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Anais 03 a 06 de novembro de 2014

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Anais03 a 06 de novembro de 2014

São Luís - Maranhão2014

Anais

9a Edição, Série 2

Coordenação Geral:Natilene Mesquita Brito

Ligia Cristina Ferreira Costa

reitor:Francisco Roberto Brandão Ferreira

Comissão CientífiCa:

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projeto GráfiCo e diaGramação:Luís Cláudio de Melo Brito Rocha

Apoio:

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Ciências BiológicasBotânica

ApresentAçãoesta publicação compreende os Anais do IX ConnepI - Congresso norte nordeste de pesquisa e Inovação. o material aqui reunido é composto por resumos expandidos de trabalhos apresentados por pesquisadores de todo o Brasil no evento realizado em são Luís-MA, entre os dias 3 e 6 de novembro de 2014, sob organização do Instituto Federal do Maranhão.

os resumos expandidos desta edição do ConnepI são produções científicas de alta qualidade e apresentam as pesquisas em quaisquer das fases em desenvolvimento. os trabalhos publicados nestes Anais são disponibilizados a fim de promover a circulação da informação e constituir um objeto de consulta para nortear o desenvolvimento futuro de novas produções.

É com este propósito que trazemos ao público uma publicação científica e pluralista que, seguramente, contribuirá para que os cientistas de todo o Brasil reflitam e aprimorem suas práticas de pesquisa.

ESTRUTURA DE ABUNDÂNCIA DE REGENERANTES DE ÁRVORES E ARBUSTOS NA BORDA E NO INTERIOR DE UM REMANESCENTE URBANO PROTEGIDO DE FLORESTA TROPICAL ATLÂNTICA

N. D. Silva (IC)¹ ; M. L. A. Gonçalves (IC)¹ ; T. N. F. Guerra (PQ)² ; E. M. N. Ferraz (PQ)³ 1 Graduandos de Tecnologia em Gestão Ambiental no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) - Campus Recife. E-mail: [email protected], ² Doutoranda no Programa de Pós-

Graduação em Botânica – UFRPE. E-mail: [email protected]; 3 Profª. Drª./ Orientadora - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – Departamento Acadêmico de Meio Ambiente, Saúde

e Segurança - Campus Recife. E-mail: [email protected]

(IC) Iniciação Científica (PQ) Pesquisador

RESUMO Este estudo teve como objetivo verificar se existem diferenças na estrutura de abundância das principais espécies vegetais lenhosas nos estágios de plântula/juvenil entre borda e interior de um fragmento urbano de Mata Atlântica. Para amostragem da vegetação foram plotadas 20 parcelas de 2,5 X 2,5 m interespaçadas a cada 17,5 m, sendo 10 na borda e 10 no interior. As parcelas da borda foram instaladas ao longo de transectos de 100 m perpendiculares ao limite da floresta e as do interior alocados a uma distância de mais de 300 m do limite da floresta. Todos os indivíduos lenhosos com circunferência ao nível do solo menor que 3 cm dentro das parcelas foram catalogados, identifica-

dos e medidos. Nas duas áreas (borda e interior) estudadas, foram registrados 930 indivíduos lenhosos nos estádios de plântula/juvenil em 20 parcelas (125 m²), o que correspondeu à densidade total de 74.400 ind.ha¯¹. Nas 10 parcelas da borda (62,5 m²), registrou-se 418 indivíduos, no interior foram encontrados 512 indivíduos, ou seja, 22,48% a mais do que foi registrado na borda, indicando que podem existir diferenças entre o estabelecimento de plântulas entre a borda e o interior de fragmentos urbanos. As espécies Brosimum guianense e Eschweilera ovata se destacaram tanto em densidade quanto em frequência absoluta pelos elevados valores encontrados nos ambientes de borda e interior da mata.

STRUCTURE OF ABUNDANCE OF COMMUNITY TREES AT SEEDLING STAGE ON EDGE AND INTERIOR AREAS IN A URBAN PROTECTED FRAGMENT OF TROPICAL ATLANTIC FOREST

ABSTRACT This study aimed to determine whether there

are differences in the structure of abundance of woody plant species in the main stages of seedling/juvenile between edge and interior of an urban Atlantic Forest fragment. For vegetation sampling 20 plots of 2.5 X 2.5 m were plotted interspaced every 17.5 m, 10 plots at the edge and 10 plots inside. The plots in the edge were installed along of transects with 100 m perpendicular to the forest edge and the plots of the interior were allocated to a distance of 300 m from the forest edge. All seedling of arboreal and understory with the circumference of less than 3 cm into the ground plots were cataloged, identified and measured. In two studied

areas (edge and interior) 930 seedling were recorded in 20 plots (125 m²), which corresponded to the total density of 74.400 ind.ha¯¹. There were registred 418 individuals within the 10 plots the edge (62.5 m²), and 512 individuals were found in the inside of 10 interior plots, then, 22.48% more seedling were recorded than the edge, indicating that differences about the establishment of seedlings may exist between the edge and the interior of urban fragments. The Brosimum guianense and Eschweilera ovata species were highlights in density and in absolute frequency by high values found in the edge and interior forest.

PALAVRAS-CHAVE: Floresta úmida, regeneração, efeito de borda, plântula, densidade.

KEY-WORDS: Rain forest, regeneration, edge effect, seedling, density.

INTRODUÇÃO

As florestas tropicais úmidas ocupam 2% da superfície do globo e são consideradas as mais ricas em biodiversidade (CASTRO, 2004). Dentre estas, a Floresta Tropical Atlântica destaca-se na lista das vinte e cinco áreas de maior prioridade para a conservação da biodiversidade do globo terrestre, devido ao seu alto nível de endemismo e de diversidade biológica em contraponto com a grande redução de sua cobertura original (MYERS et al., 2000), decorrente das diferentes formas de perturbação antrópica que levam à formação de arquipélagos de pequenos fragmentos (TABARELLI et al., 2005).

A fragmentação, por sua vez, é um processo que ocorre em escala da paisagem e representa uma das mais graves ameaça a biodiversidade global, por resultar na perda e separação de habitats, que acaba produzindo efeitos diferenciados sobre a biota remanescente, conhecido como efeito de borda (FAHRIG, 2003).

Os efeitos de borda podem ser classificados em três tipos: efeitos abióticos, bióticos diretos e bióticos indiretos (MURCIA, 1995). Estes variam em cada fragmento em decorrência do seu histórico, tamanho, forma, matriz circundante e grau de isolamento com outros fragmentos (CONSTANTINO et al., 2003), sendo suas particularidades de extrema importância para entender possíveis variações advindas do efeito de borda em um dado local (LAURANCE et al., 2001).

Alguns trabalhos investigaram a influência do efeito de borda sobre a vegetação e verificaram que: 1) em bordas florestais as plantas estão condicionadas a diferentes condições edafoclimáticas de aumento da luminosidade, temperatura, velocidade do vento e da produção de serapilheira, em contrapartida há redução na taxa de umidade relativa do ar e do solo (MURCIA, 1995); 2) variações ambientais afetam alguns grupos ecológicos negativamente, enquanto outros são beneficiados, isto ocorre devido ao aumento de mortalidade, recrutamento, introdução de espécies da matriz, dano e queda foliar das árvores de grande porte (OLIVEIRA et al., 2004); 3) ocorre diferenças na composição, estrutura, abundância e interação das espécies vegetais da borda em relação ao interior do remanescentes (MURCIA, 1995).

Assim, estudar áreas fragmentadas da Floresta Tropical Atlântica é importante para compreender as possíveis mudanças bióticas e abióticas nos seus remanescentes, visando sua conservação. Da mesma forma, configura-se de extrema relevância conhecer a estrutura de populações lenhosas nestes fragmentos florestais, e principalmente verificar as possíveis variações entre borda e interior da floresta, e entre os diferentes tipos de matrizes circundantes, a fim de colaborar com o desenvolvimento de modelos de conservação, manejo de áreas remanescentes, restauração e recuperação de áreas perturbadas ou degradadas.

A maioria das pesquisas realizadas na Floresta Tropical Atlântica estuda a vegetação lenhosa na fase adulta, ou seja, analisa o componente arbóreo da floresta (OLIVEIRA-FILHO e FONTES, 2000). Alguns poucos trabalhos incluem essas plantas nos estádios plântula/juvenil, ou seja, aquelas que compõem o sub-bosque da floresta (GOMES-WESTPHALEN et al., 2012; SANTOS et al., 2010; SILVA et al., 2013), apenas recentemente esses estádios vem sendo incorporados nos estudos, tendo em vista a necessidade de elucidar questões relativas ao potencial regenerativo das florestas (RABELO, 2012).

Diante do exposto, objetivou-se com este estudo, descrever a estrutura de abundância de espécies regenerantes de arbustos e árvores em estádio de plântulas entre borda e interior de

um fragmento urbano de Mata Atlântica, situado na Unidade de Conservação Estadual de Proteção Integral, denominada Parque Estadual de Dois Irmãos.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado na Mata de Dois Irmãos em áreas de borda e interior do fragmento florestal. Nas coordenadas de 7°99’317’’ de latitude Sul e 34°94’351” de longitude Oeste (Comunidade Estrada dos Macacos) e 8°00’659’’ S e 34°95’459” W (Comunidade Córrego da Fortuna) para a borda e 7° 99’578” S e 34° 94’ 492” W para o interior. Trata-se de um fragmento de Floresta Tropical Atlântica, localizado em área urbana da Região Metropolitana do Recife, Pernambuco, denominado de Parque Estadual de Dois Irmãos, popularmente conhecida como Mata de Dois Irmãos. O Parque possui 384,4 há de área protegidos pelo Governo do Estado de Pernambuco, como Unidade de Conservação Estadual de Proteção Integral (PERNAMBUCO, 2006).

Segundo Veloso et al. (1991) a fitofisionomia relacionada à área é de Floresta Ombrófila Densa de terras baixas, pois apresenta três estratos arbóreos mais ou menos densos, formando um dossel que atinge os 20m de altura, com alguns indivíduos emergentes que chegam a atingir, às vezes, 31 m de altura. O arbustivo é escasso e o herbáceo só está presente em áreas semi-abertas com maior penetração de luz (LIMA e GANDOLFI, 2009). Sendo considerado um dos mais importantes fragmentos de Recife, principalmente por proteger o manancial do açude do Prata (LIMA e CORRÊA, 2005).

O clima segundo a classificação de Köppen (1948) do tipo As’, tropical úmido com verão seco e estação chuvosa adiantada para o outono, com precipitação anual média de 1.651mm e temperatura média de 24ºC. Os solos da área de estudo são classificados, em geral, como Argissolos Vermelho Amarelo Distróficos e Latossolo Vermelho Amarelo Distróficos (CPRH, 2003). A implantação das unidades amostrais ocorreu em dois ambientes da floresta, denominados de área de borda e área de interior florestal. Foi considerada borda da floresta uma área de até 100 m do limite florestal em direção ao interior (MURCIA, 1995; GOMES et al., 2009). Como área de interior foi considerada aquela com mais de 300 m de distancia do limite florestal (GOMES et al., 2009), por não sofrer influência direta da matriz circundante, ou seja, não é afetado pela presença de fatores antrópicos da borda. Em cada uma dessas áreas (borda e interior) foram instaladas 10 subparcelas permanentes de 2,5 x 2,5 m. Estas subparcelas foram alocadas em um dos vértices de parcelas maiores de 10 x 10 m onde foi amostrada a vegetação lenhosa do componente arbóreo (que está sendo investigado em outro estudo), tais parcelas distanciaram uma da outra em 10 m, assim as subparcelas distanciaram-se entre si em 17,5 m .

As unidades amostrais foram demarcadas com o auxílio de fita métrica, piquetes de cano de PVC e cordão de nylon. Todos os indivíduos regenerantes de árvores e arbustos com circunferência ao nível do solo menor que 3 centímetros (CNS < 3 cm) encontrados no interior de cada unidade amostral receberam uma plaqueta de campo numerada em ordem crescente, a fim de completar informações relativas à regeneração das espécies na floresta. As lianas foram desconsideradas nas análises, bem como herbáceas. Espécies exóticas foram contabilizadas, independente da sua forma de vida. A identificação taxonômica ocorreu por meio de literatura específica, consulta ao herbário Professor Vasconcelos Sobrinho (PEUFR) da Universidade Federal

Rural de Pernambuco (UFRPE) e foi adotado o sistema Angiosperm Philogeny Group III (APG III, 2009). Os dados obtidos dos indivíduos amostrados nas parcelas foram coletados durante visitas esporádicas, ocorridas em dezembro de 2013 e janeiro de 2014.

Foram calculadas as densidades totais (DT), para cada área, e a densidade absoluta (DA), densidade relativa (DR), frequência absoluta (FA) e frequência relativa (FR) para as populações mais representativas da borda e do interior.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas 20 parcelas das duas áreas (borda e interior) foram registrados 930 indivíduos regenerantes de árvores e arbustos nos estádios de plântula/juvenil (125 m²), o que corresponde à densidade total de 74.400 ind.ha¯¹. Nas 10 parcelas da borda (62,5 m²) foram amostrados 418 indivíduos (Densidade Total de 66.880 ind.ha¯¹) e no interior 512 indivíduos (Densidade Total de 81.920 ind.ha¯¹), ou seja, a área de interior teve densidade superior a borda em 22,48%, corroborando com estudos já realizados por BENITEZ-MALVIDO (1998) que analisou os impactos da fragmentação sobre a comunidade de regenerantes lenhosos na borda e no interior de trechos de Floresta Tropical Atlântica do estado do Amazonas, Brasil. Contudo, as densidades estimadas da borda e do interior deste estudo são bem superiores as constatadas por Gomes et al. (2009) ao comparar a estrutura do sub-bosque lenhoso em um ambiente de borda e dois de interior em dois trechos de mata atlântica de Igarassu (PE), que constatou resultados inferiores a 33.000 ind.ha¯¹ em todos os ambientes.

As dez espécies que apresentaram maior densidade absoluta na borda do fragmento, em ordem decrescente, foram respectivamente: Protium heptaphyllum, Licania sp., Brosimum guianense, Tovomita sp., Eschweleira ovata, Aspidosperma spruceanum, Ocotea sp., Thyrsodium spruceanum, Guateria pogonopus e Piper sp. No interior do fragmento destacaram-se: E. ovata, Helicostylis tomentosa, Payparola blanchetiana, B. guianense, Erythroxylum squamatum, Manilkara salzmannii, Pouteria gardneriana, Erytroxylum sp., Pouteria sp. e Ocotea sp. (Tabela 1).

A comparação entre as duas áreas mostra que com exceção de B. guianense, E. ovata e Ocotea sp., as espécies que se expressaram em maior densidade nas duas áreas são diferentes, apontando para a existência de conjuntos florísticos-estruturais distintos em regeneração na floresta. Essa diferenciação também pode ser verificada para trabalhos com regeneração da vegetação nativa em trechos preservados da Floresta Tropical Atlântica do Jardim Botânico do Recife (FREITAS et al.; SILVA et al., 2010) e em área antropizada do mesmo Jardim (SANTOS et al., 2010) que registraram a ocorrência de Sorocea bonplandii, Siparuna guianensis, Maytenus sp. e Brosimum discolor como espécies de maior de densidade.

Dentre as espécies que ocorreram em mais da metade das áreas amostrais na borda, estão: E. ovata e P. heptaphyllum (70% de FA), seguidas de Ocotea sp. e B. guianense (60% de FA) (Tabela 1). Entretanto, nas parcelas do interior, pode-se registrar que B. guianense ocorreu em todas as unidades amostrais (100%), seguida pelas espécies E. ovata (80%), E. squamatum, H. tomentosa e Protium aracouchini (70%), Ocotea sp. (60%), Licania sp., Aspidosperma discolor, P. heptaphyllum, Pouteria sp. e Brosimum rubescens (50%)(Tabela 1).

Tabela 1 - Parâmetros fitossociológicos das dez espécies com maior densidade na vegetação regenerante de árvores e arbustos nos estádios de plântulas/juvenil e das espécies com ocorrência em mais da metade das parcelas nas áreas de borda e interior da Mata do Parque Estadual de Dois Irmãos, Recife, Pernambuco. Apresentada em ordem decrescente de densidade (DA) na área de borda. N= Número de indivíduos; DAi= Densidade Absoluta (ind.ha¯¹); DRi= Densidade Relativa; FAi= Frequência Absoluta; FRi= Frequência Relativa.

Espécie Borda Interior

N

DAi

DRi (%)

FAi (%)

FRi (%)

N

DAi

DRi (%)

FAi (%)

FRi (%)

Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand. 82 13.120 19,6 70 7,22 7 1.120 1,37 50 3,11

Licania sp. 73 11.680 17,5 40 4,12 Brosimum guianense (Aubl.) Huber 50 8.000 12 60 6,19 34 5.120 6,25 70 4,35 Tovomita sp. 31 4.960 7,42 20 2,06 Eschweilera ovata (Cambess.) Mart. 23 3.680 5,5 70 7,22 54 8.640 10,5 80 4,97

Aspidosperma spruceanum Benth. ex Müll. Arg. 21 3.360 5,02 40 4,12

Ocotea sp. 16 2.560 3,83 60 6,19 17 2.720 3,32 60 3,73 Thyrsodium spruceanum Benth. 15 2.400 3,59 40 4,12 Guatteria pogonopus Mart. 11 1.760 2,63 30 3,09 Piper sp. 9 1.440 2,15 20 2,06 Helicostylis tomentosa Poepp. & Endl 53 8.480 10,4 70 4,35

Payparola blanchetiana Tul. 38 6.080 7,42 10 0,62 Erythroxylum squamatum Sw. 32 5.120 6,25 70 4,35 Manilkara salzmannii (A. DC.) H. J. Lam 19 3.040 3,71 20 1,24

Pouteria gardneriana (DC.) Radlk. 19 3.040 3,71 40 2,48 Erythroxylum sp. 18 2.880 3,52 30 1,86 Pouteria sp. 18 2.880 3,52 50 3,11 Protium aracouchini (Aubl.) Marchand 10 1.600 1,95 70 4,35

Brosimum rubescens Taub. 10 1.600 1,95 50 3,11

Aspidosperma discolor A. DC. 9 1.440 1,76 50 3,11

Fonte: O Autor, 2014. Nos ambientes de borda e de interior da mata do Parque Estadual de Dois Irmãos as

espécies B. guianense, E. ovata e Ocotea sp. se destacaram tanto em densidade quanto em frequência absoluta pelos elevados valores, corroborando com pesquisas já realizadas por Gomes et al. (2009) em um levantamento do sub-bosque de borda e do interior num trecho de mata atlântica de Igarassu (PE) e por Pontes (2011) na avaliação das principais espécies arbóreas encontradas na reserva legal do Riacho Pacaré, Rio Tinto (PB).

