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Almanaque

Alentejano2012 - Ano VIII - N.º. 8 - 2ª. Série

Revista anual, editada em Dezembro de 2011

Capa:Rua - Quando o Sol tomba

Director e Editor: Luís B. B. Jordão

Colaboraram neste numero:Ana Paula Venceslau, António Almeida, AntónioDiogo Sotero, António Galvão, António José Zuzarte,Bahia, Bernardo Matos, Bruno Lopes, Carlos AFerraz da Conceição, Carlos Patrício Alvares(Chaubet), Domingos Rações Santos, Elsa Lopes,Fátima Marques, Fernando Manique, Francisco M.Constantino Pinto, Gabriel Raimundo, GuilhermeAlves Coelho, Graça M. V. Anjos Jordão, H.Mourato, Isabel Jordão, Isabel Pulquério, José CarmoFrancisco, José Simão Miranda, José Roque, JoséMora de Campos, Luís Filipe Maçarico, M. Parissy,Manuel Lopes, Manuel Rodrigues (Sapateiro), MariaL. F. Braga, Maria Olivia Diniz Sampaio, MilheirasCortiço, Moisés Cayetano Rosado, Napoleão Mira,Nuno Rebocho, Ofélia Sequeira, Pedro Cuncos,Sónia M. P. Silva, Vivaldo Quintans.

Produção:Esforço conjunto de Luís B. B. Jordão e de AudiplanoTel./Fax 218 878 001 . E-mail: [email protected] de S. Tomé, 37 - r/c - 1100-561 Lisboa

Impressão:Ciência Gráfica, LdaEstrada Nacional 10, Km 140-1002695-066 Bobadela • Tel.: 21 994 71 20Email: [email protected]

ICS: 124715

Dep. Legal: 221322/05

ÍNDICEA FORTALEZA DE CASTELO DE VIDE ..................................................7JOÃO CANDIDO DE CARVALHO (RABECÃO) ....................................................................8ARRAIOLOS, TERRA DE JUDEUS .............................10O PROCESSO DE CRIAÇÃO DA FABRICADOS LEÕES, EM ÉVORA .............................................11A IMPORTÂNCIA DO LIVROO DESTINO DOS LIVROS ...........................................12SINTETIZANDO A HISTORIA DO CIRCULONACIONAL D’ARTE E POESIA ..................................14CANTAR ALENTEJO ....................................................16GUITARRA CAMPANIÇA ............................................17AQUELLOS CARNAVALES(AÑORANZA DE UN TIEMPO QUE SE VA) ..............18À MARGEM ...................................................................19QUANTAS ESTRELASPRIMEIRAS CHUVAS EM MONFORTEMONFORTE-PENÚLTINA MANHÃ DE SETEMBRO .............................................20POR ONDE PASSO... .....................................................21ALENTEJANA ..............................................................22FOGO .............................................................................23RECADOS MANDADOS DA ILHA .............................24AGRADEÇO A TI ..........................................................25SER ALENTEJANO .......................................................26QUANDO EU VOLTAR A SERPA ................................27POETA LIVRE ...............................................................28UM ALENTEJANO EM LISBOA .................................29MARVÃO, MARVÃO ...................................................30O FENECER DAS CASAS DE REGIÃO EM LISBOA .............................................31ACÇÃO SOCIAL NO ALENTEJO ................................32O DÉFICE 2012 ..............................................................33A LIÇÃO DE FUKUSHIMA ..........................................35AVIFAUNA - O CUCO ...................................................37O SENHOR DA BOA VIAGEM ....................................39A LUZ DA SOMBRA .....................................................42RUFINO E FIRMINO, INIMIGOS?... ...........................43A FORCADAGEMFORCADOS AMADORES DE SÃO MANÇOS .................46O TOUREIO E AS ARTES .............................................48TEMPOS DOUTRO TEMPO .........................................50OUTROS TEMPOS..., OUTROS ESPAÇOSAS MESMAS RAZÕES .................................................51PROFISSÕES ABATIDAS .............................................52ACULINÁRIA DO AQLENTEJO APRECIADA POR TURISTAS LUSÓFONAS .............53UM PETISCO DE OUTRO MUNDOBORRACHOS Á MINHA MODA .................................54ERVAS AROMÁTICAS MEDICINAIS E ALIMENTARES .................................55AS PALAVRAS CRUZADAS ........................................56ANUARIO - CALENDÁRIO, FERIADOS,FASES DA LUA, ECLIPSES, ESTAÇOES DO ANO, LEGISLAÇÃO SOBRE HORA LEGAL, ASTROLOGIA................................................................60

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Capas IIª Série

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No dia Vinte e Cinco de Abril de Mil Novecentos e Setenta e Quatro, no Largo doCarmo, em Lisboa, quando e onde quase tudo se deu, entre tantos outros, eu estava lá,pendurado do engradado de uma janela para tudo/tanto ver e tudo/tanto ouvir. Os pen-samentos baralhando-se em louca e turbilhante ebulição.

Foram um dia e uma noite em que a realidade e os sonhos se misturaram. Foi umespaço tempo curto/longo cheio de muitas/imensas/indiscritíveis emoções e enormesalegrias. Era estar nas nuvens. Era uma espécie de inebriante estado de graça.

Agora, quase quarenta anos depois desse tempo de ilusão e sonhos, ensombram econturbam os meus dias e as minhas noites estranhas imagens de gente manhosa, semqualquer pingo de moral, de vergonha ou escrúpulo: especuladores, agiotas, traficantesde tudo, golpistas, corruptos e corruptores e/ou seus apaniguados e encobridores,alguns deles alternando o cargo de deputados/governantes/directores gerais com o deadministrador/representante de grandes grupos empresariais. Isto é, legislando/gover-nando para si ou para os seus asseclas ou mandantes.

Como foi possivel que esta gentinha eleita e suportada e engordada pelo povo (nós),que nos (des)governa, alternando-se e/ou misturando-se (PSD/PS/CDS), década-após-década, nos tenha trazido à terrível/dramática situação em que nos encontramos?Como é possivel que esta nova espécie de “descamisados” que ateimamos continuarsendo consinta isso? Em que cambada de marionetas deixamos que nos transformas-sem?...

( Um penico. / Como tal me sinto / em mais este despontar de ano / / Eu, / simples/ e sacaneado cidadão comum, / não consigo evitar / nem os cus / nem os aparelhosmijatórios / que sobre mim se aliviam. / / Estranhos / são os desígnios que regem /este meu teimoso / e manso aguentar. / / Um dia destes a cavilha salta... )

Peço desculpa de Vos maçar com estas espécies de gritos/desabafos e apelo ao pen-samento, mas quando olho para a frente não consigo desligar-me do que está para trás.Por isso, quanto ao futuro, sinceramente, para além de revoltado e triste e envergonha-do sinto-me verdadeiramente acagaçado, por mim e por outros que tais, que ao longodos anos afincadamente trabalharam e pagaram impostos e ainda para além disso comactos voluntariosos/generosos/desinteressados deram o “coirão ao manifesto” por estae/ou aquela causa justa, bem como pelos nossos descendentes.

Sinceramente acho que de facto a cavilha está prestes a saltar...

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Um dia destes a cavilha salta...

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Es Vila de Castelo de Vide situadana encosta de um pequeno monte quese levanta à saída do desfiladeiroMarvão-Castelo de Vide, aberto nomaciço montanhoso das serras de S.Mamede e de Portalegre. (osHermínios Menores da Lusitânia) epor onde passa a importante estradainternacional que vem de Valência deAlcântara.

A sua fundação é antiquíssima,concluindo-se, pelos vestígios exis-tentes, que teve como primeira forta-leza um castro de povoamento, mais

tarde transformado num oppidum. Aimportância da sua situação militarfoi sempre grande, desde os temposda pré-história, visto comandar umadas mais importantes comunicaçõesentre a estremadura espanhola e oAlto Alentejo.

Por esta razão os romanos teriamtransformado, segundo a sua técnicacastrense, o oppidun lusitano, quedevia ser à sua chegada, numa sólidafortaleza.

Foi tomada aos mouros por D.Afonso Henriques, não se sabe em

A FORTALEZA DE CASTELO DE VIDE

DO “LIVRO DAS FORTALEZAS”DE DUARTE DARMAS

edição de 1943, fac-símilada da de 1520/30)

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que ano. Êste rei mandou logo res-taurar o castelo romano, e doou a vilaao bravo companheiro de seu pai, oConde D. Henrique, nas lutas contaos mouros, Gonçalo Mousinho.

Arruinado o castelo nas lutas con-tra os leoneses e castelhanos, D.Denis, em 1299, mandou-o restaurare ampliar, levantar a tôrre de mena-gem e cercar a povoação de uma alte-rosa muralha, a qual, segundo se crê,só foi terminada no tempo de D.Afonso IV. Deu foral à vila, em 1310,no qual concedia muitos privilégios einsenções aos moradores.

Mais tarde D. Manuel teria man-dado restaurar a fortaleza de Castelode Vide, muito arruinada palas lutascom os castelhanos, devendo ser essaa representada nos desenhos deDuarte Darmas.

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João Cândido de Carvalho nasceu emCastelo de Vide em 1803 e faleceu emVila Franca de Xira em 14 de Novembrode 1857.

Frade franciscano, adoptou as ideiasliberais que o conduziram ao longo detrês anos às masmorras miguelistas, eassentou praça em 1833 . Em 16 de Maiode 1834 fez parte de Infantaria 10 naBatalha de Asseiceira.

Em 1835 acumulou as funções de ofi-cial dos correios, cargo de que foi demi-tido em 1839 por delitos de opinião naimprensa.

Em 1836-1837 integrou a loja maçó-nica Beneficência de Lisboa de obediên-cia ao Grande Oriente Lusitano, de ondejá constava com a profissão de jornalista.

Seria como jornalista que se

viria a destacar, sendomuito conhecido porRabecão, na defesa dumrepublicanismo repassa-do dum teor socialistaafim do franciscanismoem que professara.Ficou célebre o julga-mento em 21 de Agostode 1839 por delito deimprensa originado pelapublicação em «ODemocrata» de Paraonde marcha a Nação?.O Júri acabaria por con-siderar não haver motivopara a acusação. Curiosotambém, foi o ter-seidentificado profissio-

nalmente, nessa ocorrência, como «escri-tor público». Todavia, ao longo da carrei-ra a sua intervenção jamais será pacífica.Por exemplo, «O Rabecão» - jornal que otornaria mais conhecido – segundo JoséTengarrinha na sua «História da ImprensaPeriódica Portuguesa» escreve na página136 «… no dia 8 de Setembro de 1848 foiassaltada a tipografia da Rua das Adelasonde se imprimia o jornal extremista «ORabecão», e os assaltantes «armados depistolas, punhais e machados deitaram aletra pelas janelas fora».

Dirigiu O Cortador (1837),Azorrague (1838), O Democrata (1839)e O Rabecão (1847-1848). Foi depoisredactor de República – jornal do povo(1848) e do jornal republicano e socialis-ta O Regenerador (1848).

JOÃO CÂNDIDO DE CARVALHO(RAbECÃO)

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obra livros• Eduardo ou os Mistérios do

Limoeiro, romance, 1849• Memórias de um frade ou os

Mistérios do Claustro, romance incom-pleto, 1850

• Oração fúnebre nas exéquias de D.Maria II, 1853

• Oração fúnebre nas exéquias deLuiz António Esteves Freire, 1853

• Sermão da Imaculada Conceição deMaria Santíssima, Imprensa Nacional,1855

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Autor do drama em 1 acto ORebatedor estreado a 23 de Julho de1830 no Teatro do Salitre.

Regressou à vida eclesiástica, em1851, tendo sido nomeado prior na fre-guesia de Santo Estevão em Lisboa em1855. Já dois anos antes produzira ora-ção fúnebre da rainha contra a qual tãomal escrevera na imprensa. Nas muitascontradições da sua carreira, todaviarepassada de empenho e virulência, oseu romance Eduardo ou os Mistérios doLimoeiro ficou como um documentoinsubstituível para o conhecimento dascondições degradantes do funcionamen-to desta famosa prisão.

Em presença dum surto de febre ama-rela refugiou-se em Vila Franca de Xira;em vão: dessa epidemia aí iria falecerem 1857.

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A Inquisição foi um tribu-nal religioso, que existiu emPortugal, entre 1536 e 1821. D.João III foi o monarca respon-sável pela sua instauração, e, aofazê-lo, teve como intuito auniformidade religiosa doReino e o controlo das práticascomportamentais. No topo dahierarquia inquisitorial estava oConselho Geral do SantoOfício, sedeado em Lisboa, quetinha sob a sua alçada quatrotribunais distritais (Coimbra,Évora, Goa e Lisboa).

Na década de 80 do séculoXX, António Borges Coelho apontavaArraiolos como uma das localidadesonde o tribunal de Évora prendeu maiscristãos-novos (os judeus que se conver-teram ao catolicismo), daquelas onde otribunal tinha jurisdição, a par de VilaViçosa e Beja, por exemplo. Os cristãos-novos foram o principal enfoque da acti-vidade inquisitorial. A nossa investiga-ção veio corroborar os dados globais,apontados por Borges Coelho, permitin-do um maior conhecimento do assunto.

Os grandes momentos de puniçãoreligiosa, incidida pela Inquisição emArraiolos, ocorreram no século XVII,mais precisamente nas décadas de 30 e70. Em ambos, a repressão recaiu sobreos cristãos-novos, acusados de práticasdesviantes das católicas. O número decrimes de outra natureza foi bastanteinferior.

No primeiro momento, em que seefectuou um número considerável deprisões, a Inquisição contava com oapoio do reitor da Matriz, o padre GilRibeiro Coelho. Era a ele que o tribunalremetia os mandados de prisão, comsequestro dos bens dos sentenciados.Após a prisão, os réus eram encaminha-

dos para o tribunal de Évora, por familia-res do Santo Ofício. Estes agentes, quenão eram eclesiásticos, como aconteciacom a maior parte dos cargos da hierar-quia inquisitorial, e tinham como princi-pal função a prisão dos indivíduos. Namaioria dos casos, os réus abjuravampublicamente os seus crimes, prometen-do não voltar a incorrer em práticasjudaizantes.

Em Março de 1672, vários indivíduosse apresentaram no tribunal alentejanoalegando as suas culpas de judaísmo.Tendo declarado voluntariamente as suasculpas, a Inquisição era mais condescen-dente, pelo que as penas dos réus foram,sobretudo, espirituais. Em 1678, o tribu-nal eborense prevenia que Arraiolos “heterra onde os mais dos moradores sãocristãos novos, e assim será convenienteter mais familiares” ; alerta este reforça-do cinco anos depois, ao referir ser “terrade muitos cristãos novos, e estarem mui-tos presos, e apresentados” .

A repressão incidiu mais sobre asmulheres do que sobre os homens.Nestes últimos, ao nível das ocupações,encontramos, com maior destaque, sapa-teiros, ferreiros e almocreves.

