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F L O R I L É G I O

I L U S T R A D O

D A F Á T I M A

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P. e JO S É DE OLIVEIRA DIAS, S. J .

F L O R I L É G I O I L U S T R A D O DA F Á T I M A

NOVO MÊS DE MARIA

3.“ Edição

(Com 51 meditações ou instruções, 52 gravuras artísticas tora de texto e mais de 120 exemplos

géncias do critica histórica)

EDIÇAO DASO C IED A DE BRASILEIRA DE EDUCAÇAO

1952

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IM PRIM ATUR Nova Friburgo, 10/10/1952

f J o ã o , Bispo D iocesan o d e Niterói

PR O PRIED A D E EXCLUSIVA DA SO CIED A DE BRASILEIRA DE EDUCAÇAO

Composto e impresso nas Oficinas Gráficas «PAX» — Braga — Portugal

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A memória saudosa deSua Eminência o Senhor Cardeal

D. Sebastião Leme da Silveira Cintra

Principe dos Congregados Marianos do Brasil,

sob cujo pontificado se ben­zeu e lançou a primeira pedra do g ra nd ioso Santuário de Nossa Senhora da Fátima, no Rio de Janeiro.

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Apreciações de edições anteriores

Limitamo-nos a reproduzir aqui as de S. Ex.eia Rev.ma o Senhor Arcebispo de Braga, Primaz das Espanhas.

S O B R E A 1.“ EDIÇAO

«Agradece muito reconhecido a oferta do lindo Florilégio da Fátima mui substancial e magnificamente apresentado, como obra de bom m e s tr e ..., além de hàbilmente concebido e ordenado e prim orosamente revestido, como florilégio que é, e faz votos para que seja largamente difundido e produza abundantes frutos».

Braga, 30/4/942.

SO B R E A 2.* EDIÇAO

« Agradece muito reconhecido o gracioso Florilégio da Fátima, 2.* edição, admirà­velmente organizado e escrito, que deve ter feito muito bem às almas, e faz os me­lhores votos para que ele continue a ser o enlevo delas e a ter a maior e semprecrescente difusão ».

Braga, 29/4/45.

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P R E F Á C I O

De Sua Ex.cla Rev.m* o Senhor Bispo de Leiria

O Rev. Padre José de Oliveira Dias...................................... publicou em 1942 o precioso

livro — Florilégio da Fátima.Tinha, na minha opinião, dois fins principais

em vista.O primeiro, era fornecer aos devotos de Nossa

Senhora meditações sólidas e adequadas para cada um dos dias do mês de Maio, dando a conhecer o amor da Uirgem Santíssima às almas nas Aparições da Fátim a; e o segundo, mostrar com exemplos o poder dfíquela a quem a Santa Igreja chama Virgo potens — Uirgem poderosa.

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Apareceu este livro quando se celebrava o vigés- simo quinto aniversário das Aparições de Nossa Se­nhora em Fátima, que o Santo Padre Pio XII, feliz­mente reinante, encerrou consagrando, em português, o mundo ao Imaculado Coração de Maria.

Da forma como conseguiu os seus fins, prova-o a rapidez com que se esgotou.

Espero em Deus que esta segunda edição, que abençôo, em nome do Senhor, seja o fogo que abrase as almas no amor do Coração Imaculado de Maria, nossa querida Mãe do Céu.

Leiria, 11 — dia da Aparição de Nossa Senhora em Lourdes — de 1945.

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P A R A P R I N C I P I A R

Sflí novamente ò luz da publicidade o Florilégio da Fátima, e desta vez destinado também a terras d e Santa Cruz.

O m étodo a seguir será rigorosamente o m étodo s e ­guido em ed içõe s anteriores.

Esta, que agora apresentam os à piedade mariana de sa ce r ­dotes e d e sim ples fiéis, é com pletada por novas instruções ou m editações s o b r e as restantes invocações das Ladainhas Laureta- nas, que anteriorm ente não puderam s e r en quadradas nos limita­dos m oldes dos 31 dias dum mês mariano.

As que ultrapassam este número p o d e rec orr er quem quiser variar d e ano para ano algumas dessas m editações. São estas de tal m odo estruturadas que facilm ente as p oderá reduzir ou resu­mir quem as achar dem asiado extensas.

Uai a p resen te ed ição enriquecida d e mais 52 prec io sas gra­vuras dum sim bolism o altam ente artístico e devoto, devidas à gen e­rosidade dum coração profun dam ente m ariano e sacerdotal, que a p iedade e bom gosto dos nossos leitores sab erá devidamentc- apreciar.

Em qualquer Mês de M aria, alem das instruções ou medita ç õ e s diárias, os exem plos tornaram -se uma legitima exigência dos devotos d e N ossa Senhora. J á s e não con ceb e um Mês d e Maria sem o ex em plo diário.

E tem a sua razão d e ser . N ada há mais eloquente do que os factos, e nada mais convincente do que essa e loquência. Con-

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10 FLORILÉGIO DA fAtIMA

sid erações sã o con sid erações , que podem impressionar ou deixar d e impressionar. Os factos , porém , são a v erdade tornada pal­pável ainda aos que a não querem ver. Diante dum facto que se im põe com a fo rça da sua evidência, não p ode haver inteligências cépticas, não há vontades inertes nem indiferentes.

E foram os factos im pressionantes da Fátima, as curas extraordinárias sobretudo, que mais olhos abriram entre o s cegos n estes últimos 35 anos. E a Virgem converteu mais tarde muitas centenas desses ferozes ateus e revolucionários. Eu fui um deles I E por isso deixei de ser escritor e jornalista ateu, para passar a sê-lo como cristão.

físsím escrevia, com todo o desassom bro, um convertido da Fátima, em artigo publicado no Diário do Minho, d e 7 de F eve­reiro d e 1942.

Mas para que os factos assim impressionem e abalem os espíritos, é mister que eles . sem con tem plações nem simpatias, sejam passados p elo crivo implacável da crítica.

Bem se i que a sim plicidade da maior parte dos fiéis no noss o m eio aceita sem relutáncias nem desconfianças tudo o que serve para lhes fom entar a p iedade. É a boa fé dos espíritos que não tém exigências críticas. M as todos as devem ter, dentro do bom senso, além dos quais só fica lugar para o capricho d e críticos obstinados, que mais facilm ente s e deixariam cegar (se não fossem já cegos) por deslum bram entos d e luz, do que im pressionar pelos fulgores diáfanos da verdade.

N ão é para e sse s que escrevem os.P or outro lado. s e a docilidade dos leitores não tivesse acaso

as exigências criticas do bom senso, devia tê-las qualquer histo­riador que s e preza. E screve para s ere s racion a is; como racio ­nais os d eve tratar; que a razão, ainda quando não tenha ex igên­cias, tem direitos que s e devem respeitar.

E n ão os respeitaria o escritor que, em bora bem in tencionado■ servisse aos seus leitores narrações sem as devidas garantias duma

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PARA PRINCIPIAR 11

autenticidade que e les pudessem verificar. N ossa Senhora n6o necessita d e exem plos lendários, nem d e milagres apócrilos, nem d e testemunhos anónimos para atrair c o rações . Bastam as mani­fes ta çõ es autênticas da Sua bon dade e do poder da Sua inter­c essão d e que está repleta a história da Igreja, e em particular a hagiografia.

Que fecundo manancial d e exem plos não en contrarão os escritores só na história con tem porânea d e Lourdes e da Fátima I E a Fátima, d e p referência , os fom os buscar ( 1) por serem duma autenticidade flagrante e duma actualidade palpitante, ao a lcance d e qualquer fisca lização da critica. Exem plos que por centenas e por milhares encontrará quem se d er ao trabalho d e revolver o arquivo da Fátima.

E sse arquivo é a eloquente m anifestação do céu aberto so b r e Portugal durante 35 anos. D ele respigám os uni exem plo para cada m editação. M as em apêndice outros vão ad icionados em número suficiente para se variarem todos no período d e três anos. Uns são ainda inéditos, outros foram já publicados, embora o mais das vezes com uma red a cção d iferente e mais amplificada.

Cham o-lhes exemplos, não lhes cham o milagres.«É incontestável, proclam ou o Episcopado Português na sua

Pastoral colectiva de 11 d e F evereiro d e 1942, que se têm reali­zado aqui verdadeiros portentos, curas completas e rápidas que as forças da natureza são incapazes de realizar e que a ciência humana não consegue explicar; e a palavra milagre anda na boca do povo, e sai igualmente dos lábios dos homens da ciên-

(1) Ao benemérito administrador da Uoz da Fétima, Rev.“ * Cónego Carlos Duarte Gonçalves de Azevedo devo agradecer uma vez mais a genti­leza com que pós é minha dlsposiçéo o arquivo do Santuário da Fátima c adedicaçao com que me (acllltou todos os trabalhos de Investigação no momento de o consultar.

De justiça á também agradecer ao Rev.' P.* Joâo Rodrigo de Miranda, devotado apóstolo de N.* S.* da Fétima no Brasil, a contribuição de alguns exemplos fornecidos.

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12 FLORILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

cia, que cuidadosamente têm examinado os factos. M ais uma vez se demonstra que o dedo de Deus está aqui, e a devoção da Fátima é marcada com o selo inconfundível do Seu poder».

Sem fa lar de tantas curas miraculosas, «converteram-se muitos pecadores, continua a citada Pastoral, reconciliaram-se com a vida muitos que haviam perdido toda a esperança, abri­ram os olhos à fé muitos incrédulos, aprenderam de novo o caminho da igreja muitos que o haviam esquecido por com­pleto, abrem -se para a prece humilde e confiante muitos lábios que a indiferença im obilizara, bendizem o nome do Senhor muitos que ontem sacrilegamente o blasfemavam».

É pois a autoridade legítima que pronuncia o seu veredictum : Fátima a parece-n os marcada com o se lo do milagre.

Mil agre é qualquer e le ito que as causas naturais por sua pró, pria virtude são incapazes d e operar, com o seria a restituição dum m em bro amputado ou dum órgão ex t ra íd o ; ou o que pode, sim s e r produzido por fo rças da natureza, mas não dum m odo supe­rior à sua eficiência natural.

f í terapêutica natural p ode c icatrizar uma chaga, não p ode porém o p erar uma cicatrização instantânea.

Cientificamente o milagre não é mais do que isto ; canònica- mente algo mais se requ er : é necessário que a autoridade com ­petente, d epois d e o estudar, o reconheça com o tal. E sse re c o ­nhecim ento não faz o milagre, supõe-no. Por outras p a lavras: uma cura não é miraculosa porque a autoridade da Igreja a re c o ­nhece como t a l; ela recon hece-a com o tal, porque, d e facto, é miraculosa. Mas, dando-lhe fo ros d e milagre, con fere-lhe o valor jurídico que d e outro m odo não teria.

N ão há dúvida que o milagre ó uma rea lidade palpável na história da Fátima.

S eria, porém , difícil, seria delicado, — salvo alguma rara ex cep çã o em que a autoridade com petente s e tenha pronunciado, — votar pro ou contra o carácter miraculoso d e cada facto em

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PARA PRINCIPIAR 13

concreto. Por isso propositadam ente renunciamos a em pregar a palavra milagre no d ec orre r deste trabalho, a não ser quando o exija a fidelidade d e qualquer citação.

E s e alguma vez por lapso ela nos sair dos bicos da pena, não veja o leitor outra coisa que não seja o sentido popular da palavra, que a faz sinónima d e graça extraordinária.

Essas graças, o s milagres o p erados d esd e 1917, são as c r e ­denciais com que a M ãe d e Deus s e apresentou na Cova da Iria para provar a Sua identidade, para autenticar a verdade das Suas aparições, para acred itar e sancionar a sentença pro ferida pelo Seu oráculo visível, que em Pastoral d e 13 d e Outubro d e 1930 solenem ente declarava DIGNfíS DE CRÉDITO RS UÍSÕES DfíS CRIRNÇRS NR COUfí DR IRIfl NOS D lfíS 13 DE MRIO R OU­TUBRO DE 1917.

Têm sido dilúvios d e b èn çó es a chover s o b re a terra durante bons s e te lustros, cabendo também ao Brasil a sua quota-parte. E não fo i a m enor delas o Guia há 33 anos dado a recém-restau- rada D iocese d e Leiria, predestin ado para encam inhar, com o ins­trumento visível da Providência, o movimento salvador, que, partindo da Fátima, sacudia as alm as en torpecidas por largos anos de ma­rasm o espiritual.

Era o momento crítico em que a d esorien tação dos espíritos seria fácil, em que toda a prudência seria pouca, s e não tivesse surgido o Bispo Providencial, o Bispo segundo o c oração da M ãe de Deus, sobrenaturalm ente esc la recido para presidir aos destinos da Fátima.

A Rugusta M ãe do Céu toda a honra e glória I Toda a honra e gfória à d o ce Uirgem da Fátima, que abriu o céu s o b re a terra de Santa M aria, para que a terra d e Santa Cruz, da mesma língua que a Ce/estia/ R parição falou a os Seus videntes, fo sse a primeira a re c e b e r também a Sua mensagem salvadora.

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DIA 30 DE ABRIL

Oração preparatória para cada dia

(Recentemente Indulgenclado por Sus Emi­nência o Sr. Cardeal Patriarca de Llaboa)

Ó Maria Imaculada, Soberana Rainha das vir­gens, eis que me ponho sob a Vossa maternal protecção e me consagro neste dia totalmente a Vós.

Consagro-Vos o meu corpo com todos os seus sentidos, o meu coração com todos os seus afectos, a minha alma com todas as suas potências, a minha vida inteira, para que todos os meus movimentos sejam um contínuo acto de amor.

Coloco também, ó minha Mãe, sob a Vossa sal­vaguarda as minhas penas e consolações, as minhas misérias passadas, presentes e futuras, sobretudo os meus últimos momentos, suplicando-Vos que, assim como entrastes no mundo isenta de pecado, me obtenhais de Jesu s, Vosso Divino Filho, a graça de sair deste exílio sem pecado.

Finalmente, Mãe Santíssima, ensinai-me a amar a Jesus, para que comece já cá na terra a viver a vida que viverei por toda a eternidade, entoando o cântico de amor na Vossa companhia e na de todos os Anjos e Santos por todos os séculos. Assim seja.

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16 PLOR1LÉQIO ILUSTRADO DA FATIMA

AOS PÉS DE MARIA

I

SO R R ISO S DE MAIO — Cada dia convida três vezes o devoto da Virgem Santíssima a saudá-la, recordando sobretudo o mistério da Incarnação, primeiro acto do grande drama da Redenção. É ao romper da aurora, é ao meio-dia, é ao anoitecer, quando o bronze dos campanários com voz pos­sante que vence as distâncias e desperta os ecos da natureza, vem lembrar ao mundo redimido que o fín jo do Senhor anunciou a Maria e que Ela con­cebeu do Espírito Santo.

Cada semana nos oferece um dia, o sábado, para que nós façamos dele, com todas as suas vinte e quatro horas, um dia mariano, dia que nos eleve o coração para o alto e faça da nossa vida, da nossa oração sobretudo, um reflexo das virtudes de Maria.

Dificilmente se encontrará um mês que por seu turno, dum modo ou doutro, não venha também comemorar algum ou alguns mistérios da Sua vida.

Nenhum ano ficará também sem consagrar um mês inteiro, e o mais encantador e sorridente de todos, a glorificar a Mãe de Deus, mobilizando todos os sorrisos da natureza, todos os seus ador­nos e louçanias, para prestar à sua Rainha o tributo da mais devotada vassalagem. São sobretudo os corações que esse mês bendito mobiliza, para apre­sentá-los todos a palpitar de amor, diante do trono de Maria. É tudo o que há de mais generoso e

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OIA 30 DE ABKIL 17

puro na terra que sorri para Maria e que tenta atrair para este vale de misérias e de lágrimas o Seu maternal olhar de clem ência e de misericórdia.

11

SO R R ISO S DE MARIA — Empresa bem fácil, aliás, porque render um coração de mãe é render o que há de mais fácil em comover-se e de maisterno em consolar. E é conquistar o que há de mais poderoso em socorrer, porque não é só um coração de mãe, é sobretudo o Coração da Mãe de Deus. E esse Coração não pode também deixar de sorrir para a terra que Lhe sorri, para os seus devotos que porfiam em honrá-la com as suas home­nagens, e com a abundante floração de virtudes, de obséquios espirituais e de sacrifícios generosos, em que tão pródigo costuma ser, e é bem que seja, o mês de Maria.

S o r r iso s de M aria — Sê-lo-ão as chuvas de bên­çãos, que, do primeiro ao último dia, hão-de inun­dar as almas dos seus devotos, sorriso maternal de Maria será a assistência e particular protecção que Ela nos dispensará no meio dos perigos que nos ameaçam, as inspirações da graça, os alicientes da virtude, os bons exemplos e santas exortações à prática do bem, o horror ao pecado, que Ela nos fará sentir, e a tudo o que pode manchar-nos, a especial unção e atractivo da piedade, as ilustrações da nossa inteligência e moções da vontade neste mês mais copiosas e sobretudo mais advertidas, as inúmeras graças, enfim, graças actuais, mesmo de

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18 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA

ordem temporal, que a Medianeira de todas elas, não cessará de canalizar para as almas que mais se industriarem em honrá-la.

III

SO R R ISO S DA FÁTIMA (^ — Devoção genui­namente brasileira é o exercício do mês mariano. E muito mais brasileira tem de ser depois que a Mãe de Deus baixou a Fátima, terra dos nossos avós e ali nos deixou a palpitar o Seu Coração. E desde então a Fátima, torrão bendito santificado pela visita de Maria, fala-nos pelos lábios dEla e dos seus Videntes e dos seus peregrinos, encan-ta-nos com os encantos de Maria, arrebata-nos com a sublimidade das Suas grandezas, atrai-nos com o íman do Seu Coração maternal, sorri ao Brasil e ao mundo com o sorriso de Maria.

A história da Fátima é a grande epopeia dos sorrisos benfazejos do céu. A quantos e quantos não patenteou Ela, a bondade do Seu Coração, desde 1917? Para quantos e quantos não foi Ela a consoladora dos aflitos, a saúde dos enfermos, o refúgio dos pecadores, o auxílio dos cristãos, a

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DIA 30 DE ABRIL

Mãe da Divina graça, a Mãe do bom conselho, a esperança dos desalentados, a força dos fracos, o espelho da justiça, feita para todos os que se apai­xonam pelo ideal da santidade o exemplar admi­rável de todas as virtudes?

fldeamus ergo cum fiducia ad thronum gratiae. Recorramos, pois, confiadamente ao trono da graça. E uma vez que esse trono Ela o colocou na Fátima, vamos em espírito à Fátima onde Ela nos saiu ao encontro, onde se ergue durante todo este mês mariano o altar das nossas homenagens a Maria.

Uamos em espírito à Fátima é o invitató.rio au­gusto da ininterrupta salmodia mariana com que devem celebrar o mês de Maria todos os que na descida da Rainha dos Anjos à Cova da Iria vêem o prenúncio de uma chuva torrencial de graçassobre o mundo, não menos palpável do que a chuva do maná no deserto. E é com o coração e o espírito na Fátima que o nosso mês de Mariarevestirá o carácter de homenagem filial de gra­tidão, de submissão e de amor à celestial Benfeitora e Rainha dos brasileiros.

EXEM PLO

O céu aberto sobre a terra

Era a 13 de Maio de 1917. Num sítio agreste e ermo, vul­garmente chamado Cova da iria, situado è beira da estrada de Vila Nova de Ourém à Batalha, pertencente à freguesia da Fátima, apascentavam os seus rebanhos Lúcia de Jesu s, de dez anos de idade, e os irmãos Francisco e Jacin ta , de nove e sete anos respectivamente.

Ao meio dia, depois da costumada reza do terço em comum, são surpreendidos por dois vivíssimos relâmpagos.

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FLORILÉGIO ILU8TRADO DA FÁTIMA

produzidos contra todas as leis meteorológicas, e logo lhes atrai o olhar uma Aparição de celestial beleza, superior a tudo oque se poderia imaginar. Aparição virginal que deixou eclip­sados os fulgores do sol e ofuscada a alvura puríssima da neve. O semblante, em que vinha reflectir-se o esplendor da eterna formosura de Deus, irradiava feixes de luz, sem ocultar na majestade duma beleza extasiante uma sombra de misteriosa tristeza.

A aparição renova-se no dia 13 dos meses seguintes até Outubro, mas em Agosto os videntes, sequestrados por uma autoridade administrativa de bem triste memória, só no dia 19 tiveram a esperada entrevista.

A afluência de curiosos com eça a ser de milhares, deze­nas de milhares, aumentando de mês para mês, à medida que Fátima se tornava conhecida por todo o país.

Entre a Aparição e os videntes estabelecia-se um diálogo de inefável simplicidade, ao mesmo tempo que os espectado­res observavam insólitos fenómenos meteorológicos, de origem misteriosa. Era a claridade solar que ao meio dia em ponto começava a esm orecer enquanto a atmosfera tomava uma cor amarelada. Era uma nuvenzinha branca, bem visível até à extremidade da Cova, que envolvia a azinheira da aparição e com ela os videntes. Eram como que flores alvíssimas ou flocos de neve, que em forma de chuva misteriosa desciam do céu, se desfaziam a certa altura, sem chegarem a tocar no chão.

Mas o fenómeno principal, anunciado de antemão pelos videntes como rubrica autêntica do sobrenatural, estava reser­vado para a última entrevista, a de Outubro, e seria presen­ciado pela massa compacta de setenta mil espectadores, cren­tes e descrentes, cultos e incultos.

Chuva copiosa e persistente havia feito do local das apa­rições um lamaçal imenso e ensopara até aos ossos a multidão de devotos e de curiosos. Ao meio dia em ponto começa a entrevista dos videntes com a celestial Aparição, que havia de durar bons dez minutos. E como a Visão ao despedir-se apon­tasse para o sol, Lúcia traduz automàticamente esse gesto gri­tando : •Olhem para o so l ! »

E instantâneamente, como por encanto, cessa a chuva, rasgam-se as nuvens, e o astro Rei faz a sua apresentação no Zenite «semelhante a um disco de prata e com eça a girar ver­tiginosamente sobre si mesmo, como uma roda de fogo projec-

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DIA 30 DC! ABRIL 21

tando em todas as direcções feixes de luz: amarelo, verde, vermelho, azul, roxo . . . que pintam fantasticamente as nuvens do céu, as árvores, as rochas, a terra e a multidão imensa. Em seguida pára durante alguns instantes e depois recomeça a sua dança de luz, como artística girândola preparada pelos mais hábeis pirotécnicos; torna a parar novamente para recomeçar pela terceira vez, mais variado, mais colorido aquele fogo de artificio.

A multidão extática, imóvel, sem respirar, contempla. A um dado momento todos têm a sensação de que o sol se desprende do firmamento e se precipita sobre eles. Um grito único, imenso, rompe de todos os peitos, que traduz o terror de todos, e em várias exclam ações exprime os mais diversos sentimentos. Mi/agre/ milagre / dizem estes. C reio em Deus/ exclamam aqueles, f ív e Maria, rezam outros. Meu Deus, mise­ricórdia / grita o maior número. E caindo de joelhos na lama, fazem em alta voz o acto de contrição (1).

Todos sem outra sugestão mais do que a voz duma criança, «vêem os mesmos fenómenos, com as mesmas fases, no dia e hora prometidos e preanunciados alguns meses antes» (2 ). O mesmo fenómeno é observado por pessoas iso­ladas, a vários quilómetros de distância, fora portanto do alcance de qualquer sugestão.

E, caso extraordinário, arquivado no processo canónico e atestado pelos que o experimentaram, os fatos pouco antes ensopados pela chuva, ao terminar o fenómeno solar, não se sabe com o, estavam perfeitamente enxutos.

Estes prodígios foram como que as credenciais com que a Aparição se apresentou na Cova da Iria e provou a sua iden­tidade. Eu sou a Senhora do Rosário. J á não havia dúvida. Era Ela que vinha convidar as almas à oração e à penitência, exortá-las a abandonar e a detestar o pecado, propor-lhes na pessoa dos seus videntes, o ideal sublime da reparação e en­tornar sobre elas catadupas de bênçãos. Era o céu — trinta e cinco anos o mostraram já —, era o céu que se abria sobre a Fátima e que sorria a Portugal. A Portugal e ao mundo.

(1) L. G. da Fonseca, Le meraviglie di Felimo, 9.* ed., pj. 8546.(2) lb. pí. 86.

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FLORILÉGIO ILUSTRADO

O ração pelos Sacerdotes ( ')

Ó Jesu s, Verbo Eterno do Pai, foco abrasador, abrasai as almas dos Vossos sacerdotes no fogo do amor divino que devora o Vosso Coração, para que eles ardam no zelo das almás e as salvem, e, sal­vando-as, se salvem com elas.

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DIA 1 DE MAIO

SANCTA MARIA

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

«E o nome da Virgem era MARIA», diz-nos S. Lucas (I, 27). Expressão luminosa que num mundo de mistérios projecta claridades divinas. Quem não vê nela a realização duma profecia sal­vadora, que desde o Edém viera ecoando de boca em boca? E quem não vê ao mesmo tempo nesse nome o surpreendente desvendar dum mistério que trouxera suspensas as gerações de tantos milhares de anos? Desde a queda original fora anunciado aos pecadores do Paraiso que uma mulher viria vingar a derrota de Eva.

Passam os séculos. E um dia baixa do céu o mensageiro do Omnipotente, e em seus lábiosdesabrocha esta saudação; «És tu a mulher entre todas bendita» (Luc. I, 28). Estava realizada a pro­fecia.

Mas ao mesmo tempo desvendáva-se um mis­tério. Fora prometida ao mundo a mulher vence­dora da serpente. Mas quem havia de ser essa

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24 PLORILÊQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

mulher? Não faltaram no longo desenrolar dos séculos personagens que a prefigurassem. Mas a realidade autêntica, escondida dentro do simbo­lismo e das figuras bíblicas ninguém a descorti­nava. Quem seria e la? Segredo de Deus! Mis­tério que nenhum Profeta soubera desvendar. Pergunta que deixava sem resposta a ansiosa curiosidade das filhas de Israel.

Mas bendita és tu entre as mulheres, diz o Ar­canjo do Senhor. E os únicos ouvidos que recolhem essa revelação alvissareira são os de uma inocen­tíssima Virgem nazaretana. E o seu nom e? Et no- men Uirginis Maria. Página luminosa, que em três palavras apresenta a chave de tantos enigmas quantas as que a precederam com seus símbolos e figuras! MARIA é o Seu nome. E, ao serem pro­nunciadas essas palavras, a profecia desfaz-se em realidade, e o mistério desfaz-se em luz. É Ela! E o seu nome é Maria. O segredo de Deus já não é segredo para MARIA — Revelação que vale por um mundo de lu z! Era ela a estrela da Redenção en­coberta por detrás da nuvem profética! Estrela benfazeja, benvinda ao mundo s e ja !

O P.e António Vieira no seu sermão sobre o Santíssimo nome de Maria, mostra com palavras de S. Pedro Damião como Deus tirou e desen­volveu esse nome dos tesoiros da Sua Divindade «De thesauro divinitatis evolvitur»; e com palavras da Virgem Senhora a S. Brigida, mostra como os Anjos Custódios «audito hoc nomine magis appro- pinquant iustis» se aproximam mais dos seus pro­tegidos quando os ouvem pronunciar esse nome. D e sorte que para fazermos mais nossos os nossos

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I)1A 1 DE MAIO 25

Anjos, o maior gosto que lhes podemos dar é pro­nunciar muitas vezes o nome da sua Rainha.

E fazendo logo a anatomia desse nome augusto, desentranha dele os mais inefáveis sentidos mís­ticos.

Ele significa Soberana. Não deu Ela ao mundo o R ei dos reis e D o m in ad or dos dominadores, Aquele a quem pertence a majestade, a força, a honra e a vitória, e de quem dimana toda a gran­deza e todo o poder?

Ele significa também astro refulgente. E não nos deu Ela o Sol da Justiça, a Luz inextinguível que ilumina todo o homem que vem a este mundo, cujo foco divino sem aurora e sem crepúsculo, sem levante e sem ocaso, desdobra sobre o mundo das almas o leque incomensurável das suas benéficas radiações? E não é Ela mesma o esplendor das mais puras virtudes, o fulgor duma virgindade imar­cescível, duma glória que eclipsa a dos Anjos e Santos? ,

Maria, significa ainda esfre/a do mar. E não é Ela acaso o farol celeste que rasga a cerração dos mares caliginosos da nossa existência, guiando para o porto da bem-aventurança quem não perde devista a Sua luz? Não recebeu Ela o poder de dis­sipar tufões e tempestades que agitam a frágil bar­quinha da nossa alma, e que à invocação do Seu nome augusto são reduzidos ao silêncio?

Mar amargo é significado ainda do nome de Maria. A h ! é que foi necessário que a experiência das Suas próprias dores e amarguras lhe acrescen­tasse a compaixão das alheias e excitasse nas Suas a solicitude de remediar as nossas.

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Os Santos Padres chamam-lhe também a dextra de Cristo, estendida para levantar todos os caídos, o milagre dos milagres ( J . Dam asc.0), a aurora do céu na terra (Ruperto), a âncora firmíssima de todas as nossas esperanças (Teodoro Studita), o altar ani­mado, no qual o Cordeiro de Deus se oferece espi­ritualmente em sacrifício vivo (André Cretense).

II

MARIA! Nome tirado por Deus dos tesoiros da Sua divindade 1 E nós como não tiraremos desse nome as riquezas que ele encerra, e das suas significações as consequências que elas com­portam ?

«Invocai-o nos perigos, diz S. Bernardo, nas incertezas, nas angústias. Que ele não-em udeça nos vossos lábios, nem murche no vosso coração. Com esse nome nos lábios e no coração, não ha­verá mais desvios nem extravios, nem desesperos, nem quedas, nem temores, nem desalentos»; «e o nosso coração experimentará todas as doçuras desse nome, saboreando o sentido profundo da expressão evangélica; «e o nome da Uirgem era M flR lfí» .

E, desenvolvendo o pensamento do melífluo Doutor, invocai em todas as necessidades o nome de Maria, em todos os trabalhos e misérias desta vida. Este mundo é o hospital comum da natureza humana em que todos padecem, gemem e choram. E que maravilha seria se todos esses males se curassem com uma só palavra 1 Pois esta palavra

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DIA 1 DE MAIO 27

é o nome de Maria. Se não, diz Vieira, percor­ramos um pouco este hospital, e perguntemos a alguns doentes de que mal se queixam :

Tristatur aliquis? São tristezas que vos esma­gam a alm a? Invocai a Maria, e o coração se vos aliviará. Quem mais triste do que a Madalena junto do sepulcro de Cristo, sem que nem os Anjos a pudessem consolar? Vem o Consolador divino e pronunciou uma única palavra «MARIA». Pronun­cia o Filho o nome da Mãe. Foi quanto bastou, diz Vieira, para que já não coubesse em si de alegria quem antes estava fora de si de tristeza. Também ela se chamava M aria; mas nota S. Ambrósio, que foi a Mãe do seu Mestre que esse nome lhe re­cordou e de triste a fez alegre.

São temores que vos afligem ? — As maiores pro­postas que jamais se fizeram no mundo foi a do demónio a Eva e a do Anjo a Maria. Àquela que seria como deusa; a esta que seria Mãe de Deus. Eva não temeu porque não considerou; Maria con­siderou e temeu. Temeu as palavras do Anjo, por­que não sabia se seria demónio, diz o mesmo ora­dor sagrado. Para a Jivrar deste temor bastou ao Anjo pronunciar o Seu nom e: «Não temas, Maria». Assim nos ensinou como para confortar receios e dissipar temores, não há como o nome de Maria.

Serão desfalecimentos e desesperos nas vicissi­tudes da nossa vida? Que alento mais eficaz do que o que infunde o nome augusto de quem no Calvário, esmagada pela dor mais acerba que podia torturar um coração de Mãe, se manteve de pé, corajosa e constante até ao consummatum est da Sua imolação?

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

Será o vendaval violento das tentações que ameaçam de naufrágio a nossa alma, serão diabó­licas sugestões de soberba, da cobiça, da ambição, da inveja, serão os instintos viperinos da maledi­cência, serão os impetos bestiais da carne, será o aguilhão do remorso torturando a alma com a recordação dum passado criminoso e ainda não expiado?

Também para todas estas doenças nos dá S. Bernardo invariàvelmente a mesma receita : «Fita a estrela e invoca Maria».

Será o pejo invencível que vos paralisa a língua aos pés do confessor? Com ânimo suplicante e con­fiança filial pronunciai o nome de Maria. E a língua se vos desatará como a de Zacarias ao escrever o nome do Precursor.

É finalmente a morte da alma, os pecados cujo número ignoras, porque nunca fizeste conta da conta que Deus te pedirá? Baptiza-te no nome de Maria, é a receita audaciosa de S. Alberto M agno: Baptiza te in amaritudine maris, et nomina Ma riam». Maria quer dizer Mar amargo. Baptiza-te então na amargura das lágrimas duma contrição esmagadora e pronuncia o nome de MARIA.

III

É na Fátima que se aprende a soletrar com a unção angélica de Nazaré o nome de MARIA. Ali é só a alma, mas a alma toda, concentrada e incan­descente, que move os lábios suplicantes que cla­mam e aclamam a Maria. Não se vai lá para outra

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DIA 1 DE MAIO

coisa, senão para clamar por Maria e aclamar a Maria. E quantos milhões de vezes e de vozes ali aclamam esse nome, mais talvez do que em qual­quer outra parte da terra. Em cada terço somente, o mínimo obrigatório que se impõe cada peregrino, cada um se faz cem vezes eco de si mesmo na in­vocação do nome de MARIA. E em peregrinações de um milhão de almas, como a de Outubro de 1951, são cem milhões de vezes, como cem milhões de setas que Fátima despede para as abóbadas celestes. É caso de dizer que as pedras da serra já não articulariam outros sons no dia em que Deus as deixasse associar às harmonias dos peregrinos.

Já a inocente Jacinta, subindo para o alto dum penedo se entretinha a repetir o nome de MARIA, para obrigar o eco da serra a responder-lhe outras tantas vezes no mesmo tom.

E que harmonia celestial de vozes no dia em que a natureza agreste da Fátima, depois de ter gravado em si, como num disco imenso todas as vibrações do nome de Maria, feita enfim eco do céu na terra, houvesse por sua vez de despertar o mundo angélico, feito no céu o eco da Fátima!

Milhões sem número de vozes! E outras tantas contorções e paroxismos de Satanás para quem esse nome triunfante tem a eficácia de exorcismo. Tal qual a harpa de David (I Reg. XVI, 23), cujos sons afugentavam o demónio do corpo possesso de Saúl, a consonância do nome de Maria tem a vir­tude de afugentar da alma as sugestões de Satanás.

Saibamos explorar todos os tesoiros que en­cerra o nome poderoso de Maria.

Jurou-nos Cristo que tudo o que em Seu nome

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

pedíssemos ao Pai nos seria concedido. E, se o Pai concede tudo o que se Lhe pede em nome do Filho, como não concederá o Filho o que se Lhe pedir em nome da M ãe?

EXEM PLO

A Terra de Santa Maria sob um pesadelo de morte

Foi em 1917 que na Rússia irrompeu o vulcão comunista. E sse vulcão, vomitando ódios, blasfémias, erros e heresias, depressa cobriu de ruinas materiais e morais a Rússia inteira. Dissolve-se a família, declára-se guerra a Deus, ou antes, de-clára-se que é Deus um mito, inaugura-se uma época de perse­guições de extermínio, de leis draconianas, abrem-se os diques à imoralidade, adoptam-se processos sanguinários, dentro e fora das famigeradas c hecas , e ao fim de pouco tempo, os assas­sinatos ultrapassam o milhão, ascendem a vários milhões das vítimas da fome.

A religião, declarada o ópio do povo, é proscrita, a ideia de Deus é banida dos lares e das escolas. Cristo é votado ao ostracismo, os templos e monumentos religiosos são destruídos ou profanados.

O ateísmo militante torna-se uma instituição avassaladora dentro e fora das fronteiras soviéticas. De facto, as ideias anti-sociais e anti-religiosas do comunismo ateu, começam a contaminar outras nações. Dias virão em que a enchente, der­rubando fronteiras, avançará impetuosamente para o Ocidente, com o aplauso estúpido e inconsciente dos que nas hordas moscovitas saudam a libertação dos povos ocidentais! I

Pouco teve de esperar quem viu desfeitos os lares cris­tãos, sacerdotes e Bispos massacrados ou deportados para a Sibéria ou concentrados em campos de trabalhos forçados, mi­lhões de escravos arrebanhados para morrerem com os instru­mentos de trabalho nas mãos incapazes de os segurar, o cato­licism o votado ao extermínio e afogado em ondas de sangue, ou estrangulado pela apostasia.

Chegou primeiro a vez da Espanha, que, se não lhe aco­dem a tempo, ficaria convertida num vasto cemitério desde o

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DIA l DE MAIO

Atlântico ao Mediterrâneo, dos Pirineus ao estreito de Gibraltar. O seu solo foi ensopado no sangue de muitos milhares de már­tires; e referindo-se unicamente aos primeiros seis meses de morticínios e de perseguições, já Pio XI na sua memorável Encíclica Divini Redem ptoris denunciava ao mundo as mons­truosidades e abominações perpetradas pelo comunismo ateu : — «Não é esta ou aquela igreja destruída, este ou aquele convento arruinado, dizia ele, m as onde quer que lh es fo i possível, todos os templos, todos os claustros religiosos, e ainda quaisquer vestí­gios da Religião cristã . . . tudo foi destruído até aos fundamentos.E não s e limitou o furor comunista a trucidar Bispos e muitos mi­lhares d e sacerdotes, religiosos e relig iosas... mas fez um númeromuito maior de vítimas em leigos de todas as classes, que aindaagora vão sen do im olados em carnificinas colectivas, unicamentepor professarem a lei cristã, ou ao menos, por serem contráriosa o ateísm o comunista. E esta horripilante m ortan dade é p e rp e­trada com tal ód io e tais requintes d e crueldade e selvajeria quenão se julgariam possíveis no nosso séc u lo ».

Tal era o cenário que se desenrolava. Pelo corpo vivo de Portugal perpassavam calafrios de morte, sentindo o res­pirar da víbora vermelha, aninhada a seu lado, enquanto den­tro das suas fronteiras se agitava a quinta coluna de Moscovo. Pode-se dizer que de Portugal se viam as labaredas devo­radoras de toda uma civilização cristã, e ali se ouviam as blasfémias dos sem-Deus, o s gritos angustiosos de inumeráveis vítimas. E a terra de Santa Maria, a paredes-meias com o novo feudo de Moscovo, estava já condenada a fazer parte da União Soviética Ibérica. E M oscovo, a quem não faltavam as com-placências de outras nações, declarava pela sua emissora que tinha contas a ajustar com Portugal.

Nesta hora de pesadelo para a nação portuguesa, o seu Episcopado lembra-se de que no mesmo ano de 1917 em que irrompeu na Rússia o inferno comunista, veio a Virgem Santís­sima estabelecer na Fátima a cidadela da Sua vigilância sobre a terra de Santa Maria.

Essa coincidência fez compreender ao Venerando Epis­copado de Portugal que a Virgem da Fátima fôra providencial-mente encarregada de velar pela segurança da Sua Pátria. E, *á luz d e incêndios que na vizinha nação irmã consumiam, com riquezas d e arte, monumentos erguidos à glória d e Deus e à edu­c aç ão e sanfi/icaçâo dos hom ens», a 13 de Maio de 1936, fizeram

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32 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

na Fátima solene voto de à Fátima voltarem daí a dois anos, rodeados dos fiéis das suas dioceses, se Portugal fosse livre do pesadelo comunista. E dois anos depois lá se reuniam, chefiando cada um a sua peregrinação, para se prostrarem aos pés de Maria em atitude de acção de graças.

O Episcopado Português soube invocar o Nome de Maria na hora do perigo. O s exércitos do comunismo ateu, que lhe ameaçava as fronteiras, foram escorraçados. E a terra de Santa Maria respirava alfim, livre do pesadelo que a sufocava. Voltou ele a sentir-se nos calamitosos 6 anos de guerra mun­dial (1939-1945). Para a Virgem tutelar da Fátima se voltou uma vez mais, invocando o Seu nome, toda a terra de Santa Maria. E o que nenhum optimismo humano ousaria esperar foi uma realidade. A terra de Santa Maria foi preservada do incêndio.

Oração pelos Sacerdotes, como na pag. 22

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DIA 2 DE MAIO

SANCTA VIRGO VIRGINUM

Oração preparatória, com o na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Uirgem das virgens! — Nunca a ouvidos hu­manos ressoou superlativo tão sublime como este, que, em inefável reduplicação de termos, multiplica até ao infinito o que na virtude há de mais atraente e de mais elevado. Nunca a virgindade se viu tão encomiàsticamente exaltada com quando superla- livos deste quilate a celebraram personificada na Mãe de Deus. Uirgem das virgens é a expressão inspirada de quem mais não sabe dizer.

Não é simplesmente virgem, não é só Virgem- -Mãe, é a Virgem ideal e o ideal das virgens, mas ideal realizado, a Virgem das virgens, a última pa­lavra, a expressão última desse ideal.

Nenhum título quadra melhor em Quem, pri­meiro do que ninguém, consagrou e selou com voto o amor à virgindade, voto tão irrevogável que, sem a garantia da sua inviolabilidade jurada por um anjo e com a chancela de Deus, nunca Ela teria consentido sequer na maternidade divina.

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© anda TSitgo Birginum

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34 FLORII.ÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

eis o sinal prodigioso que o Senhor te vai dar; uma Uirgem há de conceber, há de dar à luz um Filho que será Deus connosco (Is. VII, 13-14). Passam os sécu­los: Et nomen Uirginis Maria. E essa Virgem pro­fetizada por Isaías vem a ser Maria. E essa Virgem, concebe e dá à luz um Filho que se chama Jesus. E esse Filho será grande, será chamado o Filho do Altíssimo, e dar-lhe-á Deus o trono de David e rei­nará na casa de Ja c ó e o seu reino não terá fim.

Tal é o filho de Maria, que S. Paulo proclama «nascido de mulher» (Gal. IV, 4). Tal é Maria que S. Isabel aclama Mãe do Senhor (Luc. I, 34). Tal é a voz do Espírito Santo falando pelos lábios de ambos, depois de ter intervindo pessoalmente na realização do mistério, por uma acção tão inefável e divina.

E a voz de Maria qual teria sido? Que digam os Anjos quantas vezes a não teriam ouvido dizer no segredo das suas contemplações e dos seus êxtases, e a uníssono com o Eterno Pai: Este é o meu Filho muito amado em quem pus todas as mi­nhas complacéncias (Mat. III, 17); e em suave coló­quio com E le: Tu és o meu Filho a quem eu dei o ser (Ps. II, 7).

II

A Igreja, e com ela toda a tradição cristã, não podia ser uma voz desafinada no meio deste har­monioso concerto bíblico: Eu creio em Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus Pai, concebido do Espírito Santo, nascido de Maria Uirgem, definiu ela no seu símbolo de fé, tão imutável como o próprio Deus.

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DIA 1 OU 2 DE MAIO 35

E o que bem eloquentemente provou a popula­ridade desta crença foram os protestos indignados que a aleivosia blasfema de Nestório provocou por toda a parte e os arrebatamentos de entusiasmo que a definição de Éfeso despertou.

Pretendeu o infeliz heresiarca que havia em Cristo duas personalidades distintas, divina uma e outra humana, e que Maria era Mãe de Cristo Ho­mem, mas não de Cristo Deus. Todo o mundo cristão vibra indignado, e convocados de todos os pontos da cristandade reunem-se em Éfeso 274 Bis­pos, que, num célebre Concílio Ecuménico, definem o dogma da maternidade divina à luz da SagradaEscritura -e de toda a tradição católica. Condenam o heresiarca que é excluído do seio da Igreja; édeclarado indigno de consagrar no altar o corpo do Filho quem no púlpito ousara atentar contra a ex­celsa dignidade da Mãe. E ali mesmo se deixa de antemão anatematizado e condenado como hereje quem quer que no futuro se atreva a negar a ma­ternidade divina de Maria.

E quis ainda o Concílio rematar a saudação do Arcanjo Gabriel, completada pela de Isabel, com esta carinhosa súplica, que o mundo logo aprendeu e nunca mais esqueceu: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por n ó s ...

Ficou na história consignado o júbilo com que a cidade de Éfeso acolheu a decisão do Concílio: a vitória de Maria foi aclamada com hinos de triunfo, os Pontífices do Concílio são delirante­mente ovacionados ao saírem da Basílica e triun­falmente acompanhados com tochas e flores através das ruas, por terem com a sua autoridade ratificado

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36 FLORILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

o que já se encontrava escrito no coração dos fiéis; que Maria era Mãe de Deus.

E a voz da razão não tinha mais do que asso­ciar-se com o seu fímen. De facto, se Maria deu verdadeiramente o ser humano ao Filho de Deus, concebendo e dando à luz o Verbo feito carne, é no pleno sentido da palavra Mãe de Deus, com tanta ou mais verdade do que Eva é mãe de Abel. Abel reparte a sua filiação com Adão e Eva, ao passo que o Verbo recebe a sua natureza humana de Maria e de Maria nasce segundo a carne, sem cooperação material de mais ninguém. O Verbo incarnado é Filho único e Maria progenitora única. Um Deus faz-se homem e uma Virgem faz-se Mãe. Mas nem Deus, fazendo-se homem, deixa de ser Deus, nem a Virgem, fazendo-se Mãe, deixa de ser Virgem.

É que dum parto virginal só podia brotar um fruto divino; e Deus, a ter de se humanar, só dum parto virginal podia nascer.

III

E Maria, por sua vez, a ser Mãe, havia de o ser para todos os efeitos.

Assume todos os encargos da maternidade: nutre, amamenta, veste, vigia, educa, protege, ama. Passa por todos os trabalhos e sobressaltos ine­rentes à responsabilidade de mãe, que de Deus recebe o depósito sagrado do qual há de dar es­crupulosa conta.

Mas, com a plenitude dos encargos de Mãe,

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DIA 1 OU 2 DE MAIO 37

Maria não pode deixar de receber também a ple­nitude dos direitos inerentes à maternidade.

Sobre o Filho, que com toda a razão chama Seu, adquire Ela um verdadeiro domínio, uma juris­dição natural, uma autoridade legítima, o jus ma- ternum, direito sagrado e írrefragável, mais próprio ainda de Maria do que das outras mães, uma vez que dEla só, excluindo qualquer outra cooperação, hauriu o Filho toda a sua substância humana. Di­reito que Lhe confere uma real jurisdição sobre o Filho das suas entranhas, jurisdição que tinha de reconhecer e acatar Quem deu aos homens o preceito de honrar pai e mãe, e se propôs como modelo de fidelidade no cumprimento dos seus deveres.

Deste modo a jurisdição que sobre Jesu s possui Maria de direito, torna-se espontâneamente uma jurisdição de facto — Erat subditus illis (Luc. II, 51), jurisdição exercida durante a existência mortal do Homem-Deus, que voluntàriamente se submete à autoridade de Sua Mãe, não por necessidade de natureza, mas por humildade, por amor, e para exemplo.

Ora tendo Ela exercido sobre Seu Filho a au­toridade materna enquanto Ele viveu no mundo, podemos nós julgar que essa autoridade se desva­necesse na glória? Acatar a autoridade da Mãe só enquanto necessita dos seus serviços, será uma atitude pouco filial e portanto pouco digna dAquele, cujo ser pessoal desde toda a eternidade consiste precisamente, essencialmente, em ser Filho.

Filho é o Seu nome divino; Filho é também o Seu nome humano — Fiiius hominis. — Ser Filho é

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38 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

a eterna essência da Sua personalidade, mostrar-Se Filho na sua vida humana é também, em certo modo, a razão de ser de Quem se fez visível para revelar o invisível.

Na escala das grandezas de Maria, a mater­nidade divina é a última palavra.

Ser Mãe de Deus é exercer sobre Ele, não digo uma intercessão, mas uma autoridade que o melhor dos filhos não pode deixar de acatar, sob pena de tornar ineficaz, pelo Seu exemplo, o pre­ceito de honrar pai e mãe.

A simples razão que conclua se Maria não é uma segunda omnipotência, a omnipotência criada, a omnipotência participada; e se desse modo Lhe não é devida da nossa parte toda a honra e glória, a honra e glória pelo menos que Seu Filho Lhe tri­butou.

EXEM PLO

O tributo das primícias do Novo Testamento

Era a 13 de Outubro de 1928. Junto da fonte maravi­lhosa da Cova da Iria encontrava-se uma pobre senhora, tendo a seu lado uma filhinha em que se viera reunir o duplo infor­túnio da cegueira e da mudez. E tinha vindo ali aquela triste mãe pedir para sua filha o dom da fala e uma esmola de luz. Não podia bater a melhor porta do que à de Maria, Mãe d’Aquele bondoso Taumaturgo que dava vista a cegos e fala a mudos.

A um dado momento, inesperadamente desata-se a língua da criança e em seus lábios, até então paralisados, desabrocha esta alvissareira palavra «M am ã!». E tomando logo com as mãozinhas a medalha de Nossa Senhora da Fátima que trazia ao peito, fita nela, como que extasiada, o seu primeiro olhar.

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DIA 1 OU 2 DE MAIO 39

No Antigo Testamento, quando Deus ainda não tinha Mãe, havia Ele estabelecido a lei das primícias que mandava lhe fossem oferecidos como a Autor da Criação, os primeiros frutos da terra. Era a homenagem prestada a Quem os criara.

Depois que Ele teve Mãe, quis de modo semelhante homenagear quem lhe dera o ser humano. Para Ela os Seus primeiros ósculos, os primeiros sorrisos, o primeiro olhar. A voz materna foi a primeira que ressoou a Seus ouvidos. Para Ela, pois, as primícias dos Seus ouvidos, dos Seus lábios, da Sua língua, dos Seus olhos, de todos os Seus sentidos. Para Ela teriam sido também as primícias do Seu amor, se, antes ainda de ter coração, Ele não amasse já, e não amasse antes ainda de Ela existir.

Ditosa menina que de Maria recebeu na Fátima a vista e a fala qufe a natureza lhe negara. E ditosa ainda, porque foram para a Mãe de Deus as primícias dessa faculdade de ver, que dEIa acabava de a lcançar; foi a imagem de Maria que primeiro impressionou as suas pupilas no instante em que elas se torna­vam sensíveis à luz do dia. E não seriam também para Ela as primícias dos seus láb ios? Mamã / dissera a recem-miraculada ao desatar-se-lhe a lingua. Palavra ambígua naquelas circuns­tâncias ; mas o gesto simultâneo com que lançou as mãozinhas à medalha de Maria não bastará para dissipar a dúvida?

A dupla cura que instantâneamente se operara despertou o entusiasmo do povo aglomerado à volta da fonte. Todosprocuravam ver de perto e tocar a afortunada menina. Foi ne­cessário que alguém a levantasse nos braços para satisfazer a curiosidade do público e ao mesmo tempo a livrar de invo­luntários atropelos.

Prouvera a Deus que todos, ao descerrarem-se-lhes pela primeira vez as pálpebras, vissem logo, como esta ditosa criança, a imagem da Mãe de Deus, e que essa imagem lhes ficasse a servir de espelho para toda a vida.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22

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DIA 3 DE MAIO

M A T E R C H R IST 1

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

Porque Maria é Mãe de Cristo, por isso é que com toda a verdade e propriedade Lhe chamamos Mãe de Deus, fazendo nossa a expressão oficial­mente consagrada pelo Concílio de Éfeso — Theo- tocos — e que tão harmoniosamente vibra ao nosso coração. Ora Ela é realmente Mãe de Cristo; e Cristo é Deus feito Homem, que só se fez Homem sendo concebido nas entranhas virginais de Maria.

Tão realmente como qualquer outra mãe, Ela forneceu da Sua própria substância a substância de que foi formada a carne adorável do Salvador. A esse corpo, miraculosa mas realissimamente con­cebido por Maria, uniu Deus uma alma humana; e a esse corpo e a essa alma uniu hipostàticamente a Divindade, para deles nunca mais Se separar. E desse modo Cristo é simultâneamente verda­deiro Deus e verdadeiro Homem. NEIe existe a natureza humana e a natureza divina, uma e outra integral e completa, absolutamente distintas, ambas

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DIA 2 DE MAIO 41

Virgem das virgens, não há título que melhor exprima a piedosa admiração da Igreja perpè- tuamente extasiada diante do prodígio vivo duma virgindade fecunda. E na realidade nenhum em­blema a podia melhor simbolizar do que essa haste de açucena (cf. gravura) com a sua tríplice flor a significar que Maria foi virgem antes do parto, no parto e depois do parto.

Não é sem razão que o Cântico dos Cânticos apela para o simbolismo do lírio, quando celebra a pureza virginal da Esposa e a predilecção do Es­poso celeste pela virgindade dizendo-nos que é o lírio dos vales e que se apascenta entre lírios.

II

Sublime lição deriva para todos de semelhante simbolismo, a que um dia recorreu o mesmo Espí­rito Santo.

É que o Filho da Virgem tem as Suas delícias nos corações puros (Math. V, 8) e só neles tem o seu repoiso; almas cujos pensamentos virginais, desejos e afectos puros, movimentos puros são para Ele como um canteiro perfumado de plantas odorí­feras (Cant. VI, 1).

Assim se compreende como almas privilegiadas, ao contacto místico do Verbo, cheguem a exalar o mesmo perfume da açucena, como se fossem açu­cenas animadas de alma espiritual, ou como se se encontrassem num ambiente odorífero natural. Tal a que deixou escrito: «Estou abismada na Pureza do Verbo Divino. Nunca a Beleza desta virtude

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42 FLOKILÊQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

me pareceu tão bela, nem a Pureza do Lírio Divino me pareceu tão pura. Qui pascitur inter lilia. Como os pobres liriozínhos podiam crescer entre es­pinhos, se não fossem enxertados no Lírio Imacu­lado, no Lírio incriado? Como me sinto cheia de confusão, um ser como e u .. . saboreando as delí­cias da Sua Pureza Divina. Há já três dias que tudo o que me cerca exala o seu perfume, perfume suavíssimo do lírio, da açu cena...»

Quanto não devia então o Filho de Maria com­prazer-se ao respirar o perfume virginal dessa Pureza imaculada que Lhe dera a Ele o ser humano e que a deixou consagrada com o epíteto antono- mástico de Uirgem, nome que só a Ela compete na plenitude do seu significado.

Á luz deste exemplo de Maria, o Lírio que so­bressai muito acima desse místico canteiro de lírios vivos, entre os quais se apascenta o Cordeiro Ima­culado, não será caso de sondar nesta hora as profundidades do nosso coração, para vermos se somos também objecto de complacência aos olhos divinos e angélicos?

Quantas imodéstias, quantos olhares impruden­tes ou talvez perigosos, quantas liberdades incompa­tíveis com a santa austeridade duma virtude delicada! Quantos pensamentos, recordações, desejos, inten­ções, quantos filmes da fantasia desenfreada projec­tados na nossa alma, quantos panoramas imaginati­vos em que não aparece a alvura do lírio ! Quantas afeições que nem por Deus começaram nem por Ele acabaram ! Quantas amizades que, sem que a nós mesmos o queiramos confessar, foram travadas mais pela carne que pelo espírito!

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DIA 2 DE MAIO 43

III

Depois do lírio, é a pomba o símbolo expres­sivo de que se vale o Espírito Santo para deno­minar a virginal Esposa dos Cantares. Pomba lhe é chamado em todos os tons e em todas as páginas desse livro divinamente inspirado.

E a Mãe de Jesu s, desde 1917 tem mostrado que é verdadeiramente a Virgem das Virgens, como tal manifestada ao mundo desde o planalto da Fá­tima. Essas revoadas de pombas, símbolo esco­lhido pelo Espírito Santo da Sua inocência imacu­lada, que por toda a parte a acompanham, de modo tão surpreendente e inexplicável, através das Suas peregrinações pelo mundo, e que se vêm aninhar a Seus pés, como que atraídas por um íman irresistível, sem que haja atropelos, sem que haja estrondos, nem gestos ou amedrontamentos, que consigam espantá-las, que outra coisa repre­sentam na comitiva da Virgem da Fátima, se não as almas virginais que, atraídas por Ela, seguem o Cordeiro Imaculado após Sua Mãe Imaculada?

Uirgem das virgens, rainha e mãe de todas as almas que irrevogàvelmente consagram a Deus a sua virgindade, bem mostra que o é o próprio local das Suas aparições. Terra deserta, árida, sem ca­minhos e sem pedra sobre pedra antes que Ela ali poisasse as Suas plantas virginais, sete lustros mais tarde aparece-nos povoada por nada menos de nove comunidades de almas a Deus consagradas, para ali atraídas pela Virgem das virgens, como as pombas do céu são atraídas para junto dos Seus pés peregrinos.

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44 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Virgem Senhora da Fátima, milagre vivo de virgindade, que na terra fostes para Jesu s a Sua «pomba única, perfeita, viram-Vos as filhas de Sião e proclamáram-Vos bem-aventurada»; «E o seu número não tem conta» (Cant. VI, 8, 7). O Vosso exemplo as atrai e as faz renunciar ao mundo e a todas as suas seduções. Que aumente sem fim o número das Vossas imitadoras, ó Virgem das virgens.

EXEM PLO

Sob o terror vermelho da libertinagem fardada

O seguinte exemplo mostra-nos como a Virgem da Fátima protege sob o Seu manto virginal as almas émulas da Sua vir­gindade.

E a Irmã Doris Lüttgens, da Congregação de Santa Isabel, quem escreve e descreve o seguinte acontecimento que trans­crevemos da Uóz da Fátima (N .° 301).

«Desde 31 de Março até 6 de Maio de 1945, de Dresden à aldeia de Zapel, perto de Civitz (Mecklemburg-Schewerin) vivi quase sempre sob bombardeamentos com minha irmã Hedwig e minha sobrinha Doris, de 16 anos. Contudo a nossa confiança em Nossa Senhora da Fátima era inabalável,

Quando no dia 6 de Maio os russos entraram na aldeia, o fendendo. . . as mulheres, vimos então quão terrível era o perigo em que nos encontrávamos. Era impossível fugir, visto que os assaltantes tinham tomado todas as ruas. Eu, porém, continuava firme na minha fé na Virgem da Fátima. Coloquei a sua imagem sobre uma pequena mesa, adornei-a de flores e velas que estavam acesas quando um russo nos entrou pela porta dentro para dar volta à casa. Ao entrar naquele quarto ficou espantado e perguntou: Que é isto? Eu então mostrei-lhe a medalha da minha Congregação, e disse-lhe que estava certa da protecção de Nossa Senhora.

No dia seguinte vieram mais 30 russos, pela maior parte

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DIA 2 DF. MAIO 45

embriagados. Foram buscar todo o vinho que tínhamos na dispensa e puseram-se a beber e a berrar.

D e repente veio um rapaz, que já lá tinha estado com um oficial russo, e logo chegou este também. Então o rapaz per­guntou: Onde está a menina bonita? Logo vi o que ele queria. Minha sobrinha estava no andar superior fechada num quarto. Corremos para cima, eu e a mãe, e quisemos a todo o custo impedir que eles entrassem no quarto, mas fomos empurradas pela escada abaixo, e o oficial postou ali o rapaz armado com pistola e subiu. Minha irmã disse então: f í única coisa que podem os fa zer é rezar.

Entrámos no quarto onde tínhamos a imagem, ajoelha­mos e rezamos chorando, a Rvé Maria, a Salvé Rainha, A Uossa protecção, Lembrai-U os e outras orações, prometendo mandar publicar o milagre, se Doris escapasse ilesa daquele horror.

Passaram assim talvez dez minutos. Calámo-nos e pusé- mo-nos à escuta. Tudo em silêncio. Uma angústia indizível nos tomava. Minha irmã estava pálida como uma morta. Eu pensava: De certo a estrangularam, pois ela nem grita nem chora. Mas ainda sentia viva a minha confiança na Virgem Santíssima e tive uma ideia : Quem canta, reza duas vezes. E pus-me a cantar: Para te amar, ó M aria, s e ja sempre o meu entendimento e que o meu coração arda sem pre por ti na dor e na alegria, ó Flor celestia l I

Minha irmã queria fazer-me calar, mas eu continuei. E então o milagre deu-se. Ouvimos a escada ranger, apareceu o oficial acompanhando Doris e dizendo no seu alemão atra­palhado : fíqui tens a tua filha — menina boa — não fizem os nada. Em seguida vieram os soldados russos, uns 20. E alguns repe­tiam : Boa menina! boa menina /

Quanto a Doris, abraçando-nos radiante confirmava : E le não me fez mal nenhum . . . »

Até aqui as palavras da citada religiosa. As que seguem só mostram como foi palpável a intervenção da Virgem das virgens naquela angustiosa conjuntura.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 3 DE MAIO 47

entretanto indissoluvelmente unidas e eternamente inseparáveis na sua unidade hipostática.

Não há dualidade de pessoas, como sonhou Nestório; uma vez que a pessoa do Verbo Se apro­priou e fez Sua a natureza humana de Cristo, ela não podia ter subsistência própria, sob pena de não poder ser assumida. Mas também não há absorpção da humanidade pela divindade, como fantasiou o Monofisismo; pelo contrário permanecem íntegras e inconfundíveis na sua pleníssima e distinta duali­dade, sem o quê não teria sido possível a Re­denção do género humano pela Paixão e Morte do Salvador.

Mas considerado apenas como homem, que Humanidade tão sobre-humana a de Jesu s Cristo, a Obra-Prima da Sabedoria Eterna, predestinada a ser a habitação permanente da mesma Sabedoria, a incarnação viva e palpável da mesma Divindade! S. Jo ã o viu-O no seu Apocalipse, ostentando escritas na orla da sua púrpura estas palavras: Rei dos reis e Senhor dos senhores. J á como cria­tura Ele é o primogénito de todas elas.

E quem não saberá medir pela grandeza do Filho a grandeza da M ãe? Só por ser Mãe de Cristo, Maria é a Rainha dos Céus e da terra, Rainha de todas as jerarquias de bem-aventurados, Rainha de todo o mundo angélico, dos Anjos, dos Arcanjos, dos Querubins, dos Serafins, dos Tronos, das Do­minações, das Potestades, das Virtudes e de todos os Principados Celestes, entronizada como Rainha ao lado do Rei dos reis e Senhor dos senhores. Mãe de Jesu s Cristo, assombro prodigioso de grandeza e de glória.

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

II

Mãe de Cristo, é associada a Seu Filho que a piedade cristã se acostumou a considerá-La.

Não é lícito ao homem separar o que Deus uniu. E Deus uniu e associou Mãe e Filho em toda a obra da Redenção, e portanto em todas as comu­nicações estabelecidas entre o céu e a terra.

S. Bernardo sentia particular complacência em se representar a humanidade inteira, ao sair fla­mante das mãos de Deus, como uma planta que deve germinar e desenvolver-se de idade em idade, até ao dia em que o seu tronco produza um fruto digno dela.

A gerações sucedem novas gerações, a séculos novos séculos, a uns povos outros povos; a planta cresce, faz-se árvore robusta e frondosa, mas o fruto não aparece! Continua ainda a desenvol­ver-se, e, através das gerações que passam pelo cenário do mundo, ela produz tudo o que a terra adm ira: a glória, o génio, a ciência, o heroísmo dos com bates! Mas o fruto desejado não aparece ainda. Até que um dia da árvore num supremo esforço brota enfim o mais pujante, o mais belo rebento. A filha de Je s s é e de David dá ao mundo um infantinho e Isabel, sua prima, saúda-A nestes term os: «Bendito fruto esse das tuas entranhas» (Luc. I, 42), saudação que mais tarde alguém inver­terá desta maneira: «Benditas entranhas que te deram o ser» (Ib. XI, 27).

E na verdade terra nostra dabit frucfum suum tinha dito o Profeta (Ps. 84, 13). A terra deu o seu fruto podemos nós dizer depois dele, que Jesu s é

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DIA 3 DE MAIO

a mais esplendorosa floração da raça humana, e Sua Mãe a verdadeira árvore da vida, que, dan­do-nos o Salvador, nos deu a verdadeira vida (Joan . VI). Mas, no céu ou na terra, o fruto con­tinua unido à árvore, para que descansando à som­bra da árvore saboreemos a doçura do fruto.

III

Fruto que se tornou o alimento e a vida das almas. É a vida terrena de Jesu s perpetuada na Eucaristia, é a vida gloriosa do Salvador transplan­tada para a terra, é Jesu s Cristo feito alimento da nossa vida sobrenatural, é o fruto alimentício da alma, de que Maria é ainda a verdadeira árvore, Ego quasi vitis fructivicavi (Eccl. XXIV, 23). Como frutifica a videira, assim eu frutifiquei. Eu sou a videira que o produziu.

Assim é de facto. Como da videira germinou o fruto que havia de servir para a transubstan- ciação eucarística, assim da carne virginal de Maria e do seu sangue puríssimo foi formado por inefável intervenção do Espírito Santo o corpo e sangue de Jesu s Cristo que se havia de sacramentar por vir­tude da transubstanciação eucarística. Benedictus fructus ventris tui.

Por isso Maria em certo modo é já a Euca­ristia em germen. Em Suas veias circulou o sangue, em Seu organismo virginal palpitou a carne que foi hipostàticamente assumida pela Verbo Divino, para ser com Ele sacramentada no altar.

Por isso é que ao heresiarca Berenger, na re­tratação da sua heresia, foi imposta no século XI

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50 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

esta profissão de fé : É o verdadeiro corpo de Jesus Cristo, esse mesmo que nasceu de Maria Uirgem, que depois da consagração permanece no altar. E dessa profissão de fé fez a Igreja uma das mais belas estrofes do hino eucarístico: fíve verum cor- pus natum de Maria Uirgine.

«Eu frutifiquei, como videira», diz da Mãe a Liturgia Sagrada. «Eu sou a cepa e vós os sar­mentos», diz de Si mesmo o Filho.

Ele a videira, de cuja seiva nós vivemos. Ela a videira de cujo fruto nos alimentamos. Uma e outra coisa se verifica na Eucaristia, mistério que tão luminosamente nos revela a união entre a Mãe e o Filho.

E tanta é essa união que descendo à Fátima, dir-se-ia que a Mãe trouxe consigo o Filho, fazendo da Cova da Iria a habitação permanente da Divina Eucaristia. Lugar antes deserto e árido, onde Jesu s Sacramentado nunca se havia hospedado, desde que Sua Mãe o santificou com a Sua presença, como se quisesse acompanhá-la, ali estabeleceu Ele também uma presença divinizante. E a Cova da Iria está permanentemente habitada por nada menos de doze sacrários.

União mais palpável ainda durante a Bênção aos enfermos nos dias de. peregrinação. Que o digam todos os que nesse momento abençoado, por seus membros amortecidos sentiram perpassar essa misteriosa corrente de vida e de vigor, que os deixou transformados e sãos. Que digam como é que a saúde pedida à Mãe é concedida pelo Filho no instante da Bênção feito instante de bênçãos. E a Mãe que se esconde para deixar aparecer o

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DIA 1 OU 2 DE MAIO

SANCTA DEI GENITRIX

Oração preparatória, com o na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

Mãe de Deus! palavra que em si encerra toda uma epopeia divina, um mundo de mistérios, uma síntese fecunda de todo o cristianismo.

São inacessíveis ao espírito humano as eleva­ções a que teria de ascender quem tentasse com­preender o dogma da maternidade divina de Maria. Ser Mãe do Criador uma simples criatura! Mãe do Verbo que era no princípio, do Verbo que estava em Deus, do Verbo que era Deus!

E entretanto não há dogma mais arraigado no coração dos fiéis, nem mais teimosamente procla­mado por dezanove séculos de cristianismo. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, é o grito unâ­nime de milhões de vozes que, desde o século de Éfeso até ao século da Fátima, em todos os cantos da terra e a cada instante do dia ou da noite, não se cansou ainda de proclamar a maternidade divina de Maria. Proclamára-a já, antes ainda de se rea­lizar, a Sagrada Escritura: Escuta, ó casa de David...

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© anda Dei ŒenitrU

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DIA 3 DE MAIO 51

Filho. É o Filho que se esconde sob os véus da Eucaristia para que a Mãe apareça. Médico Di­vino ! Celestial Enfermeira 1 Que união encan­tadora !

EXEM PLO

« J á m orreu!»

Genoveva da Conceição, de 33 anos, da freguesia de Car- valhido, Porto, atacada de tuberculose bipulmonar, sentira o peso da doença durante 5 anos e 7 meses. Extrema inanição a condenara à cama. O decúbito ocasionára-lhe largas feridas por todo o corpo. Toda ela era uma chaga viva. Há 4 meses não podia tomar mais do que água fervida, tanto era o seu fas­tio, e de vez em quando um quase nada de fruta cozida, que entretanto não conservava no estômago. Sendo de boa esta­tura, já só pesava 46 quilos. Q uase só pele e osso.

Entretanto Genoveva só tinha já uma aspiração nesta v id a: ir à Fátima e morrer. Nunca pensara em ir pedir a saúde. Para quê? Simples criancice? Nãol Era um anseio da sua alm a: vé-La primeiro na Fátima para no céu Lhe poder dizer que já A conhecia. Devoção infantil, talvez, mas que agradou a Nossa Senhora e que o próprio médico respeitou. Todos os que a conheciam e tratavam tinham a certeza de que aquela viagem era a morte. D eixá-la: se vai, a viagem m ata-a; se não vai, mata-a o desgosto. Deixá-la ir. Tanta era a certeza de que morreria no caminho, ou na Fátima, que levou consigo os pa­peis necessários para poder ser enterrada em qualquer parte.

Genoveva era muito pobrezinha. Com saúde, vivia do seu trabalho, doente, vivia de esmolas. E com esmolas, expres­samente pedidas para isso, empreendeu ela a viagem ã Fátima, encorporando-se na peregrinação da freguesia do Carvalhido de 12-13 de Agosto de 1944. Essa viagem foi um marlfrio. Du­rante todo o trajecto comeu apenas meia banana. Um vicen-tino, que fazia parte da peregrinação, ia constantemente a tomar-lhe conta do pulso, para ver quando acabava de falecer. A um dado momento ouviu-o dizer: « Já morreu/» Genoveva ainda teve alento para fazer com o dedo sinal de que ainda vivia. E a caminheta continuou a deslizar para a Fátima.

Não se sabe como ainda chegou com vida. Mas o seu

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52 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

estado era tai que no dia 13 de manhã foi necessário adminis- trar-lhe no Santuário o Sacramento da Extrema-Unção, contra o qual não teve força de reagir. J á havia sido ungida antes de sair do Porto, mas não teve alento para o declarar.

É levada para a missa dos doentes. Segue-se a Bênção Eucarística. Sugerem-lhe que suplique a sua cura. láso não I Não viera para ser curada. Pede apenas a N.* S .* que a pre­serve, enquanto viver, de tudo o que seja ofensa de Deus. « Mas a minha cura, pensa ela ,... só se por ela Deus puder ser glorificado, só se ela valer para a conversão de algum incré­dulo... E nessas condições resolve-se a pedir também a sua cura.

Momento solene! A Bênção do Santíssimo Sacram ento desce sobre ela, sendo a segunda a recebê-la. Automàtica­mente a servita que lhe assiste nota, pelo pulso normalizado e e pela cor que repentinamente a transfigura, que estava curada.

Ergue-se da maca, canta como os outros peregrinos, vai por seu pé receber a bênção final da cerimónia.

No posto de observações médicas, verifica-se a cura da doença pulmonar.

E — prodígio in au d ito !— as chagas que lhe cobriam o corpo aparecem instantâneamente cicatrizadas! O médico lamenta ter-se antes contentado com a verificação do estado pulmonar, sem ter examinado as chagas, sem poder agora com­provar o milagre! Mas teve logo ali a resposta que desejava. D esatando as ligaduras, encontra-as cobertas de pús ainda fresco, contrastando com a cicatrização das feridas, feridas de que aliás eram testemunhas as religiosas da Quinta Amarela que lhe faziam o tratamento.

E a Genoveva, já desabituada de se alimentar, com eça a com er devoradoramente, galga escadas sem a menor dificul­dade e... regressa outra ao Porto.

Na peregrinação do mês seguinte volta em acção de gra­ças à Cova da Iria com cinco quilos mais de peso, e faz ao longo da estrada a Via-Sacra de vários quilómetros sem se

Cinco m eses depois, interrogada pelo próprio autor, en- contra-se com onze quilos mais de peso, ocupada com um em­prego que exigia a saúde mais robusta.

Oração pelos Sacerdotes, como na pág. 22

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DIA 3 OU 4 DE MAIO

MATER DIVINA: GRATI/E

Oração preparatória, com o na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

1

A graça incriada, viva, substancial, é o próprio Deus, que nos apareceu um dia feito Homem, é Cristo, concretização palpitante da Graça e o «Deus de toda a graça» (I Petr. V, 10). fípparuit gra- tia... E Maria é a Mãe dessa Graça, substancial­mente concretizada em Cristo: Mafer divinae grafiae.

«Salvé, ó cheia de graça», foi a saudação que serviu de exórdio à mensagem celestial, expressa no sublime diálogo virgineo-angéiico de Nazaré.

Cheia de graça, expressão de sentido tão pro­fundo que nenhuma inteligência humana o poderá exaurir, nem língua de homem o saberá traduzir. «A outros, diz S. Pedro Crisólogo (Serm. 143) a graça dá-se racionada, a Maria com plenitude»; e por isso lhe chama ele o oceano das graças (Serm . 146).

E de facto quem poderá apreciar a riqueza do tesoiro, cuja posse lhe foi confiada desde o primeiro instante da sua existência? flbismo de graça, lhe

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Tftater Ditnnae ©ratiae

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54 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÀT1MA

chama S. Jo ão Damasceno (O r. 2 de Assumpt.). Se mais ou menos graça exprime a proporção do amor de Deus à alma agraciada, quem pôde jamais receber tanto como Ela ? Se a incomparável digni­dade de Mãe de Deus exigia uma santidade sem igual, e se para essa incomparável santidade era necessária uma graça proporcional, só a sua pleni­tude podia satisfazer tal exigência.

Ela é, pois, aquela «fonte dos jardins e poço de águas vivas», de que nos falam os Cantares (IV, 15), numa palavra a «cheia de graça», a Mãe da Divina Graça.

II

Distingamos, porém, em Maria, como em qual­quer alma elevada à ordem sobrenatural:

1.° — a graça santificante, ou a graça habitual, que os teólogos definem uma qualidade sobrenatu­ral inerente à nossa alma, que nos faz realmente e formalmente participantes da natureza e da vida de Deus. Ela é, pois, o inestimável património da alma elevada, que a faz deiforme, quase diria, um deu- sinho em botão ou em miniatura, comunicando-lhe uma vida semelhante à de Deus.

Por um privilégio totalmente gratuito destinou- -nos Ele à contemplação beatífica da Sua própria Essência. E para isso elevará e dilatará a nossa inteligência pela luz da glória, sem a qual nenhum entendimento criado a poderia contemplar. E é então, diz a Águia dos Evangelistas (I Ioan. III, 2) que «seremos semelhantes a Ele, vendo-O como Ele é » e como Ele se vê a Si mesmo, face a face.

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DIA 3 OU 4 DE MAIO 55

E, conhecendo-O como Ele Se conhece, amo-Lo- -etnos, como Ele Se ama. É assim que participare­mos da vida divina, da qual já participamos pela graça habitual, que já é uma certa prelibação da visão beatífica, ou a visão beatífica em flor ainda, cuja consumação é a glória.

Tal é a graça habitual, graças à qual a nossa alma é comparada a um globo cristalino ferido pelos raios solares, a qual recebe também a luz da Divindade e resplandece com fulgores divinos, reflectindo-os sobre os objectos que a rodeiam'.

E, para mostrarem que essa deificação da alma não é superficial, que penetra até ao mais íntimo do seu ser, lembram os Santos Padres a bem conhe­cida compenetração do ferro pelo fogo, e que do fogo assimila a incandescência, o brilho e a maleabi­lidade. Nem é desconhecida a comparação do en­xerto feito no tronco bravio da planta para signifi­car que a graça, esse enxerto divino aplicado à nossa natureza e combinado com ela para constituir um novo principio vital, é na verdade o princípio duma vitalidade de ordem superior.

III

2.° — f í graça actual é o nome dado a qualquer auxílio de carácter transitório e de ordem sobrena­tural, com que o Autor de toda a santificação ilu­mina as inteligências e fortalece as vontades, habi­litando-as assim a produzir os actos meritórios da vida eterna.

É assim que a graça actual opera directamente

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

nas nossas faculdades espirituais. Mas estes auxí­lios interiores não excluem de modo nenhum as graças exteriores, tais como a audição da palavra de Deus, que soem agir directamente sobre as facul­dades sensitivas e só indirectamente atingem as faculdades espirituais embora muitas vezes sejam acompanhadas de luzes e moções interiores.

É evidente que, devendo o efeito ser propor­cionado à sua causa, sem a graça actual é impossí­vel qualquer acto sobrenatural. Ela é, pois, neces­sária para a salvação, e o meio ordinário de a conseguir é a oração. Para isso devemos utilizar e aperfeiçoar esse organismo sobrenatural de que fomos dotados pela infusão da graça santificante e das virtudes teologais.

E, se Cristo é a causa meritória de todas as graças, cujas enchentes emanam do próprio seio da Divindade, Maria é no dizer do Doutor melífluo S. Bernardo, o seu verdadeiro aqueduto: «Aquae- ductus, qui plenitudinem fontis ipsius de corde Patris excipiens nobis edidit» (Serm . de Nativ.). Aqueduto trasbordante, e portanto medianeira uni­versal. É este o comum sentir da Igreja, em har­monia com toda a tradição.

Associada a Seu Filho em toda a epopeia da Redenção, a unidade do plano divino exige que Ela depois de glorificada continue do céu a intervir na distribuição das graças com que Deus empreende santificar os homens pela aplicação dos méritos redentores de Seu Filho.

Que eloquentemente o testemunha também toda a história da Fátima desde a sua primeira hora. É só ouvir o nosso venerando Episcopado na sua

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OIA 3 OU 4 DE MAIO 57

bem conhecida Pastoral colectiva do ano jubilar das aparições:

«Converteram-se muitos pecadores, reconcilia- ram-se com a vida muitos que haviam perdido toda a esperança, abriram os olhos à fé muitos incrédu­los, aprenderam de novo o caminho da igreja mui­tos que o haviam esquecido por completo, abrem-se para a prece humilde e confiante muitos lábios que a indiferença imobilizara, bendizem o nome do Senhor muitos que ontem sacrilegamente o blas­femavam».

EXEM PLO

A Virgem da Fátima encontra-se com Marx

Douglas Hyde, um dós principais corifeus do marxismo inglês, diàriamente escrevia no jornal londrino Daily lUor- ker , lido por mais de meio milhão de pessoas, os seus ataques aos inimigos do comunismo, e em especial à Igreja Católica.

O Catholic D/gesf, de Junho de 1952, publicava um capí­tulo do livro que ele escrevera depois de convertido. É desse capítulo o seguinte extracto :

« Para um antigo comunista, como eu, Fátima tem um significado único: a sua mensagem responde ao desafio do Bolchevismo. Mas para mim Fátima tem um sentido muito particular. Fiz uma viagem de 1.500 quilómetros para pagar a minha divida a Nossa Senhora da Fátima.

Um dia chega às minhas mãos um livro intitulado Our Lady o í Fafima, do Arcebispo Tinbar Ryan, de Port of Spain. Na página 90 vinha um bilhete que me convidava a ler as pági­nas 90, 91 e 92. O autor aproximava al a encíclica de Pio XI sobre o comunismo da mensagem de Fátima. Por algum tempo deixara eu de atacar a Igreja Católica. Sob a influência de Chesterton e Belloc, com ecei com relutância e até com certa irritação a notar que o catolicismo tinha dentro de si alguma coisa em que até então não tinha refletido. As três páginas

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

pareciam ser o habitual ataque contra o comunismo. O resto do livro, a meu ver, era pior: história de aparições, men­sagens sobrenaturais, e mesmo um sol que girava; o que eu julgava bem pouco científico e bastante supersticioso, mas que, não obstante, me perturbava.

O livro, nem o pus na lista dos que projectava atacar, nem o atirei ao lixo. Pelo contrário, coloquei-o na estante onde guardava a mais completa colecção das obras de Marx que existia na Inglaterra. Ali ficou por vários anos entre os livros de ateistas militantes, até ao momento em que, resistindo a tudo, e sem conhecer no mundo um só católico, fui levado do comunismo para a Igreja Católica. De tempos a tempos pegava no livro e folheáva-o. Não estou preparado para isto, dizia então com os meus botões, e voltava a colocá-lo junto de Marx, Engels, Lenine e Staline. Só depois de doze meses de caíecú- meno e alguns m eses de católico, é que cheguei finalmente a ler o livro inteiro. E, enquanto lia, verificava que, durante todo es s e tempo, o s meus passos haviam sido levados a Fátima . . .

E o livro ia no meu bolso, quando através da multidão, eu procurava abrir caminho para ver a capela das Aparições, e a grande Basílica, ao mesmo tempo que, depois do cair da noite, eu empunhava uma vela acesa lá nas montanhas de Portugal. . .

Encontrando-me no fim duma tarde com o Dr. O liveira Salazar, disse-lhe eu : Estará Fátima figada com o renascim ento espiritual d e Portugal? T erá o pais, na opinião d e U. Ex.‘ alguma m issão espiritual para o mundo? A resposta veio numa lingua­gem simples : Essa é a opinião geral aqui, e hum anamente todos julgam assim e . . . eu sou d esse número. M as espiritualmente não p odem os nem devem os, por isso, deixar-nos levar pela vaidade.

Mas não pode haver motivo de vaidade para nós que estamos fora, quando afirmamos que ALGUMA COISA FOI COMEÇADA EM FÁTIMA, NO ANO DE 1917, Q U E AINDA PO D E M UDAR O M UN D O ».

Assim fala o ex-comunista inglês, de nome mundial. E assim foi a Vrgem da Fátima para este extraviado a M ãe da Divina Graça.

Oração pelos Sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 4 DE MAIO

MATER PURÍSSIM A

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

MAE PURÍSSIMA a Virgem Maria, porque nasceu já imaculada, imaculada viveu e imaculada morreu. Sem a mais leve mancha do pecado ori­ginal, a sua alma nunca foi contaminada pela som­bra sequer de pecado algum actual. Prodígio único de pureza de alma no mundo sensível das puras criaturas.

Entre Deus e o pecado incompatibilidade abso­luta, infinita. Impossível, portanto, a alma aproxi­mar-se de Deus, senão na medida em que se afasta do pecado. E vice-versa, tanto mais se afastará do pecado, quanto mais se aproximar do Santo dos santos. E o Santo dos santos é o superlativo infi­nito e personificado da santidade, a própria santi­dade personificada.

E quem pode sequer imaginar criatura, que com o Deus de toda a santidade tivesse sido unida pon laços de maior intimidade do que Sua M ãe? E quem poderá então conceber criatura que pudesse

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TDater Puríssima

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60 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

ter atingido a pureza de alma que atingiu a Mãe Puríssima ?

Não é caso, portanto, de dar a Maria o pri­meiro lugar simplesmente na jerarquia dos santos. A pureza da sua alma transcende todas as cate­gorias de almas puras. Entre os santos todos Ela sobressai como o lírio entre os espinhos.

A verdadeira pureza de alma exclui, não só o pecado, mas ainda todo o afecto e inclinação a ele e a tudo o que constitui perigo, não só próximo, mas remoto também de ofender a Deus. É a isen­ção do mal, de complacências e contemporizações com o mal, de tudo o que de algum modo conduz ao mal.

Essa pureza de coração, assim como é con­dição essencial da visão divina, assim também será a medida dela, pois na casa do Pai celeste há mui­tas moradas, e nem todas as estrelas brilham com a mesma claridade. Não são os que na terra tive­rem tido da Divindade’as ideias mais exactas, mais sublimes, mais teològicamente subtis, são os que tiverem tido o coração mais puro, que mais plena­mente gozarão da vista de Deus.

Tal é o prémio e a bem-aventurança dos limpos de coração : verão a Deus. E, vendo a Deus, verão toda a verdade, toda a beleza, toda a bondade, toda a perfeição, a fonte, enfim, de todo o bem.

11

Mãe puríssima ! É puríssima, e é mãe. E nada mais anti-natural do que não se parecerem os filhos

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DIA 4 DE MAIO 61

com sua mãe. Espúrios, é o 'nom e que lhes com­pete. E para o não serem, têm de conservar pura, como Ela, a sua alma. E para isso é mister mantê-la num prudente isolamento que a preserve de todo o contágio do pecado.

Para proteger as cidades contra o assalto dos inimigos levantavam-se muralhas e ante-muralhas que eram os seus baluartes de defesa. O mesmo tem de fazer a alma que deveras deseja manter-se ilibada. Esses baluartes são os sentidos externos, é a imaginação, são as potências da alma. O re­cato, a modéstia, a mortificação duns e doutros constituem o isolamento moral do coração puro.

A vontade é o último reduto da cidadela da alma e o seu principal núcleo de resistência. Livre e reguladora de todas as energias da natureza, a ela pertence fazer-se obedecer das potências infe­riores. Mas ai dela e ai da alma, se, acobardada diante da insolência das paixões e cúmplice delas, a vontade capitula e deixa arrebatar o seu cetro de rainha. Passará a ser escrava. Não será só cúmplice de paixões degradantes; será também sua prisioneira. E, em vez de mandar, obedecerá servilmente a todas as suas exigências. Rendida a vontade, está rendida a praça, está escravizada a alma.

Diversões e espectáculos libertinos, modas imodestas, seduções despudoradas, cinemas, tea­tros, bailes impudentes, jornais e ilustrações por­nográficas, novelas e romances libertinos, conversas licenciosas, músicas e canções provocadoras, praias de escandalosa desenvoltura, promiscuidades de educação selvagem, ensino de habilidades fraudu-

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62 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FAtIMA

lentas, sugestões de enriquecimento fácil, eis as principais forças e armas de guerra que os exér­citos sitiantes assestam contra a praça sitiada.

É, pois, uma questão de vida ou de morte, que a vontade se mantenha no seu posto de honra.

III

Mas não atinge a vontade o que não passou primeiro pelo pensamento. Não se pode desejar o que se não conhece. É, pois, o pensamento que deve resguardar quem deveras quer defender a for­taleza da vontade. O pensamento é a sua grande muralha defensiva. Mas o pensamento, antes de ser acto espiritual da inteligência foi imagem ma­terial da fantasia, dessa vagabunda alígera que das suas excursões aventureiras traz imagens, lem­branças, impressões, cujo efeito é perturbar a alma, fasciná-la, solicitá-la ao mal. Na defesa da alma a imaginação é um reduto intermédio entre a mu­ralha espiritual do pensamento e a ante-muralha dos sentidos. Defenda-se esse reduto, vigiem-se e refreem-se as suas extravagâncias. Esse papel pertence à vontade, a principal interessada, visada como é pelos golpes do inimigo.

Mas só penetra na imaginação e no pensa­mento o que primeiro invadiu as portas dos sen­tidos exteriores, que são a ante-muralha e o pri­meiro baluarte do coração puro. À vontade cabe ainda a responsabilidade dos seus desmandos. A lei que rege a vida destas faculdades é a da modéstia, do recato, da temperança. E, sendo elas

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DIA 4 DE MAIO 63

as últimas, ou as primeiras portas que nos põem em contacto com o mundo exterior, abrir-lhe essas portas é facilitar-lhe a investida da alma. Quem vê e ouve o que não devia ver nem ouvir, que muito é que passe a imaginar, a pensar, a desejar e a tragar, por fim, o veneno mortífero da alm a?

Eis os meios de preservar a alma de toda a impureza, meios que a Mãe Puríssima nos ensinou com os exemplos da Sua vida puríssima.

Mas ao coração que não soube preservar-se veio Ela também ensinar na Fátima os meios de se purificar das manchas já contraídas, de se reabi­litar, de se regenerar e de se preservar de novas quedas. É a oração e a penitência. É sobretudo o grande sacramento da regeneração espiritual insti­tuído por Seu Filho; é a absolvição sacramental.

Eis a grande lição da Fátima, com os seus inume­ráveis confessionários semeados a todos os cantos do Santuário e funcionando dia e noite nas suas grandes peregrinações. Fátima tornou-se o grande confessionário do mundo, aonde acodem de todas as partes os grandes refratários do sacramento, para dizerem aos seus ministros armados do poder de purificar as almas, que há 20, 30, 40 e mais anôs não voltaram a ajoelhar-se no tribunal da Peni­tência e para ouvirem de seus lábios omnipotentes a alvissareira nova: «Eu te absolvo dos teus peca­dos». Vai em paz e não voltes a pecar.

R tua alma está purificada, é o desfecho do grande drama da alma, de tantas almas que só ali acharam a coragem que nunca tiveram de confessar o seu «mea culpa».

Tal é ainda a lição que a mesma Virgem da

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64 FLOR1LÉQIO ILUSTRADO DA pAtI.MA

Fátima nos está dando pelo mundo das Suas pere­grinações, atraindo aos confessionários desertos os seus inúmeros desertores.

E XEM PLO

«Antes sofrer que ofender-vos»

D. Glória Ferreira da Rocha Malheiro, de Paredes, dio­cese do Porto, sofria há três anos e meio de gravíssima peri- viscerite abdominal direita, comprovada não só pelas radiogra­fias, mas também pela intervenção cirúrgica. Recebe os últimos sacramentos, inclusive a Extrema-Unção porque a doença, agravada dia a dia, tornara-se humanamente incurável. Mais para obedecer ao confessor, do que pelo desejo de curar, vai à Fátima pedir à Saúde dos en ferm os o que a ciência lhe não podia dar.

Acompanhada do marido e das filhas partiu no dia 11 de Maio (1937) de automóvel transformado em cama. O marido julgando que a doente ia determinada a não implorar a cura, limitou-se a pedir ao médico assistente um atestado que apenas lhe desse direito a ser recebida no hospital.

Na Fátima, pouco antes de ser transportada para a missa dos doentes, bebeu um copo de água do-Santuário e dirigiu a Nossa Senhora a seguinte prece : Ó minha Mãe d o Céu, m anda­ram-me pedir-U os a minha cura; e p or obed iên cia p eço . S e fór da Uossa vontade curar-m e, para m anifestardes a Uossa glória, curai. Mas, minha Mãe querida, eu d e muito boa vontade c ed o a minha cura em favor d e qualquer destes doentinhos. E vou muito contente assim para minha casa, continuar a sofrer, até Uos ir ver ao Céu..

Podemos crer que estas palavras foram as que mais fundo penetraram no Coração da Mãe de Deus.

J á no pavilhão dos doentes, ao passar por eles a imagem da Senhora, ergue-se, senta-se na maca e de mãos postas e olhos fitos na Senhora d iz-Lhe: «Ò minha Mãe do Céu, tomai conta das minhas filhinhas».

Sentiu-se logo perfeitamente curada. *Foi como se esíi-

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DIA 4 DE MAIO

vesse toda p resa p or cordas, que naquele m omento tossem cor­tadas» é a expressão com que ela traduz o que sentiu.

Ainda tentou com a mão qualquer pressão, qualquer contacto para verificar se as dores habituais permaneciam. Nem vestígios.

E ela que tanto amava o sofrimento, volta-se ainda para N.° Senhora, e diz-Lhe baixinho, mas com toda a alma e por três ve zes : «O minha Mãe do Céu, eu antes quero sofrer no meu quarto do que ofender-U os. Eu sozinha nada posso».

E ficou depois alheia a tudo, absorta só em N." Senhora, sem mesmo saber onde estava a Sua querida imagem, só vol­tando a si a certa altura da missa.

O milagre tinha-se operado sem deixar vestígios da doença. Entretanto permanecia silenciosa, sem nada dizer da transformação que em si sentia, não fôsse caso que estivesse iludida.

Só no hospital é que diz à filha mais n ova: «Eu creio que já podia ir a pé para o carro, mas cafa-te».

Entretanto o marido ia dando fé da transformação nela operada, das suas novas disposições, da facilidade dos seus movimentos, do insólito apetite com que começava a alimen­tar-se, mas sem se persuadir que tivesse sido miraculada. «Não, pensava ele, se N ossa Senhora a tivesse curado, ;á ela mo teria dito*.

Só no dia 15 de manhã, dois dias depois da cura, é que ela se acabou de convencer que não era vitima de ilusão. Es­tava curada e bem curada. E só então deu a conhecer à famflia o milagre de Nossa Senhora.

Milagre, sim, pois sabido é como a 29 de Junho de 1941, Pio XII conferia a esta cura foros de autêntico milagre.

Oração pelos sacerdotes, como na página 22.

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DIA 5 DE MAIO

MATER CASTÍSSIMA

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

1.° — «Oh como é bela a geração dos castos nos esplendores da virtude! A sua memória nunca morre, porque é conhecida de Deus e dos homens. Presente é o objecto de imitação, ausente objecto de saudade. Coroada na eternidade, reina triun­fante porque conquistou o prémio em combates impolutos» (Sap. IV, 1-2).

É com palavras de tanta elevação que o Espí­rito Santo, como que extasiado diante dos encantos divinais da virtude, tece o panegírico das almas castas.

E de facto a castidade é a auréola mais esplen­dorosa dos Santos, a mais refulgente pérola das virtudes, o bálsamo suavíssimo da predilecção di­vina, o traço que melhor caracteriza a fisionomia dos predestinados.

