33772

86
 96 Unidade II Unidade II 5 ESTILOS E GÊNEROS DISCURSIVOS Saiba mais O termo gênero é empregado em mais de uma área de estudo. Por exemplo:  gramática: signica a variação das palavras na língua portuguesa para masculino, feminino, neutro.  linguística: signica diversidade de texto usado na sociedade (poema, bula, MSN, conversação etc.).  história: signica, entre outros, os estudos sobre a mulher na sociedade (desigualdade, luta etc.). Já tratamos dos tipos de texto. Cada tipo pode estruturar vários gêneros textuais. Observe o quadro. Tipos Gêneros Narração Romance, conto, crônica, epopeia etc. Descrição Romance, conto, bula, conversação etc. Opinativo Carta do leitor, crônica, editorial, conversação etc. Expositivo Bula, enciclopédia, dicionário etc. Argumentativo Dissertação, tese, artigo cientíco etc. Texto é tipo e gênero. Comparo tipo e gênero com construção. Toda construção tem uma base: chão, teto, paredes etc. Essa base pode sustentar casa, prédio, hospital, lanchonete, cinema etc. Assim é o texto: ele tem uma base, uma estrutura de sustentação, que é o tipo, e tem variedade , que é o gênero. Os gêneros textuais podem ser orais ou escritos, podem ser formais ou informais e são tão numerosos que os estudiosos nem tentam contá-los. Veja o esquema feito por Marcuschi (2001) para aproximar gêneros orais de gêneros escritos pelo grau de (in)formalidade.

Transcript of 33772

Unidade II

Unidade II5 ESTILOS E GNEROS DISCURSIVOS

Saiba mais O termo gnero empregado em mais de uma rea de estudo. Por exemplo: gramtica: signica a variao das palavras na lngua portuguesa para masculino, feminino, neutro. lingustica: signica diversidade de texto usado na sociedade (poema, bula, MSN, conversao etc.). histria: signica, entre outros, os estudos sobre a mulher na sociedade (desigualdade, luta etc.). J tratamos dos tipos de texto. Cada tipo pode estruturar vrios gneros textuais. Observe o quadro.Tipos Narrao Descrio Opinativo Expositivo Argumentativo Gneros Romance, conto, crnica, epopeia etc. Romance, conto, bula, conversao etc. Carta do leitor, crnica, editorial, conversao etc. Bula, enciclopdia, dicionrio etc. Dissertao, tese, artigo cientco etc.

Texto tipo e gnero. Comparo tipo e gnero com construo. Toda construo tem uma base: cho, teto, paredes etc. Essa base pode sustentar casa, prdio, hospital, lanchonete, cinema etc. Assim o texto: ele tem uma base, uma estrutura de sustentao, que o tipo, e tem variedade , que o gnero. Os gneros textuais podem ser orais ou escritos, podem ser formais ou informais e so to numerosos que os estudiosos nem tentam cont-los. Veja o esquema feito por Marcuschi (2001) para aproximar gneros orais de gneros escritos pelo grau de (in)formalidade. 96

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSRepresentao do contnuo dos gneros textuais na fala e na escrita COMUNICAES PESSOAIS COMUNICAES PBLICAS TEXTOS INSTRUCIONAIS TEXTOS ACADMICOS textos acadmicos artigos cintcos leis documentos ociais relatrios tcnicos pareceres em processos

cartas pessoais bilhetes outdoors inscries em paredes avisos

notcias de jornal cartas do leitor formulrios entrevistas volantes de rua

textos publicitrios cartas comerciais narrativas telegramas atas de reunies

divulgao cientca textos prossionais editoriais de jornais manuais escolares resumos instrues de uso bulas receitas em geral

convocaes comunicados anncios classicados

E S C R I T A

F A L A

noticirio de rdio noticirio de tv inquritos reportagens ao vivo explicaes tcnicas piada entrevistas pessoais entrevistas no rdio/na TV narrativas conversas pblicas Inquritos relatos discursos festivos noticirio de tv ao vivo debates conversas telefnicas noticirio de rdio ao vivo discusses no rdio e na TV exposies informais conversas espontneas

exposies acadmicas conferncias discursos ociais

CONVERSAES

CONSTELAO DE ENTREVISTAS

APRESENTAES E REPORTAGENS

EXPOSIES ACADMICAS

Observe que nas comunicaes pessoais os gneros escritos como cartas pessoais, bilhetes, outdoor, inscrio na parede, avisos esto na mesma coluna que os gneros orais: conversas pblicas, conversa telefnica, conversa espontnea. Essa aproximao mostra que so gneros usados em situaes sociais mais informais. Na outra extremidade do esquema, nos textos acadmicos, encontram-se os gneros: artigos cientcos, leis, documentos ociais, relatrios, pareceres em processo na mesma coluna dos gneros orais: exposio acadmica, conferncia, discursos ociais. A aproximao se deve ao fato de esses gneros serem usados em situao social muito formal. Deparamo-nos com diferentes gneros durante as mais diversas situaes comunicativas das quais participamos socialmente: anncios, relatrios, notcias, palestras, piadas, receitas etc. Veja, por exemplo, o que podemos fazer quando queremos: escolher um lme para assistir no cinema. Podemos consultar a seo cultural de um dos jornais da cidade ou uma revista especializada, ler num outdoor sobre o lanamento do lme que nos agrada ou, ainda, pedir a opinio de um amigo. saber como chegar a um local desconhecido por ns. Podemos consultar um guia de ruas da cidade ou, ainda, perguntar a algum que conhea o trajeto. Quem sabe at pedir que essa pessoa desenhe o caminho. 97

Unidade II convidar um amigo para nossa festa de aniversrio. Podemos mandar um e-mail, um convite pelo correio, telefonar-lhe, enviar um torpedo pelo celular. entreter uma criana. Aqui as possibilidades so vrias! Podemos ler histrias de fadas, lanar adivinhas, lembrar antigas canes, recitar quadrinhas e parlendas, propor jogos diversos, assistir a um desenho etc. Em todas as situaes descritas acima, utilizamos textos em diferentes gneros, isto , para situaes e/ou nalidades diversas; lanamos mo de um repertrio diverso de gneros textuais que circulam socialmente e se adaptam s diferentes situaes de comunicao. Cada um desses gneros exige, para sua compreenso ou produo, diferentes conhecimentos e capacidades. De modo geral, todos os gneros textuais tm em comum, basicamente, trs caractersticas: o assunto: o que pode ser dito atravs daquele gnero. o estilo: as palavras, as expresses, as frases selecionadas e o modo de organiz-las. o formato: a estrutura em que cada agrupamento textual apresentado. Os gneros surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. O conjunto dos gneros potencialmente innito e mutvel, materializado tanto na oralidade quanto na escrita. Os gneros so vinculados vida cultural e social e contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas no dia a dia. Assim, so exemplos de gneros textuais: telefonema, carta, romance, bilhete, reportagem, lista de compras, piadas, receita culinria, contos de fadas etc. Para Bronckart (1999), a apropriao dos gneros um mecanismo fundamental de socializao, de insero prtica nas atividades comunicativas humanas. Aspectos tipolgicos e gnerosDomnios sociais de comunicao Cultura literria ccional Capacidades de linguagem dominantes Narrar Ao atravs da criao da intriga Exemplos de gneros orais e escritos fbula lenda co cientca romance policial romance de aventura adivinha conto relato de experincia relato de viagem testemunho caso notcia crnica social, esportiva biograa currculo instrues de montagem receita regulamento regras de jogo instrues de uso

Documentao e memorizao das aes humanas orais

Relatar Representao pelo discurso de experincias vividas, situadas no tempo

Instrues e prescries orais

Injuno

98

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSEXERCCIOS

1. Os textos, sejam orais ou escritos, podem ser aproximados por causa do grau de (in)formalidade, como em uma das alternativas abaixo: a) bilhete (escrita) relato (fala) b) artigo cientco (escrita) discusso na TV (fala) c) formulrio (escrita) conferncia (fala) d) bula (escrita) noticirio (fala) e) MSN (escrita) conversao telefnica (fala) 2. Quanto estrutura, identique em qual das alternativas o texto segue o modelo injuntivo e o gnero receita. a) Receita de Ano-Novo Para voc ganhar belssimo Ano-Novo cor do arco-ris, ou da cor da sua paz, Ano-Novo sem comparao com todo o tempo j vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para voc ganhar um ano no apenas pintado de novo, remendado s carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo at no corao das coisas menos percebidas28 b) Neste material, procuramos mostrar de que forma os novos conhecimentos lingusticos, principalmente os includos no campo da lingustica textual, podem contribuir para o aprimoramento de uma das mais importantes formas de operaes didticas no ensino da lngua portuguesa, a compreenso e a interpretao de texto. c) Ouviram do Ipiranga as margens plcidas De um povo herico o brado retumbante, E o sol da liberdade, em raios flgidos, Brilhou no cu da Ptria nesse instante. d) Cozinhe o frango em gua com sal e 2 folhas de louro at car bem macio. Separe o frango, dese e guarde o caldo. Faa um refogado com alho, cebola e tomates picados e nele coloque o frango desado, as ervilhas, o milho e as azeitonas picadas (guarde um pouco para a decorao), adicionando um pouco do caldo de frango que foi guardado.28

Trecho do poema Receita de Ano-Novo, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

99

Unidade IIe) Apesar de no ter mais os movimentos da perna, o ex-fuzileiro naval Jake Sully ainda sente que pode ser um guerreiro. Sua intuio comea a se tornar realidade quando ele viaja a anos-luz at a estao espacial montada no Planeta Pandora. L, os humanos tentam explorar o minrio unobtanium, que pode salvar a Terra de um colapso de energia. Habitado por grandes seres azuis, os Navi, o local tem uma atmosfera fatal para qualquer terrestre. Por isso, oficiais criaram o programa Avatar, em que um corpo biolgico, hbrido de humano e Navi, pode ser comandado a distncia.Resoluo dos exerccios:

1. A alternativa correta a e): MSN e conversao telefnica se aproximam pelo grau de informalidade. Nas outras alternativas os textos no se aproximam porque um muito formal e outro mais informal. 2. A alternativa correta a d). A estrutura de um texto segue uma estrutura global, que pode ser narrativa, injuntiva, expositiva etc., e essa estrutura forma um gnero, como poema, novela, conversao e outros. Nesta questo, pede-se para identicar um texto que seja, ao mesmo tempo, injuntivo e receita, que o caso do texto da alternativa d.5.1 Gneros textuais virtuais

Gneros virtuais o nome dado s novas modalidades de gneros textuais surgidas com o advento da internet, dentro do hipertexto. Eles possibilitam, entre outras coisas, a comunicao entre duas ou mais pessoas mediadas pelo computador. Conhecida como Comunicao Mediada por Computador (CMC), essa forma de intercmbio caracteriza-se, basicamente, pela centralidade da escrita e pela multiplicidade de semioses 29: imagens, sons, texto escrito (cf. Marcuschi, 2004). Os principais gneros virtuais esto descritos a seguir: e-mails bilhetes, mensagens ou cartas virtuais que, dependendo do receptor, podem ser formais ou informais. A resposta pode ser quase instantnea, independentemente da distncia geogrca dos interlocutores. salas de bate-papo ou chats nos chats o dilogo simultneo entre duas ou mais pessoas que, geralmente, criam um apelido (nick name). Centrado basicamente na escrita, a linguagem nesse meio possui caracterstica mpar pela presena de abreviaes, escrita fontica, homofonia, taqugrafa e sinais grficos que expressam emoes. Exemplifico no quadro a seguir:

Uma denio de semiose seria que qualquer ao ou inuncia para sentido comunicante pelo estabelecimento de relaes entre signos que podem ser interpretados por qualquer audincia.29

100

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS

Homofonia 100graa 100$$ V6 100sual 4ever D+ 4 you +/=vc *Abreviaes Blz Bjs Fmz Mlz Fds Sdd Ctz Beleza Beijos Firmeza Moleza Fim de semana Saudade Certeza Ksa Sem graa Sem dinheiro Vocs Sensual :) :( :-)) d;-) *-) :-[#] :-e x-) :-o

Sinais grcos (emotions) Feliz Triste Muito feliz Usando bon Drogado Aparelho Desapontado Tmido Impressionado Escrita fontica Casa Cabelo Teclar Cabea Casado Careta de

ForeverDemais

For youMais ou menos Igual a voc

Kbelo Tc Kbea Ksado Kreta d

* Abreviaes em que prevalecem somente as consoantes, desgurando a palavra.