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O PROCESSO DE CRIAçÃO DA FábRICA DOS LEõES, Em ÉVORA

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A criação da Fábrica dos Leões, ocorreuem 1916, promovida pela SociedadeAlentejana de Moagem Limitada e, segun-do os seus promotores, deveria trazer oprogresso e desenvolvimento para a cida-de de Évora. O edifício onde foi instalada a fábrica demoagem foi construído de raiz, constituin-do, por este facto e também pela sua enor-me dimensão, um elemento marcante doperfil industrial da cidade de então.Como principais promotores desta empre-sa surgiram três nomes importantes dopanorama económico alentejano, quemuito fizeram para que a cidade e oAlentejo se desenvolvessem. Os promoto-res foram José Miguel d´Almeida,António Joaquim Caeiro e Manuel DiasRodrigues Descalço.Esta sociedade preconizou desde o inícioinstalar na fábrica maquinismos moder-nos, que tivessem a capacidade de produ-zir bastante para satisfazer as necessidadesda região, tais como a produção de fari-nha, massas e bolachas.A fábrica de moagem ficou localizada pró-xima da estação ferroviária dos Leões.Segundo fontes consultadas, a estação dosLeões viria a ser construída posteriormen-te à fábrica de moagem, facilitando assimo transporte das matérias-primasA partir da escritura, os eborenses tomaramconhecimento de que o principal objectivodos promotores seria o exercício da indús-tria de moagem e a exploração de todos osnegócios que lhe fossem correlativos. A gerência da Sociedade ficaria a cargo deJosé Miguel d´Almeida e de AntónioJoaquim Caeiro, os quais teriam também opoder de adquirir ou comprar através donome da Sociedade, tal como o de dirigir

as várias explorações e o de nomear ou dedemitir trabalhadores.No entanto, caso a Sociedade passasse porproblemas difíceis de resolver, os gerentesdeviam ouvir os conselhos do sócioManuel Dias Rodrigues Descalço, quetinha o direito total de fiscalização quer dafábrica, quer dos negócios sociais.Criada por iniciativa de grandes proprietá-rios e lavradores da região de Évora, emAgosto de 1920, esta sociedade passou paraas mãos dos industriais moageiros EugénioAlvarez e de Manuel Rivera Alvarez, ele-vando o capital social para 800 contos.O industrial Vítor Júlio Caeiro e o comer-ciante Carlos Costa e Silva, que, entretanto,entraram para a Sociedade, foram nomea-dos seus procuradores em Évora. Até àdécada de 50 do século XX, esta fábricasofreu várias alterações de capital social e,nos anos 80, acabou por desaparecer. o

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Há um provérbio latino que diz: atéos livros têm destino . O destino de umlivro é por vezes mais estranho do que ode um ser humano!

Vejamos, por exemplo, a obra dopoeta grego Alkman. O rolo de papirocom os seus poemas chegou até nós damaneira mais curiosa. Teria desaparecidohá muito se não tivesse sido enterrado.Mas foi sepultado exactamente comouma pessoa.

Os antigos Egípcios tinham por hábi-to pôr, no túmulo, com a múmia (corpode um homem embalsamado), todos osseus papéis e livros. Cartas, livros deciência, poemas de pessoas que viveramhá milhares de anos, descansaram, assim,no seio das múmias até aos nossos dias.

Os túmulos Egípcios conservarammuitos livros que as bibliotecas nãoteriam podido conservar!

A maior biblioteca Egípcia, a deAlexandria, foi incendiada quando daconquista pelas legiões de Júlio César.

Quantos maravilhosos manuscritosdesapareceram quando esses milhões derolos que lá estavam foram queimados!Aquilo que conservamos dela, são ape-nas alguns fragmentos de catálogo.

Destes livros que fizeram rir e choraros seus leitores, apenas possuímos os títu-los, como se fossem nomes escritos emcampas de pessoas mortas e esquecidas.

Ainda mais espantoso é o destino doslivros que se salvaram porque tentaram des-truí-los! Na verdade, não era o livro propria-mente que se queria destruir, mas o texto.

Na Idade Média, quando o pergami-nho custava caro, raspava-se o texto ori-ginal com uma faca e escreviam-se asvidas dos santos no sítio onde estavamescritos poemas gregos ímpios ou obrasda história romana. Existiam especialis-tas de raspagem e destruição de livros.

A maioria dos livros teriam perecidoàs mãos destes carrascos se não se tives-se encontrado maneira de restaurar oslivros destruídos ou palimpsestos, comose chamam.

A tinta tinha penetrado tão profunda-mente no pergaminho que mesmo a maisrigorosa raspagem não podia fazer desa-parecer todo o vestígio do texto.

Mergulhando o manuscrito em certasmatérias químicas, a sombra azul ou ver-melha da antiga escrita torna a aparecer àsuperfície.

Mas não nos alegremos antes detempo! Porque muitas vezes, depoisdeste tratamento, o manuscrito começa aenegrecer e, por fim, o texto torna-se tãoimpreciso que é impossível lê-lo.

Era o que acontecia quando seempregava o ácido tirado da noz de galhapara restaurar os palimpsesto. Em todasas bibliotecas há vários manuscritos quesofreram uma dupla morte!

Conta-se a história de um sábio que,restaurando um determinado palimpsesto,destruiu de propósito manuscritos paraocultar os erros que tinha feito na tradução.

De há tempos para cá, em vez doácido tânico, utilizam-se outras substân-cias que fazem sobressair a antiga escri-ta durante um período de tempo muitocurto. Enquanto o texto está visível, foto-grafa-se e, depois, lavam-se os ácidos.

E até, graças a descobertas maisrecentes, consegue-se tirar fotografias

O DESTINO DOS LIVROSA IMPORTÂNCIA DO LIVRO

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ensinar. Participaram nas guerras e nasrevoluções, ajudaram a destronar os reis;os livros combateram tanto no campodos vencedores como no campo dos ven-cidos. E, às vezes, à primeira vista se vêa que partido pertencia o livro.

Vi, numa biblioteca académica, livrosfranceses publicados antes da revoluçãode 1789. Um deles é um grande volumeorgulhoso, com fechaduras de luxo e lin-das gravuras. Era um livro de monárqui-cos, um livro do tempo dos reis soberbos.

Outros livros eram tão pequenos quese podiam meter facilmente na algibeira,escondê-los na mão.

Eram os livros dos revolucionários.Faziam-nos pequenos para poderem atra-vessar com eles as fronteiras e propagá-los em tempos de revolta.

Assim, o formato de um livro não édevido ao puro acaso! E porque a vidados livros foi sempre inseparável da doshomens, os livros tomam a medida queconvem a estes.

Faz-me lembrar a história de umhomem e dos seus livros que morreramjuntos na mesma fogueira!

Isto passou-se em França, no séculoXVI. em 1546, os operários tipógrafos dacidade de Lião entraram em greve. era aprimeira greve dos operários tipógrafos!E uma greve que devia durar dois anos.Ora, um dos patrões, Estêvão Dolet,tomou o partido dos operários contra osseus patrões.

A greve terminou, mas os patrõestipógrafos não esqueceram a afronta.

Cinco anos mais tarde foi apresenta-da uma queixa na faculdade de tecnolo-gia na Universidade de Paris . Os mestrestipógrafos da cidade de Lião acusaramEstevão Dulet de imprimir livros anti-religiosos. O julgamento foi rápido.Condenaram-no ao suplicio e queima-ram-no, na praça Maubert, com todos osseus livros.

Acabo este último capitulo com penade ter dito tão pouco sobre esta tão gran-de maravilha que é um livro.

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aos palimpsestos sem qualquer preocu-pação química.

Mas se os livros têm os seus inimi-gos, também têm amigos, que os procu-ram nos túmulos egípcios, debaixo dascinzas de Herculano e de Pompeios, enos arquivos dos mosteiros.

Conhece-se uma história interessantede um destes bibliófilos, Capitão Maffei,e das circunstâncias em que descobriu abiblioteca de Verona.

Tudo quanto se sabia acerca destabiblioteca que tinha tido manuscritoslatinos muito preciosos, havia sido des-coberto nos apontamentos deixados porviajantes que tinham passado por Veronamuito tempo antes de Maffei. Doissábios célebres, Mabillon e Monte-fau-con, tinham andado à procura dela, masnão a haviam encontrado.

O seu insucesso não fez desanimarMaffei. Embora não fosse paleógrafo,mas apenas apreciador de livros, pôs-se àprocura com afinco.

Encontrou, finalmente, a bibliotecano próprio sítio onde os predecessores atinham procurado em vão, isto é, na pró-pria biblioteca de Verona!.

Os livros não estavam dentro dosarmários desta biblioteca, e ninguémantes de Maffei se tinha lembrado de tre-par a uma escada e de procurá-los emcima dos armários, onde os preciososmanuscritos repousavam, havia muitosanos, na poeira e na desordem!

Maffei ia desmaiando de alegria!Diante dele estavam os mais antigos

manuscritos latinos do mundo!Poder-se-iam escrever ainda muitas

coisas sobre o destino dos livros: dos quedesapareceram na biblioteca deAlexandria, dos que se perderam nasbibliotecas dos Mosteiros, dos que foramqueimados nas fogueiras da Inquisição,dos que se perderam durante as guerras.

Do destino dos livros dependia mui-tas vezes o destino das pessoas, dospovos e mesmo dos países. Os livros nãoserviam só para contar histórias e para

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Sintetizando a história do

CIRCuLO NACIONAL D’ARTE E POESIA

No dia 7 de Julho de 1989 fun-dou-se o “Círculo Nacional D’Arte ePoesia”, no 13º Cartório Notarial deLisboa, sendo seus fundadores:Maria Olívia Diniz Sampaio (fun-dadora nº 1), António Inverno, VitorCastelinho, António José DinizSampaio, Ermelinda Naia, PauloArmindo e Maria de LourdesAgapito.

A finalidade deste grupo é adivulgação das Artes (Poesia,Música, Pintura, Cerâmica, Artesa -nato, Escultura...) dos sócios, atravésde Exposições, Espectáculos, Con -

vívios Poéticos, Boletim Cultural,Antologias, etc.

Muitos sócios vivem na provín-cia, especialmente no Alentejo,destacando-se entre outros, JoaquinaSemedo (Caia, Porta legre), IsabelCorte Real (Portale gre), EmílioMoitas (Arronches), Tina (Arron -ches), Clara Pacheco (Arronches),Dora Morgado (Assumar), BernardoAntónio de Sousa (Santo Aleixo,Monforte), além de muitos outros.

Através dos anos o CNAP temfeito inúmeros Espectáculos, taiscomo: “Teatro Nino dos Olivais”;“Academia de Santo Amaro”;“Chinquilho Cruzeirense”; “Aca de -mia Recreativa da Ajuda”; “ClubeArmadorense”; “Associa ção Recrea -ti va do Bairro 2 de Maio”; “AjudaClube”; “Socie dade Musical OrdemProgresso”; “Padrão dos Desco -brimentos”; “Tuna Recreativa deChelas”; “Elo Social”; “Centro deInfância de Marvila”; “Santo André(Barrei ro)”; “Grupo Desportivo eRecrea tivo de Palhais”; “SociedadeFilarmónica União Agrícola 1º deDezembro – Santo António daCharneca”; “Caneças”, etc.

E inúmeras Exposições Colec -tivas, especialmente na “Junta deFreguesia da Ajuda”. Igualmentefizemos em Coina, na “Junta deFreguesia de Alcântara”; “Junta de

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Mar

ia o

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paio

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Freguesia dos Prazeres”; “Voz doOperário”; “Junta de Freguesia deBenfica”; “Espaço GAN”; “Biblio -teca de São Lázaro”; “BibliotecaCamões”; “Biblioteca Municipal deBelém”; “Restaurante Pina Mani -que”; “Junta de Freguesia de S.Sebastião da Pedreira”; EspaçoMultiusos da Penha de França”;“Espaço Grandela”e em muitas out-ras Juntas de Freguesia (Santos-o-Velho, S. Vicente, Santo Estêvão,Santa Isabel, Santo Condestável,Ameixoeira, Lumiar, etc.).

De 2 em 2 meses publicamos umBoletim Cultural com Poemas,Contos, Textos dos sócios. E de 2 em2 anos uma Antologia Poética, naqual já publicámos onze Antologias.E agora a partir de Outubrocomeçarei a escrever para os jornaisregionalistas a falar da XIIAntologia, que passado um ano sairá.Convido todos os participantes dasoutras Antologias .De anotar que nodia 16 de Julho será lançada emARRONCHES a XI Antologia, noAuditório do Centro Ambiental deArronches, cujo apresentador seráJosé Branquinho, autor do Prefácio.

Todas as quintas-feiras há umConvívio Poético do CNAP no CaféMartinho da Arcada, das 16 às 18horas, onde os poetas podem decla-mar Poesia.

Resumo: nós queremos divulgar omelhor que pudermos as Artes dosnossos sócios. “Arte por Arte”.

Quanto a “Encontros Poéticos”estivemos presentes no “Iº EncontroPoético de Poetas em Santo André(Barreiro); “Encontro de PoetasPopulares em Aviz” e váriosEncontros Poéticos no Lavradio.

Em 1993 realizámos visitasguiadas, respectivamente: “Museu doAzulejo”, “Museu da Cidade” e“Igreja / Museu de S. Roque”. E noano de 2009 organizámos umaExcursão à Casa Museu José Régio,almoçámos em Santo Aleixo(Monforte), terra dos nossos poetasAires Plácido e Bernardo António deSousa. Também passámos porMonforte, terra do poeta AntónioSardinha.

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CANTAR ALENTEJANO

O dia esfrega os olhos sonolentos

nos pulsos amarelos das searas.

P’los caminhos vestidos de cinzento

cantam ceifeiras. Caem horas claras...

Nas casas muito brancas fumos lentos

são caules breves em perpetuas jarras

e enquanto um sino fala com o vento

O Sol dá lustro às asas das cigarras.

Há-de o luar ainda achar calor

nos olivais curvados de suor

pelo dorso dos montes fumegantes,

porque a terra é humana e são seus filhos

não só os corpos verdes dos junquilhos

nas a bruma dos astros mais distantes.

Isab

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GuITARRA CAmPANIçA

Nesta tarde de nevoeiroOnde o olhar se espreguiçaVem do lado do BarreiroO som de uma campaniça

Vem do lado do BarreiroPassa por cima do TejoMas o som chega inteiroComo no Baixo Alentejo

Oiço o coro já se arrastaNo fundo da minha ruaMas o coro não me bastaQuero ouvir a voz que é tua

Eu faço de cada poemaAs cordas de uma violaE escondo-me no cinemaSempre que falto à escola

Julgo ver o teu olharNa linha do horizonteSilhueta a atravessarA estrada para o monte

São casa, são coraçõesOnde quero ser habitanteProcuro nestas cançõesChegar ainda mais adiante

Quero ouvir-te em directoSem recurso ao diferidoQuero um poema concretoO titulo está estabelecido

O titulo está no teu nomeOs versos são os teus dedosOs meus olhos têm fomeDo doce dos teus segredos

José

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AQUELLOS CARNAVALES(AÑORANZA DE uN TIEmPO QuE SE VA)

¿En dónde habría dejadoaquel disfraz terribleque sólo daba miedoa los guardias de enormes correajes,fusilones al hombroy negras cartucheras?

