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 Temporalidades  – Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG.  v. 7, n. !set."de#. $%&'( – )e*o Hori#onte+ Deartamento de História, FF/H"UFMG, $%&0. 112+ &345-0&'% - 666.aic8.umg.9r"temora*idades  9 Salvador dos homossexuais: militância homossexual e homossociabilidade na Bahia nos anos 1980 Salvador gay: gay militancy and homosociability in Bahia in the 1980s  Ailton os! dos Santo s "arneiro Mestrando em História socia* Universidade Federa* da )a8ia !UF)( ai*tonet:8otmai*.com #ecebido em: &%"%0"$%&'  Aprov ado em:  $5"&$"$%&' #$S%&':   rimeira organi#ação 8omosse;ua* 9aiana, o Grupo Gay da Bahia (GGB), oi undada em 1a*vador em $3 de evereiro de &34%, so9 a *iderança do antroó*ogo <u=s Mott . Dentre as novas estrat>gias o*=ticas adotadas e*o gruo destaca-se a tentativa de o*iti#ação da 8omosse;ua*idade tanto dentro ?uanto ora do movimento . 2esta ersectiva, o resente estudo tem como escoo artir da cartograia dos esaços ur9anos @9*icos ou comerciais ?ue serviam como ontos de encontro ara uma 8omossocia9i*idade ou 8omoerotismo em 1a*vador nos anos &34%, tendo em vista as re*açAes esta9e*ecidas entre os re?uentadores destes *ocais com a mi*itBncia 8omosse;ua* 9aiana encamada e*o GGB. Para tanto, a#-se uso de uma revisão 9i9*iogrCica acerca da temCtica, da anC*ise do Guia Ga da )a8ia !&34&(, de mat>rias u9*icadas no Eorna* <amião da s?uina !&374-&34( e nos )o*etins normativos do GG) !&34%-&344(, e de ontes orais. , or im, ana*isa a rede de so*idariedade e os con*itos decorrentes das intervençAes do GGB nos esaços ocuados e*os amantes do mesmo se;o na caita* 9aiana. (A)A*#AS+",A*$: Mi*itBncia 8omosse;ua*, Homossocia9 i*idade, 1a*vador-)a8ia.  ABST#A"T :  8e irst )a8ian 8omose;ua* organi#ation, Gruo Ga da )a8ia !GG)( 6as ounded in 1a*vador on Fe9ruar $3, &34%, under t8e *eaders8i o ant8roo*ogist <ui# Mott.  mong t8e ne6 o*itica* strategies adoted 9 t8e g rou t8ere is t8e attemt o o*itici#ation o 8omose;ua*it 9ot8 inside and outside t8e movement. n t8is ersective, t8is stud is scoed rom t8e maing o u9*ic and commercia* ur9an saces t8at served as meeting oints or a 8omosocia9i*it or 8omoeroticism in 1a*vador in t8e &34%s, in vie6 o t8e re*ations 9et6een t8e atrons o t8ese *aces 6it8 8omose;ua* mi*itanc )a8ia taen over 9 t8e GG). For t8is, use is made o a *iterature revie6 on t8e t8eme, t8e ana*sis o t8e )a8ia Ga Guide !&34&(, o artic*es u9*is8ed in Eourna* o <amião da s?uina !&374-&34( and GG)Is 2e6s*etters !&34%-&344( and ora* sources. nd ina**, ana*#es t8e net6or o so*idarit and con*icts arising rom GG) interventions in saces occuied 9 same-se; *overs in 1a*vador. -$./'#S: Ga mi*itanc, 8omosocia9i*it, 1a*vador-)a8ia. ntrodu23o J Movimento Homosse;ua* )rasi*eiro !MH)(, como era denominado anteriormente o

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Temporalidades – Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG. v. 7, n. !set."de#. $%&'( – )e*o Hori#onte+ Deartamento de História, FF/H"UFMG, $%&0.

112+ &345-0&'% - 666.aic8.umg.9r"temora*idades 

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Salvador dos homossexuais: militância homossexuale homossociabilidade na Bahia nos anos 1980

Salvador gay: gay militancy and homosociability in Bahia in the1980s

 Ailton os! dos Santos "arneiroMestrando em História socia*

Universidade Federa* da )a8ia !UF)(ai*tonet:8otmai*.com

#ecebido em: &%"%0"$%&'

 Aprovado em: $5"&$"$%&'

#$S%&':   rimeira organi#ação 8omosse;ua* 9aiana, o Grupo Gay da Bahia (GGB), oiundada em 1a*vador em $3 de evereiro de &34%, so9 a *iderança do antroó*ogo <u=s Mott .Dentre as novas estrat>gias o*=ticas adotadas e*o gruo destaca-se a tentativa de o*iti#ação da8omosse;ua*idade tanto dentro ?uanto ora do movimento. 2esta ersectiva, o resente estudotem como escoo artir da cartograia dos esaços ur9anos @9*icos ou comerciais ?ue serviamcomo ontos de encontro ara uma 8omossocia9i*idade ou 8omoerotismo em 1a*vador nos anos&34%, tendo em vista as re*açAes esta9e*ecidas entre os re?uentadores destes *ocais com ami*itBncia 8omosse;ua* 9aiana encamada e*o GGB. Para tanto, a#-se uso de uma revisão9i9*iogrCica acerca da temCtica, da anC*ise do Guia Ga da )a8ia !&34&(, de mat>rias u9*icadas

no Eorna* <amião da s?uina !&374-&34( e nos )o*etins normativos do GG) !&34%-&344(, ede ontes orais. , or im, ana*isa a rede de so*idariedade e os con*itos decorrentes dasintervençAes do GGB nos esaços ocuados e*os amantes do mesmo se;o na caita* 9aiana.

(A)A*#AS+",A*$: Mi*itBncia 8omosse;ua*, Homossocia9i*idade, 1a*vador-)a8ia.

 ABST#A"T:  8e irst )a8ian 8omose;ua* organi#ation, Gruo Ga da )a8ia !GG)( 6asounded in 1a*vador on Fe9ruar $3, &34%, under t8e *eaders8i o ant8roo*ogist <ui# Mott.

 mong t8e ne6 o*itica* strategies adoted 9 t8e grou t8ere is t8e attemt o o*itici#ation o8omose;ua*it 9ot8 inside and outside t8e movement. n t8is ersective, t8is stud is scoedrom t8e maing o u9*ic and commercia* ur9an saces t8at served as meeting oints or a

8omosocia9i*it or 8omoeroticism in 1a*vador in t8e &34%s, in vie6 o t8e re*ations 9et6een t8eatrons o t8ese *aces 6it8 8omose;ua* mi*itanc )a8ia taen over 9 t8e GG). For t8is, use ismade o a *iterature revie6 on t8e t8eme, t8e ana*sis o t8e )a8ia Ga Guide !&34&(, o artic*esu9*is8ed in Eourna* o <amião da s?uina !&374-&34( and GG)Is 2e6s*etters !&34%-&344(and ora* sources. nd ina**, ana*#es t8e net6or o so*idarit and con*icts arising rom GG)interventions in saces occuied 9 same-se; *overs in 1a*vador.

-$./'#S: Ga mi*itanc, 8omosocia9i*it, 1a*vador-)a8ia.

ntrodu23o

J Movimento Homosse;ua* )rasi*eiro !MH)(, como era denominado anteriormente o

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Temporalidades – Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG. v. 7, n. !set."de#. $%&'( – )e*o Hori#onte+ Deartamento de História, FF/H"UFMG, $%&0.

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movimento <G)&, emergiu no im da d>cada de &37%, com a a9ertura K*enta, gradua* e seguraL,

do Regime Mi*itar !&305-&34'(. , intrinsecamente dois acontecimentos marcam os rimeiros

assos dos mi*itantes, ou sea, a u9*icação da edição de n@mero #ero do KEorna* <amião da

s?uinaL, em &374, vo*tado N discussão de temas de interesse deste segmento socia* e de outras

minorias, e o surgimento do rimeiro gruo organi#ado de 8omosse;uais, o K1omos – Gruo de

 irmação Homosse;ua*L, undado em 1ão Pau*o, neste mesmo ano.

 EC no in=cio da d>cada de &34%, em meio N crise do Eorna* <amião da s?uina e do gruo

Somos-SP   e, osteriormente, com o encerramento das atividades dessas organi#açAes, surgiu na

)a8ia, uma organi#ação não-governamenta* tam9>m disosta a *utar e*os direitos civis dos

8omosse;uais – o KGrupo Gay da Bahia  ! GGB (L –, ormado e*o antroó*ogo au*ista <ui# Mott.

 ssim, o GGB  iniciou um novo esti*o de mi*itBncia o*=tica 8omosse;ua* no a=s, muito maisesec=ica e ragmCtica, ocada na causa dos 8omosse;uais, direcionando suas açAes ara a*>m do

interior da sociedade, tendo tam9>m como rincia* a*vo o stado. ssa nova orma de

intervenção o*=tica dos 8omosse;uais so9 a >gide da mi*itBncia 8omosse;ua* 9aiana oi

roiciada, so9retudo, e*o rocesso de a9ertura o*=tica do stado 2aciona*. 2este interst=cio, o

Grupo Gay da Bahia  se aroveitou das endas a9ertas e*a redemocrati#ação do a=s ara dar in=cio

a uma nova ase de o*iti#ação da 8omosse;ua*idade na )a8ia e no )rasi*.$ 

Dentre as novas estrat>gias o*=ticas adotadas e*a mi*itBncia 8omosse;ua* nos anos &34%,avu*ta-se, neste tra9a*8o, a tentativa do Grupo Gay da Bahia de o*iti#ação dos re?uentadores do

Kgueto 8omosse;ua*L  de 1a*vador. 2esta ersectiva, esta roosta tem como escoo

cartograar os esaços ur9anos @9*icos ou comerciais ?ue serviam como ontos de encontro

ara uma 8omossocia9i*idade ou rCticas 8omoeróticas em 1a*vador nos anos &34%, tendo em

