fim de chegarem antes do pôr-do-

sol. Mihnea tinha urgência em saber, se aquela ordem fora

cumprida.

Chegando ao palácio dos governadores, pediram para

falar com Mihnea. A autorização para que entrassem, não

demorou.

Eles andaram por um longo corredor, parecia que nunca

chegariam. Sandro suava frio, pois tinha horror a lugares

fechados e sem janela.

Ao chegarem ao fim do corredor, havia uma enorme

sala, aberta cheia de janelas, onde os vampiros bebiam um

Page 55: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 54 ]

verdadeiro coquetel de sangue.

- Fizeram o que mandei? – indagou Mihnea num tom

nada amistoso. – Espero que tenham concluído a missão –

disse num tom ainda mais rude.

- Sim. Nós concluímos a missão – disse Sandro,

orgulhoso.

Mihnea tinha os olhos cor de brasas. Notou um sorriso

sombrio em seu rosto. Sandro pensou que um único sorriso no

rosto de Mihnea, deveria ser algo muito raro, pois um sorriso

naquele rosto, definitivamente não combinava. Ele tinha o rosto

com feições dura como pedra. Era um ser rude e cruel. Aquele

sorriso foi tão feio, que chegou a dar medo.

- Mataram Catharina e o filho? – indagou desconfiado.

- Catharina está aqui – disse tirando da sacola a cabeça

de Catharina. – Mas o filho dela não estava no esconderijo.

O sorriso se desfez com rapidez. Suas feições voltaram

ao normal, eram duras e frias como sempre. Sandro concluiu

que Mihnea era bipolar, pois ele conseguia ir da felicidade a

fúria em questão de segundos.

Seu rosto mostrava uma fúria incontrolável. Sandro teve

certeza, que Mihena poderia matar alguém de pavor com

apenas aquele olhar sombrio, perverso e furioso.

Notou que suas pernas fraquejavam, mas tentou

controlar-se. Não poderia demonstrar sua fraqueza, diante do

todo poderoso rei dos vampiros, pois não desejava voltar às

ruas e passar fome novamente.

- Por hora, estou satisfeito. – disse abrandando a fúria

em seu olhar. – Pelo menos mataram essa cadela maldita –

disse olhando para a cabeça de Catharina.

Page 56: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 55 ]

Ele aproximou-se de Sandro e arrancou-lhe das mãos, a

cabeça de Catharina. Pegou com extremo cuidado, era como se

estivesse pegando algo muito valioso. Ergueu a cabeça dela

para que todos olhassem.

- Esse é o fim de pessoas que me tem como inimigo.

Demorou em encontrá-la, mas aqui estamos nós dois – disse

baixando a cabeça e olhando-a nos olhos.

- Junte-se aos derrotados, cadela maldita!

- Olhe, essa é Catharina! Esposa de Vlad IV, o antigo rei

dos vampiros. Ela tornou meu irmão um homem fraco. Disse

que a mataria – sorriu. – Finalmente a vadia está morta. Seu

filho, em breve, também estará em minhas mãos – sorria

diabolicamente.

Ele jogou a cabeça dela no chão, pisando em cima dela

com seus lindos e lustrosos sapatos de couro.

- Esse é o fim de quem me enfrenta! – exclamou

olhando com arrogância, para todas as pessoas presentes

naquela sala.

Ninguém se atreveu dizer uma única palavra. De

repente, um dos vampiros começou a bater palmas, sendo

seguido pelas demais pessoas presentes.

Mihnea sorria satisfeito, estava sendo ovacionado por

todos os vampiros. Seus planos estavam começando a dar

certo. Era admirado e temido por todos.

Mihnea olhou em direção a Eduardo e sorriu.

- Olhe Edu, Catharina já não faz parte de nossos

inimigos. Acabamos com mais um deles, meu amigo.

Eduardo sentiu uma pontada no coração ao ver a cabeça

de Catharina no chão. Recordou-se do tempo em que eram

Page 57: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 56 ]

humanos. Desde que se tornara um vampiro, não conseguia

mais sentir pena, amor, saudades, enfim, aquele veneno

mudara tudo dentro dele. Mas observar seu grande e único

amor, sendo pisada por Mihnea, sentiu ódio daquele homem

cruel e arrogante.

- Eduardo, pise na cabeça dessa maldita vadia. Ela

sempre o rejeitou. Acreditava que era superior a qualquer

pessoa. Julgava-se a última bolachinha do pacote – concluiu

sorrindo - Venha, pise nessa maldita cretina.

Eduardo sentiu raiva de Mihnea. Não entendia porque

estava sentindo-se assim... Ele se tornara seu amigo, desde

que deixara de ser apenas um ser humano estúpido e fraco.

Mas estava sentindo uma forte dor, ao pisar na cabeça

de Catharina. Aquilo doeu mais, do que quando soube que

Catharina estava grávida de Vlad.

Mihnea sorria com satisfação. Aquele sorriso debochado

trouxe grande revolta dentro de Eduardo. Aquele maldito

cretino, jamais deveria ter matado Catharina, pensou. Ele

percebeu que ainda amava Catharina, aliás sempre soube que

a amava, pois muitas vezes foi obrigado a mentir, quando dizia

não saber onde estava escondida.

- Agora a meta é encontrar o meu sobrinho. Se ele ficar

do nosso lado, então não precisará juntar-se ao pai e a mãe –

disse Mihnea, observando a reação de Eduardo e de todos os

presentes.

Page 58: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 57 ]

Capítulo 6

Revolta No dia seguinte, Adam acordou e ligou para a mãe, mas

ela não atendeu a nenhuma de suas ligações. Isso o deixou

bastante preocupado durante todo o dia. Mas só não voltou

imediatamente para casa, porque ela tinha o costume de

esquecer-se de carregar o celular.

Foi para a faculdade. Ao entrar na sala de aula, olhou

para a carteira onde Miriam costumava sentar-se, estava vazia.

Na hora do intervalo, decidiu ficar sentado na sala de aula,

afinal não queria conversar com ninguém. Queria ficar sozinho

em silêncio, aproveitaria para estudar para a prova que seria

aplicada, após o intervalo. Mas não conseguiu se concentrar na

apostila a sua frente.

Olhava novamente para a carteira em que Miriam

costumava sentar-se. Pensou o quanto era feliz e não sabia.

Lembrou-se de todos os momentos que passaram juntos e

sentiu uma saudade tão forte, que chegava a doer à alma.

Havia um enorme vazio naquela sala. Miriam conseguia

preencher qualquer vazio, com sua alegria contagiante. Era

muito otimista e decidida em tudo o que fazia. Miriam era o

grande amor de sua vida, mas infelizmente nunca tivera

coragem de revelar seus sentimentos. Sempre teve medo de

que se afastasse dele, quando soubesse que era apaixonado

por ela.

Já não era paixão o que sentia por aquela mulher,

sorriu. Como pude deixá-la partir? Por que não revelei meus

Page 59: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 58 ]

sentimentos? Por que permiti que fosse embora com aquele

cretino? Adam sabia que aquelas perguntas, poderiam ser

respondidas com apenas uma palavra, medo de ser rejeitado.

Definitivamente não merecia seu amor. Ela estava

arriscando sua vida, para acabar com um problema que não era

só dela, pois acabar com os vampiros, era um problema de

todos.

Estava muito envergonhado por tentar dissuadi-la de

uma causa tão nobre. Precisava fazer alguma coisa, a fim de

ajudá-la. Não poderia se acovardar diante de um problema

como aquele. Havia acabado de tomar uma decisão. Quando

chegasse em casa, informaria a sua mãe que partiriam para

Jundiaí. Ele iria se juntar ao grupo de exterminadores, que

Miriam tanto falara.

No supermercado, havia uma grande multidão de

pessoas fazendo compras. Foi até o armário e vestiu o

uniforme. No refeitório, pegou o cartão de ponto e introduziu-o

na máquina. Notou que havia um aviso grampeado ao cartão.

O Sr. Faisal, pedia-lhe que fosse até sua sala.

Meu Deus! Fizera algo errado? Seguiu até o escritório do

turco. Bateu na porta. Ela abriu-se no mesmo instante. Notou

que o Sr. Faisal, andava de um lado para o outro falando ao

telefone, animadamente.

Sentei-me na cadeira e aguardei a triste notícia de

minha demissão. Aquele homem costumava colocar bilhetes no

cartão de ponto, quando decidia demitir funcionários. Ele

mesmo costumava grampear esse tipo de recado.

Demorou uma eternidade, até que desligasse aquele

maldito telefone. Olhou para mim, com uma expressão

Page 60: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 59 ]

indecifrável no rosto. Enrolou os bigodões, com uma de suas

mãos e sorriu.

- Você precisa ver depósito de Faisal – disse abrindo a

porta. – Venha, olhos de Adam precisa ver o que aconteceu.

Seguiu aquele homem com medo. Teve vontade de sair

correndo dali. Não tinha a menor vontade de ver o que havia

acontecido. Mas precisava ficar e ver com seus próprios olhos,

a besteira que havia feito.

Chegando ao depósito, notou que estava tudo limpo e

organizado. Isso nunca aconteceu desde que havia entrado

naquele supermercado. Sempre havia uma grande sujeira, pois

os vampiros costumavam quebrar e rasgar todos os produtos

que encontravam pela frente. Isso acontecia todas as noites.

Andando mais adiante, próximo aonde havia instalado o

cofre de prata, notou que havia um vampiro caído frente ao

cofre. Tinha as mãos completamente derretidas. Seu rosto

estava desfigurado e parecia morto.

- Nunca mais Faisal ter prejuízo! Eu compro mais desses

cofres e põe mercadorias mais baratas pra venda – disse com

seu português indecifrável. - Baixar valor de mercadorias! Faisal

não ter prejuízo. Hoje Adam vai ser minha sócio. Mal posso

esperar para falar a funcionários de mercado, que não mandar

mais pessoas embora. Você faz milagre no mercado. Merece

recompensa, por ajudar Faisal no fechar mercado.

Adam sempre esperou que o turco reconhecesse seu

desempenho. Estava satisfeito por poder ajudá-lo a livrar-se

dos grandes prejuízos que tinha todos os dias. Mas precisava

fazer muito mais, do que se tornar sócio de um dos maiores

supermercados da região.

Page 61: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 60 ]

- Me sinto lisonjeado por oferecer-me sociedade. Mas

estou partindo para o interior. Esse será o meu último dia de

trabalho, Sr. Faisal.

- Menino não falando sério! – exclamou sem acreditar. –

Pensa melhor no oferta de Faisal. Não necessário dinheiro pra

ser minha sócio. Adam tem oferta muito boa, não pode perder.

- Me sinto grato, Sr. Faisal. Mas preciso fazer algo pelo

mundo em que vivo. Vou morar no interior. Lá existe um grupo

de exterminadores de vampiros. Quero me juntar a eles.

- Faisal sentir orgulho conhecer Adam – disse

abraçando-o – Vou levar ideia de Adam para pessoas tem lojas.

Falar que Adam inventor do cofre. Mas pensa fazer coisa

perigosa, vampiros matar você!

- Alguém precisa detê-los, Sr. Faisal. Eles estão

aniquilando a raça humana.

- Ninguém tem coragem enfrentar vampiros, pois são

fortes. Mata pessoas rapidamente. Não faz isso menino, porque

é perigoso. Isso vai matar mãe de Adam.

- Preciso fazer isso. Alguém precisa começar a fazer

alguma coisa ou seremos obrigados a viver em esconderijos a

vida inteira. Obrigado por tudo, meu amigo – disse estendendo

a mão para Faisal.

Faisal apertou a mão de Adam com força e se despediu

dele com lágrimas nos olhos.

- Faisal sentir falta de você. Adam é como filho para

Faisal.

Faisal pagou há ele muito mais do que devia. Adam saiu

do supermercado feliz. Agora, teria que convencer sua mãe a

deixar o esconderijo, para viverem em Jundiaí. Sabia que

Page 62: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 61 ]

aquela cidade, trazia muitas recordações tristes para ela. Mas

tinha certeza que entenderia e o acompanharia nessa louca

aventura.

Ao chegar próximo de sua casa, notou que os vizinhos

estavam na rua. Uma criança correu em sua direção.

- Adam, sua mãe foi atacada ontem à noite – disse o

menino triste. – Sinto muito! Vovó queria entrar em contato

com você, mas não tinha o número do seu celular.

- Onde está sua avó?

Não deu tempo de o menino responder, pois a avó já

estava a sua frente. Os olhos dela estavam vermelhos e

inchados, provavelmente por ter chorado a perda da amiga.

- Adam, sua mãe foi atacada. Tentei entrar em contato

com você, mas anotei errado o número de seu celular. Fizemos

o enterro dela, espero que não se importe.

- Gostaria de ter participado – disse chorando. - Mas

entendo que não podiam esperar, tia Beth – disse olhando nos

olhos da velha vizinha.

- Não encontramos a cabeça dela. Vasculhamos cada

centímetro do esconderijo de vocês, as ruas vizinhas e nada.

Adam não conseguiu dizer uma única palavra. Os

vampiros haviam acabado com a única pessoa que tinha na

vida.

Sentou-se na guia da calçada e chorou muito, tentando

aliviar a dor que dilacerava seu coração. Nunca havia chorado

tanto em sua vida.

- Fique conosco, não é seguro ficar no esconderijo de

vocês. Eles podem voltar, Adam.

Ele não queria ficar naquela rua nem por mais um

Page 63: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 62 ]

segundo. Queria ir embora daquele lugar. Agradeceu, mas

rejeitou o convite. Disse que dormiria na casa de seu patrão.

Voltou cabisbaixo para o supermercado. Não poderia

partir naquela noite, pois não daria tempo de chegar antes do

pôr-do-sol.

No mercado, o turco, observava satisfeito a enorme

clientela de seu estabelecimento. Viu que Adam acabara de

entrar. Correu em sua direção, bastante animado com

esperança de que houvesse mudado de ideia.

- Adam, mudar de ideia?

- Posso passar a noite em seu esconderijo? – indagou

ignorando sua pergunta.

- Claro. Acontecer alguma coisa em casa de Adam? –

indagou o turco preocupado.

- Minha mãe foi atacada ontem à noite – disse com

dificuldade. – Amanhã irei para o interior, hoje não será mais

possível. Não conseguirei chegar antes do pôr-do-sol.

- Faisal sente muito o que acontecer a mãe de Adam.

