50 Anos de Ensino de Língua Portuguesa

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50 ANOS DE ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA (1950 -2000)

50 ANOS DE ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA (1950 -2000)

Ncia de Andrade Verdini Clare

No sculo XIX, o ensino de lngua materna relacionava-se a uma tradio de teoria e anlise com razes na filosofia grega, em que a linguagem era usada como expresso de pensamento. S no incio do sculo XX , com as novas teorias lingsticas, comeam a se ouvir os ecos de uma mudana, mas, ainda assim, o ensino de Lngua Portuguesa se mantinha voltado tradio gramatical, buscando-se a homogeneidade padronizada e desprezando-se a heterogeneidade dialetal.

Apesar de as obras de Said Ali, Joo Ribeiro e Sousa da Silveira apresentarem manifestaes da lingstica sincrnica, desde o incio do sculo at os anos 50, notava-se a deficincia de um estudo descritivo, uma vez que a histria da lngua merecia tratamento especial. O ensino destinava-se a uma elite que valorizava a gramtica normativa calcada na norma padro. As camadas populares no tinham acesso escola, pois as vagas eram escassas. Ora, esses alunos de uma classe privilegiada j chegavam escola com um domnio razovel do dialeto de prestgio, a norma padro culta, e seus professores eram terica e didaticamente preparados com excelncia.

escola, cabia o ensino da gramtica normativa. Textos literrios compunham antologias, atravs das quais se desenvolviam nos educandos as habilidades de leitura e escrita. Alm disso, a leitura tinha incio, nessa poca, em casa, no seio da famlia. Liam-se os contos de Andersen e dos Irmos Grimm; as fbulas de Esopo e La Fontaine; as histrias de Monteiro Lobato no Stio do Picapau Amarelo; os livros da Condessa de Sgur e da Sr. Leandro Dupr, entre outros.

A gramtica histrica j tinha adquirido, nesse perodo, nova dimenso, graas ao ensino universitrio de lngua materna, iniciado em 1939. Tinha como digno representante o fillogo Ismael de Lima Coutinho, que, desde sua obra mais relevante - Gramtica histrica (1938) - praticava com rigor o mtodo histrico-comparativo.

Por outro lado, a Estilstica comeava a ocupar um espao no ensino, com a publicao, em 1952, do livro Contribuio para uma estilstica da Lngua Portuguesa, de Mattoso Cmara, que enveredava por um caminho at ento pouco explorado por ns.

No campo da Lingstica, Mattoso Cmara publica, em 1956, o Dicionrio de fatos gramaticais, depois Dicionrio de filologia e gramtica, hoje Dicionrio de lingstica e gramtica, excelente obra de consulta, compreendendo vrios verbetes, atravs dos quais termos gramaticais novos e seus respectivos conceitos eram apresentados.

Nos ensinos primrio e secundrio, trabalhava-se, ainda, com a antologia, mas a questo do ensino no era resolvida. Cada professor seguia a sua linha. Empregava-se nomenclatura variada.. Diante dessa situao, o Ministrio da Educao e Cultura incumbiu um grupo de gramticos da tarefa de compilar termos tcnicos, no campo da gramtica, que deveriam ser empregados uniformemente em todo o pas e, assim, patrocinou a elaborao de um glossrio que foi publicado em 1959, sob forma de portaria, com a finalidade de padronizar as referncias descritivas sobre a lngua, numa tentativa de redimencionamento de estudos, sem privilgio de qualquer doutrina. Tratava-se da Nomenclatura Gramatical Brasileira, a NGB, que se encontra em vigor at os dias atuais, embora submetida a diversas crticas .

Mas o problema do ensino continuou, j que no se restringe nomenclatura empregada pelos professores. O objeto do ensino de Lngua Portuguesa varivel o bastante para que se possa considerar que uma nica doutrina possa dar conta dessas variveis. Alm do mais, entende-se que cada professor tem o direito tico de privilegiar essa ou aquela doutrina, sem que, por isso, seja condenado.

Dessa forma, na dcada seguinte, pesquisas denunciam o fracasso escolar, a crise do ensino, que se mantm apesar de todas as expectativas. O alvo da alfabetizao em massa, perseguido desde a Constituio de 1946, continua inatingvel. Nasce, ento, como mais uma tentativa de aperfeioamento do ensino, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, sob o nmero 4024/61. Esta lei determina que a educao direito de todos e ser dada no lar e na escola (Art.2);. entretanto, em pargrafo nico, admite a insuficincia de escolas e a possibilidade de encerramento de matrcula em caso de falta de vagas.

