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SÓ TEMOS ESSA VIDA PARA VIVER
(Parte I)
O Jardineiro foi exilado para uma terra distante
no futuro, a nostalgia foi sua companheira por
muito tempo naquela terra longínqua, fotografias
eram a únicas coisas que tinha da sua terra, era
impossível voltar.
Na pressa da partida ele havia perdido momentos
preciosos com pessoas que ele amava muito,era
impossível reaver esses momentos.
A terra de Futura era uma copia envelhecida do seu
mundo e por mais que tentasse viver ali, a saudade
da terra de Pretérita lhe atormentava, os sorrisos
eram diferentes, a felicidade era mais felicidade
na sua querida Pretérita.
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SEXTA-FEIRA
BLUES
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O NÃO TÃO ESCURO LADO DO MUNDO
Quando eu nasci um desses anjos ceifadoresDisse-me: Vai lá! vê rápido como é
Pois eu não tardo a voltar!
Nem vi tudoLogo perdi o interesseNessa tendência humana em padronizarTudo que põe mão
(...) Parecia até um frevo –
O que me sobrou foi a ociosidade da espera
E estar sentando na praça na noite sexta-feiraNão que tenha algo contra as sextas-feiras
Na mesa ao ladoAparentam a insensata felicidadeDas garrafas destiladas
(...) Naquele vai e não vai –
A moça com anel de ouro no anelar esquerdoQue escreve freneticamente com os polegares
ContasConselhos financeirosA identidade de ferro sobre rodasE o meretrício que tem como moedaO saciar da sede alcoólicaE dos ventres
(...) Ontem eu sonhei que estava em Moscou –
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SHAKALIAH
Cidade circundada pelos cabos
Do vale do rio longínquoPotencial elétrico a dar nos nervos
Alugueis impagáveis que inflacionam
Em progressões aritméticas assimétricas
Times Square sertaneja do relógiodas eras que se passam
E passa meninaE passa a putaE passa a mãe de famíliaAh! Amnésia do que foi o passado
da badalada vida social
O santo e o profano em linhas paralelas
A sexta-feira que começa a noite
E que as vinte cinco horas não se acaba
O pederasta de branco com sua bengala
A arrotar verdades cabeludas nas mesas
Entre a rua e a praça fileirasdos carros trottoir infundado
E passa meninoE passa o afeminadoE passa o homem da mãe de família
Oh! Concepções que mudam ao tilintar de moedas
Atores da conveniênciaBulevar do inferno que me viu
em tuas calçadas tantas vezesÉs a testemunha imutável que
eu não me deixei contaminarPela hipocrisia do existir
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PAHTIUM SHAKALIENSIS
Lado ao pub das maledicênciasMalditos bangalôs de meia parede
Vejo as putas do pátio a gargalharA jornada de Vênus a Marte em instantesApenas subsidio de orgias infindáveis
Bem casadas pela conveniência de seus ventresSem os rituais que antecedem o matrimonioAh! Prostitutas do lar a alta patenteNa hierarquia final da praça das exibições
O adjunto anônimo de companhiaSanguessuga dos proventos governamentaisTolos doutores em polir cabos elétricosToda essa praga visível que escolhemos não ver
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RODA DA FORTUNA
Deixe-me sorrirDo único motivo aparente
Esquecer-se de viverJá foi um dia tão tedioso
Milhões de milhares de atalhosNo mesmo papel de paredePerfeitas configuraçõesInterligadas pelo supérfluo
Como da vez que fatigueiTanto os meus pés ao ponto
De comprar uma carruagemPara os que me rodeiam
E dormi com tantas mulheresQue me minha luxuriaCausou desejo àquelas que nuncaConheceram minha cama
E a tolice me engodou tanto
Que me tornei aquiloQue todos odeiamMas com denodo defendem
Já foi um dia tão tediosoEsquecer-se de viverDo único motivo aparenteDeixe-me sorrir
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TEATRO DAS SOMBRAS
Quando eu era inocente ao ponto de pedir opiniõesMinha alma foi vendida ao moldador de
conveniênciasDo culto pagão da casmurrice contida atrás dasmascaras
Oh! Palavras bem vestidas de puritanismoNa boca de homens e mulheres encarceradosNas suas taras sociais caducas e aleijadas
O dia da independência de todos os atos oobsessivos
Contidos na prática da pseudomoralidade me chegouNa mesa suja do mercado de peixes repleto de ratosAo anoitecer do final de um dia de feira
Ao preço de uma garrafa de conhaqueDa boca de uma puta de cabelos ruivosQue se abrindo para mim em gritos ufanosContou-me as verdades da opulenta sociedade
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BULEVAR DO INFERNO
Frente aos nichosAs vitrines de Amsterdã
Cá do lado de fora no meio fioDa rua do inferno
O sol escaldanteFundiu todas as máscarasNo tecido conjuntivo das mentirasO pus das úlceras selou as ataduras entreO mármore e as faces
Meu medo mórbido dos manequins
Que insisto em saudar matinalmenteMais por susto que por obrigaçãoE me deparando com meu equivocoFico a fitá-los nos olhos em comparaçãoCom a normalidade esquisita dos humanos que passam
Quem algum dia ao visitar os templosDo capitalismo dirá que nunca saudouPor descuido com um “bom dia” As imagens humanas bem vestidas nas lojas?
