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Esta publicação foi possível graças ao apoio da

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este ao Conselho Científico e de Administração do ILSI Brasil.

Segundo o estatuto do ILSI Brasil, 50% de seu Conselho Científico e de

Administração deve ser composto por representantes de universidades,

institutos e órgãos públicos, sendo os demais membros

representantes de empresas associadas.

Na página 100, encontra-se a lista dos membros do

Conselho Científico e de Administração do ILSI Brasil

e na página 101, as empresas patrocinadoras.

Para mais informações, entre em contato com o ILSI Brasil

pelo telefone 11 3035-5585 ou

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Dra. Pilar Inés LlanosLicenciada em Nutrição pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Buenos Aires.

Professora de Dietoterapia e Técnicas Dietéticas no curso de especialização emNutrição para Médicos no Instituto de Nutrição Fundação Barceló,

professora convidada pela Universidade Favaloro para os cursos de pós-graduação.

Dr. Marcelo Macedo RogeroGraduado em Nutrição pela Universidade de São Paulo, mestre em Ciências dos Alimentos pelaUniversidade de São Paulo, doutor em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo e

pós-doutor em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo e pelaFaculdade de Medicina da Universidade de Southampton, Inglaterra.

Professor titular do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública - USP.

Dr. Lisandro Alberto GarcíaMédico especialista em Gastroenterologia e Nutrição.

Docente titular de Nutrição da Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires,professor de Nutrição Clínica na especialização em Nutrição para Médicos na Universidade Favaloro,

professor de Nutrição na especialização em Diabetes para Médicos na Universidade Nacional de Córdoba,docente do curso de Nutrição Clínica da Sociedade Argentina de Nutrição.

Dr. Luis Emilio Valladares BoasiLicenciado em Bioquímica pela Universidade de Concepción, Chile, graduado em Bioquímica pela

Universidade de Chile, pós-doutor em Endocrinologia Reprodutiva pela Universidade de Michigan (EUA).Professor titular do Instituto de Nutrição e Tecnologia de Alimentos

Dr. Fernando Monckeberg Barros da Universidade do Chile.

Dra. Nimbe TorresGraduada em Química pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), mestra em Ciências da Nutrição

pela Universidade de Wisconsin-Madison (EUA) e doutora em Investigação Biomédica Básica pela UNAM.Professora do Departamento de Fisiologia da Nutrição do

Instituto Nacional de Ciências Médicas e Nutrição Salvador Zubiran.

Autores

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Prefácio

Estamos atualmente diante do desafio global de produzir alimentos seguros e saudáveis, de forma ambientalmente sustentável e acessível, a uma população cada vez mais urbanizada, que vive mais e sofre tanto por falta como por excesso de nutrientes.

As leguminosas, nesse contexto, têm importante papel, a ponto de a Assembleia Geral das Nações Unidades ter proclamado 2016 como o “Ano Internacional das Leguminosas”, por sua contribuição para a segurança alimentar e nutricional.

A soja se destaca como significativa fonte de proteína de alta qualidade e baixo custo se comparada a proteínas animais, além de ser fonte de óleo e outros nutrientes essenciais. É matéria-prima para o desenvolvimento, por processos de vários níveis de sofisticação tecnológica, de grande quantidade de alimentos e ingredientes, desde proteínas isoladas e/ou texturizadas até alimentos para crianças, idosos, atletas, pessoas alérgicas, fortificados e dietas para controle calórico. Ainda, de alimentos funcionais, pelas propriedades fisiológicas e metabólicas de alguns de seus componentes.

Neste livro, “Soja como uma fonte de proteína de alta qualidade”, resultado de um simpósio de atualização, autores com experiência em diversos campos da nutrição nos relatam tanto o conhecimento consolidado como os novos avanços em pesquisas sobre as propriedades nutricionais e funcionais da soja e principalmente de suas proteínas.

Na revisão da literatura recente e nos dados de pesquisas dos próprios autores, incluem-se tópicos sobre a qualidade da proteína da soja, o papel dessa proteína em relação à atividade física e síntese de proteína no músculo, a sua adequação nutricional nas diferentes fases da vida e a sua segurança para crianças e adultos. Ainda são discutidos tópicos relativos a efeitos ”funcionais”, como no metabolismo de lipídeos e do colesterol e o seu mecanismo de ação, bem como sua ação na glicemia pós-prandial.

O livro, pela informação que traz, interessa a professores, pesquisadores e técnicos de universidades, institutos e da indústria, particularmente aqueles envolvidos em pesquisa e desenvolvimento, e nos aspectos normativos associados ao desenvolvimento de novos alimentos e alimentos funcionais.

Ficam claras também no livro a necessidade e a importância do processamento industrial e de tecnologias avançadas para o aproveitamento de todo o potencial da soja e outras leguminosas, e de suas proteínas isoladas, para atender aos desafios globais contemporâneos que mencionamos.

Franco M. Lajolo

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Soja como uma fonte de proteína de alta qualidade

O papel da proteína na força corporal

Adequação de proteínas para diferentes públicos:crianças, adultos e atletas

A segurança da soja para adultos e crianças

Tópicos selecionados sobre o grão de soja e as isoflavonas

página 11

página 33

página 51

página 69

página 85

Sumário

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Soja como uma fonte deproteína de alta qualidade

Dra. Pilar Ines Llanos

Proteínas

IntroduçãoA origem do nome proteínas é bem conhecida: do grego protos, que quer dizer

primeiro. A presença das proteínas é essencial para a vida. Elas constituem as biomoléculas mais diversas, complexas e de maior peso molecular. São específicas para cada espécie e para cada um dos órgãos, causando rejeição no caso de transplantes. A semelhança entre várias proteínas diferentes determina o grau de relação entre indivíduos, e isso é chamado de árvore fitogenética.1

AminoácidosOs aminoácidos (AA) são os elementos que constituem as proteínas. Eles contêm

carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O) e nitrogênio (N), e alguns contêm enxofre (S).

Cada AA é composto de um carbono central (chamado de carbono alfa), ligado a quatro grupos. Os primeiros três são um grupo de aminoácidos que contém nitrogênio (NH2), um grupo carboxílico (C = O - OH) e um hidrogênio (-H). O quarto grupo é variável e, de acordo com este, 20 AA diferentes podem ser descritos.

Os AA que constituem a proteína, sua ordem e disposição são determinados por um código genético, ou seja, o DNA que está presente no núcleo da célula. A substituição de somente um AA na longa cadeia peptídica que forma a proteína pode alterar completamente as suas propriedades fisiológicas.

Os seres humanos obtêm o nitrogênio necessário a partir das proteínas que são parte de sua alimentação.

Os vegetais sintetizam AA a partir de nitratos e do amoníaco, a água e o dióxido de carbono que formam o ar e aí eles criam os compostos proteicos (polipeptídios e proteínas). Os organismos animais dependem dessa síntese e consumem proteína vegetal, recuperam os AA e também criam proteínas juntando AA por meio de ligantes peptídicos (químicos), que surgem como resultado de grandes moléculas formadas por um número variável de AA, de algumas centenas a milhares.

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Em termos gerais, podemos falar de peptídeos quando a molécula é formada por até 100 AA (dipeptídios, tripeptídios, oligopeptídios, polipeptídios) e podemos dizer que se trata de uma proteína quando a quantidade de aminoácidos é maior que 100.

Em quase todas as proteínas, o conteúdo de nitrogênio é de cerca de 16% da massa total da molécula (com variações de 15,7%, no leite, a 19%, nas nozes), ou seja, cada 6,25 g de proteína contêm 1 g de nitrogênio. Por isso, o fator 6,25 é usado para calcular a quantidade de proteína numa amostra, levando-se em consideração o cálculo de nitrogênio em cada uma.

Classificação dos AA no ser humanoO organismo humano precisa usar 20 diferentes formas de AA para desempenhar

todas as suas funções. Há 9 deles que não podem ser sintetizados pelo organismo, e, portanto, precisam

ser obtidos da dieta; eles são chamados de AA ESSENCIAIS. As primeiras estimativas a respeito desses AA e sobre a dificuldade do homem

de formar o esqueleto de carbono dos AA são dos trabalhos de Rose, de 1940. Os aminoácidos essenciais são:Histidina (1)IsoleucinaLeucinaLisina (4)ValinaMetionina (2) (+ cisteína) Fenilalanina (3) (+ tirosina) Treonina (5)Triptofano.

É importante ressaltar sobre os itens mencionados:(1) Essencial somente para crianças.(2) Necessário para a síntese de cisteína.(3) Necessário para a síntese da tirosina.(4) e (5) Estes são estritamente essenciais, porque não podem participar das

reações de transaminação, e sua desaminação é irreversível.2

Os remanescentes podem participar em reações de transaminação.

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Há outros 11 AA que são considerados NÃO ESSENCIAIS porque o organismo consegue produzi-los a partir de outros AA essenciais ou não essenciais que são ingeridos (por transaminação):

AlaninaArginina (1)AsparaginaÁcido aspártico Ácido glutâmicoCisteína (2)Glutamina (3)Glicina (4)Prolina (5)Tirosina (6)Serina.

Entretanto, devemos considerar que:Os AA (1), (2), (3), (4), (5) e (6), que em condições fisiológicas podem ser

ingeridos e sintetizados pelos AA essenciais que os originam, podem, em certas situações, tornar-se “essenciais em situações especiais” ou semiessenciais ou ainda “condicionalmente essenciais”; esse é o caso de recém-nascidos prematuros, que devem recebê-los pela alimentação.1

Conclusão:Proteínas na alimentação cumprem duas funções:

1. Garantir a QUALIDADE, de forma a oferecer AA essenciais que cada condição fisiológica individual requer.2. Prover QUANTIDADE adequada de AA não essenciais, de maneira que o organismo possa sintetizá-los.

Quando proteínas contêm os nove AA em concentração suficiente para as necessidades humanas, elas são chamadas de proteínas completas (balanceadas).

As proteínas incompletas (desbalanceadas) são aquelas nas quais falta um ou mais dos nove AA.

Proteínas animais e vegetais variam consideravelmente quanto à quantidade e qualidade dos AA que as formam.

A proteína animal contém, em geral, quantidade suficiente dos nove AA essenciais. Há uma exceção para a gelatina obtida do colágeno animal, em que falta um AA essencial, que é perdido no processo de fabricação, e tem baixos níveis de outros AA essenciais.

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As proteínas vegetais, em geral, não contêm todos os AA essenciais ou os contêm em quantidades insuficientes.

A soja é uma exceção, porque contém os nove AA essenciais e quase na mesma quantidade que na proteína animal.

As proteínas animais (exceto da gelatina) e a proteína da soja são consideradas proteínas completas.

O restante das proteínas vegetais e a proteína animal da gelatina são consideradas proteínas incompletas.

Transaminação – Desaminação – Renovação

Um homem de 70 kg tem em média 12 kg de proteínas (42% estão nos músculos esqueléticos, 15% na pele e sangue e 10% nos órgãos e vísceras). Quatro proteínas (colágeno, miosina, actina e hemoglobina) participam da metade do conjunto total de proteínas.

Esses 10-12 kg de conteúdo total de proteínas estão em constante reposição e troca com o conjunto total de aminoácidos (cerca de 100 g), através do processo de síntese e destruição de cerca de 250 a 300 g por dia, no caso do homem de peso médio de 70 kg,3,4 e em diferentes tempos e frequências de acordo com cada área do corpo. O tecido visceral tem um processo mais rápido de troca do que o tecido periférico.5

O processo de transferência de um grupo amina, de um AA para um esqueleto de carbono, que o transforma num AA não essencial, é chamado de transaminação. Esse processo requer vitamina B6 e algumas enzimas especiais (como aminotransferase).

Um exemplo desse processo químico é a formação de alanina (um AA não essencial) a partir do ácido pirúvico (não AA), que aceita e incorpora à sua molécula o grupo amina fornecido pelo ácido glutâmico (AA não essencial).6

É importante levar em consideração que, uma vez cobertas as necessidades de AA essenciais e formados AA não essenciais, o excesso de AA proveniente das proteínas digeridas, mesmo de alta qualidade, não pode ser estocado. Esse excesso passa pelo processo de desaminação para liberar o grupo amina, na forma de amoníaco, que é incorporado ao ciclo da ureia no fígado e eliminado pela urina.

O esqueleto de carbono pode ser metabolizado ao entrar no ciclo de energia (produzindo 4 kcal por grama) ou tornando-se tecido adiposo (com grande custo de energia).

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Conceito do AA Limitante(proteínas complementares)

A ingestão de proteínas que têm os nove AA essenciais (proteínas completas) pelo homem é importante, principalmente quando a ingestão do total de proteínas é reduzida.

A ingestão de proteínas de alta qualidade implica que a digestibilidade seja também importante, assim como a quantidade de AA essenciais.

Em adultos, cerca de 28% do total de nitrogênio precisam ser fornecidos pelos AA essenciais. Em crianças, essa porcentagem é de cerca de 36% do total.7

Quando analisados os valores de AA essenciais por grama de proteína alimentar, o limite de aminoácidos é identificado como o que oferece o menor valor em relação ao oferecido por uma proteína ideal, chamada de “proteína padrão”, e que cobre as necessidades de AA essenciais para esse grupo biológico.2

É frequente que as fontes de proteína vegetal (cereais e legumes) contenham todos os AA essenciais, mas um ou mais de um não são suficientes para as necessidades ou não são digeridos apropriadamente.

É muito importante saber isso, porque esse conhecimento permite complementar a falta de AA com outras proteínas que, neste contexto, são chamadas de proteínas complementares.6

Foi estabelecido que a lisina é o AA essencial limitante dos cereais.A metionina sulfurada ESS (+ cisteína) é o limitante nas leguminosas.Esses nutrientes são complementares e oferecem juntos uma proteína completa.A proteína animal também complementa as proteínas dos cereais, porque tem

bastante lisina (por exemplo, o clássico cereal com leite) e esse complemento é mais adequado do que proteínas das leguminosas, porque, embora esteja presente no leite, o AA metionina não é predominante e é limitante nas leguminosas.

As proteínas animais também complementam as proteínas do cereal (leite, ovos, carne).

A soja é a única leguminosa que tem proteína com valores de metionina similares aos da proteína padrão, e portanto, sua proteína complementa a proteína do cereal e de outras leguminosas.

Em algumas situações especiais, como bebês ou crianças, em pessoas imunodeprimidas ou pessoas idosas, é importante que o maior potencial biológico possa ser oferecido numa só refeição, com a oferta de proteínas completas ou proteínas incompletas “complementadas”.

No caso de adultos saudáveis que têm a possibilidade de acessar o conjunto total de aminoácidos e realizar as reações adequadas, será suficiente se as proteínas forem complementadas ao longo de diferentes refeições no dia.8

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Estrutura e classificação das proteínas

1) Estrutura9

Este é um ponto importante, por causa da sua influência na digestibilidade. A estrutura primária é a origem de todas as proteínas e é determinada pela

ordem ou sequência sucessiva de AA em cada cadeia de polipeptídios.Essa estrutura determina a forma e a função de cada proteína.Se há qualquer alteração na sua estrutura primária, através de eliminação, adição

ou troca de AA, ela pode mudar a sua configuração geral e originar uma proteína diferente.

Em conjunto, AA organizados de determinada maneira são capazes de interagir para dobrar-se e tomar a forma que a proteína precisa para desenvolver todas as suas propriedades (forma helicoidal, laminada ou irregular). Isso é chamado de estrutura secundária. As proteínas fibrosas são parte deste grupo. O colágeno, a queratina e a elastina são exemplos dessa estrutura.

De acordo com as condições físico-químicas, a molécula da proteína dobra-se e torna sua estrutura estável por meio de atrações e ligações (com pontes de hidrogênio ou dissulfeto) com outros AA semelhantes.

Isso resulta numa forma tridimensional designada como estrutura terciária que é característica de muitas proteínas alimentares.

As proteínas globulares são parte deste grupo. Muitas proteínas com função enzimática ou estrutural têm essa estrutura.

Quando duas ou mais unidades polipeptídicas se unem para constituir uma nova forma de proteína ou uma ordem superior, elas são chamadas de estruturas quaternárias.

A hemoglobina é um exemplo dessa estrutura, formada por quatro cadeias iguais 2 por 2.

Classificação de proteínas10,11

A classificação de proteínas é feita com diferentes critérios, e é importante levá-la em consideração no caso de proteínas alimentares em relação à sua digestibilidade.

1) De acordo com a composição proteica• Holoproteínas, ou proteínas simplesFormadas, predominantemente ou exclusivamente, por aminoácidos.• Heteroproteínas ou proteínas conjugadasAlém dos AA, elas têm uma porção não aminoacídica chamada grupo prostético.• Glucoproteínas: o grupo prostético é de açúcar, por exemplo, imunoglobulina, a mucina salivar

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• Lipoproteínas: os AA são ligados a um lipídio, por exemplo, lipoproteínas do sangue• Nucleoproteínas: os AA são ligados a um ácido nucleico, por exemplo, os cromossomos• Metaloproteínas: têm um ou mais íons de metal (Ferro-Zinco-Cálcio)• Hemoproteínas: o grupo prostético é o HEME (ferroporfirina), por exemplo, hemoglobina, mioglobina e outras enzimas• Fosfoproteínas: contêm ácido fosfórico na molécula P, por exemplo, caseína, saco vitelínico

2) De acordo com sua estrutura ou morfologia e sua solubilidade10

As holoproteínas• Proteínas fibrosas: são geralmente insolúveis em água, com forma molecular longa, resistente e elástica. Têm estruturas simples, repetitivas e secundárias, por exemplo, elastina, colágeno e queratina.• Proteínas globulares: são proteínas biologicamente ativas. Suas moléculas arredondadas e compactas são geralmente solúveis em água ou em soluções salinas, ou no óleo ou no álcool.Parte deste grupo são as albuminas, globulinas, gluteninas, prolaminas e muitos hormônios, como a insulina, a prolactina, o hormônio do crescimento e muitas enzimas.

Funções das proteínas no corpo6

Quase todo processo biológico depende da participação de proteínas. Elas desempenham funções vitais para a vida celular e também funções específicas básicas para o organismo. Entretanto, essas funções só podem ter sucesso se todas as necessidades energéticas do corpo são cobertas.

• EstruturalEsta é uma das funções mais bem conhecidas. Ela dá resistência e elasticidade às proteínas, permitindo a formação de tecidos e dando suporte a outras estruturas, além de facilitar o movimento (por exemplo, no caso das cartilagens). Algumas dessas proteínas são o colágeno, a actina, a miosina, a tubulina, a queratina e as histonas.• ReguladoraNa formação dos hormônios estão várias substâncias que regulam processos, como o AA tirosina, no caso do hormônio da tireoide, e a insulina, um hormônio que é formado por 51 AA.• Enzimática ou catalíticaQuase toda enzima é uma proteína ou tem um componente proteico.

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Proteínas enzimáticas ou catalíticas são em geral compostos que aceleram e fazem com que as reações químicas sejam mais eficientes nos processos mais importantes do organismo. Essas substâncias que são transformadas por meio de reações enzimáticas são chamadas de substrato. Por exemplo, a lisozima, a pepsina e a polimerase do DNA.• Imunológica ou de defesaEstas proteínas protegem o corpo contra possíveis ataques de agentes externos. Fazem parte deste grupo os anticorpos (imunoglobulina) da fração gamaglobulina do sangue, o fibrinogênio e o interferon.• TransportadoraAs proteínas transportadoras são responsáveis por levar as substâncias, dentro do organismo, para o local onde são necessárias; por exemplo, a hemoglobina, que transporta oxigênio.• HomeostáticaAs proteínas homeostáticas contribuem para equilibrar os líquidos do corpo, como a albumina e a globulina do sangue.• ReservaAs proteínas em geral não desempenham funções de reserva, mas podem fazer isso durante o desenvolvimento embriogênico.• EnergéticaA proteína contribui com 4 kcal por grama.