Segundo Lorenzi (2002) a espécie E. ovata esta classificada sucessionalmente como secundária, é perenifólia e heliófita, apresenta frequência ocasional e possui dispersão mais ou menos contígua ao longo de sua área de distribuição. Sua árvore por ser ornamental é indicada para uso de paisagismo e na composição de reflorestamentos mistos destinados a recuperação da vegetação de áreas degradadas devido sua semente ser bastante apreciada por morcegos frugívoros. A espécie arbórea B. guianense alcança pequeno a médio porte, está classificada como secundária, heliófita, possui dispersão de sementes zoocórica, e está frequentemente associada a terrenos secos (LORENZI, 2009) e no Brasil ocorre nas regiões Norte, Nordeste, Centro-oeste e Sudeste (SANTOS, 2012).

A espécie T. spruceanum, amostrada na borda e no interior da mata foram registradas no componente arbóreo por Teixeira (2009) em ambientes de encosta e topo da Reserva Biológica de Saltinho, PE. Segundo Lorenzi (2002) esta espécie é indiferente às condições de umidade do solo. Essa afirmativa de certa forma confirma o padrão para a mata estudada, em que sua maior densidade foi registrada na borda, teoricamente no ambiente com menor umidade disponível no solo.

CONCLUSÃO

Pode–se concluir com este estudo que a estrutura de abundância da comunidade regenerante de árvores e arbustos na borda e no interior aponta para uma possível variação entre a densidade e a frequência das espécies da borda e do interior desse fragmento urbano, de modo que na borda a tendência é que a densidade seja menor do que no interior e que prevaleçam espécies das classes iniciais de sucessão. Também registra-se ser diferente a estrutura dos regenerantes, apesar disso algumas espécies como B. guianense, E. ovata e Ocotea sp. mostraram-se indiferentes a essas condições.

Sugere-se que haja o monitoramento da dinâmica da comunidade de espécies regenerantes de árvores e arbustos na área, para melhor compreender quais fatores bióticos e abióticos podem influenciar na germinação, crescimento, estabelecimento, recrutamento, morte e interação dos indivíduos em remanescentes de florestais tropicais.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq e ao IFPE pela concessão da bolsa de Iniciação Científica (PIBIC). Ao Parque Estadual de Dois Irmãos por permitir o acesso à área de estudo para a realização desse trabalho. À Maria de Lourdes e a Marquinhos por me auxiliar em todo o momento durante a realização da pesquisa. À minha co-orientadora/ Doutoranda Tassiane Novacosque Feitosa Guerra e à minha orientadora Profª./ Drª Elba Maria Nogueira Ferraz por todo incentivo, dedicação e contribuição para minha formação como pesquisador. À Deus em especial. REFERÊNCIAS

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Abordagem etnobotânica de plantas medicinais utilizadas pela Comunidade de Remanescentes Quilombolas de Contendas, Caetité, Bahia, Brasil

G. M. Rosa (PQ)¹ ; E. S. Moreira (PQ)2 ; M. S. Carmo (PQ)3

1 Instituto Federal Baiano (IFBAIANO) - Campus Bom Jesus da Lapa -, 2 - Universidade do Estado da Bahia- Campus XVII- Bom Jesus da Lapa; 3 Instituto Federal Baiano (IFBAIANO) - Campus Bom Jesus da Lapa

(PQ) Pesquisador

RESUMO O presente estudo foi realizado na comunidade de remanescentes quilombolas de Contendas, no município de Caetité, Bahia, tendo como principal objetivo analisar os conhecimentos etnobotânicos adquiridos e explorados, por esta comunidade, para fins medicinais. As amostras foram coletadas de forma aleatória estabelecendo contatos informais. Foram utilizadas as técnicas do “rapport” e a técnica “bola de neve”. As etnoespécies coletadas foram depositadas no herbário da Universidade do Estado da Bahia, Campus VI (HUNEB) e para coleta dos dados foram elaborados e aplicados questionários estruturados e semi – estruturados com o objetivo de se obter informações sobre os usos das plantas ditas medicinais por esta comunidade. Os questionários foram analisados utilizando a classificação Estatística Internacional de Doenças e problemas relacionados à saúde. Foram entrevistados 8 colaboradores, sendo 06 mulheres e 02 homens, com faixa etária entre 44 e 83 anos. Foram encontradas 26 espécies consideradas medicinais, distribuídas entre 19 famílias

botânicas. As famílias citadas com maior número de espécies citadas foram Lamiaceae (4 espécies), Fabaceae (3 espécies), Lauraceae (2 espécies) e Verbenaceae (2 espécies). Os vegetais mais citados foram alecrim (Rosmarinus officinalis L – 11%), hortelã miúda (Mentha spicata L. ou hibrido M, Spicata X – 11%), poejo (Mentha pulegium L – 11%), boldo (Plectranthus amboinicus Lour. Spreng – 9%), mastruz (Chenopodium ambrosioides L – 9%) e losna (Artemisia absinthium L – 9%). Neste trabalho foi possível observar que a parte mais utilizada das plantas são as folhas, sendo que o chá corresponde a 64% das formas de preparo. As doenças mais citadas pelos colaboradores foram as doenças do sistema respiratório (40%), seguidas das doenças do sistema digestório (16%) e sistema nervoso (12%). O presente trabalho consegue apresentar dados que comprovam a existência, dentro da comunidade, de um conhecimento etnobotânico voltado para o uso de vegetais ditos medicinais para o tratamento e cura de diversas enfermidades, além de evidenciar e valorizar a cultura local.

PALAVRAS-CHAVE: Cultura local, Etnobotânica, Remanescentes Quilombolas.

Approach ethnobotany of medicinal plants used by the Community of remaining Quilombo of Contention, Caetité, Bahia, Brazil.

ABSTRACT This study was conducted in the community of Maroons remnants of Contendas in the municipality of Caetité, Bahia, the main objective to analyze the ethnobotanical knowledge acquired and exploited by this community, for medicinal purposes. The samples were collected randomly establishing contacts. We used the techniques of "rapport" and technical "snowball". The ethnospecies collected were deposited in the herbarium of the University of Bahia, Campus VI (HUNEB) and for data collection were developed and administered structured questionnaires and semi - structured with the objective of obtaining information about the medicinal uses of plants by this so-called the community. The questionnaires were analyzed using the International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems. Eight employees were interviewed, 06 women and 02 men, aged between 44 and 83 years. We found 26 species considered medicinal, distributed among 19 botanical families. The families mentioned with the greatest number of species cited were

Lamiaceae (4 species), Fabaceae (3 species), Lauraceae (2 species) and Verbenaceae (two species). The plants most commonly cited were rosemary (Rosmarinus officinalis L – 11%), peppermint girl (Mentha spicata L. or hybrid M spicata X – 11%), pennyroyal (Mentha pulegium L – 11%), Boldo (Plectranthus amboinicus Lour. Spreng – 9%), mastruz (Chenopodium ambrosioides L – 9%) and wormwood (Artemisia absinthium L - 9%). In this work it was observed that the most used are the leaves of plants, and tea accounts for 64% of the preparation methods. The diseases most frequently mentioned by employees were diseases of the respiratory system (40%), followed by digestive system diseases (16%) and nervous system (12%). This study can provide data proving the existence, within the community, an ethnobotanical knowledge focused on the use of so-called medicinal plants to treat and cure various diseases, as well as highlight and promote local culture.

KEY-WORDS:Local Culture, Ethnobotany, Quilombo Remnants.

Abordagem etnobotânica de plantas medicinais utilizadas pela Comunidade de Remanescentes Quilombolas de Contendas, Caetité, Bahia, Brasil.

Para início de conversa...Introdução

Caetité está configurada como importante centro cultural e econômico da Serra Geral da Bahia. Neste sentido devem estar inseridos como parte integrante da trajetória histórica deste município as comunidades quilombolas que contribuíram e contribuem, em muito, para a construção e manutenção da identidade caetiteense. Portanto, surge com extrema importância a necessidade de se valorizar e realizar um “resgate” do conhecimento tradicional dessas populações que consiga esclarecer as variadas formas de contribuição que foram e são ofertadas à História caetiteense de Caetité por parte das comunidades quilombolas localizadas neste município. Dentre os vários ramos de conhecimento que fazem parte da tradição das comunidades quilombolas que poderiam ser abordados nesse trabalho, optou – se por realizar uma atividade de pesquisa que procurasse levantar os conhecimentos adquiridos na utilização das plantas com fins medicinais, pois essa é uma, entre as várias áreas de conhecimento, em que se percebe a existência de grande influência dessas comunidades na sociedade caetiteense. O presente trabalho se organiza de maneira a coletar e classificar informações relacionadas às atividades de uso e manuseio de plantas medicinais desenvolvidas pela comunidade quilombola em questão, visando, inicialmente realizar um importante resgate da memória coletiva que vem se perdendo em meio à "contaminação cultural” que esta comunidade vem sofrendo devido às variadas relações estabelecidas entre esta e as diversas comunidades locais que foram se construindo no decorrer do tempo. Com os objetivos de descrever a trajetória histórica de produção e utilização dos recursos vegetais da comunidade quilombola amostrada e apresentar aspectos taxonômicos, morfológicos e razão medicinal dos principais recursos utilizados por esta, a pesquisa, aqui apresentada, vislumbra identificar a diversidade vegetal explorada pela Comunidade Remanescente Quilombola de Contendas do município de Caetité para uso medicinal e seus principais produtos, com o intuito de que, em todas as fases desta atividade, fique evidente a ideia de que todo esse esforço esteja voltado para a valorização da memória desse grupo. 2. 2 ETNOBOTÂNICA

O termo “etnobotânica” surge pela primeira vez em 1895 com o botânico norte-americano John W. Harshberger (BALICK M. & COX, 1996. p 169), para descrever estudos sobre plantas utilizadas pelos povos primitivos e aborígenes. Desde então a etnobotânica, como ciência, tem-se desenvolvido e várias definições foram surgindo, sempre em redor da relação entre o conhecimento tradicional dos povos e as plantas, quer nas comunidades consideradas mais primitivas, nas quais a relação homem – planta está fortemente relacionada com a sobrevivência, quer nas sociedades contemporâneas. Neste sentido é possível observar que a Etnobotânica tem como objetivo perceber a relação que existe entre as plantas e os povos, ou seja, estuda as plantas que de alguma maneira são utilizadas pelas populações humanas. Na prática um etnobotânico tem geralmente como objeto de estudo os povos indígenas ou as populações rurais onde ainda subsiste um vasto saber de experiência feita ou uma forte tradição sobre os vários usos das plantas. Tal como comentam Hernández e Garcia (1998, p. 65), o conhecimento popular que chegou até hoje, estava bem enraizado nas populações, de tal forma que foi mais resistente ao desaparecimento do que os livros antigos que tratavam destes assuntos, e que foram em parte

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destruídos ou esquecidos durante a Reconquista Cristã. No entanto, atualmente, é possível visualizar uma clara fuga das populações rurais para o meio urbano e, somando – se a isso, a força exercida pela mídia globalizada sobre essas populações tornou evidente a perda dos possíveis conhecimentos relacionados a diversas áreas, inclusive sobre as plantas medicinais, que há muito vinham sendo passados de geração em geração no seio dessas populações. É neste sentido que a Etnobotânica oferece grandes contribuições, pois apresenta ferramentas necessárias para recuperar e valorizar o conhecimento popular botânico. Segundo Rodrigues (2001):,

A Etnobotânica é uma área da ciência multidisciplinar, quer no que se refere às bases em que se apoia, quer nos contributos que oferece à humanidade. Assim, a Etnobotânica abarca a nível das Ciências Naturais domínios como a Botânica, a Ecologia, a Fitofarmacologia e a Medicina, a nível das Ciências Humanas áreas como a Etnologia, a Sociologia, a História, a Arqueologia e a Linguística, abrangendo ainda sectores da Economia e do Comércio.

Observando a afirmação acima, observa – se que a Etnobotânica se coloca como uma área que valoriza e incentiva uma espécie de produção científica que, paralelamente, apresenta novos conhecimentos na relação ser humano e plantas e acima de tudo, resgata e preserva a memória de comunidades que sempre mantiveram uma relação próxima com o uso de plantas consideradas medicinais. Segundo Diegues (1996, p.169), a relação simbiótica entre homem e natureza – presente tanto nas atividades produtivas quanto nas representações simbólicas do ambiente – permite que tais sociedades acumulem amplo conhecimento sobre os recursos naturais ocorrentes em seus territórios. Os estudos etnobotânicos podem trazer orientações muito valiosas à investigação fitoquímica e farmacológica relativamente à procura de novos fármacos. Nem sempre os conhecimentos populares refletem ações curativas reais, podendo encontrar-se usos sem fundamento e plantas utilizadas quase exclusivamente como placebos (MORALES, 1996 p. 96). Assim, é importante que os estudos etnobotânicos sirvam de base a estudos químicos e farmacológicos que analisem os compostos químicos presentes em plantas úteis e testem as suas atividades biológicas e aplicações fármaco – terapêuticas.

3. COMUNIDADES TRADICIONAIS

Desde o princípio a humanidade mantém uma importante relação com os recursos vegetais. Em inúmeras culturas e sociedades as plantas foram e ainda são utilizadas como parte essencial da alimentação, construção de casas, fabricação de utensílios domésticos, medicina, entre outros usos (DIEGUES, 2000). O conhecimento das plantas por uma comunidade faz parte de sua cultura e é transmitido de geração em geração (PASA, 2004); o homem é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas gerações que o antecederam (LARAIA, 2001). Na definição de Diegues (1996), as comunidades ou populações tradicionais estão intimamente ligadas com os recursos naturais e possuem um tipo de organização econômica e social com reduzida acumulação de capital, não usando força de trabalho assalariado. Estes grupos estão envolvidos em atividades econômicas de pequena escala, como agricultura, pesca, coleta e artesanato, baseando-se no uso dos recursos. O autor segue dizendo que um dos critérios mais importantes para uma população ser considerada tradicional, além do modo de vida, é o reconhecimento da própria comunidade como pertencente a um grupo social particular.

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Tais comunidades tradicionais possuem uma estreita relação com a natureza, devido ao seu modo de vida que permite um contato direto e permanente com os recursos naturais. Segundo Diegues (2006), estas populações em geral não têm outra fonte de renda, o uso sustentado de recursos naturais é de fundamental importância. A natureza apresenta-se ao saber tradicional destes grupos como um lugar de permanente observação, pesquisa e reprodução de saberes (DIEGUES, 2000).Neste sentido estudos etnobotânicos possibilitam o reconhecimento e preservação de plantas importantes e potencialmente ameaçadas; documentação do conhecimento tradicional e dos complexos sistemas de manejo e conservação de recursos; descobrimento de importantes cultivares manipulados artificialmente e desconhecidos pelas ciências e descobrimento de fármacos naturais, reconhecidos pela comunidade (ALBUQUERQUE, 2002).

3.MATERIAL E MÉTODOS

3.1 ÁREA DE ESTUDO

A comunidade de remanescentes quilombolas de Contendas está localizada a 32 km da sede do município de Caetité, no estado da Bahia, região da Serra Geral, com uma distância de 757 quilômetros da capital do estado e possui uma população, aproximadamente de 46.192 habitantes, com densidade 21,0 hab./km². Ocupa uma área de 2.306,382 km², limitando-se com os municípios de Igaporã, Guanambi, Pindaí, Licínio de Almeida, Caculé, Ibiassucê, Lagoa Real, Livramento do Brumado, Paramirim, Tanque Novo e Macaúbas. Além da sede, possui quatro distritos: Brejinho das Ametistas, Caldeiras, Maniaçu e Pajeú (Figura 1). Caetité possui altitude de 825 metros, clima ameno, apesar de situada no semiárido. Os períodos de maior insolação são nos meses de abril e agosto e sua temperatura média anual é de 21,4°C (média máxima de 26,8°C e mínima de 16,4°C) (IBGE, 2007).

Figura 1- Mapa de localização do Município de Caetité-Bahia. Fonte IBGE, 2007.

3.2 AMOSTRAGEM

Este estudo foi realizado com amostras da população que utiliza plantas medicinais com fins terapêuticos na comunidade remanescente quilombola de Contendas no município de Caetité escolhidos inicialmente de forma aleatória. Para o levantamento foi utilizada uma amostragem oportunística onde em que a inserção dos informantes se deu desde o primeiro

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encontro “ao acaso” o que foi aplicado da mesma maneira para os demais informantes. Isto permitiu uma amostragem dos indivíduos que utilizam plantas indicadas como medicinais na comunidade em questão.

Segundo Albuquerque e Hanazaki (2006) este estudo possui uma abordagem etnodirigida, a qual consiste na seleção de espécies de acordo com a indicação de grupos populacionais específicos em determinados contextos de uso, realçando a busca pelo conhecimento construído localmente e popularmente a respeito de seus recursos naturais e a utilização que fazem deles em seus sistemas de saúde e doença.

Para o levantamento qualitativo foi utilizado à técnica “bola de neve” (Snow Ball) proposta por Bailey (1994 in Lucas, 2010), onde o primeiro informante entrevistado recomendará outros similarmente competentes, de modo que, ao final do estudo todos os informantes, da comunidade, sejam entrevistados. 3.3 PROCEDIMENTO DE CAMPO E LABORATORIAIS

Este estudo teve duração de dezoito meses tendo seu início em janeiro de 2011 com o levantamento bibliográfico, visitas iniciais à comunidade para observação diagnóstica do local de coleta de dados. As coletas de dados foram feitas por meio de conversas informais sobre plantas medicinais para estabelecer rapport (adquirir a confiança mútua entre o colaborador e o pesquisador) e com o objetivo de esclarecer as intenções do projeto. Após o consentimento dos colaboradores realizou-se entrevistas estruturadas, com auxílio de gravador e, posterior, transcrição verbatim para um melhor aproveitamento e comprovação das entrevistas o que garantiu um acréscimo substancial às informações adquiridas.

As questões levantadas aos informantes nas coletas de dados (entrevistas) levaram em consideração dados socioeconômicos dos informantes e etnobotânicos (nome popular, as principais doenças indicadas, partes usadas, forma de preparo dos medicamentos, dosagens e restrições). Em seguida, foram realizadas idas ao campo para a coleta de amostras botânicas acompanhada dos informantes, para serem coletadas. Esta metodologia é conhecida como “turnê guiada” que segundo Albuquerque e Lucena (2004), é fundamental para evitar erros na identificação em decorrência dos nomes populares das plantas, pois o colaborador aponta in loco, a espécie citada.

