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foco focus Q 04 swisscam nº48 04/2007 Entrevista com os designers brasileiros “Irmãos Campana” Famosos no mundo do design contemporâneo, os brasileiros Fernando e Humberto Campana se inspiram nos mais diver- sos objetos, situações, formas e texturas presentes em seu dia-a-dia. Possuidores de enorme talento subvertem o uso destes materiais outrora desvalorizados e os transformam em belíssimas obras de arte ual a contribuição que vocês gostariam de dar ao mundo do design? O que diria a introdução do capítulo “Irmãos Campana” em uma publicação sobre design? Humberto: Essa é uma pergunta difícil (risos). Eu não penso no futuro. Sem querer ser pretensioso, vivo um dia de cada vez. Preocupo-me com o momento que estou vivendo e me concentro em fazer o que gosto. Quero criar uma nova cadeira ou simplesmente ter uma boa idéia, que me agrade e me faça sentir vivo. Não sei se vale a pena dizer o que eu gostaria que escrevessem sobre mim... eu mudaria de idéia em duas semanas, dois meses, dois anos. Iria reler essa entrevista e pensar “Como eu era bobo!”. Mas se tenho de responder a sua pergunta, gostaria que o capítulo sobre nós dissesse que nós faze- mos o que nos dá prazer, e o que nos dá prazer nesse momento é pesquisar materi- ais e encontrar possibilidades de mais de um uso para o mesmo material. Nós fazemos o que nos dá prazer, e o que nos dá prazer nesse momento é pesquisar materiais e encontrar possi- bilidades de mais de um uso para o mesmo material A maior parte de seu trabalho é baseada na vida cotidiana e em seu relacionamento com o Brasil. O que diferencia o design brasileiro do norte-americano e do europeu? Não me refiro a formas caracterís- ticas, mas sim aos aspectos mais intangíveis, mas conceituais do design. E esses elementos estão presentes em outros países da América do Sul ou cada país tem sua própria identidade em termos de design? Humberto: Eu acho que hoje há jovens designers que estão buscando outras formas de produzir suas peças sem ter de recorrer às grandes companhias, até porque essas companhias não têm capacidade para absorver todos os designers que se formam ano a ano. Eu não diria que há um design característico de um país. Algo produzido nos Estados Unidos de forma artesanal pode lembrar peças produzidas no Brasil, na Guatemala ou no Sri Lanka. O mundo se globalizou, e isso fez com que muitas pessoas quisessem voltar a produzir em suas casas, como se fazia antigamente. Em nosso caso, a transição para as com- panhias italianas aconteceu pouco a pouco. É verdade que, às vezes, nosso trabalho tem como foco a realidade brasileira, porque tentamos retratar nosso meio. O esforço que fazemos é o de buscar traduzir partes do Brasil que foram esquecidas pela globalização. O que posso dizer é que não acho que o Brasil possa ser reduzido ao Carnaval e às cores vivas. Tentamos evitar os estereótipos em nosso trabalho. No fim das contas, não vejo nenhuma diferença significativa entre o designer brasileiro e os de outras nacionalidades. Em termos de América do Sul, não há muito diálogo intercultural. Não conhecemos uns aos outros, embora estejamos tão próximos. Cadeira Multidão Foto: Luis Calazans 2003

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Entrevista com os designersbrasileiros “Irmãos Campana”

Famosos no mundo do design contemporâneo, os brasileirosFernando e Humberto Campana se inspiram nos mais diver-sos objetos, situações, formas e texturas presentes em seudia-a-dia. Possuidores de enorme talento subvertem o usodestes materiais outrora desvalorizados e os transformamem belíssimas obras de arte

ual a contribuição que vocêsgostariam de dar ao mundo do

design? O que diria a introduçãodo capítulo “Irmãos Campana” emuma publicação sobre design?

Humberto: Essa é uma pergunta difícil(risos). Eu não penso no futuro. Sem quererser pretensioso, vivo um dia de cada vez.Preocupo-me com o momento que estouvivendo e me concentro em fazer o quegosto. Quero criar uma nova cadeira ousimplesmente ter uma boa idéia, que meagrade e me faça sentir vivo. Não sei sevale a pena dizer o que eu gostaria queescrevessem sobre mim... eu mudaria deidéia em duas semanas, dois meses, doisanos. Iria reler essa entrevista e pensar“Como eu era bobo!”. Mas se tenho deresponder a sua pergunta, gostaria que ocapítulo sobre nós dissesse que nós faze-mos o que nos dá prazer, e o que nos dáprazer nesse momento é pesquisar materi-ais e encontrar possibilidades de mais deum uso para o mesmo material.

