15687-18669-1-PB

download 15687-18669-1-PB

of 26

Transcript of 15687-18669-1-PB

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 6

    Patrimnio arqueolgico da Serra da Moeda, Minas Gerais: uma unidade

    histrico-cultural

    Luana Carla Martins Campos*

    Resumo

    Baseado em resultados das pesquisas do projeto Levantamento e Avaliao do

    Potencial Arqueolgico da Serra da Moeda e Entorno, relacionado ao processo de

    tombamento estadual deste conjunto urbano e paisagstico, este texto busca

    contextualizar, quantificar e qualificar o patrimnio arqueolgico existente no macio

    da Serra da Moeda em Minas Gerais. Salienta-se que o ambiente possui vestgios

    de ocupao humana pr-histrica e histrica, sendo esta datada a partir de fins do

    sculo 17, em funo da explorao das jazidas minerais no contexto do

    denominado Ciclo do Ouro. Cumpre-se ressaltar que a colonizao das diferentes

    partes da Serra e de seu entorno no se fez de maneira estanque, mas integrada,

    de modo que se deve considerar a regio em anlise como uma grande unidade

    expressa na conexo entre suas partes. Tal integrao foi produto do processo

    histrico-cultural evidenciado por meio do conjunto de seus vestgios arqueolgicos.

    Palavras-chave: Patrimnio cultural. Tombamento, Serra da Moeda, MG.

    Patrimnio ambiental.

    Archaeological heritage of the Serra da Moeda, Minas Gerais: a historical and

    cultural unity.

    Abstract

    Based in gotten results of the research carried through the project Survey and

    Evaluation of the Archaeological Potential of the Mountain range of Moeda and

    Around, to the process of state legal protection of this urban and natural set, the

    work searchs to contextualize, to quantify and to characterize the existing

    archaeological heritage in the bulk of the Mountain range in Minas Gerais. Salient

    that the environment possesss occupation vestiges prehistoric and historical human

    being, being this dated from ends of century 17, in function of the exploration of the

    mineral deposits in the context of the called Cycle of the Gold. It is marked to stand

    out that the settling of the different parts of the Mountain range and its around did not

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 7

    become in way stanches, but integrated, in way that if must consider the region in

    analysis as a great express unit in the connection between its parts. Such integration

    was product of the evidenced description-cultural process by means of the set of its

    archaeological vestiges.

    Key-words: Cultural heritage. Legal protection, Serra da Moeda, MG. Cultural

    environment.

    1. Apresentando a regio e algumas das diretrizes que nortearam a elaborao

    do laudo para o tombamento estadual do patrimnio natural e cultural da Serra

    da Moeda/MG

    O projeto Levantamento e Avaliao do Potencial Arqueolgico da Serra da Moeda

    e Entorno integrou o estudo elaborado no ano de 2008 para o processo de

    tombamento estadual desta regio de Minas Gerais visando a proteo legal do

    patrimnio cultural existente nesta rea. Trata-se de uma cadeia de montanhas

    pertencente ao grupo do Complexo da Serra do Espinhao e insere-se no chamado

    Quadriltero Ferrfero, rea que se destaca no cenrio geolgico mundial pelas

    abundantes riquezas constantes em suas reservas de minrios, a exemplo do ferro,

    ouro, alumnio, mangans e topzio.

    Do ponto de vista geolgico e geomorfolgico, a Serra da Moeda faz parte da regio

    conhecida por Sinclical de Moeda. Trata-se de um conjunto de ambientes montanos

    nitidamente distinguvel na paisagem regional formado pela Serra da Moeda,

    Serra das Serrinhas, Serra dos Trs Irmos, Serra do Esmeril, dentre outras. No

    caso da Serra da Moeda, seu territrio corresponde s formaes geolgicas

    chamadas de Moeda e Cau que so conexas s altitudes superiores a 1.400

    metros, enquanto cotas inferiores associam-se principalmente Formao

    Gandarela. Neste aspecto, tais limites foram utilizados como balizas

    individualizao e delimitao da rea da Serra da Moeda em relao ao restante de

    sua Sinclical, de modo a tomar a cota de 1.100 metros de altitude como uma

    referncia mdia. Historicamente, todavia, a regio conhecida por Serra da Moeda

    abrangia um territrio bastante extenso e difuso nas paragens das Minas Gerais

    localizada entre as bacias dos rios Paraopeba e das Velhas.

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 8

    De modo geral, a Serra da Moeda uma regio que apresenta gradientes

    altitudinais acentuados, constantes de reas de cristas, cumes e picos. Em sua

    vertente ocidental, atinge o vale do Alto Rio Paraopeba, enquanto sua poro

    nordeste compreende o Alto Rio das Velhas, ambos cursos d'gua afluentes da

    margem direita do Rio So Francisco. Abrangendo os limites dos biomas da Mata

    Atlntica e do Cerrado em uma rea de 240 km, a Serra da Moeda estende-se

    pelos territrios de oito municpios mineiros localizados na Regio Metropolitana de

    Belo Horizonte, a saber: Belo Vale, Brumadinho, Congonhas, Itabirito, Moeda, Nova

    Lima, Ouro Preto e Rio Acima.

    Segundo as atuais convenes sobre desenvolvimento sustentvel e meio ambiente,

    esta regio constitui um ecossistema frgil, uma vez que fonte de provimento dos

    recursos fundamentais vida dos homens, como o caso dos mananciais, minrios,

    produtos florestais e agrcolas. Estas foram apenas algumas das questes que

    incentivaram e nortearam a elaborao de um dossi de tombamento visando a

    salvaguarda do acervo natural e cultural da Serra da Moeda/MG (SOL;

    GUIMARES; PAIVA, 2008). Tendo como objetivo principal a preservao da

    diversidade do patrimnio da regio, o estudo foi realizado com o patrocnio do

    Sindicato da Indstria Mineral do Estado de Minas Gerais (SINDIEXTRA) e da

    Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), ficando a cargo da

    empresa BRANDT Meio Ambiente a consolidao do relatrio final. No tocante

    arqueologia, esta pesquisa ficou sob a responsabilidade do Prof. Dr. Carlos Magno

    Guimares.

    Destarte, realizou-se um estudo pormenorizado que envolveu profissionais de

    distintas instituies e de diversas reas do conhecimento, tais como bilogos,

    gegrafos, engenheiros ambientais, arquitetos, gelogos, historiadores, arquelogos

    e turismlogos. As principais diretrizes que nortearam o laudo relacionaram o

    patrimnio cultural sob seus diversos ngulos, dentre eles a perspectiva histrica,

    arqueolgica, ecolgica, geolgica-geomorfolgica e arquitetnica, urbanstica e

    paisagstica, de modo a construir uma narrativa coesa e que demonstrasse a

    importncia da regio estudada.

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 9

    A princpio, dentre os principais resultados obtidos a partir deste laudo, tem-se o

    levantamento e sistematizao de informaes concernentes a variados campos do

    saber que, para a regio objeto de anlise, eram at ento praticamente

    desconhecidas. Todavia, a escassez de inventrios e de outros estudos mais

    sistematizados sobre a Serra da Moeda fortalece a permanncia de inmeras

    lacunas sobre a rea o que causa consternao sobre a perda iminente do seu

    patrimnio. Por outro lado, tem-se ainda como relevante resultado decorrente deste

    laudo, a compreenso da necessidade de estudos pormenorizados e a proteo do

    patrimnio da regio.

    Esta realidade mostra-se inquietante em um contexto de crescente influncia

    econmica por parte das empresas mineradoras e imobilirias. Do ponto de vista da

    explorao mineral, a regio , ainda hoje, responsvel por cerca da metade de toda

    a produo do Estado de Minas Gerais que, por sua vez, comanda os ndices

    nacionais. J no tocante ao setor imobilirio, o clima ameno e a beleza cnica de

    ambientes montanos prximos capital mineira tm motivado, h dcadas, a

    expanso urbana em direo a estas regies, seja como vilas de casas de campo ou

    como condomnios luxuosos.

