6 A ANATOMIA DE CONRAD E COPPOLA -...

7
ANA LUÍSA VALDEIRA DA SILVA A ANATOMIA DE CONRAD E COPPOLA HEART OF DARKNESS E APOCALYPSE NOW REDUX 1 2 4 3 5 6 7 ANA LUÍSA VALDEIRA DA SILVA 1 2 4 N NA 2 3 5 6 7

Transcript of 6 A ANATOMIA DE CONRAD E COPPOLA -...

AN

A L

UÍS

A V

ALD

EIR

A D

A S

ILV

A

A A

NA

TOM

IA D

E

CO

NR

AD

E C

OP

PO

LA

HE

AR

T O

F D

AR

KN

ES

S

E A

PO

CA

LYP

SE

N

OW

RE

DU

X

1

2

4

3

5

6

7

AN

A L

UÍS

A V

ALD

EIR

A D

A S

ILV

A

1

2

4

AN

AN

A

23

5

6

7

an

a l

uís

a v

ald

eir

a d

a s

ilva

“Th

e y

arn

s o

f s

ea

me

n h

ave

a d

ire

ct

sim

pli

cit

y, t

he

w

ho

le m

ea

nin

g o

f w

hic

h l

ies

wit

hin

th

e s

he

ll o

f a

cra

ck

ed

nu

t. B

ut

Ma

rlo

w w

as

no

t ty

pic

al

(…)

an

d

to h

im t

he

me

an

ing

of

an

ep

iso

de

wa

s n

ot

ins

ide

li

ke

a k

ern

el

bu

t o

uts

ide

, en

velo

pin

g t

he

ta

le w

hic

h

bro

ug

ht

it o

ut

as

a g

low

bri

ng

s o

ut

a h

aze

.”

12

47

Jose

ph C

on

ra

d, H

ea

rt

of

Da

rk

ness

– n

ar

ra

do

r a

nim

o

O fil

me

com

eça

com

o e

crã

todo

a n

egro

. Um

so

m m

otor

, não

ide

ntifi

cáve

l, ac

ompa

nha

o es

curo

. É e

ntão

que

sur

ge u

ma

pano

râm

ica

so-

bre

uma

selv

a on

de a

linha

m g

rand

iosa

s pa

lmei

ras

agit

adas

pel

o ve

nto.

Nuv

ens

de f

umo

rom

pem

, co

meç

ando

a e

scon

der

a se

lva.

O s

om p

erm

a-

nece

. A

ssim

que

se

vê u

ma

hélic

e em

rot

ação

at

rave

ssar

o e

crã

de u

m la

do a

o ou

tro,

logo

se

per-

cebe

que

o s

om c

orre

spon

de a

um

hel

icóp

tero

. C

omeç

a um

a m

úsic

a in

stru

men

tal

a so

brep

or-s

e ao

som

da

hélic

e e

atra

vess

a m

ais

um h

elic

ópte

ro

no m

esm

o se

ntid

o, d

a es

quer

da p

ara

a di

reit

a.

Fum

o e

som

tor

nam

-se

mai

s in

tens

os. E

, rep

en-

tina

men

te, v

ê-se

a s

elva

cob

erta

por

um

a en

orm

e ex

plos

ão a

o m

esm

o te

mpo

que

ent

ra a

voz

de

Jim

Mor

riso

n in

terp

reta

ndo

Thi

s is

the

End

. U

m

outr

o he

licóp

tero

atr

aves

sa o

ecr

ã, m

as a

gora

no

sent

ido

opos

to,

da d

irei

ta p

ara

a es

quer

da.

