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1 A IMPORTÂNCIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL Quando um cidadão brasileiro adquire uma câmera fotográfica Canon ou um aparelho de som Sony, um automóvel BMW ou uma garrafa de cerveja Budweiser, um pneu Michelin ou um whisky J&B, essa pessoa está adquirindo um produto estrangeiro. Estes são apenas alguns poucos exemplos dentre os inúmeros produtos disponíveis para os consumidores brasileiros que são fabricados em outros países e posteriormente importados. Geralmente, não estamos conscientes do fato de que os produtos que utilizamos ou partes deles tenham sido fabricados no exterior. Até mesmo tecidos utilizados para fabricação de roupas no Brasil, muitas vezes são importados. Várias peças e componentes de computadores de marcas brasileiras são fabricados em outros países. Ao viajarmos como turistas, precisamos fazer o câmbio de reais por dólares, euros, pesos, etc. para pagarmos muitas das despesas de viagem. Os noticiários e as páginas de jornais estão repletos de matérias relacionadas ao comércio entre países, sobre reivindicações direcionadas para a proteção de algumas de nossas indústrias contra importações e sobre receios de protecionismo e embargos aos produtos brasileiros. Freqüentemente nos deparemos com preocupações relacionadas à globalização, como as transferências de empregos entre os países, as imigrações ilegais, o envio de lucros multinacionais para outros países, a transferência de tecnologia, o aumento das desigualdades em âmbito mundial, a

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A IMPORTÂNCIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Quando um cidadão brasileiro adquire uma câmera fotográfica Canon ou um aparelho

de som Sony, um automóvel BMW ou uma garrafa de cerveja Budweiser, um pneu Michelin

ou um whisky J&B, essa pessoa está adquirindo um produto estrangeiro. Estes são apenas

alguns poucos exemplos dentre os inúmeros produtos disponíveis para os consumidores

brasileiros que são fabricados em outros países e posteriormente importados. Geralmente, não

estamos conscientes do fato de que os produtos que utilizamos ou partes deles tenham sido

fabricados no exterior. Até mesmo tecidos utilizados para fabricação de roupas no Brasil,

muitas vezes são importados. Várias peças e componentes de computadores de marcas

brasileiras são fabricados em outros países.

Ao viajarmos como turistas, precisamos fazer o câmbio de reais por dólares, euros,

pesos, etc. para pagarmos muitas das despesas de viagem. Os noticiários e as páginas de

jornais estão repletos de matérias relacionadas ao comércio entre países, sobre reivindicações

direcionadas para a proteção de algumas de nossas indústrias contra importações e sobre

receios de protecionismo e embargos aos produtos brasileiros.

Freqüentemente nos deparemos com preocupações relacionadas à globalização, como as

transferências de empregos entre os países, as imigrações ilegais, o envio de lucros

multinacionais para outros países, a transferência de tecnologia, o aumento das desigualdades

em âmbito mundial, a miséria e a fome em muitos países pobres e as crises e instabilidades

financeiras internacionais.

Um certo conhecimento sobre economia internacional torna-se necessário para a

compreensão do que está acontecendo no mundo de hoje, para que todos possamos nos tornar

consumidores, eleitores, estudantes, empresários, contadores, administradores, etc. bem

informados. O estudo da economia internacional é primordial e exigido por boa parte dos

empregos, principalmente em empresas multinacionais, firmas de serviços financeiros, bancos

e bancos internacionais e agências governamentais.

A interdependência entre os países

O Brasil, devido à sua extensão territorial e disposição de terras agricultáveis, pode

produzir e extrair alimentos e commodities. O país é um grande exportador de produtos

agrícolas e bens sem muito valor agregado. Porém, precisa importar produtos intensivos em

tecnologia. Até mesmo países altamente industrializados dependem crucialmente do comércio

internacional. Para nações em desenvolvimento, as exportações fornecem oportunidades de

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emprego e recursos financeiros para fazer face ao pagamento correspondente aos inúmeros

produtos que eles não podem produzir internamente, e pela tecnologia avançada da qual

necessitam.

O nosso país é bastante dependente do comércio internacional, já, os Estados Unidos,

por exemplo, possuem uma dependência bem menor. Entretanto, o elevado padrão de vida e o

consumismo norte-americano dependem desse comércio. Existem muitas commodities que os

EUA não produzem e alguns minerais importantes para determinadas indústrias não são

encontrados por lá. Muitos produtos poderiam ser fabricados dentro dos próprios países

importadores, porém, a um custo mais elevado do que no exterior.

A interdependência econômica entre as nações tem se tornado crescente ao longo dos

anos e existem outras maneiras cruciais pelas quais as nações se tornam interdependentes,

fazendo com que eventos e políticas econômicas em uma nação afetem significativamente

outras nações. Por exemplo, se os EUA estimularem a sua economia, parte do crescimento da

demanda por bens e serviços, gerada por seus cidadãos, se converte em importações, o que

estimula as economias de outros países que exportam essas mercadorias. Por outro lado, ações

negativas na economia americana geram reflexos negativos nas economias de outros países,

como temos observado.