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ITiater C astíssim a

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DIA 5 DE MAIO 67

II

Mas esta jóia preciosíssima que adotna as almas e as faz émulas dos anjos tem de ser con­quistada à força de oração e penitência, dessa oração e penitência que a Virgem das virgens veio recomendar aos inocentes pastorinhos da Fátima, tem de ser conquistada por uma assídua vigilância dos sentidos e mortificação da carne rebelde. O coração só pode permanecer puro, a vontade só pode triunfar de qualquer solicitação traiçoeira, se os sentidos forem resguardados contra as sedu­ções do mal, se a imaginação for acorrentada e impedida de vaguear pelas regiões envenenadas dos prazeres proibidos, se a sensibilidade se man­tiver na harmonia e serenidade inspirada pelo santo temor de Deus, e submetida ao império da razão.

A pureza do coração, fonte de paz, de santa alegria e de vigor espiritual é também fruto dos Sacramentos, fruto sobretudo da confissão assídua que purifica a alma e lhe incute um salutar horror a toda a mancha ou sombra de pecado. Fruto duma vida profundamente eucarística, pois é a virtude nutritiva do Pão dos Anjos que mais ange- liza as almas, que as alenta e revigora, que lhes dá aquela têmpera de aço que as faz triunfar das su­gestões de Satanás, das seduções do mundo, das rebeliões da carne. Fruto, enfim, duma sólida, terna e carinhosa devoção a Maria, que é a Vir- gem-Mãe e a Mãe das virgens, a pureza ideal e o ideal de toda a pureza criada.

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PL0RILÉU10 ILUSTRADO DA FÁTIMA

III

A alma casta, virginalmente casta, como a de Maria, é a que não se levanta acima de si mesma* mas também não desce, não se rebaixa, não se degrada. Mantem-se no seu posto, no centro em que Deus a criou e no qual quer dignificá-la.

É humilde, nem de outro modo seria casta, e por isso não se exalta. Mas porque é pura, domina as próprias paixões, refreia-as, não se deixa escra­vizar, não rasteja no lodaçal do vício. Todo o seu ser se desenvolve no equilíbrio da mais perfeita harmonia, sem que as potências inferiores tomem ascendente sobre as superiores; harmonia criada pela inefável aliança da humildade, que abate arro- gâncias luciferinas, com a pureza que eleva as almas até formar o luminoso coro das Virgens, de que Maria é a Rainha nata e eterna.

Essa pureza que adorna as almas eleitas é um reflexo da pureza imaculada de Maria. Ela que com tanta mágoa declarou à Jacinta, sua ditosa vidente, ser o pecado da carne o que mais almas arrasta à perdição — palavras que para a inocência da criança seriam um enigma, se não fossem pro­nunciadas pela Mãe de Deus, — havia de começar muito depressa a difundir da Cova da Iria para o o mundo inteiro inefáveis sorrisos de pureza que transformam os culpados e angelizam os inocentes.

Quem pudera descrever e dar a conhecer às almas os troféus do sorriso santificador de Maria naquele recinto celestial, onde tão de perto.se res­pira o aroma inebriante da Sua pureza virginal!

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DIA 5 DE MAIO

Quem pudera proclamar as conquistas do Seu Coração de Mãe imaculado, que por toda a parte tem engrossado as fileiras de almas preservadas e de almas regeneradas! Esses troféus, essas con­quistas pertencem à história que se não escrev e! São troféus, são conquistas que só serão conhe­cidas na eternidade.

EXEM PLO

Do lodaçal do vício ao paraíso da virtude

Maria do Egito — chamemos-lhe assim, uma vez que não estamos autorizados a nomear, nem a datar, nem a localizar — Maria do Egito assistira um dia a empolgantes manifestações de fé, de que é mensalmente teatro a Cova da Iria. Atralra-a ali, não o espirito de devoção, mas a curiosidade, o ensejo de fazer uma excursão que lhe fõra proporcionada e sobretudo a afeição pouco louvável a uma criatura que a acompanhava. A ida à Fátima fòra para ela mais um motivo de diversão que de peregrinação. Entretanto im pressionava-a tudo o que via e ouvia, as penitências dos peregrinos, o recolhimento de tantas alm as, a fé e resignação de tantos doentes, os cânticos de inu­meráveis alm as a vibrar de amor à Mãe do Céu. E , declara ela, por pouco não ca í ali a os p és dum con fessionário .

Mas as disposições do seu espirito eram tais, que não soube assimilar o sobrenatural que a Providência nessa hora lhe fazia ver, ouvir, respirar, saborear e apalpar. Não saiu dali m elhor do que entrara.

Passam alguns anos. As vicissitudes da sua vida foram bem dolorosas e tristes. Corramos sobre elas um véu que as esconda até ao dia de Ju izo . Tão baixo desceu que os seus passos extraviados transpuseram um dia o limiar de uma casa suspeita, bem mais que suspeita, uma casa de depravação clan­destina. Depressa reconheceu o abismo que se aventurara a abeirar. E precipitou-se miseràvelmente nesse abismo. Foram 17 meses, 17 largos meses de escravidão, da mais abjecta de­gradação moral.

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70 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Entretanto a recordação do que sete anos atrás presenciara na Cova da Iria não cessava de a perseguir; e essa recordação, despertada por uma medalha de Nossa Senhora, única lem­brança que de lá trouxera e da qual nunca se pudera despren­der, criava nela um estado de remorso permanente. Quantas vezes não quis ela libertar-se daquele infernoI Mas de cada vez a patroa, alma vil e de inveterada astúcia, lhe apresentava as contas, e a pobre Maria do Egito era sempre encontrada em débito. Enquanto o não saldasse, a implacável crédora não a deixava sair.

Não se sabe por que mágica habilidade da perversa pa­troa, esse débito nunca havia meio de o saldar. Crescia sem ­pre por um lado, à medida que a infeliz o diminuia por outro. Era para ela uma imagem da eternidade do réprobo.

Compreendeu, enfim, que era prisioneira e sem possibili­dade de redenção. E numa hora de desalento chegou a confor­mar-se com a sua fatalidade. O sol da sua esperança mergu­lhava definitivamente no ocaso do desespero.

«Sobre os bra ço s da azinheira Tu vieste, ó M ãe dem en te ,Uisitar a lusa g en te ...»

São vozes celestiais que no declinar duma tarde de Maio vém vibrar a seus ouvidos. Era a mesma letra, a música era a mesma que sete anos antes ouvira na Cova da Iria e que nunca mais tivera ocasião de saborear. E esse coro de harmonias vem-se aproximando mais e mais. Julga-se um instante liber­tada do seu inferno e transportada ao recinto da Fátima.

Eram camionetes de peregrinos que regressavam da Cova da Iria, passando ali perto, na estrada, muito perto. E essas vozes, que tanto alvorotaram o seu espírito, vão-se afastando mais e mais até emudecerem de todo no longínquo horizonte. Não pode, não sabe descrever o que então se passou na sua alma.

«Tu vieste, ó Mãe dem en te,Uisitar a lusa g en te ...»

E Ela viera agora visitá-la com a saudade da Fátima, que há sete anos não soube apreciar, viera visitá-la com o remorso torturante, mas salutar. Porque não a visitaria também com o

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DIA 5 DE MAIO 71

milagre da sua libertação? Quantos miraculados do corpo, dizia ela, não terá havido hoje na Fátim a? E porque não serei miraculada da alm a? E num infinito anelo de liberdade só soube dizer, «Virgem da Fátima, que já não me atrevo a cha­mar M ãe, valei-me 1»

Por detrás dessa lôbrega habitação havia um acanhado jardim, altamente murado, e ao fundo dele uma porta que dava para uma rua pouco frequentada e que ela nunca vira abrir-se nesses 17 m eses da sua infelicidade.

Um impulso cego a move a buscar salda. Apróxima-se e, sem saber como, vê corrido o fecho dessa porta, sempre teimo­samente trancada, e agora a oferecer-lhe uma fuga tão fácil, sem sequer ter sido aberta, porque as velhas teias de aranha permaneciam intactas. Interveio sem dúvida o seu bom Anjo, feito mensageiro de Maria. Aventura-se a abrir, sai á rua, res­pira ares mais livres e mais puros! Pensa ainda em voltar atrás para colher a sua roupa, tudo o que lhe pertence. Era talvez perder o certo pelo incerto. Deixa tudo e só com os poucos escudos que consigo trazia, avança, apressadamente pelo cami­nho que a Providência lhe abre.

Alguns minutos depois encontra uma Igreja aberta. Te­mendo que a perseguissem, resolve-se a entrar; quem a qui­sesse prender, em qualquer parte a buscaria, menos numa Igreja. Estavam a terminar as devoções do mês mariano e no campa­nário tocavam compassadamente as Ave-Marias. Debandam os fiéis ficando na igreja um pequeno grupo de pessoas piedo­sas a rezar as suas devoções.

Passados poucos minutos com eçam a sair também. Uma senhora já de certa idade, vestida de preto, porte digno e aus­tero, é das últimas a sair. Maria do Egito aproxima-se dela mesmo junto da pia de água benta, e apresentando-se como uma peregrina da Fátima destacada do seu grupo, pergunta onde poderia confiadamente pernoitar, a fim de na manhã seguinte continuar a v iagem .— «E porque não há d e vir para minha casa?» responde ela com entoação de bondade, •fíté m e faz com panhia; estou só com a minha criada .»

Era a protecção de Nossa Senhora a manifestar-se.Mas grave compromisso am eaçá em baraçá-la. Essa boa

senhora vai de-cer to perguntar-lhe muitas coisas sobre o que ontem e hoje teria ocorrido na Cova da Iria. E como sair dessa

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72 FLORILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

dificuldade? Nova graça se apalpa: a senhora e a sua hóspe­de falam de tudo, menos do que nessas circunstâncias era mais natural que falassem, da viagem à Fátima.

Na manhã seguinte Maria do Egito volta a entrar na mesma igreja, e ali esmagada pela dor inconsolável da sua con­trição, faz uma confissão, a melhor confissão da sua vida, com um sacerdote que casualmente, não digo bem, providencial- mente ali se encontrava.

Mas a obra da graça não estava terminada. A nova peni­tente é acolhida carinhosamente numa casa, onde coopera em obras de zelo, encetando uma vida nova, vida virtuosa de pie­dade, de trabalho e de penitência.

E, como última graça de Nossa Senhora da Fátima, a época negra do seu passado, essa tragédia de 17 meses, ficará sepultada até aoydia do juízo.

A miserável patroa, que tem todo o interesse em se calar, não dará um passo para recuperar a sua presa.

E Satanás contorce-se de raiva, porque Maria, a Mãe cas­tíssima, lha arrancara das fauces infernais.

Oração pelos sacerdotes, como na pég. 22

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DIA 5 OU 6 DE MAIO

MATER INVIOLATA

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

Mater inviolata! Mãe de inviolável pureza! É o milagre vivo da Uirgem-Mãe, milagre que Deus tira dos tesoiros da Sua omnipotência quando quer imprimir nas Suas obras o sinete que deixa fulmi­nada de assombro toda a natureza. Milagre anun­ciado por Isaías (VII, 14) ao seu povo com séculos de antecipação: « Escuta, ó casa de David, o sinal que Deus te d á ; uma virgem conceberá e dará à luz...» Assim quis o Senhor preparar de longe o espírito do homem, anunciando séculos antes o futuro milagre, fazendo-o entrar no património das esperanças humanas, para que ao realizar-se mais tarde não tropeçasse já com os obstáculos da incre­dulidade.

Efectivamente a profecia solene que anunciava o prodígio com tanta antecipação ao povo de Deus, encontrou eco no seio de quase todos os povos pagãos da antiguidade; também as suas tradições

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74 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

religiosas se harmonizavam em esperar como liber­tador o filho duma virgem.

O genial António Vieira, depois de mostrar no 30.° sermão do Rosário as semelhanças entre a rosa natural e a Rosa Mística, exalando esta a graça de que está cheia, do mesmo modo que aquela exala o perfume de que está saturada, passa a salientar as diferenças entre uma e outra, as quais consistem em dois defeitos da rosa natural e em duas perfeições exclusivas da Rosa mística.

A rosa natural é flor com espinhos e flor sem fruto. A Rosa Mística, semelhante à rosa e rosa sem semelhante, é flor sem o espinho do pecado origi­nal, e é flor com fruto sem deixar de ser flor; é flor sem os espinhos que a terra foi condenada a pro­duzir, como pena e efeito do primeiro pecado.

Formosa como Raquel e fecunda como Lia, é flor com fruto, mãe com filho, Maria com Jesu s nos braços, «Maria de qtta natus est Iesus». Os frutos são os partos das flo res; e as flores que não che­gam a este parto são abortos.

As flores que frutificam todas morrem de parto, como Raquel. Custa-lhes o parto a vida; e fruti­ficar é deixar de florescer. Nasce o filho e morre a mãe; nasce o fruto e perece a flor. É a triste pensão com que todos os filhos das flores nascem póstumos; nem o fruto viu a flor de que nasceu, nem a flor viu o fruto que produziu.

Não assim na cheia de graça, em que não entra­ram as leis da natureza. Deu-Lhe a graça, como fruto, o Filho, sem tirar à Mãe a graça da flor.

Se a rosa natural tivesse entendimento, havia de dizer com majestade de rainha que antes não

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DIA 5 OU 6 DK MAIO 75

ter fruto do que perder a dignidade de flor. Foi o que respondeu a Rosa Mística ao Arcanjo que Lhe anunciava fecundidade divina revelando-lhe o seu voto de virgindade. E porque antepôs ao fruto a dignidade de flor, por isso foi flor com fruto sem perder a auréola de flor.

II

Na árvore, quando assoma o fruto, cai a flor. A flor é a virgindade, o fruto a maternidade. Quando a maternidade faz a sua aparição, faz a virgindade a sua despedida. Tal é a lei comum. Só Maria é a excepção miraculosa a essa lei, pois conserva a flor da virgindade com o fruto da ma­ternidade.

Compraz-se Deus em aliar os extremos mais antagónicos: na constituição natural do homem aliou o espírito com a m atéria; ao elevá-lo a uma ordem superior aliou a natureza com a graça; para o regenerar aliou hipostàticamente a humanidade com a Divindade, e, para a realização dessa mara­vilhosa aliança, aliou em Sua Mãe a maternidade com a virgindade.

Na Sua obra redentora alia o papel de Ju iz com o de Pai, a justiça com a misericórdia, o ódio ao pecado com o amor ao pecador, os direitos de Deus com os de César. Ele é a harmonia perso­nificada que tão divinamente soube aproximar o finito do infinito!

Virgem-Mãe é toda a epopeia da Incarnação em duas palavras.

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Homem-Deus, «Verbum-Caro» é em duas pa­lavras todo o mistério da união hipostática. Con­trastes divinais!

Virgindade fecunda e fecundidade virginal, eis os conceitos que fora de Maria andavam divor­ciados, excluindo-se mutuamente, para nela e só nEla se darem o abraço de coexistência e de mú­tua aliança por um milagre da Omnipotência.

Diz Santo Ambrósio que, a julgar-se realizável o mistério da Incarnação, só dum parto virginal Deus podia nascer feito hom em ; e a julgar-se pos­sível a conciliação da virgindade com a materni­dade, só um Deus podia ser o fruto desse parto virginal.

E uma vez que o mistério é uma extasiante realidadé, que o Filho é Deus porque a Mãe é vir­gem, que a Mãe é virgem porque o Filho é Deus, já não devemos dizer só que Maria é Mãe apesar de ser virgem, nem que é virgem apesar de ser mãe, mas que é mais Mãe porque virgem, e mais virgem porque mãe.

III

Também nós, seguindo os exemplos da Mãe- -Virgem, da Mãe de Deus e Mãe dos homens: dAquela que de si mesma criou Quem do nada a criara a Ela, temos de realizar um vasto programa de conciliações: temos de conciliar a liberdade física de cumprir ou transgredir a Lei divina, com a obrigação moral, de a cumprir: cumprindo livre­mente o que é obrigatório, para agirmos meritòria- mente, ou cumprindo obrigatoriamente o que nos

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DIA 5 OU 6 DE MAIO 77

era livre, se a isso livremente nos obrigam os; temos de unir a inocência com a penitência, ou, se já não é possível, a reparação pelo passado com a emenda presente e a mortificação preventiva do futuro: temos de pagar o mal com o bem, a ofensa com o perdão; temos de ser humildes no meio das honras e pros- peridades, mortificados na abundância, resignados na adversidade, desprendidos no meio da opulên­cia, responder às iras com a mansidão, temos de ser calmos e serenos no meio de todas as borras­cas, castos no meio de ambientes corrompidos, im­passíveis e indiferentes no meio de todas as seduções.

E o que através de toda a história da Fátima ensina a Virgem-Mãe a quem lê e medita todas as entrelinhas da Sua mensagem. Ela desempenha o papel de mãe do réu e mãe do juiz, mãe do ofen­dido e mãe do ofensor. E ao mesmo tempo que recomenda a penitência e nos manda bater no peito, Ela move a justiça divina a perdoar, conciliando assim as exigências da justiça com os foros da misericórdia.

E X E M PL O

Mais rainha porque católica

Em 1926 celebrava-se em Bruxelas o enlace matrimonial da princesa Astrid, sueca, com o primogénito do rei Alberto, príncipe Leopoldo, sete anos mais tarde Rei dos Belgas, sob o nome de Leopoldo III.

A princesa professava a religião luterana em que fóra educada, e luterana se consorciara com o príncipe. Foi uma nuvem de tristeza que pairou sobre a Bélgica. Tremenda pers­pectiva para a nobre nação católica, ou para os católicos da

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78 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

nobre nação belga I Iria num futuro não muito longínquo ocu­par um trono católico uma rainha, que embora deixasse de ser estrangeira para a nação belga, continuaria a ser estranha à Religião dos belgas. E o seu luteranismo como poderia deixar de influir na educação da futura descendência real? Mas algum tempo depois entrevè-se mudança momentânea do cená­rio. A própria princesa espontáneamente pede que alguém a instrua nos conhecimentos da Religião Católica.

O Cardeal-Arcebispo de Malines, rejubilando com a inicia­tiva da princesa, confia ao P. Dessain, Cónego da Sé Arquie- piscopal, a missão de a instruir.

Os dogmas sacrossantos do catolicismo iam suavemente penetrando no espírito bem disposto da princesa. Previa-se para breve a abjuração do protestantismo e a pública profissão da fé católica. A notícia transpondo o limiar do palácio e se­gredada de ouvido em ouvido, começava a inundar de alegria os verdadeiros católicos que na anunciada conversão da sua futura Rainha prelibavam já a esperança de verem confessar a verdadeira fé aquela princesa que tão depressa atraíra as sim­patias da nação.

Mas o demónio, intriguista de profissão, não dormia. E de-repente tudo se transtorna. O Cónego Dessain já não é convidado a frequentar o Paço. A instrução religiosa da Prin­cesa, em tão boa hora iniciada, fica suspensa, posta de parte... talvez definitivamente.

O Cardeal tão empenhado nesta conversão, ao ter conhe­cimento do caso, ficou profundamente abalado. Caíram-lhe os braços de desalento. E não foi menor a desilusão do Cónego D essain.

la então ficar definitivamente protestante a futura Rainha da Bélgica? e comprometida na sua descendência a ortodoxia da dinastia belga? Ficariam assim desfeitas as esperanças duma nação católica?

No desenrolar do drama um novo acto muda totalmente a face dos acontecimentos. O Cónego Dessain é de novo cha­mado para continuar a desempenhar a sua missão no Palácio de Bruxelas. Que se passara então? M istério! Mistério que só alguns anos mais tarde será desvendado na Cova da Iria.

Pouco depois dessa mudança de cenário, todas as duvidas se dissipavam e considerava-se concluída a instrução religiosa

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da princesa. Ela mesma chama o Cardeal, em cujas mãos faz a abjuração da heresia e a profissão de fé católica.

Passam alguns a n o s : num dia 13, entre os peregrinos nacionais e estrangeiros que estacionavam no recinto da Cova da Iria encontrava-se um venerando Sacerdote forasteiro, dis­tinto e aprumado, manifestando em todo o seu exterior uma impressionante piedade.

Era nada menos que o Cónego Dessain em pessoa, que acompanhado de dois sobrinhos seminaristas, um deles aluno da Universidade Católica de Lovaina, viera da Bélgica à Fátima. O que é que o trouxera ali aos pés de M aria? E uma confi­dência intima que ele nos vai revelar e que já veio resumida­mente publicada na Uoz da Fátima de 13 de Novembro de 1935 (N .° 158).

Enquanto catequizava a Princesa tivera conhecimento da Fátima e das suas maravilhas. No periodo sinistro em que a intriga diabólica o havia afastado do Paço e parecia deixar defi­nitivamente frustradas todas as tentativas de conversão, recorre a Nossa Senhora da Fátima e faz-lhe a promessa de vir a Por­tugal em peregrinação ao Seu Santuário, se a Princesa se con­vertesse. E no mesmo dia em que fizera a prom essa, como por encanto, desfaz-se a intriga, e recebe nova mensagem que o convidava a retomar as suas instruções de religião à futura Rainha.

Foi assim que Nossa Senhora da Fátima levou à confissão da verdadeira fé a alma formosa e recta da que sendó já Rai­nha, uma tragédia arrebatou ao amor e carinhó do rei, dos seus fijhos e de todo o seu povo.

Graças à intervenção da Virgem-Mãe, Astrid era católica antes ainda de ser rainha. E , cingindo a coroa dum reino cató­lico , podemos dizer que era mais rainha porque católica.

Oração pelos Sacerdotes, como na pág. 22.

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MATER INTEMERATA

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

MAE chamam a Maria em todos os tons as Ladainhas Lauretanas. E Mãe-virgem ou Virgem- -mãe. Por outras palavras: Não é só virgem antes do parto e no parto — Mafer inviolata; mas é tam­bém virgem depois do parto e sempre virgem — Mater intemerata, Mãe para sempre incorrutível, como um santuário exclusivamente reservado ao Senhor, o verdadeiro jardim cerrado. É que a vir­gindade de Maria, pelo nascimento miraculoso do Homem-Deus recebeu uma consagração divina.

Para ser digno de Deus o prodígio da Virgem- -mãe, devia ser inalterável. Sempre virgem e sem­pre mãe também.

Sendo Ela a Mãe do Homem-Deus, é Mãe de Deus e é Mãe dos homens. Deus e os homens são portanto filhos de Maria, Deus por natureza e os homens por adopção. E tanto mais filho será o homem, quanto mais se aproximar de Deus, quer

DIA 6 DE MAIO

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dizer, quanto mais se aproximar do Homem-Deus, que é o Filho ideal e o ideal dos filhos de Maria.

Há na Igreja uma instituição que tem por ideal precisamente fazer de seus membros outros tantos retratos de Jesu s, do Filho predilecto de Maria, aperfeiçoando-os mais e mais na prática da vida cristã e fazendo-os cultivar aquelas virtudes de que Jesu s nos deu mais esclarecido exemplo. E o meio característico de que se vale essa instituição para promover a realização do seu ideal é a devoção filial à Mãe de Jesu s.

São as Congregações Marianas, cujos mem­bros recebem oficialmente o nome bem expres­sivo de filhos e filhas de Maria, nome que já de si é um programa bem definido, uma vez que os filhos devem parecer-se com os seus progenitores, e os irmãos devem parecer-se entre si. Ora o irmão primogénito de todos eles, o protótipo dos filhos de Maria é Jesu s.

São, pois, as Congregações Marianas «asso­ciações religiosas que têm em vista fomentar nos seus membros uma ardentíssima devoção, reve­rência e amor filial para com a Santíssima Virgem e por esta devoção e pelo patrocínio de tão boa Mãe formar os fiéis, em nome dela reunidos, bons cristãos que sinceramente se esforcem por santifi­car-se no seu estado e se dêem deveras, quanto a posição social lho permitir, a salvar e santificar os outros e a defender a Igreja de Jesu s Cristo dos ataques da impiedade» f 1).

(1) Manual das Congregações, i * regra comum.

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Para a realização deste desiderafum têm os filhos e filhas de Maria todos os bens da asso­ciação : união, solidariedade de esforços, luz, orien­tação e apoio. Têm uma protecção especial de Maria, o zelo dum Director solícito, exortações e leituras frequentes, os bons exemplos dos congre­gados, a união de orações, os mútuos socorros da caridade cristã, sem excluir os devidos sufrágios depois da morte, a participação nos merecimentos e boas obras de todos os Congregados, os incalcu­láveis tesoiros de indulgências e privilégios com que as Congregações Marianas têm sido enrique­cidas pela pródiga munificência dos Sumos Pon­tífices.

II

As Congregações que só admitem no seu seio o escol de todas as categorias sociais de ambos os sexos (crianças, jovens, adultos, estudantes, inte­lectuais, militares, operários, colegiais, semina­ristas, etc., etc.), datam já do século XVI, apro­vadas e elogiadas como escolas de virtude nos documentos pontifícios de vários Papas, como Gregório XIII, Sixto V, Clemente VIII, Gregório XV, Bento XIV, Leão XII e de todos os que neste último século, desde Pio IX ocuparam a cadeira de S. Pedro e iluminaram a Igreja com os fulgores do seu ensi­namento e das suas esclarecidas virtudes.

Com tão valiosas cartas de recomendação não admira que as Congregações de Nossa Senhora se espalhassem pelo mundo e tivessem logo no pri­meiro século da sua existência florescido com tanto

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brilho nas principais cidades da Europa, particu­larmente em cidades universitárias e nos principais institutos de ensino. E o Brasil é um dos países em que, nos últimos decénios sobretudo, mais se tem sentido desabrochar o espírito mariano, e o seu salutar influxo, cada vez mais pujante em todas as suas projecções sociais.

Actualmente estão agregadas à Prima-Primária de Roma cerca de 70.000 Congregações com perto de 8 milhões de congregados, sem que nestes nú­meros estejam incluídas as Pias Uniões de Filhas de Maria que vemos florescer por toda a parte.

Desde a época da sua fundação, sentiram-se honradas com a fita de Filhos de Maria as perso­nagens mais conspícuas da Europa, como a Impe­ratriz de Áustria, a Rainha-Mãe de França, Sigis- mundo III, rei da Polónia e da Suécia, o Príncipe da Transsilvânia, os príncipes Filipe e Fernando da Baviera, o duque e os príncipes da Sabóia, vários príncipes e reis da Polónia e da Hungria, quase to­dos os arquiduques de Áustria, os Imperadores Fer­nando II e Fernando III de Áustria, e ainda na nossa época o Rei, a Rainha, o príncipe, os infantes e infantas de Espanha.

Sem nos determos em inúmeros outros nomes de titulares, sem mesmo passarmos revista à ínclita plêiade de eclesiásticos, cardeais e bispos sobre­tudo, que igualmente se honraram com o nome de Congregados de Nossa Senhora, extasie finalmente o nosso olhar a constelação mais refulgente de Maria a brilhar no firmamento da santidade.

Um S. Francisco de Sales, um S. Afonso de Ligório, um S. Fiel de Sigmaringa, um S. Francisco

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

de Régis, um S. Leonardo de Porto-Maurício, um S. Jo ã o B. Rossi, um S. Pedro Fourier, um S. Camilo de Lelis, um S. Francisco Solano, um S. Pedro Cla- ver, um S. Francisco de Jerónim o, um S. Afonso Rodrigues, um S. Jo ã o Berchmans, um S. Estanis- lau Kostka, um S. André Bobola, um S. Jo ão de Brito, e muitos outros varões de esclarecida virtude, ostentam ufanos todos eles as insígnias de filhos de Maria.

III

Nem se julgue que as Congregações Marianas perderam a sua razão de ser, a sua eficácia ou pelo menos a sua oportunidade com esse movimento da Acção Católica, que sem dúvida é já uma consola- dora realidade e mais ainda um esperançoso porvir da Igreja militante.

Muito pelo contrário, elas são justamente con­sideradas pelo Vigário de Cristo como um dos mais prestimosos auxiliares da Acção Católica, uma vez que são uma acreditada escola de formação à vida de piedade e ao apostolado dinâmico, de que a Acção Católica é paladina.

E de facto, consideradas não só na sua estru­tura interna, mas também na sua irradiação, as Congregações são um foco de apostolado directo: na família pela educação cristã que promovem, na paróquia pelas obras de piedade e de zelo, na so­ciedade pelas relações e influência benfazeja dos seus membros. As obras de caridade, quando a Congregação corresponde ao ideal da sua insti­tuição, estendem-se às classes indigentes num duplo

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DIA 6 DE MAIO

influxo de benfazer, que mata a fome do corpo e melhora, preservando até, as almas e os costumes.

Bem o compreendeu assim Pio XII para es­crever, como ainda há pouco escreveu, que folgava de encontrar nas suas recordações de antigo con­gregado os mais suaves motivos de gratidão para com o Senhor e a Sua Mãe Celeste: E na Carta Apostólica NOSTi PROFECTO de 6 de Ju lho de 1940 es­creveu que às obras de educação cristã prestam relevante serviço essas... Congregações Marianas, as quais a Igreja de Cristo encontra sempre como forças auxiliares escolhidas, arregimentadas em pací­fico exército sob o lábaro da Uirgem Mãe.

E a 21 de Janeiro de 1945, ao receber as sau­dações de alguns milhares de Congregados que o saudavam por ocasião das bodas de oiro da sua entrada na Congregação de Nossa Senhora, teve ele ocasião de lhes mostrar como as Congregações Marianas são a melhor escola de formação de ca­racteres desassombrados e genuinamente cristãos que há de preparar os homens para o dia de ama­nhã. «Comprometestes-vos, dizia-lhes Pio XII, a de­fender a Igreja de Jesus Cristo, f l Igreja bem o sabe e conta convosco, como no passado contou com as gerações de Congregados que vos precederam. E não tem sido enganada na sua expectativa.

Posteriormente na Constituição Apostólica Bis saeculari mostrou o mesmo Pontífice como as con­gregações são verdadeira Acção Católica.

E figuras de relevo no nosso Episcopado não têm deixado de manifestar como os seus senti­mentos pastorais vibram a uníssono com os do Vigário de Cristo, unissonância que nos permite

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

antever nos horizontes dum futuro não muito lon­gínquo, um Brasil feito vanguarda mariana da Igreja.

Desse modo a simpatia e o carinho com que o Papa e o nosso Episcopado, vibrando a uníssono com o Episcopado de outros países, cujos teste­munhos não são menos eloquentes, encaram as Congregações, são o mais seguro penhor da sim­patia e amor com que também a Virgem da Fátima lhes deve sorrir.

De facto o movimento mariano da Fátima ser­viu para estabelecer mais íntimo contacto entre a Virgem Santíssima e as suas Congregações e para despertar no coração de tantos filhos e filhas de Maria afectos cada vez mais filiais. É ver, para omitirmos outros testemunhos, o santo afan com que tantas Congregações, em nutridas romarias, de dentro e de além-fronteiras, acodem à Fátima para retemperarem o seu espírito mariano que é espírito de combatividade pela causa de Deus.

EXEM PLO

A FITA E A PÚRPURA

Testamento e profecia legada ao Brasil

A 17 de Outubro de 1942 falecia D. Sebastião Leme da Silveira Cintra, Cardeal da Santa Igreja Romana e Arcebispo do Rio de Jane iro , pelo seu saber e pela sua virtude feito idolo do povo brasileiro.

Grande patriota e grande Prelado, o seu prestigio na vida nacional e eclesiástica foi sempre irresistível e salutar, sendo sempre olhado como uma das maiores glórias do Brasil e um dos mais fulgurantes vultos do Colégio cardinalício.

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DIA 6 DE MAIO

Distinguiu-se particularmente pela sua filial ternura por Nossa Senhora e por uma nunca desmentida predilecção pelas Congregações Marianas. Foi ele quem, por delegação do epis­copado brasileiro, aprovou os estatutos da Confederação Na­cional das Congregações M arianas; e o seu ideal mais acari­nhado era que não houvesse uma só paróquia em todo o Brasil que não fosse sede de alguma Congregação Mariana.

Ele próprio trazia permanentemente, ao peito, sob a batina, a fita e medalha de congregado, e com ela quis morrer.

Ficou memorável o empolgante improviso com que em Buenos Aires, por ocasião do Congresso Eucarístico Interna­cional, respondeu à saudação dum congregado, dirigindo-se a todo o grupo de jovens marianos reunidos no Colégio do Sal­vador, salientando que apreciava mais a sua fita de congregado do que a própria púrpura cardinalícia. A púrpura, disse, só me traz preocupações, ao passo que a fita de congregado mariano é para mim fonte de alegrias e garantia de esperança; chegada a hora de deitar, a púrpura vai para um guarda-roupa, mas a fita acompanha-me para o leito.

Nunca mais esqueceu o seu discurso feito no Rio de Jane iro , em 1937, por ocasião da primeira concentração na­cional das Congregações. A frase com que o rem atou: mR fita azul salvará o B rasib foi como uma corrente de entusiasmo, que de norte a sul galvanizou a alma brasileira, sendo rece­bida como profecia, e ao mesmo tempo como estimulante irre­sistível, contra o respeito humano, então dominante, tornando cada vez mais desassombrada a legião masculina das Congre­gações, que hoje se pode impor a muitos países como modelo.

Faleceu com a fita mariana que permanentemente trazia. E com a fita quis ser amortalhado, levando-a para a sepultura, colocada por cima dos próprios paramentos pontificais.

O seu exemplo foi o seu espírito mariano deixado em testamento ao Brasil, e oxalá que a todo o mundo católico.

Oração pelos Sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 7 DE MAIO

MATER AMABILIS

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

Mãe de Deus, Mãe de Cristo, Mãe Lhe conti­nuam a chamar em todos os tons as Ladainhas Lauretanas, uma das mais espontâneas expressões do amor filial dos cristãos: Mãe da Divina Graça, Mãe puríssima, Mãe castíssim a... Mãe amável e a mais amável das mães.

Mãe do Homem-Deus, ficava por isso mesmo sendo Mãe de Deus e Mãe dos homens também. A maternidade divina já a deixamos suficiente­mente declarada. A sua maternidade humana, chamemos-lhe assim, não é mais difícil de com­preender.

1.° — Associada sempre ao novo Adão e antí­tese viva da primeira Eva, era natural que a segunda tomasse o posto que Lhe pertencia de mãe no gé-

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90 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

mais novos, dir-se-ia contudo que fôra escolhida para inspirar aos homéns a santa ufania duma fra­ternidade humano-divina com Jesu s, consagrada em Maria, cuja fecundidade virginal não se limita ao que é o seu Unigénito por natureza, mas vai até fazê-lo Primogénito pela graça que Lhe associou como irmãos todos os membros da grande família redimida.

3.° — Mas o Verbo Divino, pela Sua Incarnação, não só se fez um de nós, fez-nos também alguma coisa de Si, incorporando-nos consigo na mística unidade do que S. Paulo chamou a plenitude de Cristo, e Santo Agostinho o corpo plenário de Cristo. Em virtude dessa inefável incorporação ficamos sendo parte integrante de Cristo pleno e total, membros que com Ele constituímos um todo místico.

E esta incorporação não dará a Maria o di­reito de estender até aos homens a Sua mater­nidade, quase diria, de humanar o que nEla há de mais divino, que é a Sua divina maternidade? Fa­zer a pregunta é já dar a resposta. Não, a Virgem Santíssima não podia ser Mãe apenas de Cristo incompleto, com exclusão do seu necessário com­plemento místico.

4.° — Eis aí a tua Mãe é finalmente a procla­mação solene e autêntica da maternidade humana de Maria. Estas palavras foram dirigidas aos homens na pessoa do discípulo amado, que repre­sentava nessa hora a humanidade. Se Maria não fosse já a Mãe dos homens, ficava-o sendo a partir desse instante. E as palavras de Jesu s não seriam só a proclamação do mistério, mas também a

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DIA 7 DE MAIO 89

nero humano regenerado, como a primeira fôra a mãe da humanidade decaída.

O Calvário é a desforra do Paraíso terreal. Aqui, ao lado de Adão, como cúmplice, aparece a mulher funesta, propinando à sua raça o veneno mortífiro do pecado. No Calvário, associada a Cristo, apresenta-se a mulher salvadora propinando à humanidade o antídoto vivificante da graça. Do Paraíso brota uma geração morta, do Calvário uma geração ressuscitada. Mãe a primeira Eva porque dá ao mundo cadáveres, e não será mãe quem dá ao mundo gerações pujantes de vida sobrenatural?

2.° — Mãe dos homens pela sua missão de cor- redentora, Maria não o é menos por ter dado ao Verbo Divino o ser humano. Pelo inefável con­sórcio da Divindade com a humanidade, operado no seio virginal de Maria, Deus feito homem tor­nou-se um membro da família humana, fez-se um de nós, irmanou-se connosco. Mas quem pode con­ceber irmandade sem filiação comum? E quem pode ser essa mãe comum, senão aquela mulher singular de quem nasceu Jesu s, irmão dos homens factum ex muliere (Gal. IV, 4) e graças à qual E/e é o primogénito de muitos irmãos (Rom. VIII, 29)?

Tem particular encanto para os homens ele­vados à dignidade de irmãos de Jesu s, a palavra dos Evangelistas (Mat. I, 25; Luc. II, 7) que chama­ram ao Divino Recém-nascido de Belém o primo­génito de Maria.

Embora essa palavra, na intenção dos autores inspirados, tenha um sentido puramente negativo, excluindo apenas a existência doutros filhos mais velhos, sem por isso afirmar a realidade doutros

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criação dele. São palavras de eficácia divina que realizam aquilo mesmo que significam.

II

Se Maria é Mãe dos homens, o Autor da natu­reza e da graça não podia deixar incompleta a sua obra. Havia de dotá-la de um coração inteiramente à altura da missão a que A destinava, dum coração que fosse um tesoiro de virtudes maternas. Nas montanhas de Hebron, em Canaá de Galilea, não vemos nós como um sublime instinto materno lhe inspira actos de solicitude que só as mães sabem desempenhar, primores de dedicação que só em corações de mãe soem abrigar-se?

E a sua missão na Fátima não se poderá resu­mir nesta admirável sín tese : mostrar que é Mãe dos hom ens?

Os deveres das mães para com os filhos redu­zem-se a educá-los, a ajudá-los nas suas necessi­dades, a amá-los.

1.° — Educar. E que outra coisa tem Ela feito ali aos pobres mortais, representados primeiro nos videntes e logo a seguir nas vagas de peregrinos, que ainda não acabaram de passar pela Cova da Iria, senão educá-los, aconselhá-los, ensiná-los a rezar, a detestar o pecado, a fazer penitência, a serem bons? Será porventura outro o papel da mãe verdadeiramente educadora no lar doméstico?

2.° — fljudar. E qual a necessidade espiritual ou temporal a que Ela não tem acudido na Cova

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FLORllÉQIO ILUSTRADO DA FAtIMA

da Iria e em qualquer parte onde é invocada? É nesse mister que ela mais Mãe se tem mostrado, fazendo-se Enfermeira e Saúde dos enfermos, Con- soladora dos aflitos, Asilo dos pecadores, Mãe do Bom Conselho, Auxílio dos Cristãos, Tesoureira enfim de todas as graças.

3.° — fímar. Essa palavra afinal resume toda a Sua solicitude e dedicação de Mãe. Se não amasse, não teria desempenhado os misteres que acabamos de enumerar, não teria levantado na Fátima o trono da sua misericórdia e da Sua bondade, não teria aproximado tanto o céu da terra, não se teria posto tanto ao alcance dos que depressa A cansariam com tantos pedidos e impertinências, se um Coração de Mãe, e de Mãe como Ela, se can­sasse de amar e fazer bem.

III

Mas a correspondência ou o retorno é a lei fundamental do amor. Se há deveres maternais, também há deveres filiais. E estes resumem-se na obediência, na reverência, no amor.

1.° — Obediência. O bom filho deve plena e in­tegral obediência a sua mãe. Executemos, como um testamento sagrado, tudo o que Ela preceituou ou aconselhou em 1917 aos pastorinhos, que esses preceitos e conselhos eram para nos serem trans­mitidos a nós. São um recado autêntico da Mãe do céu para nós, de que foram portadores os três videntes : oração, penitência, detestação do pecado,

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prática da virtude, eis a su b stâ n c ia desse re­cado.

Obediência filial a M aria! Fazei tudo o que Ele vos disser (Joan. II, 5), foi o seu preceito em Canaá de Galileia. E se fosse hoje a formular-nos os seus preceitos de Mãe, havia de nos mandar o mesmo que manda Seu Filho, nosso irmão mais velho, e toda a autoridade que O representa na terra.

Obedecerem os pois a Maria, se obedecermos a Deus, ao Papa, aos Prelados, a todos os nossos Superiores eclesiásticos, domésticos e civis, a todos os que de algum modo são lugar-tenentes de Deus. Fazei, pois, o que eles vos disserem é o preceito formal de Maria.

2.° — Reverência. Abaixo de Deus não há quem tanto mereça ser reverenciado como Ela. E reve- renciá-La é louvá-La, é servi-La, é prestar-Lhe o melhor do nosso culto, todos os primores da nossa veneração e das nossas homenagens filiais, que, se não forem de adoração, todas Lhe serão devidas. Reverência filial a Maria e a tudo o que de algum modo A represente, a começar pelas Suas imagens.

3.° — fímor. E' o principal dever dos filhos, como dos pais é também o principal; não só o amor fácil das palavras e da afectividade, mas so­bretudo o verdadeiro amor do sacrifício e do dom de si mesmo.

A Maria devemos todo o amor de que o nosso coração é capaz; amor que nem devia ser neces­sário preceituar, como não é necessário preceituar ao rio que se precipite no mar, nem à flor que pro­duza o seu fruto. O amor a Maria deve ser uma

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imperiosa necessidade de quem se sente filho. E se queres sentir-te filho, vai a Fátima, relê toda essa epopeia de 35 anos e verás como toda ela se cifra no amor de Mãe, verás como essa Mãe é, depois de Deus, a mesma amabilidade — Mater amabilis.

EXEM PLO

Monstra te esse Matrem

A 10 de Dezembro de 1938 a menina Maria Fernanda Paulina dos Santos, de cinco anos de idade, filha única de Manuel Bernardo dos Santos e de Maria da Glória Paulina dos Santos, da Granja Nova, foi esmagada por um toro de pinheiro, de mais de 100 quilos de peso, que lhe caiu em cima.

A pobre criança era toda ela uma hemorragia a testemu­nhar o esmagamento interno e externo.

É levada para o Hospital de Lamego. Por duas vezes du­rante o trajecto teve o motorista de parar o carro, hesitando se devia seguir a viagem, pois a criança já toda roxa, inchada e fria deixará de dar sinal algum de vida.

É examinada pelo Dr. Zagalo, que sem mais cerimónia desengana a família e declara alto e bom som que em vez de levarem a criança para o hospital a levem para o cemitério.

Mas como a esperança é a última coisa que se perde, a mãe, louca de dor, pede ao motorista que siga para o hospital.

As enfermeiras declaram logo à família, sem mais rodeios, que se trata dum caso desesperado. Que deixassem ficar a criança e voltassem no dia seguinte com a mortalha.

Volta a Lamego a família da moribunda criança, sendo a mãe proibida de a acompanhar. Feita uma estátua viva de dor e de aflição, vai para a igreja lança-se aos pés de Nossa Senhora da Fátima, e, entre lágrimas e gemidos, desfaz-se em súplicas para que Ela se compadeça duma pobre mãe aflita e mostre que também é M ãe, salvando-lhe a filhinha.

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E depois de muito suplicar e pedir insistentemente a Nossa Senhora que mostrasse que era M ãe, sem quase saber dizer-Lhe outra coisa, levanta-se cheia de fé, e acompanhada duma cunhada sua, parte também para Lamego, onde vê as flores e a mortalha que a família havia preparado à criança.

Mas a Virgem bendita da Fátima mostrou que realmente era Mãe, curando perfeitamente e deixando sem defeito algum essa massa informe, com cuja vida já ninguém contava.

Oração pelos sacerdotes, como. na pág. 22.

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DIA 7 OU 8 DE MAIO

MATER ADMIRABILIS

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

Maria é Mãe. Mãe de Deus e mãe dos ho­mens. E quem se admirará que a Igreja A invoque também com o nome de Mãe admirável, se admi­rável é o nome do Filho e por esse nome era já conhecido na profecia, antes ainda de existir como homem ? E chamar-se-á o seu nome Admirável Con­selheiro, Deus Forte, Pai do século futuro, Príncipe da Paz (Is. IX, 6). E o Salmista exclama também extático : Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome no Céu e na terra ! (Ps. VIII, 8).

Dir-se-ia que o Filho herdou 6 nome da Mãe, ou a Mãe o do Filho!

Admirável é Maria nas suas prerrogativas, admirável no poder da sua intercessão, admirável nas suas intervenções na terra e sobretudo no mundo das almas.

1.° — Nas suas prerrogativas Mãe admirável! e que coisa mais admirável na Mãe de Deus do que

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essa mesma maternidade, tão admirável, tão misté­rio, como a própria Incarnação do Verbo Divino?

É pura criatura, e entretanto é Mãe do Cria­dor! É descendente de Adão, e contudo não foi contaminada pela sua culpa! É também filha da Redenção, e contudo não chegou a contrair a culpa de que o Filho foi Redentor S e u ! É Virgem, e en­tretanto é M ãe! É Mãe, e conserva intacta a au­réola da virgindade! É a Rainha dos Anjos, e não é Anjo. É a Rainha dos Apóstolos, e não pregou, não evangelizou o mundo! É a Rainha dos Már­tires, e não derramou uma gota única do Seu san­gue, não foi corporalmente atormentada pela fé! Que rosário de mistérios as Suas prerrogativas! Quão admirável é o teu nome no céu e na terra, é caso de Lhe dizer também.

II

2.° — Na Sua intercessão. É uma débil criatura, tão débil que teve de fugir de Herodes, que não pôde livrar o Seu Filho das mãos dos algozes; e contudo às Suas súplicas o próprio Deus não pode dizer que não! O Homem-Deus declara terminan­temente em Canaá que não havia chegado ainda a hora dos Seus milagres. Maria intercede, e, dentro ou fora da hora, o milagre opera-se!

A omnipotência é atributo exclusivo da Divin­dade. Entretanto a Divindade vê-se desarmada perante a intercessão de quem se chama a omni­potência suplicante, intercessão de quem, não sendo deusa, é Mãe de Deus.

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Se tanta foi a omnipotência dos Santos sobre o coração do Omnipotente, que, só por amor dos seus servos Abraão, Isaac e Ja c ó e pela intercessão de Moisés, Ele perdoou mais de uma vez as preva­ricações do Seu povo, qual será então o prestígio de Sua Mãe e o poder da Sua intercessão? Diante das súplicas dos Seus servos fica o próprio Deus de tal modo desarmado que um dia se inverteram os papéis. Para castigar a idolatria do Seu povo chegou Deus a pedir a Moisés que não intercedesse por ele, que O deixasse castigar os culpados. E os culpados não são castigados porque Moisés teima em interceder por eles (Ex. XXXII, 10, 14). Não façamos nem à Mãe nem ao Filho a injúria de com­parar o valimento de Maria com o de Moisés.

Uma só lágrima de minha mãe indultou muitos condenados à morte, disse A le x a n d re Magno. E Alexandre não era melhor filho do que Jesus, nem sua mãe mais poderosa do que Maria.

Intercessão admirável! Enquanto à Divindade estiver unida a Humanidade que o Verbo recebeu de Maria, nunca Ele terá a coragem de deixar dé- sacreditada a intercessão de Sua Mãe.

III

3.° — Nas suas intervenções. Judite e Ester não eram afinal mais do que simples prefigurações de Maria.

E se tão admirável foi a intervenção da pri­meira em favor do seu povo, que ela bastou para o libertar do poder dos Assírios e salvar Betúlia do

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DIA 7, OU 8 DE MAIO

cerco que a asfixiava; se tão patética e assombrosa foi a intervenção da segunda que ela bastou para abrandar Assuero e preservar todo o seu povo do extermínio já decretado por Aman, que diremos da eficacíssima intervenção de Maria sempre que se trata de acudir aos que a Ela acodem, sobretudo aos Seus devotos que Satanás persegue com ódio eterno?

Se a intervenção duma Isabel de Portugal em todas as guerras e contendas que a discórdia sus­citou entre os seus era bastante para reconciliar os contendores e fazer brilhar no céu de Portugal o íris da paz, o que não podemos nós dizer da in­tervenção dAquela que foi a grande pacificadora entre o céu e a terra, e que é mais rainha do que Isabel e mais santa do que todos os Santos?

Não duvidemos: a omnipotência do Filho é a omnipotência da Mãe, que nEle não é para admirar, porque é Deus, mas que nEla é sobre toda a admi­ração admirável.

Que o diga Fátima, onde se ergueu o trono ao poder da Sua intercessão verdadeiramente admi­rável para que ele se tornasse ali mais palpável. Que o digam os Seus devotos, tantos beneficiados Seus, miraculados até, que em tantas aflições da alma, em tantas enfermidades corporais, em tantas perplexidades da vida puderam apalpar a eficácia duma intervenção admirável, que por vezes se vale só duma súplica cheia de fé, duma simples apli­cação dalgumas gotas de água da Sua fonte.

Não há dúvida que Fátima é a admiração do século XX, e Maria a Mãe admirável.

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100 FLORILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

EXEM PLO

A admiração da ciência

D. Dulce Magalhães Moreira de Sé, casada com o Major de Engenharia Fernando Moreira de Sá, PO RTO , sofria desde os 16 anos do ouvido esquerdo, chegando finalmente esse órgão a perder a audição.

Muitos foram os médicos consultados, muitos os trata­mentos durante mais de 30 anos, e o resultado nulo.

Em 1935 a radiografia acusava na doente a existência da mastoidite. A operação impunha-se; e feita numa clinica do Porto, decorreu normalmente. Passados dez dias tentou a doente levantar a cabeça e, com admiração do médico, sen­tiu-se impossibilitada de o fazer, com dores e vertigens inten- slssimas.

Durante um mês sem falar, jazendo na obscuridade por não poder suportar a luz, com a cabeça em gelo e sujeita a outras aplicações terapêuticas, nem melhoras nem alívio expe­rimentou. Estava condenada a nunca mais poder erguer a cabeça e a suportar nela e na espinha as dores mais violentas.

Em Fevereiro de 1936 é chamado de Lisboa o mais abali­zado especialista, Dr. Alberto Mendonça, e a conferência mé­dica decide várias análises metódicas, a fim de se localizar a lesão interior. Foi feito por distintos médicos exame à vista, análises neurológicas e ematológicas, e por várias vezes extrac­ção do liquido raquidiano, cujo aumento sucessivo confirmava a existência da lesão interna.

Ao fim de seis ou sete m eses a perna esquerda começou a encolher, a atrofiar-se apesar da extensão forçada e do tra­tamento eléctrico a que a sujeitaram. Assim passou um ano na clínica sendo tudo baldado.

Três anos mais de tratamentos e a pobre doente conde­nada a uma contínua obscuridade, dores incríveis, vertigens, congestões. A atrofia da perna acentuara-se, sem que a pade­cente pudesse erguer mais a cabeça !

A ciência humana teve tempo de sobra para mostrar o que podia, ou o que não podia.

E convencida a doente da im potência da medicina, voltou toda a sua confiança para a Virgem da Fátima.

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Aproxima-se a grande peregrinação de 13 de Maio de 1940; e D. Dulce insiste em ir à Fátima, como se para lá a atraísse uma força irresistível. J á não foi possível dissuadi-la. O próprio médico declarou que, se não se tratasse dum acto de fé, era viagem que, como médico, proibia formalmente. Outro houve que já a meio do caminho a classificou de enor­me imprudência.

A viagem foi horrível, levando sempre a doente gelo na cabeça, sem falar, sem se alimentar, sem de nada dar conta e recebendo in jecções a cada passo.

Deitada na maca, assiste à missa dos doentes e recebe a bênção do Santíssimo Sacramento.

Depois da Bênção, ao passar junto dela o Santíssimo Sacram ento, sente-se interiormente impelida a levantar-se: •Quero Jevanfar-me» diz ela para o marido.

Nesse momento, declara ele, vi com assombro minha mu­lher erguer o tronco, e, quando eu instintivamente corria para ampará-la, vejo que ela s e p õ e a pé, rezando fervorosam ente, mas em atitude calm a e serena.

Grande alvoroço e excitação nos circunstantes, contras­tando com a serenidade da agraciada.

Retira os óculos negros para nunca mais usá-los, podendo já sem dificuldade suportar toda a luz. D e regresso ao Hos­pital recebe inúmeras visitas, inclusive de Prelados e médicos, historiando a todos sem a menor excitação, a sua doença e a cura instantânea que acabava de se operar.

Regressa ao Porto, muito naturalmente sentada no auto­móvel, dispensando todos os cuidados e até as próprias alm o­fadas que lhe ofereciam. Alimentou-se como qualquer pessoa de saúde, recebeu muitas visitas sem enfado, nem cansaço. Começou a escrever normalmente, com letra corrente e firme, sendo que durante a doença nunca pudera escrever uma linha.

Acabaram todos os vestígios da doença.O s médicos que a haviam tratado ficam estupefactos e o

próprio especialista de Lisboa confessa-se maravilhado e de­clara : • os m édicos são obrigados a recon h ecer que há alguma coisa su perior que p o d e mais do que eles , sen do obrigados a confessar que nada sabem ».

De facto, a admiração, diz a filosofia, é filha da igno­rância. Mas ela é também mãe da ciência, porque quem se admira do que ignora, investiga-lhe as causas até as descobrir;

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102 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

nisso está a verdadeira ciência. Quem se admira dum efeito que a natureza, com todas as suas virtudes terapêuticas, não pode produzir, conclua, como o ilustre clinico de Lisboa, que há alguma coisa superior que pode mais do que ela.

E porque tanta foi a admiração suscitada nos meios clíni­cos por esta cura estupenda, resolveu o Tribunal Eclesiástico da diocese do Porto fazer o respectivo processo canónico, cujos documentos fundamentais se encontram na Uoz da Fátima (N.°* 229 e 230).

Oração pelos sacerdotes, como na página 22.

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DIA 8 DE MAIO

MATER BONI CONSILII

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

O Conselho é um dom do Espírito Santo, que em circunstâncias obscuras ou complicadas nos ilumina e mostra como devemos agir, de que pro­cessos nos devemos valer, para não nos afastarmos da Vontade Divina.

Antes de executarmos, ensina-nos a reflectir, a ponderar os prós e os confras, a consultar, a julgar e por fim a decidir. Desse modo o dom do con­selho é um auxiliar da virtude da prudência e o seu complemento sobrenatural.

O dom do conselho não exclue o recurso a conselheiros humanos que nos podem emprestar alguma coisa das suas luzes e experiências. Pelo contrário, a sábia economia da Providência Divina ensina-nos a não recorrer a meios extraordinários quando temos à mão os ordinários.

Mas, consultados os conhecimentos e as luzes alheias, o dom do conselho ensina-nos a ponderar, a tomar o peso aos conselhos recebidos, a avaliar

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sugestões adventícias, a fim de não darmos um passo em falso. Ensina-nos também por uma sábia previdência a prevenir as faltas dos nossos subor­dinados, para não termos de as remediar por meios mais dolorosos. Ensina-nos, enfim, os caminhos da rectidão de consciência; e, em circunstâncias ex­cepcionalmente delicadas, ensina-nos a não con­fiarmos demasiado em nós mesmos, nas nossas luzes e perspicácia, numa palavra, a não nos jul­garmos infalíveis.

Quem possui o dom do conselho é oportuno nas medidas que toma, não é precipitado nas suas resoluções, não sacrifica o bom certo ao óptimo incerto, não joga levianamente com a sua autori­dade, expondo-a a enxovalhos ou a descréditos, não se aventura a empreendimentos, de que depois haja de se arrepender.

II

1.° — Não há dúvida que os encómios tributa- dos pela Sagrada Escritura à Sabedoria visam direc­tamente o Verbo de Deus, segunda Pessoa da Au- gustíssima Trindade, que é a Sabedoria Eterna. Mas depois que essa Sabedoria incarnou, Maria ficou sendo o Seu Santuário augusto, o Seu Templo vivo, e por conseguinte o trono da Sabedoria Divina, Sedes Sapientiae, que é um dos títulos com que a Igreja desde séculos A invoca.

Ora se a Sabedoria habita nEla como no Seu Santuário de predilecção, não é estranho que Ela ficasse sendo guarda e depositária dos Seus tesoi-

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ros, que deles seja feita participante na plena me­dida da Sua capacidade, e que portanto a Igreja Lhe aplique complacente os encomiásticos predi­cados que os Livros Santos tributam à Sabedoria incriada, a começar pelo de Mãe do Bom Conselho, uma vez que ao Filho é dado o nome de Conse­lheiro «Consiliarius».

Efectivamente, qual a criatura humana que jamais recebeu tão rica efusão dessa ciência dos Santos que ilumina o espírito e o habilita a ilumi­nar os outros com o fulgor e prestígio do seu con­selho esclarecido ?

O recolhimento de Maria, menina ainda, no recinto do Templo, a Sua comunicação contínua com o Pai das luzes, as Suas palavras ao Anjo no mistério da Anunciação, a Sua vida de Nazaré escondida em Deus, revelam-nos bem eloquente­mente, quanto a Sua alma privilegiada se encon­trava adornada desses dons preciosos que bastavam para fazer dEla a Mãe do Bom Conselho.

E em que outra criatura brilhou algum dia, como em Maria no Calvário, esse dom da forta­leza, que a fez triunfar das mais rudes provas? Onde se viu brilhar, como na Virgem prudentís­sima, o dom do conselho, que nas circunstâncias mais delicadas nos encaminha e leva a decisões seguras, evitando escolhos traiçoeiros, o dom da inteligência que penetra nas regiões mais elevadas da graça? Quem como Ela possuiu em tão alto grau o dom da sabedoria, coroa de todos os outros, que consiste em bem conhecer o princípio e o fim de todas as coisas e os caminhos que a esse fim nos conduzem ?

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106 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

A h! que Ela nos obtenha de Deus o espírito de docilidade filial para sermos fiéis aos Seus con­selhos m aternais: «Filii, audite m e : Beati qui cus- todiunt vias meas» (Prov. VIII, 32).

III

3.° — Virgem prudentíssima, trono da Sabedoria, que mais Lhe falta para saudarmos nEla a Mãe do Bom Conselho? Porventura, segundo o princípio acima justificado, não se pode aplicar a Ela o que o Livro sagrado faz dizer à Sabedoria incriada : «Eu sou a Sabedoria, eu presido aos pensamentos dos sáb ios. . . , meu é o conselho, minha é a prudência?» (Prov. VIII, 12,14).

E, se o conselho é atributo e apanágio Seu, Ela é a Mãe do Bom Conselho, e, como tal, Ela cum­prirá fielmente as promessas que na Sagrada Escri­tura nos são formuladas pela própria Sabedoria. Quem madruga para me buscar, encontrar-me-á (Ibid. 17.). E quem me encontrar, encontrará a vida e receberá do Senhor a salvação. (Ibid. 35).

Encontrar a vida é realizar todas as nossas aspirações. O primeiro preceito da vida é fugir do mal. Ora quem encontra Maria, a prudência o guardará para o livrar de maus caminhos e de más companhias (Ibid. II, 11-13). Nas nossas dúvidas, hesitações e perplexidades Ela nos inspira as pru­dentes resoluções que devemos tomar, porque Ela dirige as sábias deliberações (Ibid. 12).

Que ilimitada confiança não devemos então depositar na Mãe do Bom Conselho, tão rica em tesoiros de prudência e de sabedoria!

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DIA 8 DE MAIO 107

«É insensatez, diz S. Jo ã o Clímaco, não tomar o homem conselho senão consigo mesmo, pois constituir-se o homem mestre de si mesmo é fazer-se discípulo dum louco. Não devemos, pois, ser desses insensatos que cegamente confiam nas próprias luzes, quando o Espírito Santo nos manda em todas as nossas dúvidas tomar conselhos com um homem prudente (Tob. IV, 19). S. Paulo, destinado a ser o grande luzeiro da Igreja, é mandado pelo Salvador aconselhar-se com Ananias, para saber o que devia fazer (Act. IX, 6-7).

O s Santos ensinam-nos como devemos implo­rar as luzes do céu pela oração. Em suas dúvidas, perante gravíssimas resoluções que deviam tomar, quando as mais opostas sugestões solicitavam a sua adesão, era das próprias inclinações que pri­meiro se acautelavam, premunindo-se contra capri­chos e preconceitos e deixando passar a hora das paixões e exaltações de espírito, para serenamente invocarem as luzes do céu e deliberarem.

Santo Inácio de Loiola ensina que em hora de trevas e de agitações do espírito se não tome reso­lução alguma. E, diante de qualquer decisão grave que se haja de tomar, recomenda que se considere cada um em artigo de morte e se pergunte a si m esm o: «Que resolução tomaria eu se estivesse para m orrer? E, na hora da morte, que desejarei eu ter feito nesta hora?»

Fiéis às solicitações maternais da Igreja, que invoca a Mãe da Sabedoria incarnada com o nome de Mãe do Bom Conselho, tomêmo-La como nossa Conselheira. J á para os serventes do banquete de Canaá fôra Ela a Mãe do bom Conselho, exortan­

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108 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

do-os a fazerem tudo o que Seu Filho lhes man­dasse. E bem conhecidos são os maravilhosos frutos desse conselho.

Mãe do Bom Conselho será também para nós, em momentos de dúvida e de desorientação a Vir­gem da Fátima, e para aqueles sobretudo que de­sempenham cargos públicos de responsabilidade. Que bem aconselhadas se nos manifestam desde o princípio as almas que possuem o genuino espí­rito da Fátim a! Que acertadas e prudentes as res­postas, as declarações, todas as atitudes enfim dos videntes de 1917! Que prudência bem superior à da sua idade!

E que senso de oportunidade nos não revela a autoridade eclesiástica diocesana desde a primeira hora, sabendo esperar, consultar as luzes do alto, evitando precipitações e reacções menos pondera­das, e só definindo na medida e na hora em que era necessário definir.

Bem se viu que tinham a Nossa Senhora como Conselheira. Não queiramos outra para nós. O seu conselho será o farol bendito que há de iluminar o nosso roteiro e guiar os nossos passos até aos um­brais da eternidade.

EXEM PLO

* Aqui a trago e nunca mais a largarei

Era em 1926. Em S . Gião, concelho de Oliveira do Hos­pital, os dois irmãos Agostinho e Alfredo Eivas Ferreira resol­veram proceder à abertura duma mina para exploração de águas na sua propriedade, contratando para essa empresa um minador experimentado.

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DIA 8 DE! MAIO 109

Quando a mina ia já a certa altura, deu em rocha firme, tornando-se necessário rompê-la a fogo.

Tendo o minador carregado um tiro na rocha com dina­mite, depois de pegar fogo ao rastilho, retirou-se imediatamente com o seu ajudante para fora da mina, até que se desse a explosão. Tardando, porém, a descarga mais que do costume, diz o ajudante para o m inador: o rastilho com certeza apa­gou-se e o me/fior será lá ir chegar-lhe novamente o fogo. Con­cordou o minador, persuadido também de que o rastilho se teria apagado. E confiadamente penetra dentro da mina, avança e, estando a um escasso meio metro do tiro, dá-se a tremenda explosão da dinamite.

Ao ouvi-la fora, o ajudante solta desvairado um grito de pavor, julgando o seu companheiro feito em pedaços. Entra imediatamente pela mina dentro, fantasiando já na imaginação o quadro horroroso com que iria topar.

A certa altura, porém, ouve a voz do companheiro a gri­tar-lhe: «sai lá para fora, que quero tomar ar. N ão há nada/».

E de facto não houve nada, quando era para ficar feito em estilhaços dos pés até à cabeça. Nem sequer a lanterna de vidro que levava na mão sofrera a mais leve fractura. Parecia um sonho I o minador quase não acreditava na própria exis­tência; como explicar tão inesperada preservação? Antes de o minador iniciar os trabalhos de excavação, uma piedosa senhora, irmã dos dois proprietários, colocara-lhe ao peito uma medalha de Nossa Senhora da Fátima, com esta textual recom endação: »Traga sem pre esta m edalhinha; e sem pre que mude a camisa, mude também a medalhinha, para N ossa Senhora o livri

dosa senhora aconselhava o feliz minador, o qual não ocultou a sua satisfação e prometeu nunca esquecer a recomendação. Conhecedor desse interessante pormenor disse-lhe o Sr. Agos­tinho Eivas F erreira : «Sabe a quem deve a sua vida? É a Nossa Senhora 3a Fátima*. Ao que responde o sim pático minador, abrindo desembaraçadamente o peito: «Senhor, aqui a trago e nunca mais a largarei».

O bom conselho lhe salvara a vida.(Cfr. Uoz da Fátima de 13 de Maio de 1926. N.° 44).

Oração pelos Sacerdotes, como na página 22.

Conselho que pelos lábios dessa pie-

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DIA 9 DE MAIO

MATER CREATORIS

Oração pelos Sacerdotes, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

Maria com uma criancinha nos braços, e da mão dessa criança suspenso o mundo como um brinquedo infantil, é a meditação que nos sugere a gravura deste dia. Uma mãe alimentando da sua própria substância o filho das suas entranhas. . . E qualquer a perguntar espontâneam ente: Mas, afinal, quem é aqui o Criador e quem é a criatura? A criatura nos braços do Criador, ou o Criador nos braços da criatura? «Qui creavit me requievit in ta­bernáculo meo», lhe faz dizer a Igreja, pondo em Seus lábios as palavras do Eclesiástico (XXIV, 12).

Mãe do Criador! Não parece à primeira vista contraditória esta expressão? Poderá acaso a está­tua criar o seu escultor? Quem pôde jamais con­ceber semelhante aberração? Sem dúvida, se não houvesse em Jesu s Cristo mais que a natureza divina, semelhante expressão seria um mixto de absurdo e de blasfêmia.

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Tftater (Treaforis

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DIA 9 DE MAIO 111

A Divindade existe por si mesma desde toda a eternidade, sem outro princípio mais do que Ela mesma. Mas Deus fez-se Homem sem deixar de ser Deus, fazendo hipostàticamente Sua a natureza humana concebida no seio virginal de Maria. Natu­reza dupla em unidade hipostática! E temos o Verbo feito carne. Ora o Verbo é Criador como é com o Pai e o Espírito Santo, associados pelo acto indivi­sível da Sua vontade na grande obra da criação.

O acto divino da criação é o maior e o que mais empolga o nosso entendimento, para o qual é inútil perscrutar a transição do nada para o ser. Segredo que Deus guardou para Si e que persisten­temente se esconde às especulações da razão. Deus infinito em tudo, revela-se-nos em toda a Sua omni­potência através do título de Criador do Universo. E a Igreja, compenetrada desta verdade, baptiza Sua Mãe com o nome de Mater Creaforis, para ele­var o nosso espírito ao mais alto conceito que dela podemos formar.

E porque elevou Sua Mãe a tão sublime altura o Criador de todas as co isas? Para benefício de todos nós. Por Ela veio Ele ao mundo feito homem, a fim de operar em cada um de nós maior maravi­lha que a da criação. '

Nas admiráveis operações da graça que nos é dada pelo Filho de Maria, permite Deus que a nossa liberdade lhe possa resistir, para nos tornar capa­zes de mérito. E desse modo a graça triunfando da nossa liberdade ao mesmo tempo que a respeita e deixa agir meritòriamente (Deus não faz escravos, nem é senhor totalitário!), realiza qualquer coisa, maior sob certos aspectos, do que o acto da cria­

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ção primitiva. É a segunda criação que consiste na transformação do homem por Jesu s Cristo. E nesse novo universo somos nós a nova criatura, sobre­nome que nos foi dado pelo Apóstolo (Gal. VI, 15).

II

f í lógica da criação — Se o conceito de criação é como que o relâmpago que instantâneamente nos deixa entrever a grandeza de Deus, nós somos ou­tros tantos monumentos vivos e ambulantes dessa Grandeza.

Cria turas!! E o nada postado diante do Infinito, é o Infinito olhando para o Nada. E fecundando-o com o íiat irresistível da Sua vontade omnipotente, fá-lo alguma coisa, o que Ele quer que seja. E nós fomos esse nada histórico, e somos esse «alguma coisa» palpitante que Ele concebeu, tendo diante de Si o modelo predilecto que Ele, sem detrimento da Sua infinita originalidade, quis c o p ia r : ELE MESMO. Somos o Seu retrato, a Sua imagem e semelhança. Quando nos convenceremos disso? Quando se convencerão disso os prepotentes duma autoridade recebida por esmola, que tão facilmente põem debaixo dos pés retratos do Criador, contin­gentemente postos ao seu dispor?

Criaturas! Tiradas do nada. Logo, de nós mes­mos, simples zeros à esquerda. Mas criaturas de Deus, tiradas do nada pelo Ser Infinito. Logo algo de grande, de nobre. Ò nada, mas que desde que foi alguma coisa, se sentiu candidato à divindade. É o nada com fome do infinito, com aspirações infi­

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DIA 9 DE MAIO 113

nitas, insaciável com o finito, e tendendo irresisti­velmente para o infinito.

Criatura de Deus. Logo propriedade de Deus, dependente de Deus, tendo a Deus por Senhor, que com ninguém mais reparte a Sua sabedoria. Deus e Senhor para Quem não é indiferente o bem e o mal. Logo criatura que tem por Legislador quem o chamou à existência. Criatura de Deus, Ser inteligente que não pode deixar de ter um fim em suas obras. Logo criatura orientada para um fim.

Mas, sendo infinitamente inteligente o Criador, o fim preconcebido havia de ser digno dEle. E fim digno dEle só Ele mesmo. Deus é portanto o fim último para o Qual se devem orientar todos os nossos passos. Fim que devemos atingir para O glorificarmos pelo conhecimento e pelo amor, e para sermos por Ele glorificados na visão beatífi- cante da Sua essência.

III

De Deus e para Deus. Só Ele, Princípio e Fim, é o Senhor. A lei divina, expressão da Sua vontade, eis a norma única de toda a nossa actividade. A eter­nidade, termo do nosso peregrinar. A fé, bússola que orienta o nosso pensar e o nosso querer, é a luz da nossa alma. Maria, a estrela rutilante ilumi­nando o roteiro dos que Lhe chamam mãe.

Eis o compêndio de tudo o que Ela nos veio recordar na Fátima. São verdades que se lêem no fundo da Sua própria mensagem de 1917. Tudo está em descobri-las e em saber desentranhá-las.

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114 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

«Não ofendam mais a Deus, que já está bastante ofendido!» Como podia Ele ser ofendido, se não fosse o Senhor, o Legislador, a expressão concreta da mesma santidade?

Que sentido teria a visão do inferno, se a lei divina não tivesse a tremenda e eterna sanção que tem, se a nossa alma não tivesse diante de si uma eternidade problemática, e se em nossa mão não estivesse evitar o naufrágio eterno?

«Penitência e oração!» Que sentido teriam estes imperativos tão repetidos na Cova da Iria, se não tivessemos que dar conta dos nossos actos, se não houvesse alguém de quem dependemos, se não houvesse um fim de que nos desviámos, um caminho que deixamos de trilhar?

Mas a história da Fátima recorda-nos ainda como a nosso lado e em contacto conosco há infi­nitos outros seres, como nós orientados para Deus que os criou, dependentes de Deus e de nós no uso racional que deles nos é concedido com a de­vida subordinação a Deus, fim último de todos eles ; seres, portanto, de que só devemos usar ou abster­mos na medida e proporção em que facilitem a consecução do nosso último fim ; seres a que, por isso mesmo, não devemos a-priori afeiçoar-nos de­liberadamente, nem ganhar antipatia.

Entre os seres do mundo sensível sobressaem na história da Fátima médicos e m edicinas; e é com relação a eles que as lições da Fátima têm sido eloquentes.

Ensina-nos o cap. 38 do Eclesiástico: «Honra o médico, porque ele é necessário; porque o Al­tíssimo é quem o criou. Porque toda a medicina

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DIA 9 DE MAIO 115

vem de D eu s. . . O Altíssimo é quem produziu da terra os medicamentos, e o homem prudente não terá repugnância por e le s . . . Com eles cura e mi­tiga a dor, e o farmacêutico faz composições agra­dáveis e compõe unguentos saudáveis . . .»

É assim que os médicos são a providência vi­sível do Criador no meio dum mundo em que as doenças exercem a plúmbea tirania da ocupação e da conquista.

Ora a grande lição da Fátima neste particular está em mostrar como Deus se serve destas cria­turas para Seus fins, sem precisar delas, e como pode também dispensar os seus serviços, substi­tuindo-os pela intervenção directa de Sua Mãe.

EXEM PLO

A Deus o que é de Deus e à ciência o que é da ciência

Num século como o nosso, que é a idade áurea do mate­rialismo, é uma glória ouvir o testemunho desassombrado de sumidades médicas que sabem dar a Deus o que é de Deus, sem negarem à ciência o que à ciência pertence.

Esse testemunho lê-se em atestados de curas,, reconhe­cidas como superiores aos recursos da ciência, atestados de que Fátima é um arquivo ufano.

Muitos limitam-se a atestar a doença rebelde a todas as intervenções clinicas e subsequentemente debelada, sem mais explicações. Outros não se contentam com essa afirmação, e sem rebuços dão testemunho do poder de Deus superior ao da terapêutica cientifica. Alguns exemplos apenas, não para amostra, mas para glorificação da doce Virgem da Fátima e da própria m edicina:

Diante da cura miraculosa de D. Dulce Magalhães Mo­reira de Sá confessa o mais abalizado especialista de Lisboa,

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116 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Dr. Alberto Mendonça : «os m édicos sã o obrigados a recon h ecer que há alguma coisa su perior que p o d e mais do que eles , sendo obrigados a con fessar que nada sabem».

Por sua vez o distinto clínico de Lisboa, Dr. António Baptista Leite de Faria, médico assistente de Etelvina da Conceição Barroso, surpreendido com a sua cura, depois de descrever as vicissitudes da doença, termina o seu atestado com estas palavras que só honram a sua probidade profis­sional : «No último dia duma novena a N ossa Senhora da Fátima, a S r .‘ Etelvina da C on ceição B arroso encontrou-se repentina­m ente curada. Esta cura instantânea não a julgo possível nem explicável pela s fo rças naturais, mas, sim, por fo rças superiores á natureza. Foi, pois, na minha opinião, um verdadeiro e autên­tico milagre d e Nossa Senhora da Fátima. Lisboa, 8 d e Outubro d e 1925».

O médico assistente de Rosa Maria Ribeiro Trancoso assinava a 11 de Dezembro de 1926, em Ponte da Barca, o atestado que terminava assim : Ho/e está com pletam ente curada, não havendo nenhuma terapêutica que pudesse fa zer uma cura tão com pleta, sen do n ecessário admitir a intervenção dum poder sobrenatural para exp/icar o facto».

O médico Dr. Acácio da Silva Ribeiro, depois de des­crever as múltiplas fracturas duma perna, por ele próprio sofri­das em consequência dum desastre, e a sua cura prodigiosa, por intercessão da Virgem da Fátima, termina assim o relato enviado para o Santuário da Fátim a: *£u que m e julgava muito feliz s e escapasse m esm o sem a p e r n a .. . , vejo-m e são e salvo, com a perna sem claudicar, sem o m enor e m b a r a ç o .. . Oh! b en ­dita c ren ç a ! Bendita fé que tanto m e va leste!•

O Dr. Joaquim Hermano Mendes de Carvalho, em 5 far­tas colunas descreve como médico e como testemunha na Uoz da Fátima (N.° 76) a doença complicadíssima de D. Maria Margarida Teixeira Lopes e a cura simplicíssima, para con­cluir com estas palavras: «Deu-se uma cura miraculosa, ou então estou para sa b er ainda o que se ja um m ilagre».

De Cochim (índia) escreve em 1932 à Uoz da Fátima o distinto médico Dr. P. George, relatando a cura surpreendente duma doença delicadíssima que não havia esperança de debe­lar, e maravilhosamente obtida mediante a aplicação da água da Fátima, acompanhada da respectiva novena. Com estas palavras termina o seu relato: «Houve aqui uma intervenção

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DIA 9 DE MAIO 117

espec ia l d e N.* S.’ da Fátima, sem a qual, estou p lenam ente con ­vencido, o meu trabalho teria sido com pletam ente inútil, fíg ora sinto-me feliz por p o d er apregoar, com o m édico, a todos o s meus amigos, a valiosa p ro tecção da M ãe d e Jesu s * .

O Dr. Alexandrino Lopes Russo, de Cabeço de Vide, comunicava em 15-VI-1935 à Uoz da Fátima como ele e seu cunhado, outro médico, haviam já perdido toda a esperança de salvarem uma filhinha do primeiro. Em hora de supremo de­salento valeu-lhes o recurso a N.® S.® da Fátima, com este eloquente testemunho : «Não me envergonho d e con fessar que o que eu e meu cunhado não pudem os fazer , foi feito por Nossa Senhora da Fátima, a quem rendo as minhas homenagens*.

Oração pelos Sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 9 OU 10 DE MAIO

MATER SALVATORIS

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

MARIA com Jesu s nos b raços! E este empu­nhando a cruz da Redenção! E como que emoldu­rando a ambos dilatada coroa de espinhos, e ser­vindo de fundo a tão eloquente cenário, a mesma cruz erguida, ostentando indelèvelmente o cartão de autêntica identidade do crucificado «I. N. R. I .» É a mesma, não se confunda, é ainda a cruz do Calvário. E, para que não haja dúvida, lá estão completando o cenário, muitas recordações do drama sangrento. Tal é a gravura • que ilustra a invocação de h o je : MATER SALVATORIS, com que saudamos a Maria.

Salvador é o nome oficial de Seu Filho, esco­lhido, não por Ela, mas por Quem L h '0 deu por filho, e que Filho Lhe chama também. Chamar- -Lhe-ás Jesus, porque Ele salvará o Seu povo, per­doando-lhe os pecados. Salvador, é pois a tradução oficial do nome de Jesu s dada pelo Arcanjo, nome que era o programa da sua missão salvadora. «E não

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In a ter © afoatoris

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DIA 9 OU 10 D li MAIO 119

há salvação em nenhum outro nome» (Act. IV, 12), nos deixou já prevenidos o príncipe dos Seus após­tolos, deixando de ante-mão eliminada qualquer es­perança vã.

«Eis que vem o teu Salvador» (Is. LXII, 11), foi trazendo já na mão esse passaporte que Isaias, com luz profética, o viu vir nos longínquos horizontes do futuro. «Lá vem o teu Rei, justo e Salvador» (Zac. XI, 9) anuncia-O, depois dele, Zacarias. E é Ele mesmo que, chegada a hora se apresenta. «Nasceu-vos hoje o Salvador» (Luc. II, 11) é a al­vissareira notícia dada por um anjo aos pastores. E não resta a menor dúvida: «Ouvimo-Lo com os nossos ouvidos e sabemos que é este o verdadeiro Salvador do mundo» (Ioan. IV, 42), disseram à Sa- maritana os samaritanos.

Mafer Salvatoris; e Maria é a Mãe dEle. E J e ­sus honra-Se com essa bela filiação sempre que se chama a Si mesmo o Filho do Homem. Só o ser filho de Maria Lhe dá esse direito. Mãe do Salva­dor, dAquele que pode e quer salvar-nos! E Mãe nossa ao mesmo tem po! Que poderoso empenho ao nosso dispor! Não o tiveram assim os Filhos do Trovão!

E a cruz projectando a sua sombra bendita em toda a obra salvadora de Je s u s ! Levou conSigo, como recordação eterna, para o céu, os estigmas da crucifixão. Mas a mesma cruz deixou-a cá ficar. Uma relíquia eterna e eterna lembrança de que nos fez presente, para ser também instrumento de sal­vação. Está já marcada com o Seu nome e consa­grada para o mesmo fim.

Mas agora é uma cruz vazia, desocupada. Dei-

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120 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

xou-nos nela o Seu lugar. Está disponível. Deixo-te a minha cruz! foi a despedida ao deixar a terra.

E Maria sempre ao lad o: iuxta crucem, como testemunha e transmissora.

II

Mãe do Salvador! Que belo título! E que fe­cundo programa confiado à Sua maternal solicitude! É Mãe do Criador, mas «qui te creavit sine te, diz S. Agostinho, non te salvabit sine te». Não pediu o teu consentimento, nem exigiu a tua cooperação para te cr iar ; mas exige-a para te salvar. E é se queres; à força não salva Ele ninguém. Nem de graça! a não ser aqueles que, sem o desabrochar da razão, não tiveram voz activa para merecer o céu, como a não tiveram para o desmerecer.

Mas nem por isso foram privados da voz pas­siva, do direito que assiste a qualquer baptizado que não pecou. Essas injustiças farão parte da providência dos homens, mesquinhos e vingativos, mas não entram na economia providencial de Deus.

Para os adultos o caso é diferente. Exigem-se méritos pessoais. Se para as crianças o céu é ape­nas herança, para os adultos, já responsáveis pelos seus actos, é herança de que podem ser deserda­dos se a não merecerem. É prémio, portanto. Ora o prémio supõe méritos, supõe obras meritórias de ordem sobrenatural.

«Não te salvará sem ti», diz o santo Bispo de Hipona. Mas também nos não salvaremos sem Ele. Ora Ele não falta nunca. Portanto quem se não salva, é por culpa exclusivamente sua.

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121

A vontade salvífica de Deus é um dogma de fé. Se não nos quisesse salvar, não teria morrido por todos nós. E não só morreu, fazendo-se Ele pró­prio o preço do nosso resgate, mas deixou-nos todos os meios necessários de salvação. Deixou- -nos junto da cruz, como auxiliar da nossa salva­ção e como mãe, Sua própria Mãe.

Se não nos quisesse salvar, não nos teria con­cedido as graças que bastaram para salvar a outros, fiéis na sua cooperação, não teria esperado tão pa­cientemente até hoje pela nossa conversão, não nos teria dado a maternal intercessão de Sua própria Mãe. Podia muito bem ter cortado o fio da nossa existência na malfadada hora do pecado em que tantas vezes adormecemos.

Reflexão tremenda de todos os instantes: Po­deria eu contar com a salvação, se nesta hora fosse chamado a co n ta s? ... E tenho eu alguma garantia de que não serei chamado agora, neste dia, nesta n o ite ? ... E, se a não tenho, como me aventuro eu a passar um só minuto, a adormecer em estado de pecado ? . . .

É uma triste realidade que muitos não se que­rem salvar, pois, se quisessem verdadeiramente o fim, haviam de quèrer os meios.

São dignas de eterna ponderação as palavras dirigidas em 1662 ao Rei de Portugal pelo P.e Antó­nio Vieira no sermão sobre o conselho: «Perca-se o mundo, e não se arrisque a alma; perca-se a coroa e o cetro, e não se manche a consciência; perca-se o reino da ferra, e não se ponha em contigéncia o reino do céu».

Vieira nessa hora não era mais do que a trom-

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122 FLORILÉUIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

beta do Evangelho repetindo o oráculo do Salvador: *De que aproveita ao homem ganhar o mundo todo, se perde a sua alma ?» Vinte séculos de Redenção aguardam ainda a resposta a esta tremenda inter­rogação.

111

A empresa da própria salvação é para todos nós uma questão de vida ou de morte, mas de vida ou de morte eterna. Céu ou inferno, dilema tremendo. Tremendo e pessoal. Não é de seres estranhos que se trata, mas de cada um pessoalmente. Todo o homem que vem a este mundo tem de resolver por sua conta esse dilema. É o mesmo problema que Judas não soube resolver, e que Isabel de Ingla­terra resolveu tão mal, preferindo à própria salva­ção 40 anos de reinado. A eternidade trocada por 40 an o s! Não foi tão desatinado Esaú ao vender por um prato de lentilhas todo o seu património.

Bem diferente foi a solução dada pelos márti­res ao mesmo problem a: suplícios espantosos e superiores a toda a resistência humana; mas a sal­vação no seguro 1 Do mesmo modo os anacoretas: uma vida toda de solidão e austeridades, mas a sal­vação no seguro. Do mesmo modo os Apóstolos: uma vida consumida na evangelização do mundo; mas a salvação no seguro. As virgens renunciando aos prazeres dos sentidos, e levando ilibado para a sepultura, após uma vida de cruéis macerações, o tesoiro da virgindade; mas a salvação no seguro.

É assim que o problema da salvação se resolve.

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DIA 9 OU 10 DE MAIO 123

E foi assim que a Mãe do Salvador no-lo ensi­nou a resolver com os exemplos da sua vida. É assim que na Fátima desde a primeira hora acon­selha os homens a resolvê-lo.

A sua missão na Fátima é missão salvadora. A sua mensagem é mensagem de salvação. As suas peregrinações actuais através do mundo são pere­grinações de salvação. «Hoje entrou a salvação nesta casa», disse o Salvador quando ao hospe­dar-se em casa de Zaqueu, ouviu os seus propó­sitos de plena e superabundante reparação das suas culpas. E não será essa mesma voz que a Virgem da Fátima faz ouvir no interior dos cora­ções, depois de despertar neles os sentimentos e disposições de Zaqueu?

A passagem misteriosa do estado de conde­nação para o estado de salvação verifica-se ao som da absolvição sacramental. Que nos diga a Virgem da Fátima, ou não nos diga quantos milhares, quantos milhões de vezes essas sentenças de salvação, reser­vadas aos ouvidos de Deus e dos Seus anjos, foram pronunciadas na Cova da Iria. Quantas vezes não ressoaram elas entre as quatro táboas dos confes­sionários através dos continentes, ilhas e mares percorridos pela Imagem peregrina. Deixemos aos Anjos que A acompanham o cuidado de fazer todas essas estatísticas de salvação.

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124 FLORILÉUIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

EXEM PLO

Para a eternidade com o passa-porte em regra:

Num domingo de Outubro de 1928, enquanto na Capela do Colégio António Vieira, da Baía, no 3rasil, se fazia a no­vena de N .” S.° da Fátima, falando o orador da eficaz media­ção de Maria em ordem a alcançar a graça dos últimos sacra­mentos a moribundos im penitentes, eis que no meio do sermão vem um aluno pedir com urgência uma medalha de N .“ S.* da Fátima para levá-la a seu avô, que hospital zado na B eneficência Portuguesa e a dois passos da morte, repelia os sacramentos. A madalha é levada ao doente, no fim do sermão reza-se com os fiéis presentes uma prece pela conversão dessa alma obsti­nada, e, meia hora depois, o telefone do Hospital anunciava que o enfermo havia espontaneamente pedido os sacramentos. Pouco depois expirava como um predestinado. (Prof. L. Gon­zaga da Fonseca, ibid. p, 260).

Oração pelos Sacerdotes, como na pág. 22.

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üirgo pruòentÍ55Íma

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DIA 10 D E MAIO

VIRGO PRUDENTÍSSIMA

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Jesu s Cristo já no Evangelho nos fala de um grupo de virgens prudentes, que souberam preve­nir-se, abastecendo suficientemente as suas lâm­padas, para que se não apagassem antes da che­gada do esposo.

Entre essas virgens prudentes, Maria é a Uirgem prudentíssima, porque Ela é a Virgem das virgens e a Rainha de todas elas.

E, de facto, nunca em toda a Sua vida, no de­sempenho da mais elevada e ao mesmo tempo mais delicada e espinhosa das missões A vemos dar um passo em falso, tomar uma resolução desa­certada, ser precipitada ou irreflectida nas Suas palavras ou atitudes.

Que prudência verdadeiramente divina a do Seu silêncio durante as dolorosas incertezas de S. Jo sé , perante o mistério da Incarnação, dei­xando a Deus o cuidado de lho revelar! Falar parecia um dever que se lhe impunha, a fim de

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126 FLORILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

proteger a Sua honra. A h! mas que prudência so­bre-humana, ao entender que para tranquilizar Seu castísimo esposo alguma coisa mais se requeria do que a palavra dum mortal, sobretudo de mortal que parecia inspirar-se apenas no seu próprio inte­resse, no zelo de se defender a Si mesma. N ão! Ela sabe muito bem que nunca foi confundido quem confiou na bondade do Senhor, cuja provi­dência nada descuida.

Cála-se, portanto, até chegar a hora marcada no relógio imperscrutável da Providência, que no momento oportuno justificará a Sua confiança. ,E en­tretanto a Virgem prudentíssima pratica a heroici­dade do silêncio, que nós também tantas vezes temos ocasião de praticar, mas que nunca sabemos aproveitar.

Desde a infância foge do ambiente corrompido do século, para à sombra do Santuário respirar o ar puro do recolhimento. E, ao abrigo da prudência mais recatada e previdente coloca o Seu coração, que, entretanto, não era acessível às seduções do mundo.

Chega a hora eternamente memorável da Anun­ciação. Mensagem divina Lhe é trazida por um f ’rincipe da corte celeste. Maria perturba-se. Acos- tamada a uma vida interior e recatada, basta-Lhe a presença dum Anjo na figura.dum mortal para Lhe inspirar angelical temor. E esse temor redobra ainda ao ser-Lhe anunciada uma dignidade naturalmente incompatível com um voto tão querido ao Seu cora­ção de virgem, e de Virgem prudentíssima.

E o Seu espírito, longe de se deixar fascinar pelas fulgurações da maternidade divina, só pensa

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no dever de iluminar a Sua consciência, antes de se comprometer com uma resposta precipitada. Prudência admirável que nos ensina a nunca agir com uma consciência duvidosa.

Reconhecido o Seu interlocutor como um men­sageiro de Deus, Maria expõe-lhe com modesta sim­plicidade o Seu caso de consciência. E o celeste director espiritual dá-Lhe um esclarecimento que a tranquiliza. Em vez da dúvida prudente e do escrú­pulo importuno, é a vontade de Deus que brilha ao Seu espírito. Não há mais lugar para hesitações.

A Sua missão agora é abandonar-se cegamente à vontade divina. «Eis a escrava do Senhor; que se realizem em mim os Seus desígnios».

Sublime episódio este de N azaré! Ele só vale por um tratado inteiro, pelo mais belo tratado de prudência sobrenatural. . .

II

Não há dúvida que os encómios tributados pela Sagrada Escritura à Sabedoria visam directamente o Verbo de Deus, segunda pessoa da Augustíssima Trindade, que é a Sabedoria Eterna. Mas, depois que essa Sabedoria encarnou, Maria ficou sendo o Seu Santuário augusto, o Seu Templo vivo, e por conseguinte o trono da Sabedoria Divina, que é um dos títulos com que a Igreja desde séculos A invoca.

Ora, se a Sabedoria habita nEla como no Seu Santuário de predilecção, não é estranho que Ela ficasse sendo guarda e depositária dos Seus tesoi- ros, que deles seja feita participante na plena me­dida da Sua capacidade, e que portanto a Igreja lhe

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128 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

dê complacente o nome de Uirgem prudentíssima e outros encomiásticos predicados que os Livros san­tos tributam à Sabedoria incriada.

E não se trata de simples denominações ex­trínsecas. Acaso não deu Ela em Sua vida sobejas provas de sapientíssima prudência e de prudentís­sima sabedoria? São dotes que o mais das vezes se manifestam antes no senso da oportunidade com que se fala, e mais ainda no silêncio.

É vê-la no momento em que, ouvindo mara­vilhas acerca do Seu Filho recem-nascido, longe de juntar as Suas palavras às que a Seuá ouvidos res­soam, impõe silêncio ao Seu inexprimível amor, arquivando tudo em Seu coração (Luc. II, 19). Bem sabia Ela que ainda não soara a hora de manifestar Jesu s ao mundo.

Chegado o dia da Sua purificação legal, cumpre fiel e conscienciosamente com a prescrição moisaica, sabendo perfeitamente, na expressão de S. Ber­nardo, que tudo fora puro no parto do que é fonte de toda a pureza. Quis, sem duvida dar exemplo duma obediência que ultrapassa o dever; mas quis também deixar escondido um milagre que a pru­dência não permitia ainda revelar.

E não foi por outro motivo que, ao encontrar Jesu s no meio dos doutores da Lei e estes estupe­factos diante da Sabedoria do misterioso jovem, só Lhe fala em termos que não atraiçoem nem a di­vindade do Filho, nem a miraculosa virgindade da Mãe.

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DIA 10 DE MAIO

III

Bem triste é verificar como nós, filhos da luz, temos sido menos prudentes que os filhos do sé­culo. À avezinha, que com o seu gorgeio se ante­cipa à aurora, deu o Criador esse instinto de vigi­lância, o da previdência ao insecto laborioso que enceleira provisões durante o estio, deu à serpente a prudência que nos devia servir de exemplo.

A nós deu-nos uma inteligência perscrutadora, que pode observar, calcular, prevenir contra-tempos e preparar êxitos felizes. Dela usamos solícitos na direcção dos negócios temporais. Mas procedemos como cegos, ou como inimigos da nossa alma. quando se trata dos nossos interesses eternos.

Que bem diferente é a lição que nos ensina toda a história da Fátim a! Pode acaso deixar-nos indiferentes o epílogo com que o Salvador remata a parábola das virgens prudentes e das virgens im­previdentes? «Nescio vos», não vos conheço, foi a sorte destas e o castigo da sua imprevidência. E termina a parábola, dizendo-nos: Estai alerta, porque não sabeis o dia, nem a hora. Como quem d iz : qualquer dia ou hora da vida pode ser dia ou hora da morte. E mais concreto ainda este conselho de prudência: Vigiai e orai para não sucumbirdes à tentação. Ai do soldado que o ini­migo surpreende desarmado! Ai da alma que a tentação surpreende desprevenida e sem o vigor que infunde a oração! Será vencida no combate, se o não é mesmo sem combate.