Listas de discusso pessoas com os mesmos interesses formam grupos que interagem atravs de e-mails. Cada grupo gerenciado por um moderador que aprova ou no a entrada de novos membros, remove (deleta) outros que no esto seguindo as normas do grupo. weblogs (blogs) blog um dirio virtual pblico, onde as pessoas escrevem sobre si, expem suas ideias, que pode ser atualizado com frequncia. Pode ser privado ou visitado e postado por amigos ou por qualquer navegador da rede. webquest um modelo extremamente simples e rico para dimensionar usos educacionais da web, com fundamento em aprendizagem cooperativa e processos investigativos na construo do saber. Foi proposto por Bernie Dodge em 1995 e hoje j conta com mais de dez mil pginas na web, com propostas de educadores de diversas partes do mundo (EUA, Canad, Islndia, Austrlia, Portugal, Brasil, Holanda, entre outros). Para desenvolver uma webquest necessrio criar um site que pode ser construdo com um editor de html, com um servio de blog ou at mesmo com um editor de texto que possa ser salvo como pgina da web. 101

Unidade IIUma webquest tem a seguinte estrutura: introduo tarefa processo recursos avaliao concluso Os e-mails, os chats, os meios de comunicao instantnea, listas de discusso e weblogs (dirios) so os mais utilizados. As aulas chat e por e-mail no ensino a distncia esto se popularizando. A comunicao se d pela linguagem escrita em todos esses gneros. Ela uma linguagem informal e simultnea em sua produo, em sincronia com seu interlocutor pela necessidade da reao em tempo real.EXERCCIOS

Leia a tirinha abaixo do personagem recruta Zero:

1. A linguagem empregada na tirinha verbal e no verbal. Justique a armao. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 2. A compreenso da tirinha deve-se ao conhecimento prvio do leitor sobre a linguagem utilizada em chats. Explique. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 102

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSResoluo dos exerccios:

1. A tirinha tem a linguagem verbal, constituda da fala do personagem, e a linguagem no verbal, composta pelas imagens gurativas do personagem, pela expresso sionmica e pela onomatopeia boom. 2. A tirinha usa um dos recursos grcos do chat o emotion para a construo de sentido. Cada emotion (carinha) representa uma emoo. Por se tratar do mundo blico, a carinha feliz do 1 quadrinho no condizente com o tiro de canho que foi disparado pelo recruta Zero; mais adequada a carinha de raiva, de braveza, vista no 3 quadrinho.6 SUPORTE DE GNEROS TEXTUAIS

J ouviu falar em suporte? No signicado do dia a dia, suporte algo que d sustentao, apoio, base para alguma coisa. Vejo, na minha cozinha, um suporte para o micro-ondas; converso com minha irm e tenho nela um suporte para enfrentar uma determinada situao. Fora esses usos cotidianos, a palavra suporte, conforme a rea (economia, matemtica, herldica etc.), carrega signicados bem especcos. Como no poderia deixar de ser, tambm na rea de estudo de texto a palavra suporte tem seu signicado especco. Quando lemos ou escrevemos, recorremos a um suporte de gnero textual. Tente identicar qual o suporte do texto na seguinte situao: Oi, Paulo, sou a Ana Lcia. Me ligue o mais rpido possvel, por favor. O texto pode ser um recado gravado e o suporte, no caso, pode ser uma secretria eletrnica ou voc pode considerar que o texto seja uma mensagem enviada pelo celular e que este seja o suporte. Da lista abaixo, qual voc assinalaria como sendo suporte de gnero textual? Jornal Revista Gibi Computador Telefone Caderno Se voc assinalou todas as opes como suporte, est corretssimo. Suporte de um gnero textual, ento, como bem dene Marcuschi (2008, p. 174-175), uma superfcie fsica, em formato especco, que suporta, xa e mostra um texto. Essa ideia comporta trs aspectos: 103

Unidade IIa) Suporte um lugar (fsico ou virtual). b) Suporte tem formato especco. c) Suporte serve para xar e mostrar o texto. Ao ser denido como lugar fsico (ou virtual), o suporte deve ser real, ou seja, ter materialidade, que se torna, no caso, incontornvel e imprescindvel. Sobre o formato especco, o suporte pode ser uma revista, um livro, um jornal, um outdoor e assim por diante. Quanto ao terceiro aspecto, a funo bsica do suporte xar o texto e torn-lo acessvel. Considerar o suporte, quando lemos ou escrevemos, ter conscincia de que ele no neutro e de que o gnero textual no fica indiferente ao suporte. Vejamos a situao dada: Oi, Paulo, sou a Ana Lcia. Me ligue o mais rpido possvel, por favor. Se o texto estiver escrito em papel e sobre uma mesa, o suporte a folha de papel e o gnero textual bilhete; se for passado pela secretria eletrnica, o gnero recado; se o texto for remetido via correio, o gnero telegrama. O contedo no muda, mas o gnero textual classificado conforme sua relao com o suporte. O suporte interfere tambm na posio fsica do leitor e do produtor do texto. O leitor l gneros textuais e no o suporte material; o produtor escreve gneros e no suportes; na verdade, a pessoa produz e l gneros textuais nos mais diversos suportes. Dependendo do suporte, a pessoa: senta-se, ca em p, ca deitada; segura o suporte com uma mo, com ambas as mos, no segura; move os olhos, move a boca, move a mo; inclina a cabea etc.EXERCCIOS

1. Observe e anote a posio fsica dos leitores em relao aos seguintes suportes: a) livro; b) jornal; c) celular. 2. Quando o corpo suporte. O que lemos quando vemos: a) O antebrao marcado com a frase Sexo, drogas e rock and roll? b) O dedo polegar marcado de tinta azul ou preta? c) O antebrao marcado a ferro no Brasil de 1836? 3. Existe maior grau de formalidade (F) ou informalidade (I) ao escrever nos seguintes suportes? ( ) celular ( ) computador MSN ( ) caderno de curso

104

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSResoluo dos exerccios:

1. O comportamento do leitor muda de acordo com o suporte. No caso do livro, por exemplo, a pessoa pode ler sentada, segurando o suporte com uma mo ou com ambas, afastar ou aproximar mais o livro do rosto. Diferente do livro, o jornal dificulta, por exemplo, a leitura da pessoa que esteja deitada. O celular, com suas inovaes tecnolgicas, muda o comportamento das pessoas, por exemplo: o usurio pode segurar o celular apenas com uma mo, guard-lo na bolsa ou no bolso e ouvir o texto atravs de fone. Dizemos que so variveis as relaes entre o corpo da pessoa e o suporte. 2. Ns podemos entender que: a) a pessoa tatuada viveu na dcada de ouro do rock ou que a admira; b) a pessoa tirou suas digitais, por exemplo; c) a pessoa era escrava. 3. Um texto ser mais ou menos formal, dependendo das circunstncias: o assunto (trivial, como o trabalho); a pessoa que receber o texto; o grau de proximidade entre quem escreve e quem l; e tambm o suporte. Se considerarmos o nosso cotidiano, o celular e o computador (para MSN) so mais informais do que o caderno de curso (pelo contedo). Marcuschi (2008) distingue duas categorias de suporte textual. O autor identica a categoria dos suportes convencionais, tpicos, criados apenas para ser suporte. Um exemplo dessa categoria o suporte livro. Outra categoria a de suporte incidental, que pode xar texto, mas no destinado a esse m. O corpo um exemplo de suporte incidental.6.1 Suporte convencional

So vrios os suportes desse tipo: livro, livro didtico, jornal, revista, revista cientca, rdio, televiso, telefone, quadro de aviso, outdoor, encarte, folder, luminosos, faixas. A seguir, destaco seis: Livro Quantas vezes j declaramos Eu vou ler o livro, Eu j li aquele livro. O livro, no entanto, no um gnero textual, mas um suporte, com formato especfico, pois apresenta capa, pginas, encadernao etc. O livro comporta diversos gneros textuais, como romance, poema, tese de doutorado etc. Livro didtico (LD) O livro didtico usado em contexto de ensino-aprendizagem. Ele um suporte que incorpora vrios gneros textuais. Em um livro didtico de histria, por exemplo, podemos encontrar charge, letra de msica, entre outros gneros textuais, alm da divulgao cientca. Em LD de matemtica, os gneros textuais encontrados so divulgao cientca, tabela, grcos etc. Em LD de portugus, os gneros so bem variados, abrangendo de textos ccionais (poema, conto, HQ etc.) at no ccionais, como tabela, mapa, artigo de opinio. Enm, os gneros textuais tpicos no LD so exerccios escolares, redao, instrues, entre outros. 105

Unidade II Jornal O jornal suporte de muitos gneros textuais: cartas do leitor e editorial; notcia, reportagem, entrevista; charge, horscopo, tirinha; sinopse, cruzadinha. Sua veiculao cotidiana e atinge milhares de leitores no pas. O jornal lembra, em certo sentido, o dicionrio ou a lista telefnica. Isso porque o leitor geralmente busca as mesmas sees de interesse poltica, entretenimento etc. deixando de lado o restante, o que signica no ler todos os textos do jornal. Revista A revista um suporte de gnero textual que aborda tema especco. Se a revista , suponhamos, de moda, os gneros seguiro essa temtica. Os gneros que circulam nesse tipo de revista so desde textos que giram sobre o assunto, como notcia, reportagem, editorial, at os mais dispersos, como horscopo, tirinha, sinopse de lme. Revista cientca suporte de gneros bastante especcos e ligados a um domnio discursivo: cientco, acadmico, instrucional. Os gneros encontrados so: artigos, resenhas, resumos, comunicaes, debates, programao de congresso, programas de curso e outros dessa natureza. Rdio A relevncia do suporte rdio no Brasil se deve a sua histria no pas. Nao de porte continental, de lonjuras e distncias que nem sempre so alcanadas pelos meios de transmisso de mdias atuais e onde muitos brasileiros no tm televiso em seus lares pelo fator custo, mas onde a quase totalidade possui rdio. Os gneros que se manifestam so essencialmente orais: conversao, notcia, anncio publicitrio, letra de msica etc.6.2 Suporte incidental

