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ANELI ELISE BRAND DIFICULDADE E APRENDIZAGEM DE UMA CRIAN<;A CANHOTA Monografia apresenlada a disciplina Metodologia Cientifica do Curso de Especializacao em Psicopedagogia, da Universidade Tuiuli do Parana. Orientadora: Ursula M. Simons CURITIBA 2001

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ANELI ELISE BRAND

DIFICULDADE E APRENDIZAGEM DE UMA CRIAN<;A CANHOTA

Monografia apresenlada a disciplina MetodologiaCientifica do Curso de Especializacao emPsicopedagogia, da Universidade Tuiuli doParana.

Orientadora: Ursula M. Simons

CURITIBA

2001

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SUMARIO

RESUMO.. . .

1. INTRODU~Ao ..

iii

2. REVISAo DE LlTERATURA . 4

2.1 CAUSAS DO CANHOTISMO.. 6

2.1.1 Relayao com a Inteligencia.. 7

2.2 GENETICA. . .

2.30 ASPECTO CULTURAL . . . 12

2.4 DIAGNOSTICO.. 14

2.5 COMO CUIDAR DA CRIANt;:A CANHOTA... 21

2.5.1 Perturbayoes da Lateralizayao.. 21

2.5.2 Importancia da Estruturayao Espacial.. 25

2.5.3 Desenvolvimenlo da Estruturayao Espacial.. 28

2.5.4 Dificuldades na Estruturayao Espacial do Canholo.. 34

2.5.5 Cuidados na Escola.. 38

CONCLUsAo.. 42

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.. 45

BIBLIOGRAFIA . 46

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RESUMO

A presente monografia procura mostrar que, na eseola, espera-s8 que 0canhoto deva adaptar-s8 aos materia is escolares feitos para as destros, como:regua, tesoura, caderno espiral, etc; e a instrumentos de usa cotidiano;talheres, abridores de lata, saca-rolhas, violao, ate a catraca dos onibus, 0metro lacilita a introdugao dos bilhetes para os individuos destres.Vivendo num mundo planejado para 0 destre, nao admira que 0 canhoto sintadificuldades nas atividades do dia-a-dia e seja desajeitado para realizaralgumas delas. No entanto, a crianga canhota e tao normal quanto a criangadestra e 0 fata dela possuir dominancia lateral esquerda nao e motivQ paraalarmes ou repressoes. As dificuldades que uma crianga canhota podeapresentar para escrever, tais como, alteragoes de postura e posigao do bragoe da mao, sao devidas a lalta de orientagoes sobre qual a melhor postura queela deve adotar na escrita e de qual deve ser a posigao da lolha de papel e dolapis.

iii

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1 INTRODUi;Ao

a case das crian98s canhotas e de interesse da Neurologia. Segundo os

terapeutas, 0 canhotismo e geneticD. S6 em casos muito raros urn destre passa a

usar a mao esquerda ap6s alguma lesao cerebral. A literatura revela que nao ha

nenhuma vantagem au desvantagem em ser destro au canhoto. A medicina

constatou que ambos podem ter os mesmos problemas de saude ou aprendizado. A

diferenC;8 esta nos hemisferios cerebrais: nos destres, 0 hemisferio cerebral

esquerdo, respons;3vel pela motricidade do lado direito do corpo, e maior do que 0

hemisferio direito, isto e, tern mais neuronios, enquanto que nos canhotos nao

apresenta muita diferem;a de volume.

Nos ultimos anos, novas teorias pedagogicas e pesquisas diminuiram a

desinformac;ao sabre 0 assunto, mas a situac;ao ainda nao e ideal. Educadores sao

unanimes: falta de sen sibil ida de e respeito sao os principais problemas enfrentados

pelas crian~as canhotas, alem disso ha outros fatores que nao favorecem as

pessoas com mais habilidade na mao esquerda. 0 mobiliario de boa parte das

escolas e feito exclusivamente para destros, Em casa, nas refei~6es, e comum

manter os talheres na mesma posi~ao para todos que vao sentar a mesa.

Perceber as diferen~as - 0 ideal, na opiniao dos estudiosos, e que, tanto em

casa quanto na escola, as pessoas se preocupem com a ergonomia e procurem

desenvolver instrumentos adequados para facilitar a vida dos canhotos, por

exemplo, com abridores de latas, tesouras, transferidores e outros abjetas feitas

tanto para destros, como para canhotos.

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Para os pesquisadores, e importante se colocar no lugar da crian<;:a canhota,

ter consciencia que, se for obrigada a usar a mao direita, a letra sera extremamente

irregular, sem contar as dificuldades de aprendizado que uma exigeneia desse tipo

pode provocar.

Dado 0 exposto, 0 presente trabalho se justifica porque na escola, 0 professor

necessita orientar a crianc;a canhota no inleio do aprendizado, lembrando que, como

a ilumina9aO e para destros e 0 movimento que ela faz e contrario, a propria mao faz

sombra em cima do que escreve. Quando val lidar com tintas, a aluno precisa

aprender a movimentar a mao de uma mane ira diferente para que nao barre tudo,

fazendo~osentir -se confuso, tenso.

Alem disso, os edueadores afirmam que os professores devem ficar atentos adinamica do grupo e, ao perceber algum tipo de constrangimento, em fun~ao de

brincadeiras de mau gosto, por exemplo, aproveitar para conversar, pois as crian<;:as

precisam perceber que existem singularidades, e que fazemos parte de urn grupo de

seres humanos heterogeneos. Se 0 professor insistir nessa linha, supera

estereotipos e falsos juizos.

Diante disso, 0 objetivo geral do presente estudo e demonstrar cientificamente

que a crian9a canhota e tao normal quanto a destra e 0 fato desta possuir

dominancia lateral esquerda nao e motivo para que sua aprendizagem seja

diferenciada.

Estipulou-se como objetivos especificos apresentar as dificuldades que uma

crian<;:acanhota pode ter em sua retina escolar; evidenciar que as dificuldades que

uma crian9a canhota pode apresentar para escrever, tais como: postura e posiC;ao

do bra~o e da mao, sao devidas a falta de orienta~ao sobre qual postura ela pode

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adotar na escrita equal deve ser a posic;:ao do papel e do lapis; caracterizar as

dificuldades que a crian,a tem no campo de orienta,iio espacial e tipo de grafia e

evidenciar que a precanceito que a crian.ya canhota safre e indevido e pode ser

ressignificado com a orienta9ao do professor.

o trabalho e pautado na hip6tese de que 0 mundo em geral e planejado para

o destro, causando incontaveis dificuldades no dia-a-dia para que a crian,a canhota

possa executar determinadas tarefas.

Desta maneira, surge 0 problema de como se podenfi suprir estes abstaculos

no campo da aprendizagem escolar no caso da crianc;:acanhota.

A parte te6rica da monografia sera realizada mediante pesquisa bibliografica

atraves do metoda investigativ~ dedutivo~indutiva, que percorre 0 assunto

detalhadamente ate a elabora9aa de uma canciusao critica.

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2 REVISAO DE LlTERATURA

Segundo AD RADOS (1993), muito se tem estudado e especulado sobre 0

funcionamento do cerebra dos canhotos. a usa preferencial de uma das maDS esta

muito ligado a distribui980 de fun90es entre os hemisferios cerebrais, os quais sao

funcionalmente assimetricos. 0 esquerdo e geralmente ligado ao controle dos

aspectos cognitivo-racionais da linguagem e 0 dire ito. a compreensao musical, aidentifica<;ao das rela<;oes espaciais e ao controle dos aspectos afetivos da

linguagem.

Em 95% dos destros e 70% dos canhotos, as aspectos cognitivo-racionais da

linguagem sao controlados pelo hemisferio esquerdo. Em metade dos canhotos

restantes, a linguagem e controlada pelo hemisferio direito. A outra metade naD

mostra assimetria, sendo a linguagem controlada igualmente pelos dois hemisferios.

Estudos comparados nao apontaram diferenl'a de desempenho entre canhotos e

destros em testes verbais.

Quando nasce, a crianya nao tem lateraliz8yaO definida, que s6 se instala

progressivamente e se estabiliza dos 6 aos 8 anos, com 0 comeyo da pratica da

escrita. Uma lesao no hemisferio esquerdo causa afasia em 95% dos destros. A

frequencia e a velocidade da afasia sao maiores nos ambidestros ou nos que tem

antecedentes familiares de canhotismo ou ambidestralidade.

Nos destros, uma lesao do hemisferio direito s6 afeta em geral a pros6dia, a

linguagem perde a entonayao, 0 relevo. Lesao do hemisferio esquerdo no canhoto e

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no ambidestro provoca afasia mais vezes que uma lesao no direito. Essa afasia

regride melhor que nos destres. A explicayao das diferenyas entre canhotos e

destres parece encaixar-se na explicayao geral da repartiyao assimetrica das

grandes funyoes cerebrais. Das muitas explicayoes aventadas para a origem do

canhotismo, tres gozam de maior yoga: a hip6tese anat6mica, a genetica e a

relacional.

A hipotese anat6mica, segundo ADRADOS (1993), considera que ate 1960 os

trabalhos desse tipo salientavam a semelhanya morfol6gica dos dois hemisferios.

Mas, em 60, Geschwind e Levine mostraram que uma zona do lobo temporal e muito

mais extensa a esquerda. Em 1980, Geschwind e Galaburda revelaram assimetria

na area de Broca, favorecendo 0 lade esquerdo. Tal assimetria esta presente no feto

desde a 31 a semana de vida. Ja se demonstrou que na maioria dos canhotos com

lesao cerebral esquerda a linguagem e controlada pelo hemisferio direito, ao passo

que, nos sem lesao, ela e controlada exclusivamente pelo hemisferio esquerdo.