Em seguida foi realizada a coleta de amostras botânicas férteis (com flor, fruto) e suas principais características (hábito, altura da planta, coloração de flores e frutos) anotadas em uma caderneta de campo, o que facilitou a identificação do material. As coletas seguiram o processo usual de herborização. Em laboratório foi realizado identificação do material através de taxonomistas, consultas a bibliografias especializadas, utilização de chaves de identificação e comparações morfológicas com exsicatas já identificadas em visitas ao Herbário da Universidade Estadual da Bahia onde foi incorporado à coleção botânica desta Universidade.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DOS ENTREVISTADOS Foram entrevistados 08 oito indivíduos da comunidade de Contendas, sendo os colaboradores 06 seis mulheres (75%) e 02 dois homens (25%), onde em que todos eles moram

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na comunidade há mais de 10 anos e utilizam plantas ditas medicinais em seu dia – a – dia. A faixa etária dos entrevistados variou entre 40 e 83 anos. Todos os entrevistados adquiriram os saberes sobre vegetais de utilidade medicinal através da troca de informações principalmente com os seus familiares mais idosos, pais ou avós, o que demonstra uma rica herança cultural sobre plantas medicinais. 4.2 CARACTERIZAÇÃO BOTÂNICA DAS PLANTAS UTILIZADAS PARA FINS MEDICINAIS

Foram encontrados números significativos de espécies vegetais considerados como medicinais pelos moradores na comunidade, as quais compreendem 26 espécies distribuídas em 25 gêneros e 19 famílias botânicas. Teixeira et al (2006), no município de Jupi, Pernambuco, Brasil, descreveram em sua pesquisa 73 famílias, sendo que 02 duas famílias (Lamiaceae e Fabaceae) também coincidiram com as descritas no presente trabalho. As famílias que apresentaram o maior número de espécies foram Lamiaceae (4/26), Fabaceae (3/26), Lauraceae (2/26) e Verbenaceae (2/26). Os resultados citados neste trabalho foram referenciados em estudos como: Fabaceae em Pasa (2011) no município de Cuiabá, Brasil. Foi possível observar que as espécies mais citadas foram hortelã miúda (Mentha spicata L. ou hibrido M, Spicata X), alecrim (Rosmarinus officinalis L.), poejo (Mentha pulegium L), boldo (Plectranthus amboinicus Lour. Spreng), mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) e losna (Artemisia absinthium L.) A criação e implementação do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos é uma alternativa dentro do SUS (Sistema Único de Saúde) criada para aquelas pessoas que preferem ou culturalmente confiam nos medicamentos naturais. A Relação Nacional de Plantas Medicinais de interesse ao SUS (RENISUS, 2009) lista 71 espécies que poderão ser utilizadas de forma segura como medicamentos pelo SUS. Destas, 10 espécies foram citadas pelos colaboradores da pesquisa, são elas: Allium sativum (alho), Artemisia absinthium (losna), Chenopodium ambrosioides (mastruz), Mentha pulegium (poejo), Phyllanthus niruri (quebra – pedra), Plantago major (transagem), Punica granatum (romã), Ruta graveolens (arruda), Stryphnodendron adstringens (barbatimão) e Zingiber officinale (gengibre). Na listagem nacional de plantas medicinais de interesse ao SUS, das 10 espécies presentes nesta pesquisa que poderão ser usadas de forma segura como medicamentos naturais se destacaram Artemisia absinthium (losna), Chenopodium ambrosioides (mastruz), Mentha pulegium (poejo) e Phyllanthus niruri (quebra – pedra) como as espécies mais citadas pelos colaboradores da comunidade de remanescentes quilombolas de Contendas, Caetité, Bahia. Alguns trabalhos também referenciaram as espécies citadas acima como aquelas mais usadas entre os colaboradores como LUCAS (2010), Caetité, Bahia. 4.4 INDICAÇÃO TERAPÊUTICA DAS PLANTAS MEDICINAIS

As indicações terapêuticas citadas pelos colaboradores desta comunidade foram analisadas, comparadas e organizadas seguindo a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (WHO, – 2007) pois, como observado por Lucas (2010) os entrevistados não conseguem distinguir as doenças e os sintomas, fato que pode comprometer o resultado final do trabalho. Os colaboradores da Comunidade de Contendas citaram 25 indicações terapêuticas, sendo as principais doenças informadas a do sistema respiratório, correspondendo a 40%, seguidas das doenças do sistema digestório, com 16% e sistema nervoso com 12%, além dessas, também se destacaram as doenças do sistema

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geniturinário e do sistema circulatório, ambas com 8% e, apresentando um percentual de 4% para as doenças endócrinas e osteomusculares. Ao observar as respostas atribuídas pelos colaboradores através de entrevistas estruturadas e semi – estruturadas em relação à indicação terapêutica, foi possível perceber que as doenças relacionadas ao sistema respiratório mais citadas foram: a gripe, dor na garganta e constipação, o mesmo sendo observado por diversos autores como Amoroso e Gély (1998) e Silva – Almeida e Amoroso (1998). 5. CONCLUSÃO

O trabalho desenvolvido na comunidade de remanescentes quilombolas de Contendas, Caetité, Bahia, apresentou como principal resultado a forte presença de conhecimento etnobotânico entre os colaboradores, mesmo que ainda foi possível identificar a necessidade de orientação para uma melhor e mais correta utilização desses vegetais medicinais. É importante salientar que grande parte desse conhecimento está sob o domínio dos mais velhos, que herdaram de seus antepassados, um conhecimento de extremo valor, que enriquece a nossa geração e que termina por nos oferecer oportunidades valiosas para a produção de conhecimento científico.

É interessante ressaltar que apesar de ter sido identificado a necessidade de orientação aos colaboradores quanto ao uso e manejo das ervas medicinais, não foi possível, nesta pesquisa, realizar atividades de capacitação para os mesmos. Ao observar o contexto local ficou evidente que todo esse conhecimento se encontra fragilizado por vários motivos, internos à comunidade, como o desinteresse dos jovens e externos, como a ausência de políticas públicas para valorização e capacitação para o uso dos vegetais medicinais. O desinteresse dos jovens pelo conhecimento dos mais velhos precisa ser considerado, pois pode levar à perda do conhecimento e da cultura, pela falta de perpetuação. Esse fato parece estar vinculado à falta de valorização dos valores civilizatórios africanos e indígenas presente em nossa sociedade, que por sua vez é reproduzido pela escola. Para tanto faz – se necessário, conscientizar a comunidade para que se posicione e passe a exigir implementação de leis, como 10.639/2003 e a Lei 11645/2008, que valorizem os pressupostos civilizatórios das culturas africana e indígena.

Portanto, o presente trabalho se posiciona como uma ferramenta muito importante para que seja possível a compreensão do valor do conhecimento etnobotânico presente nas comunidades tradicionais e fundamental para a ocorrência de novos estudos que venham apontar novas descobertas e alternativas para o uso e manejo dos vegetais medicinais.

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Conhecimentos tradicionais utilizados sobre plantas medicinais na comunidade Quissamã São Cristóvão /SE

RESUMO

Este trabalho apresenta as plantas medicinais utilizada pela comunidade Quissamã, São Cristóvão/SE. O objetivo foi registrar o conhecimento tradicional e uso terapêutico das plantas medicinais. A metodologia envolveu trabalho de campo e coleta de dados por meio de entrevistas semiestruturado e aplicado a 15 moradores locais. Os resultados demonstraram que os entrevistados são da faixa etária entre 53 a 62 anos, e obtiveram conhecimentos das

plantas por pessoas mais velhas, membro da família, vizinhos e amigos. Dentre os entrevistados, as mulheres se destacaram por serem detentoras do conhecimento hereditário. Entre as 35 plantas medicinais, algumas se destacaram no uso como: erva-cidreira, alfavaca, hortelã e alumã. Sendo utilizada no dia-a-dia, no uso preventivo e curativo de doenças, adquirida pela população da comunidade.

ABSTACT This paper presents the medicinal plants used by the Quissamã, São Cristóvão community. The point was to record traditional knowledge and therapeutic use of medicinal plants. The methodology involved fieldwork and data collection through semi-structured interviews and applied to 15 locals. The results showed that the respondents are the age group between 53 to 62 years, and obtained knowledge of plants by older people, family members,

neighbors and friends. Among the interviewed women stood out for being in possession of the hereditary knowledge. Among the 35 medicinal plants, some stood out in everyday use such as lemongrass, basil, mint and Alumã. Being used in day-to- day use in the preventive and curative treatment of diseases acquired by the population of the community.

J. R. Dória (IC)¹; I. L. Conceição (IC)²; S. S. C. Pinheiro(PQ)³; L. Perin(PQ)4

1,2,3 e 4 Instituto Federal de Sergipe (IFS) - Campus São Cristóvão e-mail: [email protected]

PALAVRAS-CHAVE: Conhecimentos tradicionais, uso terapêutico, plantas medicinais.

Key-words: Traditional knowledge, therapeutic use, medicinal plants.

Conhecimentos tradicionais utilizados sobre plantas medicinais na comunidade Quissamã São Cristóvão/SE

INTRODUÇÃO

Diante da grande biodiversidade de plantas medicinais, ainda há uma grande parcela da população, que busca a cura através do uso terapêutico de várias espécies vegetais. Em muitos casos, esse uso excessivo sem o conhecimento, doses muita exageradas, associações de plantas não combináveis, trazem grandes riscos à saúde humana (MORAES; SANTANA, 2001). Assim, torna-se necessário o estudo e o conhecimento sobre a história, a importância, o resgate popular e a unificação da ciência, buscando melhorar a capacidade do uso terapêutico desses recursos naturais disponíveis, tornando uma alternativa eficiente, barata e culturalmente difundida na comunidade. Essas práticas estão relacionadas ao uso populacional de plantas medicinais que muita comunidades têm como recursos naturais disponíveis e viáveis para os tratamentos de doenças ou manutenção da saúde (AMOROZO, 2002). Assim, a fitoterapia é um alvo, que funciona como a única opção na busca de soluções terapêuticos, sendo utilizada de tais formas, principalmente, pela população de baixa renda ((MORAES M.E.A , 2001 ). No entanto, a urbanização das cidades e a migração da população rural para a área urbana, levam à perda do conhecimento sobre as plantas medicinais, seja em função do distanciamento das plantas (nas áreas urbanas como: quintais e jardins, onde as plantas possam ser reconhecidas e coletadas, são cada vez menos frequente), por falta de interesse no aprendizado de suas propriedades, que as novas gerações estão perdendo esses conhecimentos acumulados pelos seus antepassados (HOWARD, 2003).

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na comunidade Quissamã em São Cristóvão/SE, município situado na região metropolitana, localizado a 23 km da capital do Estado, que limita-se com os municípios de Aracaju/SE a Leste, Nossa Senhora do Socorro, Laranjeira e Areia Branca ao Norte, Itaporanga d’Ajuda a Oeste e Sul, com altitude de 110 0’ 49’’ Sul e longitude 370 13’ 21’’ Oeste. A pesquisa foi realizada na área rural em suas residências, e desenvolvida no período de junho de 2013 a Março de 2014. Como instrumento de coleta de dados, foram utilizados formulários semiestruturado, utilizando-se métodos quantitativos e qualitativos (ALEXÍADES, 1996; GARLET, 2000; VENDRÙSCOLO E MENTZ, 2006). Durante as visitas, as informações eram diretamente registradas nos formulários e algumas anotadas em caderno de campo. A técnica de amostragem utilizada para seleção de informantes, é conhecida como “bola de neve”, uma amostragem intencional na qual os sujeitos envolvidos são selecionados a partir de indicações feitas pelos entrevistados da comunidade, e pelos próprios informantes (ALBERTASSE et al, 2010). A partir do contato inicial com a comunidade, um primeiro especialista é reconhecido, que passa a indicar outro especialista e assim sucessivamente, envolvendo todos os especialistas da comunidade, até que o ciclo se feche e novos especialistas não sejam mais apontados (ALBUQUERQUE E LUCENA, 2004). Desta forma, para a coleta de dados foram feitas 15 entrevistas e quantificados o número de espécies citadas e suas indicações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os 15 moradores entrevistados, são considerados membros de comunidade tradicional, que se caracteriza pela transmissão do conhecimento de forma oral, feita na própria comunidade. O grupo que se dispôs a compartilhar as suas experiências e conhecimentos sobre o uso de plantas medicinais, apresentou a faixa etária entre 53 a 62 anos. Geralmente nas comunidades tradicionais, as mulheres tendem a dominar melhor o conhecimento de plantas medicinais que são cultivadas, ou que crescem próximos das suas residências, enquanto que os homens, pelas suas próprias ocupações, tendem a distanciar-se mais da casa e a conhecer outros tipos de vegetação (AMOROZO, 1996). Nesse levantamento, 99% dos entrevistados são do sexo feminino, essa predominância também foi observada por (VENDRÙSCOLO E MENTZ, 2006). Através deste estudo, observou-se que as gerações mais antiga, conservam e valorizam os conhecimentos tradicionais e o uso terapêuticos de plantas medicinais, pois à medida que os anos passam, entende melhor esses conhecimentos, sendo respeitados e considerados pelo seu saber (AMOROZO, 1996). O levantamento resultou um total de 35 espécies utilizada na comunidade, estas espécies são cultivadas por moradores da comunidade, sendo encontradas em quintais de vizinhos, parentes e de suas próprias residências. Os dados adquiridos sobre o uso e as indicações das plantas utilizadas, são apresentados a seguir em tabela, sendo ordenados alfabeticamente por nome da planta, modo de uso, posologia, indicação popular, via de utilização, resultados da utilização e citações das mesmas. Na tabela abaixo, observa-se que as partes das plantas mais utilizadas foram: folhas ( 80%), sementes ( 17,14%), caule e folhas (14,29%), casca (5,71%) e raiz (2,86%). Em trabalhos desenvolvidos, as folhas também, foram as partes mais utilizada, nas preparações de uso terapêuticos por consumidores de comunidades, na maioria das vezes são utilizadas em forma de chás, considerando que a utilização das mesmas representa uma forma de conservação do recurso vegetal, se essas folhas forem retiradas sem excesso, não comprometerá o desenvolvimento nem a produção das plantas (Pessoa Cartágenes,2010).

Tabela 1: Relação de planta medicinais utilizada pela população da comunidade Quissamã São Cristóvão/SE Nome da planta Parte

utilizada Modo de uso

Posologia Indicação popular

Via de utilização

Resultados da utilização

Citações

Acerola

Folhas Chás 4 olhos Gripe Resfriado

Oral

Bom

1

Alfavaca

Folhas Xarope Macerado

1 punhado

Tosse Arqueiro Machucado

Oral Tópico

Bom ótimo 3

Amora Folhas Chás 10 folhas Pressão alta Oral Bom

1

Alumã Casca Chás 2 vezes ao dia

Dor de barriga Oral Bom 2

Anador Folhas Chás 3 vezes o Dor de cabeça Oral Ótimo 1

dia Arruda

Folhas

Chás 2 vezes ao dia

Oral Bom 1

Artemisia Folhas Chás 1 punhado Útero Oral Bom 1

Babosa Folhas Xarope 200g Dores nas juntas

Oral Ótimo 1

Capim-santo Folhas Chás

2 vezes ao dia

Dor de barriga Oral Bom 1

Coração-de-vidro

Folhas Macerado 1 colher de chá

Conjunte vite Oral Ótimo 1

Cordão-de-são Francisco

Folhas Chás 1 vez ao dia Pelipsia Tópico Bom 1

Camborá Flor Infusão 1 punhado Alergia Oral Bom 1 Canaflistula Sementes Xarope 3 vezes ao

dia Gripe Oral Bom 1

Canudinho Flor Chás 3 olhos Dor de barriga Oral Bom 1 Crista-de-galo Raiz

Folhas Xarope 100g Pneumonia Oral Ótimo 1

Erva-cidreira

Caule Folhas Sementes

Xarope Chás

1 punhado Calmante Febre Dor de barriga

Oral Ótimo Bom

4

Erva-de-santa Maria

Sementes Macerado 1 mão cheia Ferimentos Tópico

Bom 1

Goiabeira Fruto Folhas

Chás 1 mão cheia Diarreia Tópico Oral

Bom 1

Graviola Folhas Chás 1 punhado Câncer

Oral Bom 1

Hortelã Caule Folhas

Xarope Chás

1 punhado Gripe Verme

Oral Ótimo 2

Hortelã grande

Folhas Caule

Banhos 3 ramos Gripe Tosse

Oral Bom 1

Limão

Casca Chás 1 xibará de chá

Gripe Oral Bom 1

Malva banca Caule Folhas

Macerado 3 vezes ao dia

Dores nas juntas

Oral Bom 1

Mamoeiro Folhas Macerado 1 punhado Vermes Tópico Bom 1 Mastruz Caule

Folhas 2 vezes ao

dia Machucado Oral Bom 1

Mentraste Folhas Banhos 1 ramo Bactérias Tópico Bom 1 Mertiolate

Caule Folhas

Garrafado 10g Ferimentos Tópico Bom 1

Neuvagina

Folhas Chás 3 vezes ao dia

Dor de cabeça Oral Bom 1

Pau-ferro Folha Garrafado 3 vezes ao dia

Furunco Tópico Ótimo 1

Pata-de-vaca Casca Chás 3 vezes ao dia

Diabetes Oral Ótimo 1

Pitanga Folhas Chás Até que a Gripe Oral Ótimo 1

dor passe Pinhão roxo Folhas Compressa 2 galhos Dor de cabeça Tópico Bom 1 Quebra-pedra Caule Chás 3 vezes ao

dia Rins Oral Ótimo 1

Saião Folhas Xarope 3 vezes ao dia

Gripe Oral Bom 1

Terramicina Folha Chás 2 vezes ao dia

Garganta Oral Bom 1

CONCLUSÃO

O uso das plantas medicinais é um hábito na comunidade, tornando-se necessário o repasse dos conhecimentos sobre a utilização das mesmas. A pesquisa comprovou a eficiente e a ação de uso terapêutico pela comunidade, torna-se uma relação de estabelecida no intuito de melhorar a qualidade de vida da população, através de uma maior acessibilidade dos recursos terapêuticos disponíveis.

REFERENCIA 1-ALBERTASSE, P.D., THOMAZ, L.D. E ANDRADE, M.A. 2010. Plantas medicinais e seus usos na comunidade da Barra do Jucu, Vila Velha, ES. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 12(3): 250–260.

