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    Janete de O. Elias

    Joy Costa Mattos

    Volume nicoPrtica de Ensino 1

    Apoio:

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    Material Didtico

    Referncias Bibliogrficas e catalogao na fonte, de acordo com as normas da ABNT.

    Copyright 2005, Fundao Cecierj / Consrcio Cederj

    Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meioeletrnico, mecnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Fundao.

    ELABORAO DE CONTEDOJanete de O. EliasJoy Costa Mattos

    COORDENAO DE DESENVOLVIMENTOINSTRUCIONALCristine Costa Barreto

    DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONALE REVISOMrcia Elisa RendeiroAna Tereza de AndradeNilce P. Rangel Del Rio

    COORDENAO DE LINGUAGEMMaria Anglica Alves

    E42pElias, Janete de O. Prtica de ensino 1. volume nico / Janete de O. Elias. Rio de Janeiro: Fundao CECIERJ, 2008. 155p.; 19 x 26,5 cm.

    ISBN 85-89200-62-0

    1. Prtica de Ensino. 2. Produo docente. I. Mattos, Joy

    Costa. I. Ttulo. CDD: 370.71

    EDITORATereza Queiroz

    COORDENAO EDITORIALJane Castellani

    REVISO TIPOGRFICAKtia Ferreira dos SantosSandra Valria F. de Oliveira

    COORDENAO DEPRODUOJorge Moura

    PROGRAMAO VISUALCristiane Matos GuimaresRonaldo dAguiar Silva

    ILUSTRAOEduardo Bordoni

    CAPAEduardo Bordoni

    PRODUO GRFICAOsias FerrazPatrcia SeabraVernica Paranhos

    Departamento de Produo

    Fundao Cecierj / Consrcio CederjRua Visconde de Niteri, 1364 Mangueira Rio de Janeiro, RJ CEP 20943-001

    Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725

    PresidenteMasako Oya Masuda

    Vice-presidenteMirian Crapez

    Coordenao do Curso de Pedagogia para as Sries Iniciais do Ensino FundamentalUNIRIO - Adilson FlorentinoUERJ - Rosana de Oliveira

    2010.2/2011.1

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    Universidades Consorciadas

    Governo do Estado do Rio de Janeiro

    Secretrio de Estado de Cincia e Tecnologia

    Governador

    Alexandre Cardoso

    Srgio Cabral Filho

    UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DONORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO

    Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho

    UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DORIO DE JANEIRO

    Reitor: Ricardo Vieiralves

    UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADODO RIO DE JANEIROReitora: Malvina Tania Tuttman

    UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURALDO RIO DE JANEIRO

    Reitor: Ricardo Motta Miranda

    UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DORIO DE JANEIROReitor: Alosio Teixeira

    UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEReitor: Roberto de Souza Salles

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    Prtica de Ensino 1

    SUMRIO

    Volume nico

    Aula 1 Novos desafios para a Prtica 7

    Aula 2 Os caminhos do saber: o saber-fazer e o saber-dizer 15

    Aula 3 Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: vida e complexidade 25

    Aula 4 Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: contextualizao reflexiva 33

    Aula 5 Novas concepes das prticas educacionais

    num mundo de relaes e identidades 41

    Aula 6 Ensinar e aprender... Um exerccio de mltiplos saberes? 53

    Aula 7 Espao de ensinar, tempo de aprender 63

    Aula 8 Visibilidade da Prtica de Ensino saberes que se cruzam.Onde? Quando? Como? 71

    Aula 9 Visibilidade da Prtica de Ensino fazeres que se entrecruzam.

    Como? Por qu? Para quem?79

    Aula 10 Caracterizao dos instrumentos da Prtica de Ensino a sala de aula conectada com a realidade:

    um encontro possvel 87

    Aula 11 A sala de aula conectada realidade:evidncias pedaggicas 97

    Aula 12 Caracterizao dos instrumentos da Prtica de Ensino: o poder da leitura 107

    Aula 13 Alternativas da Prtica de Ensino no cotidiano escolar 117

    Aula 14 Possibilidades e limites da produo docente-discente 127

    Aula 15 Produtos e resultados da Prtica de Ensino 139

    Referncias 149

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    Novos desafios para a Prtica

    Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:

    Conceituar a prtica de ensino, observando,na sociedade, novos paradigmas que trazemimplcitos novos contedos e metodologiasespecficas.

    Pr-requisitosLeitura do guia da disciplina.

    Anlise do quadro temtico.

    obje

    tivo

    1AULA

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    Prtica de Ensino 1 | Novos desafios para a Prtica

    INTRODUO

    A PANORMICA DA PRTICA DE ENSINO

    Todos ns presenciamos as mudanas da sociedade em suas for-

    mas de se organizar, de produzir bens e comercializ-los, de se divertir,

    de ensinar e de aprender.

    As prticas de ensino tradicionalmente conhecidas no encontram

    espao estimulador num ambiente de mltiplos apelos e de exacerbao

    da violncia, da massificao e da alienao no processo acelerado que

    a sociedade apresenta hoje.Tanto ns, quanto vocs, professores, temos a sensao clara de

    que muitas aulas convencionais esto ultrapassadas e, neste momento,

    queremos demonstrar isto.

    Ainda que a distncia, procuraremos, aqui, desempenhar a

    complexa tarefa de aproxim-los de ns, a fim de, juntos, tentarmos

    buscar uma diretriz que possibilite algumas mudanas no processo

    educacional.

    certo que cada um de ns encontra em sua prpria prtica soluesmetodolgicas correspondentes s reflexes anteriores. No entanto,

    uma prtica articulada coletivamente, como expresso cooperativa das

    identidades de cada professor, e o respeito a suas subjetividades, ainda no

    se fez divulgada. Entretanto, as modernas tcnicas do PORTFLIO, relatrio,

    dossi, catlogo, almanaqueindicam apenas um caminho possvel para

    a reflexo-articulao e a construo desta nova prtica docente. Prtica

    esta que se agrega s prticas pedaggicas e exige prticas de ensino em

    contedos especficos, que revelem os SABERESPEDAGGICOSe os SABERESDAEXPERINCIA, tecnicamente comprovados.

    PORTFLIO

    Relatrio, dossi,catlogo so modernastcnicas de seleoe classificao de

    documentos,organizados eseparados como:textos tericos etextos imagticos,referentes a um temapedaggico. Essastcnicas possibilitam,por sua seleo, anlisee crtica, a construopermanente de seusaber pedaggico.

    SABERESPEDAGGICOS

    Conhecimentosespecficos necessrios prtica docente.

    SABERESDAEXPERINCIA

    Conhecimentosacumulados no

    exerccio da prticadocente.

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    AULA

    Ensinar/Educar participar de um processo, em parte previsvel e

    em parte aleatrio ou imprevisvel, porque a educao feita pela prpria

    vida, pela reelaborao mental-emocional das experincias individuais.

    a prpria forma de viver que nos possibilita a APRENDIZAGEM, pelas

    atitudes bsicas diante da vida e de ns mesmos. Quanto mais

    avanamos em idade, mais claramente nos revelamos em aprendizagens

    que configuram o tipo de pessoa em que nos transformamos. Torna-se

    um processo previsvel, se entendermos que ensinar um ato contnuo,

    inserido em cada cultura, respeitando normas, tradies e leis oriundas

    da sociedade que ensina.

    As instituies aprendem e ensinam, tanto quanto professores

    ensinam e aprendem. Ensinar depende rigorosamente do preparo

    tcnico do professor, que saber interferir, ajudar a apontar caminhos de

    aprendizagem. O docente deve ser preparado TICA, emocional, intelectual

    e profissionalmente, em circunstncias favorveis a uma relao efetiva

    com os alunos, como na situao percebida e configurada na apropriao

    dos contedos inerentes presente PRTICADEENSINO.

    Nosso desafio caminhar para uma educao e um ensino que

    integrem todas as dimenses do ser humano. Para isto, precisamos de

    profissionais que faam essa integrao em si mesmos, observando os

    aspectos sensoriais, intelectuais e tecnolgicos e que expressem, em suas

    palavras e aes, as mudanas que esto realizando e os avanos que

    tm conseguido.

    Neste momento, nos transportamos a Thiago de Mello:

    No, no tenho caminho novo.

    O que tenho de novo

    o jeito de caminhar.

    (CENPEC, l994, p. 15)

    com este jeito de caminhar que se faz a Prtica de Ensino (quer

    dizer, da forma como entendemos que deva ser a Prtica de Ensino

    neste curso). Trata-se de reordenar a experincia que cada um de ns pos-

    sui, introduzindo uma nova racionalidade, indo alm dos pressupostos,

    dos preconceitos e dos esteretipos que se apresentam em cada cultura.

    preciso reconhecer diferentes obstculos e entraves pedaggicos que nos

    impedem de compreender e de realizar um novo conhecimento e questionar

    nossas concepes relativas s teorias anteriormente construdas.

    APRENDIZAGEM

    Entendemos comoaprendizagem as

    mudanas que o alunoapresenta em seu modode pensar, sentir e agir.

    A PRTICADEENSINOdeve ser: interativa,

    participativa,autntica eprodutiva.

    TICA

    Conjunto de regras deconduta consideradas

    universalmente vlidas

    (Japiass, 1996, p. 93)

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    Prtica de Ensino 1 | Novos desafios para a Prtica

    O momento poltico-social que hoje enfrentamos no Brasil nos

    apresenta questes de fundo como: quais contedos esto sendo veiculados

    na prtica de ensino que indicam promover o tipo de sociedade que

    desejamos? Quais prticas pedaggicas vm sendo desenvolvidas, para

    que o professor possa fazer uma anlise reflexiva sobre as reformas

    educacionais que vm sendo propostas? Em que medida a PRTICACOTIDIANA,

    enquanto PRXIS,tem proporcionado reais condies de reflexo?

    A PRTICAPEDAGGICAtem observado a proposta dialgica apenas

    no discurso, sem que esta se revele nas aes de sala de aula. Ser que

    a multiplicidade de dilogos que se abre nos obriga a desvendar novas

    informaes nos contedos pedaggicos?

    AMPLIANDO ESPAOS NA PRTICA DE ENSINO

    Sempre h o que aprender ouvindo, vivendo e sobretudo trabalhando,

    mas s aprende quem se dispe a rever suas certezas.

    (Darcy Ribeiro)

    Entender a Prtica de Ensino como disciplina integradora do

    currculo escolar em sua forma de poltica cultural demanda alar

    as categorias sociais, culturais, polticas e econmicas condiode categorias bsicas para a compreenso da escola atual e de suas

    possibilidades de mudana.