A hip6tese genetica baseia-se na verificayao da existencia de tendencia

familiar ao canhotismo. Em 1973, Annett, em 3.604 casas, revelou que, se pai e mae

sao destros, a probabilidade de a casal ter filhos destros e muito maior que nos

casais de canhotos ou de canhoto e ambidestro. Haveria na maior parte das

pessoas urn gene favorecedor do lad a direito e, na ausencia desse gene, 0 individuo

poderia ser canhoto ou destro. Para explicar por que pais canhotos podem ter filhos

destres, Annett imaginou que os pais poderiam ter sofrido les6es cerebrais no

nascimento, de modo que 0 fator direcionador nao se manifestaria neles, mas seria

transmitido aos filhos.

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Segundo a hipotese relacional, a lateralizayao da crianya se desenvolve em

funyao do meio em que vive. Nao se nota predominancia manual no recem-nascido.

Ele a adquire com 0 tempo, tornando-se destro num mundo de destros.

21 CAUSAS DO CANHOTISMO

COELHO (1996) explica que a causa nao tem bem uma explical'ao 100%

certa, admite-se que e hereditario. Ha tambem a hipotese de que nos primeiros anos

a crianya nao tem prefen§ncia, que ela pode ser treinada pelo ambiente.

Ha muito rna is canhotos em familias com canhotos, 0 pai canhoto

inconscientemente poderia provocar 0 treinamento da mao esquerda nos filhos. 0

adulto canhoto entrega 0 biscoito inconscientemente na mao esquerda do filho, mas

esta teoria tambem nao tern resultado confiante, ja que houve muitos desvios

Em pesquisas descobriu-se que onde os dois pais eram canhotos havia 50%

de chance do mho tambem ser canhoto. Considera-se 0 canhotismo como carater

herdado por falta de provas, mas nao he comproval'ao de um gene que determine

qual ira ser 0 hemisferio dominante no cerebra.

TABELA 1 Chances dos pais em ter filho canhoto

I Dominancia nos pais

[Um pai canhoto e 0 outro destro

[ 50%!Ambos os pais sao canhotos

I Chance de ter filho canhoto

IAmbOs as pais sao destros

I 17%

I 2%FONTE: COELHO, 1996.

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Os destros tern 0 hemisferio esquerdo bern rnais volumoso do que 0 direito,

enquanto que nos canhotos nao lem muita diferen<;a. Oentro do utero S8 ve

diferen<;asentre as arterias que irrigam os hemisferios do cerebro.

As digitais dos canhotos nos polegares e nas maos sao parecidas enos

destros sao diferentes. Como as digitais sao determinadas pelos genes a causa de

serem similares ou diferenles tern causa genetica.

Nos gemeos idenlicos, a digital da mao direita de urn e parecida com a da

mao esquerda do outro. Se hit uma falha no lado direito de urn, havera uma similar

no lado esquerdo do ~Utro, isso nos leva a crer que 0 canhotismo seja genetico.

2.1.1 Rela,ao com a Inteligencia

Viu-se em COELHO (1996) que grande numero de pessoas com lesces

cerebrais ou deficiencia mental eram canhotas. Mas foi feita urn pesquisa que

revelava que muitas delas tinham lesao cerebral e que tiveram a aprender a usar a

outra mao.

Nos retardados ocorria frequentemente a compreensao pela "imagem do

espelho", usavam a mao esquerda para repetir 0 que outra pessoa fazia com a mao

direita. No mundo, destas pessoas com problemas cerebrais, 28% sao canhotas.

Nao deve-se dizer que todo canhoto apresenta deficiencia neurologica.

Existem grandes genios na hist6ria que sao canhotos.

2.2 GENETICA

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De acordo com COELHO (1996), ainda ha algumas duvidas sobre 0 fato do

canhotismo ser hereditario, entretanto. naD esta claro ate que ponto este eteila pode

ser causa do ambiente externo (acidental ou propositadamente vindo dos pais que

ens;nam as crianC;8s serem deslras ou canhotas). Porem, 0 estudo em ado90es

sugere que a preferemcia de mao esteja ligada ao controle genetica. A preferencia

de mao das crianC;8s adotadas tende mais a seguir a dos pais geneticos do que a

dos pais adotivos.

Ao procurar informaC;8o na Internet sabre a genetica da preferencia de mao, a

leitor normal mente encontrara as seguintes estatisticas: Se ambos as pais de urna

crianC;8 forem destros, as chances da crianC;8 ser canhota e de 2%. Este dado so be

para 17% no case de urn pai canhoto, e salta para 50% S8 ambos forem canhotos.

Mais recentemente, COELHO (1996) estuda uma meta-analise (combinando

os resultados de muitos estudos de preferencia familiar de mao) feita por MCMANUS

& BRYDEN (1992). Conclui que dois pais destros tem uma chance de 9,5% de ter

uma eriany8 canhota. As chances sobem para 19.5% no easo de um pai canhoto (e

este efeito pareee estar dirigido prineipalmente par maes canhotas), e 26.1 % das

crianyas de dois os paiS canhotos tambem sao eanhotos.

Entao, os dados mais comumente citados subestimam a prevalencia do

canhotismo de dais pais destres, ligeiramente subestimam 0 case onde um pai

canhoto, e totalmente superestimam a prevalencia de crianyas eanhotas quando

ambos os pais forem canhotos.

A evidencia mais comumente citada e que a preferencia de mao tem um

componente genetico que e 0 caso do cia Kerr, famoso na Escocia, 0 qual era

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forrnado principalmente par canhotos (por isso a expressao " Kerr-deu "). Na

realidade, os Kerrs construiram as escadarias de seus castelos de forma que

espiralavam em sentido horario, deixando rna is facil de se defender com 0

espadachim para canhoto. (COELHO, 1996)

Mais recentemente, uma pesquisa de 1974 (feito pela Faculdade Real de

Medicos Gerais) em individuos com 0 sobrenome Kerr/Carr achou uma prevah§ncia

alta de canhotismo, porem, este efeito pode ter side inftuenciado pesadamente

atraves de preconceitos na resposta. Em outras palavras, ser canhoto pode ter sido

urna resposta muito mais provavel a pesquisa, ja que a hipotese do estudo era

transparente e a seleyao dos participantes nao era fortuita. Urn estudo subsequente

que controlou esses preconceitos nao achou nenhum aumento de canhotos entre os

Kerrs/Carrs. ° fato que muitos na familia Real de Inglaterra fcram canhotos (0 Rei

George II, Rei George VI, Rainha Victoria, a Rainha Mae Elizabeth, e Principe

Charles) tambem e citado freqOentemente como evidElncia de envolvimento

genetico. (COELHO, 1996)

Algumas das mais estranhas evidencias geneticas sao apresentadas por

COELHO (1996) que reivindica uma associayao entre cabelo loiro e 0 canhotismo,

sugerindo urn componente genetico a preferimcia de mao.

Schachter, Ransil, e Geschwind (1987) citados por COELHO (1996), afirmam

que ha urna associayao entre a preferencia de mao, a cor do cabelo e a cor olho,

mas a metodologia estatistica deles no estudo provocou uma critica consideravel.

Estudos subsequentes nao descobriram nenhuma associayao significante entre

prefen:;nciade mao e a cor do cabelo ou do olho (COELHO, 1996)

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Ha poveD tempo publicou-se que os canhotos nasciam como resultado do

estresse produzido na futura mae. A explic8980 pareee s;mplista, ja que a

preferemcia esquerda e biologicamente mais ampla.

Poder-s8-ia argumentar que nao S8 trata de urn estresse nervoso, de urn

desgaste emotivD ou estado histerico, mas, sim, de uma dificuldade exclusivamente

fl5ica, tal como urn nascimento prematuro ou parte dificil. Essas situ8r;oes sao

possiveis e como exemplo mais recente podemos citar os casas dos presidentes dos

Estados Unidos, George Bush e Bilt Clinton. Ambos os governantes sofreram trauma

durante as partos. Porem, isla dificilmente justificaria que nascessem canhotos, pois

sempre poder-s8-ia afirmar que, 80 contn3ria, suas ma8S tiveram partos complicados

devido a gesta~ao de crian~as canhotas.

o que determina a predu~ao de rna is destres do que canhotos, chama-se

"fator de deslocamento destre" Os fatores hereditarios podem ser de muita

importancia, mas 0 canhotismo nao abedeee as leis da genetica classica e muitos

pesquisadores estao convencidos de que este deslocamento 56 de modo indireto edeterminado pelas lateralidades dos pais da crianC;:8, Essas suposic;:oes se baseiam

na seguinte estatistica: S8 ambos as pais sao canhotos, a expectativa da crianC;:8

nascer canhota e de 30%. Se urn deles e destro e outro canhoto est a expectativa va;

descer ate 15%. E, par fim, se ambos os pais sao destros, a expectativa para terem

uma crianC;:8 canhota sera de 5%.

o estudo de ADRADOS (1993) cita que e preciso fazer uma advertencia

antes de S8 trabalhar com esses numeros: as porcentagens reportadas 56 valem

para grandes popula9oes, e nao sao aplicaveis as familias avulsas, em bora muitas

vezes surja a tentar;:ao de se fazer esse calculo. Por exemplo, na familia de

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Benjamin Franklin, urn dos fundadores dos Estados Unidos, entre 17 irmaos 56

Benjamin foi canhoto, 0 que nos da 5,9% (caso dos pais destros). Mas, devemos

considerar que foi Benjamin Franklin quem descobriu 0 para-raios. Nesta SitU8C;80, a

ninguem pode Qcorrer supor que os inventores de para-raias S8 encontrem nas

familias em propor9ao de 5,9%.