Nós fazemos o que nos dáprazer, e o que nos dá prazernesse momento é pesquisarmateriais e encontrar possi-bilidades de mais de um usopara o mesmo material

A maior parte de seu trabalho ébaseada na vida cotidiana e em seurelacionamento com o Brasil.O que diferencia o design brasileirodo norte-americano e do europeu?Não me refiro a formas caracterís-ticas, mas sim aos aspectos maisintangíveis, mas conceituais dodesign. E esses elementos estãopresentes em outros países daAmérica do Sul ou cada país temsua própria identidade em termosde design?

Humberto: Eu acho que hoje há jovensdesigners que estão buscando outrasformas de produzir suas peças sem ter derecorrer às grandes companhias, até porqueessas companhias não têm capacidadepara absorver todos os designers que seformam ano a ano. Eu não diria que há umdesign característico de um país. Algoproduzido nos Estados Unidos de formaartesanal pode lembrar peças produzidasno Brasil, na Guatemala ou no Sri Lanka.O mundo se globalizou, e isso fez com quemuitas pessoas quisessem voltar a produzir

em suas casas, como se fazia antigamente.Em nosso caso, a transição para as com-panhias italianas aconteceu pouco a pouco.É verdade que, às vezes, nosso trabalhotem como foco a realidade brasileira, porquetentamos retratar nosso meio. O esforçoque fazemos é o de buscar traduzir partesdo Brasil que foram esquecidas pelaglobalização. O que posso dizer é que não

acho que o Brasil possa ser reduzido aoCarnaval e às cores vivas. Tentamos evitaros estereótipos em nosso trabalho. No fimdas contas, não vejo nenhuma diferençasignificativa entre o designer brasileiro eos de outras nacionalidades. Em termosde América do Sul, não há muito diálogointercultural. Não conhecemos uns aosoutros, embora estejamos tão próximos.

Cadeira Multidão

Foto: Luis Calazans

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consideraria mais representativos eque colocaria em uma “cápsula dotempo”, para deixar o seu trabalhoregistrado para além de nossaépoca?

Humberto: A Cadeira Vermelha, a CadeiraFavela, e a Cadeira de Plástico Bolha. Essastrês cadeiras dizem muito sobre mim e aépoca em que vivo. A Vermelha fala deliberdade, a Favela, das nossas ruas, e aPlástico Bolha sobre reciclagem, usar ereutilizar.

O que motiva vocês?

Humberto: As pessoas. Pessoas interes-santes. Pessoas que gostam de design,como Alexander Von Vegesack, do VitraDesign Museum, Murray Moss da MossGallery em Nova Iorque, Massimo Morozzida Edra, e Paola Antonelli, para dizer apenasalguns. Estar em contato com essas pes-soas que amam o design é extremamentemotivador. O trabalho de outros colegas,como Ross Lovegrove e Hella Jongeriusme dá inveja de uma forma positiva. Querofazer algo tão bom quanto o que eles fazem.Fernando: Quando sinto que as pessoasestão vivas, sejam boas ou más. Quandoentendem que há uma inter-relação entresuas vidas. Quando você tenta entender oque está por trás de cada um, você se dáconta que não se pode julgar. Você sóconsegue emitir opiniões sobre o bem e omal em momentos de mudanças bruscas,inesperadas. Aí as pessoas se mostram.Essa, em minha opinião, é a mágica davida. Não as pessoas, mas seus corações.Um animal, mesmo selvagem, pode serdominado, mas não uma pessoa. Cadacabeça, uma sentença, com liberdadepara fazer e criar o que bem entender.

Nossas criações são feitas aquatro mãos. Eu me envolvomais com a parte física. Emseguida, quando o protótipoestá terminado, Fernandocomeça a “brincar” com ele

Eu não conheço muito sobre o design dequalidade produzido na Argentina. Talveza solução fosse fazermos feiras de designna América do Sul para poder saber o quenossos vizinhos estão produzindo. É umaidéia…

O que significa ser designerpara vocês?

Humberto: Tudo. Minha vida. Eu não seriafeliz se não fosse designer. É paixão.Fernando: Acho que é não ser conformista.Às vezes você sente algo verdadeiramenteforte. Nós sempre soubemos que para nósa comunicação era importante. Transmitiraos outros algo sobre você, uma parte devocê. Nós tínhamos o hábito de ir ao cinematodos os dias. Esse foi um grande canalde informação. Enquanto outros meninosjogavam futebol, nós íamos ao cinema.Em nossas brincadeiras, recriávamos o quetínhamos visto no cinema. Era essa neces-sidade de comunicação, de expressão. Odesign é a forma, ou melhor, a linguagem,que escolhemos para nos expressarmos,para retratarmos a nós mesmos e ao mundoque nos cerca. Não é um discurso político.Não negamos nossas raízes interioranas.Elas são muito importantes para nós. Etambém é a dimensão urbana de São Paulo.Como designers, nós resgatamos as ex-periências de fãs de cinema e de garotosdo interior para dizer alguma coisa sobrenós mesmos.

