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  • InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeiro Preto, v. 1, n.1, p. 184-186, 2010.

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    Tesauro da lngua portuguesa

    Solange Puntel Mostafa Curso de Cincias da Informao e Documentao USP, Ribeiro Preto

    Email: [email protected]

    AZEVEDO, Francisco Ferreira dos Santos. Dicionrio analgico da lngua portuguesa: idias afins/ thesaurus. 2. ed. atual. rev. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010. 800 p.

    O Dicionrio analgico da lngua portuguesa. uma obra singular dentro da lexicologia brasileira; a obra est em sua segunda edio aps sessenta anos de sua publicao original. Na abertura da obra, o surpreendente depoimento de Chico Buarque de Holanda sobre os dicionrios de seu pai, Srgio Buarque de Holanda enche o leitor de curiosidade.

    Chico conta ter sido apresentado ao dicionrio analgico, em sua primeira edio, por seu pai: Com esse livro escrevi novas canes e romances, decifrei enigmas, fechei muitas palavras

    cruzadas (p. v).

    No prlogo da obra, Leodegrio A. de Azevedo Filho sada a editora Lexicon por

    entender que, apesar da lngua portuguesa ter sido contemplada com excelentes dicionrios, tanto em Portugal como no Brasil, nada se assemelha a este, de carter analgico.

    A obra apresenta ainda instrues de uso, ndice alfabtico geral das palavras empregadas no final, como em qualquer livro, bem como um quadro sinptico de categorias, sob as quais est reunido o corpus. O quadro sinptico das categorias inclui seis grandes

    classes, a saber: Relaes abstratas, Espao, Matria, Entendimento, Vontade e Afeies. Chamamos categorias, o campo de associaes de uma palavra.

    Cada uma dessas classes apresenta divises numeradas pelos termos que abrange. Para

    simplificar o uso de tal obra, o leitor apenas deve procurar no ndice alfabtico do final da

    Classes Primrias

    Relaes Abstratas

    Espao Matria Afeies Entendimento Vontade

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    obra, com uma palavra aproximada do que deseja, e esta lhe oferecer, no interior da obra, toda uma rede semntica de palavras anlogas ou relacionadas.

    No dicionrio de lnguas que comumente consultamos, procuramos o significado da

    palavra que j conhecemos; no dicionrio analgico o contrrio: ainda no conhecemos a palavra correta para designar o sentido do que queremos expressar. Tambm denominado thesaurus, o dicionrio analgico oferece vrias palavras anlogas a que estamos procurando, numa espcie de nuvem semntica, em graus de proximidade diferenciados palavra que

    buscamos. O relato de Cludio Moreno abaixo ilustrativo; o professor Moreno relata que alvinegro o termo designativo das cores branca e preta de clubes de Futebol, como

    Corinthians, em So Paulo, ou Vasco da Gama no Rio de Janeiro. Como alvinegro, temos tambm rubro-negro e vrios outros termos tradicionais da herldica, para designar os times de futebol. Imagine agora que o leitor quisesse se lembrar do termo designativo da cor amarela atribuda ao clube de futebol grmio Bag, time do interior do Rio Grande do Sul;

    onde procurar?

    abri o dicionrio analgico na grande categoria das cores e fui direto seo do amarelo. Como eu no conhecia a palavra, comecei a ler em voz alta todos os itens da relao at que bingo! todos saltaram quando cheguei a jalde (que, como averigei mais tarde, o esquisito nome que a herldica usa para amarelo). Era a resposta: o Grmio Bag era tratado na crnica desportiva como o jalde-negro (http://pessoailtda.blogspot.com/2010/06/dicionario-analogico-da-lingua.html)

    O relato acima d bem a dimenso do que um dicionrio analgico ou um thesaurus de lngua. Diferente de um dicionrio comum que busca o significado das palavras, uma vez

    encontradas na ordem alfabtica, o dicionrio analgico ou thesaurus rene um conjunto de palavras semanticamente relacionadas.

    O primeiro do gnero foi desenvolvido por Peter Mark Roget, mdico ingls do sculo dezenove, secretrio da Royal Society, que criou para seu prprio uso, um catlogo de palavras classificado por grandes categorias. Roget bem conhecido dos bibliotecrios e

    cientistas de informao, por ser uma obra que inspirou os tesauros temticos das reas de especialidade, desde a dcada de setenta. Tanto o thesaurus de Roget quanto o da Lngua

    Portuguesa, funcionam como sistemas de classificao, uma vez que delineiam grandes categorias para abrigar as palavras, relacionando-as.

    Na rea de biblioteconomia e cincia da informao em que os tesauros so temticos, so bem conhecidas as categorias propostas por Ranganathan, como Personalidade, Matria,

    Energia, Espao e Tempo (PMEST). Os bibliotecrios e cientistas da informao tm

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    desenvolvido centenas de tesauros temticos que so as linguagens documentrias mais comuns no s para as reas de cincia e tecnologia, como tambm para as reas de humanidades e at para literatura (veja por exemplo o Vocabulrio controlado para indexao de obras ficcionais, publicado pela Briquet Lemos editora).

    Dessa forma, esse Dicionrio analgico da lngua portuguesa interessa no apenas a todos os falantes da lngua portuguesa do Brasil e de Portugal, como nas cinco naes africanas, Angola, Cabo Verde, Guin Bissau, Moambique e So Tom e Prncipe. Sua

    leitura tambm auxilia bibliotecrios e cientistas de informao dessas naes, bem como aos docentes de Linguagens documentrias, na medida em que oferece aos alunos possibilidades

    de vivenciar um tesauro de lnguas, em portugus, semelhante ao da lngua inglesa idealizado por Roget, comumente apresentado na literatura de Linguagem documentria.