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    A PRXIMA FRONTEIRA: NOTAS PARAUMA COMPREENSO DAS DISTINESDO FEMININO NO ESPORTEAlexandre Jackson Chan-ViannaUniversidade Gama FilhoE-mail: [email protected]

    Ludmila Mouro

    Universidade Gama FilhoE-mail: [email protected]

    Resumo: Este artigo tem como ob-jetivo descrever a participao demulheres em esportes de tradiomasculina. Apresenta um panoramada histria das mulheres no esporte,seguida de anlise do envolvimentodelas com os esportes coletivos deconfronto em um projeto socioespor-tivo na cidade do Rio de Janeiro. Os

    dados empricos foram coletados emestudo etnogrfico com ateno parao mapa de orientao cultural, paraobservar por onde, e como, se movi-mentam as praticantes dos esportesde tradio e predomnio masculino.Utilizou-se de questionrios, entrevistase dirio de campo para coleta dedados. A descrio e a interpretaoda movimentao das mulheres na

    prtica esportiva de lazer de tradiomasculina abriu caminhos para acompreenso do fenmeno da trans-

    gresso das normas e da construodas novas narrativas identitrias, quevo transformando as representaesdo feminino em nossa cultura.

    Palavras-chave: mulheres; esporte;identidade.

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    Introduo

    Esteartigo trata do fenmeno esporte, com enfoque no gnero, e apresen-ta a participao das mulheres em esportes de tradio masculina na perspecti-va do lazer esportivo. Para analisar este movimento, o texto organiza-se em duaspartes. Primeiro, apresenta um panorama da histria das mulheres no espaodo lazer esportivo. Em seguida, analisa as mulheres envolvidas com os esportescoletivos de confronto em um projeto socioesportivo. Os dados empricos foramcaptados em estudo etnogrfico neste projeto, localizado na cidade do Rio de

    Janeiro. Diversos instrumentos de coleta foram utilizados observao e registroem dirio de campo, surveys, entrevistas e questionrios. Posteriormente, os dadosforam reunidos, cruzados e interpretados. O desafio foi lanar o olhar no mapade orientao chamado cultura, no qual convivem tradies e transgresses,para observar por onde, e como, se movimentam as praticantes dos esportesde tradio e predomnio masculino do local. A finalidade apontar caminhose estratgias para a compreenso da participao das mulheres no mundoesportivo contemporneo.

    As mulheres e os esportes de homem1

    O Centro Esportivo Micimo da Silva (CEMS), localizado no subrbio do Riode Janeiro, o maior aparelho de lazer esportivo da cidade do Rio de Janeiro.Neste complexo funcionava um projeto socioeducativo, da prefeitura da cidade,que tinha nas aulas de iniciao esportiva gratuitas, sua principal referncia,pois disponibilizava, em 2006, mais de 25 modalidades de atividades fsico--desportivas, com capacidade de absorver um pblico semanal de 15.000usurios. Por direcionamento de seus agenciadores polticos, a incluso socialdeveria ser o princpio norteador das aes pedaggicas de seus profissionais. Porconsequncia, todas as atividades deveriam ser abertas para todas as pessoas.

    Eu atuava como professor de educao fsica e ocupava um cargo degesto em uma das equipes deste projeto. Na condio de lder da equipe,

    responsvel pelo desenvolvimento de trs modalidades esportivas, questionavaa baixa participao feminina nas modalidades de handebol e basquetebol.Na terceira modalidade, o voleibol, o nmero de mulheres apresentava umarelao numrica mais equitativa em relao aos homens. Esse fato se tra-duzia em forte argumento para transferir aos professores das duas primeirasmodalidades a responsabilidade pela ausncia de resultados semelhantes.

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    A indignao acerca desse quadro de participao feminina me impelia acusao de prtica discriminatria e preconceituosa. Os(As) professores(as),por sua vez, contra-argumentavam dizendo que, apesar de as turmas estaremabertas entrada de mulheres, elas pouco apareciam. A hiptese deles(as)estava relacionada dificuldade de elas se adaptarem aos esportes com ca-ractersticas masculinas. Isso era, segundo eles(as), um fato culturale, portanto,uma situao difcil de ser resolvida por meio de suas intervenes pedaggicas.Este argumento se tornou invivel na medida em que no apontava soluespara a baixa frequncia feminina; entretanto, apresentava-se como complexoe de difcil soluo, pois no conseguamos contribuir com propostas concretasque ajudassem a melhorar a situao.

    Nesse mesmo local, no qual o propsito era perseguir a democratizaodas prticas de atividades fsico-esportivas, observvamos distncia um grupode mulheres que jogava futebol. Ao contrrio das turmas de handebol e basque-tebol, esse grupo era grande e apresentava uma frequncia mais constante saulas. Alm disso, o que se verificava em um primeiro olhar era que, ao contrriodas nossas turmas mistas, aquela turma de futebol era exclusiva de mulheres.

    Parte dos(as) professores(as) que atuavam na equipe, explicavam a maiorfrequncia daquelas mulheres na turma de futebol como mais uma evidnciado argumento utilizado por eles, para a ausncia feminina em suas modalidades.Eles(as) afirmavam que as que praticavam esporte ali no eram exatamentemulheres. Os(as) professores(as) atribuam as diferenas daquele grupo s carac-tersticas tpicas de mulheres que jogavam futebol masculinizadas, homosse-

    xuais, desordeiras e que aquele seria o lugar certo delas. Confessavam, ainda,que no saberiam o que fazer se elas estivessem em suas respectivas turmas.

    Esses dilogos entre os(as) profissionais do projeto, defendendo explicaessobre as meninas que jogam bolae sobre ns mesmos, na definio de Goffman(1998), uma marcao das identidades sociais. Ns estvamos estabelecen-do, segundo nossas expectativas, os atributos que cada um deveria apresentar,de acordo com a posio em que se encontravam. Goffman explica que asociedade nos oferece este mecanismo de expectativa normativa para cada

    situao. por meio desse mecanismo, quando em interao, que se tornapossvel iniciar e manter relacionamentos com outras pessoas no familiares.Assim, por exemplo, eu esperava que os meus colegas preenchessem a minhaexpectativa do que deveriam fazer os educadores. Eles, me identificando nopapel de lder, esperavam que eu apontasse soluo para o problema, semque provocasse uma mistura nas turmas.