Um

gr

ande

pla

no d

e ro

sto

mas

culin

o, d

e pe

rnas

par

a o

ar,

surg

e do

lad

o es

quer

do d

o ec

rã s

obre

post

o à

imag

em d

a se

lva

que

vai

desa

pare

cend

o le

nta

-men

te a

té fi

car

apen

as n

o ec

rã o

ros

to a

o co

n-tr

ário

. D

o la

do d

irei

to d

o ec

rã a

pare

cem

sob

re-

impr

essa

s um

a im

agem

de

um

a ve

ntoi

nha

e ou

tra

de u

ma

hélic

e de

hel

icóp

tero

, es

trei

tand

o fr

onte

iras

ent

re o

ros

to e

a s

elva

. Ass

im q

ue u

ma

imag

em n

octu

rna

da s

elva

apa

rece

, di

ssol

ve-s

e em

seg

uida

num

a en

orm

e es

tátu

a de

um

bud

a de

ped

ra q

ue n

em e

stá

onde

est

á o

rost

o, n

em n

a

selv

a an

tes

vist

a. R

osto

e b

uda

estã

o la

do a

lado

, o

segu

ndo

dire

ito,

o p

rim

eiro

per

man

ecen

do d

e pe

rnas

par

a o

ar.

um m

ovim

ento

de

câm

ara

em r

otaç

ão e

o r

osto

rod

a en

quan

to o

s he

licóp

te-

ros

o so

brev

oam

, ag

ora

em t

odas

as

dire

cçõe

s.

Um

a pa

norâ

mic

a ci

rcul

ar p

erco

rre

o es

paço

de

um q

uart

o de

hot

el, c

ama,

doc

umen

tos,

álc

ool

e um

a ar

ma

vão

surg

indo

no

ecrã

. O s

om q

ue p

er-

sist

e é

qual

quer

coi

sa e

ntre

o s

om d

e um

a hé

-lic

e de

hel

icóp

tero

e u

ma

vent

oinh

a co

loca

da n

o te

cto.

Um

mov

imen

to d

e câ

mar

a le

va a

im

agem

da

ven

toin

ha a

té à

jane

la. A

o la

do o

mes

mo

rost

o qu

e ol

ha e

ntre

as

pers

iana

s. C

omeç

a a

narr

ação

em

voz

-ove

r.A

est

rutu

ra c

onde

nsa-

se t

oda

aqui

. C

abe

por

inte

iro

na s

equê

ncia

ini

cial

de

Apoc

aly

pse

N

ow

Red

ux.

As

imag

ens

são

extr

emam

ente

mar

cada

s po

r so

brei

mpr

essõ

es,

suge

rind

o de

sde

logo

um

a ex

peri

ênci

a co

mpo

sta

por

múl

tipl

as c

amad

as.

A

junt

ar à

s im

agen

s, o

utra

inte

rven

ção

de J

im M

or-

riso

n at

ravé

s da

sug

estã

o ap

enas

ins

trum

enta

l de

Bre

ak

on T

hrou

gh t

o th

e ot

her

Sid

e a

reafi

rmar

a

part

ida

arqu

itec

tura

. E

sta

sequ

ênci

a in

icia

l, ce

ntra

da n

o ro

sto

do t

enen

te W

illar

d (i

nter

pre-

tado

por

Mar

tin

Shee

n),

faz

desa

pare

cer

quai

s-qu

er b

arre

iras

ent

re p

assa

do,

pres

ente

e f

utur

o.

E d

esde

ced

o in

trod

uz u

ma

atm

osfe

ra r

eple

ta

de f

ogo

e fu

mo,

lim

itan

do a

vis

ão e

pau

tand

o o

ambi

ente

ao

assu

mir

que

o a

ndam

ento

de

todo

o

48

49

film

e é

ritm

ado

atra

vés

da p

ulsa

ção

de u

ma

cons

-ci

ênci

a su

bjec

tiva

.C

oppo

la t

rans

põe

visu

al e

son

oram

ente

a f

rag-

men

tada

com

posi

ção

da o

bra

liter

ária

esc

rita

por

C

onra

d. J

usta

post

os,

livro

e fi

lme

equi

vale

m-

-se

nas

tens

ões,

nos

mov

imen

tos

cont

rári

os,

nas

repe

tiçõ

es,

nos

cruz

amen

tos,

nas

int

erse

cçõe

s,

nas

susp

ensõ

es e

nas

cad

ênci

as.

Equ

ival

ênci

as

essa

s de

cisi

vas

para

a c

ompo

siçã

o gl

obal

das

dua

s ob

ras.

