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Gramática organizada e elaborada pelo prof.: Wagner Ap. Silva (*)
MONTES CLAROS, dia 01 de janeiro de 2016.
( * ) graduado em Letras- Português pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Pós-Graduando
em Leitura e Produção de Texto na PUC-MG. Atualmente é acadêmico do 8º período do Curso de Geografia pela
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes .
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Gramática organizada e elaborada pelo professor Wagner Ap. Silva (*)
CONTEÚDOS BÁSICOS DE GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA CONCURSOS,
VESTIBULARES E O EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO
MONTES CLAROS, dia 01 de janeiro de 2016.
( * ) graduado em Letras- Português pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Pós-Graduando em
Leitura e Produção de Texto na PUC-MG. Atualmente é acadêmico do 8º período do Curso de Geografia pela
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes .
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Foto da capa: Wagner lecionando Gramática no curso preparatório para o ENEM
Título da obra: A Gramática de Wagner
Diretoria Autoral: Wagner Aparecido Silva
Gerência Editorial: Wagner Aparecido Silva
Responsabilidade Editorial: Wagner Aparecido Silva
Assistência Editorial: Equipe da Editora do Clube dos Autores
Revisão da obra: Professora Maria Reis Veloso de Lima (in memorian)
Impressão e Acabamento: Gráfica da Editora do Clube dos Autores
Dados de Catalogação na Publicação ( CIP)
SILVA, Wagner Aparecido.
Gramática de Wagner. – Montes Claros MG: 2016. 1ª impressão da 1ª edição de 2016.
Obra para estudantes de Língua Portuguesa e Leitura e Produção de Texto.
1. Linguagem e Língua Portuguesa. Conteúdo: Reflexões sobre a língua, linguagem
e Gramática; Regras Gramaticais; Doutrinas linguísticas; coloquialismo.
ISBN :
CDD:
Todos os direitos reservados ao autor e escritor da obra. A Lei dos direitos Autorais. A Lei
nº.: 9.610/1998 –Dos Direitos Autorais – Dispõe sobre os direitos do autor e do registro. O
direito autoral é propriedade do autor sobre sua obra, e o autor é a pessoa física criadora da
obra literária, artística ou científica. Proibida a reprodução sem a autorização do autor.
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DEDICATÓRIAS
Esta obra e em homenagem apenas a minhas professoras de Língua Portuguesa, desde a infância até à
Graduação:
- Dedicado à minha primeira “professorinha” que me ensinou o ba- ba. Onde andarás, Erenilza, meu primeiro amor.
Onde andarás?
- Dedicada à professora Iracema, na primeira série, que já está lá, no lugar de bem-aventurança, junto dos santos que
aguardam a ressurreição do último dia.
- Dedicada à professora Dilva Rosa da Silva na segunda série; à professora Lucy Lopes na terceira série; à
professora Anésia Coelho na quarta série; à professora Iris Elaine na quinta série; à professora Claudete na sexta
série; à professora Nely na sétima série; `a professora Imaculada na oitava série com quem aprendi orações
coordenadas e subordinadas.
- Dedicada à professora Maria Reis Veloso de Lima (Reizinha), do 1º ano do Ensino Médio, com quem aprendi
fonética, semântica e morfologia. Foi minha mãe. Esposa de valor, filha amada, irmã dedicada e mãe sublime. Hei de
lamentar sua partida para junto de Jesus todos os dias que eu viver aqui neste mundo. Mas ela está viva e esta
gramática é a herança que ela deixou para mim.
- Dedicada a Elma Nobre, do 2º ano, com quem aprendi as dez classes de palavras e dedicada à professora Luizana
no 3º ano do Ensino Médio com quem aprendi Sintaxe.
- Dedicada aos seguintes professores do curso de Letras da Unimontes: Ana Cristina Peixoto, com quem aprendi
leitura e produção de texto; José Vicente Lopes da Costa com quem aprendi Literatura Portuguesa; Francisco
Rodrigues Jr. com quem aprendi Latim; Dora Ney Conceição Matos com quem aprendi o Barroco, Arcadismo e o
Romantismo; Ros’elles Magalhães Felício com quem aprendi Fonética/ Fonologia e Morfossintaxe e que muito me
ajudou durante minha vida em Januária MG; Ana Neta com quem aprendi Linguística Aplicada; Liliane Pereira
Barbosa com quem aprendi Sintaxe Período Composto; Osmar Oliva com quem aprendi o Realismo, Simbolismo,
Parnasianismo e o Modernismo; Kelly com quem aprendi Semântica; Rita de Cássia com quem aprendi Análise do
Discurso; Sandra Ramos com quem aprendi Estilística; a professora pedagoga Islei Rabelo com quem aprendi as
leis de diretrizes e bases da educação e a professora Alba Valéria Niza Silva com quem aprendi a elaborar um plano
de aula, um plano de ensino, ministrar uma aula expositiva, uma aula de campo e desenvolver metas e propostas para
uma aula eficaz. Dedicada ao professor Benedito Said com quem aprendi a Literatura e a Arte Contemporânea.
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“A língua de Eulália não é errada: é diferente. É o português de uma classe social diferente da nossa, só isso.”
( Marcos Bagno. A Língua de Eulália)
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SUMÁRIO
1. Prefácio..........................................................................................................................................................página 07
2. Modelo de plano de ensino para quem utilizar esta gramática................................................................página 08
3. Capitulo 1: Introdução à gramática, à língua e às variantes linguísticas................................................página 10
Os países lusófonos; Os cinco mitos relacionados ao ensino da Língua Portuguesa e da gramática; O signo linguístico; A língua, as linguagens: verbal, não verbal, denotativa e conotativa; A norma culta e a variante
coloquial ; Os dialetos, neologismos, estrangeirismos e a linguagem chula; Exercícios de Aprofundamento.
4. Capítulo 2: Os procedimentos de leitura....................................................................................................página 19
Os mecanismos para uma leitura cognitiva; O que é leitura? ; O leitor pragmático e o leitor cognitivo; O que é
texto?; O texto narrativo, descritivo e dissertativo; Atividade.
5. Capítulo 3: Fonética/Fonologia....................................................................................................................página 35
Fonemas e Letras; Vogais e consoantes ; Encontros vocálicos: ditongo, tritongo e hiato; Transcrição fonética; dígrafos; dífonos ; codas e monotongações; Ortoépia e Prosódia; Regras de Acentuação Gráfica; Atividade .
6. Capítulo 4: Semântica..................................................................................................................................página 48 Sinonímia; Antonímia; Homonímia; Paronímia e Polissemia; Atividade.
7. Capítulo 5:Morfologia I................................................................................................................................página 52 Elementos mórficos; Afixos; Radicais; Processos de formação de palavras: derivação, composição e hibridismo;
Radicais gregos e latinos; Prefixos gregos e latinos. Atividade.
8. Capítulo 6: Morfologia II: Introdução às dez classes de palavras......................................................... página 60
Conceitos: palavras; Vocábulos; Categorias variáveis (substantivos, adjetivos, verbos, pronomes, numerais, artigos)
e categorias invariáveis ( advérbio, conjunção, preposição e interjeição); Substantivos: dificuldades na flexão.
9. Capítulo 7: Verbo......................................................................................................................................... página 66
O que é verbo?; Os verbos de ligação e o predicativo; Os tipos de sujeito; Os tipos de predicados; As vozes dos verbos: ativa, passiva e reflexiva; As formas nominais: gerúndio, particípio e infinitivo; A Regência verbal; A
concordância verbal; O emprego dos modos e dos tempos verbais. Verbos irregulares, defectivos e impessoais;
Atividade.
10. Capítulo 8: Adjetivo......................................................................................................................................página 82 A flexão do adjetivo; Os adjetivos pátrios; As locuções adjetivas; O plural dos adjetivos compostos; O grau dos
adjetivos; Concordância nominal.
11. Capítulo 9: Pronome.....................................................................................................................................página 92
As pessoas pronominais; Pronomes pessoais do caso reto; Pronomes pessoais oblíquos átonos; Próclise, mesóclise
e ênclise; O emprego do pronome reto eu e do pronome oblíquo tônico mim; Pronomes demonstrativos; Indefinidos; Interrogativos; Pronomes de tratamento; Emprego do pronome relativo.
12. Capítulo 10: Advérbio................................................................................................................................. página 99
13. Capítulo 11: Sintaxe................................................................................................................................... página 103
Conceitos preliminares: sintaxe, frase, oração e período; Introdução aos elementos de coesão; Coordenação/ Parataxe; Subordinação/ Hipotaxe; Orações coordenadas assindéticas; Orações coordenadas sindéticas; Orações
subordinadas substantivas; Orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas adverbiais .
14. Capítulo 12: Estilística............................................................................................................................... página 111
Conceitos preliminares: a denotação e a conotação; As figuras de Linguagem; Figuras de estilo e Figuras de
construção.
15. Capítulo 13: A Crase ..................................................................................................................................página117
16. Capítulo 13: Recursos de Pontuação ........................................................................................................página 122
17. Capítulo 14: Apêndice..... ....................................................................................................................... página 133
- Emprego do hífen
- As funções da partícula “se”
18. Sobre o escritor desta Gramática...............................................................................................................página138
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Prefácio
A maioria das pessoas com quem convivi, com quem interagi e inferi em minha vida
acadêmica no curso de Letras Português na Universidade Estadual de Montes Claros sempre me
diziam: “Wagner, escrever uma Gramática é a coisa mais simples do mundo! Basta ser
graduado em Letras! Cada falante, escritor, linguista e até o povo que só possui o domínio da
linguagem coloquial pode fazer uma Gramática!”. Mas depois que terminei este trabalho, gente,
eu confesso para vocês que não foi uma tarefa muito fácil não.
Esta gramática não é a melhor gramática do mundo e nem a mais perfeita. Quem dera fosse!
Ela decorre de um sonho que tive de eu mesmo, após terminar o curso de Letras Português
escrever minha própria gramática, porque cansei de ter 98 gramáticas na minha estante e cada
uma prescrever, descrever e normatizar as regras a sua maneira. Eu decidi recolher o que há de
excelente em todas as 98 gramáticas da minha estante e colocar aqui nesta gramática.
Minha gramática é diferente porque aqui eu não prego a soberania da norma culta da língua.
Não. Na minha gramática existe a comparação entre a norma culta e a coloquial. Decidi colocar
na minha gramática um capítulo inteiro dedicado à reflexão sobre os mecanismos que
precisamos adotar para alcançarmos uma leitura mais cognitiva e menos pragmática e neste
capítulo dissequei a estrutura dos textos narrativo, descritivo e dissertativo.
Na verdade a gramática que você tem em mãos não é de autoria minha. Eu apenas recolhi as
informações mais relevantes que foram frutos de debates no curso de Letras Português acerca da
língua, da linguagem e das variantes e ajuntando-os, coloquei aqui. Recolhi as regras prescritas,
descritas e normatizadas pelos gramáticos de renome e ajuntando-as, coloquei aqui. Esta
gramática é como um mosaico de informações que foram ajuntadas, organizadas e formou uma
única obra. Foram necessários três anos e meio para concluir este trabalho.
A ideia de escrever esta gramática nasceu de uma necessidade: dos meus alunos dos cursos
preparatórios para o processo seletivo da Unimontes, para os concursos e o Exame Nacional do
Ensino Médio. Eles sempre me cobraram: “Wagner, faça uma gramática com as matérias que
você leciona para nós”. Eles sempre copiam a matéria que exponho no quadro, digitam,
imprimem, encadernam e guardam para a vida. Sempre dizem que ajuntando todo o conteúdo
que trabalho dá uma gramática inteira. Foi daí que nasceu a ideia de fazer esta minha gramática.
Espero que esta obra possa ser proveitosa no sentido de auxiliar na continuação do eterno
aprender acerca de nossa tão complexa gramática com sua multidão de regras. Que possa ser
uma ferramenta que auxilie também o professor no planejamento das suas aulas de leitura e
produção de texto e de gramática. Os estudantes de Ensino Fundamental e Médio e os
“concurseiros” gostarão muito desta minha gramática porque eu usei uma linguagem muito
próxima da oralidade e do dia a dia de cada um deles. Não escolhi enfadá-los com as regras
excessivas e polêmicas que nem os gramáticos já chegaram a um consenso. Antes, coloquei aqui
apenas as regras que considerei básicas para resolver uma questão de um concurso e de um
processo seletivo e expus aqui os mecanismos propostos pelos autores citados nas referências
bibliográficas sobre como interpretar e produzir os mais variados tipos de texto.
Esta gramática não caiu pronta do céu e nem está pronta. Está aberta a sugestões e críticas e
também a ser completada e complementada se os falantes e escritores assim o desejarem.
Boa leitura e bons estudos!
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MODELO DE PLANO DE ENSINO PARA QUEM FOR USAR ESTA GRAMÁTICA
PLANO DE ENSINO Data Semestre/ Bimestre
INSTITUIÇÃO DE ENSINO CIDADE
PROFESSOR SÉRIE
DISCIPLINA Hora / Aula
Língua Portuguesa: Gramática, Leitura e
Produção de Texto.
TURNO:
EMENTA: Análise, exposição, debates e aplicação na escrita e na oralidade das regras contidas nas Gramáticas: Descritivas, Prescritiva, Normativas, Didáticas e Históricas da Língua Portuguesa, leitura e produção de textos.
1. A História da Gramática, da Língua, da Linguagem e das Variantes e Procedimentos de
Leitura e Produção de Texto;
2. As regras de acentuação gráfica e tônica, divisão de sílabas, ortoépia e prosódia;
3. Semântica: palavras sinônimas, antônimas, homônimas, parônimas e polissêmicas;
4. Morfologia I: radicais, prefixos, sufixos, desinências e formação de palavras;
5. Morfologia II: O emprego e flexão das Dez Classes de Palavras: substantivo, adjetivo,
artigo, pronome, verbo, numeral, advérbio, preposição, conjunção, interjeição.
6. Sintaxe: as relações sujeito, verbo, objeto. Predicados, adjuntos. As orações e os
períodos simples e períodos compostos.
7. Estilística: as figuras de linguagem, figuras de estilo e figuras de construção.
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OBJETIVO GERAL
Analisar as regras contidas nas Gramáticas: descritiva, prescritiva, normativa, didática e
histórica da Língua Portuguesa, a fim de aplicá-las na escrita e na oralidade;
Conhecer os mecanismos para desenvolver a interação e a inferência no ato de ler e produzir
textos narrativos, dissertativos e descritivos, bem como o texto literário.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Expor a descrição, as normas e as prescrições de diferentes gramáticos e linguistas;
- Conhecer as principais regras gramaticais de acentuação, do emprego das 10 classes de
palavras, da estrutura das frases, orações e períodos, da semântica e das principais figuras de
linguagens;
- Comparar as diferentes concepções dos gramáticos acerca do emprego e aplicação das regras
da língua;
- Tentar, através das novas abordagens e experiências sociolinguísticas, conduzir uma discussão
para diminuir o preconceito linguístico.
METODOLOGIA
- Grupo de Verbalização e de Observação ( G.V.G.O); Manuseio da gramática e do dicionário;
Leitura responsiva e silenciosa para marcação dos pontos mais importantes argumentados pelos
autores. Análise, aplicação e correção de atividades.
ESTRUTURA(S) DE APOIO/ RECURSOS DIDÁTICOS
Gramática; Quadro e giz; Livros de autores que abordam a análise, leitura e produção de
textos.
AVALIAÇÃO
Aspecto a ser avaliado Instrumento de avaliação
Capacidade de ler criticamente uma
gramática; Aptidão para aplicar as regras
dela na escrita e na oralidade. Capacidade
para ler, interpretar textos narrativos,
descritivos e dissertativos.
Aplicação de Prova ao fim de cada capítulo
estudado.
Atividade oral e exercícios aplicados mediante
a observação do conteúdo exposto pelos
gramáticos;
Análise comparativa das regras gramaticais
com as diferentes situações linguísticas na
escrita e na oralidade;
Atividades elaboradas intra e extraclasse.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OBS.: As referências se encontram no final de cada capítulo.
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CAPÍTULO 01: INTRODUÇÃO À GRAMÁTICA,
À LÍNGUA E ÀS VARIANTES LINGUÍSTICAS
“ Mas vê se fala, por favor, a minha língua, que já tem até uma íngua...” ( P.O. Box)
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CAPÍTULO 01: INTRODUÇÃO À GRAMÁTICA, À LÍNGUA E ÀS
VARIANTES LINGUÍSTICAS
Certamente, vocês já devem ter alguma vez, ou muitas vezes, ouvido a famosa frase:
“eu não sei nada de Português”. Esta frase precisa ser contextualizada, porque a
palavra “português” possui dois sentidos: ela pode ser um adjetivo pátrio que se refere
a quem nasce em Portugal e também um substantivo que se refere ao idioma que é
falado em Portugal, que é falado aqui no Brasil e nos países: Angola, Moçambique,
Guiné -Bissau, no Timor Leste, na ilha de Cabo Verde, ilha da Madeira e na ilha de
Açores, conforme podemos visualizar no mapa abaixo:
( Fig.: 01. Países Lusófonos. Adapt.: site: brasilescola.uol.com.br/acesso em 22/08/15)
Certo é que, quando algumas pessoas dizem que “não sabem nada de Português”,
elas na verdade querem dizer que não conhecem nada, ou quase nada, a respeito da
gramática da língua portuguesa e não da língua em si. Porque o idioma é a língua
portuguesa e como língua, todo falante sabe expressá-la das mais variadas maneiras,
porque desde criança, o que predomina é que a pessoa que nasce em países que falam o
idioma lusitano, aprende a se comunicar usando este idioma.
Foi para evitar esses infelizes mal entendidos que separei aqui, inspirado nos livros
“A Língua de Eulália” e “ Dramática da Língua Portuguesa ” do professor Marcos
Bagno, alguns mitos relacionados à língua portuguesa e que vale a pena conferir e levar
em consideração no ensino /aprendizagem da língua e da gramática. Vejam bem:
MITO 1:. A língua portuguesa é o mesmo que a Gramática.
Não procede tal afirmação, porque a gramática é apenas um livro de regras a que as
pessoas que falam determinado idioma recorrem para falar e escrever de acordo com a
linguagem culta (que é a linguagem criada pelos filósofos, pelos escritores, pelos
eruditos, pelos cientistas, pelos poetas e pelos hermeneutas). A linguagem culta é usada
em ambientes e situações formais. Então, a língua (o idioma) não é o mesmo que
Gramática. Uma coisa depende da outra, mas isso não quer dizer que elas sejam a
mesma coisa.
Vejam os conteúdos que se encontram em todas as boas gramáticas:
1. A História da Gramática, da Língua, da linguagem e das Variantes;
2. As Regras de Acentuação, divisão de sílabas e Ortografia;
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3. Semântica: palavras sinônimas, antônimas, homônimas, parônimas e
polissêmicas;
4. Morfologia I: radicais, prefixos, sufixos, desinências e formação de
palavras;
5. As 10 Classes de Palavras: substantivo, adjetivo, artigo, pronome, verbo,
numeral, advérbio, preposição, conjunção, interjeição.
6. Sintaxe: as relações sujeito, verbo, objeto. Predicados, adjuntos. As orações
e os períodos simples e períodos compostos.
7. Estilística.
Existem muitas gramáticas no mundo, mas para serem eficazes elas devem trazer em
si todos estes conteúdos acima. Seria proveitoso ter muitos exemplares delas em casa,
porque há autores que aprofundam, conceituam e propõem formas diversas de aplicação
das regras linguísticas, enquanto outros que simplesmente descrevem e prescrevem os
conteúdos acima. É difícil indicar que gramática é melhor que outra porque todas têm
pontos positivos e negativos. Existem gramáticas de diferentes formas e com objetivos
diversos, mas todas se enquadram nas seguintes modalidades: descritivas, prescritivas
e normativas.
MITO 2: A língua (idioma) e a fala são tudo a mesma coisa.
Não são. Os linguistas (estudiosos das línguas) e o linguista de maior renome, o
suíço Ferdinand Saussure (1857-1913) deu a entender que a fala é simplesmente o ato
de emitir sons, sejam estes sons inteligíveis ou não inteligíveis. E a língua decorre de
um contrato social feito entre pessoas de um grupo, de um povo ou de uma comunidade,
para usarem entre si os mesmos signos linguísticos. Por aí, é possível entender que a
língua e a fala não são a mesma coisa porque a fala é individual (cada um emite os sons
que quiserem), mas a língua é coletiva, ou seja, ela só acontece quando duas ou mais
pessoas fazem uso entre si dos mesmos signos.
Segundo os linguistas, a fala surgiu primeiro que a língua e é evidente que também
surgiu primeiro que a escrita, porque a tese que muitos historiadores defendem é que a
escrita teria surgido por volta do ano 4.000 a. C.(apesar de que não descartam uma data
anterior, visto que as pinturas nas paredes das cavernas também são consideradas
escritas). A escrita é tão importante quanto a fala, porque é mais duradoura e expressa
às vezes a intenção de quem escreveu o texto. Por isso, quando se vai ler um texto,
existem duas interpretações: interpretar de forma metalinguística (interpretar o texto
com o próprio texto e a palavra com a própria palavra) ou interpretar de forma
subjetiva (interpretar de forma pessoal). Esta última interpretação é considerada por
muitos hermeneutas como a mais eficaz no processo de fazer com que o leitor obtenha
variedades de interpretações proporcionadas pela intenção de quem produziu o texto
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É comum entre os hermeneutas a seguinte pergunta: por que não se pode interpretar
de forma aleatória os textos ? Resposta: Por causa da intenção de quem o produziu.
MITO 3: A pessoa que não sabe a Gramática é uma pessoa inculta.
Será?! Existem muitas pessoas que sabem cozinhar, sabem lavar, sabem dirigir,
sabem trocar lâmpada, fazer cálculos físicos, matemáticos, químicos, sabem trocar pneu
de carro, engraxar sapato... Enfim. E muitas vezes, tais pessoas não sabem nada ou
quase nada das regras da Gramática. A gente não pode ser radical e dizer que tais
pessoas sejam incultas (onde fica o saber que elas possuem?!).
MITO 4: As pessoas que usam a linguagem coloquial falam errado
Os linguistas dizem que a língua não é homogênea! Então, não existe uma única
variante ( que são as múltiplos empregos em que a língua se desdobra) dentro dela.
Existem dezenas de variantes e a pessoa pode usar aquela que melhor lhe convier,
dependendo do ambiente e da situação em que o discurso estiver inserido.
Por exemplo, a linguagem da gramática e do dicionário é uma variante que é
conhecida como linguagem culta. A linguagem popular, aquela que as pessoas usam no
dia a dia e nos ambientes informais e familiares é a linguagem coloquial. Se pararmos
para analisar, a linguagem coloquial é até mais rica de que a linguagem da gramática,
porque a Gramática não muda e, se mudar, só muda em estruturas mínimas como
acentuação e ortografia.
Veja a quantidade de variantes que são oriundas do coloquialismo e da oralidade: o
dialeto (alteração de um som ou de toda uma estrutura morfológica principalmente por
influências e heranças comunitárias e regionais), as gírias (expressões fugazes que
certos grupos usam entre si e que acabam às vezes sendo incorporadas pela comunidade
em geral); os neologismos (palavras novas que surgem sempre por razões econômicas,
culturais, sociais e que as pessoas acabam fazendo uso e elas então passam a fazer parte
da língua); os estrangeirismos ( palavras de outro idioma que às vezes, por não haver
uma palavra correspondente em língua materna, acabam também entrando para a língua
materna de determinado lugar) e a linguagem chula (que é a linguagem pornográfica e
a linguagem classificada por muitos como sendo de baixo calão que é conhecida,
popularmente, como palavrão).
Você viu como a linguagem coloquial e as variantes oriundas do seio da oralidade
são complexas? Só que a norma culta da língua prescreve que não é aconselhável usá-
las nas seguintes circunstâncias: em lugares formais, quando for escrever um texto de
natureza informativa, quando for redigir um documento, quando for falar em público,
quando for produzir um texto de natureza dissertativa em uma prova de concurso ou de
vestibular e muito menos quando tiver que escrever para pessoas que são fanáticas com
a norma culta. Em textos de caráter subjetivo a Gramática dá ao escritor e ao falante a
possibilidade de optar por dar predominância a uma variante em detrimento de outra ou
a usar várias.
Conclusão: Segundo os linguistas, não existe linguagem certa e nem linguagem
errada. Afirmar que uma pessoa que usa a linguagem coloquial fala errado só porque tal
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pessoa não faz uso da língua culta constitui e prepara o caminho para a existência do
preconceito linguístico. Existem lugares e situações inadequadas para usar determinada
variante, mas não existe língua certa e nem língua errada.
MITO 5: A língua inglesa é superior a todas as outras
Este pensamento é uma meia verdade. E meias verdades nem sempre são mentiras
completas. Vamos ver o que tem de verdadeiro nisso. Bom, a língua inglesa realmente é
superior a todos os supostos 6.911 idiomas que existem no mundo, mas é superior em
questão de poder político, econômico e informacional. Enfim, em termos de poder
aquisitivo, a língua inglesa é superior às demais. Mas a língua, como língua em si, é
igual a todas as outras.
1.1 – O Signo Lingüístico, o que é?
O signo linguístico é todo sistema gráfico, sonoro e iconográfico que em uma época,
que não sabemos, as comunidades atribuíram um significado e um significante. Lembra-
se de que segundo os historiadores, na Pré-História ( c.de 40.000 a.C. até 4.000 a.C.),
as pessoas apenas faziam uso da fala, isto é, apenas emitiam sons? Então. O signo
linguístico originou-se no momento em que as pessoas deram um significado e um
significante a certos sons e foi feito um acordo entre o grupo, para que se fizesse uso
comum daquelas palavras entre si, a fim de acontecer a comunicação.
Veja o esquema do signo lingüístico:
Signo Lingüístico = significado = sentido, imagem, idéia = ex.:
Significante = sons, letras = ex.: flor
Por causa do signo é que os idiomas apareceram porque cada povo possui seus
signos e os utilizam, a fim de se comunicarem entre si. Interessante também é que no
caso dos idiomas, o significado é o mesmo em todos os lugares, mas tanto o significado
quanto o significante podem variar, de acordo com o contexto.
Surge então uma pergunta: tudo que existe é signo? Os linguistas dizem que só é
signo aquilo que possui significado e significante, ou seja, aquilo que já foi
padronizado pela sociedade e que já está nos dicionários da língua. Mas existe algo
importante a ser lembrado: uma coisa pode ser signo para uma pessoa e não ser signo
para outra pessoa. Aí, entra a questão do léxico (que é o vocabulário) porque a pessoa
pode dizer: “este signo eu conheço e faz parte de meu vocabulário” e outra pode dizer:
“este signo eu não conheço”.
1.2 – As linguagens que existem
Elas são muitas. Por exemplo, nós já falamos sobre a linguagem culta e a linguagem
coloquial. Agora vamos falar sobre as outras. Veja:
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a) Linguagem verbal: é aquela em que se usa a fala e a escrita, a fim de
expressar o pensamento.
b) Linguagem não verbal: é aquela em que não se usa nem a fala e nem a
escrita. Ela faz uso de imagens, códigos, cores e gestos a fim de expressar
um pensamento.
c) Linguagem conotativa: é aquela que usa as palavras em sentido figurativo,
ou seja, não faz uso literal das palavras. Geralmente, em textos de caráter
particular as pessoas gostam muito de usar este tipo de linguagem porque é
uma linguagem que faz uso de metáforas.
d) Linguagem denotativa: é aquela que usa as palavras em sentido literal
mesmo, ou seja, no sentido real, exatamente como está no dicionário.
ATIVIDADE DIAGNÓSTICA [entregar em folha à parte na próxima aula]
1) Segundo os linguistas, o que é:
a) fala:
b) língua:
c) linguagem:
d) variante:
2) Existe língua certa e língua errada? Explique.
3) Tudo que existe é signo linguístico? Explique.
4) O que é a Gramática? Por que existem tantas gramáticas no mundo?
5) O que é preconceito linguístico?
6) Quais são os países lusófonos?
7) Toda língua que existe hoje, veio de outra língua anterior. Por exemplo, a
língua inglesa veio do anglo-saxão, língua falada pelas tribos bárbaras do
norte da Europa no século XIII d.C. E a nossa língua portuguesa, veio de
qual língua? Explique.
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8) Quais são as matérias que estão na Gramática? Com qual delas você está
mais familiarizado? Por quê?
9) Leia os textos abaixo:
TEXTO 01
Última flor do Lácio, inculta e bela
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo -te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o tom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
(Olavo Bilac)
TEXTO 02
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
(Carlos Drummond de Andrade)
a) Existem 2 formas de interpretar textos. Quais são elas?
b) O texto 1 não diz, mas pela intenção de quem o escreveu, quem seria a
Última Flor do Lácio?
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a) O texto 1 afirma que a Última Flor do Lácio é inculta e bela, que ela é
esplendor e sepultura e que é rude e dolorosa. Explique, com base na
nossa aula de hoje, por que o texto tem razão ao dizer estas coisas.
b) O texto 2 fala sobre uma pedra. É pedra no sentido conotativo ou no
sentido denotativo?
c) Segundo a pessoa que produziu o texto 2, o que era a pedra?
d) Como alguns gramáticos de Língua Portuguesa interpretaram o que
seria a pedra? É correta tal interpretação?
e) Por que não podemos interpretar textos de forma aleatória?
f) Se compararmos os dois textos, poderíamos dizer que eles falam do
mesmo tema? Os autores têm o mesmo ponto de vista acerca do assunto,
por quê?
10) Analise as pinturas abaixo I , II e III a fim de responder:
I)
( Fig. 2: Guernica. Adapt.: Adapt.: site: brasilescola.uol.com.br/acesso em 22/08/15)
II)
(Fig.3.: Abaporu. Adapt.: site: brasilescola.uol.com.br/acesso em 22/08/15)
18
III)
(Fig.04: O Grito. site: brasilescola.uol.com.br/acesso em 22/08/15)
Responda:
a) Quem são os autores (as) das pinturas acima retratadas? Quando foram
pintadas e qual era a intenção deles na época com estas exposições?
b) Relembrando a teoria do signo linguístico, responda: essas pinturas são
signos linguísticos para você? Por quê? Referências Bibliográficas e autores citados neste capítulo
CINTRA, Lindley; Celso Cunha. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Nova Fronteira; Rio de Janeiro,
1985. Pág.1-23.
PLATÃO & FIORIN. Para Entender o Texto. 17ª ed. Saraiva; São Paulo, 2008.
BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália. 15ª ed. Contexto. São Paulo, 2008.
BAGNO, Marcos. Dramática da Língua Portuguesa. Edições Loyola; 2001; São Paulo.
SAUSSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. São Paulo, Editora Cultrix, p. 15-25; 79-84;
20
CAPÍTULO 02 PROCEDIMENTOS DE LEITURA
Antes de ler é preciso desenvolver competências de leitura
Ninguém em sã consciência, nesta vida, se perde por vontade própria, porque toda
pessoa de mentalidade ativa e crítica procura chegar a um determinado objetivo. No
mundo da leitura é assim também. A pessoa que se dedica a ler deve, antes de tudo,
conhecer os mecanismos sobre como desenvolver as competências de leitura, porque a
leitura é a chave para abrir todas as portas do conhecimento.
O que é leitura?
Em seu livro, Oficina de Leitura e também na sua obra Texto e Leitor, a autora
Ângela Klaiman dá a entender que a leitura é o ato de decodificar sinais gráficos,
imagens, cores, sons, códigos e transformá-los em expressões de pensamento no ato da
comunicação.
Os tipos de leitura e os tipos de leitores
Se no conceito de leitura aparecem vários elementos que funcionam como objeto de
comunicação, então não existe apenas um tipo de leitura e nem tampouco existe apenas
um tipo de leitor. Segundo Ângela Klaiman, existem dois tipos de leitura e basicamente
dois tipos de leitores. Veja:
Leitura Pragmática - Leitor Pragmático Leitura Cognitiva- Leitor Funcional
1. A pessoa sabe ler, sabe escrever, mas não sabe
interpretar aquilo que lê; 1. Sabe ler, sabe escrever e sabe interpretar;
2. A pessoa sabe ler, mas não conhece as regras da
Gramática; 2. Sabe ler e conhece as regras da gramática;
3. A pessoa sabe ler, mas não possui o letramento
(conhecimento sobre quem escreveu o texto, quando
escreveu, como escreveu, para quem e por que escreveu);
3. Sabe ler e possui o letramento;
4. A pessoa sabe ler, mas não tem conhecimento de
mundo, ou seja, não conhece NADA sobre política,
economia, religião, cultura, arte e filosofias do mundo
em que vive;
4. Sabe ler e possui o conhecimento de mundo;
5. A pessoa sabe ler, mas tem que ler com o dicionário
aberto a seu lado porque desconhece o sentido da
maioria das palavras;
5. Sabe ler e não necessita de dicionário o tempo todo;
6. A pessoa sabe ler, mas pouco tempo depois que lê,
esquece tudo o que leu, ou seja, não possui memória de
leitura.
6. Sabe ler e possui memória de leitura.
Os mecanismos para alcançar competência na leitura
São citados por muitos professores de Leitura e Produção de Texto alguns
mecanismos para que as pessoas possam desenvolver a leitura cognitiva e que devem
ser buscados por quem deseja alcançar tal tipo de leitura:
a) Buscar o interesse por gostar de ler e de escrever: ninguém nasce com o
interesse por ler e escrever. Isso se adquire ao longo da vida. Por exemplo,
todos os bons escritores dizem que quando eles eram crianças os pais já
21
compravam os livros junto com a feira: livrinhos de literatura infanto-
juvenil, livros de História, Geografia, de Gramática, de Ciências, de
Filosofia, de Matemática, jornais, revistas, internet e depois livros de leitura
mais madura e profunda. Ninguém que não visite uma biblioteca ao menos
duas vezes por semana e faça uma carteirinha para levar livros para casa,
nunca poderá criar interesse por gostar de ler e de escrever.
b) Ler a capa do livro, a contra capa e o prefácio antes de ler o livro: toda
pessoa que quer compreender a fundo o conteúdo de um livro deve ter o
cuidado de ler a capa do livro, o prefácio, a contra- capa para que assim
possa saber não só o assunto que vai ler, mas também saber se a pessoa que
escreveu a obra estava ou não habilitada para escrevê-lo.
c) Ler três vezes o texto: por que isso? A primeira vez é aquela leitura
somente com a finalidade de conhecer o texto, o autor e o objetivo da escrita
daquele texto. A segunda vez é aquela leitura feita com a finalidade de
anotar a ideia central de cada parágrafo do texto e a terceira vez é aquela
leitura que se faz para tirar conclusões. É óbvio que existem duas maneiras
de tirar conclusões: a interpretação metalinguística (quando a pessoa
interpreta o texto exatamente do jeito que está escrito) e a interpretação
subjetiva (quando a pessoa mesma interpreta o texto do jeito que ela
entende).
d) Examinar se o livro é original ou se o autor copiou, citou ou se sofreu
influência de outro: isso é de suma importância porque além de ajudar o
leitor a examinar o diálogo de um livro com outro livro, ajuda a fazer
interação entre mundos e visões diferentes de autores dentro de um mesmo
livro.
O que é texto?
Maria das Graças Costa Val em suas obra Redação e Textualidade e os escritores
Platão Saviolli e José Luiz Fiorin em seu famoso livro Para Entender o Texto é que
adicionam luz para falantes e escritores entenderem que um texto é todo enunciado,
falado ou escrito (no caso, o texto verbal), e também todo enunciado não verbal (cores,
códigos, imagens) de maior ou de menor extensão, mas no qual deve haver interação
entre quem escreveu o texto e quem lê. Quando não há interação, então se pode dizer
que não é texto e sim um amontoado de palavras. É importante também que, ao ler o
texto, as pessoas examinem o contexto, que é a situação em que o texto está inserido. Se
um texto for lido fora do devido contexto, o sentido acaba ficando comprometido.
Os tipos de texto
Os tipos de texto são muitos: poemas, poesias, crônicas, notícia, documentário,
conto, romance, novela entre outros, mas na essência, os textos se enquadram nestes três
tipos básicos de textos: narração, descrição e dissertação.
22
O texto narrativo
A narração é o tipo de texto mais conhecido e mais lido no mundo todo. O texto
narrativo possui uma característica que os demais textos não possuem: a ação das
personagens. A narração possui também estes aspectos importantes:
a) Tempo: é quando a história acontece. Quando o texto fornece a data de
quando o fato acontece, então se diz que o tempo da narração é cronológico.
Porém, quando não se fornece a data, então diz- se que o tempo da obra é
psicológico.
b) Ambiente: é onde a história acontece. Quando o texto diz o espaço em que
aconteceu, então se diz que o ambiente é físico, mas quando não diz o lugar
e o leitor é que o imagina, então se diz que o espaço é psicológico.
c) Enredo: é o problema que surge na narrativa e funciona como fio condutor.
Tal problema pode ou não ser resolvido ao fim da narrativa, depende muito
de quem escreve e de quem conta.
d) Narrador: é a pessoa que conta a história. Cuidado para não confundir o
narrador com o escritor (quem escreve) e com o autor (pessoa que criou a
história), apesar de que existem livros que o narrador, o escritor e o autor
sejam a mesma pessoa. Existem dois tipos de narradores: o narrador que
conta a história e participa dela, que é conhecido como narrador-
personagem (primeira pessoa) e também existe o narrador-observador
que é aquele que conta a história, mas não participa dela (narrador em
terceira pessoa).
e) Personagens: são os seres que atuam na história. Sem eles, a história nem
existiria porque eles são o foco. Existem três tipos de personagens nas
histórias: as personagens protagonistas (os principais e mocinhos da
história), os antagonistas (os vilões da história) e as personagens
coadjuvantes (as personagens secundárias que aparecem na história e que, às
vezes, acabam roubando a cena das demais personagens).
f) O discurso: é o ato de uma pessoa tomar a palavra. Nas narrações, quando o
narrador permite que as personagens falem, então acontece o discurso
direto (que sempre é marcado pelas aspas e principalmente pelo travessão).
Quando o narrador não permite que as personagens falem, mas ele mesmo
fala por elas, então dizemos que o discurso é indireto.
g) A linguagem: o leitor deve sempre investigar qual é a linguagem que
aparece no texto: a linguagem culta, que é aquela que está escrita e prescrita
na Gramática. A linguagem coloquial que é aquela que é própria dos
ambientes familiares, informais como: as gírias, os neologismos, os dialetos
e a linguagem chula. Deve ter também atenção para verificar se o texto usa a
linguagem conotativa (aquela que usa o sentido figurado e metafórico das
palavras) ou se usa as palavras em sentido denotativo (aquele sentido real,
literal tal como estão no dicionário e na Gramática).
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h) A competência: é o momento da narração em que algum personagem
adquire a capacidade de resolver o problema ou o problema desencadeado
no início da narrativa.
i) Performance ou epiphaneia (epifania) : é o momento em que ocorre a
transformação no caráter ou no aspecto físico das personagens.
j) Polifonia ( variedade de vozes) ou intertextualidade: é o dialogismo entre
o texto e outros textos. Isso pode se dar de diversas formas: na forma de
citação (quando acontece uma referencia direta à obra do outro autor), na
forma de paráfrase, na forma de paródia ou simplesmente na forma de
analogia.
k) O Estilo literário a que pertence: é importante identificar em que estilo
literário a narração se enquadra: Barroco: estilo do séc. XVI que valorizava
a religiosidade, os contrários, o excesso no uso da língua culta e o
maniqueísmo; Arcadismo: estilo do século XVII que valorizava a arte e a
estética Grega da Antiguidade, valorizava o amor ao campo e a natureza e a
fuga ao espaço urbano e colocava o ser humano no centro das atenções (ao
contrário do Barroco que priorizava o teocentrismo); Romantismo: estilo
que perdurou do século XVIII até primeira metade do século XIX que
valorizava o amor, a subjetividade, o lirismo excessivo e a idealização do
homem e da mulher amada a ponto de cultuar a morte em nome do
sentimento; Realismo- Naturalismo: estilo da segunda metade do século
XIX que influenciado pelas ideias socialistas de Karl Marx e Engels e pelas
teorias evolucionistas de Charles Darwin, abordava a análise do homem
enquanto ser social e coletivo e enquanto ser biológico e produto do meio
em que vive; Simbolismo: estilo literário da década de 1890 que teve em
Cruz e Souza seu nome de destaque, valorizava o espiritual, o metafísico, o
transcendente e utilizava linguagem culta e dicionarizante; Parnasianismo:
estilo de fins do século XIX que teve nas obras de Olavo Bilac, Raimundo
Correa e Alberto de Oliveira seu maior destaque. O foco era a perfeição
estética e formal, o uso da linguagem culta e o culto e adoração à perfeição
da escrita e da oralidade. E, por fim, o Modernismo: estilo literário que teve
03 fases: 1ª (1922-1930) que se caracterizou pelo rompimento com o
passado literário e por uma demolição e revolução na escrita e na arte. A
segunda fase (1930-1945) se caracterizou por uma poesia mais voltada para
o social e nos romances prevaleceu os romances neorrealistas de denúncia e
analíticos que tematizavam problemas sociais como a seca no Nordeste. A
terceira fase (1945-1960) já foi mais voltada para uma literatura mais
intimista, psicologizante e introspectiva. Prevalece nesta época a reflexão
sobre o porquê do ser e do estar no mundo e a influência das obras de Franz
Kafka e de Paul Sartre.
24
O texto descritivo
Este texto e o texto narrativo se parecem bastante, mas há uma diferença drástica:
na descrição não existe ação, existe apenas caracterização. Por isso nos textos
descritivos a presença de adjetivos é bem marcante porque os adjetivos caracterizam
seres. Existem dois tipos de descrição:
a) a descrição objetiva: ocorre quando o narrador descreve o ser com
características reais, isto é, tal como ele é. Geralmente aparece naqueles
textos que narram fatos reais.
b) a descrição subjetiva: ocorre quando o narrador descreve o ser com
características fictícias e subjetivas. Em casos assim ocorre o que se chama
de idealização do personagem.
O texto dissertativo
O texto dissertativo é aquele em que o escritor precisa: apresentar, desenvolver,
argumentar e concluir ideias acerca de um determinado tema. Este é um dos mais
comuns nas colunas que dão espaço aos textos de opinião: nos jornais, revistas e
nos demais meios de comunicação que desejam conduzir certo tema a debate ou à
reflexão. Por assim ser, este tipo de texto é o mais requisitado para ser produzido em
provas de concursos, processos seletivos, Exame Nacional do Ensino Médio e
também, é óbvio, como pré-requisito para ingresso aos cursos de Pós-Graduações
em cujo término deve-se concretizar a defesa do que tanto argumentou.
Não é o tipo de texto mais querido pela maioria dos estudantes e leitores, porque
não é como o texto narrativo que aguça a imaginação e a fantasia de quem lê. Porém
já é comum a opinião entre diversos autores que, quem consegue produzir uma
excelente dissertação, evidencia que é bom leitor e que possui coerência de ideias e
credibilidade para ensinar e debater sobre aquele assunto sobre o qual escreveu.
Obviamente, escrever uma dissertação não é tarefa muito fácil, porque para isso a
pessoa deve ter sobre a sua mesa de estudo: Revistas, livros e outras fontes, porque
a dissertação é de quem escreve, mas as ideias não são exatamente de quem escreve,
porque como elas são ideias universais, então só podem mesmo tomar corpo a partir
de outras fontes de leitura e pesquisa. Quando os livros de papel e o livro virtual não
puderem estar sobre a mesa, então a bagagem cognitiva é quem vai determinar se o
texto produzido é excelente ou não.
As partes importantes de uma dissertação
a) O tema: é o assunto de que se vai falar. Nos concursos, vestibulares e no
Exame Nacional do Ensino Médio, a escolha do tema não é da pessoa que
vai escrever e sim dos professores orientadores. Geralmente, o tema pode
ser uma simples frase e também pode ser um míni-texto para que o escritor
do texto pegue a ideia e dê andamento a ela.
25
b) O tópico frasal: é também conhecido por muitos como introdução. Como o
tópico frasal é o primeiro momento do texto, então a pessoa que escreve
deve ter um cuidado de neste tópico, apresentar o assunto de que vai falar no
texto inteiro. Apresentar a quem vai ler: o que é o tema, o que está
envolvido e o que pretende ao falar daquele assunto.
c) O conhecimento de mundo: é fundamental, depois que apresentar o tema a
quem vai ler. É importante porque no primeiro momento o tema foi
apresentado e agora é a oportunidade de mostrar como o tema que você vai
escrever está acontecendo no contexto de mundo. Cada tema se enquadra
em um contexto seja ele político, econômico, social, cultural, religioso,
educacional, filosófico...
d) A argumentação: é o momento mais esperado do texto, porque como já
aprendemos, o texto não é exatamente de quem escreve e sim de ideias de
outras fontes. Mas a argumentação é da pessoa que escreve e por isso é o
momento mais esperado pela pessoa que vai corrigir. Na argumentação, a
pessoa que escreve tem por obrigação conduzir uma reflexão sobre o tema:
os prós e os contra, os lados positivos e negativos acerca do tema e o que e a
quem o tema influencia. É bom, aqui, colocar os desafios que impedem a
solução do problema que o texto focaliza e comentá-los.
e) Conclusão: é o momento de encerrar o texto. Aqui, a pessoa que escreve
deve ter a atenção de apontar uma possível solução para o problema
tematizado no texto (se houver um problema). Na conclusão também, deve
haver as considerações finais acerca do tema: que caminhos se devem seguir
para que as metas e os objetivos propostos no texto sejam alcançados.
O QUE NÃO É ACONSELHÁVEL INSERIR NO TEXTO DISSERTATIVO
a) Evite o uso da primeira pessoa do singular (eu): a primeira pessoa deve
ser evitada porque o texto não é pessoal e sim texto universal (opinião de
autores e escritores já aceita por vasta maioria). Portanto, tudo que provém
da primeira pessoa (eu acho, eu penso...) deve desaparecer do texto. Dê
prioridade à terceira pessoa, porque com ela a pessoa que escreve se isenta
ao máximo e não se envolve.
b) Nunca use gerúndio: os gerúndios são bons e não são agramáticos, porque
se fossem nem estariam na gramática. Porém a gramática é clara em dizer
que gerúndios não podem tomar parte em dissertações. Então, não usem
gerúndio.
c) Evite fazer perguntas e nem use etc.: lembrem-se de que a dissertação é
exatamente para buscar respostas e não para fazer perguntas e nem encher a
folha de reticências.
d) Nunca repita palavras: porque acaba gerando redundância. Tanto quanto
puder, coloque palavras sinônimas para evitar as repetições.
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e) Não deixe palavras rimarem: a rima das palavras pode fazer acontecer o
eco que deixa o texto bem deselegante.
Ex.: Na atualidade, a humanidade tem mostrado pouca solidariedade.
f) Não deixe que as palavras tenham duplo sentido (ambiguidade): a
ambiguidade acontece quando as pessoas invertem a ordem dos enunciados.
A ordem é S + V + O (Sujeito + verbo +objeto). Por isso quando escrever
dissertações examine se a ordem do enunciado está ou não harmônica.
g) Não cometa erro de acentuação, erro na escrita e nem na concordância
dos verbos: pede-se atenção toda especial para com o verbo HAVER no
sentido de existir (as pessoas sempre trocam tal verbo pelo verbo TER, o
que é abominável para a Gramática).
h) Cuidado com o pleonasmo vicioso: são as repetições desnecessárias e
descabidas que acabam gerando redundância.
Ex.: Atualmente, nos dias de hoje a violência está incontrolável.
i) Cuidado com a pontuação: vírgula é pausa breve e ponto final é pausa
longa. Encerrou um enunciado? Então coloque a pausa longa e inicie um
novo parágrafo ou comece outro enunciado com inicial maiúscula.
27
AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM
A linguagem é o uso que os falantes fazem de um determinado idioma, isto é, a forma
de expressar e materializar o pensamento. Então, não é o mesmo que a língua, porque a
língua, conforme o linguista Saussure deu a entender, é o uso coletivo e social do signo
linguístico que os grupos, comunidades e povos fazem entre si.( SAUSSURE,
Ferdinand. Curso de Linguística Aplicada. 15ª ed. Loyola. SP. 2007, traduzido por
Mattoso Câmara Jr.)
Sendo que a linguagem é a expressão do pensamento, então, segundo o linguista russo
Roman Jacobson (1896-1982) ela passa a ter funções, isto é, finalidades diferentes de os
falantes fazerem uso dela no cotidiano. As funções são muitas, mas segundo Jacobson,
predominam na maioria dos tipos de texto seis funções específicas. Veja a tabela
abaixo:
Função da Linguagem Em que elemento da língua ela está
centralizada?
Exemplos
1.Função Emotiva Centralizada na primeira pessoa (eu, nós),
ou seja, o emissor ou locutor.
Acontece em textos que a primeira pessoa fala de
si (ex.: textos intimistas, introspectivos como diários e poesias)
2.Função Conativa Centralizada na segunda pessoa (tu, você,
vós, vocês), isto é, no receptor ou
interlocutor.
Acontece em textos que se tenta persuadir o
interlocutor (ex.: os textos- propaganda)
3.Função Referencial Centralizada na terceira pessoa (ele, ela,
eles, elas), isto é, no contexto (a situação em
que o texto está inserido)
Acontece em textos que têm por fim informar
(ex.:reportagem, crônica, textos didáticos,
documentário, bulas médicas, textos dissertativos...)
4.Função Metalinguística Centralizada no código, ou seja na própria
linguagem.
Acontece em textos que a linguagem fala de si
mesma, isto é, palavra falando de palavra (ex.: dicionário, enciclopédia, texto em que palavra
conceitua palavra)
5.Função Poética Centralizada na mensagem Acontece em textos que a intenção é fazer uso da palavra para gerar musicalidade, atribuir
significados diversos às palavras e usá-las de forma
lúdica.
6.Função Fática Centralizada no canal e se preocupa com o teste do canal de comunicação.
Acontece sempre que se quer testar o canal para ver se tem alguém ouvindo.
( Tabela 01: Funções da Linguagem. Adapt.: obra, JACOBSON, Roman. Trad. Editora Ática, 1990)
EXERCÍCIOS
Elabore um pequeno texto de 15 linhas e teça nele uma opinião coerente, concisa,
reflexiva e conclusiva sobre a tirinha abaixo:
(Adapt.: site: www.questãocerta.com/acesso em 22/12/2015)
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1) Explique o enunciado dos linguistas “a linguagem é a expressão física do
pensamento.”
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__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
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2) Segundo Platão e Fiorin, por que um texto não pode ser interpretado de forma
aleatória?
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3) Comente o pensamento de Platão e Fiorin: “um texto sem coesão é texto, mas
um texto sem coerência não o é”.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
4) Leia o texto abaixo a fim de responder às questões 4 e 5:
Terror islâmico deixa ao menos 12 mortos em Paris
Atentado aconteceu na sede da revista de humor 'Charlie Hebdo', que atraiu a
fúria de extremistas no passado ao publicar charges de Maomé em 2011.
Terroristas muçulmanos assassinaram pelo menos doze pessoas nesta quarta-feira em
Paris, em um ataque a tiros no escritório da revista semanal satírica Charlie Hebdo. A
revista é alvo da ira de fundamentalistas desde que publicou, em 2011, uma charge do
profeta Maomé, mas nunca cedeu diante das ameaças nem alterou sua linha editorial.
Mesmo depois de ser alvo de uma bomba incendiária, publicou outra charge de Maomé,
em 2012. Nesta quarta-feira pela manhã, satirizava em sua conta no Twitter Abu Bakr
al-Baghdadi, o fanático que lidera o grupo Estado Islâmico (EI). O atentado em Paris
começou pouco depois da divulgação do tuíte, e deixou dez jornalistas e dois policiais
mortos, além de cinco feridos em estado grave. O presidente François Hollande foi até o
local do ataque e convocou uma reunião de crise no palácio presidencial para as 11h de
Brasília. As autoridades também anunciaram que a região parisiense foi colocada em
estado de alerta máximo. "Os autores do atentado serão processados. A França está
diante de um choque. É um ataque terrorista, é sem dúvida", disse Hollande.
Vincent Justin, um jornalista que trabalha em um edifício próximo à sede do Charlie
Hebdo, afirmou que duas pessoas entraram na redação do semanário e começaram a
atirar. Segundo Justin, os autores do ataque gritavam a frase “vamos vingar o
profeta”. Outras testemunhas disseram ao canal de notícias francês iTele terem visto o
incidente a partir de um prédio próximo, no coração da capital francesa. “Cerca de meia
hora atrás dois homens com capuz preto entraram no prédio com fuzis Kalashnikovs”,
disse Benoit Bringer à emissora. "Poucos minutos depois, nós ouvimos vários tiros",
disse, acrescentando que os homens depois foram vistos fugindo do prédio. A chargista
Corinne Rey, que assina como Coco, presenciou o atentado e afirmou ao site francês
29
L'Humanité que os terroristas "falavam francês perfeitamente" e "reivindicaram ser da
Al-Qaeda". Porém, as autoridades não confirmaram a autoria do atentado.
Rocco Contento, porta-voz da polícia, disse que os terroristas entraram em um carro
que os esperava para fugir. O carro foi conduzido até Port de Pantin, no nordeste de
Paris, onde foi abandonado. Os terroristas então roubaram o carro de um motorista e
desapareceram. A polícia francesa montou uma grande operação para localizá-los.
Contento também disse que o escritório da Charlie Hebdo, que já contava com proteção
especial, teve a vigilância aumentada há algumas semanas porque novas ameaças
vinham sendo feitas. As medidas não foram capazes de impedir o massacre. O jornalista
Antonio Fischetti, que trabalha na revista, mas não estava na redação no momento do
atentado, disse ao jornal Libération: “Sabíamos que a ameaça era real, mas não era uma
paranoia. Ameaças contra o Charlie Hebdo eram recorrentes, habituais. A vigilância foi
relaxada”.
O cartunista Charb, que desenhou uma charge de Maomé em 2012, é um dos mortos,
segundo o jornal Libération. A Al-Qaeda o havia apontado como um alvo
permanente. Os cartunistas Cabu, Wolinski et Tignous também estão entre os mortos.
Todos eram amplamente conhecidos na França.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, reagiu condenando o ataque
terrorista e expressou solidariedade com a França na luta contra o terrorismo. "Os
assassinatos em Paris são revoltantes. Estamos ao lado do povo francês na luta contra o
terrorismo e na defesa da liberdade de imprensa", declarou Cameron em sua conta no
Twitter.
Revista Veja. 13/01/2015.
5) À luz da leitura deste texto e das ideias nele contidas, é CORRETO afirmar
que:
a) Predomina nele a função conativa da linguagem.
b) O texto é narrativo e se caracteriza pelo predomínio da linguagem
conotativa.
c) Ao narrar a notícia, o autor revela explicitamente sua aversão ao
extremismo islâmico que inibe os meios de comunicação.
d) O texto tem como objetivo principal informar e explicar as razões do
ataque terrorista ocorrido em Paris, na sede do semanário Charlie
Hebdo.
30
6) A partir de uma análise da charge abaixo, é INCORRETO afirmar que :
( Adapt.:site G-1. com.br/ acesso em 13/01/2014)
A) Reforça as ideias do autor do texto, porque assim como ele, o cartunista condena
abertamente todo e qualquer atentado à liberdade de expressão.
B) Demonstra o radicalismo dos extremistas islâmicos ao evidenciar que eles não
reconhecem a existência de um relativismo ideológico.
C) Evidencia nas gravuras, através dos objetos nas mãos dos atacantes e dos
atacados, que tanto um quanto o outro possui suas armas.
D) Tenta retratar com a linguagem verbal e não-verbal o repúdio dos cartunistas
brasileiros ao atentado terrorista à sede do Charlie Hebdo em Paris.
6) Leia o texto abaixo para responder às questões 8 e 9:
Os quatro alunos
Autor desconhecido
Essa é uma história que se passa em qualquer canto do Brasil, em qualquer escola,
qualquer aluno, comigo, com você. Eram quatro rapazes que estudavam numa escola
em uma mesma classe: Arrependido, Falso, Mínimo e Quero Tentar . Arrependido era
um aluno desanimado com os estudos, não fazia nada na sala de aula e muito menos os
deveres de casa. Não pensava no seu futuro, vivia achando que estava perdendo tempo
em sala de aula e por isso arrependia-se de não ficar nas ruas com
seus colegas. Por não gostar de estudar vivia tirando notas baixas.
Falso era um cara mentiroso e pouco preguiçoso com os estudos ou copiava de
alguém ou falsificava o que fazia. Na realidade mesmo, não fazia nada e era tão falso
quanto a sua própria nota ( apesar de ser razoável), pois tudo que precisava era colar ou
confiar no amigo na hora da avaliação. Raramente isso falhava.
Mínimo um rapaz que não pensava em ir muito longe, para este o que importava era
uma nota que o aprovasse, portanto estudava pouco, mas não "colava" nas avaliações e
não passava disso: 60% era o bastante e se contentava com esse mínimo. Sempre tinha
um pensamento "tenho boas notas porque não perdi nenhuma"
Quero-tentar gostava do que fazia. Quando lhe apresentavam algo novo, um
problema que ele não soubesse, ele dizia "vou tentar resolvê-lo" e sempre conseguia
mesmo, porém não estudava para tirar boas notas e sim ficar sabendo. Este era aluno
todos os dias e sua persistência o ajudava vencer. Assim, Quero-Tentar era o primeiro
31
da classe. Em termos de aprendizagem Mínimo era o penúltimo. Falso era o último, pois
só tinha nota e não sabia de nada. Arrependido abandonou a escola.
Hoje, eles são adultos e cada um tem o seu destino: Arrependido mora numa grande
favela chamada Tarde - demais. Falso queria ser político, mas foi condenado por um
juiz chamado Verdade. E Mínimo, com seu conhecimento mínimo, é soldado mínimo
das Forças armadas, ganha um salário mínimo e tem um comandante muito exigente
chamado: MÁXIMO que sempre lhe cobra 100%. Quero Tentar se saiu melhor e hoje é
presidente de um país chamado "república democrática dos sucessos.”
7) A figura de linguagem que predomina neste texto é:
A) Metáfora B) Catacrese C) Prosopopeia D) Metonímia
8) Sobre este texto é CORRETO afirmar que:
A) Trata-se de uma narrativa curta e constitui o que os escritores chamam de parábola.
B) Trata-se de um texto descritivo, já que é desprovida da ação das personagens e do
discurso direto.
C) Trata-se de um texto narrativo que pode ser classificado como apólogo, já que em
textos assim substantivos abstratos atuam como personagens.
D) A substantivação dos adjetivos e dos verbos que atuam como personagens reforçam
a lição moral que o narrador pretende, através desta fábula, implantar no leitor.
9) Todos os provérbios populares abaixo se relacionam diretamente com as ideias do
autor do texto “ Os Quatro Alunos”, EXCETO:
A) Nem tudo o que reluz é ouro.
B) Deus ajuda a quem cedo madruga.
C) A quem muito foi dado, muito mais será cobrado.
D) Mentira tem pernas curtas.
10) Leia abaixo a seguinte notícia de jornal para responder às questões 11 e 12:
529 mil alunos ficaram com nota zero na redação do Enem 2014, diz MEC. Índice
representa 8,5% dos candidatos participantes. Nota de cada um dos 6,1 milhões de
estudantes saiu nesta terça.
Entre os alunos participantes, 529.374 obtiveram nota zero na redação da prova (8,5%
dos candidatos). Deste número, foram anuladas 248.471 redações. O MEC informou
ainda que 250 candidatos tiveram nota mil na redação – a máxima possível. Além disso,
pouco mais de 35 mil alunos obtiveram notas entre 901 e 999.
As notas de cada um dos 6.193.565 participantes do Enem foram divulgadas na noite
desta terça, segundo o ministério. Ainda segundo o MEC, a média das notas em redação
teve uma queda de 9,7% em relação ao Enem de 2013 entre os alunos que estão
concluindo o ensino médio. Em matemática, a queda foi de 7,3% em relação ao exame
32
anterior. Sobre a queda nas médias das notas de matemática e redação em relação ao
ano passado, o ministro da Educação, Cid Gomes, afirmou que não considera que seja
algo " tão significativo. A minha opinião é de que houve uma queda em matemática e
redação. Uma queda superior à margem, não diria uma queda significativa, mas uma
queda que deve estimular a comunidade acadêmica a analisar as razões para isso. Um
ano no Ensino Médio brasileiro não há variações tão significativas" afirmou o ministro.
Segundo Cid Gomes, o tema da redação deste ano (publicidade infantil) não foi tão
debatido pela mídia e pela sociedade brasileira quanto o tema de 2013 (lei seca)."Eu
arriscaria uma tese: o tema de 2013 foi a lei seca. Essa questão foi muito debatida,
muito discutida. O tema agora, publicidade infantil, não é um tema que houve um
processo de discussão tão grande", analisou. Questionado sobre se considera o tema
deste ano mais difícil, Gomes respondeu: "Eu não diria difícil, é relativo."
Fonte: Jornal Bom dia Brasil. 14/01/15.
11) Segundo o texto, o fracasso dos candidatos que zeraram a prova do ENEM deve-se
aos seguintes motivos, EXCETO:
A) Falta de conhecimento prévio acerca do tema da redação por parte dos candidatos
B) Ineficiência da mídia em divulgar e fornecer subsídios para a conscientização acerca
do tema.
C) Queda do bom desempenho na prova de Matemática em relação ao exame de 2013.
D) Incapacidade dos alunos concluintes do Ensino Médio de produzir um texto
dissertativo e de resolver questões de Matemática.
