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. 4 | Primeira Linha | Jornal de Negócios | Quinta-Feira, 29 de Setembro de 2011 Conferência Portugal Global Até ao fim do ano O empreendedorismo é uma aposta deste Governo e a competitividade “essencial” para a economia crescer. O ministro da Economia destacou ontem, na conferência Portugal Global, promovida pelo Negócios, mais de 15 medidas que estarão concluídas “nos primeiros seis meses de governação”. E deixou uma mensagem de optimismo: mais do que uma “ameaça”, a crise “é uma oportunidade para tornarmos o nosso País mais dinâmico, produtivo e competitivo”. MARLENE CARRIÇO [email protected] Empresas públicas com EBITDA zero O Governo está a ultimar a reestruturação das empresas púbicas que “levará a uma enorme transformação” da forma como estas empresa têm sido geridas até agora. “EBITDA zero e resultados operacionais positivos são objectivos que queremos introduzir e que achamos importantes para que o crédito não esteja só alocado às empresas públicas e ao Estado”, disse o ministro da Economia frisando que tal poderá ajudar a solucionar o problema da liquidez. QREN vai ter estratégia reprogramada “Para nós, o mais importante é não só simplificar o QREN, fechar gavetas do QREN, mas utilizá-lo para potencializar a competitividade. Uma das grandes prioridades do QREN é baixar os custos de contexto das exportações”, frisou o ministro da Economia apontando a reprogramação estratégica do QREN até ao final do ano. Álvaro Santos Pereira destacou ainda que os “360 milhões da linha BEI já estão disponíveis, o que permitirá a utilização de quase 1.000 milhões dos fundos do QREN”. Será criado um verdadeiro capital de risco As regras de capital de risco vão ser “profundamente alteradas” já nas próximas semanas, criando-se um “verdadeiro capital de risco público”. Para o ministro da Economia “existem demasiadas entidades e operadores, as decisões são morosas e existe uma ausência de regras e disciplina de mercado que são barreiras à entrada de operadores privados”. “Será uma transformação muito dramática, mas boa, para a economia porque irá potencializar economias e empresas inovadoras”, garantiu. Código das insolvências alterado “Em Portugal quando uma empresa entra em insolvência está morta e isso tem de acabar”, garantiu o ministro Álvaro Santos Pereira, acrescentado que vai ser feita uma “alteração ao nível do código das insolvências”, uma medida que aliás já está em discussão pública e que foi acordada com a troika. “Vamos também mudar a noção das consequências das insolvências e melhorar e publicitar o plano extra judicial de consolidação que poderá ser activado antes das empresas estarem mortas”. Nova lei da concorrência já está pronta Para tornar o País mais dinâmico é preciso apostar na concorrência. “É muito importante abrir alguns sectores mais protegidos a mais concorrência”, frisou Álvaro Santos Pereira, anunciando que, provavelmente na próxima semana, vai ser posta em consulta pública “a lei da concorrência”, que “já está pronta”. Empreendedores terão programa de apoio O Governo vai lançar “a muito breve trecho um programa de empreendedorismo e inovação”. O ministro considera que “é preciso incutir na mentalidade dos portugueses que arriscar é bom e que falhar não é necessariamente mau” e já que não consegue mudar mentalidades, o Governo vai “fornecer incentivos”. Mais centros de arbitragem para falências Se por um lado quer apoiar o investimento, por outro quer agilizar o fim das empresas e por isso o Governo vai tornar o processo de fecho de empresas não viáveis “mais expedito”. Santos Pereira disse ainda que “é muito importante aumentar o número de centros de arbitragem de processos de falência”. O ministro Álvaro Santos Pereira diz que “falhar não é opção”. O caminho passa pelo aumento da competitividade.