Humberto, você estudou direito eFernando, arquitetura. Como essashabilidades/capacidades se combi-nam em seu processo criativo?Como se pode distinguir a contri-buição de cada um de vocês numapeça de design? Digamos, por

exemplo, que um tenda a utilizarmais a cor e o outro, a dar ênfaseaos materiais.

Humberto: Eu estudei direito, mas aban-donei logo depois de me formar. O que seisobre design, aprendi na prática, com visitasa museus, por exemplo. Em São Paulo,nos anos 70, ia muito ao MASP. O museufoi projetado por Lina Bo Bardi, mulher domarchand italiano Pietro Maria Bardi. É umprédio tão belo, um cenário tão especialque me inspirou muito. Lina Bo Bardi foia primeira pessoa que teve uma visãomoderna do Brasil em toda sua elegância.

O que distingue o nosso trabalho é que omeu é muito mais intuitivo. Fernando émais racional. Ele dá corpo aos meussonhos e às minhas criações. Às vezes,eu dou o mesmo ao trabalho dele. Não épossível separar os conceitos. Comecei aidéia da Cadeira Corallo, por exemplo, masficou muito pesado. Quando Fernando aviu, retirou todos os elementos que lhedavam aquele peso e fez dela uma peçamais leve. Nossas criações são feitas aquatro mãos. Eu me envolvo mais com aparte física, trabalhando com as mãos,porque foi assim que aprendi. Em seguida,quando o protótipo está terminado,Fernando começa a “brincar” com ele.

Quais seriam os três objetos dedesign de sua produção que você

Cadeira Sushi II

Fotógrafo: Luis

Calazans

2002

Cadeira Vermelha

Edição especial

para a coleção

White and Colour

da Edra - Foto

cedida pela Edra

2005

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How would you like to contributeto the design world? In a design

publication, what would the prologueof a chapter entitled “CampanaBrothers” be like?

Humberto: This is a difficult question (laughs).I don’t think about the future. Without want-ing to sound pretentious, I live one day at atime. I focus on the moment I’m living nowand try to do what I like doing. I want todesign a new chair or simply come up witha good idea that pleases me and makes mefeel alive. I’m not sure I want to say what I’d

Interview with designers“Campana Brothers”Well-known in the contemporary design world,Fernando and Humberto Campana take inspirationfrom the various objects, situations, forms and tex-tures present in their daily lives. Highly talented,they subvert use of these materials, often neglectedin the past, turning them into dazzling works of art

We do what pleases us, andwhat currently pleases us isresearching new materialsand looking for differentways to use existing ones

like people to write about me… I’d changemy mind in two weeks, two months, twoyears. I’d read this interview and think “Whata fool!”. But if I have to answer your ques-tion, I think the chapter about us shouldpoint out that we do what pleases us, andwhat currently pleases us is researchingnew materials and looking for different waysto use existing ones.

Most of your work is based on dailylife and your relationship with Brazil.How do Brazilian designers differfrom North-American and European

designers? I mean, not the typicalforms, but the more intangible,more conceptual aspects of design.Are these elements present in otherSouth American countries or doeseach country have its own identityin terms of design?

Humberto: I think that young designers areseeking alternative ways to work instead ofsearching for jobs in large companies, whichcan no longer absorb all new designers that

graduate from college every year. I wouldn’tsay each country has a typical design. Some-thing handmade in the United States mightbe similar to something made in Brazil,Guatemala or Sri Lanka. Globalization hasmade many people go back to working athome, as they used to do in the past. In ourcase, Italian companies took some time tomake the transition. It’s true that sometimesour work focuses on the Brazilian reality due

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abilities/qualities during the creativeprocess? How can we tell how eachof you have contributed to thedesign of a certain object? Let’s say,for instance, that one of you focuseson color, and the other, on thematerials.

