1.INTRODUÇÃO - UFSC
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1.INTRODUÇÃO
O pâncreas e o trato hepatobiliar são duas estruturas relacionadas anatômica e
funcionalmente, afetadas por muitas doenças benignas e malignas para as quais o cirurgião é
consultado freqüentemente para fins de diagnóstico e tratamento. Não raramente o quadro clínico
das afecções nesses locais é semelhante e de difícil diferenciação, levando o médico assistente a
utilizar-se de exames complementares capazes de auxiliá-lo no diagnóstico diferencial, como a
ultra-sonografia, a tomografia computadorizada, a colangiografia trans-hepática percutânea, a
ressonância magnética e a colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)1.
Desse grupo de procedimentos, apenas dois deles possuem a capacidade de realizar
intervenções terapêuticas, além de auxiliarem no diagnóstico. São eles a colangiografia trans-
hepática percutânea e a colangiopancreatografia endoscópica retrógrada. Esta consiste no estudo
radiológico da via biliar e pancreática, realizado através da injeção de contraste pelo cateterismo
endoscópico da papila duodenal maior1.
F(
p
d
A
igura 1 – Imagens endoscópseta preta), C - papila intradiv
A papila duodenal m
arede póstero-medial da
as porções intramurais
B
icas da papila duodenal: A -erticular (papila não visível)aior ou ampola de Va
segunda porção do duo
dos ductos colédoco e
C
papila normal, B - papilas m e D - papila peridiverticularter é uma pequena eleva
deno. A ampola de Vat
pancreático principal,
D
aior (seta branca) e menorcateterizada.ção mamilar situada na
er é formada pela união
que são envoltos nessa
2
porção por fibras musculares lisas que controlam o fluxo da bile e das secreções pancreáticas. A
esse conjunto de fibras dá-se o nome de esfíncter de Oddi1. Em até 20% dos pacientes a papila
pode estar associada a uma alteração anatômica duodenal, os divertículos duodenais2.
A infusão de contraste através da ampola de Vater é procedimento há longo tempo
conhecido, sendo originalmente descrita no transoperatório de intervenções sobre o trato biliar
por Dubicet e Mulholland no ano de 19553,4.
A primeira injeção de contraste nas vias biliares realizada de forma não cirúrgica ocorreu
em 1965 conforme descrição por Rabinov e Simon. Esses autores utilizaram um tubo peroral
associado a uma cânula direcionada por fluoroscopia até a localização habitual da ampola de
Vater3.
B
Figura 2 – Colangiografia normal (A); colangiografia evidenciando coledocolitíase (B)
A
3
A visualização endoscópica da papila duodenal ocorreu pela primeira vez nesse mesmo ano
por Watson5. A associação da avaliação radiológica contrastada das vias biliares com a
abordagem endoscópica originou a CPER, descrita em 1968 por McCune, Shorb e Moscovitz4,6.
Esses autores utilizaram a visualização endoscópica direta para cateterizar a papila duodenal e
injetar contraste no seu interior, observando assim, ao raio-x, o desenho da árvore biliar e
pancreática. Dessa forma a CPER tornou-se instrumento diagnóstico para as doenças pancreáticas
e biliares. Nessa experiência inicial a taxa de sucesso na realização do exame era bastante baixa,
sendo a papila visualizada em aproximadamente 50% dos pacientes e a taxa de sucesso na sua
cateterização era de 25%4.
A partir de 1974 esse método diagnóstico transforma-se em instrumento para intervenções
terapêuticas. Tal evento ocorre com a realização da primeira papilotomia endoscópica
simultaneamente por Classen e Demmling na Alemanha e por Kawai no Japão6,7. Sete anos
depois surge a primeira descrição de outra possibilidade terapêutica: as endopróteses biliares8.
Fa
Para a
duodenal,
através do
através da
As ma
biliar ou p
A
igura 3 – A: prótese plásticuto-expansível no interior darealização da CPER ut
localização da ampola d
endoscópio para a canu
papila duodenal. Injeta-s
nobras terapêuticas são
ancreático, procedimento
B
a; B: colocação de prótese au papila.iliza-se um duodenoscóp
e Vater. Para estudos d
lação do ducto que se p
e então, sob observação
realizadas através da inc
conhecido como papilo
C
to-expansivel; C: próteseio, que é levado até a segunda porção
iagnósticos cateteres são introduzidos
retende abordar (biliar ou pancreático)
fluoroscópica, o contraste iodado1.
isão do esfíncter na abertura do ducto
tomia. Outros instrumentos podem ser
4
passados pelo endoscópio objetivando refazer a perviedade do ducto abordado (próteses),
remover cálculos (pinças tipo basket, balão extrator, litotriptores mecânicos) ou ainda colher
tecido para estudos de anatomia-patológica (biópsias)1.
Principais indicações clínicas para a realização da CPER6, 9 – 17:
• Diagnóstico e tratamento da litíase de via biliar principal;
• Realização de drenagem biliar na colangite;
• Diagnóstico e tratamento da pancreatite aguda biliar;
• Diagnóstico e paliação de doença pancreática ou biliar maligna;
• Diagnóstico e tratamento das estenoses biliares benignas e
• Aquisição de amostras de tecidos para diagnóstico anátomo-patológico.
Fd
e
c
c
r
A
igura 4 – A: neoplasia ampe cálculo após papilotomia.A coledocolitíase c
ndoscópico, que além
oledoceanos com taxas
om a presença de lití
ealização do procedimen
B
olar; B: ampola drenando biompõe a mais freqüe
de diagnosticá-la, é
de sucesso elevadas (80
ase múltipla, cálculos
to10, 16, 18, 19.
C
le purulenta; C: fistula coledonte indicação para a a
capaz de realizar a
-95%), em uma ou mais
volumosos ou ocorrênc
D
coduodenal e D: extraçãoplicação do tratamento
remoção dos cálculos
intervenções, de acordo
ia de complicações na
5
F
D
p
a
e
o
t
b
p
e
f
A
igura 5 – Seqüência da pap
: em outro caso, aspecto da
Embora o diagnóst
rincipal aplicação se dá
través de métodos m
ndoscópico (USE) e co
único destes recursos q
A incidência de co
ambém é reportada com
ase, justifica a preferênc
As principais comp
erfuração duodenal. O
nzimáticas10.
Na abordagem endo
atores que influencia o r
1) Indicação pre
2) Equipamentos
3) Local adequad
4) Experiência d
5) Condições an
B
ilotomia. A: cálculo encrava
papila após papilotomia com
ico da coledocolitíase
no tratamento dessa af
enos invasivos, tais c
langiopancreatografia po
ue apresenta acurácia se
mplicações após interv
o baixa por diversos aut
ia pela abordagem endo
licações após o proced
riginam-se de agress
scópica intervencionist
esultado da intervenção,
cisa do método terapêuti
e instrumental adequad
o para a realização do p
o endoscopista e sua equ
atômicas das vias biliare
C
do na ampola; B: papilotomi
cálculo extraído e via biliar c
possa ser realizado at
ecção, preferindo-se o
omo ultra-som abdom
r ressonância magnética
melhante a da CPER20 –
enções endoscópicas s
ores, e embora varie de
scópica10, 14, 24.
imento são: pancreatite
ões mecânicas, micro
a sobre a papila duode
sendo os principais1:
co;
os;
rocedimento;
ipe e
s.
D
a; C: remoção do cálculo;
ateterizada.
ravés da CPER, a sua
diagnóstico por imagem
inal (USG), ultra-som
(CPRM). Este último é23.
obre a papila de Vater
acordo com a doença de
, colangite, hemorragia,
biológicas, químicas e
nal existe uma série de
6
A técnica da CPER25:
Equipamento radiológico: sala de radiologia com monitor fluoroscópico de alta resolução.
