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História, Educação e Memória da Educação do Campo na Amazônia Paraense Neila da Silva Reis UFPA-ICED Neilareis2000@yahoo. com.br O trabalho objetiva apresentar um breve pontuar sobre de pesquisa de campo com fontes históricas da educação paraense em escolas de Localidades Rurais no nordeste – Castanhal e Santa Izabel e na Transamazônica, região oeste, entre Municípios de Altamira e Uruará, com recorte para Medicilândia e Uruará.Para este trabalho reflexão sobre algumas Escolas rurais do Município de Santa Izabel do Pará. A metodologia utilizada é a análise documental e pesquisa de campo. Os principais resultados da pesquisa, até o momento, estão organizados, preliminarmente, na forma de Catálogo de Fontes Históricas da Educação das Escolas do Campo no nordeste e transamazônica paraense, em Caderno de Fotografias, para futura socialização por meio de CD-rom. Está presente na sua organização, depoimentos de entrevistados e sinopse de fontes documentais de instituições públicas e privadas, visitadas e catalogadas, como: Secretaria Municipal de Educação de Castanhal e Santa Izabel do Pará, Uruará e Medicilândia, Secretaria Executiva do Estado –SEDUC, Conselho Estadual de Educação – CEE, Instituto de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, Associação Regional das Casas Familiares Rurais – ARCARFAR, CENTUR e UFPA e de entrevistas de atores sociais, como: professores e algumas lideranças locais e regionais. . Educação do campo e tempo histórico A reflexão sobre Educação do Campo no Pará, na perspectiva histórica, tanto do processo do seu Planejamento, política, operacionalidade, requer, se debruçar sobre qual concepção de sociedade, educação e projeto societário, o pesquisador defende. Considera-se que, a educação não é neutra, é mediada no campo da política, um campo que se faz em correlação

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História, Educação e Memória da Educação do Campo na Amazônia Paraense Neila da Silva Reis

UFPA-ICED

[email protected]

O trabalho objetiva apresentar um breve pontuar sobre de pesquisa de campo com fontes históricas da educação paraense em escolas de Localidades Rurais no nordeste – Castanhal e Santa Izabel e na Transamazônica, região oeste, entre Municípios de Altamira e Uruará, com recorte para Medicilândia e Uruará.Para este trabalho reflexão sobre algumas Escolas rurais do Município de Santa Izabel do Pará. A metodologia utilizada é a análise documental e pesquisa de campo. Os principais resultados da pesquisa, até o momento, estão organizados, preliminarmente, na forma de Catálogo de Fontes Históricas da Educação das Escolas do Campo no nordeste e transamazônica paraense, em Caderno de Fotografias, para futura socialização por meio de CD-rom. Está presente na sua organização, depoimentos de entrevistados e sinopse de fontes documentais de instituições públicas e privadas, visitadas e catalogadas, como: Secretaria Municipal de Educação de Castanhal e Santa Izabel do Pará, Uruará e Medicilândia, Secretaria Executiva do Estado –SEDUC, Conselho Estadual de Educação – CEE, Instituto de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, Associação Regional das Casas Familiares Rurais – ARCARFAR, CENTUR e UFPA e de entrevistas de atores sociais, como: professores e algumas lideranças locais e regionais.

. Educação do campo e tempo histórico

A reflexão sobre Educação do Campo no Pará, na perspectiva histórica, tanto do processo do seu

Planejamento, política, operacionalidade, requer, se debruçar sobre qual concepção de sociedade, educação e

projeto societário, o pesquisador defende. Considera-se que, a educação não é neutra, é mediada no campo da

política, um campo que se faz em correlação de forças entre as diferentes classes sociais e intra-classes, além de

interesses das diversas categorias profissionais.

A educação é compreendida como um ato político, que se constrói no processo cultural, de forma

heterogênea, na diversidade cultural de diversos povos, nos seus tempos e espaços diferenciados. A educação

escolar faz parte do conjunto de experiências sócio-educativas, constitui-se, na sociedade contemporânea, uma

referência para a formação do sujeito histórico. Ela é pensada por diversas correntes pedagógicas, entre as

principais, a Liberal e a Socialista. Movimentos esses que fazem propostas, intervenções, formações na trajetória

de diversos países. Elas têm expressão maior nos aportes teórico/metodológicos e nos processos e projetos de

formação humana, que se manifestam, tanto na organização curricular, como no planejamento de curso, aula,

instrumental pedagógico, na cultura organizacional da escola. Isto, nos sistemas e nas redes institucionais

escolares, de forma sistematizada, com vistas, à formação do indivíduo a médio e longo prazo.

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Tais correntes, desde o século XIX se preocupam com a formação das crianças filhas dos trabalhadores,

mas o sentido em que pensam e agem está favorecendo de forma diferente a aprendizagem escolar, a formação, o

pensamento e capacidade para o jovem pensar, decidir e agir nas relações sociais.

Para a corrente liberal, a preocupação fundamental é proporcionar uma formação em que a criança seja o

centro, tendo, como base referências do método ativo. Os princípios que norteiam tal corrente são consignados

para que o jovem se sinta participante e “incluído” na sociedade, mas, na realidade, a sua maioria, dissocia a

inter-relação trabalho e educação. Isto remete ao ensino diferenciado, a operacionalidade de uma escola em que,

a formação integral, entre cultura geral e técnica, seja para poucos, e a formação especificamente técnica, para a

maioria.

A corrente socialista tem como perspectiva, uma formação que conduza a criança para a apreensão de

uma cultura geral e profissional, de modo a valorizar, tanto os conhecimentos intelectuais, como os de caráter

manual. A criança é o fim principal, mas, sem meios técnicos, pedagógicos e conteúdos de humanidades

contextualizados; esses meios são considerados e tratados em si mesmos. A formação discente e docente, tratada

dessa forma, não conduz a uma apreensão de adjetivações e possibilidades para criar apropriações, pois, o ato

educativo, só o é, por ser, de forma plena, vinculado à realidade social, para além dos muros da escola.

No cenário brasileiro, ao longo de seu processo histórico, observa-se e constata-se que muitas propostas,

projetos, programas para as escolas do campo, como, o de Extensão Rural, foi construído, levado por práticas

educativas nos Estados, sob forma de colaborações, orientação norte-americanas. Isto, com marcas de tempo e

espaço, na conjuntura internacional do processo de expansão do mercado capitalista. Durante o processo da

Guerra-Fria, inicia-se a intensificação de políticas internacionais, planos e ações das organizações internacionais,

como Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional – FMI, que orientam a concepção de educação que se

deseja disseminar: orientação para a cooperação, para integração da cultura ocidental, sob aportes da educação

liberal, a partir de difusão de sua cultura, organização e diretrizes para a política educacional; aportes esses sob

referências de pilares para educação do século XXI; por meio de discursos que soam com aparência de

neutralidade. Recentemente, na década de 1990, organismos como Organização Mundial do Comércio – OMC, a

partir dos acordos, denominados Consenso de Washignton. Isto, vale assinalar, vem como processo social

constituindo-se, depois do pós-guerra, com tais e outros organismos próximos aos interesses imperialistas; são

organizações, como assinala Mészáros (2007), que contribuíram e tiveram sucesso, de diversas formas, para

impor a hegemonia norte-americana, com ênfase na econômica e militar. Isto, com “rigores” de discursos de

gestores, que apontam como se fossem políticas, culturas, educações e democracias não tendenciosas.

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Esse pensamento se estende no processo histórico, mas não consegue se afirmar na totalidade, enquanto

hegemônico, outros atores sociais, no interior dos movimentos sociais, e da própria rede de ensino público,

buscam outros elementos teóricos, pedagógicos para construir a contra-hegemonia pedagógica e cultural,

embora, sob circunstâncias dadas.

No espaço do campo é que, além de muitas lutas no passado, formam-se, movimentos sociais, como o

Movimento de Trabalhadores Sem Terra – MST, com origem na década de 1980; Movimento pela Sobrevivência

da Transamazônica – MPST, também no final dos anos oitenta, na década de 1990, Movimento pelo

Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu – MDTX –, tais movimentos vêm desempenhar, experiências

formativas, na educação básica, como contraponto à escola tradicional ou liberal, estas conduzidas pelos poderes

públicos ou privados, com organização curricular hegemônica, privilegiando cultura heterônima ao

regional/local. Movimentos com características próprias, possibilidades e limites, mas, sujeitos legítimos, pois,

emergem no coletivo de pessoas simples da sociedade, pessoas essas que, por meio da construção de uma

formação que inclua elementos da cultura profissional e de cultura, possam ser inseridas nas redes oficiais de

ensino. Tais grupos expressam iniciativas e formações de educação escolar, com gestão e controle de lideranças e

organizações políticas das diversas localidades; no geral, são sujeitos históricos que constroem espaços

formativos e ensejam transformações sociais.

Movimentos que detêm planejamentos, projetos, programas educacionais que, são apresentados ao

Estado, notoriamente ao MEC e Secretarias de Estado de Educação, como formas “alternativas” de educação

escolar. Tais movimentos organizam e propõem Encontros, Formações, projetos de Educação, organizações

curriculares para a Educação Básica – com caráter de fragmentos de cultura de humanidades e profissional.

Assim, esses atores reivindicam seus direitos e das populações do campo, com relevância social e pedagógica,

com legitimidade. Trazem aos bastidores das instituições estatais suas demandas, necessidades sociais, fazem-se

ouvir. Mostram assim, que, o campo tem movimento, que seus atores estão construindo o processo histórico, que

não existe um projeto societário único para o campo; isto, com corolário para a sua educação e demais políticas

públicas.

Por todo esse cenário, de lutas, proposições, é necessário que, os gestores públicos, professores das

Universidades se sensibilizem para as diversas e inúmeras problemáticas, presentes ainda, neste início de século

XXI nas escolas e localidades, como falta de financiamento das escolas do campo, falta de gestão democrática,

política educacional, carreira profissional, diversidade curricular, calendário escolar, inclusão e igualdade das

diferentes culturas e tecnologias dos povos do campo, como formas de conteúdo escolar.

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Para modificar esse estado de descaso com a educação do campo, são os movimentos sociais que lutam e

organizam-se para se ter outra política educacional do e no campo, não de mão única, para o campo, a partir só

de valores, tempos, cultura da cidade. O ponto culminante que marcou toda essa trajetória das décadas de 1980 e

1990, foi, a conquista das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica das Escolas do Campo, aprovada pela

Câmara de Educação Básica do Conselho Federal da Educação, em 2002.

Essa conquista marca a necessidade de continuar a luta para e por novas conquistas sociais, para

implementar políticas públicas de Estado, em níveis, específico e geral, como construção e reconstrução de

Planos Estaduais e Municipais de Educação, implementação das diretrizes em níveis regional e local. A

importância desse movimento, das experiências educativas nas escolas do campo, para desafiar a SEDUC e as

SEMEDs do Pará, nos movimentos sociais, instituições próximas ou antagônicas do Estado, são elementos

principais para se buscar, registrar e contribuir para outras pesquisas na educação e em políticas públicas do

campo. Nesta pesquisa, a memória de atores sociais da Transamazônica e do Nordeste Paraense, ou a esta,

ligados, direta e indiretamente, é uma fonte atualíssima, para ir além de fontes oficiais e de estatísticas.

Nesse sentido, os fenômenos históricos e educacionais, por meio de lembranças de professores, diretores,

secretários, gestores municipais e de educação, alunos, camponeses agricultores, lideranças camponesas, e

sindicalistas, poder legislativo, de Castanhal, Santa Izabel, Uruará e Medicilândia, são rememorados, reunidos no

registro escrito, em forma de fontes, para trazer para a memória social, fatos, pensamento pedagógico, ambiental,

tecnologia em agricultura, políticas públicas para e do campo.

Compreende-se que tal ferramenta possibilita como produto de pesquisa, uma leitura analítica, que será

desenvolvida em documentos posteriores, tais como artigos, livros, documentário, para compreender e apreender

a educação do campo nesta contemporaneidade, de início de século.

Esse posicionamento cabe refletir é significativo, uma vez que se defende que a educação formal é uma

dos maiores bens da humanidade, legada por diversas gerações (ORSO, 2007), está, no tempo presente, inserida

em uma sociedade de classes. Sociedade em que a cultura é tomada como referência para uniformizar valores,

hábitos, se torna atualíssima, a educação escolar que necessita referenciar uma formação discente para além da

cultura burguesa, nesse contexto, a cultura local, heterogeneidade cultural, evocando, experiências da vida social

dos povos, como instrumento contra-hegemônico aos interesses da sociabilidade capitalista. Sociabilidade esta

que prima, no sentido total, de conduzir uma cultura educacional de massas, “naturalizando-a”, para afirmar suas

ideologias. Nesse sentido, é necessário ter clareza que os problemas sociais são profundos, e, na educação, não é

diferente. Esta é inserida nas relações sociais, na estrutura dessa sociabilidade.

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Assim, compreende-se que, acompanhar o movimento que se faz na educação do campo, significa trazer

para a escrita da História Social Local e de sua Educação/política, experiências sociais e educativas, na

perspectiva não só de guardar sua memória, como também, como elemento fundamental, para apreender o

processo histórico no campo. Como assinala Hobsbawan (1998, p. 21)

Quaisquer que, tenham sido suas origens e dificuldades iniciais, a história feita pelo povo decolou agora. E recuando a vista para a história do povo comum, não estamos apenas dar-lhe uma importância política retrospectiva que nem sempre teve, mas, tentando, de forma mais geral, explorar uma dimensão desconhecida do passado.

Buscar, refletir por uma educação pública do campo, à base das demandas de seus sujeitos trabalhadores é

uma questão atual. O sentido é profundo, necessita ser levado a sério, pelos sujeitos que constroem a política

educacional nos setores do Estado. Os desafios são muitos, assim, é relevante que todos os atores, venham

assumir compromisso com a educação pública; que esses educadores ensejem, no planejamento e no seu

exercício prático, lutar continuamente, pela educação de qualidade social, pelos conhecimentos sistematizados,

apropriações de velhos patrimônios e, construções de novos patrimônios históricos para as gerações atuais e

futuras.

Concebe-se que, uma das formas de luta, é a memória social dos trabalhadores seja inserida na memória

escrita, nas discussões, debates e pensamento social, na formação de jovens, entre outras instâncias públicas. Para

alcançar transformação social, para um presente não padronizado (HOSBAWN, 1998), um dos caminhos, é a

pesquisa. Assim,

[...] todos os tipos de história enfrentam problemas técnicos próprios, mas a maioria supõe que há um conjunto de material informativo pronto e à disposição e cuja interpretação é que os cria [...]. Ora, a história vinda do povo difere desses assuntos, e na verdade da maior parte da história tradicional, na medida, que, simplesmente, não há um conjunto pronto e acabado de material sobre a mesma.

As fontes orais constituem um material que não é pronto, nem acabado, cujo conteúdo, quando reunido,

está à disposição para a interpretação. Nesse sentido, acredita-se que as compreensões dos atores sociais

entrevistados, evidenciam como a formação escolar está se realizando no nordeste paraense e na

Transamazônica. As lutas, tipologia educacional, como métodos e técnicas, conteúdos, relação professor e aluno,

avaliação, organização curricular, espaço do patrimônio histórico/educacional, relações de poder e políticas

públicas se constroem no interior do setor educacional das Organizações Camponesas, do Estado e do Município.

São memórias guardadas, acalentadas pela esperança, satisfação, também pelos embates, tensões entre

muitos sujeitos que gestam e operacionalizam a educação básica. Quem são e em nome de quem esses atores

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estão lembrando, burilando a memória? Na maioria das vezes, sujeitos simples, esquecidos pelos poderes

públicos locais e regionais; embora, tais sujeitos, como os professores sejam representantes do poder público

local. Esse esquecimento dos gestores “maiores” de os poderes públicos acontece, sobre um ofício tão importante

para a formação humana. É notória a responsabilidade do professor, no seu trabalho diuturnamente, em falas tão

fortes, como assinala uma professora de Uruará:

Tem uma coisa que me marcou até hoje: um aluno que eu tive, passou por mim, acho que na 1º ou 4º série, quando o menino, na 2º ou 3º série chegou em casa dividindo, e viu o pai tentando fazer uma divisão e não conseguia. O menino chegou dizendo que o pai estava fazendo errado e ensinou a fazer o correto. O pai ficou maravilhado de ver que o filho já estava dividindo, pois ele achava uma coisa muito difícil, e a criança dele, já estava dividindo. Quando ele me contou essa história, me orgulhei, mas por mais que você tente ser humilde, o peito tufa!

Esse breve registro necessita ter continuidade, para buscar os campos, águas e florestas do Pará, por meio,

também, de outras pesquisas, da memória de seus atores sociais. Assim, parte-se do pressuposto de que, é

importante considerar que, todos os vestígios, materiais construídos pela ação humana, é documento histórico.

Documentos que, têm legitimidade social para serem usados no ensino escolar, na luta, debate e contribuição à

formulação de outras políticas públicas.

Fontes Históricas Educacionais – anotações sobre experiência de inventário

O projeto História, Educação e Memória da Amazônia: cenário da educação e sua política nos campos do Pará

teve como objetivo principal realizar um inventário de fontes de pesquisa em História da Educação do campo e

sua política educacional no nordeste e transamazônica paraense, em diferentes momentos históricos do final do

século XX e início do XXI. Esta experiência se pautou na orientação condutora, no tempo presente do

desenvolvimento da historiografia educacional brasileira, expressado pela “diferenciação das fontes e dispersão

dos objetos com a concentração em estudos de aspectos específicos analisados com alto grau de detalhamento”

(Saviani, 2003), referências que contribuem para processos de pesquisa, de outras perspectivas de recuperação do

passado.

Ir ao passado, para localizar as raízes do tempo presente tem sido um desejo e esforço engajado que

sujeitos históricos, entre esses movimentos sociais, têm realizado para compreender sua vida social, diversidade

cultural, laços, permanências e mudanças. Isto no sentido de se apropriar do patrimônio histórico, apreender

reminescências, raízes indentitárias, valores, saberes, ciências e tecnologias. Conjunto de referências que tem

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significado, mas que, buscar seu sentido, no processo de pesquisa que articula o presente ao passado, nem sempre

é uma tarefa simples, mesmo nos estudos do tempo presente; seus elos têm começos, num tempo passado ainda

não localizado pelo cotidiano.

A escassez e até ausência de fontes, aliada a dificuldades de acesso aos documentos primários, sua

preservação, expressam o trato dado pelo poder público e gestores educacionais à memória histórica e sua

apreensão (VIEIRA, 2005). Situação esta que é atual; tem inicio no período colonial e se mantém na trajetória de

cultura política de qual valorização do patrimônio educacional, isto na maioria dos espaços visitados. A

importância de registrar práticas docentes e escolares, suas histórias, tem um valor histórico, o de contribuir ao

movimento do documento escrito para reunir o fazer, pensar de pessoas, culturas escolares do seu lugar, território

esse que constrói o processo histórico dos campos paraenses.

Se difícil é realizar passos, movimentos, mais gerais da história local do presente, buscar e analisar

planejamentos e feitos que ocorreram nas práticas escolares e educativas, constitui-se um esforço intenso. Os

estudos registrados são poucos, as fontes dispersas. Trabalhar com fontes orais ainda é mais desafiante, porque

elas estão em diferentes espaços, no lugar da localidade, mas, o acesso efetivo, sua abertura, nem sempre é uma

possibilidade (VIEIRA, 2005).

A dispersão e escassez das fontes escritas e situações sui generis de muitas fontes orais não estarem

disponíveis e abertas à entrevista, constitui-se uma das principais dificuldades na realização da pesquisa de

campo (VIEIRA, 2005), além de prevalecer à questão do medo de impactos do dito, evidenciou-se nas

entrelinhas dos diálogos e das falas dos professores. A realização de um trabalho de campo cuidadoso com a

memória de professores públicos locais; significa um componente fundamental para recuperar parte da história

da educação do campo. Isto porque ao mesmo tempo em que possibilita apropriações, respeito com as fontes

locais existentes sobre a História da Educação e sua política, traz evidencias novas, que não estão em

documentos oficiais. Trabalho que também possibilita sua catalogação, narrativas de experiências pedagógicas e

suas diversidades, como a cultura escolar, saberes, relações sociais e cartografia social do local. Caminhos de

pesquisa, que faz emergir o diálogo entre pesquisador e pesquisado, enriquece o processo do conhecimento, para

num processo final, realizar a divulgação do que foi possível localizar e narrar. Foi assim que se delineou a opção

de proceder a um retrato ainda preliminar de vozes locais, como fontes de pesquisa em História de Escolas do

Campo paraense e sua política educacional.

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Papéis sociais fundamentais de professores por meio de seu ofício de ensinar e aprender, fragmentos da

memória de pessoas margeiam o templo de repassar e construir conhecimento, fincados tais processos como

possibilidades de construção de saberes escolares, na base da relação ensino, trabalho e pesquisa. Essa referência

como fio condutor para outra formação na educação básica, é significativa para expressar que se constitui para

além de um tema de ensino, como direito de serem objeto e reflexão de pesquisa, como bem patrimonial e

cultural. O esforço de visitar, selecionar e catalogar fontes de pesquisa em história da educação remete a

importância de contribuir à afirmação e expansão da Educação, seu lugar epistemológico.

A pesquisa da educação por meio de fontes históricas diz respeito, a deixar sempre no registro escrito, a

vitalidade das fontes históricas, uma vez que trazem ecos, evocam mortos, são partes de experiências sociais,

assim, desnudam hegemonias culturais, formas econômicas, tecnológicas tidas como as de statusquo –

“soberano”. No processo de investigação, como assinalou Vieira (2005) requer que seja dada importância

necessária as fontes, como: cuidá-las num processo contínuo de organização e preservação, rigor com sua coleta

e análise, para fazê-las emergirem no que tem de seriedade, na inter-relação com o passado, para evidenciar

diferenças com o presente, de forma analítica.

Desenvolver um inventário de fontes históricas necessitou em um grande trabalho de campo, que se

expressa nos dados que se apresentarão no catálogo de fontes que neste 2010 está sendo elaborado. Considera-se,

que, no processo de pesquisa, a relação entre conhecimento histórico, educacional e seu objeto, como assinalou

Thompson (1981, p. 62), é num estado de diálogo, não de monólogo, uma vez que, “[...] a interrogação e a

resposta são mutuamente determinantes, e a relação só pode ser compreendida como diálogo”.

. Experiência de inventariar fontes históricas/educacionais

O levantamento de fontes de pesquisa, desde seu nascedouro, teve como horizonte a identificação e

catalogação de um conjunto de documentos locais sobre política educacional, facilitando o acesso aos

interessados e favorecendo a realização de novas incursões. Vários arquivos e materiais foram localizados

durante o trabalho de campo, o que resultou na coleta de fontes de natureza diversas.

Conforme assinalado na introdução, o trabalho de campo abrangeu os municípios de , bem como

procedimentos diversos. Em Belém, o levantamento se deteve sobre documentos oficiais. Em Castanhal, santa

Izabel, Uruará, Altamira e Mediclândia, além desta fonte, a busca priorizou documentos escolares.

Trabalho de pesquisa nas escolas do campo e alguns pontos olhados

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A identificação das fontes oficiais, fruto do trabalho realizado em alguns acervos públicos no período de

vigência do PHECA, contou com a colaboração de bolsista de iniciação científica do programa PARD, nos dois

primeiros anos de vigência, no espaço de Belém. O processo de investigação abrangeu desde a identificação de

as escolas e os acervos a serem pesquisados, passou pela sua localização, reprodução e catalogação. Ao todo

foram visitados alguns arquivos da capital e municípios da pesquisa, esses, na maioria, instituições escolares e

seus professores:

Ouvir a voz dos atores de forma conseqüente e se esforçar para compreender a condição de opressão que

ela se situa no contexto de vida social. Nessa postura, implica para além de deixar falar as fontes, Thompson

(1981), chama atenção que este enunciado, não se deve dar no campo descritivo, mas sim, no contextualizado

pelo processo histórico, nas determinações sociais, que estão presentes no objeto de forma direta e indireta.

Thompson lembra o sentido da pesquisa, no que concerne não perder de vista o movimento do real. Isto

pressupõe uma ética em todo processo de pesquisa, e esta tem valores; compreende, contextualizar o fenômeno

nas dimensões que a sustentam, sua esfera micro, como mostra Hobsbawn (1998), partir da relação do

microscópio, mas não deixar de lado a inter-relação com o micromacrorrealidade, o caleidoscópio.

A pesquisa, no nordeste e transamazônica paraense, no contexto da História da Educação e sua política,

foi recortada, no planejamento das SEMEDs sobre a educação do campo e sua materialização nas instituições

escolares. A intenção foi identificar fontes orais e algumas documentais diversas que possibilitassem transmissão

de conhecimentos e práticas sobre a educação pública no município.

Para orientar a busca da pesquisa: nos arquivos, instituições e escolas dos municípios visitadas, as fontes

foram assim expressas: Impressos – documentos como leis, portarias, relatórios, projetos pedagógicos, dados

estatísticos, cartas, requerimentos, diários de classe, boletins, álbuns, planos de aula, entre outros. Fotografias –

fotos de prédios públicos – escolares, de professores, lideranças, alunos, gestores, comemorações cívicas e

sociais. Documentos escaneados - livros, cadernos, fardas escolares, monumentos, mobiliários, entre outros.

Entrevistas – com sujeitos sociais que realizam, realizaram, contribuíram e contribuem com a educação

(VIEIRA, 2005).

As fontes encontradas se encontram em fase de organização. No momento da coleta, os documentos

impressos foram fotografados, para depois serem escaneados, assim como identificação de o local em que foi

observado. Os objetos foram fotografados e identificados. Os prédios escolares, existentes nas localidades de os

municípios da pesquisa visitados foram fotografados, assim como realizada uma breve descrição. Um dos

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principais pontos da pesquisa foi à busca de professores e gestores, localizados em seus locais. Esses,

conjuntamente com outros atores, são considerados como pessoas que tiveram e têm função social relevante,

como sujeitos públicos do município, para além do espaço educacional. Todos os depoimentos realizados foram

registrados em gravador eletrônico.

O conjunto de material coletado nas escolas e instituições visitadas apresenta certa aproximação. Na

maior parte dos locais visitados, observa-se, um processo do trabalho pedagógico escolar, sem valorização do

que está sendo feito, assim, isto contribui para a escassez de fontes e algumas vezes, influencia no descuido com

sua organização e armazenamento. Na maioria das escolas visitadas, o que é considerado relevante, são

documentos oficiais, cristalizados, pela historiografia tradicional, como os estatísticos, predomina, desse modo, o

registro da memória da burocracia educacional. O processo real do trabalho docente e seus produtos na educação,

como o conhecimento escolar, vinculado ao saberes da tradição nos municípios em que a pesquisa foi realizada

não parece vir sendo objeto de uma cultura política de preservação do patrimônio educacional, por parte do Poder

Público local.

Em Belém, todos os registros feitos são importantes para a pesquisa, assim como os de outros municípios.

Para este relatório é importante citar, a SEDUC como expressão atual do estado de necessidade de construção de

política educacional do Estado do Pará, para a educação básica nas escolas do campo. Há muito, o que fazer, para

recuperar o desmonte de políticas neoliberais da década de 1990, e, de déficits históricos, de todos os governos

do passado paraense, governos que não se preocuparam com educação dos filhos dos trabalhadores camponeses,

pescadores e indígenas; vale registrar, de iniciativas muito tímidas do atual, que, ainda, não configura uma

política educacional para esses territórios.

O cenário que prevalece é de uma recém nova gestão, com cerca de três meses apenas e acenos à

abertura aos movimentos sociais e educação popular. Pelo pouco tempo, ainda não foi possível, apresentar

mudanças substantivas nos rumos da política da SEDUC, principalmente para o campo. Assim, o que prevalece,

são impactos de políticas de gestores anteriores; o contexto ainda é o de uma política ancorada em programas da

União; isto é de se observar, na fala de uma de suas técnicas entrevistadas.

Apesar de boas intenções de professores e técnicos da SEDUC – DEDIC e CECAF, alguns na gestão há

mais de dois anos, esses, se encontram em nível de terceiro escalão, na gestão dessa Secretaria de Estado; não

tiveram autonomia frente à organização superior. É importante registrar que, presentes nessas funções de direção

e coordenação, estão os limites e entraves dessas hierarquias do poder de instituições burguesas. No contexto

educacional, os desafios são muitos, desde sua base, a escola, até a gestão de sistemas de ensino, como é a do

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Estado do Pará. A questão da ausência de um sistema nacional de educação, como assinala Saviani (2005), é um

problema sério para a formação humana, pois expressa a não prioridade à educação de qualidade, retratada, no

escasso financiamento desta e do desenvolvimento social, o que afeta um resultado perene. Nesse conjunto

estrutural, perdura situação em que coexistem correlações de forças políticas inter e intra-institucional; fato que

também influenciou o impedimento de realizações e continuidades transformadoras nas diversas moradas que o

ensino básico requer para ser de qualidade:

[...] A questão da descontinuidade se põe, como um problema de maior gravidade, manifestando-se de maneira particularmente forte nas políticas educacionais. O problema se apresenta aí, com um grau tal que inviabiliza qualquer avanço no campo da educação. Parece que cada governo, cada secretário de educação ou cada ministro quer imprimir sua própria marca, deixando de lado os programas implementados nas gestões anteriores. [...] trata-se de um tipo de atividade que requer continuidade. Portanto, a política educacional precisa levar em conta essa peculiaridade e formular metas não apenas a curto, mas a médio e longo prazo e instituir propostas que possam, de fato, ser implementadas e avaliadas no seu processo e nos seus resultados, sendo corrigidas quando for o caso, mas que tenham sequência, e que permitam criar situações irreversíveis de tal modo que as mudanças de governo não desmantelem aquilo que está sendo construído (SAVIANI, 2005, p. 269).

Na compreensão sobre a operacionalidade da Secretaria de Estado de Educação do Estado do Pará, para a

Política Educacional do Campo, metas a médio e longo prazo, como assinala Saviani (2005), com condições para

terem caráter de sequência são inexistentes para constituir um cenário de irreversibilidade. O que prevalece é

continuidade de déficitis históricos com as populações do campo; os próprios técnicos entrevistados, evidenciam

na sua informação, que a política da SEDUC, no inicio do século XXI, se circunstancia só na formação de

professores. A necessidade de constituição contínua de legislação fica retraída, inexiste em campos estratégicos

para realizar transformações sociais na organização do ensino básico e seu currículo. A exemplo, cita-se, a não

publicização de o documento constituído no I Seminário para construção de Políticas Educacionais do Campo,

realizado em novembro de 2008, até meados de 2010. Isto, por si só, contribui para o entrave na formulação das

Diretrizes Operacionais para Educação das Escolas do Campo do Pará, Estado que têm demandas sociais

diversas, referências geopolíticas e culturais com dimensão estratégica para recuperar, nesta atual sociedade e

tempo presente, a diversidade cultural, como ribeirinha, indígena quilombola e camponesa. Contraditoriamente, a

contínua troca de gestores na SEDUC, contribui para o distanciamento da construção de uma política educacional

de Estado. Vale registrar que as Diretrizes Operacionais, em nível nacional, foram aprovadas em 2002; no Pará,

apesar de esforços de técnicos e alguns gestores da SEDUC, como a Coordenação da Educação do Campo, as

Diretrizes Operacionais da Educação Básica para Escolas dos Campos do Pará e outras referências substantivas

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ainda não foram elaboradas, são oito anos de defasagem histórica e pedagógica no Pará, em relação ao cenário

nacional.

Apesar de alguns feitos estaduais memoráveis, como apoio e reconhecimento ao Programa da Pedagogia

da Alternância, este não atende ao espaço geofísico paraense. No geral, a veia da cultura política que fluiu até

meados de 2009, para as escolas do campo, é restrita, ao contexto de projetos e Programas do MEC; projetos

esses finitos, focalizados espacialmente e mediados por editais. Na compreensão de entrevistados,

[...] a política dos Saberes e Escola Ativa são federais. É oferecida através das Universidades, no caso a UFPA e o IFPA que estão nessa parceria; são elas que oferecem essa formação. Em 2008, tínhamos somente a Escola Ativa, e as formações aconteceram. Tivemos todas as formações previstas naquele ano; não sei te dizer se atingimos a meta, em termos de condição de educadores. Mas tivemos momentos de formação da Escola Ativa, partir do momento que ela passou para esta Coordenação; porque, antes estava em outro setor, depois da metade do ano que ela veio pra cá. Não sei te dizer se antes de vim para o campo se houve algum momento, ainda 2008 com eles – educadores.

E os Saberes, as formações já passaram a acontecer a partir desse ano. Já está no segundo momento com os convênios sendo, firmados e acompanhados todo tempo, pelos técnicos, que estão desde 2008 à frente disso, que no caso, é a Ana Cristina, Ana Cláudia e a Darinêz;. E ainda em 2008, tivemos formações, que eram verbas que também eram do FNDE, eram formações que deveriam ter acontecido anteriormente, ainda quando a Zanete estava aqui. Deveria ter acontecido em 2007, mas passou de um ano para outro, e fizemos o ano passado, em 02 momentos de formação, com esses recursos do FNDE (SILVA, Z. 2009).

No ano final de 2009, a coordenação do Fórum Paraense de Educação do Campo, tinha esperança que, em

no primeiro semestre de 2010 fossem desencadeadas audiências públicas para conquista e efetivação dessas

Diretrizes Operacionais; para ir além de Programas Federais, esses estimulados por meio, tão somente, de editais.

Processo de mudanças, realizações a médio e longo prazo, no sentido que Saviani (2005) propõe.

Projetos que venham, pelo menos a ser similar ao dos Sistemas CEFFAs, constituído pelas Escolas

Famílias Agrícolas – EFAS e as Casas Familiares Rurais – CFRs, que conquistaram o reconhecimento da

Pedagogia da Alternância, em janeiro de 2009. Novos Projetos e programas que sejam viabilizados por Políticas

Públicas com caráter de Estado, com financiamento e execução garantida para transformações sociais das

situações existentes.

No Conselho Estadual de Educação foi feita visita ao seu vice-presidente, senhor Leônidas Martins, que

também concedeu um fala, com informações importantes sobre o cenário atual da educação do campo. Este é

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coordenador da Associação das Casas Familiares Rurais, filho de camponeses da Transamazônica e membro do

Fórum Paraense de Educação do Campo.

ALTAMIRA – Garimpagem fontes educacionais, entre contextos indígenas e camponeses

Foram realizadas visitas e entrevistas, como: na SEDUC-URE, com a professora Lindamir, em maio de

2008. Foi feita visita a Casa Familiar Rural de Altamira, no dia 29 de setembro de 2009, à tardinha, com

realização de entrevistas com três alunos e duas professoras. Associação dos Municípios: com ex-executor do

INCRA – PIC-Altamira, pedagogo Dino Barile, em 30 de setembro de 2009. Na Fundação Viver, Produzir e

Preservar – FVPP, na tarde do dia 08, e no dia 09 de outubro de 2009; foram realizadas breves entrevistas com

professores, denominados de monitores das Casas Familiares Rurais, como: Alcides Garcia Bispo – do município

de Anapu, Maurício Reis – de Pacajá, Odete Reis, de Brasil Novo, Luis Paulo – coordenador das CFRs da região

da Transamazônica, graduano em Licenciatura Agrária Luiz Paulo. Sede do INCRA: Técnico Reginaldo José

Silva. Na tardinha do dia 09, ao retornar para o município de Uruará, foi realizada uma breve entrevista, na Sede

de Transportes Vans e Micror-ônibus, com a jovem Marismar Mendonça, filha de camponeses do Km. 175

Norte, Comunidade Nossa senhora do Carmo, Trecho Altamira – Uruará Na noite do dia 12 de outubro, no

aeroporto de Altamira, foi realizada entrevista com a pedagoga Aparecida, assessora pedagógica das CFRs da

região da Transamazônica paraense.

A instituição SEDUC – URE, em maio de 2008 localizava-se em prédio alugado no centro da cidade,

com necessidade urgente de reforma na infra-estrutura, desde a sala da sua direção. Neste outubro de 2009, a

Unidade regional já estava em outro local; pelo pouco tempo que se teve para a permanência em Altamira, não

foi possível visitar o novo espaço. No contexto da preservação pela memória educacional, é necessário registrar

que, o arquivo dessa instituição – em maio de 2008 -, estava em estado de total desorganização, precaríssimo,

com o material jogado, de épocas, a exemplo de 1970, ou mais remota, todos, certamente, importantes para

recuperar o fazer educacional; documentos impressos, em meio a insetos, teias de aranha, goteiras, enfim, com

evidências fortes de deterioração de muitos documentos, como Projetos, correspondências, atas, entre outros.

. Brasil Novo – Agrópolis da Colonização e seu ensino: presença de Casa Familiar Rural

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Nesse espaço da colonização do PIC-Altamira, de “antiga” Agrópolis, de lembranças familiares e

profissionais, tão vivas para a pesquisadora, pois esta, também trabalhou e viveu no local, na década de 1970,

situam-se prédios dessa década, esses, em certa quantidade, ainda permanecem conservados, como o Escritório

Local da EMATER-Pará de Brasil Novo, o Velho Clube do INCRA, Casas de madeira, para colonos e

funcionários públicos, ainda resistem ao tempo cronológico e à “modernidade” das casas de tijolos, incluso nesse

tempo presente, de 2009, a nova infra-estrutura de porte municipal, como o prédio da prefeitura. Infelizmente, o

prédio principal da época, o Motel da Agrópolis Brasil Novo, foi derrubado; prédio que representou uma fonte

histórica patrimonial. Nesse prédio, diversas autoridades se hospedaram, como as governamentais, o vice-

presidente da república, do presidente Médici, por ocasião de inaugurações de Projetos. Os colonos e seus filhos

passavam distante, era lugar de “pessoas importantes”.

Nesse município encontra-se o prédio da Escola CFRBN, fotografado pela pesquisadora, em sua parte

externa, pois naquela ocasião, a formação estava com calendário de alternância pedagógica, com tempo e espaço,

de estudos e práticas, sendo realizada nas unidades de sistemas familiares. Diante do contexto, foram realizadas

fotografias externas. O local é de fácil acesso, na estrada norte, no final da rua, localiza-se o antigo Clube do

INCRA. A estrutura do prédio é muito bonita, com diversos blocos de sala de aula, para estudos e atividades

físicas, laboratoriais serem realizadas com qualidade social; isto, no interior de um ambiente bem ecológico, e às

margens de um pequeno bosque.

Este terreno foi doado pela Igreja Católica, que teve a administração do padre Léo, um dos religiosos da

época da colonização, década de 1970.

A visita ao município foi rápida, pela responsabilidade de realizar entrevistas com educadores das demais

casas familiares Rurais, objeto de levantamento de fontes desse trabalho, de estar em Altamira, à noite para

reunião com professores de escolas do campo, professores das IFEs, SEDUC e lideranças locais, na intenção de

marcar a criação do Fórum paraense do campo, para acompanhar processos de contribuição á formulação de

políticas educacionais para escolas do campo, águas e florestas; reunião que ocorreu, com sucesso, no dia 08 de

outubro de 2009, auditório da UFPA – Campus de Altamira..

. Uruará – apontamentos para contribuir à preservação de sua história da educação

A Transamazônica é uma coisa maravilhosa, são aquelas famílias tradicionais, que vieram de fora, que se estabeleceram, que são paraenses, até por adoção. Que acreditam, acreditaram na Transamazônica e que continuam lutando por ela. Então essa é uma, é um cenário que a gente encontra; uma esperança que ela vai ter sim, uma consolidação! Ela vai ser considerada como eixo importante não do Para, mas do Brasil.

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E, os governos olharem a Transamazônica com essa visão, com enfoque do desenvolvimento, ela não será marginalizada. E, as pessoas que acharem que é uma coisa sem importância, o volume de produção que se tem na Transamazônica, mostra a sua importância, que ela tem digamos assim, para o equilíbrio dos conflitos fundiários no Estado do Pará é muito grande.E, ela precisa ser vista com essa visão, de ser entendida assim! (SANTANA, Técnica do INCRA).

O município de Uruará foi o primeiro a ser visitado pela coordenação do projeto. Nesse local, teve-se

acesso a duas escolas, das vicinais do quilômetro 180 e do km. 201 Sul e de algumas escolas do campo à margem

da Rodovia Transamazônica, como a Migrantes, do Km. 175, e a do Km. 140, sentido, Medicilândia Uruará, e

assim, a oportunidade de conhecer alguns de seus professores e alunos.

O material coletado, na sua maioria, contempla, apenas, – face limitações de tempo e falta de

financiamento –, documentos avulsos do Instituto La Salle de Uruará, fornecidos pelo irmão Genaro.

Documentos históricos muito relevantes para a História da Educação da Transamazônica, que vão desde

cadernos, cartas, projetos de educação ambiental, livretos sobre o fundador da ordem, algumas anotações avulsas,

com listas de alunos, entre outros. A riqueza do material está também nas fotografias sobre o processo inicial, e

sua trajetória, na organização da primeira educação escolar desse município.

A relação da História da Educação com essas fontes é estreita, e valorizar as fotografias é uma condição

basilar para uma história social da educação e sua política, nesse sentido, o esforço de enviar para copiadora esse

material fornecido; as fotografias revelam as características e influências desse processo. É importante que esse

material, posteriormente, seja reunido pela Universidade, em particular pelo Instituto de Educação. Nesse

contexto, a construção de um museu histórico da educação e sua política, tanto para escolas da cidade, como do

campo, águas e florestas, em espaços da academia e do local.

A Secretaria Municipal de Educação forneceu dados estatísticos, o secretário de Educação, professor

Manoel e professora, coordenadora pedagógica, Maria do Carmo Donato da Silva, concederam entrevistas, assim

como outros técnicos. Outras Instituições foram visitadas na sede do município, como o Sindicato dos

Trabalhadores Rurais, Escola La Salle, Escola Melwin Jones e outros. A Escola Casa Familiar Rural foi visitada

mais de uma vez para realização de fotografias e entrevista com seus professores, que são chamados e

considerados no processo de socialização da formação de adolescentes e jovens, de monitores. Tal foco justifica-

se por ser uma escola de gestão comunitária, com procedimentos metodológicos e um currículo diferente da

escola pública do Estado e do Município. Destacam-se como espaços públicos que concentram documentos

relevantes para a História da educação local. Na escola La Salle, foram coletados documentos datados do início

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do processo de escolarização do lugar, antes de Uruará se tornar município, da colonização da Transamazônica,

nos meados do segundo quartel do século XX, como os Cadernos de anotações/fotos dessa instituição.

Foram identificados educadores vivos que contribuíram com a educação local na sede do município e nas

primeiras escolas da Transamazônica. Foram entrevistados diversos professores, algumas lideranças e

merendeiras, todos importantes para o processo educativo de formação básica, como D. Arlinda Reis, Leonardo

Bonfim de Souza, Wagnei Silva, Irmão Genaro, José Lazarinni, Irmâ Ângela Souza, Professoras Clotilde Rosa,

Franciane Leandro da Silva, Antonio saraiva Brito, Enedina Morback de Paiva, Ilda Morback de Castro, Ivo

Grings, Valdir Xavier Rego, Selma Silva de Menezes, Antonio Mário da Conceição Filho, Paulo Rogério de

Oliveira, Rosãngela Maria Ferreira Santos, Manoel de Souza Moreira, Maria Geni Matos Gricoli, Elieide Santos

veras, Aldenora Maria de Souza, e Claudiney Ferreira dos Santos. Também mulheres de primeira e segunda

geração de colonos chegados e cadastrados pelo Incra, constituem relatos históricos relevantes para apreensão do

feito educacional nos tempos mais iniciais de formação de o município de Uruará, no Estado do Pará. Também

vale citar que muito contribuíram, professores e alunos, como: Anderson Berwian, Elivelton da Silva Gomes e o

coordenador, prof. Agnaldo, da casa Familiar Rural de Uruará – CFRU. NO Sindicato dos Trabnalhadores, a

entrevista foi feita com o senhor João Santos, filho de colonos e, em 2009, reeleito presidente do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais, ex-vereador de Uruará. Vale citar, a filha de primeiros colonos, Elaine da Silva Reis, que

realizou trabalho como bolsista júnior, de caráter voluntário, com mulheres, filhas de primeiros colonos. Entre as

Maria Salete Batistelo, Ivandina Budelon, Jacinta Trevisan, Dolores Barbosa dos Santos, Irondina Morbach dos

Santos, Leonilda Maria Cemim, Lourdes Xavier de Lima, Therezinha Lopes da Silva, Sofia Zaiom, Roseni

Bartoline, Zenária Barbosa entrevistas. No poder legislativo a entrevista foi feita com o vereador e presidente da

Casa, Gilmar Milansky.

Entre as entrevistas feitas, por Elaine Reis (2009), vale registrar sua síntese, acerca da História de Vida de

Salete Batistello, filha de colonos pioneiros da colonização da Transamazônica. Informações de Salete que, para

além de destacar a importância de biografias de sujeitos do campo, expressa-se, tais fontes orais, como

documentos históricos, que necessitam ser revisitados, para incluir saberes dessa natureza, na organização

curricular da educação básica. Saberes para escrever e recuperar parte da História Local e educacional:

A infância foi boa, estudou até a 4ª Série lá nesse lugar onde morava, também brincou bastante e também aprendeu a trabalhar na roça.Chegou aqui no Pará em 1972, ainda solteira, na companhia dos pais e os irmãos. Naquela época diziam assim: aonde vai um, vai todos! Ficamos 3 dias no João Pezinho e 15 dias no km 101. Depois veio pro lote. O pai e os filhos na frente, pra fazer um barraco, os outros vieram depois.Foi feito o barraco na beira da Transamazônica; ao redor, o pai limpou e foi preparando a

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terra para plantar arroz.Aí com a ajuda do trabalho de toda a família, plantaram feijão, mandioca, batata, abóbora, pepino, banana, laranja. Com o trabalho e a colheita, ficaram contentes, pois tudo o que plantava dava.Em 1973 casou com um cearense. [...] grávida do primeiro filho; o marido comprou um lote no km. 170 – faixa, onde nasceu o 1º filho. Onde também trabalhou na roça, plantando arroz, feijão, milho, mandioca, batata, frutas e verduras (BATISTELLO apud Reis, Elaine, 2009).

De certa maneira, o cuidado com a preservação da história local é uma primeira impressão a quem chega

à Secretaria de Educação de Uruará. Uma única iniciativa registra esta preocupação, como a do assessor de

cultura, pois, tem pesquisa fotográfica recente, com intenção de recuperar manifestações culturais, lugares

ambientais, como rios, igarapés, cultura e vivência de uma etnia indígena, por meio de realização de visitas,

realização de festivais, cantorias, danças, pintura, mapeamento e constituição de material fotográfico e de

incentivo a cultura local. Ação princiapl, estava, em 2007, sendo desenvolvida pela Secretaria de Cultura e

Desporto, em parceria com a de Educação de Uruará. Esse cenário, no âmbito da educação, ainda parece ser uma

política retraída. A ausência de organização e preservação de documentos sobre a história local se torna patente,

à medida que, apenas um livro e algumas monografias de conclusão de curso de graduação de alunos da UFPA e

da UVA são alusivos a História e a Educação de Uruará; constata-se serem esses, os registros escritos. No

“arquivo” patrimonial da coordenação pedagógica da SEMED, o acesso foi restrito – fornecidos só dados

estatísticos e projetos Político-Pedagógico de algumas escolas: assim foi em outros setores desta. Em, outros

setores da Prefeitura Municipal visitados, acervos onde foram localizados registros referentes à temática

educacional, esses materiais estavam juntos a outros tantos documentos e “reunidos” de forma desorganizada.

A situação de Arquivos Escolares de Uruará, localizados nas escolas do campo, encontrou-se material

relativo à burocracia educacional, não se distancia muito e nem é diferente do cenário citado. Nesses territórios

educacionais, o cenário é de um desordenamento de arquivos, com pastas diversas, que detém documentos

oficiais, de Projetos Pedagógicos – em algumas escolas, não atualizados, Listas de alunos, professores, livros

didáticos empilhados, controle de freqüência de professores e demais servidores, Projetos alusivos as

comemorações cívicas e sociais, e de pequenos projetos ecológicos, com foco para meio ambiente, mas, em sua

maioria, restritos ao cuidado com lixo, plantio de árvores, higienização do ambiente escolar.

Para constituir uma formação qualificada, buscou-se pelo instrumental didático, este sempre aquém das

demandas do ensino básico, com precárias bibliotecas, ou mesmo sua ausência, e de livros didáticos. Na maioria

de os espaços, parece não haver uma política de incentivo á leitura, educação com aportes de referência das

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humanidades, ademais, não há preocupação maior com a conservação do existente, e, uma ênfase ao eletrônico,

apesar das dificuldades crassas de acesso à internet, – mesmo ao computador.

A precariedade de muitos arquivos observados e a secundarização de tratamento com a questão histórica

de preservação das fontes documentais, iconográficas, a ausência de inserção de fontes orais, como testemunhos

educacionais contemporâneos, condições de acesso e tráfego às escolas de vicinais, distantes até mais de cem

quilômetros da sede do município, constituíram as maiores dificuldades apresentadas durante a busca de

informações sobre o passado educacional da região.

Todo o material fotográfico coletado foi digitalizado, está condensado em arquivos da pesquisadora, em

novembro e dezembro de 2009. Isto será armazenado em CD-rom e ainda aguarda tratamento adequado.

. Medicilândia – Educação básica, trabalho e famílias camponesas

No município de Medicilândia, além da realização de fotografias, visitas à SEMED, foram realizadas

buscas em torno de projetos Pedagógicos diferenciados de educação do campo. A coleta documental “restringiu-

se”, a realização de entrevistas abertas, pois, os técnicos não tinham cópias de todos os projetos atualizados. Foi

entrevistada a prefeita municipal, professora Lenir Trevisan, que apresentou, em linhas gerais, a sua política de

governo, e linhas de planejamento e ação para a educação. A secretária de educação, na ocasião confirmou dois

encontros para entrevista, mas esta não compareceu em nenhum dos dois. Outras entrevistas tiveram sucesso,

com algumas técnicas e professoras locais, como as das vicinais o Km. 120 Sul e 115 Norte.

Outro local visitado foi o Km. 101, entre Medicilândia e Uruará, na vicinal norte, na Casa Familiar Rural

desse Município, antiga Estação experimental da CEPLAC. A visita ocorreu em agosto de 2007, maio de 2008 e

outubro de 2009. Foram entrevistados antigos e atuais gestores dessa escola. Sujeitos sociais, como o casal

Darcírio e Rosa Wronsky que tiveram por mais de uma década a frente da coordenação administrativa e na

presidência da Associação de Agricultores. Esses foram gestores dessa Escola, que implementou a Pedagogia da

Alternância. Também foi entrevistado o atual presidente, senhor Agnaldo, professor Leandro e outras três

professoras.

Parece existir no município certa preocupação com a preservação da memória local. No campo

educacional essa atenção se expressa tanto na preservação de documentos escolares quanto na arquitetura dos

estabelecimentos de ensino, embora se tenha precariedade em prédios visitados e nas condições gerais para se

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estudar dignamente. As visitas a algumas escolas nas vicinais do município de Medicilândia, aconteceu, com

apoio financeiro da pesquisadora em 2007, da SEMED, em 2008, e, em 2009, com o transporte da EMATER.

Cita-se as Escola Casa Familiar de Medicilândia, Km. 101, entrevistados os professores: Rita Ferreira Lima Neta,

Leandro Augusto da Silva, Adélia Madalena Endrich, Patrícia Ferreira Costa; Professores do Programa Saberes

da Terra, Maria Esther Almeida Pereira. Em 2008, foram visitadas as Escolas 15 de Novembro; Escola 13 de

maio, da Vicinal do Km. 115 – Norte: Prof. Geovan Costa Gomes, Profª Maria José Souza Oliveira, merendeira

Neide de Oliveira Federich. Na escola do KM. 120 –Sul esteve presente com a equipe da SEMED, por ocasião da

breve visita dessas, no acompanhamento de recebimento de material, para construção de outra escola. Esta

escola, com prédio de madeira, estava em estado de deterioração avançado: o piso com buracos; o telhado de

telhas de brasilit, quebrado – com um buraco significativamente grande. As fotos tiradas demonstram tal estado:

Na SEMED, as entrevistadas foram feitas com supervisoras educacionais, como: Maria de Lourdes

Fonseca de Oliveira, No Sindicato dos Trabalhadores rurais, com seu presidente, na época, 15 de agosto de 2007,

Milton Fernandes Coutinho. Também importante contato foi feito com colonos pioneiros. A partir da fala dos

entrevistados, é de observar que a educação desse município, assim como as dos demais municípios da pesquisa,

é marcada pela influência religiosa, predominantemente da Igreja Católica, e por seu viés elitista, como assinala

Vieira, Sofia (2005), apesar de se discutir temas sociais, o Estado estar presente, os rituais e ideologia cristã

católica predomina nas referências da formação básica, de modo indireto. Tal cenário se materializa fortemente

nos rituais religiosos dominicais, que, tem participação dos pais e jovens. Esse ideário tem influência, no

pensamento e na forma organizativa e participativa da Escola Casa Familiar Rural. Embora se tenha acontecido

rupturas tímidas com a organização das Maisosn Familiales Rurales, sua origem e bases de organização

política/educativa têm princípios e pressupostos da Pedagogia da Alternância, que teve sua origem na França,

veio para a Transamazônica, sob liderança camponesa, fortemente ligada à tradição cultural católica, ainda

prevalece como orientação para o desenvolvimento humano.

Entrevistas com agricultores, professores e técnicos em educação do município, constituiu momento

singular na coleta de informações. Foram entrevistados: agricultor Raimundo Nonato Silva, Comunidade

Sagrado Coração de Jesus, Vicinal do KM. 75- Norte, professores: Dayse de Oliveira, Francisca Gomes,

Marivânia Silva Miranda, Regina Célia Souza, Elaine Clecy Fleck Kappel, Mônica Cristina Thomas França,

Goretti Gonçalves, Solange Silva de Oliveira. Este contato possibilitou também acessar a fotos do acervo pessoal

desses docentes. O material coletado nos quatro municípios, objeto da pesquisa está armazenado em pendrive,

HDs interno e externo de computador e Cd-rom, aguarda um trato técnico.

. Santa Izabel do Pará – saberes culturais quilombolas às margens da formação básica

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O quarto município visitado compreendeu na sua sede, o espaço da SEMED. A equipe contou, neste ano

de 2009, com o apoio da EMATER-PARÁ, em uma das viagens de campo, até a escola Francisca Félix Xavier,

Comunidade Campesina e Conceição do Itá. Nas outras três viagens de 2009, a visita ocorreu com o veículo da

professora pesquisadora. Foram visitados e pesquisados os locais de: Vila do Cupuaçu, Escola Gabriel, com as

professoras “Maria Silva” e Lidiane Souza; SEMED, com Maria do Socorro Gama, da Escola Professor

Hermógenes Antonio Santos, da Localidade de São João da Cabeçeira; professora Ana Márcia Macedo Morais,

da Escola Maurício Machado; Escola Pocidônio, professora Janaína Ferreira Neves.

Nas escolas do campo visitadas nesse município foi possível identificar materiais escolares diversos como

atas de reuniões de professores, Lista de matrículas, concluintes, documentos relativos a transferências, diários de

classe, resultados finais de turma, entre outros. A diversidade de material e fontes nas escolas, como a Maurício

Machado e Francisca Félix, a cultura quilombola de Caraparu, e, objetos, – principalmente, no Colégio Antonio

Lemos, visitado de forma informal, seus diversos volumes de acervos e objetos patrimoniais, como mobiliário,

também, – são referências que norteiam as intenções e necessidades históricas – da UFPA e Poderes Públicos

Municipais e do Estado do Pará–, de reunir museus históricos de educação, tanto na cidade como no campo.

Tudo isto e para além do ora citado, chamou atenção, a exemplo de arquivos e outros materiais de outras

secretarias, como a de Agricultura, que tem um envolvimento histórico na educação do campo. Relatos de

professoras pioneiras na docência da escola Agrícola Maurício Machado pontuaram os ditos, e não ditos sobre o

processo de socialização da formação em “agricultura” de adolescentes camponeses. Materiais e fontes dispersas

são retratos atuais, neste anoitecer de 2009, não só da História dessa escola, como da História da política

educacional do município.

Foram realizadas entrevistas com trabalhadores em educação de alguns locais do meio rural, mas todos

importantes na construção e reconstrução de práticas educativas; que, mesmo, de forma anônima, constroem a

formação humana com multiplicidade de motivações e projetos dinâmicos de formação discente. Esses

professores entrevistados tiveram e têm função social expressiva no cenário educacional dos campos Izabelenses.

Entre esses: Cleide Janaína Ferreira Neves. Ana Márcia Macedo de Moares, Josiane de Jesus Neves, Antônio

Éden Souza de Oliveira, Rosangela Farias Moreira, Dalvina Neves, Maria Irene Azarias Pereira, Mara Ira Maia

Santos, Lucilene Oliveira Ferreira, Marciléa Souza e Rubens da Silva Borges. Cada educador, com base em sua

vivência, próximo a sua realidade específica e mais geral, forneceu informações que retratavam a atuação do

professor no final do século XX e início do XXI; isto de modo geral, para todos os entrevistados, também de

outros municípios.

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Momentos da pesquisa, que possibilitaram um produto que se destaca, concerne nas entrevistas com

professoras das escolas, Felipe de Paula, Maurício Machado e Francisca Félix, em função de que suas memórias

trouxeram aspectos marcantes da trajetória e condição de o trabalho educativo ser realizado no campo,,

especificamente da operacionalidade da política educacional; material este, que contribui para o poder público

local repensar e reconstruir projetos e programas nas suas escolas. Projetos que precisam ser reconstruídos, de

forma contínua, para atender demandas de caráter de conteúdo e pesquisa, para se ter um desempenho de

qualidade na formação de o ensino fundamental com qualificação em agricultura; pois esta qualificação é uma

necessidade da vida e organização socioeconômica de agricultores familiares, por extensão de seus filhos, alunos

da escola. A situação é ainda de deficiência em materiais técnicos, de apoio aos experimentos e pedagógicos,

como expressa o relato de um dos professores da escola Maurício Machado:

Nas políticas voltadas para educação do campo, eu não vejo mudança significativa, a gente tem a lei do PDE, que determina diretrizes em períodos. Por exemplo, o Ensino Fundamental, até 2010, as escolas tem que ter isso, ter aquilo. Eu não vejo isso, o que eu vejo, é uma regressão. Como: essa escola aqui: tinha um trator não estou falando dessa gestão, essa gestão que está aí, tem sido muito coerente, mas essa escola tinha trator, maquinário equipamento, tinha galpões, eu sei que a parte da avicultura existia aqui, então, devido a alguma atuação de membros do poder público, foi se degradando.Eu não vejo melhoria significativa. Por exemplo, quando eu estava falando do PDE, tem toda uma regulamentação, inclusive, para educação no campo, mas até agora eu não vi. Nós sabemos que o PDE é decenal, estamos chegando em 2010, eu não vejo melhoria e sim uma degradação, cada vez mais. O que acontece aqui nessa escola, em termos de agricultura e zootecnia e entes culturais é por muita boa vontade da equipe gestora e do próprio quadro docente, porque, realmente, os professores não cruzam os braços diante da realidade, ao contrário, eles abraçam qualquer proposta e fazem acontecer mesmo. Eu tenho um arquivo de fotografias desde quando eu cheguei aqui, que mostram todas as atividades que agente vem realizando tanto nessa parte agrícola, como na parte cultural e educacional, cientifica inclusive. No dia 27/11/2008 nós estamos fazendo a primeira feira científica, cultural dessa escola, e com isso, a gente pretende mostrar que, apesar das dificuldades, a gente não pode cobrar algo sistêmico, acadêmico; até porque eles estão na educação fundamental. Mas eu vejo que, as políticas de educação do campo em Santa Izabel, eu não vejo investimento, por que tudo a gente tem que está solicitando, pedindo. Agora mesmo, por exemplo, a secretária mandou os tubos de Pvc para a água, porque nos precisávamos molhar as plantas e hortaliças, porque tínhamos que fazer esse trabalho através de um vasilhame que os alunos levavam para campo.Esse ano foi aprovado o plano de cargos e salários, 80 % da folha foi destinado ao pagamento de pessoal, mas devagar, a gente vem conseguindo as coisas. O dinheiro do PDDE – Programas de Dinheiro Direto da Escola – ainda não é suficiente, até porque no próprio orçamento do PDDE tem uma parte que é destinada ao material permanente e material de consumo, e o recurso reservado ao material permanente é muito reduzido, nem dá para comprar um computador, e também a escola não tem segurança.Os materiais utilizados na escola pelos professores são os livros didáticos, mas o que temos no momento é uma biblioteca improvisada. Eu tenho a idéia de construir um grande tapiri, que é para construir uma sala de leitura aberta, mas isso requer investimento. Eu to fazendo um projeto. Aí, para vê se eu faço uma parceria; a gente faz o projeto manda para as empresas, só que elas não querem investir. Tem a Schincariol, já mandei vários projetos, mas nós não somos atendidos, porque eles não têm interesse em investir em educação.

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Os professores usam os materiais didáticos, que estão disponíveis. Em relação aos recursos pedagógicos, nos temos o mínimo garantido pela LDB, que é o quadro negro com o giz. Os professores otimizam as aulas com aquilo que tem, é e muito bem trabalhado (NEVES, 2009).

