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Banco Central reforça atuação para frear queda do dólar Em nova tentativa para evitar a apreciação do real, a autoridade monetária anunciou que ampliará, de uma para cinco vezes ao dia, a divulgação da taxa ptax, utilizada como preço médio da moeda americana. P33 Irrigação Com seis anos de atraso, governo federal fecha primeira Parceria Público-Privada. P16 Telecomunicações Anatel autoriza a venda do controle da Vivo para Telefônica. P39 Operação de aumento de capital da Petrobras supera R$ 120 bilhões Na maior oferta de ações de todos os tempos, estatal ganha fôlego para levar à frente processo de exploração da camada pré-sal. Aporte total do governo na empresa deve chegar à casa dos R$ 74 bilhões. Lote adicional de ações, que havia sido anunciado pela companhia há uma semana, não foi completamente absorvido por investidores. P39 Dirigida por Mohammed El Mardi El Tagani, a Kenana, maior processadora de cana sudanesa, negocia duas usinas com equipamentos da Dedini. P18 Terrenos a partir de 3 mil m 2 . www.brasileconomico.com.br mobile.brasileconomico.com.br TAXAS DE CÂMBIO COMPRA VENDA JUROS META EFETIVA BOLSAS VAR. % ÍNDICES INDICADORES 23.9.2010 Dólar Ptax (R$/US$) Dólar comercial (R$/US$) Euro (R$/€) Euro (US$/€) Peso argentino (R$/$) Selic (a.a.) Bovespa - São Paulo Dow Jones - Nova York Nasdaq - Nova York S&P 500 - Nova York FTSE 100 - Londres Hang Seng - Hong Kong 1,7186 1,7180 2,2895 1,3322 0,4348 10,75% 0,69 -0,72 -0,32 -0,83 -0,09 1,7194 1,7200 2,2908 1,3323 0,4352 10,66% 68.794,32 10.662,42 2.327,08 1.124,83 5.547,08 feriado Sindicatos garantem reajustes históricos Ganho de produtividade na indústria, baixo desemprego e cenário favorável da economia farão com que as negociações salariais sejam as mais favoráveis para os trabalhadores em 14 anos. P4 Murillo Constantino Henrique Manreza OUTLOOK Conheça Heitor Martins, o empresário por trás do sucesso, e das polêmicas, da Bienal de São Paulo ESPECIAL Brasil lidera movimento sustentável no uso do plástico de cana-de-açúcar Tucanos atacam para prolongar disputa A queda da petista Dilma Rousseff na pesquisa Datafolha mais recente é creditada pelo PSDB à estratégia mais agressiva. Próximos petardos incluem a internet e o programa de governo. P12 Mau tempo dá impulso a seguro residencial Segmento cresceu 20% de janeiro a agosto, com o aumento da percepção de risco com chuvas de granizo, vendavais e inundações. Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, também ganha apólice. P30 SEXTA-FEIRA E FIM DE SEMANA, 24, 25 E 26 DE SETEMBRO, 2010 | ANO 2 | Nº 274 | DIRETOR RICARDO GALUPPO | DIRETOR ADJUNTO COSTÁBILE NICOLETTA R$ 3,00 Turismo A Vida é Bela, de António Quina, coloca pacotes de sonhos à venda na web brasileira. P39 Sudão produz etanol com máquina do Brasil Sudão produz etanol com máquina do Brasil

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Banco Centralreforça atuaçãopara frearqueda do dólarEm nova tentativa para evitara apreciação do real, a autoridademonetária anunciou queampliará, de uma para cincovezes ao dia, a divulgação da taxaptax, utilizada como preço médioda moeda americana. ➥ P33

Irrigação Com seis anos de atraso,governo federal fecha primeiraParceria Público-Privada. ➥ P16

Telecomunicações Anatelautoriza a venda do controle daVivo para Telefônica. ➥ P39

Operação de aumento de capitalda Petrobras supera R$ 120 bilhõesNa maior oferta de ações de todos os tempos, estatal ganha fôlego para levar à frente processo de exploração dacamada pré-sal. Aporte total do governo na empresa deve chegar à casa dos R$ 74 bilhões. Lote adicional de ações,que havia sido anunciado pela companhia há uma semana, não foi completamente absorvido por investidores. ➥ P39

Dirigida porMohammed El MardiEl Tagani, a Kenana,maior processadorade cana sudanesa,negocia duas usinascom equipamentosda Dedini. ➥ P18

Terrenos a partir de 3 mil m2.

www.brasileconomico.com.brmobile.brasileconomico.com.br

TAXAS DE CÂMBIO COMPRA VENDA

JUROS META EFETIVA

BOLSAS VAR. % ÍNDICES

INDICADORES 23.9.2010

Dólar Ptax (R$/US$)Dólar comercial (R$/US$)Euro (R$/€)Euro (US$/€)Peso argentino (R$/$)

Selic (a.a.)

Bovespa - São PauloDow Jones - Nova YorkNasdaq - Nova YorkS&P 500 - Nova YorkFTSE 100 - LondresHang Seng - Hong Kong

1,71861,7180

2,28951,3322

0,4348

10,75%

0,69-0,72-0,32-0,83-0,09

1,71941,7200

2,29081,3323

0,4352

10,66%

68.794,3210.662,422.327,081.124,83

5.547,08feriado

Sindicatos garantemreajustes históricosGanho de produtividade na indústria,baixo desemprego e cenário favorável daeconomia farão com que as negociaçõessalariais sejam as mais favoráveispara os trabalhadores em 14 anos. ➥ P4

Murillo Constantino

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OUTLOOKConheça Heitor Martins,o empresário por trás dosucesso, e das polêmicas,da Bienal de São Paulo

ESPECIALBrasil lidera movimento

sustentável no uso doplástico de cana-de-açúcar

Tucanos atacam paraprolongar disputaA queda da petista Dilma Rousseffna pesquisa Datafolha mais recente écreditada pelo PSDB à estratégia maisagressiva. Próximos petardos incluema internet e o programa de governo. ➥ P12

Mau tempo dá impulsoa seguro residencialSegmento cresceu 20% de janeiro aagosto, com o aumento da percepção derisco com chuvas de granizo, vendavaise inundações. Morro Dona Marta, no Riode Janeiro, também ganha apólice. ➥ P30

SEXTA-FEIRA E FIM DE SEMANA, 24, 25 E 26 DE SETEMBRO, 2010 | ANO 2 | Nº 274 | DIRETOR RICARDO GALUPPO | DIRETOR ADJUNTO COSTÁBILE NICOLETTA R$ 3,00

Turismo A Vida é Bela, de AntónioQuina, coloca pacotes de sonhosà venda na web brasileira. ➥ P39

Sudão produz etanolcom máquina do BrasilSudão produz etanolcom máquina do Brasil

2 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

NESTA EDIÇÃO

Em alta

Este ano estão sendo investidosR$ 72 milhões na ampliação da fábricade placas de granito, mas, de acordocom Sidclei Mathielo (dir.), presidente dasubsidiária brasileira, os melhoramentosnão serão suficientes para atender ademanda interna e externa. Por isso, jáestá prevista para 2011 a compra de quatromáquinas, e nova ampliação do pátioonde ficam os blocos de granito. A receitadeve chegar a R$ 55 milhões este ano,em torno de 6% da receita global, entreR$ 805 milhões e R$ 870 milhões, prevêBartolomé Benítez Gázquez, diretor denegócios para a América Latina. ➥ P22

Demanda firme por granitofaz Cosentino ampliar fábrica

Jorge Luiz Sagrilo

Marcelo Oliveira/Diário Gaúcho/Agência RBS

Mudança climática movimentamercado de seguro residencialOcorrências mais graves, como osvendavais e enchentes em Santa Catarinae os deslizamentos no Rio e em São Luizdo Paraitinga (SP), contribuíram para quea população passasse a se interessar maispor esse tipo de seguro. “Por termos casasde tijolos, menos sujeitas a incêndios queas casas de madeira nos Estados Unidos,aqui não há a cultura de se contratarseguro residencial”, diz Priscilla TamuraMagni, superintendente de Linhas Pessoaisda Chubb Seguros. De acordo com a Susep,entre janeiro e agosto deste ano, a vendadesta modalidade de seguro movimentoR$ 703,5 milhões, com crescimento de 20%em relação a igual período de 2009. ➥ P30

Governo Federal oficializa suaprimeira PPP com irrigaçãoTrata-se do Projeto Pontal, programade irrigação com as águas do Rio SãoFrancisco numa área de 7,7 mil hectaresem Petrolina (PE), destinada ao cultivode frutas. “Agora que já temos a primeiraexperiência de uma PPP, será muito maisfácil fazer o mesmo em outras áreas”,afirmou o ministro da Integração, JoãoReis Santana Filho. A Companhia deDesenvolvimento do Vale do São Franciscoe Paraíba (Codevasf) tem preparadas asáreas do projeto Salitre, em Juazeiro (BA)e do projeto Baixio do Ibecê, emXique-Xique (BA). Como no caso do Pontal,a ideia é transferir para a iniciativa privadaa conclusão das obras de irrigação. ➥ P16

Kenana Sugar Company, maior produtora sudanesa docombustível, compra usinas e colheitadeiras de fabricantesinstalados no Brasil, como Dedini e CNH, do grupo Fiat.“Nossa meta é a exportação para a União Europeia”,afirma Mohammed El Mardi El Tegani, diretor geral. ➥ P18

Máquinas brasileiras no etanol do Sudão

Dona de marcas como Pantene, Gillette e Ariel, a Procter &Gamble, que ontem completou 22 anos no Brasil, se vinculaao apresentador Fausto Silva para lançar a maior ação demarketing de sua história no país, em busca da classe C. ➥ P11

P&G embarca no “avião do Faustão”

Esse tipo de energia já chegou a uma fase em queestá competitiva, justifica Maurício Tolmasquim,presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE),ao anunciar a realização dos leilões anuais. ➥ P16

Energia eólica terá leilões regulares

A nova tecnologia, mais precisa que a soldagem convencional,será aplicada na fabricação de um modelo no Brasil.Como se trata de processo 20% a 30% mais rápido que oconvencional, reduz o tempo de produção do carro. ➥ P26

Fiat acelera com soldagem a laser

O MAM santista ficará nos fundos da Pinacoteca BenedictoCalixto, terá acervo próprio, espaço para mostras eauditório, com custo estimado de R$ 30 milhões. Ainiciativa é do empresário Geraldo Cesar Pierotti, tambémpresidente da Fundação mantenedora da pinacoteca. ➥ P36

Santos terá Museu de Arte Moderna

“O mundo não pode permitir um novo conflito como o doIraque”, disse o ministro das Relações Exteriores do Brasilem discurso na Assembleia Geral da ONU. Amorim tambémreiterou “o repúdio do Brasil ao embargo a Cuba”. ➥ P38

Celso Amorim insiste em diálogo com Irã

Barbara Sax/AFP

Divulgação

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Analistas não acreditam que recuo de Dilma Rousseff de51% para 49% das intenções de votos seja suficiente paraevitar definição do pleito no primeiro turno. Lembram que acandidata mantém 7 pontos sobre todos os oponentes. ➥ P14

Segundo turno ainda é uma incógnita

Com dívidas de US$ 1 bilhão, locadora de vídeos nãoconseguiu migrar para a internet, sucumbindo à concorrênciadas redes que alugam on-line. Em 2007, sua operaçãono Brasil foi vendida para as Lojas Americanas. ➥ P20

Blockbuster pede concordata nos EUA

Consórcio Azoto Paraná investirá US$ 300 milhões paraproduzir 330 mil toneladas/ano do insumo para tornaro estado autossuficiente em fertilizantes. Macrofértil,Unisoft, Península e Coonagro integram o consórcio. ➥ P28

Paraná também terá fábrica de ureia

“Queremos aproveitar o relacionamento que temos com asempresas nossas clientes”, diz Luiz Carlos Trabuco Cappi,presidente. Objetivo é elevar de 14% para 20% no final de 2011a participação dos créditos com desconto em folha. ➥ P32

Bradesco quer mais consignado privado

A FRASE

“Serve de exemplo paraos jogadores que almejamchegar à seleção brasileira”

Mano Menezes, técnico da seleção brasileira, sobre a não convocação deNeymar para os amistosos de outubro. “É preciso deixar bastante claro alinha que estamos pensando na condução do trabalho”, acrescentou. Neymarfoi o pivô da demissão do treinador Dorival Júnior pela diretoria do Santos.

Divulgação

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 3

Diretor de Redação Ricardo GaluppoDiretor Adjunto Costábile Nicoletta

Editores Executivos Arnaldo Comin, Gabriel de Sales, Jia-ne Carvalho, Thaís Costa, Phydia de Athayde (Outlook eFS) Produção Editorial Clara Ywata Editores Fabiana Pa-rajara e Rita Karam (Empresas), Carla Jimenez (Brasil),Cristina Ramalho (Outlook e FS), Laura Knapp (Desta-que), Marcel Salim (On-line), Márcia Pinheiro (Finanças)Subeditores Marcelo Cabral (Brasil), Estela Silva, IsabelleMoreira Lima (Empresas), Luciano Feltrin (Finanças),Maeli Prado (Projetos Especiais) Repórteres Amanda Vi-digal, Ana Paula Machado, Ana Paula Ribeiro, BárbaraLadeia, Carlos Eduardo Valim, Carolina Alves, CarolinaPereira, Cintia Esteves, Claudia Bredarioli, ConradoMazzoni, Daniela Paiva, Denise Barra, Domingos Zapa-rolli, Dubes Sônego, Elaine Cotta, Eva Rodrigues, Fabia-na Monte, Fábio Suzuki, Felipe Peroni, Françoise Terzian,Gabriel Penna, João Paulo Freitas, Juliana Elias, JulianaRangel, Karen Busic, Luiz Henrique Ligabue, Luiz Silvei-ra, Lurdete Ertel, Maria Luiza Filgueiras, Mariana Celle,Mariana Segala, Marina Gomara, Martha S. J. França, Mi-chele Loureiro, Micheli Rueda, Natália Flach, NatáliaMazzoni, Nivaldo Souza, Paulo Justus, Pedro Venceslau,Priscila Machado, Regiane de Oliveira, Ruy Barata Neto,Thais Folego, Vanessa Correia, Weruska Goeking Brasília

Simone Cavalcanti, Sílvio Ribas Rio de Janeiro DanielHaidar, Ricardo Rego Monteiro

Arte Pena Placeres (Diretor), Betto Vaz (Editor), Cas-siano de O. Araujo, Evandro Moura, Letícia Alves, Mai-con Silva, Paulo Argento, Renata Rodrigues, Renato B.Gaspar, Tania Aquino, (Paginadores) Infografia Alex Sil-va (Chefe), Anderson Cattai, Monica Sobral FotografiaAntonio Milena (Editor), Marcela Beltrão (Subeditora),Evandro Monteiro, Henrique Manreza, Murillo Constan-tino, Rafael Neddermeyer (Fotógrafos), Angélica Bre-seghello Bueno, Carlos Henrique, Fabiana Nogueira,Thais Moreira (Pesquisa) Webdesigner Rodrigo AlvesTratamento de imagem Henrique Peixoto, Luiz CarlosCosta Secretaria/Produção Shizuka Matsuno

Departamento Comercial Paulo Fraga (Diretor Execu-tivo Comercial), Mauricio Toni (Diretor Comercial), Jú-lio César Ferreira (Diretor de Publicidade), Ana Caroli-na Corrêa, Valéria Guerra, Valquiria Rezende, WilsonHaddad (Gerentes Executivos), Paulo Fonseca (Geren-te Comercial), Alisson Castro, Celeste Viveiros, EdsonRamão e Vinícius Rabello (Executivos de Negócios), An-dréia Luiz (Assistente Comercial) Projetos EspeciaisHeitor Pontes (Diretor Executivo), Márcia Abreu (Ge-rente), João Felippe Macerou Barbosa e Samara Ramos

(Coordenadores), Daiana Silva Faganelli (Analista), Re-nato Frioli (Gerente Mercados), Solange Santos (Assis-tente Executiva)

Publicidade Legal Marco Panza (Diretor de PublicidadeLegal e Financeira), Marco Aleixo , Carlos Flores, Ana Al-ves e Adriana Araújo (Executivos de Negócios), AlcioneSantos (Assistente Comercial)

Departamento de Marketing Evanise Santos (Direto-ra de Marketing Institucional), Carlos Madio e Rodri-go Louro (Gerentes de Marketing), Alexandre Costa,Giselle Leme e Roberta Baraúna (Coordenadores deMarketing).

Operações Cristiane Perin (Diretora)

Departamento de Mercado Leitor Nido Meireles (Dire-tor), Nancy Socegan Geraldi (Assistente Diretoria), Ale-xandre Rodrigues (Gerente de Processos), Denes Miran-da (Coordenador de Planejamento)

Central de Assinantes e Venda de AssinaturasJanete Russowsky (Gerente de Assinaturas), VanessaRezende (Supervisão de Atendimento), ConceiçãoAlves (Supervisão)

São Paulo e demais localidades 0800 021 0118Rio de Janeiro (Capital) (21) 3878-9100De segunda a sexta-feira - das 6h30 às 18h30.Sábados, domingos e feriados - das 7h às [email protected] de Atendimento ao Jornaleiro (11) 3320-2112

Jornalista Responsável Ricardo Galuppo

Impressão: Editora O Dia S.A. (RJ)Oceano Ind. Gráfica e Editora Ltda. (SP/MG/PR/RJ)FCâmara Gráfica e Editora Ltda. (DF/GO)RBS - Zero Hora Editora Jornalística S.A. (RS/SC)

[email protected] ECONÔMICO é uma publicação da Empresa Jornalística Econômico S.A.

Redação, Administração e PublicidadeAvenida das Nações Unidas, 11.633 - 8º andar,CEP 04578-901, Brooklin, São Paulo (SP),Tel. (11) 3320-2000. Fax (11) 3320-2158

TABELA DE PREÇOS Assinatura Nacional

Trimestral Semestral AnualR$ 147,50 R$ 288,00 R$ 548,00

Condições especiais para pacotes e projetos corporativos (circulação de segunda a sexta, exceto nos feriados nacionais)

Presidente do Conselho de AdministraçãoMaria Alexandra Mascarenhas Vasconcellos

Diretor-Presidente José MascarenhasDiretor-Vice-Presidente Ronaldo Carneiro

Diretores Executivos Alexandre Freeland e Ricardo Galuppo

EDITORIAL

Reajustes reaise saláriosmais polpudosAcompanhando o crescimento nos úl-timos tempos inédito da economiabrasileira, os trabalhadores embar-cam na mesma onda e, em vários ca-sos, têm conseguido reajustes sala-riais acima da inflação. As campanhasque fazem têm sido, em muitos casos,vantajosas. Cerca de 97% das nego-ciações feitas no primeiro semestredeste ano conseguiram ajustes pelomenos iguais ou acima da inflação, deacordo com o Departamento Intersin-dical de Estatística e Estudos Socioe-conômicos (Dieese).

A inflação medida pelo Índice Na-cional de Preços ao Consumidor (INPC)ficou em 4,26% nos últimos 12 mesesaté agosto. Os metalúrgicos de SãoPaulo que trabalham no setor automo-tivo receberam aumento de 10,8%. Ospetroleiros negociam elevação de 9,3%

em seu contracheque e os trabalhado-res de telecomunicações, de 7,5%. Osquímicos, animados com a negociaçãodos metalúrgicos, esperam reajuste de10% no ano que vem, já que fazemacordos salariais a cada dois anos.

Apesar de surpreendidas pelo nívelde aumento que deram a aos funcioná-rios, as empresas não devem sentir umbaque em nas contas nem repassar oaumento aos consumidores. Isso porquenos últimos anos conseguiram expandirsua produtividade e, sem precisar fazerinvestimentos para ampliar a capacida-de de produção, em princípio têm umagordura a ser queimada.

Somente o aumento dado aos meta-lúrgicos injetará cerca de R$ 837,5 mi-lhões na economia nacional neste se-mestre. Pressão inflacionária, no en-tanto, vem sendo descartada pelamaioria dos especialistas. Mesmoaqueles que preveem que em algummomento ela surgirá, estimam tambémque não deve ultrapassar a meta fixadapelo governo, centrada em 4,5%, commargem de oscilação de dois pontospercentuais para cima ou para baixo. Éo que relatamos nas reportagens a par-tir da página 4. ■

Somente o aumento dadoaos metalúrgicos injetarácerca de R$ 837 milhões naeconomia neste semestre

Especialista em tornar realidade sonhos, como viajar de balão ou passar uma noite numcastelo, o português António Quina chega ao Brasil para consolidar sua empresa A Vida é Bela.Além da venda on-line e pelas lojas Fnac, tenta se instalar nas grandes redes de varejo. ➥ P24

ANTÓNIO QUINA, PRESIDENTE DA A VIDA É BELA

Henrique Manreza

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

4 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

DESTAQUE TRABALHO

Juliana [email protected]

O crescimento econômico es-timado em 7% para este anoestá permitindo que o Brasilmantenha as menores taxasde desemprego de sua histó-ria, e abre espaço para cam-panhas salariais cada vez maisvantajosas para os trabalha-dores. Apenas com o reajusterecente dos metalúrgicos dosetor automotivo, de 10,8%,cerca de R$ 837,5 milhões se-rão injetados na economia nosegundo semestre. Com oreajuste de 9,3% que estásendo fechado pelos petrolei-ros, e de 7,5% dos trabalha-dores telefônicos, é possívelprever que uma montanha dedinheiro entrará em circula-ção nos próximos meses.

Segundo o DepartamentoIntersindical de Estatística e Es-tudos Socioeconômicos (Diee-se), 97% das 290 negociaçõessalariais do primeiro semestrede 2010 resultaram em ganhosiguais ou acima do índice Na-cional de Preços ao Consumidor(INPC), de 4,29% até agosto.

O coordenador de RelaçõesSindicais, José Silvestre de Oli-veira, diz que a previsão é a deque as negociações da segundametade do ano sejam aindamelhores: “Em 2010 teremosprovavelmente os melhores ga-nhos reais desde 1996, quandocomeçamos a fazer a pesqui-sa”, diz. “A conjuntura econô-mica está muito favorável”.

Segundo o vice-presidenteda CUT nacional, José LopesFeijó, além do reajuste de 10,8%os metalúrgicos conseguiramabono de R$ 2,2 mil.

“Isso poderá pautar nego-ciações de outras categorias,porque eles são uma referênciaimportante que tem muita vi-sibilidade e mobilização”. Em2009, apenas 90% das nego-ciações resultaram em corre-ções acima da inflação.

Uma das explicações para omaior poder de barganha é a re-dução contínua do desemprego,que já resulta em escassez demão-de-obra em alguns seto-res, como construção civil.

Ontem, o Instituto Brasileirode Geografia e Estatística(IBGE) divulgou que a taxa dedesocupação ficou em 6,7% emagosto, o menor patamar desdeo início da série histórica, em

2002. O rendimento médio dotrabalhador cresceu 5,5% fren-te o mesmo mês de 2009.

Para o professor da USP epresidente do Instituto Brasi-leiro de Relações de Emprego eTrabalho, Hélio Zylberstajn, adificuldade em contratar en-frentada por alguns segmentospermite ao sindicatos negocia-rem melhor. “Há vagas tantopara quem já estava procuran-do emprego quanto para quemchega e, quando isso acontece,a tendência é de que o preço damão-de-obra suba”.

Outro argumento dos sindi-catos é a produtividade maiorda indústria. Segundo Rogériode Souza, economista do Iedi,pesquisas recentes de produçãofísica e emprego na indústria,do IBGE, mostram que ela cres-ceu 8,4% em 12 meses até julho:“Se o trabalhador está produ-zindo mais por hora trabalhada,as empresas podem repassarparte desse ganho para os salá-rios sem que haja pressão infla-cionária”, avalia.

Além disso, o fato de a in-dústria ter folga na capacidadeinstalada de produção tira umpouco da pressão de custos.

“Nos dois últimos trimestresde 2009, a formação bruta decapital fixo (investimentos emcapacidade) cresceu mais de7%. Isso criou uma capacidadeque a indústria está usandoagora”, complementa.

Dados da Confederação Na-cional da Indústria (CNI) mos-traram que o nível de utilização

da capacidade instalada ficouem 82,3% em julho, com que-da de 0,2%. Em junho de 2008,quando o Banco Central (BC)elevou a taxa básica de jurospara conter a inflação, antes dacrise, ela chegou a 86,1%.

Para o economista-chefe doBanco Schahin, Silvio CamposNeto, em algum momento apressão inflacionária aparecerá.“Com a economia aquecida e ademanda forte, os reajustes seconvertem em maior consumo eisso pressiona ainda mais a de-manda. Não vai fazer com queinflação saia da meta, mas con-tribuirá para que ela fique acimado centro de 4,5% (a margem éde até dois pontos percentuais)”.

Segundo ele, pode ser que aautoridade monetária tenha queelevar os juros a partir do se-gundo trimestre de 2011, em até1,5 ponto percentual no ano. ■

Campanha salarial temmelhor saldo em 14 anosBaixo índice de desemprego, crescimento de 7% do PIB e ganho de produtividade naindústria garante negociações com ganho real para principais categorias profissionais

“Se o trabalhadorestá produzindomais por horatrabalhada, asempresas podemrepassar partedesse ganho paraos salários semque haja pressãoinflacionária

Rogério de Souza,economista do Iedi

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

BONANÇA NO CONTRACHEQUE

Economia aquecida eleva salários e postos de trabalho no país

Inflação medida peloINPC nos últimos 12 meses

até agosto

4,29%

DESEMPREGO AUMENTO DA RENDA DO TRABALHADOR

0

3

6

9

12

15

AGO2010

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AGO2007

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AGO2005

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AGO2010

AGO2009

AGO2008

AGO2007

AGO2006

AGO2005

AGO2004

AGO2003

11,7%

13,1%

11,4%

9,4%10,6%

9,6%

7,6%8,1%

6,7%

-13,1%

-2,0%

3,9%3,0%

1,2%

5,7%

2,2%

5,5%

Fonte: IBGE

SALÁRIO

5,5%foi o crescimento da rendamédia do trabalhadordesde agosto do anopassado, segundo o IBGE.

DESEMPREGO

6,7%foi a taxa de desocupaçãodo país, menor patamardesde o o início da sériehistórica em 2002.

GanhosSegmento cresce acima do PIB.Trabalhadores partirão de 15%para negociação salarial de 2011

O crescimento projetado em tor-no de 8,5% a 9% neste ano, aci-ma do Produto Interno Bruto,está fazendo com que o setor deconstrução civil ofereça remu-nerações extras para conseguirmão de obra. Com contrataçõespor “tarefas”, os trabalhadoresconseguem sair do piso salarial,de R$ 829 para não qualificados eR$ 990 para especializados, paraaté R$ 4 mil mensais em São

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 5

Paulo e outras grandes cidades. Ainformação é do diretor de basedo Sindicato dos Trabalhadoresnas Indústrias da ConstruçãoCivil de São Paulo (Sintracon-SP), João de Araújo. “Está fal-tando gente. Muitas pessoas queantes trabalhavam em São Pauloforam para o Nordeste em fun-ção de grandes obras”, diz.

Para ele, nas negociações dopróximo ano, o sindicato deverápedir reajuste de ao menos 15%.

Carteira assinadaO vice-presidente de relações

capital-trabalho do Sindicatoda Indústria da Construção Civildo Estado de São Paulo, HaruoIshikawa, confirma a escassez.Mas diz que o segmento não temenfrentado grande dificuldadeporque há muita gente em buscade emprego formal.

“O que a gente encontra sãoproblemas muito pontuais. Mascomo temos alguma flexibilida-de no cronograma das tarefasque devem ser feitas, estamosconseguindo resolver a situaçãosem grandes consequências”.

De acordo com os dados da

Pesquisa Mensal de Empregodivulgada ontem pelo IBGE, fo-ram criadas 691 mil postos detrabalho nos últimos 12 meses.Desse total, 685 mil foram pos-tos com carteira assinada.

O rendimento médio real rece-bido pelos trabalhadores de cons-trução foi o que mais subiu: 9,3%,de acordo com o IBGE. Em segun-do lugar, ficaram trabalhadores deserviços domésticos (9,1%), e decomércio e de serviços prestados aempresas, alugueis, atividadesimobiliárias e intermediação fi-nanceira, com 7,2%. ■ J.R.

LEIA MAIS O bom movimentodo setor automobilístico

fez com que os metalúrgicosdo ABC paulista tivessemseu contrachequeajustado em 10,8%.

As empresas nãoesperavam que os

aumentos salariais fossemtão elevados. Com a economiaforte, a remuneração deveacompanhar o mercado.

Animados com o reajustede 10,8% dos metalúrgicos,

trabalhadores da área química,que negociam saláriosa cada dois anos, esperamaumento de 10% em 2011.

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

são maiores na construção civilMuitas pessoasque trabalhavamem São Pauloforam parao Nordeste atrásde grandes obras

Henrique Manreza

Operários da construção civil conseguemaumentar salário base de R$ 829 e

R$ 990 para até R$ 4 mil em São Paulo

● Em 12 meses, até agosto,foram criados 691 mil postosde trabalho. Desses, 685 milforam com carteira assinada.

● Em 2010, os reajustes salariais naconstrução civil ficaram em 8,01%.

● O rendimento médio salarialda construção civil foi o quemais cresceu em 12 mesesaté 2010. Ficou em 9,3%.

DADOS DO SETOR

6 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

DESTAQUE TRABALHO

Maior produtividade asseguraacordo histórico a metalúrgicosMichele Loureiro([email protected])

O aquecimento da economiaalavanca dissídios coletivos degrandes categorias trabalhis-tas, principalmente na indús-tria. Turbinados pelo setor au-tomotivo, os metalúrgicosconseguiram o maior reajusteem 51 anos, quando começa-ram as negociações trabalhis-tas da categoria. Além da repo-sição da inflação (4,29%), osmetalúrgicos terão aumentoreal de 6,26%, totalizando10,8%, mais abono salarial deR$ 2.200. Segundo Evaldo Al-ves, professor de Economia daEASP-FGV, o aumento da pro-dutividade justifica. “É um fe-nômeno possível quando setem uma economia em ritmode crescimento. O Brasil pas-sou a focar o mercado interno einvestiu na ampliação da pro-dução, capacitando mão deobra e modernizando as linhasde produção”, afirma.

Sérgio Nobre, presidente doSindicato dos Metalúrgicos doABC, que abrange as montado-ras Scania, Ford, Mercedes-Benz e Volkswagen, afirma queo aumento de produtividadesaltou 34% entre 2002 e 2009.“Em 2002, um trabalhador pro-duzia a média de 23 carros porano e em 2009 passou a 31. Essedado, mais a condição econô-mica do país, nos permitiu rei-vindicar o reajuste sem quehouvesse risco de inflação”.Nobre lembra que a indústriaautomotiva deve produzir 3,4milhões de veículos este ano.“Nossa capacidade produtivaaumentou e o valor do trabalha-dor acompanha isso. Além dis-so, o peso dos salários no pro-duto final não ultrapassa 6%.Temos margem para aumento.”

Segundo o sindicalista, hádois fatores que dificultam asnegociações salariais. “Asmontadoras alegam que o sa-lário médio do trabalhador noABC Paulista é muito superioràs outras regiões do país. Defato isso é real. A média doABC é de R$ 5 mil, enquantoem Minas Gerais não ultrapas-sa os R$ 1.500. Outro argu-mento é a baixa rotatividade.As empresas alegam que os tra-balhadores têm muito tempode casa e salários altos. Com aproteção do sindicato há pou-cas demissões e consequente-mente não se contrata com sa-lários menores”, diz Nobre.

Mesmo assim, os reajustesforam acordados e são retroati-vos a 1º de setembro. As monta-doras não comentam a base decálculo para os aumentos.

Para o professor da FGV, opaís não corre risco de inflação esó tem a ganhar com mais di-nheiro em circulação. “Comohouve ganho da produtividadenão há o que temer, o aumentodos salários alia esse fator aocrescimento do Produto InternoBruto (PIB). Não corremos o ris-co de uma situação similar à dé-cada de 1960, quando as reivin-dicações ultrapassavam o PIB e aprodutividade”, explica Alves.

Estudo do Dieese aponta queapenas o reajuste da categoriainjetará R$ 837,5 milhões naeconomia. “Para o ano que vema previsão não é tão rósea, já quemercados como Estados Unidose Europa passam por dificulda-des. Mesmo assim, o país devecrescer entre 5% e 6%, acom-panhando os países emergentese buscando novas parcerias. Porisso, temos de comemorar essesreajustes”, diz Alves. ■

Índice cresceu 34% em sete anos na indústria automotiva, que concedeu aumento salarial de 10,8%

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

ESTRATÉGIA

Greves alavancam negociações

Desde a década de 1950, asgreves têm sido o mecanismomais utilizado para pressionarpor melhores condições detrabalho. E o artifício não estáfora de moda. Este ano, ascampanhas salarias por todo opaís foram alvo das paralizações.Somente após o impacto dosprotestos nas montadoras doABC paulista os representantesdo Sinfavea (sindicato querepresenta as indústrias deautomóveis) decidiram reabriras negociações para discutiro índice de reajuste salarialdos metalúrgicos. No dia13 deste mês, cerca de 13 miltrabalhadores da Volkswagen,Ford e Mercedes-Benzparticiparam de assembleias

e protestos, que incluíramparalisações de 5 horas.Os metalúrgicos ameaçaramgreve geral por tempoindeterminado para conseguiro reajuste de 10,8%. No suldo país, o mecanismo tambémfunciona. Trabalhadoresda unidade da Volkswagendo Paraná só encerrarama greve de cinco diasdepois do acordo de 10%de aumento nos salários.Não só os metalúrgicosfazem uso do instrumento.Insatisfeitos com o andamentodas negociações, os bancáriosameaçam greve geral a partir dequarta-feira, dia 29. Segundo oDieese, somente em 2009 foramcerca de 400 greves no país. M.L.

Fotos: divulgação

Peso dos salários dos metalúrgicos noproduto final não ultrapassa 6%, o que dámargem aos aumentos, segundo sindicato

“Em 2002 um trabalhadorproduzia uma média de 23veículos por ano e em 2009esse número saltou para 31”

Sérgio NobrePresidentedo Sindicatodos Metalúrgicosdo ABC

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 7Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

8 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

DESTAQUE TRABALHO

Estela [email protected]

O bom momento do consumotambém teve seu preço para asempresas, deixando os traba-lhadores confortáveis para rei-vindicar a parte que lhes cabenos resultados das empresas.Por isso os aumentos têm ficadoacima da média dos anos ante-riores, de acordo com o consul-tor trabalhista Dráusio Rangel.“Está difícil oferecer apenas1,5% de aumento real. As cate-gorias querem mais, ainda maisque o governo contribui exal-tando o espetáculo do cresci-mento. As empresas foram sur-preendidas com esses aumen-tos, mas enquanto a economiaestiver em alta, vão continuaracontecendo”, diz Rangel.

Um exemplo é do o setor detelecomunicações. Segundo Vi-vien Suruagy, presidente doSindicato Nacional das EmpresasPrestadoras de Serviços em Te-lecomunicações (Sinstal), comcerca de 300 mil trabalhadores,as companhias foram flagradascom um aumento salarial médiode 7,5%, ou seja, uma alta realde 2,5%. “Não houve um reajus-te como este nos anos anterio-res. Tínhamos um aumento realmédio de 1% além do INPC”,constata a presidente.

Embora o mercado de teleco-municações esteja aquecido esteano, as empresas não esperavamesses números. “As companhiassofrem com esses aumentosporque precisam de projetos delongo prazo para sustentar ocrescimento, a exemplo do queacontece com o área de constru-ção com o programa Minha CasaMinha Vida”, afirma Vivien. Elaacrescenta que o agravante paraas telecomunicações é o apagãode mão de obra, que dificulta odesenvolvimento das empresas.“Queremos pagar bem, sem mi-gração de trabalhadores. Masseria preciso a articulação entreempresas e governo em torno doPlano Nacional de Banda Larga,que pode ser uma oportunidadepara o segmento”, diz Vivien.

Já na área de serviços, as ne-gociações esquentaram por im-pulso do segmento de asseio econservação, que conquistou

salários 10% maiores este ano epromete lutar por 16% de acrés-cimo em 2011. O Sindicato dosTrabalhadores no Comércio eServiços em Geral de Hospeda-gem, Gastronomia, Alimenta-ção Preparada e Bebida a Varejode São Paulo e Região (Sintho-resp) deve negociar em julho de2011 um índice semelhante.

“Depois de muitos anos sóigualando os salários à inflação,vamos tentar um aumento de10%”, diz o diretor executivosuplente e presidente da comis-são de negociação do Sintho-resp. Para ele, as negociaçõesforam impulsionadas pela altado salário mínimo e o bom mo-

mento da economia. Houve ain-da ganho do poder aquisitivo daclasse média, que contribuiupara a lucratividade dos servi-ços de alimentação. A categorianegocia o aumento salarial acada dois anos e em julho de2009 recebeu 1,74% de ganhoreal, uma vantagem se compa-rado ao 1% da negociação de2007. “Os empresários não per-dem, pois repassam o aumentoao cardápio. Quem paga a contaé o consumidor”, afirma.

Ponto de equilíbrioO consultor Dráusio Rangelacredita que as empresas con-sideraram os aumentos eleva-

dos, mas não esperavam o es-touro na produção. “Não have-rá dificuldades para equilibraras contas, pois o melhor resul-tado é o empate e é isso que sefaz numa mesa de negocia-ções”, diz Rangel. No entanto,ele tem sentido dificuldadespara conciliar os interesses norepasse da participação de lu-cros e resultados, que tem sidoo alvo da maior quebra de bra-ço no conflito de interesses en-tre empresas e trabalhadores.“Estou nesta área há 30 anos enão havia presenciado issoainda. É um ano surpreenden-temente bom para os trabalha-dores”, afirma. ■

Comércio aquecido permitiu negociaçãode acordos melhores para os sindicatos

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Alex Silva/AE

Sindicato doscozinheiros, como

de outros funcionáriosda área, vai tentar

reajuste de 10% em 2011

“Não haverádificuldades paraas empresasequilibrarem ascontas, pois omelhor resultadoé o empate e é issoque se faz numamesa de negociações

Dráusio Rangel,consultor trabalhista

Empresas sãosurpreendidaspor reajusteselevados

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 9

Setores atrelados àsempresas, como o automotivoe a construção civil,impulsionam negociações

Michele [email protected]

Os dados positivos em torno docrescimento da economia dopaís levam otimismo tambémaos que trabalham na área quí-mica, que esperam repassesdas boas condições econômi-cas para incrementar a massasalarial. A categoria, com database em novembro, já inicia acampanha de reposição e pedereajuste de 6% acima da infla-ção do período (4,29%). Se-gundo Paulo Butori, presidentedo Sindicato dos Químicos doABC, que defende o interessede cerca de 40 mil trabalhado-res, as empresas do setor têmcondições de repassar os re-sultados positivos aos funcio-nários. “Cada parte do setorquímico tem sua particulari-dade, mas a tendência é decrescimento de dois dígitos em

todas. Por isso temos embasa-mento para pedir maiores sa-lários. Além disso, a desculpada crise econômica já não émais realidade.”

Butori defende que os seto-res atrelados à indústria quí-mica apresentam bons resulta-dos. “Em uma ponta temos aindústria automotiva, que estáligada ao segmento de tintas eapresenta números recordes.Do outro lado temos a indús-tria da construção civil, ligadaà comercialização de itens deplástico e de tintas, que tam-bém tem números bons. E atémesmo o segmento de agrone-gócio, responsável pela distri-

buição de adubos, tem mostra-do recuperação”, afirma.

O sindicalista afirmou queos recentes dissídios têm ani-mado a categoria. “O aumentoobtido pela indústria automo-bilística, de 10,8%, assanhanosso poder de barganha”,diz. A pauta final de negocia-ção será discutida em assem-bleia hoje e entregue para aFederação das Indústrias doEstado de São Paulo (Fiesp) nasegunda-feira, dia 27.

NúmerosAlém do movimento sindicalpara buscar maiores reajustes,os números do setor são argu-

mento importante. Dados daAssociação Brasileira da In-dústria Química (Abiquim)mostram que o faturamentolíquido da indústria químicabrasileira, considerando todosos segmentos que a compõem,alcançou R$ 206,7 bilhões noano passado. Apesar de omontante ser 7% inferior aoobtido em 2008, refletindoproblemas decorrentes da cri-se financeira mundial, asperspectivas das empresas sãopositivas para 2010. A Abi-quim não divulga a projeçãopara este ano, mas garante quehaverá recuperação dos nú-meros do setor. ■

Aumento obtidopor trabalhadoresda indústriaautomobilística,de 10,8%, estimulafuncionáriosda área química

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Químicos apostam em crescimentoda indústria para incrementar salários

PROPOSTA MONTANTE

R$ 206,7 bifoi o faturamento líquido daindústria química brasileiraem 2009, considerando todosos segmentos que a compõem.O montante foi 7% menor doque o verificado em 2008, masa tendência é de recuperação.

6%de reajuste acima da inflaçãoé o montante solicitado pelostrabalhadores da indústriaquímica. Em 2009, o aumentoreal não ultrapassou os 2%em decorrência dos problemasderivados da crise econômica.

FUNCIONÁRIOS

40 miltrabalhadores sãorepresentados pelo Sindicatodos Químicos do ABC.A entidade defende funcionáriosde 900 empresas e, alémde reajustes salariais, buscavalorização do piso da categoria.

