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    Apresentao

    O pensamento como dispositivo de contiguidades

    Explicitando seu propsito de escapar das abordagens que privilegiam o hori-

    zonte tico, Jacques Derrida lembra que o espao no apenas o que visvel, mas

    tambm a instncia em que ocorre o pensamento da/sobre a obra. Ao negar o pensa-

    mento como uma acumulao tranquila e positiva, assume a desconstruo das artes

    visuais em proveito das artes do visvel . Assim, a linguagem que se abre para as artes

    no verbais configura-se como algo que se faz presente e d a ver, atravs de um jogode montagens, combinaes e contiguidades. Por sua vez, Agamben permite reconhe-

    cer a linguagem num campo em que o prprio pensamento construo, ao mesmo

    tempo, de clausura e escapatria. Eis a noo de dispositivo que acolhe o pensamento

    artstico como uma potncia que luta contra os clichs e uma instncia operatria que

    faz surgir uma presena que tambm uma diferena.

    Neste nmero da Revista Palndromopodemos compreender como o pensa-

    mento sobre a arte constri espaos e d a ver contiguidades temporais (que aqui vo

    do romantismo s vanguardas) e experincias estticas diversas (que aqui incluem cer-

    tas compreenses contempladas no origami, numa troca de correspondncias, nas

    estratgias de um do e-book ou de um jogo digital). Em cada um destes artigos desta-

    ca-se o pensamento como um movimento que sempre pode ser refeito, produzindo

    combinaes imprevistas.

    Atravs dos diferentes textos que aqui comparecem, o pensamento ele prprio

    um dispositivo destinado a produzir efeitos, articulando-se numa rede cujos elemen-

    tos encontram-se numa relao de foras e saberes. Pensar a obra de arte e os fen-

    menos estticos que tangenciam o fenmeno artstico pode ser, ento, um modo de

    interrogar as subjetivaes, restituindo outras potencialidades anuladas, anestesiadas

    ou esquecidas, reencontrando sua dimenso ressonante.

    Articulando moderno e contemporneo, o primeiro artigo aborda as imbricaes

    entre o romantismo e a arte conceitual atravs dos pressupostos da subjetividade,

    liberdade e originalidade, bem como da fora da natureza e das emoes. O artigo

    seguinte prope um percurso do moderno ao contemporneo, atravs da noo de

    belo e de sublime, tal como pensado por Edmund Burke, Kant e Lyotard. O prximo

    estabelece uma relao entre o grupo de vanguarda sovitica Inkhouk e a ampliao

    do entendimento de produo coletiva, revoluo poltica e ativismo artstico. Depois,

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    1 Jacques Derrida. Pensar em no ver, escritos sobre as artes do visvel.

    Florianpolis: Ed. UFSC, 2012.

    2 AGAMBEN, Giorgio. O que um dispositivo? In: O que o contemporneo

    e outros ensaios. Chapec: Argos, 2010.

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    Apresentao

    considerando os trabalhos de Marcel Duchamp, so abordadas as implicaes concei-

    tuais entre arte, objeto artstico e artista.

    Recorrendo a dois procedimentos que aparentemente no se relacionam ao

    mundo da arte, comparece um artigo que trata do origami como manifestao artstica

    que abrange noes de coletivo, mdulo e construo hbrida. O manuscrito seguinte

    enfoca as questes de planejamento urbano e expresso territorial atravs de quatrocartas consideradas um modo de gerar novas experincias perceptivas e estticas.

    Por sua vez, relacionando os fenmenos estticos ao mundo da tecnologia com-

    putacional, o penltimo artigo considera as estratgias para definir a linguagem visual

    do livro infantil em ambiente digital. E o ltimo texto ento considera o jogo digital

    como um dispositivo de fruio para alm dos limites pictricos, a partir do repertrio

    visual de Hieronimus Bosch apresentado no Museu Boijmans, em Roterd.

    Cabe lembrar que, embora aquilo que Derrida denominou artes do visvel no

    possa ser tratado entre si como mera equivalncia, podemos reconhecer sua condio

    de equipotncia, ou seja, algo a ser pensado como singularidade sem hierarquia nemprecedncia, um extra que consiste e insiste na ressignificao do signo e, como tal,

    persiste e segue incessantemente criando novas articulaes e desvios.

    Rosangela Miranda Cherem

    Conselho editorial

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