Os suportes denominados incidentais so meios casuais de fixao de um texto. Boa parte dos textos em circulao pelos ambientes urbanos se acha nesses suportes, como embalagem, parachoque, roupa, corpo, parede, muro, paradas de nibus, estao de metr, caladas, fachadas, meio de transporte. Para-choque Os veculos carro de passeio, caminho, entre outros tornam-se suportes para gneros textuais, como ditados populares e provrbios. Na verdade, no apenas o para-choque, mas tambm as janelas. 106

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS Embalagem A embalagem pode trazer gnero textual como: rtulo, receita (culinria), breve bula. Muro Os muros servem de suporte para gneros textuais como propaganda poltica, anncios, pichaes. So textos pouco desenvolvidos, mas de grande eccia comunicativa.EXERCCIO

1. O Banco do Brasil, por exemplo, distribui para seus clientes um folheto sobre aplicao para a famlia toda. Levando em conta a situao comunicativa e o contexto social, podemos considerar que: a) O folheto distribudo possui um leitor especco, ou seja, no para qualquer pessoa que adentre o banco. b) O folheto serve para qualquer leitor que se interesse pela temtica. c) O folheto um suporte distribudo, sem relao direta com a instituio que o produziu. d) O folheto pblico, logo, todos os clientes e no clientes o recebem. e) O folheto dissociado do leitor-cliente.Resoluo do exerccio:

A alternativa correta a a). O banco criou e distribuiu folheto para, primeiro, anunciar um tipo de servio, segundo, para um pblico especco, considerado pelo banco o cliente potencial para tal servio. Assim, o folheto no se destina a qualquer leitor-pblico, incluindo muitos clientes do banco (uma vez que nem todos os clientes tm condio de adquirir tal servio).7 QUALIDADES DO TEXTO 7.1 Fatores externos do texto

A coerncia de um texto construda pela interao de fatores, entre eles, o que est escrito no texto ou seja, a lngua manifestada , e os conhecimentos do leitor. Um texto pode ser muito bem escrito, com emprego de termos tcnicos, especficos, instruindo sobre como fazer um cisalhamento. Se o leitor no da rea de encadernao, no conseguir entender o texto. Ele no ter coerncia por causa da falta de conhecimento prvio do leitor. 107

Unidade IIO contrrio tambm ocorre. O texto est bem escrito, sem contradies, com muitas informaes teis, mas essas informaes j no tm a manor novidade para o leitor. Nesse caso, o texto no causar interesse ao leitor, que, na verdade, considerar sua leitura perda de tempo. Existem, ento, fatores fora do texto que interferem tanto na sua produo quanto na leitura. Esses fatores so: intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade30. 7.1.1 Intencionalidade A intencionalidade um fator externo ao texto e se relaciona ao produtor do texto. O produtor preocupa-se em construir um texto coerente, coeso e capaz de atender aos objetivos do leitor. A meta do autor pode ser informar, impressionar, alarmar, convencer, persuadir, defender etc. ela que orienta a produo do texto. 7.1.2 Aceitabilidade A aceitabilidade diz respeito ao leitor, que, durante a leitura do texto, tenta recuperar a coerncia textual, atribuindo-lhe sentido. O leitor recebe o texto como aceitvel, tendo-o como coerente e coeso, passvel de interpretao. Para produzir e interpretar um texto de modo satisfatrio, alm do princpio de cooperao entre autor e leitor, deve haver trs competncias fundamentais: competncia lingustica: aquela em que autor e leitor precisam ter o domnio da lngua, base da comunicao. competncia enciclopdica: o conhecimento de mundo. competncia genrica: o autor deve adequar seu texto a certo gnero discursivo para que o leitor seja capaz de, ao menos, distinguir diferentes gneros para melhor compreender e interpretar o texto lido. As competncias no se manifestam numa ordem sequencial e tampouco essa ordem prejudica a interpretao do discurso. O produtor deve, no primeiro momento, possuir condies de produzir qualquer tipo de texto e, em seguida, prever um leitor com o qual ele pretenda compartilhar suas ideias via texto. Dentro desse processo interativo entre autor e leitor, mediado pelo texto, no ocorre apenas uma relao de casualidade, mas de cumplicidade, visto que a atividade de um s pode ser concluda comOs fatores de textualidade, incluindo os internos (coeso e coerncia) da lngua, so analisados por Beaugrande e Dressler e sintetizados por Costa Val (1999).30

108

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSsucesso caso o outro a complete tambm. Kleiman (1989, p. 65) esclarece a cumplicidade estabelecida entre autor e leitor do seguinte modo: Mediante a leitura, estabelece-se uma relao entre leitor e autor que tem sido denida como de responsabilidade mtua, pois ambos tm a zelar para que os pontos de contato sejam mantidos, apesar das divergncias possveis em opinies e objetivos. Decorre disso que ir ao texto com ideias preconcebidas, inalterveis, com crenas imutveis, diculta a compreenso quando estas no correspondem quelas que o autor apresenta, pois nesse caso o leitor nem sequer consegue reconstruir o quadro referencial atravs de pistas formais. Com base no exposto por Kleiman, podemos presumir que o autor e o leitor se tornam responsveis no processo de leitura. Assim, o autor, ao elaborar um texto, deve faz-lo de modo claro, deixando pistas para que o leitor o compreenda e reconstrua o caminho percorrido pelo autor. O papel do leitor, nesse processo, conar e perceber que as informaes contidas no texto apresentam algo de relevante e que so enunciadas de modo claro e coerente. Se, porventura, o leitor se depara com possveis entraves no processo de leitura, ele deve valer-se de seu conhecimento lingustico, textual e de mundo. Tais conhecimentos so preponderantes para que esse leitor compreenda um texto de modo eciente. Sendo assim, conforme Kleiman, a construo de sentido de um texto o resultado da interao dos diversos nveis de conhecimentos de que dispe o leitor. Na produo escrita, o leitor tem um papel fundamental, visto que o texto no algo independente, ou seja, o texto passa a ter signicao a partir do momento em que ele possibilita ao leitor uma leitura, uma compreenso e uma interpretao. 7.1.3 Situacionalidade A situacionalidade realiza-se na adequao situao comunicativa do produtor/texto/leitor, inteirados no contexto. A produo e a leitura do texto ocorrem situadas em uma situao social, cultural, ambiental etc. Uso o exemplo de Marcuschi (2008, p. 129): Tomemos o caso de algum que quer falar ao telefone: essa situao exigir uma srie de aes mais ou menos consolidadas e que vo constituir o gnero telefonema. Haver a chamada, as identicaes e os cumprimentos mtuos, a abordagem de um tema, ou de vrios, e as despedidas. Assim com qualquer texto que exige situaes denidas. Ou, em outras palavras, o texto conserva em si traos da situao. 7.1.4 Informatividade A informatividade diz respeito ao grau de informatividade do texto, tanto no aspecto formal quanto no conceitual. O texto atende expectativa do leitor ou rompe com ela. 109

Unidade IIO fator de informatividade importante como norteador para o produtor do texto. O produtor, antes de iniciar seu texto, precisa ter em mente o tipo de leitor que ele quer ou que tipo de leitor ser destinado a ele. Vamos considerar as situaes a) e b): a) solicitada ao produtor uma palestra sobre questo de gnero para uma plateia constituda por historiadores e antroplogos. b) solicitada ao produtor uma palestra sobre questo de gnero para alunos ingressantes no curso de histria e cincias sociais. Na situao a), o produtor ter como leitores-ouvintes especialistas no assunto; pessoas que j conhecem muito sobre questo de gnero e esperam, portanto, pelo menos, um contedo novo, atual. Se o produtor no tomar cuidado com o texto que for apreesentar, poder ser repetitivo; poder falar o abc para quem j sabe o alfabeto. Na situao b), o produtor ter como leitores-ouvintes de sua palestra pessoas que no conhecem o assunto ou que conhecem supercialmente. Nesse caso, o produtor precisa iniciar seu texto explicando, por exemplo, que o termo questo de gnero na rea de histria, de antropologia, signica o estudo do papel da mulher na sociedade. Tal informao seria redundante se apresentada para o pblico da situao a), no entanto, seria extremamente esclarecedor para o pblico da situao b). Como bem diz Marcuschi (2008, p. 132), ningum produz textos para no dizer absolutamente nada. Para o autor, essencial pensar que em um texto deve ser possvel distinguir: o que o texto quer transmitir. o que possvel extrair dele. o que no pretendido. 7.1.5 Intertextualidade A intertextualidade fenmeno ocorrido no texto quando este faz referncia a outro. A palavra intertextualidade derivada de inter (entre) + texto + dade signicando, ento, relao entre textos. Vamos aos exemplos de relao entre textos: Em linhas bem gerais, pode-se dizer que as cincias sociais englobam disciplinas que estudam as sociedades humanas, sua cultura e evoluo. Coube ao lsofo grego Aristteles, que viveu no 110

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSsculo IV a.C., cunhar uma denio que, imperfeita para os tempos modernos, ainda mantm uma fora singular: o homem um animal poltico, incapaz de viver sozinho. O problema que a convivncia com os outros obriga a muitas indagaes. O que d origem aos conitos, s crises polticas, escassez? A que entram as cincias sociais, estudando os problemas sociais, econmicos, polticos, espaciais e ambientais, para, ao diagnostic-los, resolv-los, se no de todo, pelo menos ajudando a minor-los.31 No exemplo acima, temos um texto publicado no site da Unesp. Ele serve para informar sobre o curso de cincias sociais e sobre o foco de interesse desse curso. O leitor provvel um vestibulando, que, indeciso, precisa conhecer melhor o curso e procura no site dessa e de outra instituio de ensino. Nesse texto, ns encontramos referncia a outro texto. J identicou? O texto que est dentro do texto produzido pela Unesp o homem um animal poltico, incapaz de viver sozinho, e a fonte est bem explcita: Aristteles. Ento, nesse texto temos um caso de intertextualidade. Vamos a outro exemplo: Atualmente, sabe-se que o sucesso de uma empresa depende, basicamente, de uma boa administrao. Quando se fala em boa administrao, deve-se levar em considerao no s as polticas de recursos humanos ou as estratgias de marketing, mas, principalmente, uma boa administrao nanceira. Segundo Santos (2001), o sucesso empresarial demanda cada vez mais o uso de prticas nanceiras apropriadas.32 No artigo cientco acima, identicamos novamente uma ocorrncia de intertextualidade. O produtor precisa mostrar que sua ideia tem base em conhecimentos j estabelecidos; ele no leigo em seu campo de pesquisa. Por isso, encontramos referncias a vrios outros autores por meio de citaes ou parfrases. Nesse texto, os autores se apropriaram de uma ideia de Santos e a reescreveram, fazendo uma parfrase. Intertextualidade , portanto, a presena de parte de um texto j existente dentro de um texto atual. A intertextualidade pode ser implcita, e depender do leitor para ser percebida, ou explcita, como nos exemplos citados, em que h fonte. Os tipos de intertextualidade so: Citao: ocorre quando, em um texto, aparece a reexo ou o ponto de vista de um determinado autor ou autoridade no assunto. Parfrase: quando, no texto, ocorre a aluso (reescrita) a um outro texto, com o objetivo de rearmar a mensagem ou parte dela. Pardia: ocorre ao contestar ou ridicularizar outro texto. A ironia uma gura de linguagem muito utilizada para esse m.31 32

Site da Unesp Artigo cientco de Marcio Machado e Hellen Silva.

