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I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5556 DESIGUALDADES NO ESPAÇO URBANO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS – O EXEMPLO DO BAIRRO DE CAMPO GRANDE - RJ Vânia Regina Jorge da SILVA Mestre pela PUC – Rio [email protected] Resumo O presente artigo se desenvolve através da reflexão teórico-conceitual tendo por objetivo examinar processos aparentemente díspares como: segregação sócio-espacial e centralização/descentralização das atividades comerciais e de serviços que são gerados no mesmo contexto, no processo de acumulação do capital que, através de várias estratégias engendradas por agentes e classes sociais, com os seus interesses econômicos e políticos, são espacializadas na forma de diferenciações, ou melhor, desigualdades. Não só propõe a mesma origem para estes processos mencionados como também a possibilidade de trabalhar com eles de forma dialética a fim de promover o entendimento de recortes espaciais, tendo como exemplo Campo Grande, na cidade do Rio de Janeiro, bairro que se encontra segregado e, ao mesmo tempo, figura como um dos importantes subcentros da cidade carioca. Para tal utiliza o arcabouço teórico conceitual ligado à idéia de produção social do espaço ao ressaltar o espaço relacional como um resultado da dialética das diversas dimensões, aspectos, escalas de interações redundando numa produção impregnada de intencionalidades, conflitos, interesses, contradições e política. Palavras-chave: Segregação, descentralização, espaço, desenvolvimento geográfico desigual, Campo Grande – Rio de Janeiro. Abstract INEQUALITIES IN URBAN SPACE: SOME THEORETICAL- METHODOLOGICAL CONSIDERATIONS - THE EXAMPLE OF THE NEIGHBORHOOD CAMPO GRANDE - RJ The present article is developed through theoretical-concepcional reflections, aiming to examine apparently disparate processes such as: social-spatial segregation and centralization/decentralization of commercial activities and services, generated in the same context, namely: in the process of capital accumulation that, by divers engendered strategies by agents and social classes with their economical and political interests, are spaciously divided by differentiations or better by inequalities. The aim of this study is not only to demonstrate the same origin of the above-mentioned processes, but to show the possibility to work with them in a dialectic form, promoting the understanding of spatial outlines as it is the example of the neighborhood Campo Grande in Rio de Janeiro, the part of the city which finds itself segregated and at the same time is figuring as one of the important Sub-centers of the carioca city. For this, it uses the theoretical and conceptual framework of social space production emphasizing the related space as a dialectical result of divers dimension, aspects, and interaction scales, resulting in a

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    DESIGUALDADES NO ESPAO URBANO: ALGUMAS CONSIDERAES TERICO-METODOLGICAS O EXEMPLO DO BAIRRO DE CAMPO

    GRANDE - RJ

    Vnia Regina Jorge da SILVA Mestre pela PUC Rio

    [email protected]

    Resumo

    O presente artigo se desenvolve atravs da reflexo terico-conceitual tendo por objetivo examinar processos aparentemente dspares como: segregao scio-espacial e centralizao/descentralizao das atividades comerciais e de servios que so gerados no mesmo contexto, no processo de acumulao do capital que, atravs de vrias estratgias engendradas por agentes e classes sociais, com os seus interesses econmicos e polticos, so espacializadas na forma de diferenciaes, ou melhor, desigualdades. No s prope a mesma origem para estes processos mencionados como tambm a possibilidade de trabalhar com eles de forma dialtica a fim de promover o entendimento de recortes espaciais, tendo como exemplo Campo Grande, na cidade do Rio de Janeiro, bairro que se encontra segregado e, ao mesmo tempo, figura como um dos importantes subcentros da cidade carioca. Para tal utiliza o arcabouo terico conceitual ligado idia de produo social do espao ao ressaltar o espao relacional como um resultado da dialtica das diversas dimenses, aspectos, escalas de interaes redundando numa produo impregnada de intencionalidades, conflitos, interesses, contradies e poltica. Palavras-chave: Segregao, descentralizao, espao, desenvolvimento geogrfico desigual, Campo Grande Rio de Janeiro.

    Abstract

    INEQUALITIES IN URBAN SPACE: SOME THEORETICAL-METHODOLOGICAL CONSIDERATIONS - THE EXAMPLE OF THE

    NEIGHBORHOOD CAMPO GRANDE - RJ

    The present article is developed through theoretical-concepcional reflections, aiming to examine apparently disparate processes such as: social-spatial segregation and centralization/decentralization of commercial activities and services, generated in the same context, namely: in the process of capital accumulation that, by divers engendered strategies by agents and social classes with their economical and political interests, are spaciously divided by differentiations or better by inequalities. The aim of this study is not only to demonstrate the same origin of the above-mentioned processes, but to show the possibility to work with them in a dialectic form, promoting the understanding of spatial outlines as it is the example of the neighborhood Campo Grande in Rio de Janeiro, the part of the city which finds itself segregated and at the same time is figuring as one of the important Sub-centers of the carioca city. For this, it uses the theoretical and conceptual framework of social space production emphasizing the related space as a dialectical result of divers dimension, aspects, and interaction scales, resulting in a

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    production deeply influenced by intentionally acting, conflicts, interests, contradictions and politics. Keywords: Social-spatial segregation, decentralization, space, uneven geographical development, Campo Grande-Rio Janeiro.

