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Autoconceito e Auto-estima no contexto escolar.

Resumo

O presente artigo busca esclarecer as semelhanças e diferenças que os termos autoconceito e auto-estima apresentam, bem como sua inter-relação e dependência, visto que possuem um núcleo comum. Além de diversos conceitos que os termos apresentam, buscou-se apresentar um breve histórico das pesquisas realizadas no campo da psicologia, relatar algumas conclusões a partir de estudos realizados por pesquisadores sobre o tema, apresentar a importância da relação professor-aluno na formação do autoconceito do indivíduo e toda a influência que o contexto escolar tem sobre à auto-estima. Palavras chave: autoconceito, auto-estima, contexto escolar.

1. Introdução

A experiência escolar tem grande influência na imagem que o aluno faz

de si mesmo: pode ser cerceadora das suas iniciativas, como estimuladora, é

aquela que por vezes enfatiza conteúdos acadêmicos e currículos inadequados;

objetivos e avaliações sem relação ao que a criança pode alcançar; tem um clima

não cooperativo. Tudo isso pode fazer com que o aluno se sinta limitado,

desenvolvendo um sentimento de fracasso e inadequação que abala a confiança

que o aluno tem de si mesmo. Daí a relevância de estudos sobre o tema auto-

estima no contexto escolar, pois as conquistas ou fracassos na escola acabam

por se refletir na vida pessoal e profissional do indivíduo.

Percebe-se na maioria das vezes que a criança que consegue

corresponder às solicitações escolares, tendo um bom desempenho como aluno,

cresce nele a auto-estima e a confiança na sua capacidade em lidar com os

desafios que surgem, tanto no ambiente escolar como fora dele.

De outra maneira, no aspecto negativo, “a experiência precoce de

insucesso acadêmico interfere com a formação de auto-estima e auto-eficácia da

criança” (MARTURANO, 1997, p. 133).

Para Cubero & Moreno (1995), a escola, além de contribuir para a

configuração da auto-estima geral da criança, vai determinar o desenvolvimento

de um de seus aspectos específicos, o autoconceito acadêmico, que se refere às

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características e capacidades que o aluno acredita possuir, em relação ao

trabalho acadêmico e ao rendimento escolar.

A formação do autoconceito e da auto-estima se estabelece a partir das

relações sociais da criança com o adulto, nas situações de aprendizagem e

aquisição de conhecimento. Portanto, o fracasso escolar ou o sucesso escolar

pode ocorrer quando a criança se percebe incapaz ou capaz.

Os termos, autoconceito, autoconhecimento, auto-avaliação,

conhecimento de si mesmo, auto-estima, auto-imagem, imagem de si mesmo, por

vezes têm sido usados como sinônimos, embora uma ou outra abordagem teórica

prefira o uso de um ou de outro como mais explicativo para o foco de sua

pesquisa. Muitos autores mostram a distinção entre os termos para fins de análise

ou como recurso didático e ao mesmo tempo a inter-relação e dependência entre

os termos autoconceito e auto-estima.

As definições de autoconceito e auto-estima apresentadas por diferentes

autores possuem um núcleo comum, em torno do qual enfatizam um ou outro

aspecto relacionado a esse constructo como o caráter de avaliação a ele

subjacente, bem como sua reação com a questão da motivação de

comportamento.

Por isso, se faz necessário um aprofundamento sobre as relações entre

os termos, suas semelhanças e diferenças. Vale ressaltar que o presente artigo

busca enfocar o tema no contexto escolar.

2. Considerações acerca dos termos autoconceito e a uto-estima

Traçar uma diferenciação entre o autoconceito e auto-imagem se faz

necessário devido à confusão que se estabelece entre esses termos. Apesar

desses conceitos estarem intimamente ligado, cada um tem seus elementos de

composição, sua embriogênese.

O autoconceito refere-se ao conhecimento que o indivíduo tem de si, a

opinião que cada um formula sobre si mesmo. O autoconceito pode ser definido

como:

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Uma tomada de consciência sobre a minha eumesmice, começando por uma percepção ativa do meu íntimo, completando-se com um juízo do que eu sou, para adoção de uma postura diante do meu núcleo, no âmago de minha personalidade, onde está a minha identidade. (FRANÇA & MONTEZUMA, 1994, p. 12)

A auto-estima é a carga energética de afeto, positivo ou negativo, que

acompanha o conhecimento e a visão que o sujeito expressa em relação a si

mesmo. De acordo com França & Montezuma (1994), o autoconceito expresso

abrange um aspecto estrutural ou cognitivo e um aspecto energético ou afetivo,

componente da auto-estima. A auto-estima possui uma correlação direta ao

autoconceito, ocorrendo ambos do juízo de valor que a pessoa faz de si mesma.