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Conferência Portugal Global

Até ao fim do anoO empreendedorismoé uma aposta desteGoverno e acompetitividade“essencial” paraa economia crescer.O ministro daEconomia destacouontem, naconferência PortugalGlobal, promovidapelo Negócios,mais de 15 medidasque estarãoconcluídas“nos primeirosseis mesesde governação”.E deixou umamensagemde optimismo:mais do que uma“ameaça”, a crise“é uma oportunidadepara tornarmoso nosso País maisdinâmico, produtivoe competitivo”.MARLENE CARRIÇ[email protected]

Empresaspúblicas comEBITDA zero

O Governo está a ultimar areestruturação das empresaspúbicas que “levará a umaenorme transformação” da formacomo estas empresa têm sidogeridas até agora. “EBITDA zero eresultados operacionais positivossão objectivos que queremosintroduzir e que achamosimportantes para que o créditonão esteja só alocado às empresaspúblicas e ao Estado”, disse oministro da Economia frisandoque tal poderá ajudar a solucionaro problema da liquidez.

QREN vai terestratégiareprogramada

“Para nós, o mais importante énão só simplificar o QREN, fechargavetas do QREN, mas utilizá-lopara potencializar acompetitividade. Uma das grandesprioridades do QREN é baixaros custos de contexto dasexportações”, frisou o ministroda Economia apontando areprogramação estratégica doQREN até ao final do ano. ÁlvaroSantos Pereira destacou ainda queos “360 milhões da linha BEI jáestão disponíveis, o que permitiráa utilização de quase 1.000milhões dos fundos do QREN”.

Será criado umverdadeirocapital de risco

As regras de capital de risco vãoser “profundamente alteradas” jánas próximas semanas, criando-seum “verdadeiro capital de riscopúblico”. Para o ministro daEconomia “existem demasiadasentidades e operadores, asdecisões são morosas e existe umaausência de regras e disciplinade mercado que são barreiras àentrada de operadores privados”.“Será uma transformação muitodramática, mas boa, para aeconomia porque irá potencializareconomias e empresasinovadoras”, garantiu.

Código dasinsolvênciasalterado

“Em Portugal quando umaempresa entra em insolvênciaestá morta e isso tem de acabar”,garantiu o ministro Álvaro SantosPereira, acrescentado que vai serfeita uma “alteração ao níveldo código das insolvências”,uma medida que aliás já estáem discussão pública e que foiacordada com a troika. “Vamostambém mudar a noção dasconsequências das insolvênciase melhorar e publicitar o planoextra judicial de consolidação quepoderá ser activado antes dasempresas estarem mortas”.

Nova lei daconcorrênciajá está pronta

Para tornar o País mais dinâmicoé preciso apostar na concorrência.“É muito importante abrir algunssectores mais protegidos a maisconcorrência”, frisou ÁlvaroSantos Pereira, anunciando que,provavelmente na próximasemana, vai ser posta em consultapública “a lei da concorrência”,que “já está pronta”.

Empreendedoresterão programade apoio

O Governo vai lançar “a muitobreve trecho um programa deempreendedorismo e inovação”. Oministro considera que “é precisoincutir na mentalidade dosportugueses que arriscar é bom eque falhar não é necessariamentemau” e já que não conseguemudar mentalidades, o Governovai “fornecer incentivos”.

Mais centrosde arbitragempara falências

Se por um lado quer apoiar oinvestimento, por outro queragilizar o fim das empresas e porisso o Governo vai tornar oprocesso de fecho de empresasnão viáveis “mais expedito”.Santos Pereira disse ainda que“é muito importante aumentar onúmero de centros de arbitragemde processos de falência”.

O ministro Álvaro Santos Pereira diz que“falhar não é opção”. O caminho passa pelo

aumento da competitividade.

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vai estartudo feitoInvestimentomais ágil comvia rápida

O ministro da Economia lembrouque os processos de licenciamentosão demasiado morosos. “Olicenciamento em Portugal muitasvezes passa por demasiadasentidades que não dialogam entresi, mesmo dentro do mesmoministério. Isso tem que acabar.Vamos criar a via rápida para oinvestimento, levando a que sejacriada uma redução das despesase do tempo necessário pararegisto, constituição e arranquedas empresas. Agilizar oinvestimento é uma dasprioridades totais”, afirmou.