    Para melhor apreenso desta nossa abordagem da prtica de ensino,

    precisamos destacar que conhecimento e poderse associam para atribuir

    um princpio ideolgico forma e ao contedo do conhecimento curricular.

    Num segundo momento, precisamos entender como a escola recebe,

    legitima ou rejeita as experincias e os saberes dos alunos e como estes se

    submetem s normas escolares e aos demais processos de resistncia.

    Leitura complementar

    Para aprofundar sua reflexo sobre as definies de conhe-cimento e poder seria interessante voc verificar o material dadisciplina Fundamentos da Educao 1. L trabalhou-se tambmestas categorias.

    PRTICACOTIDIANA

    O fazer constantedo professor.

    PRXIS

    Reflexo crtica de suaatuao diria.

    PRTICAPEDAGGICAAs aes entendidascomo educativas.

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    AULA

    Nosso aluno formula hipteses sobre seu mundo

    quando desenvolve funo simblica, cria imagens,

    idias e linguagens para representar fatos e

    expressar sentimentos.

    A sociedade, neste incio de sculo, tem vivido transformaes

    em ritmo acelerado, atingindo tambm a Educao e demais cincias

    em evoluo. Transformou-se a idia que se tinha de conhecimento, de

    criana, de ensino, de escola, de mtodos. Tudo precisou evoluir, procu-

    rando acompanhar este movimento, este novo ritmo de vida.

    LCUS

    Lugar de observaousado em linguagem de

    pesquisa.

    AOPRTICO-REFLEXIVA

    Entendemos por aoprtico-reflexiva a ao

    do educador curioso,investigador, ousado ecriativo, mediador de

    suas conquistas, chavemestra de seus novos

    desafios.

    Tais mudanas aceleradas, devidas, em grande parte, alta tecnologia,

    apresentam condies desafiadoras diariamente. Os meios de comunicao

    descortinam o universo, com toda a sua complexidade e formulam, a

    seu jeito, interpretaes do mundo.

    Para acompanhar a histria dos tempos, a prtica de ensino precisa

    tambm se atualizar. Assim pensada, reveste-se de uma intencionalidade

    que busca trazer ao cotidiano dos alunos elementos essenciais vida atual,

    contidos em diferentes espaos, em diversas linguagens, entendendo a

    escola como umLCUSprazeroso que permite o acesso aos objetos sociais

    de conhecimento.

    A prtica de ensino, neste curso, tem seu foco voltado para a cons-

    truo da autonomia, da cooperao, da atuao crtica e criativa de seus

    alunos, numa prtica pedaggica que oferea espao para a construo

    de conhecimentos espao de aprendizagem em mltiplas dimenses.

    MAS, COMO ENSINAR? UM DESAFIO CONSTANTE

    Quando falamos em prtica do ensino, estamos nos referindo a

    um professor que precisa ser sujeito de seu fazer pedaggico, capaz de

    estabelecer uma AOPRTICO-REFLEXIVAno seu cotidianoprofissional.

    Sem a curiosidade que move, que me insere na busca, no

    aprendo nem ensino.

    (Paulo Freire, 1998, p. 40)

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    Prtica de Ensino 1 | Novos desafios para a Prtica

    A organizao destas questes nos traz alguns desafios e muitas

    reflexes.

    Pensar e viver a diversidade do mundo, perpassado por tantas

    inovaes tecnolgicas e incessantes descobertas, exige de ns um dilogo

    com este novo mundo e com outros mundos a serem contemplados nas

    diversas esferas da vida social.

    Trabalhar politicamente para que diversas vozes integrem este

    mosaico social tarefa que nos cabe, professores de Prtica de Ensino e

    professores em sua prtica cotidiana.

    A formao e o trabalho docente precisam de um compromisso tico

    para a construo de uma nova sociedade mais justa e feliz, envolvendo a

    diversidade de sujeitos, de grupos, de relatos e de recursos em diferentes

    linguagens em mltiplas culturas.Neste primeiro momento, tivemos a preocupao de tangenciar

    diferentes contedos abordados nas demais disciplinas de seu curso. Isto

    pode demonstrar um bloco de informaes extremamente denso, porm

    necessrios visualizao do cenrio em que vivemos atualmente, que

    nos possibilita um exerccio prtico, relativo ampliao de seu olhar

    pedaggico.

    PALAVRA-CHAVE

    Mosaico social.

    SUSTENTAOTERICA

    Textos cientficos quese referem a sua prticapedaggica.

    R E S U M O

    A sociedade atual caracteriza-se pela alta tecnologia e pelas mudanas aceleradas.

    Ns, professores, convivemos cotidianamente com estas realidades, principalmente

    quando estamos em sala de aula.

    Neste sentido, vale relembrar:

    As Prticas de Ensino tambm precisam se atualizar.

    As Prticas de Ensino exigem contedos especficos.

    As Prticas de Ensino consideram que o ato de ensinar um ato contnuo,

    inserido em cada cultura.

    As Prticas de Ensino possibilitam ao professor a apropriao dos contedos

    inerentes a sua formao que se deseja reflexiva, dialgica, integradora.

    A Prtica de Ensino, nesta nova abordagem, entendida como elemento

    integrador do currculo escolar e prope, atravs da compreenso das diferentes

    categorias sociais, culturais, polticas e econmicas, a compreenso da escola atual

    e sua possibilidade de mudana.

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    AULA

    EXERCCIO

    Organize um pequeno fichrio, a partir das leituras j realizadas cotidianamente ena disciplina Fundamentos da Educao 1, observando os assuntos que constituem

    este mosaico socialao qual nos referimos nesta aula.

    AUTO-AVALIAO

    Esta a 1 aula. Um bom comeo ser refletir e escolher pequenos textos sobre

    as questes apresentadas a seguir e que esperamos possam apoiar e sustentar

    sua prtica pedaggica.

    Para que serve a Escola?

    Qual a sua funo social?

    De que forma a Escola vem cumprindo seu papel?

    Quem so os meus alunos?

    Que experincias e conhecimentos tm?

    Que professores desejamos para nossa sociedade?

    Leitura complementar

    Pedagogia da autonomia,de Paulo Freire.

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    AGENDA DIDTICA

    Aula 1 TEMTICA __________________________

    PREVISO EXECUO AVALIAO

    Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica

    de EnsinoCH

    Utilz

    Observao e anlise:

    Data

    Assinatura do Tutor

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    Os caminhos do saber:

    o saber-fazer e o saber-dizer

    Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:

    Utilizar a prtica de ensino como ponto dereferncia para a ampliao do conhecimento.

    Transformar a ao pedaggica com base noconhecimento de diferentes teorias.

    Pr-requisitoPara melhor compreender esta aula,

    recorde a fundamentao terica da aula

    anterior a partir da auto-avaliao.

    objet

    ivos

    2AULA

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    Prtica de Ensino 1 |Os caminhos do saber: o saber-fazer e o saber-dizer

    INTRODUO ...ser feiticeiro da palavra,

    estudar a alquimia do corao humano...

    (Guimares Rosa, in Rubem Alves, 1995, p. 63)

    As atividades aqui propostas para orient-lo na busca de novos caminhos em

    seu saber-fazer so:

    leitura e reflexo dos lembretes relacionados;

    reviso dos textos j trabalhados em outras disciplinas deste curso;

    exerccios propostos no final da aula.

    ENSINAR: VALE A PENA?

    A questo central da Prtica de Ensino ensinar e aprender tem

    sua chave-mestra no professor. Exige-se de todo educador preparo pro-

    fissional que responda sobre o saber e o saber-fazer.

    Para que se realize a formao profissionaldesejada, indispen-

    svel conscincia poltica, percepo de outras leituras do mundo, e uso

    da memriapara construir o prprio discurso. Voc deve ser o agente

    de sua prpria histria, autor de sua prpria prtica.

    Imaginamos suas expectativas a respeito deste curso, assim como

    suas freqentes indagaes sobre ensinar e aprender,aprender e ensinar

    e aprender a aprender.

    Certamente, voc j descobriu a relao existente na expresso

    comumente repetida nas salas de aula dos cursos que voc j freqentou

    antes deste e que resumem um certo contedo programtico:

    Ensinar a aprender,

    aprender a ensinar,

    aprender a aprender,

    ensinar a ensinar.

    E assim se define um campo de estudos

    entre a Didtica e a atividade educativa:

    a Prtica de Ensino.

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    AULA

    O jogo de palavras nos mostra uma dimenso relacional entre

    as aes de ensinar e aprendere nos levam a fazer seis perguntas gera-

    doras de saber:

    1- O que ensinar e aprender?

    2- Quando ensinar e aprender?

    3- Onde ensinar e aprender?

    4- Quem vai ensinar e aprender?

    5- Como ensinar e aprender?

    6- Por que e para que ensinar e aprender?

    A primeira pergunta o qu? refere-se a um contedo, a um

    conhecimento que tem um valor, uma necessidade circunstancial e

    temporal. Assim, vejamos:

    colocar o ouvido prximo ao cho para saber a distncia e o

    tempo que o trem levar para chegar a um local determinado

    no um aprendizado necessrio para crianas de uma escola

    urbana. Entretanto, saber usar um relgio, conhecer um

    sistema de medidas, estabelecer a relao entre espao,

    tempo e velocidade so conhecimentos que diariamentecolocamos em prtica para resolver um problema que em

    outra cultura se resolve de forma mais simples.

    Pensando nisto, selecionamos algumas indagaes comuns na

    atividade de professor. A partir das idias que estas indagaes sugerem,

    procuramos explicitar seu significado e definir objetivos, utilizando as

    experincias referendadas por fatos de nossa realidade educacional.

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    Prtica de Ensino 1 |Os caminhos do saber: o saber-fazer e o saber-dizer

    PROFESSOR PENSANDO ALTO FALA O QUE SENTE!

    Pretendo com este curso, aprender como lidar com as

    dificuldades dos meus alunos.

    ouEstou cansada de ler, ouvir, analisar. Eu preciso de algum

    que me diga o que devo fazer em sala de aula.

    ou

    Quantas outras falas voc poderia redigir em

    continuidade s sugeridas neste momento?

    Anote uma opo que expresse o que voc

    deseja alcanar neste curso.

    Professor, suas atividades de sala de aula so interessantes e

    significativas. Faa com que seus alunos percebam isto.

    Estes aspectos, quando trabalhados em sala de aula, caracterizam

    um professor com liderana no processo de ensino.