    Faz-se urgente, portanto, aes de acautelamento legal do patrimnio cultural e

    ambiental da Serra da Moeda visando a sua salvaguarda. Neste contexto de

    embates entre a preservao e/ou progresso, busca-se o equilbrio sensato entre

    estes extremos. Ambiciona-se a proteo dos bens patrimoniais com o

    aproveitamento sustentvel dos recursos da regio, de forma a promover a

    valorizao e o uso adequado do seu patrimnio natural e cultural com respeito s

    corretas formas de uso e ocupao do solo.

    A gesto da regio da Serra da Moeda constitui um desafio que se apresenta ao

    setor governamental que deve buscar alternativas para uma integrao efetiva entre

    as polticas ambientais, culturais e poltico-econmicas de sua administrao.

    Mesmo constatando que, muitas vezes, a proteo legal no condicionante para a

    preservao do acervo natural e cultural do pas, os ecossistemas de montanhas

    devem ser tomados como prioridade nas iniciativas de desenvolvimento sustentvel.

    Por outro lado, esta tambm uma provocao que se coloca ao setor produtivo

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 10

    que precisa fomentar e desenvolver um planejamento estratgico de suas atividades

    que assegurem a conservao do acervo da regio, especialmente se o processo de

    tombamento da Serra da Moeda for aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas

    Gerais com sistematizao do dossi a ser realizado pelo Instituto Estadual do

    Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais (IEPHA/MG).

    2. Levantamento do patrimnio arqueolgico da Serra da Moeda/MG: conceitos

    e metodologias

    Devido s limitaes das dimenses deste artigo, no se faz necessria uma

    discusso exaustiva sobre o processo histrico de constituio do conceito de

    patrimnio. Importa-se, no entanto, tecer algumas consideraes que sejam capazes

    de elucidar certas apreenses sobre o termo, bem como a respeito das definies

    contemporneas sobre o patrimnio arqueolgico.

    Na concepo do historiador Michel de Certeau, ao contrrio da cidade de Roma,

    Nova Iorque nunca aprendeu a arte de envelhecer exibindo todos os seus

    passados (DE CERTEAU, 1994, p. 21). Toma-se tal assertiva para enfatizar a

    questo de que a valorizao da produo cultural do passado uma percepo

    daqueles que compreendem a historicidade das aes e dos valores humanos. Nem

    tudo o que atualmente tratado como patrimnio foi sempre assim considerado. As

    apreciaes e aes de acautelamento derivadas de sua definio foram

    responsveis por ganhos e perdas significativas do acervo cultural da humanidade

    ao longo da histria.

    Deve-se ter em vista que a experincia da modernidade, momento de intensas e

    rpidas transformaes vividas no mundo ocidental especialmente aps a

    Revoluo Industrial, mas fundamentalmente durante o sculo 19 e princpios do 20,

    foi decisiva para o julgamento daquilo que deveria ser guardado ou do que seria

    destrudo. Em suas origens, os bens patrimoniais estiveram associados aos

    monumentos que invocavam e perpetuavam uma determinada memria oficial das

    grandes naes ou de seus homens excepcionais.

    Nesta circunstncia, os Estados Nacionais ficaram a cargo da seleo das principais

    referncias que deveriam compor seus acervos. O que se entedia por patrimnio

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 11

    estava associado, fundamentalmente, ao que se qualificava como obra de arte, ou

    seja, referia-se a um conjunto de bens de natureza imvel e mvel que eram de

    interesse pblico por seu singular valor arqueolgico, etnogrfico, bibliogrfico ou

    artstico. No caso do Brasil, as efetivas aes destinadas proteo do nosso

    acervo foram oficializadas com a fundao do Servio do Patrimnio Histrico e

    Artstico Nacional (SPHAN) no ano de 1937. Neste momento, a nfase do conjunto a

    ser resguardado recaiu sobre os edifcios e objetos artsticos provenientes,

    essencialmente, dos perodos colonial e modernista brasileiro.

    Constata-se que esta caracterizao modernista sobre o acervo patrimonial do

    Brasil, tributria da noo de obra de arte e, de certa forma, limitada arquitetura e

    ao urbanismo, embasou a seleo dos bens a serem protegidos considerando-os

    como patrimnio histrico e artstico nacional. Apesar de certas limitaes causadas

    pela excluso de diversas outras formas de expresso da cultura brasileira, a

    exemplo do patrimnio imaterial, pode-se dizer que o acervo tombado pelo IPHAN

    constitui, ainda hoje, um importante conjunto que se manteve ntegro devido s

    aes de acautelamento legais impostas a eles.

    Todavia, deve ser salientado o fato de que a ampliao do conceito de patrimnio foi

    o resultado de um debate que se arrastou por dcadas e motivado por inmeros

    fatores, como o processo de industrializao e desenvolvimento das cidades

    brasileiras, cujos ncleos urbanos passaram a alterar a sua tipologia e configurao

    espacial fundamentalmente a partir dos anos de 1950. A este respeito, Nstor

    Canclini sublinha que nos debates sobre a preservao do patrimnio, normalmente

    so sempre considerados como os inimigos dos bens culturais os atuais processos

    de mudana e desenvolvimento urbano, a mercantilizao, as indstrias culturais e o

    turismo. No entanto, o autor avalia ser relevante analisar estas ameaas como

    contextos, uma vez que no somente devemos aceit-los por serem as condies

    em que hoje os bens histricos existem, mas tambm porque contribuem para

    repensar o que devemos entender por patrimnio histrico e por identidade nacional

    (CANCLINI, 1994, p. 95).

    Na contemporaneidade, estas questes precisam ser problematizadas sob a lgica

    da transformao constante dos centros urbanos que passaram a ser analisados

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 12

    como ncleos dinmicos. Neste contexto, as cidades no so mais consideradas

    como um organismo em evoluo, tampouco so vistas como o resultado de um

    acmulo de eventos histricos que determinaram a sua configurao. O fim ltimo

    da conservao de seu acervo no so os bens culturais em si, mas os valores

    sociais agregados, seus diversos usos e funes sociais partilhados pela sociedade

    ao longo dos anos.

    As mudanas de concepo sobre o patrimnio tambm so associadas ao

    alargamento do conceito de cultura. Fruto de uma discusso fomentada por diversos

    campos do saber ao longo de todo o sculo 20, como nos explicita Sandra

    Pesavento, a cultura atualmente considerada como um conjunto de significados

    partilhados e construdos pelos homens para explicar o mundo, ou uma forma de

    expresso e traduo da realidade que se faz de forma simblica. Admite-se,

    portanto, que os sentidos conferidos s palavras, s coisas, s aes e aos atores

    sociais se apresentam de forma cifrada, de forma que se entende a cultura por uma

    acepo mais antropolgica, como o encontro e a reproduo de valores,

    identidades, memrias e discursos. Sublinha-se que a cincia histrica bebeu a

    gua das fontes de diversas Cincias Sociais durante todo o sculo 20

    (PESAVENTO, 2008, p. 15).

    Na atualidade, portanto, as interpretaes sobre a cultura extrapolam a perspectiva

    nacional devido, em grande medida, ao contexto da globalizao que torna aquelas

    referncias desterritorializadas, mltiplas e mais complexas, seguindo os compassos

    da economia neoliberal. H um deslocamento da nfase no estudo da cultura

    nacional que na modernidade se constituiu como uma das principais fontes de

    identidade cultural de modo a passar a focalizar parmetros baseados nas

    comunidades locais. Tal dinmica se explica porque a globalizao representa

    processos

    [ ] atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e

    conectando comunidades e organizaes em novas combinaes de espao-tempo,

    tornando o mundo, em realidade e em experincia, mais interconectado. (HALL, 2006, p.