111

Unidade IIEpgrafe: um recurso utilizado para fazer referncia a algum. Traduo: verso de uma lngua para outra; um procedimento que implica a intertextualidade. Intertextualidade um recurso riqussimo com recorrncia em textos literrios, cientcos, conversacionais, cotidianos, enm, de todas as esferas do conhecimento que pode se valer tanto da forma oral quanto da escrita da lngua. A intertextualidade recorrente tambm em textos no verbais, como tirinhas, charges, HQ (histria em quadrinhos) e outros.EXERCCIOS

1. O texto abaixo sustenta que, para a eccia dos estudos cientcos, devemos desconar do que familiar: Sob a tica do senso comum, conhecimento tem a ver com a familiaridade. O conhecido, diz a linguagem comum, o familiar. Se voc est acostumado com alguma coisa, se voc lida ou se relaciona habitualmente com ela, ento voc pode dizer que a conhece. O desconhecido, por oposio, o estranho. O grau de conhecimento, nessa perspectiva, funo do grau de familiaridade: quanto mais familiar, mais conhecido. Da a frmula; eu sei = estou familiarizado com isso como algo certo. Mas se o objeto revela alguma anormalidade, se ele ganha um aspecto distinto ou se comporta de modo diferente daquele a que estou habituado, perco a segurana que tinha e percebo que no o conhecia to bem quanto imaginava. Urge dom-lo, reapaziguar a imaginao. Ao reajustar minha expectativa e ao familiarizar-me com o novo aspecto ou com o novo comportamento, recupero a sensao de conhec-lo. Sob a tica da abordagem cientca, contudo, a familiaridade no s falha como critrio de conhecimento, como inimiga do esforo de conhecer. A sensao subjetiva de conhecimento, associada familiaridade, ilusria e inibidora da curiosidade interrogante de onde brota o saber. O familiar no tem o dom de se tornar conhecido s porque estamos habituados a ele. Aquilo a que estamos acostumados, ao contrrio, revela-se, com frequncia, o mais difcil de se conhecer verdadeiramente.33 Esse texto, por causa de seu contedo, pode ser relacionado a qual fator de textualidade? a) Intencionalidade b) Aceitabilidade c) Informatividade d) Situacionalidade e) Intertextualidade33

Gianetti, Eduardo. Autoengano. So Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 72.

112

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS2. Um grande desao para voc, caro aluno: produza dois textos curtos, do tipo expositivo, sobre um contedo especco de sua rea: a) Para mim e para leitores iguais a mim, ou seja, leigos em sua rea: ___________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ b) Para um professor de seu curso, que conhea bem o assunto. ___________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 3. As atividades seguintes baseiam-se no conceito de intertextualidade. a) Em uma apresentao sobre gesto empresarial, o palestrante usou o dilogo a seguir para reforar a ideia da necessidade de definirmos metas, projetos. O dilogo a seguir foi retirado de qual texto? Podia me dizer, por favor, qual o caminho pra sair daqui? Isso depende muito do lugar para onde voc quer ir disse o gato. No me importa muito para onde disse Alice. Nesse caso, no importa por onde voc quer ir disse o gato. b) Identificar a presena de outro(s) texto(s) em uma produo depende muito do conhecimento do leitor, do seu repertrio de leitura. Diante desse fato, faremos papel de detetive no texto seguinte, a fim de descobrir qual (ou quais) texto(s) foi(foram) inserido(s) nele. Descubra e indique a fonte intertextual. Depois discuta a importncia de cada uma para a nova produo (o texto a seguir). 113

Unidade IIEstudo realizado com mais de 200 voluntrios avalia atividade cardiovascular e endcrina comparada satisfao pessoal. Britnicos ligam felicidade boa sade Salvador Nogueira Da reportagem local J dizia o poeta Vincius de Moraes: melhor ser alegre que ser triste. E a comprovao mdica dessa obviedade psicolgica acaba de vir de trs pesquisadores do University College, em Londres. Eles demonstraram que a felicidade est diretamente ligada ao bom funcionamento do sistema endcrino e cardiovascular. Claro, o dilema de uma famosa marca de biscoitos a primeira coisa que chama a ateno nos resultados dessa pesquisa. O sujeito est feliz porque est saudvel ou est saudvel porque est feliz? Essa uma boa pergunta. To boa, na verdade, que os cientistas, com os dados atuais, no tm condio de responder. O que os pesquisadores liderados por Andrew Steptoe fizeram foi estabelecer uma correlao clara entre a felicidade e certas medidas indicativas de boa sade, com base no acompanhamento de 226 londrinos 116 homens e 110 mulheres. Os voluntrios foram estudados no s em laboratrio, mas tambm na vida cotidiana, trabalhando e de folga. Ns usamos simples ndices de felicidade que as pessoas nos davam umas 20 a 30 vezes por dia, diz Steptoe. Em cada nova avaliao, o participante tinha de dizer o que andara fazendo nos ltimos cinco minutos e como ele classicava seu nvel de felicidade no perodo, numa escala de 1 a 5. Desse modo, nossas medidas no dependiam apenas de como algum se sentia num nico ponto do tempo, mas dos nveis mdios ao longo do dia.34 c) Na histria em quadrinhos seguinte, um poema famoso da literatura brasileira tornou-se fonte para o enredo. Identique esse texto. Qual foi a atualizao ocorrida nesse poema?

34

Fonte: Folha de S. Paulo, 19 abr. 2005.

114

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS

Resoluo dos exerccios:

1. A alternativa correta a c). O texto pode ser relacionado informatividade porque o conceito desse fator de textualidade lida com o grau de informao do texto, do autor, do leitor. Se o leitor conhece bem o assunto, no tirar nada novo do texto; se o leitor pensa que j conhece bem o assunto e l um texto com contedo novo, aprender muito com ele. A informatividade, ento, pode ou no atender expectativa do leitor. 2. Ao escrever o primeiro texto, certamente voc colocou o fator informatividade em um grau muito alto, pois com certeza precisou expor dados do assunto em detalhes. No entanto, talvez foi uma produo mais fcil do que a do segundo texto. Provavelmente a segunda redao exigiu mais de voc, porque precisou se colocar no lugar do professor (do leitor especialista) e se perguntar: afinal, o que o meu pblico no conhece? Que contribuio efetiva meu texto pode levar ao meu leitor? Alm disso, a adequao da linguagem foi outra: se no primeiro voc usou poucos ou nenhum termo tcnico, no segundo eles foram empregados sem receio de no serem entendidos. 3. a) Na apresentao sobre gesto empresarial, o palestrante usou trecho da obra Alice no pas das maravilhas, de Lewis Carroll, para ilustrar sua tese. b) Na matria sobre o estudo realizado com os mais de 200 voluntrios, o texto jornalstico j inicia com uma referncia a outro texto: o primeiro verso da msica Samba da bno, de Vincius de Moraes. No decorrer do texto, o leitor consegue relacionar essa intertextualidade ao prprio assunto da notcia, que trata da felicidade. No segundo pargrafo, ao empregar a parfrase/pardia o sujeito est feliz 115

Unidade IIporque est saudvel ou est saudvel porque est feliz? o autor remete a um anncio publicitrio de bolacha que cou muito conhecido. Alm dessas ocorrncias intertextuais, h a fala do especialista, conferindo credibilidade ao texto jornalstico. c) O poema Cano do exlio, de Gonalves Dias, e foi criado em 1836. O poema atualizado na HQ para mostrar que a natureza no a mesma depois de tanto desmatamento.7.2 Fatores internos do texto

At aqui voc viu o que um texto, isto , quais so as caractersticas bsicas que nos permitem considerar um texto como tal. Veremos agora alguns fatores importantes para a qualidade de um texto, como coeso e coerncia; clareza e conciso e correo gramatical. 7.2.1 Coeso e coerncia Para entendermos a noo de coeso/coerncia, primeiramente devemos considerar a hierarquia de valores que existe desde uma palavra at um texto. essa hierarquia que determina a coeso/ coerncia, tendo em vista ser o texto um todo de significado, ou seja, para considerarmos que um texto um texto, temos que levar em considerao sua organizao sinttico-semntica em primeiro lugar. Assim, a coeso equivale relao entre as palavras, entre as oraes, entre os perodos, enm, entre as partes que compem um texto. Quando chegamos ao todo, ao sentido global, temos a coerncia do texto. Ento, um fator depende do outro, isto , a coerncia pressupe a coeso. Exemplicando: o falante de lngua portuguesa no reconhece coeso nem coerncia em uma sequncia como a seguinte: Dia muito este especial vida minha em. No entanto, esse mesmo falante reconheceria como coerente (e coesa) a sequncia: Este dia muito especial em minha vida. Houve organizao sinttico-semntica na segunda sequncia, o que no ocorreu na primeira. Segundo Koch (1998), o conceito de coeso textual diz respeito a todos os processos de sequencializao que asseguram (ou tornam recupervel) uma ligao lingustica signicativa entre os elementos que ocorrem na superfcie textual. Essa coeso pode ser estabelecida por meio de mecanismos referenciais e/ou sequenciais, segundo os estudos lingusticos. Para entendermos melhor, vejamos a proposta didtica dessas classicaes feita por Fiorin e Savioli (1999). 116