Depoimentos que evidenciam a atual Política Educacional, seus modelos educacionais, no interior desses

modelos, suas possibilidades, contradições, limites e demandas de grupos sociais locais. Esses e outros

depoimentos são ricos, em conteúdos para apreensão mais específica e geral, de forma sistemática, da História da

Educação de Santa Izabel do Pará, em tempos e espaços contemporâneos, de presença, cultura e saberes

quilombolas, tão às margens de sistemas de ensino municipais.

hoje professores de formação tecnicista, mas que é preocupado com essa questões. E em outro modelo de ensino, antes não tinham professores assim, só se preocupavam com a técnica; agora vejo que a Escola Agrotécnica tem muitos desafios pela frente.Ela tá passando por mais um processo, a mudança poderá mudar de nome de novo, não é aleatório. Ela tem significado social político, até por causa da conjuntura nacional. Nesses 87 anos, ela mudou cinco vezes o nome, pelo motivo da conjuntura nacional e políticas, porque as políticas por ensino agrícola mudavam e ela instituição tinha que mudar. Ela sempre esteve pautada por políticas nacionais, na constituição histórica, quando ela é criada, como escola patronato agrícola.Teve todo significado, quando ela passou a ser Aprendizado Agrícola do Pará; teve todo, porque depois Escola de Iniciação Agrícola Manoel Barata, teve porque depois Escola de Mestres Manoel Barata.Eu tenho até uma critica a fazer; não deveria tirar o nome Manoel Barata, porque ele foi um republicano, embora pertencesse à elite agrária, é do Brasil, no inicio do século XX, mas era republicano, paraense, um homem que se preocupa com Amazônia.Em 1918 ele já escrevia sobre a Amazônia, por isso, quando foi fundado o patronato agrícola, foi fundado com esse nome e foi dado homenagem a ele, homenageado porque na aquela época, ele era um dos que se preocupavam com as questões da Amônia. Ele deixou ensaio escrito, que estão lá no instituto geográfico. Um dado interessante. Quando a escola chegou aqui 1972, ela ainda era Colégio Agrícola Manoel Barata, só 1976, se não me engano, teve um plebiscito, por causa de um decreto federal, ele mudou o nome para Escola Agrotecnica Federal de Castanhal Pará.Eu vejo que ela perdeu muito, mas esse decreto federal dizia que essa escola poderia manter o nome, Manoel barata, poderia ser Escola Agrotécnica Federal Manoel Barata, ou o nome do município. Teve um plebiscito, aqui com alunos na votação, acho pelo patriotismo aqui do município, ganhou o nome Escola Agrotécnica de Castanhal.Nesses 87 anos a escola expandiu sua oferta de ensino, de nível de ensino esse é o lado bom. Também da historia, porque no patronato, o ensino era estritamente correcional; a função do ensino era essa a escola, além da escola, foram criados em todo Brasil mais 20 Patronatos Agrícolas; foi uma política; logo nos primeiros anos da Republica que criou essas instituições no Brasil. Entre essas, uma no Pará; e alguns documentos diziam que era através do ensino da agricultura; do labor do trabalho, esses meninos aprenderiam teriam bons costumes, iam ter um comportamento moral, que era exigido na época . Os meninos que vinham para o patronato, eram aqueles encontrados na rua, era processo de higienização, que você conhece muito bem da historia daquele momento.

Esse relato tem um significado singular, pois a técnica e professora Gleyce Oliveira é coordenadora do

Museu da memória do IFPA-Campus de Castanhal, a antiga Escola Agrotécnica Federal de Castanhal – EAFC; o

seu projeto d epesquisa conta com apoio do professor doutorando Mário Médici e de bolsistas de seu projeto de

pesquisa, com apoio da FAPESPA, do PIBIC-Júnior, de demais professores e da direção desse Campus. No dia

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1º de dezembro do corrente ano, a escola fez comemoração alusiva ao seu aniversário na sede da Câmara

Municipal de Castanhal, com forte presença de Castanhalenses na celebração.

Como é sabido, o processo da pesquisa, inerente à inclusão detalhada do fenômeno histórico/educativo,

isto remete para o desenvolvimento do trabalho, de partir do concreto, e ter como ponto de chegada o concreto

pensado, sem se segurar no real imediato, uma vez que se entende que o fato não é isolado do contexto-histórico

social, pois, o cuidado é uma referência compreender o real e não evidenciar categorias conceituais de forma

fechada; Isto requer pressupostos teóricos e metodológicos contextualizados, para aprender as contradições,

conflitos e tensões do processo histórico; implica a necessidade de retrair pesquisa de caráter positivista, como

assinala (SCHASIN, 1985), essas tipologias tomam por base o empírico, renunciam ao concreto e se vinculam ao

abstrato. Trabalhos que considerem a necessidade de divulgar e evitar violação de fontes históricas.

FONTES DOCUMENTAIS

INCRA. Projeto Altamira 1.: Projeto integrado de colonização Altamira 1.Brasília, 1972, 218 p..

Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, Brasília, Distrito Federal, 1996.

REFERÊNCIAS

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Agrária em perspectiva: dados básicos para uma avaliação, 2003.

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trabalhador à educação. São Paulo, Cortez: Autores Associados,1999.

CALDART, S. R. Projeto popular e escolas do campo. IN: A escola do campo em movimento. Col. Por uma

educação básica no campo, nº4, Brasília, Distrito Federal: articulação nacional Por uma educação do Campo,

2000.

CHASIN, J. Coletânea de aulas ministradas no curso de aperfeiçoamento Fundamentos Filosóficos das

Ciências Sociais Aplicadas. Niterói: UFF/Departamento de Edocomia, 1985.

FILHO, Armando A; JUNIOR, José A S; NETO, Maria B (Orgs). Pontos da história da Amazônia. IN: A

política dos governos militares na Amazônia. 2 ed. Belém, Paka-Tatu, 2000.

HOBSBAWAN, Eric. Era dos extremos – o breve século XX (l9l4-l991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

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______. Sobre a história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

HENGEMÜLE, Edgard. 25 anos de presença Lassalista no Norte e Nordeste do Brasil. Canoas, RS, 2000.

PÕRTO Júnior. (Org.) História do tempo Presente. Bauru, São Paulo: 2007.

REIS JÚNIOR, João dos. O PRONERA e a democratização da educação Superior Público: um diálogo

teórico-crítico. IN: GRACINDO, Regina, Vinhaes (org.). Educação como exercício de diversidade. Estudos

em campos de desigualdades socioeducacionais. Brasília, distrito Federal: Liber Livro, 2007, p. 221-240.

LEITE, Sergio Celani. Escola Rural: urbanização e políticas educacionais. 2. ed. São Paulo, Cortez,2002.

KOLLING, Edgar; CERIOLI, Paulo Ricardo; CALDART, Roseli Salete (orgs). Educação do Campo:

identidades e políticas públicas. Col. Por uma educação básica no campo, nº4, Brasília, (DF): articulação

Nacional Por uma Educação do Campo, 2002.

Mészáros, Istávan. O Desafio e o Fardo do tempo Histórico. São Paulo. Boitempo, 2007.

NEVES, Lúcia Maria Wanderley (org.). A Nova pedagogia da hegemonia. São Paulo: Xamã, 2005

SAVIANI, Dermeval Saviani (2003). “Prefácio”. In: VIEIRA, Sofia Lerche; FARIAS, Isabel Maria Sabino (2003). Política Educacional no Brasil – introdução histórica. Brasília: Plano Editora, 188p.

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RT

Foto 01 Casa Original destinada aos colonos, da Colonização Dirigida pelo INCRA, na Rod. Transamazônica. Entre o Km. 20 ao Km. 40, Altamira-Brasil Novo/PIC ALTAMIRA

Fonte: Neila Reis. Pesquisa de Campo/PARD, julho de 2007.

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Professores de Uruará

Ano: 2007

Localização: Escola Tiradentes/Uruará

1. Professor Amilton.

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Olha no meu travessão tinha a última, uma, duas,

três. Só naquele travessão foram fechadas três escolas, só no travessão que eu

trabalhava. No travessão inteiro, lado Sul, devem ter fechado eu acho, entre cinco ou

seis escolas.

Um absurdo! Até hoje, os alunos que eu tive lá, e que ficaram ainda lá, até hoje

estão lá sem estudar; hoje já estão moças e rapazes. Os que não saíram para a cidade

ficaram sem estudar. É um problema!

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Ano: 2007

Localização: Uruará

2. Professora: Elza

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Bem, eu estou na área da educação desde 1985, foi a

minha primeira experiência enquanto educadora, e comecei a trabalhar no Melwin

Jones, como auxiliar de administração. Em 1996, já comecei dando aula de

Matemática, de sexta série, no ano seguinte, eu assumi, a carga horária de matemática,

de 5ª e 6ª série.

O vírus da educação me infectou, e até hoje, a gente tem uma paixão pela

educação. Em 1997, assumi a Secretaria Municipal de Educação, em primeiro de

janeiro. Foi uma experiência muito boa, acredito que foi uma das melhores

experiências que eu tive enquanto educadora.

Eu assumi a secretaria com uma faixa de 1.200 alunos, todos da rede municipal.

Só tinha escolas na Zona Rural, e, as demais de difícil acesso. Porque, foi chegando um

determinado tempo que o Estado não abriu mais novas escolas então o município

começou a assumir esta parte.

Com a Colonização da Transamazônica, o Estado já havia aberto as

escolas nas faixas, vicinais, as mais próximas vicinais; restando para o município as

mais distantes. Eu tinha dificuldade muito grande, porque nas escolas municipais eu

não tinha professores qualificados, eram leigos; até porque em função do difícil acesso

os professores qualificados, não iam para as vicinais, então quem assumia? Quem tinha

feito até a quarta série, depois veio o Projeto Gavião, mas, todos os professores só

tinham até a 8ª série. Não tinha nenhum, em nível do magistério; depois veio aquele

projeto do Estado, para municipalizar a educação.

Eu dizia para o prefeito na época: nós não somos obrigados a nos municipalizar,

assim, como não somos obrigados a nos alimentar para sobreviver.

Era uma questão de sobrevivência na época. Nós tínhamos um Instituto

Educacional de Uruará, que funcionava na sede, aonde o Estado não assumia o pessoal

de apoio. Parte dos professores, também, eram pagos pelo município. Como na época,

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o recurso da educação era contado, e o MEC passava de acordo com o número de

alunos.

Para nós ficava muito difícil, porque, por exemplo, o Instituto que na época, já

era um escola de médio porte, nós assumíamos as despesas, mas, o bônus, o recurso,

ficava para o Estado. Então, nós não tínhamos mais como manter a educação da forma

que estava porque nós só tínhamos o ônus, bônus era do Estado, porque os alunos não

eram nossos, eram do Estado, então chegou uma situação insustentável.

Nós pagávamos o transporte escolar das escolas estaduais, assumíamos o pessoal

de apoio, parte do pessoal de apoio das escolas do Estado, nós assumíamos parte do

professores da rede estadual e com um recurso de apenas 1200 alunos.

Então nós tirávamos os poucos recursos, que eram dos nossos alunos, para

dividirmos com o Estado. Então, ficou uma situação insustentável, não tínhamos mais

como não nos municipalizarmos, porque na hora que se munipalizasse, as despesas

cresceriam, mas, os recursos seriam passados para o município. Este passaria a

gerenciar realmente o recurso.

Esse recurso é de origem do FUNDEF, foi assim, um pouco complicada, essa

municipalização. Foi feita de forma meio autoritária, porque a gente não sentou

realmente com os professores. Porque nós não tínhamos outra alternativa, era

municipalizar ou não municipalizar.

Os alunos não eram nossos, da rede municipal, mas, eles eram filhos de Uruará.

Eram do Estado? Eram paraenses? Eram, mais, eram Uruaraenses, então, nós tínhamos

obrigação de fazermos alguma ciosa por esses adolescentes, essas crianças, e só

poderíamos fazer alguma ciosa se nós tivéssemos tudo nas mãos.

Tivéssemos os recursos, e, pudéssemos aplicar esses recursos nas escolas. Foi ai

que nós vimos que tínhamos que nos municipalizarmos.

Os professores, de certa forma, eu não tiro a razão deles, pois eu como Secretária,

sabia o que eu teria de fazer, era apenas uma parte, porque eu não sabia o que ia

acontecer nos anos seguintes, nas administrações seguintes.

Eu estava secretária, mas, não era, eu era professora que estava ali representando uma

classe, mas não sabia até quando eu ficaria. Uma coisa era certa, o máximo que eu

ficaria ali eram quatros anos. Isso, para mim era claro, e o que ia acontecer depois? Ou

até mesmo, eu enquanto secretária, porque a gente pretende fazer é uma coisa, mas

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nem sempre a gente consegue.

O que a gente se propõe a fazer, os professores não acreditavam muito na

administração municipal, devido a questão salarial. Nós vínhamos de uma situação

complicada salários atrasados, então ficava uma situação complicada, tanto para eles,

quanto para mim, que estava representando-os.

Foi preciso a gente jogar essa bomba na educação, eu acredito que deu certo.

Em 1999, a gente fez o concurso público, porque a gente, municipalizou, e

assumimos as escolas e os professores. Esses professores, os efetivos continuaram

ligados ao Estado e os temporários também, por um determinado tempo. Depois houve

a descontratação dos temporários.

Os efetivos, eles continuaram ligados ao Estado, mas à disposição do município,

esses efetivos estão nos planos de cargo e salário e plano de carreira do Estado. Então,

quem faz a folha de pagamento deles é o Estado, e, quem paga é o município. O Estado

diz o que tem de ser pago. Os outros, os temporários foram descontratados, e, havia a

necessidades de um concurso público para que esses temporários pudessem retornar e

reingressar na carreira do magistério.

Fizemos o concurso, e eu, realmente, tive muito apoio do prefeito na época, mas,

principalmente, dos professores que entenderam que era necessário fazer. E, a gente

juntos, professores, secretária e também prefeito, conseguiu avançar na área da

educação, atender boa parte do professores leigos, através do projeto gavião para que

concluísse o magistério. Já na época, muitos que tinham magistério foram para a

faculdade, principalmente, pedagogos, já tinha uma turma grande.

Nós conseguimos aprovar o plano de cargos e salários. Acredito que, tenha sido

um avanço para a educação, apesar de que hoje, se falar que o plano está defasado, mas

hoje já foi aprovado um novo plano, o ano passado 2006, mas, o que norteou foi o

plano de cargos, nos conseguimos construir novas escolas, principalmente, na zona

rural, e conseguimos ampliar outras.

Eu sempre tive como objetivo, enquanto secretária, um entendimento ao aluno e

eu sempre dizia, principalmente, para o prefeito, que, se o nosso objetivo é o aluno. E

nós, não podemos estar diretamente com o aluno; é o professor que vai estar

diretamente com aluno, então, devemos atender bem ao professor, porque se ele estiver

satisfeito ele irá desenvolver um bom trabalho. E quem sairá ganhando é o aluno, então

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a questão da valorização do professor, a questão do atendimento com material didático

– pedagógico, é essencial.

Os objetivos, enquanto eu fui secretária, foram para dar subsídio, para que o

professor pudesse desenvolver o seu trabalho. E o que fazer com os alunos que saíram

da quarta séria da zona rural, era o nosso desespero, porque a cidade estava inchando.

Os pais mandavam os alunos para a cidade, e adolescente, perto do pai, é uma

coisa, longe é outra, nem sempre ele faz o que o pai orientou, ou se propôs a fazer junto

com ele. Então, nós começamos a pensar em algo que atendesse os filhos desses

camponeses sem que eles saíssem das suas casas.

Pois quando os pais descobriam, que os filhos, que tinham vindo para a cidade,

para estudar e não estavam estudando, a mãe acabava deixando a família, o marido na

roça e vinha para a cidade com os filhos. Isso acarretava uma série de problemas, foi

quando nós pensamos então na criação, que nós chamamos de MODULAR RURAL.

Teve como base os princípios da CFR, foi feito uma adaptação, a gente observou

o projeto CFR, que estava dando certo. E, principalmente, o Irmão Lídio foi um

articulador desse projeto. Começamos a fazer um levantamento e vimos que os pais

acreditavam nesse projeto, e a gente resolveu de mãos dadas, implantar esse projeto

Modular rural, onde os alunos eram atendidos, de 5ª e 6ª série.

A princípio, eles iriam passar 15 dias no modular, a gente, criou toda uma infra-

estrutura para eles. Estudavam manhã e tarde, depois retornavam para as suas casas e

vinham outras turmas. Estudavam também os 15 dias, manhã e tarde, que

compensariam esses 15 dias, que eles estavam em casa, e assim, a gente pode atender a

zona rural, sem que os pais deixassem seus lotes e viessem para a cidade.

A princípio nós começamos com 5ª e 6ª e depois fomos ampliando para 7ª e

Funcionava no Km. 140, onde foi construída toda uma infra-estrutura para receber

esses alunos. A infra-estrutura, só foi feita lá mesmo. Deu para funcionar os quatros.

Os alunos que se formaram não lembro o número, até porque quando a gente saiu

estava na 7ª série.

Outra realização foi a implantação do Núcleo Universitário de Uruará, com

atendimento inicial para uma turma de pedagogia e uma turma de matemática. A

criação da banda municipal, a Lei que criou, foi depois, mas ela já existia de fato.

As dificuldades maiores foram à credibilidade, não em si, comigo, mas na própria

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administração como um todo. Porque a gente vinha de uma desvalorização do

professor da rede municipal; teve administrações que chegaram à atrasar 06 meses os

salários dos professores. Os professores já viam a rede municipal, assim com uma

preocupação muito grande, uma insegurança, na verdade.

O irmão Lídio foi secretário também. O Lídio foi um dos primeiros. Quando nós

chegamos aqui em 1981, o Lídio já tinha ido embora, então ele viveu realmente isso, a

Zita.

A experiência é algo que marca muito. Acho que é você acreditar naquilo que

você faz! Enquanto educador você está representando, é importante você ser um deles.

Porque quando você é secretária você não deixa de ser educador, secretário é apenas

uma função.

O principal é você se colocar como um lugar deles. É você sentir os problemas

deles e vivenciar, pois é uma realidade que também é sua. Não é porque hoje eu estou

secretário que hoje, eu vou menosprezar os meus colegas. Eu fico, assim, indignada.

Ano: 2007

Localização: Uruará. ESCOLA TIRADENTES

3. Professora: Gertrudes

Assunto: Educação do Campo

Lembranças da Memória: Tenho o ensino médio completo e estou fazendo o

magistério. Eu trabalho estudos Geográficos, Estudos Amazônico e Português na 5ª

série.

Em, Estudos Amazônicos, eu tenho a apostila e eu vou procurar em revistas. Eu

estou sempre atrás de revistas, porque se a gente ficar só em cima da apostila, a aula

fica cansativa, aí eu sempre procuro outras coisas, para não dar aquela aula repetitiva,

só com a apostila.

Não utilizo livro didático. Essa apostila, o município fornece. Ela é separada,

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cada série tem um tema. O título, não lembro.

A metodologia é aula expositiva, dialogada, a gente também faz trabalho com

seminários.

Como era o primeiro ano que eu trabalhava com a disciplina, eu achava melhor

que fosse assim: terminar um assunto, fazer logo uma avaliação, para que não ficasse

acumulando conteúdo, e pra não dá aquela coisa pesada pra eles. E se a média é 10,

você, divide em 05 ou 04 avaliações, e o resto, trabalho. Não fazer só uma avaliação e

sim várias; aí pega a nota e divide.

A relação com os alunos é ótima. Têm problemas que os alunos trazem de casa.

Tem, até porque nas aulas de didática e me lembro de uma aluna que eu tive [...]. Que

às vezes, na sala de aula, o professor chega ali e não procura saber o que está

acontecendo com os seus alunos. Se o aluno não está tendo rendimento o professor não

procura saber o porquê daquilo.

Uma vez eu tive uma aluna que era assim, triste ela não participava das aulas,

não conversava com os colegas. Um dia eu fui falar com ela. Ela me contou os

problemas dela, me contou que a mãe dela era doente mental. E o pai dela é um

daquela pessoa muito tradicional, muito rígido, não deixa sair, não deixa brincar com

as colegas, não deixa ter amizades. Aí ela ficou, assim, presa. Nós resolvemos contar

para o pai dela e desse dia, ela mudou o comportamento. Ela tinha 12 anos.

A gente tem muitas dificuldades, pra mim começa a dificuldade logo na

locomoção até na escola, porque eu moro no km. 209, e trabalho no 201. São 08 kms.

Também material, não tem material disponível, tem que está indo atráz, se alguém tem

um livro, a gente tem que xerocar; têm vários colegas que uns tem o material de um

jeito, e outros têm de outro. Eu tenho um monte de apostila de livros xerocados, porque

quando um chega com uma novidade, a gente vai logo... Porque a gente não está

precisando agora, mas nunca se sabe o dia de amanhã. Lá no ano que vem a gente não

sabe o que vai trabalhar, mas a gente já tem o material.

Tem um carro que puxa alunos de lá, é porque no Km. 201 é uma Vila, aí tem

dois carros um puxa alunos do 209 e 203. Aí vem, pra o 201, e o outro, puxa do 201

até o 197, vem tudo aqui pra escola.

No primeiro ano, já começa com a dificuldade, porque tem aqueles alunos que já

são da escola de 1ª a 4ª série normal, com aqueles que vêm de várias escolas diferentes,

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aqueles alunos que vêm das escolas multisseriadas. Junta vários alunos,

principalmente, na 5ª série, e até adaptar ao ritmo da escola é complicado.

A minha escola tem alunos de 1ª a 4ª série. Os alunos de multisseriada é que tem

dificuldade de se adaptar.

Eu trabalho 125 horas, ganho R$ 390,00. Vou fazer 21 anos agora. Tenho o

ensino médio.

Ano: 2007

Localização: Uruará. Escola da Vicinal/Assentamento Tutuí Norte.

4. Professor: Valério

Assunto: Educação do campo Eu citaria três condições básicas. Primeiro, a

questão de distância, da cidade. O segundo problema, a questão do material didático.

Que, a gente, praticamente, não tinha. A gente tinha que criar e inventar, reinventar

tudo. Terceiro, a participação da comunidade.

Então vamos para a primeira: a distância, aquela escola, fica há 84 km. da estrada

principal, que é a Transamazônica. Às vezes, quando precisava vim para a cidade, a

gente tinha que fazer toda essa distância a pé. Isso inverno e verão. O rancho para

alimentação carregava nas costas, material didático nunca tinha, e quando aparecia era

levado, parte no carro, e outra, na carroça, também no ombro. O carro, lá mesmo na

escola, o carro só entrava no verão.

A gora, a questão do material didático: o material didático só tinha um, incluindo

um livro de português, um de matemática, estudos sociais e o de ciências o mesmo. Na

maioria, das vezes, os livros que iam, não dava para todos os alunos.

Era difícil dá aula, porque, por exemplo, a criançada do primeiro ano, quando

conseguia copiar alguma coisa, era devagarzinho demais. A segunda série, já tinha

melhorado um pouquinho, já sabia escrever alguma coisa, e, ficava um pouquinho mais

fácil, mas mesmo assim, era muito demorado e eles se cansavam muito. Se cansavam,

porque, não dava pra gente criar nada dentro da sala de aula.

A escola, na verdade, era um barraco coberto de palha e tudo aberto, só tinha

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mesmo umas palhas de coqueiro jogado por cima.

Tinha a 3ª e a 4ª série, que, por eles saberem um pouco, ficava um pouquinho

mais fácil, mas era grande a falta de recursos didáticos. Também, a gente sentia muitas

dificuldades para trabalhar com os alunos.

Os alunos se sentiam desestimulados a participar, dá sugestão, dizer alguma

coisa que pudesse melhorar na qualidade da educação.

E o terceiro: a falta da participação da família, dos pais na vida da escola, porque

para os pais que mora no travessão, o filho ou a filha basta aprender assinar o nome,

que ta bom. Para o filho de colono, não precisa mais do que assinar o nome, pra eles,

na concepção deles, então, se o aluno já aprendeu a assinar o nome, ele não precisa

mais ir para a escola. Ele deve ir para a roça, plantar o arroz, mandioca, feijão, milho,

aquilo que é o básico do sustento da família.

Eu ouvia muitos os pais justificar, a retirada dos filhos dizendo: “olha eu to com

60 anos e nunca fui à escola, e ate hoje, eu não morri; fulano de tal, tá quase com 80

anos e nunca precisou ir à escola”. Aí, com isso eles justificavam a retirada das

crianças da escola. Achavam que isso era muito normal, natural, que o filho do colono

não precisa ter a cultura, aquela que se aprende na escola, matemática, português,

ciências e estudos sociais.

Para eles, ter 1.000 pés de cacau, era melhor do que passar 1000 anos estudando.

Com 1.000 pés de cacau, dá pra viver bem na roça. Então era isso, não conseguiam ver

mais longe, só conseguiam enxergar um futuro próspero, futuro mesmo era ter uma

espingarda para matar caça, o arroz, o feijão, uma farinha, boa plantação de pimenta ou

cacau e o resto, ia cair do céu.

Quando eu saí, a escola foi fechada. No ano seguinte, eles tentaram ainda abrir a

escola, mas parece que ela só funcionou um ano. Aí saiu muitas famílias, como tinha

poucas famílias, eles justificavam não ter um professor lá pra poucos alunos. Era uma

professora que estava lá. Aí foi, fechou mesmo, definitivamente.

Muitas coisas muito marcante. Quando eu saí de lá, é que eu tive que vender o

meu lote por baixíssimo preço. Fui obrigado, porque eu não poderia deixar; se eu

deixasse, o pessoal ia invadir. Eu fui obrigado a dá ele de presente para alguém, essa

foi uma coisa.

Uma outra coisa, devido eu ter um problema de diabetes, eu enfrentei lá, muitas

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dificuldades. Apesar de eu ter enfrentado essa multidão de dificuldades, o meu

trabalho, pela população, eu achei que não foi reconhecido. Então, isso, foi o que me

deixou muito magoado, porque eu fazia mesmo. Condições não tinha não, nem aqui. E,

a secretaria não fornecia condições, nem eu podia, porque o poder econômico que eu

tinha, era um salarinho de R$ 220,00. O que a gente sobrevive, só isso mesmo, o resto

era a cara e a coragem.

Só dava aula de dia.

Ano: 2007

Localização: Escola Nossa Senhora do Carmo. Km. 175 Norte. Rodv.

Transamazônica

5. Professor: Amaro

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Eu trabalho na Escola Nossa senhora do Carmo, fica

à 20 km. da cidade, no Travessão 175 norte. Já trabalho lá há um ano; comecei na

metade do segundo bimestre do ano passado. A estrutura da nossa escola é bem boa. É de alvenaria. No travessão lá, o prefeito

fez uma escola bem bacana mesmo.

Uma sala funciona de 1ª a 4ª série, multisseriado. Tem uma sala com uma

cozinha e uma sala, que, a gente guarda os livros. Lá é uma escola estruturada, tem até

banheiro interno.

A supervisora falou que é a escola mais bem estruturada que tem na zona rural.

Biblioteca tem, mas é aquela funcional; no caso é junto com a secretária.

Quanto ao material didático, a escola não tem quase problema, porque a escola lá,

antes tinha bastante alunos: 30 alunos. De 30 alunos pra frente, e ultimamente, acho

que, devido as pessoas estarem buscando melhoria pra cá, pra cidade, tem travessão

que, realmente que, foi quase abandonado pelos colonos. Lá estou com apenas 12

alunos, a previsão é pra mais o ano que vem. Têm bastante livros didático, bastante

material.

Nas minhas aulas, eu tenho opção para trabalhar, às vezes, quando não há

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conteúdo pra trabalhar no Programa, a gente pode pesquisar em outros, tem bastante

livros lá.

O rendimento, a participação dos alunos é muito boa porque os meus alunos eu

já conheço dede de criancinha. Eu moro lá, eu sou da comunidade, moro lá há 11 anos,

e, isso facilita muito pra mim.

Tenho o nível médio, concluí o no passado.

A situação de um professor em uma classe multisseriada é quase, quase não é

meio complicada mesmo, porque você tem que tomar de conta de quatro séries. Às

vezes passam conteúdos diferentes: eu trabalho português e matemática, tudo ao

mesmo tempo. Trabalho português para a 1ª e 2ª série, e matemática, para a 3ª e 4ª

série, aí não é muito fácil, é uma correria. O camarada tem que se rebolar para poder

dar conta e não deixar os meninos desocupados.

Eu faço as avaliações, e, depende da quantidade de tema que eu tenho durante o

ano. Assim que eu termino um tema, procuro logo fazer uma avaliação pra não pesar

muito. Esse é o conselho que as supervisoras dão pra gente. Mas, geralmente, funciona

com quatro avaliações, quatro avaliações que eu faço durante o bimestre somando

todas elas pra no final conseguir a média.

É esse ano eu tive um problema com um aluno lá, porque isto já vem. Só com

apenas um aluno, certo. Isto já vem de casa, da educação dele. Ele é acostumado com

certo tom de voz, agressivo. Eu conheço bem a casa dele. Ele tem um, certo hábito, de

falar muito palavrão em sala de aula, e em todo o lugar onde ele está. Então, eu

enfrentei um pouco de dificuldade com esse aluno, por tentar que ele não fale mais

esses palavrões em sala de aula.

Como são poucos alunos, a questão da merenda não dificulta muito, porque eu

tenho uma moto, então, sempre, quando precisa de merenda, eu dou um pulo aqui, que

é pertinho mesmo. Como a escola lá, não tem merendeira, porque a SEMEC não paga,

merendeira pra escola, que menos de 15 alunos, é muita despesa. Aí, eu fiz o seguinte:

fiz uma reunião com os pais. Para cada dia da semana, uma mãe se disponibilizasse

para vim fazer a merenda, porque estava muito complicado.

No primeiro mês eu que fazia a merenda; eu dava aula e fazia a merenda e não

dá certo. Eu digo: “olha gente eu estou encontrando dificuldade por causa dessa bendita

merenda. São meia hora que você passa empatado com aquilo e no momento que eu

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saia da sala... Porque crianças, você sabe, não pode se ausentar que ela já se solta. No

momento em que eu saia da sala, eles iam tudo lá pra cozinha. Eu dá aula e fazer

merenda não vai dá certo, ai eu fiz esse esquema, e graças a Deus deu certo.

O que marca na sala de aula, com os alunos, é tuas conquistas. Porque sempre

tem alguma coisa que marca que satisfaz a gente, também pode ser ao contrário, as

tristezas.

A questão da alfabetização, esse ano entrou um aluno lá, ele é de minha parentela,

meu primo. Com dois meses na escola, ele já estava lendo, e isso pra mim, foi uma das

conquistas mais que marcante na minha vida.

No ano passado eu tinha uma aluna, e ela tem uma, certa deficiência mental, ai eu

bati muita cabeça com essa aluna. Tinha até momento que eu falava: “ai meu Deus do

céu, será que essa menina não vai aprender a ler não?” Para reverter à situação, me

apareceu esse, foi uma das coisas que eu achei muito boa.

O método para alfabetização: eu utilizo uma cartilhazinha antiga, porque a minha

irmã, começou dando aula bem antes que eu, e usou essa cartilha. Aí eu utilizo ela, pra

alfabetizar, ela vem apresentando uma coisa muito bacana, tem duas famílias ao

mesmo tempo e pra cada família daquela, tem uma historinha, ilustrações.

O nome da cartilha eu não sei. Ela não tem capa, é tão velha que não tem capa.

Geralmente, quando eu vou apresentar uma família de sílabas e de letra, eu

apresento uma figura, uma ilustração pra eles fixarem melhor. Um exemplo disso, é: se

eu for trabalhar, no primeiro dia, a coordenação motora, depois a gente vai apresentar a

primeira letra do alfabeto o (A), aí eu já preparo um abacaxi ou um abacate, bem

grande, em uma folha, desenho e coloco lá pra eles saberem que o A vem do abacaxi, o

abacaxi começa com a letra A. A gente utiliza muito, acho que a maioria dos

professores utiliza esse método.

O meu salário, por 100 horas, é R$ 350,00.

Ano: 2007

Localização: Escola Migrantes

6. Professora: Ernesta

Assunto: Educação do campo

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Lembranças da Memória: Quando eu comecei a trabalhar aqui, na verdade, eu

não vim pra ser professor; eu entrei na educação pra suprir uma necessidade do

momento, e foi muito difícil, porque alem de eu não ter um preparatório para exercer a

atividade, eu tinha o desafio de uma primeira série.

Em 1980, eu tinha um número de 28 alunos, que, na época não existia pré, não

existia alfabetização, os alunos iam praticamente crus pra sala de aula. Então, a minha

experiência foi boa, porque eu tive, e até hoje eu tenho, uma grande amizade com a

Zenária, que foi ela que me deu aquele apoio, de partir para sala de aula, com

confiança.

Ela me deu material didático, que eu não tinha. Ela me passou a experiência dela,

que já era professora e me deu um incentivo muito grande, pra que eu pudesse me

sentir segura na sala de aula e deu certo, deu resultado. Desses 28 alunos eu consegui

aprovar 23. Sabe: aqueles 23 que já sabiam ler, escrever, fazer conta, sabiam as quatros

operações, noções né, adição subtração, multiplicação e divisão, os alunos saíram

preparados para a 2ª série.

Minha primeira experiência foi no ano de 1980. Trabalhei na primeira séria, se

não me engano, faz uns 16 anos. O material didático que a gente tinha era,

praticamente, quadro e giz. Na época nós tínhamos uma cartilhazinha, que era a única,

e, a gente, aproveitava algumas lições, fabricava outras, fazia acontecer, porque o

nosso material realmente era muito pobre. Aí, graças a Deus, como diz: fui feliz na sala

de aula, trabalhando nas primeiras séries.

A partir de 1988, quando a gente iniciou de 5ª a 8ª série, aí eu comecei a trabalhar

com várias disciplinas. Eu não tinha magistério na época, só tinha a 8ª, mas, mesmo

assim, devido à necessidade que nós tinha, de não ter professores, eu passei a trabalhar

de 5ª a 8ª série. E, graças a Deus, eu não sei se os alunos são muito inteligentes, eu fui

bem sucedida. Trabalhei vários anos dando aula de matemática de 5ª a 8ª, agora, esse

ano eu estou de perícia, mas até o ano passado, eu trabalhei com matemática, então a

experiência de 25 anos em sala de aula, só nessa escola.

Teve dificuldades, teve problemas com alunos, com pais, porque isso existe, né.

Mas, hoje graças a Deus, eu acho que eu fiz a minha parte eu contribuí, com o que eu

pude.

Hoje, vejo aluno que começaram na primeira série que eu ensinei, e são nossos

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professores da escola com pedagogia, e tem várias alunas minhas que eu ensinei as

primeiras letras, que eu ensinei a ler e escrever, que, hoje, já terminaram o curso de

pedagogia. Eu fique no magistério, mas elas conseguiram, tive muita alegria muita

felicidade pra mim.

Valeu a pena à recompensa, é o resultado. Você ver hoje que pessoas que

passaram pelas nossas mãos e estão progredindo, estão crescendo, a gente fica feliz

com isso.

É, na verdade, hoje a gente vê a recompensa, agora eu percebo que nos primeiros

anos, na década de 1980, pra mim os alunos tinham mais interesse, parece que eles

tinham mais facilidade, apesar das dificuldades financeiras, porque naquele tempo pra

um aluno fazer suas atividades eles tinham que ir pra luz da velinha e hoje tem energia.

A gente percebia mesmo um interesse maior, pra mim, ultimamente, os alunos são mais

desligados eles tem mais facilidade.

Então, parece que o desafio é menor, então, eu sinto que houve uma decadência

não sei se foi por falta de estímulo da própria educação, que, às vezes deixa a desejar, o

nosso material didático, é pobre nós temos que reconhecer, agora que tem melhorado

porque tem pessoas que tem se interessado em trazer material. Trabalhamos em alguns

anos com muita dificuldade, então, a gente tinha que buscar todos os recursos

possíveis. Mas como é que se diz: do começo ao fim, nesse tempo todo, valeu a pena.

Foi eu, a primeira, a iniciar com a 1ª série, e, a Ilda, com a 2ª série. Aí, como eu te

falei, a dificuldade toda, é que, a gente não vinha preparada pra sala de aula, foi

necessidade mesmo. Eu devo, primeiramente, a Deus e a Zenária, que pode passar o

tempo que passar, mas eu sempre digo que foi ela que me estimulou, que me deu o

material que ela já tinha, que ela já erra professora da 1ª série e fez com que me desse

coragem de ir pra sala de aula e eu gostei. Depois que eu entrei no ramo eu acabei

aprendendo a trabalhar no ramo da educação.

Fui contratada em 1980, aí eu trabalhei até 1983. Tive alguns problemas com uns

pais, eu fiquei aborrecida, e nesse aborrecimento, eu acabei indo pra SEDUC de

Altamira e pedi exoneração. Em 1985, o Irmão Raimundo, que era supervisor nessa

época, vendo a necessidade, fez uma carta e encaminhou a SEDUC pedindo que eu

retornasse. Aí, então, eles me recontrataram novamente, só não trabalhei nessa escola

em 1984. Foi o ano que eu não trabalhei, trabalhei até 1983 e retornei em 1985.

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Eu sou do Paraná. Minha família toda, meu pai meu irmão, minha família toda

veio pra ficar, hoje meu pai não está mais ai, mais, a parte dele, ele fez.

A metodologia mais era aula expositiva. Era basicamente isso, depois nós

tivemos cursos de alfabetização que ajudou muito, me lembro bem que veio duas

professoras de Belém, uma de Didática e outra de Teoria, me lembro até o nome delas,

Teca, nossa professora, não lembro como era o nome, mas eu aprendi muito nesse

curso, foram 15 dias de aula.

Uma professora trabalhava uma parte Teórica e a outra a Didática. Aprendemos

muito, nós estava iniciando então nos ajudou muito, a gente, a criar uma alma nova.

Foi ai que começou a surgir o estímulo, use o que tem: cipó, pacotinho do bombril,

creme dental; trabalhe com a realidade, com o concreto, e foi ali que começou.

Então, a gente cresceu nessa experiência, que deu certo, que até ali a gente estava

meio no vago, mas depois a gente passou a usar a pedra, laranja, o que tinha ao alcance

e funcionou.

O último curso foi o Gavião, terminei agora em 2001. Eu comecei o magistério,

três vezes, aí já tinha os filhos pequenos ai eu começava e parava. Fiz o primeiro ano

em 97, aí em 98 eu retornei que eu adoeci e tive um filho pequeno e parei aí quando foi

no último Gavião que teve aqui ai eu entrei e graças a Deus eu concluir.

A matemática é uma paixão desde criança, nunca esqueço de quando eu era

aluna das primeiras séries e eu tinha um professor, o professor Vitor. Ele tinha um livro

que se chamava aritmética, aí ele passava os exercícios todos pra turma, que era

multisseriada.

Quando eu terminava, pedia pro professor o livro dele de aritmética, aí eu fica

copiando aquelas conta grandes, de fração e divisão. Aí eu fazia com todo o

entusiasmo, e ele corrigia, me apoiava me elogiava.

Eu cresci, e sempre essa paixão por números. Então, quando surgiu a necessidade

de um professor de matemática, a diretora nessa época, era a dona Zita, ela perguntou

se eu queria ser a professora de matemática, e eu não sei se eu dou conta.

Dificuldade a gente sempre teve, mas se a gente for, olha a recompensa, a gente

até prefere esquecer as dificuldades. Mas a gente tem a dificuldade nos primeiros anos.

Até pra receber o nosso pagamento, tinha que se deslocar para Altamira. Na época a

gente que tinha que receber lá, pegava o cheque na SEDUC, ir pro BASA, e além dos

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transtornos, além das despesas, praticamente necessárias, a gente tinha essa dificuldade

de locomoção, dessa distância.

Mas, depois, assim, em sala de aula, é como eu acabei de falar, tinha essas

dificuldade, por causa de material, mas isso foi se resolvendo; ia criando opções,

oferecendo soluções e foi dando tudo certo, sempre foi dando tudo certo, renovando e,

assim, ia acontecendo.

Acredito que a recompensa foi tão grande que a gente prefere esquecer, essas

pequenas coisa, esses detalhes.

A relação professor aluno não é difícil. Esse não foi um problema pra mim.

Graças a Deus, eu tive um bom relacionamento com os alunos. Às vezes, tinha alguns

casos de pais que criavam problemas, às vezes não entendia direito; eu procurava

conversar, resolvia os problemas.

Houve, como eu falei antes, aquele problema que fez com que eu me chateasse e

pedisse exoneração em 83. Foi um grupinho de quatro pais, na época, mas isso foi uma

questão religiosa. Eles criaram uma situação por que nossa escola era escola e Igreja,

então a gente celebrava Missa, a gente celebrava os cultos.

Eu era católica e, um dia aconteceu de pessoas da comunidade escolar, pais de

outra congregação religiosa, pedir para fazer uma programação especial. Aí, então, esse

grupinho de pais, resolveram intervir, disseram que não era pra ceder, porque a escola

era dos católicos e aí criou esse caso. Por causa desse caso, eu sendo católica, me

chateei, e preferi sair. Foi aí que eu deixei a igreja católica por causa dessa situação.

Hoje eu sou adventista e sou satisfeita, graças a Deus, mas foi por causa dessa

situação. Hoje os pais, ainda têm deles, que ainda continua aqui, hoje já tem neto

estudando e tudo se resolveu. Mas eu passei por essa dificuldade, por causa de uma

coisa desnecessária. Que, pra mim, nós nunca tivemos problemas assim.

Quanto a religião com os alunos, a gente dava a liberdade. Orava, que tinha um

costume, de chegar na sala de aula, e fazer uma oração. Mas era livre, quem quisesse

participar da oração fazia; quem não quisesse, a única opção, era ficar em silêncio pra

não atrapalhar.

Então existia assim, essa situação, e por causa dessa bobagem, é que eu acabei

perdendo o ano. Depois eu retornei e tudo foi esquecido. E ficou decidido que a escola

passaria a ser só escola e ia se construir igreja para celebrar cultos. Foi o que

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aconteceu. Hoje tem a igreja católica e tem a igreja adventista, e as outras

congregações tem a sua.

A comunidade escolar continua composta de todos esses alunos de várias

crédulos, de várias religiões.

Ano: 2007

Localização: Escola Migrantes

6. Professora: Rita

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória:

Fui a primeira professora da Escola Migrantes. Começou mesmo em 1980. A

história é parecida com a dela – Ernesta –. Nós chegamos aqui e sem querer ser

professora. Chegamos aqui, assim não tinha escola e a gente trabalhou, chamamos

alguns vizinhos e começamos a trabalhar.

Só que eu tive um pouquinho mais de sorte do que a “Ernesta”, porque ela já

trabalhou com a primeira, e já me jogava a segunda prontinha. Nós trabalhava nesse pé.

Nós trabalhava a primeira, porque a primeira era dificultoso. Chegavam assim, brutos,

como se diz em casa. E posso dizer que, quando chegava o mês de outubro as crianças

as crianças já começavam a fazer textos, porque as nossas aulas começavam em março.

Uma coisa que não sei se ela falou, mas eu acho que é importante: na época os

alunos sabiam o que era melhor, depois que começou a chegar a televisão, a coisa

começou a ficar pior! E hoje a gente vê a dificuldade que eles têm, não é tanta quanto à

aprendizagem da época.

Quanto à dificuldade, nós tivemos muito. Porque não tinha material adequado,

que é muito difícil. Na época até a gente receber o salário, tinha que ser sempre em

Altamira.

Eu acho que as pessoas que trabalha, ela acha tantos meios né, de trabalhar e ela

sempre vai levando. Hoje em dia tem gente que já é formado, que passou pelas nossas

mãos. Nós ficamos sem fazer faculdade.

Nós fizemos só o Magistério. Nós ficamos e os outros foram, mas a gente se torna

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feliz por ter feito o trabalho em benefício de muitos, e hoje em dia, muitos agradecem a

gente por ter sido as primeiras professoras.

Naquela época sempre foi difícil, porque tudo era difícil pra gente trabalhar; era

com muita vontade. Tantas vezes até hoje, eu tava comentando com algumas pessoas,

que eu tenho esses cabelos brancos, não é pela idade é que eu passava noites, muitas

horas eu acordava as noites, e ficava pensando como é que eu vou fazer, que nós vamos

fazer para eles aprender.

Porque você sabe, 20 ou 30 alunos tem dificuldades. Vamos colocar 8 alunos que

eles aprendem com facilidade, mas fica ali uns dozes que necessita de outros métodos e

a gente tem que ir em busca de outros métodos. Eu ia com ela, ela ia comigo. Aí,

assim, a gente ficava sempre trocando experiência, trabalhando outros tipos de método.

Inventado outro, para que a gente conseguisse que os alunos aprendessem.

E hoje, ficam me perguntando: por quê perder sono pra cuidar desses alunos? Era

tão gostoso na época. Nós queria que eles aprendesse, até porque os pais era tudo

conhecido.

Teve uma época que teve um desentendimento com alguns pais e eu saí da escola.

Só voltei bem mais tarde, por isso, hoje eu não sou efetiva do Estado. Trabalho para a

prefeitura.

Eu saí; depois eu custei a voltar, porque na época eu engravidei e ficou difícil eu

voltar. E ela – “Ernesta” – facilitou, porque ela voltou mais cedo. Então ela pegou

aquela época de 88. Como eu te falei: quem trabalhou em 88, ficou efetivo do Estado.

Só voltei, já em 89. Eu costumo dizer que, quando a gente não tiver recompensa

aqui, a gente tem do nosso senhor.

Ah! esqueci de contar, eu trabalhei dez anos, de 93 até 2003 como diretora, na

frente. Até porque, na época, a gente não tinha pessoas especializadas, aí a gente mora

aqui; trabalhei dez anos na frente.

Ainda não aposentada, estou agora tentando a perícia por que estou com

problema de saúde, quero me tratar. Eu vou entrar em perícia com todo o tratamento,

espero de agora em diante chegar pra aposentar.

A parte principal dos problemas de saúde, é a canseira, é o estresse e a

preocupação. Porque se você cuidasse só de escola, mas você trabalha na escola, você

trabalha na casa, você tem 2 filhos pra cuidar, que desde pequenos, eu acostumava

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dizer... quantas vezes... tenho uma história pra te contar.

Quantas vezes que eu chorava quando eu chegava do colégio. Porque quando eu

trabalhava com os filhos dos outros eu estava cansada, e meu filho: mãe me ajuda com

esse dever! E eu olhava e dizia pro meu marido e meus filhos, vocês, pelo o amor de

Deus gente, eu não agüento mais, eu estou cansada. É porque, se eu ensinava o menino

mais novo, aí eu ia para o maior. Em casa, ia para o quarto e chorava, chorava, chorava

de tristeza de ver aquilo, porque eu ensinava os filho lá, dos outros, e o meu ficava

sempre para depois.

Acho que todo professora, professor, que cuida de casa, ela, ele tem dificuldade,

que cuida de casa, a casa nunca está arrumada, porque a gente ganha pouco. Não é

recompensado esse trabalho, porque se hoje existem doutores, tantas pessoas

especializadas, eles passou por mãos de pessoas que trabalham [...]. Então, deveria ser

mias recompensado, porque a gente tem que trabalhar em casa, tem que trabalhar com

o filho dos outro. Então é uma carga que vem muito pesado sobre você, e de repente,

com o passar dos anos você começa [...] .

Pra você ter uma idéia, de dois anos para cá, não tenho trabalhado bem, eu

trabalho, eu estava indo para a escola, mas o meu rendimento não estava indo bem, a

gente percebe isso. Então você começa a sentir dificuldade, começa a chegar a menor

pausa, chega o estresse, chega o nervoso.

Se você olhar para trás e vê que você fez uma grande tarefa, e tem pessoas que

reconhece. Uma das coisas que eu mais gostava, que eu mais gosto, é quando chego o

final de ano, tem pais que vem aqui na minha casa, que eu moro aqui pertinho da

escola, vem agradecer pelo meu trabalho. Eu choro de emoção, fico feliz. Nem todos,

mas tem pais que vem aqui e diz, professora obrigado por ter ensinado o meu filho que

hoje ele está saindo da 8ª série e ele está partindo para o segundo grau, isso me

emociona muito. Realmente fico sem palavras, porque acho assim, que valeu a pena.

Nós trabalhamos aqui, não sei se ela já falou, ela trabalhou com matemática por

que não tem professor. Eu me especializei, trabalhei muito para trabalhar com a língua

portuguesa e eu trabalho até hoje, embora só tenha o magistério.

Nossos alunos saem daqui, o ano passado, o ano atrasado, ano passado, os que

saíram do 1ª ano tinham as melhores notas. Têm até uns que estão classificados para

trabalhar lá no BASA, já estão trabalhando lá. Não tem de ser feliz, por quê não?

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Foram escolhidos, ano passado, 10 alunos daqui, que estão trabalhando lá.

Moram aqui, porque as notas foram as melhore do primeiro ano do ensino médio. São

os pontos positivo!

Os pontos negativos são aquele que você sofre enquanto pessoa, sofre

fisicamente, você sofre tudo. Muitas fezes eu ficava corrigindo prova, fazendo diário

até alta madrugada, hoje eu não faço mais isso, eu já fiz.

Eu fico mais feliz, porque eu tenho uma filha que trabalha no colégio, desde

pequena está no colégio, e hoje é professora, a outra é auxiliar de secretária. Então você

vê que ajudou também.

Olha, nós passamos por muita dificuldade, mas uma coisa é essa questão de

fecharem. Se bem que, de fato, que eu mais precisei na época e que eu fui mais bem

atendida. A gente tem um marco, mas eu vi que vale a pena. Na hora você estava ali

com suas amigas; a escola vai fechar, vai fechar uma semana, sem problema depois a

gente voltou.

Ano: 2007

Localização: Escola

7. Professora: Jane

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Falar de educação, principalmente de Uruará, é

bastante complexa, tem muitos desafios.

Eu trabalhei durante 12 anos com língua portuguesa, eu sou formada em

pedagogia e ensinava língua portuguesa, filosofia e arte, também tive uma experiência

com formação de professores.

Na época do magistério, que começou o magistério aqui em Uruará, o curso de

magistério em mais ou menos em 2000, eu tive alguns privilégios, na forma para

contribuir com a formação de alguns professores. Inclusive eu encontrei até uns, ontem

na noite na escola, na 5ª e 6ª série fazendo estágio, porque eles estão estagiando, estão

fazendo Letras.

Uma aluna falou, “olha é responsável por eu está aqui também”. Isso é

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gratificante quando você vê alunos que passaram por você tendo uma carreira

promissora.

A gente faz um trabalho com bastante dedicação, não é só pelo salário, porque

fazendo o trabalho só pelo salário é uma coisa, e com dedicação é outra. A gente sente

isso na pele, a gente sente um pouco desgastada emocionalmente, mentalmente, mas

foi muito gratificante.

Quando enquanto eu dei aula de língua portuguesa, depois eu assumi a vice-

direção do ensino fundamental da escola Melwin Jones, aí eu já fui saindo das salas de

aula do ensino fundamental. Depois que eu assumi a vice-direção, eu não voltei para a

sala de aula do ensino fundamental de 5ª a 8ª.

Trabalhei... nessa vice direção dois anos e pouco, mais ou menos. Aí veio uma

nova gestão política e fui, passei para a supervisão de 5ª a 8ª, supervisora de 5ª a 8ª.

De todo o trabalho de supervisão que eu fiz de 5ª a 8ª, o desafio maior foi, e é,

conscientizar o professor que ele deveria mudar a metodologias e sua prática. Que deve

envolver com os novos parâmetros da educação, porque a gente encontra uma barreira

muito grande. Não sei se é porque o professor já tem experiência em sala de aula, aí é

que ele pensa que já sabe tudo, que não precisa saber mais, não precisa está se

aperfeiçoando, buscando o conhecimento maior do que ele já tem. Isso foi um dos

grandes desafios.

Eu sou uma pessoa muito versátil na questão de metodologia, eu não trabalho

com um livro só, eu tenho uma montoeira de livros. E, eu me entedio fácil com livro.

Eu gosto de está mudando, de está buscando novas metodologias, dinâmicas. Isso faz

parte até de função da minha natureza.

A questão da metodologia eu gosto muito de está mudando, diversificando e

passa por um processo de... não só o de o mudar, de querer que as pessoas mudem

também. Isso me deixa muito apreensiva: o fato que, as pessoas não fazerem essas

mudanças na metodologia.

Eu estou aqui em Uruará desde 89. Eu comecei a trabalhar na educação em 92.

Começei a trabalhar com a 4ª série, depois 5ª, 6ª, 7ª com língua portuguesa, como eu já

falei. Depois ensino médio, aí vice-direção supervisão, foi uma carreira, foi um

ascensão muito legal, porque a gente vai entrando nesses níveis já com experiências

daquilo que você precisa mudar.

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No decorrer dessa minha carreira, dessa minha ascensão na educação, eu não vi,

assim muitas mudanças, tanto na questão da estrutura física quanto na questão [...] é

vamos dizer assim curricular, metodológica, é não vi muitas mudanças, na verdade eu

acredito que, nesse âmbito aí a gente trabalhou a passos de tartaruga, não percebi muita

coisa.

O que mais me marcou é a falta de valorização do profissional. Isso me marcou

bastante, porque aquele professor que se dedica, que assume até o sacerdócio, ele sofre

muito com essa falta de valorização. Quando você busca esse crescimento profissional,

você busca também uma satisfação pessoal e financeira. E, no decorrer desses 16 anos,

que eu trabalho na educação, por exemplo, eu trabalho com ensino médio esse tempo

todo, e eu ganho o nível médio ainda. Então esse descaso de você não ter uma

progressão automática, mesmo não tendo o superior; a efetividade mesmo você tendo o

nível superior, a progressão automática, a efetividade com 16 anos de trabalho, é

complicado.

O que mais me marcou foi esse descaso, essa não valorização profissional. Do

ponto positivo, foi como eu já disse, foi essa gratificação, você se sente gratificada de

ver alguns alunos que já passaram por você e sendo professores hoje, tendo alunos que

estão trabalhando em bancos, são bancários. Hoje são profissionais, isso é muito legal,

saber que você teve um pouquinho dessa parte, essa contribuição com a formação do

individuo, da sociedade ao qual você está inserida.

E tive necessidade de descentralizar o setor pedagógico porque eu estava sozinha

na coordenação pra muitas escolas, então eles dividiram o setor pedagógico em dois,

um pra zona rural e um pra zona urbana. Assim nomeou-se outra coordenadora para a

Zona Rural que seria a Izara. Ela trabalhou um ano e meio na zona rural e eu continuei

com a zona urbana, escola da zona urbana, auxiliado os supervisores, eu não trabalho

direto com os professores e sim com os professores, dou assessoria para os

supervisores e claro, de vez em quando eu visito os professores, a sala de aula.

No ano de 2005 eu fiz uma avaliação em sala de aula. Eu mesmo, pessoalmente,

levei as atividades pra eu dá uma geral de como estava acontecendo. Em 2006 não foi

possível fazer isso, porque ficou por conta da supervisão fazer essa avaliação e os

supervisores apresentaram estatística do rendimento escolar do primeiro semestre,

apresentaram estatística do rendimento escolar do 2º semestre de 2006.

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Este ano de 2007 houve mais uma mudança, nomearam um coordenador

administrativo pra trabalhar no setor pedagógico, esse professor administrativo, ele está

cuidando mais da parte da estrutura das escolas, claro que interfere também nas

decisões pedagógicas, e sempre estão a li contribuindo.

Vamos dizer assim, que a Iza continuou na coordenação. Esse trabalho assim da

zona rural, a Iza continua de uma forma discreta na liderança. Ela tem uma facilidade

muito grande de manter o grupo unido trabalhando em oficinas, dando uma formação

continuada. Ela tem uma facilidade muito grande pra isso, na verdade, o Avanildo que

é o assessor administrativo ele deixa essa parte mais com ela, ele deixa essa parte mais

com ela pra resolver.

Eu faço o meu trabalho como assessoria pedagógica das escolas da zona rural,

mais eu estou sempre contribuindo passando mensagens, algumas coisas que eu

pesquiso, atividades, novidades que eu pesquiso eu passo pra eles. Sempre procuro

conversar com eles pra saber como sempre estão as coisas, eles sempre contribuem

comigo também. Existe essa troca de conhecimento, de atividades, companheirismo,

vamos dizer, cumplicidade no trabalho.

A gente sabe que, fica muito a desejar quanto ao trabalho de formação

continuada, porque entra na questão financeira. Você sabe, para se trabalhar uma

formação continuada com esse número de escola, que nós temos, com esse número de

professores, onera bastante a folha, porque tem a questão de material, lanche,

deslocamento dos professores, exigem transporte também.

Quando você pensa na questão da formação continuada, uma outra questão, se

você pensa em uma formação continuada constante, no decorrer do ano, você vai deixa

o professor fora da sala de aula e isso vai deixar uma deficiência na carga horária.

Ano: 2007

Localização: Escola Casa Familiar Rural de Uruará

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8. Professor Rubens

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Uma situação que me preocupa muito quanto, é a

regulamentação das Casas, é quando nós preparamos o documento Base, toda aquela

preocupação em criar um regimento próprio que tivesse a cara da CFR, de repente o

Conselho1 pede que a gente revise e faça uma adequação dentro do que diz a própria

Lei de Diretrizes e Bases. Isso já há uns dois anos […]. E não houve mais como a gente

sentar pra está fazendo estas discussões.

Em função do projeto do BNDS, aqui na Transamazônica, mais especificamente,

a gente tem conseguido avançar bastante, no sentido de está aprimorando o processo

aqui na região. Embora alguns companheiros de luta não concorde, mais outros

concordam, nesse sentido de transformar ou não em política pública. De 2005 houve

um avanço significativo nesse sentido.

Há um debate muito intenso. Eu particularmente, analisando as duas situações, a

da gente, continuar com um projeto alternativo ou vamos transformar isso em política

pública com uma gestão compartilhada. Uma gestão onde você tem o poder público

com os movimentos sociais. Que eu acho muito complicado isso, essa coisa caminha

para esse sentido.

Uma vez porque, aqui na Transamazônica, a gente tem um financiamento de

dinheiro público pra construções e estruturação das casas, tem os convênios com as

prefeituras, da manutenção do funcionamento da Casa que é dinheiro público. Também

agora, nós temos o convênio com o Estado, que também é dinheiro público. É uma

situação extremamente complicada pra nós das CFR administrar, e lidar com essa

situação, porque como é que a gente que trabalhar com um projeto alternativo com o

financiamento público?

Por outro lado, me bate, assim uma preocupação muito grande, é a partir do

momento que a gente vai dando um caráter mais de política pública mesmo, a gente vai

perdendo, um termo que eu uso muito, é a essência do projeto, que é aquela riqueza do

agricultor em está contribuindo, de está participando. Porque é muito bonito nas

1 O entrevistado refere-se ao Conselho Estadual de Educação do estado do Pará.

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assembléias, uma metodologia que a gente conseguiu imprimir, é a participação das

famílias, quando a gente vai discutir os temas geradores é muito bonito.

Pra você ter idéia, abrindo um parêntese, nó fizemos este ano, em junho, dois dias

de formação com os pais. O que nós estudamos? Todos os instrumentos pedagógicos.

No final nós elegemos um tema e trabalhamos como um tema gerador, fizemos o plano

de estudo, colocação em comum, todo o processo, então, é de uma riqueza muito

grande.

O meu medo, talvez não será isso o nome, a minha preocupação, uma vez isso

passando de um certa forma para o controle, para o Estado, eu digo Estado, mas o

Estado de direito, de repente perde um pouco de autonomia. Por isso, é muito bonito

esse processo.

De 2005 pra cá, a gente tem conseguido avançar muito nesse sentido, e isso tem

feito que a gente também, embora exista, mas gente tem conseguido superar as

questões políticas com o poder público local, consegue sentar com eles; a gente

discute.

A Gente tem conseguido colocar a Casa Familiar Rural acima das bandeiras

políticas, talvez esse seja um resultado do nosso sucesso, que a gente está tendo.

Obviamente a gente tem uma série de dificuldades, por exemplo: uma questão

muito séria que eu vejo, é quanto a nossa capacitação. Fica muito no plano assim que

alguém faz um trabalho, faz um TCC, desenvolve algum trabalho nesse sentido e aí a

gente vai buscando essas informações, mas não existe um trabalho, uma política

mesmo que seja do movimento social de capacitar mesmo.

É tanto, que, hoje a gente tem aquela dúvida, a pedagogia da alternância , a gente

vai seguir uma concepção freiriana? É francesa? É italiana? É das CEFFAs? Da onde

que é? Pra nós hoje, nós temos uma insegurança muito grande e eu vejo isso de um

certo modo, como um ponto positivo, pelo fato de nós estarmos construindo um

pensamento pedagógico, uma proposta pedagógica.

Me preocupa muito, porque a gente fica dando uns passos muito lento, com medo

de você errar, enfim. Isso tem, de uma certa forma, um ponto que tem que ser

melhorado.

Os desafios hoje pra nós, sempre procurei alertar nas nossas discussões, das

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discussões com os monitores e com as discussões com os diretores da fundação essa

preocupação, esses dois desafios. É uma política pública? Vamos transformar isso em

uma política pública? Vamos continuar com o projeto alternativo e que aí nós temos

uma outra situação complexa.

Porque se a gente quer continuar com um projeto alternativo, então teremos que

mudar nossa legislação. Porque o aluno não pode estudar e chegar no final do ano, sem

um documento que comprove que ele estudou, certo. Então nós teremos que alterar a

legislação, seja em nível de Estado ou em nível nacional. Se bem que o Conselho

Nacional já tem uma proposta, já aprovou a pedagogia da alternância como uma

metodologia, é um parecer agora de 2006, se não me falha a memória, abril ou maio de

2006.

Então isso é bom, mas eu, se alguém me perguntar como já me perguntaram, e

você, qual a sua opinião? Eu acho que nós teremos que levantar uma bandeira muito

forte no sentido de continuar com esse caráter alternativo, buscando essa legalidade dos

alunos, para que eles saiam e possam seguir as atividades deles, Eu tenho muita

preocupação, eu acho que, dificilmente, a gente vai conseguir administrar essa

situação, gerir essa situação com o poder publico e o movimento social. Porque são

idéias, pensamentos diferentes, concepções, são paradigmas, enfim, é uma

complexidade enorme.

Se você quer manter esse perfil de Casa Familiar Rural, ligada às famílias, nós

temos que se preocupar nesse sentido.

No final da formação, muitos pais chegaram com a gente, olha meu filho está há

dois anos na Casa Familiar Rural, mais eu não sabia e não percebia a riqueza que era

esse projeto. E, a cobranças de mais formações e, assim, ao trabalhar o tema gerador

que a gente focou bastante o tema gerador e o plano de estudo.

O plano de estudo é o embrião de tudo. Como a gente alertou, ele, se agente tiver

um plano de estudo mal elaborado, com uma participação mínima da família, o

aprendizado, a construção do aluno vai ficar comprometida na colocação em comum.

Ele diz logo: meu pai não sabe, tem aquela insegurança. E, a gente percebe isso, nos

relatórios deles. Quando eles vão ler o relatório, quando a gente vê o relatório, dá pra

ver quando há a participação da família em discutir o tema gerador.

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Então o plano de estudo é muito importante, daí a estratégia da gente criar um

tema gerador que era discutir o planejamento da Casa Familiar Rural. Dividimos os

pais em grupos, como agente faz com os alunos, e eles foram discutir as questões.

Depois eles foram para o auditório, onde foi feita a colocação em comum. E, eu senti,

assim, um entusiasmo.

No início eles que ficaram, assim meio perdidos, mas no final do segundo dia,

alguns não queriam nem ir embora. É tanto que, nós tivemos a formação em junho e

temos outra agora em setembro, e eles estão cobrando. Hoje mesmo, encontrei o

Leonei, e, ele disse: “ Rubens” e a formação de setembro?