Fátima, como que consubstanciada com o es­pírito de oração, ali deixado por Maria e sempre

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130 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

e incessantemente renovado pelos seus peregrinos, e por Ela mesma levado pelo mundo fora nas Suas peregrinações, ensina-nos a estar sempre alerta contra as surpresas traiçoeiras da morte e das ten­tações. E a Mãe previdentíssima quis justamente ter-nos a toda a hora prevenidos.

Prometendo o céu aos Seus videntes e a quan­tos sabem a tempo arripiar caminho, e mostrando o inferno povoado e repovoado de infelizes que não souberam ser previdentes, a Virgem pruden­tíssima fez-nos ver na Fátima, como suprema lição de prudência, que o drama da existência humana tem o seu desfecho; e que esse desfecho, embora com alternativa, é fatal. Não se repete. COM A ETERNIDADE SÓ SE BRINCA UMA VEZ!

E XEM PLO

Prevenção da última hora

Joaquim Pedro dos Santos, de 92 anos, residente em Ca- navieiras, Estado da Baía, de longa data vinha sofrendo de arteriosclerose, que já lhe havia atacado o cérebro.

Complicando-se dia a dia o seu estado, que dererto era já desesperado, o anelo da família deveras temente a Deus era que ele se dispusesse para morrer o melhor possível.

Mas o longevo enfermo repelia pertinazmente qualquer sugestão de sacramentos.

Entretanto o médico declarava sem rodeios que a vida do doente estava por pouco. A menor queda que desse, ser-lhe-ia logo fatal. Era o perigo de cair que a todo o custo se devia evitar.

A família confrangia-se com a ideia de o ver partir, sem ajustar contas com Deus. E convencida de que o mais seguro meio de o levar a melhores sentimentos era a intercessão de N. S . da Fátima, lança confiadamente mão desse precioso

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DIA 10 DE MAIO 131

recurso, iniciando uma novena impetratória, ao mesmo tempo que ia dando ao doente algumas gotas de água da Fátima.

E sem perder mais tempo, a família comunica o parecer do médico ao Sr. Vigário, que logo acode junto do ancião para uma suposta visita de cortesia, terminando sem outra insi­nuação por oferecer ao doente os seus serviços.

Este, que até ali repelia tenazmente a mais ligeira e re­mota alusão a sacramentos, responde ao oferecimento do Vi­gário com esta inesperada e ponderada observação: «Os seus serviços/... Ora é de/es precisam en te que eu mais n ecess ito ». E sem mais preâmbulos, ele próprio pede esponténeamente a confissão. Fé-la com excelentes disposições, recebendo em seguida com im pressionante piedade e plena lucidez de espí­rito os restantes sacramentos.

Assim interviera suave e eficazmente a Virgem da Fátima, para inspirar ao pobre extraviado a única medida de prudência que lhe urgia tomar. E estava concluída a obra da graça.

Oração pelos Sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 11 DE MAIO

VIRGO VENERANDA

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

Virgem V e n e ra n d a ! É digna de veneração qualquer personagem de insignes qualidades. São sobretudo:

1.° — A nobreza de origem. São os pergami­nhos de quem descende de antepassados que raras virtudes e feitos memoráveis imortalizaram. Não há família ilustre que se não compraza em revol­ver o passado para descobrir, a muitos séculos de distância, o seu nome nas personagens que lho legaram.

E tem-se visto famílias elevadas à categoria de nobres só pela antiguidade da sua estirpe sem ou­tros pergaminhos mais que a recomendem.

Qual não será então a veneração devida a Maria, nascida da nobilíssima dinastia de David, o monarca segundo o Coração de Deus, oriunda de Abraão em cuja descendência foram abençoadas todas as gerações da terra?

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Dircjo Beneranòa

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DIA 11 DE MAIO 133

2.° — A sua categoria no meio da sociedade humana, a sua autoridade, o prestígio e ascen­dente que exerce. E por esse lado quem mais venerável do que M aria?

Nimbada da glória que lhe advém como a Mãe do Rei da glória, o Seu trono ergue-se ao lado do de Seu Filho. Reina a Seu lado como soberana do céu e da terra. Todo o universo está submetido ao Seu ceptro de Rainha. E como o Filho, pode tam­bém Ela dizer que lhe foi dado todo o poder no céu e na terra.

3.° — As honras e considerações que lhe tribu­tam personagens mais elevadas.

E quem mais considerada e distinguida no céu e na terra do que Maria Santíssim a?

É Deus Pai que a escolhe por Filha, é Deus Filho que a escolhe por Mãe, o Espírito Santo que a escolhe por Esposa. Jesu s Cristo nas honras tri­butadas a Sua Mãe não quer ser menos filho do que Salomão, que vendo entrar sua mãe na sala do trono, para a honrar diante de toda à corte, lhe manda também erguer um trono ao lado do seu.

E às homenagens prestadas pelo Filho vêm por sua vez, como vassalos fiéis, associar-se os coros dos Anjos e com os anjos todas as legiões dos bem-aventurados; dos quais nós, pobres mor­tais, nos fazemos eco quando dizemos : «Salve, ó Rainha».

E qual a página bíblica que não lhe faz menção honrosa desde o G éneses ao Apocalipse? Logo na primeira se fala dEla, ao anunciar-se o futuro Re­dentor, cuja Mãe bendita, a mulher forte por exce­lência, esmagará a cabeça do dragão. E a essa

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promessa se vai ligar a multidão de símbolos e figuras através de toda a Escritura Sagrada, esbo­çando o virginal perfil da Mãe Imaculada, em livros inteiros até, como o da Sabedoria e o do Cântico dos Cânticos, onde a piedade da Igreja a soube descobrir. E no fim de todos vem no seu Apoca­lipse o vidente de Patmos traçar-nos em rápidas pinceladas o sinal prodigioso que lhe apareceu no c é u : uma mulher vestida de sol, calçada de lua e coroada de doze estrelas. É ou não é Maria, que ao lado de Seu Filho, centro de toda a História Sagrada, O acompanha em todas as páginas como satélite fiel e inseparável?

Quanto aos sentimentos com que por sua vez a Igreja honra a Mãe do Divino Fundador, seria necessário encher de livros o mundo,.se os qui­séssem os pormenorizadamente descrever. Os títu­los das Ladainhas Lauretanas são outros tantos dia­pasões das encomiásticas homenagens da Igreja.

4.° — São ainda as próprias virtudes, as virtu- tudes heróicas sobretudo, que fazem o homem digno de veneração. Não há como a estética da virtude para despertar entusiasmo e admiração. E assim se explica o fenómeno que não é inédito na história dos homens: reis e imperadores ajoe­lhados aos pés de varões virtuosos como S. Antão, S. Bento, S. Bernardo e S. Vicente de Paulo, pe­dindo-lhes que os abençoem e recomendem a Deus.

Maria é um oceano de graças, e essas graças Ela as fez frutificar como ninguém e desabrochar em prodígios de virtude, mais do que qualquer outra criatura, seja ela Anjo ou homem. O dia­dema dos seus méritos refulge mais esplendorosa-

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DIA I I DL MAIO 135

mente do que toda a glória dos bem-aventurados, sem excluir os mesmos anjos.

São sobretudo as virtudes heróicas que se ex­pandem em actos de benemerência para com um povo, ou para com a humanidade inteira, que con­quistam respeito e estima universal. De que hon­ras e veneração não rodeou o povo de Deus uma Judite, uma Ester, uma Débora e a heróica mãe dos M acabeus! É a lição dada até pelos pagãos que aclamavam mais um caudilho vitorioso do que o próprio imperador.

Ora Maria é a grande triunfadora de Lúcifer e de todas as potestades do inferno. A Ela, depois de Jesu s, devemos o grande benefício da libertação.

II

Que dizer ainda da Sua dignidade quase divina, coroada no céu por uma glória que só é inferior à de D eus? O que há de mais venerando na terra, diz S. Bernardo, (Serm . I in Assumpt.) é o seio virginal em que o Filho de Deus se fez homem. O que há de mais elevado no céu, depois de Deus, é o trono de Sua Mãe, cuja glória é proporcional às enchentes da graça divina, que Ela fez frutificar pela Sua fiel correspondência.

Digníssima é Ela, pois, das nossas humildes homenagens, e da nossa espontânea e entusiástica hiperdulia. Ela tem pleno direito à maior venera­ção pelo Seu nome augusto, pela excelsa majestade a que Deus a exaltou, pelo respeito e submissão que Ele próprio filialmente Lhe tributou.

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Querendo Salomão outrora prestar homenagem a sua mãe, levantando-se do seu trono real, saiu-lhe ao encontro, e, saudando-a reverentemente, fê-la sentar à sua direita no trono que lhe competia. Bem pálido reflexo é esse a nossos olhos do culto filial com que o Homem-Deus A honrou na terra, e da apoteose com que depois da Sua Assunção a glorificou no céu.

Ditosos nós, Senhora, se, associados aos coros angélicos, nos fosse dado prestar-Vos as mesmas homenagens de veneração que eles Vos tributam; e mais ainda se as pudéssemos elevar à altura das que Vos são tributadas por Vosso Filho!

E não terá a Igreja e não teremos nós motivos de sobra para honrar e venerar a Maria, para sau­darmos com o título de Virgem veneranda Aquela que o Espírito Santo cobriu com a Sua sombra, de cuja carne e sangue o Verbo tomou carne e san­gue, que concebeu e alimentou da Sua própria substância a Divindade incarnada?

O nosso pensamento perde-se ao especular sobre as Suas grandezas sobre-humanas, e a nossa língua, só emudecendo num êxtase de admiração, é que sabe exprimir a reverência, o culto que Lhe é devido.

III

Também na Fátima Ela se impõe à nossa ve­neração filial. Para ser ali venerada é que, sobre a azinheira agreste, Ela veio recomendar que A honrássemos com a reza assídua do Rosário. Para

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DIA 11 DE MAIO 137

receber o culto dos nossos corações é que Ela mandou Lhe fosse erguido um santuário de oração no recinto das Aparições. E se são as virtudes heróicas do homem, a sua bondade, as suas be- nemerências que mais conquistam a veneração pública, foi também para ser venerada dos homens que Ela se fez Consoladora dos aflitos, saúde dos enfermos, auxílio dos desprotegidos, refúgio dos pecadores, Mãe de misericórdia, esperança dos desalentados.

Em Nazaré se inclinou diante dEla o Arcanjo procIamando-A cheia de graça e bendita entre todas as mulheres. Na Cova da Iria é o céu inteiro, é a terra que se inclina a Seus pés, a terra de Santa Maria sobretudo, que dum extremo ao outro das suas fronteiras ali acode a prestar-Lhe todo o culto da sua filial devoção. Os três humildes pastori- nhos de 1917 não foram mais do que os precur­sores do perpétuo fluxo e refluxo de peregrinos que à Fátima vêm dizer-Lhe que A amam e ve­neram.

Foi também para ser venerada dos brasilei­ros, que através das dilatadas plagas do Cruzeiro, nos seus vastos sertões cor de esperança se vão erguendo altares, santuários, capelas, igrejas à Vir­gem da Fátima, que a Sua imagem peregrina per­corre a imensidade brasileira, foi para ser venerada na terra de Santa Cruz, que as suas cidades gigan­tescas porfiaram em erguer-Lhe cada uma majes­toso Santuário (o Santuário Fluminense de Riachuelo e o paulistano do Sumaré) que fossem como que duas grandes sucursais da Fátima em terras do Brasil.

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138 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

EXEM PLO

«Isto só por um grande milagre»

Em Belém do Pará (B rasil) o com erciante Sperendia Alli- verti, de nacionalidade italiana, é levado à Santa Casa da Misericórdia em estado tão alarmante, que seis médicos suces­sivamente se recusaram a tratar dele.

Com dificuldadê se conseguiu que um sétimo tomasse esse encargo, assistindo-lhe do melhor modo possível. Este mesmo, porém, logo ao segundo dia desenganou a esposa, declarando-lhe sem rebuços que o marido já não amanheceria com vida.

Ao vê-la desolada e desfeita em pranto, acode a Supe­riora a confortá-la, recomendando-lhe o pronto recurso a Nossa Senhora da Fátima.

Começa acto continuo as orações da novena, dando ao doente umas gotas de água da Cova da Iria. O resultado foi tão maravilhoso, declara o P. Jo ã o R. de Miranda, que após uma noite sumamente serena, Alliverli amanhece com «bem sensíveis melhoras» no dizer do mesmo médico que na vés- sera pronunciara a fatal sentença.

«Então a que horas morreu o doente do quarto 24? per­guntava ao enfermo o referido médico, logo ao entrar de manhã no hospital, supondo já cadáver o seu cliente. Correu logo ao quarto do doente para verificar até que ponto era verdadeira a inesperada resposta que lhe foi dada, e concluindo diante da flagrante realidade: «Isto só por um grande milagreI»

Reconheceu, de facto, o prodígio e recomendou ao enfer­meiro, entre outras coisas, que a determinada hora da tarde aplicasse ao doente, para o robustecer, um soro base açúcar.

À hora designada traz o enfermeiro o soro que na farmá­cia lhe fora dado e introdu-lo no aparelho para a aplicação prescrita. Com grande surpresa, porém, nota que o aparelho não funciona. Examina-o cuidadosamente, nenhum defeito lhe encontra, não sabendo explicar porque é que o soro não corria.

Inesperadamente aparece o médico, o qual ao ver o em­baraço do enfermeiro, vai examinar por si mesmo o aparelho. A primeira coisa, porém, que ele descobre foi o gravíssimo erro que tinha havido na farmácia, que forneceu, não o soro

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prescrito base açúcar, mas outro base sal, que seria mortífero e fatal para o doente.

Desfeito pelo médico o engano, logo o aparelho com eça a funcionar normalíssimamente. Todos reconheceram como N. S . dá Fátima paralisara tão prodigiosamente o aparelho, im­pedindo a sua cooperação num acto mortífero. Como reco­nhecim ento de tão portentosa e repetida intervenção de Nossa Senhora da Fátima, reconheceu o beneficiado que a sua celes­tial libertadora m erecia bem, por esta manifestação do Seu poder, o titulo de Uirgem U eneranda, Virgem digna de toda a veneração. E para a tornar mais venerada de todos, deixou ficar no quarto em que se dera o milagre, para perpetuar a me­mória dele, um quadro de N." S .“ da Fátima, falando dela a todos com notável entusiasmo, adquiriu no interior uma pro­priedade que denominou «de Nossa Senhora da Fátima» onde resolveu construir uma capela a Ela dedicada, sendo já o por­tão de entrada encimado por um nicho com uma imagem da mesma invocação.

Oração pelos Sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 11 DE MAIO

VIRGO PRAEDICANDA

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

1

Maria não é só a Virgem digna de toda a ve­neração. Ela é também digna de todos os encó­mios — Uirgo praedicanda, título com que A honra a Igreja e que impõe a Seus devotos o dever de A louvar, engrandecer, exaltar e tornar conhecida.

Tal é o tributo encomiástico que as grandezas de Maria por um lado e o nosso coração pelo óutro nos inspiram.

1.° — fís grandezas de Maria, eis o fundamento dos louvores que Lhe são devidos. E raiz de todas essas grandezas é, sem dúvida, a dignidade singu­lar de Mãe de D eus: Ditosa és, Bem-aventurada Uirgem Maria, e digníssima de todo o louvor, porque de Ti nasceu o Sol de Justiça, Cristo Nosso Deus, é a voz oficial da Igreja.

A essa dignidade sobre-humana, como conse­quência dela, vêm juntar-se as incomparáveis prer­rogativas e privilégios de que Deus A dotou, outros tantos fundamentos do louvor que Lhe tributam o céu e a terra.

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üitgo prcòicanòa

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DIA 11 DE MAIO 141

A par dessas grandezas, brilham os incomen­suráveis tesoiros de graças de que Deus A ador­nou e enriqueceu. Se o Arcanjo A saudou como cheia de graça, os Santos Padres chamam-Lhe oceano de graças. E o oceano bem dilatado havia de ser, para A deixar à altura duma missão que enche o tempo e a eternidade.

Mais do que as graças recebidas, a perfeitís­sima fidelidade com que lhes correspondeu e A levou a exercitar no mais alto grau todas as virtu­des é que A torna digna dos louvores de que são capazes os Anjos e os homens.

2.° — O nosso coração. Louvar a Maria, e lou- vá-La eternamente, deve ser também uma exigên­cia do nosso coração de filhos.

Coração bem formado não é insensível a’ um benefício recebido. O louvor é o tributo que mais espontâneo brota de um coração agradecido. E não sabemos nós que Maria é a dispensadora de todas as graças e que por Suas mãos têm passado quan­tas nos tem concedido a liberalidade divina?

Coração bem formado também não pode calar o objecto que o cativa. Louvar o que nos enche o coração é a mais deliciosa necessidade da alma. E não é Ela a primeira criatura que deve encher- -nos o coração?

II

1.° — Por isso mesmo A louva o próprio Deus: Tota pulchra es, és toda bela, diz Ele complacente diante da obra primorosa das Suas mãos criadoras.

2 .° — Louva-A Seu Filho, Cristo Jesu s, que ten-

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142 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

do-nos imposto o preceito de honrar pai e mãe, não nos havia de dar o mau exemplo de regatear a Sua Mãe as honras e os louvores merecidos.

3.° — Louvam-nA os Anjos, de que Ela é Rai­nha. Fale por todos Gabriel: five, cheia de graça, o Senhor é contigo, bendita és tu entre todas as mu­lheres. Encontraste graça diante do Senhor. E por sua vez o Anjo, conselheiro de S. Jo sé , diz refe- rindo-se à Esposa do Varão justo: O que nEla se operou, obra é do Espirito Santo. Não há apoteoses na terra, não há canonizações tão encomiásticas como estas referências angélicas a Maria.

4.° — Isabel por sua vez faz-se eco do panegí­rico de Gabriel, eco que não emudecerá jamais em lábios humanos, e que Maria, com ouvido profético, sente desde logo ressoar de geração em geração: Todas as gerações me chamarão bem-aventurada, flbençoadas entranhas que te deram o ser, bendito o seio que te amamentou (Luc. XI, 27), é ainda entre as mulheres de Israel a voz da Sinagoga moribunda, dirigindo-se ao Filho de Maria. Que estupendo coro de louvores que a devoção a Maria não deixa emudecer na terra!

5.° — Louva-A todo o universo criado: os mes­mos céus que proclamam a glória de Deus, o sol ao vesti-La de luz, a lua ao servir-Lhe de escabelo, as estrelas ao coroarem-Lhe a fronte. Louva-A a terra com todas as belezas da criação que A prefi­guraram e simbolizaram.

E assistindo extasiada a este universal coro encomiástico, a Igreja só sabe responder: Quibus te laudibus efferam nescio. Verdadeiramente não sei com que louvores te exaltar.

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DIA 11 DE MAIO 143

III

No meio deste concerto universal, Fátima é uma nota singularmente simpática e harmoniosa. O s inumeráveis beneficiados de Maria, sentem a imperiosa necessidade de proclamar o benefício recebido e de louvar a Celeste Benfeitora.

Ouçamos, como amostra, uma respeitável se­nhora de Lamego, que depois de narrar a cura extraordinária com que Nossa Senhora da Fátima a agraciara, assim termina a sua carta:

«Mas neste momento forçada pela mesma gra­tidão para com Nossa Senhora, quero agradecer aqui juntamente todas as graças que durante a mi­nha vida Nossa Senhora me tem concedido. Todo o bem que tenho usufruído, à sua Maternal protec­ção o devo.

Meus santos pais consagraram-me a N.° S.a da Conceição logo depois do meu baptismo. Aos 16 anos entrei para a Congregação das Filhas de Maria renovando a minha consagração. Passado um ano fiquei orfã de pai e pedi a Maria que ficasse fazendo as suas vezes.

Como Ela me guardou e protegeu sem pre! . . . Mais tarde, tendo de tomar aos ombros a pesada cruz das responsabilidades matrimoniais, foi nas mãos da Mãe do Céu que eu coloquei todo o futuro que me esperava. Como fui fe liz ! .. . Mas as ale­grias e a paz do lar por vezes são como as rosas quanto mais belas e encantadoras, mais espinhos contém. E a nós, que somos mães, no meio das grandes alegrias da maternidade, está-nos reser­vado o mais amargo dos sofrimentos! Nessas horas

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de amargura as minhas lágrimas silenciosas toca­ram sempre o coração da minha Mãe do Céu! Bendita sejais por tudo isso! Eu Vos ofereço esta pequenina narrativa das Vossas graças e protecção, brotada espontâneamente da minha alma no mo­mento de agradecer-Vos uma só graça...» (Voz de Fátima, de 13 de Junho de 1937).

Mas a esse coro encomiástico, que desde Fá­tima celebra as grandezas de Maria, era necessário que em olímpica sintonização se associasse a ígnea falange dos serafins que com asas de fogo viesse atear em todos os corações incêndios de amor, fazendo irromper de lábios incandescentes hinos apoteóticos que hão de continuar ressoando pela eternidade além.

Era necessário que as harmonias da Fátima, depois de se propagarem até aos confins do uni­verso, como ondulações que não encontram obstá­culos nas desarmonias terrenas, depois de se elevarem e r e s s o a re m nas abóbadas celestes, ficassem como polifonia humano-angélica em imor­redoira apoteose mariana ecoando eternamente no meio da criação.

Para isso se realizou o que parecia irreali­zável, instalando-se na Cova da iria o órgão mo­numental, maravilha dos nossos dias, justamente considerado o primeiro prodígio de arte no mundo das harmonias.

Os seus 10.000 tubos gigantescos são como outras tantas trombetas embocadas por espíritos angélicos que hão-de despertar apatias humanas, convidando-as a uma ressurreição de corações, e ao mesmo tempo servirão de acompanhamento ter­

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DIA 11 DE MAIO 145

reno às melodias dos serafins na alvorada da eter­nidade.

O órgão monumental da Fátima é simultanea­mente um posto emissor de harmonias terrenas e um receptor de todos os acordes celestes.

É a voz de Maria entoando na Fátima de modo que se ouça no Brasil um segundo Magnificai, que agora com esse novo acompanhamento continua enchendo os séculos e os espaços, para dizer a Deus e aos homens «Fecit mihi m agna...» operou em mim grandes maravilhas Quem é poderoso e cujo nome é santo.

EXEM PLO

Um coro de louvores à Virgem da Fátima

O Dr. Acácio da Silva Ribeiro, médico cheio de fé e com o coração a trasbordar gratidão a Nossa Senhora publicava na Uoz da Fátima de 13 de Outubro de 1927 o relato de um gra­víssimo desastre, do qual contra-todas as contingências huma­nas escapou com vida e sem deformação alguma, desastre e cura que noutra parte relatamos. Com um desassombro que muito o honra, declara como médico, que só a intervenção miraculosa de N .“ S .“ da Fátima o salvou da morte.

Por essa mesma ocasião jazia no leito da sua enfermi­dade, já desesperado dos médicos e da saúde um distinto cava­lheiro, de nome Joaquim Duarte de O liveira, residente em Lisboa, na Avenida Fontes Pereira de Melo.

Depois de ter consultado grande número de médicos e de especialistas de Portugal e do estrangeiro, depois de ter experimentado um sem número de tratamentos, sem outro resultado mais que o agravamento da doença, vira finalmente atingida por ela as próprias faculdades mentais, juntando- -se-lhe uma profunda crise de melancolia e misantropia.

Oito anos passou isolado de todo o convívio humano,

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146 FLORILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

prostrado no leito, sem poder suportar a vista nem o trato de pessoa que não fosse a paciente e dedicada esposa.

Assim se lhe ia extinguindo a vida física e moral, ten­do-se os médicos afastado por verem baldados os seus esforços.

A sua religiosidade por outro lado, os suas crenças — ele próprio o confessa — eram muito frouxas, muito frias mesmo.

Um dia, porém, cai-lhe nas mãos um número da Uoz da Fátima, em que o distinto médico acima referido faz a descrição da cura extraordinária com que a Virgem da Fátima o con­templara e tece a tão bondosa Senhora os louvores entusiás­ticos do seu coração agradecido.

Há tantos anos incompatibilizado com qualquer leitura, sente agora um irresistível impulso que o obriga a ler. Lê, sente renascer a sua fé, rasgam-se as trevas do seu espirito, e sem plena consciência do que fazia, pede a Nossa Senhora que o cure como curara aquele médico.

O despacho da sua prece foi rápido, e a cura fulminante. Sente-se outro: física, moral, mental e religiosamente.

E esta cura tão assinalada aparece logo também na Uoz da Fátima (N .° 64) que por sua vez cai nas mãos do distinto médico de Nelas já a essa hora trasladado para África.

Trava-se então entre os dois miraculados, embora desco­nhecidos, uma troca de correspondência, que éuma comovedora porfia de encómios ã Virgem da Fátima, nascida de dois cora­ções vibrando a uníssono na mesma fé.

Algumas breves passagens apenas dessa correspondência : «Foi com os olhos rasos de lágrimas, escreve de Lourenço

Marques o ilustre médico, no dia 11 de Fevereiro de 1928 (cf. Uoz da Fátima N.° 6 7 ), que li na Uoz da Fátima o brilhante relato da sua cura milagrosa ; é ainda com eles rasos de lágri­mas que lhe escrevo, relendo o mesmo relato :

Sou eu o médico a que V. Ex." se refere, fui eu que ã Virgem Nossa Senhora da Fátima fiquei devendo a vida: Como me senti feliz ao ler que, como V. Ex." diz, a leitura do meu desastre, dalguma maneira concorreu para lhe despertar a fé e convidá-lo a recorrer Àquela que tudo pode e a quem tudo obed ece! . . . Que alegria senti, E x.m° Sr. 1

Foi o principal fim que tive em vista, depois de agradecer à Virgem, tornar público o meu caso, para que de tantos infeli­zes, sofrendo horrorosamente, alguns houvesse que, lendo-o, se lembrassem de pedir também a Nossa Senhora a cura dos

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seus males. Ainda bem que V. Ex.* o leu e com isso tanto lucrou I Bendita mil vezes, bendita N.® S .* da Fátima !

A quantos doentes (é um médico que íala) eu tenho já falado em Nossa Senhora e falarei sempre que disso tenha ensejo, para os animar, chamar à fé e procurar na medida das minhas forças mostrar-me digno de tão grande milagre *.

«É mais que certo, respondia logo a 10 de Março o se­gundo agraciado, (cf. Uoz da Fátima, N.° 71), é mais que certo que o elucidativo relato que V. Ex.® fez, da forma por que mi­lagrosamente se viu curado e salvo do tremendo desastre que lhe sucedeu, e que eu li ainda doente, em muito contribuiu para que no meu espirito entrasse a um tempo a luz da razão e a luz da fé e para que assim se tornasse possível o milagre da cura com que Nossa Senhora da Fátima se dignou favore­cer-me.

A Providência, porém, nos seus insondáveis desígnios, quis fazer obra completa : ao restituir-me a saúde do corpo quis dar-me também a da alma, reacendendo nela a fé e reavivando as crenças quase perdidas ; e o instrumento de que a Provi­dência se serviu foi, na verdade, o relato que V. Ex.® fez da sua cura no jornal da Fátima.

Cumpre-me, pois, agradecer-lhe, e vivamente penhorado o faço, a contribuição indirecta que por mercê de Deus V. Ex.® trouxe à cura dos meus sofrimentos físicos e morais.

Cumpre-nos agora, como V. Ex.® bem diz, mostrarmo-nos dignos do benefício recebido, confessando altivamente as nossas crenças e esforçando-nos por afervorar as dos outros, levar a toda a parte a noticia da nossa cura, contribuir assim para es­palhar o culto de Nossa Senhora da Fátima e fazer enfim todo o bem que estiver ao nosso alcance e que nunca será de mais, como tributo do nosso reconhecimento para com a bondade de Deus...» '

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 12 DE MAIO

VIRGO POTENS

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

Uirgem poderosa! É com este novo título que hoje vimos coroar a Mãe de Deus e Rainha dos Taumaturgos. Da Sua dignidade de Mãe de Deus e da Sua consequente realeza deriva a majestade do Seu poder. Realeza sem o poder proporcio­nado seria uma autêntica ficção.

A uma realeza humana corresponde um poder humano, a uma realeza sobre-humana um poder sobre-humano, à realeza divina o poder divino que se confunde com a omnipotência pura e simples.

Ora, exercendo Maria uma realeza universal e soberana, soberano e universal tem de ser o Seu poder. E sendo essa realeza uma participação tão avantajada da soberania divina, adivinhe o lei­tor que poder Lhe há-de necessariamente corres­ponder.

Tendo-se nEla feito Homem o próprio Deus, nEla se tornou humana também a Omnipotência di­vina. E dando-nos Ela Deus feito Seu Filho, por Ele

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üirgo potens

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DIA 12 DE MAIO 149

nos deu a palavra, o exemplo, o coração, a carne e o sangue de um Deus. Por Ele nos deu a Igreja com os seus sacramentos e as suas graças. Ten­do-Lhe o Homem-Deus confiado a realeza do Seu Coração, porque havia de reservar para Si avàra- mente a omnipotência dessa realeza, porque não havia de colocá-la à disposição de Sua Mãe, feita Rainha do céu e da terra?

Todo o poder me foi dado no céu e na terra, disse com verdade o Filho de Deus, feito filho de Maria. E porque não há-de Ela, feita Mãe de Deus, poder repetiras mesmas palavras? Sem esse poder, como derramaria Ela sobre o mundo das almas os tesoiros infinitos do Coração Divino, cuja chave foi posta à Sua disposição?

II

Uirgem poderosa. «Poderoso em obras e em palavras diante de Deus e do povo (Luc. 24, 19), é na linguagem bíblica a denominação dada a quem possue o poder de taumaturgo e de profeta. Essa denominação confere-a a Sagrada Escritura não só ao Filho de Maria, mas também a Moisés, por exemplo, que Santo Estêvão pregando aos Judeus, proclamou poderoso em palavras e em obras (Act. VII, 22).

Com maior razão quem exerce sobre a natu­reza criada uma realeza soberana deve possuir um poder superior ao da mesma natureza, um poder sobrenatural. No exercício desse poder é que se mostra a virtude do taumaturgo, ou ele seja a causa

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150 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

que directamente actua sobre os elementos criados, ou seja o simples instrumento da Omnipotência Divina.

Ora Maria Santíssima é verdadeira Rainha do céu e da terra, dos seres criados portanto, sobre os quais Ela deve ter um poder real e não fictício, o poder de taumaturga.

É certo que, de si mesma, Ela não é mais do que uma simples criatura, tirada do nada como qualquer outra, e portanto não podendo nada por Si mesma. Mas Deus cujo poder A chamou à existência e cuja Sabedoria A predestinou para Sua Mãe, aproximou-A tanto de Si que colocou em Suas mãos a mesma omnipotência, para que assim Ela pudesse mostrar que é a Mãe de Deus.

O milagre é a voz de Deus, é o selo autêntico do poder divino nas mãos do taumaturgo a atestar que é Deus quem pessoalmente opera e actua na natureza por meio dele. El-Rei Assuero não hesi­tou em colocar no dedo de Aman o anel real que havia de selar com a autoridade do rei tudo o que a arbitrariedade do seu ministro decidisse. E Deus havia de negar a Sua Mãe a chancela da autori­dade divina, necessária para rubricar as Suas obras, necessária para glorificar a Mãe juntamente com o F ilho?

O s milagres são as credenciais autênticas de qualquer enviado de Deus. Maria descendo à Fá­tima necessitava de apresentar essas credenciais. Sem elas o mundo nunca chegaria a saber se era verdadeiramente Ela, ou se era qualquer fantas­magoria criada pela imaginação de pseudo-videntes.

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DIA 12 1)1 MAIO

III

Quem encontrará uma mulher forte? pergunta Salomão (Prov. 31, 10). Encontrámo-la nós, podem responder a Salomão os devotos de Maria. Fomos encontrá-la na Fátima. E essa mulher forte é a Uirgem poderosa que ali veio mostrar a Sua força, o Seu poder superior às energias da natureza.

Onde encontrará alguém virtude que supere o dinamismo da criação? perguntava por sua vez o naturalismo do nosso século, negador perverso do sobrenatural. Encontrámo-la nós, viram-na os nos­sos olhos, apalparam-na as nossas m ãos,na Cova da Iria. O sobrenatural é uma realidade palpável, dizem-no e provam-no os prodígios da Uirgem po­derosa, de Nossa Senhora da Fátima, que sobre a natureza exerce o Seu poder soberano.

Pede ao Senhor um sinai onde quiseres, ou nas profundidades da terra, ou nas alturas do céu, diz Deus a Achaz, oferecendo-lhe uma prova sobrena­tural da veracidade de Isaías que profetizava a libertação de Jerusalém . E não querendo Achaz pedir o sinal que lhe era oferecido, volta-se o Se ­nhor para a casa de David e aponta-lhe para o grande prodígio, que será o mais convincente sinal da veracidade divina: Uma Uirgem conceberá e dará à luz um filho, que se há-de chamar Deus con­nosco (Is. VII, 11, 14).

Pois b em ; à incredulidade dos nossos dias veio essa Virgem, a Mãe do Divino Emmanuel, mostrar o Seu poder e fazer-lhe apalpar o sobrenatural. Deu-lhe esse sinal nas alturas do céu, com os pro­digiosos fenómenos solares e meteorológicos que

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tantos milhares de espectadores puderam presen­ciar; e deu-lho também nas profundidades da terra, fazendo irromper das suas entranhas o so­brenatural, fazendo brotar dum sítio árido, onde nunca ninguém descobrira água, uma fonte mara­vilhosa que ficou sendo uma fonte de maravilhas, para levar a qualquer parte do mundo, em nome de Maria, da Uirgem poderosa, a saúde a tantos enfermos. E desde então os cegos vêem, os coxos andam, os surdos ouvem, os enfermos saram, almas espiritualmente mortas ressuscitam à vida da graça, os pobres são evangelizados.

E a incredulidade é confundida e vencida nos seus próprios redutos, o sobrenatural apalpa-se, e o poder de Maria é proclamado por todo o mundo.

EXEM PLO

Nuvens que proclamam o poder de Maria

Artur Sam paio, pertencente a uma distinta família da Baía e antigo aluno do Colégio António Vieira, atribula à benéfica intervenção de Nossa Senhora da Fótima a cura duma doença pulmonar.

Em sinal de reconhecimento a família resolve restaurar uma capelinha que possuía numa fazenda sertaneja de Nazaré, e dedicá-la a Nossa Senhora da Fátima.

Para a sua inauguração foi adquirida na Baía uma estátua da Senhora e mandada vir pelo caminho de ferro para uma es­tação próxima da fazenda, onde seria organizado o cortejo que processionalmente a conduzisse para a capelinha restaurada.

Enquanto o cortejo ali se organizava, um protestante que se encontrava entre a multidão diz em tom sarcásHco para o chefe da estação e para outros que o rodeavam : «Se é verdade que a Santa é assim tão poderosa , que Ela nos m ande a chuva que

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DIA 12 DE MAIO 153

tanta falta está fazen do». — Era de facto ocasiáo de grande seca ali, como em geral o era no sertão.

Assim falava o infeliz para alardear a sua descrença nos «santos d e pau e d e pedra*, como ele dizia. — Mal imaginava, porém, que a insolência das suas palavras ia ter a resposta ade­quada que o deixaria para sempre confundido.

Efectivamente, finda a procissão, ainda os fiéis estavam rezando as suas orações diante da imagem da Mãe Celeste, já colocada no seu novo trono, quando o céu com eça a toldar-se de nuvens prenunciadores de farta chuva, e ainda não tinham chegado a casa os últimos devotos, quando os alcançou a chuva torrencial que por bom espaço de tempo desabou sobre aquela

Este desenlace por todos foi interpretado como um sinal do poder de Maria e um solene protesto do céu contra a blas­fêmia do protestante.

A «Santa» mostrou-lhe que realm ente era poderosa e mais do que ele julgava.

Excelente ocasiáo para ele abrir os olhos e ver a sem ra­zão da sua incredulidade.

Mas tal não aconteceu para seu mal. E ao ver-se confun­dido, valeu-se da única saída airosa para o seu orgulho, mas bem pouco elegante para um homem de carácter: negou que tivesse proferido o seu blasfemo desafio (1).

Que a Virgem Poderosa que é também Mãe Bondosa, lhe aceite a negação cobarde como uma retratação convicta.

Oração pelos sacerdotes, com o na pág. 22.

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DIA 12 DE MAIO

VIRGO CLEM ENS

Oração preparatória, como na pàg. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

A clemência, fina flor da caridade, é o bálsamo que suaviza os rigores da justiça. Dela nasce a compaixão e o perdão.

É a virtude que dispõe interiormente a alma a querer e a fazer bem aos outros. É ela que inspira pensamentos de benevolência, sentimentos de con­descendência e de propiciação, que dita palavras de comiseração e que move a actos de dedicação e de indulgência.

1 .°— E a virtude da verdadeira realeza, porque ela é inseparável da grandeza e do poder. Poder e grandeza sem clem ência? Seria orgulho, seria prepotência, seria despotismo, mas não verdadeira realeza.

Os corações verdadeiramente grandes e nobres experimentam a irresistível necessidade de se incli­narem para os pequenos, para os pobres e humil­des, a fim de os levantarem, consolarem e abençoa­rem. O egoismo, pelo contrário, a insensibilidade,

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Ülrgo Clemens

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DIA 12 DE MAIO 155

a rígida intransigência, são o apanágio de corações pequenos, mesquinhos, vulgares, são a arma dos espíritos acanhados, que tudo avocam a si e nada têm para dar.

Por isso é que Deus, sendo a infinita Grandeza, o Poder infinito, é também a infinita Clemência. DEle, proclama a Igreja, é próprio compadecer-se sempre e perdoar. A Sua Divina Essência, permi­ta-se-nos a expressão, é feita toda Ela de clemên­cia e de misericórdia. A malícia das criaturas é que Lhe mete nas mãos a vara da justiça. A ini­quidade do mundo é que O obriga a castigar. Assim é o Criador, assim tem de ser entre as criaturas a Sua mais perfeita imagem e semelhança.

II

2.° — A clemência é também a virtude das mães, uma das mais belas manifestações do amor materno.

Mas a clemência das mães não é necessària- mente fraqueza, indulgência cega, compaixão irra­cional que não tem coragem de riprimir abusos. É antes clarividência, intuição de coração, essa in­tuição instintiva que parece um condão das mães. Onde outros olhos só vêem males sem remédio, onde não chegam a descobrir a esperança duma emenda, o olhar materno consegue descortinar ainda traços de bons sentimentos, indícios persis­tentes dum bom carácter, embora subjugado pelos piores excessos duma degradação moral.

A mãe, ainda quando parece perdida toda a esperança, não desespera nunca. E acontece mui-

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156 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

tas vezes que o poder da sua ternura, da sua bon­dade compassiva, da doçura de coração, chega a avivar sentimentos que pareciam extintos, a reani­mar um coração que parecia morto, a despertar uma consciência que o crime havia petrificado. Esta ressurreição moral, que só as mães conse­guem operar, dá-se quando no coração materno, juntamente com um resto de estima pelo filho que mais ninguém já estimava, se abriga ainda a confiança no seu arrependimento, nas suas promessas de re­generação, confiança que só morre na hora em que o coração materno deixe de ser materno.

D esse modo o infeliz culpado, não sendo já a seus próprios olhos tão indigno de perdão como lho fazia crer o ambiente de indiferença e de im­placável desconfiança que se habituara a respirar, acaba por se convencer de que ainda é susceptível de reabilitação ao contacto com o coração de sua mãe. E nesse novo ambiente de clemência materna e de confiança filial, a regeneração não tardará a ser um facto. O segredo dessa transformação é o ascendente materno. E segredo desse ascendente é a fibra de clemência de que Deus formou o cora­ção das mães.

III

Se a clemência é a virtude da realeza e a vir­tude da maternidade, é por isso mesmo a virtude de Maria que é a Rainha ideal, que é o ideal das mães. Uirgem clemente, Mãe clementíssima, são denominações oficiais que a Igreja Lhe consagrou, e com a Igreja toda a piedade filial do cristianismo.

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DIA 12 DE MAIO 157

No seu coração materno encontram eco todas as misérias físicas e morais, sobre as quais se exerce a clemência e a misericórdia. A oração composta por S. Bernardo, Lembrai-vos, ó piissima Uirgem Maria,., é a mais feliz expressão dessa confiança em Maria, de que são depositários os corações dos miseráveis.

Por isso Maria é a mais perfeita personificação da clemência criada. Desde a Sua vida mortal, ilu­minada pela revelação divina, e através da Sua vida gloriosa, Ela contempla todas as misérias e infortúnios da humanidade. E ao ver tanta infelici­dade, ao sentir o contraste entre a elevação a que tão inefáveis privilégios A guindaram a Ela e as degradações a que o pecado fez descer os seus irmãos em Adão, comoveram-se-Lhe todas as fibras do Seu sensibilíssimo Coração. E inclinou-se sobre as misérias e infortúnios humanos, compadeceu-se das nossas tristezas e começou a fazer-nos sentir a virtude da Sua maternal clemência. E a humani­dade compreendeu que Lhe devia chamar a Uirgem Clemente, a Mãe clementíssima.

Bendita seja Ela que veio estabelecer entre nós o reino da clemência e erguer-lhe o trono na Fátima. Bem o sentiu desde 1917 todo o povo português para em hinos de entusiasmo filial começar logo a dizer- -L h e: Tu vieste, ó Mãe clemente, visitar a lusa gente. E de facto Ela foi, no meio de nós, a aparição viva da Clemência divina tornada sensível em Sua Mãe. Que o digam os centenares, os milhares de infor­tunados que tiveram a ventura de a experimentar. Quantas almas por Ela reintegradas no bem-estar duma vida virtuosa e cristã !

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158 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

A clemência harmoniza-se tão bem com as exi­gências do coração humano, que os pagãos chega­ram a personificá-la em estátuas e a divinizá-la, levantando-lhe altares. Os cristãos não têm neces­sidade dessas ficções porque sentem em Maria pal­pitar a clemência de Deus. E para nós, que tão de perto sentimos a sua presença na Fátima, Ela é a Clemência divina como que incarnada num cora­ção de Mãe.

EXEM PLO

«O caso . . . é simplesmente espantoso»

Dia 13 de Maio de 1944. É tanta a afluência de doentes na Cova da Iria, que, contra o costume, foi necessário recorrer a dois dos Prelados ali presentes para lhes darem simultànea- mente a Bênção do Santíssimo. O Sr. Bispo de Limira segue pela ala da direita e o de Gurza pela esquerda.

Enquanto os serviços da Emissora Nacional radiofundiam o relato das comoventes cerimónias, depois de o Sr. Bispo de Gurza ter dado a Bênção a uma enferma vinda da Guarda, ouve-se exclamar em alvoroço «m ilagre! mi/agreí» O que é que se passava neste momento?

D. Margarida R ebelo, de pouco mais de 20 anos, da Guarda, havia quatro anos que sofria de graves lesões na espinha dorsal, em consequência de haver desastradamente caldo duma janela abaixo.

Atacada do mal de Poff esteve quinze meses internada no Hospital da Guarda, confiada à vigilância médica do seu D irec­tor clínico, Dr. António Gomes Saraiva.

O diagnóstico do distinto clínico foi plenamente confir­mado pela radiografia. E à tuberculose na espinha vem jun- tar-se a paralisia dos intestinos.

A medicina havia-se mostrado durante quatro anos impo­tente para debelar o mal. Mas a enferma sabe muito bem que acima da medicina há Alguém de quem se pode esperar a saúde

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DIA 12 DE MAIO 159

dos enfermos, porque a Saúde dos enfermos é MARIA, com o consultório na Fátima aberto a toda a hora. E à busca dela, para a Fátima se encaminha.

Chega no dia 12 ao fim da tarde, mais morta do que viva. É logo examinada por cinco médicos presentes e pelo Director do Hospital-Albergue, Dr. Jo s é Pereira Gens, os quais não tive­ram mais do que confirmar o diagnóstico do Dr. António G o­mes Saraiva.

Queixava-se de forte dorna espinha. E à mais ligeira pal­pação reagia, contorcendo-se torturada. Manifestava, contudo, grande confiança em Nossa Senhora da Fátima. «Ela fará, di­zia, Ela fará por mercê de Deus, o que os senhores médicos nunca poderiam fazer».

Chega o momento solene. A bênção do Santíssimo desce sobre ela. Automàticamente ergue-se transfigurada. Sai da maca a pé, dando graças ao Altíssimo. O s médicos examinam -na atentamente. Estava curada e bem curada.

O caso é acaloradamente discutido nas esferas clínicas, discussão de que se faz eco a imprensa. A miraculada volta no mês seguinte à Fátima em peregrinação de acção de graças.

E quando em Ju lh o se reúne na Cova da Iria o Congresso Mariológico hispano-lusitano. Monsenhor Manuel Mendes do Carmo, professor do Sem inário da Guardo, para illustrar a sua tese, faz da cura de D. Margarida Rebelo uma sensacional e interessantíssima exposição com farta documentação médica, mostrando à luz da ciência o carácter miraculoso da cura, cujo processo canónico se instaura logo na Cúria diocesana da Guarda.

E entre as vozes da ciência que se agita e discute, sobres­sai o veredictum autorizado do ilustre clínico Doutor Pimentei, da Abrigada (Alemquer), no próprio dia da cura a um enviado especial do «Jornal de Notícias» do Porto: «0 caso de D. Mar­garida d e Je su s R ebelo é sim plesm ente espantoso, não podendo exp licar-se por m eios naturais». (Cf. V. F. n.° 261).

Oração pelos Sacerdotes, como na pag. 22.

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DIA 13 DE MAIO

V1RGO FID ELIS

Oração preparatória, como na pá$. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

A fidelidade é uma virtude que diz escrupulosa exactidão e pontualidade. É a lealdade reduzida à prática. É sobretudo a harmonta entre o que cre­mos e o que praticamos. É o espírito de cons­cienciosa correspondência às inspirações e moções da graça. É enfim a plena submissão a tudo o que é dever.

í.° — Fidelidade às nossas crenças. Nada há mais indigno do cristão que se preza de o ser, mais indigno de qualquer ser racional, do que des­mentir com as obras a fé que professa. E é tão fecunda em nossos dias a geração dos que, no di­zer do P.c António Vieira, são católicos do Credo e hèrejes dos Mandamentos.

É a mesma incoerência arvorada em norma de vida. Cremos uma coisa e fazemos outra. Professamos uma verdade de fé e renegamo-la com a prática da nossa vida. Cremos que Deus é o Supremo Legislador, com a plenitude da autori-

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dade para nos impor a Sua Vontade; e com as nossas prevaricações desprezamos essa autoridade divina, calcamos aos pés os seus preceitos, pospo­mos a Sua Vontade à nossa. Reconhecem os teori­camente a autoridade da Igreja, de quem nos pro­clamamos filhos subm issos; e pràticamente com as nossas covardes omissões, com as transgressões sobretudo dos seus preceitos, fazemo-nos eco da rebelião de Lúcifer: Non serviam, não te servirei, não reconheço o teu domínio sobre a minha von­tade. Numa palavra, não somos fiéis aos nossos princípios, à fé que professamos.

II

2.° — Fidelidade à graça. Vivemos sob o cons­tante influxo de graças actuais, que, não devendo confundir-se com a graça santificante, nem por isso deixam de ser graças santificadoras, mas que só o são de um modo efectivo na medida em que cooperarmos com elas, na medida da fidelidade com que livremente lhes correspondermos.

Essas graças actuais são a voz de Deus que nos fala ao entendimento pelas suas inspirações salutares, que nos fala à vontade pelas moções do Seu Espírito Santificador. São intermitentes solici­tações que tendem a desviar-nos do mal, a afas­tar-nos do pecado e das suas ocasiões que nos convidam a abraçar o bem na hora em que ele se nos apresenta, a praticar esta ou aquela virtude nas ocasiões que se nos proporcionam.

A fidelidade à graça é o consentimento da

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

nossa vontade, é o sim livremente dado às divinas solicitações, e sem o qual a mesma graça ficará eternamente estéril. Esta cooperação harmoniosa da nossa liberdade com a graça actual é a que atrairá novas e sempre renovadas graças para ulte­riores ascensões na esfera da santidade, graças que se irão tornando tanto mais abundantes quanto mais generosamente lhes formos correspondendo. A resposta de Deus à nossa generosidade é a Sua generosidade redobrada e centuplicada.

Pelo contrário, a infidelidade a estes auxílios sobrenaturais será ocasião de nos serem subtraí­das graças mais copiosas que nos eram destinadas, e cuja falta se fará sentir a seu tempo.

3.° — Fidelidade ao dever. Como servos de Deus e súbditos da lei todos nós temos obrigações que nos prendem e obrigações com que livre e espon­taneamente nos prendemos, ao fazermos uma pro­messa, ao tomarmos um compromisso, ao assumir­mos um cargo revestido de circunstâncias onerosas.

A fidelidade exige que desempenhemos pon­tual e consciensiosamente as obrigações que nos foram impostas, ou que nós livremente assumimos.

O respeito humano, as solicitações ou as amea­ças, a sedução do oiro ou da carne, o incómodo e o sacrifício que a fidelidade muitas vezes exige, são os obstáculos que mais ordinariamente encontra­mos no caminho do dever, obstáculos que tantas vontades fracas fazem retroceder, que tantos espíri­tos pusilânimes arrastam à capitulação.

Para sermos fiéis ao dever necessitamos de nos formar um carácter inflexível, de dar à nossa alma essa têmpera de aço que fez os mártires e os

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santos. É a Virgem fiel que com o Seu exemplo nos dará essa têmpera de carácter e nos ensinará o segredo da fidelidade ao dever.

III

Uirgem fiel. — Maria realizou como ninguém o ideal duma fidelidade plena e consumada.

1.° — Aos que se envergonham de Deus e de Jesu s Cristo ensina Ela o desassombro com que, nas mais difíceis conjunturas, as obras e, se for necessário, o sangue também, hão-de confirmar e selar a fé que professam.

Quando Seu Filho é alvo de todos os despre- zos e impropérios, quando todo um mundo de ini­migos O insulta com ódio de morte e quer beber- -Lhe o sangue, não há poder humano que A arranque do Seu lado, feita companheira inseparável das suas humilhações, sem que a paralise o temor de ser re­conhecida como mãe de um condenado à morte que expira entre dois facínoras.

2.° — Na fidelidade à graça no-La apresenta Deus como perfeito e acabado modelo. O apogeu da santidade que Ela, como Rainha de todos os Santos, tão galhardamente atingiu, nunca teria sido conquistado, se a Sua fidelidade às inspirações e moções da graça divina tivesse algum dia sofrido o mais ligeiro desfalecimento.

O conselho que Ela deu um dia aos serventes do banquete de Canaá — Fazei o que Ele vos disser — foi a expressão exactíssima do programa de toda a Sua vida: fazer tudo o que a graça lhe inspirava.

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E, por essa incessante fidelidade ao beneplácito divino, progrediu sempre de ascensão em ascensão até às últimas culminâncias da santidade, a que uma pura criatura se pode elevar.

3.° — A fidelidade ao dever teve a mais ade­quada expressão naquele fiat que um dia lhe desa­brochou nos lábios para nunca mais se desmentir.

É vê-La em Nazaré, e de Nazaré trasladando-se a Belém através de mil incómodos, onde A chama o dever imposto pelo imperador romano. É vê-La junto ao berço de Seu Filho, onde A prendem os deveres da maternidade. É vê-La no Templo, onde A chama o duplo dever da Lei de M oisés: o dever da apresentação do Filho e o da purificação legal da M ãe ; lei a que não estava sujeita, mas da qual não sabia eximir-se. É vê-La a caminho do Egipto e anos depois a caminho da pátria, uma e outra vez para onde A encaminhava a voz do Anjo, por mais dolorosas que fossem essas deslocações. É vê-La onde quer que A chamam os deveres de Mãe ou de Esposa; no Calvário sobretudo, junto, bem junto à cruz, onde A prende o amor e com o amor a Sua missão de Corredentora. É vê-La ainda em Jeru ­salém, é vê-La no Cenáculo debruçada sobre o berço da Igreja nascente, onde A prendem os cuida­dos de Mãe do Corpo místico de Seu Filho.

E à Fátima que outra coisa veio fazer senão ensinar-nos a prática duma fiel correspondência ao dever, ao dever da oração sobretudo? E o Seu exemplo não foi já a prática dessa fidelidade, com­parecendo com celestial pontualidade junto dos seus videntes, no local, no dia e hora aprázados, e sem que a prisão das crianças A dispensasse da

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entrevista prometida para o mês de Agosto, e ope­rando no mês de Outubro o milagre prometido?

Fátim a! escola admirável de fidelidade, em que a Mestra é Maria. Que Mestra sublime, que sub­lime exemplar de fidelidade ao dever!

EXEM PLO

Ditosa afilhada que tal madrinha teve

Era em Maio de 1931. Dentro de algum tempo iria ser mãe uma virtuosa senhora, da Mata do Choupal de Coimbra, gravemente afectada por uma doença de coração. A sentença de vários médicos era clara e term inante: o parto seria para ela uma certidão de óbito. No meio de atrozes sofrimentos, o marido leva-a a Coimbra, apresenta-a a um médico, que receita qualquer coisa e a manda voltar dai a oito dias para ver o efeito do medicamento.

Voltam. Feito novo exame, a doente é aconselhada a entrar no Hospital para aí lhe ser provocado o aborto. O clí­nico, entretanto, vendo a repugnância dos cônjuges, entrega ao marido uma carta de recomendação para um colega especia­lista em partos. Este, depois de examinar a doente, perfilha a opinião do primeiro e devolve-lhe a doente com uma carta em que expõe o seu modo de ver.

O clínico, afoitado já pela concordância do colega, insiste na necessidade urgente de se interromper a gestação.

Ouçamos agora as palavras textuais com que o marido da doente, em carta dirigida à Uoz da Fátima, expõe a sua atitude para com o médico e a decisão que resolve tomar.

«fí isto respondi e u : pois s e é essa a opinião de U. E x * e d e seu Ex.mo Colega, não é a minha. Não consinto em tal. Matar um in ocente?! N unca!

Ralhou comigo, chem ando-m e assassino d e minha mulher, etc. (e não s e lem brando que queria com eter o mesm o crim e num inocente).

Uendo, pois, que a medicina só salvaria a minha mulher a

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

troco dum crim e, recusei-a e sa í para me d ir ig ir ... a quem? — A C onsoladora d os aflitos, à Uirgem da Fátima.

D esde en tão a minha vida, em todas as horas que as minhas o cu pações m e deixavam livres, p ode d izer-se que tem sido uma p re c e contínua. Por esta intenção orava continuamente e comun­gava todas as vezes qu e m e era possível...

Pus d e parte todos o s m edicam entos para sim plesm ente dar à doente, com o rem édio, água do Santuário da Fátima.

f íp e sar da opinião dos m édicos d e que ela morreria fatal­m ente no parto, a minha fé e esp eran ça eram tão grandes, que por diversas vezes e a diversas p esso as afirm ei com o certo que minha mulher havia d e se r feliz.

No dia 18 d e Ja n e ir o d este ano (.1932) acabei uma Novena a Nossa Senhora da Fátim a. . . e no dia 19 d e m adrugada. . . um parto felicíssim o dava-me mais uma filhinha, que, oito dias depois, era purificada do p ecad o original na igreja da minha freguesia — S. Martinho do Bispo — sen do madrinha a Uirgem Nossa Senhora da Fátima, r ec eb en d o o nom e d e sua madrinha, Maria do Rosário da Fátim a».

Exemplo heróico de fidelidade ao dever a desta mãe dis­posta a morrer no seu posto, antés do que consentir no exter­mínio do filhinho débil e indefeso.

E não menos admirável é a atitude desse marido exemplar que a tão negro crime prefere sofrer as amarguras da viuvez.

Tão nobres sentimentos não admira que o levem a rema­tar a sua carta com esta comovedora consagração :

«Uirgem S o b era n a : o meu recon hecim en to será etern o, e não tendo mais que Uos o ferec er , o fereço-U os o meu coração d e filho agradecido, o s c o ra çõ es d e minha mulher e d e meus filhos, suplicando-Uos o s abrigueis so b o Uosso manto e Uos digneis aben çoar a Uossa inocente afilhada. — Joaquim Lopes David ».

E intervem nesta carta o próprio Pároco a garantir a vera­cidade do facto com estas palavras: Confirmo a v eracidade do que fica dito. S. Martinho do Bispo, 24 d e fíb r il d e 1932. O Prior Monsenhor Jo s é Rodrigues Madeira».

Maria do Rosário da Fátima 1 Condenada à morte antes de saber o que é vida, teve a sorte de ser filha de quem pre­feria morrer antes que matar, teve Madrinha que, antes de o ser, a livrou das garras da moríe.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 13 DE MAIO

SPECULUM JU STITIAE

Oração preparatória, como na pã$. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

O homem é eternamente aprendiz. Criança imita o pai, discípulo retrata o mestre, sem nunca deixar de ser discípulo nem criança. Nunca chega a emancipar-se do meio em que vive e que nele influe para o formar ou deformar.

E a razão desta influência, que sobre nós exerce o meio, está no finito e no infinito que se encontram em n ó s: o finito que reclama o seu aperfeiçoamento, o infinito que nos convida a subir e subir sempre — sursum corda.

É assim que o homem se faz cópia de tudo o que v ê : o pobre caricatura o rico, a sociedade imita os seus chefes. Se o ideal dum povo é levan­tado, também a sua vida se eleva; se o ideal desce, outro tanto descem cs costumes. Se não veja-se a diferença entre as sociedades cristãs e as socie­dades pagãs. A diferença de ideal explica todas as outras diferenças.

E já que o homem por força instintiva da sua psicologia apenas sabe ser cópia, ao menos que

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

não se contente com qualquer exemplar. Busque um ideal digno de si e aspire a retratá-lo quanto ele puder ser retratado — inspice et fac secundum exemplar (Ex. XXV, 40).

Esse ideal temo-lo tido diante dos olhos neste mês bendito, não só para ser objecto das nossas homenagens especulativas, mas sobretudo para que, conhecendo as suas perfeições, o assimilemos pelo amor e a ele nos assemelhemos pela imi­tação.

Não basta a homenagem na nossa admiração, é necessário que tanto esplendor se faça vida, que tanta beleza se faça modelo, e modelo com força de lei.

A existência deste ideal sobre-humano, os exemplos de que Maria é modelo, constituem uma epopeia que desabrocha antes do desabrochar dos tempos, que com a Sua expectação enche tantas dezenas de séculos que Lhe precederam o nas­cimento. A Sua carreira terrena teve o mais apa­gado ponto de partida, mas o apogeu é atingido com o Seu Fiat que rivaliza em eficácia com o Fiat da criação — se é que o não supera, — associando-A como auxiliar e conselheira às três Divinas Pes­soas no maior empreendimento da Sua Sabedoria.

11

Maria é para todos nós esse ideal, porque Ela é o verdadeiro Espelho de Justiça, tomando a pa­lavra justiça na plenitude do seu significado bíblico, que diz santidade, que engloba todo o complexo de virtudes.

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Só nos resta ver os atractivos desse ideal, que devem ser outros tantos predicados de qualquer ideal ou modelo perfeito, sem os quais ele não che­garia a cativar um coração generoso, nem a atraí-lo à imitação:

1.° — Tem de ser sublime, elevado. Quanto mais alto visarmos, mais s u b ire m o s — embora fiquemos sempre àquem, — mais sentiremos o im­pulso ou atracção do sursum corda. Fitar os olhos nas alturas, não é certamente atingi-las, mas é co­meçar a su bir; e desde que se começa, a contem­plação do ideal já não deixa interromper a ascensão, porque nem ele suspende a sua atracção.

Pois bem, Maria e esse ideal sublime. Acima dEla só a própria Divindade e mais ninguém. O es­pírito que A anima no instante em que entoa o Seu Magnificai é o que arranca à Sua humildade esta confissão sublim e: «Operou em mim grandes mara­vilhas flquele que é poderoso e cujo nome é santo» (Luc. I, 49). E, de facto, tão alto A elevou Deus que teria esgotado a própria Omnipotência e Sabe­doria, se elas não fossem infinitas. Tão alto que somos tentados a julgar fora do alcance da nossa imitação o modelo que nos é apontado.

2.° — Tem de ser acessível o verdadeiro ideal. De que nos serviria a sua sublimidade, se estivesse fora do nosso alcance? Só para nos desalentar. De que nos vale girarem perdidos nas profundi­dades dos espaços astros incomensuráveis, verda­deiros mundos de luz, se nos não iluminam, se os não conhecem os?

«Sêde per feitos como o vosso Pai celesLial é per­feito (Mat. V, 48). É o ideal dos ideais que se en-

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trevê, sem dúvida. Mas vêde se vos aproximais, se conseguis suprimir a distância infinita que vos separa dEle.

É verdade que Ele, para se aproximar de nós, para estimular o nosso esforço, se substituiu por Seu Filho feito Homem. Entretanto através das debilidades da infância, através da agonia do Horto e de todas as fraquezas da Sua Humanidade, entre­vemos sempre, embora eclipsada, a Divindade que O torna inimitável.

Mas Ele apresentou-se nos braços de uma Vir­gem. Ela é toda bela, é certo, paira acima, muito acima de toda a beleza criada. E entretanto essa beleza extasiante é uma perfeição criada. Por na­tureza somos feitos da mesma carne e do mesmo sangue. Só a graça é que abriu o abismo que a separa de nós. Mas esse abismo não é infinito. Pode-se transpor. E, tra n s p o s to ele, encontra­mo-nos em face dum ideal, tão levantado quanto se quiser, mas sempre finito. E por isso mesmo aces­sível.

III

3.° — O verdadeiro ideal tem de se ser cati­vante, de despertar simpatia em corações bem for­mados. Se brilhasse apenas como um meteoro, com uma luminosidade fria e indiferente, limitar- -nos-iamos a admirá-lo.

Maria, o verdadeiro Espelho de Justiça, não é desses ideais. É o ideal cativante, porque é o ideal de Mãe, cujo coração despede os raios calorosos da sua simpatia que prendem e atraem e cativam

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e despertam aspirações generosas de imitação nos corações em que incidem. A simpatia é a unisso- nância dos corações. E que corações mais dis­postos a se unirem, ou mais naturalmente unidos do que o da mãe com o dos filhos? E que cora­ções mais bem talhados para se assem elharem ? Basta ser mãe para ser cativante.

E Maria é essa Mãe. Os primeiros passos de aproximação dá-os Ela. Para que veio Ela à Fátima senão para se mostrar mais acessível, mais cati­vante, sem se tornar menos sublime?

Na Cova da Iria Ela quis ser connosco o que é Seu Filho: Ele é o Divino Emanuel, o Deus com os homens. Ela a Virgem connosco, a Mãe com os seus.

E dali, do planalto da Fátima, é modelo mais ao nosso alcance, mais perto de nós, o Espelho de Justiça em que mais de perto podemos retratar-nos. O espelho serve para nos mostrar os próprios de­feitos, que de outro modo se não enxergariam. Esse serviço nos presta Maria, mostrando-nos cla­ramente em Si, como em nosso modelo, o que nos falta de virtude para aperfeiçoarmos a nossa vida, para nos parecermos com Ela. A Sua vida, os Seus exemplos mostram-nos a uma luz vivíssima, pela força de contraste, o que nós devemos ser.

E colocado em Fátima, bem perto de nós, esse espelho ensina-nos o segredo de corrigirmos as nossas imperfeições à luz das Suas perfeições, as nossas manchas à luz da Sua pureza, as nossas irritações e nervosismos à luz da Sua paciência, as nossas maldades à luz da Sua bondade, os nossos

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172 FLORILÊQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

defeitos, enfim, e todos os nossos vícios e misérias morais à luz das Suas esplendorosas virtudes.

Desse modo aprenderemos também a ser, como Ela, espelhos de virtudes, com a nossa vida exemplar, com os nossos bons exemplos, à luz dos quais possam todos aprender o que devem ser. De imitadores passaremos a ser também modelos, à imagem e semelhança de Maria, podendo por nossa vez dizer: séde meus imitadores como eu sou imitador de Maria. O bom imitador fica modelo, assim como o bom e aproveitado discípulo fica mestre.

Deus criou-nos à Sua imagem e semelhança. Quem dá bom exemplo imita o carácter mais sim­pático desse acto criativo de Deus, pois quem pra­tica a virtude porque primeiro ma viu praticar a mim, é, até certo ponto, uma alma formada à minha imagem e semelhança.

E XEM PLO

O que estes fizeram porque o não farei eu ?

Maria Alice Pinto de Almeida era uma menina de 14 anos, nascida no Porto e residente no Entroncamento, filha do ferro­viário Francisco de Almeida e de Ana de Jesu s Pinto de Almeida.

Desde os 3 anos ficara totalmente cega da vista esquerda, com uma grande névoa que lhe cobria a pupila. Mais tarde outra névoa, embora menor, deixa-a, não de todo, mas em parte cega também do lado direito.

Não houve no Porto especialista a que se não recorresse; mas todos foram unânimes em declarar que era inútil qualquer tentativa para remediar o mal. A 7 de Março de 1938 o médico Dr. Alcino Pinto limitou-se a receitar para a vista direita uma lente.de fabrico alemão.

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DIA 13 DE MAIO 173-

Em Junho de 1940 cai nas mãos do simpático ferroviário um número da Uoz da Fátima, que lé com interesse sempre crescente. Ao deparar com a narração de graças tão extraor­dinárias de Nossa Senhora, vê na fé de tantos beneficiados o espelho do que ele devia ser. E ocorre-lhe naturalmente o mesmo pensamento gue ocorreu a S. Agostinho e mais tarde a S. Inácio de Loiola, quando ponderavam os exemplos dos Santos: «O que estes fizeram, porque o não farei eu tam­bém?» Era o meio mais eficaz de levar a Mãe do céu a dizer por sua v e z : «O que fiz aos outros porque o não farei também a este ?»

E o bom ferroviário fez o que os outros fizeram : recorreu confiadamente à Virgem da Fátima pedindo-Lhe a vista para sua filha durante uma fervorosa novena e prometendo publicar a graça, se lhe fosse concedida.

E a Mãe bondosa por Sua vez, fez a este seu devoto o que fizera aos outros, que lhe serviram de exem plo: conce­deu-lhe a graça pedida.

E o feliz ferroviário fica assombrado quando algum tempo depois vé sua filha a ler muito natural e desembaraçadamente.

Aproxima-se e vé com espanto que a névoa havia inteira­mente defeaparecido da vista direita, e a da esquerda estava já reduzidíssima. Sua filha já via perfeitamente do lado direito;, e do lado esquerdo quase tão bem como do direito.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA U DE MAIO

SE D ES SAP1ENT1AE

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

A sabedoria é uma das ambições da nossa na­tureza. Quem não deseja saber, alargar o âmbito dos seus conhecimentos? Pode-se aborrecer o es­forço que a aquisição da ciência exige, mas a ciência, a satisfação da natural curiosidade humana não se aborrece nunca.

Bem compreendeu Satanás esta ambição do homem para tão astuciosamente a explorar logo na primeira tentação, prometendo-lhe uma c iê n c ia igual à de Deus.

Não é a ciência puramente humana que hoje nos interessa, nem a ciência puramente divina que só a luz da glória — lumen g/oriae — nos há-de pro­porcionar na visão beatífica. Interessa-nos, sim, essa ciência humano-divina que a Sagrada Escri­tura chama ciência dos Santos (Sap. X, 10) e a ciência da salvação (Luc. I, 77).

É afinal esse dom do Espirito Santo, essa luz sobrenatural que começa por nos mostrar a credi-

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DIA 13 DE MAIO 175

bilidade das verdades reveladas, mesmo por mo­tivos que nos sugere a ordem criada. Enquanto que a fé aceita como verdadeira a revelação unica­mente por ser a palavra de Deus, o dom da ciência facilita e fortifica o nosso assentimento à verdade revelada, .mostrando-nos a congruência desse as­sentimento pela sua harmonia com a ordem criada.

O objecto deste conhecimento sobrenatural abrange primeiro as verdades dogmáticas, esten­dendo-se logo a todo o campo da moral, para nos descortinar os esplendores naturais de cada vir­tude, a sua relação e harmonia com a nobreza do homem criado à imagem e semelhança de Deus.

Ensina-nos a dar à vida e aos bens temporais o justo valor e a fazer deles o devido uso, a conhe­cer-nos a nós mesmos e a nossos semelhantes, o fim para que fomos criados, vivendo conforme a razão e a dignidade da nossa natureza. Só em vir­tude dessa luz é que podemos penetrar os desíg­nios de Deus no governo dos indivíduos e das sociedades, os motivos porque Ele permite tantos males no mundo. É pelo dom divino da ciência que a ciência humana poderá ter a sua mais nobre e elevada aplicação, sendo posta ao serviço de Deus para O conhecer e para dar testemunho da verdade divina.

Pelo contrário, sem Ele desconhece-se a digni­dade da nossa natureza dotada de espírito e de imortalidade, desconhece-se a estética da virtude, o fim que Deus tem em- vista nas diversas jerarquias da criação. Ignora-se que a ordem natural só vale enquanto serve de apoio para subirmos mais alto, até ao sobrenatural.

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176 FLOKILKQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Esta revelação do valor relativo da vida e dos bens caducos, esta ciência da nossa origem celeste e da nossa semelhança com Deus, das sublimes relações de filiação que a Ele nos ligam, a cons­ciência do nosso destino a uma glorificação sobre­natural, são um progresso no domínio da verdade divina e portanto uma prodigiosa facilidade de regularmos a nossa vida terrena em harmonia com essa verdade. É assim que começamos a tornar-nos conscientes da nossa dignidade sobrenatural, a compreender a bela máxima de Santo Estanislau K ostka: Eu não nasci para o tempo, mas para a eternidade fld maiora nafus sum.

Tal é o dom da ciência pelo qual nos é dada a chave de todos os tesoiros do conhecimento e amor de Deus.

II

Esta foi a ciência de Maria, mas num grau tão privilegiado como ainda criatura alguma se gloriou nem gloriará de a possuir.

Destinada a ser a Mãe da Sabedoria Incar­nada, a Mãe do Homem-Deus, em quem se encer­ram todos os tesoiros de sabedoria e de ciência, não Lhe podia Ele negar uma ciência à altura da Sua missão, sob pena de O termos por imperfeito nas Suas obras, ou por Autor de obras mutiladas.

Teólogos como Suarez, S. Afonso, S. Francisco de Sales, Terrien e outros, além da ciência experi­mental que, como em qualquer de nós, se vai arma­zenando na inteligência pela aquisição ordinária, admitem também e sobretudo a ciência infusa, que,

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DIA 14 DE MAIO 177

sendo directamente impressa por Deus nas nossas faculdades intelectuais, é independente da activi­dade das mesmas faculdades.

Os dons do Espírito Santo, sobretudo o da sa­bedoria, o do entendimento, o do conselho e o da ciência, consumaram e elevaram ao non-plus-ultra de toda a capacidade finita a já perfeitíssima inteli­gência natural de Maria, deixando-Lhe plenamente desabrochada a razão, desde o primeiro desa­brochar da Sua existência.

Esta ciência, porém, não cristalizou no seu grau inicial. À imitação de Seu Filho, foi uma ciência progressiva, como luz esplendorosa que cresce até pleno dia. O Espírito Santo, que é todo Esplendor e Luz, fizera da alma virginal de Maria o Seu San­tuário de predilecção. Era em Sua Mãe que Jesus, a Luz do mundo, projectava mais em cheio os raios da Sua divina claridade.

Por outro lado a aplicação pessoal e ininter­rupta de Maria à meditação e contemplação dos divinos mistérios, secundada pela assídua leitura dos livros sagrados, pelos segredos dos Anjos ou por imediatas inspirações de Deus, talvez mesmo por intermitentes fulgurações de visão beatífica acabaram por fazer do Seu espírito o mais lumi­noso foco de ciência que o Criador acendeu no seio das inteligências criadas.

III

D esse modo não podia Deus dar-nos mais con­sumada Mestra na ciência da salvação. Na Fátima

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178 IL0R1LÉQI0 ILUSTRADO DA IÁTIMA

veio Ela estabelecer a Sua cátedra, fundar a Sua escola para nos ensinar o que mais nos interessa saber.

Ora as lições,ensinadas por Maria na Sua es­cola da Fátima, são sobretudo:

1.° — A realidade do sobrenatural. O nosso século gloriava-se do seu grosseiro naturalismo; o sobrenatural era objecto de sarcástica irrisão. À Fátima tornou-se a afirmação pública, solene e desassombrada do sobrenatural. Em face das inú­meras curas extraordinárias operadas à invocação de N.a S .a da Fátima ou pela aplicação confiada da água do seu fontenário, o entusiasmo popular pelo sobrenatural tem sido unânime; e, se a autoridade eclesiástica alguma vez intervém, é só para o mo­derar.

2.° — Dos efeitos sobrenaturais faz-nos ascen­der a uma causa proporcionada, ensinando-nos a deduzir as verdades que são a sua razão de ser : o poder de Deus, o poder e a bondade de Maria, a necessidade de confiarmos nEla, a necessidade de nos voltarmos para Deus.

3.° — O desprendimento da terra. Ah 1 a terra absorve-nos tanto que chegamos a perder de vista o céu. Fascina-nos o que é caduco e efémero, a ponto de lhe sacrificarmos o nosso descanso, a nossa honra, a paz da nossa consciência, os inte­resses eternos da nossa alma. Fátima é o céu aberto que por instantes nos extasia e nos faz es­quecer que somos da terra.

4.° — O nosso século é um século de orgulho e de comodismo. A Fátima ensina-nos a ser peque­nos, ensina-nos o segredo do sacrifício. Quem se

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DIA 14 DE MAIO 179

não sente pequenino no local bendito das aparições, quem não desaparece diante das maravilhas ali operadas, quem não ajoelha e aniquila o seu orgu­lho, ao sentir-se electrizado por tão arrebatadoras manifestações de fé e de am or? Quem não admira os incomensuráveis sacrifícios a que se sujeitam tantos devotos, expostos às inclemências do tempo, aos incómodos das viagens, ajoelhados sem o me­nor conforto sobre a poeira, sobre pedras ou sobre lamaçais e arrastando-se pacientemente no cumpri­mento de promessas e de duras penitências?

5.° — Respira-se por toda a parte um ambiente de respeito humano e de covardia. A Fátima tor- nou-se o túmulo do respeito humano. Quem entra nesse recinto sagrado aprende a não se enver­gonhar de Deus, nem de professar a sua fé, nem de cumprir com os deveres da vida cristã. Com a mesma espontaneidade com que ajoelha, ergue as mãos ou as cruza sobre o peito, ou estende os bra­ços em cruz, sem que por isso lhe suba o rubor às faces.

6.° — A gratidão dos beneficiados e a resig­nação dos preteridos. Nem se sabe o que é mais patético e comovedor: se os hinos de acção de graças em que se desfaz quem é contemplado por qualquer cura, se a heróica resignação, a inalte­rável serenidade de quem se sente confirmado no sofrimento, condenado a continuar na cruz, de quem vê desfeitas as suas ilusões depois de tanto ter confiado e orado. Ah 1 é sem dúvida a lição mais difícil de aprender, mas que se aprende bem na Cova da Iria. É por isso mesmo a mais sublime. Mas fica bem ali, que a Fátima é o teatro do sublime.

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180 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

EXEM PLO

. Lição aprendida

Em Outubro de 1926 vivia em Lisboa civilmente registado Joaquim Neto, peixeiro, pai de três meninas de 10 anos para baixo, todas por baptizar.

Um enorme calo no ombro, criado pelas cèstas de peixe depois de se ulcerar, tornara-se canceroso, a ponto de já não sofrer o menor contacto.

Compadecida da sua infelicidade D. Maria Filomena Ma­cieira, residente na Avenida 5 de Outubro N.° 201, teve a ins­piração de lhe aplicar à ferida algumas gotas de água da Fá­tima. Enquanto lhe fazia a aplicação, escreve e la :

« fui sem pre rezando a Nossa Senhora e pedindo, pedindo muito que e le s e curasse. »

A prece não ficou sem eco no Coração da Mãe de Deus.«Logo no d/a imediato, d e manhã, o homem m e apareceu

com pletam ente curado, já com o cesto do p eix e em cima do om ­bro ! f l alegria d e le era indescritível /*

E eis os bons-dias que deu à bondosa senhora: * Eu estou doido d e alegria. D esde que m e pôs a água não mais senti dores. Era uma hora da noite quando a cord ei e vi-me cu rado! Todo o sofrim ento desapareceu».

E seguiu-se logo uma cena de lágrimas. Ele por um lado, e a companheira por outro, desataram a chorar de comoção, sem saberem como agradecer a intervenção tão manifestamente prodigiosa de Nossa Senhora.

Até aqui a história. — Agora a lição que a celeste Benfei­tora, como Sede da Sabedoria lhe fez aprender.

Iluminou-o um raio da Sabedoria divina fazendo-lhe des­cobrir atrás desse facto, que ele próprio qualificou de sobre­natural, o Autor da vida e da morte, o Senhor da saúde e da enferm idade; reconhecer sobretudo a necessidade de se vol­tar para Ele e de conformar a sua vida com a Lei divina.

E a lição foi aprendida. No dia 9 de Janeiro de 1927, festa da Sagrada. Fam ília, era a sua constituída segundo a Lei de Deus, com matrimónio religioso e baptismo das três filhas.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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Causae Ti. Saeütiae

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CAUSA NOSTRAE LAETITIAE

Oração preparatória, com o na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Muitas são as passagens da Sagrada Escritura, em que a alegria nos é receitada pelo Espírito Santo.

Mas há alegria e alegria. Há a alegria segundo Deus e a alegria segundo o mundo.

1.° — A alegria mundana é moeda falsa, porque só se funda em bens aparentes; e por isso deixa sempre na alma um vazio, semelhante ao do faminto depois que sonhou com um lauto jantar. Sonhou e continuou faminto. A h! quantos e quantos por esse mundo que arrastam a existência a rir, como crianças, ou como loucos, que só deviam chorar!

É falsa e é transitória, como a de El-Rei Baltazar, que no meio das suas orgias lê na parede do palá­cio a sua sentença de morte e de condenação, e da destruição do seu império. Transierunt omnia illa tanquam umbra — Tudo se desvaneceu como uma sombra (Sap. V, 9).

DIA 14 DE MAIO

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182 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

É transitória e é mortífera. As diversões peca­minosas que a originam deixam cravado no íntimo da alma o punhal de remorso, que a condena em vida, aos estertores da morte.

2.° — Mas a alegria segundo Deus é sólida por­que é fundada em bens reais. Estamos de posse da verdade por Deus revelada. Somos filhos da Santa Igreja, fora da qual não há salvação. Temos a alma tingida com o Sangue redentor de Cristo. Temos a Maria por estrela da nossa esperança, es­tamos destinados à bem-aventurança; é promessa condicionada, é esperança. Mas em nosso poder está, com a graça divina, converter a promessa em posse definitiva, a esperança em realidade. Não estamos confirmados em graça, é verdade; mas temos a graça para não cairmos e, se caímos, temos a graça e os sacramentos para nos levan­tarem. Que estupendos motivos de alegria para o cristão 1

É sqlida e é duradoira a alegria segundo Deus. f í vossa alegria ninguém vo-la há-de tira r (Joan . XVI, 22), diz Cristo. É duradoira e tão duradoira que terá na eternidade a sua consumação p lena: Alegrai-vos e exultai, pois é grande no céu a vossa recompensa (Mat. V, 12).

É duradoira e é salutar: quando me dilataste o coração (pela alegria) então corri eu pelo caminho dos teus mandamentos, diz o Real Profeta (Ps 118). A alegria é muitas vezes a mais fina flor da vir­tude. Alegrarmo-nos no meio da dor, dos des- prezos e da humilhação é sorrir para Deus que nos esmaga.

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DIA 14 DE MAIO 183

II

Maria é Autora da nossa alegria, porque Ela foi a Aurora da nossa Redenção.

Ao sair flamante das mãos de Deus, o homem gozava duma alegria paradisíaca e já prelibava o jú­bilo da sua futura transfiguração na glória. Interveio Lúcifer, deu-se a tragédia do Paraíso e a alegria da terra eclipsou-se nesse mesmo instante. Para sem­pre? Não. O desastre ia ser reparado, mas até lá quanta tristeza, quantas lágrim as! Enquanto o nome de Maria não fosse pronunciado na terra, era inútil pensar na Redenção. Mas chegou o dia em que esse nome ressoou nos lábios do Arcanjo, feito mensageiro da grande nova. E toda a terra exultou com a alegria, de que a Igreja se faz sublime intér­prete no Sábado Santo ao entoar o seu Exultet. Ó feliz culpa que nos valeu tal Redentor.

Mas a aurora desse dia luminoso foi Maria, cujo nascimento foi para todo o mundo mensagem de alegria — gaudium annuntiavit universo mundo — Nasce M aria: é Jesu s a aparecer, porque Ele é o sol precedido de tão bela aurora, flurora, lhe cha­ma a Igreja, quasi aurora consurgens, despontando por entre as trevas dos séculos e alegrando o mundo sedento de Redenção, como alegra a natu­reza sedenta de luz o romper da alva no horizonte.

Como a aurora, termo da noite e princípio do dia, Maria é a mensageira augusta que se despede do Antigo Testamento e entra na Lei da graça tra­zendo em seu seio o Desejado das nações.

A aurora meteorológica alia harmoniosamente o que parecia inconciliável. É mãe e é filha do

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184 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FAtIMA

astro-Rei. É mãe, porque do seu seio afogueado o vemos irromper; é filha, porque ela não é mais do que o p r im e iro c la r ã o da luz que o sol projecta no horizonte. — E não conhecemos nós entre as filhas de Eva uma Virgem em quem se realiza mais harmoniosa e misteriosamente esse prodígio, que a faz Mãe e ao mesmo tempo Filha do Altíssimo? Ah! saudemo-La com a liturgia e prestemos-Lhe as honras de Filha e de Mãe de Deus. — Genuisti qui te fecit. Dupla aliança, qual delas mais prodigiosa : aliança da maternidade com a filiação, aliança da virgindade com a materni­dade, que só na aurora teve a sua luminosa prefi­guração. fíurora quae solem paris, et ipsa solis filia canta a Igreja r,um dos seus hinos litúrgicos. «Au­rora que cens por filho o sol e que do sol és filha».

Tal é a aurora mística, que, como a aurora ma­terial, alegra toda a criação. Ela traz consigo, é certo, esse orvalho matinal que os poetas chamam lágrimas da aurora. Mas afinal são lágrimas que consolam e alegram, porque refrigeram a aridez dos campos, para que até nessas lágrimas seja Ma­ria verdadeira aurora m ística: Ros aurorae cselestis tribulatos corde refrigerans.

Bem sei que nem sempre esta divinal aurora nos aparece nimbada de alegria. Não foram só gozosos, nem só gloriosos os mistérios da Sua vida. Também em sua fronte virginal vemos reflectida a majestade da dor e da tristeza. De outro modo, onde estaria a Mãe das Dores, a Rainha dos Már­tires? Mas foi salutar essa tristeza, que havia de conquistar para a humanidade o reino da alegria. Tristeza corredentora que foi causa da nossa alegria.

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DIA 14 DP. MAIO 185

III

Passam 20 séculos e nos horizontes da Fátima desponta essa virginal aurora a irr,adiar alegria para o mundo. Alegria, sim. Não serão acaso de alegria essas harmonias que brotam dos lá­bios de milhares de peregrinos, que pelos cami­nhos, estradas e atalhos, nos próprios comboios e caminhetas, no vasto recinto da Cova da Iria, em toda a parte, enfim, e a qualquer hora do dia ou da noite, fazem vibrar todas as fibras da alma e vão despertar ao longe nas quebradas dos montes ou nas profundidades dos vales o eco teimoso dos seus encómios a M aria? Não serão de alegria as mesmas lágrimas que nas cenas mais patéticas da Cova da Iria marejam em tantos olhos, deslizam por tantas faces? Porventura viram-se algum dia na Fátima lágrimas que não fossem de suave devo­ção ou de íntima alegria?

E dali que ondas de alegria não tem derivado para qualquer parte em que é saudada a Virgem da Fátim a! Quantas lágrimas enxugadas, quantas per­turbações serenadas, quantas dores anestesiadas, quantas chagas cicatrizadas, quantas necessidades socorridas, quantas aflições e amarguras conso­ladas! Catadupas inefáveis de alegria de que a Fátima é canal perene, de que o Coração virginal e maternal de Maria é manancial inexaurível.

Tu laetitia Israel, dizia o povo de Betúlia ao aclamar Judite. Tu és a alegria de ísrael. Tu és a alegria dos tristes, a alegria do mundo, temos nós mais razão de Lhe dizer, ao vermos como Ela é luz para o cego, estrela para o navegante, saúde

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

para o enfermo, consolação para o aflito, espe­rança para o desesperado, misericórdia para o mi­serável, refúgio para o pecador.

E já que Ela nos conquistou o reino da alegria, alegremo-nos nós de A ver tão exaltada e eterna­mente glorificada pelo Criador.

EXEM PLO

Depois da noite a luz

No dia 13 de Outubro de 1948 partiu da Cova da Iria a milagrosa imagem de Nossa Senhora da Fátima, a fim de per­correr as dioceses do Alentejo e Algarve levando a todas as freguesias as bênçãos da Sua visita.

O Padre Frei Fidelis D. Barbosa em artigo publicado na imprensa fala de milhares de adultos baptizados nesses dias pelo missionário brasileiro Frei Bernardino Vilas Boas, capu­chinho, que por essas vastas regiões desprovidas de clero andou pregando m issões de preparação para a passagem de Nossa Senhora.

Vale a pena destacar desse relato uma breve passagem que nos vem mostrar como a cegueira corporal é a grande tris­teza desta pobre vida mortal, encarcerada num mundo de escu­ridão, onde só se vive às apalpadelas, se vida se pode chamar, para só se apalpar. . . a própria infelicidade. Mas nessa cata­cumba de trevas e de tristeza também brilha o sorriso dAquela que é a causa da nossa alegria.

A bendita imagem peregrina chega a Martinlongo,' fregue­sia de Agoutim, na Diocese do Algarve. Dem os a palavra ao já mencionado Frei F id elis:

• No mesmo dia uma jovem cega, Maria Manuela de Brito Vargas, educada no Instituto de Cegos do Porto, sobrinha do Rev. Manuel de Brito, largamente conhecido nas Minas de S. Domingos, preparada pelo missionário, vai ao microfone, e lê pelo método dos cegos uma oração que termina assim :

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DIA 14 DE MAIO 187

E eu, em particular, Senhora, eu que também ven ero a Tua imagem, eu que contudo, não a vejo, porque os meus o lhos estão apagados, quero im plorar-Te nesta súplica cheia d e fé com todo o meu c o ra ç ã o : S en h ora! faz que eu v e ja ! S en hora! Tu que m e com preen des e sa b es o meu desgosto, a minha dor, p or me achar p or v ezes incom preendida p elo mundo que, afinal, c om preendo e não vejo, protége-m e, salva-m e desta escuridão, dá luz a estes o lhos que anseiam por ver tudo aquilo que apenas a minha imagi­nação p o d e fantasiar e criar I Mas, s e não m e achares digna dessa suprema graça, Senhora, aumenta a minha fé, dá-m e coragem para lutar d e fronte altiva contra as vicissitudes do meu infortúnio e alumia a minha alma, para que ela possa um dia ver-Te e amar-Te no céu.

Palavras não eram ditas, eis que se deu o milagre. A mi­raculada, após agradecer à Virgem, vai beijar as mãos do Sr. Bispo, D. Marcelino Maria Franco. Este não se contém e cai de jo e lh o s ... Ajoelham os s a ce rd o tes ... A multidão em peso chora em altas vozes . . .

P.* Frei Fidélis D. Barbosa».

Oração pelos Sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 15 DE MAIO

VAS SPIRITUALE

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Nobilíssima se torna a própria matéria desde o momento em que ela se une ao espírito para o hospedar, para lhe servir de santuário ou de vaso augusto, que dela faz um relicário do espírito. E mais ainda quando o espírito santificado, pela unção da graça comunica a esse relicário a mesma santidade que o ungiu.

Ninguém ignora o que é na Liturgia um vaso consagrado ao culto divino: metal precioso ou vulgar por sua natureza, só mãos consagradas ou legitimamente autorizadas lhe podem tocar; e qual­quer atentado contra o seu carácter sagrado é sa­crilégio, que Deus alguma vez não deixou, para exemplo, de castigar com os rigores da Sua justiça. Só recordado nos causa ainda frémitos de horror a punição infligida ao ímpio rei de Babilónia.

A mesma palavra só por si anda já acompa­nhada na Bíblia de todos os indícios de respeito e

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B a s (Spirituals

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DIA 15 DE MAIO

apreço. Nos Provérbios (X X , 15) são chamados vaso precioso os lábios que destilam sabedoria. O Apóstolo é chamado o vaso eleito de Deus (Act. IX, 15), do mesmo modo que ele chama aos elei­tos vasos de misericórdia (Rom. IX, 23). Por ana­logia chama a Igreja à- Mãe de Jesu s Uaso espiri­tual, porque nEla, com a plenitude da graça original e sempre crescente, se encerram todos os dons do Espírito. Uaso espiritual! que inefável emblema do inefável tesoiro das riquezas celestes!

Vaso espiritual! Quem poderá jamais inven­tariar os seus tesoiros de oração altíssima, a Sua intimidade com Deus, o silêncio e recolhimento dos Seus êxtases, a Sua paz inalterável, a alegria espiritual tão suave e deliciosa da Sua convivência divina, a santidade dos Seus pensamentos e aspi­rações, a pureza dos Seus afectos, a generosidade e magnanimidade das Suas dedicações e sacri­fícios, do Seu zelo ardentíssimo da glória de D eu s!

Que segredos arrebatadores da Sua infância não podiam revelar-nos as paredes desse sagrado recinto do Templo, testemunhas das labaredas de tão acrisolado am or! E a morada augusta de Na­zaré, onde se concentraram os segredos da Sua contemplação, e cujas paredes venerandas falam ao coração dos peregrinos de Loreto, como não rompe ela o silêncio de 19 séculos para nos contar alguma coisa da Sua vida de adoração, de louvor, de amor materno e sobretudo da inefável transfusão de toda a Sua alma na de Jesu s, Seu Filho?

Enlevos que davam à Sua alma tudo o que a na­tureza tem de mais terno e a graça de mais santo. Ma­ria, vaso augusto de infindas e inefáveis maravilhas!

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190 FLORILÉaiO ILUSTRADO DA FÁTIMA

II

Se o Apóstolo pôde escrever um dia : «Eu vivo, mas não sou eu já quem vive, é Cristo que vive em m im ; anseio por ver despedaçados os laços deste corpo, a fim de me unir com Cristo», e se o imortal missionário das índias no meio das ine­briantes emoções de consolações divinas, sentin- do-se desfalecer de amor, pedia a Deus que estan­casse as torrentes das divinas delícias: Basta, Senhor, basta; que diremos então da Mãe do Salvador, feita vaso trasbordante de todas as delí­cias celestes, que S. Jo ão Damasceno chamou for­nalha e braseiro de amor divino, e que o Esposo dos Cantares (VIII, 6) comparou a uma «lâmpada de fogo e de cham as»? Houve acaso algum dia, hora ou instante em que o Seu pensamento, as Suas palavras ou afectos, toda a actividade enfim do Seu ser, não tivesse só a Deus por alvo, um instante em que Ela não fizesse o que era mais do beneplácito divino e com a solicitude e pureza de intenção dignas de D eus?

Digam-no os Anjos, digam os espíritos será­ficos com que suavidade inundaram o Seu coração as delícias de Deus. Ou antes emmudeçam os lábios angélicos, porque as estrofes harmoniosas do Seu cântico inspirado já nos dizem tudo: «A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espirito exul­tou de júbilo em Deus, meu Salvador».

Capacidade incompreensível a desse coração materno em que entraram torrentes de delícias divinas, exultando em transportes de amor para com Deus feito Seu Filho, vaso inefável feito arquivo

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DIA 15 DG MAIO 191

dos mais estupendos dados biográficos do Homem- -Deus — conservabat omnia verba haec — e labora­tório vivo da mais elevada afectividade sobrena­tural — conferens in corde suo —.

III

Ocasião oportuníssima esta de medirmos a distância que nos separa do modelo que acabamos de meditar, nós que também somos vasos espiri­tuais de tantos bens outorgados por Quem de todos eles é fonte inexaurível.

Vasos vazios de méritos, porque deixamos es­tiolar em nós tantos gérmenes de santidade e de salvação, dissipamos, como o pródigo, todo o nosso património de filhos de Deus, e pusémo-nos na impossibilidade de o renovar, fechando a porta a todas as doações da graça divina. Prendemo-nos só a ídolos vãos que o tempo desfigura e arrebata com tudo o resto. Devoramos com olhares cobi­çosos os bens frágeis deste mundo e exgotamos desastradamente toda a nossa actividade à busca de gozos e prazeres falazes. Os bens invisíveis da eternidade não chegamos a atingi-los porque os nossos sentidos os não descortinam e porque a nossa fé quase deixou de nos vivificar.

Que admira então que se tenha interrompido toda a nossa comunicação com o céu, com o «Pai nosso, que está nos céus?» Ah 1 venha restabelecer essa comunicação a Virgem-Mãe, que para isso desceu do céu ao planalto da Fátima, entornando sobre ele e sobre o mundo catadupas de bênçãos

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192 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

para que as almas se tornassem vasos cheios de Deus.