Alem do fator de deslocamento destro, sao conhecidas lend€mcias apenas

perceptive is; par exemplo, 0 fato de que S8 um dos genitores tiver 0 habito de

inclinar a caneta a esquerda quando escreve, he. muita probabilidade de que as

filhos nesta familia nasc;am canhotos.

Seja qual for sua origem, a pessoa canhota apresenta urna serie de

caracteristicas especiais que sao determinadas pela distribuiryao especifica de certes

centros nervosos nos hemisferios do cerebra.

Em primeiro lugar, 0 centro da fala nao S8 encontra no hernisferio direito,

como na maior parte das pessoas, mas no esquerdo. E por isso que nos casos

clinicos de paralisias resultantes de tromboses ou hemorragias no cerebro que sao

acompanhadas de altera90es da fala, a prirneira pergunta de urn born neurologista

sera se 0 paeiente e destre ou canhoto. Isso permitira esclareeer a topografia da

lesao, ja que no destre a aitera9aO do hemisferio esquerdo produz a perda da fala e

a paralisia da rnetade direita do carpa, 0 que oearre de maneira inversa no canhota.

Quanta as estatistieas, 0 primeiro levantamenta apareee no Livro dos Juizes

referente aos arqueiros, judeus canhotos, que constituiam entao 2,7%. Certamente.

esse levantamenlo dos tempos biblicos linha enfoque eslralegico: permitia dispor os

guerreiros de tal modo que os eombatentes destres e canhotos nao pudessem ferir

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uns aos Qutros. No en tanto, e passivel que nao seja 56 isso S8 pensarmos nas

deciara,oes dos tecnicos esportivos mais experientes. (ADRADOS, 1993)

Hoje em dia as canhotos representam de 13% a 15% da populac;ao, numero

que par mativas desconhecidos flutua, de acordo com a decada, entre 8% e 43%. A

porcentagem total na populayao ira variar quando S8 considerarem as diferentes

grupos profissionais desta. Assim, entre as motoristas de 6nibus poderia haver mais

canhotos que entre as quimicos. lssa pode indicar que para uma daquelas

atividades os canhotos manifeslem predilec;ao. A (mica condic;ao para reconhecer as

diferen,as seria que a levantamento fosse representativo. (COELHO, 1996)

2.30 ASPECTO CULTURAL

Segundo COELHO (1996), mais de 33 milhoes de norte-americanos sao

canhotos. Embora essa paf/;aO de pessoas seja maior que 0 conjunto dos afro-

americanos (31 milhoes), e dificil formar a ideia de que sejam tao numerosos.

Nao sao visiveis, pais preferem aGultar a fata par medo de nao poderem obler

born emprego ao serern considerados paucc competentes ou inaptos. Agora, e s6

imaginar: se nos Estados Unidos, um pais novo, os canhotos se deixam ficar

"restritos", nao e para ficar surpreso que em Portugal, na Espanha e no Brasil os

canhotos "abertos" ou uassumidos~constituam apenas 5%.

Durante muito tempo os canllOtos eram tratados como pessoas POUCD

comuns, esquisitos e ate inferiores, pois 0 melhor, 0 correto e 0 confiavel cidadao

seria invariavelmente 0 destro.

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Ate a popular ora9ao declara que Jesus Cristo "esta sentado a direita de Deus

Pai todo poderoso". A palavra sinistra, sinonimo de canhoto, tern na lingua

portuguesa madema 0 significado de urna pessoa que possa tramar eoisas mas

contra seus semethantes, ou seja, um adjetivo mall§fico, pejorativo. A expressao "ete

nasceu no lado esquerdo da cama" ainda e usada na Inglaterra como um insulto

indireto, para nao dizer "bastarcto". "As VQzes sinistras dos politicos" e um exemplo

recente encontrado na imprensa brasileira.

Um jornalista ingles conta que, em certa epoca, ele viajava de trem pel a ilha

de Sicilia (Italia), comprou alguns cartoes postais e come90u a escrever, mas de

repente viu que urn garata ao seu lado 0 olhava espantacto. 0 menino logo voltou

para sua mae e 9ritou: "Tu es Diabo. 0 Diabo!" Era urna reat;:8o sincera e natural,

pois a criant;:8 criada no campo jamais vira alguem escrevendo com a mao

esquerda. 0 usa da mao "errada" ainda e muito contralado na Sicilia, devido a uma

velha superstigao que a associ a com tragos satanicos. (MORAIS, 1992)

o usa da mao "equivocada" nao s6 era reprimido, mas em muitos casos era

castigado, sempre tentando reeducar essas pessoas "desastradas e sem

coordena9aO motora" Na mao "canhota" se fazia colocar uma luva sem dedos e um

peda90 de cartee que se amarrava ao antebrac;o com um n6. Os professores na

escola costumavam bater na mao "culpada" com uma regua. Em certos casos

canseguia-se a reeducac;ao, mas ceda ou tarde tornava-se evidente que eram meras

aparencias: nos momentos de perigo, quando de repente surgia uma necessidade

imperativa de realizar algum mavimento de importancia vital para 0 organismo, 0

pseudo-adestrado voltava a sua reac;ao natural e utilizava a mao esquerda contra

uma facada ou para proteger seus olhos de algum golpe.

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Alem disso, agora sabeMse muito bern que as tentativas de reeduc8t;80

fon;ada em muitos casas conduzem a neuroses de supressao, a mais comum e a

logoneurose com laringoespasmos: 0 menino, sem razao aparente, come98 a

gaguejar e ate acredita-se que 70% dos surdos-mudos sejam canhotos

traumatizados pelas tentativas de reeducac;ao na sua infancia.

Pareee que existem muito poucos casas de tratamento tao simples de realizar

na medicina: esses transtornos de articulaC;8o desaparecem imediatamente ao S8

permitir 0 usa da mao adequada. Felizmente, cad a vez mais os canhotos estao

sendo aceitos, S8 produz a sua "Iiberac;ao" e a maneira cruel de tr8ta-los esta

desaparecendo das casas e das escolas. So mente na China estes encontram-se

ainda na categoria de "gente mal vista", e nao se deixe surpreender se numa ceia

oficial sua aten~ao lor chamada para nao usar a mao esquerda. E uma lalta de

educaC;ao tal a ponto de pessoas preferirem nao comer numa mesa comum a exibir

a sua preferencia sinistra, pois seria uma of ens a para seu vizinho esquerdo.

Diante disso, pode-se dizer que a sociedade ocidental tornou-se "tolerante" a

respeito dos canhotos, mas a tolerancia que se declara e uma maneira encoberta de

expressar a intolerancia: tolerar algo e ser condescendente. (MORAIS, 1992)

2.4 DIAGNOSTICO

Atualmente, segundo MORAIS (1992), para a linalidade de um diagnostico

neste contexto tem side propostos do is melodos principais. Um, uma prova simples,

consiste no fato de que a pessoa se proponha a caminhar seguindo uma linha reta

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com as olhos fechados. Ao longo de alguns metros 0 destre comeyara a desviar-se

da esquerda para direita, enquanto 0 canhoto se desviara para 0 lade oposto. No

cotidiano esses desvios natura is sao muito importantes e erarn ainda mais

importantes na vida do homem primitiv~: ao perder a orientaCY8o na fioresta ou no

deserto, uma pessoa anda em cfrculos e volta sempre 80 ponto de partida. 0 raia

desse circulo depende do grau do desvio caracteristico para cada individuo.

E natural que urn ambidestro nac S8 perea nurn bosque ja que nao tera desvio

nenhum, pois este em suas atividades vitals e capaz de usar ambas as maos. E.

extraordinario que, 80 examinar as utensilios encontrados junto a cabeCY8 de urn

elefante nas cavernas de Pinedo (Toledo, Espanha), houve ocasiao em que S8

afirmou que 0 homem paleolitico inferior era ambidestro. Pensando bern, realmente

deveria se-Io para sobreviver.

Retomando 0 tema, outro metodo de diagnostico consiste em se colocar urn

individuo sabre uma plataforma move I com movimentos programados e registrar os

cantramavimentas que ele faz para recuperar seu equilibria. Pode-se fazer issa

atraves de desenhas que a pessaa imprime na plataforma par intermedio de um

dispositivo contendo tinta. T ambem e passivel faze-Io por meio de lecnicas de

filmagem e analise camputacianal. De qualquer modo, a imagem abtida no caso de

urn canhoto corresponde ao reflexo no espelho do correspondente quadro do destro.

