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PATRIMÔNIOS MARAJOARAS N AS TEIAS DE CLIO:
Um Outro Olhar à Belle Époque Paraense
Agenor Sarraf Pacheco1
Josiane Martins Melo2
Lucas Monteiro de Araújo3
Resumo: Neste texto, analisamos escritas de viajantes, naturalistas e jornalistas sobre a presença, construção e
condições de preservação de patrimônios urbanos marajoaras nas últimas décadas do século XIX, no chamado
período da Belle Époque Amazônica. Com base nos Estudos Culturais e na História Cultural, problematizamos o
lugar da região marajoara na historiografia da Belle Époque e o modo como esses tempos foram vividos pelas
populações locais. Contíguo a esse exercício de escrita, pelas teias de Clio nos esforçamos para apreender rastros
do passado como territórios de transmissão, recepção e contestação de visões e práticas socioculturais de um
determinado contexto geohistórico. Por esse ângulo, assinalamos que o complexo e contraditório cotidiano de vida,
fé e trabalho vividos pelas populações marajoaras no auge da economia da borracha e registrado na pena de homens
das letras, desmonta leituras históricas consagradas acerca da expansão da modernidade e suas conquistas
patrimoniais na Amazônia Marajoara.
Palavras-Chave: Patrimônio; Belle Époque; Escrita da História; Amazônia Marajoara.
Escritas e Silêncios: Apresentação
(...) o pesquisador, o político e o comunicador deveriam ter olhos
e ouvidos grandes e boca pequena diante do painel cultural que
se descortina, intriga e desafia no Brasil (ALVES, 1997: 304).
O estudo do patrimônio na Amazônia Oriental, a partir de meados do século XIX
(FERREIRA PENNA, 1855; 1877; 1898; 1973), tornou-se central nas escritas de arqueólogos
e etnólogos. Estes intelectuais preocupados em registrar heranças deixadas pelas populações
ancestrais que habitaram a região antes e depois do período da conquista europeia e, ao mesmo
tempo, entender seus modos de organização sociopolítica, econômica e cultural, sem olvidar
mudanças e reapropriações em tempos presentes (HALL, 2003), vem constituindo importante
tradição de estudo, alcançando os séculos XX (MEGGERS e EVANS, 1957; ROOSEVELT,
1991; SCHAAN, 1997) e XXI (SCHAAN, 2003; 2004; 2009 e BEZERRA, 2011; 2012).
Se as áreas de arqueologia e etnologia mergulharam na temática do patrimônio, o
mesmo não pode se dizer do campo da história social da Amazônia, pois só muito recentemente
é possível falar de uma historiografia do patrimônio na região. Em levantamento realizado em
sites especializados no período de janeiro de 2012 a fevereiro de 2015, constatamos que a
preocupação com estudos sobre outras formas e abordagens de patrimônio começa somente a
1 Doutor em História Social (PUC-SP) e Professor dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia e História
Social da Amazônia. 2 Mestranda em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). 3 Mestrando em Antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
2
partir dos anos 2000.4 Temáticas como patrimônio indígena, museu, festa religiosa, pajelança,
turismo, narrativa oral, são as mais recorrentes. Antecipamos que com exceção de nossos
estudos e daqueles que o principal autor desse texto tem orientado sobre o assunto (SARRAF-
PACHECO e SILVA, 2013; MELO e SARRAF-PACHECO, 2014; ARAÚJO e SARRF-
PACHECO, 2014), não foi encontrado nenhum trabalho acadêmico, seja ele de graduação,
mestrado ou doutorado discutindo o patrimônio arquitetônico ou material marajoara.
Com base na perspectiva interdisciplinar que estabelece diálogos entre História,
Antropologia e Museologia, o texto mapeia e analisa, a partir de O Liberal do Pará5 (1870-
1875), Jornal do Pará6 (1870-1878), relatórios e textos de viagem de Domingos Soares Ferreira
Penna, Emílio Goeldi, Frederick Hartt, Aníbal Amorim, Henry Walter Bates e D. Alonso da
Consolação, bispo marajoara, a presença, construção e condições de preservação de
patrimônios urbanos marajoaras nas últimas décadas do século XIX, no chamado período da
Belle Époque Amazônica.
Nas linhas dos Estudos Culturais e da História Cultural, problematizamos o lugar da
região marajoara na historiografia da Belle Époque e o modo como esses tempos foram vividos
pelas populações locais. Contíguo a esse exercício de escrita, pelas teias de Clio nos esforçamos
para apreender rastros do passado como territórios de transmissão, recepção e contestação de
visões e práticas socioculturais de um determinado contexto geohistórico. Por esse ângulo,
assinalamos que o complexo e contraditório cotidiano de vida, fé e trabalho vividos pelas
populações marajoaras no auge da economia da borracha e registrado na pena de homens das
letras, desmonta leituras históricas consagradas acerca da expansão da modernidade e suas
conquistas patrimoniais na Amazônia Marajoara.
Tal produção é apreendida não apenas como estado da arte sobre o tema, mas como a
visão de mundo de um tempo sobre o passado historicizado. Inicialmente, o interesse em
conhecer a produção historiográfica foi para perceber o lugar da região marajoara nesses
4 Acreditamos que a emergência desses estudos está concatenada ao surgimento do Decreto nº 3.551 de
04/08/2000, que institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial como patrimônio cultural brasileiro,
criando ainda o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dando outras providências. (CASTRO, 2008:119). 5 Jornal diário, político, comercial e noticioso. Órgão do Partido Liberal do Pará. Propriedade de Manoel Antônio
Monteiro. Suspendeu publicação em período não identificado, reiniciando-a em setembro de 1869, sob a redação
de José Antônio Ernesto Paragassu. Substituiu o periódico o "Jornal do Amasonas". Saiu de circulação após a
proclamação da república em 1889. Em 1890 reapareceu com o título "O Democrata”. 6 O Jornal do Pará: Typ. de Santos e Irmãos. Publicação diária, política comercial, literária e noticiosa. Em 13-11-
1866 passou a ser órgão oficial, impresso na typografia da Rua São João sob a direção e redação de Cypriano José
dos Santos, substituto do Jornal.
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escritos. Em seguida, rastreamos informações presentes em textos de viajantes, memorialistas
e jornalistas visando perceber que patrimônios foram erigidos ou praticados, especialmente em
municípios do Marajó das Florestas. A apropriação dessas escrituras produz linguagens
socioculturais interrelacionais não lineares (HALL, 1997).