12) A notícia acima possui a seguinte relação com o texto dos “ Quatro Alunos”,
EXCETO:
A) Assim como o texto, a notícia explicita que para vencer na vida escolar é necessário
esforço.
B) Assim como o texto, a notícia denuncia a falsidade de quem cola e atua nos
vazamentos de questões dos exames escolares.
C) Diferente do texto, a notícia usa a linguagem denotativa para repassar a informação
ao leitor.
D) Assim como o texto, a notícia evidencia que o bom e o mau desempenho do aluno
não se limitam somente à sala de aula.
33
Coerência Textual
Em seu livro, Para Entender o Texto, os autores Platão e Fiorin dizem que coerência
é, antes de todos os demais conceitos existentes, o sentido do texto. Eles dizem que a
coerência é essencial para que um texto seja compreendido, já que texto sem coerência
não é texto e sim amontoado de palavras. Estes autores também colocaram alguns
fatores relevantes que ajudam o leitor a desenvolver a coerência do texto. Vejam um
exemplo de um texto que apresenta incoerência.
Ex.: A água estava muito molhada.
A coerência é também resultante da adequação do que se diz ao contexto extra
verbal, ou seja, àquilo a que o texto faz referência, que precisa ser conhecido pelo
receptor.
Ao ler uma frase como: "No verão passado, quando estivemos na capital do Ceará
Fortaleza, não pudemos aproveitar a praia, pois o frio era tanto que chegou a nevar",
percebemos que ela é incoerente em decorrência da incompatibilidade entre um
conhecimento prévio que temos da realidade com o que se relata. Sabemos que,
considerando uma realidade "normal", em Fortaleza não neva (ainda mais no verão!).
Veja alguns elementos principais que ajudam na construção da coerência:
a) Clareza: refere-se ao fato de a pessoa que escreve o texto evitar a todo custo a
obscuridade na construção do pensamento. Segundo Platão e Fiorin, o
obscurantismo pode ser causado pelos seguintes problemas: má forma de
expressar, ambiguidade e o uso de vocabulário rebuscado.
Ex.: “Como anda o projeto espacial?” “Ah, temos uma grave disjunção no
sistema de propulsão primária do foguete trifásico”.
b) Concisão: é outro fator que ajuda na coerência porque é o falar muito em poucas
palavras. Quando um texto não é conciso, costuma-se dizer que a pessoa que o
produziu encheu linguiça, isto é, falou muito, mas não se expressou como
deveria.
c) Construção eficaz de um enunciado: a maioria dos enunciados de sentido
completo sempre são formados a partir da seguinte estrutura canônica: (S + V +
O), isto é: sujeito + verbo +objeto. Então, isso quer dizer que no momento de
construir um enunciado, o leitor e o produtor do texto devem ter o cuidado de
desenvolver um pensamento de sentido completo. Por exemplo, seria incoerente
alguém elaborar um enunciado que careça de informações precisas. Quanto
maiores as informações, maior a possibilidade de o leitor entender.
Ex.: Os leitores foram...
Ex.: Os leitores foram mal...
Ex.: Os leitores foram mal na prova...
Ex.: Os leitores foram mal na prova porque...
Ex.: Os leitores foram mal na prova, porque não estudaram? Não!
Estudaram, mas não souberam interpretar o que leram.
34
d) Detectar implícitos do texto: é difícil para aquele (a) que escreve um
enunciado, colocar ali toda a informação a qual ele (a) deseja que o leitor
compreenda. Apesar de que o bom seria se quem escrevesse os enunciados,
colocasse ali pelo menos o necessário para que o leitor entenda. Como na prática
isso não acontece com frequência, então cabe a quem ler o texto, sair
“pescando” os implícitos ( ideias que não aparecem abertamente) no texto.
Ex.: No programa do Chaves, ocorreu um episódio em que a menina
Chiquinha chega para o seu amigo Chaves e lhe mostra um iô iô. O Chaves lhe
pergunta então: “Quem te emprestou este iô iô?” Ela responde: “Foi o Nhonho,
mas ele não sabe”.
Obviamente a plateia acha graça não daquilo que ela falou, mas sim daquilo
que ela não falou e que ficou nas entrelinhas. Aí, cabe ao leitor analisar e, ao
desenvolver os mecanismos cognitivos de leitura, ele chegará à conclusão de que
se ela pediu o iô-iô emprestado e o personagem Nhonho não sabe, então é
porque o brinquedo foi surrupiado.
Não é somente no texto piada que o leitor deve buscar desenvolver este
mecanismo de leitura, mas em todos os textos que requeiram do leitor as
informações devidas para ajudar na compreensão. Um texto muito conhecido na
literatura brasileira diz assim:
“ Última Flor do Lácio inculta e bela
És a um tempo esplendor e sepultura
Ouro nativo que da ganga impura
Por entre os cascalhos vela..” (Olavo Bilac).
Bom, ao procurar detectar os implícitos deste texto, o leitor de mentalidade
crítica questionará: quem é esta última flor do Lácio? Por que ela é inculta e
bela? Por que ela é esplendor e sepultura?.. Fica aqui uma colocação
importante: Existem duas interpretações para textos: a interpretação
metalinguística (ir somente por aquilo que o texto diz, ou seja, a palavra pela
palavra) e interpretação subjetiva (interpretar o texto de forma individual, sem
levar em conta a intenção de quem produziu). Quando se detecta os implícitos
do texto, as duas formas de interpretar devem ser levadas em consideração.
Obras e Autores Citados direta e indiretamente neste capítulo
FIORIN & PLATÃO. Para Entender o Texto. 2ª ed. Ática. São Paulo. 1991.
JR, Mattoso Câmara. Linguística Aplicada ao Ensino de Português. 15 ed. Loyola. SP.
2007.
KLAIMAN, Ângela. Oficina de Leitura: teoria e prática. Ed. Unicamp; Campinas SP;
1999.
35
KLAIMAN, Ângela. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. 15ª edição. Pontes; São
Paulo; 2013.
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luís Carlos. Coerência Textual. Contexto; São
Paulo; 2009.
VAL, Maria das Graças Costa. Redação e Textualidade. 3ª edição. Saraiva; São Paulo,
2006.
36
Capítulo 03: FONÉTICA / FONOLOGIA
“Ao som da Sua voz o universo se desfaz” ( DVD –Adoradores 2013)
37
Capítulo 03 FONÉTICA / FONOLOGIA
Fonética é a parte da Gramática que estuda como é percebida fisicamente a menor
unidade sonora da língua: o fonema. A Fonologia está diretamente ligada a ela porque
estuda como a menor unidade sonora se processa no âmbito da fala e da escrita. Este
estudo é muito antigo, porque a História Geral atesta que os fenícios teriam criado um
alfabeto de vinte e duas letras por volta do século X antes de Cristo. E nos hieróglifos
egípcios, datados de 3.550 a.C. há uma forte evidência de uma preocupação com a
pronúncia e escrita de letras e fonemas, principalmente no que tange à escrita e
pronúncia de textos sagrados. Para nós ocidentais, o estudo tomou força com as
pesquisas do ponto de vista estruturalista funcional e social, retomado em 1955, pelo
linguista francês André Martinet (1908-1999), quando escreveu o melhor tratado de
Fonética/Fonologia que se conhece até hoje, no qual tratou dos traços pertinentes e do
emprego das unidades distintivas dos traços fônicos.
Conceitos importantes:
Fonema: é a menor unidade sonora da fala que é responsável no momento da
articulação e combinação por formar as sílabas, os vocábulos e a teia da frase na
comunicação oral.
Letra: é o sinal gráfico que representa os sons. Por isso quando emitimos sons usamos
os fonemas e quando escrevemos, usamos as letras.
O aparelho fonador
Os encontros vocálicos e os encontros consanantais
Vogais são os sons do alfabeto que soam livremente quando saem do nosso aparelho
fonador (veja a gravura abaixo). As vogais são: a, e, i, o, u. As consoantes são
aqueles sons que não saem livremente do nosso aparelho fonador. As consoantes
são: b, c, d, f, g, h, j, l, m, n, p, q, r, s, t, v, x, z. As mudanças na gramática incluíram
mais estas consoantes de língua estrangeira: k, w, y.
Vejam quais são os encontros vocálicos:
a) Ditongo: é o encontro de uma vogal (a, e, i, o ,u) e uma semivogal (i, u), ou
vice-versa, na mesma sílaba. Como a vogal sempre soa mais forte e a semivogal
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soa mais fraco, porque vale a metade do som de uma vogal, então podem ficar
juntas na sílaba e nunca devem se separar.
Atenção às fórmulas: vogal + semivogal = ditongo decrescente Ex.: boi, mãe.
Semivogal + vogal = ditongo crescente. Ex.: á-gua, lí-rio, ré-gua.
OBS.: Algumas vezes, o som da vogal acaba saindo pelo nariz e por isso a
gramática chama tal ditongo de ditongo nasal.
Ex.: ma-mãe, a- mam [amãu].
b) Hiato: é o encontro de duas vogais quando se pronuncia a palavra que as possui.
Como duas vogais sempre soam forte, então, quando separar sílaba, que
ninguém deixe duas vogais juntas.
Então: vogal + vogal = hiato. Ex.: sa – í – da / sa – a – ra / mi – a – do.
c) Tritongo: é o encontro de semivogal, vogal e semivogal. No caso, como duas
soam fraco e uma soa forte, então as três podem ficar juntas na mesma sílaba.
Então: semivogal + vogal + semivogal = tritongo.
Quando o som da vogal for nasalizado, acompanhada das duas semivogais, então
se dá a este fenômeno o nome de tritongo nasal.
Ex.: aguam (do verbo aguar).
Obs.: Já é lei na gramática que nunca podemos deixar nenhuma sílaba sem pelo
menos uma vogal. Nossa língua não é como o hebraico que só possuía consoantes.
Obs.: Letras iguais nunca podem ser deixadas juntas na mesma sílaba. É regra .
Os encontros consanatais: decorrem do encontro de duas consoantes. Quando ambas
ficam juntas na sílaba como é o caso do encontro que acontece na palavra “prato” [pr],
dá-se o nome de encontro consanantal inseparável. No caso da palavra “corrupção”,
veja que no momento da divisão silábica, fica assim: cor-rup-ção. Percebam que as
consoantes “p” e “ç” separam-se, logo se dá a este fenômeno o nome de encontro
consanantal separável.
Obs.: Cuidado para não confundir encontro consanantal com dígrafo e muito menos
com ditongo e tritongo nasal. Dígrafos são duas letras que equivalem a uma só
unidade sonora e nos ditongos e tritongos nasais o fonema é representado na escrita
como consoante, mas na pronúncia o som é vocálico. Quando se faz a transcrição
fonética, este equívoco logo é desfeito.
Ex.: a palavra “anta” [ ãta]. Vejam que não acontece o encontro entre a consoante
“n” e a consoante “t”, simplesmente porque o fonema “n” não é pronunciado. O par
“an” é um dígrafo.
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A Transcrição Fonética: é muito importante porque consiste em um método de
transcrever os sons de uma língua de forma que represente, por escrito, a maneira que o
som foi padronizado para pronunciar. Tal transcrição deve ser feita sempre entre
colchetes.
Ex.: A palavra “táxi” é escrita assim: táxi, mas a transcrição fonética é [ táksi], logo esta
palavra possui quatro ( 4 ) letras e cinco ( 5 ) fonemas.
Somente com a transcrição fonética é possível saber quantas letras e quantos fonemas
uma palavra possui.
As codas sílábicas: a sílaba como unidade fonológica é essencial como objeto de
estudo para o entendimento da fonologia das línguas. Assim, teríamos a seguinte
estrutura: sílaba, ataque, rima e coda. Entenda: O núcleo é o coração da sílaba e não
pode nunca ficar vazio e quem o preenche são as vogais. Na posição de coda, apenas as
consoantes /r, l, n, s/ e as semivogais podem aparecer. A coda é a consoante ou
consoantes em posição pós-nuclear dentro de uma sílaba, ou seja, após a vogal nuclear.
À coda, conjuntamente com o núcleo, se denomina rima. O português é uma língua
relativamente famosa por autorizar coda silábica para apenas 3 de seus fonemas, /ʁ ~ ɾ/
(érre), /ʃ ~ s/ (ésse) e ks (xis). Por exemplo, quando absorve palavras de origem
estrangeira, como McDonald's que se torna [ˌmɛkiˈdõnɐwdʒis] no lugar do
original: [ˌmækˈdɔnəɫdz].
Monotongação: acontece devido ao apagamento da semivogal nos ditongos
decrescentes e crescentes. É muito comum na língua coloquial.
Ex.: Na palavra “roupa” o falante retira a semivogal “u” e a pronúncia fica: “rôpa”.
Os Dígrafos
Como o próprio nome diz, dígrafos são duas letras que valem por um único fonema
(menor unidade sonora que existe). Para saber se uma palavra possui dígrafo ou não é só
a pessoa fazer a transcrição fonética (escrever a palavra do jeito que ela é pronunciada).
Estes dígrafos: nh, lh, ch, gu, qu nunca podem separar em sílabas.
Ex.: ga- nho/ fa- lha-mos/ a -cha- mos / guer- ra / quei- jo ...
Mas os dígrafos rr, ss, sc, sç, xc sempre devem separar em sílabas.
Ex.: car-ro / pás- sa -ros/ nas-cer / cres-ço / ex –ce – ção.
Obs.: Os dígrafos vocálicos são : an, en, in, on, un . E também: am, em, im, om, um.
Vejam que quando aparecerem nas palavras, estes pares valem por um único fonema.
Ex.: tanto [ tãto], tambor [ tãbor], tonto [tõto].
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Obs.: quando apenas uma letra é escrita representando dois sons, dá-se a isso o nome de
dífono. Mas o dífono só existe no alfabeto fonético.
Ex.: A palavra “táxi”. Nela, a letra “x” representa dois sons: “ks” [ táksi]
ORTOÉPIA E PROSÓDIA
Segundo os linguistas, a gramática da Língua Portuguesa prescreve a acentuação
gráfica de palavras e estipulas as regras. As demais línguas acentuam as palavras, mas
não só por questão de regras e sim porque quando a estrutura morfológica das palavras
se consolidou, elas já possuíam acento e assim permaneceram. É incomum ver as
línguas estrangeiras que trazem acentos gráficos em palavras de seus léxicos todos os
dias mudando os acentos delas como se tem visto nas regras da gramática aqui no
Brasil.
Na nossa gramática, a mudança mais difícil de acontecer é nas partes que se referem:
às dez classes de palavras, `a estrutura: sujeito + verbo + objeto (S +V + O) e aos
demais conteúdos que envolvem estruturas morfológicas. Mas acentuação e grafia são
as partes que mais sofreram mudanças. Da década de 1970 para cá, sempre a gente tem
ouvido falar em mudanças na acentuação das palavras e na grafia.
Recentemente, foram aprovadas algumas mudanças que ocorrerão outra vez na
acentuação e na grafia de algumas palavras o que entrará em vigor a partir de 01 de
janeiro de 2016. Mas os professores já devem ensinar a seus alunos, não só as mudanças
que a gramática sofreu na questão de acentos e escrita de certas palavras, mas também
como aplicar tais mudanças na vida escolar e também na escrita no cotidiano.
2. Os dois tipos de acento.
Embora muitos professores e até certos livros de autores renomados digam que existem
muitos acentos, a maioria das gramáticas dizem que existem apenas dois tipos de
acentos: o acento tônico que é a sílaba forte (tônica) que todas as palavras possuem e
também existe o acento gráfico que é o acento de som aberto (acento agudo) e o acento
de som fechado que é o acento circunflexo (^). Nem todas as palavras possuem o acento
gráfico.
Embora alguns digam que a crase é um acento e a gente ouve muito alguns dizerem:
“este a é craseado!”, segundo a maioria das gramáticas, a crase não é um acento e sim
um fenômeno. O fenômeno ou fusão do artigo a com a preposição a. Então, a + a = à.
O til (~) também não é acento agudo e nem circunflexo, a cedilha (ç) também não é e
nem tampouco o trema (¨), o apóstrofo e o hífen (-). Eles são notações léxicas ou sinais
e acentos gráficos que se juntam às letras para dar valor fonético especial, mas não
desempenham funções de acentos tônicos abertos e fechados.
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3. A sílaba tônica
Como todas as palavras possuem a sílaba mais forte, então todas têm a sílaba tônica.
Pela sílaba tônica, as palavras poderão ser:
a) Monossílabos: palavras que possuem apenas uma sílaba. Quando esta sílaba é
autônoma, diz-se então que é monossílabo tônico, mas quando não é autônoma,
diz-se que é monossílabo átono.
Ex.: me, te, se, lhe, nos, nós, sol, lá, cá, pé, mas, traz, já, e, é, só...
b) Oxítona: palavras que possuem mais de uma sílaba, porém a mais forte das
sílabas é sempre a última do grupo.
Ex.: co-ra-ção; u-ru-bu; ca-fé; a-guen-tar; ma-ra-cu-já; Já-ca-re-pa-guá.
c) Paroxítonas: palavras que possuem mais de uma sílaba, porém, a mais forte é a
penúltima do grupo.
Ex.: a-çú-car; es-co-la; a-lu-no; es-co-la-ri-da-de; u´-til; ver- da- de...
d) Proparoxítonas: palavras que possuem mais de uma sílaba, mas dentre estas
sílabas, a mais forte é a antepenúltima sílaba do grupo. TODAS ELAS SÃO
ACENTUADAS COM ACENTO ABERTO OU COM ACENTO FECHADO.
Ex.: pa-ra-le-le-pí-pe-do; lâm- pa- da; o- xí-to-na; pa-ro- xí- to- na;
pro-pa-ro-xí-to-na....
Ortoépia, segundo Celso Cunha, é a parte da Gramática que se ocupa com a
pronúncia das palavras exatamente do jeito que está prescrito pela Norma Culta.
Ex.: Pronunciar a palavra “absoluto” em vez de “abissoluto”.
Prosódia, segundo Cunha, é a parte da Gramática que se ocupa com pronúncia
da sílaba mais forte (tônica) que as palavras possuem exatamente do jeito que está
prescrito pela Norma Culta.
Ex.: Pronunciar a palavra “ cateter” em vez de “ catéter”.
ACENTO GRÁFICO
Como já foi anunciado pela televisão, rádio, internet e principalmente nas escolas
através do Manual da Nova Ortografia, a partir de 2016 começou a vigorar o Novo
Acordo Ortográfico que trouxe mudanças em algumas regras de acentuação gráfica, no
emprego do hífen e na exclusão de alguns sinais gráficos como o trema, por exemplo.
Vejam quando se deve acentuar palavras com acento aberto e quando acentuar com
acento fechado:
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REGRA 01: OS MONOSSÍLABOS: acentue-os somente se eles terminarem com as
letras: a(s), e(s), o(s) e se forem tônicos.
Exemplos: pá, pás, pé, pés, pó, pós ....
REGRA 02:AS OXÍTONAS: acentue-as somente quando terminarem com as letras:
a(s), e(s), o(s).
Exemplos: ma-ra-cu-já; ma-ra-cu-jás; ja-ca-ré; já-ca-rés; ji-ló; ji-lós...
OBS.: Embora existam poucos casos, mas acentue também as oxítonas terminadas com
as letras em e ens:
Exemplos: a-mém, a-méns, ar-ma-zém, ar-ma-zéns....
REGRA 03: AS PAROXÍTONAS: acentue-as somente quando terminarem com as
letras: r, x, i, n, l, is.
Exemplos: a-çú-car, tó-rax, tá-xi, hí-fen, di-fí-cil, tá-xis.....
OBS.: Embora poucas, acentue as paroxítonas terminadas com as letras: ã, ãs, ão, ãos,
um, uns, us, ps, on, ons..
Ex.: ór-fã; ór-fãs; ór-fão ; ór-fãos; ál-bum; ál-buns; bô-nus; bí-ceps; e-lé-tron; e-lé-
trons.
OBS.: Acentue também as paroxítonas terminadas em ditongo crescente:
Exemplos: á-gua, Ja-nu-á-ria, crâ-nio, lí-rio....
OBS.: Na nova edição do dicionário Aurélio e nas Gramáticas recentes parece que
ainda não houve um consenso geral se deixam algumas palavras paroxítonas
terminadas em ditongo crescente como paroxítonas ou se deixam como
proparoxítonas. Mas a Gramática as considera como paroxítonas terminadas em
ditongo crescente, com exceção da palavra “história” que ainda gera controvérsias.
REGRA 04: O caso dos ditongos abertos éi, ói, éu. Acentue estes ditongos nas
palavras oxítonas.
Exemplo: cha-péu, he-rói, a-néis, rói, dói...
OBS.: Se na palavra houver o dígrafo nh, NÃO ACENTUE. E não acentue também se a
palavra for paroxítona.
Ex.: cha-peu-zi-nho; joi-a; col-mei-a; as-sem-blei-a;
---------------------------------------------------------------------------------------------------------
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REGRA 05: O caso da letra i e da letra u. Acentue estas letras somente quando: vierem
sozinhas na sílaba, vierem seguidas de s na sílaba e quando formam hiato.
Exemplo: sa-í-da; sa-ú-de; sa- ís- tes; ba-ú; ba-ús...
OBS.: Se houver nh na palavra, não acentue as letras i e u:
Exemplo: ra-i-nha; ba-i-nha..
OBS.: Se a palavra for paroxítona, desconsidere esta regra, ainda que venham sozinhas
na sílaba:
Ex.: Bo-cai-u-va; bai-u-ca
REGRA 06: O caso do hiato ô-o e do hiato ê-e: Acentue até o ano de 2015, a primeira
vogal do hiato ô-o e do hiato ê-e.
Exemplo: vô-o; per-dô-o; ma-gô-o; a-ben-çô-o...
OBS.: O hiato ê-e acontecerá somente com os verbos DAR, LER, CRER e VER na
terceira pessoa do plural no tempo presente do indicativo.
Exemplos: que ele dê – que eles dê-em,
Ele lê: eles lê-em;
Ele crê: eles crê-em;
Ele vê: eles vê-em.
OBS.: Deve-se ter cuidado com o verbo vir e com o verbo ter, porque eles levam
acento na terceira pessoa do plural, mas não ocorre neles o hiato ê-e, portanto eles e
seus derivados (intervir, advir, conter, deter, reter, abster) permanecem com acento
gráfico, até hoje, na terceira pessoa singular e plural no presente do indicativo:
Ex.: ele vem: eles vêm
ele tem: eles têm
Regra 07: O caso do Acento Diferencial
Até 2015, deveremos acentuar com o acento diferencial. É o acento que é usado para
diferenciar palavras parecidas na escrita e na pronúncia.
Exemplos: pôr ( verbo)
por (contração da preposição per + o artigo definido “o” )
pôde ( verbo “poder” no passado) / pode ( verbo “poder” no presente)
44
ATIVIDADE
01) Classifique as palavras de acordo com a sílaba tônica e enumere corretamente e,
quando precisar de acento gráfico, coloque o acento:
( 1 ) monossílabo ( 4 ) proparoxítona
( 1 ) oxítona
( 1 ) paroxítona
( ) mercancia ( ) ruim ( ) pneu ( ) levedo
( ) gratuito ( ) cateter ( ) item ( ) pleiade
( ) rubrica ( ) recorde ( ) itens ( ) avaro
( ) refem ( ) condor ( ) historia ( ) areodromo
( ) recem ( ) filantropo ( ) faze- lo ( ) glossolalia
( ) nobel ( ) quiromancia ( ) ibero ( ) rio
( ) ciclope ( ) ariete ( ) agape ( ) ia
( ) melancia ( ) fortuito ( ) Oceania ( ) maquinaria
( ) veio ( ) balaio ( ) ananas ( ) claustrofobia
( ) constitucionalissimamente ( ) mais ( ) iguais
02) Sobre a palavra itatiaia, é INCORRETO afirmar que:
A) É uma palavra paroxítona que também possui ditongo, hiato e glaide.
B) É uma palavra paroxítona que possui ditongo apenas e uma glaide.
C) É uma palavra paroxítona que possui ditongo decrescente.
D) É uma palavra composta por cinco sílabas, sendo que a tônica é a penúltima.
03) Justifique o acento das seguintes palavras:
a) sanduíche
b) designá-lo
c) Piauí
d) Jacarandá
e) experiência
f) fórum
g) nêutron
h) polígono
i) aprendê-lo
j) caracóis
k) Janaúba
l) tórax
04) O que mudou nas regras de acentuação a partir de 01 de janeiro de 2016?
45
05) No ano de 2009, os jornais divulgaram o crime que espantou o Brasil: o assassinato
da menina Isabela Nardone, que segundo as evidências teria sido assassinada pela
madrasta Ana Carolina e posteriormente atirada pela janela pelo seu pai, o estudante
de Direito, Alexandre Nardoni. Segundo os vizinhos que moravam no mesmo
apartamento onde moravam os Nardoni , a menina Isabela teria dito ao pai : “Pára,
pai!”. Mas segundo os Nardoni, a menina teria gritado: “Pára! Pai!”
( Adapt.: www.veja.com.br/acesso in 06/01/15)
a) Explique a diferença semântica entre as duas frases que Isabela teria
falado.
b) Em sua opinião, qual das duas frases teria sido a que Isabela falou. Por
quê?
c) Qual a regra de acentuação que se aplicava às palavras acima?
d) Nas novas regras de acentuação o que ficou estabelecido acerca da regra
de acentuação que se aplica ao caso desta reportagem?
TREINO ORTOGRÁFICO
1) O que é ortografia?
2) O que é caligrafia?
03) Dúvida: a letra x ou a letra ch ?
a) Após os ditongos, quem devemos usar: x ou ch? ..............................
b) Cite a exceção: ....................................
c) Após o prefixo en que letra devemos usar ? x ou ch ? ..........................
Cite as palavras que são exceções:
............................................................................................................................................
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............................................................................................................................................
04) Complete agora com a letra x ou com a letra ch:
a) en...aqueca g) ma...i...e m) me...ido s) co....i....o
b) en...ame h) capri.....o n) ...ingar t) lin.....amento
c) en...ente i) bo...e....a o) encai...otar u) li...ar
d) pi...aim j) fle....a p) pe...in....a v) co....ilo
e) pi...ar k) apetre....o q) ....afariz x) engra...ate
f) amei...a l) recau...utar r) fa…ina z) en....iqueirar
05) Segundo a Gramática, qual é a regra geral para o uso da letra s e o uso da letra z ?
.............................................................................................................................................
.............................................................................................................................................
.............................................................................................................................................
06) Resolva de acordo com o exemplo abaixo, mas seguindo a regra da gramática
para cada caso:
Ex.: aviso – avisar
a) improviso i) útil
b) catálise j)fértil
c) análise k)catequese
d) paralisia l) valor
e) pesquisa
f) civil
g) ameno
h) ágil
07) Escreva de acordo com o exemplo, mas siga a regra gramatical para cada caso:
Ex.: viúvo – viuvez
a) lúcido h) China
b) altivo i) Pequim
c) pequeno j) Milão
d) surdo k) Portugal
e) campo l) nu
f) monte m) sensato
g) burgo
08) Escreva de acordo com o exemplo, mas siga a regra gramatical para cada caso:
Ex.: permitir – permissão
a) conceder a) repelir
b) ceder b) impelir
c) interceder c) converter
d) suceder d) reverter
e) agredir e) inverter
f) regredir f) contraverter
g) transgredir g) verter
h) progredir h) ater
i) reprimir i) deter
j) suprimir j) abster
k) oprimir k) conter
l) comprimir l) reter
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m) imprimir m) obcecar
n) permitir n) isentar
o) discutir o) correto
p) demitir p) exceto
q) admitir q) imergir
r) emitir r) aspergir
s) suspender s) contorcer
t) ascender t) distorção
u) compreender u) aquisir
v) repreender
w) apreender
x) expelir
y) compelir
09) Complete com as letras x , s, ss, xc, sc, c, ç , corretamente:
a) e....pontâneo k) pa...oca u) e...tor....ão
b) e...poente l) rica...o v) re...en...eamento
c) e....e....ivo m) pirra....a x) se....enta
d) de...ência n) sumi....o z) preten...ioso
e) ob....eno o) deten....ão y) pre....indir
f) mi....igenação p) re...i...ão w) vi....eras
g) e....eção q) a...e....or
h) la....ívia r) mi...to
i) e...ten...ão s) e...tin...ão
j) a...e.....o t) ob...e....ão
10) Complete com a letra j ou com a letra g:
a) exi...ir k) fuli...em
b) exi...o l) me....era
c) exi...imos m) pa...em
d) estran...eiro n) a....iota
e) can...ica o) lison...ear
f) lambu...em p) gor....eta
g) ma...estade q) ferru....em
h) vare...ista
i) sar....eta
j) o....eriza
11) Complete com a letra s ou com a letra z:
a) lapi...inho
b) ca...inha
c) pire...inho
d) mai...ena
e) profeti....a (feminino de profeta)
f) poeti...a
g) barone...a
h) consule…a
i) desli...ar (escorregar)
j) desli...ar (deixar de ser liso)
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k) lou...a
12) Escreva de acordo com o modelo, mas aplicando a regra gramatical a cada caso.
Ex.: efetuar – efetue
a) atrair
b) corroer
c) influir
d) abençoar
e) perdoar
f) continuar
g) contribuir
h) possuir
13) Complete com eio ou então com io:
a) bloquear – eu bloq.... k) angariar – eu angar....
b) cambiar – eu camb... l) bombear – eu bomb.....
c) grampear – eu gramp... m) pentear – eu pent......
d) balancear – eu balanc.... n) afiar – eu af............
e) ampliar – eu ampl..... o) frear – eu fr...........
f) ansiar – eu ans..... p) intermediar – eu intermed.....
g) remediar – eu remed.....
h) incendiar – eu incend.....
i) odiar – eu od.........
14) As palavras abaixo segundo a gramática, podem ser escritas de duas maneiras.
Escreva diante delas a outra maneira que a gramática e o dicionário permitem:
a) quatorze o) dependurar
b) abdome p) estralar
c) aluguer q) flauta
d) amídala r) flecha
e) arrebentar s) geringonça
f) assoalho t) infarto
g) assobiar u) loiro
h) assoprar v) maquiagem
i) bêbado x) marimbondo
j) biscoito z) nenê
k) coisa y) tesoura
l) chipanzé w) voleibol
m) cociente
n) cumular
15) Segundo a gramática, que tipo de palavras que devem ser escritas com inicial
maiúscula?
49
CAPÍTULO 04: SEMÂNTICA: sinonímia, antonímia,
homonímia, paronímia e polissemia
“Sinônimo de amor é amar” ( Xitãozinho e Xororó)
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CAPÍTULO 04
SEMÂNTICA: sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia e polissemia
É a parte da Gramática que estuda o significado das palavras. Apesar de ter
aparecido nas nossas gramáticas normativas didáticas de forma mais intensa a partir
da década de 1960, este estudo não é novo, porque significado de palavras é algo
importantíssimo em Hermenêutica, desde a Grécia Antiga. O estudo é antigo, mas a
partir dos estudos do pai da linguística, Ferdinand Saussure (1857-1913) que deu
início a um aprofundamento estruturalista da língua, outros linguistas seguiram
estudando o sentido destas estruturas e ampliando o léxico.