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    Ns todos ali, na busca por solucionar nossos problemas, partimos de umaimputao feita por um retrospecto em potencial, uma identidade social virtual(GOFFMAN, 1988), que reconhecamos com o nome mulher. Para muitos(as)professores(as), as atitudes pessoais e o local em que aquelas mulheres estavamno correspondiam ao que tinham previsto como critrio inicial de normalidadepara tal categoria de pessoas. Eles passaram ento a classificar subdivises nasquais elas pudessem ser includas. Para restabelecer uma ordem, eles definirama identidade de cada grupo, de acordo com a posio em que estavam ecom seus referenciais originais do que seria masculino e feminino e de comodeveria ser a praticante de cada uma daquelas modalidades.

    Observei, nos vrios locais em que atuei como praticante de esportes co-letivos e tambm como professor, que recorrente uma viso do senso comumque diferencia as prticas esportivas mais adequadas para homens e mulheres.Apesar de existir a participao de mulheres em todas as modalidades espor-tivas, a utilizao das expresses esporte mais de homeme esporte mais demulherso usuais e diferencia os espaos em que cada pessoa pode transitar.Assim, caso uma pessoa escolha um daqueles esportes correspondente ao seusexo estar bem posicionada, caso se oriente pelo inverso estar desviada eocupando espao alheio.

    Alm disso, para as pessoas que, como eu, participaram de diferentesambientes multiesportivos, notrio observar que nos identificamos e somosidentificados pelo tipo particular de comportamento e estilo que o praticantede cada esporte carrega. Talvez, pelos mesmos mecanismos de classificaoque Goffman sugere, o esporte ao qual se pertena, quando da adeso efeti-va, marca a identidade do sujeito para alm do esporte. Marca, inclusive, paraos outros, conscientemente ou no, positivamente ou no, que qualidades decarter e atitude o sujeito pode nos oferecer.

    Para o sujeito que pratica uma modalidade apaixonadamente, as carac-tersticas particulares do seu esporte tambm passam a ser, muitas vezes, idea-lizaes de atitudes e valores para si em outros segmentos da vida. Seu esportese transforma em estilo de vida, eventualmente, uma espcie de doutrina. Essas

    pessoas vo-se encontrando, formando seus grupos e se homogeneizando.Em alguma medida, isso acontece por agregarem novas pessoas iguais sdo grupo iniciado; em outra, pelo processo de compartilharem internamenteos mesmos comportamentos considerados positivos no grupo. Parecem existir,ento, razes significativas, tanto ntimas como de interao com os outros,para se identificar e permanecer em uma atividade esportiva.

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    Decerto que essas equaes no so homogneas. Nas minhas diversasvivncias com o esporte, observei que, dependendo do local e estrato socialao qual pertenam os(as) praticantes, ou do nvel de familiaridade que estestenham com o ambiente de atletas, a percepo de que existe algo erradoem mulheres praticando esportes de homempode ser mais ou menos acen-tuada. No entanto, na viso do senso comum, as mulheres que praticam asmodalidades de basquetebol, handebol e futebol, principalmente quando sojogadoras com bom desempenho atltico, so frequentemente identificadascomo sem postura, viris, agressivas, masculinas. A essa identidade, contrriaao modelo tradicional do feminino, vincula-se a percepo de um desvio dopadro heterossexual, estabelecido como norma em nossa sociedade. Em

    muitas situaes, essa percepo ainda carrega, associada a ela, acusaesmorais contra a personalidade e o carter das praticantes.

    Goffman (1988) explica essa situao como um estigma um tipo particularde identidade social, percebido como um atributo profundamente depreciativoe de inferioridade, estabelecido pelas pessoas que, em determinado contexto,esto numa posio considerada normal em relao a outras que se desviamdesse padro. O estigma estabelece, a partir de um atributo no desejvel aosconsiderados normais, que a pessoa estigmatizada deixa de ser uma pessoacomum e total, sendo reduzida a uma espcie inferior e menos desejada pe-los seus defeitos. Com isso, quem recebe o estigma perde a possibilidade de

    apresentar sua identidade social real os atributos que prova possuir. Isso vainortear o comportamento, do normal e do estigmatizado, no decorrer dasinteraes no espao social em que convivem.

    Numa outra dimenso, se olharmos pela exposio da mdia, poderamosdizer que, nos dias de hoje, as mulheres praticam indistintamente todos os es-portes como os homens, sem restries de ordem moral ou discriminatria. Noentanto, o fato de assistirmos competies nacionais ou internacionais femininasno uma garantia de que a prtica dos esportes esteja se democratizandona mesma proporo para homens e mulheres e em todos os lugares. Nasmodalidades femininas de basquetebol e futebol, por exemplo, as profeciasda conquista de medalhas olmpicas nas selees nacionais, da existncia de

    dolos e dos resultados internacionais como catalisadores de investimentos epopularizao, no se confirmaram nas ltimas duas dcadas, como aconteceuem outras modalidades, masculinas e femininas.

    Ao desembarcar no Brasil com o trofu de melhor jogadora de futeboldo Mundo, a atleta Marta concedeu uma entrevista para TV explicando seufeito. Aps agradecer de incio aos familiares e justificar o prmio devido a seuesforo pessoal, como de costume em todas essas entrevistas, a feio do

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    rosto dessa mulher foi-se transformando de uma aparncia tranquila e feliz doincio da entrevista, para outra de constrangimento, onde os olhos perdidos jno se fixavam na cmera. Com a cabea se esquivando para o lado e parabaixo, em tom de desabafo, anunciou com extremo rancor isso pra provarpra muita gente que sempre falou muita besteira sobre mim, sempre falaram oque no tinha nada a ver. Ta a, !. Se no podemos saber o que se passavana mente da atleta, podemos perceber o incmodo vivido cotidianamente, esupor o quanto foi duro, durante a vida, as explicaes que teve que dar parajustificar sua predileo pelo futebol e a competncia em pratic-lo. Se issoacontece com a melhor jogadora do Mundo, comprometida profissionalmentecom a atividade, podemos supor o quanto este tipo de esporte tem que ter

    significado especial, para que muitas mulheres permaneam praticando-o noseu tempo livre, como atividade de lazer.