Marca Portugalirá chamar-se‘Mais Portugal’

O Governo vai apostar na MarcaPortugal que se irá passar adesignar “Mais Portugal” pois,além de aumentar as exportações,é preciso diminuir as importações.“Mais Portugal vai trabalhar, nãosó ao nível dos cidadãos, mastambém ao nível das empresas,bem como das empresas públicas”Para Álvaro Santos Pereira, “élamentável que empresas públicasmuitas vezes dêem prioridade aosprodutos estrangeiros em vez deprivilegiarem a produção nacional.Isso tem de acabar obviamente”,declarou.

Liderar“casamentos”na construção

O ministro da Economia frisou aimportância do aumento de escalapara melhorar a competitividade,referindo-se em particular aosector da construção que cresceumuito nos últimos anos. “Éimportante perceber que só commaior escala é que muitas dessasempresas poderão sobreviver einternacionalizar-se. O sector daconstrução é um sector que nospreocupa. Além de apostarmosna requalificação urbana iremostambém liderar uma maiorconsolidação do sector”,revelou o ministro.

Reduziro peso das“quintinhas”

Álvaro Santos Pereira criticouo facto de em Portugal, muitasvezes, se trabalhar em“quintinhas”. “Em alturas de crisegrave como a que passamos hojenão temos nada a ganharem mantermo-nos nas nossasquintinhas. Existem 700associações empresariais emPortugal. Na Bélgica existem 70.Eu acho que obviamente oGoverno vai actuar nesta área”,avisou. “É de todo o interesseque nós consigamos mais umavez unirmo-nos para aumentara nossa escala”, concluiu.

Criar linhasferroviárias demercadorias

O ministro da Economia consideraque “as obras públicas devemprincipalmente ser viradas para acompetitividade” e, por isso, maisdo que se falar em auto-estradase TGVs de passageiros, “quenada fazem para aumentar acompetitividade portuguesa, épreciso apostar nos comboios demercadorias”. As actuais linhas,que mesmo assim permitempoupanças de custos na ordemdos 10 a 15%, “são péssimas”.“Não permitem comboios de maisde 700 metros e velocidades maiselevadas”, criticou o ministro.

Portos maisvirados paraas empresas

Muito importante para o Governosão também os portos que aindanão estão “potencializados”. “Émuito importante ter portos maisvirados para as exportaçõese para as empresas. Portos eferrovia em bitola europeia sãofundamentais para diminuirmosos custos de contexto daeconomia”, lembrou o ministro.

Modernizaçãoda legislaçãolaboral

Aos olhos do Governo, “amodernização da legislaçãolaboral é fundamental”pois é uma das componentes dacompetitividade. E por isso oExecutivo está a “implementarrapidamente” o que está noacordo com a troika. As alteraçõesprevistas “estão a ser cumpridasintegralmente”, assegurou.

Grande apostano ensinoprofissional

O Governo vai apostar “naformação e ensino profissional”,com o lançamento de programasespecíficos nesta área. SantosPereira diz que “é essencialmelhorar a formação profissionaldos nossos trabalhadores eapostar no ensino profissional quetorne os jovens com qualificaçõesmais adequadas às empresas”.

Miguel Baltazar

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ANA TORRES PEREIRAMIGUEL BALTAZAR Fotografia

A redução da Taxa Social Única(TSU),previstanomemorandodeentendimento assinado com atroika, visa o aumento da compe-titividadedasempresas.Noentan-to, os empresários, presentes naconferência“Portugal Global”,de-fendemqueoaumentodacompe-titividade das empresas não pas-saráapenaspeladescidadacontri-buição das empresas paraaSegu-rançaSocial.

Adescida da TSU “não vai darmais produtividade” à empresa,defendeuo presidente daFrezite,José Manuel Fernandes. O em-presário que lidera uma empresade engenharia disse entender apreocupação da troika ao proporesta medida, mas admitiu que assuas preocupações são outras.

Paraoco-fundadordaH3,umaempresaque se dedicaàvendadehambúrgueres (ver página 19), areduçãoda TSUnãotemimpacto.“Para uma empresa de retalho, apreocupaçãoéoaumentodoIVA”,disse António CunhaAraújo. “Seiqueasvendasvãocaireissovaibe-neficiar a economia paralela, quevaiganhar10pontospercentuais”,afirmou o administrador da H3.QuantoàeventualdescidadaTSU,omesmoresponsávelafirmouqueestaé umamedida“que vale zero,zero não, vale muito menos”.