    67).

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 13

    Desprovido do sentimento de identificao nacional, o sujeito cosmopolita e

    multifacetado na diversidade do mundo globalizado passa a experimentar uma

    profunda sensao de perda subjetiva. H uma contradio latente entre a

    assimilao do universal atravs do contato com diversas culturas que extrapolam

    os limites das comunidades, e a simultnea adeso ao particular em um movimento

    pendular e contraditrio entre o universalismo atravs do particularismo e do

    particularismo atravs do universalismo.

    Nestas circunstncias, as comunidades manifestam-se como agentes decisrios na

    definio do que se considera por patrimnio. Novos grupos culturais tornam-se

    visveis no cenrio social, buscando afirmar suas identidades e questionando a

    posio privilegiada dos grupos hegemnicos. A nao no vista apenas pelo

    prisma da homogeneidade, mas pelo seu conjunto de diferenas e multiplicidades

    presentes em seu territrio. Estabelece-se, portanto, a valorizao das referncias

    culturais locais, de natureza material e imaterial, com o intuito de buscar o

    conhecimento de uma histria atenta s diversidades e visando tambm a

    constituio de uma cidadania cultural.

    O patrimnio, que antes contemplava apenas o acervo histrico e artstico nacional,

    ampliou seu espectro para todas as expresses culturais produzidas pelo seu povo.

    Arruinou-se a viso clssica de distino entre a cultura dita erudita e a popular,

    sendo esta anteriormente avaliada como o reduto do autntico. Retomando Canclini,

    este autor esclarece que o patrimnio cultural passa a representar o que um

    determinado

    [ ] conjunto social considera como cultura prpria, que sustenta sua identidade e o diferencia

    de outros grupos no abarca apenas os monumentos histricos, o desenho urbanstico e

    outros bens fsicos; a experincia vivida tambm se condensa em linguagens,

    conhecimentos, tradies imateriais, modos de usar os bens e os espaos fsicos.

    (CANCLINI, 1994, p. 99)

    Assim, na medida em que as prprias noes de histria e cultura se modificaram, o

    conceito de patrimnio adquiriu outras perspectivas de forma a valorizar todos os

    atores da sociedade em seus diversos modos de vida. Estas mudanas de

    paradigmas trouxeram consigo, portanto, a discusso sobre como e de que maneira

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 14

    o conjunto de referncias que identificam e definem uma comunidade devem ser

    salvaguardados. Neste nterim, sublinha-se que as discusses fomentadas sobre

    esta temtica constam em variados documentos normativos, a exemplo das Cartas

    Patrimoniais e da Constituio Brasileira de 1988 (Cf. Art. 216), que indicam os

    caminhos de identificao e preservao do patrimnio.

    Atualmente, consideram-se como integrantes do acervo cultural os bens de natureza

    tangvel e intangvel, material e imaterial, que no foram produzidos apenas durante

    o perodo colonial ou modernista brasileiro. Procura-se no privilegiar os bens

    originrios de classes hegemnicas ou subalternas, pois se reconhece que o

    patrimnio de uma comunidade nacional ou local se compe por uma cultura

    multifacetada e polivalente. Mesmo com suas limitaes derivadas dos processos de

    seleo, forma-se um conjunto que procura refletir a realidade hbrida e mltipla dos

    diversos grupos existente no Brasil atravs da arquitetura em seus diversos estilos;

    das imagens sob variadas tipologias; dos arquivos e demais conjuntos documentais

    de distintos momentos de nossa histria; dos inmeros bens naturais que devem ser

    preservados, e das mltiplas formas de festejar, os segredos do saber-fazer, os ritos

    de uma comunidade.

    Neste contexto, o patrimnio arqueolgico

    [ ] compreende a poro do patrimnio material para a qual os mtodos da arqueologia

    fornecem os conhecimentos primrios. Engloba todos os vestgios da existncia humana e

    interessa todos os lugares onde h indcios de atividades humanas, no importando quais

    sejam elas; estruturas e vestgios abandonados de todo tipo, na superfcie, no subsolo ou

    sob as guas, assim, como o material a eles associados (ICOMOS/ICAHM, 1990, art.1).

    O patrimnio arqueolgico constitui-se, portanto, como um testemunho essencial

    sobre as atividades humanas do passado e pertence a toda a sociedade. Trata-se

    de uma herana comum da humanidade e de seus grupos, e no exclusivamente de

    indivduos ou naes. O patrimnio arqueolgico um recurso cultural frgil e no

    renovvel, de modo que os planos de ocupao de solo decorrentes de projetos

    desenvolvimentistas devem ser regulamentados a fim de se evitar ou, pelo menos,

    minimizar a destruio deste patrimnio.

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 15

    Sob os domnios da cincia arqueolgica, a produo do conhecimento

    amplamente tributria da interveno no stio. Esta prtica abarca uma srie de

    mtodos de pesquisa, como a explorao no destrutiva e a escavao integral,

    passando ainda pelas sondagens limitadas e os levantamentos por amostragem.

    Neste aspecto, algumas consideraes devem ser feitas com relao natureza

    metodolgica do projeto Levantamento e Avaliao do Potencial Arqueolgico da

    Serra da Moeda e Entorno.

    O primeiro ponto relevante trata-se da representatividade dos vestgios

    arqueolgicos arrolados no que diz respeito ao Patrimnio Arqueolgico Total

    realmente existente na rea em questo. O trabalho de levantamento foi realizado

    tendo como parmetros, por um lado, as limitaes do tempo dentro no qual deveria

    ser concludo e, por outro, as possibilidades de fontes a serem utilizadas. A grande

    extenso da rea trabalhada inevitavelmente acabou impondo critrios seletivos,

    que definiram as estratgias do trabalho de campo. A seleo, todavia, foi

    fundamentada em critrios cientficos de significncia e representatividade, de modo

    a no limitar as escolhas apenas aos monumentos de maior prestgio ou

    visualmente mais sedutores.

    Como o trabalho a ser realizado visou a identificao da natureza e das dimenses

    do patrimnio arqueolgico da Serra da Moeda em Minas Gerais, as atividades

    executadas contemplaram o uso de informaes orais, documentais, cartogrficas

    (antigas e recentes) e fotogrficas (areas e de satlite). Uma pesquisa sistemtica

    em arquivos permitiu o levantamento de uma base documental consistente da qual

    participaram cartas de sesmarias, testamentos, inventrios, censos, dentre outros. A

    estes tipos de fontes foram incorporadas informaes registradas pelos inmeros

    viajantes estrangeiros que circularam pela regio, desde o sculo 17 e ao longo de

    todo o sculo 19. Por sua vez, o trabalho de campo teve o objetivo de

    localizar/confirmar a existncia de vestgios arqueolgicos, bem como realizar seu

    registro atravs de diferentes formas como textos, fotos, localizao por GPS, etc.

    Finalmente, a consolidao das informaes permitiu a elaborao de um relatrio

    constitudo por um histrico condensado da regio seguido das fichas descritivas

    dos stios arqueolgicos levantados. Estas, por sua vez, contemplaram dados

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 16

    singulares de cada stio como seu nome; localizao; registro fotogrfico; breve

    descrio dos elementos estruturais integrantes; o estado de conservao; o

    ambiente de insero e do seu entorno, alm de outras informaes

    complementares.

    Cumpre-se ressaltar que os resultados obtidos no esgotaram o potencial

    arqueolgico da regio abordada, mas foram apenas uma amostra expressiva do

    mesmo. O tempo disponvel para a realizao dos diferentes trabalhos no permitiu

    que todas as suas possibilidades fossem abarcadas, dadas as dimenses do objeto

    de pesquisa. E isto remete necessidade de um trabalho complementar mais amplo

    com vistas a um conhecimento mais definitivo sobre o patrimnio arqueolgico da

    regio objeto de estudo.