Humberto: I went to law school, but I droppedlaw soon after I graduated. All I know aboutdesign I’ve learned through practicing, visitingmuseums, for example. In the 70’s, I used togo to MASP in São Paulo a lot. The museumwas designed by Lina Bo Bardi, who wasmarried to Pietro Maria Bardi, an Italian artdealer. It’s such a beautiful building, such aspecial place that it got me inspired. Lina BoBardi was the first person to have a modernview of Brazil in all its elegance. What differs

to our intention to reflect the environmentaround us. However, we try to translate a partof Brazil that has been left out by globalization.What I can say is that Brazil is not only aboutCarnival and bright colors. We try to avoidstereotypes in our work. Actually, I don’tthink Brazilian designers are different fromforeign designers. In terms of SouthAmerica, we don’t see much interculturaldialog. We don’t know each other, althoughwe are so close. I’m not very familiar withquality design from Argentina. Maybe weshould organize design fairs in SouthAmerica to learn what our neighbors areproducing. It’s an idea...

What does design mean to you?

Humberto: Everything. My life. I wouldn’t behappy if I weren’t a designer. It’s a passion.Fernando: I think it means you’re not a con-formist. Sometimes you have this strongfeeling inside you. We’ve always knowncommunication is important to us. You passon to people something about you, a part ofyou. We used to go to the movies everyday.It was a great information channel. While theother kids were playing soccer, we’d go tothe movies. When we were playing, we rec-reated what we’d seen in the film. We hadthis need to communicate, express ourselves.Design is the way, or better, the languagewe’ve chosen to express ourselves, to pictureourselves and the world around us. It’s not apolitical speech. We don’t deny our country-side origin. It’s very important to us. And sois Sao Paulo’s urban dimension. As designers,we take our experience as moviegoers andcountry boys to say something about our-selves.

Humberto, you have a law degree,and Fernando, an architecturedegree. How do you combine these

Which objects designed by youwould you choose as the mostrepresentative of your productionand would you put in a “timecapsule” to be seen by futuregenerations?

Humberto: The Red Chair, the “Favela” Chair,and the Bubble Plastic Chair. These threechairs say a lot about me and my time. TheRed Chair is about freedom, the “Favela”Chair, about our streets, and the BubblePlastic Chair is about recycling, use and reuse.

What motivates you?

Humberto: People. Interesting people.People who like design, such as AlexanderVon Vegesack, from the Vitra Design Museum;Murray Moss, from the Moss Gallery in NewYork; Massimo Morozzi, from Edra; and PaolaAntonelli, just to mention a few. Being incontact with people that love design is highlymotivating. The work of other colleagueslike Ross Lovegrove and Hella Jongeriusmakes me envious in a positive way. I wantto produce something as good as they do.Fernando: When I feel people are alive, goodpeople and bad people alike. When theyunderstand their lives are interconnected.When we try to understand what’s behindtheir attitude, we realize we can’t pass judg-ment. You can only express your views ongood and evil when faced with sudden,unexpected changes. That’s when peoplereveal themselves. This is what I see as themagic of life. Not the people, but their hearts.Even wild animals can be tamed, but youcan’t tame a person. Many men, many minds,with freedom to do and create whateverthey want.

Our creations are the resultof a four-hand work. I dealwith the physical aspect.Then, when the prototype isready, Fernando starts “play-ing” with it

my work from Fernando’s is that mine is muchmore intuitive. Fernando is more rational. Heshapes my dreams and my ideas. Sometimes,I do the same with his work. We can’t reallydistinguish the concepts. For instance, I cameup with the Corallo Chair, but the conceptwas too heavy. When Fernando saw it, heeliminated all elements that made it heavyand turned it into a lighter piece. Our cre-ations are the result of a four-hand work. Iusually focus on the physical aspect andwork with my hands the way I’ve learned to.Then, when the prototype is ready,Fernando starts “playing” with it.

Sofá Aster Pappousus

Cortesia da Edra

2006

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esign suíço tem uma longa tradição,embora a palavra ‘design’ só tenha

entrado no vocabulário alemão nos anossessenta. Até o século XX houve muitapobreza na Suíça. Somente com o desen-volvimento do setor industrial e de serviçosa Suíça se estabeleceu como uma dassociedades mais ricas do mundo. Nestecaminho de sucesso não houve rupturas.Não houve guerras, nem catástrofes naturaisque interromperam o constante desenvol-vimento econômico e tecnológico. Pelocontrário: após a segunda guerra mundial,quando a produção industrial na Europasucumbiu, os produtores e designers naSuíça, país poupado das batalhas, já esta-vam a pleno vapor. Mais tarde, a economiasuíça se beneficiou do milagre econômicoalemão dos anos cinqüenta e sessenta.