Foi culpa de Faisal – disse amargurado. – Se não fosse com

Faisal comprar cofre, mãe de Adam estar viva agora – disse

com seu português estranho.

O turco sentou-se no chão, colocou as duas mãos na

cabeça em sinal de desespero.

- Ninguém tem culpa pelo que aconteceu – disse

estendendo a mão para ajudá-lo a levantar-se. – Se pensar por

esse lado, acabou salvando minha vida.

- Faisal pode fazer alguma coisa por Adam? – perguntou

preocupado. – Fala o que precisar e Faisal ajuda. Faz enterro

de sua mãe.

Page 64: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 63 ]

- Tudo já foi providenciado. Meus vizinhos se

incumbiram dos preparativos. Só preciso de um lugar para

passar a noite.

- Fica o tempo que precisa no esconderijo de Faisal.

Será um prazer ter companhia de amigo – disse abraçando

Adam. – Sabe que pode contar com Faisal sempre que precisar.

Adam estava arrasado. O turco deu-lhe as chaves de seu

esconderijo e mandou-o embora. Percebeu que precisava ficar

sozinho.

Adam passou o resto da tarde chorando. Por que sua

mãe? Era uma pessoa muito boa, não fazia mal a ninguém.

Miriam estava certa, alguém precisava fazer alguma

coisa. As coisas não podiam continuar desse jeito. Se houvesse

partido com Miriam, agora sua mãe estaria viva.

Page 65: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 64 ]

Capítulo 7

Miriam Miriam havia passado apenas uma semana em Jundiaí.

A luta dos exterminadores era constante. De manhã lutavam

para acabar com os espiões, à noite exterminavam os vampiros

que tentavam invadir a cidade.

Não foi fácil chegar até o grupo de exterminadores.

Ninguém dizia onde se escondiam, pois tinham receio que fosse

uma espiã de vampiros.

Decidiu entrar numa escola de artes marciais. Precisa

aprender a lutar, a fim de defender-se com maior facilidade dos

vampiros. Decidiu sair à caça daqueles malditos seres, sem a

companhia de ninguém. Pegou um enorme facão e um

machado que comprou na loja da cidade e saiu pelas ruas

escuras de Jundiaí.

No início sentiu medo de aproximar-se dos vampiros.

Mas no terceiro dia, sentia-se mais confiante. Sentia que podia

vencer aquela luta.

Em menos de uma semana, todos a cumprimentavam

na rua com admiração. Havia matado sete vampiros nos três

dias que estava na cidade. Descobrira também um espião deles

infiltrado na cidade. O delegado o colocou atrás das grades.

Assim, conquistou a confiança dos moradores daquele lugar e

uma senhora a levou até Israel.

Israel era o líder dos exterminadores. Miriam ficou

surpresa ao conhecê-lo, pois esperava que fosse um homem

forte, alto e musculoso. Mas ele era justamente o contrário

Page 66: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 65 ]

disso tudo, era baixinho, magro e parecia não possuir força

alguma. Mas era inteligente, corajoso e sabia artes marciais

como ninguém.

Costumava dizer que os vampiros só poderiam vencê-

los, se notassem que tinha medo de enfrentá-los. Por isso

medo era um luxo, que não poderia fazer parte da vida de um

exterminador.

Naquela noite, as coisas tomaram um rumo inesperado

em sua vida. Sempre sonhara em casar-se, ter seus filhos e

viver tranquilamente. Mas seus planos agora eram diferentes,

viveria para matar. Sabia que não teria um único dia de

tranquilidade em sua vida, enquanto não conseguisse matar

todos os vampiros e derrubá-los do poder.

O grupo de exterminadores dormia durante o dia e só

trabalhava a noite. Rodava toda a cidade, procurando por

vampiros, assim a cidade impedia que eles tomassem conta de

Jundiaí, como já haviam feito com outras cidades.

Miriam havia conquistado a admiração dos habitantes e

também havia se destacado no grupo. Todos queriam fazer a

ronda a seu lado. Estava correndo o boato de que ela não

temia nada.

Isso a deixou feliz, pois batalhava consigo mesma todas

as noites para vencer o medo. Naquela noite, estava no posto

de gasolina, abastecendo um dos carros da ronda, quando

decidiu descer e comprar um refrigerante. Ao voltar novamente

para o carro, ouviu uma grande gritaria.

Notou que havia uma grande quantidade de

adolescente. Usavam roupas rasgadas e falavam muito alto.

Um deles tinha nas mãos uma garrafa de vinho e empurravam

Page 67: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 66 ]

com grosseria uma mocinha.

De repente, o grupo inteiro avançou em direção da

moça. Começaram a arrancar-lhe os membros de seu corpo.

Cada um pegou sua parte. Bebiam todo o sangue que escorria

do corpo daquela pobre criatura.

Logo, apareceram mais grupos. Só então, percebeu que,

estavam sendo atacados por um grande número de vampiros.

Um deles apontou para o posto e começaram a correr com

velocidade assustadora naquela direção.

Miriam ficou petrificada. Não conseguia se mexer.

Entrou em pânico.

- Meu Deus, me ajude – disse olhando para o grupo,

que estava cada vez mais próximo ao posto. – Não posso ficar

parada aqui, senão morrerei.

Miriam tentou colocar a chave na ignição, mas estava

tão nervosa, que não obteve sucesso. Suas mãos tremiam

demais.

- Preciso me acalmar – disse consigo mesma. – Um,

dois, três – contou respirando fundo. - Vamos Miriam, coloque

a chave com calma no contato – disse tentando controlar o

nervosismo.

Finalmente conseguiu dar a partida e saiu cantando

pneus. Precisava chegar ao casarão e avisar a todos. Chegando

lá, percebeu que não havia ninguém por ali. Decidiu falar no

rádio amador, mas não sabia como mexer naquilo.

Ouviu o barulho de alguém entrando na casa. Correu e

se escondeu embaixo de uma mesa. Reconheceu os sapatos de

Israel, só então saiu.

- Israel, um enorme grupo de vampiros está atacando o

Page 68: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 67 ]

posto de gasolina. Precisamos avisar aos exterminadores –

disse quase sem fôlego.

- Eu fui até o posto, para abastecer o meu carro. Vi que

atacavam os trabalhadores. Saí daquele lugar, pois não havia

mais nada a fazer – Seu rosto tinha uma expressão de dor. - A

maioria já estava morta – disse perplexo sentando-se

pesadamente numa cadeira a sua frente. - Corri para casa, a

fim de avisar a todas as pessoas da cidade e principalmente

aos exterminadores.

Ele levantou-se e correu em direção ao radioamador.

Ligou o aparelho e alertou todas as pessoas da cidade que

estavam sendo atacados, por um grande clã de vampiros. Pediu

que se trancassem em suas casas. Que usassem facas ou

qualquer material pontiagudo para se defenderem.

Por sorte a prefeitura, havia comprado radioamador,

para as pessoas de baixa renda e agora todos possuíam o

aparelho.

Resolveram sair da casa, pois seria um alvo fácil para o

ataque. Muniram-se com revolveres, e facões pontiagudos.

Miriam correu e pegou seu machado e subiu numa árvore

muito alta. Logo em seguida, Israel também se juntou a ela.

Ficaram perplexos observando o massacre que ocorria na

cidade.

Miriam olhava para tudo com pavor. Aquilo parecia um

filme de terror, digno dos grandes vencedores de bilheteria em

Hollywood. Havia muitos grupos e eram infinitamente em maior

número e força, do que as pessoas que viviam na cidade.

A barbárie se deu por longas horas. As ruas estavam

tingidas de vermelho. Havia partes de corpos por toda a rua.

Page 69: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 68 ]

Eles eram infinitamente fortes, abriam as portas como se

estivessem puxando a gaveta de um armário. Ficamos

encobertos pelas folhas das árvores. Era um esconderijo

perfeito. Não podiam nos ver daquele lugar. Israel tentou

descer da árvore várias vezes, mas Catharina o impediu. Se

descessem daquela árvore, morreriam como os outros.

Estavam cada vez mais violentos. Pareciam estar

famintos e descontrolados. Ninguém poderia acreditar que

aqueles seres, já foram humanos e civilizados algum dia.

Nesse momento, viram a filhinha do vizinho. Mirna

deveria ter mais ou menos dois anos de idade. Parecia ter

acordado naquele momento. Saiu em busca dos pais, pois

gritava por “mamãe”, chorando o tempo todo. Parecia estar

apavorada.

Aonde teriam ido os pais daquela pobre criança. Com

certeza deveriam estar mortos. Israel não se conteve. Correu

para tentar salvar aquela pobre garotinha. Catharina tentou

impedi-lo novamente, mas ele não ouviu. Israel desceu a

árvore rapidamente e seguiu em direção da criança. Nesse

instante, um vampiro saiu da casa ao lado. Tinha as roupas

completamente sujas de sangue. Ao ver Israel pulou o muro,

atacando-o com a criança no colo. Miriam não pensou em mais

nada, desceu daquela árvore e com o machado em punho,

arrancou-lhe a cabeça. Ele caiu desfalecido no chão.

O sol começava a despontar no céu. Nesse momento a

rua ficou completamente vazia. Eles estavam abrigados nas

casas, para fugir dos raios solares.

Aproximou-se de Israel e da garotinha. Notou a abertura

de dois orifícios no pescoço de Israel. Ele estava contaminado

Page 70: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 69 ]

pelo maldito veneno. Em breve se tornaria um deles.

Israel era valente e amava as pessoas daquela cidade.

Amava seu país, o Brasil. Era o homem mais patriota que já

havia conhecido. Era um homem simples, tanto no jeito de falar

como no modo que se vestia. Era um verdadeiro democrata.

Sempre ouvia a todos. Acatava o que a maioria decidia nas

reuniões. Jamais deixou que sua liderança, fosse tomada pelo

autoritarismo.

Não era um homem feio, mas também estava longe de

ser bonito. Era um homem comum. Não gostava de chamar

atenção. Tinha dificuldade em lidar com elogios. Não tinha

namorada ou esposa, apesar de ter trinta e cinco anos.

Miriam sentou-se no chão ao lado de Israel. Ele tinha o

olhar pedido, parecia desejar ficar em silêncio. Apenas

observando o cenário horripilante a sua frente. Notou lágrimas

escorrerem por suas faces.

De repente, Israel começou a tremer e bater o queixo,

como se estivesse com muito frio. Miriam tirou seu casaco e

ofereceu a ele. Mas não adiantou, pois o veneno era o

causador desse sintoma. O veneno corria por suas veias,

envenenando cada parte de seu corpo. Ambos sabiam que em

breve se tornaria um deles.

- Os vampiros dominaram essa cidade Miriam – disse

batendo o queixo - Lute para que grupo de exterminadores não

desista de nossos ideais – disse olhando para ela. - Vamos,

prometa-me que fará o que estou lhe pedindo – ordenou

nervosamente.

Miriam balançou a cabeça afirmativamente.

- Eu prometo que continuaremos lutando para acabar

Page 71: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 70 ]

com todos eles – prometeu segurando suas mãos, que já

começavam a ficar frias.

- Obrigado, confio em você. Soube desde o primeiro dia,

que seria uma aliada fiel – disse segurando seu rosto. – Tenho

mais um pedido a fazer.

- Pode falar Israel. Farei qualquer coisa para ajudá-lo.

- Está vendo aquele machado jogado no chão? – disse

apontando para a ferramenta. – Corte a minha cabeça com ele.

Prefiro morrer a viver como um deles. Antes, leve a garotinha

para trás da árvore. Não deixe que veja essa cena. Procure

levá-la pelo caminho oposto a que estão os pais dela. Eles

estão atrás da cerca. Infelizmente estão mortos.

Miriam levantou-se para pegar a ferramenta. Levou a

garotinha para trás da árvore.

- Mirna, preste atenção no que vou lhe dizer – disse

segurando suas mãos. – Preciso que fique olhando para a rua.

Não vire para trás, a não ser que chame pelo seu nome. Se

fizer o que estou pedindo, lhe darei essa bala. – disse tirando

uma bala que estava no bolso de sua calça.

- Está bem, farei o que me pediu. Sabe quando

chegarão os meus pais, tia? - indagou a menina mais calma.

- Não irão demorar. Depois falaremos sobre isso.

Miriam deixou a menina atrás da árvore e seguiu até o

machado. Tinha as mãos trêmulas ao pegá-lo.

Olhou para Israel. Ele parecia sereno e tranquilo diante

da morte.

- Adeus, Miriam! Obrigado por atender meu pedido.

Miriam levou o machado ao alto e decepou a cabeça

daquele corajoso homem. Pela primeira vez, sentiu-se mal por

Page 72: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 71 ]

matar um vampiro.

Prometeu a si mesma, que falaria da coragem e

determinação desse maravilhoso homem, quando tudo

chegasse ao fim. Todos os que viveram sob sua liderança,

jamais o esqueceria.

Pegou Mirna e saiu com ela em seu colo. Não fazia a

menor ideia, do que iria fazer a partir daquele momento. A

única certeza que tinha, era que precisava procurar um lugar

para passar mais uma noite. Agora teria a menininha para

cuidar. Sorriu ao olhar a garotinha loira de olhos azuis, era tão

inocente... Parecia tão tranquila a seu lado...

Saiu vagando pelas ruas sem destino. Acreditando que a

sorte a levaria a algum lugar. Pediu a Deus, que guiasse seus

passos.

Por onde passava, havia o sinal da devastação deixada

pelos vampiros. As ruas estavam cobertas pela cor vermelha e

corpos estavam por todas as ruas por onde passavam.

Próximo à pracinha da cidade, avistou alguns

sobreviventes do famoso grupo de exterminadores. Agora, mais

pareciam pobres coitados. Não havia nada que lembrasse o

poderoso grupo, que matava todos os vampiros que

encontravam. Não havia o menor sinal dos caçadores

impiedosos, corajosos e destemidos. Tudo o que via, eram

pessoas amedrontadas e perdidas.

Haviam restado pouquíssimas pessoas do grupo. O astro

rei, já clareava totalmente a cidade. A noite fora uma luta

inglória. Eles atacaram a cidade em grande número. Estavam

ferozes e famintos. A falta de sangue nas cidades dominadas os

deixou ainda mais ferozes e animalescos.

Page 73: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 72 ]

Alguns sobreviventes da grande chacina choravam

nervosamente. Uns por perderem parentes e amigos, outros

por sentirem-se impotentes diante daquele massacre. Era uma

cena triste de se ver.