    CONSIDERAES INICIAIS

    O presente artigo representa uma busca por embasamento terico e metodolgico no qual seja possvel trabalhar os processos de segregao scio-espacial e descentralizao de comrcio e servios tendo como exemplo Campo Grande RJ. A relevncia deste ocorre ao se trabalhar estes dois processos aparentemente dspares de

    uma forma dialtica. A empiria que foi trabalhada ocorreu pela observao e coleta de dados a

    respeito deste proeminente bairro localizado na Zona Oeste do municpio do Rio de Janeiro. Embora se trabalhe com o bairro, existe a necessidade, de considerar a relao deste com a cidade carioca e a Regio Metropolitana do Rio de Janeiro visto que esto sendo avaliados os processos mencionados. O recorte temporal ocorre desde a dcada de 1990 at a presente data (2010) visto que, aborda alguns movimentos que foram espacializados, percebidos como condicionantes e participantes de sucessivas dinmicas

    at a presente considerao. A necessidade de trabalhar com estes dois processos j mencionados veio diante

    da constatao de contradies ao examinar o recorte espacial suscitando as seguintes questes: como trabalhar, no mesmo contexto, a percepo da segregao scio-espacial e a existncia de um importante subcentro comercial neste bairro? E, como estes interagem promovendo a realidade espacial observada? Que padres de segregao podem ser destacados? O que nos revela o processo de descentralizao com respeito cidade carioca?

    Para exemplificar os processos de segregao e descentralizao foi considerado

    o servio de transporte pblico como um dos elementos estruturadores do espao urbano. Assim, o artigo acha-se organizado da seguinte forma: na primeira parte, sob o

    ttulo: A busca terica metodolgica e conceitual, se faz um embasamento com o qual o trabalho foi construdo destacando o conceito de espao. Na segunda parte, so feitas consideraes sobre segregao scio-espacial e descentralizao exemplificadas em Campo Grande tendo o transporte pblico como um elemento estruturador que ressalta

    os processos. As consideraes finais tm por objetivo justamente demonstrar a

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    pesquisa como algo em aberto porque considera processos dinmicos que, com novos movimentos requerem novas investigaes.

    A BUSCA TERICA METODOLGICA E CONCEITUAL

    Quanto ao embasamento terico conceitual, foi trabalhado com o espao geogrfico desde a perspectiva do espao absoluto, destacando as de espao relativo e espao relacional nas consideraes de Harvey (2006). Ainda de acordo com o mesmo autor (1980, p.5) atravs das prticas sociais que se pode apreender a natureza do espao e as relaes entre processo social e formas espaciais, entre estas prticas

    sociais, podemos citar a seletividade. Na atualidade, esta se acha governada pela lgica

    de mercado, (...) cada vez mais especializada e fragmentria do espao (...), existindo em funo de uma diviso territorial do trabalho (MOREIRA, 2007, p. 86). Ao passo que a cidade do Rio de Janeiro se inseriu na lgica capitalista, houve vrios momentos de seletividade de acordo com os interesses dos diversos agentes sociais do espao, em especial, dos especuladores imobilirios, configurando no decorrer do tempo, um espao segregado e fragmentado. Isto pode ser observado tanto na escala da cidade

    como ao examinar o espao interno de Campo Grande. Na busca por uma teoria social crtica que desse conta da totalidade do espao,

    ou seja, que relacionasse sua parte fsica, social e mental, Lefebvre (1994) destaca o espao como uma produo social. Sendo assim, este contm as relaes sociais: produo, reproduo e reproduo das relaes de produo, estes trs aspectos estando imbricados. As relaes sociais de produo referem-se s necessidades

    materiais sendo satisfeitas atravs do trabalho social. As relaes de reproduo, de acordo com o autor, correspondem reproduo biolgica que d continuidade a sociedade. E, no caso da sociedade capitalista, as relaes de reproduo da produo

    referem-se a toda reproduo de materialidades e simbolismos que possam dar continuidade a esta sociedade enquanto uma sociedade de classes. Nosso interesse

    demonstrar esta reproduo da produo em classes espacializadas de forma desigual, ao mesmo tempo segregada e homogeneizada e com suas contradies e conflitos.

    Na produo social do espao, h uma influncia mtua num processo contnuo e dialtico entre sociedade e espao atravs das relaes sociais. Corroborando este pensamento, nota-se que o espao ativo e condicionante das aes, conforme Gomes acrescenta: O espao geogrfico simultaneamente, o terreno onde as prticas sociais

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    se exercem, a condio necessria para que elas existam e o quadro que as delimita e lhes d sentido (2002, p 172). Ainda, Santos (1997) aborda sobre o espao como co-produtor, isto , interfere no devir. No que este seja um ser autnomo, mas, atravs da prtica social, com suas intencionalidades, simbolismo, polticas que o espao interfere

    na sua produo. Um espao segregado, como ser exemplificado com a cidade do Rio de Janeiro em especial, o bairro de Campo Grande, condiciona a sociedade na

    reproduo desta realidade e de outras, como as centralidades. Este texto prope a apreenso das contradies e conflitos que emergem no espao como reflexo para se galgar mudanas.

    Atravs das prticas sociais que percebemos a produo do espao, sendo assim,

    podemos considerar o espao urbano, neste encontram-se atores que atravs de suas aes (ou prticas) promovem processos scio-espaciais que o remodelam. Corra (2001, 146) identificou estes como (...) agentes que produzem e consomem (o) espao urbano: proprietrios dos meios de produo, sobretudo os grandes industriais, proprietrios fundirios, promotores imobilirios, Estado e grupos sociais excludos. A inter-relao destes agentes resulta para o espao em aspectos como os apresentados a

    seguir: o espao urbano fragmentado e articulado, reflexo e condio social, campo simblico e de lutas (op. cit. p. 145). Como o autor salienta, a cidade capitalista se apresenta como um mosaico urbano exemplificado pelas partes funcionais de uma dada rea metropolitana. Porm, estes fragmentos esto articulados atravs de fluxos como deslocamentos de consumidores, jornada de trabalho, interaes interindustriais etc. (p. 148), campo de interesse do planejamento urbano, visto que, estes deslocamentos demandam oferta de transporte que viabilize estas interrelaes1.