    Voc j deve ter percebido, no seu dia-a-dia escolar, o quanto

    difcil convencer o aluno simplesmente falando. preciso, de sua

    parte, um comportamento, uma postura, uma ao significativa e vitalque reforce e realce aquilo que voc diz e que deve ser compreendido

    pelo aluno.

    Nossa experincia em sala de aula aponta alguns caminhos que

    se desdobram em atalhosque levam interao.

    Procure conhecer seus alunos.

    Mostre, costantemente, que so parceiros no ensinar e

    no aprender.

    Sente-se ao lado deles e verifique quais os que precisamde maior apoio.

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    AULA

    PALAVRAS-CHAVE

    Interao, experincia,contedo.

    O bom professor procura ver o problema do aluno. Neste caso,

    o saber torna-se to importante quanto o fazer e o dizer.

    Conhecer asexperinciasdos alunos, seus interesses, habilidades,

    necessidades e sobretudo seu atual nvel de conhecimento do contedo

    a ser ensinado indispensvel ao professor.

    O contedo no deve ser nossa nica preocupao. Ele existe para

    ensinar aos alunos o ponto de partida para sua reflexo sobre a vida.

    preciso que voc tenha sempre presente esta realidade que nos

    leva a culpabilizar os professores que nos antecederam pelo que o aluno

    no aprendeu na etapa anterior.

    "Ser que preciso mesmo disto, deste Curso?"

    ou"Ser que preciso ser um professor subserviente, obediente,

    disciplinado para ser um bom professor?"

    ou

    "Ser que preciso ser um professor/educador comprometido

    com minha prtica?"

    Quantas perguntas, quantas questes que s tm

    sentido no trabalho conjunto que estamos fazendo

    ns e voc.

    Freqente com assiduidade o seu plo e leve suas

    (seus):

    questes

    experincias

    saberes em discusso

    Professor, como voc sabe, acredita-se que quem muda a educao o professor em seu cotidiano. Por isso, nossa proposta nesta disciplina

    implica na redefinio da ao pedaggica na sala de aula. Os objetivos

    que se pretende so:

    ter um educador comprometido com sua prtica;

    gerar novas prticas, novas abordagens, que no sejam

    utilizadas aleatoriamente.

    O professor que esperamosdeve ser o agente de INTERATIVIDADE e

    simultaneamente ser o gerente do processo de reconstruo do conhecimento

    na sala de aula. Ele precisa, portanto, saber quando e como intervir em

    sua prtica docente.

    INTERATIVIDADE

    Ao que se exerce

    mutuamente entre duasou mais pessoas.

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    Prtica de Ensino 1 |Os caminhos do saber: o saber-fazer e o saber-dizer

    Sabemos tambm que modificar a prtica dos professores no

    significa anular ou rejeitar de uma vez tudo que j faz parte de sua

    experincia escolar. Ao contrrio, queremos valorizar sua histria,

    reconhecendo os alicerces a existentes.

    Nos ltimos anos, pesquisas em nossa rea tm surgido trazen-

    do conhecimentos que reorientam a prtica pedaggica. Esta prtica,

    alimentada por estudos e pesquisas de psicologia da aprendizagem e de

    didtica, dentre outros, oferece fundamentos para nossa discusso sobre

    vrias questes que tm seu foco em nossa escola.

    As pesquisas cientficas contemporneas nos permitem ter uma

    melhor compreenso dos fenmenos educacionais.

    Professor, procuramos explicitar, nesta segunda aula,

    que apostamos em sua formao, pois acreditamos

    na possibilidade da interao.

    A reflexo terica em outras disciplinas o auxiliar na melhor

    compreenso do processo ensino-aprendizagem, possibilitando o alcance

    de novas estratgias que conduzem ao sucesso sua ao pedaggica.

    Ningum ignora tudo.

    Ningum sabe tudo.

    Todos ns sabemos alguma coisa.

    Por isso aprendemos sempre.

    (Paulo Freire)

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    AULA

    EXERCCIO

    Identifique em sua prtica de sala de aula trs momentos que considere mais

    significativos onde as relaes interativas se fizeram presentes. Registre e guarde

    essas anotaes.

    R E S U M O

    Todo professor deve buscar preparo profissional que responda sobre "o saber"

    e "o fazer".

    Toda prtica de ensino tem como questo central "o ensinar e aprender" na

    dimenso em que ela se relaciona.

    Todo professor deve ser o agente de sua prpria histria, autor de sua prpria

    prtica.

    Todo contedo de ensino tem um valor circunstancial, temporal e por isso, no

    pode ser a nica preocupao do professor.

    Todo professor precisa que suas atividades de aula sejam interessantes,

    significativas, caracterizando sua liderana na relao ensinar e aprender.

    Todo bom professor procura conhecer seus alunos: base do processo ensinar

    e aprender.

    Todo professor pode transformar-se num educador comprometido com sua

    prtica, ser agente de interatividade e gerente do processo de reconstruo do

    conhecimento em sala de aula, ou seja, deve ser aquele que sabe "quando" e

    "como" intervir em sua prtica docente.

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    Prtica de Ensino 1 |Os caminhos do saber: o saber-fazer e o saber-dizer

    AUTO-AVALIAO

    Quando o professor no se coloca por inteiro no processo ensinar e aprender,pode ter a sensao de fracasso, pois o constante "dar aula" torna-se um ato sem

    significado e rotineiro.

    Pense sobre as situaes vivenciadas nesta aula, no constante ensinar e aprender,

    onde estas relaes interativas se fazem presente. Reflita sobre elas, discuta com

    seus colegas a relao entre o que voc aprendeu e as transformaes possveis

    em sua sala de aula.

    INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA

    A prxima aula levar voc a perceber a amplitude do seu espao pedaggico atravs

    da interao das diferentes culturas que professores e alunos representam.

    Leitura complementar

    Conversas com quem gosta de ensinar, de Rubem Alves.

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    AGENDA DIDTICA

    Aula 2 TEMTICA __________________________

    PREVISO EXECUO AVALIAO

    Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica

    de EnsinoCH

    Utilz

    Observao e anlise:

    Data

    Assinatura do Tutor

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    Dimenso socioantropolgicada Prtica de Ensino:

    vida e complexidade

    Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:

    Construir socialmente uma prtica de ensino quepermita a interao dos diferentes contedoscurriculares verificados na prtica pedaggica.

    Pr-requisitoPara prosseguir esta aula voc deve

    ter identificado as relaes interativas

    que se fazem presentes na sala de aula

    e constroem significados pela ao

    recproca entre professor e aluno.

    obje

    tivo

    3AULA

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    Prtica de Ensino 1 | Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: vida e complexidade

    INTRODUO ... a reflexo didtica: o pensamento do indivduo

    se forma por um contexto social e cultural, e estes, por

    sua vez, so configurados pelo pensamento e ao dos

    indivduos.

    (Alarco, 2001, apud Kemmus, 1999, p. 98)

    Apontamos, na aula anterior, o desafio para um ensino e uma educao que

    integram as vrias dimensesdo ser humano em suas diferentes culturas,

    grupos e identidades.

    Veremos nesta e na prxima aula como isto pode acontecer.

    A FUNO SOCIAL DA PRTICA DE ENSINOO tema proposto muito instigante e desafiador, pois envolve

    a formao de conceitos e de um contedo complexo que ainda est

    em construo pelos diferentes autores e pesquisadores em educao.

    Portanto, h um espao aberto s discusses entre professores e

    especialistas, na busca de novas configuraes, que permitam refletir

    sobre os mltiplos saberes e as resistncias s proposies de mudana

    no pensamento pedaggico e nas PRTICASINSTITUCIONAIS.

    As funes sociais e polticas da escola que se pretende reflexiva

    existem em um determinado momento histrico, de acordo com o contexto

    geogrfico e econmico em que a escola se insere.

    Em tais condies, torna-se difcil contextualizar os saberes de

    modo a se tornarem multidimensionais e impensveis sem a complexidade

    que extrapola os inconvenientes da superespecializao, do confinamento

    e do despedaamento irresponsvel do saber.

    Cada vez mais, a gigantesca proliferao de conhecimentos escapa

    ao controle humano. O produto do trabalho se apresenta muito picotado

    face s diversas reas do conhecimento e, no raro, encontra-se ao sabor

    do desejo de outros com os quais estabelecemos relaes.

    Isto nos leva a perceber a complexidade das relaes vividase

    reconhecidas cotidianamente no interior da escola que so refletidas em

    seu projeto poltico-pedaggico-curricular.

    PRTICASINSTITUCIONAIS

    Aes observveiscotidianamente nasEscola, no Estado,nas Empresas, nasFamlias e outrosgrupos.

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    AULASabemos o quo frequntemente nos

    encontramos atados a conceitos e preconceitos,

    informaes divergentes e falas alheias trazendo

    incompatibilidades s diferentes propostas cons-

    tantes na organizao do processo educacional.

    So diferentes teorias culturais, diferen-

    tes personalidades que se formam na famlia,

    na igreja, na vizinhana, na empresa... e nos

    demais grupos aos quais estamos inseridos,

    alm da Escola.

    Ao considerar a escola em sua dimenso

    socioantropolgica, ao estabelecer relaes entre

    a escola e as demais instituies, reconhecemos

    que a vida escolar se torna mais complexa.

    O acesso ao saber intelectual define-se no

    espao da escola tecendo laos de solida-

    riedade para amenizar as situaes conflitivas

    de nossa existncia.

    EDGARMORIN

    Socilogo, nascido a8 de julho de 1921, em

    Paris, Frana.Desenvolve, em suas

    teorias, o pensamentocomplexo, conduzindo

    o professor revisodas prticas pedaggi-

    cas da atualidade.

    AULA

    Aprofundar nossos conhecimentos sobre as diferentes instituies

    sociais, identificando as concepes prvias, os condicionamentos, bem

    como os preconceitos que se formam no cotidiano e que se confrontam

    com a realidade, como um sistema de contradies em movimento, implica,

    necessariamente, em compreender o conjunto dessas profundas contradies,

    visveis cotidianamente, onde aflora o mundo do diferente.

    Assim o desafio e o convite de MORINpara a realizao de uma

    reforma do pensamento por intermdio da complexidade tanto

    pode ser lida sob ponto de vista da ruptura do paradigma dascincias humanas, como uma nova proposio epistemolgica,

    quanto como uma utopia poltico-social.