Aquele grupo de moças aponta para dentroInvejam a inércia nas curvas perfeitasDos bonecos de plástico
Ninfetas de vermelhoA desmantelar famíliasTrottoir pelo bulevarAuto-educandário das esquinas
Labirinto das falsas conveniênciasHá gerações a engolirO pouco de humanidade existenteNa frigidez dessa rua
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THE LAST JUDGMENT
Sobre a passarela do rio Piauí
Próximo ao Ares Clube
Sentei e chorei lembrando-meDa minha cidade natal
As luzes do pisca-pisca
Penduradas nas árvores da praça
A aparente piedade de dezembro
Cruzei todas as travessas
Onde estão as ruas dessa cidade?Cândido Coelho que quase não para
Das frestas das portas e janelas
Olhos curiosos espiam a avenida
Que o altíssimo lembre-se de ti
No dia do julgamento
De todas as lembranças
Os engenheiros da CHESF
Chegarão em breve alugarão todos os imóveis
Boa parte das mulheres e a cobiça dos olhos
De quase todos habitantes
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SÓ TEMOS ESSA VIDA PARA VIVER
(Parte II)
A principio ele pensou ser apenas bobagem dasua cabeça, e lutou com todas as suas forças parafazer de Futura seu lar. Quando estava prestes aaceitar a realidade de Futura, ele percebeu acoisa mais dura e cruel daquela terra, as cópiasenvelhecidas das pessoas que amava desapareciam,iam embora sem dizer pelo menos adeus.
O Jardineiro abriu seu velho baú, pegou sua
empoeirada câmera e fotografou toda a terra deFutura, as cópias de sorrisos envelhecidos, osvendedores de pássaros que passavam frequentementena sua rua, a sua casa azul desbotada e seujardim, assim poderia ter essas coisas para sempreem sua lembrança.
Naquela tarde, ele sentou no seu banco favorito,
pessoas passavam a sua frente, mas sentia-se só,
com sua tristeza, por que Pretérita talvez já nãoexistisse mais e a terra de Futura era um mundo
que não se podia confiar, porquanto mudava
rapidamente, nem mesmo as coisas rotineiras da
natureza eram as mesmas nessa terra.
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O TRIUNFO DAS
LUZES
EM DÓ MAIOR
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CLOSE CAPTION
Quando tudo parece dar certoMas as peças de lego não se encaixam
Tenho muitas delas entre meus dedosE elas se multiplicam a cada década
Quando vivemos das certezas que não se realizamSomos expostos a viver com o fardo das lembranças
Perdido em medidas de tempoNo universo pretérito circunstancialPassando horas e horasCom a cabeça no vidro da janela
Esperando a chuva passar
Alameda das luzes que foi é o presságioDa ribalta em trevas no monólogo vivente
A eternidade momentânea que persisteImpedindo-me de seguir em frenteA imantação de tudo que existe em mim
As roupas na centrifugaOs sons que vem do rádioAs imagens mute na TVDeixem-me partir agora de tudo isso!
Sorriso de calOlhos brilhantes de lágrimasSilêncio das cigarrasTenho paz às 23: 23
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O LIVRO DAS MÁSCARAS
Passo agora da vida horasMirando a caixa de luzes
E contando letras pra extravasar
Vejo-me trincar a face ao mundoComo uma barra de chocolateE não sinto sabor algum que tem vida
Pois não se sente gosto com os olhosÉ preciso apalpar junto ao rostoMastigar, engolir, deitar fora sobejos
Mas a hipnose da caixa de luzesFaz-me acreditar que tenho o bastanteQue não vale a pena o risco de viverAlém do meu gasto horizontes
Que morrer em cima do rastroÉ uma dádiva imerecívelO anonimato é uma bençãoE a dor incondicional a estrada
Lembro-me além da curvaChame de medo ou covardiaPois volto o rosto pra meus dedosCondicionados a três letrasO mundo, a teia e a amplitude
Preso como mosca na redeNo epicentro do mundoNos espelhos que ocultam facesQue a mascara me seja leveQue vida me seja menos ríspida
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GUILHOTINA DAS FALANGES
Passado é um lugar antes da inteligência luminosaGuardado em cadernos amarelos e fitas magnéticas
Muitas delas coladas com esmalteTranspassadas e muitas vezes por minha pena
Onde sozinho e sem que ninguém soubesseSonhava sem as críticas do mundo inteiroOnde não precisava da aprovação de ninguémPara saber que estava certo o meu pensar
Um mundo sem polegares opressoresQue apontam para o infinito estrelado
Tentando usurpar o trono do altíssimo
Que sejam abatidos até o infernoTirania da verdade descabidaNa razão sem atitudes que se escondemAtrás da máscara sem face alguma
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THE FALLING ANGELS
A noite dos meus diasRefugio-me dos olhos curiosos
No meu manicômio particular
O barulho das paredes acolchoadasFazendo-me ranger os dentesA brancura do quarto a sintetizar alucinaçõesAs estrelas da minha cidade nos apagões das noites
Olhando para firmamento fictícioTenho nítida certeza que estamos distantes de tudoQue toda histeria que criamos é apenas o
interlúdioPara nos conformarmos com nossa condição limitada
Ao amanhecer ou quando as luzes se acendemDeveras eu volto a ser normalSadio e aceitável no mundo provável
Volta e meia volto ao quarto acolchoadoNão por sadismo ou autonegação
