4 215 Apostila Esalq Curso Atualizacao Em Piscicultura

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  • 1Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    Introduo Piscicultura Jos Eurico Possebon Cyrino, Ph.D. Setor de Piscicultura Departamento de Zootecnia, Setor No Ruminantes ESALQ/USP Av. Pdua Dias, 11; C. P. 09 13418-900; Piracicaba, SP [email protected]

    O meio rural brasileiro sempre mostrou interesse na piscicultura. Entretanto a falta de servios de

    extenso e a longa instabilidade do sistema econmico, aliados ao desconhecimento das tcnicas de cultivo e ao preconceito contra o consumo de peixes cultivados, condicionam um lento desenvolvimento da piscicultura comercial. Considerando-se as qualidades nutritivas do pescado, o potencial de gerao de empregos da indstria pesqueira, o baixo custo da produo de peixes em cativeiro, a depleo dos estoques pesqueiros naturais, e o aumento da demanda de alimentos em funo do crescimento populacional, a piscicultura uma alternativa altamente vivel para a agropecuria. Em adio, a piscicultura pode ser praticada em reas imprprias para agricultura tradicional, como solos no agriculturveis, ou ainda conferir usos mltiplos a grandes colees de gua, como os grandes reservatrios de hidreltricas.

    A aquicultura criao de organismos aquticos em condies controladas uma economicamente rentvel, desde que feita com base em projetos tecnicamente corretos. A aquicultura apresenta algumas limitaes: necessita um mercado favorvel, receptividade da populao para aceitar as mudanas trazidas pela implantao de uma nova indstria, uma poltica que garanta o acesso dos produtores aos recursos naturais indiscriminadamente, disponibilidade regional de alevinos, alimentos, equipamentos, materiais, servios de extenso e controle sanitrio, crdito e mercado financeiro favorvel. Finalmente para a implantao de aquicultura necessrio que os indicadores econmicos sejam favorveis obteno de lucros na atividade.

    Os recursos hdricos abundantes, o clima tropical e espcies de peixes que apresentam aptido para a piscicultura, criam no Brasil um bom potencial para a produo de peixes, sem concorrer em espao fsico com a agropecuria. Entretanto, antes de se lanar na prtica da aquicultura, devemos considerar os prs e contras da atividade mencionados acima. Assim, pretendemos discutir aqui os elementos que embasem uma tomada momentnea de deciso na prtica da piscicultura. Os peixes e o meio em que vivem

    Caractersticas gerais dos peixes Os peixes so vertebrados de respirao branquial e incapazes de regular sua temperatura corporal -

    pecilotrmicos. So anatmica e fisiologicamente mais simples que os vertebrados superiores, porm muito mais especializados e diversificados. Realizam todo seu ciclo vital na gua - reproduo, alimentao, crescimento - por mais singular que seja o nicho ecolgico que ocupem.

    Os peixes tm uma forma bsica que reflete as limitaes impostas pelo meio, o que permite que quase todas as espcies sejam prontamente reconhecidas como peixes. Em geral os peixes possuem corpo afilado ou fusiforme (hidrodinmico), simtrico bilateralmente, coberto por escamas, nadadeiras e uma camada de muco recobrindo todo o corpo. A fora de empuxo da gua facilita a natao e a flutuao, diminuindo o dispndio de energia e facilitando a locomoo por movimentos ondulatrios corporais e agitao das nadadeiras.

    A pele dos peixes contnua mesmo sobre os olhos, e tem funo protetora. A pele apresenta vrios rgos anexos: as escamas, que so parte da derme; os cromatforos ou clulas pigmentosas; os fotforos ou

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    rgos luminescentes; e vrias glndulas secretoras de muco ou de substncias irritantes de funo defensiva.

    As nadadeiras dos peixes so responsveis pela locomoo e equilbrio dos animais. Dividem-se em nadadeiras pares (ventrais e peitorais), e mpares (anal, caudal, dorsal e adiposa). As nadadeiras podem apresentar raios, duros e/ou moles.

    Os peixes apresentam duas sries de orifcios. Os orifcios relacionados ao trato digestivo: boca, fendas branquiais e nus; e os orifcios relacionados com os rgos dos sentidos: as fossas oculares,as narinas, e os poros da linha lateral. Peixes apresentam apenas ouvido interno, utilizando todo o corpo como receptor de sons.

    Figura 1 Anatomia externa e morfometria dos peixes

    Peixes respiram atravs da assimilao de oxignio (O2) e da perda de gs carbnico (CO2) para a

    gua. A respiraco feita atravs das brnquias. O tipo de alimento ingerido, a temperatura ambiente, e o pH so os fatores que mais influenciam a respirao dos peixes. A absoro do O2 difcil, por que sua concentrao na gua muito menor que no ar. Entretanto os peixes podem utilizar at 60% do O2 absorvido, em contraste com os mamferos que utilizam apenas 20%.

    O sistema circulatrio dos peixes apresenta fluxo sanguneo unidirecional. O corao tem cavidades simples que conduzem apenas sanque venoso, que se torna arterial ao passar pelas brnquias.

    O arranjamento do trato digestivo dos peixes segue o padro geral dos vertebrados, apresentando boca, esfago, estmago, intestino anterior, intestino mdio, intestino posterior ou grosso, e nus. As adaptaes do trato digestivo e a posio da boca dos peixes refletem o hbito alimentar das espcies. Os principais hbitos alimentares descritos para os peixes so: fitoplanctfagos, que exploram as algas do fitoplncton; zooplanctfagos, que se alimentam dos microcrustceos e rotferos do zooplncton; predadores, que se alimentam de macroorganismos, podendo ser carnvoros quando se alimentam de qualquer tipo de animal, ou ictifagos, quando tem uma dieta constituda exclusivamente de outros peixes;

    comprimento da cabea

    nadadeira dorsal

    nadadeira caudal

    nadadeira anal

    nadadeira ventral

    nadadeira peitoral

    boca olho

    oprculo

    altura (h)

    comprimento padro

    comprimento total

    linha lateral

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    ilifagos, que se alimentam dos organismos do sedimento aqutico; herbvoros, que exploram as macrfitas aquticas; e os onvoros, que aproveitam qualquer alimento, animal ou vegetal, que possam ingerir.

    A fisiologia da digesto dos peixes muito especializada. Peixes no fazem homeostase trmica e realizam trocas gasosas muito facilmente com o meio. Assim, aproveitam eficientemente a energia consumida como alimento. e apresentam um sistema excretor simplificado, com um rim no encapsulado, disposto longitudinalmente no corpo logo abaixo da coluna vertebral. Este rim se comunica com o poro urogenital atravs de ductos simples, e elimina uma urina praticamente isenta de metabolitos nitrogenados, possibilitando aos peixes grande economia de energia.

    A biocenose aqutica e suas populaes Ao se estabelecer uma criao de peixes, cria-se um ecossistema aquacultural. Cientificamente um

    ecossistema constitui-se de um bitopo e de uma biocenose, ou o conjunto das populaes do meio. As principais populaes da biocenose aqutica ( Figura 2) so:

    i) o plncton: organismos aquticos que no exibem movimentos natatrios voluntrios capazes de vencer correntezas; compreende: o fitoplncton - algas unicelulares; o zooplncton - microcrustceos e outros microorganismos animais aquticos; e o nanoplncton: microalgas e bactrias em suspenso na gua;

    ii) o necton: organismos que vivem na gua e tm movimentos natatrios voluntrios capazes de vencer correntezas; compreende basicamente os peixes e outros vertebrados como rpteis, anfbios e mamferos aquticos;

    iii) o benthos: so os organismos que vivem no substrato do fundo dos corpos d'gua , como minhocas, vermes, larvas de insetos, moluscos, etc;

    iv) as macrfitas aquticas: compreendem os vegetais superiores que vivem submersos ou emersos na gua, enraizados ou no no fundo.

    Essas populaes formam a biocenose aqutica. A partir dos nutrientes do bitopo, do origem s cadeias alimentares na gua, que desempenham importante papel na produtividade do ecossistema aquacultural (Figura 2).

    Figura 2 Esquema de uma cadeia alimentar num ecossistema aquacultural (baseado em Russel-Hunter, 1970; Arrignon, 1979; Boyd and Lichtkoppler, 1979). Nem todas as interelaes esto representadas.

    macrfitas aquticas

    fitoplncton

    O2 CO2 nutrientes

    zooplncton

    detritos

    benthos

    insetos aquticos

    peixes fitoplanctfagos

    peixes zooplanctfagos

    peixes bentfagos

    peixes ilifagos

    peixes herbvoros

    predadores

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    A base da cadeia alimentar na gua o plncton. Na prtica da piscicultura necessitamos compreender o comportamento da populao planctnica na gua, sua interelao com a produtividade primria e secundria e com a qualidade da gua. A partir dos nutrientes, do CO2 e da luz incidente, o fitoplncton sintetiza matria orgnica atravs da fotossntese. O zooplncton alimenta-se de fitoplncton, e o nanoplncton se alimenta de matria orgnica particulada da gua.

    Nesta sequncia, temos peixes zooplanctfagos se alimentando de zooplncton, peixes carnvoros se alimentando de pequenos peixes zooplanctfagos, predadores diversos, inclusive o homem, se alimentando dos grandes peixes, etc. Qualquer cadeia ou teia alimentar tem incio a partir do plncton. Assim h uma relao direta entre a abundncia de plncton e a produtividade do ecossistema aquacultural, principalmente nas fases iniciais da vida dos peixes.

    Todo ecossistema ou cadeia alimentar pode ser representado por uma pirmide da biomassa ou da energia, com degraus sucessivos que representam o nmero de indivduos ou a energia acumulada (em kcal/m2/ano), em cada nvel trfico (Figura 3). Na passagem de um nvel trfico para outro ocorre, normalmente, uma perda tanto de biomassa como de energia. Assim um sistema de piscicultura com uma cadeia alimentar mais curta muito mais eficiente que um sistema de piscicultura com uma cadeia alimentar mais complexa, mesmo que a origem desta cadeia alimentar no seja o ecossistema aquacultural (Boyd and Lichtkoppler, 1979; Welch, 1980; Boyd, 1990).

    Esse decrscimo na reteno de energia na cadeia alimentar em funo da especializao do hbito alimentar marcante nos ecossistemas aquaculturais. A perda de energia na passagem de um nvel trfico mais perto da base da pirmide para outro imediatamente superior pode atingir 90%. Assim, do ponto de vista do aproveitamento timo da energia na forma de alimento, seria mais vantajoso criar peixes de hbito alimentar fitoplanctfago, zooplanctfago ou herbvoro, em comparo a peixes que exploram nveis trficos mais distantes da base das pirmides como por exemplo, espcies carnvoras.

    Figura 3 A pirmide da biomassa e/ou energia (baseado em Russel-Hunter, 1970; Welch, 1980).

    O meio aqutico A gua um meio muito favorvel vida. Seu peso especfico 775 vezes maior que o ar. Por isso a

    velocidade de locomoo dos organismos que vivem no meio aqutico e pequena, mas o dispndio de energia para as atividades de natao e flutuao mnimo. O elevado calor especfico da gua lhe confere capacidade de tampo trmico, e sua capacidade de dissoluo torna-a o solvente universal, fazendo com que dissolva facilmente os nutrientes e os distribua de modo uniforme no meio, tornando-o muito produtivo.