    (Pena Vega A. e Almeida, 1999, p. 13)

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    Prtica de Ensino 1 | Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: vida e complexidade

    Para sistematizar as possibilidades de aproximao entre a comu-

    nidade e a escola de forma a poder construir um currculo que permita

    a interao dos diferentes saberes culturais, precisamos:

    revelar nas prticas educativas as representaes sociais

    que atingem o processo educacional por inteiro;

    mostrar um conhecimento crtico da vida cotidiana que

    considere a realidade social como o espao no qual se

    concretizam as transformaes da ao humana;

    conceber a complexidade da escola como organizao

    de aprendizagem e, tambm, como organizao na qual se

    aprende, por ser um local onde se reproduzem as relaes

    sociais e polticas do momento histrico vivenciado.

    tomar a escola como instituio de lideranaque deve

    ocupar um lugar privilegiado no espao social de maior

    transformao;

    valorizar a sala de aulanas diferentes oportunidades que

    lhes so propiciadas a fim de transformar o legal, o institu-

    do, o tradicional-hierrquico, arriscando nas incertezas de

    suas criaes inovadoras um novo caminho investigativo.

    Aps essa releitura, voc solicitado a fazer

    outras reflexes e nisto poder ser ajudado

    reunindo-se a outros professores, integrantes

    das reunies desenvolvidas em sua escola.

    Participe! Faa anotaes.

    Procure brincar de memria e busque nos

    jornais guardados, nas revistas, nas letras de

    msicas e nos livros os fatos que mostrem a

    complexidade das relaes na escola.

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    AULA

    Neste momento,

    tente integrar essa

    provocao sua

    exper incia de

    sala de aula.

    PRTICADOCENTE

    Entendida como aoinstitucional do

    professor no ato deensinar.

    por isso que, para construir a dimenso

    socioantropolgica da Prtica de Ensino,

    precisamos formatar a idia de que essa

    disciplina se configura em uma PRTICADOCENTE,

    partilhada na pesquisa e na aprendizagem das

    mltiplas disciplinas do curr culo escolar.

    Dos estudos psicolgicos, sociolgicos, lingsticos, matemticos,

    dentre outros, realizados por voc no decorrer da vida at hoje, muitas

    informaes foram assimiladas, gravadas e/ou descartadas. Entretanto,

    diariamente, como se magia fosse, continuando a viver, manifestamos

    idias, mantemos ideologias e reformulamos obras. Assim, carregamos

    em nossa trajetria os amigos e, tambm, os inimigos, os companheiros,

    parceiros e, muito respeitosamente ou no, nossos opositores. dessa

    maneira que construmos a nossa dimenso pessoal e nos percebemos em

    relao s outras pessoas, aos outros objetos, a outras culturas que nos

    mostram nossas diferenas, nossas identidades atravs das subjetividades

    de cada um com os quais nos relacionamos.

    As diferentes vivncias proporcionadas pela sociedade, pela cultura,

    pela participao em diversos grupos de pessoas, em diferentes espaos,

    nos permitem compreender a variedade de dimenses do cotidiano, assim

    como assimilar comportamentos inerentes a cada um desses grupos.

    Da mesma forma, quando delimitamos a grade curricular, definimos a

    prtica de ensino. Fica evidente que esta inclui prticas especiais de ensino

    relativas a cada contedo, em sua teoria e em atividades pedaggicas

    que lhes so prprias.Assim, a Prtica de Ensino de Histria e de Matemtica destaca

    do contexto vivenciado contedos e formas diferentes de aprendizagem,

    de ensino e de pesquisa. O mesmo enunciado de um problema de vida

    possibilita o uso didtico da Histria e da Matemtica quando apontam,

    respectivamente, implicaes sociais e operaes numricas.

    Devemos nos lembrar de quanto a disciplina Prtica de Ensino tem

    se modificado historicamente desde a Antigidade at hoje, conforme as

    diferentes expectativas sociais a respeito do professor como profissionale suas responsabilidades.

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    Prtica de Ensino 1 | Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: vida e complexidade

    Como antigamente, h ainda hoje quem pense no professor como um

    mestre, um mago que sabe e que no necessita de formao profissional

    prolongada ou de um estudo especfico, porque considera a competncia

    carismtica e a retrica suficientes para ensinar. A simpatia e a comunica-

    bilidade acrescidas do desejo de ensinar o fazem professor. Entretanto,

    nem o professor mago nem o professor tcnico correspondem mais

    s reais necessidades de uma sociedade como a nossa.

    Temos que pensar a prtica pedaggica e o currculo em uma

    outra concepo de ensino, onde a aprendizagem h de se construir na

    cumplicidade de um grupo exigente, em sua racionalidade terico-prtica

    que se afirma em um planejamento pedaggico sensvel reflexo e s

    atuaes em suas mltiplas dimenses sociais.

    Hoje, preciso compreender que o mundo vem mudando em suasformas geogrficas, em suas relaes culturais e identitrias, apresentando

    novas prticas que sugerem uma nova tica.

    Pense na diferena que existe entre transmitir e ensinar.

    Contedos tornam-se descartveis devido precariedade

    de dados com aplicabilidade restrita.

    R E S U M O

    Se voc, professor, se prope como ns a uma prtica de ensino que integre

    diferentes contedos, precisa:

    construir socialmente os contedos de ensino passveis de promover a

    interatividade curricular;

    promover a percepo da complexidade dos saberes, que lhe permitam refletir

    sobre as resistncias s proposies de mudana no pensamento pedaggico;

    reconhecer a importncia do processo histrico na relao da escola com as

    diferentes instituies da cultura;

    superar o pensamento fragmentadopelas especializaes na busca da totalidade

    do conhecimento;

    estabelecer relaesentre a escola e as demais instituies na efetivao de um

    currculo vivo;

    valorizar, nas prticas educativas, as representaes sociaisque atingem o

    processo educacional.

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    AULA

    EXERCCIOS

    1. Selecione em artigos de jornais, revistas, e outras mdias, o relato de situaes,

    que mostrem as diferentes formas de interao entre a escola e a sociedade.

    2. Guarde aqueles relacionadas s seguintes temticas:

    Participao da famlia no processo escolar.

    Relao da escola com o mundo do trabalho.

    AUTO-AVALIAO

    Se o desafio que propusemos a voc foi um ensino e uma educao que integram

    vrias dimenses, precisamos, agora, de uma nova reflexo:

    Pense sobre as relaes que se estabelecem entre a vida na escola e a vida do

    dia-a-dia. Quando voc conversa sobre isto com seus alunos em sala de aula pode

    verificar as diferenas marcantes em suas falas.

    INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA

    Nossa prxima aula dar continuidade ao estudo da complexidade das relaes

    que se estabelecem na escola, conhecimento fundamental que possibilitar sua

    nova prtica pedaggica.

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    AGENDA DIDTICA

    Aula 3 TEMTICA __________________________

    PREVISO EXECUO AVALIAO

    Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica

    de EnsinoCH

    Utilz

    Observao e anlise:

    Data

    Assinatura do Tutor

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    Dimenso socioantropolgicada Prtica de Ensino:

    contextualizao reflexiva

    Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:

    Refletir sobre o processo de ensino/aprendizageme sobre as prticas eficazes para a sua realizao.

    Pr-requisitoPara uma melhor compreenso

    desta aula, preciso que voc tenha

    identificado o que aparece implcito num

    currculo vivo e sua interferncia no

    processo educacional.

    obje

    tivo

    4AULA

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    Prtica de Ensino 1 |Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: contextualizao reflexiva

    INTRODUO H uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguidaoutra, em que se ensina o que no se sabe; isso se chama pesquisar.

    Vem talvez agora a idade de uma outra experincia, a de desa-

    prender, de deixar trabalhar o remanejamento imprevisvel que

    o esquecimento impe sedimentao dos saberes, das culturas,das crenas que atravessamos. Essa experincia tem... um nome:

    sapientia nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabe-

    doria, e o mximo de sabor possvel.

    (Barthes, 1977, in Castro, 1998, p. 125)

    ATIVIDADERELACIONAL

    Chamamos atividade

    relacional ao toque

    mgico que se estabe-

    lece nas inter-relaesde afetividade entre

    professores e alunos.

    Leitura complementar

    Conversas com quem gosta de ensinar, de Ruben Alves,e saber um pouco mais sobre esse "toque mgico".

    Voc vem encontrando, neste curso, informaes que o levam a pensar sobrea diversidade que caracteriza cada indivduo, cada grupo, cada sociedade.

    Essa diversidade se reflete no s no interior da Escola, como tambm nos

    demais membros da comunidade escolar. Com base em tais diferenas, os

    conhecimentos adquiridos se inserem cada vez mais amplamente na vida

    cotidiana.

    Assim, temos que compreender nossas singularidades, de modo a estabelecer

    relaes solidrias e produtivas em nosso cotidiano.

    Como ento poder o professor colocar-se em sala de aula de maneira produtiva,entre a expectativa dos alunos e o recorte da realidade que precisa ensinar?

    A SINGULARIDADE DA PRTICA DE ENSINO

    A primeira dificuldade que identificamos como professor a

    ATIVIDADERELACIONALcom alunos, sempre a lhes transmitir mensagens de

    possibilidades, de sucesso, de esperana emocional e de confiana no

    fazer educacional. Isto s acontecer, na medida em que se estabelece um

    clima emocional, que faz vir tona o toque mgico das inter-relaes,

    que se processa como essencial no trabalho docente.

    TIVIDADE

    RELACIONAL

    Chamamos atividade

    relacional ao toque

    mgico que se estabe-

    lece nas inter-relaesde afetividade entre

    professores e alunos.

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    AULA

    Saber ouvir, numa escuta mais sensvel, a fala dos alunos, seus

    anseios, seus desejos, suas indagaes, pode parecer fcil, quando no

    se tem o conhecimento da complexidade que integra as vrias dimenses

    do ser humano.

    Trabalhamos com nossas emoes, nossa cultura,

    nossos gostos e desgostos, nossos preconceitos, nossas

    angstias e desejos, nossos fantasmas de poder ou de

    perfeies e finalmente nossas entranhas.

    (Perrenoud, 1993, in Carvalho)

    Somente atravs de muito esforo, vontade e competncia pro-

    fissional, podemos conseguir um clima de cooperao autntica, nos

    mltiplos e complexos processos evidenciados na sala de aula.

    PERRENOUDenfatiza que o ensino um trabalho com pessoas, por

    isso, uma profisso relacional, tendo como principal instrumento

    de trabalho a pessoa do professor, um sujeito interagindo com outros

    sujeitos em atividades de dimenses existenciais e afetivas que no podem

    ser desconsideradas.