Por toda a vida o indivíduo vive o processo de gostar ou não gostar de si

mesmo, a partir da influência que pessoas importantes ou influentes exercem

sobre ele através de introjeções feitas em decorrência das más ou boas

apreciações feitas por tais pessoas.

A interligação entre os conceitos expressos é entendido de forma clara

como “o que cada um pensa sobre si mesmo (seu autoconceito) resulta numa

imagem (auto-imagem), a qual é estimada ou não (auto-estima).” (FRANÇA &

MONTEZUMA, 1994, p 14)

A psicologia enquanto ciência questiona o agente psíquico capaz de

regular, guiar e controlar o comportamento do ser humano, chamado por muitos

teóricos de self ou ego.

A maioria dos estudos e pesquisas desenvolvidas sobre self e ego foram

baseadas na teoria de William James que descreve o self composto de três

instâncias: o self material que compreende tudo aquilo que o indivíduo pode

denominar como seu, incluindo pessoas; o self social, que representa a maneira

como a pessoa é vista pelos outros e por fim o self espiritual, que compreende o

subjetivo, consistindo basicamente das disposições e faculdades psicológicas do

indivíduo. (HALL & LINDZEY, 1973)

Essa descrição de James o coloca em uma posição contemporânea no

que se refere ao estudo do autoconceito, pois estudos recentes se assemelham

quando definem o autoconceito como constituído pelos elementos cognitivo,

avaliativo e comportamental.

Depois de James surge nas décadas de 1920 e 1930, uma das mais

importantes correntes sociológicas desenvolvidas dentro da Psicologia Social que

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veio reivindicar que o estudo da conduta humana se desse a partir do marco do

processo social; constituindo assim, um enfoque ambientalista da conduta

humana, que considera o indivíduo como um ser que interage com o mundo

exterior e com os outros empregando símbolos. Para o interacionismo o

desenvolvimento da personalidade depende da interação social.

Vale ressaltar que esta perspectiva supõe que o homem responde ao

meio em função dos significados que este meio tem para ele; esses significados

por sua vez são produtos da interação social que cada indivíduo mantém com seu

próximo; os significados socioculturais se modificam mediante um processo

interpretativo desenvolvido pela pessoa ao enfrentar-se com o seu ambiente

(BLUMER, 1982).

Entre os anos de 1940 e 1970, o autoconceito é explicado a partir da

concepção do “eu” como elemento central da personalidade, ou seja, o “eu” é o

sistema central que integra e dirige a interação com pessoas e objetos.

Já nas concepções surgidas entre 1980 e 1990 e na atualidade, o

autoconceito apresenta-se como sendo a percepção de nós mesmos, em termos

mais específicos, são nossas atitudes, sentimentos e conhecimentos com respeito

a nossas capacidades, habilidades, aparência e aceitabilidade social. (BYRNE,

1984).

O autoconceito possui múltiplas facetas, portanto, apresenta inúmeras

definições, entre elas Oliveira (2000) afirma que o autoconceito é um conjunto de

crenças que norteiam a conduta dos indivíduos, permitindo que assumam novos

papéis na vida. É um sistema de atitudes que os indivíduos formam em relação a

si mesmos.

Para Sanchez (1999, p. 13) o autoconceito é:

A atitude que o indivíduo tem sobre si mesmo, sobre sua própria pessoa. Trata-se da estima, dos sentimentos, experiências ou atitudes que o indivíduo desenvolve sobre seu próprio eu [...] o autoconceito desempenha um papel central no psiquismo do indivíduo. É de grande importância para sua experiência vital, sua saúde psíquica, sua atitude para consigo mesmo e para com os demais, por fim, para com o desenvolvimento construtivo de sua personalidade.