&  Desde a /onerOncia <G), em $%%4, o movimento o*=tico em torno da 8omosse;ua*idade no )rasi* >recon8ecido e*as sig*as <G), ?ue designa a *uta de *>s9icas, gas, 9isse;uais, travestis, transe;uais e transgOneros

na 9usca or cidadania *ena e direitos 8umanos no a=s.$ Para 1imAes e Facc8ini+ J movimento o*=tico em torno da 8omosse;ua*idade no )rasi* ode ser dividido em trOsKondasL ou ases+ a Krimeira ondaL, oca*i#ada no er=odo ?ue corresonde a Ka9ertura o*=ticaL, de &374 emdiante, ?uando surge o gruo 1omos e o orna* <amião da s?uina a Ksegunda ondaL, da ?ua* o Gruo Ga da)a8ia a# arte, marcada e*o rocesso de redemocrati#ação do a=s, nos anos &34%, e e*as mo9i*i#açAes em tornoda ssem9*eia /onstituinte e no com9ate N eidemia do HQ-D1 e a Kterceira ondaL, iniciada a artir de meadosda d>cada de &33%, caracteri#ada e*a arceria entre stado e gruos 8omosse;uais organi#ados, e*a adoção dadesignação <G) ara identiicar o movimento e a consagração das KParadas do Jrgu*8o <G)L em todo a=s.!1M1, E@*io ssis e F//H2, Regina.  Na Trilha do Arco-íris + Do movimento 8omosse;ua* ao <G). 1ãoPau*o+ ditora Fundação Perseu 9ramo, $%%3, .&5(. KSGueto 8omosse;ua*S reere-se a esaços ur9anos @9*icos ou comerciais – ar?ues, raças, ca*çadas, ?uarteirAes,estacionamentos, 9ares, restaurantes, casas noturnas, saunas – onde as essoas ?ue comarti*8am uma vivOncia8omosse;ua* odem se encontrar.L !1M1, E@*io ssis T FR2, sadora <ins. Do “gueto” ao mercado.

Dison=ve* em+ 8tt+""666.agu.unicam.9r"sites"666.agu.unicam.9r"i*es"u*io%&.d . cessado em+ $% deagosto de $%&5(.

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 vista as re*açAes esta9e*ecidas entre os re?uentadores destes *ocais com a mi*itBncia 8omosse;ua*

9aiana encamada e*o GGB. Para tanto, a#-se uso de uma revisão 9i9*iogrCica acerca da

temCtica, da anC*ise do Guia Ga da )a8ia de &34&, de mat>rias u9*icadas no Eorna* <amião da

s?uina e nos 9o*etins inormativos do GG) entre os anos de &34% a &344, e de ontes orais.

Destaca-se a rede de so*idariedade e os con*itos decorrentes das intervençAes do Grupo Gay da

Bahia  nos esaços ur9anos e*os amantes do mesmo se;o na caita* 9aiana.

 Qa*e sa*ientar ?ue a artir da segunda metade do s>cu*o VV, a sociedade 9rasi*eira assou

or imortantes transormaçAes, muitas de*as ocasionadas e*o recrudescimento do rocesso de

ur9ani#ação gerado e*o grande *u;o de migraçAes internas. /om isso, nas d>cadas de &30% e

&37%, as grandes cidades do a=s se tornaram o rincia* destino ara um indiv=duo ansioso em

ingressar numa socia9i*idade 8omoerótica e e;ressar co*etivamente sua identidade 8omosse;ua*.De acordo com o 8istoriador estadunidense Eames 2. Green5, a artir de &37$, 8ouve nos

rinciais centros ur9anos 9rasi*eiros, como Rio de Eaneiro, 1ão Pau*o, )e*o Hori#onte, 1a*vador,

entre outros, um grande investimento em saunas, 9oates e discotecas vo*tadas, so9retudo, ara o

@9*ico 8omosse;ua* mascu*ino da c*asse m>dia em e;ansão. *>m desses esaços, os cinemas,

raias e"ou raças @9*icas continuavam sendo imortantes ontos de encontro eróticos,

rincia*mente ara os mais o9res e negros.

Para o soció*ogo a*emão <ouis Wirt8', no artigo !r"a#ismo como $odo de %ida !&34(, oenXmeno da ur9ani#ação não deve ser comreendido aenas como um rocesso de atração de

essoas e inc8aço das grandes cidades, mas tam9>m como um esti*o de vida, uma in*uOncia ?ue

transassa os *imites do ur9ano. 1egundo Wirt8, são trOs as caracter=sticas 9Csicas da cena ur9ana+

?uantidade de ou*ação, densidade da ou*ação e 8eterogeneidade. Desse modo, o soció*ogo

a*emão deine as cidades Kcomo um n@c*eo re*ativamente grande, denso e ermanente, de

indiv=duos socia*mente 8eterogOneosL0. aman8a densidade demogrCica e 8eterogeneidade

garantia aos sueitos Cvidos em desrutar dos ra#eres do mesmo se;o, uma es>cie de anonimatonas grandes caitais 9rasi*eiras. 2o entanto, como aonta E@*io ssis 1imAes e Regina Facc8ini7,

esses grandes centros ur9anos tão ascinantes e discretos tam9>m tin8am seus riscos. 1egundo os

autores, mesmo o /ódigo Pena* )rasi*eiro não revendo nen8uma unição N 8omosse;ua*idade,

5 GR2, Eames 2., Al&m do 'ar#aal + Homosse;ua*idade Mascu*ina no )rasi* do s>cu*o VV. 1ão Pau*o+ ditoraUnes, $%%%.' WRH, <ouis. J Ur9anismo como Modo de Qida. n+ Q<HJ, Jtavio !org.(. e#*me#o !r"a#o. Rio de Eaneiro+Ya8ar, &307. P. 43-&&$.

0 ZZZZZZ, !r"a#ismo como $odo de %ida , . 3'.7 1M1, E@*io ssis e F//H2. Regina. Na Trilha do Arco-íris , .7$ e 7.

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constantemente 8omosse;uais soriam agressAes so9 a a*egação de vadiagem ou rCtica de atos

o9scenos em @9*ico. sse era mais um dos atores ?ue a#iam com ?ue muitos otassem or

ormas de socia*i#ação mais rivativas, como era o caso das reuniAes e estas de gruos de

amigos em residOncias articu*ares, ã-c*u9es de cantoras de rCdio, 9arracAes de esco*as de sam9a,

entre outros. Mesmo atestando a escasse# de ontes, 1imAes T Facc8ini destacam tam9>m a*guns

esaços de concentração de mu*8eres 8omosse;uais nos grandes centros ur9anos, como a*guns

9ares, restaurantes, 9oates e ontos de encontros de inte*ectuais, mas semre com um cuidado

maior em comaração aos 8omens no ?ue tange N discrição.

sta concentração de sueitos em esaços @9*icos ou rivados visando uma socia9i*idade

8omosse;ua* nos anos &37% e &34% > o ?ue os soció*ogos e antroó*ogos ur9anos denominam de

Kgueto 8omosse;ua*L. Para E@*io ssis 1imAes e sadora <ins França, Ko [guetoS > imortante namedida em ?ue roorciona um am9iente de contatos no ?ua* as ressAes da estigmati#ação da

8omosse;ua*idade são momentaneamente aastadas ou atenuadasL4. m9ora 1imAes e França

recon8eçam a imortBncia da categoria ana*=tica KguetoL, imortada dos estudos so9re a

concentração ur9ana da comunidade 8omosse;ua* na cidade estadunidense de 1ão Francisco, e*es

a*ertam ?ue, no caso do )rasi*, > reer=ve* uti*i#ar as categorias Kmanc8aL ou KcircuitoL. 3 2o

entanto, tratando-se de um tra9a*8o 8istoriogrCico centrado nos anos &34%, er=odo em ?ue o

termo KguetoL estava ainda muito disseminado no a=s, so9retudo, no discurso da mi*itBncia8omosse;ua*, > considerCve* o seu aarecimento nesta discussão.

J rocesso de ur9ani#ação e de am*iação dos esaços @9*icos de socia9i*idade

8omosse;ua* na d>cada de &37% oi resonsCve* tam9>m or roagar um novo modo de

reresentar a 8omosse;ua*idade. 1urge assim, o KentendidoL. De acordo com Green, esse termo

C circu*ava no )rasi* desde a metade da d>cada de &35%, seu uso se reeria aos 8omosse;uais da

c*asse m>dia tradiciona*, em sua maioria KenrustidosL, mas se ou*ari#a mesmo ao *ongo dos

anos &30%. \ neste er=odo ?ue sua a*icação assou a ter um vi>s o*=tico de airmação8omosse;ua* ?ue se distanciava do comortamento se;ua* 8ierCr?uico 9aseado na oosição

4  1M1, E@*io ssis T FR2, sadora <ins. Do “gueto” ao mercado. Dison=ve* em+8tt+""666.agu.unicam.9r"sites"666.agu.unicam.9r"i*es"u*io%&.d . cessado em+ $% de agosto de $%&5.3 De acordo com Eos> Gui*8erme /antor Magnani+ Ksão as manc8as, Creas cont=guas do esaço ur9ano dotadas dee?uiamentos ?ue marcam seus *imites e via9i*i#am – cada ?ua* com sua eseciicidade, cometindo oucom*ementando – uma atividade ou rCtica redominante.L ]...^ noção de circuito. rata-se de uma categoria ?uedescreve o e;erc=cio de uma rCtica ou a oerta de determinado serviço or meio de esta9e*ecimentos, e?uiamentose esaços ?ue não mantOm entre si uma re*ação de contiguidade esacia*, sendo recon8ecido em seu conunto e*osusuCrios 8a9ituais+ or e;em*o, o circuito gay , o circuito dos cinemas de arte, o circuito neo-esot>rico, dos sa*Aes dedança e s8o6s 9*ac, do ovo-de-santo, dos anti?uCrios, dos c*u99*ers e tantos outros.L !MG22, Eos> /antor

Gui*8erme. De erto e de dentro+ notas ara uma etnograia ur9ana. +eista Brasileira de 'i,#cias Sociais . Qo*. &7, n_ 53,$%%$, . $$-$5(.