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS7.2.1.1 Coeso por retomada ou por antecipao (coeso referencial) a. Retomada ou antecipao por uma palavra gramatical So classes gramaticais (artigos, pronomes, numerais, advrbios, verbos) que funcionam, no texto, como elementos de retomada (anafricos) ou de antecipao (catafricos) de outros termos enunciados no texto. Exemplo: Estamos (a) reunidos para examinar o caso. Eu, a diretoria e vocs entendemos que no se trata de uma questo simples. Ela (b) deve ser analisada com muita cautela, por isso ns (c) nos encontramos aqui. No pequeno trecho, podemos observar as expresses destacadas e vericar que: (a)Estamos o verbo que antecipa o sujeito eu, a diretoria e vocs. Na sequncia, um elemento catafrico. (b) Ela um pronome que retoma uma questo, portanto, um elemento anafrico. (c) Ns pronome (elemento anafrico) que retoma o sujeito eu, a diretoria e vocs. a isso que se denomina retomada ou antecipao por uma palavra gramatical. Podemos ento encontrar em um texto vrios elementos que estabelecem essa retomada ou antecipao. So eles que formam as ligaes no texto, ou seja, so esses termos que instituem o que se denomina coeso referencial. Algumas observaes 1- O termo substitudo e/ou retomado pode ser inferido pelo contexto. Exemplo: Estamos aqui para examinar o caso. Nessa frase, a palavra aqui, se no houver referncia anterior explcita a ela, leva inferncia de que se trata do local em que ocorre a situao comunicativa (que no precisa ser um lugar concretamente especicado). 2- No uso de artigo, o denido tem a funo de retomar um termo j enunciado, enquanto o indenido geralmente introduz um termo novo. Exemplos: (a) Encontrei a carta sobre a mesa (o emprego do artigo denido a faz pressupor que se trata de uma carta j referida anteriormente). 117

Unidade II(b) Uma carta foi deixada sobre a mesa (o emprego do artigo indenido uma introduz o termo carta, ou seja, o termo est sendo apresentado no texto). 3- Os verbos fazer e ser, enquanto anafricos, substituem, respectivamente, aes e estados. Exemplos: (a) Joo e Maria estudaram muito para a prova, o que voc no fez. (= estudar) (b) Eduardo e o irmo caram muito emocionados com a homenagem, mas no foi (= carem emocionados) como espervamos. 4- Ambiguidade. Quando um elemento anafrico se refere a dois antecedentes distintos, pode provocar ambiguidade. Exemplos: (a) Pronome possessivo: Minha amiga discutiu com a irm por causa de sua resposta (sua = da amiga ou da irm?). (b) Pronome relativo: Ela convidou o irmo do namorado, que chegou atrasado para a festa (que = o irmo ou o namorado?). b. Retomada por palavra lexical (substantivos, verbos, adjetivos) Alm das palavras gramaticais, h outra forma de se retomar as palavras no texto. o mecanismo de substituio por sinnimos, por hipernimos, por hipnimos ou por antonomsias. No exemplo referente ao item Retomada ou antecipao por uma palavra gramatical, podemos observar um desses mecanismos: em (...) de uma questo simples, o substantivo questo retoma o caso por um processo de substituio por sinnimos. A relao de hipnimo/hipernimo corresponde relao de contm/est contido. O primeiro est contido no segundo e vice-versa. Por exemplo, cachorro hipnimo de mamfero e vice-versa. Quanto antonomsia, o processo de substituio de um nome prprio por um comum ou de um comum por um prprio. Geralmente utilizada para personalidades. Exemplo: A rainha dos baixinhos estreia novo lme (em vez de Xuxa estreia novo lme). 118

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSEntre os mecanismos de coeso referencial tambm se encontra a elipse, quer dizer, o apagamento de palavras (que podem ser recuperadas pelo contexto) em uma sequncia, para que no haja repetio indevida. Exemplo: O presidente da Repblica anunciou novas medidas. Baixou os juros, elevou o salrio mnimo e, ainda, regulamentou a criao de novos empregos. Veja que o smbolo representa o sujeito O presidente da Repblica, que foi omitido para evitar repetio na sequncia. Trata-se da elipse do sujeito. 7.2.1.2 Coeso por encadeamento de segmentos textuais (coeso sequencial) a. Coeso por conexo Estabelecida por conectores (ou operadores discursivos) que fazem a relao entre segmentos do texto. Esses conectores, alm de estabelecer relao lgico-semntica entre as partes do texto (de causa, nalidade, concluso etc.), tm funo argumentativa, que, segundo Fiorin e Savioli (1999), podem ser dos seguintes tipos: 1. Os que marcam uma gradao, numa srie de argumentos, orientada para uma determinada concluso (at, mesmo, at mesmo, inclusive, ao menos, pelo menos, no mnimo, no mximo, quando muito). Ex.: Ele tem todas as qualidades para vencer o concurso: alto, magro e at inteligente. 2. Os que marcam uma relao de conjuno argumentativa (ligam argumentos em favor de uma concluso, como: e, tambm, ainda, nem, no s... mas tambm, tanto...como, alm de, alm disso, a par de). Ex.: O cliente no recebeu o produto solicitado e teve, ainda, que pagar em dinheiro. 3. Os que indicam uma relao de disjuno argumentativa (argumentos que levam a concluses opostas, como: ou, ou ento, quer...quer, seja...seja, caso contrrio). Ex.: Todos os convocados pelas autoridades competentes devem apresentar-se ou sero intimidados a faz-lo. 4. Os que marcam uma relao de concluso (portanto, logo, por conseguinte, pois, quando no introduz a orao). Ex.: Ele fora classificado como o melhor corredor. Recebera, pois, o maior prmio. (Est implcito que quem fosse considerado o melhor corredor receberia o melhor prmio). 5. Os que estabelecem uma comparao entre dois elementos, com vistas a uma concluso (a favor ou contra). Ex.: No sei se o trabalho car bom, mas esse pedreiro to eciente quanto o outro. 6. Os que introduzem uma explicao ou justicativa (porque, j que, que, pois). Ex.: melhor no mexer no material, j que no tem a inteno de compr-lo. 119

Unidade II7. Os que marcam uma relao de contrajuno (mas, porm, contudo, todavia, no entanto, entretanto, embora, ainda que, mesmo que, apesar de que). Ex.: O governo abriu nanciamento de casas para a classe mdia, porm, uma parte dessa populao j tem casa prpria. 8. Os que introduzem argumento decisivo, como um acrscimo informao (als, alm do mais, alm de tudo, alm disso, ademais). Ex.: Ela tirou tudo do armrio, espalhou no quarto e no terminou a arrumao. Alis, como de costume. 9. Os que indicam uma generalizao ou uma amplicao da informao anterior (de fato, realmente, alis, tambm, verdade que). Ex.: No bastasse estar atrasado, tambm esqueceu o ingresso no bolso da cala. 10. Os que especicam ou exemplicam o que foi dito (por exemplo, como etc.). Ex.: Todos caram insatisfeitos com a deciso da me, como o lho mais velho. 11. Os que marcam uma relao de reticao, ou seja, uma correo, um esclarecimento, um desenvolvimento ou uma redenio do contedo anterior (ou melhor, de fato, pelo contrrio, ao contrrio, isto , quer dizer, ou seja, em outras palavras). Ex.: O candidato no honrou seu compromisso, isto , no cumpriu o que prometera em campanha eleitoral. 12. Os que introduzem uma explicitao, uma conrmao ou uma ilustrao do que foi informado (assim, desse modo, dessa maneira). Ex.: Encontramo-nos em perodo de crise econmica. Assim, o comrcio de produtos eletrnicos est em baixa. b. Coeso por justaposio Esse tipo de coeso pode ser estabelecido com ou sem elementos de ligao. Quando h conectores, estes podem ser: 1. Os que marcam sequncia temporal. Ex.: A mulher abandonara o lar. Um ano depois, estava arrependida. 2. Os que marcam uma ordenao espacial. Ex.: direita ca o porto de entrada para o prdio. 3. Os que especicam a ordem dos assuntos no texto. Ex.: Primeiramente, devo declarar que aceito a proposta. 4. Os que introduzem um dado tema ou servem para mudar o assunto na conversao. Ex.: Devemos nos unir para uma deciso acertada. Por falar nisso, estamos todos no mesmo barco. Algumas observaes: 1. Quando no h conectores, eles podem ser inferidos pelo contexto. 120

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSEx.: No assistir conferncia. Est atrasada. (subentende-se um conector que estabelea relao de causa na segunda orao, como porque) 2. Quanto manuteno do tema no texto, trata-se da articulao tema (dado) e rema (novo) que se d na perspectiva oracional ou contextual.Se desejar aprofundar-se no tema, vale a pena ler A coeso textual, de I. V. Koch, So Paulo: Contexto, 1998.

Ex.: Vamos descrever, ento, o interior da casa. A sala ampla e se divide em dois ambientes. Os quartos so bem arejados. A cozinha comporta toda a famlia nos horrios de refeio.EXERCCIOS

1. Em uma manh ensolarada, Heitor encontrou uma linda cachorrinha, pequena e toda branquinha, e deu a ela o nome de Blanche. (N. Rosa e A. Bonito) Em relao ao termo ela encontrado no texto, um elemento coesivo: a) Sem referncia no texto, ou seja, o leitor busca fora do texto o referente. b) Classicado como sequencial, uma vez que se encontra na orao coordenada. c) Referencial de pronome adjetivo. d) Referencial anafrico, uma vez que seu referente vem antes dele. e) Referencial catafrico, porque seu referente cachorrinha vem antes dele no texto. 2. Magda, desta parte quem cuida o suporte tcnico. Por favor, envie uma mensagem para eles, apresentando, com clareza, a sua dvida, que prontamente ser atendida. Nesse recado, o leitor depara-se: a) Com um texto sem segmentos coesivos entre as oraes. b) Com um referencial coesivo anafrico (eles). c) Com a expresso suporte tcnico, a qual referente do pronome anafrico eles. d) Com um referente no explcito no texto do pronome eles. e) Com um referente explcito, que o termo Magda. 3. A seguir, leia os enunciados 1 e 2: 1. Lcia ainda no sabe que carreira pretende seguir. Alis, o que est acontecendo com grande nmero de jovens na fase pr-vestibular. 121

Unidade II2. Muitos de nossos alunos esto desenvolvendo pesquisas no exterior. Por exemplo, Mariana est na Frana e Marcelo, na Alemanha. Temos, respectivamente, relao discursiva/argumentativa do tipo: a) Generalizao e exemplicao. b) Generalizao e contrajuno. c) Contrajuno e exemplicao. d) Conjuno e explicao. e) Comparao e exemplicao. 4. Chamamos de encadeamento o inter-relacionamento de enunciados sucessivos, com ou sem elementos explcitos de ligao. Portanto, podemos ter encadeamento por justaposio (sem a presena do articulador/conector) e por conexo (quando o conector est presente no texto). Leia os enunciados: I- O barranco desmoronou. As chuvas desta noite foram muito violentas. (conexo causal) II- As ores esto congeladas porque geou. (conexo causal) III- Nosso candidato foi derrotado porque houve indelidade partidria. (conexo causal) Assinale a alternativa correta: a) Os enunciados I, II e III tm encadeamento por justaposio. b) Os enunciados I, II e III tm encadeamento por conexo. c) Apenas o enunciado I tem encadeamento por justaposio. d) Os enunciados II e III no possuem conector explcito. e) Nenhuma das alternativas anteriores est correta. 5. Assinale o item em que o pronome relativo que pode causar ambiguidade: a) O homem que cumprimentei o diretor da universidade. b) O aluno que estuda vence, cedo ou tarde. c) A casa em que moro ca prxima ao centro. 122