Equipamento endoscópico: são utilizados endoscópios de visão lateral (90 graus), com
aproximadamente 120cm de comprimento (duodenoscópio) e associados a cânulas de teflon para
a cateterização da papila duodenal.
A passagem do endoscópio deve ser efetuada até que se atinja a segunda porção duodenal,
localização habitual da papila, geralmente próxima a uma prega mucosa longitudinal, que difere
das pregas duodenais transversais. Localizada a papila é necessário posicionar o endoscópio de
maneira a situá-la frontalmente no campo visual. Uma vez atingido esse objetivo parte-se para a
cateterização através de uma seqüência de manobras orientadas a introduzir a cânula no interior
da papila, resultando na cateterização selectiva ductal.
Para que haja a injeção do contraste na via biliar é preciso que cateterize de maneira seletiva
a via biliar principal, evento conhecido também como cateterização profunda da via biliar. A
abordagem seletiva ou profunda da via biliar pode ser conseguida, basicamente, por dois
métodos: cateterização direta ou cateterização após pré-corte (também chamado de
infundibulotomia, ou ainda, papilotomia mínima)26.
Para a realização da papilotomia endoscópica deve-se, após a realização da CPER, introduzir
o papilótomo no ducto biliar principal, realizando controle fluoroscópico da posição do mesmo.
Assegurada a posição do instrumetal, aplica-se corrente de corte promovendo incisão por uma
extensão variável de acordo com a anatomia da papila e o calibre do ducto colédoco distal. Esta
manobra deve ser realizada lentamente para evitar abertura rápida e potencialmente mais lesiva
da papila, causando complicações como hemorragia27.
Tanto para a realização da CPER quanto da papilotomia endoscópica existe a necessidade de
abordarmos a papila duodenal de forma a realizar cateterização seletiva da via biliar e, no caso da
papilotomia, posicionar o papilótomo de maneira adequada para proceder-se a papilotomia26.
Idealmente deve-se alcançar esses objetivos através de cateterização direta, porém, em cerca de
10 a 20% dos procedimentos o acesso direto não se faz possível, optando-se por manobras
alternativas, sendo uma das principais o pré-corte27, 28.
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Figura 6 – Seqüência à esquerda (A a D): pré-corte em sentido descendente; á direita (A a D) em sentido ascendente,desimpactando cálculo (seta).
O pré-corte consiste na incisão da mucosa duodenal que recobre a papila. Essa incisão se faz
na posição das “11 horas” na papila, ponto no qual habitualmente desemboca a via biliar
terminal, e pode ser realizada da porção superior da papila em direção ao óstio, sem atingi-lo, ou
pode iniciar no óstio e seguir superiormente29.
O primeiro método é preferido, pois ao iniciar a incisão superiormente limita-se a área a ser
incisada, evitando maiores riscos de perfuração duodenal, além disso não manipula o óstio
papilar, reduzindo riscos de trauma local provocando edema e espasmos do esfíncter de Oddi que
podem levar a complicações. Ao final do processo deve-se obter acesso à via biliar.
A técnica de pré-corte foi inicialmente descrita por Siegel e popularizado por Sohendra e
Huibregtse nos meados da década de 80. A taxa de sucesso na cateterização após pré-corte é de
até 90%, aumentando para 95 a 99% em reintervenção quando o edema papilar reduziu, o que
enfatiza a eficácia do procedimento 29. Esse dado mostra que o pré-corte supera inclusive a taxa
de sucesso da cateterização convencional, situada em 80 a 90%30, 31.
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Figura 7 – Representações esquemáticas da ampola de
ductos pancreático e biliar; B: visão anterior da ampolDC = ducto colédoco e DP = ducto pancreático.
A literatura aborda a realização do pré-corte d
de alguns autores se referindo ao pré-corte como
biliar, associada a um maior grau de complicaç
relacionadas ao risco de se proceder a intervenção
e/ou um adequado posicionamento do papilótomo1
Existe ainda referências na literatura que rep
eficaz de acesso a via biliar, que não aumenta
constituindo uma forma alternativa de abordag
impossibilidade de cateterização direta seletiva14, 2
Com o intuito de conhecer qual o resultado
endoscopia específico, desenvolvemos esta pesqu
homogêneas, diferindo apenas no acesso à papila
corte, comparando a incidência de complicações n
ParedeDuodenal
DC
DP
Esfíncterde Oddi
DC
“11 h”
DP“01:00h”
PregaTransversalSuperior
A
B Vater. A: visão lateral da desembocadura dosa, mostrando posições de chegada dos ductos.e maneira controversa, com a citação por parte
uma forma não segura de cateterização da via
ões após o procedimento, complicações essas
antes de haver um correto estudo da via biliar0, 32 – 34.
ortam o pré-corte como uma forma alternativa
de maneira significativa os riscos ao paciente,
em da papila que deve ser considerada na4, 31, 35 – 37.
da aplicação do pré-corte em um serviço de
isa abordando dois grupos com características
, realizado de forma convencional ou após pré-
o pós-operatório endoscópico imediato.
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2.OBJETIVO
Avaliar se a técnica de pré-corte influencia a incidência de complicações após a realização
de colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER).
10
3.MÉTODO
Estudo clínico observacional comparativo tipo série de casos.
3.1 Casuística:
Foram analisados laudos de colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER) de 583
pacientes submetidos ao procedimento na Clínica Imagem em Florianópolis (SC), no período de
junho de 1994 até dezembro de 2003.
Os casos foram distribuídos em dois grupos: pré-corte e controle. Para participação no
estudo os pacientes foram selecionados pelos seguintes critérios:
GRUPO PRÉ-CORTE:
Critérios de inclusão:
a) Pacientes submetidos ao pré-corte na realização da CPER
Critérios de exclusão:
a) Pacientes submetidos à CPER sedados pelo endoscopista, sem acompanhamento
anestesiológico;
b) Pacientes submetidos à CPER durante a curva de aprendizado do endoscopista (200
primeiros procedimentos);
c) Pacientes com instrumentalização prévia, endoscópica ou cirúrgica, da papila duodenal;
d) Pacientes nos quais o exame indicado foi a pancreatografia;
e) Pacientes no qual o pré-corte foi indicado apenas para facilitar a obtenção de biópsias da
ampola duodenal, sem finalidade de cateterização da via biliar.
11
GRUPO CONTROLE:
Critérios de inclusão:
a) O controle foi selecionado como sendo o procedimento imediatamente anterior ao caso de
pré-corte estudado. Caso o paciente selecionado se encaixasse em um dos critérios de
exclusão, a nova escolha é o procedimento imediatamente anterior ao previamente
selecionado, e assim por diante. Os pacientes do grupo controle não foram submetidos a
pré-corte.
Critérios de exclusão:
a) Pacientes submetidos à CPER sedados pelo endoscopista, sem acompanhamento
anestesiológico;
b) Pacientes submetidos à CPER durante a curva de aprendizado do endoscopista (200
primeiros procedimentos);
c) Pacientes nos quais o exame indicado foi a pancreatografia;
d) Pacientes com instrumentalização prévia, endoscópica ou cirúrgica, da papila duodenal.
3.2 Procedimento:
Nos laudos de CPER de cada paciente foram coletados dados sobre:
a) Sexo e idade do paciente;
b) Data da realização do procedimento;
c) Indicação clínica do procedimento;
d) Comorbidades apresentadas pelo paciente;
e) Resultados de exames laboratoriais (provas de colestase) prévios à CPER;
f) Resultados de exames de imagem, como ultra-sonografia abdominal, tomografia
computadorizada ou colangiografia por ressonância magnética, prévios à CPER;
g) Motivo específico de indicação da CPER;
h) Características da papila duodenal;
i) Diagnóstico evidenciado pela CPER;
j) Presença de procedimento endoscópico associado, tal como litotripsia mecânica, biópsia,
dilatação da via biliar, drenagem nasobiliar ou papilotomia endoscópica;
12
k) Classificação do procedimento quanto a sua finalidade (diagnóstica ou diagnóstica e
terapêutica);
l) Classificação do procedimento de acordo com o alcance do seu objetivo (eficaz se
atingido ou ineficaz se não alcançado);
m) Indicação do pré-corte (quando realizado);
n) Taxa de sucesso na cateterização após realização do pré-corte e
o) Taxa de sucesso na cateterização direta.
