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ESTRATÉGIAS COOPERATIVAS NO CAMPO DA CERVEJA ARTESANAL BRASILEIRA i Yan Alessandro Monteiro Miranda ii José Augusto Lacerda Fernandes iii Universidade Federal do Pará Resumo Essa pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de descrever as relações de cooperação adotadas no campo de cerveja artesanal do Brasil a partir da definição de DiMaggio (1983) que compreende como campo “organizações que, em conjunto, constituem uma área reconhecível de vida institucional: fornecedores-chaves, consumidores de recursos e produtos, agências reguladoras e outras organizações que produzem produtos e serviços similares”. Intencionando o alcance de seu objetivo, essa pesquisa utilizou o levantamento de dados secundários para identificar quais ações cooperativas ocorrem nesse campo, assim como obter informações referentes a suas características. Logo, os resultados obtidos apresentam uma variedade de estratégias cooperativas nesse campo, contudo há maior ocorrência de parcerias de curta duração, além disso, observou-se a busca de alianças estratégicas que proporcionem autonomia e flexibilidade para as parceiras. Portanto, esse artigo contribui para a academia possibilitando direcionamento a futuras pesquisas sobre alianças estratégicas no campo estudado. Como contribuição prática, esse estudo oferece à gestão de cervejarias artesanais conhecimento a respeito de diferentes mecanismos que podem proporcionar a inovação, crescimento e aumento de participação de mercado. Além disso, essa pesquisa também contribui para a gestão de empresas dos setores alimentícios e turísticos apresentando as oportunidades de cooperação com cervejarias artesanais. Palavras-Chave: Estratégias cooperativas, campo organizacional, cerveja artesanal. Abstract This research was developed with the aim of describing the cooperative relations in the Brazilian craft beer field from definition of DiMaggio (1983) that understand as organizational field “organizations that, in the aggregate, constitute a recognized area of institutional life: key suppliers, resource and product consumers, regulatory

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ESTRATÉGIAS COOPERATIVAS NO CAMPO DA CERVEJA ARTESANAL BRASILEIRAi

Yan Alessandro Monteiro Mirandaii

José Augusto Lacerda Fernandesiii

Universidade Federal do Pará

Resumo Essa pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de descrever as relações de cooperação adotadas no campo de cerveja artesanal do Brasil a partir da definição de DiMaggio (1983) que compreende como campo “organizações que, em conjunto, constituem uma área reconhecível de vida institucional: fornecedores-chaves, consumidores de recursos e produtos, agências reguladoras e outras organizações que produzem produtos e serviços similares”. Intencionando o alcance de seu objetivo, essa pesquisa utilizou o levantamento de dados secundários para identificar quais ações cooperativas ocorrem nesse campo, assim como obter informações referentes a suas características. Logo, os resultados obtidos apresentam uma variedade de estratégias cooperativas nesse campo, contudo há maior ocorrência de parcerias de curta duração, além disso, observou-se a busca de alianças estratégicas que proporcionem autonomia e flexibilidade para as parceiras. Portanto, esse artigo contribui para a academia possibilitando direcionamento a futuras pesquisas sobre alianças estratégicas no campo estudado. Como contribuição prática, esse estudo oferece à gestão de cervejarias artesanais conhecimento a respeito de diferentes mecanismos que podem proporcionar a inovação, crescimento e aumento de participação de mercado. Além disso, essa pesquisa também contribui para a gestão de empresas dos setores alimentícios e turísticos apresentando as oportunidades de cooperação com cervejarias artesanais.

Palavras-Chave: Estratégias cooperativas, campo organizacional, cerveja artesanal.

AbstractThis research was developed with the aim of describing the cooperative relations in the Brazilian craft beer field from definition of DiMaggio (1983) that understand as organizational field “organizations that, in the aggregate, constitute a recognized area of institutional life: key suppliers, resource and product consumers, regulatory agencies, and other organizations that produces similar services or produtcs”. Intending the scope of its aim, this research used the secondary data survey to identify which cooperative actions occur in this field, further to obtain information regarding its characteristics. Thus, the obtained results show a variety of cooperative strategies in this field, nevertheless there is a bigger occurrence of short-term partnerships. Moreover, the searching for strategic alliances that provide autonomy and flexibility to the partnerships was observed. Hence, this article contributes the academy making it possible to direct the future researches about strategic alliances in the studied field. As a practical contribution, this study offers the knowledge regarding different mechanisms that can provide the innovation, growth and increased market share and how to solve business threats to the management of craft brewery. In addition, this research also contributes to the management of companies of the touristic and food sectors, showing to them the opportunities of cooperation with craft brewery.

Key-words: Cooperative strategy, organizational field, craft beer.

1 INTRODUÇÃOA cerveja artesanal diferencia-se da

cerveja dita “comum” ou de massa por diversos

aspectos, tais como a estrutura fabril, o volume de produção e a própria a qualidade dos insumos utilizados: via de regra, as cervejarias artesanais buscam utilizar insumos de melhor

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qualidade, encarecendo a sua produção, enquanto as grandes cervejarias optam por reduzir custos através da diminuição e/ou substituição de determinados insumos, afetando assim qualidade do produto (GIORGI, 2017). Por isso diz-se, em larga escala, que a cerveja artesanal encaixa-se na tendência de consumo identificada como busca pela sensorialidade e prazer no consumo, bem como, que a mesma oferece um produto de alto valor agregado produzido em pequena quantidade (SEBRAE, 2015; SEBRAE, 2017).

