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É PRECISO FALAR: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE MENTAL EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE Lidyane Costa Feitosa¹, Laís de Menezes Carvalho Arilo² ¹Psicóloga pela Universidade Federal do Piauí. Discente da especialização em Saúde da Família e Comunidade da Universidade Federal do Piauí, Ininga, Teresina, CEP: 64049-550. E-mail: [email protected] ²Psicóloga pela Faculdade Santo Agostinho, Tutora do curso de Especialização em Saúde e Comunidade da Universidade Federal do Piauí, Docente do curso de Psicologia na FAESPI e UNINASSAU; Mestre em Saúde da Mulher pela Universidade Federal do Piauí. RESUMO Diante do crescimento do número de pessoas com transtorno mental; como o aumento de óbitos por suicídio no mundo, principalmente entre os jovens, assim como a dificuldade de inserção de ações efetivas em saúde mental na atenção básica, percebeu-se a necessidade de trabalhar com a prevenção, promoção e psicoeducação em saúde mental na situação de transtorno já instalada, através de grupos motivacionais e de valorização da vida, com o intuito de trabalhar temas afins em encontros quinzenais e com busca ativa. As atividades de sensibilização, como sala de espera (psicofobia), roda de conversa (valorização da vida) e busca ativa já tiveram início, conseguindo atrair um público dentro do número esperado para a realização do grupo, além de permitir que se analisasse, com mais cuidado, a complexidade inerente às relações que os sujeitos estabelecem nesse espaço. Almeja-se que as pessoas vejam os grupos com função terapêutica podem se configurar como espaço de fortalecimento, passagem, para que possam ser ressignificadas, reparadas, as dificuldades de viver, ser acompanhadas e acolhidas, diminuindo assim a ausência do atendimento individual visto como necessário. Descritores: Grupo Terapêutico; Saúde Mental; Atenção Básica MENTAL HEALTH PREVENTION AND PROMOTION IS REQUIRED IN A BASIC HEALTH UNIT ABSTRACT Faced with the growth of the number of people with mental disorders; such as the increase in deaths due to suicide in the world, especially among young people, as well as the difficulty of inserting effective actions in mental health in primary care, the need to work with prevention, promotion and psychoeducation in mental health in the situation was perceived. of already installed disorder, through motivational groups and valuation of life, with the intention of working on similar topics in fortnightly meetings and with active search. Awareness activities, such as a waiting room (psychophobia), a conversation wheel (life enhancement) and an active search have already begun,

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É PRECISO FALAR: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE MENTAL EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

Lidyane Costa Feitosa¹, Laís de Menezes Carvalho Arilo²

¹Psicóloga pela Universidade Federal do Piauí. Discente da especialização em Saúde da Família e Comunidade da Universidade Federal do Piauí, Ininga, Teresina, CEP: 64049-550. E-mail: [email protected] ²Psicóloga pela Faculdade Santo Agostinho, Tutora do curso de Especialização em Saúde e Comunidade da Universidade Federal do Piauí, Docente do curso de Psicologia na FAESPI e UNINASSAU; Mestre em Saúde da Mulher pela Universidade Federal do Piauí.

RESUMO

Diante do crescimento do número de pessoas com transtorno mental; como o aumento de óbitos por suicídio no mundo, principalmente entre os jovens, assim como a dificuldade de inserção de ações efetivas em saúde mental na atenção básica, percebeu-se a necessidade de trabalhar com a prevenção, promoção e psicoeducação em saúde mental na situação de transtorno já instalada, através de grupos motivacionais e de valorização da vida, com o intuito de trabalhar temas afins em encontros quinzenais e com busca ativa. As atividades de sensibilização, como sala de espera (psicofobia), roda de conversa (valorização da vida) e busca ativa já tiveram início, conseguindo atrair um público dentro do número esperado para a realização do grupo, além de permitir que se analisasse, com mais cuidado, a complexidade inerente às relações que os sujeitos estabelecem nesse espaço. Almeja-se que as pessoas vejam os grupos com função terapêutica podem se configurar como espaço de fortalecimento, passagem, para que possam ser ressignificadas, reparadas, as dificuldades de viver, ser acompanhadas e acolhidas, diminuindo assim a ausência do atendimento individual visto como necessário.