Nas fichas clínicas, prontuários médicos ou através de contato telefônico com o paciente ou
médico assistente, foram coletados os seguintes dados referentes à evolução do paciente no pós-
operatório endoscópico imediato (48h):
a) Presença de complicações no pós-operatório endoscópico imediato;
b) Intervenções cirúrgicas indicadas após a CPER;
c) Ocorrência de óbito.
O preparo dos pacientes para a realização do procedimento foi feito com jejum de 12 horas,
anestesia de orofaringe com lidocaína spray, administração de anti-espasmódico (escopolamina)
endovenoso e anestesia geral endovenosa com propofol, midazolan, fentanil e atropina,
monitorada por anestesiologista.
A colangiopancreatografia endoscópica retrógrada foi realizada com um fibroduodenoscópio
Olympus modelo JF1T30 sob controle fluoroscópico através de equipamento radiológico tipo
arco em “C” da marca Phillips modelo BV29. Para as instrumentalizações diagnósticas e
terapêuticas da via biliar foram utilizados cateter de colangiopancreatografia, papilótomo
convencional tipo Classen, cesta de Dormia (basket), unidades eletro-cirúrgicas monopolares das
marcas Medsir (modelo MHF900) e WEM (modelo SS100MC).
Todos os procedimentos foram realizados pelo mesmo médico, cirurgião do aparelho
digestivo com habilitação em endoscopia digestiva.
Dos 583 pacientes inicialmente avaliados foram excluídos os 200 primeiros, referentes a
curva de aprendizado do endoscopista. Além destes pacientes, outros 33 pacientes foram
13
excluídos pois haviam sido submetidos ao procedimento utilizando apenas sedação, administrada
pelo endoscopista, ao invés de anestesia geral monitorizada por anestesiologista.
Buscou-se nos 350 pacientes remanescentes aqueles que haviam sido submetidos a CPER
com abordagem da papila através de pré-corte. Foram localizados 53 pacientes. A escolha dos
controles aconteceu selecionando o procedimento imediatamente anterior ao pré-corte
selecionado, respeitando-se os critérios de inclusão e exclusão previamente citados.
Após avaliação dos casos submetidos ao pré-corte e seleção dos respectivos controles, o
número total de procedimentos selecionados neste estudo foi de 106, 53 pacientes no grupo
controle e 53 submetidos a CPER com pré-corte.
As características da papila duodenal foram descritas conforme o achado endoscópico
durante a realização da CPER, distribuídas de acordo com seu aspecto nos grupos:
a) Normal – corresponde a papila de padrão habitual;
b) Presença de sinais inflamatórios – tais como edema, hiperemia;
c) Presença de abaulamento infundibular secundário à impactação de cálculo na ampola de
Vater;
d) Peri-diverticulares (próxima ou na borda de um divertículo duodenal);
e) Intra-diverticulares (na parede ou no fundo de um divertículo duodenal);
f) Aberta em fenda/ampla;
g) Plana e
h) Protrusa.
Naqueles pacientes em que se indicou o pré-corte avaliou-se o motivo de tal indicação e se
houve sucesso no propósito do referido procedimento quanto à cateterização da via biliar, seja ela
alcançada no mesmo procedimento ou em reintervenção.
Para diagnóstico e graduação conforme gravidade das complicações foram utilizados os
critérios de Cotton32, 38:
Pancreatite: dor abdominal surgida ou piorada após a realização de CPER, associada a
aumento de amilasemia 3 vezes superior aos valores normais indicando internação hospitalar ou
prolongamento da mesma.
Hemorragia define-se clinicamente, através de evidência de hemorragia digestiva
(hematêmese e/ou melena), queda na hemoglobina superior a 3%.
14
Ocorre perfuração duodenal quando há pequeno vazamento de bile, contraste ou ar para
retroperitônio ou peritônio livre visível durante CPER ou por exame de imagem subsequente.
Presença de febre superior a 38° por 24 a 48h define colangite.
Buscou-se também intervenções cirúrgicas realizadas após a CPER, sejam elas destinadas a
tratar enfermidades que a endoscopia não conseguiu solucionar (p.ex.: coledocolitíase múltipla,
neoplasias) ou sejam elas indicadas para o tratamento de complicações da CPER (sangramento,
perfuração duodenal).
O último ponto levantado neste trabalho foi a ocorrência de óbito no período avaliado pelo
estudo e o motivo do mesmo, relacionando-o ou não ao procedimento.
Para análise estatística foram utilizadas medidas de associação tipo Qui-quadrado de Pearson
e teste exato de Fisher, sendo este último o mais utilizado, pois na maioria das análises bivariadas
realizadas os valores esperados nas distribuições das tabelas foram inferiores a 5. Os resultados
foram considerados estatisticamente significativos para valores de p menores que 0.05.
Após a seleção dos pacientes realizou-se busca para localizar os dados remanescentes
referentes a evolução dos mesmos. Em cada grupo 3 pacientes não foram localizados, de forma
que no total 100 pacientes foram avaliados, 50 em cada grupo, perfazendo uma taxa de sucesso
de obtenção dos dados de 94%.
Quanto ao local de obtenção dos dados, no grupo pré-corte, 45 pacientes tiveram seus dados
avaliados em prontuários hospitalares, quatro em fichas clínicas de consultório do médico
assistente e um paciente foi abordado por contato telefônico direto. No grupo controle os dados
foram obtidos em prontuários em 43 casos, em fichas clínicas em quatro casos e através de
contato direto em três casos. O gráfico 1 resume os dados referentes ao local de encontro dos
dados. O gráfico 1, a tabela 1 e o quadro 1 caracterizam a amostra abordada no presente estudo.
15
GRÁFICO – 1 Local de encontro dos dados
45 43
4 41 3
05
1015202530354045
prontuáriohospitalar
ficha clínicaem consultório
contato diretocom paciente
Local de obtenção dos dados
pré-cortecontrole
Dos 100 pacientes estudados no trabalho 31 são do sexo masculino e 69 do sexo feminino,
com idades entre 20 e 98 anos, média de 64,12 anos. No grupo pré-corte 36 pacientes são do sexo
feminino e 14 são do sexo masculino. As idades variaram de 20 a 98 anos, com média de 64,12
anos. O grupo controle tem uma média etária de 54,34 anos, com extremos de 20 e 88 anos.
Deste grupo de pacientes 17 são do sexo feminino e 33 do masculino. A tabela 1 apresenta a
distribuição dos pacientes nos grupos de acordo com o gênero e o quadro 1 apresenta os dados
relativos a idade.
TABELA 1 – Distribuição dos pacientes conforme o gêneroGRUPO MASCULINO FEMININO TOTAL
Pré-corte 14 36 50Controle 17 33 50TOTAL 31 69 100
Clínica Imagem – Florianópolis – Junho 1994 a Dezembro 2003
16
QUADRO 1 – Idade em anos PRÉ-CORTE CONTROLE
Média 64,12 54,34Mediana 67 52,5Moda 75 75Máxima 98 88Mínima 20 20
17
4.RESULTADOS
GRÁFICO 2 – Distribuição das CPER e pré-cortes ao longo dos anos
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
CPERPré-cortes
A indicação do pré-corte permaneceu relativamente constante ao longo dos anos na
casuística abordada no presente estudo, como mostra o gráfico 2. Foram realizados 104 pré-cortes
em 583 procedimentos, uma taxa de 17,83%. A média semanal de colangiopancreatografias
endoscópicas retrógradas foi de 1,17.