São, mais dois dias que a gente vai reunir os pais. Uma coisa minha, que eu

aprendi, estou aprendendo na verdade dentro da Casa Familiar Rural, mais específico

dentro da pedagogia da alternância, é que a família é o berço de tudo. Se a gente não

tiver a família entendendo o projeto, participando do projeto, nós podemos inventar

tecnologias das mais alta possível, mas se a gente não tiver o acompanhamento da

família dificilmente a gente vai ter sucesso.

A gente percebeu que a partir dessa formação, nós tivemos mais duas

alternâncias, a partir dessa antes de entrar de férias, os alunos, os jovens vieram mais

entusiasmado também. A cobrança, eles cobrando mesmo dos monitores, porque tem

um processo de avaliação que a gente faz aqui na CFR. Que é aquela famosa avaliação,

que nós chamamos de lavagem de roupa suja durante as alternâncias. Então eles já

percebem que, quando o monitor, mesmo que seja da base, como das disciplina de

história de geografia, de língua portuguesa, quando ele está fugindo do tema, eles

reclamam, eles já começam a reclamar. Tanto que, a Selma e o Edílson, ou quando a

gente está fugindo do tema, eles começam a questionar, “o que isso tem haver com o

tema? Eles conseguiram perceber isso como um vínculo extremamente importante.

Foi muito difícil no inicio, que é pra gente entender mesmo o processo, foi

difícil, mas realizamos muitas reuniões, muito planejamento com os nossos monitores.

Às vezes, a gente planejava a alternância, mas a coisa é tão difícil que na hora de ir

para a prática a coisa acontecia tudo diferente, e aí a gente pára e retoma de novo. E, aí

tem uma cumplicidade entre a gente, como monitores, de um está avaliando o outro, e

todo mundo aceita na hora. “Rubens, isso não foi legal”

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Porque sempre a gente está observando se fugiu um pouco o tema, e a questão da

interdisciplinaridade, que é o gargalo que eu vejo hoje pra nós. Às vezes, a gente pensa,

mas, como a própria Ivani Fazenda diz, não é um tema tão simples.

Se tratando das Casas, sem a gente ter um acompanhamento, aquilo se torna mais

difícil, só que a gente tem buscado algum acompanhamento fora, eu tenho conversado

muito com o professor Paulo Lucas, e ele também tem uma preocupação muito grande

nesse sentido, a questão da interdisciplinaridade dentro das Casas.

Só pra título de exemplo, a gente conseguiu articular uma conversa com a

universidade, com os colegiados dos cursos de agronomia, pedagogia, biologia, aqui

em Uruará, lá na Casa pra gente discutir justamente essa questão das técnicas

pedagógicas.

Nós fomos para uma reunião, falta a gente definir a data de trabalho,

Universidade, onde, nós vamos está sentando com a Universidade pra montar um plano

de trabalho, para eles intervir diretamente na formação da mesma. Não trazer receitas

prontas, por que a Universidade é quem tem esse papel pra fazer essa discussão. Nós

conseguimos tirar eles da Universidade, eles vieram e no final da formação, buscá-los,

então eles participaram e foi muito bom.

Dia 20 nós temos uma reunião com os presidentes das Casas e aí a gente vai está

definindo a equipe de trabalho pra esta fazendo esse plano, essa atividades.

Aqui graças a essa participação do FAZ, a gente conseguiu avançar muito coma

as parcerias e essas parcerias trouxeram uma riqueza grande para o projeto, por

exemplo a gente estamos envolvidos com o projeto FROAGRI, que é uma parceria da

EMBRAPA com o CILADI.

FROAGRI, Floresta e Agricultora. São seis experiências e dessas seis

experiências, cinco estão nos lotes dos jovens, nós temos a cooperativa de produtos

orgânicos e nós temos um dos inspetores que é ex-aluno nosso e está recebendo toda a

capacitação.

Nós temos trabalhado com a CEPLAC local, são cursos que a través do sindicato

patronal, a gente traz também, então, na tendência de parceria. A gente tem avançado

bastante, com a própria EMATER, que nesse ano, tivemos uma a proximidade bastante

grande, maior com o próprio planejamento da EMATER. Mas assim, nós temos um

trabalho mais sistemático com a EMBRAPA.

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Nós estamos aguardando a vinda do Plínio que coordena o projeto FLOAGRI,

para desenvolver uma experiência lá no sítio da casa mesmo. O que quer dizer esse

FLOAGRI: a gente pega uma área degradada e faz a área de pastagem, já bem

degradada, e faz uma análise de solo, faz a correção e faz a adubação para renovar a

pastagem. Nesse período de renovação, aí você colhe a arroz o milho. É um processo

extremamente interessante, só estou falando, assim, superficialmente.

E a gente tem visto também os pais bastante otimistas. Esses que estão

envolvidos no projeto, de uma certa forma, vem provocando ciúmes em outros. Porque,

nós tivemos um dia de campo e levamos outros pais [...] Mas por quê esses são

privilegiados?

Hoje nós discutimos muito os resultados das Casas da região, na verdade não

existe um estudo assim preciso, mas eu dizia que em Uruará nós temos alguns

resultados importantes, provavelmente nós temos alguns resultados que... a família não

entendeu o projeto, mesmo que o filho continua na casa, mas quando a gente chega lá,

não mudou muita coisa não.

Positivo é, nós temos o Ernani onde está com o projeto FLOAGRI. Outro bem

positivo também, é o seu Carlos, do Km. 170. Esse ano, ele começa a trabalhar com

cacau irrigado a partir do nosso trabalho que a gente está fazendo com ele. Têm outros

casos: têm alguns familiares que já tinha abandonado a roça de café e a partir do tema

gerador da cafeicultura, eles, esse ano estão investindo na recuperação da roça de café.

Eu achei uma coisa assim muito importante porque é uma lavoura que estava

esquecida. Então, nós temos alguns agricultores, são três, assim que estão investindo.

Eles estão cobrando, cobrando direto, a presença do agrônomo para dá as orientações.

Por outro lado, nós temos alunos, como, no Km. 175 que, infelizmente, o jovem

que continua na casa ele tenta fazer a discussão, mas o pai está ainda muito resistente,

ele continua naquele sistema que ele aprendeu do pai dele, do avô e não muda.

Os egressos a gente tem da primeira turma, o fato de a maioria ser parente, a

gente, tenha tido um acompanhamento mais específico, mas da segunda turma também.

Temos 224 alunos que a gente está acompanhando não só no sentido da

orientação da propriedade, mas no sentido das atividades. Como está tendo hoje no

salão paroquial, que é o aproveitamento das oleaginosas; nós sempre estamos inserindo

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os alunos egressos até porque, para eles não perder. Além desse aluno que está na

cooperativa, que é inspetor hoje.

Na verdade não existe grande transformação na propriedade, só que, quando a

gente conversas com as famílias como o Valdenísio, do Km. 180, ele já diz: “ é..., o

meu filho me disse que eu não posso podar meu cacau assim; minha filha, tem que ser

diferente, é não é, para derrubar nas margens dos igarapés, é pra deixar mato”. Por isso,

por isso, por isso.

Então a gente percebe que há um diálogo, porque essa coisa da mudança de

hábitos, através da educação é uma coisa muito lenta, mas a gente percebe que já existe

um diálogo, que é uma coisa importantíssima.

Só retomando um pouco, o governo federal através do BNDES financiou a

infra-estrutura das CFRs. Em Uruará foi, a reforma, compra de veículos, uma

caminhonete, uma moto e os equipamentos. O governo estadual a contra partida seria o

pagamento dos monitores, porém nós tivemos aí quatro anos de não cumprimento da

parte do governo.

Esse ano também veio até agora, até o final de julho, quando as coisas já estavam

tomando outro rumo é que o governo do Estado fez o depósito na conta da fundação,

que agora vai ser feita uma nova seleção de contratação.

O projeto maior, a nível de Transamazônica, com BNDES, é no valor de, um

pouco mais de RS 10.000.000 (dez milhões de reais). Já, a contrapartida do governo é

de R$ 3.258.000, que é para o pagamento dos monitores da área técnica.

É bom ressaltar, já a prefeitura entraria com o pessoal de apoio, governanta, vigia

e auxiliar de secretaria, mais, os professores da base comum nacional.

Aqui em Uruará, especificamente, a gente entrou no seguinte entendimento: que

nós não queríamos 09 professores, mas 02 que trabalhasse buscando toda essa coisa da

interdisciplinaridade. Um que trabalhasse as disciplinas de exatas, e outro mais de

humanas.

A gente conseguiu avançar um pouco na cedência da coordenação pedagógica.

Dentro do recurso do Estado, é pra ser pago, mas aqui, a gente conseguiu avançar com

o coordenador pedagógico que acaba dando aula também. Tendo uma interferência

grande junto aos alunos, não trabalhando disciplinas, mas, sim na formação mais geral

do jovem, uma formação mais política, uma política partidária, política de cidadania. A

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gente “pega”, a ética, meio ambiente e trabalha nesse sentido. Já envolvendo os outros

professores.

E quando a gente conversa com o jovem, a gente vê que ele tem o

conhecimento, só que ele não consegue colocar na prática. Então alguma coisa foi

deficiente então nós trabalhamos teoria e prática e isso pressupõe que a lógica da Casa

Familiar Rural é que ele tenha uma resposta lá no lote, então hoje nós não temos isso.

Vamos fazer um estudo em uma propriedade como referência; infelizmente, nós não

temos isso.

Nós temos alunos egressos que derrubaram as margens dos mananciais, tem

alunos que usam agrotóxico demasiadamente, tem jovens que não tem um cuidado com

o lote,2 não segue o planejamento. Então, assim, aí tu tens razão no teu trabalho. Aí

você pode fazer uma reflexão até pra nós mesmo, porque é assim, o projeto surge com

uma alternativa para que dê uma resposta para o agricultor lá, e infelizmente ainda não

deu.

A questão da Alternância, a gente resolveu mudar, agora são duas semanas que a

gente trabalha. Eles chegam segunda feira pela manhã, à tarde eles já fazem à

colocação em comum, e ficam até sábado. Então, a gente aproveita minuto a minuto.

Domingo a gente deixa eles meio lighit, sempre com alguns trabalhinhos pra eles

estarem fazendo e tocamos a outra semana toda.

Uma outra coisa que a gente tem a preocupação também durante essas duas

semanas é de qualquer atividade, qualquer atividade que aconteça dentro da casa ela é

planejada, ela tem um cunho educativo, formativo ali dentro.

Mesmo quando a gente vai fazer uma limpeza, vai consertar um cano que estoura,

vai molhar uma horta, fazer limpeza, tudo isso tem esse cunho formativo, esse foi um

dos avanços que a gente teve aqui em Uruará.

O outro é em relação ao tema gerador é que a gente não trabalha o tema gerador

específico. Por exemplo, nós trabalhávamos até o início deste ano, o cacau, café, hoje

nós trabalhamos com o sistema de produção, dentro do sistema de produção, nós

trabalhamos o sistema de cultivo e sistema de criação.

Os monitores é o Edílson Caetano, Selma Meneses, Elisa que é auxiliar que acaba

trabalhando com o Ailton Araújo, que é da área técnica (agrônomo) e, o Delídio. Ele é

2 Lote é a propriedade de terras, geralmente, na Transamazônica de 100 hectares, para os agricultores da Colonização dirigida pelo estado, na década de 1970.

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meu conselheiro e trabalha com a área técnica, e eu, que sou uma espécie de faz tudo

lá.

Eu acabei colocando meus filhos lá, eu acho uma contradição de eu ser

apaixonado por uma proposta pedagógica e meus filhos não estarem lá dentro, no

início, meu menino dizia: pai esse negócio é doido, eu não vou pra lá. E eu: vamos

fazer uma experiência. E, hoje ele diz que gosta, inclusive ele está lá pra casa do tio

dele porque quando termina o tempo escola ele se manda pra lá, ele e a menina.

A menina, chega no final da Alternância: pai eu estou queimada de sol e cheia

de calo. Você está arrependida; não.

Ano: 2007

Localização: Uruará. Centro Social do Município. PLENÁRIA

PREPARATÓRIA para Conferência Regional de Educação, em Altamira, e a

Estadual, em Belém..

9. Professora: Joana

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Eu proponho que a assembléia continue. Logo depois

da aprovação das propostas será escolhido o representante da plenária regional e

estadual.

Bom dia a todos a todas. A primeira coisa que nós observamos e que na realidade

[...] nós temos hoje uma demanda de alunos muito grande fora da escola. A escola

pública apesar de o professor e o aluno terem uma idéia que é grátis, nós observamos

que tem um gasto muito grande para a população carente manter esse aluno na escola.

Porque nós temos um déficit de manutenção, comprovação, apesar da matrícula está lá

de graça. Mas pra chegar à escola o aluno tem que transcorrer um caminho muito

grande, além de farda, alimentação, manutenção, xerox. Então tem gasto, então esse

gasto social, infelizmente, muitas famílias vindas do interior não tem como bancar,

então o aluno fica fora da escola e tem que ir trabalhar, o que mostra a realidade triste

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do trabalho infantil do nosso país, principalmente, no interior.

Nós que somos da baixada, daquela região, observamos muito isso, muito alunos

que não estão na escola e que estão trabalhando pra tentar ajudar a família.

A primeira questão que nós chegamos pra ampliar a questão da sensibilidade,

seria descentralização das escolas do centro; que nós observamos, é que, a maioria das

escolas está sendo construída, mais por uma questão política, do que, com o objetivo de

atender a demanda do aluno.

Aqui em Uruará tem uma escola considerada de médio porte de Ensino Médio no

centro, e na periferia não temos escolas, e nós precisamos uma escola de ensino Médio

na baixada, que é onde está, a maioria dos nossos alunos; essa preocupação não existe.

Então, se faz escolas é para se mostrar a escola, porque, ela, lá escondida, na

periferia, ela não aparece. As escolas mais aperfeiçoadas, aparelhadas, é mais no

centro. A escola mais aparelhada, mais equipada, deveria está na periferia, porque é lá

que está o aluno carente, e lá que precisamos dela.

Então, em Uruará, uma das questões é essa, que as escolas sejam construídas

observando não as questões políticas, mas a necessidade do aluno da cidade. Então, a

nossa proposta é que em Uruará sejam construídas mais novas escolas na baixada.

Que construam escola de pequeno e médio porte, bem estruturada nas periferias

para evitar a aglomeração de alunos no centro, e para facilitar o deslocamento. Porque

se o aluno sai cansado do trabalho e se a escola é perto da residência dele, ele pode

tomar um banho e ir para a escola. O que evidencia um problema novo é que os alunos

saem direto do trabalho para a escola, e, já leva a sua farda. Não tem um momento de

tomar um banho, se alimentar, ele já chega aqui com fome.

Existe uma legislação, o próprio senso reconhece [...], a LDB recomenda , as

pesquisas educacionais demonstram que, 25% de nos alunos não são produtivos.

Temos turma a noites com 40, 45, 50 alunos, é improdutivo, inviável, mas por uma

visão economicista se coloca e tudo recai na costa do professor e no aluno, que não

têem um sucesso garantido.

Falta fiscalização por parte do Estado, quanto ao comprimento da legislação com

relação ao número de alunos nas escolas. Existe a lei, mas não existe fiscalização, a

própria LDB, o próprio FUNDEF, hoje FUNDEB, o antigo FUNDFEF tinha um

número x de alunos por sala de aula, mas na prática isso não é respeitado. E quem não

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respeita isso, fica por isso mesmo.

E o que nós temos, é a tão chamada evasão, reprovação ou o analfabeto funcional,

que ao sair da escola, não tem o conhecimento necessário para ter sucesso na vida

cidadã.

Um laboratório de informática com um número de computadores condizentes,

com o número de alunos, um número mínimo de alunos por sala, não adianta fazer a

inclusão digital se você tem um laboratório de informática que hoje é necessário para

inclusão digital para todas as áreas. Se você vai trabalhar na área tecnológica você vai

que ter conhecimento de informática, qualquer local que você for hoje para ter sucesso,

você vai precisar ter um conhecimento mínimo de informática.

Agora, em uma escola de ensino médio ou de ensino fundamental tem que ter um

laboratório de informática ou outro e se coloca dez computadores para atender 1000,

1500 alunos. Então, na realidade, não existe, isto é uma mentira, cumprir uma

obrigatoriedade e se diz agora o Brasil está na era da inclusão digital, mas na prática

não funciona e quando não funciona, quem é o culpado. O professor que não criou

metodologia.

É necessário incluir a informática como disciplina, já que é a inclusão digital

deve estar na grade curricular.

Queremos também tempo de aperfeiçoamento para trabalhadores da educação em

geral professores, vigia, servente, secretária, com, no mínimo de 180 horas, a compor e

que seja valorizado no aumento de salário e na carreira do magistério.

Aumento de vagas de licenciatura e mestrado, aumentar a linha de pesquisa, os

pesquisadores não estão querendo vim para o interior. Temos que possibilitar que

nossos alunos, nossos professores tenha condição de realizar a partir da nossa

realidade, temos um caso ali que é a doutora, que é de nossa região, que veio pesquisar

a nossa realidade. Por quê? Porque ela é daqui e se interessa pela nossa realidade,

então, tem que estimular para que todos nós aqui possamos ter essa oportunidade.

Merenda escolar para os alunos do ensino médio: nossos alunos chegam aqui

famintos, não tem condição. Eu estou falando do ensino médio porque, normalmente, o

ensino fundamental e infantil normalmente já está previsto e que não seja só no ensino

médio, mas também na EJA. Pra qualquer pessoa que, muitas, vêm direto do trabalho e

não tem tempo de ir em casa jantar, é necessário a merenda, porque saco parado não

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fica em pé.

Construção de quadra poli-esportiva. Não adianta falar em ensino prazeroso, se

você não tem a oportunidade de um ensino com prazer, tendo oportunidade de fazer

exercício físico. Esporte é qualidade de vida e isso já é uma realidade para todos,

precisamos fornecer isso também na escola.

Uma máquina potente de xérox, com manutenção em cada escola. O livro

didático só não dá. Você não vai ficar centrado só no livro didático, o livro é só um

instrumento, e precisamos buscar outras fontes, e pra isso nós precisamos de xerox.

Não é uma coisa tão cara, e que já deveria ter nas escolas. E, até hoje esse

processo não aconteceu e nós precisamos porque nós temos alunos que estão evadindo.

Eu tenho até vergonha, mas tem alunos que evade da escola porque não tem os dez

centavos para tirar a xérox. Mas, você pode dizer: “Ah, mas é só dez centavos! É! Mas

tem mãe que tem dez filho, e para o aluno, é dez centavos em cada disciplina, e é todo

dia! E ele vai passando pela vergonha e pára de estudar. Pra quem tem não é nada, é

muita coisa. Eu sou professora e tem dia que eu não tenho dez centavos.

Política pública de acompanhamento em busca de soluções para a saúde dos

trabalhadores da educação. Hoje nós enfrentamos uma triste realidade de trabalhadores

doentes e ninguém sabe o que é. O que está provocando a doenças nos educadores? E

não existe tratamento. Muitos trabalhadores estão chegando com labirintite, problema

de garganta, loucura mesmo, uns falam até demais, uns nem pensam mais, então

precisamos tratar nossos educadores, uns trabalham doentes. Que alunos nós estamos

formando, se as pessoas que trabalham com os nossos alunos não estão saudáveis.

Como trabalhar um aluno saudável se eu não estou saudável; e se a mente não

está boa como eu vou trabalhar a mente? Como eu vou trabalhar com a consciência?

Então pessoal precisamos nos preocupar com a saúde do trabalhador em educação. Isso

é um quadro triste do nosso país que não há preocupação, não há acompanhamento.

Atualização do plano de encargos e salários da carreira de magistério do Estado.

De acordo com a legislação vigente, o plano que hoje existe é do início da década de

90. Se não for da de 80. Então já está mais do que caduco, e o professor hoje não tem

carreira. Vem hoje a municipalização e a utilização dos processo encaminhados a

SEDUC. Pra ter um processo hoje na SEDUC, espere daqui uns três anos, pra te dizer

que o teu processo está encaminhado errado e aí é mais três anos.

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Paralisação dos descontos irregulares dos servidores, paralisou dois meses, depois

continuaram. Não fizeram levantamento nem nada, continuam com o mesmo desconto.

Contratação de servente e do corpo técnico de manutenção da escola. Olha

pessoal não tem como chegar aparelhagem na escola, chegar laboratório, se não existir

uma equipe de manutenção, porque quebra e até conserta. Aí cria um depósito de

sucata.

Eleição direta para direção a nível Estadual e Municipal e também das UREs.

Não adianta ficar falando só em democratização; democratização, o processo tem que

ser como um todo. Enquanto a educação for uma questão política eleitoreira, e não uma

política educacional, não há consenso, porque os financiamentos vão ser vistos dentro

de uma lógica economicista e não uma ótica de valorização humana.

A questão da gestão democrática não perpassa pela questão só do diretor, não

adianta colocar um diretor só porque a gente quer se o diretor da URE. Não é o que

deveria está lá, ele não tem o conhecimento técnico nem o pedagógico, ele só tem o

político. E o secretário de educação é a mesma coisa, e se é pra descentralizar que seja

todos.

Revitalização do instrumento participativo, conselho escolar, conselho de classe.

Recurso para aos projetos artísticos, não adianta dizer que a escola deveria ter projeto,

a escola tem que ter recurso pra isso, e as escolas não tão tendo nem amigo do

município, nem amigo do Estado, só sabem dizer, tem que fazer projeto, tem que fazer

projeto. Só que para ter projeto tem que ter recurso, tem que ter verbas, e nós

precisamos de o recurso, tem que ter financiamento, se não, a coisa não acontecerá.

Construção de auditório para todas as escolas, como se falar em gestão

democrática. Como se falar em urbanização se você nem tem nem local adequado para

você chamar a comunidade, tem que ser tudo improvisado, aí você fica tomando local

emprestado. E aí os pais ficam uns em pé e outros sentados, e aí você fica até tomando

microfone emprestado e tudo isso perpassa de novo na questão do financiamento.

Precisamos de investimento real na educação. Na verdade, o Brasil precisa pensar no

PIB para a educação, porque hoje o investimento é muito pouco; existe investimento no

discurso, mas não existe investimento de fato.

Ano: 2007

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Localização: Uruará. Centro Social do Município. PLENÁRIA

PREPARATÓRIA para Conferência Regional de Educação, em Altamira, e a Estadual,

em Belém

10. Professor: Alberto

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória:

Nessa primeira seção:

1. Nós dividimos campo e cidade para garantir a permanência

da população na via campesina, na escola e como Faculdade e passando

também pela qualificação desse profissional, vendo que a grade

curricular tem que ser diferenciada.

2. efetivação e progressão automática do profissional do

Médio temporário, a partir dos dez anos de trabalho, e também, fazer

valer a LDB sobre a formação inicial ou continuada, garantindo o plano

de carreira e encargos de salários condizentes com a qualificação

profissional. A gente colocou garantir porque já está em Lei, a questão do

plano de carreira. 3.

3. Reestruturação curricular do ensino médio, a gente

colocou esse ponto. Vendo aqui: quando se falava da qualidade social da

educação, não adianta se falar em qualidade social da educação com uma

estrutura curricular, como bem disse a professora, com a visão bem

capitalista mesmo, a gente não vai avançar muita coisa.

4. Quatro: estabelecer uma parceria com União, Estado e

Município para construção de um templo artístico e cultural dando

seguimento a todos os seguimentos da sociedade.

5. Gestão democrática, além da eleição dos diretores,

também tem a construção do Projeto Político Pedagógico do ensino

Médio, com a participação efetiva da comunidade local que não seja

aquela coisa imposta de cima para baixo.

6. Que seja dado, mais autonomia para as UREs e também

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para as unidade Escolares.

7. Estabelecer estratégias de abertura curricular para o

desenvolvimento social e ambiental. O trabalho que a gente faz dentro

dos muros, parece que, quando termina o período de aula, acabou, mas

como é que a gente vai inserindo nossos alunos nos temas globais, na

questão ambiental e no próprio desenvolvimento ambiental que já

falamos hoje. O tema desenvolvimento sustentável é uma marca muito

bonita, e a gente tem um monte de gente falando em desenvolvimento

sustentável, e que muitas vezes não sabe nem o que está falando, acha

que desenvolvimento sustentável é só preservar as matas e os rios. Nós,

os seres humanos, como nós ficamos diante dessa situação? Então que

não seja o discurso pelo discurso, mas que nós preparamos os nossos

alunos do ensino médio e que tenha condição de decidir e avaliar as

situações, e os temas gerais fora do ambiente escolar.

8. Investimento em grupos de pesquisas com orçamento

garantido no Plano Estadual de Educação.

9. Inserção da educação do campo no plano Estadual de

educação, a gente colocou uma ressalva aqui que é. Essa questão da

educação do campo, ela foi bem debatida e bem discutida no seminário.

E, ainda essas propostas vão para o Estado, e que dependamos das

propostas que foram ressaltadas no terceiro seminário. Que elas entrem

porque foram propostas interessantíssimas em Educação do Campo, o

que nós tínhamos era isso. Muito obrigado!

Ano: 2007

Localização: Uruará. Escola Melwin Jonnes. Agos/2007

12. Professora: Crescência

Assunto: Plenária Municipal para construir Conferência Regional de Educação

de Altamira e Conferência Estadual de Educação do Pará.

Lembranças da Memória: Praticamente já falaram várias de nossas

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propostas.

1. A primeiras delas, o ensino médio nos núcleos de acordo com a

realidade local, Inclusive o calendário, devido a área rural, que tem as épocas de

colheitas, que trabalhe principalmente, o calendário de acordo com a realidade

local. A questão da permanência, que a gente fala, é bastante complexa

também. Porque a estrutura social, hoje em dia, entre trabalhar e estudar, a

maioria dos alunos, prefere trabalhar, para continuar vivos. Então, é um caso

muito sério existente, mas também envolve os professores, a permanência dos

discentes e dos docentes.

2. Salários dignos, com capacitação. Porque, a grande vantagem, se

o professor puder trabalhar só 100 h., é a qualidade do trabalho vai ser bem

melhor. Compromisso que o discente tem que ter também, porque infelizmente,

muitas vezes quando o funcionário está longe do patrão, ele vem para a escola

quando bem quer, tem que ter compromisso dos dois lados, do aluno e do

profissional, a questão salarial envolve também, mas que se trabalhe e se

compra também.

3. Nas decisões, ágil também. Aí, envolve a questão das

documentações, porque os documentos que se mandam das escolas, dos locais,

precisa passar pela URE de Altamira, e muitas vezes, é engavetada. E, em

Belém, que muitas vezes vai pra lá e se esquece. Ficam meses e meses em

Belém, talvez até anos, quem tem retroativa atrasado nunca consegue receber e

não é por falta de documentação.

4. O Corpo técnico também, a contratação, concurso para isso, o

corpo técnico e o apoio, porque como a colega disse, não adianta ter

computadores se não a manutenção deles, contratação de serventes, formação

de professores, recurso para isso, capacitação de uma forma permanente.

5. Que aconteça cursos de capacitação, projetos que ajude a escola,

que venha também projeto do Estado, porque os recursos que vem do Estado é

muito pouco. Não dá nem para o meio do ano. Que a escola também possa

gerenciar um recurso, como o Aguinaldo falou, que se pense nisso para que ela

possa se ajudar auto-sustentável. Até me lembrei que há anos atrás, a escola

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tinha uma caixinha, valor simbólico, um real por mês, se o aluno não pode

pagar, ele não paga, mas se ele pode, ele paga, ele paga até com prazer, para se

ter uma prova bem elaborada, xerocada, ele faz com prazer, geralmente ele

acaba contribuindo muito com a escala.

6. Gerenciamento dos recursos direto na escola também, o conselho

escolar ele é muito bom, mas na maioria não funciona envolve pais, pessoas

que não estão nem aí, e que muitas vezes eles não querem, tem que correr atrás

deles para acontecer. A questão do registro no cartório também é muito caro.

Em um ano, o dinheiro dá até o meio do ano, o dinheiro do PDDE. No outro

ano, o dinheiro só dá para registrar no cartório. É cento e poucos reais, é

trezentos reais, depende da escola. Muitas vezes, o recurso acaba indo não pra

escola, na verdade acaba voltando para o próprio Estado.

7. Projeto para garantir as atividades artísticas, culturais e

tecnológicas, isso envolve os projetos com parcerias com o estado e município,

é importante como já falaram que houvesse um centro cultural para que as

coisas possam acontecer em um local agradável e ideal. Porque a juventude

precisa, nós precisamos, porque como já falaram aqui, que se constroem em

outra áreas, e a educação sempre fica em último plano.

Chegamos a uma conclusão, que devemos ter maior capacitação entre, incluir,

os professores e o material de apoio, ampliação e melhoramento da estrutura física,

transporte e material didático. Mais contratação de profissionais e que esses

profissionais tenham compromisso com a educação.

Ano: 2007

Localização: Escola La Salle – Magistério/ Melwin Jones

13. Professor: Arno

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Comecei em 79; meu preparo como professor era

praticamente zero. Tinha ensino médio, contabilidade, faltava professor naquela época,

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e era assim, aliás, até hoje se usa muito isso, falta professor e vão atrás de quem tem

estudo. Comecei e acabei gostando, gostei da experiência, é claro que, no início, tudo o

que precisava era praticamente a metodologia, a prática, o conhecimento, tudo! Não

tinha a quem recorrer, era só eu, e eu mesmo e assim foi por um tempo.

As dificuldades eram grandes, mesmo quando se precisava ir atrás de um recurso

melhor, tinha que ser em Altamira. Porque naquela época também não tinha muita

coisa, mas o que fez com que eu procurasse uma melhora, foi o gosto pela educação,

que é uma coisa que entrou em mim.

E, por mais que se quisesse procurar outra coisa, a chance de sair disso e ir para

outro trabalho, mas eu sempre fui assim, precisava melhorar os conhecimentos,

procurava livros para pesquisar, e se eu não estivesse satisfeito com a metodologia ia

atrás, até conseguir outra.

Depois fiz o magistério aqui, e mais tarde consegui entrar na Universidade, mas

sempre preocupado com a melhora do conhecimento, da metodologia, para melhorar

no trabalho.

Tive bons momentos em Uruará, houve época em que a escola era reconhecida

inclusive em Belém, quando alguém ia para Belém e dizia que era de Uruará, logo

chamava atenção. Para se ter uma idéia, aqui teve um período que tinham mais

professores de nível superior que lá, em Altamira, era o que diziam as irmãs que

estavam aqui.

Então tínhamos um bom número pessoas capacitadas aqui, mas como houve esse

período bom, também houve o período ruim, em que praticamente nossa educação

chegou a 0% de se pensar alguma coisa. E foi uma coisa curiosa o período em que

enfrentamos, foi a época em que tivemos pessoas na universidade, uma coincidência

meio fora do comum, mas quando se observa o porque disso, na medida em que o

professor de primário que nunca tiveram até antão, continuidade na formação.

Tivemos já muitos bons professores de primário, mas à medida que esses

professores iam para a universidade o que se fazia, pegava os professores para o

fundamental e quando começaram a aparecer o ensino médio, eles iam para o médio, e

quem ia para o primário, eram os professores que ainda não tinham o magistério, nem

experiência.

Naquela época, não se percebia a diferença, só percebemos quando aqueles

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alunos de 2º série começaram a chegar na 5º, 6º série e o conhecimento deles era muito

ruim, mais do que deveria, e o que se pensou que fosse bom, estava sendo ruim. Mas

isso, foi por falta de planejamento, por um motivo também que acontece até hoje e

aconteceu, e que é uma coisa natural, é que professor de primário, naquela época e

hoje, tem 100h, e trabalha um meio período e professor de 5º a 8º séries trabalha meio

período e tem 120h.

Esse professor saia do primário e ia para o ginásio, trabalha o mesmo período que

trabalhava antes e ganha mais pelo mesmo tempo, ele gostava. Também tinha aquela

questão da preocupação com a 1º e a 2º, é maior que na 5º e na 6ºsérie. Se você não

fizer um bom trabalho na 1º série, a criança sai com problemas, e na 5º série, você não

é tão exigente. E o professor procura ir para uma série mais adiantada e sobra para

quem não tem tanta experiência, não tem tanto estudo, e o trabalho não é bem feito.

Esses são os motivos que, em minha opinião fez com que nossa educação tivesse

uma queda na qualidade, e de uns 4, 5 anos para cá começou de novo a perceber uma

volta.

A administração, o secretário de educação está começando a se preocupar

novamente com a educação, traz benefícios, faz melhorias, até mesmo no pagamento

dos salários, tudo isso influencia. Aos poucos nós começamos a perceber uma volta,

uma melhora de novo.

As dificuldades que se tinha eram a mesma, o material pedagógico que

usávamos eram os que fazíamos, tinha um livro que a SEDUC mandava, manda até

hoje, é o mesmo. Houve épocas em que eu passava horas preparando o material

pedagógico, que eu utilizava nas minhas aulas, até mesmo fazia muitos materiais que

os outros professores utilizavam. O material sempre foi escasso, o material pronto, ma

sempre se usava o material, sempre tinha, apesar de que até hoje se fala com o

professor, ele fala que não tem material, mas esse material nunca vai ter o suficiente, o

que às vezes falta é trabalhar, fazer com que o professor monte seu material, até a

questão, por exemplo, do computador acaba sendo uma grade a ser utilizada, mas

porque não se utiliza? Porque ele veio pronto e não sabemos trabalhar nele, se eu

tivesse feito o computador saberia utilizá-lo às mil maravilhas e com outro material

seria a mesma coisa.

Se você vai hoje a uma livraria, você encontra uma quantidade muito grande de

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material pedagógico, é um material que já vem pronto, você pega, o traz para a sala de

aula, e, às vezes você fica sem saber o que fazer, mas se você planeja, se você prepara

seu material, já está vendo a rentabilidade dele. Eu acredito que se trabalha muito

pouco isso.

Uma coisa que eu notei, uma grande decepção que eu tive, talvez tenha sido

minha culpa, foi que eu quando terminei o ensino médio e depois o magistério e já

estava decidido a continuar na educação, quando recebi a oportunidade de fazer uma

universidade, fui e eu tinha uma visão, acho que todo mundo tem, de sair da

universidade e agora eu sou professor e minha aula tem que... Sempre, a medida, em

que, eu fui fazendo meu curso, fui percebendo que as aulas que os meus professores

davam eram praticamente as mesmas aulas que eu aplicava e muitos deles tinham uma

metodologia que eu já tinha abandonado por que não levou a lugar nenhum.

E quando eu terminei o curso, a não ser algumas exceções, eu vi que aquilo não

me enriqueceu e que não era aquilo que eu imaginava que ia acontecer. Então, a

universidade foi um pouco decepcionante para mim nesse sentido e até mesmo eu já fiz

um monte de cursos que também acabaram não acontecendo aquilo que eu sonhava,

principalmente, porque hoje em dia os professores que nós temos, não estão realmente

preparados para preparar o professor, eles estão preparados de conhecimentos, jogam

esses conhecimentos para nós, mas não de uma forma que nos prepare para levar o

conhecimento para a sala de aula. Outra coisa nesse sentido, principalmente, no caso da

matemática, apesar de ser um curso de licenciatura, tem muito mais bacharelado do que

licenciatura.

O primeiro que fiz foi licenciatura curta de ciências e matemática, que preparava

9 disciplinas para trabalhar no 1º grau e o outro foi licenciatura em matemática, mas

era pouca disciplina pedagógica e você aprendia matemática pura, para pesquisador em

matemática e não para professor de matemática. Tivemos poucos professores

preocupados com licenciatura, a maior parte deles, são preparados para o bacharelado.

Inclusive, quando fui participar de um encontro em Belém, teve essa discussão e

eu levantei essa questão, inclusive um dos professores que estavam lá, era um dos que

tiveram aula comigo, o professor Roberto, o curso era de licenciatura, mas era muito

mais bacharelado e eles falaram que pretendiam abrir novos cursos visando muito mais

esse lado da licenciatura.

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E, agora, para dizer a verdade, devem ser muito mais caros, não sei, se falou

nisso, mas não sei se ficou só no papel, mas é uma preocupação com isso. Que esses

cursos sejam mais voltados para o professor mesmo. Eu tenho uma teoria que até serve

para o curso de pedagogia, e percebe-se que ele também tem muita deficiência, nós

vemos o professor sair da universidade, e o preparo deles adquirido deixa muito a

desejar.

Pouquíssimas vezes eu tive problemas com alunos [...]. E, isso se percebe que não

foi só comigo, e desde, o início se percebeu uma aproximação muito grande de

professor e aluno. Talvez, foi isso que me fez ficar na educação essa aproximação com

o aluno essa troca de experiência. O diálogo, eu aprendi muito, muito mesmo até

conhecer mais as pessoas através do aluno, esse relacionamento com o aluno.

Tem uma experiência que me tocou muito, é de uma aluna, inclusive ela está

morando aqui, ela estudou. Não sei a série do ginásio, depois, os três anos do ensino

médio, ai como ela terminou o terceiro ano, ela foi para Brasília, para fazer cursinho e

se preparar para uma universidade. Aí na época, ela voltou para passar as férias aqui,

aí, a gente conversou, e ela me disse que, lá, quando ela estava estudando, do que ela

mais se lembrava, era de mim e das minhas aulas.

Quando ela chegou lá, e disse que ela era do Pará, todo mundo falava: “de lá,

daquele fim do mundo, que a educação do Pará, é muito fraca que não sei o que [...]”.

Só que tudo que eles estavam vendo lá, ela tinha estudado comigo; ela conseguiu lá

dentro do curso que ela estava fazendo, se sentir igual a eles. Porque ela teve uma

pesquisa aqui, que, apesar deles falarem que era fraca, era praticamente ao nível deles,

isso foi uma coisa que me marcou bastante.

Outra coisa: têm muitos alunos que, hoje em dia, são médicos, advogados, e

quando a gente se encontra, eles sempre fazem questão de lembrar disso, e isso toca a

gente. Isso tem uma gratificação, e, hoje muitos deles, têm remuneração muito maior

que a minha. Mas, o que me satisfaz, é saber que eu tenho alguma coisa nisso, eu

contribuir para esse médico, esse advogado, chegasse a onde eles estão hoje, e isso

gratifica a gente.

Olha, por falta de experiência, no início, eu era daquelas que cobrava o que eu

ensinava, e os alunos tinham que saber o que eu ensinava. Mas com o tempo fui

percebendo que tinha alunos que se demonstravam muito bons durante a aula, e na hora

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da avaliação não se saiam tão bons assim. Aí, eu comecei a ver, que essa forma de

avaliar, não condizia com o que estava acontecendo, então eu comecei a não me

preocupar tanto com a avaliação, nunca deixei de fazer avaliação.

Sempre fiz as minhas avaliações. Mais, na hora de dá o conceito para esse aluno,

sempre considerava a participação dele, tanto é que alguns alunos chegavam e falavam

“mais professor, eu tirei cinco na primeira prova e na média final o senhor me deu sete,

aí eu chegava com eles e explicava, que eu não gostava de fazer, cheguei a fazer mais

não gostava, que era dizer que a prova ia valer oito e dois era de participação, mais aí ia

de um por um explicar, porque um merecia dois, um merecia um e outro não merecia

nada. Então o que é que eu fazia, colocava a nota, e, em cima da nota, eu fazia a minha

avaliação daquele aluno. Se o aluno tirasse cinco, ele ficava com cinco, mas, se é,

aquele aluno que era participativo em sala, ele recebia nota diferente.

Nos últimos anos eu sempre procurei utilizar essa forma de olhar, observar a

participação na aula, os exercícios feitos, as atividades, e a prova que tem que ter. Por

que os pais, a primeira coisa que eles vêem é isso, se o aluno tirou tanto na prova,

menos que isso eles não podem ganhar.

Olha, para a educação em Uruará o que mais nos atrapalhou, é a questão política,

eu acho que a questão política é o que mais atrapalha, apesar que, toda campanha a

gente sempre houve falar, “não a minha prioridade é a educação e a saúde, não sei o

que [...]”. Mas, quando chega na hora desse assunto, a gente vê muitos candidatos que

não tem muita afinidade com a educação. Às vezes, até tem vontade, mas são tão

censurados que acabam fazendo aquilo que [...]. Eu acho que interfere muito na nossa

educação.

Tem inclusive interfere um pouco entre político e educadores que é a questão da

direção, da escolha da direção. Eu acho que, no nosso município, a eleição para

direção, eu não sou muito favorável a isso, pelo fato que o nosso professor e nosso

aluno, não está preparado para fazer uma boa escolha.

Temos excelentes educadores que dariam excelentes gestores, mas também temos

muitas pessoas que estão na educação, sei lá pra que! Mas são pessoas que tem

facilidade de manipular outras pessoas e facilmente ganhariam a eleição. Só que

depois, o trabalho que eles irão fazer, é igual os que já tem ou pior. E, se o cara é eleito

ele tem muito mais direito, muito mais poder. Se o cara é colocado lá, um secretário

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por exemplo, ele pode, em meio ano, se retirar, se ele não der conta. Só que eu sei que

também tem os porquês, porque eu acabei de falar da política, porque o diretor tá lá

porque o prefeito quer, sei que também tem essa questão.

No meu pensamento o professor tem que ta lá porque ele é competente, ele tem

que ter mostrado dentro da educação que é capaz, que, tem conhecimento pela

educação e que realmente se interessa pela educação.

Então, se uma pessoa dessa é colocada lá, muitas vezes essa pessoa, não tem essa

capacidade. É, por muitas vezes, por ser exigente, ele não é bem aceito. Outra coisa, se

você se candidata a uma eleição, você quer ganhar, você tem que fazer a proposta de

um excelente trabalho, só que esse excelente trabalho exige trabalho. E, como nós

temos muitas pessoas que não fazem questão de muito trabalho.

Eles, geralmente, apóiam aqueles professores bonzinhos e fazem aquela

cobrança, “eu vou votar em você, mas depois [...], sabe, né, fica aquela questão. Eles

depende de professores para apoiar a campanha e quando eles quiserem alguma coisa

vai ficar difícil alguém dizer não para eles.

Por isso eu não sou muito favorável à eleição de diretor, e aí tem outra questão

se coloca em eleição de listra tríplice. Aí, eu acho pior ainda, porque aparecem três

candidatos e o prefeito vai escolher um, independente, se é mais votado ou não. Então,

eu estou votando para que se o prefeito ou o secretário já sabem quem eles vai

escolher, independente de quem ganhar.

A eleição é fajuta, então, eu acho que o que atrapalha mesmo é esse tipo de coisa.

Já faz dez anos que eu faço isso, falando que precisava formar professores, como

acabou o magistério e mesmo quem estudou magistério não foi muito bom, o preparo

não era muito bom, com falta de professores, falta de material, uma série de coisas que

deixou muito a desejar, e quando se queria contratar mais professores, os professores

não tinham magistério. Aí, começou a se procurar uma maneira para ver se conseguia e

até que surgiu essa oportunidade, o irmão Jerônimo e na época o irmão Marcelo, que

trabalhavam em cima disso, e conversado com a prefeitura chegaram em um acordo.

Um dia o irmão Jerônimo me chamou para trabalhar junto com ele na formação

dessas turmas, aí a preocupação maior era pegar esses professores do interior, não que

tivesse lá, mas que fosse de lá, para que não surgisse esse problema que a gente estava

enfrentando, que se mandava um professor pra lá ou ele não era bem aceito, ou ele não

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se dava, por que sair da cidade, atravessar 15 a 30 km., pra dentro do travessão sem

conhecer nada, fica muito difícil.

Então pra gente evitar isso, o que foi que se fez, pegamos pessoas dessas

localidades que moram lá, que tem família na comunidade, para montar essas turmas e

conseguimos. Inclusive, nós temos lá, 50 professores do interior, e mais 2 ou 3 que não

são de lá mas que estão repondo algumas disciplinas.

É uma turma muito dinâmica, onde a faixa etária está entra 20 e 25 anos, ou seja,

eles têm uma vida inteira dentro da educação e não se está preparando professores para

simplesmente terem os certificados, e se aposentado por ele, o que acontecia com as

turmas do Projeto Gavião, anos atrás.

Anos atrás eram professores de 15 20 anos de magistério. Agora não, eles estão

começando. È uma turma nova, uma turma jovem, uma turma que a gente percebe que

tem vontade de aprender, tem curiosidade e ficam na expectativa de aprenderem uma

coisa nova. A gente percebe que, eles não querem só conhecimento, eles querem

metodologia.

Tanto é que, nas minhas aulas de matemática eu procuro não como mostrar como

fazer, mas, como se transita depois esse conhecimento? E eu percebo que, eles têm

vontade de seguir, nessa profissão; eles não estão fazendo só para ter o ensino médio.

Ano: 2007

Localização: Escola Migrantes/Km. 175,Norte, Rod. Transamazônica/Uruará

14. Professora: Professora Ilda

Lembranças da memória: É bem interessante, porque quando eu terminei a 4ª

série, a minha pretensão não área atuar na carreira de magistério, eu queria fazer

administração de empresa. Fui para Altamira, cursei meu 1º ano de administração de

empresa, mas devido a alguns acontecimentos, retornei para Uruará e estavam

justamente tendo o curso de magistério. Entrei como se fosse meio que de “gaiata no

navio”, sem saber nem o que estava por vir, conclui. Eu trabalhava na prefeitura, não

tinha a pretensão mesmo e trabalhar na carreira, estava trabalhando na administração e

quando trocou de administração fui demitida e fiquei 5 anos parada, foi no governo do

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Mário Lobo que eu entrei, comecei a trabalhar aqui na Migrantes como professora e

gostei, quando veio para nós fazermos o vestibulinho para ingressar no curso de

pedagogia, eu fiz e meio sem esperança pensando que não ia passar pois não tinha

estudado e estava com minha neném recém nascida, e fui aprovada. Dos 50 eu fiquei

na 25º colocação e continuei, estou aqui até hoje.

Já trabalhei nessa escola como diretora durante 2 anos, não foi uma experiência

muito agradável. Se fosse convidada hoje para trabalhar como diretora de escola eu não

aceitaria, porque é uma disputa muito grande, parece que você está em uma guerrilha,

como terminou o curso de pedagogia, eu pretendo dentro dessa área, fazer um curso de

pós-graduação e continuar vamos ver as possibilidades que estão vindo. Gosto muito

do meu trabalho.

Os meus alunos, acredito que, nesse período de férias, vai representar a falta.

Parece que está faltando alguma coisa, aquela vontade de sair, procurá-los, porque está

faltando alguma coisa e pretendo continuar nessa carreira, menos na parte

administrativa, na direção, na supervisão. Quando surgir um concurso, irei fazer para

orientadora pedagógica, orientação, supervisão.

Agora, a experiência como diretora, não foi agradável. Porque aquilo ali, fica

entre 4 paredes, você tem cobrança de 4 lados: tem dos alunos, que cobram realmente

dentro do direito deles; os pais, que exigem às vezes aquilo que você não pode dar; tem

os funcionários que querem bom trabalho. É claro que quando nós atuamos em sala de

aula, queremos fazer um bom trabalho, por isso tem que ter material, tem que ter

recursos, porém não temos condições de passar para esse funcionário. E, além disso,

tem as injunções administrativas, que às vezes, não deixa você fazer aquilo que você

tem vontade de fazer. Fica meio preso ali, fica meio perdido, desse jeito, e para mim,

essa foi uma das funções que eu achei mais problemáticas.

Quanto à sala de aula, eu trabalho de 5º a 8º série. Acho que, a pedagogia nos

prepara para atuar de 1º a 4º , então para mim a turma que eu me sinto melhor para

trabalhar é a turma da 1ª e da alfabetização. As crianças são mais amorosas, parece que

você tem um entendimento maior, já quando você começa a trabalhar com alunos de 4º

série, eles já estão no início da pré-adolescência, então já ficam meio desligados do que

você está trabalhando.

Para mim, a melhor experiência foi atuar 2 anos na 1º série, e 1 ano na

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alfabetização. Agora estou trabalhando com alunos da 2º série, também é uma turma

boa, tranqüila, tem essa questão da amizade, o carinho, que você acaba adquirindo

pelos seus alunos. Mas, enquanto a conteúdo, 1º e alfabetização são os que mais me

agrada. Depois da minha experiência, a 1º e a alfabetização são os fundamentais para

minha carreira, é o que eu quero até me aposentar.

Há muita dificuldade quanto ao instrumental didático. Até estava conversando

com a supervisora hoje, ela falou para eu usar mais os recursos do dia-a-dia do aluno,

porque você não tem, os recursos didáticos. São aqueles que você pode adquirir

comprando, não temos acesso. Então temos, que trabalhar, por exemplo: com divisão,

usamos laranja, feijão... Peguei o material do dia-a-dia do próprio aluno até que é mais

fácil para ele entender. Grão de arroz, de feijão, milho, foi assim que eu trabalhei com

eles agora no final do 1º semestre a questão da divisão e da multiplicação na

matemática. Nós sabemos que existem outros recursos que são mais atrativos, só que

infelizmente, quanto à questão de recursos financeiros é uma dificuldade muito grande.

A metodologia: Língua Portuguesa, eu trabalho com eles leitura e ditado. E,

quando trabalho ditado, eu sempre, nas palavras que eles têm dificuldade para escrever,

eu sempre escrevo elas no quadro para o aluno visualizar, e isso, no dia-a-dia deles é

que vai fazer com que ele aprenda.

Ás vezes, converso, com alguns colegas, criticando. Eles passam a palavra e

acham que o aluno tem a obrigação de acertar. Se o aluno não tem o desenvolvimento

avançado, a habilidade de escrever aquela palavra escreve com dificuldade. Eu, passo

no quadro, passo hoje, passo amanhã se for necessário, passo várias vezes porque com

isso ele vai visualizando e consegue aprender. E a leitura, tem vários livrinhos e fichas

de leitura. Recortamos uns livros e fizemos fichas de leitura para trabalhar com eles no

início do ano. Hoje o aluno pega, lê tal historinha e amanhã já é outro que vai ler e

alguns dias eu os trago para frente e eles vão ler para todos os colegas e outros dias eles

vão ler para mim, aqueles que são mais tímidos, que não gostam de ir à frente, chamo

na minha mesa ou vou até a cadeira dele.

Eu acompanho o conteúdo programático que vem da SEMEC, só que nem todo

conteúdo que vem, que já foi programado no início do ano, você tem condição de

trabalhar ele do jeito que ele vem pra mim. Então vou trabalhando de acordo com a

necessidade do aluno, de repente ele tem mais dificuldade com língua portuguesa,

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então eu deixo mais a matemática de lado. Inclusive hoje, conversei com a Odete, é

nossa supervisora, e que se eu pudesse trabalhar a língua portuguesa conciliando com a

matemática um pouco. Acho é porque eu fiquei muito habituada, no ano passado com a

1ª série, mais a língua portuguesa. Esse ano eu continuo nesse ritmo, só que agora vou

procurar mudar um pouco para atender as necessidades da matemática, história,

geografia, para eles não encontrarem muita dificuldade.

Ano: 2007

Localização: Uruará/ Escola Os Migrantes

15. Professora: Ana

Assunto: Educação do campo/História da Educação Local

Lembranças da Memória: Em primeiro lugar, experiência nessa função, estou

trabalhando há 5 anos na área da educação, são 7 anos , mas como professora em sala

de aula, são 5 anos. Até o ano passado eu sempre trabalhei com educação infantil,

alunos de 3 e 4 anos e a partir desse ano, foi uma nova experiência, estou aprendendo

muito, porque 1º série, quando dizemos que somos a professora todos dizem que

assustam, não é aquele bicho de sete cabeças, eu me identifiquei com as crianças, não

sei se tem que ter sangue doce para lidar com crianças menores. A questão de

alfabetização é bom e eu gosto de sempre estar buscando material pedagógico para

poder trabalhar com eles, vejo cartilhas, essas coisas de alguém já me interesso, corro

atrás para tirar xerox ou arrumar emprestado, mesmo antes de trabalhar com educação

infantil. Eu já tinha isso comigo, cada matéria que eu achava interessante, eu já tinha

arrumado meu próprio material, mesmo sem estar em sala de aula e trabalho também

de 5º à 8º série. A questão de aprendizagem de 1º série é o que está sendo mais

proveitoso para mim porque estou ensinando e aprendendo ao mesmo tempo.

O material pedagógico não vem suficiente para todos os alunos. A questão de

livro didático, quando vem, geralmente não dá um para cada um, então nós

trabalhamos em grupos ou duplas, por que é uma quantidade que tem. O material que

nós sempre arrumamos é o material mesmo do professor e que nós corremos atrás,

tiramos xerox, compramos livros para estar trabalhando a questão de livros. Em

questão de outro material, isso a escola nos fornece.

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Eu procuro muito trabalhar com material concreto, que eu acho que tem

aproveitamento maior, um aprendizado melhor; às vezes eu peço para eles trazerem de

casa grãos, pedrinhas, essas coisas para você estar trabalhando com eles. A questão de

matemática é mais fácil para eles aprenderem. Geralmente é assim que eu trabalho.

Nesses anos todos, em que eu já trabalhei, não tive nenhum problema com

relação a aluno. Sempre, tanto eu me identifico com eles, quanto eles se identificam

comigo.

Sempre a avaliação, faz escrito, às vezes oral. Só sem ser muito rápido.

Também não tive problemas, apesar de serem poucos pais que freqüentam a

escola, que tem aquele acompanhamento direto, não são todos. Nem conheço todos os

pais dos meus alunos, porque tem pais que nunca vem à escola, não tive oportunidade

de conversar, mas os que vem, todos deviam fazer isso.

Nossa, quando chega no final do ano, eu vejo como se fosse uma despedida

porque eu sei que eles vão para outro turno, outros professores chegam a dar aquele

aperto no peito. No 1º dia de aula que eu passo, vejo eles, na outra turma, bate aquela

saudade. Quando sai um aluno transferido, às vezes você nem sabe se vai ver ele algum

dia.

Eu fiz o magistério, quando, foi para mim, fazer o segundo grau, minha mãe me

deu opinião, porque você não faz magistério e eu disse que não queria ser professora,

ela me disse que se eu não fizesse esse curso, não queria dizer que eu ia ser professora,

mas ia ter uma profissão, agora se eu fosse exercer, não tinha problema. Eu trabalhei 2

anos em secretaria, depois fui para a sala de aula.

Ano: 2007

Localização: Uruará/ Escola do 140/ Tiradentes.

16. Professora Laélia.

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Para mim, falar dessa experiência é bom, falar do

começinho. Como mãe, viemos do sul, eu, minha família e outras famílias com as

nossas crianças pequenas necessitando de escolas. Quando nós saímos do Rio Grande

do Sul, nós não sabíamos ao certo o que iria acontecer com a educação e quando

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chegamos aqui, no mês de setembro, não teve mais aula nesse ano.

No começo de 1973, foi providenciada, pelo INCRA uma professora, uma

menina da comunidade que se dispôs a dar aula para as crianças. Essa professora era

completamente inexperiente.

Matriculamos as crianças, tinham umas 30 ou 40 crianças. Ela dava aula de 1º à

3º série nesse primeiro ano. Os pais, bastante jovens e também inexperientes. Porque

no sul nós ganhávamos tudo prontinho, aqui nós teríamos que se responsabilizar e

ajudar em tudo.

As condições eram mínimas, a Maria do Socorro Garcês começou a dar aula,

sem nunca ter sido professora, em um tapiri3 de palha. Ela não dispunha de nenhum

quadro de giz para escrever, nem cadeiras para as crianças. Ela simplesmente ia com os

pais que arranjavam uns sebos cortados com moto serra para as crianças sentarem, um

mais baixinho, e outro mais alto para colocar o caderno de quem estava sentado. Ela

passava dever no caderno e as crianças copiavam e logo começou as reclamações. Na

época nós, pais, não tínhamos nem idéia, nem consciência do que realmente acontecia,

nós exigimos mais do que parece que a professorinha tinha condições de dar., que

condições? Uma boa aula, sem ter material didático nenhum, ela dispunha só de um

livro do professor, do caderno das crianças e das palavras.

Lembro que havia uma reclamação dos pais, até curiosa: ela não tinha nem uma

mesa para sentar e de repente, parece que o pai dela doou uma mesona de tábua

comum, os pais passaram lá e diziam que a Socorro não estava ensinando coisa

nenhuma, e que, os meninos estavam pulando enquanto ela ficava deitada naquela

mesa. Tadinha, o que mais ela tinha para fazer, se não tinha nem lugar para ela sentar.

Outra menina da comunidade chamada Maria de Fátima Gomes de Araújo, se

dispôs a dar aulas. Trabalhou no período de 3 anos.

Já foi aparecendo material didático para ela trabalhar. Em 1974 começou a

trabalhar também uma outra senhora da comunidade, a Dona Clotilde, que vive no Km.

140 até hoje, ainda trabalha na escola, apesar de ser aposentada.

Quando D. Clotilde começou a trabalhar como responsável da escola em 1975,

3 Tapiri é um tipo de habitação, coberto e de paredes de palhas de palmeiras, da floresta primária, na época. Foi um tipo de habitação que prevaleceu como primeira forma de casa, com os colonos pioneiros. Esse cenário, a partir do Km. 140., entre Altamira e Itaituba, pois as casas construídas pelo INCRA foram raríssimas nos primeiros anos, e, depois, não atendeu toda a demanda, principalmente, nas vicinais, planejadas e efetivadas de 05 em 05 km. Por isso, as expressões dos povos da transamazônica, lado oeste, Travessão ou vicinal do Km. 170, 175...

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uma outra professora que também já tinha trabalhado quando Mª de Fátima trabalhou,

depopis saiu, foi morar em Altamira. e a irmã dela, a professora Florizete Gomes de

Araújo, foi dar aula junto com Clotilde, que já estava desde 1974; isso era lá por 76.

Florizete também foi embora para Altamira. D. Clotilde era responsável pela

escola e ficou sem professora, e foi aí que eu entrei como professora, desde 1976.

Comecei a trabalhar como servente. Fui contratada pelo Estado, Deve ter sido em

77 ou 78 que eu fui dar aula para substituir a prof. Florizete. Eu já posso dizer que

entrei pelo menos com uma noção de como era que se ensinava, mesmo,

precariamente, porque eu estava por ali trabalhando como servente, e via as professoras

darem aula.

Mesmo quando D. Clotilde, depois, é um fato curioso, que nós contamos que,

quando ela começou a trabalhar como professora, ela pensava: Vou lá ensinar, e

quando eu sair de lá, eu dou uma aula pronto, todo mundo, ela pensava que, as crianças

saiam sabendo na primeira tudo que ela ensinou. Aí, de repente, ela começou a dar

aula, eu era servente, percebia ela dando aula. As aulas não correspondiam aquilo que

ela esperava, ela ficava desesperada, nós andando na estrada no nosso caminho da

escola para lá que a gente ia e voltava juntas.

Ela dizia: eu não sei o que tá acontecendo? Eu ensinei as crianças assim [...] No

final eles não aprendem nada, o que é que ta faltando? Eu: Clotilde quem sabe você

não experimenta assim [...[ de repente eles aprendem, mais tenta desse jeito, se não dá

assim, e ela fazia a experiência. A gente conversava muito, quando eu comecei a dar

aula agente tentou o possível para melhorar o aprendizado das crianças, a gente se

ajudando mutuamente, eu acredito que, com as condições que nós tínhamos na época,

conseguimos fazer um bom trabalho, depois eu intercalava.

Quando faltava professor eu ia (Laélia) para substituir, quando tinha professor eu

trabalhava no meu cargo de servente, eu sempre contei com o apoio, a confiança da

comunidade.

Eu até hoje quando eu ando na rua, encontro rapazes, homens barbados, mulheres

com seus filhos no colo, que às vezes falam comigo, mas não reconheço. Os meus ex-

alunos hoje, eu olhando para trás foi muito gratificante. Então a escola foi seguindo,

mais tarde não sei exatamente qual foi o ano, foi implantado o ginásio a partir da 5º

série: JOSÉ BONIFÁCIO, esse nome foi dado pelo pai da professora Socorro, o seu

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GATU. A comunidade toda concordou, e até hoje é esse o nome.

Antes disso os meus filhos fizeram até a 4ª; lá não tinha ginásio para eles e

tiveram que sair. O menino foi para Altamira fazer a 5º série no Maria de Matias,

depois desistiu; fez só até a 7º série e não quis mais estudar, ficou adulto e quis

trabalhar. As meninas, as 03, fizeram a 4º série e tiveram que vir para Uruará, Pará.

Nesse caso, conhecido, para poderem fazer o ginásio. Uma terminou aqui, a Mariza, a

mais velha, as outras 02 começaram, mas as dificuldades são muitas, e elas foram para

casa. Foi quando apareceu o supletivo e elas fizeram.

Quando eu trabalhei era com uma cartilha que foi feita por nós aqui mesmo de

Uruará. Um grupo de professores e pessoas interessadas se reuniu para fazer uma

cartilha para tratar da nossa realidade, porque as cartilhas que nós recebíamos tinham

muitas coisas de fora da nossa realidade.

A cartilha que nós criamos se chamava Pé no Chão, era baseada no Método do

educador Renato Borges. Para falar a verdade foi o método que eu trabalhei e até hoje

existem professores que trabalham com essa cartilha, mas ela ficou só naquela edição,

era bastante cara na época para dar. Ainda existem professores que optam por aquela

cartilha, tiram xerox, foi muito gratificante. Era o processo de silabação. Ensinava a

sílaba, as vogais entre si e depois era a silabação. Ex.: a primeira lição era do TATU.

Depois, as vogais, então não ensinava T-A, ensinava TA e TU, e formava a palavra.

Passava no caderno. Passava as lições para as crianças, explicava, ensinava e a

avaliação era quase que uma recapitulação da maneira como ela era feita. Eu avisava

que naquele dia era prova e explicava pra eles como ia ser. Dava um apanhadinho de

cada assunto que, eu me propus a passar naquele dia, e passava no quadro, depois, a

criança copiava e respondia. Com o tempo surgiu o mimeografo então

mimeografávamos as provas como é feito até hoje muitas vezes, só que agora os

métodos são outros, mais modernos, mas no começo era perguntinha no quadro, a

criança copiava na folha, nós dávamos uma folha separada pra criança e eles copiavam,

respondiam e entregavam para o professor, e ele corrigia.

Na sala de aula, quando a cortina cai para o aluno você está ensinando, dando

tudo de si naquela explicação, as crianças, têm uns mais espertos, outros mais lentos, e

de repente naqueles mais lentos, a cortininha cai, dá o estalo famoso e a criança

compreende. É uma das coisas que mantêm o professor na profissão.