Sin

teti

zand

o no

s m

esm

os t

erm

os d

e Jo

hn

Mos

ier,

est

amos

per

ante

dua

s na

rrat

ivas

ret

ros-

pe

ctiv

as d

e um

a vi

agem

num

rio

que

resu

ltam

no

enco

ntro

com

um

hom

em q

ue t

em m

uito

pou

co

para

diz

er,

cont

adas

por

um

nar

rado

r qu

e te

m

aind

a m

enos

par

a re

vela

r.E

m a

mba

s um

a vi

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de

barc

o a

subi

r um

rio

(d

upla

em

Con

rad)

ofe

rece

o p

rim

eiro

eix

o de

de

senv

olvi

men

to e

pro

gres

são

de c

ada

uma

das

com

posi

ções

. Est

e ei

xo h

oriz

onta

l fun

cion

a co

mo

o ci

rcui

to p

rinc

ipal

, al

icer

ce d

e qu

alqu

er u

ma

das

obra

s, o

seu

bai

xo-c

ontí

nuo.

É, c

ontu

do, u

m

eixo

que

se

encu

rva

e en

rosc

a, q

ue r

egre

ssa

ao

pont

o de

par

tida

. N

o liv

ro,

Mar

low

vár

ias

veze

s de

s-cr

eve

o ri

o co

mo

uma

cobr

a en

rola

da, s

nake

d

thro

ugh

th

e w

ar

like

a

main

-cir

cuit

ca

ble

plu

gged

dir

ectl

y in

to

Kurt

z,

suge

rind

o si

nist

ros

e se

r-pe

ntea

dos

traç

ados

.E

sta

hori

zont

alid

ade

serp

ente

ada

dese

nha-

se n

a pr

ogre

ssão

fei

ta e

m f

unçã

o de

Kur

tz e

do

seu

en-

cont

ro c

om M

arlo

w n

o liv

ro e

Will

ard

no fi

lme.

U

m

prog

ress

ivo

cres

cend

o pr

epar

a um

te

ma

clím

ax q

ue n

unca

mai

s ve

m,

surg

indo

ape

nas

pequ

enos

mot

ivos

que

rem

etem

par

a es

se t

ema/

pers

onag

em q

ue t

arda

em

apa

rece

r. T

al c

omo

na

obra

esc

rita

, ond

e o

nom

e de

Kur

tz t

arda

em

ser

m

enci

onad

o e

o se

u en

cont

ro c

om M

arlo

w d

e-

mor

a a

acon

tece

r, a

real

izaç

ão d

e C

oppo

la d

eixa

o

seu

Kur

tz (

inte

rpre

tado

por

Mar

low

Bra

ndo)

for

a do

ecr

ã du

rant

e a

mai

or p

arte

do

film

e de

mod

o a

que

a su

a tã

o es

pera

da a

pari

ção

no fi

nal,

apes

ar

de o

cult

ado

por

som

bras

, po

ssa

func

iona

r co

mo

um p

ólo

orgá

stic

o, m

omen

to c

ulm

inan

te e

det

er-

min

ante

par

a o

desf

echo

da

narr

ativ

a.

*C

omeç

ando

de

dent

ro p

ara

fora

, pa

rtin

do d

a hi

stór

ia p

ropr

iam

ente

dit

a, a

s na

rrat

ivas

de

livro

e

film

e ap

rese

ntam

de

igua

l fo

rma

um n

arra

dor

hom

odie

géti

co,

Mar

low

no

livro

e W

illar

d (c

or-

resp

onde

nte

de M

arlo

w) n

o fil

me.

His

tóri

as e

ssas

qu

e sã

o, p

or s

ua v

ez, e

nqua

drad

as p

or u

m o

utro

ac

to n

arra

tivo

rel

atad

o po

r um

nar

rado

r an

ónim

o no

livr

o e

por u

m o

utro

nar

rado

r, n

ão tã

o an

ónim

o pa

ra q

uem

lhe

reco

nhec

e a

voz,

Jim

Mor

riso

n no

fil

me.