E obvio que, apesar das comphca90es tecnicas, este ultimo metodo resulta

ser 0 mais eficaz e objetivo, ja que 0 corpo humane se mantem em equilibrio

inconscientemente e nao existe forma de simula-Io: os centros cerebrais

respansaveis pelo equilibrio estao diretamente ligados aos labirintos do ouvido

interno, sem controle do sistema nervoso central. (0 fen6meno provem ainda dos

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peixes: estes nao precisam pensar para manter 0 seu equilibria na agua), (MORAIS,

.1992)

E esta objetividade que fornece a s61ida base cientifica 80 metoda de

plataforma, que permitiu com 0 tempo detectar eoisas estranhas. Pouco a pouco S8

tornou claro que nem todos as quadros que fcram registrados dos canhotos eram

classicos com respeito a sua identidade com 0 reflexo no espelho de quadros

destres. De repente apareciam imagens confusas e desdobradas, 0 que mostrava

que 0 grupo dos canhotos nao era lao homogeneo como 0 dos destres. Assim, ao

fazer usa de outras tecnicas mais sofisticadas chegou-se a conclusao de que certas

pessoas com preferencia esquerda tern dais au mais centros de fala e que esses

centros S8 situam tanto no hemisfario direito como no esquerdo. Nos casos de

doentyas cerebrais, alguns pacientes canhotos permanecem com a fala, mesma

estando paralisado 0 lado esquerdo de seu carpo. Sao precisamente aqueles casas

raros de "recuperar;:8o imediata", que ha muito tempo intrigavam as neurologistas.

Esta reCUpera9aOnao a imediata de modo algum, pais existe outro centro de fala a

mais no hemisfario direito que esta sendo ativado. Nao sao necessariamente

pessoas ambidestras; as estatisticas assinalam uma populac;:aopreferencialmente

canhota. Param, tudo parece indicar que sao superdotados com respeito aos centros

de fala (dois ou mais).

Ja haviam avan9ado as hipoteses que tentam correlacionar esta

particularidade anatomofisiologica com certa habilidade de expresseo e com 0 alto

nivel de linguagem escrita. Poderia ser uma idaia atrativa e fascinante para os

canhotos que a caracteristica de possuir multiplos centr~s de fala seja

necessariamente implicita a "homens letrados" Poram, seria preciso comprovar que

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a fala verbal e a escrita (assem uma 56 caiS8. Urn dos contra-exemplos dessa teoria

eo lamoso "caso do colre". (MORAIS, 1992)

Um paciente canhoto bem abastado, com a perda da lala (hemiplegico, lesao

no hemisferio direito), conseguia apantar com 0 fechar e abrir dos 0lh05 as letras do

alfabeto Ingles que Ihe eram mostradas. Oeste modo, 0 doente formava palavras e

ate (rases para comunicar-se com seus parentes e foi assim que uma sobrinha

localizou urn cofre escondido na fazenda e ate 0 seu c6digo secreto.

Tudo 0 que foi apresentado indica que a linguagem grafica pode ser

preservada, inclusive naqueles casas onde os demais meies de comunic8g8o do

cerebra S8 encontram danificados. Convem lembrar que urn dos erras eticos mais

graves e discutir-se na preseng8 do paciente paralisado a sua situ89ao, diagnostico

e assuntos de distribuiyao de bens, uma vez que 0 fato do mesmo ter perdido a fala

nao signifiea, em absoluto, que ele nao entenda 0 tema abordado e nao esteja

solrendo.

Existem, alem da lala, outras caracteristicas que podem ser atribuidas

somente aos eanhotos. Eles tem a inelinayao de pisear seu olho esquerdo e

distinguem-se muito nas h~enieasde manipulayao dos numeros. Para detalhar, urn

destro para obter a soma algebriea de eerto numero, digamos 20, pode propor as

eombina90es: 18+2, 15+5 ou 12+8. Urn eanhoto, na maioria das vezes dira: 25-5,

22-2 ou 40:2. Ninguem, nem eles mesmos, entendem par que preferem subtrair e

dividir ao inves de somar e multipliear. Conheee-se tambem a preferencia

inexplieavel dos eanhotos pelas raizes negativas das equa90es de segunda ordem.

A maioria dos canhotos tem dificuldades para entender desenhos geometricos. A

causa e simples: estes estao elaborados, embora sem premeditay80 algurna, pelos

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destros aDs deslros. Quando lentarn observar as mesmos desenhos alraves de urn

espelho, descobrem com alivio que compreendem ludo. Os canholos goslam de

usar as unidades de medida antes dos seus respectivDs valores numericos (em 100

ao inves de 100 cm). (MORAIS, 1992)

Ulilizam 0 pe esquerdo para amassar os cigarros e nas brigas golpeiam 0

lado direito do seu adversario. Esta "geomelria criminosa" as vezes e de grande

importancia na medicina legal, contribuindo em muito na solu980 de crimes. Islo e,

se a vilima esl,; machucada do lado direilo, com muila probabilidade 0 assallanle

sera urn canhoto.

Muitos problemas com respeito aD direito e aD esquerdo surgem na vida

cotidiana e profissional: para urn canhoto podem naD servir au ser de diflcil usa as

eoisas mais insignificantes, mas feitas para urn deslro, como por exemplo urn saca-

rolhas, uma tesoura ou a propria carteira escolar. Neste ultimo casa, 0 aluno

procurara apaixonadamente uma que possua 0 apoio do lado esquerdo.

Muitos canhotos nao conseguem abrir latas e se cortam. Para urn rnusico

canhoto nao e c6moda a sequencia de cordas de urn violao e instrumentos do

mesmo tipo, os baixos e os altos para eles devem situar-se no lade oposto do

instrurnento. "Me lembro bern das minhas primeiras tentat;vas de tocar piano quando

lui garola" - escreve a psicologa nepalesa Omi Krishna, cilada por COELHO (1996,

p. 213): "Sempre senli que uma injusli~a era leila a respeilo dos canholos se esles

queriam ser rnusicos. As notas importantes, as altas, estao situ ad as a direita do

pian;sta." E posslvel que Omi Krishna nao tivesse conhecimento da existencia do

Concerto Para a Mao Esquerda, composlo por Ravel. Talvez islo servisse de

consolo para ela. Charles Chaplin tinha a arnbi9aOde se tornar urn rnusico e desde a

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idade de dezesseis an os S8 exercitava no violino e no violoncelo, de quatro a seis

haras par dia. Todas as tardes tomava lir.;:oes com 0 maestro do teatro ou com

alguem par ele recomendado. Como era canhoto seu violino tinha as cordas

invertidas, as graves no lugar das agudas. Mas convenceu-se de que naG podia

tornar-S8 um concertista nem usar 0 instrumento em seus numeros, e desistiu do

intento. Param, meio sacula mais tarde, Paul McCartney fez urna brHhante carreira

nos palcos, tambem sen do canhoto e utilizando as cordas trocadas. (MORAIS, 1992)

Do ponto de vista de um motorista, canhoto, toda a disposig80 das pegas de

um carro parece ser feita propositadamente para dificultar seus movimentos. Urn

unico privilE§gio para ele e pagar pedagio com mao certa. Tedos esse pequenos

detalhes (ate as maganetas e as frigideiras com bico para escoar 6leo) irritam um

canhoto, despertam nele as vezes sentimentos de vergonha, discriminac;:ao e tristeza

inexplicaveis e levam a ideia da "ditadura dos destros"

Nos paises como Estados Unidos, Russia, Brasil e Inglaterra ha muito tempo

surgiram organizac;:oes especializadas, como par exemplo 0 "Clube dos Canhotos", a

"Associac;:ao dos Canhotos e Ambidestros", ern Londres, e a "Associac;:ao Brasileira

dos Canhoteiros", ern Sao Paulo. Sua finalidade e a protec;:ao da crianc;:a canhota, e

tam bern a produc;:ao de utensil iDS para pessoas com preferencia sinistra (saca-

rolhas, tesouras, eanivetes e aquelas frigideiras com bieo ao lado direito, para nao

ocasionarem queimaduras). Em Londres ja existe a loja "Nelson" onde todos as

canhotos encontram 0 que neeessitam, e onde os destros podem sentir como e

difieil a vida para os sinistros.

E final mente a eterna pergunta: serao biologieamente mais estaveis? Muitas

pessoas 58 assustaram com a public8c;:ao do artigo de S. Coren e O. F. Halpern no

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"Psycological BUlletin" em janeiro de 1991. Os pesquisadores realizaram enlrevislas

com parentes de quase mil falecidos nos Estados Unidos, esclarecendo em cad a

caso a sua lateralidade preferida. Chegaram com issa a uma conclusao sensacional:

as canhotos tem menores 8xpectativas de vida, uma media de 9 anos a menos. Uma

analise estatislica posterior mostrou, porem, que esla silu8C;80 poderia estar

mascarada pelo fato de que 0 indics de acidentes de transito era cinco vezes

superior entre os canhotos quando comparado aDs destres. IS50 indica que 0

canhoto e mais vulneravel as circunstancias, tern menor protec;ao no mundo dos

destros e, por conseguinte, precisa estar mais atento. Nada faz pensar num designio

mislerioso em rela,ao a sua natureza genetica. (MORAIS, 1992)

A respeito da sua maior inteligencia, ninguem pode afirmar ou nega-Ia com

certeza, mas se sabe bem que apesar de terem os hemisferios de seu cerebra

invertidos em rela9ao ao destro seu desenvolvimento e igual, como pode ser

exemplificado alraves de personalidades ilustres. Michelangelo, Leonardo Da Vinci,

Paul Klee, 0 Papa e muitos outros sao canhotos. Reparem bem na televisao, quando

as pessoas de reconhecimento mundial aparecem em publico, com que mao

cumprimenlam aos presentes e assinam os tratados. (MORAIS, 1992)

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2.5 COMO CUIDAR DA CRIANt;:A CAN HOTA

2.5.1 Perturbayoes da Lateralizayao

Segundo OLIVEIRA (1997). 0 problema reside quando uma pessoa apresenta

uma lateralidade cruzada au e mal lateralizada, 0 que pode resultar em muitos

efeitos negativos tais como:

a) Dificuldade em aprender a direyao grafica;

b) Dificuldade em aprender os conceitos esquerda e direita. Deve-s8 aqui

fazer urna distinC;8o entre lateralidade como dominic de urn dos lados do corpo e

como conhecimento das noc;oes de direita e esquerda Estes ultimos conceitos

devem suceder a defini980 de sua pr6pria lateralidade.