Aconselhada outrora pelo Profeta Eliseu, uma pobre viuva perseguida cruelmente por um credor implacável manda a seus filhos que lhe tragam uma grande quantidade de vasos vazios; deita em cada um deles sucessivamente uma pequenina porção da sua minguada reserva de azeite. Miraculosa­mente todos esses vasos se encheram ; e desse modo teve ela com que saldar a sua dívida e satis­fazer a todas as necessidades próprias e da família.

Assim também descendo à Fátima Aquela que no instante da Incarnação foi saudada como cheia de graça, e que a Igreja chama L/aso espiritual, inú­meros corações se Lhe apresentaram, vazios de méritos sem dúvida, vazios de graça infelizmente e cheios só de si mesmos. E nesses vazios tristes derramou Ela alguma coisa da Sua superabun­dância, para que pudessem não só satisfazer à Justiça divina, mas adquirir ainda preciosos mé­ritos para a eternidade.

Virgem Senhora da Fátima, compadecei-Vos sempre do imenso vazio das nossas almas, e re­parti com elas a plenitude da Vossa graça.

EXEM PLO

O «poço de Nossa Senhora da Fétim a»

Escreve o Rev. Padre Jo ão Rodrigo de Miranda:«Acabava eu de pregar um retiro às Irmãs Doroteias no

Colégio do Anjo da Guarda, em Bebedoiro, Estado de S . Paulo (B rasil). Na mesma ocasião recebo um convite do Vigário da freguesia, Mons. Aristides Lobo, Provedor também da Santa

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DIA 15 DE MAIO

Casa, na qual acabava de fazer importantes melhoramentos, e cuja bênção estava marcada para o dia seguinte...

A Superiora das Religiosas que dirigem a Santa Casa vem apresentar-lhe a inesperada e grave queixa da falta de água para o necessário consumo da casa.

— E então a água da Com panhia? — perguntou logo Mon­senhor.

— Mal dá para a terça parle do consumo, — respondeu a Superiora.

— E o poço que há na horta?,— continua Monsenhor.E, sem mais, para lá nos dirigimos, verificando infeliz­

mente que a pouca água que continha mal cobria o fundo. Encarrega ele logo o feitor da sua chácara de reunir sem de­mora operários que procedessem ao aprofundamento do poço, serviço que só deu em resultado sumir-se a pouca água que havia, e sem aparecer nem mais uma gota.

Ao ver o desapontamento de M onsenhor,... sugerindo-lhe a ideia de no dia seguinte, ao benzer o conjunto das obras, dar uma bênção especial ao poço, lançando para o fundo dele um copo de água com um pouquinho de terra da Fátima, que pro- videncialmente eu levava comigo. Assim se fez. E o resultado foi de tal natureza que, quando de manhã abriram as portas da Santa Casa, todo o páteo fronteiro estava completamente inun­dado com água do poço. Este, com 11 metros de profundidade e 3 de diâmetro, encheu completamente, e trasbordou em tanta quantidade que, além da inundação referida, correu ainda f>ela valeta da rua até grande distância.

À vista do prodígio, mandou Monsenhor analisar quimi­camente a água, acusando a análise uma água inteiramente di­ferente de qualquer outra existente na cidade.

E o prodígio persevera, pois, se não puserem as bombas a trabalhar duas e três vezes por dia, para encherem todos os depósitos, o poço extravasa sem pre».

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 15 DE MAIO

VAS HONORABILE

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Um vaso é tanto mais digno de reverência e tanto mais nobre, quanto mais precioso é o objecto que ele contém. A Arca da Aliança era um relicá­rio sagrado só porque encerrava dentro de si uma urna de oiro com restos do maná chovido do céu, a vara de Aarão que miraculosamente florescera e e as duas tábuas em que Iavé escrevera o Decá­logo. Os cálices, cibórios, ostensórios e sacrários mantêm os fiéis a respeitosa distância só por terem hospedado a Divina Eucaristia.

Grande honra é também para um corpo corru­ptível unir-se a uma alma espiritual e imortal em que o Criador gravou o Seu retrato. E quanto mais adornada for essa alma dos dons da graça, maior dignidade ela confere ao corpo que a hospeda. Se assim não fosse, que outro motivo justificaria o culto tributado às relíquias dos Santos?

Ora nós já sabemos que vaso é o termo mais de uma vez empregado na linguagem bíblica para

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33a s ï)onorabile

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DIA 15 DE MAIO 195

designar, ora o corpo, ora a alma humana. No pri­meiro sentido, exorta S. Paulo os primitivos cristãos a não profanarem vas suum, o seu vaso com os pecados da impureza (I Thes. IV, 4) e verbera a intemperança e a embriaguez que tanta vez deson­ram o corpo do homem.

No segundo, é o mesmo Apóstolo chamado por Deus um vaso de eleição para anunciar o Seu nome aos povos gentios (Act. IX, 15). No primeiro, é vaso o corpo, porque dentro dele está como que depo­sitada a alma. No segundo, é vaso a alma, porque nela derrama o Senhor aqueles tesoiros da Sua graça que lhe comunicam alguma coisa da vida divina.

«Glorificate et portate Deum in corpore vestro» é a conclusão que tira S. Paulo (I Cor. VI, 20). Glo­rificai e trazei a Deus convosco no vaso do vosso corpo. E sem esquecer o que noutra parte diz o mesmo Apóstolo: Não sabeis que os vossos corpos são membros palpitantes de C risto?... Sois o corpo de Cristo e membros a Ele incorporados (I Cor. VI, XII). Estas expressões supõem o dogma da nossa incorporação mística com o Homem-Deus, e neste caso, quase diria: somos mais do que simples vasos da Divindade.

À luz desta teologia paulina, as conclusões im- põem-se por si m esm as: Fale por todos a lógica de Tertuliano: «Que a carne do homem, antes da Incarnação do Verbo, fosse manchada pela impu­reza, ainda se podia perdoar; não tivera ainda a dignificá-la a consagração que lhe dera o consórcio com a Divindade. Mas depois que o Homem-Deus a honrou e enobreceu e divinizou, fazendo dela a

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FLORILÉOIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Sua própria carne, atentar contra a sua dignidade pela impureza é o opróbrio da Incarnação do Verbo Divino».

II

E não terá a Igreja e não teremos nós motivos de sobra para honrar e venerar a Maria, para sau­darmos e invocarmos com o título de Uaso hono­rífico, vaso digno de toda a honra, Aquela que o Espírito Santo cobriu com a Sua sombra, de cuja carne e sangue o Verbo tomou carne e sangue, que concebeu e alimentou da Sua própria substância a Divindade incarnada?

Conhecêssemos nós bem o tesoiro divino que é a graça santificante enchendo com a sua plenitude toda a capacidade da alma de Maria, conhecêssem os nós o tesoiro teândrico, nove meses escondido nesse vaso imaculado que é o seio virginal de Maria, que num êstase de admiração, de amor e de reverência, havíamos forçosamente de exclamar a uníssono com quem um dia, sobrenaturalmente inspirada e fasci­nada pelo Verbo visível de Deus, não se pôde con­ter que não dissesse, rompendo o silêncio do audi­tório : Vaso bendito!, «bem-aventurado seio que Te trouxe dentro de si».

Tinha razão! Esse vas honorabile constante­mente invocado por uma voz que nunca se cala, porque é a voz da Igreja imortal no tempo e cató­lica no espaço, a voz de todos os fiéis em comu­nhão com o Rei imortal dos séculos, foi não só o relicário augusto, mas também a fonte genética que à humanidade prevaricadora deu a carne e sangue

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DIA 15 DE MAIO 197

da sua redenção. A carne e o sangue de Jesu s é a carne e o sangue de Maria, carne divina e carne virginal, preservadas uma e outra da corrupção do sepulcro.

O nosso pensamento perde-se ao especular sobre as magnificências desse vaso honorífico, e a nossa língua só emudecendo num extase de beati- tude é que saberá exprimir a reverência, o culto que Lhe é devido.

I I I

Reavivemos aqui a nossa fé. Lembremo-nos que pela incorporação divina da Eucaristia, o nosso corpo, corruptível muito embora, é elevado à união inefável que faz dele um vaso honorífico, cuja pro­fanação pelo pecado devia ser para nós objecto de terror. Pela comunhão sacramental a hostia divina não faz mais que mudar de vaso, passando do po­bre cibório metálico e morto para o cibório vivo e santificado pela graça, que é o conviva eucarístico. É, pois, a comunhão que mais nos aproxima e nos assemelha a Maria, santuário vivo da Divindade.

É Cristo em nós, em corpo, sangue, alma e divindade, tão real e perfeitamente como em Maria nos meses que se seguiram ao mistério da Incar­nação. A realidade, a substância é a mesma, só é diferente o modo dessa presença, em ambos os casos realíssima.

E nós, que tão louvávelmente veneramos os vasos sagrados dos nossos altares, porque não havemos de nos respeitar a nós mesmos, santuá­rios vivos da Eucaristia? Abismados num recolhi-

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198 I-LORU.ÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

mento divino e eucarístico, porque não havemos de elevar os nossos pensamentos, os nossos afec­tos e desejos, todos os nossos actos enfim à altura a que nos eleva uma só comunhão?

E não há dúvida que um dos frutos mais pal­páveis da visita de Maria à Fátima foi a elevação de inumeráveis almas acima de si mesmas pela Eucaristia, pela multiplicação incessante de vasos vivos em que Jesu s santificador sacramentalmente se encerra. Nas grandes peregrinações quem não se impressiona ao ver abeirar-se de tantos altares, por dezenas e centenas de milhares, o constante fluxo e refluxo de vasos vazios, que logo se retiram cheios da Divindade?

N esses sacrários ambulantes é que se concem tram todas as esperanças de salvação que a Mãe de Deus trouxe à Fátima. Esperanças bem funda­das de um futuro melhor, que já lourejam no fundo da nossa alma. São estes os vasos de honra, no dizer do Apóstolo, preparados para a glória. (Rom. IX, 21, 23)

EXEM PLO

Apoteose espanhola

São bem eloquentes as ovações e espontâneas homena­gens que por parte das autoridades públicas têm sido pres­tadas por toda a parte ò Virgem da Fátima. Semelhantes actos oficiais de vassalagem não estavam acostumadas a presen­ciá-las as gerações que depois da época medieval povoaram a terra.

Tomemos como amostra o que no dia 30 de Abril de 1951 ocorreu em Llagostera, cidade da Catalunha (Espanha). A fonte de informação é uma carta do digno Bispo de Gerona ao vene­rando Bispo de Leiria, que acompanhava uma cópia da Acta

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DIA 15 DE MAIO

do Ayuntamiento de Llagostera de 30 de Abril. Dessa cópia fazemos apenas o seguinte extrato :

«Aberta a sessão, faz uso da palavra o Alcaide Presidente para expor que, em vista do clamoroso entusiasmo e ardente fervor com que foi recebida a imagem peregrina de Nossa S e ­nhora da Fátima, estava certo de interpretar o sentir geral dos habitantes de Llagostera, propondo e solicitando do flyunfa- mienío o acordo em nomear a citada Senhora Alcaidessa Hono­rária Perpétua.

Unanimemente e por aclamação foi aprovada tão louvável iniciativa e, entre o entusiasmo geral, oferecidas à Virgem Santíssima as insígnias do Alcaide da vila — distintivo e bastão.

Em seguida o mesmo Presidente propôs que a citada no­meação fosse inscrita no Quadro de Honra de títulos, criado por acordo de 10 de Dezembro de 1947, existente na Sala das Sessões, no que se concordou também por aclamação.

Do mesmo modo foi aprovada a proposta de que os acor­dos precedentes fossem trasladados num artístico pergaminho que será colocado aos pés de Nossa Senhora. Acto contínuo formulou-se a proposta de que as insígnias entregues à Virgem fiquem propriedade da mesma, adquirindo-se outras iguais para uso do Alcaide, o que foi também aprovado por unanimidade.

Igualmente aceite e aprovada por aclamação a proposta de se adquirir uma estátua de Nossa Senhora da Fátima (em substituição do quadro da mesma que orna a sala).

Aprovada unanimemente também a proposta de que, sub­sequentemente, as sessões e demais actos efectuados pelo Àyun- tamiento comecem com a jaculatória «l/irgem da Fátima, rogai por nós-, assim como a proposta de que a veneranda imagem seja levada aos ombros dos Membros da Comissão Municipal permanente, tanto à saída, como à entrada da Igreja Paroquial, sempre que isso se efectue.

Aprovada, finalmente, a proposta de que dos precedentes acordos fosse remetido certificado ao Senhor Bispo de Leiria».

(Trad. da Uoz da Fátima, N.° 347).

Bem haja o nobre município catalão de Llagostera, que tão bem soube honrar Aquela que a Igreja chamai/aso honorífico!

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 16 DE MAIO

VAS INSIGNE DEVOTIONIS

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

Para compreendermos os motivos porque Ma­ria é invocada com o título de Uaso insigne de de­voção, devemos ter uma ideia clara do que é o espírito de devoção ou piedade, para logo vermos como ele animou toda a vida de Maria.

A verdadeira devoção não consiste na exalta­ção da sensibilidade ou sentimentalismo, mais com­patível com a psicologia feminina. Se assim fosse, não teríamos nos altares tantos varões que foram exemplos vivos de sensatez, de inteligência supe­rior e de vontade tenaz e constante.

Nem se confunda o espírito de devoção com o exercício de devoções, como se a piedade consis­tisse em fazer muitas rezas, em pertencer a muitas associações religiosas com detrimento dos deveres de estado ou negligência das obrigações profis­sionais.

Nem está em sentir consolações espirituais e muito menos no dom da contemplação mística, e

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B a s 3n5igne Deootionis

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DIA 16 DE MAIO 201

outros carismas, que foram dados a almas privile­giadas, como se uma vida de aridez espiritual, de escondimento, aliada embora com a fidelidade inte­gral às práticas da vida cristã, não se compaginasse com o ideal da vida de piedade.

Não consiste em puras exterioridades e obras de zelo que sufocam a vida interior, ou lhe criam ambiente de dissipação, como se a comunicação íntima com Deus não fosse a alma de todo o apos­tolado.

A piedade é um dom que cria na alma a afei­ção filial para com Deus e a terna devoção às pes­soas ou coisas santas, para nos fazer cumprir com fervor os nossos deveres religiosos.

II

A vida de piedade nutre-se:1.° — Peio uso assíduo dos sacramentos, recebi­

dos com as devidas disposições, uma vez que eles produzem ou aumentam na alma, não só a graça santificante ordinária, mas também a graça sacra­mental, que não sendo especificamente distinta da primeira, confere um direito a graças actuais espe­cais, a conceder no momento oportuno para mais fàcilmente se cumprirem os deveres impostos pelos sacramentos recebidos.

2.° — Pela oração, meio instituído por Deus para alcançarmos as suas graças; e é uma obrigação que urge a cada instante, pois o preceito de Cristo man­da-nos orar incessantemente, fazer da nossa vida

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202 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

uma oração permanente, e da nossa oração a res­piração da nossa alma.

Ela é a elevação do nosso espírito a Deus para Lhe prestarmos o culto de adoração, para Lhe ren­dermos graças pelos benefícios recebidos e para suplicarmos os que nos são ainda necessários. Orando, aproximamo-nos de Deus, falamos com Ele, unimo-nos a Ele pelas aspirações do nosso coração e assim a nossa alma torna-se verdadeira­mente vaso insigne de devoção.

3.° — Pela meditação, ou oração mental, na qual predomina a aplicação das potências da alma. É particularmente vantajosa, porque, exigindo a constante aplicação do espírito e a concentração da sua actividade, fecha as portas à dissipação e às distrações. E desse modo ilumina-nos acerca das verdades eternas e dos deveres que nos pren­dem a Deus e fortifica-nos a vontade.

E criando à volta de nós um ambiente de re­colhimento, torna-nos mais ponderados e atentos às inspirações da graça, mais reflectidos nas nossas deliberações, mais prudentes nas resoluções, e in­tensifica a nossa união com Deus. É que a medi­tação é uma comunicação com a Divindade, que dia a dia se torna mais íntima, mais afectuosa, mais continuada. E assim nos deixamos penetrar por ela, à semelhança de ferro que, posto em contacto com o fogo, se torna incandescente e toma as qua­lidades do mesmo fogo.

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DIA 16 DE MAIO 203

III

O Coração virginal de Maria, pela sua íntima união e contacto com a Divindade, foi por antono­másia o Uaso insigne de devoção, em que se con­centrou todo o ardor da piedade para com Deus, que era ao mesmo tempo devoção filial e devoção maternal.

Desde os três anos isola-se dos Seus para ir viver no Templo do Senhor, onde nada a distrai da presença e contacto da Divindade. E quando o Arcanjo lhe traz a mensagem da salvação do mundo, começa por lhe dirigir a saudação que me­lhor Lhe quadrava: O Senhor é contigo. E se já estava com Ela antes da Incarnação, como o não estaria depois que se hospedou em Seu seio virgi­nal e dele assumiu a própria substância humana?

E se a oração é um diálogo íntimo entre Deus e a criatura, onde é que os anjos puderam escutar diálogo mais familiar e intimo do que quando entre os interlocutores ressoavam tão repetidas as ex­pressões Min ha Mãe e Meu Filho, acompanhadas de ósculos de filial carinho e de maternal devoção?

Se a oração é um louvor a Deus, quando foi Ele mais louvado do que na hora em que a Seus ouvidos chegaram estas notas harmoniosas: Mag­nificai anima Dominum... (Luc. I, 46, sq.).

E se ela é também uma acção de graças, quando é que a gratidão ressoou mais harmoniosa­mente a Seus ouvidos do que ao ser-Lhe entoado esse hino sublime de agradecim ento... Fecit mihi magna qui potens est et sanctum nomen e/us (Ibid. 49, sq .)?

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•204 FLORILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

É uma súplica? Onde é que ela foi mais hu­milde e confiadamente formulada do que na bre­víssima expressão impetratória de Canaá?

E se ela pode revestir também o carácter duma queixa, dum desabafo de corações oprimidos, quando é que se ouviu desabafo mais sublime e mais terno do que o de M aria: Filho meu, porque procedeste assim connosco? Vê como teu pai e eu te buscávamos tão aflitos (Luc. II, 48).

O planalto da Fátima foi o novo Sinai, em que a Virgem Mãe veio promulgar ao mundo a lei da oração, ensinar-lhe a arte de orar num hora de in- diferentismo e de insensibilidade religiosa em que ele mais necessitava de orar.

E a Fátima começou a ser logo o grande lar da família cristã, em que a Mãe ensina os filhos a rezar, a escola onde se aprende a conversar inti­mamente com Deus. E hoje é o grande Santuário de Portugal, o Santuário da oração em que se res­pira só a atmosfera divina da devoção, em que correm brisas de bem-aventurança e se ensaia a vida de oração que se há-de viver na eternidade.

EXEM PLO

Sob uma chuva de metralha

Em princípios de Outubro de 1930 foi a cidade do Recife, capital do Estado de Pernambuco (B rasil), sacudida por vio­lenta sublevação militar. Entre as grandes construções da c i­dade sobressai o Colégio Nóbrega, constituído pela histórico palácio da Soledade e pelo dilatado corpo de edifício, de recente construção, que abrigava 150 alunos internos e maior

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DIA 16 DE MAIO 205

número de externos, além da empregadagem e do numeroso corpo docente.

Do colégio e do seu vasto quintal fizeram os revolucioná­rios o seu principal reduto e ponto de apoio, o que, pela sua privilegiada posição estratégica, lhes assegurou a vitória.

Mas a presença de tantos alunos, que nessas circunstân­cias não era possível licenciar, em contacto com os comba­tentes, representava um perigo e uma responsabilidade tre­menda para a D irecção do Colégio.

Necessário foi concentrá-los com o restante pessoal do Colégio nos baixos do antigo Palácio, onde se passaram as 48 horas que durou o mais aceso da luta. • R í nos con fiam os todos, escreve o P.° Jo ã o de Miranda S. J . , em Dezembro de 1930, à valiosa p ro tecção d e N ossa Senhora da Fátima, com a recita­ção em coro d o térço, seguido do Lembrai-vos, com 3 fíve Ma- rias p reced idas da invocação — N.* S.* do Rosário da Fátima rogai por nós.

O resultado, continua ele, foi quanto podia ser prodigiosa­mente manifesto. Todos eles safram incólum es: alunos, empre­gados, professores, sacerdotes, apesar de alguns destes se terem exposto a evidentíssimos perigos no exercício do seu sagrado ministério. E o mais curioso é que nem entre os alu­nos, crianças pequeninas a maior parte, penetrou o pânico tão próprio da idade e da sua natural timidez. Rezando sempre sob o sibilar da metralha, sobretudo na noite de 4 para 5 de Outubro, não deixavam, nas intermitências de calma, de ame­nizar a situação com os gracejos inocentemente pitorescos.

Nem é menos de maravilhar que o edifício onde os revo­lucionários tiveram de sustentar renhidos e quase contínuos ataques dos quatro flancos, não saísse da refrega sèriamente danificado. O s estragos foram insignificantes.

Muito mais nos assombra ainda a protecção da Virgem da Fátima dispensada aos combatentes. Milhares eram, sem dúvida, os que ali aguentavam e dali rechaçavam os contínuos ataques dos adversários. Pois bem, de dois apenas consta que fossem levemente atingidos.

Grande divida de gratidão para com Nossa Senhora de Fátima contraiu o Colégio Nóbrega nesses dias de sobres­saltos I (V. F . n.° 108).

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 16 OU 17 DE MAIO

ROSA MYSTICA

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

1 — O símbolo. A flor é o símbolo mais ex­pressivo da beleza criada, que toda ela não passa de um pálido lampejo da Formosura incriada.

Mas para dar às flores uma rainha, escolheu Deus a rosa, que é o mais belo adorno da criação material, a rainha das primaveras, a princesa dos jardins. A sua doirada corola é o diadema do seu principado, a púrpura das suas pétalas reflecte a da sua realeza. Presta-lhe vassalagem o sol dar­dejando sobre ela os seus raios, as nuvens refres­cando-a com suas chuvas, as abelhas haurindo dela o seu néctar, a brisa poisando nela a suavidade dos seus beijos, o rocio matinal aljofrando-a com suas pérolas.

Mas se considerarmos a beleza da rainha das flores, quem melhor do que Maria merece ser cha­mada por antonomásia a Flor da criação? Não é Ela a Rosa eternamente imarcescível que embal­sama o trono de D eus?

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E quando a Escritura fala da Rosa de Jericó não a ouve a Igreja chamar por Maria com muitos séculos de antecipação, não tem razão o mundo católico para A invocar com o nome de Rosa mís­tica ?

Assim é. A beleza imaculada de Maria tinha de ser também simbolizada pela rosa, rainha das flores.

A beleza doutras criaturas pode ser laço de perdição para as almas. A de Maria é sempre um incitamento à pureza, porque a sua beleza física é o espelho da beleza da alma, é a sua alma a retra­tar-se no corpo, imaculado como ela. A formosura corporal de Maria é o brilho da Sua pureza tornada visível na Sua fisionomia de Virgem.

II

2.° — f í realidade. Mas qual seria na realidade a formosura exterior de M aria? Não temos —e com profunda mágoa o lamentamos, — não temos uma fotografia autêntica dessa virginal formosura. Não nos faltam, porém, dados seguros para, baseados neles, podermos dar largas à nossa imaginação e fantasiarmos o que de mais acabado podemos con­ceber na jerarquia da beleza natural e sobrenatural, convencidos, entretanto, que, depois de todos os esforços do nosso espírito, havemos de ficar muito àquem da realidade.

Primeiramente, vêmo-la prefigurada desde o princípio do mundo nas belezas humanas que mais haviam extasiado os filhos de Adão.—Judite, Ester e tantas outras personagens bíblicas foram figuras

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208 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

vivas e radiantes da beleza de Maria, mas figuras que de todo se apagaram com a aparição da reali­dade.

Em segundo lugar, sendo a sua formosura ab intus, nascida do interior, a beleza exterior devia ser dela uma fidelíssima projecção e transparência. J á insinuámos que o corpo é o fac-simile material que a alma espiritual se cria e afeiçoa para tor­nar visíveis as suas perfeições invisíveis. É como que a maqueta que o Criador primeiro modelou em barro, antes de lhe infundir a maravilha espi­ritual da Sua Divina Sabedoria. Podemos portanto dizer que entre a beleza interior de Maria e a sua transparência exterior, entre a formosura da alma e a do corpo, há analògicamente a mesma relação que entre o positivo e o negativo duma fotografia.

Mas quem pode formar-se uma ideia da beleza arrebatadora dessa alma, eternamente isenta da mais leve sombra de pecado, isenta até da mancha original, única portanto no seu género de beleza? Quem pode compreender as complacências do Criador ao contemplar essa obra-prima da natu­reza e da graça?

III

Indício que não falha. — Mas o melhor indicio da beleza de Maria é a beleza de Seu Filho. A formosura da rosa é a formosura do botão.

Segundo as leis da hereditariedade humana, os traços fisionómicos do homem são a reprodução combinada dos traços de ambos os progenitores, ora mais dum, ora mais doutro. Assim dizemos

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DIA 16 OU 17 DE MAIO 209

que tal filho é o retrato do pai ou o da mãe, que sai mais a um do que a outro.

Jesu s só teve Mãe, não teve mais ninguém com quem repartir a semelhança das Suas feições. Só Maria Lhe pôde transmitir os traços do seu adorável semblante. Filho único de progénitora única.

Logo naturalmente — e digo naturalmente por­que o Filho de Deus feito homem em tudo se aco­modou às exigências da natureza — Jesu s havia de ser parecidíssimo com Sua M ãe; não tinha mais com quem se parecer. Toda a Sua beleza fisionó­mica foi herança da Mãe, toda a beleza da Mãe foi transmitida ao Filho.

E quem sabe se essa semelhança de feições não era também o que fazia dizer aos Nazarenos, seus contemporâneos: «Porventura, não é Maria a Sua M ãe? (Mat. XIII, 55) Acaso não é Ele filho de Maria? (Marc. VI, 3).

Partindo deste princípio olhemos para a fisio­nomia do Filho e ficaremos conhecendo a Mãe.

Os profetas vinham-no retratando de longe traço por traço. E contemplando-O com luz profé­tica no longínquo horizonte dos tempos, extasia­vam-se diante do seu já esboçado perfil, industria­vam-se em reproduzir na linguagem humana a doce expressão do seu olhar, em que brilhava a majestade, a graça suavíssima da Sua voz (Cant. V, 16) desabrochando em lábios de lírio (1b. 13), os castos enleios duma tez, misto inefável de rosa e de açucena (Ib. 10) exalando o perfume duma atrac­ção dulcíssima (Ib. 13) e cativando os corações (Ib. 16).

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210 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

O Salmista inspirado prorrompe num hino de admiração à formosura do mais gracioso dos filhos dos homens, em cujos lábios anda derramado o bálsamo da graça, a ponto de atrair todas as bên­çãos do Senhor (Ps. 44). E corrido finalmente o véu do futuro, diz-nos o Evangelho que era cheio de graça (Joan . I. 14), possuindo a plenitude de todos os encantos naturais e sobrenaturais e que essa graça ia com os anos irradiando fulgores cada vez mais intensos aos olhos de Deus e dos ho­mens (Luc. II, 52).

Diante de três testemunhas privilegiadas e dis­cretas deixou Ele um dia transparecer um reflexo- zinho dessa formosura divina. E «o seu semblante tornou-se um sol resplandecente e os seus vestidos fulguravam com a alvura da neve» (Mat. XVII. 2).

Os Patriarcas e Profetas desejaram ansiosa­mente contemplá-lo, e Simeão que chegou a ter essa dita, depois de se ver saciado na contempla­ção desta eternal beleza, disse a Deus que não queria mais vida.

O Eterno Pai arrebatado na contemplação do que era ao mesmo tempo a imagem criada e a ima­gem incriada das Suas perfeições, chegou como que a rasgar os véus do firmamento para do alto do céu O contemplar, declarando solenemente ao mundo que nessa formosura sobre-humana estavam postas as suas complacências.

Basta, piedoso devoto de Maria, no retrato do Filho tens já o retrato da Mãe. Com razão Santa Gema Galgani, a encantadora virgem de Luca, e nossa contemporânea, falando de Jesu s dizia a Sua Mãe numa das Suas cativantes aparições: E/e

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I)IA 16 OU 17 DE MAIO 211

parece-se convosco poq sua beleza: os seus cabelos têm a cor dos Uossos.

Não te admires, pois, que a Igreja, extasiada com esse retrato, caia de joelhos diante dele para dizer, fazendo suas as palavras do Espírito Santo: Toda formosa és, M aria; e mancha original não há em Ti. Não te admires que a inocente Jacinta, de­pois de pôr os olhos nessa celestial aparição de beleza, como se ficasse extasiada para toda a vida, prorrompesse frequente e espontâneamente nesta exclamação, tão expressiva na sua singeleza: f í i que Senhora tão bonita!

Seja ela também a exclamação da nossa alma extasiada por toda a eternidade.

EXEM PLO

«Quanto mais fitava a Virgem, mais Ela sorria»

Era a 25 de Agosto de 1928. Na gentil cidade do Lima encontrava-se, há poucos dias, Arminda dos Santos Barbosa, casada, de 28 anos, natural de Moimenta da Beira, e residente no Porto. Uma tuberculose pulmonar, agravada com bastante tosse, febre e hemoptises, obrigava-a a acolher-se em casa duns parentes de seu marido na Rua de Santiago, 16, Viana do Casteío. Quatro meses de tratamento prescrito por três dis­tintos médicos do Porto haviam resultado estéreis de todo. •Como compreendi, escreve ela, que a ciência dos homens era incom petente para debelar o meu mal, recorr i a N. S. da Fátima, convicta d e que só Ela m e salvaria. D esde criança eu nutro uma viva fé por Nossa Senhora, entendi que nesta hora tão grave para mim, Ela m e poderia a co lh er com o Sua fi/ha*.

No dia 25 de Junho do mesmo ano foi acometida de tão horrível afonia que mal se lhe podia ouvir uma palavra. A fa­mília quase nem esperava já que ela recuperasse a fala.

Foi consultar o afamado clinico Dr. Faria e Vasconcelos, residente em Viana, que não teve esperanças de a curar.

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212 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

E desde então veio afligi-la também moralmente a perspectiva da morte, deixando o marido doente e dois filhinhos de tenra idade. Mas a tristeza que sentia de querer falar e não poder, fez aumentar mais ainda a sua fé em N.® S.® da Fátima. E a 25 de Agosto já não confiava em mais ninguém. Ouçamo-la relatar, despretenciosamente o acontecimento extraordinário desse dia, que dificilmente se acreditava se não o acompa­nhassem as necessárias garantias de autenticidade.

* Eram aproximada m ente 10 horas da noite, quando eu e mi­nha família nos retiram os da m esa ; fui para o meu quarto, para, isolada dos meus, d esa bafar a minha dor e r ezar o meu térço , oração que fa ço todas as noites. Pedi à Uirgem da Fátima que me d esse fa la . . . e satisfeita já ficava em falar.

Rezei o térço cheia d e lágrimas, que por vezes impediam a minha oração, e numa p rec e cheia d e mágoa im p lorei: M ãe San­tíssima, tende m isericórdia d e m im ; peço-U os fala, já não p eço a minha saúde com p leta . . .

Logo que acab ei esta p rece , ouço um ruído parecido com um trovão; o quarto iluminou-se duma luz sobrenatural, vejo uma nuvem branca d e n ev e ; assustei-me e gritei. Lentam ente a nu­vem aproxim ou-se d e mim, fitei a nuvem que se abria lentamente e no m eio d essa nuvem aparece-me a Uirgem Santíssima com o seu Santíssimo Rosário pen dente das suas divinas m ãos até aos pés, e com as suas divinas m ãos postas. Quis a joelhar-m e e não pu de! fís forças faltaram-me, tal era a minha adm iração. Quanto mais fitava a U irgem, mais Ela sorri a, julguei chegada a minha hora final. Naquele momento não tinha pena d e morrer, p orque talvez m e salvasse. D esfaleci, tendo apertado nas minhas m ãos um térço e um crucifixo.

P assados alguns m omentos, afgumas pessoas da minha famí­lia que ouviram o ruído, decidiram -se a en trar no meu quarto, encontrando-m e d esfa lec ida ainda. Quando voltei a mim tinha-se op erad o o milagre I Eu falava numa voz tão forte, com o antes d e a d oecer .

O milagre deixou os meus tão atónitos que caíram de jo e ­lhos, rezando uma Salve Rainha em acção de graças a Nossa Senhora. P assados dois dias, fui ao Sr. Dr. Faria e U asconcelos contar-lhe o milagre e ped ir-lhe um atestado que a firm asse a ver­dade, para honra e glória d e N .‘ S ." da Fátima. Quis o m édico auscultar-me e verificou que o pulmão, que tinha as rales, estava são.

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DIA 16 OU 17 DE MAIO 213

O meu con fessor, Prior desta freguesia, Rev.mo Padre Do­mingos Borlido aconselhou-m e a publicar este m ilagre».

A beleza arrebatadora de Maria foi a que extasiou a feliz vidente. Mas o coração humano não tem capacidade para tanto. É pequeno demais para aguentar com o peso de tanta ventura. E por isso a feliz vidente acaba por desfalecer no meio da sua visão.

E o sorriso virginal de Maria, em que palpitava a sua celestial beleza, foi o que a deixou instantâneamente curada.

Tanto pode um sorriso de Maria, tanto pode a sua incom­parável formosura, um curto instante contemplada.

A autenticar a veracidade deste relatório, acompanha-o além do atestado médico, uma carta do virtuoso Prior de S. Domingos (Viana do Castelo), hoje Cónego Domingos Bor­lido que diz o seguinte : — «Corroboro tudo o que na carta se afirma sobre a cura extraordinária realizada nesta cidade no mês de Agosto do ano corrente. — Fui informado logo no dia seguinte, domingo. Eu e mais dois colegas fomos depois a casa opde morava esta senhora e falamos com pessoas que foram testemunhas de tudo. O ruído que parecia semelhante ao dum trovão foi ouvido também por estas pessoas que de­pois foram encontrar a doente desm aiad a... A carta foi es­crita com toda a sinceridade e é a expressão da verdade».

Por sua vez o atestado médico, devidamente assinado e legalmente reconhecido, d iz :

«Atesto que examinei, no dia 17 do corrente, a Sr.* D. Ar- minda dos Santos Barbosa, acidentalmente residindo nesta cidade, e verifiquei a existência duma quase completa afonia, sendo difícil por vezes perceber o que me respondia.

Prescrevi os medicamentos que julguei úteis, sem todavia esperar grande resultado, pois além do estado da laringe, outras com plicações existiam.

H oje, porém, 11 dias passados, apresenta-se-me a doente falando perfeitamente, sem o menor vestígio de rouquidão e notàvelmente melhorada no seu estado geral» (V. F . n.° 75).

O marido da miraculada era homem sem fé. Mas a Vir­gem coroou a sua obra. E ele morreu convertido.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 17 DE MAIO

TURRIS DAVIDICA

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Os antigos monarcas e guerreiros nas mura­lhas das suas cidades e nas cidadelas que as pro­tegiam levantavam torres e torreões, não tanto pelas exigências da estética arquitectónica, como pela necessidade de as fortificar contra a audácia de seus inimigos. De facto, as torres que se erguem sobre as defesas de qualquer antiga cidade, além de oferecerem um aspecto imponente e majestoso, protegem os cidadãos, consolidam-lhes a persuasão de seguridade e assim os tranquilizam contra as surpresas de incursões hostis.

Tal era também a torre de David. Jerusalém estava protegida por numerosas torres de defesa. J á na antemuralha se abriam sessenta portas e se erguia o mesmo número de torres. Outras tantas sobressaíam na segunda cintura fortificada e no­venta na terceira. Mas essas torres que se eleva­vam sobre as portas das muralhas eram dominadas pela principal de todas, que era a torre de David,

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Cu rtis Damòica

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J) ia_17_d^ maio ______ 215

da qual pendiam os escudos e armas ofensivas tomadas aos inimigos de Israel pelo Rei Profeta, como outros tantos trofeus de vitória. Mais tarde serviu ela de refúgio e de abrigo aos corajosos Macabeus.

E quem não vê, com a Igreja, na torre de Da- vid o símbolo da fortaleza invencível de Maria, comparada já no livro dos Cantares a um exército alinhado em ordem de batalha? (VI, 3). V irgem poderosa, como a torre de David, da qual estão pen­durados mil escudos e toda a armadura dos fortes.

Como se revela exacta a comparação sobre­tudo nos santuários marianos, e na Fátima mais do que em nenhum outro! Os escudos e todos os outros trofeus de vitória pendurados na torre de David, glorificavam o vencedor de tantos inimigos e inspiravam confiança a quem quer que à sombra dela se refugiasse. Os ex-votos pendurados no santuário de Maria, como outros tantos escudos a adorná-los e trofeus de suas vitórias sobre tantos males e enfermidades vencidas, glorificam também a Maria, perpetuando a memória do Seu poder e fortaleza, e inspiram confiança na Sua invencível protecção.

II

E que dizer dos ex-votos espirituais que deviam eternamente comemorar os perigos da alma, de que a protecção da Mãe de Deus, da verdadeira torre de David, tem livrado a tantos dos seus de­votos ?

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216 H.OKII.ÉQIO IUISTKADO DA l-ÃTIMA

É assim que Maria, a autêntica mulher forte prefigurada na torre de David, tem sido, é, e será sempre a celestial aparição da fortaleza invencível a inspirar coragem a quantos estamos condenados a lutar.

Toda a vida do homem sobre a terra é um con­tínuo combate desde o berço até à sepultura.

Guerreia-nos Satanás, armando contínuos laços à virtude, sugerindo sentimentos de orgulho, de vingança, de rebelião, intrigando, semeando a dis­córdia, atraindo os incautos às ocasiões de pecado, enganando-nos com sofismas de perfídia e de per­versidade. A devoção à eterna vencedora do in­ferno, sob cujo calcanhar palpita esmagada a cabeça do dragão, nos incutirá coragem para triunfarmos de todas as tentações diabólicas.

Guerreia-nos a própria natureza corrompida, com os seus baixos instintos de sensualidade. Maria, isenta embora de todas as propensões da concupis­cência, mas sabendo, como se o não fôra, resguar­dar de todos os perigos os Seus sentidos e salva­guardar o Seu coração de todas-as afeições que não fossem virginais, propina-nos com o Seu exemplo o antídoto salutar da modéstia cristã. E, fugindo com Seu Filho nos braços para o Egipto, a fim de O subtrair à morte que lhe maquinava Herodes, ins- pira-nos também a coragem de fugir dos perigos e ocasiões, que ameaçam de morte a inocência da alma. A coragem, sim, que nestes casos fugir é acto de coragem, e tão grande que bem poucos a têm.

Guerreia-nos o mundo com as suas seduções bem organizadas, com os seus maus exemplos e sobretudo com o despotismo dos respeitos huma­

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DIA 17 DE MAIO 217

nos. O respeito humano, o medo do que dirão, eis o inimigo que tantas vezes se posta entre o homem e o dever, escravizando-lhe a vontade e levando-a a uma cobarde capitulação. O temor ridículo duma apreciação, dum juízo, leva o homem a desprezar um preceito divino, os ditames da própria consciên­cia, a desagradar a Deus, só porque não tem cora­gem de desagradar a um seu semelhante, ou de desprezar uma apreciação desdenhosa. E desse modo se comprometem os interesses eternos da alma, se renuncia à amizade de Deus, só porque não há coragem de renunciar a um mesquinho in­teresse temporal, à amizade dum homem, de quem afinal se é escravo.

Questão de coragem afinal porque o respeito humano é cobardia, é escravidão, que tem feito mais apóstatas do que muitos Neros e Dioclecianos.

Porque o homem não tem brio bastante, por­que não tem coragem de fechar os ouvidos ao que dirão, por isso é que não se atreverá a defender em público as próprias convicções, nem a confor­mar com elas a vida prática, nem a censurar um abuso, nem a descobrir-se diante duma igreja, nem a dar graças a Deus depois duma refeição, nem a pronunciar o Seu Santo Nome diante dos que O não pronunciam, nem-a atribuir a milagre, ou pelo menos a graça extraordinária do céu, a cura prodi­giosa dum enfermo que os meios naturais não pu­deram curar, nem a reconhecer o sobrenatural onde ele se respira e apalpa, só para não concordar com os que o reconhecem, e não se tornar, como eles, objecto de irrisão.

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218 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Que a fortaleza de Maria, da mística torre de David, injecte em seus devotos a coragem necessá­ria para romperem com todos os respeitos humanos.

III

É na Fátima, aos pés de Maria, à sombra do Seu manto protector, que, de há 35 anos para cá, se vai despedaçando elo por elo, lentamente sim, mas corajosamente, os grilhões da abjectá escravidão com que o respeito humano, o medo de Deus e das exteriorizações religiosas o vinha acorrentando.

É aos pés da Virgem da Fátima que peregrina­ções em massa, afluindo de todas as cidades, vilas e aldeias de Portugal e do estrangeiro, constituídas por todas as classes sociais, vão recobrando a sua liberdade de servir a Deus e de praticar a Religião, sem temores nem cobardias. É ali no recinto sa­grado das aparições, no ambiente santificado pela presença de Maria, da mística torre de David, que a alma se sente forte diante do dever, sem se preo­cupar com o que poderá dizer ou pensar o mundo.

É na grandiosidade admirável dessas manifes­tações de fé, nesse ambiente de santo entusiasmo que envolve as apoteoses da Cova da Iria, no meio de delirantes ovações à Mãe de Deus, nesse con­certo harmonioso de amor e de entusiasmo, de oração e acção de graças, ao contacto de almas electrizadas por uma corrente de amor filial santa­mente contagioso, que o cristão mais tímido e pusi­lânime dá à sua alma a têmpera de aço que se re­quer para triunfar da tirania do respeito humano.

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DIA 17 DE MAIO 219

Fátima abençoada! Ainda que Maria não fizesse descer ali outras bênçãos, valeu a pena vir do céu para nos ensinar o segredo que tanto neces­sitávamos de aprender, de combater denodada­mente o respeito humano e de abrir ali a sepultura que oxalá o fizesse desaparecer para sempre da sociedade.

Fátima bendita, onde até a ciência médica, pela boca e pela pena de alguns dos seus mais conspí­cuos representantes, já se não envergonha de atri­buir sem rebuços ao sobrenatural os efeitos que humildemente reconhece estarem fora do seu alcance.

EXEM PLO

A Torre de David em face do Kremlim

Anton Je ll i , um prisioneiro de guerra húngaro, dirigiu uma carta ao Cardeal Spellman, na qual conta como, pela sua confiança na Virgem da Fátima, se viu com 39 companheiros de infortúnio, inesperadamente libertado das garras do comu­nismo russo. Essa carta recomendada pelo eminentíssimo destinatário tem sido publicada por muitos jornais da América, e foi reeditada pela Uoz de Lisboa em 22 de Dezembro de 1949.

Quarenta prisioneiros, conta ele, (36 católicos e 4 protes­tantes), foram metidos como simples carga humana num wagon, que de Janoshalm a (Hungria ocidental) devia conduzi-los para a Sibéria. Todas as esperanças de rever as famílias estavam perdidas, pois bem sabiam a terrível sorte que os esperava.

No meio da maior desolação o signatário da carta, lem­brado da promessa feita por Nossa Senhora na Cova da Iria : ■O meu Coração Imaculado há-de finalmente triunfar* contou aos companheiros de infortúnio a história das aparições da Fátima, e instou para que todos, católicos e protestantes, reci­tassem o Rosário.

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220 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FAtIMA

«Principiamos então, escreve ele, a recitar o Rosário continuamente dia e noite, prometendo os católicos receber a sagrada comunhão logo que fossem livres.»

M as, continuando o trem a rodar para o seu destino fatí­dico, todos desesperaram da sua sorte, menos Je ll i . Os comu­nistas tratáram-nos com a maior crueldade, tentando matá-los à sede que os torturava. Je ll i persistiu na recitação do Rosá­rio, certo de que a Virgem lhes não faltaria. E não receou dizer a seus com panheiros: «Não chegaremos à Rússia; a M ãe de Deus há-de nos valer».

Era no mès de Agosto; e para sustentar a coragem já quase esgotada dos outros companheiros, acrescentou: « S ere­mos talvez livres no dia da Assunção».

« Após 23 dias de viagem chegamos em 15 de Agosto a Fogani, na Roménia. Parámos al. Muitos dos nossos cama­radas estavam doentes por causa do calor e da água estragada, e sentiam dores violentas nos intestinos.

« O s doentes entre os quais me encontrava, ficavam num campo. No dia seguinte os meus camaradas continuaram a sua marcha mais para o Oriente, para Constança, no Mar Ne­gro. Ficaram aí à espera de transporte marítimo. D esvane­cia-se para todos o último raio de esperança que Nossa S e ­nhora dera em Fátima. Mas tudo mudou como por encanto no último momento. No dia 22 de Agosto, festa do Imaculado Coração de Maria, recebeu-se ordem do comando geral para que todos os soldados húngaros, a caminho da Rússia, ainda em território húngaro ou romeno, fossem mandados para suas casas. Segundo o meu cálculo, subiam a 200.000 os soldados a quem a Virgem de Fátima libertou da escravidão, nesse dia solene consagrado ao seu Coração Imaculado».

Da mística fortaleza inexpugnável de David estão real­mente pendentes mil escudos e toda a armadura dos fortes. E a mais invencível é a que Ela nos veio trazer e recomendar à Fátima : — o Seu Rosário.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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Cucris ®butnea

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TURRIS EBÚRNEA

Oração preparatória, com o na pàg. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Dão-nos testemunho as sagradas páginas da casa de marfim mandada construir por Achab, sé­timo rei de Israel, bem como do elevado trono, também de marfim, obra mandada executar por Salomão, que por sua vez compara a uma torre de marfim o colo da Esposa mística dos Cantares, «sicut turris ebúrnea» (VII, 4).

É realmente notável a alvura do marfim, como é atraente e justamente apreciado o seu esmalte, ao mesmo tempo que a sua resistência e solidez são dignas do gigantesco animal que o produz.

Não é sem motivo que a Igreja chama à cân­dida Virgem de Nazaré e filha de Salomão a mís­tica Torre de Marfim celebrada nas sagradas letras. NEla melhor do que em ninguém se verificam os preciosos predicados do marfim.

Invencível escudo do cristão, fortaleza inex­pugnável contra todos os ataques e ciladas do mal, incorruta e inflexível como o marfim, Ela tem sido

DIA 18 DE MAIO

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222 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

o socorro constante da Igreja aflita e perseguida, socorro poderoso e universal; socorro contra a força das armas, socorro contra a violência dos potentados da terra, socorro contra as persegui­ções, socorro contra todas as tempestades susci­tadas pelo inferno e que tendem a empecer a sua conquista de almas para Cristo, a diminuir o nú­mero de fiéis e a levá-los à apostasia.

Tal é o panorama de grande parte da Europa e do extremo Oriente e Norte da Ásia.

Invoquemo-La a toda a hora com novo e sem ­pre renovado fervor a fim de que Ela afaste todos os .perigos que ameaçam a Igreja de Seu Filho. E saibamos nós também na hora das trevas refu- giar-nos na mística Torre de Marfim, a cidadela inexpugnável da nossa defesa.

II

Mas não é só a Igreja considerada na sua co­lectividade organizada e governada pelo seu chefe visível, é cada um dos seus membros também individualmente considerado que se sente perse­guido, solicitado para o mal, e que experimenta a necessidade dum auxílio superior.

Apenas regenerado pela água baptismal, pres­tou o cristão o seu juramento de bandeiras, pro­metendo fidelidade a Jesu s Cristo, seu Rei, e comprometendo-se a combater a Seu lado, renun­ciando a Satanás e às suas obras, ao mundo e a todas as pompas e vaidades. Abriram-se-lhe desde logo os horizontes da vida cristã e encontrou-se

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DIA 18 Dl- MAIO 223

no campo de batalha, rodeado de inimigos, onde por dever de honra tem de pôr em prática as pro­messas do baptismo. E no meio da peleja de cada dia quem não sente a necessidade de fortaleza para sair vitorioso da refrega, como S. Francisco de Sales teve de recorrer aflitivamente a Maria para triunfar duma horrorosa tentação de deses­pero ?

O Evangelho manda-nos perdoar as injúrias que nos são feitas, amar os nossos inimigos, dizer bem de quem nos calunia, fazer bem a quem nos faz mal. Mas para isso necessitamos de possuir aquele domínio sobre nós mesmos, inacessível a melindres e susceptibilidades do amor próprio que levantou muitos santos às culminâncias do he­roísmo.

O Evangelho manda-nos combater sem trégua as paixões e más inclinações da natureza depra­vada que nos solicitam ao pecado, mortificar os sentidos, contrariar os próprios caprichos pela abnegação. Mas para tudo necessitamos da fir­meza própria de vontades que, à imitação do mar­fim, não quebram nem torcem.

O simples instinto da própria salvação man­da-nos fugir de perigos e sugestões mundanas que arrastam para o mal, manda-nos desviar dos maus exemplos que nos rodeiam e não imitar as acções de grande parte dos homens. Mas que extraordi­nária fortaleza de alma se não requer, a fim de não nos deixarmos arrastar pela corrente do mau exem plo! Trazemos constantemente diante dos olhos exemplos de perversidade que se multipli­cam dia a dia, e que só por milagre deixarão de

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224 FLORILÉUIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

contaminar o nosso espírito sempre tão impres­sionável.

É a irreligiosidade dum amigo ou dum parente, é a depravação geral das ideias e dos costumes de que devemos preservar-nos a todo o custo, são os abusos deploráveis da imodéstia no vestir, da in­temperança, dos espectáculos, dos maus cinemas, das leituras e ilustrações licenciosas, de que urge defender-nos à mão armada, de mil laços enfim, traiçoeiramente armados à virtude dos adultos e à inocência das crianças.

E como nos defenderemos, se não estamos armados do espírito de fortaleza e como que acou- raçados pela fortaleza do espírito, que nos torne invulneráveis às setas envenenadas da licenciosi­dade e como, que impermeáveis a tudo o que é mundanismo anti-evangélico?

III

Só no genuíno espírito mariano, que nos faz entrever, através da alvura do marfim, a cândura imaculada da Mãe de Deus, e através da sua con­sistência e incorrução, a perene indefectibilidade da protecção maternal de Maria, encontraremos os recursos de constância e de heroísmo que são os autênticos pergaminhos do cristão, nutrido pela sólida e terna e filial devoção à Virgem-Mãe.

Refugiemo-nos, pois, à sombra da inabalável Torre de Marfim, que foi sempre a defesa inven­cível dos bravos.

A devoção a Maria tem a prodigiosa virtude de dar às almas a têmpera do aço para resistirem à

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DIA 18 DE MAIO 225

sedução das criaturas, e a consistência duma rocha inabalável contra todos os assaltos dum oceano revolto, ao mesmo tempo que lhes pode comuni­car a dureza e a insensibilidade do diamante em face do prazer sedutor que o mundo lhes acena.

Seja essa devoção a nossa torre de menagem. Para isso se aproximou Ela mais de nós, visitan­do-nos na Fátima, em hora particularmente grave para a Igreja e para o mundo.

Se é característica constante da Providência acudir à sua Igreja com assistências de flagrante actualidade, determinadas sempre pelas necessida­des do momento, quem não vê, na descida de •N.a S.a à Fátima, verificada uma vez mais essa lei ? A grande heresia do nosso século, a mais funesta de que há memória, é o comunismo ateu. O antí­doto enviado pelo céu é a devoção ao Coração Imaculado de Maria. FÁTIMA e o COMUNISMO afiguram-se-nos as DUAS BANDEIRAS que na hora que passa disputam o domínio do mundo.

Ninguém ignora o paralelismo que ficou mar­cando os dois berços. Foi em 1917 que Lenine, triunfando na Rússia, repetiu em artigos incendiá­rios a famosa frase: AGORA OU NUNCA. No mesmo ano aparecia a Mãe de Deus na Fátima revelando aos videntes o Seu plano de desenca­dear também a Sua revolução no mundo. Incen­diado em ódio, o mundo tinha de ser contra-incen- diado em amor.

O comunismo começava pelo extremo oriente da Europa, visando o O cidente; a Mãe de Deus começa pelo extremo ocidente, visando desde a primeira hora o Oriente ameaçador. Era de um

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226 FLORILÉUIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

lado, a revolução do materialismo levado até às últimas consequências; do outro, a revolução do espiritualismo, capitaneado pela Virgem da Fátima. Duas frentes cerradas que avançam, batendo-se ambas pela conquista do mundo, e cujo programa antagónico se cifra em ser uma a ruina da outra.

E XEM PLO

Hoje profecia, amanhã história

Desviando-nos, por excepção única, do método até agora seguido, apresentamos hoje, como exemplo, o que só amanhã será realidade, mas que já hoje é promessa, embora condicio­nada, da Virgem da Fátima.

Para desviar apodos de visionarismo, demos a palavra a Mons. Fulton Sheen, Bispo auxiliar do Cardeal Spellman, mo­mentos antes de tomar o avião para a América, depois de ter tomado parte no Congresso Internacional da Mensagem da Fátima, em Outubro de 1951. '

«A Praça Vermelha de Moscou encontrou uma resposta na Praça Branca da Fátima. A Praça Vermelha cheia de espin­gardas e bandeiras, vermelhas do sangue de vitimas do comu­nismo, está diante da Praça Branca da Fátima, branca como a imagem de Nossa Senhora. Dia virá em que o poder tirânico da Praça vermelha e o poder espiritual da Praça da Fátima se encontrarão num conflito derradeiro. ELA TE ESM AGARÁ A CABEÇA. O comunismo ia ser o maior mal do século. Pois bem, a Virgem iria contrabalançá-lo com o maior bem : a de­voção ao Seu Imaculado Coração.

Desde o com eço predisse Ela na Fátima a derrota do comunismo, s e o mundo sou besse manejar essa arma formidável. • Ela te esmagará a cabeça», diz o sagrado oráculo numa alu­são longínqua, mas inequívoca à Santíssima Virgem, que por Seu poder quase infinito se tornaria a morte de todas as he­resias . . .

O comunismo não será derrotado pelas armas, mas, sim, conquistado por meio da conversão. Na Praça Branca da Fá­

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DIA 18 DE MAIO 227

tima Nossa Senhora não deseja a morte dos comunistas, mas que sejam convertidos e possam viver em paz e com Deus.

Daqui a 50 anos a Praça vermelha será a Praça branca, e o martelo que transforma os arados em espadas, e a foice que ceifa vidas humanas como ceifa o trigo, trocarão o seu trágico simbolismo. O martelo assemelhar-se-á a umà cruz. A foice, como a lua sob os pés de Nossa Senhora, deixará de ceifar vidas. E no meio de milhões de mãos brancas, perante o Kremlin, segurarão lenços brancos, tremulando ao vento, em tributo de amor a Nossa Senhora da Fátima, coroada em triunfo através da Praça V erm elha. . . do belo vermelho do sangue de Seu Divino Filho, Nosso Senhor Jesu s Cristo ».

Assim se antolha ao venerando Bispo americano a pro­messa de Nossa Senhora da Fátima. O que, sim, podemos desde já dizer, é que Fátima é o púlpito de marfim onde Maria fala aos homens.

O ração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 18 OU 19 DE MAIO

DOM US AUREA

Oração preparatória, como na páj. Í5.

AOS PES DE MARIA

1

Grande maravilha, que foi o assombro da anti­guidade, é a que nos vem pormenorizadamente descrita em todo o capítulo 6 do terceiro Livro dos R eis: o Templo de Jerusalém , edificado por Salo­mão, obra de sete anos de incessante trabalho e de prodigiosa arquitectura com que o Rei Sábio quis levantar ao Senhor uma casa digna da M ajes­tade divina.

Sem falar do magníficto material que entrou na construção das paredes e dos próprios alicerces, quem lê o /nencionado capítulo não pode deixar de admirar as chapas de cedro tão artisticamente lavradas, os querubins e palmas em relevo, as flo­res que se vêem desabrochar sob o brilho deslum-. brante do oiro, o próprio pavimento revestido desse preciosíssimo metal, tão profusamente em­pregado que o texto bíblico nos atesta não haver nada nesse templo que não fosse recamado e re­vestido de oiro, podendo-se quase literalmente

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t)otnu5 Hutea

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DIA 18 OU 19 DE MAIO

chamar uma casa de oiro, como de oiro se chama um cális ou um cibório.

Mas com quanto maior propriedade não é esse nome dado à Santíssima Virgem, Santuário vivo que o Senhor mesmo por Suas mãos construiu para Si, sacrossanta e augusta morada por Ele es­colhida, digamos mais, à qual mais estreitamente do que a qualquer outra criatura Ele se uniu pela graça santificante e pelos laços duma estrita e au­têntica filiação que fez dEla a Sua própria Mãe 1

Áurea mansão da alma de Maria o Seu corpo imaculado. Áurea mansão da graça divina a alma imaculada de Maria. Mansão áurea da própria Di­vindade a Imaculada Princesa de Israel.

Num sentido maravilhoso, já antes da Incarna­ção, Vós éreis, ó Virgem singular, a «Casa do Se ­nhor», a Sua Casa de Oiro por antonomásia, por Ele adornada de tantos carismas e prerrogativas infinitamepte mais preciosas do que todo o oiro da terra. Todos os Vossos pensamentos, todos os Vossos desejos e afectos, todas as Vossas palavras e acções eram já aos olhos de Deus o mais fino oiro do mundo da santidade, incomparàvelmente mais preciosos do que esse metal sedutor, em má hora feito ídolo despótico da humanidade.

Mas, depois que o Uerbo se fez carne e habi­tou entre nós, Vós ficastes sendo, num sentido bem mais assombroso, a Sua Casa de Oiro, porque da Vossa mais pura substância fez Ele para sempre a S u a ! Os primeiros meses da Sua vida mortal quis Ele vivê-los da Vossa própria vida. E essa união humano-divina Vos fez proclamar bem-aventurada por todas as gerações no céu e na terra.

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230 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

II

O oiro inacessível a qualquer alteração é sím­bolo exato da perfeitíssima pureza que adornou a alma de M aria: um novo título que justifica a invo­cação de Casa de Oiro. Não foi acaso um dos maiores milagres do Altíssimo a perpétua e inalte­rável integridade de Sua M ãe? E inflamada no amor divino, do qual pela sua cor de fogo o oiro é ainda emblema, não Lhe conferirá também direito a esse título o fogo da caridade em que a deixou abrasada a mesma Caridade divina que nEla habi­tou? Deus caritas est (I Joan . IV, 16). Quem d’Ela tomou carne é a mesma Caridade incandescente.

A h ! que infelicidade a nossa não sermos tam­bém assim na medida em que à nossa débil natu­reza é permitido sê-lo !

Porque é que nós, consagrados a Deus como Seus templos pelo baptismo, pela confirmação, pela Eucaristia, nos parecemos tão pouco dignos do «Santo dos santos», que de nós fez a Sua viva mo­rada? Porque é que, tão solícitos de adornar a nossa morada, quando lhe cabe a honra de receber um hóspede ilustre, tão pouco zelo mostramos em fazer da nossa alma e do nosso corpo uma casa de oiro agradável ao Senhor.

E, longe de nos deixarmos inflamar no amor do soberano Bem, porque é que «a fascinação de bagatelas» (Sap. IV, 12) desperta em nós paixões que loucamente arrebatam, e para com o Deus de arrebatadora amabilidade só sentimos frieza e indi­ferença? E como é que diante de tão funesto con­traste nos não ruborizamos e confundimos?

Sim, vergonha e confusão, mas arrependimento

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DIA 18 OU 19 DE MAIO 231

também, e frequentes actos de devoção e de amor ardente para com Deus, de Quem por uma graça nunca assaz apreciada nos tornamos templos vivos.

III

Casas de oiro, casas de Deus, são-no as almas que conservam o estado de graça. Casas de Deus são-no também as casas de oração, os templos ma­teriais, em que Deus é adorado, em que se Lhe rendem acções de graças, em que se Lhe prestam actos de culto e se Lhe dirigem súplicas.

Como já em Lourdes, também na Fátima a celestial Aparição manifestou aos Seus videntes a vontade de ver erguido naquele local um santuário de oração. E, em vez de um, quantos e quantos se não erguem já onde então não havia sequer pedra sobre pedra!

Uma casa de Deus na Cova da Iria! Que ar­canos de misericórdia e de predestinação não en­cerra este desejo da Mãe de Deus, manifestado numa hora em que começava na Europa oriental, para ser continuada poucos anos depois na Europa central e no próprio coração da península ibérica, à vista da Fátima e quase dentro dos seus horizon­tes a destruição vandálica das casas de oiro, em que habitava a própria Divindade sacramentada.

Viu-se, e, para vergonha da nossa civilização, assistiu-se quase em silêncio e sem reacção à execução sistemática de todo um programa de pro­fanações sacrílegas. O próprio Deus, inquilino pací­fico e amoroso dos tabernáculos, vimo-Lo perse­guido pelas chamas, alvejado pela metralha, pela

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23‘2 ILOHILÉQIO 1 LliòlKADO DA IÁTIMA

bomba incendiária e explosiva transportada sobre as asas da destruição ao serviço do mal, e obrigado a refugiar-se em novas catacumbas ou em esconde­rijos abertos sob as próprias ruinas das igrejas e das cidades.

E, enquanto os Anjos sentiam frémitos de hor­ror diante de atentados sem nome cometidos contra a Divindade escondida e fechada em minúsculas casas de oiro, os homens, os «fiéis» ... pensavam noutras coisas.

Mas a Deus nunca faltarão igrejas para ser ado­rado, se não Lhe faltarem templos vivos, e se esses templos se mantiverem de pé.

Podem aliar-se, com as forças subterrâneas de Satanás, todos os vandalismos iconoclastas da nossa época (e bem aliados andam eles já), que, enquanto não puderem suprimir os espaços geográficos, toda a terra será um vasto templo de adoração ao Cria­dor; e enquanto não derrubarem o firmamento, não faltará a esse templo uma cúpula digna de Quem a construiu; e enquanto nesse firmamento não forem capazes de apagar as estrelas que lhe dão luz e vida, também no grande templo de Deus não hão-de faltar círios e lampadários que o ilumi­nem e apregoem a glória do Criador.

Que por intercessão da Virgem-Mãe da Fátima, em cuja honra por toda a parte o mármore e o gra­nito porfiam em Lhe servirem de templos, possa­mos todos sentir cumprida em nós a palavra de Seu divino Filho: «Se alguém me ama observará as minhas palavras, e meu Pai o amará, e a ele vire­mos e nele estabelecerem os a nossa morada» (Joan . XIV, 23).

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DIA 18 OU 19 DE MAIO

EXEM PLO

Pedras que se levantam e pedras que (alam

A notícia é enviada directamente da Secretaria Episcopal de Fulda (Alemanha) e publicada na «Voz da Fátima» de Agosto de 1950 (N.° 335). Copiamos textualmente :

«Depois da guerra já foram dedicadas nesta Diocese duas capelas a Nossa Senhora da Fátima. A primeira, na região de Kassel, que foi quase completamente destruída e cuja popula­ção é na maior parte protestante — foi levantada em Wilhelms­hohe e consagrada por Sua E x.‘ Rev.m* o Bispo Dr. Dietz.

Em Kassel todas as igrejas e capelas de asilos e hospitais ficaram arrasad as; a sua reconstrução vai-se fazendo muito lentamente, devido à pobreza do município. Por isso foi mo­tivo de grande regozijo a sagração dessa cppela numa parte de um edifício arruinado, e a sua dedicação a Nossa Senhora da Fátima.

Uma segunda capela, sob a mesma invocação, foi sagrada em Kerzell, nos arredores de Fulda, e esta tornou-se lugar de muitas peregrinações, objecto de constantes visitas e de grande devoção a Nossa Senhora da Fátima.

O s habitantes de Viebelskirchen, juntamente com o seu Pároco, fizeram durante a guerra a promessa solene de cons­truir uma capela em acção de graças a Nossa Senhora da Fá­tima, no caso de os bombardeamentos lhes pouparem a igreja e as moradias.

Alcançada a graça de uma maneira prodigiosa, visto a zona perigosíssima em que se encontravam, o cumprimento da promessa teve o seu remate no segundo Domingo de Maio passado.

A capela encontra-se edificada no adro da igreja, e a ima­gem ali entronizada foi esculpida em Portugal, e benzida na Cova da Iria pelo Senhor Bispo de Leiria.

A recepção foi imponentlssima. Um brilhante cortejo de alguns milhares de fiéis, cantan.io e rezando, levando estan­dartes, bandeiras e galhardetes de várias associações, dirigiu- -se para a estação do caminho de ferro, que também já se en­

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234 FL0KILÉ0I0 ILUSTRADO DA FÁTIMA

contrava à cunha. Quando a imagem chegou, o entusiasmo foi indescritível.

Logo posta num carro, puxado por quatro cavalos, foi con­duzida para a igreja paroquial, onde o Rev. P. Barbian, da casa missionária de Wendeler, falou vibrantemente da actual devo­ção a N.® S .* da Fátima, da necessidade da oração, reparação e penitência. Seguiram-se cânticos, preces, invocações e solene Te-Deum.«

Mas não é só na Alemanha que as pedras se levantam para erguerem monumentos à Virgem da Fátima.

Também o Egipto, e junto ao local em que Ela viveu des­terrada Lhe ergue o seu monumento, uma igreja condigna, que já se ficou chamando cidade de N ossa Senhora da Fátima.

É obra dos católicos do rito ca ld áico ; e a primeira pedra foi benzida e lançada no dia 7 de Jane iro de 1951, por D. Jo s é Ghanina, Patriarca de Babilónia dos Caldeus. Estava presente grande multidão com numerosos membros do clero e da comu­nidade caldáica, associando-se-lhes altas representações civis e eclesiásticas.

O Patriarca D. Jo s é dirigiu a palavra a toda a assistência, resumindo a história das Aparições da Fátima, e lendo nume­rosas mensagens de felicitação pela iniciativa, começando por este telegrama de Mons. Montini em nome do P a p a : «Por o ca ­sião do lançam ento da prim eira p edra para a prim eira igreja no Egipto consagrada a N ossa Senhora da Fátima, Sua Santidade en ­via d e todo o cora çã o ao c lero e aos fiéis caldáicos do Cairo, com o p en hor esp ec ia l da p ro tecção da Uirgem Maria, a b ên ção apostó­lica ped ida .•

Mensagem semelhante enviou Sua Emin." o Sr. Cardeal Tisserant, então no Alto Egipto.

O Patriarca D. Jo s é rezou as orações do Ritual, mas em língua caldáica que corresponde ao antigo aramáico, a língua falada por N. S. Jesu s Cristo na Sua vida mortal.

Declarou ainda o mesmo Snr. Patriarca que enviara um telegrama à Irmã Lúcia, pedindo-lhe estivesse presente em es­pírito a esta bela cerimónia. E ao venerando Bispo de Leiria, participou em carta autógrafa o acontecimento, dizendo entre outras co isas: «Quando a imagem de N.®S.®da Fátima visitou o Cairo há dois anos despertou o entusiasmo do povo egípcio. Concebi desde logo o projecto de erguer um santuário em Sua honra, em Heliópolis, perto de Matarieh, onde a tradição nos

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DIA 18 OU 19 DE MAIO 235

mostra ainda a árvore sob que a Sagrada Família descansou antes de entrar no Cairo.

Depois de larga espera e de muitas dificuldades, conse- gui, graças à Virgem Santíssima, o decreto real que me permite construir um belo e grande templo a Nossa Senhora da Fátima.»

O local, declara ele também, é «centro importantíssimo do mundo muçulmano, onde a Virgem Santíssima quer reinar, e onde Ela é muito amada e respeitada».

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 19 DE MAIO

FOEDER1S ARCA

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Figura e símbolo augusto de Maria, sem dúvida o mais expressivo, foi a arca da aliança, de todos os tesoiros do Templo o mais sagrado e mais caro ao povo de Deus pelo que era, pelo que significava e pelo que continha.

Era o relicário das maravilhas de Deus, era o paládio de Israel e o terror dos seus inimigos, era o cofre preciosíssimo que ciosamente guardava, como outras tantas lembranças deixadas por lavé ao Seu povo, as táboas da Lei escritas pelo próprio punho de Deus, um vaso de oiro repleto do mira­culoso maná chovido do céu e a vara de Aarão que Deus fizera florir como sinal manifestativo da sua escolha para o sumo sacerdócio.

Era a arca feita de madeira incorruptível, em­bora de germen corruptível, tal qual a realidade nela prefigurada, que, nascida embora de estirpe maculada, foi pessoalmente preservada da mancha

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Sbeòetis Hrca

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DIA 19 DE MAIO 237

original, sem corrupção alguma que pudesse jé.mais contaminá-la.

A sua construção tivera por arquitecto o pró­prio Deus (Ex. XXV) que dera pormenorizadamente a Moisés todos os delineamentos, todas as peças e acessórios, bem como a ornamentação e modo de execução. Laminas de puro oiro a revestiam inte­rior e exteriormente. Encimada por uma coroa de oiro, o propiciatório igualmente de oiro a fechava: Dois querubins, também de oiro e de asas esten­didas, voltados um para o outro cobriam o propi­ciatório, de cima do qual a majestade de Deus transmitia aos filhos de Israel os Seus oráculos.

Não temos nós aqui uma eloquente prefigura­ção de Maria, adornada do precioso e puríssimo oiro da graça divina, feita o trono do Senhor e pro­piciatório vivo do mundo, santuário augusto, do qual o Verbo humanado fez ouvir aos homens os Seus oráculos de vida eterna? Não guardou Ela em Seu puríssimo seio o verdadeiro maná que o céu nos deu, o pão vivo que baixou do céu?

Quem, se não Ela, foi a Arca viva que em Si encerrou o próprio Autor da Lei escrita? E acaso não foi Ela a depositária dos títulos sagrados de ambos os Testamentos, e no dizer de André Cre­tense (serm. de Assumpt.) o compêndio de todos os oráculos divinos; o livro do Verbo, cujas pági­nas sagradas foram abertas pelo Eterno Pai aos olhos do universo: «É este o meu Filho dilecto, objecto das minhas com placências; e scu ta i-O » . (Mat. XVII, 5). E quem não vê na Sua maternidade virginal a luminosa realidade prefigurada na vara seca de Aarão que frondesce, floresce e frutifica?

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238 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

II

Se a arca prefigurou a Virgem-Mãe, o maná prefigurou a Eucaristia, que é Jesu s Cristo, o Filho de Maria em pessoa, feito alimento vivo da alma.

A Eucaristia é sacramento e é sacrifício, que renova dum modo incruento o sacrifício cruento do Calvário. Por isso ela perpetua na terra a Reden­ção, ao mesmo tempo que nos antecipa a bem- -aventurança.

Perpetuidade da Redenção, porque ela é a pre­sença realíssima do Redentor no meio de nós, e a renovação incessante do Seu sacrifício, com a in­cessante aplicação dos seus frutos e méritos reden­tores. E a Redenção continua.

Antecipação da bem-aventurança, porque onde está o objecto plenamente beatificante e saciante de todas as nossas aspirações, aí está a bem-aven­turança. Não é ainda o inebriante face a face, porque o Deus da Eucaristia só se nos dá sacra­mentalmente velado para exercício meritório da nossa f é ; mas é já o penhor seguro do prometido face a face, «futurae gloriae pignus», que será o prémio da mesma fé. E desse modo é a Bem-aven- turança que começa.

E quem pode conceber o que seria o mundo sem a Eucaristia? O mesmo que seria o céu sem Deus, se tal absurdo se pode imaginar. Um mundo vazio, um mundo sem vida, pois é Ela quem o enche da Majestade divina, um mundo mergulhado na escuridão da morte, pois quem nos diz «Eu sou a vida» e «eu sou a luz do mundo» é o próprio Deus da Eucaristia.

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DIA 19 DE MAIO 239

O que mais nos arrebata nas cenas do Edém, e o que do Edém fez um paraíso, foi a íntima con­vivência estabelecida entre Deus e o homem. O pecado veio pôr a essa intimidade, a essa ami­zade beatificante o seu lúgubre ponto final. E o Edém já não é paraíso. Sem a convivência divina é um vale de lágrimas, um hospital, um cemitério, um futuro de negros horizontes.

Mas no meio desses horizontes sente-se um dia cair abundante chuva de maná celeste a matar a fome dum povo faminto. Misterioso alimento esse que durante 40 anos sustenta a vida dum povo, que sabe quem lh'o envia e nunca soube de que era feito. Misterioso, porque ele envolvia uma promessa, era um símbolo e era uma profecia. E o mistério desvenda-se no dia em que a Reali­dade encoberta através desse alimento diz aos des­cendentes desse povo: «Os vossos avós comeram o maná no deserto e . . . m orreram !... O pão vivo, que desceu do céu, sou eu. Quem comer desse pão não morrerá».

No meio ainda desses horizontes escuros de expectação ouviu-se a voz da profecia a dizer: «Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emmanuel» (Is. VII, 14). Emma- nuel! alvissareiro nome, portador de profundos arcanos! Esperemos pela interpretação do Evange­lista que nos dirá a seu tempo: «Nobiscum Deus», Deus connosco, eis o seu significado. Deus nova­mente com o homem? Restabelecida essa intimi­dade divina do Paraíso? Irá encher-se esse vazio de tantos séculos? Irá dissipar-se essa noite que parecia eterna? Sim, «Verbum caro factum est... et

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240 FLORILHGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

vidimus gloriam eius», nos dizem testemunhas ocu­lares, nossos antepassados que O viram nascer, morrer, subir ao céu. Mas também O ouviram di­zer: Eu estarei convosco até à consumação dos sé­culos. E não nos enganou. Ei-Lo no meio de nós em todos os recantos da terra. E com a terra gi­rando vertiginosamente através dos espaços, tam­bém Ele percorre a imensidade dos espaços, como Rei dos espaços e Senhor da imensidade.

III

Maná divino que em infinita abundância Maria trouxe ao mundo, nos trouxe à Fátima a verdadeira Arca da aliança!

Nunca Maria se viu tão unida à Eucaristia como nos prodígios de assombrosa profusão que em 1917 Ela inaugurou na Cova da Iria, e depois nas suas peregrinações através de várias regiões da terra. Dir-se-ia que não opera um independentemente do outro, mas só em perfeita harmonia e colaboração.

As curas mais assombrosas, que quase chegam a ser verdadeiras ressurreições, têm-se verificado durante a comovente cerimónia da bênção eucarís­tica aos doentes. É uma íntima aliança eucarístico- -mariana. E é algo mais ainda. Mistério de fé? Dir-se-ia que na Fátima quase deixou de o ser. A presença real de Jesu s Cristo na Sagrada Hostia quase se tornou antes objecto de conhecimento experimental e palpável.

O doente (quantos e quantos!) recebe a bên­ção do Santíssimo Sacramento. Automàticamente

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DIA 19 DE MAIO

esse pobre farrapo humano sente que uma nova corrente de vida perpassa por seus membros e o rèanima. O servita ou a servita que lhe assiste sente reanimar-se-lhe o pulso e transfigurá-lo uma nova cor. Ergue-se, salta da maca. Está fulminan­temente curado. O médico, em vez da certidão de óbito, ao verificar chagas instantâneamente cicatri­zadas, pulmões refeitos, passa-lhe atónito decla­ração de cura e de ignorância em explicá-la.

É ou não é a presença real de Jesu s Cristo a entrar pelos olhos de quem os tiver abertos? É ou não é o argumento médico da presença eucarística de Jesu s, como se viesse substituir o acto de fé ? Essa presença divina em corpo, sangue, alma e di­vindade, torna-se tão sensível nessas horas de mi­lagre, que só falta vê-lo assomar a nossos olhos para nos dizer: «Affer manum tuam et mitte in latus meum», estende a mão e vem apalpar.

Digamos-Lhe nós ao lado de Sua Mãe, a Ele associada: fíve, verum corpus nafum de Maria Uírgine.

E XEM PLO

No momento da Bênção Nossa Senhora segredou-me a minha cura

O Dr. Joaquim Hermano Mendes de Carvalho em cinco fartas colunas descreve como médico e como testemunha na Uoz d e Fátima (N .° 76) a doença complicadíssima e a cura sim­plicíssima de D. Maria Margarida Teixeira Lopes, da casa de Pereiró, concelho de Louzada. Registamos apenas o essencial da narração e isso mesmo muito resumido.

Desde menina manifestam-se já rebates alarmantes de

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FLORILÉQIO ILUSTRADO DA FÀT1MA

perturbações nervosas, primeira herança de seus maiores. J á depois de casada é uma tuberculose pulmonar que se declara.

Um novo género de sofrim entos estava porém destinado a criar-lhe o seu ca lvário : volumosos abcessos, tumores e mais tumores que se reproduzem às centenas numa prolife­ração inaudita, tendo sido contados depois de certo tempo para cima de 500, curando-se uns para darem lugar a outros. O seu organismo tornara-se um autêntico laboratório de tumores.

Fazem-se análises, multiplicam-se os tratamentos, inter­vêm sucessivamente médicos e mais médicos e especialistas, terminando o dedicado médico assistente e cronista fiel da doença por confessar uma e repetidas vezes que toda a perí­c ia, dedicação e boa vontade sua e de abalizados colegas não conseguiram debelar a proliferação dos abcessos que se torna­ram uma autêntica praga.

•Foi... nesta situação angustiosa, am arrada ao leito dias e sem anas seguidas, que D. Margarida se lem brou d e rec orr er à Fátima, envolto numa incomensurável atm osfera d e fé cr ista».

O bondoso médico duvida da possibilidade de levar a cabo tão dura e longa viagem.

Resposta da fervorosa doente: * ainda que tenha d e ser levada na ambulância da Cruz U erm elha, hei-de ir, porque tenho a certeza de que serã o estes os últimos tumores, s e N ossa S e ­nhora... permitir que eu chegue à Fátima. E s e m orrer na via­gem, nem isso me dem ove ...»

Do leito saiu a enferma amparada por duas pessoas, acomodando-se a custo no automóvel, portadora nessa hora de cinco tumores formados que bem a haviam de mortificar com todas as trepidações e solavancos do carro. Acompanham-na, entre outras pessoas, o marido e o médico cronista. Chegam à Fátima pelo lusco-fusco do dia 12, passando a noite no carro, sem poderem ir à procissão das velas.

Na manhã do dia 13 é levada em maca pelos servitas para receber a sagrada comunhão, depois é conduzida à pre­sença do corpo médico que fica assombrado diante da sua complicada e excepcional patologia. Dali foi levada a orar diante de Nossa Senhora.

O médico-companheiro só voltou a vê-la quando pelo braço do marido e dispensando o auxilio dos servitas, se di­rige, radiante d'e alegrja, para o automóvel, sentindo já em si a

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DIA 10 DE MAIO

cura, que logo se iria evidenciar pelo desaparecim ento defi­nitivo dos tumores.

Ao receber do Senhor Bispo de Leiria a Bênção do San­tíssimo, perdeu a noção de tudo, sem nada ver nem ouvir, nem sentir do que à volta de si se passava. Sabe apenas que Nossa Senhora lhe segredou a sua cura.

Ao despertar desse êxtase sente que a gaze e o algodão que lhe protegiam o abcesso do lado direito se haviam des­prendido; apalpa e encontra seco o tumor. O s nódulos que, à salda de sua casa, ameaçavam dezenas de novos abcessos, tinham desaparecido.

«Reconheceu também que a sua pele, em vez d e grosseira­m ente pergam inbada, nodulosa, dura, com o era d esd e há muito tem po nas reg iões invadidas pelo s tumores, s e apresentava quase lisa e sensivelm ente solta, flá c id a ! »

«Deu-se uma cura m iraculosa, conclue o médico cronista, ou então, estou para sa b er ainda o que seja um m ilagre«.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 20 DE MAIO

JAN UA COEL1

O ração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Deus criou-nos para Si. Todos estamos desti­nados à bem-aventurança. Mas nem todos conse­guem esse fim. É que toda a ciência da salvação se reduz a saber acertar com a porta do céu; porta por onde saem e descem até nós os auxílios indis­pensáveis para irmos tecendo a coroa de justiça, que no último dia nos dará o justo Juiz, e porta por onde hão-de entrar e subir até ao trono de Deus as nossas súplicas, sem as quais aqueles au­xílios nos não serão dispensados. Porta que em última análise tem de ser aquela inefável escada mística, pela qual, disse Santo Agostinho, sobe a ora­ção e desce a graça divina, convertida em miseri­córdia : ascendit oratio, descendit miseratio. Quem encontrar essa porta, encontrará a vida, diz o Espí­rito Santo, e receberá do Senhor a salvação.

D esse modo só será com propriedade ,a porta do céu quem fôr medianeiro e dispensador ou administrador de todas as graças de salvação que

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Jatuia Coeli

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DIA 20 DE MAIO 245

chovem do céu, e que ao céu conduzem os que fielmente as aproveitaram. Um e outro papel foi por incumbência divina confiado a Maria.

II

1.° — Maria medianeira. Sem querermos teme- ràriamente penetrar na intimidade dos segredos divinos, podemos afoitamente dizer que todas as graças nos vêm por Maria. Toda a nossa vida sobrenatural está colocada sob o seu maternal influxo.

É afirmar explicitamente a sua universal me­diação na santificação da Igreja, verdade que o Espírito Santo parece querer pôr mais em destaque no nosso século, a fim de que as almas a vivam cada vez mais intimamente. É aliás um dos títulos mais gloriosos para Maria e de mais salutar fecun­didade para as almas. É um dogma do cristianis­mo, que, embora não definido ainda, está de há muito assimilado pela vida e pela crença universal da Igreja. Sobretudo depois que S. Bernardo se esforçou por lhe dar todo o relevo, como se para isso tivesse sido providencialmente escolhido, a ideia tornou-se familiar à piedade cristã.

Tudo por Maria é como que um axioma inces­santemente repetido pelos prègadores, afirmado pelos melhores ascetas católicos e tido pelos fiéis como verdade indestrutível.

Tudo afinal se vai intimamente relacionar com o dogma da maternidade divina. O sim dado por Maria às propostas de Gabriel no momento da In-

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carnação teve um alcance mais transcendental do que o simples consentimento em ser Mãe do M es­sias, que havia de herdar o trono de David, seu pai, reinar eternamente na casa de Ja c ó , sem que o seu reino tivesse ocaso. Tratava-se de cooperar na redenção da humanidade, no estabelecimento do reino messiânico anunciado pelo Arcanjo.

Tais são as divinas harmonias entre a Incar­nação do Verbo e a Redenção do mundo. Não incarnou senão para morrer, f í tal ponto amou Deus o mundo que lhe deu o Seu Unigénito (Joan. 111, 16). Essa doação implica não só a cruz, mas todas as graças, pelas quais quem crer em Jesus não pere­cerá, mas terá a vida eterna.

Mas se é Deus quem assim nos dá o Seu Fi­lho, é por Maria que no-lo dá. Foi nos braços de Sua Mãe que Ele nos apareceu. E se o dom de Jesu s, na expressão de S. Paulo, supera todos os dons da graça, desde o nosso baptismo até à nossa glorificação, Deus dando-nos Jesu s por Maria, é por Maria que nos deu tudo.

Tal foi o alcance do íiat de Nazaré e é assim que o tem sempre entendido a tradição católica.

Toda a obra da Redenção esteve dependente desse fiat salvador, e disso teve a Virgem plena consciência. Sabia muito bem o que Deus Lhe propunha, e consentiu no que Ele Lhe pedia, sem restrições e incondicionalmente. Esse consenti­mento corresponde à amplitude da proposta divina, estende-se a toda a obra redentora de que o fiat de Nazaré ficou sendo o centro, que à volta de si agrupa toda a história sobrenatural da humanidade.

Esse fiat realizou a fusão da vontade de Maria

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DIA 20 DE MAIO 247

com a de Deus. Essa fusão de duas vontades numa só abrange a imensidade do plano divino que na sua esplendorosa unidade se estende a toda a obra de reparação e de salvação. Não se requer mais para a chamar, com toda a justiça, a cooperadora da nossa salvação.

III

2.° — Maria dispensadora. A nossa salvação procede de duas causas: da graça que Deus livre­mente nos dispensa, e do concurso que nós livre­mente lhe dispensamos. Deus quer a salvação de todos os homens; para isso lhes confere as graças suficientes. Mas, de facto, nem todos cooperam com a acção da graça; por isso, nem todos se sal­vam. Donde vem então que as mesmas graças que eficazmente triunfam da resistência de uns, já não exercem noutros o mesmo império? Mistério que a nossa limitada inteligência não pode plenamente desvendar.

O que entretanto podemos dizer com os mais eminentes teólogos da categoria de S. Agostinho e de Suarez é que um dos principais segredos do auxílio divino e da sua eficácia consiste na sua oportunidade f 1)-

O auxílio mais poderoso respeita sempre a liber­dade; mas a sua acção pode de tal modo aliar a suavidade com a energia, o vigor com a brandura, que o sim da vontade é conquistado sem ser extor-

(1) Suarez, De auxilio clficoci. cop. XLIII, n.” 16 c 17.

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248 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

quido, conquista realíssima, e por isso mesmo a cooperação da vontade é também um efeito da graça.

Esta doutrina ensinada por autorizados teólo­gos mostra que ordinàriamente a graça que rende a nossa vontade é a que se adapta às nossas boas disposições, a que escolhe a oportunidade propícia, que arma à vontade laços salutares e a colhe de sur­presa nas horas mais favoráveis.

Ora Deus Nosso Senhor não está obrigado a escolher essas ocasiões propícias em que a von­tade se renderá, ou se renderia às solicitações da graça. A criatura é que está obrigada a aproveitar o dom de Deus, em qualquer dia e hora que Ele abra a mão.

Mas é aqui que vemos intervir, como Dispen- sadora das graças divinas que sabe escolher as boas ocasiões, aquela universal Medianeira, que nalgu­mas regiões é também invocada, e tão a propósito, com o nome de Nossa Senhora do Bom Encontro.

De facto, havendo tão íntima relação entre a oportunidade da graça e a sua eficácia, quem não vê a parte que por esse lado a Mãe bondosa toma na obra da nossa salvação, para ser com verdade a Porta do Céu? Do encontro que se der entre a graça e o livre arbítrio é que depende a sorte eterna do homem. Ora procurar, esperar, preparar, apro­veitar o momento propício para esse encontro sal­vador é das atribuições pessoais de Maria. A mes­ma graça dada numa ocasião seria uma graça estéril e agravante; dada noutra oportunidade será uma graça de predilecção, uma graça eficaz e salvadora.

A celeste Tesoureira dos dons de Deus, como

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Mãe que é, saberá proporcioná-los aos seus devo­tos, não em horas de esterilidade, mas em momen­tos de fecunda cooperação. Assim é que será para eles a verdadeira Porta do Céu.

Bem o tem Ela mostrado sobretudo desde que escolheu a Fátima para teatro das suas misericór­dias. De quantas graças fecundíssimas não tem sido a Fátima o feliz encontro, a quantos não terá pro­porcionado a melhor das oportunidades para elas não caírem em terreno rebelde! Para quantas almas habitualmente distraídas, e de coração fechado às divinas solicitações da graça actual, não terá a de­voção à Virgem da Fátima, a Sua invocação, o am­biente sobrenatural de que Ela nos envolve, sido a ocasião oportuna em que se opera a junção fecun­dante da graça divina com a liberdade criada?

É pergunta a que só na eternidade se poderá responder.

EXEM PLO

Entrando pela verdadeira porta

Foi a 13 de Junho de 1931. Carmina da Conceição era uma menina de 17 anos, que não pertencja ao grémio da Santa Igreja, pois nem sequer baptizada fôra. E natural de Almoster, concelho de Santarém, mas há muito residente em Lisboa, Rua Sá da Bandeira, N.° 14-4.°, freguesia de S . Sebastião da Pe­dreira. E filha de Manuel Vitorino Júnior e de D. Inácia da Conceição Barlamachi.

Há 5 meses que se encontrava gravemente enferma, tendo sido tratada por trés médicos, todos discordes no diagnóstico. Sofria dores horríveis, sobretudo nos pulmões, no peito e nos rins.

Perdida a faculdade dos menores movimentos, perma­neceu de cama quatro longos m eses, passando a ter ataques

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250 FLORILÉQIO ILUSTRADO DA FATIMA

convulsivos, a sentir dores intoleráveis nas costas e no peito, sem poder erguer o tronco nem a cabeça.

Caiu num estado de profunda melancolia. O s remédios só pareciam agravar o seu melindroso estado.

A doença avançava de tal forma que a infeliz menina já não podia suportar o menor ruído, nem ver o mais ténue raio de luz. Era um purgatório de trevas, no lastimoso dizer de sua mãe. Um dos médicos, vendo debalde esgotados todos os recursos da ciência, recorre à sugestão, como meio terapêutico, obrigando à força a doente a levantar-se. Expediente infeliz que mais agravou a enfermidade.

Por fim, depois de escrupulosa auscultação, foi definitiva­mente diagnosticada uma tuberculose galopante, prescrito o mais absoluto isolamento, e a família por uma vez desenganada.

Apesar disso, Carmina possuía uma confiança bem viva na intercessão de Nossa Senhora da Fátima. Antes, porém, de pensar num deslocamento para a Cova da Iria, a celeste Te­soureira das graças divinas, encontrou nas disposições da doente a ocasião propicia para lhe dispensar a grande graça da conversão, que nessa hora não seria rejeitada. E Carmina rece­beu logo o baptismo das mãos do pároco. E ficou pertencendo ao redil de Cristo.

Como o desenlace não parecesse vir longe, depois do Baptismo a doente recebeu o Sagrado Viático e a Extrema- -Unção. Era a porta do céu que se lhe franqueava. E essa porta era sempre Maria. Entretanto, com o dom da fé, raiou também na sua alma o da esperança. Carmina parte de Lisboa no dia 12 de Junho... para morrer, julgavam os que a viam ; para ser curada, dizia ela, declarando expressam ente à familia que tinha a certeza que Nossa Senhora a curaria.

Instalada numa cadeira de viagem é conduzida para um automóvel. A cadeira ia suspensa por cordas e amparada pela mãe e por uma irmã da doente. Do automóvel foi transpor­tada para o hospital por quatro servitas.

Na viagem tivera várias hemoptises ; e é indescritível o sofrimento dessa mártir durante aquela viagem em que se gas­taram dez h oras!...

Havia sido dada já aos doentes a Bênção do Santíssimo. Entre cânticos e aclamações de entusiasmo acompanhadas do patético acenar de milhares de lenços e duma copiosa chuva de flores, a encantadora imagem da Senhora recolhe ã capeli-

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DIA 20 DE MAIO 251

nha das aparições. Era o fim. Era a hora da despedida e da saudade. Era talvez para Carmina o anoitecer da esperança, mas não da resignação.

Torturada pelas dores, mas angèlicamente iluminada pela resignação cristã, vê aproximar-se de si um piedoso sacerdote, impressionado por esse quadro de tanto sofrimento. Trava-se um breve diálogo que a deixa confirmada no seu espírito de im olação à vontade de Deus e de perfeito abandono aos de­sígnios da Providência. Até parece sentir-se agora mais feliz, se continuar crucificada na cruz do sofrimento. Essas dispo­sições marcam a hora de Deus. É o momento em que o poder da Virgem, Sua M ãe, vai intervir. Carmina está repentina­mente curada. Senta-se na cama, ergue-se de pé, acorre o povo, a distância contido pelos servitas.

Dirige-se para o albergue, onde é examinada e interro­gada pelo Director do posto das verificações médicas, que antes verificara a extrema gravidade do seu estado, o qual em­palidecendo de surpresa e com oção, diz para os outros médi­c o s : «Q ue é isto? Parece impossível, uma doente que veio de maca e volta por seu pé».

Ao interrogatório da menina, segue-se o da mãe e o da irmã. Não havia dúvida: a cura era uma realidade indiscu­tível e palpável. Carmina vai por seu pé ã capela das Apari­ções agradecer a Nossa Senhora com todo o fervor da sua alma, a graça que acabava de receber, espectáculo que em muitos olhos provoca lágrimas de comoção.

Não já deitada, mas sentada no automóvel, regressa a Lisboa. Ao ver sua avó que a cadeira de viagem vinha vazia na rectaguarda do carro, julgou que dentro viesse o cadáver da neta. Mas, — surpresa para ela e para todos os vizinhos, ao verificarem o prodígio, pasmadas de verem, em vez de um cadáver, uma ressuscitada. Ressuscitada no corpo e sobre­tudo no espírito.

Maria fôra para ela não só a Saúde dos enfermos, mas também a Porta do Céu.

(U oz da Fátima de 13 de Ju lh o de 1931 n.° 106).

Oração pelos sacerdotes, como na página 22.

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DIA 20 OU 21 DE MAIO

STELLA MATUTINA

Oração preparatória, corno na pág. Í5.

» AOS PÉS DE MARIA

I

Antes de existir já Maria tinha na profecia sufi­cientemente esboçada a sua personalidade de se­gunda Eva inseparavelmente associada ao novo Adão. Era já conhecida com a antecipação de milhares de an o s; conhecida e ansiosamente de­sejada, como é desejada a aurora, precursora da luz do dia.

Numerosas são as figuras bíblicas e os símbo­los que a prefiguraram, criando-lhe uma bem defi­nida fisionomia mística e profética.