Mas para não esquecer o verdadeiro sinônimoDa loucura nesses dias finais da humanidade
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GOD PARTICLE
A vida me falta ao chão firmeDas estrelas por onde voei
No éter espinhoso do pessimismo
Sistemas solares distantesQuando calcarei aos pés tuas órbitas?Luas de plutão que eu cismo na existência
Da janela do meu quartoInfinitos Bósons de HiggsDo Big-Bang de minha almaEm tons pastel atômicos
Antes de nada e depois de tudoDa beira do fim de mimAo núcleo flamejante
Para onde fui no espaço-tempo?Que saudade de meu “eu próprio” No ralo da singularidade inexistente
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DIVINA
Por quatro décadasEsperou em frente à portaDo que chamamos de vidaAté o dia que chegaria
Ainda vestida de brancoRugas acentuavam o tempoE eu sem definição algumaPoderia ser qualquer um
Na multidão dos astrosPensavas tu que
O mais brilhanteSó poderia ser ofuscante eu
Os olhos - o enganoEu estava chegandoA tua galáxia longe da portaMinha luz por ti ainda não vista
E com toda pressa
Outro solCansada da esperaEmbriagada pelos sonhosIludida escolheu
Já próxima à morte descobre o erroEm orbita definidaOlhas para o céu e me vêBrilhante a tua espera em meio ao breu
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ARUOM ANNAY
Os signos do zodíacoA certeza tão incerta das possibilidades
Minha alma nada contra tudoMinha vida à deriva da sorte
Apenas um nome me foi dadoRazão para descrer nas conjecturasTão prováveis à minha frente
Mas se é para alguémTer influência sobre mimQue sejam os astros
A anos-luz da minha existência
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HOLLYWOOD BULEVAR
Não subi tão altoNo teleférico dos sonhos antigos
Parei a revisar tudo e colocar
As fantasias no seu devido lugar
A sabedoria dos erros alheiosQue quiseram tocar o céuAstros doidos movidos a ópioHoje nada mais que merasEstrelas sem brilho nas calçadas
Aqueles que usurpam o trono
Do altíssimo em suas vidasSão abatidos até o inferno da ilusãoDe ter o chão como abóboda celeste
Ah! Constelação de aço
A beira da singularidade
Linear da sarjeta
Carros que passam
O burburinho da multidãoJingles nas lojas
O tilintar das moedas
No homem de óculos na esquina
As sombras no fundo de minha alma
Nunca me enganarão ao ponto de
Esquecer onde cintilam
Os verdadeiros astros
Eu sou o filho da Terra
E do Céu EstreladoTenho sedeDê-me da fonte da memória
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A ESCURIDÃO DAS LUZES DA AVENIDA
A neblina espessa que fluíaDa minha alma passou
A luz de uma pequena vela me guiaNa escuridão
Ah! Quantos arranjos de minha vida em vãoPoderia ser qualquer coisa menos euAcordes da harpa sofredoraHá horas que estridentementeChoro à musica de Dvorak
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SÓ TEMOS ESSA VIDA PARA VIVER
(Parte III)
Naquele banco envelhecido tão parecido com oda sua terra, enquanto olhava uma de suasfotografias ele viu no seu jardim uma pequena flordesmaecida e maltratada, correu para sua casa -terei um novo passatempo, pensou ele – vendo aflorzinha de perto se compadeceu dela e durante ummês inteiro, dia e noite cuidou daquela pequena.Quando ela abriu os olhos, fitou o jardineiro edisse:
- Olá!
- Olá! Qual o seu nome? – perguntou ele.
- Eu sou um Amor-perfeito!
- Pois muito bem Amor-perfeito, precisa
descansar, ainda está muito debilitada!
- Onde eu estou?... Ahhhh! Estou com tanto
sono...
- Você está na terra de Futura!
- Metade do caminho... Talvez... Eu...
Mude...
-Durma você precisa descansar!
E Amor-Perfeito adormeceu. Jardineiro pôsagua nas suas raízes mais uma vez e a fotografou,sabia como as coisas mudavam rapidamente emFutura, queria ter uma lembrança de Amor-Perfeito.
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NOTURNOS
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INSIGHT BLUE
Da ultima vez que fui ao boticárioEle me receitou todas as drogas possíveis
Uma pra cada função orgânica
Humano como eu imitando as artes de GepetoDando-me conselhos de como durar como genteTrocando as baterias que me fazem funcionalAnte a quimera intra-psicótica de minha mente
Vede que mesmo controladoVigiado por esses cabos invisíveisQue me ligam a casa de manipulação
Eu posso partir a qualquer instante!
Fada azul de meus dias primeirosFaze-me gente de verdadeDeixa-me ver o sol como algo novoE os dias sem o tédio da mesmice
Casa azul dos meus rompantesDe estupidez adolescente
A prova inefável que os sonhosMonomaníacos são deletériosPara todos que pensam viver aqui
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EPITÁFIO
Quando eu partirNão chore
Eu regressei para a casa
Não busque lembrar-se de mimAceite minha partida com naturalidade
Mas se sentires saudadeE precisares lembrarOlhe para os olhosE o sorriso de minha filhaEu estarei lá
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QUATROCENTOS E DEZENOVE
Eu não posso nem mais me dar ao luxo
De sentir qualquer coisaTenho que pesar e medir
SentimentosPreocupaçõesE tristezas
Foi um amigo que me disseTantas pílulas para alguém tão moçoAh! Carlos sem elas eu não duro!
