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    Mapas e Processos Cartogrficos nas prticas sonoras contemporneas

    Lilian N. Nakahodo

    (Mestranda em Teoria, Esttica e Criao Musical pela UFPR, graduada em Produo Sonora e

    Turismo pela mesma universidade. Dedica-se pesquisa de processos compositivos sonoros

    relacionados produo de lugares, performance pianstica e ao sound design para

    audiovisual.)

    Resumo: neste artigo examino noes de cartografia e mapas com referncia ao pensamento de Deleuze eGuattari, explorando as conexes com a cartografia de origem geogrfica, articuladas pela noo de mapearde Edward Casey. Fao isso para ento refletir como essas noes podem estar incorporadas em poticassonoras que abarcam sons do mundo real. Projetos que se denominam mapas sonoros e obras de BarryTruax, Teri Rueb, Janet Cardiff e Christina Kubisch compem essa reflexo.

    Palavras-chave: cartografia, mapas, prticas sonoras contemporneas.

    Abstract: In this article, I examine notions of cartography and mapping processes with reference to Deleuzeand Guattariss thinking, exploring their connections to geographic origin cartography, articulated through

    philosopher Edward Caseys mapping notions. I do that in order to reflect on how these concepts might beincorporated in sound poetics that embrace real-world sounds. So called sound maps projects, as well asworkings by Barry Truax, Teri Rueb, Janet Cardiff and Christina Kubisch are part of this investigation.

    Keyworlds: cartograhy, maps, contemporary sound practices.

    Introduo

    En aquel Imperio, el Arte de la Cartografa logr tal perfeccin que el Mapa de una sola Provincia ocupaba toda una

    Ciudad, y el Mapa del Imperio, toda una Provincia. Con el tiempo, estos Mapas Desmesurados no satisficieron y loscolegios de cartgrafos levantaron un Mapa del Imperio, que tena el tamao del Imperio y coincida puntualmente con

    l. Menos adictas al estudio de la cartografa, las generaciones siguientes entendieron que ese dilatado Mapa era Intil

    y no sin Impiedad lo entregaron a las Inclemencias del Sol y los Inviernos. En los Desiertos del Oeste perduran

    despedazadas ruinas del Mapa, habitadas por animales y por mendigos; en todo el Pas no hay otra reliquia de las

    Disciplinas Geogrficas.

    Jorge L. Borges, Del rigor en la ciencia1

    O mapa que Borges nos retrata sugere uma representao to perfeita da realidade que

    coincide com a prpria realidade. A crtica sugerida nesse texto pode ser utilizada na descrio de

    um"#$%&'( )*$( #(rigor cientfico que busca a imagem fiel do mundo, percorrido sem o charme

    da abstrao capaz de criar e transformar a realidade. Evocando Deleuze e Guattari, poderamos

    retratar essa estrutura 1:1 como um extremo decalque, uma redundncia mimtica da realidade

    +,- .#"/0()1 2& 34)#5 6($7-/8#59 :1 221

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    oposta noo de mapa2apresentada pelos filsofos franceses. No entanto a narrativa de Borges

    ilustra, pela ironia, o poder retrico dos mapas e o encanto que a cartografia exerce enquanto meio

    de discurso e representao que constri realidades subjetivas.

    Assim estabelecido o tema, o objetivo das prximas linhas discutir a cartografia e o mapa

    como noes incorporadas na potica de obras e prticas que trazem reflexo uma escuta do

    mundo que nos cerca. Trago para esta discusso o quadro conceitual da cartografia como mtodo

    de investigao rizomtico3focado noprocesso, conforme uma linha de prticas investigativas nas

    cincias e nas artes que se inspiram fortemente no pensamento de Guattari e Deleuze. Essa

    discusso engaja, em contraponto, com as teorias cartogrficas enraizadas numa tradio visual de

    representao espacial, detendo-se principalmente naquelas que apresentam um afastamento da

    perspectiva cartesiana representacional do final do sculo XX - a virada terica nos anos 80

    (Cosgrove 2005) -, ao enfocarem na funo dos mapas e questionarem seus efeitos no mundo ao

    invs da sua natureza e significao. Nesse mbito, presta-se ao objetivo a criteriosa seleo de

    textos influentes das principais correntes cartogrficas de 1940 2010, editada por Dodge, Kitchin

    e Perkins (2011) em The Map Reader4. Intuindo um impulso cartogrfico em composies que

    empregam sons do mundo real5como material musical principal, apresentarei algumas obras que

    engajam a percepo do ambiente, sublinhando nelas suas proposies cartogrficas. Tambm

    discuto projetos que concebem uma ideia de mapa sonoro para complementar essa abordagem.