    Existe uma variao muito grande na composio das guas doces naturais de fontes, poos, lagos ou rios, condicionada pelas caractersticas geolgicas e climticas regionais. guas de poos e nascentes

    fitoplncton; vegetais aquticos (10.000 kcal/m2)

    zooplncton; herbvoros (1.000 kcal/m2)

    organismos zooplanctfagos (100 kcal/m2)

    predadores (10 kcal/m2)

    consumidores finais (1 kcal/m2)

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    diferem bastante de guas de superfcie, mesmo que estejam na mesma regio. guas superficiais apresentam maiores concentraes de oxignio (O2), nitrognio gasoso (N2) e slidos dissolvidos, e menores concentraes de gs carbnico (CO2), ons de ferro e outros metais que guas subterrneas. Por isso, guas subterrneas devem ser expostas ao ar para que percam CO2, ganhem O2, e sofram o processo de oxidao dos ons, antes de serem usadas em piscicultura.

    Temperatura So consideradas guas frias aquelas cujo limite superior de temperatura cerca de 20C. As trutas e

    os salmes, espcies originrias de regies de clima temperado, so os exemplos clssicos de espcies de guas frias. Peixes oriundos de regies tropicais como o pacu e as tilpias so chamados peixes de guas quentes. A faixa tima para crescimento dos peixes de guas quentes entre 25 e 32C.

    A velocidade das reaes qumicas e biolgicas duas vezes maior ou menor para cada 10C de flutuao da temperatura. Assim, a taxa de degradao da matria orgnica, da dissoluo de fertilizantes e da ao e degradao de produtos qumicos maior em guas quentes que em guas frias. Deste modo, nas regies temperadas ou subtropicais, as prticas de adubao, fertilizao e alimentao so geralmente intensificadas no vero, e reduzidas, ou mesmo paralisadas, no inverno.

    A luz e o calor se propagam na coluna d'gua a partir da incidncia da radiao solar na superfcie da gua. Como a densidade da gua varia com a temperatura, geralmente observamos o fenmeno da estratificao trmica dos corpos d'gua. As guas superficiais, mais leves e quentes, perdem a capacidade de se misturar com as guas profundas, mais pesadas e frias. A estratificao trmica de um corpo d'gua geralmente d origem a trs camadas ou zonas trmicas: o epilmnion, que a camada superficial mais aquecida; a termoclina ou metalmnion, que a camada intermediria onde a temperatura cai bruscamente; e o hipolmnion, ou a camada mais profunda e mais fria (Figura 4).

    Em tanques rasos a estratificao trmica d-se em apenas duas camadas e tem um carter dirio. Durante o dia a camada superficial pode se separar da camada profunda por gradiente de temperatura/densidade. Porm no perodo noturno o perfil trmico tende a se homogeneizar, misturando as camadas. bruscamente. Os peixes em geral no resistem a mudanas bruscas da temperatura da gua, e tendem a buscar sua zona de conforto trmico dentro destas camadas. Deste modo, mudanas na temperatura da gua podem induzir o desequilbrio fisiolgico ("stress") e mesmo matar os peixes em um tanque.

    Assim necessrio cuidado no manejo ou manuseio de peixes em pocas onde a amplitude trmica diria mais acentuada - final do outono, inverno e incio da primavera - ou no transporte de peixes de regies de maior para menor altitude - guas frias para guas quentes. O desequilbrio fisiolgico mais acentuado quando se muda peixes da gua mais fria para a mais quente, e uma variao brusca de 5C pode ser letal para certas espcies. Toda mudana de gua deve ser feita gradualmente, e os peixes devem ser manuseados nas horas do dia em que as temperaturas ambiente e da gua estejam mais prximas entre si e da faixa de conforto trmico da espcie.

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    Figura 4 Curva de atenuao e estratificao trmica de um corpo d'gua pouco profundo (baseado em Boyd and Lichtkoppler, 1979; Boyd, 1990).

    Transparncia, cor e turbidez da gua A capacidade de penetrao de luz na gua definida como a transparncia da gua. A transparncia

    determinada pela ao da turbidez e da cor aparente da gua, e medida atravs da visibilidade do disco de Secchi (Figura 5). A visibilidade do disco de Secchi a profundidade na qual um disco de 20 cm de dimetro com quadrantes coloridos alternadamente em branco e preto desaparece de vista.

    A turbidez funo direta da quantidade de partculas em suspenso na gua. Material orgnico particulado, como o plncton, confere turbidez de carter desejvel na gua. J a turbidez causada por partculas de argila em suspenso indesejvel, porque limita a produo primria do sistema atravs da. A cor da gua funo direta da quantidade e qualidade de substncias orgnicas e inorgnicas em dissoluo na gua. A quantidade excessiva de substncias hmicas (extrato de matria orgnica vegetal em decomposio) na gua confere a esta uma cor escura, que reduz a capacidade biognica da gua pois limita a penetrao de luz.

    A presena de uma grande quantidade de plncton na gua pode fazer com que esta parea turva. Usando os nutrientes da gua, o fitoplncton floresce atravs da fotossntese. Como consequncia, a populao de zooplncton, que se alimenta do fitoplncton tambm cresce, e assim sucessivamente, as diversas populaes de organismos aquticos se desenvolvem. Deste modo, como toda cadeia alimentar na gua comea pelo plncton, existe uma relao estreita entre a abundncia de plncton na gua e a consequente turbidez que ele causa no ambiente, e a produo de peixes.

    No existe uma turbidez planctnica ideal para piscicultura. Como regra geral, visibilidades do disco de Secchi entre 30 e 50 cm esto associadas com boa produtividade de peixes e com um sombreamento do ambiente adequado para o controle do crescimento de macrfitas aquticas. Visibilidades inferiores a 30 cm esto associadas a problemas de falta de oxignio no perodo noturno devido ao excesso de algas, e acima de 50 cm, ao crescimento exagerado de plantas aquticas pelo baixo sombreamento, e baixa produtividade, devido falta de suporte para a cadeia alimentar. Um monitoramento da visibilidade do disco de Secchi

    Temperatura (OC)

    Prof

    undi

    dade

    (m)

    20 22 24 26 28 30 32

    0,0

    0,5

    1,0

    1,5

    2,0

    2,5

    Epilimnion

    Metalimnion (termoclina)

    Hipolimnion

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    semanal ou a cada trs dias permite que o piscicultor maneje adequadamente a qualidade da gua com base na populao planctnica do ecossistema aquacultural.

    20 cm

    corda ou haste graduada

    peso

    fio flexvel

    Figura 5 Representao esquemtica do disco de Secchi

    Oxignio Dissolvido (OD) O oxignio dissolvido o fator do meio mais limitante num sistema intensivo de produo de peixes.

    Embora exista em abundncia na atmosfera, o oxignio muito pouco solvel na gua. A solubilidade do oxignio na gua reduzida com o aumento da temperatura, com o decrscimo da presso atmosfrica e com o aumento da salinidade da gua.

    A taxa de difuso do oxignio na gua muito lenta. Isto faz com que a liberao de oxignio pelas algas fotossintetizantes seja a principal fonte de OD nos ecossistemas aquaculturais. Os principais consumidores de OD na gua so os peixes, o plancton, incluindo o fitoplncton no perodo da noite, e os organismos do benthos. Em piscicultura necessrio ocorrer um saldo positivo entre produo e consumo de oxignio na gua. Se a gua tiver nutrientes em abundncia, o fator limitante fotossntese, e consequentemente produo de oxignio no meio, passa a ser a incidncia de luz.

    A luz atenuada na sua passagem pela gua, logo a taxa de produo de oxignio pelo fitoplncton reduzida com a profundidade. Como o oxignio somente produzido durante o dia, mas continuamente utilizado, vai existir uma certa profundidade em que o balano entre OD consumido e produzido na gua zero (ponto de compensao). Esta estratificao do OD na gua correlaciona-se com a estratificao de temperatura e com a abundncia de plncton, e pode ocorrer mesmo em tanques rasos (Figura 6).

    A variao diria nos nveis de OD de um tanque to menor quanto menor for a quantidade de plncton. Em tanques com uma grande proliferao de plancton a concentrao de OD pode variar de 2 mg/L na madrugada at 20 mg/L no perodo da tarde. Isto prejudicial aos peixes. Os problemas de falta de OD nos tanques durante a noite so mais acentuados em dias nublados, onde a taxa de produo diria de

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    oxignio no suficientemente grande para suportar a respirao de todos os organismos durante a noite. Como consequncia pode ocorrer uma mortalidade de peixes e da comunidade planctnica.

    Tambm quando a estratificao trmica de um tanque quebrada pela ao dos ventos, da chuva, ou pelo resfriamento sbito da atmosfera, acontece uma mistura completa das guas superficiais com as guas profundas. Se o volume de guas profundas for muito grande, vai acontecer uma depleo da concentrao de OD no tanque, causando a morte dos peixes.

    Figura 6 Concentrao mdia de OD nas diferentes profundidades em tanques com diferentes densidades de plancton (Boyd and Lichtkoppler, 1979).

    As diferentes espcies de peixe exigem diferentes teores de OD para viver, reproduzir e produzir bem.

    Os efeitos das diferentes concentraes de OD da gua nos peixes esto resumidos na Figura 7. A sobrevivncia de um peixe exposto a baixos teores de OD depende da espcie e do tempo de exposio.

    Em geral, concentraes de OD acima de 5 mg/L so adequadas produo de peixes tropicais. Os nveis abaixo de 5 mg/L podem levar reduo no consumo de alimento e no crescimento dos peixes. Exposio contnua a nveis menores que 3 mg/L podem resultar em stress, reduzindo o consumo de alimento e a resistncia, aumentando a incidncia de doenas e, consequentemente, a taxa de mortalidade.

    Se baixos nveis de OD na gua reduzem a produtividade de um sistema aquacultural, a supersaturao da gua com oxignio no causa aumento da produo ou melhora a eficincia alimentar dos peixes. A supersaturao da gua com OD pode causar problemas como embolia gasosa no sangue dos peixes, causando aparecimento de bolhas de gs nas paredes da boca, exoftalmia, etc, podendo levar a altas taxas de mortalidade na populao.

    0,0

    Prof

    undi

    dade

    (m)

    0,0 4,0 8,0 12,0 16,0 20,0 24,0

    Oxignio dissolvido OD (mg/L)

    0,5

    1,0

    1,5

    2,0

    2,5

    pequena proliferao de

    l

    proliferao moderada de plncton

    alta proliferao de plncton

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    Figura 7 Efeito da concentrao de OD nos peixes (Boyd and Lichtkoppler, 1979; Piper et al., 1986)

    O pH, a alcalinidade e a dureza total da gua O pH o logartimo negativo da concentrao de ons de hidrognio (H+) na gua, indicando se esta

    reage como um cido ou uma base. A escala de pH vai de 0 (cido) a 14 (bsico), sendo 7 o ponto de neutralidade. O pH influenciado pela concentrao de gs carbnico (CO2), que apresenta uma reao cida na gua. Durante o dia a fotossntese realizada pelas algas e vegetais aquticos remove CO2 da gua aumentando o seu pH. Durante a noite, o CO2 proveniente dos processos respiratrios da comunidade aqutica se acumula, reduzindo o pH da gua.