Em virtude dos resultados expressivos alcançados por tal produto, é compreensível que haja um conjunto de atores cada vez mais interessados no seu desenvolvimento e disseminação. Tratam-se de associações de classe, instituições de ensino e formação profissional, fornecedores de insumos específicos, como maltarias e laboratórios de leveduras, lojas on line, clubes de assinatura, revistas e blogs especializados em cerveja artesanal, dentre outros. Além, é claro, das próprias microcervejarias.

Em suma, há em torno desse produto o que os adeptos do novo institucionalismo sociológico definem como campo organizacional, isto é, “organizações que, em conjunto, constituem uma área reconhecível de vida institucional: fornecedores-chaves, consumidores de recursos e produtos, agências reguladoras e outras organizações que produzem produtos e serviços similares” (DIMAGGIO, 1983. p.64-65).

Tal fato tem sido alavancado, sobretudo, pelo crescimento no número de cervejarias artesanais no Brasil, que, como mostram estudos recentes, saltou de 46 para 372 entre os anos de 2005 e 2015 (INSTITUTO DA CERVEJA, 2016). Bem como, pelo surgimento de várias organizações antes inexistentes, como instituições de ensino que preparam profissionais para o mercado de cervejas artesanais, lojas especializadas em fornecer equipamentos e insumos para as cervejarias, entre outros. Tudo certamente “puxado” pelo crescimento ocorrido em diversas partes do globo, com destaque para alguns países da Europa, mas, sobremaneira, para os Estados Unidos, país que registrou um aumento de 601 para 5.301 cervejarias artesanais entre os anos de 1994 e 2016 (BREWERS ASSOCIATION, 2017).

Como era previsível, uma das várias características salientes desse campo é o embate entre as pequenas cervejarias artesanais e os grandes conglomerados que atuam no setor. Daí por que tantas aquisições de uma microcervejarias, lançamento de linhas de cervejas especiais para competir no mesmo nicho de mercado que as artesanais e a própria intensificação da importação de cervejas especiais para o mercado local, como descreve Giorgi (2017) ao falar acertadamente que as tentativas de grandes corporações para inibirem o crescimento do mercado de cervejas artesanais não se limitam somente ao Brasil.

Como observado por McGrath & O’Tootle (2013), esse cenário de concorrência entre as artesanais e as grandes multinacionais é um dos fatores que incentiva a cooperação entre as microcervejarias. Somado ao próprio senso de comunidade desenvolvido em virtude de uma origem comum, as panelas, bem como pela própria necessidade de reduzir custos, atenuar riscos e formar juntos um público por vezes relapso para questões de qualidade e diferenciação, esse fator que ajuda a entender o porquê de tantas ações conjuntas e colaborativas no campo das cervejas artesanais.

Ocorre que, se por um lado as parcerias e alianças são inegavelmente comuns ao campo em questão, por outro não há conhecimento suficiente a respeito das mesmas. Tal fato moveu o estudo aqui apresentado a entender melhor as estratégias cooperativas adotadas no campo da cerveja artesanal no Brasil.

Com isso, essa pesquisa auxilia no entendimento do problema e atende a necessidade de diminuir a escassez de conhecimento acadêmico existente a respeito das estratégias cooperativas que se desenvolvem no segmento de cervejarias artesanais no Brasil.

Diante disso, pode-se dizer que essa pesquisa se propôs a responder a pergunta: “Como são as estratégias cooperativas adotadas no campo de cerveja artesanal no Brasil?”. E que, para tanto, seu objetivo geral foi: descrever as relações de cooperação realizadas pelos atores do campo de cerveja artesanal. Tendo, por conseguinte, como objetivos específicos, os seguinte: i) Mapear as ações de cooperação realizadas nesse segmento ii) Caracterizar as colaborações realizadas entre esses atores iii) Descrever as colaborações identificadas.

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Em termos de organização, o trabalho foi estruturado em quatro seções, das quais a primeira é a introdução, onde se apresentada o contexto do objeto de pesquisa. Em sequência, a segunda seção, apresenta-se a metodologia utilizada na coleta e análise de dados, assim como as limitações e dificuldades desse estudo. Na terceira seção são apresentados os dados obtidos e serão discutidos os resultados da pesquisa, analisados mediante a fundamentação teórica desse estudo. Por fim, dispõe-se a discussão que relata as descobertas desse estudo e comenta a respeito de suas contribuições acadêmicas e práticas, além de oferecer sugestões para futuras pesquisas nesse segmento. A seguir referencia-se esse estudo em relação ao conhecimento já construído sobre cooperação.

2. REFERENCIAL TEÓRICO-EMPÍRICO A presente seção apresenta o

referencial teórico e empírico que orientam essa pesquisa. Portanto, referencia-se as alianças estratégicas em relação à literatura no primeiro tópico. Em seguida, no segundo tópico é referenciado o campo de cerveja o qual foi tomado como objeto de estudo.