    Finalmente, o interesse por uma cartografia sonora insere, no contexto, consideraes do filsofo

    Edward Casey e da artista sonora Katharine Norman sobre a produo e leitura de mapas.

    2Deleuze e Guattari opem o mapa ao decalque, no qual o primeiro estaria inteiramente voltado para umaexperimentao ancorada no real. O mapa no reproduz, mas constri. Adiante aprofundarei a ideia dos mapas.3O Rizoma um modelo epistemolgico difundido por Deleuze e Guattari, que emprestam da botnica a imagem deuma estrutura vegetal cujas ramificaes partem de qualquer ponto, ou seja, sem uma estrutura hierrquica sucessiva ecentral. Rolnik assim define: os sistemas em rizoma [...] podem derivar infinitamente, estabelecer conexestransversais sem que se possa centr-los ou cerc-los (Rolnik 2010, 387).4Essa ampla compilao nos mostra uma historiografia da produo e da leitura dos mapas que se engaja e se enriquececom diferentes filosofias cientficas no curso do tempo e de contextos culturais.5Tomo emprestada a expresso utilizada por Umberto Eco para referir-se simplesmente ao mundo de nossa

    experincia que adotado como pano de fundo para o mundo ficcional (Eco 1994). As composies com sons domundo real, ou real-world composition, como refere-se Katharine Norman, exploram uma espcie de montageminterna como resposta imaginativa do ouvinte, atravs do emprego de gravaes de campo como material musical(Norman 1996).

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    Cartografias como mtodo de investigao

    Segundo a Internacional Cartographic Association, h uma proliferao de estudos nas

    cincias sociais e humanas que endossam a cartografia como marco conceitual6, tendncia tambm

    perceptvel no Brasil. Nas Pistas do mtodo da cartografia prope-se uma metodologia que se

    constri caso a caso pelo acompanhamento de um percurso (Kastrup 2009; Passos e Eirado 2009).

    As pistas para a prtica cartogrfica a sugerem referncias para guiar a pesquisa, desenvolver e

    coletivizar a experincia do cartgrafo, ao invs de regras e procedimentos metdicos a adotar

    (Kastrup 2009). Objetiva-se, desse modo, acompanhar o engendramento de um percurso,

    investigando nele a produo de subjetividade que se d pela conexo de redes rizomticas7

    a partir

    de pontos mltiplos e no hierarquizados. Nessa dimenso, o ethos da pesquisa declara uma

    afinidade terica ao pensamento de Gilles Deleuze e Flix Guattari ao operar por um plano do

    diferir (Kastrup 2009, 10). Essa afinidade ecoa pela voz influente de Suely Rolnik, uma das

    principais articuladoras do mtodo cartogrfico no Brasil. Em sua cartografia, Rolnik circunda as

    estratgias de formao do desejo em qualquer fenmeno da dimenso humana e social (1989). Para

    o cartgrafo, segundo Rolnik, teoria sempre cartografia e, sendo assim, ela se faz juntamente

    com as paisagens cuja formao ele acompanha. Nesse trajeto, o cartgrafo absorve matrias de

    qualquer procedncia e considera todas as entradas desde que as sadas sejam mltiplas (Rolnik

    2011). EmMicropoltica: cartografias do desejo, Rolnik e Guattari apresentam um livro produzido

    com esse impulso cartogrfico, cujo preparo absorve e engendra materiais de procedncia diversas8

    que, como qualquer outra cartografia [...] trata-se da inveno de estratgias para a constituio de

    novos territrios, outros espaos de vida e de afeto (Rolnik e Guattari 2010, 18).