No Brasil, os estudos de semântica acabaram repercutindo no grandioso trabalho
de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1910-1989) e em 1972, ele escreveu o
famoso Dicionário da Língua Portuguesa. E outros bons dicionários têm sido
elaborados desde então.
Segundo o estudioso da semântica, o dinamarquês Louis Hjemslev (1957), o
estudo da significação das palavras deve se prender à estrutura delas dentro do plano
de conteúdo e do plano da expressão, mas o norte-americano Leonard Bloomfiel
(1935) já defendia que o estudo da semântica é hermético e está além da estrutura,
pois quanto mais o sujeito conhece o significado das palavras, mais ampliado será o
léxico, isto é, o vocabulário de tal pessoa.
Segundo Hjemslev e Bloomfield, semanticamente, as palavras poderão ser:
a) Sinônimas: são aquelas palavras que embora escritas de forma diferente,
possuem os mesmos significados.
Ex.: claro / límpido / vítreo / cristalino/ transparente.
b) Antônimas : são aquelas palavras que possuem escrita diferente, mas
significados opostos.
Ex.: claro / escuro.
c) Homônimas: são aquelas palavras que possuem a mesma pronúncia, porém
significação diferente.
Ex.: assento / acento.
d) Parônimas: são aquelas palavras que possuem pronúncia parecida com a de
outra palavra, porém o significado é diferente.
Ex.: cumprimento / comprimento.
e) Polissêmicas: são aquelas palavras que possuem a pronúncia e a escrita igual,
porém, a depender da forma que estão inseridas no contexto, elas possuem
significados diferentes.
Ex.: A manga da roupa está rasgada.
Ex.: A manga da árvore de seu quintal é manga – rosa.
51
Ex.: Hoje, haverá eleições municipais na cidade de Manga.
Ex.: Ele lembrou que na manga não havia mais nenhuma cabeça de gado.
OBS.: Em sua Gramática, Celso Cunha fala algo importantíssimo sobre as palavras.
Veja o que ele disse:
As palavras homônimas, quando sempre serão homófonas, isto é, terão o mesmo
som.
Exemplo: conserto / concerto.
As palavras polissêmicas são homógrafas, isto é, possuem a mesma escrita, porém
sentidos diferentes.
Exemplo: linha ( de trem) / linha ( de costura) .
As palavras parônimas são chamadas de heterofônicas porque elas possuem sons
parecidos, mas diferentes.
Exemplo: despensa / dispensa.
ATIVIDADE
01) Analise os pares de palavras abaixo e classifique de acordo com a relação
semântica:
a) entrave / obstáculo a) emigração / imigração
b) abrir /obstruir b) eminente / iminente
c) ostracismo / progressão c) emergir / imergir
d) agregar / diminuir d) emenda / ementa
e) resoluto / decidido e) há / a
f) moral / ética f) assento / acento
g) nortear / desencontrar g) aferir / auferir
h) rebuscado / acessível
i) cela / sela h) afear / afiar
j) despensa / dispensa i) a pouco / há pouco
k) bucho / buxo j) aprender / apreender
l) insipiente / incipiente k) arroxar / arrochar
m) flagrante / fragrante l) aura / áurea
n) infligir / infringir
o) inflação / infração
p) cassar / caçar
q) sessão/ cessão/ seção
r) a fim / afim
s) por que / porque/ por quê / porquê
t) mal / mau
u) onde / aonde
v) acerca de / há cerca de
w) absolver/ absorver
x) foi-se / foice
y) endemia/ epidemia
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Autores e obras citados direta e indiretamente nos capítulos 03 e 04
CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português
Contemporâneo. Editora Nova Fronteira; 2ª edição. Rio de Janeiro; 1985. Pág. 25-76.
ILLARI, Rodolfo. Introdução à Semântica. Ed. Contexto: São Paulo; 2001.
53
CAPÍTULO 05: MORFOLOGIA: afixos, radicais,
morfemas e processos de formação de palavras.
“ Porque amar e perdoar vêm da mesma essência e raiz. Vêm das fontes eternas de
Deus” ( Ludmila Ferber)
54
CAPÍTULO 05:
MORFOLOGIA: afixos, radicais, morfemas e processos de formação de palavras
MORFOLOGIA: é a parte da Gramática que estuda a estrutura, os elementos mórficos
que compõem e formam as palavras e os vocábulos. A morfologia estuda também de
forma acurada e profunda as 10 classes de palavras.
Este estudo é bem antigo, pois desde a Grécia Antiga (por volta do século V a. C.) os
filósofos gregos se interessavam pelo estudo da forma e raiz das palavras por causa da
importância e da busca intensa deles pelo logos (filosoficamente falando, é o próprio
conhecimento e a própria verdade), mas, etimologicamente falando, logos é a palavra
em si mesma enquanto palavra destituída ou não de sentido. Na modernidade, a
morfologia recebeu um estudo mais aprofundado e riquíssimo no início da segunda
metade do século XX, na pessoa do linguista suíço, Ferdinand Saussure (1857-1913).
Ele ampliou os conceitos e as bases que hoje conhecemos sobre esta disciplina.
É preciso saber o que é palavra e o que é vocábulo
Em seu livro Manual de Morfologia Portuguesa, a autora Maria Nazareth de
Larocca, comentando a posição de Ferdinand Saussure sobre sintagma (assim foi que
Saussure chamou o radical e a palavra) e paradigma (assim foi que Saussure chamou
os afixos, os alomorfes e os vocábulos), dá a entender que palavra é toda estrutura
provida de sentido e que isoladamente é possível ser compreendida pelo falante. E
vocábulo é toda estrutura desprovida de sentido e que, isoladamente, não pode ser
compreendida pelo falante.
Os elementos mórficos
São aqueles que se unem à raiz da palavra e acabam dando origem à palavra em si.
Veja quem são eles e por que são tão importantes:
a) Radical: é também conhecido como sintagma e raiz, porque é a partir dele é que a
gente pode dar origem a uma palavra. Às vezes, ele aparece em forma de sintagma
(a raiz precisando de elementos para ser melhor entendida) e às vezes pode aparecer
em forma de palavra mesmo.
Ex.: A raiz : estud pode dar origem a várias palavras de uma mesma família.
Ex.: A raiz : menin pode dar origem a várias palavras de uma mesma família.
Ex.: A raiz: feliz pode dar origem a uma nova palavra quando acrescentamos a ela a
terminação –mente: feliz + mente = felizmente.
OBS.: Como podemos ver, no último exemplo o radical é uma palavra mesmo e não
um sintagma como nos dois exemplos acima.
PEQUENO EXERCÍCIO
1) Você poderia identificar o radical das palavras abaixo?
a) bananeira e) instituição f) precisamos
b) laranja f) palhaçada g) amanheceu
c) escolaridade g) pichação h) amadureceu
55
d) montesclarense h) aluno i) desempregado
b) As desinências: são os elementos que se ajuntam ao radical para formarem palavras
novas. As desinências de gênero, por exemplo, ajudam a formar o sexo do ser
envolvido na palavra (masculino e feminino); as desinências de número ajudam o
falante a entender se a palavra está no singular ou se está no plural.
Ex.: a palavra laranja - radical: laranj + a = laranja ( a letra a é desinência de número)
Ex.: a palavra laranjas – radical: laranj + a + s = laranjas ( a letra s é desin. de número)
Ex.: a palavra menino – radical: menin + o = menino( a letra o é desinência de gênero)
OBS.: É preciso também ter atenção às desinências verbais (só acontecem em verbos).
São chamadas desinências modo - temporais porque são responsáveis por indicar ao
falante e ao leitor o modo (indicativo, subjuntivo, imperativo) e o tempo (presente,
pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais- que- perfeito, futuro do pretérito,
futuro do presente) do verbo.
Exemplo: o verbo “estudaremos” – raiz: estud + a + re + mos ( o vocábulo re indica o
modo indicativo e o tempo futuro do presente).
c) A Vogal temática: é aquela que aparece para ligar o radical às desinências. Ela,
quando aparecer em verbos, será sempre: a, e, i , por causa das três conjugações
verbais de nossa língua: ar, er, ir.
Exemplo: a palavra laranja – raiz: laranj + a ( a letra a é vogal temática)
Exemplo: a palavra laranjas – a raiz: laranj + a + s ( a letra a é vogal temática)
OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS
Na nossa língua as palavras: ou são primitivas, ou são derivadas ou são compostas.
Existem inúmeras palavras que provêm das línguas estrangeiras e acabam se
incorporando a nossa língua materna e existem outras que existem em forma de siglas e
que fazemos uso delas, a fim de não ter que falar todo o conteúdo da sigla.
Palavras derivadas: são aquelas que passaram a existir a partir de um radical anterior
a ela, com o qual se ajunta e forma uma palavra nova. Veja os tipos de derivação:
a) Derivação por prefixação: acontece quando o prefixo (elemento mórfico que vem
antes do radical) junta-se à raiz e forma um nova palavra.
Exemplo: o prefixo in + o radical feliz = infeliz.
b) Derivação por sufixação: acontece quando o sufixo (elemento mórfico que vem
após o radical) junta-se à raiz e forma uma nova palavra.
Ex.: o sufixo mente + o radical feliz = felizmente.
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c) Derivação por prefixação e sufixação: acontece quando o sufixo e o prefixo
juntam-se ao mesmo tempo ao radical e formam uma nova palavra. Em casos
assim, o radical deve sempre aparecer em forma de palavra e não de sintagma.
Ex.: o prefixo in + o radical feliz + o sufixo mente = infelizmente.
d) Derivação parassintética: acontece quando o sufixo e o prefixo juntam-se ao
radical, ao mesmo tempo e formam uma palavra nova. Em casos assim, o radical
sempre aparece em forma de sintagma e não de palavra.
Ex.: o prefixo a + o radical podr + o sufixo ecer = apodrecer.
e) Derivação imprópria: tem este nome porque é imprópria mesmo. Nela, uma
palavra ( adjetivo, verbo, pronome, advérbio, artigo, preposição, interjeição,
conjunção, numeral) deixa de pertencer àquela classe e passa a ser substantivo.
Ex.: O verbo intervir é o verbo esquecido pelos professores e alunos.
Ex.: O cinza é a cor que lembra solidão.
f) Derivação por regressão ou regressiva: tem este nome porque nela a palavra pode
perder uma estrutura (um sufixo, um prefixo, desinência) e aí aparecerá uma
palavra nova.
Ex.: a palavra caçador = o radical caç + a vogal temática a + o sufixo dor.
Se retirarmos o sufixo dor, então teremos a palavra caça.
III - Palavras formadas pelo processo de composição
Compostas, são aquelas palavras que são formadas por dois ou mais radicais, os
quais se unem e formam novas palavras. Segundo Maria Nazareth de Larocca, o
processo de composição de palavras demonstra que nossa língua é de léxico pobre,
porque mesmo palavras que a Gramática intitula novas, são na verdade resultantes de
outros radicais.
a) Composição por justaposição: ocorre quando dois ou mais radicais se unem
para formar palavras novas, mas na junção nenhum deles sofre alteração na
nova estrutura.
Ex.: Maria-vai-com-as-outras
b) Composição por aglutinação: ocorre quando dois ou mais radicais se unem
para formar palavras novas e na junção pode ocorrer perda na estrutura.
Ex.: planalto (plano + alto = planalto).
57
OUTROS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS
Além da derivação e da composição podemos apontar também como processos de
formação de palavras: o hibridismo, a onomatopeia e a abreviação.
a) Por hibridismo: ocorre quando um elemento mórfico de origem estrangeira une-
se a outro de língua materna ou de qualquer uma outra língua e formam uma
nova palavra.
Ex.: monocultura; alcoômetro; automóvel.
b) Por onomatopeia: acontece quando dois ou mais elementos mórficos se unem
e formam uma palavra nova a qual tem por finalidade reproduzir os sons
emitidos pelos seres vivos e pelos seres inanimados.
Ex.: bem-te-vi; tique-taque
c) Por redução: são palavras que se apresentam na forma reduzida com o fim de
sintetizar e evitar a pronúncia da palavra em sua forma plena.
Ex.: auto – em vez de automóvel
Ex.: cine – em vez de cinema
Ex.: extra – em vez extraordinário
OBS.: Os gramáticos pedem para que as pessoas tenham uma atenção toda especial para
com aquelas palavras que não são 100% da nossa língua. Por isso se deve ter atenção
com palavras de radicais gregos, de prefixos gregos, de prefixos e sufixos de língua
latina e de radicais latinos. Estas últimas são muitas porque como todos já sabem, a
nossa língua é proveniente da língua latina.
Confira os principais prefixos e radicais da língua latina e da língua grega.
Prefixos Latinos
Prefixos Significados Exemplos
a-, ab-, abs afastamento abstenção, abdicar
ambi- ambiguidade, duplicidade ambivalente, ambíguo
ante- anterioridade anteontem, antepassado
aquém- do lado de cá Aquém-mar
bene-, bem- excelência, bem beneficente, benfeitor
bis-, bi- Repetição; dois bicampeão, bisavô
cis- posição, aquém de cisandino, cisalpino
dis- separação, negação dissidência, disforme
e- ,em- ,en- introdução, superposição engarrafar, empilhar
extra- posição exterior, excesso extraconjugal, extravagância
intra- posição interior intrapulmonar, intravenoso
i-, im-, in- negação, mudança ilegal, imberbe, incinerar
justa- posição ao lado justalinear, justaposição
per- movimento através de perpassar, pernoite
pos- ação posterior, em seguida pós-datar, póstumo
pre- anterioridade, superioridade pré-natal, predomínio
pro- antes, em frente, intensidade projetar, progresso, prolongar
pro- além de, mais para frente prosseguir
re- repetição, para trás recomeço, regredir
retro- movimento mais para trás retrospectivo
semi- metade, quase semicírculo
trans- posição além de transamazônica
tri três tricolor
vis , vice substituição visconte , vice-reitor
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Radicais Latinos
Radicais Significados Exemplos
aristo- melhor aristocracia
arqueo- antigo arqueologia, arqueólogo
antos- flor antologia, crisântemo, perianto
atmo- ar atmosfera
auto- mesmo, próprio autoajuda, autômato
baro- peso, pressão barômetro, barítono
biblio- livro bibliófilo, biblioteca
bio- vida biologia
caco- mau cacofonia, cacoete
cali- belo caligrafia, calígrafo
carpo- fruto pericarpo
céfalo- cabeça cefalópodos, cefaléia, acéfalo
cito- célula citoplasma, citologia
copro- fezes coprologia, coprofagia
cosmo- mundo microcosmo, cosmonauta
crono- tempo cronômetro, diacrônico
dico- em duas partes dicotomia, dicogamia
eno- vinho enologia, enólogo
entero- intestino enterite, disenteria
etno- povo étnico, etnia, etnografia
filo-, filia- amigo, amizade filósofo, filantropia
fono- som, voz fonética, disfonia
gastro- estômago gastrite, gastronomia
hemo- sangue hemorragia, hemodiálise
hidro- água hidravião, hidratação
higro- úmido higrófito, higrômetro
hipo- cavalo hipódromo, hipopótamo
-ambulo que anda noctâmbulo, sonâmbulo
-cida que mata fratricida, inseticida
-cola que habita arborícola, silvícola
-cultura que cultiva triticultura, vinicultura
-evo idade longeva, longevidade
-fero que contém ou produz mamífero, aurífero
-fico que faz ou produz benéfico, maléfico
-forme que tem a forma cordiforme, uniforme
-fugo que foge cermífugo, centrífugo
-grado grau, passo centígrado
-luquo que fala ventríloquo
-paro que produz ovíparo
-pede pé velocípede, bípede
-sono que soa uníssono
-vago que vaga noctívago
-voro que come carnívoro, herbívoro, onívoro
Radicais Gregos
Radicais
Significados Exemplos
acro alto acrópole
aero ar aeródromo
agogo que conduz pedagogo
biblio livro bibliófilo
bio vida biografia
cardio coração cardiologia
deca dez decâmetro
delo visível psicodélico
enea nove eneassílabo
entero intestino entérico
fito planta fitóide
fisis natureza fisiológico
gero velho geriatria
gimno nu gimnofobia
hialo vidro hialino
hiero sagrado hieróglifo
latria adoração idolatria
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leuco branco leucócito
melano negro melanina
mero parte isômero
nefro rim nefrite
neo novo neolatino
onico unha onicofagia
oniro sonho onírico
penta cinco pentágono
pepsis digestão dispepsia
quilo mil quilômetro
quiro mão quiromante
rino nariz rinite
rizo raiz rizotônico
scopia ato de ver datiloscopia
selene lua selenita
tafo túmulo epitáfio
xeno estrangeiro xenófobo
xero seco xerográfico
xilo madeira xilogravura
zime fermento enzima
zoo animal zoológico
Prefixos gregos
Prefixos Significados Exemplos
acro- alto acrobata
aero- ar aerodinâmica
agro- campo agrônomo, agricultura
antropo- homem antropofagia, filantropo
homo- igual homogêneo, homógrafo
idio- próprio idioma, idioblasto
macro-, megalo-
grande, longo macronúcleo, megalópole
metra- mãe, útero endométrio, metrópole
meso- meio mesóclise, mesoderme
micro- pequeno micróbio, microscópio
mono- um monarquia, monossílabo
necro- morto necrópole, necrofilia, necrópsia
nefro- rim nefrite, nefrologia
odonto- dente odontalgia, periodontista, odontologia
oftalmo- olho oftalmologia, oftalmoscópio
onto- ser, indivíduo ontologia
orto- correto ortópteros, ortodoxo, ortodontia
pneumo- pulmão pneumonia, dispnéia
ATIVIDADE
01) Faça a análise mórfica e classifique o processo de formação de palavras:
a) felizmente i) almejar
b) infelizmente j) desmoralizar
c) felicidade k) imoralidade
d) infelicidade l) festança
e) desmotivação m) rever
f) motivação o) paternidade
g) montesclarense p) inatividade
h) deslealdade r) sustentabilidade
60
02) Classifique as palavras abaixo segundo o processo de composição:
a) planalto
b) fidalgo
c) vinagre
d) pé - de-moleque
e) girassol
f) pernilongo
g) embora
h) outrora
i) televisão
j) arco-íris
k) pernalta
l) entreaberto
m) aguardente
Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo
CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português Contemporâneo. 3 ed. Nova Fronteira. Rio de
Janeiro; 1985. Pág.75-114.
LAROCA, Maria Nazareth de. Manual de Morfologia do Português. 3ª ed. Pontes. SP. 2003.
LOPES, Edward. Fundamentos da Linguística Contemporânea. 8ªed. Cultrix. SP. 1999.
61
CAPÍTULO 06: INTRODUÇÃO ÀS DEZ CLASSES
DE PALAVRAS
“Palavras apenas, palavras pequenas, palavras” ( Cássia Éller)
62
CAPÍTULO 06: INTRODUÇÃO ÀS DEZ CLASSES DE PALAVRAS
Na minha Gramática eu decidi não sobrecarregar os meus leitores com as muitas
regras (tanto as necessárias como aquelas regras que geram controvérsias entre os
gramáticos) referentes às dez classes de palavras. Tencionei aqui me demorar apenas
nas classes mais cobradas nos concursos, vestibulares e no Exame Nacional do Ensino
Médio e que representam as maiores dificuldades que são as seguintes classes: verbo,
adjetivo, pronome e advérbio. As demais, como são menos complexas, vou colocar
apenas os casos que mais geram dúvidas. Começarei com a classe que mais requer
atenção e sem a qual os principais enunciados não teriam sentido: o verbo.
Mas antes, eu gostaria de tecer algumas considerações importantes sobre as dez classes
de palavras. Veja bem o que é importante que você tenha em mente sobre elas:
Classe Possui gênero? Aceita o plural? Possui grau? A função
substantivo masc /feminino sim aumentativo/diminutivo dar nome aos seres
adjetivo masc /feminino sim comparat./ superlativo caracterizar
pronome masc/ feminino sim não substituir os nomes
verbo não possui sim não indicar ação/estado
numeral masc/feminino sim não quantificar
artigo* masc/ feminino sim não definir e indefinir
preposição* não não não ligar palavras
conjunção* não não não ligar orações
advérbio não não comparativo/superlativo modificar verbos
interjeição* não não não expressar emoções
(* ) Estas classes são vistas por bons escritores como vocábulos, já que isoladamente são desprovidas de sentido.
O SUBSTANTIVO – Algumas dificuldades
Substantivo é a palavra que dá nome aos seres. Desde as séries iniciais do Ensino
Fundamental o substantivo é apresentado ao aluno e os professores de Língua
Portuguesa têm a árdua tarefa de animá-los na identificação dos substantivos ( próprios,
comuns, sobrecomuns, epicenos, concretos, abstratos, primitivos, derivados, compostos
e coletivos) na flexão deles em masculino e feminino, em singular e plural bem como
no grau aumentativo e diminutivo. Gostaria de me deter aqui apenas nas dificuldades
que meus alunos mais encontraram na flexão dos substantivos.
Plural dos substantivos
Há alguns questionamentos relacionados com as regras que se aplicam a eles. Por
exemplo, há dificuldades no emprego do plural dos nomes. Veja algumas orientações
que a Gramática Tradicional dá para estes casos:
a) Substantivos terminados em vogal ou em ditongo formam o plural pelo
acréscimo da letra s:
Ex.: livro – livros; degrau – degraus; troféu – troféus.
63
b) Substantivos terminados pelo ditongo “ –ão” formam o plural de três
maneiras : - ões, -ães e –ãos.
Ex.: eleição – eleições; casarão – casarões; alemão – alemães; cidadão-
cidadãos;
Obs.: Alguns substantivos terminados em –ão podem apresentar mais de uma
forma para o plural.
Ex.: ancião – anciões, anciãos ou anciães
Ex.: aldeão – aldeões, aldeãos ou aldeães.
c) Quando os substantivos terminam com as letras r e z, forma-se o plural
acrescentando –es:
Ex.: açúcar – açucares; talher – talheres; xadrez – xadrezes; cruz – cruzes.
d) Substantivos terminados com a letra s, se não forem oxítonos, não vão para o
plural.
Ex.: o pires – os pires; o lápis- os lápis; o ônibus – os ônibus
Obs.: Mas se forem oxítonos, formam o plural acrescentando as letras es
Ex.: país – países; ananás – ananases; japonês – japoneses.
e) Substantivos terminados com a letra x não vão para o plural.
Ex.: o tóráx – os tórax; o ônix – os ônix
f) Substantivos terminados com as letras: al, el, ol, ul formam o plural
acrescentando-se a letra s.
Ex.: animal – animais; papel- papéis; farol – faróis; paul- pauis.
Obs.: Substantivos terminados em il, se forem oxítonos, formam o plural
trocando a letra l pela letra s.
Ex.: funil – funis; barril- barris.
Obs.: Mas se forem paroxítonos, então para formar o plural devemos fazer a
troca das letras il pelas letras eis.
Ex.: fóssil – fósseis; projétil – projéteis; réptil – répteis.
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- Plural dos nomes compostos
Formamos o plural dos substantivos de acordo com as seguintes normas:
a) Substantivo + substantivo: ambos vão para o plural.
Ex.: cirurgião-dentista/ cirurgiões dentistas
b) Substantivo + adjetivo: ambos vão para o plural
Ex.: cachorro-quente/ cachorros quentes
c) Adjetivo + substantivo: ambos vão para o plural
Ex.: curto-circuito /curtos-circuitos
d) Numeral + substantivo: ambos vão para o plural
Ex.: segunda-feira/ segundas-feiras
e) Quando a palavra for composta, mas sem hífen: irá para o plural apenas o
último elemento.
Ex.: pontapé/ pontapés; girassol/ girassóis.
f) Verbo + substantivo: apenas o último vai para o plural.
Ex.: guarda-roupa/ guarda-roupas
g) Substantivo + preposição + substantivo: apenas o primeiro vai para o plural.
Ex.: pé- de- moleque / pés de moleque.
h) Advérbio + substantivo: apenas o último elemento vai para o plural.
Ex.: sempre-viva/ sempre-vivas
i) Elementos invariáveis + substantivo: apenas o último elemento vai para o
plural.
Ex.: autoescola / autoescolas; alto-falante/ alto-falantes; abaixo-assinado/
abaixo-assinados.
j) Quando o segundo elemento é que determina o primeiro: apenas o primeiro
elemento vai para o plural.
Ex.: pombo-correio / pombos-correio; caneta-tinteiro/ canetas-tinteiro; fruta-
pão/frutas-pães.
Obs.: Bons gramáticos levam ambos para o plural.
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k) Em palavras repetidas: apenas o último elemento vai para o plural.
Ex.: tico-tico/ tico-ticos.
l) Casos especiais: merecem toda a atenção estas palavras compostas que
permanecem invariáveis.
Ex.: arco-íris/ os arco-íris; o louva-deus/ os louva-deus; o bem-te-vi/ os bem-te-
vis; o joão-ninguém/os joões-ninguém; o fora-da-lei/ os fora-da-lei; o mico-leão-
dourado/ os mico-leão-dourado.
Plural dos nomes com mudança de timbre
Certos substantivos formam o plural com mudança de timbre na vogal tônica (som
fechado ( ô ) e às vezes com o som aberto ( ó ) no chamado plural de metafonia.
Ex.: corpo ( ô ) – corpos ( ó )
Ex.: esforço ( ô ) – esforços ( ó )
Obs.: Como o plural das palavras acima, a vogal tônica ficará aberta ( ó ) nas
seguintes palavras : ovos, fogos, fornos, fossos, impostos, olhos, poços, portos, postos,
rogos e tijolos.
Obs.: Têm a vogal tônica fechada ( ô ): adornos, almoços, bolsos, esposos, estojos,
globos, gostos, polvos, soros, molho (caldo de carne) e outros.
SUBSTANTIVOS CUJOS GÊNEROS GERAM DÚVIDA
Há um tipo de substantivo denominativo de pessoas e animais que só possuem um
gênero e outros possuem os dois gêneros e por isso são chamados de comuns de dois.
a) Substantivo epiceno: designam certos animais e têm um só gênero, quer se
refiram ao macho ou à fêmea.
Ex.: cupim macho / cupim fêmea
b) Sobrecomuns: designam a pessoa e têm um só gênero, quer se refiram a homem
ou a mulher.
Ex.: criança ( menino / menina); testemunha ( homem/ mulher).
c) Comum de dois gêneros: sob uma só forma designam os indivíduos de ambos os
sexos pelo artigo que os precede.
Ex.: o colega / a colega; o cliente / a cliente.
66
d) Substantivos de gênero incerto: são aqueles que os escritores utilizam ora como
masculino e ora como femininos. Vou deixar aqui aqueles que as gramáticas já
padronizaram como sendo a pronúncia e escrita preferível:
Ex.: a acne; a aluvião; a cólera; a personagem; a íbis; a laringe; a xérox; o ágape;
o diabetes; o preá; o sabiá; o sósia; o tapa; o eclipse; o dó ( pena); o champanha;
o maracujá; o clã, o hosana; o herpes; o espécime; o suéter; o guaraná; a
dinamite; a áspide; a derme; a hélice; a cataplasma; a mascote; a pane; a gênese;
a entorse; a libido; a cal; a faringe; o grama ( peso); o diagrama; o aneurisma; o
estratagema; o eczema; o magma; o anátema; o estigma; o hematoma; o
glaucoma.
Autor e obra citado direta e indiretamente neste capítulo
CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português Contemporâneo.
3ª ed. Nova Fronteira. Rio de Janeiro; 1985. Pág.75-114.
68
CAPÍTULO 07 : O VERBO
É toda palavra que indica ação. Sobretudo ação. Dos muitos verbos que existem, a
maioria deles indica ação.
Exemplo: A gota d’água cai, tomba, despedaça e morre.
Alguns verbos não indicam ação, indicam estado e mudança de estado. São chamados
de verbos de ligação porque sua função é ligar o sujeito com o predicativo (que é a
palavra e também expressão que aparece depois do verbo de ligação e caracteriza o
sujeito). Os verbos de ligação são apenas dois: ser e estar.
Exemplos: Água da Copasa é saúde.
A água da Copasa está purificada.
OBS.: Apesar de a Gramática considerar os verbos ser e estar como sendo verbos de
ligação, ela diz que todo e qualquer outro verbo que tiver o mesmo sentido de ser e
estar também são verbos de ligação.
Exemplos: As crianças viraram o barco e ele afundou na piscina.
As crianças viraram umas feras quando as coloquei de castigo.
Note que no primeiro caso, o verbo virar indica uma ação e, portanto, é verbo de ação.
No segundo caso é verbo de ligação porque indica estado e mudança de estado e tem
o mesmo sentido do verbo ser.
Alguns verbos indicam ações praticadas pela natureza. São os verbos de fenômeno da
natureza. Ex.: Chove, venta, troveja e relampeja.
Razões fundamentais por que os verbos existem
a) Para apontar o sujeito e o objeto das orações, pois a estrutura canônica da
maioria das orações é composta por estes três elementos: sujeito, verbo e objeto
(S +V+O). Para encontrar o sujeito, é necessário questionar ao verbo;
b) Para distinguir frase e oração. Frase é todo enunciado que não precisa de verbo
para ser entendido, mas oração precisa de verbo porque cada verbo é uma
oração.
OS SUJEITOS E OS PREDICADOS
SUJEITO: é o ser de quem o verbo diz alguma coisa. Na oração ele e o objeto são
essenciais. Vejam os cinco tipos:
a) Sujeito Simples: é aquele que o verbo aponta apenas um elemento ( na essência
e não na quantidade) praticando a ação e também passando pelo estado e
mudança de estado, quando for verbo de ligação.
Ex.: O concurso está mais perto que longe.
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Ex.: Os vestibulares deterioram neurônios.
b) Sujeito Composto: é aquele que aponta mais de um elemento que pratica a
ação e que também pode passar pelo estado e mudança de estado expresso pelos verbos
de ligação. Ex.: Os concursos, os vestibulares e o ENEM deterioram os neurônios.
c) Sujeito Oculto: é aquele que se esconde atrás do verbo, mas existe e pode ser
encontrado se perguntar ao verbo.
Exemplo: Vim, vi e venci.
c) Sujeito Indeterminado: é aquele que a pessoa que escreve a oração não quer
identificar, mas existe e quando se pergunta por ele ao verbo, o verbo responde:
alguém.
Ex.: Precisa-se de encanadores.
Ex.: Atropelaram uma pessoa na Rua da Felicidade.
c) Sujeito Inexistente: é aquele que não existe porque o verbo não pode apontar. É
o caso dos verbos de fenômeno da natureza e do verbo haver ( no sentido de
existir) e dos verbos chega de e basta de.
Exemplos: Há pessoas na fila do PSIU.
Chove pouco no Norte de Minas.
Chega de trabalho por hoje.