    A alcalinidade total reflete a concentrao das bases titulveis na gua, expressa em equivalentes de CaCO3/L (mg). As principais bases titulveis so os ons bicarbonatos (HCO3

    -) e carbonatos (CO3

    =). A

    dureza total representa a concentrao de ctions divalentes livres na gua, expressa em equivalentes de CaCO3/L (mg). Quase toda dureza total dos ecossistemas aquticos representada pelos ons de clcio (Ca

    2+) e magnsio (Mg

    2+).

    Valores de alcalinidade e dureza total acima de 20 mg de CaCO3/L indicam guas de adequado poder tampo, onde as flutuaes diuturnas do pH so menos acentuadas. Tanques com guas de baixa alcalinidade e dureza total ( 20 mg CaCO3/L) estes valores firam em torno de 7,5 - 8,5 (Figura 8)

    0,0

    1,0

    2,0

    3,0

    4,0

    5,0

    0,3

    Oxi

    gni

    o di

    ssol

    vido

    pequenos peixes sobrevivem por curtos perodos

    letal em exposio prolongada

    peixes sobrevivem em regime de baixo desempenho

    faixa tima

    10,0

    9,0

    baixa alcalinidade e dureza total

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    Figura 8 Flutuaes dirias do pH em tanques com nveis baixos ou adequados de alcalinidade e dureza total.

    Os pontos de acidez ou alcalinidade letal para os peixes variam com a espcie, mas em geral

    encontram-se em valores de pH abaixo de 4 ou acima de 11. Em guas que apresentem pH entre 4 e 6,5 ou entre 9 e 10, peixes podem sobreviver, mas seu desempenho muito pobre.

    Salinidade da gua Existem diferenas nas exigncias de salinidade entre as espcies cultivadas. Como exemplo,

    enquanto para a carpa Cyprinus carpio o limite mximo de salinidade para crescimento normal de 9,0 ppm, para a tilpia do Nilo Oreochromis niloticus este limite pode chegar a 24,0 ppm.

    No existem estudos sobre os limites de salinidade para as espcies de peixes nacionais utilizadas em aqicultura. De uma maneira lgica admite-se que as exigncias em salinidade das espcies nacionais aproximam-se dos teores mdio de salinidade das guas dos seus locais de origem. Assim, para o tambaqui Colossoma macropomum, correto assumir que seus limites de salinidade estejam situados ao redor de 0,05 a 3,40 ppm, que a salinidade mdia das guas da regio amaznica. J para o pacu Piaractus mesopotamicus, os valores mdios de salinidade das guas da Bacia do Paran-Uruguai - 3,0 a 14,0 ppm, devem satisfazer suas exigncias.

    Peixes em geral, so sensveis a mudanas bruscas de salinidade da gua. Embora a adio de cloreto de sdio (NaCl) aos tanques de transporte de peixe seja prtica comum, isto deve ser feito com critrio. Peixes e crustceos em geral no conseguem compensar seu equilbrio osmtico com mudanas de mais de 10% na salinidade das guas em espaos de horas ou minutos. Problemas de excessiva salinidade devem ser corrigidos pela adio de gua fresca aos recipientes ou tanques onde o problema for observado.

    A salinidade da gua pode ser medida pelo uso de salinmetros e/ou refratmetros, ou ainda pela anlise do total de slidos dissolvidos na gua. Um mtodo prtico para determinao da salinidade das guas interiores o uso da equao de Swingle (1969) definida como:

    Salinidade (mg/L) = 0,03 + (1,805) [ Cl (mg/L) ]

    Com relao salinidade, duas situaes so comumente encontradas em piscicultura interior. As guas superficiais apresentam uma baixa salinidade. J corpos d'gua em regies semi-ridas ou ridas, guas de poos profundos ou guas estuarinas apresentam uma salinidade algo alta. Para se obter o melhor rendimento em piscicultura, deve-se ter sempre uma idia da salinidade das guas na regio em que se pretende instalar uma piscigranja.

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    Princpios de Manejo da Qualidade da gua na Produo de Peixes

    Jos Eurico Possebon Cyrino, Ph.D. Ana Maria Barretto de Menezes Sampaio de Oliveira,Ph.D. Piscicultura Paulista Rod. Piracicaba Rio Claro km 22,5 Bairro Vila Nova Piracicaba - SP [email protected]

    Condies inadequadas de qualidade de gua resultam em prejuzos ao crescimento, reproduo ,

    sade, sobrevivncia, e qualidade do pescado, comprometendo o sucesso dos sistemas aquaculturais. Inmeros so as variveis e os processos envolvidos com a qualidade da gua. Sem a pretenso de abordar todos eles de forma exaustiva, este material didtico se limitar discusso das variveis e processos fsicos, qumicos e biolgicos mais relevantes ao manejo econmico da qualidade da gua em ecossistemas aquaculturais. Aspectos fisiolgicos dos peixes importantes produo

    Pecilotermia Enquanto os mamferos e aves so animais homeotrmicos, ou seja, conseguem manter a temperatura

    corporal constante, os peixes no possuem tal capacidade, sendo conhecidos como animais pecilotrmicos ou de sangue frio. Na realidade, a temperatura corporal dos peixes varia de acordo com as oscilaes na temperatura da gua. Do ponto de vista energtico, confere uma vantagem aos peixes comparados aos animais homeotrmicos que gastam boa parte da energia dos alimentos para manuteno da temperatura corporal. Esta energia nos peixes, utilizada para crescimento (ganho de peso), da o motivo da maioria dos peixes apresentarem melhor eficincia alimentar que os mamferos e aves. Dentro da faixa de conforto trmico para uma espcie de peixe, quanto maior a temperatura da gua, maior ser a atividade metablica, o consumo de alimento e, consequentemente, o crescimento. Durante os meses de outono e inverno os peixes tropicais diminuem o consumo de alimento e podem at deixar de se alimentar em dias muito frios, o que resulta em reduzido crescimento.

    Respirao Com o auxlio das brnquias (ou guelras), os peixes realizam trocas gasosas por difuso direta entre

    sangue e a gua. Quanto maior a concentrao de oxignio e menor a de gs carbnico na gua, mais facilmente se processa a respirao dos peixes. O gs carbnico interfere com a absoro de oxignio pelos peixes. Quanto mais alta a temperatura da gua, maior o consumo de oxignio pelos peixes. Peixes alimentados tambm consomem mais oxignio do que peixes em jejum. A presena de partculas de silte e argila, bem como a instalao e desenvolvimento de parasitos e patgenos sobre as brnquias prejudicam a respirao e podem causar asfixia nos peixes.

    Excreo fecal. Parte do alimento ingerido no digerido e ou absorvido pelos peixes e ser excretado como fezes

    dentro do prprio ambiente de cultivo. Estas fezes vo se decompor por ao biolgica, consumindo oxignio e liberando nutrientes na gua. Quanto melhor a digestibilidade do alimento, menor ser a quantidade de resduos fecais excretada.

    Excreo nitrogenada

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    O ambiente aqutico faz da excreo nitrogenada dos peixes um processo simples e de baixa demanda energtica. A amnia o principal resduo nitrogenado excretado pelos peixes. A excreo da amnia ocorre via brnquias, por difuso direta para gua. Em mamferos e aves h um considervel gasto de energia na transformao da amnia em uria e cido rico, principais resduos nitrogenados, excretados por estes animais, respectivamente. A amnia surge como principal resduo do metabolismo protico dos peixes. Desta forma, alimentos com excessivo teor protico e/ou com desbalano na sua composio em aminocidos (unidades formadoras de protenas) aumentam a excreo de amnia pelos peixes. A amnia txica aos peixes e medidas para evitar o acmulo excessivo de amnia na gua devem ser tomadas durante o cultivo.

    Indicadores de qualidade da fonte de gua Presena de vida A existncia de peixes e outras formas de vida um forte indicativo da qualidade de uma fonte de

    gua para piscicultura. Temperatura A exigncia em temperatura depende da espcie de peixe e fase de desenvolvimento em que este se

    encontra (ovo, larva, ps-larva ou juvenil). As espcies tropicais normalmente apresentam timo crescimento a temperatura de 28-32oC.

    Concentrao hidrogeninica da gua (pH) A escala de pH compreende valores de 0 a 14. Como regra geral, valores de pH de 6,5 a 9,0 so mais

    adequados a produo de peixes. Valores abaixo ou acima desta faixa podem prejudicar o crescimento e a reproduo e, em condies extremas, causar a morte dos peixe. Os valores de pH podem variar durante o dia em funo da atividade fotossinttica e respiratria das comunidades aquticas, diminuindo em funo do aumento na concentrao de gs carbnico (CO2) na gua. No entanto, o CO2, mesmo em altas concentraes, no capaz de abaixar o pH da gua para valores menores que 4,5. Condies de pH abaixo de 4,5 resultam da presena de cidos minerais como os cidos sulfrico (H2SO4), clordrico (HCL) e ntrico (HNO3).

    Alcalinidade total Este parmetro se refere concentrao total de bases titulveis na gua. Embora a amnia, os

    fosfatos, os silicatos e a hidroxila (OH-) se comportem como bases contribuindo para a alcalinidade total, os ons bicarbonatos (HCO3-) e carbonatos (CO3=) so os mais abundantes e responsveis por praticamente toda a alcalinidade nas guas dos sistemas aquaculturais. A alcalinidade total expressa em equivalentes de CaCO3 (mg de CaCO3/L). A alcalinidade total est diretamente ligada capacidade da gua em manter seu equilbrio cido-bsico (poder tampo da gua). guas com alcalinidade total inferior 20 mg de CaCO3/L apresentam reduzido poder tampo e podem apresentar significativas flutuaes dirias nos valores de pH em funo dos processos fotossinttico e respiratrio nos sistemas aquaculturais.

    Dureza total A dureza total representa a concentrao de ons metlicos, principalmente os ons clcio (Ca2+) e

    magnsio (Mg2+) presentes na gua. A dureza total da gua expressa em equivalentes de CaCO3 (mg de CaCO3/L). Em guas naturais, os valores de dureza total geralmente se equiparam a alcalinidade total, ou seja, Ca2+ e Mg2+, praticamente se encontram associados aos ons bicarbonatos e carbonatos. No entanto, existem guas de alta alcalinidade e baixa dureza, nas quais partes dos ons bicarbonatos e carbonatos esto

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    associados aos ons Na+ e K+ ao invs de Ca2+ e Mg2+. Em guas onde a dureza supera a alcalinidade, parte dos ons Ca2+ e Mg2 se encontram associados sulfatos, nitratos, cloretos e silicatos.

    Gs carbnico (CO2) A respirao das algas, das macrfitas dos peixes e do zooplncton, bem como os processos

    microbiolgicos de decomposio da matria orgnica so as fontes importantes de CO2 nos sistemas aquaculturais. Ao longo do cultivo, a respirao pode exceder a atividade fotossinttica (importante mecanismo de remoo do CO2), aumentando consideravelmente a concentrao de CO2 no sistema, a qual pode ultrapassar facilmente os valores de 25 mg/L.