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9inCria entre a K9ic8a-assiva-emininaL e o K9oe-ativo-mascu*inoL e introdu#ia no imaginCrio

socia*, mesmo ?ue ainda das c*asses mais e*evadas e inte*ectua*i#adas, um mode*o mais igua*itCrio

e?uiva*ente ao reconi#ado or uma identidade ga nos stados Unidos aós a KRevo*ta de

1tone6a**L&%. 2este sentido, o KentendidoL se distinguia da K9ic8aL ou K9onecaL or sua Onase

no gOnero mascu*ino e e*o seu deseo se;ua* or 8omens ?ue comarti*8avam dessa mesma

identidade. sse des*ocamento o*=tico gerado or essas novas reresentaçAes identitCrias

8omosse;uais aeta tam9>m o coro e as atuaçAes desses indiv=duos, ?ue assam a se aastar cada

 ve# mais de um comortamento visto como eminino e adotar osturas mCscu*as, criando assim

um osso entre a K9ic8a-*oucaL e o Kentendido-o*iti#adoL.

Desse modo, não > di=ci* dereender ?ue estes grandes centros ur9anos, com suas

esacia*i#açAes de deseos e erormances, novas su9etividades e reresentaçAes 8omosse;uais,oram tam9>m terrenos >rteis ara o surgimento de uma mi*itBncia 8omosse;ua* no )rasi* no

ina* dos anos &37%. 2o entanto, d6ard MacRae&& denuncia, no artigo s +espeiteis $ilita#tes e

as Bichas .oucas , u9*icado origina*mente em &34$, o distanciamento dos rimeiros mi*itantes

8omosse;uais, em regra de camadas mais inte*ectua*i#adas da sociedade, dos diversos

re?uentadores dos guetos 8omosse;uais, vistos or estes como Ka*ienadosL. sta o*ari#ação

icou evidente ?uando, em &34&, o Grupo Gay Da Bahia enviou um artigo ara o Eorna* <amião

da s?uina, orta-vo# do MH) em sua rimeira ase, ara noticiar o &_ ncontro de GruosHomosse;uais Jrgani#ados do 2ordeste !GHJ2(. 1egundo MacRae, o te;to escrito e*a

mi*itBncia 9aiana carregado de a*avras de ordem como Kau au au > *ega* ser 8omosse;ua*L, Kado

ado ado ser viado não > ecadoL, entre outras, gerou um ma*-estar nos editores do orna* ?ue

9uscavam construir nas Cginas do seu eriódico uma outra reresentação da 8omosse;ua*idade,

muito mais reseitCve* e distante das veicu*adas na grande m=dia e encarnada e*os

re?uentadores dos guetos 8omosse;uais.

ste eisódio envo*vendo o Grupo Gay da Bahia  > e*ucidativo ara se erscrutar acerca dasre*açAes esta9e*ecidas entre os mi*itantes 8omosse;uais 9aianos e os re?uentadores dos esaços

&%  Revo*ta de 1tone6a** nos stados Unidos > considerada o marco da *i9eração 8omosse;ua* em todo mundo.1egundo 1imAes e Facc8ini, na madrugada de $4 de un8o de &303, o 9ar 1tone6a** nn, um esta9e*ecimento vo*tadoara o @9*ico 8omosse;ua* no 9airro de Green6ic8 Qi**age, em 2ova `or, enrentou mais uma 9atida o*icia*.ntretanto, nessa noite os re?uentadores do 9ar, em sua maioria ovens não-9rancos, reagiram de orma inusitada,enrentando os o*iciais em uma verdadeira su9*evação co*etiva ?ue durou o im de semana inteiro. Devido a orteresistOncia, os revo*tosos gritavam e ic8avam nos muros e;ressAes como Gay Po/er   !oder ga( e Gay Pride!orgu*8o ga(. Js autores ressa*tam ?ue oi a artir da= ?ue o ser KgaL ad?uiriu um carCter su9versivo, numa am*aostura de contestação o*=tica e cu*tura*. !1M1, E@*io ssis e F//H2, Regina.  Na Trilha do Arco-íris + Domovimento 8omosse;ua* ao <G). 1ão Pau*o+ ditora Fundação Perseu 9ramo, $%%3, . 5'(. 

&& M/R, d6ard. Ks +espeiteis $ilita#tes  e as )ic8as <oucasL. n+ /J<<2G, <eandro !org.(. Sto#e/all 01 2 o3ue #o Brasil . 1a*vador DUF)a, $%&&, . e 5.

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de 8omossocia9i*idade em 1a*vador nos anos &34%, assim como erce9er ?ue *ocais eram esses e

como o GG) atuou nesses esaços. 2ão o9stante, de imediato > sa*utar ana*isarmos de orma

mais deta*8ada o surgimento do Grupo Gay da Bahia e o rocesso de o*iti#ação da

8omosse;ua*idade engendrado e*o gruo nos anos &34%.

45ueis baianos: rodem a baiana6 tudo bem6 mas deixem de ser alienados7778 : A

unda23o do 5rupo 5ay da Bahia 55B;

J aarecimento de organi#açAes civis em deesa dos direitos dos 8omosse;uais no )rasi*

coincide com a terceira onda do ativismo 8omosse;ua* no *ano internaciona*, iniciada no

decOnio de &30%.&$  /onorme E@*io ssis 1imAes e Regina Facc8ini, essa ase ermeada or

constantes revo*uçAes e transormaçAes nos va*ores morais das sociedades oi o cenCrio ro=cio

ara o surgimento dos gruos organi#ados de 8omosse;uais em todo o mundo.

  tomada do oder e*os mi*itares em & de março de &305 gerou na sociedade 9rasi*eira

uma cisão entre sociedade o*=tica e sociedade civi*. J romimento dessa de*icada arceria

atordoou diversos setores sociais em e;ansão e estancou o de9ate em torno de reormas sociais

e o*=ticas.& /om a c8egada ao oder do Genera* m=*io Gastarra#u M>dici, no ano de &303, a

reressão mi*itar atingiu seu aro;ismo. EC na virada ara a d>cada de 7%, a resistOncia dos

estudantes a um governo autoritCrio e a reorgani#ação da c*asse tra9a*8adora, em muito,

imu*sionada e*a a*a rogressista da grea /ató*ica e vCrias correntes de es?uerda, gerou uma

onda contestatória ?ue agitou diversos setores sociais.

Jortunamente, oi neste momento ?ue se criou no )rasi* toda uma agitação o*=tico-

cu*tura* em torno da 8omosse;ua*idade. J Kdes9undeL de uma cu*tura 8omosse;ua* em9araçou

ainda mais esse conuso er=odo da nossa 8istória marcado e*a Ditadura Mi*itar. \ nesse

interst=cio ?ue emerge uma identidade 8omosse;ua* co*etiva no a=s. J 8istoriador /*audio

&$  Js 8istoriadores e demais teóricos da 8omosse;ua*idade destacam trOs imortantes momentos do ativismo8omosse;ua* e*o mundo. De acordo com Prado e Mac8ado, o rimeiro momento inicia na uroa em meados dos>cu*o VQ, intensiica-se na metade do s>cu*o VV e tem seu desec8o no in=cio do s>cu*o VV, o segundomomento tem seu começo nos anos &35% e se arrasta at> a d>cada de &30%, ?uando tem in=cio N terceira ase domovimento 8omosse;ua* com a irrução da KRevo*ta de 1tone6a**L nos stados Unidos, em &303. !PRDJ, Marco

 ur>*io MC;imo e M/HDJ, Frederico Qiana. Preco#ceito co#tra 4omosse5ualidade + Hierar?uia da nvisi9i*idade.1ão Pau*o+ /orte#, $%%4(.& Para mais inormaçAes so9re os imactos do go*e de &305 ara a democracia 9rasi*eira, ver+ J<DJ. /aio

2avarro. 67809 golpe co#tra as re:ormas e a democracia . Revista )rasi*eira de História. Revista )rasi*eira de História. 1ãoPau*o. Q. $5. 2_ 57, $%%5.

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Ro9erto da 1i*va&5 sinteti#a e*o menos trOs acontecimentos ?ue co*a9oraram ara a tomada de

consciOncia o*=tica or arte dos 8omosse;uais no )rasi*+

J rimeiro se reere N imrensa a*ternativa ?ue romove uma reormu*ação da

imagem associada ao indiv=duo ?ue sente atração or outros do rório se;oe*e dei;a de ser tratado como um ama*diçoado, incaa# de auto-rea*i#ação, aratransormar-se num ser ?ue oderia rovocar a revo*ução da estrutura socia* osegundo se reere a rodução acadOmica ?ue retira a discussão do camo damedicina e da sico*ogia ara co*ocC-*a no camo das ciOncias 8umanas,a*terando o eno?ue ideo*ógico e teórico da ?uestão 8omosse;ua* o tema dei;ade ser tratado como v=cio a9ominCve*, ato*ogia e desvio, ara tornar-se uma variCve* neutra da se;ua*idade 8umana, estudada como su9cu*tura socia*menteconstru=da e o terceiro se reere aos novos movimentos sociais ?ue via9i*i#aram uma cr=tica ao mac8ismo e ao racismo do a=s, condu#indo Nreormu*ação das noçAes de gOnero e se;o e N conso*idação da identidade domi*itante 8omosse;ua*.&' 

 na*isando estas irruçAes citadas or 1i*va, erce9emos ?ue a imrensa a*ternativa

desemen8ou um ae* de grande imortBncia ara a emanciação o*=tica dos 8omosse;uais no

a=s, so9retudo, com o surgimento do KEorna* <amião da s?uinaL, undado em &374, or

 guina*do 1i*va, Eoão ntXnio Mascaren8as, entre outros. m consonBncia com MacRae&0, este

eriódico se dierenciou das demais u9*icaçAes ?ue tratava do tema devido a sua =ntima re*ação

com as organi#açAes 8omosse;uais ?ue surgiram nesse er=odo, a#endo com ?ue as ideias

 veicu*adas no orna* uncionassem como uma es>cie de 9a*i#a ara a construção de

8omosse;ua*idades o*iti#adas em todo o a=s.