    Em que pesem tais consideraes, o levantamento realizado permitiu uma avaliao

    bastante objetiva dos vestgios que evidenciam os processos de ocupao da Serra

    da Moeda e entorno, desde a pr-histria at o sculo 20. A identidade histrico-

    cultural das diferentes populaes que hoje habitam a regio tem, em todos estes

    vestgios, uma referncia imediata e fundamental, o que remete necessidade de

    seu conhecimento e preservao. Ainda com relao ao Patrimnio Arqueolgico

    Total, do ponto de vista histrico, h que se considerar o fato de a regio em anlise

    ser uma grande unidade que se expressa na integrao de suas partes. Tal

    integrao foi produto do processo histrico-cultural e hoje evidenciada atravs

    dos diferentes conjuntos de vestgios arqueolgicos.

    A ocupao das distintas partes da Serra da Moeda e entorno no se fez de maneira

    estanque, mas integrada. As diversas comunidades, fazendas, unidades de

    minerao e ncleos urbanos estavam articuladas atravs de um complexo e

    eficiente sistema virio do qual as trilhas e estradas so um consistente indcio. As

    variadas atividades econmicas e/ou culturais que articulavam os diferentes

    elementos daquela realidade, ao longo da histria, fazem parte tambm da tradio

    oral e dos registros documentais. Tais constataes remetem necessidade de que

    a regio pesquisada seja vista como uma unidade histrico-cultural e, enquanto tal,

    seja considerada.

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 17

    3. A Serra da Moeda como uma unidade histrico-cultural: um conjunto

    expresso na conexo entre suas partes

    De modo geral, o projeto Levantamento e Avaliao do Potencial Arqueolgico da

    Serra da Moeda e Entorno objetivou contextualizar, quantificar e qualificar o

    patrimnio arqueolgico existente no macio da regio em questo. Foram

    identificados, catalogados e descritos um total de 56 stios/conjuntos arqueolgicos,

    5 modelos etnogrficos (bens em uso contemporneo) e 10 reas com potencial

    arqueolgico (dados obtidos a partir de fontes orais e fotografias areas). (1) Do total

    de 71 ocorrncias, apenas 3 (cerca de 4%) so testemunhos de ocupaes pr-

    histricas, enquanto 68 (aproximadamente 96%) so remanescentes de

    assentamentos histricos (cf. Anexo, ao fim deste texto).

    Do ponto de vista da pr-histria da regio, o nmero nfimo de ocorrncias que se

    referem a um stio a cu aberto com sepultamento e a dois abrigos com pinturas

    rupestres associadas Tradio Planalto, tais dados indica uma ordem de questes.

    Dentre elas, constata-se serem at ento parcos e superficiais os levantamentos

    arqueolgicos realizados na regio da Serra da Moeda e entorno. Destarte, no

    deve ser rejeitado tambm os limites impostos pela escassez de informaes h

    muito perdidas pelo processo intenso de ocupao histrica na regio.

    De qualquer modo, inexistem dados suficientes para a constatao de que nestas

    paragens houve ou no grande incidncia de populaes amerndias. Segundo o

    pesquisador Oiliam Jos, antes mesmo da colonizao do Brasil pelos portugueses,

    essa regio j era habitada por tribos indgenas de diferentes etnias que pertenciam,

    com raras excees, aos grandes grupos G e Tapuia. Citam-se os exemplos dos

    Cataguases ou Catagus (regio central, oeste e sul de Minas), Goians (vale do

    Rio das Velhas), Guarachus (entre Mariana, Ouro Preto e Piranga) e os Carijs

    (Jeceaba e Conselheiro Lafaiete). Muitos topnimos locais se devem a esta

    influncia indgena, como o caso do Rio Paraopeba que em tupi-guarani significa

    rio de guas rasas (JOS, 1965, p. 11).

    No tocante conjuntura histrica da regio, sabe-se que a ocupao e colonizao

    europeia deram-se a partir de fins do sculo 17, em funo da explorao das

    jazidas minerais no contexto do denominado Ciclo do Ouro. Nesta oportunidade,

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 18

    esse mineral atraiu toda sorte de aventureiros, degredados e paulistas que

    penetraram nos sertes das Gerais, terras pertencentes Capitania do Rio de

    Janeiro, So Paulo e Minas Gerais. Dentre as primeiras bandeiras que colonizaram

    a regio, cita-se a expedio liderada pelo sertanista Ferno Dias Paes que no ano

    de 1674, saiu de So Paulo rumo s Minas Gerais com o objetivo duplo de encontrar

    esmeraldas e de ocupar o territrio por ele percorrido.

    Segundo Augusto de Lima Jnior, apesar de outras bandeiras j terem desbravado

    as paragens das Minas Gerais, foi a partir da explorao de Ferno Dias que se deu

    o efetivo povoamento deste territrio (LIMA JNIOR, 1962, p. 19). Os membros das

    caravanas e outros posseiros, povoadores e demais interessados, estabeleceram-se

    e construram ranchos e edificaes provisrias que, posteriormente, deram origem

    aos primeiros ncleos populacionais com suas igrejas permanentes.

    Inicialmente, a descoberta do ouro foi o principal fator para o adensamento

    populacional na regio das Minas. Arraiais e ncleos proto-urbanos comeavam a se

    delinear seguindo a topografia irregular do terreno e privilegiando os pontos mais

    altos da localidade, opo que se deu tanto pelo favorecimento das condies

    defensivas quanto em respeito antiga crena catlica que acreditava que um

    segundo dilvio poderia atingir a Terra. De modo geral, o patrimnio arqueolgico e

    arquitetnico da regio e do entorno da Serra da Moeda reflete a influncia dos

    ambientes montanos na implantao e organizao dos espaos construdos.

    Destacam-se inmeros povoados e arraiais fundados nas proximidades e arredores

    da Serra da Moeda que, com o passar dos anos, acabaram se estabelecendo como

    sedes civil e religiosa da regio, a exemplo de Santo Antnio do Rio Acima (Rio

    Acima), N. Sra. da Boa Viagem da Itabira do Campo (Itabirito), So Gonalo da

    Ponte (Belo Vale), N. Sra. da Conceio de Congonhas do Campo (Congonhas) e N.

    Sra. do Pilar (Ouro Preto). Devem ser ainda mencionadas as cinco comunidades

    rurais/ncleos urbanos que constaram no levantamento arqueolgico, dentre elas os

    modelos etnogrficos de N. Sra. da Piedade do Paraopeba (Brumadinho/MG), N.

    Sra. da Boa Morte (Belo Vale/MG) e Marinhos da Serra (Belo Vale/MG), alm dos

    extintos conjuntos de Mata da Conceio (Moeda/MG) e Chacrinha dos Pretos (Belo

    Vale/MG). Estes dois ltimos apresentam, por exemplo, vestgios formados por

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 19

    alicerces de moradias, capelas, muros e arrimos de pedra, valos, barragens, canais,

    moinhos e resqucios de lavras. (2)

    Consta-se que foi no distrito de Piedade do Paraopeba, um dos primeiros ncleos

    urbanos formados no territrio do municpio de Brumadinho/MG, que a bandeira de

    Ferno Dias fez o segundo ponto de parada aps sair de So Paulo. Ao lado da

    atual capela dedicada a Nossa Senhora da Conceio existe uma placa alusiva a

    sua memria que referencia dois episdios: conta tanto sobre a passagem do

    sertanista pela regio na oportunidade em que fundou o arraial no ano de 1674,

    quanto faz meno sua morte que ocorreu nas paragens do Sumidouro (Pedro

    Leopoldo/MG). Em um documento datado do sculo 18, h uma descrio que

    informa que o corpo do bandeirante foi transportado por seu filho at So Paulo

    onde foi sepultado no mosteiro de So Bento e, nesta viagem de regresso, um dos

    pousos teria sido em Santana do Paraopeba.