Antes mazelas hepáticas do amanhãQue minha ausência da vida no hoje
As vezes dou gargalhas
De meus planos antigos de envelhecer
A criança da casa da Getúlio VargasQue temia os cortejos fúnebresQue passavam à sua porta
Nunca imaginou que temeria a causaE não àqueles que eram levados pela multidão
Na porta da
Minha antiga casaPassa a vidaA vida passa
Ah! que saudade das madrugadasQue eu era acordado pelo ronco
Do motor do Jaicoense
7/25/2019 Vidro Pintado
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PONTE DE EINSTEIN-ROSEN
Talvez não dê tempo
Porque levei vinte oito anosPara ser quem eu souTalvez não de mais tempo pra ser feliz
Quando por agir compulsivamenteForjei amarras que me prendiam aos errosMeu primeiro amor perdi por meninice
Na minha segunda oportunidade
Meu dedo podre apontou como bússolaQuebrada na direção inoportuna
As dores no peito são constantesAlcançar meus distantes desejos
Está sendo a segunda meta numa lista
De coisas que quero fazer antes de partirNo topo com o numero um em negritoEstá escrito apenas :“sobreviver”
Será que ainda tenho tempo
Para sobreviver antes de partir?Tenho vinte oito anos e às vezes
Canso-me de tudo isso
7/25/2019 Vidro Pintado
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A HIPNOSE DOS DIAS
Quando eu era pequenoMinha mãe me dizia que o mundo era vilMas eu estava tão encantadoCom a possibilidade de viverQue nem percebi que a vida passava a cada instante
Hoje olhei no espelhoE não vi mais o sorrisoDo menino matreiro de outroraMinha face estava marcada com desilusões
Passou e eu nem vi
O conto ligeiro do salmistaPara onde foram os meus dias na capital daprovíncia?Os dias do circo na cidade que fui ao norte?A felicidade da casa azul no interior?
Se me serve de confortoEstão guardados em minha menteE me dizem pra eu não sofrer por isso
Ainda espero o dia que saudade sejaAlgo que me cause risadas
Que tu possas ser feliz pelo que ésE não pela certeza tão incertaDa proximidade com todas as possibilidadesE gozos que duram poucos segundosPois o presente é um lugar que não existeO que existe é uma ideia do presente
Como navalha do habilidoso barbeiroEle separa os pelos do ontemMostrando a brancura da pele do amanhãNão como uma coisa ou um momentoMas apenas como a subjetividade a emoldurarsofrimentos
7/25/2019 Vidro Pintado
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CADÁVER DELICADO
Nem parece meu aniversárioPassei o dia sozinho
E dessa vez queria ter alguémPara compartilhar comigoA trajetória elíptica completada
Talvez comemorem mais meu ultimo diaQue todos os dias que passei ainda com vidaTalvez me saúdem na minha horizontalidadeMais do que na verticalidade de hoje
Hoje pela manhã
Se eu fosse surrealistaTeria tomado xícaras e mais xícarasDe lições de como conduzir-meDe como trabalhar feito um xucroUnicamente para adoecer do trabalhoE ter dinheiro pra me tratar desse mal
Ah! Sociedade modernaO sangue de aço e combustíveis fósseis
Nas veias dos humanos petrificadosBestializados pelo concreto das cidades
A beira da lagoa sem nomeDo cacimbão de águas geladasA erva molhada pelo orvalhoA beira do eterno barrocãoDos tijolos enfileirados
Uma criança brincaEntretida com a novidadeDos seus sentidos
Sejas feliz até perceberesQue tudo isso passaNão é o tempo que te faz eternoMas tuas lembranças
7/25/2019 Vidro Pintado
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PORTA-RETRATOS
Quando eu for emboraSentirei falta de quatro coisas
Únicas do conto ligeiro
Os olhos de Jesus olhando para mimNas pinturas renascentistasQue na verdade olhavam para MariaMas sinto como se olhassem para mim
De dois sorrisos em particular
Primeiro o da minha filha
Que no dia das visitas alternadasCorria para os meus braçosAlegre me chamando de papai
O segundo precedidoPelos olhos tímidosQue se escondem dos meusNo idem infinitoDas promessas laboriosas
E do adeusCom cara de “até logo mais” Que sintetizava todo sentimento de saudade
Esta última nunca mais se repetirá
Ah! Dessa vez eu não voltoGuarda-me em teu coraçãoE quando a chuva for minha culpaDiga apenas que dessa vez passa
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PORTRAIT
Parece que foi ontemQue não percebia a felicidade
Que a névoa que nos faz humanosEmpurrava para o passado
O memorial da Rui Barbosa nos diasDa síntese dos meus "eus" que nasceramDo meu choro incrédulo perante a vidaDiante dos olhos de Tátila Inez
Possíveis universos
Corações de aço inoxidáveis
Como as cordas do meu violãoFrios – brilhando apenas peloCuidado das aparências vãs
A vida nada mais é queQue o prazer momentâneoDessas lembranças saudosistas
Ainda sonho com o dia
Em que não precisareiMais do passado como referência de felicidade
Ah! Foi tudo tão rápido
E eu tão desatentoÀ realidade sempre desfocadaDiante dos meus olhos
Eia! Meu coração
Sobrevivente das eras e lembranças!
Ainda há muito o que se viverExilado nesse duro futuro
Nesse recanto distante do cosmos
Cercado de estrelas por todos os lados – A terra.