O in

ício

de

Hea

rt o

f D

ark

nes

s é a

pres

enta

do

por

um

narr

ador

-enq

uadr

ante

, tr

ipul

ante

an

ó-ni

mo

a bo

rdo

do N

ellie

que

con

ta a

his

tóri

a de

M

arlo

w a

con

tar

uma

hist

ória

. Q

uase

da

mes

ma

form

a, J

im M

orri

son

em A

poc

aly

pse

Now

Red

ux

func

iona

ta

mbé

m

com

o um

na

rrad

or-e

nqua

-dr

ante

, se

ndo

dele

as

prim

eira

s e

últi

mas

pal

a-vr

as d

o fil

me,

em

oldu

rand

o a

hist

ória

con

tada

pe

lo t

enen

te W

illar

d.Já

a i

mag

em, f

orm

a nã

o-ve

rbal

, dev

ido

à pr

ópri

a na

ture

za d

o ci

nem

a, a

pres

enta

-se

tam

bém

com

o um

act

o na

rrat

ivo

dist

into

. O

pap

el d

a câ

mar

a-na

rrad

or, a

trav

és d

os e

nqua

dram

ento

s, d

os d

iver

-so

s ti

pos

de p

lano

e,

post

erio

rmen

te,

atra

vés

da

mon

tage

m d

as i

mag

ens

que

regi

sta,

con

stit

ui-s

e co

mo

o na

rrad

or-i

ntrí

nsec

o da

na

rrat

iva

cine

-m

atog

ráfic

a.

Apr

esen

ta-s

e,

cont

udo,

co

mo

um

narr

ador

het

erod

iegé

tico

, co

nfigu

rand

o-se

com

o um

a en

tida

de q

ue “

cont

a” u

ma

hist

ória

à q

ual é

“...

as

na

rra

tiva

s

ap

res

en

tam

, nu

ma

c

orr

es

po

nd

ên

cia

q

ua

se

to

tal,

um

nív

el

ext

rad

ieg

éti

co

on

de

se

s

itu

am

es

cri

tor

e r

ea

liza

do

r;

um

nív

el m

eta

die

tic

o o

nd

e

se

en

co

ntr

am

o n

arr

ad

or

an

ón

imo

e J

im M

orr

iso

n; u

m

nív

el

intr

ad

ieg

éti

co

on

de

s

e d

es

co

bre

m M

arl

ow

e

Wil

lard

.”

estr

anha

. É

um

a câ

mar

a-na

rrad

or o

bjec

tiva

, di

s-ta

ncia

ndo-

se d

e um

qua

lque

r po

nto

de v

ista

de

uma

qual

quer

per

sona

gem

, di

rigi

da,

em ú

ltim

a in

stân

cia,

pel

o re

aliz

ador

Cop

pola

. Con

side

rand

o o

real

izad

or d

o fil

me

uma

enti

dade

nar

rati

va r

es-

pons

ável

, de

um

pon

to d

e vi

sta

gené

rico

, pe

los

vári

os a

ctos

da

narr

ação

fílm

ica,

cri

a-se

um

a in

e-

vitá

vel

rela

ção

entr

e na

rrad

or e

aut

or. D

esta

for

-m

a, s

e po

derá

faz

er c

orre

spon

der

este

act

o na

r-ra

tivo

dir

igid

o po

r C

oppo

la a

o au

tor

empí

rico

do

livro

, Jos

eph

Con

rad.

A

aná

lise

da e

stru

tura

nar

rati

va t

orna

-se

aind

a m

ais

com

plex

a qu

ando

a e

stes

nar

rado

res

cor-

resp

onde

m d

ifer

ente

s ní

veis

die

géti

cos.

Inv

er-

tend

o ag

ora

o se

ntid

o, c

omeç

ando

de

fora

par

a de

ntro

, as

nar

rati

vas

apre

sent

am,

num

a co

rres

-po

ndên

cia

quas

e to

tal,

um n

ível

ext

radi

egét

ico

onde

se

situ

am e

scri

tor

e re

aliz

ador

; um

nív

el

met

adie

géti

co

onde

se

en

cont

ram

o

narr

ador

an

ónim

o e

Jim

Mor

riso

n; u

m n

ível

intr

adie

géti

co

onde

se

desc

obre

m M

arlo

w e

Will

ard.