No meio da turma, avistou Milena e Cláudio. Ambos

estavam sentados no chão, pareciam tristes e desanimados.

Aproximou-se deles e assim que Cláudio a avistou, mostrou

seus lindos dentes brancos, num sorriso que iluminou tudo a

sua volta. Aquilo foi suficiente para que percebesse, o quanto

seria difícil arrancá-lo de seu coração.

- Estou feliz por vê-la – disse Cláudio levantando-se do

chão. – Acho que não aguentaria perder mais ninguém

conhecido.

- Também estou muito feliz por encontrá-los vivos –

disse Miriam, sorrindo.

- Venham, precisamos falar com os sobreviventes do

grupo - ordenou Miriam. - Agora podemos atacá-los. O sol está

reluzente nesse momento. Vamos atacar as casas em que

estão escondidos e aniquilar com todos eles de uma só vez.

- Você não consegue enxergar que essa é uma luta

perdida? – perguntou Cláudio com raiva. – Não consegue

enxergar que quase morremos, bancando heróis? Está maluca

se pensa que irei continuar com essa maluquice.

Milena não falava nada. Estava quieta e cabisbaixa.

Parecia ter se assustado de verdade com tudo aquilo. Mas seus

olhos se iluminaram ao notar a presença de Mirna.

- Quem é essa garotinha linda? – disse aproximando-se

e pegando-a no colo.

- É a filha do nosso vizinho – respondeu Miriam, olhando

Page 74: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 73 ]

para a garotinha que parecia não entender nada do que estava

acontecendo.

- Os pais dela estão mortos? – indagou Cláudio.

Miriam apenas balançou a cabeça afirmando.

- O que faremos agora? – disse Cláudio limpando a calça

com as mãos.

- A primeira coisa a ser feita, é procurarmos um lugar

para nos escondermos. A noite logo chegará e precisamos

encontrar um lugar seguro para passarmos essa noite.

Notou que o grupo se aproximava deles. Pareciam

interessados no que estava dizendo.

- O que vocês acham de procurarmos algum lugar para

passarmos a noite? Depois, podemos pensar com calma o que

faremos. O que acham? – indagou Miriam, lembrando-se de

Israel.

- Alguém sabe o que aconteceu com Isa? – perguntou

um deles.

- Eu sei o que aconteceu. Ele estava junto comigo.

Miriam relatou tudo o que havia acontecido. Revelou o

desejo de Israel, quanto ao grupo.

Nesse momento, viu a chama de extreminador acender

dentro de cada um deles. Saíram em busca de algum lugar

seguro para passarem a noite. Não havia mais armamento

pesado. Apenas facas e facões. Então decidiram que naquela

noite, apenas se esconderiam e não os atacariam como das

outras vezes. O mais importante no momento, era encontrarem

um lugar para se esconderem.

Miriam, Cláudio e Milena, já estavam acostumados a

fazerem esconderijos. Decidiram cavar um buraco bem fundo.

Page 75: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 74 ]

Usaram madeiras para cobrirem o buraco, pegaram grama

sintética e cobriram o esconderijo. Fizeram uma pequena

abertura, numa das madeiras para conseguirem sair.

Pegaram grande quantidade de alimentos e se dirigiram

para o esconderijo. Pegaram também, cobertores e colchões

das lojas. Fizeram um grande buraco no chão, para que

usassem como banheiro.

Era mais ou menos, quatro horas da tarde e estava tudo

pronto. Mirna havia perguntado pelos pais muitas vezes. Agora

parecia mais calma.

Milena tinha jeito com crianças. Deu leite para a menina

e colocou-a para dormir. Passaram a tarde inteira combinando

o que fariam se o esconderijo fosse descoberto. Mas na

realidade, todos sabiam que se fossem descobertos, morreriam.

A noite chegou. Estava chovendo muito. Os trovões

faziam grandes estrondos. Mirna havia dormido agarrada ao

pescoço de Miriam. Havia algumas goteiras, mas não chegava a

incomodar ninguém. Parecia que os vampiros, também não

saíram de suas casas naquela noite.

Todos pareciam tranquilos. A maioria dormia e quando

alguém roncava era acordado imediatamente, não podiam fazer

nenhum barulho, pois os vampiros podiam escutar um espirro a

quilômetros de distância.

O sol apareceu timidamente no céu. Miriam saiu do

esconderijo e preparou-se para sair daquela cidade. A maioria

dos sobreviventes, optou por fazer parte do grupo, mas alguns

decidiram ficar na cidade.

Esses infelizmente, acabariam morrendo. Esse era um

novo mundo, onde bens materiais não valiam absolutamente

Page 76: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 75 ]

nada. Mas alguns ainda tinham dificuldade em se adaptar a ele.

Muitos morriam por não conseguir largar os bens que haviam

juntado a vida inteira.

Miriam estava confusa. Nunca pensou em se tornar líder

de coisa alguma. Mas era preciso que alguém tomasse a

liderança, a fim de evitar a dispersão do grupo. Era necessário

também, alguém que orientasse a todos, ou ficariam correndo

de um lado para o outro, sem saber o que fazer.

Miriam decidiu comprar alguns jornais. Mostrou ao

grupo, uma notícia de primeira página. Havia uma cidade nos

Estados Unidos, que ainda não fora atacada pelos vampiros.

O grupo decidiu que partiriam para os Estados Unidos.

Juntar-se-iam aquele grupo, a fim de ajudar a exterminar os

vampiros que tentassem atacar aquela cidade.

A cidade em questão era Salt Lake City. Cidade mais

populosa do estado de Utah. Os vampiros não conseguiam

entrar naquela cidade, ou talvez não tivessem interesse por

aquele lugar. A taxa de mortes por ataques vampíricos era

praticamente zero.

Decidiram partir. Deixariam o Brasil para se unir a um

novo grupo de exterminadores. Depois voltariam para o Brasil,

com técnicas mais eficazes. Lá aprenderiam como se livrar dos

vampiros de maneira mais eficiente. Infelizmente no Brasil, as

pessoas haviam se acostumado a viver em esconderijos

subterrâneos. Acostumaram-se a ideia de viver com o medo.

Estavam se acostumando as mortes. Ninguém tinha coragem

de enfrentá-los.

Os vampiros estavam cada vez mais violentos. Estavam

mais difícil de serem exterminados. Precisavam tomar novos

Page 77: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 76 ]

ares, se continuassem por aqui, com certeza, acabariam como

todos eles, conformados com essa nova realidade. Precisava

fugir daqui, não queria se conformar com aquela situação.

Precisava salvar o que restou do grupo de exterminadores...

Page 78: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 77 ]

Capítulo 8

Adam Adam procurou nos jornais notícias do poderoso grupo

de exterminadores da cidade de Jundiaí. Seus olhos ficaram

paralisados diante das fotos tiradas daquela cidade.

Eram fotos sobre o ataque vampírico que fizeram

milhares de vítimas. Adam sentou-se na guia da calçada, com

mãos trêmulas, segurava o jornal que mostrava as ruas de

Jundiaí, tingidas de sangue. Havia corpos espalhados por todas

as ruas daquele lugar. O massacre foi grande. Parecia não

haver sobrevivido ninguém para contar a história.

Aquilo não podia ter acontecido, pensou desesperado.

Além de perder sua mãe, havia perdido o grande e único amor

de sua vida, Miriam. Precisava fazer alguma coisa. Não podia

continuar de braços cruzados, vendo a raça humana ser

devastada.

Adam ouvira alguém falar sobre a cidade de Peruíbe,

litoral Paulista. Muitas pessoas estavam se mudando para lá.

Parece que o litoral sul do estado de São Paulo, estava

resistindo aos ataques. Ainda havia vida noturna por aqueles

lados. As pessoas podiam sair à noite. Esta era sua chance de

montar um grupo de exterminadores. As pessoas daquele

lugar, ainda não haviam sido contaminadas pelo medo.

Adam foi até a rodoviária e comprou uma passagem

para Peruíbe. Havia uma grande procura de passagens por

aquele lugar. Ficou na fila por horas, mas conseguiu. Não daria

tempo para despedir-se do turco pessoalmente. Decidiu pegar

Page 79: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 78 ]

o celular para despedir-se do amigo.

- Consegui comprar minha passagem, Faizal – disse

Adam. – Estou a caminho de Peruíbe. Parece que aquele lugar,

ainda não foi dominado pelos vampiros. Deveria vir comigo.

Você corre perigo vivendo entre eles.

- Não pode sair daqui. Minha vida está aqui Adam. Por

que não ficar no São Paulo? Aqui poderia ser sócia de Faisal –

disse na esperança de fazê-lo desistir.

- Não posso, preciso fazer minha parte. As coisas não

podem continuar desse jeito.

- No jornal, Faisal ver que pessoas lutar contra vampiro,

morrer! Isso é perigoso! Não vai, Adam. Fica no São Paulo. –

disse o turco preocupado.

- Preciso ir meu amigo. As coisas em Peruíbe estão mais

calmas. Lá as pessoas ainda não foram contaminadas pelo

terror. Então, será mais fácil conseguir pessoas para se juntar

ao grupo de matadores.

- Sabe que tem um lugar no mercado de Faisal. Quando

querer, volta. Boa sorte, amiga.

- Obrigado. Nunca me esquecerei do quanto me ajudou.

- Eu nunca esqueci que menino, ajudar Faisal não

perder o mercado.

- Adeus amigo - disse desligando o celular.

A viagem foi agitada. Todos estavam preocupados com

o horário. Na verdade, ninguém acreditava que em Peruíbe

havia vida noturna. Mas todos decidiram arriscar. Ninguém

tinha nada a perder, pois na cidade de São Paulo tudo já estava

perdido.

Ao chegar a Peruíbe, Adam ficou entusiasmado com as

Page 80: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 79 ]

lindas praias. Parecia estar em outro mundo. O povo daquela

cidade não parecia tão assustado, como as pessoas que viviam

na capital.

Muitos estavam nas praias. O sol brilhava com força,

naquele céu azul e límpido, apesar de ser tarde. Não havia sinal

de poluição naquele lugar. Estava no paraíso. Se soubesse

disso antes, talvez houvesse conseguido salvar sua mãe. Agora

era tarde, não havia mais nada a ser feito. Lembrou-se que ela

odiava ouvir lamentos.

A noite estava se aproximando. Precisava procurar um

lugar para ficar. Olhou sem esperança para um rapaz que

varria a calçada em frente à padaria.

- Boa tarde. Meu nome é Adam – estendeu-lhe a mão

apresentando-se. O rapaz apertou-a com um largo sorriso no

rosto. – Acabo de chegar de São Paulo. As coisas por lá estão

totalmente fora de controle. Como as coisas estão por aqui?

- Sou Edgar, muito prazer. – disse cumprimentando-o. -

Em Peruíbe as coisas são menos perigosas. Encontrará algumas

pousadas e hotéis no centro. Precisa ver se ainda possuem

vagas.

- Por aqui há muitos ataques e saques vampíricos?

- Não. Ainda podemos nos dar ao luxo de sair à noite.

Mas por prevenção, trancamos as portas e janelas. Há sempre

grupos que fazem ronda a noite, afinal ninguém está seguro

nesse mundo.

- Já houve ataques por aqui? – perguntou Adam

- Claro. Existe um lugar no mundo onde aqueles

malditos não ataquem?

- Conhece algum lugar onde posso ficar?

Page 81: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 80 ]

- Não tem onde ficar? – indagou desconfiado.

- Não. Perdi tudo quando meu esconderijo foi atacado

por vampiros. Minha mãe morreu e eu não tenho mais

ninguém.

Um senhor que parecia ouvir a história se aproximou.

- Estava dizendo que não tem onde ficar? – perguntou

um senhor idoso, com mais ou menos sessenta anos de idade.

- Sim. Preciso de um lugar para ficar.

- Tem trabalho, rapaz?

- Não. Mas amanhã irei procurar emprego.

- O que sabe fazer? – indagou o homem.

- Era gerente de um hipermercado em São Paulo.

- Tem como comprovar o que está dizendo?

- Sim – disse tirando a carteira profissional da mochila. –

Olhe minha carteira profissional.

Ele pegou a carteira da mão de Adam e conferiu. Depois

olhou para ele e pediu que o acompanhasse até sua sala.

Adam seguiu aquele homem meio desconfiado. Entrou

numa belíssima sala.

- Sou o proprietário dessa padaria. Estou precisando de

um gerente, pois estou ficando velho e cansado – informou

com um sorriso franco no rosto. - Mas não posso pagar a

mesma quantia que ganhava – disse desanimado. - Mas posso

compensar-lhe, oferecendo um quarto para morar. Venha, vou

lhe mostrar o quarto.

Adam seguiu o simpático senhor. Ele parou em frente a

uma velha porta e abriu-a. Era um quarto pequeno. Tudo muito

limpo e organizado. Possuía uma confortável cama e um bom

guarda-roupa. Havia também um antigo aparelho de televisão.

Page 82: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 81 ]

Notou contrariado que não havia uma única janela naquele

cubículo. Mas ficou animado com o lugar e a simpatia do velho.

Além do mais, aquilo parecia uma mansão visto o esconderijo

onde viveu com sua mãe.

- Então, irá ficar ou não? – indagou o senhor curioso.

- Sim.

Combinaram o valor do salário. Não era a mesma

quantia que ganhava com o turco, mas dava para viver

tranquilamente com a quantia, mesmo porque não teria

despesas. Até mesmo a comida era por conta do Sr. Artêmis.

O outro rapaz trabalhava como ajudante geral. Também

morava na padaria. Seu quarto era tão bom quanto o dele,

apenas um pouco menor.

O Sr. Artêmis deu-lhe o resto do dia livre, para que

arrumasse suas coisas no quarto e descansasse da viagem.

Começaria somente amanhã. O pouco tempo que ficou na

padaria, permitiu que percebesse que o clima entre os

funcionários era muito amistoso. Diferente do hipermercado do

Sr. Faizal. Lá cada um fazia seu trabalho. Não havia espírito de

cooperação, espírito de equipe.

Recordou-se que tentou mudar e propor que

trabalhassem em equipe, mas não obteve sucesso. Quando

hábitos ruins são arraigados, fica difícil de mudá-los em pouco

tempo.

Sr. Faizal havia providenciado uma excelente

infraestrutura, a fim de facilitar o trabalho de todos. Mas seus

funcionários não sabiam aproveitar todos os recursos que

tinham em mãos. Cada um fazia apenas sua parte, não se

importando com o todo. Com isso, geraram uma enorme

Page 83: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 82 ]

burocracia em todo o processo, fazendo com que um processo

extremamente simples, se tornasse algo complexo.