    Ainda, justificando trabalhar com o transporte pblico relacionado aos processos de segregao scio-espacial e descentralizao do comrcio e de servios, Harvey (1994, 202) considera a frico da distncia como barreira a interaes impondo custos nas transaes do sistema de produo e reproduo. Visto que o sistema de

    transporte um requisito para a mobilidade espacial e acessibilidade este elemento torna-se relevante ao estudarmos o desenvolvimento desigual do espao. Percebemos

    ento, no caso da cidade do Rio de Janeiro que, dentro do processo de acumulao capitalista, novos investimentos em transportes pblicos tendem a se concentrar onde j

    1 So feitas consideraes extensas quanto importncia do transporte pblico e do planejamento urbano

    deste elemento estruturador do espao urbano em Silva (2009).

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    existem infra-estruturas, formando assim, uma concentrao destas e de capitais, reproduzindo a diferenciao espacial.

    Ressaltando a influncia desta infra-estrutura e sua relao com a produo e reproduo de uma espacialidade segregada bem como de centralidades, Lago (2007a, p. 286) considera que a intensidade de circulao diria

    (...) resulta da articulao entre a hierarquia espacial de centros e subcentros econmicos, as condies de transportes coletivos (os itinerrios, a periodicidade e as tarifas) e a dinmica imobiliria, responsvel pela localizao dos diferentes setores sociais no territrio.

    O embasamento terico metodolgico da pesquisa ocorre de acordo com a teoria

    do desenvolvimento geogrfico desigual e suas tendncias contraditrias para diferenciao e equalizao, ou igualizao (SMITH, 1998). Esta se tornou necessria em virtude das diferenciaes scio-espaciais observadas no bairro em estudo e na cidade do Rio de Janeiro engendradas no decorrer do tempo. Concomitante ao processo

    de segregao scio-espacial engendrado principalmente pela especulao imobiliria no somente por esta, visto que se requer todo um contexto poltico e econmico para

    tal e a ao dos vrios agentes espaciais houve os processos de centralizao e descentralizao do comrcio e de servios por causa dos interesses de acumulao do capital nos seus diversos setores. Assim, Smith (1998), discorre que existe momento em que a equalizao predomina sobre a diferenciao. Quanto primeira, existe no bojo do desenvolvimento do capital a necessidade de expandir constantemente seu mercado, seus produtos em escalas geogrficas cada vez maiores, ou seja, este processo pode ser observado em vrias escalas, inclusive na intra-urbana. Segundo o autor, esta igualizao na verdade a generalizao de determinado modo capitalista. Podemos

    afirmar que quando houve a descentralizao do comrcio e de servios, processo observado tambm na urbe carioca, provocando a emergncia do que Kossmann e Ribeiro (1984) observaram como subcentros, na verdade houve novos momentos de processos inseridos na acumulao progressiva do capital e consequentemente na

    produo social do espao, criando novas centralidades ou subcentros. Diante do processo contraditrio de centralizao e disperso da produo

    capitalista, que compe o desenvolvimento geogrfico desigual no contnuo processo de acumulao em curso, pode-se destacar no somente a produo de mercadoria terra enquanto valor de troca, mas tambm a descentralizao do setor tercirio percebido em

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    cidades como o Rio de Janeiro, constituindo Campo Grande um dos importantes subcentros carioca. Portanto, a seguir, feita uma comparao entre o bairro de Campo Grande com outros que, configuram tambm importantes subcentros carioca, com o intuito de confirmar a importncia da sua centralidade e a segregao urbana como um

    fato scio-espacial vigente.

    SEGREGAO E DESCENTRALIZAO: PROCESSOS DSPARES?

    Os processos de segregao scio-espacial e o de descentralizao das atividades de comrcio e servio no so desenvolvidos em dinmicas totalmente independentes. So na verdade, processos que ocorrem dentro de uma dinmicas mais abrangente, qual

    seja, a acumulao contnua do capital que tende, de acordo com seus intentos, ora diferenciar, ora, igualizar, e estas dinmicas so espacializadas, portanto, processos

    sociais espacializados. Ao reconsiderar as postulaes de Smith (1998), se nota atravs da expanso do

    espao urbano carioca e as relaes intraurbanas de suas partes funcionais as tendncias contraditrias para a diferenciao e para igualizao que determinam a produo capitalista do espao que surge no mago da produo capitalista e inscreve-se na paisagem como um padro de desenvolvimento desigual (p.149). Em suas postulaes, o autor abordou quanto a causa da diferenciao espacializada ser a diviso do trabalho em suas variadas escalas mas tambm a diviso do capital em seus diversos setores. Diante disto, podemos apreender sobre as diferenciaes produzidas diante da especulao imobiliria que, com a participao de vrios agentes que interferem na produo do espao (Estado, especulador imobilirio, proprietrio de terras) foram criando, de acordo com interesses de acumulao do capital, meios para diferenciar reas destinadas s camadas sociais de acordo com as suas possibilidades de aquisio de uma mercadoria chamada terra, seja para especulao ou moradia. Entendem-se estas reas diferenciadas como mosaicos (HARVEY, 2004, p.111) que expressam diferenas geogrficas como legados histricos e geogrficos reproduzidos, sustentados e reconfigurados por processos polticos e econmicos. Com este intento, primeiro cabem algumas consideraes de cada processo com exemplificaes e depois, relacion-los. Ao considerar a segregao em seus variados aspectos, suas causas e conseqncias, agentes sociais, percebemos diversas postulaes sobre este conceito. Entre estes, destacaremos alguns autores, por exemplo, Villaa (2001) argumenta que o padro mais conhecido de segregao metropolitana brasileira

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    o de centro x periferia. Importante destacar em suas postulaes que, estudar a segregao como um processo fundamental para compreender a estrutura espacial intra-urbana. Processo este em que as classes sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regies gerais ou conjunto de bairros na metrpole [grifo do autor] (p. 141, 142). Quanto ao padro de segregao que a cidade do Rio de Janeiro apresenta, cabe destacar ainda outras afirmaes do referido autor no qual considera que o fato de no haver a presena exclusiva de camadas da mais alta renda em nenhuma regio geral na metrpole no invalida o padro ncleo periferia ou, centro-periferia. Villaa (2001, p. 143) a respeito do assunto postula:

    Nada disso altera a tendncia concentrao das camadas de mais alta renda naquelas regies. (...) O que determina, em uma regio a segregao de uma classe a concentrao significativa dessa classe mais do que em qualquer outra regio geral da metrpole.