¿En dónde el inocentevestido de viejitacon el que las muchachas se reíanporque sabían del engaño y la intención?

¿En dónde aquel correrporque nos perseguía por la calleel guardia local que mandaba el alcaldecon su temor a ser él mismoobjeto del escarnio,de la atrevida burla?

¡Chanzas tan inocentes como nosotros mismos,jóvenes asustadosporque en aquellos añosno había manera de que encontráramosla espita de salida,el huecopor donde respirar!

¿En dónde la francachela organizada,con premios y ordenadosdesfiles variopintosque nos fueron cansandoa base de brillante y académica,multitudinaria y controlada orquestación después?

Aquí, cenizas y recuerdos.¡Y nueva gentecapaz de confiaren la retoma de proyectos,pues también tienen sueñosy su pedazo de buena voluntad!

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à margem

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ordã

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no lado onde nasce o solà esquerda do meu paísna dura face da vidaplanície ensolarada ressonante de dorà margem

foi lá que eu nasci

meu alentejo

onde hoje os emergentesdeslumbrados da minha geração ou filhos delaestranhamenteperderam a memória

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QuANTAS ESTRELAS

Quantas estrelasHá nesta noiteDe Estremoz?

Para lá das nuvens,Alguns vultos e o lago

Onde o Gadanha conta cabeças,Marcam o compasso

Que o silêncio escreve...

Quantas estrelasHá no poema?

Quantas estrelasLuzem sobre o mármore?

Quantas estrelasRespiram nos lábios

Da cidade?29-9-2001

PRImEIRAS CHuVAS Em mONFORTE

Depois das primeirasChuvas de OutonoA terra vai vestir-seDe verde para atiçar

O vento.

Depois das primeirasChuvas as palavras

Vão dançar à volta da terraCom o silêncio.

29-9-2001

mONFORTE-PENÚLTImA mANHÃ DE SETEmbRO

O vento apalpou a terraA chuva aveludou o verbo

A palavra incendiou a manhã.29-9-2001

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osé

Zu

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Vou deixando os meusescritos,

As minhas pausas…Restos do passado

Ainda vivos,Ainda presentes.

Os mesmos gostos,Os mesmos sabores,Os mesmos desejos.

Só os sonhosSão outros…

Que acompanhamO meu presente.Por onde passo

Deixo rastosDo que eu eraE já não sou…

Costa da Caparica,

24 de Maio de 2011

POR ONDE PASSO…

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Gab

riel

Rai

mu

ndo

Cabelos de seara dourada

Ao vento em desalinho

Na planície apaixonada

Mulher sofrida baixinho

Loira ruiva ou raiz trigueira

Mulher de celeiro e chão

Olhar de infinita canseira

De dorida geração

Pensares novos computadores

Horizonte de suores rasgados

Sei-te apegada a amores

Fogosos e constância de soldados

ALENTEJANA

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M.

Par

issy

em conjunto atravessamos o chão da fronteiraas árvores expostas pelo calor do silêncio deixam que todos os viajantesapanhem laranjas, poejoas ervas soltas que alimentam mendigos

pelos montes fora os cães seguem o solsão os habitantes que precipitam na penumbrae nesta caravanapor entre as cavidadesde um chão emboscado

cães e homens são como cardume numa noite cálidasubimos os montesatiçamos o fogoe perdemo-nostemos as mesmas ilusões e no mesmo anfiteatro representamosas dores das mãos

são flores que se abrem em pleno abismosão fronteiras guardadas por moleirosonde não há estacas nem redese o caminho tem hélices douradas

fogo

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não direis aos homensque se arrependam que não lhes cabe a renúncia ao seu aroma e que o nuncae o sempre neles se confundem.só as palavras justas são sábiase disso sabereis quando a bússola dos segredos vos ilustrar a coragem. nunca rogareis à chuva que as nuvens searrependam porque a sua medida é a sua função. direis aos sentidosque estejam atentos. direis ao sonoque não adormeçapara que a noite seja sóbriae as palavras sejam justascomo os sentidos são atentos.direis aos lábios que não cicieme às mãos que não esmoreçampara que a bússola lhes caiba e a chuva soletre. direis aos olhos que não sucumbame aos corpos que não estremeçamporque os homens se queremcom a sua medida. direis aos braçosque compreendam e não se ofendam.direis às pernas que se afadigueme às línguas que se contactem:o amor é o contentamentodas sortes quando as vidasse fecundame se libertam das mortes.

RECADOS mANDADOS DA ILHA

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Fát

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Não sei se mereço Mas agradeço!

Este dom que me abençoa…

Ser feliz assim Sem nada pedir

Ser feliz assim em tudo existir

este amor que me preenche De tão puro e doce ser

Agradeço a Deus, aos deuses,A quem for

Agradeço a ti, meu amor.

AGRADEçO A TI

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Nunca vi um AlentejanoQue não fosse trabalhadorA sua fama é um enganoNa mentira do inventorSeja ele o agricultorA trabalhar a sua terraOu seja o velho pastorCom o gado lá na serraNum Alentejano é normalPasso certo e seguroPara ele é o trivialNão tem pressa no futuro

Gosta do que é justoTudo faz por o merecerO seu trabalho tem um custoNão trabalha para aquecer

A sua forma de estarNem sempre é entendidaFalar e cantar devagarÉ saber estar na vida

mas a nada se vergaramNa sua vida sempre duraAlguns pelo caminho ficaramNa luta contra a ditadura

Luta pelo seu idealPara alcançar a sua metaÉ homem puro, e é lealE tem alma de poeta

SER ALENTEJANO

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Quando eu um dia voltarP’ra ti, minha terra amada,Vou pelas ruas cantarÀs quatro da madrugada.

Vou percorrer cada rua,Vou parar em cada esquina,Vou cantar-te à luz da Lua,Ò menina florentina!

Se acaso me vires chorarPodes crer, não é de mágoaSe me quiseres consolar,Dá-me uma gotinha de água.

E tu que sabes cantar,Se te agradar o meu cante,Vem à janela espreitarE chama-me extravagante…

Eu e outros extravagantesIremos por aí foraE não recolhemos antesDo romper da bela aurora…

Quando o Sol se levantar,As tuas casas caiadasPor certo me vão lembrarRosas brancas desmaiadas

E para teres a certezaDo amor que o meu peito encerraCanto-te, como quem reza,Serpa, que és minha terra!

QuANDO Eu VOLTAR A SERPA

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Não se aprisionaum poeta livre e consciente

como não se aprisionao ar, o fogo, a luz

ou as forças violentasda natureza!

O poeta livre e conscientepor vezes é como um vulcão

fica em letargodurante uma vida,

e num momento inesperadoexplode, lança fora o que foi acumulandoao longo dos anosna luta que travou

na sociedade de classesonde vive!

POETA LIVRE

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um ALENTEJANO Em LISbOA

no monte da planície nascifui pastor e guardei gado

todos os trabalhos do campo fiz

estradas velhas e caminhos tortuosos fiztodas as veredas do alentejo percorri

de monte em monte vi mulheres de luto vestidaspedindo trabalho e pão

de longede muito longe

ouvi cantar oh baleizão baleizão

um dia sonheisonhei e vi campos verdejandoregados com águas do guadiana

na minha aldeiaem cada janela havia um cravo e um poejo

em mim renasce a esperançaa esperança de voltar para sempre ao alentejo

José

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MARVÃO, MARVÃOvou falar de ti somente no Verão,pois tens um ar ameno,bom para refrescare respirar teu puro ar!...

Nesses dias com o sol a bater no Casteloe nas casinhas branquinhas,és tão luzidioe brilhante,como um fio d’ouro.

MARVÃO tu tens umdom altaneiro paisagístico

arquitectónicoe natural!...

mARVÃO, mARVÃO

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O FENECER DAS CASAS DE REGIÃO, Em LISbOA

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Com a Liberdade de AssociativismoPolítico, o Associativismo Regionalistavivido e praticado nas Casas Regionaisviu-se privado de muitos dos seus maioresdefensores e entusiastas, porque muitosdeles passaram a abraçar exclusivamentea prática partidária.O desenvolvimento regional, o incremento,evolução e transformação das manifestaçõescolectivas ao nível concelhio, retiraram anecessidade dos naturais das Regiões partic-iparem em manifestações e actividades maisalargadas referentes à sua Região.Esta nova dinâmica de fragmentação fezsurgir nalguns casos, o surgimento dumAssociativismo Concelhio, motivado eincentivado pelos novos poderesautónomos autárquicos.Assim as Casas de Região em Lisboa,divulgadoras e defensoras das raízeshistórico-culturais, das tradições, domodo de vida, dos usos, dos costumes, dovestuário e dos trajes regionais, da gas-tronomia, da literatura, do artesanato, damusica e dos cantares, e também da orga-nização social e do património arquitec-tónico de cada Região começaram aperder o protagonismo porque a novadinâmica e interesses locais prescindiramde recorrerem à Sua Casa Regional quejunto dos meios de comunicação socialapresentavam as grandes realizaçõesregionais( feiras agrícolas, festivais

nacionais de folclore, de gastronomia,culturais, etc.).O aparecimento das Rádios e Jornaislocais tirou alguma importância aos tradi-cionais agentes divulgadores até então fre-quentadores das Casas Regionais.A diminuição de Associados e conse-quente falta de frequência das Sedes (excepções : Casa do Alentejo e Casa dosAçores) obrigaram as Casas de Região ànecessidade de reformulação das suas ini-ciativas e actividades e à criação doCNCR ( Conselho Nacional das CasasRegionais ) em 14/11/2000 como lema :Temos de defender e preservar a identi-dade cultural das Regiões1. Promover a defesa dos valores, da cul-tura e da diferenciação que identificamcada uma das regiões do país, como formade afirmação da identidade nacional.2. Proporcionar um espaço de reflexão edebate sobre temas de interesse comumque suscitem o desenvolvimento e ocrescimento equilibrado das Regiões.3. Incentivar as relações de intercâmbio etroca de experiências entre as CasasRegionais 4. Promover e dinamizar iniciativas con-juntas em ordem á preservação e valoriza-ção de bens e valores culturais com oreforço da identidade própria de cadaRegião dentro do todo nacional . 5. Suscitar junto de entidades públicas,estatais e autárquicas, questões de carác-ter abrangente direccionadas para a res-olução de problemas regionais.

Projecto ambicioso que durante estesanos não passou de algumas realizaçõesconjuntas ( Festas da Cidade de lisboa )e no intercâmbio e troca de experiências.a defesa e continuação dos objectivosentão subscritos é um desafio para osnovos Dirigentes associativos.

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Para falar com maior profundidadesobre a Acção Social no Alentejo, teria quefazer um retorno até 25 de Abril de 74, ouaté antes, porém isso ocuparia folhas emais num tema importante, mas não é issoo que se pede para este artigo.

Para indivíduos mais independentes,fazer acção social no Alentejo ou no País,nos dias de hoje, é uma verdadeira aventu-ra, pois estamos perante um poder que,embora se afirme laico (mesmo existindoalguns ministros maçons), corta as pernas atodos os que ousam desafiar o marasmo ese entregam à nobre tarefa de construirequipamentos sociais para as suas gentes.

Se se tratar de gente ligada à IgrejaCatólica, a conversa já é outra, pois estadetém um poder com o qual o poder políti-co não se quer meter, não vá sumirem-se osvotos dos beatos e beatas...

Acresce também que o trabalho socialderiva, e muito, dos eleitos do Poder Local- Presidentes de Câmara e de Juntas deFreguesia – e, naturalmente, dos activistassociais.

Não é difícil constatar que nos conce-lhos com eleitos que denotam pendor para aárea social, os equipamentos sociais estão àvista. Mas onde essa sensibilidade não exis-

te, é o deserto. Lamentavelmente, este factoé transversal a pessoas de todos os partidos.

O que temos hoje? No distrito de Bejatemos uma Rede Social que coordena (ouasfixia) tudo o que se pretende fazer em ter-mos sociais. Essas redes distritais e conce-lhias são compostas por todas as institui-ções e presididas pelos presidentes dascâmaras. Aí se discute e aprova, ou não,tudo o que, do ponto de vista social, diz res-peito aos concelhos. Depois há a questãodos financiamentos. A Segurança Socialtem, em grande medida, um papel de entra-ve (a asfixia) e o resto é luta das instituiçõespara conseguirem construir o que faz falta.

Nós, por cá - e refiro-me aos concelhoscuja intervenção melhor conheço, comoMértola, Serpa, Castro Verde, Barrancos eBeja - conseguimos dar respostas sociaismelhores que noutros lugares, talvez porquetemos menor densidade populacional e existeuma grande vontade da sociedade civil.Serviços como o apoio domiciliário, centro deconvívio e de dia ou lar de terceira idade, sãomelhores, mais baratos e há respostas.Igualmente no que respeita ao apoio às crian-ças e estruturas para adolescentes, desempre-gados de longa duração. Todas estas matériassão objecto de grande atenção pelos membrosda Rede Social cujas parcerias são fundamen-tais para o sucesso das políticas sociais. Pensoque genericamente as câmaras do BaixoAlentejo, em conjunto com as instituições,esforçam-se para resolver os problemassociais que ao governo deviam dizer respeito.

O futuro é cinzento e as pessoas estãocansadas de remar contra a maré. O podercombate quem queira desenvolver projectossociais, a privatização tornou-se uma obses-são da direita partidária, e quanto aos socialis-tas, é muita conversa e pouca obra, só apoiamos projectos dos seus amigos de partido.

E assim vai o Alentejo... e o mundo.

ACçÃO SOCIAL NO ALENTEJO

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O ano de 2012 será o mais negro dasúltimas décadas em Portugal, reflexo dasmedidas de austeridade levadas à práticapelo Governo em funções, como reflexodos défices anuais e sistemáticos dasFinanças Públicas desde há práticamente 36anos, refletindo a grande insustentabilidadedas politicas económicas desde que entra-mos na união europeia, e dos erros grossei-ros do modelo de desenvolvimento econó-mico levados à prática nos últimos 15 anos,e que contribuiram para o endividamentoextremo em que Portugal se encontra.

Défice ou deficit é um termo da contabi-lidade de origem latina, que se caracterizapor um saldo negativo. Num orçamento, osaldo negativo ocorre quando os gastos ou asdespesas superam os ganhos ou as receitas.

Se o saldo é negativo, o orçamento échamado deficitário.

Na balança de pagamentos (transaçõescom o resto do mundo) o défice da balançacomercial ocorre quando o valor total dasimportações supera o das exportações.