    A fundao, localizao e insero dos povoados e de suas edificaes revelam que

    a presena da Serra da Moeda exerceu significativa influncia sobre a

    caracterizao e qualificao desses espaos, uma vez que as localidades tiveram

    sua implantao influenciada pela conformao do relevo e pelas visadas

    proporcionadas pela natureza. As igrejas tm sua locao em pontos mais elevados

    e sempre voltados para as serras, abrindo suas portas para a paisagem e

    configurando cenrios em que o bem natural qualifica e agrega valor aos aspectos

    culturais locais e aos exemplares de seu acervo arquitetnico.

    Alm disso, as prospeces arqueolgicas reiteraram e, de certa forma, destacaram

    que a regio da Serra da Moeda e de seu entorno, os vales dos rios Paraopeba e

    das Velhas, expressam a pujana da economia mineral durante os tempos coloniais.

    Neste caso, os ncleos de minerao levantados no projeto totalizam 21 stios

    alm de 4 outras reas com potencial arqueolgico cujo universo representa quase

    35% de todas as ocorrncias arroladas. Estes conjuntos oferecem a oportunidade

    mpar de estudo sobre os mtodos e tcnicas minerrias empregadas durante os

    sculos 18 e 19, uma vez que cada processo extrativo utilizado deixou distintos

    vestgios.

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 20

    A minerao de cascalho, por exemplo, foi utilizada para a extrao do ouro

    aluvional nos primeiros anos da explorao das jazidas aurferas nas Minas Gerais,

    de modo que tal tcnica est intimamente associada ao emprego de barragens e

    canais para o desvio das guas do seu curso original. Aps este procedimento, os

    escravos revolviam o leito do rio utilizando almocafres e alavancas para, na

    seqncia, os sedimentos com potencial mineral serem apurados nas bateias.

    Por outro lado, a minerao de morro explorava as jazidas aurferas presentes nas

    formaes rochosas de encostas. Esta exigia tcnicas mais apuradas e, portanto,

    maior investimento no processo de extrao mineral, de modo que era praticada

    apenas pelos mais ricos mineiros. Esto associadas a este procedimento as catas

    de talha a cu aberto, mtodo que consistia em abrir fendas nas rochas, do cume

    at sua base, para que ento com o uso de fora humana e/ou hidrulica fossem

    extrados os sedimentos. So comumente associados a este procedimento

    estruturas como tanques, mundus e canais (GUIMARES; REIS, 2007).

    Neste contexto, deve ser mencionado o stio arqueolgico denominado de Forte de

    Brumadinho (Brumadinho/MG) como um tpico representante das unidades

    mineradoras da primeira metade do sculo 18. Implantado em posio

    geograficamente privilegiada, na encosta oeste da Serra da Calada, constitudo

    por uma fortificao, uma grande cata a cu aberto, um extenso sistema hidrulico e

    uma estrada calada que ligava a rea de lavra, na parte mais baixa, ao topo da

    Serra. Admite-se, que o conjunto imediato do Forte define apenas o ncleo central

    da atividade minerria, uma vez que em uma perspectiva mais ampla, contemplam-

    se outros vrios pontos desta regio serrana como locais onde o ouro setecentista

    marcou sua presena.

    Outro stio arqueolgico relacionado dinmica da minerao colonial e que merece

    meno so as runas de So Caetano da Moeda (Moeda/MG). Trata-se do conjunto

    de vestgios da antiga Casa de Moeda Falsa do Paraopeba, tambm conhecida por

    Fbrica do Paraopeba, uma fundio clandestina de moedas de ouro localizada nos

    contrafortes da at ento chamada Serra do Paraopeba. Tal stio arqueolgico

    reflete o contexto do rigor tributrio do setecentos em oposio constituio de

    uma cultura da sonegao contra o imposto do quinto, ocasio da introduo de

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 21

    normas mais rgidas com a finalidade de aumentar a arrecadao e de tornar mais

    efetiva a presena da Coroa na regio.

    Indcios documentais confirmam a presena, entre os anos de 1729 e 1732, da Casa

    de Moeda Falsa do Paraopeba nos contrafortes da Serra da Moeda

    especificamente localizada no povoado de So Caetano da Moeda cuja fortificao

    foi responsvel pela origem do atual topnimo da Serra da Moeda. Cabe ressaltar

    que a moeda ali produzida foi chamada de falsa pelo fato de que o ouro no era

    fundido ou quintado nas Casas de Fundio Reais e, portanto, as barras no

    recebiam o selo da Coroa portuguesa que legalizava a sua circulao depois de

    cobrado o devido imposto (VEIGA, 1998, p. 753. v. 4).

    Desde o incio, o empreendimento liderado por Igncio Jos de Souza Ferreira que

    tinha Francisco Borges de Carvalho como scio, exigiu grandes investimentos tanto

    em relao infraestrutura quanto na composio da equipe formada por outros

    comparsas e numerosa escravatura. As instalaes da Fbrica contavam, alm da

    prpria casa de fundio, com casas de vivenda, cozinha, senzala, ferraria,

    carvoaria, olaria, engenho de piles, ranchos de vigia, aude, pontes e uma igreja

    dedicada a So Caetano. No tocante equipe, o grupo contava com a participao

    de aproximadamente duas dezenas de homens livres e um plantel que reunia em

    torno de cinquenta escravos.

    Dentre os vestgios encontrados pelo levantamento arqueolgico, o local apresenta

    uma estrutura fortificada e diversos muros de pedras. A edificao principal, em

    partido quadrangular, apresenta vos de seteiras para todos os lados, fato que

    indica ser esta construo uma unidade defensiva. No entorno imediato existem

    muros de pedras que delimitavam reas para criao de porcos e gado, de modo a

    demonstrar que a ocorrncia de ncleos de minerao tambm expressa uma

    imbricada conexo com as atividades agropastoris e comerciais.

    Assim, no se desconsidera o fato de, apesar da minerao ter sido o que se

    convencionou chamar de atividade nuclear, a economia da sociedade mineira

    colonial foi pautada pela diversidade na medida em que a prpria minerao exigia o

    respaldo da agricultura, da pecuria e de um grande nmero de outras atividades

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 22

    que eram sustentadas pela mo-de-obra escrava. Por sua vez, a diversificao

    esteve presente no s no plano econmico, mas tambm na estrutura social, uma

    vez que diferentes categorias sociais definidas por um amplo leque de qualidades e

    condies interagiam e se interpenetravam, dando o tom a um contexto social

    extremamente dinmico e permeado de conflitos.

    A constituio de unidades voltadas produo alimentar, portanto, no impediu

    que muitas lavras se desenvolvessem integradas s fazendas dedicadas ao cultivo

    dos gneros necessrios ao provimento das minas e ao consumo interno. A

    prospeco arqueolgica levantou, neste caso, 9 vestgios de propriedades rurais,

    alm de 6 edificaes caracterizadas como modelos etnogrficos e 1 rea com

    potencial arqueolgico, o que contabiliza cerca de 22% do total arrolado. Tais stios

    oferecem a possibilidade de um estudo arqueolgico aprofundado sobre o

    funcionamento e a vida cotidiana das fazendas na poca colonial e imperial. A

    organizao do espao; as tcnicas construtivas e tecnologias empregadas para a

    explorao e produo dos meios de subsistncia; alm dos hbitos de consumos

    dos diferentes grupos que moravam na fazenda, por exemplo, podem ser temas

    analisados a partir da cultura material/vestgios arqueolgicos que se encontram

    preservados. A este aspecto deve ser acrescentada a implantao das fazendas e

    sua insero na dinmica regional, matrias que tambm podem ser contempladas

    pelas pesquisas arqueolgicas, histricas e arquitetnicas.