Ainda com inteno de minimizar os problemas, a Lei 4024/61 cria os Conselhos Estaduais de Educao, cuja tarefa ser tentar melhorar a qualidade do ensino. Levar-se-o em conta, a partir da Lei, a variedade dos cursos, a flexibilidade dos currculos e a articulao dos diferentes graus (Art.12). Assim, a organizao do ensino obedecer s peculiaridades de cada regio e de seus grupos sociais.

Nessa fase, destaca-se a conferncia realizada por Celso Cunha no MEC, em dezembro de 1964, sobre o tema O ensino da lngua nacional. Publicada nesse mesmo ano pela Livraria So Jos, a conferncia prima por uma abordagem corajosa: a defesa da unidade da lngua, contrria a uma uniformizao arbitrria, dissociada da realidade lingstica

A situao comea a se transformar ainda na dcada de 60, quando se firma o processo de democratizao da escola, em conseqncia de um novo modelo econmico. No se trata, pois, de uma mudana educacional, mas, sim, de novas condies sociopolticas. O pas vive uma metamorfose. Com a ditadura militar, a partir de 1964, passa-se a buscar o desenvolvimento do capitalismo, mediante expanso industrial.A proposta educacional, agora, passa a ser condizente com a expectativa de se atribuir escola o papel de fornecer recursos humanos que permitam ao Governo realizar a pretendida expanso industrial.

Com o povo conquistando o direito educao sistemtica, a clientela da escola pblica comea a modificar-se. As escolas primrias municipais no so mais freqentadas pelos filhos das camadas mais privilegiadas da populao. Aos poucos, o aspecto elitista da escola pblica desaparece e sua clientela passa a ser constituda de camadas populares. Cria-se o critrio de carncia para o ingresso nas escolas pblicas. Em conseqncia, o professor passa a ter uma nova preocupao: a heterogeneidade dialetal de seus alunos. Acostumado, at ento, a uma camada de alunos distintos, a quem ministravam a norma padro culta, agora os professores se sentiam despreparados para enfrentar tal situao.

Mas no foram apenas os alunos que mudaram. Tambm os professores, nos primeiros sessenta anos do sculo, pertenciam a uma elite scio-cultural. No Rio de Janeiro, at ento Distrito Federal, formados pelas Escolas Normais eram a fina flor do Magistrio Pblico. A nova lei acaba com o privilgio de o Municpio e o Estado formarem seus professores. O prestgio do Magistrio comea a se desfazer com a nova poltica salarial. As classes mdia e alta, que, antes, optavam pelo Magistrio, por vocao ou interesse profissional, passam a interessar-se por outras profisses mais rendosas. Comea a evaso no Magistrio e a mudana de perfil do professor. Antes, uma profisso que conferia status s moas de classe mdia e alta; agora, a ascenso social para os que pertencem classe mais pobre da sociedade.

Em conseqncia dessa mudana, a qualidade do ensino se faz menos refinada, buscando-se uma adequao ao novo momento. E as classes mais privilegiadas comeam a abandonar a escola pblica e a procurar as instituies particulares, notadamente as de formao religiosa.

A partir de 1963, foi implantada a disciplina Lingstica no currculo mnimo dos Cursos de Letras, deciso essa que causou graves distores, pois professores sem formao lingstica se tornaram responsveis pelo ensino da nova disciplina.

Nesse clima , sancionada a Nova Lei de Diretrizes e Bases, a 5692/71, que estabelece a lngua nacional como instrumento de comunicao e expresso da cultura brasileira. A partir de ento, a disciplina Lngua Portuguesa passa a ser Comunicao e Expresso no que foi considerado 1 segmento do 1 grau (1 4 srie); Comunicao e Expresso em Lngua Portuguesa, no 2 segmento (5 8 srie), s se configurando como Lngua Portuguesa e Literatura Brasileira no 2 grau.