A subida dos impostos, a redução dorendimento, as medidas que tributam oconsumo, o corte dos subsídios de férias eNatal dos funcionários públicos, e oaumento de meia hora de trabalho diário nosector privado, foram as medidas escolhi-das para este acerto de contas, do descala-bro das contas públicas e da falta de con-trolo desde há praticamente 36 anos quasesem excepção, tendo a classe politica dos

diversos governos, mas também grandeparte da oposição, incluindo as centrais sin-dicais - por incapacidade, ignorância e poralinhamento com interesses de classes cor-porativas, e de países terceiros, descurandoos interesses das PME´s portuguesas, doscontribuintes portugueses, dos jovens á pro-cura de emprego - tendo ajudado a liquidaruma parte da agricultura, das pescas e indus-trias portuguesas, parecendo mais que esta-vam a actuar num mundo virtual. Triste sinaesta, que envergonharia muitos dos nossosportugueses e heróis antepassados, se cávoltassem e vissem o que está a acontecer.

Portugal está há anos a esta parte aafundar-se, são feitas frequentemente con-siderações e comentários mais ou menosjocosos vindos de várias paragens, mas emparticular dos países mais ricos, que prati-camente deixaram de nos respeitar, e quaseque confundem o povo português com umaparte da classe política incompetente, e emmuitos casos até corrupta, que nos tem diri-gido nos últimos anos e se tem governadoa si própria e aos seus amigos “compag-nons de route”, além de chorudas e algunscom duplas reformas em acumulação comoutras remunerações, enquanto estas eoutras situações não forem corrigidas, comuma reforma única por pessoa, com umminímo e um máximo sustentável, os poli-ticos não vão ter o respeito e a considera-ção da maioria dos portugueses.

Veêm-nos como um fardo pesado inca-paz de recuperar e de traçar um rumo comfuturo, assente na sustentabilidade, no tra-balho e no desenvolvimento do país.

Agora, mais do que lamentar a situaçãode quase falência a que Portugal chegou, emais do que procurarmos os responsáveis esão muitos, cabe-nos dar a resposta aomundo mostrando de que fibra somos fei-tos para podermos recuperar a nossa auto-estima e o nosso orgulho.

O DÉFICE 2012

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Nós seremos capazes de ultrapassar estasituação difícil. Vamos certamente dar anossa melhor contribuição para dar a voltapor cima, mas há atitudes simples quepodem fazer a diferença, e diga-se tambémem abono da verdade, que uma grande partedo povo portugês no passado sempre descu-rou o que é português, por falta de informa-ção, e por factores culturais diversos.

O desafio é preferir e comprar sempre quepossível os produtos fabricados em Portugal.Fazer o esforço, em cada acto de compra, decomprar os produtos e serviços que tenhamsido produzidos em Portugal, ou que de algu-ma forma tenham uma parte de incorporaçãoportuguesa, quer através de matérias primas e/ou de mão de obra portuguesa.

Assim, estaremos a substituir muitasdas importações que nos estão a arrastarpara um beco sem saída, e poderemos apre-sentar futuramente resultados surpreenden-tes a nível de indicadores de crescimentoeconómico e consequentemente de reduçãode desemprego. Práticas que iriam melho-rar substancialmente a nossa agricultura,pecuária, pescas, indústria, comércio emgeral – opte sempre que possível pelocomércio local, de bairro da aldeia, da vila– faça mais férias e turismo em Portugal,passe uns dias nos campos do Alentejo, emTrás-os-Montes, no Minho, nas Beiras, parasó falar nestas regiões menos conhecidasturisticamente, e contacte com a naturezadaqueles lugares, teremos mais qualidadede vida, e desfrutamos mais da natureza..

Este comportamento deve ser assumidocomo um acto de cidadania, como um actode mobilização colectiva, por nós, e, comoresposta aqueles que nos veêm como unsdependentes.

Devemos aprender com os nossos vizi-nhos Espanhóis, especialistas nestas for-mas de ser e de estar, há muitos anos queutilizam estas práticas. Quem convive com

alguma frequência com ou quem já contac-tou ou viajou com pessoas de Espanha,sabe que eles, começam logo por reservar ecomprar as passagens, ou o pacote, emagência Espanhola, depois, se viajam deavião, fazem-no na Ibéria, pernoitam emhotéis de cadeias exclusivamenteEspanholas (Meliá, Riu, Sana ou outras),desde que uma delas exista, e se encontra-rem uma marca espanhola dum produtoque precisem, é essa mesma que compram,sem sequer comparar o preço (por exemploem Portugal só abastecem combustíveisRepsol, ou Cepsa). Mas, até mesmo asempresas se comportam de forma seme-lhante! As multinacionais Espanholas aoperar em Portugal, com poucas excepções,recomendam aos seus funcionários que sedeslocam ao estrangeiro a seguir estas pre-ferências e contratam preferencialmenteoutras empresas espanholas, quer sejam desegurança, transportes, montagens indus-trias e duma forma geral de tudo o que pre-cisem, que possam cá chegar com produto,ou serviço, a preço competitivo, vindo dooutro lado da fronteira. São super proteccio-nistas da sua economia, protegendo todo oseu tecido empresarial, e dão sempre prefe-rência aos produtos e serviços espanhois.

Esta prática não é tudo, mas segura-mente é meio caminho andado para comba-termos o défice, e os desequilíbrios dasnossas contas, e estamos a contribuir para odesenvolvimento e fortalecimento da nossaeconomia, e a defender o futuro dePortugal com novecentos anos de história.Temos de ter politicos sérios e que saibamgerir o Estado, para salvar o Estado, come-çando nós por saber escolher os politicossérios e competentes, desde logo começan-do por aqueles que têm a coragem de nosfalar verdade, mesmo que ela seja doloro-sa, só assim podemos preparar o nossofuturo e o dos nossos filhos.

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O dia 11 de Março de 2011 pode ter fica-do na história da humanidade como ummomento de viragem na abordagem da ques-tão da energia nuclear para fins pacíficos.

Quinze meses após a catastrófica fugade petróleo da BP no Golfo do México,que relatámos no número anterior, estecaso parece ter caído no esquecimento ouconvenientemente abafado. O pouco quenos chega dá conta de uma indústria depesca na zona quase paralisada e a situa-ção longe de estar controlada.

Ainda os ecos deste acidente nãotinham desaparecido e já um outro deiguais ou piores proporções se destacavano inicio deste ano. Trata-se da triplacatástrofe ocorrida no Japão. Nesse dia 11de Março, um sismo, seguido de um tsu-nami, provocaram, no conjunto, um aci-dente na central nuclear de Fukushima.

Este encadeado de acontecimentosnaturais e artificiais provocou milhares demortes directas e indirectas causadaspelos acidentes naturais e pelas fugas dematerial radioactivo. “20% do territórionacional sofreu com o impacto da catás-

trofe. Perto de 520 000 pessoas foramevacuadas. O número de mortos e feridosé avaliado em 11 500”, afirmou um depu-tado japonês(1).

O complexo nuclear compreendia seisreactores, desenhados e construídos pelaempresa norte-americana General Electrice era mantido pela Tokyo Electric PowerCompany (TEPCO).

Tudo começou quando um dessesreactores, o reactor 4, sobre-aqueceu eexplodiu, devido a uma avaria mecânicaprovocada pelo sismo. O sistema de arre-fecimento colapsou e os sistemas de emer-gência também falharam. O projecto desegurança não previra uma catástrofe detais dimensões.

Os gases tóxicos rapidamente se espa-lharam pela atmosfera o que obrigou à eva-cuação de toda a área num raio de 20 Km.Com o abandono da central, o descontroleaumentou, aumentando desse modo os ris-cos de explosão nos outros reactores.

A situação parece ter estado fora decontrole durante muitos dias. A empresaproprietária, simplesmente, não sabia o

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que fazer. Apenas à custa de autênticoskamikase, verdadeiros heróis nacionais,que se ofereceram sabendo os riscos quecorriam, foi possível remediá-la, semcontudo a resolver. Antes, não só ocultarafalhas de segurança como a ausência demecanismos de emergência.

A central de Fukushima tinha sidonotificada há anos pela Agência NuclearMundial para proceder a obras de manu-tenção, mas nada fez. Pior, veio arrogan-temente dizer que tudo estava prevenidoem caso de catástrofe natural.

Parece que nem tudo segundo sabemosagora. Um erro de cálculo deitou tudo aperder. A previsão de um sismo de grau 6 (omáximo previsto) não abrangia o que agorase verificou (grau 9), nem o tsunami simul-tâneo, embora a central esteja junto do mar,numa zona altamente sísmica.

Durante anos fomos acreditando napalavra dos cientistas que asseguravam sera tecnologia nuclear totalmente segura. Aopinião pública dividia-se entre a confiançacega “nos que sabem”, a desconfiança,fruto do medo do desconhecido e umaminoria que ia levantando dúvidas(2).Indiferentes a estes últimos, os governosfaziam orelhas moucas e plantavam cen-trais nucleares por tudo o que era sítio, obe-decendo tão só a critérios economicistas.

A insistência dos governos ia dandoos seus frutos. Cada vez mais vozesgarantiam ser essa a forma de energia dofuturo. Com a actual tecnologia os peri-gos iniciais estavam afastados e a segu-rança era de cem por cento.

Um pormenor escapava no entanto aodebate: o que acontecia com as centenas decentrais ainda existentes que usavam tecno-logias antiquadas, já para não falar na ques-tão dos resíduos, também por resolver?

Os desastres de Chernobil na ex-URSS e de Three Miles Island nos E.U.A..foram os primeiros sinais de que qualquercoisa estava mal. Mas apesar deste doisalertas pouco se fez para além de inspec-ções de rotina internacionais e nacionais.

Com a desregulação da economiamundial e a falta de fiscalização dos esta-dos por força do neoliberalismo, a situa-ção agravou-se ainda mais. As empresasnucleares privadas praticamente tiveramluz verde dos Estados para fazerem o quequisessem sem quaisquer impedimentos.

Aquilo que eram serviços públicosaltamente vigiados, ao transformarem-seem oportunidades de negócio, ficaram ape-nas entregues a si próprios e ás leis dosmercados ou seja do máximo lucro(3).

Esta mistura explosiva de interessesfoi progredindo até à total ausência decontrolo pelos estados o que aumentou osriscos de segurança.

A conclusão a tirar deste caso deFukushima não será certamente a de saberse o nuclear é seguro ou não é seguro. Aconclusão é que, por muito que se afirme ocontrário, a técnica não se encontra devida-mente controlada e muito menos quandoos Estados abdicam da sua qualidade degarante da segurança dos seus cidadãos.

A discussão encontra-se de novo naordem do dia.

Notas1. Entrevista de Hidekatsu Yoshi deputado do PC do Japão, em oDiário.info.2. Greenpeace: A história da era nuclear é uma história de acidentes. Muitas pessoas, em muitas partes do mundo sofrem de

problemas de saúde provocados por acidentes, que ocorreram anos ou décadas antes.3. Segundo o Banco Mundial, os custos económicos das catástrofes naturais passaram de 68 mil milhões de dólares em 2009

a 180 mil milhões em 2010. E 2011 promete ser ainda pior. O governo japonês estimou os danos directos do terramoto de magnitude 9.0 e do tsunami de 11 de Março em cerca de 300 mil milhões de dólares. Quase 26 mil pessoas morreram ou desapareceram na catástrofe, sem falar dos danos causados pelo desastre nuclear de Fukushima. “Custo das catástrofes naturais explode”. Swissinfo.ch.

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AVIFAuNAO CuCO

Neste espaço do Almanaque dedica-do à avifauna, falamos desta vez docuco, ave singular muito comum emPortugal. Dentre as suas diferentes espé-cies, é o cuco-canoro (cuculus canorus)

o objecto da nossa breve descrição.Trata-se de uma ave com um compri-

mento médio um pouco acima dos 30 cm euma envergadura entre 55 e 60 cm, pesan-do à volta de 100 gramas. A cauda é com-prida, tal como as asas, que são estreitas epontiagudas. De cabeça pequena e bicocurvo, a sua plumagem é cor de cinza, masa barriga é branca com estrias pretas oucastanhas. A cauda é mais escura, com aextremidade das penas em branco.

Macho e fêmea apresentam geral-mente um padrão cromático semelhante,sendo que as fêmeas adultas exibem, porvezes, uma tonalidade arruivada na partesuperior. Os juvenis são castanho-escu-ros com uma mancha branca na nuca.

Os batimentos das asas são rápidosmas fracos, movendo-se as mesmas semintervalos e abaixo da horizontal, com acabeça apontando para cima.

O seu nome provém do canto domacho, composto por duas notas quesoam como ‘cu-cu’ e que em Portugal, sepode ouvir sobretudo desde os fins domês de Março até Julho. Isto por se tratarde uma ave migradora, que inverna emÁfrica. Durante a migração, mas tambémantes da partida e logo após a chegada,pode andar em pequenos bandos.

Distribui-se por toda a Europa, Ásia eNorte de África. No nosso País ocorre portodo o território, sendo mais abundanteno interior norte e centro. No Alentejopodemos encontrá-lo com facilidade, porexemplo, nas zonas de Alpalhão,Arraiolos, ribeira do Divor, Barrancos.

É comum em todos os tipos de terre-nos, preferindo sobretudo as zonas flo-restadas, imediações de pauis, montados,bosques, mas evitando as zonas de altitu-de e os matos densos. Por ser muito tími-do, a sua presença é rara nas proximida-des de áreas muito povoadas.

A sua alimentação é essencialmenteconstituída por insectos e larvas, emespecial lagartas (e aqui dão um impor-tante contributo no controlo de pragas).No entanto, podem ainda ingerir, porvezes, frutos e plantas, sementes, peque-nos répteis e anfíbios.

Quanto à reprodução, é de notar quemacho e fêmea acasalam com diferentesparceiros e que uma das característicaspeculiares dos cucos é o facto de parasi-tarem outras aves, que lhes incubam os C

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ovos e lhes alimentam as crias. Trata-sede um curioso processo, uma vez queparasitam um grande número de outrasespécies, ainda que cada fêmea se espe-cialize numa só espécie em particular.Começam por procurar activamente osninhos para parasitar (vários) e, feita aselecção, aguardam a ausência dos seusocupantes para neles depositarem os seusovos, um em cada. Assim, espalhando-ospor diversos ninhos, aumentarão as hipó-teses de sucesso, pelo menos para algunsdeles. Após a postura, retira um dos ovosque já se encontram em cada um dosninhos e come-os. Um aspecto singularreside no facto de os ovos assim deixa-dos tenderem a assemelhar-se aos doshospedeiros.

A incubação dura cerca de 12 dias e,pouco tempo após o seu nascimento, osjovens cucos expulsam os verdadeirosfilhos da ave que preparou o ninho, ouempurram os seus ovos para fora, casoestes não tenham ainda eclodido. Ficamassim os ‘pais adoptivos’ a tratar o cucoaté este poder voar, o que, em regra,acontece 3 semanas depois.