10 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

OPINIÃO

A internacionalização produtiva de empresas brasilei-ras nos anos recentes tem sido um indicador de desta-que da economia. Primeiro, reduziu-se a forte assime-tria existente entre os elevados fluxos de investimentodireto estrangeiro (IDE) e os reduzidos fluxos de inves-timento brasileiro direto no exterior (IBDE), que ca-racterizaram a economia brasileira nos anos 90 atémeados da década anterior. Essa assimetria refletia emgrande medida a menor capacidade competitiva e fi-nanceira das empresas nacionais, o que resultou emum intenso processo de desnacionalização da baseprodutiva. O valor médio anual de IBDE cresceu demenos de um bilhão para aproximadamente US$ 14 bi-lhões ao ano, com exceção de 2009, quando foi negati-vo. No acumulado do primeiro semestre de 2010, já ul-trapassou US$ 8 bilhões. Com isso, a relação IBDE /IDE saltou de pouco menos de 10% para mais de 50%.

Segundo, mudaram as motivações e estratégias deinternacionalização. Nos anos 90, de elevada instabili-dade macroeconômica e baixo crescimento, o processoconcentrou-se em poucas e grandes empresas nacio-nais, que buscavam compensar no mercado externo aretração e/ou baixo dinamismo do mercado domésti-co. A atuação direta em novos mercados também per-mitia, em alguns casos, contornar os entraves prote-cionistas às exportações brasileiras. A partir de mea-dos da última década houve uma melhora substantivanas condições macroeconômicas. O maior dinamismodo mercado doméstico e internacional e a evoluçãopositiva dos preços de algumas commodities contri-buíram para melhorar as condições de autofinancia-mento das empresas, bem como sua capacidade dealavancagem. A atuação do BNDES na concessão deempréstimos ou capitalização de grandes empresas foidecisiva, sobretudo para viabilizar as operações maio-res de fusões e aquisições de empresas no exterior.

Terceiro, cabe destacar que a internacionalizaçãopassou a abranger um número maior de setores e em-presas, inclusive de médio porte, que têm utilizado omercado regional como importante espaço de atuação,beneficiando-se da proximidade geográfica e cultural.Por último, cabe destacar que o fortalecimento e aconsolidação de multinacionais brasileiras, sobretudonos setores de serviços (engenharia e construção) e decommodities agrícolas, minerais e metálicas, refletemo próprio padrão de especialização e de competitivida-de da estrutura produtiva, mas também o caráter me-nos defensivo das estratégias de internacionalização.

O objetivo estratégico tem sido complementar eampliar o espaço de atuação e de acumulação, atravésda exploração das vantagens competitivas. Para asmédias empresas, com atuação em setores menoscompetitivos (como os segmentos de bens de consumoe de capital) e com processos de internacionalizaçãoainda incipientes, a valorização dos ativos comerciais,através da constituição de canais próprios de comer-cialização e de distribuição e o reforço de marcas pró-prias, será fundamental para uma maior agregação devalor e a capacitação competitiva. ■

Múltis brasileiras

Reduziu-se a forte assimetriaentre os fluxos de investimento diretoestrangeiro e os fluxos de investimentobrasileiro direto no exterior

Roberto FreirePresidente do PPS

Desde seu surgimento na Ágora ateniense, a democra-cia se distinguiu como um sistema de governo quesempre teve por base a autonomia de seus participan-tes e a liberdade de expressão. Local de exercício do lo-gos — capacidade de por meio da palavra e do pensa-mento, influir na organização da cidade —, a polis gre-ga foi o lócus da emergência das mais fundas tradiçõesdo mundo ocidental: a ideia de liberdade como normapara participação da política e do livre pensar comodefinidor da cidadania. Desde então, até sua consoli-dação como sistema de governo adotado por nossa tra-dição ocidental, muitas lutas foram travadas ao longoda história da humanidade, até que os ideais de auto-nomia e liberdade fossem transformados em valor in-questionável e conquista do humanismo.

Não por acaso, todo governo autoritário, ou comessa vocação, a primeira coisa que busca de forma per-sistente é tentar tornar letra morta o preceito da liber-dade de expressão e obstar a liberdade de imprensa,como primeiro e inevitável passo para cercear a pró-pria atividade política, materializada no Parlamento.Em nosso país, a liberdade de imprensa sempre foi umestorvo para forças não democráticas, justamente pelopapel que sempre representou de instrumento da cida-dania ao denunciar seus abusos contra a ordem demo-crática, quando na gestão do Estado.

Não por acaso, a intelligentsia do PT, bem comosuas mais destacadas lideranças, desde sua fundaçãosempre teve a imprensa como inimiga de seu projetode poder. Como ficou evidente, logo após a posse deLula, atente-se para os primeiros projetos de lei visan-do “regular” o exercício do jornalismo no país, pormeio da criação de um Conselho Federal de Jornalismoe Conselhos Regionais de Jornalismo, integrados porjornalistas com a atribuição de “orientar, disciplinar efiscalizar o exercício da profissão de jornalista e da ati-vidade do jornalismo”. Sem falar do desejo de expulsardo país o correspondente do New York Times, LarryRohter, por conta de suas matérias que muito desagra-daram ao presidente Lula, usando para tanto a legisla-ção oriunda da ditadura militar, de triste memória.

O fato é que depois do mensalão, e dos variados ca-sos de corrupção no governo, coroado agora com maisum escândalo envolvendo diretamente a Casa Civil,responsável pela articulação política do governo, o PT,a partir do presidente da República, e suas entidadescooptadas decidiram partir para o ataque direto contraa imprensa e a liberdade de expressão.

No exato momento em que se avoluma uma série dedenúncias que põem a nu a estrutura de funcionamen-to do governo Lula, sem que sejam desmentidas, todoseu governo é mobilizado contra a missão essencial detodo jornalismo, que é de informar a sociedade. E co-loca-se frontalmente contra o direito constitucional deliberdade de expressão, ameaçando de forma clara oEstado de Direito, tão duramente conquistado.

Sabemos, por experiência própria, que sem liberda-de de imprensa não existe sociedade livre! A hora, pois,é de mobilização em defesa da democracia! ■

O pilar da liberdade

Sabemos que sem liberdade deimprensa não existe sociedade livre!A hora, pois, é de mobilizaçãoem defesa da democracia!

Fernando SartiProfessor do Instituto de Economiada Unicamp e pesquisador do Núcleo deEconomia Industrial e da Tecnologia

CARTAS

DIRETORIA DO SANTOS MATOUA ÉTICA NO PEITO — ARTIGODE COSTÁBILE NICOLETTASua crônica no jornal BRASIL ECONÔMICO

é mais uma das centenas de opiniõessimilares que permeiam a nossa mídia e que,infelizmente, abordam o assunto de formaequivocada. Dorival não foi demitido pordivergência sobre a punição impostaao jogador Neymar. Ele foi demitido porque,após reunião com a diretoria do cluberealizada na última segunda-feira,foi combinado que a punição se encerrariapara o jogo contra o Corinthians, e caberiaao treinador anunciar essa decisão.Para surpresa geral, o treinador, semcomunicar a diretoria, surpreendeu a todosanunciando que iria manter a punição.Veja bem, não estamos discutindo se o jogadormerecia permanecer punido, aliás, talvez atémerecesse, mas a partir do momento emque o técnico, por conta própria e semcomunicar a diretoria, resolve mudar umadecisão tomada em conjunto com a diretoria,ele acaba cometendo um ato de insubordinaçãoque caracteriza quebra de vínculo de confiançae infelizmente é passível de demissão.Não há dúvida de que o desfecho poderiater sido outro, talvez tenha faltado tatopara ambas as partes. Mas também é cansativover se repetir por aí a opinião simplistade que o jogador “derrubou o técnico”,quando na verdade o técnico, mesmoque involuntariamente, acabou dando causapara isso ao tomar uma decisão que elenão tinha autonomia para tomar sozinho.

Gustavo PierottiSão Paulo (SP)

NOVAS ÁREAS DE PETRÓLEO— COLUNA DE ADRIANO PIRESCreio que o mundo só substituirá sua baseenergética de petróleo quando se extraira última gota. Até lá, mais conflitos virão.Quando enxergamos o problema do pontode vista geopolítico, vemos que as possibilidadesde conflito pela disputa do petróleo sãouma questão de tempo. Para ratificar,vemos que mesmo com tecnologias parageração de energia limpa, por exemploa energia eólica, elétrica ou solar, não temosexemplos de países que estão de formaconsistente considerando essas alternativas.São muitos os interesses em torno do“ouro negro”, e infelizmente as necessidadesdo meio ambiente ainda não são prioridade.

Sergio MurtaRio de Janeiro (RJ)

CAPACITAÇÃO DA INDÚSTRIAA entrevista do atual presidente da Federaçãodas Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp),onde ele alega que o empresariado brasileirofoi apanhado de surpresa em relação aosresultados positivos da economia, é uma situaçãocomplexa. E preocupante. A ideia que se temde pessoas da área é que fazem pesquisas,muitos planejamentos e buscam minimizaros riscos de prejuízos. No caso do Brasil,somos um verdadeiro continente, temosmatéria prima para suprir não apenas um,mas vários empreendimentos. E no campoda agricultura, além da extensão territorial,há implementação de plantações de produtoscom muita procura no mercado interno e externo.Que está faltando então? Por que nãoinvestir efetivamente na preparação da mãode obra nessa área de planejamento?Ou será que logo estaremos sendo dominadospelo capitalismo internacional, que sempreesteve de olho no nosso potencial?

Uriel Villas BoasSantos (SP)

Cartas para Redação - Av. das Nações Unidas, 11.633 –8º andar – CEP 04578-901 – Brooklin – São Paulo (SP)[email protected] mensagens devem conter nome completo, ende-reço e telefone e assinatura. Em razão de espaço ouclareza, BRASIL ECONÔMICO reserva-se o direito de edi-tar as cartas recebidas.Mais cartas em www.brasileconomico.com.br.

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 11

Fabricante de Pantene, Gillettee Ariel faz sua maior açãode marketing da história do país

Françoise [email protected]

O egípcio Tarek Farahat, presi-dente da Procter & Gamble noBrasil, garante que não passauma noite sem assistir a novelaPassione, da TV Globo. Mais doque um hobby, o comandanteda indústria de bens de consu-mo sabe que, para engordar areceita no Brasil, precisará en-tender e cativar a classe C. De-pois de ter feito uma ação de

marketing no BBB 10, a P&G,que completou 22 anos de Brasilontem, resolveu se associar aoapresentador Fausto Silva no“avião do Faustão” para lançar amaior ação de marketing de suahistória no país e também di-vulgar a marca corporativa.

Quanto a P&G estáinvestindo nesta ação?É um valor grande, o maior jáinvestido pela companhia nopaís, mas não posso detalhar.Contudo, a partir da distribuiçãode grandes prêmios (como car-ros e eletrodomésticos), nossameta é fortalecer as marcas da

Procter e também associá-las aonome da P&G. O Faustão atingede 80 milhões a 90 milhões debrasileiros no final de semana.

Quanto espera crescera partir desta ação?O objetivo é crescer nossasmarcas de forma a atrair o con-sumidor. Faustão é um progra-ma brasileiro e Oral-B, porexemplo, é uma tecnologia glo-bal. A combinação pode trazerbons resultados. Se você nãotem boa tecnologia, pode apa-recer em todos os programas detevê que não vai adiantar. Senão entregar valor ao consumi-

dor, ele não vai comprar. Poroutro lado, se você tem tecnolo-gia, mas detém uma marca ‘si-lenciosa’, ninguém vai saber. Épreciso ter as duas coisas.

Quais marcas ainda não sãotão conhecidas do público?A marca Gillette é conhecida portodos, assim como Pampers. JáPantene, que é mais recente nopaís, está crescendo, assim comoOral-B. Contudo, precisamosfortalecer produtos como o deso-dorante Gillette, o xampu Head &Shoulders e o creme dental Oral-B. O brasileiro associa muito amarca à escova dental. ■

Para atrair classe C, P&G aposta no FaustãoENTREVISTA TAREK FARAHAT Presidente da Procter & Gamble no Brasil

Bertrand Langlois/AFP

Cerca de 300 mil pessoas, segundo os sindicatos, e 65 mil, de acordo com a polícia, fizeram uma manifestação ontem em Paris contra a reforma dosistema de aposentadoria promovida pelo governo conservador do presidente Nicolas Sarkozy. A manifestação de Paris é a mais importante das 230convocadas em todo o país contra a reforma do sistema de aposentadorias vigente desde 1983, que prevê aumentar de 60 a 62 anos, a partir de 2018,a idade para ter direito a se aposentar. Os transportes públicos, os aeroportos e as escolas da França foram afetados pela nova greve e protestos.

PROTESTOS EM PARIS

“Se você temtecnologia,mas detémuma marcasilenciosa,o consumidordificilmentesaberá.”

Murillo Constantino

Obama promete diálogo aberto com IrãOs Estados Unidos estão abertos à diplomacia com o Irã, maso país precisa provar que suas ambições nucleares são pacíficas,disse o presidente americano, Barack Obama, ao falar ontemà Assembleia Geral da ONU. “Os Estados Unidos e a comunidadeinternacional buscam a resolução de suas diferenças com o Irã. A portapermanece aberta à diplomacia, se o Irã escolher caminhar através dela”,declarou Obama no encontro anual dos líderes mundiais. Reuters

Jason Reed/Reuters

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

12 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

BRASIL

Paulo Justus e Claudia [email protected]

A queda da can-didata petista àPresidência Dil-ma Rousseff naúltima pesquisaeleitoral do Data-folha foi rapida-mente capitaliza-

da pelos correligionários do pre-sidenciável José Serra (PSDB). Ostucanos tentam ligar a queda daadversária à postura mais agres-siva da campanha serrista e à re-percussão dos escândalos na CasaCivil que culminaram com a que-da da ministra Erenice Guerra.

No levantamento Datafolharealizado em 21 e 22 de setem-bro, Dilma obteve 49% das in-tenções de voto, uma queda —ainda dentro da margem de

erro — em relação aos 51% queobteve no levantamento feitoentre 13 e 15 de setembro. JáSerra subiu de 27% para 28%,na mesma comparação. A can-didata do PV, Marina Silva pas-sou de 11% para 13%.

Nas últimas semanas acampanha de Serra intensifi-cou os ataque ao PT. O últimoarsenal tucano foi divulgadonesta semana na internet, comvídeos curtos que comparampetistas a cães rottweilers ávi-dos pelo poder e denuncia ascríticas de Lula à imprensa.“Nossa campanha melhoroumuito”, diz o líder do PSDB naCâmara, João Almeida.

Segundo o deputado, a quedade Dilma e a ascensão de Serratambém se devem à queda deErenice Guerra, sucessora deDilma no comando da Casa Civil.

Até o momento, Serra ganhoueleitores no eleitorado mais esco-larizado e com maior renda. Al-meida defende a tese de que osdemais eleitores vão mudar deopinião, à medida que tomem co-nhecimento das denúncias contrao governo. “Esse eleitor com maisescolaridade e renda é aquele querecebe a informação todo dia e re-flete mais rapidamente o efeito defatos como esse (queda de Ereni-ce). No povão, demora um poucopara chegar, mas quando chega éuma onda”, afirma.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) lembra que a queda de Dil-ma na pesquisa Datafolha se deuprincipalmente em Brasília e noParaná, regiões que, segundoele, apontam tendências eleito-rais. “A expectativa nossa é queessa tendência avance para oconjunto da população.”

PromessasAlém das críticas, a campanhade Serra também foi mais agres-siva nas propostas. Nessa sema-na, o candidato prometeu umdécimo terceiro para o benefícioda Bolsa Família, o aumento de10% para as aposentadorias eum salário-mínimo de R$ 600.

Na próxima semana o parti-do deve divulgar, finalmente,seu programa de governo. Atéamanhã, a versão preliminardas propostas de governo deveficar disponível para consultados internautas que participa-ram na discussão das propostas.A estimativa da campanha éque na quarta ou quinta-feira otexto final seja entregue.

Sem mudanças no PTO resultado da pesquisa Datafo-lha não alterou os planos da

Tucanos partem para o ataquePartido vê ligação entre queda de Dilma em pesquisa e campanha mais agressiva; internet e programa de governo

Recuo da candidatapetista foi maisacentuado emBrasília e no Paraná.Campanha do PSDBespera que essasregiões apontem atendência da disputa

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Roberto Stuckert Filho

Dilma Rousseff: para candidata,pesquisa eleitoral não é motivopara inquietação

José Serra: nova arma no arsenalé propaganda onde comparapetistas a cães rottweilers

ELEIÇÕES2010

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 13

na reta finalsão as apostas para prolongar disputa

Desemprego tem menor taxa desde 2002A taxa de desemprego apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE) em agosto, de 6,7%, representou a menor taxa mensalapurada pela instituição desde o início da série histórica, em março de2002. O IBGE informou ainda que a massa de rendimento médio real(descontada a inflação) habitual dos ocupados nas seis principais regiõesmetropolitanas do País somou R$ 32,9 bilhões em agosto, com alta de1,8% em relação a julho e aumento de 8,8% ante agosto do ano passado.

● Fipe divulga o Índice de Preçosao Consumidor (IPC) da terceirasemana de setembro, préviada inflação da capital paulista.● CNI informa o Índice Nacionalde Expectativa do Consumidor(INEC), pesquisa referenteao mês de setembro.

AGENDA DO DIAMarcela Beltrão

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

(11) 3138 [email protected]

AUDIT TAX ADVISORY

BDO Auditores Independentes, uma empresa brasileira de sociedade simples, é membro da BDO International Limited, uma companhia limitada por garantia do Reino Unido, e faz parte da rede internacional BDO de firmas membro independentes. BDO é o nome comercial para a rede BDO e cada uma das firmas Membro BDO.

NOVAS NORMAS CONTÁBEIS E SEUS IMPACTOS TRIBUTÁRIOSAdequação e capacitação para sua empresa

coordenação da campanha pe-tista, que ainda vê possibilidadede vitória de Dilma Rousseff noprimeiro turno. “O conjunto daspesquisas não é ruim e é isso quenos interessa”, defende o secre-tário nacional de comunicaçãodo PT, André Vargas (PR). “Sa-bíamos que seria uma campanhadifícil, só não esperávamos quefosse de tão baixo nível”.

Segundo ele, a variaçãodeve-se ao crescimento dacandidata Marina Silva (PV)na medição de intenções devotos. “O Serra está batendomuito e não vai mais crescer,mas ela (Marina) não tem con-dições de chegar ao segundoturno”, explica.

Mais do que o fator Marina, ocientista político Rubens Fi-gueiredo credita a queda napesquisa quase que exclusiva-

mente às denúncias envolvendoo governo do PT. Ele pontua,contudo, que o governo Lulasempre foi blindado contra es-cândalos. “O Lula aparece numterno impecável, diz que vai in-vestigar e tudo fica por issomesmo. É exatamente isso queestá acontecendo agora”, diz.

A própria Dilma afirmouontem que não precisa se “in-quietar” com o resultado dapesquisa porque faltam apenasdez dias para as eleições. “Essasemana vai ser cheia de pes-quisas idas e vindas, vamosaguardar. Está perto, mas agente não tem que se inquie-tar. É continuar trabalhandosabendo que o nosso país mu-dou e eu represento essa mu-dança. Eu tenho certeza queisso vai ser reconhecido no dia3 de outubro”, afirmou. ■

Renda confere maisvotos que éticaMesmo utilizando denúnciasque envolvem a gestão petista,campanha tucana não absorvevoto de eleitores de Dilma

Carla Jimenez e Carolina [email protected]

As campanhas políticas costu-mam guardar para o último atoa exposição de vulnerabilidadede seus candidatos. Os recentesescândalos na Casa Civil e naReceita Federal, além dos Cor-reios, criaram mal-estar para acandidata do governo, mas nãoa ponto de tirar votos que mu-dem o quadro definitivamente.A mensagem ‘moralista’, em-pregada primeiramente pelovice tucano, Índio da Costa, edepois fortalecida com o pró-prio presidenciável José Serrapode ter tirado votos de eleito-res de maior renda, como mos-tram as pesquisas, mas não tira-ram de modo maciço nas classesmenos favorecidas.

“O sucesso da estratégiamoralista de Serra foi estancaro crescimento da Dilma entreos indecisos. Mas ele não estáevoluindo com isso”, analisa ocientista político Paulo Kra-mer, da Universidade de Brasí-lia (UNB).

No estrato de pessoas maissimples, no entanto, é precisomais do que evidências de cor-rupção para convencer a mu-dar de posição, explica o cien-tista Fernando Abrúcio. “Elessão muito desconfiados. Aclasse média brasileira nuncaesteve numa delegacia, elessim, e portanto querem provasdas acusações”, comenta.

Para que o pleito vá para se-gundo turno, a petista deveriaperder 522 mil votos por dia,segundo cálculo feito pelo BRA-SIL ECONÔMICO.

“A época em que o PSDB po-dia ter derrubado Lula foi per-dida em 2006, nos escândalosdo mensalão. Utilizar denún-cias agora não adianta mais. Obrasileiro está mais preocupa-do com Bolsa Família que coma ética”, diz Kramer. Ele res-salta que foi justamente no se-gundo mandato que Lula sefortaleceu, embarcando empolíticas de geração de empre-go e renda e no crescimentoeconômico mundial.

Para Valeriano Costa, cientis-ta político da Universidade Es-tadual de Campinas (Unicamp),o excesso de “moralismo” dacampanha de Serra gerou a per-da da credibilidade do eleitor no

Pesquisa apontaque 52% doseleitores estãocientes dasdenúncias de lobbyna Casa Civil, mas13% não se sentembem informadossobre o assunto

teor das denúncias. “As acusa-ções ganharam cunho eleitorei-ro. Não fazem ligações diretas àDilma e não foram apuradas, ouseja, não há fatos”, explica. “Oescândalo da Casa Civil podeimpactar mais, mas não será su-ficiente se nada for provado.”

Para ele, o fato de políticoscassados pela Justiça Eleitoralterem desempenho acima damédia nas pesquisas eleitoraisindica que o brasileiro nãoprioriza a moral nas suas deci-sões políticas. “Ninguém podedizer que nunca passou o farolvermelho. Os casos de corrup-ção dependem de uma certaverossimilhança para fazer adiferença. A discussão aqui se-gue sempre o quanto foi rouba-do, e não o fato de ter sido rou-bado”, complementa. ■

André Dusek/AE

Cacalos Garrastazu

A ex-ministra EreniceGuerra: para analista,denúncias influenciampouco o eleitor

14 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

BRASIL MOSAICO ELEITORAL

ALDO REBELO

Deputado federal pelo PCdoB-SPe relator do novo Código Florestal

BOCA DE URNA

“Ongs queremparalisar ainfraestrutura no país”

O deputado Aldo Rebelo (PCdoB)é o relator da polêmica propostado novo Código Florestal, quetramita na Câmara. A reformada lei, apoiada por produtoresrurais e rechaçada por ativistasambientais, está na agendade temas defendidos por Rebelonas eleições. Segundo ele,a lei ambiental não deve criargargalos para o investimentoem infraestrutura no país.Sobre os episódios recentesque culminaram com a saídada ministra-chefe da Casa Civil,Erenice Guerra, o deputado dizque a eleição da candidatura daaliada Dilma Rousseff (PT) à

Presidência não deve ser afetada.“O processo eleitoral indicaa vitória de Dilma no primeiroturno”, afirma o candidato. Vejaa seguir trechos da entrevistaconcedida ao BRASIL ECONÔMICO:

Como o senhor temtratado a reforma do CódigoFlorestal em sua campanha?Tenho tratado como um temaimportante, como parte doesforço do país em retomaro crescimento da economia.A questão do Código Florestalestá relacionado a essa temática.O Brasil não tem soluçãopara nenhum dos seus

Airlton de Freitas

Ajuste fiscal édesafio do novopresidenteEmpresários reforçam pedido repetido em eleiçõese governo acena positivamente nos bastidores

Françoise Terzian, ClaudiaBredarioli e Carla [email protected]

Independente-mente de quemvenha a ser o pre-sidente do Brasilno próximo ano,ele — ou ela —terápela frente o de-safio de adminis-

trar o clamor do empresariadopor um ajuste fiscal urgente noBrasil. O presidente da Nestlé,Ivan Zurita, é um dos empresá-rios que entoam esse coro. “Tra-ta-se de uma prioridade paranós”, diz. Ele lembra que os en-cargos sociais no Brasil chegam aaté 80% da renda, enquanto noJapão, são 10 vezes menores . “Seabrimos o mercado para ser com-petitivo, é preciso ter um custocompetitivo ”, afirma Zurita.

Líder nas pesquisas de inten-ção de voto, a candidata DilmaRousseff já declarou que preferereduzir gastos a aplicar um ajustefiscal rígido. Nos bastidores, po-rém, a reforma é defendida, es-pecialmente pelo grupo próximoao ex-ministro Antonio Palocci.

Apesar da pressão empresariale de concordarem com a necessi-dade do ajuste, especialistasveem como pouco provável essapossibilidade. Destacam, contu-do, que o melhor momento paratentar aprovar uma reforma des-se porte seria o início do governo,aproveitando o capital políticoem alta do novo mandatário.“Parece que nenhum dos candi-datos tem a intenção de fazerisso. Talvez venha um remendo,mas não uma reforma. Primeiro épreciso aumentar a eficiência doEstado”, diz Fabio Pina, econo-mista da Fecomercio.

“O Lula aumentou o tama-nho do Estado de maneira qua-se imperceptível. Com a Dil-ma, mais a esquerda de Lula,esse cenário deve se acen-tuar”, completa o cientista po-lítico Rubens Figueiredo.

O receio da impopularidade aoassumir medidas do gênero, con-tudo, inibe os governos a tomar

decisões drásticas. Porém, é umrisco que pode ser premiado pelareeleição dos governantes, con-forme constatou o economistaespanhol José Juan Ruiz, num le-vantamento feito analisando 12países europeus que passarampor um processo de ajuste fiscalentre a década de 1980 e os anos2000. Dos governos analisados,mais da metade foram reeleitos.Ruiz, entretanto, faz uma ressal-va. “Eram países em dificuldadese as pessoas percebiam que haviaum ganho intrínseco em medidasde ajuste”, lembra. Situação dife-rente da brasileira, em que osgastos públicos não chegaram aum limite, e ainda têm espaçopara aumentar sua dívida. ■

Na Europa, entre12 governos queimplementaramajustes fiscais, maisda metade foramreeleitos, depois desuperar a queda depopularidade numprimeiro momento

ELEIÇÕES2010

PLACAR DE 3 A 1 PARA O FICHA LIMPA

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 15

Edu Garcia/AE

FUNDO DO BAÚ

O caçador de marajásEm 1989, um jovem candidato de Alagoas,Fernando Collor de Mello, apresentou-se ao paíscomo alternativa aos demais políticos na disputa,dentre eles, Ulisses Guimarães (PMDB), Mário Covas(PSDB), Paulo Maluf (antigo PDS) e Leonel Brizola (PDT).Por um partido pequeno, PRN, Collo estabeleceu sua

marca como o futuro ‘caçador de marajás’ paracombater a corrupção no país, nesta que foi aprimeira eleição direta a presidente depois da ditadura(1964-1985). Collor passou para o segundo turnojunto com Lula e terminou envolvido em suspeitas decorrupção que o levaram a deixar o cargo em 1992.

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BRANCO CORRIGE CONFIRMA

FALTAM

DIAS PARA O 1º TURNO DAS ELEIÇÕES

Chance desperdiçada● O presidente Luiz Inácio Lulada Silva disse ontem que aex-ministra-chefe da Casa Civil,Erenice Guerra, “jogou forachance extraordinária de ser umagrande funcionária pública destepaís”. Apesar disso, Lula afirmouque as denúncias precisam serinvestigadas e que este episódionão deve ter impacto no resultadodas eleições presidenciais.“O povo aprendeu a julgar, issoé uma coisa interessante”. Sobreas críticas da oposição ao seugoverno, alfinetou: “Essaspessoas que são oposição hojenão estavam habituadas a fazeroposição. Tinha alguns que fizerammuito atrás. Já faz tempo que oSerra fez oposição, foi em 1970.”

Em Hollywood● O longa-metragem Lula -O filho do Brasil, de FábioBarreto, foi escolhido pararepresentar o Brasil na disputapor uma das cinco vagas noOscar na categoria de melhorfilme em língua estrangeira.A decisão, anunciada ontem emSão Paulo, foi tomada de formaunânime por uma comissão quereúne membros indicados peloMinistério da Cultura, Secretariado Audiovisual, Agência Nacionalde Cinema do Brasil e AcademiaBrasileira de Cinema.

Carta pela biodiversidade● O Movimento Empresarial pelaConservação e Uso Sustentávelda Biodiversidade vai encaminharaos candidatos à presidência umacarta contendo os compromissosde 40 empresas, como Alcoa,Vale, Walmart, Natura, Agroplama,Fibria, Itaipu, CPFL, Furnas,Carrefour e outras, destinada acobrar compromissos do próximogoverno no sentido de consolidara posição do Brasil na liderançaglobal no que se refere àconservação da biodiversidadee uso sustentável dos recursosnaturais e estabelecer metasa serem alcançadas até 2020 parao plano estratégico da Convençãoda Diversidade Biológica.

NANICAS

desafios se não tiver umcrescimento médio relativocom suas potencialidades.

Isso ajuda ou atrapalhana hora de conquistaro eleitorado?Alguns apoiam por causa dissooutros deixam de apoiar.

E na hora de trazerdoações para a campanha,é importante?Isso não é decisivo. Eu achoque o decisivo e o maisimportante é ter uma bandeiraque foque o desenvolvimentoda infraestrutura.

Quais são suas principaispropostas de campanha?Vejo como desafio importantea melhoria da qualidadeda educação pública.O principal hoje é elevara qualidade do ensino a saúdepública. Outro ponto importanteé a ampliação da infraestruturado país. Não podemos pararde crescer se não tiver ferrovias,aeroportos, hidrovias e háuma campanha de Ongsinternacionais no sentido deparalisar a infraestrutura do país.E a legislação ambiental deveestar preparada para isso.Um tema importante é enfrentar

os lobbies contra a ampliaçãoda infraestrutura do país.Não pode ter uma rodoviacomo a Cuiabá-Santarémparada há trinta anos por causade questões ambientais.

Sobre os recentes episódiosenvolvendo a queda daministra-chefe da Casa Civil,Erenice Guerra, o senhoracha que isso pode impactara campanha de Dilma?O impacto não será osuficiente para impedir a vitóriada candidatura de Dilma noprimeiro turno. Ela vai ganhar aeleição no primeiro turno. E acho

que as denúncias têm de serinvestigadas. Quando isso setorna uma bandeira eleitoral semexaminar com o mesmo critérioos escândalos que envolvem osadversários. Eu acho que é umerro político de quem pensa quevai ganhar as eleições a partirdisso. A gente sabe que hámuita cobrança, mas acho que oprocesso eleitoral indica a vitóriade Dilma no primeiro turno.

Mesmo com essa recentequeda da candidata napesquisa do Datafolha?Ela caiu um pouco, mas serecupera depois. Paulo Justus

No dia em que o SupremoTribunal Federal votavarecurso do candidatoao governo do DistritoFederal Joaquim Roriz(PSC), contra seuenquadramento comoficha suja, a pesquisaDatafolha mostrou queele continua atrás naspesquisas. Roriz soma34% das intenções devoto, contra 41% docandidato petista AgneloQueiroz (PT). Na capitaldo país, a presidenciávelMarina Silva registrou 26pontos, mais que o tucanoJosé Serra (23 pontos).Dilma mantém liderançano distrito com 36%.

Dorivan Marinho/Fotoarena/Folhapress

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Otávio de Souza

16 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

BRASIL

Juliana [email protected]

Passados quase seis anos desde alei que implementou as ParceriasPúblico-Privadas (PPPs) no país,foi apenas ontem que o governofederal pôde comemorar seu pri-meiro contrato do gênero. Trata-se do Projeto Pontal, um progra-ma de irrigação a partir das águasdo Rio São Francisco para umaárea de 7,7 mil hectares em Petro-lina (PE), voltada principalmentepara o cultivo de frutas.

Enquanto na infraestrutura aUnião ainda patina para emplacarcontratos de PPPs, pelo menos nosegmento de irrigação o modelode negócios deve deslanchar,agora que conseguiu concluir aprimeira licitação. A Companhiade Desenvolvimento do Vale doSão Francisco e Parnaíba (Code-vasf), órgão do Ministério da Inte-gração Nacional, já possui pelomenos dois outros projetos damesma natureza do Pontal.

“Temos outras áreas para irri-gação que já estão preparadas, e,agora que já temos a primeira ex-periência de uma PPP, será muitomais fácil fazer o mesmo comelas”, disse o ministro da Integra-ção, João Santana, após o términodo leilão. “A lei das PPPs existe háseis anos. Sabe há quanto tempoestamos com este plano para oProjeto Pontal? Cinco anos. Háuma série de detalhes legais quetiveram que ser vistos e revistosaté que isso saísse”, explicou.

As duas áreas em estudo atual-mente para concessão estão emJuazeiro (BA), no projeto batizadoSalitre, e em Xique-Xique (BA),pelo projeto Baixio do Irecê, esteem estágio mais avançado. Comono caso do Pontal, a ideia é trans-ferir para a iniciativa privada aconclusão das obras de irrigação,que consistem em bombear aágua do São Francisco para distri-buir às áreas secas próximas — aparte mais cara do investimento.Em contrapartida, entrega-se àempresa o direito de exploraçãodas terras por um período de 25anos. Apenas o Baixio do Iberêabrange uma área de 60 mil hec-tares, sete vezes mais que a doPontal, licitada ontem.

Hoje, tudo isso é gerenciadopela Codevasf, em um programa

Governo já prepara duas novasPPPs no Vale do São FranciscoSeis anos após a implementação da legislação, primeira Parceria Público-Privada federal foi assinada ontem

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

voltado aos pequenos produtoresdo sertão. “Administramos hoje23 áreas de irrigação, que somam120 mil hectares. Levamos a águaao produtor e ele nos paga umaespécie de mensalidade porisso”, explica Alvane Soares, dadiretoria de infraestrutura da Co-devasf. “Como se convencionouessa impressão de ser um serviçodo governo, muitos não pagam,ou se quer utilizam a terra” diz,citando que a inadimplência noprograma chega a quase 70%.

As tentativas de trazer a inicia-tiva privada para a administraçãosão uma forma de formalizar oprocesso. “O mais importantenão são as obras. Isso o governo

faz bem. A ineficiência é na ges-tão, e, com a iniciativa privada, oque vai gerenciar isso será a lógicade mercado”, avalia Soares.

Nesse contexto, a PPP surgiucomo a melhor possibilidade jáque, pelo modelo de concessãocomum — em que a empresa arcacom todas as despesas — os proje-tos não seriam financeiramenteviáveis. “As tarifas ficariam muitoaltas”, explica Soares.

Na forma como o Pontal foilicitado — e que deve ser a mes-ma nas futuras áreas — mais dametade das obras já foram feitaspelo governo e parte da tarifaserá subsidiada ao longo de todaa concessão. ■

Nilton Fukuda/AE

Projeto de irrigação nas proximidadesdo São Francisco: no modelo atual,

inadimplência de usuários chega a 70%

CONTAS NACIONAIS

Dívida pública acumula aumentode R$ 17 bilhões no mês de agostoA emissão de títulos prefixados e o reconhecimento de juros fizeram a dívidapública subir em agosto. Segundo o Tesouro Nacional, a Dívida Pública Federal(DPF) aumentou R$ 17 bilhões, passando de R$ 1,601 trilhão para R$ 1,618trilhão. Em termos percentuais, a alta foi de 1,04%. Por meio da dívida, ogoverno pega empréstimos de investidores para honrar os compromissos.Em troca, o Tesouro devolve o dinheiro mais tarde com correção.

PANORAMA INTERNO 1

Ipea vê melhora do mercado de trabalhoem 2009 apesar da turbulência financeiraApesar dos efeitos negativos da crise internacional no Brasil, o mercadode trabalho avançou em aspectos qualitativos no ano passado, segundoestudo do Ipea. Em 2009, o grau de informalidade foi o menor da década(48,4%). Houve aumento de 15 pontos porcentuais na participação depessoas com pelo menos 11 anos de escolaridade na força de trabalho.O rendimento real médio atingiu R$ 1.068,39, maior valor desde 2001.

Henrique Manreza

PONTAL

Projeto é primeiraPPP federal

O Projeto Pontal, em Petrolina (PE),foi a primeira PPP realizada pelogoverno federal. O leilão contoucom apenas uma empresa, braçoda holding Tetto, que venceu aconcessão com um lance de R$ 198,4milhões: o valor correspondeà contrapartida que será pagapelo governo ao longo dos 25 anosde concessão. Vencia o leilão aempresa que exigisse a menorremuneração, a partir do teto deR$ 202 milhões estipulado no edital.

“A Lei das PPPs existehá seis anos. Sabe háquanto tempoestamos com esteprojeto? Cinco anos.Há uma série dedetalhes legaisque tiveram que servistos e revistos

João Santana,ministro da Integração Nacional

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 17Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Juliana [email protected]

Após o sucesso inesperado daseólicas no último leilão de ener-gia realizado há um mês, o gover-no já sinaliza com a possibilidadede colocar a fonte de vez nas ro-dadas anuais de negociação. “Aenergia eólica já chegou agora emuma fase em que está competiti-va”, analisou Maurício Tolmas-quim, presidente da Empresa dePesquisa Energética (EPE), órgãodo Ministério de Minas e Energia(MME), em evento em São Paulono início desta semana. “Realiza-mos estes leilões todos os anos.Não tem por que a energia eólicanão estar”, disse.

A fonte já foi incluída em doisdestes leilões desde o ano passa-do, em uma espécie de piloto, jáque, por ser uma tecnologia maisjovem das disponíveis atualmen-te, tendia também a ser a maiscara. No último evento, no en-tanto, alcançou deságios na faixados 26% e se converteu subita-mente em uma das mais baratas.

A garantia de leilões regula-res era a única indefinição que

restava que pudesse inibir in-vestimentos e a entrada de no-vos interessados no negócio noBrasil. “Se não há continuidadepara o programa, não se criamas condições necessárias nempara atrair fabricantes e conso-lidar uma cadeia de fornecedo-res no país, nem para formaruma base de tecnologia e pes-quisa”, defende o diretor degestão da Associação Brasileirade Energia Eólica (ABeeólica),Otávio Silveira.

É algo similar ao que aconte-ceu com o Proinfa, programa deincentivo a fontes alternativas,lançado em 2002 como medidapós-apagão, que primeiro co-locou a energia eólica no mapabrasileiro. Foi de lá que saíramos primeiros 1,4 mil megawattsde parques contratados —“mas, como não houve conti-nuidade de política, isso nãoevoluiu”, conta Silveira.

Isso explica estes projetos es-tarem sendo concluídos apenasagora, oito anos depois. Os pri-meiros 700 MW foram instaladosem 2009 e, até final de 2010, serãoconcluídos os demais 700 MW.

Leilões e indústria nascenteDepois do programa de 2002, aseólicas só voltaram ao planeja-mento de governo no ano pas-sado, quando, após meses deadiamentos, finalmente se fez oprimeiro leilão para a fonte.Realizado em dezembro, o leilãonegociou 1,8 mil MW de parquesa serem construídos até 2012.No mês seguinte, uma série defabricantes já anunciava proje-tos, engavetados até então naespera por demanda, de im-plantar fábricas Brasil — casodas multinacionais GE, Sie-mens, Vestas, Alstom e outras.

“A implantação dessa indús-tria é irreversível. Mas, não ha-vendo continuidade, é menoscustoso para elas desativarem oparque do que se manterem sematividade”, diz Silveira, daAbeeólica. Nos cálculos da asso-ciação, a fonte precisa ter leilõesregulares por pelo menos 10anos para consolidar o mercadono Brasil e, com sorte, ainda fa-zer do país base de exportaçãopara a América Latina.

Segundo o presidente da EPE,é natural que a fonte componha

regularmente os próximos lei-lões. A intenção é que integremos chamados A-3, que vendempara as distribuidoras a energia aser utilizada três anos à frente.

Estes leilões são realizadosanualmente, desde 2005, com oobjetivo de garantir o abasteci-mento futuro. Nos últimos anos,priorizaram as térmicas, maisrápidas e baratas de entraremem serviço, mas mais poluen-tes. A partir deste ano, o objeti-vo do governo é priorizar asfontes renováveis, como hidre-létricas, eólicas e biomassa. ■

Energia eólica terá leilões anuaisPara governo, fonte já se mostrou competitiva e deve passar a integrar as rodadas regulares de compra de energia

Hélices em fábrica alemã: primeirosnegócios já estão atraindo indústria

multinacional ao Brasil

Barbara Sax/AFP

Na últimanegociação, emagosto, fonte vendeu2 mil megawattsa um preço médiode R$ 130, maisbarata que as demaisfontes alternativas,como a biomassa

PANORAMA INTERNO 2

Quase 60% das indústrias brasileirasainda sentem efeitos da crise, apura CNIDois anos após o pior momento da crise financeira internacional, 59% dasindústrias brasileiras atingidas ainda sentem os efeitos do abalo, segundosondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Entre aspequenas empresas, esse porcentual chega a 63%. Entre as grandes, eleé de 46%. O estudo revela ainda que 21% das empresas que cancelaraminvestimentos por causa da crise ainda não conseguiram retomá-los.

CUSTO DE VIDA

Inflação medida pelo IPC-S registraterceira semana consecutiva de elevaçãoA inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S)registrou inflação de 0,40% na terceira prévia de setembro, segundoa Fundação Getúlio Vargas (FGV). Esta foi a terceira semana seguidade aumento do indicador. Na prévia anterior o índice já havia avançado0,31%. Segundo a FGV, cinco das sete classes de despesa usadas paracálculo do indicador apresentaram acréscimos em sua variação de preços.

Henrique Manreza

18 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

EMPRESAS

Luiz [email protected]

A usina de etanol foi fabricadaem Piracicaba (SP) e as colhe-doras de cana-de-açúcar saí-ram de Sorocaba (SP). Mas aunidade está no Sudão, o maiorpaís africano, a quase 10 milquilômetros. Com projetos am-biciosos de produção de açúcare álcool, grupos sudaneses es-tão buscando no Brasil as má-quinas e equipamentos paracrescer—e, possivelmente,para competir com o próprioBrasil no mercado global.