Valor da qualidade da proteína11,12

A qualidade de uma proteína alimentar é medida pela capacidade que tem de manter o crescimento e funcionamento do organismo.

Além disso, é importante considerar que o conceito de qualidade da proteína se aplica quando a quantidade de proteína ingerida é igual ou menor que o necessário para satisfazer as necessidades de AA essenciais.

Existem diferentes métodos biológicos e químicos para classificar a qualidade da proteína.

1. Métodos biológicos

1.1. Valor biológico12 O valor biológico expressa a retenção de nitrogênio.É uma medida da eficiência de uma proteína alimentar em se transformar em

tecido corpóreo, uma vez que tenha sido absorvida no trato alimentar. Expressa a quantidade de nitrogênio obtida ou absorvida.Quando uma proteína alimentar tem quantidade suficiente dos nove AA

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essenciais, de forma que o padrão dos AA seja semelhante ao do tecido corpóreo e a quantidade de nitrogênio absorvida é alta, ela tem um alto valor biológico.

Quando o padrão de alguns alimentos é muito diferente do padrão dos tecidos, muitos dos AA das proteínas alimentares não vão se tornar proteínas corpóreas e vão ser eliminados; o grupo amino como descarte de nitrogênio e o esqueleto de carbono por meio do ciclo de energia.

A maior parte do nitrogênio ingerido não vai ser estocada. Este é o caso de um valor biológico baixo.

A proteína da clara do ovo tem valor biológico de 100. Tudo o que essa proteína contém é aproveitado. Leite e proteínas da carne também têm alto valor biológico.

O conceito do valor biológico tem grande importância clínica, porque quando há necessidade de limitar a ingestão de proteínas ou quando se está em situações de alta demanda fisiológica, é desejável que o corpo use bem a proteína ingerida em quantidades limitadas.

A soja é uma exceção entre as proteínas vegetais, porque tem alto valor biológico, de 90.

1.2. Modificação do peso corporalTaxa de eficiência proteica (TEP)Este método indica o valor biológico porque mede o estoque de proteínas pelo

tecido corporal (neste caso, num rato jovem).Ele relaciona o crescimento desse jovem rato com o ganho de peso e a quantidade,

em gramas, de proteína ingerida a partir de um tipo de alimento somente (uma certa quantidade ingerida num certo período de tempo). As proteínas vegetais frequentemente têm uma taxa de eficiência proteica (TEP) porque são proteínas incompletas. Proteínas animais têm valor superior, com frequência de mais de 2.

Até 1991, esse era o método mais usado nos Estados Unidos, mas desde então foi abandonado e começou-se a usar o PDCAAS8, porque a qualidade da proteína era subavaliada através do TEP; experimentos animais exigem mais metionina para o crescimento da pelagem em comparação com o ser humano.

2. Métodos químicos

2.1. Qualidade química ou escore químico11

O escore químico se refere à quantidade, em miligramas, de cada AA essencial que é proporcionada por 1 grama da proteína estudada, com o mínimo em miligramas desses AA essenciais estabelecidos em 1 grama da proteína ideal.

A relação mais baixa (AA da proteína analisada/AA da proteína de referência) que é calculada para qualquer AA essencial é a que é levada em consideração como escore químico da proteína e vai de 0 a 1.

Uma proteína na qual falte qualquer um dos 9 AA essenciais tem um escore 0.

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2.2. Escore aminoacídico corrigido pela digestibilidade da proteína /Protein digestibility corrected amino acid score (PDCAAS)Esta é a metodologia que é amplamente utilizada para avaliar a qualidade

da comida para indivíduos maiores que um ano de idade e mulheres grávidas, e substituiu a TEP desde 1991.

No documento da FAO-OMS de 1989, foi questionado o uso da TEP e a adoção de procedimentos mais válidos e aceitáveis.

No PD-CAAS que foi proposto pelo Comitê de Especialistas da FAO-OMS em Roma, em 1991,13 duas variáveis teriam que ser levadas em consideração porque, se a qualidade de uma proteína alimentar (ou de uma mistura de alimentos) é determinada corretamente, então se pode prever com segurança a satisfação das necessidades fisiológicas.

As mais importantes variáveis para estabelecer o PDCAAS de uma proteína alimentar são:

• A quantidade de AA essenciais por grama de proteína alimentar.• A digestibilidade da proteína.

Passos para calcular o PDCAAS de uma proteína alimentar:• Analisar o conteúdo de nitrogênio no alimento avaliado. Se a quantidade de

proteína do alimento é desconhecida, calcule a concentração de proteínas de acordo com o conteúdo de nitrogênio.

Porcentagem de N x 6,25 = g% de proteínas• Determinar o perfil de AA para verificar a quantidade, em miligramas, de AA

essenciais em 1 g de proteína.• Calcular o escore de AA: este escore vem da comparação entre os AA

essenciais fornecidos por 1 g de proteína no alimento analisado, sem correção para a digestibilidade, em comparação com o valor de cada AA essencial da proteína de referência ou padrão de proteína para a faixa de idade em consideração; em geral, o grupo pré-escolar, de 2-5, é considerado válido para todas as pessoas (padrão de referência), exceto para bebês abaixo de um ano de idade.

• Levar em consideração o escore mais baixo que corresponde ao AA essencial em proporção mais baixa em relação à necessidade.

• Multiplicar esse valor pela digestibilidade presente na proteína alimentar que está sendo testada.

A resultante é o PDCAAS do alimento analisado (truncando esse valor em 100%).

Há importantes itens a mencionar nesses passos:1) Os trabalhos foram realizados em 1991.2) De acordo com algumas questões que foram levantadas depois disso14,15.3) As conclusões do consenso citado pela FAO-OMS em seu documento Doc.

935 20027.

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1. Quantidade de AA essenciais por grama de proteína alimentarA quantidade de AA essenciais deve ser suficiente para cobrir de forma segura

as necessidades humanas, e por isso é necessário estabelecer um padrão de escore (relação entre a necessidade de AA essencial e a quantidade de proteína ingerida).

No momento em que foi estabelecido esse padrão, o grupo de crianças de dois a cinco anos era considerado a faixa de idade mais crítica para estabelecimento das normas de AA essenciais; portanto, este grupo é usado como referência para se medir a necessidade de AA essenciais.13

No cálculo do padrão de escore, é considerada a ingestão proteica como um nível seguro de proteínas ingeridas.

Padrão de escore = Necessidade de AA essenciais Nível seguro de proteínas ingeridas

Nas reuniões de especialistas e pelos trabalhos realizados desde 2000, algumas considerações foram feitas sobre esse assunto:

1.1. A validade das necessidades de AA essenciais usadas como padrão, porque uma das questões foi que as necessidades foram baseadas nos trabalhos de Torum (1981),16 que foram realizados entre crianças pré-escolares em recuperação de desnutrição, que não eram representativos de crianças saudáveis da mesma idade. Mais que isso, não foi levada em consideração que, em certas circunstâncias, AA podem passar a ser considerados essenciais (cisteína, tirosina, taurina, glicina, arginina, glutamina e prolina).15

1.2. Também deve ser observado que foi levado em consideração como ingestão segura de proteínas o correspondente a 105 mg de nitrogênio por quilo de peso corpóreo por dia (0,66 gramas de proteína por quilo por dia). É consensual a proposta como método representativo a consideração da necessidade média de proteína como ingestão de proteína.7

O Consenso da FAO-OMS Doc 935 2002 propõe a fórmula

Padrão de escore = Necessidade de AA essenciais (mg/kg de peso corpóreo/dia = mg/g proteína Média das necessidades de proteínas (g/kg peso corpóreo)

A Tabela 1 mostra uma comparação entre:• Padrão de escore IOM: mg/g da proteína de referência (com base nas

necessidades de crianças pré-escolares de 1-3 anos)• Isolados de proteína da soja: mg/g proteína alimentar (USDA- National

Nutrient Database Nº 16122)• Farinha de soja sem gordura: mg/g de proteína alimentar (USDA –National

Nutrient Database Nº 16177)

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Tabela 1. Comparação de aminoácidos (mg/g de proteína) em diferentes fontes protéicas

AminoácidoEssencial

Escore padrãoIOM 2002

(mg/g de proteína)Bebês de1-3 anos

Isoladode proteína

da soja mg/gproteína

sobre 80%proteínas

Farinha de sojasem gordura

mg/g de proteínasobre 47,1%

proteínas

Histidina 18 29 27Isoleucina 25 53 49Leucina 55 85 81Lisina 51 67 67

Metionina + cisteína 25 27 29Fenilalanina + tirosina 47 97 77

Treonina 27 39 37Triptofano 7 14 13

Valina 32 51 43

2. Digestibilidade da proteínaEm geral, o uso da proteína é avaliado em termos de digestibilidade e valor

biológico. Digestibilidade: é medida com a fração digestão-absorção. É a proporção de

nitrogênio absorvido (corresponde às proteínas digeridas e absorvidas).Foi estabelecida, em 1991, pela relação entre o nitrogênio ingerido com o alimento

e o nitrogênio eliminado nas fezes (em 1991, a importância da digestibilidade no íleo foi reportada mas não considerada).

O valor diferente da lisina para humanos foi estabelecido em pesquisas posteriores.

Em animais com estômago único, outras diferenças mais importantes foram observadas.

Hoje é considerado que esses dados, usando o nitrogênio eliminado pelas fezes, reflete a digestibilidade aparente, já que inclui o nitrogênio que pode vir do cólon (proteínas do próprio organismo) e também é influenciado pela atividade microbiológica dentro do órgão.

Pode ser determinada em humanos (com alto custo e dificuldades), mas também em modelos animais.17

As pesquisas e discussões depois do ano 2000 propõem que se considere: Digestibilidade real deve ser medida pela relação entre o nitrogênio ingerido e

o nitrogênio que resta após o processo ileal.De fato, esses dados correspondem a um balanço mais equilibrado.Digestibilidade real das proteínas = ingestão de nitrogênio - (perda fecal de nitrogênio na dieta testada – perda de nitrogênio x 100 fecal numa dieta sem proteínas) ingestão de nitrogênio

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No documento FAO-OMS 935 2002, publicado em 2003 e revisado posteriormente7 (Tabela 2), é mencionado que é fácil considerar o nitrogênio fecal como uma expressão da digestão total de nitrogênio, e que a medida do nitrogênio ao nível do íleo pode ser considerada um dado de melhor qualidade sobre a taxa de digestibilidade dos AA ingeridos e da melhor avaliação das perdas sofridas pela origem endógena, assim como da origem por ingestão.

Considera-se que a reciclagem intestinal de nitrogênio e a produção de AA bacterianos no corpo não estão resolvidas.

Mais pesquisas são sugeridas.

Tabela 2. Digestibilidade das proteínas alimentares por humanos7 Fonte de proteína Digestibilidade real %

Ovos 97Carne, peixe 94Leite, queijo 95

Isolado de proteína da soja 95Arroz 75Milho 85

Farinha de soja sem gordura 86

Valor biológico: é a efetividade do uso do nitrogênio absorvido.7 É a expressão de como o nitrogênio absorvido preenche as necessidades.Portanto, o resultado depende dos níveis considerados para se determinar o

valor do nitrogênio absorvido.Nos trabalhos mais antigos de 1991, se tomava o nitrogênio fecal para determinar

o equilíbrio, e isso resultava em:

Proteína aparente (N) % = (ingestão de N – N fecal – N urinário) x 100

Valor biológico = ingestão de N - N fecal

Alguns dos estudos mais recentes sugerem avaliar o sujeito para obter

Valor biológico real % = ingestão de N – [(NF - NF 1) - (NU – NU 1)] x 100 ingestão de N - (NF - NF 1)

NF = Perda de nitrogênio fecal na dieta testadaNF 1 = Perda de nitrogênio fecal numa dieta sem proteínaNU = Perda de nitrogênio urinário na dieta testada NU 1 = Perda de nitrogênio urinário numa dieta sem proteína

Nesse ponto, o documento FAO-OMS 935 2002 sugere mais acurácia.7

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Biodisponibilidade

Os resultados da digestibilidade + valor biológico são expressos como PNU (“PROTEIN NET UTILITY”), uma medida da biodisponibilidade.

Biodisponibilidade é a proporção de cada nutriente que pode ser absorvida e usada.

Ela é influenciada por:- Digestibilidade.- Integridade química.- Interferências que a absorção e o metabolismo podem sofrer.Levando em consideração essas questões, pode ser importante determinar a

biodisponibilidade dos AA essenciais não somente para alimentos crus, mas também processados.

Pesquisas mais recentes também determinaram que sejam consideradas as maneiras pelas quais os procedimentos de preparo afetam a biodisponibilidade.

Um exemplo importante é o efeito negativo sobre a disponibilidade da lisina quando a reação de Maillard ocorre em diferentes processos de cozimento.7

3. Referência ao conceito do escore de AAO escore de AA determina a efetividade pela qual um nível seguro de ingestão de

proteínas pode satisfazer as necessidades de AA essenciais.Na pesquisa de 1991, revisada posteriormente, o escore de AA foi determinado.7

Escore de AA = mg de AA essenciais limitantes em 1 g da proteína testada < 1 mg dos mesmos AA essenciais em 1 g da proteína de referência

Quando não há AA essenciais limitantes e todos eles são iguais ou mais altos do que os ofertados pela proteína padrão, então os valores reais são considerados como ≥ 1.

Nos trabalhos de 1991, a truncagem não era levada em consideração para o cálculo do escore de AA essenciais, mas era usada para o valor final do PD-CAAS, que não pode ser maior que 1-(100%).7

Em estudos subsequentes, esse foi considerado um fato controverso.O argumento para a decisão final foi que a concentração excessiva de AA

essenciais numa proteína testada não oferecia benefícios adicionais às crianças pré-escolares de referência.

Trabalhos posteriores questionaram fortemente esse ponto, argumentando que a validade só seria efetiva no caso de existir uma única fonte proteica em certas condições fisiológicas (por exemplo, na nutrição enteral).

Essa postura se opõe à situação real de que as proteínas alimentares que contêm AA essenciais em abundância melhoram o perfil proteico de outras proteínas.

Esse é o caso da proteína complementar do leite e da soja.15

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4. Estabelecendo o PDCAAS

Corrigindo o escore de AA essenciais para a digestibilidade

O documento FAO-OMS 9357 conclui que a qualidade da proteína, em termos de PDCAAS, pode ser calculada:

1. Pela estimativa da digestibilidade daquela proteína.2. Pela comparação do escore de AA essenciais.Isso é calculado pela relação entre a melhor taxa de digestibilidade (real) e o escore

de AA essenciais, com base na comparação entre a composição de AA essenciais por grama de proteína testada e o padrão. Deve levar em consideração o escore de referência para a faixa de idade (mg de AA essenciais por grama da proteína padrão para a idade).

O PDCAAS deverá resultar do menor valor obtido na multiplicação de escore de AA essencial x digestibilidade. O primeiro limitador deve ser a digestibilidade.

De acordo com as taxas de PDCAAS, a maioria das proteínas animais podem ser consideradas de alta qualidade, mas as proteínas vegetais têm diferenças significativas.

Para adultos:• O valor do PDCAAS para proteínas animais é maior que 1 (embora estejam

trucados em 1, o valor do PDCAAS para proteína da soja é fechado em 1, mesmo o valor sendo um pouco menor).

• Para o restante das fontes de proteína (outras leguminosas e cereais), valores mais baixos são considerados. Os valores de PDCAAS são de 0,5 a 0,75.

A Tabela 3 mostra exemplos de valores de qualidade de proteína para diferentes tipos de alimentos, corrigidos para digestibilidade, para adultos, estão na tabela abaixo (adaptada de AFSSA, 2007; FAO, 2007, Michaelsen et al., 2009)5:

Tabela 3. Porcentagem de PDCAAS e AA essencial limitador para diferentes tipos de alimentos

PDCAAS % AA essencial limitadorFontes de origem animal

Ovos > 1 (truncado em 1)Leite, queijo > 1 (truncado em 1)Carne, peixe > 1 (truncado em 1)

Fontes de origem vegetalSoja ≥ 0,95 Metionina + cisteína (fechado em 1)

Outros legumes 0,7-0,75 Metionina + cisteínaArroz 0,65 LisinaTrigo 0,5 LisinaMilho 0,5 Lisina

Deve ficar claro que, quando o valor do PDCAAS é usado para ajustar a ingestão de uma mistura de proteínas alimentares, na tentativa de se encontrar um nível seguro, o escore de AA essenciais da mistura não deve exceder 1.

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A oferta balanceada de AA essenciais e não essenciais é melhor para o metabolismo do que a oferta excessiva de AA essenciais.

Ao mesmo tempo, deve-se analisar também se há benefício em se adotar valor maior que 1 para a qualidade da proteína (no caso em que ofereça maior proporção de AA essenciais).

Exemplo de aplicação do PDCAAS

É aplicável a produtos da soja

Isolado da soja• 80% de proteína• Digestibilidade real de 0,95 (Tabela 5, Capítulo 6, Documento 935 FAO-OMS 2003)7

Farinha de soja sem gordura• 47,1% de proteínas• Digestibilidade real de 0,86 (Tabela 5, Capítulo 6 Documento 935 FAO-OMS 2003)7

• São avaliados os AA essenciais que são mais importantes em termos quantitativos em relação à quantidade exigida pelo padrão proteico (embora estejam sempre acima): correspondem ao grupo de AA sulfurados metionina e cisteína.

1) A Tabela 4 mostra como determinar a quantidade de AA essenciais em miligrama por grama de proteína do alimento testado.

Tabela 4. Quantidade de AA essenciais em mg/g de proteína do alimento testado

AlimentoQuantidade

(g)Proteínas (g/100) AAE mg/g de proteína

His

tid

ina

Isol

euci

na

Leu

cina

Lis

ina

Met

ioni

na +

cis

teín

a

Feni

lala

nina

+ ti

rosi

na

Treo

nina

Trip

tofa

no

Val

ina

Isolado de soja 100 80 29 53 85 67 27 97 39 14 51

Farinha de soja sem gordura 100 47,1 27 49 81 67 29 90 43 14 50

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2) A Tabela 5 transcreve a quantidade de AA essenciais, em mg/g da proteína padrão que corresponde à faixa de idade de referência

Tabela 5. Quantidade de AA essenciais, em mg/g de proteína para crianças de 1 a 3 anos

AlimentoQuantidade

(g)Proteínas (g/100) AAE mg/g de proteína

His

tid

ina

Isol

euci

na

Leu

cina

Lis

ina

Met

ioni

na +

cis

teín

a

Feni

lala

nina

+ ti

rosi

na

Treo

nina

Trip

tofa

no

Val

ina

anos 1-3 18 25 55 51 25 47 27 7 2

3) Determinar o escore de AA que corresponde a cada alimento testado. O AA limitante é aquele que tem os menores valores comparados com a proteína padrão.