 Qa*e sa*ientar ainda, conorme assina*ado or 1i*va, a imortBncia das mo9i*i#açAes

co*etivas em torno de identidades de raça e de gOnero no )rasi* ara a ormação do MH). 2esta

emreitada, o eminismo e suas cr=ticas ao atriarcado e a desigua*dade de gOneros acrescentou

muito N causa dos 8omosse;uais. Da mesma orma, a *uta contra o racismo tornou-se um

imortante reerencia* teórico, emrestando N mi*itBncia 8omosse;ua* certa rigide# e me*indre em

torno da identidade, o ?ue e# com ?ue o discurso da Kvitimi#açãoL se tornasse, a artir da=, uma

imortante arma na 9usca e*os direitos dos 8omosse;uais.&7 

ntre esses gruos 8omosse;uais organi#ados ?ue surgiram na d>cada de &37%, estavam

&5  1<Q, /*Cudio Ro9erto da, +ei#e#ta#do o So#ho+ 8istória ora* de vida o*=tica e 8omosse;ua*idade no )rasi*contemorBneo. Dissertação de mestrado. 1ão Pau*o, Universidade de 1ão Pau*o, &334.&' ZZZZZZZ, +ei#e#ta#do o So#ho, . 4.&0 M/R, d6ard. A 'o#stru;<o da =gualdade + dentidade se;ua* e o*=tica no )rasi* da K9erturaL. /aminas-1P+ditora da U2/MP, &33%.&7  De acordo com Maria da G*ória Go8n, esses sueitos co*etivos coniguram os c8amados Knovos movimentossociaisL com Onase na airmação e recon8ecimento de identidades cu*turais, em oosição aos Kmovimentos sociais

tradicionaisL ?ue se 9aseiam na *uta de c*asses. !GJH2, Maria da G*ória Marcondes.   Noas Teorias dos $oime#tosSociais . $_ ed. 1ão Pau*o+ <oo*a, $%%4(.

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o Somos > Grupo de A:irma;<o 4omosse5ual ,  A;<o .&s"ico-emi#ista ,  ?ros   e .i"ertos  de 1ão Pau*o, o

Somos   e o  Au,   do Rio de Eaneiro, o [email protected]   de )ras=*ia, entre outros. J Somo-SP   se destaca

devido ao seu ioneirismo e esti*o de mi*itBncia ?ue se aro;imava tanto dos ideais anar?uistas,

?ue tin8a como maior reresentante interno Eoão 1i*v>rio revisan, ?uanto da dia*>tica mar;ista,

deendida or Eames 2. Green, mais con8ecido como KEimmL. *>m desses, de acordo com

d6ard MacRae&4, comun8a a organi#ação ainda, o rório MacRae, G*auco Mattoso, Eean-

/*aude )ernadet, entre outros.

 EC na d>cada de &34%, contrariando a tese de KacomodaçãoL e Kdec*=nioL, o movimento

8omosse;ua* vis*um9rou nas endas a9ertas e*a redemocrati#ação do a=s a ossi9i*idade de

terem suas reinvindicaçAes atendidas, iniciando assim um novo esti*o de mi*itBncia e diC*ogo com

a sociedade o*=tica. Foi nesse interst=cio ?ue surgiu o Grupo Gay da Bahia , undado em 1a*vador,em $3 de evereiro de &34%. emergOncia do GGB estC vincu*ada N c8egada a 1a*vador da?ue*e

?ue seria o seu rincia* articu*ador+ o antroó*ogo <ui# Mott. m entrevista concedida ao orna*

9aiano K ardeL, em &0 de novem9ro de $%%4, Mott remonta esse Kmito de origemL do gruo.

1egundo e*e+

u vim ara a )a8ia deois de ter vivido uma re*ação 8eterosse;ua* durantecinco anos, em /aminas, com duas i*8as, a= então em &374 eu assumi a min8a8omosse;ua*idade e reso*vi mudar ara 1a*vador, ascinado e*a 9e*e#a da

cidade 9arroca, e*os negros, e*o c*ima e e*as rutas troicais. vim com aintenção de *argar a universidade e viver uma vida meio 8iie. Qim comoroessor visitante, e me 9eneiciei de um decreto de en?uadramento,tornando-me roessor adunto. Deois i# um concurso ara roessor titu*ar.m menos de um ano de c8egado N )a8ia, eu C tin8a um namorado 9aiano,com o ?ua* convivi durante sete anos. stCvamos numa tarde vendo o Xr-do-so* no orto da )arra ?uando um mac8ão, erce9endo ?ue nós >ramos gas -aesar de e;tremamente discretos -, me deu um taa na cara, or ura8omoo9ia. Foi a rimeira ve# na vida em ?ue ui v=tima de uma vio*Oncia. ssetaa na cara desertou a min8a consciOncia da imortBncia de deender osmeus direitos como 8omosse;ua*. ]...^ = a artir desse taa na cara eu escrevium an@ncio ara J <amião ?ue era assim+ )ic8as 9aianas, rodem a 9aiana,

tudo 9emb Mas dei;em de ser a*ienadas. Qamos undar um gruo de discussãoso9re 8omosse;ua*idade. Me escrevamb.&3 

J GGB contou incia*mente com a articiação de &7 integrantes, todos 8omens, em sua

maioria orna*istas, estudantes universitCrios e roessores ntre os mem9ros-undadores,

c8amam a atenção nomes como os de Ricardo <=er, ntXnio Pac8eco, tam9>m con8ecido como

 on Pac8eco, *e;andre Ferra#, H>dimo 1antana, Wi*son 1antana, ro*do ssunção, Huides

/un8a, Davi ran8a, entre outros. m9ora a iniciativa de ormar um gruo o*=tico em torno da

&4 M/R. A 'o#stru;<o da =gualdade .&3 Eorna* A Tarde , &0 de novem9ro de $%%4.

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8omosse;ua*idade ten8a artido de <ui# Mott, C se odia erce9er nesse momento uma agitação

o*=tico-cu*tura* em 1a*vador ara a construção de um movimento 8omosse;ua* 9aiano. Muitos

desses mem9ros C discutiam e atuavam em deesa da 8omosse;ua*idade, mesmo sem a#er arte

de um gruo roriamente 8omosse;ua*. m entrevista concedida a 1i*va, Mott narra a

ormação do gruo+

2a >oca, um mi*itante do movimento 8omosse;ua* de 1ão Pau*o... ?ue era9aiano, vo*tou a )a8ia. *e entrou em contato comigo, co*ocou-me em contatocom a*guns anar?uistas, orna*istas e roessores. ssas essoas tam9>m tin8amensado em organi#ar a*go re*acionado a movimento ga. Fi#emos os rimeiroscontatos e marcamos a rimeira reunião do Gruo Ga da )a8ia. Foi no dia $3de evereiro de&34%... era um ano 9isse;tobb Reunimo-nos, de#essete essoasnum sC9ado N noite, estavam o ro*do, Ricardo <=er, o caso de Ricardo <ier?ue era o ntXnio /ar*os Pac8eco, um outro ?ue c8amava-se *e;andre Ferra#

 – anar?uista-orna*ista –, /ar*in8os e o seu caso... Wi*son. ste @*timo eranegro... e*e se searou do Gruo Ga deois de dois anos e undou o d>Dudu.$% 

Pode-se destacar entre esses mem9ros citados or Mott, Ricardo <=er, on Pac8eco e

 *e; Ferra# ?ue, untamente com outros estudantes da UF), undaram o orna* anar?uista KJ

nimigo do ReiL, mais um imortante editoria* da imrensa a*ternativa do )rasi* no er=odo da

Ditadura Mi*itar. *>m desses anar?uistas, > notCve* tam9>m a articiação de Wi*son 1antos ?ue

desde &373 C atuava no Movimento 2egro Uniicado !M2U( 9aiano.$& 

  convocação direta de Mott e o ato dos demais mem9ros não terem nen8um

envo*vimento com artidos o*=ticos de es?uerda e# com ?ue o gruo se vo*tasse

e;c*usivamente ara as demandas da 8omosse;ua*idade, contraondo-se assim ao gruo 1omos-

1P ?ue desde a sua undação oi marcado or uma ?ue9ra-de-9raço interna so9re a ?uestão da

articiação ou não na K*uta maiorL – *uta de c*asses. J ?ue contri9uiu, em muita medida, ara a

cisão do gruo.

Jutra imortante dierença do movimento 8omosse;ua* 9aiano em re*ação N e;eriOncia

au*ista estava re*acionada N construção de uma identidade 8omosse;ua* co*etiva do gruo.

n?uanto o K1omosL tra#ia a necessidade de uma airmação identitCria 8omosse;ua* no rório

nome, o GG) C nasce com essa identidade deinida e conso*idada comondo uma das suas

sig*as. 2ão o9stante, antes de isso reresentar um contraonto entre esses dois gruos, trata-se

mais de uma continuidade. Uma rova disso oi ?ue *ogo de in=cio o gruo iria se c8amar

$% 1<Q. +ei#e#ta#do o So#ho, . 50%.$&  stas inormaçAes odem ser encontradas na entrevista concedida or Wi*son 1antos ao 9*og Kde DuduL.

Dison=ve* em+ 8tt+""adedudu.9*ogsot.com.9r"$%&&"%'"um-ouco-de-8istoria.8tm*. !cesso em %$ de março de$%&.

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K1omos-)a8iaL, deois, or sugestão de ro*do ssunção, o gruo oi deinitivamente 9ati#ado

de KGruo Ga da )a8iaL.$$ 

 EC assumidos, a rimeira aarição @9*ica do GG) ocorreu em & de maio de &34%, em

um ato @9*ico do M2U contra o racismo e a a*sa a9o*ição da escravatura. roveitando a

ocasião, e a mu*tidão ?ue aguardava o som dos tam9ores da 9anda KJ*odumL, Mott su9iu no

a*an?ue ara discursar so9re a du*a discriminação sorida e*os 8omosse;uais negros na

sociedade 9aiana. sse discurso era ruto dos de9ates ?ue C ocorriam no gruo, *evantados,

so9retudo, or Wi*son 1antos.

  artir de &34$, o Gruo Ga da )a8ia iniciou um rocesso de instituciona*i#ação.