Estaopiniãotambémfoiparti-lhadaporManuelRegalado,admi-nistrador da Portucel. “Adescida

da TSU não é materialmente im-portante,temosoutrosproblemasmaisimportantes”,disseorespon-sável, recordando a dificuldadeque as empresas do sectortêmnoacessoàmatériaprimaparafabri-carpastae papel.

Diplomacia precisa-se... Estasempresasportuguesasestãoainvestirno mercado internacio-nal. E na sua generalidade consi-deram importante o trabalho fei-toláforapelo Governo,atravésdadiplomaciaeconómica.

Mas existem lacunas a suprir.Para José Manuel Fernandes “oGoverno tem que dar mais aten-ção, principalmente nos grandesconcursos”. O administrador daFrezite foi ainda mais assertivo:“hágrandesconcursosinternacio-nais em que o embaixador temque trabalhar, não é só a festa docroquete. Há lóbi a fazer e há téc-nicasdelóbiadesenvolver.Temosque fazere agir”.

JánavisãodoadministradordaH3, mais do que diplomacia eco-nómica, era importante que hou-vesse gabinetes de apoio jurídico.Manuel Regalado, administradorda Portucel/Soporcel, faz um ba-lanço positivo dadiplomaciaeco-nómica. Mas recordou que nestafase actual do País, “háum aspec-toimportantequeéatrairinvesti-mento,porqueacapacidadeinter-na vai estar limitada. Temos fala-do apenas no apoio à internacio-nalização e é importante cativarinvestidores paracá”.

As dificuldades para um empresá-rioquearrancacomumnegócioemPortugalsão muitas. Mas, AntónioCunha Araújo, administrador daH3, recordou que quando pensouem constituir aempresacom maisdois sócios não estava à espera deajudas.“Estamosnestenegócioporamoràculináriaeàcozinha”,admi-tiuo empresário.

Contandoasuaexperiência, An-tónio CunhaAraújosublinhouquefoi com esforço e com capitais pró-priosquefoipossíveldesenvolveronegóciodehambúrgueresgourmet.“Aexpansão foi feita com grandesrecursos, porque eram todos nos-sos”, gracejou, aproveitando paradesabafar:“essaéapartequemedóimais”.

Na visão de António Cunha

Araújo,emPortugal“háoempreen-dedor que acredita numa ideia ebate-se por ela, e o empreendedorque olhaparao pacote de financia-mento e tenta fazer a ideia cabernessepacoteeissoestáerrado”.Nasua visão, bem como dos restantessóciosdaH3,onegócioépensadoetem “crescido de forma consisten-te e não a pensar nos fundos”. Equandorecorreuàbanca,emplenacrise, António Cunha Araújo refe-riuquejátinhacartasdadasetraba-lho feito, o que facilitouadecisão.

Agora, o foco é ainternacionali-zação. “Fomos empurrados para ainternacionalização, porque estecrescimentoparaforadoPaíséfei-toàcontadoquenãoéfeitocáden-tro. É mais fácil ir para fora”, con-cluiu.

Descida da Taxa SocialÚnica, para que serve?

H3“Estamos neste negóciopor amor à culinária”

Os empresários que estiveram na conferência“Portugal Global” admitem que a descida da TSUpode ajudar algumas empresas. Mas só isso não chegaNa sua visão o aumento da produtividade passarápela concretização de outras medidas

Conferência Portugal Global

Há lóbi a fazera há técnicasde lóbi adesenvolver.Temos quefazer e agir.JOSÉ MANUEL FERNANDES

CEO da Frezite

António Cunha Araújo | Administrador da H3.

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RodolfoLavrador,administradorda Caixa Geralde Depósitos.

Os bancos estão mais exigentescom as empresas, mas RodolfoLavrador, administrador da CaixaGeral de Depósitos, alertou queestas têm “que recorrer a outrotipo de financiamento e têm queter mais capitais próprios”,quando arrancam com o seuprojecto. Na banca, “é consensualque a prioridade deve ser dada àinternacionalização e a CGD vaiprivilegiar isso, porque é o maisimportante para o países”.