2-ALEXIADES, M.N. 1996. Collecting ethnobotanical data: an introduction to basic concepts and techniques. In: ALEXIADES, M.N. (Ed.) Guidelines for ethnobotanical field collectors. New York: The New York Botanical Garden.p.53-94.

3-ALBUQUERQUE, U.P. & LUCENA, R.F.P. (Orgs.). 2004. Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. Recife: Ed. Livro Rápido/NUPEEA. 189p.

4-AMOROZO, M.C.M. 1996. Abordagem etnobotânica na pesquisa de plantas medicinais. In: Di Stasi, L. C. (Org.) Plantas medicinais: arte e ciência. Um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo: UNESP. p. 47–68.

5-AMOROZO, M.C.M. Uso e diversidade de plantas medicinais em santo Antonio de Leverger, MT, Brasil. Acta Botânica Brasilica, v. 16, n. 2, p.189-203, 2002.

6-GARLET, T.M.B. 2000. Levantamento das plantas medicinais utilizadas no município de Cruz Alta, RS, Brasil. 2000. 220p. Dissertação (Mestrado em Botânica) – Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

7-HOWARD P.L. 2003: Women e Plants.Gender Relations in Biodiversity Management e Conservation. Londres: Zed Books Ltd.

8-MORAES, M.E.A.; SANTANA, G.S.M. Aroeira-do-sertão: um canditado promissor para o tratamento de úlceras gástricas. Funcap, v. 3, p. 5-6, 2001.

9- CA, ANDERSON, LA, PHILLIPSON, JD, Plantas Medicinas: Guia para profissional de saúde. Ed. Premier, 2002. 10-PESSOA, D. L. R. E CARTÁGENES, M.M.S.S. Utilização de plantas medicinais por moradores de dois bairros na cidade de São Luís, Estado do Maranhão. Enciclopédia Biosfera, v.6, n. 11, p. 1-9. 2010.

11-VENDRÚSCOLO, G.S. E MENTZ, L.A. 2006. Levantamento etnobotanico das plantas utilizadas como medicinais por moradores do bairro Ponta Grossa, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, Ser. Bot., 61(1-2): 83-103.

ESTUDO SOCIOLÓGICO E BIBLIOGRÁFICO DE PLANTAS MEDICINAIS ENCONTRADAS EM SERGIPE

L. M. Vasconcelos¹ (IC), M. de F. Lima¹ (IC), A. W. dos Santos (IC)1, M. S. Araújo (IC)2, T. S. de A. Batista¹(PQ), J. B. dos Santos-Filho3(PQ)

1Instituto Federal de Sergipe, IFS - Campus de Aracaju. 2Universidade Federal de Sergipe, UFS - Campus São Cristóvão

3Instituto Federal de Sergipe, IFS - Campus São Cristóvão. e-mail: [email protected]

(IC) Iniciação Científica (PQ) Pesquisador

RESUMO O uso de plantas medicinais como fitoterápicas, melhoram as condições de saúde das pessoas, pois possuem princípios ativos que auxiliam no tratamento das doenças levando até mesmo a cura. São utilizadas sob a forma de chás ou infusões que devendo ser ingeridos diariamente, enquanto durar o tratamento, mas é preciso ter cuidado ao consumi-las, pois algumas são tóxicas e quando consumidas de forma errônea pode trazer malefícios. A planta medicinal é uma planta que contém substâncias bio-ativas com propriedades terapêuticas, profiláticas ou paliativas. Diante deste fato habitual e muitas vezes necessário, principalmente nas

famílias de baixa renda, o presente levantamento visa contribuir com informações essenciais acerca de plantas medicinais. Foi feito uma pesquisa (entrevista) sociológica de informações populares e bibliográficas do uso dessa prática no estado de Sergipe, a importância alusiva dessas plantas com suas propriedades terapêuticas, bem como a melhor forma de preparo, finalidades e utilização destas no auxílio ao tratamento de doenças. Construiu-se um guia fitoterápico que posteriormente será publicado na forma de livro.

PALAVRAS-CHAVE: Plantas medicinais, Sergipe, doenças.

PHYTOTHERAPIC STUDY OF MEDICINAL PLANTS FOUND IN SERGIPE

ABSTRACT

The use of medicinal plants as herbal, improve the health conditions of the people, because they have active ingredients that assist in the treatment of diseases leading even its cure. Are used in the form of teas or infusions that should be eaten daily, the duration of the treatment, but care must be taken to consume them because some are toxic. The plant is a medicinal plant that contains bio-active substances with therapeutic properties, prophylactic or palliative. Considering this fact usual and often necessary,

especially in low-income households, this survey aims to contribute essential information about medicinal plants. A search was made (interview) sociological information and popular literature of the use of this practice in the state of Sergipe, alluding to the importance of these plants with their therapeutic properties, as well as the best form of preparation, purpose and use of aid in the treatment of diseases. Built up a herbal guide that will be published later in book form.

KEY-WORDS: medicinal plants, Sergipe, diseases.

ESTUDO SOCIOLÓGICO E BIBLIOGRÁFICO DE PLANTAS MEDICINAIS ENCONTRADAS EM SERGIPE

INTRODUÇÃO

O uso de plantas que apresentam atividades medicinais é conhecido e propagado através da cultura e da tradição popular, pois simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos, aumentado à pressão ecológica exercida sobre esses recursos naturais. Assim, tanto o valor econômico, o extrativismo predatório, quanto o comércio local, além da degradação ambiental dos ambientes naturais, colocam em risco a sobrevivência de muitas espécies medicinais nativas [HOEFFEL,2011].

No Nordeste do Brasil, grande parte dos habitantes da região usa o conhecimento de gerações para tratar de enfermidades e procurar manterem-se sadios. Mas esse não é um fenômeno isolado. Calcula-se que 80% da população dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento são quase completamente dependentes da medicina caseira, utilizando plantas para as suas necessidades primárias de saúde.

Uma planta medicinal é um vegetal que produz em seu metabolismo natural substâncias em quantidade e qualidade necessárias e suficientes para provocarem modificações das funções biológicas, os chamados princípios ativos, sendo, portanto usada para fins terapêuticos. À medida que os princípios ativos, que alguns apresentam elevada toxidade, são descobertos, e isolados, refinados de modo a eliminar agentes tóxicos e contaminações e as doses terapêuticas e tóxicas são bem estabelecidas, de modo a determinar de forma precisa a faixa terapêutica e as interações desse fármaco com os demais [FARIAS, 2013]. Extrair princípios ativos de uma planta medicinal significa passá-los do seu estado natural dentro da célula vegetal para um líquido. Vários fatores como temperatura e tempo de aquecimento influenciam para que se consiga a máxima concentração de produtos naturais no líquido extrator e no medicamento a ser preparado [NISHIYAMA et al., 2010; SILVA, 2000]. Existe um grande número de espécies em todo território sergipano, usadas desde a pré-histórica, na medicina popular dos diversos povos. As plantas medicinais são utilizadas pela medicina atual (fitoterapia) e suas propriedades são estudadas nos laboratórios das empresas farmacêuticas.

As observações populares sobre o uso e a eficácia de plantas medicinais contribuem de forma relevante para a divulgação das virtudes terapêuticas dos vegetais, prescritos com frequência, pelos efeitos medicinais que produzem, apesar de não terem seus constituintes químicos conhecidos [ALMEIDA & ALBUQUERQUE, 2002], ou seja, contrário da crença popular, o uso de plantas medicinais não é isento de risco. Além do princípio ativo, a mesma planta pode conter outras substâncias tóxicas. A grande quantidade de substâncias diferentes pode induzir a reação alérgica, pode haver contaminação por agrotóxicos ou por metais pesados e interação com outras medicações, levando a danos à saúde. Este tipo de cultura medicinal desperta o interesse de pesquisadores, como por exemplo, na área botânica, química e farmacologia, que juntas enriquecem os conhecimentos sobre a inesgotável fonte medicinal natural: a flora mundial [ALMEIDA & ALBUQUERQUE, 2002].

No Brasil 20 % da população consomem 63 % dos medicamentos alopáticos, o restante encontra nos produtos de origem natural, especialmente as plantas, uma fonte alternativa de

medicação. O interesse da pesquisa nesta área tem aumentado nos últimos anos onde estão sendo instituídos projetos financiados por órgãos públicos e privados. Nos anos 70, nenhuma das grandes companhias farmacêuticas mundiais mantinha programas nesta linha e atualmente isto tem sido prioridade na maioria delas. Dentre os fatores que têm contribuído para um aumento nas pesquisas está à comprovada eficácia de substâncias originadas de espécies vegetais como os alcalóides da vinca, com atividade antileucêmica, ou do jaborandi, com atividade antiglaucoma, ambos ainda considerados indispensáveis para o tratamento e por muitas plantas serem matéria-prima para a síntese de fármacos.

Sergipe está localizado numa área de clima tropical e semiárido no sertão, possuindo aproximadamente 2.068.031 habitantes, sendo que uma parte da população tem a agricultura como principal atividade [Sergipe, 2014]. Por isso tem a prática da medicina popular fortemente relacionada com sua cultura, pois para os que residem no interior é muitas vezes, é o único recurso terapêutico disponível.

Na escolha de qualquer planta medicinal o pesquisador deve estar completamente ciente sobre a planta, validando o interesse em novas investigações científicas. Por exemplo: a) se a espécie escolhida é encontrada em regiões diferentes no país, será importante avaliar as modificações químicas que ocorrem em decorrência de fatores ambientais variáveis, fatores como idade da planta e época de coleta, também poderão causar modificações nos teores dos constituintes químicos de espécies vegetais; b) se a espécie vegetal medicinal estudada sofreu investigação fitoquímica, etnobotânica, química e farmacologia, buscando resultados que possam validar ou não o uso da planta como medicinal [MACIEL et al., 2002].

Dentro deste aspecto, cabe ressaltar a necessidade de uma atuação multidisciplinar que o estudo com as plantas exige, incluindo desde o ponto de vista fitoquímico, até estudos abordando os aspectos agrotecnológico, microbiológico, farmacológico e biotecnológico, de tal forma que esta integração possa propiciar uma ampliação nas possibilidades na busca de novas moléculas ativas. Apesar de contar com uma enorme biodiversidade, o Brasil dispõe de uma infra-estrutura que deve ser melhorada para adequar a produção e a extração racional das espécies. Para o fitoquímico, todas estas especialidades têm papel importante na pesquisa com plantas medicinais. Qualquer profissional ou instituição que deseja trabalhar com plantas medicinais esbarra na dificuldade em produzi-las ou adquiri-las com confiabilidade na identificação botânica ou mesmo em obter informações sobre em quais condições à espécie foi cultivada [UNICAMP, 2014].

Apesar da simples prática envolvida, por exemplo, em um chá, lambedor ou mesmo em um xarope, diversos mecanismos físico-químicos complexos estão presentes nos processos de extração, tais como difusão, osmose, pressão de vapor, cinética de reação. Um bom conhecimento a cerca desses assuntos contribuem para a utilização correta das ervas medicinais [VIEIRA, 1992].

MATERIAIS E MÉTODOS

Trabalho de campo com entrevista na comunidade

O levantamento das plantas utilizadas como medicinais em Sergipe foi realizado através

de trabalhos de campo e coleta de dados obtidos através de um roteiro de entrevistas semiestruturado. As entrevistas foram realizadas com diversos tipos de pessoas que possuem ou não o conhecimento sobre o uso de plantas medicinais e realizam ou realizavam tais práticas.

A pesquisa foi composta por 204 entrevistados (139 mulheres e 65 homens) com idades entre 12 e 65 anos, analisando-se a atividade econômica de cada um dos entrevistados.

Produção de guia fitoterápico

Com base nas informações obtidas produziu-se o guia fitoterápico na forma de textos com informações relevantes acerca das plantas medicinais, bem como a composição química, correta forma de preparo contraindicações, propriedades, características, efeitos colaterais, etc.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os dados obtidos neste trabalho indicam que 92% dos entrevistados em Sergipe possuem o conhecimento sobre as plantas medicinas no tratamento das mais variadas doenças (Figura 1). Segundo relatos desses, muitos jovens não possuem interesse em aprender as práticas medicinais e alguns dos motivos apontados que justificam esse desinteresse é o acesso facilitado a hospitais e medicamentos industrializados, a necessidade de preparar os remédios medicinais, além do fato de que os mesmos possuem cura mais demorada quando comparada aos medicamentos químicos. Os 92% acreditam que as plantas medicinais se usadas regularmente (uso em média durante duas vezes por semana) curam as doenças para as quais as mesmas são indicadas. Ao perguntar se estes constataram algum efeito colateral, 98% dos entrevistados afirmaram que não constataram os outros 2% tiveram sonolência e dores de barriga. Grande parte dos entrevistados encontram estas plantas com facilidade em supermercados, feiras livres, em hortas da UFS, casa de vizinhos e amigos e em lojas de produtos medicinais. Dentre os 204 entrevistados, 7% preferem medicamentos químicos, 9% plantas medicinais e 84% informaram que a depender do caso escolhem o que melhor se encaixa. Quando para doenças com uma maior proporção, o câncer, por exemplo, preferem medicamentos químicos, contudo para dores locais e momentâneas, tais como dores de cabeça, barriga, cólicas menstruais, dentre outras, preferem as plantas medicinais.

Nota-se também que em apenas três casos o uso das ervas foi indicado por um profissional, os demais vieram de cultura popular, passado de geração em geração. 96% das pessoas obtiveram o resultado esperado ao utilizar estas ervas (Figura 2). Ao se perguntar se trocariam um tratamento alotrópico por um fitoterápico, 57 % afirmam optar pelo fitoterápico mesmo o considerando mais longo (Figura 3).

O uso de plantas medicinais é predominante entre as mulheres (Figura 4). A maioria das pessoas entrevistadas que utilizam plantas medicinais estão na faixa etária de idade de 25-60 anos. Apenas uma pequena parte dos entrevistados cultivam em sua casa as ervas que utilizam com mais frequência (Figura 5). Dentre as quais se destacam: cidreira, capim santo, boldo, malva branca, hortelã e camomila. Esse resultado mostra que em Sergipe existe uma grande facilidade de acesso a este tipo de tratamento em lojas de produtos medicinais, supermercados e outros.

Com relação à atividade econômica o uso de plantas medicinais aparece entre donas de casa; aposentados, estudantes e profissionais de áreas diversas: contadores, comerciantes,

médicos, professores e outros. 95% afirmaram ser válido repassar essa cultura (Figura 6). Apenas 20% dos entrevistados iniciaram um tratamento e interromperam por algum motivo (Figura 7).

Os resultados mostram que esta prática é bastante comum em Sergipe independente da atividade econômica executada por estas pessoas. Ou seja, esta prática está intimamente ligada com a tradição cultural e com as curas atribuídas a estas e que vão passando de geração para geração, em especial entre as mulheres.

Figura 1 – Percentual de pessoas que conhecem plantas medicinais no tratamento de

doenças dos 204 entrevistados em Sergipe.

Figura 2 – Percentual de pessoas que obtiveram o resultado esperado ao utilizar as

Plantas Fitoterápicas.

Figura 3 – Percentual de pessoas que trocariam um tratamento alotrópico por um

fitoterápico.

Figura 4 – Percentual de pessoas (em relação ao sexo) que usam plantas medicinais no

tratamento de doenças.

Figura 5 – Percentual de pessoas que possuem cultivo em casa.

Figura 6 – Percentual de pessoas que repassariam a cultura quanto ao uso das plantas

medicinais.

Figura 7 – Percentual de pessoas que interromperam um tratamento à base de plantas

medicinais.

Com as informações coletadas das entrevistas organizou-se um guia fitoterápico com as 91 ervas medicinais mais utilizadas que será posteriormente publicado na forma de livro. Neste guia foram identificadas as ervas pelo nome popular, científico, família botânica, origem, propriedades, características, parte utilizada, uso, forma de uso, cultivo, efeitos colaterais, contraindicação, composição química. Estas informações foram úteis na construção do guia de medicinal, do qual foi retirado o trecho seguinte:

Boldo

Nomes populares: Falso-boldo, Boldo, Boldo-brasileiro.

Nome científico: Plectranthus barbatus Andrews

Família: Labiatae (Lamiaceae).

Origem: Índia.

Propriedades: Tônica, eupéptica, hepática, colagoga, colerética, calmante, carminativa, antirreumática, estomáquica.

Características: Planta herbácea ou subarbustiva, perene, de até 1,5 metros de altura. Folhas suculentas e aromáticas, de sabor muito amargo. Não são conhecidas as substâncias que geram os efeitos benéficos da planta, nem as que causam o sabor amargo característico.

O verdadeiro boldo (Peumus boldus) é uma arvoreta do Chile cujas folhas secas e quebradiças com cheiro de mastruço são encontradas no comércio, mas não é cultivado no Brasil.

Parte utilizada: Folhas.

Uso: Problemas do fígado e digestivos. Os estudos farmacológicos com seus extratos mostraram sua ação hipossecretora gástrica, que reduz o volume de suco gástrico e sua acidez. Assim, utiliza-se para controle da gastrite, na dispepsia, azia, mal-estar gástrico, ressaca, estimulante da digestão e do apetite. Também se emprega no combate de piolhos.

Forma de uso: Usa-se o chá ou extrato aquoso feito preferencialmente com a folha fresca. O chá é preparado por infusão, adicionando-se água fervente as folhas. Para tratamento de azia pode-se mascar as folhas engolindo o sumo lentamente. Uso tópico no combate de piolho.

Cultivo: É facilmente reproduzida por meio de estacas, feitas com os ramos ou folhas.

Efeitos colaterais do boldo: Os efeitos colaterais do boldo incluem aborto, vômitos, diarreia e problemas no sistema nervoso.

Contraindicações: O chá de boldo deve ser evitado por gestantes, pois tem efeitos abortivos. Paciente com vesícula biliar obstruída ou doenças do fígado devem consumir o boldo sob orientação e supervisão médica.

Composição Química: As folhas apresentam ainda taninos, óleo essencial, flavonóides e glicolipídios.

CONCLUSÃO

O trabalho contribuirá para o registro e análise de informações presentes na cultura popular de Sergipe sobre plantas medicinais, com também na verificação de sua eficácia, formas de preparo e utilização. Espera-se com essas informações auxiliar no uso correto das plantas medicinais. Foi possível identificar alguns princípios ativos destas plantas através da literatura. Para futuros trabalhos pretende-se identificar seus princípios ativos em laboratório e sua estabilidade física e química.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, C. F. C. B. R.; ALBUQUERQUE, U. P. Uso e conservação de plantas e animais no Estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil): um estudo de caso. Interciencia junio, año/v. 27, n. 006, Asociación Interciencia Caracas, Venezuela, p. 276-285, 2002.