Descritores: Grupo Terapêutico; Saúde Mental; Atenção Básica

MENTAL HEALTH PREVENTION AND PROMOTION IS REQUIRED IN A BASIC HEALTH UNIT

ABSTRACT

Faced with the growth of the number of people with mental disorders; such as the increase in deaths due to suicide in the world, especially among young people, as well as the difficulty of inserting effective actions in mental health in primary care, the need to work with prevention, promotion and psychoeducation in mental health in the situation was perceived. of already installed disorder, through motivational groups and valuation of life, with the intention of working on similar topics in fortnightly meetings and with active search. Awareness activities, such as a waiting room (psychophobia), a conversation wheel (life enhancement) and an active search have already begun,

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attracting an audience within the number expected to perform the group, and allowing it to be analyzed, with more careful, the inherent complexity of the relationships that subjects establish in this space. It is hoped that people see the groups with therapeutic function can be configured as a space of strengthening, passage, so that they can be redefined, repaired, the difficulties of living can be followed and welcomed, thus reducing the absence of individual care seen as necessary.

Keywords:Therapeutic Group; Mental health; Basic Attention

INTRODUÇÃO

No mundo contemporâneo observa-se que a construção da identidade vem

sendo permeada pelo entrecruzamento de pontos de insegurança, em um ambiente de

risco institucionalizado e permanente (1). Dessa forma em um meio muitas vezes

hostil, cercado de conflitos e angústias, somado com as modificações biológicas,

sociais e psicológicas, tem-se constatado um crescimento de transtornos mentais e

comportamento suicida entre os jovens (2).

Em números gerais, anualmente a cada 45 segundos uma pessoa se suicida

em algum lugar do planeta, ou seja, cerca de800 mil pessoas tiraram a própria vida no

mundo(3-4). Tal prática faz com que atualmente o suicídio seja a terceira maior causa

de morte entre a população entre 15 e 44 anos, e a segunda entre a população de 15

a 19 (5).

Por volta de 20% das pessoas que tentam se matar, o fazem novamente no

ano seguinte, e aproximadamente metade desses conseguem efetivar o suicídio nos

10 anos seguintes (6). A falta de manejo, preparo técnico, conhecimento para lidar

com pessoas em contexto de suicídio, bem como o preconceito (7-9) e dificuldade de

detecção de sinais e sintomas de transtornos mentais ligados, (10), fazem com que

tais números aumentem.

A capacitação dos profissionais de políticas públicas para problemas da ordem

de saúde mental se torna cada vez mais necessária, uma vez que estudos comprovam

que cerca de 90% dos casos apresentavam sinais e/ou sintomas que caberia um

diagnóstico de transtorno mental na época do suicídio (11), sendo os mais recorrentes:

depressão, transtorno do humor bipolar, dependência de álcool e/ououtras drogas

psicoativas, além de transtornos de personalidade (12).

O distúrbio mental mais associado ao suicídio pela literatura, a depressão,

pode atingir o ser humano nos diferentes estágios da vida (13), no entanto vem

tornando-se cada vez mais recorrente entre os adolescentes (14), encontrando-se a

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prevalência de3,3 a 12,4% de depressão maior nessa faixa etária (15), sendo

responsável por cerca de 75% das internações psiquiátricas (16), tornando-se assim

um problema de saúde pública (17).

Diferente de outros problemas de saúde o suicídio é amplamente evitável e

possível de reduzir utilizando ferramentas com ação coletiva para reconhecer e tratar,

bem como compromisso para intervenções eficazes, apoiadas por vontade e recursos

políticos (4).

Diante disso e tendo os princípios do SUS e os fundamentos da Atenção

Básica (AB), além das garantias dadas pela Constituição Federal de 1988: saúde

como direito, integralidade da assistência; universalidade, equidade, resolutividade,

intersetorialidade, humanização do atendimento e participação social, acredita-se que

tais problemas de saúde mental deveriam ter seu lugar de destaque nas ações das

equipes ligadas diretamente a Atenção Básica (18).