    6Fonte: Art & Cartography: Comission of the International Cartograhic Association - http:// artcarto.wordpress.com7Segundo Deleuze e Guattari, uma das caractersticas dos rizomas seu princpio de conexo e heterogeneidade:qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado a qualquer outro e deve s-lo. muito diferente da rvore ou da raizque fixam um ponto, uma ordem (Deleuze e Guattari 2000, 14).8Segundo Rolnik,Micropoltica uma cartografia que traz a marca dos agenciamentos que o geraram: o Brasil de 1982

    e os acontecimentos ocorridos durante os trs anos de elaborao do livro, impulsionados pela visita de Guattari ao pas.O livro organizado em temas, cujos textos tambm so cartografias construdas por fragmentos de blocos de idias,depoimentos de Guattari, falas de outras pessoas ou da prpria autora, textos de ambos escritos no decorrer do preparodo livro, bem como correspondncias trocadas entre eles.

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    O conceito de mapa apresentado por Deleuze e Guattari nos anos 80 uma influncia

    notria, no somente no pensamento metodolgico, como tambm aparenta ser uma citao

    compulsria em muitas prticas artsticas contemporneas cujo processo de produo inspirado

    pela cartografia. Na concepo dos pensadores, a cartografia surge como um princpio do rizoma,

    esse anlogo aos mapas:

    o mapa aberto, conectvel em todas as suas dimenses, desmontvel, reversvel,suscetvel de receber modificaes constantemente. Ele pode ser rasgado, revertido,adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivduo, umgrupo, uma formao social. Pode-se desenh-lo numa parede, conceb-lo como obra dearte, constru-lo como uma ao poltica ou como uma meditao. Uma dascaractersticas mais importantes do rizoma talvez seja a de ter sempre mltiplasentradas[...] Um mapa tem mltiplas entradas contrariamente ao decalque que volta

    sempre ao mesmo (Deleuze e Guattari 2000, 21).

    Essa concepo cartogrfica de investigao delineia, de certo modo, um antimtodo, j que

    no busca estabelecer um caminho linear para atingir um fim. O que as prticas investigativas por

    esse vis apresentam em comum , portanto, um paradigma de percurso investigativo que se vale da

    multiplicidade de pontos de partida e caminhos que se conectam, contra uma forma predominante

    de estruturao profunda, um mapa global nico. Seriam mapas-rizomas que Deleuze e Guattariconcebem (no h diferena entre aquilo de que um livro fala e a maneira como feito) (2000),

    em que a produo o processo e o acompanhamento do processo, seja ela uma escritura, um mapa,

    uma composio.

    compreensvel, porm decepcionante, que Rolnik considere os mapas como uma

    representao esttica que se distingue da cartografia - esta, um desenho que acompanha e se fazao mesmo tempo que os movimentos de transformao da paisagem (2011). Talvez essa distino,

    que parece hierarquizar conceitos e conceitos que, de um ponto de vista pessoal, operam numa

    relao frtil - se reflita na produo acadmica nacional sob essa influncia metodolgica, que em

    geral desconsidera a contribuio ontolgica dos mapas, enraizada numa tradio perceptiva de

    comparar territrios distintos.

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    Atualmente nota-se uma proliferao de mapas virtuais como interface de micronarrativas,

    promovendo a compreenso da produo de lugares9 ao disponibilizarem dados coletados por

    indivduos e comunidades para contar uma histria ou resolver um problema local 10. Neste

    panorama, esto refletidas as noes cartogrficas contemporneas que se afastam do pensamento

    representacional tradicional dos mapas e mudam o foco para um mapear focado em processos.

    Algumas dessas noes, baseadas em Dodge, Kitchin e Perkins (2011), podem ser sintetizadas nas

    seguintes afirmaes: i) os mapas no representam a realidade, mas tm um papel ativo na

    construo social dela; ii) os mapas operam funcionalmente na visualizao do invisvel medida

    que se interage com seus signos; iii) os mapas so objetos mutveis cujos significados emergem de

    prticas socioespaciais; iv) os mapas precedem o territrio, e o espao se torna territrio atravs de

    prticas que incluem o mapear.