Escore de AA essenciais: Metionina + cisteína x g/proteína do alimento Metionina + cisteína g/da proteína padrão para a faixa de idade

Isolado da soja Escore de AA 27 ÷ 25 = 1,08

Farinha de soja Escore de AA 29 ÷ 25 = 1,16

4) Determinação do escore de AA PDCAAS (o mais baixo) x digestibilidade

PDCAAS de isolado da soja 1,08 x 0,95 = 1,02PDCAAS de farinha de soja 1,16 x 0,86 = 0,99

Tabela 6. Escores para isolado de soja

Aminoácidosessenciais

Padrão deescore

(1-3 anos)mg/g

proteína

Isolado desoja mg/gproteína

Escorede AA

(S)

PDCAAS S X D (0,95)

Histidina 18 29Isoleucina 25 53Leucina 55 85Lisina 51 67

Metionina + cisteína 25 27 1,08 1,02Fenilalanina + tirosina 47 97

Treonina 27 39Triptofano 7 14

Valina 32 51Total de proteínas g% 80

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Tabela 7. Escores para farinha de soja sem gordura

Aminoácidosessenciais

Padrão deescore

(1-3 anos)mg/g

proteína

Farinha desoja

desengorduradamg/g

proteína

Escore de aminoácidos

(S)

PDCAAS S X D (0,86)

Histidina 18 27Isoleucina 25 49Leucina 55 81Lisina 51 67

Metionina + cisteína 25 29 1,16 0,99 Truncado em 1Fenilalanina + tirosina 47 90

Treonina 27 43Triptofano 7 14

Valina 32 50Total de proteínas g% 47

Conclusões sobre o posicionamento a respeito da soja

Levando em consideração o papel das proteínas e a participação das proteínas de alta qualidade na análise da qualidade da proteína da soja, acreditamos que a soja deveria ocupar um papel importante no programa de alimentação saudável, principalmente quando se leva em consideração que:

• A proteína da soja oferece muitas possibilidades de ser incluída na alimentação popular ou em produtos que podem ser facilmente introduzidos na dieta da família• Na maioria dos usos que se faz da soja ou nos processos de elaboração de produtos, ocorre a aplicação de calor, que assegura a destruição de fatores antinutricionais (termolábeis); portanto, a correção da digestibilidade pode ocorrer e as recomendações de ingestão são aplicáveis• A contribuição das isoflavonas e seus benefícios para a saúde.

Se também levamos em consideração a recomendação da FAO-OMS no Documento para Prevenção de Doenças Crônicas (ECNT),18 encontramos a necessidade de dietas mistas mais saudáveis:

• Com inclusão de fibras (pela importante participação de produtos vegetais).• Com a contribuição de proteínas saudáveis.• Com a limitação da gordura saturada (< 10% da ingestão energética), mínima ingestão de gorduras trans (< 1% da ingestão energética) e presença limitada de colesterol (< 300 mg).

Também se demonstrou sua provável intervenção na redução da presença de ECV.

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Quanto à prevenção da osteoporose, há vários estudos que confirmam os benefícios da soja,19 por exemplo, favorecendo a prevenção da diminuição da densidade óssea na coluna vertebral de mulheres após a menopausa.

• Outros estudos de 200520 encontraram associação significativa entre a ingestão de fontes de proteína de soja mistas (proteína animal mais soja) e uma melhor densidade óssea em meninas de 10 a 15 anos de idade.

Em conclusão, estudos com intervenções de alimentos e a produção de amostras significativas não são fáceis de se realizar, mas é importante a promoção de mais pesquisa sobre o assunto.

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11. Calidad Proteica. Metodos para evaluar la calidad de las proteinas en los alimentos. Disponivel em: http://pt.slideshare.net/micloth/calidad-proteica. Acessado em 05.10.2015.

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30

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18. World Health Organization. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. Report of the joint WHO/FAO expert consultation. WHO Techical Report Series, No. 916 (TRS 916). Geneve: World Health Organization; 2003. Disponível em: http://www.who.int/dietphysicalactivity/publications/trs916/download/en/. Acessado em 06.10.2015.

19. Lydeking-Olsen E, Jensen JEB, Setchell KDR, Damhus M, Jensen TH. Isoflavonerich soymilk prevents bone loss in the lumbar spine of postmenopausal women: a twoyear study. Journal of Nutrition 2002;132(3):581S [abstract]. Disponível em: http://jn.nutrition.org/content/132/3/574S.full.pdf+html. Acessado em 06.10.2015.

20. Hirota T, Kusu T, Hirota K. Improvement of nutrition stimulates bone mineral gain in Japonese school children and adolescentes. Osteoporos Int 2005;16(9):1057-64.

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O papel da proteína na força corporal

Dr. Marcelo Macedo Rogero

Introdução

O estudo das proteínas é central no campo da nutrição, já que este é um importante nutriente para a síntese das proteínas tanto funcionais como estruturais do corpo. As proteínas orgânicas estão em constante síntese e degradação, num processo chamado de turnover de proteínas (Figura 1).1 Os aminoácidos sozinhos podem funcionar como neurotransmissores, hormônios, ácidos nucleicos, ácidos biliares e outras moléculas de importância fisiológica, e a cadeia de carbonos dos aminoácidos pode ser usada como fonte de energia e convertida em glicose (gliconeogênese).2 Não existe reserva de aminoácidos livres ou proteínas no organismo, e quando a ingestão de proteínas excede as necessidades, elas são metabolizadas. Por outro lado, quando há ingestão deficiente de proteínas ou um estado catabólico, o corpo ativa mecanismos adaptativos, que são regulados por nutrientes e hormônios — tanto catabólicos quando anabólicos — para preservar a massa proteica do organismo. Quando esse processo é muito intenso, modificações bioquímicas, fisiológicas e morfológicas podem ocorrer, especialmente entre indivíduos que fazem parte dos chamados grupos de risco, como crianças, grávidas, mulheres amamentando e idosos.3

A ingestão recomendada diária de proteínas é uma indicação da quantidade específica necessária para manutenção da saúde dos indivíduos normais. Entretanto, um pré-requisito para se garantir que as necessidades proteicas sejam supridas é que as necessidades de energia sejam supridas primeiro, já que a redução da ingestão calórica faz o corpo desviar as proteínas de sua função plástica normal para funções de reparação e para a produção de energia.4

A soja (Glycine max) é uma das principais fontes de proteína de alta qualidade na alimentação de humanos e, comparada com alimentos de origem animal, contém menos ácidos graxos saturados, além de ser livre de colesterol.5 A ingestão de soja e seus produtos é particularmente frequente nos países asiáticos e está crescendo nos países ocidentais. Os produtos baseados na soja, como farinha, grãos, leite de soja, proteína vegetal texturizada e mesmo suplementos nutricionais e fórmulas para bebês, são amplamente disponíveis para a população. É estimado que a ingestão de proteína de soja seja de cerca de 10 gramas por dia no Japão, enquanto nos países europeus e na América do Norte é de menos de 1 grama por dia.6

Os grãos da soja correspondem a 35%-40% do peso seco de proteína, e 90% do conteúdo está na forma de globulinas: β-conglicinina (7S) e glicinina (11S). A glicinina

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é composta de subunidades A (acídica) e B (básica), enquanto a β-conglicinina tem subunidades α, α’ e β.7 As proteínas da soja fornecem todos os aminoácidos essenciais para a nutrição humana, o que a caracteriza como uma fonte vegetal de proteína de alta qualidade.8 Além disso, a soja contém 30% de carboidratos e 20% de lípides, assim como vitaminas (A, E, tiamina e riboflavina), minerais (ferro, cobre, cálcio, magnésio, zinco, cobalto, fósforo e potássio), fibras insolúveis e compostos bioativos (isoflavonas, saponinas, fitatos e inibidores da protease).9

Pelo fato de que a ingestão de soja está associada com vários benefícios à saúde, especialmente quanto à redução do risco de doenças crônicas, o FDA (Food and Drug Administration), em 1999, aprovou a alegação de propriedades funcionais da proteína da soja, o que estabeleceu em 25 gramas o consumo de proteína de soja como parte de uma dieta com baixa quantidade de gordura saturada e colesterol. Esta alegação foi proposta com base em evidências de que a proteína da soja favorece a redução da concentração plasmática do colesterol do tipo LDL (low density lipoprotein), o que pode ajudar a reduzir o risco de doença cardiovascular. Para atingir essa ingestão, o FDA recomendou a divisão em quatro porções de 6,25 g de proteína de soja ao longo do dia.10 Outros países adotaram essa alegação, incluindo o Japão, o Reino Unido, a África do Sul, Filipinas, Brasil, Indonésia, Coreia e Malásia.7 Embora muitos estudos clínicos indiquem efeitos hipolipidêmicos da proteína da soja, há inconsistências, especialmente quanto à magnitude desse efeito. Análise de 22 estudos clínicos randomizados conduzida pela American Heart Association (AHA) mostrou redução média de 3% na concentração plasmática de colesterol LDL.11 Com base em metanálise que incluiu 43 estudos, encontrou-se que a ingestão regular de uma a duas porções de proteína da soja (15-30 g) contribui para a redução de aproximadamente 5% da concentração plasmática de colesterol LDL.12

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Figura 1. O conjunto total de aminoácidos é o precursor da síntese de proteínas. Esses aminoácidos podem ser derivados da degradação de proteínas e da oferta de aminoácidos a partir do sangue, enquanto aminoácidos não essenciais podem ser derivados de síntese de novo. Além disso, os aminoácidos intracelulares podem ser oxidados ou liberados na corrente sanguínea. Adaptado de Deutz e Wolfe.1

Qualidade da proteína da soja

Um dos métodos usados na avaliação da qualidade da proteína é o escore químico, que compara os aminoácidos limitantes da proteína testada com os aminoácidos de uma proteína de referência, que é a albumina do ovo. Entretanto, o escore químico não é uma medida satisfatória para avaliar a qualidade da proteína, já que não considera o valor biológico e as necessidades individuais.13 Para avaliar melhor a qualidade da proteína, é importante analisar os processos envolvidos na homeostase dos aminoácidos e o balanço nitrogenado.14 Assim, a qualidade da proteína pode também ser avaliada pelo valor biológico (VB) e pela utilização proteica líquida, ou net protein utilization (NPU). Esses métodos exigem testagem biológica, em que se analisam a quantidade de nitrogênio consumida ou absorvida pelo corpo e a quantidade excretada. Em indivíduos saudáveis, a ingestão de proteína de soja concentrada mostrou VB e NPU equivalente aos da proteína do leite.15 Em outro estudo, a ingestão de isolado de proteína da soja resultou em VB e NPU comparáveis ao da proteína da carne, que faz dela uma proteína com alto valor nutricional.16

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O método de classificação conhecido como protein digestibility-corrected amino acid score (PDCAAS) foi adotado como preferido para a medida do valor da proteína na nutrição humana, já que oferece uma avaliação do conteúdo do primeiro aminoácido limitante das proteínas e a digestibilidade da proteína de referência. Entre as várias fontes de proteína vegetal, a proteína da soja se destaca por seu alto valor biológico, já que o isolado proteico da soja e o concentrado proteico da soja têm valores de PDCAAS de 1,0 e 0,99 respectivamente.17

A fórmula PDCAAS é esta:

PDCAAS (%) = (mg do AA limitante em 1 g da proteína testada) x digestibilidade real (%) X 100 (mg do mesmo AA in 1 g da proteína de referência)

onde AA = aminoácido.

O balanço nitrogenado é a diferença entre a quantidade diária de nitrogênio ingerida e a excreção diária. Um adulto que se alimenta de uma dieta adequada e equilibrada está, geralmente, em balanço nitrogenado, ou seja, um estado no qual a quantidade de nitrogênio ingerida está equilibrada com a quantidade excretada, o que resulta em equilíbrio quanto à modificação de quantidade de nitrogênio orgânico. Alguns estudos mostram que um aumento na ingestão de proteína leva a um balanço nitrogenado positivo.14,18 Nesse contexto, Fleddermann et al.19 encontraram que aumento no consumo de proteína da soja (30 g por dia) resulta em balanço nitrogenado positivo em adultos saudáveis.

Efeito da proteína da soja noglucagon e resposta insulínica

Os hormônios insulina e glucagon participam na regulação do metabolismo da glicose e dos lipídios, produzindo efeitos opostos nas vias da biossíntese e catabólicas no fígado, músculo esquelético e tecido adiposo, e um aumento na taxa de glucagon/insulina é associado com aumento no risco de desenvolvimento de doença cardiovascular. Além disso, indivíduos obesos têm diferentes anormalidades metabólicas, incluindo a hiperinsulinemia, a resistência à insulina, a dislipidemia e a esteatose hepática, entre outras modificações que compõem a síndrome metabólica.20

A proteína da soja reduz a hiperinsulinemia, que, por sua vez, diminui a expressão do fator de transcrição hepático SREBP-1 e enzimas envolvidas na lipogênese. Portanto, a ingestão de proteína da soja reduz o risco de esteatose e lipotoxicidade no fígado.21,22 Noriega-López et al.23 verificaram que animais alimentados com proteína da soja tiveram aumento na sensibilidade à insulina medida por clamp euglicêmico, quando comparados com os animais que receberam dieta com caseína, indicando que esses animais precisam de menos insulina para manter os níveis de glicose na faixa da normalidade. Além disso, ingestão da proteína da soja a longo prazo leva a

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concentração de glucagon 51% maior quando comparada com a ingestão de caseína.20 Entre as possíveis causas desse efeito, a composição aminoacídica da proteína da

soja deveria ser destacada. Geralmente, proteínas vegetais têm maiores quantidades de aminoácidos que são dispensáveis, como arginina, glicina e alanina, enquanto as proteínas de origem animal têm mais aminoácidos essenciais, como a lisina. Deve-se salientar que uma taxa arginina/lisina alta está associada com nível sérico alto de glucagon.24,25 Nesse sentido, verificou-se que a redução da taxa de insulina/glucagon induzida pela proteína da soja está associada com alta taxa de arginina/lisina, cujo valor é igual a 1,20, enquanto a taxa é de somente 0,47 para a caseína. A taxa insulina/glucagon de ratos alimentados com dietas com 18% ou 50% de proteína da soja foi 44% e 50% mais baixa, respectivamente, do que a taxa de ratos alimentados com dietas de caseína. Portanto, parece que a secreção de glucagon e insulina é regulada pelo tipo e concentração de aminoácidos identificados por células α e β nas ilhotas pancreáticas de Langerhans, respectivamente.26

Além disso, as isoflavonas, ligadas fortemente à proteína da soja, podem regular a secreção de insulina, já que estudos in vitro mostraram que essas ilhotas, incubadas com genisteína, daidzeína ou equol reduzem significativamente a secreção de insulina pelas ilhotas pancreáticas.23

Soja e nutrigenômica

A ciência da genética e da genômica desenvolve-se a passo acelerado. Novas tecnologias e descobertas tecnológicas aprofundam nossos conhecimentos de como os nutrientes e os padrões dietéticos afetam a manutenção da saúde e o desenvolvimento da doença. Nutrigenômica é um termo amplo que abrange nutrigenética, nutrigenômica e epigenômica nutricional, todas envolvendo a maneira como os nutrientes e os genes interagem e são expressos para revelar desfechos fenotípicos, inclusive o risco para a doença.27 A nutrigenômica surgiu no contexto da era pós-sequenciamento do genoma, focada no estudo da influência do alimento no funcionamento do genoma e seu consequente impacto na interação gene-nutriente e no fenótipo. Essa interação é bidirecional: os nutrientes e compostos alimentares bioativos podem modular a expressão gênica e, de maneira semelhante, as variações genéticas influenciam o modo como o genoma responde à comida. Um dos principais objetivos da nutrigenômica é desenvolver recomendações nutricionais personalizadas, de acordo com as características genéticas do indivíduo, de maneira a promover a saúde e reduzir o risco de doença crônica.28

O papel da soja na modulação da expressão de genes envolvidos no metabolismo dos lipídios foi extensamente estudado, já que a ingestão de proteína da soja está associada com melhora no perfil lipídico, conforme evidenciado por diminuição na concentração plasmática de colesterol total e colesterol tipo LDL, e aumento na

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concentração do colesterol HDL (high density lipoprotein).29 Entre os mecanismos propostos relacionados com esses efeitos da proteína da soja, salientamos a redução na absorção de colesterol, aumento na excreção fecal de ácidos biliares, atividade de sobre-regulação do receptor hepático do LDL e aumento na concentração da tiroxina sérica (T4).20 Nesse contexto, foi proposto que a proteína da soja pode regular o metabolismo de lipídios ao modular a atividade de vários fatores transcricionais envolvidos nele, como a proteína ligadora do elemento regulador do esterol (SREBP), o receptor ativado peroxisomal-proliferador (PPAR) e o receptor X hepático (LXR).30

A ingestão de proteína da soja tem grande impacto na expressão gênica do fígado. Estudos mostram que 33% de 8.000 genes analisados no fígado expressavam de forma diferente após a ingestão de proteína da soja quando comparada com caseína. Importante notar que a ingestão de proteína da soja reduz a expressão de genes reguladores da síntese de ácidos graxos, como a enzima málica e a ácido graxo sintase, cujo efeito se relaciona com o fato de que a proteína da soja induz a redução hepática proteica e a expressão genética do fator de transcrição SREBP-1. A redução de SREBP-1 induzida pela soja pode ocorrer através da regulação negativa da expressão do gene receptor nuclear LXR.31,32 Embora os mecanismos moleculares não sejam completamente compreendidos, a regulação da expressão genética de SREBP-1 pelas proteínas de soja dietéticas pode ser mediada por meio de vias dependentes ou independentes da insulina. Já foi evidenciado que a insulina estimula a expressão hepática de SREBP-1, e que a proteína da soja diminui a secreção de insulina e aumenta a remoção da insulina do fígado. A ingestão de proteína da soja também aumenta a expressão do gene receptor de LDL no fígado, e outros resultados sugerem efeitos benéficos da proteína da soja na saúde cardiovascular (Figura 2).20,33

PPARs representam uma subclasse da superfamília de receptores nucleares e têm três isoformas: PPARα, PPARβ e PPARγ. O gene codificador PPARα é expresso principalmente no fígado, enquanto os que codificam PPARβ e PPARγ são expressos principalmente no intestino grosso e no tecido adiposo, respectivamente. Esses são considerados alvos moleculares relevantes para redução do risco e tratamento de doenças do metabolismo de lípides e carboidratos, assim como da inflamação.34,35 Estudos mostram que a ingestão de proteína da soja causa diminuição da concentração hepática de triacilglicerol e aumento na expressão do gene PPARα no músculo esquelético e carnitina palmitol-transferase (CPT)-1 — uma enzima-chave no transporte de ácidos graxos para a membrana mitocondrial interna, o que favorece a ocorrência de β-oxidação. Expressão aumentada de CPT-1 é mediada pela ativação do receptor nuclear PPAR, que promove aumento da oxidação de ácidos graxos. Além disso, a ativação de PPARγ inibe o acúmulo de colesterol ao aumentar o fluxo dessa substância.36,37

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Figura 2. Efeitos da ingestão da proteína da soja na regulação da expressão genética do fator de transcrição SREBP-1 e do receptor nuclear LXR no fígado, o que culmina na redução da expressão genética de enzimas envolvidas com a lipogênese (enzima málica, ME) e ácido graxo sintase (FAS) e, consequentemente, na diminuição da síntese de triacilglicerois (TAG). Além disso, a ingestão da proteína da soja promove aumento da expressão genética do receptor hepático LDL (LDLr).