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSd) No conheo o pai do menino que se acidentou. e) Adriano, que comprou a decorao, far o bolo. 6. Veja como os textos se desenvolvem quanto coeso e assinale a alternativa que acertadamente classica o tipo de coeso predominante em cada texto respectivamente: I. Se voc estudante de nvel superior graduao, sequencial ou ps-graduao , a Conta Universitria Caixa o que voc precisava. Com ela, voc conquista a independncia financeira, sem comprovao de renda e com diversas vantagens. (site da Caixa Econmica Federal) II. So Paulo acrescenta continuamente requintes roleta-russa em que se transformou a vida na cidade. Antes, o paulistano j sabia que, se escapasse de assalto, poderia cair em sequestro (relmpago ou duradouro, que a roleta-russa sosticada). Se no fosse sequestrado, teria o carro roubado. Se casse com o carro, afundaria em algum dos alagamentos bblicos do cotidiano. Se no naufragasse, caria preso em um congestionamento cinematogrco. E, se nada disso ocorresse, ainda haveria na agulha a bala de cair no buraco do metr e ter o cadver resgatado apenas uma semana ou dez dias depois. III. A fnix um pssaro das Arbias. No morre nunca. Ou melhor, morre muitas vezes, queimada no fogo, e cada vez renasce das cinzas. Assinale a alternativa correta: a) I. coeso referencial por substituio; II. coeso recorrencial por parfrase; III. coeso recorrencial por paralelismo. b) I. coeso recorrencial por paralelismo; II. coeso referencial por substituio III. coeso recorrencial por parfrase. c) I. coeso recorrencial por paralelismo; II. coeso recorrencial por parfrase; III. coeso referencial por substituio. d) I. coeso referencial por substituio; II. coeso recorrencial por paralelismo; III. coeso recorrencial por parfrase. e) I. coeso recorrencial por parfrase; II. coeso recorrencial por paralelismo; III. coeso recorrencial por paralelismo.Resoluo dos exerccios:

1. A alternativa correta a d). A coeso classica-se como coeso referencial anafrica, porque o elemento referente cachorrinha vem antes do pronome ela. 123

Unidade II2. A alternativa correta a d). O elemento coesivo eles no possui um referente explcito no texto, precisando, portanto, ser inferido pelo leitor. Na verdade so os membros da equipe do suporte tcnico o referente para eles. 3. A alternativa correta a a). O enunciado 1 tem relao do tipo generalizao com o conector alis, e o 2, do tipo exemplicao com o conector por exemplo. 4. A alternativa correta a c). O enunciado I tem encadeamento por justaposio porque entre as oraes no h um conector explcito de causa, como ocorre nos enunciados II e III. Nestes, o conector de causa porque, que relaciona as oraes. 5. A alternativa correta a d). O uso do pronome relativo que utilizado nessa frase torna-se ambguo, porque o leitor no sabe se o pronome est substituindo a palavra menino ou a palavra pai. 6. A alternativa correta a d). A coeso referencial por substituio empregada no texto I: o termo ela recupera o termo anterior Conta Universitria Caixa. A coeso recorrencial por paralelismo marca o texto II, em que as oraes condicionais comeam com se (antecedente) e so seguidas pela orao principal (consequente). A coeso recorrencial por parfrase se materializa no texto III com a expresso ou melhor. 7.2.1.3 Coerncia e progresso textual Como j dissemos, a coerncia o todo de sentido em que resulta o texto. Para que ela se estabelea, preciso observar a no contradio de sentidos entre partes do texto, o que se constri pelos mecanismos de coeso j explicitados. Alm disso, de acordo com Fiorin e Savioli (1999), h vrios nveis que devem ser levados em conta, como o narrativo, o figurativo, o temporal, o argumentativo, o espacial e o de linguagem. Para todos eles, dois tipos de coerncia so fundamentais: a coerncia intra e a extratextual. A primeira corresponde organizao e ao encadeamento das partes do texto, ao passo que a segunda pode estar relacionada tanto ao conhecimento de mundo como ao conhecimento lingustico do falante. No entanto, h textos que podem ser incoerentes aparentemente. Para se vericar se o texto tem sentido, preciso considerar vrios fatores que podem levar atribuio de signicado ao texto. So eles: o contexto, a situao comunicativa, o gnero, o(s) intertexto(s). Esses fatores determinam as condies de produo e de recepo de um texto. preciso ter conhecimento dessas condies para julgar coerente (ou no) um texto. Para exemplicar, um texto literrio, por ser ccional, admite o uso da linguagem gurada, ao passo que um texto cientco no a admite. Portanto, se houver o uso de uma metfora em um texto cientco, por exemplo, este ser julgado incoerente. 124

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSVejamos um texto para melhor ilustrar o que foi dito at aqui. O leo, o burro e o rato Um leo, um burro e um rato voltavam, anal, da caada que haviam empreendido juntos (1) e colocaram numa clareira tudo que tinham caado: dois veados, algumas perdizes, trs tatus, uma paca e muita caa menor. O leo sentou-se num tronco e, com voz tonitruante que procurava inutilmente suavizar, berrou: Bem, agora que terminamos um magnco dia de trabalho, descansemos aqui, camaradas, para a justa partilha do nosso esforo conjunto. Compadre burro, por favor, voc, que o mais sbio de ns trs, com licena do compadre rato, voc, compadre burro, vai fazer a partilha desta caa em trs partes absolutamente iguais. Vamos, compadre rato, at o rio, beber um pouco de gua, deixando nosso grande amigo burro em paz para deliberar. Os dois se afastaram, foram at o rio, beberam gua (2) e caram um tempo. Voltaram e vericaram que o burro tinha feito um trabalho extremamente meticuloso, dividindo a caa em trs partes absolutamente iguais. Assim que viu os dois voltando, o burro perguntou ao leo: Pronto, compadre leo, a est: que acha da partilha? O leo no disse uma palavra. Deu uma violenta patada na nuca do burro, prostrando-o no cho, morto. Sorrindo, o leo voltou-se para o rato e disse: Compadre rato, lamento muito, mas tenho a impresso de que concorda em que no podamos suportar a presena de tamanha inaptido e burrice. Desculpe eu ter perdido a pacincia, mas no havia outra coisa a fazer. H muito que eu no suportava mais o compadre burro. Me faa um favor agora divida voc o bolo da caa, incluindo, por favor, o corpo do compadre burro. Vou at o rio, novamente, deixando-lhe calma para uma deliberao sensata. Mal o leo se afastou, o rato no teve a menor dvida. Dividiu o monte de caa em dois: de um lado, toda a caa, inclusive o corpo do burro. Do outro apenas um ratinho cinza (3) morto por acaso. O leo ainda no tinha chegado ao rio, quando o rato chamou: Compadre leo, est pronta a partilha! O leo, vendo a caa dividida de maneira to justa, no pde deixar de cumprimentar o rato: Maravilhoso, meu caro compadre, maravilhoso! Como voc chegou to depressa a uma partilha to certa? 125

Unidade IIE o rato respondeu: Muito simples. Estabeleci uma relao matemtica entre seu tamanho e o meu claro que voc precisa comer muito mais. Tracei uma comparao entre a sua fora e a minha claro que voc precisa de muito maior volume de alimentao do que eu. Comparei, ponderadamente, sua posio na oresta com a minha e, evidentemente, a partilha s podia ser esta. Alm do que, sou um intelectual, sou todo esprito! Inacreditvel, inacreditvel! Que compreenso! Que argcia! exclamou o leo, realmente admirado. Olha, juro que nunca tinha notado, em voc, essa cultura. Como voc escondeu isso o tempo todo, e quem lhe ensinou tanta sabedoria? Na verdade, leo, eu nunca soube nada. Se me perdoa um elogio fnebre, se no se ofende, acabei de aprender tudo agora mesmo, com o burro morto. Moral: s um burro tenta car com a parte do leo. (1) A conjugao de esforos to heterogneos na destruio do meio ambiente coisa muito comum. (2) Enquanto estavam bebendo gua, o leo reparou que o rato estava sujando a gua que ele bebia. Mas isso j outra fbula. (3) Os ratos devem se contentar em se alimentar de ratos. Como diziam os latinos: Similia similibus curantur (Fernandes, Millr). Ao analisarmos o texto, podemos vericar o seguinte: No texto, a coerncia narrativa estabelecida, primeiramente, pela sequncia de aes que se encadeiam: o leo prope um desao ao burro e ao rato, ambos aceitam, mas o burro no capta a verdadeira inteno do leo e acaba morto; o rato, por sua vez, ao ver o burro morto, entende a mensagem e, para preservar sua vida, faz a diviso do alimento considerada justa para o leo e, assim, obtm sucesso. Na sequncia temporal, a narrativa apresenta uma sucesso de fatos que estabelece a progresso temtica do texto a respeito da explorao do homem pelo homem, ou da lei da sobrevivncia em uma sociedade competitiva, tema(s) este(s) que (so) gurativizado(s) pelos animais partilhando o alimento, em que se destaca a soberania do leo na cadeia alimentar. A m de se concretizar a verdade do texto, h tambm a coerncia espacial, visto que os animais se encontram em uma oresta, ambiente que concretiza o cenrio em que se desenvolve a histria. Como se trata de um texto ccional, a coerncia estabelecida pela criao desse mundo possvel em que os personagens se inserem. 126

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSQuanto linguagem, coerente ao tipo de texto, que permite o uso do coloquial, a m de aproximar-se do interlocutor desse tipo de texto. Por isso, o vocabulrio acessvel e h construes prximas oralidade, como Me faam um favor, em que o pronome oblquo inicia a orao, uma forma que a norma padro rejeita em textos escritos. H um jogo de pressupostos e subentendidos, que caracterizam o texto como literrio, e consiste em uma estratgia argumentativa para a defesa do ponto de vista implcito de que vence o mais forte. Dessa forma, podemos considerar esse texto coerente, pois observamos tanto a coerncia interna como a coerncia externa dele. A primeira corresponde aos fatores ligados ao conhecimento lingustico j apresentado anteriormente, ao passo que a segunda se relaciona s condies de produo e/ou recepo do texto, tais como o gnero, a situao comunicativa e as relaes intertextuais.Sugerimos que, para amadurecer sua competncia leitora, escolha outro texto narrativo, at mesmo uma nova fbula, e desenvolva sua anlise contemplando os aspectos abordados at aqui.