7/25/2019 Vidro Pintado
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SPLEEN
A causa da mesmice antes da passagemHá tempos não existe mais medo apenas esperançaRomperei a crisálida matéria e com asasPara além-reino teria a preocupação de uma criança
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SÓ TEMOS ESSA VIDA PARA VIVER
(Parte IV)
A cidade de Futura continuou aquela noite suamarcha ininterrupta de mudanças, a nova manhãchegou para o Jardineiro com o perfume de milrosas que tomava conta de sua casa chegando atéseu quarto, a voz doce como de um anjo tocava seusouvidos, ele abriu a porta e lá estava Amor-Perfeito desabrochada, seus cabelos eram vermelhoscomo o carmesim, pele branca como lençóisalvejados, coberta apenas por suas sépalas, elacantava e sua voz doce enchia todo o ambiente,ele olhou bem dentro de seus olhos de mel e disse:
- Bom dia Amor-Perfeito!
- Bom dia, meu salvador! – respondeu Amor-Perfeito.
- Como você amanheceu hoje?
- Muito bem! O dia mais importante de umaflor é o dia de seu desabrochar.
- Então temos que comemorar!
- Não tenho tempo... E além do mais não seiainda teu nome! – disse ela sorridentemente.
- Além de salvador, também me chamam deJardineiro – ambos sorriram.
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BREVE OLHAR DA
GORGONA
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TORQUÁLIA
Montanhas de ferro e concretoNascem na horizontalidade móvel
Da minha janela
Árvores com cabos elétricos petrificadasE há gente receptora da magia tecnológicaEm todos os lugares além-rio da ponte metálicaCarros e semáforos correm para trás velozmente
No momento exatoTodas as músicas do mundoForam feitas para mim
O perfume sepulcral da imperatrizNoite dominical da Miguel Rosa vaziaPassos da cruz estagnados da capital
Ah! como eu queria ser o asfaltoPara sentir-te como todoOh! eterno chão de Torquato
Cidade entre riosFeitura do grande arquiteto do universoEm meio ao calor infernal
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ODE SANTOINACIENSE
Luzes faiscantes que se revelam
De trás do morro dos apertados
Cortado pelo progresso estradaQue leva a terra dos mortos
Cemitério sem dono atrás da igreja
As manchas de gordura sob as velas
Na superfície do antigo templo barroco
O alicerce de crânios da casa grande
A mítica estátua perdida
Desaparece dos contos populares
Dando lugar à infâmia ganância
Uma cidade de mortos como disse
Lugar algum presente
Caminhos que saíram do passado
Debaixo do antigo pé de tamarindo
Para se perderem num futuro dormente
7/25/2019 Vidro Pintado
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ODE SANTOINACIENSE II
Duas avenidas cortam o corpo
Da cidade histórica esquecida
A segunda leva aos “pratins” Da minha infância
Onde para ser feliz
Bastava a água descendo
Pelo lodo do brejo das pedras
O cheiro de alvejante das lavadeiras
A escadaria de pedra
Os tamarindos doces
O engenho dos meus ancestrais
A vida mais vida
As mulas com ancas à buscar água
Na cacimba cristalina
As gameleiras dos passarinheiros
A cidadela passada – O brejo
7/25/2019 Vidro Pintado
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MEMORIAL DO BREJO
Lampejos de felicidadeFlashbacks fantasiosos
São nada mais que verdugosDe uma era de alegrias
A penteadeira velhaCheirando a azeite de mamonasOs frascos vazios de perfumeQue imitavam formas arrojadas
BotasBailarinas
ArmasE carros
A repugnante cena de mãe DinhaDeixando os gatos lamber a baixela
Eu ainda criança para aquiloAi meu Deus!Tempos da minha inocência
Atravessávamos o rio para as novenasMuitos para espiar os doces da quermesseOutros para pedir chuva à santa
Tudo consumido pelo descuido dos olhos
Nesse para sempre com prazo de validade
Quase todos dormem
Eu vejo o sol nascerToda a noite à minha porta
E apenas ao meio dia anoiteço
Distante do ruído das lembranças
7/25/2019 Vidro Pintado
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R.I.P
Estou indo a teu encontro cidadeDe encantos e mistérios
Que as cinzasEm tua terra de vultos colossalAcalme meu corpo em meio às ondasOnde a alma toma coração como nau
7/25/2019 Vidro Pintado
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7/25/2019 Vidro Pintado
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SÓ TEMOS ESSA VIDA PARA VIVER
(Parte V)
O dia foi maravilhoso para Jardineiro comoeram os dias em Pretérita e foi assim nos diasseguintes, a sensação de estar na sua terrapairava no ar, ele percebeu que a nostalgia quecongelava seu coração estava degelando. Sabia queAmor-Perfeito era a responsável por suafelicidade.
Amor-perfeito contava-lhe seus sonhos de como
queria peregrinar por todo o mundo, conheceroutras terras, ele não entendia como uma flor quenunca tinha saído do seu canteiro até o dia do seudesabrochar podia ter tantos anseios. As noitesficaram mais divertidas, Jardineiro ensinava Amor-perfeito a tocar alaúde e ambos cantavam atéadormecerem.