FARIAS, R. A. Plantas Medicinais, o que são e para que servem. Disponível em: <http://biogalera.wordpress.com/2010/05/20/plantas-medicinais-o-que-sao-e-para-que-servem/>. Acesso em: 25 set. 2013.

HOEFFEL, M. L. J.; GONÇALVES, M. A.; FADINI, B, A, A; SEIXAS, C. R. S. Conhecimento tradicional e uso de plantas medicinais. Revista VITAS – Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade, 2011.

LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas cultivadas. Instituto Plantarum de Estudos da Flora, Nova Odessa, 512p., 2002.

MACIEL, M. A.; PINTO, A. C.; VEIGA JUNIOR, V. F. Plantas medicinais: a necessidade de estudos multidisciplinares. Química Nova, v. 25, n. 3, p. 429-438, 2002.

NISHIYAMA, M. F.; COSTA, M. A. F.; COSTA, A. M.; SOUZA, C. G. M.; BÔER,C. G.; BRACHT, C. K.; PERALTA, R. M. Chá verde brasileiro (Camellia sinensis var assamica): efeitos do tempo de infusão, acondicionamento da erva e forma de preparo sobre a eficiência de extração dos bioativos e sobre a estabilidade da bebida. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, 30(Supl.1), p.191-196, 2010.

Sergipe. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sergipe>. Acesso em: 10 maio 2014.

SILVA, P. B.; AGUIAR, L. H.; MEDEIROS, C. F. O papel do professor na produção de medicamentos fitoterápicos. Química Nova na Escola, n.11, p.19-23, 2000.

UNICAMP. Disponível em: <http://www.cpqba.unicamp.br>. Acesso em: 07 abr. de 2014.

VIEIRA L. S. Fitoterapia da Amazônia. Manual de plantas medicinais. A farmácia de Deus. 2ª ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1992.

VISITANTES FLORAIS DE BROMELIA LACINIOSA MART. EX SCHULT. F. (BROMELIACEAE)

O. S. Torres (IC)¹ ; F. B. S. Farias (IC)2 ; P. A. F. Rios (PQ)3; D. C. Moura (PQ)4 ; I. V. de Souza (PQ)5 1,2,3 e 5 Instituto Federal de Alagoas (IFAL) - Campus Santana do Ipanema - AL, 4Universidade Federal de Campina

Grande – (UFCG), e-mail: [email protected]

(IC) Iniciação Científica

(PQ) Pesquisador

RESUMO

Um dos aspectos fundamentais da biologia reprodutiva é a polinização, processo de transferência de pólen de uma flor para outra por animais vetores. As flores oferecem recursos para que os animais promovam o sucesso reprodutivo das plantas. A Bromelia laciniosa é uma espécie “chave” que pouco se tem referências. A proposta deste estudo foi determinar os visitantes florais e potenciais polinizadores e apresentar dados complementares da biologia reprodutiva da espécie. As observações dos visitantes florais e polinizadores foram feitas à vista desarmada. Foram registrados os espécimes que visitavam as flores, o horário e o número de visitas (considerando-se “visita”

cada vez que o espécime contacta as estruturas reprodutivas da flor), e o comportamento dos visitantes florais. As espécies Chlorostilbon aureoventris (beija-flor), Plebeia flavocincta, Euglossa (Euglossa) cordata (abelhas), Phoebis philea philea e Aphrissa statira statira (borboletas), podem ser consideradas potenciais polinizadores de Bromelia laciniosa. Apis melifera e Trigona spinipes apresentaram comportamento oportunista, classificadas como espécies pilhadoras.

PALAVRAS-CHAVE: polinização, pólen, néctar.

FLORAL VISITORS BROMELIA LACINIOSA MART. EX SCHULT. F. (BROMELIACEAE)

ABSTRACT

One of the fundamental aspects of the reproductive biology is the pollination, process of transfer of pollen from one flower to another by animal vectors. The flowers offer resources for the animals promote the reproductive success of plants. The Bromelia laciniosa is a kind "key" that little references. Objectives: To determine the floral visitors and potential pollinators and submit additional data of the reproductive biology of the species. The comments of floral visitors and pollinators were made with the naked eye. Were recorded specimens that visited flowers, the

time and the number of visits (considering "visit" each time that the specimen contact the reproductive structures of the flower), and the behavior of floral visitors. The species Chlorostilbon aureoventris (hummingbird), Plebeia flavocincta, Euglossa (Euglossa) cordata (bees), Phoebis philea philea and Aphrissa statira statira (butterflies), can be considered potential pollinators of Bromelia laciniosa. Apis melifera and Trigona spinipes presented opportunistic behavior, classified as species as nectar robbers.

KEY-WORDS: pollination, pollen, nectar.

VISITANTES FLORAIS DE BROMELIA LACINIOSA MART. EX SCHULT. F. (BROMELIACEAE)

INTRODUÇÃO

O estudo da biologia reprodutiva das espécies é o primeiro passo para a sua conservação in situ e ex situ (Lenzi & Orth 2004), domesticação e manejo sustentado (Kearns & Inouye, 1993). Este estudo possibilita o levantamento das espécies de visitantes florais, fornecendo subsídios para estudos da biodiversidade, incluindo a fauna apícola local e para a ecologia da polinização de uma determinada planta (Kearns & Inouye, 1993). Um dos aspectos fundamentais da biologia reprodutiva é a polinização, processo de transferência de pólen de uma flor para outra (e consequente fertilização do óvulo) e na dispersão de suas sementes por animais vetores. Em contrapartida, as plantas possuem flores que oferecem recursos com pólen, néctar, óleos e frutos com polpa suculenta ou sementes nutritivas. Existe, portanto, uma “recompensa” para os animais que promovem o sucesso reprodutivo das plantas (Morellato & Leitão-Filho, 1992). Para o bioma Caatinga, as espécies com informações reprodutivas representam no máximo 16% da flora, dados mais completos representam apenas um terço desse montante, envolvendo uma ou poucas espécies (Machado, 1996; Machado & Lopes, 2002).

A família Bromeliaceae possui expressivo valor ecológico decorrente principalmente de sua interação com a fauna contribuindo significativamente para a impressionante biodiversidade das comunidades em que vive (Dias et al. 2000; Vosgueritchian & Buzato 2006). Ulissêa et al. (2007) relataram que no imbricamento das folhas, dos representantes desta família, é comum o acúmulo de água, e matéria orgânica em decomposição, que serve de alimento para uma variedade de organismos incluindo protistas, invertebrados e vertebrados que utilizam as bromélias para forrageamento, reprodução e refúgio contra predadores. Segundo Kaehler et al. (2005), há uma gama impressionante de polinizadores, consumidores de frutos e dispersores de sementes que dependem das bromélias; sendo assim, trabalhos desta natureza podem revelar uma gama de informações que podem orientar na conservação, manejo, reprodução, e consequentemente manutenção de espécies que podem ser consideradas chaves para manutenção do equilíbrio ambiental do habitat onde vivem.

A Bromelia laciniosa é uma espécie que pouco se tem referências, apesar de ser vista como uma das alternativas, oferecidas pela Caatinga, para pequenos criadores do Nordeste, como complementação alimentar de suas criações (caprinos, ovinos e suínos), e assim durante o período de estiagem reduzir custos, através de um manejo adequado e sustentável. Ela possui na sua parte aérea, 4,9% de proteína bruta e 1,1% de cálcio (Manera & Nunes, 2001). Segundo Angelim et al. (2007), esta planta pode ser aproveitada na alimentação de animais (ou até mesmo do homem) durante os longos períodos de estiagem. Podendo extrair da base das folhas uma massa, rica em amido (Bessa, 1982), da qual se fabrica um tipo de pão. Esta espécie geralmente forma extensos aglomerados, servindo como sítio para o recrutamento de plântulas de diversas espécies florestais (Rocha et al., 1997). Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi determinar os visitantes florais e potenciais polinizadores de Bromelia laciniosa. Dados complementares sobre a biologia floral são apresentados, contribuindo para o conhecimento dessa bromélia endêmica das Caatingas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo foi desenvolvido em uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN)- Reserva Tocaia, uma área do bioma Caatinga, localizada no município de Santana do Ipanema – AL. Um total de oito espécimes de Bromelia laciniosa (Bromeliaceae), reprodutivamente ativos, foram selecionados e marcados com etiquetas numeradas confeccionadas com material emborrachado. As observações dos visitantes florais e polinizadores foram feitas à vista desarmada, sem o auxílio de equipamento óptico. Realizadas inicialmente, antes da abertura até o fechamento das flores (das 4h até às 12h), posteriormente restritas ao período matutino (perfazendo um total de 40h de observação). Foram registrados os espécimes que visitavam as flores, o horário e o número de visitas (considerando-se “visita” cada vez que o espécime contacta as estruturas reprodutivas da flor), e o comportamento dos visitantes (Rios et al. 2010). A captura dos visitantes florais foi realizada com rede entomológica; para identificação, dos mesmos, foram utilizadas fotografias e filmagens feitas em campo, o auxílio de especialistas e literatura específica (Frisch & Frisch, 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Período de floração de Bromelia laciniosa foi de dezembro (2013) a fevereiro (2014). Os espécimes monitorados produziram em média 72 flores por indivíduos. O mínimo de flores formadas por indivíduo foi de 60 e o máximo registrado foi de 120 flores. Já a média de flores abertas por dia foi de 6,6. Sendo registrado o mínimo de 2 flores abertas dia (por indivíduo) e no máximo 19 flores abertas dia (por indivíduo). A antese floral teve início por volta das 5h30, sendo observadas que a maior parte das flores, estava totalmente aberta às 7h. O fechamento das flores teve início por volta das 17h, estando a maior parte das flores totalmente fechadas por volta das 18h. Cada flor permaneceu aberta por apenas um dia, no dia seguinte novas flores entravam em antese. Os principais recursos oferecidos, pelas flores aos visitantes florais, foram néctar e pólen, sendo registrada a predação de pétalas por abelhas do gênero Trigona. Ao final da manhã, já não era possível à visualização de pólen nas anteras; a produção de néctar se deu no intervalo das 5h até às 11h da manhã. Fato que pôde contribuir para a ausência de visitantes florais no período vespertino. Potenciais polinizadores e visitantes florais: foi registrada a presença de oito espécies visitando as flores de Bromelia laciniosa. Duas espécies, Chlorostilbon aureoventris (verdinho-de-bico-vermelho) e Eupetomena macroura (tesourão), de beija-flores; quatro de abelhas, Euglossa (Euglossa) cordata (Linnaeus, 1758), Plebeia flavocincta (Cockerell, 1912), Apis mellifera (Lepeletier, 1836), Trigona spinipes (Fabricius, 1793) e; e duas espécies, Phoebis philea philea (Linnaeus, 1763) e Aphrissa statira statira (Cramer, 1777) de borboletas. Segundo Kaehler et al. (2005) espécies da família Bromeliaceae apresentam um gama impressionante de polinizadores, consumidores de frutos e dispersores de sementes que dependem das bromélias. Sendo assim, a riqueza e abundância destas espécies em um determinado bioma podem ser utilizadas para estimar o status de conservação do ambiente e a capacidade de suporte da biodiversidade (Leme & Marigo, 1983).

Comportamento dos visitantes florais e potenciais polinizadores: O beija-flor Chlorostilbon

aureoventris apresentou comportamento territorialista e pode ser considerado dominante, pois, afastou o beija-flor Eupetomena macroura das flores, de B. laciniosa, e permaneceu junto ao recurso floral explorado. Coletou néctar em pleno vôo pairado sobre as inflorescências; somente depois pousou em um galho próximo as inflorescências ou sobre uma inflorescência. Visitou ao longo da manhã, em intervalos regulares, característicos de comportamento de forrageamento “trapliner” ou rotas de captura. C. aureoventris por apresentar dimorfismo sexual, evidente, possibilitou a observação de machos e fêmeas, desta espécie, visitando as flores. Os machos (n= 104) foram mais frequentes do que as fêmeas (n= 22). Apesar do macho ter permitido o livre acesso da fêmea as flores, e consequentemente ao recurso alimentar (néctar). O beija-flor E. macroura mesmo apresentando maior tamanho, quando comparado ao C. aureoventris, foi veementemente afastado das inflorescências, sendo observada poucas visitas (n= 2), porém, também pairando sobre as flores. Os beija-flores foram classificados como visitantes legítimos, ou seja, ao visitarem as flores, contactaram o estigma e as anteras das flores.

As borboletas Phoebis philea philea (n= 72) e Aphrissa statira statira (n=70) visitaram de forma legítimas as flores de B. laciniosa, pousando sobre as inflorescências. Estes, apoiando-se com suas pernas nas pétalas e introduzindo sua probóscide no interior da flor tubular, em busca de néctar. Foram observadas visitas simultâneas, estando as duas espécies visitando flores diferentes, porém, da mesma planta, não sendo registrada alteração, ou interferência na alimentação entre as espécies, que aconteceu exclusivamente no período matutino.

Abelhas da espécie Euglossa (Euglossa) cordata realizaram visitas legítimas (n= 40), aproximaram-se frontalmente das flores e antes de pousarem, geralmente giravam em volta da flor como em reconhecimento, pousavam e introduzia sua glossa, língua grande, nas flores tubulares apoiando-se com suas pernas dianteiras nas pétalas. A abelha Plebeia flavocincta por apresentar o menor tamanho, quando comparado às demais espécies, e ausência de glossa desenvolvida, adentrou com o corpo na flor ficando coberta de pólen, durante as visitas do tipo legítima (n= 32). Nestas visitas, o pólen foi coletado de forma ativa e transferidos pelas pernas dianteiras até as corbículas localizadas nas pernas traseiras, formando uma grande massa de pólen. A espécie Apis melifera foi observada apenas uma vez nas flores de B. laciniosa, aparentemente não obteve sucesso na busca por recursos. A Trigona spinipes foi à abelha que apresentou o maior número de visitas (n=60), comportamento oportunista perfurando a corola da flor pela parte de fora (Figura. 1), para coletar néctar, sem contatar as estruturas reprodutivas da flor. Também coletou de forma ativa pólen, formando uma massa nas corbículas. Segundo Michener (2000), fêmeas e machos de abelhas alimentam-se de néctar, as fêmeas também coletam pólen para alimentar as larvas o que pode diminuir a possibilidade destas atuarem como polinizadores.

Figura 1- Trigona spinipes forrageando recursos na flor de Bromelia laciniosa (Bromeliaceae). Notar perfuração na corola feita pela abelha para a coleta de néctar sem contactar as estruturas reprodutivas da flor. Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) - Reserva Tocaia, localizada

no município de Santana do Ipanema – AL. (Foto: P.A.F. Rios, 2014).

As espécies Chlorostilbon aureoventris (beija-flor), Plebeia flavocincta, Euglossa (Euglossa) cordata (abelhas), Phoebis philea philea e Aphrissa statira statira (borboletas), podem ser consideradas polinizadores efetivos, contribuindo de forma fundamental para o processo reprodutivo, da Bromelia laciniosa (Bromeliaceae).

CONCLUSÃO

As espécies Eupetomena macroura (beija-flor), pode ser considerada um polinizador eventual

de Bromelia laciniosa. Apis melifera e Trigona spinipes apresentaram comportamento oportunista; sendo

classificadas como espécies pilhadoras. Estudos sobre a Biologia Floral englobando todos os seus aspectos se fazem necessários, visto

que se trata de uma espécie de bromélia chave, nativa do bioma Caatinga, encontrada em ambientes de afloramentos rochosos e Neossolos litólicos, ambientes particulares que proporcionam um equilíbrio ecológico e interação com as demais espécies da fauna e flora.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) pela concessão de bolsa de pesquisa. Ao pesquisador Dr. Olaf Hermann Hendrik Mielke da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pelo precioso auxílio na identificação das espécies de borboletas.

REFERÊNCIAS

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BESSA, M. N. A macambira: Bromelia forrageira. 2.ed. Natal: EMPARN, p.135, 1982.

DIAS, S.C.; BRESCOVIT, A.D.; SANTOS, L.T.; COUTO, ECG. Aranhas em Bromélias de duas Restingas do Estado de Sergipe. Biologia Geral e Experimental, v.1, p.22-24, 2000.

**FRISCH, J.A.; FRISCH, C.D. Aves Brasileiras e Plantas que as Atraem. 3ª Edição, Dalgas Ecoltec – Ecologia Técnica Ltda, São Paulo, 2005.

KAEHLER, M.; VARASSIN, I.G.; GOLDENBERG, R. Polinização em uma comunidade de bromélias em floresta Atlântica Alto-Montana no Estado do Paraná, Brasil. Revista Brasileira Botânica, v. 28, p. 219-228, 2005.

KEARNS, C. A. ; INOUYE, D. Techniques for pollinations biologists. Niwot, Colorado: University press of Colorado, 1993.

LEME, E.M.C; MARIGO, L.C. Bromélias na Natureza, Rio de Janeiro, Marigo comunicação visual Ltda, 1983.

LENZI, M.; ORTH, A.I. Fenologia reprodutiva, morfologia e biologia floral de Schinus terebinthifolius Raddi (Anacardiaceae), em restinga da ilha de Santa Catarina, Brasil. Biotemas, v. 17, p. 67-89, 2004.

MACHADO, I.C.S. Biologia floral e fenologia. In: E.V.S.B. Sampaio; S.J. Mayo & M.R.V. Barbosa Pesquisa Botânica nordestina: Progresso e Perspectivas. Sociedade Botânica do Brasil. Seção Regional de Pernambuco e Editora Universitária UFPE. Recife, p. 161-172, 1996.

MACHADO, I.C.S.; LOPES, A.V. A polinização em ecossistema de Pernambuco: uma revisão do estado atual do conhecimento. In: M. Tabarelli & J.M.C. Silva (orgs.). Diagnóstico da Biodiversidade de Pernambuco. Secretaria de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente, Fundação Joaquim Nabuco e Editora Massangana, Recife, p. 583-596, 2002.

MANERA, G.; NUNES, W. Convivendo com a seca: Plantas forrageiras. Feira de Santana. p. 7-8. 2001.

MICHENER, C. D. The bees of the world. Johns Hopkins, Baltimore, London, p. 913, 2000.

MORELLATO, L.P.C. ; LEITÃO-FILHO, H.F. Padrões de frutificação e dispersão na Serra do Japi. In História natural da Serra do Japi: ecologia e preservação de uma área florestal no Sudeste do Brasil (L.P.C. Morellato, org.). Editora da Unicamp/Fapesp, Campinas, 1992.