E a

inda

de

ntro

do

níve

l in

trad

iegé

tico

pod

em-s

e en

con-

trar

vár

ios

níve

is h

ipod

iegé

tico

s, c

onst

ituí

dos

por

pequ

enas

his

tóri

as-fi

lho

dent

ro d

a hi

stór

ia-m

ãe.

Tan

to n

o liv

ro c

omo

no fi

lme

exis

tem

out

ras

vo-

zes

que

se f

azem

ouv

ir, o

utro

s re

lato

s po

r ou

tras

pe

rson

agen

s da

his

tóri

a a

part

ir d

o ní

vel

intr

adi-

egét

ico.

Est

as p

erso

nage

ns s

ão r

espo

nsáv

eis

por

hist

ória

s de

ntro

da

hist

ória

, nar

rati

vas

embu

tida

s na

his

tóri

a pr

inci

pal,

hipo

-uni

dade

s da

uni

dade

in

trad

iegé

tica

.M

as s

e é

já i

ntri

ncad

a a

estr

utur

a na

rrat

iva

as-

sent

e no

s di

fere

ntes

nar

rado

res

e di

stin

tos

níve

is

dieg

étic

os, m

aior

é a

com

plex

idad

e es

trut

ural

da

narr

ação

qua

ndo

a es

tes

aspe

ctos

se

acre

scen

ta a

di

men

são

tem

pora

l. O

tem

po e

stru

tura

de

form

a

fund

amen

tal

e de

term

inan

te q

ualq

uer

uma

das

narr

ativ

as,

rele

gand

o o

espa

ço,

apen

as

com

o qu

adro

de

refe

rênc

ia, p

ara

um n

ível

sec

undá

rio

e an

exo.

O t

empo

act

ua a

o ní

vel d

a na

rrat

iva

e de

-te

rmin

a o

todo

lite

rári

o e

o to

do fí

lmic

o. O

esp

aço

está

na

dura

ção,

mas

é a

dur

ação

que

org

aniz

a o

espa

ço. O

tem

po é

din

âmic

o, e

nqua

nto

que

o es

-pa

ço é

pas

sivo

. Se

o es

paço

não

pas

sa d

e si

mpl

es

quad

ro, o

tem

po é

est

rutu

ra.

Tan

to o

livr

o co

mo

o fil

me,

no

seu

todo

, se

apre

-se

ntam

com

o um

a na

rraç

ão u

lter

ior,

sit

uand

o-se

os

act

os n

arra

tivo

s nu

ma

ineq

uívo

ca p

osiç

ão p

os-

teri

or à

his

tóri

a. M

arlo

w e

Will

ard

narr

am u

ma

hist

ória

que

acon

tece

u, é

pas

sado

. A

mbo

s se

en

cont

ram

nu

m

univ

erso

di

egét

ico

term

i-na

do,

inic

iand

o as

sua

s na

rraç

ões

num

a si

tuaç

ão

de q

uem

con

hece

os

acon

teci

men

tos

que

cont

a.

O e

norm

e fla

shba

ck p

ela

voz

de W

illar

d cr

ia

uma

unid

ade

impo

rtan

te a

o fil

me

de C

oppo

la,

reve

land

o ao

esp

ecta

dor

a di

recç

ão d

os f

utur

os

acon

teci

men

tos.

Est

a es

trut

ura,

mos

tran

do i

ma-

gens

de

um p

rota

goni

sta

em c

ontr

apon

to c

om

a su

a vo

z fo

ra d

e ca

mpo

a c

onta

r um

a hi

stór

ia,

conc

entr

a o

inte

ress

e na

tra

ject

ória

psi

coló

gica

de

Will

ard.

No

caso

da

obra

de

Con

rad,

est

e re

-gr

esso

ao

pass

ado

é um

pou

co m

ais

intr

inca

do,

veri

fican

do-s

e um

a na

rraç

ão i

nter

cala

da.