    PHILIPPPERRENOUD

    Socilogo suo,professor da Faculdade

    de Psicologia e

    Cincias da

    Universidade deGenebra.

    Esse esforo competente exige do

    professor uma renovao do pensar a sala

    de aula, o aluno e a escola.

    PHILIPPPERRENOUD

    Socilogo suo,professor da Faculdade

    de Psicologia e

    Cincias da

    Universidade deGenebra.

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    Prtica de Ensino 1 |Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: contextualizao reflexiva

    HOJE, UM NOVO COMEO...

    Definir um novo comeo corresponde a estabelecer critrios de

    anlise do professor profissional. Perrenoud (2001) nos faz pensar em

    uma atividade educacional que :

    intelectual, porque envolve a responsabilidade individual

    daquele que a exerce;

    erudita, no rotineira, mecnica ou repetitiva;

    prtica, na medida em que se define como exerccio de

    uma arte mais do que puramente terica e especulativa;

    altrusta, pois constitui um servio valioso oferecido

    sociedade;

    tcnica, porque se aprende ao final de uma longa formao;

    solidria, medida que se exerce por uma forte organi-

    zao e uma grande coerncia interna de um grupo.

    Estamos nos confrontando com situae sociais complexas e

    subordinadas ao tempo, nas quais se misturam o social, o institucional

    e o pessoal. Fica inaugurado assim, em um espao definido pela

    complexidade da vida, a construo de um sujeito capaz de se referenciar

    em uma relao com os outros e consigo mesmo. (Mireille Cifali, in

    Perrenoud, 2001, p. 103)

    Perrenoud (2001, p. 25) diz que atualmente se torna mais visvel a

    passagem de um ofcio artesanal para uma situao profissional, onde o

    professor visto como uma pessoa autnoma, dotada de competncias

    especficas e especializadas que repousam sobre uma base de conhecimentos

    racionais, reconhecidos, oriundos da cincia, legitimados pela universidade,

    ou de conhecimentos originrios da prtica.

    Nesse entendimento, fica fortalecida a idia de

    que a profissionalizao do professor se faz por

    um processo de racionalizao dos conhecimentos

    postos em ao e por prticas eficazes em uma

    determinada situao.

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    AULA

    Sugerimos agora que voc reflita sobre:

    a identificao da experincia como portadora de

    saberes abstrados do contexto ou das condies que os

    circunscrevem e os definem;

    a valorizao de um documento de registropara acompanhar

    as aes e as reaes acumuladas e arquivadas para posteriores

    reflexes e racionalizaes;

    a introduo do constante desafio de uma prtica pedaggica

    reflexivaque mantm o dilogo entre as identidades existentes

    na diversidade de sujeitos, de grupos, de falas e de tecnologias

    implcitas nas relaes de convivncia e produtividade;

    a utilizao de diferentes meios de ensinoe de recursos de

    aprendizagem que se encontram em jornais, revistas e outros

    peridicos, assim como nos textos musicais, nas fotografias,

    nos cartes-postais, nos fatos marcantes reproduzidos por

    pintores, escultores, arquitetos;

    a transformao do trabalho desenvolvido em sala de

    aula como documento, por revelar a produo conjunta

    de professores e alunoscada vez mais conscientes, mais

    atuantes, mais participativos... mais humanos.

    Podemos afirmar que nesta perspectiva de produo contextual

    o currculo deve ser visto como um artefato social e cultural, por suas

    determinaes sociais, histricas, antropolgicas, dentre outras.

    Assim, professor, em sua prtica se revela um desejo

    permanente de aprender, de modificar-se, de viver

    em um mundo que se renova, colocando seus

    velhos problemas sob novos enfoques, sob outras

    perspectivas e novas esperanas.

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    Prtica de Ensino 1 |Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: contextualizao reflexiva

    Aps essas prticas pedaggicas, ser que voc, professor:

    a) deseja a mudana?

    b) compromete-se atravs de aes e significaes a

    execut-la?

    c) identifica quais so os papis e modos de agir prprios

    da nova identidade?

    d) busca o reconhecimento dessa identidade e sua aceitao

    no relacionamento escolar?

    e) forma um novo autoconceito, posicionando-se como edu-

    cador consciente em sua prtica, no exerccio da reflexo,

    da autonomia e da ao solidria?

    R E S U M O

    Pensar a diversidade em suas mltiplas implicaes na vida da Escola, torna voc,

    professor, um novo lder pelo papel social que ocupa no processo educacional.

    Ns, professores, em constante reflexo sobre a prtica docente, achamos por

    bem relembrar:

    Que diversidade significa perceber, entender, aceitar e saber trabalhar as

    diferenas (individuais, de grupo, sociais, culturais), atravs das prticas docentesem constante renovao.

    Que diversidade esta que atinge e inclui toda a comunidade escolar? Que

    competncia profissional torna-se to importante quanto outras habilidades e/ou

    qualidades exigidas ao professor.

    Que nova Prtica de Ensino esta que exige de ns, professores deste tempo,

    uma renovao no pensar e no agir em sala de aula, com nossos alunos e no

    viver/conviver na escola e na comunidade?

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    4

    AULA

    EXERCCIOS

    1. A partir do conhecimento adquirido nesta prtica contextualizada,recomendamos a redao de um pequeno texto em que fique ressaltada a prtica

    docente de um professor que valoriza o conhecimento, a cultura e a condio

    de aprendizagem de seu aluno.

    2. Ao iniciar sua redao considere com ateno as questes apresentadas

    nesta aula.

    AUTO-AVALIAO

    Nosso propsito foi lev-lo a trabalhar com as diferenas observadas nas falas,

    nos comportamentos, e no confronto entre alunos, para examinar criteriosamente

    que a pretensa homogeneidade desejada por ns, no grupo de alunos, se revela

    muito mais pela diversidade, pelas diferenas, pelas caractersticas identitrias de

    cada criana, da a singularidade da Prtica de Ensino como disciplina e campo

    de pesquisa.

    Voc percebeu que o processo ensino/aprendizagem desenvolvido nessa

    perspectiva interacionista torna a Prtica de Ensino uma disciplina mais eficaz naformao do professor?

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    AGENDA DIDTICA

    Aula 4 TEMTICA __________________________

    PREVISO EXECUO AVALIAO

    Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica

    de EnsinoCH

    Utilz

    Observao e anlise:

    Data

    Assinatura do Tutor

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    Novas concepes das prticaseducacionais num mundo de

    relaes e identidades

    Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:

    Analisar as diferentes formas de elaboraodo conhecimento pelo sujeito em processo deaprendizagem.

    Avaliar os novos desafios da prtica pedaggicana perspectiva da multiplicidade de saberes.

    Pr-requisitoVolte aula anterior para rever

    a importncia da dimensosocioantropolgica no processo

    educacional. um conhecimentoindispensvel Prtica de Ensino.

    objet

    ivos

    5AULA

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    Prtica de Ensino 1 | Novas concepes das prticas educacionais num mundo de relaes e identidades

    Nas aulas anteriores, observamos que a aprendizagem um ato construdo

    socialmente e que envolve uma relao entre os diferentes sujeitos da Educao.

    Por conseqncia:

    O saber ler e escrever serve para abrir os

    olhos da gente, no apenas para aprender o

    mundo dos outros, mas para aprender tambm

    o mundo da gente.

    (Secretaria Municipal de Educao.

    So Joo de Meriti, SEMEAR, 1998, p. 59)

    Esta nossa quinta aula ser desenvolvida a partir da leitura do texto no prximo

    item e das atividades decorrentes dele.

    O xito de nossas aulas depender da interao com as outras disciplinas que

    voc esteja cursando e das demais informaes que voc possua. importante,

    (re)construir seu conhecimento terico e, a partir dele, poder (re)pensar a todo

    momento novas abordagens pedaggicas. Isto no fcil e precisa querer,

    pensar e exercitar.

    bom lembrar que a troca de conhecimentos e experincias com seus colegas

    ser sempre oportuna, enriquecedora, no esquecendo tambm que os tutores

    estaro a sua disposio sempre que precisar.

    Continuamos apostando no seu sucesso!

    MLTIPLOS SUJEITOS DA EDUCAO: A SUBJETIVIDADEDE PROFESSORES E ALUNOS

    O mundo, as relaes e as identidades mudaram, assim como as

    concepes e as prticas educacionais. Em funo dessas mudanas,

    no podemos mais pensar nem praticar a pedagogia e o currculo

    como antes. Neste contexto, a Pedagogia Cultural impele a novasconcepes, fazeres, dizeres.

    (SANDRACORAZZA, Ptio, 2000, p. 27)

    Comeamos esta conversa de professores, lembrando-nos de

    quando trabalhvamos em escolas da rede pblica, h algumas dcadas,

    aproximadamente no incio dos anos 70 quando era suficiente entender,

    ver e falar dos alunos apenas como membros integrantes de certa classe

    explorada da sociedade. Hoje isso no basta. Atualmente, precisamos

    compreender o alunado da escola pblica tambm como um menino(a),

    de gerao infantil, branco(a) ou negro(a), hetero-homossexual, migrante

    INTRODUO

    SANDRACORAZZA

    professora doPrograma deps-graduao emEducao e doDepartamento deEnsino e Currculo da

    Faculdade de Educaoda UFRGS.

    or co

    Esta n

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    5

    AULA

    da zona rural, filho(a), catador(a) de lixo, catlico(a), evanglico(a) etc.

    Assim visto, temos que consider-lo como possuidor de muitas linguagens

    e usuriode vrias outras. (ibid, p. 27)

    Neste sentido, tambm concordamos em v-los(as) como sujeitos

    escolarizados, possuidores de vrios discursos simultneos, e, s vezes,

    sobrepostos ou conflitantes. Este MOSAICOCULTURALsurge numa subjetividade

    plural, no mais centrada na classe, no gnero, na nacionalidade, mas

    naquilo que poderamos chamar de identidade cultural.

    Mas voc poder perguntar: ora, por que no posso mais entender

    meu aluno somente como sujeito integrante de uma classe popular de

    uma escola pblica da periferia? Respondemos categoricamente que no

    deve ser assim. Voc sabe, os tempos so outros, tudo mudou: o mundo,

    as relaes e as prticas educacionais tambm. Evolumos como pessoa,

    como profissional e como sociedade.

    Os vertiginosos avanos cientficos e tecnolgicos nos conduzem a

    novas concepes, a novos fazeres e dizeres e, em funo destas mudanas,

    buscamos uma nova pedagogia, novas prticas curriculares, ou seja, novas

    respostas para antigos problemas do cotidiano escolar.