Basta de corrupção.
OBS.: Já é de lei na Gramática: estas palavras podem ser sujeito: substantivo, adjetivo,
verbo, numeral, pronome e artigo, mas estas palavras não podem ser sujeito:
advérbio, conjunção, preposição e interjeição.
O PREDICADO: é o restante da oração, quando se tira fora o sujeito. Existem três
tipos de predicados:
a) PV- Predicado Verbal: é toda oração que só possui verbo de ação.
Ex.: Os livros não só instruem, mas também divertem.
b) PN- Predicado Nominal: é toda oração que só possui verbo de ligação.
Ex.: As árvores são o pulmão do mundo.
c) PVN- Predicado Verbo-Nominal: é toda oração que possui verbo de ação e
verbo de ligação ao mesmo tempo.
Ex.: Os alunos fizeram a prova, mas estavam ansiosos pelo resultado.
OBS.: Deve-se ter cuidado com o predicado verbo-nominal porque, às vezes,
nele o verbo de ligação costuma a não aparecer explicitamente. Em casos assim,
ache o predicativo do sujeito e aí facilmente se identificará o verbo de ligação
que estiver escondido.
70
Ex.: O soldado voltou da guerra ferido.
AS FORMAS NOMINAIS DO VERBO: particípio, gerúndio e infinitivo
O PARTICÍPIO: o particípio não é verbo, é uma forma que o verbo assume. No caso,
a forma de adjetivo ( palavra que caracteriza o substantivo)
Ex.: A aula estava terminada.
Para muitos, a palavra terminada é um verbo e, às vezes, alguns gramáticos admitem
isso, por exemplo, há gramáticas que por razões lógicas classificam o particípio como
sendo verbo principal, mas ele é na realidade um adjetivo “fantasiado” de verbo.
Ex.: O livro tinha sumido da prateleira.
Formar o particípio é simples: basta acrescentar à raiz do verbo as seguintes
terminações: ado e ido. Verbos terminados em ar ficam com a terminação ado em
seus particípios e verbos terminados em er e ir ficam com a terminação ido em seus
particípios.
Ex.: o verbo estudar- a raiz: estud + ado = estudado
Ex.: o verbo aprender- a raiz: aprend + ido = aprendido
Ex.: o verbo existir- a raiz: exist + ido = existido
Alguns gramáticos aconselham a formar o particípio também com a ajuda do verbo
auxiliar tinha. Ex.: do verbo estudar = tinha estudado.
OBS.: Mas nem todos os verbos aceitam a terminação ado e ido em seus particípios.
Ex.: o verbo escrever = tinha escrito.
Veja em sua gramática a lista dos demais verbos que não aceitam ado e ido.
OBS.: Quando um verbo assume a forma de advérbio, ele deixa de ser verbo e se
transforma em gerúndio. Então se acrescenta à raiz do verbo a terminação ndo.
Ex.: o gerúndio do verbo estudar = estudando.
Quando um verbo assume a forma de substantivo, ele deixa de ser verbo e se
transforma em infinitivo. No infinitivo, acrescentamos à raiz do verbo as terminações:
ar, er , ir as quais formam as três conjugações verbais da Língua Portuguesa.
Ex.: cantar, vender, partir.
AS VOZES DOS VERBOS: os verbos possuem vozes para indicar para nós que
lemos se o sujeito: pratica a ação, se sofre a ação ou se pratica a ação ao mesmo tempo
que a sofre. Veja:
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a) a voz ativa: nela o sujeito faz a ação. Nesta voz, a estrutura S+V+O aparece na
ordem perfeita. Ex.: A Bíblia ensina os dez mandamentos.
b) a voz passiva: nela o sujeito sofre a ação. Ocorre na verdade uma inversão:
quem era sujeito na voz ativa, vira objeto - agente (porque continua agindo) na
voz passiva e quem era objeto na ativa, vira sujeito na passiva. Por toda esta
análise, chama-se a esta voz, voz passiva analítica.
Ex.: Os dez mandamentos são ensinados pela Bíblia.
A voz analítica é formada assim: sujeito + verbo de ligação + particípio do verbo
de ação lá da voz ativa + agente da passiva.
OBS.: Existe a voz passiva sintética, isto é, resumida. Ela é formada assim:
verbo + partícula se + sujeito.
Ex.: Alugam-se apartamentos.
OBS.: Que ninguém nunca esqueça isso: quando vier o verbo + partícula se,
então a próxima palavra ou expressão, seja do tamanho que for, será o sujeito.
Mas quando vier verbo + partícula se + preposição, então a próxima palavra
que vier à frente não será sujeito, será objeto. Veja a diferença drástica:
Ex.: Precisa-se de encanadores.
Ex.: Sabe-se que nem tudo são flores.
c) a voz reflexiva: é aquela em que o sujeito faz e sofre a ação ao mesmo tempo.
Ex.: A aluna perdeu-se em meio à leitura.
REGÊNCIA VERBAL
Regência é o nome que a Gramática dá ao ato de a gente questionar se um verbo precisa
ou não de complemento (em algumas gramáticas é chamado de objeto). A estrutura canônica
das orações é sempre a mesma: S + V + O. Para sabermos o sujeito, devemos perguntar ao
verbo: “quem?” e para sabermos o objeto, devemos perguntar ao verbo: “o quê?” Por isso
devemos ter em casa sempre o dicionário e também o dicionário de Regência (nele está a
regência de todos os verbos). Os bons dicionários atuais já trazem a regência dos verbos diante
deles com as siglas: v.t.d.(verbo transitivo direto), v.t.i.(verbo transitivo indireto) e v.i. ( verbo
intransitivo). Lembre-se: o regente é o verbo e o regido é o objeto.
1.2- Por que é importante saber.
Sempre que alguém vai escrever um texto, se tal pessoa não souber quando se deve, ou quando
não se deve colocar preposição diante de um verbo, então a Gramática diz que o texto possui
problemas na regência.
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1.4- Como os verbos são quanto à regência
a) Verbo intransitivo (v. intr.): é todo aquele que verbo que não precisa de complemento,
isto é, não levanta a pergunta: “o quê?” porque em si, ele já é completo.
Ex.: A plantinha morreu.
OBS.: A pergunta pelo objeto é sempre a mesma: “o quê?”. Perguntas do tipo: “
COMO?, ONDE? / QUANDO? e POR QUÊ? não são perguntas por objetos e sim por
advérbios. E a Gramática deixa bem claro que advérbio não pode ser sujeito e nem
objeto.
b) Verbo Transitivo direto (v.t.d.): é todo aquele verbo que precisa de objeto e sempre
levanta a pergunta: “o quê?”. Como o contato entre ele e o objeto é direto, por isso a
Gramática chama de verbo transitivo direto.
Ex.: Os alunos fizeram as provas.
c) Verbo Transitivo Indireto (v.t.i.): é todo aquele verbo que precisa de objeto e sempre
levanta a pergunta: “o quê?”, porém o contato entre ele e o objeto não é direto, porque
entre eles aparece uma preposição obrigatória.
Ex.: Os alunos não gostaram de duas questões da prova.
OBS.: As preposições essenciais são: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em,
entre, para, por, perante, sem, sob, sobre, trás.
d) Verbos transitivos diretos e indiretos ou bitransitivos: são aqueles que pedem ao mesmo
tempo objeto direto e objeto indireto.
Ex.: O aluno deu um livro para seu colega.
Ex.: Prefiro uma filha analfabeta a uma filha doida.
Obs.: Complemento Nominal não é o mesmo que objeto indireto porque no caso do objeto
indireto, quem pede o complemento é um verbo transitivo indireto. O complemento nominal,
ao contrário, é um nome ( substantivo, adjetivo, advérbio) que reclama o complemento e para
se ligar a ele necessita da preposição obrigatória.
Ex.: Tenho confiança em você.
Ex.: O fumo é prejudicial à saúde.
Obs.: Tampouco se deve confundir o adjunto adnominal com o complemento nominal, porque
como o próprio nome já indica, o adjunto adnominal é a palavra que fica próxima ao nome
(substantivo) ou que se refere diretamente a ele para que ele não seja confundido com qualquer
outro nome.
Ex.: Dolly guaraná o sabor brasileiro. ( propaganda Dolly Guaraná)
Veja nos exemplos acima que as palavras Dolly, o artigo definido “o” e o adjetivo “brasileiro”
se referem diretamente aos substantivos guaraná e sabor.
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Os alunos geralmente reclamam que a confusão entre adjunto adnominal e complemento
nominal geralmente acontece por culpa das preposições que podem aparecer tanto em um
quanto em outro. Quando houver uma preposição, aí vocês devem simplesmente ver se têm
sentido ativo ( o sujeito faz a ação) ou sentido passivo ( sujeito sofre a ação)
Ex.: A resposta do aluno foi satisfatória. [ o aluno deu a resposta. Sujeito ativo = a palavra
“aluno” é adjunto adnominal]
Ex.: A resposta ao aluno foi satisfatória. [ o aluno recebeu a resposta. Sujeito passivo = a
palavra “aluno” é complemento nominal]
Entendam: O complemento nominal representa o alvo da ação expressa por um nome que
reclama complemento regido de preposição obrigatória.
Ex.: a eleição do presidente, aviso de perigo, declaração de guerra, empréstimo de
dinheiro, plantio de árvores, descoberta de petróleo, amor ao próximo.
Já o adjunto adnominal é formado por uma locução adjetiva e representa o agente da ação, a
origem, a pertença e a característica de algo ou de alguém.
Ex.: o discurso do presidente, aviso de amigo, empréstimo do banco, presente de rei, farinha
de trigo...
OBS.: Preposição os escritores colocam onde querem
Por isso mesmo é que quando a gente for procurar a regência de um verbo, devemos:
perguntar ao verbo se ele pede preposição ou não, consultar o dicionário de regência e a
Gramática para ver se realmente aquele verbo pede ou não a preposição e, em último caso,
tentar tirar a preposição e ver se a oração sem ela teria sentido ou não.
Veja, por exemplo, as orações abaixo:
Ex.: Os romanos adoravam a Júpiter.
Ex.: Judas traiu a Cristo.
Nestes dois casos, a Gramática diz que o verbo trair é V.T.D., portanto não precisam de
preposição obrigatória. A preposição foi posta somente por realce. A este tipo de objeto direto
dá-se o nome de objeto direto preposicionado.
1.6 - Alguns verbos que possuem dupla regência e com os quais se deve ter atenção:
a) Assistir
Toda vez que ele aparecer significando ver, presenciar, ele será VTI:
Ex.: Ela assiste a toda a programação.
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Toda vez que significar: dar assistência, então ele será VTD.
Ex.: O enfermeiro assiste o doente.
b) Aspirar: toda vez que aparecer significando cheirar, ele será VTD:
Ex.: Nós aspiramos o ar puro das colinas.
Toda vez que aparecer com significado de almejar ou desejar, então será VTI:
Ex.: O povo aspira a um mundo de paz.
Atenção: Outros verbos muito conhecidos no nosso dia a dia e que admitem dupla regência são
os seguintes: esquecer / lembrar / pagar/ perdoar / querer e outros.
EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
1) O que é verbo? Quantos verbos existem na Gramática e no Dicionário da Língua
Portuguesa?
2) Explique as duas razões principais por que os verbos existem.
3) Qual é a estrutura canônica das orações?
4) Circule os verbos que aparecem nos enunciados abaixo e diga se indicam ação,
estado e mudança de estado ou se indicam fenômeno da natureza:
a) A lua ia grande e bela. ( Eça de Queiroz)
b) As plantas purificam o ar.
c) O alto ipê cobre-se de flores amarelas.
d) Devagar se vai ao longe.
e) A mulher trovejava reclamações
f) Tu e outros velhacos de tua laia lhe estorroaram na cara lixo e terra.
g) Quem mais nada é quem mais se afoga.
h) Choviam pétalas de rosas.
i) Às vezes passam-se anos sem que ninguém passe por aqui.
j) Nas férias, permaneço no escritório.
k) Nas férias, permaneço doente.
5) Circule os verbos e enumere corretamente de acordo com os tipos de sujeitos
entre parênteses:
( S.S) Sujeito Simples ( S.O) Sujeito Oculto
( S.C) Sujeito Composto ( S.Inx) Sujeito Inexistente
( S.I ) Sujeito Indeterminado
( ) Era uma vez quarenta burros.
( ) Ao bom entendedor meia palavra basta.
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( ) Basta de tanta roubalheira na Petrobrás.
( ) Cada um puxa brasa para sua sardinha.
( ) Toda pessoa que mente, rouba.
( ) Não te faça de valentão com o vinho, porque ele arruinou a muita gente.
( ) Houve guerra no Céu.
( ) O livro de papel e o computador se complementam.
( ) Quem é você?
( ) Que é isso, companheiro?
( ) Quebraram a vidraça.
( ) Alguém quebrou a vidraça.
( ) Hoje são oito de janeiro de 2015
( ) Achar-se-ão novas técnicas
( ) É proibido fumar neste recinto.
06) Substitua o verbo ter [ cujo único sentido na Gramática é possuir] pelo verbo correto
haver [ no sentido de existir] conforme a Norma Culta:
a) Lá em casa têm dezoito pés de acerola.
b) Tiveram ótimos alunos neste colégio.
c) Devem ter políticos honestos.
d) Tem anos que eu não vejo aquele povo.
e) Bati à porta do banheiro, mas alguém respondeu de dentro: “ Tem gente!”
f) Não tem nada a ver – disse o garoto.
g) Chegou à padaria e questionou ao padeiro: “ Tem pão?”
h) “ Meu bem, não tem ninguém que me faz conhecer o mundo e fantasias. Você e
eu e ninguém mais vive o amor que é pura magia” ( João Neto e Frederico)
07) Analise os enunciados abaixo grife os verbos e classifique os predicados de acordo
com a Gramática conforme aparecem entre parênteses:
( PV) Predicado Verbal ( PN) Predicado Nominal ( PVN) Predicado Verbo-
nominal
( ) As árvores purificam o ar.
( ) Os livros não só ensinam, mas também divertem.
( ) Você deita, mas o sono se levanta.
( ) Você está na sombra do olhar.
( ) Inesquecível é você.
( ) Os alunos fizeram a prova aflitos.
( ) Quem fala o que quer, escuta o que não quer.
( ) Nas aulas de direção ela ficou nervosa.
( ) Nas aulas de direção ela ficou sentada dentro do carro parado.
( ) Chove pouco em Montes Claros.
( ) Não era eu, não era eu.
( ) Eu acho Carla bonita.
( ) O garoto despediu-se do pai inconformado.
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08) Passe para a voz passiva analítica, quando for possível:
a) Digitam-se trabalhos escolares. ..........................................................................
b) Constrói-se muito em Brasília. ............................................................................
c) Enganar-me-ão. .......................................................................................................
d) Precisa-se de datilógrafos. ...................................................................................
e) Antecipam-se as datas .........................................................................................
f) Fala-se muito em paz ...........................................................................................
09) Dê o particípio correto, de acordo com a Gramática:
Exemplo - de pedir: pedido
a) de fazer k) de ver
b) de trazer l) de ter
c) de escrever m) de querer
d) de ler n) de vir
e) de dizer o) de caber
f) de ganhar p) de estacionar
g) de gastar r) de pôr
h) de pagar s) de pegar
i) de morrer
j) de haver
10) Faça a conjugação dos verbo abaixo nos seguintes modos e tempos:
Verbo ser no presente do indicativo Verbo ser no pretérito + q. perfeito
Eu Eu
Tu Tu
Ele Ele
Nós Nós
Vós Vós
Eles Eles
Verbo ser no pretérito perfeito Verbo ser futuro do pretérito
Eu Eu
Tu Tu
Ele Ele
Nós Nós
Vós Vós
Eles Eles
Verbo ser no pretérito imperfeito Verbo ser futuro do presente
Eu Eu
Tu Tu
Ele Ele
Nós Nós
Vós Vós
Eles Eles
Verbo intervir no pres. do subj. Verbo intervir pret. imperf. Subj.
Que eu Se eu
Que tu Se tu
Que ele Se ele
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Que nós Se nós
Que vós Se vós
Que eles Se eles
Verbo intervir no fut. pres. subjuntivo Verbo ver no fut. pres. subjuntivo
Eu Eu
Tu Tu
Ele Ele
Nós Nós
Vós Vós
Eles Eles
Verbo vir no fut. presente do subjuntivo
Eu
Tu
Ele
Nós
Vós
Eles
11) Circule o regente (verbo) e dê a função sintática do regido (objeto):
a) Os romanos adoravam a Júpiter.
b) A Guerra do Golfo foi como assistir a um filme.
c) Esquecemos tudo
d) Esquecemo-nos de tudo.
e) Lembrei sua formatura.
f) Lembrei-me de sua formatura
g) Sempre cumpro com meu dever
h) Jamais aquele povo beberá de meu vinho.
i) Alfredinho aspirou a gasolina.
j) Alfredinho aspirou à gasolina
k) O motorista exemplar nunca desobedece à legislação.
l) Precisa-se de duas empregadas domésticas com experiência.
m) Alugam-se apartamentos.
12) Enumere as funções da partícula que de acordo com as regras gramaticais:
( 8 ) sujeito ( 3 ) predicativo ( 2 ) adjunto adverbial
( 7 ) objeto direto ( 1 ) adjunto adnominal ( 6 ) agente da passiva
( 5 ) objeto indireto ( 4 ) complemento nominal
( ) Quero ver do alto que sempre foge de mim.
( ) Já não se lembra de mais da picardia que me fez.
( ) Eu aguardava com uma ansiedade medonha esta enchente de que tanto me falava.
( ) Não conheço quem fui eu no que sou hoje.
( ) Há clientes que a própria presença já desprestigia o ambiente.
( ) Não me dediquei ao estudo com a força de que era capaz.
( ) Entrava-se de barco pelo corredor da velha casa em que eu morava.
( ) Sua adorável pupila a quem amo e por que sou correspondido.
78
A CONCORDÂNCIA VERBAL
Como professor de gramática da língua portuguesa eu não vou aqui de forma alguma
sobrecarregar os meus leitores com aquele excesso de regras infindas sobre
concordância verbal as quais os gramáticos não chegaram a um consenso. Vou optar por
manter aqui as regras principais e as situações que os falantes e escritores mais
encontram dificuldade no tocante a esta parte da gramática.
Regra Geral: o verbo concorda em número e pessoa com o sujeito a que se refere,
venha ele claro ou subentendido.
Ex.: A paisagem ficou espiritualizada.
Ex.: Tinha adquirido uma alma e uma nova poesia.
Ex.: Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estrada.
Ex.: Vieste de um país que não conheço.
Quando vem com mais de um sujeito: em casos assim a concordância deverá ser no
plural com ambos os sujeitos.
Ex.: O trator e o caminhão saíram da estrada.
Quando vem com mais de um sujeito e o verbo vem antes: em casos assim a
concordância deve ser feita no plural ou então concordar no singular com o sujeito mais
próximo.
Ex.: Saíram da estrada o trator e o caminhão.
Ex.: Saiu da estrada o trator e o caminhão.
Quando os sujeitos são vários pronomes pessoais do caso reto diferentes: em casos
assim, o verbo concorda com o pronome reto mais baixo da sequência.
Ex.: Eu, tu e ele saímos.
Ex.: Tu e ele saístes.
Concordância dos verbos impessoais
A Gramática chama de verbo impessoal aquele verbo que não possui sujeito com quem
concordar. É o caso dos seguintes verbos:
a) O verbo haver ( no sentido de existir): este verbo não possui sujeito com quem
concordar, portanto deve permanecer no singular.
Ex.: Há doze pés de acerola no quintal de casa.
Ex.: Houve bons motivos para as reprovações.
Ex.: Havia centenas de desempregados na fila do benefício.
Ex.: Haverá pessoas descontentes sempre.
Obs.: Mesmo se houver um verbo auxiliar, ainda assim a concordância deve ser
no singular.
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Ex.: Deve haver políticos honestos.
Ex.: Devia haver pessoas descontentes.
b) O verbo fazer ( no sentido de tempo decorrido): este verbo não possui sujeito
com quem concordar em casos assim e por isso deve ficar no singular mesmo:
Ex.: Faz meses que aquele povo não dá sinal de vida.
Ex.: Fazia duas semanas que o pai dela falecera.
Obs.: Mesmo com verbo auxiliar, ainda assim não irá para o plural:
Ex.: Devia fazer duas semanas que o pai dela falecera.
Ex.: Deve fazer meses que aquele povo não dá sinal de vida.
c) Os verbos que indicam fenômeno da natureza, os verbos “chega de” e “basta
de” não possuem sujeito com quem concordar e, portanto, o verbo deve ficar no
singular:
Ex.: Choveu vários dias em Montes Claros no último janeiro.
Ex.: Chega das corrupções na Petrobrás e nas empreiteiras.
Ex.: Basta de tantas mortes de inocentes em operações na Rocinha.
A Concordância de verbos que possuem a partícula apassivadora se
Em casos assim deve se examinar se a estrutura é formada assim: verbo + partícula
se + sujeito. Se for, o verbo concorda com o sujeito.
Ex.: Alugam-se apartamentos.
Ex.: Vendeu-se um cão da raça poodle.
Obs.: Mas se a estrutura é formada assim: verbo + partícula se + preposição +
objeto indireto, logo não existe sujeito com quem concordar e por isso o verbo deverá
ficar no singular mesmo, porque não se tratará de partícula apassivadora e sim de índice
de indeterminação do sujeito.
Ex.: Precisa-se de digitadores de trabalhos acadêmicos.
Ex.: Tratava-se de assuntos sérios.
A concordância do verbo ser
Este verbo possui uma concordância particularíssima já que concorda ora com o sujeito,
ora com o predicativo. Vai depender do contexto. Veja bem:
a) Quando o sujeito é o pronome interrogativo quem e que: em casos assim a
concordância deve ser feita com o predicativo.
Ex.: Que são células?
Ex.: Quem foram os responsáveis.
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b) Quando indica tempo, data, hora ou distância concorda com o primeiro numeral
que aparecer depois dele:
Ex.: É uma hora e trinta minutos.
Ex.: São duas horas e um minuto.
Ex.: É meio dia e meia.
Ex.: Hoje são 12 de março.
Ex.: Daqui lá são 400 quilômetros.
c) Quando o sujeito do verbo for um pronome indefinido e quando o predicativo
for um pronome pessoal do caso reto, a concordância deve ser feita com o
predicativo:
Ex.: Tudo são flores.
Ex.: Isso são lembranças de um triste passado.
Ex.: Os responsáveis somos nós.
Ex.: O professor sou eu.
NOTA EXPLICATIVA: as regras exaustivas de concordância verbal quando o
sujeito é um numeral que indica porcentagem ( Ex.: 1% se absteve de votar); quando
aparecem os sujeitos “A maior parte de”, “Grande parte de”, “ A maioria dos”;
Quando aparecem sujeitos unidos pela conjunção ou e o elemento de coesão nem;
Quando aparecem sujeitos unidos pela preposição com. Decidi não inseri-los aqui na
minha Gramática, porque os gramáticos não chegaram a um consenso se nestes casos o
verbo concorda no singular ou no plural. Não achei necessário lançar sobre meus alunos
regras que causam estranheza e que ainda são frutos de discordâncias entre os
gramáticos. Deixo a critério de cada um
Exercício de Aprofundamento
01) Efetue a concordância de acordo com a gramática nos seguintes enunciados que
estão na linguagem coloquial:
a) Deviam haver casos sem solução.
b) Naquela época haviam muitos poemas.
c) Tratavam-se de questões fundamentais.
d) Minas Gerais são um belo estado.
e) Dá-se aulas gratuitamente.
f) Vossa Senhoria, senhor ministro, sereis recebido com grande entusiasmo pela
população.
g) Naquele dia faltou cinco alunos.
h) Basta quatro pessoas para fazer o trabalho.
i) Ainda resta quarenta tijolos.
j) Fazem anos que não estudo mais.
81
O emprego dos modos e dos tempos verbais
Ao contrário do que se imagina não são bichos de sete cabeças. Para efetuar a
conjugação dos verbos nos modos, nos tempos e com as devidas pessoas deve-se
pegar uma folha de papel e um lápis e proceder, levando em conta as seguintes
normas, prescrições e descrições da Gramática:
a) O modo indicativo: é aquele que a ação do verbo ou o estado e mudança de
estado indicado por ele evidencia que o fato é certo e se concretizou. O
indicativo é o modo verbal que mais possui tempos e por isso requer uma maior
atenção. Seus tempos são: o presente, o pretérito perfeito, o pretérito imperfeito,
o pretérito mais que perfeito, o futuro do pretérito e o futuro do presente.
Confira a tabela:
Presente (agora) Pretérito
perfeito(ação
passada e consumada)
ste;
Pretérito
imperfeito (ação
passada e não-consumada)
Pretérito +que
perfeito (ação
que antes que acontecesse,
acontecera)
Futuro do
Pretérito (ação
que deveria ter ocorrido)
Futuro do
presente (ação
que deverá ocorrer)
eu
tu
ele
nós
vós
eles
b) O modo subjuntivo: é aquele que a ação do verbo ou o estado e mudança de
estado indicado por ele evidencia que o fato é incerto e hipotético. O modo
subjuntivo só possui três tempos: o presente, o pretérito imperfeito e o futuro.
Mas para conjugar verbos neste modo é preciso o auxílio das partículas no ato
da conjugação. Veja a tabela:
Presente Pretérito imperfeito Futuro
partícula part. part.
que eu se eu quando
que tu se tu quando
que ele se ele quando
que nós se nós quando
que vós se vós quando
que eles se eles quando
c) O modo imperativo: é aquele que a ação do verbo ou o estado e mudança de
estado indicado por ele evidencia uma ordem, comando, um pedido, uma
solicitação ou uma tentativa de persuasão. Na hora de conjugar apresenta a
forma afirmativa e a forma negativa. Como o imperativo é dirigido à pessoa com
quem se fala( 2ª pessoa : tu e vós), para conjugá-lo, basta fazer a conjugação
normal no presente do indicativo e retirar a letra s da segunda pessoa do singular
e do plural e assim teremos o imperativo. O restante das conjugações deve vir do
presente do subjuntivo. Veja a tabela abaixo:
82
Presente do indicativo Imperativo Subjuntivo
Eu compro compre eu que eu compre
Tu compras compra tu que tu compres
Ele compra compre ele que ele compre
Nós compramos compremos nós que nós compremos
Vós comprais comprai vós que vós compreis
Eles compram comprem eles que eles comprem
Observação: existem verbos que não conjugam com certas pessoas, por
exemplo, com a primeira pessoa do singular no presente do indicativo (eu),
como os seguintes verbos: abolir, colorir, exaurir, reaver, delinquir,
computar, explodir, carpir, demolir, latir, miar, cacarejar e alguns outros
listados pelos gramáticos. Tais verbos são chamados de verbos defectivos.
Atenção: todos os verbos terminados em ear, ao ser conjugados na primeira
pessoa do singular do presente do indicativo deverão receber a terminação eio. E
todos os verbos terminados em iar, ao ser conjugados na primeira pessoa do
singular do presente do indicativo deverão receber a terminação io.
Ex.: bloquear – eu bloqueio
Ex.: ampliar – eu amplio
Exceções: são os verbos mediar, remediar, ansiar e odiar. Ou seja, mesmo
terminados em iar, eles devem receber a terminação eio, no momento de
conjugá-los na 1ª pessoa do singular no presente do indicativo.
Obs.: Todos os verbos que no ato da conjugação conservam o mesmo radical
são chamados de verbos regulares ( por exemplo, o verbo estudar. Nele, a raiz
estud aparece em todas as conjugações). Quando no ato da conjugação o verbo
sofre alteração no radical, então a Gramática dá a eles o nome de verbos
irregulares ( por exemplo, o verbo pedir. Nele, o radical desaparece e fica
assim: eu peço, tu pedes, ele pede, nós pedimos, vós pedis, eles pedem).
Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo
CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português Contemporâneo.
Editora Nova Fronteira; 2ª edição. Rio de Janeiro; 1985. Pp. 425-471.
Kury, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. Editora Ática; Rio de Janeiro:
2000.
83
CAPÍTULO 07: OS ADJETIVOS
“ Meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro e meu tataravô
baiano” ( Chico Buarque)
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CAPÍTULO 07: OS ADJETIVOS
Adjetivo: é toda palavra que flexiona em gênero, número e grau e que serve para
caracterizar os seres, atribuindo-lhes qualidade, defeito, estado e modo de ser.
Ex.: O alto ipê cobre-se de flores amarelas.
No enunciado acima veja que os substantivos ipê e o substantivo flores estão sendo
caracterizados pelo adjetivo alto e o adjetivo amarelas. É importante ter em mente que
os adjetivos na Gramática têm a função de determinantes e os substantivos têm a
função de determinados.
Adjetivos pátrios: são adjetivos que se referem a cidades, estados, países, regiões ou
continentes, indicando a nacionalidade ou a origem do ser. Eu não vou listar todos aqui,
mas o farei principalmente com os estados e capitais do Brasil. Leiam:
Adjetivos pátrios dos estados brasileiros
Acre – acreano
Alagoas – alagoano ou alagoense
Amapá – amapaense
Amazonas – amazonense
Bahia – baiano ou baiense
Ceará – cearense
Distrito Federal – brasiliense
Espírito Santo – espírito-santense ou capixaba
Goiás – goiano
Maranhão – maranhense ou maranhão
Mato Grosso – mato-grossense
Mato Grosso do Sul – mato-grossense-do-sul ou sul-mato-grossense
Minas Gerais – mineiro ou geralista
Pará – paraense
Paraíba – paraibano
Paraná – paranaense, paranista ou tingui
Pernambuco – pernambucano
Piauí – piauiense
Rio de Janeiro – fluminense
Rio Grande do Norte – rio-grandense-do-norte, norte-rio-grandense ou potiguar
Rio Grande do Sul – rio-grandense-do-sul, sul-rio-grandense ou gaúcho
Rondônia – rondoniense ou rondoniano
Roraima – roraimense
Santa Catarina – catarinense
São Paulo – paulista ou bandeirante
Sergipe – sergipano ou sergipense
Tocantins – tocantinense
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Adjetivos pátrios das capitais brasileiras
Aracaju (Sergipe) – aracajuano ou aracajuense
Belém (Pará) – belenense
Belo Horizonte (Minas Gerais) – belo-horizontino
Boa Vista (Roraima) – boa-vistense
Brasília (Distrito Federal) – brasiliense ou candango
Campo Grande (Mato Grosso do Sul) – campo-grandense
Cuiabá (Mato Grosso) – cuiabano
Curitiba (Paraná) – curitibano
Florianópolis (Santa Catarina) – florianopolitano
Fortaleza (Ceará) – fortalezense
Goiânia (Goiás) – goianiense
João Pessoa (Paraíba) – pessoense
Macapá (Amapá) – macapaense
Maceió (Alagoas) – maceioense
Manaus (Amazonas) – manauense
Natal (Rio Grande do Norte) – natalense ou papa-jerimum
Palmas (Tocantins) – palmense
Porto Alegre (Rio Grande do Sul) – porto-alegrense
Porto Velho (Rondônia) – porto-velhense
Recife (Pernambuco) – recifense
Rio Branco (Acre) – rio-branquense
Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) – carioca
Salvador (Bahia) – soteropolitano ou salvadorense
São Luís (Maranhão) – são-luisense ou ludovicense
São Paulo (São Paulo) – paulistano
Teresina (Piauí) – teresinense
Vitória (Espírito Santo) – vitoriense
O Gênero dos adjetivos
Eles podem flexionar em masculino e feminino e admitem as seguintes formas:
a) Uniforme: quando apresenta uma única forma para ambos os gêneros:
Ex.: aluno inteligente / aluna inteligente
b) Biforme: quando apresenta a forma masculina e feminina
Ex.: aluno simpático / aluna simpática
86
CONCORDÂNCIA DOS ADJETIVOS – Concordância Nominal
Regra Geral: O adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo a que se
refere.