2.1 Alianças EstratégicasArranjos cooperativos entre duas ou

mais organizações podem ser definidos como alianças estratégicas, as quais geralmente envolvem troca, compartilhamento ou desenvolvimento conjunto de produtos, tecnologias, ou serviços (GULATI, 1998). Essas alianças destacaram-se na década de noventa em diferentes tipos de organizações as quais notaram a importância da cooperação

para alcançar crescimento com maior rapidez e credibilidade (MARQUEZ, 2003).

Todeva & Knoke (2005) apud Webster (1993) explicam que as empresas recorrem as alianças estratégicas por razões como: aumentar sua capacidade produtiva, buscar redução de incertezas em suas estruturas internas e no ambiente externo, adquirir vantagens competitivas que possibilitam o crescimento do lucro e ganhar futuras oportunidades de negócios. Além disso, o mercado globalizado intensificou a necessidade de cooperar, fatores como a competição em escala global, emergência de novos competidores e rápidas mudanças tecnológicas tornaram a capacidade das empresas cooperarem com outras organizações uma importante fonte de vantagens competitivas e estratégicas (TODEVA; KNOKE, 2005).

A busca pela efetivação de uma aliança bem sucedida envolve a preferência pela escolha de parceiros confiáveis, portanto destaca-se a importância na familiarização entre os possíveis aliados (GULATI, 1998). Após a definição dos aliados ocorre a definição do contrato, onde é estabelecido o tipo de acordo coerente com as necessidades, e desejos dos mesmos (MARQUEZ, 2003).

Assim como existem diversas formas de alianças estratégicas, também existe uma grande diversidade de métodos de classificar e tipificar essas alianças (EIRIZ, 2001). Levando essa multiplicidade em consideração, o quadro 1 apresenta uma tipologia na qual divide as alianças estratégicas entre acordos contratuais e acionários:

Quadro 1 – Tipos de alianças estratégicas classificadas por acordos contratuais e acordos acionários.Associação entre empresas

Acordos Contratuais

Contratos Tradicionais Contratos de compra e venda, franquias, licenciamentos.

Contratos não-tradicionais

P&D conjunto, desenvolvimento de produto conjunto, acordos de fornecimento longo prazo, fabricação

conjunta, marketing conjunto.

Acordos AcionáriosSem entidade nova Investimento de capital minoritário, permutas de capitalCriação de entidade Joint-Ventures

Dissolução de entidade Fusões e aquisiçõesFonte: Adaptado de YOSHINO, M.Y., RANGAN, U.S.

Além disso, alianças estratégicas podem

fracassar e apresentam alguns riscos, como a atuação oportunista de um parceiro, ou a representação enganosa das competências de

uma das partes. Soma-se a esses riscos contratos imprecisos ou inadequados e a chance de uma das partes ser mantida refém de investimentos específicos (HITT et al., 2008)

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Portanto, as alianças estratégicas precisam ser bem planejadas e gerenciadas para que os esforços sejam eficientes.

As alianças estratégicas podem ser muito vantajosas para o êxito dos objetivos organizacionais, no caso deste artigo, toma-se como objeto de pesquisa o campo da Cerveja Artesanal e as diferentes organizações que nele atuam. A seguir referencia-se o contexto do campo de cerveja artesanal brasileiro.

2.2 Campo da cerveja artesanalO Brasil consolidou-se como o 3º maior

produtor mundial de cerveja. Além disso, a indústria brasileira de cerveja movimentou R$77 bilhões no ano de 2016, correspondendo a 1,6% do PIB nacional (CERVBRASIL, 2016). Nesse setor as grandes cervejarias utilizam alianças estratégicas como aquisições e fusões como forma de aumentar sua participação de no mercado nacional e internacional, como observa Freitas (2015). A AB InBev, por exemplo, surgiu a partir da associação da companhia belga Interbrew e da campanha brasileira Ambev, que por sua vez foi criada em 1999 a partir da fusão de duas antigas rivais, as cervejarias Brahma e Antarctica.

Além disso, esse mercado não se limita apenas a produção em massa, de qualidade padronizada, focada em preços baixos e competitivos, há um segmento no mercado voltado para as cervejas artesanais, também chamadas de especiais, ou premium, que se destina a produzir pequenos volumes de elevado valor agregado do produto (SEBRAE, 2015).

A Brewers Association, maior associação de cervejas dos EUA, considera como artesanais as cervejarias que têm uma produção menor a seis milhões de barris, que utilizem ingredientes tradicionais em sua grande maioria e que não tenham mais de 25% de participação acionária de grandes fabricantes de cerveja. No Brasil, para que uma cervejaria possa ser considerada artesanal, ela deve produzir até 10 milhões de litros por ano e a cerveja artesanal é aquela que possui, no mínimo, 75% de malte de cevada na receita, de acordo com o que é proposto na Lei nº 13.097/15 e o Decreto nº 8.442, de 29 de abril de 2015.