Urna crianC;8 toma seu corpo como ponto de referencia no espac;o 8t S8 ela S8

confunde ou nao conhece sua dominancia, pade nao perceber 0 eixo de seu corpo e

conseqClentemente sera dificil saber quallado e 0 direito ou 0 esquerdo.

A lateralidade e importante porque permite a crian9a fazer uma rela980 entre

as coisas existentes em seu meio. Dizemos que uma crian9a que ja tenha uma

lateralidade definida e que esteja consciente dos lados direito e esquerdo de seu

corpo esta apta para identificar esses conceitos no outro e no espa90 que a cerca.

Obedece, portanto, a algumas eta pas: primeiro assimila os conceitos em si mesma,

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depois os objetos em relayeo a si mesma. Em seguida, descobre-os no Dutro que

esta a sua frente e finalmente nos objetos entre si.

OLIVEIRA (1997) cita que a lateralidade contrariada, como a proprio nome

indica, refere-s8 a pessoas geralmente canhotas, que foram obrigados a mudar a

preferencia manual devido as exigencias socia is e/au familiares. Fala-se em

lateralidade cruzada quando nao existe homogeneidade na preferemcia de urn dos

lados do corpo. Par exemplo, individuos que tern 0 olho direito, a mao esquerda e 0

pe direito dominantes. A diferen9a entre a lateralidade, contrariada e a cruzada eque nesta ultima, nao ocorreu a pressao ambiental para mudar a preferencia lateral.

Lateralidade indefinida e um termo utilizado para caracterizar, crian<;:8s que

ainda nao S8 decidiram pelo usc preferencial de urn lado do corpo. E esperado que a

dominancia lateral esteja estabelecida por volta dos 4-5 anos de idade (de acordo

com a maiaria dos estudos). Se a crianga, apos esta idade ainda nao se definiu em

term os de preferencia lateral e aconselhavel que seja submetida a uma bateria de

testes e conforme 0 resultado obtido seja estimulada a utilizar um dos lad os do

corpo. Alem disso, com base em estudos psiconeurologicos a lateralidade indefinida

e um fato, entre outros, que evidenciam uma imaturidade neurologica, isto levando-

se em conta a teoria de especializagao hemisferial. 0 termo ambidestro e aplicado a

pessoas que se utilizam de ambos os lados do corpo com a mesma habilidade. A

difereng8 entre a ambidestria e a lateralidade indefinida e que na primeira 0

individuo tem 0 preferencial definido, mas necessitando pode utilizar-se com a

mesma habilidade e destreza do outro lado do corpo. Na lateralidade indefinida, nao

existe qualquer preferencia lateral.

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Durante muitos anos pensou-se que a lateralidade contrariada, cruzada e a

lateralidade indefinida, pudessem causar disturbios de leitura de matematica, da fala

mais precisamente gagueira, ou problemas emocionais. Hoje em dia sabe-s8 que

crian,as que apresentam disturbios de aprendizagem ou de fala, podem apresentar,

tambem esses tipos de lateralidade, mas nao que os problemas que elas

apresentam tenham, sido causado pela lateralidade contrariada, cruzada ou

indefinida.

Em termos de processo de aprendizagem, constata-s8 que as dificuldades

que surgem nas crianr;as com lateralidade; contrariada, cruzada, indefinida, referem-

se ao tipo de grana (geralmente estas crianl'as apresentam disgrafia - letra feia) as

dificuldades de orienta,ao espacial, quando utilizam a lolha de papel e a postura

inadequada para escrever, incidem diretamente sabre a produr;ao grafica da criam;:a.

Segundo DE MEUR e STAES (1980, p. 13):·0 conceito estevel de esquerda e

de direita 56 e passivel aos 5 ou 6 anos e a reversibilidade (possibilidade de

reconhecer a mao direita ou a mao esquerda de urna pessoa a sua frente) nao pode

ser abordada antes dos 6 anos, 6 anos e meio".

c) Comprometimento na leitura e escrita.

o ritmo da escrita pode ser mais lento. A crianc;a talvez nao tenha forc;a e

precisao suficientes para imprimir maior velocidade.

A escrita torna-se muitas vezes ilegivel e mesmo especular.

d) Me postura - 0 que pode resultar em urn desestimulo decorrente do esforl'O

que precisa fazer para escrever.

e) Dificuldade de coordena,ao fina, isto e, he uma probabilidade de maior

imprecisao dos movimentos finas.

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f) Dificuldade de discrimina9ao visual: a crian9a pode apresentar confusao

nas letras de dire90es diferentes como d, b, p, q.

g) Perturba90es afetivas que podem ocasionar rea90es de insucessos, falta

de estfmulo para a eseDla, baixa auto-estima.

h) GRONSPON (1966) cita, ainda, disturbio da linguagem e do sono; e

ORTON (in DEFONTAINE, 1980, p. 211 ), a gagueira.

i) Aparecirnento de maior numero de sincinesias.

A sincinesia e 0 comprometimento de alguns museu los que participam e S8

movem, sem necessidade, durante a execuC;:8o de Qutros movimentos envolvidos em

determinada agae. E involuntaria e geralmente inconsciente.

Ela esta relacionada com 0 estado de fundo tonica Verifiea-s8 tensao

muscular nos brac;:os, pes, par exemplo, que nao estao executando 0 movimento.

Isto quer dizer que, ao realizar urn movimento com as maos e os pes, pade-s8

observar sincinesia nos olhos (podem ficar arregalados au tensos), na boca

(abertura, mordidura de lingua, lingua para fora), nos outros membros etc.

DEFONTAINE (1980, p. 215) distingue dois tipos de sincinesias:

1) sincinesias de imitac;:a.o: quando se encontram "sobre dois membros

simetricos para a execuc;ao de um movimento voluntario de um dentre eles. 0 outro

membro imita 0 movimento em toda a sua sequencia ";

2) sincinesias axiais: as crianc;as devem ser observadas em posic;ao de

decubito dorsal para melhor verificar seus membros superiores e inferiores.

DEFONTAINE (1980) sugere que se pe9a a elas que abram e fechem a boca varias

vezes seguida. Elas podem apresentar sincinesias ao nfvel das maos e pes. Pode-

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S8 tambem pedir para abrirem e fecharem as maos rapidamente e obtem~se urna

resposta inversa, ista e, abertura da boca.

A sincinesia manifesta-s8 de maneira identica para as mesmas incitagoes

Normalmente uma criang8 de ate 5 anos apresenta sincinesias, havendo uma

diminuigao aos 7 e 0 desaparecimento aos 10 anos.

As sincinesias podem ser verificadas quando a mao nao dominante executa 0

movimento e a probabilidade e maior quando existe uma lateralidade contrariada.

j) Dificuldades de estruturac;ao espacial, pois esta faz parte integrante da

lateralizac;ao.

A lateraliz8C;80 e a base da estruturac;ao espacial e e atraves dela que uma

criany8 S8 orienta no mundo que a rodeia. Ver-se-a, agora, como 58 desenvolve e

qual a importancia de S8 desenvolver na criany8 a orientag8o espacial.

2.5.2. Importancia da Estruturac;ao Espacial

A estrutura980 espacial e essencial para que S8 viva em sociedade. E atraves

do espac;o e das relac;oes espaciais que 0 individuo S8 situa no meio em que vive,

em que estabelece relayoes entre as eoisas, em que faz observa<;oes, comparando-

as, combinando-8s, venda as semelhanC;8s e diferenC;8s entre elas. Nesta

comparac;ao entre as objetos constata-se as caracteristicas comuns a eles (e as nao

comuns tambem). Atraves de urn verdadeiro trabalho mental, seleeiona-se,

compara-s8 os diferentes objetos, extrai-se, agrupa-se, classifica-se seus fatares

comuns e chega-se aos conceitos destes objetos e as categoriz8c;oes. ~E esta

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lormagao de categorias que leva a generalizagao e a abstragao" (KEPHART, 1986,

p.123).

A aritmetica lida com a fen6meno do agrupamento e para isto e necessaria

que tenha sido desenvolvida a nogao espacial, visto que os objetos so existem

dentro de urn espac;o determinado. Urn exemplo da relaC;8o existente entre as

objetos no espa90 e fornecida por LUR<;AT (1979) ao analisar 0 campo dos

numeros e da aritmetica. Ela cita 0 numero "tres" como exemplo, dizendo que ele

nao e inerente aos proprios objetos. E inerente a relac;ao existente entre eles. A

nory8o de "tres" e, pois, urn agrupamento no espago e, portanto, e independente de

qualquer aspecto dos objetos, exceto de suas rela90es espaciais.

Muitas das atividades realizadas em sala de aula, como a escrita, dependem

da manipulac;ao das relayoes espaciais entre os objetos. As relac;oes espaciais, par

sua vez, sao rnantidas por meio do desenvolvimento de uma "estrutura" de espa90.

S8m esta "estruturay80" 0 individuo se perde au distorce muitas destas relagoes e a

comportamento solre por receber informa90es inadequadas( LUR<;AT, 1979, p.138).