Adam notou que na padaria, não havia nenhuma

infraestrutura para facilitar absolutamente nada. Mas o trabalho

em equipe se incumbia de tornar as coisas simples e práticas.

Sendo assim, o resultado era plenamente satisfatório.

Havia uma cooperação natural entre cada setor.

Percebeu que todos, ajudavam no setor que mais havia

necessidade. O padeiro ajudou a cozinheira na hora do almoço,

o rapaz da limpeza, ajudou o garçom a servir os pratos até as

mesas e etc.

Notou que a clientela, saía da padaria, satisfeitos por

serem atendidos prontamente. Não havia espera em nenhum

dos setores, apesar de haver poucos funcionários e uma vasta

clientela. Todos saíam ganhando no final. Os clientes não

esperavam e os funcionários não ficavam sobrecarregados de

serviço.

Soube que o Sr. Artêmis pagava o melhor salário da

região. Reconhecia e vangloriava-se que o sucesso de sua

padaria, era devido ao excelente atendimento e a qualidade

com que tudo era feito. Reconhecia que o sucesso de sua

padaria era devido ao esforço de seus funcionários. Todos

vestiam a camisa da empresa e faziam o que era preciso para

que tudo fosse feito, com excelência e praticidade.

Estava feliz por ter a oportunidade de fazer parte

daquela equipe. Mas como nem tudo é perfeito, o Sr. Artêmis

tinha problemas seríssimos em sua vida pessoal. Havia perdido

a esposa há três meses. Ela foi uma das poucas vítimas dos

vampiros naquela cidade.

Page 84: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 83 ]

Seu único filho era um problema constante. Tinha mais

de trinta anos, usava drogas e não havia se casado. Ainda

morava na casa do pai e como não trabalhava, era sustentado

pelo Sr. Artêmis.

Sua esposa fora atacada por que estava procurando pelo

filho. Saíra de madrugada, escondida do Sr. Artêmis. Ele havia

prevenido que não seria seguro sair em busca de Júlio. Mas ela

estava muito preocupada e decidiu não lhe dar atenção.

Acabou morrendo vítima de um ataque vampírico.

Desse dia em diante, as pessoas da padaria verificaram

o grande esforço que Júlio fazia para mudar de vida. Todos

notaram que se sentia culpado pelo que aconteceu a sua mãe.

Decidira mudar de vida, mas o pai havia perdido a confiança

nele, culpava-o pelo que havia acontecido a esposa.

Naquela tarde, Júlio apareceu na padaria. Estava

ajudando no balcão, quando o pai chegou. O Sr. Artêmis o

colocou para fora, acusando-o de querer roubar seu caixa, pois

isso já havia acontecido algumas vezes.

Fazia três semanas que havia chegado a Peruíbe. Estava

se adaptando a sua nova vida. Às vezes chorava muito ao

recordar-se da mãe e de Miriam. Mas sabia que não poderia

viver se lamentando.

Hoje era seu dia de folga. Estava deitado na cama

assistindo televisão. As notícias não eram boas. A cidade de

São Paulo estava totalmente dominada pelos vampiros. Já não

havia necessidade de espiões, esses estavam sendo devorados

por eles, pois a maioria das pessoas havia abandonado a

cidade.

Então, começaram a atacar as cidades litorâneas. Adam

Page 85: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 84 ]

ouviu bater em sua porta. Levantou-se para atender. Levou um

susto ao se deparar com Júlio.

- Desculpe incomodá-lo em seu dia de folga, Adam –

desculpou-se Júlio.

- Não há problema algum. Aconteceu alguma coisa?

- Não. Só precisava de um amigo para desabafar – Disse

entrando no quarto. - Depois que abandonei as drogas, não

tenho mais amigos – sorriu com tristeza.

- Em que posso ajudá-lo?

- Meu pai tem grande admiração por você. Percebo que

gostaria de tê-lo como filho. Mas infelizmente, sou o único filho

que ele tem nessa vida – sentou-se na cama. – Poderia me

ajudar a conquistar a confiança de meu pai novamente? O que

posso fazer?

- Gostaria de poder ajudá-lo, Júlio – disse em pé ao lado

da porta. – Mas infelizmente não sei como fazer isso – disse

pensativamente. – Você abusou da confiança que ele tinha em

você. Não é com conversa que conseguirá convencê-lo, mas

através de suas atitudes.

- Não posso trabalhar aqui, porque ele cismou que

desejo somente roubar o caixa da padaria. Não sei o que

fazer. Desde a morte de minha mãe, me arrependo todos os

dias pelas coisas que fiz. Não posso trazê-la de volta, mas

preciso fazer alguma coisa para conquistar o perdão de meu

pai.

- Fico feliz ao ouvir que pretende mudar. Mas precisa

saber que sua mudança, não deve ser por causa de seu pai ou

qualquer outra pessoa. Precisa mudar, porque isso fará bem a

você mesmo.

Page 86: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 85 ]

- Tem razão.

- Estava ouvindo o noticiário. Ouvi dizer que os vampiros

estão se voltando para atacar as cidades litorâneas. Parece que

a cidade de São Paulo foi totalmente devastada, não há mais

pessoas naquele lugar.

- Verdade.

- Eu vim para Peruíbe, a fim de montar uma equipe de

exterminadores de vampiros. Perdi minha mãe e uma amiga

por causa desses malditos infames.

- Nem me fala... Perdi minha mãe por causa deles

também.

- Sabe onde posso encontrar pessoas com o desejo de

atacá-los? Agora que estão a caminho do litoral, precisamos

nos unir, a fim de impedi-los.

- Gostaria de fazer parte desse grupo.

- Poderia me ajudar a formar uma equipe? Afinal, você

conhece muitas pessoas na cidade.

- Sim. Se quiser podemos sair agora.

Adam e Júlio saíram da padaria. O sr. Artêmis sorriu

satisfeito ao ver o filho em companhia de Adam. Talvez agora,

ele estivesse realmente desejando mudar sua vida, sorriu

satisfeito.

Júlio soube que houvera ataques na noite anterior.

Procurou por alguns amigos, mas a maioria não atendia a porta

ou mandava dizer que não estava.

- Eu sei que eles estão em casa. Mas não os culpo por

não me receberem, talvez pensem que vim pedir dinheiro. Já

fiz isso outras vezes.

- Pelo jeito nossa missão não será fácil – disse batendo

Page 87: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 86 ]

nos ombros de Júlio. – Mas não podemos desistir. Os vampiros

já começaram sua onda de ataques pela cidade. Quanto mais

cedo montarmos a equipe de exterminadores, maiores as

chances de evitar o caos que aconteceu em São Paulo.

Um rapaz se aproximou deles, parecendo constrangido.

- Desculpe, mas não pude deixar de ouvir o que diziam

– disse timidamente. – Meu nome é Rogério – disse

estendendo a mão. - Vocês estavam dizendo que pretendem

montar uma equipe para combater os vampiros?

- Sim. Estamos à procura de pessoas para acabar com

os vampiros. Infelizmente, não há lugar para as duas espécies.

Eles deixaram isso bem claro ao atacar e devastar a cidade de

São Paulo. Precisamos evitar que também acabem com a

cidade de Peruíbe. Vim de São Paulo, perdi minha mãe e uma

amiga maravilhosa – disse Adam emocionado. – Vim para cá

para montar uma equipe de exterminadores. Não posso vê-los

acabando com mundo, sem fazer nada.

- Gostaria de me juntar a vocês nessa missão. O pai de

meu amigo foi uma das pessoas atacados por esse bando

miserável, ontem à noite. Tenho certeza, que podemos juntar

um grupo de pessoas em pouco tempo.

- Então, o que estamos esperando para falar com seu

amigo? – disse Adam animadamente.

Adam estava animado. Rogério conhecia muitas

pessoas. Ele parecia ser um excelente rapaz. Conseguiram um

grande número de pessoas rapidamente para se juntar aquela

causa. Mas as pessoas pareciam desconfiadas da mudança

repentina de Júlio.

A reunião começaria amanhã. Adam teria que pesquisar

Page 88: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 87 ]

durante a noite como agiriam, mesmo porque, não fazia a

menor ideia de como destruí-los. Precisava tomar muito

cuidado, pois não sabia o que fazia mal a ele, já que fazia parte

das duas espécies.

Júlio e Adam caminhavam animadamente em direção à

padaria. Todo o comércio fecharia às dezoito horas. Pois todos

estavam apavorados com a onda de ataques da noite anterior.

- Eu estou feliz por tê-lo conhecido, Adam – disse

caminhando. – Você percebeu que ninguém presta atenção no

que digo? – disse desanimado. – Pelo jeito não tenho que

provar só ao meu pai minha mudança. A missão que tenho é

muito maior, terei que provar a cidade inteira.

- Júlio, não tem que provar nada a ninguém – disse

fitando-o seriamente. – Precisa provar somente a você mesmo,

que realmente mudou.

Júlio sorriu, balançou a cabeça concordando.

- Gostaria que as pessoas pensassem como você. No

fundo, elas esperam que eu prove alguma coisa.

Ao chegarem, a padaria estava lotada de clientes. Todos

haviam deixado para comprar as coisas na última hora. Adam

correu para ajudar no Balcão. Júlio olhou para o pai e

perguntou timidamente se poderia ajudar.

- Júlio, eu prefiro que fique longe da padaria. Já me deu

prejuízos demais! - gritou nervoso.

Júlio deixou a padaria ressentido. Os funcionários

ficaram comovidos, com a tristeza com que o rapaz deixou a

padaria. Mas ninguém falou absolutamente nada. Perceberam

também que o Sr. Artêmis, parecia muito triste depois do

ocorrido.

Page 89: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 88 ]

Todos haviam saído. Adam estava fechando as portas do

estabelecimento, quando o Sr. Artêmis, apareceu ao seu lado.

- Adam, preciso dizer que Júlio não é um homem de

confiança. Não empreste dinheiro a ele.

- Eu sei que ele já errou muito. Ele próprio me

confessou. Mas desde a morte de sua esposa, disse que tem se

esforçado muito para mudar – informou Adam. – Parece

sincero.

- Ele sempre diz isso, quando apronta – piscou.

- Eu não sei como foi das outras vezes, mas prefiro

acreditar nele. Sinto que tem o desejo de mudar. Passamos a

tarde juntos, me pareceu honesto.

- Não acredito mais em suas histórias.

- Sei que não deve ser fácil acreditar no que ele diz,

mesmo porque, já aprontou diversas vezes. Mas acredito que

será mais fácil para ele mudar, se encontrar um pouco de

apoio. Se virarmos as costas para ele, será ainda mais difícil

que ocorra alguma mudança.

- Você diz isso, porque não sabe das coisas que já fez –

acrescentou balançando a cabeça.

- Em todo caso, prefiro acreditar que está falando a

verdade. Estamos montando um grupo para atacar os

vampiros. Ele irá participar desse grupo.

- Está falando sério? – indagou incrédulo.

- Sim. Ele parece determinado em vingar-se da morte da

mãe.

- Gostaria de poder acreditar nele, tanto como você –

disse o velho partindo tristemente.

Adam pegou seu notebook e fez uma pesquisa

Page 90: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 89 ]

minuciosa sobre vampiros. Precisava saber como atacá-los,

quais seus poderes e fraquezas.

Decidiu que ensinaria artes marciais e como manejar um

facão com agilidade. Infelizmente o sol não poderia ajudá-los,

pois os ataques de vampiros costumavam ser no período da

noite. Atacá-los a noite era perigoso demais, visto que eram

muito mais ágeis e fortes que os humanos, mas não havia

outra opção.

Soube que um cientista brasileiro, tentava reproduzir um

líquido semelhante ao sangue, mas até o presente momento,

não havia conseguido nenhum avanço significativo. Muitos

outros países lutavam para conseguir tal façanha, mas até

agora, ninguém conseguiu produzir nada que pudesse

substituir o sangue.

Enquanto isso, a raça humana ia se extinguindo dia a

dia.

Page 91: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 90 ]

Capítulo 9

A equipe No dia seguinte, a notícia de grandes ataques

vampíricos corria por toda a cidade. Haviam feito um grande

número de vítimas. As pessoas estavam preocupadas e

começavam a pensar em deixar a cidade.

Júlio entrou na padaria procurando por Adam. Parecia

não ter dormido durante a noite, pois tinha enormes olheiras ao

redor dos olhos.

- Adam, houve muitos ataques de vampiros durante

essa noite. Precisamos tentar descobrir o esconderijo desses

malditos. Eles saquearam alguns comércios. Você não faz ideia,

dos prejuízos que os comerciantes tiveram. Por sorte, não

invadiram a padoca do meu pai.

- Infelizmente não poderei sair agora, pois tenho que

cumprir meu horário de trabalho. Só poderemos nos reunir

quando for almoçar. Podemos nos reunir no meu quarto ou em

qualquer outro lugar.

O Sr. Artêmis olhava para Júlio o tempo todo. Ouviu a

conversa e se aproximou de Adam.

- Adam, vá se juntar ao grupo. Reúna todos os

exterminadores e comecem a montar uma estratégia. Ficarei

em seu lugar. Esse serviço é mais importante do que qualquer

outra coisa – disse Artêmis pegando o papel das mãos de

Adam. – Eu posso fazer isso. Vá antes que mude de ideia –

disse sorrindo.

Saíram da padaria e seguiram para reunir o grupo. Em

Page 92: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 91 ]

poucos minutos, estavam todos na Igreja. O padre havia

permitido que usassem a paróquia para se organizarem.

A notícia sobre um grande número de exterminadores,

havia se espalhado rapidamente por toda a cidade. Havia

muitas pessoas curiosas, a fim de saber quem estava à frente

daquele grupo.

Adam, Júlio e Rogério estavam no púlpito da Igreja.

Havia mais ou menos trinta pessoas, aguardando o início da

reunião.

Todos pareciam admirados, com a presença de Júlio a

frente daquele grupo. Algumas senhoras se juntaram e

trouxeram alguns petiscos e sucos para contribuir de algum

modo, com o corajoso grupo de jovens.

- Quero que saibam que essa luta não será fácil –

constatou Adam. - Correremos risco de vida. Mas para mim, é

melhor morrer lutando, do que ficar sentado esperando a morte

chegar. Não haverá individualismo nessa batalha. Tudo o que

for feito, será de acordo com a aprovação da maioria. Assim

não existirão culpados ou heróis individuais. Precisamos salvar

essa cidade. Precisamos impedir que dominem Peruíbe, como

fizeram com a cidade de São Paulo.