O a

cto

narr

ativ

o de

Mar

low

apr

esen

ta-s

e fr

agm

enta

do

em d

iver

sas

etap

as i

nter

post

as a

o lo

ngo

do s

eu

disc

urso

. C

omo

se a

nar

rati

va f

osse

um

puz

zle

deso

rden

ado,

cuj

as p

eças

são

dis

post

as n

ão n

uma

sequ

ênci

a lin

ear

e cr

onol

ógic

a, m

as n

uma

orde

m

um p

ouco

caó

tica

e d

esre

grad

a. É

um

a na

rrat

iva

entr

ecor

tada

por

div

erso

s ac

onte

cim

ento

s oc

orri

-do

s em

tem

pos

dife

rent

es. T

rata

-se

de u

ma

nar-

rati

va q

ue “

espa

cial

iza”

o t

empo

.A

s vi

agen

s pr

ogre

ssiv

as d

e am

bos

os t

exto

s tê

m,

no e

ntan

to,

susp

ensõ

es m

ais

ou m

enos

lon

gas,

pa

usas

sile

ncio

sas

desc

once

rtan

tes

com

o qu

e a

para

r o

tem

po.

E s

e no

liv

ro a

s su

spen

sões

são

an

unci

adas

pel

o na

rrad

or a

nóni

mo,

no

film

e sã

o re

vela

das

não

atra

vés

de u

ma

cort

e de

cisi

vo e

br

usco

, mas

em

lent

os f

undi

dos

enca

dead

os q

ue

se a

pres

enta

m c

omo

uma

feri

da n

a na

rrat

iva.

A

brem

-se

assi

m fi

ssur

as n

a pr

ogre

ssão

das

dua

s ob

ras,

fen

das

que

sepa

ram

pon

tos

de v

irag

em,

norm

alm

ente

pre

para

ndo

mom

ento

s de

mai

or

sere

nida

de, d

eixa

ndo

para

trá

s um

a fo

rte

tens

ão

enco

bert

a po

r um

a m

eia

cadê

ncia

ou

uma

sus-

pens

ão n

ão r

esol

vida

. N

o en

tant

o, n

ão s

ó a

arqu

itec

tura

glo

bal d

a co

m-

posi

ção,

ass

ente

na

estr

atifi

caçã

o da

nar

rati

va,

“No

en

tan

to, n

ão

a

arq

uit

ec

tura

glo

ba

l d

a

co

mp

os

içã

o, a

ss

en

te n

a

es

tra

tifi

ca

çã

o d

a n

arr

ati

va,

se

tra

ns

e d

o l

ivro

pa

ra o

fi

lme

, ta

mb

ém

pe

rso

na

ge

ns

, a

õe

s e

ou

tro

s m

oti

vos

se

fa

zem

co

rre

sp

on

de

r d

e u

ma

o

bra

pa

ra a

ou

tra

.”

se t

rans

põe

do l

ivro

par

a o

film

e, t

ambé

m p

er-

sona

gens

, acç

ões

e ou

tros

mot

ivos

se

faze

m c

or-

resp

onde

r de

uma

obra

par

a a

outr

a. U

m e

xem

plo

dess

a co

rres

pond

ênci

a é

a co

nfro

ntaç

ão d

e M

ar-

low

e W

illar

d co

m e

lem

ento

s es

tran

hos

às n

ar-

rati

vas.

Em

Con

rad,

um

liv

ro e

scri

to e

m i

nglê

s,

Inqu

iry

into

som

e P

oints

of

Sea

men

ship

de

Tow

son,

é

enco

ntra

do p

ela

trip

lula

ção

e, n

o fil

me

de C

op-

pola

, W

illar

d de

para

-se

nas

mar

gens

do

rio

com

um

a pl

anta

ção

fran

cesa

. A

mbo

s ob

ject

os i

ntru

-si

vos

da c

ultu

ra e

urop

eia,

est

es e

lem

ento

s es

tão

fora

do

cont

exto

, sã

o es

tran

hos

e ap

rese

ntam

-se

com

o um

abs

olut

o m

isté

rio.

O l

ivro

um

a su

rpre

-sa

, es

crit

o nu

ma

língu

a qu

e ni

ngué

m e

nten

de,

e os

fra

nces

es u

ma

estr

anhe

za,

com

plet

amen

te

desl

ocad

os d

o te

mpo

e d

eslo

cado

s da

nar

rati

va,

onde

até

se

inte

rrom

pe a

voz

-ove

r de

Will

ard

que

mar

cava

a s

ubje

ctiv

idad

e da

his

tóri

a qu

e se

vin

ha

ouvi

ndo.