Muitos dos esboços que marcam a históriado design suíço se tornaram clássicos: apoltrona Grand Comfort do ano 1928 deLe Corbusier, o assento em eternit de WillyGuhl de 1954, reelaborado em materiallivre de asbesto em 1998, a cadeira dealumínio Landi de Hans Coray, desenhada

Design suíço:a função define a forma

por Meret Ernst

Design suíço? Mesmo quem se recusa a descobrircaracterísticas tipicamente nacionais em objetoscomo uma bicicleta, uma máquina de café ou em umafonte de letra, pode observar uma coisa em comum:objetos que são usados e elaborados na Suíça sãodiscretos, desenhados cuidadosamente até o últimodetalhe e a forma é gerada de acordo com sua funçãoa partir de um trabalho meticuloso

em 1939 para a Exposição Nacional emZurique (foto da capa) e reeditada em 2006.Todos estes objetos fazem parte da herançado design suíço e foram assimilados pelosdesigners mais novos, não somente como

Muitos dos esboços quemarcam a história do designsuíço se tornaram clássicos

referência formal, mas pela convicção de quedesign bom e duradouro deve unir a idéiacriativa com o atual nível de desenvolvimentotecnológico. Designers contemporâneoscomo o suíço-argentino Alfredo Häberli,Hannes Wettstein, Frédéric Dedelley ouJörg Boner perpetuam este conceito.

Alias - Sofá TT

Alfredo Häberli

Freitag - F52

Miami Vice

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Os criadores suíços partemda convicção de que designbom e duradouro deve juntara idéia criativa ao atual nívelde desenvolvimentotecnológico

Eles se aproveitam de uma longa tradiçãode formação profissional orientada aotrabalho manual nas escolas de arte, hojetransformadas em escolas técnicas supe-riores. E se beneficiam de uma economianacional dominada por pequenas e médiasempresas com até 250 funcionários. Grandemesmo são apenas pouco mais de mil em-presas na Suíça. As outras 300.000 empre-sas são de pequeno ou médio porte, sendoque, entre elas, as microempresas commenos de 10 pessoas são mais de 270.000,ou seja, a maior parte. Muitos designersarriscam o salto para a autonomia. Umpré-requisito indispensável para estes,que não podem contar com um empregoem uma das grandes agências ou nosestúdios de design corporativos, é a junçãode vontade de expressão com senso paranegócios.

Desta forma, emergiram nos anos oitentae noventa inúmeras pequenas marcas paraos ramos de esporte, tendênciase moda. Criaram-se algunsmóveis surpreendentementeduradouros como a sapateirade Hanspeter Weidmann(1984) e clássicos comoas bolsas Freitag (1993).

Eles são reconhecidos no exterior por causada sua habilidade em combinar as exigên-cias do mercado com o seu toque pessoal;porque são movidos pelas suas convicções;porque amam a forma; porque dominam afunção e porque conhecem a história dodesign. Mas mesmo assim precisam ajustaros seus desenhos ao que o produtor ima-gina, e dar a um produto uma identidadeà altura das exigências da marca. O quedefine esta marca é, finalmente, não uma

Swissdesign:the functiondefinesthe form

by Meret Ernst

wiss design comes a long way,although the word ‘design’ was intro-

duced in the German lexicon only in the 60’s.Before the 20th century, poverty spreadthroughout Switzerland. Only with develop-ment of the industrial and service sectors didthe country emerge as one of the wealthiestnations in the world. During its successfultrajectory, there were no ruptures. There wereno wars neither natural catastrophes thatinterrupted the constant economic andtechnological growth. On the contrary: afterWorld War II, when industrial productioncollapsed in Europe, production plants anddesigners in Switzerland, a country spared

Swiss design? Even thosewho refuse to admit thatsome typical Swiss charac-teristics are present inobjects, such bicycles, coffee-makers, or letter fonts, canagree on a common point:objects that are used anddesigned in Switzerlandare discreet and carefullydesigned to the last detail,with their shape determinedaccording to their functionfollowing meticulous work

decisão do designer, mas sim do clientefinal, cujas necessidades são elaboradasatravés de prolixas pesquisas de mercado.Forçado por estas circunstâncias, o design

conquistou uma sabedoriaestratégica para defender a

sua liberdade de açãocriativa.

repleta de dinheiro, já que bom design ealta funcionalidade vão de mãos dadas commateriais de primeira linha e acabamentoperfeito. E isto tem o seu preço. Falandode preço: as cédulas de franco suíço estãoentre as mais belas do mundo. E, comonão poderia ser diferente, as mais segurascontra falsificação – este país não suportabeleza fútil.

Meret Erns t é redatora de design na

Hochparterre, revista para arquitetura e

design em Zurique

Outros designers como Frédéric Dedelleyreinterpretaram a cadeira Landi e a leva-ram à China (2000).