As diferenças entre as cervejas industriais, comuns ou de massa, e as artesanais

ou craft, são evidentes. As cervejas industriais tendem a apresentar produtos semelhantes, com baixa qualidade, baixo grau de diferenciação e preço popular. Em geral, seus canais de venda são concentrados entre supermercados, depósitos e bares, com um acesso relativamente fácil. Como observa-se na mídia, seus métodos promocionais são focados, na maioria das vezes, na exposição da mulher e no consumo de grandes quantidades, gerando uma cultura focada no exagero e na festividade. Ao passo que as cervejas artesanais tendem a ser produtos inovadores, percebe-se que prezam pela identidade visual, apresentando garrafas e rótulos diferentes e criativos que geram também são diferenciados, como clubes de assinatura, e-commerce, eventos cervejeiros-gastronômicos, bares e lojas especializadas. E além de tudo, busca atingir seus consumidores com uma nova cultura de consumo: “beba menos, beba melhor” como Kalnin observa:

Os empresários que investem capital neste tipo de empreendimento, não estão preocupados em competir em um mercado global, ou com grandes empresas no mercado doméstico. Em vez disto, concentram-se nas “brechas” deixadas pelas grandes empresas, ou melhores nichos de mercados oferecendo ao consumidor um produto e serviço único, diferenciado com alto valor agregado. (KALNIN et al., 2002, p.3).

Atualmente, esse segmento no Brasil apresenta-se concentrado nas regiões sul e sudeste, representando menos de 1% do volume total de cervejas no país, mas a expectativa é que representem 2% da indústria nos próximos anos (Instituto da Cerveja, 2016). Embora ainda represente um mercado restrito, ele tem demonstrado crescimento e como podemos observar na afirmação de Alfredo Ferreira:

Fechamos 2015 com 372 cervejarias artesanais no país, com crescimento de 17% em relação a 2014. Além disto, nos últimos anos a taxa de crescimento vem acima de 50 novas cervejarias artesanais por ano, o que representa em média uma nova cervejaria

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por semana (INSTITUTO DA CERVEJA, 2016).

Além do crescimento em quantidade das micro cervejarias, é possível notar o surgimento de várias organizações voltadas para a atividade, um campo organizacional composto por diversos atores: instituições de ensino, lojas de insumos, associações de cervejeiros caseiros, como as ACERVAs, presentes em quase todos os estados da federação, associações de classe, imprensa/mídia especializada, cooperativas, distribuidores, etc.

Porém, são muitas as dificuldades enfrentadas pelos atores desse campo organizacional, uma dessas dificuldades é a concorrência com os poucos atores que dominam o mercado cervejeiro. As grandes cervejarias têm adotado estratégias para diminuir a influência do movimento artesanal e seu crescimento no Brasil, uma dessas é a aquisição de micro cervejarias, como exemplo a aquisição da Baden Baden e a Eisenbahn realizada pelo grupo Brasil Kirin. Outro desdobramento estratégico das grandes cervejeiras é o lançamento de produtos “especiais” ou “premium”, focados na qualidade do produto, concorrendo a um preço menor que as artesanais não conseguem praticar (GIORGI, 2017).

McGrath & O’Tootle (2013) observaram que para contrabalancear as desvantagens por conta do tamanho e pouca experiência, cervejarias artesanais apresentam como um recurso adicional aos negócios a capacidade de relacionar-se com outras organizações.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSEssa seção apresenta os procedimentos

metodológicos adotados por esse estudo, o qual possui como objetivo descrever as cooperações realizadas no campo de cerveja artesanal. A partir disso, essa pesquisa identifica-se como exploratória ao buscar reduzir a escassez de conhecimento acadêmico a respeito do objeto de estudo ao explorar um tema pouco abordado e como descritiva por intencionar descrever e

analisar as relações de cooperação identificadas.

Para alcançar o objetivo geral esse trabalho realizou levantamento de dados secundários, os quais foram coletados entre o dia 5 e 30 do mês de Junho de 2017, essa coleta ocorreu através de revistas especializadas, blogs, jornais e os meios de comunicação das cervejarias estudadas como as páginas institucionais ou redes sociais das cervejarias. No quadro 2 dispõe-se as fontes utilizadas nessa coleta.

Quadro 2 – Fontes de dados da pesquisa

Tipo de fonte Fontes

Revistas Digitais

Revistas especializadas n setor cervejeiro como Beer Art, Revista da Cerveja. E revista especializada em padrões de

consumo, no caso, Consumidor Moderno.

Jornais Jornais como Gazeta do povo, Nexo Jornal.

Blogs

Blogs especializados em cervejas artesanais como All Beers, Maria

Cevada, Bar do Celso, Trip Beer, e outros como Saidera (O Globo) e até

Blogs das cervejarias pesquisadas

Websites

Websites das cervejarias e parceiros nas quais foram identificadas ações

cooperativas, páginas institucionais.Outras mídias

Imagens de divulgação de parcerias. Como o flyers..

Fonte: Dados de pesquisa.

No primeiro momento, pretendeu-se identificar as relações de cooperação no campo de cerveja artesanal, atendendo ao primeiro objetivo específico desse estudo. Para isso realizou-se buscas nas fontes apresentadas no quadro 2 utilizando como guia as seguintes palavras: parcerias, colaboração, cooperação.