    Este fato ocorreu poucos meses depois de a prpria jogadora, juntamentecom a equipe brasileira, ter feito a final dos Jogos Pan-americanos, em 2007,no estdio do Maracan, para um pblico, inesperado para muitos, de maisde 60 mil pessoas. No fosse suficiente o fato de um jogo feminino de futebolmobilizar tantas pessoas, no observei, naquele dia, nenhuma reao discri-minatria por parte da torcida, pelo fato de estar ocorrendo um jogo mais dehomemcom participao de mulheres. Quando isso ocorreu, a exaltao datorcida foi para enaltecer as jogadoras, comparando-as como melhores do

    que os homens, pois no mesmo perodo, a seleo masculina no estava al-canando os resultados esperados. Mas essa demonstrao de enaltecimentodo jogo feminino distncia, seja na TV ou nas arquibancadas, no parece serepetir na mesma proporo, quando se trata de prestigiar pessoas com quese tenha maior proximidade de convivncia.

    preciso compreender os fenmenos que vinculam os esportes coletivosde confronto identidade masculina e, assim, superar o tal fato culturalque nosimpede de perceber diferentes escolhas das mulheres no mundo do esporte.Entretanto, embora esse fenmeno se configure, aparentemente, como umaexcluso, sempre existiram aquelas que insistiam e superavam tal situao parapraticar o jogo. Este estudo se interessa por observar, justamente, tais mulheres

    e os grupos aos quais pertencem, para compreender como elas orientam suasaes para transgredir a norma.

    Os esportes coletivos de confronto e a modernidade

    O espao pblico, de domnio hegemonicamente masculino, vem-semodificando ao longo dos tempos, em decorrncia dos avanos conquistados

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    pelas mulheres em diversos setores da sociedade. Um nmero cada vez maiordelas vem ocupando espaos tambm no mundo do lazer esportivo. Esseprocesso histrico se faz de transgresses e concesses, de forma que homense mulheres, a cada gerao, apesar de encontrarem maior possibilidade demovimentao neste campo, se esbarram em novas demandas por igualda-des e liberdades.

    Em nossos dias, homens e mulheres apresentam comportamentos diferen-tes na prtica de atividades fsicas no lazer esportivo. Salles Costa et al(2003),ao estudar as opes de lazer de adultos de uma instituio de ensino, obser-varam que os esportes mais praticados por homens esto caracterizados como

    sendo coletivos e de uso da fora muscular, enquanto que os esportes maispraticados pelas mulheres se caracterizam por serem individuais e ligados como objetivo de controle da imagem corporal. Este dado da nossa cultura podeser observado, de uma forma geral, em todos os ambientes multiesportivos, nosquais as atividades com caractersticas de uso da fora so em geral as lutas,a musculao e os diversos esportes coletivos de confronto.

    Dunning (1992) define desportos de confronto como aquelesque consti-tuem reas privilegiadas para uma expresso socialmente aceitvel, ritualizadae mais ou menos controlada de violncia fsica, e destaca aqueles que secaracterizam por envolveruma representao de luta entre duas equipes.Partindo dessa anlise, utiliza-se para este estudo o termo esportes coletivos deconfronto para abranger as modalidades de basquetebol, handebol e futebol/futsal.2Presentes no local estudado, esto as modalidades da tradio da cul-tura escolar e de lazer brasileira, com as caractersticas citadas por Dunning, eque tem suas origens histricas semelhantes s desenvolvidas na tese do autor.

    Observando a importncia social que a transformao das relaes entreos sexos exerce em nossos dias, o autor prope o ponto de partida para umateorizao que d conta de sustentar as formas de domnio masculino e astransformaes que a acompanham na rea do esporte. A partir de dadosbritnicos do sculo XIX, o autor analisa a origem do esporte de confronto comorea masculina reservada e o seu papel, mesmo que secundrio, de produo

    e reproduo da identidade masculina. Este tem-se tornado um referencialrecorrente nos estudos de gnero na educao fsica.

    Dunning parte da ideia da interdependncia de homem e mulher comouma relao de poder e da violncia e confronto como caractersticas davida social. Sugere, ento, que seja razovel aceitar que o nvel de formao

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    do Estado, em especial o grau em que o Estado capaz de conservar ummonoplio efetivo sobre a utilizao da fora fsica, , provavelmente, a influ-ncia mais significativa de todas(p. 393) para o desequilbrio de poder oscilara favor dos homens.

    A hiptese levantada por Dunning em sequncia a este apontamento que, por meio do conhecimento tecnolgico e do controle da violncia,quanto mais a civilizao avana, mais o equilbrio de poder entre os sexosse estabelece. no avano desse processo civilizador que o autor analisa osdesportos de confronto como rea reservada de manifestao do esprito datradio do macho. Dunning afirma que todos os esportes so competitivos

    por natureza e por isso possibilitam a emergncia da agresso, mas nos es-portes de confronto,

    onde a violncia, na forma de representao de luta ou de confronto simulado entredois indivduos ou grupos, um ingrediente fulcral e legtimo [que na sociedade atualse torna rea privilegiada para] uma expresso socialmente aceitvel, ritualizada emais ou menos controlada da violncia fsica (p. 394).

    Os clubes em que se praticavam estes esportes, na perspectiva de Dunning,seriam exemplo de locais criados e controlados pelos homens para garantirum espao em que pudessem exercer sua expresso de masculinidade e deforma simblica imitar, reificar e caluniar as mulheres, que, ento, mais do que

    nunca, representavam uma ameaa ao seu estatuto e imagem que tinhamde si prprios (p. 410). A tradio desses esportes traz consigo a marca deuma atividade criada e praticada por homens, e tambm, com caractersticasinerentes de agressividade,3fora, competitividade e de estratgias em grupopara o seu melhor desempenho. As mulheres, enfim, precisariam avanar aindaem suas conquistas sociais mais emergentes at se aventurarem efetivamentenesse espao reservado masculino.

    Ainda na primeira metade do sculo XX, no cenrio brasileiro, j se observaum alargamento do espao das mulheres para alm do dever privado e suaexpanso para o espao pblico com conquistas no trabalho e no lazer (MOU-RO, 1996; SOARES, LEAL, LOVISOLO, 1996). Esses avanos se deram com tenses

    e, mesmo quando promovendo a participao feminina, eram marcados pelareao e inrcia da cultura hegemnica masculina, que representava na mdiaimpressa a condio das mulheres com marcas de fragilidade, de inferioridadee subordinao quando comparado ao discurso sobre o homem (MOURO,1996, p. 62). Neste contexto histrico, as mulheres parecem ter encontrado

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    espao de emancipao na combinao de interesses sociais do mercadocom o prprio desejo de conquistar sua valorizao como sujeito.