    Amnia e nitrito A amnia (NH3) um metablito proveniente da excreo nitrogenada dos peixes e outros organismos

    aquticos e da decomposio microbiana de resduos orgnicos (restos de alimento, fezes e adubos orgnicos). A aplicao de fertilizantes nitrogenados amoniacais (sulfato de amnia, nitrato de amnia e os fosfatos monoamnicos e diamnicos-MAP e DAP) e uria tambm contribui para o aumento da concentrao de amnia na gua. O nitrito (NO2-) um metablito intermedirio do processo de nitrificao, durante o qual a amnia oxidada a nitrato (NO3-) atravs da ao de bactrias do gnero Nitrosomonas e Nitrobacter. Condies de baixo oxignio dissolvido prejudicam o desempenho da bactria do gnero Nitrobacter, favorecendo o acmulo de nitrito na gua.

    Transparncia da gua e o uso do disco de Secchi A transparncia (capacidade de penetrao de luz) da gua pode ser usada como um indicativo de

    densidade planctnica e da possibilidade de ocorrncia de nveis crticos de oxignio dissolvido (OD) durante o perodo noturno. Sob condies de transparncia maiores que 40 cm, medida com o disco de Secchi, muito rara a ocorrncia de nveis de OD abaixo de 2 mg/L em viveiros estticos com biomassa de peixes ao redor de 4.500 kg/ha. guas com transparncia maior que 60 cm permitem a penetrao de grande quantidade de luz em profundidade, favorecendo o crescimento de plantas aquticas submersas e algas filamentosas. Portanto, na ausncia de um oxmetro e de um sistema de aerao de emergncia, recomenda-se manter a transparncia da gua entre 40 e 60 cm. Se os valores de transparncia forem prximos ou menores que 40 cm, deve se interromper ou reduzir os nveis de arraoamento dirio ou as dosagens de fertilizantes e estercos aplicados, bem como aumentar o intervalo entre estas aplicaes. Promover a renovao da gua, quando possvel, de grande auxlio no ajuste dos valores de transparncia.

    O metabolismo do fitoplncton Fotossntese e respirao O crescimento da biomassa planctnica depende dos processos fotossintticos do fitoplncton. A

    fotossntese um processo de produo de material orgnico e ocorre na presena de gs carbnico, gua e nutrientes orgnicos, pigmentos (clorofila) e radiao solar. A fotossntese gera substratos e energia para os processos metablitos vitais (crescimento e reproduo) do fitoplncton. A liberao da energia contida nos compostos orgnicos processada durante a respirao do fitoplncton.

    A fotossntese a fonte primria de energia, gerando material orgnico que serve como alimento bsico da cadeia alimentar nos ecossistemas aquaculturais. Atravs da fotossntese, o fitoplncton produz 50 a 95% do oxignio nos sistemas aquaculturais. No entanto, o plncton chega a consumir cerca de 50 a 80% do oxignio dissolvido em processos respiratrios. Um equilbrio entre fotossntese e respirao pr requisito para a manuteno de uma constante composio qumica da gua. Quando a fotossntese supera a respirao por perodos prolongados pode ocorrer uma sobrecarga de material orgnico no sistema. Quando a respirao excede a fotossntese, ocorrer um balano negativo nos nveis de oxignio dissolvido no sistema.

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    Morte sbita do fitoplncton Beneficiado pela presena de macro e micronutrientes (provenientes de adubaes e da reciclagem

    dos resduos orgnicos), o fitoplncton se desenvolve rapidamente. Atingida uma biomassa crtica, o fitoplncton entra num processo de senescncia e morte (die-offs) parcial ou total. O die-off ou morte sbita do fitoplncton uma importante fonte de resduos orgnicos em sistemas aquaculturais. Tais resduos sero reciclados em processos biolgicos s custas do consumo de oxignio e simultnea gerao de diversos metablitos txicos aos peixes, como a amnia, o nitrito e o gs carbnico.

    Componentes e funcionamento do sistema tampo (buffer) da gua Processos biolgicos como a respirao e a fotossntese injetam e removem, diariamente, grandes

    quantidades de oxignio e gs carbnico nos sistemas aquaculturais. Devido reao cida do gs carbnico na gua, esta pode apresentar flutuaes dirias nos valores de pH. Valores extremos de pH prejudicam o crescimento e a reproduo dos peixes e, at mesmo, podem causar massiva mortalidade nos sistemas aquaculturais, principalmente durante as fases de larvicultura. O pH tambm regula a toxidade de metablitos como amnia e o gs sulfdrico. A funo maior do sistema tampo minimizar as flutuaes dirias no pH, garantindo uma maior estabilidade qumica da gua nos sistema aquaculturais.

    O funcionamento do sistema tampo bicarbonato-carbonato A fotossntese e a respirao do plncton podem causar profundas alteraes qumicas na gua. A

    funo maior do sistema tampo bicarbonato-carbonato atenuar estas alteraes. Durante a fotossntese a remoo massiva de CO2 do sistema durante perodos de intensa atividade

    fotossinttica tende a deslocar o equilbrio CO2 - HCO3- - CO3= , resultando em aumento na dissociao do on HCO3- para gerar mais CO2 e CO3=, como ilustrado:

    2 HCO3- = CO2 + CO3= + H2O

    Para manter o equilbrio com o bicarbonato, os ons CO3= se dissociam, gerando um on HCO3- e uma

    hidroxila (OH-). Como so necessrias a dissociao de 2 ons HCO3- para formar mais CO2 e CO3= e a dissociao do CO3= gera apenas 1 on HCO3-, o bicarbonato , pouco a pouco, exaurido do sistema.

    CO3= + H2O = HCO3 + OH-

    ons CO3= e OH- se acumulam no sistema, resultando numa progressiva elevao no pH da gua. O CO2 livre deixa de ser detectado no sistema quando o pH atinge o valor de 8,3. A extino de ons HCO3- livres ocorre pH 10,3. Valores de pH acima de 10 podem ser frequentemente observados ao final da tarde, em viveiros com uma densa populao planctnica e gua de baixo poder tampo (baixa alcalinidade total).

    A presena de ons Ca2+ e Mg2+ livres na gua (componentes maiores da dureza total) de fundamental importncia ao funcionamento do sistema tampo. Estes ons ajudam na imobilizao dos ons CO3=, formando compostos menos solveis, como os precipitados de CaCO3 MgCO3. Deste modo, menos ons CO3= estaro livres na gua para se dissociar em HCO3- e OH- atenuando a elevao do pH da gua, mesmo em perodos de intensa atividade fotossinttica.

    Durante a respirao que ocorre no perodo noturno (ausncia de fotossntese) o processo se inverte.

    A respirao planctnica e dos peixes remove o oxignio e injeta uma considervel carga de CO2 no sistema.

    CO2 + H2O = H+ + HCO3-

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    Quando a concentrao de CO2 aumenta, o equilbrio entre CO2 e HCO3- mantido graas ao aumento na concentrao de ons H+, ou seja, uma reduo no pH do sistema. Isto explica a relao inversa entre pH e concentrao de CO2 na gua. O aumento na concentrao de CO2 resulta em liberao de ons H+ , causando uma reduo no pH da gua. Em guas com um sistema tampo funcional, o aumento na concentrao de ons H+ compensado pela solubilizao do CaCO3 MgCO3 precipitados, principais reservas de CO3= no sistema. Os ons CO3= livres na gua vo se dissociar, gerando HCO3- e OH-. Tanto o HCO3- como OH- iro neutralizar os ons H+ gerados pela constante entrada e dissociao do CO2 no sistema. Desta forma o sistema tampo no apenas atenua a queda de pH, mas tambm evita um aumento excessivo na concentrao de CO2 na gua durante o perodo noturno.

    Outras funes do sistema tampo Outra importante funo do sistema tampo bicarbonato-carbonato liberar CO2 para os processos

    fotossintticos. guas com reduzida alcalinidade (baixo poder tampo) so normalmente pouco produtivas, principalmente devido a limitao na disponibilidade de CO2 para suporte de intensa atividade fotossinttica. A calagem de viveiros prtica bastante utilizada para elevar a alcalinidade, reforando o sistema tampo da gua. A calagem, medida em que contribui com o aumento nas reservas de bicarbonatos e carbonatos nos sistemas aquaculturais, servir como fonte de CO2 aos processo fotossintticos, ao mesmo tempo em que, durante o perodo noturno, remover o excesso de CO2 devido aos processos respiratrios.

    Manejo da qualidade da gua Calagem Em tanques e viveiros de baixo fluxo de gua a calagem pode ser usada para correo do pH e

    melhoria do sistema tampo. Normalmente, guas com pH < 6,5 e baixa alcalinidade e dureza total devem receber calagem. A calagem corrige os valores de pH, refora o sistema tampo formado por bicarbonatos, carbonatos e ons Ca2+ e Mg2+ e neutraliza a acidez de troca do solo do fundo dos viveiros. guas com dureza e/ou alcalinidade total menores que 20 mg CaCO3/L devem receber calagem.

    A quantidade de calcrio a ser aplicada depende do tipo de material, da sua pureza e grau de moagem (textura) e da acidez a ser neutralizada. As recomendaes para as doses iniciais de calcrio agrcola, so calculadas em funo dos valores de pH de uma mistura solo. Os mtodos para clculo das doses de calcrio para aplicao em tanques e viveiros de piscicultura esto descritos ao final deste tpico.

    A dose inicial deve ser aplicada a lano sobre o fundo do viveiro ainda seco. Uma a duas semanas aps os tanques e viveiros terem sido enchidos confere-se a alcalinidade total da gua. Se este valor ainda for menor que 30 mg CaCO3/L, aplica-se uma nova dose de calcrio agrcola ao redor de 50 a 100 kg/1.000 m2, uniformemente sobre a superfcie do viveiro. No uso da cal hidratada e cal virgem prudente aguardar 1 a 2 semanas aps o enchimento dos tanques para a estocagem dos peixes. Em tanques e viveiros j estocados, as doses de cal hidratada e cal virgem a serem aplicadas no devem exceder 10 kg/1.000 m2/dia.

    Origem e reciclagem dos resduos orgnicos e metablitos Durante o processo de produo inevitvel o acmulo de resduos orgnicos e metablitos nos

    tanques e viveiros em sistemas de gua parada ou sistemas de renovao de gua intermitente. Sob condies de cultivo intensivo (alta densidade de estocagem e alto nvel de arraoamento) o volume de fezes excretado diariamente pela populao de peixes uma das principais fontes de resduos orgnicos em sistemas aquaculturais. A digestibilidade da matria seca de raes de qualidade para peixes gira em torno de 70 a 75%. Isto significa que 25 a 30% do alimento fornecido entra nos sistema aquaculturais como

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    material fecal. O aumento na proporo de ingredientes de baixa digestibilidade (i.e. materiais com alto teor de fibra bruta ou com granulometria grosseira) em raes para peixes pode elevar ainda mais o montante de fezes excretadas.

    A decomposio e reciclagem do material orgnico fecal nos tanques e viveiros feita principalmente por ao microbiolgica, s custas de um significativo consumo de oxignio, resultando no acmulo paralelo de metablitos txicos aos peixes, como a amnia, o nitrito e o prprio gs carbnico. A produo de amnia no fruto exclusivo da decomposio e reciclagem de resduos orgnicos. o prprio metabolismo protico dos peixes tem como resduo final a amnia. A amnia e o nitrito (um produto intermedirio no processo bacteriano de oxidao da amnia nitrato), so as principais substncias ictiotxicas nos sistema aquaculturais.