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O CADAFALSO
SINCOPADO
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7/25/2019 Vidro Pintado
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O SOPRO DA VIDA LIGEIRA
Vivo de realizar sonhos alheiosOs meus já passaram
E há tempos não germinam novos caminhosHá tempos minha alma doloridaCompreendeu que a vida é curta
Há quase um minuto foi infânciaHá quase um instante amei cheio de esperançasE eu jurava que tudo ia dar certo
O andarilho roto que escondo dentro de mimAmadureci ao ponto de permitir que vivessem
Na superfície calejada do meu coraçãoOs sonhos e os amores que nunca “concretizados” Na curta estrada que chamam de vida
7/25/2019 Vidro Pintado
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ENGODO
A falsidade com que me olhavaE libidinosamente me chamava amigo
Apenas fórmula de satisfação e egoísmoTe, ti, consigo
7/25/2019 Vidro Pintado
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ODE CLARA
Que de trás dos olhos angélicosExplodem-se segredosDe mundos nunca visitadosSentimentos ocultos na epiderme
Alma clara que um diaTalvez em desejo foi a minhaAltiva de sonhos e crimesAlheios a tua compreensão
Lençóis maculadosNegror de teus cabelos
Entre falanges hábeisE o palpitar do teu peitoOfegante e sincopado
Sim eu vejo!Vejo claramentePor baixo de tua cascaA singularidade envelhecidaQuerendo existir noutros tempos
Oh! Alma ansiosa irmã da minhaLança fora o teu saco de tijolosE sem culpa alguma sentaComigo à beira da estrada
Contempla com teu olhar furtivoTudo o que passa e passaO calor que sobe pelas colunasE a vida dos pássaros que fazem
Ninhos em teus arabescos
Hoje é noite de luaEla é clara e refleteNas ondas que se formamNo oceano de teus olhos
Rios caudalosos desaguamDe teus segredos manchando
Com rímel tuas margensDesfazendo as montanhas de gloss
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Olhos que se fechamGritos emudecidosPrazeres passageirosQue antecedem o silêncio
Autoindução condicionadaO triunfo de ter se desligadoDe tudo por um breve espaço de tempo
7/25/2019 Vidro Pintado
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ERVA VENENOSA
Evoca a lembrança de meus dedosMínimos tocando tua faceDesligando toda humanaE falha racionalidade que te prende ao chão
As explosões silenciosas da tua almaQue divinizam os atos mais profanosA certeza duvidosa do amorJuras contidas nos teus olhos
7/25/2019 Vidro Pintado
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ALICE
Como num caça-níqueis
Permitindo-me uma jogada bônus
Todas as luzes acenderam-seNa abóboda da máquina
A mulher por atrás dos óculos
Com a precisão de um relojoeiroAjustou minhas engrenagens
Agora eu posso sossegar
E continuar existindo
Escravo das circunstâncias
Da normalidade dos dias
7/25/2019 Vidro Pintado
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JINGLE I
Não tinhas tu o direito de fazer isso comigoMinhas cicatrizes explodiram em chagas
Que já estavam curadasMeu coração já havia até se convertidoÀ religião da razãoAgora em meio a tanta dor é impossível raciocinarSó me resta o óbvio – Amar.
7/25/2019 Vidro Pintado
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THE FOX AND THE GRAPES
Como eu me tornei tão imprestável?Da minha família eu era entre os meus
O mais promissor a que todos especulavam
Eu que tinha terminado os estudosEu que nunca fui dado a orgiasEu que passava longe dos homens perduláriosEu oposto a tudo isso
E meus irmãos que eram o contrário de mimVivem hoje tão quanto ou melhor que eu
Nada foi o ajuntamento de deveresQue carreguei como um saco de tijolosNo qual eu me sento à beira de tudo que passouE vejo que não vivi além do fardo de carregá-los
Eu deveria ter me tornado oficial do exércitoComo meus amigos de infânciaOu até mesmo um naval como Marcondes
Faria uma ou duas missões de pazE teria meu dever pago
Para com a humanidadePara com a minha famíliaPara com todos que esperaramTanto tempo eu ser alguém
Ah! ser alguém...É algo que vai além de ser humanoSer alguém é um padrão social de condutaQue poucos iluminados atingem
A mulher com a rosa de maio nos cabelosPassa para além das conveniênciasPassa para além das especulaçõesPassa por minha porta e fica
Olhos de vidro gelatinoso
Centelhar âmbarNa escuridão do meu coração
7/25/2019 Vidro Pintado
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JINGLE II
Tu sabes que a pessoa é vocêE que sonhamos cada verso dessa música,Que pena foi no tempo erradoA hora certa era agora e não no passado
7/25/2019 Vidro Pintado
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WHOSE IS TO BLAME FOR THE RAIN?
O centelhar nada mais eraQue o rastro de pólvora
Que segui por algumas horasE que tinha por fim o meu coração
Quando não restam mais sonhosNem expectativa algumaQue mecanismo faz os homens continuar?
Agarro-me as cortinas da vidaPara que elas não se fechemNa calmaria destrutiva presente
Quando as estrelas não fazem sentidoE os sorrisos perderam o brilhoE dos anéis nunca forjadosApagaram-se os nomesQuando as promessas só foram minhas
Queria apenas dormir um poucoPara ser isso tudo um pesadelo
Do qual eu possa acordar
Eu não sei lidar com a dorMas conheço humanos que fingem bemTalvez eu ainda aprenda essa arteDo “faz de conta que...”
Ah! Tempo que diz tanta coisaVenha logo com suas pílulas de amnésiaE ensina-me a lembrar sem dor
7/25/2019 Vidro Pintado
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7/25/2019 Vidro Pintado
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Quem sofre usa óculos escuros...
Todos os reflexos me dizemOnde eu errei
Como poderia ser diferente
Enquanto minha casca cismaNo monólogo sem fimDe um existir sobrevivendo
Eu não nasci na época erradaO que eu fiz foi amarE a quem não deviaE a confiar no que não existia
Na hipnose de um olharQue como ouro de toloCegava-me e iludia
As mentiras que conto para eu próprioApenas para ocultar a realidadeMas lá no fundo como péssimoMentiroso que sou eu sei
Quem sofre usa óculos escuros...