Pensando sentidos e importância de patrimônios edificados em cidades amazônicas no
período da Belle Époque, a escolha de espaços “monumentalizados” como Belém traz à tona a
escrita de um passado presente em evidências históricas na construção de prédios, igrejas,
coretos, praças, assim como produção de documentos/monumentos (LE GOFF, 1990) como
sinais capazes de comunicar a visão de patrimônio que orientava aquele período. Na busca por
entender a vida marajoara nesses tempos, rastreamos jornais e relatos de viagem a partir da
segunda metade do século XIX para apreendermos conteúdos e sentidos de suas narrativas.
Entendemos esses rastros do passado não apenas “como forma de explicitar e mostrar um
acontecimento [...]” (VICENTE, 2009:106), mas também como evidencia que ao comunicar
visões de um evento a partir da ótica de seu produtor interfere e sofre interferências do sistema
cultural de onde parte e com o qual(is) dialoga.
Para isso, não se pode esquecer que essas escritas precisam ser problematizadas,
adotando-se “normas e valores com quais criticamos textos, produções e condições que
promovam opressão e dominação” (KELLNER, 2001:125). É preciso interpretar o documento
como algo produzido em negociação entre interesses e visões do pesquisador e representações
latentes das fontes, seja ela escrita, oral, visual ou virtual. Jean Meyriat afiança que “o
documento não é um dado, mas o produto de uma vontade, aquela de informar ou se informar,
a segunda menos sendo sempre necessário” (ORTEGA; LARA, 2010).
Na acepção da História Cultural, “o historiador não é mais um homem capaz de
constituir um Império. Não visa mais o paraíso de uma história global. Circula em torno das
racionalizações adquiridas. Trabalha nas margens. Deste ponto de vista se transforma num
vagabundo. (...) ele se dirige para (...) zonas silenciosas” (CERTEAU, 2002:87). Frente a isso,
é importante estar atento para o caráter político que agencia escolhas e maneiras de se ler
documentos, focando sentidos de sua confecção, circulação, recepção e ultrapassar o suposto
caráter de prova ou de “verdade” que, tradicionalmente, acreditou-se que um documento
histórico teria.
O trabalho com as letras dos viajantes, naturalistas e jornalistas permitiram realizarmos
alguns mergulhos no espírito dos finais do século XIX do mundo marajoara, momento de
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grandes transformações e contradições sociais. Não trabalhamos com a concepção dual de
verdadeiro x falso, mas tentamos escavar sentidos que enunciados produzem ao dissertarem
sobre uma temática em determinado tempo e espaço. Se essas evidências do passado podem
também ser lidas enquanto espaço de ficção, é preciso saber que “ficção não se opõe à verdade:
designa as figuras que modelamos, para darmos conta da complexidade e vastidão infinitas do
mundo” (MENESES, 2000:31).
Perante a conexão entre fatos e ficções dentro dos documentos, esta investigação
histórica não pretendeu estabelecer verdades, mas sondar representações e interculturalidades
manifestadas em concepções de patrimônio e suas condições que emergem das letras de
documentos escritos sobre a Amazônia Marajoara no período de grande extração da hevea
brasiliensis. Também temos consciência de que a leitura produzida se revela parcial por ser um
estudo em andamento, carecendo de maiores investimentos bibliográficos e analíticos. A
despeito desses limites, o texto “propõe-se a produzir novos conhecimentos, criar novas formas
de compreender os fenômenos e de conhecer a forma como estes têm sido desenvolvidos” (SÁ-
SILVA; ALMEIDA; GUIDANI, 2009:14).
A Belle Époque por Escrito
Quando mencionamos o termo Belle Époque, emerge em nosso universo de
representações uma visão oficial desse tempo, que, muitas vezes, elege somente o mundo do
capital, das grandes ações políticas de remodelação de espaços públicos; memórias de
modernização; ideário de progresso pelo qual passaram algumas cidades na Amazônia como
Belém e Manaus; expansão da urbanização e embelezamento de antigos espaços batizados de
cortiços, evidenciando riquezas e prosperidades. Enfim, alegorias de monumentos erigidos na
ótica da arte e história europeias fazem esquecer, por exemplo, especificidades geo-históricas e
culturais de outros lugares. Tal visão acaba por gerar visões dicotômicas acerca do período: de
um lado se teria a história oficial com seus feitos e fatos e de outro a história de regiões e grupos
sociais menos favorecidos, que mesmo esquecidos pela escrita da história autorizada,
interagiram, contestaram, encantaram-se e modificaram, na medida do possível, os caminhos
da mudança na infraestrutura, nos hábitos e tradições defendidas pelas elites políticas.
Se a chamada escrita da história da Belle Époque na Amazônia oriental produziu
poderoso acervo bibliográfico, explorando os mais variados assuntos, todos eles,
indistintamente, ficaram naquelas duas grandes capitais do vasto estuário amazônico – Belém
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e Manaus. Um vasto mundo de médios e pequenos municípios e centros urbanos que, inclusive,
nasceram nesse contexto, ainda estão por ser estudados. Saber como paisagens e personagens
desses lugares participaram desses tempos pode ajudar a entendermos as fronteiras físicas e
simbólicas que costuram e fissuram as múltiplas amazônias.
Por esses termos, este trabalho foca suas preocupações no entendimento do patrimônio
construído em cidades marajoaras, no chamado período da Belle Époque. Ele pretende sondar
como os espaços urbanos e seus moradores sentiram e viveram o período áureo da borracha na
Amazônia. A proposta ao mudar o foco geográfico e temático sobre a Belle Époque na
Amazônia, numa espécie de guinada do globo ocular para áreas à margem do epicentro regional,
procura, a partir de agora, dialogar com alguns trabalhos da historiografia produzida sobre o
assunto, a fim captar interfaces Marajó e Belém e especificidades do Marajó no Pará.
Antes da guinada na Belle Époque por escrito, é necessário dizer que a compreensão
de patrimônio marajoara nas últimas décadas do século XIX, insere-se, possivelmente, na
concepção nacional e internacionalmente de bens edificados. “As noções modernas de
monumento histórico, de patrimônio e de preservação só começam a ser elaboradas a partir do
momento em que surge a ideia de estudar e conservar e estudar um edifício pela única razão de
que é um testemunho da história e/ou uma obra de arte” (FONSECA, 2009:53).
Mundialmente falando, a proteção dos bens patrimoniais passou pelo que Françoise
Choay chamou de consagração do monumento histórico, atingindo o raio de 1789 – que
defendia a proteção de bens baseada na representatividade da nação incorporada no monumento
– a 1964 – que fez emergir políticas de restauração –, alterando a concepção de momento
histórico defendido a partir da Revolução Francesa. O marco simbólico dessa mudança foi a
Carta de Veneza (CHOAY, 2006:125).
Assim, no período de 1789 a 1964, novos valores foram atribuídos às antiguidades.