A Kenana Sugar Company,maior usina de cana do Sudão,já tem uma indústria de etanolfabricada pela Dedini e usacolhedoras CNH, do grupoFiat, fabricadas no Brasil. “Es-tamos negociando a comprade mais duas usinas da Dedi-ni”, disse o diretor-geral daKenana, Mohammed El MardiEl Tegani, que participou dereunião com empresários naCâmara de Comércio ÁrabeBrasileira e está no Brasil par-ticipando de uma missão co-mercial do ministro da Indús-tria do Sudão, Awad Al-Jaz .

A Kenana produz 4 milhõesde toneladas de cana por ano.Segunda maior usina do Sudão,a estatal Sudanese Sugar Com-pany produz 3,75 milhões detoneladas e também enviou re-presentantes para a missão noBrasil. O volume de cada umadelas é equivalente a uma usinade grande porte do mercadobrasileiro, mas novas unidadesvêm pela frente.

No total, os programas de in-vestimento da Kenana para ospróximos dois anos são de cercade US$ 2 bilhões, mas não háuma estimativa de quanto dessevalor pode ser dedicado a pro-dutos brasileiros. A companhiaestá construindo duas novasusinas de cana, cada uma comcapacidade para produzir 500mil toneladas de açúcar. Cominvestimento de US$ 600 mi-lhões, a Kenana II entra em ope-

ração no ano que vem e já vaipermitir que o Sudão volte a serum exportador de açúcar.

A demanda por maquináriobrasileiro deve se aquecer tam-bém porque os novos projetos, aexemplo do que acontece poraqui, já nascem 100% mecani-zados, sem plantio ou colheitamanuais, afirma El Mardi.

Mas a companhia sudanesaestá atenta aos custos das má-quinas agrícolas importadas — omaior custo de uma usina, se-gundo a própria Kenana — ecriou uma subsidiária paradesenvolver e fabricar essasmáquinas. O mesmo caminhofoi adotado na área de engenha-ria e consultoria industrial, queganhou uma empresa própria.

União EuropeiaEssa onda de crescimento daKenana, que já existia em fun-ção dos países árabes, agora temseu alvo na União Europeia. Acompanhia criada em 1975sempre respondeu à necessida-de dos países árabes em garantirsuprimento de alimentos — osgovernos do Sudão, do Kwait eda Arábia Saudita têm juntosmais de 70% da empresa. Mas anova política açucareira daUnião Europeia está transfor-mando o bloco em um grandeimportador de açúcar, e as ex-colônias africanas gozam deisenção tarifária total para ex-portar aos países-membros.

O negócio tornou-se inte-ressante independentementedos interesses estratégicos ára-bes. Tanto que a Kenana criouum fundo de private equitypara empreendimentos agríco-las com objetivo de captar atéUS$ 1 bilhão, grande parte cominvestidores privados. Os go-vernos do Sudão e do Egito in-jetaram US$ 100 milhões cada,e a iniciativa privada sudanesainvestiu mais US$ 60 milhões.“Começaremos um road showpelos países árabes na próximasemana e esperamos chegar aUS$ 500 milhões até o fim doano”, afirma El Mardi. ■

Os projetos deinvestimento dacompanhia paraos próximos doisanos somam US$ 2bilhões, com focona exportação paraa União Europeiae a construção demais duas usinas

Projeto sudanêsMegaprojeto do governo sudanêsquer multiplicar por 12 aprodução, ingressando no etanol

Os investimentos da Kenana eda Sudanese Sugar estão come-çando a tirar do papel o GrandePlano para o Açúcar, criado pelogoverno sudanês para tornar opaís um dos maiores exportado-res mundiais da commodity e,em segundo plano, de etanol. Oprograma prevê a construção de12 novas usinas, a um custo totalestimado em US$ 24 bilhões. Aprodução atual, de cerca de 1milhão de toneladas de açú-car, deve saltar para 12 mi-

lhões, segundo o diretor-geralda Kenana, Mohammed ElMardi El Tegani. “O Sudão temseis usinas em operação e já hámais três em construção”, dizo ministro da indústria do paísafricano, Awad Al-Jaz.

A serem atingidas nos próxi-mos 10 anos, as metas coloca-riam o Sudão entre os maioresprodutores de açúcar do mun-do, e entre os líderes na expor-tação da commodity, atrásapenas do Brasil.

A segurança alimentar dospaíses árabes e a possibilidadede exportação sem tarifas para aUnião Europeia explicam o in-

EXPANSÃO

US$ 600 mié quanto a Kenana II vaiabsorver em investimentos. Anova unidade entra em operaçãono próximo ano permitindo queo Sudão volte a exportar açúcar.

PRODUÇÃO

4 milhõesde toneladas é o total decana que a Kenana colheatualmente por ano. Trata-seda maior usina do Sudão.

Kenana, do Sudão,vem ao país buscarmáquina para canaMaior indústria da área no país africano já produz etanol comequipamentos da Dedini e negocia mais duas usinas com a brasileira

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 19

...AWAD AL-JAZ

Ministro daIndústria do Sudão

TRÊS PERGUNTAS A...

“Oferecemos o Sudãocomo base parao Brasil na África”

As missões comerciais e oficiais doSudão ao Brasil se intensificaramnos últimos cinco anos, depois deum acordo de paz entre o governoe rebeldes do sul do país dar inícioa um processo de estabilidade.Agora os sudaneses queremtecnologia brasileira para explorarseus potenciais na área agrícola ede petróleo.

Quais as maiores oportunidadesdo Sudão para as empresasbrasileiras?O Sudão é o maior país da Áfricae o que tem mais terra fértil nocontinente. Há grandespossibilidades de investimento naárea agrícola, e já há brasileirosplantando grãos no Sudão.Oferecemos o Sudão como basepara vocês expandirem os seusnegócios na África. Há recursoshídricos, minerais e petróleo.

Qual é o potencialsudanês para as empresasbrasileiras de agronegócios?Vemos potencial especialmente noaçúcar e em maquinário. Essasoportunidades já começaram aaparecer, como a fábrica de etanolda Dedini. Temos seis fábricas deaçúcar e mais três em construção,todas com potencial para brasileiros.

Como é a relação institucionalentre Brasil e Sudão?Construímos boas relações com aChina, a Índia e a Malásia, e agorachegou a vez do Brasil. Esta é amaior delegação sudanesa a vir aoBrasil e há vontade por parte dosdois governos de estreitar asrelações. Um próximo passo deveser a integração bancária, parafacilitar o intercâmbio entre os doispaíses. O Sudão está preparadopara se beneficiar do crescimentoque o Brasil está vivendo. L.S.

Marcela Beltrão

é investir US$ 24 bi no açúcarteresse do país em explorar comcana suas terras férteis à beirados rios Nilo — o Nilo Branco e oNilo Azul se encontram na capi-tal Cartum para formar o Nilo.Mas a Kenana está investindotambém na diversificação paraproduzir óleos vegetais, como ode amendoim e o de girassol, eatender à demanda local.

EtanolO plano do governo engloba aprodução de 700 milhões de li-tros de etanol, voltada princi-palmente ao mercado europeu.Contudo, está em vigor a exi-gência de mistura de 5% de ál-

cool na gasolina vendida no Su-dão, mas apenas em regiões emque a logística permite a distri-buição. “Vamos atender essademanda com cerca de metadeda produção da fábrica da De-dini”, diz El Mardi.

A fábrica, com capacidadepara produzir 65 milhões de li-tros do biocombustível por ano,entrou em operação na últimasafra. Neste ano, a previsão de ElMardi é exportar 30 milhões delitros para a União Europeia,sem nenhuma tarifa, e fornecer25 milhões de litros para aten-der toda demanda doméstica —o Brasil consome mil vezes mais

etanol. “Já avisamos a Dedinique queremos dobrar nossa ca-pacidade de produção e estamosnegociando”, afirma o principalexecutivo da Kenana.

Embora não exporte volumessignificativos de açúcar e álcoolpara a União Europeia por contadas altas tarifas de importação,o Brasil tem nos países árabes eda África grandes compradoresde açúcar, que podem se tornarclientes dos sudaneses. Nigéria,Arábia Saudita, Egito, Argélia,Síria, Emirados Árabes Unidos,Irã e Marrocos estão entre os dezmaiores importadores de açúcarbrasileiro. ■ L.S.

Se atingidas,as metas colocariamo Sudão entreos líderes mundiaisna commodity,com grandepotencial deconcorrer como Brasil nosmercados árabes

Divulgação

Usina da Dedinique opera no Sudão

JBS-Friboi vai à Justiça italianaA empresa ajuizou ontem uma medida cautelar na Justiça italiana contra osadministradores delegados da Inalca JBS, joint venture com o grupo italianoCremonini. O objetivo é que esses diretores, indicados pelo sócio italiano,assinem os procedimentos para que o diretor financeiro da Inalca, Ricardo Meira,retorne ao cargo. Segundo o frigorífico, após trabalhar por 60 dias, buscandoinformações sobre como a Inalca reduziu fortemente o Custo do Produto Vendidona operação de seu frigorífico em Modena, Meira foi suspenso pela Inalca.

Chris Warde-Jones/Bloomberg

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

vitaderm.com

wwwUm conceito de Beleza Sustentável

EMPRESAS

20 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

Nos Estados Unidos, a rede delocadoras de vídeo Blockbusterencaminhou um pedido deconcordata como parte de umacordo pré-arranjado com cre-dores que vai reduzir a dívidade quase US$ 1 bilhão, o equi-valente a R$ 1,72 bilhão, paracerca de US$ 100 milhões. A de-terminação vale apenas para omercado americano, onde aempresa enfrenta dificuldadespor causa da concorrência comoutras locadoras, como Netflix eRedbox, que alugam filmes pelainternet. No Brasil a Blockbusternão tem mais operação desde2007, quando vendeu seus pon-tos à Lojas Americanas.

O pedido para o Capítulo 11da Lei de Falências dos EstadosUnidos foi encaminhado ao Tri-bunal de Concordatas de Man-hattan. Em 30 de setembro ven-ceria o prazo de um acordo declemência fechado anterior-mente entre a empresa e os de-tentores de bônus.

Conforme o combinado entreas duas partes e que permitiu opedido de concordata, os deten-tores de bônus seniores daBlockbuster, a quem a empresadeve US$ 630 milhões, vão tro-car sua dívida por ações na com-panhia reestruturada. Os acio-nistas e os detentores de bônusjuniores, a quem a companhiadeve US$ 300 milhões, terão dearcar com o prejuízo. Os deten-tores de bônus seniores tambémvão fornecer à companhia atéUS$ 125 milhões em financia-mento para custear a reestrutu-ração. O empréstimo para aconcordata será convertido emfinanciamento de saída quandoa empresa se recuperar. Mais de80% dos detentores de bônusseniores da Blockbuster assina-ram o acordo de reestruturação.

Brasil sem reflexosAs unidades brasileiras foramvendidas em janeiro de 2007para a Lojas Americanas por

R$ 186,2 milhões. Os 127 pon-tos originais foram transfor-mados integralmente em lojasAmericanas Express e o direitode uso da marca Blockbusterfoi adquirido por 20 anos.

A Blockbuster divulgou quenão vai fornecer financiamentopara suas operações na Argentina,que têm passado por repetidosmomentos de falta de fluxo decaixa operacional. Em comunica-do separado, a Blockbuster noCanadá divulgou que não está in-cluída no processo de recupera-ção judicial e que todas as suas

operações prosseguem normal-mente. No início deste ano, a redeinformou que iria fechar quase10% de suas lojas. Os consumido-res têm preferido serviços on-linede filmes como Netflix, em vez dealugar DVDs em lojas físicas.

A Movie Gallery, rival daBlockbuster no mercado ameri-cano, encaminhou pedido deconcordata em fevereiro. Apesarde a rede ter inicialmente planeja-do se reestruturar, em maio aca-bou optando por liquidar suasoperações completamente. ■ Re-dação com agências internacionais

Dívida de US$ 1 bilhão levaBlockbuster à concordata nos EUAMarca não conseguiu transferir-se à internet, meio de aluguel de filmes preferido pelos americanos

No Brasil, a empresanão tem maisoperação. Asunidades locais foramvendidas, em janeirode 2007, para a LojasAmericanas, quetransformou todas os127 pontos de vendada locadora em lojasAmericanas Express

CARREIRA

Ericsson abre inscrições paraPrograma de Estágio 2011A Ericsson recebe até o dia 18 de outubro inscrições para o Programa deEstágio 2011 pelo site www.ericsson.com.br. As vagas são para as cidadesde São Paulo, Rio de Janeiro e São José dos Campos. O programa começaem janeiro de 2011 e os candidatos devem estar matriculados a partirdo segundo ano em cursos como Engenharia, Administração, Sistemasde Informação, Psicologia, Economia, Direito e Ciências Contábeis.

SUSTENTABILIDADE

Governo lança plano para promoverprodução e consumo sustentáveisO Ministério do Meio Ambiente colocou para consulta pública em seusite o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis destinadoa fomentar a mudança para padrões mais sustentáveis de produçãoe consumo. São ações na área de educação para o consumo, construçõessustentáveis, agenda ambiental na administração pública e no varejoe reciclagem de resíduos sólidos para serem articuladas em conjunto.

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Kevork Djansezian/AFP

BRASIL

R$ 186,2 mifoi o valor pago pela LojasAmericanas pelos pontos devenda e pelo direito de uso damarca Blockbuster em territórionacional por 20 anos. O negóciofoi fechado em janeiro de 2007.

LOJAS AFETADAS

3 millojas da Blockbuster estãoem operação nos EstadosUnidos atualmente. A redeanunciou planos para fecharentre 500 e 800 unidadesdurante a concordata.

Rede de locadoras não resistiu àconcorrência com Netflix e Redbox,

que alugam filmes pela internet,entregando os DVDs na casa do

clientes ou permitindo o download

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 21

outubro

BPO e novas tecnologias.

Casos de sucesso e controle de qualidade de atendimento

Autoridades do poder público debatem as potencialidades do Rio de Janeiro como Polo de Telesserviços.

Defesa do consumidor, relação de trabalho, terceirização e excelência no Relacionamento.

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Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

22 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

EMPRESAS

Natália Flach, de Vitória*[email protected]

O investimento de aproximada-mente R$ 70 milhões, feito nes-te ano, para ampliar e moderni-zar a fábrica de placas de granitodo grupo espanhol Cosentino noBrasil não foi suficiente paraatender à demanda interna eexterna. Por isso, a fabricantevai desembolsar outros R$ 11milhões, em 2011, para adquirirquatro máquinas, contratar 50funcionários e aumentar o pátioonde são depositados os blocosde granito, que hoje comporta 5mil unidades que vão de 3 a 30toneladas cada. Os recursos sãoprovenientes da matriz espa-nhola e serão pagos pela subsi-diária na forma de dividendos.

Com o novo aporte, o volumeexportado — que representa70% do total produzido pelaunidade — vai aumentar 41,7%epassar dos atuais 36 mil metrosquadrados para 51 mil metrosquadrados, já no ano que vem.Isso significa que em vez dedespachar 140 contêineresmensalmente pelo porto de Vi-tória, a companhia passará aembarcar 200. “Com isso, de-veremos pular da terceira para asegunda posição entre os ex-portadores de granito, de acor-do com o ranking anual do Mi-nistério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior”,afirma Sidclei Mathielo, presi-dente da Cosentino no Brasil.Em primeiro lugar, está a em-presa Mineração Guidoni segui-da pela Thorgran Granitos.

Os principais mercados dasubsidiária são os Estados Uni-dos — que sozinhos represen-tam 50% do faturamento daCosentino no mundo — e a Es-panha. De acordo com Barto-lomé Benítez Gázquez, diretorde negócios da Cosentino paraa América Latina, o grupo devefaturar este ano algo equiva-lente a R$ 845,5 milhões. “Onúmero é muito próximo ao

faturamento do ano passado,devendo ser, no máximo, 5%maior que em 2009. Mas para oano que vem esperamos umcrescimento mais expressivo”,afirma o executivo.

Já no caso da subsidiária bra-sileira, que representa cerca de70% do total de vendas daAmérica Latina, o faturamentodeste ano deve ser de R$ 55 mi-lhões. “Quando começamos aoperação no país, em 2006, anossa receita era de R$ 21 mi-lhões”, compara Mathielo. “Amaior parte da nossa produçãoé exportada, porque lá fora ogranito é mais nobre que o már-more”, afirma. E como o már-more tem espaço garantido nasedificações mais sofisticadas doBrasil, a subsidiária importacerca de 20 contêineres por mêsdo material. As vendas mensaispara o mercado interno somam4,5 mil metros quadrados demármore e 6 mil metros qua-drados de granito e quartzitos.

“Vendemos em dólar as pla-cas de granito, mas compramosem euro os blocos de mármo-re”, diz o presidente da compa-nhia. Outra dificuldade encon-trada pela subsidiária diz res-peito aos custos do transporteno Brasil. Segundo Mathielo, ofrete ficou 30% mais caro nesteano. “Aliado a isso, houve redu-ção da hora de trabalho dos fun-cionários passando de 8 para 5com duas horas extras. Issotambém impactou o custo finalde produção. ” A mudança é re-sultado de um novo acordo sin-dical da categoria.

De acordo com Gázquez, nomomento, não há interesse de aCosentino se tornar mineradorano Brasil, como ocorre na Espa-nha. “Os gostos mudam, porisso é arriscado investir na mi-neração do granito e depois nãoter tanto mercado”, justifica.Os blocos são comprados defornecedores do Ceará, EspíritoSanto e Minas Gerais. ■ *viajoua convite da empresa

Cosentino ampliaexportação deplacas de granitoEstados Unidos e Espanha são os principais destinos dosprodutos e vendas ao mercado externo devem aumentar 40%

NO EXTERIOR

70%é a parcela da produção quea Cosentino vende fora doBrasil. Os principais clientesno exterior estão nos EstadosUnidos e na Espanha.

FATURAMENTO

R$ 55 mié quanto a Cosentino prevêfaturar no Brasil este ano.Em 2006, quando iniciouas atividades no país,foram R$ 21 milhões.

Receita no Brasildeve alcançar R$ 55milhões neste ano.O país respondepor 70% das vendasna América Latina

AVIAÇÃO 1

Iberia aprova plano para financiar déficitde fundo de pensão da British AirwaysO acordo elimina o último grande obstáculo para concluir a fusão dascompanhias até o final deste ano. A Iberia tinha o direito de desistirdo negócio de US$ 8 bilhões, que criará a terceira maior companhiaaérea do mundo, caso não aceitasse o acordo entre a British e seuspensionistas. “Esta decisão representa outro passo rumo ao processode fusão”, afirmou a Iberia em nota após reunião do conselho.

AVIAÇÃO 2

Tam testa sistema de check-in por celularou computador, sem impressão de cartãoO sistema tem início nesta e na próxima semana em fase de testes,nos aeroportos de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. A empresa nãofez previsão para a implementação do sistema em outros aeroportos. Aofazer o check-in pelo site da empresa, por meio de um celular conectadoà internet, é criado um cartão de embarque eletrônico com um código debarras que pode ser enviado por e-mail ou mensagem instantânea (SMS).

Marcela Beltrão

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 23

Novos depósitosdevem melhorarlogística no paísCompanhia programa unidadesem Brasília ou Goiânia, PortoAlegre, Belo Horizonte e Recife

A operação da Cosentino noBrasil está hoje concentrada noEspírito Santo. Mas, de acordocom Sidclei Mathielo, presiden-te da subsidiária, no ano quevem, serão construídos peque-nos depósitos próximos aosprincipais mercados consumi-dores do país. “Estamos estu-dando entrar em Brasília ouGoiânia, Porto Alegre, Belo Ho-rizonte e Recife”, afirma o exe-cutivo, acrescentando que o va-lor de cada centro de distribui-ção será de R$ 500 mil. “Hoje,dependendo da encomenda de-moramos até 20 dias para entre-gar. Mas com os depósitos oprazo cairá para dois dias.”

A companhia tem em esto-que atualmente 120 mil metrosquadrados de pedras naturais eSilestone, que é uma mistura dequartzo natural e cristal colori-do. De acordo com BartoloméBenítez Gázquez, diretor de ne-gócios da Cosentino para aAmérica Latina, o produto que

tem a maior rentabilidade para ogrupo é o Silestone. “Há cincoanos, as vendas do produto re-presentavam 90% do nosso fa-turamento, mas com a entradade novos materiais, como o gra-nito, este número caiu para70%. O granito já responde por15%”, diz. O executivo acres-centa que não está nos planos dacompanhia começar a produçãodo Silestone no Brasil, apesar deo país ser produtor de quartzo.

No mundoO grupo está presente em 52países e estuda entrar na Aus-trália, no ano que vem, e na Ve-nezuela, em 2013. “Por enquan-to a Índia não está nos nossosplanos”, conta Gázquez, apesardo crescimento do mercadoconsumidor e da produção localde granito. Além deste movi-mento de expansão, a Cosentinovoltou às suas origens. Nesteano, os fundadores da fabrican-te compraram a participação deum sócio americano na empresapor R$ 200 milhões. “É o queeles denominaram de CosentinoOne”, conta Gázquez. ■ N.F.

EXPORTAÇÃO

56,4 milmetros quadrados de placas degranito devem ser exportadaspelo grupo a partir do próximoano com investimentos paraelevar a produção.

FÁBRICAS

2unidades estão no portfólio daConsentino, uma em Almería,na Espanha, de onde se extraie se faz o polimento de chapas demármore e quartzo, e no Brasil.

PAÍSES NO MUNDO

52é o número de lugares ondea Cosentino atua. Em 32 deles,o grupo possui estrutura própria.Ao todo, são 14 pedreiras deexploração de pedra natural.

Bartolomé BenitezGázquez, diretor de

negócios para a AméricaLatina e e Sidclei

Mathielo, presidente daCosentino no Brasil

Jorge Luiz Sagrilo

PESQUISA

Embrapa inicia formalmente seuprocesso de internacionalizaçãoUma medida provisória publicada no Diário Oficial de ontem altera aredação da Lei que criou a estatal, liberando-a a exercer “qualquer dasatividades integrantes de seu objeto social fora do território nacional,em conformidade com o que dispuser seu estatuto social”. A Embrapaainda não se pronunciou oficialmente, mas técnicos da empresacomentam que a estatal poderá ter mais flexibilidade em suas ações.

AÇÚCAR E ÁLCOOL

Louis Dreyfus avalia abrir capital de suasunidades de bioenergia, incluindo a do BrasilA informação foi publicada pelo jornal britânico Financial Times.A oferta mais provável seria a da área de bioenergia, que incluietanol e açúcar no Brasil, Estados Unidos e Europa. Segundo o jornal,as discussões, que surgiram após a morte do herdeiro RobertLouis-Dreyfus, estão em estágio muito inicial e os membros dafamília podem acabar decidindo contra a venda.

Divulgação

MAKRO ATACADISTA S.A.C.N.P.J. nº 47.427.653/0001-15 - NIRE 35.300.114.060ATA DA ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁRIA

REALIZADA EM 10 DE SETEMBRO DE 2010.Data, Horário e Local: 10 de setembro de 2010, às 10:00 horas, na sede social da Companhia, na Cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, na Rua Carlos Lisdegno Carlucci, nº 519. Presença: Acionistas representando a maioria do capital social da Companhia. Mesa: Dennis Casey, Presidente; e Christina Fontana Guerini, Secretária. Convidados: Edwin Adriaan Leijnse - Conselheiro; Roger Allan Anthony Laughlin Guevara, Diretor Presidente; Willem Hendrikus van Leeuwen - Vice-Presidente de Finanças - Diretor Financeiro. Convocação: A convocação foi realizada através de edital publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo nos dias 02, 03 e 04 de setembro de 2010, e no jornal “Brasil Econômico” nos dias 02, 03 e 06 de setembro de 2010. Ordem do Dia: Deliberar acerca de alterações nas características da 1ª emissão de debêntures da Companhia, aprovada pela Assembléia Geral Extraordinária de 21 de agosto de 2009. Deliberações Tomadas na Reunião: Observado que todas as alterações abaixo elencadas dependerão de aprovação pelos Debenturistas em Assembléia Geral de Debenturistas (“AGD”) a ser oportunamente realizada, foram aprovadas, por acionistas representando a maioria do capital social votante da Companhia, as seguintes alterações nas características das debêntures da 1ª Emissão da Companhia: (i) o prazo de vigência das Debêntures passará a ser de 36 (trinta e seis) meses, a contar de 24 de setembro de 2010 (“Nova Data de Vencimento” e “Data de Corte”, respectivamente); (ii) a amortização do principal será feita em parcela única, na Nova Data de Vencimento; (iii) a remuneração das Debêntures passará a corresponder, a partir da Data de Corte, exclusive, à acumulação de 107,95% (cento e sete, e noventa e cinco centésimos por cento) da Taxa DI descrita na Escritura de Emissão (“Remuneração”); (iv) a Remuneração será paga semestralmente, em parcelas iguais e sucessivas, ocorrendo no último dia útil do 12º (inclusive), 18º, 24º, 30º e 36º mês a contar da Data de Corte (“Datas de Pagamentos da Remuneração”); e (v) as Debêntures poderão ser resgatadas antecipadamente pela Companhia através de uma oferta de resgate antecipado total ou parcial, condicionada à aprovação dos Debenturistas, pelo seu Valor Nominal acrescido da Remuneração, e acrescido, se for o caso, de prêmio de resgate que, a exclusivo critério da Companhia, venha a ser oferecido no âmbito da oferta de resgate antecipado. Ficam ratificadas todas as demais características e condições da Emissão originalmente aprovadas pela Assembléia Geral Extraordinária de 21 de agosto de 2009, e constantes da Escritura da Emissão. Lavratura e Leitura da Ata: nada mais havendo a ser tratado, foi oferecida a palavra a quem dela quisesse fazer uso e, como ninguém se manifestasse, foram encerrados os trabalhos e suspensa a reunião pelo tempo necessário à lavratura desta ata no livro próprio, a qual, reaberta a sessão, foi lida, aprovada e por todos os presentes assinada. Acionistas Presentes: SHV INTERHOLDING A.G., p.p. Dennis Casey; Edwin Adriaan Leijnse. Certifico que a presente é cópia fiel da ata lavrada no livro próprio. Ass. Christina Fontana Guerini - OAB/SP nº 99.940 - Secção do Estado de São Paulo. Certidão: Certifico que a presente é cópia fiel da ata lavrado em livro próprio. Christina Fontana Guerini - Secretária - OAB/SP nº 99.940. JUCESP nº 345.928/10-6 em 22.09.10. Kátia Regina Bueno de Godoy - Secretária Geral.

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

24 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

EMPRESAS

Regiane de [email protected]

O português António Quina, fun-dador da empresa A Vida é Bela,que vende pacotes de experiên-cias ou sonhos na área de turis-mo, está de mudança para o Bra-sil para acelerar a consolidação desua companhia por aqui. Ele é es-pecialista em tornar realidadesonhos como viajar de balão, di-rigir uma Ferrari ou passar umanoite em um castelo. O clienteadquire um vale-experiência daempresa e depois só marca a datapara realizar o sonho.

O produto é pouco conhecidono Brasil, e a estratégia de cres-cimento da empresa passa peloreforço no canal de distribuição.Mas, enquanto não consegueconvencer gigantes do varejo,como Pão de Açúcar, Walmart eCarrefour, a separar um espaçoem suas gôndolas para as caixasvermelhas que embalam os va-les, Quina dá início ao comércioon-line. A Vida é Bela investiuR$ 1 milhão para transformarseu site institucional em pontode venda, com estreia previstapara 15 de outubro. “Em Portu-gal, vendemos € 2 milhões(cerca de R$ 4,5 milhões) sópela internet”, diz o empresá-rio. Hoje, o principal canal dedistribuição dos pacotes são aslojas da Fnac em São Paulo, Riode Janeiro, Porto Alegre, Ribei-rão Preto e Campinas.

A Vida é Bela foi criada em2002 em Portugal e chegou aopaís quatro anos depois, mas nãoobteve o desenvolvimento espe-rado. “Errei em não ter acompa-nhado de perto a internacionali-zação da empresa”, diz Quina.Ele diz que agora está mais pre-parado para o mercado nacional,e tem pressa. “Tenho a ideia fixade que 2011 há de ser o último anoem que o mercado português seráo maior em representatividadepara os negócios”, afirma.

Esta não é a única convicçãodo empresário. No próximo ano,

ele quer ser líder no segmento depacotes de experiências no Brasil,à frente de concorrentes como aamericana Smartbox. A expecta-tiva é chegar a 2013 com um fatu-ramento global de € 150 milhões.

Em Portugal, a empresa prevêalcançar neste ano vendas de € 35milhões, quase três vezes o fatu-ramento de 2009, que foi de € 10milhões. As vendas, somadas aomercado espanhol, devem chegara € 60 milhões este ano. O Brasiltem uma representatividade pe-quena, próxima a R$ 1 milhão.

Questão de atitudeReverter a pequena participaçãodo Brasil no curto prazo pareceutopia, mas a descrença diverteQuina. “Passei anos pregandopara convencer os canais de dis-tribuição tradicionais a aceitaremo produto”, diz. Em 2007, A Vidaé Bela teve vendas de € 50 mil emPortugal. No ano seguinte, saltoupara € 500 mil, chegando, em se-guida, a € 10 milhões. “Tivemosde acreditar e ser persistentes,pois atuamos em um mercadonovo na área de turismo”, afirma.“Temos de explicar que não ven-demos sanduíches, mas sim o vi-nho, o contato com o pequenoprodutor, o turismo local.”

De acordo com Quina, na Eu-ropa, os produtos de experiênciarepresentam cerca de 3,5% dasescolhas dos consumidores parapresentear. “No Brasil, esse nú-mero é muito pequeno, masacreditamos que vá chegar a0,5% da demanda em 2012. Issorepresenta um consumo supe-rior a R$ 300 milhões”, afirma.

Quina diz ainda que o cresci-mento da empresa será puxadopelos sonhos da classe média enão da população mais rica. Ecomo realizar sonhos é a sua es-pecialidade, Quina afirma queestá cada vez mais perto de reali-zar o seu: dar a volta ao mundo. Amudança para o Brasil é o primei-ro passo. O catamarã de Quina vaicomeçar a viagem, deixando Lis-boa rumo ao Brasil, em breve. ■

A Vida é Belavende sonhos pelainternet no BrasilPara driblar resistência do varejo nacional, subsidiáriada companhia no país lança portal de comércio on-line

Em Portugal,a empresa prevêvendas de € 35milhões este ano.Valor é quase trêsvezes o faturamentode 2009, que foide € 10 milhões.Se forem somadasas vendas aomercado espanhol,o montante sobepara € 60 milhõeseste ano

TELECOMUNICAÇÕES

Mercado global de roaming devecrescer 86% nos próximos cinco anosAté 2015, o mercado global de roaming deve gerar uma receita deUS$ 67 bilhões, alta de 86% em relação a este ano, e que representa 6,3%do faturamento total das operadoras móveis no fim do período. Segundoa consultoria Informa Telecoms & Media, apesar da expectativa de queas receitas caiam levemente até 2012, pela retração da economia e pelatentativa dos clientes de economizar, espera-se que o mercado se recupere.

TECNOLOGIA

Facebook trabalha em dois smartphones,que podem ser lançados este anoO Facebook está trabalhando com a fabricante de celulares INQ Mobilepara criar dois modelos de celulares inteligentes que podem ser vendidospela operadora AT&T, afirmou a Bloomberg. Os aparelhos viriam comserviços para o popular site de redes sociais e devem ser lançados naEuropa na primeira metade de 2011 e, nos Estados Unidos, no segundosemestre deste ano. Nenhuma das empresas comentou o assunto.

Tony Avelar/Bloomberg

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Tour ExperiênciaProjeto desenvolvido emparceria com o Ministério doTurismo pretende divulgarhistória, tradição e cultura locais

O Projeto Economia da Expe-riência, também conhecidocomo Tour Experiência, aindacarece de estrutura de distribui-ção, afirma Márcia Ferronato,gestora do programa na RegiãoSul. A iniciativa, desenvolvidaem formato piloto em 2006, apartir de iniciativa de oito mu-nicípios da Região Uva e Vinhodo Rio Grande do Sul, oferece

pacotes de experiências aos tu-ristas que querem conhecer aregião. A ideia foi ampliada em2008 para quatro outros desti-nos brasileiros — Costa do Des-cobrimento (BA), Petrópolis(RJ), Bonito (MS) e Belém (PA)—, mas ainda conta com poucasagências de viagens credencia-das para vender os destinos.“Nosso desafio é vender. Emgeral, o produto turismo não éencontrado em prateleiras equando falamos em turismo deexperiências, o processo de ven-da é mais trabalhoso”, afirmou

António Quina, presidente da Vida É Bela: mercado de pacotes deexperiências deve movimentar R$ 300 milhões no país em 2012

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 25

COMPUTADORES

Dell é processada por se recusar a concedercrédito a cliente interessado em ir à CubaO Ministério Público do Rio de Janeiro ajuizou ação contra a Dell por elase recusar a conceder crédito para a compra de computadores a clientesinteressados em viajar para Cuba. Segundo o promotor Rodrigo Terra, aempresa confirmou não vender nesses casos devido ao embargo dos EUAao país. Terra diz que a Justiça deve analisar em breve liminar que obrigaa empresa a efetuar vendas, sob pena de multa diária de R$ 50 mil.

DISPUTA

Youtube ganha processo de propriedadeintelectual da TelecincoO Youtube venceu um processo aberto pelo canal espanhol Telecinco, quealegava violação de direitos autorais. O juiz considerou a impossibilidadedo site controlar mais de 500 milhões de vídeos que abriga e destacouque a empresa não realiza trabalho editorial sobre os mesmos. A sentençadetermina que titulares de direitos autorais identifiquem e notifiquem oYoutube, de forma individualizada, sobre eventuais violações.

Ed Lallo/Bloomberg

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

CONDOMINIO FAZENDAVILA REAL

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Segmentoganha versãoporta a portaO Melhor da Vida deve lançar,no início de 2011, distribuição porvenda direta, no modelo Natura

O turismo de experiência, comosão chamados os pacotes que sepropõem a realizar um sonho quevai desde um fim de semana ro-mântico no litoral a um passeio debalão, pouco a pouco tambémconquista o mercado corporativo.Sorte da empresa O Melhor daVida, lançada há cinco anos peloGrupo Orange Soluções, que tra-balha com eventos para esse pú-blico. Focada neste tipo de produ-to, a O Melhor da Vida tambémencontrou muita resistência paraconvencer clientes corporativos acomprar seus pacotes, seja parabrindes ou como premiação parafuncionários. Vencido esse pri-meiro obstáculo, ela agora sonhaem ampliar o negócio com a ven-da porta a porta.

Jorge Nahas, sócio da empresa,prevê fechar o ano com fatura-mento de R$ 6,5 milhões, umaalta de 60% em relação a 2009.“Nossa dificuldade foi criar cultu-ra de que ir a um spa e jogar golfpoderia ser para todos”, diz. Hoje,ele vende 80% dos pacotes parapessoas jurídicas e 20% para oconsumidor final. Nos últimoscinco anos, foram vendidos 350mil pacotes voltados a campa-nhas de fidelização ou de premia-ção, para mais de 120 empresas.

E Nahas agora quer melhorar aparticipação do varejo na receita.Ciente de que a negociação noscanais de distribuição tradicio-nais é complicada, está investin-do em um modelo de venda por-ta a porta. “Vamos lançar a ven-da direta no início do próximoano”, afirma Nahas, que partici-pou do Fórum Mundial Amforht2010, realizado no Centro Uni-versitário Senac, em São Paulo,juntamente com concorrentescomo A Vida é Bela. “Queremostrabalhar com vendedores queatuem como formadores de opi-nião e ajudem na divulgação denosso catálogo de experiências”.

A empresa quer ganhar corpopara sonhar mais alto: exportarseus produtos para a Europa. “Es-tudamos ir para a França, paíscom maior participação mundialno segmento de viagens de expe-riência”, afirma. ■ R.O.

ainda carece de distribuidoresMárcia, durante o Fórum Mun-dial Amforht, da AssociaçãoMundial para a Formação emHotelaria e Turismo, realizadoesta semana no Centro Universi-tário Senac, em São Paulo.

O Tour Experiência é pro-movido em parceria com o Mi-nistério do Turismo, o Sebrae,o Sindicato dos Hotéis, Res-taurantes, Bares e Similares daRegião Uva e Vinho e o Insti-tuto Marca Brasil, e foi inspi-rado em teorias que mostramuma mudança no perfil doviajante. Esses estudos mos-

tram que o turista não quer sermais um sujeito meramentecontemplativo e sim o ator desua própria experiência.

O foco do programa é incen-tivar o turismo rural, as trocasculturais, divulgando a históriae as tradições locais. “O projetoajuda na valorização das comu-nidades, que percebem queseus valores são apreciados”,diz Márcia. Ela afirma aindaque, além do site, a divulgaçãoé feita pelas redes sociais. “Te-mos bons resultados com essasferramentas”, diz. ■ R.O.

“Nosso desafio é vender.O produto turismonão é encontrado emprateleiras e quandofalamos em experiência,a venda é mais trabalhosa”

Márcia FerronatoGestora do ProjetoEconomia daExperiência

“Nossa dificuldade foi criarcultura de que voar de balão,ir a um spa e jogar golfpoderia ser para todos.”

Jorge NahasSócio daO Melhor da Vida

Fotos: Henrique Manreza

Divulgação

TURISMO DE EXPERIÊNCIA

Modelo dependedos vales-presenteMais do que vender um destino,as empresas que trabalhamno segmento de turismo deexperiência vendem a possibilidadede realização de desejos, além docontato com a história e a culturade determinado local. Vivenciare não só contemplar é a palavra-chave do segmento, que apostano modelo de vales-presentee de brindes corporativos paraa distribuir os “pacotes desonhos”. O tema foi discutidodurante o Fórum Mundial Amforht2010 — Turismo de Experiênciae Formação Profissional,promovido pela primeira vezem São Paulo. O evento ocorrea cada dois anos e é itinerante.

26 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

TERÇA-FEIRA

EMPREENDEDORISMOSEGUNDA-FEIRA

EDUCAÇÃOINOVAÇÃO & TECNOLOGIA

Carolina [email protected]

Uma nova tecnologia vai acele-rar a produção de um novo mo-delo de veículo fabricado pelaFiat no Brasil. Trata-se da solda-gem a laser, desenvolvida pelaComau, empresa de automaçãoda montadora. O método per-mite soldar as partes da porta de

um veículo em menos detrinta segundos, segundo

Laerte Scarpitta, dire-tor de operações in-

dustriais daComau.

Entreas van-tagensem re-l a ç ã oao sis-

t e m aconven-

c i o n a l ,de solda a ponto,

está a utilização maisprecisa, reduzindo apossibilidade de erros.Além disso, o robô quefaz soldas a laser tra-balha a uma distânciade até um metro emeio do veículo,eli-

minando contato das pinçascom as chapas. Ou seja, o robônão precisa chegar à estruturada peça para soldar.

A Fiat não revela qual o novomodelo que utilizará a tecnolo-gia em seu processo de produ-ção no Brasil, mas Scarpitta ga-rante que o laser fará com que oprocesso de solda seja de 20% a30% mais rápido que o con-vencional, diminuindo o tem-po total de produção do carro.A tecnologia foi desenvolvidana Itália, onde é utilizada nafabricação do Idea. Também éusada nos Estados Unidos.

Scarpitta admite que o siste-ma é mais caro que o conven-cional, mas afirma que o ganhoem produtividade gerado com-pensa o gasto maior com a tec-nologia de soldagem. “Acredi-tamos que o modelo seja ado-tado por outras montadoras noBrasil. Estamos em negocia-ção”, diz o diretor.

Momento propícioPara Mauro Carlos Andreassa,

professor do curso de pós-gra-duação em engenharia automo-tiva do Instituto Mauá de Tec-nologia, o momento vivido peloBrasil é propício para assimilar

Laser vai acelerar processo deMontadora adotou no Brasil robô que permite a diminuição do tempo de soldagem em até 30%, acelerando o

Soldagem a laseré mais precisa quea convencional e,por isso, reduz apossibilidade deerros. Sistematambém é utilizadona Itália e nos EUA

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 27

QUINTA-FEIRA

SUSTENTABILIDADEQUARTA-FEIRA

GESTÃO

produção na Fiatprocesso de fabricação de um modelo que será lançado este ano

Giuseppe Aresu/Bloomberg

Divulgação

Pesquisa, desenvolvimentoe competitividadeO mercado automobilístico brasileiro é bastante dinâ-mico e o país ocupa hoje a quarta posição mundial emtamanho do setor. Não é à toa. Ainda em 2014, devemoschegar a 4 milhões de veículos produzidos, e para ospróximos anos, a previsão é o Brasil continuar a apre-sentar crescimento interno atrativo não só para as in-dústrias instaladas aqui, mas também para outros par-ticipantes do mercado. No entanto, para a indústria na-cional não perder competitividade em médio prazo, épreciso avançar rápido no quesito inovação.

As oportunidades se apresentam, não só no mercadointerno, mas no desenvolvimento de soluções que pos-sam atender as necessidades de outros países. Isso por-que, apesar de cada mercado ter suas próprias caracte-rísticas, os limites entre eles ficam cada vez mais tê-nues, e o gosto do consumidor se aproxima em funçãoda globalização. Neste sentido, as necessidades mun-diais se traduzem em carros mais confortáveis, leves emenores, e com grande desempenho, característicasestas que atendem à questão da melhor mobilidade ur-bana. Isso sem falar que a indústria, diante de uma exi-gência do mercado, busca respostas para aumentar aeficiência do veículo, reduzir o consumo e oferecer so-

luções mais amigáveisdo ponto de vista ener-gético e ecológico.