Esta ave ocorre em elevado número,

estimando-se que, só na Europa, os seusefectivos atinjam um milhão e meio deindivíduos. A sua continuidade não está,pois, em risco, considerando-se o seuestado de conservação como seguro. Talnão obsta a que se encontrem sujeitos afactores de ameaça, que se repercutem namortalidade da espécie. Dentre eles,sobressai a perseguição humana (abate atiro, pilhagem de ninhos, iscos envene-nados), eventualmente potenciada poruma espécie de preconceito associado aoseu comportamento predatório.

Também a alteração dos seus habitats

pela construção de infra-estruturas (barra-gens, estradas, parques eólicos), instalaçãode regadios, etc, bem como a perturbação

das zonas de nidificação (actividades agrí-colas, cinegéticas, turismo, por exemplo)levam a uma quebra na reprodução emesmo ao seu afastamento dessas zonas.

Todavia, não se encontrando emcausa a conservação da espécie, o pecu-liar canto do cuco continuará a fazer-seouvir, sendo que a progressiva conscien-cialização das novas gerações para asquestões da sustentabilidade e equilíbrioambientais serão o seu melhor garante.

Fonte:wikipedia

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Levantou-se de manhãzinha ainda osol era uma criança de berço. Tratou dahigiene matinal em quase absoluto silên-cio de modo a não despertar a sua MariaAntónia que, como quase todas asmulheres, tinha maus fígados matinais;da parte da tarde era uma joia de pessoa,mas pela manhã não se podia aturar!

Olhou-se ao espelho, passou as mãospelas rugas que mais pareciam regos ereviu em cada uma delas um episódiomarcante da sua vida.

As primeiras, simbolizavam o nasci-mento dos filhos que lhe tinham calhadona lotaria da vida o que para o caso pre-sente significava prémio dos grandes.Nove foram os filhos que Maria Antónialhe dera e todos vivos graças a Deus.

Os outros sulcos que lhe marcavam aface representavam outros tantos episó-dios da sua vida. A ida à guerra logo emsessenta e um quando esta rebentou emAngola; a passagem a salto da fronteira àprocura de vida melhor que a miséria porcá vivida; a epopeia dum campaniço porterras francesas, onde tudo era novo eestranho a começar pela língua.

Anos mais tarde nasceram-lhe aocanto de cada olho duas rugas de alegria:a primeira pela notícia do seu país final-mente libertado, a outra, por poderregressar e com as suas mãos contribuirpara a construção desse Portugal Novoque acabara de nascer por vontade dopovo a que pertence.

De ruga em ruga, de vinco em vinco,de sulco em sulco foi-lhe o tempo escul-pindo o rosto. Hoje, Chico da Horta, comosempre foi conhecido, conta setenta e doisanos e outras tantas estórias vividas numavida cheia de perigos e de aventuras.

Na Rotunda das Ovelhas em CastroVerde onde passa muitas das suas manhãs,já o não chamam assim; apelidaram-no dePrimeiro de Abril, por não vislumbrarem

muita verosimilhança nos relatos da suavida. O narrador sabe que são todos ver-dadeiros, até porque foi ele que os criou,mas como não pode interagir com os com-panheiros de rotunda sob pena de manipu-lar os personagens, só pode estar solidáriocom Chico da Horta que ultimamente seensimesmou desde que desconfiou que osseus correligionários assassinos do tempo,não davam crédito às suas façanhas.

Estamos em Junho, os dias são osmaiores do ano, logo, de manhãs claras eentardeceres serôdios, coisa que faz comque Chico da Horta considere ser esta aaltura do ano que mais aprecia, daí nãoquerer perder pitada dela, levantando-selogo o astro-rei dê de vaia lá para as ban-das do montado.

Já se aperaltou para o passeio matinal.Não dispensa a bota alentejana que dedois em dois anos compra na feira deCastro ao mesmo sapateiro de sempre, umhomem de Almodôvar que tem a reputa-ção no nível BBB: Bom, Bonito e Barato!

Dantes não dispensava o colete tradi-cional que adornava com a corrente e orespectivo relógio de bolso, herançaúnica de seu pai, coisa que o envaideciade sobremaneira. Mas, desde que um talMarroquino de seu nome Mohamed pas-sou lá pela rotunda e lhe vendeu um cole-te de repórter de cor caqui pela módicaquantia de seis euros muito regateados,que Chico não quer outra indumentária.

Antes de sair para a rua faz um checklist a todos os bolsos verificando se nadalhe falta.

No bolso de cima não podem faltar:um pequeno bloco de notas e três esfero-gráficas bic de cores diferentes: verde,vermelho e preto. No bolso do lado con-trário ao coração o inevitável telemóvel,para que Maria Antónia o possa avisarque as sopas estão na mesa para o casode se atrasar, o que seria coisa rara, já

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que pontualidade britânica, não é só umadas suas qualidades, também é um dosseus grandes defeitos.

No pequeno bolso que lhe fica à alturade descansar o dedo polegar, o inevitávelrelógio de corrente que lhe confere umaespécie de ar aristocrático-popularucho.

Noutro dos múltiplos bolsos do coletemultifunções, os inevitáveis sacos plásti-cos dobrados em trinta voltas que cabemàs dezenas no mais ínfimo espaço, não váo diabo tecê-las e ter de fazer umas mer-cas e não ter onde transportar os haveres.

Num dos bolsos com fecho de correr éo lugar para o pente e para o espelho, umhábito desde criança enraizado e queChico da Horta faz questão em cultivar. Seo pente é um banal pente de plástico, já oespelho é uma relíquia que guarda há mui-tos anos; trata-se de um espelhinho circu-lar que tem na face não espelhada um jogocom duas balizas e uma pequena esferametálica, jogo esse, com que engana asolidão a que cada vez mais está votado.

Num outro compartimento mesmopor baixo daquele dedicado ao relógio deseu pai, assim numa espécie de vizinhan-ça de longa data, tem lugar assegurado asua inseparável navalhinha, ferramentaque o tem acompanhado uma vida, tendoido e vindo a Angola, passado por terrasde França e nalguns apertos o ter safadode alguma tuna de porradas. A sua estimapor tão apreciado objecto exige que amesma, também esteja presa por umacorrente que lhe parte do cinto e terminana ditosa amiga de gume gasto pelo pas-sar do esmeril e dos anos.

Para terminar em matéria de corren-tes só falta referir que também o porta-chaves é contemplado com uma, e assim,Chico da Horta, jamais sai de casa semas sua três correias ao tiracolo.

Nos bolsos de dentro, portanto locaispara as coisas íntimas, coisas do foropessoal, é onde guarda duas carteiras. Ao

lado direito a dos documentos e fotos dosque mais quer, mesmo que amarelecidaspelo tempo. Do outro lado, a do dinheiroque, vá-se lá saber porquê gosta deostentar, daí andar sempre com quantiassignificativas, mas sempre em notas devinte, dez e cinco euros para com o seuvolume poder impressionar os poucosque com ele privam. Este bolso paraalém do fecho de correr é ainda reforça-do com uma pregadeira não vá o raio dodemo estar atrás da porta.

E para poder sair à rua só falta confe-rir uma coisa! Se no seu porta moedas decabedal do género gaveta em forma deferradura existem os trocos suficientespara o seu vício diário: o café e o jornalcom as notícias frescas.

De tanto vestir o colete de fotógrafo,começaram a chamar-lhe de: Repórter X,não só pela vestimenta mas também pelagatafunhagem que faz com as diversascanetas no seu pequeno bloco.

Conta-se até, que foi a este antropo-nómino camaleão que dois cidadãos via-jando de automóvel de norte para sul,para passar o tempo vinham-se mutua-mente questionando sobre o nome dosnaturais das terras que atravessavam. Osde Lisboa era Lisbonenses, os de SetúbalSetubalenses e por aí fora. Quando esta-vam perto de Castro Verde não atinavamcom o nome dos naturais desta vila. Umdizia que eram Campaniços, o outro tei-mava que eram Castroverdenses, foi jáem plena Rotunda das Ovelhas que abei-rando-se do permanente grupo de refor-mados aí presente que escolheram oReporter X para serem esclarecidos.

Depois dos cumprimentos da praxeum deles disparou – " Amigo do coletecom ar de quem sabe estas coisas. Diga-me lá como se chamam aqui os de Castro?

Chico da Horta, jogou com dois dedosa boina para trás, revelando a alva tez emcomparação com o tom amorenado do

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resto da pele visível. Com os restantesdedos da mão coçava a dita testa em buscade resposta para tão invulgar demanda.

Depois de pensar e repensar deu-sepor vencido e resolveu finalizar a ques-tão replicando.

- Eu sou conhecido por conhecer muitacoisa e mesmo muita gente, MAS TODOSOS DE CASTRO, confesso que não sei!

A gargalhada foi geral. A respostadada passou então a fazer parte do ane-dotário alentejano para regalo das hordasde urbanos semianalfabetos que gostamde pavonear a sua ignorância pelos maisinusitados lugares.

Os dias foram passando; as semanassendo devoradas pelo calendário; osmeses sucumbindo ao ciclo das estaçõese os anos: ainda mal desaparecia o cudum já aparecia a cabeça dooutro, fazendo do tempo umcavalo selvagem de crina aovento que galopa sem cessar,marcando cada um deles umnovo sulco na sua enrugadafigura.

Com o tempo foi ficandocada vez mais retraído; mais taci-turno; mais ensimesmado; atéque, houve um dia em que deixoumesmo de falar tendo decididopassar a viver para dentro, paraum mundo unicamente habitadopor si e pelos fantasmas dos seussetenta e dois anos de vida.

Certo dia leu no jornal queum tal João Manuel Serra lá dacapital, homem das suas idadesque saía à noite de casa paracom um aceno e um sorrisosaudar os automobilistas quepassavam, havia morrido subi-tamente.

Leu a bizarra história devida deste homem e algumacoisa mexeu com ele. Como se

fosse comandado por essa estranha forçachamada destino, sentiu um apelo vindolá do fundo das entranhas; uma espéciede encarnação; uma metamorfose; umtipo de passagem de testemunho e passoua vestir a pele, a assumir o papel desenhor do adeus.

A partir desse dia abandonou o ar dedesiludido da vida e passou a sorrir, a darde vaia e desejar boa viagem a cada carroque passa na Rotunda das Ovelhas, ale-grando assim a praça com o despropósi-to do seu repetido gesto.

Agora, já não é Chico da Horta; nemPrimeiro de Janeiro; nem Repórter X.Hoje em dia, todos os que por ali passam,lhe devolvem o aceno e o sorriso cha-mando-o carinhosamente de: Senhor daBoa Viagem.

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Tinha que resolver o mais rápido pos-sível a situação insuportável de depen-dência filial de um Pai anacrónico, quebate na Esposa, tem amantes em barda eé rico que nem um Rei do Petróleo.

Acabara recentemente o Sétimo AnoLiceal, mas mesmo que a vocação fosseas Belas Artes, não podia aguentar maiso comportamento familiar do lar e deci-diu partir rumo ao Sul.

Levou apenas o essencial de sobrevi-vência: uma mala de viagem com roupanecessária para o que desse e viesse, ocavalete, mais uma caixa de tintas, e nobolso do casaco a quantia da mesadapaternal actualizada.

Era doente, padecia de Epilepsia,com ataques frequentes, mas controladoscom os medicamentos regulares que teriade suportar para o resto da vida.

O Comboio iria partir dentro de pou-cas horas. Era só despedir-se da Mãe,que ficaria a chorar baba e ranho desme-didamente, a sofrer, mas que por outrolado até ficaria aliviada, pois era comoque a ausência do filho fosse castigar omarido.

Bilhete comprado, destino Porto-Lisboa e, chegado à Capital, talvez esco-lhesse outra caminhada, dependendodaquela voz interior que o entusiasmava.

Tinha uma alma de artista: escreviapoemas, normalmente dedicados à Mãe,e sempre julgou que habitava dentro deleo espírito sofredor do célebre pintor VanGogh, pois os primeiros quadros a óleoque pintou, que, tanto pelos motivos,assim como pela técnica, apresentavamsemelhanças impressionantes com aObra dele, mas faltavam-lhe a luz, ostemas figurativos, que nunca encontrouno Norte da sua nascença.

Lia com frequência os belos sonetosde Florbela Espanca e, sob a influenciadesse mundo poético, ficava-lhe cada

vez mais avolumado o apetite de vanga-bundear pelos espaços “…das horas dosmágicos cansaços…” , como ela tão bemsoube retratar.

Assim a estadia por Lisboa foi bemcurta e, novamente ansioso, encontrava-se agora metido no Comboio que o leva-ria do Barreiro para Beja.

Em Beja, já a sentir a beleza de umclima mais de acordo com as suas diva-gações, acabou optando por outro desti-no que os sonhos lhe pediam e, como iapartir a Automotora do Ramal de Moura,depressa comprou o bilhete e, ao som dovelho motor a Diesel das duas carruagensfoi-se embrenhando no coração doAlentejo profundo.

Era Agosto.Ao longe, na imensa pai-sagem amarelada da Planície, como queestivesse na bigorna do Sol, sentiu-serealizado: Acabava por descobrir o ver-dadeiro sentido da Pintura que até agorao tinha frustado: Ali estava a Luz via-jando na Sombra.

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Rufino Sequeiro e Firmino Regadoeram um prodígio de desentendimentopsicológico. Ou seja, odiavam ambos omesmo, mas sempre do lado contrário dooutro! Permitamo-nos criar uma expres-são para alcunhar este estranhíssimodefeito: eram inimigos gémeos!

Esta situação de gémeos que o nãoeram, até tinham quinze anos de diferençaentre eles, tinha algumas vantagens que opovo tentava deslindar…ou melhor, já nempensava nisso! O diabo que os levasse!

Inseparáveis eram, e por isso se viamobrigados a discutirem entre eles semqualquer possibilidade de estranhosmeterem o bedelho nas suas contendas!Era o raio se isso acontecia! Adversárioshá segundos, parceiros ao instante secontra o intruso! Não são assim tambémos verdadeiros gémeos? Achamos quesim. Era bem como eles se consideravamdurante as horas de vigência comum, ouseja, todas menos as de dormir.

Sabem que esse considerando deles,tinha um efeito muito curioso nas ofensasquotidianamente trocadas! A ver como!

Nunca por nunca se chamavamcabrão ou filho da puta um ao outro.Porquê? Fácil. Porque morando nomesmo país e sendo gémeos lá no seuentendimento, se usassem esses elegan-tíssimos insultos, estavam-se a insultar aeles mesmos! Complicado? Nem porisso… Basta ter fé e acreditar que os paisdeles mesmo não sendo, eram uns só e os

mesmos! É necessário é estar atento àpsicologia um tanto ambulatória deles ...