JoaquimSérvuloRodrigues,CEO da ESVenture.

Se para empresas como a Portu-cel, Frezite ou H3 a descida daTSU não é relevante, para aque-las que são apoiadas financeira-mente pela ES Venture é impor-tante. Sérvulo Rodrigues defen-deu assim, a redução da TSU, nãode uma forma standarizada, masvista caso a caso. “A maior partedos custos destas empresas queestão a arrancar são recursoshumanos, por isso reduzir essecusto de contexto é relevante”.

FranciscoMendesPalma,director daEspírito SantoResearch.

A dimensão do País pode ser vistade uma forma positiva. FranciscoMendes Palma, director da Es-pírito Santo Research, sublinhou:Portugal tem o “valor de serpequeno e de ter relações du-radouras”, nomeadamente com ospaíses do Norte de África. Na visãodeste responsável, a dimensão doPaís tem facilitado a sua relaçãocom a Tunísia ou com Marrocos,no sentido de uma relaçãopositiva para ambas as partes.

Há mais de 30 anos que é empre-sário e admite que já viveu anosinacreditáveis em Portugal. JoséManuelFernandes,administradorda Frezite, uma empresa de baseindustrial, recordou o tempo emque os governos davam orienta-ções às empresas, ditando-lhes oque fazer. “Passámos poranos pa-téticos de perda e ridículos, maseles é que tinham o poder”, recor-douo mesmo responsável.

Ecomomuitasempresasassen-tes naexportação de tecnologia, ocaminho é o da internacionaliza-ção. JoséManuel Fernandescon-touquefoiem1981queparticipouna primeira feira internacional. Eapartirdaí nuncamais parou.

Quantoàsempresasportugue-saseaosempresárioséperemptó-

rio emdizerque “o País estácheiode novas oportunidades e temosqueestarpreparadosparaelas”.Noentanto, muitas delas têm receiodearriscar.“OPaísnãotemquetermedodeinvestir”,disse.AFreziteesteanoaindafarásairumprodu-to para o mundo e irá tambémavançar com um novo projectocomumempresárioeuropeu,queJosé Manuel Fernandes não quisdetalhar.“Vamosabrirumasucur-sal na Polónia e também temos oMéxico em linha e a África do SulqueéaAlemanhadeÁfrica.Oprin-cípiodeinternacionalizaçãoéfun-damental”.

A Frezite tem investido na“di-ferenciação e não temos medo depassarafronteira,porquetemosaídesafios fantásticos”.

Frezite“Vivemos anospatéticos e ridículos”

Seháempresainternacionalizadaé a Portucel/Soporcel. Espalhadapormaisde100países,ogrupoquesededicaàpastaeaopapel“temin-vestido no momento e no modelodenegóciocerto”,afirmouManuelRegalado, administrador da em-presa.

No entanto, quando pensa emPortugal,oadministradoradmitiuque “é com mágoaque vemos queum país que precisa de investir,mantématitudestípicasdefidalgorico e arruinado que se dá ao luxodedesperdiçarrecursosabundan-tesquemuitopoderiammelhorarasituação do país”. Agrande criti-cadestegestoréquePortugalcon-tinuaainibirareflorestação,obri-gando a sua empresa a importarmatériaprimaquepoderiaserad-

quiridaem no País.“Deparamos nos com um con-

junto de dificuldades e em Portu-galexistem200milhõesdehecta-requeestãoaoabandonoeécom-plicado obter licencias para a flo-restaaoereflorestação”,recordouManuel Regalado. Na visão desteresponsável, “tardamos em fazeros investimentos certos e o mododefuncionamentodetodoocircui-tologísticoquerdocampodospor-tos, como dos caminhos de ferro”,é ineficiente.

E nesta fase do país, apesar deserimportante incentivarainter-nacionalização, Manuel Regaladodisse não se puder esquecer “deatrair investimento estrangeiro,porqueaquiacapacidadeestálimi-tada”.

Portucel“Portugal tem atitudesde fidalgo arruinado”

CO N S E LH O SD O M E RCAD OF I N AN CE I RO

Manuel Regalado | Administrador da Portucel/Soporcel.José Manuel Fernandes | Administrador da Frezite.