    Cartografia e mapa nas artes

    No Catlogo de mapas crticoscompilado por Diana Alonso, a autora nos apresenta uma

    gama de prticas artsticas contemporneas que utilizam os mapas para apresentar os resultados

    obtidos nos seus processos investigativos (Alonso 2010). De acordo com Denis Cosgrove, o

    surrealismo e as prticas situacionistas podem ser considerados os primeiros movimentos

    explicitamente engajados com a cartografia enquanto processo, e com o mapa como dispositivo de

    comunicao das prticas subversivas realizadas para desestruturar - ou remapear - categorias

    hegemnicas de representao das cidades11. Ruth Watson, artista cartogrfica, sugere que o

    surgimento do estudo das subjetividades do qual emerge o pensamento cartogrfico de Deleuze e

    Guattari em 1987, paralelo proliferao da map art nos anos 1980, indicam uma representao

    bem sucedida pelos filsofos franceses para o que muitos artistas j vinham expressando na dcada

    9O lugar um conceito da geografia humanista associado aos espaos fsicos que preenchemos com julgamentos eafetos atravs da experincia (Tuan 1983).10Para informaes, recursos e exemplos, pode-se acessar a plataforma virtual para criao de mapas da ArcGIS -

    http://storymaps.esri.com/home/11Atravs de prticas como as derivas, por exemplo, Guy Debord pervertia a tica tradicional da perspectiva de olho-de-pssaro dos mapas, para um modo de vivenciar a cidade - mape-la - atravs de caminhadas arbitrrias, por umaperspectiva marginal, de baixo (Cosgrove 2005).

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    anterior. a partir dessa poca que um nmero expressivo de artistas passam a utilizar mapas ou

    processos cartogrficos em suas obras, substancialmente no campo visual12,engajados em maior ou

    menor sentido com a noo geogrfica de mapas, de acordo com a autora (2009). Watson atribui

    srie de mapas intitulada Mappa, de Alighiero e Boetti (1971), como emblema das mudanas do

    mapear na arte, por revelarem em seu processo como a resposta aos mapas havia se transfigurado

    no decorrer do tempo. J o filsofo Edward Casey atribui a Robert Smithson o emblema de

    precursor das prticas artsticas fora das galerias, que se engajariam com o ambiente ou a geografia,

    sublinhando a importncia das bases conceituais decorrentes das suas land artnos anos 60 (Watson

    2009, Casey 2005). De acordo com Watson, as prticas artsticas atuais13so motivadas por outros

    quadros conceituais e preocupaes culturais, diferente daquelas dos land artists das dcadas

    anteriores. Artistas que usam a cartografia na arte contempornea, continua, estariam explorando

    novas metodologias que, no geral, representam um afastamento dos mapas como imagem - no

    sentido associado aos problemas de representao - e vo em direo ao mapa como evidncia de

    uma investigao, ao mapearenquanto processo(Watson 2009). Uma das mudanas que emergem

    dessas metodologias a importncia atribuda ao leitor-espectador, atrelada sua interao com a

    obra. Se as prticas situacionistas da dcada de 60 e 70 adotavam uma postura ativista com nuances

    sociais, os artistas conceituais da dcada de 80 abraaram a ideia de mapas como processosmas

    tambm objetos, enfocando em metodologias tericas de documentao, em stios e em

    performance, sem ignorar o valor do mapa como um modo espacial de representao,

    reconhecendo o mapear e seus poderosos cdigos visuais (Cosgrove 2005).

    Casey, em sua investigao para repensar a arte como forma de mapear 14, distingue quatro

    maneiras bsicas de mapeamento de qualquer natureza15(2005). Explico resumidamente cada uma a

    12Para saber mais sobre essas prticas, ver o catlogo de Diana Alonso: Catlogo de Mapas Crticos, 2011.13 Para uma lista de obras contemporneas de map art, ver o artigo de Watson disponvel emhttp://www.academia.edu/491148/Mapping_and_Contemporary_Art14Case, em Earth-mapping: artists reshaping landscaping, trata o tema atravs da discusso do trabalho de artistascontemporneos que apresentam uma sensibilidade especial para formas romnticas de casamento entre o mapear e

    pinturas (ou outras obras) de paisagens.15Os tipos de mapear so tradues minhas paramapping of, mapping for, mapping with/in emapping out.