Ex.: Os arreios e as bagagens estavam espalhados no chão.
a) Quando aparecer depois de dois ou mais substantivos de gêneros diferentes:
em casos assim o adjetivo concorda no masculino plural.
Ex.: As árvores do meu quintal estavam permeadas de caquis e mangas
maduros.
Obs.: Alguns bons gramáticos aconselham a concordância com o mais próximo.
b) Quando aparecer antes de dois ou mais substantivos: em casos assim, ele
concordará com o substantivo mais próximo.
Ex.: Tiveste má ideia e pensamento.
Ex.: Tiveste mau pensamento e ideia.
c) Quando se refere a um pronome de tratamento: o adjetivo concordará com o
gênero da pessoa representada no pronome.
Ex.: Vossa Majestade está preocupado. ( o rei).
Ex.: Vossa Majestade está preocupada. ( a rainha)
d) Os adjetivos meio, bastante, caro e barato concordam em gênero e número
com o substantivo a que se referem.
Ex.: Era meio dia e meia.
Ex.: Tomou meia garrafa de vinho depois de tomar meio litro de leite.
Ex.: Bastantes pessoas foram recepcionar os alunos.
Ex.: As mercadorias eram caras
Obs.: se as palavras meio, bastante, caro e barato forem advérbios, é óbvio
que devem permanecer invariáveis e não podem sofrer flexão.
Ex.: Luciana anda meio preocupada com a prova.
Ex.: Eles falaram bastante durante a reunião.
Ex.: Eram alunas bastante estudiosas.
Ex.: As mercadorias custam caro.
87
e) Os adjetivos: ANEXO, INCLUSO, MESMO, PRÓPRIO e OBRIGADO: eles
devem concordar em gênero e número com o substantivo a que se referem:
Ex.: Segue anexo o ofício assinado pela superintendente.
Ex.: Segue anexa a carta respondida por mim.
Ex.: Seguem anexos os selos da última remessa.
OBS.: Evite a expressão “em anexo” usada na linguagem coloquial, porque a
aceitar seria transformar um adjetivo em um adjunto adverbial de modo. O que é
inaceitável na Gramática.
f) Os adjetivos INCLUSO, MESMO, PRÓPRIO e OBRIGADO: concordam em
gênero e número com o substantivo a que se referem.
Ex.: Vai incluso o material que você me solicitou.
Ex.: Vai inclusa a remessa assinada por você.
Ex.: Ele mesmo restaurou-me a Deus.
Ex.: Ela mesma esteve aqui e me disse: obrigada.
Obs.: o adjetivo obrigado deve concordar com o gênero da pessoa que toma a
palavra e faz o agradecimento. E as respostas que a gramática aprova para este
agradecimento são: “sempre às ordens”, “a seu dispor” ou “disponha-se”. E
nunca: “de/ por nada” e embora seja um pouco elegante, mas se deve evitar:
“eu é que agradeço”.
Obs.: a palavra “só” é um adjetivo quando o significado dela for “sozinho” e
em casos assim deverá concordar em gênero e número com o substantivo a que
se refere.
Ex.: Estes dois livros, por si sós, bastariam para me tornar alguém mais culto.
Mas quando tem o significado de “apenas”, aí sim será considerado advérbio e
como tal não pode flexionar:
Ex.: Elas só andam de carro.
Obs.: o adjetivo possível, quando aparece precedido das expressões “o
mais”, “os mais, “as mais”, concorda não com o substantivo a que se refere
mas sim com o artigo que precede o advérbio “mais”.
Ex.: Os pratos do restaurante eram os mais requintados possíveis.
Ex.: As laranjas eram o mais doce possível.
88
g) As Expressões adjetivas: é bom, é proibido, é necessário
Estas expressões devem permanecer invariáveis como podemos verificar nos
seguintes exemplos:
Ex.: Aspirina é bom para combater dores e febre.
Ex.: É proibido entrada de estranhos neste recinto.
Ex.: Paciência é necessário e não faz mal a ninguém.
Obs.: Porém se vierem precedidas de um determinante ( artigo definido ou
indefinido e pronomes indefinidos), com certeza a concordância do adjetivo será
com o artigo e não com o substantivo a que se refere.
Ex.: A aspirina é boa para combater dores e febre.
Ex.: É proibida a entrada de animais neste recinto.
Ex.: A paciência é necessária e não faz mal a ninguém.
AS LOCUÇÕES ADJETIVAS
São expressões que equivalem a um adjetivo. Muitas vezes a locução não possui
um adjetivo que lhe corresponda, mas a maioria possui. Veja as principais
locuções adjetivas que a gramática tradicional conservou para nós:
de abdômen - abdominal
de abelha - apícola
de aluno - discente
de anjo - angelical
de ano - anual
de astro - sideral
de audição - ótico
de bispo - episcopal
de boca - bucal ou oral
de boi - bovino
de cabeça - cefálico
de cabelo - capilar
de cabra - caprino
de campo - campestre ou rural
de cão - canino
de cavalo - cavalar, equino, equídio ou hípico
de chumbo - plúmbeo
de chuva - pluvial
de cidade - urbano ou citadino
de circo - circense
de criança - pueril ou infantil
de decoração - decorativo
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de dedo - digital
de diamante - diamantino ou adamantino
de elefante - elefantino
de enxofre - sulfúrico
de esmeralda - esmeraldino
de estômago - estomacal ou gástrico
de estrela - estelar
de éter - etéreo
de fábrica - fabril
de face - facial
de faraó - faraônico
de farinha - farináceo
de fera - ferino
de ferro - férreo
de fígado - figadal ou hepático
de fogo - ígneo
de frente - frontal
de gado - pecuário
de galinha - galináceo
de garganta - gutural
de gato - felino
de gelo - glacial
de governo - governamental
de guerra - bélico
de homem - viril ou humano
de idade - etário
de ilha - insular
de intestino - celíaco ou entérico
de inverno - hibernal ou invernal
de irmão - fraterno
de junho - junino
de lado - lateral
de lago - lacustre
de lágrima - lacrimal
de laringe - laríngeo
de leão - leonino
de leite - lácteo ou láctico
de lobo - lupino
de lua - lunar
de mãe - materno
de macaco - simiesco, símio
de manhã - matinal
de mar - marítimo
de marfim - ebúrneo
de memória - mnemônico
de mestre - magistral
de monge - monacal
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de monstro - monstruoso
de morte - mortal
de nariz - nasal
de neve - níveo
de noite - noturno
de nuca - occipital
de orelha - auricular
de osso - ósseo
de ouro - áureo
de outono - outonal
de ovelha - ovino
de pai - paterno
de paixão - passional
de pâncreas - pancreático
de páscoa - pascal
de peixe - písceo
de pele - cutâneo ou epitelial
de pombo - columbino
de porco - suíno
de prata - argênteo ou argírico
de professor - docente
de pulmão - pulmonar
dos quadris - ciático
de rei - real
de rim - renal
de rio - fluvial
de sangue - sanguíneo
de serpente - ofídico
de sol - solar
de sonho - onírico
de tarde - vespertino
de tecido - têxtil
de terra - telúrico, terrestre ou terreno
de tórax - torácico
de velho - senil
de vento - eólico
de verão - estival
de víbora - viperino
de vidro - vítreo ou hialino
de virgem - virginal
de visão - óptico ou ótico
de voz – vocal
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PLURAL DOS ADJETIVOS
A regra geral é que eles devem concordar em gênero e número com o substantivo a que
se referem, mas há casos que merecem uma redobrada atenção. Por exemplo:
Adjetivos compostos: em casos assim, deve-se proceder da seguinte maneira:
- substantivo + adjetivo + adjetivo: só se leva o último para o plural.
Ex.: lente côncavo-convexa – lentes côncavo-convexas.
- substantivo + adjetivo + substantivo: só se leva o primeiro para o plural
Ex.: camisa verde- abacate – camisas verde-abacate
Obs.: as expressões azul-marinho, azul-celeste e todas as demais em que fica
subentendida a expressão “da cor de” não vão nunca para o plural, mesmo sabendo que
a sequência é substantivo + adjetivo + adjetivo.
Ex.: terno azul marinho – ternos azul –marinho.
Já nas expressões: surda-muda e surdo-mudo, nelas ambos os elementos vão para o
plural.
Ex.: menina surda-muda – meninas surdas-mudas.
- substantivo + advérbio + adjetivo: em situações assim só irão para o plural o
primeiro e o último:
Ex.: menino mal-educado – meninos mal- educados
Obs.: Devem permanecer inalteradas as locuções adjetivas: ultravioleta, sem-par, sem-
sal e sem-vergonha.
O GRAU DOS ADJETIVOS
Os adjetivos possuem grau porque é a única forma de eles mostrarem a intensidade dos
seres que eles caracterizam. Só possuem dois graus: o comparativo e o superlativo.
Comparativo: pode comparar um adjetivo a outro nas formas de: de igualdade,
superioridade e inferioridade.
Ex.: Sou tão alto quanto você. ( igualdade)
Ex.: Sou mais alto que você. ( superioridade)
Ex.: Sou menos alto que você. ( inferioridade)
Os adjetivos: bom, mau, grande, pequeno apresentam também o comparativo de
superioridade quando nós os colocamos na forma analítica ( quando aparecem
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precedidos dos advérbios mais e menos e comparam duas características do mesmo
substantivo).
Ex.: Aquele menino é mais bom do que inteligente.
Ex.: Aquela sala é mais grande do que confortável.
E os comparativos de superioridade dos adjetivos: bom, mau, grande e pequeno
aparecem geralmente na forma sintética como a Gramática os assimilou do latim:
Ex.: do adjetivo bom – o adjetivo comparativo melhor
Ex.: do adjetivo mau - o adjetivo comparativo pior
Ex.: do adjetivo grande – o adjetivo comparativo maior
Ex.: do adjetivo pequeno – o adjetivo comparativo menor
SUPERLATIVO: indica as características do substantivo em um grau muito elevado
ou em grau máximo. Diz-se que o grau é absoluto quando a característica expressa pelo
adjetivo não é apresentada em relação a outros seres.
Ex.: Este corredor é muito veloz.
Ex.: Este corredor é velocíssimo.
Obs.: Quando a característica expressa pelo adjetivo é apresentada em relação com
outros seres, aí o grau superlativo será relativo.
Ex.: João é o mais alto de todos.
Ex.: Este monte é o menor de todos.
OBS.: o superlativo dos adjetivos pode ser formado por um advérbio auxiliar +
adjetivo. Em casos assim dá-se o nome de superlativo analítico.
Ex.: O exercício é muito difícil.
OBS.: Mas quando a raiz da palavra que forma o adjetivo recebe os sufixos: ílimo,
íssimo e érrimo, diz a Gramática que se trata do superlativo absoluto.
Ex.: O exercício é dificílimo.
Ex.: O país é lindíssimo.
Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo
CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português
Contemporâneo. Editora Nova Fronteira; 2ª edição. Rio de Janeiro; 1985. pp.238-267.
KURY, Adriano da Gama – Pequena Gramática, 5ª ed., Rio de Janeiro. Agir, 1960.
94
CAPÍTULO 07: PRONOME
Como o próprio nome já diz, é a palavra que empregamos em favor ou em lugar do
nome (nome na Gramática é sempre um substantivo e uma palavra/ enunciado com
valor de substantivo). São os pronomes que determinam as pessoas do discurso. O
discurso, segundo FOUCAULT, em suas obras sobre Análise do Discurso, “discurso é o
ato de tomar a palavra”. Segundo ele, as pessoas do discurso são as seguintes: eu; tu;
ele; nós; vós e eles. De todas as pessoas do discurso apenas duas não seriam exatamente
pessoas que tomam a palavra: ele e eles.
Veja quais são as pessoas do discurso e as pessoas pronominais:
Pessoas do discurso Pronomes pessoais retos oblíquos átonos oblíquos tônicos
1ª pessoa do singular (que fala) eu me mim, comigo
2ª pessoa do singular (que ouve) tu te ti, contigo
3ª pessoa do singular (falam dela) ele se, lhe, o, a, lo, la,no,na si, consigo
1ª pessoa do plural (que fala) nós nos conosco
2ª pessoa do plural (que houve) vós vos convosco
3ª pessoa do plural (falam dela) eles se, lhes, os, as, los, las,
nos, nas
consigo
Obs.: A palavra “você” e a palavra “vocês” não são pronomes pessoais e sim
pronomes de tratamento que a gente usa aqui no Brasil. Apesar de nos dirigirmos a
tais pronomes como 2ª pessoa (com quem se fala), as conjugações verbais referentes a
eles devem ser feitas na terceira pessoa.
Regra Geral sobre os pronomes pessoais
Nunca comece nenhum enunciado utilizando pronomes oblíquos átonos.
Ex.: Me dá, danoninho. Danoninho dá. ( propaganda da Danone)
Lugar de pronome átono é após os verbos. A colocação dos átonos após os verbos é
chamada na Gramática de ênclise. A tendência na linguagem coloquial é sempre colocar
o átono antes do verbo, mas a Gramática condena esta colocação, salvo nos casos que
veremos a seguir.
Regra 02: Nunca use pronome pessoal reto como objeto de verbo algum.
Ex.: Leva eu
Ex.: Leva ele
Ex.: Inscreve eu
Obs.: Os únicos verbos que admitem os pronomes pessoais retos como objetos são os
verbos assistir, aspirar, aludir, referir, esquecer-se e lembrar-se
Ex.: Assisto à programação – assisto a ela.
Ex.: Aludo ao livro de Clarice – aludo a ele.
Ex.: Refiro-me à tragédia de ontem – refiro-me a ela.
Ex.: Esqueço-me de nossa vida. – Esqueço-me dela
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Regra 03: Só use pronome átono antes dos verbos ( a Gramática chama a isso de
próclise) quando vierem precedidos de elementos de coesão ( conjunção, advérbio,
pronome relativo, interjeição, pronome demonstrativo, pronome interrogativo, pronome
indefinido e preposição)
Ex.: Ele disse que não traria, mas me trouxe.
Ex.: Nada me fará desistir.
Ex.: A casa que lhe deram é na zona rural.
Ex.: Oxalá me acontecesse um milagre desses!
Ex.: Isso me cheira confusão.
Ex.: Quem me garante isso?
Ex.: Em se tratando de Gramática, o melhor é ler.
Obs.: Em enunciados que indicam pedidos feitos a uma divindade, a um santo ou a
qualquer outro ser, também deverá colocar o pronome átono antes do verbo.
Ex.: Deus me livre!
Regra 04: A Gramática não aconselha a colocar pronome átono antes de verbos
conjugados no futuro do presente e nem antes de verbos conjugados no futuro do
pretérito, mas na linguagem coloquial a gente faz isso com frequência. Porém a
Gramática prescreve que se deve colocar o átono entre o radical do verbo e as
desinências. A isso a Gramática chama mesóclise.
Ex.: Me enganarão – enganar- me- ão
Ex.: Se casariam – casar-se-iam
Ex.: Te amarão – amar-se-ão
Regra 05: Eu ou mim?
O pronome pessoal do caso reto eu é empregado como sujeito e não como objeto,
como a gente costuma fazer uso dele na linguagem coloquial. Diante dos verbos,
sobretudo os terminados em ar, er, e ir ele deve ser empregado. Vejam um enunciado
da linguagem coloquial e o enunciado que a Gramática sustenta:
Ex.: Deu o livro para mim guardar. ( coloquialismo)
Ex.: Deu o livro para eu guardar. ( Gramática)
Obs.: o pronome mim é objeto e não sujeito. A presença de uma preposição (a, ante,
após, até, com, contra, de , desde, em, entre, para, por, perante, sem, sob, sobre,
trás) anteposta a ele é sinal de que o lugar é dele e não do pronome pessoal do caso reto
eu.
Ex.: Longe de mim tal coisa.
Ex.: Eles apresentaram os trabalhos e mandaram as cópias para mim.
Ex.: A mulher em mim precisa de um homem que é você. ( Roberta Miranda)
Ex.: Chegaram até mim com dez pedras na mão.
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Os escritores nem sempre colocam o enunciado na ordem canônica: sujeito + verbo +
objeto e por isso nós leitores não devemos imaginar que antes de um verbo terminado
em ar, er e ir foi dada prioridade ao pronome mim e sim que o enunciado não está na
ordem canônica.
Ex.: Para mim, estudar não é tarefa tão simples como você pensa.
Regra 06: Contigo ou Consigo?
O pronome contigo é empregado quando o falante dirige-se ou refere-se à segunda
pessoa do singular ( tu).
Ex.: Leva, tu, contigo o nome de Jesus o Salvador.
Obs.: No Brasil, são poucas as regiões onde o pronome tu é utilizado. E onde é
utilizado pelos falantes, infelizmente eles fazem a conjugação não com a 2ª pessoa do
singular, mas sim na terceira pessoa do singular. Por isso é raro no Brasil se dirigir à
segunda pessoa do singular com o pronome contigo. É comum usarem o pronome
contigo para se dirigir ao pronome de tratamento “você”. Mas a Gramática não aceita.
Já o pronome consigo deve ser usado quando o falante dirige-se ou refere-se à
terceira pessoa do singular ( ele) ou à terceira do plural (eles):
Ex.: Eles levam consigo o nome de Jesus.
Ex.: Ele leva consigo o nome de Jesus.
REGRA 07: Os pronomes demonstrativos
São aqueles que apontam a localização do substantivo: próxima de quem toma a
palavra, longe de quem ouve, próxima de quem ouve e distante tanto do que toma a
palavra, quanto do que ouve.
Vejam quais são os pronomes demonstrativos:
- Próximos da pessoa que toma a palavra: este, esta, estes, estas, isto; deste; desta,
destes, destas, disto; neste, nesta, nestes, nestas, nisto.
Ex.: Este apontador aqui é o que comprei ontem.
Ex.: Esta cadeira perto da minha mesa se encontra em reparos.
Ex.: Deste acontecimento que estou lendo aqui é difícil esquecer.
Ex.: Nenhum destes livros aqui foi publicado ainda.
Ex.: O assunto a ser debatido agora na reunião é este: dengue
Ex.: Apenas te peço isto agora: estude
- Próximos da pessoa que ouve: esse, essa, esses, essas, isso; desse, dessa, desses,
dessas, disso; nesse, nessa, nesses, nessas, nisso.
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Ex.: Esse apontador aí perto de você é o que comprei ontem.
Ex.: Essa cadeira aí perto da sua mesa se encontra em reparos.
Ex.: Desse acontecimento aí que você está lendo é difícil esquecer.
Ex.: Nenhum desses livros aí foram publicados ainda.
Ex.: Isso aí você já falou agora pouco.
- Distantes tanto de quem fala como de quem ouve: aquele, aquela, aqueles, aquelas,
aquilo; daquele, daquela, daqueles, daquelas, daquilo; naquele, naquela, naqueles,
naquelas, naquilo.
Ex.: Aquele avião lá dá sinais de que vai cair.
Ex.: Aquilo que aconteceu ontem, você entendeu?
Ex.: Estou falando daquele homem que escreveu Ilíada e Odisseia.
Ex.: Naquela data, 22 de outubro de 1844, aconteceu o desapontamento.
REGRA 08: Os pronomes relativos
Eles são pronomes que representam os substantivos já mencionados nos enunciados e
desempenham a função de elementos de coesão (ligação), já que evitam que se repita o
substantivo a que substituem. São de muito valor coesivo dentro da Gramática e da
produção de texto, perdendo apenas para as conjunções. Vejam quais são eles:
- Os pronomes relativos masculinos: o qual, os quais, cujo, cujos, quanto, quantos.
Ex.: Armando comprou o carro o qual lhe convinha.
Ex.: Os vizinhos libertaram os cães os quais a louca prendeu.
Ex.: Esse aí é um dos escritores cujo livro li.
Ex.: Todos os pequis quantos queria, arrancou do pé.
- Os pronomes relativos femininos: a qual, as quais, cuja, cujas, quanta, quantas.
Ex.: Armando comprou a casa a qual lhe convinha.
Ex.: Os vizinhos libertaram as aves as quais a louca prendera.
Ex.: Essa aí é uma das escritoras cuja literatura é do Barroco.
Ex.: Leve tantas jabuticabas de quantas precisar.
- Os pronomes relativos invariáveis: quem, que , onde
Ex.: Das árvores caíam folhas, que o vento levava.
Ex.: Os planetas são súditos cujo rei é o sol.
Ex.: O médico de quem eu falo é meu conterrâneo.
OBS.: sempre que for empregar um pronome relativo é necessário que se tenha toda a
atenção à regência do verbo que aparece no enunciado onde aparece o substantivo já
mencionado no enunciado anterior. Se for um verbo transitivo direto, não há
necessidade da preposição obrigatória para anteceder ao pronome.
Ex.: Comprei um livro. O livro é novo. = Comprei um livro que é novo.
98
Veja que o verbo do 2º enunciado é um verbo de ligação (ser) e não precisou colocar a
preposição obrigatória antes dele, já que verbo de ligação não exige isso.
Ex.: É um escritor. Gosto muito do escritor. = É um escritor de que / do qual gosto
muito.
Veja que no exemplo acima, o verbo gostar é um VTI e, portanto, a preposição “de” a
qual ele exige foi obrigatoriamente posta antes do pronome relativo.
Regra 09: Os pronomes de tratamento
São os pronomes que empregamos na forma de trato para com as mais variadas pessoas.
Dependendo da pessoa a quem nos dirigimos, do cargo que ocupa, título que possui,
idade que tem, o tratamento será cerimonioso.
Eis os principais pronomes de tratamento, seguidos de suas abreviaturas, que de modo
geral devem ser evitadas:
Você (v.).: tratamento familiar, informal a qualquer pessoa física comum.
Senhor (a) ( Sr./ Sra).: no tratamento respeitoso a homens e mulheres, independente da
idade.
Senhorita ( Srta).: a moças solteiras.
Vossa Senhoria ( V. Sa).: para pessoas que possuem graduação.
Vossa Excelência ( V. Exa): para altas autoridades como presidente da república,
senadores, deputados, prefeitos, vereadores, governadores, ministros, embaixadores,
generais, marechal, secretários de estado.
Vossa Reverendíssima ( V. Revma).: para bispos e arcebispos.
Vossa Eminência ( V. Ema): para cardeais.
Vossa Santidade ( V. S.).: papas
Vossa Majestade ( V.M.): reis e rainhas.
Vossa Alteza ( V.A.): para príncipes, príncipes e duques.
99
Regra 10: os pronomes possessivos
Referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes posses. Cada um deles adequa-se a
uma pessoa específica do discurso:
- 1ª pessoa singular: meu, minha, meus, minhas.
- 2ª pessoa singular: teu, tua, teus, tuas.
- 3ª pessoa singular: seu, sua, seus, suas.
- 1ª pessoa plural: nosso, nossa, nossos, nossas.
- 2ª pessoa plural: vosso, vossa, vossos, vossas.
- 3ª pessoa plural: seu, sua, seus, suas.
Obs.: Na língua coloquial é comum na terceira pessoa em vez de usar os pronomes:
seu, sua, seus, suas os falantes empregarem as construções: “dele, dela, deles, delas”. A
Gramática não se pronuncia contra estas construções, para evitar ambiguidade.
Ex.: A namorada de Carlos saiu no seu carro. ( carro de quem?)
Ex.: A namorada de Carlos saiu no carro dela.
Ex.: A namorada de Carlos saiu no carro dele.
Regra 11: os pronomes indefinidos
São aqueles que não determinam quem é o substantivo a que substituem e por isso os
designa de forma vaga, imprecisa e indeterminada.
São os seguintes: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, ninguém, outrem,
quem, tudo, cada, certo, certa, certos, certas, algum, alguma, alguns, algumas,
nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, outro, outra, outros, outras, qualquer,
quaisquer, qual, que, quanto, quanta, quantos, quantas, tal, tais, tanto, tanta,
tantos, tantas, vários, várias, um, uma, uns, umas.
Obs.: os pronomes interrogativos aparecem em perguntas e se referem de modo
impreciso a 3ª pessoa do discurso.
Ex.: Que é isso, companheiro?
Ex.: Quem foi?
Ex.: Qual será o motivo?
Ex.: Quantas pessoas moram aqui?
Autores citados de forma direta e indireta neste capítulo
CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português Contemporâneo.
Editora Nova Fronteira; 2ª edição. Rio de Janeiro; 1985. pp. 268-357.
FOCAULT, Michael. A Ordem do Discurso. Edição 24ª; Editora Loyola. Ano 2015.
100
CAPÍTULO 08: O advérbio
“ Eu ando meio com medo que um dia ainda ache a tristeza normal” ( Joana)
101
CAPÍTULO 08 O Advérbio
É uma palavra invariável que modifica o verbo, o adjetivo e a outro advérbio.
Ex.: O navio chegou ontem. [ veja que neste caso o advérbio de tempo modifica
o verbo]
Ex.: A moça é muito linda. [ veja que neste caso o advérbio de intensidade
modifica o adjetivo linda]
Ex.: Mas nunca é tarde não. [ veja que neste caso o advérbio de negação “não”
modifica o advérbio de tempo “nunca”]
Obs.: lembre-se de que os advérbios nunca flexionam em masculino e feminino e nem
vão para o plural.
Ex.: Eu ando meio com medo que um dia ainda ache a tristeza normal. (
Joana)
Ex.: As roseiras do meu jardim têm menos rosas do que as do seu.
Ex.: Os guardas permaneciam alerta.
Classificação dos advérbios:
- Afirmação: sim, certamente, deveras, incontestavelmente, realmente, efetivamente.
- Dúvida: talvez, quiçá, acaso, porventura, certamente, provavelmente, decerto.
- Intensidade: mui, muito, pouco, assaz, bastante, mais, menos, tão, demasiado, meio,
todo, completamente, profundamente, demasiadamente, excessivamente, demais, nada,
ligeiramente, levemente, quão, quanto, quase, apenas, como.
- Lugar: abaixo, acima, acolá, cá, lá, aqui, ali, aí, além, aquém, algures, alhures,
nenhures, atrás, fora, afora, dentro, perto, longe, adiante, onde, avante, através, defronte,
aonde, donde, detrás.
- Modo: bem, mal, assim, depressa, devagar, como, adrede, debalde, alerta, melhor,
pior, aliás, calmamente, livremente, propositadamente, selvagemente e todos os demais
de modo terminados em mente.
- Negação: não, tampouco.
- Tempo: agora, hoje, amanhã, depois, ontem, anteontem, já, sempre, amiúde, nunca,
jamais, ainda, logo, antes, cedo, tarde, ora, afinal, outrora, então, breve, aqui, nisto, aí
(nesse momento), entrementes, brevemente, imediatamente, raramente, finalmente,
comumente, presentemente, diariamente, simultaneamente, etc.
102
As locuções adverbiais
São expressões que têm valor de advérbio. São muito conhecidas porque geralmente
começam com uma preposição. Vejam as locuções adverbiais mais conhecidas:
Ex.: às claras, às cegas, às apalpadelas, à toa, às pressas, a pé, a pique, a fundo, a
jusante, a montante, às escondidas, à noite, às vezes, ao acaso, de repente, de
propósito, de viva voz, de súbito, de quando em quando, em breve, em vão, em cima,
por fora, por trás, para trás, sem dúvida, com certeza, passo a passo, lado a lado, vez
por outra, de fome, de medo, de alto a baixo.
Obs.: a Gramática classifica as locuções da mesma forma que classifica os advérbios,
ou seja, passam a ideia de tempo, modo, lugar, entre outros.
O Grau dos Advérbios
À semelhança dos adjetivos, os advérbios também aparecem no grau comparativo e o
grau superlativo.
- Grau comparativo
a) Comparativo de igualdade: Ex.: Voou tão longe e tão rapidamente
como foguete.
b) Comparativo de superioridade analítico: o advérbio aparece precedido
do advérbio “mais” ou do advérbio “menos”.
Ex.: Voou mais longe e mais rapidamente que foguete.
c) Comparativo de superioridade sintético: sintetiza-se apenas em no
emprego dos advérbios “melhor” e “pior”
Ex.: Voou melhor que um foguete.
d) Comparativo de inferioridade:
Ex.: Voou menos longe e menos rapidamente que o foguete.
- Grau Superlativo
a) Superlativo absoluto analítico: coloca o advérbio em um grau
maior que qualquer outro e vem precedido de outro advérbio, no
caso, o advérbio “muito”
Ex.: Voou muito longe e muito rapidamente.
b)Superlativo absoluto sintético: sintetiza o grau do advérbio
acrescentando simplesmente ao radical os sufixos: mente, íssimo.
103
Ex.: Voou longíssimo e rapidissimamente.
Obs.: Na linguagem coloquial para indicar o limite máximo da
possibilidade do advérbio, os falantes costumam dizer:
Ex.: Venha o mais cedo que puder.
Ex.: Voe o mais rápido possível.
Ex.: Venha o mais depressa possível.
Autor citado de forma direta e indireta neste capítulo
CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português
Contemporâneo. Editora Nova Fronteira; 2ª edição. Rio de Janeiro; 1985. Pág.: 529.
104
CAPÍTULO 09: SINTAXE – Período Composto
“ Pode um ano passar e até nevar, pode chover, relampejar, que a sapatilha trinta e
sete eu vou lembrar.” ( Eztakazero)
105
CAPÍTULO 09: SINTAXE – Período Composto
Sintaxe é o estudo dos enunciados de sentido completo e incompleto, mas é um
estudo específico da disposição dos termos essenciais da oração ( sujeito + predicado),
da disposição dos termos integrantes da oração ( verbo + objeto) e a disposição dos
termos acessórios ( aposto, vocativo, adjunto adnominal, adjunto adverbial) no
contexto dos enunciados. É em sintaxe também que se estuda a relação entre as orações,
ou seja, se há relação de independência (coordenação /parataxe) ou se há relação de
dependência ( subordinação/ hipotaxe).