    A importante contribuio das postulaes de Villaa (2001) est no fato deste discorrer da segregao como um processo e tendncia, e que esta necessria dominao social, econmica e poltica por meio do espao (p. 143). Contrapondo com o autor acima, Lago (2000) apresenta o outro padro de segregao urbana apontando este como conseqncia da crise e reestruturao econmica e estatal que o pas perpassa desde a dcada de 1980. A autora aborda a localizao das classes sociais opondo o padro desigual integrado centro-periferia ao

    novo padro fragmentado/excludente. Quanto ao primeiro, argumenta que este padro imperou at os anos 80 numa configurao espacial em que havia concentrao de

    emprego e moradia das classes mdias e superiores e dos equipamentos urbanos de servios nas reas centrais em detrimento dos espaos perifricos carentes de forma geral. Nas dcadas de 1980 e 1990, se amplia a mesma lgica segregadora ao se expandir o mercado empresarial e de servios para a classe mdia em reas perifricas, destacando-se que, primeiro a ao empresarial e depois a ao pblica de regulao e regularizao fundiria ia a reboque do capital. Assim, nesta fase j se apresenta uma configurao espacial que ir se reforar aps a crise, ou seja, a proximidade espacial de pobres e ricos na periferia dando um novo aspecto ao tema da segregao urbana.

    O novo padro de segregao urbana, conhecido como fragmentado/excludente, reduz a escala e aproxima ricos e pobres, ao passo que diminui as interaes dos grupos sociais distintos motivados e justificados pelo medo da violncia. Esta nova

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    configurao se viabiliza por causa do aumento das desigualdades de renda e excluso social diante das reestruturaes econmicas e polticas. Lago (2007a) aborda que o primeiro modelo, centro-periferia, se pautava na dimenso espacial das desigualdades de acesso ao trabalho e a moradia, e a bens e servios urbanos. Enquanto no outro

    modelo, fragmentado/excludente, houve o foco no efeito das novas configuraes espaciais (condminos, favelas etc.) sobre as formas de interao entre os diferentes. Relacionando local de moradia e trabalho bem como a composio scio-espacial da metrpole do Rio de Janeiro, utiliza o mapa 1 a seguir mostrando uma exemplificao do segundo padro de segregao2. Porm, com todo o respeito s consideraes da autora, at que ponto percebemos nos processos espaciais que so dinmicos,

    continuidades e rupturas? Ou seja, at que ponto se pode observar tanto o modelo centro-periferia como o fragmentado/excludente? Ainda se percebe, analisando esta

    figura, a permanncia do modelo dual? No estariam as pautas dos dois padres em recorrncia?

    MAPA 1 TIPOLOGIA SOCIOESPACIAL POR AED 2000

    Fonte: Observatrio das Metrpoles (2000).

    2 Explicitando as tipologias socioespacial utilizadas no mapa 1, Lago (2007, p. 9) observa que foram

    desenvolvidas baseadas em dados censitrios de 1980-2000 atravs de uma anlise fatorial entre as categorias scio-ocupacionais pelas reas desmembradas da metrpole do Rio de Janeiro chegando a oito tipos socioespaciais: superior, superior mdio, mdio, mdio inferior, operrio, popular operrio, popular e popular agrcola. Na figura citada, a autora trabalha com quatro englobando estes oito com o objetivo de relacionar a composio scio-ocupacional de cada rea com o todo da metrpole. Ainda, estas categorias envolvem tipos de ocupao envolvendo desde grandes empresrios at agricultores.

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    FIGURA 1 MODELO NCLEO-PERIFERIA NA METROPOL. DO RIO DE JANEIRO

    Fonte: Abreu (2006).

    Considerando ainda o mapa 1, podemos notar, no caso da cidade do Rio de Janeiro, hoje existe: a predominncia da tipologia de nvel superior na Zona Sul, Barra da Tijuca e Recreio, e algumas reas na Zona Norte; a tipologia mdia em amplas reas da Zona Norte carioca e no centro de Campo Grande; e a tipologia popular e operria se espraiando pelo restante da Zona Oeste que abrangem as reas desde Deodoro at Santa Cruz e Guaratiba, incluindo a maior parte do bairro de Campo Grande. Nota-se que os dois modelos podem ser trabalhados de acordo com o foco do trabalho, ou ainda, em concomitncia. Reafirmando as palavras de Villaa (2001), em Campo Grande, de acordo com a tipologia exemplificada pela autora supracitada, predomina a classe popular e operria, evidenciando assim o modelo dual explorado nesta pesquisa, enquanto que, observa-se tambm a situao do outro modelo analtico atravs da composio diversificada do bairro.

    Conforme figura 1, Abreu (2006) trabalhou com crculos evidenciando o ncleo e os diferentes tipos de periferia na metrpole do Rio de Janeiro de acordo com a sua composio social: o primeiro crculo, o ncleo (ou centro) formado pela rea comercial e financeira central (o antigo core histrico da cidade) e suas expanses pela orla da

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    zona sul. O segundo crculo, a periferia imediata, composta pelos subrbios mais antigos da urbe carioca que se formaram ao longo das estradas de ferro e a zona norte de Niteri. Inclui a faixa da Barra da Tijuca e Jacarepagu, que no ano em que foi feito os estudos pelo autor, apresentava um carter perifrico, porm, com uma ocupao insipiente na poca de classes de alta renda, indicando que esta rea comporia tambm, futuramente o ncleo metropolitano (p.18). O terceiro crculo, a periferia intermediria constituda pelos municpios conurbados adjacentes cidade do Rio de Janeiro e o restante da Zona Oeste deste municpio, da qual Campo Grande faz parte. Finalmente o quarto crculo, a periferia distante, a rea mais afastada e contiguamente urbanizada da metrpole carioca.