Tais estimas tiveram como primeiro e fundamental o valor nacional, inspirando “(...) de ponta
a ponta, as medidas de conservação tomadas pelo Comitê de Instrução Pública”, o qual
“justificou o inventário e o cortejo de todas as categorias heterogêneas da sucessão” (CHOAY,
2006:116).
É provável que a concepção de monumento, patrimônio, preservação e restauração que
orientava o poder público no contexto da Belle Époque estava alicerçada, entre outras direções
históricas, artísticas e culturais, no modelo francês. Não por acaso, o todo poderoso senhor
Antônio José de Lemos, maior representação governamental dos áureos tempos da Belle
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Époque e seu glamour, movimentou esforços para criar nos trópicos “a civilização parisiense”.
Certamente, elites e diferentes outros agentes históricos recriaram esse movimento civilizador
num profundo exercício de interculturalidade. Gárcia-Canclini (2009:17) explica que esse
processo de tradução cultural “remete à confrontação e ao entrelaçamento, àquilo que sucede
quando os grupos entram em relações e trocas. [...]; interculturalidade implica que os diferentes
são o que são, em relações de negociação, conflito e empréstimos recíprocos”.
Adentrando nas escritas do período, Barbara Weinstein (1993) revela dados
importantes da produção gomífera nos principais municípios no Pará, dentre eles, Afuá, Breves,
Anajás, Gurupá e Melgaço, todos localizados no Marajó das Florestas, onde predominou,
especialmente, o extrativismo das drogas do sertão, borracha, palmito, madeira, arroz e extração
do açaí. Nas estatísticas organizadas pela pesquisadora, aparece uma grande produção da
borracha nestes municípios, a exemplo de Breves, que se destaca como o maior produtor entre
1900 a 1906 com os valores de 1.547.374 a 1.203.398 quilos. Por isso, pergunta-se: onde a
riqueza gerada por essa extração e exportação foi aplicada? Ela ajudou a construir novas
arquiteturas urbanas e alterou as condições de vida dos marajoaras? O que ganhou status de
patrimônio na lógica da gestão pública local e dos moradores?
A história da Belle Époque no Pará e a biografia de seu principal estadista, centrando
especialmente no processo de (re)construção da imagem de Antônio Lemos é analisada em
Sarges (2000 e 2002). Nessas obras, a historiadora permitir vislumbrar a importância do
patrimônio urbano ao tratar das ideias de bens edificados e espaços “monumentalizados” em
Belém. A “obsessão coletiva da nova burguesia” exigiu transformações no espaço público e no
modo de vida, além de propagar uma nova moral e a montagem de uma nascente estrutura
urbana, cenário de controle das classes pobres e do aburguesamento da elite abastarda
(SARGES, 2000:19-20).
Edinea Mascarenhas Dias (1999), em mesmo contexto de Sarges, aborda criticamente
a representação do fausto da Belle Époque em contexto manauara. A autora trabalhou as
contradições no cotidiano da cidade e procurou desmitificar a imagem construída em torno da
Manaus da prosperidade eterna da bela época. Em linhas gerais, a escrita sobre esse passado de
glamour é reforçada pela criação de prédios, igrejas, coretos, praças, produção de documentos
e grande volume de informações que no presente alcançam o universo patrimonial. Entretanto,
se a informação for interpretada enquanto um evento capaz de sintonizar mundos, tempos e
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cognições aos sentidos do cotidiano (BARRETO, 2008), ver-se-á que essa capacidade de escrita
não se restringe apenas à cidade de Belém ou Manaus, mas em escalas sem fronteiras.
Franciane Gama Lacerda (2010) mostra experiências sociais dos cearenses em terras
paraenses. Visibilizando outras vozes, a historiadora analisa razões, dificuldades e significados
que gestaram esse movimento migratório para o Pará no período da borracha. No afã de
apreender a experiência de outros agentes históricos que viveram na Belle Époque, Tomas T.
Orum (2012) trabalha a história de “mulheres que viviam de portas abertas” na condição de
prostitutas europeias atraídas pela “prosperidade amazônica” no jogo entre a cidade de Belém
e Manaus. Ipojucan Dias Campos (2010), por sua vez, procura interpretar, através de periódicos
do século XIX, as relações sobre o casamento civil e divórcio no cenário bellepoquiano de
Belém. Em direção ao universo educacional, Felipe Tavares Moraes (2012) mostra a atuação
de Lauro Sodré em relação aos ideais republicanos nas interfaces com a política educacional
entre 1891-1897.
O período da Belle Époque na Amazônia construiu uma memória do poder
modernizador que teria alterado não apenas a geografia e arquitetura da cidade, mas também os
velhos costumes que faziam parte do antigo modo de vida da população. Aldrin Moura
Figueiredo (2008) duvidando dessas mudanças culturais totais, mostra quão contraditório era
essa representação, uma vez que não somente a cidade de Belém seguia embrenhada em antigas
tradições, como a arte de curar corpos e espíritos com saberes da medicina tradicional sob a
orientação e trabalhos de incorporação de pajés, mas também os próprios agentes da
modernização e construção do patrimônio da Belle Époque vez ou outra eram surpreendidos
recorrendo as orientações daqueles guias da floresta que habitavam a Petit Francesa da
Amazônia.
Sob o Signo de Aquário: Patrimônios Marajoaras nas Teias de Clio
Durante mais de um século (1850 a 1960), municípios da região marajoara
experimentaram a exploração do látex como fonte primária para se viver riqueza, miséria e
contradição social (SILVA, 2011). Escritas de diversos viajantes estrangeiros que passaram
pela região amazônica registraram o grande potencial econômico das cidades, assim como não
deixaram de condenar a velha prática econômica como responsável pela incivilização e atraso
da população do espaço rural. Anibal Amorim relatou, por exemplo, que “o município de
Anajás é um dos mais ricos do estado. Tem uma renda anual de perto de 200 contos. A sua
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maior exportação consiste na borracha” (AMORIM, 1909:145). Já sobre o município de Breves
assinalou: “Fundada no começo da primeira metade do século passado, teve a honra de cidade
em 1882. A sua principal fonte de riqueza é a goma elástica” (AMORIM, 1909:145). Observa-
se que a vila só ganha status de cidade em 1882, momento áureo da extração do látex.
A título de curiosidade vale dizer que, de acordo com Carneiro (1956:81), a borracha
produzida no arquipélago de Marajó possuía uma qualidade inferior que as demais, pois era
produzida a partir da mangabeira. A despeito dessa informação, verificamos o grande potencial
econômico proveniente da borracha da região, pois, tradicionalmente, o sudoeste do Pará,
principalmente a cidade de Santarém, era quem aparecia com maior destaque na lista dos
municípios exportadores de borracha.