    A excreo de gs carbnico no processo respiratrio dos peixes pode ser crtica em certos sistemas de produo. No entanto, em sistemas de gua parada ou de renovao intermitente de gua, a excreo de CO2 , na maioria das vezes, pequena comparada excreo de CO2 pelo plncton. Altas concentraes de gs carbnico associadas a reduzidos nveis de oxignio dissolvido na gua podem causar asfixia e, at mesmo, massiva mortalidade de peixes.

    Qualidade do alimento e qualidade da gua Em piscicultura intensiva grande parte dos problemas de qualidade da gua est relacionada com o

    uso de alimentos de m qualidade e estratgias de alimentao inadequadas. A incidncia de doenas e parasitoses aumenta proporcionalmente reduo na qualidade nutricional dos alimentos e na qualidade da gua e podem causar significativas perdas durante o cultivo. Boa qualidade da gua e manejo nutricional garantem a sade e o desempenho produtivo dos peixes.

    O conceito de que um alimento barato sempre reduz o custo de produo e faz aumentar a receita lquida por rea de cultivo altamente equivocado. Alimentos de alta qualidade apresentam menor potencial poluente, possibilitando um acrscimo de produo por unidade de rea muito superior ao aumento no custo de produo, o que resulta em incremento da receita lquida obtida por rea de cultivo.

    Os alimentos apresentam um potencial poluente considervel. Cabe aqui uma comparao entre o potencial produtivo e poluente dos diferentes tipos de alimentos usados em piscicultura (Tabela 1). Quanto pior a qualidade nutricional e estabilidade do alimento na gua, maior a carga poluente e menor a produo de peixes. Isto explica o aumento na capacidade de suporte (mxima biomassa de peixes sustentada em um sistema) com a troca da cama de frango por alimentos mais completos. O baixo custo do alimento no garantia de maior lucratividade no cultivo. A obteno de uma maior receita lquida por rea depende do aumento da produtividade e da reduo dos ndices de converso alimentar. Cerca de 10,6 kg de cama de frango foi aplicado comparado a apenas 1,3 kg de rao extrusada para produzir 1 kg de peixe. A obteno de melhores ndices de converso alimentar explica a reduo no custo de produo por quilo de peixe com o uso de uma rao de melhor qualidade, mesmo sendo esta a mais cara.

    Tabela 1 Expectativa de desempenho na criao de tilpia do Nilo utilizando diferentes tipos de alimentos.

    Alimento utilizado1

    Produo (kg/ha)

    Alimento (kg MS/ha)

    kg alimento/ 1.000 kg peixe

    Carga poluente kg MS/ha2

    R$/kg peixe3

    Receita lquida R$/ha4

    Cama de frango 1.800 17.190 10.610 16.686 0,91 1.962 Rao farelada 3.400 12.852 4.200 11.900 1,08 3.128 Peletizada 4.600 9.522 2.300 8.234 0,92 4.968 Extrusada 6.800 7.956 1.300 6.052 0,74 8.568

    1Custo (R$)/kg: cama de frango: 0,06; rao farelada: 0,18; peletizada: 0,28; extrusada: 0,40. 2Diferena entre a quantidade de matria seca (MS) aplicada e a MS removida no peixe (1.000 kg de peixe contm 280 kg de MS). 3Considerando o alimento como responsvel por 70% do custo de produo. 4Preo de venda de R$ 2,00/kg.

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    Nveis de arraoamento e qualidade da gua Cole e Boyd (1986) determinaram o impacto dos nveis de arraoamento dirio sobre a qualidade da

    gua em viveiros estticos de produo do bagre-do-canal (Tabela 2). O aumento nos valores de clorofila a indicam o aumento da populao fitoplanctnica proporcionado pelo acmulo de nutrientes, notadamente o N e o P, devido ao aumento nos nveis de arraoamento. Excessivo crescimento do fitoplncton aumenta a ocorrncia de nveis crticos de oxignio dissolvido igual ou menor que 1 mg/L foram observados quando os nveis de arraoamento dirio eram iguais ou superiores a 84 kg/ha, exigindo aplicao frequente de aerao de emergncia.

    Tabela 2 Impacto do nvel de arraoamento sobre a concentrao mnima de oxignio dissolvido (OD) e as concentraes mximas de clorofila a (Chl a), amnia total (N-NH3) e gs carbnico (CO2).

    Arraoamento mximo (kg/ha/dia)

    OD mnimo (mg/L)

    Chl a mximo (g/L)

    N-NH3 mximo (mg/L)

    0 5,1 50 0,9 28 4,2 95 1,0 56 1,9 105 2,6 84 1,0 192 4,2

    112 0,5 310 4,1 168 0,0 205 4,5 224 0,0 405 4,7

    Adaptado de: Cole, B. A. and C. E. Boyd. 1986. Feeding rate, water quality, and channel catfish production in ponds. Progressive Fish Culturist 81: 25-29.

    Em viveiros onde foram aplicadas quantidades igual ou superior a 84 kg de rao/ha/dia, provvel a

    inibio do apetite e reduo no crescimento devido aos nveis crticos de amnia no ionizada durante os perodos da tarde, quando os valores de pH se elevam para 8,5 a 9,5 em resposta intensa atividade fotossinttica. Portanto, mesmo aplicando aerao suficiente para manter adequada a concentrao de oxignio dissolvido, a toxidade por amnia pode limitar a capacidade de suporte de sistemas com elevadas taxas de arraoamento a nveis inferiores queles obtidos quando h possibilidade de renovao de gua.

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    Mtodo de Boyd para Clculo de Corretivo para Calagem de Tanques de Piscicultura

    O Mtodo de Boyd para clculo da dose de corretivo est descrito in

    Boyd, C. E. 1976. Lime requirement and application in fish ponds. FAO Technical Conference on Aquaculture, Kyoto, Japan. FIR:AQ/Conf./76/E.13.ii+6p.

    O critrio usado para deciso a respeito de se fazer ou no a calagem de um tanque :

    quando a dureza e/ou alcalinidade da gua forem menores que 20 mg eq. CaCO3/L, ou o pH da gua de um tanque for menor que 6,0

    deve-se fazer a calagem do tanque. importante notar que em solos com V% maior que 80, a dureza da gua armazenada ou nascente neste solo , em geral, maior que 20 mg eq. CaCO3/L. O clculo da dose de corretivo a ser aplicado feito em funo do pH do solo do fundo do tanque. Amostragem do solo para anlise do pH.

    em tanques com rea menor ou igual a 1,0 ha, colhe-se 12 sub-amostras para fazer uma amostra composta;

    em tanques com rea entre 2,0 e 10,0 ha, colhe-se 25 sub-amostras para fazer uma amostra composta;

    com tanque cheio, usar preferencialmente a draga de Eckman; com tanque drenado usar ps; em qualquer caso colher a amostra dos primeiros 15 cm de solo (lodo) do fundo do tanque.

    Procedimento para o clculo do corretivo:

    1. Tomar 100 g de cada sub-amostra e fazer uma amostra composta

    2. Secar at obteno de TFSA

    3. Pulverizar a amostra seca em um gral

    4. Passar a amostra por tamis 0,85 mm

    5. Tomar 20 g da amostra e adicionar 20 ml de gua destilada

    6. Agitar por uma hora e ler o pH em potencimetro

    7. Tomar 20 ml de soluo tampo de nitrofenol concentrado e adicionar mistura

    8. Agitar por 20 minutos e ler o pH em potencimetro calibrado para pH = 8,0 em soluo 1:1 tampo nitrofenol : gua destilada

    9. Calcular a quantidade de calcreo a ser adicionada ao tanque pela tabela em anexo Obs.: se o pH lido em soluo tampo for menor que 7,0 deve-se repetir a anlise usando-se apenas 10 g de amostra. A quantidade de corretivo a ser aplicada ser ento o dobro daquela da tabela.

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    Tabela 3 Necessidade de calagem em kg/ha de CaCO3 (valor de neutralizao igual a 100) para elevar a dureza total e a alcalinidade total da gua de tanques de piscicultura acima de 20 mg eq. CaCO3/L.

    pH do solo em soluo tamponizada de p-nitrofenol, pH = 8

    pH do solo em gua destilada 7,9 7,8 7,7 7,6 7,5 7,4 7,3 7,2 7,1 7,0

    5,7 121 242 363 484 605 726 847 968 1089 1210 5,6 168 336 504 672 840 1008 1176 1344 1512 1680 5,5 269 538 806 1075 1344 1613 1881 2150 2419 2688 5,4 386 773 1159 1546 1932 2318 2705 3091 3478 3864 5,3 454 907 1361 1814 2064 2722 3175 3629 4082 4536 5,2 521 1042 1562 2083 2268 3125 3646 4166 4687 5208 5,1 588 1176 1764 2353 2940 3528 4116 4704 5292 5880 5,0 672 1344 2016 2688 3360 4032 4704 5376 6048 6720 4,9 874 1747 2621 3494 4368 5242 6115 6989 7974 8736 4,8 896 1792 2688 3584 4480 5376 6272 7186 8064 8960 4,7 941 1882 2822 3763 4704 5645 6586 7526 8467 9403

    Frmula da soluo tampo de p-nitrofenol concentrada:

    20,0 g de p-nitrofenol 15,0 g de cido brico 74,0 g de cloreto de potssio 10,5 g de hidrxido de potssio 2,0 L de gua destilada

  • 21Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    Procedimento alternativo simplificado: 1. Procede-se amostragem do solo do fundo do tanque;

    2. Toma-se uma sub-amostra e homogeiniza-se com gua destilada na proporo 1:1 (100g de solo em 100g de gua destilada);

    3. L-se o pH da mistura solo:gua;

    4. Calcula-se a dose inicial de calcrio a ser aplicada segundo a tabela abaixo

    Dose inicial de calcrio (kg/1000 m2)

    pH da mistura solo:gua Calcrio agrcola Cal hidratada Cal virgem

    < 5,0 300 200 170 5 a 6 200 150 110 6 a 7 100 75 55

  • 22Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    Glossrio de termos utilizados em trabalhos e atividades de manejo da qualidade da gua Aerao ato de aerar; incorporao de ar na gua por meios mecnicos ou fsicos.

    Alcalinidade A concentrao total de substncias alcalinas na gua expressa em equivalente mg/L de carbonato de clcio [CaCO3].

    Alcalinidade da fenolftalena A quantidade de cido necessria para abaixar o pH de uma amostra de gua para menos que 8,3 (o ponto de viragem da fenolftalena), expresso em equivalente mg/L de carbonato de clcio.

    Alcalinidade total O total de bases titulveis (OH-; HCO3-; CO3=) na gua (representa a capacidade da gua em neutralizar cidos)

    Alcalino relativo presena ou ao da hidroxila [OH-] ou dos radicais carbonatos [CO3=], um grupo de radicais metlicos altamente reativos; ter pH maior que 7,0.

    Amnia no-ionizada [NH3] gs incolor utilizado na fabricao de fertilizantes; forma de nitrognio encontrada em gua doce que pode ou no ser txica aos peixes em funo das condies do meio.

    Amnio on (ction) de amnia NH4+, resultante da reao de amnia com a gua; composto de toxicidade muito baixa para peixes.

    Bicarbonato composto que tem um grupo HCO3- (e.g. bicarbonato de sdio NaHCO3)

    Clcario agrcola Carbonato de clcio [CaCO3] ou dolomita [CaMg(CO3)2] (calcrio calctico ou dolomtico), finamente modo, utilizado como material para calagem de solos, lodos e gua.