7/25/2019 Vidro Pintado
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SAILOR MOON
Ah! Moça de cabelos azuisA quem eu procurei comoO insone ao canto dos grilosAve-maria do momento tardio
No catecismo da tua loucuraEntre os compêndios da tua perdiçãoInúmeros insights me levaramÀ dúvida fatigante do não crente
Será que realmente eram lágrimas em teus olhos?
Que queria me encontrar só não podia ir?Se o que te prendia era somente o teu códigoSinceramente você não sabe mentir
7/25/2019 Vidro Pintado
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JINGLE III
Cometas são amores que talvez nãoSurjam mais nessa vida
Os astros de primeira grandezaAinda brilham no meu céu enquantoOs asteroides que não cansamosDe chamar de estrelas cadentesDesintegram-se na gravidadeDe minha alma solitária
7/25/2019 Vidro Pintado
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“AMADORA”
Esse neologismo ou palavraHibrida de dois sentimentos
Que só fazem sentidos unidos por aglutinaçãoNuma parassíntese onde não se sabeQuem é sufixo ou prefixo
Diga a meu ser mágicoQue no recanto distanteAlém da curva da estradaEu estarei sempre esperandoDetrás das paredes de vidroDe uma cuba verde repleta de quiproquós
7/25/2019 Vidro Pintado
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SÓ TEMOS ESSA VIDA PARA VIVER
(Parte VI)
Havia-se passado um ano desde que Amor-perfeito tinha desabrochado e a tristeza haviadesaparecido do cotidiano do jardineiro, ela aamava.
- Amor-perfeito você é feliz vivendo comigo?
- Eu acho impossível alguém ser feliz vivendoem Futura meu Salvador!
- Eu descobri a felicidade quando você chegouaqui... Eu...
O sorriso de Amor-perfeito enchia toda a sala
- Eu te amo Amor-perfeito...
O sorriso se desfez...
- Eu preciso partir meu Salvador...
- Eu disse algo que não devia?
- Meu Salvador... – a voz dela era doce emeiga - estou numa jornada, estava adiando essemomento.
- Mas você nasceu no meu jardim...
- Eu já fui uma semente, você não imagina poronde o vento me trouxe na minha jornada antes de
nascer no teu jardim.- mas...
- Ah! Meu salvador... – ela o abraçou – seriamuito fácil se eu não tivesse a obrigação de umaflor, eu viveria a teu lado pra sempre, mas eu souo que sou e não posso mudar isso, desde sempre asflores percorrem sua jornada pela estrada daRealidade até a terra da Eternidade, eu não posso
ficar...
7/25/2019 Vidro Pintado
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O dia da partida de Amor-perfeito haviachegado, o mundo começava a pintar-se de cinzanovamente para o Jardineiro, mais uma vez eleviveria de uma lembrança, a lembrança da acenar de
mãos de seu amor no portão da estrada daRealidade.
Amor perfeito não existia mais em Futura, seular agora seria a terra feliz de Eternidade.
Ele voltou a viver com suas fotografias,sentava no mesmo banco envelhecido todas as tardesa ver os vendedores de pássaros.
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SUSANA
Como queria que tudo em mim findasseNos finais felizes que outrora
Sonhei com delírios de criançaQue a vida me abraçasse entre as plumasDe suas asas na eternidade do existir que alihavia
Saudoso tempo de distraçãoPouco antes de minhas asas caíremPouco antes de me descobrir humanoPerecível e pecador
Como queria um momentumPartícula indivisível de tempoNa ignorância dos meus dias menino
Se isso não for eternidadeSe isso não for um pedaço do que é céuBasta a vida terrenaSem expectativas e arranjosPara o pós-morte
P.S.I'm sorry! Minha criança de cabelos ruivosTalvez eu falando enveneneVocê em minhas palavras.
7/25/2019 Vidro Pintado
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DECIFRA-ME OU TE DEVORO
A última lembrança de eu próprio no espelhoO tempo-espaço passou desde que
Eu tive pela primeira vez dezoito anosE eu não viQuantas coisas eu não fiz?Quantos lugares eu não fui?Onde estava eu quando tudo isso passou?
O que tenho é a impressão que cortaramA malha do tempo e das lembrançasQue compreendem minha vida
Nesse espaço de tempo
A congruência inexistenteEntre meu corpo e a insatisfação da minha AlmaSó pode ser a medida exata do tempo que adormeciSem ver os dias em que eu era capaz de tudo
7/25/2019 Vidro Pintado
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MIDNIGHT
Meus sonhos são aquarelasOuço o som mudo dos tons
Nas telas as letras melancólicasDa transparência em mim
Matizes ásperasDo vermelho carmimInterlúdios levianos
Milhares de quadros que já viviStop motion dos borrões de nanquimMeu coração é nada mais
Que a água com que lavam pincéis
Abandonos cruéis e visNo sótão envelhecido pelos diasA casa azul tão sonhadaTange os dedos da quimeraFlamejante em minha alma
7/25/2019 Vidro Pintado
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DAGUERRÉOTIPIA
O que me restou da mágoa sem remédioDe não ter ancoras que me prendem
Deitei nas horas da senilidade precoceOciosidade andante dos ponteiros do relógio
Sei lá!
O tilintar funéreo do sinoAs velas derretidas no chão da igrejaSe pelo menos uma vez eu adivinhasseQue tudo isso passaria tão rápido
Sei lá!
Foi o que me disse minha filha outro diaE nos seus olhos vi o encanto primeiro dos meusNos dias que era levado as missas matutinasNa pequena vila onde outrora cresci
Sei lá!