RIOS, P.A.F.; SILVA, J.B.; MOURA, F.B.P. Visitantes florais de Aechmea constantinii (Mez) L. B. Sm. (Bromeliaceae) em um remanescente da Mata Atlântica do Nordeste Oriental. Biotemas, v.23 (4), p. 29-36, 2010.

ROCHA, C. F. D. et al. Bromélias: ampliadoras da biodiversidade. Bromélia, v.4, n.4, p.7-10, 1997.

ULISSÊA, M.A.; LOPES, B.C.; ZILLIKENS, A.; STEINER, J. Formigas associadas à Nidularium innocentii e Aechmea lindenii (Bromeliaceae) em Mata Atlântica no sul do Brasil. Biológico, v. 69, p. 19-324, 2007.

VOSGUERITCHIAN, S.B.E.; BUZATO, S. Sexual reproduction of Dyckia tuberosa (Vell.) Beer (Bromeliaceae, Pitcairnioideae) and pant-animal interaction. Revista Brasileira de Botânica, v. 29, p. 433-442, 2006.

IX Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, 2014 1

MONITORIA EM BOTÂNICA UM ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E PRÁTICA PROGRAMA INSTITUICIONAL DE BOLSA DE MONITORIA DO INSTITUTO FEDERAL DE

EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE RORAIMA – IFRR

D. S.S. Rodrigues (IC)¹; R.M. Benezar ( PQ)¹ 1InstitutoFederal de Roraima (IFRR)- Campus Boa Vista -,

2Instituto Federal de Roraima (IFRR) -Campus Boa Vista;

e-mail: ifrr.edu.br/ campus_bv

(IC) Iniciação Científica (PQ) Pesquisadora

RESUMO Este artigo apresenta experiências de atividades realizadas pelo monitor em relação a prática da monitoria que é um instrumento de aprendizagem para acadêmicos dos cursos técnicos, superiores inclusive das licenciaturas do Instituto Federal de Roraima. Este programa veio pra auxiliar e fortalecer a prática docente, favorecendo a articulação entre teoria/prática e a integração curricular em seus diferentes aspectos, bem como oportunizar a cooperação mútua entre discentes e docentes permitindo ao primeiro vivenciar atividades técnico-didáticas que contribuam para o seu processo de formação.

PALAVRAS-CHAVE :monitoria, licenciatura, ensino, aprendizagem.

BOTANY MONITORING IN AN AREA OF LEARNING AND PRACTICE INSTITUICIONAL

SCHOLARSHIP PROGRAM MONITORING OF FEDERAL INSTITUTE OF EDUCATION, SCIENCE AND TECHNOLOGY RORAIMA - IFRR

ABSTRACT

This paper presents experiences of activities performed by the monitor in relationmonitoring practice that is a learning tool for students of technical course, colleg degree including undergraduate courseof the Federal Institute of Roraimacourses. This program came to assist and strengthen teaching practice, favoring the articulation between theory / practice and curriculum integration in different aspects, as well as stimulatingthe mutual cooperation between students and teachers allowing the first to experimenttechnical-didactic activities that contribute to the process training.

KEY-WORDS:monitoring, graduation, teaching, learning.

IX Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, 2014 2

INTRODUÇÃO

De acordo com a Lei Federal nº 5.540 de 28 de novembro de 1968 Art. 41. As universidades deverão criar as funções de monitoria para alunos do curso de graduação que se submeterem a provas específicas, nas quais demonstrem capacidade de desempenho em atividades técnico-didáticas de determinada disciplina. Ainda no parágrafo único diz que as funções de monitor deverão ser remuneradas e consideradas título para posterior ingresso em carreira de magistério superior.

No caso dos Institutos Federais – IFs criados Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, umdos objetivos é ofertar os cursos de licenciatura, bem como programas especiais de formação pedagógica, com vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática para a educação profissional. No Instituto Federal de Roraima a monitoria foi ofertada no ano de 2013.2 para vários cursos inclusive de Licenciatura em Ciências Biólogicas, no qual o componente curricular escolhido pela monitora, foi o projeto de Botânica, visto que os conteúdos desta ciência foram ministrados em 2013.1. O componente curricular chama atenção em virtude de oferecer conteúdos que poderam ser ministrados para alunos do ensino fundamental e médio, consolidando assim o conhecimentoda acadêmica na futura profissão.

O Programa Institucional de Bolsa Monitoria do IFRR tem como objetivo desenvolver no estudante-monitor, o senso de responsabilidade, de cooperação, de satisfação em ampliar conhecimentos, de formação integral e preparação para o mundo do trabalho, em especial, para a docência. Os alunos de Licenciatura em CienciasBiólogicas do V semestre estão em suas primeiras experiências, seja no auxilio ao professor, seja envolvidos em projetos.

Para que a monitora seja inserida em tais programas é necessário que obtenha médias superiores a 80% de aproveitamento no componente curricular que pretende se candidatar, ter disponibilidade de tempo de 10 horas semanais para realizar as atividades do programa e apresentar um plano de trabalho elaborado juntamente com o professor-orientador.

Durante a monitoria o discente tem a oportunidade para desenvolver suas habilidades no âmbito da docência, conhecer e participar da vida do docente na Instituição de Ensino; e aprofundar o conhecimento na área de Botânica que o ajudará no futuro.

MATERIAS E METODOS

As atividades de monitoria foram desenvolvidas com base em plano de trabalho elaborado concomitantemente pela monitora e a orientadora, onde constam objetivo geral, objetivo especifico, ações a serem desenvolvidas, metodologia e um cronograma de trabalho do estudante-monitor. Uma vez aprovado pela equipe de analise do programa, foi colocado em prática para a turma de IV modulo(2013. 2) de Licencitura em CiênciasBiólogicas.

Durante um semestre foram realizadas varias atividades dentre elas a visita técnica na Serra do Tepequém no município de Amajarí no Estado de Roraima, juntamente com os componentes curriculares, Didática e Educação Ambiental proporcionando assim a oportunidade

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para interdisciplinaridade. Foi realizado coleta de material botânico: ramos em estágio reprodutivos, peças florais e algas de acordo com Wiggers e Stange (2008). O objetivo da coleta foi instruir os acadêmicos a montar o material coletado nas prensas (em campo e/ou laboratório) para posterior desidração e montagem das excicatas. Foi chamado atenção quanto a coleta do material botânico pois requer cuidados especiais tanto na coleta como no armazenamento,visto que tal material ficaria como recurso didático para as turmas do curso de Licenciatura em Ciências Biologicas. Em seguida os acadêmicos foram instruídos para montagem das excicatas do material biológico coletado, bem como procurar todas as informações referentes ao mesmo, inclusive em outras instituições como o herbário do Museu integrado de Roraima (MIRR) e a Universidade Federal de Roraima (UFRR). Todo o procedimento foi avaliado sob orientação da docente ministrante.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As aulas práticas na disciplina de botânica favoreceram o maior conhecimento quanto ao conteúdo ministrado na sala de aula.

O fato de outros componentes curriculares como a Didatica e Educação Ambiental estarem inseridos no contexto da aula prática contribui bastante para o conhecimento dos acadêmicos. Pois os docentes envolvidos vinham constantemente trabalhando para auxiliar os acadêmicos a assimilar a interligação entre os componentes ministrados. Tal procedimento vai de encontro ao discurso de Fazenda (2006), que relata a interdisciplinaridade como uma incorporação de conhecimentos dentro de um todo, a manutenção da diferença disciplinar e a tensão benéfica, visando assegurar o conhecimento dentro de uma perpesctiva de troca e de enriquecimento.

A experiência na monitoria proporcionou a monitora verificar que os discentes encontravam dificuldades para execultar as atividades da prática, devido adaptação a linguagem e termos técnicos da botânica. Para suprir tal dificuldade a docente ministrante disponobilizou material didático específico como livros, manuais e dicionários que frequentemente foram consultados a partir do estimulo da docente e a acadêmica monitora. Visualizar tal dificuldade dos acadêmicos pela monitora, foi possível devido a acadêmica se colocar na posição de futura docente, pois no planejamento a visão é limitada visto que está dentro de um contexto teórico (Ausubel, 1978). Segundo Borges (2002) nas aulas práticas, os alunos têm a oportunidade de interagir com as montagens de instrumentos específicos que normalmente eles não têm quando em contato com um ambiente com um caráter mais informal do que o ambiente da sala de aula.

A avaliação aconteceu em todo momento durante as aulas e sendo de forma continua,através do material coletado (fig. 1 e 2), montagem das excicatas, produção de artigos e documentários para e exposição na de sala de aula. Para Villas Boas (2004) a avaliação existe para que se conheça o que o aluno já aprendeu, para que se providenciem os meios para que ele aprenda o necessário para a continuidade dos estudos.É importante a avaliação, não para reprovar o aluno mais para promover a aprendizagem do mesmo, onde as duas devem andar juntas aprendizagem e avaliação.

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Nas aulas práticas foi organizado o material biológico quanto a sua classsificação e

estética (fig. 3 e 4) foi possível desenvolver novas competências e habilidades através dos ensinamentos adquiridos pelo monitora para aplicar na futura docência. Para o monitor é um estímulo que exige comprometimento e responsabilidade, é algo que precisa ser investido na vida dos acadêmicos, pois abrirá muitas oportunidades de crescer na vida profissional.

Figura 3 e 4- Prensagens de peças florais menores e maiores

Fig1 e 2- Coleta do material botânico

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A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. Por isso que na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática (Freire, 2001). Sendo assim a reflexão é um elemento fundamental na prática pedagógica docente, em como transmitir o conhecimento de uma forma que seja clara e objetiva.

A formação profissional que resultará em uma identidade profissional é construída apartir da significação social da profissão e das revisões das tradições (Fazenda, 1998). Ser professor, como as demais profissões requer a construção de sua identidade, um caráter dinâmico do docente como prática social.

CONCLUSÃO

A monitoria no curso superior é de grande importância, tornando-se uma experiência

única, onde o discente tem a oportunidade de fazer troca de conhecimento, colaborar nas elaborações das aulas, auxiliar as atividades teóricas e pratica, adquirir competências e habilidades no decorrer da monitoria.

Durante um semestre foi possível vivenciar a realidade do ensino, a necessidade de planejar uma aula que seja proveitosa para os alunos. A prática na docência requer maior empenho na busca de conhecimento, isto é produzir novas formas de progresso e desenvolvimento, envolvendo reflexão e incentivando a pesquisa. O trabalho de monitoria vem para contribuir para o desenvolvimento das competências pedagógicas, pois professor é um desafio a ser enfrentado ensinar aprender a aprender, pensar a teoria em função de sua prática.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, a minha família meu esposo Adaildo, minha professora orientadora

Rosa Maria pelo carinho e paciência , ao Institituto Federal de Roraima, a todos que contribuíram direito e indiretamente para a conclusão desse artigo.

IX Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, 2014 6

REFERÊNCIAS AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D.; HANESIAN, H. Educational Psychology: A Cognitive view. Nova York: Holt, Rinehardt& Winston, 1978. BORGES, A.T. Novos rumos para o laboratório escolar de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v.19, p.291-313, dez. 2002. BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional _ LDB (Lei Nº 9394/96). BRASIL. Senado Federal, Lei Federal n.º 5540, de 28 de novembro de 1968. FAZENDA, Ivani C. A (org). _ Didática e interdisciplinaridade, Campinas, SP: Papirus, 1998. __( Coleção Práxis). FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2001. LEI_11892.doc_INSTITUTOS_FEDERAIS. Disponivel em: http://www.porto.ifto.edu.br/Acessado em 12 de maio de 2014. SILVA, Teresinha Maria Nelli_ A construção do currículo na sala de aula: o professor como pesquisador/ São Paulo: EPU, 1990. WIGGERS, I.;STANGE, C.E.B. Manual de instruções para coleta, identificação eherborização de material botânicoPrograma de Desenvolvimento Educacional – SEED – PR UNICENTROLaranjeiras do Sul – PR, 2008.

Considerações sobre o trabalho:

O trabalho aborda um tema de interesse para a área de ensino de ciências, mas apresenta inúmeros erros e uma escrita não muito adequada.

Abaixo listo alguns dos erros.

Resumo: inicia assim: O presente trabalho tem por objetivo fazer com que os alunos tenham uma maior interação com o meio ambiente, ‘fazer com que os alunos tenham’ não é adequado, talvez seja melhor, promover junto aos alunos

Erros de português: no título (atravez), no resumo (realisadas), pontuação errada também, erro no abstract (o work)

Citação sem página e tem uma parte q fala do ensino de botânica na citação de Ausubel, é isso mesmo?

Entender a ciência é proporciona a oportunidade

Fazer com que os alunos tenho uma maior interação

proporcionando ao alunos para os alunos uma nova experiência

O trabalho será foi realizado com aluno do 9º ano do colégio (este nono ano foi repetido inúmeras e desnecessárias vezes)

No resumo e na metodologia cita formulário como instrumento de coleta de dados, normalmente em livros de pesquisa qualitativa vemos o uso de questionários, entrevistas...

CUP NOODLES: não acho legal vc especificar assim.

Os autores falam que as respostas serão analisadas através de gráficos. Esta não é a melhor forma de se analisar respostas nesta área de ensino, visto que ao se buscar significação de pensamentos e ações dos alunos, a pesquisa qualitativa, a qual se vale de análises particulares à ela, é mais adequada.

Considerações: mais erros (Ao ensinar Ciências e qualquer que outra disciplina)

- promova nos seus alunos ou melhor promova junto à seus alunos

- a melhor maneira de repassando para o alunos de forma mais eficaz através das aulas praticas,

IDENTIFICANDO AS PARTES DA PLANTA A PARTIR DOS ESTÁGIOS DE GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE FEIJÃO: UMA ABORDAGEM ACERCA DAS AÇÕES DO PIBID

A. A. Sousa (GLCB)¹ ; C. R. Oliveira (GLCB)2 ; J. C. Silva (EEA)3 1Instituto Federal do Tocantins (IFTO) - Campus Araguatins -, 2Instituto Federal do Tocantins (IFTO) - Campus

Araguatins; 3Instituto Federal do Tocantins (IFTO) – Departamento de Ciências Biológicas – Campus Araguatins e-mail: araguatins.ifto.edu.br

(GLCB) Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas (GLCB) Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas (EEA) Especialista em Educação Ambiental

RESUMO O presente trabalho teve como objetivo identificar as principais partes de uma planta através das características morfológicas e compreender suas respectivas funções a partir da germinação da semente do feijão, mediante a realização de uma aula diferenciada realizada com alunos do 4º (quarto) ano de uma escola municipal da cidade de Araguatins-TO. Os resultados mostram que inicialmente os mesmos sabiam identificar apenas as raízes e folhas das plantas,

demonstrando a falta de conhecimento em relação às demais partes, o que comprova a carência de informações básicas no ensino de botânica. Posterior a realização da prática pôde se perceber que 99% dos alunos tiveram uma aprendizagem significativa com relação à morfologia e funcionamento básico dos vegetais, demonstrando conhecimento inclusive da existência dos vasos condutores presentes.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de ciências, botânica, aula prática.

IDENTIFYING PLANT PARTS FROM THE STAGES OF SEED GERMINATION OF BEANS: AN APPROACH ON THE PIBID ACTIONS

ABSTRACT The present work had as objective to identify the main parts of a plant through the morphological and understand their respective roles, from seed germination of bean, by conducting a differentiated class held with students of the 4th (fourth) year of a municipal school of city's Araguatins-TO. The results show that initially the same knew identify only the roots and leaves of plants, demonstrating a lack of

knowledge in relation to other parties, which proves the lack of basic information on the teaching of Botany. Later the practice was able to realize that 99% of students had a meaningful learning with relation to the morphology and basic operation of plants, demonstrating knowledge including the existence of the conductive vessels.

KEY-WORDS: Science teaching, botany, practical class.

IDENTIFICANDO AS PARTES DA PLANTA A PARTIR DOS ESTÁGIOS DE GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE FEIJÃO: UMA ABORDAGEM ACERCA DAS AÇÕES DO PIBID

INTRODUÇÃO

Sabe-se que desde os primórdios da humanidade, até os dias atuais, o homem mantém relações diretas ou indiretas com o Reino vegetal, o que poderia contribuir para a utilização de diferentes metodologias diversificadas que pudessem facilitar a compreensão e aceitação dos conteúdos de Botânica no ambiente escolar (BOCKI et al., 2011).

De acordo com PRIGOL e GIANNOTTI (2008), as metodologias diferenciadas de educação devem permitir que seja feita uma relação entre o que se aprende em teoria na sala de aula com aquilo que o aluno vivencia em seu cotidiano. Ao se tratar do ensino de Ciências, pode ser observado que existe um grande obstáculo para os alunos, pois estes têm enfrentado dificuldades na assimilação dos conteúdos nessa área do conhecimento. Sabe-se que as atividades diferenciadas contribuem de forma significativa para o aprendizado, porém a ausência destas vem acarretando vários problemas no cotidiano escolar, além da falta de profissionais especializados que possam desenvolvê-las.

Segundo BRASIL (1998), a curiosidade e o interesse dos estudantes por diversas áreas como: a natureza, a Ciência, a Tecnologia, pela sua própria realidade local e universal, além da sala de aula são também conhecidos pelos meios de comunicação o que favorece o envolvimento e a interação que precisa existir para o sucesso do aprendizado. Portanto, trata-se de organizar atividades interessantes que possam permitir a exploração e a sistematização de conhecimentos compatíveis ao nível de desenvolvimento intelectual que se encontram os estudantes, em diferentes momentos do desenvolvimento. Assim as relações que existem no meio em que estão inseridos poderão melhor situá-los em seu mundo.

As aulas de ciências na maioria das vezes continuam sendo uma mera transmissão de conhecimentos, de memorizações e repetições de conteúdos, em que as salas de aula parecem ter estacionado no tempo em que a educação tradicional reinava no cenário escolar. Uma das ideias que se opõe a esse modelo são as aulas práticas ou metodologias diferenciadas de ensino que despertem o interesse do aluno (SILVA e CARMO, 2008, p. 01). Assim o mesmo se sentirá motivado a aprender e a reconhecer que os conteúdos estudados têm um papel importante em sua vida futura.

A forma como o conhecimento botânico vem sendo abordado pela maioria dos profissionais, assume um caráter meramente tradicionalista, dificultando assim, o processo de ensino aprendizagem por parte dos discentes. Diante dessa realidade, o presente trabalho teve como objetivo, proporcionar aos alunos do 4º ano do ensino fundamental a compreensão das principais partes da planta e suas respectivas funções a partir da utilização de uma metodologia diferenciada, contribuindo desta forma, para promoção da alfabetização científica nas aulas de botânica (MELO et al., 2012).