Nesse sentido, podemos vericar que, por se tratar de uma crnica, um texto que trata de tema do cotidiano, em uma linguagem coloquial, mas que constri opinio pelas estratgias argumentativas. Alm disso, de modo subentendido, faz aluso a outros textos existentes, do tipo fbula, que pressupem a existncia de uma moral, recurso que se denomina intertextualidade. Podemos notar que por esse recurso h construo de uma ironia em relao moral, que apresentada de uma maneira subvertida, isto , de modo a levar o leitor reexo sobre a estupidez humana em suas relaes sociais.EXERCCIOS

1. A respeito do processo de elaborao que resultou no folheto apresentado abaixo, julgue os itens que se seguem.I- A combinao entre o tema, o estilo das ilustraes e a

escolha do traado das letras revela crianas ou pblico de baixa escolaridade como o destinatrio pretendido para esse texto. II- Apesar das poucas marcas de coeso, esse texto respeita as caractersticas do gnero textual que representa e atinge o objetivo pretendido: convidar para o festival. III- Coerentemente com o texto visual, que representa bonecos caractersticos da arte popular, a linguagem do texto verbal reproduz a linguagem popular no uso de termos como entrada franca. 127

Unidade IIEst certo o que se arma apenas na alternativa: a) I. b) II. c) I e II. d) I e III. e) II e III. 2. Em uma das charges de Maitena, temos o seguinte dilogo entre duas mulheres: Mas no seja ridcula! Como voc sabe que no vai voltar a v-lo nunca mais? O que ele te disse? Vou virar padre? Vou para a China? Vou me casar? No, muito pior Te ligo. O leitor da charge consegue entender o texto porque: a) A coerncia da charge est nas perguntas hipotticas feitas pela primeira mulher. b) A coerncia acontece quando te ligo, dentro das relaes amorosas, interpretado como indcio de desinteresse. c) A coerncia depende exclusivamente da seleo lexical. d) A coerncia construda com base no conhecimento partilhado de que fazer ligao telefnica no est dentro das convenes de um relacionamento amoroso. e) A coerncia ocorre devido ao fato de o leitor saber que nas conversas femininas no h de fato coerncia. Assim, o leitor no estranha a resposta da segunda mulher da charge.Resoluo dos exerccios:

1. A alternativa correta a e). 2. A alternativa correta a b). A coerncia no se aplica isoladamente ao texto, ao leitor, ao autor. A coerncia se estabelece na unio desses trs elementos. A coerncia da charge no depende exclusivamente do que expresso linguisticamente no texto, mas tambm ao conhecimento que ns temos e que est fora do texto. No caso, ns leitores sabemos que quando uma pessoa promete ligar para outra, isso pode ter mais de um sentido: a pessoa de fato liga; a pessoa faz promessa por fazer, sabendo ambas pessoas que no haver ligao; a pessoa no liga. Na relao amorosa, prometer ligar signica dispensar a pessoa. 128

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS7.2.1.4 Clareza e conciso A clareza e a conciso compreendem duas qualidades primordiais de um texto bem elaborado. A primeira diz respeito organizao coerente das ideias, de modo a no deixar dvidas sobre o que foi proposto pelo texto, desde seu incio at sua concluso, enquanto a segunda est associada no prolixidade do texto, ou seja, uma est ligada outra. Do ponto de vista da produo, de acordo com a inteno, deve-se selecionar a estrutura que sustentar o texto, levando-se em considerao caractersticas peculiares a cada uma delas (narrativa, descritiva ou dissertativo-argumentativa), as quais sero apresentadas mais frente. O fundamental garantir que haja uma hierarquia de ideias e fatos na relao intratextual, a m de se organizar um todo coeso e coerente. Nesse sentido, a organizao dos pargrafos no interior do texto de suma importncia e constitui uma das diculdades que deve ser vencida pelo produtor, pois quando no se tem domnio dessa habilidade, h duas tendncias na construo dos pargrafos: ou o texto um bloco nico de informaes ou confundem-se perodo e pargrafo. Para melhor compreenso, passemos a vericar essas duas etapas: a da organizao discursivo-textual e a da elaborao dos pargrafos.EXERCCIO

A expresso lingustica, se curta, mais eciente para um texto conciso. Assinale a alternativa em que os pares no esto adequados, considerando que as primeiras so as expresses longas: a) a m de = para b) no discordar = aceitar c) com relao a = sobre d) no sentido de = para e) no impedir = permitirResoluo dos exerccios:

A alternativa correta a b). Existem expresses longas que podem ser substitudas por outras, mais curtas, facilitando a leitura. No caso da alternativa b) no discordar, ela poderia ser substituda por concordar. 7.2.1.5 Da organizao dos pargrafos Embora um pargrafo seja denido pela extenso que vai de uma margem em branco at um ponto nal, devemos salientar que o mais importante a garantia de uma unidade de sentido para cada pargrafo de um texto, o que no pode delimitar uma forma-padro. 129

Unidade IIPrimeiramente, ao se elaborar um texto, preciso um planejamento, um roteiro que nortear a organizao dele em pargrafos, de forma que haja um encadeamento lgico-semntico. Para tanto, faz-se necessrio investigar o conhecimento prvio que se tem sobre o assunto, pois esse ser ele que permitir um plano de organizao do texto. Em seguida, deve-se fazer um esboo da estrutura do texto a ser produzido, partindo-se da ideia central, isto , do tema escolhido. A partir dele, podem se relacionar tpicos que possam ser desenvolvidos em ncleos temticos no interior do texto, de modo a se organizarem oraes, perodos e pargrafos. Para o planejamento dos pargrafos h sugestes de autores variados. Uma delas, que consenso entre muitos deles, foi sintetizada por Emediato (2004, p. 92) da seguinte forma:Tempo

Histrico sobre o assunto, datas, origens, narrativa histrica. Quando?

Espao

Locais, situaes no espao. Onde?

Denio

O que ? Denir, conceituar, explicar o signicado de um conceito. Lista de caractersticas, funes, princpios, fatores, fases, etapas etc. Estabelecer relaes de semelhana e de diferena, contrastar.

Enumerao

Comparao

Causas/efeitos

Resultados, consequncias, fatores causais.

Exemplicao

Fatos concretos, provas factuais.

Concluso/deduo

Deduo geral, sintetizando os dados e informaes contidas nos pargrafos anteriores.

A seleo de uma dessas formas direcionar a construo do texto, orientando a sequncia dos pargrafos de acordo com a nfase dada no incio. ela que estabelecer as relaes intratextuais e a segmentao dos pargrafos. 130

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS importante salientar, ainda, que no h uma frmula mgica para a organizao dos pargrafos em um texto. O importante estabelecer uma sequncia lgica que o torne claro. Para que se inicie bem um texto (e, consequentemente, haja uma sequncia coerente), Faraco e Tezza (1992, p. 178) sugerem as seguintes recomendaes: 1. Iniciar o texto familiarizando o leitor com o assunto que ser tratado, de modo que a introduo do texto situe com clareza as coordenadas do texto (assunto, inteno, aspecto que se pretende abordar). 2. Evitar o incio do texto com uma frase avulsa, a no ser que o tipo de texto o exija (como a linguagem publicitria, por exemplo), pois esse procedimento denota m estruturao. 3. Utilizar perodos mais curtos, uma vez que os perodos longos tornam o texto prolixo e podem desinteressar o leitor.8 ESCRITA E PRODUO CRIATIVA E ACADMICA 8.1 As escritas

A escrita apenas um entre inmeros outros sistemas de linguagem visual, como os desenhos, a mmica, sinais martimos e terrestres, gestos, e considerada a primeira revoluo tcnico-lingustica38. Existem: a escrita pictogrca, que consiste em gravuras e pinturas rupestres datadas desde o perodo paleoltico. a escrita mnemnica, que consiste na combinao de os de l de cores diversas e colares de conchas justapostas (at seis, sete mil conchas), conjunto que representa uma representao simblica de ideias e seu encadeamento. a escrita fontica, que consiste na possvel substituio do som, utilizando um alfabeto que tem em vista sua estrutura fonolgica, isto , binria vogal/consoante. a escrita ideogrca, que consiste em sinais diferentes para representar objetos e ideias. Cada escrita independente da outra. Nada indica que a escrita ideogrca tenha sido inventada pelos chineses, que no mais se satisfaziam com a escrita pictogrca, e menos ainda que a escrita fontica tenha nascido de uma conscincia da insucincia dos sistemas ideogrcos. No h, entre os sistemas de escrita, sucesso no tempo. A prova que, at hoje, sistemas pictogrcos e ideogrcos se mantm. importante, por conseguinte, abandonar de uma vez para sempre a ideia de uma evoluo da escrita: h evoluo dentro de cada sistema, mas no de um sistema para outro (Martins, 2002).A segunda revoluo a proliferao de gramticas e dicionrios nos sculos XV e XVI. Por causa das colonizaes, os europeus se preocuparam em formalizar suas lnguas para os colonizados e passaram a escrever gramticas e dicionrios.38

131

Unidade IIA escrita, ento, no depende de um processo que se poderia julgar natural, de evoluo ou de mutao: ela nasce de uma revoluo, de uma des-ordem, da subverso das normas tradicionais da comunicao social.EXERCCIOS

Unidade ideogrca fundamental do sistema de escrita do antigo Egito, que durou at o sculo III da nossa era. Do que estamos falando? Do hierglifo. Veja o exemplo a seguir:

A revista Galileu, de janeiro de 2006, tira dvidas do leitor sobre os hierglifos modernos. Analise os smbolos apresentados pela revista: Etiqueta da roupa

a) Indique a funo dos smbolos. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 132

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSb) Relacione os smbolos com os hierglifos. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ c) Discuta a existncia dos smbolos quanto necessidade atual de economia e eccia da comunicao. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________Resoluo do exerccio:

a) Os smbolos das etiquetas de roupa servem para informar ao dono da roupa como lidar com ela: se deve passar a ferro ou no; se deve lavar com sabo em p ou lavar a seco; se pode usar alvejante ou no, entre outras informaes. Para ajud-lo, caro aluno, reproduzo os signicados desses smbolos novos.