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Outra coisa, é ter o reconhecimento dos pais, quando o pai chega e fala: “olha eu

estou gostando muito, meu filho (a), está aprendendo com a senhora, o trabalho está

sendo bem feito”. Tem uma coisa que me marcou até hoje um aluno que eu tive, passou

por mim, acho que na 1º ou 4º série, quando o menino na 2º ou 3º série chegou em casa

dividindo, e viu o pai tentando fazer uma divisão e não conseguia, o menino chegou

dizendo que o pai estava fazendo errado e ensinou a fazer o correto, o pai ficou

maravilhado de ver que o filho já estava dividindo, pois ele achava uma coisa muito

difícil e a criança dele já estava dividindo. Quando ele me contou essa história, me

orgulhei, mas por mais que você tente ser humilde, o peito tufa.

Outra coisa é a confiança dos colegas, dos outros professores que na época nos

reuníamos muito, trocávamos experiências, conseguíamos muito, nos ajudávamos

muito. A professora Benilde, a professora Eleonora e outras mais, que são: Zita,

professores que montaram o primeiro, teste, para a educação em Uruará, por acaso

eram elas e nós que estávamos aqui e era uma gratificação, uma satisfação muito

grande quando sentíamos a confiança dos amigos e dos colegas.

SUPERVISORES ESCOLARES DO CAMPO

Ano: 2007

Localização: SEMED de Uruará

1. Supervisor Manoel

Assunto: Educação do campo, Política Educacional. Gestão educacional.

Avaliação Educacional. Planejamento Educacional.

Lembranças da Memória: O material humano nós temos, mas só que o material

humano não é suficiente. Não adianta nós termos bons técnicos, bons pedagogos, bons

supervisores, se não temos condições de como ir para o local para fazer a verificação,

ministrar o curso, sendo curso.

Aqui nós temos nos deparado com a situação seguinte: o supervisor tem que

esperar o outro supervisor chegar da zona rural, para pegar o meio de transporte para

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ele ir fazer o dele. Só que eu sempre digo, que tudo muda um dia.

Quando você tem que fazer alguma coisa fora do nosso município, tem alguns

obstáculos, pois tem a questão da diária. E, eu acho que a palavra diária, já está se

falando que é um investimento, que a própria secretária está fazendo.

Porque você está pagando aquilo para a pessoa aprender e depois cobra, não tem

que ser cobrado, pois como é que você vai fazer um curso em um determinado local, e

não tá produzindo aqui.

E têm outros afins, que se for numerá-los, vai dar muito o que falar.

Ano: 2007

Ano: 2007

Localização: Uruará/PREFEITURA/SEMED.

2. Supervisora Arlinda

Assunto: Educação do campo/Política Educacional

Lembranças da Memória: Há 08 anos que eu trabalho nessa profissão de

supervisora, tem muitas dificuldades que a gente enfrenta. Aqui é muita carência,

dificuldade de material, enfim, muita coisa: material pedagógico, a questão financeira.

Trabalho 150 horas, a semana toda. Nós temos trabalhado muito, com projetos.

Tem até o relatório, só que o relatório não está comigo, senão eu te amostrava. Nós

fizemos um projeto muito Bom para se trabalho da escola, não sei se todas as escolas

fizeram, mas que eu saiba tem duas escolas que fizeram o mesmo projeto sobre [...].

Aí, não me lembro o nome do projeto! Sei que trabalhamos o ano todo, a cada mês, a

gente trabalha com a amizade, responsabilidade. Não me lembro o nome do projeto

para passar para você, mas é um projeto muito bom.

A relação com os professores é muito boa. Tem aqueles professores difíceis de

trabalhar como você sabe, mas a relação com eles foi boa. Com os alunos a relação

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também foi boa.

Aqui tem também a coordenação, orientação só que a orientadora está de

atestado, de perícia, e só volta em setembro. Seria bom que você, entrevistasse ela

também; ela trabalha com os alunos, mas como ela não está presente, somos nós

supervisores que estamos atendendo os alunos. E o projeto, ai, eu não lembro o nome

do projeto, não sei onde eu coloquei o projeto, depois eu arrumo para você.

O projeto fala de justiça, amizade, honestidade, respeito, igualdade. Em cada mês,

não trabalhamos um desses, esse mês de agosto nós vamos trabalhar solidariedade.

Cada mês fica um professor responsável, mas fica 04 professor responsável para fazer a

apresentação com os alunos, está sendo muito bom, porque nós precisamos trabalhar

com esses alunos porque são muito rebeldes.

Trabalhamos vários trabalhinhos, trabalhos pequenos de quinze dias, projeto das

mães, projeto da páscoa. Veio pessoas de fora fazer culto sobre a páscoa, tivemos

premiação. Foi muito bom e os alunos participam.

Das mães nós fizemos uma gincana. O professor de educação Física também nós

ajudou, fizemos o projeto a programação, aí teve a gincana, tivemos premiação

também, teve cesta com prêmios, e alguns presentes, tivemos um rifa com produtos pra

mãe, como shampoo, pra mãe usar, foi muito bom.

Palestras: sempre vêm outras pessoas da saúde, falar sobre doenças, no início do

ano, veio. Só lembro que foi uma doença; foi mais com os alunos do ginásio essa

palestra. Prevenir as doenças, sempre tem.

Tem uma dentista que sempre vem aqui na escola, vêm todas as quintas, ela tem a

programação dela. Faz palestra. E traz escova, pasta distribuir para os alunos. Aí, é o

professor que tem que tomar de conta da escova da pasta. Aplica flúor nos alunos,

fazem à escovação. Só que ela atende, lá no consultório dela, na escola, ela só vem para

aplicar o flúor, ensinar como escovar os dentes.

DIRETORES ESCOLARES DE URUARÁ

Ano: 2007

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Localização: Uruará/SEMED/ Escola Tiradentes. Km. 140 Rod. Transamazônica

1. Diretora Sara

Assunto: Educação do campo/História de Instituições Escolares/gestão, Memória

de Professores

Lembranças da Memória: Na quinta série, a assistente social, chegou e me

disse: olha no levantamento que nós fizemos, só tem a senhora que tem a quinta série.

Então, a senhora vai ser a professora. Nesse tempo, eu trabalhava como catequista.

Dava catecismo para as crianças, reunia as crianças, brincava, ensinava cantos,

participava da catequese.

Aí, quando a assistente social saiu de casa, eu comecei a conversar [...]. Porque,

quando eu era jovem, eu sonhava em ser professora, aí de repente, eu casei e vim pra

transamazônica. Não consegui nada lá no sul, a gente era muito pobre para estudar.

Eu fiz aquele programa lá no sul de admissão, passei. Aí não tinha mãe para me

colocar na escola; meu pai era diarista, não tinha condição de nada. Casei e vim para a

Transamazônica, e aí, aconteceu isso, que já te falei. Aí eu conversei com os meus

filhos, e eles não, não e não! Aí sei de casa de tardezinha e fui para a casa da Laura.

Laura, foi lá em casa a assistente social, e ela me convidou, para mim ser

professora das crianças. E a Laura disse “ Minha nega, é você a nossa Professora!”.

Pois é, mais o Dirceu não quer de jeito nenhum, aí ela disse: não, vamos já conversar

com ele e você vai. Aí foram não só a Laura, se reuniram na comunidade, umas oito

pessoas, para conversar com Dirceu e falaram: Dirceu deixa a Cleotilde ser a

professora, porque é gente nossa, é gente daqui, conhecemos ela. A gente vai ajudar e

foi aquela coisa.

Aí, o pessoal se reuniram e foram lá em casa. Deixa, só as crianças que a gente

vai ajudar a cuidar. Aí a assistente social tinha deixado marcado o dia que começava

um curso em Altamira, mas era quinze dias de cursos em Altamira.

Eu tinha que fazer um cursinho e já vim de lá preparada e contratada. Lá fui eu

toda feliz para Altamira fazer esse curso, de 15 dias. Cheguei lá em Altamira, o curso

era supletivo de Primeiro Grau; uma complementação do primeiro grau que eu não

tinha.

Hilda Helena dos Santos era a coordenadora do curso, aí quando eu cheguei em

Altamira era um curso de três meses e não os 15 dias. Aí, eu fiquei os quinzes dias e

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depois, eu fui em casa, contar o que estava acontecendo. As crianças tinham ficado na

casa da Laura, da Neuza, o pessoal ficaram cuidando dos meus filhos e fui fazer o

curso. Esse curso eu terminei em 1976 e tinha começado em 1974, foi dois anos de

cursos.

No dia 3 de abril de 1974 fui contratada pelo Estado. Dia 4 eu cheguei na sala de

aula. Foi tão bonito quando eu cheguei na sala de aula, que até hoje quando eu falo isso

eu fico emocionada, cheguei na sala de aula pensando que eu era professora, que eu

tinha muita capacidade, que eu ia escrever no quadro e as crianças iam tudo escrever

também!

Eu tinha naquela, sabe aquele acampamento que eu tinha lá perto de casa, eu

tinha 76 crianças na primeira série. Naquela época, o Estado não dava 200 horas. Então

eu trabalhava de tarde com 76 crianças, não tinha escola, era Tapiri.

Os pais colocavam cepo de madeira, um para as crianças se sentarem e outro, a

mesinha, para elas escreverem; era assim que funcionava; eu, com 76 crianças.

Tinha aquelas mudanças, né! É que as famílias ficavam um tempo, por causa do

acampamento Queiroz Galvão. Depois eles levantavam acampamento e iam embora,

algumas famílias iam embora, aí fiquei com 36 alunos, mas fui muito feliz.

No fim do ano eu tinha 20 alunos que liam e escreviam. Quando eu via as

crianças lendo e escrevendo, eu dizia: pôxa vida, será que foi eu que conseguir tudo

isso! E aí a gente continuou, tinha junto, comigo trabalhando, a Fátima do seu

Joventino. Era eu e a Fátima, a Fátima trabalhava de manhã com 2ª e 3ª série, e eu

trabalhava com a 1ª série. Era assim, aí minha querida, no segundo ano, eu tinha só 40

alunos, metade tinha ido embora. Ficava certinho 36, 18 que tinham sido reprovados e

as outras que entraram. Então, eu tinha 40 alunos.

Aí minha querida, a Fátima trabalhou com a 2ª, 3ª e 4ª série. Não sei dizer

quantos alunos ela tinha. E eu sempre fui professora de 1ª série, me especializei em 1ª

série, eu fiz vários cursinhos de 1ª série.

Naquele tempo, a SEDUC começou a enviar cursos de formação de professores,

aí tinha cursos de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª série; eu fazia cursinhos e mais cursinhos, sei que eu

tenho um monte de diploma, certificados de cursos de 1ª a 4ª série. Quando foi 80,

84,82 aí, acho que foi em 79, chegaram os Irmãos Lassalista na região. Acho que foi

isso aí, eles chegaram na região com a finalidade de trabalhar com a educação, como

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não tinha professores do magistério, todo mundo era leigo então eles acharam por bem

fazer um curso de formação de professores, entrei nessa turma, que eram 75 ou 78

formandos.

Nessa eu tive a felicidades de ser da primeira turma de formandos do Lassale.

Sou fruto do Irmão Jerônimo.

Nessa época, eu não tinha quase filhos, eu fui fazer o curso com uma baita

barriga, pra ganhar neném, mas nunca desisti, não tenho uma falta no curso. Aí, a gente

era aquele grupo, nós estudamos muito e o curso foi muito puxado, mas estudamos.

Quando foi em 90, eu comecei fazer vestibular, eu fiz primeiro pra pedagogia,

não passei, fiz letra não passei. Aí, eu estudei sozinha, eu brigava com o marido,

porque eu levantava de madrugada para estudar e passei em matemática, em 32ª lugar.

Foi outra coisa assim [...], porque a gente faz, porque a gente é perseverante.

Eu ia para sala de aula pensando assim, se eu passei no vestibular de

matemática é porque eu sei muito de matemática, eu fiquei muito empolgada. Quando

eu cheguei lá, é que coloquei os pés no chão!

Fui infeliz porque eu reprovei nas duas primeiras disciplinas que eu cursei, e eu

fiquei arrasada, fiquei nervosa, desesperada. Pegava o material e estudava de noite para

rever a disciplina, para tentar entender porque eu não entendia.

Aí, eu fiz o seguinte: é que o professor que faz magistério, ele não tem um

embasamento teórico para fazer matemática. Lá foi eu procurar, pra saber como eu ia

ter o embasamento para poder acompanhar as aulas. Aí eu recorri pelo Hélio, o Hélio é

um excelente professor. Ele me explicou todo aquele conteúdo de matemática, eu

entendi. Fui fazer a segunda etapa, passei nas 05 disciplinas. Quando a gente passava

em uma disciplina, a gente fazia uma festa, tomava cerveja, era uma coisa muito

bonita.

Aí eu fiquei doente, eu descobri que eu tinha sopro no coração e diabete. Fiquei

doente na faculdade, fiquei inchada, tive que ir para Belém, mas graças a Deus, eu

perdi só 05 disciplinas, mas eu recuperei.

Em 2001, foi a minha formatura. De lá pra cá, a escola só foi crescendo,

Começamos eu e a Fátima, em 85. Nós pedimos ao glorioso irmão Raimundo, que era

o supervisor na época, nós tínhamos pedido a 5ª série. Então, ele veio aqui fez um

pequeno levantamento enviou para Belém, e no ano seguinte, nós começamos a 5ª e 6ª

85

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série, tinha 12 alunos da 6ª série, e tinha 50 alunos da 5ª série, foi uma coisa pesada

porque não tinha né! Nós devemos o ensino fundamental à Zita e ao irmã Raimundo.

Eles se empenharam, o irmão Raimundo foi até para Belém, e eles conseguiram.

Nesse tempo não tinha quase professores. Aí, nós conseguimos pra começar, um

professor para cada série, 1ª,2ª,3ª,4ª, 5ª... , e, aos poucos nós fomos ampliando o quadro

de professores, e a escola cada vem mais aumentando.

Em 84, eu passei a ser diretora oficial da escola, fiquei na direção de escola até

92. Em 92, quando começou a politicagem em Uruará, aí fizeram a troca porque eu era

do PT, nunca neguei para ninguém, Jader Barbalho e PT não dava certo.

Trocaram a direção da escola, me exoneraram do cargo, e veio o professor Neto.

Foi a época que eu mais sofri na escola, com essa troca de direção, porque isso, porque

o Neto é gente minha, gente que eu ajudei.

Não foi uma coisa democrática, foi uma coisa, traição sabe. Eles vieram até com

a polícia para trocar a direção da escola, eu sofri muito. Fiquei muito chateada,

revoltada com tudo e com todos. E nunca me disseram, assim: “Clotilde vai haver

mudança de cargo.

De repente o Neto chegou aqui dizendo: olha amanhã, a gente vem fazer a troca

de diretor. E disse: a gente faz a troca de diretores amanhã. Ele trabalhava na Fernando

Guilhon, era secretário da Turquesa.

Eu fiquei surpresa, quando foi de manhã, eles tinham convidado toda a

comunidade e eu na sabia de nada, quando chegou na sala, hora da reunião, encheu a

sala de pais. Tinha aqueles pais que não queriam, tinha aqueles que aceitaram a troca e

tinha aqueles que estavam sem entender nada, porque convidaram para uma reunião e

era outra coisa.

A polícia não chegou a está na porta da escola, mas ficou andando na rua da

escola; a escola era aquela salinha aqui em baixo. A polícia ficava andando de baixo

para cima, fazendo a guarda. Eu ainda perguntei “porque esse policiamento aí? ” Aí.

eles responderam que talvez eles vieram ver alguma coisa, e que eles iam ficar

rondando em frente da escola.

Aí, o Neto não conseguiu fazer o trabalho porque ele era diretor da escola, era

diretor, secretário da Liteira, ele quem fazia pagamento e não conseguiu fazer o

trabalho. No ano seguinte, eles colocaram a professora Graça Furtado; agora ela foi

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para Uruará.

A professora Graça foi outra história. Minha filha foi eu que trouxe a professora

Graça, lá dos cinco, que estava com um problema lá. A qualquer momento podia

morrer uma professora lá. Elas brigavam muito, por isso que a Graça veio pra cá e que

perseguição que a Graça fez comigo, depois que ela veio ser professora. Por que será

que as pessoas quando chegam no poder elas ficam perseguindo as outras, e não

deveria ser assim.

A Graça dizia para a professora da Melwin Jones que eu estava fazendo baderna

na escola, que não sei o que [...]. Eu fui Chamada em Uruará uma vez, já era a Linda a

diretora, e ela falou que tinha me chamado porque eu estava fazendo baderna na escola.

Aí eu: “Linda, que baderna? Na escola que eu fundei, na escola que eu dei o primeiro

dia de aula, na escola que eu respeito meus alunos, como se fossem meus filhos. Eu

quero que você chame a pessoa aqui para a gente conversar, para mim saber que tipo

de baderna é essa. E falei que não aceitaria mais nenhuma reclamação dela sem está

presente a pessoa envolvida. Ou deixa uma ocorrência assinada que foi fulano que

disse, porque, assim, verbalmente, e a pessoa pode dizer o que quiser, porque dizer as

coisas e não dizer quem falou pra mim é mentira. E desse dia em diante, nunca mais a

Linda me chamou.

Mas eu tive muitos problemas por causa de política. Depois que eu me formei, só

era eu formada em matemática, e eu nunca me exaltei por isso, eu sempre fui essa

“Sara”, sempre tratei os meus colegas de igual para igual.

Nesse meio de tempo, eu fundei, a pedido do então prefeito, senhor Antônio

Lazarine, o Modular Rural. Uma experiência muito bonita, uma coisa muito boa, que,

deixaram acabar. Não conseguiram segurar as pontas e deixaram acabar. Hoje encontro

na rua, vários ex-alunos, que hoje são professores, que hoje são enfermeiros e estão lá

na SESPA trabalhando. Mas olha, têm alunos que estão na faculdade, que continuaram.

Foi uma coisa que eles deixaram perder, eles não entenderam como funcionava e não

conseguiram segurar as pontas.

O modular era um semi-internato, o aluno ficava 30 dias, e voltava para sua casa,

quando tinha um turma em casa, a outra estava na sala de aula, são crianças e jovens

muito bom de trabalhar. Nunca chamei um pai por causa desses alunos, a gente formou

vária turmas aqui no modular rural. Nem lembro quantas turma foram, 6 turmas tenho

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certeza. Então a política não é a política sadia, e a politicagem atrapalha muito.

Depois do Modular Rural, seu Antônio me convidou para abrir a Casa Familiar

Rural. Fui eu quem abriu a CFR de Uruará, eu tenho orgulho de dizer isso.

Mesmo os meus companheiros terem me jogado para o escanteio, depois. Fui

para CFR, fui eu que limpei, que arrumei, organizei direitinho, abria casa. Foi eu que

contratei os primeiros funcionários para trabalharem na Casa, e, a primeira turma de

alunos, também fui eu que dei essa assistência. Lê, a CFR é do homem do campo, mas

tem muita política, porque o grupo, o pessoal do PT, não conseguiu pessoas para fazer

o trabalho, para abrir a Casa. E tinha que abrir a casa naquele ano, sei que tinha que

abrir a casa, e precisava de uma pessoa, aí foram falar com o prefeito.

Aí o prefeito manda me chamar em um domingo, dia 01 de janeiro. Que eu

comparecesse em Uruará, que ele precisava com urgência falar comigo. Cheguei lá e

era para mim abrir a CFR.

O grupo do PT tinha entregado a Casa para a prefeitura administrar. Então o

“Dorival” fez a primeira instalação de luz, de água, depois começamos a ter problema.

E entrou o Mário, no que o Mário entrou lá, eles me expulsaram de lá.

Aí, eu licenciada em matemática, e fiquei sem trabalhar. Fiquei um ano sem

trabalhar, porque a Graça não aceitou me colocar aqui na escola. Sem nenhum

professor de matemática aqui na escola, e eu aqui, sem trabalhar. Foi então, que o

padre Chico nessa época, – a gente trabalhou muito nessa época –, o padre Chico era

muito atrelado ao prefeito. Fui lá me queixei com o padre Chico, e contei minha

situação para ele, e o padre foi lá para saber por que não eu não estava trabalhando. Aí,

o Mário foi e chamou, a Marizete, e mandou me contratar. Eeu voltei para a escola,

como professora de matemática.

Quando o Heraldo assumiu a prefeitura me convidou para ser vice, porque eu ia

deixar. Não ia mais trabalhar porque eu estava doente, estava com diabete. E,

certamente, agora, com a troca de prefeito, com a saída do Heraldo eu não vou mais

trabalhar. Vou ficar mais em casa, vou arrumar outras coisas da Vila, porque a gente

tem um grupo de associação de mulheres. Eu sei que em casa, em casa, eu não vou

conseguir ficar, mas vou trabalhar com as mulheres. Porque, quando, você vê, o fruto

de seu trabalho você tem mais vida, as coisas melhoram muito! Então, a gente

conseguiu fazer essas coisas na educação.

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Quando eu estava na direção da escola não tinha um evento em Uruará que não

tinha representante lá, agora tem assembléia, eventos e não tem ninguém representando

a escola, ninguém mais participa de nada e isso é ruim para educação.

Faz falta para o professor não participar de eventos, pois eu cresci vendo,

participando em eventos. Se eu fosse só, vinha pra sala de aula, e, aberto o livro, eu não

tinha aberto os horizontes, pra conversar com os alunos; saber vê, conversar com os

pais. E quando chega um pai eles falam: “Sa”, venha conversar, você tem mais

experiência. E todo mundo que adquire sua experiência; lendo um livro, participando

de evento, pois, quando a gente participava do movimento social, cada um pegava um

livro para ler em casa. Isso foi um trabalho que a Benilde e o Renato Thil ensinaram.

Fizeram assembléia, que cada um, ia contar a história do seu livro, foi um trabalho

muito bom. Você converse com um professor do meu tempo para você vê a linha, e o

de hoje, você vê a diferença.

Então eles faziam esse trabalho de conscientização, você escolhia o livro que

você queria e na próxima reunião, cada mês tinha uma assembléia. E, primeiro, cada

um, ia contar sua experiência para quê? Fazer com que o cara lesse, mesmo!

Eu li muitos livros bons. Li vida seca de Graciliano Ramos, li a seca do

Nordeste, tinha livros que me mostrava a situação do povo, o que acontecia como era l.

Eu fazia uma comparação comigo, porque eu vim de uma família muito pobre e meu

pai [...].

Ano: 2007

Localização: Escola Migrantes/Uruará

2. Diretor da Escola: Prof. Nelson

Assunto: Educação do Campo/Política Educacional do Campo/ História da

Educação

Lembranças da Memória: A experiência é pouca, só estou aqui há uma semana

como administrador. É um desafio, encaro como desafio. Qbuando fui convidado pela

secretaria de educação a vir para cá, não foi muito difícil porque já encontrei a escola

montada. Nós temos a história da escola já há alguns anos, desde a abertura da

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Transamazônica, onde uma família, a família Mormac acampou a luta pela escola e

vem trabalhando desde então para a escola nunca fechar, nunca deixe de funcionar.

Mas, na verdade é um desafio, a escola tem essa prerrogativa de ter alguém que

sempre segurou, que sempre buscou trabalhar pela escola. Os alunos são excelentes, os

professores, nós, graças a Deus, não temos professores aqui que nos dêem trabalho,

muito pelo contrário, eles trabalham pela escola. E, para mim está sendo gratificante

trabalhar aqui, nós temos com certeza melhorado, a cada ano que passa, a cada dia que

passa temos buscado melhorar, mais.

A gestão anterior da escola fez um bom trabalho, só estou dando prosseguimento

na verdade, já tínhamos a horta, só fiz revitalizar e a merenda, nós temos recebido, mas

tenho trabalhado aqui um sistema não de racionamento, mas um sistema de se gastar

aquilo que realmente pode, tanto é que não tem faltado merenda na escola, isso é muito

importante porque nós recebemos alunos aqui, tanto aqui da vila, quanto de outras vilas

próximas e dos travessões, onde os alunos almoçam 10 h da manhã para poder pegar o

carro para vir à escola a tarde.

A merenda é servida às 15 horas, então, nós procuramos implementar essa

merenda com alguns legumes e hortaliças da região para sustentar as crianças como

macaxeira, abóbora, maxixe, tudo isso entra na nossa sopa e tem dado resultado.

Nós recebemos recursos uma vez por ano, e para gerir uma escola do porte da

nossa, com 3 mil e 900 reais por ano é pouco; mas junto com os nossos funcionários,

que, graças a Deus, nós temos os melhores funcionários, porque todos trabalham

vendendo rifas, geladinho e tem dado para comprar o gás, a verdura, papel, álcool. A

Secretaria de Educação nos ajuda com um percentual mensal, uma ajuda de custo

mensal que ela nos garante, que tem garantido muita coisa na escola, temos feito

pequenos reparos, compramos muita coisa para a escola, então, a partir do dia 20, a

secretaria de educação libera um recurso para a nossa escola, um valor de R$ 300,00

mensal, onde gastamos na escola.

Inclusive, acabei de trazer material para a escola, material básico; e nós trocamos

as louças da cozinha, que eram de plástico, nós trocamos por vidro, para garantir uma

melhor higiene para os alunos. Temos feito melhoramento no espaço da cozinha para

oferecer uma qualidade melhor no refeitório. Nós ganhamos as mesas e temos

trabalhado assim, mas o recurso mesmo é muito pouco, e temos que fazer malabarismo.

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Na medida do possível, nós temos recebido, até porque nós temos a supervisora, a

supervisão que atua aqui. Ela já tem muita experiência na área e nós temos recebido

sim. A secretaria tem garantido uma parte, a escola tem comprado outra e o governo de

acordo com os programas tem garantido a sua parte. Nós recebemos agora um projeto

de biblioteca para a escola, vindo do governo federal e tem disponibilizado isso para os

professores e tem ajudado muito na execução do trabalho.

Recebi uma faixa de 150 livros. È nessa faixa, para implementar a nossa

biblioteca. Nós lidamos com alunos da zona rural que não tem acesso à televisão,

jornal, revista, mas graças a Deus, temos obtido um êxito no nosso trabalho.

Nós trabalhamos com a organização curricular que é oferecida na cidade, que é

também de forma geral para a rede pública municipal. Mas até agora, a única diferença

que nós sentimos foi o inglês, mas nós temos uma professora de inglês aqui, que faz

parte do currículo, e essa professora que nós conseguimos é formada em letras com

habilitação em inglês, que tem ajudado muito no nosso trabalho. E com relação à

organização curricular, nós temos hoje, além da direção e supervisão, nós temos outra

professora da escola que é formada em pedagogia e outros, os que estão aqui que ainda

não tem nível superior já estão encaminhando para ter, mas, todos já têm magistério, na

área rural. Lá no travessão, nós temos 2 professores com pedagogia atuando nas

escolinhas de classes multisseriadas.

Não, nós estamos buscando fazer aquilo que já tinha sido feito, mas com ajuda da

supervisão, nós temos dentro desse currículo, diversificar, basicamente, para uma

situação de trabalha, a horta, onde os alunos ajudam, e vão, aprendendo. Nós temos

uma moça que trabalha com a horta, ela é formada em agronomia e sempre nós

estamos tirando o aluno de sala para estar na horta ajudando para diversificar, o aluno

vai perceber o conhecimento e colocar em prática no lote.

Temos conselho escolar, que a presidente é uma senhora da comunidade, mãe de

aluno, que envolve todo mundo, professor, pais de alunos, a própria comunidade está

inserida. O conselho se reúne para a prestação dos recursos, e, no 2º semestre, vamos

montar um calendário para estar nos reunindo para ver o que está acontecendo. Quando

eu assumi, o conselho já estava montado, então no 2º semestre estamos pensando em

montar esse calendário de reuniões periódicas para se estar discutindo essa situação da

escola.

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Ano: 2007

Localização: Escola La Salle. Uruará

3. Diretor: Getúlio

Assunto: Educação do Campo. História da Educação de Uruará e de Políticas

Públicas/Colonização da Transamazônica

Lembranças da Memória: Boa tarde! Nossa vinda aqui para a região de Uruará,

se deve exatamente a um projeto de 1979, de formação de professores para a região. E,

esse projeto tinha recursos de uma organização Holandesa chamada SEBEM. Mas, não

tinha quem levasse adiante esse projeto e o dinheiro voltou para a Holanda. Então, os

superiores pediram para que eu assumisse esse projeto, já que eu havia trabalhado

muitos anos com formação. Em Porto Alegre, mais especificamente, de técnicos,

depois no interior de Santa Catarina com professores de nível médio, em uma escola

agrícola. Que hoje, já é uma escola de nível superior, que recebeu o título de melhor

escola agrícola ano passado, graças a Deus que continua até hoje.

Então, vindo para cá, assumi parte do trabalho na SEDUC, que se chamava

décima segunda divisão (12ª), na época, e hoje décima (10ª) URE em Altamira.

Trabalhando na Escola Limas, Escolas Maria de Matias, polivalente, em Brasil Novo, e

ao mesmo tempo, dando prosseguimento a volta desses recursos aqui, foi quando

iniciamos a construção desse centro de formação, em 1980.

Foi concluído no final de 1980, e começamos as aulas aqui em 1981. Antes disso,

de prosseguimento de formação de professores em Altamira, utilizando o centro de

formação da Prelazia, e a escola de Brasil novo.

Nós iniciamos com uma turma de 150 alunos, tendo elas, o primeiro grau. Porque

a média dos estudos das alunas, não passava da quarta série, desde, as 176 escolas

desde Pacajá, Placas e Belterra. Eu recebia alunos de Pacajá até Belterra, de São Felix

do Xingu até a ilha de Gurupá.

Feito o levantamento nós encontramos algumas, sem nenhum dia de aula.

Servente que descansavam no cabo da vassoura, porque não tinha professores nenhum

do MEC. Muitas vezes, tivemos que substituir professores, substituímos professores

em sala de aula, pois tinha alunos sem nenhum dia de aula, enquanto o professor de

Alagoas sempre se orgulhava, pois tinha tido 30 dias de aula na escola e durante 13

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anos a escola de foi um barracão.

Tem muitas histórias interessantes dos professores daqui da área da

Transamazônica nesse sentido, todas as escolas da região da época, eram construção

cobertas de palhas, abertas, totalmente abertas. As mesas eram de troncos,4 e, os banco,

igualmente, os quatros de giz eram tabuletas de propaganda da coca-cola que

marcavam o valor da coca cola nós restaurantes, tabuletas de um metro e vinte.

Aos poucos fomos trabalhando com esse professor, a região foi dividida em área

e cada área recebeu um supervisor e esse trabalho já tinha sido iniciado antes pela

SEDUC e sobretudo pelo padre Léo, de Brasil Novo. Que era muito dinâmico nessa

área da educação, e ele lutou muito pelas escolas da região.

Uma área ficava a leste, que abrangia Anapu e Altamira, com um supervisor.

Isso, na zona rural, de Altamira até Brasil Novo, um novo Supervisor. De Brasil Novo

até Medicilândia, mais um terceiro supervisor. Depois entraria em interrupção, do Km.

120 ao Km. 140, que era área indígena. Do km. 140 até Uruará, outro supervisor, e de

Uruará até placas, um quinto supervisor.

Os cursos iniciavam coma organização pedagógica. Iniciamos em Altamira,

Brasil Novo e aqui, tiveram como prosseguimento em novas turmas. Então foi aberto

também em Altamira atendendo o pessoal vindo mais de vitória e também da Ilha de

Gurupá, e base do Xingu, alto e Médio baixo do Xingu. Também, atendemos em

Altamira, com uma média de 128 professores.

Eram professores que eram contratados pelo Estado, e trabalhavam em alguma

escola, da zona rural ou dos bairros. Vinham professores de Altamira, Vitória do

Xingu, Porto de Moz, e assim, por diante, que freqüentavam essa formação.

Devido à distância, muitas famílias tinham que trazer muitas crianças pequenas. E

então, a Irmã Dorothy, com quem trabalhei durantes anos, – quatro anos com ela,

tínhamos muito que trabalhar a formação, a formação pedagógica, a formação humana,

cristã, dos professores, mas também a área ecológica lá.

Nós discutíamos, porque, ela viveu bem dizer, toda a sua vida, e com ela,

inclusive, tinha um sobrinho que era engenheiro da NASA, na construção do projeto

guerras nas estrelas, esteve presente, várias vezes, nas férias, ajudando a construir o

centro de formação Nazaré. Que surgiu, exatamente, para a formação de professores na

área de Pacajá e Anapu, área leste de Altamira. Era área da malária, não havia quem

4 Troncos de árvore.

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não viesse para sucumbir em Altamira, que não tivesse malária; quatro ou cinco malári,

por mês, cada morador daquela área.

Em 1982, descobri em Belém, o Centro de Formação chamado CETEM, Centro

de Treinamento para a Área Amazônica. Eram treinamentos gerais. Teodoro Ribeiro

que era diretor na época, não encontrava saída dos recursos e esse centro atendia os

Estados todos da área norte, sabendo que eles estavam interessados na formação de

pessoas e pessoal nessa região, discutimos vários projetos.

E, a partir de 82, eu conseguir trazer para cá, fora os três cursos de formação de

professores, diretamente, outros quinzes cursos, para a região, pagos pelo Centro. O

centro pagava transporte, alimentação, os professores, o que fez que, muita gente

aproveitasse os cursos nos centros de formação e em outros lugares de Altamira.

Esse Centro de Formação da Área Amazônica era do Governo Federal.

Nós tivemos aqui dois cursos de diretores, dois cursos de educação lingüística de

120 horas, todos eles na base de 240 horas, o de diretor na base de 360 horas. O

Ministério proporcionou, para todos, a documentação.

Os dois cursos de diretores foram mais ou menos, de 60 diretores formados na

região, inclusive tinha passagem aérea quando tivesse necessidade, se buscava até de

helicóptero, de avião, quem estivesse no interior da mata, para que pudesse

proporcionar esses cursos. Dois cursos de educação artística, dois de educação física,

dois de matemática do nível médio, dois cursos específicos para a primeira série, para

as professores das primeiras séries, como trabalhar a iniciação, alfabetização, seria. E

todos eles acima de 200 horas.

Professores muitos bons, recebia professores da Universidade Federal do Pará,

professores da [...] que, naquela época se chamava de SENAFLOR, e da Fundação

Getúlio Vargas.

Eles mandavam especialistas do Próprio Ministério da Educação, outros cursos

foram Português, Matemática, Educação Física. Também treinamentos na aérea de

Saúde, com o pessoal da SUCAN, com treinamento, de como agir nas aéreas de muito

incidência de malária.

Para isso o meu trabalho, foi na própria divisão de educação na contratação de

professores e demissão de professores, que, muitas vezes, eles não atendiam as

exigências das escalas.

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Conseguir fazer a organização das escolas; fazer nas 70 escolas da zona rural,

mais algumas escolas na cidade, que, algumas, tinham autorização, mas não eram

reconhecidas. Nesse processo todo, eu trabalhei.

Conseguir recursos, para, ao menos equipar alguma coisa nas escolas rurais,

algumas delas construções, como a de Medicilândia, aqui no quilômetro 150, a Melwin

Jones, em Altamira e algumas escola fora nucleadas.

Fizemos o Primeiro Congresso, em Altamira, no inicio do ano de 1984. Consegui

trazer o Conselho de Educação para autorizar escolas de nível primário e médio.

Naquela época, reconhecer e autorizar umas, reconhecer e outras autorizar, que muitas

não eram reconhecidas.

O Secretário de Educação, se deslocava, a cada seis meses para a região e,

passava uma semana visitando as escolas, de pés.

Ele até demitiu 76 professores, uma hora por causa da demissão do pessoal daqui,

por que tinha um pessoal que foi colocado na, como serventes, pela política. Foram

demitidas 76 professores,de uma vez, e aí, a assembléia foi contra a demissão, e pediu

a demissão do secretário. Então, é o secretário que paga por gente inútil. Não quero

dizer o político sobre tudo na ocasião [...].

É que nós tivemos regras assim, nesse sentido. Porque muitas dessas serventes

vinham, era quase um crime, para receber. Então, discutimos com as professoras e

diretoras e elas vinham direto no Banco para receber para não precisarem vim na

escala, as próprias professoras e diretoras pediam que elas não viessem até a escola

para não apanharem; que recebessem lá na casa delas ou no banco, mas que não

viessem até a escola, que não queriam conhecê-las.

As professoras na época, nós dávamos um trabalho de formação, não somente

formação pedagógica, mas também em saúde. Recebiam perto de R$ 300 h, para darem

atendimento, os casos nas comunidades, pois não tinha absolutamente ninguém. Aqui

não havia médico nem hospital.

Na área de catequese, havia cursos de lideranças que trabalhavam também com os

próprios agricultores, com os jovens, daí surgiram os Sindicatos dos Trabalhados

Rurais, de formação de professores.

O que mais marcou na vida de formador, aqui, necessariamente, foi o clima

familiar que a gente conseguia dar ao grupo. Aqui era uma grande família, nós nunca

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tínhamos menos de 35 crianças em cada curso. Muitas crianças nasceram aqui,

inclusive tem algumas grávidas e, era uma festa quando uma criança nascia. E, todas

participavam dos trabalhos, na limpeza, na preparação dos alimentos e assim por

diante. Fornecíamos alimentação grátis, transporte. Foi à coisa que mais me marcou.

Depois foi a lutas das mulheres, coragem e lutas das mulheres, na formação e

organização das cidades, elas foram verdadeiras heroínas.

A gente sofria muito, pois a gente tinha que comprar tudo em Altamira, a gente

ficava quatro ou cinco dias. Então, a carne se colocava no gelo. E, ficávamos

perguntando, se ia ou não apodrecer. E, muitas vezes, a gente voltava do meio do

caminho com a carne para trocar o gelo para não estragar; trocávamos de condução.

Enfim, vínhamos por tentativas, mas sempre com a disposição de trabalhar para o bem

da região. Muitas vezes não sabíamos que dia da semana era, nem a do mês.

Solidariedade também é uma coisa importante das pessoas.

Os períodos políticos: do governo militar, o da transição e o atual.

Do trabalho aqui na região, o trabalho da igreja, era difícil. Não se tinha diálogos

com as autoridades. Graças a Deus havia a prefeitura de Altamira, aqui não existia,

aqui pertencia a Prainha. Demorava-se quinze dias para ir e vir até Prainha. Quando se

chegava até Prainha não se encontrava ninguém, e a gente voltava. Muitas vezes

tínhamos que conseguir papéis junto às autoridades, e as autoridades moravam em

Belém.

Embora os relacionamentos fosse assim difícil com as autoridades, eu sempre

consegui um bom diálogo, no sentido de apoio para os professores, porque sempre

insistia que: o professor não é meu, é teu, é da prefeitura, é do Estado!

Com o Estado, a gente tinha boas relações, mas com as os municípios,

prefeituras, não! Mas, sempre consegui material didático com as prefeituras. Muitas

vezes, um ignorava o outro.

No Maranhão foi muito pior o trabalho político, brigávamos muito. Foi os piores

anos de trabalho nossos, com os prefeitos totalmente, contra o nosso trabalho. Lá

trabalhamos também na formação dos sindicatos, na formação dos pescadores,

agricultores rurais, na formação de micro-cooperativas e na luta política.

Trabalhávamos com o pessoal, na conscientização voltada para a democracia.

Conseguimos boas vitórias, diversas; conseguimos colocar alguns deputados estaduais,

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alguns deputados federais, prefeitos, e, hoje, graças a Deus, são bons interventores que

nos dão apoio.

Na época, demitiam professoras que nós formamos, mas as professoras

continuavam a trabalhar, e, os pais pagavam com galinha, com ovo, com ceriais, com

produtos agrícolas e nem resolvia buscar salário que na época era tão pouco. Eram

escolas municipais. O Estado não tinha, bem dizer escolas na região, só os municípios,

então foi um trabalho bem mais árduo.

Trabalhamos também na colocação de agricultores, com um padre português,

inclusive é o padre Diniz. E, na época, a gente conseguiu colocar 20 mil famílias e

agricultores em poucos anos.

Sobre Moçambique:

[....] Moçambique era o pais mais pobre do mundo, com renda percapit muito

baixa. Vivemos quatro anos de guerra, guerra da independência, destruição total em 92.

Iniciamos a primeira escala particular do país, e assumimos 7 missões em

Moçambique, iniciando pela periferia, com 3.500 alunos.

A nossa casa era tipo, aqui, aberta [...]. Voltei para Moçambique de 1996 até

2002. Trabalhei nas reconstruções dessas missões. No interior, reconstruímos 140 salas

de aulas recuperadas, 70 salas de aulas novas, sala de direção, administrativa e

bibliotecas. Trabalhei lá, com a formação de professores, acompanhamento

pedagógico.

Ano: 2007

Localização: Uruará/SEMED

04. Diretor: Miguel

ASSUNTO: Educação no campo, política educacional, História Educação

Identificação: Lembranças da memória: No momento, a nossa proposta é

integrar a educação. Pra que nossa educação mude na Transamazônica. Nós estamos

pensando em fazer um Fórum, pra, realmente, não tomarmos decisões parciais, pra que

a educação cresça a cada dia.

Vamos começar pela matrícula: hoje nós temos em média, 7.800 alunos na

escola matriculados, e 850 e poucos alunos de EJA matriculados. Educação de adultos,

nós temos, especificamente, o PRONERA; 175 alunos que estão estudando. Eu acho

que é interessante dizer, que, de 7.800 alunos, estão divididos em 50% para zona

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urbana, e 50% para zona rural.

E aí, há uma preocupação muito grande, porque entre esses 7.800 alunos que nós

temos, se você compara a 1ª série, onde nós temos 2.000 alunos, na 8ª série nós temos

3.00 alunos, quer dizer apenas 17%, isso, comparando, a grosso modo, conseguem

concluir a 8ª série. Isso é preocupante, 350 deles são, isso é preocupante. Isso é geral, é

dos municípios.

O que a gente observa que, muitas das vezes, esses alunos eles não têm condições

de continuar seus estudos, porque as comunidades são distantes, e pra você formar

turmas de 5ª a 8ª série, é mais bem complicado. Você tem que ter professores

capacitados, tem que ter essa preocupação. Depois a gente não consegue turmas muito

grandes.

Tanto é que a gente pensou um projeto, pra nossa região o “professor itinerante”,

em vez do aluno se deslocar, o professor se desloca com o transporte escolar, que a

gente tem. No transporte escolar, a gente gasta 59 reais por aluno/mês no transporte. E

a gente tem 509 alunos com transporte escolar. Quer dizer que é significativo!

Então você compatibilizar todas essas despesas [...]. A gente tá pensando nessas

dificuldades. Então a questão [...], quando o carro quebra, atrasa todo o calendário

escolar letivo. Então nós pensamos em desenvolver um projeto alternativo de 5ª a 8ª

série na zona rural, e aí envolver, especificamente, a área de assentamentos. A gente

envolve todos, tá pensando em todos, sem discriminar ou privilegiar um ou outro, mas

se tiver as demandas, a gente vai ta lá, pra atender vários assentamentos também. Os

professores se deslocariam até a zona rural e dariam uma disciplina, por um período ai.

Então, a gente tá bem adiantado. Já fizemos o levantamento, pra gente atender, alunos

de 5ª a 8ª série.

Bem, nós temos a alfabetização de adultos, com o PRONERA, com mais de

1.400 alunos alfabetizados, e a previsão de formatura. Nós vamos entrar no programa

de alfabetização Brasil, é uma proposta do governo federal, recente, é novo. Já

mandamos hoje o plano de trabalho pra lá. É a proposta de alfabetizar mais ainda,

então, se tiver, tudo dentro de ser aceito, a gente vai desenvolver mais um programa de

alfabetização de jovens e adultos. É o 3° programa, nós já temos 02, nós pretendemos

ter mais pra melhorar a educação. Hoje, o índice já diminuiu muito, é de 9,9%. Esses

dados são do IBGE de 2000.

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Dentro da área de zona rural, a gente tem o Modular Rural, onde nós temos 70

alunos. Eles passam alguns meses lá, eles passam por umas disciplinas, no outro mês

eles passam em casa, e aí vem outra turma, que também estuda um mês.

Eles ficam em alternância, aí é tem a alimentação deles, pagamento dos

professores, material de limpeza. Também [...], não existem projetos específicos, só os

recursos do governo federal. Então, fica realmente muito pesado, sem contar com os

probleminhas [...]. Você tem que ter toda uma estrutura para atender esses jovens e,

muitas das vezes, a família não gosta que a filha, a jovem venha estudar; tem mais

concentração de homens. Com esse programa de 5ª a 8ª série, nós queremos coisas

diferentes. Nós queremos cumprir disciplinas ligadas ao meio ambiente, as novas

tecnologias.

A gente tá querendo arrumar parcerias, e também, com a Casa Familiar Rural,

funcionando aqui. A gente paga dois funcionários, combustível, também a gente ajuda;

os técnicos, quem paga é a SEDUC. Agora, aqui, na região não deu muito certo. Só deu

uma turma, até agora tínhamos matriculados 30 e poucos alunos. Eu sei que só

conseguiram concluir 8 alunos, apenas 8 alunos. Foi uma evasão muito grande. E, hoje

para abrir uma nova turma, a gente, não quer abrir sem recursos. Mas, aí, a gente tinha

que fazer uma associação pra adminstrar os problemas internos. E, vendo até o que eles

poderiam requerer recursos, mas aí ela entra em choque com a SEDUC, e aí como é

essa negociação, mas tem previsão pra gente formar pelos uma turma.

Esse é o objetivo pra gente conseguir este ano, pra atender, e eu acho que você

conhece em outros municípios, que também não tem dado muito certo, talvez seja uma

questão da própria administração. Porque tem que reavaliar. O recurso que a gente

recebe, se contar com os instrutores, a própria ajuda da SEMEC, de pessoal, pra apoio

e pra alimentação, eles ajudam. Olha [...], não é viável 08 alunos, 10 alunos, o

município não tem renda, não gera muita renda, não gera muito imposto. Nós temos o

IPTU, mas as pessoas, não têm muita noção para onde vai os recursos, como é

importante pro município, se vai ser investido na educação. Então, essas, são uma das

maiores dificuldades nossas, trabalhar com o número reduzido de alunos, muito pouco.

E aí o recurso que vem não cobre nem o pagamento do professor.

Aí, a questão do multisseriado; a gente não tem ainda uma proposta alternativa,

tem a “escola ativa”, mas a gente vai ver se a gente consegue, ela trabalha com área de

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reserva e assentamento. A “escola ativa”, é uma proposta de classe multisseriada, é

muito interessante. É uma proposta muito boa, e, a gente vai correr atrás com certeza.

Esse ano a gente vai ver se consegue. Seria um projeto financiado pelo MEC. A

maioria das escolas é multisseriada; só em algumas vilas temos 1ª, 2ª, 3ª e 4ª série, é

complicado.

De 5ª e 8ª série não temos, não temos multisseriados, mas temos o EJA, para

zona rural, nós temos o projeto “Tapirí”, que é um projeto que atende vária turmas da

zona rural. Que o professor se desloca da zona urbana até a zona rural por um período

de 10 dias, pra dá aula intensiva. Aí ele retorna e outro professor do ensino

fundamental, EJA assume a turma.

Temos a evasão, a evasão é grande [...], a gente tá controlando, fazendo um

trabalho com supervisores, professores no município em geral; a aprovação [...] por

mais que não é nossa responsabilidade, mas a questão é que devemos correr atrás de

conseguir. É apoio político para implantar mais cursos da universidade. Muita

formação de crédito que nós não temos no município.

Nós temos uma turma de matemática e 02 de Pedagogia, História, Geografia e

Ed. Física. Tem necessidade o impacto da universidade, ela quer que o município

mantenha os professores. Aí, você investe na ed. Infantil, no ensino fundamental e, a

gente dá mais recursos pra universidade pública, que deveria estar aqui sem ônus pro

município. Não que ele não dê ajuda, mas é necessária essa parceria.

Agora com essa questão financeira pra ajudar o professor já é mais difícil. A

gente tá [...], que eles viram lá de cima que é oneroso pra nós. E, também, a própria

universidade, ela é pública, pressupõe, que ela deveria ser pública, porque quem tá

pagando o imposto é o município. O dinheiro que vem do governo federal acaba

retornando pro governo federal. Mas, é uma questão de investimento, aí você não tem

mais recursos suficientes pra investimento.

Aí, você não tem recurso suficiente pra manter as escolas também; fica com

deficiência física. Eu não discuto esta questão da qualidade da importância? É que em

pedagogia, o município paga 300 mil reais, ele deveria investir mais. Eu acho que nós

temos que repensar essa questão de convênio, repensar !

Agora Neila, a gente enfrenta outro probleminha, quanto à questão do curso: a

Ubniversidade é mais difícil de negociar. As negociações, elas têm que estar mais

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restritas a SEMEC. O calendário letivo, ele tem um prazo de 04 anos pra terminar; eles

não querem prorrogar mais o semestre, aí nós enfrentamos a dificuldade, porque nosso

professor, ele tá janeiro, fevereiro e início de março; julho e até 15 de agosto, conta aí

como a gente vamos nos virar no “30”? Como se diz, 300 dias letivos. Aí o professor

trabalha de janeiro a 31 de dezembro! Ele trabalha e estuda, aí fica cansado.

A educação recebida em 2004-2008: defasada, em relação a material

pedagógico, estrutura, Escola do campo sucateada.. Educação nacional é síntese disso.

Turmas não cumprem 75 % dos dias eletivos. Ações devem ser feitas para garantir

aulas de qualidade, sem extrapolar direitos.

Foi investido em formação de professores. Professor Evandro – da UFPA, em

período curto, participou com palestras, discutindo interdisciplinaridade, pesquisa para

educação. As oficinas pedagógicas, de lª a 4ª série, educação infantil. Principais

problemas: leitura e matemática. Assim, a importância de como seria educação em

Uruará. Prevalecer a administração não sob forma de decreto, mas sim com construção.

Sujeitos, calendário, currículo base, escola síntese, com gestores, conduzindo a escola

não com interesses isolados, mas sim, no contexto geral.

O salário de professores: em nível médio: 100 horas, era $ 280,00, em 2007: R

403,00. Nível Superior: Era R$ 430,000, em 2007$ 732.00. Houve certo avanço.

O montante atrasado era de R$ 688 mil. Dividimos em 04 parcelas, mês passado

saiu a primeira, e assim sucessivamente acontecerá. Prioriza: o regime direito do

professor, ele não deve ser lesado.

Empenho na formação do professor leigo. Foi feito levantamento, eram 200 na

comunidade. Quem vai substituir ele?. Comunidades não aceitaram professor de fora.

Acredita no investimento com quadro funcional, fez parceria com La Salle. Formação

do Curso Magistério, com 50 alunos. Meta é valorizar sujeitos do município. Política é

de ver competência, não filosofia política.

São apenas 04 professores supervisores para escolas do campo. Todos eles, em

2007, visitaram pelo menos, duas ou três vezes as escolas. O Transporte é de moto,

com combustível da prefeitura. São 143 escolas no campo, ensino de 1ª a 4ª série,

multisseriadas.

Necessidade da construção da escola do campo, com parcerias. Escola no campo

não tem vida útil. Escola construída, com gado dentro, pastagem, há migração das

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famílias, Foram 36 escolas construídas no período, em parceria com o poder público e

a comunidade. Não se quebra mais porta, parte da construção, é da comunidade. Casos

de denúncia, acabou com a destruição!

Os planos de carreira para o professor, implantado em 1999, vigor até hoje,

adaptação ao FUNDEB. Pagos débito à FADESP/UFPA, de R$ 490.000,00.

Plano de criação do Fórum Diretores da Escola: reuniões mensais, decisões

coletivas. A profª Maria do Carmo, coordenadora pedagógica, reúne com pessoas da

cidade 01 vez por mês. Conselho Municipal de educação não tem. Conselhos Escolares

têm. Sua atuação não é muito ativa.

Existe o Projeto de Redação, elegendo os melhores alunos.

São realizadas as Feiras de Ciência, visando o fomento à pesquisa.

Em relação a Casa familiar Rural de Uruará, estava abanodana em 2004. Agnaldo

é o Presidente. A prefeitura vem subsidiar financiamento da Casa. Ela pode ter vida útil

grande, evitar o êxodo. Há a colaboração numa parte funcional, como pagamento de

professores, vigia, R$ 800,00 para complementação da alimentação, energia, há bom

relacionamento. Até porque o Estado prometeu fazer isso, e nunca fez. Governo Ana

Júlia parece que vai fazer, mas ainda não fez.

Projeto Saberes da Terra, com 67 alunos. , Casa familiar Rural, acolhe o nosso

Projeto Saberes. Procura trabalhar, sem distinção Saberes da Terra e Casa Familiar

Rural. Tenho recebido visitas da Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP),

acredito em parcerias.

Localização: Escola Ângelo Debiase

5. Diretor: Marcelo

Assunto: Educação do campo

Lembranças da memória: O nome da escola Ângelo Debiase: ele foi o primeiro

administrador do município; no próprio histórico do PPP aparece. A escola é uma

escola de bairro que foi construída com o esforço da comunidade, com uma participação

muito forte da comunidade mesmo, começou com duas salas de aulas, e só depois foi

crescendo e hoje é grande.

Ela tem uma estrutura física, eu diria para você, que foi a escola mais planejada do

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município. Ela tem pátio amplo, onde, as crianças podem correr. Ela não é uma escola

cheia de beco. A própria estrutura até favorece o trabalho

Bom, antes de assumir o cargo da direção, eu fui professor da escola durante 03

anos. Na questão da direção, é uma experiência bem diferente da sala de aula, na

direção você tem que trabalhar como um todo, com professor, com supervisor, com

todo mundo é algo, assim, uma experiência muito boa porque você aprende muitas

coisas, consegue ver as coisas de formas mais ampla.

A questão do público que a gente trabalha, é uma experiência gratificante porque é

uma área que a gente trabalha com pessoas carentes e geralmente tem muito mais

necessidades. Você tem que trabalhar com muito mais afeto, com muito mais carinho.

Porque há uma carência não de bens materiais, e sim de afeto, de convivência, de

formação do ser humano.

A experiência é muito gratificante, é muito especial, muito gostosa. Tem os

problemas que você acaba tropeçando no dia-a-dia, mas você vai conseguindo resolver.

É uma experiência muito boa, pelo fato de você está ajudando, contribuindo com a

formação das pessoas que estão aqui dentro, tanto os alunos quanto os professores.

Temos uma faixa de alunos 1.800 alunos. Nós trabalhamos com pré-escola,

ensino fundamental e EJA também, a noite funciona só turma de EJA.

Professores: uma faixa de 36 professores. Eles estão assim tem uma parte que está

em formação e tem uma parte que está formada. Tem, uns 5, só com o magistério.

Formado eu tenho 3, tem uns 28 estudando.

Tem um diretor e, 02 vice-diretor; tem uma formada e a outra está estudando

ainda. O corpo administrativo: tem o secretário que está estudando ainda e quatro

auxiliares. Têm serviços gerais e vigias, porteiro não tem, quem cuida do portão, são os

serviços gerais, são 2 serviços gerais 2 vigias e 3 serventes nos três períodos.

Um problema sério é a questão estrutural, que a gente discute muito, porque a

gente sabe que o ambiente influencia muito no aprendizado da criança.

Nós não tínhamos essa quadra de espore, ela foi construída. Nós conseguimos

mais três salas de aulas no ano passado. São no total 13 salas. A quadra é poliesportiva.

A minha grande preocupação é garantir aula, porque a gente tem uma tarefa

muito maior que em outra escola, pela situação de vida que eles vivem. Quem está

aqui? Porque eu sei que eles vão necessitar disso aqui para sobreviver depois, então a

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gente conseguiu melhorar a questão das aulas. Era um problema, muito sério, pois tinha

poucas aulas. Deu muita briga para que se assegurasse mais aulas.

A gente trabalha também projetos, projetos de sensibilização, de meio ambiente,

de convivência, porque os alunos têm muitas dificuldades de socializar ações com os

outros. Eles são muitos violentos, até mesmo pela formação deles; só falam gritando, aí

tem que tá trabalhando isso pra vê se da uma melhorada.

O ultimo projeto que nós trabalhamos é o de convivência. É sobre os valores

humanos, a própria condição de vida. Eu conseguir fazer uma mudança no quadro de

professor.

A gente recolhe frascos de drogas, tem muito problemas de violência também.

A prostituição com as meninas, tem muito fora, a gente percebe de longe.

Nós temos o Projeto Político Pedagógico, que a gente deu até uma reformulada

nele; temos plano de ação, é o plano mais curto que envolve toda a atividade de escola

na verdade ele está rascunhado, mas está prontinho.

Tem conselho escolar. Acho que você já deve ter ouvido por aí, o conselho

funciona quando chega à verba do PDDE, geralmente não participam muito. A forma de

conduzi-los a gestão, como é a forma de diálogo; às vezes, a gente se reúne para discutir

as idéias.

A gente faz uma geral com todos os funcionários no começo do ano e no meio do

ano e, as reuniões com os professores; é de acordo com as necessidades.

A gente faz a festa junina de todos os anos, tem a festa do dia das mães que a

gente faz todo ano. Participa do desfile cívico. Nestas questões das festividades os

professores participam muito, fiquei até emocionado na festa junina, de ver. Teve muita

participação dos alunos e dos pais.

Desafios

Eu acredito que é melhorar a educação, até pelo que eu já disse, pela função social

que nós temos. Criar na escola um laboratório de informática, que, acredito que vai

ajudar muito os alunos. Melhorar os investimentos.

No final e semana a gente vê a escola cheio de meninos, e quando, a gente vai na

casa deles, eles não tem espaço.

ALUNOS DE URUARÁ

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Ano: 2007

Localização: Uruará/ CASA FAMILIAR RURAL. Km. 185, Lado Sul, Rod.

Transamazônica. Entre Altamira e Abaetetuba

1. Aluno Miguel

Assunto: Educação do campo/Alternância

Lembranças da Memória: A metodologia, assim é muito diferente da que eu

vivia antes, aqui a relação que a gente tem aqui dentro é muito boa. Aqui a gente vê,

assim a relação de aluno e monitor, não é igual à relação que eu tinha lá. Era aluno, e

só obedecia por conta que era professor, era aluno e professor. Aqui a gente tem a

relação de amizade.

Eu sou aluno, o professor é aluno, da mesma forma, eu sou professor, o professor

é aluno; a gente divide os conhecimentos e quando a gente começa a trabalhar e vê que

é diferente, a gente passa a gostar mesmo, é uma força grande pra vida da gente.

Aqui a gente aprende a lutar pelos nossos direitos. Assim, a casa tem os seus

pontos positivos, mas também tem os seus pontos negativos. Porque, é assim, a CFR,

hoje poderia ter se expandido muito, mas só que devido o tipo de metodologia dela

aqui dentro, muitos alunos, eles não gostam e, aqueles que acabam saindo daqui, dizem

que aqui não é lugar para eles e acabam desiludindo outros. Mas, só que eu vejo que

aqui é diferente.

O ponto negativo também é pelo apoio que a gente não tem das parcerias, a

própria prefeitura do município não apóia muito a gente e os outros parceiros também.

Existem esses pontos negativos, mas não por isso a gente deixa de lutar.

A CFR, apesar dela, ter essas dificuldades, ao filho do agricultor se deslocar, lá

da vicinal que ele mora, pra vim pra cá, também são dificuldades, no inverno as

estradas da gente, não são muito boa né, péssima. A gente desloca, vem estuda, porque

a gente sonha, que quem é capaz de mudar a situação somos nós, como agente de

desenvolvimento, porque aqui nós não somos considerados só aquele aluno, mas

agente de desenvolvimento.

Quem vai mudar isso, a realidade de nossa região, somos nós, e se a gente ficar

de braços cruzados, não mover nada, não tem jeito, a gente vai sempre permanecer na

mesma da ir por diante, aqueles que vão vir depois de nós, os nossos netos. A gente

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tem que deixar para eles a realidade, não do jeito que tá, se não, o que a gente vai

deixar pra eles?

Daí a gente sendo capaz de mudar isso, eu tenho certeza que a vida deles não vai

ser melhor, porque o povo tem a dizer, que filho de pobre nasceu pra ser pobre, mas ele

nasceu pra lutar.

A luta faz parte da CFR, aqui dentro, eles passam a conhecer de tudo aqui, ele

passa a conhecer sobre as aulas, passa a conhecer sobre política, sobre lazer, tudo o que

a gente tem de conhecer, os monitores, o próprio projeto tem ele tem que incluir aqui

dentro esse tipo de metodologia. A gente passa a trabalhar aqui dentro e tem muitas

pessoas que acha que estamos errados.

Quando era pra mim vim pra CFR, eu tive muito conselho que não era pra mim

vim. Lá é desse jeito, o aluno só trabalha, lá o aluno não tem suas liberdades, mas pra

pessoa alcançar os objetivos na vida, a pessoa não precisa só de liberdade pra fazer o

que quer. Ele tem que se aprender um pouco, nos estudos, na forma de pensamento, no

próprio tipo de raciocinar, porque vamos ter que raciocinar como gente grande, como

diz o professor. Aí, a gente chega aqui e, fica com aquele medo, aquele medo de lutar,

assim, acho que é difícil a gente conseguir o que quer.

Aqui na CFR, a gente vê a estrutura que a gente tem, então eu acho que a gente

tem mais é que aproveitar, porque antes os meus pais, meus irmãos, eles não teve

condições de estudar como a gente estuda hoje. Naquele tempo, o aluno fazia de 1ª a 4ª

e achava que estava totalmente formado.

Hoje a gente sabe que a 4ª série é apenas o começo, daí a gente vem pra CFR, e

esse começo a gente permanece sempre seguindo. Ai nós vamos continuar com a nossa

batalha, porque nós temos que continuar de verdade, não fingir como muitos fingem,

achando que aqui é lugar de descansar, tirar férias do lote.

Eu acho que é muito diferente aqui o aluno tem que fazer mesmo pra valer,

porque cedo ou mais tarde, se ele sai daqui e ele aprendeu mesmo, ele não vai perder

sua prática de trabalhar, ele vai saber como melhorar o seu produto, ter o seu produto

de qualidade, saber como lutar, como lidar coma as autoridades.

A gente chega aqui, na escola, através dos carros que traz a gente, de lá pra cá, aí

é uma dificuldade, porque lá a gente tem que pagar passagem pra vim pra cá e ai o

preço da passagem é muito alto. A gente vê que, como o aluno rende pro município,

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para o país. A gente deveria ter direito de ser contribuído pela parte deles. A educação,

a gente sabe que vem de lá das autoridades públicas, mas a gente deveria ter mais um

direito, um apoio das nossas autoridades.

Aqui a gente vê as nossas autoridades do município, do Estado, uns lutam para

que isso prossiga, e outros lutam para acabar. Então, se a gente não lutar com aquele

que pensa em não prosseguir, a gente vai fracassar e acaba ficando por baixo, outros

vão subir, aqueles, que quer derrotar a gente e, a gente vai acabar perdendo.