    O papel social designado para as mulheres, construdo ao longo da hist-ria, est relacionado a atividades ligadas ao comportamento de passividade,submisso e exigncia dos padres de beleza e feminilidade. Segundo Mou-ro, relatando ainda o sculo XX, a simples prtica de exerccios pela mulherrepresentava socialmente uma violncia sua esttica corporal, uma ameaa sua graciosidade e beleza (1996, p. 63). Demonstrando a fora desse papelrefletido no campo das atividades fsico-esportivas, apontava-se a natao, asginsticas, as danas e o voleibol como atividades sugeridas e incentivadas s

    mulheres e as modalidades de lutas ou esportes coletivos de confronto, comofutebol e handebol, desaconselhadas ou at mesmo proibidas por lei (MOURO1996; SOARES, LEAL, LOVISOLO 1996; SARAIVA 2005). Porm, a participao demulheres nos esportes coletivos de confronto j era registrada e observada nesteperodo. Assim, apesar das condies socioculturais mais amplas, as mulheresj encontravam brechas e transgrediam o conjunto das normas estabelecidas.

    Esta movimentao do feminino no esporte um exemplo caractersticodo que Giddens (1991, 2002) e Hall (2005) definem como o cenrio da altamodernidade, ou modernidade tardia. Este perodo, que representa os ltimos50 anos, traz mudanas profundas na sociedade. A modernidade refere-se aoestilo, costume de vida ou organizao social que emergiu na Europa a partirdo sculo XVII e que, ulteriormente, se tornaram mais ou menos mundiais emsua influncia (GIDDENS, 1991, p. 11). Este perodo representa uma desconti-nuidade entre as ordens sociais tradicionais e as instituies sociais modernas. Atradio, por sua vez, modo de vida social que caracterizou a vida pr-moderna, explicada por Giddens como

    um modo de integrar a monitorao da ao com a organizao tempo-espacial dacomunidade. Ela uma maneira de lidar com o tempo e o espao, que insere qualqueratividade ou experincia particular dentro da continuidade do passado, presente efuturo, sendo estes, por sua vez estruturados por prticas sociais recorrentes (1991, p. 31).

    Hall (2005) e Giddens (1992; 2002), interpretam, ento, que, como conse-

    quncias da modernidade, surgem novas identidades culturais que provocammudanas em um nvel at da subjetividade e intimidade dos sujeitos. Giddensaponta que a globalizao promove a ampliao do tempo-espao na vidalocal, provocando um desencaixe das instituies sociais tradicionais. O proje-to da modernidade, que era de superar os dogmas da tradio, no entanto,muito distante de conseguir elucidar uma verdade nica, produziu diversidadee, consequentemente, incertezas. A garantia de estabilidade, baseada numa

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    moral tradicional, dissolveu-se, e as mltiplas possibilidades de escolha fizeramcom que as identidades do sujeito se tornassem fluidas e dependentes de umareorganizao constante do indivduo. O estilo de vida construdo como projetoreflexivo do eu (GIDDENS, 2002), passa a ser fundamental para se constituir umanarrativa coerente que d sentido existncia de cada um. Hall sugere aindaque estas mudanas estruturais, que esto fragmentando as paisagens culturais,esto mobilizando o sujeito, inclusive, para experimentar crises de identidade.

    Ao contrrio da modernidade, Giddens aponta que a ordem social cons-truda na tradio valoriza a transmisso oral e os smbolos do passado paravincular a experincia das geraes. A tradio um meio organizador da me-

    mria coletiva (GIDDENS, 1995, p. 82). Assim, a tradio opera estabelecendocostumes locais que se tornam hbitos. Estes so reforados pelos rituais, quetem como funo garantir a familiaridade, ou seja, formar o ambiente seguronuma comunidade, por meio da homogeneizao de todas as pessoas.

    Tradio e modernidade, como modos de vida social caractersticos dediferentes pocas, esto presentes na atualidade, ora se completando, oraentrando em desajustes. exatamente nesse cenrio que se encontravamas pessoas que viveram comigo aquele problema original a participaode mulheres nos esportes coletivos de confronto. Ns no poderamos deixarde ver aquela situao de acordo com a percepo, mais moderna ou maistradicional, que cada um possua para classificar aquelas mulheres jogandoesportes masculinos. A inquietao era de que, em geral, as mulheres tinhammaior dificuldade em participar dos esportes coletivos de confronto, mas ogrupo do futebol no me deixava repousar no argumento de que o nico fatorelevante para isso seria a condio de as praticantes serem mulheres.

    As mulheres e o lazer esportivo

    So imprecisos os registros para demonstrar se est havendo um cresci-mento nas ltimas dcadas da participao das mulheres nos esportes coletivosde confronto nos espaos de lazer, como se supe no cotidiano da prticaprofissional de educao fsica. Pasko (2005) aproxima-se desta realidade emum levantamento quantitativo da cultura fsicoesportiva, dos alunos do ltimoano do ensino fundamental, na rede pblica da cidade do Rio de Janeiro. Oestudo reafirma o padro do interesse predominante das meninas, dentro efora da escola, pelas atividades ligadas ao seu papel social tradicional, masdemonstra tambm que a sua participao e interesse nas modalidades es-portivas coletivas de confronto significativa. Parece evidente que este um

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    espao em movimentao no mapa cultural e, efetivamente, uma demandalatente, como veremos a seguir.

    A partir do levantamento de dados no CEMS,4por meio da observao docotidiano e de um controle de frequncia de metade das turmas existentes nasmodalidades de GRD,5dana, ginstica localizada, voleibol, jud, handebol,basquetebol e futebol, na faixa etria acima de 15 anos, observamos que existeparticipao de mulheres em nmero total superior aos homens e que elas estoem todas as atividades um dado significativo das conquistas femininas masque esto realmente mais presentes nas atividades relacionadas esttica eao bem-estar corporal do que nas atividades que sugerem a combinao de

    confronto fsico e competio.

    Quadro 1 Participao de mulheres acima de 15 anosem algumas das atividades oferecidas no local

    ESPORTES GRD DANA GINSTICA VLEI JUD HAND BASQ FUT TOTAL

    MULHERES1 15/15 25/25 102/107 3/16 12/32 8/13 2/18 18/54 185/280

    NDICE2 1 1 0.9 0.2 0.4 0.6 0.1 0.3 0.7

    1 Refere-se ao nmero de mulheres sobre o total de alunos em cada modalidade.2 Um ndice qualitativo para facilitar a visualizao de predomnio de sexo na atividade.