Rufino Sequeiro, como mais velho nosseus sessenta e oito anos, arvorava-se emchefe do bando (deixe-se a palavra mesmopara um bando só de dois) e trovejava aosventos gostar de ser rei e mandão… desdeque o Firmino não estivesse por perto.

Novamente a pergunta, porquê?Razão era, que mais novo sim, e rasandoainda os cinquenta e três anos lá paraMarço, Firmino ameaçava imediatamen-te tal soberania.

Era sua firme intenção que ficasseclaro que a inteligência mandasse maisque o cajado ou a parvoíce burra do“irmão”, o que dava na mesma! E quemera o inteligente? Há outra resposta quenão seja Firmino Regado?

Tinham um amor comum, aceite fica essacondição sem bordoada moral ou de varapau:ambos adoravam a sua terra do Alentejo. Epronto, acabava aqui a concórdia!

Há amores para todos os feitios e feitiospara todos os amores. Sabe-se lá se algumfilósofo dos livros em grego ou latim, jápasmavam esta verdade sobre os feitios?

Olhe, se já o tinham dito, foi umagrande sorte ou poder de adivinhação,porque só por estes lados é que é possívelcriar filosofias tão profundas, assistindoao trovejar dos diálogos Firmino/ Rufino!

Vamos então ver em pelo sem selanenhuma, como funciona a parelha.

Pela frigideira do ”BORREGO DOLARGO” passavam no momento umasfarinheiras com ovos, de cheirante apelopara o Rufino e uma dúzia de compadres.Variante podia ser umas febrinhas doalguidar. Encostado ao mesmo balcão, o“mano” ia pela linguiça assada a ser tem-perada antes do dente que a comesse,com poejo em quantidade Firmino q.b..Os adeptos em volta eram quase em igualnúmero por um e outros petiscos.

Não pensem em ansiedade na sala,

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pensem sim em quem ia doar e pagar ajanta. Os em volta, era mesmo o quetinham na cabeça. Hábitos consabidos jápor todos. Mastigavam o seu copo detinto para fazer boca ao que dali viesse.Se a frigideira é a mesma,...

O boteco com aquele nome comestí-vel, enchia o centro do largo e das vidasde muitos concidadãos. Ali entravam parauns golpes de navalha no pão e no chouri-ço, deitar por terra o nível das pipas (sim,ainda havia algumas pipas, agora se ovinho delas apenas tinha ali a cama e nãoo berço, era outro assunto a debater – sealguém se importasse com isso), e depoisde aliviar as pipas, passavam normalmen-te a carregar as conversas.

Encostados àquele balcão de faca epresunto em punho, muito borrego foivendido, burros e caprinos trocaram dedono e se ajustaram vidas dos outros, dosque não estavam na altura, já se deixa ver.

Caraças, o gerente, tornara-se melga-damente e com todos os vagares, o epi-centro de tudo. De tudo!

As notícias embaladas em vinho tinto,podiam aprofundar o estado de ex-virginda-de de qualquer rapariga (era a desgraçadela!) ou de moço novo (era a glória dele!),as festas nunca incógnitas e as cajadadassem dó nem piedade asseguradamentepúblicas! Não raro, o cajadador e o cajada-do, remoíam no ”BORREGO DOLARGO” os restos das fúrias e antigasrazões da rija bordoada. Porque aquilo eratudo muito boa gente, a amizade não se des-truía a pau, salvo se havia saiame pelo meio.

Neste ambiente, não há como estra-nhar o azedo historial dos nossos Rufinoe Firmino!

- Atão vocemecê quer plantar uvas? Enão me diz aonde?...

- Homem terra farta há em fartura!Temos é que lhe dar água!

- E vem donde essa água que quer daràs plantas? Vocemecê vai andar de rega-dor nas unhas, home?...

Não era resposta que tolhesse a lín-gua do Firmino Regado.

- Do lago de Alqueva, ou não têm láágua?

- Há lá, há, mas está longe!- E a terra aqui é de seara, o trigo, mê

amigo, vem para cá nascer! Disse quem?O Rufino Sequeiro, apontando bem aofuro da deixa.

- Sabes bem que se a água cá chegas-se era para deixar aí os campos cheios desal e químicos lá da merda dos espanhóis.

- Matava-se a terra! Atirou logo umdeles que por acaso não conseguimosidentificar.

- Compadres! Vocês nan queremandar pr’a frente só aladam como ocaranguejo, se não atrasam como o mijoda burra! Venha a água que faz falta!

- Boca tem você, Firmino! E que sefaz aos porcos, vamos ensiná-los a nadar?

- Caraças, vomecê tem medo de andara nadar aqui dentro da taberna? É isso?

- Tá-me a chamar porco? - Não se vê logo que não? Eu quero é

ver este Alentejo com cara nova, semaranhiços, mas com vinho bom, e melõesque vendem bem e dão trabalho a muitopovo. Se a nossa gente se desencostar dochaparro e der ó milho, a gente mudaisto! É o que quero!

- Era lindo ver os porcos a nadar e asborregas de fato de banho! Dêxa-me rir!

Pouco entrou aqui o mano Rufino.Pensando nisso, arrisca-se a pensar quelhe girava na cabeça sem travão, algumaideia, tão má como o vinho que bebiaentrementes.

A luta entre as tradições velhas e jáboas para cantares folclóricos, e os ventosnovos que podiam soprar naquelas terrasressequidas e algo exaustas pelo sequeiro,arrepelavam as conversas de metade dapopulação contra a outra metade, e isto émetafórico, porque se fossem pensar emdividir os que restam na terra deMontegrande, só encontrariam gente para

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uma metade, não dava para duas!Firmino e Rufino eram bem o emble-

ma da situação. Um pelo seco, outro pelomolhado, ambos a gostar do seu Alentejo,mas cada um com a sua maneira diferen-te de o ver. Tragédia, não era, drama issosim, que as casas eram em subida cres-cente, habitáculo para moscas e outrosbichos igualmente pouco aconselháveis.

- Mano! Ao trigo dá a chuva o beber, àsuvas e aos melões tens tu que pagar a água!

Vê-se já a imagem da terra nesteespelho do “BORREGO DO LAR-GOW”! Imobilismo, falta de imagina-ção, cansaço da mente, fatalismo da raça,deixa andar que sempre foi assim, hámuito chaparro por aí…

A trovoada retumbou com um pretex-to mais do que infantil: um concerto esti-val de um “famoso” cantor (?) o ViolasSemedo. Longe estava o artista de sonharque iria causar uma das piores cenas depancadaria na terra, daquelas que nem apassagem dos combatentes pelo vinho doLargo, quase pôde acalmar! Pobre famo-so das cantorias…

Coisa foi, que ao ilustre foram dizerque no fim do espectáculo ou no meio,tanto dava, arrancasse uma saudaçãoespecial aos trabalhadores da terra, semesquecer o falar russo, já que havia alen-tejanos mas mais ucranianos a trabalharpor ali – bons compradores de discoscom música alegre ainda que não perce-bessem muito bem as letras.

Ordem feita, ordem cumprida! Postaa gente no terreiro a ouvir e o mulherio adançar a compasso, o artista Semedo,gargarejou vários “êxitos planetários”com pleno agrado da mais ou menosvasta audiência, entre os quais a críticase alguma vez tivesse tido ocasião paraisso, destacaria jóias como “A minhaborreguinha doce” e o estrondoso “Ófilha estás ao fresco”. Enorme!

Mas veio a proclamação encomenda-da pelo agente e comerciante de CD’s!

Às palmas, disse o famoso:- Obrigado! Obrigado! Muito obriga-

do, amigos alentejanos russos! Paravocês o meu obrigado por este…

Mais não conseguiu vocalizar! A sur-reada de assobios e de objectos subita-mente voadores vindos das duas facçõespresentes, normalmente amigas entre si ,deu pernas velozes aos organizadores doespectáculo começando pelo Semedo,agora com medo, mesmo assim sem con-seguirem evitar boas e certeiras bordoa-das, vindas democraticamente de qual-quer dos lados sem olhar a religiões, cre-dos ou partidos, salvo os que ficaramcom algum osso menos inteiro!

Foi uma festa, uma grande festa!Contra as previsões já tidas acima, aca-bou tudo em grandes copázios de tinto epalmadas nas costas, igualmente semolhar a religiões, credos ou partidos.Lucro farto para o Caraças do tasco!

Sabida já como era a vida emMontegrande, porque razão continuamosa contar histórias?

Muitas vezes da discórdia nasce umaluz qualquer. A iluminação foi na cabeçado Firmino Regado, a ideia de arrendar a“Herdade do Trabalho e Esperança”,assim que a rega se tornou realidade. Como tempo e com muito trabalho, desem-poeirado de ideias, maquinaria apropria-da, veio a produzir uvas com tal qualida-de que as começou a vender às grandescasas vinícolas. Teve êxito e nele, o orgu-lho de contratar gente alentejana de ideiase formas de trabalhar novas.

Na taberna nunca mais ninguémfalou em dar fatos de banho às vacas eporcos…

Rufino Sequeiro, envelhecido, biso-nho e teimoso, ficou na dele, trigo é queé bom. Será?

Vê-se que a polémica, com mais oumenos força, continua. Quem terá maisrazão? Quem ganhará e com ele oAlentejo? Que acha?

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Na vila de São Manços, com os seusmil habitantes, ali a poucos quilómetrosda cidade de Évora, há, desde 1965, umgrupo de forcados. Na planície alenteja-na, onde a bela São Manços se situa,junto à sua igreja, já muito antiga notempo, corre a ribeira, onde nas suaságuas se refrescavam, nos pegos deVerão, os seus jovens, que nasceram ecresceram nesta terra, para formarem oseu Grupo de Forcados. Antes da exis-tência do Grupo, alguns que queriamser forcados, pegavam nos Amadoresde Santarém, Montemor ou Lisboa.

O primeiro cabo foi, o ainda hojegrande aficcionado, Francisco Pereira.A sua aficcion ao toiro e ao cavalo, fezdele, mais tarde, o primeiro espontâ-neo a aparecer numa praça de toiros,montando um dos seus cavalosenquanto o cavaleiro de alternativatrocava de montada. Foi um caso insó-lito e passou-se na castiça praça detoiros desta vila de tantos e tão bonsaficcionados. Caso único, que eusaiba, no mundo dos touros. Mas oXico Pereira é assim…

A FORCADAGEmFORCADOS AmADORES DE SÃO mANçOS.

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Em 1972 passou o comando doGrupo ao Joaquim Azeda que até 1988orientou os seus rapazes. Alcançaramtriunfos sonantes e mantiveram acesa achama que ainda hoje existe.Acompanha-os ainda bem de perto,com o seu conselho e o seu apoio deforcado experiente. A ele seguiu-se oJoaquim Carvalho até 2000. Na entra-da do século XXI tomou a chefia o RuiPiteira e, em 2009, até este momento,o cabo do Grupo é o jovem JoaquimBranco, neto daquele que construiu apraça de touros e ajudou a manter bemviva a alma desta forcadagem.

O Alentejo, este Alentejo que temosno coração, tornou São Manços maisaficcionada e um local onde, a gastro-nomia e os bons vinhos, não podem seresquecidos. A este povo amante do

espectáculo dos toiros, o seu Grupo deForcados já deu muitas e muitas ale-grias, muitas emoções fortes, pelostriunfos alcançados e, algumas vezes,as nuvens da tragédia também ronda-ram esta “Família” de homens dasjaquetas de ramagens. Mas o Sol bri-lhará nestes campos alentejanos e oHomem e o Toiro continuarão aenfrentar-se para que a Grande Festanunca morra. Os Forcados Amadoresde São Manços serão uma das garan-tias para que isso não aconteça.

Não se redige em algumas dezenasde palavras todo o vasto historial destepunhado de valentes que, como todos osForcados Amadores, a troco de nada,arriscam a vida em cada tarde e colocambem alto esta Arte que os portuguesescriaram… e ainda mantêm bem viva.

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O Toureio é uma modalidade quetem sido, e é, atacada por muitagente. Têm pena dos toiros que sãomal tratados, da insensibilidade dostoureiros -os Forcados, talvez porqueé neles que o toiro, impunemente, sedesforra das provocações que sofre,são poupados. Falam de espetáculode mau gosto, cruel, só do agradodas classes mais abastadas. Umasérie de conceitos que só a ignorânciado que falam justifica.

1º) A génese do toureio a pé, estáno Povo. Foram os "lacaios", comoao tempo se apelidavam os emprega-dos dos Senhores que, não tendocavalos, e querendo também divertir-se, começaram a fazê-lo desafiandoos toiros a pé. O êxito obtido levou àabsorção do espetáculo pela fidalguiae burguesia, que o puseram a seujeito. Mas desta vez vez o Povo nãose deixou espoliar pacificamente.Com a conveniência das elites queprecisava da sua valentia para prosse-guir, entrou no jogo. Ao qual soubeimpor especial carisma. Saíram deleos primeiros toureiros que impuse-ram a Tauromaquia.

Tauromaquia que pela emoção,beleza, plasticidade e poesia que con-tem, inspirou poetas, pintores eescultores. Todavia, mesmo antes,como se pode observar nas pinturas

rupestres das grutas de Lascaux eNiaux, em Espanha e França, respeti-vamente, o toiro foi motivo de inspi-ração para o homem.

Porém não foram só "artistas" dapré-história que os jogos taureos con-quistaram. A sua contínua progressãoe sofisticação, fê-los tornarem-semais atraentes, populares, aliciandodiferentes artistas.

Na poesia vamos encontrar nomescomo Nicolas Morantin com a suareverente "ODE", dedicada a PedroRomero. Juan Aznar Sanchez autordo "EL TOIRO MIO". O portuguêsAry dos Santos com a conhecida epolémica "TOURADA." RafaelAlberti e o seu poema "LA MÚSICACALLADA del TOREO" homena-geando José Bergan.. E porque aTauromaquia é motivadora, muitosmais existem. Tantos que seria fasti-dioso e monótono, nomeá-los todos.Não posso no entanto deixar de refe-rir o tocante "LLANTO POR IGNA-CIO MEJIAS" do inesquecívelFrancisco Garcia Lorca, poeta daliberdade, prematuramente desapare-cido por se opor à ditadura.

Na escrita temos de José DelgadoGuerra (Pepe-Hillo), famoso toureirodo séc. XVII, o "TRATADO DOTOREO". Embora ditado pois o tou-reiro só sabia assinar, foi uma auten-

O TOuREIO E AS ARTES

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tica bússola do bem tourear. O enormeEça de Queiroz, tanto no seu romance"OS MAIAS", como em vários arti-gos, também mostrou a sua predileçãopelas touradas. Fialho de Almeida,José Ortega y Gasset e, acima detodos, Ernest Hemingway, igualmentelhes mostraram grande apreço. Aindahá mais mas...fico-me por aqui.