Em relação às aulas, eu sinto que tem algumas aulas que eu não simpatizo muito

com elas. Mas, as aulas que eu mais gosto é a aula de português, matemática, que a

gente precisa muito, pois em qualquer lugar você deve estar fazendo os cálculos. Até

pra ti andar daqui pra lá, para o outro travessão, pra ti fazer a tua roça tem que ter a

matemática. Aqui, a gente trabalha com zootecnia também; sou muito apegado com

isso, e as aulas ambiental que a gente tem.

A gente paga de passagem, do Km. 124, até o 185 Km., R$ 30,00. É R$ 15,00

pra vim e R$ 15,00 pra voltar. E no inverno eles sobem à passagem. No inverno ela vai

para R$ 20,00. Vinte pra ir, e vinte pra voltar, são quarenta. E se a gente não gosta

realmente do que está fazendo. É por isso que tem muitas desistências na escola, a

desistência é muita por conta disso.

Se a gente tivesse um apoio do município, que desse um carro pra vim deixar e

levar os alunos, eu acho que nós tinha um índice de muito alunos na CFR. Mas, só

como eles não querem ver isso muito além, eles não dão tanto apoio, assim.

Ano: 2007

Localização: Uruará/Casa Familiar Rural. Km 185 Sul. Rodov. Transamazônica.

2. Aluno André

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: As aulas mesmo, na minha opinião, pra mim é muito

importante. É muito boa, porque eu moro na roça, e o que eu estou estudando, o que eu

aprendo aqui, eu posso praticar na roça. E pra mim é muito bom, as aulas aqui, porque

se eu tivesse estudando em outra escola nem em casa eu não tava, tinha que ter saído

para estudar.

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Aqui tem pontos negativos, mais nem alguns negativos.

Os pontos positivos: aqui é bom que todos se esforçam, só tem uns que deixam de

fazer alguma coisa e tratam a gente com racismo, mas no meu ponto de vista, isso não

vai me prejudicar agora no momento, pode prejudicar mais tarde, agora no momento,

não me prejudica assim tanto não.

Os instrumentos de ensino, melhor pra mim, dependendo, se eu morasse na

cidade, seria o data show, mas como eu moro na roça é o livro, eu posso ler, posso tirar

informação, é o melhor ponto que eu acho é o livro pra mim. Um instrumento que eu

posso ler, e eu sei o que se trata.

Rapaz! Me esqueci o nome daquele livro! É um livro grosso assim! Nós já

estudamos SAF (Sistema Agro-Florestal), solo, fruticultura, cacauicultura, pimenta do

reino, café, gado, bovinos.

Na aula prática é melhor, até por que na aula teórica, a gente aprende como é que

se diz, a história dela; na aula prática eu to vendo, fazendo e fica bem mais fácil.

Assim, tem o turno da manhã e de tarde. Nós temos aulas até dez da noite. Te

educação física, jogos, o Futssal, handebol, voleibol, futebol.

As meninas de vez em quando elas jogam também, futebol, handebol, elas jogam

também.

A avaliação é feita de vez em quando. Nós tem feito tipo prova, mas é um

diagnóstico.

Os monitores vai muito nas casas. Na minha propriedade eles já foram, foi muitos

monitores. Só a Selma que é formada em letras que não foi ainda, e o Edílson, os

outros monitores todos já passaram por lá, na minha propriedade. Na média é mais de

uma vez ao ano.

Aprendi bem mais aqui! O que mais marca pra mim, assim, é o tema:

cafeicultura, cacau, pimenta do reino, porque é uma coisa que a gente vive na

propriedade.

Eu acho que precisa de um técnico. Tem um agrônomo, mas eu acho que teria

que ter um técnico que comandasse, assim, como nas aulas práticas. Porque, assim,

vem um com uma idéia e ai vem outro com uma idéia diferente e ai atrapalha, eu acho

que deveria ter um técnico que comandasse no geral.

A relação com os colegas é boa. Muitas vezes, alguma avacalhação. Aí, vem

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algum monitor que corrige, depois normaliza tudo de novo.

Localização: Escola Casa Familiar/Uruará

Identificação:

3. Aluno: Ivo

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Nós não sabíamos fazer quase nada, daí entramos na

casa e já pegou uma base de cortar muda de pimenta, porque antes eu não sabia cortar,

agora sim.

Eu sempre fui brincalhão, só tinha um meio mais cismado, tinha que ser assim

mesmo, porque eu era muito bagunceiro. Eu dava muito trabalho, na fase da

adolescência.

Vale a pena não fazer prova. Quero terminar de estudar! Continuaria nesse

sistema, ficaria, porque nós aprendemos ali.

Lá no lote, nós só temos pimenta e o resto é só capim. O horário da roça é das 8

até as 12, das 14 até as 18 horas. Meu pai me ensina tudo

CAMPONESES AGRICULTORES DE URUARÁ

Ano: 2007

Localização: Uruará/Vicinal do Km. 140 Norte, Rodovia Transamazônica.

Identificação: 1. Colono Rui

Assunto: Educação do campo/Transporte/Estradas Vicinais da Transamazônica/

Política Educacional.

Lembranças da Memória: Quase todo o pessoal do travessão tem muita

história, mas, muitos ficam em sigilo, porque é muita perigosa nessa região. É o 140

norte.

A dificuldade é sobre o transporte, o transporte é muito difícil, é muito caro. O

carro da linha que faz a linha, e cobra muito caro, R$ 35,00 reais, para ir e vir. Então o

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povo reclama, mais não tem jeito.

Nós anda pela estrada dos madeireiros, porque é muito ruim pelo travesssão.

Essa estrada dos Madeireiros é ao lado, a vicinal mesmo, é péssima. O prefeito não tem

acesso nenhum com as estradas, mais é com os votos, ele tem acesso mais é com isso.

No ano político ele entra fazendo promessa e as pessoas cobra, aí ele diz que faz.

Ninguém sabe o que é o certo ou errado, aí o povo continua sofrendo.

As dificuldades da professora, é que lá dentro ela fica estressada, é que criança

tem que ter supervisor direto nas escolas. E também, a escola é muito péssima.

Através dessas coisa, que acontece lá [...], é, a escola do campo, a água é poluída,

as crianças pegam com um calote. E vão pegar com um 300m de distância, descendo

uma ladeira, onde tem toco, pasto, então é perigoso.

Então a professora acha muito difícil. A gente cobra do prefeito e dos vereadores.

Ele [...] só diz que vai arrumar, mas a gente não sabe quando isso. Ai ela fica estressada

porque falta muita coisa.

Vai merenda, só que é muito pouquinho, eles dá a merenda pra passar um mês

que eles fala, mas só dá para uma semana. Esse dinheiro, essa merenda, eu acho que ela

é desviada, porque não chega o total certo.

A escola é péssima, de madeira. O poço não existe, poço não tem. A escola tem

que fazer uma nova reforma e não fizeram ainda, cercar, e tudo, por causas dos gados.

A Escola é a Nova Esperança. Já veio muitas pessoas lá, a mando do prefeito, que

diz que vai botar placa solar e tudo. Aí pede pra gente assinar, projetos, ele ganha

dinheiro ai; eu acho com o nome da escola. E, a gente não vê essas coisas. Aí é muito

difícil.

Agora com essa luz para todos do presidente, foi o melhor plano de governo que

ele já fez em todo o trabalho dele. Então foi o melhor plano para todos nós. Ainda não

chegou, mas a esperança é a ultima que morre, espero que essa energia possa iluminar

cada casa que vive no escuro e que possa iluminar a todos.

A escola é de 1ª a 4ª série. Não tem, assim, para adultos, tem um horário só.

Ano: 2007

Localização: Escola Tiradentes/Uruará

1. Técnicos de Instituições: Sâmara

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Assunto: Política Agrária/Colonização/política ambiental/desenvolvimento

sustentável/educação do campo

Lembranças da Memória: Eu sou engenheira agrônoma do INCRA. Hoje estou

como perita federal agrária. Trabalho há 18 anos no INCRA, e iniciei minhas

atividades exatamente na fase da implantação da Transamazônica. E pra mim, é uma

satisfação estar podendo colaborar neste projeto; e o que for possível, nós vamos

agregar algumas informações, pelo que a gente conhece.

Bom, a Transamazônica, como todo mundo já sabe, ela foi um grande projeto

criado pelo governo federal nos anos 1970. E, foi implementado exatamente em 1971,

e com o objetivo de ocupar o espaço demográfico na região norte e com grande

abrangência no Estado do Pará.

E, com o intuito de desenvolver aquela região, e ao mesmo tempo de evitar uma

ocupação coordenada, ou talvez, a interferência de países estrangeiros, que tinham

cobiça por aquela região também. Então, foi criado um programa chamado

Colonização Oficial e, que, também trouxe um contingente muito grande de famílias de

outros Estados, de outras regiões, a onde o espaço demográfico já estava bastante

ocupado.

E que, foram oferecidos aquelas, condições básicas, além de terra, as condições

básicas de alimentação, de remédios, transporte, de assistência técnica e outros apoios

básicos, para sua implementação. E, iniciou sua parte produtiva também.

Esse projeto se desenvolveu no inicio de uma forma bastante interessante, de uma

forma, como extensão do INCRA. E, outros organismos, que participaram direta e

indiretamente no processo. E, essa ocupação, ela teve como principal objetivo a

ocupação deste espaço, de maneira ordenada. E, como já falei anteriormente, foram

criadas as vicinais na Transamazônica, distribuídas de maneira quase que uniforme,

nessa grande extensão, cortando o Pará, de leste a oeste.

E, essas vicinais eram distribuídas mais ou menos de 5 em 5 km, distribuídas em

glebas nas margens da transamazônica. Isso pode se ver facilmente nos mapas do

Estado, é possível ver essa forma, essa organização que estabelecida, esse

estabelecimento dessa forma espacial.

Ela no futuro trouxe alguns problemas, na verdade ela estabeleceu uma

organização espacial que não observou alguns critérios de distribuição, de módulos,

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distribuição da rede hidrográfica, a distribuição do relevo. E, principalmente, a

intercomunicação entre as vicinais, de modo que o povo tinha que sair da sua vicinal e

pegar, a via principal, que era a Transamazônica, para percorrer a vicinal.

Essa foi uma das coisas que complicou, na questão do acesso, mais teve outras

complicações ainda, que praticamente estão sendo superadas depois. Mas, dentro da

questão produtiva nós tivemos um resultado bastante importante, no desenvolvimento

da região, da transamazônica, das famílias que passaram a fazer parte de um processo

produtivo, mas que foi um projeto pré-concebido pelos técnicos, pelo serviço militar da

época.

É pré-concebido, e fizeram, sem observar alguns fatores importantes: de

participação das famílias, da discussão de ver a questão do espaço social, de tudo

aquilo que envolvia o desdobramento, que aquele projeto teria que observar durante o

seu desenvolvimento, mas a própria comunidade que se desenvolveram, a partir dessa

organização, elas tiveram a capacidade de enxergar isso. E, daí, mais ou menos, duas

décadas, é um tempo bastante longo, mas isso felizmente, essas organizações elas

puderam estar participando de um novo enfoque na questão da educação, na questão

dos programas sociais, e passaram a ter uma reação com relação ao que eles queriam.

Esse quadro foi mudando conforme o país.

Nós tivemos um processo democrático mais avançado, onde as organizações dos

agricultores tiveram, e estão tendo oportunidade de participar do processo de

construção. E agora, a gente tá vendo que esse processo de construção, ele teve muitos

resultados positivos. E, aqueles que não foi possível o processo de colonização,

alcança-se as organizações, estão buscando isso, agora com a participação da própria

UFPA. Que tem vários estudos envolvidos, várias organizações não governamentais, os

sindicatos, as associações, todas as prefeituras municipais que também dentro da sua

própria história, que em função que os municípios da transamazônica surgiram a partir

da colonização, a administração municipal, ela tem uma inserção dentro do processo

atual.

Então, eu considero a Casa da Família Rural, essa, foi, digamos, um desses

resultados interessantes, na organização comunitária. E, digamos assim, na adaptação

do programa de colonização do INCRA para os dias atuais. Então, após a Casa da

Família Rural, ela tende a ter um avanço, uma adaptação muito grande, não só na

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Transamazônica, mas fora dela, com uma boa referência.

Porque, para que o ensino seja adequado, a sua realidade econômica e social, ele

pensa pra dar retorno social, econômico e qualificar a mão-de-obra daquele local, para

que ela possa trazer resultados para o seu município. Então um dos grandes resultados

foi a Casa Familiar Rural.

E, esse resultado, muito interessante, foi a criação de novos municípios, com

exceção de Altamira, Itaituba, todos, os outros municípios, como: Anapú, Pacajá,

Uruará, Medicilândia, Brasil Novo, Rurópolis, [...], enfim essas aglomerações que

surgiram a partir das Agrópolis – que eram as antigas sedes do INCRA. Sedes

avançadas, e foi um dos melhores resultados que foi a colonização [...].

Só que essa colonização passou por uma fase ruim, a grandiosidade do projeto

teve os recursos, teve a mão-de-obra, teve os equipamentos, veículos e recursos

financeiros, participação dos parceiros. Estagnou o programa [...], até início dos anos

80, foram tendo uma desaceleração. Porque, digamos assim, dentro de um grau de

importância acabou a colonização.

Segundo critérios que o INCRA adotou a colonização, ela estava consolidada,

mas, essa era uma consolidação teórica de Colonização na Transamazônica, dando via

para um novo programa, o Programa Nacional de Reforma Agrária. Mas, sob outro

enfoque de reestruturação fundiária, dando vez a essa desapropriação, e essas

desapropriações elas tiveram enfoques em terras improdutivas. Para desapropriações e

assentamentos de novas famílias, elevando essas famílias para um novo processo

produtivo de pequenos produtores rurais.

Então, esse programa que está ainda em andamento, digamos assim, dentro desse

enfoque, precisa todo um processo de reestruturação fundiária e de dar fim da gestão

do latifundiário improdutivo. Ele acabou sombreando o processo da colonização social,

e que, de alguma forma, o governo ainda está devendo. Porque a colonização social,

muitas políticas públicas que deixaram de ser implementadas, porque nessa área, até

então, o INCRA era capaz de fazer tudo, com recursos, com equipamentos, com

pessoal, era capaz de fazer tudo; mas essa foi uma moldagem que vivia na época.

Agora não, nós precisamos que a Transamazônica tivesse uma colonização

efetiva, tivesse com sua economia efetivada, de auto-gestão, com um processo

produtivo bastante consolidado, com uma comercialização da organização da

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produção, com assistência técnica, com um processo de educação já avançado, que o

projeto tinha que dar, avançando no seu processo de consolidação. Mas, infelizmente,

não tivemos todas essas etapas atendida, então, a Transamazônica ficou como o projeto

de implementação bastante prejudicado.

Não fosse essa mudança de processo da própria sociedade organizada, onde

outros parceiros chegaram, e a sociedade de alguma forma tentando levar programas,

levam políticas públicas. Isso deu uma condição digamos assim, que pode assim

minimizar os problemas.

O INCRA continuou sozinho implementando um projeto dessa magnitude, que

precisava de modificações, uma dinâmica que o projeto exigia, uma dinâmica que nós

temos que ter nesse projeto, que não teve isso, e teve problemas na sua implantação,

como essa minimização que eu já falei. E, pra isso que, nós pudéssemos diminuir esses

impactos negativos da colonização social nessa região, mas os parceiros do INCRA,

lançaram mãos de levar um novo programa para a Transamazônica de reforma agrária.

Só a partir dos meados de 85, foram criados alguns assentamentos ao longo da

Transamazônica, em locais que tinham o problema de conflito, ou problema de

demanda reprimida.

Na questão do desenvolvimento rural, foram criados alguns assentamentos, que

de alguma forma, trazem esses resgates, daquele trabalho de colonização que o INCRA

paralisou, Mas isso, naturalmente, não resolveu a questão fundiária, principalmente, a

questão da colonização fundiária. Não precisava se consolidar assim, e se buscou esses

programas, essas políticas públicas, para que se efetive definitivamente a colonização

social.

E, passamos a dizer, que ela está consolidada, que as famílias têm condições de

auto-gestão, que elas estão inseridas no processo rural sustentável. Isso é necessário

ainda, para que a Transamazônica possa se desenvolver.

Como o INCRA não fez, não tem dado essa atuação efetiva, é preciso se

encontrar esse caminho, e solucionar essas grandes questões na Transamazônica.

Agora, uma questão fundamental, é a questão de infra-estrutura física, que não se

consolidou, mas que de alguma forma está sendo buscada através do asfalto.

Sendo este uma das formas, mas existem diversas formas, e outras demandas para

serem atendidas [...]. Mas, eu considero que, quem segurou a peteca e não deixou cair,

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durante essas crises, foram exatamente às comunidades, foi à sociedade.

A Transamazônica é uma coisa maravilhosa, são aquelas famílias tradicionais,

aquelas que vieram de fora, que se estabeleceram, que são paraenses, até por adoção.

Que acreditam, acreditaram na Transamazônica e que continuam lutando por ela. Então

essa é uma, é um cenário que a gente encontra; uma esperança que ela vai ter sim, uma

consolidação! Ela vai ser considerada como eixo importante não do Para, mas do

Brasil.

E, os governos olharem a Transamazônica com essa visão, com enfoque do

desenvolvimento, e ela não será marginalizada. E, as pessoas que acharem que é uma

coisa sem importância, o volume de produção que se tem na Transamazônica, a

importância que ela tem digamos assim, para o equilíbrio dos conflitos fundiários no

Estado do Pará é muito grande.

E, ela precisa ser vista com essa visão, de ser entendida assim! O projeto de

assentamento SURUBIM, ele foi concebido dentro dessa área de desapropriação, em

uma área de desapropriação na Transamazônica. Já foi concebido com esse novo

enfoque, agora tem outros assentamentos que foram criados em terras públicas,

URUARÁ. No município de Uruará, os projetos de Tutuí do Norte, e Rio do Peixe, em

área de licitação, alienada; Tivemos o projeto Uirapuru, do Uirapuru, essas foram

dentro de terras públicas.

Ano: 2007

Localização: Comissão da Lavoura Cacaueira –CEPLAC/Uruará

Identificação: 2. Técnico de Instituição Dário

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: A CEPLAC de Uruará desenvolve um trabalho amplo na

parte de extensão rural, onde se inclui a diversificação de culturas.

Anteriormente a CEPLAC dava prioridade para a lavoura cacaueira, depois

necessidades foram surgindo, a CEPLAC passou a entrar na área de diversificação,

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onde se trabalhou com algumas associações e cooperativas.

Até mesmo pelo quadro de defasagem de recursos humanos, a CEPLAC

procurou buscar recursos através de convênios e parcerias na questão de aproveitar os

profissionais das próprias secretarias municipais de agricultura. Em função disso, hoje,

nós temos um quadro de 04 profissionais no município de Uruará. Dentre eles, 02 são

do contrato e parceria técnica entre prefeitura e CEPLAC.

Hoje a nossa maior preocupação é em relação à expansão da cacauicultura,

porque nós temos a consciência de que o cacau é uma lavoura preservacionista. Então

se tratando do que seria uma cultura de ciclo longo, nós resolvemos introduzir novas

espécies florestais, espécies essas já adaptadas em nossas regiões. Com isso estamos

devolvendo ao solo uma característica natural de uma mata, pelo menos aproximar de

uma característica natural de mata virgem.

Então nessa plantação de cacau, nós adotamos a implantação em sistema

agroflorestal. Nesse sistema, nós temos várias espécies, tais como o mogno, a

Andiroba, Frejó, Cedro, o Cumaru, a Tatajuba e demais espécies, isso para que tenha se

formar um habitat natural.

Nós vemos essa alternativa para a nossa região sem nenhuma dúvida do

sucesso, e até para a melhoria do bem estar social. Dizemos isso porque temos

conhecimento que o cacau é uma lavoura que gera muito emprego.

LIDERANÇAS DO CAMPO/MOVIMENTO SOCIAL DA TRANSAMAZÔNICA

Ano: 2007

Localização: Uruará. Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e

Xingu.

1. Líder: Expedito

Assunto: Educação do campo/Política Fundiária e Agrária/ desenvolvimento

sustentável/Agroecologia/História Local e da Educação

Lembranças da Memória: Aqui nós temos 54 subprojetos, que nós discutimos

neste período, nessas conferências, onde se destacam projetos. Naquela época, a

energia de Uruará era de motor, que, funcionava apenas 6 horas; começava às 19h,

aliás, era menos de 6 horas, pois era das 19 às 24h.

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Essa foi, a primeira luta, a União para a Transamazônica. Com a proposta de

energia de alta demanda para o crescimento municipal, não só de Uruará. Já

começamos a debater nossa preferência na questão regional, pegando Santarém,

Itaituba, Oeste do Pará. O primeiro ponto ficou a energia para Uruará, o segundo, seria

a questão da formação dos agricultores e para a primeira discussão, a Criação da Casa

Familiar Rural, aqui no município. Este é o segundo subprojeto de destaque.

O terceiro subprojeto seria a criação de assentamentos, para assentar famílias

que não tinham terras no município. E o quarto subprojeto é o melhoramento do

mercado municipal, ampliando-o para que funcionasse dentro, a Feira do Produtor

Rural.

Estes são os quatro destaques, dos 54 subprojetos para Uruará.

Nós reunimos em Uruará, com todo o movimento para o Desenvolvimento da

Transamazônica. Naquela época, era o Movimento pela Sobrevivência da

Transamazônica –MPST –, e nós partimos para cima do governo do Estado, para o

governo Federal em 1996.

Nessa época não era mais o líder comunitário, era o Presidente do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais, a partir de 06/02/1996. Por 05 anos, fui eleito, e, reeleito, por 02

vezes. Minha participação era ativa, nas conferências, seminários. Era o que mais dava

opinião, o que mais fazia propostas, então acharam por bem (Paulo Medeiros e o

Raimundo Cabeludo que trabalharam em Curionópolis, até meu pai) eu aceitar.

Quando eu vim para a assembléia sindical, a chapa já estava pronta e eu não

tinha como não concorrer. Porque tinha 180 pessoas nessa assembléia, e todos estavam

querendo que eu fosse presidente e eu tive que aceitar.

Partimos para a prática desse processo, e a nossa primeira fase foi a conquista

dessa energia; que nós fomos para Belém e para Tucuruí. O exército não deixou que

nós passássemos para Belém. Até saiu no jornal que íamos fazer um colapso no sistema

elétrico de Tucuruí, mas o nosso objetivo não era esse e nos unimos com a região de

Cametá, Transamazônica, Sul do Pará, e a nossa conquista foi o linhão para a região da

Transamazônia e oeste do Pará. Já amenizou o problema da energia urbana. O processo

de energia rural é outra briga que compramos.

A segunda conquista, que eu considero, foi a criação dos assentamentos rurais,

Além da transação oficial, nós tínhamos muitas famílias ocupando áreas irregulares.

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Então parte desses assentamentos foi para regularizar essas famílias, que há 10 ou 15

anos já moravam lá. O processo de criação desses assentamentos se deu desde 96 e

início de 97, encerrando em 2000.

Ficamos com 05 projetos de assentamentos em Uruará, onde envolve

diretamente mais de 400 famílias. Nesses 05 projetos, além de uma ocupação da

fazenda Pedra Roxa, no Travessão do Km.140 Sul, os trabalhadores das fazendas,

acabaram dando a terra como improdutiva. E, os documentos, souberam que era ilegal,

e tem outro grupo de empresários rurais querendo ficar com a fazenda.

Se organizaram, e ocuparam essa fazenda e rola o processo na justiça até hoje;

mas o pessoal já está vivendo da produção do cacau, arroz, feijão, milho, suas criações

de pequenos animais; só estão esperando o resultado da justiça para o parecer favorável

que consideram quase certo.

Voltando a questão fundiára, outra questão, desse mesmo período da criação

dos assentamentos, foi o zoneamento agroecológico do município. Esse projeto está em

poder da SUDAN e da EMBRAPA, nós precisamos buscar isso para o município,

temos que atualizar esse processo de zoneamento. Então, dentro da organização

fundiária, acho que esse foi um ponto importante que tivemos, na época.

A terceira conquista importante, foi, a construção da Casa Familiar Rural, que é

um dos subprojetos que nós elaboramos. Embora não funcione da forma que deveria, já

está iniciada no município. É um grande passo para o município, e agora é só melhorar

e ampliar a forma de funcionamento. Já está na cabeça de muita gente, de que isso, é

conscientizar a pessoa do processo e já está bem trabalhado, agora depende das

autoridades que estão na frente do poder público, tanto municipal, quanto estadual para

fazer isso funcionar direito.

Tem uma discussão com a Casa Familiar Rural, independente, que está

esperando a resposta do Governo do Estado, pois, é sua obrigação ajudar nisso. Há até

um impasse, pois querem investir no projeto, mas o problema é de quem gerenciará o

projeto.

Isso está bem discutido através do projeto do BNDES, para ajudar a articular

toda essa negociação. Se esse projeto é de mais de 10 milhões, não é só para Uruará,

mas para a região norte, aliás, para todo o Estado do Pará. A ampliação das casas, o

BNDES banca a estrutura e o governo do Estado, banca o funcionamento. Então, quer

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dizer que nós teríamos o projeto ideal que nós precisamos aqui, dentro do sistema

amazônico, o estudo voltado para a educação. E, acho que tem que ser mudado para a

questão amazônica. Nós temos o sistema tradicional de outro estado que não é

adequado para a região da Amazônia. Falando nisso, nós pensamos nesse projeto dado

na formação dos agricultores, por que vamos fazer a separação, eu sou do estado de

Minas, se meus avós tivessem pensado em um projeto alternativo em meu Estado, há,

80 anos passados, nós não precisaríamos estar aqui, porque tinha como sobreviver lá.

Mas, se nós, não pensamos em projeto alternativo, nossos bisnetos não terão para onde

correr mais; então nós temos que começar a pensar hoje para um futuro. É dentro dessa

estratégia que nós estamos pensando.

Toda a questão da formação, já conversei com o pessoal dos assentamentos,

tudo é ligado de uma forma ou de outra. A questão da aprendizagem rural, nós estamos

tentando evitar o êxodo rural. As pessoas com mais conhecimento, terá melhor

condição de permanecer em sua propriedade. Além disso, nós estamos discutindo o

novo modelo de assistência técnica para a região, isso é a nível regional do

desenvolvimento da Amazônia em Xingu, o MDTX. Nós estamos pensando que

através dessa organização, nós estaremos ligados com eles em tradicional, mas que seja

um sistema de extensão rural, que venha a capacitar o agricultor a aproveitar bem, não

só durante o desmatamento espontâneo, mas pouco que ele fazer produzir condições

para ele sobreviver. A estratégia é de não degradar muito o meio ambiente.

Na questão do campo, da formação, esse é a que considero que nós avançamos

muito nesses últimos 07 anos.

O mercado municipal, a feira do produtor, que eu disse que era um dos 5

projetos do Projeto de Desenvolvimento de Uruará. Então eu considero que o mercado

municipal estava muito desorganizado, precisávamos primeiro ampliar, melhorar a

estrutura. Pelo qual, conseguimos através desse movimento da Transamazônica

negociar junto ao governo federal.

Outro marco, que na época, aliás, hoje é infra-estrutura que foi liberado. Como

Uruará tinha um plano que era o PGDU e se o município tivesse um plano, tinha direito

a esse projeto de investimento para a prefeitura trabalhar. E nós conseguimos este

projeto que foi a ampliação do mercado municipal e que foi a construção da Casa

Familiar Rural, até então, são esses projetos que nós estamos negociando. Se fosse

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apenas o modelo de avaliação, nós pressionamos o governo federal e o estadual para

que a coisa pudesse andar, e nós conseguirmos avançar nesse processo.

Em 2000, veio a eleição para vereador e eu já estava com esses processos

encaminhados e alguns já tinham sido concretizadas. Uma parcela do meu trabalho

como vereador foi tentar segurar isso que nós iniciamos nesse período. Não quero fugir

dessa estratégia porque meu objetivo é esse.

Hoje, já estou partindo mais para o outro lado de organizar a sociedade

interessada em participar desse processo, porque uma coisa é ser um parlamentar, outra

são as pessoas usarem o mandato de parlamentar. Que é complicado das outras pessoas

saberem usar esse mandato. E qual processo que já estão fazendo, a prioridade foi

organizar as associações de bairro aqui dentro da cidade, para ter a participação da

administração pública desse município.

Porque esse prefeito que estava, não gostava de discutir com a sociedade. O

desenvolvimento do município e as pessoas ficam fora, porque estão desorganizadas.

Então, seria esse modelo para organizar as associações de bairro; que já temos até o

estatuto. A nossa primeira associação de bairro fundada no município de Uruará, e nós

estamos voltados a organizar todo o trecho de antigamente, mais a baixada aqui da

cidade; de dividir em 3 bairros, que já tem um bairro que, até já foi aprovado o projeto

na câmara municipal, que eu apresentei, já foi sancionado pelo prefeito e já tem mais

dois associados que vão ser formados agora.

No dia 26 de julho de 2002, a primeira cooperativa de desenvolvimento

sustentável do município de Uruará, foi formada, no núcleo do km 201, nesse

município. Pegando 06 vicinais, e além dos 15 km. da faixa. Do km 195 ao km 13, que

é o núcleo do km 201. Vai ser a primeira cooperativa mista de desenvolvimento

sustentável do município de Uruará. Teve até a participação do Sibá e vai levar mais

esse trabalho que nós estamos fazendo lá.

Fui vereador, presidente do conselho municipal de desenvolvimento rural

sustentável, então eu tive uma tarefa parlamentar, de organizar isto, esse processo dos

agricultores. Deixar algumas coisas organizadas para o pessoal tocar para a frente.

Porque é muito complicado, o que nós mais perdemos na região, é que o povo não sabe

usar os mandatos, nem dos prefeitos, nem dos vereadores, esse é o problema e já tem

que organizar o povo.

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Nós temos hoje dentro do setor da agricultura familiar de Uruará 70% do

pessoal estão dentro das associações, nós temos essa vantagem. Se eu disser, que nós

temos hoje 50 mil habitantes em Uruará; 72% são agricultores e moram na roça,

desses, 72%, nós temos 90% que são agricultores familiares. Apenas 10% estão ligados

ao setor patronal, o empresariado rural.

Nas discussões que nós estamos dizendo, esse é o município que no mundo com

quase 4 milhões de habitantes, 72% dessa população na área rural, é bem significativa.

Então é isso que ainda me anima a estar na frente a estar na frente do Conselho de

Desenvolvimento Rural Sustentável.

O conselho é composto de 22 membros do conselho municipal, desses 22, 11

são governamentais (CEPLAC, EMATER, EMBRAPA, INCRA, BANCO DO

BRASIL, SEMEC, AS SECRETARIAS DE CULTURA E DE SAÚDE) e 11. È 02

anos de mandato.

Se você tiver uma idéia: em Uruará, nós temos, cerca de 20 associações de

agricultura e 03 cooperativas. Nós temos a cooperativa de núcleo 201, que é a que está

sendo formada, a COMDS - Cooperativa Mista de Desenvolvimento Sustentável e tem

a CANO – Cooperativa do Núcleo 209/Sul. Ela é de aproveitamento das madeiras nas

propriedades agricultoras. Ela foi feita mais para aproveitar a madeira que perdem na

roça. Já tem, até um projeto aproveitado na secretaria do meio ambiente, parece que é

350 mil dólares, para montar tipo uma serraria móvel para trabalhar nas propriedades

agricultoras. Semana é numa propriedade e, na outra semana, é outra propriedade, sem

fazer a degradação ambiental. Isso é uma experiência que já é até real nesse processo, e

tem a cooperativa que é a Cooperativa do Vale de Uruará.

Nós temos 02 cooperativas do mesmo modelo e uma tradicional. No Ipiranga, é

a SAVI – Associação de Agricultura do Ipiranga.

Tem poucos dados do município, nós temos poucos. Em Uruará, uma coisa que

é complicada, nós conseguirmos, independente da crise política que temos no

município. Mas, nós discutimos é o plano de Uruará, o objetivo de desenvolvimento e

município consegue soltar todo sindicato, toda a associação e todo o poder público, aos

órgãos governamentais e não governamentais, consegue sentar todo mundo, em torno

de uma mesa, para discutir o plano do município. Na campanha política não, cada um

se vira para o lado que bem puder. Agora, só que na hora de sentar pra discutir o plano

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do município, é diferente dos outros municípios, pois não conseguem fazer isso, mas

Uruará consegue.

Temos nossas divergências partidárias, mas, na hora de discutir a questão do

município, é diferente.

O sindicato aqui, se reúne uma vez por ano. Agora do conselho, normal, é de 30

em 30 dias. Não tem dia marcado, o presidente quando vê a necessidade da reunião do

conselho, manda o convite para os membros, e o conselho se reúne.

Na verdade o que está na Lei que foi feita pelo município ele só é consultivo,

mas na prática, ele é deliberativo. O que a lei permite, a lei municipal inclusive, eu

estou até coloquei ementa nessa lei.

Vamos a um exemplo: Na questão dos créditos, quando é para pedir são 15

associações para pegar os créditos, por exemplo, do FNO vai dividir entre as vezes é a

demanda 300 projetos , são 300 pessoas como é que faz para fazer então? O conselho é

quem delibera para quem e quanto vai ser, então nesse ponto o conselho tem o caráter

deliberativo. Na questão dos tratores, são 2 tratores de esteira, que serve para o trabalho

de mecanização de pequenas áreas de agricultores. Então está discutindo, se é 200

horas, no período de um ano. Quem diz como vai ser feito é o Conselho. Então, nesse

ponto é de caráter deliberativo.

O preparo da área tem sido mais dos agricultores mesmo. Tem trabalhado desde

o ano passado, foi feito o trabalho efetivo desses tratores. Foram usados, mas em

questão de represas, cercas, nesse lado. Porque o pessoal tem muita carência na questão

da água, às vezes, na propriedade, é a necessidade de pegar nas represas deles, nas

propriedades por causa do gado, das criações do pessoal. Alguns eram usados só 20

horas para cada agricultor e as vezes o restante das horas faziam o que?

Nós estamos discutindo, agora, para usar esses tratores, para a mecanização de

áreas para o plantio: de arroz, feijão, milho. Estão tratando de pensar em discutir um

projeto, até o próprio BASA já admite dentro do próprio FNO, é o PRÓ-RURAL tira

parcela do projeto para investir na questão da implantação das futuras lavouras do

arroz, milho e feijão, nas áreas mecanizadas. Pequenas áreas mecanizadas. E o Banco

do Brasil está propondo isso, falta apenas nós fecharmos acordos que já estão

totalmente fechados de forma que nós temos medo de fechar os acordos e depois dar

prejuízo para os colonos, então precisa ser bem analisado, bem trabalhado.

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Nós temos duas experiências, aliás, três, aqui no município de Uruará. Nós

temos a primeira experiência que é um PDA – PLANO DESENVOLVIMENTO DA

AMAZÔNIA, que pega o trecho do Km. 209 ao 213; então fica longe de Uruará. No

segundo projeto, que é do Km. 195 ao 201, que é a criação de piscicultura, apicultura e

recuperação dos mananciais. Então, é aí que entra esse primeiro PDA, que eu falei, até

o 213; mas, é recuperação das áreas degradadas e a questão da cobertura com

leguminosas que também muito importante. E esses projetos? Já vencemos os onze

anos, e se está trabalhando!

Nós temos um outro projeto: Roça sem queimar, que é um projeto importante,

esse tem na roça do sindicalista Raimundo Cabeludo, no Km. 170. É uma ótima

negociação do ministério.

Eu posso pelo movimento MDTX, que é a nossa linha de apresentação, assim

nós queremos todos os parlamentares. É o Movimento pelo Desenvolvimento da

Transamazônica e Xingu. Ele é o substituto do MPST5. É quem apresenta todas essas

propostas nas brigas e negociações. Assim é quem articula para levar de 3.000 a 4.000

famílias para perto do governo para negociar isso ai.

O Projeto Roça Sem Queimar existe plantio de: pimenta do reino, cacau, café, e

sempre vêm associados com Mogno e Asteca6.

Nós derrubamos nos meses de novembro, e este ano, vamos derrubar a roça do

projeto em novembro, colocar e as roças. Passa um ano nessa derrubada, e joga no

meio delas, que é a terra preta e, ela já joga, derruba tudo em cima.

Então essa mistura preta é viscosa e cobre todas as árvores, o que tem ali da

derrubada, ela cobre tudo. Então passa o inverno, e quando passa o verão, e inicia o

inverno do outro ano, é que é o tempo de entrar lá com a motosserra, o machado, o

facão e com a foice para triturar novamente. É aí, que o cabloco vai lá, e chama de

rebaixamento. O que tem que plantar lá, é um negócio de bastante dificuldade, mas

precisa de quem nos defenda. Vai triturar, aí espera, já pode trabalhar, já está tudo

apodrecendo, já está na época.

5 Movimento pela Sobrevivência da Transamazônica.6 È uma qualidade de árvore até americana, é ela que estão implantando na região. Além disso, tem outro tipo de árvore que nessa roça sem queimar tem que ficar algumas árvores que vão se tornar árvores nobres Futuramente têm que ficar em pé no meio da plantação. Nós não obedecíamos muito isso, no início, sabe! Porque muitos sabiam do dinheiro que ia cair na conta, mas, algumas roças têm.

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Não tive a experiência da produtividade ainda. Talvez essa nem seja a

experiência ideal, nós vamos testando até chegar.

Nós temos uma tarefa muito grande que é o trabalho de conscientizar as pessoas

do município que está partindo do trabalho do conselho, que nós só temos discutido,

mas não fomos muito longe, é a questão dos alimentos. Hoje há uma grande produção

de tomates no município de forma tradicional. Só que nós estamos notando que nós

estamos usando muito veneno, muita mistura aqui na região, não é muita vantagem,

porque nós estamos em uma região com clima muito quente, às vezes úmido demais às

vezes quente demais, diferente do sul e do sudeste, e além de trazer as conseqüências e

danos ambientais, também às pessoas, para a vida humana.

O pessoal está planejando fazer um trabalho de conscientização ao uso de

agrotóxicos que é outra parcela, um trabalha diferente desse da roça sem queimar, tem

que planejar como nós vamos trabalhar isto, porque o pessoal já está acostumado à

forma tradicional de trabalho, e acredito que só através das conversas que tem

acontecido aqui é que as pessoas podem notar essa necessidade. Exemplo: Nós temos

aqui em Uruará, o pessoal que não é acostumado a vacinar o rebanho, mas não tinha

quem fizesse, o pessoal dizia que tratava com sabugo de milho queimado, com sal

torrado, foi que de 95 a 98, eles começaram a adoecer com tumores no corpo, dores de

barriga e outras doenças. Foi quando começaram a trabalhar essa questão do

melhoramento do animal, com as vacinas, melhoraram de pastagens, e tem a questão

do uso do sal mineral.

E nós estamos tendo um pessoal que está tendo conseqüências que foram

causados pela carne dos próprios animais criados aqui pela região. Nos últimos 7 anos,

nós estamos vendo um povo mais sadio em vista daquele sistema passado, então agora,

é obrigatório a vacinação e nós temos hoje talvez 99% do povo do município

vacinando o seu rebanho. Que é uma coisa que, para nós de uma área de médio risco de

febre aftosa, estamos bem avançados nessa questão de organização da conscientização

dos agricultores.

Se nós pegamos as coisas para fazer, dar certo, se for fazer política pública,

estamos vendo ,um avanço, as pessoas querendo contribuir, há a preocupação da

sociedade, mas o que está faltando aqui é o trabalho de conscientização, e até porque a

nossa formação não está adequada para a realidade da nossa região e nós temos que

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melhorar.

Nós, o dirigente sindical da região, dos movimentos sociais, tem que melhorar

os nossos conhecimentos técnicos, em dados de produção, seja animal, vegetal ou de

agricultura.

È tudo isso que nós temos trabalhado nesses últimos 7 anos, contribuindo com

uma grande parcela na questão das decisões políticas, da questão rural, porque tive a

sorte de sempre ter alguém meu coordenando o conselho de desenvolvimento rural.

No campo da educação, nós temos a questão de Amazônia, trabalhado com

várias universidades, para mudar o currículo escolar dentro da questão mais ambiental,

adequado para a região amazônica, porque muitas coisas dos estudos amazônicas que

existem, mais não são tão adequadas para a nossa realidade da região. Talvez se faça

uma análise, um estudo. No Maranhão é diferente daqui, se pegarmos aqui, dentro do

Estado do Pará, é diferente. O Sul e o Oeste, que é a mesma diferença do nordeste e do

baixo Amazonas, pois, são, pessoas das beiras dos rios, que são criados diferentes do

povo da estrada. Então, o Estado do Pará tem uma diversidade populacional, cultural.

Num único Estado há culturas diferentes, até porque a nossa cultura definida na

Transamazônica, se pensar, nos outros Estados, não temos nossa cultura diferente, o

que temos é que buscar meios para definirmos essa cultura.

Ano: 2007

Localização: Associação de Agricultores da Casa Familiar Rural de Uruará. Km.

185, Sul. Rod. Transamazônica.

Identificação:

2. Líder Comunitário Joaquim

Assunto: Educação do campo/Organização camponesa/política educacional

Lembranças da Memória: Como ex-presidente, da CFR de Uruará, me sinto

muito feliz, porque é um projeto que veio beneficiar todos os alunos aqui da zona rural,

Que terminando seu primário, não tem condições de freqüentar outros estudos. Então

mesmo com as dificuldades da CFR, com vários problemas, principalmente pagamento

dos monitores, seus contratos, são pontos que dificultaram muito o trabalho, para um

desenvolvimento bem melhor na nossa escola.

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Quanto às parcerias, nós tivemos a prefeitura, o sindicato, trabalhadores rurais,

associações, são associações que deram o máximo de apoio em determinado momento

naquilo em que eles puderam fazer.

Então isso, também em determinado momento, prejudica muito a associação,

porque vale muito na hora que é o momento certo, depois sempre prejudica e eu como

presidente, achei um ponto positivo, que foi entrar em contato com os monitores

agrônomos que me ajudaram muito, até no desenvolvimento do meu sítio.

Porque com eles, apesar de não ter nenhum aluno na escola, mais eles sempre

freqüentam minha casa e passam muitas coisas que eles aprendem nas universidades.

Então, isso me ajuda muito no desenvolvimento da minha propriedade.

O que nós pensamos da CFR, é que se, nós tivermos mais apoio

governamental, eu tenho certeza que ela terá um progresso para toda essa sociedade

aqui de Uruará, principalmente do Estado, e do Brasil.

Sempre tivemos um bom diálogo com as parcerias, entre os membros da

associação que são as pessoas que fazem parte da diretoria, então sempre trabalhamos

muito bem juntos. Nunca tomamos posições, sozinhos, nem minha parte, nem dos

parceiros, então acho que, o que ganhamos e perdemos, é tudo junto.

A nossa diretoria foi composta por 12 pessoas: Presidente e vice, secretário e

vice, tesoureiro e vice e os 3 conselhos fiscais e mais 3 vices.

O estatuto fica conosco, a tesouraria com o tesoureiro e a parte da secretaria

com o secretário.

No início ficamos com 30 associados, a partir de alguns momentos, alguns

desistiram, em 2002, tivemos 20.

A mensalidade era 30 reais ao ano e 5 reais para o cadastro.

As reuniões são sempre marcadas com antecedência 70h, para resolver

problemas de toda a associação, só os membros da diretoria.

Assembléia 2 ou 3 vezes ao ano, com todos os associados, sistematizado na

CFR.

Já participei de muitos encontros de formação da EMATER, da EMBRAPA,

então eu já tinha participado muitas vezes, não só aqui no estado do Para, mas em

Goiás, Mato Grosso. Eu sempre tenho acompanhado os cursos com os órgãos

governamentais que vem dando a tecnologia para nós.

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No momento, que fui presidente, só tivemos o projeto da CFR, que é o sistema

de alternância, que os alunos participam uma semana na escola e duas na sua

propriedade.B

Para iniciar este projeto, nós viemos de diversas regiões. Por exemplo, aqui nós

viemos primeiro lá do Rio Grande do Sul, os que moravam aqui viram este projeto lá e

começaram a sentir que era um belo projeto e começaram dando a música do projeto.

E, a partir desse momento, entraram, em contato com a administração do projeto da

França, ele veio fazer com que nós déssemos uma grande música do projeto na região,

e aqui, na nossa região, nós, através, de pessoas da agricultura e da roça.

O maior problema enfrentado foi a questão do pagamento dos monitores. Em

relação aos contratos, que nós não tínhamos, uma definição concreta do Estado ou da

SEDUC. Então, esse foi um dos grandes problemas e para melhorar, nós precisamos

que o Estado faça e assine um convênio, e, a partir desse momento, ele irá assumir essa

responsabilidade. E as outras coisas que estavam com problemas: veículos, água até a

estrutura.

A maioria desses alunos estão na agricultura. Hoje, 01 ou 02 deles vão seguir

nos estudos e outros se sentem bem de estudo; já estão felizes com o que eles

aprenderam, coisas que façam com que a propriedade deles fique bem melhor, é isso o

que temos ouvido deles em conversas.

A minha sugestão para que essa escola fique melhor e nós termos bastante

diálogo com os agricultores e fazer com que nós tratemos o projeto com bastante

seriedade. Todo o mundo, todos os parceiros, e até as próprias famílias tratem bem o

projeto e com bastante seriedade, isso é importante.

Ano: 2007

Localização: Escola Tiradentes/Uruará

Professor

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória:

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TRABALHADOR DA CASA FAMILIAR RURAL DE URUARÁ

Ano: 2007

Localização: Escola Tiradentes/Uruará

Identificação

1. Serviços Gerais: Evanildo

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Eu aprendi muito com eles aqui, como plantar, fazer

horta. Aprendi como faz canteiro, qual é a metragem, a altura, como plantar no viveiro

[...], como adubar, como preparar a fermentação do adubo. Sou o responsável pelos

serviços gerais e limpeza.

EX-MERENDEIRA DE ESCOLA PIONEIRA DE URUARÁ

Ano: 2007

Localização: Escola Francisco de Lima e Silva. Km. 162 Rod.

Transamazônica/Uruará

Identificação: Arlinda da Silva Reis

Assunto: Política Educacional/Administração Escolar/Educação do Campo

Lembranças da Memória: Fui a primeira merendeira da escola, de maio a

dezembro de 1973.

Naquele tempo não tinha merenda; cada aluno levava macaxeira, abóbora.

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Eu levava de casa uma panela grande, sabão.

Ia bem cedo. Uma dificuldade, a distância, andava 10 quilômetros, por dia; 05 de

ida e 05 de volta. Ficava o dia todo na Escola. A escola era um barraco, de palha, um

Tapiri! Tinha que cortar lenha. O fogão era de tambor, improvisado.

A água para as crianças beber e para fazer a sopa, era do igarapé. Carregava água

de um riozinho, igarapé. As crianças não podiam ficar sem água e nem sem merenda.

A merenda não tinha. Quem mais dava era eu. Levava de casa ingredientes para a

sopa: abóbora, batata-doce, milho, farinha de milho, óleo, arroz, macarrão, sal. Quando

tinha café, açúcar, também levava. Fazia também canjica. As crianças gostavam.

Tinham muitos alunos.

O sacrifício maior era ir de casa, apanhar lenha e ascender o fogo; pois custava

para ascender o fogo, a água esquentar, e a panela da sopa cozinhar. Às 10 horas da

manhã, a merenda tinha que estar pronta; muitas vezes, a merenda ainda não tava

pronta. Sempre guardava lenha para o outro dia, estocava mesmo. Para a madeira ficar

seca. Pois na época das chuvas se tornava mais difícil ascender o fogo.

Ficava o dia todo, e ia embora, às 17 horas. Ajudava as crianças. Ajudava a

professora; ensinava as crianças a ler, escrever, os jeitos das letras, aquelas que a dona

Maria – era a professora, desprezava.

Não quis mais ficar por caso da professora; a dona Maria tinha ciúmes. Resolvi

sair no dia da reunião dos pais. Uma das minhas filhas brigou com um dos filhos do seu

Domingos. Ele falou, e ela também, porque eu era merendeira, e eu não podia dar

opinião. Ela, depois pediu desculpas. Eu pensei que, daquele dia em diante não daria

mais certo.

Se não fosse a professora ser ciumenta eu ficava lá. O que marcou foi o ciúme da

professora. O mineirinho trouxe o endereço da família, para eu escrever para ele.

Depois os parentes responderam. A carta vinha para o INCRA; o Guilherme7 chegou

com a carta, e agradeceu por eu ter feito isso. Esse pai e outros ficaram contentes. Ela

ficou com muito ciúme, e começou a me perseguir.

Cobrava o horário, pontualmente às 7: 00 hs, eu tinha que estar lá. As vezes eu

chegava, pois, chegar as 8 horas, não atrapalhava meu serviço. Passava o dia todo,

deixava os baldes cheios d’agua, a lenha arrumadinha, tudo adiantado.

7 Guilherme Alves Mendes. 1º Técnico Agrícola da Região, entre km, 140 ao km. 180, hoje Uruará. Administrador da área, na época chamado de prefeito.

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Tinha que fazer o trabalho de casa, à noite, e, levantar muito cedo para fazer café

e adiantar o almoço. Só tinha os sábados e domingos para lavar roupa e arumar a casa.

Também tive que deixar de ir para a roça. Avaliei tudo isso, e, resolvi trabalhar na roça,

que ia ganhar muito mais!

Fiz um curso de merendeira em Brasil Novo; aprendi muito, mas também,

ensinei. Ensinei a fazer pão caseiro, torta de bolacha maria, tipo torta alemã. As outras

merendeiras gostaram, pois muitas, principalmente, as nordestinas, não sabiam fazer

pão.

A escola funcionava também como igreja. Tinha os cultos todos os domingos. A

escolha do nome foi feito através de eleição: ganhou a Santa Luzia.

A escola funcionou muito tempo no Km. 162, depois foi levado o material, para o

Km. 152.

MEMÓRIAS DE PROFESSORAS SUPERVISORAS DE

MEDICILÂNDIA/TRANSAMAZÔNICA/PARÁ

Ano: 2007

Localização: SEMED de Medicilândia

1. Professora Amélia

Assunto: Educação do Campo/Política Educacional do Campo/Realidade local.

Lembranças da Memória: Através do Estado, e agora, a Lenir solicitou mais

uma emenda no projeto para ampliação de mais quatro salas de aula; ela já ganhou

laboratório de ciências, laboratório de informática. Nessa nossa gestão está

funcionando turmas de educação especial, que foram inclusas e turmas em nível de

alfabetização.

Também nós conseguimos através com o convênio com o FNDE, laboratório

completo, salas de recursos para ele, com todo equipamento, computador. Então, a

gente tem procurado fazer muitos projetos aqui mesmo na Secretaria, então, nos

criamos um setor de projeto na secretaria, e este setor de projeto tem feito a diferença.

Em 2005 e 2006, nós tivemos vários projetos aprovados pelo FNDE na área de

formação continuada de professores; tivemos também a prova no FNDE que as nossas

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crianças da zona rural, principalmente, são muito carentes, não tem como comprar seus

materiais. Então, fizemos um projeto, e desde 2005, a gente tá entregando nas escolas

públicas kit completo: bolsa, lápis, caneta, tudo o que eles precisam para estudar. Isto

tem sido uma ajuda muito grande para os pais. A alimentação escolar, também, a gente

nunca deixa faltar.

Nessa parte da infra-estrutura, acredito que a gente vai superar essa dificuldade

no município. Nós agora, estamos elaborando um projeto de construção de prédios para

a educação infantil, que é também um grande desafio. Só para vocês terem uma idéia

no município não existe um prédio próprio para a educação infantil.

As escolas de educação Infantil que nós temos funcionam em prédios alugados,

e apenas um é adequado para a educação infantil. Neste caso, o que a gente procura é

alugar pra ver se não deixa essas crianças sem estudar. Mas assim, na verdade não

oferece as condições devidas para que essas crianças se desenvolvam naquela fase que

é tão importante que é a educação infantil. A gente ainda tem um atendimento muito

pequeno nesta área, é justamente a falta de estrutura.

Sobre a política de contratação de professores:

Abrimos várias escolas que estavam fechadas; porque não se abriam escolas

com menos de quinze alunos aqui, então, como era a necessidade, nos abrimos escolas

até com 08 alunos aqui no município, e mesmo abrindo essas escolas, colocando

transporte escolar em várias localidades, não conseguimos atingir a meta que tínhamos

anteriormente. Acontecia assim, uma camuflagem de dados. Na verdade, existia muito

aluno quando na realidade, na prática esses alunos não estavam nas escolas.

Então tivemos uma queda de recursos também no município. E, quando nós

assumimos, todos estes professores, que estavam irregulares, continuaram conosco, só

que com contrato regular, recebendo em folha, com conta aberta no banco. Os repasses

feitos para o INSS, né? Aí nossa folha subiu assim, assustadoramente, foi assim,

terrível! Mas conseguimos superar isso em 2005.

Em 2006, enfrentamos um problema muito grande. Porque, quando

regularizamos a vida de todos os servidores, então nós ficamos naquele limite da lei de

responsabilidade fiscal. Isto deixou nossa prefeita, desesperada. Então, tivemos que

unir algumas escolas para ver se a gente não caia nesse problema de limite da lei fiscal.

Hoje, por exemplo, nós estamos aí, com uma dívida herdada, só do INSS,

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devido a todos esses problemas, de quase 08 milhões de reais. A prefeita está em

processo de negociação; uma dívida que nós não contraímos, mas que nós temos que

pagar. E, que preocupa a gente, porque essa dívida uma vez que negociada, o INSS só

dá um prazo de 60 meses para pagar. A parcela do mês vai ficar praticamente o recurso

que outro município de FPTM. Então isso, tá preocupando muito a gestão atual, mas

acredito que a gente vai negociar e encontrar uma solução pra isso, pra não quebrar o

município.

Então isso, foi e ainda é um grande problema nosso; e também com isso a

atualização do plano de carreira, que o município tem um plano de carreira, com o piso

salarial, as gratificações progressões horizontal e vertical. Então o funcionário conclui

suas habilitação e automaticamente ele entra com um pedido de progressão, e a

progressão dele é autorizada. Então, foi um avanço muito grande aqui.

Sobre Gestão:

Nas nossas escolas, a gestão é uma gestão democrática, todos os diretores são

eleitos, isso já contemplado pelo plano de carreira. Então não existe diretor colocado

porque eu gosto dele, eu vou com a cara dele, quem decide é a comunidade, isso pra

mim é muito significativo.

Em relação aos professores, apesar do município não ter um atendimento ainda

muito grande. Pois o nosso número de alunos não chega a 7.000. É um dos melhores

salários aqui na região, o salário dos professores de Medicilândia, tanto nível médio

como de nível superior. O salário de nível superior está em torno de R$1.400,00,

depende também do tempo de serviço que ele tem, tem uns que chegam a R$ 1.600,00.

Os professores de nível médio, o salário deles, está em torno de 800 e poucos reais, é

um salário razoável.

Os professores que trabalham na zona rural têm uma gratificação de

multisseriado, os que trabalham na pré-escola também têm gratificação. Com série da

pré-escola, isto não existe no plano de carreira de outros municípios. É um incentivo

também pra que eles possam estar trabalhando e melhorando sua prática.

Sobre organização curricular, material didático, limites para educação no

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campo

A gente tem discutido nessa nossa gestão, para tentar mudar tanto a

metodologia da educação do campo como forma de organização da educação do

campo. Estamos aqui, pedagogicamente em processo de estudo de várias metodologias.

Já fiz vários cursos, de metodologia da educação ativa, CFE, pedagogia da alternância,

então agente está fazendo um estudo para estar aplicado no campo esta metodologia no

intuito de melhorar, porque o multisseriado que é alternativo ainda hoje, a gente sabe

que não é o melhor pro campo.

Uma das intenções é estar fazendo também escolas-pólo no campo, e colocar

transporte dentro do próprio campo para que o aluno possa ter uma escola de porte

grande, onde ele vai estudar de pré-escola a 8ª série e, também solicitar ao Estado, a

implantação do ensino médio na zona rural, que nós não temos.

Na verdade, o ensino médio que nós temos são os pólos aqui na faixa8, não

temos os pólos dentro do campo, então se os alunos querem estudar o Ensino Médio

eles têm que sair do campo e vir para a faixa para estudar e, isso, tem provocado um

grande êxodo, também o que tem provocado um grande êxodo é a questão das vicinais,

a trafegabilidade das vicinais,. Nós recebemos o município sucateado. Tinha vicinal

que fazia 10 à 12 anos que não passava uma máquina, imagina como é que está isso!

Recebemos só uma patrola.

Hoje nós já avançamos bastante, praticamente em todas as vicinais, as

máquinas já fizeram o trabalho, mais ainda não está cem por cento. No inverno, aqui,

as vicinais deixam praticamente de existir. Então, esse é um dos grandes problemas que

a gente enfrenta, e que, justamente dificulta o acesso à educação.

A nossa equipe pedagógica tem três supervisores, um para cada pólo. Nós

temos a zona rural dividida por pólos. Tem um pólo no Km. 80, onde nós temos 19

escolas, e uma supervisora que cobre esse pólo. É claro, que, na minha avaliação é

pouco, mas devido as questões dos recursos, nós não temos como colocar mais. Em

2005 eram duas.

Temos o pólo do Km. 105 que pega a escola aqui do Km. 90 até o Km. 105.

Esse é um dos maiores pólos, as escolas são mais distantes.

Temos 24 escolas, as escolas do norte e do sul são muito distantes. As do lado

8 Faixa significa, a estrada principal: Rodovia Transamazônica.

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norte, todas elas são distantes. Aqui no sul não, devido às reservas indígenas elas são

mais perto. No Km. 120, nós temos 21 escolas. Além das três supervisoras nós temos

uma coordenadora da educação no campo e temos uma outra da coordenação

pedagógica que coordena o SIMEF –Sistema Modular do Ensino Fundamental, de 5ª a

8ª série –, este, implantado na zona rural.

Esse ensino, justamente, tentando diminuir o êxodo e proporcionar aos filhos

dos trabalhadores a educação no campo, próximo dele.

Nós tivemos, a nossa grade curricular aprovada agora neste mês, onde nós

temos as disciplinas agricultura, zootecnia e prática do campo. Nesse sistema, os

professores vão e ficam na comunidade, eles são de dedicação exclusiva. Mesmo que,

na comunidade eles tenham 100 horas, numa turma, só de 5ª série, eles ficam, o dia

todo para fazer também um trabalho junto com a comunidade, ele só sai de lá, quando

ministra toda as suas disciplinas.

Eles têm hora extra. Além de garantida as 200 horas dele, ele tem uma ajuda de

custo de 25% na carga horária, por esse deslocamento. Essas turmas, tem funcionado

nas comunidades que apresentam demanda.

Todos os anos a comunidades se mobilizam e fazem o levantamento dos alunos

que existem na comunidade pra cursarem de 5ª a 8ª serie, é tanto que as turmas são

pequenas, nós temos turmas de até 7 alunos hoje, funcionando. Fica muito pesado pra

secretaria porque você sabe que nas turmas de 5ª a 8ª serie não tem só um professor.

Nós temos de 6 pra 5, e de 5ª a 8ª serie são professores licenciados.

Agora que a gente teve concurso e abriram vagas para língua portuguesa,

matemática, na área das agrárias. Temos 03 professores no modular que devem estar

este ano fazendo inferência na zona rural, deste modo, um dos grandes problemas que

enfrentamos na zona rural é a evasão.

Na verdade, muitas vezes os pais vêm reivindicar à abertura de escola. Você

abre a turma e com 3 meses você chega e de 15 alunos, tem 5, tem 6. Então tem sido

um grande problema para a secretaria de educação. Na evasão do município a taxa de

abandono está estimada em 10%, isso é muito alto, e esta evasão se dá no campo, não

se dá na cidade.

Tem o período da colheita, geralmente, quando a comunidade propõe a gente

dá férias e faz no outro período as aulas deles, mas, geralmente, os pais retiram mesmo.

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O adolescente depois de 12 anos, ele simplesmente decide que não vai mais estudar e

parece que os pais não têm autonomia sobre os filhos, então acaba aumentado muito o

índice de evasão das escolas.

A gente tá fazendo um trabalho em parceria com os conselhos, conselho tutelar,

com a promotoria. Vai às escolas, reúne na comunidade, fala da importância. Com isso,

a gente tem diminuído um pouco essa evasão, mas para mim, ela ainda existe um outro

problema ale da evasão que é a repetência.

O numero de alunos já é pequeno nas escolas, e se os pais não tiverem o

compromisso com a SEMEC de manter seus filhos na escola, fica difícil manter esta

escola aberta, salário do professor, da servente, do material enfim. Pelos dados do

senso, o analfabetismo está em 24,2%, são os dados do IDEB e do IBGE, que

equivalem a 3.151 analfabetos no município, é um índice muito alto.

Sobre Programas de Alfabetização

Desde 2005 nós implantamos o programa BRASIL ALFABETIZADO, e nossa

maior turma é a do campo, então, na verdade além de termos o PRONERA nas áreas

assentamento, que tem feito um trabalho, existe no município tanto com alfabetização

quanto a escolarização de adultos.

Nós temos o BRASIL ALFABETIZADO, inclusive, nós estamos fazendo o

cadastro de novas turmas, então só esta deixando de estudar no município quem

realmente não quer estudar. A gente tem proporcionado de 5ª a 8ª, de 1ª a 4ª na zona

rural. De 5ª a 8ª séries, nem todas as comunidades dependem da demanda, e agora o

Brasil alfabetizado, onde os alunos que terminam tudo, é aquela maravilha, choram de

alegria. Isso também é um salto muito grande.

Sobre o PRONERA

Este ano eu não sei lhe dizer quantas turmas tem. Pois, ele tá passando por

problemas difíceis, não tivemos contato com a equipe do PRONERA, mas eu sei que

eles têm feito um trabalho muito significativo junto com o município.

A coordenação do Pronera aqui eu não sei, antes era o Bento Xavier, que

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coordenava o PRONERA, juntamente com o Aguinaldo.

Ano: 2007

Localização: SMED de Medicilândia.

Identificação. 2. Professora Alice

Assunto: Educação do campo, Política educacional local, História da Educação

do Campo.

Lembranças da Memória: Sobre o Planejamento e trabalho na SEMED

O sistema modular é um projeto especifico para atender os alunos de 5ª a 8ª série que

reside no campo. Tinha-se a demanda, e diante da dificuldade que os alunos encontram

de estar se deslocando da zona urbana, terminavam a 4ª série e muitos ficavam sem

estudar e outros se deslocavam para a zona urbana, sacrificando muitas vezes o

convívio familiar, porque nem sempre a família pode vir com eles. Geralmente, a

família fica no campo e ele vem morar na casa de família, e muitas vezes sozinho. E

para tentar resolver ou para amenizar esta situação, é que foi criado o sistema modular

de ensino. Ele já atende, especificamente, alunos de 5ª a 8ª que reside no campo, na

zona rural.