    Avaliando o mapa 1 e a figura 1, podemos inferir que a segregao scio-espacial sendo um processo dinmico, no decorrer do tempo, apresenta rupturas e continuidades. Entre as rupturas podemos mencionar a necessidade de observar o padro fragmentado/excludente por este contemplar novas dinmicas scio-espaciais como a proximidade espacial concomitante ao distanciamento social observado em muitas cidades brasileiras exemplificada entre as reas de ocupao popular ao lado de condomnios de luxo. Quanto s continuidades, o padro dual permanece tendo a rea Central da cidade do Rio de Janeiro, com algumas modificaes porque hoje podemos incluir Barra da Tijuca e Recreio, alm do centro e Zona Sul. Em relao com o restante da cidade, esta expressa concentraes que ratificam o padro centro - periferia.

    Aps estas ltimas consideraes torna-se claro que a segregao scio-espacial um produto que se efetiva amplamente no espao urbano e consolidado atravs do tempo por causa de diversos ditames sociais, poltico, econmico e cultural, tendo como agentes efetivos o Estado e as diversas subdivises do capital, em especial o imobilirio e no caso da segregao residencial, a expresso mais evidente da segregao scio-espacial. Neste contexto, ainda pode-se afirmar que os dois padres de segregao abordados, o padro desigual integrado centro-periferia e o novo padro fragmentado/excludente so vises de segregao que no se excluem uma vez que podem ser trabalhados simultaneamente de acordo com a escala. Neste momento da pesquisa tem a pretenso de observar o bairro de Campo Grande principalmente com respeito ao padro centro-periferia pelo fato de se trabalhar com a relao entre o recorte em estudo e a cidade do Rio de Janeiro, e a distribuio desigual de infra-estrutura de transporte pblico.

    Ao avaliar a segregao segundo o padro centro-periferia fez-se uma comparao da renda e o grau de instruo predominante entre o bairro de Campo

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    Grande, com outros bairros da urbe carioca, a saber: Centro, Copacabana, Tijuca, Mier, Madureira, Jacarepagu e Barra da Tijuca. O motivo de escolha destes por estarem espalhados por todas as zonas da cidade do Rio de Janeiro, tornando-se assim, representantes para exemplificar a segregao scio-espacial vigente no Rio de Janeiro.

    De modo que, no que se refere renda, o modelo centro-periferia se apresenta, incluindo Campo Grande e Santa Cruz nesta periferia com as menores rendas per capita dos bairros considerados. Observa-se nas tabelas 1 a seguir que, as maiores rendas per capita ficam respectivamente com Barra da Tijuca, Copacabana e Tijuca, enquanto que, as menores esto em Campo Grande e Santa Cruz. Corroborando a viso da segregao espacial centro-periferia.

    TABELA1 Rendimento domiciliar per capita por bairros do Municpio do Rio de Janeiro em Reais (R$) do ano de 2000. Bairros Rendimento per capita 2000 Barra da Tijuca 2.722,13 Copacabana 1.887,34 Tijuca 1.438,51 Mier 1.091,88 Centro 734,78 Jacarepagu 493,37 Madureira 468,53 Campo Grande 392,49 Santa Cruz 234,36

    Fonte: Armazm de Dados da Pref. do Rio de Janeiro (2009).

    A pesquisa de dados por grau de instruo foi feita atravs da mdia de anos de estudo por bairros, o padro demonstrado o mesmo, onde a maior mdia de anos de estudo se apresenta nos bairros da rea Central da cidade do Rio de Janeiro e das reas mais prximas a esta. Os bairros mais afastados apresentam mdias inferiores do municpio que de 8,3 anos de estudo, conforme esto indicados na tabela 2 abaixo.

    TABELA 2 Mdia de anos de estudo por bairros do Municpio do Rio de Janeiro 2000.

    Bairros Mdia de anos de estudo

    Barra da Tijuca 13,25 Copacabana 11,76 Tijuca 11,28 Mier 11,07 Centro 8,96 Jacarepagu 8,33 Madureira 7,92 Campo Grande 7,63 Santa Cruz 6,15

    Fonte: Armazm de Dados da Pref. do Rio de Janeiro (2009)

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    Conforme evidenciado, atravs da renda e grau de instruo, a segregao no

    padro centro-periferia se apresenta na cidade do Rio de Janeiro, embora, como

    mencionado, este processo possui tendncias de maneira que, temos expressivas

    concentraes de faixas de renda mais altas e maior grau de instruo em reas como

    Copacabana e Barra da Tijuca. No Centro, Jacarepagu, Tijuca, Mier e Madureira, temos uma situao intermediria. Ao passo que, nas reas mais afastadas da rea Central, ocorre a concentrao macia de renda na faixa mais baixa com menor grau de

    instruo, como o caso de Santa Cruz e Campo Grande.

    Tendo por objetivo relacionar os processos de segregao scio-espacial com o de descentralizao das atividades econmicas, percebe-se a necessidade de se ater um pouco aos conceitos de centro, centralidade e nos processos de centralizao e descentralizao no bojo do desenvolvimento da acumulao capitalista.

    Kossmann e Ribeiro (1984) comentam que, no caso do Rio de Janeiro, na dcada de 1930 e mais intensamente na dcada de 1940, o quadro de centralizao comea mudar na cidade carioca, passando para progressiva descentralizao, tomando aps a dcada de 1950 a forma de subcentros. Alguns bairros que atraiam significativas parcelas de estabelecimentos comerciais e de servios que, at ento, estavam limitados ao centro da cidade. Esta segunda maneira de expressar os conceitos de centro e centralidade ocorre a partir da noo de estruturao urbana. Este, mais dinmico e expressando um processo, compreende a importncia dos fluxos que se encontram em movimento no territrio. Considera a centralidade a partir dos fluxos que gera, seja de pessoas, de automveis, de capitais, de decises, de informaes e mercadorias.