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FILOMENA LANÇ[email protected]

“Opapeldoprimeiro-ministroéde-cisivoeoGovernotemdeestartodoenvolvido.” O alertafoi deixado on-temporJorgeBragadeMacedo,eco-nomistaeex-ministrodasFinanças,que liderou aelaboração do estudoparaainternacionalização do Paísencomendado pelo Executivo. “Seisto for capitaneado por um únicoministério, pelaEconomiaoupelosNegóciosEstrangeiros,porexemplo,o que se passacom aEducação, quetem aformação , ou com aJustiça,que dominaos chamados custos decontexto? É que tradicionalmente,qualquerintromissãonaadministra-çãopúblicaeravistacomoumaofen-sa.Seforoprimeiroministro,jánãoé”,acrescentouoEconomista.

Bragade Macedo falava, ontem,na conferência “Portugal Global -EmpresaExportadoras”, aindano

rescaldodaapresentaçãopúblicadoestudodestinadoarepensarainter-nacionalização e adiplomaciaeco-nómica. Perante umaplateiacom-posta essencialmenteporempresá-rios, oex--ministrodasFinançasdeCavacoSilvaexplicouostraçosprin-cipaisdoestudo,queprevêacriaçãode um conselho estratégico empre-sarial,“presididopeloprimeiro-mi-nistro e no qual estarão três minis-tros,representantesdetrêsassocia-çõesempresariais,emreuniõesqueseriam regulares”. Além disso estesencontros, “seriam aindaacompa-nhadosporrepresentantespessoaisdos seus membros que reuniriamsempre que necessário paraavaliareprepararasreuniões”,explicou.

Odocumento,recorde-se,preco-niza várias recomendações ao Go-vernoqueassentamem“cincocon-sensos”: a internacionalização daeconomiaportuguesadeve ser umprocesso assumido pelo primeiro-

-ministro,deveserumdesígniona-cional, e nesse sentido incluir as járeferidas associações empresariaisprivadas;devecomunicarumaper-cepção positiva e verdadeira dosportugueses; fazer uma execuçãogradualeacompanhadadosconsen-sosedocenárioescolhido;eavançarcomaunificaçãodasredesexternas.

Estaúltima,admiteBragadeMa-cedo, “é inovadora, mas um poucomaiscomplicada”.SeécertoqueaAi-cep acumulou informação e expe-riênciaque “é preciso preservar”, o“embaixador, em cadapaís, tem deserresponsávele inserir-se no pro-cesso”. Oresponsávellembroutam-bém que a ideia é criar a figura do“embaixador itinerante”, a quem“competirá avaliar o desempenhodosembaixadores”nosváriospaíses.“Se estes consensos forem respei-tados,vamostercrescimentoexter-no, como todos desejamos e preci-samos”, garante Bragade Macedo.

Descida da TSU, mas faseada Aindanocontextodanecessidadedeincentivos às empresas, Braga deMacedoelogiouadecisãodoGover-nodenãoavançar,parajá,comumadescidasignificativadaTaxaSocialÚnica.“Adesvalorizaçãofiscalé“de-sejável, mas numaalturaem que osinvestidores estão aagonizar, é na-turalamedidaqueoGovernotomou,queédebomsensoequeéoptarporfasear a descida”, salientou. “EstaideiadoFMIquetemdetertudodoisdígitos,aquiemPortugalnãodava”,disse, recordando aprimeirainter-venção do Fundo em Portugal, em1983. “Damesmamaneiraque issoaconteceu na altura, nós tivemosaquiumaatitudede‘muitobem,estáláescrito,masvamosver’.Nãoestouaminimizaraquestão dadesvalori-zaçãofiscal,masoproblemaquete-mosagorasãoosjurosenãosejusti-ficacriarmaisumindicadordeendi-vidamento”,concluiu.

“O papel do primeiro-ministro é decisivo”para a internacionalização do PaísTodo o Governo deve estar envolvido, mas o protagonista das grandesdecisões terá de ser Passos Coelho, defende o ex-ministro das Finanças

Conferência Portugal Global

Estudo | Jorge Braga de Macedo liderou a equipa que elaborou o estudo para a internacionalização encomendado pelo Executivo.