A metodologia utilizada, apesar de vir tentando mudar essa visão, mas, ainda se

trabalha naquela concepção de escola urbana, aplicada à metodologia na zona rural.

Que nós não tínhamos conseguido avançar. Há quatro anos vimos tentando mudar a

grade curricular deles, e este ano conseguimos.

Assim, já foram colocadas na grade três disciplinas, na tentativa de aproximar

do cotidiano deles e da escola colocamos na grade três disciplinas: agricultura,

zootecnia e prática de campo, são três disciplinas voltadas para a realidade do campo.

Este ano, no mês de julho, a grade foi aprovada pelo Conselho Estadual, graças a Deus,

foi um avanço pra gente. Aprovado pelo conselho, a gente pode está regularizando toda

a documentação sem nenhum risco.

Em relação ao trabalho da coordenação, o trabalho é voltado para o

acompanhamento e orientação de professores e alunos, e faz trabalho pra comunidade.

Sempre que aparece um problema na comunidade, a gente é convocada. A gente vai lá

reunir com os pais, conversamos com os alunos, tentamos fazer esta aproximação entre

governo, comunidade, escola. Historicamente, o governo sempre está distanciado das

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comunidades, e, através da coordenação, a gente tenta fazer esta aproximação. Somos

os intermediários entre o poder publico e as comunidades.

Junto ao professor, fazemos o trabalho de formação, discute-se, as temáticas

que muitas vezes são escolhidas por eles mesmos, de acordo com as necessidades que

eles sentem. A questão da aprendizagem, avaliação, e ultimamente, a gente tem

trabalhado a concepção de escola do campo, tem-se discutido bastante, pra que a gente

possa tá saindo de uma visão da educação do campo, iguala a educação urbana, mostrar

para eles que tem que haver especificidade, que tem interesses que são diferentes

também, e que precisa de um atendimento também diferenciado. Então, isso tudo, é o

trabalho da coordenação.

As dificuldades que a gente encontra são essas, que são comuns a toda equipe,

principalmente, a do acesso a comunidades bastante longe, de 5ª a 8ª série. A gente tem

comunidades, onde a mais distante, fica cerca de 40 km. daqui, a do Km. 120, fica mais

de 36 km. da sede até a escola. Então, pra gente ir e voltar lá. sempre é de moto, leva o

dia inteiro porque não adianta só olhar a cara do professor e voltar. A gente tem que

sentar, conversar com o aluno, conversar com o professor e retornar no finalzinho da

tarde.

A gente sente resistência da comunidade, dificuldade de tá vendo o trabalho do

supervisor, coordenador pedagógico como uma necessidade da escola e também do

professor. Ainda sente a resistência dele com o papel do supervisor. Vêem o papel do

supervisor como um fiscalizador, embora a gente venha trabalhando para mudar essa

concepção cruel, né! Tem que tá ali, mais como um companheiro de trabalho e auxiliar,

não vai lá para fiscalizar, e sim pra ajudar; ou eles vêm até aqui com a gente, quando

não podemos ir até eles.

No aspecto cognitivo dos alunos, em função de ser educação no campo, há uma

defasagem bem significativa de 5ª a 8ª série que é o reflexo, de 1ª a 4ª, a gente ainda vê

os alunos com muita dificuldade. Isso em função também da forma de organização do

ensino de mulitisseriado que é uma realidade na zona rural, e que eu acredito que seja

conseqüência disso. Não por falta de competência dos professores que trabalhavam,

mas diante da estrutura que é criada as multisseriadas.

O professor muitas vezes, é lotado com uma turma de 30 alunos de

mulitisseriado, que a gente sabe perfeitamente que, quem lida com turmas

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multisseriadas, quem conhece a realidade da zona rural sabe que o professor não tem

condições de trabalhar numa turma de 15 alunos numa sala de multiseriado. Isto, com

certeza acarreta defasagem de aprendizagem e consequentemente vai se refletir lá na 5ª

a 8ª série. Esse é um dos fatores que contribuem para que exista essa defasagem. E aí,

cabe aos professores como mediadores do conhecimento, estarem trabalhando pra que

eles superem essas necessidade, e nós enquanto coordenadores devemos estar ajudando

os professores nesta tarefa.

O desafio é grande, mas a disposição pra trabalhar também é grande, vontade

não nos falta porque o que a gente quer mesmo é ver o nosso município mudando, nem

que seja aos poucos. Mas é tão bom quando a gente chega numa escola e as pessoas

falam assim: “Pôxa vida! O trabalho de vocês aqui contribuiu para que a coisa

melhorasse”. É muito gratificante pra gente, mas que pra isso precisamos de apoio de

todos os lados, tanto estrutural quanto financeiros porque são investimentos altos. O

sistema modular é um investimento alto, aqui ele funciona com 19 turmas, nós temos

13 professores lotados aqui agora e mais um coordenador, que sou eu. Isso gera pra o

município um, despesa bem significativa, considerando que o numero de alunos não é

tão significativo porque são apenas 245 alunos e nós temos turmas funcionando com 7

alunos, e pra deslocar professor, supervisor, pra estar atendendo sete alunos, tem que

ter muita vontade política também.

Pra ta desenvolvendo este trabalho, acima de tudo, a gente pensa no valor social

que o trabalho representa pra as comunidades, e é nisso que está pautado o nosso

trabalho.

Ano: 2007

Localização: SEMED DE MEDICILÃNDIA/TRANSAMAZÕNICA.

3. Professora: Alba

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Trabalho na coordenação da zona rural de 1ª a 4ª série,

onde a gente tá trabalhando, com aproximadamente, 70 escolas na zona rural.

Basicamente, dessas 70 escolas, 30% é multisseriada, e infelizmente, com alguns

pontos positivos, mas muitos negativos, onde a gente tenta trabalhar com o professor,

pra tá descobrindo esses problemas e tentar somar.

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Em relação à infra-estrutura que temos na zoa rural, nas nossas escolas é

precária, até por que, nosso município tem poucos anos de emancipado. Na medida do

possível a secretaria e o governo municipal têm procurado melhorar essa estrutura.

Temos um quadro de professores basicamente de formação de magistério, outros

terminando a formação superior.

Em relação à educação que acontece lá na zona urbana, não é muito diferente

do que acontece na zona rural. Ainda a questão da instrução da zona urbana e na zona

rural, na medida do possível, a gente tem tentado mudar isso. Nós temos um histórico,

a partir de 2005 para cá, que a gente tem procurado mudar essa relação, educação no

campo/educação urbana.

Agora, o trabalho que o supervisor exerce na zona rural, a gente, além da parte

pedagógica que a gente leva, de ir lá conversando, observando, ver qual a dificuldade,

tentando levar uma solução para aquelas dificuldades, a gente também parte com apoio

a comunidade, até porque a comunidade tem ligação com o governo e também com a

gente. Temos feito um trabalho social entre as famílias e a comunidade.

Tem muitos problemas nas famílias, às vezes, a criança tem problema na

leitura, na escrita. O pai não entende que é uma maneira de ignorância tirar o aluno da

escola, então tem todo esse trabalho, que, a gente vai à casa dos pais, conversa com os

pais. Então, além do trabalho pedagógico tem um trabalho social.

A educação do campo por muito tempo tem ficado esquecida, pouco se mudou,

mas pouco tem sido visto como vitória. Mas, nós temos muita força de vontade pra

continuar essa mudança. Aqui, infelizmente, tem muitos desafios, e um dos desafios, é

o acesso até a escola. O meio de transporte que nós utilizamos é basicamente a moto.

Nós temos escolas na zona rural, muito distantes. Temos escola, que, aqui da

sede, até ela são distantes. Temos escolas que, nós andamos aproximadamente, 120

km., na moto ou de carro. De lá, nós pegamos um barco, e ficamos, de 01 à 02 horas de

barco, como é o caso de Portal.

Portal é uma comunidade que tem, aproximadamente, quatro ou cinco anos, que

a escola foi aberta lá. É uma comunidade que tem uma cultura própria dele, que é nova

pra gente. A gente tem trabalhado a questão social lá que é muito séria, eles não são

descendentes de índios, são ribeirinhos. O Portal é rio, beira rio. Fica na divisa de

Medicilândia e Porto de Moz.

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Sou apaixonada sobre educação no campo, estou escrevendo sobre educação no

campo, um projeto também, e, quando a gente sente essa paixão, a educação é como se

fosse um vírus, ela contagia.

Tenho dez anos de educação, e basicamente, esses dez anos, foram trabalhando

com professores de multisseriados. Trabalhei na zona rural e hoje atuo na coordenação.

Isso me apaixona, porque você quer ver a educação no campo acontecer de maneira

diferente, de maneira que ela venha atender realmente as necessidades das pessoas que

lá moram.

Não aquela educação que tem tido até hoje, que a gente tem trabalhado, mas por

muito tempo, tem sido esta extensão educação urbana para educação rural. Então isso

aí, acaba comovendo a gente, fazendo a gente ter mais força, apesar do desafio, em

busca dessa mudança tão sonhada por aqueles que estão lá.

Ano: 2007

Localização: SEMED DE MEDICILÃNDIA

4. Professora: ATMA

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Trabalho na coordenação pedagógica desde 2005, e, de lá

pra cá, a gente tem tido muitos desafios. Uma das maiores dificuldades a se enfrentar

hoje, ta sendo a falta de transporte, porque a gente tem motos na SEMEC, mas elas são

muito antigas. Então pra gente ta se deslocando indo pra um travessão aonde a gente

vai é muito difícil porque elas já estão quebradas e quebra no caminho, agente fica

sempre no meio da viagem.

Mas o nosso trabalho juntamente com os professore está sendo muito bom, a

gente tem feito várias formações sobre alfabetização, ética, valores. A gente vem

trabalhando de acordo com a necessidade de inclusão social, e aí, é um tanto

complicado falar do trabalho desse ano todinho. A gente tá trabalhando diretamente

com os professore, fazendo visitas nas escolas.

Meu pólo compreende 22 escolas na zona rural; todas são multisseriadas e, a

maioria delas, não tem internet, água encanada, algumas já têm energia, bebedouro.

Uma já tem energia elétrica mesmo, assim, do linhão. Duas tem energia com placa

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solar, mas essas são minoria. Estou, mais ou menos, com oito escolas sem energia, já o

restante tem.

As estradas são, na maioria, de restrito acesso. As turmas e os números de

alunos são variados. Tem turmas com doze alunos, turmas com vinte, com trinta, num

mesmo horário, porque até trinta e cinco é contando com cem horas, e o professor tem

que trabalhar com trinta e cinco alunos com cem horas e se tiver trinta e seis já

aumenta para duzentas.

Às vezes, o atendimento deixa a desejar por falta de transporte, porque nós

temos força de vontade muito grande, de estar fazendo reunião com a comunidade,

estar acompanhando o desenvolvimento, principalmente, na 1ª série, que acaba sendo

muito prejudicada com as turmas multisseriadas.

É um desafio nosso ainda, de nuclear a escola, fazer uma escola grande numa

vicinal, pra que os alunos, professores se desloquem até ela. Ainda está fugindo de

nossa realidade, não tem nada concreto, é um sonho que a gente tá tentando realizar no

próprio travessão9.

Sobre o material didático, nós em 2006 e 2007 distribuímos para os alunos uma

pasta escolar, com doze itens dentro. Para os professores que não tem; que é o PDDE

na escola, aqui é a secretaria de educação que fornece o material didático, desde o giz,

até o material de consumo.

Geralmente, na época do pagamento eles aproveitam pra receber e levar o que

tá precisando, às vezes tem muita coisa que não tem e ele fica um mês de espera.

Em relação ao papel do supervisor, nosso papel que era o de acompanhar, nós

fazemos nosso papel, um papel mágico: somos coordenadores, conselheiros da

comunidade. Nós que formamos o conselho escolar na comunidade, a gente faz

reunião, porque, algumas vezes, tem atrito entre professor e pai, professor e aluno. A

gente ta lá pra tentar ajudar a chegar um bom senso de melhoria e nós acompanhamos o

nosso professor.

Em geral, o nosso papel que, é o de acompanhar pedagogicamente os

professores, a gente faz da melhor forma, que a gente pode. À medida que eles

procuram, a gente tá sempre ajudando.

A gente faz um levantamento das necessidades que está passando, aí, em cima 9 Travessão significa estrada vicinal. Essas estradas são de cinco em cinco quilômetros, ao longo da Rodovia Transamazônica. Possibilitam o fluxo de pessoas, por onde passam produtos agrícolas e extrativos dos lotes .bem como o de mercadorias compradas nas Vilas e cidades locais. Foram distribuídas pelo Projeto de colonização PIC-Altamira, coordenado pelo INCRA, na década de 1970.

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das necessidades, a gente faz a formação continuada. Uma ou três vezes no ano, até três

vezes no ano, a gente tá fazendo a formação continuada, com temas da atualidade, ou,

com temas que eles sugerem, de acordo com a necessidade de cada um, lá. No

momento, a nossa grande dificuldade é a falta de transporte.

Marcas muito da experiência na supervisão

O que me marca muito é a gente conhecer a realidade deles e não poder fazer

muito, porque, as necessidades são muito grandes e as dificuldades também. Eles têm

um plano de melhoria e isto me deixa angustiada por não poder fazer muita coisa. A

gente tem até vontade, mas não depende só da gente. A gente sabe que é um conjunto

pra realizar, então, isto me deixa muito angustiada de não poder tá contribuindo mais.

Eu poderia ta contribuindo mais e não pode, porque não depende só do conhecimento

da gente, depende também do de vocês.

Ano: 2007

Localização: SEMED DE MEDICILÃNDIA.

5. Professora: Arisnete

Assunto: Educação do campo

Lembranças da Memória: Estou há quinze anos trabalhando na educação do

campo. Passei treze anos em turmas multisseriadas de 1ª a 4ª série, e já estou há dois

anos na supervisão. Antes o meu trabalho era só como professora, e justamente na

escola que eu estou fazendo a pesquisa, que é a escola Água Viva, que foi um projeto

de assentamento.

A gente foi para a escola na época do assentamento, fui a primeira professora. A

gente abriu a escola e foi uma experiência e parte disso que eu estou tentando contar

através do meu trabalho. A experiência que eu tive lá, e o trabalho do campo, é um

trabalho bem complicado.

É difícil, as dificuldades são muitas; essas vão, desde a falta de alunos na

escola, que, por motivos diversos eles faltam, a falta de ajuda dos pais, falta de material

escolar, falta de alimentação, muitas vezes. E ele falta escola. Assim, são muitos os

problemas que fazem com que o aluno não vá para escola.

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E as dificuldades que a gente encontra com os professores são tremendas, desde

a falta de apoio pedagógico, que a gente tinha pela vida, e é claro, que a gente sabe que

continua acontecendo, porque, a gente como supervisão, como equipe de coordenação

não tá conseguindo fazer o que a gente esperava fazer com eles, que seria: dar mais

apoio, estar lá mais presente apoiando as dificuldades deles. A gente tenta fazer mais,

no entanto, ainda não estamos conseguindo realmente, então a grande decepção minha,

enquanto supervisão, é não conseguir fazer o que gostaria que aquela pessoas no

passado fizessem por mim, enquanto professora.

Então, a nossa maior dificuldade de chegar à escola, é o transporte. Temos uma

moto, para as três supervisões. Então, para aproximadamente sessenta e poucas escolas

na zona rural. E com uma moto fazer a supervisão fica humanamente impossível.

Eu faço a supervisão de vinte e quatro escolas, e a distância também é um

grande obstáculo. Eu tenho duas escolas que são 135 km daqui, então, quando a gente

vai para a escola, a gente vai num dia, dorme, e vem no outro. Ou então, passa de dois

a três dias pra poder chegar e vir embora, então são complicadores.

Lá você tem que pegar barco pra chegar, são muitas dificuldade que a gente

enfrenta. Mas é gratificante você poder tá dando apoio, ajudando as pessoas, levar um

pouquinho do que você sabe. Digo um pouquinho, porque a gente poderia tá

contribuindo mais, com aquelas pessoas tão carentes e necessitadas que vivem na zona

rural.

Então, a gente pode dá mais apoio a esses professores; tá lá, junto com eles,

vendo suas dificuldades e dos alunos e trabalhar em cima dessas dificuldades. A maior

dificuldade que a gente vê nos alunos, é a questão da língua portuguesa a matemática.

eles não estão conseguindo. A gente tenta através de oficinas e tenta explicar como

fazer. Há outros métodos que devem ser usados no dia-dia deles lá. Ainda tá carente,

muitos aplicam, mas, outros não se importam tanto e deixam a desejar tanto para o

aluno, como para a comunidade.

A gente percebe também através do estudo que estamos fazendo, eu consegui

diferenciar também, para o estudo da zona rural, é diferente da zona urbana. A gente

vê, que, não sabe o que tá acontecendo, por quê?

A gente vê que os professores que vão pra lá, tem a formação urbana, ele vai lá

e aplica. Com a mesma formação que teve aqui, ele tá aplicando lá. Aí, ele não valoriza

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o que o aluno tem, o que ele sabe do dia-a-dia, o que ele tem pra ensinar. Isso não tá

sendo valorizado, e está deixando a desejar nesse sentido, mas a gente tem perspectiva

de melhoria.

Agora o município, ofereceu concurso público, e a gente, pensa que vai

melhorar com mais professores fixos na comunidade. Uma das maiores dificuldades,

também é, que o professor ia, ficava 03 ou 04 meses, um ano, e saia. Então, ficava

aquela troca de professores. E, agora devido ao concurso, a gente espera que consiga

melhorar a questão de serventes também. Que melhore um pouquinho, não tanto,

porque as escolas pequenas, com menos de 50 alunos não tem servente; o professor, lá

nessa escola, é tudo, ele é servente, vigia, é tudo mesmo.

O que te marca enquanto supervisão, professora, é você não poder levar o

conhecimento que gostaria, não está ali, todos os dias, para amparar, dá o apoio

necessário, isso é que fica, aquela marca grande, é insatisfação nossa. Eu acho que é a

maior marca. Também o que marca é você ter amizade de todas as comunidades, você

ter aquele carinho das pessoas que dão atenção e ficam super felizes quando a gente

chega. Ocorreu tudo bem? Que bom que você chegou pra me apoiar! A coisa

gratificante que a gente tem, no nosso trabalho, é você poder fazer alguma coisa por

eles.

PROFESSORES DAS ESCOLAS DO CAMPO DE MEDICILÂNDIA

Ano: 2007

Localização: SEMED DE MEDICILÂNDIA

1. Professora Almira

Assunto: Educação do Campo/ Alternância Educativa.

Lembranças da Memória: Estou aqui na CFR desde outubro de 2006, é uma

experiência diferente pra mim como pedagoga, como educadora. Eu já trabalhava na

zona rural, mas aqui é diferente, porque lá a gente trabalhava como uma escola regular

da cidade, sem diferença nenhuma, sem uma matéria específica pra zona rural.

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Eu acho que tudo na vida da gente é enriquecedor, e aumenta o conhecimento

da gente, saber trabalhar e tentar diversificar.

Com a turma de pedagogia da alternância na casa familiar. Eu não conhecia a

pedagogia da alternância, vim conhecer aqui no Pará. Sou de Minas, do triangulo

mineiro e lá eu não tinha conhecimento de que tinha a CFR. A pedagogia da

alternância, achei muito interessante porque ela é uma pedagogia diferente. E, ao

mesmo tempo, eu acho que ela é meio complexa. Dentro de pouco tempo você

trabalhar muita coisa, e fazer com que o aluno assimile. Essa é uma das grandes

dificuldades que a gente encontra. A gente percebe que os alunos têm essa dificuldade

pelo acumulo de matéria. Mesmo que você procure explicar bem, re-explicar.

Os alunos têm essa dificuldade de assimilar grande número de conteúdos, mas,

porque é necessário pra vida deles também. Porque, assim, nós temos alunos que,

querem fazer o Curso de Agrotécnica em Castanhal, e ele necessita de conhecimentos

básicos para ir a essa escola, se ele não tiver, ele não consegue. Ele vai fazer uma prova

regular com gabarito, ele tem que ter essas noções de conhecimento: História Geral,

História do Brasil, de Matemática, de Geometria, Química, Física, todas as áreas de

conhecimento.

A última turma em alternância terminou no mês de dezembro. Quando eu

comecei a trabalhar, a gente também trabalhava com sete dias de alternância, de 07 na

escola e, 15 no lote. A gente mudou este ano, porque senão, não ia atingir o objetivo do

Projeto Saberes da Terra.

A alternância do projeto pedagógico da alternância da CFRM não abriu turmas

este ano, porque a CFR não tinha funcionários. Demanda tem, mas não tem

funcionários. Igual, que a gente conversou com o pessoal lá da fundação10, uma das

menores demandas que tem na região da transamazônica é em Medicilândia. Uma

pequena demanda ainda, mas tem; porque tá acontecendo o êxodo rural. Jovens só

saindo do campo e indo pra cidade.

A cidade de Medicilândia é uma comunidade que não fornece emprego pra

população que chega lá; já é difícil pra quem ta lá, e pra quem não ta, é pior... Quase

todo dia você escuta dizendo que quer ir embora pra Goiás. Aqui tem gente de todos os

lugares, tanto é que em Medicilândia tem gente que fala que tem gente pras cinco

regiões, tem o Brasil inteiro aqui. Então você gente que quer ir embora pra Goiás, quer

10 Fundação Viver, Produzir e Preservar.

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ir embora pro nordeste e acaba indo.

Já houve convênio do Estado com as Casas Familiares, e já foi depositado até

essa verba para a fundação. Tá acontecendo o processo de seleção dos profissionais

para atuarem, e segundo eles, é pra começar já em setembro com novas turmas nas

CFRs.

Para Medicilândia tem vaga para um pedagogo, um engenheiro agrônomo ou

em ciências agrárias e um técnico agrícola. Essas áreas específicas não têm vaga, o que

é uma pena, porque os profissionais têm que cobrir todas as outras áreas, e é onde tem

as falhas.

O que me marcou mais na pedagogia da alternância foi essa diferença: você

trabalhar em pouco tempo com grande quantidade de conteúdos. Isso que me preocupa,

e que me marcou. Ás vezes eu fico preocupada: Será que os alunos estão assimilando

isso? Será que não esta passando por passar? Esta é a minha preocupação!

Eles estão assimilando o que a gente tem passado pra eles? A hora que a gente

cai nas avaliações somativas, quantitativas, a gente percebe que nem sempre, o

resultado é bom.

O projeto Saberes da Terra é pra terminar em dezembro de 2007, e eu acho

muito corrido. É a primeira turma em quatro meses, era previsto dentro do projeto para

ser oito meses. Não saiu o novo edital para novas turmas dos Saberes ainda, porque o

projeto do Saberes da Terra é um projeto do governo federal, e até a última notícia,

ainda não tinha saído o edital para novas turmas.

A gente tem trinta alunos de 5ª a 8ª série. Do começo, de quando foram atrás da

turma até hoje, teve mudança de muitos alunos, teve uns que deram o nome, mas nunca

apareceu, teve aluno que apareceu só uma vez.

Quando eu vim pra cá, eu era contratada e estava trabalhando como supervisora,

coordenadora pedagógica lá na cidade. Surgiu essa oportunidade, e eu vim ser

professora. Era uma experiência nova pra mim.

A presidente da Casa Familiar, é a dona Rosalina Wronski, a esposa do seu

Darcírio, ela está no seu segundo mandato, foi reeleita esse ano.

Às vezes, a gente tem atropelos por causa do que a gente ouve: que é a Casa –

CFRM – da Transamazônica, é que tem menos abertura, da e com a presidência. O

cargo, eles comandam como se fosse particular; tem este problema, né!

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Então, hoje a gente escuta história de quem já passou, de outros monitores, e a

gente tem até uma, certa abertura. O João Carlos é outro monitor, ele já conhece, ela,

de longas datas; ele já conhece e sabe como mexer. Então, hoje a gente tem uma, certa

abertura com ela, mas, a gente vê que, ela não é aberta assim pra todos; é a identidade

dela.

MUNICÍPIO: Medicilândia –ESCOLA: Casa Familiar Rural de Medicilândia PROFESSORA Rita Ferreira Lima Neta

Em historia assim elas se confundem com até a própria historia dos alunos aqui da casa familiar rural, por

que eu também sou filha de agricultor. Então, meu pai veio na década de 70 pra Transamazônica. Eu fui criada a

maior parte da minha vida assim na fase infantil adolescência e foi, realmente, na zona rural e como todos os

alunos da zona rural agente passa por dificuldades em relação à educação que antigamente era difícil acesso hoje

em dia já há mais assim como eu diria que existe políticas publicas mais voltadas assim pro cidadão que mora no

campo como, por exemplo, o carro que vai pegar os alunos nos travessões e naquele tempo nós não tínhamos

isso então o que acontecia nós deixávamos a zona rural íamos morar com algum parente pra prosseguir nos

estudos então eu aos 12 anos eu fui praticamente pra escola fiquei até os 16 não tive condições de ficar na casa

do meu tio por que é tive que voltar pra ajudar meu pai, depois de adulta que eu entrei no EJA fiz ensino médio e

depois a universidade né então eu me identifico muito aqui com a casa familiar rural, eu vejo na historia deles a

minha própria historia né, eu optei em ficar aqui na casa familiar rural por que eu acredito na construção do

conhecimento então esse conhecimento vai ser construído a partir do educador e do educando né, é uma troca.

Então se eu tivesse na escola convencional com certeza eu não estaria ganhando uma bagagem tão grande quanto

aqui na casa familiar rural né, que agente passa a conhecer a realidade de cada aluno que nós participamos de

algum movimento social ‘cê’ vai na comunidade vê a realidade é tem também os temas transversais que nós

trabalhamos aqui então convive com eles, o dialogo é uma experiência eu diria assim que única na nossa vida de

educador. Então eu tive oportunidade de trabalhar em outras instituições, mas eu por escolha optei em ficar aqui

na casa familiar rural.

Eu sou formada em letras pela Universidade Federal do Pará né, campus aqui de Altamira eu sou contratada, mas

eu pretendo agora em janeiro fazer, por que eu me formei o amo passado né, então não houve concurso ainda

então esse concurso que eu fiz anteriormente eu passei no estado e no município lá pra Canaã dos Carajás, só que

eu não era graduada, eu não tava na graduação eu fiz assim só pensando só em fazer eu pensei que não iria

passar, passei ,mas na hora da prova de titulo eu não estava com o diploma então a minha colocação ela foi lá pra

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baixo pode ser que eles me chamem mas enquanto isso eu to no contrato e ano que vem eu pretendo fazer o

concurso publico né e vou pedir pra quem paga aqui no caso a minha área é a prefeitura eu vou pedir pra no caso

assim, eu vou pedir pra eles me deixarem aqui mesmo na casa familiar rural...ficar aqui por algum tempo.

Eu gostei muito daqui por que tinha uma amiga mesmo que trabalhava aqui sempre quando eu estava na

graduação a minha amiga já trabalhava aqui, eu vinha de voluntaria, eu vinha olhar, eu vinha...então como eu já

conhecia a estrutura, os monitores, eu sempre vinha no caso de voluntaria eu me apaixonei assim digamos pela

casa ai quando a minha amiga foi pro Tocantins eu fui a primeira a deixar o currículo na secretaria de educação.

Então eu trabalho aqui realmente por que eu gosto.

Olha só, aqui agente tem muita liberdade pra trabalhar como é essa liberdade eu quando cheguei fiz logo

diagnostico com os alunos e percebi quais eram as necessidades então eu percebi a questão do texto como em

toda escola agente percebe a questão da interpretação do texto, a questão da produção textual, então o quê que eu

fiz, eu to trabalhando é com eles a questão da redação, do texto na norma culta sem desvalorizar a linguagem

regional né, a oralidade então valorizando a língua regional porem ensinando pra elas as regras gramaticais por

que nós devemos adequar né o nosso discurso ao ambiente no qual nós estamos. Então eu não vou dizer que eu

seria hipócrita de ta só ensinando pra eles assim, não vocês estão certos em falar desse jeito é um falar natural,

não eu trabalho com eles a língua culta e a língua natural que é a nossa língua coloquial né, ... a ele falar típico da

pessoa que é do campo, então eu aprendi mais com eles no sentido de são pessoas muito inteligente, a idéia que

agente, eu não tenho essa idéia por que eu já conheço mais a maioria das pessoas tem idéia que aquelas pessoas

que moram na roça, são pessoas ignorante e não é verdade eles tem o conhecimento...muito grande,

conhecimento de mundo são pessoas interessadas prontas a aprender, são pessoas assim, alunos que você da um

trabalho de equipe e eles se dispõem, discutem então eu posso dizer que esses alunos na sua maioria, é claro que

tem aqueles alunos que em todo lugar mais trabalhosos né, mais assim na sua maioria são alunos diferenciados

ou seja eu acredito que eles tem uma bagagem muito maior do que na escola convencional por que aqui eles tem

oportunidades de terem aulas nas outras áreas do conhecimento os próprios professores doutores da universidade

vem aqui da palestras pra eles os profissionais que trabalham com ele são engenheiro agrônomo, engenheiro

florestal, profissional de letras são pessoas assim muito bem informadas então é um tipo de educação é

alternativa né, que é verdade mas uma educação de qualidade tanto na estrutura física da escola como a senhora

ta vendo mas no quadro de funcionários também.

Eu trabalho nas duas turmas por que eu trabalho disciplina arte, língua portuguesa e a língua inglesa né, nós

temos em média 45 alunos por que nem sempre eles estão todos na... não vem um, não vem outro.

Olha só, eu trabalhei né, nas escolas normais hoje em dia eu posso dizer que eu tenho uma bagagem maior no

sentido em qual sentido assim essa bagagem maior, na questão da construção do conhecimento como eu lhe falei

aqui agente tem liberdade pra trabalhar, nas outras escolas agente passa aquele conteúdo como se fosse aquela

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educação bancada assim, quase o aluno assim eu vim de outra escola da zona rural no caso mas não escola

familiar também então os alunos eles são muito tímidos agente quer da uma aula diferenciada e os pais dos

alunos as vezes não entende acha que professor é ta só escrevendo no quadro é e o aluno copiando eu acredito

que o conhecimento já que ele é construído, o papel do professor também é provocar o aluno na reflexão,

interação , reflexão e nessa interação agente cresce que agente aprende muita coisa com eles tem coisas que as

vezes a gente não enxerga no texto e outra pessoa já enxergou...enxergou, ta apesar de eu ta com pouco tempo

aqui eu posso dizer que é uma experiência muito boa, muito gratificante.

O que me marca assim nesses alunos é a força, a força de vontade deles de aprender agente percebe como aqui

agente faz as visitas na comunidade o quê que agente percebe pessoas, tem uns alunos muito carentes vem de

lugares tão longe, às vezes eles vem de barco, ai vem de balsa passa por tanta dificuldade para chegarem aqui e

quando eles chegam aqui eles tem aquela vontade de aprender e essa vontade de aprender faz com que nós

enquanto profissionais, o que nos dedicamos mais a eles assim eu quando chego com aluno eu sento um a um

diferenciada fora do meu período de aula eu sento com eles, professora eu to com dificuldade aqui, então vamos

aqui eu sento com eles individualmente por que o que me marca muito neles assim é a vontade de aprender né,

vontade de crescer com vontade de ser alguém na vida e eu já expliquei pra eles assim que não existe outro meio

a não ser pela educação que a educação ela transforma, ela não só transforma do modo financeiro mais ela

transforma na pessoa enquanto sujeito né, aquele sujeito sair daqui ele vai ser um sujeito atuante na sociedade,

não vai ser um médico qualquer, vai ser um médico com principio, não vai ser um pedagogo, não vai ser ... então

esse profissional alem dele ter uma formação profissional ele vai ser o que, um sujeito atuante na sociedade na

área que ele for atuar ele vai ser bem sucedido, que é a formação assim pra vida né.

Espero que tenha contribuído (risos).

1. DADOS DE CAMPO: Município de Santa Izabel do Pará

Ano: 2008

Localização: Secretária Municipal de Educação de Santa Izabel do Pará

Identificação: Mapa Estatístico de Matrículas de Escolas do Município/Zona

Rural

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃODIVISÃO DE ESTATÍSTICA

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MATRÍCULAS 2008

EDUCAÇÃO BÁSICA

1 – Número Geral de Matrículas em todas as Modalidades de Ensino Básico, por Localização.

Matrícula Total na Educação Básica – Zona Rural Nº Unidade Escolar

Educação

Especial

Educação

Infantil1ª a 4ª Série

5ª a 8ª Série

Educação de Jovens e Adultos

Total de Matrícul

as01 1º Pólo: E.M.E.I.E.F. de Tacajós - 39 126 - - 16502 E.M.E.I.E.F. Cândido Gonçalves da Cruz - 16 - - - 1603 E.M.E.I.E.F. Santa Quitéria - 41 70 - - 11104 2º Pólo: E.M.E.F.D. Francisca Félix

de Souza - - 30 304 107 44105 E.M.E.I.E.F. Santo Antônio - 11 16 - - 2706 E.M.E.I.E.F. São Pedro - 35 81 - - 11607 E.M.E.I.E.F. N.S. do Perpetuo Socorro - 64 105 - - 16

9192E.M.E.I.F. Boa Vista do Itá 23 - - - 23

08 E.M.E.I.E.F. Nossa Senhora do Carmo - 67 95 - 34 19609 EMEIF Hermógenes Antonio dos Santos - 17 26 - - 4310 EMEI da Trindade - 35 - - - 3511 3º Pólo: E.M.E.F. AGRIC. Maurício

Machado - - 159 123 13 29512 E.M.E.I. Nossa Senhora da Conceição - 40 - - - 4013 E.M.E.F.I. São Francisco do Itá - 17 - - - 1714 E.M.E.I.E.F. Ana Amélia Cavalcante

Ferreira - 22 - - - 2215 E.M.E.I. Macapazinho - 21 - - - 2116 E.M.E.I.E.F. Juvenal Belém da Cruz - 26 - - - 2617 4º Pólo: E.M.E.F. Profº Simplício F.

de Sousa - 68 128 89 - 28518 E.M.E.I. Hermógenes de Sousa - 13 27 - - 4019 5º Pólo: E.M.E.F. Agrícola João

Possidônio Faro - 41 120 55 - 21620 E.M.E.I.E.F. Luiza Francinete - 10 21 - - 3121 E.M.E.I.E.F. Capitão José Ferreira - 24 - - - 2422 E.M.E.I.E.F. Dona Helena Paz - 37 32 - - 6923 E.M.E.I.F. Gabriel Hermes - 21 19 - - 4024 13° Pólo: E.M.E.F. Salviano José de

Farias - - 321 100 173 59425 E.M.E.I.F. São Luiz - 27 46 - - 7326 E.M.E.I.F. Mestre Cícero Cavalcante - 23 49 - - 7227 14° Pólo: E.M.E.I.F. Irmã Dulce - 183 102 - - 28528 E.M.E.I.F. Francisco Oliveira - 40 103 - - 14329 E.M.E.I.F. Joaquim Pereira do Couto - 44 - - - 4430 15° Pólo: E.M.E.I.F. Felipe de Paula - 70 198 184 - 452

(451)31 E.M.E.I.F. Firmino Gonçalves da Silva - 84 96 - - 18032 E.M.E.I.F. Raimundo Soares de Oliveira - 24 41 - - 6533 E.E.E.F.M. Magalhães Barata - - - 284 - 28434 EMEIF Celina Hermes 157 242 - - 399

Total Geral de Matrículas - 1.340 2.253 1.139 327 5.059

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Fonte: Setor de Estatística

Ano: 2008

Localização: Escola Agrícola Maurício Machado. Município de Santa Izabel do

Pará

Identificação: Coordenador Pedagógico: Hermes

Assunto: Educação do Campo, Gestão Escolar, Cultura.

Lembranças da Memória:

Sou graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual do Pará na turma de 2002. Sou professor da

UEPA de Metodologia, Filosofia da Educação e História da Educação. Estou atuando no município há dois anos,

desde quando fui classificado no concurso público, com a convocação em 2007. Então, estou aqui desde 08 de

janeiro de 2007, atuando na coordenação pedagógica, é um trabalho que proporciona um aprendizado muito

grande, até porque eu comecei minha carreira na educação superior.

Na época eu fiz um processo seletivo que a UEPA propiciou e concomitantemente eu estava me

especializando em metodologia do ensino superior, estava fazendo algumas disciplinas no mestrado como aluno

especial no centro de Ciências Sociais na Universidade Federal do Pará, mas devido às muitas atividades, eu não

pude prestar ao processo seletivo. Tenho as minhas disciplinas, e isso me proporcionou uma grande oportunidade

para atuar na educação superior e quando eu vim para a educação fundamental, educação elementar ou educação

obrigatória, – sei lá como pode vir a ser denominado –, eu pude aprender muito até porque quando eu cheguei

aqui me lotaram nessa escola agrícola. Essa escola, que atende, especificamente, comunidade quilombola.

E isso aqui, é um verdadeiro laboratório. Basicamente, em relação a minha atuação, eu trabalho

inteiramente na coordenação pedagógica. Aqui eu procuro, articular os projetos referentes à realidade local e

social, valorizando a cultura quilombola e essa parte diversificada, que, envolve a questão da agricultura e

zootecnia, que é fundamental para a preparação elementar dos jovens, que, cujas famílias estão diretamente

ligadas a agricultura familiar.

O que me tornou educador não foi uma escolha premeditada, porque minha formação em nível médio é

proveniente da Escola Técnica Federal do Pará. Na época eu fiz o curso de mineração e atuei na área, como

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técnico na Alunorte como operador de refinaria e como supervisor de pontuaria na CADAM, que fica em Monte

Dourado. Percebi que, aquilo não era minha praia, então, resolvi fazer um cursinho, fazer vestibular, então,

pensei alguma coisa na área de educação, e, na UEPA, o que me interessava era o curso de Pedagogia e na

Federal, eu optei pela licenciatura em Geografia. Só que, como o processo seletivo da UEPA, ocorreu primeiro,

fiz a prova, passei, e abandonei o processo seletivo da Federal.

Ao entrar no curso, eu me deparei com várias situações, porque, na época, em que fui classificado na

universidade, a LDB tinha sido homologada em 1996, então houve uma reviravolta na formação do pedagogo.

Então a formação do pedagogo na época ela estava num processo de mudança, já se discutia superficialmente

sobre o pedagogo na área empresarial, na área de saúde. Mas, ainda descaracterizava o pedagogo que atua na

área da educação, isso era um grande problema até porque a gestão de FHC, ela deu abertura a muita instituição

de ensino superior, em caráter particular, e isso foi uma febre, porque eles ofereceram cursos que não necessitava

de grandes recursos.

Nesse caso, a opção era pedagogia, a gente se refere aqui em Belém, a UVA, Esmac, de todas as

instituições surgidas, na época, apenas duas não oferecia o curso de pedagogia. Então, eu tive uma crise

profissional por que eu fiquei pensando que o mercado vai ter um inchaço, e eu considerava que, aquilo era uma

forma de prostituir o curso de pedagogia. Então pra mim foi muito complicado, só que eu não desisti. Não, eu

acredito que eu poderia ser um bom profissional, e, até de forma coerente que eu não estou aqui somente pela

formação acadêmica, eu quero proporcionar algo significativo para a sociedade.

Lógico que eu não vou fazer um discurso demagógico, colocar aquela visão romântica até porque tem

gente que confunde o papel do profissional, seja lá de qualquer área, com a questão da filantropia. O profissional

tem direito de ganhar sim dinheiro, mas, eu não estava pensando só na questão do mercado, mas de proporcionar

algo para a sociedade. Lógico que o mercado de trabalho era importante até porque você tem um ônus, custo

durante a sua formação.

Aí, depois que terminei o curso, foi preocupante na época porque foi uma febre das instituições de ensino

superior em Belém que trouxe o curso de Pedagogia, portanto na concepção dos medíocres, vamos dizer assim, a

educação não necessita de recursos. O que é um equívoco, porque a educação, o resultado dela, é ao longo prazo.

Porque livrar um indivíduo da condição de ignorante.

Eu considero isso uma nobreza sem preço, porque você tirar o indivíduo dessa condição, você tá tirando

ele dessa condição de excluído, porque eu vejo o seguinte: porque livrar o indivíduo da condição de ignorante,

não é qualquer um, então precisa do profissional competente, qualificado. Não to falando do profissional no

sentido de ter um leque de certificador, mas de pessoas que procuram, realmente, se qualificar no dia-a-dia, lendo

buscando informações.

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Lógico que precisa também desse leque de certificados até para mostrar essa qualificação, mas é pensar

usar a cabeça ser um profissional pesquisador, seja observacional, de campo, participante, e até experimental.

Pode ser! Piaget fez isso, com muita propriedade, apesar de que, muitos, acreditam que a pesquisa experimental

está muito ligada as ciências naturais, o que é um equívoco. E eu não desisti, to buscando a cada dia, porque essa

experiência para mim está sendo muito valiosa. O que eu to aprendendo aqui vou levar para o resto da minha

vida e usar em outras realidades.

Nas políticas voltadas para educação do campo, eu não vejo mudança significativa, a gente tem a lei do

PDE, que determina diretrizes em períodos. Por exemplo, o Ensino Fundamental, até 2010, as escolas tem que ter

isso, ter aquilo. Eu não vejo isso, o que eu vejo, é uma regressão. Como: essa escola aqui, tinha um trator não

estou falando dessa gestão, essa gestão que está aí, tem sido muito coerente, mas essa escola tinha trator,

maquinário equipamento, tinha galpões, eu sei que a parte da avicultura existia aqui, então, devido a alguma

atuação de membros do poder público, foi se degradando.

Eu não vejo melhoria significativa. Por exemplo, quando eu estava falando do PDE, tem toda uma

regulamentação, inclusive, para educação no campo, mas até agora eu não vi. Nós sabemos que o PDE é decenal,

estamos chegando em 2010, eu não vejo melhoria e sim uma degradação, cada vez mais.

O que acontece aqui nessa escola, em termos de agricultura e zootecnia e entes culturais é por muita boa

vontade da equipe gestora e do próprio quadro docente, porque, realmente, os professores não cruzam os braços

diante da realidade, ao contrário, eles abraçam qualquer proposta e fazem acontecer mesmo. Eu tenho um

arquivo de fotografias desde quando eu cheguei aqui, que mostram todas as atividades que agente vem realizando

tanto nessa parte agrícola, como na parte cultural e educacional, cientifica inclusive.

No dia 27/11/2008 nós estamos fazendo a primeira feira científica, cultural dessa escola, e com isso, a

gente pretende mostrar que, apesar das dificuldades, a gente não pode cobrar algo sistêmico, acadêmico; até

porque eles estão na educação fundamental. Mas eu vejo que, as políticas de educação do campo em Santa

Izabel, eu não vejo investimento, por que tudo a gente tem que está solicitando, pedindo. Agora mesmo, por

exemplo, a secretária mandou os tubos de Pvc para a água, porque nos precisávamos molhar as plantas e

hortaliças, porque tínhamos que fazer esse trabalho através de um vasilhame que os alunos levavam para campo.

Então a prefeitura mandou as tubulações para evitar esse esforço desnecessário, que sem essa técnica

pode até levar nossa produção à ruína. De vez em quando, a gente tem que está solicitando o trator para limpar a

área, porque é uma área perigosa, porque aqui existem cobras – de vários tipos, lagartos, aranhas, e se atingir um

aluno, pode gerar certos problemas; eu não vejo os investimentos chegarem aqui.

Por exemplo, nós não dispomos de recursos de informática aqui; tudo que é feito de documentação, a

gente tem que mandar para secretária, ou é feito na minha casa, ou na casa da professora diretora. Eu acredito

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que não é má vontade da secretária, por que essa gestão tem sido muito coerente, mas não podem fazer muita

coisa.

Esse ano foi aprovado o plano de cargos e salários, 80 % da folha foi destinado ao pagamento de pessoal,

mas devagar, a gente vem conseguindo as coisas. O dinheiro do PDDE – Programas de Dinheiro Direto da

Escola – ainda não é suficiente, até porque no próprio orçamento do PDDE tem uma parte que é destinada ao

material permanente e material de consumo, e o recurso reservado ao material permanente é muito reduzido, nem

dá para comprar um computador, e também a escola não tem segurança.

Os materiais utilizados na escola pelos professores são os livros didáticos, mas o que temos no momento é

uma biblioteca improvisada. Eu tenho a idéia de construir um grande tapiri, que é para construir uma sala de

leitura aberta, mas isso requer investimento. Eu to fazendo um projeto, aí, para vê se eu faço uma parceria; a

gente faz o projeto manda para as empresas, só que elas não querem investir. Tem a Schincariol, já mandei vários

projetos, mas nós não somos atendidos, porque eles não têm interesse em investir em educação.

Os professores usam os materiais didáticos, que estão disponíveis. Em relação aos recursos pedagógicos,

nos temos o mínimo garantido pela LDB, que é o quadro negro com o giz. Os professores otimizam as aulas com

aquilo que tem, e é muito bem trabalhado.

Sobre a formação continuada, eu parabenizo a Secretária de Educação porque vem sendo feitas ao longo

do ano. Tem professores fazendo o Pró- letramento. A secretaria vem fazendo formação continuada, os

professores procuram participar, mas o grande problema ainda, na zona rural, é que os professores colocam

dificuldade para participar, pois eles querem até o dinheiro da passagem, aí é complicado, por que se eu sou

educador e quero melhoras para mim, eu tenho que buscar. Por exemplo, eu moro em Belém, e estou aqui todos

os dias, e gasto, em torno de R$ 10.00, eu não reclamo, então, tem que buscar independente da prefeitura. É

lamentável se muitos não estão aproveitando, pois perdem a oportunidade de se qualificar. Atualmente, depois da

aprovação do plano de cargos e salários, o município está com uma faculdade, e está promovendo o curso de

pedagogia a distancia.

Nas experiências na educação do campo, muitos fatos marcam a nossa vida e experiência, mas o que

marcou minha profissão foi: no ano passado, quando a gente fez uma gincana, porque, pela primeira vez, eu pude

entrar em contato com uma cultura religiosa diferenciada.

Porque aqui, conheci coisas que são próprias do município de Santa Isabel, por ser um município que,

envolve a cultura local, a cultura quilombola. Sobre isso, o que me preocupa, é a perda dessa cultura do tambor

de mina. Nós temos aqui perto uma comunidade de Boa Vista do Itá, que é muito interessante, pois a cultura

deles, é o tambor de mina e a gente sabe que o tambor de mina, é uma fusão de três culturas, a turca, a indígena e

a afro.

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Já, em Macapazinho, a gente já vê uma igreja católica, as meninas falam de crisma e primeira comunhão,

e aí eu fico preocupado, porque esse povo está perdendo as raízes, e o que me preocupa é a desvalorização. Os

próprios quilombolas, eles são dogmatizados com essas idéias.

A escola vem se preocupando com a questão racial, a partir da conscientização, a própria diretora foi

autora de um projeto que se chama “Cultivando a paz”, que vem resgatar essa questão da solidariedade humana,

e, entre outras coisas, que são elementares para a convivência social. E, isso envolve a questão sobre racismo. Os

meninos de Macapazinho têm um grupo chamado “Afro terra de negro”, que vai dançar inclusive no Fórum

Social Mundial, que tem uma apresentação magnífica, e sempre está apresentando aqui, quando a escola solicita,

tem uma cultura enraizada que precisa ser valorizada, mas não é!

A educação do campo é o que está definido na LDB 9.394/96, que possui um desenho curricular

diferenciado, principalmente, na base diversificada, o curso tem uma carga horária diferenciada e a dinâmica do

trabalho também é diferenciada. Então posso dizer que a educação do campo, ela consegue com muita

propriedade, desenvolver uma práxis social, porque o indivíduo, tudo que eles adquirem, através do

conhecimento epistemológico, ele consegue aplicar na prática.

Então a educação do campo proporciona um contexto sociocultural, e fazer com que o individuo, ele seja

autônomo mesmo, porque ela dá liberdade, e, a educação do campo, construída com o educando, ela é parecida

com as idéias de Paulo Freire. Essa escola hoje, ela tá vinculada aos ideais de solidariedade humana, porque

quando eles trabalham com essa proposta curricular, eles estão trabalhando para autonomia e fazer com que se

torne uma pessoa critica.

Nós temos alunos que, são extremamente céticos, porque eles não acreditam em qualquer coisa. Inclusive,

esse final de semana, nossos alunos foram convidados para fazer um trabalho juntos aos alunos de matemática da

UFPA, na ilha de Outeiro, para mostrar a relação da matemática convencional com a matemática empírica.

Porque esse trabalho foi apresentado o ano passado no colégio Antonio Lemos, e a coordenadora do

curso da Federal ficou tão impressionada com a habilidade desenvolvida pelos alunos daqui, que foram

qualificados por essa educação no campo por esse desenho curricular.

Ano: 2008

Localização: Escola Agrícola Maurício Machado. Município de Santa Izabel do

Pará.

12. Professora: Heliana

Assunto: Educação Básica, ensino agrícola, práticas agrícolas e docentes

Lembranças da Memória:

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Cursei Técnico em Agropecuária, na Escola Albertina Leitão – Caique. Fiz meus estágios na

penitenciária de Americano, e visitei a escola, aqui, Mauricio Machado. Iniciei esse ano aqui na escola, estou

trabalhando de 5ª a 8ª Série.

A parte teórica e prática, aqui é uma realidade que já existe dentro e fora da escola; todos aqui são filhos

de agricultores e eles vêm desenvolvendo uma prática, tanto fora, como dentro da escola.

Na parte da agricultura, eu ensino pra eles, como plantar, fazer o semeio, adubação e etc. Nós temos

pontos críticos aqui na escola, devido a parceria que não está tendo. Alias, já teve, mas hoje está difícil, por parte

da secretaria de agricultura.

Aqui os alunos, na prática de campo, eles vêm pela parte da manhã, e a tarde aula normal, ou seja, quem

estuda de manhã, vem à tarde, e quem estuda de tarde, vem de manhã. Aqui eu ensino pra eles o espaçamento,

plantio, período da colheita e adubação, que são os tratos que eles já estão sabendo, já sabem como é. Aí, eu só

faço dá uma reforçada pra eles.

Isso aqui é a plantação, mamão, pimentinha, eles já colhem, e é vendido; o dinheiro é repassado à direção,

e compramos semente para replantar de novo e aqui a escola, é abençoada, porque ganhamos mudas de alguns

parceiros.

Antes aquela casinha – na área de campo – era sala de aula, hoje é um galpão, antes, eles passavam o dia

todinho aqui, mas hoje, é só uma vez por semana.

Nós temos também plantação de açaí, mas o mato tomou conta porque cresce muito rápido, eu não posso

explorar muito, eles – os alunos. Então eles vem, fazem a monda, a monda é a capina com a mão. Eu trabalho um

pouco da área científica com eles. Aqui é o coentro, ali é a plantação de macaxeira e mandioca, banana que eles

fazem. Aí, eu vou ensinando espaçamento, tratamento culturais, adubação, capina, coroamento, em volta, quem

faz a irrigação algumas vezes, são os alunos, e eles vem e aprendem a fazer os tratos culturais, devido à atividade

que estão fazendo em casa, aqui eles aprendem mais um pouco.

Sobre o interesse, alguns alunos, já vem com isso, um aprendizado; têm alunos com 10 anos plantando

uma tarefa, duas tarefas de mandioca, e por isso, mais tarde, no futuro, aquela criança, já não vai querer ser um

técnico, agrônomo, ele já vai querer ser outra coisa. Porque ele já está sendo explorado pela própria família, aí,

chega numa escola dessa o aluno, não tem interesse, mas tem aqueles que ficam trabalhando com os pais na

agricultura.

Na aula prática, hoje, vamos fazer adubação, irrigação, a monda, ou então semeiam. E isso com 45 dias

eles começam a colher a cebolinha, o cheiro verde, nesse momento eles estão sendo avaliados. Uma vez por

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semana, os alunos ficam direto; chegando 7 horas até 9: 30 horas aula de campo; devido ao sol, aí eles

merendam, 11 horas eles almoçam e já ficam para tarde, com aula normal.

Nas aulas teóricas, eu ensino o coentro, nome científico, espaçamento, adubação e a colheita. Os produtos

utilizados são mais orgânicos, nós não trabalhamos com produtos químicos.

As hortaliças produzidas na escola vêm para alimentação deles, e quando não tem merenda escolar, a

gente dá frutas para eles, colhidas daqui.

O aluno – Eric, da 5º Série, relata: aprendi a molhar a lera, a plantar, capinar, a fazer canteiro, como pegar

as verduras, eu aprendo com meu pai.

Um pontuar sobre o instrumental didático usado pela professora Heliana

LIVROS TRABALHADOS PELA PROFESSORA DE AGRICULTURA

Produtor de hortaliças. Instituto Centro de Ensino Tecnológico. 2º ed.rev. Fortaleza:

edições: Demócrito Rocha, vol. 02, Ministério da Ciência e Tecnologia, 2004.

Proposta de sumário

Cap – 1 Importância das hortaliças

Cap – 2 tipos de hortas

Cap -3 instruções para instalação de uma horta

Cap -4 adubação

Cap- 5 trato culturais

Cap- 6 colheita

Cap-7 cultivo das principais hortaliças

Produtor de hortaliças. Instituto Centro de Ensino Tecnológico. 2º ed.rev. Fortaleza:

edições: Demócrito Rocha, vol. 03, Ministério da Ciência e Tecnologia, 2004.

Proposta de sumário

Cap- 1 plantio de ervas medicinais

Cap- 2 preparo da horta de plantas medicinais

Cap-3 adubação

Cap-4 preparação das mudas

Cap-5 transplante de mudas

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Cap-6 tratos culturais

Cap-7 principais métodos de preparar plantas medicinais

Cap- 8 dicas de saúde

Cap- 9 secagem de plantas medicinais

Localização: Escola Maurício Machado

1. Diretor: Ana Lúcia

2. Profissão: Licenciatura em Pedagogia

Assunto: Educação Básica, organização curricular, formação agrícola

Lembranças da memória:

Trabalha com gestão escolar há mais de 20 anos e “estou na escola para somar e contribuir com a melhoria”

Ana Lúcia

Eu não pensava em ser uma profissional da educação, mas a vida me levou a isso. Porque, o nosso município de

Santa Isabel, e, eu, nascida e criada aqui, a gente percebe que, aqui, o nosso ramo mesmo, é isso, ou você é

professor, agricultor, ou vai trabalhar numa dessas empresas, que a gente tem aqui, que é de frango ou carne

bovina. Então eu achei melhor entrar para questão de educação mesmo, onde o município era mais carente.

Estudei fiz o magistério e ingressei logo para dar aula, e, após, alguns anos já trabalhando, foi que, eu

mesma, me propus a estudar, avançar e fazer um nível superior. Achava que o magistério tava bom demais; só

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que não é bem assim, o mercado, é muito competitivo. Eu casei, tive meus filhos, e tinha que melhorar meu

poder aquisitivo.

Toda essa minha experiência, eu aprendi muita coisa nessa área, é a primeira vez, é o primeiro ano que eu

estou trabalhando na zona rural, e, está sendo uma experiência muito valiosa trabalhar com as pessoas mais

simples, mais humildes, e a gente, enquanto equipe, a gente faz de tudo. Eu percebo que estou sendo bem aceita

na comunidade que atendemos.

A gente está trabalhando os valores e a cultura deles, inclusive, no dia 27/ 11/2008, temos um trabalho

para apresentar, que é uma feira científica e cultural, onde a gente vai valorizar cada vez mais a nossa clientela.

Sobre as políticas públicas voltadas para as escolas agrícolas, deixam muito a desejar. A gente não tem

muito apoio, a gente precisa disso, corre atrás, mas, parece que não tá tendo apoio. Os materiais pedagógicos

utilizados pelos professores são muitos livros, parelho de DVD. Os recursos pedagógicos, quando a gente

precisa, utiliza o data show, emprestado pela Secretaria de Educação. Temos também às horas Pedagógicas, a

cada bimestre para socializar as nossas atividades. Vejo então, os nossos recursos, são bem utilizados.

A educação no campo, apesar de algumas empresas estarem dando alguns cursos, por exemplo, nós temos

um parceiro muito bom, que se chama Emater, que dá algum suporte, não exatamente para os educandos, mas,

para os agricultores. Aqui, na nossa região, a agricultura é que está em evidência e que gera renda para eles, mas

quando se trata de escola, tem carência de apoio, então, a educação do campo, se resume a essa escola, temos

apenas uma orientadora, que trabalha com os alunos de 5º a 8º série.

Então, volto a dizer que falta muita coisa. E essa escola é agrícola, porque no currículo dos alunos tem a

disciplina Agricultura e Zootecnia; é parte diversificada do currículo.

A escola contribui para agricultura familiar com a formação, porque os alunos estão aprendendo, tem a

teoria em sala de aula, e depois tem a prática. Mas, muitos deles nos dão aula, pois nascem nesse meio, com a

família na agricultura, plantando, colhendo, fazendo farinha, e muitas vezes, a gente sabe que educador e

educando tem uma troca, a gente ensina e aprende ao mesmo tempo.

Os projetos desenvolvidos pela escola foram projetos sociais; trabalhamos no início do ano, o projeto

“Cultivando a Paz”. O projeto surgiu a partir do momento que percebemos muita violência entre os alunos,

brigas, apelidos, então, a gente resolveu fazer esse projeto. Essa foi uma experiência muito boa; tivemos os

projetos das mães e outros que virão sobre meio ambiente.

Na valorização da cultura negra, a gente procura envolver eles, em todas as atividades. A gente está

valorizando da seguinte forma: teve uma semana aí, que um aluno chamou a outra de preta, então a gente vai até

a turma, e tenta humanizá-los. Mostrando que, todos, somos iguais, até porque, a maioria, dos nossos alunos é

negra; senão, possuem alguma descendência.

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A escola possui Conselho, e o funcionamento, se dá, através de seções ordinárias e extraordinárias, mas

garanto que o Conselho funciona. Inclusive há dois meses, a gente reuniu o conselho, por uma questão de três

alunos, que extraviaram uma bola da escola. Nós temos um livro de ocorrência, está tudo registrado, então,

reunimo-nos, todos os membros, e o conselho, tomou a atitude de transferir esses alunos, porque se esgotou todas

as necessidades de negociação com eles. Porque, de acordo com o nosso regimento escolar, os alunos têm

direitos e deveres, eles estavam ferindo as normas da escola, com essas atitudes que eles estavam tomando. Então

o conselho tomou a atitude de transferir os alunos, pra não dizer expulsão. De repente não estava bem aqui, foi,

para outra instituição, que, na verdade não foi.

O Conselho funciona quando chega verba do PDDE, a gente reúne pra vê o que vai fazer, e comprar para

os alunos e professores.

A escola tem muita importância para a localidade, sendo de grande valia, até porque, é, a maior escola

que as comunidades têm nas proximidades, eles, tem sempre estado aqui, interagindo conosco, em todos os

eventos, especialmente, Macapazinho, o presidente de comunidade.

A proximidade da escola com a família, quando a gente quer conversar com a família, a gente faz

reuniões que ocorrem trimestralmente. Mas, para aproximar mais, nós vamos, na rota do ônibus, procuro a

família de cada um deles, e debate, e interage com as famílias, dessa forma. Nos eventos, eles participam;

geralmente, nossos eventos são aos domingos, porque é o dia que eles participam ativamente.

Ano: 2008

Localização: Escola Agrícola Maurício Machado

. Professora: Lívia

Assunto: História Instituição escolar, Educação Básica, Ensino e cultura,

quilombolas paraenses, prática docente e política educacionais municipais.

Lembranças da Memória:

Ser professora para mim não foi um querer, quando fiz vestibular por experiência acabei passando, e dois

anos depois que estava cursando apareceu à oportunidade pra lecionar e acabei indo. Estava ligada à questão de

momento, sorte! Tanto que, no começo eu não tinha tanta vocação, como ainda acho que eu não tenho tanta, mas

estou aprendendo a lidar com isso; não foi escolha foi por acaso, eu acho que aprendi que ser professor não é

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somente uma profissão, mas, a questão do dom e, eu descobri que eu tinha o dom na sala de aula e acho que eu

estou me encontrando agora. Pretendo me especializar mais, pretendo melhorar.

Ser professora numa escola agrícola é um desafio, porque tem questão de localização, questão de espaço,,

recursos que são bem escassos, eu estou aprendendo com as dificuldades, e com a experiência de outras

professores que estão há mais tempo na área. Experiências com pessoas da comunidade que, por estar numa

escola agrícola, o objetivo, não é só ensinar as disciplinas, mas levar para a realidade do aluno.

Nas aulas de português, trabalho a luta dos negros, até porque, embora, sejam áreas quilombolas, algumas

comunidades, não aceitam a própria história. Tanto que se tem reconhecida, e com toda documentação, apenas

duas comunidades; as outras comunidades têm problemas de aceitação.

É uma necessidade trabalhar essa diversidade da cultura negra e tem até preconceito, embora, a maioria

seja negra. Por exemplo, esse mês teve especificamente o dia da consciência negra, aí trabalhei com textos sobre

a historia de Zumbi e a formação de quilombos geral, para poder chegar no mais próximo, que é a área de

Macapazinho. Tem a questão do vocabulário, palavras de uso popular, provérbios e outros.

As políticas públicas, voltadas para educação do campo, eu não tenho conhecimento, e percebo que tem

uma falha muito grande. Por exemplo: aqui é uma escola agrícola, tem a disciplina prática de campo, tem uma

área enorme, mas, não tem equipamento, falta maquinário, se tem enxadas, são poucas pra uma escola agrícola.

Tem que ter os materiais, não é só dizer que é agrícola e pronto, acredito que falta essa parceria entre

Secretaria de Agricultura e de Educação. Eu não sei politicamente o sentido porque não me envolvo muito, mas

tem alguma falha aí.

As pessoas que trabalham aqui mais tempo, dizem que, em outras épocas, a escola teve isso, teve aquilo,

ou seja, é a escola do teve, e hoje não tem nada da proposta, do principio da escola.

Nos planejamentos hoje eu trabalho muito com texto. Em língua portuguesa e utilizamos os livros como

fonte de pesquisa. A formação continuada, às vezes tem uns cursos, momento pedagógico, até porque a gente não

trabalha mais isolado.

A própria coordenação e secretaria de educação promovem, tem também planejamento; que eu acho que

não é suficiente, e no município mesmo, tem muitas pessoas trabalhando na área, mas não tem a formação

especifica necessária, muitos cursaram pedagogia e ministram disciplinas especificas, então, se existem falhas

deve ser isso.