    Nesta conformao espacial com o processo de descentralizao e disperso, observou-se tambm o espraiamento urbano. De acordo com Tourinho (2007), o centro perdeu centralidade para novas reas, porm, no perdeu a sua centralidade, continua sendo Centro no apenas em sentido operativo e funcional, mas tambm por aspectos simblicos e formais, alm de funcionais. Ainda, o centro, e as demais reas polarizadoras constituem o mesmo sistema por causa do crescimento da cidade de forma contnua e interligada, portanto, so complementares. Neste contexto, centralidade identifica um espao urbano que pode conter em si condies necessrias para existncia de concentrao de fluxos diversos (riquezas, decises, pessoas, bens).

    Da mesma forma, em uma pesquisa abordando a (re)produo do espao urbano carioca, Ferreira (2007) disserta quanto as recentes modificaes no que diz respeito flexibilizao da produo, do produto e das relaes de trabalho participando na

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    reestruturao da cidade do Rio de Janeiro. O autor percebe as mudanas em andamento entre as centralidades. Desta feita, observa que o bairro do Centro manteve a gesto pblica e do setor de servios, tambm, toda forma de comrcio, permanecendo o centro financeiro e gesto da cidade. Em suas palavras: O Centro do Rio de Janeiro perde empresas, mas adquire novas funes (p. 225, 227).

    Novamente Kossmann e Ribeiro (1984) ao ressaltar que os bairros que se tornaram subcentros na cidade carioca no se encontram nivelados e sim, so hierarquizados ou especializados, observando ainda que no centro da cidade permanece a sua hegemonia por concentrar atividades financeiras e de gesto, dos servios pblicos etc. Sendo assim, o centro da cidade ainda detm uma quantidade expressiva de empresas e filiais, alm dos seus escritrios centrais e administrao, exercendo a funo de controle e deciso (p. 200). Porm, exerce atualmente novas funes, como educacional e de lazer, em virtude do processo de refuncionalizao de muitos prdios que antes se localizavam escritrios e sedes empresariais, como foi explanado anteriormente.

    Cabe ressaltar que, embora haja uma diversidade das abordagens do tema Centralidade, neste trabalho optamos nos fundamentar na viso dialtica espao-sociedade em que enfatiza tanto o sujeito (sujeito/atores sociais da produo do espao) quanto o objeto (o espao como condio para a vida). Em conformidade com Lefebvre (2008), o espao poltico porque envolto de estratgias e interesses das camadas sociais, portanto, impregnados de contradies e conflitos, sendo assim, na descentralizao, o que houve foi a descentralizao das produes e servios, no da gesto, conforme acima indicado, as camadas e classes sociais muitas vezes no apresentam ou no lhe permitido gerir as suas localizaes ou ter o poder poltico para aes de acordo com os prprios interesses. Ou seja, no caso de Campo Grande, at que ponto a distncia, a populao local e adjacente, a infra-estrutura de transporte contriburam para, e perpetuam a sua condio de subcentro de relevncia na cidade carioca?

    Em Campo Grande, devido distncia e s dificuldades de mobilidade, ao adensamento populacional e proximidade com uma rea adjacente povoada, motivaram a emergncia de um subcentro. Aps isto, houve uma diversificao social atravs de uma especulao imobiliria de cunho formal atrelada maior regulao do uso do solo pelo poder pblico e sistema financeiro de habitao contribuindo para uma maior ocupao da classe mdia. Se por um lado, no decorrer do tempo, a rea em estudo se encontra segregada espacialmente, por outro lado a expanso da prpria

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    cidade, a quantidade populacional, a acessibilidade conferida por sua rodoviria e estao ferroviria, e a proximidade com outras reas habitadas, possibilitaram ao bairro condies para a localizao de um importante centro comercial e de servios que, pode-se buscar sua rea de influncia atravs dos fluxos de transporte dirio. Isto posto, podemos perceber o espao urbano como produto de diferentes e desiguais apropriaes feitas pelas classes e camadas sociais no contexto da apropriao privada e no decorrer do tempo, expressando assim diversas temporalidades.

    Uma primeira apreenso que podemos fazer da centralidade do bairro em estudo comear compar-lo com outros na cidade do Rio de Janeiro retomando as consecues quanto ao espao relacional que existe enquanto em relao com outros e expressa intencionalidades inclusive polticas. Sero novamente comparados a Campo Grande os seguintes bairros: Barra da Tijuca, Centro, Copacabana, Jacarepagu, Madureira, Mier, Santa Cruz e Tijuca. A primeira comparao a ser feita com respeito ao nmero total de habitantes em cada bairro em relao ao municpio, conforme tabela 3. O que podemos depreender que entre os bairros relacionados, Campo Grande apresenta a maior populao absoluta com um percentual de 5,08%. Esta informao pertinente para outras comparaes que sero feitas adiante.

    TABELA 3 Percentual de populao por bairro em relao ao municpio do Rio de Janeiro (Censo 2000)

    Bairros Populao total Percentual em relao ao Rio de Janeiro (%)

    Campo Grande 297.494 5,08 Santa Cruz 191.836 3,27 Tijuca 163.636 2,79 Copacabana 147.021 2,51 Jacarepagu 100.822 1,7 Barra da Tijuca 92.233 1,58 Mier 51.344 0,88 Madureira 49.546 0,85 Centro 39.135 0,67 Rio de Janeiro 5.857.904 100

    Fonte: Armazm de Dados da Pref. do Rio de Janeiro (2009).