Então, a engenhariabrasileira tem um cam-po fértil pela frentepara desenvolvimentode soluções inovado-ras. Na motorização,por exemplo, há umaforte tendência para aeletrificação do motor.No entanto, pelo me-nos aqui no Brasil, osveículos elétricos aindaatenderão apenas umnicho específico demercado no médio

prazo e a maior parte da frota de automóveis continuaráa ser produzida com os motores a combustão.

Nesse segmento, o Brasil possui excelente tecnologiacom a utilização do etanol e dos motores flex, que mini-miza a dependência do petróleo – uma inovação da nossaengenharia e uma vantagem que o país deve aproveitar einvestir ainda mais. Por isso mesmo, há ainda imensasoportunidades de se reduzir o consumo de petróleo ape-nas otimizando as plataformas atuais, pela redução damassa veicular e aumento da eficiência energética. Vejaque campo interessante para se investir em inovação.

Economizar combustível e reduzir emissões vai alémda questão da motorização e pode ser alcançado tambémcom desenvolvimento de tecnologias aplicadas a outrossistemas e componentes, além do desenvolvimento demateriais, como plástico, para reduzir a massa do veícu-lo.O cenário é propício. Apesar disso, uma pesquisaapresentada recentemente num simpósio da Sae Brasilmostrou que o nível de investimentos em pesquisa e de-senvolvimento pela indústria no Brasil está aquém doglobal. Nos fornecedores, por exemplo, é de 0,5% contra3,1% globais, o que resulta em indisponibilidade de en-genheiros, falta de tecnologia e poucas patentes.

É fato que a concorrência acirrada estimula a deman-da de projetos, mas para galgar ainda mais espaço no ce-nário mundial, e também no mercado interno, precisa-mos suprir deficiências como a qualificação profissional,custos elevados e problemas de logística, além de inves-tir em pesquisa e desenvolvimento. Só assim daremosum grande salto em inovação e competitividade. ■

EGON FEICHTERPresidente do CongressoSae Brasil 2010, voltadopara tecnologia da mobilidade

Pesquisa mostrouque o investimentoem pesquisa edesenvolvimentopela indústriaautomobilísticano Brasil estáaquém do global,o que resulta empoucas patentes

PARA O CONSUMIDOR FINAL

BluetoothO recurso vem integradoao painel e permite falar aocelular sem tocar no aparelho.O sistema utiliza o sistema desom e alto-falantes disponíveis noveículo. A Citroen, por exemplo,disponibiliza o Bluetooth paratodos os modelos no Brasil.

Enquanto inovações tecnológicas como a da soldagem a laser não são percebidaspelo usuário final, outras têm tudo para cair no gosto do consumidor brasileiro

novas tecnologias no setor au-tomobilístico. Para ele, o grandeobstáculo sempre foi a escalapequena, que tornava as inova-ções muito caras, problema queestá sendo resolvido com ocrescimento das vendas. Paraele, um dos fatores que impul-siona a adoção de novas tecno-logias é o design: quanto maissofisticado, mais ele vai exigirdas etapas de produção.

Além disso, o especialistaafirma que os processos demanufatura são sempre per-meados por conceitos de esto-

que zero, conduzindo à adoçãode novas tecnologias como a desoldagem a laser, por exemplo,que diminui o tempo de pro-dução do automóvel. “O obje-tivo é o tempo de processa-mento do produto na fábricaser o mínimo possível”.

Inspiração japonesaO conceito é inspirado naToyota, a primeira a adotar ochamado “Lean Manufactu-ring”, sistema que tem por ob-jetivo aumentar a eficiência daprodução pela eliminação con-

tínua de desperdícios. Outroconceito utilizado pela Toyota,o “pull”, do verbo puxar eminglês, diz que quem determi-na a quantidade e a velocidadeda produção da fábrica é ocliente, também está sendoadotado em larga escala.

Para implementação dessesconceitos na prática, inovaçõestecnológicas serão cada vezmais demandadas. “As monta-doras não querem veículo pa-rado no pátio”, afirma An-dreassa.A soldagem a laser pa-rece ser só o começo. ■

MemóriaPara aqueles que compartilhamo veículo com outro motorista,o banco com memória podeser a solução para o problemado ajuste do assento.Já está disponível no mercadoa tecnologia que posicionaautomaticamente o banco.

Painel 3DPesquisadores alemãesdesenvolveram um tipo de painelque funciona como uma tela 3D,mostrando velocidade, rotação domotor e outras informações úteispara o motorista. O sistema demensagens emite alertas sobre ahora de reabastecer, por exemplo.

À esquerda, o robô desoldagem a laser que a Comau

trouxe ao Brasil e, acima, linhade montagem da Fiat na Itália

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28 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

ENCONTRO DE CONTAS

LURDETE ERTEL

Acaba de brotar do mar no litoral docondado de Kent, no Reino Unido,o maior parque eólico offshore do mundo.Batizado de Thanet, o empreendimentoinaugurado ontem recebeu cercade € 900 milhões em investimentodo grupo sueco Vattenfall.São 100 torres de captação da energia

dos ventos esparramados em alto-mar,alcançando 115 metros sobre a água.Com a inauguração do parque eólico deThanet, o Reino Unido passa a somar2,9 mil turbinas de vento no mar eem terra - estrutura suficiente parasuprir a energia de toda a Escócia.Até o início de operações do

empreendimento britânico, o maiorparque eólico marinho do mundoficava ali perto, na Dinamarca.Mas o título será provisório: Thanetdeixará a liderança quando for inaugurado,também no Reino Unido, o LondonArray, que deverá ter 340 turbinasrodopiando as pás em alto-mar.

“Levamos emconsideraçãoo Brasil. Essefilme reflete umpouco a nossavida. Lula éuma estrela aquie fora daqui”Roberto Farias, presidente daAcademia Brasileira de Cinema,rebatendo as críticas à escolha dofilme Lula - O filho do Brasil parareprentar o país na disputa poruma das cinco vagas no Oscar,na categoria de melhor filmeem língua estrangeira.A superprodução, consideradauma das mais caras do país,recebeu apenas 1% dos votosna enquete do MinC.Para o público, o candidatobrasileiro à estatueta deveriaser o filme Nosso lar, querecebeu 70% do total doscerca de 130 mil votos.

Dom Quixote em alto-mar

AFP

TerrenofértilNão é só a Petrobrasque aduba projeto defabricação de uréiapara reduzir adependência brasileira defertilizantes importados.Enquanto a estatalprepara terreno paraconstruir uma fábricabilionária em TrêsLagoas (MS), um pool deempresas privadas gestauma planta industrial damatéria-prima no estadodo Paraná – terceiromaior consumidor defertilizantes do país.O consórcio Conapar éintegrado pelas empresasMacrofértil, Penínsulae Unisoft, além dacooperativa Coonagro.E planeja investirUS$ 300 milhões naconstrução de umafábrica com capacidadepara 330 mil toneladasde ureia por ano.A meta do projetoé tornar o Paranáautosuficiente naprodução de fertilizantes.

Punk e macarrão

Vai ter o embalo de uma grifeinternacional da música o primeiroprojeto da nova divisão de esporte eentretenimento da Dentsu no Brasil.A agência acertou dueto coma Mondo, que está trazendoao país em outubro a bandade punk rock americana Green Day.Pela dobradinha, a Dentsufará a promoção da marcaCup Noodles durante os showsda turnê brasileira do grupo.O Green Day tem apresentaçõesprogramadas no Rio deJaneiro (15/10), Brasília (17/10)e São Paulo (20/10).

Na onda

Fabricantes de lanchas tambémestão de olho na maré alta daindústria petrolífera brasileira.Para pegar a onda do boomde negócios desencadeadospelo pré-sal, a Magna Estaleiros,especializada em barcos deesporte e lazer, reforçou a HLV,seu braço voltado para amanutenção de equipamentosnavais, como balsas erebocadores.Além de ampliar as instalações,a HLV deve gerar mais de200 empregos diretos.A expectativa é faturar, já noprimeiro ano, cerca de R$ 20milhões com o novo segmento.

Chaves no andaime

Depois de construir o NovotelSantos Dumont, recém-inaugurado pela Accor eGalwan no Rio de Janeiro, aPerformance EmpreendimentosImobiliários está negociandomais quatro projetos de hotéis.Todos na Barra da Tijuca.

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Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 29

[email protected]

Entre tapase beijosParece que os boatosrecentes de que AshtonKutcher estaria pulandoa cerca não abalaramo apaixonadorelacionamento do atorcom a atriz Demi Moore.Enquanto participavamdo lançamento dacampanha Homens deVerdade, que tem comoobjetivo combater aexploração sexual infantil,o casal chamou a atençãopela troca de chamegosem público. Os atores sãocofundadores da Demi &Ashton Foundation, quetem fechado parceriascom grandes sites debusca e relacionamento,como Google e Facebook,para impedir o aumentodesse tipo de crime.O lançamento aconteceudurante o Encontro Anual2010 da Clinton GlobalInitiative, presidida peloex-presidente dos EUABill Clinton, em Nova York.Além do meloso casal,o evento contou com apresença do presidente dosEUA, Barack Obama,e um time de celebridades.

Timothy A. Clary/AFP

Torcida esticada

O Corinthians vai ganharsua quarta loja fora doestado do São Paulo.Sob o comando de Luis PauloRosenberg, diretor de marketingdo clube paulistano, a redePoderoso Timão está abrindouma unidade em Ponta Grossa,no Paraná.Além das filiais na capital ecidades de São Paulo, a bandeirajá tem operações em Brasília (DF),Maringá e Londrina (PR).

Voz com brisa

A cantora portuguesa Teresa Salgueiro, que durante anosfoi a voz do Madredeus,está de volta ao Brasil.A estrela foi escalada pelo grupoLena, também de Portugal,para embalar o lançamentode um novo projeto imobiliário daempresa no mercado brasileiro.O show no Teatro Castro Alves,em Salvador, no sábado,apresentará o Residencial MárioCravo, localizado no litoral entreSalvador e o Parque Pituaçu.

E vão rolar as festasA cidade de São Paulo acaba de ganhar mais um palcopara a realização de eventos.O novo Espaço Villa Lobos, do empresário Roger Blahaem parceria com Sérgio Spina, contou com investimentosde R$ 5 milhões. De acordo com a SPTuris, a capital paulistatem cerca de um evento a cada seis minutos.A casa já tem 18 eventos fechados até dezembro.

● Vai até o dia 7 de outubroo Festival do Rio, o maior festivalde cinema da América Latina.O evento, patrocinado pelaRioFilme, exibirá 300 filmes.● A coluna marcou touca:a linha Smart é fabricadapela Mercedes-Benz.

MARCADOFotos: divulgação

GIRO RÁPIDO

Faraônico

A Latitudes – Viagens deConhecimento, em parceriacom a Casa do Saber,lança o roteiro Egito –No tempo dos faraós.A viagem apresentauma experiência única,que é conhecer o Egitoem companhia do professorAntonio Brancaglion Jr,egiptologista.

Espaço baiano

A Avis Rent a Car inaugura,neste mês, em Ilhéus, naBahia, a quinta loja no estado.Inicialmente, a unidade contacom 20 veículos de quatrocategorias, com previsãode dobrar para a temporada deverão. A Avis tem previsão decrescimento de 25% em 2010.

Florzinha

A Marca de roupas Florestá lançando sua linha deroupas infantis, a Florzinha.Na coleção de estreia amarca se inspirou em suasraízes e encontrou nas floresa essência para construircada peça. A Florzinhaproduz modelos parameninas de 2 a 10 anos,elaborados em tecidosde fibras 100% naturais.

Com Karen [email protected]

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A cor do dinheiro é azul ou rosa

Diamantes raros e caros voltam a reluzir na temporada de leilões do Norte.Duas destas pedra preciosas serão as estrelas literalmente mais cintilantesdo catálogo de joias que a Christie’s levará ao martelo no dia 20 de outubro,em Nova York. A dupla de diamantes (ao lado) faz parte de um anel desenhadopela Bulgari na década de 1970.Composto por uma pedra azul triangular de10,95 quilates e uma incolor de 9,87 quilates,o precioso Bulgari Blue Diamond tem preçoestimado em US$ 12 milhões. Se alcançara cifra, será um dos diamantes mais carosjá vendidos no mundo.

Dias antes, será leiloada no Canadá outrapedra reluzantemente rara – esta rosada.Saído de uma mina da Austrália,o diamante pink está avaliado emUS$ 3 milhões – valor que pode fazerdele a joia mais cara já vendida no país.O comprador terá o direito de dar nomeà preciosidade, ainda não batizada.

30 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

FINANÇAS

Thais [email protected]

No Brasil há a cultura do “nuncavai acontecer comigo”. Ou a deque Deus é brasileiro e, por isso,por aqui não há catástrofes na-turais, como os furacões nos Es-tados Unidos e os terremotos noChile. Fenômenos climáticosrecentes mais acentuados, al-guns inéditos no Brasil, porém,têm feito às pessoas repensaremseus conceitos.

O aumento da percepção derisco tem impulsionado a vendade seguro residencial no país,modalidade ainda incipiente. Osegmento cresceu 20% entre ja-neiro e agosto deste ano, emcomparação a igual período doano passado, com faturamentode R$ 703,5 milhões, de acordocom dados da Superintendênciade Seguros Privados (Susep).

“Esse crescimento vem aoencontro da cultura mundial deseguros. O Brasil ficou atrás,porque, por termos casas de ti-jolos, que pegam menos fogo doque as casas de madeira dos Es-tados Unidos e da Europa, aquinão há a cultura de se comprarseguro residencial”, compara asuperintendente de linhas pes-soais da Chubb Seguros, Pris-cilla Tamura Magni.

“Segundo dados do IBGE,existem aproximadamente 54milhões de residências no Bra-sil, mas apenas 12% têm algumtipo de cobertura patrimonial”,diz Marco Antonio Gonçalves,diretor gerente da Bradesco Se-guros. Até julho, a carteira deseguros residenciais do grupocresceu 63% em relação aomesmo período de 2009.

BarreirasOutra barreira à contratação daapólice para residência é umacomparação errônea que as pes-soas costumam fazer entre opreço do seguro de automóvel eo de residência. Como a apólicede carros costuma custar, emmédia, 5% do valor do veículo,costuma-se fazer a mesma regra

de três para o seguro da casa, oque tornaria a contratação muitocara. “Enquanto o preço do se-guro de auto varia entre 3% a10% do valor do veículo, o de re-sidência chega, no máximo, a1% do valor do bem”, diz Gui-lherme Olivetti, gerente de pro-dutos patrimoniais de linhaspessoais da Chubb. Segundo ele,o preço varia conforme o valordo bem e do nível de cobertura.

As coberturas mais tradicio-nais incluem proteção de incên-dio, queda de raio, explosões,danos elétricos, responsabilida-de civil e roubos. Há, também,opções de cobertura adicional,como para joias e obras de arte.A maior frequência de pedidosde indenizações é por danoselétricos e roubo, segundo Gil-berto Duarte de Abreu Filho, di-retor de seguros, previdência ecapitalização do Santander.

Ele comenta, no entanto, quesão eventos como a chuva de gra-nizo que aconteceu nesta semanaem Guarulhos, os vendavais nointerior de São Paulo e no RioGrande do Sul e as inundações noNordeste que estão aumentando apercepção de risco da população.Em Guarulhos, por exemplo, oSantander mapeou seus clientes eagiu de forma pró-ativa. Enviouprofissionais especializados paraverificar os estragos nas casas.

Como diz a propaganda dopróprio Bradesco: “ninguémquer ter que usar o seguro, masvai que...” ■

Efeitos climáticosimpulsionamseguro residencialChuvas de granizo, vendavais e inundações atraem consumidorpara esta apólice, que sofre com a desinformação sobre preços

O segmento cresceu20% entre janeiroe agosto, comfaturamento deR$ 703 milhões

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

A FRASE

“Somente 12%das casas no Brasiltêm algum tipode cobertura”

—Marco Antonio Gonçalves,

diretor- gerente do

Grupo Bradesco Seguros

Divulgação

Nova apóliceProcesso de contrataçãoe regulação dos sinistrosserá simplificado

O Bradesco lançou, ontem, umseguro residencial específicopara os moradores do morroDona Marta, na zona sul do Riode Janeiro. Para atender à popu-lação do morro, o “Bradesco Bi-lhete Residencial Estou Seguro”tem o processo de contratação eregulação de sinistros simplifi-cada. “Os seguros tradicionaisexigem o preenchimento do en-

dereço, e no morro não há nomede ruas, é a ‘rua do bar’ ou da‘casa da Dona Joana’”, contaMarco Antonio Gonçalves, di-retor gerente do Grupo Brades-co Seguros. Ele conta que escri-tura ou contrato de locação doimóvel são o tipo de requisitosque não serão pedidos na ocor-rência de um sinistro.

A cobertura mais simples,como proteção para incêndio,queda de raio e explosão de gásdoméstico, custa R$ 9,90 porano e tem cobertura de R$ 10

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 31

China descarta grande apreciação do iuaneO primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, descartou qualquerapreciação em larga escala do iuane, desafiando o aumento daspressões de legisladores dos Estados Unidos. Wen afirmou estarconfiante de que os desequilíbrios comerciais entre os dois paísesdiminuirão com o tempo. Ele disse também que vê um futurobrilhante nas relações bilaterais entre os EUA e a China, afirmandoque as duas nações são competidoras, mas parceiras cooperativas.

● Às 7h, a Fipe divulga a terceiraprévia do IPC de setembro.● Às 9h30, saem as encomendasde bens duráveis nos EUA (ago).● Às 11h, saem as vendas de novascasas nos EUA de agosto.● Às 14h, a CNI divulga o índice deexpectativa do consumidor (set).

AGENDA DO DIAAndrew Harrer/Bloomberg

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

para moradores de favela no RioCriação do segurofaz parte do projetodo Bradesco deeducação financeira

mil. São sete as opções de va-lores segurados oferecidos,que vão de R$ 10 mil a R$ 40mil, esta última com custoanual de R$ 48,60. Há, ainda,coberturas adicionais, de ven-daval, furacão, ciclone, torna-do, granizo, queda de aerona-ves, impactos de veículos ter-restres, responsabilidade civilfamiliar e de perda ou paga-mento de aluguel.

A criação desse seguro ex-clusivo para os moradores doDona Marta faz parte do projeto

de educação financeira “EstouSeguro”, criado a partir de con-vênio entre a Confederação Na-cional de Seguros (CNSeg) e aOrganização Internacional doTrabalho (OIT), assinado emdezembro de 2009. Entre ou-tros, o objetivo do projeto é fa-zer um laboratório para os mi-crosseguros na comunidade,para identificar que tipos deproteção essa população preci-sa, formas de distribuição e co-municação adequada.

Por questões regulatórias, a

apólice oferecida não pode sermodificada, mas para facilitar acomunicação do seguro, a Bra-desco Seguros desenvolveu umacartilha de oito páginas expli-cando as características do se-guro, que será oferecido por umcorretor morador da comunida-de, que foi treinado para conhe-cer o produto. Segundo Gonçal-ves, agora será desenvolvidouma apólice para os microem-presários do morro, já que essaapólice é apenas para imóveissem fins comerciais. ■ T.F.

■ PROTEÇÃO

12%

Residências brasileiras comalgum seguro patrimonial

■ CASAS

54milhões

Número de residênciasno Brasil

■ FATURAMENTO

R$703mi

Receitas de seguroresidencial até agosto

Ivan Asolin/SDR-S.M.Oeste

Seguro cobre destelhamentode casas atingidas por temporais

● O seguro pode ser contratadopelo proprietário ou pelolocatário (inquilino) do imóvel.

● A partir de R$ 9,90 épossível contratar o seguropelo prazo de um ano.

● Importância segurada podeir de R$ 10 mil a R$ 40 mil,esta última custa R$ 48,60.

PRODUTO PARA D. MARTA

32 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

FINANÇAS

Ana Paula [email protected]

O menor risco de inadimplênciae o aumento do mercado formalde trabalho levaram o Bradescoa elevar as apostas nas conces-sões de crédito consignado parao setor privado. A expectativa éque esse segmento seja respon-sável, até o final de 2011 por20% de toda a carteira de em-préstimos com desconto em fo-lha. Atualmente, a participaçãodos convênios privados é de14%. “Queremos aproveitar orelacionamento que temos comas empresas que são nossasclientes. Esse é um segmentoimportante para ser desenvolvi-do”, tem avisado o presidenteda instituição, Luiz Carlos Tra-buco Cappi, durante reuniõescom investidores e analistas.

Ao final do mês de agosto, ocrédito consignado no país to-talizava R$ 129,721 bilhões, se-gundo dados do Banco Central.Desse total, apenas 14,1% estãoem operações destinadas a tra-balhadores da iniciativa priva-da. O restante foi concedido aservidores públicos ou a benefi-ciários do Instituto Nacional doSeguro Social (INSS).

O menor interesse dos bancosnas operações com o setor priva-do é explicada pelo risco de de-semprego do tomador do crédito,em especial em momentos de de-saquecimento, e pelo fato de osconvênios com empresas priva-das, em geral, ter um número defuncionários menor do que o dosconvênios com o setor público.

No entanto, o Bradesco acre-dita que o potencial de cresci-mento do consignado ao setorprivado está maior hoje e o ban-co quer tirar proveito do fato defazer a gestão da folha de paga-mentos de 40 mil empresas, ex-

plica o diretor da Bradesco Pro-motora, Fernando Perrelli. “Es-tamos em um momento impor-tante da economia, com nível dedesemprego caindo. Temos es-paço para crescer sem risco aonosso trabalho”, diz.

O banco ocupa a terceira co-locação no ranking de créditoconsignado, com uma participa-ção de 10,1%, atrás de Banco doBrasil e BMG. Para elevar a fatia,o Bradesco aposta em mudançasno atendimento das agências epostos de atendimento bancário(PABs). Hoje, 2.400 têm funcio-nários dos correspondentes quesão especialistas na concessão decrédito consignado.

Com esse esforço, o bancoespera que os 2.700 convêniosprivados passem a gerar ummaior número de contratos de

crédito. Já o total de convêniospúblicos é de 1.450. Ao final dejunho, a carteira de crédito con-signado do Bradesco era de R$12,5 bilhões, sendo que R$ 7,650bilhões, ou 61,2%, são de em-préstimos com desconto em fo-lha concedidos pela própria ins-tituição. O restante vem de con-vênios firmados com bancos demenor porte, que fazem a ces-são de parcela da carteira.

Em relação à inadimplência,Perrelli admite que o risco aindacontinua elevado em compara-ção com o consignado concedi-do a funcionários públicos. En-quanto para os servidores a ina-dimplência está em média em1,80%, nas operações com tra-balhadores do setor privado osatrasos são equivalentes a quase4% da carteira. ■

OPORTUNIDADE

Estrangeiros têm interesse pelosistema financeiro nacional, diz BCOs investidores estrangeiros possuem interesse persistente no sistemafinanceiro nacional, afirmou o Banco Central no Relatório de EstabilidadeFinanceira, divulgado ontem. Das 22 aprovações para a constituiçãode novos bancos concedidas pelo BC entre 2006 e 2010, oito estavamsob controle estrangeiro. “O Sistema Financeiro Nacional continuano centro das atenções das instituições internacionais”, diz o texto.

DERIVATIVOS

Santander obtém autorização paraintegra-se ao Chicago Mercantile ExchangeO Santander obteve autorização para integrar-se ao Chicago MercantileExchange Group (CME), maior mercado de derivativos do mundo.Além disso, passou a fazer parte da Intercontinental Exchange. Comomembro desses mercados, o grupo torna-se fornecedor globalde serviços de execução e liquidação de futuros e opções listadas,completando sua presença nos principais mercados do mundo.

Henrique Manreza

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Murillo Constantino

PARTICIPAÇÃO

20%é quanto deve chegar a fatiado consignado ao setor privadono total dos empréstimos comdesconto em folha do Bradesco.Atualmente, esse segmentotem participação de 14% einadimplência é próxima a 4%.

CRESCIMENTO

68,1%foi o crescimento do consignadodo Bradesco nos 12 mesesencerrados em junho.O desempenho ficou acimado registrado pelo mercado,que foi de 34,4%, impulsionadopelas compras de carteiras.

Bancos davammenos atenção aoconsignado destinadoao setor privado,devido ao risco dotomador de créditoperder o emprego.O segmento ganhourelevância coma queda das taxasde desemprego

Bradesco querfatia maior doconsignadoprivadoEmpresas são responsáveis por 14% dosempréstimos com desconto em folha

Trabuco, doBradesco, apostano relacionamentocom empresas

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 33

CAPTAÇÃO

Volume de bônus no exterior deempresas brasileiras já supera o de 2009O volume de emissões de empresas brasileiras com bônus no exteriorpodem superar os US$ 40 bilhões em 2010. De acordo com dados daAssociação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e deCapitais (Anbima) obtidos pela Reuters, as captações corporativas combônus em 2010 até 22 de setembro somam US$ 30,2 bilhões, montantebem superior aos US$ 22,1 bilhões contabilizados em todo o ano passado.

ESTRANGEIROS

Investidores não residentes já representam10% de toda a dívida mobiliária federalO volume de investidores não residentes no país bateu mais um recordeem agosto ao representar 10,06% de toda a dívida mobiliária federalinterna, que é de R$ 1,52 trilhão. Em julho, esse percentual era de 9,54%.Segundo o coordenador-geral de operações da dívida pública,Fernando Garrido, sondagem prévia feita em durante este mês mostraque segue firme a perspectiva de crescimento desse montante.

Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

PREFEITURA DA ESTÂNCIA DE ATIBAIAPROCESSO N.º 24.642/10. CONCURSO N.º 001/10. OBJETO: Seleção de 01 (um) Projeto de Oficina Audiovisual Infantil a ser realizado em 02 (duas) escolas da rede municipal de Atibaia, indicadas pela Secretaria de Educação. O Departamento de Suprimentos, no uso de suas atribuições, comunica aos interessados que, de acordo com a Ata n° 187/10, foi revogada a presente licitação. A Ata está disponível no site www.atibaia.sp.gov.br. SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO, ATIBAIA/SP, 23 de setembro de 2.010 – Elaine Fontana Leite Soares – Gerente da Divisão de Licitações.

MAKRO ATACADISTA S.A.CNPJ/MF 47.427.653/0001-15 - NIRE nº 35.300.114.060

EDITAL DE CONVOCAÇÃO - ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIAFicam convidados os senhores acionistas do Makro Atacadista S.A. a se reunir em Assembleia Geral Extraordinária, que será realizada no dia 30 de setembro de 2010, às 10:00 horas, na sede social da Companhia, situada na Rua Carlos Lisdegno Carlucci, nº 519, na Cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, para deliberar acerca da incorporação da empresa Posto Via 11 Ltda. pelo Makro Atacadista S/A. Os acionistas, seus representantes legais ou procuradores, para participarem da Assembleia ora convocada, deverão observar as disposições previstas no artigo 126 da Lei nº 6.404/76, conforme alterada. São Paulo, 22 de setembro de 2010. Dennis Casey - Presidente do Conselho de Administração. (23,24,27)

PREFEITURA DA ESTÂNCIA DE ATIBAIAComunicamos que se acha aberta, no Departamento de Suprimentos desta Prefeitura, a licitação abaixo relacionada: PROCESSO N.° 6.925/10. TOMADA DE PREÇOS N.º 09/10. OBJETO: Contratação de empresa especializada, sob regime de empreitada global, com fornecimento de materiais e mão de obra, para construção da 2ª fase da piscina olímpica no complexo esportivo – CE Takao Ono – Jardim Imperial, Atibaia-SP. ENTREGA E ABERTURA DOS ENVELOPES: às 10 horas do dia 13 de outubro de 2.010, na Sala de Licitações, situada no Prédio do Antigo Forum, à Avenida Nove de Julho, 185, Centro. O edital e o CD poderão ser adquiridos na Tesouraria Municipal, à Av. da Saudade, 252, sala A - Centro, nos dias úteis, das 10h às 16h, mediante o pagamento de emolumento de R$ 50,00 (cinquenta reais); os esclarecimentos e as demais informações estarão disponíveis via internet pelo site www.atibaia.sp.gov.br e no Departamento de Suprimentos, à rua Bruno Sargiani, 100 – Vila Rica, Fone (11) 4414-2210 – Fax: (11) 4414-2632. Após recolher o emolumento na Tesouraria, a empresa deverá retirar o edital e o CD no Departamento de Suprimentos no endereço supra citado nos dias úteis das 9h às 12h e das 13h às 16h. A visita técnica obrigatória deverá ser agendada pelo telefone (11) 4414-5428 - Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente. O valor estimado da obra é de R$ R$ 550.000,00 (quinhentos e cinquenta mil). A garantia no valor de R$ R$ 5.500,00 (cinco mil e quinhentos reais) deverá ser realizada na Tesouraria Municipal. SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO, 21 de setembro de 2010. Andréa de Andrade Veríssimo de Souza – Diretora do Departamento de Suprimentos.

Simone [email protected]

O Banco Central deu um passoontem para tentar reverter aforça que tem ganho o mercadofuturo (derivativos) de nego-ciações com moeda estrangeira,em especial o dólar, no país. Odiretor de Política Monetária,Aldo Mendes, informou que aPtax — taxa média em dólaresdivulgada atualmente no finaldo dia pela autoridade monetá-ria — passará a ser anunciadamais quatro vezes, ou seja, porvolta das 10, 11, 12 e 13 horas. Onovo sistema entra em ativida-de a partir de julho do próximoano. “Mais divulgações da Ptaxpodem aumentar o volume nospot (à vista)”, afirmou, com-plementando que essa medidadará mais segurança aos agen-tes, reduzindo o risco nas ope-rações cambiais.Segundo fontes de mercado, ojogo cambial ficará mais claro.Isso porque, pelas normasatuais, as instituições financei-ras autorizadas que conversamcom o BC normalmente mani-pulavam o mercado, a seu fa-vor, por saberem previamenteque seriam consultadas sobre opreço do dólar. A partir de ju-lho de 2011, as consultas serãoaleatórias, o que reduziria opoder de fogo dos grandes par-ticipantes do mercado. Todosos dias nesses horários, o BCvai fazer consultas às 14 insti-tuições autorizadas a operar emseu nome –que chegam a re-presentar 90% das negociações– para saber as cotações cam-biais. Em seguida, divulgará amédia sem os valores extremos(maiores e menores) e, às 13horas, informará a média dosperíodos anteriores.

Mendes explicou que, omaior número de divulgaçõesda Ptax, pode reduzir a neces-sidade de um agente buscarum derivativo para se prote-ger. “Hoje alguns minutos en-tre a compra e a venda de moe-das no spot é suficiente paraperder dinheiro porque hápouca liquidez”, disse, com-plementando que o movimen-to automático dos operadores éfazer quase que simultanea-mente uma operação de vendano spot e compra no futuro.Isso porque ele não sabe qual

BC muda regras para tentar domar alta do realA taxa média em dólares, atualmente divulgada no

final do dia, passará a ter outros quatro anúncios

“Divulgar a Ptaxmais vezes podeaumentar o volumede negócios nomercado spot porqueos agentes vão deixarde operar menosàs cegas. E issoreduz bem o risco

Aldo Mendes,diretor de política monetária

do Banco Central

será a cotação no final do dia.“Por isso queremos dar maissegurança aos agentes e, comoresultado, acreditamos, o vo-lume à vista subirá”.

Ao longo do tempo, disse, omercado brasileiro se parecerámais com o resto do mundo. Asnegociações no futuro são, namédia, seis vezes maiores doque no à vista. Por isso, o pri-meiro tem forte influência sobreo segundo e é comumente usadaa expressão “o rabo que balançao cachorro”. O mercado à vistacomeçou a perder volume entre1999 e 2002, com a liberação docâmbio e o risco de crédito dascontrapartes nos contratos e aproteção era obtida no futuro.

Avaliação de integrantes daárea econômica é que, com umvolume muito reduzido nasoperações spot, fica mais fácilpara os operadores “manipula-rem” a taxa de câmbio em cer-tas ocasiões como a atual. Coma expectativa da entrada de dó-lares para a capitalização da Pe-trobras, foi iniciado movimentomais acentuado de apreciaçãodo real frente ao dólar. Isso le-vou o BC de volta às interven-ções diárias para a compra dedólares com o suporte, a qual-quer momento, do Fundo Sobe-rano do Brasil (FSB). ■

■ VOLUME

US$ 12 bi

As negociações no futurogiram em média

■ À VISTA

US$ 2 bi

Enquanto o montantenegociado no mercado spot é

■ DEALERS

14 instituições

A consulta sobre a cotaçãodo câmbio será feita a

■ PTAX

5 vezes ao dia

O Banco Central vai elevar onúmero de divulgações para

Divulgação

Aldo Mendes: “Ao longo do tempo,o mercado brasileiro se parecerácom o restante do mundo

34 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

INVESTIMENTOS

Fundo Data Rent. (%) Taxa Aplic. mín.12 meses No ano adm. (%) (R$)

ITAU PERS MAXIME RF FICFI 23/SET 8,73 6,49 1,00 80.000BB RENDA FIXA LP 50 MIL FICFI 22/SET 8,67 6,38 1,00 50.000BB RENDA FIXA LP ESTILO FICFI 22/SET 8,66 6,37 1,00 -CAIXA FIC EXEC RF LONGO PRAZO 22/SET 8,12 5,99 1,10 30.000CAIXA FIC IDEAL RF LONGO PRAZO 22/SET 7,58 5,61 1,50 5.000BB RENDA FIXA 5 MIL FIC FI 23/SET 7,48 5,54 2,00 5.000BB RENDA FIXA 200 FIC FI 23/SET 6,32 4,70 3,00 200BB RENDA FIXA 50 FIC FI 23/SET 5,82 4,35 3,50 50ITAU PREMIO RENDA FIXA FICFI 23/SET 5,44 3,99 4,00 300BB RENDA FIXA LP 100 FICFI 22/SET 5,34 3,98 4,00 100

932

937

942

947

952

17h10h

21.200

21.310

21.420

21.530

21.640

17h10h

68.100

68.475

68.850

69.225

69.600

17h16h15h14h13h12h11h10h

IBRX-100 MIDLARGE CAP - MLCXSMALL CAP - SMLLIBOVESPA

Fonte: BM&FBovespa

69.600,85 67.892,34 68.794,32

MáximaMínimaFechamento

(Em pontos)

1.330

1.334

1.338

1.342

1.346

17h10h

RECIBOS DE AÇÕES ESTRANGEIRAS NA BOVESPA

Acompanhe abaixo o desempenho em 2010 dos papéis em Nova York cujos BDRs não patrocinados ficarão à disposição dos investidores institucionais no mercado brasileiro

Especialistas creem que o formato de BDR não patrocinado deve cair ao longo do tempo. Servirá como uma “preleção” para sentir o interesse da pessoa física e, assim, avalizar o patrocínio das empresas

30

25

20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

APPLE MCDONALD’S AVON WAL MART PFIZER EXXON BANK OFAMERICA

GOLDMANSACHS

GOOGLE ARCELOR

Fontes: Nasdaq, Nyse e Brasil Econômico

-29,90

-17,18-14,17

-12,55-10,32

-6,32

0,37 0,95

19,54

37,10

Conrado [email protected]

A partir do dia 5 de outubro, a tela do home-broker dos investidores brasileiros estará ilus-trada pelas cotações de companhias do portede Apple, Google e WalMart. A data marca oinício das negociações dos chamados BrazilianDepositary Receipts (BDRs) não patrocinados,recibos de ações estrangeiras. Em outras pala-vras, o Deutsche Bank — que será o provedoroficial das operações — oferecerá um título quereplicará a performance do papel de algumadessas empresas no mercado de origem, forado país. Além das três já citadas, Bank of Ame-rica, Arcelor Mittal, Goldman Sachs, AvonProducts, Exxon Mobil, McDonald’s e Pfizer,todas listadas em bolsas americanas, rechea-rão o início do programa na BM&FBovespa.

Debruçado em seu homebroker, o investi-dor pessoa física não poderá atuar diretamen-te, caso decida virar sócio de algumas dasprincipais ações da bolsa de Nova York. Terá deadquirir os novos papéis apenas por meio defundos. “Se a pessoa física pudesse operar di-retamente, veria a novidade com melhoresolhos. Mas como não pode, isso vai ficar nasmãos dos institucionais que, eventualmente,não quiserem abrir uma operação offshore(fundos que aplicam recursos em ativos forado país) por considerarem mais custoso e vãocomprar no Brasil. Para o mercado brasileiro é

muito bom”, opina Jansen Costa, gerente denegociação eletrônica da Ativa. A pessoa físicaficará de fora. “Nas corretoras, vai ser umagrande procura junto de uma grande frustra-ção. As pessoas vão ver Apple na tela do ho-mebroker, mas não vão poder comprar. Atéprecisamos nos preparar operacionalmente,porque teremos que impedir a negociação”.

Os BDRs só poderão ser negociados porinstituições financeiras, fundos de investi-mento, além de administradores de carteira econsultores de valores mobiliários autoriza-dos pela Comissão de Valores Mobiliários(CVM). Uma maneira de diversificação, am-pliando o leque para o cenário macro de ou-tros países. Para especialistas do mercado, oevento será um marco para a renda variávelbrasileira começar a listar ativos novos e, dequebra, gerar mais receitas à bolsa. E a metamais óbvia são os BDRs patrocinados, nosquais a empresa, ao emitir ações em seu paísde origem, faz também o depósito no Brasil.“Vejo isso como um teste. O objetivo clara-mente é testar a receptividade deles no Brasile as plataformas de negociação, por isso o for-mato restrito. Em breve, poderemos atrairgente da América Latina, virando uma bolsacentralizadora regional”, analisa André Mas-saro, consultor financeiro da MoneyFit. ■

Testando apetite por ações estrangeiras

RENDA FIXA

Fundo Data Rent. (%) Taxa Aplic. mín.12 meses No ano adm. (%) (R$)

BB REFERENCIADO DI ESTILO FICFI 23/SET 8,44 6,22 1,00 NDITAU PER MAXIME REF DI FICFI 23/SET 8,43 6,17 1,00 80.000CAIXA FIC DI LONGO PRAZO 22/SET 7,01 5,21 2,00 100BB REFERENCIADO DI 5 MIL FIC FI 23/SET 6,81 5,05 2,50 5.000BB NC REF DI LP PRINCIPAL FIC FI 22/SET 6,48 4,82 2,47 100BB REFERENCIADO DI 200 FIC FI 23/SET 6,21 4,61 3,00 200HSBC FIC REF DI LP POUPMAIS 23/SET 5,76 4,36 3,00 30ITAU PREMIO REF DI FICFI 23/SET 5,17 3,84 4,00 1.000BRADESCO FIC DE FI REF DI HIPER 23/SET 4,77 3,50 4,50 100SANTANDER FIC FI CLAS REF DI 23/SET 4,40 3,29 5,00 100

DI

Fundo Data Rent. (%) Taxa Aplic. mín.12 meses No ano adm. (%) (R$)

CAIXA FMP FGTS VALE I 22/SET 17,32 (1,31) 1,90 -BB ACOES VALE DO RIO DOCE FI 22/SET 17,31 (0,32) 2,00 200ITAU ACOES VALE FUNDO DE INV 22/SET 16,25 (2,11) 3,00 1.000SANTANDER FIC FI ONIX ACOES 22/SET 3,88 (5,74) 2,50 100UNIBANCO BLUE FI ACOES 22/SET 3,67 (5,73) 5,00 200ITAU ACOES FI 22/SET 1,95 (8,22) 4,00 1.000MB FUNDO DE INV EM ACOES 22/SET (1,83) (4,88) 7,00 100ALFA FIC DE FI EM ACOES 22/SET (2,28) (9,56) 8,50 -BB ACOES PETROBRAS FIA 22/SET (26,20) (28,08) 2,00 200ITAU PETROBRAS FIA DA PETROBRAS 22/SET (28,16) (28,77) 3,00 300

AÇÕES

Fundo Data Rent. (%) Taxa Aplic. mín.12 meses No ano adm. (%) (R$)

REAL CAP PROT VGOGH 4 FI MULTIM 22/SET 10,44 8,38 2,30 5.000BB MULTIM TRADE LP ESTILO FICFI 22/SET 8,89 6,37 1,50 -CAPITAL PERF FIX IB MULT FIC 22/SET 8,62 6,41 1,50 20.000ITAU PERS K2 MULTIM FICFI 22/SET 8,56 5,83 1,50 50.000ITAU PERS MULTIE MULT FICFI 22/SET 8,38 5,94 1,25 5.000ITAU PERS MULT MODERADO FICFI 22/SET 6,68 3,78 2,00 5.000ITAU PERS MULT ARROJADO FICFI 22/SET 6,44 3,11 2,00 5.000REAL CAP PROT VGOGH 3 FI MULTIM 22/SET 6,23 3,36 2,50 10.000ITAU PERS MULT AGRESSIVO FICFI 22/SET 5,99 1,67 2,00 5.000SANTANDER FIC FI ESTRAT MULTIM 22/SET 5,87 3,56 2,00 50.000

MULTIMERCADOS

*Taxa de performance. Ranking por número de cotistas.Fonte: Anbima. Elaboração: Brasil Econômico

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 35

HOME BROKER

Objetivo da operação

Rompimento de resistência de alta

Resistência

Suporte

USIM5Obj ti d ã R i tê i USIM5

Fontes: Economatica e Brasil Econômico.