    Este pensar, professor, nos remete a uma determinada trajetria

    de estudo. Primeiramente, uma compreenso terico-prtica das repre-

    sentaes sociaise, a seguir, os desenvolvimentos e atuais aplicaesdestas educao.

    A noo de representao social, para R. CHARTIER (1990),

    entendida a partir da sociologia histrica do ato de ler, associada

    prtica cultural. Ou seja, seu interesse torna relevante a construo e a

    leitura da realidade social em diferentes espaos e tempos. Classificaes,

    divises e delimitaes que organizam a apreenso do mundo social

    como categorias fundamentais de percepo e apreenso do mundo

    real, conforme esclarece Sandra Corazza.

    A Pedagogia precisa

    e deve ser, cada vez

    mais, entendida e

    exercida em termos

    culturais.

    MOSAICOCULTURALDiz-se de uma

    sociedade onde oprocesso de interaoentre os grupos exigeo enfrentamento das

    diversidades culturais.

    ROGERCHARTIER

    Historiador francs,autor de inmeras

    obras, comoA Histria Cultural

    entre prticas erepresentaes e

    Memria e Sociedade,e de onde extramos o

    conceito derepresentaes sociais

    para nossa anlise ediscusso.

    A teoria das representaes sociais em seu

    propsito de buscar, relacionar processos

    cognitivos e prticas sociais, recorrendo a

    sistemas de significao socialmente partilhados,

    que orientam e justificam, nos parece, finalmente,

    justificar-se como um caminho promissor na busca

    de novas solues para velhos problemas.

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    Prtica de Ensino 1 | Novas concepes das prticas educacionais num mundo de relaes e identidades

    Desta forma, podemos entender representaes como esquemas

    construdos pelos indivduos que as geram conforme seus interesses.

    Assim, somos forados a estabelecer relaes entre o que

    dito e o lugar social daquele que o diz. O entendimento do termo

    representaes, esclarece por que no existem discursos neutros,

    visto que h sempre uma ideologia subjacente. Tais discursos fazem

    parte de estratgias e prticas de poder que se apresentam em campos

    de constantes concordncias e competies, consensos e conflitos.

    Por tudo isto, a investigao das representaes nos conduz vida

    social e nos aproxima das relaes concretas, colocando-nos em contato

    com a vida, conforme a realidade pensada conforme a experincia de

    cada um. Um copo de gua pela metade, por exemplo, estar meio cheio

    ou meio vazio de acordo com a lgica do observador.

    Veremos agora trs formas de interao entre o sujeito e o mundo

    que sejam possveis de serem identificadas no seu cotidiano escolar:

    as atividades de classificao e delimitao: construes

    da realidade, criadas pelos diferentes espaos sociais de

    forma plural e contraditria;

    as prticas sociais expressivas: formas de existncia

    de relaes do sujeito com o mundo, e com sua prprialgica;

    as formas institucionalizadas de agir, pensar, sentir

    coletivas ou singulares simblicas da existncia e da

    continuidade de grupos e classes. (Dauster, 2000)

    possvel que, atravs deste percurso, possamos compreender a

    construo da teoria da leitura de Roger Chartier (1990), que procura

    mostrar as diferentes formas pelas quais os sujeitos interpretam textosque os afetam, transformando sua auto-representao em representao

    do mundo.

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    AULA

    Tais referncias nos mostram que quando Chartier nos convida

    professor e alunos pesquisadores a trabalhar com representaes e

    prticas, ele ressalta o relacionamento dos discursos proferidos com a

    posio de quem os faz. Ou como diz Norbert Elias:

    ...o modo como uma pessoa decide ou age, desenvolve-se nas rela-

    es com outras pessoas, numa modificao de sua natureza pela

    sociedade. Mas, o que assim se molda no algo simplesmente pas-

    sivo, no uma moeda sem vida, cunhada como milhares de moedas

    idnticas, e sim o centro ativo do indivduo, a direo pessoal de

    seus instintos e de sua vontade; numa palavra, seu verdadeiro eu.

    O que moldado pela sociedade tambm molda por sua vez: a

    auto-regulao do indivduo em relao aos outros que estabelece

    limites auto-regulao destes.

    At ento fomos conduzidos a uma conceituao de representaes

    sociais, no contexto educacional. A partir de agora mostraremos como

    tais representaes se apresentam em seu cotidiano e sua importncia

    na construo da subjetividade de alunos e professores, na identificao

    de suas personalidades.

    Muitas mudanas j esto ocorrendo e precisamos perceb-las.

    Vejamos como:

    O processo de avaliao tem duas funes: a

    diagnstica e a classificatria. A escola faz usode ambas, sendo porm a classificatria de maior

    aplicao, visto que se destina ao acompanhamento

    e anlise do processo educativo.

    Quando voc reprova o seu aluno, ser que

    se d conta de que outros professores no mais

    fazem isso? Considera certa a reprovao?

    O fracasso escolar e sua incidncia perversa sobre os alunos

    oriundos das camadas mais pobres da populao constitui forte base

    de pesquisa e de discusses entre especialistas em educao.

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    Prtica de Ensino 1 | Novas concepes das prticas educacionais num mundo de relaes e identidades

    A Escola pode ser concebida como um plo cultural,

    onde o conhecimento deve ser socializado, vinculado

    realidade do aluno.

    A Escola pode promover a identidade cultural do aluno,

    inserindo-o no mundo em que vive.

    Os estudos sobre este fracasso apresentam alguns culpados:

    a prpria criana, quando considerada por sua natureza

    sem aptido ou prontido necessria para a aprendizagem;

    o prprio meio cultural que no proporciona criana

    o desenvolvimento de atitudes e competncias necessrias

    privao cultural";

    o prprio sistema escolar, ento responsvel pela

    manuteno do sistema social vigente, sustentado pela

    teoria da repetio.

    Como vemos, este quadro e suas contribuies ou mudanas

    efetivas das prticas escolares tm nos conduzido ao imobilismo,

    favorecendo mecanismos de excluso nelas contidos. Quantas vezes

    voc j pensou sobre isso?Neste sentido, concordamos com Mazzotti (2001) quando em

    recentes pesquisas evidencia o estudo do cotidiano escolar e suas prticas

    docentes. Segundo ela, tais estudos indicam que

    1) o baixo nvel socioeconmico do aluno induz o professor

    2) os professores tendem a interagir diferentemente com

    3) este comportamento diferenciado, freqentemente

    4) os professores atribuem o fracasso escolar s condies

    5) a responsabilidade pelo fracasso, suas causas internas

    a uma baixa expectativa sobre ele;

    alunos, construindo expectativas altas e baixas;

    resulta em maiores ou menores oportunidades para

    aprender, surgindo diminuio da auto-estima de alunos

    com baixas expectativas;

    sociopsicolgicas e econmicas dos alunos, eximindo-se

    de responsabilidades;

    (falta de aptido ou de esforo) tendem a ser assumidaspelos alunos de baixo rendimento.

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    AULA

    Ainda acompanhando o pensamento da autora, afirmamos, com

    base, tambm, em tantas outras pesquisas, que os professores tm se

    mostrado pouco crticos a respeito do que esperam dos alunos mais

    carentes, tendendo a uma viso de mundo estereotipada pela classe

    mdia, considerando-a como se fosse nica.

    Resumindo, o modelo de aluno ideal no corresponde ao da

    realidade. O aluno que hoje representa a maior parte de nossa clientela

    da escola pblica do ensino fundamental uma criana pobre, cujos

    pais tm baixa renda (ou nenhuma), sem escolaridade e lutam pela

    sobrevivncia.

    A importncia de tais estudos representa para ns um avano

    no conhecimento dos mecanismos bsicos sobre os quais se produz o

    fracasso escolar das crianas pobres. Estes estudos nos mostram a

    necessidade de se ultrapassar as constataes esteriotipadas, seja na

    prtica escolar ou na cabea das pessoas. Torna-se premente enten-

    der como e porque estas percepes, atribuies, atitudes e expectativas

    so construdas e mantidas.

    A teoria das representaes sociais, em seu propsito de buscar e

    relacionar processos cognitivos e prticas sociais, justifica-se como um

    caminho promissor na busca de novas solues para velhos problemassocialmente partilhados.

    Apesar da posio que assumimos nesta Prtica de Ensino, no

    se pode fugir ao enfrentamento terico-prtico operando e interagindo

    com a prtica investigativa, caso contrrio se perderia a riqueza e a

    complexidade terica e histrica desta prtica.

    Excluem-se da escola os que no conseguem aprender, excluem-se

    do mercado de trabalho os que no tm capacidade tcnica porque

    no aprenderam a ler, escrever e contar e excluem-se, finalmente,

    do exerccio da cidadania estes mesmos cidados, porque no

    conhecem valores morais e polticos que fundam a vida de uma

    sociedade livre, democrtica e participativa.

    (Vicente Barreto, Razes e Asas, 1988, n 1, p. 3)

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    Prtica de Ensino 1 | Novas concepes das prticas educacionais num mundo de relaes e identidades

    EXERCCIOS

    1. Observe, aps nossa aula, como a subjetividade de professores e alunosse faz

    presente em sua sala de aula;

    2. Discuta sobre ela com colegas de curso, no plo ou em sua prpria escola;

    3. Aproveite estas ilustraesa seguir e faa um registro de cada uma destas

    situaes que se relacionem a sua experincia.

    R E S U M O

    Vimos que se ns, professores, afirmamos que os tempos so outros, no

    podemos nos esquecer desta realidade quando estamos em sala de aula. Assim

    vale lembrar:

    o mundo das relaes e as identidades mudaram, assim como as concepes das

    prticas educacionais.

    alunos e professores, sujeitos da educao, se apresentam como possuidores de

    vrios discursos, numa constante subjetividade entre professores e alunos.

    a prtica docente, exercida atualmente em termos culturais, torna relevante

    as representaes sociais construo e leitura da realidade social em diferentes

    espaos e tempos.

    o professor deste tempo deve perceber como as representaes sociais se

    fazem presentes em seu cotidiano escolar e sua importncia na construo da

    subjetividade de alunos e professores.

    o fracasso escolar merece ainda outras pesquisas, assim como, o desenvolvimento

    de novos projetos sociais que busquem em uma prtica pedaggica um currculo

    que seja uma possibilidade de interao entre alunos.

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    AULA

    O que esta escola representa na vida de seus alunos?

    Repense suas condies de vida.

    Como o aluno aprende?