Para Simões (1997), o desenvolvimento do autoconceito escolar, está

vinculado ao conceito de autoconceito geral, pois o autoconceito escolar segundo

este autor é definido como “o universo de representações que o aluno tem das

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capacidades, das realizações escolares, bem como a avaliação que ele faz

dessas mesmas capacidades e realizações” (p.202).

A relação entre o autoconceito geral e o autoconceito escolar e o

reflexo deste na aprendizagem é também defendida por Jesus (1993 p.120):

Uma das faces do autoconceito geral que tem vindo a ganhar uma relevância particular é a sua dimensão escolar, enquanto imagem que o indivíduo tem de si como sujeito envolvido num determinado processo de aprendizagem. Quer seja reconhecido pelo seu valor intrínseco ou como variável mediadora de outras relações, o autoconceito escolar tem sido visto como uma das variáveis psicológicas que pode contribuir, de forma significativa para uma compreensão mais profunda do processo educativo.

A estima que um indivíduo tem por si próprio é muito importante para

sua experiência e seu desenvolvimento vital, para sua saúde psíquica, sua atitude

consigo e com os outros e principalmente na formação de sua personalidade.

De acordo com Branden (1996) a auto-estima é possuidora de dois

componentes: o sentimento de competência pessoal, que é a habilidade para lidar

com os desafios básicos da vida; e o sentimento de valor pessoal, que é o

sentimento de ter valor, o direito de assegurar nossas necessidades e desejos.

Segundo o autor:

Nosso autoconceito é quem e o que consciente e inconscientemente achamos que somos – nossas características físicas e psicológicas, nossos pontos positivos e negativos e, acima de tudo, nossa auto-estima. A auto-estima é o ponto avaliado do autoconceito. Nosso autoconceito influencia todas as nossas escolhas significativas e todas as nossas decisões e, portanto, determina o tipo de vida que criamos para nós. O autoconceito afeta nossos sentimentos e o nosso comportamento. (p. 15)

Diante da visão que se tem de si mesmo, podem-se desenvolver

sentimentos de merecimento de felicidade ou de desprezo. Assim, se desenvolve

um sentimento de estima negativa ou positiva para si mesmo. A auto-estima

positiva ou negativa leva o indivíduo a acreditar, ou não, na capacidade de se

gostar e de ser amado e respeitado pelos outros. Rosenberg (1973, p. 39) diz que

a auto-estima é “uma atitude positiva ou negativa para um objeto particular: si

mesmo”.

Para Mussen, Conger & Kangan (1977 p. 732):

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A avaliação que um indivíduo faz e que habitualmente mantém quando se observa a si próprio, expressa uma atitude de aprovação ou desaprovação e indica a dimensão da crença que o indivíduo tem em ser capaz, significativo, bem sucedido e com valor. Em resumo, a auto-estima é um julgamento pessoal de valor, que é expresso em atitudes que o indivíduo comunica aos outros através de informação verbal e outros comportamentos expressivos.

Coopersmith (1967) dedicou cinco anos de pesquisa a fim de esclarecer

as diferentes visões teóricas acerca dos termos autoconceito e auto-estima e

concluiu que há concordância entre eles.

Os indivíduos recebem informações sobre si mesmas de adultos

expressivos como pais, professores ou amigos. Se a representação for positiva,

ocorre uma avaliação positiva; mas se ao contrário for negativa, passam a se ver

com pouco valor. Assim, a primeira conclusão é a de que as avaliações que se

faz de si mesmo estão relacionadas às formas como elas são avaliadas pelos

outros que lhe são importantes, no decorrer da vida; portanto, os conceitos

recebidos de outros contribui significativamente na construção do autoconceito.

Outra conclusão refere-se à forma como o indivíduo reage à

desvalorização; as reações variam e pode-se minimizar, neutralizar ou

superestimar um julgamento sobre si mesmo. Quando um indivíduo consegue

manter a auto-estima diante de situações negativas desenvolve a habilidade que

é denominada de controle ou defesa, tal habilidade ajuda a manter o equilíbrio

pessoal.

As pesquisas mostram ainda que o indivíduo julga o mundo de acordo

com seus valores e ideais, e sua visão varia de acordo com o valor que atribui às

diferentes áreas de realização. As aspirações, pretensões e objetivos que o

indivíduo possui acabam por influenciar em sua auto-avaliação.