    Cal virgem xido de clcio [CaO]; material custico ocasionalmente utilizado como corretivo; material altamente empregado na assepsia de tanques e viveiros.

    Cal hidratada Hidrxido de clcio [Ca(OH)2]; amplamente utilizado como corretivo para viveiros de piscicultura.

    Carbonato Substncias que tm o grupo CO3= (e.g. CaCO3 carbonato de clcio).

    Coagulao A transformao de partculas dispersas em um lquido em uma massa slida ou semi-slida.

    Condutividade Medida da capacidade da gua conduzir eletricidade; a condutividade da gua aumenta em funo do aumento da concentrao de ons no meio.

    Difuso O movimento de molculas de uma dada substncia de uma rea de grande concentrao para outra rea de baixa concentrao (a ao de difuso cessa somente quando o equilbrio atingido entre as duas reas).

    Die-off do fitoplancton mortandade massiva e repentina da populao fitoplanctnica (resultante de causas naturais do meio ou pela ao do homem).

    Dureza (total) Concentrao total de ons metlicos divalentes (primariamente Ca e Mg) na gua, expressa em equivalente mg/L de carbonato de clcio.

    Efeito residual O perodo de tempo em que persiste o efeito de um tratamento qumico aplicado a um dado sistema ecolgico.

    Equivalente de Carbonato de Clcio A quantidade de carbonato de clcio necessria para ser quimicamente equivalente a uma certa quantidade de uma outra substncia qumica.

    Gs sulfdrico Gs de enxofre [H2S] liberado durante a decomposio microbiana anaerbica da matria orgnica. Age como um cido fraco a gua e apresenta alta capacidade de dissociao em (HS- + S=) a valores de pH acima de 7,0, formando o gs sulfdrico no ionizado, forma altamente txica para peixes.

  • 23Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    Geosmina metabolito nitrogenado das algas cianofceas (algas verde-azuis); ocorre em funo da exploso populacional destas algas em ambientes onde o processo de poluio orgnica tenha sido iniciado.

    Gesso agrcola Sulfato de clcio [CaSO4.2H2O]. Produto que deve ser utilizado como fonte de Ca ou S para a gua, mas no como material para calagem.

    Hidrxido de amnia Amnia em soluo na gua; assume a frmula NH4OH.

    Ionizado qualquer substncia ou composto dissociado ou convertido total ou parcialmente em ons.

    Matria orgnica particulada Partculas de matria orgnica, viva ou inanimada, em suspenso na gua (o plancton uma forma de matria orgnica particulada)

    Metabolito Sub produto do metabolismo dos organismos aquticos excretado na gua (tambm metablito).

    Nitrato O on nitrato tem a frmula NO3-; substncias contendo o grupo NO3 so denominadas nitratos.

    Nitrito O on nitrito tem a frmula NO2-; substncias contendo o grupo NO2 so denominadas nitritos.

    Nitrificar Oxidao de formas reduzidas de nitrognio a nitrato (e.g a ao de certas bactrias converte o amnio NH4+ em nitrato; o processo chamado nitrificao do amnio).

    Off-flavor gosto ruim, de lodo ou lama (ptrida), na gua ou no pescado, originado da presena de geosmina na gua.

    Oxignio dissolvido Oxignio na forma gasosa dissolvido na gua e disponvel para a respirao dos organismos aquticos.

    Oxidar Reagir, combinar com oxignio; formar um xido.

    Parte por milho (ppm) Modo de expressar concentrao de uma substncia, geralmente em funo do peso, na forma de uma parte de uma dada substncia para 999.999 partes de outra; o mesmo que mg/L.

    Precipitar separar uma substncia slida de uma soluo atravs de mtodos qumicos (precipitado).

    Peixe de gua fria Espcies de peixe que vivem apenas em guas de temperatura mxima inferior a 20 oC.

    Rotenona Composto orgnico ictiotxico e inseticida, extrado das razes do timb ou da Derris elliptica (Leguminosae).

    Slidos dissolvidos totais A concentrao total de todas as substncias em soluo na gua.

    Sulfato de cobre Sal de cobre [CuSO4.5H2O], na forma de cristais azuis, utilizado em aquicultura como algicida ou no controle de alguns parasitas e doenas de peixes; produto txico, imprprio para uso em peixes destinados ao consumo humano.

    Sulfato de alumnio Substncia de poder coagulante, utilizada para remover turbidez causada pela matria orgnica na gua [Al2(SO4)3.14H2O].

    Toxidade residual A persistncia de um efeito txico de uma substncia aplicada a um dado sistema ecolgico num determinado perodo de tempo.

    Turbidez O total de partculas sedimentares ou alctones em suspenso na gua.

  • 24Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    Princpios do Manejo Alimentar dos Peixes

    Jos Eurico Possebon Cyrino, Ph.D.

    A produo e uso do alimento natural Imediatamente aps esgotar as reservas do saco vitelnico, o peixe passa a consumir alimento

    exgeno. Inicialmente o peixe alimenta-se e se nutre de fito e zooplncton. A produo orgnica est correlacionada com a produtividade dos peixes, e ambas flutuam sazonal e regionalmente. A produtividade dos tanques costuma ser 70% maior no vero que no inverno; a produtividade de tanques localizados em regies de solo mais rico em nutrientes maior que aquela de tanques localizados em solos pobres, que demandam prticas de calagem e adubao para estimular a produo de alimento. Um programa de adubao criterioso pode resultar em um aumento de 3 a 10 vezes na produo de peixes, em comparao produtividade natural do sistema.

    guas levemente alcalinas so mais produtivas. Assim, uma das principais prticas culturais em piscicultura a calagem. A calagem a adio de corretivos como o xido de clcio ou cal virgem [CaO], a cal hidratada [Ca(OH)2 ou o calcreo agrcola [CaCO3] aos tanques, e visa no s tornar o pH da gua e do solo do fundo levemente alcalino, bem como elevar a alcalinidade da gua acima de 20 mg/L de equivalente CaCO3. Quando o pH da gua ou do solo do fundo do tanque for inferior a 6,0, a calagem absolutamente necessria. A calagem pode ser feita com o tanque vazio ou cheio, diluindo o corretivo na gua, ou homogeinizando-o no solo do fundo e dos taludes cerca de 7 a 10 dias antes do enchimento do tanque.

    As doses de corretivo a serem empregadas dependem da natureza do solo do fundo do tanque e do corretivo utilizado. Pela sua grande disponibilidade e facilidade de aplicao, o calcreo agrcola o corretivo mais utilizado em piscicultura. A cal hidratada, e principalmente a cal virgem, que so materiais bastante custicos, devem ser usadas com cautela. Estes materiais causam uma rpida elevao do pH da gua, e dependendo da dose aplicada, deve-se esperar de uma a duas semanas aps a calagem para a estocagem dos peixes.

    Como recomendao geral, deve-se aplicar uma dose inicial de 2 toneladas de calcreo agrcola por ha de espelho d'gua dos tanques ou viveiros. Um ms aps a aplicao inicial determina-se a alcalinidade total da gua. Se os valores determinados estiverem acima de 20 mg/L de equivalente CaCO3, a calagem foi suficiente. Se no, repete-se a aplicao com mais duas toneladas por ha.

    A calagem com funo profiltica deve ser feita com CaO ou CaOH nas doses de 1.000 a 1.500 kg/ha, aplicado sobre todo o substrato dos tanques ou viveiros. Se houver a necessidade de se realizar a calagem com o tanque povoado, recomenda-se o uso do calcreo agrcola, dividindo-se a dose total em 2 a 3 aplicaes por semana. Se a cal hidratada ou a cal virgem forem empregadas, no aplicar mais que 60 a 100 kg do material por dia. A calagem por si s no aumenta tanto a produo de peixes, mas cria condies para que os programas de adubao sejam mais eficazes.

    Adubaes orgnicas e fertilizaes minerais so as prticas utilizadas para assegurar altos ndices de produtividade natural dos tanques de piscicultura. As adubaes e fertilizaes so feitas com o objetivo de adicionar os elementos limitantes produo orgnica aos ecossistemas aquaculturais: nitrognio (N), fsforo (P), e carbono (C). O carbono adicionado aos tanques na forma de esterco, e os demais na forma de fertilizantes.

    Os estercos secos de ou de sunos so os que conferem melhores resultados. O uso de esterco como no deve ultrapassar doses de at 50 kg de matria seca/ha/dia. Fertilizantes inorgnicos solveis contendo N e P podem ser empregados em tanques. Os programas de adubao geralmente empregam doses de 4 a 9 kg de N e 9 kg de P2O5/ha. Estas doses devem ser aplicadas a cada duas semanas de forma a manter uma transparncia do disco de Secchi entre 30 a 50 cm. Quando a transparncia for menor que 30 cm os

  • 25Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    fertilizantes no devem ser aplicados. Quando a transparcia for acima de 50 cm, a adubao e fertilizao dos tanques, prtica obrigatria.

    Princpios de alimentao e nutrio dos peixes Ao chegar idade adulta cada espcie de peixe define seu hbito alimentar passando a exigir

    alimentos em quantidade e qualidade que satisfaam suas exigncias alimentares e nutricionais. Algumas espcies, como a tilpia do Nilo, se mantm planctfagas toda a vida. Outras, como a carpa cabea-grande, so zooplanctfagas. Existem ainda peixes ictifagos ou predadores, como o dourado, o tucunar, e a trara, que se alimentam de peixes menores; ou ainda herbvoros como a tilpia rendali ou a piapara, etc.

    A piscicultura limita o meio onde o peixe pode buscar alimento. Assim, uma vez esgotado o potencial de aumento da produo atravs das prticas de incremento da produo orgnica dos tanques, faz-se o arraoamento dos peixes, a fim de garantir a otimizao da produo.

    Os hbitos alimentares dos peixes definem exigncias nutricionais qualitativas diferenciadas entre as espcies. Assim, peixes ictifagos tero melhor desempenho quando a protena e a energia de sua dieta forem de origem animal. J os peixes herbvoros crescem e produzem bem com dietas formuladas com produtos de origem vegetal. Independentemente do hbito alimentar, para que cresam e produzam bem, os peixes exigem quantidades mnimas dos diferentes nutrientes - energia, protena, vitaminas e minerais - em propores adequadas.

    O manejo alimentar pode ser feito com raes suplementares ou completas. A rao suplementar visa suprir as deficincias da alimentao natural. A rao completa visa fornecer aos peixes todas as suas exigncias alimentares e nutricionais, independentemente da contribuio do alimento natural. Em geral a alimentao suplementar feita em cultivos semi-intensivos e a alimentao completa feita em cultivos intensivos, onde os peixes no tm acesso ao alimento natural.

    A alimentao pode representar de 60 a 80% do custo de produo em piscicultura. O piscicultor pode ser capaz de produzir alimentos a custo mais baixo em sua propriedade para baratear os custos de produo. Entretanto, o uso de raes comerciais apresentam a vantagem desta j vir balanceada, prontamente disponvel e processada de forma a garantir melhor estabilidade na gua. As Tabelas 4 e 5 apresentam, respectivamente, um resumo das exigncias em protena e energia e do valor energtico e digestibilidade mdia dos nutrientes para as principais espcies utilizadas em piscicultura comercial.