Primeiro, o gruo tratou de o9ter uma sede ara as suas reuniAes e organi#ação das suas açAes. J

resonsCve* e*a concreti#ação desse roeto oi <ui# Mott, ?ue ad?uiriu um imóve* or conta

rória ara a insta*ação do gruo. inauguração estiva da nova sede do GG) na scada da

)arro?uin8a, di=cio Der9, ocorreu em &' de a9ri* de &34$.$ 

Jutra imortante inciativa oi a e*a9oração de um estatuto nesse mesmo ano. ntes disso,

a distri9uição das tareas e tomada de decisão no interior do gruo se dava or meio de consenso,

de acordo com a conceção anar?uista redominante no movimento, numa órmu*a muito

seme*8ante N do gruo 1omos-1P. 2esse momento criou-se um regimento interno esta9e*ecendo

um co*egiado comosto or seis conse*8eiros, seis coordenadores, tesoureiro, ar?uivista,

secretCrio e o residente e vice-residente. Para Marce*o /er?ueira$5, essa nova ostura do gruo

oi uma estrat>gia encontrada e*os seus mem9ros ara de*inear e via9i*i#ar novos roetos.

m &34, aós uma *onga 9ata*8a no udiciCrio ?ue contou com a cooeração do

advogado e mi*itante 8omosse;ua* Eoão ntXnio Mascaren8as, o Grupo Gay da Bahia o9teve o

registro de sociedade civi* sem ins *ucrativos. ssas rimeiras con?uistas da mi*itBncia

$$ normaçAes concedidas or Marce*o /er?ueira, em $7 de evereiro de $%&$. Qa*e ressa*tar ?ue Marce*o /er?ueirasó ingressou no Gruo Ga da )a8ia em meados da d>cada de &34%, ortanto, os dados cedidos or e*e, anteriores aisso, or mais ?ue ten8am um carCter memoria*=stico, trata-se de uma Kmemória 8erdadaL, ois oram inormaçAesad?uiridas no conv=vio com <ui# Mott e demais mem9ros-undadores do gruo. J conceito de Kmemória 8erdadaLse encontra nas ormu*açAes do soció*ogo Mic8ae* Po**a. 1egundo e*e+ Kse odemos di#er ?ue, em todos os n=veis, amemória > um enXmeno constru=do socia* e individua*mente, ?uando se trata da memória 8erdada, odemostam9>m di#er ?ue 8C uma *igação enomeno*ógica muito estreita entre a memória e o sentimento de identidade. ?uio sentimento de identidade estC sendo tomado no seu sentido mais suericia*, mas ?ue nos 9asta no momento, ?ue> o sentido da imagem de si, ara si e ara os outros. sto >, a imagem ?ue uma essoa ad?uire ao *ongo da vidareerente a e*a rória, a imagem ?ue e*a constrói e aresenta aos outros e a si rória, ara acreditar na sua róriareresentação, mas tam9>m ara ser erce9ida da maneira como ?uer ser erce9ida e*os outros.L !PJ<</,Mic8ae*. $em*ria e ide#tidade Social . studos Históricos. Rio de Eaneiro, vo*. ', n. &%, &33$, . $%%-$&$(. 

$ B.?T=$ D G+!P GA DA BA4=A, no , n_ %, 9ri* de &34$.$5 normaçAes concedidas or Marce*o /er?ueira, em $7 de evereiro de $%&$.

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*enaL$7.

  consideração do esaço en?uanto *ugar raticado, conse?uentemente, território

identitCrio, > imortantes ara ?ue erce9amos na modernidade o io condutor ?ue une as

?uestAes se;uais Ns re*açAes de oder. estreita *igação entre se;o e verdade na era moderna não

a9ricou aenas discursos, trata-se, so9retudo, de um sa9er a*icado, o resu*tado desse

entre*açamento > vis=ve* na rea*idade das instituiçAes e dos coros, nas su9etividades e nas

rCticas dos indiv=duos. J sueito ?ue se constitui na modernidade > um ortador de uma

se;ua*idade. KPois, o essencia* > ?ue, a artir do cristianismo, o Jcidente não arou de di#er+

[Para sa9er ?uem >s, con8eças teu se;oS.L$4. De acordo com Foucau*t, cria-se um Kdisositivo da

se;ua*idadeL$3.

ssa gama de Kes>cies se5ualis L > essencia*mente rotu*ada e direcionada a ocuar um

*ugar na sociedade. Para 1tuart Ha**, a identidade semre se desenvo*ve em conte;tos marcados

or re*açAes de oder, > o meio e*o ?ua* se Kcostura !ou ara usar uma metaórica m>dica,

[suturaS( o sueito N estruturaL%. 2esse sentido, a identidade cu*tura* de um indiv=duo > a imagem

da osição ?ue e*e ocua na sociedade moderna, reresenta sua KcategoriaL. ntretanto, segundo

Ha**, essa conceção socio*ógica c*Cssica estC cedendo esaço ara outros argumentos ?ue

reveem a ossi9i*idade desse mesmo indiv=duo assumir diversas identidades. ssa constatação

?ue o ser 8umano ode ossuir m@*ti*as acetas nos gera ortes desconianças acerca danecessidade de assumir uma identidade. a* ersectiva serve ainda ara desinde;ar o signiicado

do conceito da 8omosse;ua*idade, o ?ue nos ossi9i*ita atentarmos ara as dierentes ormas

e*as ?uais os sueitos, ditos 8omosse;uais, constroem suas identidades, conce9em sua atuação

o*=tico-socia* e orientam seus aetos e deseos se;uais no temo e esaço.

sta conceção de uma dimensão o*=tica do uso dos esaços ur9anos tam9>m orientava

a atuação do GGB  nos anos &34%. endo em vista ?ue o Grupo Gay da Bahia , *ogo em sua

$7  Para Eos> Muri*o de /arva*8o, uma Kcidadania *enaL seria a?ue*a ?ue com9inasse *i9erdade, articiação eigua*dade ara todos. /onorme /arva*8o+ Kornou-se costume desdo9rar a cidadania em direitos civis, o*=ticos esociais. J cidadão *eno seria a?ue*e ?ue osse titu*ar dos trOs direitos. /idadãos incom*etos seriam os ?ueossu=ssem aenas a*guns dos direitos. Js ?ue não se 9eneiciassem de nen8um dos direitos seriam não-cidadãos.L!/RQ<HJ, Eos> Muri*o de. 'idada#ia #o Brasil + J *ongo camin8o. &&_ ed. Rio de Eaneiro+ /ivi*i#ação )rasi*eira,$%%4, . 3(.$4 FJU/U<, Mic8e*.  $icro:ísica do Poder . radução e Jrgani#ação de Ro9erto Mac8ado. Rio de Eaneiro+ diçAesGraa*, &373. . $$3.$3  Para Foucau*t, o Kdisositivo da se;ua*idadeL > um mecanismo de oder ?ue eng*o9a discursos, instituiçAes,organi#açAes ar?uitetXnicas, *eis, enunciados cient=icos, roosiçAes i*osóicas e morais, com um o9etivo de a#ercom ?ue o indiv=duo conesse sua se;ua*idade. KPor conissão entendo todos estes rocedimentos e*os ?uais seincita o sueito a rodu#ir so9re sua se;ua*idade um discurso de verdade ?ue > caa# de ter eeitos so9re o rório

sueito.L !ZZZZZ   $icro:ísica do poder . $05(.% H<<, 1tuart. =de#tidade 'ultural #a P*s-moder#idade . && d. Rio de Eaneiro+ DPT, $%%0, . &$.

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a grande circu*ação de edestres ?ue uti*i#avam o *evador <acerda a Praça /astro *ves,

rincia*mente nos dias de carnava* a Praça da Piedade a Rua /ar*os Gomes <argo dos *itos

e a Praça do /amo Grande. 2a or*a, no roteiro indicado e*o gruo, as rinciais Creas de

convergOncia 8omosse;ua* eram o Porto, o Faro* e o /risto da )arra, rincia*mente aos sC9ados

e domingos, a Pitu9a, a Praia dos rtistas, no 9airro da )oca do Rio, e a Praia de P*acaord.0 

2este momento, C se ode erce9er tam9>m em 1a*vador a ormação de um Kmercado

gaL com a resença de 9ares e 9oates vo*tados ara, ou tendo como rinciais re?uentadores,

um @9*ico 8omosse;ua*, em sua maioria das camadas m>dias, e em a*guns casos, travestis e

garotos de rograma. Dentre esses esta9e*ecimentos se destacavam a soisticada )oate KHo*mesL

situada no 9airro do Gam9oa )oate Kroica*L, na )ai;a dos 1aateiros )oate K1aariL, na Rua

/ar*os Gomes, comandado or Wa*deton di Pau*a e os 9ares K/actusL, *oca*i#ado no K)eco dos rtistasL, no Garcia, e o KJCsisL e o K)raseiroL, na /ar*os Gomes. De acordo com o Kmaa

8omosse;ua*L e*a9orado e*o GGB, no in=cio dos anos &34%, as *>s9icas eram redominantes no

KYan#i9arL e no K)ar#imL.7 m mat>rias enviadas ara o Eorna* <amião da s?uina, *eitores

soteroo*itanos deste eriódico tam9>m traçam seus roteiros de 8omossocia9i*idade na cidade de

sa*vador. 1egundo re*ato de KPau*o manue*L+

  orta do eatro /astro *ves oi desco9erta no verão assado, entre os

s8o6s de /aetano, 1imone e outras. Js gueis ]sic^ invadiram e ormaram oc*u9e da escada. ]...^ Perto da=, no 9airro de Fa#enda Garcia, *ogo no começo,8C um 9eco onde um rancOs inaugurou tam9>m e*a mesma >oca do verão,um 9ar#in8o e restaurante. J 9ar#in8o era re?fentado e*os do c*u9e daescada e or outros gueis, em gera* c*asses ) e , ?ue desi*avam os seus maisrecentes mode*os via Paris ou mesmo *guatemi !s8oing center(. ]...^ Paragueis mais 9arra esada !não 8C discriminação no temo+ somos todos iguaisna noite, e no dia tam9>m(, e;istem 9ares na Rua /ar*os Gomes !centro( ondese ode encontrar coman8ia e 9e9ida 9arata. ]...^ 2os 9airros da Qitória e)arra 8C tam9>m 9ares ara gueis c*asse . ]...^ 2o erreiro, Pe*ourin8o eadacOncias, > Cci* a egação 9arra esad=ssima, com mic8Os. ]...^ 2a min8amodesta oinião, o c*u9e da escada > o me*8or *oca* ara ?uem vem de ora.