No periódico O Liberal do Pará, localizamos inúmeras matérias que criticavam o
estado físico das cidades marajoaras no início da década de 70 do século XIX. Valorizamos,
então, o modo como o matutino revelou essa situação crítica dos espaços urbanos no período
inicial da Belle Époque, mostrando que seu desenvolvimento estrutural só se daria realmente a
partir do período final da década de 1870 e início da de 1880.
É preciso, antes mais nada, esclarecer o roteiro histórico da economia na região da
Amazônia Marajoara. Antes da introdução da borracha como fonte econômica primária,
ganhava destaque, no Marajó dos Campos, principalmente a criação de gado. “Na secção dos
campos estão as fazendas de criação, em número máximo de 250, entre grandes e pequenas,
compreendendo todas o número máximo de 300.000 cabeças de gado bovino” (FERREIRA
PENNA, 1898:166). O comércio era voltado tanto para o mercado nacional quanto
internacional, sendo exportadas perto de 40 mil cabeças de gado por ano para o consumo do
Pará, Amazonas e Acre, além de Caiena, Paramaribo e Georgetown (AMORIN, 1909:131). Já
no Marajó das Florestas, sobressaia-se, “além de borracha e castanha (noz do Brasil como se
diz na Europa), a salsaparrilha, a baunilha, a quina, a piassava e outros produtos de procura
universal” (AMORIN, 1909:123). Vale mencionar que, dentre os “produtos de procura
universal”, o cacau era produto de grande valia frente sua larga utilização na produção do
chocolate.
A partir de 1840, a extração do látex se intensifica e passa a ser a fonte primária da
economia marajoara. Tal fato provocou diversos impactos nas esferas econômicas, sociais e
patrimoniais da região. No período entre 1840 a 1880, a produção de gado nos campos
marajoaras diminuiu de 500.000 cabeças para 300.000. Ferreira Penna (1909:171), em balanço
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sobre o assunto, apontou, além da mudança na base econômica, os roubos, as inundações e a
escassez de cavalos também como fatores preponderantes a tal déficit. Da mesma forma que a
criação de gado caiu, seguiu-se também da mesma forma a exploração dos recursos florestais,
sendo deixado para segundo plano.
Aspecto discutido pela historiografia amazônica que implode com o sentido restrito de
ciclo da borracha trata da diversidade de atividades extrativistas e usos dos recursos naturais,
animais e minerais pelos seringueiros em tempos de economia gomífera. Edison Carneiro
(1956:88) comenta sobre o assunto:
Ao lado da extração do látex da seringueira, o caboclo amazonense aproveita o couro
de jacarés e porcos (em alguns casos, tem o dever de vendê-los, de preferência ao
patrão) e, nos meses de inverno, emprega-se em outras atividades. Estas "indústrias
de inverno" relacionam-se com a jarina, o timbó e, ocasionalmente, com o corte de
madeiras, como cedro e águano.
Notamos que, durante os meses de inverno, devido talvez ao grande nível
pluviométrico da região amazônica, a atividade seringueira ficava impossibilitada, levando
homens e mulheres da região a adaptar-se aos tempos da natureza, indo buscar em outros
recursos da floresta um meio de subsistência. Outro fator de grande importância a ser
mencionado é a questão da extração da madeira, que exemplifica um nítido processo de relação
comercial e não mais sustentável por parte do seringalista.
A economia gomífera foi muito mais que mero arquétipo econômico. Socialmente
falando ela modificou costumes, introduziu novos padrões de relação com a natureza e revelou
novas formas de poder. Sobre tal questão as pesquisas mostram que a introdução do látex fez
com que fosse gerada uma “febre pelo ouro negro” que levou inúmeros trabalhadores, de dentro
e fora da região amazônica, a embrenhar-se nas matas em busca da borracha. Como exemplo
de tal fato, retivemos o seguinte relato sobre o Marajó das Florestas:
“(...) há muitas terras férteis pela umidade e calor que nela reinam, grande variedade de madeiras
estimadas, para construções, numerosas plantas uteis a medicina e a indústria, e uma quantidade
extraordinária de seringueiras (Sinphonia elástica), com cujo suco se prepara a borracha do
comércio. Esta parte tem sido considerada o Eldorado dos seringueiros, cabendo-lhe muito melhor
o nome de cemitério da indústria e civilização da província, pelo mal que faz a população o fabrico
da borracha” (FERREIRA PENNA, 1898:166).
A leitura da diversidade de escrituras sobre a Belle Época na Amazônia permitiu
visualizar que, apesar de o arquipélago de Marajó, especialmente, em sua região de florestas,
ter sido território de grande extração e exportação de borracha para Belém e daí para o exterior,
poucas mudanças parecem ter ocorrido nos espaços urbanos de suas cidades, assim como não
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se percebeu grandes alterações na qualidade de vida dos habitantes da região. Na década de
1930, quando D. Alonso da Consolação realizava a primeira visita pastoral nas comunidades
rurais do Marajó das Florestas, após ser empossado bispo da Prelazia de Marajó, denunciou o
quadro social em que se encontrava os moradores da região.
A região dos seringais está mais povoada, mas... Santo Deus! Que quadros tristes se
desenrolam. Pessoal faminto, esquelético e quase nu. Muitas vezes dá vontade até de
chorar pelo pouco que se pode fazer por estes desaventurados. Não tem o hábito de
trabalhar; não tem, também, um trabalho remunerador. Se dedicam, principalmente, a
extração da borracha. Cada homem tira um quilo ou algo mais por dia. Vale $ 600 ou
900 reis diários? Isso acontece a estes desventurados (ALONSO, 1932:263).
A visão pessimista sobre o trabalho nos seringais, apresentada por D. Alonso,
conectava-se a leituras e avaliações realizadas por muitos viajantes e escritores do século XIX.
Domingos Soares Ferreira Penna, na década de 1860, ao visitar povoados do grande arquipélago
viu como o trabalho na borracha moldou aquelas gentes. Entre as décadas de 1840 a 1890, o
alto valor do produto no mercado internacional atraiu elevado quantitativo de migrantes para
todas aquelas paisagens marajoaras e gestou mestiçagens e trocas culturais, alterando o modo
de vida regional, muito mais do ponto de vista da tradição oral e das relações socioculturais, do
que da infraestrutura e condições de vida locais. Sem bases sólidas para promover o
desenvolvimento, a economia da borracha representou, para Ferreira Penna, um grande atraso
que esfumaçou a luz da civilização em terras marajoaras.