Na tabela 2 podemos visualizar a indicação clínica que levou a procura pela CPER. O dado
clínico mais freqüente foi a dor abdominal, seguida pelos seguintes, em ordem decrescente de
freqüência: icterícia, colúria, febre/calafrios, pancreatite aguda, colangite, acolia,
náuseas/vômitos, prurido, drenagem biliar externa no pós-operatório de colecistectomia vídeo
laparoscópica, suspeita de colangite esclerosante, pancreatite crônica e emagrecimento.
18
TABELA 2 – Indicações clínicas da colangiopancreatografia endoscópicaretrógrada (CPER)Indicações clínicas Pré-corte Controle TOTAL
n % n % n %Dor abdominal 41 82 41 82 82 82Icterícia 27 54 30 60 57 57Colúria 6 12 7 14 13 13Febre/calafrios 4 8 7 14 11 11Pancreatite 8 16 4 8 12 12Colangite 3 6 6 12 9 9Acolia 2 4 4 8 6 6Náuseas/vômitos 2 4 4 8 6 6Prurido 2 4 2 2Drenagem biliar externa PO 1 2 2 4 3 3Colangite esclerosante 1 2 1 1Pancreatite crônica 1 2 1 1Emagrecimento 1 2 1 1
Clínica Imagem – Florianópolis – Junho 1994 a Dezembro 2003
As comorbidades acometeram o mesmo número de pacientes em cada grupo: 30 (60%).
As doenças associadas mais freqüentes (tabela 3) foram as do sistema cardiovascular (42
pacientes), seguidas pelas endocrinopatias (7 pacientes), alterações pulmonares (6 pacientes),
hapatopatias (2 pacientes), nefropatias (2 pacientes), doenças digestivas (2 pacientes),
pancreatites crônica (1 paciente) e carcinoma de mama (1 paciente).
TABELA 3 – Comorbidades apresentadas pelos pacientes submetidoscolangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)Comorbidades Pré-corte Controle TOTAL
n % n % n %Cardiovasculares 20 40 22 44 42 42Endócrinas 5 10 2 4 7 7Pulmonares 2 4 4 8 6 6Hepáticas 1 2 1 2 2 2Renais 1 2 1 2 2 2Gástricas 1 2 1 2 2 2Pancreatite crônica 1 2 1 1Carcinoma de mama 1 2 1 1
Clínica Imagem – Florianópolis – Junho 1994 a Dezembro 2003
19
Avaliação complementar pré-operatória demonstrou que pacientes submetidos a
cateterização padrão da via biliar apresentam colestase laboratorial com freqüência superior,
estatisticamente significativa, em relação aos pacientes submetidos ao pré-corte, 84% x 64%,
respectivamente (p=0,046).
Os exames de imagem realizados previamente a endoscopia foram, por ordem decrescente
de freqüência, ultra-som abdominal, colangiopancreatografia por ressonância magnética e
tomografia computadorizada. A média de exames realizados por paciente foi de 1.30 no grupo
pré-corte e de 1.39 no grupo controle. Os diagnósticos evidenciados pelos exames de imagem
estão disponíveis na tabela 4.
TABELA 4 – Diagnósticos evidenciados pelos exames de imagem prévios arealização de colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)
Diagnósticos de imagem Pré-corte Controle TOTAL n % n % n %
Litíase via biliar principal 35 70 29 58 64 64Dilatação de vias biliares 21 42 30 60 51 51Via biliar normal 2 4 3 6 5 5Estenose de vias biliares 2 4 2 4 4 4Aerobilia 2 4 2 2Coleção biliar 1 2 1 1Abscesso hepático 1 2 1 1
Clínica Imagem – Florianópolis – Junho 1994 a Dezembro 2003
O motivo de indicação de CPER mais freqüente foi o tratamento da coledocolitíase,
responsável por 62% dos exames. A CPER foi utilizada para investigar icterícia obstrutiva em
13% dos pacientes, para tratamento de pancreatite aguda biliar em 11% dos casos e para
investigação de dor abdominal em 10%. Outras indicações foram estudo de fístula pancreática,
investigação de colangite esclerosante e fístula biliar externa em pós-operatório de CVL, todas
ocorrendo em 1% dos casos.
20
TABELA 5 -Indicação da colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)Indicação da CPER Pré-corte Controle TOTAL
n % n % n %Tratamento da coledocolitíase 32 64 30 60 62 62Investigação de icterícia obstrutiva 7 14 6 12 13 13Pancreatite aguda biliar 6 12 5 10 11 11Investigação de dor abdominal 4 8 7 14 11 11Fístula pancreática 1 2 1 1Colangite esclerosante 1 2 1 1Fistula biliar externa 1 2 1 1
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Na avaliação da papila duodenal evidenciou-se que esta se apresentava alterada com maior
frequência nos pacientes submetidos ao pré-corte, p=0.039. O grupo pré-corte apresentou 36
papilas alteradas e 14 com aspecto normal; no grupo controle encontrou-se alteração em 26
papilas, sendo 24 normais. Os tipos de alteração são descritos na tabela 6.
TABELA 6 – Aspecto endoscópico da papila duodenal em pacientes submetidos acolangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)Aspecto da papila duodenal Pré-corte Controle TOTAL
n % n % n %Normal 13 26 24 48 37 37Abaulamento 20 40 14 28 34 34Sinais inflamatórios 17 34 11 22 28 28Peridiverticular 5 10 3 6 8 8Óstio aberto em fenda 2 4 2 4 4 4Plana 3 6 1 2 4 4Intradiverticular 2 4 1 2 3 3Protrusa 1 2 1 1Fistula coledoco-duodenal 1 2 1 1
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Após realização da CPER o diagnóstico mais freqüentemente obtido foi o de litíase de
colédoco (58 pacientes), seguido por alterações sugestivas de migração transpapilar de
cálculo/papilite em 24 pacientes, estenose da via biliar em 13 pacientes, 6 exames normais, 4
21
diagnósticos de colangite, 2 de disfunção do esfincter de Oddi. Houve 1 insucesso na
contrastação da via biliar.
TABELA 7 - Diagnóstico evidenciado pela colangiopancreatografia endoscópicaretrógrada (CPER)Diagnóstico evidenciado pela CPER Pré-corte Controle TOTAL
n % n % n %Coledocolitíase 30 60 28 56 58 58Papilite/migração transpapilar do cálculo 12 24 12 24 24 24Estenose via biliar 8 16 5 10 13 13Exame normal 2 4 4 8 6 6Disfunção do esfíncter de Oddi 2 4 2 2Colangite 1 2 1 1Nenhum (via biliar não contrastada) 1 2 1 1
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Durante a realização da CPER 44 pacientes do grupo pré-corte foram submetidos a algum
procedimento concomitante, fato que também ocorreu em 41 pacientes do grupo controle
(p=0,401). O tipo de procedimento associado é descrito na tabela 8. A média de procedimentos
associados por paciente foi de 1.10 no grupo pré-corte e de 1.17 no grupo controle.
TABELA 8 - Tipo de procedimento associado a colangiopancreatografiaendoscópica retrógrada (CPER)Tipo de procedimento associado Pré-corte Controle TOTAL
n % n % n %Papilotomia 45 90 39 78 84 84Nenhum 4 8 9 18 13 13Litotripsia mecânica 3 6 7 14 10 10Biópsia 1 2 1 2 2 2Endoprótese 2 4 2 2Drenagem naso-biliar 1 2 1 1
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22
Quanto a finalidade da CPER os procedimentos foram classificados em diagnósticos ou
diagnósticos e terapêuticos. Os primeiros foram menos freqüentes, ocorrendo em 5 casos do
grupo controle e 10 casos do grupo pré-corte. CPER com finalidade também terapêutica acorreu
em 40 pacientes do grupo controle e em 45 do grupo pré-corte.