Mas, pondo de parte todas essas prefigurações, só consideraremos nesta hora a luminosa denomi­nação com que a liturgia e a piedade católicas a invocam. Ela é a estrela da manhã, a estrela do mar, a estrela polar. E tanto tem de estrela Aquela que Seu filho adoptivo, S. Jo ão , em apocalíptica visão entreviu vestida de sol, calçada de lua e coroada de cintilantes estrelas!

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DIA 20 OU 21 DE MAIO 253

As estrelas são como línguas de fogo que can­tam a glória de Deus. As flores são as estrelas da terra e as estrelas são as flores do céu, para que céus e terra se aliem na sua porfiada faina de glo­rificar ao Senhor. E Maria é a flor do céu porque é estrela, e é a estrela da terra porque é flor, a Flor por antonomásia, a autêntica rosa mística.

As estrelas são a luminosa figuração dos San­tos e da que é Rainha de todos eles. A revolta do dragão arrastou consigo a terça parte das estrelas destinadas a brilhar eternamente diante do trono de Deus. Mas para encher esse vazio quis o Cria­dor chamar à existência novos astros que substi­tuíssem no firmamento da glória, os que nela se não souberam manter. E, como Rainha e Centro de todas as constelações celestes, veio Maria inun­dar de luz os paramos do Universo criado.

II

1.° — Estrela da manhã lhe chama litürgica- mente a piedade católica — Stella matutina.

Do mesmo modo que a estrela da manhã é a precursora natural do sol, a anunciar o termo da noite, assim a Virgem Santíssima ilumina o peca­dor durante as trevas da culpa e o desperta para a luz da graça que vai raiar com o Sol da Justiça.

A mesma estrela que em certas épocas se ante­cipa ao nascimento do sol, noutras sobrevive ao seu ocaso, tomando então o nome de estrela vespertina.

E o papel de Maria em ambos os c a so s: a pri­meira, a assistir-nos e a última, a deixar-nos; acom­

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panhando-nos nas nossas tribulações até ao ocaso da vida, fazendo-nos a nós o que fez ao Seu primo­génito, a Quem assiste até à morte e acompanha depois dela. É a Mãe desvelada que madruga para se antecipar ao despertar de seus filhos e que vela até os ver embalados pelo sono.

2.° — Estrela do mar lhe chama também a Li­turgia Ave Maris Stella.

Nada mais pavoroso do que a tempestade em pleno mar, quando o. tufão se desencadeia, se en­crespam as ondas entumecidas como montanhas, se esconde e se rasgam os abismos. David descre­veu como um dia de juizo a tempestade desenca­deada por Deus sobre a terra e os mares. E o P.e António Vieira ( ‘ ) traduzindo essa descrição começa por dizer que só emudecendo é que a língua humana poderia declarar a prosopopeia tre­menda desse quadro: Inclinará Deus os céus e aví- zinhar-se-á mais à terra para castigar seus habitado­res. Debaixo dos pés trará um remoinho de nuvens negras, escuras e caliginosas; respirará fumos es­pessos de ira, de indignação, de fu ro r: da boca, como de fornalha ardente, exalará um vulcão de fogo tragador que tudo acenda em brasas e converta em carvões; atroará os ouvidos atónitos com os bra­dos medonhos da sua voz, que são os trovões; cegará a vista com o fusilar dos relâmpagos alternadamente acesos, abrindo-se e tornando-se a fechar o céu teme- rosamente fendido: disparará finalmente as suas setas, que são os raios e coriscos: abalar-se-ão os montes, retumbarão os vales, afundar-se-ão até aos

(1 ) Sermáo de Santa Bárbara, = ed. Chardron. Sermíes, t. IX, pág. 182.

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abismos os mares, descobrir-se-á o centro da terra e aparecerão revoltos os fundamentos do mundo.

E no meio da medonha tragédia em que o céu se conjurou com a terra e com os mares contra os míseros mortais, o que foi feito dos pobres nave­gantes? Se não foram logo engolidos pelo abismo, devem ter sido aniquilados, ou pelo menos petrifi­cados por um pavor de morte.

Mas não; perdida já de todo a esperança, no meio da caliginosa noite, rasgam-se enfim as nuvens, vê-se o azul do céu, aparece uma estrela a brilhar na sua majestosa serenidade. É ela, a benfazeja estrela do mar. Nada mais se requere para que em todos os peitos renasça a esperança, e para que de todos os lábios escape o grito dos ressus­citados: flve maris stella. Bendita sejas, estrela do mar.

Não vemos nessa estrela o sorriso tranquiliza­dor de M aria? Quando pelo mar deste mundo a frágil barquinha da nossa alma se torna joguete das tempestades desencadeadas por Satanás e pelos demónios domésticos das paixões, quando acima de nós só se vê o céu em cólera e em fogo; e abaixo escancarados os abismos do inferno, nem mesmo então devemos desesperar. Olhemos para a estrela virginal que ilumina o nosso roteiro, ajoe­lhemos e orem os; Stella maris, sucurre cadenti. Estrela do mar, socorre-nos que nos afogamos.

III

3.° — Estrela polar. Há no céu uma estrela, que de tal modo se aproxima do polo norte, que mal

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chega a participar do aparente movimento rotatório da abóbada estrelada do universo. É a chamada estrela polar, que no hemisfério setentrional nunca se esconde abaixo do horizonte. É a mesma estrela do mar, pela qual os navegantes se guiam através do seu roteiro, estrela que dirige as embarcações porque lhes serve de norte, relógio dos navegantes, regulando as horas da noite e que lhes infunde o alento da esperança no meio da tempestade.

Essa estrela é Maria, que, colocada no firma­mento da Igreja, micat meritis, illustrat exemplis, diz S. Bernardo, fulgura pelos seus méritos e ilumina com os seus exemplos. A sua vida serve de espe­lho e de norma a todos os cristãos que se enca­minham para o porto da eternidade, em que Ela entrou primeiro tão rica de merecimentos. Os seus passos abrem-nos o caminho. É só segui-los. E para os seguirmos com toda a segurança, sem desvios nem extravios, façamos o que nos aconse­lha S. Bernardo:

Se não queres ser submergido pela procela, não tires os olhos dessa estrela. Se os ventos das tenta­ções se levantam, se vais de encontro aos escolhos das tribulações, fita a tua estrela, chama por Maria. Se és joguete das ondas do orgulho, da ambição, da maledicência, da inveja, fita a tua estrela, chama por Maria. Se a cólera, a avareza, as seduções da carne agitam a barquinha do teu espírito, olha para Maria. Se perturbado pela grandeza dos teus crimes, con­fundido pela fealdade da tua consciência, aterrado pelo horror do julgamento começas a submergir-te no precipício da tristeza ou no abismo do desespero, pensa em Maria.

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Tal é a estrela benfazeja que, em tão boa hora, despontou nos horizontes de Portugal, estrela ruti­lante da Fátima, a guiar não só a alma dos portu­gueses através de todos os escolhos da vida, mas a de todos os Seus devotos, sem distinção de na­cionalidades, a todos ensinando os caminhos da Fátima que são caminhos de Deus, caminhos da virtude, da penitência e da oração que vivifica e salva.

Tal é Maria que do planalto da.Fátim a sorri meigamente ao mundo com o seu olhar de estrela.

EXEM PLO

Estrelas na Terra

É sabido como várias m anifestações de N .” S .“ da Fátima desde 1917 foram acompanhadas de sinais que apresentavam certa analogia com alguns fenómenos de ordem meteorológica. Baste recordar a formação da nuvem branca que e/ivolvia os videntes durante as aparições, a chuva de flores brancas sobre a multidão reunida então na Cova da Iria, e que se desvane­ciam antes de chegarem à terra.

O que hoje comemoramos, por vir a propósito, apresenta um carácter;menos conhecido, mas não menos admirável:

Em Dez.° de 1949 e Ja n .° de 1950, quando a Imagem pe­regrina percorria a província da Galiza (Espanha), em muitas paróquias, durante o Rosário da flurora, ou a procissão noc­turna, la Uirgen B/anca caminhava sob uma chuva de estrelinhas cintilantes.

Afirmáram-no testemunhas fidedignas: pessoas de inte­gridade, inteligência, no uso normal das suas faculdades não cessam de o confirmar. Observaram de perto as estrelinhas e sujeitáram-nas a minucioso exame. Fenómeno visível, vários dias repetido, em diferentes ocasiões e lugares. Nem o povo era tomado de surpresa ; encontrava-se prevenido para o obser­var e analisar atentamente. A imprensa ocupou-se do aconte-

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

cimento, em especial a Región, de Orense. Ouçamos a seguinte passagem transcrita pela Uoz da Fátima de 13-VI-50:

«Quando o povo seguia a imagem, de noite, quer nas procissões, quer durante o Rosário da Aurora, não duma ma­neira continua, mas durante períodos de um minuto ou mais, não em todo o comprimento da procissão, mas aqui e a l i ; tanto ao lado do an d o r.. . como a uma distância de dez a vinte me­tros; sobre superfícies de areia, pó e pedras, ou em pedaços de relva, apareciam luzes fosforescentes, algumas vezes como simples pontos luminosos, outras como estrelas perfeitamente formadas, ocasionalmente em forma de cruz. Foram apanha­das, friccionadas e desfeitas. A fosforescência continuava com a mesma intensidade durante alguns segundos, e então desapa­recia subitamente».

N O TA : Fazemos incondicionalm ente nossas as pa­lavras sensatas com que o criterioso jornal remata a sua narração, aliás bem comprovada. «Limitámo-nos a des­crever o facto, deixando o resto, primeiro aos peritos em química, física e história natural, e em última instância è infalível decisão da Igreja, a fim de que o fenómeno seja estudado de forma que a impiedade não exagere malicio­samente as explicações naturais... nem um insalubre espí­rito hipercrítico (e nós acrescentaremos, vontades malé­volas, sempre prontas a m alsinar) procure amesquinhar acontecimentos, que nos imperscrutáveis desígnios de Deus podem muito bem ter a sua sede fora da órbita do natural.

Oração pelos sacerdotes, com o na pág. 22.

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«Salus Jnficmorum

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DIA 21 DE MAIO

SALUS INFIRMORUM

O ração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

As enfermidades são uma parte do património que nos legaram os pecadores do Paraíso, despo­jados do dom da impassibilidade. A doença ofe­rece, pois, o carácter de expiação: pode ser um purgatório em vida, de que se deviam felicitar os que o experimentam, por terem na mão o meio de o suprimir, ou, pelo menos, de o atenuar depois da morte.

E para quem nada tivesse que expiar nesta vida, as doenças seriam ainda uma prova, um ma­nancial fecundo de méritos, um meio de glorificar­mos a Deus pelo exercício da paciência e da resi­gnação e de santificarmos a nossa vida.

São ainda por vezes nos desígnios de Deus um meio de preservação contra muitas quedas; ou por outra, a saúde havia de ser — quem sabe? — um meio de que o doente abusaria para se perder. E nesse caso a doença é para ele um benefício de Deus. Quantos cegos não seriam muito mais infe­lizes se vissem, muitos mudos se falassem, muitos

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coxos se andassem, porque haviam de abusar da faculdade de ver, da liberdade de andar e de falar para ofenderem a Deus e se perderem para sem ­pre. E Deus foi misericordioso privando-os do que Ele previu havia de ser instrumento de pecado.

Se teus olhos forem para ti ocasião de pecado, diz o Salvador, arranca-os que melhor é entrares cego no céu, do que com ambos os olhos no in­ferno. Se tuas mãos, se teus pés são para ti oca­sião de pecado, corta-os e deita-os fora; melhor é entrares no céu mutilado, do que caíres no inferno com a integridade dos teus membros.

Podemos sim, pedir a saúde corporal, mas salvaguardando sempre as nossas preces com esta condição: se a saúde não fôr um mal para a minha alma. Por isso a Igreja saúda Nossa Senhora cha- mando-Lhe não a cura, mas a salvação dos enfer­mos salus infirmorum e esta sempre a podemos e devemos pedir. Ah! quantos pecados não deixa­ríamos de cometer se vivessemos num leito de d o res!

Por outro lado a doença tem a vantagem de nos ir desprendendo da vida terrena e de nós mes­mos, e de nos ir preparando para a morte. É na doença também que se mostra a virtude. Quantas almas que julgavamos pouco virtuosas, nos não es­pantam depois pela paciência admirável com que as vemos sofrer! E quantos que tinhamos por santos, chegada a enfermidade, nos não desedificam pelas irritações, exigências e revoltas com que sofrem, mesmo com o Crucifixo e a imagem de N.° S.° das Dores diante dos olhos!

É que as doenças, só por paralisarem a nossa

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DIA 21 DE MAIO

actividade e nos impossibilitarem o gozo da vida e pelas dores que as acompanham, exigem de muitos temperamentos uma virtude heróica.

Por isso enquanto o primeiro Adão continua em nós a sofrer e a morrer, comece o segundo a obra do seu espírito vivificador.

II

Desde que o Divino Samaritano, compadecido duma humanidade enferma, lhe saiu ao encontro para misturar com as lágrimas da dor humana as lágrimas da compaixão divina, para lhe pensar as feridas e lhe cicatrizar as chagas com o precioso bálsamo da consolação, as enfermidades passaram a ter num Deus feito homem o médico mais des­velado. Tão desvelado, que com Ele à cabeceira, nenhum enfermo desespera de ser curado; tão so­lícito que, para reclamar os seus serviços, basta dizer-Lhe: «Está doente aquele a quem amais. (Joan . XI, 3).

E tão poderosa é a sua terapêutica que basta o contacto dos seus vestidos para afugentar as mo­léstias mais renitentes (Mat. XI, 21).

Os próprios clientes chegam por experiência a compreender que, para sarar enfermos, nem lhe é necessário aparecer; uma simples palavra que Ele pronuncie (Mat. VIII, 8), um quero da Sua von­tade omnipotente é quanto basta.

D esse modo não admira que em qualquer parte O vejamos rodeado de toda a sorte de enfermos, que a Ele acodem para recobrarem a saúde corpo­ral. E não vemos no Evangelho o caso dum só infe-

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liz que a Ele tivesse recorrido e não tivesse logo recebido o remédio de seus males. Nem os inimi­gos eram excluídos. Malco, um dos esbirros que o vieram prender no Horto, foi o último a experimen­tar a generosa cura dispensada pelo bom Samari- tano (Mat. XXII, 51).

Passou a vida fazendo bem a todos (Act. X, 38 foi a expressão com que o Príncipe dos Apóstolos compendiou a Sua passagem por este mundo de lágrimas, de sofrimentos, de enfermidades. Por onde Ele passasse não ficava lágrima por enxugar, nem doença por sarar, nem dor para suavisar.

Nunca o mundo presenciara maravilhas tão es­plendorosas de beneficência divina. Nunca a huma­nidade sofredora ousara esperar libertação tão com­pleta dos seus males. Era o Médico, o Enfermeiro Divino que o céu enviava à terra, como se dela quisesse extirpar todas as penas que afligem a humanidade. A Sua passagem pela terra foi um autêntico jubileu concedido aos doentes, com re­missão plenária de todas as penas corporais.

Uirá o próprio Deus em pessoa para vos salvar, profetizara Isaías (XXV, 4-6). E, de facto, foi visto entre nós, feito médico, feito enfermeiro dos ho­mens, o próprio Deus.

III

Mas chegou o dia em que Ele interpôs entre Si e os padecentes Sua própria Mãe feita mater­nal enfermeira do género humano. Antes, era Ele, a descoberto, que tratava dos doentes. Agora es­conde-se à sombra de Sua Mãe, a Quem passou

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DIA 21 DE MAIO 263

o diploma de Saúde dos enfermos, para que todos recorressem a Ela, como a Ele recorriam na Sua vida mortal.

É o que, há 19 séculos, vemos no mundo, e, para falarmos só do que nós apalpamos, é o que, há quase um século, vemos em Lourdes, é o que desde 1917 observamos na Fátim a: os cegos vêem, os surdos ouvem, os mudos falam, os coxos andam, os para­líticos movem-se, os doentes saram.

De fa'cto, dir-se-ia que na Fátima alvorecera, para toda a humanidade padecente, um novo mes­sianismo libertador, um jubileu de curas e de bál­samo consolador para os que sofrem. E quem estranhará os efeitos desse bálsamo, se ele passa pelas mãos benfazejas de M aria? Á enfermidade humana que, há 19 séculos, se acostumou a ser tra­tada por um médico divino, reconhece muito bem as mãos de Sua Mãe, cuja suavidade debalde ten­taria jgualar o próprio Anjo da caridade.

É que Ela vê, apalpa em seus filhos doentes qualquer coisa de Seu Filho Divino. Ela lembra-se muito bem de Lhe ter ouvido dizer: Mihi fecistis (Mat. XXV, 40). É a mim que fazeis tudo o que fizerdes ao mais humilde dos meus semelhantes. O alívio que Ela lhes faz experimentar é sentido pelo próprio Cristo; nem se lhes pode tocar, sem tocar no que Ele tem de mais sensível. Efeitos duma sensibilidade comum que corre por todos os membros do corpo místico de Cristo. E Maria sabe, sente muito bem que nos membros do Seu Jesu s vão repercutir-se as dores e os alívios dos enfer­mos, a quem Ela, a mais carinhosa das enfermeiras, restitue a saúde.

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FLORli.tQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

EXEM PLO

Duas Mães, duas Enfermeiras

Jc ã o Aranguren, irmão leigo da Companhia de Jesus, nascera em Espanha, na região mesmo de Loiola. Sua mãe que se dedicara a tratar de doentes havia falecido há 11 anos. O irmão vivia há 36 anos na C olom bia; e a sua ocupação pre­dilecta era o ensino do catecismo às crianças pobres da cidade de Pasto e das aldeias circunvizinhas.

Tendo-lhe aparecido na boca uma terrível doença, cujo carácter o médico lhe ocultara, foi submetido a uma operação cirúrgica, sendo-lhe extraídos todos os dentes do m axilar; mas o mal reaparece 5 dias depois, e é sentenciada operação mais radical a efectuar-se no dia 19 de Setembro (1949). Mas na noite de 18 para 19 dá-se o acontecimento que passamos a narrar com suas próprias palavras:

«Estava a dormir e a sonhar que mesmo da cama ensi­nava a doutrina a um grupo de meninos pobres. De repente estes começam a retirar-se, como dando lugar a alguém. Pedi- -lhes que não se afastassem tanto, pois o estado da minha boca não me deixava falar alto e fazer-me compreender bem. Nesse momento apareceu no meio do quarto Nossa Senhora da Fá­tima. A seguir apareceu junto dela outra senhora, vestida de branco, como uma enfermeira, a qual, aproximando-se do meu leito, me deu um abraço. No momento em que me abraçou reconheci nela a minha própria mãe, falecida há cerca de 11 anos em Espanha. Aproxim ando-se também a Virgem Santís­sima, mandou à minha mãe que me abrisse a boca. Ela assim o fez e, indicando o ponto afectado, disse a Nossa Sen hora: «Aqui está o cancro» e depois, percorrendo com o dedo toda a região do maxilar inferior de onde me haviam extraído os dentes, acrescentou : «Isto também está muito mal». Então Nossa S e ­nhora disse : «Curemos o que os homens não podem curar, o resto podem ales curar pouco a pouco». Depois Nossa Senhora passou um algodão alvíssimo sobre a parte cancerosa e senti-me perfeitamente curado. Como eu tratasse de me sentar na cama, para chamar o P. Reitor do Colégio que nesses momentos via em sonho assomar à porta do meu quarto, minha mãe conte­ve-me, ordenando que não dissesse nada a ninguém do suce­dido até que o médico me declarasse que estava completamente

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DIA 21 DE MAIO

curado. E acrescentou : «Ele te dirá também que doença tiveste e que até agora te tem ocultado». Nossa Senhora da Fátima, antes de desaparecer, indicou-me que ensinasse aos meninos na catequese a reza do Santo Rosário. Ao despertar na manhã seguinte persuadi-me de que estava perfeitamente curado.

Alguns dias depois, contudo, chegou o médico do Colégio para fazer a operação. Com as luvas já calçadas e os instru­mentos preparados fez-me passar para a sala da cirurgia. Num prévio exame antes de me estender na mesa das operações, verificou a estranha evolução do mal e viu que já não era pre­ciso fazer nenhuma operação. Durante toda essa semana con­tinuou a ver-me e, sem fazer qualquer tratamento, contentava-se com dizer: «Está muito bem».

No dia 26 anunciou-me que estava completamente curado e leu-me o resultado das análises, explicando que se tratara de um cancro. E cumpridas assim as condições impostas por minha mãe, contei tudo o que tinha acontecido, tanto a ele como ao P. Reitor».

O irmão não conhecia Nossa Senhora da Fátima. Mas quando, 6 dias depois, a Sua imagem entrava triunfalmente na capital da Colombia, ao vé-la na catedral, imediatamente reco­nheceu tef sido essa a Senhora vista em sonhos na noite do milagre.

O Rev.c P. Artur Montoya, S . J „ Reitor do Colégio de S . Bartolomeu, de Bogotá, no qual se dera o milagre, depois de esperar 3 m eses a titulo de experiência que a cura se confir­m asse, escreve para o Santuário da Fátima o relatório da doença ed a cura, juntamente enviando o atestado do médico Dr. Paulo Tovar Borda, e o do Dr. Jo ã o Paulo Llinás, Prof. da Faculdade de Medicina — Bogotá — Paris — Berlim, o qual dava o resul­tado do exame anátomo-patológico feito sobre uma biopsia da gengiva.

Por sua vez a revista «Memorabi/ia Societatis fesu, refe­rente ao mês de Maio de 1950, editada pela própria Cúria Ge- neralícia de Roma, dava a conhecera toda a Ordem a estupenda e repentina cura do Ir. Aranguren; e no aposento em que ela se operou, foi colocada uma placa e a imagem de N.* S .* da Fátima, em comemoração do acontecimento e para perpetuar a sua memória.

O ração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 22 DE MAIO

REFUGIUM PECCATORUM

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Maria não é apenas a Saúde dos Enfermos. Ela é ainda o Refúgio dos pecadores que são também enfermos e das mais graves enfermidades. A in­veja, o ódio, a luxúria, a ambição, a irreligiosidade, as injustiças são para a alma pior mal do que as doenças físicas para o corpo. O pecado grave não é doença, é a morte da alma. E a vida sobre­natural da alma vale incomparavelmente mais do que a vida do corpo. O pecado é o único obstáculo à salvação. A morte em pecado é a alma perdida.

Ora quem uma vez se precipitou no abismo do inferno fica irremediàvelmente perdido e para sem­pre. Quem uma vez se precipitou no abismo do pecado habitual, desses pecados sobretudo que deixam a alma empedernida e irresistivelmente acorrentada à sua ocasião, só por uma extraordiná­ria virtude da graça divina pode sair desse abismo e romper os grilhões da sua escravidão. Só a vir­tude redentora dos Sacramentos o pode libertar.

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Refugium Peccaforum

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Mas os próprios Sacram entos são impotentes para despedaçar as algemas do pecado, se o peca­dor não despedaça primeiro as do afecto à ocasião que o escraviza. O Sacramento não cria em nós as disposições de ódio ao pecado; o ódio ao pe­cado é que nos dispõe para o Sacramento. E sem esse ódio, queremos dizer, sem a detestação dum passado criminoso e o propósito dum futuro repa­rador, sacramento recebido é sacramento profanado e de nulo efeito.

Ora a devoção a Maria não absolve formal­mente o pecador, mas cria nele as salutares dispo­sições com que pode, fácil e eficazmente, ser absol­vido no fôro sacramental.

II

É que a devoção a Maria entretem e aumenta na alma o espírito de oração, intensifica a fé, des­perta e vivifica a esperança, excita o temor de Deus e acorda na consciência a voz do remorso. Desse modo não o deixa sossegar, enquanto o não atrai irresistivelmente ao tribunal da penitência, removendo-lhe os obstáculos e suavizando todos os esforços até ao passo decisivo que transpõe o limiar do confessionário.

De facto a experiência mostra que os grandes convertidos continuavam ordinàriamente na fase dos seus extravios a olhar para Maria, como para a estrela da sua esperança.

Mas Ela não é apenas asilo para o pecador caído e remédio para a sua queda. A devoção a Maria é também o refúgio preventivo contra o pe­

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cado. É que essa devoção, sendo verdadeira, não pode ser desacompanhada da oração frequente, da vigilância e mortificação dos sentidos e da assídua recepção dos Sacramentos, outros tantos preserva­tivos do pecado e reactivos contra as tentações.

Mas porque não há-de o pecador recorrer sem mais rodeios ao trono da misericórdia divina? Por­ventura Deus não é Pai? E se é Pai, para que necessitamos de intermediários para nos reconci­liarmos com E le?

Dizei-me porque é que o filho díscolo busca instintivamente refúgio junto da mãe contra as iras dum pai justiceiro, e eu vos direi logo porque é que um pecador não pode prescindir da mediação maternal de Maria. Deus é pai, sim, mas é Ju iz também. E da Mãe nunca se ouviu dizer que ela soubesse desempenhar outro papel, que não fosse o de advogada — fídvocata nostra.

Ah 1 se o pródigo do Evangelho tivesse mãe a quem recorrer, não teria durado tanto a infelicidade da sua degradação, não teria tardado tanto a cair contrito nos braços do pai. Mas o Evangelho não encontrou a mãe desse infeliz extraviado.

111

Em nenhuma parte mais do que na Fátima es­tabeleceu a Mãe do Céu o Seu refúgio aberto aos pecadores.

Uma das Suas primeiras mensagens aos peca­dores na hora solene das aparições foi o convite à penitência e à emenda dos próprios pecados.

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E, depois das aparições de 1917, quantas con­versões ali mesmo se têm operado, ou em qualquer parte do mundo em que tenha ecoado o nome da Fátima, ou em que a noticia das Suas maravilhas tenha abalado as alm as? Verdadeiros milagres mo­rais muitas vezes. Bem sei que este género de mi­lagres juridicamente não tem o mesmo valor apo­logético dos milagres físicos. Nem é necessário. A Virgem Celeste veio à Fátima mais para Se mos­trar Mãe do que taumaturga.

Porque é que nos hospitais a religiosa-enfer- meira que sacrifica o descanso, a saúde e até a vida por um doente e com inalterável paciência não se cansa de lhe suportar as impertinências e com o sorriso nos lábios condescende com todas as suas exigências, ao aproximar-se a morte desse enfermo que viveu longe de Deus e odiou a Reli­gião, consegue ela o que não conseguiria nenhum sacerdote ?

Porque é que esse enfermo, vencido por tanta bondade, deixa de odiar e não tem coragem de resistir mais à graça, e com as lágrimas nos olhos obedece como uma criança à Irmã que o manda rezar, que o manda confessar-se?

Do mesmo estratagema usa a Divina Enfer­meira da Fátima. Quantos extraviados de longos anos não são ali trazidos ao confessionário pela mão invisível de Maria, a quem Ela primeiro valeu em grave aflição, a quem miraculosamente curou um filho querido, um pai ou uma mãe extremosa, uma esposa estrem ecida?

Quantas ressurreições espirituais se não têm operado na Cova da Iria, quantas almas ali não

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entram espiritualmente mortas e que sob o olhar misericordioso de Maria se levantam à voz da absol­vição sacramental, ressuscitadas e pujantes de nova vida? Testemunhas? As quatro táboas dosconfes- sionários. Ah se eles pudessem falar, esses confes­sionários semeados a todos os cantos do Santuário! Que conversões assombrosas, que transformações sublimes, que maravilhas não poderiam contar esses confessionários, se Deus os não mandasse calar!

EXEM PLO

Cadeias despedaçadas

Em caria de 29 de Janeiro de 1938 dirigida à Uoz da Fáti­ma anunciava o Rev. P .” Ilidio Augusto Fernandes, Pároco de Penajoia, diocese de Lamego, a conversão admirável de dois paroquianos seus, cujos nomes preferimos passar em silêncio, embora se trate dum caso conhecidíssimo em toda a freguesia.

Trata-se dum homem e mulher que, há 22 anos, viviam em pública mancebia, civilmente registados, estando ele legitima­mente ligado a outra pessoa pelo vínculo do matrimónio reli­gioso.

Nesse lar ilegitimamente constituído reinava entretanto uma perfeita união e concórdia, que o nascimento de dois filhos estreitara mais ainda. A única desarmonia daquela casa era o pecado. Essa mútua amizade e unanimidade era um obstáculo mais, uma im possibilidade moral contra a separação tão desejada pelo solicito Pastor.

Entretanto, contra a espectativa de todas as pessoas que conheciam essa triste situação, a separação foi um facto, e um facto que se deve atribuir a manifesta intercessão de Nossa Senhora da Fátima.

Num venturoso dia de Janeiro de 1938 os dois cúmplices revelam-se mutuamente os segredos dum coração torturado pelo remorso, o mal-estar duma consciência permanentemente alarmada pelo temor da Divina Justiça. E depois de terem tantos anos fechado os ouvidos à voz do remorso, resolvem

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prontamente e de comum acordo despedaçar os grilhões de tão abjecta escravidão e pôr no seguro a salvação das suas almas extraviadas. A separação é decidida sem demora, per­suadidos de que uma hora a mais de permanência no crime, era uma nova infidelidade às inspirações do céu e uma provo­cação da Justiça Divina.

Mas qual o segredo de tão heróica e inesperada resolução que a todos deixou espantados? Não é difícil descobri-lo. Esses pobres extraviados não se envergonharam de confessar que no meio dos seus desvarios, nessa longa vida de pecados, não deixavam de recorrer confiadamente a Nossa Senhora da Fátima. Não são necessárias mais explicações: está desven­dado o segredo de tão radical transformação. Foi Ela, o doce refúgio dos pecadores, foi ela quem lhes valeu.

E para que não se julgue que se trata apenas duma sepa­ração efémera inspirada por um bom desejo de ocasião e logo desmentida por qualquer futura reincidência, veio quatro anos mais tarde o zeloso Pároco, já conhecido do leitor, afirmar em nova carta que perseveram na sua inabalável resolução os culpados doutrora, vivendo uma vida de completa separação. E pôde já acrescentar que ela se tornou cristã fervorosa de comunhão d iária ; e que ele, logo depois de convertido, fez as primeiras sextas-feiras, continuando a cumprir os seus deveres de bom cristão, parecendo mais heróica a sua atitude, porque, registado civilmente, para viver desviado do perigo, teve de sair da casa que era sua.

Bendita seja a doce Virgem da Fátima, sempre pronta a estender ao pecador, que sinceramente A invoca, a mão sal­vadora.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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Coti5olafrb£: Hfticíorum

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Oração preparatória, com o na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

1.® — f í geração dos aflitos. Aflições e mais aflições foi para a humanidade a grande e triste colheita do paraíso. O pecado foi o germe inces­santemente prolífero das aflições e dores que são o indesejável património de todos os filhos de Adão pecador.

Afligiram-se os dois prevaricadores do Edem ao verem-se deserdados, degradados, condenados a sofrer e a morrer. Entreviram, porém, no longín­quo horizonte das idades a prometida Consola- dora, já debruçada sobre o berço da humanidade para enxugar as lágrimas da sua desdita. Foi o primeiro alívio.

Mas a aflição dos pais foi a herança dos filhos. O género humano é a geração dos aflitos. Aflige-se o pobre por ver os bens terrenos em mãos alheias; aflige-se o rico com as preocupações que lhe traz a instabilidade das riquezas e o perigo de as per­der. Aflige-se o doente com a sua doença e com

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CONSOLATR1X AFFLICTORUM

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a inactividade a que ela o condena; afligem-se os sãos porque a saúde os condena a trabalhar, ou lhes tira o direito ao repouso. Afligem-se os pais porque têm que se sacrificar pelos filhos; afli­gem-se os filhos, porque os pais não condescen­dem com os seus caprichos; afligem-se os irmãos, porque se sentem uns menos estimados do que outros; afligem-se os esposos, porque o feitio e temperamento de um não se adapta ao do outro. Afligem-se os patrões, porque o trabalho dos ope­rários não produz tanto como querem. Afligem-se os operários por não verem o seu trabalho devida­mente remunerado. Aflige-se o lavrador porque os campos corrrespondem escassam ente ao cul­tivo, porque as chuvas, as secas, as geadas ou as saraivadas lhe prejudicaram as sem enteiras; afli- ge-se o comerciante porque o devedor foge ao pa­gamento da dívida, ou porque o credor urge a satisfação da sua. Afligem-se os governantes com a multiplicidade de problemas a resolver, afli- gem-se os governados com o peso das contribui­ções que os esmagam. Todos enfim se afligem, não há ninguém que se não aflija, porque a aflição é filha do pecado.

II

2.° — f í finalidade das aflições. Mas nos desíg­nios de Deus a aflição tem intuitos de misericórdia, é semente de bem-aventurança. É Deus propor­cionando-nos mil ocasiões de expiarmos as culpas

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e de satisfazermos à Justiça Divina pela pena tem­poral em que incorremos. Por outras palavras, é o Purgatório nesta vida, e portanto uma predilecção de Deus misericordioso que desse modo nos quer preservar do Purgatório na outra.

Ou então, se, por felicidade, nada temos que expiar, a aflição, o sofrimento é ainda sinal de pre­dilecção divina, que desse modo nos prova dando- -nos mil ocasiões de exercitar a paciência e com a paciência muitas outras virtudes, dando-nos ensejo de entesoirar merecimentos para a eternidade; e, se a nossa generosidade a tanto nos convida, de desempenhar o sublime papel de vítimas de repa­ração à glória Divina ultrajada, de vítimas de ex­piação pelos pecados de nossos irmãos. É verda­deiramente prodigiosa a virtude expiatória da dor, quando a sabemos unir às dores e aflições de Jesu s Redentor.

Mas há duas classes distintas de corações afli­tos: Uma que compreende a finalidade das afli­ções que Deus lhe envia e a elas se resigna com filial submissão. Outra é a classe dos que reagem e se revoltam contra a Providência e passam a vida em queixumes, refractários até ao bálsamo sobre­natural da consolação. Não compreendem os de­sígnios de Quem os prova, e perde tempo quem pretende convencê-los de que são bem-aventurados os que choram, bem-aventurados os pobres e os perseguidos, bem-aventurados, afinal, não os que se afligem, mas os que Deus aflige.

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III

3.° — f í Consolador a dos aflitos. A esta segunda classe de aflitos, os que só sabem dizer afaste-se de mim este cálix e que se recusam a completar a oração do Divino Aflito do H orto: faça-se a Uossa vontade e não a minha, os que não sabem fazer da necessidade virtude para tornarem meritório o que para eles é inevitável, a estes, digo, deixou Cristo Sua própria Mãe para receber os desabafos de corações oprimidos e enxugar as lágrimas da afli­ção. Outros consoladores não sabem, não podem fazer mais do que justificar a Providência que nos prova e explicar especulativamente os porquês da dor e os frutos salutares que dela brotam. Con­vencerão, mas não consolarão. As feridas da alma continuarão abertas a sangrar, a sangrar sempre, enquanto nelas não cair o bálsamo, a unção mater­nal e consoladora de Maria, que dulcifica as lágri­mas, despertando as almas, fazendo brotar do fundo dessas feridas a fé e a esperança.

É que ninguém como Ela tragou o cálix amargo da aflição O quam tristis et afflicta 1 exclama a Igreja absorta diante desse mar de aflições em que foi mergulhada a alma de Maria. É que ninguém como Ela aguentou as horas mais aflitivas que podem es­magar um coração humano, que foram as horas do Calvário, pois ninguém como Ela sentiu tanto ao vivo, por uma inefável repercussão, os martírios de Seu Filho, misticamente consubstanciada com Ele na dor — O quam tristis et af flic ta !

Pobres mães a quem os sofrimentos atrozes dum filho tantas vezes fazem dizer: «Para isto o

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276 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

andei eu a criar? Quem advinhara!» — Felizes vós que não o adivinhastes! que assim pudestes sabo­rear as alegrias da maternidade, sem que o fel duma tétrica previsão as viesse amargurar antes do tempo. Essa sorte não teve Maria, para quem o Calvário começou na hora em que Simeão lho mostrou, um Calvário de 33 a n o s!

Ninguém como Ela, portanto, está à altura de nos suavizar os Calvários da vida, de nos ensinar a dura lição que é a lei do sofrimento, de fazer dos revoltados e impacientes, que ontem rejeitavam toda a consolação, almas heroicamente resignadas e ávidas de sofrimento, que agora dizem à sua doce Consoladora: Poenas mecum divide. Fac me fecum pie f/ere, Crucifixo condolere. Reparti comigo as Vossas dores, associai-me às Vossas lágrimas e às dores do Crucificado.

É que mãos, que não sejam as de Maria, são ásperas demais para tocar nas chagas vivas dos afligidos. Só Ela possui o segredo e a suavidade da consolação.

Bendita seja tão bondosa Mãe que veio à Fá­tima para mais de perto nos mostrar como só Ela sabe consolar. Desde 1917 a Fátima é uma epo­peia de consolações para toda a sorte de aflitos. Todos evocam a memória de angústias aliviadas, de dores suavizadas, de feridas cicatrizadas, de en­fermidades curadas, de perigos conjurados, de afli­ções consoladas. A Fátima é o hino vivo e perse­verante da aflição humana à celeste Consoladora! Ali acode todo o coro dos aflitos para Lhe dizer: Salvè, Mãe de misericórdia. A Ti clamamos, po-

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bres exilados. Por Ti suspiramos gemendo e cho­rando neste vale de lágrimas.

E desde o planalto da Fátima Ela continuará a ser no meio da aflição a vida, a doçura, a espe­rança nossa.

E XEM PLO

Três dias de aflição

O Rev.° P .” Lourenço Pereira da Costa, de Pevidem, em carta publicada na Uoz da Fátima de Jane iro de 1938, fala dum pobre operário da terra, a quem dias antes mão desconhecida roubara relógio e corrente de oiro. A desolação da infeliz vi­tima do roubo compreendê-la-á quem advertir que nesses dois o bjectos tinha ele toda a sua fortuna, uma reserva, afinal, para o dia em que a doença o im pedisse de ganhar o pão de cada dia.

Lembrou-se de N .“ S .“ da Fátima e lembrou-se sobretudo de que Ela foi sempre a Consoladora dos aflitos.

Recorreu a Ela prometendo assistir durante todo o mês de Maio aos piedosos exercícios marianos que se faziam na igreja paroquial e comungar diàriamente.

A confiança em F I.*S .“da Fátima aumentava mais e mais.Porventura não passara Ela por muito maior aflição do

que a sua ? Não havia Ela perdido muito mais precioso tesoiro, o Divino Adolescente de 12 anos? E, submergida nesse mar de aflição, bastaram-lhe três dias para o encontrar.

Três dias! Foi precisamente o tempo que durou também a aflição do pobre operário.

Efectivamente, logo no primeiro dia do alvissareiro mês mariano, a três dias do triste acontecimento, estando já na igreja para assistir ao primeiro exercício do mês, vem alguém pressurosamente notificar-lhe que os objectos subtraídos haviam aparecido no telhado do seu humilde casebre.

Surpreendido corre atónito ao encontro da sua p o b re ri­queza. Pára vacilante aqui e acolá, desconfiando da sinceri­dade do mensageiro. Entre esta desconfiança e a confiança na Virgem da Fátima, prossegue o seu caminho e com indizível

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alegria verifica que a mensagem recebida na igreja era a men­sagem da Virgem a anunciar-lhe que fôra ouvido. Lá estavam, de facto, os objectos que lhe haviam sido subtraídos.

Viera em seu socorro a Consoladora dos aflitos, movendo o desconhecido criminoso à restituição clandestina.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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Ruxilium cEbrisficmorutn

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DIA 23 DE MAIO

AUXILIUM CHRISTIANORUM

O ração preparatória, como na pág. Í5

AOS PÉS DE MARIA

I

A efigie de Maria como que emoldurada numa coroa de louros, guarnecida de escudos de guerra, de águias, de bandeiras e outros emblemas de vitória, e num plano inferior a esquadra do cres­cente desbaratada nas águas de Lepanto, é o que nos representa a gravura de hoje para nos recor­dar que o título de fluxilio dos Cristãos com que S. Pio V enriqueceu as Ladainhas Lauretanas, são o devido tributo de acção de graças rendido a Ma­ria pela grande vitória de 1571, alcançada sobre os inimigos do nome cristão.

Nada mais bem fundado do que este título de Ma­ria. Maria é a Mãe da Igreja e a Igreja Sua filha predilecta. Ela foi a obra-prima do Salvador, que na Sua Inteligência, arquitectou e do Seu Coração fez nascer esse novo mundo de almas associadas na luz e no amor.

E para deixar bem vincada esta verdade, a tal ponto a assemelhou a Si que não só lhe comuni-

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cou tudo o que tinha, os seus tesoiros de verdade e de graça, mas em certo modo tudo o que Ele mesmo é : Deus e Homem, Sacerdote e Vítima, Salvador e Rei imortal dos séculos, repartindo com ela os seus próprios atributos. Dela se fez Ele próprio parte essencial, fazendo-a parte compo­nente do Seu corpo plenário e místico, de que Ele se constituiu cabeça, cabeça invisível da Igreja, de Quem o Papa, cabeça visível é Vigário e Lugar-te- nente. Entre eles realiza-se a mística permuta de desposórios divinos que longe de serem uma sim­ples imitação, são antes o ideal das uniões congé­neres das criaturas.

Por isso a linguagem do dogma católico não recua diante do título de esposa, — o que melhor exprime as intimidades da Igreja com Jesu s Cristo.

Nada mais se requere para fazer adivinhar as relações de Maria com a Igreja.

II

Ela aparece-nos no Calvário aconchegando ao seio a Igreja nascente. Eis aí o teu filho, foi a des­pedida do Seu unigénito moribundo. E esse filho, ali representado em S. João , era o cristianismo no seu berço, no seu desenvolvimento futuro, na sua adolescência, na sua maturidade, era enfim a ple­nitude de Cristo.

Cinquenta dias mais tarde, em pleno Cenáculo, era Deus que voltava a insuflar a vida no barro informe, que desta vez era o colégio apostólico. E o colégio apostólico vivificado com o sopro do Espírito Divino, tornou-se uma alma viva, e tão

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DIA 23 DE MAIO 281

viva que durante 19 s é c u lo s não houve poder humano nem diabólico que conseguisse sufocá-la.

Mas esse sopro vivificante, que era a vida da Igreja, passara por Maria, paraninfa assistente dessa nova criação, para que o nascimento da Igreja, de algum modo se assemelhasse ao do Seu Divino Esposo pela operação do Espírito Santo e a coope­ração da Virgem-Mãe.

E desde então não cessou jamais de lhe prodi­galizar a sua assistência maternal.

Começa a época das perseguições: a Igreja põe toda a sua confiança no culto que consagra a Maria. Esse culto lê-se ainda hoje vivo e imortal nas paredes das catacumbas, onde o desenho e a pintura o perpetuaram. A imagem de Maria, colo­cada nas ábsides principais dessas criptas, onde a fé dos primeiros cristãos ia consolidar-se e defen­der-se, mostra como desde o berço o cristianismo compreendeu onde estava o seu refúgio contra qualquer perseguição dum inimigo sanguinário.

Auxilio dos cristãos tem-no sido também sem ­pre que os inimigos da Igreja a assaltam à mão armada para afogarem em sangue os seus defenso­res. É a imortal epopeia de Maria que no seio da Igreja se ergue como a torre inexpugnável de Da- vid, da qual pendem mil escudos de guerra, toda a armadura dos bravos. Temerosa como um exército em ordem de batalha.

Ela foi a fortaleza dos cristãos no século das Cruzadas, Ela desbaratou os inimigos do nome cris­tão numa série interminável de batalhas, desfez o poder dos Albigenses no Ocidente, foi o terror do Islão no Oriente.

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Lepanto, Viena, Malta, Corfú são monumentos imorredoiros que perpetuam a memória dos triun­fos de Maria.

III

Sempre que abrandam as perseguições cruen­tas, o inimigo procura dar a morte à alma da Igreja. De que m odo? Corrompendo os seus dogmas, adulterando a verdade revelada. É a época das heresias.

A Igreja sabe muito bem que as portas do in­ferno não hão-de prevalecer contra ela. Mas essa vitória final e definitiva pode ser precedida de vitó­rias ou de derrotas parciais e temporárias. A he­resia não faz mártires, mas pode fazer renegados, pode descristianizar regiões inteiras. Não pode ani­quilar a Igreja Católica, mas pode destruir vários núcleos de cristãos, levar à apostasia nações intei­ras. É o caso da Inglaterra.

A Igreja deve, pois, defender-se com essas ar­mas da luz que S. Paulo preconiza e que só matam o erro. Com elas conseguiu pulverizar as heresias dos primeiros séculos.

Mas essa vitória nunca a Igreja deixou de a atribuir a Maria, proclamando-o até na sua liturgia: Só tu, ó Uirgem, no universo inteiro tens dado morte a todas as heresias.

E, de facto, não é Ela o trono da Sabedoria? Não foi Ela quem inspirou os Padres e Doutores da Igreja e lhes sugeriu as verdades e argumentos luminosos que esmagaram o erro? Quem sustentou em denodados certam es teológicos um S. Atanásio,

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DIA 23 DE MAIO

um S. Hilário, um S. Cirilo de Alexandria, um S. Agostinho? E não foi a imagem de Maria que presidiu aos Concílios dos séculos IV e V e os ilu­minou com os seus esplendores? «Mãe de Deus!» foi o grito que outrora irrompeu da Assembleia de Éfeso a anunciar à multidão, ávida de acolher a sentença do Concílio, que a heresia de Nestório fôra cohdenada e o dogma da maternidade divina de Maria definido.

E a multidão louca de entusiasmo aplaude fre- nèticamente o triunfo de Maria que em Éfeso es­magava a cabeça da heresia. A cidade ilumina-se jubilosa e todo o mundo católico, com a sua pro­fissão de fé, torna-se eco harmonioso do Concílio.

E no meio do século passado, da Basílica de S. Pedro, em Roma, ouve-se por todo o mundo o eco antecipado da voz autêntica de Maria, que, qua­tro anos mais tarde, se faz ouvir na gruta de Mas- sab ielle : Eu sou a Imaculada Conceição. E essa voz confunde para sempre todas as heresias, a come­çar pelo materialismo negador da espiritualidade da alma, pelo naturalismo que negava a queda ori­ginal do Paraíso e a elevação do homem à ordem sobrenatural.

Há ainda e haverá sempre heresias no mundo. Mas a Igreja não deixará nunca de cantar aos pés de M aria: só Tu, ó Uirgem, no universo inteiro tens dado morte a todas as heresias. E é matando as heresias que Ela se mostra verdadeiramente o Au­xílio dos Cristãos.

No passado a nação brasileira, desde que re­cebeu o baptismo da ortodoxia católica, foi, por es­pecial protecção da Providência, preservada de

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adulterações heréticas. Debalde tentou o Calvinis- mo holandês levar à apostasia o Norte do país. O s nossos antepassados, na sua perseverante resis­tência à invasão da heresia já então mostravam de que fibra era tecida a nobre e sempre fiel alma brasi­leira da qual não é fácil desarraigar a verdadeira fé.

As hodiernas heresias, o desacreditado positi­vismo, o grosseiro e fraudulento espiritismo, o trai­çoeiro comunismo e o nefasto protestantismo, já esfacelado nas suas mi! seitas, insistem nas suas pérfidas investidas contra a ortodoxia católica do Brasil. Mas a esperança dos brasileiros está posta em Maria, Auxílio dos cristãos.

O Brasil em peso ergue o seu olhar para a Estrela rutilante da Fátima que nesta hora, como Mãe e missionária, desde o seu extenso litoral até aos mais remotos sertões, percorre a sua imensi­dade e a todos os seus recantos leva a força de Sua protecção.

EXEM PLO

Auxílio dos cristãos, ítnan dos pagãos

Grossos volumes encheria quem tentasse arquivar todas as maravilhas de salvação e de bênção que por esse mundo fora tem semeado, e semeando continua, Quem só sai da Fátima para ser peregrina do mundo.

E nessas peregrinações através de todos os continentes, ilhas e mares, que Ela se manifesta o verdadeiro fíuxilio dos cristãos. Mas não é já mobilizando exércitos, como em Lepanto ou Viena, é exercendo a Sua magia divina de Mãe de Deus, e reflectindo os encantos irresistíveis da Sua bondade que Ela atrai a Seus pés os próprios infiéis, cativados por uma fascina­ção sublime só comparável è que nos ares paralisa as asas das pombinhas e as faz descer rendidas aos pés do Seu andor. Nem os filhos de Maomé, contra os quais a cruzada suplicante

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DIA 23 DE MAIO

de S . Pio V leve de invocar outrora todo o poder da Auxiliadora dos cristãos, se mostram refractários aos atractivos maternais da Virgem da Fátima. É assim que Ela hoje dominando os inimigos do cristianismo auxilia o s cristãos.

Detenhámo-nos apenas num ou outro recanto da índia pagã e respiguemos ràpidamente alguns episódios, tais quais em 1950 eram transmitidos à Uoz da Fátima pelo incansável sacerdote que tem acompanhado a celestial Peregrina.

Não nos referiremos já aos fenómenos solares com que Ela em Negombo (Ceilão) quis reeditar aos olhos dos seus habi­tantes o grande prodígio de 1917, e que tanta admiração des­pertaram na imprensa local.

Nessa ilha «budistas, indús e mussulmanos rivalizaram com os católicos em Lhe prestarem as suas homenagens. O Pre­sidente da Câmara de C olom bo ... declarou que era um privi­légio para ele receber oficialmente a Imagem. O de Negombo, que é budista, da mesma forma saudou a Nossa Rainha*.

Na diocese de Trivandrum a filha paralítica dum protes­tante ergue-se à passagem de Nossa Senhora, e com eça a andar. O s pais mandam celebrar uma missa em acção de gra­ças e prometem entrar na Igreja católica com toda a família.

Na diocese de Kottar uma surda-muda, filha de indús, à passagem de Nossa Senhora começa a ouvir e a falar.

As autoridades de Tuticorim, todas pagãs, mandam impri­mir uma grande folha com a mensagem da cidade a N." S.* da Fátima, diante de Quem o Presidente da Câmara a veio ler.

«Todos dizem que nunca na fndia houve um movimento assim. Os Senhores Bispos ordenaram nas suas dioceses pre­ces públicas como preparação para a vinda de Nossa Senhora*. Em algumas determinou-se que a véspera da Sua chegada fosse jejum de preceito. «Em muitos lugares, quando a Imagem chega, está toda a população de joelhos, com os braços esten­didos, a cantar ou a rezar. Todos querem ver a Imagem, tocar- -Ihe com as mãos ou com objectos religiosos» (U. da F. n.° 330).

Em Kobamkonam o povo já não deixava sair a Imagem da sua Igreja. Teve de se tirar às escondidas, saindo da cidade num automóvel sem qualquer cerimónia.

Em Chetped diz um indú a um sacerdote: Deus concedeu à S enhora da Fátima um po d er especial. J á não tem os a m enor dúvida. Em Rentechintala a procissão vai, das 9 da noite às 3 da madrugada, entre cânticos ininterruptos.

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Em Bhopal são os mussulmanos que pagam as despesas feitas com as iluminações.

Na D iocese de Patna Nossa Senhora andou pela primeira vez de elefante. Outros elefantes formavam alas, baixando as trombas em saudação. Ao chegar a Bahr foi recebida por bai­larinos coroados de plumas de pavão que dançaram diante da Imagem, em homenagem a Nossa Senhora.

Em Kantur um mussulmano categorizado ajoelhou diante de Nossa Senhora, pedindo em voz alta, com sinceros sinais de humildade e devoção, perdão para as suas culpas.

Em Bettiah veio um indú dizer-nos: «Muito obrigado por nos terdes trazido Nossa Senhora da Fátima. Esperamos dEla a Paz para o mundo. Sabem os que Ela pediu que rezássemos pela paz. Por isso vamos juntar as nossas orações às vossas, e juntos elevá-las até Deus pela Paz do mundo».

Em Patna confessa o Governador também indú: «Nunca assisti a coisa tão bela e tão comovedora».

Em D acca diz o Sr. Bispo ao ver a multidão de pagãos que aclama Nossa Senhora: «Isto é quase inacreditável».

Em Bombaim, cidade de 4 milhões de habitantes, diz o próprio Chefe da Polícia nunca se ter visto manifestação sem e­lhante. A multidão percorre as ruas enfeitadas e repletas de povo. Na catedral faz-se a consagração solene ao Imaculado Coração de M aria; e no Estádio da cidade à uma hora da noite celebra-se solene pontifical, a que assistem 60 a 70 mil pessoas, continuando as missas e comunhões até às dez horas e meia.

Finalmente em Elumboor, distrito do Maduré, foi escrita esta carta patética assinada por mais de 30 cristãos e pagãos, que traduzida reza assim :

*Ó Mãe Divina, ainda que nós e todos os nossos compa­triotas sejam os pobres, contudo, movidos por uma cega con­fiança em Vós, ardentemente Vos pedimos nos obtenhais de Vosso Divino Filho que nós, convertidos ao Seu caminho, levando uma vida pura, livre de todas as ad versidades,'e gozando de todos os bens necessários à vida, cresçamos mais e mais no espírito de oração. É o que Vos pedem Vossos humildes servos».

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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Regina Rnge(orum

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DIA 24 DE MAIO

REGINA ANGELORUM

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Maria, Rainha dos Anjos. Os Anjos são, pois, a Sua corte.

A razão humana, abandonada a si mesma, só pode apreender qualquer congruência em favor da existência dos Anjos. Se o conceito de espírito puro nenhuma repugnância envolve, a perfeição do universo parece exigir a existência do mundo an­gélico. Sem ele profunda lacuna se abriria na gra­dação dos seres. A criação composta só de seres materiais e mistos parece obra incompleta que só na existência de puros espíritos teria um acaba­mento digno de Deus.

Mas o limitado conhecimento que dos Anjos possuímos à divina Revelação o devemos. J á entre os Judeus eram frequentes as angelofanias, que vão desde o alvorecer até ao anoitecer do Antigo Testamento, desde o adeus ao paraíso perdido até ao advento do santo Precursor. Essas angelofanias multiplicaram-se durante a vida mortal do Homem-

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283 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

-Deus, desde a alvorada de Belém até à agonia do Getsemani, desde a Ressurreição até ao momento da Ascensão.

Nem se tornaram insólitas na história da Igreja. A libertação de S. Pedro dos grilhões de Herodes, o martírio das santas Cecília e Inês, a vida encantadora de S. Francisca Romana e tantas outras no transcorrer dos séculos assinaladas por bem comprovadas aparições de anjos, são capí­tulos que se não podem arrancar da agiografia ca­tólica, sem falar do Arcanjo S. Miguel, cuja apari­ção foi consagrada por festa litúrgica especial.

O número dos Anjos é incalculável. A Escri­tura fála-nos de multidões sem conta «Eram milhões os que O serviam e biliões os que Lhe assistiam»

'(Dan. VII, 10), distribuídos .em várias jerarquias. De várias nos falam as sagradas páginas. São Que­rubins, Serafins, Arcanjos, Anjos, Potestades, Vir­tudes, a que S. Paulo acrescenta Principados, Do­minações e Tronos. São, pois, nove classes pelo menos, vulgarmente chamadas os nove coros dos flnjos. ‘

Da vida dos Anjos na glória pouco sabemos. A base, porém, dessa vida é, sem dúvida, a con­templação: Semper vident faciem Patris (Mat.XVIII, 10), Mas nem a visão beatífica nem o im­perturbável repoiso em Deus os condena à inacti­vidade. fídoram e amam a Divindade. Glorificam Deus com a luz e os fulgores duma inteligência prodigiosa. Nem faltam os que são destinados a zelar os interesses da glória de Deus, jerarquias especialmente incumbidas de executar os decretos do Omnipotente e de os fazer acatar e respeitar

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das criaturas livres, manifestando assim o poder e soberania de Deus, a cujas ordens o Anjo dos ma­res separa com o seu ceptro as águas do Mar Ver­melho para abrir passagem aos filhos de Israel, o Anjo da Luz se difunde pelos espaços e ilumina o universo destruindo o reino das trevas, o Anjo do extermínio aniquila os primogénitos do reino de Faraó e abrasa sob uma chuva de enxofre a arder as cidades de Sodoma e de Gomorra, o Anjo da guerra com espada invisível faz cair sem vida 185.000 soldados do exército dos assírios.

Mas as Virtudes celestes nem sempre triun­fam ; a sua voz nem sempre é acatada das criatu­ras livres. Do seio da criação eleva-se também o grito de revolta: não te servirei. A esse grito, po­rém, avança a milícia das Potestades, sustentando o combate do Bem contra o Mal. E desencadeia-se a peleja. Miguel com os seus combate o dragão. E o dragão com os seus satélites... já não encon­tram lugar no céu.

II

Nem devemos esquecer os que Deus incumbe de revelar aos mortais os Seus eternos desígnios, e de ve/ar pelos indivíduos e pelas nações. Entre os primeiros sobressai Gabriel. Anjos revela dores, como os que anunciaram a Abraão o nascimento de Isaac, a Loth o extermínio iminente da cidade, às piedosas Marias a Ressurreição do Salvador.

Mas são sobretudo os que velam, os anjos cus­tódios que nos interessa conhecer. Também a eles se atribui a missão de velar pelos impérios e na-

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ções, pela Igreja universal e pelas igrejas particu­lares. É o que nos ensinam teólogos de grande nome, tais como o santo Cardeal Belarmino, Doutor da Igreja, (De ascens. mentis in Deum Gr. 9, c. 6) e a própria autoridade da Igreja, consagrando festas e ofícios litúrgicos ao Anjo custódio de várias nações, tais como a Espanha (1 de Outubro) e Portugal (3.° Dom.0 de Julho), cuja missa e ofício foi comum de Portugal e Brasil, e que hoje apenas se celebra a 9 de Julho na Arquidiocese de Braga.

Mas é particularmente a custódia das almas individuais que mais de perto devemos considerar.

Que cada homem, ou pelo menos, cada cristão tenha o seu anjo da guarda, é uma verdade que, embora não expressamente definida pela Igreja, está contudo bem entranhada no património da nossa fé. O Salvador dá como razão do respeito devido às criancinhas que «os seus anjos estão sempre contemplando a face do Pai Celeste» (Mat. 1. c .) ; e toda a tradição cristã, a começar pelos Santos Padres, proclama sem rodeios esse dogma. «Grande dignidade duma alma, diz S. Jerónim o, ter cada uma desde que nasce o seu Anjo com missão de a guardar».

Têm os príncipes a sua escolta, têm os reis e imperadores a protegê-los a sua guarda. Não é honra exclusiva deles. Com mais nobre guarda nos honra Deus, como príncipes do Seu reino nos trata, fornecendo-nos uma escolta angélica, da qual Maria é Rainha, escolta que eclipsa a mais lüzida guarda imperial.

E quem pode compreender os primores da so­licitude a que se dedica o nosso bom anjo no de-

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sempenho da sua simpática m issão? Ele guia, ilu­mina, protege e preside à elevação da alma no seu movimento ascensional para Deus. É o educador divino, o pastor desvelado, o companheiro fidelís­simo, o apóstolo incansável da salvação.

Ele vela quando dormimos, atende quando nos distraímos, le m b r a -s e quando nos esquecemos, aproxima-se quando se aproxima o inimigo. Quando oramos, o ra ; quando choramos, apresenta a Deus as nossas lágrimas. Se erramos, ele nos corrige; se desfalecemos, ele nos sustém ; se caímos, ele nos levanta; se tememos, se hesitamos, se vacila­mos, ele nos fortifica e ampara. Se pecamos, ele nos repreende pelo remorso, nos move ao arre­pendimento, nos facilita a reconciliação.

Nas tentações combate a nosso lado, estimu­lando-nos à luta com salutares inspirações. Infati­gável na sua obra salvadora respeitará sempre a liberdade da alma, porque a sua missão é ajudá-la a salvar-se, não metê-la no céu à força.

Na ordem temporal quantos serviços nos presta, de quantos perigos nos preserva e defende. Quan­tas vezes não recordamos perigos de que escapa­mos quase por milagre. Por um triz não me esm a­gou tal veículo, saí incólume de tal descarrilamento, não sei como escapei com vida de tal acidente, de tal naufrágio, como não me afoguei naquela praia, como me pouparam as balas inimigas, quando a meu ladocairam tantos camaradas. Podia ter ficado arrui­nado neste negócio, podia ter sido roubado nesta conjuntura, ter comprometido a minha fama com esta imprudência.

E no meio de tantas admirações não nos lem­

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bramos que à intervenção do nosso bom anjo se devem talvez tantos prodígios de defesa.

E na hora do supremo combate é que mais se experimenta a assistência do grande amigo, cons­tante no seu posto até ao fim. Multiplica os seus esforços, a sua solicitude para excitar na alma sen­timentos de esperança, de contrição, para que não lhe falte, para que chegue a tempo o conforto dos sacramentos. E durante a agonia estende sobre ela as níveas asas tutelares contra os assaltos do inimigo, suaviza-lhe a amargura do último transe e . . . condú-la pela mão ao tribunal de Deus.

E, ao ser o corpo lançado à terra, vem ainda a Igreja, em nome do Deus dos vivos e dos mortos, colocar de sentinela à beira do túmulo o nosso bom anjo para nos velar ainda durante o sono «hunc tumulum benedicere dignare, eique ange/um íuum sanctum deputa custodem».

III

E agora «Quam mercedem dabimus ei»? que recompensa lhe daremos (Tob. XII, 2 )? Seja a de um culto carinhoso e condigno, começando por cultuar nele a sua Rainha, aquela a Quem todo o mundo angélico presta vassalagem, a Rainha dos Anjos.

As modalidades práticas desse culto são as que enumera S. Bernardo:

1.° O respeito à sua presença. — Ele nunca está ausente. Respeitemo-lo, e respeitemo-lo como se o víssemos. Não o vem os? Tanto m elhor; temos a vantagem de exercitarmos o espírito de fé. Cons­

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cientes dessa presença não cometamos a grosseria de passarmos um só dia sem lhe dirigir a palavra, sem o saudar, pelo menos, ao levantar e deitar.

Quem conhece um pouco a agiografia católica sabe como não são raros os santos a quem Deus mimoseou com a presença visível do seu anjo tute­lar. E sabe também que aspecto de intimidade e de familiaridade revestiam, por vezes, as comunica­ções celestes entre o anjo tutelar e a alma tutelada. O caso duma Santa Gema Galgani, como o de ou­tras almas privilegiadas dos nossos dias, é amos­tra bem eloquente duma realidade que se impõe, por mais que a neguem e ridicularizem espíritos levianos, e que se impõe por efeitos flagrantes e bem sensíveis a quem se não empenhe em fechar os olhos à luz.

2.° f í devoção à sua benevolência. — A benevo­lência inspira devoção e amor, porque corações bem formados amam a quem lhes faz e quer bem. Ora o nosso bom anjo é o amigo fiel que se des­vela em servir-nos, porque nos ama. E, porque nos ama, se alegra com a nossa docilidade e se entris­tece com as nossas rebeliões, e toma parte nas nossas alegrias e nos nossos pesares.

3.° f í confiança na sua tutela. — Confiemos na tutela e vigilância dos nossos anjos. «São fiéis, são prudentes, são poderosos» (S. Bern.°). E, para au­mentar essa confiança, não esqueçamos que eles contemplam sem cessar a face do Pai do Céu, não só no gozo da própria beatitude, mas também no intuito de nos ajudarem, porque na face divina lêem os eternos desígnios da Providência sobre nós; e dessa contemplação não cessam de haurir a sabe-

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doria, o poder, a bondade e amor com que nos guardam. E no semblante divino vêem também quanto somos queridos de Deus, e por isso não se cansam de nos servir.

«Que recompensa lhe daremos? «Uma só os pode satisfazer. Eles dão-nos a sua companhia desde o berço à sepultura. Pela nossa docilidade às suas inspirações mereçamos nós dar-lhes a nossa através da eternidade, para que deles e de nós se possa dizer: semper vident faciem Patris.

Não foi esse acaso, em última análise, o fim que trouxe a sua e nossa Rainha à Fátim a? E não será também, utilizando o ministério desses Seus vas­salos, que tantas e tantas graças ali têm sido con­cedidas ao mundo? As palavras que lá se ouvem mais insistentemente repetir são «Avé, Maria, cheia de graça». E pode alguém ao pronunciá-las, esque­cer que, antes de brotarem de lábios humanos, elas desabrocharam em lábios angélicos? Pode alguém ignorar que a Fátima é uma continuação de Nazaré, e que as vozes da Fátima são outros tantos ecos da voz do Arcanjo. Quem não sabe que Gabriel é o antifoneiro angélico da eterna salmodia mariana que desde 1917 ressoa nos montes da Fátim a?

E à luz dessa grande realidade poderá alguém esquecer que Maria é a soberana Imperatriz do mundo angélico?

EXEM PLO

Precursor de Maria e educador dos seus videntes

Também os videntes da Fátima, antes ainda de o serem, nos aparecem já em contacto com um representante do mundo

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angélico. Bem inspirados andaram os que só m ais tarde o de­ram a conhecer. Assim não perderam a ocasião de ficar cala­dos os que não consentem que anjos se manifestem senão a personas gratas. E entretanto as sagradas Escrituras atestam que os anjos se manifestam até a pérfidos guardas do sepulcro de Cristo, até mesmo a brutos irracionais (Num. XXII, 25). Deus tem direito de mimosear desse modo quem Ele quiser, sem ter de pedir licença a ninguém. E saibamos também, para evitar escândalos descabidos, que os anjos não têm carne, são puros espíritos.

1.* A parição.— Na primavera de 1916, pouco depois de terem rezado o terço, Lúcia, Francisco e Jacin ta , notam que, apesar de estar o dia tão sereno, um forte vento agita as árvo­res. E, escreve Lúcia, «com eçamos a ver a alguma distância, sobre as árvores que se estendiam em direcção ao nascente, uma luz mais branca que a neve, com a forma de um jovem transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do sol. A medida que se aproximava, fomos-lhe distin­guindo as feições. Estávamos surpreendidos e meio absortos e não dizíamos palavra.

«Ao chegar junto de nós, d isse: Não temais. Sou o An/o da paz. Orai comigo.

«E, ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão. Le­vados por um movimento sobrenatural, imitámo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar: Meu Deus, eu creio, adoro , esp ero e amo-Uos. Peço-U os p erdôo para os que não crêem, não adoram , não esperam e Uos não amam.

«Depois de repeiir isto 3 vezes, ergueu-se e disse : Orai assim. Os Corações de J esu s e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas. E desapareceu . . . »

E os videntes nem mesmo entre si se atreviam a falar. O segredo impunha-se por si mesmo. Encararam-no como coisa Intima e incomunicável.

2.* Aparição. — Verão de 1916. Teve lugar à hora de sesta, à sombra das figueiras que cercam o poço, situado ao fundo do quintal pertencente aos pais de Lúcia. « De repente, continua esta, vim os o mesmo Anjo junto de nós.

— Que fazeis? Orai! Orai m uito! Os Corações de Je su s e Maria têm so b re vós desígnios d e m isericórdia. O ferece i con s­tantem ente ao flttissimo o rações e sacrifícios.

— Com o nos havem os d e sacrificar? perguntei.

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

— De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em acto de reparaçáo pelo s pecados com que E le é ofendido, e d e súplica pela con versão dos peca dores , Atraí assim so b re a nossa páfria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o A njo d e Portugal.

Sobretudo aceitai e suportai, com subm issão, o sofrim ento que E le vos enviar.

Desde este momento começamos a oferecer ao Senhor tudo o que nos mortificava, mas sem discorrermos a procurar outras mortificações ou penitências, excepto a de passarmos horas seguidas prostrados por terra, repetindo a oração que o Anjo nos tinha ensinado».

3.* A parição — Outono de 1916. Na lapa, depois de reza­rem o terço e a oração ensinada na primeira aparição, « apare- ceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão um cálice, e sobre ele uma Hóstia, da qual caíam dentro do cálice algumas gotas de sangue. Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu 3 vezes a oração: Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-U os profundam ente e olereço-U os o ’Preciosíssim o Corpo, Sangue, Alma e Divindade d e J e su s Cristo, presen te em todos o s sacrários da Terra, em repa ­ra ção dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que E le m esm o é ofendido. E, pelo s m éritos infinitos do seu Santíssimo C oração e do Coração Imaculado d e M aria, peço-U os a con versão dos p o bres p ecad o res . Depois, levantando-se, tomou de novo o cálice e a Hóstia, e deu-me a Hóstia a mim, e o que continha o cálice deu-o a beber à Jacin ta e ao Francisco, dizendo ao mesmo tem po: Tomai e b eb e i o C orpo e o Sangue d e J esu s Cristo horrivelm ente ultrajado pelo s hom ens ingratos. Reparai os seus crim es e consolai o vosso Deus.

De novo se prostrou em terra e repetiu connosco mais 3 vezes a mesma oração: Santíssima Trindade, etc. E desapa­receu.

Levados pela força do sobrenatural que nos envolvia, imi­távamos o Anjo em tudo. . .»

Aprendamos a lição : deixemo-nos catequizar pelo nossi bom Anjo, que ele é uma realidade, não é criação da noss fantasia.

Oração pelos Sacerdotes, com o na pág. 22.

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■Regina Pafeiarebarum

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DIA 24 OU 25 DE MAIO

REGINA PATRIARCHARUM

Oração preparatória, como na pég. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

As últimas invocações da Ladainha não fazem mais do que proclamar em todos os tons a realeza de Maria.

Depois de nos ter apresentado todo o mundo angélico sujeito ao ceptro da Mãe de Deus, a Igreja faz desfilar diante do Seu trono todas as jerarquias de bem-aventurados, que, a começar pelos Patriar­cas, Seus antepassados, Lhe prestam todos o seu preito de vassalagem. Ela possui, de facto, a ma­jestade dos Patriarcas, a visão de águia e luz dos Profetas, o zelo ardente dos Apóstolos, a intre­pidez vitoriosa dos Mártires, a santidade dos Con­fessores, a pureza das Virgens, a beleza extasiante das mais deslumbrantes falanges angélicas.

Mãe do Criador, como não havia Ela de ser a Rainha excelsa de todas as criaturas? A realeza de Maria, encarada através do prisma teológico, tem de se conceber por analogia com a realeza de Cristo, Seu Filho, em virtude do grande princípio mariológico da associação, pois já sabemos que

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29S FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Deus associou Mãe e Filho em toda a economia da Redenção.

Rainha, pois, sem semelhante pelas Suas prer­rogativas singulares, Ela reina sem fim sobre a esplendorosa assembleia dos eleitos e sobre a hu­manidade regenerada. Também dEla se pode dizer que estende o ceptro de mar a mar e do primeiro rio até aos confins da terra : Todas as nações, todos os povos são vassalos Seus e os extremos horizontes do universo são o Seu domínio. E, se o reino do Filho é o reino da Mãe, porque é que da realeza de Maria não diremos também que não terá ocaso no tempo nem fronteiras no espaço?

Realeza de M aria!. Majestade deslumbrante, ao mesmo tempo que bondosa e maternal, em que tão harmoniosamente se aliam a grandeza, o poder e a bondade !

Acolha-se a essa realeza quem não quer ser escravo doutras realezas. Revoltando-se contra o jugo salutar da virtude, quantas vezes não vai o homem cair na mais ignominiosa escravidão qual é a do vício, ficando só com uma ilusão de liber­dade, que apenas lhe permite descer, degradar-se mais, porque lhe paralisa todos os movimentos desde que tenta erguer-se do lodo. E quantas rea­lezas semelhantes no mundo, realezas que só sabem impor-se algemando escravos : a realeza do oiro, a realeza do egoísmo, a realeza do ciúme e do orgu­lho, a realeza dã voluptuosidade!

Tanto se falou, em séculos que já lá vão, do sangue dos reis, com o qual a glória das dinastias passava de geração em g eração! Pois b em ; o sangue de Maria é sangue real como nenhum ou-

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DIA 24 OU 25 DE MAIO

tro. Em Suas veias circula o sangue dos Patriarcas, o de David, sangue duma das mais ildstres dinas­tias que reinaram sobre um povo. Ela é, pois, a antonomástica Princesa de sangue, que puríssimo Lhe corria nas veias puríssimas, realeza consan­guínea da própria Divindade, pois foi esse sangue real que deu origem a um sangue divino, uma vez que foi hipostàticamente apropriado por um Deus- -Redentor.

Por isso o Arcanjo de Nazaré Lhe prestou honras de rainha na audiência eternamente memo­rável em que A saudou como Mãe de Quem havia de empunhar o ceptro de David e de reinar eterna­mente na casa de Jacó .

Nunca a história registou realeza tão esplendo­rosa como a que no dia da Incarnação foi desven­dada pelo Arcanjo aos olhos da imaculada Prin­cesa de Israel.

II

Os Patriarcas são, pois, entre os bem-aventu­rados os primeiros a prestar-Lhe vassalagem. As figuras venerandas desses Seus antepassados incli- nam-se reverentes diante da majestade de Maria. Eles representam na história de Deus e dos homens o papel de defensores zelosos da Lei do Senhor. Viveram da fé em Cristo vindoiro, em Cristo que havia de ter Mãe, viveram da esperança na Reden­ção futura; e, porque foram homens de fé, foram abençoados de Deus com a promessa de verem multiplicada a sua descendência, como se multipli­caram as estrelas no firmamento e os grãos de areia nas praias do Oceano.

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300 FLOR1LÉQIO ILUSTRADO DA FATIMA

Dos Patriarcas, chefes augustos de famílias abençoadas do Deus de Israel, hoje ditosos habi­tantes da Jerusalém celeste, deixou escrito S. Paulo que eram «a longe aspicientes et salutantes», só pu­deram ver e saudar de longe. Só a uma distância de séculos, mas com uma fé viva e firmíssima es­perança puderam saudar dos longínquos horizontes do passado a mulher salvadora e mãe do prome­tido Salvador, anunciada por Deus logo na alvorada da criação.

São cheias de sentido também as palavras com que Jesu s dizia aos Seus contemporâneos que os Patriarcas, os profetas e justos da Antiga Lei, ansia­ram ver e ouvir o que eles estavam vendo e ou­vindo, sem terem conseguido essa felicidade. Que Abraão, sobretudo, o primeiro dos Patriarcas, sus­pirou pelo amanhecer do dia libertador do M essias; que o viu e se alegrou.

Foi justamente esse anseio, essa fidelidade a Deus, a manutenção dessa esperança no futuro Redentor que lhes mereceu a inestimável coroa da bem-aventurança e a honra de serem os seus as­cendentes.

E, se o desejo de ver o advento de Cristo na terra foi tão ardente em Abraão, que o mesmo Sal­vador o louvou pública e solenemente em Jeru sa­lém, qual não teria sido a chama desse mesmo de­sejo na alma de Quem estava predestinada a ser Sua mãe, e à qual nenhum patriarca pode ser com­parado? Com razão m erece Ela ser chamada a Rainha dos Patriarcas, só por ter exercido em grau tão elevado todas as virtudes patriarcais.

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DIA 24 OU 25 DE MAIO 301

III

Mais ditosos do que eles, nós já não temos que esperar pelo Salvador do mundo, mas só gozar dos frutos salutares da Sua vinda. Não saboreamos apenas as consolações duma doce esperança; es­tamos já de posse de todos os frutos deliciosos da realidade. Jesu s veio do alto dos céu s; visitou a terra, iluminou-a, santificou-a, remiu-a, dotou-a do magnífico património dos sacramentos e das mais preciosas energias espirituais. Estabeleceu neste vale de lágrimas a Sua m orada. . . Mas, a i ! não apreciamos essa adorável e contínua presença; não nos lembramos de visitar o Hóspede, cuja presença é a bem-aventurança dos eleitos, e para nós parece uma banalidade que nos deixa indiferentes.

Que oportunas não seriam ditas a nós as pa­lavras um dia dirigidas pelo santo Precursor aos seus contem porâneos: «No meio de vós está quem vós não sabeis» (Jo . I, 26).

Que a Virgem da Fátima, doce esperança dos Patriarcas, que tão intimamente possuiu o que eles tão ardentemente desejaram ver, nos ensine a apre­ciar a felicidade que temos de O possuir e de po­der desfrutar de todas as graças de que Ele é fonte inexaurível.

Rainha dos Patriarcas! Rainha do universo! Acaso não é a Fátima o monumento indestrutível da Sua realeza?

A 13 de Maio de 1938 todo o Episcopado de Portugal se encontrava reunido na Cova da Iria. E ali, aos pés da Virgem da Fátima, todos assina­ram uma súplica colectiva dirigida a Pio XI, para

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302 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

que Sua Santidade na hora grave de ameaças que pairavam sobre o mundo, se dignasse consagrá-lo a Nossa Senhora, como Rainha do Universo.

Quase pela mesma ocasião, Lúcia, a única vi­dente que sobrevivia, escreve também ao Papa uma carta, recomendada pelo venerando Bispo de Lei­ria, fazendo idêntico pedido, como expressão dum ardente desejo do Imaculado Coração de Maria.

Ora a 31 de Outubro de 1942, ao encerrar-se o ano jubilar das Aparições, o Papa falando para Portugal, mas de modo que toda a terra o ouvisse, consagrava o Mundo inteiro a Nossa Senhora, e consagrava-o em língua portuguesa. Foi usando da nossa língua que o Vigário de Cristo pôs nas mãos de Maria um mundo convulsionado pela guerra mais espantosa de que havia memória, confiando ao Seu Coração Imaculado um reino tão difícil de governar, para que Ela, como rainha e numa hora em que ninguém mais o podia governar, tomasse conta dos seus destinos.

Esse acto, com que se remataram as comemo­rações jubilares das aparições da Fátima, foi a pro­clamação oficial da realeza de Maria sobre o mundo, dando-lhe como rainha a Rainha do Céu.

Nunca a nossa língua, a língua que falaram os nossos antepassados e que nós herdamos, foi tão honrada como no dia em que um papa a fez sua para proclamar a realeza de Maria sobre o universo.

Rainha e m ãe! Não é rainha que tenhamos de tratar por «Uossa Majestade», que essa m ajes­tade é toda maternal. Chamemos-Lhe mãe, que o nosso coração ficará mais satisfeito. E o dEla também.

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DIA 24 OU 25 DE MAIO

EXEM PLO

Como os Patriarcas, m as. . . pela ridio

Os Patriarcas, diz Jesu s Cristo, desejaram ver e ouvir o que viam e ouviam os Seus contemporâneos.

Na expressão de S. Paulo (Hebr. XI, 13) só lhes foi dado ver e saudar a distância. Era justamente nessas circunstâncias que se encontrava D. Ana M oreira dos Santos Azevedo, de Lamego, imobilizada há 5 anos, em consequência dum ataque de paralisia.

Chega o dia 13 de Maio de 1940. Também ela desejava ansiosamente ir à Fátima venerar Nossa Senhora e suplicar- -Lhe a cura. M as... separava-a a distância e a paralisia, como os séculos separavam do Messias os Patriarcas. A mesma fé dos patriarcas veio remediar a sua impotência.

A descendência vindoira dos Patriarcas havia de con­templar com os próprios olhos o que a eles só pela fé lhes fora dado conhecer. Também a pobre paralítica de Lamego incumbe uma sua filha de a ir substituir na Cova da Iria aos pés da Mãe do céu. E dali mesmo, do seu leito de imobilidade, uma filha religiosa exorta-a a pedir a cura à Saúde dos en/ermos.

A doente começa por fazer a entronização de N.* S .* da Fátima em sua casa. Era homenagem prestada à Sua realeza.

Ao ouvir, nesse mesmo dia 13 de Maio, pela rádio, o começo das cerimónias religiosas na Cova da Iria, prostra-se de joelhos diante da imagem entronizada, e associa-se em espi­rito às invocações que a essa hora estava fazendo por ela sua filha no Santuário da Fátima.

Ao ser proferida a invocação: Senhor, fazei que eu ande, sente-se como se pisasse espinhos. O sangue com eça de novo a circular pelos membros tolhidos, o braço e a perna recupe­ram o movimento e a vida. O Santíssimo Sacramento manda­va-lhe da Cova da Iria uma Bênção vivificante, e Nossa Senhora a cura instantânea.

Muito conhecida em Lamego a sua casa começou logo a ser lugar de verdadeira romaria. O Sr. Bispo dignou-se cele­brar pessoalm ente na Sé Episcopal, com a assistência de muitos fiéis, a missa em acção de graças.

Oração pelos sacerdotes, com o na pág. 22.

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DIA 25 DE MAIO

REGINA PROPHETARUM

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

A missão dos Profetas consistiu em não deixar apagar no povo eleito de Deus aquela luz que lhe permitia entrever na escuridão do futuro a figura adorável do Messias, e portanto em anunciar im­plicitamente as glórias de Quem o havia de dar ao mundo, dAquela nova Eva que com Ele havia de reparar as ruinas acumuladas pela primeira nã hu­manidade decaida. Prodígios vivos de inspiração divina, de conhecimentos sobrenaturais, eles esbo­çaram com muitos séculos de antecipação o perfil do grande Desejado das nações, entrevisto com luz profética nos horizontes do futuro.

E chegado o dia da Sua aparição na terra, já encontrou nela o Seu retrato. Como a certas horas do dia e conforme a direcção que segue, o vian­dante leva diante de si a própria sombra, assim o sol da revelação profética projectou nos futuros horizontes da humanidade a silhueta augusta do suspirado Messias. Quando aparece, é já conhe­cida a Sua fisionomia.

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Regina Pcopfcetarum

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DIA 25 DP. MAIO 305

Mas, esboçando as diversas fases da vida de Cristo, os diversos traços fisionómicos da Sua pes­soa e do Seu ministério, os maravilhosos frutos da Sua missão de Evangelizador e de Taumaturgo, não vislumbrariam eles também a Sua augusta progeni­tora, essa cativante filha de Eva, que bem sabiam havia de cooperar na salvação do género humano?

A h! sem dúvida; o doce e majestoso perfil de Maria devia tê-los feito exultar de júbilo, enquanto escreviam a história profética do Seu Filho divino, aqueles sobretudo aos quais clarões especiais de profecia revelaram os extasiantes encantos da Vir- gem-Mãe. Como podia, efectivamente, ficar insen- sivel um Isaias, ao ver o Divino M essias ser ama­mentado por uma Virgem, Sua M ãe; ou um Ezequiel (XL1V, 2) ao ver numa porta do Santuário reservada ao Senhor prefigurada a inviolabilidade virginal da imaculada princesa de N azaré?

E agora ao contemplarem a descoberto na eterna mansão da glória, e à luz da própria Divin­dade, Aquela que só tinham entrevisto com luz profética, com que suaves exultações de alma não hão-de aclamar e venerar a sua celeste Rainha, que viu e conheceu muito mais do que e le s?

Ela, de facto, viu com Seus olhos e ouviu com Seus próprios ouvidos e apalpou com Suas mãos o que eles tanto desejaram ver e ouvir e apalpar. Ilu­minados pelo fogo sagrado da inspiração profética, elevaram-se a uma altura de pensamentos que nos maravilha e nos encanta nos seus escritos. Mas Ela, cheia do Espírito Divino, e exultando de júbilo em Deus, Seu Salvador, entoou à glória do Senhor um hino de gratidão que em suas estrofes arrebata a

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306 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

alma toda até Deus, expandindo-se numa opulên­cia de sentimentos, numa sublimidade de afectos, num entusiasmo divino sem semelhante nos anti­gos oráculos do Altíssimo.

Ela é verdadeiramente e por todos os títulos a Rainha dos Profetas.

II '

À profecia é, na expressão do Concílio Vati­cano, um facto divino, que, portanto, nos dá o di­reito de dizer que, onde quer que ela se encontrar, aí está o dedo de Deus.

O império da .profecia abre-se para além das fronteiras do presente; são os mistérios impene­tráveis do futuro, avassalando com a mesma facili­dade os segredos da liberdade humana, absoluta­mente inacessíveis a qualquer olhar que não seja o de Deus. Para a inteligência divina, foco lumi­noso de todas as profecias, que ilumina as esferas infinitas do possível e do real, não há limites, nem trevas, nem sombras, nem distâncias, nem segredos de consciência ou de liberdade.

A intuição divina é eterna e simultâneamente contemporânea de todos os acontecimentos passa­dos, presentes ou futuros, dominando-os a todos das alturas da sua eternidade, para a qual o nosso amanhã sempre foi hoje. Ciência da Divindade, galgando os horizontes do tempo, como se saisse ao encontro de todos os acontecimentos, ou como se, por uma antecipada televisão sem semelhante no mundo criado, tornasse presente ao seu eterno agora o que uma distância infinita parece separar, relâmpago inefável e inextinguível, que com a rapi-

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DIA 25 DE MAIO 307

dez da sua luz se adianta na eternidade ao estrondo que no tempo há de abalar ouvidos vindoiros.

Seria inconcebível um Ser omniperfeito sem a omnisciência e a omnipotência: a omnisciência que é o conhecimento infalível de tudo o que é conhe- cível, e a omnipotência que possibilita a revelação desse mesmo conhecimento a outras inteligências. A verdadeira profecia não exige mais. E a revela­ção de futuros livres, ou eles dependam só de Deus, como é a morte futura em dia e hora determinada; ou dependam também da liberdade criada, eis o tipo genuino da profecia que se apresenta com o selo infalsificável do divino. Daí a força invencí­vel e divina da profecia, quando se trata de provar qualquer intervenção de Deus no mundo.

E de facto, desde o berço do cristianismo, os apologistas encontraram no argumento profético a arma omnipotente que lhes permitiu defender a messianidade e a divindade de Cristo. Era só pôr em paralelo o Cristo preexistente na profecia com o Cristo histórico do Evangelho, e inferir com evi­dência meridiana a flagrante e esmagadora identi­dade do retrato com o retratado. E estava feita a apologia.

III

A profecia parece ter sido a primeira pedra do monumento hodierno erguido à Rainha dos Profe­tas. Esse monumento é Fátima.

Nada havia que autorizasse a realidade das aparições de 1917. Os videntes, três crianças em que mal desabrochara a razão, analfabetas de todo, anunciam da parte da Visão celestial um sinal pro-

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

digioso no céu, com meses de antecipação, e com dia e hora marcada. Esse anúncio atrai ao local das aparições 70.000 curiosos, diante dos quais, no dia e na hora anunciada, se verifica à letra o vati­cinado acontecimento. Fátima já tinha as suas cre­denciais divinas.

E a partir dessa hora Fátima era teatro empol­gante de sempre nova e sempre antiga realização profética. Profecia quase inadvertida foi a que um dia despretenciosamente, na intimidade dum curto diálogo, fez a própria Rainha dos Profetas: «Dora­vante todas as gerações me proclamarão bem-aven­turada». E ei-la em perene realização na Cova da Iria, à vista de todos. Ali, de modo tão admirável, se está realizando a toda a hora uma das mais ful­gurantes profecias do Novo Testamento.

O prenúncio da segunda guerra mundial, dos erros que pelo mundo havia de difundir uma nação dementada, da prematura morte, que se não fez es­perar, dos dois videntes mais novos e da sobrevi­vência da mais velha, as curas de alguns doentes que ali se haviam de verificar são, para não aumen­tarmos a lista, o sinal de que a Rainha dos Profetas reina na Fátima e, por meio da Fátima, há de reinar por toda a parte.

Que a Virgem Senhora da Fátima se digne asso- ciar-nos ao concerto universal de vozes que a toda a hora, por obras e por palavras, não cessa de a aclamar bendita entre as mulheres. E que a nossa última hora e o nosso último suspiro seja ainda, como despedida deste mundo, um tributo de glori­ficação para Aquela que todas as gerações procla­mam bem-aventurada.

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DIA 25 DE MAIO 309

EXEM PLO

Devassando os horizontes do futuro

Jacin ta Marto, a inocente pastorinha da Fátima, durante a doença que a vitimou, faz predições que impressionam pro­fundamente, o que, aliás, não é de estranhar, uma vez que na sua doença é várias vezes visitada por Nossa Senhora, como ela ingènuamente ia revelando a seus confidentes.

Ainda na casa paterna declara à Lúcia ter-lhe Ela anun­ciado que iria para um hospital de Lisboa, que não a tornaria a ver nem a seus pais, que depois de muito sofrer morreria sòzinha, mas que a Senhora a viria buscar. E tudo se realizou ã letra. Hospedada no Orfanato d e Nossa Senhora dos M ilagres (R . da Estrela, 17), a Superiora, Madre Maria da Purificação Godinho, ficou sendo desde essa hora a sua M adrinha, e entre am bas estabeleceu-se a maior intimidade. No meio dessa inti­midade vai filialmente dando conta de várias aparições com que a Senhora a confortava no seu grande sofrimento, e sobre­tudo revelando novas predições.

Longe de nós apresentá-las como autênticas profecias no estrito sentido da palavra. Mas, a não ser que se recorra à já gasta explicação do acaso, ou da coincidência, sérios esforços terá de fazer quem tentar explicá-las naturalmente.

Limitamo-nos a referi-las, conforme foram comunicadas pela já conhecida Superiora :

1.* À mãe da menina pergunta a Superiora se não gos­taria que suas filhas Teresa e Florinda se fizessem religiosas. M ais por ignorância que por antipatia à vida religiosa, a mãe declara não lhe agradar a ideia.

Sem contudo ter ouvido a conversa, Jacin ta diz mais tarde à «M adrinha»: «Nossa Senhora gostava muito que mi­nhas irmãs se fizessem freiras. Minha mãe não quer. Mas, por isso, Nossa Senhora não tardará a levá-las». Efectivamente daí a pouco as duas meninas eram «le v ad as» .. . pela morte.

2." Havia muito que a Madre Superiora desejava ir à Fátim a, mas parecia-lhe impossível a realização do seu desejo.

Um dia diz-lhe a Jacinta : «A Madrinha há de lá ir, mas só depòis da minha morte».

De facto, por um concurso inesperado de circunstâncias, ela lá teve de ir acompanhar o cadáver da criança.

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310 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

3.* Dois distintos médicos de Lisboa trataram-na com grande dedicação e caridade. Fitando um deles que se reco­mendava às suas orações, diz-lhe a menina : «O lhe que Vos- sem ecê também vai, não tarda».

A cena repete-se com o segundo que também se reco­mendava a si e a filha às orações da doentinha : « Vossemecê também vem ; primeiro a sua filha e depois o Senhor Doutor.

Ambas as predições se realizaram.4 .“ M ais notável este facto que se pode já referir :Pergunta-lhe a «Madrinha» se gostara aum sermão que

acabava de ouvir. Fria foi a resposta.— Não ouviste como o pregador disse coisas tão bonitas?— D isse... m as... Nossa Senhora não gosta d ele !... Não

é bom Padre.Repreendida pelo mau juízo que fizera, calou por então.

Mais tarde diz-lhe com asseveração: «A Madrinha, quando menos o esperar, ainda há-de vir a saber como aquele padre é mau».

De facto, passado algum tempo, a «Madrinha» veio a saber muitas coisas. E hé anos já que o escândalo se tornou pújjlico, e o escandaloso... se secularizou.

5.* Chegado o momento de ser operada no hospital de D. Estefènia, declarou è «Madrinha» que era inútil, porque Nossa Senhora não tardava a vir buscá-la. E à Lúcia mandou dizer que Nossa Senhora lhe dissera o dia e hora em que viria.

Mas, por obediência, teve de se sujeitar à operação, a qual teve lugar a 10 de Fevereiro. Sofrendo atrozmente, diz no dia 16 à «Madrinha» que Nossa Senhora nessa hora lhe

. tirava as dores. E, de facto, não as sentiu mais.No dia 20 à noite, depois de se confessar, pede o Sagrado

Viático", declarando que era chegada a hora. Julgando que não urgia, o sacerdote retira-se, prometendo voltar no dia seguinte. Mas a partida estava marcada para as 22h 30, e Jacin ta morria «sòzinha», assistida apenas da enfermeira.

Oração pelos sacerdotes, como na pag. 22.

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Regina Hpostolorum

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DIA 26 DE MAIO

REGINA APOSTOLORUM

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Do mesmo modo que o sacerdócio (Hebr. V, 4), também o Apostolado é objecto não de escolha pessoal, mas de eleição divina. «Não me esco­lhestes vós a mim, escolhi-vos eu a v ó s» : Não há dúvida que os Apóstolos foram todos objecto de eleição e de missão divina, em ordem a constituí­rem um corpo ou colégio apostólico. Receberam o poder de ordem, ou seja, a missão de santificar, o poder de jurisdição, ou seja, de governar as almas, e o poder de ensinar, e de instruir todas as nações da terra. Tal foi a naissão divina confiada aos Apóstolos.

Como fundadores da Igreja e primeiros prega­dores do Evangelho, como legados imediatos de Cristo e possuidores das primícias do Espírito Santo, eles foram dotados de certas prerrogativas apostólicas, de ordem pessoal, que não seriam trans­mitidas a seus sucessores. Tais foram o dom da infalibilidade, privilégio especial do apostolado, a

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312 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTI.MA

confirmação em graça, que depois de receberem o Espírito Santo os tornou impecáveis, e a universa­lidade e plenitude de jurisdição, sem limitações ter­ritoriais, nem quaisquer outras peias que restrin­gissem a sua acção apostólica, não evidentemente que fossem independentes do primado de Pedro em assuntos gerais do governo da Igreja, mas Pedro é que, reconhecendo a infalibilidade e impe­cabilidade de cada qual, tinha de respeitar a mis­são e prerrogativas dadas a cada um pelo Divino Fundador.