42,5

44,044 0

45,545 5

47,0470

48,548 5

50,050 0

51,551 5

53,0

42,50

44,00

45,50

47,00

48,50

50,00

51,50

53,00

23/SET16/SET08/SET30/AGO20/AGO12/AGO04/AGO

USIMINAS PNA, fechamento em R$

43,50

45,90

47,10

49,20

USIM5 rumo aos R$ 49,20, prevê Futura

O panorama de incertezas nos mercados em todo o mundo temsegurado o Ibovespa que, nas últimas semanas, andou “de lado”,conforme o famoso jargão dos financistas. Nesse sobe-e-desce quedeixa o índice paulista no zero a zero, considerando o acumuladoem 2010, as ações mais negociadas sofrem por tabela. Alã Mota,operador da Futura Investimentos, nota que os papéis voltados aossetores de siderurgia e mineração estão mais parados do que os dosbancos, por exemplo. Ele detecta uma oportunidade nos papéispreferenciais classe A (USIM5) da Usiminas. Atualmente na faixa dosR$ 45,15, o ativo acumula queda de 8,34% no ano. “Essa ação estáatrasada, a bolsa já voltou a subir e, se isso se mantiver, ela vai atrás,pois tem peso no índice”, afirma Mota. Segundo ele, há alguns dias,o papel tenta romper a região de R$ 45,80, após ter despencadonos últimos meses, da casa dos R$ 54,00. “Quando conseguir fazerisso, o ponto acima, de R$ 45,90, representará o rompimento deresistência). O objetivo dessa operação é R$ 49,20”, explica. Issoequivale a um potencial de valorização de 8,97%. “O suporte estána casa dos R$ 43,50 e teremos alguma resistência em R$ 47,10.Vai atrapalhar por um ou dois dias, mas não creio que vá cair.”

“Obrigado BTOW e Rossipor esse belo dia. Bradesco,atenção ao rompimento”

@phdi, escritório de investimento comentao pregão. O papel da B2W fechou em queda

de 1,27 % e o da Rossi subiu 2,32%

“Ibovespa rompe resistênciaimportante com ajuda de #Petro,mas poderia ter fechado melhor. ”

@traderproportal, portal de investimentos em ações

“O Boi vencimento SET/10 segueacumulando no topo do movimentode alta, rompendo a resistência em94,40, abre espaço para compra comobjetivos em 96,00 e mais distante em97,30. Apenas volta a sinalizar queda,perdendo o suporte em 91,97”

GradualAgro, blog de análise gráficade mercadorias da Gradual Corretora,

sobre contrato futuro de boi, em reais

“Recomendo ir com cautela, masassim como todo investidor deve terações em carteira, também acho quedeveriam ter fundos imobiliários. ”

@rcinvestimentos, consultor Raphael Cordeirosugere a investidores compra de cotas de fundos imobiliários

NA REDE

Investigação

A Comissão de ValoresMobiliários (CVM) descartou o usode informação privilegiada nasnegociações à vista com açõesda TAM no dia em que foi anunciadaa fusão com a chilena LAN (13de agosto). A CVM iniciou asinvestigações em virtude doaumento no volume negociadoe da oscilação de preços dos papéisda TAM. “Até a divulgação, às 16h02,da iminência da assinatura dememorando de entendimentos entrea TAM e a LAN Airlines não havianenhum movimento atípico comas ações da TAM na BM&FBovespa.Verificava-se, inclusive, discretatendência de baixa no preço dasações, com volume negociadodentro dos padrões usuais daquelepapel”, apontou comunicado. A CVMinformou que, apesar de não terverificado indícios de uso deinformação privilegiada nosnegócios realizados no dia 13 deagosto no mercado à vista comas ações, continuará investigandoa atuação de investidores nomercado de direitos de subscriçãode papéis da companhia.

CVM descarta uso deinformações privilegiadasnas negociações à vistacom ações da TAM

...FABIANO CALIL

Consultor financeiro

TRÊS PERGUNTAS A...

Clínica financeiraatende investidoresna Expo Money

amanhã, cerca de 400 pessoas.Até o fim do dia de ontem, maisde 40 atendimentos haviamsido prestados nos pequenosconsultórios coordenados peloconsultor financeiro Fabiano Calil.Só no primeiro dia a Expo Moneyrecebeu 5 mil visitantes.

Quais estão sendo as principaisdemandas dos atendidos?As demandas mudam de praça parapraça. Em Vitória, por exemplo,praticamente todos os atendidoseram pessoas endividadas. Já noRio, Curitiba e Belo Horizonte,apareceram mais investidores. Eragente que já tinha patrimônio,querendo saber o que fazer com ele.Em São Paulo, o público costuma ser

mais eclético. Já atendemos pessoasque querem fazer uma viagempara o exterior, se organizar paraa aposentadoria, teve quem queriasó arrumar o orçamento paranão sair da linha e ainda os quebuscam o melhor investimento.

Como anda o humor dosinvestidores neste ano?A crise foi muito didática para osinvestidores. As pessoas deixaramde ficar eufóricas e ficaram maiscomedidas, sem sair do mercado.Não vi as pessoas fugindo. Masvejo a cautela só no investimentoem ações. No que diz respeitoa consumir, tomar crédito,endividar-se a longo prazo,elas estão muito otimistas.

Percebemos que, considerando ocrédito imobiliário mais as dívidasde consumo e todo o resto, cercade metade do orçamento dasfamílias está comprometidacom alguma coisa comprada nopassado e estará comprometidapor pelo menos cinco anos.

Nunca houve tantocrédito disponível paraas pessoas físicas...Vejo que as pessoas têmcapacidade de endividamentode mais de 100% do que dispõemde renda. O risco disso, daquipara frente, é a inadimplência.Os grandes prejudicados com issoserão as famílias. A educaçãofinanceira é uma grande aliada.

BOLSAGiro financeiro

R$ 9,2 bilhõesfoi o volume financeiro registrado ontem no segmentoacionário da BM&FBovespa. O principal índice encerroua sessão com variação positiva de 0,69%, aos 68.794 pontos.

JUROContrato futuro

11,52%foi a taxa de fechamento do contrato futuro de DI com vencimentoem janeiro de 2012, o de maior liquidez ontem. O giro nestecontrato foi de R$ 17,7 bilhões, em 203.755 contratos negociados.

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

EVENTO

Últimas vagas paracongresso de finançasestruturadas

Terminam na segunda-feiraas inscrições para o 1º CongressoUqbar de finanças estruturadas,que será realizado na quartano Hotel Meliá, Jardim Europa,em São Paulo. Os debates epalestras do evento abordarãotendências e tópicos atuaisrelacionados ao mercadode finanças estruturadas.Entre os palestrantes estaráo superintendente da Previc,Ricardo Pena Pinheiro.As inscrições podem ser feitas nosite da Uqbar: www.uqbar.com.br.

Maior evento sobre investimentosdo país, a Expo Money São Paulocomeçou com fila na clínicafinanceira, espaço em queplanejadores financeiros oferecematendimento gratuito. A iniciativapercorreu todas as edições dafeira realizadas no último ano,em diversas cidades do país.A expectativa é atender, até

36 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

BASTIDORES CULTURAIS

CESAR GIOBBI

A cidade de Santos vai ganhar um Museu deArte Moderna. Será construído atrás do ca-sarão branco centenário que abriga Pinaco-teca Benedicto Calixto. A apresentação doprojeto será no dia 29, na própria Pinacoteca,para imprensa, empresários, possíveis futu-ros patrocinadores, formadores de opinião.O projeto é do arquiteto Paulo Mendes daRocha, com o escritório Metro, de São Paulo.

O presidente da Fundação PinacotecaBenedicto Calixto, o empresário GeraldoCesar Pierotti, conta como surgiu a ideia:“Toda vez que eu tinha de retirar as obrasdo Calixto, em exposição permanente nomuseu, para instalar uma exposição tem-porária, eu pensava nos problemas que a si-tuação acarretava. Em primeiro lugar, es-tava indo contra o principal objetivo esta-tutário da Fundação, que é a exposição dasobras de Calixto. Em segundo lugar, o riscoque toda remoção envolve. Além do mais,fico pensando em como seria o futuro, como aumento do acervo, que por enquantotem 54 obras. Há muitas pinturas de Calixtona região de Santos, que poderiam ser doa-das ao museu, ou emprestadas em comoda-to. Além do mais, há a preocupação de am-pliar o acervo com compras. Em algummomento, o casarão ficará pequeno”.

Pierotti conta, também, que a intençãoé ampliar o acervo com obras de outros ar-tistas. Não só os pintores da região, comode outros grandes nomes da arte nacional.Ele lembra como ficou frustrado quando aFundação não pôde receber da Receita Fe-deral um Di Cavalcanti, arrestado pela Al-fândega de Santos, porque não tinha con-dições ideais para abrigá-lo. Além do mais,existe a promessa do artista plástico Ar-mando Sendin, que morou em Santos mui-to tempo, de doar cerca de 400 peças deseu acervo particular para a Prefeitura deSantos. E o endereço mais provável da doa-ção é a Pinacoteca. Em tempo, a Fundaçãoé uma entidade privada, instalada em imó-vel cedido pela Prefeitura de Santos. E asobras que iniciaram o acervo da Pinacotecaeram da administração pública.

O espaço existe. O terreno onde está ins-talada a Pinacoteca vai da avenida da praia,

Bartolomeu e Gusmão, no Boqueirão, até aavenida paralela, a Epitácio Pessoa. O casa-rão, construído em 1900 e em vias de tom-bamento, está localizado bem na frente. So-bra todo o fundo do terreno. “Chamamos oPaulo Mendes da Rocha para conversar, elese mostrou muito simpático, e aceitou fazero projeto da ampliação”, conta Pierotti. Naverdade, não se trata de ampliação, mas deoutro prédio, com outro nome e entradaprincipal pela outra avenida.

Mendes da Rocha, laureado pelo PritzkerPrize, o mais importante prêmio de arquite-tura do mundo, e criador, entre muitas ou-tras coisas, do Museu Brasileiro da Escultu-ra, e da reforma da Pinacoteca do Estado,apresentou um projeto bem ao seu estilo:uma caixa de concreto, cortada na fachadaapenas por uma janela panorâmica, queolha para o mar por cima do casarão emfrente. O novo prédio, de quase 8.200 m² deárea construída, terá um grande salão deexposições com 1.135 m², e uma estruturacom café, bilheteria, loja/guarda-volumes,entre outros no piso térreo. O primeiro pa-vimento contará com auditório, própriopara conferências, projeções de filmes eapresentações musicais, biblioteca e salasde administração. No segundo andar haverá

A ideia é de Geraldo CesarPierotti, empresário santistae desde 2008 presidente daFundação Pinacoteca BenedictoCalixto, que administra o casarãocentenário onde está a obra dopintor das marinhas. Seu sonhoé ter mais espaço para ampliaro acervo e poder receberboas mostras temporáriasO projeto é do arquiteto PauloMendes da Rocha, em parceriacom o escritório Metro ArquitetosAssociados, de São Paulo.Juntos eles criaram um museude mais de 8 mil m2, com muitolugar para acervo e exposições,mais auditório, biblioteca, café,administração e estacionamento.Pode ficar pronto em três anos

DE QUEM SÃO A IDEIAE O PROJETO DO MUSEU

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

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“Com esse prédio novo,a Fundação realiza doissonhos: o de deixar ocasarão apenas para aobra de Calixto e o depoder entrar para o circuitode importantes mostrasitinerantes internacionais

Geraldo Cesar Pierotti,presidente da Fundação Pinacoteca

Bededicto Calixto, de Santos

3Carlos Nogueira

Um Museu deArte Modernaem Santos.Atrás do CalixtoO novo museu surgirá nos fundosda Pinacoteca Benedicto Calixto.Terá acervo próprio, espaços para mostrastemporárias, auditório. Custo: R$ 30 milhões

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 37

Ópera no cinema. Ao vivo de Nova YorkOs amantes de ópera brasileiros poderão, pela primeira vez, assistir noscinemas, simultaneamente com espectadores do mundo inteiro, à exibição aovivo das montagens do Metropolitan Opera de Nova York. As transmissõesda temporada 2010/2011 serão aos sábados, a partir de 9 de outubro, comO Ouro do Reno, de Wagner, direção de Robert Lepage e regência de JamesLevine, em São Paulo, Rio, Brasília, Salvador e Vitória. A venda antecipadade ingressos pode ser feita via internet em ingresso.com.br a partir de hoje.

● Hoje, o Circo Rodaestreia o espetáculo DNA,no Teatro Carlos Gomes,no Rio de Janeiro.● Amanhã, o cantorDjavan lança o CDÁria, no Credicard Hall,em São Paulo.

AGENDA

BREVES

O Senhor dos Anéis,em DVD, com cenas inéditas

A espera dos fãs de O Senhor dos Anéisacabou. A versão estendida da trilogiachega ao Brasil no dia 21 de outubro.O box, com 12 DVDs traz os três filmes —A Sociedade do Anel, As Duas Torres eO Retorno do Rei — mais cenas excluídasna edição para o cinema, comentáriosdo diretor, bastidores da produção,além de booklets, que serão o guia dosfãs para a descoberta da Terra Média.A caixa custará R$ 199,90 em lojas comoSaraiva, Americanas e Submarino.com.

Centenas de metros de arte

Antonio Peticov e José RobertoAguilar vão orientar o público a pintarum painel de 150m de comprimentopor 2 m de altura, intitulado Pinturada Paz, para comemorar Um Dia de Paz,evento da Fundação Lama Gangchenpara Cultura de Paz e da UniversidadeLivre de Meio Ambiente e Cultura dePaz (UMAPAZ). A ação será amanhã, naMarquise do Parque Ibirapuera, em SãoPaulo, em frente ao Museu Afro Brasil.

Coisas que não fazemos maisO jornalista AlbertoVillas lança nasegunda-feira, noPalácio das Artesde Belo Horizonte,seu novo livro“Onde foi pararnosso tempo”. Villastem se dedicado arecuperar, em seuslivros, usos, costumes,termos que caíram em desuso.Nessa obra, ele nos faz lembrarde quando esperávamos linha notelefone, ou a tevê esquentar, oulavávamos fraldas e coadores de café.

mais espaços expositivos, onde, segundoPierotti está prevista uma sala para os artis-tas regionais e outra para o acervo Sendin.O projeto prevê um terceiro piso com espa-ço para reserva técnica e salas de arquivo.No subsolo, o projeto prevê um estaciona-mento com mais de 3 mil m².

O arquiteto chamou o escritório MetroArquitetos Associados, de Martin Corullon,Anna Ferrari e Gustavo Cedroni, para desen-volver o projeto com ele. Corullon já traba-lha com ele desde 1994. E conta como é tra-balhar com Paulo Mendes da Rocha: “OPaulo já veio com uma maquete do prédioem papel. A partir disso começamos a dis-cutir os espaços. Recebemos um programabásico, com o que o museu precisa, mas emaberto. Entendemos que o museu precisa deespaços para mostras itinerantes e para ou-tras atividades. O terreno é uma tripa com-prida que vai de uma avenida à outra. O pré-dio novo vai ficar atrás do mais antigo, eserá bem mais alto. Por isso o Paulo criouesta janela panorâmica para o mar. O queestamos apresentando é apenas um primei-ro estudo, que depois será todo detalhado”.

Pierotti acrescenta: “Com esse prédionovo, a Fundação realiza dois sonhos: o dedeixar o casarão apenas para a obra de Ca-

lixto, e o de poder entrar para o circuito deimportantes mostras itinerantes internacio-nais”. E quanto custa este sonho? “Quere-mos fazer o museu mais moderno do país,em termo de equipamentos, com acaba-mentos de primeira. Pelos cálculos que an-damos fazendo, deve sair por volta de R$ 30milhões, bem mais caro do que o Museu Pe-lé, orçado em R$ 18 milhões”.

E para levantar esse dinheiro? Pierotti ex-plica: “Sei que teremos ajuda do prefeito JoãoPaulo Tavares Papa, que está entusiasmadocom o projeto. Agora vamos apresentar oprojeto aos empresários da região e de SãoPaulo. Depois, faremos o projeto definitivo.Aí, poderemos nos inscrever para receberleis de incentivo fiscal. Só depois disso tudo éque começaremos a captação. A esta altura,a captação para o Museu Pelé já terá termi-nado, e ficará mais fácil conseguirmos os re-cursos”. Segundo a previsão de Pierotti, omuseu pode ficar pronto em três anos.

Com a construção em andamento, onovo Museu de Arte Moderna de Santospoderá, também, começar a amealhar umacervo mais abrangente. “ Vamos pedirdoações aos artistas santistas, e aos her-deiros de artistas da região, que tem nomesimportantes como Mario Gruber”. ■

[email protected]

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

SOBRE CALIXTO E SEU MUSEU

Para quem não lembra, BenedictoCalixto é aquele pintor do século19 que pintava marinhas e o litoralda região de Santos. Nasceu emItanhaém em 1853, estudou emParis, mas viveu na região sua vidatoda. Morreu em São Vicente em1927. Deixou uma obra pictóricaimensa, incluída a pintura do tetodo Teatro Guarany, de Santos.

Foi construído em 1900, no estiloeclético da época, pela família alemãDickr. Depois pertenceu à famíliaPires. E finalmente pertenceu a umafamília espanhola. Nos anos 80,a Prefeitura de Santos impediusua demolição para a construçãode edifício. E em 1986, foi instaladaalí a Pinacoteca Benedicto Calixto.

2

1 O projeto donovo Museu deArte Modernade Santos;2 O casarãoda PinacotecaBenedicto Calixto,em Santos;3 Geraldo CesarPierotti, presidenteda FundaçãoPinacotecaBenedito Calixto;4 Os sócios doMetro: Anna Ferrari,Martin Corullon eGustavo Cedroni;5 O arquiteto PauloMendes da Rocha

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1.Benedicto Calixto

2.O Casarão da Pinacoteca

Marcos Piffer

Bloomberg

Maria Clara Villas

Fotos: divulgação

38 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010

MUNDO

O ministro das Relações Exte-riores do Brasil, Celso Amorim,voltou a defender ontem o diá-logo com o Irã sobre o programanuclear do país, em discurso naabertura de encontro da Orga-nização das Nações Unidas(ONU), em Nova York.

Discursando para a Assem-bleia Geral da instituição, Amo-rim afirmou que, apesar da im-posição de uma nova rodada desanções contra o Irã, ainda acre-dita em uma solução dialogadapara o impasse envolvendo asambições nucleares iranianas.

“O mundo não pode permitirum novo conflito como o do Ira-que”, disse o ministro, reto-mando a alusão feita reiterada-mente pelo governo brasileiro àguerra do Iraque, iniciada sobliderança dos EUA sob alegaçãode que o país tinha armas dedestruição em massa, o quenunca se comprovou.

Potências ocidentais, capita-neadas pelos EUA, suspeitamque o programa nuclear do Irãseja um disfarce para a buscapela fabricação de armas atô-micas. Teerã nega.

Recentemente o Brasil se en-volveu diretamente na questãonuclear iraniana ao mediar,juntamente com a Turquia, umacordo de troca de combustívelnuclear com a República Islâmi-ca. A Declaração de Teerã, noentanto, não foi consideradasuficiente pelas potências mun-diais, que impuseram uma novarodada de sanções ao país noConselho de Segurança da ONU.

Amorim também confirmouque conversou por cerca de umahora com o presidente do Irã,Mahmoud Ahmadinejad. Amo-rim apelou a Ahmadinejad pelalibertação dos dois americanospresos em Teerã sob suspeita deespionagem, assim como fezcom a jovem Sarah Shourd, de 31anos. O chanceler evitou deta-lhar a reunião, mas afirmou ape-nas que “as coisas estão avan-çando”. “Nós conversamos mui-to”, disse Amorim. “As coisasestão avançando”, completou.“Temos muito em comum.”

Na semana passada, depois deum ano e quatro meses presa emTeerã, Shourd foi libertada aopagar fiança no valor de US$ 500mil. A norte-americana, o noivodela, Shane Bauer, e o amigo docasal Josh Fattal, ambos com 29

anos, foram presos por iranianosenquanto escalavam as monta-nhas localizadas na fronteira en-tre o Irã e o Iraque.

As autoridades iranianas osacusaram de espionagem a ser-viço dos EUA. Os americanosnegam a acusação.

O presidente Ahmadinejadtambém causou polêmica du-rante a sessão, ao dizer que osatentados do 11 de Setembro sãouma “conspiração americana”em parceria com Israel.

De acordo com o líder irania-no “muitas pessoas” acreditamque por trás dos ataques está o

governo americano, com o su-posto objetivo de garantir seudomínio no Oriente Médio e“salvar o regime sionista”.

Indignadas, as delegaçõesdos EUA e da União Europeiadeixaram o plenário durante afala de Ahmadinejad.

Foco latino-americanoEm seu discurso, Amorim tam-bém tratou de temas latino-americanos, especialmente oembargo econômico impostopelos EUA a Cuba.

“O Brasil reitera o seu repú-dio, que é de todos os países la-

tino-americanos e caribenhos,ao ilegítimo bloqueio a Cuba,cujo único resultado tem sidoprejudicar milhões de cubanosem sua luta pelo desenvolvi-mento”, afirmou.

Amorim também condenou oque chamou de retrocesso demo-crático em Honduras e estabele-ceu a volta incondicional do ex-presidente hondurenho ManuelZelaya, deposto em um golpe mi-litar no ano passado, ao país comocondição para a retomada “danormalização plena das relaçõesde Honduras com o conjunto daregião”. ■ Reuters, AFP e Abr

Mundo deve negociar com Irãpara evitar guerra, diz AmorimNa abertura da Asembleia Geral da ONU, chanceler brasileiro disse que confito seria similar ao do Iraque

Chefe da políticaexterna nacionalreiterou que voltade Zelaya ao poderem Hondurasé condição pararetomar relaçõescom o país

Líder das Farc morre em ataque na ColômbiaO ministro da Defesa colombiano, Rodrigo Rivera, anunciou a mortedo chefe militar das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc),Jorge Briceño, conhecido como “Mono Jojoy”. “Foi um bombardeio daforça aérea apoiado pelo exército e a polícia. Houve várias baixas e nasoperações de busca se encontrou o cadáver de Briceño”, disse o ministro.O governo colombiano oferecia uma recompensa de US$ 2,7 milhões pelaguerrilheiro, acusado de assassinatos e sequestros nos conflitos do país.

Guillermo Legaria/AFP

Don Emmert/AFP

Amorim em seu discurso: acordoentre Brasil, Turquia e Irã nãoevitou sanções ao país islâmico

NAÇÕES UNIDAS

Ministro defende vagabrasileira no Conselhode SegurançaEm tom de alerta, Celso Amorim,também afirmou em seu discursona Organização das NaçõesUnidas (ONU) que o Conselhode Segurança ONU deve serreformulado para que paísesem desenvolvimento participemde forma permanente.Amorim lembrou que o Brasiltem se empenhado paracumprir o papel de membrorotativo do órgão. O chancelerreclamou que decisões sãodefinidas a “portas fechadas”.Segundo o ministro, uma provade que o Brasil pode ocuparum assento permanente éa negociação do acordo paratroca de urânio do Irã em buscade soluções para o impasseque envolve a questão nucleariraniana. “Nos empenhamosem buscar uma soluçãopara o dossiê nuclear do Irã”,disse ele, ressaltando queo acordo não esgota o assunto,mas avança no sentido deapontar uma alternativa.A estrutura do Conselho deSegurança segue o formatocriado em 1945, reunindo cincopaíses em assentos permanentese dez em vagas provisórias.Até o próximo ano, o Brasilestá como membro provisório.Em discussão, há uma propostapara que sejam incluídos,na relação de membrospermanentes, mais dois países daÁsia, um da América Latina, outrodo Leste Europeu e um da África.

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Sexta-feira, 24 de setembro, 2010 Brasil Econômico 39

Bastou o anúncio de que o filme Lula, o Filho doBrasil, do cineasta Fábio Barreto, concorrerá a umaindicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro,para que fosse desencadeada uma onda de críticas àdecisão. Em plena campanha eleitoral, marcada pordenúncias de corrupção e favorecimento, a reaçãoera inevitável. Comentários sobre pressão política, ouso de critérios não técnicos na análise dos filmes eaté um possível uso eleitoreiro do fato foram co-muns em redes sociais e na própria imprensa. Tudoprevisível e democrático. Afinal, estamos às portasde mais uma eleição presidencial.

Independentemente da qualidade do filmecomo obra cinematográfica — seja lá o que isso si-gnifique — e também pondo de lado a preferênciapopular por qualquer dos 23 filmes que concor-riam à indicação, alguns fatos são inegáveis. Háum efeito de marketing inequívoco na escolha e daqual o filme, quando concorrer com produções demais de 95 países, vai se beneficiar.

O filme, ao contar a trajetória pessoal do presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva, tem grandes chan-ces de agradar aos olhares estrangeiros, já encanta-dos por uma figura carismática que saiu do sertãonordestino e se tornou um dos presidentes mais po-pulares da história. O chamado “primeiro mundo”adora exemplos de superação. Chamado de “o cara”pelo presidente americano Barak Obama, o operárioque virou presidente sempre foi recebido no exteriorcom um misto de admiração e curiosidade.

É preciso deixar a ideologia de lado e reconhecerque o efeito marqueteiro do filme pode dar certo. Vaiser mais um teste de popularidade, agora em terrasestrangeiras. Aliás, é bom lembrar, a Academia quedefine a premiação do Oscar carrega a fama de sepautar por decisões bastante ideológicas, semprepronta a abraçar causas universais, histórias de su-peração e de luta. Um personagem reconhecido glo-balmente pode, sim, fazer a diferença. ■

Deixando aideologia de lado

O fato de o filme mostrar atrajetória pessoal do presidenteLula pode, sim, ajudar na conquistade uma das vagas para o Oscar

Jiane [email protected] Executiva

A Petrobras concluiu ontem a maior oferta deações da história: a estatal petrolífera vai captarR$ 120,36 bilhões. O preço final das ações prefe-renciais (PN) e ordinárias (ON) foi fixado em R$26,30 e R$ 29,65, respectivamente, após encerra-mento do processo de coleta de intenções dos in-vestidores (conhecido como bookbuilding). Osvalores ficaram cerca de 2% abaixo da cotação defechamento de ontem na BM&FBovespa, quando aPN fechou a R$ 26,80 e a ON a R$ 30,25. A expec-tativa em relação à fixação do preço por ação le-vou as ações preferenciais a encerrarem o dia emalta de 3,15%, com volume de R$ 1,49 bilhão.

Na semana passada, a companhia informou que ele-vou de 10% para 20% da oferta inicial o lote adicional, etem ainda 5% de lote suplementar que pode ofertar nomercado. A distribuição tem como coordenador líder oBradesco BBI. Outros 13 bancos participaram da dis-tribuição. Ontem, a agência de classificação de riscoStandard & Poor’s (S&P) reafirmou os ratings de cré-dito corporativo “BBB-” atribuídos à estatal brasilei-ra, com perspectiva é estável. A S&P justifica a notapela melhora na estrutura de capital da companhia, jáincluindo o programa de capitalização.

Os novos papéis começam a ser negociados hoje naBolsa de Nova York e, na segunda-feira, na BM&FBo-vespa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o minis-tro da Fazenda Guido Mantega e o presidente da Petro-bras, José Sérgio Gabrielli, participam hoje de cerimô-nia de conclusão da captação na bolsa brasileira. ■

A Vale informou ontem que seu Conselho de Admi-nistração aprovou a listagem de ações da companhia naBolsa de Valores de Hong Kong e a recompra de ações novalor de até US$ 2 bilhões. Além disso, foi aprovada peladiretoria proposta de pagamento, em janeiro de 2011, deremuneração extraordinária de US$ 1 bilhão aos acio-nistas. “Esta proposta visa retornar aos nossos acionis-tas o valor a ser recebido com a venda de ativos a serconcretizada no final de 2010, nos termos do que foi pu-blicamente divulgado pela Vale em 2 de maio de 2010 “,informou a companhia em comunicado.

A mineradora explicou que a listagem de ações jáexistentes na Hong Kong Stock Exchange, na forma decertificados de depósito, decorre do fato da Ásia ser oprincipal mercado para os produtos da companhia. “(Alistagem) implicará a exposição direta da Vale ao merca-do de capitais asiático, com a expectativa de reflexospositivos sobre a liquidez, base de acionistas e precifica-ção de nossas ações”, afirma a companhia.

A diretoria informou ainda que levará ao Conselhode Administração a proposta de pagamento em outu-bro da segunda parcela da remuneração mínima aoacionista, no valor total bruto de US$ 1,250 bilhão,com remuneração adicional no valor total bruto deUS$ 500 milhões. ■ Reuters

Ações da Vale naBolsa de Hong Kong

A Telefônica recebeu o sinal verde da Agência Nacional deTelecomunicações (Anatel) para comprar a Vivo. O pedi-do de anuência prévia foi aprovado ontem pelo conselhodiretor da agência e não surpreende, uma vez que a pro-curadoria e a área técnica do órgão regulador tinhamapresentado relatórios favoráveis ao negócio.

Os conselheiros decidiram que a operação terá trêscondicionantes, estabelecidos a partir de compromissosque as próprias empresas se ofereceram a assumir. Doisdeles referem-se à expansão da cobertura de telefonia ce-lular, que deverá ser oferecida em 35 municípios sem oserviço. Além disso, as empresas terão de cobrir outras 83cidades com a tecnologia de terceira geração, que permiteo acesso à internet móvel . E a última exigência determinaque as companhias deverão ceder capacidade de trans-missão, em fibra óptica ou em alta velocidade, para aRede Nacional de Ensino e Pesquisa para permitir a inter-ligação de universidades públicas no estado de São Paulo.

A aprovação do negócio também influenciará a entra-da da Portugal Telecom na Oi. Pelo acordo firmado em ju-lho entre portugueses e espanhóis, a PT receberá R$ 17,25bilhões pela Vivo e aplicará parte dos recursos para adqui-rir 22,4% da Oi por até R$ 8,44 bilhões. O pedido deanuência prévia para mudança societária na Oi está emanálise na Anatel. ■ Fabiana Monte

Anatel aprova comprada Vivo pela Telefônica

DESTAQUE

Petrobras turbina Ibovespa, que volta a ter alta no ano

As ações preferenciais da Petrobras levaram ontemo Ibovespa de volta ao terreno positivo no acumuladodo ano, com a expectativa pela alta demanda porinvestidores na oferta pública da estatal. O índice registraagora valorização de 0,3% no ano e fechou a quinta-feiracom a maior pontuação de fechamento desde 26 de abril.

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Petrobras levantaR$ 120 bilhõesem oferta

Votação da Ficha Limpa indefinidaA votação do Supremo Tribunal Federal (STF) para decidir se a Lei da FichaLimpa vale ou não para as eleições deste ano seguia indefinida até as 23h deontem, fechamento desta edição. A validade era aprovada por cinco ministros(Ellen Gracie, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Carlos Britto e JoaquimBarbosa) e negada por três (Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Marco Aurélio). Comdois ministros ainda por votar, existia a chance de empate. Nesse caso, odesempate seria determinado pelo presidente do STF, ministro Cezar Peluso.

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ÚLTIMA HORA

Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

Antonio Cruz/ABr

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40 Brasil Econômico Sexta-feira, 24 de setembro, 2010Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26 de setembro, 2010

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As empresas inovadoras irão reduzir custos do etanol através de ganhos tecnológicos, masa pressão de mercado fará com que o barril fique mais próximo de US$ 100 do que de US$ 50

As ondas de inovação tecno-lógica da economia indus-trial se dão, no meu enten-der, conforme os conceitosde Schumpeter, o brilhanteenfant terrible da Escola

Austríaca. Ele sustenta que a economia in-dustrial evolui por meio da “destruiçãocriadora”. Diz Schumpeter: “(...) quandoum conjunto de novas tecnologias encon-tra aplicação produtiva, as tecnologiastradicionais são ‘destruídas’, isto é, dei-xam de criar produtos capazes de compe-tir no mercado e acabam sendo abando-nadas(...)” (Joseph Alois Schumpeter, ATeoria do Desenvolvimento Econômico,1911). O mais importante: é na fase inicial eascendente dessas novas tecnologias queos empresários inovadores são diferen-ciados daqueles que utilizam as tecnolo-gias tradicionais. Isto também vale para ospaíses. Os inovadores são “premiados”com elevadas taxas de lucros e erguemempresas competitivas, que se mantêmpor décadas como ícones industriais. Ospaíses são premiados com conhecimentotecnológico na sua matriz industrial pro-dutiva, sendo cada vez mais competitivospara disputar no mercado global.

Estamos em novos tempos de “destrui-ção criadora” na petroquímica mundial.Sua fase inicial começa no Brasil, com aprodução do polietileno verde pelaBraskem. O etanol é a matéria-prima prin-cipal desta nova onda. Curiosamente, oetanol pode ser produzido através da hi-drólise do etileno, etileno este produzidono mundo através da tecnologia tradicionaldo craqueamento da nafta ou do gás natu-ral, matérias-primas fósseis. Os principaisfornecedores deste etanol fóssil estão naÁfrica do Sul e Arábia Saudita, mas há tam-bém indústrias nos EUA, Europa e Japão.No Brasil, o etanol é produzido pela fermen-tação do extrato da cana-de-açúcar, maté-ria-prima não fóssil. Este etanol não fóssil,de matérias-primas renováveis, é que vaiproduzir o etileno da Braskem pela desidra-tação do álcool na presença de catalisado-res, produzindo após o polietileno verde.

O etanol de base não fóssil produzidoanualmente no Brasil é da ordem de 27 bi-lhões de litros, utilizado em sua grandemaioria como etanol de cana-de-açúcarcarburante na mistura com a gasolina emautomóveis flex. Atualmente, o consumomundial anual de gasolina de base fóssil,não renovável, é de 950 bilhões de litros. Aprodução de etanol carburante de cana-de--açúcar, de milho e outros para abastecerestes veículos representa cerca de 7% destetotal, ou seja, são 66,5 bilhões de litros quesão misturados à gasolina. Grandes empre-sas inovadoras, como a Braskem (a fábricadepolietilenoverdedaBraskeminauguradaem setembro no Rio Grande do Sul já vai ab-sorver 450 milhões de litros de etanol nãofóssil ao ano), e gigantes mundiais, como aDow Chemical, Solvay, Rhodia e DuPont,também estão orientando suas pesquisaspara a utilização do etanol não fóssil como

O delicado ponto de equilíbrioentre o petróleo e o etanol

É na fase iniciale ascendentede novas tecnologiasque os empresáriosinovadoressão diferenciadosdaqueles que utilizamas tecnologiastradicionais

A R T I G O

matéria-prima química e petroquímica. OBrasil,devidoàsuacompetitividadenapro-duçãodeetanolcombaseemcana-de-açú-car, vis-à-vis à produção de etanol de ou-tras fontes não fósseis, como o milho nosEUA, é o local para esta inovação. Estima-sequenoiníciodapróximadécada,em2020,oconsumo mundial de etanol de base nãofóssil alcance 210 bilhões de litros, ou 20%dos combustíveis que serão queimados, eque o consumo de etanol de base não fóssilpara a indústria química e petroquímica re-presente valor próximo a 1,5% deste total,ou seja, 15 bilhões de litros. Isso significa quecada vez mais o etanol será uma commoditytambém de base química.

COMPETITIVIDADENo Brasil, a competitividade da commodityetanol de base não fóssil está representadanobalançomaterialquemostraqueumato-nelada cana-de-açúcar (matéria-primaque não depende de proteção, não dependede subsídios e tem o menor custo de produ-ção do mundo) é o mesmo que 1,2 barril depetróleo. Mostra, também, que para cadaquilograma de plástico verde produzidopela Braskem são necessários aproximada-mente 2,4 litros de etanol. Petroquímica debase fóssil, como o etileno produzido a par-

tir da nafta ou do gás natural, e petroquími-ca de origem não fóssil, como o etileno e opolietileno verde produzidos a partir doetanol, agora estão interligados economicae tecnologicamente. Muitas perguntas mesão feitas, como, por exemplo: qual é o pre-ço do barril do petróleo que viabiliza estaprodução de etileno e polietileno base eta-nol? Minha resposta é a de um economistacomo o mestre Schumpeter: depende. Hojeaté pode ser um valor próximo a US$ 60 aUS$ 70 por barril, mas não podemos esque-cer que estamos no início de um ciclo de“destruição criadora”. Será nesta décadaque as empresas inovadoras irão fazer estevalor cair pela metade através de ganhostecnológicos e de escalas em suas unidadesindustriais. Também, a pressão de mercadoe do cartel da OPEP fará com que o preço dobarril do petróleo fique mais próximo deUS$ 100 do que de US$ 50 nesta década. Ariqueza do pré-sal de base não renovável e ariqueza do etanol de cana-de-açúcar debase renovável estarão interligadas e inte-gradas, tanto na base energética como naquímica e na petroquímica. E o melhor: omotor e o determinante deste desenvolvi-mento econômico será o Brasil. Isto não édesindustrialização. Isto é um exemplomuito claro de industrialização inovadora.

João Luiz ZuñedaDiretor da consultoria MaxiQuim

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B4 | BRASIL ECONÔMICO - ESPECIAL PLÁSTICO DE CANA | Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26.9.2010

C E N Á R I O

Diantedeumpotencialcompra-dor em dúvida, Rui Chammasrepete a história que acreditailustrar o estágio em que está oplástico produzido a partir dacana-de-açúcar: “Há alguns

anos ouvíamos notícias de que um movi-mento começava a se popularizar na Europa.A ideia era vender produtos sem agrotóxicos,com preço mais alto. Era o movimento orgâ-nico. Parecia piada. Agora, veja o tamanhodessemercado”.Chammasévice-presiden-te de polímeros da petroquímica Braskem.Parte de seu trabalho é demonstrar as vanta-gens do plástico feito de etanol de cana-de--açúcar frente aos similares produzidos depetróleo. “Quem compra alimento orgânicopaga mais caro, mas faz a coisa certa. Com oplástico verde acontece o mesmo. Atende-mos a um mercado de empresas que queremfazerocerto”,dizoexecutivo.

A tarefa parece simples. Olhe a sua vol-ta e tente encontrar algo que não tenhaplástico. Poucas são as chances de quevocê ache algum bem de consumo sem ele.Símbolo da sociedade moderna. Pesadelode ambientalistas. Imaginar que o mundopode viver sem o plástico, atualmente, éuma ilusão. O problema é que o plástico decana é mais caro que os similares feitos depetróleo. E, além do preço, existem as dú-vidas que toda novidade gera em torno daconfiabilidade frente ao que já foi ampla-mente testado. Mesmo assim, são cres-centes as apostas de que o Brasil, graças àcana, esteja diante da chance de se tornarum dos grandes players globais da inova-ção biogenética e da indústria de plástico.

Como maior produtor mundial de cana eavançado conhecimento do setor por seupioneirismo no uso do álcool como com-bustível, o Brasil se torna uma fonte naturalpara o plástico de cana (também chamadode bioplástico ou plástico verde, como sãoconhecidos os plásticos produzidos a partirde fontes vegetais). A maior vantagem doplástico verde comparado ao produzido depetróleo é que, enquanto o primeiro retémdióxido de carbono, o outro libera dióxidode carbono na atmosfera. Sacolas plásticas,sacos de lixo, embalagens de cosméticos ealimentos que tiram da atmosfera CO2 setornam uma ideia atraente diante da cres-cente preocupação com o aquecimento glo-bal. Quando feita de etanol, cada toneladade polietileno, o plástico mais consumidono mundo, retira 2,5 toneladas de CO2 daatmosfera, já que a cana é um dos vegetaisque mais retém carbono durante seu cresci-mento, enquanto o polietileno de petróleoliberaCO2.Deacordocomaagênciadepro-teção ambiental dos Estados Unidos (EPA),para uma unidade de energia, a produção euso de etanol de cana gera dois quintos daemissão de CO2 do petróleo e a metade doCO2 que produz o etanol de milho.

O preço do plástico de cana, superioraos similares tradicionais, é explicado pe-los altos investimentos em pesquisa, des-envolvimento e a produção ainda em esca-la reduzida. “No caso do Brasil, hoje, se es-tima que o plástico de etanol de cana tenhaum custo de 15% a 20% maior comparadoao plástico petroquímico”, diz AlessandraLancellotti, da consultoria Frost & Sulli-van. “Esse patamar de preço deve inicial-mente posicionar o bioplástico em produ-tos mais premium, ou que tenham umapelo sustentável”. Mas à medida que aprodução cresça, a tendência é que o custocaia. E as projeções de preço são encoraja-doras. “Nos últimos cinco anos, matérias--primas como petróleo e gás naturalapresentaram aumentos de preço de maisde 200%, enquanto o aumento de preçodo etanol foi de cerca de 90% nesse perío-do”, afirma Alessandra. Assim, por maisque o petróleo sofra alterações de valor,no médio e longo prazo a viabilidade doplástico de cana é certa. “Estimamos quecom o aumento no preco do petróleo nospróximos anos e o aumento da escala localde produção de bioplásticos, pode-sechegar a uma redução de preços de 20% a25% nos próximos cinco anos para o plás-tico de cana”, diz Alessandra.

MENOS DE 1% DO MERCADOO sucesso do plástico verde também é umaquestão de relações públicas. “Tudo de-pende do discurso que irá prevalecer”, dizCarlos Coutinho, da consultoria PwC. “Sevencer o conceito do plástico sustentável eecológico, há chances. Mas é importantelembrar que as indústrias já estabelecidasno setor vão combater essa ideia. O ven-cedor também será aquele que der os me-lhores argumentos”, afirma.

A Braskem, do grupo Odebrecht, inau-gura hoje uma fábrica capaz de produzir 200toneladas por ano (ver matéria na página aolado), o que garantirá a liderança mundialno segmento. “Hoje são produzidas anual-mente 70 milhões de toneladas de plástico.Acreditamos que o mercado de plásticoverde já pode consumir 600 mil toneladasano. Mesmo assim, isso não representa nem1% do mercado”, diz Rui Chammas, daBrakem. O executivo descarta as críticas deque não haveria necessidade de se produzirplástico verde porque as sobras do petróleoe gás natural usados para a produção de ou-tros combustíveis seriam suficientes paraabastecer o mercado. “Estamos falando deuma fonte renovável em toda a sua cadeia”.