TABELA 9 - Finalidade da CPERFinalidade da CPER Pré-corte Controle TOTAL
n % n % n %Diagnóstica 5 10 10 20 15 30Diagnóstica e terapêutica 45 90 40 80 85 85Total 50 50 100p=0.161
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Com relação ao objetivo, a CPER foi considerada eficaz em 93 pacientes (46 no grupo pré-
corte e 47 no controle) e ineficaz nos 7 restantes (4 pré-cortes, 3 controles).
TABELA 10 - Objetivo da CPER colangiopancreatografia endoscópica retrógrada(CPER)Objetivo Pré-corte Controle TOTAL
n % N % n %Eficaz 46 92 47 94 93 93Ineficaz 4 8 3 6 7 7TOTAL 50 50 100p=1.0
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Houve necessidade de reintervenção endoscópica em 5 pacientes do grupo pré-corte e em 2
pacientes do grupo controle.
23
TABELA 11 - Reintervenção endoscópica colangiopancreatografia endoscópicaretrógrada (CPER)Reintervenção endoscópica Pré-corte Controle TOTAL
n % n % n %Sim 5 10 2 4 7 7Não 45 90 48 96 93 93TOTAL 50 50 100
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O acesso tipo pré-corte teve como principal indicação a impossibilidade de cateterização
seletiva da via biliar (40 casos). Outras indicações foram: abaulamento infundibular por litíase
em cinco casos, para posicionamento adequado do papilótomo em quatro casos e para drenagem
de bile purulenta em quadro de colangite aguda em um caso.
TABELA 12 - Indicação do pré-corte em pacientes submetidos àcolangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)Indicação do pré-corte n %Impossibilidade de cateterização seletiva 40 80Abaulamento infundibular por litíase 5 10Posicionamento do papilótomo 4 8Drenagem em colangite 1 2TOTAL 50 100
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Em todos os pacientes submetidos ao pré-corte obteve-se sucesso no acesso à via biliar,
sendo que em 45 destes obteve-se acesso no mesmo procedimento em que se realizou o pré-corte,
e nos demais 5 pacientes o acesso foi obtido em reintervenção.
24
TABELA 13 – Taxa de sucesso na cateterização após pré-corteSucesso na cateterização após pré-corte n %Sim, no mesmo procedimento 45 90Sim, em reintervenção 5 10NãoTOTAL 50 100
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Complicações ocorreram em 5 pacientes submetidos ao pré-corte e em 3 pacientes que
tiveram sua papila duodenal cateterizada da forma habitual. Não houve diferença estatisticamente
significativa tanto para ocorrência de complicações em geral bem como para cada complicação
específica quando comparados os dois grupos. As descrições das ocorrências de complicações
encontram-se nas tabelas 14 a 18 e no gráfico 3.
TABELA 14 – Ocorrência de complicações após colangiopancreatografiaendoscópica retrógrada (CPER)
SIM NAO TOTALPré-corte 5 45 50Controle 3 47 50TOTAL 8 92 100p=0.715Clínica Imagem – Florianópolis – Junho 1994 a Dezembro 2003
25
GRÁFICO 3 – Ocorrência de complicações
0
10
20
30
40
50
sim não
COMPLICAÇÕES
pré-cortecontrole
TABELA 15 – Ocorrência de pancreatite após realização decolangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)
SIM NAO TOTALPré-corte 1 49 50Controle 50 50TOTAL 1 99 100p=1.0Clínica Imagem – Florianópolis – Junho 1994 a Dezembro 2003
TABELA 16 – Ocorrência de colangite após realização de colangiopancreatografiaendoscópica retrógrada (CPER)
SIM NAO TOTALPré-corte 1 49 50Controle 50 50TOTAL 1 99 100p=1.0Clínica Imagem – Florianópolis – Junho 1994 a Dezembro 2003
26
TABELA 17 – Ocorrência de hemorragia após realização decolangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)
SIM NAO TOTALPré-corte 1 49 50Controle 50 50TOTAL 1 99 100p=1.0Clínica Imagem – Florianópolis – Junho 1994 a Dezembro 2003
Ainda com relação a presença de complicações, observou-se no grupo controle um caso
de dor abdominal que demandou internação para investigação, um caso de pneumonia
associada a tromboembolismo pulmonar e um caso de extravasamento de contraste pelo
coto do ducto cístico em CPER realizada no pós-operatório de CVL. No grupo pré-corte
houve um caso de crise convulsiva por hipoglicemia 24h após a CPER e um caso de dor
abdominal que demandou internação para investigação.
TABELA 18 – Ocorrência de outras complicações após realização decolangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)
SIM NAO TOTALPré-corte 2 48 50Controle 3 47 50TOTAL 5 95 100p=1.0Clínica Imagem – Florianópolis – Junho 1994 a Dezembro 2003
Não houve casos de perfuração duodenal.
Treze pacientes foram encaminhados para tratamento cirúrgico, 8 do grupo controle e 5 do
grupo pré-corte.
No grupo controle foram realizadas as seguintes cirurgias:
Para tratamento de litíase residual:
27
- 2 pacientes foram submetidos a colecistectomia + coledocotomia + anastomose
coledocoduodenal;
- 1 paciente submetido a coledocostomia + exploração das vias biliares.
Para tratamento de lesões cirúrgicas da via biliar:
- 2 pacientes foram submetidos a hepatico-jejunoanastomose após lesão de via biliar durante
CVL.
Para tratamento de estenoses benignas pós-operatorias de cirurgias sobre a via biliar:
- 1 paciente foi submetido a hepatico-jejunoanastomose.
Para derivações digestivas em quadros de neoplasia avançada:
- 1 paciente foi encaminhado para cirurgia paliativa para tratamento de neoplasia pancreática
(hepaticojejunoanastomose + gastrojejunoanastomose);
- 1 paciente submetido a hepático-jejuno anastomose (neoplasia da confluência dos ductos
hepáticos).
No grupo pré-corte foram realizadas as seguintes operações:
Para tratamento de litíase residual:
- 1 paciente foi submetido a coledocoduodenoanastomose.
Para tratamento de colangite supurativa não passível de resolução endoscópica:
- 1 paciente foi submetido a coledocoduodenoanastomose.
Para derivações digestivas em quadros de neoplasia avançada:
- 1 paciente foi submetido a hepatico-jejunoanastomose (carcinoma de cabeça de pâncreas);
- 2 pacientes foram submetidos a coledocoduodenoanastomose (lesão de colédoco distal).
TABELA 19 – Necessidade de intervenção cirúrgica após realização decolangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)
SIM NAO TOTALPré-corte 5 45 50Controle 8 42 50TOTAL 13 87 100p=0.372Clínica Imagem – Florianópolis – Junho 1994 a Dezembro 2003
28
Não ocorreu óbito no pós-operatório endoscópico imediato. Não houve indicação cirúrgica
para tratamento de complicações diretamente relacionadas a CPER em nenhum dos grupos, pré-
corte e controle.
29
5. DISCUSSÃO
A colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER) compõe hoje parte fundamental
no arsenal terapêutico da litíase de via biliar, associando-se à colecistectomia vídeo-laparoscópica
(CVL) como acesso cirúrgico minimamente invasivo no tratamento dessa doença14, 24, 40 – 43.
Outro aspecto que acrescentou importância à CPER foi a transição que houve quanto a sua
indicação, antes preferencialmente reservada a pacientes idosos com elevado risco operatório, e
agora também destinada a pacientes jovens44, 67 – 69.