    Se o ndice estiver entre 0,1 e 0,4 representa predomnio masculino e entre 0,6 e 0,9, predomnio feminino na atividade.

    Como podemos observar, ainda no Quadro 1, as atividades de ginsticae dana tm predomnio ou quase exclusividade das mulheres,6enquanto nasmodalidades de voleibol, jud, handebol, basquetebol e futebol, a participaoproporcional das mulheres muito menor. Este quadro refora a diviso e opredomnio da participao das mulheres nos esportes ligados aos papis tra-dicionais do gnero feminino, sendo apenas o voleibol desviante dessa anlise.

    Aproximando o foco nas modalidades em que o ndice qualitativo apontaas mulheres como minoria e estendendo a anlise em um corte por faixa etria(Quadro 2), observamos uma perspectiva de movimento. O indicador qualitativode predomnio de sexo mostra um crescimento proporcional das mulheres nasmodalidades de futebol e handebol, na medida em que a faixa etria aumen-

    ta; ele se mantm no jud e cai nas modalidades de voleibol e basquetebol.Podemos inferir que existe um deslocamento acentuado das meninas de outras

    4 Realizado na entrada do autor como pesquisador, um ano aps ele ter deixado o local comoprofissional da instituio.

    5 Ginstica Rtmica Desportiva6 Nas observaes de campo foi identificada a participao de alguns poucos homens nessas

    modalidades nas turmas que no constavam na amostra do survey, mas isso no seria suficientepara modificar os seus ndices.

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    modalidades, ou mesmo de novas alunas, para as modalidades de handebole futebol a partir da adolescncia.

    Quadro 2 ndice de predomnio feminino por faixa etria

    ESPORTES VOLEI JUD HAND BASQ FUT

    5-10 ANOS3

    11-15 ANOS

    + 15 ANOS

    3 As modalidades de handebol, basquetebol e voleibol apresentam o mesmo ndice nestafaixa etria em virtude de, no perodo em que foi feita a coleta de dados, a iniciao dessasmodalidades era feita conjuntamente sob o nome de Jogos Infantis e recebia os matriculados nas

    trs modalidades.

    Independentemente do nmero absoluto de participantes e semprecomparando ao nmero de homens, a partir da fase da adolescncia quese registra maior crescimento das mulheres nas modalidades coletivas deconfronto. Algumas observaes de campo evidenciam mais precisamenteestes dados. O jud apontou uma ressalva significativa para a constncia deseus ndices a nica modalidade com a existncia de equipes regularesem competies federadas, o que contribui para a permanncia das mulheresque efetivamente tem compromisso ou sonho com uma carreira de profissio-nalizao esportiva. J o basquetebol foi o nico esporte de confronto emque no existia turma exclusiva de mulheres maiores de 15 anos, o que inibia

    a entrada e a permanncia de iniciantes. tambm bastante significativo queexatamente o voleibol esporte da tradio feminina e desviante no dado an-terior apresente a maior variao entre todas as faixas etrias e modalidades,indicando grande diminuio da participao de mulheres na mudana daadolescncia para a fase adulta.

    Apesar da pouca participao feminina nos esportes coletivos de confrontono mbito do lazer, observa-se no CEMS uma ocupao de mulheres adoles-centes nesses espaos de predomnio masculino, reconhecidos comoesportesde homem na cultura local. Os dados e observaes sistemticas apontam quea fase de transio da adolescncia para adultas jovens significativa para aopo dessas mulheres pelos esportes coletivos de confronto. No futebol, como

    exemplo mais significativo, elas s dispunham de turmas quando se organizavampara pleitear esse espao, o que s poderia acontecer se tivessem autonomiasuficiente para dialogar pessoalmente com os profissionais do local.

    Em outro estudo sobre cultura juvenil, Weller (2005) observa jovens negras ede origem turca no movimentoHip-Hop,em So Paulo e Berlim. A autora tentacompreender a participao feminina em sua luta para combater os papis

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    tradicionais atribudos aos sexos, que as exclui dos melhores espaos desta ati-vidade. Os dados coletados nesses dois espaos da cultura jovem convergemcom os dados das praticantes do CEMS na faixa etria de incio da participa-o de mulheres 15 anos e a puberdade como fator de diferenciao eafastamento entre meninos e meninas, que at ento brincavam juntos semapresentar restries. De forma ambgua, na mesma fase que meninos e me-ninas ampliam a distino de atividades especficas de cada um, que algumasmulheres comeam a aparecer nas atividades de predomnio masculino. Tantoo futebol como o Hip-Hop so fenmenos culturais globais e espao em queos(as) jovens expressam sua criatividade e se organizam como sujeitos.

    Os questionrios aplicados entre as praticantes de handebol, basquetebol efutebol, e as observaes de campo, demonstram que quase todas circularampor diversas modalidades na fase de iniciao esportiva7e que poucas tiveramexperincia nos esportes coletivos de confronto neste perodo. Mais interessanteainda que, feita a escolha por algum dos esportes coletivos de confronto, aocontrrio das outras faixas etrias, quase todas as mulheres optam, independentede orientao dos professores, por praticar apenas a sua modalidade preferidana idade de adultas jovens.

    A opo exclusiva das praticantes pelos esportes coletivos de confrontocoincide com o fim da escolarizao bsica, da experimentao anterior devrias modalidades esportivas e de, provavelmente, uma maior autonomia emrelao aos pais e a outras redes de relacionamentos originais.

    Entretanto, como no circularam por estas modalidades no lazer esportivona fase anterior, alguns outros elementos devem ser analisados para se com-preender como elas construram essa escolha.

    Gnero, Escola e suas implicaes no lazer esportivo

    O termo gnero nasce no movimento feminista, ele surge com a neces-sidade de contrapor o argumento irrecorrvel de que homens e mulheres sobiologicamente distintos e recolocar este debate no campo social (LOURO,

    1997). Dessa forma procurou, em sua origem, denunciar a invisibilidade, qualde modo geral as mulheres estavam submetidas, e revelar uma nova forma deentender as relaes entre homens e mulheres na sociedade.