A cobiça que exercita o preparo e comércio deste valioso gênero não tardou a
desmascarar-se; é ela que, enquanto sepulta nos seringais milhares de pessoas, vai
entretendo o resto da população na ignorância e no indiferentismo para a instrução,
para a religião, para com a Pátria, para com Deus, enfim, para todos os mais nobres
sentimentos do coração humano; e é por ela que a população definha e vive na miséria
e que todos os que se dão ao fabrico da borracha estão cobertos de dívidas e, morrendo,
arruínam suas famílias, prejudicam aos credores que tiveram a imprudência de lhes
confiar seus gêneros, e correm, assim, em parte, para os apertos e perturbações em
que se tem achado o comércio da Capital (FERREIRA PENNA, 1971:63).
Um mundo marajoara em ruínas, indiferente à civilização, degradado material e
moralmente preso à ignorância religiosa e ao analfabetismo foram traços da fisionomia regional
esboçados pelo naturalista, que pareciam explicar porque, em 1930, D. Alonso encontrou uma
população “desventurada, preguiçosa”. Leituras subjetivas de viagens com interesses distintos
encontram-se nessa exposição, fazendo pensar no poder formador dessas letras nas
representações propaladas sobre o Marajó das Florestas e suas gentes em âmbito nacional e
internacional (KELLNER, 2001).
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Tanto para Ferreira Penna, quanto para D. Alonso, aquela população deveria ter
abandonado a borracha e investido seus interesses na agricultura, cultura do cacau, café,
algodão, mandioca, urucu, no pastoril, nas sementes oleaginosas. O certo é que o lado ocidental
marajoara, nos anos de 1930, tinha sua base de sustentação assentada na produção extrativista.
Mesmo que o preço da borracha tivesse caído vertiginosamente, antigos comerciantes, em seus
barracões ou mesmo regatões, continuavam a negociar com populações locais esses e outros
produtos extraídos da floresta.
A tradição do látex na vida marajoara também provocou impactos na esfera patrimonial.
Em 18 de janeiro de 1870, encontramos referência ao precário estado das urbes marajoaras. A
matéria toma como exemplo a cidade de Breves que, com o desenvolvimento da extração da
borracha, viria a se tornar uma das mais estruturadas da região. Antes disso, apreende-se que
“a cadeia (um simples telheiro) mais se assemelha a um curral de cabras do que a uma casa de
guardar presos!” (O Liberal do Pará, nº 13, 1870:01). O autor, identificado como J. P. Bricio,
ainda nos fornece mais um dado importante em seu relato:
Faz dó ver-se o estado pouco agradável em que se acham as vilas e cidades do interior
da província! Qual a causa de tamanho mal? A meu ver não é senão a incúria
administrativa, e o maldito sistema de centralização. Assim como a corte do Império,
parasita-mor, suga toda a seiva das províncias, para poder sustentar os caprichos do
monarca que entre nós reina, governa e administra; assim também as províncias por
sua vez sugam toda a seiva de suas cidades e vilas, não tanto para benefício seu, mas
sim para favorecer os interesses de meio dúzia de indivíduos, que entendem que é
coisa muito lícita dispor dos cofres públicos do mesmo modo por que um particular
despende aquilo que lhe pertence (O Liberal do Pará, nº 13, 1870:01).
Além de relatar o estado da cadeia, a matéria ainda propiciar o entendimento
patrimonial da época que, estando ligado ao material, colocava a cadeia como parte integrante
desse patrimônio. Desta forma, necessitava de cuidados, tanto para desenvolver sua função
primária, quanto para exaltar o desenvolvimento da localidade em tempos de economia da
borracha. Mais do que isso, o jornalista permite compreender os usos dados as verbas públicas
que, sendo usadas para usufrutos pessoais, acabava por negligenciar o patrimônio local.
Chama a atenção outra matéria jornalística, desta vez das letras do jornal emerge a
cidade de São Sebastião da Boa Vista com uma situação peculiar. Lá um padre recolhe dinheiro
da população com discurso de que faria reparo externo da Igreja matriz da região, mas não
efetua o prometido.
(...) a nossa igreja está até hoje com a forma exterior que não se pode ver, e arriscada
a ficar em ossos com as chuvas que começam a cair. O reverendo não cuida da
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religião, serve-se, como ele mesmo diz, do seu ministério para interesse puramente
seu, e que por tralhas ou por malhas enriquecer para ir dar um passeio à Europa, tendo
já elevado o preço das missas, casamentos, batizados e enterros, recebendo por cada
missa a cantochão (10:000 reis) dez mil reis de pé d'altar, o que n'outras freguesias
custa quatro a seis mil reis; por cada casamento dezesseis e vinte mil reis (O Liberal
do Pará, nº 13, 17 de janeiro de 1871:01).
Notamos que, segundo a pena do jornalista de O Liberal do Pará, o padre se apropriava
da boa vontade e crença da população para, em nome da igreja matriz e do padroeiro, arrancar
dividendos com fins pessoais. Ainda na matéria é possível destacar dois aspectos: o primeiro é
a frágil situação da igreja; com as chuvas que se aproximavam da região, era quase impossível
o templo manter-se em pé frente ao seu estado de degradação. O segundo aspecto é a
representação afetiva que a sociedade local revela pelo patrimônio religioso.
A matéria é fruto de uma carta anônima encaminhada à redação do jornal, publicada
na íntegra, que expressa severas críticas às práticas do reverendo. Brota das letras do jornal, um
sentimento de revolta e condenação, por parte dos boa-vistenses, acerca da postura do padre,
destacando-se não apenas atitudes de ganância, autoritarismo e avareza, mas pouco cuidado
com o patrimônio religioso em seu templo e diversidade de equipamentos, como se pode
acompanhar na referida matéria: “A igreja conserva quase sempre imunda não tendo sido uma
só vez lavada, e bem pouca varridas aos domingos; os paramentos estão quase sempre sujos; o
nosso vigário olha-os só na ocasião de ir dizer a missa, estejam como estiver” (O Liberal do
Pará, nº 13, 17 de janeiro de 1871:01).
A religião católica exercia grande influência na representação patrimonial afetiva e
oficial das cidades marajoaras. Em matéria referente a São Sebastião da Boa Vista emerge uma
queixa ao mesmo frade da matéria anterior, desta vez destacando:
Pergunta-se ao padre Matheus Augusto da Silva França, se ainda não encontrou uma
imagem de São Sebastião, à medida de seu desejo, e bem perfeito, para empregar as
esmolas que nesta freguesia pediu; dizendo que queria substituir o nosso antigo e bem
milagroso, por um maior e mais perfeito. Pelos meses que há decorrido parece mais
ser para substituir a mãe do sol (O Liberal do Para, nº 247, 29 de Outubro de 1870:01).