Um objetivo é o nicho de mercado local, ooutro o sucesso internacional. Como ospioneiros, os designers de hoje trabalhamalém das fronteiras. Alfredo Häberli dese-nha para produtores, entre outros, naEscandinávia, Itália, Bélgica, Espanha;Hannes Wettstein trabalha para clientesitalianos e alemães; Frédéric Dedelleydesenvolve também para produtores japo-neses e Jörg Boner organiza exposições eprojetos com designers estrangeiros.

Isto não ficou despercebido pelos críticosde design: a crítica voltada a cada objetose transformou em crítica voltada ao am-biente que define o funcionamento e osignificado do produto. Foi exatamenteisto que o sociólogo suíço e pesquisadorde design Lucius Burchkardt expressoucom o conceito: “Design é invisível.”

Recorrer à própria história e voltar o olharpara fora são as ferramentas para darcontinuidade à diferenciação da forma. NaSuíça ela acontece em alto nível. Ela pres-supõe conhecimento, bom gosto e, paracliente e consumidor final, uma carteira

Iittala - Origo

Alfredo Häberli

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during the war, were working non-stop.Later, the Swiss economy was positivelyimpacted by the German miracle that tookplace in the 50’s and 60’s.

Many pieces that mark the history of Swissdesign have become classical: the 1928Grand Comfort armchair by Le Corbusier;the 1954 asbestos seat by Willy Guhl, rede-signed in 1998 with asbestos-free material;and the Landi aluminum chair, designed byHans Coray in 1939 for the Zurich NationalExhibition (see cover), and redesigned in2006. All these objects represent the tradi-tion of the Swiss design, which has beenused as a basis for the work of younger de-signers, who see it as a reference and be-lieve that good and long-lasting design isthe result of combining creativity with state-of-the-art technology. Contemporary designers,

the shoe rack by Hanspeter Weidmann (1984),and some classical pieces, such as theFreitag bags (1993). Other designers, likeFrédéric Dedelley reinvented the Landi chairand took it to China (2000).

approach to preserve their freedom to create.This phenomenon has not gone unnoticedby design critics: rather than analyzing eachobject, they analyze the environment thatdefines the function and the meaning of theproduct. This is exactly what Swiss sociologistand researcher Lucius Burckardt expressedthrough the concept “Design is invisible”.

such as Swiss-Argentinean Alfredo Häberli,Hannes Wettstein, Frédéric Dedelley, andJörg Boner help perpetuate this concept.

They take advantage of the tradition of Swissart schools that provide professional degreesin plastic arts, a role currently fulfilled bytechnical colleges. They also benefit from aneconomy where most companies are smalland medium-sized businesses with up to250 employees. There are only a little over1,000 large companies in Switzerland. Theother 300,000 companies are small or me-dium-sized enterprises, among which, thevast majority, or over 270,000 are micro-businesses with up to 10 people. Manydesigners prefer to work independently. Thosewho cannot get a job in one of the largeagencies or design studios need as pre-requisites the desire to express themselvescombined with business talent.

As a result, the 80’s and 90’s saw a largenumber of small brands arising in the sports,trends, and fashion segments. Some incred-ibly durable furniture was designed, such as

Italian and the German; Frédéric Dedelleyworks for Japanese manufacturers, and JörgBoner organizes exhibitions and projectsinvolving foreign designers.

They are recognized abroad for their abilityto meet market demands while preservingtheir personal touch. They are driven by theirbeliefs; they love form, understand function,and know the history of design. Nevertheless,they must adapt their ideas to their customers’needs and confer an identity to each product,meeting the brand requirements. The brandis defined by the customer, whose needsare determined with basis on innumerousmarket surveys. Forced by these circum-stances, designers have developed a strategic

Swiss designers believe thata good and long-lasting de-sign results from combiningcreativity and state-of-the-art technology

Swiss designers target both the domesticand the international market. Just like earlydesigners, modern designers work beyondtheir country’s borders. Alfredo Häberli, forinstance, works for customers in Scandinavia,Italy, Belgium, and Spain, among others;Hannes Wettstein designs objects for the

Swiss designers arerecognized abroad fortheir ability to meet marketdemands while preservingtheir personal touch. Theyare driven by their beliefs;they love form and under-stand function

In order to continuously differentiate form,people must analyze their own history withan eye out of it. In Switzerland, this is acommon concept. It requires knowledge,good taste, and, for the final customer, awallet full of money, since good design andhigh functionality go hand in hand with high-quality materials and perfect finishing. Andthere is a price to pay for it. By the way, Swissfranc bills are among the most beautiful inthe world. And, naturally, the safest concerningcounterfeiting. After all, this country cannotstand nonsense beauty.