    Tabela 4 Exigncias nutricionais das principais espcies utilizadas em piscicultuta.

    Espcie

    PB (% da dieta )

    EM (kcal/ kg alimento )

    PD/ED (mg/kcal)

    Carpa 31 - 38 2.300 - 4.100 108 Tilpias

    do Nilo azul moambica zilli

    30 34 40 35

    2.500 - 3.100

    103

    Truta arco-iris 35 - 50 3.500 - 5.400 92 - 105 Bagre do canal 32 - 36 2.500 - 3.200 95 Tambaqui 22 - 26 3.200 - 3.600 Pacu 22 - 26 3.200 - 3.600 Matrinx 35 3.500

    PB = protena bruta; EM = energia metabolizvel; PD = protena digestvel; ED = energia digestvel

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    Tabela 5 Valor energtico e digestibilidade mdia dos nutrientes para os peixes.

    Nutriente Valor Energtico (kcal/g)

    Digestibilidade (%)

    Energia Digestvel (kcal/g)

    Protena 5,65 70 - 80 4,00 - 4,52 Lipdeos 9,00 90 8,10 Carboidratos 4,00 40 - 80 1,60 - 3,20

    cidos Graxos Essenciais na alimentao e nutrio de peixes Os sinais de deficincia encontrados em peixes alimentados com dietas deficientes em cidos

    linolico e linolnico so diminuio do apetite, crescimento lento, nervosismo (sndrome de choque) e fgado gordo. Salmondeos requerem aproximadamente 1% de cido linolnico para mximo crescimento, enquanto bagre do canal ,apesar de necessitar do cido linolnico, parece ser menos sensvel deficincia do que as espcies de gua fria. Uma possvel razo para as espcies de gua fria exigirem cido linolnico ao invs do linolico, que a estrutura do primeiro permite um melhor grau de insaturao, conferindo melhor flexibilidade e permeabilidade das membranas celulares mesmo em baixas temperaturas.

    Vitaminas na alimentao e nutrio de peixes Em ambiente natural, os peixes raramente mostram sinais de deficincias nutricionais, principalmente

    vitamnicas, porque o alimento natural contm teores razoveis destes nutrientes. Os peixes exigem 15 vitaminas essenciais, sendo quatro lipossolveis e 11 hidrossolveis: vitaminas A, D, E (alfa-tocoferol), K, colina, niacina, riboflavina, piridoxina, tiamina, cido pantotnico, cido flico, vitamina C (cido ascrbico), biotina, cobalamina e inositol. As quantidades mnimas necessrias esto mostradas na Tabela 6. Entretanto, nem todas as vitaminas so exigidas por todos os peixes. Por exemplo, trutas exigem todas as vitaminas, mas o bagre do canal no exige inositol. Em adio, algumas vitaminas do complexo B so sintetizadas por bactrias intestinais em peixes de gua quente, como em carpa e tilpia.

    Raes comerciais para criaes intensivas so suplementadas com todas as vitaminas exceto inositol e biotina, as quais so usualmente encontrados em quantidades suficientes nos ingredientes da rao. As bactrias intestinais de bagre do canal alimentados com dietas que contenham cobalto podem sintetizar quantidades significantes de vitamina B12. A exigncia da tilpia do Nilo diferente porque o trato digestivo mais longo que o do bagre do canal, e assim h uma taxa maior de sntese intestinal. Com isso, a suplementao desta vitamina se torna desnecessria, pois sintetizada em quantidades suficientes para crescimento, hematopoiese e manuteno de uma concentrao constante no fgado.

    Minerais na alimentao e nutrio de peixes Minerais so exigidos pelos peixes para vrias funes de osmorregulao e metabolismo. As

    necessidades minerais dos peixes so difceis de serem estudadas, porque muitos so exigidos em quantidades reduzidas e, alm disso, os peixes podem absorver os minerais tanto do alimento como da gua, atravs das brnquias. Na maioria das dietas para salmondeos, os minerais so fornecidos pela farinha de peixe, a qual tambm a maior fonte de protena. Entretanto, dietas que contm protena de origem vegetal devem ser suplementadas cuidadosamente com uma mistura balanceada de macro e microminerais. Os

  • 27Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    minerais exigidos so clcio, fsforo, sdio, potssio, magnsio, ferro, cobre, zinco, mangans, cobalto, selnio, iodo e flor, nas quantidades indicadas na Tabela 7.

    Tabela 6 Exigncias de vitaminas para o crescimento de peixes (por kg de rao).

    Vitaminas Unidades Truta Carpa comum Bagre do canal Tilpia Tiamina mg 1,0 0,5 1 - Riboflavina mg 4 7 9 6 Piridoxina mg 3 - 3 - B12 mg 0,01 E - - - cido pantotnico mg 20 30 15 10 Niacina mg 10 28 14 - Colina mg 1000 500 400 - Biotina mg 0,15 1 - - cido flico mg 1,0 - 1,5 - Inositol mg 300 440 - - cido ascrbico mg 5050 - 25-50 50 A U.I. 2500 400 1000-2000 - D U.I. 2400 - 500 - E U.I. 50 100 50 50 K mg - - - -

    E = estimado; fonte: N.R.C. (1993).

    Tabela 7 Exigncias de minerais para o crescimento de peixes (por kg de rao).

    Minerais Unidades Truta Carpa comum Bagre do canal Tilpia P disp. (%) 0,6 0,6 0,45 0,5 Ca (%) - - - - Mg (%) 0,05 0,05 0,04 0,06 Cu mg 3 3 5 - Fe mg 60 150 30 - I mg 1,1 - 1,1 - Mn mg 13 13 2,4 - Se mg 0,3 0,25 - - Zn mg 30 30 20 20

    Fonte: N.R.C. (1993).

    Tipos de raes para peixes

    As raes fareladas so o tipo de alimento mais econmico pois no demandam processamento alm da mistura. Exceto para formas jovens, o uso de raes fareladas totalmente desaconselhvel, devido s perdas que ocorrem.

    Raes granuladas midas so aquelas que utilizam resduos ou descartes da indstria de processamento de pescado imprprios para o consumo humano, modos e misturados a farelos secos em iguais propores e posteriormente granulados. Estas raes devem ser suplementadas com vitaminas em

  • 28Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    doses elevadas, j que algumas enzimas presentes no resduo cr de pescado podem degradar algumas vitaminas presentes nos alimentos. Uma outra limitao no uso de raes granuladas midas o seu armazenamento, que deve ser feito em cmaras frias, e o seu reduzido tempo de conservao.

    As raes granuladas secas, obtidas pela granulao (peletizao) das dietas fareladas, ainda so o tipo de alimentao mais utilizado devido a sua facilidade de preparao, transporte, armazenamento e administrao aos peixes. Os grnulos devem ser preparados com ingredientes finamente modos, ter boa estabilidade na gua, e no podem ser extremamente duros a fim de no causar recusa pelos peixes.

    Os grnulos expandidos ou extrusados so flutuantes e tm grande estabilidade. Assim, vm sendo utilizados em escala cada vez maior. So obtidos por processo de extruso - injeo do alimento sob grande presso e temperatura elevada contra moldes perfurados. O custo de produo desse tipo de alimento 8 a 15% mais elevado que o de grnulos secos, e como so menos densos que os grnulos comuns demandam mais espao para armazenamento e aumentam o custo de transporte. Entretanto, so mais estveis e permitem controlar facilmente a quantidade fornecida de acordo com o apetite dos peixes at o ponto de saciedade. Em adio, favorecem o aproveitamento dos nutrientes pelos peixes pela gelatinizao do amido dos ingredientes. Estas vantagens encorajam a adoo das raes extrusadas, particularmente na piscicultura intensiva.

    Cuidados no manejo alimentar dos peixes em criao Deve-se procurar trabalhar com alimentos granulados, que evitam a perda de partculas alimentares e

    a lixiviao de nutrientes. Como os peixes so comedores intermitentes, aconselhvel que se fornea a rao em duas refeies dirias, em locais e horas constantes. Peixes jovens podem ingerir at 10% do seu peso vivo por dia. A ingesto voluntria se reduz medida que o peixe cresce, e pode chegar a nveis de 1% do peso vivo/dia ao final da fase acabamento. No inverno a ingesto voluntria pode cair para 0,5 - 1% do peso vivo/dia ou at menos, dependendo da espcie.

    O controle do consumo dos alimentos em piscicultura muito difcil, e varia com a espcie, a idade e a estao do ano. Deve-se pesar o lote inicial de peixes por ocasio da estocagem e, a partir de amostragens semanais ou quinzenais, corrigir a quantidade de alimento a fornecer com base no novo peso vivo do lote. Com o tempo faz-se uma tabela de correo da quantidade de alimento a ser fornecido diariamente com base na converso alimentar (converso alimentar a relao unitria consumo de alimento : ganho de peso).

  • 29Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    A construo de benfeitorias para aquicultura

    Jos Eurico Possebon Cyrino, Ph.D.

    Generalidades A aquicultura pode ser praticada em tanques, viveiros, gaiolas ou tanques-rede, balsas, raceways,

    canais, aqurios, etc. As modalidades de aquicultura mais dependentes da construo de tanques ou viveiros so a carcinicultura e a piscicultura interior. A construo adequada de tanques e viveiros de fundamental importncia para o manejo dos peixes, e consequentemente para o aumento da produtividade. Vrios fatores devem ser levados em considerao na seleo do local para construo das benfeitorias para piscicultura, como:

    proximidade de mercado consumidor com capacidade de absorver a produo; facilidade de acesso ao local; existncia de infra-estrutura (e.g. rede eltrica, fornecedores de insumos, etc); condies climticas ideais para as espcies a serem criadas.

    Embora as tcnicas de engenharia permitam a utilizao de quase todo tipo de terreno, deve-se dar

    preferncia a terrenos planos ou com declividade suave, que permitem a construo de tanques e represas com movimentao mnima de terra, bem como o estabelecimento de uma rede de abastecimento e escoamento dos tanques por gravidade, barateando os custos de construo e facilitando o controle de enchentes e enxurradas.

    O suprimento local de gua deve ser constante ao longo do ano, permitindo a reposio das perdas por evaporao, infiltrao e drenagens dos tanques ou viveiros para manejo ou despesca. Antes da implantao de uma piscigranja aconselhvel fazer um levantamento hidrolgico completo do local, localizando as fontes de gua e determinando o potencial hdrico na estao mais seca.

    Poos so considerados a melhor fonte de abastecimento para piscicultura, porque suas guas geralmente apresentam pouca variao no fluxo sazonal, e so isentas de organismos patognicos, parasitas, predadores, peixes invasores, pesticidas, silte, e outros contaminantes e poluidores. Entretanto, guas profundas geralmente possuem teores de oxignio muito baixos, e teores de gs carbnico e gases de nitrognio muito elevados.

    O uso de poos est ento condicionado eliminao destes gases e incorporao de oxignio na gua, problemas que podem ser facilmente contornados atravs de sistemas de asperso da gua nos tanques, ou de descanso em um reservatrio protegido e bem aerado. Entretanto, pela facilidade de obteno e manejo, guas de fontes, riachos ou rios so geralmente preferidas, e uma vez garantida sua pureza, so as fontes d'gua mais utilizadas.