    Nessa perspectiva, nos estudos realizados a partir da dcada de 1990sobre gnero e esporte na escola, revisitados por Chan-Vianna e Moura (2007),7 Considerada pelos profissionais da educao fsica como sendo normalmente compreendida

    entre 5 e 15 anos. A fase seguinte chamar-se-ia de especializao esportiva.

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    os esportes coletivos de confronto foram quase sempre apresentados como ocampo de tenso nas relaes de foras hegemnicas e contra-hegemnicasdas disputas entre meninos e meninas nas aulas mistas. Por depender de um perfilatltico e de atitude emocional contrrios ao papel social tradicionalmente dados mulheres, os esportes coletivos de confronto colocaram em pauta a competiti-vidade, a agressividade, a fora e a habilidade tcnica como capital significativono desequilbrio das cotas de poder em favor dos homens nesta atividade.

    Utilizando o argumento de que a histria das mulheres est associada aodistanciamento do espao pblico no lazer e que sua socializao impe ati-tudes de passividade desde a infncia, esses estudos de gnero tendem, em

    maior ou menor grau, a sugerir que sexo e desempenho atltico se combinampara que a prtica dos esportes coletivos de confronto se torne ferramenta dediscriminao e domnio masculino no espao das aulas. Contudo, interessantenotar que, frequentemente, nesses estudos tambm identificada, mas quasenunca analisada, a capacidade de algumas meninas que conseguem jogarefetivamente com os meninos e que rompem com a lgica do discurso hege-mnico, descortinando a homogeneizao do gnero feminino e colocando namesa de negociao por espao, o desejo e o interesse por essas modalidades.

    Essa participao das meninas nos esportes coletivos de confronto naescola se repete no espao do lazer em que elas esto presentes, como nosdados deste estudo. Ento, se existe a participao de mulheres na escolae no lazer, mesmo que em menor nmero, a condio de ser mulher, comocategoria homognea, por si s no explica completamente o fenmeno. necessrio que se entenda em quais situaes, de que forma e em qual con-dio as mulheres participam, ou no participam, dessas modalidades. Mesmoconsiderando as estruturas sociais mais amplas que estabelecem os limites damulher no espao pblico, e mais ainda nos espaos masculinos reservados, preciso compreender as interaes sociais mais diretas, para identificar comocada grupo, ou mesmo como cada pessoa, se movimenta nesse mapa deorientao das aes que denominamos cultura.

    Altman (1994), ao descrever turmas mistas de educao fsica escolar do

    ensino fundamental, observa tambm a excluso de gnero presente, mas vaiem frente e demonstra que gnero, idade, fora e habilidade dentre outrospossveis critrios formam um emaranhado de excluses vividos em aulas erecreios (p. 13) e que, apenas ser menina no determina a excluso da prticaesportiva. Ao mostrar que meninos tambm apresentam as mesmas dificuldadespara se inclurem nas diversas atividades, generaliza o que seria excluso e, comisso, abre margem ao entendimento de que as dificuldades apresentadas seriamparte dos rituais de passagem inerentes para a aceitao de qualquer pessoa,

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    em qualquer atividade coletiva. E, desse ponto de vista, possvel questionar se aanlise de comparao entre homem e mulher suficiente para entender comose constroem as oportunidades de cada um na prtica do esporte.

    A socializao das mulheres nos esportes coletivos de confronto

    Por meio de observao participante (BECKER, 1977; 1997) no cotidiano doCEMS, foram realizadas entrevistas com as praticantes mais antigas das turmasadultas de basquetebol, handebol e futebol. O instrumento visava captar suashistrias de vida nas atividades esportivas. O significado que a escola tem noprocesso de socializao nos esportes coletivos de confronto foi aparecendo.

    [...] Eu ficava em casa toa. Pedia pra minha me me trazer, s que minha me nome trazia. Minha irm (mais velha) vinha pra c, mas tambm no podia me trazerporque ela sempre ia pra outro lugar daqui. Em casa minha me: Ah! Voc muitonova pra isso, no sei o qu... At que um dia eu fiz treze anos, ela falou: Ah, vou tecolocar, encheu tanto o saco que eu vou te colocar. E me colocou. [...)] Eu ficava emcasa. Ia pra escola. De casa pra escola, da escola pra igreja [...] nada relacionado aesporte. S na educao fsica no colgio8

    O depoimento da praticante registra bem a condio que as meninasvivem naquela regio. Se pudesse traar um perfil das caractersticas dessasmulheres, a partir das observaes e dos relatos sobre infncia e adolescncia

    das praticantes com as quais convivi, seria de meninas que tm uma organi-zao familiar em que as mes controlam suas atividades, valorizando seusestudos e os pais pouco aparecem no seu cotidiano; elas no trabalham e noparticipam regularmente das tarefas domsticas; como esto em um tradicionalbairro de subrbio da cidade, elas tm acesso rua como espao de lazer;e at esta idade, a escola e, em poucos casos, a Igreja, so os nicos lugarespor onde elas transitam fora dos arredores das suas casas. A famlia, a rua e aescola, assim, exercem papel acentuado na socializao das meninas, quemais tarde faro opo pelos esportes coletivos de confronto.

    As famlias combinam uma mistura de incentivo e restrio para as meni-nas que se arriscam a praticar atividades da tradio masculina. Na memria

    das entrevistadas, as falas sempre narram um espao contestado, em poucasoportunidades se referem relao com os pais como tranquila pelo fato depraticarem esportes coletivos de confronto. Interessante o fato de ser bastanterecorrente nas falas a imagem da me como o elemento de coero, que

    8 Praticante de basquetebol, 18 anos, entrou no CEMS para o voleibol. Com grande potencial atl-tico, sempre foi requisitada por vrios professores de modalidades diferentes. Na poca, alm dobasquetebol praticava atletismo, pouco tempo depois foi convocada para a seleo brasileirade sua idade e abandonou o atletismo.

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    se preocupa se elas vo ficar toda machucadaou com o que os vizinhos vodizer.J os pais, tios, irmos mais velhos, ou padrastos, quando aparecem, sosempre incentivadores e quase sempre o familiar que leva as meninas parajogar na rua ou, em pouqussimos casos, se matricular nos locais de prtica doesporte formal. De um modo geral, parece que a participao das meninasse d principalmente pelo apoio da figura masculina da famlia, enquanto asmes assumem a posio de uma espcie de protetora fsica e moral dasmeninas. Este dado aponta para uma relativizao da barreira imposta peloshomens para as mulheres ocuparem o espao pblico de lazer, em especial daprtica de esportes da tradio masculina, tendo em vista que, no seio familiar,so eles os principais incentivadores.