O plástico produzido pela Braskem não ébiodegradável, mas existem pesquisas nes-se sentido. Desde 1995, uma planta piloto naUsina da Pedra, em Serrana, no Estado deSão Paulo realiza testes para a produção doplástico biodegradável polihidroxibutirato(PHB) e o seu co-polímero polihidroxibuti-

Produto ainda é menos de 1% do mercado, mas viabilidadeno médio e longo prazo é considerada certa por especialistas

Desafio do chamadoouro verde é reduzircustos ainda elevados

rato/valerato (PHB-HV), que utilizam acana. A planta é da PHB Industrial S/A, pro-prietária da marca Biocycle® (nome co-mercial do PHB e PHB-HV), controlada pe-los grupos Pedra Agroindustrial e Balbo. “Aprodução do PHB está pautada nos atributosdo produto, que é renovável, biodegradávele compostável”, diz Eduardo Brondi, ge-rente administrativo da PHB Industrial.Ainda em escala piloto, a planta produz 50toneladasporanodoproduto,quesedestinasomente a pesquisas, mas existem planos decomercializá-lo nos próximos anos.

“A questão não é ser biodegradável ounão,masseexisteapossibilidadedeserreci-clado”, diz John Julio Jansen, vice-presi-dente de inovação para América Latina daDuPont. “O importante é se pensar no ciclocompleto, porque para determinados pro-dutos, ser biodegradável não é uma vanta-gem. Peças de carros, tapetes, por exemplo,não podem ter um ciclo de vida curto”. ADuPont comercializa o Sorona®, um bio-plástico que usa etanol de milho em suacomposiçãoerealizapesquisasnosentidodeusar a cana no processo. “A biomassa decana é uma fonte bastante competitiva. Masa tendência é que cada país utilize a biomas-sa que é mais produtiva localmente. Comonocasodoaçúcar,quenaEuropaaindaéfei-todebeterraba”,dizJansen.Seopetróleoéoouro negro, a cana é o ouro doce.

“Quem compraorgânicos paga maiscaro, mas faz o certo.Com o plásticoverde é o mesmo.São empresasque queremfazer o certo”

RUI CHAMMAS,vice-presidente de

polímeros da Braskem

BRASIL ECONÔMICO - ESPECIAL PLÁSTICO DE CANA | Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26.9.2010 | B5

Além da Braskem, empresas como PHB Industrial e Dow investem no plástico verde

Potencial de vendas é de US$ 6 bi até 2030

Segundo relatório do FórumEconômico Mundial, o mer-cado de bioplásticos terá umpotencial de vendas de US$ 6bilhões em 2030. Para aten-der a essa demanda, investi-

mentos já começaram a ser feitos no setor.Hoje, a Braskem inaugura a maior fábricade polietileno verde do mundo. A plantainstalada no Pólo Petroquímico de Triun-fo, no Rio Grande do Sul, contou com in-vestimentos de R$ 500 milhões e produzi-rá 200 mil toneladas por ano. A produçãose destina principalmente à exportação,sendo 50% para Europa, 25% Japão e ou-tros 25% para as Américas. A empresatambém assinou no início desse mês umacordo com o Laboratório Nacional deBiociências (LNBio), em Campinas. OLNBio fará pesquisas na área de biotecno-logia para desenvolver produtos com baseem fontes renováveis. Em 2008, a compa-nhia já havia investido R$ 9 milhões emum convênio de cooperação com a Uni-

camp e a FAPESP (Fundação de Amparo àPesquisa do Estado de SP) para desenvol-ver pesquisas em biopolímeros.

Para Marcelo Nunes, do setor de biopo-límeros da petroquímica, o apelo da em-balagem ambientalmente correta é evi-dente para empresas de setores como oalimentício e o de cosméticos (leia matériana próxima página), mas indústrias auto-mobilísticas e de brinquedos, entre ou-tras, já demonstraram interesse em utili-zar plástico de cana. “A grande vantagemdeste bioplástico em relação aos demais éque as suas propriedades são as mesmas doplástico feito a base de petróleo, ou seja,não é necessário adaptar o maquináriopara a substituição de material”, afirma.

A PHB Industrial, que desenvolve umplástico biodegradável e reciclável a partirda cana, por hora opera uma fábrica pilotoe não comercializa sua produção, mas fazplanos. “Esperamos nos próximos anosiniciar a produção do PHB / PHB-HV emescala industrial”, diz Edurdo Brondi, ge-

Planta da maior fábrica de polietilenoverde do mundo, em Triunfo,

no Rio Grande do Sul,que será inaugurada hoje

rente administrativo da PHB Industrial.A Dow adiou um projeto estimado em

US$ 1 bilhão e que integraria uma planta-ção de cana-de-açúcar e uma fábrica deresinas verdes na cidade de Santa Vitória,Minas Gerais. A empresa diz que continuaa ser uma entusiasta dos benefícios doprojeto de polietileno a partir da cana-de--açúcar e continuará a investir tempo erecursos nesse projeto.

Já a Solvay Indupa decidiu interromperseus projetos de plástico de cana diante darecente crise econômica e ainda não defi-niu data para retomá-la. Já a DuPont re-centemente anunciou investimentos deR$ 14 milhões para ampliar as instalações eimplantar dois novos laboratórios em seucentro voltado à cana-de-açúcar em Pau-línia, no interior de São Paulo. Aparen-temnete a questão não é se as indústriasquímicas vão entrar na corrida do bioplás-tico, mas quando. E a data depende apenasda conjuntura econômica e de definiçõesmais claras dos rumos do mercado.

“Esperamosnos próximosanos iniciara produção emescala industrial”

EDUARDO BRONDI,gerente administrativo

da PHB Industrial

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B6 | BRASIL ECONÔMICO - ESPECIAL PLÁSTICO DE CANA | Sexta-feira e fim de semana, 24, 25 e 26.9.2010

Mudanças seguem incipientes, mas estimativa de especialistas é de que a áreaplantada deve aumentar em 2 milhões de hectares ao longo dos próximos dez anos

Dos 27,6 bilhões de litros deetanol de cana-de-açúcarproduzidospeloBrasilnasafra2008/2009, apenas 9,3 bi-lhões de litros foram usadosnaindústriaparaafabricação,

entre outros produtos, do plástico, segundoo Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento. O segmento de combustí-veis ainda absorve a maior parte da produ-ção de etanol. Esse quadro, no entanto, temtudo para mudar na próxima década. Ocrescenteinteressedeempresaspeloplásti-co originado de matéria-prima 100% reno-vável deve transformar o plástico de cana,ou plástico verde, em uma das molas pro-pulsoras para o consumo maior. “O consu-mo do etanol a partir da cana-de-açúcardestinado ao setor de bioplásticos, o etanoldo tipo anidro, com menor teor de água,ainda participa com um pequeno porcen-tual dentro da produção brasileira de cana”,diz Alessandra Lancellotti, líder de PesquisadeMercadonaÁreadeQuímicoseMateriaisda consultoria Frost & Sullivan.

Segundo estimativas da AssociaçãoBrasileira da Indústria Química (Abi-quim), em 2020, o setor da química verde— onde os processos de desenvolvimentode produtos são realizados com a preocu-

TEXTO ROSELI LOPES

Impacto sobre a produção decana-de-açúcar ainda é pequeno

A produção deetanol da canano Brasil vemcrescendo anoapós ano, puxadaprincipalmentepelo segmentode combustíveis

N O C A M P O

pação de reduzir o impacto nocivo ao meioambiente — participará com 10% da ofer-ta de petroquímicos. Com isso, a Associa-ção avalia que deve haver um aumento dabiomassa em dois milhões de hectares deárea plantada nos próximos dez anos, queequivaleriam a 200 mil hectares ao ano. Aconta da Abiquim representa 30% dos setemilhões de hectares que o país tem hoje deárea plantada e tende a ser puxada princi-palmente pela expansão da indústria debase renovável, que inclui o bioplástico.

POUCO EXPRESSIVOO mercado do bioplástico ainda é inci-piente no Brasil e, portanto o impacto nacadeia produtiva da cana-de-açúcar, se-gundo Alessandra Lancellotti, ainda é pe-queno. Na avaliação da executiva da Frost& Sullivan, hoje, juntas, a Braskem, queestá em fase mais avançada na produçãodo bioplástico, e a Coca-Cola, que já utili-za a chamada química verde em parte desua linha de garrafas PET, consumiriammenos de 5% da produção de etanol ani-dro no Brasil. “Pensando em um cenáriobastante otimista de crescimento para2015, caso a Braskem dobre sua produçãode polietileno verde e a Coca-Cola siga in-crementando sua produção de garrafas

PET com 30% de etanol em 20% ao ano até2015, as duas empresas não chegariam aconsumir 10% da produção total de etanolanidro”, afirma Alessandra.

Na avaliação da Frost & Sullivan, a pro-dução de etanol da cana no Brasil vemcrescendo ano após ano, puxada princi-palmente pelo segmento de combustíveis.Em 2010, foram produzidos 16,92 bilhõesde litros de referentes à moagem de cana--de-açúcar para a safra 2010/2011, apenasna região Centro-sul do País, um das prin-cipais, com aumento de 35,08% na pro-dução de etanol anidro, segundo númerosda União da Indústria de Cana de Açúcar(Única). Segundo a União dos Produtoresde Bionergia (Udop), a produtividade mé-dia de cana-de-açúcar por hectare plan-tado deve dobrar até 2050.

“Embora neste momento o impactoseja pequeno para a cadeia produtiva decana, é claro que em termos de preço aBraskem será um importante compradorde etanol no setor industrial, com fortepoder de barganha e já está estruturandotoda sua logística. Em virtude da entradadeste grande player no setor de bioplásti-co, outros compradores de etanol para finsindustriais podem ter seu poder de com-pra reduzido”, diz Alessandra.

De 27,6 bilhões de litros de etanolde cana produzidos no Brasil, somente9,3 bilhões foram usados para afabricação de produtos como o plástico

Andre Penner

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M E R C A D O

Bioplástico pode ser usado na produção de painéis de carro, na construção civil,nas carcaças de eletroeletrônicos, em equipamentos médicos e em sacolas plásticas

Oinvestimento na boa imagemda marca pode representar15% ou 20% a mais de gastocom embalagem. O consu-midor não sente qualquermudança na hora de comprar

ou consumir o produto, mas quando desco-bre a diferença ao saber sobre a matéria--prima desta embalagem passa a relacionaraempresacomapreocupaçãocomodesen-volvimento sustentável e o respeito ao meioambiente. Pelo menos onze grandes em-presas, que atuam no mercado brasileiro eno exterior, já aderiram ao novo produto.

Além destas empresas que já anuncia-ram o interesse em consumir o novo ma-terial, outras companhias já estão em ne-gociações para ter a Braskem, única fabri-cante até agora, como fornecedora, masseus nomes ainda são mantidos sob sigilo.A intenção da empresa é investir em ou-tras plantas industriais semelhantes após aconsolidação das vendas de seu produtono mercado internacional.

Alessandra Lancellotti, da Frost &Sullivan, estima que o bioplástico de canahoje tenha um valor entre 15% e 20% mais

TEXTO LEONARDO FUHRMANN

Na mira, o consumidor que estápreocupado com meio ambiente

Pelo menos onzegrandes empresas,que atuam nomercado brasileiroe no exterior,já aderiramao novo produto

alto do que o plástico a base de petróleo.Com um aumento na escala de produção ea consequente redução do preço da tone-lada produzida, ela estima que este bio-plástico possa ser utilizado no setor auto-motivo (na produção de painéis), da cons-trução civil (tubos, esquadrias, janelas,fios e cabos), nas carcaças de eletroeletrô-nicos, em equipamentos médicos, sacolasplásticas e bens de consumo.

Uma das empresas que saíram na frentefoi a Natura, que anunciou que pretendeusar a embalagem de bioplástico de cana apartir do mês que vem, nas embalagens derefil do sabonete cremoso da linha ErvaDoce, que deve ser distribuído nas regiõesNorte e Nordeste do país. O diretor deCiência e Tecnologia e Ideias e Conceitosda Natura, Victor Fernandes, não dizquanto a empresa deve comprar deste tipode plástico por ano, nem quanto o bioplás-tico vai representar do total de plásticoadquirido pela empresa de cosméticos.Segundo ele, a intenção é expandir a par-ticipação do material a partir do ano quevem. O refil do sabonete cremoso ErvaDoce tem 97% de bioplástico.

Em março deste ano, a Coca-Cola jáhavia anunciado o início da utilização dagarrafa pet PlantBottle feita com até 30%de bioplástico. Segundo a empresa, oobjetivo é reduzir em até 20% as emis-sões de CO2 na produção das embala-gens. Desde abril, as garrafas de 500 ml e600 ml com esta composição são encon-tradas nos mercados do Rio, São Paulo,Belo Horizonte, Curitiba, Recife e PortoAlegre. A fabricante destacou durante olançamento a importância também deaumentar o uso de matéria-prima reno-vável na produção de suas embalagens.No lançamento da nova garrafa, o vice--presidente de Técnica e Logística da fa-bricante de refrigerantes, Rino Abbondi,destacou a importância do bioplásticopara a economia nacional. “A cana-de--açúcar é a fonte mais eficiente para afabricação de etanol”, defendeu. “Comeste quadro, o Brasil coloca-se como fu-turo exportador de bio-MEG (compo-nente feito com cana de açúcar, usado naPlantBottle), fomentando assim a gera-ção de empregos e alavancando o setorsucroenergético do país”.

Victor Fernandes, da Natura: intençãoé expandir o uso do material emembalagens a partir do ano que vem

PRODUTOS QUE VÃOUSAR O BIOPLÁSTICO

A Johnson &Johnson devecomeçar a usarno próximoverão nasembalagensda linhaSundown Gold

A partir domês que vem,

embalagensda linha Erva

Doce, daNatura, serão

produzidascom 97% de

bioplástico

Desde abril,as garrafasde 500 mle 600 mlda Coca usamo produto emsua composição

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Outlook

51SUPLEMENTO DE FIM DE SEMANA

BRASIL ECONÔMICO

24/SETEMBRO/2010

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“A Bienalnão é de ninguém.Ela é do Brasil.É a cara do Brasillá fora”Heitor Martins,presidente da Fundação Bienal

TEXTO E EDIÇÃO DENISE BARRA

O melhor da semanaP R O G R A M E - S E

2 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

Dez sugestões imperdíveis em cultura, gastronomia,esporte, moda e viagens

P R O G R A M E - S E

2 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

Comprar peças da marca Diorjá é bom. Por precinhosenxutos, ainda melhor.Mas bacana mesmo é poderajudar instituições decaridade enquanto renova oguarda-roupa. Neste fim desemana, bolsas, roupas,sapatos e acessórios estãocom descontos de 70 a 80%,num bazar beneficente queterá parte da renda revertidaà Aliança de Misericórdia e aoprimeiro centro de cuidadospaliativos do câncer no Brasil,Lo Tedhal.Hoje e amanhã, de 10h às18h, no mezanino do HotelRegent Park. Rua OscarFreire, 533, em São Paulo.

Os escritores RobertoMuylaert, Guilherme Fiuza,Maria Valéria Rezende e oscompositores José MiguelWisnik, João Barone e ZecaBaleiro marcam presença na2ª Tarrafa Literária. Entre osautores estrangeiros, obritânico Mark Crick, de ASopa de Kafka, o canadenseJeremy Mercer, de Um livroPor Dia e o camaronês CélestinMonga (foto), economista--chefe do Banco Mundial emWashington e um dos maiorespensadores africanos daatualidade, autor do livroNiilismo e Negritude.Até domingo, no TeatroGuarany, em Santos.

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A história de amor de Orfeue Eurídice na versão deVinicius de Moraes ganhauma megaprodução. CustouR$ 2,2 milhões. Nestamontagem do diretor AderbalFreire-Filho tem novopersonagem: um poetainspirado no próprio Vinicius.A direção musicalé dos competentes JaquesMorelenbaum e Jaime Alem.Pérolas da bossa nova comoEste Seu Olhar e A Felicidadeestão no musical.De 23/9 a 3/10, em SP.De 8 a 10/10, em Brasília.Dia 14/10, em Goiânia.Dias 22 e 23/10, em POA.

ORFEU DE VOLTA,54 ANOS DEPOIS

Ele foi o primeiro artista dejazz a conquistar uma cadeirade residente no Carnegie Hallem Nova York. Aperformance contagiante dopianista Brad Meldhau reveladois lados de suapersonalidade: improvisadore formalista. O americanoque adora música brasileiratocará solo músicas de ChicoBuarque, além de Nirvana,Radiohead, Nick Drake, JeffBuckley e Gershwin. A rendaserá revertida ao Tucca, quetrata crianças e adolescentescom câncer.Dia 29/9, na Sala SãoPaulo, em São Paulo.

O PIANO AFIADODE BRAD MELDHAU

Newton Moreno (de AsCentenárias) escreveu o textoMaria do Caritó para a atrizLilia Cabral, que tambémdança e canta nesse retornoaos palcos, após três anos.Ela vive uma nordestina quedecide perder a virgindadeaos 50 anos e faz todas assimpatias em busca de ummarido. A comédia conquistapela simplicidade e umanarrativa que costuracostumes e crendicesbrasileiras. Mais um um gol deLilia, depois do sucesso (depalco e tela) Divã.Até 19/12, no Teatro dosQuatro, na Gávea, no Rio.

LILIA CABRALVIRGEM AOS 50

Catavento e Girassol foi odisco que Leila Pinheirogravou inteiramente dedicadoao compositor Guinga.Mônica Salmaso, já no álbumde estreia, também mostravasua admiração pelo mestrecarioca ao gravar a bonitacanção Senhorinha.É no encontro inédito com asduas cantoras que Guingacelebra seus 30 anos decarreira. E comemoraaniversário. Nasceu há 60anos lá em Madureira, comoCarlos Althier de SousaLemos Escobar.Amanhã e depois, no SescPompeia, em São Paulo.

GUINGA,LEILA E MÔNICA

A Camerata Aberta éformada por 16 dos melhoresmúsicos das maioresorquestras de São Paulo,como OSESP, SinfônicaMunicipal e OSUSP. Ogrupo faz agora sua nonaapresentação, semprecaracterizada por muito rigore refinamento. O repertórioé focado na música modernae contemporânea. EmGroove, peças de Stravinsky,Stockhausen, Donatoni,Hurel, além do brasileiro Eli--Erin. A regência é do francêsGuillaume Bourgogne.Domingo, no Auditório doMASP, em São Paulo.

O GROOVE DACAMERATA ABERTA

A mostra histórica reúne naDan Galeria, em São Paulo,52 obras entre pinturas,serigrafias, plotters e outrasmídias. Encante-se com umdos maiores nomes dessemovimento: Max Bill, queintroduziu a arte concreta noBrasil há 60 anos, usandofórmulas matemáticas comobase para suas criações.Aprecie também trabalhos deseus alunos Mavignier eWollner, da Escola Superiorda Forma de ULM, daAlemanha. É a maior reuniãodestes artistas nos últimosdez anos. Imperdível.Até 30/10, Rua EstadosUnidos, 1638, São Paulo.

60 ANOS DE ARTECONSTRUTIVISTA

Nat King Cole era fã dossanduíches do restaurantePJ Clarke’s, que existe desde1884 em Nova York. Ele diziaque lá serviam “o Cadillac doshambúrgueres”. Depois dabenção do mestre, o melhorsanduba da casa foi batizadode Cadillac. A primeira filial dorestaurante fora dos EstadosUnidos fica na charmosa ruaMário Ferraz, em São Paulo.O mais legal é que agorarolam por lá shows de jazzinstrumental da melhorqualidade, todas as terças,quintas e domingos, além daúltima quarta-feira do mês.Comida, diversão e arte.Rua Dr. Mário Ferraz, 568.

JAZZ & CADILLAC NOPJ CLARK´S DE SP

Todas as videoperformancesda artista Lenora de Barrosestão reunidas pela primeiravez. A mostra Revídeo é umaespécie de retrospectiva desua trajetória, com trabalhosfeitos desde 1984. Situaçõesinusitadas, paradoxais e umcerto humor patético permeiao trabalho da paulistana, quegosta de criar elementossonoros tomando como pontode partida a palavra escritaou falada. Será lançadotambém um livro dedicada àobra da charmosa Lenora,com imagens dos trabalhos etextos críticos.Até 17/10, no Oi Futuro,no Flamengo, no Rio.

LENORA DE BARROSEM RETROSPECTIVA

BAZAR BENEFICENTEDA DIOR EM SP

FESTIVAL LITERÁRIOEM SANTOS

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Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010 | 3

Gabriel Penna tinha imberbes 13 anos quandocomeçou a se preparar para escrever areportagem da página 20, sobre as preciosidadesdouradas que Vinicius chamava de ‘cachorroengarrafado’, o melhor amigo do homem. JáDaniela Paiva, por sua vez, devia ouvir só PlebeRude e Legião Urbana quando começou a sonharem riscar a pele a sangue e tinta, comocorajosamente faz e coloca Em Foco na página 6,num texto que quem é tatuado lê escutando obarulhinho do motor das microagulhas. TambémErasmo Carlos gastou-se em 50 anos de estradaantes de chegar ao Baretto, 17, o seletíssimo bardo Hotel Fasano, para um pocket show emexcelente companhia. O tempo nos preparapara o susto que é a vida. Ou, ao menos, deveria.Não foi o que aconteceu com o Belluzzo (23),que desde menino pôs-se a amar um certo timede futebol, paixão esta que o jogou numa camade hospital. A vida é susto, mesmo. Mas tambémé festa, e tem de valer o porre. Phydia de Athayde

Cardápio24.9.10

4 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

I D E I A S F O R T E S

Há 100 anos nascia um ilustre desconhecido: Angelo Agostini.Autor de jornais satíricos e ilustrados, Agostini ficou mesmo fa-moso por conta da Revista Ilustrada, com certeza o periódicomais influente do Segundo Reinado. Contando com assinaturaspara sobreviver, o jornal era seguido de perto pela influente elitecarioca, carente de notícias e imagens desse tipo. Pouco se sabeda biografia de Agostini, mas seus desenhos inundaram a cena.Por meio do jornal, o caricaturista de origem italiana se fazia bra-sileiro e opinava sobre tudo: a necessária abolição da escravidão,a eminente república, a desastrosa Guerra do Paraguai ou sobre oimperador Pedro II; um de seus alvos prediletos.

O Pedro Caju, o Pedro Banana, o Pedro com motomania (o cos-tumedeviajarpeloBrasilepelomundo),oPedrodorminhoco(queera desenhado roncando nas sessões do Instituto Histórico e Geo-gráfico Brasileiro, da Academia de Belas Artes, ou nas aulas do co-légio Pedro II), o Pedro com mania de ciência (dado à lições de as-tronomia)...Todasasrepresentaçõesganhavamunidadenarepre-sentação das pernas finíssimas do caricaturado. Se o rei já era co-nhecido por seu prognatismo — a famosa queixada dos Bragançadisfarçada por barbas abundantes —, ou mesmo por sua voz fina,Agostini imortalizariaaindaosdois“gambitos”doimperador.

Coragem e ambivalência não faltavam a Agostini, que oscilava entre ambas, nas mais va-riadas situações. Se era a favor do final da escravidão, não deixou de aderir à voz comum dasteorias do determinismo racial, que dividiam a humanidade em superiores e inferiores.Também com relação à mudança de regime mostrava lá seus titubeios. E o mesmo ocorriacom a representação do imperador: ironia e simpatia conviviam na pena do ilustrador, quefazia da caricatura uma arma poderosa.

Afinal, hoje conhecemos o poder corrosivo do humor, usado para derrubar estadistas eaté regimes, ou mesmo como propaganda de governantes. Não poucas vezes, políticos docalibre de Getulio Vargas se utilizaram das charges que os criticavam a seu favor. A cabeçachatadopolíticogaúcho,aestaturabaixa,abarrigaprotuberanteeosóculosnapontadona-riz foram rapidamente transformados em instrumentos de intimidade, em uma maneira defirmar a imagem de um bom e sereno “pai de todos”.

Sabemos que a história não foi bem assim e o mesmo ocorreria com as “pernas do im-perador”. Se a insistência em ironizar a imagem do monarca tinha o objetivo primeiro dedesequilibrar o regime, seu resultado foi por vezes oposto. Quanto mais as caricaturasatacavam o soberano, mais popular ele se tornava. Enquanto o regime andava com osdias contados, a representação do imperador ia ficando cada vez mais forte; se não narealidade, ao menos no imaginário.

Piadas funcionam ao inverter e subverter convenções. Só fazem rir quando não sãoexplicadas, e, em geral, ganham sentido em determinado contexto preciso. Não por aca-so Freud escreveu um ensaio sobre o chiste. Chamou-o de “uma a provocação conscien-te e hábil”. Segundo ele, o chiste seria um juízo que joga com ideias, desloca e surpreen-de: faz rir pelo que esconde.

Mas voltemos a Agostini e a nosso imperador, nos finais da década de 1880. Se D. Pedroera visto sempre com livros a seu redor, aparecer com uma cartilha nas mãos surte efeitocômico, pois alude a um suposto básico: o monarca agia e se pensava como um sábio me-cenas, mas era um homem qualquer e o seu objetivo era basicamente marqueteiro. Tam-bém inverter a ideia da viagem oficial mostra que políticos se deslocam mais em proveitopróprio do que no da nação. Mas e as pernas? Não quero tirar a graça da piada, explicandoo sentido. Afinal, o riso não vem com bula, nem mensagem pronta. O fato é que a figuralongilínea, frágil e apoiada em duas espécies de galhos secos foi logo transformada emmetáfora fácil da fragilidade do Estado ou da pouca virilidade da real personagem.

É bastante conhecido o papel dos bufões na Idade Média, como aqueles que se opu-nham à cultura oficial, convertendo divindades, monarcas ou governantes em objeto deblasfêmia. Também nossos chargistas fazem parte dessa elite de ponta, que permiteachar graça nas mazelas do dia a dia, critica o que em geral se silencia, assim como sina-liza para universos de simpatia.

Verdade ou não, a piada do imperador teria vida longa, e se não explicou a queda damonarquia em 1889, ajudou a tornar mais forte o coro dos descontentes. Além do mais,teve papel importante na criação da imagem oficial de um Pedro II sempre idoso, quaseum bom velhinho, que as crianças pensam que é pai de Pedro I. Engraçado é que se D. Pe-dro I morreu jovem (e só poderia ser representado moço), já Pedro II não nasceu velho.Mas essa é uma nova história, e quem quiser que conte outra.

Com ela, vou me despedindo da simpática e afinada equipe do Outlook e dos leitores queme acompanharam durante quase um ano. Hora de fazer as malas...

Lilia Moritz Schwarcz é professora titular do Departamento deAntropologia da USP. É autora de O Sol do Brasil

(Companhia das Letras, Prêmio Jabuti 2009), entre outros.

Se a insistênciaem ironizara imagem domonarca tinhao objetivo primeirode desequilibraro regime, seuresultado foipor vezes oposto.Quanto maisas caricaturasatacavamo soberano,mais popularele se tornava.Enquanto o regimeandava comos dias contados,a representaçãodo Imperadoria ficando cadavez mais forte;se não na realidade,ao menosno imaginário

Lilia Moritz SchwarczAgnelo Agostinie as pernas do imperador

IMAGEM REPRODUÇÃO

E D. Pedro se vai: maletana mão, coroa nas costas

Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010 | 5

C R Ô N I C A

Humberto WerneckEsse Infernovai acabar

Mais dia menos dia,será declaradaextinta essa criaçãodivina que não deucerto, responsávelpor boa parte dospavores que temosexperimentado,você e eu, nestevale de lágrimas.Mesmo que oencerramentodas atividadesinfernais venhaa se dar apósa minha morte,estou confianteem que vou escapardas labaredasde Lúcifer. Antesde mais nada,porque fui católicodurante quinze oudezesseis anos, osprimeiros de minhavida, e para algumacoisa terão validotanta reza, tantojejum e, como diziauma conhecidaminha, tantosacrifício da missa

Não será surpresa para mim se dia desses o Vaticano anunciar o quetanta gente desconfia: que o Inferno não existe. Há quem diga queexiste, e até funciona aqui perto de casa em dia de jogo do Corinthians.Não duvido. Mas me refiro à matriz, ao Inferno propriamente dito,mobiliado com caldeirões de água pelando e animado por diabos ma-gros (alguém já viu diabo gordo?) e espevitados, com chifres de bode erabos em forma de seta, tridente em riste para espetar a carne fraca dosímpios. Pois vai acabar, se é que algum dia existiu. Se não anunciaramainda, é para isto aqui em cima não virar um pandemônio.

E por que não acabaria? Foi assim faz pouco tempo, quando a San-ta Sé nos comunicou que o Limbo, destino das alminhas das criançasmortas sem batismo, era pura ficção. Faltou informar o que foi feitodos antigos habitantes, subitamente relegados à condição de sem--limbo. E bota almas nisso, pois se estamos falando de defuntos nãobatizados é preciso contabilizar também os marmanjos de outroscredos, e baixar às profundezas dos tempos, ao momento em que umde nossos antepassados desceu da árvore, rascunhando um enredoque Charles Darwin iria pôr no papel. Aquele momento em que, mepermita, surgiu a bunda. Pois houve um tempo, caríssimos, em quebunda não apenas não abundava como não havia. Brincadeira? En-tão leia o Jean-Luc Hennig, estudioso francês saudado com muitaspalmas e nenhuma palmada ao publicar sua Brève histoire des fesses.As nádegas, sustenta o autor (de retaguarda?), só começaram a exis-tir quando o macaco se pôs de pé sobre as patas traseiras. Faz sentido.Ou você já ouviu falar em bunda de macaco ou qualquer outro bicho,exceção feita à tanajura?

Mas onde vim parar com essa conversa! Voltemos ao Inferno, en-quanto não acabam com ele. Não tenho dúvida de que, mais dia menosdia, será declarada extinta essa criação divina que não deu certo, res-ponsável por boa parte dos pavores que temos experimentado, você eeu, neste vale de lágrimas.

Mesmo que o encerramento das atividades infernais venha a se darapós a minha morte, estou confiante em que vou escapar das labaredasde Lúcifer. Antes de mais nada, porque fui católico durante quinze oudezesseis anos, os primeiros de minha vida, e, se não acumulei temposuficiente para aposentadoria nesse departamento, para alguma coisaterão valido tanta reza — minha e de meus pais —, tanto jejum e, comodizia uma conhecida minha, tanto sacrifício da missa. É verdade quejamais consegui completar a meta de comungar nas nove primeirassextas-feiras do mês — já na reta final, dormia além da conta e perdia ahora, ou acordava a tempo mas ali mesmo sucumbia, numa triste au-tossuficiência, à tentação da carne então ensandecida. Já contei comofoi que, de tanto acumular penitências, me vi um dia às voltas com umadívida espiritual tão avantajada que o jeito foi declarar moratória. Emcompensação, acumulei também razoável pecúlio em indulgênciasplenárias, às quais à época um fiel poderia fazer jus e cujo montanteconstituía lotes de distintos tamanhos — 180, 360 dias —, como os pra-zos para resgate de letras de câmbio.

Por fim, espero que em caso extremo pese em meu favor o fato de tersido, na adolescência, capa da revista Reino dos Sagrados Corações,junto com meus pais e irmãos. E também os minutos que dediquei àleitura quinzenal do Lar Católico, de que em nosso não menos católicolar tínhamos assinatura. Confesso que mal sobrevoava os artigos dedoutrinação, indo logo aterrissar na seção de cartas. Nada, ali, atiçavamais minha curiosidade e meus hormônios do que um tipo recorrentede correspondência em que a moça (não me lembro de ter lido uma sócarta de moço) principiava contando que tinha conhecido um rapazbom e respeitador, com o qual entabulara um recatado namoro — enesse ponto todos os textos se tornavam idênticos: “... até que umdia...(Peço que não publique o resto da minha carta!). A resposta tam-bém era padrão: “Nada aconteceu do que você temia”.

Meio século depois, continuo sem saber o que poderia ter aconteci-do que aquelas moças tanto temiam (temiam?), mas deve ter algo a vercom o Inferno.

Humberto Werneck é jornalista e escritor. É autor,entre outros, de O Espalhador de Passarinhos & Outras Crônicas (Dubolsinho),

O Pai dos Burros (Arquipélago Editorial) e O Santo Sujo (Cosac Naify).

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E M F O C O

É, amigo leitor, tem quesofrer na pele para ficarbonita na foto. Literalmente,no caso desta repórter

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Tinta, gritos e sussuros

TEXTO DANIELA PAIVAFOTOS MURILLO CONSTANTINO

Dói. Dói muito. Dói tanto que eu não consegui falar,nem entrevistar o tatuador Mihály Kárai, o Misi, da TattooTradition, enquanto ele me agulhava. Mas o bom vem depois

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E M F O C O

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1. Eu ainda não sei como o tatuador conseguiu manter a linha firmee perfeita enquanto minhas pernas tremiam loucamente

2. Dói em tudo quanto é lugar, mas aí na costela, onde está a carinhado anjo, parece que a tortura não vai acabar nunca mais na vida

3. É difícil descrever a sensação de felicidade quando vi a tatuagempela primeira vez. Nunca tive filhos, mas imagino que seja algo próximo,afinal a imagem na pele é pra sempre. Vira parte de você

4. O desenho de minha amada tia, e a adaptação do tatuador. Muitoparecida, mas com um toque dele. Obra de arte em cima de obra de arte

5. Tatuagem do tornozelo ao pescoço de Misi. Faltam os pés

6. Essa ele que fez. Gosta dos detalhes e da tradição japonesa

Éinevitável se sentir e agircomo uma adolescente quan-do se faz uma tatuagem. Certade que essa marca eu queriano corpo, aos 31 anos dei umade mocinha. Resgatei um

medo antiquíssimo — o da fúria materna.Lembra dela?

Começa devagarzinho. Só pra eu sentirNo minuto em que ler o Outlook, minha

mãe querida, sempre preocupada com ascicatrizes futuras das escolhas de hoje, sa-berá que eu falei sério. Há duas semanasjoguei a ideia no ar: “Mãe, vou fazer umatatuagem, viu?”. Levei broncas impubli-cáveis (de vergonha, minha claro), ques-tionamentos dignos. Ih, mãe, já foi. Fiz.Como nos velhos tempos? Um pouco.Nem tanto.

Uh, dói pra caceta!Até a entrevista com Miháli Kárai, o Mi-

si, meu tatuador, dois dias depois das agu-lhadas, a tatuagem era uma questão sim-bólica. Esta foi a segunda. A primeira temtantos anos que eu nem lembro de dor. Ela,digamos, aconteceu. Materializou-se emforma de um símbolo que sempre meatraiu, o ankh, numa noitada inesquecívele feliz. Nenhum arrependimento. Adoro. Éa minha cara. Às vezes eu e o resto domundo esquecemos de sua existência.

Uuuhhhh. Misi do céu!Essa de agora tem uma história longa

por trás do desejo de se submeter à torturapintada. Há quase 10 anos, minha tia SoniaPaiva, madrinha e mestra, quase morreuem um acidente de carro horroroso. Fiqueitão aliviada pela sua sobrevivência quepedi para ela, que é artista plástica, dese-nhar um dos anjos que descreveu duranteuma espécie de cura espiritual. Ela esbo-çou este que, depois de dezenas de frasesdo tipo “agora vou fazer”, finalmente viveem minha cintura. Mais do que uma ho-menagem, um ato de gratidão divina.

Tô indo bem? Tô mexendo muito?O que veio antes, o desenho, a simbolo-

gia, ou a vontade de tatuar? A tatuagem éuma arte milenar, conta Misi. As primeirasnotícias do homem tatuado datam 5 milanos atrás. Ainda hoje, para certos povos, omenino só pode se intitular homem feitodepois de passar por cinco dias no processode uma extensa tatuagem. “A vontade detatuar é muito profunda”, filosofa Misi, 34anos, corpo tatuado do tornozelo ao pesco-ço — “faltam os pés”, diz.

Essa é a parte que eu vou morrer?Misi nasceu em Püspökladany, na Hun-

gria. Começou fazendo piercings numaépoca em que não se via argolas para tudo oque é lado. Aprendeu o ofício de tatuadoraqui. Há 13 anos mudou de mala e agulhaspor conta de uma paixão. Em São Paulo,trabalhou em estúdio famoso, montou ou-tro com alguns sócios. Não era isso.

Já fez o rosto? Caralho, agora foi no osso.Menos de dois meses atrás acompanhei

um amigo numa visita ao estúdio de Misi, oTattoo Tradition, no bairro paulistano dePinheiros. “Mais simples, reservado e ob-jetivo, sem precisar de recepção, cafezi-nho ou entretenimento”, aponta. Menosno molde vendido pelo enlatado programade TV Miami Ink. Esse amigo só topou mecarregar a tiracolo depois de um aviso.“Olha, não costumo apresentar meu ta-tuador a ninguém. Estou abrindo uma ex-ceção.” Quiz fazer a tatuagem no dia se-guinte. Misi vetou. Só havia vaga no outromês. Ele me dava tempo.

(gemidos) Ai, nossa, tem horas quequeima!

Já que adoro um jornalismo metido a“experimente e conte”, e o dia estavamarcado, sugeri a pauta e a minha editoraamou. Agora não tinha jeito. Não há me-lhor desculpa para loucuras do que umaboa reportagem. Era fazer ou fazer.

Resolvi encarar a agulha pra valer. Tireio antigo desenho da gaveta, e mostrei paraMisi na noite anterior ao Dia T. Ele me re-cebeu enquanto espetava a panturrilha deum rapaz. Eu, cheia de medos. “Só queroque fique escondido”, pedi. Acertamos al-guns detalhes — “pintura é uma coisa, ta-tuagem é outra”, Misi alertou. Precisariareadaptar elementos. “Entrega pra ele”,disse o rapaz antes de retornar ao transe.Dormi pouco. Adivinhe com o quê sonhei?

Às vezes dá a sensação como se o Misiestivesse, assim, passando a unha

Foi uma comitiva junto. O amigo queme apresentou ao Misi; meu pai, pau davida por não conseguir me demover daideia e desconfiadíssimo; outro amigo(que me inspirou a fazer a primeira tatua-gem e tem a dele da mesma noitada e que,por uma estranha conjuntura astral, esta-va de passagem), e o fotógrafo. A intençãoera ligar o gravador e entrevistar Misi aolongo das agulhadas. Ele me avisou queseria impossível. Liguei o aparelho.

(ele pede que eu me levante. Observa)Posso ver?

Eu não conseguia controlar minhaspernas. Elas tremiam. Mandava parar.Elas tremiam. Não sei o que tocava no som,apesar de um ilusório esforço em lembrarda trilha. Música húngara, punk rock, bra-sileira, sei lá. Qualquer coisa que não fez amenor diferença na minha dor. Misi só medeixava espaço para um ou outro suspiro.Enquanto alguém segurava a minha mão,tentava focar ali ou verbalizar alguma coi-sa para ver se melhorava, passava mais rá-pido. Não dava nem para falar.

(grito) Tá linda Misi! E ela se mexe, olhaque legal! PQP!

Durou cerca de 35 minutos. Meu pai en-fiava a cabeça pela porta, saía. Eu apertavaos olhos, os dentes, a mão que aparecia.Era como se estivessem me retalhando,mas eu queria. Dizem que tem lugares quedoem mais do que noutros. Mentira. Tudodói. Dói, dói, dói. Mas só você entende oporquê de estar ali, se enfrentando. O ta-tuador é mero cúmplice. Instrumento.

Dor? Que dor?Misi não tatua qualquer desenho. Pre-

fere a inspiração na vertente japonesa daarte, onde a tatuagem é uma espécie demanto, um quimono feito de tinta e pele.Mas, faz um ou outro desenho que gosta ouacredita na importância para a pessoa. Nãose preocupa em divulgar muito o trabalho,e os clientes têm uma relação quase pas-sional com o húngaro, de esconder mesmoo homem por trás da agulha. Também nãoestimula quem não tem certeza do quequer. “A pele é bonita. Tem que embele-zar, não cobrir”, diz sobre viciados na tin-ta e no nanquim. A experiência na delemesmo o ensinou a aconselhar os anima-dinhos a evitarem o pescoço. Por isso eledá tempo, faz as pessoas pensarem. Não háespaço para um mínimo remorso, tenhacerteza disso.

Pai, você não achou linda?Tenho irmãos adolescentes. Sei que eles

vão se entusiasmar. Aconselharei calma.Não adianta, o preconceito existe, é umacoisa meio juvenil (e que bom isso!) e a doré intensa. Tatuagem é uma marca que nãovem por acidente. É uma decisão pessoal eintransferível. Só a maturidade permiteque você conviva bem com o rumo das es-colhas. Mas confesso: esta daqui me fazuma pessoa mais feliz.

Mãe, não ficou linda?

Eu não conseguia controlarminhas pernas. Elas tremiam.Mandava parar. Elas tremiam.Não sei o que tocava no som

6FOTO ARQUIVO PESSOAL

10 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

P R O V O C A Ç Ã O

TEXTO CHICO MATTOSO

Em algum momento do século 12, ummembro da corte inglesa chamado Da-niel de Beccles publicou um catatau emforma de versos intitulado UrbanusMagnus, ou, como depois veio a ser co-nhecido, O Livro do Homem Civilizado.

Trata-se de um manual de comportamento destina-do a doutrinar jovens mancebos a agir de acordocom os códigos morais estabelecidos pela Corte, en-tão comandada pelo esbelto Henrique II. Entreorientações higiênicas, conselhos sexuais e prescri-ções hierárquicas, o livro traz ensinamentos como“se você tiver um segredo a guardar, não conte parasua mulher” ou “não ataque um inimigo se ele tiverajoelhado para defecar”.

Novecentos anos se passaram desde que Danielresolveu sentar diante da escrivaninha e, usando suahabilidade de versificador, dar uns pitacos na vida darapaziada. Seu trabalho, porém, não poderia sermais atual. Se vivesse hoje, o nobre inglês provavel-mente já teria montado um site próprio, faria pales-tras em universidades e, a depender de seus dotescomunicativos, apresentaria um quadro em um pro-grama vespertino de televisão, onde leria perguntasde espectadores e daria algumas de suas dicas de ele-gância (“não leve para casa a colher que você usoupara comer”) e requinte (“não mate moscas nos bra-ços em frente ao seu patrão”).