Sucessores legítimos dos Apóstolos são-no os Bispos, embora não lhes tenham herdado os caris­mas e prerrogativas pessoais. Pelo que ao poder de ordem se refere, os Bispos, como os Apóstolos, possuem a plenitude do sacerdócio indefinidamente transmissível. Quanto ao poder de jurisdição, uni­versal nos Apóstolos, ele é nos Bispos, seus suces­sores, circunscrito ao território que o Papa lhes confia. E pelo que toca ao seu exercício, o que nos Apóstolos só dependia intimamente do Divino Fundador e do Espírito Santo que lhes assistia (e era essa íntima dependência, mais do que qual­quer lei exterior que os impedia de construir fora da Pedra viva e fundamental escolhida por Cristo), nos Bispos depende ainda da vontade do Papa.

Também a infalibilidade pessoal foi privilégio exclusivo dos Apóstolos. O corpo episcopal é, sim, infalível, pois constitui o magistério infalível da Igreja; mas nenhum Bispo o é, isoladamente con­siderado. E, se o Papa goza da infalibilidade pes­soal, não é enquanto Bispo, mas só enquanto su­prema autoridade docente duma Instituição infalível.

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DIA 26 DE MAIO 313

Nem a impecabilidade dos Apóstolos foi património transmissível a seus su cessores; e nem o próprio Papa neste ponto se deve considerar privilegiado.

O episcopado é uma instituição divina no pleno sentido da palavra. Herdeiros natos, não do patri­mónio carismático dos Apóstolos, mas do seu poder de ordem e de jurisdição, a eles pertence governar espiritual e temporalmente as próprias dioceses, com o exercício do tríplice poder legislativo, judi­cial e coercivo. A eles e não a outros pertence conferir nas suas dioceses o poder de pregar e confessar, a eles incumbe o direito de velar pela manutenção da fé e bons costumes, pelo cumpri­mento das leis eclesiásticas; a eles, e não a outros independentemente deles, pertence permitir ou proi­bir a divulgação ou circulação de publicações que atinjam questões de fé ou de moral.

Constituindo a Igreja docente, são eles os guias e mestres da ortodoxia católica, «eleitos pelo Espírito Santo para regerem a Igreja de Deus» Act. XX, 28.

Os fiéis devem, pois, plena submissão, amor e reverência aos seus Bispos. As suas ordens e dis­posições devem ser acatadas e não discutidas. Não sentiria certamente com a Igreja quem de algum modo as contrariasse ou, por qualquer obs- trucionismo malévolo, dificultasse a sua execução.

II

O que nem as maiores águias da ciência humana, nem os oradores mais eloquentes, nem os maiores e mais hábeis potentados sonharam jamais

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314 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

empreender; nem jamais realizariam se o empreen­dessem, realizou-o um punhado de pescadores da Galileia, quase tojdos analfabetos e destituídos de todo o apoio humano. Foram eles os instrumentos da transformação mais profunda que jamais sé rea­lizou na alma da humanidade, eles os que dum mundo bárbaro fizeram um mundo civilizado, dum mundo pagão um mundo cristão, dum mundo cor­rompido pela libertinagem um mundo que se sub­mete à pureza austera do Evangelho.

Repartem entre si o mundo para o conquista­rem, impondo a toda a terra um novo culto, uma nova lei, e apresentando à adoração de todos um Judeu crucificado! Mas um judeu que era Deus, e que, fazendo-se homem, expiara na cruz os crimes da humanidade para a remir e regenerar.

Empresa sobre-humana, sem dúvida a desses homens, que só à custa do próprio sangue e da pró­pria vida pôde ser levada a cabo.

Mas que parte teve Maria nessa grande obra para merecer o título de Rainha dos Apóstolos? Ah! Ela, que só pela preeminência da Sua divina maternidade tinha pleno direito a esse título, con­tribuiu como ninguém para a formação é desenvol­vimento da Igreja nascente.

E’ vê-La presidindo a esse memorável retiro do Cenáculo, em que os Apóstolos se preparavam, sob a Sua direcção, para receberem do alto a vir­tude do Espírito Santo (Act. I, 8). E quem ousaria crer que Ela não recebesse também em toda a sua plenitude a dotação carismática dos Apóstolos, de modo que nada Lhe faltasse de todo esse riquíssimo património sobrenatural e preternatural que Ela podia

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DIA 26 DE MAIO 315

possuir? Certamente Ela não fora predestinada a exercer os ministérios apostólicos; mas porque não poderia Ela receber o dom da sabedoria, o dos milagres, o da profecia, todas as graças enfim e carismas, a Ela devidos como ornamento da Sua dignidade de Mãe de D eus?

Bem sabemos que desde o presépio Ela, se­gundo a expressão do Evangelista (Luc. II, 19), con­servava na memória e em Seu coração tudo quanto se referia à vida de Seu Filho. Foi Ela, portanto, quem revelou aos Apóstolos todas as circunstâncias dos mistérios de que eles não puderam ser teste­munhas, e que a seu tempo eles deviam dar a conhe­cer ao mundo. O Seu coração foi, pois, a fonte a que os Apóstolos foram haurir tão preciosas infor­mações sobre a vida do Mestre Divino.

E para eles foi também uma fonte de luz, da qual a águia sublime dos Evangelistas soube colher os seus altíssimos e profundos conhecimentos sobre a vida divina do Verbo.

O título de Rainha dos Apóstolos não lhe com­pete menos pelo salutar influxo que pessoalmente exerceu na difusão do Evangelho. Imagem fidelís­sima de Seu Filho, luminoso espelho da Sua vida, não eram acaso os exemplos de Maria a mais elo­quente pregação do Evangelho? E o Seu Coração virginal, frágua ardente do amor divino, não o era igualmente do mais encendido zelo apostólico?

E, se Jesu s A deixou na terra depois da As­censão, não seria para nela desenvolver esse zelo mais que apostólico, como Mãe e sustentáculo da Igreja nascente? E para isso não tinha Ela de ser a luz e modelo dos Apóstolos, a Rainha e Mãe dos

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316 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

doze companheiros heróicos de Seu Filho, outras tantas colunas da santa cidade de D eus?

III

E a Sua vinda à Fátima não é uma nova forma de apostolado por Ela inaugurado no século X X ?

Primeiro foram os povos que em massa, ou em peregrinações mais ou menos organizadas, acudiam à Cova da Iria para dizerem a confessores des­conhecidos há quantos anos não se ajoelhavam no tribunal da penitência, e que do recinto sagrado das aparições faziam larga sementeira de confessio­nários improvisados, como se ali houvessem de de­saguar caudalosos rios de pecados que aos pés de Maria haviam de se afundar e desaparecer no abismo por ela aberto da misericórdia divina.

Hoje não são já tanto as multidões que vão à Fátima, é a Fátima que vai às multidões, que per­corre todos os recantos da terra. E' a imagem pere­grina, iman e canto celestial dos corações, que deixa o seu santuário e vai missionar o mundo, como após­tola a quem o Senhor tivesse dito: ite in mundum universum, ide por toda a terra. E todos sentem que a imagem é seguida pela mesma Virgem da Fátima, que, qual sombra invisível e inseparável, a acompa­nha pessoalmente através das suas peregrinações.

E assim como bastava a sombra do Príncipe dos Apóstolos para operar sobre os enfermos os efeitos do seu poder taumaturgo, assim hoje basta a imagem peregrina, qual sombra benfazeja da Virgem da Fátima, projectada pelo mundo fora,

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DIA 26 DE MAIO 317

para operar em qualquer parte as maravilhas da Cova da Iria. É a Fátima geograficamente projec­tada em todas as direcções, para em qualquer parte afluirem aos pés da imagem bendita multidões con­tritas a implorar o perdão das suas culpas, sem que o número de confessores, por mais que se multi­plique, seja bastante para absolver tantas almas arrependidas. É a celestial taumaturga e missio­nária do mundo hodierno, que, atraindo a seus pés as pombas do céu, vai anunciando a Sua mensa­gem de salvação, e ao mesmo tempo semeando milagres, graças e bênçãos com uma profusão digna da Mãe de Deus.

Não há dúvida que é a Rainha dos Apóstolos, renovando hoje pelo mundo fora todos os prodí­gios de evangelização há 19 séculos operados pelos arautos do cristianismo nascente.

E realmente, nos últimos séculos da história, não há lembrança de semelhante revolução espiri­tual que tanto tenha sacudido as almas e remexido as consciências como a que temos presenciado. É a hora da Providência que quer acudir ao mundo ainda ensanguentado, e que, sob o pesadelo de calamidades apocalípticas que se anunciam e pre­param, convida os povos à concórdia e faz brilhar no firmamento das esperanças humanas a estrela benfazeja da Fátima, anunciando melhores dias às almas de boa vontade e fazendo correr diante de espíritos obstinados, como num filme ensanguen­tado, o espetro de todas as desventuras.

É Maria, apóstola e missionária, que, agora como em 1917 aos seus videntes, aparece a todos os povos, nações e raças, fazendo curvar diante de

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318 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

si todas as religiões de extraviados, maometanos, brâmanes, budistas, protestantes, na afirnrjação ma­jestosa da Sua grandeza de Embaixatriz do Céu, que se fez portadora dos últimos arcanos da M ise­ricórdia. E poderão ainda as almas resistir à irre­sistível magia do Seu apostolado maternal?

Do Seu trono de Rainha dos Apóstolos nunca Ela pôde' desinteressar-se da nossa sorte eterna. Sejam os todos Seus colaboradores. Antes de tudo pelos bons exemplos duma vida genuinamente cristã, para sermos na expressão evangélica, fachos que iluminem nossos irmãos e os levem a glorifi­car o mesmo Pai celeste que nos há-de glorificar a nós.

Mas não nos contentemos com esse apostolado que se concentra dentro de nós mesmos. Demos a todas as nossas obras o dinamismo avassalador do zelo, para que todas elas tenham a sua projecção social e apostólica, cooperando sem restrições com o proselitismo da Igreja, segundo o espírito e as normas da Acção Católica.

Lapidarmente exprimiu o mesmo pensamento o imortal D. Sebastião Lem e: Anjos marmorifica- dos diante dos altares não são apóstolos.

EXEM PLO

Fátima anda pelo mundo

Treze de Outubro de 1952. Enquanto na Cova da Iria multidões de peregrinos de várias nacionalidades prôclamam bem-aventurada a Mãe de Deus, na pequena cidade brasileira de Cruz Alta, pertencente ao Estado do Rio Grande do Sul,

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DIA 26 DE MAIO 319

registáva-se um acontecimento, que era um novo capítulo de oiro abérto na história da Fátima.

Desde a igreja matriz desfila magnífico cortejo de 40.000 pessoas que se encaminha ao local em que se levanta m ajes­toso monumento. Sobre esse monumento vai ser entronizada a olímpica estátua, oferecida pelo governo português, benzida em Lisboa por Sua Eminência o Sr. Cardeal Patriarca. Todo o local vibra em harmoniosos hinos e preces, que se diriam radio- fundidos da Cova da Iria. Portugal e Brasil são delirantemente ovacionados; e ao chegar a procissão, milhares e milhares de leçços brancos agitam-se frenèticamente no ar, juntamente com muitos milhares de bandeiras brasileiras e portuguesas, até se aproximar, para dar inicio a outra cerimónia, semelhante a um intenso lírio branco o andor de Nossa Senhora.

Portugal estava presente na pessoa do seu digno Embai­xador. Presentes também os Bispos de Pelotas e de Santa Maria, o Governador do Estado, o Prefeito da cidade e outras autoridades e pessoas de representação civis e militares. Foi então que o Embaixador de Portugal, nessa hora feito Embai­xador de Nossa Senhora da Fátima, fez ouvir estas palavras, cujo eco nunca mais se apagará :

« E com a mais profunda emoção que em nome do meu governo entrego ao Rio Grande do Sul e ao povo de Cruz Alta a imagem de N .” S." de Fátima.

«Ao colocar no seu novo altar brasileiro a imagem sa­grada da Padroeira de Portugal, sei bem que as vossas preces hão-de ressoar aqui com os acordes da imensa fé que hoje se escutam na Cova da Iria. Eles serão mais um elo imponderável, mas poderoso a ligar os destinos de nossas pátrias pela mais suave expressão de catolicismo, esse culto mariano que enche de poesia e ternura a crença secular dos dois povos de língua portuguesa.

* Portugal se chamou Terra de Santa M aria; e esta invo­cação corresponde não apenas a uma legenda de seu florilégio cristão, mas a um facto impressivo da vida espiritual de meu país, através de sua história de todos os tempos. De ermidas à Virgem M ãe de Deus se povoou, desde a fundação da nacio­nalidade, o reino cristão de Portugal. Pelos vales e pelos montes branquejam esses santuários como padrões de uma de­voção especialissima. D e milagre de Maria anda cheia a crônica do catolicismo português. E nos momentos dramáticos, como

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320 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

nos triunfais instantes da vida nacional, é ainda mariana a acção de preces que se rendem aos céus pelas vitórias, pelas conquistas, pelas epopeias da grei. Lá está a Batalha, joia gótica desse culto de N .“ Sr.* da V itória; lá estão os Jerón i- mos, tributo manuelino do Descobrimento à Virgem de Belém.

• Da escultura à pintura e desta às letras eruditas, à arte popular, às tradicionais romarias à Virgem, é um tema profun­damente português. E o rimo de nossa fé, flor de nossa crença, milagre do nosso destino. Milagre que se condensou em Fáti­ma, tornando Portugal um país M ENSAGEIRO DE UM R E ­CADO DO CÉU PARA O MUNDO, num momento em que esse mundo se convulsionava e se destruía, não tanto pela guerra impiedosa, como pelo impiedoso aniquilamento do homem espiritual que o cristianismo formara.

• Foi a esse povo de compreensão e vocação universa- lista, essa raça de cruzados que dilataram as fronteiras de Deus na Terra, foi a gente portuguesa que a Virgem encarregou de renovar, com a sua imagem, os princípios morais do mundo combalido, a estrutura espiritual do homem perdido no deserto 'de seu racionalismo e a recondução de sua existência a um ideal de amor e de paz entre os povos.

«FÁTIMA ANDA PELO M UNDO. O seu nome enche de esperanças as multidões que a solicitam e o seu milagre é de tal maneira evidente que o Santo Padre ainda há pouco dispôs que o Ano Santo fosse encerrado no Santuário da Cova da Iria, lugar humilde de pastores que se transformou em pou­cos anos numa catedral do Universo.

«Pois é esta imagem que Portugal oferece à cidade de Cruz Alta, nome sim bólico que traz as mesmas tradições reli­giosas de Portugal e do Brasil.

«Terra de Santa Cruz, o Brasil é o primeiro povo cristão do apostolado de Portugal no mundo.

«Terra de Santa Cruz, vitória cristã de Portugal na Amé­rica, que se tornou a maior nação católica da humanidade, ao Brasil entrego a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, aureo­lada pelo renome universal de seu milagre, que Portugal deseja se renove em bênção sobre Cruz Alta e de Cruz Alta para o Brasil».

Depois de outros discursos, a olímpica Imagem, ao som dos hinos brasileiro e português, é colocada sobre o majestoso monumento que lhe fora erguido.

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DIA 26 DE MAIO 321

NOSSA SENH ORA DA FÁTIMA I Para constar bem que era Ela, nesse mesmo dia, diante do Seu apoteótico monu­mento, Marco António, de 19 anos, que era cego, recupera a vista, e Cenira Pinheiro é curada de moléstia que os médicos, há 4 anos, vinham dando como incurável.

A noite na Igreja Matriz são encerradas as solenidades, em que a voz do Sr. Embaixador de Portugal se faz ouvir. D esse segundo discurso destacamos apenas esta passagem :

«Da fé que cimentou o destino da minha raça na sua M ISSÃO APOSTÓLICA pelo mundo inteiro ficou no Brasil o seu clarão luminoso. Nesta luz se acenderam os círios votivos, as velas do esplendor cristão durante estes dias em que se veio colocar, em seu novo altar brasileiro, a Senhora de Fátima, Pa­droeira de Portugal.

«Embaixatriz do Milagre que desceu ã Cova da Iria, a imagem bendita, Q U E ANDA DE TERRA EM TERRA , quis sentir-se também vinculada e este pais, onde ficou com a nossa língua e com o nosso sangue... a força do espirito que se fez templo, oração e presença de Deus na obra do Descobrimento e da Colonização».

E Cruz Alta desde esse dia é um sím bolo, vai ser uma Cova da Iria no hemisfério Sul. A romaria começou, e . . . continuará.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 26 OU 27 DE MAIO

REGINA MARTYRUM

Oração preparatória, como na pág. 15

AOS PÉS DE MARIA

I

Rainha dos mártires sem que para isso seja ne­cessário acender fogueiras, nem afiar espadas, nem inventar torturas físicas... Mártir do mesmo modo que o Divino Mártir do Getsemani, cuja alma aguen­tou com o peso duma agonia mortal. Mártir que não necessitou doutra cruz mais que a de Seu Filho. Duas vítimas no mesmo altar. Martírio não do corpo, mas da alma que a dor dilacerou fibra a fibra.

Uma espada cruel atravessará de lado a lado a tua alma, dissera Simeão 33 anos atrás, para que 33 anos durasse um martírio, que só duraria algu­mas horas se a profecia lho não tivesse antecipado.

De facto, a carne de Maria foi respeitada, mas a Sua sensibilidade foi ferida até às suas fibras mais íntimas. Se os menores sofrimentos dos filhos vão tão sensivelmente repercutir no coração das mães, como é que a delicadíssima sensibilidade de Maria não havia de gemer a uníssono com a do Filho? Se Deus se esmerara em formar-lhe o coração—a

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Regina ïDartgrum

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DIA 26 OU 27 DE MAIO 323

maior maravilha da maternidade criada, — como que repartindo com Ela a afeição a um Filho comum, ou como que humanando nEla o que nEle é divino, como é que os golpes da flagelação, os espinhos, os cravos, o amargor do fel, todos os tormentos enfim, tormentos físicos e morais, podiam atingir o Filho sem dilacerar o coração da M ãe?

As mães da terra poderão ajuizar de algum modo o que representa de heroísmo e de martírio para um coração de mãe o sacrifício dum filho único amado até ao delírio. Mas ter sequer uma pálida ideia do que seria o sacrifício do Filho que Maria sacrificou, só quem fosse Mãe de Deus. Não há inteligência criada que possa representar a gran­deza dessa imolação. Não há coração que depois de ter sido enchido do Infinito, seja capaz de aguen­tar o vazio do Infinito. Nenhum! a não ser aquele coração de Mãe, o único expressamente criado para sentir a presença do Infinito e para suportar a ausên­cia do Infinito.

Quem poderá então representar ao vivo a tra­gédia oculta que diante da cruz se desenrola no mais íntimo do Coração maternal de M aria?

Se volve os olhos para Jesu s, objecto de todo o Seu amor, não pode pensar em vê-Lo morrer, sem que a Seus lábios assome a amargurada ex­pressão de D avid: Não poder eu morrer em teu lugar, Filho meu (II Reg. 18, 33)! E assim, sacrifi­cando o Filho, sacrifica-se a Si mesma. E a gran­deza do Seu sacrifício está precisamente em não se poder sacrificar Ela para não ser sacrificado o Filho das suas entranhas.

Se volve os olhos para nós, Ela vê a raça

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324 FLOKILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

humana acorrentada ao inferno pelos grilhões da pecado que implora uma vítima, um sacrifício ex­piatório capaz de despedaçar esses grilhões.

Se ergue os olhos ao céu, Maria vê a irrevogá­vel resolução da Divina Justiça de não nos libertar do estado de condenação, se não a troco duma sa­tisfação condigna. E essa satisfação só o sangue do Seu ynigénito Lha poderá dar. Ora Maria é a Mãe dessa vítima requisitada pela Justiça Divina, e como tal exerce sobre ela todo o Seu domínio materno.

E Deus respeita esse domínio. E porque o res­peita não quer que o sangue redentor do Filho seja derramado sem o fiat corredentor da Mãe. É neces­sário que Ela ponha a Sua assinatura no decreto da redenção. Foi para dar esse consentimento que Ela entrou em cena durante o drama do Calvário. A tal extremo Ela amou o mundo que lhe deu o Seu Unigénito!

II

O martírio da Mãe teve o carácter do do Filho. Foi martírio reparador. Ele o Redentor, Ela a Cor- redentora, duas vítimas associadas desempenhanda no mesmo altar o mesmo papel de reparação à Di­vina Justiça.

Maria é a grande reparadora do Calvário, asso­ciada a Seu Filho no mesmo acto de desagravo à Divina Majestade ultrajada e de propiciação pelos pecadores.

Os outros mártires sofriam por Cristo. Ela so­fre com Cristo e sofre das mesmas dores de Cristo, do mesmo martírio expiatório. Fom os remidos pelo

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DIA 26 OU 27 l)E MAIO 325

sangue do Filho e pelas lágrimas da Mãe, lágrimas que também são sangue, porque são lágrimas do coração.

Tal é a orientação que devemos dar aos sofri­mentos e dores com que Deus nos provar desde o berço até ao leito da morte, que será o nosso cal­vário. Seja também um sofrer de expiação, um sofrer satisfatório em união com as dores e afli­ções dos dois Mártires do Gólgota, para reparar­mos as nossas ofensas à Bondade Divina.

E se a inocência nos eximisse da lei de expia­ção, restava-nos ainda o conselho do desagravo pelos pecados dos nossos irmãos. É o meio de tornarmos fecundas para o mundo as lágrimas do nosso padecer, os suores do nosso trabalho, os ge­midos das nossas dores, o sangue do nosso sacri­fício.

A lei da expiação é irrevogável. Sem sangue, sem expiação cruenta não há remissão possível (Hebr. IX, 22). O pecado tem de ser expiado, para ser perdoado. Ou o expia o próprio culpado, ou alguém por ele. Esse alguém é Cristo. Só Ele o pôde expiar de modo condigno e infinitamente satisfatório. Mas Ele não pode voltar à cruz dum modo cruento. Ele não, mas o seu corpo místico, sim. «Eu supro, completo em mim o que falta à Paixão de Cristo», dizia S. Paulo (Col. I, 24). São os membros, sim, mas unidos à cabeça que podem e devem continuar com Cristo e em Cristo a sua paixão reparadora.

Quantas dores estéreis neste mundo porque não se exploram os seus tesoiros de expiação, por­que nem se sabe fazer da necessidade virtude.

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

III

A grande Reparadora do Calvário, depois de ensinar o mundo com o Seu exemplo, quis também evangelizá-lo com as Suas pregações. Para isso esco­lheu em nossos dias, como cátedra dos seus ensi­namentos, o planalto da Fátima.

Começou por dizer aos videntes, logo na pri­meira aparição, que se sacrificassem pelos pecado­res. Na de Agosto recomenda-lhes de novo a prá­tica da mortificação reparadora: Rezai, rezai muito, fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas al­mas para o inferno por não haver quem se sacrifi­que e peça por elas. Esta pregação foi semente que caiu em bom terreno para frutificar a cento por um.

É ver como essas pobres crianças se iam in­dustriando no exercício da reparação, não perdendo ocasião de se mortificarem. Passam dias sem comer, sacrificando o próprio farnel em favor dos pobres, ou em proveito das próprias ovelhas. Alimentam- -se de frutos amargos e até de raízes para se mor­tificarem em benefício dos pecadores. Abrasados pela sede, renunciam à bilha de água fresca que lhes é oferecida e tomam com frequência a resolu­ção de ficar semanas inteiras e meses sem beber. Em horas de fome ou de sede renunciam à fruta tentadora que lhes é oferecida. E, com uma heroi­cidade superior aos anos, cingem cruelmente as car­nes de cordas nodosas, e friccionam-nas com ortigas.

Encarcerados e persuadidos que iam morrer, sem tornarem a ver os pais, só sabem dizer: Ó Je­sus, é por vosso amor e pela conversão dos peca­dores.

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DIA 26 OU 27 DE MAIO 327

Diz-lhes que sofro tudo quanto Eles quiserem para converter os pecadores, foi a mensagem da Jacinta para o céu, de que o irmãozinho se fez portador na hora da despedida.

Eis as lições aprendidas pelos videntes na es­cola da Reparação. E essa escola ali instituída por Maria continua aberta a todas as almas generosas sobretudo às que são provadas pelo sofrimento, ou atraídas pelo sublime ideal do desagravo.

EXEM PLO

Aspirações de reparação por meio de sofrimento

Fernanda de Jesu s , de 31 anos, natural de Azeitão, ca­sada com Jo ã o Gomes Nogueira, depois dum tifo, agravado de pleuresia de que foi operada, e duma ovarite, que por sua vez a condenou também a dolorosa operação, é finalmente, em 1921, atacada de meningite espinal que logo lhe afecta o cé­rebro.

Internada 5 m eses no Hospital de Azeitão, daí é trasla­dada ao de Setúbal onde permanece mais 14 meses durante os quais sente agravar-se-lhe a doença.

Não podendo depois ingressar no Sanatório de Outão, como desejava o médico, volta a peregrinar por vários hospi­tais (outra vez Setúbal, e em Lisboa S .1“ Marta e S. Jo s é ) , submetendo-se a tratamentos de Raio X , in jecções, punção à espinha, etc.

Depois de várias alternativas e de ter passado algum tempo em casa, volta pela 4." vez ao Hospital de Setúbal. Vendo baldados todos os tratamentos, regressa a casa, onde um ataque a deixou sem ver, nem ouvir, nem falar.

Recolhe pela 5 .“ vez ao Hospital de Setúbal. Uma se­nhora, unicamente para a animar, promete levá-la à Fátima na peregrinação de Ju lh o de 1928. Dal em diante não fala doutra coisa senão de N .“ S.° da Fátima, esperando o dia de tão ansiada peregrinação.

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FLORILÉQIO ILU6TRADO DA FÁTIMA

Depois de muitas dificuldades consegue incorporar-se com o marido na peregrinação de Setúbal, contra a opinião dos médicos, um dos quais não hesitou em passar-lhe antecipada certidão de óbito.

Chegada à Cova da Iria, logo após a visita è capela das Aparições, começam por despedir-se as dores, suas compa­nheiras de longos anos.

Despediram-se as dores, mas não chegara a hora de se despedir a doença. Entretanto as edificantes disposições da enferma são descritas pela própria servita que dela cuidou: « ela d ispôs-se a uma conformidade com pleta, abandonando-se inteiram ente à vontade de N osso Senhor, o ferec en do-lh e a sua vida com todos o s so frim entos mais que N osso Senhor lhe desse , com o reparação das o fen sas que E le r ec eb e , e o ferecen do-lhos pela conversão dos p e c a d o r e s *.

Inspiração sublime essa de se oferecer para uma vida de sofrimento expiatório e reparador. Tal oferecimento cativou de tal maneira o Coração de Deus, que Ele se contentou com a boa vontade dessa alma em que o ideal da Reparação des­pertara sentimentos tão generosos.

De facto, ou fosse na ocasião da Bênção do Santíssimo, como atesta a própria servita, ou fosse quando depois se abra­çou à imagem da Senhora na capela das Aparições, o certo é que Nosso Senhor lhe restituiu instantâneamente a saúde, que ela pouco antes lhe oferecera generosamente em espirito de reparação pelos pecados que se cometem.

Entretanto o espectáculo que se presenciou no recinto das Aparições era indiscritlvel. Ao ver-se uma paralítica, antes incapaz do menor movimento, levantar-se de repente e abra­çar-se à Imagem da Virgem, o entusiasmo da multidão atingiu as raias do delírio. E foi no meio dum cortejo de milhares de pessoas, ovacionando frenèticamente e aclamando a Rainha do Céu, que ela se dirigiu ao posto das verificações médicas, para ser oficialmente testificada e comprovada a cura.

O que em onze anos de martírio não puderam fazer 26 médicos consultados, fê-lo num instante a Virgem da Fátima e fé-Io quando em hora de generosidade a enferma dava ã sua vida de dores uma orientação reparadora.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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■ftegina Confessotum

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DIA 27 DE MAIO

REGINA CONFESSORUM

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Assim como na Sagrada Escritura se nos revela o mundo angélico dividido em vários coros ou je ­rarquias distintas, assim a Liturgia católica desde os tempos mais remotos nos apresenta o reino dos bem-aventurados dividido em várias jerarquias, não de santidade, mas de dignidade: Patriarcas, Pro­fetas, Apóstolos, Mártires, Confessores e Virgens. E dominando-as a todas pela sua excelsa dignidade e insuperável santidade, resplandece, como Rainha de todas, Maria Santissima.

Dá-se o nome de confessor a qualquer cristão, canonizado ou não, que publicamente confessa a fé de Jesu s Cristo e por ela está disposto a dar o sangue e a vida. Quem primeiro lhes deu este nome foi o próprio Cristo naquela sentença arqui­vada no Evangelho de S. M ateus: Quem me con­fessar diante dos homens, confessá-lo-ei eu também diante de meu Pai que está nos céus (X, 3).

E com esse nome se começaram a honrar os

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330 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

desassombrados cam peões da fé, que, sem recear tormentos nem a morte, a confessavam pública e destemidamente nos tribunais e na presença dos mais cruéis tiranos.

Nos primeiros séculos da Igreja a santidade de costumes de que os fiéis davam exemplo e o culto prestado à Cruz e ao Divino Crucificado eram já uma confissão heróica da fé; não era ne­cessário mais para provocar a reacção do paganis­mo corrompido e a irritação despótica dos impe­radores.

Essa confissão prática da fé cristã era conside­rada crime suficiente para arrastar às torturas dos tribunais ou para entregar às feras do anfiteatro romano os corajosos atletas de Cristo.

E esta heroicidade da fé perante os tribunais deu aso a que o nome de confessor fosse aplicado aos mesmos mártires pelos Santos Padres e Escrito­res Eclesiásticos nos três primeiros séculos da Igreja.

Mas já no século IV se distinguiam frequente­mente os mártires dos confessores nos escritos dos Santos Padres, reservando-se o nome de már­tir aos heróis do cristianismo que por confessarem a sua fé morriam em tormentos ou em consequên­cia deles. A estes se erigiam logo altares e se lhes tributava o culto e as honras devidas.

O nome de confessor passou a ser reservado aos cristãos que por confessarem a Cristo eram desterrados, condenados a trabalhos forçados, en­carcerados ou torturados, mas sem chegarem a dar a vida pela sua fé.

Dada por Constantino Magno a paz à Igreja, a honrosa denominação de confessor estendeu-se a

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DIA 27 DE MAIO 331

todos os que professando destemidamente e con- fessando a Cristo, mostraram estarem dispostos a dar por Ele o sangue e a vida, embora a confissão prática da sua fé não atraísse já sobre eles o ven­daval da perseguição.

II

Entre os confessores, tais quais os havemos definido, distinguiu a liturgia eclesiástica os pontí­fices e não-pontífices, os doutores, acomodando o ofício litúrgico a estas diferentes denominações e estabelecendo entre elas uma certa jerarquia.

Uns confessaram a Cristo, vivendo o Evange­lho, confessaram-nO mostrando como se conquista a santidade, ajustando a vida às máximas do Evan­gelho e retratando em si o exemplar divino.

Outros confessaram a Cristo com a mesma santidade de vida e apascentando, em todo ou em parte, o rebanho que Ele lhes confiou, sacrificando a vida pelas suas ovelhas, consagrando à salvação de cada uma delas toda a sua actividade, o seu descanso, todas as energias da alma. Confessaram a fé transmitindo-a às almas confiadas ao seu zelo pastoral, exercendo sobre o seu rebanho solícita vigilância para que no redil não penetrasse o lobo voraz, preservando-o de mil perigos e ciladas dos seus inimigos.

Outros, enfim, confessaram a Cristo não só exercendo em grau heróico as virtudes que os san­tificaram, mas tornando-se as trombetas vivas da Igreja que com as suas pregações e escritos ajuda­ram a santificar a tantos outros. Foram confesso-

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332 FLORILÉGIO ILUbTRADO DA FÁTIMA

res da fé porque foram a luz do mundo, e o sal da terra, passando a fulgurar como estrelas através da eternidade.

E assim como a tocha se consome para alumiar e o sal se derrete para conservar, assim eles para alumiar a cegueira do mundo e conservar a fé e re­ligião em sua pureza, não s ó ... consumiram a vida, mas derreteram e estilaram a alma. Todos esses livros ( por eles escritos) . . . cheios de divina e ce­lestial doutrina, que outra coisa são, sem encareci­mento nem metáfora, senão as almas dos mesmos Santos e as quintas-essências dos seus entendi­mentos, estiladas pela pena? ( ')

Assim confessaram o Cristo os Santos Pontífi­ces e não-Pontífices, assim O confessaram os Pa­dres e Doutores da Igreja.

III

E de todos eles Maria é Rainha, Regina Con- fessorum. Como Mãe e como Medianeira de todas as graças, a Sua intercessão em geral, não foi alheia à santificação de qualquer deles, a Sua intervenção particular, maternal e carinhosa influiu na conver­são de uns e na eminente santificação de muitos outros, influxo que translucidamente se manifestou na vida de uns como S. Bernardo, S. Anselmo, S. Afonso de Ligório, S. Estanislau Kostka, S. Jo ão Berchmans, S. Gabriel de N.a S .a das Dores, influxo que na santificação de outros, da maior parte cer­tamente, só será conhecido na eternidade.

(1) P.* A. Vieira, Sernióes. cd. Chardron, I. IX, pág. 49.

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DIA 27 DE MAIO 333

Rainha dos Confessores ainda, porque insepa- ràvelmente unida a Seu Filho, desde Belém até ao monte da Ascensão, reflectindo em seu semblante de progenitora única a semelhança fisionómica de Seu Filho único e em todos os actos da Sua vida de Mãe-Virgem a santidade de Deus-Homem.

Conhecida em toda a parte como Mãe de Jesu s Nazareno, Ela mais do que ninguém O confessou com as Suas palavras, com a Sua semelhança física e moral, em todo o Seu teor de vida.

Em Seus braços O apresentou aos primeiros confessores do Messias, aos pastores, aos Magos, a Simeão e à virtuosa profetiza Ana. Em Canaá de Galileia provocou Ela o milagre que foi as primícias duma vida de públicos prodígios e ocasião de tan­tos reconhecerem e confessarem o poder tauma- túrgico do Filho e o poder intercessor da Mãe.

No Calvário só a Sua presença silenciosa e a solidariedade do Seu martírio foi a mais sublime confissão da fé que o mundo jamais presenciou.

E no Cenáculo não A vemos nós presidir à for­mação espiritual de todos os que o Espírito Santo viria dentro de poucos dias consagrar autênticos confessores de Cristo?

E através de dezanove séculos de história, pela Sua intervenção invisível na vida da Igreja, a acção santificadora de Maria em novas e sempre renovadas gerações de confessores, foi apenas a continuação da que Ela desenvolveu desde o berço do cristianismo pelo contacto directo e influxo sen­sível da Sua vida mortal.

Em 1917 inicia-se em Portugal nova era para a confissão do cristianismo. A Fátima, escola de

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.334 FLORILÉGIO ILU8TRADO DA FÁTIMA

Maria, passou a ser a escola do desassombro na confissão da fé. Cada A v e -M a ria , rezada em particular ou em coro, cada hino entoado à doce Virgem da Fátima, cada gemido, cada grito de socorro que confiadamente irrompe do coração dos enfermos, cada acto de resignação nas suas enfermidades, cada penitência ou cada promessa

3ue ali se vai cumprir, são outras tantas profissões e fé e das mais eloquentes.

Desde os primeiros videntes, confessando a verdade das aparições diante da autoridade admi­nistrativa, diante de tantos punhos cerrados em atitude ameaçadora e confundindo a incredulidade com a firmeza serena da sua confissão, quantas e quantas comovedoras profissões de f é !

E o próprio Santuário com a sua Basílica, com os seus hospitais, com os seus cenóbios, não é já, esculpida na pedra, uma p e rp etu a d a confissão da fé?

EXEM PLO

• Náo me importo de provocar o riso sarcástico dos incrédulos»

Joaquim Saraiva de Carvalho, da Póvoa de Santa Iria, conla assim a doença e a cura de sua mulher: «Minha mulher tratava-se duma doença que parecia de pouca importância. Como, porém, se fosse prolongando e não cedesse ao trata­mento seguido, os médicos assistentes prognosticaram qualquer coisa de gravidade e mandaram que tirasse uma radiografia.. Procurou a um dos mais distintos radiologistas da capital e a respectiva radiografia acusou um abcesso pufmonar do lado esqu erdo . Era necessário a doente ser hospitalizada para se submeter a uma intervenção cirúrgica, que os médicos consi­deravam indispensável e urgente.

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DIA 27 DE MAIO 335

Deu entrada no hospital de S. Jo s é e enquanto os dias decorriam para observação e estudo da doente, o meu coração de marido e de pai dilacerava-se sob a perspectiva do resul­tado de tão melindrosa operação. A doente, que uma sombria apreensão torturava, reanima-se com a luz vivificante da sua fé, faz um voto de fervorosa devoção e pede a N.* S .‘ da Fá­tima lhe conceda melhoras e evite a operação.

Continuaram as observações clinicas, e, passados quinze dias, nova radiografia indica o desaparecimento completo do abcesso, sem a mínima intervenção da ciência.

Foi acaso ou milagre ?Não me importo de provocar o riso sarcástico dos incré-

culos. Ouça-me quem quiser, mas eu considero este facto um autêntico milagre que a minha reconhecida e contrita alma, ajoelhada no chão lodacento deste mundo, agradece ã inter­venção divina ».

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 28 DE MAIO

REGINA VIRGINUM

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

1

A virgindade é uma virtude angélica, e por isso atribui-se mais especialmente aos anjos que são virgens por natureza. Serão como os anjos de Deus no céu, diz Jesu s Cristo (Mat. XXII, 30) dos que já não são arrastados pelos apetites da carne, permi- tindo-nos concluir que as almas virgens começam já na terra a vida que levam os anjos no céu.

Os anjos são puros espíritos e por isso mesmo mais próximos de Deus, mais semelhantes a Ele que é o Espírito puríssimo. Mas pelo voto e mais ainda pela prática da virgindade, a alma começa neste mundo a vida dos anjos, com o direito de dizer a Deus, seu Criador e seu último fim : Eu pertenço-Uos toda e totalmente. Sublime estado esse e mais que todos meritório, por mais que digam os que não compreendem o que é do Espí­rito de Deus (1 Cor. II, 14) e se julgam mais privi­legiados com os foros da animalidade.

As prerrogativas angélicas, as regalias que aos

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Regina Üitginum

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DIA 28 DE MAIO 337

anjos confere a sua natureza puramente espiritual, confere-as também na terra o estado da virgindade.

1.° — Os anjos vêem a Deus face a face. E das almas virgens diz Jesu s Cristo que são bem-aven­turadas porque vêem a Deus (Mat. V, 8). A alma émula dos anjos penetra mais intimamente os se­gredos divinos, porque descortina a verdade a uma luz mais pura. Que o digam tantas e tantas virgens que enchem o agiológio católico, assombrosamente iluminadas e esclarecidas com a luz da Divindade.

2.° — Os anjos amam a Deus. A alma-virgem pode exclamar com David e com mais direito do que e le : «Que coisa há no céu ou que posso eu de­sejar na terra, fora de Ti, Deus meu?» (Ps. LXXII, 25).

3.° — Os anjos louvam ao Senhor. É privilégio também da virgindade. O coração-virgem, sem os laços da carne que o prendem às criaturas, está mais habilitado para se elevar até Deus pela con­templação e para lhe fazer ouvir as harmonias duma alma, cujas fibras virginais só vibram por Ele e para Ele.

4.° — Os anjos servem a Deus e executam com prontidão os decretos do Seu divino beneplácito. É o que pretende significar quem os representa como alígeros. E não será essa também uma prer­rogativa das almas-virgens? Que afectos terrenos pode haver em seus corações puros e consagrados que obstem ao seu progresso na virtude, ou que di­ficultem a pronta execução das divinas inspirações?

D esse modo o coração-virgem é por eleição e por ideal preferido o que é o anjo por natureza.

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33S FLOKILÉUIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

II

Tal foi o ideal abraçado por Maria desde a mais tenra infância, ideal que Ela colocou tão alto que depois dEla não deixou de apaixonar as almas de nobres aspirações, ideal que por sua vez tão alto A fez subir que a vemos nimbada com a auréola não só de Rainha das Virgens, mas de Rainha dos Anjos também.

De facto, apaixonou-A tanto o ideal da virgin­dade, que no diálogo desenrolado com o Arcanjo na hora da Anunciação, Ela bem claramente mani­festa preferir o património da virgindade à incon­cebível dignidade de Mãe de Deus, se entre as duas auréolas houvesse incompatibilidade. E para A tranquilizar, teve o mensageiro angélico de lhe recordar a profecia de Isaías, segundo a qual, por inefável intervenção do Espírito Santo, uma Uirgem havia de conceber e dar à luz um filho, que seria o Divino Emanuel, Deus conosco (Is. VII, 14). Só então é que Ela pronuncia o seu fiat.

Antes dEla a virgindade não era conhecida nem apreciada. A antipatia pela esterilidade redundava em desabono da virgindade. E para a tornar sim­pática começa Deus por aliar em Sua Mãe a vir­gindade com a fecundidade.

J á no Paraíso falando à serpente na presença de Eva tinha o Senhor aludido à descendência da mulher misteriosa — et semen illius — , que afinal era a Virgem, Sua Mãe. Essa geração, essa des­cendência de Maria era a própria Divindade huma­nada ; mas a ela podemos associar também as can-

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DIA 28 DE MAIO 339

didíssimas falanges de virgens que Ela gerou e deu ao mundo.

O seu exemplo arvorou o estandarte da virgin­dade, e a história apresenta-nos a Virgem de Na­zaré feita porta-bandeira da notabilíssima virtude que tantas almas generosas atraiu em seu segui­mento de há vinte séculos para cá. E durante esses vinte séculos Maria tornou-se o astro lumi­noso da virgindade, rodeada de inúmeros satélites que à volta dEla gravitam, dEla recebem o brilho da virtude e por Ela são atraidos nos seus movi­mentos de translação em seguimento do Cordeiro Imaculado.

III

Todos nascem, ou melhor, todos renascem vir­gens por essa regeneração sobrenatural operada pela água e pelo Espírito Santo (João , III, 5). Mas nem todos sabem conservar esse tesoiro. Maria é Mãe das virgens e bem sabe Ela amamentá-las com esse néctar que cria virgens, vinum germinans virgi- nes (Zac. IX, 17) revelado pelo Espírito Santo, cujos segredos Ela nunca ignorou.

Mas a gestação das almas virgens é bem labo­riosa e pode comparar-se à formação das estrelas que hão de brilhar no firmamento, porque também elas, as virgens, hão de ser estrelas.

Recebidos os gérmens da graça pelo baptismo, a alma não tarda a entrar na fase da luta. Esses gérmens de santificação vão encontrar no fundo da natureza humana, os gérmens da concupiscência, que se hão de desenvolver assustadoramente e

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340 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

ameaçar a virgindade da alma. Gérmens antagó­nicos os da graça e os da concupiscência que rapi­damente se desenvolvem, se expandem e procuram sufocar-se mutuamente.

A alma-virgem é uma estrela em via de forma­ção. Encontram-se na sua massa heterogénea ele­mentos opostos, em permanente conflito. O seu foco luminoso e frouxo e as irradiações que emite são absorvidas, são sufocadas por outros elemen­tos crassos e opacos que as não deixam expandir.

É o barro humano, natureza decaída e sempre rebelde, barro que só por força da omnipotência coabita com o espírito, mas nunca em paz. São os focos tenebrosos duma dupla concupiscência — orgulho e sensualidade — cujos efeitos, cuja rebe­lião variam de hora para hora, conforme as dispo­sições da vontade, e são como os dois braços de Satanás que se estendem para estrangular a vida da graça.

A alma-virgem que ainda suporta o duelo entre a natureza e a graça, é a estrela em cujo seio estão ainda em conflito a luz e as trevas.

E essa estrela acabará ela de se formar, ven­cendo definitivamente as trevas e brilhando pacifi­camente no céu, ou cairá do céu para sempre com o desagregar da sua massa tenebrosa? Formar-se-á ou se apagará, conforme se aproximar ou se afastar da Virgem das virgens, recebendo dEla a virtude que assimila e irradia a luz e a incarna na alma. Essa virtude é a virgindade.

Pertence à história que se não escreve o nú­mero de almas-virgens que desde 1917 receberam na Fátima ou da Fátima essas irradiações de vir-

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DIA 28 DI-: MAIO 341

gindade, esses incitamentos à virgindade, que tan­tas estrelas haverão criado ou estarão criando para irem na glória formar o diadema de Maria. Só Deus e Ela sabem o número dessa plêiade virginal da Virgem da Fátima, que leva na sua vanguarda a inocente Jacinta, a ditosa vidente de 1917.

Indício dessa atracção virginal da Fátima são-no já as almas a Deus consagradas, que à volta do San­tuário se vão congregando, sentindo bem que ali têm na Rainha das Virgens o seu centro de atracção.

Que se tornem cada vez mais fecundos esses gérmens de virgindade, e que, para contrabalançar tantos e tão tristes naufrágios da virtude, a virgin­dade inspirada pela Senhora da Fátima se torne aos olhos de Deus uma virgindade reparadora.

EXEM PLO

A Goretti Lusitana

O facto não é do tempo dos Neros, é dos nossos dias, e teve lugar nos princípios de Jane iro de 1928, na freguesia da Barreira, diocese de L eir ia .— Joaquina Duarte é a protago­nista do acontecimento que passamos a historiar.

Dêmos a palavra à Uoz da Fátima de 13 de Fevereiro desse ano, (N.° 65), cuja narração transcrevemos fielmente:

«Despontava ainda para a vida.O corpo era já o de uma mulher feita, um corpo adulto.

Mas a esse corpo de mulher estava unida numa existência infantil a alma cândida, inocente, duma'criança . . .

Criança na paz tranquila' do seu olhar, criança na fran­queza ingénua do seu falar.

Criada por entre os pinheirais donde a sua casa, numa isolação eremítica, alvejava a distância, a Joaquinita, como lhe chamavam, parecia è primeira vista acanhada, mesmo bisonha.

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342 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Mas, logo ao trocar da primeira palavra, era como um abrir de alma numa alegria efusiva, infantil que ninguém ali suporia.

Um rir cristalino desprendia-se-lhe de todo o rosto como a mostrar a paz da alma que ali vivia.

Foi sempre assim.O riso, a alegria sã é própria das almas puras. . .Aquela alma naturalmente recta e pura sentia em si a

força poderosa da graça, mas sabia bem que é necessário con­servá-la, alimentá-la, defendê-la.

São tantos os inimigos a querer roubar-no-la I . . .Era por isso que embora se não proporcionasse ocasião

de se poder alimentar dia a dia com o Pão divino descido dos Céus, ia contudo com frequência até junto da mesa sagrada.

E ficava-lhe a alma tranquila, embebida nAquele em Quem pusera as suas delicias e voltava de lá mais alegre, mais perfeita, mais p u ra___

As reuniões das Filhas de Maria, a cuja Associação per­tencia, traziam-lhe frequentemente a ideia do amor que uma moça cristã deve ter à virtude que lhe dã um brilho especial, a ela e a toda a alma cristã.

Quem a visse julgá-la-ia uma moça vulgar, como tantas e ignorava a mansão de inocência e pureza que o Espirito de Deus se ia preparando naquela alma.

A santidade e o amor mostram-se na ocasião, nas tenta­ções. Até lá quem sabe o que é, o que vale uma a lm a?!

Mas essa hora chegou enfim. A tentação apresentou-se- -Ihe com toda a violência . . .

D espreocupada, tranquila, como a natureza em volta dela, ia seguindo ao longo do rio Liz. De repente, surge-lhe ao lado alguém. Aquelas horas . . . naquele sitio . . . aquela pes­soa . . . não podia haver ali boa intenção. Pós-se em guarda. Agarram-na. Luta, defende-se heròicamente e manda a Deus a alma virginal antes que haja tempo de lhe profanar o corpo.

Terminando a luta apenas com o terminar da vida, aquela jovem voava a receber no céu a coroa imarcesslvel que o Es­poso Divino lhe apresentava lé.

E subiu. E voou. E foi coroada, glorificada.Anoiteceu. A mãe em cuidados. Mas lembrando-se que

ficara em casa da familia, que fora visitar, acabou por sosse­gar. No dia seguinte a filha não aparecia. Là não ficara.

Ao ouvir isto a mãe, num cruel pressentimento, como os

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DIA 28 DE MAIO 343

têm os corações de mãe, exclama em soluços: Mataram a mi­nha filha! Mal ela sabia o que se passara. Mas dentro em pouco a cena tremenda reconstruíra-se completamente.

Junto do rio, procurando-a, alguém descobre nos rastos sinal de lu ta; por entre as silvas o chale, e, finalmente, dentro do rio o corpo inerte. Acorrem todos; tiram-na e levam-na para sua casa. A autópsia atesta a virgindade imaculada da­quele cadáver. E as suas amigas e os seus conterrâneos todos levam-na em triunfo. Não foi um enterro como o das outras pessoas. Foi uma deposição como a das antigas m ártire s...

No cam inho. . . para o cemitério, onde ia dormir o último sono, saiu-lhe o pai ao encontro. Pararam todos. — D eixem-me desped ir d e minha filha, disse com a voz entrecortada de solu­ços. E ajoelhando, ergueu as mãos e beijou a filha. Toda a gente chorava de com oção. E na igre ja. . . toda a gente queria beijá-la. Tinha já quatro dias aquele cadáver, era perigoso beijá-lo, observa alguém prudentemente.

Mas o frescor virginal das faces suavemente rosadas como em vida, cor extraordinária que toda a gente notava, o carm i­nado dos lábios, o todo daquele rosto parecia d esm enti-lo .. . »

Joaquina Duarte, a Goretti Lusitana, cândida açucena que germinou e floresceu nos horizontes da Fátima com a medalha de Filha de Maria é sem dúvida o lírio da Virgem, lírio branco salpicado de sangue.

Oração pelos sacerdotes, com o na pág. 22.

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DIA 28 OU 29 DE MAIO

REGINA SANCTORUM OMNIUM

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Não tratamos da santidade puramente extrín­seca de que nos fala a Antiga Lei,- santidade legal ou ritual, resultante de qualquer cerimónia prescrita pela lei, ou de qualquer consagração ou purificação de pessoas ou objectos destinados ao culto divino. Muito menos admitimos o conceito protestante duma santidade exterior imputada por Deus à alma em virtude dos méritos de Jesu s Cristo, como se a alma já não tivesse mais que fazer depois de tudo o que Ele fez. Santidade dema­siado cómoda e fácil essa para ser verdadeira.

A genuina santidade não se concebe sem a presença de virtudes, de forças espirituais ineren­tes à alma regenerada e revigorada em Cristo e por Cristo. Por isso a santidade pessoal é intrin­secamente dependente dum estado interior, duma qualidade habitual, que é a graça santificante com o seu cortejo inseparável de virtudes e de dons.

Admite naturalmente graus:

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Ï5egina (Sanctorum ©mnium

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DIA 28 OU 29 DE MAIO 345

1.° — R santidade comum, que essencialmente se confunde com o estado de graça. Assim eram chamados santos os cristãos da primitiva Igreja. Mas o simples estado de graça, na actual condição da natureza decaida, se não faz sérios esforços para atingir um grau superior, não se pode manter.

2.° — R santidade mais perfeita, é a que resulta da prática dos conselhos evangélicos ou de regras de perfeição ensinadas por Jesu s Cristo.

3.° — R santidade heróica é o grau supremo, exi­gido para a canonização, dos que imitam o mais perfeitamente possível a Cristo. Nenhum destes dois últimos graus exige a prática dos conselhos evangélicos, tal qual é organizada pelas normas do direito canónico. Também há santos, e canoniza­dos, sem profissão religiosa.

É erro crasso julgar que a santidade é inaces­sível ao comum dos fiéis.

O que estes fizeram porque o não farei eu? dizia Inácio de Loiola, ao ler a vida dos Santos. E não fazia mais que repetir a pergunta já antes dele formulada por S. Agostinho. De facto, feitos da mesma carne e osso e favorecidos também pelos auxílios sobrenaturais da graça, todos pode­mos fazer o que eles fizeram.

Temos obstáculos, dificuldades, inimigos, ten­tações graves? Tudo isso tiveram eles e venceram.

Eles tiveram poderosos auxílios para se santi­ficarem ? Também nós os podemos ter, se os sou­bermos implorar humilde, confiada e perseveran­temente.

Sem penetrarmos nos arcanos da predestina­ção e da predilecção divinas, e sem descermos a

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346 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA fAt IMA

outras especulações, podemos dum modo geral dizer que o segredo da santidade está na coopera­ção fiel e generosa com as graças actuais.

A fidelidade a certas graças recebidas atrai na­turalmente outras e outras graças de santificação cada vez mais poderosas, travando-se certa porfia entre a liberalidade de Deus e a generosidade da alma que Lhe corresponde. E assim se explica que possa haver Santos que inicialmente não rece­beram mais abundantes nem mais poderosas graças do que outros que não se santificaram.

II

É um erro julgar que os Santos o são por serem canonizados. Ora a canonização confere, não a san­tidade, mas a auréola da santidade. Santa Teresinha não é santa por ser canonizada; ela é canonizada por ser santa. A canonização supõe a santidade, não a cria; apenas lhe confere um valor jurídico que de outro modo não teria, como é a legitimidade do culto de dulia, etc.

Por isso não menos errónea é a persuasão de que são santos só os que conquistaram as honras dos altares, ou que esses são mais santos do que outros servos de Deus. Ora a recompensa essen­cial da Santidade é a glorificação na bem-aventu- ran ça ; a glorificação na terra é acidental, depen­dendo só da liberdade de Deus, cuja glória e inson­dáveis desígnios podem exigir a glorificação de uns, talvez menos santos, e o escondimento de outros quiçá de mais elevado grau de glória no céu.

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DIA 23 OU 29 DE MAIO 347

Temerárias são portanto as discussões sobre os graus de santidade e preeminência deste ou daquele bem-aventurado com relação a outro, mesmo que se pretenda baseá-las nas mais ou menos esplendoro­sas apoteoses da Igreja.

Erróneo é ainda aquilatar a santidade pela maior ou menor dotação carismática conferida às almas, tendo por mais santos os que fizeram maio­res prodígios, os que profetizaram, tiveram o dom duma altíssima contemplação, etc. Tratando-se de dons puramente gratuitos e que nenhum mérito su­põem, nem são encaminhados à própria santifica­ção, seria insensato fazê-los entrar na lista dos valores pessoais.

A canonização dos Santos, na qual a Igreja empenha a sua infabilidade, tem nos designios da mesma Igreja uma finalidade bem definida, que é dar aos fiéis protectores e modelos. A protecção dos Santos ajuda-nos a imitar as suas virtudes, e a imitação das suas virtudes ajuda-nos a m erecer a sua protecção.

São protectores, porque no céu gozam dum va­lioso poder de intercessão, de que todos nos pode­mos valer.

São modelos de imitação, que nos convidam a glorificar a Deus, como eles O glorificaram.

Sem dúvida, já nos são apontados como mode­los o próprio Deus, fonte de toda a santidade: «Sede perfeitos, como é perfeito o vosso Pai ce­leste» (Mat. V, 48).

Modelo também Jesu s Cristo, que para isso se fez homem como nós, e nos veio dizer «aprendei

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348 florilégio ilustrado da fáti.v.a

de m im ...» (Id. XI, 29) e «Eu dei-vos exem plo...» (Joan . XIII, 15).

Mas a nossa pusilanimidade encara como ina­cessíveis os modelos divinos, mesmo quando hu­manados. É necessário apresentar-lhos da mesma carne e osso e revestidos das mesmas misérias, mo­delos que possam fazer coro conosco, quando, como legítimos filhos de Adão, dizemos mea culpa e mea maxima culpa.

Mas esses modelos apresentam-nos quase sem­pre dupla faceta : a do imitável e a do admirável. Esta estamos nós dispensados de copiar, mas sem a votarmos ao desprezo. Sirva apenas para nos elevarmos à contemplação do sobrenatural e para glorificarmos os dons de Deus nos Seus Santos.

É lamentável ouvir os conselhos que por vezes se dão a almas chamadas à perfeição, e que "reve­lam não pequena dose de insensatez: «dom de contemplação, caminhos extraordinários, comuni­cações celestes... não queiram nada d isso ! não quei­ram.'* Mas afinal quem é o Senhor? Não queiram? Mas estará por ventura na nossa mão ter ou não ter o dom da contemplação, exercer domínio sobre os demónios, ter intuição de almas ou ser visitado por seres celestes?

Evidentemente seria presunção aspirar a sem e­lhante dotação carismática, que por outro lado nãc contribui para santificar-nos. Por isso nem a de­vemos ambicionar, nem mesmo pedir a Deus. Mas daí a resistir à iniciativa de Deus, senhor dos seus dons, que os distribui segundo o Seu beneplácito, vai infinita distância. E digamos ainda : a alma nãc .só não deve resistir à acção de Dèus, mas deve po

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DIA 28 OU 29 DE MAIO 349-

sitivamente ter as disposições para receber esses dons, se acaso Lhe aprouver dispensar-lhos, remo­vendo tudo o que possa ser obstáculo a eles.

O «não queiram» é conselho de imperfeição dado a almas sedentas quiçá de perfeição, incutin­do-lhes vontade própria. A disposição de indife­rença formulada por S. Inácio com relação às cria­turas tem pleno cabimento também neste caso. O não queiram é grosseira antítese dessa santa indiferença.

III

E Maria é Rainha de todos os San tos: Nem é lícita outra conclusão do processo inductivo que seguimos. Se Ela é Rainha de cada uma das jerar­quias de San tos: Rainha dos Anjos, dos Patriarcas, dos Profetas, como não o será de todos eles?

Se os Santos foram entre os fiéis como outras tantas flores magníficas que adornam o jardim da Igreja militante, nesse jardim místico predomina Ela como Rainha de tão extasiante Florilégio. Pelos Seus incomparáveis exemplos irradia Ela essa ri­queza inexaurível de graças, de que foi repleta, e que supera a compreensão de todo o espírito humano e angélico.

Nos Santos transluzem de modo mais ou me­nos sensível alguns traços da vida do Modelo di­vino, em cada um alguma virtude particular, e cada um recebe a quota-parte de glória conquistada du­rante o tempo da prova. Mas tudo o que cada um adquiriu de mérito particular, Ela só o possui de modo supereminente. Todos os traços fisionómi­

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350 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

cos do Modelo adorável de toda a santidade Ela os retrata em si com uma fidelidade, de que ne­nhuma outra criatura seria capaz.

E na pátria celeste ei-La revestida duma glória proporcionada a Seus méritos sublimes. A magni­ficência das coroas de todos os Santos constitui a Sua coroa magnificentíssima.

Os Santos diante de Deus gozam dum maravi­lhoso poder de intercessão. E inumeráveis prodí­gios de intercessão atestam a todo o Universo que «eles reinam na cidade de Deus pelos séculos dos séculos» (Apoc. XXII, 5), e que do alto dos seus tronos reinam também na terra por uma influência misteriosa. É a influência irresistível da santidade. Só ela nos faz grandes, só ela nos imortaliza. Quem falaria hoje duma Santa Teresinha, conhecida e ido­latrada em. todo o mundo, se ela não tivesse sido santa? Conhecida apenas no reduzido meio da sua terra natal, não passaria duma D. Teresa qualquer.

De todos esses poderosos intercessores, de todos esses príncipes imortais, Maria é a Rainha no pleno sentido da palavra.

Rainha ainda porque de todos eles foi modelo. Rainha porque por suas mãos imaculadas de Me­dianeira passaram todas as graças actuais que foram o princípio da santificação de todos.

E foi para estabelecer entre nós essa realeza, a realeza da santidade, que Ela vindo à Fátima, ali ergueu o Seu trono de Rainha do mundo, como a proclamou Pio XII. Os seus videntes, nos quais mal desabrochara a razão, sentiram logo na sua alma a fascinação misteriosa da santidade, come­çando por praticar o que ela tem de mais árduo.

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DIA 28 OU 29 DE MAIO 351

A sua mensagem é um convite a progressivas as­censões de santidade na prática da vida cristã, en­sinando as almas a orar, a adorar, a reparar, a fazer penitência, a temer o inferno e a desejar o céu, que é a pátria da santidade.

Outra classe de Santos, almas confirmadas em graça, embora privadas ainda da Sua vista, são as almas do Purgatório, em favor das quais a Sua Rainha trouxe à Fátima uma comovente comemo­ração que deve intercalar as dezenas do Rosário.

EXEM PLO

Entronizada na cidade de Todos os Santos

Santos, cidade do Estado de S. Paulo, no Brasil, recebeu esse nome do primitivo Hospital de Todos os Santos, construído próximo do local em que se veio a levantar o cidade. Santos é, pois, a abreviatura de Todos o s Santos.

É o maior porto comercial da América do Sul, mobilizando sobretudo nas suas extensas docas cerca de 10.000 operários. E era ainda há bem pouco o que se diria um feudo de M os­covo, pela efervescência comunista que o agitava.

Entrou, porém, a catequizar toda essa massa operária um zeloso sacerdote jesu ita ; e daí a pouco fundava entre os do- queiros um centro de Apostolado da O ração, com mais de 1.500 associad os; e as Docas são consagradas ao Sagrado Coração, sendo o acto de consagração recitado pelo próprio chefe comunista, já convertido a melhores sentimentos.

Era necessário conquistar também as docas e o porto e a cidade para Nossa Senhora da Fátima. Começa a distribuir entre eles medalhas de N.® S .* da Fátima. Só num dia o zeloso sacerdote distribuiu para cima de 3.000. Logo nasce a Ideia dum monumento à Virgem da Fátima. Mas em que sitio? e como conseguir o terreno? Um largo espaçoso que se estende em frente das docas, vulgarmente chamado a praça dos comu­nistas, é o mais indicado e mais ambicionado. Justam ente no dia da Assunção em 1950 esse vasto terreno é cedido pela Com-

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

panhia Docas para o projectado monumento. Organiza-se a comissão pro-Monumenfo, que um dia é alvejada a tiro. M as dessa manifestação de hostilidade a N." S .* da Fátima resulta ser dissolvida pelo governo federal uma organização comunista, que era o último reduto do marxismo no porto de Santos.

Um dia o já mencionado apóstolo das D ocas recebe num envelope uma relíquia d a-Jacinta ; e um minuto depois é-lhe trazido um cheque de cem contos para o monumento, e, depois deste, outros donativos começam a afluir.

O marmóreo monumento é erigido na praça do cais, a olímpica estátua de bronze com o grupo completo dos videntes a seus pés é fundida no Rio de Jane iro , e a inauguração mar­cada para 13 de Dezembro de 1951, dia da, marinha brasileira. O venerando Bispo de Santos, D. Idílio J . Soares, pede ao de L eiria que, não podendo vir ele pessoalm ente a Santos, envie quem o represente a ele e ao Santuário da Fátima. Não po­dendo enviar ninguém de Portugal, confia a um sacerdote natu­ral da sua diocese e residente no Rio de Jan e iro a incumbência de o representar na cerimónia da inauguração.

Apesar de ser dia de trabalho e de estarem já dispersos os alunos e alunas dos colégios católicos, a praça achou-se apinhada. Todos queriam ver a estátua elevada na alvura mar­mórea do seu monumento, no qual sobressaem dois imensos medalhões de bronze, representando um o fenómeno solar de 1917, e outro a célebre visão do inferno.

A cerimónia foi longa tendo-se feito ouvir vários oradores, entre os quais importa destacar o E x .mo Bispo D iocesano. Nela tomaram parte autoridades civis e militares, tanto federais, como estaduais e municipais, devendo pôr-se em relevo a marinha nacional, brilhantemente representada pelos oficiais e aspiran­tes do Navio Escola Guanabara. Prolongadas aclamações e hinos, destacando-se o Pontifício, o de N.* S .11 da Fátima e o Nacional remataram a cerimónia, tendo sido antes feita, em nome da Companhia Docas de Santos, a Consagração a N." S .* da Fátima, invocada como «vela da nossa marinha, asa da nossa aviação, baluarte dos nossos exércitos».

E a Rainha de todos os Santos, Soberana do Mundo, Coroada na Fátima, ficou entronizada no porto e cidade de Santos, deixando aberto o Céu sobre o Brasil.

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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Regina © ine «Sabe ©viginaíi Concepta

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DIA 29 DE MAIO

REGINA SINE LABE ORIGINALI CONCEPTA

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Os livros santos empenham-se em mostrar-nos a Deus Nosso Senhor, na madrugada da criação, vendo-Se e revendo-Se complacente em cada obra do Seu poder criador à medida que iam saindo fla­mantes das Suas mãos omnipotentes. E viu Deus que era bom tudo o que ia criando. Era boa no seu conjunto e nas suas particularidades toda a obra dos sete dias (Gén. I, 31).

A criação! os céus com miríades de astros, a terra com o tríplice reino : mineral, vegetal e ani­mal, desde o átomo imperceptível da matéria até esse maravilhoso microcosmos que se chama o homem, que harpa imensa, vibrando a uníssono com mais imensa cítara, a do mundo angélico, no mesmo hino de glória ao Criador!

Mas depressa viria o pecado introduzir a de­sarmonia no mundo material, como já antes a intro­duzira no mundo espiritual. Lúcifer vira confundido o seu orgulho, a sua ambição de ser como Deus,

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354 FI.OKILÉQIO ILUSTRADO DA FATIMA

de ser mais do que Deus. Ju rara vingar-se. E já que não pudera arrebatar-Lhe a Divindade, havia de Lhe arrebatar o que de mais esplendoroso so­bressaia na criação material.

O homem contagiado por essa mesma ambição de ser como Deus, deixou-se iludir, e o que não se contentara com ser vassalo de Deus, presta a Sa­tanás a vassalagem da sua escravidão. O que era de Deus por direito de criação, agora é de Satanás por traiçoeira conquista. O maldito veda a todas as almas a entrada na vida, dizendo a cada um a: «Hás-de passar debaixo das minhas forcas caudi- nas e eu te marcarei com o estigma das minhas garras, com o selo do meu império». Assim foi. Esse estigma, esse selo é o pecado original.

E eis a humanidade condenada a essa escra­vidão, de que David é o sublime intérprete quando diz: Fui concebido na iniquidade e em pecado me concebeu minha mãe (Ps. L, 7). Assim é. Com a vida do corpo recebem os a morte da alma, ou an­tes, uma alma já morta. Tal foi o triunfo do dragão infernal. Passará ele agora a eternidade, sabo­reando a sua vingança e rindo-se para senjpre do Criador, defraudado na Sua glória?

II

N ão ! Toda a derrota reivindica desforra, e a glória de Deus não podia renunciar a ela, e ai de nós se renunciasse! Deus não podia ser eterna­mente ludibriado por Satanás. A reparação impu­nha-se de algum modo, fosse qual fosse. E o modo

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DIA 29 DE MAIO 355

escolhido nos eternos arcanos da Sabedoria in- criada impôs-se não à Sua Justiça, porque ela não estava obrigada a remir-nos, mas à Sua Misericór­dia. Foi uma exigência do Coração de Deus. E havia de ser uma reparação que deixasse a Satanás eternamenté confundido, a humanidade eternamente reabilitada e Deus eternamente glo­rificado.

O que por conquista havia passado para o do­mínio de Satanás, chegada a plenitude dos tempos, voltaria ao domínio de Deus por direito de recon­quista. É o futuro drama da Redenção, entrevisto já no horizonte dos séculos por entre as sombras do paraíso. E o primeiro acto desse drama ia ser a criação duma nova Eva, como estirpe de nova geração, que vingaria a derrota de Eva pecadora e regeneraria a sua descendência.

E Deus cria essa mulher, a obra-prima das Suas m ãos; retrata-se nela com infinita compla­cência. Já não vê apenas que é boa, como a obra dos sete d ias; agora, como se se deixasse extasiar diante desse prodígio de beleza, que é prodígio das Suas mãos, não se pode conter que não diga: Tota pulchra es — És toda bela e em Ti não há a mais leve mancha. Sine labe, sem labéu.

Aí está o grande triunfo de Deus, aí está o grande triunfo da que vai ser Sua Mãe, confusão eterna para Satanás que, há vinte séculos, contor­cendo-se de desespero, ruge impotente e desar­mado diante da nova Eva.

A primeira mulher fora ludibriada e por ela o homem e pelo homem toda a linhagem humana. Uma reparação digna de Deus exigia que surgisse

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356 FLORILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

nova mulher, com uma nova floração da suá fecun­didade virginal e imaculada (semen illius).

A serpe infernal conseguira com a sua morde­dura envenenar o sangue de nossos pais. E esse sangue envenenado ia contagiar toda a sua descen­dência. Toda? não. Non pro te, sed pro omnibus haec lex constituía est (Esth. XV, 13). A lei da transmissão do pecado original ia ter na nova Ester a sua única excepção.

E antes que o dragão conseguisse atingir-Lhe o calcanhar já Ela lhe havia esmagado a cabeça. Antes que o sangue redentor de Cristo fosse der­ramado, já Ele por sua virtude retro-activa havia remido Sua Mãe. Antes que Ela tivesse podido contrair a mancha do pecado, já a Redenção a havia preservado dele, inefável vacinação da graça, que em Maria se antecipou ao virus da culpa.

E desse modo dignum Filio tuo babitaculum praeparasti, ficou habilitada a conceber a própria Divindade quem sem a mancha original fôra con­cebida.

III

Mas — inimicitias ponam — diz o Senhor. Eu estabelecerei eterna inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Não terminou com a Conceição Imaculada de Maria o duelo entre Deus e Satanás. O reino de Deus e o de Satanás são dois reinos em guerra aberta, sobretudo depois que interveio na contenda a mulher entre todas bendita. Ela, com a sua descendência, continuará através dos séculos a esmagar a cabeça ao dragão

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DIA 29 DE MAIO 357

s o dragão teimará sempre (baldada tentativa!) em morder-Lhe o calcanhar.

Cada alma salva por intercessão de Maria é nova derrota in f l ig id a ao p r ín c ip e das trevas. E onde recebe ele mais derrotas destas do que na Fátima, ou em qualquer parte do mundo em que a Virgem da Fátima é invocada e venerada? Cada absolvição sacramental, cada conversão em que Ela intervenha, é novo golpe vibrado por Maria na serpe infernal. Cada hino de louvor que dentro ou fora da Cova da Iria Lhe entoa o coro dos seus devotos é novo assomo de desespero, é renovada tortura para Satanás.

Judite falando aos seus concidadãos de Betú- lia, apresenta-lhes no meio de ingente apoteose, suspensa dos próprios cabelos a cabeça decepada de Holofernes. E as tribus de Israel, ébrias de ale­gria proclamam-na vitoriosa.

Do planalto da Fátima Maria mostra ao mundo e ao inferno a cabeça esmagada dum monstro mais temeroso do que o caudilho dos Assírios. A Fátima é o teatro de novas vitórias de Maria. E os troféus dessas vitórias, as almas arrancadas ao dragão, ninguém já os pode contar.

A apoteose que Lhe prestam Seus devotos deixará para sempre eclipsada a que prestou Be- túlia a Judite. É o eterno pregão da Sua Conceição Imaculada: Tota pulchra es, et macula non est in te. És toda bela, tocía pura, tão bela como a mesma beleza, mais pura do que a mesma pureza.

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358 FLORILÉOIO ILUSTRADO DA PATIMA

EXEM PLO

Iaédito concurso de beleza e ... rainha eleita

Estavam reservados ao nosso século esses ridículos con­cursos de beleza, em que, em vez de formosura física, devia ser antes premiada a arte e artifícios com que, à força de pin­turas e de vernizes, de frisagens de cabelos e depilações de so­brancelhas, e de mil ensaios ao espelho, se pretende corrigira obra do Criador e se consegue ocultar o que se é, para parecer o que se não é.

Mostrengos que se baptizam oficialmente com o nome de M iss Itália, M iss Canadá e não sei que mais, eis outras tantas aberrações dos nossos dias, expressões coloridas de descere- bração feminina, das que para não serem im agens autênticas de Deus preferem ser caricaturas de si mesmas.

Mas que também o ridículo seja por vezes susceptível de sérias rectificações, prova-o o seguinte exemplo, o primeiro que conhecem os no seu género.

O caso passa-se na pitoresca cidade brasileira de Botu- catú, do Estado de S. Paulo, no mês de Novembro de 1952, quando de norte a sul todo o Brasil vibrava de entusiasmo ao sentir-se visitado por Nossa Senhora da Fátima.

Também ali chegou o frenesi dos concursos de beleza, e a cidade resolveu promover o seu. Afluem naturalmente as candidatas ã rea leza, pretendendo cada uma cingir o diadema da form osura!

Entre os estudantes de todas as escolas secundárias lavra um contagiante entusiasmo para a escolha da sua Rainha. Tudo corre ordenadamente sem as convulsões próprias das campanhas eleitorais.

Faz-se a eleição, e, por maioria esmagadora, aparece e le ita . . . Nossa Senhora, e Nossa Senhora sob a invocação mais querida ao coração brasileiro, a Imaculada Virgem Apa­recida I

Inspiração individual? Propaganda clandestina? Expres­são espontânea dum ideal haurido da própria educação reli­giosa da mocidade botucatuense? Fosse como fosse, o certo é que Nossa Senhora ganhou o concurso, foi eleita Rainha, e à

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DIA 29 DE MAIO

hora em que escrevem os está-se promovendo frenèticamente a solene coroação da Rainha eleita.

E não é menos para aplaudir a atitude das ex-candidatas ao titulo de rainha, as quais surpreendidas pelo desfecho da eleição, e envergonhadas talvez de terem ousado competir, elas, simples filhas dos homens, com a beleza da Mãe de Deus, unãnimemente depuseram as suas candidaturas aos pés da Rainha do Céu. Abrindo os olhos, viram que com esses briosos rapazes votara também o Espírito S an to : Tota pulchra e s . . . Una est perfecta m ea. . .

Não podemos deixar de fazer nossas as palavras com que a 20 de Novembro de 1952 f í Imprensa, órgão católico deS . Paulo, se referia ao acontecim ento:

«Nossa juventude estudantina ainda não está perdida. Talvez tenha chegado até à beira do abism o; mas ao sentir que seus pés pisavam no vácuo de ilusões e miragens, desper­tou do sono da mentira para a realidade dos ideais dignos da sua idade. Cansou-se e enfadou-se de rainhas escolhidas pelo único critério da beleza física, e decidiu-se a procurar uma Rainha que, sobre ser a mais bela das criaturas, fosse pura, imaculada, santa, amada de Deus e dos homens, uma rainha de verdade, soberana de todos os corações.

Parabéns à nossa juventude estudantina I Que a sua Rai­nha a conduza para as montanhas da virtude, do estudo, da nobreza de carácter. . .

Está vitoriosa a causa de Nossa Senhora Aparecida. Ela a única candidata dos corações ardentes da juventude estu­dantina.

Parabéns aos estudantes de Botucatú. Estamos certos de que a coroação da Rainha não só será uma festa inédita, vibrante e solene, mas também será o marco inicial de uma estrada nova, aberta pela mocidade botucatuense em direcção á cidade da paz, na união da ciência e da fé, da virtude e da felicidade ».

O ração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 30 DE MAIO

REGINA IN COELUM ASSUMPTA

O ração preparatória, como na página 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Em sua 1* epístola aos cristãos de Salonica (IV, 16), atesta S. Paulo, segundo os intérpretes mais autorizados, que no último dia, ao som do trombeta do Arcanjo, os mortos hão-de ressuscitar, e os que ainda viverem hão-de passar por uma transforma­ção instantânea, análoga à que opera a m orte; e, como se fossem também ressuscitados, serão irre­sistivelmente arrebatados às alturas, ao encontro de Cristo, e de lá para o céu.

Sem esperar pela voz da trombeta angélica que despertará os mortos e transformará os vivos (o Apóstolo só se refere aos justos), é de fé que a Virgem Santíssima, consumada a Sua carreira na terra, foi em corpo e alma transportada à glória celeste. Com o? Passando primeiro, como Seu Fi­lho, pelas amarguras da morte e ressuscitando, ou tal qual se encontrava na terra, ou passando acaso por qualquer transformação análoga à que anunciaS. Paulo à última geração de justos?

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Regina in Coetum H ssum pta

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DIA 30 DE MAIO 361

Embora a primeira hipótese predomine na tra­dição católica, o certo é que a recente definição dogmática não se ocupou de semelhantes especu­lações. O essencial era a Assunção de Maria ao céu em corpo e alma.

N esse dia de júbilo para o céu, e de saudade para a Igreja militante, eis que os espaços nunca dantes navegados, ou melhor só rasgados por Quem depois seria chamado a Águia divina, como se as leis da gravidade deixassem de existir, são invadi­dos por Quem parece dominar a própria imensi­dade. «Quae est ista quae ascendit?» Quem é E la? É a Rainha dos espaços, Nossa Senhor do ar.

E que vastíssimos panoramas, cada vez mais dilatados, se não vão desdobrando ao Seu olhar de estrela, à medida que so b e ! Mas não é só a altura a que A coloca a Sua Assunção. A mesma rotação da terra de ocidente para oriente vai apresentando à Sua contemplação de Rainha do Universo novas e sempre renovadas regiões do Seu império, novos teatros das Suas glórias.

E, transpondo não só as fronteiras da Palestina e do Egipto, mas também as do presente, domi­nando o tempo à medida que vai dominando o esp aço ; como se caminhasse para o ocidente ras­gando simultaneamente com a rapidez do relâm­pago os horizontes do futuro, Ela vai descortinando tantos e tantos cenários de futuras apoteoses, em que o beatam me dicent omnes generationes dei­xará de ser profecia para ser história. E Efeso, é Roma, é Lourdes, é Fátima, onde gerações após gerações A aclamarão bem-aventurada.

É, continuando o seu movimento de rotação,

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362 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATI.MA

a terra mostra-lhe novos horizontes ocidentais, e nesses horizontes um novo continente que Seus olhos descobrem, 15 séculos antes de Colombo, e nesse continente novos cenários: Guadalupe, a Aparecida, Camamu, S. Vicente, S.'° Amaro, Reri- tiba, Belém do Grão-Pará, Cabo Frio, e tantos ou­tros padrões imorredoiros do Brasil assumpcionista.

E começa já a ouvir num eco inefàvelmente an­tecipado e numa língua que ainda não existe, mas que Ela mais tarde falará na Fátima, as saudações e hinos de triunfo com que miríades de almas elec- trizadas pelo amor a invocarão como Saúde dos enfermos, e percorrendo toda a gama das harmo­nias lauretanas, desde Santa Maria até Rainha da Paz, desfalecerão no extase final de quem não sabe mais que Lhe chamar, aguardando a morte como derradeira homenagem de quem teima em aclamá-La bem-aventurada.

E a terra prestes a desaparecer, reduzida já às minúsculas proporções de minúscula esfera jogada nos espaços, atrai o seu último olhar, um olhar de saudade. Nela ficou a Igreja nascente, nela fica­ram mourejando e derramando sangue os Apósto­los pela dilatação do Reino de Seu Filho. Ela é a Seus olhos um vertiginoso transporte, que no seu movimento de translação leva consigo vivo, palpi­tante e sacramentado o Filho de Maria, e o vai passeando através da imensidade, que a imensi­dade é domínio Seu-

II

O perigo de nos afastarmos de Deus e do nosso ideal de perfeição cristã está em nos apegarmos à

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DIA 30 DE MAIO 383

terra e ao que é terreno: comodidades, prazeres, caprichos; à nossa vontade própria e maneiras de ver, à opinião e juizo dos homens, ao que dirão, pensarão ou julgarão de nós, tornando-nos assim escravos do respeito humano. Está em nos afei­çoarmos às criaturas que não podem dar-nos a felicidade.

Pois bem, para sabermos quanto vale tudo isto, subamos com a Virgem Imaculada ao céu. É dessas alturas que veremos melhor a terra e quanto ela vale. Quanto mais subimos, mais vastos horizon­tes descobrimos. Para vermos as coisas terrenas sem o nevoeiro artificial que as envolve, sem as aparências enganadoras e traiçoeiras que as dis­farçam, temos de subir com Maria em voos de Assunção e de as ver de cima para baixo que só assim as veremos como elas são.

Não é menos certo que as coisas terrenas de quanto mais alto se virem, mais pequenas são. A terra vista por Maria das alturas da Sua Assun­ção vai-se tornando mais e mais pequena. Vista de junto de Deus é um atomozinho, um nada, um zero à esquerda. E nós a dar-lhe tanta importância!

Vejamo-la também de cima para baixo, das altu­ras do mundo sobrenatural. E, reduzida já ás suas mesquinhas proporções, que mesquinhos são tam­bém os seus horizontes! E como é que tantas ba­gatelas cá de baixo, tantos nadas nos prendem o coração e o desviam de Deus?

Céu encoberto por um negrume esp esso ! Nada se vê, nem sol, nem lua, nem estrelas. Parece que só abaixo das nuvens é que há luz, visibilidade. Que ilusão! Transportados num avião, penetra-

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364 FLORILÉGIO ILU8TRADO DA FÁTIMA

mos no esp aço : mil, dois mil, três mil metros. J á não há nuvens, o mundo das nuvens ficou abaixo dos nossos pés. Agora é a surpresa dum mundo novo que se descobre. Descobrimos o céu à luz do céu ; só claridade, firmamento banhado de luz ou cravejado de estrelas. Estamos no reino da luz! Nem um farrapinho de nuvem nos encobre o semblante sorridente do Criador. Que contraste!

A terra desapareceu, morreu, sepultada numa mortalha de nuvens que vista de cima é branca como uma planície de neve, vista de baixo é negra como o luto. Um tumulo infinito de escuridão! E nós a julgarmos que só na terra há luz, e que as nuvens são as cortinas do céu!

Ah! subamos às alturas do mundo sobrena­tural. De lá veremos que as nuvens não são do céu, não; são da terra. O céu é a pátria da luz. A terra é um planeta encapotado em nevoeiro, em nuvens, em escuridão. E, se não fosse a luz do céu, seria um planeta morto, amortalhado, vestido de luto.

São assim as ilusões da terra.

III

E são assim as desilusões do céu.Para nos desiludirmos e podermos à luz do

mundo sobrenatural desenrolar o novelo de ilusões de que está tecida a nossa vida, subamos com Maria, nossa Mãe glorificada, que não sofreu de­cepções, porque nunca se deixou iludir.

Sabem os que quanto mais nos aproximamos dum foco luminoso, mais iluminados ficamos, e por

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DIA 30 DE MAIO 365

isso Maria é a mulher vestida de sol no mistério da Sua Assunção. Que será então quando nos inundar a claridade celeste na nossa suprema as­censão e pudermos dizer com o Salmista «in lumine tuo videbimus lumen» (XXXV , 10)?

E sabemos também que quanto mais nos apro­ximamos das coisas, mais objectiva é a nossa visão e melhor corrigimos as deficiências dos sentidos. Enquanto rastejamos na terra, os astros parecem- -nos pequeninos pontos luminosos, menores do que a chama duma vela. E só a terra nos parece grande. E contudo esses pontinhos luminosos vis­tos de perto são autênticos mundos de luz, mundos incomensuráveis, milhares, milhões de vezes maio­res do que a terra.

Maria penetrando no império dos astros, des­ses gigantes luminosos do céu, é uma nova estrela que aparece no firmamento, à qual as outras só servem de diadema cintilante. Que diferentes agora esses mundos de luz! J á não são os microscópi­cos pirilampos que se enxergavam na terra.

É assim efectivamente; o céu visto da terra parece-nos pequeno, as coisas celestes, o que é elevado, os interesses da nossa alma parecem-nos bagatelas; e só ao que é rasteiro e terreno é que damos importância; só isso é que nos parece grande. Assim é que temos de subir às alturas do mundo sobrenatural para corrigirmos tantas ilusões.

Os raios de luz que irradia o mistério da Assun­ção bastam para iluminar e nos desvendar muitos segredos do mundo sobrenatural. Não queiramos ver de tão baixo as coisas do céu, que visto de longe e com olhos terrenos até Deus é pequeno!

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Pelo contrário quem é governado pelo espírito de fé, quem sobe acima dos horizontes traçados pela matéria, ou por uma mentalidade brutificada pela embriaguez dos gozos terrenos ou metalizada pela escravidão do oiro, iluminado, finalmente, por uma luz superior depressa se convencerá que só Deus é grande, tão grande que, se cria, é do nada; se remunera ou castiga é com a eternidade, e que, portanto, só a eternidade interessa a quem para a eternidade foi criado.

Dessas mesmas alturas se vê como é grande a virtude que tão pouco pesa nas balanças da terra, e quanto vale um simples grau de graça, tão levia­namente desprezado dos homens, quanto vale um simples grau de glória através da eternidade, in- comparàvelmente mais precioso do que os mais ricos patrimónios do mundo.

Das mesmas alturas da Assunção de Maria se vê como a menor das nossas acções tem um alcance eterno. Esse grauzinho de glória merecido pela fide­lidade a um dever, não é um momentâneo aumento de felicidade, mas durará para todo o sem pre; do mesmo modo que o grau de glória desmerecido pela omissão dum pequeno acto de virtude, per­dido ficou também para sempre. E é assim que construímos ou destruímos para a eternidade.

Não foram outras as lições da Fátima. Falando do céu aos Seus videntes, e por meio deles ao mundo, a celestial Aparição convida-nos a pensar mais em Deus para que Deus pense mais em nós. E que outra coisa vem a ser a oração, ali tão insis­tentemente recomendada, se não uma ascensão do nosso espírito até ao céu ?

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DIA 30 DE MAIO 367

«Olhem para o so l!», olhem para o céu, dizia à multidão a vidente Lúcia no momento em que se verificava o já bem conhecido fenómeno solar. Olhem para o céu! Que bela tradução das palavras de S. Paulo, quando nos diz : Buscai, saboreai, não as coisas rasteiras, mas o que é elevado; não o que é da terra, mas o que é do céu.

Foi, pois, em corpo e alma que Maria foi ele­vada ao céu. Foi, portanto, em corpo e alma tam­bém que Ela se apresentou na Fátima, em corpo autenticamente Seu, não disfarçado nem empres­tado, mas o mesmo que na Sua gloriosa Assunção levou através dos espaços da glória.

E, epílogo altamente apoteótico! como no dia da Assunção, ei-La, a Rainha do espaço, a Senhora da imensidade, bem à vista dos pastorinhos, no céu da Fátima, estátua viva, majestosa, olimpicamente postada junto do sol, dominando as alturas do uni­verso e... dispensando pedestais.

E XEM PLO

Paraquedas salvador

Em Heliópolis, arredores do Cairo (Egipto), onde é tradi­ção ter descansado a Sagrada Fam ilia ao dirigir-se para o des­terro, e onde os católicos do rito caldáico estão construindo a sua igreja a N .“ S .* da Fátima (Cf. pág. 234). publica-se a revis- tazinha «Le Message de Fátim a•. Do seu número de Jane iro de 1952 extrai a Uoz da Fátima (N.° 354) o seguinte caso :

«O falecido Tewfiq Barakat, que vivia em Choubrah (Rua Kotta, n.° 2) era conhecido pela sua grande piedade e pela de­voção a Nossa Sen hora: Todos os dias à noite reunia os mem­bros da família para com eles rezar o terço. Um dia os dois filhos, um de 6, outro de 4 anos, brincavam na sacada da casa, enquanto a mãe se entretinha nas lides domésticas.

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368 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

O mais novo, André, saltou para a balaustrada, mas per­deu o equilíbrio e ia cair da altura dum 5.° andar. O outro segurou-o por um pé e gritou pela mãe que viesse acudir. A mãe julgou que os pequenos estavam a brincar e fez que não ouviu.

Como o peso era muito, o irmãozinho mais velho não conseguiu aguentar e deixou cair André, que primeiro bateu no toldo duma mercearia e depois se foi estatelar no chão. Aos gritos desesperados da criança que ficara em cima, acudiu a mãe, que verificou o desastre, e, fora de si, desceu para recolher o cadáver do filho, pois supunha encontrá-lo sem vida com a cabeça desfeita.

Qual não foi, porém, a sua admiração, ao dar com ele perfeitamente bem, sem ter nenhum membro partido, ou se­quer magoado. Levou-o contudo para o quarto e deitou-o na cama. A criancinha apontou com o dedo para uma imagem de Nossa Senhora, e disse à m ãe: «Mamã, FOI AQUELA SE ­NHORA Q U E ME SEG U R O U NO S BRA ÇO S, QUANDO EU CAÍ».

Verdadeiramente, depois que Ela, através dos espaços, subiu às alturas do céu, ficou sendo para sempre a Rainha dos espaços e a dominadora das alturas.

Em todos os perigos saibamos dirigir-lhe a prece «sucurre cadenfi» e ela, como a esta inocente criança, fará dos seus bra­ços maternais um paraquedas salvador.

Oração pelos sacerdotes, como na pag. 22.

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Regina ©actaüssími Rosarii

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DIA 30 OU 31 DE MAIO

REGINA SACRATISSIMI ROSARH

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

O Rosário é a linguagem que todos podem falar e a que Maria melhor entende em qualquer idioma que a ouça, mesmo balbuciada pela crian­cinha, ou trèmulamente articulada pelo ancião de língua já meio paralisada pelos anos. É o entrete­nimento familiar, filial, que na sua simplicidade mais nos aproxima de Maria, mais A aproxima de nós.

O seu valor e excelência está nas fórmulas de oração vocal que o constituem e na meditação que as interrompe ou as acompanha.

1.° — Essas fórmulas, sendo o que há de mais simples e de mais elementar na ciência de orar, são também o que há de mais sublime no género laudatório e impetratório, orações cuja origem não é terrena e que muito têm de divino, alguma coisa de angélico e pouco, muito pouco, de humano.

Contra as profanações da precipitação, da dis-

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370 PLORILÉQIO ILUSTRADO DA FATIMA

tracção, da rotina vem salvaguardar essas fórmulas sagradas a

2.° — meditação dos mistérios que se comemo­ram e que decerto é o que mais valoriza tão en­cantadora devoção. Essa meditação introduz-nos na escola de Maria, espírito que somos tentados a julgar meditativo por temperamento. O Evangelho mais duma vez no-la apresenta arquivando e como que ruminando constantemente em seu coração virgíneo-maternal os mistérios da vida de Seu Filho. Não será acaso isso mesmo que nos obriga a fazer a reza correcta e perfeita do Rosário? E que melhor escola de meditação podemos en­contrar do que a de M aria? E nessa escola que melhor M estra?

O Rosário meditado é pois a explanação do símbolo da nossa fé, feita em conversa com M aria: «Nasceu de Maria Virgem — padeceu sòb o poder de Pôncio P ilatos—ressuscitou dentre os mortos». — É o símbolo desdobrado em tríplice coroa de rosas, rosas brancas nos mistérios gozosos, rosas vermelhas nos dolorosos, rosas de oiro nos glo­riosos.

II

A devoção do Santo Rosário tem de ser uma barreira levantada contra a onda de paganismo que ameaça submergir a sociedade hodierna.

1.° — É a sede insaciável de gozo que deprava os corações, é o coro endemoninhado dos que cla­mam pelo reinado do prazer, dos que nada sabem negar aos sentidos, dos que só sentem satisfação revolvendo-se no lodo do sensualismo.

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DIA 30 OU 31 DK MAIO 371

Contra estes rezemos o terço dos mistérios gozosos, para que eles possam compreender quão degradante é o gozo haurido dos lodaçais da terra, quão ilusória é a alegria circunscrita aos estreitos limites do tempo e que não sobe até às alturas da eternidade.

Meditemos os mistérios gozosos para que tan­tas almas aviltadas pelo vício possam saborear como é amável e encantador Jesu s Cristo nesses mistérios da Sua vida, que nos fazem vibrar a alma com afectos divinos, purificando-a, aformoseando-a e fazendo-a já prelibar o antegozo dum sorriso eterno. É na contemplação desses mistérios que a alma goza verdadeiramente, que faz calar a voz do remorso, que alegra a sua juventude e se santi­fica na medida em que se intensifica o êxtase da alegria.

2.° — É o clamor luciferino dos que amaldiçoam a dor, e se revoltam contra ela e blasfemam da Pro­vidência. Sim, é desoladora, sem dúvida, a dor dos incrédulos, que nenhum reflexo do céu vem embe- lecer, que não sente as recom pensas da graça e que é tristemente estéril para a eternidade. Têm razão de se queixar e de desesperar.

Mas rezemos por eles o terço dos mistérios dolorosos, para que sintam, como a dor se trans­forma e nos transforma, como ela se suaviza e nos conforta quando se recebe a cruz das mãos do Di­vino Crucificado e se sofre na Sua doce companhia. Que meditem nos mistérios dolorosos da Sua vida, pensem assiduamente no Horto, no Pretório e no Calvário e não só aprenderão a dominar a dor, mas compreenderão e saberão justificar as arrebatado-

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ras loucuras daquelas almas, — bem poucas infeliz­mente —, que só na cruz encontram gozo e ventura e que com o cálix do sofrimento entre os lábios, só sabem pedir mais.

3.° — É a embriaguez do nosso século, que no seu orgulho exalta a nova ressurreição dos povos, os progressos e conquistas da sociedade hodierna, as ascensões, as glorificações e esplendorosas trans­formações da humanidade, levadas a cabo indepen­dentemente de Deus, e contra Deus muitas vezes.

Rezemos os mistérios gloriosos do Rosário, me­ditemos nas glórias de Jesu s Cristo e de Sua M ãe, e, à luz desta meditação, veremos como a essas ressurreições e ascensões orgulhosas andam alia­das as maiores degradações e decadências morais.

Vangloriem-se embora das suas tristes eleva­ções, enquanto moralmente são uns decaídos a rastejar na lama. Nós queremos ressuscitar e que­remos que o mundo ressuscite à imagem e sem e­lhança da Ressurreição de Cristo. Queremos res­suscitar combatendo a morte da alma, que é o pecado, triunfando das misérias humanas, imolan- do-nos com Cristo na ara da cruz, subindo com Ele a montanha da crucifixão, e crucificados com Ele perdoar aos nossos inimigos.