Diante da nova realidade lingstica dos alunos, os professores mantm-se indecisos: adequar o ensino aos novos alunos ou reprovar em massa nas primeiras sries de cada curso. Nenhuma das hipteses satisfazia, e o professor, no 2 grau, perguntava-se como ensinar anlise literria a um aluno que nem reconhecia um substantivo. Opta-se, pois, por um ensino utilitrio com a lngua voltada para a oralidade e, dessa forma, adequada nova clientela que assola as escolas. Cada vez mais, o ensino torna-se menos normativo e, portanto, menos rigoroso, em relao aos padres cultos da lngua. Ensinar gramtica passou a ser coisa ultrapassada. Em decorrncia, esse ensino passa a configurar-se pela Teoria da Comunicao: o aluno deve ser capaz de funcionar como emissor e receptor de mensagens pela utilizao de cdigos verbais e no-verbais.

A lngua valorizada como instrumento de comunicao, ensinavam-se elementos de comunicao e funes da linguagem. Dava-se, ainda, valor expresso corporal como uma forma de linguagem. O professor que ensinasse gramtica era considerado desprestigiado. As gramticas de Bechara, Celso Cunha e Rocha Lima, at ento alvos de ensino, eram substitudas por outras que, para facilitar a aprendizagem, ensinavam atravs da ilustrao. Tambm as antologias desapareciam; em seu lugar, surgiam livros didticos mais atraentes em sua forma, explorando-se cores e recursos grficos. Seu contedo - esse, sim - deixava a desejar. A interpretao dos textos no era mais produzida pelo professor junto a seus alunos. As perguntas, j elaboradas nos livros, eram, em geral, tipo cavalo branco, de resposta bvia, sem exigir nenhum tipo de reflexo. Havia o livro do professor, com as respostas s questes formuladas para que o professor que ingressasse no Magistrio sem grande preparao prvia nem precisasse pensar. Era uma parafernlia didtica (GERALDI, 1997, p.93), que ia das respostas nos manuais do professor at vdeos destinados ao ensino de determinados tpicos.

Dava-se nfase, ento, apenas a textos jornalsticos e publicitrios, praticamente ignorando-se os literrios. Havia, ainda, destaque para textos no-verbais, charges e histrias em quadrinhos. No so um mal, certamente, mas no devem ser a exclusividade.

Diante da posio assumida pelos autores da maioria de livros didticos, alguns professores da velha guarda preocupavam-se em selecionar livros que ainda atendessem s suas expectativas, como os da Magda Soares, Domcio Proena e Maria Helena Silveira.

Desde o final dos anos 70, cientes j do caos que se estabelecera no ensino, decidiu-se pela incluso de redaes em provas e exames vestibulares, acreditando-se em que se teria nessa atitude uma soluo para a crise. Esqueceu-se, todavia, de que, para a melhoria da expresso de nossos alunos, no basta o domnio da tcnica de redao. Fazer uma boa dissertao no consiste em estar ciente de que se devem utilizar quatro a cinco pargrafos, sendo um de introduo, dois ou trs de desenvolvimento, um de concluso, num espao de vinte e cinco a trinta linhas. Urge, to-somente, uma mudana de atitude do professor quanto s atividades de produo textual de seus alunos e como avaliar essa produo.

O que se cobrava nas redaes era a obedincia ao padro culto da lngua, nessa poca j dissociado da realidade culta corrente. Assim, corrigia-se o emprego passivo do verbo assistir, o uso do pronome reto em entre eu e voc, o emprego do oblquo em para mim ver e se esquecia de que o grande problema da produo textual a interlocuo.

Tentando resolver o problema que ainda se mantm e orientar os professores, as editoras lanam inmeros manuais de redao e os distribuem entre os professores, esperando que os adotem. Entre esses, destaca-se a srie Criatividade, de Samir Curi Meserani, srie essa que realmente explorava e estimulava a capacidade criadora do aluno, de forma inteiramente espontnea e gradual.

Havia uma enorme quantidade de manuais, mas quase todos se baseavam na conhecida obra de Othon Moacir Garcia, Comunicao em prosa moderna, cuja leitura deveria ser recomendada a todo professor, pois ensina a escrever aprendendo a pensar.