É compreensível. Vivemos dias sombrios, de con-fusão moral e incertezas existenciais. Num momentocomo esse, é natural que a humanidade procure se

refugiar em qualquer coisa que esteja além de seusparcos conhecimentos. Nunca precisamos tanto degurus. Alguns deles apontam para o céu, buscam ex-plicações divinas para os mistérios da vida e da mor-te; outros, por sua vez, se dedicam a apontar para ojeito com que o cidadão amarra a gravata. Como bemdisse o músico e especialista em etiqueta Paulinho daViola, “as coisas estão no mundo, só que eu precisoaprender” — e aí está todo um mercado de trabalho aser explorado.

Fiquemos com o exemplo do matrimônio. Casar--se sempre foi um negócio complicado, e é impor-tante que exista alguém disposto a organizar e sim-plificar as coisas. Não é essa a função, claro, do cadavez mais disseminado “cerimonialista de casamen-to”. Trata-se do tipo de atividade cuja principal atri-buição é justificar permanentemente a própria exis-tência — ou seja, tornar tudo tão caótico e indevassá-vel que só o próprio responsável pela bagunça pode-rá desatar todos os nós.

Cerca de um ano atrás, fui padrinho no casamentode um amigo. Após uma rápida cerimônia religiosa,fomos apresentados à profissional encarregada deorganizar a recepção. Com ar despótico, a moça in-formou que os padrinhos não poderiam se juntar aoresto dos convidados nem se servir do jantar, já queseria necessário um “treinamento” antes da abertu-ra da pista de dança. Então fomos instruídos a formaruma fila, segurar balõezinhos em forma de coração e,quando a música começasse, atravessar o salão “fa-zendo alguma coisa engraçada e descontraída”. Ao

chegar à pista, devíamos seguir os passos do coreó-grafo, contratado para dar uniformidade à apresen-tação e “fazer a energia fluir”.

Resisti, é claro. Fiz um protesto formal, sem re-sultado, e me pus a buscar cúmplices, na tentativade organizar um motim. Depois de alguns minutos,porém — e percebendo a naturalidade que os ou-tros padrinhos recebiam as ordens da comandante—, resolvi deixar a insurreição para lá. Mais do queisso: aos poucos, comecei a ser tomado por um dis-creto arrependimento. Afinal, qual era o proble-ma? O mundo é um lugar complexo. As respostassão poucas, a morte se aproxima a galope, tudo éincerto e confuso — nesse contexto, nada pode sermais reconfortante que alguém nos dizendo o quefazer, como agir, para onde nos dirigir. É bem pro-vável que Daniel de Beccles, se vivo fosse, assinas-se embaixo das determinações da cerimonialista.Resolvi relaxar. Então respirei fundo, segurei meubalãozinho e avancei, saltitante e feliz, rumo aosbraços do coreógrafo.

O escritor Chico Mattoso é autor deLonge de Ramiro(Editora 34).

Então fomos instruídos a formaruma fila, segurar balõezinhos em formade coração e, quando a músicacomeçasse, atravessar o salão ‘fazendoalguma coisa engraçada’

As boas maneiras nos farão boas pessoas?Nada como o conforto de alguém nos dizendo o que fazer, como agir, para onde nos dirigir

Casamento pode se tornar presentede grego. Para os convivas

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Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010 | 11

O L H A O P A S S A R I N H O

Grandes twittadasda semanaPérolas, achados e picaretagens.O melhor da filosofia em até 140 caracteres

“Restart é uma merda! OK! Mas não mais que: Ritchie, Nenhum de Nós, Latino, Legião Urbana... perdendo seguidores em 3, 2, 1... @AndreBernardes

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“Gosto do Dinho Ouro Preto porque ele é um cara que ‘se joga’ na hora do show.@aalyssonbr

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“Ontem me encontrei com @ClaroRonaldo, batemos um papo muito agradável. Ele está se iniciando na vida de empresário... @abilio_diniz

“Gosto quando o tempo permite que o Twitter volte à ideia original dos seus criadores: uma rede social de comentários sobre a chuva. @beferrari

“É a hora do Neymar aprender que os vacilos de hoje têm consequência amanhã, valeu? O cara é bom, já disse isso aqui. É só amadurecer. @RomarioOnze

“Soninha = Regina Duarte on drugs. @fcorazza

Sou obrigada a declarar que ando desanimada com o que está acontecendo em Brasília. Vou ligar para o presidente Michel Temer. @Maite_Proenca. Liga, Maitê!

“Eu vou chamar uma amiga pra dar um trato no Neymar... Esse stress todo aí tem nome: virgindade. @DarkRonaldo, mas bem que podia ser o outro...

“Clichê no guichê: a confiança nos Correios já não é mais correspondida. @F_R_A_G_A

“Porque existe tanta corrupção? Alguém pode explicar? Não entendo essa covardia!!! @gugakuerten devia é ligar para a Maitê em busca de respostas

12 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

Z O O M

Kilimanjaro, Tanzânia, e Hemingway são três no-mes mágicos. Dezesseis consoantes e doze vogaisque, pronunciados na sequência correta, têm o po-der de levar a imaginação para savanas bem distan-tes. Se para Humbert Humbert a palavra Lolita (1),repetida entre seus dentes e o céu da boca, era sufi-ciente para iluminar sua alma, para mim, estas ou-tras três — uma montanha, um país, um escritor —me levam para meridianos mais intensos e repletosde sonhos de aventura.

O conto The Snows of Kilimanjaro foi publicadopela primeira vez na revista Esquire, em 1936. A nar-rativa é curta, são apenas 25 páginas repletas de idase vindas no tempo, mas é puro Hemingway (2), elemesmo um exímio caçador. Foi precisamente nestaépoca, entre as duas Grandes Guerras mundiais, queos maiores guias empreenderam os melhores safá-ris. Hoje em dia o espírito de explorador nas savanasafricanas foi substituído por uma quantidade indus-trial de turistas empoleirados em carros, transfor-mados em abre-alas de escola de samba no afã dos

operadores para acomodar o máximo de gente pos-sível. Os Land Rovers e Toyotas se revezam, nos ho-rários de pico, em volta dos infelizes leões que fazemquestão de ignorar as câmeras com teleobjetivas,clicadas freneticamente por ávidos aventureiros quemais tarde, quando reveladas, transformarão osanimais selvagens em atração de zoológico.

Harry Street , o protagonista do conto de He-mingway, é um escritor que durante um safári ma-chuca sua perna e, por falta de cuidado, pega umagangrena monumental. Entre uma febre alta e outra,lembra de sua vida. De como se deixou levar pelo su-cesso fácil, festas e borbulhar do jet set, e nunca sepreocupou em olhar em volta e ver a vida de perto. Écurioso como a maior parte das pessoas que viaja paraÁfrica o faz em um estado catatônico parecido com ode Harry. Parece que o mais importante é a imagemcapturada no visor LCD da câmera, que depois seráampliada até o limite dos pixels para mostrar detalhesque, no fundo no fundo, não são importantes.

Em poucos lugares é possível saborear as sensa-

ções que Hemingway desfrutou em suas temporadasafricanas. O acampamento Serengeti Under Canvas,nas planícies do Serengeti é um deles. Calma, luxo evoluptuosidade em versão calça caqui. Sem contarque no fim do dia, e com todo aquele calor, pode-sesaborear um legítimo Pimm’s (3).

(1) Humbert Humbert é o personagem do escritor Vladimir Nabokowem Lolita (1955), alem dela própia.(2) As 25 páginas do conto são tão boas que, anos mais tarde, rendeu umfilme de 114 minutos, sucesso de público e crítica.(3) Pimm’s. Bebida inglesa, da época do Império, à base de gim, quininae uma mistura de folhas mantida em segredo até hoje. Misture 1 parte dePimm’s com 3 partes de limonada, muito gelo, um par de folhas dementa e aguarde, sentado, o sol se esconder atrás da montanha maispróxima. Se for atrás de um vulcão, melhor.

J.R.Duran é fotógrafo, autor, entreoutros, de Cadernos Etíopes (Cosac Naify).

No Twitter: @jotaerreduran.

Z O O M

J.R.Duran

A savana deHemingway

A maior parte das pessoas que viaja para África o faz em um estado catatônico parecido com o de Harry.Parece que o mais importante é a imagem capturada no visor LCD da câmera, que depois será ampliada até

o limite dos pixels para mostrar detalhes que, no fundo no fundo, não são importantes

J.R.DURAN /FILE INC.

EleitosPechincha | Quer ter uma peça dos Campanana sala e desembolsar menos de quatro dígitos?Então escolha o revisteiro Alessi Blow Up, assinadopela reluzente dupla. Feito em inox polido, elenão pinica e dá charme a decorações modernasou antiguinhas. Custa apenas R$ 488, na Benedixt

14 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

E L E I T O S

Lançamentos simultâneos, Ponto Final, de Mikal Gilmore, e A Turmade Marc Weingarten, demonstram como a ousadia daqueles tempos

Há muito mais aspectos som-brios na aventura dos anos60 do que a maioria das pes-soas reconhece — e não es-tou me referindo apenas àsvítimas das drogas, à ruína

política e à violência do período. Haviatambém um desejo de explorar o arriscadoterreno psíquico, uma percepção de que asmelhores esperanças podem também cus-tar perdas terríveis”, escreve Mikal Gil-more em Ponto Final: Crônicas Sobre osAnos 60 e Suas Desilusões (Companhia dasLetras, trad. Oscar Pilagallo). O trecho éretirado de um perfil de Jerry Garcia, líderdo Grateful Dead, a banda de rock mais

identificada com o idealismo flowerpower e com os atalhos e descaminhos dopsicodelismo, a ponto de inspirar legiõesde fãs, os dead heads, a criarem comuni-dades alternativas. Agora, leia este trecho:“Thompson finalmente encontra o sonhoamericano, mas este havia sido tão cor-rompido que não podia ser reconhecido. ODestino Manifesto agora é apenas ganhardinheiro — turistas bêbados em Vegas sedivertindo até morrer, jogando dinheironum buraco de coelho, onde ele é recupe-rado por gulosos proprietários de cassinos.Quanto à contracultura, tem sido castiga-da e ficado submissa a uma dose pesada dedrogas: ‘Todos aqueles malucos de ácidopateticamente ansiosos que achavam quepoderiam comprar Paz e Compreensão portrês dólares a dose. Mas a perda e o fracas-so deles são nossos também.’ O sonho aca-bara, e agora não havia volta”, escreveMarc Weingarten a respeito de Hunter S.Thompson em A Turma Que Não EscreviaDireito (Record, trad. Bruno Casotti).

Em comum, ambos os livros focalizam acultura pop dos anos 60. Mas, enquantoGilmore perfila ícones da música e litera-tura, Weingarten escreve a sobre o jorna-lismo, mais especificamente o new jour-nalism. Nos dois livros, porém, existe,como se nota nos trechos acima, umaconsciência de que os sujeitos mais ligadosno zeitgeist, como Jerry Garcia e Hunter S.Thompson, já percebiam que aquela festanão duraria muito — que o sonho já traziaem si, embutido, o seu alarme. Nas 438 pá-ginas de Ponto Final, Gilmore, jornalistada revista Rolling Stone desde os anos1970, elenca Allen Ginsberg, TimothyLeary, Grateful Dead, Ken Kesey, Beatles,Johnny Cash, Bob Marley, Phil Ochs, HST,Jim Morrison, Allman Brothers, LedZeppelin, Pink Floyd, Bob Dylan e Leo-nard Cohen. A escolha do formato perfil dáao livro o efeito de um caleidoscópio. Gil-more, com seu olhar apaixonado e com-passivo, mas com escrita informativa e di-reta, usa cada um dos perfilados como ân-gulo para observar o paraíso e o infernodos anos 60. Exemplo é o modo como nar-ra a fábula dos Beatles: ora sob a vida deGeorge Harrison, o caçula espiritual, ocontraditório e talentoso guitarrista queficou apartado do centro nervoso da maiorbanda pop da história por conta de suapersonalidade introvertida; ora sob a bio-grafia de John Lennon, o genial líder dogrupo, o homem que detonou o sonho e foipor ele detonado ao ser assassinado em1980. O livro é dividido entre sobreviven-tes e mortos — com ligeira vantagem para

estes. Quase não há página sem menção adrogas, algo que espanta o autor no prefá-cio: “A busca por liberdade levou váriaspessoas neste livro a um declínio terrível.A liberdade de fazer cagadas podia ser ma-ravilhosa, mas também significou umaviagem sem volta”. No mesmo prefácio,Gilmore especula sobre como a obsessivarecusa às convenções e ideologias domi-nantes nos anos 60 redundou no pragmá-tico neoconservadorismo do século 21, emque “mecanismos culturais, comerciais eda mídia estão mais aptos a assimilar oudesacreditar as ameaças da cultura pop oucaracterizá-las como simples afronta aopudor e às boas maneiras”. Mas ele aindasonha: “Não vivo no passado, nem desejovê-lo reencenado; só quero saber o queserá possível amanhã, o que poderá serfeito de maneira nova”.

Se a imprensa é o reflexo da cultura quepretende registrar, só o revolucionárionew journalism para dar conta daquelestempos radicais. Assim, se o livro de Gil-more é um caleidoscópio, o de Weingartense parece com uma ampulheta — a areiaescorrendo dando uma medida da criati-vidade jornalística que pulsava nos anos

Nas 438páginas,Gilmore elencaAllen Ginsberg,Timothy Leary,Grateful Dead,Johnny Cash,Phil Ochs, HST,Jim Morrison,AllmanBrothers,Led Zeppelin

Perfil de John Lennon ajuda a compor retrato do céu e inferno dos Beatles

TEXTO RONALDO BRESSANE

FOTO DAVID CORIO/MICHAEL OCHS ARCHIVES/GETTY IMAGES

FOTO AFP

Os dreads eternos e a história da lenda Bob Marley

Cadê os anos 60 que tavam

Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010 | 15

TERRÍVEL“A culpa é das galinhas. Elastêm bicos. São pequenos, masmachucam. Com o passar dosanos, muitos anos, esses bicosvão crescer. Ficarão com umcomprimento suficiente paraabocanhar uma cabeça humana(...). Na verdade, não serão maischamadas de galinhas, as galinhas.Darão vida a uma espécie nova,sedenta de vingança após tantosséculos de servidão.” Assim inicia

o primeiro dos contos de Salvem os Monstros (7Letras),seleta de contos do carioca Fernando Paiva, guitarristada banda Luisa Mandou Um Beijo. Em uma linguagemseca, bem-temperada por ironia e amor pelospersonagens, Paiva anota criativas historietas quemoram na encruzilhada entre a galinha ao molho pardodo dia a dia e o fantástico — presente no homem quepinta retratos de mortos; no tradutor que, insatisfeitocom o original, reescreve os livros; ou, na narrativamais surpreendente, na vidente que lê destinos alheiosnas pintas do próprio corpo.

Novos em folha

FANTÁSTICO“Andrew Harrington gostariade poder morrer mais de uma vezpara não ter de escolher só umaentre as muitas pistolas que seupai guardava como tesouro nascristaleiras da sala.” Com estaabertura, o premiado — e best--seller — espanhol Félix J. Palmaexibe suas armas: uma linguagemafiada, que agarra o leitor aténão soltá-lo mais, e a ideia de

que, entre várias possibilidades, melhor mesmo é optarpor todas. Daí ter aproximado, neste saboroso O Mapa do Tempo (Intrínseca), os gêneros fantasia, ficçãocientífica e policial. O argumento: a amada de AndrewHarrington foi a última vítima de Jack O Estripador;antes que use as pistolas do pai, um primo lhe ofereceajuda através de uma solução dada por ninguém menosque o escritor H.G. Wells.

Que Não Escrevia Direito,loucos não deixou descendentes

DECADENTE“Como sempre, o velho Falls vieracom John Sartoris, caminha oscinco quilômetros desde o asilodo condado, trazendo consigo,como um odor, como o cheiro limpoe seco de seu macacão desbotado,o espectro do morto para dentrodaquela sala em que estavasentado o filho do morto, e ondeos dois, o indigente e o banqueiro,ficariam sentados por meia hora

na companhia daquele que fora além da morte e retornara.”Uau. E esse é só o primeiro parágrafo. Tente parar poraqui a leitura de Sartoris (Cosac Naify), romance emque o norte-americano William Faulkner começa o ciclode histórias da fictícia Yoknapatawphan, ambientadano norte do Mississipi: após viver a glória duranteo período escravocrata, uma família tão aristocráticaquanto vazia tem de se habituar à derrocada, nasprimeiras décadas do século 20. Como o período acimasugere, o tempo em Faulkner vai sendo destiladolentamente, como um veneno que suspende o leitor.

60, hoje tornada pó em raros suplementosculturais, revistas e sites. Nunca o jornalis-mo esteve tão próximo de ser consideradouma arte em si como nos 60, era que implo-diu os limites entre ficção e não-ficção. Se-gundo a deliciosa e implacavelmente preci-sa narrativa de Weingarten, tudo começouquando Clay Felker, editor da hoje deslum-brada revista New York, resolveu cutucar aconcorrente New Yorker, que representavao cúmulo da cultura nefelibata novaiorqui-na. Para perfilar o editor William Shawn,que jamais dava entrevistas, foi destacadoseu repórter-prodígio, Tom Wolfe. O resul-tado é o texto “Pequenas múmias”, em quepela primeira vez Wolfe dava vazão a seu“estilo hiperbólico”, que conjugava subje-tivismo feroz a técnicas literárias como diá-logos fartos, monólogos interiores e vastadescrição — tudo em impensáveis 10 mil pa-lavras (mais ou menos 50 páginas). Em 390páginas, através das figuras de Wolfe, GayTalese, Norman Mailer, Joan Didion e, claro,Thompson — cuja atordoante biografia étema de vários capítulos —, Weingarten

Nunca o jornalismoesteve tão próximo de serconsiderado uma arteem si como na eraque implodiu os limitesentre ficção e não-ficção

conta a história do jornalismo norte-ameri-cano, de sua formação, no meio do século 19,se detendo no seu apogeu, nos anos 60, ao de-clínio, nos 70, até chegar aos tempos atuais —em que, por conta de editores opacos e pu-blishers de olho em interesses financeiros, onew journalism sobrevive exilado em livros.Cara e coroa, face e reflexo, Ponto Final e ATurma... são fundamentais para refletir sobrecomo a explosão criativa dos anos 60 redun-dou numa cultura em que todo risco é calcula-do e dedutível do imposto de renda.

Tom Wolfe em ‘Pequenas múmias’: hiperbólico pela primeira vez

Ken Kesey está entre os perfilados pelo jornalista da Rolling Stone

FOTO GRAHAM BARCLAY/GETTYIMAGES

FOTO FRANK MICELOTTA/AFP

aqui?

16 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

O maestrosuperpopZubin Mehta, amado por multidões,toca domingo no Ibirapuera, depoisna Sala São Paulo e no Municipal do Rio

Ele é daquela categoria quetodo mundo fala a respeito deboca cheia, mesmo quemnunca o viu em cena. ZubinMehta, 74 anos, virou quaselugar comum de maestro. Seu

feito mais pop foi reger a Orchestra delMaggio Musicale Fiorentino e da Orches-tra del Teatro dell’Opera di Roma, no pri-meiro Concerto dos Três Tenores (PlácidoDomingo, José Carreras e Luciano Pava-rotti), em Roma, em 1990. Até hoje grudouno seu nome o aposto “o maestro dos te-nores”. E além do senhor currículo (dire-tor da Sinfônica de Montreal, da Filarmô-nica de Los Angeles, Filarmônica de NovaYork, Filarmônica de Israel), Zubin tem aseu favor o carisma muito além da batuta.Ei-lo novamente no Brasil para quatroapresentações com a Filarmônica de Mu-nique, dentro da temporada do Mozar-teum Brasileiro. Começa domingo no Ibi-rapuera, ao ar livre, faz duas noites na SalaSâo Paulo (27 e 28) e, no dia 29, uma únicaapresentação no recém reformado Thea-tro Municipal do Rio.

Vai nos mostrar peças de Mahler, Verdi,Tchaikovsky, apresentar uma jovem so-lista prodígio (a violinista Mayuko Kamio,24 aninhos) e, como sempre, seduzir a au-diência com seu estilo passional, vibrante.Zubin é um romântico. Primeiro, no re-

Quem mais fariaum concertocomo em Weimar,em 1999, bemao lado do campode concentraçãode Bunchewald,botando alemãese judeus tocandojuntos?

pertório. São elogiadissimas suas inter-pretações de neoromânticos como Strausse Mahler. Depois, na postura política, hu-mana, de abraçar grandes causas. Já regeua Orquestra Sinfônica de Sarajevo nas ruí-nas da Biblioteca Nacional de Sarajevo,angariando fundos para as vítimas daguerra separatista da Iugoslávia. Tocoupara ajudar as vítimas do tsunami asiáticoem Madras. E quem mais faria um concer-to como em Weimar, em 1999, juntinho docampo de concentração de Bunchewald,botando alemães e judeus tocando lado alado: a Orquestra do Estado Bávaro e a Fi-larmônica de Israel?

Ah, Zubin fez. Faz muito mais. Traba-lhou com o cineasta chinês Zhang Yimounuma espetacular versão da ópera Turan-dot na Cidade Proibida, na China, coisagrande, 300 figurantes e 300 soldados, querendeu um making of narrado pelo pró-prio Zubin, The Turandot Project. Gravoucom o compatriota Ravi Shankar e a Filar-mônica de Londres o Concerto para Sitarnº2. Atuou com os alucinados artistas datrupe La Fura Dels Baus. E cuida da suaMehli Mehta Music Foundation em Bom-baim, sua cidade natal, comprogramaspara mais de 300 crianças estudarem mú-sica clássica. Em Israel, tem a escola Bu-chmann-Mehta, ligada à Filarmônica,com projetos de ensinar crianças árabesnas cidades de Shwaram e Nazareth,usando professores locais. “Em Israel osmúsicos ou seus filhos passaram peloexército, a arte não pode ignorar o que estáao redor”, diz ele.

Tanto interesse pela garotada e pelasquestões sociais podem sugerir um sujeitode biografia dramática, infância pobre,que agora quer retribuir suas grandeschances na vida. Longe disso. Zubin

Mehta é da flor da sociedade indiana, nas-cido numa aristocrática família parsi. Seupai, Mehli Mehta, foi violinista e fundadorda Orquestra Sinfônica de Bombaim. Zu-bin estudaria no Conservatório de Viena,onde passaram nomões como ClaudioAbbado e Daniel Barenboim, e seguiriapara uma carreira repleta de premios,como regente e como cidadão. Como, porexemplo, o Praemium Imperiale, conce-dido pela família imperial japonesa em2008. Sua vida deu filme (o recente docu-mentário Portrait of Zubin Mehta), livro(The Zubin Mehta Story), e muito o quefalar. Vamos vê-lo, então.

Zubin Mehta: românticono repertório e nas

causas humanitárias

Mayuko Kamio, a solista de apenas 24 anos

TEXTO CRISTINA RAMALHO

FOTO DIETER NAGL/AFP

FOTO DIVULGAÇÃO

ORQUESTRA FILARMÔNICADE MUNIQUE COM OMAESTRO ZUBIN MEHTA

WWW.MOZARTEUM.ORG.BR

Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010 | 17

Barulhinho bom

BAND OF JOY, ROBERT PLANTRobert Plant constrói uma ponte sobre o LedZepellin para evocar a banda de blues psicodélicoque liderou, ao lado de John Bonham, anos antes.Mas o som não é de uma nem de outra. A lendado rock está interessada numa outra nostalgia.No embalo de Raising Sand, de 2007, parceriapremiada com a cantora de bluegrass AlisonKrauss, Plant viaja pelo country e o folk rock.Como nas românticas Falling in Love Again eThe Only Sound that Matters, daquelas perfeitaspara se ouvir na estrada. GABRIEL PENNA

CABARET DO ROSSI, REGINALDO ROSSI“Quando você vem com essa cara de meninalevada, pensando besteira... Uma lady na mesa,uma louca na cama”, taí os versos que só oReginaldo Rossi pode cantar de boca cheia,transbordando sacanagem. O disco é ele, e tocá-lonuma festa, com os amigos, vai render karaokêsde pilequinho, pedidos para ouvir aquela faixa denovo (essa citada aqui é Taras & Manias), risadas.Ou é para dançar colado quando ninguém estáolhando, porque a breguice é irresistível. MarisaMonte que me desculpe, mas a versão dele deAmor I Love You convence. Para arrebatar. C.R.

HITS DO UNDERGROUND, MIRANDA KASSINE ANDRÉ FRATESCHIEste casal descobriu um modo de sobrevivênciamusical: tocar música dos outros nos palcos. Elainterpreta Amy Winehouse. Ele incorpora DavidBowie. A ousadia do repertório deste Hits doUnderground com nobres desconhecidos do grandepúblico é mais do que positiva. Ouvir Wander Wildnere Wado nos faz lamentar ainda mais a pasmaceirado mundo pop (Restart no VMB? Aonde chegamos?).Não se pode dizer que a dupla faz um panorama dacena independente. Mas o disquinho tem tudo paracair no gosto do hype paulistano por conta docliminha Jovem Guarda. E aí é aquela coisa denoitada do gênero: é divertido, mas em doseshomeopáticas porque senão enjoa. DANIELA PAIVA

Erasmo Carlos faz um pocket show de luxo, privé,para poucos, VIP e exclusivo, no Fasano. Onde mais?

Tremendamentechique

Mais uma vez o Outlook sai a campopara fazer um jornalismo barato, degraça, mas muito exclusivo. Exclusi-vo que só. Existe algo mais chique,aristocrático e refinado do que o Ho-tel Fasano em São Paulo? Não, não

existe. E um show de Erasmo Carlos, aquele famosoTremendão de outrora, no bar do hotel para apenas 60convidados, com aquela proximidade e intimidadeque é capaz de fazer com que você sinta o cheiro da la-vanda pós-banho do astro, tem preço? Até tem, sevocê possui um MasterCard Black, o suprassumo domundo do consumo, o passaporte da alegria para ex-clusividades sem fim, como esta série de pocketshows com grandes astros da música a poucos metrosdevocê.Semocartãodecrédito,éprecisoumjabacu-lê de primeira para entrar nesse mundo VIP.

O show intimista estava marcado para às 21h da úl-tima terça-feira no bar do Fasano, o Baretto. E comotodo jornalista que se preze tem hábitos como o dedeixar pra se alimentar em oportunidades que a vidalhe apresenta, a noitada prometia. Mas, uma provi-dencial passada em casa para um tapa no visual tam-bém serviu a este jornalista para um agradável jantarem família. Assim, cheguei atrasado e culpei o caos dacidade — quem diz que o trânsito de São Paulo é sem-pre um problema se esquece das muitas vezes em queele é a solução. Parei minha scooter na vaga destinadaà motocicleta do senhor Fabrício Fasano, em meio aMaseratis, Ferraris e outras máquinas milionárias, esubi correndo para não perder a festa.

Nome na lista é uma beleza, adianta mais do quecartão de crédito Black, Gold ou o que seja. Colocadona mesa com outros colegas provavelmente não jan-tados, e que por isso mordiscavam croquetes — reco-mendados pelo próprio Rogério Fasano, que passavade um lado para outro —, brusquetas e canapés varia-dos, harmonizados com vinho chileno, optei pelaágua Prata, já que a noite era de serviço e o estômagoestava devidamente forrado.

Às21h50,asluzesabaixameoshowcomeça.Aban-da entra no palco e solta acordes do velho rock’ n’ roll.

Erasmo aparece no fundo do salão e caminha em dire-çãoaopalcojácantando.Tênispreto, jeansescuro,ca-miseta preta com o número 1 estampado ao peito, ja-queta de couro — obviamente preta —, corrente deprata no pescoço e longos cabelos grisalhos escorridossobre as orelhas. Guitarra em punho. Parecia um velhoíndio,aqueledodesertodeSonoradeCarlosCastanedanomaisdoqueclássicoAErvadoDiabo.OTremendãonão é fácil. Chega abafando. Fala que “é um orgasmoinenarrável para um compositor estar fazendo 50 anosde estrada, porque de carreira dá dupla interpreta-ção”. Acreditamos. O velho estava feliz.

No palco, bem pertinho de todos, sua voz é abafadapela banda, pelo menos na mesa dos jornalistas, bemao lado do palco. Coisa que lá pela sétima música éajustada. Se fosse Tim Maia, tinha resolvido de pri-meira — olha o retorno, porra! Mas o Erasmo é fino,gentleman e o show é bom. Segue emendando suces-so em sucesso e o público, muito educado, fica no má-ximo rebolando nas cadeiras entre um gole de vinho eoutro. Lá pelas tantas é a vez de Erasmo beber água,porque “os hábitos mudaram”, avisa. Edepois com-pletar: “Pelo menos não dá ressaca”.

E o tempo passa, e já estamos na 12ª música, passa-mos por Negro Gato e outras tantas. Um desavisado nofundo do bar tenta puxar uma onda de luzes pós-mo-derna. Aquela coisa brega de balançar o celular. Nãopercebe que no Fasano isso não pega. E Erasmo pedepara que, acaso algum parente, amigo, vizinho ou co-nhecido de seu parceiro Roberto Carlos esteja presen-te, faça chegar aos ouvidos dele que, ali no Baretto, oTremendão faz uma homenagem “pequena, mas sin-cera” aos 50 anos de carreira do amigo. Canta em se-guida uma compilação de vários sucessos da dupla.Não sou amigo, nem vizinho, mas vou avisar aquimesmo. Está dado o recado, hein, Rei! Para terminar,lá na 20ª música, Rogério Fasano cruza o salão em for-maçãodetrenzinho,ensanduichadoentreumamore-na e uma loira, vistosas. E o Tremendão cantando“pode vir quente que eu estou fervendo...”.

Lá pelas tantas é a vez de Erasmobeber água, porque ‘os hábitosmudaram’, avisa. E depois completa:‘Pelo menos não dá ressaca’

FOTO DERLY MARQUES FOLHAPRESS

Rockstar em 1983. Os cabelos ainda tentavam fazer volume

No Baretto, essa semana, madeixas lisas e careca pronunciada

TEXTO LUIZ HENRIQUE LIGABUE

FOTO EVANDRO MONTEIRO

18 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

família, conhece o ambicioso e idealis-ta Jake Moore, vivido pelo queridinhode Hollywood Shia LaBeouf, dos doisTransformers. Ele está prestes a se ca-sar com Winnie, filha de Gekko, inter-pretada por Carey Mulligan, linda,

mas bem mais chorosa e chata doque em Educação.

Mais do que o roteiro comdiálogos ágeis, os coadju-vantes de alto nível (o ve-lhinho Eli Wallach está im-pagável) e as temáticasatuais (energia e meio am-biente, crise do mercadofinanceiro americano), o

filme tem um quê de festi-nha particular. Charlie

Sheen (Bud Fox, o dedo-durodo primeiro) dá uma passadi-

nha, toma um uisquinho. Sófaltou falar: Let’s get this party

started, my friend.

E L E I T O S

Para quem ainda se esfor-ça em apagar da memó-ria a avalanche azul deAvatar, o holofote nofim do túnel começa abrilhar. Está na hora de

especular sobre qual será o arrasa--quarteirão do Oscar em 2011. Nestefim de semana, entra em cartaz umbelo candidato às apostas: WallStreet — O Dinheiro Nunca Dorme.

O novo filme de Oliver Stone vemprontinho para conquistar a Acade-mia. Primeiro porque é Oliver Stone, eo cineasta norte-americano há umtempo não frequenta a lista dos ven-cedores. Ele tem duas estatuetas peladireção de Platoon (1986) e Nascidoem 4 de Julho (1989), e sua última in-dicação entre as principais catego-rias da premiação foi em 1996pelo roteiro de Nixon. Como sesabe, o Oscar adora premiarvoltas à boa forma. É o casode Stone, que fez pouco ba-rulho com filmes como W.,sobre o ex-presidenteGeorge Bush, e até pagoumico — quem quer lem-brar de Alexandre?

Michael Douglas éoutro que merece al-gumas fichinhas. Oator, que passou a apa-

recer com mais frequência nas re-vistas de fofoca do que nos filmes re-velantes, repete um marco em suatrajetória. Mais uma vez, ele é Gor-don Gekko, o magnata da frase greedis good (a ganância é boa). É o DomCorleone de Wall Street, o que o tor-na naturalmente imbatível. Douglasconta ainda com um draminha pes-soal. Está tratando de um câncer, e oOscar é mestre em distribuir confor-to em forma de estatueta para as ce-lebridades que sofrem com os malesdo ser comum.

Mas o melhor é que Oliver Stoneinspira uma corrida bem mais inte-ressante do que a anterior comWall Street — O Dinhei-

ro Nunca Dorme.O filme é uma

continuação deWall Street — Po-der e Cobiça, de1987, que rendeuOscar de melhorator a Douglas.Nesta nova eta-pa, Gekko acabade sair da prisãodepois oito anos,preso por fraudee outros crimes.Abandonado pe-los amigos e pela

TEXTO DANIELA PAIVA

Repetindo:a ganânciaé boaWall Street — O DinheiroNunca Dorme é um encontrode velhos camaradas.Só falta o amigo Oscar

Shia LeBeouf como Jake Moore

Carey Mulligan está linda e chata

Oliver Stone: quando a sequência faz bem

Michael Douglas,grisalho, é o DonCorleone de Wall Street

Charlie Sheen e Michael Douglas no primeiro filme, de 1987

FOTOS BARRY WETCHER/SMPSP

FOTO DIVULGAÇÃO

O filme é uma continuaçãodo homônimo, de 1987.Charlie Sheen (Bud Fox,o dedo-duro do primeiro)dá uma passadinha,toma um uisquinho.Só faltou falar: Let’s get thisparty started, my friend

Josh Brolin (esq.) com o astro de Transformers

Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010 | 19

TEXTO DANIEL SCHENKER

Os passossecretos da arteDentro do Festival do Rio, a mostra ItineráriosÚnicos traz documentários sobre o processocriativo de Picasso, Basquiat e até dos pixadores

Eu quis ter um itinerário úni-co”, afirma a artista plásticaLouise Bourgeios no docu-mentário de Marion Cajori eAmei Wallach sobre a cons-trução de sua trajetória, tar-

diamente reconhecida pelo mercado. Aexpressão acabou intitulando uma dasmostras mais legais desta edição do Festi-val do Rio: filmes sobre trabalhos de pin-tores, escultores, fotógrafos e arquitetos.

O objetivo da Itinerários Únicos — for-mulada por Ilda Santiago (uma das direto-ras do festival) e pelo artista plástico Ro-drigo Cardoso — não é só colocar o espec-tador diante de cinebiografias de artistasrenomados. “Fizemos uma seleção de 14filmes assim. O único que destoa é Obsce-no: o Retrato de Barney Rosset e GrovePress. Mas é intencional, pois fala de umeditor pioneiro na luta pela liberdade deexpressão nos Estados Unidos”, explicaCardoso, sobre a produção de Neil Or-tenberg e Daniel O’Connor.

Questões centrais despontam nos fil-mes, muitas referentes à conexão entrevida e arte, tidas como indissociáveis. Aprópria Bourgeois aborda seu ofício comoum autorretrato. “Todo o meu trabalho dosúltimos 50 anos foi inspirado na minha in-fância”, diz, em Louise Bourgeois: a Ara-nha, a Amante e a Tangerina.

A obra de arte como expressão contun-dente do artista transparece em Jean-Mi-chel Basquiat: a Criança Radiante, filme deTamra Davis sobre o pintor que, no fim dosanos 70, mergulhou de cabeça numa Ma-nhattan mais que efervescente (e perigo-sa). A diretora teve contato direto com

Basquiat. “O subtítulo do filme não é poracaso. Ele era radiante, ninguém conse-guia tirar os olhos dele. E era espontâneo,desenhava e pintava como criança. Alémdisso, ficava triste como uma criançaquando alguém dizia algo de que não gos-tava”, disse ela, em entrevista ao Outlook.

Em Fragmentos de um Diário, AndréPríncipe e Marcos Martins focam traba-lhos de fotógrafos japoneses de três gera-ções num filme realizado em granuladopreto e branco e formado por belas ima-gens embaçadas. “Parece-me que os fotó-grafos japoneses estão interessados emmostrar coisas que a sociedade japonesanão quer ver. Antes era Hiroshima e Naga-saki; agora, o sexo”, acredita Príncipe.

Por sua vez, Rodrigo Lamounier subli-nha, em 5+5+, a múltipla possibilidade derepercussão suscitada por uma obra — nocaso, cinco serigrafias de Carlos Vergaraconcebidas em 1967 — nos espectadores.“O artista almeja tocar numa região es-condida, recatada, defendida do especta-dor”, lança o próprio Vergara.

Mas 5+5+ não é a única produção brasi-leira presente na mostra Itinerários Úni-cos. Pixo, de João Wainer e Roberto T. Oli-veira, aborda a pixação em São Paulo, quemigrou do movimento punk e é tratadacomo atitude de protesto, como busca dereconhecimento social e também sim-plesmente como fonte de adrenalina.

Ao se arriscara desvendar osmistérios da criaçãoartística, a mostravai além de apenascolocar o espectadordiante decinebiografiasde profissionaisrenomados.É quandodespontam questõescentrais sobrea conexão entre vidae arte, tidas comoindissociáveis

Muitos dos filmes escolhidos remetemàs décadas de 60 a 80, principalmente noque se refere a uma Nova York tomada porperformances. Um vasto período quemarcou o curador Sam Wagstaff e o fotó-grafo Robert Mapplethorpe, que viveramuma relação intensa, com constantes visi-tas às sombrias regiões das drogas e dosexo livre, como é lembrado em Preto,Branco e Cinza, de James Crump.

A performance, compreendida comocorrente artística semeada nos movimen-tos de vanguarda do início do século 20, éevocada em Picasso & Braque vão ao Cine-ma, documentário de Arne Glimcher quesublinha a ligação entre o cinema e as artesplásticas. Vá ver.

FESTIVAL DO RIO 2010ATÉ 7 DE OUTUBROWWW.FESTIVALDORIO.COM.BR

Em Picasso & Braque Vão ao Cinema, Arne Glimcher evoca a performance na arte

Um dos dois representantes brasileiros na Itinerários, Pixo fala de muros vandalizados

Sam Wagstaff (na frente) e o fotógrafo RobertMapplethorpe, em Preto, Branco e Cinza, sobre eles

FOTOS DIVULGAÇÃO

20 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

E L E I T O S

Epensar que há 18 anos esta-va este repórter que vos es-creve, na festa de casamen-to da prima, a desfrutar desua primeira experiência deembriaguez completa. A

ponto de, num momento de entusiasmo,arremessar um copo cheio de bom uís-que na piscina, para a vergonha de seuspobres pais e dos nobres escoceses quecom tanto esmero conceberam aquele lí-quido dourado. Muito tempo se passou, osuficiente para amadurecer lotes de Gol-den Label e me tornar, se não um con-noisseur, um respeitoso consumidoreventual da bebida. Ao menos, não umdaqueles que a misturam sem pudor arefrigerantes e energéticos. Na China,vejam só, combina-se com chá verde.Maneira prosaica de beber que respondepor dois terços do consumo de uísque nomundo. Pra quem vende, é melhor nãoquestionar. “Deixamos essas combina-ções para os barmans de cada lugar”, es-capa Jonathan Driver, embaixador glo-bal da Johnnie Walker, que nos dirige àelegante sala de uma casa centenária emSão Paulo, onde faremos a degustação donovo blend da família Blue Label — a joiada coroa da tradicional marca escocesa.“Fazer nossos uísques já é difícil o bas-tante”, justifica Driver, com sua inaba-lável polidez britânica.

O produto a ser degustado levou seteanos para ser preparado e apresenta-senuma garrafa de cristal Baccarat comgargalo de ouro, devidamente acomoda-da numa suntuosa caixa de madeira en-

vernizada e forrada em couro, que só fal-ta tocar música. Um dos mil exemplaresdele no mundo pode ser seu, meu, nossopor singelos R$ 9.980. O The JohnWalker, assim batizado em homenagemao patriarca, é uma combinação de anti-gos maltes e uísques de grãos escolhidosa nariz de uma reserva de quase sete mi-lhões de barris. De cada mil cheirados,apenas dez estão aptos. Tarefa para o ol-fato e o paladar apurados de Jim Beve-ridge, master blender da JohnnieWalker, que carrega no nome a vocaçãopara sondar a alma das bebidas. Sujeitodiscreto, até tímido, de uns 60 e poucosanos, com um talento que garante a ele,comentou-se por lá, um cargo vitalíciocom salário próximo ao do presidente daempresa. Jim não costuma abandonarsua fazenda entre as montanhas do inte-rior da Escócia. Também evita, quandopode, expor sua delicada ferramenta detrabalho à fumaça complexa que sai doescapamento de automóveis. Quebrou arotina para excursionar por Brasil e Mé-xico, respirar o ar pernicioso das metró-poles, e apresentar três de suas maiorescriações, em brevíssimas doses.

Antes, porém, e sempre, um gole deágua gelada, que é pra fazer explodir ossabores na boca. “Frutas frescas, fumaçae frutas secas, como passas”, explica sera essência de um blend da JohnnyWalker. Mais água, e passamos ao se-gundo uísque. O sabor forte da madeirapredomina. No segundo gole, uma agra-dável surpresa: torna-se mais macio,quase cremoso. Enfim, chegamos ao as-

f

The John Walker,assim batizadoem homenagemao patriarca,é uma combinaçãode alguns rarosuísques escolhidosa nariz de umareserva dequase sete milhõesde barris

tro do dia. Beber com gelo, o John, nun-ca! A bebida, viscosa e encorpada, com-bina o gosto marcante do carvalho comum delicioso toque adocicado. “É umuísque de grande complexidade”, sen-tencia Jim. Agora, que fazemos parte dahistória de Johnnie Walker, serve-se oalmoço, cujos pratos chegam e se vão ra-pidamente sem deixar grandes recorda-ções. Quanto ao lendário uísque, um dia,quem sabe, bebo um pouco mais.