Negociações comerciais que reduzem barreiras comerciais por entre os países não

somente acarretam um crescimento nas exportações de commodities, como geram um

aumento no emprego e nos salários nesses setores no Brasil. E também acarretam um

crescimento nas importações de alguns produtos oriundos da China, por exemplo, reduzindo,

dessa maneira, o emprego e os salários em tais setores. Observamos, portanto, o quão

intimamente ligadas, ou interdependentes, estão as nações no mundo de hoje, e o modo como

as políticas de governo, destinadas a resolver problemas puramente domésticos, podem

apresentar repercussões internacionais significativas.

O objeto de estudo da Economia Internacional

A economia internacional lida com a interdependência econômica e financeira entre

as nações. Ela analisa o fluxo de bens, serviços, pagamentos e recursos monetários entre uma

nação e o restante do mundo, bem como as políticas direcionadas no sentido de regular esses

fluxos e seus efeitos em relação ao bem-estar da nação. Essa interdependência econômica e

financeira é afetada pelas relações políticas, sociais, culturais e militares existentes entre as

nações e influencia essas mesmas relações.

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A economia internacional trata da teoria do comércio internacional, da política do

comércio internacional, do balanço de pagamentos e mercados de câmbio externo e da

macroeconomia aberta. A teoria do comércio internacional analisa a base e os ganhos

oriundos do comércio. A política do comércio internacional examina as razões para as

restrições comerciais, bem como os efeitos decorrentes dessas restrições. O balanço de

pagamentos mede o total das receitas de uma nação, oriundas de outros países, bem como o

total de pagamentos realizados para o restante do mundo, enquanto os mercados de câmbio

externos representam o referencial institucionalizado pra o câmbio de uma moeda nacional

por outras moedas. Em síntese, a macroeconomia aberta lida com os mecanismos de ajustes

nos desequilíbrios do balanço de pagamentos (déficits e superávits). Ainda mais importante

que isso, a economia internacional analisa a relação entre o setor interno e o setor externo da

economia de um país e o modo como esses setores estão inter-relacionados ou são

interdependentes em ralação ao restante da economia mundial sob diferentes tipos de sistemas

monetários internacionais.

A teoria e as políticas do comércio internacional representam os aspectos

microeconômicos da economia internacional, uma vez que lidam com nações individuais e

com preços de mercadorias individuais. Por outro lado, uma vez que o balanço de pagamentos

lida com o total das receitas e pagamentos e com o ajuste e outras políticas econômicas que

afetam o nível de renda nacional e o preço geral da nação como um todo, esses fatores

representam os aspectos macroeconômicos da economia internacional. Eles são geralmente

conhecidos como macroeconomia aberta ou finanças internacionais.

O ponto de vista dos Mercantilistas

A economia, como uma ciência organizada, foi originada com a publicação do livro A

Riqueza das Nações, em 1776, por Adam Smith. Entretanto, escritos sobre comércio

internacional precedem essa data em países como Inglaterra, Espanha, França, Portugal e

Holanda, à medida que eles se desenvolveram em estados nacionais modernos.

Especificamente, durante os séculos XVII e XVIII um grupo de homens (mercadores,

banqueiros, funcionários do governo e até mesmo filósofos) escreveu ensaios e panfletos

sobre comércio internacional que defendiam a filosofia econômica do mercantilismo.

Os mercantilistas afirmavam que a maneira de uma nação se tornar rica e poderosa

correspondia a exportar mais do que importar. O superávit resultante das exportações seria

então ajustado por uma entrada de riquezas e metais preciosos, principalmente ouro e prata.

Quanto mais ouro e prata uma nação tivesse, mais rica e poderosa ela se tornaria. Por

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conseguinte, o governo tinha que fazer tudo o que estivesse ao seu alcance no sentido de

estimular as exportações de uma nação e desencorajar e restringir importações

(particularmente as importações de bens de consumo de luxo). Entretanto, uma vez que todas

as nações não poderiam simultaneamente ter um superávit de exportações e a quantidade de

ouro e prata é fixa, para qualquer ponto em particular no tempo, uma nação apenas poderia

obter ganhos à custa de outras nações. Os mercantilistas, portanto, pregavam o nacionalismo

econômico, acreditando que os interesses nacionais de cada país se encontravam basicamente

em conflito.

Os mercantilistas mediam a riqueza de uma nação por meio do estoque de metais

preciosos que ela possuísse. Em contrapartida, hoje em dia medimos a riqueza de uma nação

com base em seu estoque de recursos humanos, de recursos criados pelo homem e de recursos

naturais disponíveis para a produção de bens e serviços. Quanto maior o estoque de recursos

produtivos, maior o fluxo de bens e serviços destinados a satisfazer desejos humanos e mais

elevado o padrão de vida na nação em questão.