Na escultura encontramos artistas,génios, como Francisco Goya, com33 gravuras dedicadas àTauromaquia. O surrealista/abstratoJoan Miró. Os controversosSalvador Dali e Pablo Picasso. Este,talvez, o que lhe tenha manifestadomaior apreço. Logo aos oito anos deidade, em óleo sobre madeira, dese-nhou "O TOUREIRO". Obra quepassou a levar sempre consigo nassuas deslocações. Aos 87 anos, recu-perando temas da sua juventude, pro-

duziu uma série de pinturas onde astouradas tinham grande destaque.

Com apreciadores desta qualidadee sensibilidade, tornam-se incom-preensíveis as " mini" manifestaçõesque se organizam contra o espetáculotauromáquico e os argumentos usa-dos para que seja proibido.

Proibi-los é trair a memória deGoya, Picasso, Dali, Miró, do colom-biano Botero e de tantos outros artis-tas, de reconhecido mérito intelectuale humanista.No toureio há poesia,momentos maravilhosos, difíceis dedescrever. Outros de uma plasticida-de e harmonia contagiante. Assim asentiram estes grandes nomes.

Proibir os espectáculos tauromá-quicos é pois, limitar o talento, aliberdade de expressão e manifestardesprezo pelos valores culturais queele transmite.

Gestão e InvestImentos, sA

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O tempo é sempre um pêndulo desentimentos no coração do homem. E porisso mesmo, com alguma facilidade,recuando a tempos não muito idos, porvezes ajudados pela memória de criançados mais velhos, encontramos sinais queacabaram por vincar de forma indelével,as marcas da nossa identidade.

É que o alentejano, porque nuncagostou de pressas, sempre se levantouantes do tempo e sempre se deitou depoisdo tempo.

O galo anunciava a madrugada. Naplanície, já homens e mulheres marca-vam a passo e a compasso, por vezes dasvozes, a caminhada para mais uma jorna-da. Não sem que antes houvesse tempopara enxugar o estômago com o magroconduto que nunca abundava nas mesas.

Ainda assim, quem passasse nas ruassentia o cheiro que pelas chaminés acom-panhava o fumo do azinho a arder mistu-rado com o vapor do café que fervia nascafeteiras.

A jornada era dura. O sol a sol agres-te e felino determinava a tonalidadebronzeada dos rostos, o suor ensopava aroupa, qual pluviómetro do cansaço aque havia de resistir. Aliás, por perto,havia sempre um feitor, um ganhão, opróprio lavrador, chamando a contasaquele que se descuidava com um poucode descanso.

A rudeza das ferramentas calejava. Oesforço sobre-humano a que tinham de sesujeitar moldava a pele construindo umahistória em cada ruga. Porém, a criaçãodos filhos, que eram quase sempre emgrande número, falava mais alto.Sujeição! Resistência! Fizesse sol oufizesse chuva. Na cava, na monda, naceifa, na debulha, na vindima, na apanhada azeitona, fazendo o que fazia falta serfeito. Afinal ter trabalho até era “sinóni-mo” de felicidade e pão para a boca. Éque havia quem não tivesse!

No regresso da faina, muitas vezestarde e a más horas, era a mulher queainda tinha a lide da casa, tratando dojantar. O mesmo é dizer, inventandoqualquer coisa para enganar o estômago.

O homem, por seu lado, tinha a taber-na como ponto de encontro. Era ali quese partilhava um naco de pão, um restode conduto – grande petisco! - e se afo-gavam as mágoas no vinho que escorriapelas gargantas. Era também ali, e dessasgargantas, que brotavam sentimentos fei-tos modas que repetidamente ecoavamcomo se estivessem em êxtase.

No Verão, antes da deita, era o frescoda rua que antecipava a ida para a cama.

No Inverno, a lenha voltava a ardernas chaminés aquecendo as casas dosmontes, das aldeias e vilas do Alentejo.

Os corpos caíam exaustos. A históriada vida repetia-se no dia seguinte.

Foi essa a herança desse tempo. Hojesomos, como eles foram, herdeiros nosentimento, desses ceifeiros, desses poe-tas, desses amantes que fizeram oAlentejo.

Somos eles! Os que choram, os quetrabalham, os que cantam, os que com oseu sangue e as suas mãos benditas reme-xeram a terra à procura do pão da morte,do pão da vida.

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O homem caminhava com dificuldade,figura curvada ao peso da enxada que trans-portava ao ombro, não pelo seu próprio pesomas pelos muitos anos passados a cavar aterra agreste, mas amiga. Nesse momento edevido ao facto de há muitos dias não cho-ver, foi encontrá-la bem dura e enrugada, oque dificultava ainda mais a sua tarefa.Mesmo assim e após a tradicional cuspidelanas suas mãos calejadas, com elas abraçou ocabo da enxada e atacou os regos da horta,enquanto o serpentear da água da levada ostornava bastante mais tenros e acessíveis.

Era uma entre as muitas hortas quebordejavam o caminho térreo que partin-do de Fontanelas ia dar à secular povoa-ção de Janas, após deixar a capela circu-lar de são Mamede ao seu lado direito. Ovelho caminho de São Mamede…! Nelee principalmente nas chuvas, somente apé ou de burro, alguém se poderia aven-turar naquelas andanças, ou não fosse oburro o maior todo-o-terreno de sempre.

E a feira de São Mamede, aquelelocal mágico onde todos os anos emAgosto as populações se concentravam,com os seus rituais, como a bênção dogado após as tradicionais voltas à capela,e os burros, muitos, muitos burros, zur-rando em uníssono por entre os pinhei-ros, como que num apelo às gentes.

Numa época mais recente e após umaprogressiva substituição do burro pelotractor, mais feridas foram sendo abertasno caminho de São Mamede. Valas pro-fundas dificultavam mesmo a progressãoa pé, alternando a lama com o ressequidoe gretado barro. Também as antigas hor-tas foram dando lugar a pinhal e baldios,e naquela mancha verde, muitas ilhasbrancas sob a forma de casas, começaram

a invadir a paisagem outrora fértil noabastecimento de produtos da terra genuí-na às populações locais e do Concelho.

…O homem desloca-se facilmente no

seu tractor com atrelado sobre o tapete deasfalto que o leva a Janas, passando porSão Mamede. Nas bermas desfilam, demodo quase ininterrupto, inúmeras casasocupando o espaço onde em tempos ver-dejavam hortas e pomares.

A enxada já não o verga com o peso daterra e os legumes que transporta têm a suaorigem em terras distantes, desconhecidasna sua maioria, dele e das gentes locais.

A água já não serpenteia nos regosdos feijoeiros, pois a levada há muitosecou, bem como o pequeno rio que lhedeu origem e desde sempre a alimentou.

A feira de São Mamede lá continuanos agostos dos nossos dias. Mantémalguns dos seus rituais, mas o chama-mento dos burros foi substituído pelosescapes dos tractores e das motas.

Lá bem ao fundo, para o lado dasAzenhas, o mar, essa presença imutávelno seu azul profundo e salgado, parecemurmurar numa maré duma tarde dosnossos dias…

Outros tempos…

Outros tempos…, outros espaços...

AS mESmAS RAZõES

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Estou ciente de que não me tornarei enfa-donho em abordar tal assunto, registando notexto a designação de certas actividades,desempenhadas por alguns dos membros dacomunidade rural que fervilhava nas herda-des da minha terra-Galveias (Alto Alentejo),designadamente as que tinham a ver com asua sobrevivência, atulhada de privações.

Assim, tínhamos:

Abegão - Era o responsável pela lavoura.Dirigia os ganhões. Por vezes, fazia trabalho decarpinteiro, consertando as alfaias agrícolas.

Alfeireiro - Encarregava-se da guardadas ovelhas ou das vacas que não estavamparidas.

Ajuda - Era o rapaz que auxiliava osmaiorais.

Alavoeiro - Pastor que andava com asovelhas da ordenha.

Arrieiro - Condutor de animais de carga,principalmente de mulas e de machos.Também era conhecido por mulateiro.

Capador - Era o homem que, chamado atodas as herdades, capava os porcos, as por-cas, os cavalos e os burros.

Carreiro - Andava com os carros puxa-dos por muares e também fazia a lavoura.

Cavalista - Tratava dos cavalos de sela ede trem e acompanhava o lavrador (patrão)em longas viagens. Fazia muitas vezes o tra-balho de ferrador. Também se lhe chamavacocheiro.

Ceifeiro(a) - Ceifavam os cereais paraserem debulhados. Em ceifas de grande monta,o trabalho era feito por homens que vinham daBeira, a que se chamavam “ratinhos”.

Criada de portas adentro - Encarregava--se dos afazeres domésticos do monte.

Feitor - Era o representante do lavrador(patrão). Mandava em todos os serviços efec-tuados na herdade.

Ferrador - Punha as ferraduras no gadocavalar, muar e asinino.

Ganadeiro - Ocupava-se exclusivamente

do pastoreio dos gados. Designava-se tam-bém por maioral.

Havia várias classes:boieiro - encarregado de apascentar os

bois de trabalho e os que eram destinados aomatadouro para consumo público

Cabreiro - guardava as cabras e ordenhava-asEguariço - velava pelas éguas nas pastagensPorqueiro - guardava os(as) porcos(as)Vaqueiro - tomava conta das vacas de

trabalho e das que iam ser sacrificadas paraconsumo público. Por norma, estas classeseram auxiliadas pelos ajudas.

Ganhão - Moço que trabalhava na lavou-ra, orientado pelo abegão.

Guarda - Era o homem que, com o estatu-to de autoritário, armado de cajado ferrado ouespingarda, percorria a herdade de lés a lés, paraque nela não se infiltrassem intrusos que pertur-bassem a vida dentro dos seus limites.

Hortelão - Cultivava plantas comestíveisna horta para consumo do lavrador (patrão).

maioral - Era o principal responsávelpela guarda dos animais.

manajeiro - Pessoa que dirigia os ran-chos de homens ou de mulheres em determi-nados trabalhos.

Paquete - Rapaz que fazia os recados,aviando encomendas nas localidades próxi-mas e o responsável pelo acarreto da águapara os gastos do monte.

Roupeiro - Encarregava-se do fabricodos queijos. Ajudava também os alavoeirosna ordenha das ovelhas, duas vezes por dia, etrazia o leite para a queijeira.

Hoje, a grande azáfama que se via nasherdades, morreu!

É o progresso dos tempos, dizem!Já não se cheira, não se ouve, não se apal-

pa, não se afaga, não se aperta e não se esbo-roa a natureza que tudo dava em abundância!

Falar destas profissões é ouvir a voz dequem as praticava e cantar-lhes um hino dereconhecimento, estima e consideração.

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Em poucos países da Europa você sesentirá tão em casa ,como em Portugal.

Nem poderia ser diferente já que sãonossos “avós” e aí estão nossas raízes his-tóricas e culturais.

Uma viagem inesquecível a Portugal, eà região do Alentejo, nos fez desfrutar dacozinha alentejana.

Uma acolhida generosa e amiga, a arte dobem comer e beber de sua gente, criou entrenós laços afetivos que perduram até hoje.

A açorda de Bacalhau servida na casa deMourão, pela Graça, as pataniscas prepara-das pela Leonor, o especial Bacalhau ofere-cido pela Rosa, o azeite de Ficalho, o vinhoartesanal do Manuel, nos remetem à maravi-lhosa cozinha portuguesa e alentejana.

E o que dizer dos caracóis, que pela pri-meira vez experimentamos, servidos comuma cervejinha bem gelada?

Cultiva-se no Alentejo; o centeio, acevada, a aveia, o milho e sobretudo o trigo.

Por isso o pão é fundamental na culiná-ria alentejana.

O pão não é apenas um acompanha-mento das refeições mas faz parte da maio-ria dos pratos: Açorda, gaspacho, migas, oensopado de borrego, etc.

É utilizado ainda nas sopas e caldos eaté mesmo na doçaria.

A doçaria portuguesa tem grande parteda sua origem nos conventos e mosteirosportugueses do século XVI.

A criatividade conventual extravasavaem doces; ovos moles, pastéis de nata, bar-riga de freira, pão de rala, nógado, gila, etc.

É alto o consumo de azeite, azeitonas,ovos, açúcar, carne de porco, embutidos,sopas, caldos, queijos, de cabra e de ovelha.

Portugal é também grande produtor dequeijos: o queijo de cabra Transmontano, oSerra da Estrela, o queijo de Azeitão, e o

Serpa o mais famoso dos queijosAlentejanos.

Favas, batatas, tomate, frutas secasalém de ervas aromáticas e as especiarias,levam á mesa algumas receitas muito sabo-rosas.

O Alentejo é uma das maiores regiõesvinícolas de Portugal.

As muitas horas de sol e as temperatu-ras elevadas, permitem a maturação perfei-ta das uvas.

Tivemos a oportunidade de saborear,além do vinho do Porto e da Madeira, oMoscatel de Setubal, Borba, Reguengos deMonsaraz, o licor de ginja, entre outros.

A culinária Lusitana faz parte da mesado brasileiro.

O gosto pelas variadas receitas de baca-lhau, (o bolinho de bacalhau) o azeite, assopas, o caldo verde, os cozidos, a caldei-rada e a canja (utilizada como terapia dosconvalescentes).

Por muito tempo a cozinha foi o centroda vida doméstica.

Após um dia duro de trabalho, a famí-lia se reunia em torno do fogão para comer,conversar, contar e ouvir estórias.

Com a correria do mundo moderno, acozinha foi aos poucos perdendo o seupapel de lugar de reunião.

Mas esse ambiente, felizmente está vol-tando a ser valorizado.

Projetos de cozinha de todos os tama-nhos e estilos, incluem além de eletrodo-mésticos, utensílios sofisticados e de ulti-ma geração, onde pessoas se reúnemenquanto degustam petiscos e seus pratosprediletos tomando um bom vinho ou umacerveja gelada, e pondo os assuntos em dia.

Uma refeição preparada por vocêmesma, é uma bem-vinda quebra na rotinafrenética das grandes cidades.

A CuLINáRIA DO ALENTEJOAPRECIADA POR TuRISTAS LuSóFONAS

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Ingredientes - 0,5 litro de vinho branco- 250 gramas de banha- 1 cálice de aguardente- 1 ovo inteiro- farinha quanto baste

Preparação - Numa tigela coloca-se a farinha (eu começo por meioquilo), e faz-se um buraco no meio.Aquece-se um pouco o vinho, abanha e a aguardente.

De seguida, deita-se no buracoque se fez na farinha o ovo e começa-se a amassar. À medida que se amas-sa vai-se incorporando os restantesingredientes e acrescentando mais

farinha, até ficar uma massa homogé-nea, aveludada.

De seguida estende-se com o roloe cortam-se rodelas, onde se faz umburaco.

Fritam-se em óleo bem quente epolvilham-se de açúcar e canela.

(Gosto da massa bem fina, quasetransparente, e como também gostodeles pequenos, costumo cortar as rode-las com forma de diâmetro equivalentea uma chávena de chá, para o buraco nomeio pode-se utilizar um dedal).