133

Unidade IIb) A relao que pode ser feita entre os smbolos da etiqueta de roupa e os hierglifos que ambas as escritas usam gravuras para informar. c) As informaes sobre as roupas ampliaram-se porque a tecnologia aumentou tambm. Temos, agora, mais produtos, mquinas e mtodos de limpeza; temos mais tipos de tecido. O sistema parecido com hierglifo o nico modo que d conta de passar muitas informaes em um suporte to pequeno quanto a etiqueta.8.2 As escritas no tempo

No decorrer dos sculos, a humanidade, para poder gravar a escrita, lanou mo de diversos materiais, desde folhas at placas de chumbo. Entre esses materiais temos: Papiro Dividia-se com uma agulha a haste do papiro, cuja largura era a de um brao, em folhas delgadas. A folha do interior do tronco era considerada a melhor e assim sucessivamente na ordem das camadas superpostas. Moldavam-se as diferentes espcies sobre uma mesa umedecida com gua, que exercia o papel de cola. Primeiramente, colavam-se as folhas em todo o comprimento do papiro, aparando-as apenas em cada extremidade, em seguida eram colocadas transversalmente outras camadas em forma de trama. Prensava-se o conjunto, obtendo uma folha que era secada ao sol. As folhas eram reunidas colocandose em primeiro lugar as melhores e assim sucessivamente. O texto era escrito em colunas sobre cada folha, e cada uma destas era colada, pela extremidade, seguinte, de forma que se obtinham tas de papiro com at 18 metros de comprimento. Enroladas em torno de um bastonete (umbilicus), constituam um rolo. Pergaminho Tomava-se, ordinariamente, a pele de carneiro, mas utilizavam-se apenas as pelculas menos rudes, situadas entre a epiderme e a carne. Escolhida a pele, ela era deixada bem limpa, anada com uma navalha, tirava-se a gordura e era polida para eliminar pelos, manchas e rugosidades. Como o papiro, o pergaminho era escrito de um lado s, at que se descobriu que as duas faces poderiam ser utilizadas. O rolo de papiro e o de pergaminho mantiveram-se at o sculo 300 d.C., quando apareceu o cdex j com o aproveitamento das duas faces do pergaminho , grupo de folhas de pergaminho manuscritas, unidas em uma espcie de livro, por cordes e/ou costura e encadernao de placas de madeira com pedras preciosas. Apenas nos sculos XIV e XV a encadernao passou a ser de couro. Papel Aproximadamente 105 a.C., o papel foi inventado na China. S a partir de 1450 d.C. ele passou a ser produzido no Ocidente. A matria-prima para produzir papel era, no incio, originada de trapos de seda, de linho e de algodo. O processo de produo compreendia moinho acionado por fora hidrulica. A roda punha em 134

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSmovimento alguns pesados piles que fragmentavam as matrias-primas e as reduziam a um mingau claro a pasta de papel , que era derrubado numa cuba. Nessa cuba era mergulhada uma frma de lato, que recolhia certa quantidade de pasta. Depois de seca, essa pasta era transformada em folha de papel. Eliminava-se o excesso de gua e acrescentava-se um pouco de cola para que o papel casse rme para receber a escrita. Em 1798, um francs inventou a primeira mquina de fazer papel, com pouca relao com as mquinas modernas. A fabricao moderna usa a madeira como fonte e abrange trs aspectos: a celulose, cuja fonte mais rica o pinheiro; a transformao da celulose em pasta de papel, com produto qumico ou por mquina; e a transformao da pasta de papel no papel propriamente dito, quando a pasta mergulhada em gua e recebe cola para impermeabilizao.EXERCCIOS

1. Compare o papiro ou o pergaminho com determinadas cartas de fs para seus dolos. 2. Um desao interessante: apresente uma pesquisa, cujo resultado esteja no formato de um pergaminho. Pode-se pesquisar, por exemplo, a histria da caneta (caneta de junco, caneta de pena de ganso, caneta com bico de ao, caneta esferogrca).Resoluo dos exerccios:

1. Voc, provavelmente, j viu cartas imensas escritas por fs para seus dolos. Eles colam a ponta de uma folha na outra e a tira dessas folhas de papel enrolada em formato de pergaminho. 2. Mesmo que voc no tenha elaborado um material que lembre o formato de um pergaminho para apresentar sua pesquisa, ter sido interessante saber mais sobre a histria da caneta, se voc escolheu o tema que sugerimos, ou sobre outro assunto qualquer de sua preferncia. Independentemente do material (papiro, pergaminho, papel) em que a escrita gravada, o texto escrito mo recebe a designao de manuscrito. Assim, so considerados manuscritos todas as inscries feitas de prprio punho pelo autor, seja em papel, pedra, marm, bronze, mrmore ou outro material. A era dos manuscritos , sem dvida, a Idade Mdia. Entre os sculos V e XV, que vai dos primeiros conventos at a inveno da imprensa por Gutenberg, os monges copiavam textos. Ocorria tambm o fato de um mesmo texto ser copiado por vrios monges. Ao terminar a cpia, o monge acrescentava algumas linhas a isso se d o nome de subscrio, colofo, nota nal , em que fazia referncia obra e fornecia indicaes sobre a autoria, a transcrio, a impresso, o lugar e a data de feitura e, s vezes, at fazia um comentrio. Um copista do sculo XII escreveu em seu colofo: 135

Unidade IISe no sabem o que o ato de escrever, podem pensar que no uma coisa especialmente difcil... Deixem-me dizer que uma tarefa rdua: estraga sua viso, entorta sua coluna, espreme seu estmago e suas costelas, belisca sua lombar e faz seu corpo todo doer... Para esse copista, o ato de escrever envolvia tanta atividade fsica quanto a de outros trabalhos pesados, e essa atividade no podia ser prontamente recompensada pelo seu contedo espiritual e imaterial. Alm disso, o instrumento que usava, a caneta de pena de ganso, tambm precisava de manuteno regular remodelar sua ponta com uma faca e a tinta tinha de ser carregada constantemente. Esse instrumento de escrita, to simples, pode ter aumentado ainda mais a percepo do copista quanto inegvel materialidade da escrita. Dica: Assista ao filme O nome da rosa, baseado na obra de Umberto Eco, escritor italiano contemporneo, que criou uma histria ocorrida no incio do sculo XIII em um mosteiro. Observe no filme os monges copistas, a biblioteca e o acesso ou no aos livros no mosteiro nesse perodo da histria. No Brasil Colnia tambm existiram monges copistas. No sculo XVI, os livros eram escassos; os jesutas copiavam obras mo para os alunos estudarem e solicitavam pedidos de remessas. Os livros mais procurados eram os religiosos: manuais de consso, catecismo, sobre a vida de santos, entre outros, e os clssicos literrios com trechos (inconvenientemente) expurgados. Havia tambm circulao de livros pouco ortodoxos. Por exemplo, em 1574, em Ilhus, o italiano Rafael Olivi tinha uma livraria de 27 volumes que fugiam dos padres. Entre eles, livros de sorte e obras proibidas como Diana, de Jorge Montemor, e Metamorfose, de Ovdio. No sculo XVII, o panorama no se alterou muito, continuando em alta as obras religiosas. Entre 1578 e 1700, existiam cerca de 55 ttulos, em sua maior parte obras devocionais, sendo a Bblia, acredite, praticamente ignorada, uma vez que havia sido proibida pela Igreja em 1564 com o propsito de manter o acesso s palavras sagradas restrito ao clrigo para evitar interpretaes heterodoxas. Alm da Bblia, relatos sobre a populao e as riquezas do territrio brasileiro eram igualmente proibidos por serem considerados sigilosos informaes estratgicas para o exerccio da funo do governo portugus. Com relao aos livros proibidos, eram mantidos em estantes fechadas com chave e com rede de arame para no serem vistos nem lidos por pessoas no autorizadas pela Coroa. O desembargador Tom Joaquim Gonzaga, no Rio de Janeiro, gabou-se em pblico de possuir um livro proibido e foi denunciado Inquisio em 1778. De forma geral, as bibliotecas particulares eram espao de obedincia censura estabelecida entre o Santo Ofcio, o Desembargo do Pao e o Ordinrio Eclesistico, respectivamente, as autoridades inquisitorial, real e episcopal, mas tambm de contestao, pois desde o sculo XVI era possvel adquirir obra proibida. Na Colnia, livros e jornais eram facilmente contrabandeados. 136

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS------------------------------------------EXERCCIOS------------------------------------------

1. A proposta consiste na leitura do texto a seguir, de Dias Gomes, vericando: a) A censura de livro no Brasil Colnia. b) A relao entre leitura/alfabetizao e a mulher. O santo inqurito Visitador (lendo) Por merc de Deus e por delegao do Inquisidor-mor em estes reinos e senhorios de Portugal, eu, Visitador do Santo Ofcio, a todos fao saber que, num prazo de quinze dias, devem os culpados de heresia ou que souberem que outrem o est, vir declarar a verdade. Os que assim procederem, ficaro isentos das penas de morte, crcere perptuo, desterro e confisco. E para que as sobreditas cousas venham notcia de todos e delas no possam alegar ignorncia, mando passar a presente carta para ser lida e publicada neste lugar e em todas as igrejas desta cidade e uma lgua em roda. Dada na cidade da Paraba, aos dezoito do ms de julho, do ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1750. () Notrio (Entra com a pilha de livros. Como se encontrasse uma bomba.) Livros! Branca Meus livros! So meus! Que vai fazer com eles? Visitador Sabe ler? Branca Sei. Visitador Por qu? Branca Para poder ler. Visitador Mau. Branca No so livros de religio, so romances, poesias Notrio Amadis de Gaula! (Passa o livro ao Visitador) Visitador Amadis! Branca Estrias de cavalaria. Me emocionam muito. Notrio Metamorfoses. (Passa o livro ao Visitador) Visitador Ovdio. Mitologia. Paganismo. Notrio Eufrsina. (Repete o jogo) Visitador Tambm! Notrio- E uma Bblia em portugus! Visitador Em portugus!? Branca Foi meu noivo quem me trouxe de Lisboa. Vejam que tem uma dedicatria dele para mim. Visitador Estou vendo Branca Fiquei muito contente porque, como no sei ler latim, pude ler a Bblia toda e j o z vrias vezes. 137

Unidade IIVisitador (Entrega os livros ao Notrio.) Todos esses livros so reprovados pela Igreja; vamos lev-los. Branca Tambm a Bblia?! Notrio Em linguagem verncula! Branca Mas a Bblia! Visitador Em linguagem verncula.39 2. Enigma: O que estes livros tm em comum? Bblia Metamorfoses, de Ovdio Os versos satnicos, de Salman Rushdie Harry Potter, de J. K. Rowling Para encerrar o tema escrita e suas repercusses no tempo, vamos agora tratar do tipo mais recente: o hipertexto. Hipertexto uma escrita sem comeo, meio e fim previamente estabelecidos. Caracteriza-se pela no linearidade e pela interatividade, que possibilitam ao leitor comear a ler de qualquer ponto. A passagem de um n (link) a outro ocorre de forma no linear, devido ao conjunto de ns (elementos) de informao disponvel, que se constitui em pargrafos, pginas, imagens, palavras, e ligao entre esses ns, por meio de notas, referncias, indicadores e botes. O hipertexto tem, enm, princpios de: metamorfose: o hipertexto est constantemente em construo, extenso, recomposio, sendo redesenhado. heterogeneidade: o hipertexto tem conexes, sons, imagens, palavras. multiplicidade: qualquer n ou conexo pode se revelar por ser composto por rede. Com as incontveis informaes sobre tudo quanto tema e fonte, o leitor precisa denir bem o objetivo de sua leitura, pois ser ele que o conduzir e levar a selecionar e avaliar o hipertexto. O recorte temtico, a seleo de informao e sua sequncia fazem o texto, resultado da interao do leitor com a nova escrita. Na escrita hipertextual, e-mails e chats so o espao de proliferao hieroglca ps-moderna, conforme o estudioso Henriques. No so mais sucientes as abreviaes de palavras ( para no, p/ em39

Gomes, Dias. O santo inqurito. 22. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

138

INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOSlugar de para, tb para tambm etc.), nem a supresso dos acentos e sinais de pontuao. As pessoas que escrevem no meio virtual inovam os smbolos da comunicao e transformam os smbolos grcos em novos hierglifos, como: #:-) smbolo usado para dizer que est feliz e com os cabelos em p. ;-) smbolo usado para dizer que algo no deve ser levado a srio.