A importancia da estruturag80 espacial na escrita e registrada de forma muito

clara por AJURIAGUERRA (1988, p. 290): "a escrita e uma atividade motora que

obedece a exigemcias muito precisas de estruturay80 espacial. A crianga deve

compor sinais orientados e reunidos de acordo com leis; deve, em seguida, respeitar

as leis de sucessao que fazem destes sinais palavras e frases. A escrita e, pais, uma

atividade espago-temporal muito complexa".

DE MEUR e STAES (1984, p. 13) definem a estruturayao espacial como:

-a tomada de eonscieneia da siluar;ao de seu proprio eorpo em um meio ambiente, islo e, dolugar e da orientar;aa que pode ler em relar;ao as pessoas e eoisas;-a lamada de eanscieneia da siluar;ao das eoisas enlre si;

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-a possibilidade, para 0 sujeito, de organizar-se perante 0 mundo que 0 cerea, de organizar ascoisas entre si, de caloca-Ias em urn lugar, de movimenta-\as.

Em primeiro lugar, portanto, a crianc;a percebe a POSiC;80de seu proprio corpo

no espayo. Depois, a POSiC;80dos objetos em relay8.o a si mesma e, par fim, aprende

a perceber as rela90es das posi90es dos objetos entre si.

SANTOS (1987, p. 17) afirma que na vida quotidiana as especifica90es

espaciais indicam as direc;:oes em relac;:ao 80 corpo e sao definidas pela

possibilidade de movimento e par nossa organiZ8C;8.o.

CRAIK (in KEPHART, 1986) analisa 0 espa90 como um conceito que se

desenvolve principal mente no cerebra, pois 0 individuo constr6i seu mundo espacial

par meio da interpretac;ao de grande numero de dados sensoriais que nao possuem

relageo direta com 0 espago. Tem-se, entao, que interpretar essas informa90es

sensoriais, ao mesmo tempo em que se eonstr6i os conceitos espaeiais. E um

cireulo vicioso, que ele expliea: "nao podemos desenvolver um mundo espacial

estavel ate que aprendamos a interpretar a informa9aO de nossos sentidos em

term os espaeiais. No entanto, podemos eonstruir este mundo espacial baseados

somente nas interpreta90es espaciais de dad os sensoria is" (CRAIK In KEPHART,

1986, p.124)

Estes dados sensoria is a que Craik se refere dizem respeito prineipalmente a

vi sao e sensa90es cinestesicas de movimento. Pode-se aereseentar tambem 0 tato e

Move-se a mao para pegar algum objetaqualquer e par meia desta einestesia

calcula-se a distaneia que se tem que perearrer e a partir desta avalia9aa determina-

se a que distancia se eneontra este objeto.

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A visao, para ele, e mais eficiente nesta avalia9ao, pais permite, de acordo

com a propria experiencia, realizar as calculos de espa90 mais rapidos e mais

precisos do que 0 movimento, al8m de fornecer inumeras Qutras estimativas que

KEPHART (1986, p. 19) explica:

Podemos olhar para urn certo numero de objetos e localiza~los todos no espa9(> ao me smatempo, enquanlo que, sa dependessemos da cineslesia. teriamos que le·los localizado urnpar urn. Aqui leriamos, mais urna vez, consumido tempo e a precisao seria sacrificada pelamagnitude da larefa. (... ) esla problema da localizacao simultanea no espaeD de urn grandenumero de objetos e de consideravel importancia para a aprendizagem. A visao, dentre lodosas senlidos, e a (mica que tem condi¢es de realizar esta estrutura9ao do espa90.

A percep<;8o auditiva e representada pel a associac;ao do simbolo verbal a

outras sensa<;oes do corpo pr6prio. Ela esta mais ligada a orienta<;8o temporal,

em bora 0 espa<;o fa<;a uso dela frequentemente. Pelo tato, percebemos as

manifesta<;oes afetivas como carfcia, afagos, e tambem as agressivas, se houver

manifesta<;80 fisica. Alem disso, percebemos, tambem, as superficies das coisas ao

nosso red or, S8 sao lisas, rugosas, umidas, asperas, macias.

Todas essas percep90es sensoria is nos levam, portanto, as propriedades dos

diversos objetos enos permitiriarn urna cataloga<;80, urna classifica<;8o, urn

agruparnento destes no sentido de urna maior organiza<;8o do espa<;o.

2.5.3 Desenvolvimento da Estruturagao Espacial

De acordo com OLIVEIRA (1997), a estruturagao espacial nao nasce com a

individuo. Ela e urna elabora<;80 e uma constru<;80 mental que se opera atraves de

seus movimentos em rela<;8o aos objetos que estao em seu meio

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FONSECA(1988) ve 0 espa90bucai como 0 primeiro com que a crian9a se

defronta. A boca e 0 espago mais pr6ximo dos bragos e e, portanto, 0 primeiro objeto

de explora<;ao, pois a sens8g8o e movimento nesta fase estao intimamente ligados.

BUCHER (1978) da muita importancia as iiga90es afetivas que a mae

desenvolve com 0 filho na fase inicial de sua vida. Suas sens8c;oes de bern ou ma/-

estar procedentes de caricias, movimentos e mudanC;8s de postura sao carregadas

de afetividade. Na medida em que vai havendo a matura9ao do seu sistema

nervoso, ela vai S8 ternando capaz de perceber e coordenar estas multiplas

sens890es visuais, tate is, auditivas e cinestesicas.

a mesma autor ainda afirma que as mundos interno e externo sao indistintos

para 0 recem-nascido. Sua imagem de corpo cameg8 a S8 elabarar mais ou menos

aos tres meses, e entre 0 sexto e 0 nona mes S8 percebe urna primeira separaC;:8o

entre seu corpo e 0 meio ambiente.

Aos tres anos, a crianc;a ja tern uma vivencia corporal. Para ela, portanto, a

expiora9ao do espa90 inicia-se. como deciara lE BOUlCH (1984a). desde 0

momento em que ela fixa 0 olhar em um determinado objeto e tenta agarra-Io.

Oepois a locomoc;ao permite-Ihe dirigir-se aos locais ou aos objetos que quer

alcanc;ar.

A verbalizaC;:8o que auxiliara na designaC;:8o dos objetos constitui um fatar

muito importante para a organiza<;ao da vivencia do espac;:o e, tambern, para urn

meihor conhecimento das diferentes partes do corpo e de suas posi90es. "Todo

objeto, desde 0 momento em que ele e nomeado, taz a papel de organizador do

espac;:o pr6ximo circundante, permitindo construir 0 espa<;o que 0 rodeia", diz LE

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BOUlCH ( 1984a, p. 199). Para ele, a primeira oriental'ao da crianl'a e em relal'ao aPOSic,;:80dos objetos familiares descobertos atrav8S da experielncia vivida.

Desde muito ceda a crianc,;:a escolhe e ordena seus objetos. Era veste-s8,

come, brinea, coloca e amarra 0 sapato. Estes atos de seu dia-a-dia obrigam-na a

executar ge5t05 diferenciados para sua realiz8c,;:80. Essa ordenac,;:8o ja envolve

atividades concretas de classific8c,;:80.

Para que urna crianc;:a perceba a pOSic;80 dos objetos no espac,;:o, precisa,

primeiramente, ter urna boa imagem corporal, pois usa seu corpo como ponto de

refen§ncia. Ela 56 S8 organiza quando passui urn dominic de seu corpo no espac,;:D.

Isto signifiea que ela apreende 0 espac,;:0 atraves de sua movimentac,;:8o e e a partir

de si mesma que ela S8 situa em relac;ao ao mundo circundante. Numa verdadeira

explorac;ao motora inicial, ela necessita pegar os objetos, manusea-Ios, joga-Ios,

agarra-Ios, lanc;a-Ios para a frente, para tras, para dentro e fora de determinado

lugar.

Para a crianc;a assimilar os conceitos espaciais precisa, tambem, como ja

afirmamos anteriormente, ter uma lateralidade bem definida, 0 que se de por volta de

6 anos. Ela torna-se capaz de diferenciar os dois lados de seu eixo corporal e

consegue verbalizar este conhecimento, sem 0 que fica diffcil distinguir as diferentes

posi90es que as objetos ocupam no espac;o.

E atraves de uma experimenta9ao pessoal, entao, que estes conceitos de

direita e esquerda passam a ter um sentido e um valor para ela. Ao assimila-Ios

estara preparada para perceber, comparar e assimilar as conceitos relacionados

com outras posic;oes como a frente, atras, aeima, abaixo. Neste momento, a

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verbaliz8c;ao e fundamental para vivenciar melhor 0 dominic das noc;oes de

orientac;ao.

Ela apreende tambem as no~6es de situa~6es (atraves de conceitos como

dentro, fora, no alto, abaixo, longe, perto); de tamanho (atraves dos conceitos de

grosso, fino, grande, media, pequeno, estreito, largo); de posi~ao (par meio das

no~6esde em pe, deitado, sentado, ajoelhado, agachado, indinado); de movimento

(atraves dos conceitos de levantar, abaixar, empurrar, puxar, dobrar, estender, 9irar,

rolar, cair, levantar-se, subir, deseer); de formas (conceitos de circul0, quadrado,

triangulo, retangulo); de qualidade (conceitos de cheia, vazio, pouco, muito, inteiro,

metade);de superficies e de volumes.