Atualmente existem diretrizes para a organização das ações em saúde mental

na Atenção Básica, sendo estas: apoio matricial da Saúde Mental às equipes da

Atenção Básica, formação como estratégia prioritária para a inclusão da saúde mental

na AB e a inclusão da Saúde Mental no Sistema de Informações da Atenção Básica

(SIAB), tendo a equipe de saúde mental de apoio, a tarefa de supervisionar as ações,

realizar atendimentos coletivos e específicos, além de qualificar os profissionais da

AB. Contudo sabe-se que na maioria dos municípios do Brasil, a equipe de saúde

mental é reduzida, portanto fica inviável que tais tarefas fiquem restritas a estes

serviços; tornando necessário que haja articulação com as demais políticas públicas

para a efetivação dessa rede de proteção, refletindo melhoria nas condições de vida e

saúde das pessoas que necessitam, o que ainda, infelizmente, não é alcançado (19).

A urgência em pôr em prática as diretrizes acima citadas também se justifica

por muitas vezes a atenção básica ser a porta de entrada para muitas pessoas em

sofrimento psíquico, uma vez que mais de 75% das vítimas de suicídio procuraram

algum serviço de atenção primária à saúde no ano e 45% no mês que morreram (20).

O quadro da saúde mental observado no município de Parnaíba não destoa

dos dados apresentados acima, tanto no crescimento do número de pessoas com

transtorno mental, como o aumento de óbitos por suicídio, estando atualmente em

segundo lugar no estado do Piauí (21), assim como nas dificuldades de inserção de

ações efetivas em saúde mental na atenção básica (22).

Apesar de possuir uma rede de atenção psicossocial por muitos considerada

razoável, contando com 37 equipes de Saúde da Família (ESF), quatro equipes do

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Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), um Centro de Atenção Psicossocial

(CAPS) tipo II, um CAPS AD III, além dos leitos em hospitais públicos: Hospital

Estadual Dirceu Arcoverde (HEDA) e Santa Casa de Misericórdia (21), a mesma ainda

é insuficiente para a demanda crescente.

Frente a tal situação percebeu-se a necessidade de atuar de forma mais direta

nos casos ligados às questões de saúde mental que surgem na Atenção Básica do

município. Para tanto optou-se pela Unidade Básica de Saúde (UBS) Iracema Feitosa,

local este que vinha sendo estudado durante a Especialização em Saúde da Família e

Comunidade da Universidade Federal do Piauí.

O presente trabalho foi direcionado ao módulo 43 da UBS que têm como

população adscrita 2522 pessoas. Atualmente conta com Equipe de Saúde da Família,

Equipe de Saúde Bucal e apoio do NASF, mas devido a transição de governo

municipal e finalização de contratos, encontra-se com déficit de alguns profissionais

em cada equipe.

Devido à falta de profissionais da saúde mental na atenção primária, a grande

demanda de jovens com comportamento de automutilação, depressão e tendência

suicida, somado a falta de manejo das pessoas que lidam diretamente com os casos,

optou-se por trabalhar com a prevenção e psicoeducação diante da situação instalada,

através de grupos motivacionais e de valorização da vida, com o intuito de trabalhar

temas afins em encontros quinzenais e com busca ativa semanal.

Portanto os objetivos do presente trabalho são construir um Projeto de

Intervenção que promova acolhimento aos jovens com comportamento depressivo,

autolesivo e suicida; promover espaços de escuta; desenvolver um grupo de apoio;

promover ações de autoconhecimento e valorização à vida com as pessoas que

procuram a UBS Iracema Feitosa, módulo 43.

MÉTODO

O presente trabalho trata de umprojeto de intervenção em andamento, na fase

de sensibilização da equipe e da comunidade adscrita pelo módulo 43 da Unidade

Básica de Saúde Iracema Feitosa.

Por a literatura mostrar que trabalhar em grupo com pessoas que são

acometidas por transtornos mentais é bastante eficiente, uma vez que oficinas e

grupos terapêuticos se propõem que, por meio da escuta, haja a possibilidade de o

indivíduo compartilhar diálogos, experiências e sentimentos, além de perceber queo

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profissional de saúde (mediador) pode contribuir para sua reabilitação psicossocial

(23-24), optou-se por trabalhar tais demandas em grupos dentro da UBS.