Estudos têm demonstrado que há uma alteração significativa no sucesso da CPER a medida
que o endoscopista ganha experiência na sua realização. Para que haja competência na realização
deste procedimento, seja ele para fins diagnósticos ou terapêuticos, é necessário que o
endoscopista tenha realizado pelo menos 200 procedimentos48. Dessa forma, para evitar que a
curva de aprendizado influenciasse negativamente os resultados ou aumentasse o número de
complicações, excluímos essa casuística inicial na atual pesquisa. O objetivo neste trabalho é de
avaliar exclusivamente os efeitos do pré-corte sobre a evolução imediata dos pacientes.
Na seleção do grupo controle a preferência pelo procedimento anterior deu-se em função de
evitar que um insucesso levasse o endoscopista a evitar um pré-corte posterior, ou, de maneira
contrária, um sucesso fizesse o endoscopista aumentar sua taxa de realização de pré-cortes. Além
de evitar a influência da auto-confiança do realizador do exame esse critério de seleção distribui
os controles de maneira uniforme e acompanhando os pré-cortes ao longo do período de tempo
avaliado pelo estudo. Esse fato torna-se interessante a medida que a literatura não refere estudos
confiáveis sobre a curva de aprendizado na realização do pré-corte, se é que ela existe 49; ao
contrário do que ocorre com a realização da CPER, na qual sabe-se que o platô do aprendizado é
alcançado com 200 procedimentos, como já foi previamente citado48.
A exclusão da casuística inicial consistiu em atitude acertada, pois quando observamos o
gráfico 2 percebemos que a indicação do pré-corte permaneceu constante ao longo do tempo e
30
dentro da faixa normal, ou seja, não se observou o efeito do ganho de experiência, que refletir-se-
ia através da redução da taxa de pré-corte 49.
A presença do anestesiologista assegura maior eficácia à CPER, como demonstrado por
Novotny50 em trabalho de conclusão de curso apresentado a esta Universidade. Além disso
auxilia na monitorização de pacientes graves, bem como no manejo de complicações clínicas
apresentadas pelo paciente no transcorrer do procedimento, de forma que consideramos a
presença deste profissional essencial à realização do exame 51.
Avaliando-se os dois grupos pode-se perceber que, excetuando-se pela presença de colestase
e pelo aspecto da papila, eles são compostos por populações homogêneas. O fato de ocorrer
colestase menos freqüentemente no grupo pré-corte fala a favor, segundo alguns autores, de
maior risco para complicações. Isso deve-se ao fato que, a ausência de alteração laboratorial
indicaria ausência de doença biliar obstrutiva, significando indiretamente uma via biliar menos
calibrosa e portanto, propensa à perfuração e com maior facilidade para aumentar as pressões
ductais.
As alterações papilares são mais freqüentes no grupo pré-corte (p=0.039), fato
provavelmente associado à indicação do acesso alternativo neste grupo de pacientes. Esses
pacientes usualmente apresentam quadros como impactação de cálculo em ampola de Vater,
abaulando-a e impedindo a progressão do cateter, ocorre também maior número de divertículos
duodenais, alterando a anatomia local, de forma que é natural que haja mais pré-cortes nesse
grupo.
Nosso estudo confirmou o fato de ser a coledocolitíase a mais freqüente indicação para o
método, fato corroborado pelo diagnóstico de exames de imagem prévios, bem como pelo próprio
diagnóstico evidenciado pela CPER.
Além da abordagem da litíase, a CPER evoluiu ao longo dos últimos anos de ferramenta
diagnóstica a terapêutica primária para uma ampla variedade de afecções biliares e pancreáticas32.
O procedimento, no entanto, pode não ser inócuo por apresentar uma série de complicações a
curto prazo, ainda que infrequentes, tais como pancreatite, colangite, hemorragia, perfuração
duodenal, colecistite, alterações cardio-pulmonares e outras raras como embolia gasosa, lesões
dentárias por trauma pelo equipamento e tireoidite de Hashimoto secundária à reação alérgica ao
contraste iodado utilizado24, 32, 42, 52.
31
A ocorrência de complicações se associa a fatores relacionados ao paciente e às variáveis
técnicas aplicadas na realização do exame, tais como cateterização difícil da via biliar e uso de
papilotomia de acesso tipo pré-corte32.
Fatores de risco para complicações relacionados ao paciente3, 32, 53, 54:
• Idade jovem;
• Sexo feminino;
• Suspeita de disfunção do esfíncter de Oddi;
• História previa de pancreatite pós-CPER;
• Ausência de elevação de bilirrubinas;
• Ausência de cálculo em via biliar e
• Icterícia obstrutiva de etiologia maligna.
Fatores de risco para complicações relacionados à técnica3, 32, 53, 54:
• Trauma papilar;
• Injeção de contraste em ducto pancreático;
• CPER prévia não eficaz/falha;
• Falha em tentativa de colocação de endoprótese e
• Associação com procedimento percutâneo.
Metanálise recente realizada por Masci 55, envolvendo os principais trabalhos sobre o tema,
definiu os principais fatores de risco para a pancreatite, a complicação mais comum e mais grave
associada a CPER 56. Fatores relacionados ao paciente:
• Suspeita de disfunção do esfíncter de Oddi;
• História de pancreatite prévia e
• Sexo feminino.
Fatores relacionados à técnica:
• Uso de pré-corte e
• Injeção de contraste no ducto pancreático.
32
Neste mesmo estudo, a cateterização difícil foi inicialmente arrolada para avaliação, mas
como alguns estudos não a abordaram como fator de risco, este item ficou de fora dos fatores de
risco significativos. A ausência da avaliação desse quesito deixou em aberto uma das grandes
dúvidas com relação ao pré-corte. Seriam as complicações derivadas do pré corte em si ou das
múltiplas tentativas de cateterização em um acesso difícil a via biliar?
Embora divergentes da crença prévia, estudos recentes sugerem que não há risco aumentado
para complicações na realização de procedimentos terapêuticos se comparados aos diagnósticos3,
32, 51.
Encontra-se na literatura ampla variação na incidência de complicações (2 a 20.2%)2, 19. Essa
diferença nos estudos é explicada por divergências nas definições usadas quanto aos critérios
diagnósticos das complicações. Exemplo desse fato é a taxa de aumento da amilase para
diagnóstico de pancreatite, em alguns estudos considerada em 3 vezes o valor normal, em outros
considerada como aumentos de 5 vezes. Também influi nesta estatística o tempo de seguimento
do estudo, de forma que estudos de curto prazo não apresentam dados relativos a complicações
tardias, reduzindo a taxa global de complicações. Outras possíveis influências residem na
variabilidade entre populações estudadas e em fatores relacionados ao procedimento, de acordo
com rotinas de cada serviço e volume semanal de exames realizados32, 51. É importante também
lembrar que na ausência de dor abdominal a hiperamilasemia isoladamente não define pancreatite
pós-CPER, uma vez que pode ocorrer em até 70% dos pacientes sem qualquer significado
clínico.
Mais freqüentemente a incidência de complicações oscila entre 4 e 10%3, 6, 10, 18, 24, 32. A
ocorrência de óbito após CPER relacionada ao procedimento é rara, com freqüência inferior a 1%6, 10, 11, 14, 18, 24, 42, 57. Quando se observam taxas maiores, porém ainda assim baixas, normalmente
são decorrentes de descompensação de doença subjacente3, 32.
Para o diagnóstico das complicações após CPER realizou-se, no inicio da década de 90,
consenso objetivando uniformidade no reconhecimento dessas afecções, além de classificá-las de
acordo com a intensidade em leve, moderada e grave. Esse consenso ateve-se as complicações
maiores, deixando livre aos pesquisadores o relato da ocorrência e incidência de eventos menores
decorrentes da CPER3, 18, 32, 38. As definições do consenso já foram citadas no capítulo de método.