Em seguida, pretendendo atender ao segundo objetivo específico, que é caracterizar as alianças identificadas, utilizou-se as seguintes unidades de análise: quantidade, tempo de duração, recursos transacionados, parceiros envolvidos, finalidade e resultados obtidos. Essas unidades são apresentadas no quadro 3 e foram baseadas no roteiro de entrevista utilizado por Carpellari (2008).

Quadro 3 – Unidades de análiseUnidade de análise Definição

Quantidade A ocorrência numérica de parcerias identificadas possuindo o mesmo padrão.

Tempo de duração A duração das ações cooperativas identificadas, definiu-se como curtas parcerias que passam a duram até 30 dias e longas parcerias que excedem esse período de tempo.

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Recursos Transacionados Recursos trocados durante a realização da parceria.

Parceiros envolvidos As organizações que participavam da parceria mediante sua ação-fim.

Finalidade Objetivos iniciais que deram origem a cooperação.Resultados Realizações ocorridas durante a ação cooperativa.

Fonte: Dados da pesquisa.

Por fim, intencionando descrever as cooperações identificadas, realizou-se a análise do conteúdo obtido e comparou-se com o referencial teórico, assim possibilitando a análise e discussão dos achados.

Esse estudo apresentou dificuldades seu percurso, por conta da quantidade de cervejarias englobadas no território nacional, tornou-se inviável o deslocamento geográfico para realização de coleta de dados primários. Outra dificuldade encontrada a realização do presente estudo é a pouca frequência de atualizações nos canais de comunicação dos atores estudados, o qual dificultou a coleta.

Sendo assim, as limitações dessa pesquisa devem-se em relação à coleta de dados secundária, a qual não permitiu compreender algumas características pretendidas e identificar mais detalhes a respeito das diferentes colaborações identificadas.

A partir da metodologia estabelecida, as parcerias foram analisadas, descritas, caracterizadas e comparadas. Na seção seguinte apresenta-se os resultados e análises provenientes desse estudo.

4. RESULTADOSA presente seção orienta-se pelos

objetivos específicos dessa pesquisa, eles são: 1) Mapear as ações de cooperação realizadas nesse segmento; 2) Caracterizar as colaborações realizadas entre esses atores; e, 3) Descrever as colaborações identificadas. Portanto, primeiramente será apresentado as estratégias cooperativas identificadas e suas descrições simplificadas. Em seguida, o segundo tópico trata dos outros dois objetivos específicos, portanto nele se dispõe as descrições das parcerias observadas com maior aprofundamento e apresenta-se as caracterizações das ações cooperativas segundo as unidades de análise estabelecidas na metodologia.

4.1 Mapa das ações cooperativasAtendendo ao primeiro objetivo

específico: mapear as ações cooperativas entre os atuantes desse segmento. Identificou-se, através da coleta de dados, as ações colaborativas realizadas dispostas no quadro 4, o qual também as descreve e diferencia.

Quadro 4 – Ações cooperativas identificadasNome Descrição

Rótulo colaborativoOcorre quando duas ou mais cervejarias empenham-se em desenvolver conjuntamente novas cervejas. Essas parcerias também podem ocorrer com parceiros externos, ou seja, de outros

setores como culinária. O resultado dessas ações são conhecidos como cervejas colaborativas.

Produto colaborativo Parceria entre uma cervejaria e um parceiro externo, o qual resulta em um produto diferente do rótulo colaborativo. Como exemplo: Mostarda.

Produção em fábrica de terceiros

Aluguel dos recursos produtivos de uma cervejaria por outra cervejaria, a qual geralmente não dispõe de fábrica própria. Também conhecido como modelo de produção cigano.

Eventos e festivais Ocorrem através da realização de parcerias entre cervejarias, associações e outras instituições fomentadoras desse mercado.

Distribuição e representação

Quando uma organização, sendo cervejaria ou não, realiza distribuição ou representação de marcas de cervejas produzidas em outras localidades.

Intercâmbio de cervejas

Acordo entre duas cervejarias para realização de intercâmbio de suas cervejas, ou seja, troca de suas produções.

Rota turísticaParcerias que associam o potencial turístico à cultura cervejeira local, sendo realizada através da cooperação de cervejarias com parceiros externos como instituições estatais ou agências

de turismo.Envase colaborativo Parcerias que objetivam realizar envase coletivo de rótulos.

Sociedade Quando há permutas de capital entre os parceirosJoint-Venture Dois ou mais parceiros dão origem a uma nova empresa.

Fusão Quando há integração máxima entre os parceiros, os aliados tornam-se uma única empresa.

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Cooperativas Une cervejeiros ou outros profissionais para realizar trabalhos cooperativos ou obter carácter legal para vender a própria produção.

projeto BRASII Projeto que busca harmonizar cervejas com pratos tradicionais da culinária.Fonte: Dados da pesquisa

4.2 Descrições e características das ações cooperativas

Nessa subseção serão descritas e discutidas as cooperações identificadas na seção anterior a partir das unidades de análise apresentadas na metodologia.

Os rótulos colaborativos são parcerias eventuais com o intuito de fabricar novas cervejas a partir da troca mútua de know-how, insumos, tecnologias e outros recursos. Essa parceria pode ocorrer apenas entre cervejarias ou com a participação de um parceiro externo, como no caso da Brownie Ale produzida pela cervejaria Three Monkeys com a Brownie do Luiz (parceiro externo do setor culinário). Por essas ações geralmente resultarem em edições limitadas (Consumidor Moderno, 2016), acabam resultando em ações de duração curta.