Fatos marcantes na experiência na educação do campo: foi quando eu entrei aqui, era época da campanha

da fraternidade, e estava tendo um trabalho sobre violência, então aquele momento foi muito rico, foi aí, quando

percebi que eu estava trabalhando com a educação.

Eu vi aqui, que, não é só disciplina, a gente tem uma família e amigos, a gente almoça, conversa e troca

experiências.

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Na escola, a atuação do Conselho: percebo, através das reuniões, por exemplo, se tem problema com

algum aluno, eles levam até ao Conselho.

Dos projetos da escola: eu sei do projeto “Cultivando a paz”. Agora vamos trabalhar o meio ambiente; e,

semana passada, tivemos, o projeto sobre, a consciência negra e, vários.

A educação do campo em Santa Isabel tem uma falha: a escola divulga a idéia de ser um projeto agrícola,

que, na verdade, não existe. E, outras escolas na zona rural estão com certo abandono, por parte da secretaria,

alguns tem coordenador, outras não têm, está abandonado, querem a mesma formação da cidade, mas, não tem

acompanhamento.

Ano: 2008

Localização: Escola Mauricio Machado. Município de Santa Izabel

Identificação: Miguel. Professor de Estudos Amazônicos e Geografia

Assunto: História da Educação, Educação Básica; Educação Agrícola no Campo.

Gestão, Ensino de Geografia.

Lembranças da Memória:

Desde quando eu estudava no fundamental menor, eu já tinha vontade de ser professor, pois eu observava

os professores e achava legal a profissão deles. Por isso ser professor no campo é contribuir para um senso critico

melhor do corpo discente, principalmente, na área rural, onde a gente vê que há uma ignorância maior das

realidades, e na área, a carência de acesso tecnológico é grande, que chega até ser ignorante.

Em geografia, e estudos amazônicos, a gente tem reuniões pedagógicas, e sempre a gente inclui em

qualquer tema, a descendência quilombola. A gente trabalha a consciência e a valorização dos alunos.

As políticas voltadas para educação do campo estão muito defasadas, acredito que, futuramente, deve

haver uma prioridade, porque a área mais atingida são essas, porque no caso de algum evento, a área rural sempre

fica em segundo plano.

Os materiais pedagógicos utilizados a gente pesquisa nas academias, utilizo cartolinas, globo, trabalho

com vídeo, a gente pega emprestados materiais. Os livros didáticos, eu utilizo; mas, os que, vem da secretaria, só

que, muitas vezes vem defasados, e aí aprofundo com as pesquisas.

Durante o processo de emancipação de Macapazinho, nos participamos do processo de forma indireta, nas

aulas, conscientizando nossos alunos, do que é ser descendente quilombola.

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Nas capacitações nós não recebemos um direcionamento nos conteúdos, voltados para educação do

campo, nos trabalhamos, por conta própria, por acharmos que é importante para comunidade em geral.

Durante minha experiência no campo, alguns fatos foram marcantes na educação do campo, mas uma

apresentação em feira de ciências em Marabá foi importante, por que saíram de uma área rural, para participar de

um evento nacional, eles foram apresentar o plantio da escola e as variedades de horticultura.

A escola tem Conselho e a proximidade se dá nas reuniões, nós temos representantes de pais, professores

e líderes comunitários, a proximidade se dá também muito através de informações. A escola acha necessária essa

proximidade com o conselho.

Durante o ano, desenvolvemos vários projetos: feira cultural, consciência negra e outros.

O aluno negro se auto-discrimina por não aceitar sua naturalidade, então, o nosso trabalho maior é essa

consciência deles. Tento provar que nós temos uma comunidade aqui próxima, que, por serem negros eram

chamados de África e eles odiavam. Aí, nos começamos a esclarecer o que é realmente ser descendente africano

e começaram a ter consciência.

Em geografia trabalhamos educação do campo quando falo de reforma agrária, quando se trata de

grilagem de terras, quando se trata de poluição ambiental, em sala de aula, os alunos participam, então, é

importante primeiro porque a família não trabalha isso. E, qualquer agressão ao meio ambiente o pai não se dá

conta do que está acontecendo.

A gente trabalha o nosso conteúdo utilizando a realidade deles, a gente prepara o aluno, para que ele

chegue em casa e prepare a própria família. Então, educação do campo, ainda há, uma, certa ignorância,

principalmente, sobre todas essas situações climáticas no campo, por não ter essa consciência de reforma agrária,

dessa evasão da área rural para urbana.

Acredito que o nosso trabalho maior é esse de conscientização, que a gente tem que valorizar esse espaço

que ele pode produzir; que, não existe tanta criminalidade, ou seja, preparar a mente dessas famílias partindo do

aluno pra que ele se estruture sua terra, gere sua renda, evitando que haja procura pela área urbana.

Localização: Escola Magalhães Barata, Vila de Americano, Município de Santa

Izabel.

2. Diretora: Elizabeth

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Fonte: Arquivo da Escola Magalhães Barata.

Pesquisa de Campo. Neila Reis, setembro de 2008.

Um documento sobre a história da escola registra que essa escola, foi fundada no ano de 1950; ela tem 58 anos, mas,

alguns professores, afirmam que já foram encontrados documentos que afirmam que a sua fundação ocorreu no ano de

1936. O histórico da escola consta que ela possui 50 anos, mas, existem documentos na escola, com registro que ela é

muito mais antiga, tendo documentos de 1936. Mas, considera-se que a escola surgiu a partir dos anos 1950, tendo

atualmente 58 anos.

A escola foi criada pela própria comunidade. No início de sua fundação, a escola provinha somente com 03 salas, como

era zona rural. Eles trabalhavam ma área chamada Colônia Araripe, por que existia uma colônia Araripe, antes de ser

Colônia Americano. Antes a escola, era denominada de Escola Rural Araripe, depois, ela passou a ser chamada de

Magalhães Barata devido à visita do governador Magalhães Barata. Na ocasião, a comunidade, através dos vereadores,

como forma de homenagear o então governador, mudaram o nome da escola, para o seu nome. Tem também documento

que registram que a escola passou por um processo de mudança em seu nome, primeiramente chamava-se Escola Rural

Araripe depois passou a ser Escola Mista Masculina e feminina é em 1950 ela passa a ser chamada Escola Magalhães

Barata.

A escola é uma referência na comunidade, ela tem bastante contribuição e relação com parlamento, associações e os

pais. Ela tem uma parceria muito forte com a comunidade, sempre que a escola precisa do apoio da comunidade é por

meio de associação comunitária, que tem como representante Maria José de Souza Matos, ex-professora de Educação

Física da escola.

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Em princípio, a escola ofertava o ensino de 1ª à 4ª série, e foi regida pelo Estado, depois passou para 1ª e 8ª série, com

turmas de magistério até o ano 2000.

Na década de 1990, iniciou-se o processo de mudança na gestão da escola, essa mudança foi concluída, assim, a

escola foi municipalizada. A formação do ensino fundamental passou para o município, o ensino de 2º Grau, passou a

ser médio, o magistério foi extinto. De 2000 até 2008, a escola funciona como ensino médio, enquanto que nas séries de

5ª e 8 ª do Ensino Fundamental, é o município que gerencia. Em 2008 só ficou as séries de 6ª á 8ª, por que até 2010 o

município tem que retirar o ensino fundamental do prédio do estado. Então o estado estar com uma parceria com o

município, já que este não tem estrutura para suprir as necessidades da 6ª á 8ª série.

Fazemos atividades em conjunto. Conseguimos ônibus para passeio com os alunos.

Devido o ensino médio ter equivalente 430 alunos, só tem direito a uma gestão: 1 gestor, 1 secretário. A escola tem

direito a 03 coordenadores pedagógicos, mas, no momento, a escola não tem nem um.

O horário de trabalho da diretora são os três turnos – manhã, tarde e noite –, tentando suprir as necessidades da

escola, e a escola tem 23 professores com curso superior.

Nós temos conselho escolar, todas as duas tem, tanto o fundamental quanto o médio tem conselho escolar. Ele é

composto por dois membros de cada categoria, sendo que um é efetivo e um suplente são quatorze pessoas. Só que o Conselho,

atualmente, não está se reunindo, por que a gente ainda não conseguiu devido às pessoas estarem trabalhando, agora,

principalmente, pela campanha. Mas, a gente sempre tem reunião com a professora Noemi, professora do ensino médio, ela que

coordena o conselho. A reunião é mensal, a gente se reúne, uma vez por mês.

Melhorou muito com o prefeito atual. Só que ele ainda não atingiu o que se esperava na questão da construção da escola,

mas já tem uma área destinada pela prefeitura, aqui na Rua Mario Antonio, tendo um hectare de terra que foi destinada para

prefeitura para construção de creches, praças, escola e o espaço cultural. Por enquanto ainda se fez um projeto todo, e, a

comunidade apresentou um projeto, mas como chegou a eleição a gente teve que esperar o resultado para dar segmento.

Quanto aos alunos do ensino médio, nos ainda dependemos deste financiamento, mas nos recebemos mesmo que seja

pouco. Nós recebemos o fundo rotativo do estado sendo pouco para manter a própria escola.

O prefeito tem investido na melhoria salarial, feito pagamento em dia dos professores, inclusive, com implementação de

Plano de Carreira e ganho automático de promoção para o nível superior. Isso também para o material didático.

O financiamento da escola vem do Fundo rotativo SEDUC, ele é pouco: R$ 1.082,00 ao ano, com 50% para material de

consumo e outros para serviços. Sem recursos para consertos, isso já faz 10 anos.

Os computadores foram comprados há 04 anos, estão parados. A sala para laboratório não tem previsão para acabar;

toda terça-feira, estou cobrando. É um computador para sala dos professores e três para informática. Quando eles vierem

colocar, o computador já está deteriorado e ultrapassado.

Diretora trabalha os três horários, infelizmente a SEDUC não manda novos concursados.

Comunidade fez “eleição”, com indicação de meu nome, em janeiro de 2008.

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As atividades da escola são feitas com parceiros, como Associação de Moradores, comerciantes, Prefeitura de Santa

Izabel.

A gestão dá uma angústia, pois se quer melhorar a escola para a comunidade, mas dá um desânimo! Comunidade quer

ver resultado! Reformas têm que se fazer.

A quadra está aí, ao lado da escola, a comunidade usa todos os dias, mas o prejuízo é grande, telhas são quebradas pelas

bolas.

Há 57 anos, só foi feita uma reforma, só da rede elétrica. Como eu recebi a escola aí, ela está. Ela está com rachaduras,

infiltração; necessita trocar forro, precisa de arquivo, construção de marquise, da frente para a rua Araripe.

Houve uma discussão com os pais e alguns decidiram que, era melhor não ter mais o desfile, outros querem o desfile.

Terminou o desfile e nos passamos a fazer as caminhadas com vários temas realizados por varias escolas.

No ano passado houve a caminhada, e nesse ano por avaliação das escolas resolveram não realizarem mais as

caminhadas, e se fez os jogos internos nas escolas do distrito e depois fechamos com a programação cultural, no qual cada

escola apresenta uma atividade, foi uma semana de jogos e na ultima noite nos fizemos a programação cultural. Encerramos a

semana da pátria com esta atividade.

A escola tem um projeto da semana da pátria, que é um projeto em conjunto com a outras escolas da vila

Americano, onde cada uma tinha um tema. Na escola Magalhães Barata o tema enfatizado era o Meio Ambiente, com

atividades como a dança, a entrega das medalhas dos jogos da semana da pátria. Realizamos, neste dia, a pintura do

muro da escola, a revitalização dos canteiros e a construção da horta – limpeza feita pelos próprios alunos na área da

plantação, onde os próprios alunos vão trabalhar.

Entre os programas culturais efetuados pela escola, existe a dança da farinha da tapioca que ocorreu devido o

encontro de mulheres produtoras da farinha de tapioca que trabalhavam em casa de família.

A EMATER e o SEBRAE administraram um curso para a questão das iguarias da farinha de tapioca sobre a

produção da mandioca. Esse seminário aconteceu dia 8 de março de 1986, e as professoras participaram deste curso,

nessa época, no curso, eles resolveram escrever uma letra que retrata toda a cultura da farinha de tapioca, desde seu

processo até seu produto final.

Quem realizou o arranjo musical foram os moradores da época da Vila do Americano Jorge Bené e Coronel

Virgulino. A música da farinha da tapioca é uma mistura da lambada com o carimbó, sendo chamada de Carilamba.

O grupo iniciou com oito adolescentes e depois parou, pois não tinha nem um grupo que quisesse

representar. Então, a diretora Elizabete Espíndola, resgatou o grupo, na disciplina de arte. É esse grupo que a atual

diretora coordena, ele tem nove anos. Atualmente, o grupo, é composto por dezesseis pessoas, entre moças e rapazes.

Esse grupo, na realidade, representa a identidade cultural, não só na vila do Americano, mas também em Santa Izabel.

Organização e gestão da escola são compostas:

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* Professora e Diretora do Ensino Fundamental *Professora e Diretora do Ensino Médio

Maria Rosete Ferreira de Oliveira Elizabete Espíndola Segtowick

Fonte: Arquivo da Escola Magalhães Barata/Vila de Americano.

Pesquisa de Campo. Neila Reis, setembro de 2008.

Ano: 2008

Localização: Escola Magalhães Barata, Vila de Americano, Município de Santa

Izabel.

2. Professora: Rita Marilda

Segundo a professora de Matemática Rita Marilda com relação a sua metodologia de ensino, ressalta a ausência

de recursos utilizados em sala de aula, afirmando que trabalha apenas com os livros didáticos e vídeos.

Ela fala da boa relação que tem com seus alunos, pois eles apresentam uma contrariedade, não com ela

particularmente, mas com a disciplina matemática ,então para deixar as aulas mais dinâmicas, ela usa

brincadeiras com caixinhas de surpresas e outros.

Este ano a professora realizou um mini- curso, no qual trabalhou com os alunos de 6ª e 8ª série, usando o espaço da

escola para realizar esta atividade. A professora diz que o meio de avaliar seus alunos, é por meio de trabalhos e provas

tradicionais.

A escola trabalha bastante com a conscientização dos alunos com relação ao meio ambiente,no qual já realizou

uma feira do meio ambiente, onde os alunos do ensino fundamental trabalharam com reciclagem.

A professora ressalta que a relação dos alunos com a escola é agradável, mas alguns alunos a tem como refúgio

para saírem de suas casas, para outros, a escola, não tem interesse e nem significados. O que preocupa a professora é um

grande índice de reprovação e evasão escolar por conta disto.

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Ano: 2008Localização: Escola Magalhães Barata, Vila de Americano, Município de Santa

Izabel.

2. Secretário: José Saraiva Siqueira

Professor e Secretário: José Saraiva Siqueira

Fonte: Pesquisa de Campo, setembro de 2008. Neila Reis.

A escola teve um trabalho para sua regularização, pois montar um processo para regularização, não é fácil. Os

alunos perguntam logo se a escola é regularizada, para pegar um certificado de prestígio. Há necessidade de se ter

garantia para manter a documentação em dia.; alunos ajudam muito.

A nossa escola melhorou muito, quase 100%, mas, encontra-se em uma grande precariedade, uma vez que, a

estrutura do prédio, não apresenta boas condições físicas, e alguns professores ressaltam que algumas salas são

penalizadas com infiltrações, que resultam na perda de muitos arquivos. Também os banheiros apresentam estruturas

inadequadas, fazemos de tudo para melhorar as condições físicas da instituição.

A estrutura física da escola reflete, muitas vezes, na aprendizagem da criança, tendo salas pequenas,

inadequadas para o desenvolvimento do educando. Um dos exemplos é a divisão de uma sala, que constitui duas salas

pequenas para o ensino fundamental. O prédio nunca passou por reforma. Se não forçarmos o poder público, não vai se

criar condições para o Ensino Médio crescer gradativamente. Acreditamos que, ao tiramos o fundamental da escola

Magalhães Barata, o poder público não criara condições como construir escolas para retirar os alunos do fundamental da

escola.

O ensino médio atualmente tem um crescimento gradativo, o primeiro ano que funcionou o ensino médio na

escola, foi em 2001 com três turmas do ensino médio, tendo atualmente 15 turmas do ensino médio funcionando os três

turnos.

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Passamos por uma situação difícil: quando é início de ano letivo, por que são alunos que não tem nada a ver com

a nossa situação, e eles têm que ter o espaço deles. Para acomodar o ensino fundamental na escola, temos que dar um

jeito com a direção, mas temos a consciência que o ensino fundamental precisa sair da escola, claro que para sair o

gestor municipal precisa construir escolas, e para construir Escola em Santa Isabel, é complicado, até pela estrutura do

município, que não tem condições.

Por que na época o prefeito municipal assinou, por que, quando ele assina o município tende uma

responsabilidade, é acima de tudo uma estrutura. Vem aquele lado da política, infelizmente, ele foi embora, e quem está

vivenciando esta situação somos nós. Não são tantos os funcionários, mas, as crianças, porque isto reflete na

aprendizagem dela. Por que se você for visitar a escola, você, vai ver que não tem sala mínima para acomodar o tanto de

alunos do ensino fundamental.

Tivermos que dividir uma sala em duas para acomodar o ensino fundamental. O Estado nem reformar esta

reformando, a situação do prédio escolar é precária, entrei na escola Magalhães Barata em 99 desde daí já passei por

varias direções e todos diretores que trabalhei sempre solicitavam o oficio através da SEDUC reformas para escola, e até

hoje não foi conseguido ,e o prédio esta em uma situação critica. Precisamos de uma reforma urgente no prédio escolar.

Tivermos a visita de várias equipes e engenheiros da SEDUC, que constataram que a escola não tem condição de

funcionamento até por que o teto do prédio do ensino médio é feito de brazilit, não tendo condições do professor

trabalhar, devido ser muito quente.

O Ensino Médio surgiu com três turmas, atualmente, tem um crescimento do ensino médio, portanto, necessita-

se de um espaço mais amplo, onde possam suprir as necessidades das 15 turmas que funcionam em três turnos. Em

2001, era só três. A Escola passa situação difícil; o Estado, nem reformar está reformando.

Uma das coisas principais que o prefeito fez atualmente foi o investimentos com relação ao pagamento que

estava atrasado. Atualizando os pagamentos e realizando o plano de carreira, isso foi uma das grandes vantagens que o

estado ainda não tinha conseguido realizar.

Entrei na secretaria em 1999, todos os diretores bateram nessa tecla. No Ensino Médio trabalha-se com telha de

brasilit. Com eles conseguem trabalhar? Precisamos de reformar urgente!. Tivemos visita de várias equipes da SEDUC.

O Projeto Político Pedagógico da Escola provém de discussões do Conselho Escolar. Ele é composto, por dois

membros de categorias que são divididas em quatorze pessoas. O conselho se reúne uma vez por mês, mas no mês de

setembro não está ocorrendo às reuniões, devido às campanhas eleitorais.

Há falta de atenção do governo, com relação à escola. A escola tem computadores, mas não dispõe de internet, o

que dificulta assim, a realização de algumas atividades, como, por exemplo, as matriculas dos alunos, para realizar

algumas atividades que e necessário o uso da internet, é necessário se deslocar para Santa Izabel para pode realizar este

processo. Os gestores foram esforçados felizes: Antonio Lopes do nascimento, Jacqueline e Elizabeth. Com esta há um

diferencial grande, procura sempre ver o que consegue para a escola ser reformada.

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A escola funciona nos três turnos, manhã, tarde e noite. Há bastante transferência e desistência do aluno da noite,

principalmente os de EJA. Com as matérias de química, física, eles se assustam e acabam desistindo, pois trabalham

durante o dia.

Uma das coisas marcantes, realizada na escola, era o Desfile da Pátria. Faz 10 anos que não se tem mais, devido alguns

problemas financeiros de alguns pais. Com isto, a escola decidiu não realizar mais o desfile, e passamos a realizar as

caminhadas com várias temáticas, feitas com todas escolas.

Quanto às festividades, programações são marcantes na escola, a escola promove muitos trabalhos culturais. Existem

aqui em Americano: 02 Postos de Saúde, 01 unidade policial, Batalhão da Polícia militar, delegacia é fechada – tinha um

comissário, segurança pública foi fechada, há quatros anos se tem lutado; 03 Igrejas Católicas, 1 Assembléia de Deus, 01

Batista, 01 Quadrangular, 01 Adventista, 01 Universal, 01 Mercado Municipal, projeto para fazer feira do produtor

Rural, 02 casas de Farinha de Tapioca, 01 Cooperativa do produtor, 01 Clube de Mães, Km.; 60, Construção da Casa do

idoso, grupo do Idoso, administração Carmélia Ferraz, 01 Associação Comunitária, 01 Programa Jovem

Trabalhador/PET, 01 sala de Leitura Antônio Cavalcante/Prefeitura, mais ou menos 3.600 votantes.

I. Caderno de Fotografias sobre Escola Magalhães Barata

1. Fotos dos diretores da Escola Magalhães Barata

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SANTA IZABEL Escola Francisca Félix

PROFESSORA FRANCISCA LUCILENE MIRANDA

LUCILENE : Aqui na escola Francisca Felix, eu estou a um e meio,um ano e meio de escola, só que de

educação eu tenho dezenove anos de trabalho já ,eu comecei desde de dezenove anos dezoito deles e na área

rural, nas escolas de zona rural,então eu já vivenciei muitas realidades diferente porque eu já trabalhei em três

escolas essa aqui e a quarta escola da zona rural e cada uma delas e uma realidade diversificada ne,quando eu

iniciei ,eu iniciei foi numa escola agrícola chamada Eurico Machado que e próxima daqui e ate o ano passado

era a única escola que adotava um desenho curricular diferenciado voltado para essa educação do campo ne,duas

escolas de Santa Izabel que foram criadas para esse objetivo, que era justamente manter o homem do campo no

seu habitat natural, porque o que acontece muito e o êxodo que acabam vendendo as terras pra ir morar na cidade

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,ai incha a cidade surge as áreas de invasão e com isso cresce a violência ,marginalidade porque eles não tem

preparo pra vida urbana, sente essa dificuldade a questão do emprego de conseguir renda porque eles eram

acostumados a trabalhar na terra e na cidade não existe terra pra se trabalhar o que aconteceu com isso o

inchamento das cidades e o aumento da marginalização ,principalmente a questão da violência,e o que nós

estamos vivenciando hoje,então nessa época foram criadas as duas escolas agrícolas que e a João Posidônio e a

Mauricio Machado,e a Mauricio Machado foi criado primeiro e depois veio João Posidônio que fica pra

Cupunhateua.

Porque já fica do outro lado praticamente e distrito de Carapau,mas pro lado de la mas entra ali naquele ramal

que vai pra vila de Caraparu então elas tem o desenho curricular diferenciado e essa escola aqui ela era do

Estado, inicialmente ela foi criada pelo INCRA.

LUCILENE : Foi, ai depois ela passou pro Estado, ai com Municipalização de 99 ela passou para o Município, só

que ela adotava o desenho curricular do Estado,da zona urbana,ate o ano passado os professores, as aulas dos

alunos eram ministradas ,as disciplinas todas as mesmas da zona urbana quer dizer as disciplinas da zona rural o

desenho curricular que e especifico da zona rural não existiu já houve essa mudança a partir desse ano que já

teve a inclusão aqui ne o que já e comum nas escolas agrícolas ,ai se estendeu pra escola de zona rural. As

demais escolas que eu trabalhei são todas de primeira a quarta, então o desenho curricular e único tanto na zona

rural quanto na urbana são as mesmas disciplinas o que diferenciou foi a realidade que eu trabalhei por exemplo

eu trabalhei na escola de Tacajos la dois anos e la a gente atende assim muitos alunos ribeirinhos .

LUCILENE : A professora Lindalva foi la perto ,foi la perto ela foi na beira do Rio Guama, só entra um km pra

vIla.

A estrada não é boa, porque a PA vai ate a entrada de uma comunidade aonde tem o ramal de acesso ne ,ai são

dez km, ai o ramal de acesso não ta muito boa ? Da pra passar porque nossos alunos graças a Deus todos os dias

tão vindo pra aula e voltado só que demora um pouco mais a estrada esta meio deteriorada,então pra la a maioria

dos alunos são da beira do rio,são ribeirinhos, moram na beira rio ai vem de barco ne, tem na vila alguns alunos

mas a maioria eles tem assim uma ...diferenciada,eles trabalham com açaí, ai ajudam os pais a gente em que ta

balanceando algumas coisas la .Pra mim foi uma realidade diferente assim,a questão da gente ter que sair muito

cedo de casa porque o transporte saia muito cedo, na época que eu trabalhei só existia um ônibus que fazia esse

atendimento e esse ônibus e locado pra ca pra essa escola,ele vai pegar os alunos que estudam aqui, ai nos

professores já íamos de carona no ônibus como ate hoje eles vão ne ,vao de ca... ai ficam la aproveitam que o

ônibus vai la pegar os alunos ai a gente ia ficava la e depois retornava no final do dia quando ele devolvia os

alunos do turno da tarde,nessa época era mais difícil porque,porque só era um ônibus hoje nos temos três

transportes aqui ,quer dizer as rotas foram desmembradas e as comunidades tem um ônibus que faz a rota pra

balsa, que antes era só um que fazia toda essa rota e mais Tacajos então nos saiamos 04:00hs da manha em Santa

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Izabel ,04:00hs pra chegar em Tacajos 05:00hs da manha porque ele tinha que fazer toda a rota ne,senão ele não

chegava aqui 07:30 e quando ele chegava la ,ele chegava la 07:30 da noite as 08:00 da noite teve dia da gente

chegarem Santa Izabel 09:00 da noite isso só melhorou no ano seguinte quando desmembraram a rota que

botaram outros ônibus ne,ai mas mesmo assim hoje eles saem 05:30 ainda saem de madrugada senão eles não

chegam.

LUCILENE: E muito cedo, pra gente ter uma idéia os nossos alunos que vem pra ca principalmente os que vem

de la eles vem de barco,também tem uns que descem no porto da balsa que são os que moram ali na foz do

Jundiaí que já e outro transporte que eles pegam e outro barco ai todos eles saem muito cedo de casa pra poder

estarem aqui no horário da aula e assim mesmo e o retorno então tudo que a gente planeja na escola a gente tem

que ter todo esse olhar com a questão da realidade da escola e do aluno por conta de horário por conta dos

problemas que eles enfrentam que eles não podem sair muito tarde que já chegam pra casa muito a noite e

perigoso a gente tem toda essas preocupações para se montar alguma coisa na escola e com essa vinda agora da

inclusão ne o desenho curricular houve essa obrigatoriedade que essas escolas da zona rural agora tem que ter

educação do campo voltada pro campo pra manter o aluno na sua comunidade com as atividades que são comuns

ao meio rural que no caso e a agricultura principalmente, eu achei assim que houve assim um avanço uma

melhora porque não tinha cabimento a gente ter uma escola na zona rural atendendo aluno da zona rural e

trabalhar com uma realidade da zona urbana que e totalmente diferenciada do aluno, então a minha maior

experiência que eu tive foi la na escola Mauricio Machado que la ei fiquei dez anos, eu fiquei cinco anos a

primeira vez como professora ,ai depois eu sai de la foi quando eu fui pra Tacajos ,trabalhei em outra

comunidade la no Travessão que e um pouco mais na frente ai quando foi em 2004 eu retornei para a Mauricio

Machado eu fiquei la mais quatro anos ,já esse quatro anos já esses quatro anos que eu voltei pra la , eu já voltei

como gestora,eu fiquei como gestora da escola quatro anos ,la a gente tem o técnico agrícola ne porque sempre

teve o técnico .

LUCILENE: Primeira a oitava serie, que nem aqui primeira a oitava tem as disciplinas só que la no inicio a

implantação da escola teve um apoio do governo federal então la funcionou como semi internato,durante seis

anos funcionou com semi internato os alunos vinham e passavam o dia na escola mas ai eles tinham o almoço,

eles já eram devolvidos pra casa ate com jantar já tinham ate jantado já voltava pra casa de barriga cheia no final

do dia ai quando acabou esse convenio.

SANTA IZABEL – ESCOLA MUNICIPAL FRANCISCA FELIX DE SOUZA,

PROFESSORE: FRANCISCO MATOS

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Como professor mesmo eu comecei em 2004, 2004, técnico agrícola pela escola de Castanhal, na minha área

agrícola, eu comecei com técnico agrícola adquirindo experiências com colegas que já faziam parte do sistema

ali como professor e no decorrer do tempo fui adquirindo experiência e repassando para os alunos, que e pratica

no campo? E aquele que com nosso conhecimento a gente tentar com metodologia passar pra aqueles alunos,

aquele pessoal que são focalizados, que mora no campo, e da zona rural,a gente tenta passar aquele pouco do

nosso conhecimento tenta transmitir pra eles,.. não aquilo que tem mais teoria, não tenha tanta técnica e a gente

tenta passar tecnicamente com a gente aprende, não no processo rústico e nesse decorrer de 2004 ate agora esses

cinco anos ta sendo satisfatório ne,o que a gente passa pra eles o que a gente ver,eu tenho alunos ainda ,eu tenho

alunos agora que eles já estão na zona urbana, mas eu os encontro e eles continuam trabalhando e eles só

estudam na zona urbana e continuam trabalhando na zona rural com aquilo a gente transmitiu pra eles. O que a

gente transmitiu? A gente transmite assim nos temos aulas teóricas e aulas praticas, as aulas teóricas são

voltadas para aquelas culturas que abrange ali naquela região entendeu, certas culturas na teoria e ai depois nos

fazemos na pratica, ai que eles vão adquirir conhecimento mesmo na pratica e eles ainda estão ate hoje alguns

não todos porque o êxodo sempre e grande mas 40 % , 50% nesse período de cinco anos continua na zona

rural,fazendo aquilo que a gente transmitiu pelo menos com recurso que eles tem.

Um ramo de vida, pra quem gosta pra quem quer fazer aquilo e um prazer muito satisfatório tu ta ali você não

esta só ensinando você ta aprendendo a vivencia do pessoal, a vivencia do corpo discente, e um prazer

satisfatório cada um tem sua metodologia a gente vai tentando no decorrer dia após dia ensinar esse pessoal,

esses alunos e muito bom, e satisfatório quando a gente quando o aluno e interessado fazer o que a gente pede ,a

gente ta ali dando atenção na sala de aula, principalmente na sala de aula na aula teórica onde a gente convive

mais perto um do outro, fica assim e um prazer ,um prazer mesmo fazer aquele trabalho que a pessoa gosta.

Trabalho de quinta a oitava série. Com essa disciplina Agricultura.

NEILA: Agricultura, já faz parte do currículo da escola, da grade curricular; essa escola começou agora este ano,

não era ainda, e na zona rural, mas não fazia ainda parte daquela escola agrícola, na grade curricular não tinha

ainda essa disciplina.

Essa escola e a partir de 2009, se tornou agrícola.

Tem um outro professor,são muitas turmas ai a carga horária só um não da conta,só que ela ta acidentado de

moto e ta de licença.

A disciplina agricultura, bom na disciplina mesmo a gente fala mais sobre as culturas,cultura da nossa região na

época de plantio ,essas coisas, variedades nas cultura que a gente trabalha somente mais focalizado nisso,cada

região tem a sua cultura, aquela mesmo de,que abrange mais ali mais de comercialização e a gente trabalha em

cima disso.

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As aulas práticas, agora aqui ta um pouco dificultoso nessa parte, porque nos precisamos de subsídios, vamos

dizer e uma escola publica,que em poderia nos subsidiar ne, não nem quem poderia ,quem e pra nos subsidiar

prefeitura ,secretaria,secretaria de agricultura ,secretaria de educação só que a gente teve uma certa dificuldade

nesses tramites ,mas já esta chegando agora que já foi nos confirmado tanto pela diretora quanto pelo nosso

secretario da nossa entidade que já esta chegando o nosso material .Que material são esses ? Insumos, materiais

como bota ,enxada ,terçado esses materiais ,então nos podemos começar a focar essa pratica porque a gente não

pegar aluno e jogar sem na pratica sem material ,aqueles matérias básicos botas porque pra trabalhar terra tem

que ter aqueles materiais que são necessários,já esta chegando nos a partir desse momento nos estamos

começando nossa pratica , nos não temos uma determinada área suficiente quantitativa pra todo os esses alunos

ai quê que a gente faz faz uma alternância de turmas,vem uma turma um dia pode vim outra no outro dia ,ai a

gente vai dando condições um pouco para eles participarem assim in foco,in loco .

Eu nasci em Santa Izabel desde 1972. Fui para transamazônica em 2000, no ano de 2000 passei ate 2003 meados

de 2003.

FRANCISCO: Onde iniciei minha carreira, passei pela Emater ,Medicilandia ,um ano e seis meses depois dois

anos na secretaria de Medicilandia .

FRANCISCO: A gente assim temos reuniões periódica s aqui, são marcadas reuniões a coordenação, diretoria

marca as reuniões ai a gente trata de conscientizar aquele pai pra que ele incentive também o aluno porque sabe

como e aluno jovem ne , faixa etária de idade assim não quer saber de muita coisa principalmente trabalho ne,

porque também não e o momento certo, ele tem que aprender mas compreender e que de satisfação pra ele e eles

são muito displicente nessa parte,e a gente tem que incentivar o pai ,os pais NE, a incentivar o aluno , seu filho

qual a importância daquela disciplina,daquela pratica que ela vai fazer na escola ,ta na grade curricular mais ai

ele pensa que não pra ele fazer ne,ele pensa que não vai trazer frutos pra eles, ai a gente tenta

transformar ,conscientizando primeiro os pais,conscientizando os alunos e interagir entre pai,aluno e professor ,a

gente faz uma integração ali pra eles ne,qual importância futuramente que eles já são da zona rural,futuramente o

retorno que vai ter pra eles ai a gente conversa bastante sobre isso em relação a isso.

O instrumental didático: Não, livros isso que lhe falei, na cultura da região, nessas culturas, quais aquelas

culturas mesmo que a gente foca que é cultura da região. Agente pega o livro tem didático trabalha em cima do

livro, vídeo trabalha muito vídeo,visitas técnicas, Ceplac, Emater, Escola Agrícola a gente ta distribuindo assim

essa pratica também visitas técnicas didaticamente falando a gente faz isso.

A forma de avaliação é assim, teórica, teoricamente e como nas outras disciplinas conteúdo, tem trabalhos extra-

classe que a gente avalia também, avaliação normal que a gente avalia aula exercício ,a gente avalia também com

trabalho e teoricamente faz nossa avaliação dividida.

Avaliação escrita.

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FRANCISCO: Não, não tenho recordação.

FRANCISCO: A gente, a gente, o tempo também e muito curto o que a gente pode a gente faz, a gente tenta ne,

fazer um período de visita com os pais que tão precisando a gente chega vai interagir com eles conversar ,fala

com eles,experiências que eles querem assim tecnicamente que não ta dando certo, a gente chega na propriedade

faz, da uma dica alguma coisa assim pra ver se melhora,não e sempre porque,porque aqui são muitas turmas a

gente sempre esta em sala de aula tanto de manha quanto a tarde e o tempo fica muito pouco e corrido também

ai que a gente faz quando o pai solicita a professor Marcus ou professor Adilson que e técnico da escola será que

você pode fazer uma visita pra nos da uma orientação,a gente pega não com certeza tem veículos e vai na

localidade ,vai fazer essa orientação mas são raras essas orientações porque eles também já tem um

conhecimento grande no método que ele trabalha.

Comecei agora. A trabalhar nesta escola;

Esses alunos têm aqueles alunos e aqueles alunos, aqueles alunos que são interessados, que pretendem mesmo

seguir a carreira de agricultor que já são agricultores uma mudança considerável ate no tratamento quando eles

vem conversar com a gente, perguntar, indagar que culturas vai ser melhor nessa época, que cultura nessa

época,que cultura nessa outra época, ai 45% desses alunos são interessados mesmo e da pra ver o conhecimento

que eles adquiriram NE e que eles pedem pra gente.

3. FONTES DO MUNICIPIO DE CASTANHALFONTES ORAIS3.1 – Sede do município:SEMEDVOO60 CastanhalIDENTIFICAÇÃO: Equipe Sócio PsicoPpedagógica da Secretaria Municipal de Educação.Depoimento: Professora Sandra Lucia da Silva LimaAssessora pedagógica da Secretaria de Castanhal Em: 02 de Outubro de 2008

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Eu tenho trinta e três anos e sou daqui de Castanhal. Sou concursada, fui chamada em 2007.

Um dos sonhos do Secretario de Educação quando eu entrei aqui, era, justamente formar essa equipe, ela

ainda não existia. Então foi eu como Pedagoga, na época Carla que era Psicóloga e a Marilda, assistente social,

que também entrou no mesmo período que eu. Iniciamos um trabalho de atendimento nas escolas com aquelas

crianças com dificuldade de aprendizagem, com déficit cognitivo e com condutas típicas; mais especificamente

são aqueles comportamentos diferenciados que os alunos apresentam em sala de aula, como: agressividade física

e verbal, alheamento, desatenção, hiperatividades e impulsividade.

Detectando esses casos, nós montamos um curso, uma capacitação sobre condutas típicas, com todos os

professores, até para orientá-los em como fazer esse relatório para nos mandar; assim agendássemos e fossemos

fazer esse atendimento. Isso foi no ano de 2002. Então de lá pra cá a equipe cresceu os atendimentos cresceram

também uma demanda enorme. Hoje em dia, acredito serem, cerca de vinte atendimentos.

Trabalhamos, às vezes, com a EJA, quando somos solicitados. Porque com jovens e adultos, nessa faixa

etária, geralmente, há envolvimento com drogas, violência. Nós nos preparamos, trabalhamos, elaboramos,

estudamos para ver como a gente vai tá atuando com aquele aluno, com professores e com a família, que, a gente

sabe que é a base. A gente consegue chegar à escola e fazer um trabalho bem diferenciado nessa orientação nos

temos uma parte da assessoria, que fica mais voltada para esses atendimentos.

Depois eu posso pegar contigo o nome das escolas que tem, deve ter umas cinco escolas. Há uns três anos ou

quatro anos nos temos intensificado o trabalho com as crianças especiais, incluídas na rede e muitas delas com a

criação da ESP. Nós fomos observando que foram surgindo casos mais específicos de deficiência mesmo

deficiência mental, auditiva, visual é até deficiência múltipla nós já temos na rede.

Então, o professor Luis viu a necessidade de aumentar a equipe e de procurar profissionais que fossem

capacitados, para estar atendendo e que tivessem boa vontade para estar se especializando mais nessa área da

educação especial. Aí entrou o Orlando, que é o Interprete de Libras. Nós tínhamos iniciado um trabalho e

tínhamos um ideal de conseguir implantar libras nas escolas. Com a vinda do Orlando, a gente viabilizou esse

trabalho. Aqui, temos agora a Psicopedagoga, também Ana Claudia, a Marilda deixa eu falar das novas: a

Luciana que substituiu a Karla, que e Psicóloga, – filha da Ocila que você conhece –, entrou também a Rafael –

formada em letras; ela tem uma capacitação em deficiência visual; a Socorro Marques que uma orientadora

educacional, – o professor Luis sempre quis uma orientadora na equipe. Mais recentemente entrou a professora

Josi, que é pedagoga; ela é surda. Ela é de Belém, vem todos os dias pra cá hoje ela não vem porque ela passou

na prova do Pro libras; ela está fazendo a prova dela pratica. Ela e ótima; tem dado esse reforço junto ao Orlando;

justamente; focando nos alunos surdos incluídos.

Então nesse processo, nós também fazemos atendimento nas escolas da zona rural. Percebemos assim

que o trabalho lá é um pouco diferenciado, não só pela demanda de alunos. Nós não atendemos tantos casos de

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agressividade, hiperatividade; a gente percebeu que isso acontece mais na vida urbana. È uma vez ou outra, de

um professor que precisa de orientação como trabalhar com aquele aluno que tem um comportamento mais

diferenciado ou que tem um déficit cognitivo, dificuldade de aprendizagem. As nossas idas na zona rural são

mais raras às vezes, são alunos incluídos, surdos, a gente precisa ir lá.

Nós já fomos atender alunos com deficiência mental, também lá, outro aluno com Síndrome de Down. Já

pedimos parceria com a oitava URE, nos ajudaram, levaram os técnicos deles que já tem bastante experiência.

Como muitos dos alunos que eram do Estado vieram pra escolas Municipais, a gente precisava de um histórico

desses alunos pra saber de onde eles vinham. Depois que a APAE fechou nos recebemos uma grande demanda

desses alunos, eles foram incluídos nas escolas.

Com isso nós precisamos fazer capacitação com os professores, intensificar esse atendimento aos

professores. A APAE fechou aqui em Castanhal tem dois anos. Eles que fazem atendimento lá, mas não é mais

aquele atendimento educacional que eles faziam. Muitos alunos deles, a grande maioria, vieram para as escolas

Municipais e ai nós temos feito, tentado acompanhar esses alunos e temos nos capacitado para isso, tanto que

agora, eu, Orlando e Claudia, estamos fazendo uma capacitação em Belém de um curso que se chama

Atendimento Educacional Especializado, naquele centro Gabriel Lino Mendes. El fica ali em Nazaré, na

governador José Malcher, bem do lado da Cairú. Ele é do MEC, um curso muito bom, que tem nos

proporcionado uma nova visão, mais conhecimento acerca da inclusão dos alunos especiais. Isso, porque ele

especifica cada deficiência e como a gente tem que trabalhar... Então a idéia do professor Luis é que tenhamos

nosso centro de atendimento, assim como a oitava URE tem lá no CAIC. Eles tem um centro de atendimento

seria um centro que onde Esses profissionais, aqui da ESC atuariam mais lá. O professor Luis tem muita vontade

de implantar no Município, com propriedade mesmo, para tratar cada deficiência com materiais especifico pra

cada um. Então esses alunos seriam atendidos no contra turno, que dizer, eles permaneceriam nas escolas

regulares e eles viriam no contra turno para ser atendidos lá, como se fosse um reforço das aulas do ensino

regular.

Então, esse é um dos nossos sonhos, que nós conseguimos até agora foi enquadrá-los num projeto do

MEC que eles disponibilizam uma sala de recursos multi meios pra cá. Nós pedimos que fosse na escola

Francisco Espinheiro Gomes, – lá na torre, mas, até agora não conseguimos. O pedido já foi feito; todo o

esquema de como a gente gostaria que fosse; de que material a gente precisaria, já foi enviado pra lá estamos

aguardando que a gente quer iniciar pelos menos esse trabalho de atendimento especializado.

O número de alunos que tem problemas é mais de duzentos alunos. Já tem incluído nas escolas, isso e nas

várias categorias de deficiências. Não temos o projeto reforço escolar que também tem algumas escolas da zona

rural que tem que funcionar com esse projeto, que é um projeto que foca na primeira e na segunda serie do ensino

fundamental, justamente, porque são nessas séries que estão os maiores índices de repetência. Então nós fazemos

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um trabalho bimestral com os professores do reforço escolar. Nesses encontros, nós temos oficinas para

confecção de material, o material tem que ser diferenciado, que eles usam do professor do ensino regular, embora

eles acompanhem o planejamento do professor do regular. Mas, a metodologia que ele utiliza deve ser

diferenciada, até porque, se aquele aluno está com dificuldade com aquele professor e porque talvez a

metodologia dele em sala de aula não esteja funcionando. Ele tem que procurar alternativas de ensino. Ir em

busca dessa aprendizagem do aluno tem dado certo.

Nossos índices de reforço escolar, ele agora e um programa não e mais nem um projeto, já funciona há

três anos. Depois do reforço o índice de repetência, de evasão diminuiu muito, nessas duas séries no ano passado

foi de setenta por cento que diminuiu e a cada ano o professor Luis fala que o programa do reforço e um

programa suicida. Na verdade ele quer com o tempo, que no ano, não precise mais do reforço. Por enquanto não

é nossa realidade, nós ainda temos alunos que participam do projeto. As turmas são fechadas em dez alunos por

turma, raramente extrapola esses dez, vai pra onze, doze; mas aquele aluno também precisa participar do reforço,

ai a gente dá uma esticadinha. A meta são dez alunos por turma e tem professor que tem duas turmas, tem

professor que já tem dois horários, são quatro turmas; eles são atendidos duas vezes por semana, uma hora e meia

cada aula. Cada atendimento do professor com cada turma então é um projeto que tem dado certo.

São professore do reforço escolar; esse ano que houve uma mudança esse ano houve professores que

ficaram no reforço e também na sala de aula no ensino regular. O que mais tem me deixado feliz mesmo, assim

com mais vontade de conhecer, me aprofundar foi na educação especial, no atendimento educacional

especializado que, assim, a gente vê a possibilidade daquele aluno enquanto muitas pessoas dizem que não tem

condição de aprender, assimilar, desenvolver, a gente percebe que há possibilidade.

Isso, assim, nos deixa muito curiosa, eu fico assim, querendo pesquisar mais, saber mais como é possível

pra poder orientar o professor, sensibilizá-lo e dizer que há sim essa possibilidade, falta só buscar as formas,

meios e se organizar. Para isso também precisa de demanda, uma organização com certeza! Então isso, assim, o

que tem mais me marcado no trabalho da ESP.

A equipe sócio-psico-pedagógica trabalha com projeto de reforço, e a cada semestre nos fazemos um

sub-projeto. O sub-projeto do ano passado, trabalhamos com poetas brasileiros, as professoras desenvolveram

atividades, cada uma escolheu um projeto brasileiro e fizeram várias atividades baseadas nas poesias deles. Nesse

ano, no primeiro semestre, fizemos acerca da imigração nordestina pra Castanhal, foi justamente com a

culminância que teve em junho, festival junino. As escolas estavam todas empenhadas, inclusive aproveitamos e

encaixamos o nosso sub-projeto; ara que as professoras fizessem essa pesquisa e trouxessem para sala de aula.

Agora pro segundo semestre, nós mudamos um pouquinho a nossa metodologia, e queremos fazer a gincana do

conhecimento.

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O foco foi a gincana do conhecimento e aqui você pode dar uma lida no sub projeto, são varias etapas e os

professores já estão na segunda etapa, vão iniciar a segunda etapa em outubro, que vai, na verdade, ser uma

competição só entre os alunos do reforço, pra eles, em dezembro, ter um representante de cada serie. Porque tem

escola que tem primeira serie, funciona a primeira serie do reforço, tem escola que funciona a segunda série de

oito anos, a segunda série de nove anos, tem escola que trabalha com alunos da terceira série, então a gente tá

organizando com e que vai ser o tipo da modernidade da gincana: focamos na leitura, interpretação de texto,

soletração.

A gente vai pegar um pouquinho da idéia do Luciano Huk, de soletração, a gente sabe que é a maior

dificuldade dos alunos do reforço. Na matemática, o raciocínio lógico são probleminhas rápidos de serem

respondidos, continhas básicas, bem ao nível deles, pra isso pedimos planejamento dos professores que eles

estão trabalhando porque a primeira e a segunda etapa que vão fazer nas escolas, mas a terceira e a quarta, somos

nós que vamos elaborar.

Iniciamos a gincana agora em agosto. Então assim, passamos, para os professores como nos gostaríamos

que fosse, eles deram idéias, já houve algumas modificações. Ficou setembro, eles fazerem a primeira etapa que,

entre os alunos da mesma turma, eles vão de lá, vão competir entre si e vai sair um aluno de cada turma, a

segunda etapa vai ser turma com turma da mesma escola um representante de cada turma compete e vai sair de

cada escola, um cada serie, porque tem séries diferentes e a terceira etapa.

Escolas mais próximas vão estar competindo entre eles, o representante das escolas, e a final vai ser as

duas escolas que ficarem pra competir a gente já esta vendo uma premiação com o professor Luis, com a

Marcilene que a gente pode tá dando pro alunos para motivá-los.

Na agrovila Calúcia, no inicio eu ia mais intensamente, quase uma vez por semana porque não tinha

coordenador pedagógico há dois anos. Agora que já tem coordenador pedagógico, então, eles até comentam: tu

não viestes mais? Não gente, agora vocês tem coordenador pedagógico.

Os trabalhos da ESP se intensificaram muito; nos atendimento das crianças especiais, a gente tá bem

voltado pra isso, mas, assim: na Comunidade Cupiúba, nós já fizemos atendimentos, como, para uma aluna

pequenina, surda, que, ainda está lá. Também, e muito atendimentos, com o professor. Sobre metodologias para o

professor e encontros com as famílias são encontros muito bons.

Na verdade os pais demonstram, assim, uma preocupação, justamente em desmistificar o que a sociedade

ainda vê a ele não consegue, ele não pode permanecer, ele não vai passar de ano, ele vai repetir. Será que ele vai

progredir nos estudos, a gente percebe que essa impressão não muda dos pais, que o ser humano tem um mal

terrível que e só olhar os defeitos para falhas, ele não consegue ver as possibilidades, não consegue ver além

daquilo ali. Então a gente tem tentado tranqüilizar, orientar os pais e justamente para desmistificar esse

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preconceito que ainda existe na sociedade. Tranqüilizá-los e dizer que há possibilidade, que nós vamos buscar

estratégias. Muitas vezes, a gente precisa fazer encaminhamentos.

Como a gente não pode atender aqui na SEMED, nosso trabalho nas escolas e nos encaminhamos para

Secretaria de Saúde, no atendimento fono-audiológico, que ela faz na UBS. Lá do lado do Cristo. Para

neurologista, tem gente que solicita aos pais fazerem esse diagnostico.

A gente procura assim, perceber a necessidade; procura encaixar o jovem em algum atendimento, por

exemplo, a ecoterapia, que é muito bom nos já solicitamos algumas vezes.

Nas agrovilas temos mais casos de alunos surdos, que muitos não estavam na escola e que depois desse

trabalho, de libras, um trabalho mais intenso com deficiente auditivo, eles apareceram, e, hoje em dia, a gente já

trabalha.

Depois o Orlando vai poder ta te explicando o que e o projeto libras. Pra se ter idéia, no Brasil não tem

trabalho igual ao que a gente faz aqui, nós já pesquisamos, ficamos, fomos até o Rio de Janeiro.

Dá uma olhadinha nos atendimentos; a Lulu estava colocando os atendimentos demonstrativos, São

quarenta e nove. Os professores, duas vezes em cada semestre vão nas escolas também. A professora Luciana tá

fazendo duas vezes reuniões mensais.

Assim, as meninas tem, uma capacitação chamada competências leitoras. As assessoras do fundamental,

então elas focaram em um desses encontros, justamente em cima das competências leitoras, de vários autores e

dentre eles estava o Paulo Freire. Não foi especificamente dele, e nós fazemos assim, em algumas vezes, alguns

desses encontros, nos convidamos algumas pessoas também para irem fazer essas oficinas ou dar essas

orientações essas capacitações pra eles; para os professores não ficarem só.

A gente faz os encontros e convida pessoas de fora pra estar em conjunto. Nessa oficina não focaram no

Paulo Freire elas colocaram vários autores mais foi ótimo muito bem trabalhado eles pegaram muita coisa já

colocaram em prática, fizeram material.

Assim nos fazemos o atendimento com eu te coloquei mediante o relatório que eles enviam, mas nós

focamos bem no aluno especial, no que tem dificuldade de aprendizagem, ou, às vezes, depende da conduta

típica. Então o professor faz o relatório, o próprio professor ele quer idéias, novos recursos, novas formas de

metodologia para estarem trabalhando e nós levamos essa orientação; a nossa equipe aqui e muito focada nesses

atendimentos.

Então as meninas tem feito um trabalho muito bom de palestra, com as famílias depois a Luciana vai estar

te passando que tem sido muito bom. Com essas nossas idas tem nas Agrovilas focam muito no atendimento,

assim como na zona urbana, o professor manda o relatório do que está acontecendo, de como é que tá o aluno.

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E tem chegado muitos relatórios das crianças especiais, então nos agendamos. Nessa ida, vamos pra sala

de aula observamos como é o trabalho do professor na sala de aula, observamos o comportamento do aluno; no

outro dia mandamos chamar família, a família vem nos fazemos um registro do histórico desse aluno.

Com a família e após esses encontros, no terceiro e quarto encontro nóbs vamos trabalhar, principalmente,

com o que a gente observou porque a gente já diagnosticou há muitas das questões não e o aluno não e o

professor e o professor que precisa de uma orientação, de como trabalhar com aquele aluno outras vezes, a gente

precisa encaminhar aquele aluno pra uma questão mais especifica, e outras vezes, a gente fica fazendo esse

atendimento com aquele aluno conversa, leva material, vê qual é a dificuldade que ele tem.

Quando a gente observa que já tá caminhando, a gente fecha o relatório e o professor dá prosseguimento

ao trabalho, mas, é um trabalho bem focado nisso. Nas agrovilas posso até te mostrar depois, a quantidade de

relatórios que chega; a gente quase não faz atendimento, parece que lá, é tudo tão tranqüilo, comparado com a

rede urbana.

Uma das escolas que mais a gente atende aqui são as escolas do Bairro Jaderlandia, a Ana Paula. A

escola Ana Paula e muito solicitada e ,a escola Monsenhor Lago, que tem um número de alunos incluídos alto;

acho que é um dos maiores; vez ou outra a gente ta indo lá, ou nos assessoramentos, que fazemos, por exemplo:

na semana que vem nos estaremos intensificando nas primeiras série. Então a gente aproveita o assessoramento

pra observar as crianças, comportamento e conversa com os professores.

A gente percebe que tem muitos professores que não gostam de fazer o relatório pra enviar. Quando a

gente vai à escola: nós precisamos de relatório, até pra gente depois ter um respaldo de que a gente atendeu

aquele aluno e ter um registro de que a gente fez esse trabalho se fosse na conversa acaba.

As vezes a gente vai atender um aluno, chega lá, a professora conta caso de mais quatro. Ou a gente vai

na sala de aula, e observa, mais três alunos que apresentam necessidades. Lá vamos chamar o aluno pra

conversar, a gente fala: professor manda o relatório desses alunos. Então tem que fazer o que a gente percebe,

não é dificuldade. Sabe, talvez seja por falta de tempo; não sei, mas muitos relatórios não chegam até a gente

justamente ou porque a escola resolve a questão ou porque o próprio professor não se interessa tanto em tá

trazendo aquela problemática daquele aluno.

NEILA: o que tu tens para te falar dos desafios,falaste o que te marcou e os desafios ... e muito rica a tua

fala SANDRA: o nosso desafio hoje e ver as crianças com dificuldade de aprendizagem ou com algum tipo de

deficiência incluídas nas escolas não ver nenhuma fora das escolas por preconceito,de que as pessoas achem que

elas não tem condições pelo contrario o nosso desafio vai ser esse,um sonho e justamente ter esse centro pra nos

fazer-mos esse atendimento a essas crianças paralelo a escola pra gente vai ser um desafio também mais

atualmente o que o grupo mais almeja e esse centro NEILA: ai o que vocês estão fazendo pra encaminhar para

que ele seja construído SANDRA: nos já fizemos um planejamento de com seria esse centro dos recursos a

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gente precisaria para iniciar esses trabalhos foi mais especificamente para essa sala de recursos multimeios que

eu te falei que vai ser no Francisco Pinheiro Gomes a gente vai iniciar por la se realmente de certo a gente quer

expandir lógico mais alem dessas salas de repente por pólos nos já idealizamos que fossem por pólo pólo

Jaderlandia teria uma escola que atenderia os alunos das proximidades,pólo no centro ali partindo do bairro da

Saudade e o outro pólo próximo perto da escola Elias Mineiro seriam três pólos mas no projeto que veio do MEC

eles solicitaram que fosse uma sala ai nos solicitamos que fosse na escola Franciscos Pinheiro que também tem

uma demanda de alunos especiais grande ate porque tem um espaço pra ter essa sala tem uma sala que seria bem

propicia para esse trabalho NEILA Franciscos Pinheiro fica em que bairro SANDRA: fica no bairro Santa

Catarina ali perto da torre na BR la pra trás tem umas invasões NEILA: ocupações SANDRA ...nos descobrimos

há um o tempo veio uma solicitação do Ministério Publico de umas alunas que ate participaram do projeto

IASAC e um projeto da Secretaria de Assistência que elas ‘tavam’ pelo que nos chegou aqui elas não estavam

estudando e nos fomos atrás numa invasão passando o bairro Nova Estrela atrás Nova Esperança de Jesus Cristo

nome da invasão mas olha pra gente encontrar a casa dessas alunas ate que encontramos conversamos com a mãe

pelo relatório que eu já li que tem uma deficiência mental no dia a gente observou mas a aluna já esta estudando

então a gente tem parceria com a oitava URES,com a Sesma,com a SESMA.

SANDRA: quando eles estão com dificuldade com algum aluno eles procuram saber com a gente come

aquele aluno se agente conhece se já tem relatório dele ,se ele já ta sendo atendido ai a gente vai fazer um

trabalho com elas também, na SESMA a gente já fez vários trabalhos de parcerias as vezes a escola solicita uma

palestra sobre educação sexual ,sobre a dengue a gente entra em contato com eles,com a oitava Ure la tem os

psicólogos de la quando agente precisa intensificar o atendimento de algum aluno a gente já encaminha pra eles.

3.1 – AGROVILA CALÚCIA

IDENTIFICAÇÃO: Escola Maria Perpétua Lisboa,Vila Calúcia

Local: Castanhal, km 12 da Rodovia Castanhal a São Francisco do ParáDiretora: professora Maria do Socorro da Silva Ribeiro, há 18 anos é diretora da escola

Em 1991 ingressei na Escola, quando ainda se chamava Escola Estadual Santa Rita. Funcionava uma

turma pelo Estado. Existia somente uma sala de aula que atendia alunos nos horários: manhã, intermediário e à

tarde. A partir de 1992 foi feita uma nova Escola; na gestão do prefeito José Soares, ela foi ampliada, com duas

salas de aula. Foi crescendo o número de alunos, hoje, 2009, estamos com 240. E uma Escola com estrutura

maior, com sala de leitura, sala de informática, que vai inaugurar agora com 02 de setembro, com computadores

para atender as crianças durante a semana, dentro do horário de aula.

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Atendemos alunos da educação infantil de 4 aos 5 anos, de 1ª e 4ª série, nos turnos: manhã e tarde. São

08 professores distribuídos nos dois horários. Ainda atendemos uma Escola que pertence ao distrito, chamada

Maria das Dores. Funciona como escola núcleo, existe a Escola ativa chamada Escola Maria das Dores,

pertencente ao município, com uma professora que atende nos dois horários: manhã e tarde. Temos duas

serventes. Na Escola sede, na Agrovila Calúcia, temos uma coordenadora.

O nome da escola é Maria Perpétua Lisboa; nome originado de uma antiga família, a qual doaram um

pedaço de terreno para construção da Escola. Foi colocado esse nome em homenagem a essa pessoa benfeitora,

filha de D. Calúcia. Foi daí que surgiu o nome de Agrovila Calúcia. Era uma senhora que pertencia a família que

atuava na questão política; era muito envolvida e após sua morte foi criado o nome de Agrovila Calúcia. Ela não

foi vereadora, só gostava muito de política. Foi atropelada por um ônibus em frente sua casa, na Agrovila; daí,

então, a filha continuou o trabalho de benfeitora, motivo pelo qual foi colocado o nome da nova Escola em

homenagem a ela.

Hoje a escola tem 05 salas; com sala para professor, secretaria, uma copa e uma sala com estrutura para

educação infantil. A escola já é autorizada pelo Conselho Municipal de Educação para o atendimento à educação

infantil, ensino de 1ª a 4ª série. Eram só duas salas, hoje já estamos com (05) salas e

10 turmas, sendo: 05 no turno da manhã e 05 no turno da tarde; também já conseguimos autorização para o

ensino de crianças de 9 anos; conseguimos também através da liberação do Conselho.

Nossos professores, somente dois, ainda não são concursados. Tem alguns ainda com o ensino médio, os

outros têm magistério, os demais estão com uma formação de nível superior. Eu estou cursando pedagogia, na

Universidade UNISSELVI; de o nível superior, com a coordenadora são 3; 5 ainda estão cursando, e 6

concursados, somente 2 ainda não são, ao todo são 10.

Na escola, trabalhamos muito, sobre os projetos. Em c

ada mês, existe um calendário que nos trabalhamos o projeto. Projeto meio ambiente, tudo que se refere aquele

mês é realizado no projeto, leitura, festividade da Agrovila, que é Santo Antonio, no mês de junho.

Cultura mesmo a Agrovila não tem, aqui não tem uma tradição. O pessoal trabalha, mais com plantação

de verduras, a economia é esta; os que tem terreno realizam plantações, os demais, trabalham nas redondezas,

nas fazendas, eles fazem trabalhos alugados. A vila ainda não tem muita cultura, a gente ainda é pobre, mas

busca trabalhar baseado nas outras circunstâncias que vamos conhecendo.

O desfile de 07 de setembro, todo ano realizamos. Infelizmente, este ano não vai haver devido à reforma

na escola, por isso a ausência dos alunos. Comemoramos também o dia das mães, das crianças, o

carnaval, etc. Fazemos todas estas festas para os alunos, com uma comilança no final do projeto apresentado

por eles, nos espaços da escola. A festa junina, eles gostam muito de quadrilhas, participam bastante. Tem os

jogos estudantis, em setembro, que o município realiza em Castanhal; só que nós da Zona Rural, realizamos, de

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acordo com a realidade da escola; junto com os alunos realizamos diversas brincadeiras, quem gosta de futebol

joga, ou então, quem gosta de queimada, diversas atividades.

A Secretaria de Educação tem um acompanhamento constante no sentido pedagógico; tem reuniões todos

os meses com os diretores, capacitação com os professores, agora nos dias 27 e 28/08/09 será a continuação do

pró-letramento. Tem a parte psíco- pedagógica que sempre vem para fazer o acompanhamento das crianças com

dificuldades de aprendizagem e as crianças especiais. Nós temos, poucos, mas existem alunos com necessidades

especiais. Na coordenadoria o ensino vem acompanhando sempre, fazendo visitas, levando as necessidades na

parte fonoaudiólogo. Hoje não temos crianças surdas, mas já tivemos uma menina; cursou até a 4ª série, depois

foi pra Castanhal; está cursando a 5ª série; trabalhamos ela, desde a educação infantil; hoje já diz algumas

palavras, podemos até compreender; antes não dizia nada.

Graças a Deus não temos problemas com os alunos sobre violência ainda. Conseguimos controlar nossos

alunos aqui na agrovila, tudo que acontece é normal no comportamento deles, não é como a gente vê por aí,

alunos revoltados com muitos problemas.

Os alunos eles trabalham com os pais. Temos duas turmas de 1ª série, de 08 até 11 anos. Existem crianças

na primeira série, ainda temos muitas crianças desses assentamentos que estão chegando, vem com todas as

dificuldades, crianças que estão estudando e os pais se mudam, saem da fazenda, vão para outro lugar e tiram a

criança do estudo. Tudo isto retarda a criança. Na escola temos 03 turmas de 2ª série, uma de 08 anos, outra de

09 anos e a 3ª turma, tem 02 de 08 anos e uma de 09.