Este estudo e muito antigo, pois remota à Grécia Antiga no século V a.C., quando,
segundo os historiadores, o filósofo Aristóteles já analisava as relações entre sujeito e
predicado, época em que ele desenvolvia o silogismo. O estudo prosseguiu na Idade
Média com a análise de enunciados extraídos de textos sagrados principalmente por
Santo Agostinho e S. Tomás de Aquino e, por fim, adquiriu o corpo e as formas que
conhecemos hoje, depois que o linguista Saussure (1857-1913) desenvolveu o estudo
das estruturas morfológicas e depois que o linguista norte-americano, Noam Chomsky,
aprofundou no estudo da estrutura superficial e a estrutura profunda dos enunciados.
Para nós hoje é de suma importância a compreensão com que a sintaxe define os tipos
de enunciado:
a) Frase: é todo enunciado de sentido completo e que independe de verbo para ser
compreendido.
Ex.: Meus parabéns agora e feliz aniversário, amor!
b) Oração: é todo enunciado que depende da presença do verbo para ser entendido, já
que cada verbo é uma oração.
Ex.: O gato não nos afaga, afaga-se em nós ( Machado de Assis)
c) Período: é o próprio enunciado composto de uma ou de várias orações. Quando
possui apenas um verbo, chama-se período simples e quando possui mais de um
verbo, chama-se período composto.
Ex.: Não tive filhos.
Ex.: Não tive filhos, logo não deixei a ninguém o legado de nossa miséria
( Machado de Assis)
COORDENAÇÃO OU PARATAXE
Um enunciado é composto por coordenação/ parataxe quando duas ou mais orações se
agrupam, mas não há dependência entre elas. A esta relação de independência dá-se o
nome de coordenação.
Ex.: Vim, vi , venci.
106
Antes de analisar um enunciado, é sempre bom tomar as seguintes providências: 1º )
sublinhar os verbos que houver na oração; 2º ) separar as orações com uma barra; 3º)
circular o elemento de coesão (se houver); 4º) classificar cada uma com a devida
nomeclatura.
Orações Coordenadas Assindéticas: são aquelas que são independentes e que não
possuem elemento de coesão explícito para ligá-las umas às outras.
1ª 2ª 3a 4ª
Ex.: A gota d’água cai/, tomba/, despedaça/, morre.
Obs.: A professora Ingedore Villaça Koch em seu livro Coesão Textual dá a entender
que o elemento de coesão ( em grego.: syndeto = síndeto) permite a ligação entre os
enunciados. Tal ligação faz com que haja uma unidade no texto que se concretiza a
partir do momento em que quem escreve, consegue tecer a junção de enunciados e
assim construir uma unidade de na expressão do pensamento. Para ela existe a coesão
explícita (quando aparece o elemento de coesão) e a coesão implícita ( quando não
aparece o elemento de coesão).
AS ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS
São chamadas de coordenadas, porque os enunciados que as formam são
independentes, isto é, isoladamente é possível a compreensão. E são chamadas de
sindéticas porque são ligadas umas às outras pelos síndetos ( elementos de coesão).
Vejam quais são as orações coordenadas sindéticas:
a) Oração Coordenada Sindética Aditiva: são aquelas cujos elementos de coesão
passam a ideia de adição. Seus elementos de coesão são: e, não só... mas
também, não... e nem.
Ex.: Raspe aqui no topo da página e ganhe um prêmio.
Ex.: Não só raspou no topo da página, mas também ganhou o prêmio.
Ex.: Não raspou o topo da página e nem ganhou o prêmio.
Obs.: quando o elemento de coesão for separado por reticências (...), é porque um
deve ficar na oração principal e o outro na oração coordenada. A toda oração que um
elemento de coesão aparece na oração principal e o outro elemento na outra oração,
Adriano da Gama Kury chamou de oração correlata ( há uma correlação).
b) Oração Coordenada Sindética Adversativa: são aquelas cujos elementos de
coesão passam a ideia de oposição e adversidade entre uma oração e a outra.
Seus elementos de coesão são: mas, porém, contudo, entretanto, no entanto,
todavia.
Ex.: A espada vence, mas não convence.
c) Oração Coordenada Sindética Explicativa: são aquelas cujos elementos de
coesão procuram explicar um ato presente na oração anterior. Seus elementos
são: porque, pois (antes do verbo).
107
Ex.: Roda, meu carro, porque vamos rodando.
Ex.: Devolvi a mercadoria, pois entregaram fora do prazo.
d) Oração Coordenada Sindética Alternativa: são aquelas cujos elementos de
coesão dão ideia de alternância, isto é, dá ao leitor e ao falante a liberdade de
optar por uma coisa ou outra, ou excluir a uma opção em detrimento de outra.
Seus elementos de coesão: ou... ou; ora.. ora; quer...quer; seja...seja.
Ex.: Ou o povo e muito forte, ou já se acostumou com a corrupção.
Ex.: Ora chova, ora faça sol, irei à praia.
Ex.: Quer fosse dia quer fosse noite, ele viajava.
Obs.: As orações alternativas são correlatas porque os elementos de coesão
aparecem na principal e na coordenada. E dão uma ideia de continuidade.
e) Oração Coordenada Sindética Conclusiva: são aquelas em que a oração
coordenada conclui a ideia deduzida na oração anterior. Seus elementos de
coesão são: portanto, assim sendo, em suma, logo, pois ( após o verbo), por
isso.
Ex.: O aluno estudou muito, portanto conseguiu lembrar o conteúdo.
Ex.: Reconheci a feiura, era, pois, um lobisomem.
Ex.: Fiz a carteirinha no centro cultural, logo pude pegar livros.
AS ORAÇÕES SUBORDINADAS
São aquelas que um enunciado possui uma relação de dependência em relação ao
outro. Por isso, em casos assim, se isolarmos uma oração da outra, pode comprometer o
sentido do enunciado. Diferentemente das orações coordenadas, as orações
subordinadas nem sempre têm o elemento de coesão e elas são muitas ( substantivas,
adjetiva e adverbiais). Vejam:
Orações subordinadas substantivas
São chamadas de substantivas, porque uma oração inteira desempenha papel de
sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, predicativo e de aposto. E
estas palavras todas têm valor de substantivo.
a) Objetivas diretas: funcionam como objeto direto de uma oração que depende
de outra que começa com VTD:
Ex.: Não sei / se vou.
b) Objetivas Indiretas: funcionam como objeto indireto de uma oração que
depende de outra que começa com VTI:
Ex.: Convença-se / de que a vida é dura.
108
c) Completivas Nominais: funcionam como complemento nominal de uma oração
que depende de outra que começa com um nome ( substantivo, adjetivo,
advérbio) que peça complemento à outra oração ligado com preposição
obrigatória.
Ex.: Tenho aptidão / para o trabalho que você anunciou no jornal.
Ex.: Sou favorável / a que o prendam.
Ex.: Era tarde/ para consertar os desmandos.
d) Subjetivas: funcionam como sujeito de uma oração que depende de outra que
comece com verbo de ligação + predicativo ou que comece com o pronome
quem. Quando isso acontecer a oração que depende, toda ela funciona como
sujeito.
Ex.: Quem avisa/ amigo é.
Ex.: É urgente/ que você colabore.
Ex.: Importa/ que cada um faça sua parte.
Ex.: Sabe-se/ que nem tudo são flores.
e) Predicativas: funcionam como predicativo de uma oração que depende de outra
que comece com um sujeito + verbo de ligação. Aí, a oração dependente toda
funciona como predicativo.
Ex.: Minha alegria é / estar perto de Deus.
f) Apositivas: funcionam como aposto de uma oração que depende de outra
intercalada por dois pontos:
Ex.: Apenas te peço isto: estude.
As orações subordinadas adjetivas
Funcionam como adjunto adnominal de uma oração que depende de outra e uma
caracteriza a outra, ligada por um pronome relativo ( que, o qual, a qual, as quais, os
quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quem ( no sentido de aquele que).
Ex.: A pessoa que mente rouba.
Ex.: O sol, que é o astro rei da nossa galáxia, brilha no céu.
Obs.: quando as orações vêm intercaladas por vírgulas, chama-se oração
subordinada adjetiva explicativa. Quando não vêm separadas por vírgulas, chama-se
oração subordinada adjetiva restritiva.
109
As orações subordinadas adverbiais
São aquelas que uma oração depende de outra, uma funciona como adjunto adverbial
da outra e, diferente das demais orações subordinadas, estas vêm ligadas a elementos de
coesão. Vejam quais são elas:
a) Subordinada adverbial temporal: uma oração passa a ideia de adjunto adverbial
de tempo subordinada a outra. Os elementos de coesão que aparecem nelas são:
ao, assim que, desde que, logo que, quando, enquanto, mal.
Ex.: Ao amanhecer, compareça à audiência.
Ex.: Assim que a diligência partiu, começou o tiroteio.
Ex.: Desde que você saiu, as coisas mudaram.
Ex.: Enquanto ela estiver na presidência, a economia não apresentará melhoras.
b) Subordinada adverbial causal: uma oração possui um fato e a outra oração
apresenta a causa. Os elementos de coesão que aparecem nelas são: porquanto,
porque, visto que, já que, como ( já que), tamanho é.
Ex.: O tambor soa, porque é oco.
Ex.: Como não me atendessem, desisti.
Ex.: Já que ele estava armado, não reagi.
Nota explicativa: Os gramáticos ainda não chegaram a um consenso sobre como distinguir porque causal e porque
explicativo. Na Gramática de Evanildo Bechara, ele chegou à conclusão que dizer: “ Não fui à aula porque estava
doente” tanto pode indicar causa, como explicação. Por isso na sua Gramática, ele simplesmente optou por não incluir
porque explicativo. Lá vocês encontrarão apenas porque causal.
Já Celso Cunha, estabeleceu uma forma de distinção entre porque causal e explicativo que ajudam, mas não me ajudou
em todos os casos. Ele deu a entender que se substituirmos o elemento de coesão porque, colocando em seu lugar dois
pontos (:), que assim é possível chegar à seguinte conclusão: se trocar o elemento de coesão pelos dois pontos e não
comprometer o sentido das orações, então pode considerar que o porquê é explicativo e não causal, mas se ficar
comprometido o sentido, então o porquê é causal.
Ex.: Deve ter chovido à noite porque o chão amanheceu molhado.
Ex.: Deve ter chovido à noite: o chão amanheceu molhado.
Othon Garcia em seu livro “ Comunicação em Prosa Moderna” foi o que me ofereceu uma ajuda maior neste sentido.
Lá ele disse que todo ato tem uma explicação, mas todo o fato tem uma causa. Assim, se na oração principal houver
um ato, o porquê com certeza será explicativo. Mas se na oração principal houver um fato, a oração dependente será
adverbial causal.
Ex.: Roda, meu carro, / porque vamos rodando. [ ato de rodar = explicação] Ex.: A terra é virgem / porque a minhoca é mole. [fato de ser virgem = causa]
Já o gramático Adriano da Gama Kury, em seu livro Novas Lições de Análise Sintática, além de listar as análises que já
expus acima, propôs o seguinte: tentar começar a oração subordinada adverbial causal com a preposição por. Se o sentido ficar
comprometido, então podemos dizer que o porquê é explicativo. Caso o sentido não fique comprometido, pode-se dizer que o porquê é causal.
Ex.: Roda, meu carro, porque vamos rodando. = por irmos rodando, roda meu carro. [ o sentido soa
estranho] = or. coord. sind. explicativa.
Ex.: A terra é virgem porque a minhoca é mole. = por a minhoca ser mole, a terra é virgem [ o sentido
não soa estranho e nem fica comprometido] = or. subord. adv. causal.
Aqui na minha Gramática eu decidi não sobrecarregar os meus alunos com um assunto tão complexo e tão embaraçoso,
que gera controvérsias entre gramáticos de renome. Por isso não vou me demorar nesta querela morfossintática. Paro por aqui.
110
c) Oração subordinada adverbial concessiva: são aquelas que concedem um fato,
mesmo com o obstáculo da oração principal. Às vezes, a concessão não acontece
porque a oposição da oração principal impede. Seus elementos de coesão:
embora, conquanto, se bem que, ainda que, mesmo que.
Ex.: Ainda que fosse bom jogador, não ganharia a partida.
Ex.: Conquanto haja maus, não se deve descrer dos bons.
Ex.: Viajaria ao exterior, mesmo que os pais não permitissem.
d) Oração subordinada adverbial consecutiva: na oração principal aparece a
causa e na oração dependente aparece a consequência. Seus elementos de
coesão: tão... que, tanto...que, tal...que, de sorte que.
Ex.: O vento foi tão forte, que por pouco leva a saia da comadre.
Ex.: O repeteco na contagem de voto foi tanto, que isso ocasionou fraudes.
Ex.: Ontem estive doente, de sorte que não saí de casa.
e) Oração subordinada adverbial comparativa: são aquelas que estabelecem uma
comparação do fato descrito na oração principal e na oração dependente. Seus
elementos de coesão são: como, assim como, tal como, tal qual, tão quanto,
pior do que, melhor do que, que nem, mais do que, menos do que como se...
Ex.: Aprendeu a subir pelas paredes como Tarzan sobe pelos cipós.
Ex.: O esquilo é tão ágil quanto o é o macaco.
Ex.: Sua morada era mais um buraco escuro do que uma casa humilde.
f) Oração subordinada adverbial conformativa: uma oração expressa
conformidade com o fato apresentado pela outra. Seus elementos de coesão são:
conforme, segundo, consoante, como, assim como.
Ex.: Agiu conforme as orientações que o professor lhe repassou.
Ex.: O texto foi lido como está no manuscrito original.
g) Oração subordinada adverbial condicional: uma oração expressa uma ideia que
só se concretiza mediante a condição expressa na outra. Seus elementos de
coesão são: se, a menos que, só...se, apenas, contanto que, salvo se, sem que,
não fosse, houvesse, exceto se.
Ex.: Se convidada, irei à festa.
Ex.: A menos que coma a minha carne e beba meu sangue, não tereis vida em
vós.
Ex.: Poderão chegar lá hoje, exceto se acontecer algo de mais sério.
Ex.: Houvesse estudado muito, seria um bom médico.
h) Oração subordinada adverbial proporcional: uma oração expressa que a ideia
evidenciada na oração anterior acontece à proporção que a outra acontece. Seus
elementos de coesão são: à medida que, ao passo que, à proporção que,
quanto mais, quanto menos.
Ex.: Quanto mais eu rezo, mais assombrações me aparecem.
111
Ex.: À medida que se vive, mais se aprende.
Ex.: Quanto menor for a altura, menor é o tombo.
i) Oração subordinada adverbial final: uma oração apresenta a finalidade e o
objetivo da proposta apresentada na oração principal. Seus elementos de coesão
são: a fim de, para que, com vistas a.
Ex.: Cada ovo era enrolado em palha, a fim de não se quebrar.
Ex.: Aproximei-me deles para que me ouvissem melhor.
Autores citados direta e indiretamente neste capítulo
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa, São Paulo, Editora Nacional, 1962.
CUNHA, Celso. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro; 1985.
Pp.:116-145.
GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna, Rio de Janeiro, FGV, 1967.
KOCH, Ingedore Villaça. Coesão Textual. Ed. Contexto, São Paulo, 2003.
Kury, Adriano da Gama Kury. Novas Lições de Análise Sintática. 1ª edição, Rio de Janeiro, Fundo de
Cultura,1961. Pág.:125.
112
CAPÍTULO 10: ESTILÍSTICA
“Pega o livro, toma-o e o coma. Em tua boca será doce como o mel, mas no estômago
será amargo” ( Apocalipse 10,9)
113
CAPÍTULO 10: ESTILÍSTICA
É a parte da Gramática que se ocupa com o estudo das figuras de linguagem que se
desdobram nas seguintes ramificações: figuras de palavras, figuras de construção e
figuras de pensamento. Este estudo é muito antigo, mas só depois de muito exame,
algumas figuras foram sendo inseridas na gramática, porque muitas figuras nasceram
no seio da oralidade e vieram da liberdade que os falantes têm de criar, recriar, usar de
forma lúdica, usar a musicalidade e de dar sentidos às palavras para além do sentido que
a gramática tradicional e o dicionário lhes dão. Devido à riqueza das figuras de
linguagem e à dificuldade de restringir a linguagem conotativa, devido ao trabalho
excessivo de classificar cada figura, a aplicação delas, o uso e a criação de novas figuras
é que a Estilística torna-se uma disciplina complexa. Talvez a estilística seja a parte
mais liberal e libertária que existe na gramática tradicional, porque as figuras provêm da
sabedoria popular, da oralidade, das licenças poéticas da vida, do lúdico, do subjetivo,
do intimismo e da introspectividade dos falantes, dos escritores que às vezes, sem
querer, presentearam a língua com esta riqueza.
Figuras de palavras
Nascem a partir do momento em que nós fazemos uso de uma palavra ou de um
enunciado e o retiramos do sentido denotativo ( literal, não-ficcional, gramatical,
dicionarizante) e a transportamos para o sentido conotativo ( figurativo, ficcional,
literário e subjetivo). No processo, há um desvio de significação da palavra e dá lugar a
uma forma de comparação ou características comuns entre os seres comparados. As
figuras que nasceram num contexto assim a gramática chama de metáforas.
Ex.: O pavão é um arco-íris de plumas.
As figuras que existem dentro do domínio da metáfora são: a própria metáfora, a
comparação, a metonímia, perífrase e a sinestesia.
a) Metáfora: consiste no desvio do sentido de uma palavra do sentido denotativo
para o sentido conotativo.
Ex.: Adélia se via enclausurada numa cadeia de dúvidas.
Ex.: Catrina, coração de pedra, é uma personagem do desenho “Os Cãezinhos do
canil”.
b) Comparação: possui a mesma dimensão que a metáfora, porém o diferencial
são as partículas comparativas que aparecem nela: como, assim como, tal qual,
tal como.
Ex.: Adélia se via como que enclausurada numa cadeia de dúvidas.
c) Metonímia: é a figura metafórica que usa uma palavra em lugar de outra, nos
seguintes aspectos:
- o efeito em lugar da causa: Ex.: Os aviões semeavam a morte.
- o autor pela obra: Ex.: Nas horas de folga ela lia Camões.
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- o continente pelo conteúdo: Ex.: Tomou uma taça de vinho.
- o sinal pela coisa simbolizada por ele: Ex.: Todos aderiram à mensagem da
cruz.
- o lugar em vez dos seus habitantes: Ex.: A América reagiu e combateu.
- a parte pelo todo: Ex.: Ele não tinha teto onde se abrigasse.
- a marca em vez do produto: Ex.: Reuniram no bar e beberam uma Skol.
d) Perífrase: É uma expressão que designa os seres por meio de algum atributo ou
título pelo qual já são conhecidos.
Ex.: Das entranhas da terra jorra o ouro negro.
Ex.: O poeta dos escravos morreu jovem.
Ex.: As Olimpíadas tornarão mais violenta a Cidade Maravilhosa.
e) Sinestesia: é a transferência de percepções e sensações da esfera de um sentido
para a de outro e acaba resultando em quem fala, ouve ou lê o aguçar das
impressões sensoriais ( audição, paladar, visão, tato).
Ex.: Sua voz doce e aveludada era uma carícia em meus ouvidos.
Ex.: A música da morte, a nebulosa, estranha música sombria, que passa pela
minha alma e, fria, gela e passa a tremer maravilhosa.
FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
São aquelas que lançam mão de frases, orações e períodos e fogem da estrutura
canônica ( S+ V+ O) e começam a explorar os enunciados de forma subjetiva,
expressiva e elegante. Por causa disto alguns as chamam de figuras de sintaxe. As
figuras de construção são as seguintes:
a) Elipse: consiste na omissão de um termo que facilmente podemos identificar ao
questionar o contexto.
Ex.: As mãos eram pequenas e os dedos delicados.
Ex.: As quaresmas abriam a flor depois do carnaval, os ipês em junho.
Ex.: Perguntei-lhe quando voltava, mas ele disse que não sabia.
b) Pleonasmo: é o emprego de palavras redundantes, com o fim de reforçar ou enfatizar
a expressão.
Ex.: Os impostos, é necessário pagá-los.
Ex.: A mim resta-me a lembrança do que passou.
Ex.: Secá-las bem secas no jirau.
115
Obs.: Não confunda o pleonasmo acima com o pleonasmo vicioso ( redundância)
que é um vício de linguagem. Por isso são condenáveis pela Gramática os
pleonasmos viciosos como: descer para baixo, subir para cima, ilha fluvial,
monocultura exclusiva, vereador municipal, emulsão de óleo, hemorragia de
sangue, produzir bons frutos, escrever sua autobiografia, adega de bebidas etc.
c) Polissíndeto: é a repetição intencional de elementos de coesão (de preferência
conjunções coordenativas). É eficaz para sugerir movimentos contínuos ou séries
de ações que se sucedem rapidamente.
Ex.: E sob as ondas ritmadas e sob as nuvens e os ventos e sob as pontes e sob os
túneis e sob os túneis e sob as labaredas e sob o sarcasmo (...) às vezes um botão.
Às vezes um rato. ( Carlos Drumond)
d) Zeugma: é uma espécie de elipse , consistindo porém na omissão de um termo já
expresso anteriormente.
Ex.: “ O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, o
meu tataravô baiano” ( Chico Buarque)
Ex.: Foi o pão que diminuiu ou a salsicha que cresceu?
e) Inversão ou hipérbato: como o próprio nome indica, trata-se de uma inversão na
estrutura canônica da oração ( S +V + O) ou nos termos de uma frase. Os escritores
do Barroco na Espanha do século XVI como Luiz de Gôngora, Quevedo e o poeta
do Barroco brasileiro Gregório de Matos Guerra faziam usavam tais figuras de
forma tão intensa, que para ler os poemas deles é necessário colocar os termos na
ordem devida para assim os compreender.
Ex.: Ouviram do Ipiranga às margens plácidas de um povo heroico o brado
retumbante. ( Hino nacional brasileiro)
Ex.: Cachorro, desisti de criar.
f) Anacoluto: é a quebra ou a interrupção do fio da frase ou da oração. Inicia-se o
enunciado que depois é quebrada a sequência normal para introduzir uma palavra
ou uma expressão que não tem nexo com o enunciado escrito anteriormente.
Ex.: Pobre, quando come frango, um dos dois está doente.
Ex.: Eu, não me importa a ruína do mundo.
Ex.: Januária, não conheço cidade mais sossegada que esta.
g) Silepse: é uma figura que força o verbo a concordar não com o sujeito, mas sim com
a ideia que ele representa.
Ex.: Vossa Majestade será informado acerca de tudo. ( silepse de gênero)
116
Ex.: Como vai o pessoal? Estão bem? ( silepse de numero)
Ex.: Perdoem-me, mas não me parece sensato que os brasileiros persistamos em
eleger o populismo. ( silepse de pessoa)
h) Repetição: consiste em reiterar (repetir) palavras ou orações para enfatizar a
afirmação ou sugerir insistência, progressão.
Ex.: O surdo pede que repitam, que repitam, que repitam a última.
Ex.: Café com pão, café com pão, café com pão, manteiga não. ( Manuel Bandeira)
i) Onomatopeia: consiste no aproveitamento de palavras cuja pronúncia imita o som
ou a voz natural dos seres. Os escritores gostam de usá-la como recurso fonêmico
Ex.: E no sítio a gente ouvia o cri- cri dos grilos e o coaxar dos sapos.
j) Aliteração: consiste na repetição intensa de sons consanantais.
Ex.: Vozes veladas, veludosas vozes. Das vórtices vorazes, vozes veladas que
vagam nos ventos: vivas, vãs, vulcanizadas ( Cruz e Souza)
Obs.: a repetição intensa de sons vocálicos é chamada de assonância.
FIGURAS DE PENSAMENTO
São aquelas que fazem uso da palavra com vistas a intervir fortemente nas emoções,
sentimentos e para lidar com as palavras de forma lúdica e subjetiva. As principais
figuras de pensamento são as seguintes:
a) Antítese: consiste na aproximação de palavras ou expressões de sentido oposto.
Ex.: “Última Flor do Lácio, inculta e bela. És a um tempo, esplendor e
sepultura” ( Olavo Bilac)
b) Paradoxo: também conhecida como oxímoro, esta figura consiste em usar
intencionalmente um contra senso.
Ex.: Amor é fogo que arde sem se ver e é ferida que dói e não se sente (
Camões)
Ex.: Feliz culpa de Adão que nos valeu tão grande Redentor ( S. Agostinho)
c) Eufemismo: consiste em suavizar a expressão de uma ideia triste, molesta ou
desagradável, substituindo o termo contundente por palavras amenas e que
sejam adequadas para não gerar um constrangimento.
Ex.: Fulano foi desta para a melhor.
Ex.: Na cidade há escolas para crianças especiais.
117
d) Gradação: É uma sequência de ideias dispostas em sentido progressivo ou
regressivo.
Ex.: O primeiro milhão possuído excita, acirra, assanha a gula do milionário.
Ex.: Um ser limitado, uma ínfima criatura, um grão de pó perdido no cosmo é o
ser humano.
e) Hipérbole: é uma afirmação exagerada e uma deformação da verdade que visa
a um efeito expressivo.
Ex.: Chorou rios de lágrimas.
Ex.: Tenho mil razões para que não saia à rua para brincar.
f) Ironia: é a figura pela qual expressamos o contrário do que pensamos, quase
sempre com intenção de fazer chacota.
Ex.: Fizeste um excelente serviço, jogando o lixo na minha porta e limpando a
sua.
Ex.: A senhora Anastácia era mestra em judiar de criança.
g) Prosopopeia / personificação: é a figura pela qual fazemos os seres
inanimados, substantivos abstratos e seres irracionais adquirirem características
de seres humanos.
Ex.: Os sinos chamam para o amor.
Ex.: A saudade matou meu coração.
Ex.: O botão levado na enxurrada me olhou com um olhar triste!
h) Catacrese: é uma figura que consiste em retirar uma estrutura de um ser vivo e
atribui-la a um ser inanimado por não ter outra palavra para empregar ao se
referir a tal.
Ex.: A perna da mesa quebrou-se.
Ex.: Um dente de alho basta, para temperar o feijão.
Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa: estilística. 46ª edição, Editora
Nacional, 1999. Pág.: 614.
MARTINS, Nice Santana. Introdução à Estilística: a expressividade na língua portuguesa. Edusp; 4ª edição, 2008,
São Paulo.
LEMOS, José. Fundamentos da Estilística. 1ª edição. Livraria Arte e Ciência, Fortaleza, 198.
118
CAPÍTULO 11: O EMPREGO DA CRASE
“ Se vai a e volta da, crase há. Se está em e volta de, crase para quê?” ( Macete
popularmente usado nos cursos preparatórios)
119
CAPÍTULO 11 : O EMPREGO DA CRASE
A crase não é exatamente um acento gráfico como o são o acento agudo e o acento
circunflexo. Ela resulta de uma fusão da preposição “a” + o artigo definido feminino
“a”. Então: a + a = à. A palavras crase, em grego, é “krásis” e traduzido é : “fusão,
mistura”.
Ex.: Graças a Deus cheguei a a primavera. (antes de a Gramática normatizar o
fenômeno)
Ex.: Graças a Deus cheguei à primavera. ( hoje, depois que a Gramática padronizou)
Vejam nos exemplos acima que o fenômeno da crase decorre de uma fusão entre a
preposição “a” e o artigo definido feminino que precede a palavra primavera “a” é que
ocasionaram o fenômeno da crase. Por ser um fenômeno, os gramáticos condenam a
expressão: “este a é craseado”. Outros gramáticos, por questão de tornar menos
complexo e polêmico o assunto preferiram sim usar a expressão: “o acento indicador da
crase”. Eu aconselho que vocês digam: “o fenômeno / fusão crase”.
Regra Geral: Haverá crase sempre que um verbo transitivo indireto ou um nome
(substantivo, adjetivo, advérbio) pedir um complemento regido da preposição
obrigatória “a” e o objeto indireto / complemento nominal for uma palavra feminina
precedida do artigo definido “a”.
Ex.: Iremos a a festa v.t.i prep. art obj. ind. fem.
Ex.: Iremos à festa.
Ex.: Era insensível a a dor. nome prep. art compl. nom. feminino
Ex.: Era insensível à dor.
QUANDO NÃO VAI OCORRER O FENÔMENO DA CRASE
a) Antes de palavras masculinas.
Ex.: Não assisto a filmes de guerra.
Ex.: Isto cheira a vinho.
Ex.: Escreveu um bilhetinho a lápis.
Ex.: Bicho se caça a pau e pedra.
Obs.: se antes da palavra ficar subentendida a expressão “ à moda de”, então
acontecerá o fenômeno da crase:
Ex.: Fez um gol à William. ( subentende-se a expressão “à moda de”)
Ex.: Calçava sapatos à Luís XV.
120
b) Antes de pronomes
Ex.: Recorri a minha mãe.
Ex.: Dedico a obra a todas as mulheres de Januária.
Ex.: Refiro-me a você.
Ex.: Assistiram a vossa desobediência.
Ex.: Não me referi a Vossa Excelência.
Obs.: Mas em se tratando de pronomes de tratamentos femininos como:
“senhora e senhorita” em se tratando de pronomes relativos e de pronomes
demonstrativos, aí sim haverá o fenômeno da crase.
Ex.: Peço à senhora que tenha paciência.
Ex.: É um favor que peço à senhorita.
Ex.: Não temos as acusações às quais responderei em julgamento.
Ex.: Refiro-me àquela mulher.
c) Antes de nomes próprios femininos que não admitem o artigo
Ex.: Rezamos a Nossa Senhora todos os dias.
Ex.: Dedicaram templos a Minerva e a Júpiter.
Ex.: O guerreiro branco falou a Iracema.
Ex.: Fiz uma promessa a Santa Terezinha.
Obs.: Mas quando nome próprio admitir o artigo feminino, deve acontecer a
fusão.
Ex.: A jovem tinha devoção à Virgem Maria.
Ex.: Entreguei a carta à Júlia.
d) Antes de nomes de cidades, estados, capitais e demais lugares que não aceitem a
regência verbal “ estou na” e “volto da” e sim as regências “estou em” e
“volto de”
Ex.: Vou a Montes Claros. [ Estou em Montes Claros / Volto de Montes Claros]
Ex.: Viajamos a Ouro Preto. [ Estou em Ouro Preto/ Volto de Ouro Preto]
Obs.: Mas se o nome da cidade, do estado, capital e demais lugares aceitarem
a regência verbal “estou na” e “volto da”, então acontecerá o fenômeno da crase.
Ex.: Vou à Bahia. [ Estou na Bahia / Volto da Bahia]
Ex.: Chegamos à América. [ Estou na América / Volto da América]
Ex.: Bem-vindos à Alemanha. [ Estou na Alemanha]
Atenção: se o nome de lugar aparecer acompanhado de adjetivo ou de locução
que o caracterize, mesmo que a regência verbal dele seja “estou em” e “volto de”,
ainda assim acontecerá a crase.
121
Ex.: Chegamos à Montes Claros do arroz com pequi.
Ex.: Bem-vindos à Januária do sol quente.
Ex.: Referiu-se à Roma dos césares.
e) Antes da palavra no sentido de domicílio e lar
Ex.: Voltamos a casa tristes.