    Ao contrrio da expectativa sobre a educao de mulheres, sobretudo dascamadas populares, as meninas da pesquisa no informaram os afazeres dolar como tarefas do seu cotidiano. Por ser um dado conflitante com a percep-o ancorada na tradio das obrigaes da mulher, investiguei novamente,dessa vez perguntando diretamente s meninas. As respostas permaneceramnegativas e, em apenas alguns casos responderam: ah! De vez em quandoeu lavo uma loua. Apesar da posio mais tradicional em que se encontramas mes nessas famlias, a organizao coletiva da casa parece vislumbrar umprojeto de vida diferente para as filhas.

    O desejo pelos esportes coletivos de confronto se desenha muito antes daprimeira experincia das praticantes nos espaos formais dessas modalidades.Nos relatos das histrias de vida esportiva, elas descreveram suas atividades nainfncia sempre ligadas aos jogos populares de rua queimado, bandeirinha,

    piques, pipa, uma corda amarrada nas rvores pra jogar vlei e futebol9foramos mais citados. interessante notar que nas entrevistas, quase nenhuma dastpicas brincadeiras de meninas so resgatadas. fcil supor que em algummomento da infncia foram oferecidas a elas bonecas, casinhas e coleode papis de carta e que efetivamente elas compartilharam com as amigasformas de brincar com estes elementos. No entanto, a memria, segundoSantos (1998), opera reconstruindo uma srie de imagens fragmentadas de umconhecimento que temos identificao. Estas imagens vo constantemente

    sendo transformadas, ressignificadas, pelas novas experincias acumuladas. Porisso so to significativas as atividades citadas pelas praticantes, comuns nessaidade para crianas de ambos os sexos. As caractersticas dessas brincadei-ras so a utilizao da fora e da velocidade, da disputa entre equipes e daagressividade. Sabemos, pela experincia diria da interveno pedaggica,

    9 Futebol aqui o modo como as meninas identificam as diversas brincadeiras de rua que tm ascaractersticas do futebol (uso dos ps para controlar a bola), algumas tm origem na represen-tao do jogo institucionalizado, outras no.

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    que o desejo por determinada atividade corporal est ligado diretamente capacidade de desempenhar bem esta atividade. Tanto da rua para a escolacomo da infncia para a adolescncia, o processo de escolha das crianassegue as sensaes positivas anteriores que dirigem sua procura por uma novaatividade similar anterior. Assim, dos jogos populares para os esportes formais,as meninas procuram, mediadas pela sua competncia, um lugar em queencontraro melhor possibilidade de realizao pessoal e estima.

    Parece coerente suspeitar, ento, que, devido aos avanos e conquistasdas mulheres nos espaos antes quase exclusivos dos homens, o desempenhoatltico, o esprito coletivo e a agressividade, aparecem como elementos ne-

    cessrios para a possibilidade de elas participarem dos esportes coletivos deconfronto e no a sua condio de mulher para serem excludas. Com todas asressalvas que essa afirmao implica, o importante que, ao contrrio de umaatividade de carter sexista, como apontam estudos de gnero, a prtica dosesportes coletivos de confronto na escola, ao menos para essas meninas quegostam e tentam jogar, um espao de oportunidade de transgresso da nor-ma. Uma das praticantes relata bem esse contexto e suas estratgias de ao:

    [...] me lembro de tudo, era separado, eu mesma que saa de onde estava porquegostava mais do que os meninos faziam e eu brincava com eles. [...] as meninas ti-nham vezes que at danavam, eu no gostava, tinham meninas tambm que vinhapro futebol, duas que gostavam e vinham comigo pra jogar, mas na maioria ou era

    handebol, queimado ou uma bandeirinha, coisa bem tipo da menina [...] s vezes,eu jogava com as meninas, s vezes com os meninos. E a jogava futebol com eles ejogava um pouquinho aqui um pouquinho ali, mas lembro muito do handebol e futebol,at a oitava srie foi a minha educao fsica... Foi isso.10

    A educao fsica que as praticantes se referem segue o modeloconsiderado na profisso como aula tradicional. Os contedos so os diversosesportes e as turmas, quando no so divididas por sexo, so divididas pelo(a)professor(a) para que exista espao reservado tanto para meninos como parameninas na aula, conservando, assim, o conforto da norma estabelecida pelacultura. Nesse contexto, as meninas, a princpio, so levadas a seguir a maioriaque opta pelas atividades da tradio feminina e permanecem no estgio

    anterior, rudimentar, dos jogos populares vivenciados na rua. Esta condio,por vezes, considerada academicamente como discriminatria e sexista.Entretanto, pode ser um ambiente favorvel, que promove nas meninas quese interessam por esportes coletivos de confronto, a chance de se arriscar aparticipar do lado masculino e, assim, desenvolver estratgias de negociao,com seus pares e com os outros, para satisfazer seus desejos, de forma contro-lada e assistida, tpica do ambiente escolar.10

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    Na narrativa de outra praticante, questionada pela pouca presenafeminina na sua modalidade, ela explica sua trajetria e as estratgias paraconseguir se inserir:Acho que comea no colgio, menina que no gosta deeducao fsica? Acabou!.11

    A socializao de uma pessoa no se constri por meio de algumas insti-tuies apenas, mas de todas as suas interaes durante a vida. A formao dogosto esportivo no se resume s suas prticas imediatas, mas a todos os outroshbitos que vo construindo seu estilo de vida (GIDDENS, 2002). A religio, porexemplo, faz parte da rotina de algumas dessas praticantes e certamente relevante em todo esse processo e no s das frequentadoras mais assduas s

    igrejas. O ficar a toano tempo livre, que elas narram, certamente preenchidopor mltiplas informaes vinculadas pelos meios tecnolgicos que a moderni-dade insere o Mundo dentro da casa de cada um, e tambm vo formandosuas sensaes e opinies.