Ainda, as parcerias entre cervejarias e parceiros externos da gastronomia possuem resultados além de rótulos colaborativos, como a mostarda cervejeira produzida pela Brewer Chef em cooperação com a cervejaria Bohemia através da troca de know-how. Essa cooperação de curta duração resultou em três receitas de mostarda que recebem os nomes de diferentes estilos de cerveja: witbier, stout e pale ale (HOMEM CERVEJA, 2015).

O desenvolvimento conjunto de produtos, como a criação de rótulos colaborativos ou produtos como a mostarda cervejeira, apresentou-se como um caminho para inovação nesse campo, a troca de know-how e insumos nessas parcerias geram resultados diferenciados como o rótulo colaborativo Cascara produzido pelas cervejarias Zalaz e OneBrew, onde a receita possui chá de casca de café e raspas de casca de limão cravo, insumos disponibilizados pela Zalaz. Parceiros externos do setor culinário apresentam valor para inovações em rótulos colaborativos, como a Brown Ale, resultado da cooperação entre um parceiro do setor culinário e uma cervejaria. Esse achado entra de acordo com McGrath & O’Tootle (2013), que afirmam que resultam em inovação a atividade entre parceiro externo e cervejaria onde há a incorporação de ingredientes dos parceiros no produto final.

Além das citadas anteriormente, as cervejarias “ciganas” cooperam ao alugar o maquinário e espaço de outras cervejarias, realizando assim sua produção sem dispor de fábrica própria, essa ação pode se dar de duas formas: a primeira envolve a compra do lote da fábrica e pagamento pelo serviço, não incluindo a distribuição, na segunda forma encarrega-se a fábrica contratada de realizar a produção, estocagem e distribuição, na qual a cervejaria contratante ganha Royalties sobre cada garrafa vendida. Essas parcerias possuem curta duração (GAZETA DO POVO, 2016).

Outras ações cooperativas de curta duração são os festivais e eventos, realizados por parcerias entre diversas organizações, sendo elas cervejarias, associações, empresas do setor gastronômico e outras. Como exemplo a Mondial De La Biere, evento realizado no Brasil pela promotora e organizadora de eventos Fagga | GL events Exhibitions em parceria com várias cervejarias artesanais, RioTur, Senac, Nadir Figueredo, AMPM e outras organizações. Em sua quarta edição o evento conseguiu reunir mais de mil rótulos, nacionais e internacionais, além disso, houve atrações musicais e gastronômicas (MONDIAL DE LA BIERE, 2016). Outros exemplos de eventos desse campo são: Oktoberfest, Sommerfest, Dum day. Essas ações, em geral, são curtas e repetem-se anualmente.

Há também as rotas turísticas cervejeiras, as quais são resultados de parcerias entre cervejarias, agências de turismo e até mesmo instituições governamentais como a Rota cervejeira no município de Pinhais, fruto da colaboração entre as cervejarias Way Beer, Bastards Brewery, Oner e Ovelha com a prefeitura de Pinhais. Essa ação foi institucionalizada pela lei municipal nº 1834 com a intenção de promover o turismo local e valorizar as empresas do segmento (PREFEITURA DE PINHAIS, 2017). Ainda relacionado ao turismo, observou-se o pacote “Rota da cerveja Hop On – Hop Off” em Riberão Preto realizado pela agência de turismo Livre Acesso em colaboração do hotel Garden e oito cervejarias: Nacional, Pratinha, Colorado, Lund, Walfanger, SP 330, Weird

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Barrel e Invicta (LIVRE ACESSO, 2017). Apesar da semelhança entre as duas ações, suas diferenças influenciam no tempo de duração, a Rota de Pinhais é formalizada através de uma lei e apresenta-se de forma continuada, ocasionando sua duração prolongada, diferentemente da rota de Riberão Preto que ocorre eventualmente através de edições, gerando parcerias curtas que repetem-se a cada edição.

A partir disso, observa-se que as instituições governamentais também participam de determinadas parcerias, como realização de eventos ou fomento ao turismo relacionados a cultura cervejeira, de forma semelhante ao observado no estudo de McGrath & O’Tootle (2013) que observaram em seu estudo, mas com discrepâncias: os autores afirmam que as organizações estatais apoiaram as cervejarias irlandesas na aquisição de equipamentos, páginas da internet, marketing, tais aspectos que não foram encontrados nesse estudo

Em relação à logística foram identificados acordos de distribuição e representação, as quais geralmente possuem grande duração, como a cervejaria Krug Bier que realiza a distribuição exclusiva em Minas Gerais das cervejas Maniacs, Brooklyn Brewery, Tennent’s, Estrelladamm, Magners, Karlsbrau e Morada cia etílica (KRUG BIER, 2017). Além disso, há também a importação de cerveja realizada pela Beer Concept, a qual representa as cervejarias Founders, Oskar Blues, De Molen, Kaapse, Amager, HornBeer, Hof Ten Dormaal (BEER CONCEPT, 2017).