Ex.: Chegavam a casa quase sempre de tardezinha.
Obs.: Se a palavra casa vier acompanhada de adjetivo ou locução que
caracterize, então acontecerá a crase. E também se a palavra casa não significar
“lar” e “domicílio”
Ex.: O filho pródigo voltou à casa paterna.
Ex.: Fiz uma visita à velha casa de meus avós.
Ex.: Fui à Casa da Moeda.
Ex.: O presidente Obama regressou à Casa Branca.
f) Antes de palavras repetidas
Ex.: Tomou o remédio gota a gota.
Ex.: Estavam frente a frente.
Ex.: Dia a dia a empresa foi crescendo.
g) Antes da palavra “terra”, quando esta significar: “ solo e terra firme”
Ex.: Vendo o tubarão, o nadador voltou logo a terra.
Ex.: Os marinheiros tinham descido a terra para rever os parentes.
Obs.: quando a palavra se referir ao planeta e à pátria, então ocorrerá o
fenômeno da crase.
Ex.: Os astronautas voltaram à Terra.
Ex.: Gulliver chegou primeiramente à terra dos liliputianos.
h) Antes de numerais cardinais
Ex.: O presidente inicia a visita a oito países africanos.
Ex.: Assisti a duas sessões que reprisavam estes filmes.
Ex.: A fazenda ficava a três léguas da cidade.
Ex.: Daqui a quatro semanas muita coisa terá mudado.
Obs.: Se o numeral indicar horas ou se for numeral ordinal feminino, então
acontecerá o fenômeno da crase.
Ex.: Chegamos às oito horas da noite.
Ex.: Refiro-me à terceira aluna da fila.
122
i) Antes de verbos
Ex.: Estamos dispostos a trabalhar pela paz no mundo.
Ex.: Puseram-se a discutir em voz alta.
j) Antes de adjuntos adverbiais que indicam meio e instrumentos
Nestes casos os gramáticos não chegaram a um consenso, mas Celso Cunha,
Bechara, Paschoalle Cipro Neto e Cegalla prescrevem que é opcional. Por isso, segundo
eles, as locuções adverbiais de meio/ instrumento: “à chave/ a chave; à mão / a mão; a
bala/ à bala; à óleo/ a óleo” devem ser grafadas com o sinal indicador do fenômeno ou
não.
Obs.: Mas nas locuções adverbiais de lugar (à esquerda, à mesa, à direita), nas
locuções adverbiais de modo ( à força, à milanesa, à solta, à vontade, às escondidas, às
pressas, às apalpadelas, à distância, à toa, às claras...), nas locuções adverbiais de
tempo ( às vezes, à tarde, à noite) e nas locuções conjuntivas proporcionais ( à
medida que, à proporção que), acontecerá sim o fenômeno da crase.
Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa, São Paulo, Editora Nacional, 1962.
CUNHA, Celso. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro,1985.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa: crase. 46ª edição, Editora
Nacional, 1999. Pág.: 275-280.
INFANTE, Ulisses; Cipro Neto. Gramática da Língua Portuguesa: crase. 3ª edição; Scipione, São Paulo, 2008.
123
CAPÍTULO 12: OS RECURSOS DE PONTUAÇÃO
“Ele disse o quê? ‘Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso’. Ou disse: ‘Em
verdade te digo hoje: estarás comigo no paraíso’.” ( ? ) – S. Agostinho.
124
CAPÍTULO 12: OS RECURSOS DE PONTUAÇÃO
A pontuação é outra parte da Gramática que não há indícios concretos de que existia
na Antiguidade. Apesar de alguns terem escrito uma data, não se sabe precisar com
exatidão quando foi que teve início o processo de grafar o discurso com sinais de
pontuação indicadores de pausa breve ( , ), pausa longa ( . ), indagação ( ? ), expressão
emotiva ( ! ); e a possibilidade de sinalizar que o discurso foi interrompido ou que há
mais no discurso que poderia ser citado (...). Os textos sagrados, desde a Antiguidade e,
sobretudo da Idade Média até nossos dias, sempre foram objeto de estudo por parte dos
filósofos gregos, dos monges copistas da igreja romana, dos rabinos judeus tradutores
do texto hebraico e grego do Antigo Testamento bíblico, dos muçulmanos que estudam
os textos do Alcorão e os hindus que estudaram os textos dos Vedas. No caso de textos
sagrados é muito importante na hora da tradução que a hermenêutica seja ao máximo
fiel ao texto original, porque textos sagrados envolvem a cultura, a identidade e a
herança de um povo e isso requer cuidado, porque às vezes, a interpretação não fica
restrita apenas a cultura daquele determinado povo, mas acaba influenciando a toda
humanidade. Para auxiliar a hermenêutica é que a pontuação mostrou-se relevante. A
partir de então, tornou-se essencial na construção do discurso presente em todo e
qualquer enunciado.
Os objetivos dos sinais de pontuação são os seguintes:
a) Assinalar as pausas e as inflexões da voz ( a entoação) na leitura;
b) Separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas;
c) Esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade.
Lembrete: não há entre os escritores ainda um consenso quanto ao emprego dos sinais
de pontuação. Por isso não posso aqui traçar regras rigorosas sobre este assunto. Vou
colocar aqui apenas aquilo que já é uso geral na escrita e que a Gramática já vem
sancionando há muitos anos.
O uso da vírgula
Regra Geral: nunca use entre sujeito e verbo e nunca use entre verbo e objeto. Não use
entre o sujeito e o verbo de ligação e nem entre o verbo de ligação e o predicativo. Não
use entre o nome e o complemento nominal.
Obs.: use para separar orações coordenadas.
Ex.: Vim, vi, venci.
Ex.: Vim, vi e venci.
Ex.: Felizes os que não viram, mas creram.
Ex.: O aluno estudou pouco, logo foi reprovado.
Ex.: Ou você estuda, ou não te quero aqui.
125
Obs.: Use para separar o vocativo ( ser evocado através do chamamento).
Ex.: Velho mundo, vasto mundo, se me chamasse Raimundo seria uma rima e não uma
solução.
Obs.: Use para separar o aposto ( termo acessório que tem a função de explicar,
caracterizar um ser para que não seja confundido com nenhum outro).
Ex.: Castro Alves, o poeta dos escravos, morreu jovem.
Obs.: Use para intercalar orações (fazer uma ressalva e depois dar sequência ao que
dizia anteriormente)
Ex.: A história, diz Cícero, é a mestra da vida.
Obs.: Use em expressões tradicionais que servem para retificar um pensamento como as
expressões: “isto é”, “ou seja”, “a saber”, “por exemplo”, “ou melhor”, “ou antes”.
Obs.: Use para separar orações subordinadas adverbiais.
Ex.: Enquanto estudava, sofria.
Ex.: Cada ovo era enrolado em palha, a fim de não quebrar.
Ex.: Já que ninguém me emprega, decidi recorrer à mendicância.
Ex.: Se você tomar o ônibus no horário certo, você chegará a tempo.
Ex.: À medida que o vento avançava, mais rápido o fogo queimava.
Ex.: Como a corça anseia por águas, assim tenho sede.
Atenção: as orações subordinadas adverbiais consecutivas a maioria dos gramáticos
não aconselham separar com vírgulas.
Ex.: O vento foi tão forte que por pouco leva a saia da comadre.
Obs.: Use a vírgula para separar os provérbios populares, datas e endereços que
desejamos realçar.
Ex.: Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.
Ex.: Montes Claros, 22 de abril de 2015.
Ex.: Avenida Neco Delfino, 303.
Obs.: Nunca troque um elemento de coesão coordenativo ou um elemento de coesão
subordinativo por uma vírgula, a fim de não comprometer a coerência do enunciado.
Elemento de coesão tem poder conectivo, mas a vírgula não desempenha esta função.
126
O ponto e vírgula
O ponto e vírgula é um sinal gráfico indicador de uma pausa de maior intensidade
que a vírgula. É aconselhável usar nas seguintes situações:
- para separar enunciados mais extensos:
Ex.: “ Depois Iracema quebrou a flecha homicida; deu a haste ao desconhecido,
guardando consigo a ponta farpada” ( José de Alencar).
- para separar os regulamentos de um decreto, os incisos de um artigo da lei, de
uma sentença, de uma petição, para separar expressões e palavras expostas em
sequência enumerativa.
Ex.: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Os dois pontos
- Empregam-se este sinal de pontuação principalmente para anunciar que
alguém vai tomar a palavra.
Ex.: Nunca questionava a vida, nem as coisas, mas um dia em frente ao espelho
disse a si mesma: “quem sou eu?” ( Clarice Lispector. A Hora da Estrela)
- Empregam-se antes de uma citação:
Ex.: O pessoal do extremo norte tem um slogan: “Amazônia também é Brasil”.
- Empregam-se antes de apostos, principalmente os enumerativos:
Ex.: Tudo ameaça as plantações: vento, enchentes, geadas, insetos daninhos,
pisoteio de gado e coisas semelhantes.
- Empregam-se para indicar um esclarecimento em resumo do que se disse e
empregam-se em orações coordenadas explicativas:
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Ex.: O padre era assim mesmo: amigo dos pobres.
Ex.: Em resumo: saí de casa com dez reais no bolso.
Ex.: A casa não caiu por milagre de Deus: foi construída num mutirão.
Ex.: Não participou da apresentação: estava doente.
Ponto Final
O ponto final representa a pausa máxima da voz. A melodia da frase indica que o tom é
descendente. Emprega-se, principalmente:
- Para fechar o período de frases afirmativas, negativas, declarativas e
imperativas.
Ex.: Mestre Vitorino morava no mar.
Ex.: Não se enrugue, coro velho, porque te quero para tambor.
Ex.: O coronel Murta não ata e nem desata.
- Usa-se o ponto final nas abreviaturas:
Ex.: Sr. ( senhor); a.C. (antes de Cristo), pág. (página); P.S. (post scritum).
Ponto de Interrogação ( ? )
O ponto de interrogação é usado ao final de qualquer interrogação direta, ainda que a
pergunta não exija resposta. A entoação ocorre de forma ascendente.
Ex.: Onde você comprou este computador?
Obs.: não se usa ponto interrogativo nas perguntas indiretas.
Exemplo: Perguntei quem era aquela criança.
Note que:
1) O ponto de interrogação pode aparecer ao final de uma pergunta
intercalada, entre parênteses.
Exemplo: Trabalhar em equipe (quem o contesta?) é a melhor forma
para atingir os resultados esperados.
2) O ponto de interrogação pode realizar combinação com o ponto
admirativo.
Exemplo: Eu?! Que ideia!
128
Ponto de Exclamação ( ! )
O ponto de exclamação é utilizado após as interjeições, frases exclamativas e
imperativas. Pode exprimir surpresa, espanto, susto, indignação, piedade, ordem,
súplica, etc. Possui entoação descendente.
Ex.: Como as mulheres são lindas!
Pare, por favor!
Ah! Que pena que ele não veio...
Obs.: o ponto de exclamação substitui o uso da vírgula de um vocativo enfático.
Exemplo: Ana! Venha até aqui!
Reticências (...)
As reticências marcam uma suspensão da sequência do enunciado, devido a
elementos de natureza emocional. Empregam-se:
- Para indicar continuidade de uma ação ou fato.
Ex.: O tempo passa...
- Para indicar suspensão ou interrupção do pensamento.
Ex.: Vim até aqui achando que...
- Para representar, na escrita, hesitações comuns na língua falada.
Ex.: Não quero sobremesa... porque...porque não estou com vontade.
- Para realçar uma palavra ou expressão.
Ex.: Não há motivo para tanto... mistério.
- Para realizar citações incompletas.
Ex.: O professor pediu que considerássemos esta passagem do hino brasileiro:
" Deitado eternamente em berço esplêndido..."
- Para deixar o sentido da frase em aberto, permitindo uma interpretação pessoal
do leitor.
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Ex.: " Estou certo, disse ele, piscando o olho, que dentro de um ano a vocação
eclesiástica do nosso Bentinho se manifesta clara e decisiva. Há de dar um padre de
mão-cheia. Também, se não vier em um ano..." (Machado de Assis)
Saiba que
As reticências e o ponto de exclamação, sinais gráficos
subjetivos de grande poder de sugestão e ricos em matizes
melódicos, são ótimos auxiliares da linguagem afetiva e
poética. Seu uso, porém, é antes arbitrário, pois depende do
estado emotivo do escritor.
Parênteses ( )
Os parênteses têm a função de intercalar no texto qualquer indicação que, embora não
pertença propriamente ao discurso, possa esclarecer o assunto. Empregam-se:
- Para separar qualquer indicação de ordem explicativa, comentário ou reflexão.
Ex.: Zeugma é uma figura de linguagem que consiste na omissão de um termo
(geralmente um verbo) que já apareceu anteriormente na frase.
- Para incluir dados informativos sobre bibliografia (autor, ano de publicação,
página entre outros)
Ex.: " O homem nasceu livre, e em toda parte se encontra sob ferros" (Jean- Jacques
Rousseau, Do Contrato Social e outros escritos. São Paulo, Cultrix, 1968.)
- Para isolar orações intercaladas com verbos declarativos, em substituição à
vírgula e aos travessões.
Ex.: Afirma-se (não se prova) que é muito comum o recebimento de propina para que
os carros apreendidos sejam liberados sem o recolhimento das multas.
- Para delimitar o período de vida de uma pessoa.
Ex.: Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987).
- Para indicar possibilidades alternativas de leitura.
Ex.: Prezado(a) usuário(a).
130
- Para indicar marcações cênicas numa peça de teatro.
Ex.: Abelardo I : - Que fim levou o americano?
João: - Decerto caiu no copo de uísque!
Abelardo I : -Vou salvá-lo. Até já!
(sai pela direita)
(Oswald de Andrade)
Obs.: Num texto, havendo necessidade de utilizar alíneas, estas podem ser ordenadas
alfabeticamente por letras minúsculas, seguidas de parênteses (Note que neste caso as
alíneas, exceto a última, terminam com ponto e vírgula).
Ex.: No Brasil existem mulheres: a) morenas; b) loiras; c) ruivas.
Os Parênteses e a Pontuação
Veja estas observações:
1) As frases contidas dentro dos parênteses não costumam ser muito longas, mas devem
manter pontuação própria, além da pontuação normal do texto.
2) O sinal de pontuação pode ficar interno aos parênteses ou externo, conforme o caso.
Fica interno quando há uma frase completa contida nos parênteses.
Ex.: É importante ter atenção ao uso dos parênteses. (Eles exigem um cuidado
especial!)
Ex.: Vamos confiar (Por que não?) que cumpriremos a meta.
Se o enunciado contido entre parênteses não for uma frase completa, o sinal de
pontuação ficará externo.
Ex.: O rali começou em Lisboa (Portugal) e terminou em Dacar (Senegal).
2) Antes do parêntese não se utilizam sinais de pontuação, exceto o ponto. Quando
qualquer sinal de pontuação coincidir com o parêntese de abertura, deve-se optar
por colocá-lo após o parêntese de fecho.
131
Travessão ( – )
O travessão é um traço maior que o hífen e costuma ser empregado:
- No discurso direto, para indicar a fala da personagem ou a mudança de
interlocutor nos diálogos.
Ex.: – O que é isso, mãe?
– É o seu presente de aniversário, minha filha.
- Para separar expressões ou frases explicativas, intercaladas.
Ex.: "E logo me apresentou à mulher, – uma estimável senhora – e à
filha." (Machado de Assis)
- Para destacar algum elemento no interior da frase, servindo muitas vezes para
realçar o aposto.
Ex.: "Junto do leito meus poetas dormem – O Dante, a Bíblia,
Shakespeare e Byron – Na mesa confundidos." (Álvares de Azevedo)
- Para substituir o uso de parênteses, vírgulas e dois-pontos, em alguns casos.
Ex.: "Cruel, obscena, egoísta, imoral, indômita, eternamente selvagem,
a arte é a superioridade humana – acima dos preceitos que se combatem,
acima das religiões que passam, acima da ciência que se corrige;
embriaga como a orgia e como o êxtase." (Raul Pompeia)
Aspas ( " " )
As aspas têm como função destacar uma parte do texto. São empregadas:
- Antes e depois de citações ou transcrições textuais.
Ex.: Como disse Machado de Assis: "A melhor definição do amor não vale um beijo
de moça namorada."
- Para representar nomes de livros ou legendas.
Ex.: Camões escreveu "Os Lusíadas" no século XVI.
Obs.: para realçar títulos de livros, revistas, jornais, filmes, etc. também podemos grifar
as palavras, conforme o exemplo:
Ex.: Ontem assisti ao filme Central do Brasil.
132
- Para assinalar estrangeirismos, neologismos, gírias, expressões populares, ironia.
Ex.: O "lobby" para que se mantenha a autorização de importação de
pneus usados no Brasil está cada vez mais descarado. (Veja)
Ex.: Com a chegada da polícia, os três suspeitos "se mandaram"
rapidamente.
Ex.: Que "maravilha": Felipe tirou zero na prova!
- Para realçar uma palavra ou expressão.
Ex.: Mariana reagiu impulsivamente e lhe deu um "não".
Quem foi o "inteligente" que fez isso?
Obs.: em trechos que já estiverem entre aspas, se necessário usá-las novamente,
empregam-se aspas simples.
Ex.: "Tinha-me lembrado da definição que José Dias dera deles, 'olhos de
cigana oblíqua e dissimulada'. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e
queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar." (Machado de
Assis).
Colchetes [ ]
Os colchetes têm a mesma finalidade que os parênteses; todavia, seu uso se restringe
aos escritos de cunho didático, filológico, científico. Pode ser empregado:
- Em definições do dicionário, para fazer referência à etimologia da palavra.
Ex.: amor- (ô). [Do lat. amore.] 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o
bem de outrem, ou de alguma coisa: amor ao próximo; amor ao patrimônio artístico de
sua terra. (Novo Dicionário Aurélio)
- Para intercalar palavras ou símbolos não pertencentes ao texto.
Ex.: Em Aruba se fala o espanhol, o inglês, o holandês e o papiamento. Aqui estão
algumas palavras de papiamento que você, com certeza, vai usar:
1- Bo ta bon? [Você está bem?]
2- Dios no ta di Brazil. [Deus não é brasileiro.]
- Para inserir comentários e observações em textos já publicados.
Ex.: Machado de Assis escreveu muitas cartas a Sílvio Dinarte. [pseudônimo de
Visconde de Taunay, autor de "Inocência"]
133
- Para indicar omissões de partes na transcrição de um texto.
Ex.: "É homem de sessenta anos feitos [...] corpo antes cheio que magro, ameno e
risonho" (Machado de Assis)
Asterisco ( * )
O asterisco, sinal gráfico em forma de estrela, costuma ser empregado:
- Nas remissões a notas ou explicações contidas em pé de páginas ou ao final de
capítulos.
Ex.: “Ao analisarmos as palavras sorveteria, sapataria, confeitaria, leiteria e muitas
outras que contêm o morfema preso* -aria e seu alomorfe -eria, chegamos à conclusão
de que este afixo está ligado a estabelecimento comercial. Em alguns contextos pode
indicar atividades, como em: bruxaria, gritaria, patifaria, etc.”
* É o morfema que não possui significação autônoma e sempre aparece ligado a outras
palavras.
- Nas substituições de nomes próprios não mencionados.
Ex.:O Dr.* conversou durante toda a palestra.
O jornal*** não quis participar da campanha.
Parágrafo ( § )
O símbolo para parágrafo, representado por §, equivale a dois “esses” (S)
entrelaçados, iniciais das palavras latinas "Signum sectionis" que significam sinal de
secção, de corte. Num ditado, quando queremos dizer que o período seguinte deve
começar em outra linha, falamos parágrafo ou alínea. A palavra alínea (vem do latim a
+ lines) e significa distanciado da linha, isto é, fora da margem em que começam as
linhas do texto.
O uso de parágrafos é muito comum nos códigos de leis.
Ex.: § 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem obedecidas na efetivação
do disposto no § 4º.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa: crase. 46ª edição, Editora
Nacional, 1999. Pág.: 428.
LUFT, Celso Pedro. A Vírgula. Editora Ática, São Paulo, 1996.
TUCCI, William. A Rebelião da Pontuação. 1ª edição. Saraiva, São Paulo, 2014
134
APÊNDICE
Tencionei aqui tecer umas considerações acerca de algumas regrinhas gramaticais que
às vezes representam desafios e geram dúvidas nos estudantes de língua portuguesa.
Gostaria, à luz da Gramática de me demorar em algumas delas, a fim de lhes prestar
algum auxílio.
O EMPREGO DO HÍFEN
O emprego do hífen é matéria extremamente complexa e mal disciplinada pelo
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa ( VOLP), sobretudo no que diz respeito
ao uso deste sinal em palavras formadas por prefixação , nas quais mais palpáveis são as
falhas e incoerências. Para quem escreve, o emprego do hífen é um autêntico quebra-
cabeça.
Coloco abaixo, primeiramente quando se deve usar o hífen como está prescrito nas
principais regras agora, ou seja, depois que entrou em vigor em 01 de janeiro de 2016 o
Novo Acordo Ortográfico o qual apresenta novas regras, não só na acentuação gráfica,
mas também no emprego do hífen.
Regras essenciais sobre quando usar o hífen
a) A letra “h” é uma letra sem som. Portanto, após prefixos o hífen deve aparecer
para separá-la da outra palavra.
Ex.: pré-história; anti-higiênico; sub-hepático; super-homem.
b) Em letras iguais separam-se, mas em letras diferentes, juntam-se.
Ex.: anti-inflamatório; neoliberalismo; supraauricular; extraoficial; arqui-
inimigo; semicírculo; sub-bibliotecário; superintendente.
c) Quanto às letras "r" e a letra "s", se o prefixo terminar em vogal, a consoante
deverá ser dobrada e o hífen desaparece.
Ex.: suprarrenal (supra +renal); ultrassonografia (ultra+ sonografia), minissaia,
antisséptico, contrarregra.
d) Entretanto, se o prefixo terminar em consoante, o hífen deve separar as palavras.
Ex.: Sub-reino; ab-rogar.
e) Quando a letra r e a letra s se encontrarem, permanece a regra geral: letras iguais
são separadas pelo hífen.
Ex.: super-requintado; super-realista; inter-resistente.
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CONTINUAMOS A USAR O HÍFEN
Depois dos prefixos “ex-, sota-, soto-, vice- e vizo-”
Ex.: ex-diretor, ex-hospedeira, sota-piloto, soto-mestre, vice-presidente , vizo-rei
Depois de “pós-, pré- e pró-”
Ex.: pós-tônico, pré-escolar, pré-natal, pró-labore, pró-africano, pró-europeu, pós-
graduação
Depois de "pan-", "circum-", quando seguidos de vogais.
Ex.: pan-americano, circum-escola
ATENÇÃO!
Não se usa o hífen após os prefixos “co-, re-, pre”( quando estes não são acentuados)
Ex.: coordenar, reedição, preestabelecer, coordenação, refazer, preexistir
reescrever, prever, coobrigar, relembrar, cooperação, reelaborar.
O ideal para memorizar essas regras, lembre-se, é conhecer e usar pelo menos uma
palavra de cada prefixo. Quando bater a dúvida numa palavra, compare-a com a palavra
que você já sabe e escreva-a duas vezes: numa você usa o hífen, na outra não. Qual a
certa? Confie na sua memória! Uma delas vai te parecer mais familiar.
Resumindo: Letras iguais são separadas com hífen, mas letras diferentes, juntam-se
com o hífen. A letra “h” não tem personalidade, logo é separada com o hífen. As letras
“r” e o “s”, quando estão perto das vogais, são dobradas. Mas não se juntam com
consoantes.
O HÍFEN NÃO DEVE MAIS SER UTILIZADO
O hífen não é mais utilizado nos seguintes casos:
a) Em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal e
seguidos de palavras iniciadas pelas letras r ou s, sendo que estas devem ser
dobradas.
Exemplos: antessala, antessacristia, antirrábico, antirracismo, antirreligioso,
antirrugas, antissemita, antissocial, arquirromântico, arquirrivalidade,
autorregulamentação, autorretrato, biorritmo, biossatélite, biossistema,
contrarregra, contrassenso, contrassenha, cosseno, eletrossiderurgia,
extrarregimento, extrarregular, extrassístole, extrasseco, infrassom, infrarrenal,
megarreserva, megassena, megassistema, microrradiografia, minirreforma,
microssistema, minissaia, multissecular, neorrealismo, neossimbolista,
psicossocial, ultrarresistente, ultrarromântico, ultrassonografia, ultrassom,
semirreta, suprarrenal, suprassensível, etc.
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b) Em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal e
seguidos de palavras iniciadas por vogal diferente.
Ex.: aeroespacial, agroindustrial, anteontem, antiaéreo, antieducativo,
autoafirmação, autoajuda, autoaprendizagem, autoescola, autoestima,
autoestrada, autoinstrução, coautor, coedição, coeducação, contraexemplo,
contraindicação, contraordem, extraescolar, extraoficial, infraestrutura,
intraocular, intrauterino, neoexpressionista, neoimperialista, plurianual,
semiaberto, semiautomático, semiárido, semianalfabeto, semiembriagado,
semiesférico, semiopaco, semiobscuridade, supraocular, ultraelevado, etc.
c) Quando o prefixo termina em vogal, e o segundo elemento começa por
consoante diferente de r ou s.
Exemplos: anteprojeto, antipedagógico, antivírus, autopeça, autoproteção,
coprodução, geopolítica, microcomputador, pseudoprofessor, semicírculo,
semideus, seminovo, ultramoderno, etc.
d) Em locuções de qualquer tipo (substantivas, adjetivas, pronominais, verbais,
adverbiais, prepositivas ou conjuncionais).
Ex.: cão de guarda, fim de semana, fim de mês, fim de ano, fim de século, café
com leite, pão de mel, sala de jantar, cartão de visita, cor de vinho...
e) Com exceção dos compostos que designam espécies botânicas e zoológicas, não
se emprega o hífen nos compostos por justaposição com termo de ligação.
Exemplos: calcanhar de Aquiles, dor de cotovelo, pé de moleque, folha de
flandres, tomara que caia, quarto e sala...
Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-
de-meia, ao-deus-dará, à queima-roupa...
f) Nas ligações da preposição "de" às formas monossilábicas do presente do
indicativo do verbo haver.
Exemplos: hei de, hás de, hão de...
g) As locuções tão só, tão somente e à toa não recebem mais hífen.
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AS FUNÇÕES DA PARTÍCULA “SE”
A partícula “se” foi muito mencionada aqui nesta gramática. São duas letrinhas, mas o
seu valor morfossintático deve ser examinado e exposto, já que nos concursos e
processos seletivos elas, volta e meia, para não dizer sempre, são cobradas. Vejam as
principais funções que a partícula “se” desempenha:
a) Partícula apassivadora: acontece sempre que a oração apresenta: verbo + a
partícula se + substantivo ou expressão com valor substantivo. Em casos
assim geralmente é possível fazer a transmutação do enunciado para a voz
passiva analítica.
Ex.: Digitam-se trabalhos escolares.
Vejam que na oração acima temos o verbo + a partícula se + o substantivo. E
que quando fazemos a transposição para a voz passiva analítica a oração fica
assim:
Ex.: Trabalhos escolares são digitados.
b) Índice de Indeterminação do sujeito: acontece sempre que a oração apresenta:
verbo transitivo indireto + partícula se + objeto indireto. Quando isso
acontece, é impossível fazer a transmutação para a voz passiva analítica.
Ex.: Trata-se de um mandado de segurança.
Obs.: Algumas vezes é um verbo intransitivo e às vezes até um verbo de
ligação que aparece antes da partícula se, mas mesmo assim, não será possível
a transposição para a voz passiva.
Ex.: É- se muito feliz quando se reside em casa própria.
Ex.: Na África Subsaariana morre-se de fome.
c) Pronome reflexivo: acontece sempre que o verbo indicar que o sujeito faz e sofre
uma ação. Em casos assim é sempre possível atribuir à ação expressa pelo verbo
as expressões: a si mesmo, a ti mesmo, a ele mesmo, a nós mesmos, a vós
mesmos e a eles mesmos.
Ex.: Ele vestiu-se rapidamente.
Ex.: Os pais contemplam-se nos filhos.
Ex.: Ele arroga-se ao direito de julgar a fé alheia.
Obs.: Quando o verbo indicar uma ação mútua ( de um ser para com outro), diz-
se que a partícula se representa um pronome recíproco.
Ex.: Os repórteres entreolharam-se em silêncio.
138
Ex.: Os dois pretendentes insultaram-se.
Obs.: Há verbos que não são pronominais, mas as pessoas teimam em usá-los
como se o fossem. Por exemplo, na linguagem coloquial já é de praxe a gente
ouvir o verbo “simpatizar” como pronominal, ou seja, assim: “simpatizar-se”.
Nunca foi! E em contrapartida, quando o verbo é pronominal, aí o coloquialismo
não o emprega como sendo. Estes verbos são pronominais: queixar-se,
arrepender-se, alegrar-se, afastar-se, suicidar-se, converter-se, indignar-se,
zangar-se, abster-se e outros. Há verbos que são acidentalmente pronominais,
ou seja, dependendo do contexto podem aparecer como pronominais ou não
como os verbos: lembrar-se, esquecer-se, matar-se, deitar-se, sentar-se,
levantar-se, enganar-se e outros.
Autor citado direta e indiretamente neste apêndice
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46ª
edição, Editora Nacional, 1999.
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Sobre o escritor e organizador desta Gramática
Wagner Aparecido Silva ou Wagner A.S. Chaves nasceu em 01 de junho de 1984. Viveu a
infância nos municípios de Porteirinha e Bocaiúva. Aos 9 anos de idade foi viver com os
padres diocesanos para que pudesse avançar seus estudos porque, para uma criança de sua
idade, ele possuía uma inteligência avançada: já sabia ler, já escrevia textos pequenos e já
conhecia a Torá judaica e sabia muito sobre a igreja romana. Mudou-se depois para
Bocaiúva, BH, Januária e hoje mora em Montes Claros. Viajou para Portugal até à Cova da
Iria, em Fátima, onde ocorre a devoção a Nossa Senhora de Fátima e também para a
Flórida, na viagem de intercâmbio da escola de inglês e participou da peregrinação à
Jerusalém no projeto Obra de Maria, da Comunidade Canção Nova. Dos 9 até os 21 anos
de idade, Wagner morou com os padres e depois fez o curso de Teologia. Em 2007,
Wagner, depois de participar dos encontros vocacionais e do Caminho Católico
Neocatecumenal, desistiu da sua vocação de ser padre devido à discordâncias teológicas e
foi fazer o curso de Letras, na Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, o qual
terminou em 2010. Hoje, Wagner faz Pós-Graduação em Literatura, cursa Geografia na
Unimontes e trabalha na Secretaria Estadual do Meio Ambiente e leciona Gramática e
Geografia em cursos preparatórios para Vestibulares e para o ENEM.