Proteína da soja, exercícios deresistência e metabolismo proteico

Exercícios de resistência são um estímulo poderoso para a hipertrofia muscular em humanos. A hipertrofia ocorre quando a taxa de síntese de proteína muscular excede a taxa de degradação, de forma que o balanço proteico muscular seja positivo. O efeito agudo do exercício de resistência melhora o balanço proteico; entretanto, na ausência de ingestão alimentar, o balanço permanece negativo (catabólico), como mostra a Figura 3.38,39 É geralmente aceito que, após semanas ou meses de treinamento de força, o crescimento muscular ocorra como resultado crônico das elevações transitórias da síntese acima da degradação proteica durante o tempo de recuperação entre sessões consecutivas de exercício (Figura 4). Além disso, a interação entre o metabolismo proteico e a ingestão de nutrientes durante esse período determina o impacto da dieta na hipertrofia muscular. Estudos em humanos mostraram que efeito anabólico da ingestão proteica está associado com aumento nos níveis de aminoácidos livres no sangue, o que resulta em elevação da disponibilidade de aminoácidos para o músculo esquelético.40

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Hartman et al.41 verificaram que o consumo de leite bovino após exercício resistido resultou em maior ganho de massa magra e maior perda de massa gorda quando comparado com a ingestão de uma bebida isonitrogenada e isocalórica baseada em proteína da soja em homens jovens. Entretanto, outros estudos não encontraram diferenças relativas ao tipo de proteína e ganho de massa magra após um certo período de exercício resistido. Nesse sentido, Candow et al.42 observaram que a massa magra aumentou após seis semanas de treinamento de resistência comparado com a suplementação de carboidratos, entretanto não foram encontradas diferenças significativas quanto ao ganho de massa magra entre os grupos que receberam suplementação com leite de proteína do trigo ou proteína da soja.

Figura 3. Síntese proteica muscular, degradação proteica muscular e balanço proteico analisado sob repouso e 3-4 horas após sessão de exercício de resistência em indivíduos sem treinamento. Adaptado de Biolo et al. (1995). * p < 0,05 versus repouso.

Proteínas de alta qualidade, como a proteína da soja, a caseína e a do trigo, promovem a síntese proteica muscular após o exercício por meio da ativação da via de sinalização do alvo do complexo rapamicina 1 em mamíferos (mTORC1). A ingestão de mistura de três proteínas após treinamento de resistência pode causar aumento prolongado na concentração sanguínea de aminoácidos, ativar a via de sinalização de mTORC1 e elevar a síntese proteica muscular. Esses resultados indicam que essa

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estratégia nutricional é efetiva no planejamento dietético de indivíduos em busca de hipertrofia muscular induzida por treinamento de resistência.43

Figura 4. Síntese muscular proteica e degradação durante e após exercício de resistência. O balanço proteico positivo é necessário para a ocorrência de hipertrofia e, portanto, o tempo de recuperação entre sessões de exercícios, assim como a ingestão de energia e macronutrientes durante o período após o exercício, afetam a resposta muscular. Adaptado de Lemon.44

Ingestão proteica e balanço proteicomuscular após perda de peso

A obesidade é um problema global de saúde pública e pode estar associado com vários riscos cardiovasculares, como diabetes tipo 2, dislipidemia e hipertensão. As evidências mostram que as dietas de restrição calórica são efetivas no tratamento da obesidade, ao promover a perda de gordura corporal. Entretanto, o balanço nitrogenado negativo também pode resultar na perda de massa magra, que é associada com uma miríade de consequências negativas, inclusive reduções na taxa metabólica basal, no turnover proteico e na performance, e aumento do risco de lesões.45

A perda de massa magra durante balanço energético negativo pode ser atenuada pela ingestão aumentada de proteína.46 A ingestão diária necessária é de 0,8 a 1,2 g

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por quilo de peso corpóreo, o que exige que se sustente a ingestão proteica absoluta original e a restrição de carboidratos e gordura durante a dieta de restrição energética. A ingestão de 1,2 g por quilo de peso corpóreo é benéfica para a composição corporal e melhora a pressão arterial.47

A regulação do turnover proteico no músculo esquelético é também influenciada pela composição aminoacídica e pela qualidade da proteína dietética. A proteína da soja é considerada uma proteína completa, já que contém quantidades grandes de todos os aminoácidos essenciais e um valor nutricional que é mais ou menos equivalente ao de uma proteína animal de alto valor biológico, o que indica que essa proteína é uma importante fonte proteica no tratamento dietético de indivíduos obesos. Em obesos, o efeito da perda de peso causado pela ingestão de proteína da soja foi similar ao da caseína, mas mais baixo que o da proteína do trigo.48,49 Embora não sejam conclusivos, os estudos indicam que a ingestão de proteína da soja pode ser benéfica para o controle de peso em indivíduos obesos, provavelmente por meio de mecanismos envolvendo o controle da saciedade e o gasto energético.50 Em indivíduos com sobrepeso ou obesos, uma dieta hipocalórica rica em proteína de soja promoveu perda de peso, ao diminuir a gordura corporal, sem perda de massa magra.51,52

Proteína da soja e saúde do osso

O impacto da ingestão de proteínas para o metabolismo do osso tem sido amplamente investigado. Uma teoria foi proposta de que uma dieta rica em proteínas poderia prejudicar a saúde do osso por estar associada com um aumento da acidose metabólica, devido à produção de íon amônio e sulfatos de aminoácidos contendo enxofre. Consequentemente, seriam empregados sais básicos (carbonatos e citratos), presentes nos ossos, a fim de neutralizar e manter a homeostase do pH do sangue, resultando em aumento da excreção de cálcio urinária e perda óssea.53,54 Entretanto, diferentemente da teoria proposta, os resultados de metanálise mostraram que a ingestão de proteína está relacionada com benefícios para o metabolismo do osso. Revisão sistemática e metanálise mostrou uma associação positiva entre a ingestão de proteína e a densidade mineral óssea.55

Estudos epidemiológicos mostram benefícios do consumo da proteína da soja na saúde óssea, enquanto estudos clínicos randomizados ainda estão inconclusivos. Em estudos transversais, houve associação positiva entre ingestão aumentada de proteína da soja e aumento do conteúdo e da densidade mineral óssea em mulheres asiáticas.56,57 De forma semelhante, estudos longitudinais indicam que a ingestão de soja está associada com risco diminuído de fraturas, particularmente entre mulheres no período da pós-menopausa precoce.58

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Num estudo clínico randomizado com mulheres na pós-menopausa, a ingestão de 40 gramas por dia de um suplemento baseado em proteína da soja durante três meses teve grande influência no metabolismo ósseo, quando comparado com os suplementos baseados em proteína do leite. Nesse estudo, a proteína da soja diminuiu a excreção urinária de deoxipiridolina, um marcador específico de reabsorção óssea, e aumentou as concentrações séricas do fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1). As concentrações de IGF-1 têm sido correlacionadas positivamente com a massa óssea em mulheres no período pré, peri ou pós-menopausa.59 Por outro lado, em mulheres no período tardio após a menopausa, uma intervenção com isolado proteico da soja por um ano não causou qualquer mudança no metabolismo ósseo, quando comparado com uma proteína controle.60

É importante ressaltar que parte dos efeitos da soja na saúde do osso pode estar relacionada com a ação das isoflavonas. Metanálise de estudos clínicos randomizados em mulheres na pós-menopausa indicam que as isoflavonas da soja estimulam a formação óssea e diminuem o processo de reabsorção, reduzindo a perda de massa óssea.61-63 Em estudos que envolveram somente mulheres ocidentais no período perimenopausa, a ingestão de isoflavonas da soja parece não ter sido tão efetiva na redução da perda óssea.64 Esses resultados conflitantes sobre os efeitos das isoflavonas estão relacionados com o estado do osso no momento inicial, assim como outras condições, como o tipo de suplemento, a dosagem de isoflavonas e a duração da intervenção.63,65

Ingestão diária recomendada deaminoácidos essenciais e proteínas

A qualidade da proteína dietética é determinada pela razão relativa entre os aminoácidos essenciais e a sua digestibilidade. O isolado proteico da soja e a proteína animal, como de ovos, carne de boi e aves, peixe, leite e laticínios, provê uma taxa adequada dos nove aminoácidos essenciais e, portanto, é considerado uma proteína “completa”. A Tabela 1 mostra a quantidade de aminoácidos contidos no isolado proteico da soja, no leite desnatado e na carne quando comparada com a recomendação diária (RDA) para crianças de dois a quatro anos e adultos entre 19 e 30 anos.13 A Tabela 2 mostra a recomendação de ingestão proteica de acordo com a idade.66

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Tabela 1. Conteúdo de aminoácidos (mg/g de proteína) em diferentes fontes proteicas13

Recomendação para crianças

(2-4 anos)

Recomendação para adultos(19-30 anos)

Isoladoproteicoda soja

Leitedesnatado

Carne

Histidina 19 14 25 26 33Isoleucina 28 19 48 58 44

Leucina 66 42 80 93 77Lisina 58 38 61 75 81

Metionina + Cisteína 25 19 25 32 36Fenilalanina 63 33 87 92 72

Treonina 34 20 37 43 43Triptofano 11 5 13 13 11

Valina 35 24 49 64 48

Tabela 2. Recomendação proteica na dieta66

IdadeRecomendação

(g/kg peso corpóreo/dia)Recomendação

diária (g)

Crianças0 – 6 mesesa 1,52 9,10

7 – 12 mesesb 1,50 13,51 – 3 anosb 1,10 13,04 – 8 anosb 0,95 19,09 – 13 anosb 0,95 34,0

AdolescentesSexo masculino: 14 -18 anosb 0,85 52,0Sexo feminino: 14 -18 anosb 0,85 46,0

Adultos≥ 19 anosb 0,80

Gravidezb 1,10 + 25,0Lactaçãob 1,10 + 25,0

aIngestão adequada (AI); bRecomendação diária (RDA)

Considerações finais

A proteína da soja é uma proteína de alto valor biológico associada a efeitos benéficos no metabolismo de lipídios, o que pode resultar em redução do risco cardiovascular. Esses efeitos da proteína da soja estão parcialmente associados com redução na taxa de insulina/glucagon, assim como diminuição na expressão de genes envolvidos na lipogênese hepática. Esses efeitos benéficos previnem a hiperinsulinemia e reduzem a lipotoxicidade hepática. A proteína da soja ajuda no ganho de massa muscular em indivíduos envolvidos com treinamento de resistência e promove a perda de massa gordurosa e atenuação da perda de massa muscular em pacientes sob dieta hipocalórica. Além disso, estudos epidemiológicos mostram benefícios do consumo dessa proteína para a saúde óssea, e parte desses efeitos podem estar relacionados com a ação das isoflavonas.

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Adequação de proteínaspara diferentes públicos:

crianças, adultos e atletas

Dr. Lisandro Alberto García

Proteínas: revisão geral

As proteínas constituem uma parte essencial da dieta humana, porque oferecem nitrogênio e aminoácidos ao organismo, que são usadas para a síntese e manuteção das proteínas codificadas no genoma humano. As proteínas também fornecem outras substâncias nitrogenadas não proteicas mas metabolicamente ativas, como hormônios peptídicos, neurotransmissores, ácidos nucleicos, glutationa e creatina. Os aminoácidos também são substrato para desaminação e o seu esqueleto de carbono é usado em diferentes vias metabólicas como um substrato de energia.

As proteínas são formadas a partir da junção de aminoácidos. Essa união se dá por meio de ligações peptídicas, nas quais o grupo carboxila de um aminoácido interage com o grupo amino de outro (ou imino, no caso da prolina). A progressão dessas ligações formam as cadeias polipeptídicas que estão dobradas numa estrutura tridimensional para formar a proteína. A estrutura primária, a sequência de aminoácidos das proteínas, é predeterminada pelo código genético. Vinte aminoácidos de origem natural são os chamados aminoácidos proteinogenômicos, que são estruturas necessárias para a construção de proteínas nos organismos vivos. Com poucas exceções, somente os L-isômeros são incorporados dentro das proteínas.

Tanto nos alimentos quanto no organismo, aproximadamente 95% de uma proteína é formado por nitrogênio; o restante, 5%, são formados parcialmente por outros compostos nitrogenados, como aminoácidos livres, ureia e nucleotídios.

Dos 20 aminácidos que formam as proteínas, 9 são essenciais (histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina), e os 11 restantes não são essenciais (alanina, arginina, cisteína, glutamina, glicina, prolina, tirosina, ácido aspártico, asparagina, ácido glutâmico e serina). Dos aminoácidos essenciais, lisina e treonina são estritamente indispensáveis, porque não participam da transaminação e a sua deaminação é irreversível. Em certas situações, alguns dos aminoácidos não essenciais podem ser convertidos em condicionalmente essenciais devido a necessidades aumentadas ou dificuldade de síntese em situações fisiológicas específicas — como as encontradas em neonatos prematuros ou em condições patológicas, como doença grave. Esses aminoácidos incluem: arginina, cisteína, glutamina, glicina, prolina e tirosina.1,2

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Além de servir como “tijolos de construção” das proteínas, cada aminoácido tem sua própria via metabólica não proteinogênica. Alguns são usados como precursores de compostos nitrogenados, como a glutationa, vários neurotransmissores, óxido nítrico, creatina, carnitina, taurina ou niacina. A glutationa, o aspartato e a glicina são usados na síntese de ribo e desoxirribonucleotídeos, precursores da síntese dos ácidos nucleicos RNA e DNA. Arginina e glutamina são precursores de aminoácidos não proteinogênicos, como a ornitina e a citrulina, que têm papel fundamental na troca interorgânica de nitrogênio. A glutamina e o glutamato são precursores de intermediários no ciclo de Krebs e são também importantes substratos de energia em diferentes células. Os aminoácidos são usados, após deaminação, como substrato de energia na gliconeogênese e na queratogênese. Alguns podem agir direta ou indiretamente como moléculas sinalizadoras intracelulares. O glutamato é conhecido como um neurotransmissor, o triptofano é precursor da serotonina, a tirosina é a precursora das catecolaminas e da dopamina, e também de hormônios da tireoide, e a histidina é precursora da histamina. A arginina ativa o primeiro passo da eliminação de NH4+/NH3 durante o ciclo hepático da ureia, e também serve como secretor de insulina por meio das células β-pancreáticas das ilhotas de Langerhans; ela é, por meio da atividade da sintase do óxido nítrico, o precursor do óxido nítrico que regula a pressão arterial. Por fim, a leucina foi amplamente investigada devido a seu papel como um sinalizador celular da síntese proteica por meio do alvo rapamicina (mTOR) em mamíferos. Essas vias metabólicas não proteinogênicas e as atividades de sinalização são incluídas no conceito de necessidades proteicas quando o balanço nitrogenado é neutro e quando as necessidades de aminoácidos estão supridas.3

Digestão e metabolismo

Em humanos, as proteínas ingeridas por meio do alimento (40 a 110 gramas por dia), as proteínas endógenas, secretadas no lúmen intestinal (20 a 50 gramas por dia), e as moléculas não proteicas que contêm nitrogênio (ureia e outras) secretadas no trato digestivo são misturadas com o material que está em trânsito no lúmen do trato gastrointestinal, sujeitas a digestão e absorção.4 A maioria das proteínas é transferida para o organismo por meio da absorção de seus aminoácidos pela mucosa intestinal, enquanto uma pequena parcela permanece no lúmen e alcança o íleo terminal. O restante, que não foi absorvido, e o conteúdo intestinal não absorvido, passa do íleo terminal para o intestino grosso, e o conjunto fica então sujeito à ação da microflora colônica.

A digestão química das proteínas começa no estômago e continua no intestino delgado. No humano saudável, as enzimas digestivas agem nas proteínas e liberam aminoácidos. A passagem delas pela membrana vilosa acontece por meio de vários transportadores não saturáveis.5 O intestino delgado apresenta atividade metabólica

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intensa e sua mucosa metaboliza uma quantidade importante de aminoácidos essenciais e não essenciais durante o processo de absorção. No estado absortivo, os aminoácidos originários dos alimentos, mais do que os sistêmicos, são precursores das proteínas que são sintetizadas na mucosa. A glutamina e o glutamato são substratos importantes de energia, os mais usados pelo tecido intestinal, sendo que sua presença na circulação portal é rara. De 50% a 60% da treonina fornecida pelas proteínas alimentares são usados pelas células caliciformes para síntese de muco. Dentre os aminoácidos lisina, leucina e fenilalanina, 15% a 30% são usados pelo intestino, enquanto outras frações aparecem na circulação portal. Apenas 12% dos aminoácidos excretados pelo intestino são usados para a síntese de proteínas na mucosa, e o restante é catabolizado.

Aproximadamente 15 gramas de proteína ao dia permanecem no lúmen intestinal e entram no cólon. Ali, as proteínas são quebradas em peptídeos e aminoácidos por meio de proteólise bacteriana. Os aminoácidos entram no processo de deaminação e descarboxilação. A ingestão de proteínas deve considerar que existe esta perda de aminoácidos.4 A microflora colônica exerce atividade ureolítica, de maneira que o nitrogênio da ureia secretado no intestino pode ser reciclado, seja para a síntese de aminoácidos pelas bactérias ou pela captura de amônia do intestino (Figura 1).

Figura 1. Mecanismo de um metabolismo protéico normal

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Amônia no colonócito é capturada pelo ácido pirúvico e transformada em alanina pelo alfa-cetoglutarato, e por sua vez em ácido glutâmico; ou pelo oxaloacetato em ácido aspártico. Uma vez formados, esses aminoácidos são convertidos em transportadores extracelulares dos grupos amino, que podem então transferi-los, via transaminação, em cetoácidos, para formação de novos aminoácidos não essenciais. Esse mecanismo de reciclagem da ureia pode ser considerado importante em termos de conservação de nitrogênio.6,7

Parte do conteúdo proteico das fezes é de origem microbiológica para o uso de nitrogênio pela microbiota intestinal, como descrito nos parágrafos anteriores. Assim, a medida da digestibilidade ileal e fecal, assim como da digestibilidade dos aminoácidos e do nitrogênio real aparente, tem diferentes significados e pode ser usada com diferentes objetivos. Medidas ao nível do íleo são críticas para determinar a perda dos aminoácidos endógenos e dietéticos, assim como a medicação ao nível fecal é crítica em termos de avaliação de perdas do nitrogênio total do organismo.8 Até o momento, a reciclagem de nitrogênio intestinal e os aminoácidos sintetizados pelas bactérias são considerados uma medida clara para o cálculo da necessidade orgânica de nitrogênio.

Ingestão proteica recomendadapara crianças e adolescentes

Os valores de referência atuais para proteínas (ou seja, recomendação de ingestão diária) para crianças na Suíça são documentados no Daily Dietary Reference Intakes para Alemanha, Áustria e Suíça (D-A-CH).9 Eles estão baseados no relatório de especialistas da Food and Agriculture and World Health Organization (FAO/WHO)10, publicado em 1985 junto com as investigações de Dewey, de 1996.11 Esses valores de referência são: durante o primeiro ano de vida, 2 gramas por quilo corpóreo por dia (primeiro mês) até 1,11 grama por quilo por dia (12o mês). De um a quatro anos de idade: 1 grama por quilo por dia e depois 0,9 grama até 15 anos de idade. Como resultado da publicação mais recente de dados sobre necessidades energéticas e composição corporal, um grupo de especialistas da FAO-WHO revisou as necessidades proteicas de 2002 (publicadas em 2007).12 As necessidades proteicas para crianças incluem a quantidade para manutenção (como em adultos), assim como as necessidades para crescimento (deposição proteica nos tecidos). Esses dados são calculados por meio de estudos de balanço nitrogenado e usando o chamado método fatorial (cálculo estatístico e matemático). Os novos dados revelaram necessidades ligeiramente mais baixas, especialmente em bebês em amamentação e crianças pequenas, conforme mencionado antes. Essas necessidades variam de 1,77 g por quilo de peso corpóreo ao dia (no primeiro mês) a 1,14 g (12o mês); 0,86 g/kg/dia de 1 a 4 anos de idade e 0,91 a 0,92 g/kg/dia até a idade de 10 anos. Dos 11 anos de idade

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em diante, os valores se diferenciam pelo sexo: 0,91-0,85 g/kg/dia para meninos adolescentes até os 18 anos e 0,90 a 0,82 g/kg/dia para meninas da mesma idade. A WHO também incluiu um valor de referência por peso e os valores de necessidades proteicas por gramas por dia nas recomendações: 10,2 g/dia até os seis meses de idade, aumentando para 57,9 g/dia em homens e 47,4 g/dia em mulheres de 15 a 18 anos. Entretanto, com base em revisões europeias desses valores, a ingestão proteica atual entre crianças e adolescentes é muito superior, considerando que atinge 40 g/dia aos dois anos de idade, 60 g/dia aos três anos e 100 g/dia, ou mesmo superior, dos 13 aos 15 anos.