Nesse perodo de mudana, j na segunda metade da dcada de 80, alguns professores, em fase de ps-graduao, cursando mestrado e doutorado, apresentam alternativas para a melhoria do ensino de Lngua Portuguesa e publicam dissertaes e teses que questionam a gramtica normativa. Grandes nomes da Lingstica e da Gramtica tambm se manifestam, entre eles: Carlos Franchi, Srio Possenti, Luiz Carlos Travaglia, Joo Wanderley Geraldi, Luiz Percival Leme Britto, Rodolfo Ilari, Carlos Eduardo Falco Ucha, Magda Soares, Luiz Marques de Souza. Algumas editoras criam colees que buscam o questionamento e a reflexo, como o caso da Princpios, da tica.

A partir de 1985, os exames vestibulares constatam a permanncia do despreparo dos vestibulandos, que, apesar de todos os esforos, ainda redigem mal e no entendem o que lem. Matrias jornalsticas apresentam os erros ortogrficos dos candidatos a uma vaga nas universidades. Percebe-se que a preocupao maior com a ortografia, esquecendo-se da expresso como ponto nevrlgico da produo escrita. Em busca de uma soluo, leitura e redao passam a ser exigidas em provas nas escolas de 1 e 2 graus. Os alunos lem livros impostos pelos professores e, na maioria das vezes, inadequados sua faixa etria e grau de cultura. assim que se viam alunos de 6 e 7 sries sendo obrigados a ler, por exemplo, romances de Jos de Alencar e de Machado de Assis, sem que tivessem maturidade para tal leitura. Uma cobrana inadequada tambm forava os alunos a decorarem a histria narrada para, logo aps, essa leitura ser avaliada em provas.

Alguns professores adotavam livros, como os de Lgia Bojunga Nunes e Ana Maria Machado e eram condenados por colegas mais tradicionais por estes serem escritos em linguagem coloquial. Esqueciam-se dos belssimos recursos de expresso que permeiam tais livros, esses, sim, adequados faixa etria do ensino fundamental.

Colgios tradicionais aumentam a carga horria de Portugus. Em cursos pr-vestibulares, cria-se a disciplina Tcnica de Redao, cujo objetivo preparar os alunos para as dissertaes dos exames vestibulares, dissertaes essas que devem apresentar coeso e coerncia, alm de pargrafos definidos com o propsito de se estabelecer introduo, desenvolvimento e concluso.`A criatividade, sobrepunha-se a apologia pura e simples da forma. At mesmo em cursos de Letras so oferecidas disciplinas de apoio, como o caso de TECOE (Tcnica de Comunicao Oral e Escrita) na UERJ.

nesse momento de crise que se faz ouvir a voz de Evanildo Bechara., posicionando-se contra o glotocentrismo e a opresso lingstica. Destacamos como de alta importncia no momento histrico de reflexo sobre ensino de lngua materna a obra Ensino da gramtica. Opresso? Liberdade? (1986), que sempre provocou muita discusso em torno dos temas focalizados, desencadeando uma srie de outras produes, de diferentes autores.

Neste trabalho, aps um levantamento histrico do comportamento pedaggico, em relao ao ensino de gramtica normativa, nas dcadas de 70 e 80, o autor conclui que a perseguio gramtica normativa, tradicional, to errada quanto o privilgio dedicado ao cdigo oral, coloquial, em detrimento do dialeto padro. Segundo o mesmo, ambas as atitudes so de natureza monolnge e desprezam o fato de que cada falante um poliglota na sua prpria lngua.(BECHARA, 1986, p.12-13).

Sobressai, tambm, o nome de Celso Cunha, agora aliado ao de Lindley Cintra, que conjugam, em sua Nova gramtica do portugus contemporneo, o normatismo e o descritivismo.

Ainda na dcada de 80, destaca-se Celso Pedro Luft com a publicao, em 1985, de Lngua e liberdade: por uma nova concepo da lngua materna. Nesta obra, Luft afirma no ser contra a gramtica. O que, na verdade, o preocupa o ensino opressivo da mesma. Segundo Luft, o que falta ao educando liberar o que j conhece e, certamente, ampliar suas capacidades atravs de uma prtica sem medo, um ensino sem opresso( LUFT, 1994, p.12).

Faltava, todavia, uma posio metodolgica, que chega at ns, sob o enfoque lingstico-descritivo de autores, como Franchi, Travaglia, Possenti e Geraldi, que defendem a gramtica reflexiva como a melhor opo de ensino.