Tal matéria é complementada pela seguinte:
(...) assevero-lhe que o revm. recebeu o dinheiro para mandar vir uma imagem de São
Sebastião mais perfeita que do nosso milagroso, e que é falso ter promovido outra
subscrição, porque a primeira não chegasse; que o revm. tem estado calado com esse
dinheiro sem dar razões aos contribuintes, por que não tem mandado vir a imagem (O
Liberal do Pará, nº 13, 17 de janeiro de 1871:01).
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O santo em questão assume papel de destaque na vida dos moradores de São Sebastião
da Boa Vista. Para além das promessas não cumpridas do padre e as críticas a sua postura, o
padroeiro dos boavistenses aparece como importante patrimônio afetivo do lugar. Nesse mesmo
tempo em que foram noticiadas as denúncias das artimanhas daquele religioso, os habitantes do
arquipélago em meio ao trabalho na extração da borracha, viviam importunados pelas febres.
Tal epidemia causou inúmeras mortes, atacou diversas vilas e cidades e, devido à falta de
saneamento, médicos ou medicamentos, quase dizimou ou fez desaparecer algumas cidades.
Uma correspondência de Breves encaminhada por um morador, que se assinou com O Veritas,
ao O Liberal do Pará, mostra que em função da forte epidemia, a cidade encontrava-se quase
inabitada.
São estas as primeiras impressões que sentiu ele ao saltar na outrora florescente vila
de Breves: Nada lhe posso dizer de favorável a cerca deste lugar. Tudo aqui é uma
verdadeira miséria. As febres continuam sempre assustadoras. Imensos pardieiros
casas desabitadas e quase ocultadas entre o mato que assoberba as ruas da vila; eis
tudo o que minha vista tem alcançado depois de três dias que me acho lançado no
meio desta solidão e tristeza (O Liberal do Pará, nº 146, 04 de julho de 1871:02).
Semelhante a esta matéria, a pesquisa entrou em contato com outras denúncias do
precário estado de saúde pelo qual passava Breves. Em 1872, a situação ainda viria a se agravar
perante o assolo de mais uma epidemia, desta vez reduziu bruscamente parte da população da
vila, matando, inicialmente, 14 pessoas nas proximidades de um igarapé do município. Em 10
de março de 1872, tal mal foi popularmente denominado “entorta”, cujo batismo provém dos
sintomas causados, principalmente, por convulsões. Os efeitos do “Entorta” foram tão
calamitosos que provocaram um esmorecimento do comercio local e uma escassez de recursos
frente ao impedimento do trabalho provocado pela epidemia.
Em meio a esse quadro nada consolador para as décadas iniciais da Belle Époque no
Marajó das Florestas, informações sobre o precário estado sanitário e o aparecimento e
disseminação de doenças na região, acirram esse retrato de realidade. Constatamos uma
dispersão da patologia inicialmente pela parte sul e nordeste do arquipélago nos dois primeiros
anos da década de 1870, atingindo municípios como Breves, Gurupá, São Sebastião da Boa
Vista, Melgaço, Salvaterra e Soure.
Nos relatos de alguns viajantes que passaram pela região nas últimas décadas do século
XIX, com os quais a investigação interagiu, frente à face calamitosa em que se encontravam as
cidades da região, surpreendem-se registros do vasto patrimônio natural que o arquipélago
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possuía. Ganha destaque os imensos campos alagados, rios e o fenômeno da pororoca na região.
As impressões de Frederick Hartt sobre a cidade de Gurupá são registradas:
A vila é pequena, meio deserta desde que começou a aparecer a febre da extração da
borracha, está em ruinas. É muito insalubre, predominando as febres, o que não é para
admirar, visto como toda a vizinhança é pantanosa. Às vezes a localidade está
inteiramente abandonada e o comandante do Jurupense me disse que, uma vez, achou
só três pessoas na vila, estando uma delas a ponto de morrer de fome (...) (HARTT,
1898:179).
Notamos uma cidade marajoara quase deserta, tendo somente três habitantes no local
e estando um ainda a ponto de falecer. O que está por trás da pena do naturalista inglês? Outro
fator importante a ser observado no texto de Hartt é a data de sua publicação, 1898, sendo seu
recorte os anos 1897 e 1898. Tal fato evidencia que, mesmo com o período áureo da extração
da borracha, cidades produtoras ficavam à margem do desenvolvimento, indo na contramão do
processo iniciado nos grandes centros urbanos como Belém e Manaus. Se a bela época criou
um muro entre o centro e a periferia, colocando grande parte da população à margem dos
direitos ao progresso e às políticas urbanistas e melhores condições de vida, no interior do
Marajó apenas alguns poucos proprietários usufruíam da rede de exploração das riquezas
naturais e da mão de obra marajoara.
Nesse circuito histórico, matéria de 27 de Fevereiro de 1873 do jornal O Liberal do
Pará, traz novamente a realidade gurupaense mergulhada em tempos de abandono. A pena do
jornalista pinta um cenário que nos faz perguntar: que Belle Époque é essa?
Ontem cheguei, e assim que desembarquei, cuidei de ir dar um passeio e distrair um
pouco, pensando todavia encontrar coisas mais agradáveis do que lá no mato donde
vim; porém enganei-me redondamente; porque no momento de transpor o limiar da
porta, fiquei espantadíssimo vendo o deplorável estado dessa vila, com suas ruas e
praças todas cobertas de mato, as paredes de algumas casas ocultas sob as trepadeiras,
e outras esverdinhadas, proveniente das vigorosas chuvas; finalmente, mostrando em
tudo um aspecto medonho e sepulcral; por isso segui sempre caminhando para o lado
da câmara municipal, e não imagina v. s. o susto que tive, quando voltando-me para
o lado direito, vejo de ir saindo de entre o mato um homem, que a princípio tomei
como um bicho em forma humana, com as faces e olhos escovados, cabelos em
desalinho e mui crescidos caminhando cabisbaixo e nu completamente (O Liberal do
Pará, N. 47. Quinta feira, 27 de fevereiro de 1873:02).
A descrição reconstitui uma cidade tomada pelo abandono, aparentemente deserta, sem
cuidados. Exaltando ainda mais a morbidade do local é mostrado determinado sujeito que, se
equiparando a ambientação, também se mostra abandonado como que a dizer o retorno do
homem ao seu estado de natureza e incivilização. É de extrema importância mencionar que a
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matéria é assinada por um “Gurupaense”, natural da cidade e que se abisma ao ver a situação
da localidade e busca, no jornal, chamar atenção das esferas públicas responsáveis pelo
município sua chocante realidade. Caminhando em perspectiva regressiva, uma passagem do
livro Viagens pelo Brasil recupera mais uma vez a situação da cidade, dos moradores e seus
patrimônios na década de 1860.