    A partir do exposto, podemos considerar alguns aspectos que nos auxiliam perceber a centralidade que o bairro exerce atravs das atividades de comrcio e servios. Por exemplo, no setor de educao: entre as instituies de nvel superior nesta localidade temos: a Universidade Moacyr Sreder Bastos que atua na Zona Oeste desde 1969, a FEUC - Faculdades Integradas Campo-Grandenses h mais de quarenta e cinco anos dedica-se formao de professores em diversas reas tambm com cursos de

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    graduao e ps-graduao; ainda, um campus da Estcio de S e da UNIVERCIDADE.; alm destas instituies privadas, h a Universidade Estadual da Zona Oeste (UEZO) com cursos superiores de formao tecnolgica e cursos distncia. Este quadro nos remete a algumas consideraes: 1) A cidade do Rio de Janeiro possuindo trs unidades de universidade pblica, duas se encontram na Zona Norte carioca e uma na Zona Sul, demandando deslocamento de outras reas da cidade, como o caso de Campo Grande Zona Oeste; 2) Os cursos oferecidos na UEZO limitam as escolhas e possibilidades de muitas pessoas visto que no so oferecidos muitos cursos e no abrangem as diversas reas do conhecimento; 3) A maior parte das instituies e cursos da rede privada, assim como no restante da cidade, porm, numa formao continuada, os cursos de ps-graduao sem custo para o estudante e que lhe possibilite uma insero melhor nas atividades acadmicas de pesquisa, so oferecidos nas instituies pblicas, ou ento, em universidades privadas distantes. Todo este quadro compromete a possibilidade de mudanas sociais internas ao bairro e demandam transportes pblicos.

    As pesquisas em catlogo telefnico3 evidenciam que existe nos bairros comparados a hierarquia e hegemonia de centralidades entre eles. Em termos totais, o bairro de Campo Grande apresenta o maior nmero de unidades de educao4 , 358, o que corresponde 6,06% do total de unidades examinadas para a cidade do Rio de Janeiro. Ainda, Campo Grande possui o maior nmero de escolas pblicas, 133. Enquanto que, o maior nmero de escolas particulares encontra-se em Jacarepagu e a maior quantidade de faculdades e universidades est no Centro do Rio de Janeiro, 41. Porm, se relativizarmos com o total de habitantes por bairro, Campo Grande encontra-se em stimo lugar dentre os nove bairros analisados com um percentual de 12 unidades a cada cem habitantes (12/100), superando apenas Copacabana e Santa Cruz no que diz respeito educao, respectivamente com 10/100 e 8/100. Estas informaes so pertinentes para denotar a hierarquia e hegemonia de centralidades entre os bairros, permanecendo hegemnico o Centro do Rio de Janeiro com um percentual de 89 unidades para cada cem habitantes, seguido pelos seguintes bairros em ordem decrescente: Jacarepagu, Mier, Barra da Tijuca, Madureira e Tijuca conforme o grfico 1.

    3 Foi utilizado o catlogo telefnico eletrnico: www.telelistas. net (2009).

    4 Como unidades de educao foram escolhidas nos anncios de catlogo telefnico as seguintes

    categorias: escolas e cursos de idiomas, creches, cursos de ps-graduao, cursos pr-vestibulares, cursos supletivos, escolas de educao infantil, escolas particulares, escolas pblicas, escolas tcnicas profissionalizantes, faculdades e universidades, cursos de informtica.

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    GRFICO 1 - Percentual de unidades de educao por bairro em relao ao nmero total da populao local (Censo 2000)

    Barra da Tijuca; 0,23% Campo Grande;

    0,12%

    Centro; 0,89%

    Copacabana; 0,10%

    Jacarepagu; 0,33%

    Madureira; 0,20%

    Mier; 0,31%

    Santa Cruz; 0,08%

    Tijuca; 0,17%

    Fontes: Armazm de Dados da Pref. do Rio de Janeiro e www.telelistas.net (2009).

    Outro tipo de servio que existe no bairro e que gera fluxo demandando o transporte pblico o servio de sade. Campo Grande encontra-se em stimo lugar

    entre os bairros considerados, no que diz respeito ao nmero total de unidades de sade5 perfazendo 3,10% do total da urbe carioca.

    Em termos totais, Copacabana apresenta o maior nmero de unidades de sade percebendo 13,30 % do total da cidade do Rio de Janeiro, seguido por: Tijuca (10,48%), Centro (9,45%), Barra da Tijuca (6,59%), Mier (4, 37%), Jacarepagu (3,51%). Por ltimo, esto Madureira e Santa Cruz com, respectivamente, 2,11% e 0,58%. Relativizando com o valor total de habitantes por bairro, conforme o grfico 2 a seguir, podemos perceber que, o bairro em estudo encontra-se em oitavo lugar, com 0,25%, precedido pelos bairros comentados acima e seguido por Santa Cruz com 0,07%. Porm, de acordo com esta proporcionalidade, o Centro demonstra o maior percentual (5,87%) seguido por: Copacabana (2,15%), Mier (2,07%), Barra da Tijuca (1,74%), Tijuca (1,55%), Madureira (1,03%) e Jacarepagu (0,84%).

    5 Como unidades de sade examinadas no catlogo telefnico e que compe a pesquisa so: clnicas de

    diversas especialidades, assistncia mdica e odontolgica, dentistas de especialidades diversas, farmcias, centros e postos de sade, hospitais particulares, hospitais pblicos, laboratrios de anlises clnicas, mdicos de diversas especialidades.

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    GRFICO 2 - Percentual de unidades de sade por bairro em relao ao nmero total da populao local (Censo 2000)

    Barra da Tijuca; 1,74%

    Campo Grande; 0,25%

    Centro; 5,87%

    Copacabana; 2,15%

    Jacarepagu; 0,84%

    Madureira; 1,03%

    Mier; 2,07%

    Santa Cruz; 0,07%

    Tijuca; 1,55%

    Fonte: Armazm de Dados da Pref. do Rio de Janeiro e www.telelistas.net (2009).