Ainda, sobre distribuição, as cervejarias Backer e BodeBrown realizaram um intercâmbio de cervejas, ou seja, trocaram parte de sua produção entre si, como apresenta a matéria do blog Bom de copo:

Com essa proposta, os clientes Backer poderão degustar os chopes mais premiados da cervejaria BodeBrown no Templo Cervejeiro, em tulipa ou em growler. Os curitibanos também vão poder fazer o mesmo, ganhando acesso às cervejas da cervejaria mineira que mais receberam medalhas. O objetivo dessa parceira entre duas das mais importantes micro cervejarias do Brasil é fortalecer o setor e

disseminar a cultura dos amantes da cerveja (BOM DE COPO, 2017).

Em função do intercâmbio de cervejas ser uma ação recente não foi possível analisar o seu tempo de duração e resultados obtidos.

Logo, é possível observar que algumas cervejarias adentram mercados através acordos de distribuição e representações comerciais, como exemplo o acordo de distribuição realizado pela Krug Bier. Outra alternativa apresentada para possibilitar a entrada em novos mercados foi o intercâmbio de cerveja realizado pela Bodebrown e Backer.

Além disso, encontrou-se uma parceria que objetivou realizar o envase em lata a um custo menor, nesse caso, a cervejaria Dádiva junto as cervejarias Dogma, Jbeer, Perro Libre e Urbana contrataram o serviço envasas e móvel da DaLata Brasil, resultando em 8 mil litros de cerveja envasados em lata, a ação de envase se deu em cinco produções sucessivas na ultima semana de abril, caracterizando uma parceria de curta duração (ART BEER, 2016).

Outras parcerias identificadas foram as de carácter acionário que são: sociedades, Joint-ventures e fusões. Essas alianças possuem como características comuns as permutas de capital e longevidade duradoura. Como sociedade, foi observado o caso da cervejaria OverHop, a qual deixou de realizar produção cigana e passou a produzir exclusivamente na fábrica de sua sócia: Mistura Clássica. Além disso, a sociedade conta com estrutura de operação, logística e venda (O GLOBO, 2017). Semelhantemente a sociedade construída pela Barco e Saint Bier, onde as duas cervejarias passam a trabalhar juntas na produção, marketing e logística (SAINT BIER, 2017).

Enquanto Joint-Venture, encontrou-se a Resistência Cervejeira, empresa criada pelas cervejarias DUM, Tormenta, F#%*ing Beer, Pagan e GaudenBier, para realizar distribuição própria dos rótulos com intenção de reduzir os preços das cervejas e possibilitar aos lojistas a compra direto da fábrica (DUM CERVEJARIA, 2016).

Diferentemente das parcerias acionárias citadas anteriormente, não foi encontrada fusão entre micro e pequenas cervejarias nessa pesquisa. Embora as grandes cervejeiras tenham praticado fusões e aquisições com

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cervejarias artesanais, como a Baden Baden comprada pela Brasil Kirin.

As ações cooperativas possibilitam o aumento de competitividade, podendo ser através do compartilhamento de custos para um ação eventual, como o envase em lata coletivo, ou em ações de carácter acionário e longa duração como as sociedades e a Joint-Venture encontradas. Nas sociedades identificadas, observou-se que as cervejarias ciganas passaram a utilizar exclusivamente as fábricas de suas sócias para produção, enquanto a Join-Venture surgiu com a intenção de realizar a distribuição dos produtos de suas sócias para suas cervejas chegassem aos consumidores a um menor preço.

Ainda, sobre as sociedades, um dos achados foi a garantia de autonomia e de liberdade de criação entre as cervejarias, essa informação concorda com Todeva & Knoke (2005) que a escolha da aliança específica pelos parceiros não é realizada somente para obter o controle, mas também para garantir a flexibilidade em suas operações e realização de mercado.

Também sobre parcerias que compõe a estrutura das organizações, encontrou-se a cooperbreja, um arranjo no modelo de cooperativa que surgiu com a finalidade de inserir cervejeiros caseiros no mercado, proporcionando a legalização da produção e venda de cerveja artesanal produzida em casa. Além disso, a cooperbreja oferece em sua loja virtual insumos, equipamentos e até workshops para os produtores caseiros, onde os cooperados recebem descontos em suas compras e também são beneficiados com consultorias (REVISTA BEER ART, 2017; REVISTA DA CERVEJA, 2017). Como a estrutura da organização é cooperativa, estima-se que seja uma parceria duradoura e por ser recente, esse arranjo não possui muitos resultados.

Outro arranjo cooperativo identificado foi o projeto BRASII, o qual tem a finalidade de lançar cervejas que harmonizam com pratos clássicos da culinária mundial. Para isso, promove-se a colaboração entre chefs e cervejeiros, como o rótulo Moqueca, produzido através de uma colaboração entre o cervejeiro André Junqueira, da cervejaria Morada Etílica e do Chef Paulino da Costa. Além disso, os rótulos produzidos encontram-se em quantidades limitadas, no caso da Moqueca

foram produzidas apenas 2 mil litros, ocasionado curta duração nas parcerias realizadas através do projeto. (REVISTA DA CERVEJA, 2017).