Ao apreender estes conceitos, diremos que ela atingiu a etapa da orientar;:8o

espacial. Isto significa que a crianr;:8 tern acesso a urn "espac;o orientado a partir de

seu proprio corpo multiplicando suas possibilidades de a~6es eficazes" (lE

BOUlCH, 1984a,p. 162).

lURI;AT (1979) alerta sabre as dificuldades que se podem encontrar ao se

representarem os pontcs de referenda em relar;:8o as diversas posic;oes espaciais

relacionadas aeirna. Ela cita 0 exemplo de uma boneca em pe. Se uma crian9a

tomar a boneca como objeto, ira projetar sobre ela sua pr6pria lateralidade,

significando que sua esquerda sera a esquerda da boneca e sua direita, a direita da

boneca. Se tamar a boneca como sujeito, e esta que ira estruturar 0 espa90 em

fun9ao de sua lateralidade. Estes mesmos conceitos de direita e esquerda podem

ser projetados para as outras posi90es espaciais, mostrando a mesma ambiguidade

de interpreta~ao.

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Esta representay80 da boneca subentende urn ponto de referenda re!ativo e

sup6e urn certo numero de opera goes mentais.

Os pontcs de referencia do tipo alto/baixo sao absolutos, pais aeirna sempre

se subentende 0 teto, e embaixo 0 solo. Os conceitos direitaiesquerda e

adiante/atras dependem, para muitas criam;as, da pOSi<;:80 de seu proprio corpo no

espatyo. Urna pessoa que ja possua urna orienta9ao espacial bern definida dara ela

mesma as coordenadas para que S8 saiba quais sao seus pontcs de referenda.

Normalmente, tem-S8 consciencia dos objetos que S8 situam no espago, tanto

os que estao perto, quanta as que estao longe, a frente e tambem os que S8 situam

atras. Nao S8 pode ve-los, mas sabe-s8 que existem, que existe urna "estrutura

espacial" atres, e mantem-se, portanto, uma relac;ao bem viva com todos eles.

KEPHART (1986) analisa este fato salientando que a crianga pequena e a retard ada

apresentam dificuldade em perceber este espaC;o existente atras delas. Quando elas

se voltam, as objetos e as situac;oes localizadas atras de si deixam de existir para

elas.

Quando uma crianc;a consegue se orientar em seu meio ambiente, estara

mais capacitada a assimilar a orientaC;8o espacial no papel. Muitas professoras,

preocupadas com 0 desenvolvimento espacial ligado ao ensino da leitura e escrita,

em vez de se preacupar em trabalhar estas noc;oes ao nivel de mavimentaC;8a de

carpa, de interioriz8C;80 das a<;oes, tentam comeC;ar esta arientac;ao pelos exercfcios

graficos. Isto e um erro, pais as crianc;as apenas aprendem a imitar e decorar a que

e exigido delas, sem que haja qualquer transformac;ao mental significativa.

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OLIVEIRA (1997) cita que um individuo que possui orientac;:ilo espacial no

papel menlalmente organiza sua folha ao escrever au ao desenhar, antes de passar

para estas atividades.

Ah~m disso, como foi dito anteriormente, na cultura do individua, a escrita e a

leitura possuem urna dire~ao grafrca: escreve-se e le-S8 de forma horizontal, da

esquerda para a direita e de cima para baixo. A crianc;:a aprende a ler em um espac;:o

determinado. Cada letra tem uma forma e uma forma orientada. Uma ambigOidade

de letra pode modificar 0 sentido dela.

Depois desta fase em que 0 individuo aprende a orientar as objetos ele passa

a organiza-Ios, a combinar as diversas arientac;oes. Isto significa que ele nae mais

toma seu proprio corpo como ponto de referencia, mas escolhe ele mesma Qutros

pontes, e as colocara segundo diversas oriental):6es. Ele chega, entaD, as noc;6es de

distancia, de direc;ao; passa a prever, antecipar e transpor. Depois que as diferentes

direc;oes sao conquistadas pel a individua, a transposiC;ao sabre a autro e sabre as

objetos Eo possivel.

Ele desenvalve tambem a memoria espadal, 0 que Ihe possibilita descobrir os

abjetos que estao faltando em determinado lugar e reproduzir um desenho

previamente observado. Alem disso, se ele tiver uma memoria espacial

desenvolvida, nao "se esquecera~ dos sfmbolos graficos e nem das direc;oes a

seguir.

OLIVEIRA (1997) cita ainda que a partir desta organizac;:ilo espacial a crianc;:a

chega a compreensao das rela.yoes espaciais, tao importante para que se situe e se

movimente em seu meio ambiente. Estas relac;oes espaciais sao obtidas grac;as a

uma estrutura de espac;o, sem a qual nao se conseguiria manter relac;oes estaveis

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entre as objetos que estao aD redar. Esta etapa das rela90es espaciais baseia-se

unicamente no raciocinio a partir de situa90es bem precisas (DE MEUR e STAES,

1984, p. 15), como perceber a rela9iio existente entre diversos elementos, a rela9iio

de simetria, oposic;ao, inversao. Toma-se capaz de trabalhar com as progress6es de

tamanho, de quantidade e transposi9iio. Por exemplo, ela toma-se capaz de

desenhar a planta de sua escola ou de sua casa, de seguir urn trajeta a partir de

uma planta, al!;m de trabalhar mais facilmente com mapas geograficos.

E necessario, entao, que a crian98 tenha condic;oes de questionar seu meio,

que experiencie as situ8goes de seu corpo em relagao ao espa90 e que realize urn

trabalho mental que Ihe permitira organizar-se, organizar e representar seu espago

Para OLIVEIRA (1997), esta organiza9iio aparece mais ou menos com 8 ou 9

anos, epoca em que ela e capaz de situar direita e esquerda sabre os objetos em

relag80 a urn ponto de vista exterior.

A orientaC;80 e a estruturag80 espaciais sao importantes porque possibilitam a

crianya organizar-se perante 0 mundo que a cerca, prevendo e antecipando

situa90es em seu meio espaciaL

2.5.4 Oificuldades na Estrutura9iio Espacial do Canhoto

De acordo com OLIVEIRA (1997), muitas dificuldades podem advir de uma

ma integrayao da orientayao espaciaL Sao diversos os motivos que impedem ou

retardam 0 plena desenvolvimento da crianya, como por exemplo:

a) limitayao de seu desenvolvimento mental e psicomotor;

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b) criarW8s tolhidas em suas experiencias corpora is e espaciais e que nao

tem oportunidades de manipular os objetos ao seu redor;

c) as que nao desenvolveram a noc;ao de esquema corporal, acarretando

prejuizQ na func;ao de interiorizac;ao;

d) as que nao conseguiram ainda estabelecer a dominancia lateral e nem

assimilaram as nQ(;6es de direita e esquerda atraves da internaliz8C;80 de

seu eixQ corporal;

e) "insuficiencia ou deficit da func;ao simb6lica. A crianc;a e inca paz de

assodar termos abstratos como direita e esquerda, puramente

convencionais, ao que sente ao nivel proprioceptivo" (lE BaULCH, 1984a,

p.208);

f) dificuldade de represental'ao mental das diversas nOl'oes.

As causas nao S8 esgotam nestas que foram apresentadas. As

conseqOencias sao as vezes desastrosas nas aprendizagens escolares. Serao

ciladas algumas, propostas por DE MEUR, STAES (1984), lE BaULCH (1984a e b)

e SANTOS (1987), que sao fundamentais:

a) Muitas crianc;as canhotas que nao conseguem assimilar os termos

espaciais confundem-se quando se exige uma nOC;:8o de lugar, de orientac;:ao, tanto

no recreio, quanto nas salas de aula.

b) As vezes, conhecem os termos espaciais mas nao percebem as posic;:6es.

Muitas tern dificuldades em perceber as diversas posi96es, colocando em risco sua

propria aprendizagem, pois nao discriminam as direc;:6es das letras. Ex.: "m" e "u" e

"on", "b" e "p", "6" e "9", "b" e "d", "pOe "q", "15" e "51" etc.

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c) CrianIY8S canhotas que, embora percebam 0 espayo que as circundam, naD

tern memoria espacial. Algumas "esquecem", ou confundem aS significados dos

simbolos representados pelas letras graficas.

d) A lalta de organiza9ao espacial e um lator muito encontrado, inclusive em

adultos. Significa que 0 individuo esta constantemente 58 chocando e esbarrando

nos objetos. Por exemplo, se estiver com algum objeto a tiracolo, como uma bolsa,

nao percebe 0 espa90 ocupado par seu corpo somado a bolsa e esbarra em tudo

quando passa. Apresenta muitas vezes indecis6es quando tern que S8 desviar de

urn obstaculo, naD sabendo para que lado deve ir. Alem disso, nao consegue

ordenar e organizar seus objetos pessoais dentro de urn armaria ou uma gaveta.

NaD consegue, tambem, preyer a trajetoria de uma bola au de urn objeto

qualquer quando este e atirado em determinado alvo

Segundo OLIVEIRA (1997), pode possuir, tambem, como conseqOencia, lalta

de orientac;:ao espacial no papel. NaD can segue preyer a dimensao de seus

desenhos, a que a obriga a desenhar algumas partes e espremer as outras em urn

canto da folh8. Nao obedece aos limites de uma folha acumulando palavras ao sentir

que a folha vai acabar au continuando a escrever fora dela.

Na escrita nao respeita a direr;80 horizontal do trar;ado, ocorrendo

movimentos descendentes ou ascendentes e nao consegue escrever em cima da

pauta.

Na leitura e escrita, a crianr;a canhota tern dificuldades em respeitar a ordem

e a sucessao das letras nas palavras e das palavras nas frases. Alern disso, possui

incapacidade em locomover os olhos durante a leitura obedecendo ao sentido

esquerda-direita e chegando mesmo a saltar uma ou rna is linhas.