]...^ ainda tem o ato de ?ue se encontra a= essoas de n=ve* cu*tura* a*to, com?uem se ode, a*>m de transar um ótimo re*acionamento se;ua*, trocar id>ias,sensi9i*idades, ta*entos, vida. !Pau*o manue*(.4 

  Onase dada Ns c*asses sociais dos re?uentadores desses esta9e*ecimentos comerciais,

or arte desse inormante, evidencia as desigua*dades socioeconXmicas e cu*turais no interior da

0 GRUPJ G` D )H. Guia Gay Da Bahi a.

7 ZZZZZZ. Guia Gay Da Bahi a.4 EJR2< .A$P=C DA ?S!=NA. no $. 2_ &5, Eu*8o de &373, . 5.

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comunidade 8omosse;ua*. Para o cientista o*=tico Euan P. Pereira Marsia3, os *ocais @9*icos são

semre mais ocuados or 8omosse;uais de c*asses mais 9ai;as, e;ostos a todo tio de

 vu*nera9i*idade, en?uanto os esaços rivados, saunas, 9ares, 9oates e outros, concentram um

maior n@mero de 8omosse;uais das c*asses m>dia e a*ta. a* o9servação C oderia ser eita na

d>cada de &34%, uma ve# ?ue com a e;ansão de um mercado vo*tado ara os 8omosse;uais o

status   socioeconXmico não deinia aenas a c*asse socia* dos mem9ros da comunidade, mas

tam9>m o grau de margina*i#ação ?ue este sueito oderia sorer, odendo ser c*assiicado como

o Kga ricoL ou KentendidoL, mais a*atCve* numa sociedade 8eteronormativa, ou a K9ic8a

o9reL, vu*nerCve* a todos os tios de discriminaçAes. stes con*itos de c*asse entre os amantes

do mesmo se;o na cena ga de 1a*vador oram evidenciados e*o Grupo Gay da Bahia , no artigo

intitu*ado KBahia "y Night L, u9*icado em seu 9o*etim inormativo em a9ri* de &34$. 1egundo osmi*itantes 9aianos+

<astimave*mente, os gas 9aianos contam com m=nimas oçAes na noitesoteroo*itana. 2ão temos nen8uma sauna ga. J rincia* cinema re?fentadoe*os entendidos, o /ari, desde ?ue egou ogo, dei;ou a turma desamarada,assando ve;ame no )risto* devido N medieva* intransigOncia de um ta* gerente?ue mais arece um *eão de c8Ccara. 2em todos disAem de /r &.%%%,%% araassar uma noite no Ho*mes agora com mC?uina ?ue so*ta neve e ogo*ondrino, tudo imortado dos 1tates. 9oite roica*, a /r $%%,%% em9oranão sea tão vio*enta e 9ai;o n=ve* como muita 9ic8a deseitada e metida a9urguesa costuma a*ardear or a=, tem um inconveniente+ os desagradCveis9oes e caçadores ?ue costumam icar estacionados na orta, inoortunos emuitas ve#es ertur9adores.5% 

/om isso, ode se erce9er ?ue mesmo com o aumento dos esaços de

8omossocia9i*idade e de rCticas 8omoeróticas na caita* 9aiana, estes *ocais ainda eram oucos e

restritos a um @9*ico se*eto, comosto maoritariamente or 8omens 9rancos das camadas

m>dias. 2a rória aresentação do KGuia Ga da )a8iaL de &34&, o GGB e;Ae uma 1a*vador

ara o turista interessado em desrutar dos ra#eres com mesmo se;o em sua visita, como uma

cidade de desemregados, o9re e vio*enta, rincia*mente, se comarada Ns grandes cidades dosu*-sudeste do a=s.

Diante destas *imitaçAes inanceiras, muitos 9aianos ansiosos em raticar se;o entre iguais

9uscavam outros ontos de encontro de 8omosse;uais ?ue ossem mais acess=veis, como era o

caso dos cinemas, como o K/ine storL, na Rua da uda, o K)istro*L, no Po*iteama, e o KPa;L,

na )ai;a dos 1aateiros, entre outros, ou at> mesmo sanitCrios @9*icos, ?ue tam9>m eram

3  MR1 E., Euan P. Pereira. Gas Ricos e )ic8as Po9res+ Desenvo*vimento, Desigua*dade 1ocioeconXmica e

Homosse;ua*idade no )rasi*. 'ader#os A?. . Qo*. &%. 2_ &4"&3. $%%.5% B.?T=$ D G+!P GA DA BA4=A. no . 2_ . 9ri* de &34$.

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uti*i#ados ara rCticas 8omoeróticas.

stes re*atos acerca da esacia*i#ação da 8omosse;ua*idade em 1a*vador no in=cio da

d>cada de &34% dei;am escaar ainda uma outra reocuação dos mi*itantes 8omosse;uais

9aianos. Pois, a*>m de demarcar os *ocais de 8omossocia9i*idade e 8omoerotismo na cidade,

odemos erce9er nas u9*icaçAes do Grupo Gay da Bahia uma c*assiicação dos amantes do

mesmo se;o da cidade em KgasL ou K9ic8asL, KtravestisL, Kmic8OsL e K9oesL ou K8omens com

rCticas 8omosse;uaisL. 2esta tio*ogia dos 8omens soteroo*itanos ?ue raticavam se;o com

8omens, o gruo se va*ia dessas nomeaçAes adotadas or esses rórios sueitos ara erce9er a

re*ação dessas dierentes su9etividades e reresentaçAes 8omosse;uais com os usos dos esaços

@9*icos e rivados na caita* 9aiana.

  cartograi#ação desses territórios e esta9e*ecimentos ocuados or 8omosse;uais em

1a*vador, nos in=cio dos anos &34%, oi o ?ue ermitiu ao Grupo Gay da Bahia  desemen8ar uma

s>rie de açAes vo*tadas ara uma maior o*iti#ação da 8omosse;ua*idade na )a8ia. 2ão o9stante,

muitas ve#es estas re*açAes eram marcadas não aenas or re*açAes de so*idariedade, como

tam9>m de con*itos.

Solidariedade e conlitos: as rela2=es entre o 55B  e o <gueto gay nos anos 1980 

  atuação do Grupo Gay da Bahia  nesses esaços ur9anos dominados e*os amantes do

mesmo se;o se dava de diversas ormas, mas semre tendo como o9etivo Kconscienti#arL seus

re?uentadores da necessidade de *utar e*os seus direitos e tentando surir suas dierentes

KcarOnciasL, or se tratar de um gruo tão 8eterogOneo. 2esta ina*idade, o GGB  manteve um

diC*ogo com os guetos 8omosse;uais de 1a*vador, rea*i#ando maniestaçAes o*=tico-cu*turais,

distri9uindo an*etos ou inormativos acerca dos direitos civis ou negação de*es ara a

comunidade 8omosse;ua*, ic8ando em muros rases de conte@dos va*orativos so9re a

8omosse;ua*idade, co*etando assinaturas ara a9ai;o-assinados ?ue visavam N a*teração ou a

romu*gação de *eis, e restando serviços sociais ou deendendo gas, *>s9icas e travestis das

agressAes raticadas or o*iciais mi*itares e outros indiv=duos ?ue desti*avam seu ódio contra

esses sueitos. stas açAes do gruo nas Creas de maior concentração de 8omosse;uais em

1a*vador, rincia*mente no ?ue tange ao com9ate N vio*Oncia, são re*atadas or Marce*o

/er?ueira. 1egundo seu deoimento+

  atuação do GG), e*a se dava, esecia*mente, or?ue na?ue*a >oca 8avia

muita reressão a travestis, a 8omosse;uais. ntão, era uma >oca ?ue aindae;istia a ta* De*egacia de Eogos e /ostumes, então muitos travestis e gas eram

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resos or?ue não tin8a a carteira de tra9a*8o assinada nas mãos. ]...^ , nade*egacia, eram resos ustamente or estarem na rua, acusados como vadiagem. 2a de*egacia eram o9rigados a a#er a;ina de 9an8eiro, *ime#a dade*egacia, co#in8ar e, muitas ve#es, restar serviços se;uais a outros resos e aoutros indiv=duos. =n8amos uma ação muito resente nos K)eco dos rtistasL,num dos rimeiros 9ares c8amado K/actusL, no KYam#i9arL tam9>m, naFederação, um 9ar *>s9ico, tam9>m a gente tin8a muita ação *C e na antigaK)oate roica*L, ?ue uncionava na Rua do Pau da )andeira. ra muitocomum nessa >oca a o*=cia entrar nas 9oates e mandar acender as *u#es edi#iam Kcaçador de um *ado e veados de outroL. era 8orr=ve* or?ue era umacinte aos direitos 8umanos. ntão, o GG) *utou muito, 9ata*8ou muito,9rigou muito com a o*=cia, durante muitos anos e situaçAes como essas 8oenão ocorrem, graças a essa ação ?ue a gente e#.5& 

/om a transerOncia da sede da entidade ara a )arro?uin8a, em &' de a9ri* de &34$, o

Grupo Gay da Bahia  começou a conviver e com9ater as cenas de a9uso e agressAes soridas or

8omosse;uais mais de erto. sso ocorria or?ue de rente Ns novas insta*açAes do gruo icava

um 9an8eiro @9*ico ?ue era re?uentemente uti*i#ado or indiv=duos ?ue 9uscavam desrutar

dos ra#eres com o mesmo se;o. 2o )rasi*, a rCtica de re*açAes se;uais em @9*ico era !e ainda

>( considerada i*ega*, crime de ato o9sceno5$. Resa*dado nessa *ei, e em seus rórios

reconceitos, muitos o*iciais constrangiam, agrediam e rendiam vCrios re?uentadores desse

*oca*. Diante das ar9itrariedades do oder o*icia*, o GGB  atuou como um deensor dos

re?uentadores desse sanitCrio @9*ico.