Q uerem os ressuscitar e elevar-nos com Ele, despedaçando com Ele os grilhões pecaminosos da carne que são a nossa loisa sepulcral, seguindo os atractivos da graça, celebrando a eterna Páscoa das almas e cantando o nosso aleluia a unissonc com a voz dos anjos.

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DIA 30 OU 31 DE MAIO 373

III

A Senhora da Fátima é a Senhora do Rosário. Com esse nome fez Ela a sua apresentação aos videntes. Fátima é, pois, o alcácer do Rosário, e Maria a rosa ali plantada à beira da sua fonte {Eccl. 39, 17).

E foi precisamente na devoção, do Rosário que Ela mais insistiu no colóquio com os Seus videntes. Recomendou-a sobretudo como meio de alcançar a paz para o mundo, nessa hora incendiado pela guerra, ensinando aos três pastorinhos a rezar entre os mistérios esta substanciosa oração, ô meu J e ­sus, perdoai-nos e livrai-nos do logo do inferno; ali­viai as almas do Purgatório, especialmente as mais abandonadas. A primeira aparição deu-se justa­mente quando eles acabavam de rezar o terço. E a celestial Visão trazia um lindo terço de contas brancas, rematado por uma cruz de oiro. E em todas as aparições não houve uma só em que Ela não recom endasse a reza do terço.

Perante este desejo tão manifesto da Santís­sima Virgem, haverá ainda hesitações ou indolên- cias ou fastios de rezar? Não nos façamos mais rogados, que o interesse não é dEla, é todo nosso.

Esboçou-se há poucos anos em Portugal um movimento — que oxalá não tenha já esmorecido — tendente a estabelecer ou a restabelecer em todos os lares a reza quotidiana dò terço. As famí­lias que se comprometessem a rezá-lo em comum teriam os seus nomes escritos no livro de oiro, que seria depositado na Fátima, aos pés da mãe <ie Deus, e seria o sinal de estarem também escri­

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374 FL0RILÉQ10 ILU6TRAD0 DA FÁTIMA

tos no Coração de Maria, que é o verdadeiro livro da vida.

Oxalá que dentro em pouco não haja também uma família brasileira que não tenha abraçado essa devoção salvadora, que não tenha o seu nome arquivado no Santuário e no Coração de Maria. O terço será o laço que manterá unidos todos os membros da família e que reunirá os desunidos.

São incalculáveis as indulgências com que tem sido enriquecida a reza do terço, às quais ainda ultimamente foi acrescentada uma indulgência ple­nária para cada vez que ele for rezado diante do Sacrário. Nestas condições deixar enferrujar os terços seria desprezar o céu que tão barato nos é oferecido.

EXEM PLO

Rosário doloroso a princípio, gozoso ao findar

D. Maria Jo s é dos Santos Nunes, natural de Alcochete e residente em Lisboa, íôra em Maio de 1914 atacada de tuber­culose pulmonar, que foi sempre avançando apesar de todos os tratamentos.

Em 1925 vieram juntar-se-lhe novas doenças intestinais.Em 1929 sobrevieram gravíssimos sintomas de doença

cerebral.O célebre especialista Dr. Egas Moniz, declara que o

estado da paciente era muito melindroso e que não lhe podia valer. cTrafa-se dum tumor no c éreb ro , declarou ele sem ro­deios, dentro de poucos dias a po bre coitada terá uma m orte horrorosa . Só um m ilagre p o d e ré salvá-la».

De facto, dois dias apenas eram passados, e ei-la a bra­ços com duas crises violentas, a segunda das quais durou qua­tro horas no meio de convulsões dolorosissimas.

O médico assistente declara à famflia desolada que a

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persistir esse estado, o melhor benefício que Nosso Senhor podia fazer à doente era mandar-lhe a morte.

Ao ser pronunciada tal sentença pelo tribunal implacável da medicina, a família da enferma apela em última instância para o de Nossa Senhora da Fátima. «Só um mi/agre poderá s a l­vá-la-, dissera o especialista. Pois bem : um milagre a salvará e esse milagre Nossa Senhora do Rosário se encarregará de o fazer. E o instrumento desse milagre será precisamente o Seu Rosário.

A família com eça por banhar panos em água da Fátima e envolver com eles a cabeça da doente que voltou a si.

Durante os dois dias seguintes não se repetiram as crises, mas a doença também não retrocedeu. A doente faz voto de ir à Fátima em peregrinação de acção de graças. E pelas seis horas e meia da tarde, «senti uma tal confiança, conta ela mes­ma, como nunca na minha vida sentira. Cham ei minha irmã, minha d ed icada enfermeira, pedi-lhe para rezar com igo o Rosário d e N ossa Senhora da Fátima. No o ferec im en to chorei nervosa­mente e d isse ainda com uma confiança ilim itada: Ó minha M ãe Santíssima, dai-me alívios e a cura. f i o m esm o tem po beb i um golo d e água da Fátima. Não posso descrever o que neste momento se n ti.. . Dei um grito pro lon gado».

A família acode alarmada. «Não choreis, diz a enferma que já não era enferm a; Nossa Senhora ouviu-me! J á não tenho dores. Estou cu ra d a ! O grito, que eu dei, foi d e alívio I •

E logo ajoelha sobre a cama e faz uma fervorosa oração de acção de graças (1 ).

Estou curada, dissera ela ainda com o Rosário na mão. E , de facto, a cura foi flagrante, como o próprio médico não teve dificuldade de reconhecer.

Mãe bendita que è Sua devota fez sentir tanto ao vivo os mistérios dolorosos para melhor saborear no fim os gozosos I Para Ela os gloriosos, para Ela e para Seu Filho toda a glória dos benefícios concedidos aos Seus devotos.

Bendito Rosário, instrumento das misericórdias de Maria!

Oração pelos sacerdotes, como na pág. 22.

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DIA 31 DE MAIO

REGINA PACIS

Oração preparatória, como na pág. 15.

AOS PÉS DE MARIA

I

Nem toda a paz vem de Deus, e por isso nem toda é para desejar. Da paz com Satanás que o céu nos defenda, porque ela supõe um tratado de amizade com ele, que seria a capitulação da alma.

Defenda-nos Deus também da paz com as pai­xões, que só se alcança à custa de condescendên- cias vergonhosas. Com as paixões só uma paz que se buscasse na sua plena submissão à razão, no aniquilamento definitivo das suas depravadas ten­dências. Mas essa paz paradísiaca deixou de ser apanágio da natureza humana desde o dia em que o primeiro homem prevaricou. Revoltou-se a razão contra Deus, revoltadas ficaram também as paixões contra a razão, e para nunca mais desarmarem.

Para longe também a paz com o mundo totus in maligno positus, que a Jesu s Cristo declarou uma guerra sem tréguas. Essa paz custaria muito caro. Custaria a abdicação da própria liberdade, a escra­vidão da própria consciência, a renúncia aos bens eternos, hipotecados à miragem de bens efémeros.

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Pegina pacis

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DIA 31 DE MAIO

Tais são as pazes, mais funestas do que todas as guerras.

A paz que santifica e salva, a paz que vem de Deus, e que o mundo não pode dar, é :

1.° — A paz da alma consigo mesma, com a própria consciência, que só se consegue com o do­mínio das paixões, com a isenção de qualquer temor que não seja o de Deus. É o fruto do Espí­rito Santo presente na alma. Só essa presença dá a verdadeira paz, só o pecado a rouba, só os sa­cramentos a restituem.

2.° — A paz com o próximo, fruto da mútua união e fraterna caridade, que só se conquista pela imolação do egoísmo e do amor próprio.

3.° — A paz com Deus, que consiste na confor­midade do nosso querer com o Seu, e antes de tudo no estado de graça e amizade com Ele. Tal é em vida a paz com o céu, figura e ensaio da paz beatífica.

II

Mas o homem não vive isolado. Multiplicado ele constitui a sociedade doméstica, e as socieda­des domésticas, por sua vez multiplicadas, dão origem à sociedade civil. Estas, multiplicadas tam­bém, formam a comunidade internacional.

E também as comunidades nacionais e inter­nacionais necessitam de paz para alcançarem os seus fins específicos.

Mas a paz interna das nações, e mais ainda a paz externa entre as nações, é uma mentira. P ax ! p a x !... et non erat pax. Quanto mais se fala de paz, tanto menos paz há no mundo. O vendaval

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378 FLOKILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

da guerra varre de lés a lés ilhas e continentes. E se alguma vez se assinam tratados de paz, é para nesses tratados se semearem os germes de novas guerras; se emudecem os canhões, se dei­xam de vomitar metralha, é para voltarem à forja e para de lá voltarem mais aperfeiçoados, mais tonitruantes, mais mortíferos, quer dizer, mais mo­dernos.

Toda a ciência humana se mobilizou para in­ventar e aperfeiçoar novas artes de destruir e ma­tar; e parece que só descansará no dia em que não houver mais que matar nem destruir. O sor- vedoiro da guerra é duma voracidade insaciável. Dir-se-ia que o mundo está condenado ao exter­mínio, que já renunciou a viver, já se resignou a m orrer!

É a fatal consequência de ódios e ambições. Desapareceu do mundo a idéia da fraternidade humana e da igualdade de deveres e de direitos entre as nações. E os homens deixaram de ser hom ens; preferiram ser feras.

Proscreveu-se a Cristo como Rei e Legislador dos povos, empunhou a espada o Anjo do exter­mínio. Repudiou-se o Evangelho como código mo­ral e social dos povos, substituiram-no sarcásticos tratados de paz, assinados hoje para amanhã se violarem, assinados com uma das mãos enquanto a outra empunha o gládio da desforra.

III

Mas para que a paz do mundo deixe de ser uma ironia, ergamos o olhar suplicante para a ce­

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DIA 31 DE MAIO 37»

leste Rainha da Paz. É que a paz verdadeira é um dom celeste e é um dom real também.

Tão celeste é o dom da paz, que ela como que nasce do sorriso de Deus, para logo se transformar em beatitude do mesmo Deus e dos seus eleitos. Na verdade tudo é paz na bem-aventurança, tudo é paz no Reino de Deus. E que outra coisa é o grande dom de Deus ao mundo, o «Seu unigénito, senão a paz de Deus tornada visível, sensível e palpável: Et ipse erit pax —- Ele será a Paz, pre­disse o profeta Miqueas (V, 5). E depois que a pro­fecia se realizou, também S. Paulo pôde dizer, não já no futuro, mas no presente: Ipse est Pax nostra — Ele é a nossa paz (Eph. II. 14).

Tão celeste é o dom da paz, que o paganismo a chegou a personificar numa divindade — a deusa da Paz —, a quem foram levantados templos e alta­res. Não fora a luz da fé que também nós presta­ríamos honras divinas Àquela que é Pacificadora do mundo, a celeste medianeira de paz entre Deus e os homens, e que, não sendo deusa, é Mãe de Deus.

E tão real é o dom da paz, que sempre se atri­buiu aos reis o estabelecimento da paz, como o da guerra entre os povos. E desse dom só o rece­biam os povos da mão de reis.

Dom real e dom celeste ele tem de passar por mãos que sejam ao mesmo tempo reais e celestes, quais são as da Rainha da Paz, dispensadora de todos os dons de Deus.

E Ela é Mãe também. À mãe pertence por natureza o papel de pacificadora dos lares. Nos conflitos entre pais e filhos, nas desavenças entre

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FLORILÉGIO ILUbTRADO DA FATIMA

irmãos, é a mãe quem possui o condão de conci­liar, de congraçar os desavindos; pois é no coração materno que mais harmoniosamente se alia a man­sidão com o rigor, a suavidade com a força, uma vez qv5e no seio da família ela é um misto inefável de amor e de autoridade.

Maria é a Mãe da grande família humana, divi­dida por lutas fratricidas, e em guerra aberta com a Familia Divina. É Ela, pois, quem está natural­mente indicada para ser Anjo de Paz no meio dos homens, do mesmo modo que entre o homem e Deus.

Ela é a Mãe dos homens distribuídos em famí­lias, em sociedades e nações. DEla devemos, pois, «sperar a paz da consciência para os indivíduos, a paz doméstica para as famílias, a paz civil e social para as nações, a paz internacional para o mundo.

Não é só uma exigência materna do Seu cora­ção, é também a Sua missão providencial. A Igreja apresenta-A no berço de recém-nascida como au­rora de paz a despontar no horizonte dum mundo agitado e revolto pelas procelas do pecado, pre­destinada pela Sabedoria Divina à maior missão de paz que se podia confiar a pura criatura, a excelsa Pacificadora entre o céu e a terra.

Destinada a dar ao mundo quem os profetas vinham anunciando como Rei Pacífico e Príncipe da Paz (ls. IX, 6) e que, de facto, entrou no mundo trazendo a paz aos homens de boa vontade (Luc. II, 1 A) e dele se despediu levando nos lábios a mesma saudação de paz, deixando-nos a Sua paz {Joan . XIV, 27), natural era que já no berço, qual íris de bonança, difundisse sorrisos de paz nas

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DIA 31 DE MAIO 38t

almas agitadas — Nativitatis eius votiva solemnitas pacis tnbuat incrementum.

Destinada como Rainha a um trono de paz e de pacificação, natural era que, desde o primeiro palpitar do Seu ser, fosse a natureza mais serena, mais rainha e senhora de si mesma e dos seus afectos, mais pacífica para poder ser pacificadora. Sem paixões nem inclinações para o mal, sem de­sarmonia nem desafinação alguma entre a vida dos sentidos e a das faculdades superiores, no seu es­pírito — reino limpidíssimo de p az—, verificava-se em toda a plenitude a tranquilidade na ordem, e nele a justiça e a paz se davam o ósculo de fra­terna harmonia.

Que mais lhe falta para ser aclamada Rainha da Paz?

Mensageira de paz foi-o desde o dia em que se manifestou aos três videntes da Fátima, prome­tendo ao mundo revolto pela guerra, prometendo especialmente a Portugal nela envolvido, uma pró­xima pacificação, continuando depois a protégê-lo e preservando-o ainda da guerra de extermínio que incendiou o resto do mundo.

Que o Brasil igualmente caro à Virgem da Fá­tima, veja sempre salvaguardadas as suas vastísimas fronteiras e todo o seu pacífico território contra todas as agressões do mau anjo da guerra.

Que continue a sê-lo; que o Rosário, com que Ela se apresentou na Cova da Iria acorrente todos os furores bélicos, todos os ódios e ambições, e que do alto do céu Ela estenda sobre as nacões o Seu ceptro pacificador.

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florilégio ilustrado da fAtima

E XEM PLO

Conferência de paz e de desarmamento

Era ém 1931. No Estado da Baía, Brasil, reinava entre vários membros duma família o mau anjo da discórdia. Arma­dos como estavam, as divergências chegaram a acalorar tanto os ânimos, que estavam im inentes duas, talvez até três mortes.

O caso é levado ao conhecimento de Frei Luls Gonzaga, Religioso do Convento do Carmo, na cidade do Salvador, o qual é chamado com toda a urgência a casa da família desunida para tentar apaziguar os espíritos desavindos. *Em tais extre­mos, diz consigo Frei Luls, só Nossa Senhora de Fátima m e poderá auxiliar».

Durante o trajecto não fez mais do que invocá-La com a fé mais viva e com todo o fervor de que era capaz, para que lhe inspirasse palavras de reconciliação, ou se fizesse Ela mesma a pacificadora daquela família.

Tão feliz despacho teve a sua prece, que ao tentar reunir a conferência de paz, logo a primeira pessoa envolvida na dis­córdia a quem ele se dirige, rendendo-se aos conselhos de conciliação, tira do bolso um frasco de cianureto e entrega-lho dizendo: «flqui estava já preparada a minha liqu idação; por mi­nha parle dou o caso por solucionado e só d ese jo que tudo s e harm on ize».

Faltava o outro comparte da iminente tragédia, o qual informado pelo mesmo Frei Luls da decisão tomada pelo pri­meiro, também não custou a render, entregando a pistola com que se dispunha a liquidar um terceiro, e a voltá-la em seguida contra si mesmo.

Assim se conjurou uma horrorosa tragédia no momento em que ela se ia desenrolar, graças à intervenção de Nossa Senhora da Fátima, que para as famílias desavindas é também a Rainha da Paz.

(Publicado na Uoz da Fátima, de 13 de Julho de 1932 — N.° 118).

Oração pelos sacerdotes, com o na pág. 22.

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P a ra a Conclusão

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NA CONCLUSÃO DE MAIO

PÉTALAS DE SAUDADE BÊNÇÃOS DE PERSEVERANÇA

O ração preparatória, como na pág. Í5.

AOS PÉS DE MARIA

1

Chegou a hora em que a flor mística do mês mariano se desfolha em pétalas de saudade. Mês bendito que se despede derramando gota a gota no fundo da alma o sentimento duma indizível nos­talgia.

Não se pode dissimular essa nostalgia celeste que nos traz à lembrança os momentos passados aos pés de Maria nesse doce enlevo em que nos teve embalados o Seu sorriso de Mãe. Não se pode esconder esta saudade, que se traduz no pesar de não podermos prolongar pelo ano além esses momentos deliciosos do céu passados na terra. É o pesar de quem se aproxima duma des­pedida dolorosa.

Ela que o diga, a Mãe dulcíssima, a saudade que a martirizou depois da despedida de Jesu s para a vida pública, e sobretudo depois da Ascen­são. Ilusão da nossa pusilanimidade! Não pode-

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384 FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

mos, é certo, travar a roda do tempo para conser­var à natureza os seus encantos primaveris, para fazer do ano inteiro um Maio doze vezes maior. Mas podemos prolongar a juventude da alma atra­vés duma primavera sobrenatural que jamais fenece.

De que modo? Perpetuando na alma as flores e frutos que nela fez germinar o ambiente celestial do mês consagrado a Maria.

E como perpetuaremos essas flores desabro­chadas sob o olhar virginal de Maria, esses frutos de virtude sazonados ao calor maternal do Seu Coração? Não esquecendo nunca pelo ano além, recordando sempre pela existência fora, as lições que nos ensinou, as santas resoluções que nos ins­pirou este mês bendito de que hoje vimos saudosa­mente despedir-nos.

É assim que da flor da saudade germina o fruto da perseverança.

U

Quem perseverar até ao fim, esse é que será salvo (Mat, X, 22), nos diz o Mestre Divino. E, de facto, se para o homem se salvar, lhe bastasse começar bem, fàcilmente Judas se teria salvado, ter-se-ia salvado a maior parte dos réprobos. Mas quem lança mão ao arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus. (Luc. IX, 62). Por ou­tras palavras, sem a perseverança definitiva no bem não há salvação possível.

A perseverança final é um grande dom e um benefício singular de Deus. E se a graça divina não se pode merecer, muito menos a perseverança.

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que é a graça das graças, se pode atribuir a méri­tos humanos.

Para quem ama verdadeiramente a Deus, não há maior tormento do que não saber ao certo se O há-de gozar na eternidade. E, pelo contrário, a certeza de O possuir para sempre, seria já o pa­raíso em vida. É verdade que sem uma especial revelação, ninguém pode ter essa certeza absoluta. Contudo, não faltam indícios tranquilizadores de predestinação; e entre eles sobressai, sem dúvida, a sólida e sincera devoção a Maria, por isso mesmo que essa devoção é considerada como penhor de bem-aventurança.

Filho de Maria, herdeiro do Paraíso — é a sen­tença comum dos Santos. D esejas saber se tens o nome escrito no livro da vida? Vê se o tens escrito entre os devotos fiéis de Maria. É que, diz S. Jo ã o Damasceno, Deus só concede a devoção a Sua Mãe àqueles que resolveu salvar.

III

Mas se o dom da perseverança final se não pode m erecer, pode-se pelo menos suplicantemente alcançar.

E se Cristo é a causa meritória desta, como de todas as graças, Sua Mãe, a mãe dos predestinados e mãe da santa perseverança, é a sua causa impe- tratória. Não fora Ela a omnipotência suplicante, a tesoureira e medianeira de todas as graças 1

Para que veio Ela à Fátima senão para nos fazer participantes desse incomparável tesoiro, para nos comunicar o genuíno espírito de perseverança

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no bem ? E para que se apresentou Ela na Cova da Iria com o Rosário na mão, para que tanto incul­cou Ela a reza do Santo Rosário, o mais expressivo símbolo da perseverança na oração, senão para nos ensinar a orar como Cristo orou, eumdem sermo- nem dicens (Mat. XXVI, 44) repetindo perseveran­temente a mesma fórmula de oração?

E prometendo o céu ao vidente Francisco, porque fez Ela depender essa bem-aventurança da perseverante fidelidade em rezar o Terço, senão para nos significar que, sem a perseverança final na graça de Deus, não há salvação, e que para alcançarmos o tesouro da perseverança devemos também ser perseverantes em implorá-lo?

E para que prometeu Ela a salvação aos Seus videntes, senão para nos dar a entender que desse inestimável tesoiro também Ela é tesoureira, con­firmando assim com suas promessas a opinião tão comum dos maiores Santos, que em Maria vêem a porta do céu e na Sua devoção filial a mais segura âncora de salvação?

EXEM PLO

Flores de predestinação

Modelos consumados de perseverança no bem, sáo-no os ditosos videntes de 1917, que Maria favoreceu com a singula- rissima graça da perseverança final.

FRAN CISCO, nascido a 11 de Junho de 1908, carácter sossegado e despretencioso é o mais apagado dos três, mas não menos generoso. Durante as aparições era favorecido com as mesmas visões das suas companheiras, mas não lhe era dado ouvir a voz da misteriosa Senhora, e portanto era alheio ao diálogo. M as, sem os melindres próprios das crian­

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NA CONCLUSÃO DE MAIO 387

ças e apesar de todas as dificuldades que se levantam, perse­vera até ao fim no propósito de fazer a vontade da Aparição, nunca deixando incompleto o grupo durante as inefáveis entre­vistas da Cova da Iria.

A Senhora revela à Lúcia a predestinação de Francisco à bem-aventurança, «mas que devia rezar primeiro muitos terços». E desde então não passa um dia sem cumprir com esse dever sagrado, que o desejo da Senhora para ele era um dever. Mir­rado e esgotado pela doença, será tanta a sua fraqueza que não poderá levar o terço ao fim. Não importa : fará esforços sobre-humanos para o não deixar incompleto.

Ao serem em Fevereiro de 1952 exumados os seus ossos, foi ainda encontrado o terço, símbolo da sua perseverante ora­ção, enredado nas falanges descarnadas dos dedos.

Perseverante na reza do terço, não o é menos na resolução de guardar inviolável o segredo da Senhora, de que também ele era depositário. O despotismo dum régulo local prende-o, fecha-o no cárcere dos criminosos, sujeita-o à tortura do medo, ameaça até fritá-lo em azeite fervente, se não desvenda o mis­terioso segredo, se não promete romper com a Cova da Iria. E Francisco, criança de 9 anos, resiste a todas as solicitações e am eaças, persevera na recusa terminante e leva para a sepul­tura o segredo que tanto intrigava o Administrador do concelho e a famigerada seita de quem ele dòcilmente dependia.

A misteriosa Aparição convida os videntes a uma vida de constante reparação pelos ultrajes feitos è M ajestade divina e de expiatória im olação pelos pobres pecadores. J á vim os a espontaneidade e a generosidade com que ele abraçou essa vida e nela perseverou a todo o momento, sempre, até ao fim da sua existência, e como a recordava a suas companheiras e as estimulava a praticá-la.

O prémio não se fez esperar. Acrisolado pelo sofrimento duma prolongada enfermidade, que suportou sem uma queixa, sem uma impaciência, a privilegiada criança vai consumar o holocausto. Sabia que ia morrer e dizia-o a quem quer que lhe desejasse melhoras. A Mãe do céu que o viera visitar a ele e à irmã, ambos doentes, dissera expressamente que se aproximava o momento de vir buscar o Francisco. A 3 de Abril de 1919 recebe por Viático no leito de morte a primeira comunhão, que foi também a última e o passaporte para a Pá­tria dos bem-aventurados, pois, na manhã seguinte, sem agonia,

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sem um gemido, com um ligeiro sorriso nos lábios despediu-se desta vida para ir fazer companhia Àquela que muito antes lhe havia já arrebatado o coração.

JAC IN TA, nascida a 11 de M arço de 1910, é a inocência e a santidade em flor. Passa pelas mesmas provas do irmão e não é menos tenaz do que ele, nem menos perseverante na vida de piedade, e de fidelidade e de reparação. No venci­mento de si mesma foi duma constância indomável, bem supe­rior à sua idade. Melindrosa por natureza, egoista, amiga de dançar, empreendeu contra estes defeitos inatos e próprios da infância uma luta implacável e sem tréguas até triunfar comple­tamente de si mesma.

Encarcerada tam bém ,— uma criança de 7 anos na cadeia ! — amedrontada com a caldeira de azeite a ferver, e julgando o irmão já reduzido a torresmos, como lhe fizeram crer, não há ameaça nem promessas que a dobrem ; e o infquo Administra­dor está ainda â espera que o segredo lhe seja desvendado.

Criancinha ainda, vêmo-la já apaixonada por esse ideal de reparação e de imolação, que tivemos ocasião de admirar, e após o qual nunca se cansou de correr, fazendo da sua curta existência um holocausto de expiação, sobretudo pelos pecados da carne.

ainda antes do alvorecer da razão, era movida por u coce instinto de modéstia virginal ? — Num jogo das prendas é um dia mandada beijar e abraçar um primo. — •Isso não, manda- -me outra coisa , responde a inocente menina. Porque me não mandas b eija r aquele N osso Senhor que está a li? (Era um cruci­fixo suspenso da parede).

Se a expiação pelos pecadores era a sua grande paixão, Jesu s e Maria eram os seus amores. «Gosto tanto de N osso S e ­nhor e de N ossa Senhora que nunca me can so d e Lhes d izer que Os amo», são palavras suas. E noutras ocasiões não se cansava de repetir estas palavras duma piedade infantil: •fíi que S e ­nhora tão bonita», dizia ao recordar a visão da Cova da Iria. «Que boa é aquela Senhora ; já nos prom eteu levar para o c é u !»

E lamentando ter um só coração para A amar, uma só língua para A louvor, delicia-se em pronunciar o nome de Ma­ria, em rezar a saudação angélica e entoar cânticos à Virgem do alto dum penedo, no cimo dos montes, para que o eco lon-

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gínquo os repita e tome parte no mesmo coro de louvores à Mãe de Deus.

E Maria não foi insensível ao afecto tão carinhoso que Lhe consagrava. Mais duma vez veio visitá-la na doença, revelando- -Ihe que iria para o Hospital de Vila Nova de Ourém e depois para Lisboa, não para ser curada, mas para sofrer mais. E assim aconteceu, de facto. Jacin ta declara perentòriamente que é inútil operarem-na, porque vai morrer. A operação corre bem, mas poucos dias depois, a 20 de Fevereiro de 1920, com 10 anos incompletos, a sua alma não podendo resistir mais a essa nos­talgia divina que a ia consumindo, desprende-se do corpo e troca definitivamente a terra pelo céu.

O cadáver é trasladado de Lisboa para Vila Nova de Ou­rém em caixão de chumbo e aí hospedado, com o do irmãozi- nho, no jazigo dos Barões de Alvaiázere.

Quinze anos mais tarde, a 12 de Setembro de 1935, fazia-se a exumação. E o cadáver de Jacin ta vitimado por uma pleure- sia purulenta, com geral assombro é encontrado incorrupto, ape­sar de ter sido coberto de cal, e incorrupto ainda em 1951 ao ser trasladado para a Basílica.

E os restos mortais dos dois videntes, graças à carinhosa providência do seu Bispo, são trasladados para a Fátima, onde o augusto Antistite lhes mandara construir o branco sepulcro que os abriga, com este epitáfio, bem eloquente na sua sin­geleza :

fíqui repousam os restos mortais d e Fran cisco e Jac in ta

f l quem Nossa Senhor a apareceu

Q ue depressa se reconstituiu no céu, quase por completo, à volta de Maria, o grupo da Cova da Iria I

Foi assim que à força de fidelidade e de oração, mesmo sem saírem da infância, souberam conquistar a prometida coroa da perseverança final.

Bendita seja eternamente a Mãe dos predesti­nados. E para que Ela nos conte nesse número, num supremo arrebatamento de amor, de gratidão

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e de saudade, como despedida e como lembrança do seu mês, façamos-Lhe uma irrevogável consa­gração de nós m esm os:

Acto de Consagração

Dulcíssima Virgem e Mãe nossa, junto do Vosso altar e da Vossa imagem, testemunha das homenagens que durante este mês Vos tributámos, queremos exprimir-Vos toda a gratidão, que nos vai na alma e a infinda saudade destes dias em que sobre nós desceu o orvalho das bênçãos reser­vadas aos filhos da Vossa predilecção.

Foram deliciosos os momentos em que diante desse altar, derramamos no Vosso Coração as nos­sas súplicas, os nossos votos, as nossas alegrias e tristezas, as nossas esperanças e temores, as nos­sas consolações e as nossas mágoas e sobretudo o nosso amor filial. Sentimos que sobre nós poisava o Vosso meigo olhar e que com esse olhar vinha toda a Vossa predilecção de Mãe.

Deste Vosso altar nos despedimos, mas outro altar Vos erguemos que não Vos será menos que­rido, o altar vivo e palpitante do nosso coração, que será para sempre o Vosso trono de Rainha, Rainha das almas, Rainha dos corações. Nós Vos consagramos irrevogàvelmente os nossos corações para que estimulados pelas virtudes do Vosso, sin­tamos dia a dia arraigarem-se as que Vós neles plantastes, até produzirem os frutos de santidade que os tornem mais sem elhantes ao Vosso. E, re­cebendo como um património Sagrado a mensa-

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gem da salvação que do céu nos trouxestes à Cova da Iria, Vossos ficamos sendo desde esta ltora, Vossos irrevogàvelmente e Vossos para sempre.

Outro Acto de Consagração

Virgem Dulcíssima, que vieste à Fátima para nos mos­trardes quanto o Vosso Coração é sensível às nossas dores, e que, há 36 anos, ali patenteais os inefáveis arcanos da Vossa bondade, prostrado diante do Vosso altar com toda a minha família, eu Vos escolho por minha Soberana, Mãe e Advogado junto de Deus. Para sempre me consagro ao Vosso serviço com todos os que me pertencem, para que nos recebais entre os Vossos servos, nos acolhais sob a Vossa protecção, nos so­corrais na vida e mais ainda no momento da morte.

Não quero despedir-me de Vós sem Vos confiar quanto tenho e quanto sou. Eu Vos constituo hoje Senhora absoluta da minha casa e de tudo o que me pertence, Advogada dos meus interesses, Conselheira nas minhas dúvidas e dificulda­des. De tudo tomai conta e disponde de tudo segundo o Vosso beneplácito.

Abençoai-me e a todos os meus e não permitais que algum de nós tenha a desgraça de ofender o Vosso-Divino Filho. De- fendei-nos das tentações, livrai-nos dos perigos que nos am ea­çam, remediai as nossas necessidades, consolai-nos nas afli­ções, assisti-nos nas doenças e mais ainda nas angústias da morte.

Q ue Satanás não possa jamais gloriar-se de ter tido sob o seu domínio a qualquer de nós, sobretudo desde que a Vós nos consagramos.

E que esta consagração feita no tempo nós a possamos ratificar e consumar na eternidade, eternidade que desde já queremos também consagrar a bendizer-Vos e amar-Vos a Vós e ao Vosso Divino Filho. Assim seja.

O ração pelos sacerdotes, com o na pág. 22.

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APENDICE

NOVA SÉRIE DE EXEMPLOS

(Quando a fonte de informação tiver sido a Voz da Fátima, deixá-lo-emos indicado no final da narração com as iniciais V. F. e o seu respectivo número).

1. «O brfgado, S e nhora , p o is m e sa lvas te um sob rinho.»

Em Avanca (E sta rre ja ), foi a 28 de Abril de 1935 vítima de terrível desastre uma criança de 3 anos. D esse desastre resultou a fractura da base do crâneo com hemorrogia interna.

Acode-se ao médico, mas já sem esperança. O faculta­tivo limita-se a dar-lhe uma injecção de cafeína, proferindo esta sentença fatídica : <resta-lhe oida para poucas h o ra s : de cem difícil é vingar um».

Passadas vinte e quatro horas, outro médico, sem dar maiores esperanças, mandou se lhe deitasse gelo na cabeça.

Decorrem oito dias sem melhoras na criancinha privada do uso de todos os sentidos.

A medicina da terra nada mais prometia. Voltou-se então para a medicina celeste o Rev.° P .c Manuel Maria So ares, como ele próprio confessou, pedindo com fervor cada dia mais intenso a cura da criança. Para isso foi bater à porta da Virgem da Fátima, a celeste Enfermeira das alm as e dos corpos. E a criancinha logo a mexer-se, a queixar-se, a melhorar, a conva­lescer, até se encontrar livre de perigo, curada enfim.

Só ficou privada da vista esquerda, mas permanece nos seus a fé de que N. S . da Fátima lha restituirá.

<Para mim, escreve o Rev.° P .c Soares, fo i um milagre a salvação dessa criança... Por isso, ó Virgem, te reconheço

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[ 2 ] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

mais uma vez como Saúde dos enfermos... Do meu coração de crente a trasbordar de gratidão te d ig o : obrigado, Se­nhora, pois me salvaste um sobrinho».

2. M ovim ento re s titu íd o a um m em bro m irra d o .

Rosa Maria do Carmo Salsinha, de Bensafrim, concelho de Lagos, no Algarve, tinha um filho que, a partir dos 2 anos — mal começava ele a andar — , uma inchação do joelho es­querdo fazia claudicar sensivelmente.

Apesar do tratamento a que o sujeitou um distinto médico de Lagos, o mal foi-se agravando sempre, e, já com mais de 5 anos, o mocinho só conseguia andar de rastos, e a muito custo, sem poder sustentar-se nas muletas.

Por fim o médico declarou sein rodeios que para o mal dessa criança não havia cura. E mais para satisfazer às ins­tâncias da mãe é que aconselhou ao doente um aparelho de gesso e acabou por decretar a amputação da perua, yd mirrada.

Nessa altura começou a mãe a ouvir falar de assinaladas graças de Nossa Senhora da Fátima em favor dos doentes. E com lágrimas suplicou-Lhe também a cura do seu filhinho que a terapêutica da terra acabava de abandonar. Mandou logo vir du Cova da Iria uma pequena quantidade da água mi­lagrosa e começou a lavar com ela o joelho do filho. Ao ter­ceiro dia começam já a manifestar-se sinais de melhoria. D e­pois de uma semana já assentava o pé no chão e passados 15 dias já andava. E assim , progressivamente, depressa ficou por completo curado, sendo geral a admiração em Bensafrim.

Assim mostrou a Virgem da Fátima como a hora em que a medicina da terra se retira, é a melhor hora da Sua inter­venção.

3. D epo is de se d e s p e d ir dos v ivo s ...

Jo s é Albertino Alves Teixeira, de Lamas, concelho de Vila Real, adoeceu a 13 de Outubro de 1935, de grave hidropisia, chegando a tal ponto a inchação do corpo, que até os olhos ficaram sepultados sob a mesma inchação, sem nada poderem ver. O médico chegou a declarar incurável a enfermidade.

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NOVA SÉRIE DE EXEMPLOS [ 3 ]

Vendo-se o pobre doente com cinco filhinhos, todos de 8 anos para baixo, e um deles ainda por nascer, sem lhes poder ganhar o pão de cada dia, volta-se para Nossa Senhora da Fá­tima, pede-lhe com viva fé a saúde que a ciência humana lhe não podia dar, e promete, além duma novena de comunhões, ir pes­soalmente à Fátima agradecer a sua cura, se lhe fosse concedida.

Entretanto a enfermidade agrava-se, e o pobre doente, sentindo aproximar-se a última hora, manda reunir os filhinhos para os abençoar, mesmo sem os poder ver.

O sacerdote é chamado à pressa para lhe administrar os últimos sacram entos, sem excluir a Extrema-Unção. Recebidos e les , perde a fala e todo o uso dos.sentidos, ficando sete horas reduzido à condição de cadáver. E-lhe lido o oficio da agonia, metem-lhe na mão a vela dos moribundos e ... prepara-se já a mortalha.

<Pela madrugada senti que Nossa Senhora me curou*, confessa ele. «G rite i: estou curado !» e não quis tomar mais remédios.

Tão inesperada e extraordinária foi a cura que ninguém queria acreditar nela. E só a fraqueza do doente é que o obri­gou a ficar ainda alguns dias de cama, encontrando-se porém daí a pouco completamente são e bendizendo a sua celestial Benfeitora que o chamou da morte à vida.

4. «Ah 1 m eu pa l I Jé não m orro».

Maria C eleste, de 14 anos, filha de João dè Figueiredo M iroto, do lugar do Casaínho, C anas .de Sabugosa, foi atacada pela terrível enfermidade do tétano. E imediatamente chamado um distinto clínico de C anas de Sabugosa, que houve por bem se convocasse para uma conferência médica outro colega de Tondela.

Depois de larga observação resolveram fazer à doente o tratamento antitetãnico. M as o mal avançava assustadora­m ente; e o médico vê-se forçado a desenganar a família, de­clarando a enferma irremediavelmente perdida e anunciando o desenlace para a próxima madrugada.

O próprio clinico teve a hombridade de aconselhar o pai da menina a recorrer à terapêutica do sobrenatural, pois que da ciência humana nada se podia esperar.

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[4] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Foi ao valimento de Nossa Senhora da Fátima que ele espontâneamente se lembrou logo de recorrer. E com tanta eficácia o fez que justamente a hora calculada pela medicina da terra para o triste desenlace era a hora da intervenção de Nossa Senhora.

Efectivam ente, de madrugada, a menina abre os olhos para dizer com voz resoluta : «Ah! meu p a i; já não m orro!»

E não morreu, porque a Virgem da Fátima ouviu a prece aflitiva dum pai.

5. C on s tân c ia d ig n a de Im ltaç&o .

António Ribeiro, dos C asais da Abadia, freguesia d e Seiça , concelho de Vila Nova de Ourém, foi durante anos acerbamente torturado por atrozes dores reumáticas nas per­nas, a ponto de não poder trabalhar.

Debalde consultou três m édicos: a doença resistiu a todos os tratamentos.

Resolveu por fim, com grande sacrifício, pôr-se a caminho da Fátima. Ali orou confiadamente a Nossa Senhora, pedindo- -Lhe a libertação da sua enfermidade.

Voltando para casa, a certa altura do caminho, sente que todas as dores haviam desaparecido. Reconhecendo que estava em presença duma graça extraordinária de N. Senhora, para mais a assegurar, faz nesse instante a promessa de voltar todas as vezes que puder ao recinto bendito do Santuário da Fátima e de deixar lá de cada vez a esmola de 5S00, se as dores, que nessa hora sentia despedirem-se, não voltassem mais a tor- turá-io.

Escrevendo ein 10 de Março de 1933 para a V os d a F á ­tim a, confessava o agraciado da Virgem que haviam decorrido já 7 anos depois da promessa feita, e que não tornando a sentir as dores que o incomodavam, nunca mais deixara também du­rante todo esse septénio de fazer a sua peregrinação mensal à Cova d<i Iria. Regista apenas três excepções em sete anos, por ter o dia da peregrinação de Setem bro coincidido cora a festa do Sagrado C oração de Jesu s na freguesia, à qual, como associado do Apostolado da O ração, não podia faltar.

Assim correspondeu ele com a sua perseverança na acção de graças à perseverança da cura recebida de Maria.

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [ 5 ]

6. * Mãe I eu jã ve jo I >

Uma criança de 8 anos, Manuel Albino Vieira Guedes, da freguesia de Pedroso, concelho de Vila Nova de G aia, teve um dia o infortúnio de cegar dum dos olhos.

Foi em vão que durante 5 anos seguiu o tratamento mé­dico. A vista parecia perdida para não mais se recuperar.

A mãe, D. Maria do Céu Carvalho Vieira, perdida a espe­rança na ciência humana, volta-se definitivamente para Nossa Senhora da Fátima. E bem aconselhada andou na resolução tomada. Um dia o pequeno começou a ver... < M ãet eu j á ve jo /> exclamou ele radiante. E a primeira coisa que viu foi a imagem de Nossa Senhora da F átim a!

A graça confirm ou-se; e a criança nunca mais deixou de ver.

7. Nos se rtõ e s de A frlca .

As Irmãs M issionárias de S . Jo s é de Cluny residentes na M issão de Landana (Congo Português) anunciavam a 27 de No­vembro de 1932 para a Voz d a F á tim a que uma das suas indí­genas c. nvertidas, mãe de numerosa família, fora inesperada­mente preservada da morte, pela intervenção d eN .S . da Fátima.

Depois do nascim ento do último filhinho sobreviera-lhe um panarício num dedo, o qual não tendo sido devidamente tratado, infeccionara de tal modo a mão, que o dedo sobretudo estava já gangrenado.

Obrigada à força a acolher-se ao Hospital, o médico, exa­minando a mão, reconhece a necessidade de a amputar. E com muita sorte andava a doente, acrescenta ele, porque, se ela perm anecesse nesse estado mais uma noite, já não escaparia à morte.

As Religiosas começaram imediatamente uma novena a N.» S .“ da Fátima para obter a cura da pobre mulher sem se recorrer à amputação. E a essa novena sucedem outras nove­nas, em tão boa hora que não só se evitou a amputação da mão, m as até a do próprio dedo já atingido pela gangrena.

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[6] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

S. P e rseverança reco m p en sad a .

Leonilde B elo Ribeiro, de Aldeia da Mata, sofreu durante 14 anos um conjunto de doenças de que nenhuma intervenção médica conseguiu libertá-la : enterocolite, ovarite, dores car­díacas, reumáticas, etc.

Desenganada da ciência humana, voltou-se de vez para N.« S .* da Fátim a, à qual prometeu o cordão e medalha de oiro, em reconhecimento da cura que obtivesse.

A 13 de Fevereiro de 1939, durante a novena que há 10 anos vinha pontualmente fazendo todos os m eses, sentiu repentinas melhoras e no dia seguinte estava completamente curada de todas as doenças.

Assim recompensou Nossa Senhora com o benefício duma cura instantânea a perseverança com que durante dez anos se não cansara de a suplicar.

9. E ntre a v id a e a m orte .

No dia 5 de Agosto de 1939 Manuel Joaquim da Silveira, do lugar da Beira, Vila das V elas, na Ilha de S . Jo rg e , (Açores), mandou seu filho de 9 anos cuidar dumas vacas que trazia a pastar na sua propriedade.

Ao chegar, notou a criança entre as vacas do pai uma estranha que a elas conseguira juntar-se. Tenta expulsá-la; mas ela resiste e acaba por acometer com tal fúria a criança, que lhe introduziu uma das hastes pelo lado esquerdo, entre duas clavículas lombares. Com tanta infelicidade lhe rasgou os pulmões, que um deles veio a sair pela abertura interclavi- cular no meio de abundante hemorragia, juntamente com o ar ruidosamente expelido.

Chamado o pai ao local do sinistro, depois de introduzir o pulmão para dentro, liga a ferida, apertando-a com o próprio casaco, leva o filhinho para casa e aí volta a ligar a ferida coin uma toalha, até chegar a casa do médico, enquanto o ar conti­nuava a sair ruidosamente pelo pulmão rasgado.

O médico declarou aos desolados pais que era inútil qual­quer curativo, e por isso ou levassem a criança para casa, ou a deixassem no hospital, pois dificilmente chegaria à meia noite com vida. E les que escolhessem , onde devia morrer.

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [ 7 ]

Pediu ao médico que ao menos introduzisse o pulmão no seu lugar e cosesse a ferida para evitar a saída do ar que tanta aflição causava a quem a presenciasse.

Peita esta rápida operação, retiraram-se os amargurados pais com o filhinho moribundo. Ao passaram diante da igreja de Santa Ana, onde se venera uma linda imagem de N.° S ía da Fátima, pedem com viva fé a Santa Ana interceda perante sua Filha para que salve a criança moribunda, prometendo, se forem ouvidos, mandar prègar um sermão de acção de graças e dis­tribuir esm olas pelos pobres.

O céu não foi insensível a esta prece concebida no meio de tão grande aflição. A criança começa logo a melhorar e, com grande espanto do médico, dentro de pouco tempo estava sã e salva.

10. E sp eran do c o n tra to d a a esperança .

Maria da Visitação, natural do Souto da C asa, concelho do Fundão, ficou desde os três anos e meio com a fala presa em consequência de grave susto que lhe deram. Para articular palavra era necessário um esforço nervoso acompanhado de trejeitos e esgares que provocavam a zombaria de todos. Nessa humilhação permanente viveu até à idade de 26 anos, sem haver médicos que sequer lhe dessem a menor esperança de cura.

Em 1933, ao ter conhecimento de tantas graçes de N.a S .a da Fátima, acendeu-se-lhe o desejo de visitar o Seu Santuário, juntamente com a esperança e a certeza inabalável de ficar curada na hora em que bebesse de Sua água prodigiosa no próprio fontenário.

Lá se apresentou, pois, numa das peregrinações desse ano. DepoÍ6 de comungar, dirigiu-se para a fonte, conservando sem­pre viva e intacta a fé na sua cura.

Através de inúmeras dificuldades, conseguiu alfim abei- rar-se da torneira. Bebeu quanto pôde e a partir desse mo­mento ficou a falar claro e sem esforço.

Sendo, porém, muito nervosa, esse nervoso ficou ainda a reflectir-se na pronúncia. Nem por isso desanima. Sai da Cova da Iria com a resolução de lá voltar em acção de graças

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[8 ] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

e com a firme esperança de ficar definitiva e completamente curada nessa ocasião.

Assim aconteceu. Voltou à Fátima no dia 13 de Maio de 1938 e de lá saiu perfeitamente curada do defeito que desde criança a atormentara.

I I . Ao re p ic a r do «Ino ...

Anselmo de Sousa Pacheco, da Beira, ilha de S . Jorge , Açores, tinha um filho de 16 anos atacado de grave paralisia, a ponto de nem poder levar à boca qualquer alimento.

Os pais chegaram a convencer-se que o enfermo nunca mais voltaria a andar.

Entretanto vêem em Nossa Senhora da Fátima o último refúgio da sua esperança. A Ela recorrem com uma fervorosa novena, ao mesmo tempo que vão dando ao paralítico algumas gotas de água da Fátima.

Chega o dia 13 de Outubro. À hora em que na igreja se fazia a devoção à Virgem da Fátima e no momento preciso em que se dava a Bênção do Santíssimo, ao repicar do sino, o pa­ralítico, até ai sem movimento, senta-se na cam a! E ao cabo de poucos dias estava radicalmente curado.

12. Um novo p ró d ig o .

E screve de C ristelos, Lousado, para a V oz d a F á tim a uma senhora a anunciar que tinha o pai no Brasil, há 19 anos, onde levava uma vida indigna, esquecido da família e dos seus deve­res. Nenhuma esperança havia já de resipiscência e muito menos do seu regresso ao lar.

Um dia, mais do que nunca preocupada com a sorte do pai, sente reanimar se-lhe a confiança em Nossa Senhora da Fátima a cujos pés se prostra suplicante, começando num dia 13 de Março uma fervorosa novena.

N esse dia sua mãe escrevia para o Brasil ao marido uma carta deitando-lhe a filha umas pequeninas gotas de água da Fátima. O prodígio não tardou a realizar-se.

No dia 20 de Abril seguinte o extraviado pai regressava ao seio da família.

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NOVA SERIF. DE EXEMPLOS [ 9 ]

13. M ila g re da ora ç fio , m ila g re da ob ed ld nc ia .

A Irmã Maria Isabel de Jesu s Crucificado, Religiosa Do­minicana, residente no Sanatório de Parede (Lisboa) adoeceu em 1937 de grave mastoidite, que o especialista declarou re­querer urgente intervenção cirúrgica.

* Passava os dias e as noites, escreve ela, sempre com dores insuportáveis, sendo continua a supuração pelo ouvido, nariz e até pela boca... Não podia baixar a cabeça, parecia-me ter nela um grande peso. De noite quase não dormia nem deixava descansar quem comigo ficava.

Dias depois, tendo-se declarado ligeiras melhoras, o espe­cialista prescreveu um tratamento encaminhado a ver se se evitava a operação.

Durante um mês que durou esse tratamento, a doente não deixou de fazer novenas a Nossa Senhora, deitando todos os dias no ouvido água da Fátima, enquanto rezava o Lernbrai- - Vos, ou três Ave-M arias.

A Superiora manda-lhe fazer a promessa de ir pessoal­mente à Fátima agradecer a sua cura, se a alcançasse.

Mas em Abril agrava-se a enferm idade; e no dia 23 de­clara o especialista que urge fazer-se a operação, para que não sobrevenha uma meningite.

A operação é marcada para o dia 18 de Maio. Nesse inter­valo a enferma faz outra novena à Virgem da Fátima com toda a fé da sua alma, no intuito de evitar a operação que lhe inspi­rava muito medo e horror.

Na véspera do dia marcado, despede-se da comunidade, vai à capela dizer a N.° S ." da Fátima que tudo ficava espe­rando dela, ainda mesmo na hora da operação.

E com essa esperança deu entrada no Hospital. No dia seguinte, 18 de Maio, às 10 horas é levada à sala das opera­ções. Depois de preparada quis ainda o médico examinar o ouvido mais uma vez. E depois de minucioso exame, diz es ­pantado ; «O ouvido está bom h

• — Se o Sr. Doutor vé que não é precisa a operação, não se faz>, diz uma das Religiosas presentes.

«— Minha Senhora, o ouvido está bom /» repete o médico. Outro clínico, filho do primeiro, examina por sua vez o ouvido e declara também que nada encontra.

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[10] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

O médico manda-a desligar e sair da marqueza, para ali mesmo lhe d izer :

«— Sabe a quem tem de agradecer ?><—A' Mãe do Céu, que tanto lhe pedi», responde ela.Ambos os médicos a felicitam e lhe pedem que reze

por eles.A virtuosa Dominicana fica mais oito dias em Lisboa, du­

rante os quais fica ainda diariamente observada pelo médico.

Curada embora, a Religiosa havia ficado surda, mas ple­namente resignada. É que ao pedir a Nossa Senhora a sua cura, dissera-Lhe expressam ente que não se importava de ficar surda.

Voltando ao seio da comunidade, a Superiora manda-lhe que, por obediência, peça também a Nossa Senhora a cura da surdez. A obediente religiosa volta aos pés de Maria e diz-lhe com filial confiança : 'O s meus Superiores querem que eu ouça. Eu Vos peço mais essa graça, minha boa Mãe».

E a partir dessa mesma tarde começou a ouvir perfeita­mente.

14. PSo e tra b a lh o .

Daniel da Silva Quintas, residente na freguesia de S . Vítor, da cidade de Braga, encontrava-se sem trabalho, havia 8 para 9 m eses, e por isso muito aflito com a sua triste situação.

A 13 de Maio de 1940 ouvia pela Rádio as aclamações que na Fátima se faziam à Santíssima Virgem ; e teve a inspiração de unir as suas orações às de milhares de peregrinos, que nesse dia bendiziam a Virgem da Fátima no Seu Santuário, a fim de que ao menos nesse dia lhe fosse encomendado algum trabalho de que pudesse ir vivendo. E logo impelido por uma força invencível foi à loja para onde costumava trabalhar.

Qual não foi o seu espanto ao ser-lhe logo ali encomen­dada certa quantidade de obra que lhe forneceu trabalho para 45 dias e outras tantas noites ? E não ficou por aí a interven­ção de Nossa Senhora, porque desde essa data (13 de Maio de 1940) até 27 de Dezembro de 1941, em que escreve para a Voz da Fátima nunca mais lhe faltou trabalho em casa.

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [11]

15. In s ta n tfln e o • sem d e ix a r ves tíg io s .

Jose fa Gonçalves de Moura, de M ontalegre, alarm ara-se ao aparecer-lhe no exterior do nariz uma ferida negra, que temeu fosse um cancróide, por ser no mesmo sitio em que seu pai e um tio tiveram essa repugnante e incurável chaga.

A apreensão crescia à medida que a ferida suspeita ia tomando maior vulto.

No meio de tão angustiosa situação ia conhecendo mui assinalados favores com que a Virgem da Fátima continua­mente beneficiava a tantos necessitados.

Resolve por sua vez iniciar uma novena à mesma Senhora a fim de se ver livre de tão alarmante ferida.

Decorrem os oito primeiros dias e nada de novo. No último dia levanta-se cedo e vê ao espelho uma vez mais a ferida e o seu estado cada vez menos lisonjeiro.

A’s 6 horas vai para a Igreja Matriz, onde costumava fazer a n ovena; e, acabada esta, apalpou o sítio da ferida e notou que havia desaparecido. Alvoroçada com tão alegre sur­presa, vai para casa e com o auxilio do espelho vê que não só havia desaparecido a repugnante ferida, mas que nem sequer o mais ligeiro vestígio lhe deixara !

E mais do que nunca jubilosa prorrompe em sinceras acções de graças à generosa Benfeitora da Fátima.

16. D ep ois de sen te n c ia d a p o r um a ju n ta m éd ica ...

O caso pas6a-se em Julho de 1922 a bordo do transatlân­tico C an a d á que navegava de Lisboa para Nova-lorque.

Uma criancinha síria, filha de pais católicos, adoecera com a febre tifóide. Fez-se todo o possível para a salvar. Por fim reune-se a junta médica, constituída por quatro clínicos de vá­rias nacionalidades, que declararam ser impossível a criança escapar. De facto já nem falava, nem dava sinal algum de vida. A mãe e o pai andavam como que loucos de dor, a ponto de este, na sua alucinação querer lançar-se ao mar, o que de-certo teria feito se o não agarrassem.

A bordo viajava também uma senhora inglesa, Miss C. B arres, que vivera 11 anos em Lisboa e que consigo levava um pouco de água da Fátima. Pediu ao médico licença para dar

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[12] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

uns golinhos espaçados dessa água à criança. <Pode dar, res­pondeu ele, mas creia que ela está condenada. Nào passa desta noite. Amanhã já não verá a luz do dia». A sentença foi confirmada pelos quatro.

A boa senhora, comovida pela dor dos pais, recorreu fer­vorosamente à Virgem da Fátima, suplicando-lhe com instância não deixasse expirar a criança. E mais alguém rezaria tam­bém, porque a ansiedade dos passageiros era bem sensível, tem erosos de que .o vapor ficasse de quarentena no caso de a criança morrer.

Com a água salvadora a vida da criança reanimou-se, as melhoras foram-se lentamente acentuando, e pouco depois a menina, continuando a tratar-se 110 Hospital de Providence, estava boa de todo (V. F. n .° 4)

17. C om Agua e te rra d o lo c a l da s A parlçS es.

Joaquina de Jesu s Patrícia, casada, de 70 anos, do lugar da Chainça, freguesia de Santa Catarina da Serra , tinha desde criança uma ferida de carácter herpético, rebelde a todos os tratamentos.

Debalde consultou vários médicos. E os banhos da Aze­nha, perto da Amieira, por eles aconselhados, só serviram para agravar o mal.

O marido aflito e compadecido da esposa, recorre com toda a fé da sua alma a N.a S .8 da F átim a; e com inabalável confiança vai ao lugar das Aparições, traz de lá uma pouca de terra, que misturou com água. A mulher colocou uma única vez essa mistura sobre a ferida e a perna ficou logo instantâ- neamente curada (V. F. n.° 12%

18. Com água da Fátim a .

T e resa d eJesu sM a rtin s.d e 19 anos, casada, residente em Lisboa, na Avenida das Cortes, contraíra uma tuberculose pul­monar, com fortes hemoptises, que deixaram alarmada a família.

Os médicos prescreveram-lhe os tratamentos da praxe, inclusivamente a saída de Lisboa, e tentaram até interná-la no Sanatório de Portalegre.

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [13J

Por fim internada no pavilhão de tuberculosos n.o 5, do Hospital do Rego, no Campo Grande, impossível foi acomo- dar-se ali à vida de hospitalizada.—Tinha chegado a um estado de extrema fraqueza e de palidez cadavérica.

Entretanto, tendo-lhe sido dado um fresquinho com água da Fátima, ao mesmo tempo que se davam a conhecer as curas extraordinárias operadas por Nossa Senhora, sentiu uma tão grande confiança nEla, que, debulhada em lágrimas, se pôs a invocá-La, fazendo-Lhe várias prom essas para o caso em que a curasse.

Todos os dias, e cada vez com mais fervor, renovava as suas súplicas, recitando o terço e tomando desde o primeiro dia algumas gotas da água.

Apenas bebia um golinho e fazia as costumadas orações, as pontadas desapareciam quase por encanto, sentia-se aliviada e bem disposta.

Nunca deixou de rezar o terço, o que alguns dias fez duas e três vezes.

Pouco depois haviam passado as hemoptises, ao cabo de três semanas desapareceram as pontadas e no fim dum mês estava completamente curada.

O médico, ao vê-la pouco depois na sua presença tão transformada, forte, gorda, corada e aparentando uma saúde esplendida, não pôde dissimular a sua surpresa. Observou-a com toda a atenção e declarou-lhe que, tendo-a julgado perdida, a achava agora completamente curada, o que reputava inexpli­cável, quer se considerasse o estado desesperado em que a vira, quer a rapidez com que se efectuara a cura.

Éis o atestado assinado pelo distinto clínico de Lisboa a 15 de Janeiro de 1923 e devidamente reconhecido :

Atesto que a Sr.a D. Teresa de Jesus Martins, de 19 anos de idade, natural de A-dos-Cunhados, concelho de Torres Ve- dras, fc i por mim tratada em Junho e Julho de 1922, de tuber­culose pulmonar com hemoptises, febre oesperal, emagreci­mento, suores nocturnos; hoje não subsistem sinais clínicos dessa doença.

E por ser verdade passo o presente que assino e juro pela minha honra (V. F. n.° 8.)

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[14] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

19. A n tíd o to ab en çoa do .

Em Câmara de Lobos, ilha da Madeira, existia um alcoó­lico inveterado, escravo do terrível vício da aguardente que de­pressa lhe arruinou o organismo e o levou ainda novo à sepul­tura, no ano de 1924.

Ainda na sua última doença, apesar de todas as proibi­ções médicas não podia conter-6e que não se propinasse o mortífero veneno.

Uma vizinha sugeriu à sua amargurada esposa que, sem ele dar por isso, lhe misturasse na p o n ch a algumas gotas de água da Fátima.

Assim o fez a mulher. Da primeira vez ainda a tomou, mas â segunda, quando ela lha trazia, manda o doente que lhe desapareça com a bebida para longe da vista, pedindo-lhe e recomendando-lhe que nunca mais lha tornasse a apresentar, ainda que ele teimasse em pedi-la.

Dias depois era o filho quem lhe levava para casa uma garrafa da malfadada aguardente. Logo que o enfermo a viu sobre a mesa mandou arrojá-la pela janela fora.

Mas a intervenção de Nossa Senhora foi ainda mais além. O infeliz há dez anos pelo menos que não frequentava a Igreja, parecendo decidido a morrer impenitente, pois a quem quer que lhe falasse de sacramentos só respondia com evasivas.

Mas logo que bebeu a p o n ch a com água da Fátima, man­dou chamar o pároco e por várias vezes se confessou e comun­gou até que morreu na paz do Senhor ( V. F . n.« 28).

20. A o ito d ia s da e te rn ida de .

Jo s é de Oliveira Carvalho, casado, de 27 anos, natural de Adaúfe Braga) e residente no Porto, foi em 1923 acometido de mal de Pott lombar.

Depois das várias vicissitudes da doença e das várias tentativas médicas para o curar, radiografado enfim e desco­berta a gravidade do mal, um especialista de doenças ósseas dá à família o prazo de oito dias para um desenlace fatal.

Sua piedosa esposa, ouvindo falar das graças extraordi­nárias de N.a S.« da Fátima, mandou vir água do local das Apa­rições com algumas medalhas que logo colocou ao pescoço do

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [15]

doente e do seu, e ambos animados por uma ardente fé, come­çaram a pedir assiduamente a Nossa Senhora a graça da suspi­rada cura.

E Nossa Senhora ouviu-os! A esposa havia dado ao doente uma colher de água da Fátima. E antes de vinte e quatro horas rebentava um inedonho tumor que se havia formado sobre a espinha dorsal.

Mandado tomar banhos de sol numa praia, o doente tanto enfraqueceu a princípio que só tinha pele e ossos e aspecto de moribundo.

Alarmada a esposa, chegou na exaltação da sua fé, a con­tratar um automóvel que com urgência o levasse à Fátima para aí ser curado por um milagre fulminante de Nossa Senhora. Mas não foi necessário recorrer a esse expediente extremo, porque inesperadamente o enfermo começou a m elhorara olhos vistos, de modo que no fim de sete semanas a cura completa era um facto inexplicável para os médicos que não saíam da sua admiração.

D essa cura passou o médico assistente, a 20 de Janeiro de 1925 um atestado reconhecido pelo notário, em que, depois de relatar a evolução da doença, assim se refere à última f a s e :

<Passa-se mais dum mês sem que as melhoras se come­çassem a manifestar. Nesta ocasião um outro colega especia­lizado em doenças ósseas visita o doente e dá à família um prazo de oito dias para um desenlace fatal. Poucos dias depois o doente experimenta melhoras extraordinárias, quase subita­mente. D esaparece a febre, a fistula deixa de supurar, o doente começa a alimentar-se optimamente, a mobilidade da perna di­reita faz-se sem esforço, as dores lombares cessam, e o doente em poucos dias pede para se levantar, e, em pouco mais de um mês, tinha readquirido o seu bom aspecto primitivo, sem o menor defeito ou incómodo.

Por ser verdade passo este atestado que assino sob pala­vra de honra*.

21. A n es tes la n te ce le s tia l.

Na praia de Ancora (M inho) encontrava-se gravemente enferma de reumatismo gotoso num pé Alexandnna Cutelo.

Retida no leito durante dois m eses, é indiscritível a atro­

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[16] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA PATIMA

cidade das dores que teve de suportar, a ponto de um dia cha­mar o médico assistente, Dr. Jaim e de M agalhães, para lhe pedir, no meio do seu desespero, remédio que a aliviasse, cus­tasse ele o que custasse.

<Nào h à m a is rem éd io qu e lh e p o s s a dar, foi a resposta ; o reu m atism o é g o to s o , tem muito qu e s o fr e r >. s

Lembrou-se, finalmente, d eN .^ S^ d a Fátima e a Ela recor­reu cheia de confiança. Lavou o pé, que estava muito inchado, com água do local das Aparições. E qual não é o seu espanto e o seu agradecimento ao ver-se no dia seguinte completamente curada, sem nunca mais sentir uma d o r ! O pé, que estava muito inchado, ficou imediatamente como o outro que estava são.

Cura admirável sobretudo pelo seu carácter instantâneo! (V . F . n.° 45).

22. S u rg e et am b ula .

Ao dissolver-se a grande peregrinação nacional de 13 de Maio de 1926, pôde a multidão apinhada junto da capelinha das Aparições presencesr uma das mais comovedoras manifesta­ções do poder de Maria.

Ali se encontrava D. Helena Violeta Pereira da Silva e Sousa, moradora na Rua do Alto de Vila, 318 — Foz do Douro, senhora de 27 anos, que em consequência dum envenenamento de arseniato ficara lastimosamente paralisada dos pés e das mãos.

Ao aproximar-se da Imagem, colocada já no seu pedestal, a paralítica sente-se repentinamente curada, e arrancando-se dos braços robustos dos servitas que a amparavam, vai ajoe­lhar em fervorosa acção de graças diante da sua celestial Ben­feitora.

Depois, levanta-se e corre à Penitenciaria para aí adorar a Jesu s Sacramentado e agradecer-Lhe diante do Seu Taber­náculo a graça duma cura tão extraordinária.

E enquanto a multidão aclama frenèticamente a Virgem poderosa, D. Helena é conduzida ao posto de verificações mé­dicas, onde vários facultativos a examinam pormenorizadamente e verificam esse novo efeito do poder sobrenatural de Maria. (V . F . n.o 45'.

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [17]

23. «Lá é qu e estava a m inh a saúde».

Jo s é Rodrigues Vala, de 37 anos, morador em Ribeira de Baixo, Porto de M ós, foi para o Brasil em 1910, onde teve uma pleuresia, cuja gravidade se manteve durante 5 m eses. Sofreu três operações, tendo-lhe sido amputados três pedaços das vér­tebras, de sete centímetros cada um.

Em 1915 volta a Portugal, abrindo-se-lhe de novo a ferida sete anos mais tarde e recaindo num estado mais grave do que o primitivo.

O médico declarou-lhe que era impossível melhorar. Fez- -Ihe a punção e disse-lhe que teria de renovar a operação todos os m eses. Outro médico de Leiria declarou-lhe que a pleure­sia era crónica, e que a nova operação que se impunha não era para lhe trazer melhoras, mas simplesmente para lhe extrair o pús que de outro modo corromperia a pleura e passaria ao pulmão. Acrescentou que um curativo diário se lhe tornava indispensável durante toda a vida.

< Vi pois, conclue ele, que não tinha mais a quem recorrer, senão à Virgem N.a S .a da Fátima... Chegando-se o dia 13 de Maio de 1924, a muito custo deoido ao meu estado de fraqueza, me pus a caminho da Fátima, mas esperançado que lá estava a minha saúde e que lá obteria a graça de ser ouvido».

A supuração era extraordinária e contínua; mas no dia da ida à Fátima não saiu a mais pequenina humidade de pús.

< Vendo eu que o milagre fo i táo claro, fiz promessa de ir, enquanto puder agradecer a N ossa Senhora o favor recebido. De então para cá g ozo de boa saúde*, escreve ele a 12 de Abril de 1925.

O médico, por sua vez, em atestado de 28 de Setembro de 1924, confirma toda a evolução e gravidade da doença con­cluindo com estas eloquentes palavras :

<E como a pleuresia purulenta de que o observado sofria, por todos os característicos que apresentava, se podia consi­derar como incurável, é para considerar misteriosa a interven­ção havida que levou a doença a uma transformação tão com­pleta para cura próxima» ( V. F. n.°» 33 e 43).

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[18] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

24. C urado, c o n v e rtid o e fe ito ap ó s to lo .

João Ramos, de 58 anos, residente em Lisboa, na Rua C as­telo Branco Saraiva, 70 r/c. D ., esteve 5 anos entrevado, con­sequência da queda de um andaime, sem poder fazer o mais leve movimento. Consultou 16 dos melhores especialistas, sem conseguir sequer minorar os seus padecimentos.

Depois de 40 dias de hospital recolheu a casa, sem mais esperança de cura.

Não tinha fé, vivia na mais completa apatia religiosa, não tendo recebido os sacram entos desde que se casara, como quem diz, há cerca de 30 anos, trabalhando sempre sem respeitar do­mingos nem dias santos.

O desastre veio reduzi-lo a uma lastimosa imobilidade, a ponto de nem sequer poder levar a mão à testa para fazer o sinal da cruz, e criou nele um estado permanente de revolta contra a doença.

Em Julho de 1925 começou, m as s ó p a ra com p ra ze r a alg u m a s p e s s o a s , a tomar água da Fátima. D epressa desistiu.

Em Março, porém, do ano seguinte voltou a tomá-la e .,. logo à primeira colher sentiu que podia mover-se na cama. Dias depois pediu o fato, vestiu-se e conseguiu dar alguns passos. A pouco e poucO, apoiado na bengala, foi-se mexendo cada vez mais.

A’ medida que melhorava, aumentava a sua gratidão a Nossa Sen h o ra ; e começou logo a preparar-se para receber os sacram ,-ntos, aprendendo o catecismo e buscando as dispo­sições salutares a que a graça divina o ia estimulando.

Foi progressivamente melhorando, e acabou por andar sem auxilio de bengala e com a maior ligeireza. Recebeu os sacramentos na sua freguesia (de Santa Engrácia) com a maior devoção, continuando depois a recebê-los com certa frequên­cia. Comove-se sempre que fala de Nossa Senhora e entrou na Congregação do Imaculado Coração de Maria (para a conversão dos pecadores) de que é Director o bem conhecido P .e Cruz, que na prática desse dia fez uma comovedora alusão à cura miraculosa do novo associado.

Para tornar conhecida a cura apresentou-se na Voz d o O perário , de que fora sócio fundador, para declarar que a sua saúde fora recuperada por intervenção de N.a S .* da Fátima. Recusaram publicar-lhe a declaração.

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NOVa serie de exemplos [19]

Convocou, então, uma assem bleia de sócios que votaram peia publicação; mas o jornal manteve a recusa.

Recorreu ao Século, que lhe aceitou, sim, a publicação, mas suprimindo o que podia comprometer os princípios da sua ortodoxia laica.

O empenho do neo-convertido em que a sua cura fosse de preferência narrada nesses jornais, era para a dar a conhecer no meio em que eles tem mais fácil entrada.

O simpático operário tornou-se verdadeiro apóstolo depois da sua conversão, fazendo quanto pode para desviar as almas do caminho das trevas que ele trilhou, exortando os seus cole­gas a não trabalharem ao domingo e exercendo com os infe­lizes toda a sua caridade.

25. C uran do o In cu ráve l

Antoninho, de 4 anos, filho de Jo s é Martins da Cunha Viana, da freguesia de Cardielos (Viana do C astelo) foi em Agosto de 1926, atacado de febre tifóide.

Submetido à medicação habitual, tudo correu sem inci­dente a princípio. Mas começando a rarear as visitas médicas e sobrevindo certo descuido no regimen alimentar, chegou um din em que o doente foi considerado irremediàvelmente per­dido, apresentando uma peritonite generalizada. A’ menor pressão sobre qualquer ponto do abdómen, saía pelo cordão umbilical um pús extremamente fétido, e em tal quantidade, que chegou a atingir cinco ou seis litros. Era o sintoma infalível da ruptura intestinal. Chamado apressadamente o médico assis­tente, encontra, como ele próprio escreveu : < Temperatura 35°,5, pulso filiforme, estado g era l aterrador>. Diante de tal espectáculo, diz à família que o caso se tornara absolutamente incuráoel, que considerava o pequeno irremediàvelmente per­dido e que não encontrava na medicina meio de o salvar.

<Fiz conhecer à familia, atestou ele, o estado desespe­rado do doente. Para uma interoenção cirúrgica era dema­siado tarde>.

O s pais, que iam já no quarto dia duma novena a N.a S .n da Fátima, ao ouvirem a fatídica sentença da ciência humana, com as lágrimas nos olhos, com redobrada fé e fervor pros- tram-se aos pés da Virgem da Fátima, intensificam as suas

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[20] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

preces e formulam a promessa de no próximo mês de Maio irem ambos à Fátima com o menino, se ele vivesse, e de lá comungarem em acção de graças.

«As o r a ç õ e s d o s p a is tinham s id o o u o idas. O doen te curou-se c om p letam en te», assim termina o médico o seu ates­tado, assinado em Viana a 23 de Abril de 1927 (V . F ., n.° 57).

26. «Nenhum a te ra p ê u t ic a pe d ia fa z e r um a cu ra t f io com p le ta» .

Rosa Maria Ribeiro Trancoso, de vinte e dois anos, natu­ral de S . Tomé do Vade, Ponte da Barca, vítima duma dolorosa úlcera gástrica, não teve a sorte de encontrar na medicina nem alívios, nem melhoras. Hospitalizada durante dois m eses em Ponte da Barca, não foi ai mais feliz.

O médico aconselhou-a a traslader-se para o Porto, onde devia ser operada. Aí permaneceu meio ano numa família de­dicada e de excelentes sentimentos cristãos, mas sem se poder decidir a fazer a operação que lhe inspirava indizível repugnân­cia. O s médicos, que a trataram, foram unânimes em reconhe­cer a necessidade impreterível da operação.

Chegando a um estado de alarmante debilidade, preferiu a doente, apesar de todas as dificuldades, ir buscar a saúde à Fátima. E na Fátima a encontrou, efectivam ente, a 13 de S e ­tembro de 1926.

Esteve em jejum até às 13 horas, depois de ter comun­gado e assistido à missa dos doentes com bastante sofrimento. Nenhuma modificação sentiu à Bênção dos enfermos. Mas à Bênção geral do povo sentiu-se repentinamente curada, não voltando a ter sintoma algum de doença.

E ’ o parecer tambéin do médico assistente, assinado a 11 de Dezembro de 1926 em Ponte da Barca, e devidamente reco­nhecido.

<H oje e s tá com p letam en te cu rada , escreveu ele, n ão h a oen d o nenhum a terapêu tica qu e p u d esse fa z e r um a cura t ã o com p leta , s en d o n ece s s á r io adm iíir a in teiv en ção dum p o d e r so bren a tu ra l p a ra ex p lica r o fa cto» .

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [21]

27. «Os s u rd o s ouvem ».

Surdez inveterada era a de Joào Marques de Carvalho, de Escalos de Baixo, concelho de Castelo Branco, que, desde os 17 anos até aos 66, fora a sua principal cruz.

A intervenção de vários médicos durante a sua atribulada vida não conseguira minorar o mal.

Em 1926 pòe-se a caminho da Fátima, para aí, aos pés de Nossa Senhora, lhe pedir com viva fé no fim da sua vida, o que durante ela não pudera dar-lhe a terapêutica humana. Queria ao menos morrer com bons ouvidos quem sem eles tivera de viver. E prometeu logo voltar à Fátima no ano seguinte, se já pudesse levar os ouvidos abertos.

E, ao voltar da peregrinação, disse para sua mulher que Nos6a Senhora não queria ouvir a sua prece. E la, porém, que o acompanhara à Fátima recomendou-lhe que não desanimasse. E começaram ambos uma novena a Nossa Senhora, deitando cada um dos nove dias nos ouvidos algumas gotas da Sua água.

<No fim dos nooe dias, escreve ele, ainda me encontrava no mesmo estad o ; mas no décimo dia senti um estalo no ouvido direito, e no dia seguinte o mesmo aconteceu no es­querdo, e fiquei a ouvir distintamente até agora».

O atestado médico de 15 de Junho de 1927, devidamente reconhecido, confirma a realidade da doença e da cura (V. F. n.° 6 1 ).

28. Os coxo s andam .

Joaquim Ramos, factor de l . a c lasse dos Caminhos de Ferro , residente em Braço de Frata, descreve assim na Voz da Fátima N.o 67 a cura prodigiosa com que Nossa Senhora o agraciou.

<No dia 27 de Dezembro de 1926... escorreguei ao sair da porta da minha casa, cai duma varanda para a rua e parti a perna direita pelo artelho, ficando o pé separado da perna, apenas seguro pelos tendões e pele, e ficando os ossos da cana partidos, sendo de pronto transportado... para o Hospital deS. J o s é . .. Três dias depois tinha a perna com uma infecção e principio duma seticémia, estando quase durante os primeiros trés m eses em perigo de vida.

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[22] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

C om o a p ern a s e n ã o p o d ia a g u en ta r com o a p are lh o d e ex ten são , p o r ter qu e s e r tra tad a to d o s o s d ia s du as v ez es , n ão e ra p o s s ív e l qu e o p é lig a s s e à p ern a ; e assim s e c o n s e r v o u , d o is m ese s d e s lig a d o , a té qu e em M arço ligou , m as fo r a d o seu lugar.

C om o j á n ã o tinha esp eran ça na v ida, nem tão p o u co qu e o p é l ig a s s e à p ern a, e co m o m e v isse c a d a v ez p io r e a fe b r e sem p re en tre 39°,5 e 41° d ev id o a o es ta d o d e p u tre fac çã o em qu e tinha a p ern a, e sc rev i um a c ar ta a o m eu m éd ico ... p ed in do qu e m e c o r ta s s e a p ern a, a fim d e sa lv a r a vida>.

Nessa altura entra em cena a esposa do doente para lhe dizer:

<Pede a N .° S . ‘ d a Fá tim a , qu e n ão h á s-d e m orrer».<Não ten ho e sp eran ça nenhum a j á na vida».<Pede a N .“ 5 .“ da F á tim a ... qu e tenho muita f é n e la.

Tu é qu e n ã o tens f é nenhum a e é p o r is s o qu e te n ão a ch a s m elh or>.

E assim foi resistindo até ao dia 16 de Abril em que deixou o Hospital preferindo ir acabar em sua casa o resto da vida.

Dia 12 de Maio. Imensa gente que ele vê partir para a Fátima. E volta a mulher a dizer-lhe:

<— O ’Joa q u im , v a i tan ta g en te p a ra a F á t im a ! Quem m e d era ir tam bém h

E, no dia seguinte, ao ver os comboios que passavam atu­lhados de peregrinos, volta a mulher com a mesma observaçáo e a mesma aspiração da véspera.

De ambas as vezes o doente mal humorado só teve uma resposta de irritação e desespero : que fosse à vontade para a Fátima e o deixasse em paz.

Nesse mesmo dia 13 lhe tinha proibido o médico de se levantar da cama. Mas ele, cerca das 11 horas, teima em se levantar e chama pela mulher (que não fora à Fátima) para que o ajudasse a vestir e transportar para uma cadeira.

Apesar da proibição do médico, a pobre esposa acabou por ceder à teimosia do marido.

<Muito rez ou n e ssa n oite (de 12 para 13) a o red o r dum a pequ en a im agem e com um a pequ en a luz, a m inha m ulher /> escreveu ele comovido.

P ela s trés h o ra s d a ta rd e sen ta d o na c a d e ir a sen ti um g ra n d e fo rm ig u e iro na p ern a p artid a e f iz na m esm a o c a s iã o e s fo r ç o p a ra m e levantar, o qu e fiz sem m uita d ificu ldade e

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [23]

sem auxilio de ninguém... Lembrei-me de pedir as muletas à minha mulher para oer se já podia andar só com uma e encos­tado à grade da varanda. É j à nâo fo i preciso ! Comecei a andar e assim percorri uns 40 metros com as muletas na m ão sem fazer uso delas.

O feliz ferroviário havia sido instantâneamente curado, graças à fé e às orações da esposa.

Seguiu-se a irresistível cena de lágrimas que sempre traduz a psic< logia das grandes consolações.

E , um ano depois, a 13 de Maio de 1928, lá estavam ambos na Fátima em acção de graças, levando a piedosa esposa o seu cordão de oiro a Nossa Senhora, como penhor de gratidão, conforme a promessa feita.

• Nunca pensei que hoje fosse vivo e considero-me o homem mais feliz do mundo». São as palavras com que ele remata a sua patética narração.

29. Os m ud os fa lam .

A treze de Dezembro de 1928, pelas nove horas da manhã no Posto das verificações médicas da Cova da Iria desenrola-se uma cena impressionante.

Maria dos Santos, de 16 anos de idade, natural de Laga- relhos, concelho de Vinhais (Trás-os-M ontes) acompanhada de seu pai, Vicente Ferreira Fernandes, e ladeada de numerosos peregrinos, conta a história da sua doença e da cura que nesse instante acabava de se operar.

Adoecera há cinco anos e, apesar de tratada por dois dis­tintos médicos, um de Vinhais, outro do Porto, nunca mais con­seguiu recuperar a saúde. Após longo e rigoroso tratamento, a ciência humana, declarou-a incurável.

A 13 de Junho de 1927 perde a fala e fica de todo paralí­tica. A sua alimentação fica reduzida a um pequeno bocado de pão que ingere, de 24 em 24 horas, algumas vezes substituído pelo sumo duma laranja.

Constantemente deitada num colchão ao pé da lareira, ali, dia e noite, aguardava resignadamente a morte.

A’ sua aldeia, tão chegada â fronteira norte do país, mal havia chegado o eco das maravilhas operadas na Fátima desde

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[24] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

1917. Entretanto a doente não cessa de implorar confiada- mente a bondade da Santíssim a Virgem.

Por meio de sinais manifesta à família o desejo de ir em peregrinação à Fátima. O s pais, sem recursos pecuniários para essa viagem, opõem-se com muito pesar. Mas a pobre enferma nem por isso renuncia às suas aspirações. Pessoas amigas abrem uma subscrição na sua aldeia e nos arredores e juntam-se os meios necessários para a viagem do pai e da filha.

No dia 11 de Dezembro iniciam a viagem, carregando o pai com a filha paralítica e muda. No dia 13, pelas oito horas da manhã, transpõem o recinto da Cova da Iria e, sem mais de­mora, prostrada diante da imagem da Virgem, a enferma suplica com fervor a sua cura.

Instantâneamente os seus males desaparecem . B reves minutos depois de penetrar no local das Aparições estava curada, como por encanto.

Exultando de júbilo, mas serena e inalterável, percorre por seu pé e com a maior facilidade em todas as direcções a Cova da Iria, com apetite devorador e fala como se nunca tivesse sido muda ('P . F . n.o 76).

30. «O s c e g o s vêem ».

D. Maria Augusta Dias, de 50 anos, moradora em Alter do Chão, começou em Junho de 1928 a perder lentamente a vista, acabando por ficar totalmente cega no dia 16 de Janeiro de 1929. Levaram-na a Lisboa, onde foi sucessivamente exa­minada pelas quatro principais competências médicas da capi­tal. Cada um dos especialistas por sua vez declarou irreme­diável a doença depois de exame demorado e escrupuloso.

A Voz da Fátima N.o 78 publicou o parecer escrito de cada um dos quatro oculistas e descreveu pormenorizadamente a génese e a evolução da doença, com o feliz desenlace da cura inesperada.

<Pode calcular, escreve o genro da doente, S r . Manuel M aia, que a acompanhou a Lisboa, pode calcular o desaponta­mento em que fiquei depois de ouvir as opiniões de quatro mé­dicos, reputados os mais hábeis e inteligentes, os quais eram unânimes em afirmar que a doença não tinha cura, demons­trando além disso conhecê-la a fundo porque eles próprios

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NOVA SERIF. DE EXEMPLOS [25]

descreviam os seus sintomas mais insignificantes com uma precisão matemática».

M as a doente tinha uma fé inabalável em N.° S .° da F á ­tima. Por isso o genro mandou vir uma vasilha de água da Fátima que no dia 30 de Janeiro chegava ao seu destino. Logo no dia 31 à noite a ceguinha lavou os olhos com essa água ma­ravilhosa. Nos 3 dias seguintes repetiu a operação ; à quarta loção encontrou-se repentinamente curada !

Foi indiscritível a alegria que se apoderou de toda a famí­lia e a admiração de toda a vila que logo teve conhecimento do prodígio.

31. «B end ita fé qu e de ta n to m e valeste».

A 9 de Março de 1926, próximo da estação de Canas de Senhorim, — B eira Alta — em plena estrada deslisava veloz­mente na sua motocicleta um conhecido médico, Dr. Acácio da Silva Ribeiro, que um desastre instantâneamente projectou do seu veículo fracturando-lhe uma perna em dois ponto6 e dei­xando os dois ossos reduzidos a sete bocados, fracturando-lhe também uma clavícula e um metacarpo, e abrindo-lhe ainda na região parietal direita uma ferida de oito centímetros interes­sando todos os tecidos moles até ao osso, e duas de menor extensão, uma na região frontal, outra na occipital.

A hemorragia da perna era enorme <e bastaria, escreveu ele , para me causar a morte em poucos minutos, se tivesse perdido os sentidos e não tivesse podido prestar-me os primei­ros socorros*.

<Momento terrível em que julguei chegada a minha hora, pois, como médico, não supunha possível a vida, senão por instantes... Momento mais solene da minha vida, em que, na iminência de prestar contas a Deus, olhei o passado, de relance, num consciente receio do julgamento final /»

Invocou então a N.a S .* da Fátima, fazendo-lhe uma pro­messa em <éxtase de piedade e devoção inexcediveis», pedindo lhe acudisse e conservasse a vida.

Pouco mais ou menos no mesmo instante sua esposa, ainda a distância, mas já informada do desastre, ajoelhava na estrade e de mãos postas e olhos no céu pedia a N.a S . da F á ­tima a vida do marido, fazendo-Lhe, igualmente, a sua promessa.

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26] florilégio ilustrado da fãtima

Ele próprio, com extraordinária coragem e sangue frio, se prestou os primeiros cuidados, enquanto o não transporta­ram para o seu consultório, onde dois colegas lhe fizeram o primeiro tratamento de desinfecção, ao mesmo tempo que ele, na plena lucidez do seu espírito, mandava chamar o Rev. Vigá­rio de Oliveira do Conde para lhe administrar os sacram entos. Lembra-se de ter iniciado a sua confissão por estas p alav ras: <Nào se i se serei oivo daqui a meia hora*, e de ter passado o resto da noite a rezar a N.a S ." da Fátima e a fszer-Lhe pro­messas.

Na manhã seguinte foi transportado no comboio, sempre de maca, para o Hospital da Universidade de Coimbra.

Fala ainda o consciencioso clínico :< Apesar de todas as circunstâncias sépticas em que se deu

o desastre (todas as feridas em contacto com o que havia de mais infeccioso), contra a expectativa de todos, contra o que costuma acontecer em casos de gravidade infinitamente menor, com enorme surpresa minha e de todos os colegas, não houve a menor infecção, não houve febre / . ..

Como se explica este facto, com o se interpreta à face da ciência ? Como se compreende, comparando o com o que cos­tuma acontecer ?

ã com a circunstância concomitante de que uma infecção era quase sinónimo de gangrena, e por tanto de amputação da perna, visto que existia já uma hematoma enorme na região em volta da fractura que o E x . S r . Dr. Bissaia Barreto calculou em 8 a 10 decilitros de san gu e!

Mas há m a is : a ferida da região parietal cicatrizava 3 dias depois, bem como as outras duas... Ao décimo dia... apesar de ter fracturado o terceiro metacarpo, passei um ates­tado a um doente.

— Fui operado por 3 vezes, estando no Hospital da / . “ vez cinco meses, sem poder deslocar-me para qualquer dos lados durante muito tenipo; tive um aparelho de extensão continua que me fe z sofrer imenso ; tive dois aparelhos gessados, etc., etc. E atravessei todo este calvário da minha vida, sem uma palavra de protesto, sem um momento de desânimo, ou de re­volta, conservando a melhor disposição de espirito e sofrendo com uma resignação santa tão larga e dura provação. Será isto humano ? Será isto possivel sem um auxilio sobrena­tural ? i

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [27]

— Eu que me julgava muito feliz se escapasse, mesmo sem a perna... oejo-me sào e satoo, com a perna, sem claudi­car, sem o menor embaraço, podendo fazer a minha vida nor­mal e educar meus filhos !

Oh / bendita crença ! Bendita fé que de tanto me valesteh (V .F . n .°61 ).

32. T ra n s fo rm a ç ã o ou res s u rre iç ã o ?

Joaquim Duarte de Oliveira, residente em Lisboa, na Avenida Fontes Pereira de M elo, 16, como atrás referimos (pág. 145-147) jazia há 8 anos no leito, para não di/.er no túmulo da sua enfermidade.

Consultara as maiores sumidades clínicas de Portugal e do estrangeiro, os especialistas de maior nomeada, experimen­tara um sem-número de tratamentos. E apesar de todos os esforços, dedicações e bou vontade dos médicos, só viu agra­var dia a dia a enfermidade, acabando por lhe atingir as pró­prias faculdades mentais.

Por fim caiu em profunda crise de melancolia e misantro­pia, fugindo de todo o convívio humano, ensimesmando-se no mais completo isolamento, aborrecendo o trato de qualquer pes&oa que não fosse a esposa. A essa esposa dedicadíssima e sacrificada, que foi para ele a mais desvelada mãe e enfer­meira, presta homenagem de admiração, como a Anjo tutelar da sua enfermidade.

Assim se foi extinguindo toda a sua vitalidade física e moral, tendo-se os médicos por sua vez retirado, por verem baldados os seus esforços, aguardando a morte dum momento para outro, como desfecho natural e lógico duma doença sem cura nem alívio.

Por outro lado, — ele mesmo o confessa —, a sua religio­sidade era muito frouxa, muito fria mesmo. E não era no seu estado de quase inconsciência e duma vida puramente vegeta- tiva que as suas crenças iam despertar.

Nas vésperas do dia 13 de Outubro de 1927, essa esposa solícita e piedosa recorre à intercessão de N." S .» da Fátima em favor do marido, faz-Lhe as suas prom essas, e, sem que ele o percebesse, fez-lhe beber água da Fátima. Ao mesmo tempo deixava-lhe ficar junto do travesseiro o número da Voz da Fã-

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[28] FLORILF.QIO ILUSTRADO DA PATIMA

tima, em que vinha narrada a palpitante cura do médico de N elas, Dr. Acácio da Silva Ribeiro, resumida no exemplo pre­cedente (N.o 31).

Há tantos anos incompatibilizado com qualquer leitura, sente agora um impulso irresistível que o obriga a ler. Lê, sente renascer a sua fé, rasgam -se as trevas do seu espírito, e sem plena consciência do que fazia, no dia 12 de Outubro pede espontâneamente a N.» S ." da Fátima que o cure, como curara aquele médico.

<Desta oez, escreve ele, o deferimento dos meus rogos e dos rogos de minha esposa fo i rápido. E se o despacho fo i rápido, a cura fo i fulminante*. Sente-se outio, física, moral, mental e religiosamente transformado. Pas;-a no mesmo ins­tante a alimentar-se de tudo. sein que o seu debilitado orga­nismo se ressentisse do brusco abandono duma dieta de tantos anos.

No dia seguinte entra plenamente na vida normal, reto­mando o fio dos negócios e ocupações interrompidas há 8 anos. No mês seguinte já vai à Fátima agradecer a Nossa Senhora o benefício da sua cura completa e instantânea.

Em sua almu opera-se ao mesmo tempo uma sólida e pro­funda renovação de fé, que o faz reconhecer como Deus •infi­nitamente grande, infinitamente sábio e infinitamente bom, é também infinitamente poderoso para fazer num momento aquilo que em anos não pôde conseguir a limitada e falioel ciência humana. E o credo que era para mim uma oração quase oazia de sentido, irrompe-me hoje irresistivelmente dos lábios num brado de fé uiva e ardente* ( V. F. n.° 64).

33. C urada d u ra n te o sono.

Maria Pereira So ares, de 56 anos, solteira, de Guilhufe, concelho de Penafiel, sofria desde 1916 a fins de 1928 de dores atrozes do estômago e intestinos, obrigada a rigorosa dieta.

Os medicamentos receitados não tiveram outro resultado que não fosse um agravamento maior da doença. Chegou a ponto de não poder dormir e de nada poder digerir, nem sem­pre o leite misturado com água.

A esperança na ciência humana naufragou por completo. E , perdida ela, só lhe ficou a confiança em N.» S ." da Fátima à

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [29]

qual recorreu com uma novena de terços, missas e comunhões e com a promessa de lhe dar a importância que houvesse de gastar com o Raio X , se por ele se houvesse de tratar.

Ao sétimo dia da novena sentiu-se pior, deitou-se ator­mentada pelas dores, m as... adormeceu — o que há m eses não conseguia—, para só despertar de manhã. E despertou com­pletamente curada, e definitivamente, a 27 de Novembro de 1928.

Até aí não sabia a natureza da doença, pois o médico lha ocultara para não a alarmar. Só depois de curada é que lhe disse ter uma gastrite ulcerosa e uma enterocolite grave, con­forme escreveu no atestado que lhe passou a 2 de Janeiro de Fátima N.° 79.

<Este estado gravíssimo. que afastava toda a esperança de cura e que fazia prever a morte a curto prazo, modificou-se instantâneamente a 27 de Novembro de 1928, desaparecendo as dores e sentindo a doente uma acentuada enforia, com a petite que lhe permitiria uma alimentação variada, absoluta­mente inadequada ao seu estado anterior. Considero-a abso­lutamente curada>.

34. In an im ad o e com a e te rn id a d e à v is ta .

Na cidade de Aveiro adoecia gravemente em Março de 1928 com enterocolite e bronquite Gumerzindo Henriques da Silva, 1929, reconhecido pelo notário e publicado também na Voz da de 18 m eses. Apesar de todos os cuidados e carinhos do mé­dico, piorava de dia para dia.

Depois de 15 dias de doença declarou-se-lhe uma bronco- -pneumonia que tirou ao médico todas as esperanças de o sal­var dando aos pais a certeza da sua morte.

Quando o médico se retirou, já a criança agonizava, per­dendo a respiração e a temperatura. O frio da morte apos­sara-se dele, estava gelado, não dava sinal de vida.

N essa hora tétrica em que a mãe vê diante de si, quase inanimado, o seu filhinho, no campanário ressoam compassadas Ave-Marías. Essas badaladas lembram-lhe alguma coisa que não é da terra e convidam-na a uma ardorosa prece pela vida do tilhinho. se a vida ainda palpitava n ele...

E repentinamente foge-lhe o pensamento para N." S .* da Fátima. E tomando uma garrafa de água da fonte bendita das

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[30] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

Aparições, começa logo ali com o marido e a madrinha do me­nino uma novena à Virgem da Fátima, prometendo levar o filhinho moribundo à Cova da Iria, se ele fosse restituído à vida. E no mesmo instante passa pelos lábios inanimados da criança uma gota da água prodigiosa. E, maravilha da graça e da intervenção bondosa de M aria! ao contacto dessa água bendita, a criança, que se julgaria morta, abre os o lh o s ! A mãe, redobrando de confiança, passa-lhe ainda pela testa e pelas faces os dedos humedecidos na água da Fátima. E nesse instante sente o filhinho recobrar lentamente o calor vital, read­quirindo passados poucos minutos todas as suas faculdades e começando a falar, como se nada se tivesse pa66ado.