Curiosidade: - Na minha terra,estes fritos faziam parte dos muitosdoces que se faziam pelo carnaval.

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o UM PETISCO DO OUTRO MUNDO

bORRACHOS à Minha Moda

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ERVAS AROmáTICAS, mEDICINAIS E ALImENTARES

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Como noutras vezes dissemos e hoje repetimos, no Alentejo, em todo oAlentejo, o uso das ervas é vulgar nas três áreas em título. No número anteriorfalamos da beldroega. Hoje vamos fala da Erva-Das-Sete-Sangrias.

Nome CientificoLithodora prostata (Loisel.)Griseb

CaracterísticasNa Serra d’Ossa é uma planta comum, prefere ambientes frescos com

alguma humidade.

uso externoUtilizada como emplastros sobre as feridas faz parar rapidamente as

hemorragias e ajuda a uma rápida cicatrização.

Outros usosAntigamente as suas sementes eram utilizadas para fazer colares

Época de florestaçãoDe Abril a Maio

(in Plantas Medicinais da Serra d’ossa)

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HORIZONTAIS: 1– Parcelade terra cultivada, comprida eestreita; Passa de dentro parafora. 2– Leviana; Que pessoa?3– Estupefaciente; Sapo doAmazonas (Bras.). 4– Divisóriaem igreja ou tribunal para sepa-ração dos assistentes ou dosespectadores; Impulso. 5–Deusa da misericórdia, segundoa mitologia escandinava; Lavrarcom arado ou charrua; Voz dacabra. 6– Estado de subordi-nação, de submissão a outrem(fig.). 7– Seio de mulher;Vasilha formada de aduelas, deboca mais larga do que o fundo,onde se pisam as uvas e se con-serva o mosto. 8– Ano doSenhor (abrev. lat.); Vaso de pedra, para líquidos. 9– Dividir em lotes; Emblemas re -presentados num brasão. 10– Antigo Testamento; Duzentos Romanos; Ovário de peixe.11– Aguentar; Submeter à acção directa do fogo em seco, ou ao calor do forno.

VERTICAIS: 1– Ato de cantar, canto (Alent.); Chapa de metal para jogar o chinqui-lho. 2– Interjeição que se emprega para cumprimentar (Bras.); Contaminado. 3–Intrigaram; Tomografia Axial Computadorizada (sigla). 4– Extraordinária; Parte maislarga do alicerce que suporta uma construção. 5– Antigo nome de Tóquio; Carta dejogar; Pôr-se em movimento de um lado para outro. 6– Porção de uva ou de azeitonaque se deita de uma vez no lagar. 7– Mudo; Cachaça de mau gosto (Bras.). 8–Discursar. 9– Transpirar; Espíritos que, segundo a crença dos cabalistas, presidem àTerra e a tudo o que ela contém. 10– Rio da Suíça, afluente do Reno; Que não é grandenem pequena; Antiga capital da Birmânia. 11– Fazem acreditar em algo que não é ver-dadeiro; Gastar com o uso.

PASSATEMPO

AS PALAVRAS CRuZADAS

Solução A A – 8HoRIZoNtaIS:1– Courela; Sai. 2– Airada; Qual. 3– Droga; Aru. 4– Teia; Alor. 5– Eir;Arar; Mé. 6– Vassalagem. 7– Mama; Dorna. 8– AD; Pia. 9– Lotar; Armas. 10– AT; CC; Ova. 11– Arcar; Assar.VERtICaIS:1– Cante; Malha. 2– Oi; Eivado. 3– Urdiram; TAC. 4– Rara; Sapata. 5– Edo; Ás; Ir. 6–Lagarada. 7– Álalo; Aca. 8– Orar. 9– Suar; Gnomos. 10– Aar; Meã; Ava. 11– Iludem; Usar.

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CALENDáRIO 2012

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FASES DA LuA Em 2012(Tempo Universal)

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(Dados fornecidos pelo ‘Observatório Astronómico de Lisboa’

– Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa: www.oal.ul.pt)

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SIGNOS DO ZODÍACO

Chama-se zodíaco ao conjunto de constelações ao longo da eclíptica, um grandecírculo imaginário na esfera celeste no qual o Sol se parece mover ao longo de umano. Zodíaco (do latim zōdiacus ou "círculo de animais") é uma faixa imagináriado firmamento celeste que inclui as órbitas aparentes da Lua e dos planetasMercúrio, Vénus, Marte, Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno. As divisões do zodía-co representam as constelações na astronomia e os signos na astrologia.

Seguem-se as características de cada signo.

Carneiro - 21/03 a 20/04

Carneiro é um dos quatro signos Cardeais, por estar ligado à mudança de estaçãoe do solstício, tendo como elemento o Fogo. Com os nativos de Carneiro e os que o têm como ascendente, a primeira impres-são é a de uma pessoa egocêntrica e de um signo independente, assertivo e impul-sivo. Os Carneiros não perdem tempo e quando tomam uma decisão, agem sobreela de forma habitualmente rápida.São energéticos, criativos, destemidos e determinados. Altamente competitivos,gostam de se pôr à prova constantemente. Líderes natos, gostam de ocupar cargosde chefia e de desempenhar funções de responsabilidade.Apresentam qualidades como a coragem e lealdade mas também a impaciência etêm um forte sentido de individualidade.

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ASTROLOGIA

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touro – 21/04 a 20/05 O elemento deste signo fixo é a Terra, correspondendo à segunda casa astrológica,a do dinheiro e recursos. Os nativos de Touro transmitem a imagem de alguém prático e de quem se podedepender e que tem os pés bem assentes na terra. Com a atenção centrada nos valo-res mais práticos, tomam decisões que sirvam as suas necessidades de forma tan-gível. Não se adaptam muito bem à mudança, sob quaisquer condições. Apreciamo bem-estar e o conforto e valorizam a segurança material. São racionais, práticos e frontais. Dinâmicos, esforçados e competentes, o seu tra-balho nunca passa despercebido. Apesar de demorarem o seu tempo a começar, têmuma personalidade determinada e metódica, características que aplicam no decor-rer e conclusão das tarefas em mão. Gostam de aproveitar tudo o que a vida tempara lhes oferecer e apreciam a ordem, a organização e o conforto.

Gémeos – 21/05 a 20/06 O elemento deste signo mutável é o Ar, correspondendo às ideias e à comunicação. Uma das características de um nativo de Gémeos é a capacidade argumentativa queusa para entrar e sair de situações, fazendo parecer simples o que por vezes é bas-tante complicado. É um pensador criativo, original e um tanto visionário, expres-sando-se de forma eloquente. Tende a identificar-se com as suas ideias e, devido àsua destreza, facilmente coloca em prática os seus projectos.Expressa-se com facilidade e apesar de parecer superficial, tem normalmente algo a dizerquanto aos seus pontos de vista. Com uma mente sempre em funcionamento, a saltar deideia em ideia, as palavras acabam por funcionar como âncora para os seus pensamentos. Distraídos, descontraídos e espontâneos, encaram a vida como uma aventura e nãotemem os desafios.

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Caranguejo – 21/06 a 21/07 A Água é o elemento deste signo cardeal. A imagem de um nativo de Caranguejosurge como a de alguém protector, orientado para a família e extremamente sensí-vel ao meio que o rodeia. São generosos, sensíveis, emotivos e muito intuitivos.Têm uma personalidade inconstante, mudam de humor facilmente e são bastantetemperamentais. Como mecanismo de auto protecção, tendem a fechar-se na sua‘concha’ quando se sentem ameaçados emocionalmente. Uma das suas características é criarem fortes laços com os que lhes são próximos.Os laços familiares são emocionalmente ainda mais fortes. São leais mas acabampor ser um pouco possessivos no que diz respeito à lealdade dos outros.

leão – 22/07 a 22/08 Este signo fixo com o Fogo como elemento é governado pelo Sol na quinta casaastrológica, apurando naturalmente o seu desejo criativo.Os que nasceram sob o signo de Leão, mostram o orgulho e a dignidade comocaracterísticas marcantes da sua personalidade. Os nativos de Leão possuem umagrande força de vontade, a par da grande fé e confiança que depositam em si pró-prios. São corajosos, determinados, persistentes e ousadosGostam de apresentar o seu melhor e esforçam-se por isso, vestindo-se adequada-mente e com bom gosto para qualquer ocasião. De uma forma geral, um Leão gostade fazer tudo com um floreado e gosta que o mundo veja.Profissionalmente são muito competentes e possuem um espírito de liderança bas-tante desenvolvido.

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Virgem – 23/08 a 22/09 É o signo mutável com Terra como elemento, realçando o aspecto prático com queusa os recursos. A imagem da personalidade que um nativo de Virgem transmite éa de alguém que presta muita atenção ao pormenor, meticuloso e perfeccionista, emespecial no seu trabalho. São meticulosos e apurados com a limpeza e a aparência e muito preocupados coma saúde, física e mental.Aqueles que nascem sob este signo são inteligentes, racionais, metódicos e extre-mamente organizados. Dotados de um carácter forte e determinado, são discretosmas lutam por aquilo que querem. Têm uma inteligência rápida e crítica, gostamde trabalhar em equipa e têm tendência para desempenhar tarefas que exijam umelevado grau de precisão.

Balança – 23/09 a 22/10Balança é o signo cardeal do Ar. Os nativos de Balança são pessoas atraentes, nãosó pela aparência mas também pelo seu carisma e personalidade. São sinceros etímidos mas simpáticos e cordiais e têm um aguçado sentido estético.Extremamente justos, não suportam injustiças e combatem a mentira e o engano.Os indivíduos de Balança possuem normalmente talentos artísticos e para embele-zar o meio envolvente. Em regra, não gostam de estar sozinhos e a cooperação comos outros é sempre um objectivo. Balança é o signo mais sociável do zodíaco.Beleza, equilíbrio e harmonia são os que procuram nas pessoas e no meio que asrodeia. Ambientes mais adversos ou que não proporcionem estas condições podemafectar a sua saúde física e mental.

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Escorpião – 23/10 a 21/11Escorpião é o signo fixo da Água. Os nativos de Escorpião são determinados, fir-mes e prudentes. Com uma personalidade um tanto ou quanto difícil de controlar,são bastante reservados quanto aos seus assuntos mas muito curiosos quantos aosdos outros. Têm um talento nato para descobrir segredos e informação confiden-cial. Estão sempre intuitivamente alerta para mudanças inevitáveis e conscientesdas que se avizinham. Por vezes são um pouco implacáveis, quando se sentem ameaçados ou traídos, noentanto podem ser pessoas verdadeiramente encantadoras quando se sentem con-fiantes.

Sagitário – 22/11 a 21/12Sagitário é o signo mutável do Fogo. Os Sagitários têm uma personalidade entu-siasta, optimista e sempre de olhos postos no futuro. São confiantes e não há nadaque os faça perder a exuberância pela vida pois são capazes de encontrar sempreum lado positivo para tudo. Quem nasce sob a influência deste signo é sincero,franco, optimista e bem-humorado. De coração generoso, são capazes de fazer todoo tipo de sacrifícios por aqueles que amam. Um Sagitário tem muitas filosofias, e porque entende que as nossas motivações eformas de pensar estão relacionadas com a época e o local onde estamos, as suasideias e argumentos podem soar quase proféticos. Têm um poder de argumentaçãoe de síntese e gosto pelo conhecimento e pelo estudo.Amantes das viagens e da aventura, nunca estão parados e procuram emoção paraa sua vida. Curiosos, adoram o desporto, as competições e o ar livre.

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Capricórnio – 22/12 a 20/01Corresponde ao signo cardeal de Terra, ligado às profissões e carreira. O ascenden-te de Capricórnio desperta, na personalidade deste signo, a ambição e vontade deperseguir e alcançar uma segurança material. São racionais, determinados e traba-lhadores. Tomam em consideração tudo a que têm acesso e ao seu redor para faci-litar a subida ao sucesso. Acham-se merecedores de retribuição por tudo com quecontribuem, gostando de ser reconhecidos por isso.Prudentes, organizados e metódicos, são capazes de lidar com grandes responsabi-lidades e obrigações. Preocupam-se bastante com a sua reputação e sentem a neces-sidade máxima de realização pessoal.

aquário – 21/01 a 19/02Aquário é o signo fixo de Ar. A personalidade de Aquário parece funcionar maio-ritariamente no plano mental. Intelectuais e com pontos de vista independentes, assuas opiniões vão muitas vezes de encontro às crenças populares e teorias gerais.Parecem estar à frente do seu tempo ou ser mesmo brilhantes e tendem a chocarcom as suas ideias e modo de pensar. São originais, criativos e possuem um tem-peramento bastante imprevisível, pendendo para a irritação quando os outros nãopercebem as suas ideias. Para um Aquário, a segurança está na companhia de pen-sadores como ele onde as suas ideias são compreendidas. Apreciam a liberdade,não gostam de se sentir presos a nada nem a ninguém e por isso têm uma certa difi-culdade em assumir compromissos. Desprezam a hipocrisia, a falsidade e a imita-ção, e depositam toda a sua lealdade nos seus amigos.

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Peixes – 20/02 a 20/03Peixes é o signo mutável de Água. Os nativos de peixes mostram-se misteriosa-mente charmosos e quase frágeis. Mostram um nível de consciencialização quemuitos desconhecem. Extremamente sensitivos, conseguem aperceber-se dos sen-timentos daqueles que estão à sua volta. São compreensivos, tolerantes e muitodedicados. Não são pessoas materialistas, entregando-se frequentemente de corpoe alma a causas que os outros vêm como perdidas. Possuem uma paz interior inve-jável e conseguem manter-se calmos nas circunstâncias mais adversas. Os peixes costumam ser bastante artísticos por natureza, virados sobretudo para amúsica e a dança, mas também para a pintura e a representação. Nada egoístas emuito dedicados, fecham os olhos aos defeitos dos que amam.

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Conhecem-se as horas das marés pela idade da lua, que data do 1º dia a seguir à lua nova.Procurando esta idade na tabela acima, obtêm-se as horas da preia-mar num dia qualquer. Por exemplo, querem saber-se as preia-mares e baixa-mares do dia 10 de Janeiro.Procuramos este dia na página do mês de Janeiro e saberemos que é o 6º dia da lua, eprocurando na 1ª coluna da tabela o 6º dia da lua, encontramos o que desejamos namesma linha horizontal. Quando na tabela das primeiras marés se notam marés da tarde, as marés da manhãdesse dia são as segundas do dia anterior. Como acontece no dia 30 da lua, cujas marésda manhã são as segundas do dia 29. No horário de verão, de 27 de Março a 29 deOutubro, adiciona-se uma hora. Para a precisão exacta, consulte o InstitutoHidrográfico, Lisboa.Obs.: As horas das marés do dia 1 são as mesmas do dia 16, as do dia 2 são as mesmasdo dia 17, e assim por diante.

(Dados do Instituto Hidrográfico: www.hidrografico.pt)

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