Coopersmith (1967) observou que o indivíduo atinge conclusões

favoráveis sobre si mesmo, mantendo pretensões que são prontamente

alcançáveis; já os indivíduos com piores auto-avaliações tendem a colocarem

seus objetivos em pontos muito mais altos do que suas auto-avaliações reais. Por

isso, a base de aspirações altas para indivíduos que tem auto-estima elevada

parece estar ligada à alta probabilidade de sucesso, e as baixas aspirações de

pessoas com baixa-estima estão ligadas às experiências de fracasso.

Quando se fala em auto-estima está se falando de percepções e

emoções ligadas a um indivíduo, e que definem um sujeito, o significado e

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valorização que se tem de forma consciente ou inconscientemente. Quanto maior

a auto-estima melhor um indivíduo sabe lidar com as derrotas e maiores as

possibilidades de melhorar o relacionamento com aqueles que o cercam.

A imagem que a criança tem de si mesma é fortemente influenciada

pela experiência escolar que pode ser cerceadora das suas iniciativas, como

estimuladora de um processo de crescimento individual. Isso é reafirmado por

González Cabanach & Valle Arias (1998) quando diz que o autoconceito integra e

organiza a experiência do indivíduo, regula seus estados afetivos e atua como

motivador e guia do comportamento.

A escola, enquanto cerceadora, é aquela que enfatiza apenas

conteúdos acadêmicos e currículos por vezes inadequados; discrimina a criança

em sala de aula; oferece críticas e repressões excessivas e apresenta um clima

não cooperativo.

Já enquanto estimuladora, a escola aceita os limites dos alunos,

coopera para a manutenção de um ambiente harmonioso. Neste cenário, o

professor é de fundamental importância, pois sua atitude para com os alunos

pode influenciar fortemente a construção do autoconceito deles. A postura do

professor é significativa, pois pode promover e estimular o crescimento emocional

de seus alunos, e isso ocorre a partir de suas atitudes, seu método de ensinar, no

seu jeito de se relacionar com os alunos. Mesmo sem desejar ou perceber o

professor acaba por interferir no autoconceito, na motivação e na capacidade de

aprendizagem das crianças.

A escola além de transmitir o saber científico formalizado influi também

no processo de socialização, contribuindo para a formação do autoconceito do

indivíduo a partir de um duplo posicionamento; o político e o pedagógico. No

político apresenta uma visão do ideal da convivência social e do homem que se

quer formar; no pedagógico tenta definir as ações educativas numa perspectiva

de fazer com que o possível e o desejável se tornem reais.

No entanto, a escola reproduz também a estrutura de poder da

sociedade o que acaba por alimentar a dependência afetivo-intelectual, dentro da

instituição, desenvolvendo a apatia, a indiferença e a submissão. Com isso, o

autoritarismo se torna, em geral, o padrão das relações na maioria das

instituições escolares, em todos os níveis de hierarquia da escola.

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As escolas de um modo geral não trabalham questões como “quem

sou?” “do que gosto?” “como me sinto?”, não há uma preocupação em preparar o

aluno para a vida, para a sua inserção social. Os alunos por sua vez, sentem-se

desamparados pela escola já que esta não corresponde às necessidades de

participação no mundo social, político e econômico.

Outra falha da escola é a questão das diferenças individuais, porque

oferece a todos os alunos o mesmo conteúdo que nem sempre é apresentado da

maneira mais conveniente, sem observar o nível intelectual e de amadurecimento

de seus alunos, o que gera fracassos na aprendizagem cujo prejuízo recai sobre

os alunos. Segundo Coll (1996, p. 153) “[...] a escola investe intensamente contra

a auto-estima dos estudantes devido às diversas possibilidades que apresenta

para o fracasso e que os alunos percebem ou temem”.

O relacionamento professor aluno é um dos fatores que influenciam na

formação do autoconceito e no ajustamento do aluno à escola. Os alunos bem

sucedidos na escola parecem ser otimistas e mais confiantes quanto ao seu

futuro desempenho, enquanto os alunos com baixo rendimento acadêmico

percebem-se menos capazes e menos aceitos pelos outros, apresentando

tendência à autodesvalorização.