- Precisamos começar o mais rápido possível –

acrescentou Júlio. – Não podemos esperar que continuem

matando as famílias de nossa cidade.

- Então, quem está dentro dessa loucura? – indagou

Rogerio.

Todos sem exceção levantaram as mãos. Júlio parecia

empolgado por fazer parte da equipe. Pela primeira vez em sua

vida, notou que algumas pessoas pareciam admirar sua atitude.

Page 93: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 92 ]

Júlio também havia feito pesquisas, sobre os pontos fracos dos

vampiros. Havia conseguido alguns revólveres e balas de prata,

com uma fábrica de armamentos bélicos.

Rogério providenciou alguns facões e machados. Mas

ainda não era suficiente para todos. Precisariam de mais

armamentos. Adam propôs que fossem a cidade e tentassem

arrecadar dinheiro ou armamentos com os comerciantes locais.

A maioria aceitou a ideia e partiram para a difícil

empreitada de conseguir algum dinheiro. Para a surpresa da

maioria do grupo, todos já sabiam o que pretendiam fazer, não

foi difícil arrecadar dinheiro e armamentos para aquela missão.

Decidiram que começariam aquela noite. Dividir-se-iam

em quatro grupos. Depois foi proposta uma votação, para a

escolha dos líderes de cada grupo.

Ao fazerem a contagem dos votos, Júlio não conseguiu

segurar a emoção, por ter sido um dos escolhidos.

- Obrigado por acreditarem em mim – disse limpando as

lágrimas com a palma da mão. - Prometo não decepcioná-los.

A partir daquele momento, as pessoas que ainda tinham

algum tipo de desconfiança em relação à mudança de Júlio,

decidiram apoiá-lo. Adam notou com satisfação, que ele estava

conseguindo recuperar a confiança das pessoas.

O primeiro grupo era liderado por Adam, o segundo por

Júlio, o terceiro por Rogério e o quarto integrante dos líderes

era uma mulher, Maebi. Era admirada e quase idolatrada por

todos naquela cidade.

Era uma mulher muito bonita. Era do tipo mignon, olhos

e cabelos castanhos e feições muito delicadas. As pessoas da

cidade confiavam nela, pois havia entregado o próprio pai,

Page 94: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 93 ]

quando esse matou o irmão recém-nascido.

As pessoas sabiam que o pai de Maebi, era um homem

muito rude e violento. Todos tinham medo do Sr. Inácio. A

maioria sabia o que ele havia feito. Mas ninguém tivera a

coragem de entregá-lo a polícia.

Maebi estava cansada de ver a crueldade de seu pai. Ele

costumava espancar a esposa e os filhos com frequência. Era

um homem grosseiro e impiedoso. Certo dia, decidira que

aquele bebê não era seu filho. Bateu em sua esposa, quase

matando-a. Até que um dia, chegou muito bêbado e jogou a

criança contra a parede com violência. Disse que não

aguentava aquela criança bastarda berrando em seu ouvido. O

bebê foi internado no hospital. Ficou meses na U.T.I. (Unidade

de Terapia Intensiva). Havia fraturas por todo o corpo, inclusive

no crâneo.

A mãe havia alegado que a criança havia caído da cama.

Uma vizinha que presenciara o ocorrido comentou com algumas

pessoas. Em pouco tempo a cidade inteira sabia o que havia

acontecido, mas ninguém fez absolutamente nada.

A cidade ficou comovida quando o bebê entrou em

óbito. Ninguém tinha coragem de denunciá-lo, tinham medo de

sua fúria, caso não fosse preso. Até mesmo os policiais, sabiam

do que havia acontecido, mas fingiam que não sabiam de nada.

Maebi decidiu que faria o exame de DNA, mesmo com a

criança estando morta. Precisava passar na cara dele, que

havia matado o próprio filho. Quando o exame saiu. Voltou

correndo para casa e contou a sua mãe o que pretendia fazer.

- Filha seu pai é muito perigoso. Não faça isso, pelo

amor de Deus – suplicou a mãe.

Page 95: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 94 ]

Ele chegou naquele exato momento. Seus olhos

pareciam soltar faíscas.

- O que deseja me dizer, Maebi? – indagou com raiva.

- Que você é um assassino maldito, pois matou seu

próprio filho – disse entre os dentes.

- Como sabe que o filho era meu? – indagou com

sarcasmo.

- Olhe com seus próprios olhos – disse entregando o

exame de DNA da criança.

Ele pegou o papel e passou os olhos rapidamente,

demonstrando desinteresse.

- Não gostava daquela criança. Mesmo que fosse meu

filho, não vou morrer de trabalhar para sustentar mais um inútil

dentro dessa casa.

Ela não podia acreditar no que havia acabado de ouvir.

Saiu de sua casa e foi direto a delegacia. Denunciou o pai por

assassinato.

Ele foi preso. Alguns meses depois, a cidade inteira

comentava que ele havia se arrependido. Maebi foi fazer-lhe

uma visita na cadeia.

- O que faz aqui? – disse com grosseria.

- Vim vê-lo apodrecer atrás dessas grades – disse Maebi.

- Eu me arrependo do que fiz.

- Você se arrepende de ter matado seu filho? – indagou

incrédula. – Ou apenas se arrependeu do que fez, porque está

preso?

- Das duas coisas.

- Deve estar satisfeito. Nunca deu valor a sua família.

Sempre odiou cada um de seus filhos. Consegue se lembrar de

Page 96: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 95 ]

pegar um filho no colo? De dizer palavras que não fossem

ofensivas? De abraçar algum de nós? – Aguardou por uns

instantes para ver se dizia alguma coisa.

- Não.

- Então, agora que está longe de nós, deveria estar feliz.

Agora não tem mais família. É um homem só. Destruiu o amor

que todos tínhamos por você, quando matou meu irmão.

Agora, a vida lhe reservou a solidão, pois bichos como você

nasceu para viver só.

Saiu da delegacia com a cabeça erguida. Já não sentia

ódio de seu pai, apenas sentia pena daquele pobre homem.

Nunca mais ninguém o visitou. Ele morreu sete meses

depois, com uma depressão avassaladora. Os policiais

costumavam dizer, que ele chorava todas as noites.

Maebi era uma guerreira. A vida lhe ensinara a enfrentar

as diversidades muito cedo. Vivendo sob a tirania de seu pai,

aprendeu a viver sem medo. Costumava dizer que era filha do

Sr. Inácio e ter um pai como aquele, era preciso viver

enfrentando o medo constantemente. Então, o que para os

outros era uma situação difícil, para ela era uma situação

corriqueira.

Foram comprar mais armamentos. Depois decidiram

dividir, tudo o que haviam conseguido entre os quatro grupos.

Marcaram a zona em que cada grupo atuaria. Se reuniriam

novamente às seis horas da tarde em frente a catedral.

Precisariam se alimentar para iniciar a caça aos vampiros.

Adam e Júlio seguiram para a padaria. Os funcionários

pareciam orgulhosos ao verem Júlio entrar. Seu pai estava com

os olhos vermelhos de tanto chorar. As pessoas da cidade

Page 97: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 96 ]

vieram cumprimentá-lo, pela atitude de coragem de Júlio.

Júlio esperou que o pai viesse lhe dizer alguma coisa,

mas apenas o olhou de forma desconfiada. E depois pediu que

servissem o jantar para Adam e Júlio. Quando haviam

terminado de jantar, o Sr. Artêmis, pediu a Adam que o

seguisse até sua sala.

Ao chegarem na sala, pediu que sentasse.

- Adam, desejo sorte a todos vocês. Estou feliz por Júlio

tê-lo como amigo, talvez assim ele consiga se libertar de seus

erros e vícios – disse sentando-se na cadeira. – Gostaria que

soubesse que estou orgulhoso de Júlio, mas não quero que ele

perceba, talvez assim consiga ter raiva suficiente para me

provar, que estou errado por não acreditar em sua mudança, e

talvez assim, consiga mudar de verdade.

- Fique tranquilo que jamais revelarei o que o senhor

acabou de confessar.

- Obrigado. Vá, pois terão uma longa noite pela frente.

Adam voltou a mesa e notou que Júlio parecia chateado.

- Meu pai estava dizendo a você que não sou boa

companhia. Não é?

- Claro que não. Apenas desejou boa sorte ao grupo.

Depois recomendou que tivéssemos muito cuidado.

Ele balançou a cabeça e sorriu.

- O velho é barra! – disse chateado. – Nunca irá me

perdoar. Ele acha que sou culpado pela morte de minha mãe –

disse levantando-se da cadeira. – Acho que ele tem razão. Se

não houvesse saído aquela noite, ela estaria conosco nesse

momento.

- Não pode viver se lamentando. Minha mãe dizia, que

Page 98: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 97 ]

as pessoas perdem tempo demais se lamentando. Precisamos

fazer coisas, que nos faça feliz, lamentar não trás felicidade a

ninguém.

Ele sorriu escancaradamente.

- Sua mãe está certa, cara! – disse seguindo em direção

ao balcão. – José me serve um guaraná bem gelado.

Adam aguardou que Júlio terminasse seu refrigerante.

Seguiram em direção a catedral. Já havia um grande número

de pessoas aguardando.

Fizeram um sorteio para ver quem ficaria na zona mais

perigosa. Júlio foi o sorteado.

Os grupos seguiram para a área demarcada pelo sorteio.

Júlio estava ansioso para começar aquela aventura. Entraram

num carro e começaram a rodar por toda a cidade. Andaram

todos os luagres e nem sinal dos vampiros. Decidiu parar um

pouco e desceram do carro para esticar as pernas..

O Celular de Júlio tocou. Ele atendeu prontamente.

- Alô! Quem está falando? – indagou curioso.

- É o Edgar que trabalha na padaria do seu pai. Estão

tentando entrar na padaria, Júlio. Estão fazendo uma barulheira

danada na porta – Ouve um minuto de silêncio. - Estão

tentando arrombar a padaria. Eles estão quase conseguindo

abrir a porta de ferro – gritou desesperado.

- Fique escondido. Chegaremos em poucos minutos –

disse desligando o celular.

Olhou para seu grupo e sorriu.

- Vamos, estão tentando entrar na padaria de meu pai.

Um funcionário que dorme por lá, acabou deligar. Estão

tentando saqueá-la.

Page 99: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 98 ]

Todos pareciam petrificados com a notícia. Júlio sorriu

diante de tal reação. Tentou chamá-los de volta ao planeta

terra, mas pareciam estátuas tomadas pelo terror. Apenas

sorriu e seguiu sozinho até o carro. Quando estava para dar a

partida, notou que um rapaz batia no vidro.

- Júlio, abra a porta – ordenou Lucas. – Fiquei um pouco

assustado com a notícia, mas não posso deixá-lo partir sozinho.

Júlio sorriu abrindo a porta. Saiu cantando os pneus. Ao

chegar em frente à padaria, ficou apreensivo ao notar que já

haviam arrombado a porta. Pedia a Deus que não tivessem

encontrado o Edgar.

Saiu do carro correndo. Pegou o revólver e conferiu para

ver se estava carregado. Entrou na padaria e não viu nenhum

deles. Correu em direção aos quartos, que havia no fundo

daquele estabelecimento.

Não havia nenhum deles por lá. Abriu a porta de Edgar,

mas a luz estava apagada.

- Edgar? gritou.

- Estou aqui, Júlio – disse com voz rouca, uma voz muito

diferente da voz de Edgar.

Não era seu amigo, estava certo disso, pois de Edgar

era seu amigo desde a infância. Olhou devagar para cima. Lá

estava um homem grudado ao teto, parecendo um lagarto.

Seus olhos eram vermelhos, pareciam soltar faíscas.

A besta pulou ferozmente sobre ele. Não pensou duas

vezes, atirou três vezes mirando no coração do vampiro. A fera

caiu morta no chão. Nesse momento, ouviu um barulho atrás

dele. Virou-se e atirou prontamente. Por sorte, errou o alvo,

senão teria matado Lucas.

Page 100: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 99 ]

- Júlio, está louco? - indagou colocando a mão no

coração.

- Precisa tomar cuidado, Lucas! – exclamou colocando

munição na arma. Fez sinal de silêncio para Lucas – Abriu

bruscamente a porta do quarto de Adam.

- Nós estávamos esperando por você – disse dois

vampiros, segurando Edgar pelo pescoço. – Hoje você não

escapará, filho do poderoso Vlad IV.

- Desculpe, deve estar me confundindo – disse atirando

na cabeça do vampiro. A bala de prata começou a corroer

aquele corpo, como se fosse algum tipo de solda. O outro

correu e pegou Edgar pelos cabelos. Mas Júlio mirou em sua

testa e apertou o gatilho. Acertou a fera. Espirrou sangue preto

por todos os lados daquele quarto. A prata corroeu a cabeça

daquele ser maldito. Sua cabeça derretia como se fosse um

sorvete. O cheiro era insuportável. Prendeu o nariz com os

dedos, a fim de amenizar o cheiro podre, que exalava daquele

corpo. No final, havia somente as roupas usadas por aquele ser

sombrio.

- Do que ele estava falando? Indagou Júlio confuso. –

Quem é esse tal de Vlad IV? Quem é o filho do tal poderoso

Vlad?

- Sei lá, deve ser doido! – disse Edgar visivelmente

abalado. – A única coisa que sei nesse momento, é que não

ficarei mais nesse lugar nem por um minuto.

Júlio tentou acalmá-lo sem sucesso. Já havia decidido

pedir demissão pela manhã.

Saiu do quarto de Adam em companhia de Edgar. Lucas

parecia ter virado estátua. Não conseguia se mexer. Havia

Page 101: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 100 ]

pavor em seus olhos.

- Lucas – disse sorrindo. – Está vivo ou decidiu fazer

companhia aos vampiros? – brincou.

Ele parecia tão assustado, que não conseguiu responder

sua pergunta. Parecia uma estátua. Júlio foi até a cozinha da

padaria, pegou um copo com água, colocou um pouco de

açúcar e entregou para Lucas.

- Beba – ordenou. – É água com açúcar, dizem que

ajuda a acalmar.

- Você é muito maluco, Júlio. Não ficou com medo?

- Fiquei morrendo de medo – mentiu. – Mas se ficasse

parado, ele nos mataria.

- Me perdoe, acho que não consigo matar ninguém, nem

mesmo os vampiros – disse envergonhado.