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    Prtica de Ensino 1 | Novas concepes das prticas educacionais num mundo de relaes e identidades

    AUTO-AVALIAO

    Voc conseguiu perceber as diferentes formas de construo do conhecimento?

    Foi possvel fazer uma relao entre esse processo de construo e as mudanas

    das relaes que provocam novas identidades?

    Como, no seu entendimento, a escola vem se comportando em relao a essas

    mudanas que vm ocorrendo?

    INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA

    A prxima aula levar voc a refletir sobre os mltiplos saberes no exerccio de

    ensinar e aprender.

    Curta o prazer de fazer um lbum de imagens (fotos) na escola, evidenciando

    diferentes prticas pedaggicas do cotidiano.

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    AGENDA DIDTICA

    Aula 5 TEMTICA __________________________

    PREVISO EXECUO AVALIAO

    Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica

    de EnsinoCH

    Utilz

    Observao e anlise:

    Data

    Assinatura do Tutor

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    Ensinar e aprender...Um exerccio de

    mltiplos saberes?

    Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:

    Analisar os processos cognitivos, dialgicos einterativos, presentes nos processos de ensino eaprendizagem sob diferentes aportes tericos.

    Propor rupturas com a perspectiva tradicional deensino.

    Pr-requisitoO reconhecimento da importncia da

    interao entre os sujeitos da educao

    na construo dos mltiplos saberes

    necessrios a um novo tempo nas

    relaes culturais.

    objet

    ivos

    6AULA

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    Prtica de Ensino 1 |Ensinar e aprender... Um exerccio de mltiplos saberes?

    Promover rupturas em relao ao ensino

    tradicional.

    Fcil de falar, difcil de fazer!

    Lembre-se de que o convvio nos permite aprender

    ao imitar o outro, ao acatar sugestes e criar

    novos saberes, certezas e convices que nos

    tornam persuasivos e contestadores.

    No olhar que lanamos sobre nossa prtica

    docente identificamos: o novo, o antigo e o

    desejado.

    Ensinar sempre um desafio?

    Desafio ...

    ...uma imprudncia?

    ...uma ousadia?

    ...uma coragem compartilhada?

    ...um desbravar constante?

    INTRODUO Na aula anterior, vimos que alunos e professores interagem como sujeitos

    da educao, em seu cotidiano escolar. Da a importncia das subjetividades

    na concepo das atuais prticas pedaggicas vivenciadas dentro e fora

    da escola.

    Sabemos que toda criana tem algo a dizer.

    preciso que o professor d oportunidade para que ela fale.

    Partilhar idias , tambm, desenvolver o pensamento!

    (Clia Linhares)

    Vamos refletir agora sobre a produo de sujeitos e suas subjetividades, pois

    preciso fazer o cruzamento entre os saberes sociais e os saberes j constitudos

    na cultura que os alunos vivenciam.

    Na conversa que iniciamos anteriormente,

    falamos em promover rupturas.Nossa

    inteno era (e ainda ) a de favorecer novas

    alternativas na (re)construo dos saberes

    constitudos. Vamos continuar esta conversa?

    Inicialmente, o desafio nos conduz a uma prtica

    pedaggica que auxilia professores e alunos a

    refletirem e perceberem seus saberes,

    para, em seguida, entender, processar e

    transformar a realidade(Freire, 1987).

    Tomamos a escola pblica fundamental como

    palco central, onde a experincia de cada um

    vai sendo construda numa instituio escolar.

    Lanamos nosso olhar sobre este territrio

    singular a sala de aula espao pedaggico

    onde a ao acontece (Nvoa, 1992).

    Quando voc est em sala de aula junto a seus

    alunos, o que acontece neste espao e o que

    voc faz acontecer?

    Pensando nisto, discutiremos a sala de aula como um espao institucional

    que favorece novas iniciativas e pressupe um esforo da (re)significao de

    ensinar e aprender.

    Voc perceber que instituir uma perspectiva de produo do conhecimento e

    promover a apropriao dos saberes cotidianos aproxima a escola da vida dos

    alunos. Provoca uma ao reflexiva sobre o conhecimento e a experincia de

    si mesmo na relao com os outros.

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    AULA

    OS MLTIPLOS SABERES NO EXERCCIO DE ENSINARA APRENDER

    Da fronteira se pode alcanar

    um ngulo de viso mais amplo... embora nunca

    se veja tudo.

    (Regina Leite Garcia)

    Comeamos por lhe perguntar se, alguma vez, um acontecimento

    inesperado, de pouca importncia em seu cotidiano, fez voc mudar

    de atitude didtica, como por exemplo, em relao a algum aluno,

    preconcebidamente rotulado de irrecupervel, alterando a vida dele.

    A vida de professores registra muitas surpresas e, neste processo

    de constantes descobertas, muito nos assustamos, mitos desaparecem e

    constatamos que:

    (...) a verdade sempre relativa a quem olha e ao lugar de onde se

    olha, e mais, que o que at ento denominamos objeto nos olha

    interagindo conosco, e direciona o nosso olhar, influindo sobre o

    que vemos e at sobre o mtodo que escolhemos para investig-

    lo.

    (Garcia, 2000, p. 116)

    Tal situao se apresenta como uma estratgia provocadora,

    que lhe pode permitir levantar, conhecer e at (re)construir processos

    e relaes presentes em sua vivncia escolar, em sua conscincia e em

    suas mltiplas aes.

    No entanto, bom lembrar que nossa contribuio nesta reflexo

    somente se tornar vlida, se o aluno/professor se envolver no processo

    de (re)construo desta prtica. necessrio, para isto, identificar

    contradies, descobrir dimenses que interagem na construo dos

    saberes, identificar suas influncias no exerccio de ensinar e aprender, e

    respeitar os papis sociais que so incorporados no palco da escola. Da

    vem a (re)significao da Prtica de Ensino pelo exerccio dos mltiplos

    saberes em interao.

    ,

    os

    m

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    Prtica de Ensino 1 |Ensinar e aprender... Um exerccio de mltiplos saberes?

    Ento, pergunta-se, que conhecimento este, trabalhado e cons-

    trudo na escola e pela escola, do qual estamos falando?

    a professora que sabe!: concepo dos

    alunos sobre o ensino do sistema formal.

    Olha quem est Falando!: as diferentes vozes

    no discurso escolar.

    Somos sempre atores observando e sendo

    observados. Criticamos e somos criticados.

    O saber escolarapresenta diferentes tipos de conhecimento e reala

    a importncia do trnsito entre saberes; o conhecimento est em cons-

    tante processo de elaborao e sempre a servio de valores, nem sempre

    explcitos, mas culturalmente observados e reproduzidos.

    Quando nos referimos escola como palco, pensamos nas repre-

    sentaes que ela contempla: a vida na escola, se vida vivida, nos tem

    mostrado a existncia de mltiplos saberes no ato de ensinar e aprender:

    Saberes daqueles que nos contam a prpria histria de vida;

    Saberes dos que propem novos enfoques sobre o ato de

    ensinar e o ato de aprender;

    Saberes de fragmentos autobiogrficos;

    Saberes que os alunos trazem para a sala de aula e que so

    fundamentais ao processo de formao do conhecimento.

    Temos hoje, a nosso dispor, vasto material coletado por pesquisa

    ao longo da histria, que nos permite uma viso mais rica da escola, com

    registros biogrficos de alunos de outras dcadas.O que nele encontramos?

    Prticas autoritrias e desprezo pelo saberes dos alunos, o cotidiano

    escolar desconhecido pelos pais dos alunos, assim como o distanciamento

    em relao s contingncias que cercam a vida de professores.

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    AULA

    O trabalho na escola no pode prescindir da reflexo consciente

    do professor, do olhar sobre si mesmo como sujeito de sua prtica, de

    sua prpria histria de vida escolar, ou seja, este trabalho no pode

    ignorar aquele que se prope, a todo momento, (re)significar sua aula

    como espaos de:

    possibilidades de experincias, de viso de mundo, devalorizao das relaes interpessoais, de aes educativas

    inclusivas, valorizando o que se fala, l, escreve, pensa,

    ensina, aprende e arquiva.

    Tire o olho do livro!

    Sozinho ele muito "indigesto"...

    Olhe ao seu "entorno"...

    Junte conhecimento com observao...

    do outro sozinho,

    dos outros em grupo,

    do ambiente da escola,

    da cultura dos alunos.

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    , ,interpessoais, de aes educativas

    o que se fala, l, escreve, pensa,

    a.

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    Prtica de Ensino 1 |Ensinar e aprender... Um exerccio de mltiplos saberes?

    Assim pensando, a sala de aula, este territrio destinado con-

    quista de mltiplos saberes, apresenta-se como uma teia de relaes. Tais

    relaes podem ser interativas do intelecto e do afeto, tecidas entre as

    pessoas produtoras dos atos de ensinar e de aprender, tanto na dimenso

    subjetiva da conscincia dos sujeitos, quanto na dimenso objetiva

    da cultura.

    Nossa proposta inicial foi favorecer a auto-reflexo de vocs,

    alunos/professores, como sujeitos da produo de sua prpria formao.

    Queremos uma formao que incorpore, com humildade, o exerccio

    de transitar em diferentes campos do conhecimento, sem apropriao

    privada de saberes e com conscincia de seus no saberes.

    Se concordarmos que o professor brasileiro mudou de perfil,

    de classe, de cor, de cultura e de condies materiais, talvez possamos a

    partir destas concepes, abrir caminhos para a reinveno da escola

    (Frazo, 2000, p. 49).

    Nesse sentido, firma-se a necessidade de se criar uma nova cultura,

    que seja transgressoradas verdades acabadas, do conhecimento pronto

    e desconectado da realidade social.

    Os estudos j realizados sobre a sala de aula em territrios de

    mltiplos saberes (Anais do X Endipe, RJ, 2000) apontam resultados.para a dialogicidade como categoria mediadora entre os

    conhecimentos e as pessoas, em que as relaes possam ser

    construdas por meio da partilha das vivncias e saberes entre

    o professor e os alunos, saindo da viso de investigaes sobre

    para uma investigao e reflexo com a realidade e com parcerias

    construdas numa sala de aula com fronteiras abertas, permitindo

    a possibilidade de indissociar o ato de ensinar e o de produzir

    conhecimento.

    (Cleoni Fernandes, 2000, p. 180)

    Para finalizar, embora sem colocar um ponto final na discusso,

    procuramos mostrar que a Escola pode agilizar o trnsito dos saberes

    na ao pedaggica, fazendo com que ocorra um fluxo contnuo nas

    diversas (re)elaboraes cognitivas/afetivas, frutos de procedimentos de

    qualidade, na direo do exerccio da cidadania assumida.