É importante considerar não somente a quantidade, mas também a qualidade das proteínas. Proteína animal tem uma composição aminoacídica muito valorizada, considerando que, diferentemente das proteínas vegetais, contêm todos os aminoácidos essenciais, e a digestibilidade também é superior. Os aminoácidos limitantes das proteínas vegegais incluem: lisina, triptofano e aminoácidos contendo enxofre, como metionina e cisteína. A proteína da soja é a exceção entre as proteínas vegetais, já que contém todos os aminoácidos essenciais. As necessidades de aminoácidos essenciais são dependentes da idade.

Existem aspectos do conteúdo das proteínas que são muito importantes de se considerar, especialmente em crianças. O consumo excessivo de proteína por bebês em amamentação e crianças pequenas os coloca em risco de se tornarem obesos ou com sobrepeso mais tarde. Se a ingestão total de proteína, especialmente de origem animal, é alta na idade de cinco a seis anos, pode contribuir para puberdade precoce nos dois sexos. Essas observações podem levar a novas questões e representam um desafio para mais estudos sobre a importância da proteína na nutrição. A Tabela 1 mostra as necessidades médias de proteínas e valores de referência para a faixa etária de zero a 18 anos.

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Idademês do ano

Valor de manutenção

Valor para crescimento

Exigênciamédia

Valor de referência

FAO/WHO 1985 [2]

DACH [1]US Nat.

Acad. 2005 [5]

g/kg/dia; m = masculino; f = feminino g/dia

m & f m f m f m f m f m f m f m f

1 mês* 0,58 0,83 1,41 1,77 2,25 2,0 12

2 0,58 0,65 1,23 1,50 1,82 1,5 10

3 0,58 0,55 1,13 1,36 1,47 1,3 10

4 0,58 0,49 1,07 1,24 1,34 1,3 10

6 0,58 0,40 0,98 1,31 1,30 1,3 10

7-12 0,66 0,29 0,95 1,14 1,57 1,1 10 9

1,5 anos 0,66 0,19 0,85 1,03 1,26

2 0,66 0,13 0,79 0,97 1,17 1 (1-<4 anos) 14 13 11 (1-3 anos)

3 0,66 0,07 0,73 0,90 1,13

4 0,66 0,03 0,69 0,86 1,09

5 0,66 0,06 0,69 0,85 1,06

6 0,66 0,04 0,72 0,89 1,02 0,9 (4-<7 anos) 18 17 15 (4-8 anos)

7 0,66 0,08 0,74 0,91 1,01

8 0,66 0,09 0,75 0,92 1,01

9 0,66 0,09 0,75 0,92 1,01 0,9 (7-<10 anos) 24

10 0,66 0,09 0,75 0,91 0,99

11 0,66 0,09 0,07 0,75 0,73 0,91 0,90 0,99 1,00 27 (9-13 anos) 28

12 0,66 0,08 0,06 0,74 0,72 0,90 0,89 0,98 0,98 0,9 (10-<13 anos) 34 35

13 0,66 0,07 0,05 0,73 0,71 0,90 0,88 1,00 0,98

14 0,66 0,06 0,04 0,72 0,70 0,89 0,87 0,97 0,94 0,9 (13-<15 anos) 46 45

15 0,66 0,06 0,03 0,72 0,69 0,88 0,85 0,96 0,90

16 0,66 0,05 0,02 0,71 0,68 0,87 0,84 0,92 0,87 0,9(15-<19 anos) 0,80 60 46

17 0,66 0,04 0,01 0,70 0,67 0,86 0,83 0,90 0,83 44 (14-18 anos) 38

18 0,66 0,03 0,00 0,69 0,66 0,85 0,82 0,86 0,80

Comparação dos novos valores de referência para proteínas com os valores anteriores daFAO-WHO 1985[10], DACH 2000[9] e US National Academy of Sciences 2005[13]

* 1-6 meses: valores para bebês em amamentação.

Tabela 1. Necessidades médias de proteínas e valores de referência para crianças e adolescentes

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Ingestão recomendada de proteína para adultos

As recomendações atuais de ingestão de proteína para adultos estão baseadas principalmente nos estudos sobre balanço nitrogenado, com suporte nas evidências de dados gerados de outros métodos. A despeito de discussões sobre a aplicação das metodologias, as recomendações atuais são baseadas em estudos com diferentes grupos populacionais, realizados ao longo de um período de tempo extenso. Cada método, incluindo os de balanço nitrogenado, tem vantagens e desvantagens dependendo do objetivo da investigação e da população estudada. E, apesar de investigações extensas, ainda não há método alternativo aceito que tenha sido validado e considerado significante quando comparado com o balanço nitrogenado. Em geral, este método superestima a ingestão de nitrogênio ou proteínas e subestima a excreção de nitrogênio ou proteínas, levando a um falso balanço nitrogenado positivo.

Valores de referência dietética e ingestãorecomendada de proteína para adultos

No relatório FAO-OMS-UNU (1985),10 o balanço nitrogenado foi usado para deduzir a necessidade da população em 0,6 g/kg/dia de proteínas, com adição de dois desvios padrão (2 x 12,5) para permitir uma variabilidade individual, e gerando como resultado um nível de ingestão seguro de 0,75 g/kg/dia. UK COMA do Reino Unido (DoH)14 e o Scientific Committee for Food (SCF)15 aceitaram o valor adotado pela FAO-OMS-UNU.10 Os holandeses (Health Council of the Netherlands)16 também utilizaram a proposta FAO-OMS-UNU,10 mas aplicando o coeficiente de variação (CV) de 15% para permitir a variabilidade individual, e chegaram a uma recomendação final de 0,8 g/kg/dia. Considerando o fato de que a dieta dos países industrializados tem elevado teor de proteína, as recomendações nutricionais nórdicas2 estabelecem uma ingestão de proteína de 15% da energia total da dieta de um indivíduo, variando de 10 a 20% do total de energia para adultos. Isso resulta numa ingestão de proteína muito maior do que 0,8 g/kg/dia.

Em 2005, o Instituto de Medicina dos Estados Unidos (IOM) recomendou a dose de 0,8 g/kg/dia de proteína de alta qualidade para adultos. O critério de adequação utilizado para a média de necessidades estimadas, ou Estimated Average Requirement (EAR), é baseado na menor ingestão de proteína considerada suficiente para atingir o balanço nitrogenado.

A FAO/WHO/UNU12 reavaliou suas recomendações de 1985 com base em uma metanálise de estudos de balanço nitrogenado em seres humanos, publicada por Rand et al.,17 que envolveu estudos estratificados por subpopulações com ajustes feitos com base na diferenças de clima, gênero, idade e fonte de proteína,

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encontrando que uma percentagem de 0,6 g/kg/dia foi a melhor estimativa. O nível de ingestão segura foi identificado no percentil 97,5 da distribuição das necessidades da população, que era igual a 0,83 g/kg/dia de proteína de alta qualidade.12 As recomendações francesas (Agence Française de Sècuritè Sanitaire des Aliments)18 estabeleceram valor de 0,83 g/kg/dia com base no relatório FAO/OMS/UNU.9 Países de língua alemã (D-A-CH, 2008)19 utilizaram a percentagem das necessidades de proteínas de alta qualidade de 0,6 g/kg/dia (estimada pela FAO-WHO em 1985), incluindo uma provisão para variabilidade individual (o valor aumentou para 0,75 g/kg/dia), e consideraram a digestibilidade da proteína, frequentemente reduzida, de uma dieta mista para estabelecer uma ingestão recomendada de 0,8 g/kg/dia para os adultos. A Tabela 2 apresenta uma visão geral dos valores de referência de proteína na dieta para adultos.

Tabela 2. Visão geral dos valores dietéticos de referência e recomendações para proteínas em adultos11

Valores de referência para proteína na dieta

FAO/

WHO/UNU (1985)

DoH (1991) SCF (1993)

Health Council of the Netherlands

(2001)

NNR (2004)

IoM(2005)

FAO/WHO/UNU (2007)

AFSSA (2007)

D-A-CH (2008)

ARAdultos

(g/kg bw x d¹)0,60 0,60 0,60 0,60 - 0,66 0,66 0,66 0,60

PRIAdultos

(g/kg bw x d¹)0,75¹ 0,75 0,75 0,8 - 0,80² 0,83¹ 0,83 0,80

PRIAdultos

Homens (g/d)- 56 56 59 - 56 - - 59

PRIAdultos

Mulheres (g/d)- 45 47 50 - 46 - - 47

Variação de ingestão

recomendadaAdultos (E%)

- - - - 10-20 10-35³ - - -

1Nível seguro de ingestão; 2RDA; 3Intervalo Distribuição de micronutrientes aceitável

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Ingestão de proteína por atletas

Os atletas precisam compreender a importância de consumir alimentos que sirvam como fonte de proteína, assim como carboidratos, gordura, minerais e micronutrientes (vitaminas e elementos-traço fundamentais) para, atingir níveis de performance de excelência. Entretanto, frequentemente a complexidade das diretrizes nutricionais tende a confundir os atletas. A ingestão proteica recomendada para atletas varia de 1,2 a 1,6 g/kg/dia, o que é superior às RDA. O IOM estabelece um valor de RDA para proteínas em homens e mulheres acimas de 19 anos de 0,8 g/kg/dia (1), o que, usando as referências de peso corpóreo de atletas, de 70 a 90 kg (154-200 libras) para homens e 50 a 70 kg (110-154 libras) para mulheres, resultaria em RDA de 56-72 g para homens e 40-56 g para mulheres. Há um limite mínimo estabelecido para o conteúdo proteico, enquanto não foi definido um nível máximo tolerado (Tolerable Upper Intake Level, UL). Entretanto, a variação aceitável de macronutrientes (Acceptable Macronutrient Distribution Range, AMDR) é definida como 10-35% da ingestão dietética total diária. O estudo das dietas dos atletas, particularmente os envolvidos com treinamento de resistência e fisiculturistas, indica que não é anormal observar uma ingestão proteica de 2 a 2,5 g/kg/dia ou mesmo maior, de 3,5 g/kg/dia.20,21 Será que os atletas deveriam atingir esses níveis ou mesmo consumir mais proteína? Na ausência de evidência sugerindo o contrário, não é possível afirmar que ingestão de proteína em níveis mais altos que os sugeridos seja benéfica. Entretanto, o que parece ser crítico, de forma semelhante ao caso da recomendação dos carboidratos, o momento para a ingestão é muito importante. As proteínas devem ser consumidas imediatamente após o exercício, durante a fase de recuperação (em outras palavras, duas horas imediatamente após o exercício).22 A qualidade da proteína também parece importante em termos de maximizar o aumento da proteína muscular. Portanto, os atletas deveriam focar sua dieta em fontes proteicas com alto valor biológico, como laticínios, ovos, carne magra e soja. Quando os atletas acharem inconveniente consumir proteínas dessa maneira, suplementos podem ser uma alternativa prática. Não obstante, esses suplementos devem ser analisados com cuidado, porque há grande variedade de ingredientes nas barras de proteína e bebidas proteicas disponíveis no mercado. A quantidade de proteína de alto valor biológico que oferece máximo estímulo para a síntese proteica muscular é considerada de 20 a 25 g por dia. Acima dessa quantidade, a síntese de proteína não aumenta, embora haja aumento na quantidade de aminoácidos disponíveis para oxidação e síntese de ureia.23

Como comentário final, é possível descartar como problemático o tema da ingestão de proteína em atletas, considerando que parece que essas pessoas consomem uma quantidade suficiente. No entanto, nem sempre há uma ingestão de proteína suficiente entre atletas do sexo feminino. De acordo com Burke et al.,24

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as recomendações para atletas são unânimes no sentido de que um maior consumo de carboidratos leva a um melhor desempenho, embora muitos dos atletas mais conhecidos parecem não consumir o suficiente. Citando os autores desse mesmo artigo: “o fracasso dos atletas em alcançar a recomendação de nutricionistas especializados em esportes para ingestão de carboidratos [e também de proteínas] não invalida os benefícios dessas recomendações”. Portanto, os detalhes subjacentes às recomendações de ingestão de proteína por atletas incluem pontos tais como o momento do consumo, a composição (qualidade), bem como o consumo de combinado com outros macronutrientes e carboidratos. Atenção a esses detalhes irá ajudar os atletas a alcançar seu potencial máximo.

Síntese de proteína muscular e exercício

Achados científicos sustentam que a ingestão de proteína imediatamente após o exercício estimula o seu uso a nível muscular, favorecendo a maturação de células e o crescimento muscular. Uma revisão dos estudos em que a proteína é dada às pessoas como um suplemento pós-exercício parece mostrar que o consumo de proteínas imediatamente após o exercício seria um fator determinante em termos de aumento da força e massa muscular. Ainda que certos estudos sugiram que o músculo é sensível à oferta de nutrientes (principalmente aminoácidos) por até três horas após o exercício de resistência,25 estudos longitudinais sobre treinamentos sugerem que os aumentos na força e na massa muscular são maiores quando a proteína é consumida imediatamente após o exercício.26-29 Além disso, ganhos de força e massa muscular obtidos em pacientes recentemente submetidos a cirurgia no joelho (ligamento cruzado anterior) foram maiores nos indivíduos que consumiam proteínas e carboidratos do que naqueles que consumiam apenas carboidratos ou placebo.16 Verificou-se que há um aumento de fibra muscular maior entre os homens jovens que treinavam durante 14 semanas, quando a proteína era consumida imediatamente após o exercício, comparado à mesma quantidade de energia fornecida por carboidratos.27 Cribb e Hayes30 descreveram que um suplemento com creatina e proteína consumidos imediatamente antes e depois do exercício resultou em um aumento ótimo da massa muscular, força e fibra muscular tipo 2, ainda maior do que a observada em pessoas que tomaram o mesmo suplemento, mas em outros momentos. Além disso, verificou-se que o consumo de carboidratos como uma fonte de energia imediatamente após o exercício de resistência, sem proteínas, resulta em menor ganho de massa muscular induzido pelo treino de resistência quando comparado com o consumo de proteínas.29,31

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Ajustando o momento de ingestão proteicapara benefício da síntese endógena

A terceira lei da nutrição* afirma que os principais alimentos que compõem um plano dietético (carboidratos, proteínas e gordura) devem ser consumidos de forma proporcional. Em termos nutricionais, os carboidratos e metade da gordura na nossa dieta devem suprir as necessidades de energia do organismo, deixando-se as proteínas para suprir uma função mais “plástica”. As proteínas indiscutivelmente têm um papel no metabolismo da energia, embora uma oferta correta de carboidratos de gordura na dieta diminuam sua participação.

A ingestão de alimentos em cada refeição diária estimula a secreção de peptídeos pelo trato digestivo. Esses peptídeos facilitam a digestão dos alimentos pela promoção da absorção dos nutrientes resultantes. Dos peptídeos mencionados, existem dois (o polipeptídeo inibidor gástrico, GIP, e o peptídeo semelhante ao glucagon 1, GLP-1) que são liberados na corrente sanguínea, alcançando o pâncreas para estimular o primeiro pico de secreção de insulina nas células beta pancreáticas, simultaneamente inibindo a secreção de glucagon pelas células alfa e, com isso, a função catabólica. Quando o alimento digerido e absorvido entra na corrente sanguínea como nutriente, causa um segundo pico de secreção de insulina ao passar pelo pâncreas. A insulina, que é um hormônio anabólico, no estado pós-prandial, faz com que os aminoácidos que entraram na circulação tornem-se o substrato para a síntese de proteínas no organismo.

Isso significa que, no estado pós-prandial, determinado pela insulina, é esperado que o organismo use a energia oferecida pelos carboidratos e parte da gordura, e que haja um “efeito plástico” das proteínas e restante da gordura não envolvida com o processo metabólico.

Relação entre ingestão de proteína e peso,composição corpórea e saciedade

Três metanálises recentes examinaram como as dietas ricas em proteína afetam a mudança de peso e composição corpórea. Wycherley et al.22 analisaram 24 estudos clínicos randomizados que compararam dietas com restrição de calorias, embora com conteúdo aumentado de proteína, o estudo durou 12,1 ± 9,3 semanas e envolveu a participação de 1.063 pacientes com sobrepeso ou obesos, com idades variando de 18 a 60 anos. Na dieta hipercalórica e hiperproteica, 27% a 35% da energia foi proveniente de proteína (1,07-1,60 g/kg/dia), enquanto nas dietas com quantidade

* Pedro Escudero (1877-1963). Fundó en 1928 el Instituto Municipal de la Nutrición, el que posteriormente se llamó Instituto Nacional. Padre de la Nutrición en la República Argentina. Creador de las cuatro Leyes de la Alimentación: Cantidad; Calidad; Armonía y Adecuación.

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padrão de proteína havia 16%-21% de proteínas (0,55-0,88 g/kg/dia).22 Embora a variação de idade seja ampla, as dietas com o conteúdo mais alto de proteínas levaram a maior perda de peso (diferença média: -0,79 kg; intervalo de confiança de 95%, IC 95%, -1,50 a -0,08; p < 0,03) e perda de massa gorda (-0,87 kg; IC 95%de -1,26 a -0,48; p < 0,001) que as dietas com quantidade padrão de proteína.22 Foi de particular importância o achado de que os homens de meia-idade e idosos que consumiram dietas ricas em proteína conseguiram conservar mais massa magra durante a restrição calórica (+0,43 kg; IC 95% 0,09-0,78; p < 0,01) que com as dietas com quantidades padrão de proteína.22

Resultados semelhantes foram também encontrados em uma metanálise de estudos envolvendo 418 adultos de meia-idade (46-63 anos) com diabetes tipo 2.32 Nessa análise, as dietas com alto conteúdo proteico (25% a 32% do conteúdo energético) levaram a maior perda de peso (diferença média -2,08 kg; IC 95% -3,25 a -0,90) que as dietas contendo 15% a 20% de proteína.32 Santesso et al.33 estenderam esses resultados ao incluir 74 estudos clínicos randomizados comparando dietas com conteúdo proteico padrão (5% a 23%) e alto conteúdo proteico (16%-45%). A despeito de fatores como consumo energético, estado de saúde e idade, as dietas com alto conteúdo proteico facilitaram a maior perda de peso (-0,36 kg/m2; IC 95% -0,56 a -0,17; p < 0,001), reduções no índice de massa corporal, IMC (-0,37 kg/m2; IC 95% -0,56 a -0,19; p < 0,001) e reduções na circunferência da cintura (-0,43 cm; IC 95% -0,69 a -0,16; p < 0,001) comparadas com a dieta padrão.

Vários estudos clínicos que examinaram a síntese de proteínas, o controle do apetite e a saciedade estão focados no teor de proteína de cada alimento e sobre a ingestão total de proteínas durante o dia. O corpo humano tem uma capacidade limitada para armazenar uma grande quantidade de proteína a partir de um único alimento, e é incapaz de usar tudo o que é recebido a partir do trato na síntese de proteínas e anabolismo muscular. Em revisão de estudos recentes, houve um consenso geral de que cerca de 30 gramas de proteína por alimento são necessários para se obter uma mudança ótima ou mensurável nas variáveis em estudo.34--39 Por exemplo, a figura 2 mostra a saciedade duas horas após refeição contendo 350 kcal e com uma variável quantidade de proteínas (dados não publicados, que consistem em estudos anteriores com populações semelhantes e projetos experimentais).