Agora que se foi o brilhoDas novidades empoeiradasPara as quais eu ponho a mão na bocaPara não gritar tediosamente - Eu já sabia!
7/25/2019 Vidro Pintado
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SHENLONG
Antes havia alguém que dizia eu ser inteligente
Por me interessar pelo mundo nos papéis
empoeiradosHoje nem isso faço mais tenho preguiça
Preguiça essa que vem do enfado ou medo
De viver além do que sei que é certo
Ah! Minhas mentiras
Tão humanas como outras qualquer
Perdi a capacidade de viver
Para os outros é o que digo
É o que sempre digo agora
Minha inteligência sempre foi à vontade
De continuar existindo como euE não a maneira quimerista das almasQue tocam possibilidades infinitas e ufanas
A ordem templária da minha imagem pagãNo espelho trincado do meu quartoOs segredos das encruzilhadas da vidaSinto calafrios de suas lembrançasQue sufoquei em meu travesseiro
Outro dia o pregador de verdadesVeio a minha porta à tardinhaEle parecia comigo em outra vidaA que eu tinha antes do mundo ruir
Ele tinha tanto de mim
Que cheguei a perguntar-meComo consegui chegar a ser eu agora
Sem grandes sonhosOu rompantes de altivezMas agraciado por não ter expectativas
Sem muito dinheiroMas sem o cuidado ruidoso e enfadonhoDe todos os que o tem em demasia
7/25/2019 Vidro Pintado
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Sem amores que me acompanhariamDesde minha mocidadeQue mentira poderia aplacar isso?
É tão desgastante ser racionalFelizes dos que sonhamNa ignorância da vida
Que passam a vida acreditandoNa racionalidade conveniente eUtópica que lhes impuseram
Não! Você não sabe quem eu sou!
Isso eu guardei para meus iguais
A mulher com alma menina
Com olhos tempestuosos de um dragãoQue sabe a dor das escamas cristalizadasQue se formam abaixo de sua pele
7/25/2019 Vidro Pintado
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PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO
Restou um sei lá de mim mesmoDe um lugar onde me esqueci
E quando voltei a buscar-me
Tive pena de mim aliPois eu era tão felizEntão me deixo viver sem buscar-meNa lembrança de eu próprio para mim mesmo
7/25/2019 Vidro Pintado
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SÓ TEMOS ESSA VIDA PARA VIVER
(Final)
No quinto dia da partida de amor perfeito eleviu dois bem-te-vis pousando no chafariz da praçae do seu banco ficou a escutar a conversa dosdois:
- Sabe bem-te-viiii!
- Sei bem-te-vi
- Esse ano bem-te-vi a safra foi boa bem-te-
vi no caminho da realidade bem-te-vi
- Flores bobas bem-te-vi
- Muito bobas bem-te-vi
Jardineiro se aproximou dos pássaros:
- Do que vocês dois estão falando?
- Podemos contar pra ele bem-te-vi
- Não vejo porque não bem-te-vi
- Ele não deve morar a muito tempo aqui bem-
te-vi
- Não mesmo bem-te-vi
Os dois pássaros voltaram-se para ojardineiro
- Estamos falando bem-te-vi da colheita bem-te-vi
- Da colheita que fazemos bem-te-vi no
caminho da realidade bem-te-vi
- Mas vocês não foram vendidos pelosvendedores? Onde estão os donos de vocês?
- Bem-te-vi! bem-te-vi! bem-te-vi! bem-te-vi! – Grande alvoroço fizeram os pássaros – Você nãoentende bem-te-vi!
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- Os homens que acompanham bem-te-vis, não
são vendedores bem-te-vis, mas bem-te-vis são
guias deles, em troca bem-te-vis recebem sementes,
e durante a jornada bem-te-vis contam histórias
para sementes e plantam sementes bem-te-vis.- E que histórias vocês contam?
- Bem-te-vi fala para elas seguirem sua
jornada para terra de Eternidade bem-te-vi!
- Pelo caminho da realidade bem-te-vi, aí
bem-te-vis colhem as flores.
- A terra de Eternidade não existe bem-te-vi!
Ao ver a fúria no rosto do jardineiro os doisvoaram rapidamente. Ele correu com todas as forçasde suas pernas para o portão da estrada darealidade, a placa da estrada proibia a passagemde humanos, ele atravessou o portal; o ar do outrolado parecia mais e mais pesado a medida que eleavançava estrada adentro a lama da estrada pareciacriar vida e prender seus pés. Ao longe eleavistou Amor-perfeito caída ao chão, continuou
lutando e a cinco metros dela ele caiu e começou ase arrastar na sua direção, já perto estendeu obraço e entrelaçou seus dedos aos de Amor-perfeito. Ela piscou:
- Oi meu Salvador... – falou com a voz fraca
- Os pássaros...
- Você... Não deveria ter vindo... A estradaé mortal para... Os humanos...
- Eu pensei que chegaria à tempo...
- Minha jornada... é uma mentira... Eu ouvios pássaros... Tripudiavam de... Mim... A terra daEternidade não exis...te – e dizendo esta últimasílaba fechou os olhos para sempre.
Jardineiro com os olhos eclipsados morria aospoucos, as lembranças do ano que viveu acompanhado
por Amor-perfeito vinham a sua mente, só entãopercebeu que os bem-te-vis estavam errados, aterra de Eternidade existia e ele havia vivido um
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curto período de trezentos e sessenta e cinco diasnesta terra.
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