    Neste contexto, deve ser mencionada a Fazenda das Contendas, propriedade

    localizada ao sul da freguesia de So Caetano da Moeda nas proximidades do

    arraial de N. S. da Boa Morte (Belo Vale/MG). Pesquisas indicam que esta Fazenda

    que foi construda a pedido do chamado Doutor das Contendas homem

    diplomado em Agricultura na Frana teria abastecido com uma profuso de

    mantimentos a Vila Real de Ouro Preto. Seus proprietrios, o Capito Simeo

    Ribeiro de Carvalho e sua esposa Joana Tereza de Oliveira, deixaram apenas um

    herdeiro que se tornou, em fins do sculo 18, o dono da Fazenda das Contendas.

    Este se tratava do Padre Silvrio Ribeiro de Carvalho mais conhecido pela

    corruptela de Padre Silvrio do Paraupeba [sic], Silvinho Paraopeba ou ainda Vigrio

    do Paraopeba que nasceu em Itabira do Campo (atual municpio de Itabirito) no

    ano de 1767 e faleceu em So Caetano da Moeda em maio de 1843. Segundo

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 23

    informaes orais, aps a sua morte, a Fazenda das Contendas foi elevada a hasta

    pblica, com seus bens revertidos em benefcio de instituies religiosas de caridade

    e os escravos alforriados. Tais dados, todavia, no foram comprovados pela

    documentao histrica levantada.

    O Padre Silvrio Ribeiro de Carvalho foi apresentado pelo historiador Diodo de

    Vasconcelos como sendo "fazendeiro e minerador", mas sabe-se que ele tambm se

    inseriu no universo religioso e das letras (VASCONCELLOS, 1896, p. 449). No ano

    de 1799, quando o Vigrio j detinha sua herana, a Fazenda das Contendas

    possua um terreno avaliado em torno de 550 alqueires dedicados produo de

    gneros como a farinha de mandioca, o fub de milho, a aguardente, alm da

    criao de animais.

    Em 1831, a Fazenda das Contendas foi descrita como sendo dedicada cultura da

    terra, onde 49 pessoas livres e 80 cativos, fundamentalmente do sexo masculino,

    empregavam-se na agricultura, de modo que as mulheres se ocupavam dos servios

    da casa como coser, fiar e tecer. Tomando como referncia o distrito ao qual

    pertencia So Caetano da Moeda que possua 112 domiclios e 839 habitantes

    somente a Fazenda das Contendas formada por 129 moradores detinha 15% da

    populao de todo o arraial. Alm disso, merece destaque a grande quantidade de

    escravos 80 cativos , ou seja, aproximadamente 19% do conjunto de 426 negros

    existentes em So Caetano da Moeda. (3)

    Atualmente, restam apenas as runas da sede formada por uma base de pedras que

    servia de alicerce da casa assobradada. No primeiro pavimento, possivelmente

    existiam dois cmodos utilizados como estribaria e paiol e, no segundo, havia a

    habitao propriamente dita. A estrutura de pedras do primeiro pavimento apresenta

    um corredor central, ladeado por dois cmodos, que possui dois vos para portas

    com ombreiras e vergas feitas com pedra lavrada em cantaria. Os cmodos laterais

    apresentam vos para portas com as mesmas caractersticas e cujas janelas,

    dispostas no lado posterior, so de pequeno porte, em formato quadrado e

    gradeadas com madeira ainda preservada.

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 24

    Observa-se que, com o passar dos anos, as vastas extenses das propriedades

    rurais do sculo 18 e meados do 19, fragmentavam-se cada vez mais na medida em

    que o cabedal das linhagens foi repartido entre seus diversos herdeiros e a mo-de-

    obra escrava se tornou mais escassa. Constata-se que a partir das sedes destas

    fazendas, instalaram-se no seu entorno outras unidades produtivas de porte menor,

    templos religiosos destinados aos cultos comunitrios, pequenos comrcios, etc.

    Estes locais acabaram dando origem, paulatinamente, a povoados, arraiais, distritos

    e municpios, de modo a tambm incentivar a abertura de caminhos que ligavam

    aquelas unidades produtivas aos centros consumidores, a exemplo de Ouro Preto.

    Nestas estradas foram instalados retiros com vastos currais, pousos de descanso

    para tropeiros e boiadas aps enfrentarem longas jornadas de viagens.

    Neste caso, os caminhos e estradas levantadas pelo projeto totalizam 5 stios, alm

    de 3 outras reas com potencial arqueolgico, cujo universo representa cerca de

    12% de todas as ocorrncias arroladas. Esclarece-se que estas estradas podem ser

    classificadas, de modo geral, em dois grupos: aquelas chamadas de carroveis,

    dotadas de pedras mais largas que traavam um caminho onde os carros de bois ou

    carroas poderiam seguir; e as cavaleiras ou canjicadas, cujos trechos estritos

    demarcados por pedras irregulares eram destinados apenas s tropas de animais.

    Deve ser sublinhado o fato de que o estudo dos antigos sistemas virios coloca-se

    como condio bsica para a compreenso da dinmica das sociedades colonial e

    imperial. A Serra da Moeda, por sua proximidade com o sistema denominado

    Estrada Real, apresenta um grande conjunto de segmentos de diversos tipos como

    trilhas de pedestres, estradas cavaleiras, tropeiras e carroveis, com estruturas

    arrimadas, calamentos e galerias pluviais.

    Com a crise da extrao mineral a partir de princpios da segunda metade do sculo

    18, outras atividades econmicas at ento colocadas em segundo plano passaram

    a ocupar espaos cada vez maiores na dinmica colonial. nesse contexto que a

    extrao e o processamento do ferro passou a ser uma formidvel fonte de riquezas,

    integrando o que foi denominado por alguns autores de proto-industrializao da

    Capitania de Minas Gerais.

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 25

    Na esteira destas transformaes, em 1811, o Coronel Romualdo Jos Monteiro de

    Barros, proprietrio da Fazenda Boa Esperana localizada no povoado de N. S. da

    Boa Morte, juntou-se ao grupo de dez scios liderado pelo engenheiro alemo

    Wilhelm Ludwig (Baro de Eschwege) para criar a Fbrica de Ferro do Prata

    tambm chamada de Fbrica de Ferro de Congonhas do Campo ou Usina Patritica.

    Fundada no ano seguinte, a Usina continha oito fornos de fundio, duas fornalhas

    para forja, depsitos, cozinha e sistema de abastecimento hidrulico, alm de uma

    senzala e casa de administrao.

    Vrias destas estruturas em runas, dispersas nas proximidades do Crrego da

    Prata, foram identificadas pela prospeco arqueolgica. A implantao da Usina

    Patritica foi feita na margem direita do curso dgua, de modo a atender as

    necessidades hdricas da Fbrica, a exemplo do uso de um britador e de um malho

    hidrulico. Observa-e que as estruturas foram feitas com pedras tipo canga e

    paredes revestidas com reboco. Existem algumas plataformas arrimadas para o

    nivelamento do terreno e escadas para acesso aos diversos nveis.

    Do ponto de vista histrico e arqueolgico, este stio se reveste de enorme

    importncia na histria da siderurgia no Brasil dado que foi o primeiro

    empreendimento do gnero a funcionar eficazmente em escala industrial para a

    produo de ferro em Minas Gerais. Tal relevncia suficiente para justificar o fato

    deste stio arqueolgico ter sido protegido pelo IPHAN no ano de 1937, quando do

    incio da aplicao da Lei do Tombamento. Alm disto, a Fbrica de Ferro do Prata

    tem sua importncia histrica associada figura de Wilhelm Ludwig von Eschwege,

    construtor da Fbrica de Ferro do Prata e empreendedor de diversas atividades

    ligadas pesquisa e produo mineral na regio do atual Quadriltero Ferrfero.