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63Figura 2. Respostas de saciedade pós-prandial após refeições de 350 Kcal com

conteúdo proteico variado. Área sob a curva, (AUC) mm*120min-10

Embora o consumo de todos os alimentos leve a um aumento imediato na saciedade, alimentos contendo 30 g de proteína obtêm aumento maior e mais sustentado no longo prazo comparado com o período de duas horas após a refeição, quando comparado com outras quantidades. Esses dados marcam um limiar de proteínas do alimento no sentido de aumentar a saciedade. Se três dos quatro alimentos contendo 30 g de proteína cada são consumidos ao longo do dia, a quantidade total de proteínas é igual às quantidades consideradas efetivas para obter mudanças no peso e composição corporal mencionadas antes.39, 40 A ingestão aumentada de proteínas pode se justificar para adultos com alta demanda ou alto nível de turnover proteico (por exemplo: atletas e certos tipos de pacientes), embora qualquer benefício potencial deva ser avaliado com base nos riscos gerados pelo excesso diário.

Ingestão de proteína e distribuição de seu consumo

Existem teorias que sustentam que comer aos poucos e frequentemente, ou, em outras palavras, ingerir pequenas porções ao longo do dia, promove maior perda de peso e mudanças na composição corporal. Ironicamente, enquanto essas teorias relacionam o espectro da frequência de refeições com pequenas porções distribuídas

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ao longo do dia, outras enfatizam o jejum intermitente, o que prevê inclusive pular refeições, principalmente o café da manhã. No entanto, com base em discussões anteriores, a quantidade e distribuição das proteínas contidas nos alimentos podem afetar significativamente os resultados.

Em indivíduos mais velhos, estudos recentes têm focado nas mudanças na massa muscular associadas com a distribuição de padrões.40,41 Bollwein et al.40 analisaram transversalmente um grupo de adultos frágeis, pré-frágeis e não frágeis de 75 anos de idade. Os autores notaram que, mesmo o consumo total de proteínas sendo semelhante em todos os grupos, os adultos não frágeis consumiram uma dieta com quantidade moderada de proteína em cada refeição. Em contraste, o grupo de frágeis e pré-frágeis tiveram um padrão que fez predominar o consumo de proteínas no almoço.

Um estudo clínico recente propôs a mesma questão, mas encontrou resultados ligeiramente diferentes. Bouillanne et al.41 conduziram um estudo clínico randomizado de seis semanas em pacientes adultos hospitalizados com média de idade de 85 anos. Eles reportaram que tiveram significativa melhora na massa corporal os pacientes a que foi oferecida dieta com 4,5 g de proteína às 8:00 h da manhã, 47,8 g no almoço, 2,3 g como lanche e 10,9 g no jantar, quando comparados com 12,2 g às 8:00 h; 21 g no almoço; 13,5 g como lanche e 21,2 g no jantar. Que fique ressaltado que o total de proteínas ao longo das 24 horas do dia foi o mesmo: 1,31 g por kg de peso corpóreo por dia.

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A segurança da sojapara adultos e crianças

Dr. Luis Emilio Valladares Boasi

Muitos estudos epidemiológicos já sugeriram que o aumento do consumo de soja pode contribuir para a diminuição da incidência de doença cardiovascular, aterosclerose, diabetes tipo 2 e diminuir também o risco de certos tipos de carcinogênese, como no câncer de mama e próstata.1,2 Entretanto, além dos efeitos benéficos para a saúde de homens e mulheres, há também algumas preocupações quanto à segurança de alimentos com soja. O objetivo deste texto é dar uma visão geral do conhecimento atual sobre os potenciais efeitos adversos do consumo de produtos contendo proteína da soja e isoflavona.

A composição de grãos de soja se diferencia dependendo da variedade, localidade, clima e práticas de agricultura. Os grãos da soja contêm 35%-40% do peso seco de proteína, dos quais 90% são duas globulinas de estoque.3 Essas proteínas contêm todos os aminoácidos essenciais à nutrição humana, o que equipara a soja aos produtos de fonte animal quanto à qualidade da proteína, mas com menos gordura saturada e zero colesterol.4

As isoflavonas são outros compostos muito estudados, biologicamente ativos nos grãos da soja, e associados fortemente com proteínas. A isoflavona é um fitoestrógeno mais importante presente na soja, e exige que o produto seja lavado em álcool para sua extração.5 Alimentos de soja e fórmulas para bebês baseadas em soja são fontes ricas em isoflavonas e contêm 4 mg de isoflavonas por grama. Genisteína, daidzeína e gliciteína são as principais isoflavonas. Tanto genisteína quanto daidzeína são conjugadas a açúcares como glicosídeos nos grãos da soja e na maioria dos produtos de soja consumidos no Ocidente. O glicosídeo das isoflavonas não pode ser absorvido a menos que seja hidrolisado e convertido para formas bioativas, que são a genisteína e a daidzeína, ambas agliconas, pela microflora intestinal ou por fermentação in vitro.6 A transformação metabólica mais importante é a conversão de daidzeína em equol e O-desmetilangolensina. Em comparação com genisteína e daidzeína, equol tem significativamente maior atividade estrogênica e é considerado como sendo o fitoestrogênio conhecido mais forte.7 Curiosamente, a maioria dos alimentos de soja tradicionais na Ásia contém altos níveis de isoflavonas agliconas, que são mais biodisponíveis e ativas do que a isoflavona glicosídeo.

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Isoflavonas são estruturalmente semelhantes ao estradiol mamífero e podem ligar-se a ambas as isoformas α e β do receptor de estrógeno (ER). No entanto, a sua afinidade de ligação para o ERβ é 20 vezes maior do que para ERα, e a sua capacidade de ativar a ligação do ERβ a elementos de resposta de estrógeno (ERE) de genes-alvo é 500-1000 vezes mais elevada do que a de ativar a ligação a ERα de ERE.8 ERα e ERβ compartilham pouca ou nenhuma homologia entre os seus domínios de transativação de ligação ao ligante e N-terminais. Isso pode contribuir para seus efeitos opostos sobre a regulação da expressão gênica e funções fisiológicas. Por exemplo, compostos estrogênicos estimulam a proliferação de células de câncer da mama humano através da ligação a ERα, mas suprimem a proliferação através de ERβ.9 Portanto, a ligação seletiva do receptor pode conferir às isoflavonas a capacidade de regular as funções fisiológicas de um modo diferente daquele do estrógeno. Isoflavonas podem ser denominadas como moduladoras seletivas dos receptores de estrógeno (“Selective Estrogen Receptor Modulators”, ou SERM).10 Em alguns órgãos, ERα e ERβ são expressos em níveis semelhantes, por vezes, em diferentes tipos de células do mesmo órgão, enquanto que em outras, um ou o outro subtipo predomina. ERα é predominantemente expressa no útero, próstata, ovário (células tecais), testículos (células de Leydig), epidídimo, osso, mama, fígado, rim, tecido adiposo branco e diferentes regiões do cérebro. ERβ é predominantemente expressa no cólon, próstata, epitélio, testículos, ovário (células granulosas), medula óssea, glândulas salivares, endotélio vascular, pulmão, bexiga e em certas regiões do cérebro (Tabela 1).

Tabela 1. Visão esquemática da distribuição de receptores de estrógeno ERα e ERβ nos órgãos

Órgãos ERα ERβ

Sistema nervoso central + +

Sistema cardiovascular + +

Mamas + +

Pulmão - +

Fígado + -

Trato gastrointestinal - +

Osso + +

Trato urogenital + +

Em alguns órgãos, tanto ERα como ERβ são expressos em níveis semelhantes, às vezes em diferentes tipos de células no mesmo órgão, enquanto em outros, somente um subtipo predomina.

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Consumo de soja em diferentes populações

A ingestão média diária de proteína da soja é de 30 g no Japão, 20 g na Coreia, 8 g na China e menos de 1 g nos Estados Unidos e na América do Sul.11,12 A média de consumo de isoflavonas é de 11-510 mg ao dia nos países asiáticos, 1-2 mg por dia nos ocidentais e 22-45 g por dia em crianças de quatro meses de idade que são alimentadas com fórmulas de soja.13

A concentração plasmática média de isoflavonas é de 1640 nmol/l para genisteína e 1160 nmol/l para daidzeína em crianças alimentadas com fórmulas,14 493 nmol/l para genisteína, 283 nmol/l para daidzeína, e 99 nmol/l paraequol em homens japoneses e 33 nmol/l para genisteína, 18 nmol/l para daidzeína, e 0,57 nmol/l para equol em homens britânicos.15 Esses dados indicam que bebês recebendo fórmulas são o grupo exposto à maior quantidade de isoflavonas da soja.

Segurança da soja para crianças:efeito em funções endócrinas

Efeito antitireoideo. As isoflavonas também podem influenciar no sistema do hormônio da tireoide. Há algum tempo se sabe, a partir de estudos in vitro e animais, que elas atuam como inibidoras da peroxidase da tireoide (TPO).16 A TPO catalisa a iodação de resíduos de tirosila, tiroglobulina e o acoplamento subsequente de resíduos iodotirosil necessários para a formação do hormônio iodotironina. Na ausência de iodeto, a daidzeína e a genisteína atuam como substratos alternativos para TPO. Na presença de iodeto, elas atuam como substratos alternativos e competem com a iodação da tirosina através da formação de derivados iodados da isoflavonas.17 A ingestão da soja é vista como responsável pelo desenvolvimento do bócio, incluindo aumento da tireoide, em bebês alimentados com fórmulas à base de farinha da soja sem fortificação com iodo.18 Embora os relatos iniciais de bócio em crianças alimentadas com fórmulas tenham parado na maioria, desde que os fabricantes passaram a suplementar as fórmulas de soja com iodo, em 1959, ainda há preocupação de que o uso de fórmulas para bebês com hipotireoidismo congênito possa diminuir (em aproximadamente 25%) a efetividade da terapia de reposição de hormônio da tireoide, por exemplo, L-tiroxina.19 Esses achados sugerem que a ingestão de soja pode reduzir a eficiência da função do hormônio da tireoide e que os grãos de soja possam conter goitrogenos que interferem com a utilização do iodo ou o funcionamento da tireoide, causando problemas. Entretanto, parece que o consumo de soja poderia causar o bócio apenas em bebês consumindo dietas marginalmente adequadas em iodo ou que estejam predispostos a desenvolver o bócio, e na maioria dos casos, a suplementação com iodo em quantidade adequada pode reverter esses problemas.20

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Idade ao atingir a puberdade. O momento em que se atinge a puberdade, a transição da infância para a fase adulta e reprodutiva, é um processo complexo que se imagina que é determinado, em parte, pela função endócrina na primeira infância. Portanto muita atenção tem sido devotada às exposições ao estrógeno do ambiente e seu possível papel na diminuição da idade em que se entra na puberdade nos últimos anos.21 Antagonistas hormonais têm um potencial de atrasar o início da puberdade. Evidências epidemiológicas sugerem que a ingestão de isoflavonas na infância pode estar associada ao retardo do início da puberdade em meninas.22 Em modelos animais, a puberdade mais tardia é observada após administração de genisteína no período perinatal.23 Entretanto, alguns modelos animais também mostraram desenvolvimento avançado nas meninas após a exposição a isoflavonas.24 A dose, o momento e a duração da ingestão podem influenciar os efeitos agonistas ou antagonistas das isoflavonas.

São apontados efeitos benéficos do consumo de uma dieta rica em isoflavonas antes da puberdade ou durante a adolescência sobre o câncer de mama.25 Num estudo transversal com meninas de nove anos de idade, ingestão aumentada de isoflavonas associou-se com desenvolvimento tardio das mamas.26 Ademais, em outro estudo recente, foi observado que meninas com ingestão mais alta de isoflavonas (excreção urinária de 1.338 µg de isoflavonas ao dia) na pré-puberdade podem ter classificação 2 de Tanner para o desenvolvimento da mama e pico de velocidade de crescimento aproximadamente 7-8 meses mais tarde que as meninas com ingestão mais baixa de isoflavonas (excreção urinária de 13 µg de isoflavonas ao dia).27 Entretanto, a ingestão de isoflavonas parece não ter tido efeito sobre a puberdade de meninos.26 Além disso, estudos epidemiológicos sugerem que pico de velocidade de crescimento e menarca em maior idade estão associadas com risco reduzido de câncer de mama. Portanto, o atraso na entrada na puberdade, associado com maior ingestão dietética de isoflavonas, pode contribuir para a prevenção do câncer de mama mais tarde na vida.28

Porém, a segurança da ingestão da soja pode ser diferente entre as crianças que são alimentadas com fórmulas de soja. Em estudo recente, foi verificado o momento de entrada na menarca em relação aos métodos de alimentação dos bebês, especificamente abordando os potenciais efeitos da exposição à isoflavona da soja nas fórmulas.29 O estudo incluiu 2920 meninas. Aproximadamente 2% das mães disseram que os produtos de soja foram introduzidos na dieta das crianças aos quatro meses de idade ou antes (soja precoce). A mediana de idade à menarca foi de aproximadamente 12,8 anos (intervalo interquartis 12-13,6), e a mediana de idade à menarca entre as meninas que receberam soja mais tarde foi de 12,4 anos (intervalo interquartis de 11,6-13,3). Portanto, as meninas recebendo soja precocemente tinham risco 25% maior de ter menarca mais precocemente do que aquelas alimentadas com fórmulas sem soja ou leite. Entretanto este estudo foi limitado pelo fato de que poucos indivíduos foram expostos precocemente à soja.

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Qual é a ingestão saudável de soja? Esta é uma questão frequente: qual seria a quantidade considerada razoável de soja a se ingerir? Não existe um guia sobre consumo seguro de soja. Todos os nutrientes e fitonutrientes podem ser fornecidos por uma variedade de alimentos, mas os produtos de soja são as únicas fontes de isoflavonas. Portanto, qualquer recomendação sobre isoflavonas é uma recomendação de consumo de soja. Atualmente não há recomendação nem para consumo mínimo nem máximo. Se a ingestão mediana de um asiático for levada como referência, então aproximadamente 8-9 g de proteína de soja e 30 a 35 mg de isoflavonas poderiam ser recomendados. Porém, um número considerável de estudos epidemiológicos mostram que o aumento do consumo de soja e isoflavonas está associado com risco diminuído para doenças (20-50 g/dia e 20-100 mg/dia de isoflavonas).30 Portanto, um argumento persuasivo poderia ser utilizado em prol dos valores máximos, que fariam mais sentido do que os médios ou medianos.

Embora a quantidade de proteína de soja usada nos estudos clínicos seja muito superior à usual na Ásia, os níveis de isoflavonas tendem a refletir melhor o padrão asiático, embora esses valores variem muito entre os estudos. A razão pela qual a quantidade de isoflavona se aproxima mais da dieta asiática do que a proteína da soja é que os estudos usaram principalmente produtos de proteína de soja ocidentais, que têm menor concentração de isoflavonas do que os orientais. Portanto, para atingir um certo nível de ingestão de isoflavonas, mais proteína da soja é necessária.

Como é difícil definir a ingestão fisiológica de um composto bioativo por meio de níveis plasmáticos, ela foi definida por Biesalski et al.31 como o consumo diário que não é mais do que duas ou três vezes a média de ingestão daquele composto numa determinada população. Se essa definição é aceita, o limite superior de ingestão de cerca de quatro porções por dia de produtos de soja para adultos, ou aproximadamente 100 mg de isoflavonas e 25 g de proteína da soja, o valor estabelecido pelo Foodand Drug Administration (FDA) para redução de colesterol ainda cai nessa categoria. Não há evidência clínica que sugira que exceder esse limite seja danoso, mas também não há precedente histórico. Para a maioria dos ocidentais, consumir 25 g de proteína da soja significaria que os produtos de soja forneceriam cerca de 25% da proteína ingerida. Para bebês, cuja ingestão calórica e proteica é reduzida (esta última em pelo menos um terço) em comparação com adultos, um ajuste para baixo na ingestão de soja é necessário. Portanto, como regra geral, para pessoas jovens duas porções de produtos de soja por dia (12 g) parece razoável.

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Segurança da soja para adultos

Função endócrina: mulheres na pré e pós-menopausa. No momento, maior interesse tem sido voltado para a atividade biológica das isoflavonas e seu mecanismo de ação através dos fitoestrógenos ERα e ERβ, mas muitos outros efeitos biológicos independentes da ação de receptores de estrógeno também foram identificados (por exemplo, capacidade antioxidante, antiproliferativa, antiagregação plaquetária).32,33 As isoflavonas também podem influenciar a ação do estrógeno em virtude dos efeitos nas enzimas envolvidas no metabolismo esteroide, incluindo a aromatase, 17β- desidrogenas e hidroxiesteroide, sulfatase esteroide e sulfotransferases, potencialmente resultando em alteração na circulação de estrógenos. Embora a evidência sobre os efeitos na saúde humana seja questionável, a modulação endócrina em muitas espécies animais foi identificada após a exposição a altas quantidades de isoflavonas.34 Esses efeitos hormonais levantaram questões sobre a segurança dos alimentos baseados na soja.

Os resultados são variados, e há muitas explicações para essa variabilidade nos estudos com soja. Muitos produtos, com variada concentração de isoflavonas, foram usados, incluindo os alimentos tradicionais com soja, a proteína isolada da soja, extratos e isolados de soja, cada um com vários controles.35 Outras variáveis incluem a quantidade de proteína nos produtos, o estado menopausal das participantes ou o estágio no ciclo menstrual das mulheres que estão na pré-menopausa e a maneira pela qual a ingestão de soja é controlada.

A metanálise de Hooper et al.36 avaliou os efeitos das isoflavonas da soja nas concentrações hormonais em mulheres na pré e pós-menopausa. Nas mulheres na pré-menopausa, o consumo das isoflavonas não teve efeito no total de estradiol circulante, estronas, globulina de ligação ao hormônio sexual (SHBG), estradiol livre e progesterona. Entretanto, aumento no ciclo menstrual de 1,05 dia e redução dos níveis plasmáticos dos hormônios luteinizante (LH) e folículo-estimulante (FSH) foram observados. Nas mulheres no climatério, não havia efeitos significativos estatisticamente, da soja ou isoflavonas, no total de estradiol circulante, estrona ou SHBG. A soja não teve efeito no FSH, LH, estradiol livre ou sulfato estrona, T4, IGF-1 ou TSH.

As isoflavonas, teoricamente, podem ter efeitos sobre a glândula pituitária-hipotalâmica em mulheres. No entanto, o estudo de Hopper sugere que não há alteração no status do estrogênio em mulheres na pré e pós-menopausa, e que há efeitos marginais nas pós-menopausadas.

Função endócrina: reprodução masculina. Menos pesquisa tem sido realizada com homens sobre a isoflavona, em comparação com mulheres. Entretanto, há um interesse considerável a respeito do impacto dos produtos de soja e isoflavonas no risco para o câncer de próstata.