O médico, como que desorientado, não sabe explicar o que v ê ; e auscultando na manhã seguinte a criança, que de vés­pera deixara a expirar, acha-a completamente curada da bronco- -pneumonia (V . F . n .° 80).

35. C ho ra nd o , c a n ta n d o e rezando.

Maria dos Anjos Nunes Pereira, da Murtosa, contava 18 anos quando em 1925 foi vítima dum terrível ataque que a deixou sem o uso da razão.

Os ataques, de carácter epileptóide, sucedem-se com fre­quência e a infeliz moça é levada para o Porto, onde as crises se repetem, alguma vez durante 24 horas seguidas.

A medicina declara incurável a enfermidade. Em repeti­dos ataques se passaram quatro longos e dolorosos anos. E ... não havia mais que esperar. Em momentos de serenidade en- tretinha-se a ler a Voz d a Fá tim a . E sem desfalecimento, pede que a levem à Cova da Iria.

Fez-se-lhe a vontade. A 11 de Agosto de 1929 é levada em braços para o combóio. Viagem tormentosa e agitada, em consequência das cenas dos ataques e das fúrias da demência.

Chega a Fátima no dia 12. O desarranjo mental, que a todos inspirava compaixão, não permitiu que a conservassem no pavilhão. E ’ conduzida para o hospital e levada de novo para o pavilhão, momentos antes da Bênção do Santíssimo aos doentes.

Tinha os olhos fechados ; não via. A servita perguntou- -lhe ao ouvido se desejaria ver Nossa Senhora. Foi como se

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [31]

lhe dessem um choque eléctrico. Responde afirmativamente; abre os olhos.

Trouxeram-lhe a imagem. A servita ergue nos braços a doente, que ao ver a imagem bendita, começa a suplicar a sua cura em alto6 gritos de fé e de aflição, que tocaram as raias do delirio.

E desprendendo-se dos braços que a amparavam, corre por seu pé atrás da imagem, chorando, cantando e rezando.

E a cura opera-se inesperadamente.E continuou cantando, rezando e chorando; rezando e

cantando os seus hinos de louvor à Virgem da Fátima, chorando lágrimas de gratidão à Saúde dos enfermos (V . F . n.o 98).

36. Nova c o rre n te de v id a .

D. Emília de Jesu s Marques, de 32 anos de idade, natural de Lousada, diocese do Porto, é doente desde os 15 anos e passou os seis últimos de cama.

Apesar da dedicação e zelo do médico assistente, Dr. J o a ­quim Hermano Mendes de Carvalho, e dos múltiplos e prolon­gados tratamentos a que se submeteu, o seu estado foi-se agravando mais e mais. A sus magreza era extrema A sua palidez a dum cadáver. A paralisia é completa do lado es­querdo.

E ’ nesse crítico estado que resolve ir à Fátima. Viagem penosíssima. Na Fátima passa sem descanso nem alívio, no meio duma agonia torturante as noites de 11 para 12 e de 12 para 13 de Maio de 1929.

Conduzida em maca logo de manhã, para o Pavilhão do6 doentes, aí espera a hora da missa e da Bênção Eucarística dos enfermos, orando fervorosamente. Parecia uma defunta, afirma a servita que lhe assistia.

Ao meio dia solar, quando a imagem de Nossa Senhora aos ombros dos servitas assoma no limiar do Pavilhão, a pobre doente sente qualquer coisa que não sabe ex p licar: as dores desaparecem-lhe como por encanto, a todo o lado esquerdo pa­ralisado volta o movimento e a vida, sente que pode caminhar desembaraçadamente por seu pé. E é sem auxílio de ninguém que se encaminha para o Posto de verificações médicas, onde expande a sua alegria e gratidão a Nossa Senhora.

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[32] FLORILÉGIO ILUSTRADO 3A FATIMA

Ali recebe a visita do S r . Bispo de Leiria e de vários mé­dicos que detidamente a examinam, intervindo na conferência que se segue o médico assistente, já mencionado.

E a Virgem Santíssima foi uma vez mais reconhecide e aclamada por todos os corações agradecidos como a verdadeira Saúde dos enfermos ( V. F . n.w 81 e 83).

37. Com a m o rta lh a ao lado .

Eliseu da Silva Prazeres, de 14 m eses, natural da Louri- nhã, adoeceu repentinamente, sendo complicada a sua doença. Todos os esforços para a debelar iam resultando estéreis e a criança perdeu completamente a vista.

O médico por fim diagnosticou febre tifóide e meningite tuberculosa declaradissima, pronunciando a sua sentença de morte irrevogável.

Reuniu-se ainda uma conferência médica, sendo todos os facultativos unânimes na confirmação do diagnóstico feito. Para dissipar toda a dúvida, fez-se a punção raquidiana.

A sorte da criança estava d ecretad a: só o milagre a salvaria.

Quando assim se desespera dos recursos humanos é que a esperança numa intervenção sobrenatural renasce e a con­fiança em Deus se consolida e purifica, porque não há mais em quem confiar.

Assim recorreram os pais da criança a Nossa Senhora da Fátima com toda a fé da sua alma, bem convencidos de que era essa a única porta a que podiam bater, e fazendo-Lhe as pro­m essas que a sua aflição lhes inspirava.

A doença arrasta -se ; e um mês depois o enfermo já não dava sinais de vida. A mortalha chegou a estar ali ao lado do berço.

Uns dias mais e o menino volta a si, e os pais não são defraudados na sua esperança, reconhecendo que não é em vão que se vai à Fátima, mesmo quando só o coração e o espírito lá podem ir.

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Em 1931 comunicava o P .e Jo ào de Miranda S . J . , à Voz d a Fá tim a , o seguinte caso que fielmente transcrevemos.

«Uma Senhora já de avançada idade, após várias fases duma pertinaz doença,., chegou a ser declarada morta. J á os circunstantes a pranteavam e começava a circular a notícia do seu passamento, parecendo confirmá-la entre outros sinais o arroxeado cadavérico dos lábios e das extremidades dos dedos.

Lembrando-se a filha dum prodigioso caso deste género por mim narrado no mês de Maio, ...com fé viva invoca também ela em favor de sua mãe a protecção de N.a S ." da Fátima e ... deita-lhe nos lábios umas gotinhas (de água da Fátima).

Apesar de não notar alteração alguma, nem por isso de­sanima. Intensifica mais ainda a sua confiança e com mais ardor repete a súplica, deitando pela 2.° vez outras gotinhas nos lábios da mãe». Nenhuma reacção ainda da parte da doente.

Longe de desanim ar,... concentra em si toda a energia do seu afecto para com as duas mães, e, com todo o fervor de que foi capaz, invoca em transe tão angustioso a M ãe do Céu em favor da da terra, deitando-lhe pela 3.®vez outras gotinhas nos lábios ressequidos.

Afinal a constância e a confiança triunfaram.Mal haviam aquelas últimas gotas humedecido os lábios

da mãe, quando o inferior faz uma dupla contracção...A’ maneira de quem se espreguiça, ( a doente) vai suave­

mente distendendo os braços, e , pouco a pouco, todo o corpo, pa­recendo que a vida ia lentamente tomando posse dos membros...

Instantes depois reabria os olhos, com um olhar vago, que ia tornando mais consciente, a té ... reconhecer as pessoas e poder... falar-lhes.

E o que é mais, as melhoras foram-se constantemente acentuando, e a doente só espera a necessária restauração das forças para poder ir assistir a uma missa em acção de graças a N.‘ S .- da Fátima» ( V. F . n.» 118).

39. C on tra-ven en o sa lvad or.

No B rasil, conta o P .e Manuel de Azevedo Mendes à Voz d a F á tim a de 13 de Novembro de 1932, N.o 122, uma pobre S e ­

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[34] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

nhora, levada pelo desespero, lembra-se de ingerir certa dose de veneno para se suicidar.

Uma sua amiga, zelosa propagandista da devoção a Nossa Senhora da Fátima, ao saber que o médico dera por irremedià- velmente perdida a desditosa criatura, ficou profundamente consternada.

Veio-lhe logo à ideia acudira essa infeliz com umas gotas de água da Fátima. M as, receando com isso dar mau exemple, ficou pedindo a Nossa Senhora que, ou frustrasse com a sua intervenção de Mãe o efeito mortífero do veneno, ou inspirasse à suicida um sincero arrependimento do seu pecado, que ao mesmo tempo fosse uma salutar reparação do escândalo.

Enquanto assim orava, sente que lhe batem à porta, a pedir por misericórdia um pouco cie água da Fátima.

A infeliz, já quase a expirar, bebeu essa água. Bebeu, e o veneno suspendeu a sua acção mortífera no organismo, sal­vando-se uma vida, e Deus queira também que uma alma.

40. A cha ve d o en ig m a .

De Cochim, índia, escrevia em 1932 à Voz da Fátima N.o 127, o distinto médico Dr. P. George para relatar o se ­guinte fe c to :

Fora chamado a um rapaz atacado de febre tifóide com tão graves com plicações, que sentiu faltar-lhe a coragem para tomar a responsabilidade da sua cura. Com esse receio suge­riu ao pai que acudisse a qualquer outro médico.

A família, porém, insistiu para que ele, e não outro, tomasse o cuidado do doente. O piedoso médico teve de se resignar, mas experimentou a necessidade de confiar o delicadíssimo caso à Saúde dos enfermos.

Começou pois a tratá-lo, cuidadosa e conscienciosamente, espantando-se de6de o princípio ao ver a rapidez e a facilidade extraordinária com que o rapaz ia melhorando, verdadeiro prodígio clínico, porque os s in tom as eram d o s p io res . E não pôde deixar de manifestar aos pais o seu assombro.

A chave do enigna não tardou ele a descobri-la. Reve- velou-lhe a mãe que navia administrado ao filho água de N .*S ." da Fátima, enquanto fazia uma novena a essa boa Mãe para que os medicamentos do Dr. George surtissem efeito :

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [35]

E conclui o médico a sua narração com estas admiráveis p a lav ras:

‘ Estou convencido de que houve aqui uma intervenção es­pecial de N.a S .a da Fátima, sem a qual, estou plenamente con­vencido, o meu trabalho teria sido completamente inútil. Agora sinto-me feliz por poder apregoar, como médico, a todos os meus amigos a valiosa protecção da Mãe de Jesus*.

41. U m a su rp re sa pa ra a m e d ic in a .

Na cidade de S . Salvador, capital do Estado Brasiliense da B aía, D. Libania B astos da S ilva, vira surgir-lhe num dos seios um tumor canceroso. A operação cirúrgica, com a completa extracção do seio invadido, foi o único remédio que a salvou.

Mas 4 anos depois novo tumor da mesma natureza apa­rece do mesmo lado. O mesmo clínico que da primeira vez a operara declara-lhe que para idêntico mal idêntico remédio era necessário aplicar. Nova operação a salva do maligno tumor, mas deixa-a completamente excarnificada de todos os músculos adjacentes.

Outros 3 anos decorrem e terceiro tumor aparece, mas agora no outro seio. O médico não hesita em proclamar a ne­cessidade duma terceira operação. Mas a doente é que não acaba de se resolver. Cruelmente descarnada dum lado em que estado ficaria se lhe fizessem o mesmo do outro ?

Perplexa, no meio de grande angústia, sem saber que de­cisão tomar, interpõe o recurso a N.a S .a da Fátima, pedindo- -Ihe a cura sem operação e fazendo uso da sua água abençoada. S e r. mais tratamento, em quatro dias o tumor desaparece por completo com indizível alegria da doente, e com inexprimível surpresa do médico, que a intima a dizer-lhe como é que fo i possível eliminar sem operação o tumor, e tão ràpidamente. ( V. F. n.o 128).

42. C a p ric h o qu e cede, raz fio qu e tr iu n fa .

Na cidade rle S . C arlos do Pinhal, Estado de S . Paulo, B rasil, um rapaz, presidente duma Congregação Mariana, expu­sera a seu pai o ideal de vocação religiosa que o atraía.

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[36] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

O pai mostrou-se hesitante a principio. Mas, influído por terceiros, começou a opor-se tenaz e pertinazmente ã vocação do filho.

Ao ver desse modo contrariados os seus projectos, o rapaz, sabendo bem até onde chega o poder da intercessão de N.“S .a da Fátima, é para Ela que se volta, solicitando insistentemente a Sua maternal intervenção.

Para vencer a contumácia do pai, inicia o filho uma fervo­rosa novena a Nossa Senhora, com missa e comunhão desde o primeiro ao último dia.

Justam ente ao nono dia da novena, quando à volta da missa entrava em casa, lá o esperava o pai, e apontando-lhe para uma carta colocada sobre a mesa de trabalho, diz-lhe: • vê lá e s s a car ta o qu e diz>.

Era dum tio seu, aliás bem afastado da Religião, que infor­mado das intenções do sobrinho, resolvera por própria inicia­tiva escrever ao pai para lhe dizer que não devia opor-se à vocação do rapaz, a fim de não ficar com a responsabilidade do infortúnio que sempre resulta duma vocação contrariada. E prontificava-se a correr liberalmente com todas as despe­sas, no caso em que a oposição do pai resultasse da falta de recursos.

Tanto peso tiveram essas inesperadas ponderações no ânimo do pai, que retirou desde logo o 6eu o eto ao plano do filho ; e este pouco depois encontrava-se em Friburgo no No­viciado da Companhia de Jesus» (V . F . n .° 136).

43. Ao re c e b e r a BdnçSo d o S an tíss im o .

Nair Estrela Brito, de 21 anos, solteira, residente no Porto, Rua Antero de Quental, tendo contraído uma tuberculose pul­monar, apesar de examinada e tratada por dois médicos, che­gou a tal ponto de fraqueza que nem já levantar-se da cama podia.

Em última instância apela para Nossa Senhora da Fátima e incorpora-se na peregrinação que a 12 de Outubro partiu da C apela de Nossa Senhora dos Anjos para a Cova da Iria.

Ao chegar foi transportada em maca para o hospital e carinhosamente tratada por médicos e servitaè.

N o d ia segu in te , escreve e la .. . fu i c o lo c a d a na a la d o s

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [37]

enfermos para a i receber a Bênção de Nosso Senhor, que se dignou ouoir os rogos de Sua Mãe Santíssima em meu fauor.

Com efeito, por ocasião da Bênção do SS. Sacramento, senti não se i que transformação em mim, que intimamente me julguei curada. J à não mais necessitei de amparo para cami­nhar, cessou a tosse, com ecei a comer com apetite e tomei parte em todos os actos que os peregrinos praticaram no regresso.

Entre estes correu logo a fam a de que tinha sido miracu­lada e que se tornava necessário publicar sem demora esta grande graça. O Director da peregrinação opôs-se a isso, impondo a espera de três meses pelo menos e neva consulta aos médicos que me haviam tratado antes da cura.

Feita essa consulta foi-me dito pelos referidos médicos que podia bem levantar as mãos em acção de graças, pois não viam em mim vestígio algum da doença que me levaria em breve espaço de tempo à sepultura (V. F. n.o 156).

44. Boa v on ta da a c e ite e a cu ra em tro c a .

D. Laura de Freitas Filhó, de Loulé, começou em Janeiro de 1934 a sofrer duma úlcera no maléolo, bastante infectada e, no dizer do médico, de aspecto pouco tranquilizador.

São-lhe receitados banhos de sol, muito repouso e desin­fectantes.

Tratou-se a úlcera durante 5 m eses sem resultado.Chega o tempo da peregrinação de Maio à Fátima, e ela

inscreve-se também, apesar de todo6 a dissuadirem.Na Fátima andou a pé todo o dia 12, enquanto se pôde

aguentar.No dia 13, depois de ouvir missa e comungar, quis ver o

pé, que havia 48 horas não tratara.Ao desligá-lo, vê-o horrivelmente inchado e infectado.

Pede um pouco de água do fontenário, lava com ela a chaga, põe-lhe um penso, liga de novo o pé, calça uma alpargata e vai para o cimo da grande escadaria da Basílica donde assiste a todas as cerimónias.

As im pressões colhidas nesse dia nunca mais se apagarão do seu espírito. A vista, porém, dum sacerdote que ali pas­sava amparado por duas pessoas, impressionou-a e comoveu-a

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[38] l-LORILEQIO ILUSTRADO DA FATIMA

a tal ponto que, depois de ter chorado e rezado por ele, esque­cida de si e não tendo mais que oferecer, prontifica-se diante de Nossa Senhora a aceitar para toda a vida a enfermidade do seu pé em troca da cura daquele sacerdote.

E não voltou a ver o pé, senão no dia seguinte às 9 horas da manhã para o ver completamente curado.

Apresenta-se depois ao médico que verifica com assombro e confirma a realidade da cura.

Nossa Senhora aceitara lhe a boa vontade da sua oblação e restitui-lhe em troca a saúde. Bem-aventurados os que pelos outros se esquecem de s i ! í' V. F . n.o 164).

45. O «Magnlflcat» d e s a b ro c h a n d o em lâ b lo s pa de cen te s .

Em carta de 20 de Janeiro de 1935 escreve de Ponta D el­gada, capital da ilha de S . Miguel, do arquipélago açoriano, D. Maria dos Anjos Rodrigues :

«Visitei a 1 de Setem bro de 1929 o Santuário da Fátima. Regressando a minha casa, adoeci algum tempo depois com d e s antrazes, sendo dois de uma gravidade extrema, pois, sendo já diabética, a intervenção cirúrgica estava rodeada dos maiores perigos.

Entreguei-me a N.“ S ." da Fátima cheia de piedoso amor e terna devoção e, melhorada, voltei ao Santuário, como pere­grina, em 13 de Maio de 1931, com os olhos marejados de lágri­mas e a promessa de percorrer descalça o círculo do terreno que Nossa Senhora consagrou para a redenção de Portugal...

Adoeci novamente cm Outubro de 1934, com uma dor no dedo grande do pé direito, que afligiu o meu médico assistente, por ser diabética incurável, motivo por que reuniu uma conferên­cia de três clínicos, que reconheceram tratar-se duma g a n g ren a s e c a , sem qualquer esperança de salvação.

Começaram então as novenas a N.° S . ‘ da Fátima, que, tomando conta do meu corpo e da minha alma, me dava uma visão de felicidade que tudo preenchia, ao mesmo tempo que, pronta para o golpe final, cantava um M agn ifica i incessante.

Com a reprovação da ciência entrei para uma casa de saúde, onde se procedeu à amputação total da minha perna, e , enquanto ela se fazia, as jaculatórias a N.° S .° da Fátim a enchiam o espaço e consuiniam-me de amor.

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [39]

Contràriamente às previsões dos médicos, que tão deso­rientados ficaram, a cicatrização fez-se ràpidamente sem com­plicação alguma, encontrando-me hoje absolutamente restabe­lecid a...»

46. A n te s a v id a da a lm a qu e a d o c o rp o I

Em Lever, Vila Nova de Gaia, uma gravíssima doença de intestinos levou às portas da morte o menor Augusto, filho de Augusto Barbosa Alves da Cunha e de Amélia Alves da Cunha.

Em Setem bro de 1936 a doença atingiu os paroxismos da gravidade e tanto o médico assistente como o especialista de­ram-na por incurável, chegando este último a declarar, após demorado exame, que sem a intervenção cirúrgica, de eficiên­cia aliás bem duvidosa f desaconselhada pelo médico assis­tente, a criança sucumbiria fatalm ente antes de 24 horas. E , de facto, nessa mesina tarde sobrevtio um acidente que a deixou em tal estado de prostração que, u juizo do médico, a morte aproximou-se a passos de gigante.

E stava-se diante duma peritonite por derrame gasoso em virtude de perfuração intestinal.

O s pais tiveram de desistir de operação tão contingente e de substituir a desacreditada terapêutica da terra pela do céu, pedindo à Senhora da Fátima a cura do filho, s e e la n ào o b s ta s s e a o bem d a su a a lm a , e prometendo levá-lo à Fátima juntamente com uma esmola avultada, e consagrara Deus mais tarde esse filhinho restabelecido, s e e s s a f o s s e a Su a von tade.

Oração admirável a desses pais, pela sua resignação e submissão ao divino beneplácito !

Augusto, com espanto dos médicos, apareceu-lhes um dia completamente curado.

O s médicos atestaram ambos, por escrito, a doença e a cura.O s pais cumpriram os votos que dependiam da sua von­

tade (V . F . n.° 181).

47. «Delxe-m® f ic a r a q u i I >

Natália Maria dos Santos, de 20 anos, reside no Poço do Bispo (Lisboa), Rua Fernando Palha.

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[40] FLORILÉOIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Uma doença na espinha, apesar de 16 operações que fizera, dificultava-lhe o andar e impedia-a de estar sentada.

Não tendo já nada a esperar da terapêutica humana, só de Nossa Senhora da Fátima esperava o remédio.

Levada à Fátima em 13 de Maio de 1937, é transportada em maca para o recinto dos doentes, a fim de assistir à missa deles.

Ouçamos a descrição do cenário feita por testemunha ocular e fielmente transcrita da Voz d a F á tim a n.« 189.

«Numa posição que a todos com ovia..., deitada de cos­ta s ..., de olhos cerrados, mãos postas sobre o peito, tendo entre elas um branco rosário, ao receber a Bênção soluçava convulsiva e aflitivamente.

Momentos depois estrem ece, estende as mãos ao longo do corpo, abre os olhos fixando-os no céu, fica imobilíssima, de uma palidez de cera ... dá-nos a tristíssima im pressão de que naquele momento vai morrer 1

Apavorante dor se lê nos assisten tes... e é então que uma servita, vendo-a em tal imobilidade, tenta chamar-lhe a razão, nada conseguindo..., pelo que, cheia de dor, corre em procura de um médico...

O médico chega sem delonga, tenta reanimá-la e é só pas­sados alguns instantes, quando tentam conduzi-la para o Hos­pital, que ela diz : D eixe-m e f ic a r aqui.

O médico retira-se. São findas todas as rezas. O s ser- vitas pegam novamente no andor de Nossa Senhora... e é então que Natália pede à menina Maria Bruno M ascarenhas Novais Ataíde... e à Senhora Servita (;: que há pouco aludi) que a aju­dem a levantar, pois quer sentar-se, ao que eu prestei o meu concurso... E é neste momento que... o Milagre é consumado!»

Natália levanta-se curada. O s circunstantes, cheios de assombro e de alegria, correm para ela ; e adivinha-se a difi­culdade com que ela vai agradecer a Nossa Senhora a graça duma cura tão extraordinária e repentina.

Para a subtraírem à multidão, é levada ao Hospital, em cuja capela ajoelha com a maior facilidade, reza demorada­mente, levanta-se sem esforço no meio dum ambiente de admi­ração e de alegria.

No mesmo dia, outra cura extraordinária e instantânea se operou ali.

Para se verificar se essas curas perseveravam, ali se reu­

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [41]

niu, em 13 de Outubro do mesmo ano, sob a presidência de Sua E x .a R ev.mo o Senhor Bispo de Leiria, uma comissão de médi­cos, perante os quais compareceram as duas agraciadas de Nossa Senhora.

Nessa reunião verificou se claramente que as curas per­maneciam, mas todos concordaram em convocar uma nova reu­nião para 13 de Maio do ano seguinte.

E ssa reunião efectuou-se depois das cerimónias da pere­grinação sob a presidência de Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca, assistindo os Senhores Bispos de Leiria, Porto e Vila Real e três médicos de maior nomeada na Fátima. Ficou resolvida a instauração do processo canónico nas dioceses das duas agraciadas.

48. «Está m o rta » ! — «Estou c u ra d a » !

Emilia Martins Baptista, de 42 anos, natural de S . Tiago de Aldreu (Barcelos), há seis anos de cama no Hospital de Es- posende, quase sem se poder mexer, e sem poder reter no estô­mago alimento algum, nem sequer o leite, tinha o organismo minado pela tuberculose, à qual se juntava uma astenia car­díaca bem acentuada e uma gastrite que atingiu o período de cronicidade. No dizer do próprio médico *chegou a um tal estado de miséria orgânica, que o mais pequeno esforço era causa de sincopes*.

Desvanecera-se o último raiozinho de esperança para ela. Ficava apenas Nossa Senhora da Fátima. E quer ir ter com Ela ao Seu Santuário. Ao chegar, porém, ao Porto, era tal o seu estado, que foi necessário parar para se lhe administrarem os últimos sacram entos. Mas pediu que por amor de Deus não voltassem para tr á s ! E este pedido teve que o renovar várias vezes na viagem, quando as síncopes pareciam mortais.

No Santuário, e até já no Pavilhão dos doentes, renova- ram-se diversas síncopes, que apresentavam o aspecto mais alarmante. A dado momento um dos médicos examina-a e exclama :

<Está morta /»<Petdão, Sr. Doutor, ainda uive*, observa a servita que

lhe assiste.<Como é que o sabe ?*

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42] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

<E' que o pulso ainda se sente, embora fraquíssimo>. O recurso às in jecções para a reanimar, resulta inútil; não há a mínima reacção.

Chega o momento da Bênção do Santíssimo. Logo que a doente a recebeu, como se ressuscitasse, abre os olhos, rea­nima-se, readquire plena consciência de si, e logo, instantânea- m ente, sentindo um bem-estar inexplicável, exclama : <Estou curada/» E, levantando as mãos, diz: <Bendita e louuada seja Nossa Senhora da Fátima* !

Depois de apresentar o sudário de toda a sua patologia que atingiu um estado desesperado, o médico termina assim o seu atestado de 4 de Fevereiro de 1929:

«Hoje movimenta-se perfeitam ente, come muito bem, não sente dores no seu estôm ago, não tem sinais alguns de bacilose, o que tudo se operou subitamente, não sendo o caso explicável clinicamente*.

49. C om a ág ua da Fátim a .

Joãozinho é um simpático menino de Lisboa, filho de Ma- ximiano C orreia da Costa Ferreira e de Belmira Pereira, que aos quatro anos foi acometido de grave enfermidade.

Em Novembro de 1924 m anifestaram-se os mais alarman­tes sintomas : Joãozinho perdeu a fala e a vista. Letárgico e imóvel dnva a ideia de um cadáver estendido no seu leito.

O diagnóstico da medicina foi o de uma gravíssima me­ningite cérebro-espinal, de carácter fulminante. O desenlace não se faria esperar.

Enquanto os pais se lastimavam e preparavam para rece­berem o golpe fatal, entra-lhes em casa uma piedosa Senhora com um frasquinho de água da Fátima, que logo foi aplicada ao moribundo.

Vinte e quatro horas depois o doentinho dá sinais de vida; e o médico, surpreendido, declara-o salvo e sem lesão alguma.

50. «Senti um a co isa s o b ren a tu ra l» .

Foi a 13 de Maio de 1938.A peregrinação à Fátima teve, por determinação do V e­

nerando Episcopado Português, o carácter nacional de acção

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de graças por ter sido a nossa pátria preservada do comu­nismo ateu.

No fim da Bênção do Santíssimo aos doentes, grande alvo­roço 6e nota na multidão, que à volta dum cavalheiro g ritav a : < Milagre l milagre !*

Que ocorrera então ?Eugênio Santos, de 42 anos, fiscal de obras da 4.a repar­

tição da Câmara Municipal de Lisboa, morador na Travessa do Arco da Graça, tivera, há dez anos, uma paralisia de origem luética, que lhe abrangia o braço e a perna direita, bem como a face.

A 27 de Janeiro de 1938 é o médico (D r. Fernando Van Zeller Pessoa) novamente chamado com toda a‘ urgência e en­contra-o em estado de grande excitação, inconsciente, afásico, com dilatação pupilar, face congestionada e com hemiplegia direita em resultado dum ataque súbito. Esta sintomatologia era tipicamente patognomónica de congestão cerebral, diagnós­tico confirmado por vários médicos.

M ais tarde, observa o mesmo clínico que o doente, embora tivesse piorado, havia recuperado a fala, mas apresentava sinais de acentuada confusão mental, frequentíssimas contracções cró­nicas da face, o braço direito ainda paresiado, bem como a perna. Perdeu toda a fé na medicina e toda a esperança de cuia.

Uma Senhora procurou incutir-lhe confiança em N.° S .* da Fátima. E , embora com pouca esperança, deixou-se conduzir à Cova da Iria.

Logo ao chegar sente-se pior. Assiste no dia 12 à pro­cissão das velas, e, no dia 13, encontrando-se ainda pior, esteve para desistir por causa da aglomeração do povo e dos doentes junto do hospital.

Estimulado pela mulher e pelos amigos, apresenta-se ao corpo clínico e dá entrada no recinto dos doentes.

Na hora da Bênção, apoiando-se na bengala, *ajoelhei — escreve ele — e pedi a Nossa Senhora as melhoras para todos, pois haoia tantos doentes piores do que eu, e nessa ocasião senti uma coisa sobrenatural, sentindo a vida a fugir, Julgando que morria, e perdi os sentidos*.

A mulher, ao vê-lo completamente branco e gelado, julga-o morto e grita por socorro, como morto o julgam os circunstan­tes. Só quando o vêem recuperar a cor, é que se convencem que estava vivo e dão-lhe a beber água do fontenário.

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[44] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

< Quando voltei a mim, continua ele, senti um bem estar geral, e instintivamente mexi a perna, e vi que o podia fazer bem, que não estava paralisada, nem sentia no rosto aquela tão incómoda contracção.

E desde essa hora começou a andar sem apoio da bengala.Seguiu-se na multidão o alvoroço que sempre desperta

um acontecimento extraordinário deste género. O s servitas, auxiliados por outras pessoas, formam o cordão que o protege da afluência popular e conduzem-no ao Posto de verificações médicas, onde a cura é verificada e reconhecida.

E nesse mesmo dia regressa a Lisboa, onde retoma o ser­viço que antes tivera de abandonar.

E a 25 de Agosto, podia já o conhecido clínico certificar em atestado legalmente reconhecido, depois de fielmente des­crever a génese e a evolução da doença, que observando o doente depois da ida a Fátima <o encontra absolutamente curado, sem vestígios das lesões que o doente apresentava».

Eugênio Santos não tinha religião. Nem sequer casado estava. Registara-se civilmente há 15 anos e assim vivera até agora.

Da Fátima trouxe alguma coisa mais do que a saúde. Volta à prática da religião, casa-se à face da Igreja, e torna-se um católico praticante como os que mais o são.

O caso produz grande im pressão em Lisboa. O s inimi­gos da Igreja reagem ... Acusam o miraculado de vendido aos padres. Negam a cura. E para melhor negarem a cura, negam a doença.

Entretanto o atestado médico é bem pormenorizado e elo­quente.

Por isso não admira que uma cura tão extraordinária e a transformação do miraculado tivessem feito voltar à fé algumas pessoas das suas relações (V. F. n.° 193).

51. S u rp resa s de N dssa Senhora.

Maria Madalena da Costa LemoF, de Bragado, desde os 10 m eses que sofria duma úlcera nos olhos. O s médicos mos-

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travam-se desorientados com a doença. O s pais da doente recorrem aos melhores especialistas, concordando alguns em que só uma operação a pode curar, mas que essa operação não se podia realizar antes dos 14 anos.

Grande era a consternação dos pais. A mãe particular­mente, perdida a confiança nu medicina, recorre com toda a fé da sua alma a Nossa Senhora da Fátima, fazendo-lhc as mais confiadas promessas.

Três dias apenas haviam decorrido depois desta prece aflitiva. A menina, que já contava 5 anos, adormece no mais delicioso sono, coisa que até esse dia ela não pudera conseguir. Passadas algumas hora6, indescritível foi o espanto e e. aflição da mãe, ao ver a filhinha correr-lhe ao encontro, corredor fora, tapando os olhos com a mão. Acode pressurosa a mãe, presa- giando maior desgraça, toma nos braços a m enina... Mas logo a sua ansiedade de mãe se transforma em inesperada alegria, ao verificar que a sua filhinha estava de todo curada.

No mesmo instante cai de joelhos e agradece entre lágri­mas de consolação à Virgem da Fátima a surpresa duma cura tão extraordinária.

E para que ela nâo oferecesse a menor dúvida, esperaram ainda seis anos uté que mãe e filha vieram à Fátima agradecer a graça recebida e cumprir as suas prom essas (V . F . n .° 217).

52. « B en d ita sug es tão I»

Aurora de Sousa Ribeiro, do Porto, começou em 1937 a ser torturada por padecimentos, que no parecer do médico eram derivados dum gânglio no duodeno. Examinada por outro mé­dico e por um radiologista, viu-se que existia um grave aperto no duodeno e que uma urgente operação cirúrgica se impunha.

A’ enferma, que já perdera mais de 30 quilos do seu peso, repugna a operação. Recorre a novo médico. E ste confirma a necessidade de intervenção cirúrgica, e de gravíssima urgên­cia. Sem outra alimentação nem medicação mais do que puré de batata e bicarbonato de soda, ei-la já com três m eses inin­terruptos de cama.

A lvorece o mês de Maio de 1938. E a Fátima sorri-lhe como luminosa aparição e esperança de cura. Nâo falta quem antes da viagem tente dissuadi-la, e quem durante ela a acon-

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[46] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FATIMA

selhe a desistir, ein vista da horrível prostração, dores e incó­modos que ela lhe ocasionava.

Na Cova da Iria, presenceia a procissão das velas, sen­tada junto ao fontenário. A dada altura ergue-se, com grande admiração dos seus, e, cantando com vigor e entusiasmo, acom­panha a procissão com a sua vela quem antes mal podia ter-&e de pé e a quem bastava falar pouco pará logo ficar afônica.

Fica ao relento toda a noite, recebe pela manhã a Sagrada Comunhão, sente um apetite devorador antes desconhecido, come de tudo, e, levando a mào ao sítio onde sentia o aperto e tantas dores, verifica que tudo havia desaparecido.

A viagem de regresso fez-se com excelentes disposições, passando por Alcobaça, onde foi examinada por um médico, que não lhe encontrou vestígios da doença, mas que ao ter conhecimento da enfermidade anterior, atribuiu a cura a sim­ples sugestão.

Escrevendo o marido, S r . Joaquim Gonzaga da Sousa Ri­beiro, em 1941, para a Voz d a F á tim a N.° 229, exclam a : «Ben­dita sugestão que ainda dura desde 13 de Maio de 1938!» E , de facto, esse remédio mágico, tão radical, porque o não emprega também S . E x .a o ilustre clínico ? S eria um excelente meio de ser útil aos seus clientes, e também uma rendosa fonte de receita».

53. Rosa c o lh id a no tú m u lo da J a d n ta .

A franciscana hospitaleira, Irmã Maria J . de Jesu s, natural de Vila Verde de Iscar, Segóvia (Espanha), exercia no Hospi­tal de Gavião o mister de enfermeira. Uma ptose gástrica e intestinal com perturbação do simpático abdominal, que a me­dicina já havia declarado incurável, há 32 m eses que a impedia de trabalhar e a condenava a rigorosa dieta.

A Superiora decide levá-la à Fátima, para ali implorar a 6aúde que a medicina lhe não podia dar.

Ao chegarem diante da Igreja Paroquial da Fátima, o auto­móvel teve uma avaria que o obrigou a uma paragem providen­cial. Enquanto o arranjavam, a superiora entra no cemitério e vai fazer uma prece diante do túmulo da Jacinta, implorando em favor da sua súbdita enferma a intercessão da ditosa vidente de 1917. E , ao voltar, entrega á Irmã Maria de Jesu s uma pétala

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da rosa que acabava de colher no túmulo da inocente menina. Beijou-a. Não foi necessário mais. Ao tocar-lhe com os lábios sentiu-se instantâneamente curada.

Não foi ilusão. O próprio pároco da vila de Gavião, Rev.o P .c Armando da Conceição Piedade, envia para a Voz da Fátima, assinada e jurada in fide parochi a exposição do que acabamos de narrar.

Por sua vez o médico da Irmã Maria de Jesu s , Dr. Júlio Gonçalves C erejeira, depois de descrever o estado prévio da doente, atesta em Setem bro de 1943 que •desde 13 de Maio deste ano, depois da sua estada em Fátima (a ex-doente) come de tudo sem sentir qualquer mal estar, e trabalha e fa z a sua vida de comunidade sem quaisquer restrições».

Rosa benfazeja que o céu fez desabrochar no túmulo da ditosa vidente. Será o símbolo com que ela preludia a sua chuva de rosas ?

54. Lavagem p ro d ig io s a .

Mário Alves Dinis é um menino de 11 anos, lisboeta. Um dia tem a infelicidade de ser atropelado por uma caminheta. Crâneo fracturado e órgão visual esquerdo horrivelmente saído da órbita, eis o espectáculo que oferece a pobre criança.

Levado para o Hospital observam-no vários clínicos entre eles um catedrático, e todos são concordes em afirmar que o pequeno, no melhor das hipóteses, ficará defeituoso da vista.

Intervem uma bondosa Senhora, amiga da família, e à mãe aflita, D. Hermínia M endes Dinis, entrega um pouco de água da Fátima para lavar com ela o órgão visual do filho. Assim o fez. E foi tanta a fé e confiança dessa mãe, que o filho, sem qualquer outro tratamento mais do que a água da Fátima, apli­cada duas vezes ao dia, ficou completamente curado e sem de­feito (V. F. n.o 226).

55. «Tenho s id o m u lto m au».

Um chauffeur conduzia de C ascais à Fátima uma piedosa peregrina. Pelo caminho ia fazendo a esse lugar de peregri-

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[48] [T.ORILUQIO ILUSTRADO DA PATIMA

nações referências sarcásticas, inspiradas pelo seu feroz jaco ­binismo.

C hega à Cova da Iria. Impressiona-o a fé da multidão. Aproxima-se da capelinha das aparições, fita a imagem da Vir­gem, sente-se transformado. Subitamente cai de joelhos, de­sata a chorar, a soluçar convulsivamente. «Tenho sido muito mau», diz arrependido.

Era só o começo. Pede lhe chamem um confessor que o absolva dos seus extravios de muitos anos. Confessa-se, comunga, volta totalm ente outro, e faz, perante uma camarada­gem até então testemunha do seu sectarismo, uma bela retra­tação do seu passado, afirmando desassombradamente o seu propósito de ser melhor. (Prof. L. Gonzaga da Fonseca, L e m era o ig lie d i Fá tim a , 9.® ed.).

56. Um In fe rn o do m é s tic o fe ito m ans&o de pez.

Numa localidade da diocese de Coimbra, uma família dá o espectáculo dum inferno doméstico : pai, mãe, filho e duas filhas. O pai é um perfeito energúmeno que só sabe blasfe­mar, odiar e espancar. Há 17 anos que se não confessa. O filho é émulo do pai e discípulo aproveitado da sua escola. Fez em criança a primeira comunhão e nunca mais se confes­sou. Chegou a espancar o próprio pai, e há dois anos que não lhe dirige a palavra, odiando-se de morte um ao outro. Curado de grave doença o marido, quer a mulher ir à Fátima com as filhas agradecer a cura.

Proibição draconiana do marido. Intercede em favor da mulher uma vizinha. Ele condescende, só para não parecer descortez. Por fim também ele se dispõe a ir, só para lá ver «todas essas beatices». O filho põe-se também a caminho, mas a distância do pai, continuando ambos a odiar-se e sem se falarem.

Ao entrar no recinto do Santuário, cai o nosso homem ful­minado por uma síncope. Acodem servitas e médicos que pro­curam reanimá-lo. Tudo em v ã o ; parecia definitivamente morto. Passado algum tempo dá qualquer sinal de vida, e mais tarde volta a si sem saber onde estava. Confessa-se com visível arrependimento.

O filho espontâneamente segue-lhe o exemplo. Sucede-se

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uma cena comovente de lágrimas e de reconciliação entre pai e filho. E sse lar deixou de ser um inferno. E no mês seguinte voltam à Fátima em peregrinação de acção de graças pela feli­cidade que ali encontraram. (P rof. L. Gonzaga da Fonseca ob. cit.).

57. Um cadáver... com vida .

Foi a 13 de Agosto de 1944.Começava a Bênção Eucarística aos doentes. Quem estas

linhas escreve vê passar a seu lado em maca o que todos diriam um c a d á o er , retirado do meio dos doentes para o Hospital. E pouco depois lembra-se de perguntar a pessoa desconhecida que apressadamente voltava da enfermaria para onde vira levar... o cadáver : ‘ Quem era a defunta ?» «Está muito viva», foi-lhe respondido sem mais explicações.

Essa defunta-viva era Olinda da Conceição Passim, de Fer­reira do Zezere, com 27 anos de idade. Estava tísica há 6 anos, tendo passado dois anos internada no Hospital, sendo a doença rebelde a todos os tratamentos. Com uma constância admirá­vel já tinha vindo 14 vezes à Fátima pedir a sua cura à Saúde dos enfermos.

Catorze vezes já era muito pedir para quem tem coração de Mãe. E, de facto, esta vez tinha que ser a última, porque a tuberculose pulmonar havia chegado a tal ponto, que estava posto o dilema : ou milagre fulminante, ou morte imediata. Não havia tempo para mais delongas.

Na manhã do próprio dia 13 foi-lhe administrada com ur­gência a Extreina-Unção. No recinto dos doentes chegou a ser dada por morta, de tal modo que o médico nem já lhe deu a in jecção com que se costumam reanimar os doentes desfaleci­dos. Foi dos primeiros que receberam a Bênção Eucarística e logo mandada retirar para a Enfermaria, a fim de se não dar ali o espectáculo e a confusão do desenlace. E foi já no Hos­pital que ela se sentiu curada, instantâneainente curada. Depois de voltar a si, come sofregamente e sem mais cerimónia a tijela de caldo que a enfermeira lhe apresenta.

Terminada a cerimónia da Bênção aos doentes, vem o mé­dico à Enfermaria e encontra-a já levantada, como se nunca tivesse estado doente.

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[50] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Estava curada, e tão curada que no mês seguinte já vol­tava à Fátinia, não como doente, mas como peregrina de acção de graças.

58. «Tolle g ra b a tu m tu u m e t em bula».

A Irmã Maria Miguel M arcote, de 28 anos de idade, natu­ral de Finisterra (Espanha), Visitandina conversa de S . Miguel das Aves, havia cerca de dez anos que sofria de «artrite do joelho esquerdo, de etiologia bacilar». O joelho, Intensamente tumefacto, tinha na parte posterior, um edema duro. A perna e coxa, notàvelm ente atrofiadas, formavam um ângulo obtuso. O membro inferior encurtara, em relação ao direito, cerca de sete centímetros. As dores eram permanentes e, às vezes, tão intensas que não lhe permitiam conciliar o sono. Era-lhe difí­cil o andar e com acentuada claudicação, pelo que uscu inuleta até ficar de cama.

O s mais ilustres clínicos, depois de variados tratamentos de nulo efeito, classificaram a doença de «incurável»; insis­tira, contudo, um distinto médico do Porto, na prescrição de «helioterapia, sais de cálcio e aplicação do aparelho para con­tinua extensão do membro».

Assim permaneceu a doente até 13 de Janeiro . Na vés­pera, pelas 20 horas, toda a Comunidade, em procissão de velas, percorreu o Convento com a imagem da Senhora da F á ­tima. A’ passagem pela enfermaria, a imagem voltada para a enferma, deixava-lhe a Sua bênção, mensageira da cura que havia de realizar-se nu manhã seguinte.

No dia 13, como de costume, era-lhe levada à cama a S a ­grada Comunhão. No momento em que o Capelão recitava o O rem us final, teve ela a sensação de um brusco e repentino puxão na perna. Apenas da enfermaria se haviam retirado o C apelão e as Religiosas, vai ela examinar o que teria sucedido e encontra-se radicalmente curada ! Terminada a M issa, reclama a pronta visita da sua Superiora, conta-lhe o que se passa, e esta verifica, surpreendida, a perfeita igualdade dos dois mem­bros, a mobilidade da rótula, todos os movimentos de articula­ção. J á não existe a menor d o r! Desde então, e já há nove m eses, a Irmã Maria Miguel retoma todas a6 antigas ocupações

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NOVA SÉRIE DE EXEMPLOS [51]

e ajoelha-se (o que há dez anos não podia fazer), anda perfei­tamente.

A cura foi confirmada pelo médico, cujo relatório descreve minuciosamente o e6tado da doença anterior ao dia 13 de J a ­neiro de 1940, conforme a exposição que acabamos de ouvir, para concluir com as seguintes palavras : «A doente está clini­camente curada ( V. F. n.° 220).

59. D epois de c in c o anos sem d o rm ir...

Era em 1934.Maria Ermelinda Pereira da Silva Peixoto,viuva, d e3 9 anos,

residente em Moledo do Minho, já há 5 anos que sofria de insu­portáveis dores de cabeça, acompanhadas de frequentes verti­gens e crises do coração, das quais resultaram as contínuas insónias que durante esses largos anos nem uma só noite sequer lhe permitiram dormir. Era indescritível o mal-estar que a cada instante a martirizava.

Uma noite em que o mal parecia triunfar de toda a sua resistência física e moral, sentiu-se tão desalentada que acabou por perder o resto de confiança que ainda depositava nos meios humanos. Voltou-se decididamente para Nossa Senhora da F á ­tima que tantas vezes invocava com o nome de clemente, pie­dosa e doce Virgem Maria.

• Pedi-Lhe, são palavras da enferma, mostrasse que tinha coração de mãe para comigo, cheia de tanto sofrer. E em tom de queixa disse-Lhe ainda se não bastaoa para mim ser pobre, viúva, e ter que ganhar o amargo pão de cada dia para mim e para uma filha, orfã de oito anos, doente também. Portanto que me curasse ou levasse deste mundo».

E logo formulou o voto de fazer em honra de Nossa S e ­nhora algumas comunhões, de rezar toda a vida 3 Ave-Marias pela conversão dos pecadores e de publicar a graça da sua cura, se acaso a alcançasse.

E entre lágrimas adormece pela primeira vez depois de 5 ano6.

D e manhã desperta admirada de ter dormido. E desperta sem dores, sem perturbações, sem indisposição de espécie alguma.

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[52] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Nunca mais teve insónias, nem dores de cabeça, nem crises de coração. As vertigens, antes tão frequentes, desa­pareceram neste mesmo instante e para sem pre, pôde ela de­clarar em carta de 17 de Setem bro de 1635, dirigida á Voz da Fátima, um ano inteiio depois da cura. — E cura bem extraor­dinária foi essa, instantânea e fulminante, com que a Máe Cle­mente quis mostrar à suo devota que tinha, de facto, coração de Mãe.

E com a alma a trasbordar de gratidão, não admira que remate a sua narrativa com estas palavras : • Graças e louvo­res à Virgem Nossa Senhora da Fátima, honra e glória a E la por todos os séculos dos séculos».

60. A leg ria qu e rev ive num la r.

Castelo Branco é uma encantadora paróquia da minúscula ilha do Faial, no Arquipélago açoreano.

Em 1936 encontrava-se ali transformado em doloroso hos­pital, e em vésperas talvez de se converter em tétrico cemité­rio, o lar do fervoroso cristão Tertuliano de Vargas. Prostrados pela terrível endemo-epidemia do tifo, jaziam, entre a vida e a morte, os seus quatro filhos Jo s é , M aria, Bernardete e Tertu­liano, este último com as gravíssimas complicações de menin­gite, paralisia da bexiga, dos intestinos e dos membros inferio­res, acrescidas ainda duma alarmante infecção bronco-pulmonar.

Empregaram-se todos os esforços da medicina, todas as dedicações de médicos abalizados, mas sem resultado. Chegou o dia em que, minguadas todas as esperanças, os quatro irmãos receberam com os últimos Sacram entos o passaporte para a eternidade.

Sem mais recursos na ciência humana, <com ecei com muita fé, diz o pai em carta de 20 de Outubro de 1936, dirigida à Voz da Fátima, a administrar-lhes um medicamento que tem sido empregado com tanta eficácia, operando milagres. Dei lhes de beber a miraculosa água da Fátima». E daí a pouco esse lar, sobre o qual a morte parecia estender já as suas garras, via-se convertido num céu de alegrias e de acção de graças, de qüe são testemunho as palavras que reinatam a mencionada carfa : <Bendita seja a Santíssima Virgem que dissipou densas

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NOVA SÉRIE DE EXEMH.OS [53]

íreuas que oprimiam o meu coração de pai, restituindo a saúde a todos os meus queridos filhinhos>.

Sim , bendita se ja a Mãe bondosa que fez entrar a alegria numa família, sobre a qual pairava já a tristeza sepulcral.

61. «Como passou a no ite ? — A rezar».

D. Maria de Lourdes Carvalho, de 39 anos, solteira, pro­fessora, residente no Porto, sofria há 8 anos de grave laringite. Consultou vários especialistas sem resultado. Por fim dirigiu- -8e a outro que lhe fora particularmente aconselhado, o qual depois de escrupuloso exame, confirmava a existência da larin­gite, com tosse ligeira, dor à deglutição, rouquidão acentuada, além doutras perturbações.

A larinjoscopia revelou a existência de lesões inflamató­rias difusas, sendo-lhe prescrito um tratamento tão rigoroso que a doente concluiu não dever alimentar grandes esperanças acerca da sua cura.

Atendendo ao estado grave da garganta, o médico assis­tente recusou-lhe autorização pnra se incorporar numa peregri­nação ã Fátima.

Mas tanto insistiu que, o médico não só cedeu, mas levou-a ele mesmo em campanhia sua e de sua família.

Chegam e vão todos rezar o terço ao Santuário, Ela que a princípio mal podia falar, quando chega ao 3.o mistério sente aclarar-se-lhe a voz. No fim do terço dirige-se ao fontenário e bebe dois copos de água, rezando 3 Ave-M arias. A’ meia noite acompanhou a Hora Santa ao ar livre e regressou da Fátima com a voz clara e m ajf saúde.

Sem anas depois apresenta-se ao especialista que começa por felicitá-la ao vê-la curada, e concluindo que se deve ter enganado no diagnóstico feito, pois «se fosse o que eu supu­nha, diz ele, nunca chegaria a ter uoe clara*...

E logo se trava entre sm bos o seguinte diálogo textual, que, fielmente e sem alteração duma virgula, transcrevem os da Voe da Fátima de 13 de Junho de 1941 (N .°226), notando desde

já que o especialista interlocutor é homem sem f é :— Que é que fez ?— Nada, Senhor Doutor.

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[54] FLORII.EQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

— Nada ? Não, alguma coisa foi. Examinei-a, vi que não podia falar. Nervos não era. Como conseguiu recuperar a voz?

— Fui à Fátima.— Foi à Fátima ? E o seu médico deixou-a ir ?— Primeiro não queria. Mas depois até fui em companhia

dele e da família.— Que fez na Fátim a?— Como a minha intenção era pedir as minhas melhoras

a Nossa Senhora, rezei com devoção e com o maior fervor pos­sível o seu terço, pedindo-lhe que tivesse compaixão de mim, pois ela bem sabia o que me tinha ali levado. Notei que ao 3.° mistério a voz se me ia aclarando... e em seguida fui beber água das fontes da Fátima.

— A’gua quente ?— Não, Senhor D outor, água fria como sai da fonte; bebi

dois copos e rezei três Ave-M arias.— Que comeu ?— Laranjas, dois pães com fiambre e uma banana, pois

não me apetecia com er; e tanto assim que trouxe a merenda quase toda.

— Como passou a noite ?— A rezar, pedindo as minhas melhoras e pedindo também

por minha família e pessoas conhecidas.— Então passou a noite ao relento ?— Sim , Senhor Doutor.— Estava agradável ?— Não ; estava bastante frio, mas não me fez mal.— A Senhora só me foi fazer asneiras.— Asneiras, não, Senhor Doutor, fui pedir as melhoras, a

N. Senhora, e para isso tive de acompanhpr todas as devoções dos fiéis, visto ter pernas para poder anaar.

— Então assim é devota de Nossa Senhora ?— Sou, sim, desde criança, e até sou afilhada de Nossa

Senhora do Rosário e todos os dias rezo o rosário inteiro.— Então acha-se curada ?— E ’ verdade.— Vamos ver lá isso. (F e z novo exame e verificou que

tudo tinha desaparecido). Sobre isto já não digo nada. S ó lhe digo que não abuse do milagre e tenha cuidado.

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NOVA SÉRIE DE EXEMPLOS [55]

Dois anos decorreram sem que voltasse a sentir incómodo algum na garganta. E é o próprio especialista quem passa o atestado da cura.

62. Um marido desassombrado.

Joaquim Saraiva de Carvalho, da Póvoa de Santa Iria, conta assim a doença e a cura de sua mulher : «Minha mulher tratava-se duma doença que parecia de pouca importância. Como, porém, se fosse prolongando e não cedesse ao trata­mento seguido, os médicos assistentes prognosticaram qualquer coisa de gravidade e mandaram que tirasse uma radiografia. Procurou a um dos mais distintos radiologistas da capital e a respectiva radiografia acusou um a b c e s s o pu lm on ar d o la d o esqu erd o . Era necessário a doente ser hospitalizada para se submeter a uma intervenção cirúrgica, que os médicos conside­ravam indispensável e urgente.

Deu entrada no hospital de S . Jo sé e enquanto os dias decorriam para observação e estudo da doente, o meu coração de marido e de pai dilacerava-se sob a perspectiva do resul­tado de tão melindrosa operação. A doente, que uma sombria apreensão torturava, reanima-se com a luz vivificante da sua fé, faz um voto de fervorosa devoção e pede a N." S ." da F á ­tima lhe conceda melhoras e evite a operação.

Continuaram as observações clinicas, e, passados quinze dias, nova radiografia indica o desaparecimento completo do abcesso, sem a mínima intervenção da ciência.

FoL acaso ou milagre ?Não me importo de provocar o riso sarcástico dos incré­

dulos. Ouça-me quem quiser, mas eu considero este facto um autêntico milagre que a minha reconhecida e contrita alma, ajoelhada no chão lodacento deste mundo, agradece à inter­venção divina».

63. Timoneira Invisível.

Era em fins de 1935. Um pescador de Lisboa adoece com certa gravidade. Não podendo ex ercera sua profissão e anga­riar os meios de subsistência para a família, confia a um irmão a direcção do próprio barco.

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156] [7LORILfeQIO ILUSTRADO DA I-ATIMA

A 9 de Dezembro, porém, no alto mar, declara-se a bordo um princípio de incêndio que obriga.a tripulação a abandoná-lo, deixando-o à deriva sobre as águas.

Este acontecimento veio agravar mais ainda o estado de saúde do proprietário do navio, a ponto de lhe alterar as facul­dades mentais.

A sua esposa, encontrando-se em tão angustiosa situação, com o marido gravemente enfermo, com o navio de pesca per­dido, que era o seu ganha-pão e toda a sua fortuna, e sem outro meio de prover a sua própria subsistência, à do marido e de quatro filhos, todos menores, lembra-se de recorrer a Nossa Senhora da Fátima.

Sabendo que o incêndio não conseguira destruir o barco, pede com todo o ardor da sua fé e da sua confiança à Virgem Senhora que tome à.sua conta a direcção do navio e se encar­regue de lho trazer a porto seguro, porque não tem outro meio de viver.

Feliz ideia a sua a de recorrer à E strela d o m a r ; quem dirige os pobres mareantes através dos mares mais tempestuo­sos, não teria menos poder para servir de leme e de piloto a um navio sem piloto nem leme, de o governar e reconduzir através de todos os escolhos, e dos perigos do Oceano, até ao próprio porto.

P assá-se uin mês. Ai que longo mês de perplexidades, de angústias e incertezas ! Quando a pobre família via já sos- sobrar o resto da sua esperança, as autoridades marítimas de Lisboa recebem da Alemanha uma comunicação, segundo a qual havia sido encontrado ao largo da costa alemã e conduzido pára o porto de Hamburgo um navio de pesca português I O s 6inais apresentados em Lisboa permitiram identificá-lo. Era o mesmo !

Pouco tempo depois o barco extraviado regressava incó­lume ao T ejo , e era entregue ao seu proprietário, sem que ele tivesse dispendido para o reaver uni único centavo.

Em Julho de 1936 sua esposa, Afaria do Nascimento, cum­pria n voto feito de mandar publicar a graça extraordinária de Nossa Senhora, dirigindo à Voz da F á tim a uma carta com a exacta exposição da mesma e confessando-se eternamente agradecida à sua celestial Benfeitora, a verdadeira E strela d o M ar.

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NOVA SÉRIE OE EXEMPLOS [57]

64. «Perante mim o demónio foi desmascarado».

Guilherme da C osta B rites conta a sua conversão na V oz d a F átim a.

«São inúmeras as graças de Nossa Senhora da Fátima que tenho recebido nesta terra ... Arrancou-me das mãos do demó­nio, ne6sa diabólica feira de fantasias do espiritismo, de que fui grande influente. Só nossa querida Mãe do Céu me pode­ria arrancar de tão grande precipício, em que estava irremedia­velmente perdido, como tantos outros que lá deixei e pelos quais choro. Perante mim o demónio foi desm ascarado; pena é que o não seja por quantos militam em tão grande desgraça. Ficou o mesmo Satanás muito raivoso contra mim, pela perda da presa, mas nunca foi capaz de me fazer o mal que me fazia antes de eu o conhecer. Resta-me a pena de não saber escre­ver condignamente..., para lhe expor devida e detalhadamente as graças que tenho recebido de N.® S.® da Fálima, e dar-lhe também uns tópicos dos ataques do dragão quando vê ir-se-lhe a presa.

São muitas as pessoas a quem tenho dito isto, e por isso se V. Rev."1® achar que vale a pena referi-los por escrito... pode fazê-lo que eu tenho muito prazer nisso.

Não me proponho agradecer p o r este meio a N.® S ." da Fátima, porém, tudo me parece poueo para o fazer. Não seriam bastante a vida e os haveres, se por ventura-tudo isso lhe d esse...

Rogo por tudo isto a V. R ev.m® a fineza de pedir uma Ave Maria em acção de graças pela minha conversão ou pelo livra­mento da minha alma das mãos do demónio...»

65. Pela primeira vez chega com o pé ao chão.

A pedido do R ev .° Dr. Marques dos Santos, Vigário Ge­ral de Leiria, escreve propositadamente para a Voz d a F á tim a de 13 de Novembro de 1952, D. Maura Leão Borges que já aos 16 anos de idade fora com seu pai a Paris receber... o desen­gano definitivo da sua cura :

«Para maior glória de Deus Nosso Senhor e de sua San ­tíssima M ãe, Nossa Senhora da Fátima, actualm ente em Forta­leza, Estado de C eará, Brasil, faço público e notório o facto

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[58] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

especial que me aconteceu na manhã de 14 de Outubro de 1952, na Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio, onde estava exposta à veneração dos fiéis a Imagem Peregrina do Mundo de Nossa Senhora da Fátima.

Estava eu, em oração diante da Imagem, quando senti uma dor pequena no fémur, que eu luxara desde oito m eses de idade, luxação essa que me aleijou a perna direita tornando-a menor que a outra 10 centímetros.

No me6mo instante senti como se a perna estivesse dis­tendendo-se, como que sendo puxada para baixo. Dominando a emoção, pedi a minha nora que fosse buscar um automóvel. Quando o carro chegou, eu já estava com a planta do pé sen­tada no chão, o que nunca havia feito dada a diferença de uma perna para a outra.

E assim vivi 49 anos, enfrentando as tremendas e naturais dificuldades do equilíbrio. E ’ natural, por esse motivo, que eu desejasse a minha cura, porém vivia conformada, porque o meu marido e filhos não viam em mim esse defeito.

Ao chegar Margarida com o carro, aproxim ei-me, levantei o vestido à altura dos joelhos e indaguei:

— Margarida, veja se é ilusão minha ou se minhas pernas estão iguais?

Ao que ela respondeu : «Estão iguais».R etorqui: «Veja bem».E ela : «Estão perfeitamente iguais».— Eu não posso sair daqui sem oroclamar essa graça.

Por isso vá avisar em casa o acontecido. S e eu não der larga publicidade ao facto, será uma ingratidão.

Procurei então comunicar o ocorrido ao vigário da Paró­quia e ir ao altar da M ilagrosa Virgem a fim de agradecer-Lhe.

No meio da nave principal do templo encontrei um sacer­dote, a quem pedi para levar-me aos pés de Nossa Senhora, depois de dizer-lhe o que acabava de acontecer.

O Reverendo solicitou antes, que eu desse um pulo com os dois pés a fim de poder constatar a firmeza das pernas.

O Padre fez-me subir os degraus do altar caminhando sem auxílio. Lá, ante os devotos surpresos (pois que grande parte me conhecia), eu demonstrei que estava com o pé sentado no chão, apesar de não poder andar bem pela falta do sex to sen ­t ido — o costume.

Afirmo, pois, perante Deus Nosso Senhor e minha cons­

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NOVA SÉRIE DF. EXEMPLOS [50]:

ciência que tudo aqui relatado é facto real e desde já me sub­meto a todas as conclusões que sobre ele determinar a Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana.

Fortaleza, 18 de Outubro de 1952.Rua Pedro I, n ° 367.

M aura L e ã o b o r g e s

Nota : — Como a Sr.° D . Maura não se considerava uma doente nem esperava a cura, não possuía documen­tos do seu defeito físico, tendo até perdido, liá anos já , uma única radiografia que tinha da perna lesada. Con­tudo, o S r. Dr. João Estanislau Façanha, traumatologista, um dos especialistas mais afamados de Fortaleza, não teve dúvida em passar a seguinte declaração :

«Caso D. Maura B orges.Há cerca de 10anos conheço D. Maura Borges. Não

fui seu médico nem nunca a examinei como tal. Mas sei que apresentava um grave defeito do membro inferior di­reito, consistindo no seguinte :

Pé em equino, como compensação de um encurta­mento do membro referido. Grande claudicação ao cami­nhar, o que fazia com a ponta do pé e certa flexão do joelho correspondente.

Depois da visita à igreja do Patrocínio a vi firmada nos dois pé3, como boa. Joelhos da mesma altura, mar­cha ligeiramente claudicante.

Fortaleza, 17 de Outubro de 1952.

J o ã o E stan islau F a ç a n h a .»

66. Fulminada pela cura ao ser abençoada.

A Madre Arbonis, religiosa de S . ta Doroteia, de nacionali­dade espanhola, Superiora do Colégio de Pontevedra (Espanha), fora desenganada pelos médicos que a tratavam, ao declararem definitivamente incurável a sua doença — tu bercu lose ó s s e a .

A 13 de Ago6to de 1948 reunia-se ela na Cova da Iria aos doentes que ali acudiram a pedira sua cura à Saúde dos Enfer­mos. Prèviamente examinada pelos médicos do Santuário, cumpriu à risca as ordens dos mesmos, encaminhando-se para

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FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

o local reservado aos doentes, que deitados nas respectivas macas, ali esperavam e suplicavam cada um a sua cura.

Cheia de fé e duma confiança inabalável, anunciou à Irmã que a acompanhava o sinal com que lhe havia de significar a sua cura, se Nossa Senhora lha concedesse.

Ela mesma contou que antes do milagre se sentiu tão hor­rivelmente mal, que lhe parecia ver já a morte diante de si. M as logo foi tal a transformação nela operada que, ao receber a Bênção Eucarística, se sentiu perfeitamente curada, e no mesmo instante fez à Irmã o sinal convencionado.

Apenas lhe foi permitido, correu a ajoelhar-se aos pés de de Nossa Senhora para lhe agradecer tão assinalada cura.

A quantos a queriam ouvir, ela só dizia que lhe era impos­sível exprimir o que sentira no momento da cura, a qual foi reconhecida pelos médicos.

Autorizada pela Santa S é , a Madre Arbonis abraçava pouco depois as austeridades da vida contemplativa, ingres­sando no Carmelo da Fátima, onde não cessa de bendizer a Virgem Santíssima pela cura fulminante e radical, experimen­tada no instante da Bênção do Santíssimo.

67. Entre a agonia e o último suspiro.

O P .c Agostinho Nunes, de Válega (O vari adoeceu gra­vemente em princípios de Outubro de 1951, com bronco-pneu- monia. No dia 8 deu-se um colapso cardiaco. E nada mais havia a esperar. Foi-lhe rezado o ofício da agonia, esperando- -se já o momento de começar o Subuenite, S a n c t i Dei.

Entretanto sua irmã e outras pessoas presentes pedem o auxilio de N." Senhora da Fátima. De repente, o moribundo, como se despertasse dum sono, começa a falar. Volta o mé­dico, consolidam-se as melhoras, e a cura é um facto.

Esta narrativa é comprovada pelo atestado médico do Dr. A. Duarte de Oliveira, e confirmada por escrito pelo P á­roco, Rev. P.« Francisco da Silva dos Anjos (V . F . n.° 363).

68. Prestes a expirar.

Em Novembro de 1943, D. Maria Alice Duarte Strecht R i­beiro e seu marido, Dr. Jo s é Strecht Ribeiro, moradores em

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nova série de exemplos 61]

C astelo de Paiva, foram visitar seu filho Justino, de 11 anos de idade, aluno do Liceu Eça de Q ueirós, na Póvoa de Varzim. Encontraram-no com um fortíssimo ataque de albumina e logo o levaram consigo ; na noite de 12 para 13, o menino, perdeu o uso da fala, da vista e do ouvido. Chamados os médicos, Dr. Freitas Carvalho e Dr. Ribeiro Chaves, declararam tratar- -se de um caso alarmante e exigiram a intervenção imediata de um especialista do Porto, Dr. Armando Tavares; Apesar de tudo, o doente piorava de instante a instante. Começou a ter fortes convulsões, entrou em coma e em breve na agonia. Foi então que sua mâe invocou a intervenção de Nossa Senhora da Fátima, e com tal fé o fez que ante a admiração e espanto de todos, foi ouvida. O menino salvou-se.

Cumprindo a sua promessa esla senhora, em companhia do seu marido, saiu de casa a pé no dia 5 de Setem bro, che­gando a Fátima no dia I I , às 20 horas, depois de percorrer 240 kl.

69. «Não foi uma cura, foi uma ressurreição»

António da Rocha M ancebo, S . Bartolomeu, adoeceu gra­vemente de febre intestinal. O médico declara-urgente levá-lo para o Hospital do Santo Espírito em Angra do Heroísmo. A doença agrava-se e não céde aos tratamentos mais enérgi­cos. Caso desesperado na opinião do m éd icoassistente que exige a presença doutro médico. Chegando o clínico ao quarto do doente nada fez; apenes declarou ao seu colega a ssisten te : «Não trato de mortos, nem a mortos aplico remédios, pois ele está morto».

Pelo telefone é chamada a família para lhe assistir aos últimos momentos. Todos tinha já perdido a esperança. Ape­nas a esposa do enfermo a não perdera. Ajoelhada junto do leito do marido moribundo, implora o auxílio dc Nossa Senhora da Fátima. E ssa oração feita com tanta confiança e fé, no meio de indizível aflição, é atendida pela Saúde dos Enfermos e Con- soladora dos Aflitos. O doente começa logo a melhorar e, den­tro em poucos dias, volta radiante de gozo ao seu lar onde é recebido jubilosam ente pelos filhos. Os médicos assombrados ante o sucedido não se tênj,que não exclamem : «não foi uma cura, mas uma ressurreição».

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m FLORILEQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

70. Já agonizante e com a vela acesa...

Silvio Fiamoucini, Rodeio, Est. de Santa Catarina, conta como a sua mulher tivera uma terrível infecção proveniente de um parto. Só passados 13 dias foi levada para o hospital, de­clarando-lhe o médico, Dr. Hernâni de O liveira, ser já tarde para atalhar o mal. Entretanto, foi-lhe aplicada a penicilina, mas sem resultado algum. De dia para dia a enferma piorava. Volveram duas sem anas. Seu marido que sempre a acompa­nhara, pediu à Irmã enfermeira um livro ou jornal para ler. Providencialmente a Irmã emprestou-lhe a história da Fátima que ele leu enternecidamente. A esposa piorava ainda. Entra no quarto em que ela agonizava. Recebera já os últimos S a ­cramentos ; junto do leito estava a vela acesa. Com a maior comoção saiu do quarto, entrou na capela e invocou com muita fé Nossa Senhora da Fátima. A sua prece foi atendida; a e s ­posa principiou logo a melhorar, e, decorridos oito dias de con­valescença, regressaram a casa. Fizera a promessa de adqui­rir uma imagem de Nossa Senhora da Fátima e de a colocar numa capela, ao alto de um monte já conhecido pelo morro da Fátima. No dia 30 de Maio de 1946 benzeu-se solenemente a imagem e celebrou-se no alto do monte uma missa solene em acção de graças.

71. Das trevas à luz.

Marco António R osseto, filho de Maria Santini Rosseto, de 19 anos de idade, actualmente em Mesquita, Estado do Rio de Janeiro , cegou completamente aos 13 anos, ficando num aci­dente ambas as pupilas queimadas com ácido e águarrás. Seu pai que ainda vivia, e sua mãe, apesar de pobres, não se pou­param a despesas para que ele recuperasse a vista, subme­tendo-o a vários tratamentos. Durante a raspagem de um dos olhos, o outro, não se sabe como, foi vasado. Levaram-no ainda a Porto Alegre, recorrendo aos melhores médicos. Fo ­ram mais longe, até ao Rio de Janeiro . Aí como em Campinas, Curitiba, Botocatú consultaram vários especialistas. Esteve internado em vários Institutos e percorreu algumas e6tâncias de aguas, de recomendados efeitos curativos. Tudo em vão.

No Instituto de Campinas o médico, penalizado por ver

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NOVA SERIE DE EXEMPLOS [63]

inutilizadas tantas despesas, disse à mãe : para seu filho não há cura p o ssível; vá-se embora, deixe-o ficar aqui». O mesmo lhe disseram na Policlínica de O lhos, do Rio de Janeiro.

Inaugura-se agora o monumento a N.a S .° da Fátima, em Cruz Alta, a que atrás nos referimos (pág. 319 e seg .). Para lá se dirigiu o cego, guiado por sua mãe. A funcionária do escri­tório de Fátima, D. Lindomar, teve compaixão d e le ; falou-lhe em Nossa Senhora da Fátima e na sua água milagrosa. O cego que já tinha ouvido falar dos milagres de Nossa Senhora da Fá­tima ficou com o pensamento preso à Virgem e ao monumento que ia ser inaugurado. Antes de regressar foi com sua mãe junto da fonte milagrosa, situada perto da capela e do monu­mento e colheu um pouco de água. Tinha fé e muita esperança na graça que lhe viria daquela água e começaram, mãe e filho, a sua «novena de 30 dias».

J á no Rio, cada dia a mãe deitava uma gota de água nos olhos do cego. Pouco antes de se completarem os 30 dias, vendo acabar-se a água, a mãe pensa em mandar buscar mais a Cruz Alta. Alas o cego, tanta fé tinha já na sua cura, que disse : «Não se aflija, minha mãe, antes de esta acabar, estou curado». — De facto, certa manhã ao levantar-se, enxergou luz. Sem duvidar da cura, quis certificar-se mais ainda. Foi ao quintal, viu tudo o que lá havia, apalpou para se confirmar. E logo, cheio de alegria volta a casa, chama os irmãos, per­gunta os nomes e as cores dos objectos que via para se con­vencer bem da própria cura. E como remate, deixa-se cair de joelhos, mãos erguidas ao céu, agradecendo a Nossa Senhora da Fátima o benefício da vista recobrada. (Cf. V oe d e P ortu­g a l, 26 de Outubro de de 1952, N.° 126.

72. «Senhora da Fâtlma, ponha a mão na minha cabeça I»

Em fins de Julho de 1950, Flávio de S . João Carvalho, de 5 anos, de Vilar de Besteiros, Tondela, foi internado na clínica de Santa Cruz de Coimbra. E ’-lhe diagnosticada uma menin­gite transmática que, dada a fraqueza do doente, evolucionou para meningite tuberculosa. A febre conservava-se a 40°. O menino delirando dizia : «Nossa Senhora da Fátima, ponha a mão na minha cabeça». Como não melhorava, resolveram os pais trazê-lo para casa onde continuou a ser tratado pelo

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[64] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Dr. Marques da Costa, de Tondela. Inspirada pela súplica do doente em delírio, sua avó, D. Emília Rodrigues Pereira, prin­cipia uma novena de Salve-Rainhas a Nossa Senhora da Fátima, acrescentando a jaculatória : «O’ Maria concebida sem pecado, mostrai mais uma vez a Vossa m isericórdia»; e promete ir a pé a Fátima, s e o neto se salvasse. Completamente curado, a avó não tardou a cumprir o penoso voto. O facto é atestado pelo Rev.o Pároco de Besteiros, P. Manuel Henriques da Silva.

73. Dijpla cura.

D. Maria A. Lima Proença, de S . Pedro de Angra, escreve : «Fncontrando-se gravemente doente um vizinho, fui visitá-lo. A companheira recebe-m e banhada em lágrimas, pois o caso era desesperado. O médico dava-lhe apenas algumas horas de vida ao doente. A maior aflição da Senhora era pensar que ele morria em pecado, pois estava apenas civilmente registado, e isto há muitos anos, pois nunca ele quis ir à Igreja. Sa í a buscar um pouco de água da Fátima, que foi dado a beber ao enfermo, principiando também uma novena a Nossa Senhora. Com espanto de todos, o doente principiou a melhorar lenta­mente, e a primeira vez que saiu de casa (sem conselho nem imposição) foi para se dirigir ao pároco dizendo que se queria casar. Depois que se casou foi um fervoroso cristão durante os três anos que ainda viveu, morrendo edificantemente». Tudo isto é confirmado pelo Rev. Pároco, Padre António Lourenço Saramago.

74. Depois de 10 anos e meio...

Diz a Irmã Beatriz da Conceição, portuguesa de Goa. mas residente há muitos anos em Bombaim :

Havia 12 anos e 10 meses que eu estava impossilitada de andar, devido a unia queda que me ofendeu a espinha. Leva­ram-me para o Hospital de S . Jorg e ein Bombaim. Depois de observada pelos raios X e de várias consultas médicas, puse- ram-me um colete de gesso. De três em três m eses costumava o aparelho ser renovado e ‘tirava-se nova radiografia, operação que se efectuou por seis vezes. D epois disso tentaram o tra­tamento eléctrico e puseram-me a pé, mas sem resultado.

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NOVA SÉRIE DE EXEMPL08 [65]

Fiquei no hospital durante dez anos e meio, e como nenhum tratamento fosse eficaz, em Setem bro de 1948 voltei para o con­vento.

Quando tive conhecimento de que a imagem de Nossa S e - nhort vinha a Bombaim, fiz uma novena pedindo a Nossa Mãe Bendita que fizesse de mim o que fosse do seu agrado. No dia três de Maio Sua E x .a Rev.mo o Senhor Bispo D. Valeriano Gracias celebrou a M issa dos doentes. Tinham vindo muitos de vários pontos de Bombaim e eu estava entre eles.

Acabada a M issa, Sua E x .a Rev.11,11 benzeu com a custódia cada um dos doentes... Tive a sorte de ser a primeira a rece­ber a bênção e durante esse momento disse : «Meu doce J esu s e minha Mãe do Céu, fazei de mim o que for da vossa vontade». De repente senti uma dor terrível nas costas e nas pernas, ala- guei-me de suores frios e julguei que ia desmaiar. Olhei em volta para ver se havia alguém que me acudisse. Tudo isso deveria ter levado uns quinze minutos. Entretanto terminou a bênção e uns cinco minutos depois Sua Ex.* Rev.ma saiu do campo.

Então todos os doentes foram levados para os seus carros. Quando chegou a minha vez, d isse : «Agradeço-V os, minha doce M ãe, por me terdes concedido o grande privilégio de me encontrar aqui». Levaram-me para a entrada, para ser dali transportada. N essa altura senti-me muito leve e ergui-me da cadeira. Estive a pé durante todo e6se dia, perfeitamente bem. Esta manhã fui ã igreja próxima e voltei sem sinal algum de fadiga. Sinto-me cumpletamente curada.

Graças sejam dadas a Nossa Senhora da Fátima !Irm ã B e a ír ie d a C on ceição .»

75. Ipaa centaret...

M aria M irella, de 24 anos, de C altanisseta (Itália) rezava aos pés de N.1 S .* da Fátima, em Santa C roce, Camerina, pela saúde de Ema, sua filha de 2 anos.

Subitamente verifica aterrada que uma serpente se apro­ximara da pequenina Ema, sem que a criança desse por isso.

Petrificada de horror a pobre mãe, no meio da sua aflição, não consegue mover-se, nem gritar.

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[06] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Agarrou-se por fim á imagem de N.» S ." da Fátima, colo- cando-a junto da filha, com espanto dos outros fieis que também não haviam dado pela presença da serpente. Todos viram logo a serpente cair como que fulminada, depois de se ter enrolado ao corpo da menina.

O caso deu lugar a grandes m anifestações e causou a a mais profunda comoção.

76. Som movimento e sem fale durante 19 anos.

O seguinte atestado médico diz tudo :«Manuel Bonifácio da Costa, Doutor em medicina e cirur­

gião pela Universidade de Coimbra, e Director Clínico do Hos­pital da Misericórdia de Vila Nova de C erveira, declaro pela minha honra que, tendo sido o médico assistente, há já muitos anos, de Adélia Esteves, filha de Manuel Joaquim E steves e de Maria Augusta Pereira, de 35 anos de idade, solteira, natural da freguesia de Sapardos, concelho de Vila Nova de C erveira e residente na mesma freguesia, desde que presto assistência clínica à doente, encontrei-a sempre de cama, para­lítica e sem fala, estado este que data desde 24-8-925, dia em foi acometida de um ataque cerebral. Várias vezes a mediquei, quer para a paralisia, quer para outras doenças intercorrentes, mas sem que a primeira tomasse qualquer modificação. No mês de Março de 1944, depois de se curar de uma entero-estite, aconselhei a família a que a levasse a Nossa Senhora da F á ­tima no dia 13 de Maio. Foi, e, no regresso, via-a em Cerveira já curada. Visitei-a em sua casa várias vezes logo a seguir à sua cura verificando que esta se mantinha. A última vez que a visitei foi em 10-4-1945. Encontra-se completamente bem, tra­balha e entrega-se à sua vida, como qualquer pessoa normal. Afirmo, pois, que se trata de uma doente com paralisia dos membros e da fala que ficou curada na Cova da Iria no dia 13 de Maio do ano de 1944.

Vila Nova de Cerveira, 9 de Maio de 1945.M anuel B o n ifá c io d a C osta» .

Bem haja o consciencioso clínico, que sabe valer-se da sua autoridade profissional para dar a Deus o que é de Deus.

Por sua vez o Rev.° Pároco, P .* Sebastião da Silva P e­

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NOVA 8ÉRIB DE EXEMPLOS [67]

reira, confirma plenamente o testemunho médico, nomeando nada menos de 5 facultativos que trataram a doente durante 19 anos, sem resultado, acabando por declarar que «inúmeras pessoas de várias freguesias acorreram e acorrem ainda a visitar a miraculada».

77. Cura extraordinária com água da Fátima.

Aldina dos Prazeres Santos, residente em Mondim da Beira, diocese de Lamego, matriculada aos 19 anos no curso de puericultura da Maternidade Júlio Dinis do Porto, em fins de Janeiro de 1948, foi acometida de terrível e desconhecida enfermidade : grave inflamação nos lábios, com abundante su­puração. Uma pestilenta e nauseabunda chaga lhe cobria os lábios. Vários e competentes clínicos a examinaram cuidado- dosamente : D r.a Lucinda Gouveia, médica do curso de pueri­cultura, D rs. Augusto Barata e Aureliano da Fonseca. Inter­vieram ainda nos estudos deste caso os seguintes c lín ico s: Dr. Gonçalves de Azevedo, Dr. O scar Ribeiro e Dr. Rodrigues Goines, todos professores no referido curso de puericultura na Maternidade «Júlio Dinis» e muitos outros competentes.

Como os sintomas extrínsecos indicaram o escorbuto, foi tratada, sem resultado algum, desta enfermidade. Supuseram ser difteria, mas a análise deu resultado negativo. Aplicaram à enferma um milhão de unidades de penicilina, com passagei­ras melhoras. Como era im possível servir-se do garfo e da colher, sua alimentação era exclusivamente líquida, tendo en­fraquecido extraordináriamente. Em Abril, as melhoras des­vaneceram-se totalmente, volvendo ao estado primitivo. Aldina soube levar resignadamente tão grave desilusão. Recorre-se novamente à penicilina, mas desta vez a enferma piorou de maneira extraordinária.

Desenganada da terapêutica humana, a pobre enferma pôs em Deus toda a sua esperança. D. Maria Emília Teixeira, peregrina da Cova da Iria, trouxe dali um garrafão com água. No dia 21 de Junho de 1948, às 11 horas, Aldina humedeceu pela primeira vez os lábios com água da Fátim a, repetindo durante o dia a mesma operação. No mesmo dia, pela tarde, Aldina estava completamente curada. A cura operou-se em poucas horas. Foi rápida e completa !

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[68] FLORILÉGIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

78. Atravós do Ceará — Um caso estupendo.

Numa viagem ao Nordeste do Brasil ficou o autor deste «Florilégio» profundamente impressionado com o rasto lumi­noso de fé que a bendita imagem peregrina de N.® S.® da F á ­tima deixou por toda essa região, e, particularmente, no Estado do C eará. Foi uma autêntica revolução de almas. Um só indi­cio que vale por muitos: A devoção do terço quotidiano em família adquiriu um tal entusiasmo que ele passou a ser rezado em público pela emissora de Fortaleza, capital do Estado, a hora determinada e cómoda por 6er acompanhada nos lares cearenses.

As graças extraordinárias, com verdadeiro cariz de mila­gre, (ju lgue quem deve julgar), não foram escassas. E que­remos referir-nos a um facto, que nos transporta ao Antigo Testam ento, e que anda na boca de todos: o desaparecimento dum açude, que ninguém na região se recorda haver algum dia secado. D issera o dono que só acreditaria no poder tauma­turgo da Senhora, se Ela fizesse secar o seu açude. E eis que, da noite para o dia, o açude desaparece e com ele todos os peixes que o povoavam.

Não ousavamos registrar tal acontecimento, sem informa­ções seguras da sua realidade. Interrogamos para isso um sa­cerdote religioso, o R. P. Jo s é Pequito, S . J . — Confirmou o facto de viva voz a uníssono com todos os seus confrades. Não ficamos satisfeitos, e pedimos informação de fonte fidedi­gna e por escrito. Eis a sua resposta em carta de 7 de Feve­reiro de 1953.

«Só hoje posso enviar a resposta pedida sobre o caso do açude. Falei com o E x .ra° Snr. Arcebispo. Disse-m e o s e ­guinte : C erto qu e a á g u a e p e ix e s d o açu d e s e sum iram . C om o ? P o r q u ê? O d on o n eg a qu e d isse ra q u alqu er c o is a con tra N ossa S e n h o r a ; e d a no ite p a ra o d ia s e c o u com p letam en te. Como' o dono nada confessa que provocasse tal castigo, não se pode servir deste caso digno de publicação pela Igreja».

E continua a mesma carta : «O que é notável e milagroso são todos esses factos que Sua Ex.® R ev .m® publicou nesse número que lhe envio de A Im agem P ereg rin a em F o rta leza . Há muitos mais casos que o Snr. Arcebispo tem como verda­deiros milagres, mas, ou porque chegaram tarde ao seu conhe­cimento, ou porque não havia provas fidedignas da doença

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NOVA SÉRIE DE EXEMPL08 [69]

anterior, não foram publicados... Disse-m e Sua Ex.* Rev.“1 que nunca imaginou assistir em Fortaleza a um tal ambiente de es­piritualidade e de sobrenatural e que perdurou por muitos dias.

A boa vontade de todos, mesmo descrentes que ocupavam postos de mando, foi geral, unânime, em obsequiar a Virgem Peregrina».

79 Doença misteriosa e mais misteriosa cura

Luís Francisco Ferreira M artins, natural de Agrela (P o r­tugal) e residente no Rio de Jane iro , contraiu em Dezembro de 1949 uma enfermidade dolorosfssima, de carácter tão miste­rioso que os médicos nem souberam bem defini-la. Foram 7 m eses de incompreensível martírio. As dores eram tão inten­sas que o doente por vezes nem tecar-se podia, a ponto de ficarem os membros completamente paralisados. A radiografia acusava um deslocamento da coluna vertebral, a ponto de a perna direita ter encurtado cinco centímetros em relação à esquerda.

O s médicos tentaram todos os tratamentos, começando pelo de in jecções. Depois resolveu uma junta médica operá-lo, mas a operação não pôde fazer-se, por se ter uma injecção enquistado no local da operação. Seguem -se durante 5 m eses vários tratamentos eléctricos. Resultado contraproducente: mais se irritavam as dores, mais se acentuava a paralisia. A última forma de tratamento eléctrico de que lançou mão a medicina, foi a R o en tgen terap ia , que lhe atingiu dolorosamente os ossos, tratamento tão melindroso que o médico só o apli­cava pondo-se a certa distância, nem se podiam tentar mais de 5 aplicações; e entretanto chegaram a 15. Resultado absolu­tamente nulo, para não dizer contraproducente.

Chega o mês de Maio de 1950. O doente com a mulher e filhos sentem reviver toda a sua fé em Nossa Senhora da Fá­tima, pois moram muito perto do Seu Santuário Fluminense. P o r su a v ez põem de parte todos os remédios e tratamentos, e empreendem uma cruzada de orações à Virgem da Fátima com o terço diário durante todo o mês de Maio, continuando ainda pelo mês de Junho adiante.

A doença permaneceu sempre estacionária, até que depois do dia 20 de Junho, a en ferm idade com to d a s a s d o res d esa p a -

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[70] FLORILÉGIO ILU8TRADO DA FATIMA

receu in stantanea e defin itivam en te. E , sem necessitar de con­valescença alguma, Lufs P . P . Martins volta sem demora ao trabalho, 7 meses abandonado, retomando-o como se não tivesse estado doente.

A família e os vizinhos ainda falam com espanto dessa cura fulminante. O s médicos desorientados com o carácter e desenvolvimento da m isteriosa doença, mais desorientados ficaram com tão repentina cura do que haviam já declarado incurável, pois em menos de 3 dias desaparecera por completo toda a doença e vestígios dela. (c f . V. d a F . de M arço de 1952 n.o 354).

L A U S D E O

V I R G I N I Q U E M A T R I

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Í N D I C E

Prefácio J e Sua E x.a Rev."111 o S r . Bispo de Leiria . 7Para principiar . .......................................... 9

Dia 30 de A b r i l .................................. 15E x em p lo : O céu aberto sobre a terra . . . . . 19

Dia 1 de Maio - Sancta M aria.................................................. 23E x em p lo : A Terra de Santa Maria sob um pesa­

delo de m o r t e .............................................................. 30Dia 1 ou 2 — Sancta Dei Genitrix............................................ 33

E x e m p lo : O tributo das primícias do Novo T es­tamento .................................................... 38

Dia 2 — Sancta Virgo Virginum.................................................... 40E x e m p lo : Sob o terror vermelho da libertina­

gem fardada .................................................... 44Dip 3 — M ater C h risti.................................................................... 46

E xem plo : «Já morreu ! » .............................................. 51Dia 3 ou 4 — M ater Divinae G ra tia e ....................................... 53

E x e m p lo : A Virgem da Fátima encontra-se comM a r x ................................................................................ 57

Dia 4 — M ater Puríssim a.............................................................E x e m p lo : «Antes sofrer que ofender-Vos». . .

Dia 5 — M ater C a s t ís s im a .........................................................E x e m p lo : Do lodaçal do vício ao paraíso da vir­

tude ...................................................................................... 69

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[72] FLORILÈQIO ILUSTRADO DA FATIMA

Dia 5 ou 6 — M ater I n v io la t a .................................................... 73E x em p lo : Mais rainha porque católica . . . . 77

Dia 6 - M ater in te m e r a ta .......................................................... 80E xem plo : A Fita e a P u r p u r a .................................. 86

Dia 7 — M ater A m a b il is ............................................................... 88E x e m p lo : M onstra te esse M a t r e m ....................... 94

Dia 7 ou 8 — M ater A d m ira b ilis .............................................. 96E x e m p lo : A admiração da c iê n c ia ....................................100

Dia 8 — M ater Boni Consilii................................................................ 103E x e m p lo : «Aqui a trago e nunca mais a largarei» 108

Dia 9 — M ater C re a to r is ......................................................................110E x e m p lo : A Deus o que é de Deus e à ciência o

que é da c i ê n c i a ................................................................ 115D ia 9 ou 10 — M ater Salvatoris...........................................................118

E x e m p lo : Para a eternidade com o passaporteem r e g r a ................................................................................. 124

Dia 10 — Virgo Prud en tíssim a.......................................................... 125E x em p lo : Prevenção da última h o ra .............................. 130

Dia II — Virgo V en eran d a .................................................................132E xem plo : «Isto só por um grande milagre» . . 138

D ia 1 1 — Virgo P r a e d ic a n d a ...........................................................140E xem plo : Um coro de louvores à Virgem da F á ­

tima ............................................................................................145Dia 12 — Virgo P o t e n s ...................................................................... 148

E x e m p lo : Nuvens que proclamam o poder deM a r i a ....................................................................................... 152

Dia 12 — Virgo C lem en s......................................................................154E x e m p lo : «O c a s o . . . é simplesmente espan­

toso» ....................................................................................... 158Dia 13 — Virgo F i d e l i s ......................................................................160

E x e m p lo : Ditosa afilhada que tal madrinha teve 165

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Indice [73]

Dia 13 — Speculum J u s t i t i a e ...........................................................167E x e m p lo : O que estes fizeram porque o não

farei eu ? .......................................................................172Dia 14 — Sedes S a p ie n tia e ......................................................174

E xem plo : Lição a p re n d id a .................................... 180Dia 14 — Causa Nostrae L a e t i t i a e .....................................181

E x e m p lo : Depois da noite a luz . . . . . . 186Dia 15 — Vas S p ir itu a le ........................................................... 188

E x e m p lo : O «poço de Nossa Senhora da Fátima» 192Dia 15 — Vas H o n o r a b i le ......................................................194

E xem plo : Apoteose esp an ho la ...............................198Dia 16 — Vas Insigne D ev o tio n is ..........................................200

E xem plo : Sob uma chuva de metralha . . . . 204Dia 16 ou 17 — Rosa M y stic a ................................................207

E x e m p lo : «Quanto mais fitava a Virgem, maisEla s o r r i a » ..................................................................211

Dia 17 — Turris D a v id i c a ...................................................... 214E x e m p lo : A Torre de David em face do Kremlim 219

Dia 18 — Turris E b ú r n e a ......................................................221E x e m p lo : H oje profecia, amanhã históriu . . . 226

D ia 18 ou 19 — Domus A u r e a ................................................ 228E x e m p lo : Pedras que se levantam e pedras que

f a l a m .............................................................................233Dia 19 — Foederis A r c a ............................................................236

E xem plo : No momento da Bênção Nossa Senhorasegredou-me a minha c u r a ..................................... 241

D ia 20 — Janua C o e li ................................................................. 244E x e m p lo : Entrando pela verdadeira porta . . . 249

Dia 20 ou 21 — S tella M a tu t in a ...........................................252E x em p lo : Estre las na T e r r a ............................... 257

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[74] PLORILÉQIO ILUSTRADO DA FÁTIMA

Dia 21 - Salus Infirm orum ......................................................259E x e m p lo : Duas mães, duas Enferm eiras . . . 264

Dia 22 — Refugium P e c c a to r u m .......................................... 266E x e m p lo : Cadeias despedaçad as..........................270

Dia 22 ou 23 — Consolatrix A f f l ic to r u m ......................... 272E x e m p lo : T rês dias de a fliç ã o ............................... 277

Dia 23 — Auxilium Christianorum.......................................... 279E x e m p lo : Auxilio dos cristãos, íman dos pagãos 284

Dia 24 — Regina A n g e lo ru m ................................................ 287E x em p lo : Precursor de Maria e educador dos seus

v id e n te s ....................................................................... 294Dia 24 ou 25 — Regina P atriarch arum ............................... 297

E x e m p lo : Como os Patriarcas, mae... pela rádio 303Dia 25 - Regina Prophetarum ................................................ 304

E x em p lo : Devassando os horizontes do futuro . 309Dia 26 — Regina Apostolorum .................................................311

E xem plo : Fátima andn pelo m undo....................318Dia 26 ou 27 — Regina M artyrum ...........................................322

E x e m p lo : Aspirações de reparação por meio des o fr im e n to ................................................................. 327

Dia 27 — Regina C onfessorum ................................................ 329E x e m p lo : «Não me importo de provocar o riso

sarcástico dos incrédulos».....................................334Dia 28 — Regina V irg in u m ......................................................336

E xem plo : A Goretti L u s ita n a ............................... 341Dia 28 ou 29 — Regina Sanctorum O m n iu m ................... 344

E x e m p lo : Entronizada na cidade de Todos osS a n to s .................................................................... . 351

Dia 29 — Regina sine labe Originali Concepta . . . . 353E x e m p lo : Inédito concurso de beleza e . . . rainha

e l e i t a .............................................................................358

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ÍNDICE [75]

Dia 30 — Regina in Coelum A ssu m p ta ......................................... 360E x em p lo : Paraquedas s a lv a d o r ....................................367

Dia 30 ou 31 — Regina Sacratissim i R o s a r i i ..............................369E x e m p lo : Rosário doloroso a princípio, gozoso

ao f in d a r ................................................................................. 374Dia 31 — Regina P a c i s ....................................................................376

E x e m p lo : Conferência de paz e de desarmamento 382Na Conclusão de Maio — Pétalas de saudade — Bênçãos

de p e r s e v e r a n ç a ..............................383E x em p lo : F lores de p r e d e s tin a ç ã o .386

APÊN DICE

Nova S érie de Exemplos (1-79) [I] — [70]

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