Gurupá: Esta vila está situada numa barranca pouco elevada, a uns trinta pés acima
do nível do rio. Na parte saliente dessa barranca, encontra-se um forte abandonado;
em frente, abre-se a praça em que está a igreja, muito grande e, pelo menos,
aparentemente em bom estado. Mas a povoação evidentemente não está a caminho da
prosperidade. Muitas casas se acham desertas e em ruinas e parece existir aqui ainda
menos atividade do que na maior parte das povoações da Amazônia. Falaram-nos
muito da insalubridade do local e vimos vários casos graves de febre intermitente em
mais de uma casa em que entramos (AMORIN, 1909:462)
Exploramos o caso de Gurupá para evidenciar o estado de grande parte das cidades
marajoaras nos tempos em que a economia da borracha alterou significativamente o cotidiano
de vida da população regional. Em algumas localidades, o retrato social, monumental e humano
encontrava-se tão crítico que havia, inclusive, pedidos de finalização de determinados serviços
públicos por falta de aproveitamento. Tal situação melhor se visualiza em São Sebastião da Boa
Vista, onde foi pedido, em matéria de 24 de Agosto de 1873 do periódico O Liberal do Pará, o
fechamento da escola para meninas do local, pois se considerava um desperdício o gasto com
tal fim considerando, quase inexistente, a presença de meninas dispostas a frequentar a
instituição.
Outros Retratos de Patrimônios e Belle Époque
Antes de 1870, Henry Walter Bates, em uma das suas viagens ao interior da Amazônia,
também descreve Gurupá enquanto “uma área pedregosa isolada, pois o resto da região é baixo
e sujeito a inundações na época das chuvas” (1973:36). Assim, é possível dizer que naturalistas,
e viajantes e jornalistas que percorreram rios e localidades amazônicas no século XIX, a
exemplo de Bates, procuravam registrar diferentes aspectos da vida na região como as questões
sociais, ambientais e econômicas Como estamos acompanhando, emergem nesses escritos,
visões sobre mulheres e homens e patrimônios em precárias condições de existência.
Emilio A. Goeldi em Maravilhas da Natureza na Ilha do Marajó relata a grande
ocupação econômica da borracha no Marajó das Florestas: “na metade sudoeste, em que
predomina a floresta virgem, tipicamente amazônica, expande-se, sob o signo do Aquário, a
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colheita da borracha” (1899:371, grifo nosso). É sempre importante assinalar que a borracha
foi para esses municípios um dos maiores convergentes econômicos da época. Conforme
mencionamos anteriormente, Breves exportou cerca de 1.547.374 quilos de do produto em 1900
(WEINSTEIN, 1993:323). A borracha era um dos produtos substanciais da economia
marajoara, juntamente com a atividade pecuária e agrícola.
Produtos exportados no Marajó dos campos e das florestas em 1875.
Região
Produtos exportados
Melgaço Borracha, castanhas, couros de veado e madeira
Portel Borracha e farinha
Gurupá Borracha, cacau, salsa e castanha
Chaves Borracha e gado
Breves Borracha, tijolos, louças, telhas e andiroba
Curralinho Borracha e cacau
Cachoeira Borracha e gado
Monsarás Gado e farinha
Soure Gado
Fonte: (O Jornal do Pará, n. 78, 1875:01)
Frente à notável quantidade de produtores exportados dos municípios marajoaras, a
região tornou-se território de grande importância no quadro econômico paraense no contexto
da Belle Époque, pois a maioria de seus municípios, especialmente no lado ocidental,
funcionavam enquanto produtores e exportadores da borracha. Assim, perante a economia do
local, a Amazônia Marajoara era grande criadora de gado pelos campos e grande produtora de
borracha pelas florestas:
A mais rica e importante indústria da ilha de Marajó é a criação do gado vacum, para
o que há campos vastíssimos que ocupam um pouco mais da metade da superfície da
ilha. Na contra-costa há uma boa olaria em que se fabrica telhas, tijolos e louças
vermelhas. No município de Muaná, cultiva-se ainda o cacau e, como no baixo Arari,
há boas plantações de cana e um bom número de engenhos em que se fabrica
aguardente e uma quantidade de açúcar. Com estas exceções, o gado nos campos e a
borracha nas matas são as únicas produções da ilha (O Jornal do Pará, n.º 26,
1876:01).
Pensando o Marajó enquanto um grande produtor e exportador de borracha, como toda
essa economia irá responder às necessidades humanas e de construção de espaços urbanos
marajoaras? Como funcionava a dinâmica do patrimônio em terrenos específicos onde no
inverno muitos dos municípios são alagados, formando vastas ilhas? É importante ter em mente
as condições ambientais com a qual os marajoaras são obrigados a enfrentar e a se relacionar
frente as condições geo-culturais vivenciadas na região.
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Sabemos que por ser uma região insular, todos os municípios são construídos e
cercados pelo regime das águas que no inverno tomam os campos, alagando-os. Dentro dessa
característica ambiental, o interessante é pensar que o mesmo rio que gera a borracha, alaga as
construções dos municípios. Tal cenário visualiza-se em Chaves:
os ventos são com efeitos muito rijos, agitando muito as aguas do rio e tornando
perigoso o movimento de cargas e passageiros. Pode-se dizer que a vila tem mais de
uma vez mudado de lugar, recuando para o campo; o antigo quartel ocupava outrora
mais ou menos o lugar em que hoje fundia o vapor da companhia do Amazonas, e
aquele em que existiu a antiga igreja matriz é hoje o limite inferior da praia na maior
baixa-mar, cerca de 240 metros da vila atual; e muitas casas modernas estão sendo
olvidas e desmoronadas à medida que o terreno alto em que foram construídas se vai
desfazendo em cada ano pelo efeito do embate das ondas (O Jornal do Pará, nº 26,
1876:01).
Assim, a produção da borracha não é frutífera apenas em relação às florestas, pois os
rios também têm relação com as seringueiras, o Pracuúba Guanaticu e o Mapuá são exemplares,
pois “são abundadíssimos de seringueiras e muito povoadas de barracas de fabricantes de
borracha e de negociantes” (O Jornal do Pará, nº 26, 1876:01).
Perante o enfrentamos da cidade com o rio e suas forçadas modificações, o modo como
as populações marajoaras vão operar culturalmente poderá ser analisado também, a partir da
relação com as dinâmicas ambientais. A construção do patrimônio no Marajó está pautada,
nesses termos, pela relação que homens e mulheres estabelecem com tempos de cheias e
vazantes e suas fortes pancadas como ocorre em Chaves, terra ancestral da Pororoca por situar-
se em lugar de encontro do Amazonas com o Atlântico.