- Não precisa se desculpar. Dá próxima vez será mais

fácil – disse saindo em direção à porta.

Ouviram gritos que vinha do final da rua. Era a casa de

um viúvo. Havia uma grande quantidade de vampiros em frente

a casa do pobre homem. Notou que havia mais ou menos, sete

ou oito deles.

- Malditos! - Falou entre os dentes. – Vamos, Lucas.

Agora não dá pra ficar paralisado. Se isso acontecer,

morreremos.

- Fica tranquilo, Júlio. – garantiu Lucas. – Agora as

coisas ficarão boas. Se você conseguiu matar dois deles, juntos

poderemos acabar com muito mais – disse correndo em direção

ao final da rua.

Júlio sorriu e acompanhou Lucas em sua corrida

destemida.

Page 102: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 101 ]

- Uhuuu! Vamos matar esses malditos – disse atirando

na direção dos vampiros. – Se preparem para morrer, seus

malditos.

Lucas acertou um deles com sua arma. Viu que o

maldito caiu no chão. Júlio pegou seu machado e acertou na

cabeça de um deles. O outro pulou sobre o muro com

velocidade assustadora.

- Se não soubesse que é um vampiro, pensaria que

estava possuído pelo capeta, maldito – disse Júlio, olhando

para o vampiro que estava andando sobre o muro. Adam o

acertou derrubando-o do muro.

Nesse momento Lucas virou em sua direção e mirou o

revólver.

- O que está fazendo, Lucas? – disse Adam , assustado.

Ele apenas apertou o gatilho e a bala passou de raspão

sobre sua cabeça, acertando o vampiro que estava atrás dele.

Adam olhou aliviado ao notar que a fera, caiu inerte no

chão. Era maravilhosa a sensação de vê-los sofrer. Eles

derretiam como vela, quando a bendita prata entrava em

contato com seu corpo.

- Cuidado, Lucas – gritou Edgar atirando no vampiro que

se jogara sobre Lucas.

Adam decepou a cabeça do último deles, com seu

precioso machado.

Quando todos os vampiros foram aniquilados, o viúvo e

suas filhas pareciam aliviados. Batiam palmas, freneticamente.

Uma cena muito engraçada de ser vista.

- Você é muito doido, Júlio – disse uma delas. – Parece

que não tem medo da morte!

Page 103: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 102 ]

- Aliás, todos vocês parecem malucos – disse o pai das

meninas. – Estão de parabéns. Muito obrigado, por salvar

minha família.

Júlio saiu caminhando lentamente. Parecia andar sobre

nuvens. Havia sido elogiado por pessoas que a vida inteira,

havia falado coisas ruins a seu respeito.

Ouviu o celular tocar. Olhou no visor. Era Adam.

Atendeu.

- Corre com seu grupo para cá, Júlio. Meu grupo correu

ao ver o primeiro grupo de vampiros. Estou completamente só.

Tem um grupo grande de vampiros, atacando casas de Itariri.

Preciso de ajuda, pois são mais de vinte vampiros.

- Estaremos aí em quinze minutos. Ligue para Rogério e

Maebi também.

- Já fiz isso, mas só consegui falar com você e Maebi.

Infelizmente, Rogério não atende o telefone.

Júlio desligou o telefone e seguiu em direção a Itariri.

Levou consigo somente Lucas. Edgar decidiu que não iria mais

fazer parte daquela loucura. Confessou que não era tão louco,

pois tinha medo da morte. Então agradeceram por sua ajuda e

partiram.

Ao chegarem, avistaram Adam e Maebi aguardando sua

chegada.

- Demorou muito, Júlio! – disse Adam nervoso – Onde

está o seu grupo?

- Grupo – disse sorrindo. – Que grupo? – Sobrou apenas

Lucas. Vamos parar de conversar e entrar logo naquela casa,

antes que devorem todos por lá – disse correndo pela rua.

Adam, Maebi e Lucas se olharam e sorriram. Saíram e

Page 104: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 103 ]

correram atrás de Lucas.

Ao chegarem ao portão, se abraçaram. Então, entraram

bruscamente na casa. Tudo estava revirado naquele lugar.

Haviam jogado os móveis, eletrodomésticos, rasgado

almofadas... O caos estava por todos os lados. Era um clã

destrutivo. Parecia um bando de loucos. O silêncio era irritante.

Não conseguiam saber, em que parte da casa eles se

encontravam.

Adam ficou assustado, quando Maebi levantou a arma

em sua direção. Ela mirou e atirou rapidamente. Apenas sentiu

que garras enormes bateram em suas costas. Virou-se e

observou que um vampiro muito velho estava atrás dele. Por

pouco não arrancou sua cabeça com aquelas enormes garras

afiadas. Maebi atirava sem parar, havia muito deles grudados

no teto.

Aquele barulho alertou os demais. Rapidamente a sala

estava tomada por aqueles seres sombrios e furiosos.

- Estão procurando por nós? – indagou um deles. –

Estamos aqui, por que não vem nos pegar.

Maebi disparou sua arma em cima deles, mas eram

rápidos demais e não estavam conseguindo acertá-los. Isso

parecia diverti-los. Nesse momento, Lucas puxou seu machado,

correu em direção deles. Conseguiu decepar a cabeça de um

deles e não parou mais de decepar cabeças.

Não havendo tempo para carregar a munição dos

revólveres, Adam e Maebi pegaram seus machados e facões

cortando cabeças e membros de vários deles. Sobrara apenas

dois, que fugiram com extrema rapidez, em direção ao andar

superior da casa.

Page 105: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 104 ]

Subiram para exterminar com os dois vampiros que

haviam escapado. Abriram diversas portas e não encontrou

ninguém. Na última porta daquele corredor, ao abrirem,

ouviram um grito aterrorizado. Notaram que a voz vinha

debaixo da cama. Adam abaixou-se e viu que toda a família se

escondia ali.

A família parecia aliviada ao vê-los. Saíram do

esconderijo e desceram até a sala. Ficaram surpresos com a

grande quantidade daqueles malditos seres estirados no chão.

O cheiro daquela casa virava o estômago. Decidiram sair dali.

Ao saírem, o homem apontou para cima do telhado de

sua casa. Lá estavam os dois vampiros fugitivos. Eles andavam

sem dificuldade em cima do telhado.

Maebi pegou sua arma e atirou contra eles. Mas com

rapidez desceram as paredes como se fossem aranhas. Em

poucos minutos, estavam embaixo. Lucas pegou seu machado

e acertou a cabeça de um deles.

Júlio arrancou a cabeça do último vampiro.

O pai da família, caiu de joelhos e agradeceu ao grupo.

- Não sei como agradecer por salvar minha família.

Digam-me, como posso ajudá-los?

- Apenas reze por nós! – disse Maebi, sorrindo. - Peça a

Deus que nos dê sabedoria e forças para continuar essa

batalha.

- Mas pelo que ficamos sabendo, havia mais pessoas

fazendo parte desse grupo. Não me digam que os vampiros

mataram todos eles? – indagou uma garotinha.

- Felizmente, não estão mortos. Mas ficaram muito

assustados e deixaram o grupo – disse Lucas com o rosto

Page 106: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 105 ]

coberto de sangue. – Onde posso lavar meu rosto?

- Venha, vou levá-lo ao banheiro para que lave seu rosto

– disse uma das filhas do homem. - Mais alguém gostaria de

limpar-se? – disse uma senhora, olhando para o grupo que

estava com rosto, mãos e roupas imundas. Havia sangue por

todos os lados. Era um sangue preto, fétido e de espessura

muito grossa.

- Agradecemos, mas precisamos voltar para nossa casa

– disse Adam, olhando para o céu que começava a aparecer os

primeiros raios solares.

Eles entraram nos automóveis e partiram em direção ao

centro. Lucas convidara-os para tomar café. Ele era muito rico.

Herdaria um verdadeiro império de restaurantes no litoral.

- Eu pagarei pelo café – disse Lucas sorrindo, pois sabia

que alguns deles, não tinham onde cair morto. - Vamos para a

padoca do Sr. Artêmis. Sei que o pão daquele lugar é o melhor

da cidade. Além do mais, impedimos que fizessem um

verdadeiro arrastão por lá. Então, deve estar tudo em ordem e

poderemos nos deliciar com aquele pão maravilhoso.

Ao chegarem à cidade, as pessoas já os aguardavam.

Haviam preparado uma verdadeira festa. Foram recebidos

como heróis. Estavam sendo chamados de “Quarteto

fantástico”.

O pai de Júlio estava visivelmente orgulhoso do filho. O

pessoal do final da rua, havia narrado como Júlio partiu para

cima dos vampiros. Os desistentes confessaram que não teriam

condições de acompanhá-los.

- Eles são muito loucos. Não tem medo de morrer, ainda

não alcançamos esse estágio. Acovardamo-nos diante da morte

Page 107: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 106 ]

– disse Edgar, sorrindo.

- Mas você lutou ferozmente junto a eles – disse

Adriana. – Por que não se junta a eles?

- É mesmo, porque não se junta a nós? – indagou Júlio,

ao chegar.

- Como disse os desertores, não sou tão louco como

vocês. Ainda pretendo viver por longos e longos anos – disse

sorrindo.

Daquele dia em diante, ficaram conhecidos como o

Quarteto Fantástico. Todas as noites Adam, Júlio, Lucas e

Maebi saíam para atacar os vampiros. Mas aquelas pestes

pareciam pragas, quanto mais matavam, mais apareciam.

Adam decidiu comprar um lançador de chamas, isso facilitou

muito o trabalho de todos eles.

A prefeitura e os moradores da cidade resolveram

contribuir com um bom salário. Assim, poderiam dedicar-se

somente em exterminar vampiros.

A cidade de Peruíbe ganhou notoriedade no mundo.

Todos conheciam o famoso “Quarteto Fantástico”. Todos os

jornais do Brasil, falava do famoso e destemido grupo de

exterminadores de Peruíbe. Mas ninguém tinha coragem de

juntar-se a eles.

Grande parte das pessoas achava que eram verdadeiros

suicidas. O povo já não tinha coragem de lutar por seus ideais,

pois haviam perdido a esperança e a fé.

Page 108: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 107 ]

Capítulo 10

Valores Eles estavam cansados. Aquela noite fora a mais difícil.

Os vampiros estavam com ódio do famoso quarteto fantástico.

Estavam cada vez mais furiosos e sanguinários. A luta contra

eles havia sido muito cansativa. Mas nenhum deles temia

aqueles malditos seres.

Todos os dias, havia notícia daqueles jovens corajosos e

destemidos, que gostavam de brincar com a morte

diariamente. Isso acabou por torná-los conhecidos entre vários

clãs de vampiros. Quando abriam os jornais e avistavam a

fotografia deles, rosnavam com ódio, pois estavam

atrapalhando os planos de Mihnea.

Adam estava estranho naquela manhã. Chegou

determinado a procurar por esconderijos de vampiros. Todos

estavam esgotados. Queriam apenas tomar banho e dormir. A

ladainha de Adam acabou deixando os demais componentes do

grupo irritados.

- Cara, você está louco? – disse Lucas com raiva. – Se

não formos descansar, não conseguiremos ficar de pé à noite.

- Se não forem comigo, irei sozinho.

- Pare com essa frescura, Adam – disse Maebi irritada e

com sono. – Sabe que ninguém tem condições, de travar

batalha nenhuma nessas condições. A não ser que deseja

morrer. Para tudo tem limite. O meu chegou aqui. Não vou

procurar nada agora. Só quero dormir. Amanhã se as coisas

forem mais tranquilas à noite, até podemos procurar por

Page 109: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 108 ]

esconderijos durante o dia.

Júlio estava tão cansado que não quis discutir.

Permaneceu em silêncio. Estava travando uma terrível batalha

contra o sono naquele momento. Seus olhos insistiam em

fechar-se a todo instante.

Adam notou o cansaço do amigo e percebeu que estava

sendo arrogante. Precisava pensar no bem estar de seus

amigos. Abaixou a cabeça, envergonhado.

- Me desculpem. Disse olhando para Júlio. Vejo que não

consegue manter os olhos aberto – disse olhando para Júlio.

- Pois é meu amigo. Se não for embora nesse exato

momento, dormirei aqui mesmo – disse com um sorriso

cansado no rosto.

- Peço desculpa. Não tenho o direito de colocar a vida

de ninguém em perigo.

Eles se entreolharam e abraçaram-se. Depois cada um

foi para sua casa. Adam seguiu para o quarto que o Sr. Artêmis

havia cedido gentilmente, pois já não trabalhava mais na

padaria.

Todos os dias seu lençol era trocado e tudo estava

milimétricamente limpo. Era uma maneira de o velho

agradecer, por ter salvado seu filho das drogas.

Júlio era outra pessoa, nunca mais havia usado

entorpecentes, não fazia uso de bebidas alcoólicas e ajudava o

pai quando acordava. Sempre dava um jeito de ajudar o velho

na padaria. Dizia que precisava fazer alguma coisa por seu pai,

pois o velho era tudo o que ele tinha.

Aos poucos, o Sr. Artêmis foi confiando na mudança do

filho. Ficava para morrer de alegria, quando seus clientes

Page 110: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 109 ]

elogiavam Júlio.

A relação entre os dois havia melhorado

consideravelmente. Mas nunca tocaram no assunto da morte

da mãe do rapaz. Isso o deixava muito triste, pois tinha

certeza que seu pai, ainda o culpava pela morte da mãe.

Maebi se tornou a melhor amiga de Júlio. Ambos eram

inseparáveis. Passavam a maior parte do tempo juntos.

Combinavam em todas as coisas. Havia uma cumplicidade

natural entre os dois. Todos achavam que formavam um lindo

casal.

Já Lucas e Adam viviam desconectados desse mundo.

Pensavam o tempo inteiro em vampiros, como encontrariam

seus esconderijos, planejavam novas armas para atacá-los,

enfim, viviam para proteger as pessoas e o planeta. Estavam

tão mergulhados nessa histeria, que acabaram esquecendo-se

de suas próprias vidas.

Adam estava cada dia mais fechado. Nunca permitiu que

nenhuma garota se aproximasse dele. Sempre respeitou às

moças que se aproximavam, mas fazia questão, de mantê-las a

distância de sua vida pessoal.