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    seguir para posteriormente exemplific-las: i)Mapping ofou Mapear [algo]: implicaria emfazer o

    mapade um territrio ou lugar particular tipicamente distanciando-se dele, na tentativa de capturar

    sua geografia, sua estrutura, sua extenso mensurvel; ii) Mapping forouMapear para: implicaria

    em um objetivo particular de ordem espacial, provendo, por exemplo, um esquema eficiente de

    locomoo de um lugar a outro, sem preocupao de exatido cartogrfica; iii)Mapping with/ inou

    Mapear com/ no: se os dois tipos anteriores de mapas procederiam por indicao, este procederia

    por simbolizao e representao. Ao invs de uma poro geogrfica, o mapeado seria a

    experincia individual, ou seja, o modo como um indivduo experimenta o mundo conhecido: o

    enfoque passa de como chegar em um ponto ou onde se est, para como se sente ao estar l.

    Mapear um lugar, dessa forma, seria representar em um meio especfico o que estar nesse lugar,

    de uma maneira corporalmente concreta; iv)Mapping out ouMapear a partir de: nesse perspectiva,

    sublinha-se o papel do corpo vivo na criao das obras-mapas e no mapeamento do mundo.

    Mapas e Cartografia sonora

    Os mapas tm sua origem numa tradio visual de projetar o mundo. Reconhecemos

    facilmente um mapa quando vemos um. No entanto, quais elementos nos fariam rememorar um

    mapa quando ouvimosum? Se os mapas so inerentemente visuais, possvel engajar a escuta para

    uma leitura cartogrfica? No outro lado do processo de leitura, como expressar em sons a

    percepo de um lugar, ou a sensao que se tem ao vivenci-lo? Em suma, como se processa no

    campo snico o mapear das experincias dos lugares? So questes que se afinizam com o

    pensamento ps-representacional da virada do milnio. Por essa perspectiva, o foco das reflexes

    passa de uma preocupao com o que os mapas representam e significam, para como os mapas

    trabalham e quais seus efeitos no mundo (Dodge, Kitchin e Perkins, 2011). Para poder respond-las,

    algumas relaes com o campo visual enriquecem a reflexo. Como nota Katharine Norman,

    natural que a maioria dos mapas que se v sejam representaes que nos dizem o que procurar com

    o olhar. E ento, se a viso faz seu trabalho de interceptar o mundo com muita eficincia e rapidez,

    para que contar com o meio sonoro? Norman alega que o mundo uma projeo dos sentidos e s

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    em perceb-lo, j estaramos criando mapas povoados de smbolos, comparaes e interpretaes.

    E se o homem preferencialmente visual, natural que projete o mundo com o carter seletivo das

    imagens. Mas se o mundo pode parecer mais preciso e especfico pela viso, emprestaremos de Yi-

    Fu Tuan a idia de que mais amplo e potico pelos ouvidos, no sentido de que somos mais

    sensibilizados pelo que ouvimos do que pelo que vemos, segundo o gegrafo (2012). Atravs da

    escuta mapeada - como territorializamos o mundo pelos ouvidos - identificamos, significamos e res-

    significamos os sons em conexes rizomticas com ele: todas as nossas tentativas de mapear o

    territrio criam um palimpsesto imaginativo atravs do qual revelamos tanto sobre ns mesmos

    quanto o mundo que tentamos descrever (Norman 2004, 4). A afirmao potica de Norman

    poderia ainda ser ampliada, pois nessa revelao, no somente um mundo descrito para nossos

    ouvidos, como tambm criado e recriado.

    Vrias iniciativas de mapeamento sonoro passam a ser encontradas a partir do ano 200016

    como projetos de colaborao coletiva, que disponibilizam uma coleo via website de gravaes

    de campo realizadas em diversos lugares17. Nesses projetos, os mapas comumente refletem um

    pensamento documental, concebidos como uma espcie de museu para abrigar sons que seriam, de

    modo geral, singulares ou significativos para a memria coletiva. Por uma perspectiva museolgica,

    a ideia de um banco de sons importantes para se preservar a memria coletiva vlida s at certo

    ponto, se lembrarmos que a natureza efmera do signo sonoro, dependente de contextos para

    emergirem em significao, torna-os suportes patrimoniais instveis. Assim, o sino da catedral

    antiga pode facilmente ser colocado em uma redoma e preservado como um patrimnio histrico ou

    cultural. Porm, seu simbolismo sonoro pode estar relacionado a diversos fenmenos aurais, como

    o alcance acstico que retrata mudanas na paisagem, um modo especfico de soar em datas

    especiais, dentre outros. Gravar um som e disponibiliz-lo, portanto, no implica necessariamente

    16Alguns exemplos so London Sound Survey, Montral Sound Mape o Open Sound New Orleans. No Brasil,

    por exemplo, h o Mapa Sonoro do Estado do Rio de Janeiro16, implantado em 2011, o SP SoundMap, e oFonofotografia: Mapas Sonoros e Fotogrficos de Fernando de Noronha, de 2013.17Esses projetos funcionam como uma documentao sonora colaborativa de marcos sonoros, eventos e situaes deinteresse, cuja tecnologia utilizada permite associar metadados localizacionais das amostras.