    A famlia, a rua e a escola, no entanto, no contexto social em que estoinseridas as praticantes estudadas, so espaos privilegiados para a escolha dasatividades esportivas no mapa de orientao que a cultura lhes vai desenhando.Ao mesmo tempo em que esses lugares, em grande medida, determinam opapel social de gnero tradicional, a escola em especial, intencionalmente ouno, promove tambm oportunidade para a experimentao e socializaode novas possibilidades. E se pensarmos que existem essas possibilidades nocontexto escolar, na aula de educao fsica, o espao em que os alunos(as)tem maior oportunidade de expresso, comparao e identificao de seuscorpos, to fundamental para a construo de seus comportamentos. na es-cola que essas meninas, que se interessam por esportes coletivos de confronto,experimentam, como um laboratrio, o estigma e as negociaes que iroacompanh-las no decorrer das suas movimentaes no lazer, para estendersuas fronteiras.

    Chaves explicativas para as distines do feminino no esporte

    O avano das mulheres no mundo do lazer esportivo significativo. Elas japarecem em maioria, mas ainda se concentram nas modalidades da tradiofeminina. Nos esportes coletivos de confronto, ligados tradio masculina,ainda esto em minoria e as suas praticantes convivem com o estigma depertencer a um local inadequado. No entanto, projetos socioesportivos, como

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    o CEMS, aparecem como um novo ambiente, no qual as mulheres encontrampossibilidade de participar dessas modalidades, estendendo suas fronteiras.

    Antes de ocuparem esses locais, as experincias originadas na escola sofundamentais para as mulheres que se propem a jogar os esportes coletivosde confronto. Ao mesmo tempo em que o ambiente escolar informa e reforaas identidades fixas de gnero da tradio, permite distines dessas mesmasidentidades. Para as mulheres investigadas na pesquisa, a educao fsica, emespecial, ofereceu oportunidades para desenvolverem formas de negociaode suas individualidades ao contexto. Em continuidade, no lazer esportivopblico, elas puderam vivenciar novas interaes que foram construindo suas

    identidades. As instituies que determinam e conformam as individualidadestambm oferecem a oportunidade de dilogo com as fronteiras estabelecidaspela norma tradicional.

    A experincia com o mecanismo do estigma exige das praticantes deesportes coletivos de confronto a organizao de uma nova narrativa que astornem coerentes, mas distintas da norma da feminilidade. Uma naturalizaode sua escolha por um esporte de predomnio masculino, a partir do gosto pelasbrincadeiras agressivas e de esprito coletivo desde a infncia, um exemplo.Ao mesmo tempo, o distanciamento das atividades do lar e os demais modosde cuidados e incentivos dos pais, no limite de possibilidade que o ambientetradicional e a gerao a que pertencem permite, revelam que esse estilo devida individual tambm se combina, em parte, com um projeto familiar. Nacomplexidade de todo esse processo, necessrio compreendermos se aidentidade de gnero, nesses casos, se resume distino entre o feminino eo masculino e s suas relaes de fora tradicionais.

    Scott (1995) define gnero como o elemento constitutivo de relaesbaseadas nas diferenas percebidas entre os sexos e um campo primrio noqual o poder articulado, mas observa, no entanto, que os discursos e repre-sentaes sobre ele esto em constante mudana. Ao se preocupar comesse movimento de mudana, analisando os estudos nesse campo, afirmaque existe um pensamento dicotmico e polarizado sobre os gneros, numa

    hierarquia fixa de dominao-submisso e que para o avano desses estudosseria necessrio implodir essa lgica. Essa crtica polarizao e invariabilida-de do gnero aproxima o conceito de Scott da interpretao de Hall (2005) eGiddens (2002) a respeito das novas identidades culturais da modernidade. Estaaproximao sugere a necessidade de pensarmos novas formas de olhar paraas transformaes que esto ocorrendo ao nvel das identidades de gnero,relacionadas s prticas esportivas da atualidade.

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    As transformaes da modernidade afetam questes ntimas e existenciais.A segurana ontolgica estabelecida pelo referencial protetor da tradio temde ser substituda pelo o que Giddens (1995, 2002) denomina de um projetoreflexivo de construo da identidade. Por isso, segundo o autor, para almda percepo do excessivo narcisismo sobrepondo aos interesses coletivosde nossos dias, a busca da autoidentidade uma fora subversiva da maiorimportncia. Ao necessitar exercer o poder de sua individualidade e por existirespao para tanto, as pessoas procuram se agrupar em torno de uma identida-de comum que provoque a luta por novos espaos de igualdade para todos,em um nvel coletivo.

    Para verificar mudanas nos espaos pblicos de lazer esportivo e a vali-dade da afirmao de Giddens insuficiente investigar as mulheres praticantesde forma generalizada na sociedade e a partir de pressupostos antigos. Sevamos enfrentar o desafio, sem cair nas armadilhas do pensamento fixo sobregnero, que nos alerta Scott, ser preciso analisar a trajetria individual do sujeito;as interaes com os outros indivduos e os resultados dessas aes coletivaspara o seu cotidiano; e a sim, interpretar tais dados levando-se em conta asinstituies mais amplas, que orientam suas tomadas de deciso. Considerandoque a mulher tem essa capacidade de decidir, preciso compreender emque medida a identidade adquirida em funo da sua trajetria individual singular e autntica significativa e como ela negocia a condio de mulher

    dada a prioripela cultura nas suas escolhas, como, por exemplo, na adeso epermanncia em determinado grupo de atividade esportiva.

    Dessa forma, o esforo para o entendimento da movimentao das mulhe-res na prtica do lazer esportivo tornar-se- significativo e poder abrir caminhosde compreenso do fenmeno da transgresso das normas e da construodas novas narrativas identitrias, que vo transformando as representaes dofeminino em nossa cultura.

    Abstract: The goal of this paper is to des-cribe the participation of women in sportof masculine tradition. It depicts a generalview of women in sport, followed by theinvolvement of them with team sports ofconfrontation in a socio sporting project inthe city of Rio de Janeiro. Empirical datahave been collected in ethnographical ap-proach, marked by the challenge of lookingat cultural orientation, in order to observewhere and how women practicing mas-culine sports move themselves in culturalterms. For collecting data, we worked with

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    semi-structured interviews and a copybookfor registering unusual facts and behaviours.The effort for describing and understandingwomens moves in sporting and leisureactivities of masculine tradition allowed usunderstanding the phenomenon of trans-gression from norms and the constructionof new identity narratives, which transformrepresentations of feminine in our culture.

    Keywords:women; sport; identity.

    Recebido em abril de 2009 e aceito para publicao em julho de 2009.

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