    A produo de minrio de ferro em escala industrial, iniciada com a experincia da

    Fbrica de Ferro de Congonhas do Campo, insere-se no contexto que tornou vivel

    o desenvolvimento das linhas ferrovirias no Brasil. Tais implementos foram

    responsveis, em grande medida, pela transformao radical das formas de se

    praticar o comrcio e o transporte nas Minas Gerais que, at aquele momento, eram

    feitos em caminhos e estradas de terra em carros de bois e lombos de animais. Com

    a propagao das estradas de ferro pelo Brasil a partir de 1869 e, no caso da

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 26

    Provncia de Minas Gerais com a fundao da linha Oeste de Minas no ano de 1880,

    inmeras localidades voltadas agricultura se desenvolveram em ritmo acelerado, a

    exemplo das paragens localizadas no vale do Rio Paraopeba.

    O incremento da industrializao do ferro iniciada pela Usina Patritica, que resultou

    na implantao do sistema ferrovirio no Brasil, determinou a alterao do papel

    predominante que os caminhos da Serra da Moeda possuam at ento, e gerou o

    surgimento de estaes ferrovirias e fundao de novas cidades implantadas ao

    redor destas paradas. Este foi o caso, por exemplo, da sede do municpio de

    Moeda/MG ou da Estao de Arrojado Lisboa.

    guisa de concluso cumpre-se ressaltar que o painel histrico e o esboo

    arqueolgico apresentados so apenas uma amostragem da imensa riqueza do

    processo de ocupao da Serra da Moeda e de seu entorno. Tal opulncia se

    expressa de forma inequvoca na imensa quantidade de vestgios arqueolgicos de

    diferentes tipos e pocas que se encontram espalhados por toda a regio. A Serra

    da Moeda e seu entorno se apresentam como unidade histrico-cultural, ou seja,

    um conjunto expresso na conexo entre suas partes por diversas questes

    apresentadas ao longo deste texto e observado, ainda, pelo elo estabelecido entre o

    passado e o presente que testemunha a continuidade das prticas minerrias, agro-

    pastoris e siderrgicas na regio.

    Anexo Listagem dos stios levantados durante os trabalhos de prospeco

    arqueolgica na regio da Serra da Moeda/MG e entorno

    - Stios Arqueolgicos:

    . Fazenda Morro Velho e Pedro Paulo (Retiro da Pedras/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego Morro Velho e Pedro Paulo (Retiro da

    Pedras/Brumadinho/MG).

    . Abrigo do Retiro das Pedras (Retiro da Pedras/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao Retiro das Pedras I (Retiro da

    Pedras/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao Retiro das Pedras II (Retiro da

    Pedras/Brumadinho/MG).

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 27

    . Muros do Crrego Bernardino (Retiro da Pedras/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego Bernardino (Retiro da

    Pedras/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao do Ribeiro da Catarina (Casa

    Branca/Brumadinho/MG).

    . Abrigo do Ribeiro da Catarina (Casa Branca/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao do Forte de Brumadinho (Casa

    Branca/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego Senzala I (Casa Branca/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego Senzala II (Casa Branca/Brumadinho/MG).

    . Estrada Cavaleira da Serra da Calada (Casa Branca/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego Fundo/Tutamia I (Casa

    Branca/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego Fundo/Tutamia II (Casa

    Branca/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego Fundo/Tutamia III (Casa

    Branca/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao Pau Branco (Casa Branca/Brumadinho/MG).

    . Ncleo Urbano de Piedade de Paraopeba (Suzana/Brumadinho/MG).

    . Estrada Cavaleira Beira Serra (Beira Serra-Suzana/Brumadinho/MG).

    . Habitaes Rurais Beira Serra (Beira Serra-Suzana/Brumadinho/MG).

    . Igreja Velha de Suzana (Suzana/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao gua Limpa I (gua Limpa/Itabirito/MG).

    . Ncleo de Minerao gua Limpa II (gua Limpa/Itabirito/MG).

    . Ncleo de Minerao gua Limpa III (gua Limpa/Itabirito/MG).

    . Fazenda Lagoa das Codornas (Represa das Codornas/Rio Acima/MG).

    . Minerao Cata Branca (Cata Branca/Itabirito/MG).

    . Fazenda Aredes (Aredes/Itabirito/MG).

    . Ncleo de Minerao Aredes (Aredes/Itabirito/MG).

    . Muro e Valos da Serra em So Caetano (Trevo na BR-040 que segue para

    Moeda/Itabirito/MG).

    . Stio Pedra Negra (Itabirito-Moeda/MG).

    . Runas da Serra de So Caetano (So Caetano da Moeda/Moeda/MG).

    . Estrada Carrovel de So Caetano (So Caetano da Moeda/Moeda/MG).

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 28

    . Comunidade Rural da Mata da Conceio (So Caetano da

    Moeda/Moeda/MG).

    . Runas de So Caetano da Moeda (So Caetano da Moeda/Moeda/MG).

    . Fazenda da Cachoeira (Moeda Velha/Moeda/MG).

    . Fazenda Contendas (Contendas/Moeda/MG).

    . Muro de Pedras do Crrego Pedra Vermelha (Pedra Vermelha/Moeda/MG).

    . Habitao Rural da Grota dos Antunes (Grota dos Antunes/Moeda/MG).

    . Estrada Cavaleira da Grota dos Antunes (Grota dos Antunes/Moeda/MG).

    . Muro de Pedras do Mirante da Serra (BR-040 na Parada Mirante da

    Serra/Itabirito/MG).

    . Ncleo de Minerao Saboeiro (Saboeiro/Itabirito/MG).

    . Ncleo Urbano Marinho da Serra (Marinho da Serra/Moeda/MG).

    . Fazenda dos Azevedo (Marinho da Serra/Moeda/MG).

    . Fazenda da Barra (Barra do Gentio/Moeda/MG).

    . Pouso do Belvedere (Belvedere-Viaduto Vila Rica/Itabirito/MG).

    . Usina Patritica (Ferteco/Ouro Preto/MG).

    . Fazenda Fortificada da Lagoa Velha (Ouro Preto/MG).

    . Galeria de Minerao da Serra dos Mascates (Boa Morte/Belo Vale/MG).

    . Estrada Carrovel da Serra dos Mascates (Boa Morte/Belo Vale/MG).

    . Muro de Pedras da comunidade de Boa Morte (Ribeiro dos Paiva ou

    Pedra/Belo Vale/MG).

    . Ncleo Urbano de Boa Morte (Boa Morte/Belo Vale/MG).

    . Stio Pr-Histrico da Fazenda dos Paiva (Ribeiro dos Paiva ou Pedra/Belo

    Vale/MG).

    . Stio Arqueolgico e Comunidade Chacrinha dos Pretos (Chacrinha dos

    Pretos/Belo Vale/MG).

    . Estao Ferroviria Arrojado Lisboa (Arrojado Lisboa/Belo Vale/MG).

    . Fazenda do Baro (Arrojado Lisboa/Belo Vale/MG).

    . Habitao Rural no P da Serra do Esmeril (Serra do Esmeril/Belo

    Vale/MG).

    - Modelos Etnogrficos/Patrimnios Edificados:

    . Fazenda Gordura (Piedade do Paraopeba/Brumadinho/MG).

    . Fazenda da Grota (Porto Alegre/Moeda/MG).

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 29

    . Fazenda Boa Esperana (Boa Morte/Belo Vale/MG).

    . Fazenda Santa Ceclia (Chacrinha dos Pretos/Belo Vale/MG).

    . Fazenda Crrego da Areia (Arrojado Lisboa/Belo Vale/MG).

    . Fazenda Santa Cruz (Arrojado Lisboa/Belo Vale/MG).