Apreendo cultura como “processo social fundamental que modela “modos de vida”
específicos e distintos” (WILLIAMS, 1979:23), percebemos que as condições patrimoniais
dentro do Marajó vão estar relacionadas a uma dinâmica cultural diferenciada. Um exemplo
emerge da observa registrada por O Jornal do Pará a respeito da relação do ensino escolar e do
trabalho da borracha:
O estado do ensino no interior da província nada tem de lisonjeiro; a matricula dos
alunos é, quase sempre, uma ficção oficial e a relação da frequência, as vezes, não o
é menos. “O mal tem sua origem principal nos hábitos, costumes e, frequentemente,
nas necessidades ou falta de recursos da maioria dos habitantes, mormente dos que
nunca tiveram instrução alguma. “Lá para fins de Janeiro os pais começam a regressar
à povoação trazendo consigo os filhos que muitos fazem logo matricular na escola. O
professor ou professora faz a inscrição no livro de matricula, abrem-se as aulas e os
discípulos as frequentam 3,4 ou 5 meses. “No fim deste período, os pais que, na forma
habital, tem de preparar-se para a safra da borracha, vem pedir dispensa dos filhos e
filhas, estas para ajudarem a fazer a farinha, e aqueles para lhes ajudarem a ajuntar
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caroços de urucury, necessários para a defumação da borracha (O Jornal do Pará, nº
31, 1876:01-02).
Qual modelo de escola orientava a vida de famílias marajoaras que organizavam seu
tempo de trabalho e moradia de acordo com os tempos de plantio, colheita, lazer e descanso?
Atravessada por uma concepção de progresso, instrução letrada pautada no modelo de educação
francesa, o cotidiano escolar da região no século XIX deixa ver precários índices de frequência
escolar pelas dificuldades que os trabalhadores rurais tinham de ficar durante um ano em uma
única área da região. Os modos de vida marajoara sintonizados com tempos de safra e entre-
safra, tempos de descanso ou trabalho menos forçados e tempos intensos de trabalho que
envolvia toda a família, seguiam na contramão do regime do tempo escolar.
De acordo com O jornal do Pará, outra indústria que ascende no Marajó dos Campos,
concomitante à criação bovina, é o roubo do gado. Os fazendeiros são os que mais furtam o
gado na região, seja pelo costume, para criar, comer e, até mesmo, para variar de alimento.
Assim, o roubo do gado no Marajó deixa de ser apenas um fator econômico, pois “é um habito
que tem passado inalteravelmente de tataravós a tataranetos, de geração a geração, e que tido a
sanção de mais de um século. Em outros termos: o furto de gado em Marajó é um costume e
um costume tradicional” (O Jornal do Pará, n.º 38, 1876:01).
Os tempos da Belle Époque na região, de acordo com o jornal, mostram-se vivas
perante as práticas dos moradores de florestas e campos, os quais atualizavam antigas tradições
e relações interpessoais. A visão dos tempos de estudar e a prática do roubo do gado ainda hoje
caminham no cotidiano de vida da região. A dinâmica do roubo é marcada pela memória dos
marajoaras. Inferimos que, além do seu valor econômico, existe uma carga simbólica e mesmo
afetiva no ato de roubo o gado alheio (SARRAF-PACHECO, 2009).
Centrando-nos a partir de agora nos patrimônios edificados e existentes na região, em
rápido lance de vida, mapeamos edificações que, O Jornal do Pará, registrou dos municípios
de Melgaço, Portel, Gurupá, Chaves, Breves, Curralinhos, Muaná, Cachoeira, Monsarás e
Soure.
O município de Melgaço, no contexto da Belle Époque, possuía uma igreja matriz,
uma cadeia, uma escola primaria para homens e com o estado sanitário em níveis péssimos de
qualidade. Portel trazia em seu retrato visual, uma igreja matriz, a casa das sessões municipais
e cadeia, três escolas, duas públicas, uma particular e o estado sanitário em nível deplorável,
que, segundo as letras do matutino, já esteve ótimo em 1868. Em Gurupá “o governo colonial
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fortificou o Mario-Cay, um forte em ruinas. A cidade possui um porto por onde fazem os
transportes com os vapores da Companhia do Amazonas. Os edifícios públicos eram a Igreja
matriz, a casa da câmara, cinco escolas públicas, o estado sanitário satisfatório e muros
derrocados da antiga fortaleza.
Chaves revelava-se na pena do jornalista com duas igrejas matrizes, uma nova em
construção e a antiga que já estava em ruínas; uma cadeia e uma casa da câmara; três escolas
públicas e o estado sanitário não sofreu alteração, quase sempre muito satisfatório. Já Breves
mostrava sua igreja matriz, casa da câmara. Ali, escreve o jornalista, também fabrica-se “uns
vasos pintados de cores vivas, que são muito estimados dos curiosos por considerá-los como
parte do produto da indústria indígena” (O Jornal do Pará, n. 75, 1875:01). Além desses bens
patrimoniais urbanos e ancestrais, Breves possui um porto, duas escolas primárias, estado
sanitário com níveis melhorados e precisando de uma cadeia que, neste período, ocupava um
casebre em ruinas.
Curralinho emerge entre as escritas do jornal paraense com uma excelente igreja
matriz, duas escolas de ensino primário, um porto e com o estado sanitário quase satisfatório.
No município de Muaná, existe uma igreja matriz, uma casa municipal, um quartel que serve
de cadeia e 82 casas habitadas, cinco casas de comércio, duas padarias, três alfaiates e dois
sapateiros, duas escolas de ensino primário. A cidade ainda “pede a construção de uma estacada
para impedir o desmoronamento das casas situadas à beira do rio, o concerto do cemitério e
reparos urgentes do quartel na parte que serve de cadeia, em ruinas, e outras medidas que a
câmara julga necessárias para cuja execução não tem ela rendas suficientes” (idem).
Já Monsarás possui uma igreja matriz, três escolas de ensino primário e sem nenhum
desgaste no sistema sanitário de saúde. Por último, Soure apresentava-se com seis escolas e
uma escola noturna, a casa da fazenda nacional São Lourenço, uma igreja matriz que tem sua
sacristia servindo de cadeia e quartel da guarda.
Estes foram as principais representações do patrimônio bellepoqueano marajoara, não
encontra-se o patrimônio legitimado pelo valor de nacionalidade ou outros valores
constituintes, mas pode-se entender que hoje esses marcadores constituem os indícios de
patrimônios situados no início da Belle époque na Amazônia Marajoara.
Esse trabalho também se constitui para evidenciar que o patrimônio marajoara não
prescinde apenas das famosas urnas e cerâmicas marajoaras, mas que outros patrimônios podem
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ressonar vozes perante o estado mais democrático (a partir dos anos de 1870) que se encontram
as questões patrimoniais hoje no Brasil e no mundo.
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