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    em preservar esse smbolo sonoro; mesmo que o ato de escut-lo - seja atravs de um contexto

    museolgico- possa fortalecer certas referncias acsticas que participam da construo de

    territrios na memria. Por uma perspectiva cartogrfica, esses projetos se relacionam maneira

    mais convencional de mapear, concebendo os mapas como artefatos culturais que utilizam certas

    convenes para representar espaos. No campo visual, tais convenes projetam uma vista de cima

    para baixo sobre um plano, uma aplicao consistente de reduo em escala (Dodge, Kitchin e

    Perkins 2011), e passos retricos em todas as etapas da produo: a seleo, omisso,

    simplificao, classificao, a criao de hierarquias e a simbolizao (Harley 1989). Nesses

    mapas sonoros incluem-se as mesmas etapas retricas de produo, porm, num eixo temporal de

    reduo (cujas propores escalares poderamos imaginariamente estabelecer em decibis), e, ao

    invs de um plano angular vertical, uma imagem sonora direcional, transmitida geralmente pela

    panormica 180o dos sistemas estereofnicos. Apesar de aparentemente proverem um mapa fiel

    apresentando fragmentos de mundo, essas gravaes de campo so representaes ambguas: gravar

    implica em mediar e aplicar um discurso de tempo e lugar, mesmo que no intencionado; implica

    em escolher e interferir. Em suma, esses mapas refletem o que Casey designa por mapping of, em

    suas tentativas de capturarem os sons que retratam um lugar geogrfico. Mas no seriam os

    melhores mapas para se viajar: so mapas que talvez pretendam, mas no abstraem a realidade para

    mostrar como se sente ou como se estaroufazer partede um lugar.

    Outra categoria de obras que apelam para a escuta similar essa concepo de mapa, seriam

    certos registros e composies de paisagem sonora. Sublinho aqui essa diferena ao notar que

    muitas dessas obras se autoclassificam como soundscape, termo que na ecologia acstica refere-se

    tanto a uma esttica e a um conjunto de valores agregados composio quanto prpria paisagem

    real. Entretanto, os registrosde paisagem sonora se configuram comumente como uma prtica

    documental de capturar sons quando se est um ambiente novo e instigante, pelo exotismo, para

    eventual uso profissional, ou simplesmente para se ter uma cpia fragmentada da realidade comorecordao - posturas que adoto regularmente.

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    Apesar do nmero crescente de lbuns de soundscape18disponveis ao pblico, Norman

    sublinha a importncia de obras como a coleo The Vancouver Soundscapelanada em 1996. Nela,

    haveria uma mistura de respostas compostas a gravaes de campos, documentrios e material

    bruto de arquivo do projeto de documentao iniciado em 1973 pelo WSP19

    . Tal variedade

    ofereceria uma gama de tcnicas de mapeamento, algumas mais direcionais que outras, mas todas

    chamando ateno para a relao de escuta com a paisagem sonora que nos cerca, mais do que aos

    sons em si (2004, 5). A abordagem do WSP se aproximaria mais a uma cartografia crtica, na

    medida que apresenta uma variedade de perspectivas ao longo do tempo da paisagem de Vancouver.

    O mapa, aqui, concebido como um misto de modelo da realidade e ferramenta analtica,

    documentando criticamente um processo para se visualizarem as mudanas na paisagem ao

    levantarem-se reflexes sobre os sons que se desejam preservar. Apesar do carter seletivo que

    hierarquiza sons e rudos, o Vancouver Soundscapeentra em ressonncia com o que Diana Alonso

    afirma ser um dos papeis do processo cartogrfico na arte contempornea, de criar novas

    ferramentas crticas polticas (2010), transitando entre um estudo topogrfico (ou topofnico, nestes

    casos) do territrio, para um estudo topoflico20.