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado na Escola Municipal Professora Maria de Lourdes Milhomem Fernandes localizada na cidade de Araguatins - TO, tendo como público alvo alunos de uma turma de 4º ano do Ensino Fundamental. Inicialmente fez-se uma abordagem teórica sobre os vegetais, com enfoque nas principais partes constituintes e suas respectivas funções. Posteriormente, realizou-se a prática com os alunos, na qual foi feita a reutilização de garrafas pets para a confecção dos recipientes.

No interior de cada recipiente foi colocado algodão umedecido com as sementes de feijão. Em cada recipiente foram colocadas três sementes, o que pode se observado na figura 1.

Figura 1 – Recipiente de garrafa pet com as sementes de feijão.

Em seguida, o material foi recolhido e acomodado em local arejado sob a incidência de

luz, sendo feito o seu acompanhamento diário, incluindo desde a germinação da semente até o aparecimento das primeiras folhas. No 5º dia (quinto) as plântulas já estavam formadas e os alunos puderam diferenciar suas principais partes e relatar sobre suas funções específicas, sendo feito posteriormente o plantio das mesmas em uma área cedida pela instituição escolar.

Na figura 2 observa-se o primeiro contato dos alunos com o material a ser utilizado para a germinação da semente. Nesse momento percebeu-se que os alunos mostraram grande entusiasmo ao estarem trabalhando com algo diferenciado, além do mais puderam relacionar esta prática com o seu cotidiano, facilitando assim o processo de ensino aprendizagem. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, BRASIL (1997), as atividades práticas representam um importante elemento na vida dos estudantes, pois estas permitem uma compreensão ativa dos assuntos a serem trabalhados.

Figura 2 – Preparação dos recipientes.

A figura 3 mostra o momento de interação e discussão do aprendizado após a germinação

das sementes, onde foi possível perceber os conhecimentos adquiridos, pois os discentes relataram tudo o que tinham aprendido sobre a morfologia do vegetal estudado e as funções básicas de cada uma dessas partes. Ainda de acordo com BRASIL (1997), quando os alunos realizam procedimentos de observação e experimentação, estes buscam ainda mais informações e conseguem estabelecer relações entre elementos dos ambientes ao qual estão em contato.

Figura 3 – Momento de interação e discussão de aprendizado.

Pode ser observado na figura 4 o momento do plantio do vegetal, onde os discentes além do conhecimento adquirido tiveram a oportunidade de estar em contato com a natureza, uma questão importante quando se trata do ensino de Ciências, pois esta proporciona um mundo ainda desconhecido, sendo assim esta é capaz de despertar a curiosidade dos que estão a visualizá-la.

Figura 4 – Plantio das mudas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com SANTOS e colaboradores (2011), o ensino de ciências nas escolas brasileiras, de modo geral, ainda ocorre de uma forma tradicional, pois, sabe-se que a maioria dos professores de ciências no Brasil apresenta dificuldades com relação ao desenvolvimento de aulas diferenciadas para o ensino de botânica. Com o intuito de averiguar o conhecimento dos discentes do 4º ano, referente às principais partes que constituem as plantas, fez-se algumas perguntas em sala, onde se constatou que os mesmos não tinham informações suficientes sobre as partes básicas que constituem um vegetal.

Com relação à primeira pergunta, constatou-se que 100% dos alunos sabiam identificar apenas as raízes e folhas, demonstrando a falta de conhecimento em relação às demais partes. A segunda pergunta foi relacionada ao funcionamento das principais partes dos vegetais, onde se observou que 100% dos alunos não tinham ciência do assunto, mostrando assim, a carência de informações básicas no ensino de botânica. Após a explanação do assunto e realização da prática pôde se perceber que 99% dos alunos tiveram uma aprendizagem significativa com relação à morfologia e funcionamento básico dos vegetais, demonstrando conhecimento inclusive da existência dos vasos condutores presentes.

CONCLUSÃO

De acordo com o trabalho realizado foi possível identificar as dificuldades apresentadas pelos alunos com relação ao ensino de botânica e a necessidade em dar maior importância às aulas diferenciadas, sendo que estas permitem aos mesmos uma melhor compreensão e assimilação dos conteúdos abordados, o que pode ser comprovado com a realização da prática em questão, onde se constatou que 99% dos alunos tiveram uma aprendizagem significativa. REFERÊNCIAS

BOCKI, A. C.; et al. As concepções dos alunos do Ensino Médio sobre Botânica. Disponível em: <http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R1318-2.pdf>. Acesso: 15-03-2014. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1997 Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf>. Acesso em 23/09/ 2013. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1998 Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencias.pdf>. Acesso em 23/09/ 2013.

MELO, E. A.; et al. A aprendizagem de botânica no ensino fundamental: dificuldades e desafios. Disponível em: <http://www.scientiaplena.org.br/index.php/sp/article/view/492/575>. Acesso: 16-03-2014. PRIGOL, S. GIANNOTTI, S. M. A Importância da Utilização de Práticas no Processo Aprendizagem de Ciências Naturais Enfocando a Morfologia da Flor. Simpósio Nacional de Educação XX Semana de Pedagogia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel. 2008. 14 f. Disponível em: <http://www.unioeste.br/cursos/cascavel/pedagogia/eventos/2008/1/Artigo%20 33.pdf> Acesso: 16-04-2014. SANTOS, A. C.; et al. A importância do ensino de ciências na percepção de alunos de escola da rede pública municipal de Criciúma - SC. Disponível em: <http://revista.univap.br/index.php/revistaunivap/article/view/29/26>. Acesso: 10-03-2014. SILVA, I. E. M.; CARMO, E. M. Aulas Práticas no Ensino de Ciências: Uma Análise Qualitativa do Processo de Ensino e Aprendizagem na Escola Fundamental. Práxis Educacional. v. 4, n. 4, p. 193-194; Vitória da Conquista jan./jun. 2008) Disponível em: <http://periodicos.uesb.br/index.php/praxis/article/viewFile/337/369>. Acesso em 22/09/ 2013.

LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DAS ESPÉCIES EXÓTICAS UTILIZADAS NA ARBORIZAÇÃO DA CIDADE DE URUÇUÍ – PI.

F. H. NUNES JUNIOR (PQ)¹; E. M. SOUSA (PQ)2; D. A. S. HOLANDA (PQ)3, B. B. BRAGA (PQ)4. 1 Instituto Federal do Piauí (IFPI) - Campus Oeiras, 2Instituto Federal do Piauí (IFPI) - Campus Piripiri; 3Instituto

Federal do Ceará (IFCE) – Campus Iguatu; 4 Instituto Federal do Ceará (IFCE) – Campus Maracanaú. e-mail: [email protected]

(IC) Iniciação Científica (TC) Técnico em Química (PQ) Pesquisador

RESUMO Esse estudo objetivou a realização de um levantamento florístico das espécies exóticas utilizadas na arborização da cidade de Uruçuí – PI, a fim de se identificar as espécies de predominância e classifica-las cientificamente, contribuindo como fonte de pesquisa para o surgimento de futuros mecanismos de planejamento da arborização urbana. A cidade de Uruçuí está localizada na região sul do estado do Piauí as margens do Rio Parnaíba divisa com o estado do Maranhã em meio ao bioma Cerrado. O estudo foi realizado em cinco dos treze bairros que compõem o

perímetro urbano de Uruçuí e a Praça Deputado Sebastião Leal localizada no centro da cidade. Diante do ambiente amostral foram identificadas 19 espécies exóticas, distribuídas em 15 famílias utilizadas na arborização da cidade, foram identificadas a predominância da espécie Azadirachta indica (Nim Indiano) e da família Fabaceae. O modismo na arborização com exóticas mostrou-se visível, seguindo padrões de homogeneização da arborização urbana, feita pela própria população sem planejamento do poder público local.

PALAVRAS-CHAVE: espécies exóticas, arborização urbana, homogeneização.

SURVEY FLORISTIC OF EXOTIC SPECIES USED IN FORESTRY URUÇUÍ - PI.

ABSTRACT This study aimed to conduct a floristic survey of exotic species used in forestry Uruçuí - PI, in order to identify the species of predominance and classifies them scientifically, contributing as a research to the emergence of future planning mechanisms of urban forestry. The Uruçuí city is located in the southern region of the state of Piauí the banks of the Rio Parnaíba border with the state of Maranhão amid the Cerrado biome. The study was conducted in five of the thirteen districts that make up the urban perimeter Uruçuí and

Square Sebastião Leal located in the center of the city. In face of sample environment 19 exotic species, distributed in 15 families used in forestry of the town, the predominant species Azadirachta indica ( Neem Indian ) and Fabaceae family were identified . The fad in afforestation with exotic species proved to be visible, following patterns of homogenization of urban trees, made by the own population without planning of local government power.

KEY-WORDS: exotic species, urban forestry, homogenization.

LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DAS ESPÉCIES EXÓTICAS UTILIZADAS NA ARBORIZAÇÃO DA CIDADE DE URUÇUÍ – PI.

INTRODUÇÃO

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente a introdução de espécies exóticas invasoras corresponde a segunda maior causa de perda de biodiversidade no planeta, ficando atrás apenas das alterações diretas de habitat. Entende-se por espécie exótica, toda aquela que encontra-se fora de seu habitat natural de distribuição, incluindo qualquer parte desta que possa se propagar e reproduzir-se; e espécie exótica invasora como aquela que após introduzida ou dispersa, altera os processos ecológicos naturais podendo tornar-se dominante, ameaçando a diversidade biológica nativa (Convenção Sobre Diversidade Biológica - CDB, Decisão VI/23, 2002) .

Por diversos motivos o homem é um dos principais responsáveis pela dispersão de espécies no mundo, a arborização é um deles. “Entende-se por arborização urbana toda cobertura vegetal de porte arbóreo existente nas cidades” (RODRIGUES et al., 2002).

A arborização é uma prática que trás uma série de benefícios para os centros urbanos tais como:

[...] melhoria na qualidade do ar, redução da amplitude térmica, bem estar psicológico ao homem tornando o ambiente mais atrativo, sombra para pedestres e veículos, redução da poluição sonora, proteção e direcionamento do vento, abrigo para pássaros e equilíbrio estético que ameniza a diferença entre a escala humana e outros componentes da cidade (BRANDÃO et al., 2011).

No Brasil o uso de plantas exóticas na arborização tornou-se uma prática que coloca em

risco a biodiversidade florística dos nossos biomas. A utilização dessas espécies na arborização traz impactos ambientais que na maioria das vezes passam despercebidos por quem os faz, uma vez que por meio da ação de vetores dispersantes, estas plantas podem chegar a áreas naturais urbanas ou limítrofes e afetar a biodiversidade nativa através da competição direta por recursos naturais ou indiretamente alterando os ciclos naturais destas, sem contar nos danos econômicos, culturais e sobre a saúde humana e animal (ZILLER et al., 2007).

Na maioria das cidades brasileiras a arborização ocorre sem nenhum tipo de controle no processo de escolha das espécies, sendo feita de forma aleatória, em ruas, avenidas, parques e praças, utilizando-se muitas das vezes apenas do efeito estético ou modismo. Por esses motivos e pela falta de informações sobre espécies adaptadas ao ambiente urbano é que tem sido frequente o uso de espécies exóticas em relação às espécies nativas, porém essa prática acaba por reduzir a biodiversidade no ambiente urbano (EMER et al., 2011).

A arborização exige planejamento, sendo a escolha da espécie a etapa mais importante a ser considerada, pois a isto implica uma série de fatores, tais como o bem estar físico, emocional e social das pessoas, contribuindo para a harmonia urbana. Para tanto se deve evitar a monotonia visual, priorizando espécies nativas regionais com ênfase na heterogeneidade e equilíbrio ecológico (ARRUDA, 2011)

A cidade de Uruçuí, apesar de estar localizada em meio ao cerrado que apresenta espécies com grande potencialidades na arborização, conta com boa parte de sua flora urbana

restrita a espécies exóticas de outras partes do país ou de outros países. Este procedimento uniformiza a paisagem contribuindo para a redução da biodiversidade no meio urbano, dissociando-o do contexto ambiental onde se insere (MACHADO et al., 2006).

Dessa forma, conhecer quais espécies exóticas são usadas na arborização de uma cidade se faz importante, pois contribui para um planejamento mais adequado de como a arborização será implementada, auxiliando na escolha das espécies a serem utilizadas e evitando assim os possíveis riscos que as espécies exóticas invasoras podem trazer aos ecossistemas internos e periféricos do ambiente urbano.

Esse estudo objetivou a realização de um levantamento florístico das espécies exóticas

utilizadas na arborização da cidade de Uruçuí – PI, afim de se identificar quais espécies são predominantes na paisagem, catalogando-as por nível de família, gênero e espécie, e nome popular. Este banco de dados servirá como fonte de pesquisa para o surgimento de futuros mecanismos de planejamento da arborização urbana.

MATERIAIS E MÉTODOS A cidade de Uruçuí está localizada na região sul do Piauí as margens do Rio Parnaíba divisa com o estado do Maranhão (latitude 07°13'46" sul e longitude 44°33'22" oeste), o município ocupa uma área de 8.411,908 Km2, distante cerca de 453 Km da Capital Teresina, com uma população estimada em 20.149 habitantes (IBGE, 2010). O município está inserido em meio ao bioma Cerrado, apresentando vegetação do tipo Campo Cerrado e Cerradão, com clima do tipo Tropical subúmido quente, com duração do período seco de cinco meses, apresentando variações de temperatura entre 21oC e 31oC (CEPRO, 1990 ).

O estudo foi realizado em cinco dos treze bairros que compõem o perímetro urbano da cidade de Uruçuí (Aeroporto, Água Branca, Areias, Bela Vista e Centro) e a praça Deputado Sebastião Leal localizada no centro da cidade.

A pesquisa do tipo qualitativo/quantitativo foi realizada no período de Janeiro a Maio de 2013. O tipo de inventário utilizado foi o de amostragem, por meio de incursões nos bairros de forma aleatória, percorrendo três ruas por bairro, realizando o censo da arborização por meio de uma ficha específica, constando o nome vulgar e características morfológicas do espécime (folhas, flores, frutos, caule e raiz). Nas ruas escolhidas foram inventariadas todas as espécies existentes sendo feitos também o registro fotográfico, para a revisão bibliográfica das espécies e sua identificação ao nível de família, gênero, espécie, nome popular e origem. O mesmo processo de inventário foi feito nas praças escolhidas, sendo que em ambos os casos, a identificação dos exemplares foi feita por meio de consultas a herbários online, a bibliografias técnicas especializadas e a especialistas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Diante do ambiente amostral foram identificadas 19 espécies exóticas, distribuídas em 15 famílias como pode ser observado na tabela 01.

Tabela 01 - Espécies exóticas identificadas nos Bairros inventariados em Uruçuí – PI.

Nome Popular Família Espécie

Mangueira Anacardaceae Mangifera indica

Coqueiro Arecaceae Cocos nucifera

Palmeira Imperial Arecaceae Roystonea oleracea

Areca-bambu Arecaceae Dypsis lutescens

Ipezinho Bignoniaceae Tecoma stans

Acácea Caesalpiniaceae Cassia siamea

Castanhola Combretaceae Terminalia catappa

Cica Cycadaceae Cycas revoluta

Algaroba Fabaceae Prosopis juliflora

Brasileirinho Fabaceae Erythrina indica picta

Flamboyant Fabaceae Delonix regia

Papoula Malvaceae Hibiscus rosa-siensis

Nim Indiano Meliaceae Azadirachta indica

Tamarindo Mimosaceae Tamarindus indica

Figueira Moraceae Ficus benjamina L.

Jamelão Myrtaceae Eugenia jambolana

Eucalipto Myrtaceae Eucalyptus saligna

Bambu Poaceae Bambusa vulgaris

None Rubiaceae Morinda citrifolia L.

Fonte: Pesquisa de campo do autor, 2013.

Dentre as famílias de exóticas utilizadas na arborização da cidade, há predominância da

família Fabaceae, com três espécies diferentes identificadas na amostra (Prosopis juliflora; Erythrina indica picta; Delonix regia.). A escolha dessa família na arborização pode ser explicado pelo visual estético, como no caso da Erythrina indica picta, que apresentam folhas bem vistosas amarelo-esverdeado, como também pelo rápido crescimento e características próprias da família, tais como a facilidade de adaptação a regiões com solos pobres em nutrientes, como no caso do Cerrado na maioria das vezes (NERI et al. 2007).

Através do levantamento, foi possível perceber que a cidade de Uruçuí – PI apresenta uma homogeneidade com relação ao uso de espécies exóticas em sua arborização, dentre as espécies identificadas a de maior representatividade na arborização da cidade foi o Nim Indiano (Azadirachta indica) com um percentual de 40,5 % do total analisado, seguido pela Mangueira (Mangifera indica) 13,2%.

Figura 1 - Percentual de predominância entre as espécies exóticas utilizadas na arborização de Uruçuí – PI.

Há uma tendência no nordeste brasileiro nos últimos anos de disseminação do Nim

Indiano na arborização, vários fatores podem ser elencados como responsáveis por tal tendência, fácil produção de mudas, rápido crescimento, resistência ao clima semiárido e a pragas, inclusive nesse último fator, destaca-se a utilização da planta no controle de pragas, suas folhas e seus frutos são utilizados na produção de pesticida natural (LEÃO et al., 2011). Outra atratividade da planta é sua ação antisséptica, antimicrobiana e medicinal em doenças do couro cabeludo. “O óleo e seus isolados inibem o desenvolvimento de fungos sobre o homem e animais” (NEVES et. al. 2005).

Em Uruçuí a introdução da Azadirachta indica é recente, fato esse comprovado pelo aspecto morfológico dos exemplares encontrados (figuras 2 e 3), cujo diâmetro do caule em medições realizadas variava entre 1,5 cm e 10 cm.

Figura 2 – Azadirachta indica com caule sublenhoso.

Figura 3 - Azadirachta indica com caule lenhoso.