3"&$"4$+ /arta do GG) ao 1ecretCrio de 1egurança P@9*ica, !divu*gada na ri9una da )a8ia( denunciando constantes vio*Oncias da Po*=cia Mi*itar contraos usuCrios do 9an8eiro @9*ico da )arro?uin8a. Pic8ação na entrada domictório+ /UDDJ, QJ<h2/b /UDDJ, PRGJb5 

 *>m das diversas açAes romovidas e*o gruo, a sede uncionava tam9>m, em a*guns

momentos, como uma es>cie de Ka*9ergueL ara gas, *>s9icas e travestis v=timas de vio*Oncia

or discriminação se;ua* ou sem recursos ara se manterem em 1a*vador . /omo oi o caso da

travesti mineira Pa*oma encamin8ada ao gruo deois de ter sido encontrada erdida e sem

din8eiro nas ruas da caita* 9aiana. ste ato mereceu at> um re*ato nos 9o*etins inormativos dogruo+

&"'+ Um travesti mineiro, Pa*oma, oi encamin8ado ao GG), sem din8eiro eerdido na cidade+ a*oamos a amiga or uma noite na sede, resenteamos amineira com a*guns ticets de restaurante e a *evamos N ensão de Mar*i

5& Deoimento concedido or Marce*o /er?ueira em $7 de evereiro de $%&$.5$ Krt. $. Praticar ato o9sceno em *ugar @9*ico, ou a9erto ou e;osto ao @9*ico. Pena – detenção, de 0 !seis(meses a $ !dois( anos, ou mu*ta. !)R1<. '*digo Pe#al . Decreto-<ei n_ $.454, de 7 de de#em9ro de &35%. Qade

mecum. 1ão Pau*o+ 1araiva, $%&'(.5 B.?T=$ D G+!P GA DA BA4=A. no , n_ 0. Março de &34.

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!travesti(+ dias deois vo*tou ara Minas.55 

ssas aro;imaçAes da mi*itBncia ga com os re?uentadores do gueto 8omosse;ua* nem

semre se dava de orma tão so*idCria ou amigCve*. Js con*itos entre e*es ocorriam, so9retudo,

devido N ostura cr=tica do gruo rente Ns reresentaçAes da 8omosse;ua*idade rodu#idas or

esses 8omosse;uais. Por diversas ocasiAes, os mi*itantes rotestaram contra os concursos de

9e*e#a, como o KMiss-Ga )a8iaL, or considerarem im*=citos nestes eventos a rerodução do

mac8ismo e da su9missão eminina, a*>m de não erce9erem nestes auntamentos nen8uma

contri9uição ara a *uta 8omosse;ua*.

2o dia $4 de setem9ro, no eatro Qi*a Qe*8a, oi rea*i#ado o K$_ /oncurso da)e*e#a GaL com o tema KGa ParisL. J GG) aroveitou a oortunidade ara?uestionar a va*idade de tais concursos numa carta a9erta a toda a ou*ação eesecia*mente aos gas+ KHC vCrios anos ?ue as mu*8eres conscientes serecusam ser meros o9etos de consumo da sociedade mac8ista, denunciando acaretice dos concursos de miss. 2ão o9stante ainda 8oe as 9ic8as insistem eme*eger a miss )rasi*-Ga, a miss /acau-Ga, etc.L carta rossegue airmando+KUm concurso de travestis ode at> ter uma imortBncia o*=tica na medida em?ue as 9ic8as usassem de seu travestismo ara criticar a rigide# da divisão se;ua*dos a>is, rouas, etc. ne*i#mente, nem semre isto > *em9radoL.5' 

Js con*itos desve*avam mais uma ve# a K*uta de reresentaçAesL50  acerca da

8omosse;ua*idade entre os amantes do mesmo se;o, dei;ando transarecer assim uma dicotomia

?ue tin8a, de um *ado, os KreseitCveis mi*itantesL, e do outro, as K9ic8as *oucasL. 1em em9argo,a deseito destas e de outras cr=ticas, dierentemente da e;eriOncia da mi*itBncia do Grupo Somos- 

SP , o Grupo Gay da Bahia , em certa medida, assimi*ou como tCtica o*=tica a Kec8açãoL ?ue tanto

contrariava o movimento 8omosse;ua* au*ista. sto icou evidente no acontecimento re*atado

acima or MacRae, ?uando o GGB enviou um artigo ara a u9*icação no Eorna* <amião da

s?uina, em &34&, contendo gritos de ordem como K>te >te >te, > gostoso ser gi*eteL, Ko coito

ana* derru9a o caita*L, a*>m das C citadas. J ?ue gerou um desconorto na mi*itBncia

8omosse;ua* es?uerdista do orna*, a#endo com ?ue esta censurasse trec8os do artigo

considerados or e*es r=vo*os e ?ue serviriam aenas ara reorçar ainda mais o reconceito

contra os 8omosse;uais. J soció*ogo e e;-integrante do Somos-SP   conta ?ue oi só deois de

muita discussão or arte do coro editoria* ?ue se c8egou ao consenso de se u9*icar ao menos

um resumo do artigo, mas somente or se tratar de um te;to so9re a mi*itBncia 8omosse;ua* no

55 B.?T=$ D G+!P GA DA BA4=A. no , n_ %5, 1etem9ro de &34$.5' ZZZZZZ. no , n_ $. Jutu9ro de &34&.50 Para /8artier+ Ks *utas de reresentaçAes tem tanta imortBncia como as *utas econXmicas ara comreender osmecanismos e*os ?uais um gruo imAe, ou tenta imor, a sua conceção do mundo socia*, os va*ores ?ue são os

seus, e o seu dom=nio.L !/HRR, Roger.  A 4ist*ria 'ultural : entre rCticas e reresentaçAes. radução MariaManue*a Ga*8ardo. Rio de Eaneiro+ )ertrand )rasi*, &33%, . &4(.

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a=s, com a ocasião do ncontro de Gruos Homosse;uais Jrgani#ados do 2ordeste.

De acordo com MacRae, este incXmodo da mi*itBncia 8omosse;ua* com a

Kdesmun8ecaçãoL de certos 8omosse;uais re?uentadores do Kgueto gaL, dava-se, so9retudo,

e*o tom ocoso ?ue muitos integrantes da comunidade 8omosse;ua* se reeriam a a*guns va*ores

e discursos sacra*i#ados at> e*o rório movimento 8omosse;ua*. Para MacRae+

Por ridicu*ari#ar todos os va*ores da sociedade, a Kec8açãoL arece rou9ar dosmi*itantes os ontos de aoio ara as suas reivindicaçAes e ta*ve# sea esta ac8ave ara a comreensão do seu oder, ?ue estC a*>m da mi*itBncia socia* e emum n=ve* e;istencia* roundo nos remete ao asecto *@dico de nossae;istOncia.57 

Jutrossim, o deir  da Kec8açãoL de muitos re?uentadores do gueto 8omosse;ua* ode

ser entendido como uma orma de resistOncia N o*iti#ação da 8omosse;ua*idade so9 a >gide dos

movimentos 8omosse;uais, vista como tão necessCria ara con?uista da cidadania *ena,

so9retudo, or artes dos mi*itantes 9aianos do GGB. soció*oga 1c8erer-Warren sustenta ?ue

esta Onase na cidadania oi de e;trema imortBncia ara a ação dos novos movimentos sociais na

d>cada de &34%. 1egundo a autora, Kesta rCtica o*=tica decorre de uma reava*iação, estimu*ada

e*o tra9a*8o de educadores ou*ares unto aos movimentos, dos rinc=ios de *ega*idade e

*egitimidade.L54  odavia, comenta a autora, ?ue muitas ve#es este ae* de educador era

conundido com o de KdonoL do movimento. 2o caso do Grupo Gay da Bahia , em seus rimeirosanos, esta unção educadora icou, notadamente, so9 a resonsa9i*idade do seu rincia*

reresentante – <ui# Mott. 1ua osição de roessor universitCrio e suas roduçAes acadOmicas e

*iterCrias so9re a 8omosse;ua*idade *8e coneriam o *ugar de Kinte*ectua* orgBnicoL53  do

movimento. sta noção de o*iti#ação > corro9orada tam9>m or /iro F*amarion /ardoso,

?uando este airma ?ue+ Ka o*iti#ação de sua sociedade consiste na e;istOncia de uma autoridade

!rinc=io mediador( e;terior N comunidade de 9aseL'%.

2o contraonto desta ideia de o*iti#ação, o ato de desmun8ecar ode ser ersectivadocomo um ato o*=tico de reinvindicação de si, uma tCtica de recusa de uma consciOncia e;terna e

57 M/R. s +espeiteis $ilita#tes e as Bichas .oucas , . e 5.54 1/HRR-WRR2, *se. +edes de moime#tos sociais . 1ão Pau*o+ <oo*a, &33, . ''.53  De acordo com Gramsci, o inte*ectua* orgBnico > roveniente do gruo socia* ?ue o gerou, tornando-se seuesecia*ista, organi#ador e 8omogenei#ador, em contraosição, ao inte*ectua* tradiciona* ?ue acredita estardesvincu*ado das c*asses sociais. ': .+ GRM1/, ntonio. 'ader#os do crcere9 olume E . 0 ed dição e tradução /ar*os2e*son /outin8o co-edição <ui# 1>rgio Henri?ues e Marco ur>*io 2ogueira. Rio de Eaneiro+ /ivi*i#ação )rasi*eira,$%&& e GRM1/, ntonio. =#telectuais e a rga#iFa;<o da 'ultura . 1ão Pau*o+ /ivi*i#ação )rasi*eira, &343.