Gosto

de estar sempre lutando, correndo atrás das melhorias para a escola. Quando

chega dinheiro do fundo – PDDE, fico sobrecarregada, faço pesquisas de preços, planilha e compras de material;

vou mais de uma vez ao comércio resolvendo estas questões, enfim é a parte mais trabalhosa do ano. Temos a

diretoria que compõem, mas como é de professores, este trabalho exige muito de minha parte, pois sou eu que

vou resolver, o professor não vai ausentar-se da sala de aula. O que mais marca na direção é trabalhar

com

pessoas de várias opiniões, cabeças que pensam diferentes e que, muitas vezes não aceitam as normas que são

cobradas da direção. E temos que cobrar, encontrando sempre barreiras, resistências, mas com jeito, vamos

conseguindo controlar carinhosamente.

Agora, todo mês, temos encontro pedagógico com a coordenadora para avaliação, antes não tínhamos. Há

02 anos atrás ganhamos esta coordenadora; antes era só eu que resolvia tudo; agora melhorou bastante, a divisão

dos trabalhos

.

Temos também a Associação de Pais e Mestres,

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a coordenadora mora no Conjunto Imperador; tem a secretaria;

tem uma professora que mora pertinho na Agrovila, a Berlamina; ela é uma das sobrinhas da Calúcia, da Maria

Perpetua, é da família; ela podia lhe dar algumas informações.

A Associação Pais e Mestres é pelo mandado de 02 anos; é composta de professores, pais de alunos e a

direção; é feita uma eleição, reúne todos os pais e escolhemos o representante. Os alunos não têm representantes,

pois são crianças; tem que constar toda documentação dos eleitos para levar para o cartório; são 240 alunos, este

ano aumentou.

Temos 08 professoras, hoje até me deram o valor da verba do PDDE é R$ 5.400,00 que é para capital e

custeio. Este dinheiro é para as necessidades do ano todo. Geralmente, o material didático acaba primeiro, então

pedimos na Secretaria de Educação e eles repõem até chegar ä próxima verba.

As dificuldades são: pouco pessoal para apoio, um vigia e duas serventes – uma, no turno da manhã e

outra no turno da tarde. Estou solicitando mais serventes. Diz o prefeito que haverá novos contratos devido o

concurso realizado, temos esperança que este ano melhore. Eu e os professores varremos salas, servimos

merenda com a servente, lavamos louças, limpamos banheiros, ajudamos uns aos outros; só a servente não dá

conta. Quando chega vai logo preparar a merenda e termina o período da manhã, não sobra tempo para a

limpeza da escola. Uma dificuldade muito grande que enfrentamos, com a falta de pessoal para apoio.

Quanto ao salário ninguém reclama. Dentro de seu nível, não é muito, mas não atrasando o dia de receber,

dá pra ir vivendo, não sei dizer quanto ganha um professor, agora o meu salário na direção é de R$ 1.400,00.

Um professor disse que ganha R$ 800,00 (oitocentos reais), 100 horas.

Existem professores que tem vocação, a gente percebe; sabemos diferenciar daquele que está ali no cargo

só porque foi um meio mais fácil que encontrou de ganhar um dinheiro, infelizmente.

A economia de Calúcia, territorialidade e trabalho

Antigamente era pimenta do reino, cacau. Este pessoal que trabalhava, com este tipo de plantação, já foi

embora, venderam! Só ficou os mais recentes, que são só verduras, mamão, criação de frangos. E, nas fazendas

arredores, tem o senhor Paulo Salviano, D. Luzia, senhor Carlos Gripp, tem um novato que comprou um lote, e

tem gado.

Todos têm gado; e os lotes pequenos são de 25 hectares, mas tem poucos lotes, a maioria vendeu; não sabemos

quanto. Temos o nosso, com o nome Sitio São José, Rodovia Castanhal São Francisco do Pará.

MUNICÍPIO DE CASTANHAL – AGROVILA CALUCIA

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ESCOLA: Escola Maria Perpétua Lisboa – Dona CalúciaPROFESSORA: Belarmina Soares Lisboa

Eu nasci aqui na Agrovila Calúcia. A minha avó era a dona Calucia. Eu, desde jovem trabalhei sempre

como educadora, e hoje a gente tem feito muitas, tem, há muita reforma na educação, nos temos participado

vários encontros de professores, e remanejamento de locais pra locais, a gente sempre ta se adaptando, se

renovando, cada dia mais a prefeitura tem nos patrocinado, cursos como de libras, e os nossos professores

atualmente tem sido bem preparado ,antigamente você via que a educação não passavam do ABC, aquela cartilha

do ABC e o aluno só era no ABC repetitivo, e como nos vimos hoje graças a Deus a educação tem dado um salto

bem grande ne!? nos estamos melhorando, os educadores estão melhorando e os nossos alunos com certeza vão

aprendendo mais e mais, porque nos como educadores não podemos lecionar dar nossas aulas só ali, temos que

ter as vivencias temos que ter as vivencias,temos que ter as culturas do aluno, rebuscar aquilo tudo do aluno

como ele é criado ,nos temos que participar dele ativa do aluno, e saber como trabalhar os conteúdos em cima

daquilo que o aluno já traz de casa, e hoje nos já temos feito isso eu praticamente fui praticamente criada em

colégio de freira, durante oito anos fui interna no Colégio de Freira em Belém irmandade de Nossa Senhora

Menina, elas são italianas de origem italianas, então nos aprendemos muita coisa no colégio, como aqui não

havia escola só havia antigamente uma escola do Estado e era na casa de uma professora,professora Adair, então

essa professora foi embora, minha avó trouxe essa escola pra cá pra Agrovila, pra onde era a escola era uns 3km

mais ou menos e nos íamos a pé né!? que não havia, nos íamos a pé porque não havia transporte só havia o trem,

e hoje nos temos visto que devido o trem ter sido tirado muitas pessoas venderam seus sítios foram embora,

outros se transformou a maioria em fazendas e a escola voltou pra cá, só que era escola Santa Rita do Estado,

agora só é Municipal o nome hoje e Maria Perpetua Lisboa o nome da minha tia, porque ela foi uma das

educadoras daqui, ensinou as primeiras letras pra muitos compadres que hoje já tão todos idosos né!?Então na

própria casa ela dava aula pra aquelas pessoas carentes que não podiam sair, que não tinham como ela leciona,

em casa ajudava aquelas pessoas e hoje muitos dizem graças a Deus, e a d. Perpetua que o apelido dela era

‘nenzinha’ e as pessoas só chamavam ‘nenzinha’, mas o nome dela era Maria Perpetua Linhares de

Lisboa,’nenzinha’ né!?

Então nós, como tivemos de sair daqui devido não haver modo de como nos estudarmos, ai nossa avo era

benfeitora de um colégio junto com umas tias nossas la em Belém, Preventório Santa Terezinha que era para

folhos menores para tuberculose, e as irmãs tomavam conta inclusive meu avô, tinha uma prima freira lá, e nos

fomos pra lá interna nos quatro irmãs eu, Eli ,a Joana e a Elizabete. Fomos interna nesse colégio onde nos

tiramos muito proveito, era uma educação meia rançosa porque da maneira antiga, mas hoje a gente olha e diz

assim: graças a Deus que eu aprendi alguma coisa, que consigo entrar e sair em qualquer lugar ambiente, devido

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a educação embora meia ‘carrasca’, mais valeu muito hoje a gente agradece por aquilo que nos passamos , em

todos os lugares a educação era assim mesmo, existia palmatória existia essa serie de coisas e hoje nos

resgatamos muitos valores, e a situação mudou muito, tem sido modernizado a globalização tem mexido com

tudo como nos sabemos, mas para nos foi uma experiência muito grande esse internato, as irmãs por serem de

origem italiana nos ensinaram muita coisa costumes ate delas que nos adquirimos também,ensinavam todos os

hinos da Pátria,hoje você vê uma pessoa importante pergunte se ele sabe o Hino do Pará,o Hino da Bandeira,o

Hino das Américas, o Hino Nacional, Hino do Soldado, o Hino da Proclamação da Republica,da Independência

eles não sabem e nos aprendemos tudo isso através das irmãs, e como a professora gostou muito nos aprendemos

também hinos que a gente só houve assim geralmente assim, você nem imagina que exista esse hino o hino dos

soldados que morreram na Segunda Guerra Mundial então ela pediu-me que cantasse, eu vou cantar.

VAI MINHA ALMA NA DOR DA SAUDADE, VAI REPOUSAR NO CHAO BRASILEIROMINHA PÁTRIA BRASIL DO CRUZEIRO, AUREAS DOCE DA TERRA NATAL

VAI LEVAR AO MEU PAI UM ABRAÇO, MINHA MAE VAI BEIJAR NA MInhA FRONTEOH! MEU LAR TE PERDEU NO HORIZONTE, LOGO APÓS ESSE ADEUS FATAL

MINHA MAE PORQUE EM PRANTO FICOU BANHADA ANTE A VIRGEM ROGANDO EU TE VEJOEU SO TENHO NO PEITO UM DESEJO E SALVAR O MEU LAR E O BRASIL

MAS SE UM DIA UMA CARTA CHEGANDO, TU A VIRES DE LUTO TRAJANDOO MEU LAR MINHA MAE PATRIA AMADA, O REZAI PRECE ARDENTE POR MIM (BIS)

Cantando varias musicas em italiano .......

Olha, além da música do soldado, nós aprendíamos canções da escola, também da própria escola. Por exemplo,

de manhã pela manha logo cedo nos antes de ir pro café da manha nos reuníamos no rol de entrada, cantávamos

canções de festa da escola que a nossa canção lá geralmente era assim:

E UM COLOSSO RATAPLAN, E UMA ALEGRIA RATAOLAN, NO PREVENTORIO DE TEREZINHA

RATAPLAN (BIS)

Lá NINGUEM BRIGA, RATAPLAN, Lá NINGUEM CHORA RATAPLAN A HARMONIA NO

PREVENTORIO

PASSEI NO TREM AS MENINADAS RATAPLAN ENTUSIAMADA DO PREVENTORIO (BIS)

E DA TEREZINHA RATAPLAN, NOSSA AMIGUINHA E DAS CRIANÇAS DO PREVENTORIO (BIS)

Na época que nos estávamos interna, foi na época da revolução de 64, então se eu não me engano naquela

época eu não sei se era Zacarias de Assunção,eu também não lembro bem porque agente não se ligava em

política ,as freiras tinham origem italiana,sempre os governadores participavam das festas,doações, eles doavam

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algo para escola eu lembro bem do Jarbas Passarinho , Alacid esses ai eu lembro que sempre estavam visitando a

escola.Mas se eu não me engano na época que nos fomos interna, eu acho, nos eu acho que nos fomos interna foi

em 1962, logo apos dois anos depois foi a revolução 64, naquela época nos ficamos muito fechada devido era

tanto medo,as freiras não saiam as ruas nem nos não podíamos brincar nas áreas da escola porque tinham medo

da revolução e nos vivíamos fechado na escola, todo tempo rezando pedindo a Deus que evitasse qualquer

conflito maiores , e geralmente era isso não da pra lembrar bem, mas se eu não me engano quase com certeza era

o Zacarias de Assunção.

Assistia os discursos! Nós fazíamos discursos, a escola nos preparava né!? Nós fazíamos discurso, dávamos

flores para as esposas dos governadores. Geralmente assistiam as missas; após era a recepção, um coquetel para

os governos; eles sempre iam doar para a escola.

Elas tinham medo, elas falavam que nos tínhamos que ter cuidado, não conversar com qualquer pessoa

que chegasse na escola. Eque nos rezássemos muito,elas pediam muito vamos rezar todos juntos pedir para que

acabe essa resolução e que não haja grandes conflitos.Essa era a preocupação delas, que não houvesse

mortandade, não houvesse coisas piores né! Que, nós sabemos que a revolução parece que não foi muito grande,

mas foi seríssimo! Muitas pessoas desapareceram. Nós sabemos disso atualmente, mas, antes ninguém nem

comentava o assunto.

Hino do professor que nos aprendemos. Até que nos tínhamos aula de canto, com o professor Adelarmo Matos, e

a nossa instrutora Paola Taplete, que era italiana, nós tínhamos aula de canto e tudo mais. E nós aprendemos

várias canções no dia dos professores. Cantando ...

É porque elas achavam que antigamente nós que tínhamos de ser bastante patriótica, isso pra elas era

muito importante ensinar os hinos da nossa Pátria, elas eram patrióticas, elas gostavam muito de ensinar os hinos

da nossa Pátria e que nos devíamos muito respeito a nossa Nação, as nossas origens tudo isso, as freiras sempre

nos colocaram em uma situação de elevar sempre as nossas Nações.

PROFESSORA BELARMINA: Recordando as músicas...

A gente sempre fazía teatro, lá, nós aprendíamos, saiamos em damas, inclusive, às vezes, a gente saia para

outras localidades, nos ‘ensaiamo’ assim, Santa Catarina Labore, ali na Sacramenta, nos íamos sempre lá;

representar no palco deles. Lá, na Igreja de São Jorge, lá na Marambaia; ali no marco na Igreja Santa Cruz;

também íamos ali no Asilo Dom Macedo Costa, representar para os idosos. E, geralmente nos fazíamos muitos

números assim de vamos de ....;

A Izabel disse assim: as quatro pretinhas que nos apresentávamos que era assim, cantando [...].

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Quinta feira e a inauguração daí do nosso centro de informática, e ai o prefeito virÁ a noite com uma

comissão dele e nos temos que fazer um coquetel.

Foi um prazer, se e pra falar de educação, resgatando um a educação, sabendo que o futuro da nossa Nação e uma

boa educação se nos pudermos resgatar os valores cada vez mais, com certeza a educação vai mudar pra bem

melhor né!? nos seremos uma Nação desenvolvida sub desenvolvida ,que nos somos sub desenvolvido então nos

vamos melhorar cada vez mais vamos partir, vamos chegar as alturas aonde nos pretendemos, ápice né!? Chegar

ao ápice de uma boa educação dos nossos filhos, nossos netos, bisnetos; e mais tarde eles vão nos valorizar!

3.2 – ASSENTAMENTO CUPIUBA – Escola Paulo Freire

V0029 - 25 DE SETEMBRODE 2009- ESCOLA PAULO FREIRE COMUNIDADE DE CUPIUBA

PROFESSOR CIDIVALDO NASCIMENTO QUEIROZ

PROFESSOR CIDIVALDO: Sou professor , nove anos aqui na escola

PROFESSORCIDIVALDO: Magistério cursando pedagogia.

PROFESSOR CIDIVALDO : Assim pra inicio assim a gente eu e a professora Edinez a gente aqui e tem a

outra professora que saiu a pouco professora que e tipo mais assim tem uma estória mais próxima assim que se

envolve mais sempre se envolveu mais desde do inicio aqui , a gente foi um dos primeiros professores assim sabe

desde do barracão que não era aqui nesse local mais la embaixo só duas salas dividido mesmo com alguma parte

de compensado desde essa época a gente trabalhava la não era toda essa facilidade de chegar ate aqui ate então

vinha antes de bicicleta acho que todos de bicicleta tinha professores que pra fazer percurso de volta iam ate de

carroça ia daqui,depois desse eu momento que passou que em 2000 pra ca que foi construído a escola ai desse

época ate agora que ta passando a primeira reforma assim geral e a gente ta necessitando agora já tem alguma

facilidades a estrada melhorou um pouco difícil o acesso daqui devido violência ,assalto eles já fazem percurso

por fora assim.

PROFESSOR CIDIVALDO: A gente foi contratado pela prefeitura sim.

Eu trabalho com a terceira serie.

PROFESSOR CIDIVALDO: Não, sinceramente trabalho com terceira,segunda terceira,quarta serie dificilmente

tenho trabalhado com a primeira serie.

PROFESSOR CIDIVALDO: Pelo menos eu falando em questão de ser professor, eu sinto muito prazer em ser

professor pra mim eu acho questão de ser professor por necessidade pelo mercado de trabalho e tem a questão de

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ser professor por gostar , por amar a profissão, por vocação eu acho acredito que eu ainda sou professor porque

gosto de dar aula ,eu gosto de ser professor e a gente procura sim fazer todo trabalho que desenvolve a função

com bastante empenho, com bastante afinco,com bastante carinho sim e procurando passar para os nossos alunos

porque a gente observa uma grande dificuldade ne na questão educacional mas a gente procura suprir essas

dificuldade e tentar da o maximo da gente pra ajudar essas crianças ai.

PROFESSOR CIDIVALDO: A gente procura aqui assim ta focando a questão de ta trabalhando com a realidade

do aluno ta buscando envolver essa realidade do aluno e ta sempre aproveitando tudo que o aluno ate porque os

livros a gente sente dificuldade no material didático encontrar que tenha haver com a nossa realidade,ainda hoje

estive comentando com os alunos em relação essa dificuldade e ate pra gente falar da nossa região,do Para e uma

dificuldade então a gente procura ate pegar a realidade,o conhecimento que o aluno já tem porque tem coisa aqui

que o aluno já tem mesmo porque tem coisas aqui que eles trazem que a gente aprende com eles a realidade ,a

vivencia deles e a gente aprende com eles e a gente procura também com essa realidade ta colocando aquilo que

a gente entende ta mediando esse conhecimento do aluno trabalhando com eles melhorando essa questão.

PROFESSOR CIDIVALDO: Quando a gente fala por exemplo quando a gente comenta assim sobre Meio

Ambiente tem n situações mas gente vai falar de Meio Ambiente a gente procura falar de ar puro,arborização,a

gente procura falar de poluição do solo ai eles trazem uma questão que eles muito cuidado que a gente consegue

observar uma diferença muito grande quanto a poluição do solo,conservação dos rios e eles trazem esse contato

que eles tem direto esses cuidados que eles também tem direto aqui e a questão que a gente consegue fazer bem

legal assim quando a gente vai falar da questão das arvores,da questão do ambiente,da cidade pra realidade deles

aqui eles conseguem fazer rapidamente essa comparação porque eles vivem aqui e conseguem ter contato com a

cidade eles fazem bem e trazem isso pra eles e muito fácil com eles em relação a isso,e assim a questão de

conservar o ambiente e muito mais fácil porque eles vivenciam aqui ainda com os Igarapés e ai a gente consegue

falar com eles a questão de preservar a importância daquilo que a gente ainda tem aqui e que nas cidades a gente

encontra isso dificilmente a gente um Igarapé que possa as pessoas tarem usufruindo disso.

PROFESSOR CIDIVALDO:E justamente se referir a questão de bairro,de bairro,de comunidade a gente tem

com eles assim essa dificuldade pra trabalhar porque eles não aqui e totalmente pra trabalhar bairros a gente vai

falar outro linguajar porque eles não vivenciam aqui eu pelo menos procuro em momentos assim a gente procura

mostrar essa realidade pra eles fazer essa diferença através de mapas que eles conhecem bem aqui a região

ne,trabalhar pra situar pra estarem situados com o mapa eles conseguem fazer mapas da localidade deles,eles

conseguem fazer isso então e uma maneira ate nos professores que não conhecemos o campo aqui então a gente

eu pelos menos já tive oportunidade de fazer com eles e conhecer ruas,caminhos,estradas que eu não conhecia

acessos que eles tem conseguem explicar desenvolver tudo ali que a gente não consegue por não ter total acesso

aqui ne eles por estarem mais tempo tem uma vivencia maior aqui.

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PROFESSOR CIDIVALDO:A gente assim, voltando assim eu falava do inicio foi bastante difícil dos

professores que iniciaram aqui saiu a professora Edinez e a professora Edinalva que a professora que tem mais

tempo aqui e a professora Edinalva, no inicio aqui era muito difícil ate porque a questão estrada não era estrada

ainda assim piçarrada, so caminnhos pra vim pra ca tinha que vim só por um caminho de acesso aqui,a questão

violência assim assalto eu graça a Deus nunca fui assaltado aqui mas a professora que tava aqui já foi aqui,

bicicleta levavam, a outra minha irma que e professora as outras professoras a gente vinha pra ca ,não tinha quem

quizesse vim pra ca a gente procurava pessoas a gente tinha turma ninguém queria vim pra ca pela dificuldade

ne,pela violência assim e a gente vinha na coragem já disposto e com objetivo vou chegar la,vou chegar la com a

bicicleta e com o passar do tempo ne a gente foi conseguindo com o passar do tempo graças a Deus todos os

professores que trabalham agora aqui tem uma motocicleta uma motozinha pra se locomover a gente já faz um

percurso diferente menos violência pela BR por onde você veio,foi isso e as dificuldades basicamente e essa

assim a questão de ta se locomovendo pra ca.

PROFESSOR CIDIVALDO: No sentido a gente conta a gente conta com uma questão de uma gratificação da

zona rural isso tem,agora na questão assim se você me perguntasse o que fez a gente permanecer tanto tempo

aqui porque tínhamos oportunidade assim eu, outra minha Irma que e professora também, a professora Edinez eu

trabalhava em outra escola la e sempre perguntavam assim Cid porque tu não vem pra ca tu não pega outra turma

aqui ofereciam outra turma e nos eu e a minha irma já preenchemos varias vezes ate preencher uma

documentação aqui pedindo uma transferência e quando chega no inicio do ano começa tudo de novo ai não vai

parece que ficamos amarrado aqui desde essa época já nove anos ,dez anos que a gente nunca conseguimos sair

e a pergunta seria porque a gente nunca saiu daqui ? Pelo acolhimento,pelo carisma com que tanto pela

comunidade tanto os alunos tem com a gente.

De primeira a quarta .

Tenho quantos alunos na tua turma.

PROFESSOR CIDIVALDO : Na relação com os alunos e um dos intens assim que faz que cativa a gente,que fez

a gente ficar tanto tempo assim e a gente consegue assim, ate porque eu sempre fiz assim a diferença eu sempre

trabalhei em zona rural,em zona urbana eu sempre tive essa e eu sempre consegui perceber aqui assim pra os

nossos alunos parece não se por ajuda dos pais por uma aproximação dos pais mais parece que os alunos aqui

eles tem uma preocupação maior com a questão dos estudos ,os pais demonstram uma preocupação maior com a

educação dos filhos os pais demonstram uma aproximação maior com a escola coisas que ao mesmo tempo

trabalhando em outra escola em zona urbana,zona rural eu percebia essa diferença, os pais não tinham tanto essa

preocupação de estar acompanhando o aluno, alunos da mesma faixa etária com hábitos ruim,com maneiras ate

tipo violência assim alunos com comportamento diferente que tendiam a outra situação que distorcia a questão

da aprendizagem e aqui os nossos alunos assim não vou dizer pacatos mas alunos tipo muito envolvidos com a

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educação eles se dedicam, aplicados na atividade da escola em todas as atividades da escola que a gente propõe

tinham coisas aqui assim,que a gente agora não que a gente já dispõe deu m zelador na escola, mas tinham coisas

assim aqui raro pratica de recreação,mas mesmo antes da gente ter aqui um zelador na escola nos não tínhamos

dificuldade nenhuma em manter a área da escola limpa, conversávamos com eles na questão do lixo pra manter a

escola e questão de capinar, de zelar nos tirávamos um dia que não parecia trabalho parecia diversão sabe

reuníamos aqui prepara um sopão não tinha essa questão de poxa isso e trabalho do prefeito, da prefeitura, da

secretaria todo vinha pra ca com aquele objetivo era e um dia de diversão saiamos daqui a gente ia no

Igarapé ,Igarapé próximo e pronto todo mundo voltava pra casa sem ter a questão isso era dever de fulano ...

enquanto isso tentou varias vezes assim em outras escolas tinha o argumento a não isso e trabalho do prefeito

isso e trabalho tipo um outro pensamento e aqui a gente consegue ter muito a colaboração dos nossos alunos e

pais.

Tem diretora ela saiu umas 03:00hs porque ela tava desde de manha.

conselho Escolar não funciona ainda.

PROFESSOR CIDIVALDO : Com certeza, constante assim hoje ainda, hoje de manha já com os pais,reunião

com os pais ,reunião com os funcionários reunião com os funcionários porque esta iniciando as aulas, mas essa

reunião e sempre não lembro o período mais e mais ou menos mês/mês dependendo da necessidade.

PROFESSOR CIDIVALDO : Pra falar a verdade o ultimo livro foi feito uma sondagem assim eu não estava nem

presente mas a gente trabalha com livro a gente trabalhou com a editora moderna.

PROFESSOR CIDIVALDO : A gente trabalha bastante questão, a gente ate conta com bastante sim colaboração

deles, eles são bem ativos na questão de teatro,dramatização em todas as participações assim que a gente precisa

deles as vezes ate cobram da gente, a gente não tem dificuldade por eles participam bem,bem mesmo eles são

bem ativo.

IDENTIFICAÇÃO: ESCOLA PAULO FREIRE

Professora : MARIA ADELIA SANTOS DA CRUZ

Comecei aqui no ano passado na escola dando aula de inglês a principio os alunos tiveram certa rejeição ne,

alguns por ser diferente talvez e difícil realmente e difícil pra mim as vezes causava certo desanimo ne porque eu

vinha de muito longe de bicicleta e as vezes eu chegava aqui eu escutava ixi hoje tem aula de inglês e eu fui

conquistando meu espaço aos poucos e já reclamavam quando eu não vinha porque eu não dou aula somente aqui

eu dou aula em quatro escolas aqui da comunidade eu dou aula em Bacuri,Assentamento,São Pedro e aqui

Cupiuba então pra mim foi bom então esse ano eu já passei a ficar mais aqui em Copiuba eu dou alua de

inglês,educação física e reforço escolar pra completar as 200 hs ne e tem sido uma experiência nova a cada ano

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com certeza,alunos novos e meu método eu uso muito ate porque fizemos um curso pela prefeitura uma

capacitação de doze dias onde nos foi orientado a bastante FLASH CAR são assim tipo ficha com nome e a

gravura geralmente eu trabalho mais com a gravura e com os nomes, educação infantil mais com desenho e

pintura a gente não exige,exige mais assim oral ne e tem sido muito gratificante quando eu entro nas salas ta aqui

professora de educação infantil que conta depois assim como eles falam e incrível como eles lembram tudo na

aula seguinte cada oito dias que dou uma vez por semana ,mas eles lembram da aula passada a gente consegue a

educação infantil ate mais do que os maiores e e gratificante ne com certeza muito bacana assim uma experiência

que nem eu imaginava que um dia fosse da aula de inglês, comecei dando aula normal mesmo primeira serie ai

teve o curso tenho magistério e tou tentando ainda ingressar no nível superior,tou tentando esse ano vou tentar de

novo prova.

Não , eu moro aqui mesmo próximo da escola

E surgiu a oportunidade disseram que ia ter inglês no Município e que o próprio professor ia ser escolhido

professor na escola pra ser capacitado eu ainda disse se fosse espanhol iria mas inglês não sei nem o A que nem o

B para minha surpresa eu fui sorteada na minha escola pra fazer o curso ai eu disse já que eu fui sorteada não vou

perder essa chance, fiz a capacitação de doze dias era cinqüenta professores cinqüenta e seis conseguiram atingir

a meta, foi ano passado mês de fevereiro e para minha surpresa eu fui contemplada consegui passar e fui lotada

para dar aula de inglês a principio em Castanhal só que eu pedir transferência para zona rural já que meu pai tem

terreno agrícola e eu pedi pra vim ,eu comecei da aula normal mesmo ai depois ...da inglês eu dou aula nas

quatro escolas.

PROFESSORA ADELIA: Eu acho que e isso quando eu chego que eu pergunto e eles lembram da aula e falam e

que eu vejo que fixou o assunto e muito gratificante, com toda certeza você saber que você ta conseguindo

repassar o desejado.

PROFESSORA EDINÊS BANDEIRA BARROS

PROFESSORA EDINES : E dez anos mais um ano mais que um colega Sidnei.

PROFESSORA EDINES: Vou concluir agora pedagogia,tou fazendo.

PROFESSORA EDINES : Faço na João XXIII.

PROFESSORA EDINES : UNIASSEF.

PROFESSORA EDINES : Surgiu essa faculdade aqui e a minhas colegas disseram que e UNIASSEF quem

coordena aqui na João XXIII e Patrícia Favacho que ela e a monitora que e a longa distancia só tem encontro dia

de quarta que e para ela monitorar entregar os livros didáticos orientar .

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PROFESSORA EDINES : Ai eu sou professora de educação infantil eu trabalho desde do barracão a minha

estória e desde do barracão e gente lutou muito pra conseguir essa escola e conseguimos montar uma escola

bonita,ter um ensino de melhor qualidade para as crianças porque la e muito difícil poeira,sentar em cima dos

tamboretes tinha uma mesa assim a gente fazia uma tabua botava aqueles estouros de pau pra crianças pra

crianças se sentar ,quando chovia a gente ia tudo pra debaixo da mesa ou abria uma sobrinha assim a gente

passava.Ai foi o que foi anos lutando pra conseguir uma escola aqui ate que fim veio a escola o prefeito veio

construir primeiro foi reunião a comunidade começaram a construir foi interditado ai o prefeito veio olhou

tudinho construíram a escola, agora isso aqui já e uma reforma aumentou mais porque era menor aumentou mais

porque cada ano mais aluno .

PTOFESSORA EDINES : O prefeito ajudou a construir,mais criança uma faixa de 250 alunos de educação

infantil a quarta serie e nessa faixa de educação infantil ate a quarta serie.

PROFESSORA EDINES : Trabalhava com primeira quatro anos com primeira e segunda com quatro anos serie,

um ano com terceira e o restante ate hoje educação infantil não querem me tirar da educação infantil.

PROFESSORA EDINES : Quando eu digo pra diretora que eu vou sair Deus o livre não não tu não vai sair

porque não tem outro professor,tem sim todos os professores estão capacitados pra educaçao infantil e bom

trabalhar com eles e prazeroso com eles,a gente aprende muita coisa.

PROFESSORA EDINES :Na educação infantil o meu método de trabalhar e assim, eu faço rodinha com

eles,primeiro conto estória ai eles vão contando a estorinha deles ai eu vou escrevendo na losa ne,ai eu pego um

livrinho faço a rodinha conto pra eles ai eles memorizam aquela estória e no outro dia eu pergunto eles contam

todinha aquela estória pra mim.

PTOFESSORA EDINES : Contos de fada eles demais e também através da musiquinha gostam muito da

misiquinha através da musiquinha eles vão aprendendo o alfabeto todinho ne eu canto a musiquinha trabalhando

a letra do alfabeto o alfabeto,de quatro e cinco sabe o alfabeto de A a Z,a gente não usa losa usa mais assim

jogos,recorte colagem ,estórias na minha pratica eu uso mais e isso com eles,as vezes a gente usa a losa.

PROFESSORA EDINES : Eles trazem e de casa a mamãe contou isso tia isso assim assim a senhora conhece

isso ai eu vou trabalhando,tia eu comi uma fruta e que cor e essa fruta ai eu vou explicando pra eles ai vou

trabalhar a matemática com eles contando quantas sementes tem dentro se nem todas frutas ...,já a gente trabalha

os temas transversais vai trabalhando com eles,aqui a gente trabalha muito com projetos todos os professores se

reúne quando esta iniciando o mês pra montar o projeto o que a gente vai trabalhar dentro do projeto,na educação

infantil trabalho com datas comemorativas eu trabalho a arte,arte da comunicação, ciências todas as disciplinas e

muito bom trabalhar assim eles aprendem bastante.

PROFESSORA EDINES :E boa, muito boa eles chegam assim professora meu filho já sabe as letras ele ta

aprendendo rapidinho e meu e método de trabalho, e assim eu explico pra eles ode quatro anos já sabe as letras

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todinha eles chega tia aquela letra ali porque e Paulo Freira e o PA e vao dizendo tudinho a diretora se espanta ai

a diretora diz não acredito que isso já sabe.As datas comemorativas já e o trabalho por exemplo o mês junino eu

já trabalho o P,B .

PROFESSORA EDINES : Por exemplo o mês de junho trabalha muito a pipoca, a bandeirinha,ai já vou

incluindo entendeu da letra do alfabeto já vou incluindo o T,B dentro das datas ,a matemática quantas

bandeirinha tem ai que cor e,ai já vou trabalhando as cores primarias e secundarias,e bom trabalhar com

educação infantil porque a gente aprende muito e tem curso de capacitação pra trabalhar com eles.

PROFESSORA EDINES :Pra gente conseguir um pouquinho a mais tem que trabalhar os dois turnos.

PROFESSORA EDINES: Em dois turnos de manha com quatro anos e a tarde com cinco anos com educação

infantil.

3. COLÔNIA TRÊS DE OUTUBRO – AGROVILA CASTELO BRANCO

IDENTIFICAÇÃO: Agrovila Castelo Branco/Castanhal Escola José Henrique de AraújoPROFESSORA KÁTIA: Kátia Cilene Teixeira de PaulaData: 15/06/09

Sou pedagoga. A respeito de organização: é, a gente, – acho que vocês devem saber que nós seguimos

assim a linha da secretaria de educação. Então, muitas das coisas que a gente tenta organizar, a gente organiza de

acordo com a meta da Secretaria de Educação. Mas isso não quer dizer que a gente esteja presa totalmente á

secretaria porque ela também abre essa oportunidade pra você criar, principalmente, através do projeto político

pedagógico, que a gente possa trabalhar aquilo que a gente acha que é o essencial pra comunidade.

Histórico da Escola

José Henrique de Araujo ele foi um morador muito antigo aqui da comunidade, ele, inclusive, ainda hoje

existe aqui na comunidade pessoas que são parentes dele: sobrinhos, primos muita gente da família dele ainda

existe aqui e o José Henrique de Araujo foi praticamente um dos fundadores daqui.

O ano que, foi fundada a escola, pra te falar verdade eu não sei assim o ano decorado. Tem documento.

Eu não posso te ajudar por esse lado, porque eles não estão comigo esses documentos, é com a diretora isso ai. É

ali mesmo tem uma placa é em julho de 85. Essa escola aqui por antes dessa teve uma, a primeira escola

funcionava num barracão que tinha sido cedido por um senhor...

A Agrovila Castelo Branco ela já é, já tem o que Antonia? Agrovila Castelo Branco ela tem muitos anos

de fundação. Não é desde 1983? Sim a minha Irmã tem vinte e poucos anos de servente. A Raimunda de

Souza...ela é a primeira servente daqui.

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Tem gente nova sim, tem muitas pessoas que já são moradores de muito tempo aqui, mas o que tem de

morador novo que ultimamente tem vindo pra morar aqui pra Agrovila é bem grande a quantidade de pessoas

novas vindas de outros lugares. Nossa, sei lá eu acho que é o que: uns três mil habitantes, é muita gente, isso aqui

é grande.

Sobre a gestão

É porque aqui é assim, a professora Liciete ela é diretora mais ela não é diretora só dessa escola daqui é

um distrito, é o distrito Castelo Branco. Ai tem a José Henrique, a José Isaias, a Domingos Barros e a Santo

Agostinho, que todos esses pertencem ao distrito daqui. Ela é diretora de todas essas escolas ai, essas escolas

juntas formam o distrito Castelo Branco. É um número grande, por exemplo aqui. Ela é diretora dessas três; não

tem um vice-diretor. É só ela a diretora, não tem vice é por que são escolas pequenas a maior mesmo é essa, as

outras são escolas com duas turmas de alunos, três turmas, funciona apenas um horário de manha outra à tarde.

O projeto político pedagógico da escola esse ano, a gente tá trabalhando também o PDDE. O PDDE é um

programa do Governo Federal também, que tá vindo pras escolas; e através do PDDE nós estamos

desenvolvendo quatro projetos aqui na escola. Um projeto é voltado para a leitura, o outro projeto é voltado para

educação ambiental, o outro é voltado para a cultura popular, abrangendo, principalmente, a nossa própria cultura

aqui da localidade e o outro projeto eu não to lembrada eu só sei que são quatro projetos, o outro projeto... deixa

ver aqui na minha agenda...

Pois é, esse projeto que eu estava falando pra ti são os projetos que a gente ta trabalhando com os alunos

de 1ª à 4ª série, apenas com alunos de 1ª à 4ª série. De 5ª á 8ª série tem a tarde e a noite que é o ensino médio. De

1ª á 4ª série todos eles moram aqui com exceção de uma, uma funcionaria que mora em São Domingos do

Capim. Mas os outros professores todos eles são daqui. De 5ª à 8ª, e do ensino médio, todos eles vem de

castanhal. Todos são do Estado do ensino médio. Aqui tinha, aqui tem vários professores que são apenas

contratados, muitos deles.

Sobre merenda escolar

A merenda é fornecida pelo município. Pelo município. Tem assim merenda regionalizada. Leite, milho

branco, vatapá, sopa, legumes, arroz doce, pra ver a qualidade da merenda. É por que chegou agora [...]. Essa

aqui chegou agora, eles mandam cardápio, tudinho! O quê que é pra fazer cada dia, quantos dias tem que ser feita

cada merenda é bem organizada. Ainda tem as outras merendas que vem, além dessa aqui eles ainda mandam por

exemplo, aqui eles mandaram uma remessa de mel, sorvete, suco natural, mas também vem... Esse suco natural

assim é poupa. Os sabores, acerola, goiaba. Quando é época de açaí, vem muito açaí também, o problema é que

agora ta em falta né.

Educação de Jovens e adultos:

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Não a 1ª etapa não houve clientela. Então tem 31 de 2ª etapa, 3ª etapa 54 e de 4ª etapa tenho 84. Já houve

sim evasão na 3ª etapa eu acho que deve ter tido umas duas, deixa ver, de 54 eu acho que já deve ter tido umas 10

pessoas que já se evadiram. Agora 4ª etapa e 3ª. Agora, a 4ª etapa é menos, geralmente, as turmas de 4ª etapa são

as que freqüentam acho que é por que esta em fase final, o fundamental eles.

A idade é variada a idade deles, tem de 15 anos até 70, 80 anos. Até 70 né, acho que a dona Sebastiana já

tem uns 70 anos.

Sobre sua prática docente

Por enquanto eu não estou trabalhando em sala de aula; tá com um ano e meio que eu me afastei de sala

de aula, mas trabalhei muitos anos em sala de aula. Comecei a trabalhar aos 14 anos, já tenho 25 anos de

profissão. Acho que é devido a isso que eu me afastei de sala de aula. Já completei os 25 anos de serviço de

professora.

Eu não posso deixar de dizer que eu costumo vê assim à diferença que aconteceu assim na minha vida

antes da minha formação e depois da minha formação em nível superior. A maneira como eu trabalhava antes e a

maneira como eu passei a trabalhar depois que eu me formei. Isso pra mim foi muito importante, foi uma das

coisas assim que marcou muito; eu acho que o conhecimento que a gente pega dos teóricos, a teoria que agente

passa a conhecer, isso é muito importante na vida, mas a minha vida como professora mesmo antes de ser

formada foi muito importante.

Eu acredito que toda a vida eu fui uma pessoa que sempre procurei assim trabalhar, sempre procurei

assim coisas novas pra tá mostrando pra ta me renovando. Na época quando eu comecei a trabalhar eu achava

muito interessante por que a gente trabalhava, mas de 06 em 06 meses, a secretaria de educação nos oferecia um

curso que era pra gente tá sempre se atualizando, apesar da gente não ter uma formação que deveria ter, mas eles

tavam sempre oferecendo curso pra gente ta se aperfeiçoando. Hoje em dia isso não existe mais, a secretaria já

não oferece mais essas oportunidades.

Todos eles chamavam de curso de reciclagem: metodologias de português, matemática. Sabe, todos esses

cursos eu ainda até tenho lá em casa todos eles, o certificado que a gente recebia. Era muito interessante e isso

ajudava muito, porque a gente trabalhando no interior, sem ter muito material. Porque, quando eu comecei

trabalhar em 83, a gente chegava, nas escolas, não tinha nada, era só um barracão aberto, não tinha como guardar

um livro, não tinha nada! Então pra nós, cada curso que a gente fazia era um fato novo.

Eu nunca tive, assim, uma série que eu trabalhasse mais, porque, geralmente, havia o rodízio, mas, eu

passei na minha vida, uma faixa dos 10 anos é mais ou menos, que eu trabalhava com turmas multisseriadas.

Juntava na época; tinha alfabetização. Juntava alfabetização, 1ª e 2ª série do período da manhã e a 3ª e 4ª série, a

tarde.

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Eu trabalhei numa escola que já foi até extinta, já até acabou. Era a escola Santo Antonio, na Agrovila,

ela era na travessa Mandante, na travessa que tem aqui pra baixo. A Colônia é 03 de outubro, é tudo isso aqui,

agora, dentro da Colônia 3 de outubro tem a Agrovila Nazaré, Agrovila Castelo Branco e a Agrovila 3 de

Outubro também.

Do ensino de história, olha Neila a gente fazia um bocado de coisa. Logo de inicio mesmo quando eu

comecei a trabalhar eu não posso negar que eu tive muita dificuldade. Principalmente pra trabalhar com historia

que são assuntos que pedem pra gente trabalhar mais voltado pra nossa localidade, voltado, por exemplo, pra

historia de Castanhal; o inicio da historia de Castanhal todas essas coisas que são materiais de difícil acesso,

principalmente, naquela época, que nós não tínhamos acesso a essas coisas. Geralmente quando a gente queria,

por exemplo, com 3ª e 4ª série, trabalhar a historia de Castanhal, eu ia com a diretora. A diretora ia pra Castanhal

pesquisar, trazia esse material; pra gente poder tá passando pros alunos em sala, era muito difícil.

A historia da Agrovila mesmo a gente, nós professores mesmos não conhecíamos, eu pelo menos não

conhecia, quando eu comecei a trabalhar que eu trabalhava lá na Agrovila 3 de Outubro eu não conhecia a

historia da Agrovila eu já vim conhecer a historia da agrovila num curso que eu fiz, e a professora exigiu que eu

fizesse uma pesquisa, e foi com essa pesquisa que eu consegui descobrir a historia, o motivo por que o nome 3 de

outubro.

Depois que foi feito essa pesquisa foi que eu tive elementos pra trabalhar com ele. Eu comecei a trabalhar

com eles buscando sempre a origem do próprio lugar, isso quando a gente trabalhava historia e isso era voltado

pra 3ª e 4ª série. Já quando a gente trabalhava 1ª e 2ª série e também tinha alfabetização, – naquela época que

hoje já não existe mais –, mas quando era pra trabalhar 1ª e 2ª série, logo quando eu comecei a trabalhar em 83,

a gente nem dava aula para as crianças de Historia. Negocio de Historia e Geografia, essas coisas, a gente não

trabalha. Trabalhava mesmo só o português e a matemática. Eu lembro de uma vez, numa reunião que teve na

secretaria de educação. Era assim, quando a gente ia passar as provas pros alunos, tinha que levar a provas todas

elaboradas; pra mulher lá, ver tudinho o que a gente ia passar. E no meio dessas, elaborei uma prova de Historia e

Geografia; na época, era estudos sociais.

Então, elaborei no meio a prova de estudos sociais e quando eu cheguei lá, que eu mostrei pra mulher ela

ficou assim encantada com a prova que eu tinha feito. Ela ficou assim: ‘ tu elaboraste, tu sabe, que dá pra

trabalhar mesmo com as criança. Sim, sabe ela se surpreendeu por que eu tinha feito, porque na verdade ninguém

fazia. Só fazia português e matemática; na época era muito [...]. Aí, gente começou a passar essas provas de

Estudos Sociais. Ciências, como eles passavam, era mais voltado pros animais. Ciências, por exemplo, a gente

voltava mais pros animais, pras plantas. Estudos sociais a gente buscava o eu da criança, quem sou eu, quem é

meu pai, como é minha família, a minha escola, o que eu faço na minha escola, era mais ou menos por ai.

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Um ano e meio que eu to fora de sala eu entrei, sai ano passado no mês de agosto, então não ta com um

ano e meio né. Eu sai anos passado pelo mês de agosto.

A maneira como a gente pensa, a gente buscar ver, porque é assim quando você não tem um

conhecimento aprofundado de como aquilo tá, por que aquilo acontece, você não sabe direito como agir. Você

até busca uma solução, mas você não sabe se a solução que você ta tomando é a correta. Quando você se forma,

quando você tem o conhecimento da teoria de tudo, aí você já sabe.

Entender o que acontece com uma criança; você busca entender o porque daquela criança ter chegado

atrasada, o por que daquela criança tá chorando, o porque quê ele não se socializa com as outras crianças, qual é

motivo dele ficar lá no cantinho dele sem querer, sem se mexer, todo quietinho ali.

Eu trabalho com turmas de educação infantil também. A gente quando chega na sala no primeiro dia

mesmo, a gente vê que tem uns que rapidinho se socializam com as outras crianças, mas tem outros que você

olha eles ficam lá quietinhos parece que tão com medo de alguma coisa. A gente sabe que aquilo, se fosse, em

outras épocas atrás, eu não ia entender? Agora eu já entendo que aquilo é novo pra eles. Que na verdade eles são

acostumados a ficar dentro de casa com mamãe, só pra eles com um pai. Quando eles chegam na escola, eles tem

um professor que é pra ser pra um monte de gente e aquilo faz eles se entristecerem, porque eles querem um

professor só pra eles; se fosse em outras épocas eu não teria entendido assim.

Em metodologias quando a gente faz um curso de pedagogia, a gente aprende muito. Por exemplo,

trabalhar com musica e cantigas de rodas são coisas importantíssimas que eu nunca tinha trabalhado. Buscar

poesia, trabalhar poesia com as crianças que eu já vim aprender a fazer isso, jogos, jogos tipos de jogos. Depois

que eu conheci de verdade, que eu comecei a trabalhar com eles eu via que na verdade eles aprendiam fazendo

aquilo, se você bota uma batalha naval, lá no quadro, pra eles ‘trabalhar’ eles se divertem, brincam e aprendem

ao mesmo tempo, é muito interessante. Música você trabalha uma música, 3ª e 4 ª série, dá pra você trabalhar

isso muito bem. Apresento uma música eu lembro que teve uma época dessas que nós fizemos um encerramento

aqui na escola e ai esse encerramento, cada turma tinha que apresentar uma musica. Quando eu coloquei isso na

minha sala e eu nunca me perdôo pelo que eu fiz. Também por que eu acho que eu errei nesse ponto quando eu

coloquei isso na sala eles ficaram muito animados. Nessa época eu ainda não era formada. Eles ficaram muito

animados, pois eles mesmo criaram as músicas assim em cima do som de outra música. Eles mesmos fizeram a

música deles. Quando foi no dia da apresentação, cada turma tinha que apresentar, ao invés de eu ter deixado eles

cantarem a música eu foi quem cantei a música. Aí, o meu erro que eu achei foi esse, de eu não ter deixado eles

apresentarem aquela música. Porque eu acho que a vontade mesmo, deles era isso: deles mesmos apresentarem.

Então eu penso assim, se na época eu fosse uma pessoa formada que conhecesse outras coisas, eu não tinha feito,

eu tinha deixado eles apresentarem a música, porque eu ia saber que aquilo era muito importante pra eles.

Comemorações cívicas e sociais:

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Olha aqui mesmo uma das coisas mais importantes que eu acho assim que acontece dentro da

comunidade, é o desfile escolar. Porque é um dos eventos que acontece aqui na vila e mexe com todo mundo.

Você tá ensaiando com eles, confeccionando cartazes, faixas e quando é no dia do desfile, você vê pai, é mãe, é

sobrinho, irmão todo mundo vem pra beira da estrada ver isso acontecer.

O dia 5 de setembro, geralmente agente faz dia 5. Mas não é toda vida por que sempre tem assim uma

data, a gente escolhe uma data que não seja o dia 7, que seja antes do dia 7, do dia 1º até o dia 6, até dia 6 nós já

fizemos desfile aqui, só nunca fizemos mesmo dia 7, mas é uma data importantíssima.

Sobre livros didáticos:

Os nossos livros didáticos são horríveis. Eu tenho muita coisa de livro didático que eu não concordo. São

livros assim muito lá do local aonde eles são confeccionados. Eles vêm de lá pra cá e eles põe aqui, pra gente,

não são regionalizados mesmo; é muito diferente a nossa cultura aqui paraense, nortista da cultura de quem é lá

do Sul.

Então quando agente vai trabalhar com a criança o livro didático a respeito de historia é uma das

primeiras coisas que a gente tem que ter é muito cuidado com isso, por que se eles vêem lá um pai, uma mãe, um

filho abraçadinho lá, que forma família. A gente sabe, que na realidade, não é só isso família. Não é só o pai, a

mãe e o filho que tão lá abraçadinhos, a gente tem que ter, tem que ter todo esse cuidado pra trabalhar com a

criança.

Tem a secretaria, tem aqui atrás um arquivo, lá pra trás, essa aqui, tem a diretoria três, a sala dos

professores quatro, a sala de leitura cinco e a copa seis. Tem biblioteca. Tem muitos livros, acho que deve ter uns

3 mil livros dentro daquela biblioteca.

Tem orientação, não à orientação aqui na nossa escola é só quando a gente esta precisando a gente faz o

pedido pra secretaria de educação e eles vêm às vezes, mas assim professor mesmo orientador não tem. Tem um

coordenador pedagógico: é a professora Laís Lemos. Ela é as duas coisas: da supervisão e responde também pela

escola na direção, no lugar da mãe dela. Porque a diretora mesmo é a mãe dela, a professora Liciete. Só que a

professora Liciete tá de licença, e quem tá respondendo pelas questões da escola é a supervisora. Eu que também

auxilio na coordenação da EJA e da educação infantil, da EJA e da educação infantil.

Tem tanta coisa boa pra gente falar, eu acho assim que a vida da gente como docente é uma coisa boa na

vida da gente; eu não posso dizer boa, eu tenho que dizer maravilhosa. Porque, na verdade, é uma coisa que eu

gosto de fazer. As coisas só saem bem feitas mesmo, se você realmente gostar, porque se você não gostar tudo o

que você vai fazer não sai perfeito, se você não gostar por isso que eu acho assim, a nossa ação docente mesmo,

tem que ser, tem que ser sempre como o Paulo Freire falava, a prática da gente sempre tem que ser de acordo

com aquilo que a gente fala se não for nada dá certo.

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AGROVILA CASTELO BRANCOESCOLA JOSÉ HENRIQUE DE ARAUJO22/06/2009DEPOIMENTO PROFESSOR OSMARINO CASTRO BRAGA

Nasci no município de Maracanã, lugar chamado São Jos, e a minha mãe é neta de uma senhora Rosa; ela

é índia. Só que eu não conheço a minha origem, minha raça, minha tribo; então, a minha mãe já veio ter a

descendência, e casou com Manoel Santana; que filho de mineiro.

Eu tenho descendência de índio me orgulho de ser. Então, e consegui antes de ser o professor eu era

jogador joguei bola num time chamado Icoaraci e pinheirense de Icoaraci hoje já não existe mais ne ai teve

problema me machuquei não pude jogar e passei a estudar e me formar em pedagogia e magistério,passei a ser

professor em 1995, trabalhei como professor e hoje, ate hoje mas a educação vem tendo uma transformação

muito grande entre a gente ne na área de ensino mudou muito porque antigamente a gente trabalhava aprendido

no alfabeto correto família silábica hoje a gente não trabalha nessa forma a gente vem tendo curso pegando varias

formas de como trabalhar e hoje na escola aqui Jose Henrique nos trabalha através de um projeto forma um

projeto entre os professores cada ca tem um tem a maneira de como se por dentro do projeto,alguém e professor

pra dar metodologia passar para outro professor,e este professor com modo de avaliação e assim nos

trabalhamos,o que nos ‘tamos’ trabalhando antes nos trabalhava família silábica ne e hoje nos fizemos curso de

soletramento e vimos que a família silábica ela e só mais um suporte como nos temos trabalhando mais

musica,parodias ,lendas,cantiga de roda (atirei o pau no gato,ciranda cirandinha,boi da cara preta) ,provérbios e

essa maneira da gente trabalhar com as crianças por exemplo que hoje a segunda de nove anos e uma primeira

serie e ai vamos trabalhar porque a criança pode não saber a ler mas se ela súber ela como de infância as cantigas

de roda como ciranda cirandinha,a barata diz que tem,boi da cara preta que e a canção mais cantada pelos

pai,atirei o pau no gato,só as musicas que elas sabem então através disso, através das musicas ela busco

identificar aquela palavra por mais que ela não sabe ler mas ela identifica e através disso a gente pode formar a

família silábica e tirar as consoante ,vogais então essa e uma maneira de como nos tamos trabalhando na escola

Jose Henrique tanto isso vem acontecendo do pré ate a quarta serie cantigas de rodas.

Trabalho com trinta e cinco alunos de sete anos e oito, mas esse ano que aqui nos viemos trabalhar com esse tipo

de musica cantiga, calenda ,parodia e poesia,poemas e assim nos temos percebendo que ta tendo uma excelente

desenvolvimento das crianças temos resgatando o que ficou.

Trabalhei dez anos com primeira serie e ‘tou’ a quatorze anos vai fazer quinze anos trabalhando só que eu

trabalho comecei com multiseriado trabalhava com duas series dentro de uma mesma sala era trabalhava com a

segunda e terceira, ai depois eu passei a trabalhar com segunda,primeira e terceira na escola Lourival Lira a seis

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quilômetros daqui e eu trabalhei na três de outubro com segunda e terceira que da treze quilômetros daqui pra la,

depois passei pra trabalhar no Eja primeira etapa ai me resgataram pra ca pra Sede Jose Henrique porque aqui e

escola sede ne ai passei a trabalhar na primeira etapa e depois passei a trabalhar na primeira serie então a uns dez

anos que eu trabalho com primeira serie agora que eu mudei no ano passado dei aula para terceira ai voltei pra

primeira serie de novo e e uma maior dificuldade trabalhar com primeira serie que a gente e responsável pelo

desenvolvimento da criança que ele tenha um desenvolvimento que não só formar ele como leitor na leitura mas

formar ele um aluno letrado ne saber como ele vai ser, nao só alfabetizar mas alfabetizando com criticas no,como

interpretar um texto,como identificar uma palavra formar ele um aluno gavião não uma tartaruga.

As crianças se identificam mais e com metodologia são tipos de jogos metodológicos como dedo no gatilho e um

tipo de jogo, lista de frutas,domino,móvel alfabeto móvel eu uso também silabas móvel e já falei dedo no gatilho

tipo de matemática,aula passeio dentro da comunidade e depois vamos fazer uma pesquisa sobre o que achar

interessante,só que nossa escola não oferece assim um suporte pra gente,como você precisa de um material

aquele material teja ali completo pra você,você precisa de uma sala pra experiência não tem,você trabalha

limitado bem dizer alias todos nos como professores trabalhamos limitado dentro de uma escola a gente não tem

não e uma escola de primeiro mundo ainda mas melhor do que antes,os alunos gostam muito de ter uma aula

dinâmica deixar de ser aquela tradicional as carteiras,quando eu chego na minha sala de aula eu reviro ela toda

não deixo ela enfileirada faço um circulo fico no meio com um vamos dizer a gente e de tudo na sala de aula a

gente e pai,e palhaço,e padrinho, e tio, e irmão,e amigo,e inimigo isso tudo acontece dentro se uma sala de aula

isso tudo eu já passei dando aula

O papel do professor dentro da comunidade onde vive ele tem o seu valor, assim o respeito às pessoas vêem a

gente com respeito, mas saindo da sua comunidade você e mais um cidadão mais uma pessoa andando ali e você

não tem a se você tiver uma condição financeira melhor você tendo um bem você sendo uma pessoa de nível

médio, alta renda não sendo baixa renda ai você tem um valor dentro da sociedade fora do seu lugar ou dentro da

comunidade você como professor e mais um que consta ali mas por outro lado trás o respeito da criança,dos mais

velhos ,a gente e um espelho da sociedade.

Saindo dos jogos a gente usa livros, e usa caderno pequeno pra pesquisa as vezes quando nos temos oportunidade

de usamos as vezes quando temos oportunidade de usar vídeo e voltando ao tradicional quadro e pincel não e

uma escola ainda de primeiro...

Um livro que eu trabalho didático que gosto muito e que me serve muito como suporte para primeira serie e um

livro Ler e Escrever e o livro Porta de Papel são dois livros usado como suporte.

O livro que a gente usa como professor, eu tenho muito livro em casa,eu vou na secretaria de educação reviro por

la vejo qual e o livro ... peço, pego, trago e utilizo aquele que e mais me da uma idéia melhor eu utilizo,porque

esse livro que a gente recebe pra primeira serie e muito difícil pra realidade e diferente uma realidade da zona

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urbana para realidade zona rural,então esse livro que a gente recebe não vem com as culturas da gente vem com

maça aqui no Para não da maça,vem com uva aqui a gente conhece uva na Ceasa quando vai e compra a nossa

realidade aqui pra ter um livro com as frutas nossas daqui tem piquia, tem a banana,tem o mamão,tem

acerola,laranja são frutas que e a realidade do aluno da zona rural mas vem esse tipo de fruta figo,pêra,uva,maça

que a gente não conhece nem a arvore então a realidade e diferente. então a gente usa o livro só por um suporte

mesmo ali para ter uma base mas que na realidade e mais aula assim que a gente formula,inventa pra se tornar

mais fácil para o aluno.

É como eu lhe digo,o livro didático ele e apenas um suporte e livro a gente utiliza mais que nem que nem nos

estamos agora pega no livro a cantiga de roda,musica que a gente pega livros que tem que agora ta vindo eu tive

olhando Porta Aberta um livro que nos fomos escolher,um livro pra vim no ano que vem e um livro que ele já

vem ... totalmente com poesia,já vem com essas musiquinha de roda,ele já vem um pouco diferente do que vinha

atrás, quando vem com aquela estória La vem o pato...a gente já encontra nesse livro que ele tinha perdido acho

que ele estão recatando e mais eles livro ainda não perfeito pra nos pra nossa região que e o Para.

A avaliação com a criança, a gente formula trabalho; ai faz pesquisa,pede trabalho,e forma apresentação pra eles

ele participar e então ai depois agente fecha com uma culminância ai através fazendo toda avaliação da

participação do aluno na sala de aula,fora da sala de aula,nos trabalhos pedidos, no comportamento então a gente

fecha

Ai terminando com encerramento sobre festa com apresentação dos professores e com alunos também

apresentando, professor e aluno apresentação como danças culturais como quadrilha, dança do carimbo e

algumas casamento na roça fechando com os alunos.

Olha o conselho escolar só existe pra la aqui na zona urbana eles não .. na zona rural ele não participam,não dão

apoio tem estória de aluno que já aconteceu aqui nos não tivemos apoio, eu acho que e só mais uma associação

que procura prejudicar, as vezes o pai ou a criação de uma família por exemplo se o pai repreende seu filho e

alguém denuncia ele vem em cima do pai porque pai não pode mais bater no filho,pode não pode mais prender

um filho são de menor isso e maltrato e a realidade e que se o pai não ter moral e mesmo o filho não tiver um

respeito pelo pai se torna esse moleque de rua ou filho de rua como a gente ver hoje na sociedade,por exemplo

falam como se diz assim conselho defende tanto a criança mais na verdade não resolve nada hoje eles só

procuram ver a pessoa quando e importante,a pessoa que não e importante eles não fazem nada que nem esse mês

passado meus colegas foram presos porque se envolveram com aluna criança de 14 e 15 anos,porque ele foi

preso ?A gente revendo a questão porque ele e professor, mas se ele não fosse um professor se ele fosse uma

pessoa apenas um empregado de uma loja será que ele teria sido preso?Não, porque hoje você vê criança de 11 e

12 anos com filho, alis aqui na nossa escola esta com 12 anos esta grávida e o rapaz que fez o filho nela ta solto

nem ficou com a menina não assumiu tai ta solto e se ele fosse um professor?Estaria preso porque o conselho ia

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em cima o conselho tava em cima, se ele fosse uma pessoa importante o conselho ia em cima como o cara não

tem nada não e nada deixa pra la essa e a realidade do conselho na nossa escola nos não temos apoio dele.

Aaqui, não existe conselho escolar.

A diretora é Niciete e a vice é Elaí. A secretaria a Cilene, Duda e a Mirtes

Os professores eu não sei, são, na faixa de uns dez: Wanda, Walda, Ivanete, Reginaldo, Osmarino, Suzana,

Perpetua, Elizângela, Eva, Rita, Dona Ivan, Simião – está de licença, etc.

PTOFESSOR OSMARINO: isso ai como ele chegam na primeira serie como aqui não antes pré escola a gente

pegava uma criança vamos dizer assim crua no ensino no ensino mas ela já vem com uma formação de casa

ne,então a gente procurava a não da uma forma de aula pra ela não se assustar, pra que ela se integre logo dentro

do ensino.Da primeira vez que quando eu comecei da aula que eu peguei duas series dentro de uma sala de aula

eu senti um impacto meu Deus como eu vou trabalhar com estas duas serie dentro dessa sala ne um tanto de

aluno, outro tanto de aluno com eu vou trabalhar ai vem a metodologia que a gente utiliza vamos trabalhar a

metodologia com serie tal desde que seja a mesma matéria so que diferenciava um pouco mas sendo o mesmo

assunto e dessa forma eu comecei trabalhar e quando chegou com o passar do dia isso era na segunda e terceira

serie o desenvolvimento duma da terceira serie que ela desenvolveu mais rápido ela passou a me ajudar em cima

da segunda serie dentro da sala de aula então eu tive um excelente resultado trabalhando com esse 36 alunos de

serie diferente na mesma sala de aula,outro impacto foi quando eu passei a trabalhar com primeira serie que eu

cheguei na sala de aula um monte de criancinha e eu meu Deus o que eu vou fazer se ele não conhece nem o que

um A ai eu procurei ajuda ai então foi tendo um suporte dos livros ai passemos a trabalhar mas há uma

dificuldade em relação entre pai / professor e mesma relação ou mau relação entre pai e filho porque tem mães

que procuram so mandar filho só pra se ver livre e quando a gente passa trabalho pra levar pra casa tem aluno

que vai e volta da maneira que vai da maneira volta, quer dizer tem pais que na ligam acha que e direito do

professor educar o aluno,e direito do professor da disciplina do filho dele enquanto que eu vejo que o professor e

um complementador da educação que a base mesmo tem que vim de casa da família e a gente ver um tipo de

criança que vem de uma família bem estruturada e mau estruturada há um a diferença.

O que eu quero dizer, é que, nesse meu trabalho, além do tempo fora que eu passo como professor, eu me sinto

feliz de poder estar ajudando na sociedade dessa forma. Meu pai minha mãe já morreram, mas era um orgulho

que ela tinha de ter um professor na família e hoje me sinto realizado. Tenho família que me aceita com minha

raiz e pretendo avançar mais e me formar com pedagogo e ensinar primeiro e segundo ano.

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