A predominância de uma espécie na arborização de uma cidade decorre na maioria das vezes pela falta de planejamento e controle dos órgãos públicos, abrindo espaço para que a população o faça de forma independente sem nenhum conhecimento técnico, que converge inevitavelmente em um modismo devido à influência de terceiros, onde a imitação é o critério escolhido (ALENCAR, 2012). Tal situação deve ser combatida uma vez que a homogeneização da arborização torna os espécimes veneráveis ao ataque de pragas e transmissão de doenças (STRANGHETTI; SILVA, 2010). CONCLUSÕES Com relação ao uso de espécies exóticas na arborização da cidade de Uruçuí – PI o modismo apresentou-se visível no espaço amostral estudado, seguindo padrões de homogeneização feitos pela própria população. Porém o que chamou a atenção, é que tal processo vem sendo realizado com predominância de uma espécie, a Azadiracta indica (Nim Indiano), espécime ainda pouco estudada com relação aos seus efeitos invasivos nos ecossistemas nativos, em especial do bioma Cerrado, onde a cidade está localizada. Todas as características supracitadas referentes à espécie, ao que indicam, influenciaram na escolha da mesma por parte dos moradores das ruas analisadas. Em determinadas situações verificamos a substituição de árvores já estabelecidas por mudas de Nim Indiano, que está se tornando uma tendência na arborização local.

Por fim, enfatizamos a necessidade de destacar o que foi verificado nesta cidade, e que pode estar ocorrendo em uma escala maior no país, do uso de espécies exóticas sem a devida atenção para o que estas podem ocasionar aos ecossistemas nativos.

REFERÊNCIAS

ALENCAR, L. dos S. Inventário quali-quantitativo da arborização urbana em São João do Rio do Peixe - PB / Lyanne dos Santos Alencar, - Patos - PB: UFCG/UAEF, 2012.

ARRUDA, G. O. S. F. DE. Importância do Planejamento na Arborização Urbana. Chapecó – SC, SB RURAL, EDIÇÃO 66 – Quinta – Feira, 30 de Junho de 2011.

BRANDÃO I. M.; GOMES L. B.; SILVA N. C. A. R.; FERRARO A. C.; SILVA A. G. da; GONÇALVES F. G. Análise Quali-Quantitativa da Arborização Urbana do Município de São João Evangelista – MG. Soc. Bras. de Arborização Urbana – REVESBAU, Piracicaba – SP, v. 6, n. 4, p. 158 – 174, 2011. Disponível em: < www.revsbau.esalq.usp.br/artigos_cientificos/artigo188-publicacao.pdf> Acesso em: 13 /08/2013.

CDB - Convenção Sobre Diversidade Biológica. Decisão VI/23, 2002. Disponível em: <http://www.institutohorus.org.br/pr_CBD.htm >. Acesso em: 05/08/2013.

EMER, A. A.; BORTOLINI, C. E.; ARRUDA, J. H.; ROCHA, K. F. Valorização da Flora Local e Sua Utilização na Arborização das Cidades. Synergismus Scyentifica UTFPR, Pato Branco, 01 (06), 2011. Disponível em: < http://revistas.utfpr.edu.br/pb/index.php/SysScy/article/viewFile/1220/853>.

Acesso em: 11/08/2013.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Cidades@ - 2010. Disponível em: < http://cod.ibge.gov.br/2337Z> Acesso em: 04/09/2013.

LEÃO, T. C. C.; ALMEIDA, W. R.; DECHOUM, M.; ZILLER, S. R. Espécies Exóticas Invasoras no Nordeste do Brasil: Contextualização, Manejo e Políticas Públicas – Recife: Cepan, 2011.

MACHADO, R. R. B.; MEUNIER, I. M. J.; SILVA, J. A. A. da; CASTRO, A. A. J. F. Árvores Nativas Para a Arborização de Teresina, Piauí. Soc. Bras. de Arborização Urbana – REVESBAU, Piracicaba – SP, v. 1, n. 1, p. 10 – 18, 2006. Disponível em: <www.revsbau.esalq.usp.br/artigos_cientificos/artigo02.pdf> Acesso em: 13/08/2013.

NERI, A. V.; NETO, J. A. A. M.; SILVA, A. F. da; MARTINS, S. V.; BATISTA, M. L. Análise da Estrutura de uma Comunidade Lenhosa em Área de Cerrado Stricto no Município de Senador Modestino Gonçalves, Norte de Minas Gerais, Brasil. Ver. Árvore v. 31, n. 1, Viçosa Jan. /Feb. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0100-67622007000100014&script=sci_arttext > Acesso em: 04/08/2013.

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STRANGHETTI, V.; SILVA, Z. A. V. da. Diagnóstico da Arborização das Vias Públicas do Município de Uchôa – SP. Soc. Bras. de Arborização Urbana – REVESBAU, Piracicaba – SP, v. 5, n. 2, p. 124 – 138, 2010. Disponível em: < www.revsbau.esalq.usp.br/artigos_cientificos/artigo128-publicacao.pdf > Acesso em: 13/08/2013.

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A APLICAÇÃO FOLIAR DE H2O2 COMO ESTRATÉGIA PARA MINIMIZAR OS EFEITOS DELETÉRIOS DO ESTRESSE HÍDRICO SOBRE O CRESCIMENTO DE PLANTAS DE MILHO

D.P.F. de Sousa (IC)¹; B.B. Braga (IC)1; F.A. Gondim (PQ)1; R.A. Pontes Filho. 1 Instituto Federal do Ceará (IFCE) - Campus Maracanaú -, e-mail: [email protected]

(IC) Iniciação Científica (PQ) Pesquisador e Professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará

RESUMO O presente trabalho objetivou estudar os efeitos da aplicação foliar de H2O2 sobre o crescimento de plantas de milho sob condições controle e de estresse hídrico. Os experimentos foram conduzidos em um telado agrícola localizado no IFCE Campus Maracanaú, Ceará, Brasil. As sementes foram semeadas em baldes de plástico (6L) contendo vermiculita e húmus de minhoca (1:1) e submetidas à rega diária. Após seis dias da semeadura, as plântulas foram pulverizadas com água destilada ou solução aquosa de H2O2 a 15 mM por dois dias consecutivos. Em seguida, as plântulas foram submetidas à suspensão de rega. Obtiveram-se, portanto, quatro tratamentos: 1. Plantas pulverizadas com água destilada e irrigadas diariamente; 2. Plantas

pulverizadas com solução de H2O2 e irrigadas diariamente; 3. Plantas pulverizadas com água destilada e não irrigadas; 4. Plantas pulverizadas com solução de H2O2 e não irrigadas. Decorridos oito dias após a suspensão da irrigação, foi realizada a coleta das plantas onde se determinou a matéria fresca da parte aérea e das raízes. Após secagem em estufa por 3 dias, mediu-se também a matéria seca. O pré-tratamento das plantas de milho por meio da pulverização com peróxido de hidrogênio induziu aclimatação das plantas ao estresse hídrico, revertendo parcialmente os efeitos deletérios nos parâmetros de crescimento analisados, principalmente na matéria seca das plantas.

PALAVRAS-CHAVE: Aclimatação, Estresse hídrico, H2O2, Milho, Zea mays.

ABSTRACT

The aim of this study was to evaluate the effects of foliar application of H2O2 on plant growth in maize plants under hydric stress. The experiments were conducted in a greenhouse at IFCE, Campus Maracanaú, Ceará, Brazil. The seeds were sowed in plastic pots (6L) containing vermiculite and earthworm humus (1:1) and irrigated daily. Six days after sowing, the seedlings were sprayed with 15 mM H2O2 solution or with distilled water for two consecutive days. Then, the seedlings were no more irrigated. So, there were four treatments: 1. Plants sprayed with distilled water and irrigated daily; 2. Plants sprayed with H2O2 and irrigated daily; 3. Plants sprayed with distilled water and no irrigated; 4. Plants sprayed

with H2O2 and no irrigated. Eight days after than the plants were no more irrigated, the harvest was carried. In the harvest were determined shoot and root fresh masses. After 3 days in a oven, the shoot and root dry masses were measured. The H2O2 leaf spraying led to acclimation of the plants to hydric stress partially reversing the deleterious effects in growth parameters analyzed, mainly in the dry matter.

KEY-WORDS: Acclimation, Hydric stress, H2O2, Maize, Zea mays.

A APLICAÇÃO FOLIAR DE H2O2 COMO ESTRATÉGIA PARA MINIMIZAR OS EFEITOS DELETÉRIOS DO ESTRESSE HÍDRICO SOBRE O CRESCIMENTO DE PLANTAS DE MILHO

INTRODUÇÃO

A água é um dos principais fatores limitantes do crescimento e do desenvolvimento das plantas e sua escassez pode levar à diminuição da produtividade das colheitas, principalmente em regiões áridas e semiáridas como o Nordeste do Brasil. Nessas regiões, as plantas estão frequentemente expostas a períodos de déficit hídrico, também conhecidos como estresse hídrico. Acredita-se que a seca seja uma das principais causas para a perda de safra em todo o mundo, reduzindo a produtividade, em média, em 50% ou mais (WANG et al., 2003).

O milho (Zea mays L.) é uma espécie tradicionalmente cultivada em todo o Brasil, servindo tanto para a alimentação humana como animal, representando mais de 1/3 da produção nacional de cereais e oleaginosas (BULL, 1993). É válido ressaltar que a população da região Nordeste é a maior consumidora de milho do Brasil, com um consumo per capta anual da ordem de 11 kg, cifra 40% superior à média nacional de aproximadamente 7,7 kg (PAES et al., 2006).

Até pouco tempo atrás, o peróxido de hidrogênio era visto unicamente como um metabólito tóxico para a célula. Porém, estudos têm demonstrado o H2O2, atua como uma molécula sinalizadora sendo produzida e controlada pelo metabolismo, agindo de forma benéfica a baixas concentrações e prejudiciais quando em excesso (GECHEV; HILLE, 2005; QUAN et al., 2008). Nas plantas, o H2O2 está envolvido nos processos de aclimatação, defesa e desenvolvimento (SLESAK et al., 2007). O processo de aclimatação a determinadas condições de estresse se constitui numa alternativa para aumentar a capacidade das plantas de sobreviverem a condições adversas. A aclimatação consiste em um processo no qual a exposição prévia de um indivíduo a um determinado tipo de estresse (como a pulverização de H2O2) provoca mudanças metabólicas que são responsáveis pelo aumento de sua tolerância a uma nova exposição ao estresse (Estresse hídrico). Quando essa exposição prévia é feita com um estresse diferente do segundo (estresse definitivo), diz-se que essa aclimatação induziu uma tolerância cruzada (NEILL et al., 2002).

Dentre os processos de aclimatação ao estresse, o do pré-tratamento das plantas com pequenas quantidades de H2O2 tem se mostrado promissor. Uchida et al. (2002), trabalhando com arroz e Azevedo Neto et al. (2005), com milho, observaram que o pré-tratamento das plântulas com H2O2 em solução nutritiva induziu aclimatação das plantas à salinidade. Apesar de não existirem informações de que o pré-tratamento por pulverização foliar de H2O2 também seja capaz de induzir aclimatação das plantas ao estresse hídrico, acredita-se que o emprego de genótipos tolerantes à seca ou estratégias para melhorar a produção em área sujeitas à seca, como a aplicação de peróxido de hidrogênio para ativar as defesas da planta, possam ser opções eficientes para reduzir os riscos de produção de grãos. Desse modo, o presente trabalho objetivou estudar os efeitos da aplicação foliar de H2O2 sobre o crescimento de plantas de milho sob condições de controle e de estresse hídrico.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido no telado agrícola do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFCE) campus Maracanaú, Ceará, Brasil de outubro a novembro de 2013. As sementes de milho (Zea mays L.), cultivar AG1051, após seleção e limpeza com solução de hipoclorito de sódio (0,7%), foram semeadas em baldes de plástico (6L) contendo vermiculita e húmus de minhoca, na proporção de 1:1, e submetidas à rega diária próxima à capacidade de campo. Após seis dias da semeadura, as plântulas foram pulverizadas com água destilada (controle) ou solução aquosa de H2O2 a 15 mM (contendo o detergente Tween 20 a 0,025%, a fim de quebrar a tensão superficial e facilitar a penetração). As aplicações de H2O2 foram realizadas às 6 horas da manhã por dois dias consecutivos. Em seguida, as plântulas foram submetidas à suspensão de rega.

Obtiveram-se, portanto, quatro tratamentos: 1. Plantas pulverizadas com água destilada e irrigadas diariamente (Controle/água); 2. Plantas pulverizadas com solução de H2O2 e irrigadas diariamente (Controle/H2O2); 3. Plantas pulverizadas com água destilada e não irrigadas (Estresse/água); 4. Plantas pulverizadas com solução de H2O2 e não irrigadas (Estresse/H2O2).

Decorridos oito dias após a suspensão da irrigação, foi realizada a coleta das plantas, onde se determinou a matéria fresca da parte aérea (folhas + colmos) e das raízes. Posteriormente, o material foi colocado em estufa a 60 °C por 3 dias para a determinação da matéria seca da parte aérea (folhas + colmos) e das raízes.

O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, em um arranjo fatorial 2 (irrigadas ou não irrigadas) × 2 (pulverizadas com água destilada ou H2O2), com cinco repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P ≤ 0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De um modo geral, foi observado que o estresse reduziu o crescimento das plantas de milho, em comparação àquelas desenvolvidas sob as condições controle e a pulverização foliar com H2O2 foi eficaz em minimizar esse efeito, principalmente na matéria seca das plantas.

Verificou-se que a suspensão da irrigação ocasionou redução na matéria fresca da parte aérea das plantas de milho (Figura 1A). A média dos tratamentos submetidos a estresse hídrico (estresse/água e estresse/H2O2) mostrou-se 27% inferior a do tratamento controle/água. Contudo, o tratamento estresse/H2O2 mostrou-se 33% superior ao estresse/água. Nos dados referentes à matéria fresca da raiz (Figura 1B), não houve diferenças entre os tratamentos estresse/água e estresse/H2O2.

A matéria fresca total (Figura 1C) apresentou comportamento semelhante àquele verificado para a matéria fresca da parte aérea. As plantas do tratamento estresse/H2O2 apresentaram valores 39% superiores aos do grupo estresse/água.

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Figura 1– Matéria Fresca da parte aérea (A), das raízes (B) e total (C) de plantas de milho sob condições controle ou de estresse hídrico, pulverizadas com água destilada ou H2O2 a 15 mM. As plantas foram coletadas 8 dias após a suspensão da irrigação. Diferentes letras maiúsculas indicam diferenças significativas devido ao estresse hídrico (comparações entre Controle/água × Estresse/água ou Controle/H2O2 × Estresse/H2O2), enquanto diferentes letras minúsculas indicam diferenças significativas devido à pulverização de H2O2 (Controle/água × Controle/H2O2 ou Estresse/água × Estresse/H2O2), de acordo com o teste de Tukey (P ≤ 0,05).

Verificou-se que o estresse hídrico reduziu em 48% a matéria seca da parte aérea (MSPA) (Figura 2A) das plantas no tratamento estresse/água em relação ao controle/água. Entretanto, no tratamento estresse/H2O2 este efeito não foi observado. Os valores do tratamento estresse/H2O2 não diferiram dos tratamentos controle.

A matéria seca da raiz (MSR) foi reduzida em 16% nas plantas do tratamento estresse/água em comparação àquelas do grupo controle/água. Entretanto, como observado para a MSPA, os valores de MSR nas plantas do tratamento estresse/H2O2 não diferiram daqueles observados em plantas sob condições controle.

Assim como observado para a MSPA, constatou-se que o estresse hídrico reduziu em 16% a matéria seca total (MST) (Figura 2C) das plantas de milho no tratamento estresse/água, em relação ao controle/água. Semelhantemente ao encontrado para a MSPA, na MST do tratamento estresse/H2O2, este efeito não foi observado. Os valores de MST nas plantas do grupo estresse/H2O2 não diferiram daqueles observados nos grupos controle.

No presente trabalho, verificou-se que a suspensão da irrigação reduziu o crescimento das plantas em comparação àquelas crescendo sob condições controle e que a pulverização foliar de H2O2 mostrou-se eficiente em minimizar esse efeito (Figuras 1 e 2), sendo mais evidente na matéria seca das plantas (Figura 2.). Os dados mostraram que as plantas do tratamento estresse/H2O2 conseguiram produzir matéria seca semelhante às plantas crescendo sob condições controle. Dessa forma, sugere-se que o parâmetro matéria fresca mostrou-se mais sensível à suspensão da irrigação do que o parâmetro matéria seca.

Outros estudos também demonstraram os efeitos benéficos do pré-tratamento com H2O2 em plantas expostas a estresses ambientais. Contudo, muitos desses foram realizados sob condições de estresse salino, por elevada intensidade luminosa ou por calor. Além disso, estes trabalhos utilizaram diferentes modalidades de aplicação de H2O2 (no meio radicular ou nas sementes). Azevedo Neto et al. (2005), trabalhando com plantas de milho, observaram que o pré-tratamento com baixa concentração de H2O2 (1 μM) no meio radicular induziu tolerância à salinidade. Gondim et al. (2010), com plantas de milho provenientes de sementes pré-tratadas com H2O2 e submetidas à salinidade, e Wahid et al. (2007), trabalhando com plantas de trigo também oriundas de sementes pré-tratadas, observaram que o pré-tratamento conferiu tolerância à salinidade nas plantas. Como citado, trabalhos anteriores aplicaram H2O2 no sistema radicular ou nas sementes, diferentemente do presente trabalho, em que foi realizada pulverização foliar, sistema mais simples, de baixo custo de fácil utilização pelos agricultores. Semelhantemente ao presente trabalho, Gechev et al. (2002), estudando plantas de tabaco sob elevada intensidade luminosa encontraram tolerância ao estresse oxidativo por meio da aplicação foliar de H2O2. Da mesma forma, Gao et al., (2010), observaram tolerância ao calor em plantas de pepino e, Gondim et al. (2012), tolerância à salinidade em plantas de milho.

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Figura 2– Matéria seca da parte aérea (A), das raízes (B) e total (C) de plantas de milho sob condições controle ou de estresse hídrico, pulverizadas com água destilada ou H2O2 a 15 mM. As plantas foram coletadas 8 dias após a suspensão da irrigação. Detalhes adicionais na legenda da figura 1.

CONCLUSÃO

O pré-tratamento das plantas de milho por meio da pulverização com peróxido de hidrogênio induziu aclimatação das plantas ao estresse hídrico, revertendo parcialmente os efeitos deletérios nos parâmetros de crescimento analisados, principalmente na matéria seca das plantas.

AGRADECIMENTOS

Os autores são gratos: 1) Ao IFCE Campus Maracanaú pelo apoio na realização das pesquisas; 2) À FUNCAP, Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela bolsa de iniciação científica PIBIC concedida à aluna D.P.F. de Sousa; 3) Ao laboratório de Fisiologia Vegetal da Universidade Federal do Ceará, pela concessão de reagentes e equipamentos.

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