23 arial

1
23 1. Na sombra do porquê | 1.1 Do utente ao diálogo 1. Na sombra do porquê Ou motivações projectuais No presente capítulo são exploradas as motivações pessoais que incentivaram o desenvolvimento deste projecto. O carácter questionador das práticas arquitectónicas exercidas no passado recente sustém a importância de um diálogo assente na horizontalidade nos diferentes constituintes do processo arquitectónico. A relevância do direito ao centro da cidade é estudada, assim como o papel da viagem autobiográfica como despertador de um pensamento crítico. O “porquê” respeita a sombra experiente do passado, mas nunca se esquece de a questionar, de modo a reunir clareza e objectividade a um presente bem justificado. 1.1. Do utente e do diálogo A génese de um modo de pensamento “Qual é o defeito característico da maneira de tratar a arquitectura nas histórias da arte correntes? Já dissemos mais de uma vez: consiste no facto de os edifícios serem apreciados como se fossem esculturas e pinturas, ou seja, externa e superficialmente, como simples fenómenos plásticos.” 6 Desde o ensino dos ciclos primários até à disciplina de História da Cultura e das Artes do ensino secundário, que o estudo da arquitectura é apresentado de maneira quase independente, colocado ao lado de capítulos de escultura e de pintura, sendo por vezes esquecida a constante relação que existe entre as três. (Salvo algumas excepções, raro é o caso em que é estudado o facto da percepção de uma obra de arte ser completamente influenciável pela sala onde estiver situada 7 , por exemplo). Deste modo, é recorrente dominar uma excessiva caracterização e denominação dos numerosos componentes da fachada de um edifício renascentista (por exemplo), em vez de se tentar compreender o verdadeiro significado existencial do mesmo. Nem sempre a personagem do utente do espaço em questão é encarnada. Por outro lado, a importância do estudo do desenho do espaço vazio ainda não está totalmente consciencializada, nem o facto da “Intenção Espacial ser a alma 6 ZEVI, Bruno, “Saber ver a Arquitectura”, São Paulo : Martins Fontes, 1996, pág. 5. 7 BERGER, John, “Ways of Seeing”, Episódio 1, British Broadcasting Corporation, 1972.

description

hj

Transcript of 23 arial

Page 1: 23 arial

23

1. Na sombra do porquê | 1.1 Do utente ao diálogo

1. Na sombra do porquê Ou motivações projectuais

No presente capítulo são exploradas as motivações pessoais que incentivaram o desenvolvimento deste projecto. O carácter questionador das práticas arquitectónicas exercidas no passado recente sustém a importância de um diálogo assente na horizontalidade nos diferentes constituintes do processo arquitectónico. A relevância do direito ao centro da cidade é estudada, assim como o papel da viagem autobiográfica como despertador de um pensamento crítico. O “porquê” respeita a sombra experiente do passado, mas nunca se esquece de a questionar, de modo a reunir clareza e objectividade a um presente bem justificado.

1.1. Do utente e do diálogo

A génese de um modo de pensamento

“Qual é o defeito característico da maneira de tratar a arquitectura nas histórias da arte correntes? Já dissemos mais de uma vez: consiste no facto de os edifícios serem apreciados como se fossem esculturas e pinturas, ou seja, externa e superficialmente, como simples fenómenos plásticos.”6

Desde o ensino dos ciclos primários até à disciplina de História da Cultura e das Artes do ensino secundário, que o estudo da arquitectura é apresentado de maneira quase independente, colocado ao lado de capítulos de escultura e de pintura, sendo por vezes esquecida a constante relação que existe entre as três. (Salvo algumas excepções, raro é o caso em que é estudado o facto da percepção de uma obra de arte ser completamente influenciável pela sala onde estiver situada7, por exemplo). Deste modo, é recorrente dominar uma excessiva caracterização e denominação dos numerosos componentes da fachada de um edifício renascentista (por exemplo), em vez de se tentar compreender o verdadeiro significado existencial do mesmo. Nem sempre a personagem do utente do espaço em questão é encarnada. Por outro lado, a importância do estudo do desenho do espaço vazio ainda não está totalmente consciencializada, nem o facto da “Intenção Espacial ser a alma

6 ZEVI, Bruno, “Saber ver a Arquitectura”, São Paulo : Martins Fontes, 1996, pág. 5.7 BERGER, John, “Ways of Seeing”, Episódio 1, British Broadcasting Corporation, 1972.