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Em matematica, poctera apresentar dificuldades em organizar seus numeros

em fileiras e aeaba misturando 0 que e dezena, centena e milhar. Muitos dos

exercicios exigem da crian98 uma analise sistematica dos elementos e ela tera

dificuldade em classific8Mlos e agrupa-Ios.

e) Dificuldade em reversibilidade e transposi9ao (conseguida a partir de 8

anos somente). "A n09.30 de reversibilidade possibilita, pouco a pouco, as criang8s a

compreensao de igualdades como:

8+5 = 3+10

10-3 = 7

7+10-7

ou ainda que 7 x 3 de a mesma resposta de 3 x 7" (DE MEUR, 1984, p. 39).

f) Dificuldade para compreender relagoes espaciais. A compreensao das

relayoes espaciais envolve raciocinio e urn trabalho mental mais elaborado. Fazem

parte da 16gicamatematica. A crian9a nao percebe 0 que muda de uma Figura para

outra nas representagoes espaciais, nao percebe as relagoes como a simetria,

inversao, transposig8o, elementos adicionados ou subtraidos. Nao consegue realizar

desde progressoes mais simples como tamanho, quantidade, ritmos e cores, como

progressoes mais complexas, como a varia9ao de dais au mais elementos numa

ordem de sucessao e simultaneidade, au mesmo compreensao das rela<;:oes

existentes entre as diversas orienta.yoes juntas.

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2.5.5 Cuidados na Escola

Segundo ADRADOS (1993) os canhotos sao os que na cia sse e em casa

sofrem rna is injustic;as, pois ninguem suspeita da causa de sua lentidao e da sua

dificuldade de fazer as coisas bem-feitas.

Ate mesma quando a crian98 camega a ter dar de cabec;a, gaguejar au

manifestar estrabismo e desorientac;ao, as educadores naD se daD conta. "Suponho

que eles pensem estar falando com a nossa roupa" - comentou certa vez Marilyn

Monroe, canhota que teve uma enorrne luta silenciosa no orfanato quando menina

(ADRADOS, 1993)

Pais e professores frequentemente se mostram surpresos quando sao ditas

as origens das dificuldades do aluno. Somente quando as educadores se unem

voluntariamente aos psic6logos, a readaptac;ao da crianC;8 se ve coroada de exitos.

E certa que ainda nao estao esclarecidos todos as fatores fisiol6gicos, intelectuais e

pedag6gicos dos canhotos. Esta tambem claro que as sequelas do canhotismo sao

numerosas nos escolares maiores, e que, devido a sua organiza9aO cerebral

particular, esta nao pode ser eliminada, e necessario deixar·se conviver com ela.

(AD RADOS, 1993)

Atualmente tem-se levado em conta uma serie de praticas psicopedagogicas

que proporcionam conselhos aos pais e aos professores da escola.

Em poucas palavras, a atitude familiar mais favoravel consiste em deixar a

crian9a livre para jogar, comer, escrever, etc. com sua mao preferida. Os pais

deverao considerar uma a uma as diversas dificuldades e oferecer as crian9as

conselhos para soluciona·las. Assim os pequenos nao se preocuparao em expor

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seus medos. E uma atitude mais eficaz do que a repreensao e as diversas

chamadas de aten98.0, que sao inuteis. E aconselhavel tambem que os irmaos e as

irmas maiores participem na educ8g8o dos men ores devendo ter para com eles

muita paciEmcia nos exercicios escolares. (ADRADOS, 1993)

No que diz respeito aos professores, estes admitirao a lentidao dos trabalhos

do canhoto e reduzirao seus exercicios escritos, com a condig8o de que naD percam

sua qualidade. Cada professor determinara que tipos de exercicios sao mais

beneficos para esses alunos, e entre Qutras eoisas tara dos ditados que requeiram a

participayao das formas e da mem6ria motriz.

Para que se chegue a uma boa estabilidade do bra~o esquerdo dominante

devem-se eleger as oportunas li~6es de ginastica, de ritmica, de flexibilidade e de

relaxamento. Toda esta obra sera recompensada no terreno familiar e pedagogica,

sempre e quando se leve em considera9ao a pSicofisiologia da mao esquerda.

(ADRADOS, 1993)

Alem disso, letra ilegivel e inversao de letras sao os problemas mais

frequentes em crianr;:as que sao forr;:adas. 0 canhoto e normal e deve ser

respeitado.

FIGURA 1. 0 MODO CERTO DO ESCREVER

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FIGURA 2: 0 MODO ERRADO DE ESC REVER

FONTE: COELHO, 1996

Os canhotos tern tendemcia a dobrar 0 punho quando escrevem. Esta postura

deve ser corrigida porque, alem de cansativ8, pode causar deformac;oes na coluna.

o certa e escrever com a folha inclinada a 45°

Frequentemente as crianc;as canhotas fazem desenhos que sao a imagem em

espelho das figuras que copiam. Isto e natural, sendo expressao da lateralidade. A

crianC;8 nao deve ser "corrigida"

o canhoto geralmente desenha um perfil voltado para a esquerda, enquanto °destro, para a direita. (COELHO, 1996)

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FIGURA 3: PERFIL DESENHADO POR CANHOTO

FONTE: COELHO, 1996

FIGURA 4 PERFIL DESENHADO POR DESTRO

FONTE: COELHO, 1996

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CONCLUSAO

Atraves de uma proeminente ranhura chamada fissura longitudinal, 0 cerebra

e dividido em duas metades chamadas hemisferios. Na base desta fissura encontra-

S8 urn espesso feixe de fibras nervosas, chamado corpo calose, 0 qual fornece urn

elo de comunica.y8o entre as hemisferios. a hemisferio esquerdo contrala a metade

direita do corpo e vice-versa, em raz80 de urn cruzamento de fibras nervosas no

bulbo.

Ainda que os hemisferio direito e esquerdo pare9am ser uma imagem em

espelho urn do Qutro, existe uma importante disting80 funcional, entre eles. Na

maioria das pessoas, par exemplo as areas que controlam a fala estao localizada no

hemisferio esquerdo, enquanto areas que governam percep90es espaciais residem

no hemisferio direito.

A dominancia cerebral refere-se ao fato de que um dos hemisferios cerebrais

e 0 "dominante" em certas funyoes. A diferenr;:a e predominantemente percebida na

linguagem e habilidade manuais. Ainda que exista urna variedade de individuo para

indivfduo a linguagern e essencialmente representada no hemisferio esquerdo

enquanto as habilidades nao verba is tern a ser representadas no hemisferio direito.

Area de Broca e area de Wenick referem-se, a regiao do hemisferio dominante que

exerce a funyao da linguagem.

Ern relayao aos problemas emocionais acredita-se que estes estejam

relacionados a auto-imagem negativa decorrente das dificuldades que tais crianr;:as

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apresentam no manuseio do lapis ou da caneta e das dificuldades de orientac;8.o

espacial.

Da mesma forma, naD S8 pade pensar que urna crian<;:8 canhota venha a ter

problemas de aprendizagem por possuir a parte esquerda do corpo como

dominante. Todavia esta ideia nem sempre fOl aceita e era comum 0 professor ou a

familia obrigarem a crian<;:8 canhota a escrever com a mao direita. Sen do assim

canhoto nao era e naD e vista com bons "olhos" - este fato pade ser percebido no

significado dos termos utilizado para designarem 0 destro e 0 canhoto. Assim temos

o destro (cuja palavra significa agil, sagaz) e 0 termo canhoto (cuja palavra significa

inabil, desastrado). Pode-se perceber, portanto, que ja na escolha dos termos para

S8 referir a urna e a Dutra, existe urna forte discriminac;ao em rela<;:80 80 individuo

canhoto cujo nome ja encerra a questao do desajeitado. Eo falso pensar que 0

canhoto e desajeitado 56 pelo simples fato de ser canhoto, 0 que acontece e que

vivemos numa sociedade construida para destros (que sao a maioria) como

exemplo, se analisarmos uma sala de aula com cadeira universitaria podemos

constatar facilmente que 0 numero de cadeiras que deveriam ser destinadas aos

canhotos esta bern abaixo do numero. minima que deveria ser exigi do, ou seja 5%.

Isto se existirem cadeiras destinadas aos canhotos.

Alem das carteiras escolares, 0 canhoto deve-se adaptar aos materiais

escolares feitos para os destros, tais como· regua. tesoura, caderno espiral. etc; e a

instrumentos de usa cotidiano, como; talheres, abridores de lata, sacarolhas, violao,

ate a catraca dos onibus, 0 metro facilita a introdu9aO dos bilhetes para os individuQs

destros. Para complicar ainda mais some-se 0 desconhecimento e alguns

educadores sobre a posic;ao que 0 canhoto deve adotar para escrever.

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Vivendo, num mundo planejado para 0 destre, nao admira que 0 canhoto sinta

dificuldades nas atividades do dia-a-dia e seja desajeitado para realizar algumas

delas.

Apos a realiz89ao desta pesquisa, acredita-se que a crian98 canhota e tao

normal quanta a crian98 destra e 0 fato dela possuir dominancia lateral esquerda

nao e motivD para alarmes au repressoes. As dificuldades que urna crianC;;:8 canhota

pade apresentar para escrever, tais como, altera90es de postura e pOSig80 do brac;o

e da mao, sao devidas a falta de orienta~6es sobre qual a melhor postura que ela

deve adotar na escrita e de qual deve ser a posi~ao da folha de papel e do lapis.

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