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De nosso conhecimento, há somente três estudos investigando o impacto da ingestão dos alimentos de soja ou isoflavonas sobre a qualidade do sêmen, e com resultados contraditórios. Num estudo transversal envolvendo 99 homens, Chavarro et al.37 verificaram que a ingestão de soja e isoflavonas estava inversamente relacionada com a concentração espermática. Não houve modificação detectável nas variáveis de qualidade do sêmen, como motilidade, morfologia ou volume ejaculado. Entretanto, é preciso cautela com a interpretação desses resultados, por causa da falta de uma avaliação precisa do consumo da soja e dos níveis séricos da isoflavona e pelo fato de que os homens recrutados para o estudo eram de casais subférteis. Em outro estudo com 48 homens com anormalidades no sêmen e 10 controles, observou-se que a ingestão de isoflavona correlacionou-se positivamente com a contagem espermática e a motilidade. Estudo de Mitchell et al.,38 limitado a 14 indivíduos, mostrou que não houve influência da isoflavona, consumida na forma oral (40 mg por dia por dois meses) sobre a qualidade do sêmen ou os hormônios sexuais. Por fim, para adicionar mais controvérsia a esse assunto, um estudo in vitro mostrou que concentrações baixas de genisteína (1, 11 e 100 nM) causam capacitação acelerada e perda de acrossomas dos espermatozoides humanos.39

Estudos focados nos níveis hormonais também falharam em encontraram efeitos claros do consumo de tofu (70 mg/dia de isoflavona), leite de soja (48 mg/dia de isoflavona) ou produtos de soja (22 mg/dia de isoflavona).40,41 Uma metanálise de Hamilton-Reeves et al.,42 incluindo estudos que avaliaram níveis de testosterona como indicador dos riscos de câncer de próstata, sugeriu, com base em 32 artigos, que a ingestão de produtos alimentares de soja ou isoflavonas não alteram os níveis de testosterona. Nenhum efeito significativo da proteína da soja ou da isoflavona foi encontrado sobre SHBG, testosterona livre ou índice androgênico livre (FAI), não importando o modelo estatístico utilizado.

Cânceres relacionados com hormônios

Muitos estudos animais e humanos foram conduzidos para determinar a associação entre a ingestão da soja e o câncer de mama e próstata. Modelos experimentais diferentes também foram usados, com estudos in vitro e in vivo, na tentativa de se compreenderem os eventos celulares e moleculares envolvidos com a regulação da proliferação celular.

Câncer de mama. Esta é uma das doenças mais letais para mulheres ocidentais. Sabe-se que a incidência de câncer de mama em mulheres brancas é mais alta que nas asiáticas, mas os fatores etiológicos do câncer de mama ainda não estão claros. Os padrões dietéticos diferentes podem ser responsáveis por parte da diferença.43

Aproximadamente metade de todos os casos recém-diagnosticados de câncer de mama podem ser atribuídos à dieta. Portanto, a identificação das diferenças entre

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os fatores dietéticos nas populações com risco aumentado para câncer de mama (por exemplo, mulheres caucasianas), comparados com as de baixo risco (asiáticas), ofereceria novas visões sobre a etiologia e as possibilidades de prevenção e redução do câncer. O risco para o câncer de mama diminui com aumento da frequência de ingestão de tofu, após ajustes para idade, área do estudo, etnia e história de migrações. O efeito protetor da alta ingestão do tofu foi observado em mulheres tanto antes como depois da menopausa. A questão é se a soja, ou mais especificamente as isoflavonas (por exemplo, genisteína), é o componente que ajuda a explicar a dramática disparidade no risco para o câncer de mama entre as populações. Qin et al.44 realizaram metanálise em que examinaram a associação entre o consumo de alimentos de soja e o câncer de mama. O estudo mostrou que produtos como tofu e miso tiveram efeitos protetores claros, e isso apoiou a hipótese de que a ingestão de soja possa se associar com diminuição do risco devido à isoflavona.

Muitos estudos foram conduzidos sobre alimentos de soja e sobre avaliações mais acuradas de marcadores de isoflavona. Guhaet al.45 examinaram o papel da isoflavona e a incidência do câncer de mama, verificando o nível de receptor de estrógeno (ER), o estado menopausal e o uso de terapia com tamoxifeno, numa coorte de 1.954 mulheres sobreviventes de câncer de mama, que tiveram diagnóstico entre 1997 e 2000. Elas foram acompanhadas prospectivamente por 6,31 anos e 282 casos de recorrência foram registrados. O trabalho mostrou: 1) uma tendência de diminuição do risco com aumento da ingestão de isoflavona, comparada com nenhuma ingestão, em mulheres menopausadas; 2) entre as mulheres menopausadas tratadas com tamoxifeno, houve diminuição de aproximadamente 60% no risco de recorrência, comparada com a maior e a menor ingestão de daidzeína e 3) isoflavona consumida em níveis comparáveis aos da população asiática pode reduzir a recorrência do câncer em mulheres recebendo tamoxifeno, e parece não interferir com a terapia do tamoxifeno.

Vários outros estudos observaram uma associação significativamente inversa da ingestão da isoflavona com o risco para o câncer de mama, que foi mais evidente entre as mulheres antes da menopausa. Consistente com essa observação, um estudo caso-controle realizado por Zhu et al.46 entre 2008 e 2011 na China também indicou uma associação inversa, semelhante, em que alta concentração de isoflavona diminui (58%) o risco de câncer de mama comparado com baixa ingestão.

Os possíveis mecanismos moleculares envolvidos com os efeitos proliferativos da isoflavona no câncer de mama incluem os efeitos da genisteína como agonista de ERβ, efeitos epigenéticos e genômicos, ativação dos receptores ativados pelo proliferador peroxissoma (PPARs), indução de apoptose e estimulação de autofagia.47 Talvez, os mecanismos moleculares precisos ainda estejam longe de serem compreendidos.

Câncer de próstata. De forma semelhante ao câncer de mama, estudos demográficos sobre câncer de próstata têm ampla variação na incidência e mortalidade, com as

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maiores taxas no mundo ocidental e menores nos países asiáticos.48 Além disso, estudos epidemiológicos encontraram risco bastante aumentado entre asiáticos migrando para o ocidente que adotam a dieta ocidental, mas não entre aqueles mantendo suas dietas originais.49

Isoflavona da soja alimentar diminuiu significativamente o risco de câncer de próstata em japoneses.50,51 A suplementação com proteína de soja ou isoflavona diminuiu os marcadores para o desenvolvimento de câncer e a progressão nas células prostáticas incluindo o antígeno prostático-específico (PSA), testosterona e receptores androgênicos em pacientes com câncer de próstata52 ou homens com alto risco de desenvolver câncer de próstata avançado.53 Entretanto, a ingestão de 44 g de proteína da soja e 116 mg de isoflavonas diariamente não conseguiu modificar os níveis séricos totais ou livres de PSA em homens saudáveis de meia-idade.54 Evidências de estudos epidemiológicos e clínicos apoiam a suplementação de soja e de isoflavonas para a redução do risco de desenvolver câncer de próstata. Estudo recente de van Die et al.55 sugere que pode haver um papel potencial para os suplementos de isoflavona e proteína de soja na redução do risco de câncer de próstata. Porém, não foram encontrados efeitos significativos nas análises de níveis hormonais. Os achados sobre SHBG, testosterona e testosterona livre são consistentes com outra metanálise baseada em estudos sobre isoflavona que não encontraram efeitos significativos nos hormônios reprodutivos masculinos.40

Função cognitiva

O interesse nos efeitos dos alimentos da soja nas funções cognitivas aumentou bastante nos últimos anos. Entretanto, as pesquisas sobre os efeitos das isoflavonas sobre a função cerebral são limitadas. Um estudo observacional que examinou a relação entre a ingestão de soja e a função cognitiva verificou que homens havaianos que diziam consumir tofu pelo menos duas vezes por semana na meia-idade pareciam ter escores nos testes cognitivos mais baixos 20 a 25 anos mais tarde do que aqueles que consumiam tofu menos de duas vezes por semana.56 Em outro estudo com idosos, homens e mulheres, o consumo de tofu se associou com falsa memória, enquanto o consumo de tempe se associou com melhoras da memória.57 Em contraste, os resultados de vários estudos clínicos pequenos com mulheres na pós-menopausa sugerem que aumentar a ingestão de isoflavonas pode resultar em melhoras modestas na performance em testes cognitivos por até seis meses. Mulheres na pós-menopausa que receberam extratos de soja, com 60 mg/dia por 6-12 semanas, tiveram melhores resultados nos testes cognitivos de lembrança de imagens (memória de curto prazo), mudanças de regras de aprendizado (flexibilidade mental) e numa tarefa de planejamento, comparadas com mulheres que receberam placebo.58 Num estudo mais longo, mulheres na pós-menopausa receberam suplementos com 110

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mg/dia de isoflavona por seis meses. Elas tiveram melhor desempenho num teste de fluência verbal que as mulheres que receberam placebo.59 Num estudo do tipo cross-over de seis meses, mulheres recebendo 60 mg por dia de isoflavonas tiveram melhora significativa no desempenho cognitivo e humor do que as que receberam placebo.60 Entretanto, em estudos maiores controlados por placebo, mulheres na pós-menopausa recebendo 80 mg/dia de isoflavona por seis meses ou 99 mg por dia de isoflavona por um ano não tiveram diferença no desempenho em um conjunto de testes funcionais cognitivos, incluindo de memória, atenção, fluência verbal, controle motor e demência.61 Por outro lado, uma revisão de oito estudos, sete dos quais com mulheres na pós-menopausa, mostrou que o tratamento com isoflavonas da soja se associa com melhoras na função cognitiva.62 Um trabalho recente foi realizado com mulheres afro-americanas, brancas, chinesas e japonesas na transição pré e pós-menopausa. Elas foram acompanhadas, num desenho longitudinal, por seis anos. O estudo verificou que os efeitos da isoflavona da soja dietética parecem ser específicos para cada categoria, variam conforme o estado menopausal e o domínio cognitivo estudado, e diferem entre os grupos étnicos.63

Conclusão

Podemos concluir que a ingestão de 1,6 g por quilo de peso corpóreo por dia de soja em crianças parece segura, já que não há consenso, e, para adultos, a ingestão de 0,36 g por quilo por dia parece segura.

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Tópicos selecionados sobreo grão de soja e as isoflavonas

Dra. Nimbre Torres

Valor nutricional

O grão de soja foi qualificado como fonte de proteína de alta qualidade. A proteína da soja é a única proteína vegetal amplamente encontrada que, segundo demonstrado por numerosos estudos sobre equilíbrio de nitrogênio usando-se proteína de soja isolada (ISP) ou concentrado de proteína de soja (SPC), é uma proteína completa.1 Esses resultados indicam que, para a saúde dos adultos, a proteína de soja isolada tem alta qualidade nutritiva em comparação com as fontes de proteína animal, que o teor de metionina não limita a manutenção da proteína no adulto.1

A importância da proteína de soja foi subestimada porque seu aminoácido limitante é a metionina. No entanto, apesar do fato de a demanda de metionina dos ratos ser ~50% superior à do ser humano, o ganho de peso dos animais em crescimento é semelhantes à dos ratos alimentados com caseína. Além disso, a metionina é um precursor de homocisteína (Hcy), que é um fator de risco cardiovascular independente. Os ratos alimentados com dieta de proteína de soja apresentam menor concentração de Hcy sérica do que os alimentados com dieta de caseína. Da mesma maneira, no ser humano, o consumo de soja é inversamente associado aos níveis séricos de Hcy,2 indicando que a substituição de uma proteína animal pela de soja pode resultar em menores concentrações de Hcy, o que têm o potencial de reduzir o risco de doença coronariana.3

O escore de aminoácidos corrigido pela digestibilidade proteica (PDCAAS) é o método mais amplamente conhecido e aceito para avaliar a qualidade das proteínas alimentares. Essa medida foi aprovada em todo o mundo, em 1991, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Esse método baseia-se na comparação do perfil de aminoácido de uma proteína alimentar com o valor de referência para crianças de 2 a 5 anos de idade para determinar o escore químico de um aminoácido. O escore do aminoácido é corrigido pela multiplicação pela digestibilidade real da proteína, resultando no valor do PDCAAS. O valor do PDCAAS de 1,00 ou 100% indica que a proteína fornece quantidades adequadas de todos os aminoácidos indispensáveis, quando ingerida em quantidades nutricionais apropriadas.4 A soja é a única fonte de proteína vegetal equivalente à proteína animal, com PDCAAS = 1.5 Tem um papel particularmente benéfico nas dietas vegetarianas e na subnutrição.

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Importância da soja na América Latina

Durante o início da década de 1960, o consumo de proteína de soja em combinação com outras proteínas vegetais foi usado para lutar contra a subnutrição nos países em desenvolvimento. Desde então, a proteína de soja tem sido usada na elaboração de diferentes produtos ou usada em combinação com a alimentação básica para melhorar seu valor nutricional. Atualmente, a proteína de soja é usada em diferentes programas nutricionais na América Latina e no desenvolvimento de novos produtos alimentares, Figura 1. Nos dias de hoje, o grão de soja é considerado um alimento funcional. Um alimento funcional é natural ou processado e contém compostos biologicamente ativos conhecidos que, quando ingeridos em termos quantitativos e qualitativos definidos, proporciona benefícios documentados e clinicamente comprovados para a saúde e, assim, é uma fonte importante na prevenção, conduta e tratamento de doenças crônicas da era moderna.6 No presente trabalho, descrevemos algumas novas evidências sobre o efeito benéfico da proteína de soja ou de seus compostos bioativos sobre a saúde.

Problemas desubnutrição

Problemas desubnutrição

EngenhariaGenética

Passado Presente

Desenvolvimento datecnologia de nutrição

por biologia molecular

Café da manhã escolarà base de soja

nas escolas do México

Aumento da produção degrãos de soja por hectare

Combinação deproteínas vegetais

Desenvolvimentode produtos

à base de soja

Programas nutricionaisà base de soja na América Latina

Sojapersonalizada

Nutrigenômicada soja

ÓleosResíduos

de proteína

Biodiesel Óleos

personalizados

Produtos àbase de soja

Listas de dietasespecíficaspara doençase populaçõesespecíficas

1960 1980 1990 2000 2010 Anos

- Redução do colesterol e dos triglicérides- Melhora da sensibilidade à insulina- Redução dos picos de glicose pós-prandial

PRODUTOSALIMENTÍCIOS DE SOJA

COM BENEFÍCIOSPARA A SAÚDE

Figura 1. Evolução do uso da soja

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Benefícios da soja para a saúde

Dados substanciais de pesquisas epidemiológicas e de intervenções nutricionais em seres humanos e animais indicam que a proteína de soja tem efeitos benéficos sobre resistência à insulina, obesidade, dislipidemia e algumas formas de doença renal crônica. Há relatos de que a substituição da proteína animal de uma dieta pela proteína de soja diminui o nível de lípides plasmáticas em seres humanos. Quatro metanálises revelaram que o consumo de pelo menos 25 g de proteína de soja reduz o colesterol sérico total, a fração de lipoproteína de baixa densidade (LDL) do colesterol e os triglicérides em 3,8-9,3%, 5,3-12,9% e 7,3-10,7%, respectivamente, e aumenta o colesterol HDL em 2,4-3,2%. A redução do colesterol LDL de 5-6% tem o potencial de reduzir o risco de doença cardiovascular em 7% a 12%.7-10

Os mecanismos de redução dos lípides séricos não estão bem estabelecidos. Os efeitos globais da proteína de soja sobre o metabolismo dos lípides foram observados quando a proteína de soja contém isoflavonas.3 Diversos mecanismos de ação foram propostos para explicar o efeito hipolipidêmico da proteína de soja, incluindo a intensificação da excreção de ácidos biliares, mudanças da razão entre insulina e glucagon, redução dos picos de insulina pós-prandiais6 e o efeito das isoflavonas sobre as vias de transdução de sinal que ativam a enzima adenosina monofosfato proteína-cinase (AMPK).

Efeito da proteína de soja sobreo metabolismo dos lípides

Nas últimas três décadas, os avanços da biologia molecular permitiram compreender o mecanismo molecular de ação dessa leguminosa. Demonstrou-se que a composição do aminoácido, assim como a presença de compostos bioativos, como as isoflavonas, no grão de soja tem um papel importante na regulação da secreção da insulina e da sensibilidade à insulina que, por sua vez, controla o metabolismo dos lípides mediado pelo fator de transcrição SREBP-1 (proteína ligadora de elemento receptor de esterois). Um fator de transcrição é uma proteína que se liga a sequências específicas de DNA , controlando, assim, a transcrição de informações genéticas do DNA para o RNA mensageiro.

Mecanismo de ação da proteína de soja

Foi demonstrado o efeito hipolipidêmico da proteína de soja em comparação com o da proteína animal no ser humano e em uma série de modelos animais. Contudo, os mecanismos moleculares pelos quais a proteína de soja reduz os lípides séricos ainda não foram completamente estabelecidos. O metabolismo hepático dos lípides

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é controlado, em parte, pelo fator de transcrição denominado proteína ligadora do elemento regulador de esterois (SREBP). Esse fator de transcrição regula a expressão de genes lipogênicos para sintetizar ácidos graxos e triglicérides.

Demonstrou-se que, depois do consumo de proteína de soja, a insulina sérica aumenta em 50%, ao passo que, depois do consumo de caseína, a insulina sérica eleva-se 3,5 vezes com relação aos níveis basais.11 Por outro lado, comprovou-se que a insulina estimula seletivamente a expressão de SREBP-1 no fígado.12 Assim sendo, se o consumo de proteína de soja mantém a concentração sérica da insulina na faixa baixa-normal, pode-se especular que a proteína de soja pode não estimular a síntese de ácidos graxos no fígado. Nosso grupo demonstrou que a ingestão a curto e a longo prazo de dieta com proteína de soja mantém normal a concentração sérica da insulina, em comparação com ratos que receberam dieta de caseína. Isso, por sua vez, é acompanhado pela baixa expressão de RNAm do SREBP-1 no fígado e pela redução da expressão dos genes das enzimas lipogênicas, ácido graxo sintetase (FAS) e enzima málica.6 Em consequência, há redução dos triglicérides hepáticos, o que impede o desenvolvimento de fígado gorduroso, Figura 2.