    Esperamos que, atravs deste percurso discursivo, seja possvel

    entender melhor a complexidade de tais processos sociais que envolvem

    tanto os que esto na escola como os que permanecem fora dela.

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    AULA

    EXERCCIO

    1. Nossa preocupao em oferecer sempre o melhor nos remete ao texto A Escolafabricando professores e estudantes: experincia de si mesmos(Linhares, 2000,

    pp. 47-54). Nele, a professora faz referncia a um filme rodado numa escola de

    Shuiquan, num povoado da China contempornea. O filme em questo, Nenhum

    a menos, faz parte da videoteca de seu plo.

    Propomos que voc assista ao filme. Ele tem sido utilizado em cursos de

    formao de professores, por sua adequao ao trabalho na educao e

    na escola.

    Algumas referncias sobre ele:

    Mesmo retratando uma escola no oriente, o enredo nos leva a pensar o que temos

    estudado sobre as subjetividades, se muito pouco ou quase nada. A subjetividade

    de sujeitos professores e alunos vai sendo construda e produzindo escolas. At

    que ponto esto construindo para conservar ou para modificar seus entornos, suas

    comunidades, suas cidades, conjugando-as com outras relaes sociais, intervindo

    nas sociedades e na histria (ibid, 2002, p. 44).

    R E S U M O

    Nesta aula vimos que a prtica de ensino no pode prescindir da constante

    reflexo do professor, do olhar sobre si mesmo como sujeito de sua prtica de

    seu propsito de refletir:

    A sala de aula, vista como territrio de mltiplos saberes espao de relaes

    interativas do intelecto e do afeto entre os que participam do ato de ensinar e

    aprender;

    A interao que se processa tanto na dimenso subjetiva da conscincia dos

    sujeitos (professores e alunos), quanto na dimenso objetiva da cultura a que

    pertencem estes sujeitos.

    Os diferentes saberes do professor, sempre percebidos e sempre tomados como

    ponto de partida para se entender e transformar a realidade.

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    Prtica de Ensino 1 |Ensinar e aprender... Um exerccio de mltiplos saberes?

    A trajetria do filme levar voc a observar questes pedaggicas, contedos,

    mtodos e seu entrelaamento e at sua subordinao, dentre outras questes

    menos discutidas ou faladas, mas sem dvida, como bem ressalta Clia Frazo

    Linhares, presentes e potencializadas nas prticas, e nos funcionamentos e

    mecanismos da escola:

    as polticas que conduzem as experincias de si mesmo e dos outros, controlando

    no s o como aprender, mas o que se aprende, o que se ensina e fala e, do

    outro lado deste mesmo fio, o que se precisa silenciar e desaprender. Trata-se

    de espaos polticos de fabricao de conformismos e sujeies que, por sua vez,

    atiam insurgncias, como resistncias, como afirmaes.

    (Endipe, 2000, p. 45)

    Assistindo ao filme, seu olhar dever estar voltado para ver o que nos acostumaram

    a no ver, o que foi deixado margem, como menor, pela fora de consensos

    que reproduzem os ditos e os feitos. Por esta razo, vale a pena voc tambm

    ver este filme.

    Com olhar investigador, voc poder identificar nas falas da professorinha Wei

    Minzhi, nas imagens do filme, os exerccios contidos em processos de subjetivao,

    numa tenso a que chamamos de mundo de objetos numa dimenso de

    objetividade inseparvel da subjetividade. Voc ver tambm, no filme, que os

    exerccios de matemtica tornaram-se produtivos, e se transformaram no objetivo

    maior da prpria escola: a luta pela permanncia de todos na escola nenhum

    a menos.

    Vale a pena conferir e fazer o registro das inmeras questes pedaggicas aserem refletidas por voc nesta oportunidade de (re)construo de saberes

    de professores e alunos.

    Lembre-se de que, diariamente, em sala de aula , voc e seus alunos constroem

    saberes nicos e importantes. Registrar os conceitos estudados, fotografar

    (gravar) as cenas interessantes do cotidiano e utiliz-las pedagogicamente

    pode ser uma forma de levantar vozes at hoje silenciadas e dar significado

    a comportamentos ocultados por mitos e preconceitos.

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    AULA

    AUTO-AVALIAO

    Esta aula trouxe uma srie de conhecimentos que interferem na perspectiva pela

    qual vemos a prtica de ensino na sala de aula e fora dela.

    Partindo da proposta da (re)significao do processo de ensinar e aprender, releia

    os objetivos desta aula e constate se houve (re)significao em seus conhecimentos:

    dvidas que ficaram e mudanas que provocaram.

    Voc conseguiu visualizar no filme o exerccio dos mltiplos saberes em ao

    na escola?

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    AGENDA DIDTICA

    Aula 6 TEMTICA __________________________

    PREVISO EXECUO AVALIAO

    Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica

    de EnsinoCH

    Utilz

    Observao e anlise:

    Data

    Assinatura do Tutor

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    Espao de ensinar,

    tempo de aprender

    Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:

    Formular novas polticas de atuao em sala deaula.

    Encontrar em sua prpria ao os caminhossugeridos nas teorias estudadas.

    Pr-requisitosTrazemos para esta aula

    os diversos conceitos trabalhados

    nas Aulas 5 e 6 sobre:

    Identidades culturais e sociais;

    Subjetividades de professores e alunos;

    Interao escola e meio;

    Representaes sociais em sala de aula;

    O ato de aprender como exerccio

    de mltiplos saberes.Eles sero necessrios para compreender a sala de

    aula como espao de reflexo no exerccio de ensinar.

    objet

    ivos

    7AULA

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    Prtica de Ensino 1 |Espao de ensinar, tempo de aprender

    INTRODUO No h um penso, mas um pensamos. o que

    pensamos que estabelece o penso e no o contrrio.

    Essa co-participao dos sujeitos no ato de pensar se

    d na comunicao, em torno do significado/significante.

    (Paulo Freire)

    Pensamos em lhes oferecer um eficaz instrumento que trouxesse tona o

    lugar da imaginao na educao, revendo a crena na criana, na cultura, no

    ambiente familiar, na escola, na comunidade, para livr-los de preconceitos e

    autoritarismos que minimizam nossa capacidade de atuar criativamente.

    O farto material terico que lhe oferecemos teve como objetivo possibilitar o

    relacionamento entre os conhecimentos teoricamente discutidos e a prtica

    cotidiana na escola e na vida. Esta a principal razo de mantermos e

    defendermos uma prtica de ensino que sugere caminhos a serem escolhidos

    por voc no grande repertrio de saberes apreendidos no dia-a dia de todo

    professor.

    Sua vida, suas indagaes, suas afetividades, repletas de emoes, juntamente

    com os conhecimentos adquiridos, configuram um novo espao de reflexo

    que lhe possibilita a interatividade no exerccio do ensinar.

    QUE TAL MANTER EM SALA DE AULA UM OLHAR FELIZ,QUE INTEGRA VIDA E PROFISSO?

    E agora voc decide seus prximos passos em relao aos objetivos

    dessa aula.

    ( ) Preciso rever as aulas anteriores?

    ( ) Preciso ler um pouco mais?

    ( ) ..................................................

    (o que voc precisa fazer?)

    Voc, professor de rede pblica de ensino, sabe o quanto divergem

    as orientaes das diversas Secretarias de Educao que de certa forma

    influenciam nossa prtica docente.

    Entretanto, reconhecemos que a aprendizagem exige determinadas

    rotinas que caracterizam a instituio escolar, tornando-a diferente e to

    necessria sociedade atual, por isso a necessidade de investir "pesado"

    na capacidade diria para o exerccio do magistrio.

    que lh

    QUEQUE

    dessa

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    AULA

    Na sala de aula a teoria se atualiza, sendo confirmada ou trans-

    formada, medida que no d conta do que acontece fora dela. Por

    isto, provoca busca e criaes de novas explicaes tericas, capazes

    de responder s complexas questes dos profissionais empenhados em

    ensinar e aprender.

    Pelo que temos falado, cada um de ns um, nico, diferente de

    todos os demais; cada situao uma, indita, diferente de qualquer

    outra situao teorizada, explicada, vivenciada em sala de aula.

    Neste momento, dentre as inmeras questes que afloram seu

    pensamento, professor, destacamos:

    Como cada aluno pode contar sua histria de vida em

    contribuio ao grupo?

    Como voc pode propor novas prticas para a sala deaula?

    Como o ambiente da comunidade interfere na sua forma

    de ensinar?

    Que saberes anteriores voc e seus alunos tm aproveitado

    no processo de ensino e aprendizagem?

    Partindo das aulas anteriores, voc agora j tem bem claro nosso

    propsito em chamar sua ateno sobre a diversidade entre os alunos eos mltiplos sujeitos da educao.

    No se trata de trabalhar com as diferenas para homogeneizar

    nem de trabalhar, apesar das diferenas, ignorando-as, e sim,

    com as diferenas encaradas como contribuio e no como faltas

    ou necessidades...

    (CENPEC, 1994, p. 6)

    No h curso que possa dar conta do seu

    desenvolvimento profissional, isto s depende

    de voc. Ns podemos apenas ajudar.

    Trabalhando com

    as diferenas.

    Sala de aula: oficina

    de trabalho.

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    Prtica de Ensino 1 |Espao de ensinar, tempo de aprender

    Se voc, a partir de agora, observar com maior rigor uma turma em

    sala de aula, ou mesmo qualquer outro grupo considerado homogneo,

    com certeza encontrar entre seus integrantes mais diferenas do que

    semelhanas. Se souber aproveitar a riqueza que existe na variedade de

    respostas entre alunos e professores, esta aprendizagem se tornar mais

    efetiva para todos, fazendo com que voc, professor, esquea de vez,

    tantas tentativas que j tivemos em reduzir estas diferenas.

    O trabalho da escola no pode prescindir da reflexo sobre estas

    questes. Possibilidade fundamental de (re) significar seu espao de ensinar

    e aprender.

    A escola precisa ser vista como um espao-tempo de permanente

    transformao, exigindo muita dedicao e, mais que tudo, muita inves-

    tigao para romper com uma absurda onipotncia com a qual fomos

    todos formados.

    Deslizando em nossa prpria histria, devemos considerar

    suas tantas e necessrias diferenas, porque j aprendemos que o

    cotidiano escolar tem