1.2- Maneirismo
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MANEIRISMO
I. Período: na Literatura Portuguesa, o maneirismo manifesta-se na segunda metade do século XVI e nas duas primeiras décadas do século XVII.
II. Origem do termo: os artistas que se preocupavam com a “maniera” ou que tentavam imitar a maniera de Michelangelo foram chamados de maneiristas.
III. Conceito inicial: com o advento do barroco, a palavra “maneira” ganhou um sentido pejorativo de defeito, vício, devido à incapacidade de imitar a natureza e à predominância da fantasia. Maneirismo passou a significar arte afetada e falsa, com preciosismos estilísticos, atribuídos por Weise à revivescência gótica (gótico tardio, medieval). Entretanto, o Maneirismo foi um movimento do pensamento e da sensibilidade europeus, caracterizado pela perda de euforia, equilíbrio e harmonia renascentistas.
IV. Abordagem histórico-cultural A crise do Renascimento começou por volta de 1520: o saque de Roma (em 1527, com suas
violências e horrores); as guerras italianas entre franceses e espanhóis, a Reforma de Lutero na Alemanha (que convulsiona a Europa) e a Contra-Reforma da Igreja Católica; na ciência, Galileu confirma o heliocentrismo de Copérnico.
Entra em crise a cultura humanística, gerando uma concepção pessimista do homem e da vida, acentuada pelo desconcerto da vida e dos juízos humanos.
V. Maneirismo e PetrarquismoO século XVI é conhecido como petrarquismo devido à continuidade estilística e temática de
Petrarca:. imagem estilizada e espiritualizada da mulher amada, herança medieval da vassalagem amorosa;. linguagem poética preciosa, emprego de antíteses abstratas e metáforas conceituosas, num jogo
refinado e cerebral;. pendor espiritualizante, em suas ligações com o neoplatonismo;. o taedium vitae, o senso de labilidade das coisas terrenas e humanas, a angústia da ausência, o desejo
e o terror da morte: lamento de um eu melancólico, entristecido pela morte da amada, refletindo sobre a transitoriedade da vida e o caráter ilusório da felicidade.
VI. Estudo comparativo (segundo Vitor Manuel)
1. Renascimento VS Maneirismo
Mímese: imitação da natureza.
idéias de equilíbrio, harmonia e ordem; conciliação entre o homem e a natureza, entre o ideal e o real.
serenidade, gravidade, senso de “beleza regular”.
imitação da “Idea”, forma mental de origem divina que existe no interior de cada um; a verdade não está nas montanhas, planícies e mares, mas dentro da alma.
antinaturalismo, inquietude espiritual, destruição do equilíbrio e harmonia formais.
reação aos ideais de normatividade, de beleza regular e bem proporcionada: ruptura das proporções normais no gosto dos contrastes, do monstruoso, do grotesco e demoníaco.
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concepção de homem: dignidade, beleza, majestade; sentido sublime e heroicizante.
consonância entre a ordem divina e a ordem humana, entre a fé e a razão.
valorização do saber e da cultura – atividade humanística; busca do bem, da beleza e da verdade.
racionalismo.
o mundo caracterizado por: harmonia, ordem, crença otimista da adequação perfeita entre o ideal e o real.
homem como um ser miserável, corrupto.
o corpo opõe-se ao espírito, acentuando a insegurança e a efemeridade da vida, a incoerência, o conflito, a contradição: uso de antíteses, contrastes paradoxais, metáforas conceituosas.
inutilidade do saber; relativismo e ceticismo filosófico que dissolvem a verdade; glorificação dos humildes e ignorantes.
fideísmo: exaltação da fé, busca de Deus.
mundo caótico, labiríntico, incoerente, regido pelo acaso e pela fortuna; domina o egoísmo, a ambição, o desconcerto, a melancolia, o pessimismo.
2. Maneirismo VS Barroco
domínio da Idea, do disegno interiore, atenção voltada para o mundo interior;
arte de elites, anti-realista, impregnada de preciosismo (filão petrarquista);
sobriedade, frieza, introspecção, morbidez;
contradições, insolúveis, melancolia;
desintegração pelas tensões dilaceradoras.
sensorial e naturalista, atenção voltada para o mundo físico;
arte realista e popular, animada por um ímpeto vital, com sátiras desbocadas e galhofeiras;
ostentação, exuberância e proliferação de elementos decorativos;
ludismo;
reintegração pela síntese.
3. Maneirismo e Barroco – convergência: temas do engano e desengano da vida e da transitoriedade das coisas humanas; gosto dos contrastes; propensão para o surpreendente; predileção pela agudeza e pelos concetti (conceitos), pelas metáforas e pelas complicações verbais.
Bibliografia:
AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da Literatura. Coimbra: Almedina, 1979.
SARAIVA, António José & LOPES, Óscar. História da Literatura Portuguesa. 8ª ed, Porto, Porto,
1975.
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