O Plano Operativo foi pensado em etapas articuladas, que se sucedem e se

complementam, dispostas no quadro abaixo:

SITUAÇÃO PROBLEMA

OBJETIVOS METAS/ PRAZOS

AÇÕES/ ESTRATÉGIAS

RESPONSÁVEIS

Demanda crescente de problemas em saúde mental recebidas na Atenção Básica e ausência de profissionais capacitados para o atendimento.

Geral:

Construir um Projeto de Intervenção que promova acolhimento aos jovens com comportamento depressivo, autolesivo e suicida;

Específicos:

Promover espaços de escuta;

Desenvolver um grupo de apoio;

Promover ações de autoconhecimento e valorização à vida

Sensibilizar profissionais e população sobre a importância do acolhimento em questões de saúde mental, tornando-se ação constante, no prazo de um ano.

Convite do público-alvo para a participação nos eventos a acontecer, no decorrer do ano.

Construção de um grupo fixo para acolhimento, psicoeducação e terapia grupal para pessoas acometidas por transtornos mentais, no prazo de um ano.

Trabalho em salas de espera e rodas de conversa sobre a relevância de falar de transtornos mentais e sua ligação com situações extremas como o suicídio.

Realização de busca ativa dos casos ligados a questões de saúde mental (risco de suicídio) que já passaram pela UBS, para “monitoramento” e convite para participação das atividades a serem desenvolvidas.

Convidar as demandas espontâneas que surgirem na UBS com questões ligadas a autodestruição para participar das atividades.

Realização dos grupos terapêuticos com as pessoas que atenderem aos convites realizados.

As Equipes que compõem a Unidade de Saúde Iracema Feitosa, módulo 43, Agentes Comunitários de Saúde(ACS) e a acadêmica que propôs o projeto de intervenção.

Figura1: Quadro que representa as etapas que elencam o projeto de intervenção.

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Como o exposto acima a intervenção proposta com o presente projeto visa

primeiramente a sensibilização das pessoas envolvidas no processo através da

realização de salas de espera e rodas de conversa, sobre temas como psicofobia,

manejo com pessoas acometidas por transtornos mentais, valorização da vida, dentre

outros, com os profissionais e pacientes em geral que se encontrem na UBS durante

os eventos.

As visitas domiciliares serão de fundamental importância na busca ativa dos

casos referente ao tema que já passaram pelo módulo 43, para tanto serão utilizadas

as visitas semanais programadas realizadas pelos ACS, equipe de enfermagem e

NASF. As visitas também terão por finalidade a observação da situação em que as

pessoas se encontram atualmente, para realizar um filtro daquelas que ainda teriam

necessidade de intervenção. O convite as pessoas que procurarem a unidade por

demanda espontânea ficará a cargo de todos os profissionais do módulo 43.

Os grupos serão formados por no máximo dez pessoas, procurando sempre o

maior grau de homogeneidade possível, para que a coesão e adesão dos integrantes

ocorra naturalmente. Espera-se que o momento grupal seja quinzenal, com duração

de uma hora e trinta minutos, iniciando a partir das 18 horas, para que não

comprometa as atividades cotidianas dos integrantes.

Para atingir os objetivos traçados no projeto de intervenção foram pensadas as

atividades dos quatro primeiros encontros, trazendo elementos artísticos (fotos,

música, teatro) e dinâmicas de grupo, com o intuito de intermediar a vinculação do

grupo e favorecer o processo de fala/escuta, como o apresentado a seguir, sendo que

os demais serão organizados de acordo com as demandas que forem trazidas pelos

participantes.

1º Encontro: Para que mesmo participar desse grupo?

Deverão ser apresentados os objetivos do Projeto É Preciso Falar! Seguido

da realização do contrato grupal, ressaltando os direitos e deveres dos participantes,

no qual cada participante deverá contribuir com a elaboração do documento e depois

assinar. Para o momento de apresentação propõem-se que seja realizada a dinâmica

do átomo social/familiar adaptada para grupo, vinda de técnicas do psicodrama (25).