    Com intuito de percebermos as atividades comerciais e industriais em Campo

    Grande, foi utilizado o relatrio de Hasenclever e Lopes (2006). Considerando a XVIII RA de Campo Grande, em 2006, segundo a RAIS, esta rea possui 3.612

    estabelecimentos formais de diversos setores industriais, servios, comrcio e

    construo civil, destes, 3.107 no bairro de Campo Grande. Sendo que, a atividade que

    ocupa a primeira posio com um percentual de 47,8% do total de comrcio varejista. Somado ao fato de que, das 173.437 pessoas que compem a populao

    economicamente ativa na XVIII RA de Campo Grande, h a grande necessidade de dirigir-se a outras reas visto que, conforme demonstrado, nesta regio existe 45.630 empregos formais, ou seja, 2,3% do total no Municpio do Rio de Janeiro, dos quais, 37.457 no bairro de Campo Grande, o que equivale a 1,9% do total para a cidade. Estas consideraes reforam a demanda de transporte denotando sada de pessoas. Percebemos ainda o jogo de centralidade entre os bairros comparados e a pujana da centralidade em Campo Grande. Todas estas informaes demonstram interaes espaciais, fluxos e a necessidade de transporte pblico.

    Neste momento percebe-se que a produo e reproduo do espao ocorrem mediante conflito de interesses, sendo que, os usurios so demandantes, necessitam do transporte pblico a um preo acessvel tanto para a sua reproduo como para a reproduo dos meios de produo no contexto capitalista, visto que este tanto trabalhador, ou seja, se encontra inserido no contexto da fora de produo necessrio ao capital, como consumidor do prprio transporte, do comrcio e dos servios

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    disponveis tanto em Campo Grande como no restante da cidade do Rio de Janeiro. O Estado deveria ser o fornecedor deste meio necessrio a acumulao do capital e um servio pblico populao em geral, porm, atravs de leis, apresenta-se como concessor deste ao investimento do capital privado e regulador incentivando a concorrncia. Por fim, o empresrio do transporte pblico lida com as demais foras no sentido de cumprir as legislaes, fornecer um transporte de qualidade e regular, a um preo acessvel mesmo diante das maiores distncias. Percebe-se novamente a frico da distncia impondo custos produo e reproduo dos meios de produo (HARVEY, 1994).

    Sendo assim, percebemos Campo Grande como um espao muito complexo resultante de momentos pretritos, ao mesmo tempo segregado em relao a outras reas da cidade, articulado, participando das interaes municipais, intermunicipais e interestaduais, com um importante centro de comrcio e servios demonstrando fora em alguns setores no jogo poltico das iteraes, necessitando de novas averiguaes que dem suporte a investigao quanto ao modo diferenciado de disponibilidade de transporte pblico pela cidade.

    CONSIDERAES FINAIS

    Retomando algumas consideraes, ao buscar um quadro terico-metodolgico com o qual pudesse ler o espao geogrfico de Campo Grande em suas interaes foi

    satisfatrio perceber que os processos aparentemente dspares, como segregao scio-espacial e centralizao/descentralizao, ocorrem no bojo de um processo mais abrangente, qual seja o de acumulao do capital. Conforme observado pela teoria do desenvolvimento geogrfico desigual, atravs de processos sociais que se espacializam que as reas da cidade capitalista de acordo com estratgias de

    apropriao, consumo e especulao so diferenciadas quando no, equalizadas ao passo que se tem a necessidade de ampliar as formas de produo (SMITH, 1998). Percebeu-se com respeito ao bairro de Campo Grande que, em relao cidade do Rio de Janeiro, este se encontra espacialmente segregado, fato observado atravs dos dados

    quanto renda e grau de instruo. De modo que, as distribuies de equipamentos de infra-estrutura de transporte so recorrentes a este quadro. Porm, esta realidade no

    impossibilitou, ao invs disso, de acordo com momentos de ampliao da acumulao do capital atravs da descentralizao, houve a emergncia de Campo Grande como importante subcentro carioca ainda que diferenciado, hierarquizado e hegemonizado em

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    relao aos demais que foram comparados, como se tentou demonstrar atravs dos dados quanto ao comrcio e servios na cidade carioca.

    Foi oportuno apreender, diante de informaes coletadas no Armazm de Dados da Prefeitura do Rio de Janeiro, bem como em trabalhos acadmicos como o de Macedo

    (2002) uma estrutura da urbe carioca e do recorte espacial trabalhado no qual se percebe a segregao scio-espacial vigente tanto de acordo como o padro centro-periferia

    como com o padro fragmentado/excludente. Esta segregao interfere na maneira como so espacializadas as centralidades no Rio de Janeiro e condicionam as atuais mudanas percebidas internas e externas ao bairro em estudo de acordo com o incremento da construo civil visando habitao. Sendo assim, novos estudos so

    suscitados no sentido de como esta estrutura pretrita tanto de segregao como de descentralizao das atividades de comrcio e servios denotadas no municpio do Rio

    de Janeiro e internas ao bairro de Campo Grande influenciam na reestruturao da cidade e do referido recorte.

    Sendo assim, a presente pesquisa respondeu aos questionamentos feitos inicialmente tendo a necessidade de focar nos processos scio-espaciais que so

    dinmicos e, portanto, j apresentam necessidade de novas averiguaes, demandando novas buscas. Entre estas podemos mencionar os projetos em andamento de construo do Arco Rodovirio do Rio de Janeiro, remodelao do porto de Itagua e a construo da Companhia Siderrgica do Atlntico S/A.

    Este quadro mencionado finalizando o trabalho porque existem novas perspectivas e desdobramentos a partir destes momentos que iro reconfigurar todo o jogo poltico espacial dos processos de segregao e centralidades conforme desenvolvidos nesta pesquisa, necessitando assim, de novas averiguaes de suas espacialidades e a continuidade pela busca de embasamentos tericos e metodolgicos. Assim, o presente finda com as seguintes indagaes: como este conjunto de obras de estruturao visando ampliao da acumulao do capital e fortalecimento do

    Estado do Rio de Janeiro frente a demandas globais, j comeam a influenciar os processos estudados em relao a Campo Grande, a cidade e o estado do Rio de

    Janeiro? Quais as configuraes que podemos perceber no bairro indicativas de um impacto destas novas dinmicas? Com certeza, o prximo censo nos dar importantes indcios.

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