'% /RDJ1J, /iro F*amarion. KHistória e Poder+ uma nova 8istória o*=ticaL. n+ /RDJ1J, /iro F*amarion T Q2F1, Rona*do. Noos Domí#ios da 4ist*ria . Rio de Eaneiro+ *sevier, $%&$, . 4.

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KsueriorL, uma orma de não se a*ienar de si mesmo. Para Foucau*t'&, ?uando a o*iti#ação

ocorre a artir das rCticas articu*ares de cada sueito, atrav>s de e;eriOncias concretas e

imediatas, ode-se rodu#ir toda uma teia de sa9eres ?ue se estende Kde um onto de o*iti#ação

ara outroL – redes de inte*ectuais esec=icos –, evitando assim a igura do Kinte*ectua*

orgBnicoL, rovedor de uma consciOncia o*=tica. 2esta ersectiva, a Kec8açãoL de muitos

8omosse;uais não seria uma orma de negar a imortBncia desses movimentos sociais, mas sim

de criticar seus modi  opera#di .

  artir da segunda metade da d>cada de &34%, estas re*açAes entre a mi*itBncia

8omosse;ua* e os 8omosse;uais não-organi#ados marcada e*a so*idariedade e or con*itos

ad?uirem novas eiçAes. sso, devido N conirmação dos rimeiros casos de contCgio do v=rus do

HQ"D1 no )rasi*. Desde a desco9erta dessa Keste rosaL em &34$, como icou con8ecida adoença em seus rimeiros anos, em decorrOncia do ato de ter atingido rincia*mente

8omosse;uais, o GG) tratou de noticiar nas Cginas do seu 9o*etim todas as inormaçAes so9re

essa contaminação no a=s. 2esse inorme contin8a os rinciais sintomas da KD1L, sig*a em

ing*Os da K1=ndrome de munodeiciOncia d?uiridaL, como assou a ser con8ecida esta doença,

suas ormas de contCgio e os meios ara evitC-*a. m &34', ?uando esta eidemia C era uma

rea*idade no )rasi*, e a imrensa e os m>dicos assaram a reorçar antigos reconceitos contra os

8omosse;uais, como a sinon=mia entre 8omosse;ua*idade e doença. 2este momento, 8avia aindaor arte da mi*itBncia 8omosse;ua*, a*>m do medo de contagio, um receio ?ue suas açAes de

com9ate a essa eidemia viesse atre*C-*a mais ainda a 8omosse;ua*idade, tornando-se mais um

estigma. sse rimeiro osicionamento dos mi*itantes 8omosse;uais 9rasi*eiros estC resente no

deoimento de d6ard MacRae, concedido a /*audio Ro9erto da 1i*va !&334(. 2as a*avras de

MacRae+

juando vo*tei ao )rasi*, a id>ia era ?ue se tratava de mais um com*X m>dico.  ?uestão da D1 era vista como outra órmu*a seudocient=ica ara orimir

os 8omosse;uais, a#O-*os retornar N margem. Muitos dos antigos mi*itantesdeendiam esse arecer. /ertamente, tam9>m teria tomado esta osição, mas8avia estado nos stados Unidos e visto ?ue o caso era s>rio. Js norte-americanos não estavam mais deendendo as antigas osiçAes, então comecei a ver a ?uestão so9 outro risma. ssim, 8ouve momentos em ?ue ocorrerama*gumas discordBncias entre eu e os mi*itantes, mas e*es eram essoasinte*igentes e *ogo começaram aerce9er os erigos ?ue estavam correndo.'$ 

2o ina* dos anos &34%, o com9ate ao HQ"D1 se tornou a rincia* *uta do Grupo

Gay da Bahia , aro;imando-os ainda mais dos esaços de 8omossocia9i*idade e de rCticas

'& FJU/U<. $icro:ísica do Poder , . 3.'$ 1<Q. +ei#e#ta#do o So#ho, . '&.

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Temporalidades – Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG. v. 7, n. !set."de#. $%&'( – )e*o Hori#onte+ Deartamento de História, FF/H"UFMG, $%&0.

112+ &345-0&'% - 666.aic8.umg.9r"temora*idades 

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8omoeróticas da cidade de 1a*vador, devido a seu tra9a*8o de revenção da doença. Da mesma

orma, a tio*ogia traçada e*o gruo acerca dos amantes do mesmo se;o na caita* 9aiana serviu

tam9>m ara e*es am*iarem o Kgruo de riscoL desta doença. tri9uindo, assim, ao stado a

devida resonsa9i*idade de garantir as condiçAes ara uma dignidade 8umana, como roteção

socia* e sa@de @9*ica. stas açAes eram divu*gadas nos 9o*etins inormativos do gruo+

-&$ ] de de#em9ro de &340^+ Fomos contatados e*a )MFM !1ociedade/ivi* e*o )em-star Fami*iar( com a ?ua* assinamos um convOnio ara adistri9uição gratuita de Kcamisin8asL unto N comunidade ga+ at> o resente Cdistri9u=mos mais de $% mi* reservativos no Kgueto gaL, com te;to e;*icativodas vantagens de seu uso ara evitar todo tio de doenças se;ua*mentetransmiss=veis. Grande u9*icidade na mrensa so9re essa caman8a, inc*usivecom e*ogio do Ministro Ro9erto 1antos, citando nomina*mente o GG). ' 

 *>m do engaamento do GGB na *uta contra o avanço da eidemia do HQ"ids na)a8ia e no )rasi*, esta nota reve*a tam9>m a reocuação da mi*itBncia 9aiana em se manter

ró;ima e atuante nos esaços ?ue e*es mesmos denominavam de Kgueto gaL. a* emen8o e

envo*vimento com as o*=ticas de sa@de @9*ica do stado, na virada e in=cio da d>cada de &33%,

e# com ?ue o GGB ad?uirisse muito mais um ormato de J2G, em detrimento da sua condição

de movimento socia*, mas esta > uma outra discussão.'5 

"onclus3o

ste tra9a*8o aresentou uma 9reve anC*ise das re*açAes esta9e*ecidas entre o Grupo Gay

da Bahia e os re?uentadores dos guetos 8omosse;uais da cidade de 1a*vador nos anos &34%. Para

tanto, antes de ?ua*?uer coisa, oi necessCrio traçar o maa dos territórios ocuados e*os

amantes do mesmo se;o na caita* 9aiana. /om isso, erce9em-se as intervençAes do GGB nos

esaços ur9anos uti*i#ados e*os 8omosse;uais em 1a*vador, atre*ada a conceção de sueitos ?ue

rece9iam um tratamento de Kcidadãos de segunda c*asseL – Kcidadãos incom*etosL. Pois, a*>m

do estigma da 8omosse;ua*idade, as 9ai;as condiçAes materiais de vida de muitos desses sueitos,assim como da maior arte da ou*ação 9aiana, contri9u=a ara am*iar o grau de

 vu*nera9i*idade socia* a ?ue estavam e;ostos. ssim, a atuação do GGB  nesses *ocais era

ensada como mais um asso rumo N con?uista da cidadania 8omosse;ua* *ena. sta

so*idariedade entre o Grupo Gay da Bahia  e o gueto 8omosse;ua* em 1a*vador icou mais evidente,

so9retudo, a artir das caman8as de *uta contra o v=rus HQ-D1 na segunda metade da

' B.?T=$ D G+!P GA DA BA4=A. no Q, n_ &5. 9ri* de &347.

'5 Para mais inormaçAes so9re atuação do Gruo ga da )a8ia no com9ate a eidemia do HQ-D1 ver+ MJ,<ui#. A ce#a gay de Salador em tempos de Aids . 1a*vador+ ditora Gruo Ga da )a8ia, $%%%. 

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Temporalidades – Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG. v. 7, n. !set."de#. $%&'( – )e*o Hori#onte+ Deartamento de História, FF/H"UFMG, $%&0.

112+ &345 0&'% 666 aic8 umg 9r"temora*idades

d>cada de &34%. artir da=, o gruo encamou a 9ata*8a e*a revenção e com9ate a essa

eidemia com sendo a sua rincia* 9andeira.

2uma 9reve anC*ise comarativa, nota-se ainda ?ue a ostura o*=tica 8omosse;ua*

adotada e*o gruo 9aiano a artir dos anos &34%, dierenciou-se da e;eriOncia da mi*itBncia

8omosse;ua* au*ista do Grupo Somos-SP , devido, dentre outras estrat>gias, a uma maior

aro;imação com o gueto ga, o ?ue ermitiu aos mi*itantes 9aianos a9sorver em a*guma medida

rCticas de Kec8açãoL como tCtica o*=tica. 2o entanto, este diC*ogo do GGB  com os demais

mem9ros da comunidade 8omosse;ua* soteroo*itana, não imediu, or outro *ado, ?ue

cessassem os con*itos em torno das reresentaçAes da 8omosse;ua*idade.

Por im, a descrição esacia*i#ante da 8omosse;ua*idade em 1a*vador nos reve*a muito

mais do ?ue desmun8ecaçAes, ast@cias se;uais, deseos surimidos, redes de so*idariedade e

con*itos. trav>s dessa geograia 8omossocia* e 8omoerótica odemos erce9er toda uma teia

de sa9eres ?ue articu*a *ugar e esaço, *utas de reresentaçAes, e;erc=cios de oder e *in8as de

uga, a*>m de su9etividades assumidas ou atri9u=das 8istoricamente Ns essoas, gruos ou

instituiçAes. m9ora ten8a sido aresentada de orma estCtica, a K1a*vador dos 8omosse;uaisL,

dos anos &34%, > uma cartograia ?ue não se i;a em ronteiras, mas ?ue se des*oca de orma

intersu9etiva atrav>s das diversas cone;Aes esta9e*ecidas or seus transeuntes. /a9em-nos,

ortanto, continuarmos desvendando suas diversas rotas.