    - rea com potencial arqueolgico:

    . Estrada Cavaleira da Serra de Ouro Fino (Casa Branca/Brumadinho/MG).

    . Caminhos na Serra em Suzana (Suzana/Brumadinho/MG).

    . Fazenda de Suzana (Suzana/Brumadinho/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego Mina Dgua (Aredes/Itabirito/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego da Lagoa Seca (Aredes/Itabirito/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego Carioca (Crrego do Bao/Itabirito/MG).

    . Ncleo de Minerao do Crrego das Serrinhas (Crrego do

    Bao/Itabirito/MG).

    . Estrada Cavaleira da Serra das Almas (Serra das Almas/Moeda/MG).

    . Muro de Pedras da Fazenda da Barra (Moeda/MG).

    . Muro de Pedras da Fazenda Santo Antnio (Ribeiro dos Paiva ou

    Pedra/Moeda/MG).

    Notas

    (1) Deve ser sublinhado que durante os trabalhos de prospeco arqueolgica foram identificadas inmeras

    fazendas antigas ainda em atividades. Tais edificaes foram registradas como modelos etnogrficos na medida

    em que sua anlise pode fornecer informaes importantes para a compreenso dos stios arqueolgicos

    remanescentes de antigas fazendas similares. Por outro lado, a condio/contexto de origem destas fazendas

    coloca-as na categoria de patrimnio histrico edificado que deve ser objeto de estudo e

    preservao/restaurao.

    (2) O ncleo de Chacrinha dos Pretos (Belo Vale/MG) um caso exemplar do processo de apropriao

    contempornea das runas de um espao arqueolgico. um stio caracterizado pela implantao de uma

    comunidade de afro-descendentes em uma rea onde esto os vestgios de uma grande e antiga fazenda,

    constante tambm de uma capela e de outras edificaes menores.

    (3) Relao dos habitantes do distrito de So Caetano da Moeda, termo da cidade de Ouro Preto. 1831.

    Microfilme 01, caixa 01, documento 02. Coleo Mapas de Populao pertencente ao acervo do Arquivo Pblico

    Mineiro (APM).

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 30

    Referncias bibliogrficas

    CAMPOS, Luana Carla Martins Campos. Vou te contar... Caf com Histrias Viajando no tempo: um pouco da

    histria da Fazenda Boa Esperana em Belo Vale/MG. Tribuna Jornal da ASMAP, Brumadinho, MG, n. 46.

    Caderno Por Dentro do Vale, n. 8, out. 2009. p. 04.

    Disponvel em: http://www.brumadinhotour.com.br/pordentrodovale/cafecomhistoriafazendaboaesperanca.php.

    Acesso em: 15 de jan. 2011.

    CAMPOS, Luana Carla Martins Campos. Vou te contar... Caf com Histrias Mas por qual motivo a Serra da

    Moeda possui este nome? Tribuna Jornal da ASMAP, Brumadinho, MG, n. 47. Caderno Por Dentro do Vale, n.

    9, nov. 2009. p. 04.

    Disponvel em: http://www.brumadinhotour.com.br/pordentrodovale/cafecomhistoriaserradamoeda.php. Acesso

    em: 1 nov. 2010.

    CAMPOS, Luana Carla Martins Campos. Vou te contar... Caf com Histrias Entre boatos e lendas: as runas

    do Forte de Brumadinho. Tribuna Jornal da ASMAP, Brumadinho, MG, n. 49. Caderno Por Dentro do Vale, n.

    11, jan. 2010. p. 04.

    Disponvel em: http://www.brumadinhotour.com.br/pordentrodovale/cafecomhistoriaruinasfortebrumadinho.php.

    Acesso em: 8 jan. 2011.

    CANCLINI, Nstor Garca. O patrimnio cultural e a construo imaginria do nacional. Revista do Patrimnio

    Histrico e Artstico Nacional: Cidades, organizao de Helosa Buarque de Hollanda, Rio de Janeiro, n. 23, p.

    95-115, 1994.

    DE CERTEAU, Michel. Andando na cidade. Revista do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional: Cidades,

    organizao de Helosa Buarque de Hollanda, Rio de Janeiro, n. 23, p. 21-31, 1994.

    GUIMARES, Carlos Magno et al. Projeto arqueolgico de prospeco e topografia do Forte de Brumadinho e

    Entorno. Belo Horizonte: Laboratrio de Arqueologia da Fafich/UFMG, 2002.

    GUIMARES, Carlos Magno; REIS, Flvia Maria da Mata. Agricultura e minerao no sculo XVIII. In:

    RESENDE, Maria Efignia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos (Orgs.). As Minas setecentistas. Belo Horizonte:

    Companhia do Tempo; Autntica, 2007. p. 321-335. (Histria de Minas Gerais, 2).

    GUIMARES, Carlos Magno; ZARANKIN, Andrs; CAMPOS, Luana Carla Martins; PEREIRA, Anderson Barbosa

    Alves. Patrimnio arqueolgico da Serra da Moeda e Entorno. In: SOL, Maria Elisa Castellanos; GUIMARES,

    Carlos Magno; PAIVA, Jos Eustquio Machado de (Orgs.). Patrimnio natural-cultural e zoneamento ecolgico-

    econmico da Serra da Moeda: uma contribuio para sua conservao. Belo Horizonte: Brandt Meio Ambiente,

    2008. p. 157-348. v. 1.

    HALL, Stuart. A identidade cultural na ps-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

    ICOMOS/ICAHM. Carta de Lausanne. Carta para a proteo e a gesto do patrimnio arqueolgico. 1990.

    Disponvel em: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=262. Acesso em: 20 nov. 2009.

  • Revista CPC, So Paulo, n.13, p. 6-31, nov. 2011/abr. 2012 31

    JOS, Oiliam. Indgenas de Minas Gerais: aspectos sociais, polticos e etnolgicos. Belo Horizonte: Edies

    Movimento-Perspectiva, 1965.

    LIMA JNIOR, Augusto de. As primeiras vilas do ouro. Belo Horizonte: Grfica Santa Maria, 1962.

    PESAVENTO, Sandra Jatahy. Histria & histria cultural. 2. ed. Belo Horizonte: Autntica, 2008. (Coleo

    Histria &...Reflexes, 5).

    SOL, Maria Elisa Castellanos; GUIMARES, Carlos Magno; PAIVA, Jos Eustquio Machado de (Orgs.).

    Patrimnio natural-cultural e zoneamento ecolgico-econmico da Serra da Moeda: uma contribuio para sua

    conservao. Belo Horizonte: Brandt Meio Ambiente, 2008. 2 v.

    VASCONCELLOS, Diogo Pereira Ribeiro de. Parte inedita da monographia do Dr. Diogo Pereira Ribeiro de

    Vasconcellos sobre a Capitania de Minas-Geraes, escripta no primeiro decenio do presente sculo. Revista do

    Arquivo Pblico Mineiro, v. 01, p. 443-452, jul./set. 1896.

    VEIGA, Jos Pedro Xavier da. Efemrides mineiras: 1664-1897. Belo Horizonte: Fundao Joo Pinheiro, 1998.

    4 v.

    YDICE, George. A convenincia da cultura: usos da cultura na era global. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.

    Crdito

    * Licenciada e Mestre em Histria (UFMG), com formao complementar em Antropologia e Arqueologia pela

    mesma instituio. Atua no campo da gesto do patrimnio cultural e arqueologia histrica, tendo realizado

    diversas consultorias e assessorias tcnicas em ICMS Cultural e Licenciamento Ambiental. Possui experincia

    com fontes iconogrficas com destaque em suas pesquisas para a cultura visual, material e histria da fotografia.

    Tambm educadora dedicada a trabalhos em educao patrimonial e confeco de materiais didticos.

    e-mail: [email protected].