Se estes consensosforem respeitados,vamos tercrescimentoexterno, comotodos desejamose precisamos.JORGE BRAGA DE MACEDOResponsável do estudo sobre ainternacionalização da economia

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ANA [email protected]

Augusto Mateus não tem muitasdúvidas que este ano Portugal vaienfrentar uma recessão um poucomais profunda do que os 2,2% doPIB previstos. Por isso, a grandequestãoparaoeconomistaéadesa-bercomo seráo próximo ano.

Augusto Mateus sustenta quePortugal,talcomooutrospaíseseu-ropeus, viveu cerca de 15 anos “depoupanças do mundo emergente eonde muitos habitantes passaramanãofazergrandedistinçãoentreocartãodecréditoeocartãodedébi-to”, o que criouummodelo de con-sumo que não é sustentável.

Na conferência “Portugal Glo-bal”, o economista admitiu que oconsumovaisofrerumaquebraumpoucomaisacentuadadoqueopre-visto. “Modelizando o consumodessamaneira,chegoavalorescomintervalos de confiança relativa-mentesólidosmasqueatiramparaumaquebradoconsumomaispró-xima dos 5%” do que do valor queestáprevisto.

Considerando uma quebra doconsumonacasados5%,arecessão“vai ser um pouco mais forte esteano”,ouseja,istosignificaque“nãovamosteros2,2%,significaqueva-mos terumpoucomais”. Contudo,paraAugustoMateus,“agrandedú-vidaése2012,sendoumanoemquevamostertambémrecessão,seestaserámaisfracaouseiráaprofundar-se em2011”. “E essaé aquestão ab-

solutamente nevrálgica” conclui.O economista defendeu ainda a

necessidadede“constituirseis,sete,oito ‘task forces’ para conseguir,nesta emergência, ligar austerida-deecrescimento”.Edeixouaindaoalerta:sePortugalnãoconseguirnopróximo ano “moderar aquilo queé a recessão de 2011 e se tiver, em2012, um aprofundamento da re-cessão” muitos do problemas quepreocupam a sociedade actual po-demseragravados.

Distinguindo que insolvência enecessidades de liquidez não são amesma coisa, o economista admi-tiuque,vistodoprismaeuropeu,“aGrécia é razoavelmente diferentehoje de Portugal e daIrlanda” e re-conheceque“quemnosemprestoudinheiro espera que nós façamoscresceranossaeconomia”nãoape-nas umcontrolo do défice.

Ainda assim, para Augusto Ma-teus, ex-ministro da Economia deAntónio Guterres, “a economiaportuguesanãoapresentanenhumsinal de insolvência” o que nãoacontececomaeconomiahelénicadadoqueesta“caiunocírculovicio-so darecessão”.

Confiante que o país tem“todasacondições paranão cair no círcu-lo vicioso dadepressão” bemcomopara “fazermos este ajustamentoem baixa e para podermos sairdele”,AugustoMateus,noentanto,não deixa de frisar que “devíamosterumadiplomaciaeconómicacen-trada em cinco ou seis coisas”, istoé “emprioridades”.

“Creio que a recessãovai ser um poucomais forte este ano”

Augusto Mateus acredita que a recessão em 2011 será maisprofunda do que o previsto, mas diz que o País tem todas ascondições para “não cair no círculo vicioso da depressão”

Pub

Augusto Mateus | É preciso ligar austeridade com crescimento.

A economiaportuguesanão apresentanenhum sinalde insolvência.AUGUSTO MATEUSEconomista

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10 | Primeira Linha | Jornal de Negócios | Quinta-Feira, 29 de Setembro de 2011

Uma plateia global de empresários,gestores, políticos e economistasEmpresários, gestores, políticos e economistasestiveram ontem presentes no hotel Sheraton, emLisboa, na segunda conferência “Portugal Global”,uma iniciativa do Negócio e do BES que contou com os

patrocínios da CGD, Novabase, Soporcel/Portucel e J.Portugal Ramos Vinhos. Duzentas pessoas encherama sala e ficaram a conhecer a lista das prioridadesdo ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira.

Conferência Portugal Global