Lendasdo scotchUma degustaçãode joias etílicasda tradicionalmarca escocesa

Cristal e ouro 24 quilates para embalar o nobre líquido, feito da mistura de antigos maltes e uísques escoceses

TEXTO GABRIEL PENNA

Sensível a tudo, o nariz de Jim também vale ouro

Caixa, garrafa econteúdo saem porR$ 9.980. Apenas20 à venda no país

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Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010 | 21

Um flan, apenas unzinho, com aquelaaparência trêmula e a infalível voltinhade chantilly em seu topo, foi suficientepara conquistar o coração da mais belajornalista de todos os tempos da Alame-da Barão de Limeira, 425. Veja só como

sãoascoisas.Ela,queapenasnasceunalongínquaBue-nos Aires, e foi apresentada ainda criança aos prazeresbrasileiros do açúcar — as goiabadas, os brigadeiros e osdocesdeabóbora,mamão...—,guardounasprofunde-zas de seu DNA uma queda por flans tremes-tremes,ícones portenhos. Tá certo que nessa categoria de es-truturas moles ainda se incluem os quindins e panaco-tas que a redimem um pouco dessa falta de fidelidadepalatável. Tudo bem. Lucrecia Zappi também confes-

sou que Romeu e Julieta fazem a sua cabeça, o que lheconferiu mais alguns pontos positivos.

Jornalista dedicada ao universo infantil, em umade suas reportagens acabou topando, não se sabe sepor acaso ou por contingência da vida, com o mun-do dos doces. Sete anos mais tarde, surgiu o livroque essa semana saiu dos fornos das gráficas para aslivrarias brasileiras.

Em Mil-folhas (Cosac Naify), Lucrecia escreve sobreashistóriascontidasnosdoces.Partedaodisseiadoaçú-car, aquela que começa com os portugueses desembar-cando no Brasil; segue firme pelo pão de ló, que cruzou omundo para receber no Japão a alcunha de casterá, umacorruptela de castelo (referência às claras em castelo —

O baratodo açúcarA jornalista Lucrecia Zappi acabade lançar um livro sobre a história do doce,e deixar alguém babando

Lucrecia,que nasceuna longínquaBuenos Aires,foi apresentadaainda criançaaos prazeresbrasileirosdo açúcar — asgoiabadas,os brigadeiros...

ou em neve — da receita); conta como os alfajores en-cantaram espanhóis e argentinos (olha o DNA aí denovo);passapelatransformaçãodoapimentadoxocoatlasteca em chocolate europeu; e ainda nos diz como odono de uma vidraçaria, o senhor Thomas Adams, re-cebeu em sua loja um general mexicano revolucionárioe transformou uma resina trazida pelo militar (a chictli)em chiclete. Mais. Refaz a trajetória das neves até vira-rem sorvete e revela como um doceiro sírio enrolou umwaffle em forma de cone para suprir a falta de copinhosecriouafamosabasedasbolasgeladas.

As histórias são sempre curtas, informativas,leves e ricamente ilustradas. Mil-folhas, parte dacoleção infanto-juvenil Prismas, faz jus à belezada Lucrecia com um projeto gráfico impecável,

que é marca da editora. Ficou com vontade dequero mais? Ok. Um chorinho, de encher a autorade orgulho. O chantilly, aquele creminho que vaisobre o flan, nasceu no castelo francês homôni-mo, como resultado do sofrimento de um chef,François Vatel, em lidar com a falta de ovos para astais neves em castelo. O coitado bateu creme deleite com açúcar até obter uma mistura leve e ae-rada. E que prêmio levou Vatel? Só posso dizer quefoi trágico, e encontra-se na página 79 do livro.Bon appétit! LUIZ HENRIQUE LIGABUE

LANÇAMENTO

LIVRARIA DA VILA. SHOPPING CIDADE JARDIM

AMANHÃ, ÀS 15H

Um projeto gráfico de encher os olhos: desenhos, fotos e ilustrações ao estilo vintage

FOTOS DIVULGAÇÃO

22 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

E L E I T O S

TEXTO NATÁLIA MAZZONI

Tem jacaré na baladaA Lacoste chamou novos artistase designers para rejuvenescer a marca tãoclássica, sinônimo de um estilo de vida

Ojacaré tá hype. Nos últimosanos a Lacoste resolveu abo-canhar uma fatia mais jovemde mercado, apostando noconceito “truly lifestylebrand” (de uma marca que é

símbolo de estilo de vida). A grife acaba decontratar o estilista português Felipe Oli-veira Baptista para o cargo de diretor artís-tico, ocupando o lugar que pertencia aChristophe Lemaire. O próprio Chris-tophe, aliás, já era parte deste processo derevitalização. Mal entrou na Lacoste e cha-mou gente moderna e bacana para assinarprodutos. São parcerias com artistas damúsica, do design e das artes plásticas queemprestam sua assinatura para a criaçãode peças mais conceituais. Entre eles, o ar-tista chinês Li Xiaofeng, o designer TomDixon, Michael Stipe, da banda de rockR.E.M., e até os brasileiros irmãosCampana. Criou também roupa in-fantil, e a linha Red, totalmentevoltada para o público mais novo,com logotipo diferente, peçasclean, cores que remetiam a poparte e modelagens mais justas.

Felipe ainda não disse a que veio,e só deve falar mesmo no finaldeste ano, anunciando a co-leção verão de 2012. “Es-tamos tentando atrairum cliente mais jo-vem, porém, nãoqueremos esque-cer os clientesfiéis que sur-giram nos

últimos 77 anos”, diz Michel Lacoste, pre-sidente e filho do idealizador da marca, otenista René Lacoste.

Fundada em 1933, a Lacoste chegou aomercado da moda mostrando peças clássi-cas, esportivas e com o tão badalado jaca-rezinho no peito. Roupa casual, sim, maschique. E tradicional. Ter uma polo damarca francesa era sinônimo de sofistica-ção. Nos anos 80, viveu um de seus auges,qualquer bonitão andava com a sua. O queaconteceu foi que a imagem de roupas parahomens um pouco mais velhos, de 40 a 55anos, pegou carona no crocodilo e não lar-gou mais. Nos anos 90, a popularidade co-meçou a cair.

Tudo bem, moda é reinvenção. LouisVuitton já convidou o artista plástico Taka-shi Murakami para assinar acessórios eChanel chamou a arquiteta ultra contem-porânea Zaha Hadid para criar peças. Mas a

verdade é que, mesmo comquase 80 anos no merca-

do, a Lacoste aindanão chegou ondequer chegar, mas Mi-chel diz que não vai“abrir concessões naqualidade do produ-

to, tanto na confecçãoquanto na distribuição”.

Por aqui, são 63 lojas. O obje-tivo é bater a centésima até 2014.

“O Brasil é um de nossos princi-pais mercados, temos muitas ex-pectativas”, diz Michel Lacoste.

Ricardo Palmari, o presiden-te da marca no Brasil, conta que

Ela chegouao mercado damoda nos anos 30com peças clássicas,esportivase o tão badaladojacarezinhono peito. Roupacasual, sim,mas chique.E tradicional.

Em 2010, o clássico modernizado na passarela de NY

A Techno-Polo de Tom Dixon

MichelLacoste,o herdeirodo jacaré

a Lacoste “ quer ser a primeira entre asgrifes de luxo acessíveis no país”. Alémdisso, o plano é abrir lojas com o conceitoL!VE, para atrair os tão sonhados jovensmodernos. No desfile mais recente damarca, semana passada em Nova York, oúltimo de Christophe Lemaire, a nova li-nha L!VE mostrou modernidade, grafis-mos, e modelagens mais conceituais. En-tre um look e outro, aquela pitada da clás-sica Lacoste aparece. Resta saber se o jaca-ré vai conseguir, finalmente, se livrar daimagem de bom menino.

A esteira depraia assinadapelos Campana

Peça assinadapor MichaelStipe, vocalistado R.E.M.

FOTO GREG KESSLER

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Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010 | 23

Pois é, essa dói sóde ver. Entrada feiado zagueiro tchecoTomas Ujfalusi,do Atlético de Madri,no craque LionelMessi, do Barcelona,domingo, em jogopelo CampeonatoEspanhol. Coma força do pisão,o tornozelo doargentino dobroutanto que a sola dachuteira ficou viradapra cima, e a meia,toda enrugada pelasafiadas travas dealumínio. Tomasfoi expulso, e Messideixou o campo sobfortes dores. Apesarda violência do lance,o meia teve apenasuma distensão noligamento e voltaráa jogar em 15 dias.

BATE-BOLA

“FRASE DA SEMANA

Ainda estávamos em abril desteano e ele, coitado, já percebia a pro-fundeza da encrenca em que se me-tera: “Era muito mais fácil ser presi-dente do Banco Central do que doPalmeiras”, constatava Belluzo, paraarrematar com um profético “nessasde ajudar é que se entra pelo cano”.Essa frase estampou a capa doOutlook número 27. Estamos no 51, ea coisa só piorou.

O homem que anteontem deu en-trada no hospital Sírio Libanês, deonde há de sair com duas pontes desafena em seu alviverde coração, defato entrou pelo cano. Ou, numa in-versão da metáfora, os canos é queentraram em seu peito, de modo adeixá-lo vivo.

Sai dessa, Belluzzão. O Palmeirasnão te merece. Clube nenhum de fu-tebol no Brasil há de merecer alguémtão Belluzzo como você. Vê só o meuCorinthians, a refestelar-se com otão maloqueiro Andrés Sanchez.

Você bem previu, Belluzzão, e nãoé mesmo por aí que a banda toca. Nãoadianta chegar na presidência todosério, fazendo acordo com celeiro dejogadores, com empreiteira, comtorcedores organizados, trazendo(quatro!) técnicos dos sonhos da tor-cida — e que até agora colaboram noesvaziamento dos cofres verdes.Ninguém quer saber disso não. E de-certo vão dizer que te falou expe-riência, ou malandragem, ou sorte.

Talvez nem Deus saiba o que re-servou ao seu time. Quando o repór-ter Gabriel Penna esteve no Palestra,antes das obras que não começaram,em julho, pareceu ter captado no ar asentença que você agora paga, namesa de cirurgia, e que é a de todos osparmêra que eu conheço: a de sofrera eterna saudade de um futuro glo-rioso. Que não chega. Nem o título,nem o estádio, nem um maldito gol-zinho pra dar uma moral.

Sai dessa, Belluzzão. E quem falaisso é uma corintiana que sofreu de-mais ao escrever, novata que era, narevista CartaCapital, sobre o pleito àpresidência do Palmeiras, em 2003,do qual você saiu derrotado — e ova-cionado. A mesma que, quando vocêconquistou o posto que a vida lhe in-cumbiu, teve de admitir aos amigossentir uma certa inveja do Palmeiraspor ter um presidente tão Belluzzopara cuidar do seu futuro.

Que futuro ingrato.

OPINIÃO

Phydia de AthaydeLarga disso,Belluzzão

Não temo por nada. Vai ser melhor para ele Dorival Júnior, então técnico do Santos,

horas antes de ser demitido por manter o afastamento de Neymar do time. Foi pior para Dorival

O Palmeiras não te merece.Clube nenhum de futebolno Brasil há de mereceralguém tão Belluzzo comovocê. Ninguém quer saberdisso não

DOEU, MAS NÃO QUEBROUFOTO DIEGO G. SOUTO/MARCA

Jonas,artilheirogremista

MUSEU DO FUTURO

O esgotadoboné doThomaz Bellucci

Depois de um bom tempo sem marcar, você fez seis golsem seis jogos e chegou à artilharia. Agora embala?É bom responder às cobranças, mas gostaria que, além da brigapela artilharia, o Grêmio estivesse brigando por Libertadores,por título brasileiro. A gente sabe que falta um pouco pra isso.O time demorou muito para acordar neste campeonato?A arrancada foi um pouco tarde. Estávamos bem antes da Copa,mas voltamos mal, perdemos a confiança, e o Silas foi demitido.E o Renato Gaúcho, chegou para salvar a pátria?Não poderia pensar em alguém melhor que o Renato, um ídolo.A chegada dele resgatou a confiança dos jogadores e torcedores.Agora é pensar jogo a jogo, não adianta ficar fazendo projeção.Deve estar difícil aguentar os colorados este ano...Tem sido um ano muito bom pra eles, com a Libertadores, vagano Mundial, mas não temos que nos preocupar com adversário.Mas dizem que, se o rival vai bem, a cobrança aumenta...É verdade. No primeiro semestre, a gente estava bem, levamoso Gaúcho, e eles, mesmo na Libertadores, demitiram o Fossatti.Agora, ganharam título e a gente entrou numa fase difícil. Nãotem jeito, se um é elogiado, o outro é criticado.E aquela faixa no avião pra provocar no dia da festa...Achei uma falta de respeito. Era uma festa dos gremistas paralançar as obras do seu novo estádio, e eles não têm nadaa ver com isso. Tirar sarro do adversário tem limite.

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E S P O R T E S

Há sete anos disputando a segunda divisão dotênis mundial, o Brasil perdeu boa chance devoltar à elite do esporte. Chegou como franco fa-vorito no confronto com os indianos pela CopaDavis, fez logo dois a zero, e bastava uma vito-riazinha em três jogos restantes para garantir oacesso. Mas o sol forte de Chennai, na Índia, re-velou-se o maior adversário dos brasileiros —além, é claro, da barriguinha saliente do indianoRohan Bopanna, número 479 do mundo, quevenceu a partida de duplas e deu o golpe de mi-sericórdia em Ricardo Mello. A maior decepção,porém, foi Thomaz Bellucci, número 1 do país e27 do mundo, com seu simpático bonezinhobranco de algodão com as três listras pretas daAdidas. Bellucci precisou de cinco sets para ba-ter o barrigudo e, cansa-do e com dificuldadespara respirar, aban-donou o segundojogo. Pelo visto, oboné não foi sufi-ciente pra seguraro calor de 38 graus.

24 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

E C O N O M I A D E P A L A V R A S

Diante das olheiras e dos 40 anos, Alberto Maia quer se casar. Noitepassada, Raquel suplicou encontro na Benedito Calixto. Ela chegousoluçando que não aguentava mais. Disse que acabou e foi-se com assandálias que o abandonado lhe comprara na feira da praça. AlbertoMaia, uma vontade danada de se casar.

Sua cabeça era a bigorna da primeira manhã da era pós-Raquel.Carro sem rádio. Dor pontuda no peito. Sobrancelhas pesadas. Suorcom ar condicionado. A cidade insinuava que não estava ali. “O jeitoé tocar a vida pra frente”, frase imbecil com que tampamos a vonta-de de sumir.

Boa pinta, Alberto sempre teve algum no bolso. Cresceu ajudandoo pai na oficina de caminhões. Fez faculdade de administração. Parti-cipou de muitas colegas. Metamorfoseou o negócio da família numagigantesca oficina de veículos pesados. Comprou apartamento noJardim São Paulo. Passou a vestir ternos responsa.

As mulheres vinham aos golfos, mas não ficavam. Ele era apenas umadas paradas do city tour. Alberto Maia e sua baita vontade de casar. Elesempre fazia de tudo por elas, sem saber que elas não queriam tanto.

Para aquelas que se permitiam uma recarga, Alberto Maia abria ocofre de sua alma. Essas pouquíssimas o tinham na versão plus. Eramas ocasiões em que ele fechava o lacre: “É com essa que eu caso”. Notapete, Alberto ficava descalço, acendia um charuto, escancaravaque odiava raves, que detestava os bares indies da Augusta, que tinhaasco da Festa do Peão, que tinha alergia a Caetano Veloso.

O empresário emergente e seu Johnnie Walker Black. Alberto Maiaadorava Altemar Dutra. O som que o pai ouvia na oficina cristalizou--lhe o verdadeiro batismo.

Para falar de casamento, Maia encantoava a namorada no aparta-mento. No home theater, O Poderoso Chefão. Depois servia carpac-cio e lascava o vozeirão do grande Altemar. O gelo cantava no uísque.

Essa era a única atmosfera em que Maia falhava como empreende-dor. “Quero um relacionamento mais substancial.” Se a esposa qui-sesse trabalhar fora, tudo bem, mas só meio período. E na empresadele. A mulher teria de dedicar um tempo ao marido, fazer comidi-nha em casa com uma frequência bacana, coordenar a empregada.

“E quando o filho vier?” — ele fazia questão do singular para segu-rar a futura esposa. “Acho importante uma educação tradicional.Quero você corrigindo as tarefas da escola, regrando o computador,uma mãe mais presente, sabe?”

Alberto Maia queria se casar e não admitia a sistêmica resistênciaao seu projeto. Passou meses nas trevas depois do capítulo Raquel.Tomava e tomava dinheiro, mas nem sentia a picada da agulha. Semesposa, seus investimentos poderiam ficar pro titio.

O maior solteirão da pauliceia dirigia pela Rua Pamplona. Sinal fecha-do. A escultura de uma perfeição o encarou da entrada da loja. A calçajeans muito apertada desprendeu-lhe as mandíbulas. Ela trabalhava ali.Enquanto ele não precisava de mais nada na vida, o sinal abriu.

Alberto voltou a dar sorrisos escorregadios naquela mesma tarde.Entrou no apartamento olhando pro chão. Não viu que jogou o paletóno resto vermelho de espaguete. Altemar Dutra. Johnnie Black.

No dia seguinte, mesmo horário da descoberta, lá estava ele, comoum príncipe em sua caminhonete asiática. O monumento de calçajeans estava erigido no mesmo chão.

Homem experiente, gato escaldado, Alberto Maia colocou conta--gotas em sua paixão para não ir logo se deslumbrando. Um empresáriode 40 anos precisa se equilibrar. Mas estava difícil de segurar. Ela espe-rou por ele durante uma semana, na mesma hora, no mesmo suspiro.

Para Alberto Maia, as mulheres andam muito carreiristas e o sexoestá fácil. Ele quer uma que se contente em ganhar metade e que de-more em esquentar. Ou que seja só a metade da mulher de hoje.

Alberto Maia se apaixonou por um manequim de calça, daquelesque só existem da cintura para baixo. Ele era sentimental. Demais.

Paulo Lima Soraggi é escritor,músico e graduado em letras.

Homem experiente,gato escaldado, elecolocou conta-gotasem sua paixãopara não ir logose deslumbrando.Um empresáriode 40 anos precisase equilibrar.Mas estava difícilde segurar. Elaesperou por eledurante umasemana, na mesmahora, no mesmosuspiro. ParaAlberto Maia,as mulheres andammuito carreiristase o sexo está fácil.Ele quer umaque se contenteem ganhar metadee que demoreem esquentar.Ou que seja sóa metadeda mulher de hoje

Paulo Lima SoraggiA mulher de hojecontra Alberto Maia

Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010 | 25

P E Q U E N O S A B S U R D O S

Luís ColombiniSalve-se quem puderou danem-se os outros?

O que me deixafulo nãoé o prejuízo emsi — o consertocustou poucomais de um jantarpara dois numbom restaurante.É a pequenadesonestidade,a distorçãoda realidade,a maquiagemdos fatos para tirarproveito próprio,a desfaçateze a frequênciamaior com quetudo isso acontece.Parece queestamos cada vezmais pertode um novo modelode sociedade

Minha irmã mora em Natal. Semanas atrás veio passar uns dias emSão Paulo, depois de anos sem pisar na cidade. Passeou por ruas e sho-ppings com olhos de estrangeiro. Impressionou-se, sobretudo, comduas coisas. A primeira, inevitavelmente, foi a crescente quantidade decarros e motos que inviabilizam o trânsito de São Paulo. A segunda di-zia respeito ao comportamento dos paulistanos. “Como as pessoas sãobem-educadas por aqui!”, espantava-se. “Pedem licença, dão passa-gem, dizem obrigado. Em Natal ninguém faz isso.”

Faz muito tempo que não vou à capital do Rio Grande do Norte. Nãotenho, portanto, como avaliar a índole natalense. Mas certamente pos-so garantir que a suposta polidez dos paulistanos, salvo honrosas exce-ções, só existe na cabeça de minha irmã. Há momentos em que me sin-to num deserto de consideração, ou numa selva de egoísmo, numa mis-tura de “salve-se quem puder” com “danem-se os outros”.

Na sexta passada, tive de ir ao supermercado no começo da madru-gada. Havia fila na entrada do estacionamento. Estranhei. Será quemeio bairro estava precisando de leite para o filho ou absorvente para amulher às duas da madrugada? Nada disso. Era apenas uma legião dejovens que, sabe-se lá por que (talvez pela facilidade em se abastecer debebidas e camisinhas), adotou lojas de conveniência de postos de gaso-lina e estacionamentos de mercados como ponto de encontro. Mas atéaí tudo bem, há gosto para tudo.

O problema é que os caras são muito, mas muito folgados e mal edu-cados. As três vagas destinadas a veículos de pessoas com dificuldadede locomoção, por exemplo, estavam ocupadas por dois Audi e um i-30cujos donos tinham absoluto domínio sobre suas pernas. Caí na boba-gem de dizer a um deles que estava ocupando uma vaga a que não tinhadireito. Fui xingado.

No mercado, vi quatro jovens — três rapazes e uma moça — apressa-rem o passo para ultrapassar uma senhora que se dirigia ao caixa. Entreina fila logo atrás dela. A senhora me olhou e comentou que “ninguémrespeitava mais os mais velhos”. Respondi, em voz alta e olhando para osjovens: “falta de respeito é uma coisa e ser filho da puta é outra”. A meni-na ficou envergonhada, os rapazes explodiram de rir. Casos perdidos.

Moro numa casa. Ao voltar do trabalho, dia sim, no outro também,há um carro estacionado em frente da garagem. E aí toca procurar odono do veículo. Uma vez encontrado o folgado, dá-se sempre, comvariações, o mesmo diálogo:

— Desculpe, não sabia que não podia parar aqui.— Sabia sim. É impossível não ver a faixa amarela na guia rebaixada.— Mas é que eu achei...— A única coisa que você achou é que eu não chegaria agora.— Pô, como você é mal-educado — bufa, indignado, o(a) folgado(a).A pessoa comete uma infração, estaciona onde não pode, impede a

entrada do meu carro na minha garagem depois de um dia duro de tra-balho e o mal-educado sou eu. Beleza.

Um mês atrás, mandei lavar o carro no (até então) mesmo posto desempre, nas esquinas das ruas Joaquim Távora e Rio Grande, na VilaMariana. Na hora acertada, fui buscá-lo. Com pressa, paguei e fui paracasa. Vinte minutos depois, o vigia toca a campainha para pedir água e,enquanto bebe, na falta de algo melhor a dizer, comenta: “Puxa, quechato, o senhor ralou o carro”. Como assim, cara-pálida? De fato, láestá uma avaria que não existia antes de o carro dar entrada no posto.

Fui reclamar no posto. Deu-se esse diálogo:— Mas não foi aqui que isso aconteceu.— Foi.— Que prova você tem?— Nenhuma, a não ser que deixei um carro sujo e inteiro e peguei um

carro limpo e batido.Vendo que aquilo não levaria a lugar nenhum, deixei o número do

celular e pedi para o dono me ligar. Fiz isso mais três vezes. Estou espe-rando até agora.

O que me deixa fulo não é o prejuízo em si — o conserto custou poucomais de um jantar para dois num bom restaurante. É a pequena deso-nestidade, a distorção da realidade, a maquiagem dos fatos para tirarproveito próprio, a desfaçatez e a frequência maior com que tudo issoacontece. Parece que estamos cada vez mais perto de um novo modelode sociedade.

Luís Colombini é jornalista e editor.

26 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

V I D A

TEXTO CRISTINA RAMALHO

FOTOS MARCELA BELTRÃO

Heitor Martins

“Ninguémprecisaentenderde artepara seemocionar”

Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010 | 27

Estava ele em Veneza, camiseta largada, barbapor fazer, aquele ar aliviado de aqui-não-tem--ninguém-olhando. No dia seguinte, viu sua fotode figurino em férias no jornal O Estado de S.Pau-lo e se deu conta do tamanho da encrenca. HeitorMartins, 42 anos sérios nos cabelos grisalhos e nopeso extra que ganhou desde que parou de fumar,já não é mais um sujeito anônimo, sócio-diretor daconsultoria McKinsey, casado com a Fernanda,pai de João e Maria, torcedor do São Paulo. Desdeque assumiu a presidência da Fundação Bienal, emmaio do ano passado, Heitor virou figura pública,fotografado na rua, a quem quase todo dia um re-pórter pede opinião. “Agora eu sou visto, precisome cuidar”, diz ele ao Outlook, sorriso amigável,numa entrevista no Ibirapuera.

Sim, Heitor é visto, e até o momento, com bonsolhos. Seu estilo prático de homem de negóciosinaugurou um mundo novo ali na sempre inflama-da Bienal. Em vez de atuar como manda-chuva,optou pelo diálogo. Chamou uma turma de espe-cialistas em diversas áreas, e só faladas suas resoluções no plural.

“A gente”, seupronome favorito,criou

uma Bienal como a gente dolado de cá do balcão supõe que

deva ser: com obras que fazem barulho,programas educativos e muito dinheiro no

bolso. Nesta mostra que teve, na sua versão ante-rior, orçamento de R$ 8 milhões, um andar vazio eum clima de já acabou, surge Heitor com R$ 30 mi-lhões captados no governo e em empresas privadas.A 29ª Bienal, que abre amanhã para o público, terámais de 800 obras de 159 artistas. Vai falar de políti-ca, com nomes de ponta da arte internacional, o quedeve botar o Brasil no atlas das grandes exposições.E virá com projetos de design e arquitetura, duasgrandes paixões desse nosso entrevistado.

Heitor pertence a uma geração que viu Bienaisindispensáveis. Tinha no quarto adolescente umpôster da mostra Tradição e Ruptura, de 1984, aprimeira de design brasileiro (criada por JoséMindlin). Diz que enxergou nesse convite parapresidir a Fundação Bienal a chance de mostrarcomo a arte pode ser um bom negócio para o Brasil.Mudar a vida de quem vê. Ou provocar uma sensa-ção como ele próprio teve diante da instalação deJanet Cardiff lá no Museu Inhotim, em Minas Ge-rais, The Murder of Crows: eram 98 alto-falantesmontados em cadeiras, em pedestais e nas pa-redes, reproduzindo sons de aves que en-chiam a sala. “A gente olha aquilo e diz: não épossível isso, de tão extraordinário.”

28 | Outlook | Sexta-feira, 24.9.2010

OV I D A

Miguel Rio Branco.Outro barroco na paixão, adoroas texturas dele, é uma obra humana,emocionante.

Você tem essa queda pelo Barroco,já fez uma viagem de um mês paraconhecer o Barroco brasileiro.Fomos eu e a Fernanda (Feitosa, suamulher, organizadora da feira de artee fotografia SP-Arte), rodamos as cidadeshistóricas de Minas Gerais, depois fomospara Salvador, Olinda. A gente tinha essacoisa de aprender arte, fizemos cursosde história da arte quando moramosem Buenos Aires (de 2000 a 2005), depoisfazíamos essas viagens com roteirosde arte. Fomos para a Itália, foramvárias assim.

Como vocês se conheceram?Na faculdade, em 1988. Estudamosno Largo São Francisco. Prestei (vestibularpara) direito e administração na(Fundação) Getulio Vargas. Fiquei na GV.

Como um homem de negócios(ele é sócio-diretor da consultoriaMcKinsey) foi parar na FundaçãoBienal? Por ser colecionador de arte?Eu tinha vontade de fazer algumacoisa pela comunidade, pela sociedade.Sempre achei um pecado umainstituição tão importante comoa Bienal deixar de ter um papelimportante na sociedade. Ela temde voltar a ser impactante, a provocar,sacudir as pessoas como fez em outrostempos. Tanto eu quanto os diretores,os conselheiros, somos voluntários, éum trabalho exaustivo, mas vale a penatrazer de volta o impacto da Bienal.Mas quem me indicou foi o JorgeWilhelm, que conheci na FundaçãoNemirovsky (coleção de arte antológicaformada pelo casal Nemirovsky e que émantida com colaboradores) por contade conversas que tivemos.

Você atuou na Fundação? Colaborou?Nunca. Não tenho ligação com o mundodas artes. Foi meio coincidência defatores encontrar o Jorge. E conheçovários artistas, mas esse não é meuuniverso de amigos pessoais,não tenho nenhuma proximidade.

Falando em proximidade, há pouco

tempo você foi questionado sobre ofato da Fernanda ter contrato coma Bienal até 2015 (o curador doMinistério Público Estadual, AirtonGrazzioli, propôs que a posse deMartins fosse indeferida, alegando queo estatuto proíbe parentes na Bienal).Isso foi uma história sem pé nemcabeça. Ela tem um contrato coma Bienal até 2015, um contrato de usodo prédio, como o pessoal da modatem para o (São Paulo) Fashion Week.Não tem nada a ver com a Bienal comomostra. Acho que essa discussão temum pouco o reflexo do momentoanterior que a Bienal vivia, de muitadisputa, muita pressão interna, e oMinistério Público tem de acompanhartodos os passos. Mas isso acalmou. Nofim esse momento foi simbolicamentemuito importante, porque as pessoas semobilizaram pela Bienal. O ministro(da Cultura, Juca Ferreira) veio aSão Paulo, deu apoio para nós. Fizemoso jantar pela Bienal, todo mundoapoiou, todo mundo foi, as pessoasquerem que a Bienal dê certo. Não épor mim, é pela instituição.

Não pertencer ao mundo das artesajuda ou atrapalha?Acho que me ajudou, sou uma folha embranco, não tenho um passado aqui.Nenhum de nós, da diretoria, faz partedesse universo. Trabalho na McKinsey,o (Eduardo) Vassimon era de banco,está aposentado e é tesoureiro do Santosnessa nova gestão do time. Cada um denós veio com uma experiência.Isso nos deu independência. A gentesó faz esse negócio porque a gente gosta,acha que tem a ver.

Para dirigir a Bienal é preciso fazerum “curso”? Pergunto no sentidode como você se preparou paraentender a administração de umainstituição dessas.Na verdade, nós viajamos num grupode sete diretores e os dois curadorespara entender como funcionam museuse instituições. Fomos, em setembrodo ano passado, à Bienal de Veneza,ao Centro Pompidou em Paris, à TateModern em Londres, ao MoMA em NovaYork. Queríamos conversar, saber comose administra um museu, umainstituição, trocar ideias.

Alguém serviu de modelo? Você vaireceber em breve o pessoal da TateModern aqui.Não, não seguimos nenhum modelo,não teve nenhuma administração queusamos como referência. Queríamosentender como a coisa funciona.Usamos ideias aqui e ali. A nossagestão, nosso interesse, é para abriros contatos internacionais. Uma coisainteressante é que o pessoal da Tateficou muito impressionado coma Bienal. Eles chegam na semanaque vem, vamos fazer um caféda manhã para o Nicholas Serota(diretor da Tate Modern) e sua equipe.Estão vindo várias pessoas, vamosapresentá-los a empresários brasileiros.

No seu entender, o que é uma Bienalde sucesso?É difícil medir. Mas é uma Bienal quecausa impacto. Que as pessoas veem,discutem, que tem repercussão. Umadas coisas mais significativas da Bienalé que ela não é de ninguém. Não é do

A Bienal édiferentede uma empresa.Não basta ser bemgerida. O objetivonão é maximizaro lucro, é maximizaro impactona sociedadeO presidente da Fundação Bienal

se emociona com arte?Muito. Sou chorão pra caramba, choro atéem comercial de TV, então imagina,já fiquei muito tocado em exposições,ou diante de quadros. Quando eu eracriança tinha um tio, na verdade era umprimo bem mais velho, com um filho daminha idade, que colecionava artebrasileira, tinha Volpi, Pancetti, eu saíada escola, estudava no Rio Branco(colégio tradicional de São Paulo, emHigienópolis) e passava lá para ver. Elemorava pertinho, na rua Rio de Janeiro, euna Sabará. Ia lá e ficava olhando...

Você tem uma coleção de arte, temTunga, Lygia Clark, qual foi suaprimeira obra?O primeiro quadro, a minha moedinhanº 1 (para quem é jovem demais, explico:a moedinha nº 1 é o talismã do TioPatinhas), é um quadro do Pancetti,maravilhoso, que não canso de olhar.É uma marina de 1956.

Já que entramos na sua coleção,vamos lá. Fale um pouco de algunsartistas da sua escolha. Lygia Clark,por exemplo.Gosto da Lygia pela interatividade,a questão que aparece, se quem faza obra é ela ou quem vê. Tenho umaescultura dela, um bicho.

Tunga.É uma paixão minha. Ele tem essa obrabarroca, magnética, sensual.

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V I D A

Sou uma folha embranco, não tenhoum passado aqui.Não tenho amigosartistas, nãopertenço a esteuniverso

governo ou de empresa. Num primeiromomento é mais difícil, porque ela estáaberta, tem de começar do zero. Fazendoum paralelo com um museu, os museustêm muita dificuldade de renovaçãoporque têm tudo pronto, 90% do acervoestá lá, o que o museu precisa é de 10%de inovação. Aqui, não. A Bienal é inteirarefeita a cada dois anos, se você não tiveressa capacidade de se reinventar, ela vaimorrer. Então tem todo o stress,momentos de glória, momentos dequeda. Nos anos 50 ela foi gloriosa,nos 60 também, nos 70 sumiu, nadécada de 80 ela se reergueu, nos anos90 foi bem, e na ultima década sumiude novo, aí foi passando o pires.

Você é um homem que trabalhagerindo negócios. A Bienal pode serum bom negócio?É diferente de uma empresa. Não bastaser bem gerida. Você tem de ter oconceito de eficiência, de gestão muitoaplicada, o objetivo não é maximizar olucro, é maximizar o impacto nasociedade, você não pode perder essaperspectiva. É possível fazê-la de formaque a sociedade a apóie, mas a Bienalnunca vai viver dos recursos. Eladepende de ser apoiada por Governo,empresas, sociedade civil.

A função não é lucrar, mas ela podegerar algum tipo de lucro?Sua função não é lucrativa, mas osbenefícios são muito maiores do queseu custo para a sociedade. Vamoscalcular que a Bienal vai trazer 1 milhãode visitantes. Desse milhão,300 mil são de fora de São Paulo.Desses, uns 15 mil são estrangeiros.Esse conjunto de pessoas vai gastar nacidade mais ou menos R$ 300 milhões,somando hotel, transporte, a pessoa quevem sempre faz uma compra. São dadosda prefeitura. Depois da Fórmula 1, aBienal é o maior evento da cidade. Trazpara uma receita que é dez vezes maiorque seu custo. Isso só do negócioturismo, não estamos falando doaquecimento do mercado de arte,da venda em galerias, da imagem láfora. Ou seja: a Bienal custa R$ 30milhões e traz R$ 300 milhões, nomínimo, para a cidade. Isso é um bomnegócio. Mas ela tem de ter um projetoque gera impacto. É muito diferenteuma Bienal que traz um milhão depessoas do que uma que traz 100 mil.

Como o projeto desta edição da Bienalfoi concebido?É um trabalho de equipe. Muitas ideiassurgiram da primeira conversa com oministro (Juca Ferreira). A gente se sentounaquela mesa (aponta para a mesaredonda ao lado) com ele e os secretários.Ele falou que só 6% da populaçãobrasileira já foi a um museu,e que a Bienal tem um papel importantede descoberta, de primeiro contato, delevar a arte ao público. Que era importanteque ela fosse gratuita, ela é do Brasil, é acara do Brasil lá fora. E propôs: “Vamoscriar um programa itinerante”. Isso foimuito dele. E faz sentido. Por que nãocriar módulos que possam viajar paraoutras cidades, pelo Brasil e o interior deSão Paulo, já que a gente tem tanto trabalhopara organizar uma Bienal? Temos essaideia de tentar que empresas locais nosapóiem em cada lugar. Então você começaa criar um projeto que não é mais doHeitor, ou dos conselheiros, é do Ministérioda Cultura. E aí você abre o olho para outrascoisas, o MinC é um parceiro importante.

A vida entre montanhas, uma viagem recente antes do furor da Bienal

Heitor relax numa caminhada no Peru, com o filho João, 10 anos

FOTO ARQUIVO PESSOAL

FOTO ARQUIVO PESSOAL

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MAKING OF

Estamos assim risonhos no solarrestaurante do MAM, ao lado da Bienal.A foto dá o tom do papo, descontraído,como tem de ser. Minha missão seriapegar o lado pessoal de Heitor Martins,e achei que não seria tão fácil, porqueantes disso o homem sofreu para posarsem timidez para as fotos. Mas elerespondeu a tudo. Tivemos companhiano início: o misterioso terceiro pratopertence a Eduardo Vassimon, outrodiretor da Bienal e atual tesoureiro doSantos. Depois nós dois ficamos paracafezinhos e passeamos pela mostra.Ele é doce, e se empolgou ao falar dasobras. Eu, que já entrevistei outrospresidentes da Bienal antes, possodizer: Heitor é o mais informal deles.

De jeito nenhum. A curadoria tem de serlivre para escolher. Independente domeu gosto pessoal, a Bienal tem de trazero que os curadores acreditam.

Se você fosse curador, como montariauma mostra?Acho que o modelo de curadoria que metocou mesmo foi o da Tate. Achomaravilhoso como eles expõem o acervo,sempre dialogando. Os museusem geral têm a visão do acervo do pontode vista histórico, eles não. Colocamuma water lilly (da famosa série depinturas de flores) do Monet com umatela do (pintor americano Jackson)Pollock, um Malevich (famoso pintorabstrato soviético) de 1910 comum Richard Serra (grande escultoramericano contemporâneo).

A gente precisa de arte?Vou responder com uma frase que achoque é do Ferreira Gullar: “É preciso arteporque a vida não basta”. A arte tem umpoder de transcender, o poder decomunicar. E ninguém precisa entenderde arte para se emocionar.

Fora da arte, o que mais você gosta?Da natureza. Tenho um sítio, lá temcachoeira, preciso disso. Há poucotempo fiz uma caminhada com meu filhopor dez dias no Peru. Fomos a MachuPicchu, foi incrível. No ano passado, fizuma viagem de bicicleta para Borgonha.

Você, que aprecia o Barroco, é umhomem de fé?Fé em religião não, mas tenho fé naintenção dos outros. Acredito na boaintenção. Tem de dar certo.

Você já tinha tido essa proximidadecom o governo?Nunca. Mas o MinC deu R$ 6 milhõese, com a Lei Rouanet, mais R$ 30milhões. Dá um apoio genuíno. E temo apoio simbólico da parceria. É muitomelhor, até para captar dinheiro dosempresários. E é uma parceria mesmo,a gente tem uma reunião mensal,discutimos o que está sendo feito,e assim fizemos a nossa mostra naBienal de Veneza. O MinC deu 80%,a Bienal deu 20%, e o Brasil está lá(representado) em Veneza, temcatálogo e tudo. Teve um outro casoque um artista brasileira, acho queé a Regina Silveira, queria fazer umagrande mostra lá fora, no exterior.O MinC queria dar os recursos,mas é complicado de se relacionarcom artistas.

Por quê?O governo não se relaciona compessoas, mas com instituições. Entãoresolvemos vamos fazer um convênio:a Bienal apóia o artista. O MinC entracom dinheiro. Isso faz um ano. Nósfizemos essa ponte. Aí pensamos queisso de artistas precisarem de recursospara expor fora do Brasil vai acontecercom frequência, então por que nãocriar um modelo permanente?Daí surgiu o Programa Brasil ArteContemporânea Nós não criamosda nossa cabeça, veio de conversascom o MinC, e agora existe. Já demos50 bolsas para artistas fazerem mostrasfora do Brasil, 80% do dinheiro vemdo MinC, 20% é da Bienal. Custapra caramba para nós, uns R$ 400 milporque é dinheiro livre, não éincentivado. Mas é algo importante.

Vocês tem conquistado boasparcerias. Quem mais ajuda? A Milu(Vilella, presidente do MAM)?A Milu foi a primeira pessoa com quemconversei, logo que aceitei a presidência.Foi ela quem nos apresentou para o Juca,que ligou para ele e fez a ponte. Eu jáa conhecia, e ela tem a experiênciainteressante do MAM. Ela nos ajudoua pensar, foi muito generosa.

Sua vida mudou muito com a Bienal?Como está a sua rotina?Venho pouco aqui (à Bienal). Agora, nafase de abertura, tenho vindo direto.Mas normalmente venho pouco. Temosuma reunião semanal, toda segunda das21h à meia noite, para discutirmoso andamento das coisas. Cuidobasicamente de duas coisas: do ladoinstitucional e do que tem a ver com ogoverno, representação. E da imprensa,que assusta.

O que assusta? Ficar exposto?Muito. Às vezes é meio invasivo, fuifotografado de camiseta e barbudo láem Veneza, tem sempre gente olhando.Tudo bem que os jornalistas nãoperguntam quase nada que a gente jánão tenha refletido antes, mas no diaque eu sentei no (programa de TV) RodaViva, fiquei assim... É um julgamento,todo mundo te olhando. Mas as pessoastêm sido muito generosas comigo.

Você palpita na curadoria?Teve esse barulho sobre obrastão provocadoras, como aquelado Gil Vicente degolando o Lula.Você interfere nisso?

F I M D E P A P O

DelicadezasEsta é a instalação 350 PointsTowards Infinity (350 Pontos Rumoao Infinito), da italiana radicadana França Tatiana Trouvé. São pêndulospresos ao teto que se cruzam emdiagonais e se imobilizam pouco antesde tocar o solo, que guarda um campomagnético invisível. Heitor Martins,o presidente da Fundação Bienal,me levou até esta obra, no piso térreoda Bienal, para me dar um exemplode como a arte mexe com a gente.“Ela é delicada, parece congelar otempo, emociona, faz a gente pensar.É tudo o que arte deve ser”, diz ele, umderretido. Chora diante de quadros,vendo comerciais de TV ou em filmes.Adorou Gran Torino, do Clint Eastwood.