    Outros fatores levados em considerao so o pH e a alcalinidade da gua. As exigncias em pH e alcalinidade so espcie-especficas, e o piscicultor deve adotar as prticas de manejo da qualidade da gua que garantam a melhor produtividade das espcies localmente criadas (Tabela 8).

    Com relao temperatura da gua, o mais sensato procurar criar uma espcie adaptada ao regime local de temperatura, e no tentar adequar a temperatura local espcie que se pretende criar. Resfriamento ou aquecimento artificial da gua geralmente inviabilizam a operao de uma piscicultura. Devemos ainda estar atentos para o fato de os limites crticos de temperatura das vrias espcies estarem geralmente muito mais prximos das altas que das baixas temperaturas.

  • 30Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    Tabela 8 - Valores crticos de qualidade da gua para sistemas de aquicultura (Colt, 1991).

    Parmetro guas frias guas quentes Amonia - N (g/L como NH3) 10 a 15 20 a 30

    Nitrito - N (mg/L) 0,1 1,0 Nitrato - N (mg/L) > 100 > 1.000 Oxignio dissolvido (mg/L) 6 a 7 3 a 4 Oxignio dissolvido (mm Hg) 300 300 Supersaturao em gases (mm Hg) 10 a 20 30 a 40 cido sulfdrico - H2S (g/l) 1 2

    Gs carbnico - CO2 (mg/L) 10 a 20 20 a 40

    Cloro residual (g/L) 2 10 pH 6,5 a 8,5 6,0 a 10,0 Temperatura (oC) * * Ferro - Fe (mg/L) < 1

    1/ -

    Mangans - Mn (mg/L) < 1 1/

    -

    * depende da espcie e da idade 1/ para incubao apenas

    Os melhores solos para construo de tanques so os semi-permeveis, de pH neutro e fertilidade

    moderada, com teores adequados de nitrognio (N) e fsforo (P), que so os nutrientes limitantes da produo primria. Na implantao de pisciculturas baseadas em sistemas de arraoamento artificial, ou que no vo explorar reproduo ou alevinagem, este detalhe geralmente desconsiderado. recomendvel fazer uma sondagem do sub-solo, a fim de evitar a construo de tanques ou viveiros em solos arenosos, pedregosos ou turfosos, que alm de muito permeveis so pouco produtivos.

    O tamanho dos tanques ou viveiros depende de vrios fatores: topografia do terreno, finalidade da benfeitoria, biologia da espcie criada e economicidade da construo. Tanques e viveiros pequenos so fceis de manejar: podem ser drenados e cheios rapidamente; o tratamento de doenas e a eliminao de parasitas e predadores fcil; tm manuteno mais fcil e so menos sujeitos aos processos de eroso; a coleta dos peixes fcil; e finalmente, a perda dos animais estocados no tanque poderia no representar uma grande perda financeira.

    Viveiros grandes apresentam menor custo de construo por unidade de rea, permitem uma ocupao mais eficiente da rea, so menos sujeitos a problemas de falta de oxignio na gua porque permitem melhor aerao por ao dos ventos, e finalmente, em alguns casos, permitem uso mltiplo da gua e conferem maior flexibilidade na estocagem e coleta parcial dos peixes. Antes de iniciar a construo das benfeitorias, o piscicultor deve considerar cuidadosamente estas variveis e consultar um tcnico que possa projetar o uso racional da rea.

    Em regies onde possa ocorrer geadas fortes ou congelamento da camada superficial da gua, tanques ou viveiros devem ter uma regio mais funda, cerca de 2,0 a 3,5 m, que vai funcionar como refgio e prevenir a mortalidade dos peixes por congelamento. Nas condies de clima ameno, a profundidade ideal dos tanques e viveiros est entre 0,8 a 1,2 m. Isto garante a penetrao de luz at o fundo, aumentando a produo primria, e tambm reduzindo o volume necessrio e as prticas de manejo da gua.

    Com relao forma dos tanques, sabido que desenhos quadrados oferecem um melhor aproveitamento da rea, requerendo menor movimentao de terra para a construo de diques ou a

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    escavao, em comparao com tanques retangulares, ovais, redondos ou de forma irregular. Por razes estticas, biolgicas e ecolgicas, parece haver certo benefcio em localizar os tanques ao longo do perfil do terreno. Outra vez, a deciso quanto forma de um tanque ou viveiro deve partir do empreendedor, observadas as consideraes tcnicas.

    Tipos de benfeitorias Distingue-se dois tipos bsicos de benfeitorias em piscicultura: os tanques e os viveiros. A

    classificao das benfeitorias em tanques ou viveiros leva em conta o material de construo empregado e o uso que vai ter a benfeitoria aps sua implantao.

    Os tanques so reservatrios de pequenas dimenses, construdos em alvenaria de tijolos ou concreto, em termo-plstico, em fibra de vidro, ou de qualquer outro material disponvel no mercado. A Figura 9 apresenta um esquema de um tanque com suas principais caractersticas.

    Figura 9 - Representao esquemtica de um tanque de piscicultura. O fundo pode ser de terra, e as paredes podem ser verticais ou podem apresentar uma inclinao

    entre 30o e 40o. Exigem menos cuidados para sua manuteno, tendo maior durabilidade. Os tanques menores so geralmente construdos em concreto, cimento-amianto, fibra de vidro, termo-plsticos, etc. So

    Planta baixa

    A

    B

    canal de abastecimento

    sistema de escoamento (monge)

    Corte longitudinal AB

    = 0,5 1,0%

    nvel da gua tubo de abastecimento

    tubo de escoamento

    comporta

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    geralmente destinados a larvicultura, incluindo o cultivo de microorganismos-alimento, tanto ao ar livre como em laboratrio.

    Os viveiros so reservatrios naturais que geralmente omitem alguns elementos de construo em relao aos tanques. Viveiros exibem condies mais prximas daquelas em que os peixes vivem em seu ambiente natural. So construes menos onerosas mas necessitam de maiores cuidados com sua manuteno, exigindo reparos peridicos. Para evitar desmoronamentos, os viveiros geralmente apresentam as paredes inclinadas em um ngulo de 45o, com as bordas gramadas.

    A prtica da piscicultura intensiva geralmente exige a adoo de tanques tipo raceway, que so tanques retangulares, consideravelmente mais longos que largos e rasos, pelos quais passa alto fluxo d'gua. Por causa deste alto fluxo d'gua, raceways suportam altas densidades de estocagem por unidade de rea ou volume, e permitem completo controle da produo, fcil eliminao de resduos alimentares e metablicos, e fcil coleta da produo.

    O abastecimento e a drenagem dos tanques O sistema de abastecimento mais comumente usado o de canais a cu aberto (Figura 10). um

    sistema de fcil manuteno, e permite a oxigenao da gua desde sua tomada no reservatrio at sua chegada no tanque. Estes canais podem ser em terra, alvenaria, concreto ou madeira. Quanto mais regular e lisa for a superfcie do fundo e das paredes dos canais, maior ser o fluxo d'gua em funo de seu permetro.

    Os canais de abastecimento devem ter uma declividade suave, garantindo menor velocidade da gua, uma distribuio mais uniforme, e uma menor eroso das paredes. O aporte de gua aos tanques ou viveiros deve ser feito atravs de de um tubo alimentador ou uma calha, que leva o fluxo d'gua diretamente sobre a superfcie do tanque, evitando a eroso das paredes.

    O abastecimento dos tanques por meio de tubulaes no deve ser descartado. Embora de dimensionamento mais difcil que as canaletas, tubulaes so geralmente mais durveis, e no raro mais econmicas. Os inconvenientes do uso de tubulaes so: no permitem inspeo fcil da linha de abastecimento, e no permitem a aerao e liberao de gases da gua no seu trajeto at os tanques. Por outro lado, tubulaes permitem a distribuio de gua em terrenos mais acidentados, bem como apresentam menores perdas de gua por infiltrao e evaporao.

    Figura 10 Representao esquemtica de uma canaleta de abastecimento de seo trapezoidal a cu aberto.

    A tomada d'gua nos reservatrios deve ser feita pouco abaixo da superfcie, procurando a gua

    mais limpa e oxigenada. Deve-se sempre proteger a tomada d'gua nos reservatrios e a entrada d'gua nos tanques contra invasores. tambm aconselhvel localizar a entrada d'gua na margem oposta ao sistema de

    nvel da gua no canal

    nvel da gua no tanque leito do canal

    tubo de abastecimento

  • 33Curso Introduo Piscicultura J.E.P. Cyrino, A.M.B.M. Sampaio de Oliveira e A.B. Costa

    escoamento, possibilitando a formao de uma pequena corrente, que auxilia na limpeza e melhora a distribuio de oxignio nos tanques.

    O sistema de drenagem ou escoamento mais comum o sistema em vasos comunicantes - sistema "monge". o sistema mais indicado para tanques de piscicultura. de construo muito simples e barata, e de manejo fcil (Figura 11). Outra opo fazer o sistema de escoamento na forma de sifo, usando tubos de qualquer material disponvel. Qualquer que seja o caso, deve-se proteger a sada d'gua para evitar o escape de peixes e entupimentos dos drenos.

    O material a ser usado na construo do monge deixado a critrio dos proprietrios, consideradas as limitaes oramentrias e de disponibilidade regional de material e mo-de-obra. Em geral, os monges so construdos em madeira, alvenaria de tijolos ou concreto armado.

    Figura 11 - Representao esquemtica de um sistema de drenagem tipo monge externo.

    nvel da gua no tanque

    comporta

    parede Monge externo

    dique do tanque

    cano de drenagem base de concreto

    canal de escoamento

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    Os Sistemas de Manejo em Aquicultura

    Jos Eurico Possebon Cyrino, Ph.D.

    A seleo de espcies de peixe para criao Comparado com o nmero de espcies existentes, o nmero de espcies de peixes utilizadas ou

    potencialmente utilizveis muito pequeno. Embora exista um pacote tecnolgico bem definido para as espcies cosmopolitas, os estudos que vm sendo feitos para definir um pacote tecnolgico (alimentao e nutrio, manejo reprodutivo, despesca e processamento) para as espcies nacionais so bem recentes. Teoricamente seria possvel criar qualquer espcie de peixe, uma vez definido um pacote tecnolgico para a mesma.

    As espcies utilizadas ou potencialmente utilizveis em aquicultura devem adaptar-se ao clima local e ser precoces em crescimento e maturao sexual; podem ser reproduzidos em confinamento; devem aceitar e converter bem alimentos processados (raes); devem ter boa aceitao e alto valor comercial, quer como peixes de mesa ou como espcies para pesca esportiva ou ornamento; devem suportar altas densidades de estocagem e ser resistentes a parasitas e doenas; devem apresentar conformao corporal adequada ao processamento; e finalmente devem ser rsticos e resistir bem a condies adversas de manejo ou baixa qualidade de gua.

    Os animais em geral apresentam adaptaes morfolgicas e fisiolgicas ao ambiente em que vivem. Estas adaptaes so mais restritas em peixes, porm compensadas por sua grande valncia ecolgica ou valor adaptativo, permitindo que suportem mudanas radicais no seu ambiente, e se adaptem facilmente s condies de cultivo.

    A adaptao das espcies aos fatores ecolgicos do seu local de origem chamada de "Lei de Tolerncia" de Shelford (Dajoz, 1983), ou seja os fatores ambientais locais impem limites