Meret Er ns t is design editor

of Hochparterre, a design and

architecture magazine in Zurich

BD Ediciones

Los Bancos Suizos

Alfredo Häberli

Grand Comfort

Le Corbusier

1928

Loop chair

Willy Guhl

1998

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A fundação OLPC (One Laptop perChild) vê na distribuição do aparelho

para escolares dos países em desenvolvi-mento um formidável investimento para ofuturo. E isso à custa dos governos.

Nicholas Negroponte, chefe da OLPC, é,antes de tudo, diretor e fundador do MITMedia Lab, o laboratório de informáticado Massachusetts Institute of Technology.Graças a essa posição ele lançou em 2005no Fórum Econômico de Davos a idéia decriação de um computador de 100 dólares.

O credo da OLPC está inscrito no lema: umcomputador por cada criança. A distribuiçãodos aparelhos nas escolas não resolve aquestão da “democratização do acesso àtecnologia”. A maneira mais efetiva defazê-lo, acredita o pesquisador, é que cadaaluno tenha seu próprio computador.

O aparelho serviria de instrumento deaprendizado, enciclopédia, blocode notas e janela para o mundo,graças à Internet. As criançaspoderiam levá-lo a qualquer lugare cuidariam melhor dele do que dosaparelhos coletivos dispostos nas salasde aula.

Pessoa de convicção, Nicholas Negropontetambém dispõe de bons contatos. Rapida-mente ele conseguiu convencer gigantesda informática como o motor de procuraGoogle, o fabricante de microprocessadoresAMD, os grupos telefônicos SES Global eBrightStar, ou a Red Hat, distribuidor desistemas operacionais livres Linux, deembarcar nessa aventura.

Juntas as empresas ofereceram 16 milhõesde dólares. Em novembro de 2005, a OLPCconseguiu apresentar o primeiro protótipona Cúpula da Sociedade da Informaçãoem Tunis, Tunísia.

Destinado aos países onde o fornecimentode energia elétrica é aleatório, o pequenocomputador dispõe de uma bateriarecarregável sem necessidade de correnteelétrica.

Suíço fez designdo computador de100 dólares

A produção em massa dochamado “computadordos pobres” vai começar.Recheado de inovaçõestecnológicas, a máquinafoi desenhada pelo famo-so designer suíço YvesBéhar, estabelecido emSão Francisco

Obviamente o computador popular aindanecessita de algumas revisões. Esse seráo trabalho de Yves Béhar, o designer suíçocontratado pelos americanos. Sua empresa“Fuseproject” foi contratada pela OLPCem março de 2006 para realizar o projeto.

Solução high-tech

“Tecnicamente esse não é um produtobarato, do ponto de vista de qualidade, aocontrário de muitos que são desenvolvidospara os mercados de países em desenvol-vimento”, declara Béhar. “Nele existemdetalhes técnicos únicos e muito maisavançados do que os encontrados noscomputadores que são dez vezes maiscaros”.

O carregador da bateria funciona como ummotor de arranque de uma máquina decortar grama. O movimento para puxar acorda é amplo e, dessa forma, poucocansativo. Também existe a possibilidadede “pedalar” com os pés. Assim o usuárioprecisa apenas fazer seis minutos de exer-cício para ter uma horade autonomia no seucomputador.

A tela é vista por muitos como “revolucio-nária”. Os técnicos do MIT inventaramuma nova matriz de cristal líquido, ondecada pixel pode refletir a luz e deixá-lapassar através de um filtro colorido. Oresultado: no caso de forte exposição aosol, a imagem passa para preto e brancoe os textos continuam perfeitamente visíveis.

Também existe a questão do desenho daaparência. “Esse é um aspecto importante,pois funciona como um embaixador doprojeto. Não importa se o usuário nãocompreende as questões técnicas, mas eletem uma atração imediata pelo computadorse seu design é atraente”, explica Béhar.“Esse projeto tem um valor muito grandena questão do acesso à informação e,a longo prazo, até mesmo no acesso àdemocracia. Porém eu espero que esseacesso a novos horizontes e a novasidéias ocorra através do indivíduo”.

Fonte: swissinfo,

Marc -André M iserez

“Para nós o projeto melhorao acesso à informação e, alongo prazo, também à pró-pria democracia” diz YvesBéhar

O credo da OLPC (OneLaptop per Child) estáinscrito no lema: umcomputador por cadacriança

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he visit of the Swiss Minister ofEconomy, Doris Leuthard, to Brazil is

the first visit made to a country of the BRICGroup (Brazil, Russia, India and China),considered a priority in terms of Swiss trade.

Minister Leuthard spent two days in SaoPaulo meeting with Swiss and Brazilianbusiness executives. She visited the Swiss-Brazilian school SENAI, FIESP (Sao PauloState Federation of Industries), the Luiz deQueiroz School of Agriculture, in Piracicaba(in the countryside of Sao Paulo) and also anethanol processing plant. She was alsoshown the equipment used by Biolatina toproduce biodiesel.