33
No intuito de reduzir a incidência de complicações após o procedimento foram pesquisados
métodos auxiliares, como modificações técnicas e uso de profilaxia medicamentosa.
A colocação de próteses na via pancreática é uma variante técnica promissora conforme
alguns estudos, especialmente nos procedimentos de alto risco (e.g. dilatação por balão do
esfíncter de Oddi, disfunção do esfíncter de Oddi, pré-corte), porém deve-se considerar que a
própria passagem da prótese é um potencial agressor51, 58.
Além disso, a passagem da prótese é tecnicamente difícil, especialmente em ductos finos e
tortuosos, de forma que a taxa de insucesso, mesmo em grupos experientes, beira os 40%. Nos
pacientes em que se tenta colocar a prótese pancreática sem sucesso a taxa de pancreatite
aumenta para aproximadamente 14%, muito superior ao que se observa habitualmente no pré-
corte sem prótese56.
Substâncias farmacológicas como gabexate e somatostatina também foram positivamente
associados como redutores da incidência de complicações, mas ainda faltam estudos maiores
mais aprofundados com relação aos benefícios dessas drogas. Outros medicamentos avaliados:
octreotide, nifedipina, glucagon, calcitonina e corticosteróides58.
A profilaxia farmacológica ideal deveria ser efetiva em pacientes que realmente estão sob
risco de desenvolver pancreatite pós-CPER, deve ser barata e não requerer administração
prolongada com hospitalização, o que impediria realização da CPER em regime ambulatorial58, 59.
A associação de procedimentos e/ou medicamentos à CPER, além de não ter se revelado
inquestionavelmente eficaz, traz consigo as potenciais complicações e efeitos adversos inerentes
ao uso dessas técnicas, somado ao fato de encarecer o procedimento18, 32, 56, 60 – 62.
Dessa maneira, considera-se a principal medida de prevenção da pancreatite a correta
indicação da CPER associada a técnica adequada de realização do exame, evitando-se
manipulação excessiva da via biliar e injeções sob alta pressão ou repetidas de contraste na via
pancreática e redobrando esses cuidados nos pacientes com perfil de risco elevado, tais como
mulheres, jovens, não ictéricos, dor abdominal recorrente 18, 32, 51, 60, 61.
De maneira inversa também é possível haver associação entre uso de medicamentos e
surgimento de pancreatite pós-CPER, como demonstrou Perney e cols60, estudo no qual
derivados da morfina, azatioprina, estrogênio, mezosalazina e prednisona foram positivamente
associados com a ocorrência de complicação após o exame.
34
Outro ponto de fundamental importância no estudo dos resultados após CPER consiste na
avaliação da experiência do endoscopista que realiza o exame. Freeman10 demonstrou que
aqueles que realizam mais de uma CPER por semana apresentam menos cateterizações difíceis,
menos injeções em ductos pancreáticos, menor índice de falhas ao acessar a via biliar, menor taxa
de falha na drenagem após papilotomia, menos hemorragia, menos complicações severas e menor
taxa geral de complicações 10. Outros autores demonstraram que gastroenterologistas com menos
de 200 procedimentos realizados possuem taxas de sucesso menores que colegas que superaram
essa marca48, 59.
Nossa casuística exclui estes primeiros 200 procedimentos para evitar sua influência no
resultado dos exames, pois a intenção do nosso estudo era abordar exclusivamente os efeitos do
pré-corte sobre as complicações, não os da curva de aprendizado ou da falta de experiência do
endoscopista. Além disso, a média semanal de procedimentos realizados supera o mínimo
necessário para obtenção de bons resultados.
Tal fato pode parecer de pouca importância, mas em trabalho recente avaliando o
aprendizado da CPER, Häfner60 relatou que apenas 36% dos fellows em endoscopia atingem o
número de procedimentos necessários para obter cateterização da via biliar em 80% das CPER,
de forma que 64% não atinge, durante a formação, competência no procedimento e 33% referem
treinamento inadequado42.
Os trabalhos que demonstram o pré-corte como fator de risco usualmente são aqueles
realizados com o envolvimento de centros comunitários e com endoscopistas com experiência
variada; os estudos que abordam serviços de maior experiência apresentam resultados nos quais o
pré-corte não interfere negativamente. Outro ponto que chama atenção é a precoce indicação do
pré-corte nesse grupo de instituições. Esses dados mostram que a ocorrência de complicações
nessa situação é altamente dependente do operador51.
No que concerne a correta indicação do exame, esta deve se restringir principalmente a
finalidades terapêuticas, utilizando exames de imagem não-invasivos quando se objetiva o
diagnóstico de doenças bilio-pancreáticas, tais como colangiopancreatografia por ressonância
magnética (CPRM), tomografia computadorizada (TC), ultra-som abdominal (USG) e ultra-som
endoscópico (USE)20 – 23, 32. Apenas a CPRM apresenta acurácia diagnóstica similar a da CPER,
porém os demais são dotados de boa sensibilidade no diagnóstico das alterações biliares, não
35
resultando em prejuízos na avaliação dessas doenças além de serem úteis também na seleção de
pacientes para CPER terapêutica e no planejamento pré-operatório42, 63.
É importante determinar quais pacientes estão sob alto risco de complicações, para
estabelecer se o risco-benefício da intervenção é favorável e se outros métodos diagnósticos são
aplicáveis, pois fatores de risco somados aumentam os riscos de complicação de maneira também
aditiva55, 58.
Analisando a finalidade da CPER nos pacientes do nosso estudo percebemos que a
ocorrência de intervenções com finalidade terapêutica foi muito superior a ocorrência de exames
com propósito diagnóstico, em ambos os grupos. Como na atualidade o diagnóstico das afecções
bíleo-pancreáticas é dado preferencialmente por exames de menor invasividade, e usualmente
opta-se pela CPER quando se antecipa a possibilidade de uma intervenção terapêutica, esse
resultado é perfeitamente compatível com o que se espera do propósito do exame.
Atualmente as principais indicações para a CPER diagnóstica consistem na obtenção de
fragmentos teciduais (associado as evoluções obtidas no campo da biologia molecular), na
abordagem da disfunção do esfíncter de Oddi e no diagnóstico das doenças biliares quando outros
métodos falham60, 64.
Embora as indicações da CPER diagnóstica tenham se tornado escassas nos últimos anos
exceto pelas acima referidas, a esfincterotomia endoscópica tornou-se procedimento comum
mundialmente, dando inicio a era minimamente invasiva no manejo das afecções bilio-
pancreáticas18. A abordagem endoscópica transduodenal tem se revelado melhor tratamento para
a litíase da via biliar principal, obtendo sucesso terapêutico em mais de 90% dos casos40.
Também é método de escolha para aplicação de próteses na paliação dos efeitos deletérios da
obstrução da via biliar de etiologia maligna65. O método também se mostra resolutivo no
tratamento dos extravasamentos biliares após CVL e após cirurgias hepáticas66.
Outra aplicabilidade é o tratamento da disfunção do esfíncter de Oddi, quadro de dor
abdominal recorrente que por vezes se enquadra na síndrome pós-colecistectomia e que ocorre
por duas alterações do esfíncter: discinesia e estenose. Os resultados da CPER são superiores se
comparados aos do acesso cirúrgico convencional11, constituindo modalidade segura para a
terapia, especialmente nos pacientes do grupo I da classificação de Milwalkee, ou seja, aqueles
36
pacientes com dor abdominal recorrente, associada a aumento das enzimas de lesão hepática,
esvaziamento lento de contraste após CPER e dilatação da via biliar comum12.
Para que se realize intervenções diagnósticas e terapêuticas o livre acesso a via biliar é passo
necessário e de maior importância29. A cateterização profunda da via biliar é um dos problemas
técnicos mais discutidos na CPER, sendo considerada por alguns autores como o aspecto técnico
mais difícil do procedimento67.