    Certas composies com sons do mundo real facilmente nos remetem a documentaes e

    estudos fonogrficos quando apresentam fragmentos que preservam referncias materiais da

    realidade. Quando instigam uma escuta reflexiva21em colaborao com a escuta referencial,

    transitando entre registros fieis e registros que so filtrados e interferidos, entre real e ficcional,

    familiar e estranho, entramos num campo cartogrfico ps-representacional. E Pendlerdrm(1997),

    composio de Barry Truax, transita de maneira potica entre modos de mapear atravs de um jogo

    de referencialidades e abstraes: os primeiros minutos da pea situam o ouvinte numa estao de

    18Uma pesquisa no websitegrooveshark, por exemplo, indica vrias faixas musicais enquadradas como um gnero queobviamente parece abrigar diversas manifestaes musicais. Alguns selos se dedicam ao gnero, como o sounddesign

    japan (paisagens sonoras binaurais).19World Soundscape Project.20Topofilia um dos temas discutidos por Tuan para compreender as bases universais do elo afetivo entre pessoas e

    lugares. Difuso como conceito, vivido e concreto como experincia pessoal (Tuan 2012 19).21Um tipo de escuta despertada pelo interesse nas qualidades acsticas do som, conduzindo em direo a contedosimaginados. A escuta reflexiva levaria criao, ou reinterpretao de significados imaginados para o som, produzindometforas sonoras (Norman1996).

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    trem apresentando uma panormica sonora, semelhante a um registro de campo; a passagem de um

    trem demarca um novo esquema narrativo, com a transformao gradual do som ambiental para um

    evento sonoro que sabemos derivar do real, porm, marcado por uma musicalidade inesperada para

    o contexto estabelecido anteriormente; algum tempo depois somos conduzidos novamente

    realidade, com a reapresentao do som da estao. Paisagem externa e interna ao trem passam a

    ser mescladas, medida que os sons so transformados gradualmente em pedais tonais mntricos

    emulando o mundo interno do viajante que, embalado pelo trem, devaneia em seu trajeto repetitivo.

    A fora expressiva cartogrfica de Pendlerdrm reside na diferena que sobrepe e abstrai a

    realidade ordinria de uma estao de trem, de umaprojeosubjetiva da realidade de um viajante.

    Diferena que se percebe pelo que o compositor escolhe deixar, direcionar a ateno e filtrar da

    realidade, deixando espao suficiente para que o ouvinte possa completar e explorar em relao

    sua realidade subjetiva. Como coloca Norman, h uma grande distino entre expressar o que o som

    indica sobre o mundo de fora, e expressar como se sente esse mundo atravs da escuta (2004).

    Pendlerdrm, como muitas composies com sons do mundo real, funciona como um mapa que

    projeta uma resposta mais profunda da escuta para uma percepo de um ambiente snico familiar,

    instigando o ouvinte a escutar o mundo por uma perspectiva diferente e incitando a transfigurao

    da sua resposta ao mundano.

    H uma srie de caminhadas sonoras que ressoa o que Casey se refere como mapping in, ou

    mapear noterritrio. Se cabe aos mapas mostrar o invisvel, encontramos na potica dos Electrical

    Walks (2003) de Christina Kubisch um processo cartogrfico que explora essa ideia literalmente.

    Nessa srie de caminhadas sonoras, a artista alem explora o mapear por um espao inaudvel das

    ondas eletromagnticas de equipamentos urbanos - um mapear que se delineia pela prpria

    experincia do corpo. Ao deslocar-se entre pontos pr-mapeados, o ouvinte, portando fones

    especiais, desenharia uma rota composta por uma rede invisvel de informao eletromagntica22

    criando os contornos de um novo territrio acstico para si. Promovendo a audio do inaudvel

    22Fonte: http://www.cabinetmagazine.org/issues/21/kubisch.php

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    Kubisch estaria reterritorializando o espao urbano, como em uma deriva sonora articulada pela

    escuta e pela experincia do indivduo, pronta para revelar um palimpsesto da cidade.