A técnica do átomo social pode ser direcionada para qualquer espaço temporal,

no entanto para a atividade buscar-se-á o presente. Para a realização será solicitado

que um integrante vá ao centro da sala e cite para o grupo quem são as pessoas mais

próximas dele na vida, depois que a pessoa aponte alguém para representá-la e as

que foram citadas como significativas do seu mundo. O primeiro participante ainda

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será convidado a organizar toda a cena colocando-as perto ou longe da pessoa que

estará lhe representando, considerando a distância emocional que as percebe. Após a

configuração da imagem, o protagonista deverá entrar no lugar da pessoa que ocupou

seu lugar, de dentro da imagem, vai verbalizando como se sente em relação a esta

posiçãoque ocupa, a cada pessoa escolhida. Devendo inverter papéis e dialogar,

confrontar-se, com pelo menos um dos elementos que colocou no seu átomo,

buscando que fale sobre como aquela pessoa o vê. Tal atividade pode ser realizada

por todos os participantes de forma voluntaria, mas quem preferir pode utilizar a

apresentação tradicional só falando seu nome e motivação para participar do projeto.

Ao final do encontro será proposto que todos tragam uma música que de

alguma forma marcou sua vida, que retrate a si mesmo ou a relação com alguém que

seja representativo para sua vida.

2º Encontro: Meu mundo e minhas conquistas

No segundo encontro os participantes serão convidados a expor a música que

trouxeram como indicado na tarefa do primeiro encontro, para tanto estará disponível

um tablet com acesso à internet e uma caixa de som, e a medida que a música for

passando as pessoas serão convidadas a expressar os sentimentos que a música que

cada um trouxe remete. Tal atividade enfatizará esse tipo de arte como elemento

marcante na história de vida do ser humano, pedindo que reflitam sobre que música

marcou as conquistas que tiveram em suas vidas.

Antes da finalização do 2º momento será solicitado que enumerem as quatro

maiores conquistas de suas vidas e tragam no terceiro encontro por escrito, em

pequenos pedaços de papel (que serão entregues), ordenadas por grau de

importância.

3º Encontro: Às vezes me sinto impotente e sem importância

Logo ao adentrar a sala os participantes do grupo serão convidados a, com

uma fita, colar no peito a conquista que enumerou com o maior grau de valoração e

passear pela sala para que os demais conheçam o seu maior feito e compartilhem as

deles também. Após esse momento serão convidados a sentar-se e segurar a

conquista numerada com o grau de relevância dois, com a mão direita e o colega

sentado ao lado a puxar e jogar no lixo, sem olhar. Todos serão convidados a falar

sobre a experiência de ver sua conquista sendo jogada fora por alguém que nem ao

menos a conhecia.

A atividade visa que os participantes repensem o valor das conquistas e o

quanto foram fortes para consegui-las, consigam perceber que muitas vezes as

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pessoas ao redor se desfazem da vida dos demais sem dar-se o trabalho de conhecer

e que muitas vezes a própria pessoa desconhece o valor que tem.

Nesse encontro também será realizado um momento destinado a

psicoeducação sobre sinais e sintomas de transtornos mentais que são ligados ao

suicídio, com o intuito de demonstrar que alguns dos sentimentos que permeiam a

vivência deles podem estar associados a ordem da saúde mental, se muitas vezes

tratável.

4º Encontro: Pensando no futuro

Será utilizada uma técnica de dinâmica de grupo através de imagens de

revistas, jornais e fotografias que retratem emoções, as quais serão dispostas no chão

e nas paredes da sala. As imagens representarão medo, amor, angústia, ambição,

felicidade, energia, equilíbrio, passividade, pavor, paz, perseverança, ânimo, dentre

outros. Será solicitado que os participantes escolham uma figura que mais representa

o sentimento associado a palavra futuro, em seguida comente o motivo da escolha e

como se imagina daqui a 10 anos (26). Ao final será aberta a oportunidade para que

cada aluno fale de como se sentiu ao falar do futuro e os sentimentos que surgiram ao

dividir isso com os demais.