Acesso profundo nem sempre é alcançado com manobras habituais de cateterização,
havendo falha em aproximadamente 10% a 20% dos procedimentos67, 68. Outro dado que reforça
a importância e a dificuldade de se cateterizar seletivamente a via biliar é o fato de duas variantes
técnicas relacionadas à cateterização se associarem com aumento na taxa de complicações, sendo
elas o pré-corte e a injeção de contraste no ducto de Wirsung55.
Face a uma situação de difícil cateterização o endoscopista deve escolher entre tentar
repetidas manobras de cateterização convencional, realizar troca do tipo de cateter utilizado para
acesso, usar acesso tipo pré-corte, abortar o procedimento, tentar acesso em reintervenção,
referenciar o paciente para um centro de maior experiência ou realizar colangiografia percutânea26, 36, 49, 60, 67, 68.
A cateterização difícil é fator de risco independente para complicações após CPER.
Possíveis razões para o risco aumentado podem ser manipulação excessiva, resultando em trauma
mecânico e edema do esfíncter ou injeção repetida de contraste no ducto pancreático67, 69, 70.
Tang56 realizou estudo comparando o uso do pré-corte versus a persistência na cateterização
convencional. A taxa de complicação foi de 4.2% e 9.1%, respectivamente, sem diferença
estatisticamente significativa, mas com uma tendência de maior incidência de complicações no
grupo de pacientes em que se persistiu na cateterização convencional. Além disso a taxa de
sucesso foi maior no grupo de pacientes submetidos ao pré-corte (97 x 93%). Ambos os grupos
apresentaram taxas de complicação superiores as do grupo referência. Novamente a questão não
abordada é se a taxa de complicação aumentada reflete problema do pré-corte em si ou é derivada
do fato da cateterização difícil com tentativas prolongadas traumatizar a papila, provocando
espasmo muscular e edema que originam os quadros complicados56.
O referido estudo, realizado em centro com endoscopistas experientes e com alto fluxo de
pacientes, não evidenciou que pré-corte possui maiores taxas de complicação ou sucesso na
37
cateterização, se comparado a persistência na técnica convencional, chegando a conclusão de que
o método a ser utilizado deve ser aquele de preferência do endoscopista no momento da
intervenção. Também foi evidenciado que o índice de complicações aumentou conforme o tempo
para cateterização, reforçando a associação entre cateterização difícil e eventos adversos após o
procedimento; em nossa opinião esse dado se contrapõe a conclusão de que a melhor técnica é a
de preferência do endoscopista, pois a opção pela persistência no cateterismo primário aumenta o
tempo para cateterização e o trauma papilar. Embora sem significância estatística, os dados do
trabalho apontam para uma tendência a maiores eventos adversos nesse grupo de pacientes.
Importante citar que estudos prévios em centros de referência não demonstraram que o pré-corte
aumenta os riscos, já pesquisas realizadas com envolvimento de endoscopistas com experiência
variável em centros acadêmicos e comunitários usualmente mostram o pré-corte como atividade
de risco55, 68.
O trauma papilar é fator de risco para a complicação, pois sabe-se que a pancreatite após
CPER diagnóstica é usualmente mais grave que aquela originada por intervenção terapêutica
(papilotomia), o que sugere que a desfuncionalização do esfíncter reduz pressões ductais e
diminui os riscos7.
O papel do pré-corte permanece controverso a medida em que a técnica é freqüentemente
considerada como um último recurso, e portanto, utilizada apenas quando todo o resto falhou, de
modo que não é surpreendente que a taxa de complicações seja elevada, pois o procedimento já
entrou numa fase em que as complicações são altas, secundárias ao edema papilar e inflamação
local29, 67, 71.
O pré-corte em alguns estudos é relacionado com número elevado de complicações se
comparado ao acesso convencional a via biliar, mas há trabalhos que o consideram método
seguro e eficaz na cateterização seletiva desta via, desde que realizado com indicação adequada e
por endoscopista experiente10, 14, 24, 32, 33, 35.
Para cálculos impactados na ampola de Vater o pré-corte se mostra de grande utilidade,
permitindo desimpactação do cálculo, liberando assim o fluxo biliar, bem como permitindo
acesso a via biliar para estudo e complementação terapêutica, sem elevar índices de complicação33, 70.
38
No presente estudo a técnica de pré-corte se revelou ferramenta extremamente útil na
obtenção de acesso a via biliar, uma vez que todos os pacientes submetidos a ele obtiveram
cateterização seletiva desta via. Outro ponto importante é o fato de que o acesso após pré-corte
foi conseguido na mesma intervenção em que este foi realizado na maioria dos pacientes (90%),
mostrando que seu uso se aplica também naqueles casos em que se demanda descompressão
urgente da via biliar, como nos quadros de colangite.
Estudo recente mostrou que o pré-corte é uma técnica eficaz e segura com riscos inerentes de
complicação. A taxa de sucesso aumenta com a experiência do endoscopista enquanto as
complicações se reduzem a índices aceitáveis 49. É prudente indicar o pré-corte precocemente
para evitar as complicações secundárias a inúmeras tentativas mal-sucedidas de cateterização da
via biliar 26, 34, 36.
Toda vez que a cateterização padrão falhar em obter acesso a via biliar obstruída o pré-corte
é extremamente útil para evitar colangite e sepse potencialmente fatais 29, 70. Pré-corte profilático
favorece redução do risco de complicações tais como pancreatite (reduz edema e espasmos
esfincterianos) e melhora o resultado dos pacientes que demandam papilotomia endoscópica 26.
Deve ser empregado quando se antecipa a necessidade de uma manobra terapêutica . Pré-corte
facilita e encurta o procedimento endoscópico, sem aumentar complicações e provê experiência
ao endoscopista 30.
A CPER é mais perigosa para os pacientes que não precisam dela, de forma que a indicação
do método deve ser precisa. Os fatores de riscos são aditivos com relação a incidência de
complicações, de forma que a seleção de pacientes e os cuidados devem ser redobrados nos
pacientes com perfil de risco elevado. Para avaliações meramente diagnósticas, sem propósitos
terapêuticos, deve-se preferir recursos não-invasivos, de forma que a indicação da CPER
diagnóstica não possui sentido frente a quadros de dor abdominal com exames radiológicos e
laboratoriais prévios sem alterações72.
O pré-corte é uma forma segura e eficaz de acesso a via biliar, indicado na falha do acesso
tradicional e jamais deve ser recurso alternativo para a falta de experiência e competência na
realização do procedimento; também não deve ser abordado como último recurso terapêutico
para o paciente, que, nesse ponto, já foi exposto longamente à agressão papilar e apresentará, pela
falta de indicação precoce do pré-corte, risco aumentado para complicações30, 31.
39
O presente trabalho mostrou que a ocorrência de complicações foi compatível com o
observado na literatura e não se eleva em função da aplicação da técnica de pré-corte; além disso,
não houve necessidade, em nenhum dos grupos, de intervenções cirúrgicas para resolução de
problemas secundários as complicações ocorridas, mostrando que as morbidades decorrentes da
CPER não são graves. Não observamos mortalidade relacionada ao procedimento.
Dessa maneira o pré-corte se constitui no acesso alternativo preferencial quando falha a
cateterização convencional, sendo dotado de elevada eficácia e não se associando ao aumento no
número de complicações, desde que realizado com indicação precisa, precoce e da maneira
adequada.
40
6. CONCLUSÃO
A técnica de pré-corte não está associada a aumento na incidência de complicações.
41
NORMAS ADOTADAS
Este trabalho foi realizado de acordo com as normas da RESOLUÇÃO número 001/2001
aprovada em reunião do Colegiado do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal
de Santa Catarina em 05 de julho de 2001.
42
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