    Numa concepo semelhante de mapear, Teri Rueb articula poeticamente uma re-

    territorializao de espaos atravs da caminhada por percursos que desvelam uma narrativa

    atrelada ao lugar fsico. Em Trace(1999), reescreve o Parque Nacional de Yoho, nas Montanhas

    Rochosas do Canad, ao transform-lo em instalao sonora memorial ao ar livre cuja

    interatividade ocorre no deslocamento por um percurso pr-mapeado. Nesse trajeto, a jornada fsica

    do participante subjetivada por uma paisagem sonora que reflete a morte e as perdas pessoais

    atravs de uma trilha sonora dedicada e atrelada locais especficos23

    . Mas ao contrrio dos

    Electrical walks,que apontam para o invisvel no espao real, Tracee outrossoundwalksde Rueb

    mapeiam um territrio imaginrio que desvelado pela juno da escuta eletroacstica com a

    experincia sensorial do territrio fsico. O mapearde Rueb no pretende representar a realidade,

    mas operar por uma transfigurao da percepo que se tem de um ambiente, justapondo um

    imaginrio sonoro a uma experincia fsica, e adotando o mundo real como pano de fundo. Ou

    melhor, como um jardim de esculturas memoriais24, nas quais se guardam silenciosamente

    memrias coletivas que perduram atravs dos tempos.

    Sentimo-nos desorientados, em muitos momentos, se nos movemos linearmente pelo Walk

    Book(Schaub 2004). Trata-se de um livro cartogrfico deleuzeano, cuja estrutura revela um mapa

    de processos para quem deseja percorrer a potica dos audiowalksde Janet Cardiff , com o auxlio

    de cdigos visuais bem definidos que tambm organizam uma narrativa. Um caminho possvel se

    deixar conduzir pelas faixas do CD que o acompanham, nas quais Cardiff se personifica atravs de

    uma locuo ntima e direcional, indicando onde ir, dialogando com escritos de Schaub e consigo

    mesma. A cartografia do livro construda com fragmentos de audiowalks, reflexes, imagens,

    embasamento terico e outros elementos, num processo de montagem que espelha os prprios

    23Amostras de udio de canes memoriais, poemas e estrias so disparadas atravs de tecnologia de geolocalizaoquando o caminhante atinge os pontos pr-mapeados.24Descrio integral do projeto disponvel em: http://www.terirueb.net/trace/

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    intersubjetivo pode ser uma experincia iluminadora, ao dialogar com um percurso prprio. A

    leitura do mapa, como nos lembra Norman, depende da conexo que se faz entre dois territrios, o

    do leitor e o do cartgrafo, para produzir efeito, ou seja, para criar subjetividades que

    desestabilizam categorias pr-aceitas. Compor, fazer mapas, escrever, seriam maneiras de fazer

    rizoma com o mundo, ao se criarem redes de conexes que podem ter vrias entradas e vrias sadas.

    Escrever nada tem a ver com significar, mas com agrimensar, cartografar, mesmo que sejam

    regies ainda por vir (Deleuze e Guattari 2000, 12). Apesar da diversidade de emprego, os mapas

    fazem sempre o mesmo, segundo Watson: contam histrias de relaes que so importantes para os

    indivduos e para os grupos que as contam; so artefatos que incorporam, reafirmam e divulgam a

    personalizao de lugares (2009).

    O estudo da cartografia sonora - e aproveito o ltimo instante para sublinhar o carter

    metafrico da palavra neste contexto - um territrio ainda por vir. Apesar do amplo espao a

    espera de explorao, muitas cartografias se detm na produo de mapas como reflexo dos

    ambientes. Numa tentativa de contribuir para uma discusso dessa amplitude, apresentei obras de

    artistas que exploram as fronteiras artsticas e integram o papel do corpo na investigao potica.

    Todas elas so objetos e processos ao mesmo tempo; apresentam a composio sonora como uma

    projeo singular do mundo, propondo modos de escut-lo que so diferentes de sua forma

    ordinria. A composio sonora que projeta um lugar implica, como toda escolha, no que incluir, no

    que direcionar a ateno e no que deixar de fora. Mas a obra como um bom mapa , de certa forma,

    uma representao pobre, que torna seu ponto de vista conhecido atravs da filtragem de

    informao (Norman 2004, p. 4), para que os espaos ausentes possam ser preenchidos com

    realidades diferentes.

    Referncias

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