Naquela manhã Adam acordou saudosista. Sentia falta

de ouvir a voz de Miriam. Por que não conseguia esquecê-la? –

pensou. Ainda podia sentir seu aroma de flores. Sentiu

vontade de chorar. Recordou-se da mãe e de Eduardo, enfim,

recordou-se das pessoas que fizeram parte de sua vida.

Agora estava completamente sozinho no mundo.

Patrícia, prima de sua mãe, havia mudado para os Estados

Unidos, nunca mais tivera contato com ela. Ela se apaixonou

por Eduardo. Mas ele nunca correspondeu a esse amor. Então,

Page 111: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 110 ]

ela decidiu partir em busca de alguém que a amasse de

verdade.

A amizade entre sua mãe e Patrícia, havia ficado

estremecida por causa de Edu. Patrícia costumava dizer que

minha mãe era egoísta, pois deveria dizer a Eduardo que

jamais se casaria com ele. Minha mãe nunca teve coragem de

dizer isso a ele.

Soube pouco tempo antes de sua mãe falecer, que

Patrícia havia se casado com um milionário do ramo petrolífero.

Essa foi à última notícia que tiveram dela.

Levou um susto, ao notar que Maebi chegara

sorrateiramente na igreja.

- Tenho algo para lhe mostrar – disse entregando-lhe

um jornal. – Olhe o grupo de exterminadores de Salt Lake. A

líder é uma brasileira.

Adam não desejava conversar com ninguém naquele

dia. Queria ficar quieto com seus pensamentos. Queria sentir

saudade das pessoas que havia perdido. Mas sabia que

magoaria Maebi, se não olhasse para aquele jornal.

Passou os olhos rapidamente, através daquele monte de

letras e sorriu. Notou que ela parecia chateada, por não

demonstrar interesse naquela notícia.

Pegou novamente o jornal das mãos de Maebi, somente

para não ser indelicado olhou para as fotografias que estavam

estampadas.

Seus olhos ficaram petrificados ao ver a figura de uma

mulher jovem e muito magra. Ela era parecida com Miriam.

Mas era apenas coincidência, pois o massacre em Jundiaí, não

deixara sobreviventes.

Page 112: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 111 ]

- Você leu toda essa matéria? – indagou Adam.

- Sim.

- Sabe o nome dessa mulher?

- Não. Eles não fazem comentários, sobre o nome das

pessoas que fazem parte do grupo.

- Ela é muito parecida com uma amiga – disse sorrindo.

- Júlio deseja falar com você. Recebemos uma proposta

do tal grupo de exterminadores de Salt Lake. Desejam unir

forças para acabarmos com os vampiros.

Adam ficou sentado intrigado com aquela mulher. Ela se

parecia com Miriam, mas sabia que aquilo era somente uma

coincidência.

- Desculpe, Maebi. Não ouvi o que acabou de dizer.

- Está muito pensativo. Aconteceu alguma coisa, Adam?

Parece preocupado!

- Não estou preocupado, Maebi. Apenas um pouco

nostálgico. Essa mulher me fez lembrar de uma amiga muito

querida, foi somente isso.

- O grupo de exterminadores de Salt Lake entrou em

contato conosco. Deseja marcar uma reunião para unirmos

forças e iniciarmos uma guerra contra os vampiros.

- Eu concordo em iniciarmos a tal guerra, mas

precisaremos de mais pessoas. Não temos gente suficiente,

para iniciarmos absolutamente nada.

- A reunião será em Salt Lake. Eles mandarão o avião.

- Se todos estiverem de acordo, quando partiremos?

- Será amanhã à tarde. Só estou preocupada com uma

viagem tão longa. Acho muito perigoso arriscarmos viajarmos

durante a noite.

Page 113: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 112 ]

- É um risco que precisaremos correr.

Naquela noite, a ronda não foi feita como de costume.

Comunicaram ao prefeito da cidade, sobre o convite que

haviam recebido. Ele ficou preocupado por não ter ninguém

fazendo a ronda na cidade. Isso poderia trazer risco de vida aos

moradores. Então decidiram deixar Lucas, Maebi e Edgar no

comando da cidade. Mas não contavam, com a recusa de Edgar

em participar do grupo.

Edgar foi categórico ao recusar-se a participar da ronda.

Disse que admirava a coragem deles, mas que ainda não

conseguia se livrar do pavor de morrer.

- Prefeito, me sinto lisonjeado ao ser chamado para

participar desse trabalho. Mas nunca serei como eles. Morro de

medo da morte. Eles foram predestinados para fazer o que

fazem.

Adam observava tudo em silêncio.

- Olhe para Adam – disse Edgar apontando para o rapaz.

– Ele nasceu para ser um caçador de vampiros. Eu sou tão

corajoso como vocês – disse apontando para as pessoas que

trabalhavam na prefeitura. - Jamais serei um herói. Não

consigo me tornar nem mesmo herói de minha própria vida.

Adam aproximou-se de Edgar e sorriu. Lembrou-se que

há um ano, também tivera o mesmo pensamento. Achava-se

incapaz de mudar alguma coisa nesse mundo. Nessa época,

procurava encontrar dificuldades, para não fazer o que era

preciso. Somente quando mudou sua forma de pensar,

deixando de lado as dificuldades que encontraria, e pensando

somente em dar o primeiro passo, foi que as coisas se

concretizaram.

Page 114: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 113 ]

Hoje aprendeu que para vencer é preciso “começar”. A

diferença entre as pessoas comuns e as bem sucedidas, é que

as pessoas que têm sucesso na vida, não ficam perdendo

tempo discutindo suas limitações. São pessoas que vão atrás

do sucesso, não ficam paradas esperando que a sorte bata em

sua porta.

- Edgar, era muito parecido com você. Sentia-me

incapaz e impotente diante dos meus problemas – disse Adam.

- Não existe essa história de ser predestinado para fazer algo.

Não pense que sou acariciado pelo destino em realizar as coisas

com sucesso – disse com um sorriso cansado no rosto. – Eu

apenas realizei as coisas que precisava fazer. Como saberá se

terá sucesso ou não, se não fizer?

- Pensando dessa maneira acho que tem razão. Mas é

um preço muito alto que pagarei, se descobrir que não terei

sucesso realizando essa tarefa suicida.

- As pessoas que alcançam sucesso em seus feitos, são

aquelas que não ficam enumerando suas limitações, ao

contrário, enumeram as possibilidades das coisas darem certo.

Edgar tinha os olhos cheios de lágrimas. Aquelas

palavras tocaram seu coração profundamente.

- Você tem razão meu amigo – disse olhando em seus

olhos. – Vá ao encontro desse grupo. Sei que você deseja

salvar esse mundo, mais do que qualquer outra pessoa.

Obrigado, por mostrar-me a importância de acreditar em mim

mesmo.

- Edgar, ninguém foi criado para ser um derrotado. Às

vezes as pessoas nos comparam com outras pessoas e nos

mostram o quanto somos limitados e incapazes... O pior é que

Page 115: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 114 ]

muitas vezes, acreditamos. Não permita que as pessoas

destruam seus valores, comparando-o com outras pessoas, pois

cada um tem seu valor individual. Agora, vá e conquiste suas

vitórias. Lute por algo em que acredita, pois você tem um

grande potencial! Eu acredito em você, pois sei que é capaz de

proteger essa cidade.

Page 116: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 115 ]

Capítulo 11

Salt Lake Não havia sido fácil deixar a cidade de Peruíbe. Sabia

que podia confiar em Edgar, pois era um bom homem. Seus

medos e incertezas ainda estavam arraigados dentro dele, pois

para acabar com a autoestima de uma pessoa, é muito fácil e

rápido. Mas para reconstruí-la é um processo difícil e

demorado.

A gratidão daquelas pessoas, fez com que quase

desistisse daquela ideia. Mas estava partindo por uma causa

maior. Alguém precisava fazer alguma coisa, a fim de

exterminar de uma vez por todas, com os vampiros da terra.

Era metade vampiro e metade humano. Não conseguia

sentir-se mal por desejar acabar com sua espécie. Eles eram

ruins, impiedosos e cruéis.

Adam não conseguia sentir-se culpado, pois jamais

poderia juntar-se a uma causa sangrenta e suicida. Eles

estavam acabando com a raça humana. Não havia sangue para

todos. Os animais estavam praticamente extintos. Onde tudo

isso iria parar? Por que o rei dessa espécie, não conseguia

enxergar o fim eminente de todos? – pensou Adam.

Ao chegar a Salt Lake, Adam e Júlio notaram que aquele

lugar parecia tranquilo. Tudo por ali era diferente, parecia que

estávamos num outro mundo. Tudo era calmo, organizado e

limpo.

Adam observou atentamente as pessoas que estavam

no aeroporto. As pessoas pareciam felizes. Não pareciam

Page 117: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 116 ]

desconfiadas diante de uma pessoa desconhecida. A nuvem

negra que assolava o mundo, ainda não havia chegado naquele

lugar.

Júlio notou que um senhor os aguardava. Ele estava

segurando uma placa na mão com o nome dele e de Adam.

- Olhe, Adam – disse apontando para o senhor com a

placa na mão. Ele está nos aguardando.

Adam aproximou-se do senhor e sorriu com simpatia.

- Sou Adam e esse é Júlio. Somos os exterminadores de

Peruíbe, no Brasil. É muita gentileza, mandarem vir nos buscar

– disse estendendo a mão para cumprimentá-lo. - Qual é o seu

nome, senhor?

- Me chamo Michael. É um grande prazer conhecê-los.

Nosso líder não poderá atendê-los, agora. Mas pediu que os

levassem ao hotel. Ficarei a disposição durante todo o dia. E

amanhã irei ao hotel, buscá-los para a reunião com nossos

líderes.

- É um prazer também conhecê-lo, Sr. Michael – disse

Adam com sinceridade. - Já que a reunião foi adiada, poderia

nos deixar no hotel? Precisamos descansar da viajem, pois foi

muito longa e cansativa. Retorne somente amanhã, para nos

levar até a reunião. Não sairemos do hotel hoje, sendo assim

não haverá necessidade de ficar a nossa disposição. Eu e Júlio

precisamos descansar, pois essa viagem nos deixou exaustos –

disse Adam sorrindo.

O Sr. Michel os deixou no hotel. Ao entrar naquele lugar,

Adam ficou maravilhado com o requinte ostensivo existente ali.

Jamais vira um lugar como aquele. Desde que nasceu, viveu

somente em esconderijos subterrâneos.

Page 118: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 117 ]

O quarto era muito confortável. Os lençóis eram brancos

e limpos. Havia televisão, rádio, computador, e um lindo

banheiro, com uma enorme banheira de hidromassagem.

Decidiram através do par ou ímpar, a fim de saber quem

teria o privilégio de usá-la primeiro. Estavam exaustos! Caíram

num sono profundo, assim que seus corpos se recostaram

naquela cama limpa, macia e cheirosa.

Adam acordou, com uma pessoa batendo

insistentemente na porta de seu quarto. Júlio levantou-se para

abri-la.

Era um homem de um metro e noventa, branco com

cabelos loiros e olhos castanhos. Parecia bastante assustado e

confuso.

- A cidade está sendo atacada por vampiros – disse o

homem visivelmente apavorado. – Soube que fazem parte do

famoso grupo de exterminadores do Brasil – fez uma pausa

para recuperar o fôlego. – Por favor, nos ajude – suplicou o

pobre homem.

- Peça às pessoas que usem a prata, a fim de afastá-los,

pois quando um vampiro entra em contato com esse tipo de

metal, dissolvem como se fosse sorvete.

- Preciso de um lança chama. Serve o que os cozinheiros

usam na cozinha para flambar ou dourar alimentos. Isso nos

ajudará a mantê-los à distância.

O homem desapareceu correndo pelo corredor, a fim de

cumprir suas ordens. Adam foi até a janela. Verificou que havia

um grande pânico nas ruas.

Eles ainda não haviam chegado até aquele local, pois

tudo estava em ordem, tirando as pessoas, que corriam de um

Page 119: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 118 ]

lado para o outro, totalmente desgovernadas.

- Maldição! – gritou Júlio. - Não trouxemos os machados

e o lança chama. Será uma luta cansativa e perigosa.

- Vamos procurar na cozinha e ver o encontramos –

Adam saiu do quarto, seguido por Júlio.

Ao entrarem no elevador deram de cara com o gerente

do hotel. Trazia em suas mãos quatro lança chamas, dois

machados e alguns facões.

- Espere que isso ajude! – disse entregando os

instrumentos. – Em que posso ajudá-los? Nunca tivemos um

ataque desses por aqui, não sabemos o que fazer – disse

colocando as mãos na cabeça, em sinal de desespero. – O pior

é que a nossa líder não se encontra aqui. Acho que prepararam

uma armadilha.

- Não temos tempo para discutir – disse Júlio pegando

as armas. – Apenas use o lança-chamas, para mantê-los

afastados do hotel.

Desceram pelo elevador. Não optaram pelas escadas,

para evitar a fadiga. Seria uma luta difícil. Se todos se

juntassem a eles, as coisas seriam mais fáceis. Mas sabiam que

as pessoas, acabavam fugindo com medo daqueles demônios.

- Então, vamos destruí-los! – disse Adam com o sorriso

de sempre. – Não tenha medo, Sr... – coçou a cabeça tentando

lembrar o nome daquele homem.

- Me chamo Justin – disse o gerente.

- Se tiver medo, eles se alimentarão de seu medo –

disse Adam convicto. – Coragem meu novo amigo. Essa guerra

é nossa!

Saíram correndo em direção à porta que os levaria a

Page 120: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 119 ]

rua. Muitas pessoas se aglomeravam na entrada do Hotel. Não

havia mais tempo, para pedir que saíssem daquele lugar. Todo

o tempo, seria para a grande matança que se daria.

Ao abrirem a porta, notou que estavam por todas as

partes. Por que não haviam entrado no hotel? – pensou Adam.

A porta era cor de prata!

- Essa porta é de prata, Justin? – indagou Adam.

- Sim.

- Vamos voltar para dentro do hotel – disse Adam

observando que se continuassem lá fora morreriam, pois havia

muitos vampiros, para apenas três homens acabar com eles.

Ao entrarem as pessoas gritaram apavoradas.

- Há algum lugar, nesse hotel onde não existem janelas?

- Sim.

Peguem toda a prata que tiverem e tragam-na para o

saguão – ordenou Júlio. – Alguém sabe como entrar em

contato com os exterminadores?

- Infelizmente, os telefones do hotel não estão

funcionando. Tente no meu celular – disse Justin entregando-

lhe o aparelho. Procure pelo nome de Cacau, ele está no lugar

de nossa líder.