Figura 2. Possíveis mecanismos de ação da proteína de soja em diferentes tecidos

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Proteína de sola e lipotoxicidade

A obesidade caracteriza-se por aumento da massa de tecido adiposo para compensar o acúmulo excessivo de triglicérides. Contudo, os adipócitos tornam-se disfuncionais e liberam quantidades excessivas de ácidos graxos livres, leptina e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) para tecido não adipocítico para contrabalançar a sobrecarga de ácidos graxos livres. Sobrevém a resistência à leptina e os tecidos adiposos como fígado, músculo esquelético e pâncreas acumulam quantidades excessivas de lípides não oxidados. Estes lípides são transportados para a formação de ceramidas, um processo denominado lipotoxicidade.13

Um estudo recente demonstrou que ratos alimentados com dieta de proteína de soja podem controlar a concentração sérica e hepática de lípides, modulando a concentração sérica da insulina. Porém, não se sabe se a proteína de soja teve o mesmo efeito em modelos animais de esteatose hepática que desenvolveram hiperinsulinemia. O rato diabético obeso Zucker (ZDF fa/fa obeso) desenvolve hiperglicemia, hiperinsulinemia, hiperlipidemia e esteatose hepática. Os resultados mostraram que o consumo de dieta de proteína de soja por ratos ZDF obesos fa/fa melhora o fígado gorduroso e reduz os níveis hepáticos de colesterol e triglicérides em maior extensão do que a dieta de caseína, apesar de os ratos terem alta concentração de insulina.14 O consumo de proteína de soja também reduz os níveis hepáticos de triglicérides em 50%, resultando em redução da formação de ceramidas no fígado.13

Proteína de soja e obesidade

O consumo crônico de dieta rica em gordura e carboidrato está associado ao desenvolvimento de obesidade. Todavia, não está bem estabelecido se a proteína da dieta tem algum papel no desenvolvimento de anormalidades do metabolismo lipídico que ocorre durante a obesidade. Tem sido demonstrado que os ratos alimentados com dieta rica em gordura-proteína de soja durante 180 dias ganharam muito menos peso do que os alimentados com dieta rica em gordura-caseína, e a diferença deveu-se principalmente ao menor teor de gordura no corpo, em vez de alterações do teor proteico corporal ou ingestão cumulativa de energia. A diferença de ganho de peso entre esses grupos não é associada à qualidade da proteína consumida, porque os ratos alimentados com caseína ou proteína de soja cresceram na mesma taxa durante os primeiros 50 dias de tratamento com dieta, apesar de a demanda de proteína ser mais alta do que no período de manutenção. Observamos que os ratos alimentados com dieta rica em gordura-caseína tinham fígado gorduroso e deposição de colágeno, associados ao aumento do peso corporal e à hiperleptinemia, devido ao desenvolvimento de resistência à leptina. Os ratos alimentados com proteína de soja, mesmo na presença de dieta rica em gordura,

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tinham concentrações normais de leptina, resultando em baixo acúmulo de lípides no fígado, devido à ação da leptina para estimular a oxidação de FA.15

Existem poucas informações quanto a se o tipo de proteína na dieta influencia o perfil de expressão dos genes do tecido adiposo, em especial durante o consumo de dieta rica em gordura. Nossos estudos mostram que o tipo de proteína da dieta tem influência significativa sobre o fenótipo do tecido adiposo. As dietas à base de proteína de soja reduzem o tamanho dos adipócitos, o que indica um aumento do número de células de gordura, evitando, portanto, a hipertrofia. Ao contrário, as dietas à base de caseína produzem o efeito oposto. Acreditamos que essas mudanças sejam, em parte, resultado das modificações hormonais. A proteína de soja, ao manter as concentrações séricas normais de insulina e leptina, leva a uma resposta melhor de sensibilidade a esses hormônios nos órgãos e tecidos-alvo, inclusive os adipócitos. Vários estudos evidenciaram que a leptina sérica não só regula os tecidos hipotalâmicos e periféricos, como também regula o metabolismo dos adipócitos por um mecanismo parácrino. Uma análise de microarray, que fornece informações sobre a expressão de aproximadamente 15.000 genes, revelou um achado importante, qual seja, o consumo de proteína de soja modifica a expressão de 90 genes envolvidos nas funções metabólicas e na resposta inflamatória no tecido adiposo. Um dos principais genes (ou nodos) modificados foi a leptina.16 A expressão da leptina tem regulação descendente no tecido adiposo de ratos alimentados com dietas de soja ou de soja e ricas em gordura, em comparação com os alimentados com dietas de caseína ou de caseína e ricas em gordura. Além disso, a regulação descendente da expressão da leptina pela proteína de soja é acompanhada de aumento da expressão de lipase sensível a hormônio (HSL), uma importante enzima na regulação da lipólise de adipócitos. Esses resultados indicam que o consumo prolongado de proteína de soja mantém a funcionalidade dos adipócitos.

Fitoquímicos: Isoflavonas

O grão de soja, como outras sementes, tem diversos compostos bioativos não nutritivos, encontrado naturalmente, que são conhecidos como fitoquímicos. Os mais importantes nos grãos de soja são as isoflavonas.

As três principais isoflavonas são genisteína, daidzeína e gliciteína, Figura 3. São classificadas como fitoestrógenos, porque são compostos de origem vegetal com atividade estrogênica. As isoflavonas de soja ativam os receptores de estrógeno do corpo, proteínas que detectam a presença de estrógeno e têm efeitos como mudanças da expressão de genes. No entanto, as isoflavonas fazem isso de modo menos eficaz do que os estrógenos naturais do corpo. Ligam-se a receptores de estrógeno α e β e sua atividade estrogênica é 1/1000 menor que a dos estrógenos naturais. O teor de isoflavonas dos alimentos à base de soja varia bastante, dependendo do produto

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específico e das técnicas de processamento empregadas para produzi-los. As isoflavonas são mantidas nas preparações de proteína de soja que não são extraídas com álcool.

Nos grãos de soja, as isoflavonas estão presentes como glicosídeos (genisteína, daidzeína e gliciteína), o que significa que são ligadas a uma molécula de açúcar. Quando elas são metabolizadas, passam através do intestino e são hidrolisadas pela β-glicosidase. Esse processo separa as isoflavonas das moléculas de açúcar, liberando a molécula aglicona (um composto não glicolisado). Essas isoflavonas aglicona (genisteína, daidzeína e glicliteína) podem ser assimiladas ou mais metabolizadas em equol ou O-desmetilangolensina. A conversão desses componentes pela microbiota é diferente em cada indivíduo. As diferenças na microbiota intestinal fazem com que a produção de equol ocorra em um em cada três indivíduos que consomem alimentos à base de soja.

Nos alimentos de soja não fermentada, as isoflavonas aparecem principalmente como o conjugado, enquanto nos produtos de soja fermentada, como miso (purê) ou tofu (queijo), dominam as agliconas. Os grãos de soja e seus subprodutos contêm – 1–3 mg de isoflavonas/g de proteína.17 As isoflavonas receberam atenção considerável nos últimos anos, por causa de seu papel na prevenção do câncer de próstata.

Iso

flav

ona

s d

a so

ja

Fito

estr

óg

eno

s

Forma glicosilada(glicona)

Forma não glicosilada(aglicona)

daidzeína daidzeína equol

gliciteína gliciteína

genisteína genisteína

Est

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H

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Figura 3. Principais isoflavonas no grão de soja

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Isoflavonas na prevenção do câncer de próstata

Os alimentos à base de soja contêm compostos fitoquímicos denominados flavonoides. Os mais importantes são as isoflavonas. As isoflavonas são consumidas principalmente nos alimentos tradicionais de soja (miso, tempeh [carne de soja], tofu) como os glicosídeos daidzeína, genisteína e gliciteína, que são termoestáveis e sobrevivem ao cozimento. No intestino delgado, os glicosídeos são transformados pela β-glicosidase para formar daidzeína, genisteína e gliciteína. Essas agliconas são as formas que podem ser transportadas pelos enterócitos. A microbiota intestinal pode metabolizar daidzeína em equol, que é um fitoestrógeno potente. A microbiota tem um papel importante na produção de equol após o consumo de soja. O equol é produzido principalmente por bactérias conhecidas como Slackia isoflavoniconvertens, que convertem daidzeína em equol. Essas bactérias nem sempre são encontradas na microbiota intestinal dos indivíduos para realizar essa transformação.18 A extensão da conversão de isoflavonas para equol varia muito no ser humano, provavelmente por causa das diferenças na composição da microbiota intestinal. Como se mencionou anteriormente, cerca da metade dos indivíduos é capaz de metabolizar a isoflavona de soja, daidzeína, em equol. Nos japoneses, a frequência dessas bactérias é superior à das populações europeias ou americanas. Com isso, o risco de câncer de próstata é menor nos homens capazes de degradar essa isoflavona. O equol é 10 vezes mais potente que seu precursor, daidzeína, para impedir o desenvolvimento de câncer de próstata. O equol liga-se especificamente à 5α-diidrotestosterona e, assim, evita que a 5α-diidrotestosterona se ligue aos receptores de andrógeno. O bloqueio da ação androgênica pode ser benéfico para evitar o crescimento de tecido reprodutivo dependente da 5α-diidrotestosterona, como a próstata, Figura 4. O consumo diário de alimentos à base de soja reduz os níveis séricos do antígeno prostático específico (PSA) nos pacientes com câncer de próstata. Em um estudo com voluntários japoneses saudáveis, a administração a curto prazo de isoflavonas de soja estimulou a produção de equol sérico e diminuiu as concentrações séricas de diidrotestosterona. Em um estudo clínico de Fase II, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, a isoflavona (60 mg/dia) ou o placebo foram administrados por 12 meses a homens japoneses entre 50 e 75 anos de idade, com níveis séricos de PSA entre 2,5 e 10,0 ng/ml, resultando em uma única biópsia negativa de próstata nos 12 meses que precederam a inscrição no estudo. Nesse estudo, a incidência de câncer no grupo isoflavona foi significantemente inferior que a do grupo placebo nos pacientes com idade de 65 anos ou mais.19

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Figura 4. Formação de equol a partir de daidzeína

Isoflavonas como reguladoresdo metabolismo do colesterol

Vários efeitos biológicos da proteína de soja foram atribuídos à presença de isoflavonas. As evidências recentes demonstraram que as isoflavonas estão envolvidas no mecanismo pelo qual a proteína de soja reduz o colesterol sérico.

O metabolismo do colesterol é controlado por vários fatores de transcrição que regulam a expressão de genes envolvidos na eliminação do colesterol por meio da formação de ácidos biliares e também de genes envolvidos no transporte reverso do colesterol, que remove o excesso de colesterol intracelular que vai para a circulação ou para o lúmen intestinal. O principal fator de transcrição é o receptor X do fígado (LXR). Existem duas isoformas de LXR, denominadas LXR-α e LXR-β. Esses fatores de transcrição são receptores nucleares ativados naturalmente por oxiesterois formados a partir do colesterol. Assim, quando o colesterol celular aumenta, as isoformas de LXR são ativadas para eliminar o excesso de colesterol, uma vez que é sabido que a elevação do colesterol intracelular pode danificar as células.20 Além disso, LXR-α também regula a expressão de genes envolvidos na biossíntese de ácidos graxos e triglicérides.

Demonstrou-se que nenhuma das isoflavonas é capaz de se ligar diretamente ao LXR para aumentar sua atividade. No entanto, a evidência recente indica que o fator de transcrição LXR pode ser fosforilado por uma enzima conhecida como adenosina monofosfato proteína-cinase (AMPK), que regula sua atividade biológica. Recentemente, foi demonstrado que as isoflavonas da proteína de soja, em especial genisteína, é capaz de ativar a enzima AMPK.21 A AMPK pode fosforilar ambas as isoformas de LXR, mas a fosforilação da LXR-α faz a regulação descendente de sua atividade biológica, resultando em expressão reduzida de seus genes-alvo, inclusive genes da biossíntese de ácidos graxos, enquanto a fosforilação de LXR-β

ALIMENTOS À BASE DE SOJA FLAVONOIDES ISOFLAVONAS (forma glicosídica)

GENISTEÍNADAIDZEÍNAGLICITEÍNA

DAIDZEÍNA DAIDZEÍNA DIIDRODAIDZEÍNA(forma glicosídica) β-glicosidase

intestinal(forma aglicona) microbiota

do cólon

O-DMA

EQUOL(propriedades antiandrogênicas)

diidrotestosterona

câncer de próstata

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faz a regulação ascendente de sua atividade biológica, aumentando a expressão de seus genes-alvo, como os da síntese de ácidos biliares e do transporte reverso do colesterol. Assim, esses achados podem explicar em parte como as isoflavonas, em especial a genisteína, podem reduzir a lipogênese em órgãos como o fígado, mas, ao mesmo tempo, aumentar a eliminação de colesterol elevando a excreção fecal de colesterol e ácidos graxos, que se traduz como baixa concentração de colesterol sérico.21

Genisteína reduz a resistência à insulina

A obesidade é um problema de saúde pública, que contribui para o desenvolvimento da resistência à insulina, que é associada ao acúmulo excessivo de lípides no músculo esquelético. Há evidências de que a proteína de soja pode reduzir o acúmulo ectópico de lípides e melhorar a sensibilidade à insulina; contudo, não se sabe se as isoflavonas de soja, em particular a genisteína, podem estimular a oxidação de ácidos graxos no músculo esquelético. Assim sendo, estudamos o mecanismo pelo qual a genisteína estimula a oxidação de ácidos graxos no músculo esquelético O estudo demonstrou que genisteína induziu a expressão dos genes que oxidam ácidos graxos no músculo esquelético de ratos Zucker fa/fa e nos miotubos C2C12 silenciados por receptor de leptina (ObR) através de fosforilação da AMPK. Além disso, a fosforilação da AMPK mediada por genisteína ocorreu via JAK2, que provavelmente foi ativada por um mecanismo que envolveu cAMP. Adicionalmente, a indução dos genes de oxidação dos ácidos graxos mediada pela genisteína envolveu PGC1α e PPARδ. Como resultado, verificou-se que a genisteína aumentou a oxidação de ácidos graxos tanto nos miotubos C2C12 controle quanto nos miotubos C2C12 silenciados, assim como uma redução do RER em camundongos, sugerindo que a genisteína pode ser usada em estratégias para reduzir o acúmulo de lípides no músculo esquelético,22 Figura 5.

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Figura 5. Efeito de genisteína sobre a adenosina monofosfato proteína-cinase (AMPK) no músculo, reduzindo a resistência à insulina e o efeito de genisteína sobre o metabolismo do colesterol no fígado, através de LXRβ e LXRα

A proteína de soja reduz os picospós-prandiais de glicose no diabetes

A prevalência de diabetes melito (DM) é crescente em todo o mundo, constituindo um problema importante no século XXI. A prevalência mundial do DM foi estimada em 177 milhões de casos em 2000 e a projeção de aumento em 2030 é de 366 milhões. As características metabólicas dos indivíduos com DM são concentrações anormalmente altas de glicose no sangue. A meta importante no tratamento do DM é manter os níveis glicêmicos, lipídicos e lipoproteicos próximo do normal, resultando em redução da doença da artéria coronária, na demora de seu início e em maior desaceleração de suas complicações. Os grãos de soja contêm carboidratos complexos, proteína, fibra dietética e oligossacarídeos. Os teores de carboidratos complexos e de fibras dietéticas contribuem para reduzir os índices glicêmicos, que beneficiam os diabéticos e reduzem o risco de desenvolver diabetes. Os animais alimentados com proteína de soja têm picos glicêmicos pós-prandiais mais baixos que os animais alimentados com dieta de caseína,21 provavelmente porque os alimentos à base de soja têm baixo índice glicêmico (medida da rapidez e da quantidade de um alimento que aumenta os níveis da glicemia).23 Os resultados sugeriram que, talvez, a inclusão de proteína de soja na dieta de indivíduos com DM poderia auxiliar o controle dos picos de glicose pós-prandial. Os estudos recentes com pacientes diabéticos mostraram que 35 g de proteína de soja, como do leite de soja e o hambúrguer de soja texturizada, são bastante eficientes na redução dos picos glicêmicos pós-prandiais. Esses resultados sugerem que a inclusão de produtos à base de soja na dieta dos pacientes com DM pode ser uma estratégia dietética eficiente para manter os níveis glicêmicos próximo dos valores normais, Figura 6.

AMPK-P

CPT-1

AMPK-P

SREBP-1

ABCG5/8

Proteína de soja

isoflavonas

genisteínaGENISTEÍNA

(4',5,7-triidroxiisoflavona)

TG

Resistênciaà insulina

Excreçãode colesterol

colesterol

Oxidação deácidos graxos

LXRβ-P

LXRα-P lipogênese

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Figura 6. Glicemia pós-prandial depois do consumo de café da manhã rico em carboidratos ou proteína de soja em pacientes com diabetes tipo 2

Conclusões

A soja é uma leguminosa com proteína de alta qualidade. Por esse motivo, durante o início da década de 60, o consumo de proteína de soja em combinação com outras proteínas vegetais foi usado para lutar contra a subnutrição nos países em desenvolvimento. Os principais componentes do grão de soja são óleo, fibras, proteína e isoflavonas. Todos os componentes da soja são usados no setor de tecnologia de alimentos para desenvolver produtos alimentares para uso humano, e o óleo de soja foi usado como biodiesel. Diversas metanálises demonstraram que a proteína de soja tem efeito benéfico para a saúde humana, porque reduz os lípides séricos. Nas últimas três décadas, os avanços da biologia molecular permitiram compreender o mecanismo molecular de ação dessa leguminosa. Comprovou-se que o consumo de dieta com proteína de soja para animais propiciou menor aumento da concentração de insulina do que a dieta com caseína, o que, por sua vez, induziu menor expressão do gene do fator de transcrição SREBP-1, que está envolvido na síntese de ácidos graxos, também chamada de lipogênese. É importante observar que não só o padrão dos aminoácidos da proteína de soja, mas também as isoflavonas propiciam forte ligação à proteína de soja, promovendo redução da secreção de insulina pelo pâncreas. A redução da secreção de insulina é associada à redução do acúmulo de lípides no fígado, músculo, coração e tecido adiposo. Esses resultados são, em parte, explicados pelo efeito hipolipidêmico encontrado em alguns estudos clínicos e com animais. As isoflavonas da soja regulam a expressão dos genes implicados no metabolismo do colesterol e no transporte pelo fator de transcrição LXR, reduzindo a concentração sérica do colesterol. Os estudos prolongados demonstraram que os

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animais alimentados com dieta de proteína de soja ganharam menos peso corporal devido à menor deposição de gordura e à concentração normal de leptina, mesmo em presença de dieta rica em gorduras saturadas. A análise de microarray revelou que o consumo de proteína de soja modificou a expressão de 90 genes envolvidos em metabolismo lipídico, resposta inflamatória e sistema renina-angiotensina no tecido adiposo. A proteína de soja pode ser usada como parte de uma estratégia dietética para reduzir os picos de glicemia pós-prandiais devido ao baixo índice glicêmico em indivíduos com diabetes tipo 2. Em conclusão, ficou demonstrado que os indivíduos produtores de equol têm menor incidência de desenvolvimento de câncer de próstata.

Esta revisão mostra que a nutrigenômica ajuda a estudar o mecanismo de ação de um nutriente (proteína de soja) por meio da regulação da expressão de genes, formação de proteínas e concentração de metabólitos em diferentes órgãos e modelos de doença depois do consumo de proteína de soja.

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Conselho Científico e de Administraçãodo ILSI BRASIL

Dr. Franco Lajolo – FCF - USP

Presidente Conselho Científico e de Administração (Chair)

Dr. Flavio Zambrone – IBTOX

Vice-Presidente Conselho Científico e de Administração (Vice-Chair)

Ary Bucione – Du Pont

Diretor Presidente

Ilton Azevedo - Coca-Cola

Vice-Presidente e Diretor Financeiro

Adriana Matarazzo – Danone

Alexandre Novachi – Mead Johnson

Amanda Poldi – Cargill

Dra. Bernadette Franco – FCF - USP

Dr. Carlos Nogueira de Almeida – FM - USP / RP

Deise M. F. Capalbo – EMBRAPA

Dra. Elizabeth Nascimento – FCF - USP

Elizabeth Vargas – Unilever

Dr. Félix G. Reyes – FEA - UNICAMP

Dr. Hélio Vannucchi – FM - USP / RP

Dra. Ione Lemonica – UNESP / Botucatu

Dr. Jaime Amaya-Farfan – FEA - UNICAMP

Dr. João Lauro Viana de Camargo – UNESP / Botucatu

Karen Cristine Ceroni Cazarin – Basf S/A

Kathia Schmider – Nestlé

Dra. Maria Cecília Toledo – FEA - UNICAMP

Mary Carmen Mondragon – General Mills

Dr. Mauro Fisberg – UNIFESP

Othon Abrahão – Futuragene

Dr. Paulo Stringheta – UFV

Dr. Robespierre Q. da Costa Ribeiro – Sec. do Estado de Minas Gerais

Taiana Trovão – Mondelez

Tatiana da Costa Raposo Pires – Herbalife

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Empresas Mantenedoras da Força-tarefa Funcionais em 2016

Abbott Laboratórios do Brasil Ltda.

Ajinomoto Interamericana Indústria e Comércio Ltda.

Amway do Brasil

BASF S/A

Beneo Latinoamerica Coordenação Regional Ltda.

Cargill S/A

Danone Ltda.

DSM Produtos Nutricionais Brasil S.A.

DuPont do Brasil

Herbalife International do Brasil Ltda.

Kellogg Brasil Ltda.

Mondel z International

Nestlé Brasil Ltda.

Pfizer Consumer Healthcare

Unilever Brasil

Vigor Fábrica de Produtos Alimentícios S/A

Yakult S.A. Indústria e Comércio