O quadro 5, a seguir, permitiu a caracterização das ações cooperativas identificadas segundo as unidades de análise apresentadas na metodologia, a partir desse quadro o estudo identificou uma significativa discrepância em relação à quantidade de parcerias e observou que o campo apresenta com maior frequência colaborações que resultem em rótulos colaborativos ou eventos e festivais, as duas possuem em comum o curto tempo de duração e diferenciam-se nos demais aspectos: parceiros envolvidos, recursos transacionados, resultados e finalidades. Enquanto os outros formatos de cooperação ocorrem de forma menos significativa ou até isolada.

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Quadro 5 – Características das ações cooperativas identificadasNome Quantidade Parceiros Envolvidos Tempo de duração Recursos Transacionados Finalidade Resultados

Rótulo colaborativo 53 Cervejarias e parceiros

externos Curta Know-how, insumos, tecnologia

Produzir cerveja colaborativa através da troca de recursos. Cervejas colaborativas

Produto colaborativo 1 Cervejarias e parceiros

externos Curta Know-how, insumos, tecnologia

Produzir através da troca de expertises

Mostardas com insumos e estilos de

cervejaProdução em

fábrica de terceiros

Não quantificado Cervejarias Curta

Aluguel de maquinário, know-how e apoio na

distribuiçãoProduzir sem possuir fábrica

Cervejarias não precisam de fábrica

para produzir

Eventos e festivais 24

Instituições estatais, promotoras de eventos, setor

alimentício e cervejariasCurta Cervejas, divulgação Difundir a cultura cervejeira,

servir como vitrine de negóciosEventos como

Mondial De La Biere

Rota turística 3 Cervejarias, Agências de turismo, instituições estatais

Sua duração varia, podendo ser curta

ou longaNão encontrado

Promover o turismo, utilizar as visitações em fábricas para

realizar rotasPacotes turísticos

Distribuição e representação 2 Cervejarias e representantes

comerciais Longa Distribuição ou importação de cervejas Não encontrado Não encontrado

Intercâmbio de cervejas 1 Cervejarias Não encontrado Cervejas Possibilitar o consumo de

cervejas nas cervejarias parceiras Não encontrado

Envase colaborativo 1 Cervejarias Curta Compra coletiva de serviço Envasar cervejas em lata a um

menor custo8 mil litros de cerveja

envasados em lata

Sociedade 6 Cervejarias Longa Capital, tecnologia, produção, know-how Varia de acordo com a sociedade Varia de acordo com a

sociedade

Joint-Venture 1 Cervejarias Longa Capital Dar suporte logístico as cervejarias societárias Não encontrado

Fusão 0 - - - - -

Cooperativas 1 Cervejeiros caseiros LongaCompras com desconto de

insumos, maquinário e workshops

Legalizar e dar suporte a produção caseira de cerveja Não encontrado

Projeto BRASII 1 Profissionais da gastronomia e

cervejeiros Não encontrado Know-howProduzir cervejas que

harmonizam com pratos culinários

Lançamento das cervejas Moqueca,

Rollmops, Friendchicken..

Fonte: Dados da pesquisa

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5. CONSIDERAÇÕES FINAISO presente estudo buscou

descrever as relações de cooperação realizadas pelos atores do campo de cerveja artesanal. Os resultados obtidos demonstram que há uma variedade de estratégias cooperativas nesse campo, mas existe uma maior ocorrência de parcerias de curta duração e busca por parcerias que ofereçam flexibilidade e autonomia. Além disso, encontrou-se estratégias cooperativas realizadas para contornar as dificuldades encontradas pelas cervejarias, um exemplo foi a criação de uma Joint-Venture para realizar distribuição da produção de suas sócias intencionando reduzir o preço do produto para o consumidor final. Outros achados importantes foram: o surgimento de uma cooperativa que dá suporte ao cervejeiro caseiro, a utilização da cultura cervejeira como atrativo turístico, diferentes formas de levar os rótulos produzidos a outros

mercados e o processo de inovação a partir da cooperação com parceiros externos.

Como contribuição acadêmica esse estudo possibilita direcionamento nas futuras pesquisas, a partir desse artigo poderão ser realizado futuros estudos que expliquem a causa das tendências observadas ou que comparem isoladamente as alianças, assim como outras possíveis pesquisas a serem realizadas sobre o assunto. Como contribuição prática, esse artigo proporciona aos gestores de cervejarias conhecimento sobre diferentes mecanismos que podem proporcionar a inovação, crescimento e aumento de participação de mercado, assim como solucionar ameaças para os negócios. Além disso, a gestão de agências de turismo e de empresas do setor alimentício podem ser beneficiadas com apresentação de oportunidades de cooperação com as cervejarias.

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Estratégias de cooperação e relações interorganizacionais no campo da cerveja artesanal brasileira

i Trabalho desenvolvido com o apoio do Programa PIBIC/UFPA.ii Graduando do curso de Bacharelado em Administraçãoa Universidade Federal do Pará. Bolsista PIBIC/CNPq. E-mail: [email protected] Docente do [inserir unidade de vínculo dodocente], Universidade Federal do Pará. E-mail: [inserir e-mail aqui].

Parecer do Orientador

Belém, 15 de agosto de 2017 Prof. Dr. José Augusto Lacerda Fernandes