Adam pegou o aparelho e logo encontrou o nome.

Cacau já estava a caminho da cidade, pois uma pessoa já o

havia informado do ataque. Disse que estariam no hotel em

menos de quinze minutos. Notou pela voz de Cacau que estava

apavorado diante de todo aquele caos.

- Fique tranquilo, podemos vencê-los. Já acabamos com

um Clã maior do que esse - mentiu Adam.

Adam jamais atacara um número tão grande de

Page 121: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 120 ]

vampiros. Eles viviam em Clãs. Mas esse com certeza, não

pertenciam a um único Clã. Com certeza, havia vários Clãs.

Aprendera que os vampiros não eram unidos. Todos

desejavam uma fatia do poder, por isso a existência de vários

Clãs, pois assim poderia haver vários líderes entre eles.

Mas somente um deles, reinava com poder absoluto

entre a espécie. Havia somente um único rei. Seu poder era

absoluto.

Os líderes dos clãs lhe obedeciam. O rei dessa espécie

era o filho do poderoso e temido, Vlad Tepes III. Ele iniciou

essa nova espécie, através de um pacto satânico.

Poder e juventude fizeram parte desse contrato. Em

troca, a necessidade de sangue os faria matar, destruir e

corromper a grande e maravilhosa criação divina de Deus, o

homem.

Os poderes desses Clãs variavam muito. Quanto maior

o parentesco, com a Linhagem direta de Vlad III, maior o

poder.

Se houvesse linhagem direta, apenas uma mordida

conferida por um descendente direto de Tepes III, lhes

conferiam poderes inimagináveis.

Por esse motivo, Mihnea, era invencível e respeitado por

todos os vampiros. Era o próprio filho do poderoso Vlad III.

Após a morte de Vlad III, seu filho mais novo e o

primeiro a transformar-se num vampiro pelo próprio pai,

assumiu o poder. Chamava-se Vlad IV, sempre foi o filho

preferido, pois era fruto do amor da única mulher que seu pai

realmente amou.

Mas Vlad IV foi assassinado pelo próprio irmão, Mihnea.

Page 122: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 121 ]

Esse alegou que Vlad IV, rei dos vampiros, havia se juntado a

causa humana.

Com a morte de Vlad IV, Mihnea, assumiria o poder, até

que o filho de Vlad IV atingisse a maioridade. Mas Mihnea

enganou a todos os vampiros, dizendo que o filho de Vlad IV

havia nascido morto. Apenas alguns vampiros de sua confiança,

sabiam que aquilo não era verdade.

A noite estava fria e sombria. O cheiro de morte estava

impregnando a cidade. Cacau fechou o carro e correu em

direção à porta de entrada do hotel. Justin ouviu o amigo pedir

para abrir. Ficou aliviado, ao ver a figura assustada de Cláudio.

- Nunca vi tantos vampiros! – exclamou Cacau

admirado. – Onde estão os exterminadores?

Justin apontou para Júlio e Adam, que estavam na sala.

O olhar de Cacau iluminou-se, quando chegou perto de Adam.

- Ora, ora, ora! – disse sorrindo – Não se recorda de

mim, Adam? – indagou Cacau.

Adam o observou melhor, mas não conseguia se

recordar.

- Desculpe, não me recordo de você. Afinal, todos os

dias, conhecemos pessoas diferentes – disse esforçando-se

para se recordar. – De onde nos conhecemos?

- Da faculdade, meu caro Adam – disse sorrindo. – Sou

Cláudio amigo de Miriam. Estudávamos na mesma sala.

Adam olhou para a figura a sua frente, não poderia

imaginar, que o garoto mais popular da faculdade, se

transformara num homem obeso e barrigudo. Como ele

conseguiu escapar do massacre ocorrido em Jundiaí? – pensou

Adam curioso.

Page 123: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 122 ]

- Nossa que surpresa agradável! – disse Adam. - Você

está bem diferente... Não o reconheci. Você estava com Miriam

e Milena na época do massacre em Jundiaí?

- Sim. Mas escapamos e viemos para Salt Lake.

Soubemos que havia resistência nessa cidade e resolvemos nos

juntar a eles. O líder desse grupo foi exterminado, quando

viajava para Ohio, a fim de visitar seus filhos. Então elegeram

Miriam, como Líder dos exterminadores.

- Miriam está viva? – indagou Adam, surpreso.

- Na verdade, ainda não recebemos notícias, desde que

ela e Milena partiram. Resolveram se infiltrarem no meio deles,

para ver se conseguiam descobrir o que o rei deles estava

fazendo aqui.

- Mas soube que Mihnea estaria se dirigindo ao Brasil,

para comandar o exército de vampiros brasileiros – indagou

Adam. – Meu Deus, isso tudo só pode ser uma armadilha.

- Será? – indagou surpreso.

- De quem foi à ideia de nos trazer até os Estados

Unidos? – indagou Adam, desconfiado.

- A ideia foi de todos. A decisão tomou força, quando

soubemos dos planos de Mihnea, em organizar exércitos

vampíricos, a fim de exterminar de vez com a raça humana.

Desde então, estamos entrando em contato com

exterminadores de todos os países. Queremos unir forças, para

exterminarmos de vez, com esse maldito exército.

- Agora, precisamos nos preocupar em conter o ataque

de vampiros, que está ocorrendo nesse exato momento. Depois

pensaremos no resto – rebateu Adam.

Mais exterminadores chegavam a cada minuto. A sala

Page 124: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 123 ]

em que estavam já não cabia mais gente. Estava animado com

a possibilidade de ter tantas pessoas para lutar.

- Ataque é a palavra de nosso plano de ação – disse

Adam olhando para todos. – Não podem ter medo. Se eles

notarem medo em seus olhos, sinto informar que estarão

mortos.

- Esses malditos só morrem com a prata atravessando o

coração, ou melhor, quando a prata entra em contato com seu

corpo, é fatal – disse Júlio.

- Não pensem em nada quando estiverem diante deles,

apenas que estão diante de um poderoso caçador. Se

bobearem se tornarão sua caça. Ataquem, não pense em mais

nada. Se for alguém conhecido, ataquem. Pois a pessoa que

conheceram, já não existe mais – Adam andava de um lado

para o outro. – Revólver com balas comuns de nada servem. Se

não tiverem balas de prata, não usem nada. Se houver

machados, arranque-lhes a cabeça.

Alguma dúvida? – perguntou Júlio ansioso.

Ninguém se pronunciou. Júlio e Adam caminharam até a

porta de saída, acompanhados por mais ou menos duzentos e

vinte homens.

Frente a porta, os vampiros apareceram diante deles

sem demora. Estavam extremamente famintos e selvagens.

Esses eram os vampiros mais perigosos, não havia sobrado

vestígios da inteligência humana em nenhum deles.

Adam pegou seu lança chamas e mirou no primeiro

deles, que ficou sendo consumido pelo fogo rapidamente. Isso

chamou a atenção dos demais.

Para surpresa de Adam, ao invés de se afastarem com

Page 125: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 124 ]

medo, fizeram justamente o contrário, aproximaram-se com

grande velocidade para atacá-los.

Com o machado nas costas, começou o duelo de Titãs.

Adam com destreza usou seu machado, decepando diversas

cabeças.

Júlio atirava neles sem errar um único tiro, afinal com a

experiência vivida em Jundiaí, tornaram-se extremamente ágeis

e certeiros em cada investida.

Torceu para que aquele exército não debandasse diante

do perigo, como aconteceu em Peruíbe. Mas ao virar-se para

trás, havia menos de quinze homens lutando ferozmente. Os

demais haviam desaparecido.

A luta foi muito difícil e bastante cansativa. Com o

despontar do sol, os vampiros corriam rua abaixo, a fim de

encontrarem abrigo. Precisavam se proteger dos raios solares,

que começavam a clarear o céu impiedosamente.

- Excelente trabalho! – disse Cacau. – Miriam ficará feliz

ao saber da ideia desse lança chamas.

- O trabalho ainda não terminou. Precisamos atacá-los,

enquanto está cedo. Precisamos levar o sol até seus

esconderijos – informou Adam.

Adam olhou com tristeza ao seu redor, havia corpos

incendiados e cabeças por todos os lados. Havia muitos

humanos, com veneno no corpo. Muitos já estavam em fase de

transformação.

- Precisamos matá-los – afirmou Adam, olhando para

Cacau.

- Está louco? Nós cuidaremos de todos deles – insistiu

Cacau.

Page 126: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 125 ]

- Não serão mais eles, quando ocorrer à transformação.

O sangue desse Clã é hostil e sanguinário. Acreditem, temos

que matá-los ou teremos mais inimigos para conter depois.

Cacau tinha dificuldade em exterminar seus conhecidos.

Havia perdido muitos exterminadores, que antes de fugirem,

foram mortos em sua grande maioria. Dos quinze homens que

ficaram para a luta, sobraram apenas dez.

A morte cercava todos os lugares, por onde passava os

olhos. A vida boa havia acabado. Agora a guerra dera início e

só Deus sabia quando isso iria acabar, e quem seriam os

vencedores. Sentia falta de Miriam e Milena – pensou Cacau.

- Precisamos descobrir o que aconteceu a Miriam e

Milena – disse Cacau com voz embargada.

- Não podemos permitir que fiquem escondidos dentro

da cidade. À noite voltarão a nos atacar e farão mais vítimas –

disse Júlio ignorando o que Cacau, havia acabado de dizer. –

Vamos atacar seus esconderijos.

- Voltaremos ao Hotel e pediremos ajuda de mais

pessoas, pois com o sol se tornarão mais vulneráveis – disse

Adam batendo na enorme porta de prata.

Cacau sentou-se nas escadas em frente ao hotel e olhou

o triste cenário a sua frente. Havia corpos por toda parte. A

luta foi grande e exaustiva. As lâmpadas haviam sido todas

quebradas, pois os vampiros enxergavam melhor no escuro. A

rua estava completamente vermelha. Era um verdadeiro mar de

sangue. O cheiro era insuportável, chegava a dar ânsia.

- Vamos entrar Cacau! –Júlio ficou preocupado com o

rapaz, que ficou totalmente desorientado diante daquele triste

cenário.

Page 127: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 126 ]

Cláudio levantou-se e entrou juntamente com eles.

Como podiam pedir a ajuda daquelas pessoas? Ninguém teria

coragem de enfrentar os vampiros, principalmente quando se

deparassem, com o mar de sangue que os aguardava lá fora.

- Matamos um grande número deles, mas com o nascer

do sol, muitos correram e se esconderam para fugir da luz do

sol. Precisamos encontrá-los e matá-los. À noite, já não serão

tão vulneráveis e já não teremos a ajuda do sol – Adam olhava

para o rosto de todos. Estavam apavorados. O medo havia

tomado conta de todos por ali.

- Quem virá conosco? – indagou Júlio com esperança.

Ninguém se mexeu, ficaram mudos e estáticos.

- Então, desejem-nos sorte – disse Júlio, abrindo a porta

e saindo ao lado de Adam. Cacau foi seguido por mais sete

homens.

- Eu notei que a maioria entrou no restaurante. Lá com

certeza deve haver algum frízer cheio de carne – informou

Adam, descendo as escadarias da frente do hotel. - O sangue

os ajudará a repor as energias. Precisamos ser rápidos, quanto

mais vulneráveis estiverem, mais fácil acabaremos com eles.

Dirigiram-se ao restaurante e ao entrarem no cômodo,

onde ficava o frízer, notou que eles brigavam como animais por

pedaços de carne crua.

Adam foi surpreendido por uma besta, que com força

sobrenatural, segurou seu pescoço. O grito que soltou, alertou

as outras feras em sua direção.

Apenas conseguiu levantar o braço e puxou a cortina

que impedia a entrada do sol. De repente, um grande feixe de

luz penetrou aquela sala.

Page 128: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 127 ]

Olhou os corpos a sua frente, estavam incendiando-se

de maneira rápida e definitiva. Havia uma grande quantidade

de vampiros pegando fogo, naquele lugar. À medida que o

feixe de luz aumentava mais vampiros eram devorados por

aqueles raios solares.

O cheiro não era bom. Era um cheiro de coisa podre

misturado ao cheiro horripilante da morte.

Os demais exterminadores correram e abriram todas as

cortinas, em pouco tempo, tudo estava pegando fogo. Saíram

correndo dali, pois em poucos minutos o fogo atingiria a

cozinha e havia botijões de gás por todos os lados.

Ficaram a alguns metros e a explosão clareou todo o

quarteirão. Ficaram olhando alguns deles, tentarem se livrar do

fogo, mas não conseguiram e morreram carbonizados.

Os olhos de Adam teimavam em fechar-se. A maioria

extava completamente sem forças, para continuar aquela

interminável caçada. Estavam exaustos e com muito sono.

Mas algumas pessoas, que observavam de suas casas o

que havia ocorrido, decidiu ajudá-los. Em pouco tempo, havia

uma grande quantidade de vampiros pegando fogo, correndo

pelas ruas de Salt Lake.

Adam, Júlio, Cacau e os demais exterminadores, mal

conseguiam manter os olhos abertos. Decidiram descansar e

recomeçar a noite.

Comeram alguma coisa no hotel. Subiram para o quarto,

a fim de dormir um pouco. À noite precisariam de forças, para

impedir novos ataques. As pessoas haviam encontrado

coragem para lutar contra a morte. Por sorte, não sucumbiram

ao comodismo de viverem em esconderijos e permitir que

Page 129: Vampiros - Fim dos Tempos

Fim dos Tempos

[ 128 ]

aqueles seres tomassem conta de sua cidade.

Era um povo bom e unido. A maioria era de uma religião

conhecida como “Mórmons”. Naquela manhã resolveram fazer

jejum, para que Deus os abençoasse com a vitória.

Todos decidiram dormir para encontrarem forças para

mais uma noite de luta. Adam não conseguia parar de pensar

em Miriam.

Deitado em sua cama, apesar do cansaço, pensou nela

durante o tempo que conseguiu manter-se acordado. O que

teria acontecido? Por que ela e Milena não haviam entrado em

contato?

Precisava parar de ficar pensando... A noite seria mais

longa e tenebrosa que a primeira, pois os que conseguiram

fugir levaria a notícia de como haviam resistido. Viriam com

mais ira, mais fome e ódio. Precisavam estar preparados!

O Livro completo estará no Blog da autora a

partir do dia 23/12/12.

http://cristianegsantana.blogspot.com.br/