O autoconceito do professor é também um outro fator que influencia, indiretamente, no conceito que o aluno faz de si mesmo. Parece que os professores que têm sentimentos positivos com relação a si próprios, tendem a aceitar os outros com mais facilidade. Um professor com elevado sentimento de eficácia, pouca ansiedade e segurança em suas ações, suscitará nos alunos o desenvolvimento de percepções positivas de si mesmos e de seus colegas, melhorando a qualidade da interação em sala de aula. A ação competente na sala de aula vai além da prática pedagógica, transmitindo aos alunos, por meio de suas atitudes, recomendações de valores, críticas e julgamento, avaliação de conhecimentos e habilidades, informação e formação. (ARAUJO, 2002, p.74)

A interação entre professor e aluno se dá através da fala, da escrita e

até pelos gestos. Cada professor possui uma maneira de ser e agir diante de seus

alunos; o que acaba definindo alguns tipos básicos de relacionamento professor-

aluno.

O primeiro tipo de relacionamento é o autoritário, em que o professor

detém o poder na relação, sem deixar espaço para o aluno expressar suas

vontades e opiniões; neste tipo de relacionamento em que o professor aparece

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como dominador há uma certa tendência dos alunos perderem o interesse

levando-os a uma certa apatia.

Outro tipo de relacionamento é quando o professor é negligente, aquele

que permite tudo aos alunos, e não assumem uma postura de responsabilidade

sobre os mesmos. Esses professores,

[...] adotam o ponto de vista de que é melhor não se preocupar com os problemas de comportamento, encarando-os como um fator estranho no ensino, alguma coisa pela qual eles não teriam responsabilidade e... o fato é que o professor interessado em fomentar e promover a aprendizagem de sala de aula não pode dar-se ao luxo de ignorar os problemas de saúde mental de seus alunos e, portanto, deve ter alguma compreensão a respeito dos vários sintomas do que chamamos problemas de comportamento”. (LINDGREN, 1997, p. 156)

O terceiro tipo de relacionamento é o que funciona ao sabor das

emoções, em que o professor possui um comportamento variável, ou seja, há

momentos em que é calmo, compreensivo e atento às necessidades de seus

alunos; em outros é autoritário, inibe seus alunos, apenas transmite os conteúdos

e não se preocupa em interagir com a classe.

E o quarto tipo de relacionamento é o professor democrata,

comprometido com seus alunos, por isso seu trabalho acaba sendo mais

produtivo, gerando interação na classe e repercute de maneira favorável na

construção do autoconceito.

A relação professor-aluno se for adequada será responsável pela

facilitação do processo de formação de identidade, bem como de amenizar

possíveis angústias, ansiedades e insegurança.

3. Considerações Finais

O homem sente a necessidade de conhecer-se, e esse processo de

autoconhecimento tem início com o nascimento, passa pela infância, marca a

adolescência e prossegue na vida adulta. O conceito que se tem de si mesmo e

seus efeitos tem sido foco de muitos estudos e pesquisas de muitos educadores

estrangeiros e muito pouco sobre sujeitos brasileiros, em contexto próprio e com

referenciais específicos.

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A auto-estima é resultado de diferentes interações sociais entre elas:

familiar, social e escolar.

Na relação escolar, o professor desempenha um importante papel, e

pode servir de modelo para seus alunos, tendo inúmeras oportunidades de ajudar

o aluno a conhecer a si próprio e as suas possibilidades futuras, levando-os a

desenvolver um autoconceito positivo, a conhecer seus talentos e propiciar-lhe o

reconhecimento.

Vale salientar que crianças com um autoconceito positivo tendem a

acreditar mais em suas potencialidades, são mais confiantes em si mesmas, são

mais perseverantes em atividades porque não temem o erro, se relacionam

melhor com outras pessoas e tendem a evitar situações que colocam sua

integridade física e psíquica em risco. (SIMÕES, 1997)

Pode-se dizer que uma criança que desenvolve um autoconceito

positivo, principalmente o escolar, terá mais chances de se tornar um adulto

realizado. É importante lembrar que quando se fala de autoconceito positivo,

refere-se a um autoconceito saudável, equilibrado, em que a pessoa é capaz de

lidar tanto com seus sucessos quanto com seus fracassos, porque a vida

apresenta satisfações e frustrações.

O sucesso ou o fracasso escolar tem conseqüências para a construção

do autoconceito, que se refletem nas atitudes em relação a si próprio e ao mundo.

4. Referências

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