Em cada encontro será aberto espaço de fala para todos os participantes que

possam destoar do proposto da semana, pois o intuito do esquema traçado é apenas

nortear para que os objetivos sejam alcançados, não sendo algo rígido. A proposta

principal é de que o grupo seja um espaço de fala e escuta, para que no meio de

tantas dificuldades vividas no cotidiano, os mesmos tenham um espaço de cuidado,

refúgio e oportunidade de descobertas. Dessa forma apesar da programação das

atividades como o disposto acima, as mesmas poderão sofrer alterações de acordo

com as demandas que surgirem no decorrer das buscas ativas e necessidades que se

fizerem aparente pelas equipes envolvidas na execução do projeto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como retratado no início da apresentação do método, o projeto se encontra em

execução, tendo sido desenvolvida sala de espera, com o tema Psicofobia, no primeiro

semestre de 2018 e uma roda de conversa, sobre Valorização da Vida, no mês de

setembro do corrente ano, ambas as atividades trabalhando a sensibilização da

comunidade e profissionais para o desenvolvimento do grupo a se formar.

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A primeira atividade contou com a participação de oito pessoas que se

encontravam nos corredores da UBS, aguardando o atendimento com a enfermeira

que estava no turno. Observou-se a necessidade de trabalhar com esse tema devido a

estigmatização das pessoas com transtornos mentais, o que provoca a perca

cidadania, sofram preconceito e sejam segregadas pela sociedade (27).

No evento foram esclarecidas dúvidas sobre o preconceito e o medo da

população em geral acerca das pessoas que tem transtorno mental, como também do

receio que as pessoas têm em buscar um profissional de saúde mental, quando

percebe que algo não está bem e como este comportamento pode agravar alguma

enfermidade que pode estar se instalando.

As pessoas foram bastante participativas, perguntaram sobre sintomas de

ansiedade e depressão, além de trazerem relatos pessoais de vivências que envolvem

as questões trabalhadas, bem como a dificuldade de conseguir atendimento gratuito

para os profissionais de saúde mental. Segue abaixo imagem do dia do evento:

Figura 2: Sala de espera - Psicofobia

A segunda atividade realizada foi a roda de conversa com o tema Valorização

da Vida, no mês de alusão a Prevenção do Suicídio. O evento contou com a

participação dos enfermeiros da UBS, além de estagiários do curso de enfermagem da

Faculdade Maurício de Nassau e sua tutora.

As atividades desenvolvidas foram: dinâmica do balão (Meio cheio ou meio

vazio); a construção da linha da vida dos momentos que nos fortalece e o bingo

Setembro Amarelo: Motivos para viver. A atividade contou com a participação de vinte

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pessoas que perguntaram, trouxeram relatos e se emocionaram ao se identificar com

a fala dos demais. Segue imagens do evento:

Figura 4: Linha da Vida Figura 5: Equipe de Organização

As atividades realizadas conseguiram atingir o objetivo de sensibilizar e mostra

que grupos com função terapêutica podem se configurar como espaço de

fortalecimento, passagem, para que possam ser ressignificadas, reparadas, as

dificuldades de viver possam ser acompanhadas e acolhidas (28), nos permitiu

também analisar, com mais cuidado, a complexidade inerente às relações que os

sujeitos estabelecem nesse espaço.

Figura 3: Modelo do Bingo realizado

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Os participantes que se identificaram com a proposta já se dispuseram a

participar do grupo a se formar. Os encontros do grupo estão previstos para iniciar

em meados de dezembro e atualmente conta com seis pessoas interessadas

em participar, as buscas ativas vem ocorrendo de forma sistemática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho tem por objetivo promover o acolhimento e um espaço de fala e

escuta para jovens com comportamento depressivo, autolesivo e suicida, através de

oficinas e grupos terapêuticos em uma unidade básica de atenção, com a utilização de

arte e dinâmicas de grupo como instrumentos de facilitação.

Almeja-se que a população que o projeto atinja ao máximo as pessoas do

território direta ou indiretamente; que se consiga diminuir o número de óbitos ligados a

transtornos mentais, principalmente o suicídio, que como o exposto só vem

aumentando no mundo; além de informar e diminuir o preconceito a questões dessa

ordem.

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