Existiam, porém, muitas razões racionais para o desejo mercantilista de acumular metais

preciosos. Com uma maior quantidade de ouro os governantes poderiam manter exércitos

maiores e melhores e consolidar seu poder interno. Melhores exércitos e marinhas também

tornavam possível aos governantes conquistar uma maior quantidade de colônias. Além disso,

uma maior quantidade de ouro significava mais dinheiro (maior quantidade de moedas de

ouro) em circulação e uma maior atividade nos negócios. Mais ainda, ao encorajar

exportações e restringir importações o governo poderia encorajar o desenvolvimento de novas

indústrias e encorajar o produto nacional e o emprego.

Os mercantilistas defendiam o controle governamental estrito sobre toda a atividade

econômica e pregavam o nacionalismo econômico, uma vez que acreditavam que uma nação

somente poderia obter ganhos no comércio à custa de outras nações.

Teoria da Vantagem Absoluta

Adam Smith iniciou com a verdade simples de que, para que duas nações

comercializassem voluntariamente entre si, ambas as nações deveriam ganhar. Caso uma

nação não ganhasse absolutamente nada, ou viesse a perder, ela simplesmente se recusaria a

comercializar. Entretanto, de que maneira ocorre esse comércio mutuamente benéfico, e de

onde são oriundos esses ganhos do comércio?

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De acordo com Adam Smith, o comércio entre duas nações é baseado na vantagem

absoluta. Quando uma nação é mais eficiente do que uma outra nação (ou possui uma

vantagem absoluta em relação a outra nação) na produção de uma determinada mercadoria,

mas é menos eficiente do que uma outra nação (ou possui uma desvantagem absoluta em

relação à outra nação) na produção de uma segunda mercadoria, então ambas as nações

podem ganhar pelo fato de cada uma delas se especializar na produção da mercadoria que

corresponde à sua vantagem absoluta e trocar, com uma outra nação, parte de sua produção

pela mercadoria em relação à qual apresenta uma desvantagem absoluta. Por meio desse

processo, os recursos de ambas as nações são utilizados de maneira mais eficiente, e a

produção de ambas as mercadorias virá a aumentar. O aumento em relação à produção de

ambas as mercadorias mede os ganhos oriundos da especialização na produção disponível a

serem divididos ou compartilhados entre as nações por meio do comércio.

Teoria da Vantagem Comparativa

A “Vantagem Comparativa” surgiu das críticas de Ricardo a Adam Smith, também

chamada como “Teoria dos Custos Comparativos” no início de século XIX no seu livro The

Principles of Political Economy and Taxation, usando um exemplo envolvendo Inglaterra e

Portugal e dois produtos vinho e roupas. Em Portugal, é possível produzir os dois produtos

citados com menos trabalho que a Inglaterra e com mais facilidade. Porém, os custos

relativos dos dois produtos são diferentes nesses países. A Inglaterra tem muitas dificuldades

para produzir vinho, uma das razões é o problema natural, e apenas dificuldade moderada

para produzir roupas. Por mais que seja mais barato produzir roupas em Portugal do que na

Inglaterra, é melhor ainda para Portugal produzir vinho excedente, e comercializá-lo pelas

roupas fabricadas pelos ingleses, porque o custo de oportunidade do vinho para Portugual é

maior do que o custo de se produzir roupas, já que a Inglaterra pode produzir roupas porém

não possuí o clima natural para se produzir bons vinhos. A Inglaterra se beneficia deste

comércio, pois o seu custo de produzir roupa permanece o mesmo, mas pode agora obter

vinho a custos menores do que antes, e Portugual especializando-se na produção de vinhos

pode produzir a um preço relativo menor.

Ricardo construiu essa teoria tendo como base o princípio de que mesmo um país não

tendo vantagens produtivas, ou seja, não podendo produzir com custos inferiores comparado a

outro país, a troca entre esses países ainda seria, em termos relativos, viável, desde que ambos

tenham dois produtos de produção relativamente distintos.

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Desse modo, Ricardo prega que as relações de trocas internacionais de dois países

podem ser mutuamente vantajosas, tento em vista que cada país irá se especializar na

produção do produto que tenha vantagem comparativa com outro país, estes países estariam

propícios a aumentar a eficiência e produtividade de seus recursos, mesmo tento em vista que

um deles tenha meios de produção inferiores ou desigualdades que economicamente lhe

confere “desvantagens absolutas”, ou seja, os ganhos do comércio dependem das vantagens

comparativas e não das vantagens absolutas.

Um país pode ser determinado como tendo vantagens comparativas na produção de

um bem se o custo de oportunidade da produção do bem em termos de outros bens é mais

baixo, em outros termos cuja produtividade é relativamente alta.