On Thursday, February 8, the Minister, es-corted by a delegation of entrepreneurs andexecutives with business in Brazil, visitedBrasília for meetings with the Ministers ofAgriculture, International Affairs and Devel-opment, and Industry and Commerce.

Minister Leuthard and the Brazilian MinisterCelso Amorim took the first step towardsstrengthening trade between both countries:they signed a Memorandum of Understandingcreating the “Mixed Commission for Com-mercial and Economic Relations”. A meetingto discuss the details of the bilateral agreementhas already been scheduled for later thisyear. The date has not been set yet, but thelocation will be in Switzerland.

Last year, bilateral trade between Brazil andSwitzerland achieved around US$2,1 billion,25% more than in 2005. Ministers Amorimand Leuthard agreed that this figure shouldincrease even more after their positive conver-sations. “The trade balance surplus currentlybenefits Switzerland, but we are not con-cerned about deficit or surplus. We wish forthe commercial negotiations between thetwo countries to be dynamic and for it toimprove every day”, said Amorim.

“The Swiss are impressed with the currentchanges and the macro-economic stabiliza-tion achieved in the country”, said MinisterLeuthard. “Brazil is our biggest trade partnerin South America, however, we all know wecould do much better”, she added.

The Memorandum of Understanding is ex-pected to accelerate and improve the rela-

MinisterDoris Leuthardvisits Brazilby Abelardo Mendes Junior

30 sw isscam nº48 04 /2007

he OLPC (One Laptop per Child) Foun-dation understands that making com-

puters available to students in developingcountries is a great investment in the future– at the governments’ expense.

Nicholas Negroponte, head of OLPC, isfounder and director of MIT Media Lab, the ITlab of the Massachusetts Institute of Tech-nology. Taking advantage of his position, helaunched at the 2005 World Economic Forum,in Davos, the idea of designing a 100-dollarcomputer.

The concept behind the OLPC project is, asits name says, one laptop per child. Simplydistributing computers to schools does notguarantee “democratic access to information”.Mr. Negroponte believes that the most effec-tive way to accomplish this is to allow eachstudent to have his or her own computer.

Altogether, these companies have invested16 million dollars in the project. In November2005, OLPC presented the first prototype atthe World Symposium on the InformationSociety in Tunis, Tunisia.

Designed for countries with irregular electricalenergy supply, the small computer has arechargeable battery that does not requireelectricity. The battery charger works like alawnmower motor. It takes little effort to pullthe cord. It is also possible to use a pedal tocharge the battery. Pulling the cord for sixminutes gives the computer one hour’sautonomy.

Swiss designs100-dollar computer

Production of the so-called“computer for low-incomeusers” is about to begin.Featuring a set of innova-tive technologies, thecomputer was designed byYves Béhar, a renownedSwiss designer living inSan Francisco

The concept behind the OLPCproject is, at its name says,“One Laptop Per Child”

The computer would serve as a learningtool, an encyclopedia, a notepad, and awindow to the world, thanks to the Internet.The students could carry them anywhere, andwould certainly take better care of them thanof the computers used in the classroom.

A firm believer, Negroponte also has goodconnections. He soon persuaded others toembark on this adventure, including IT giants,such as Google (search engine), AMD (micro-processor manufacturer), Global SES andBrightStar (telephone companies), and RedHat (distributor of free Linux operationalsystems).

The computer would serveas a learning tool, an ency-clopedia, a notepad, and awindow to the world, thanksto the Internet

Obviously, the accessible computer stillneeds improving. This is what the Americanshave called in the Swiss designer for. Hiscompany, Fuseproject, was contacted byOLPC in March 2006 to carry out the project.

High-tech solution

“Technically, this is not a cheap product,considering its quality, unlike many othersdesigned for developing countries”, saysBéhar. “It has unique and far more advancedtechnical features than those found in com-puters costing ten times its price”.

Many consider its screen “revolutionary”.MIT’s technicians came up with a new liquidcrystal display, where each pixel can reflectlight or let it go through a color filter. Theresult: when exposed to sunlight, the imageturns black and white with texts perfectlyreadable.

Another factor to consider is the computerdesign. “It’s the project’s ambassador. Evenwhen the user is not familiar with the techni-cal features, he or she will immediately bedrawn to the attractive design”, explainsBéhar. “This project is highly valuable interms of access to information and, in thelong-run, to democracy itself. However, Ihope this access to new horizons and newideas will come from people”.

Source: swissinfo, Marc-André Miserez