Em 1987, Carlos Franchi, no trabalho intitulado Criatividade e gramtica, publicado em Trabalhos de Lingstica Aplicada 9, da UNICAMP, faz crticas ao papel atribudo criatividade na renovao do ensino gramatical; gramtica, do modo como concebida e praticada em nossas escolas; e tambm ao preconceito lingstico. Prope, ento, que se reveja o conceito de criatividade, considerando que esta se faz presente em todo ato de fala. Em conseqncia, observa que as atividades metalingsticas em nada contribuem para o desenvolvimento da criatividade. A soluo seria um trabalho reflexivo sobre a linguagem, de forma a se descobrir a riqueza das diferentes formas de expresso.

Todo esse movimento em torno do ensino de lngua materna leva o Conselho Federal de Educao a estabelecer a medida de retorno da disciplina Portugus, eliminando as denominaes relativas Comunicao. No se trata somente de substituir uma denominao, mas de uma nova atitude que se esperava obter frente ao ensino de lngua materna.

Paralelamente, novas cincias lingsticas, como a Sociolingstica e a Pragmtica, desenvolvidas nesse perodo, comeam a influenciar o ensino de lngua portuguesa.

A dcada de 90 representa uma evoluo. Encabeado pela UFRJ e pela UNICAMP, comea a mudar o Vestibular. As provas, no mais de mltipla escolha, revelam amadurecimento na elaborao e preocupao com a expresso escrita dos candidatos, em questes que exigem reflexo e conhecimento da lngua.

As redaes tambm comeam a mudar de feio. Nos exames vestibulares, diante de textos variados, em diferentes linguagens, abordando um mesmo ncleo temtico, o aluno incitado a produzir seu prprio texto.

Nas universidades, comea-se a discutir o tema ensino de lngua materna e inmeros congressos so realizados em todo o Brasil divulgando os atuais estudos..

Nos ltimos anos, nota-se uma maior preocupao com a formao dos professores de Letras. O governo brasileiro incentiva e cobra a ps-graduao. Criam-se os PCNs (Planejamento de Currculo Nacional), visando a orientar e padronizar o ensino segundo os mais modernos parmetros. Algumas instituies adotam o recm-criado ENEM (Exame Nacional do Ensino Mdio) como base de ingresso nas universidades, compondo a primeira fase do exame vestibular.

No governo Fernando Henrique Cardoso, o MEC implanta, em nvel nacional, o chamado Provo, com a finalidade de avaliar o aproveitamento dos alunos formados pelas universidades brasileiras, de norte a sul.

Condenado por uns, aprovado por outros, o Provo se mantm e revela pelo menos um mrito: apontar as Universidades que apresentam grandes falhas no ensino, Toda a sociedade letrada toma conhecimento, pelos rgos de divulgao de massa, dos conceitos atribudos s universidades brasileiras. Sentindo-se expostas, essas Universidades voltam a ateno a seus currculos e reavaliam seu corpo docente, preocupando-se, a partir da, em contratar novos professores com formao em mestrado e doutorado.

A LDB n 9394, de 20/12/1996, estabelece, em seu Art.36, que a lngua portuguesa ser encarada como instrumento de comunicao, acesso ao conhecimento e exerccio da cidadania, contemplando, assim, todas as modalidades expressivas, sem encar-las de forma privilegiada ou no. Os ensinos de 1 e 2 graus passam, respectivamente, a ensinos fundamental e mdio.

Nada disso, porm, definitivo. Educao ser sempre um processo de questionamento. Temos conscincia de que nunca chegaremos a uma plenitude, mas o mais importante nesse momento a nova concepo de lngua que comea a delinear-se. Lngua, agora, no mais instrumento de comunicao, mas, principalmente, enunciao, discurso, que estabelece relaes de intercomunicao. Os processos de leitura e escrita passam, portanto, a ser resultado de interao autor-texto-leitor.

De acordo com a nova concepo, altera-se o papel desempenhado pelo aluno. Este passa a ser ativo e construtor de suas prprias habilidades e conhecimentos, atravs de um processo contnuo de interao com outros receptores e com a prpria lngua, que funciona como cdigo.

Resta-nos, agora, ao entrarmos no 3 milnio, traar previamente nossos objetivos e, a partir deles, decidirmos que gramtica ensinar e como ensinar. Novos caminhos sempre se abriro e devemos estar sempre preparados para a reflexo. Acolhendo-os ou no, precisamos conhec-los.

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