O l

ivro

de

Tow

son

arri

sca

ser

um l

ivro

50

dent

ro d

o liv

ro e

o e

pisó

dio

da p

lant

ação

fran

cesa

o

film

e de

ntro

do

film

e, c

onfig

uran

do-s

e co

mo

dois

exc

elen

tes

exem

plos

de

hipo

dieg

eses

. Sã

o m

icro

-est

rutu

ras

que

não

func

iona

m c

omo

uma

sim

ples

par

agem

fís

ica

do b

arco

, m

as q

ue s

e ap

rese

ntam

com

o um

a co

mpl

eta

queb

ra n

o an

-da

men

to p

rogr

essi

vo d

as s

uas

com

posi

ções

.D

ando

ain

da m

aior

ênf

ase

à co

mpo

siçã

o es

tru-

tura

da p

or s

uces

siva

s na

rrat

ivas

-em

buti

das,

tem

--s

e o

narr

ador

-enq

uand

rant

e a

narr

ar a

his

tóri

a de

que

m c

onta

um

a hi

stór

ia,

que

por

sua

vez

é um

rec

onta

r da

sua

exp

eriê

ncia

no

Con

go e

o r

e-co

ntar

da

hist

ória

de

Kur

tz, s

endo

ain

da, p

or s

ua

vez,

o r

econ

tar

da p

rópr

ia e

xper

iênc

ia d

o au

tor.

E

a j

unta

r a

tudo

ist

o, t

em-s

e o

film

e a

reco

n-ta

r o

já r

econ

tado

. M

ais

aind

a, s

endo

Apoc

aly

pse

Now

Red

ux

um d

irec

tor´

s cu

t qu

e re

cont

a o

que

já t

inha

sid

o co

ntad

o nu

ma

prim

eira

ver

são.

uma

clar

a ob

sess

ão e

m c

onta

r e re

cont

ar h

istó

rias

. N

o en

tant

o, e

sta

obse

ssão

por

con

tar

hist

ória

s co

loca

em

nív

eis

opos

tos

livro

e fi

lme.

Na

obra

es

crit

a co

loca

m-s

e em

rel

evo

as h

istó

rias

con

ta-

das

oral

men

te e

na

obra

fílm

ica

dá-s

e um

a cl

ara

impo

rtân

cia

às h

istó

rias

esc

rita

s.C

onra

d co

loca

bas

tant

e ên

fase

no

acto

de

cont

ar

uma

hist

ória

ora

lmen

te,

apre

sent

ando

um

a na

r-ra

tiva

cen

trad

a no

s ac

tos

de f

alar

e o

uvir

. Que

m

lê a

obr

a de

Con

rad

fica

logo

con

scie

nte

de q

ue a

pa

lavr

a fa

lada

é u

m d

os m

ais

impo

rtan

tes

aspe

c-to

s da

nar

rati

va, p

ois

o te

xto

está

est

rutu

rado

com

um

a sé

rie

de a

spas

, mos

tran

do d

esde

logo

que

as

pala

vras

nel

as in

scri

tas

são

o re

sult

ado

escr

ito

de

um d

iscu

rso

oral

. Com

o se

a a

udiç

ão f

osse

o m

ais

sign

ifica

nte

dos

sent

idos

, afa

stan

do a

vis

ão, q

ue é

qu

ase

sem

pre

pouc

o at

ingi

da,

para

um

seg

undo

pl

ano.

É u

ma

escr

ita

que

quer

ser

fal

a. D

e K

urtz

mui

to s

e ou

ve f

alar

, m

as d

ele

pouc

o se

“vê

”. E

m

esm

o qu

ando

é “

vist

o” é

pou

co d

efini

do, fi

can-

do-s

e ap

enas

com

um

a va

ga im

pres

são.

C

oppo

la,

pelo

con

trár

io,

colo

ca b

asta

nte

ênfa

se

nas

hist

ória

s es

crit

as, a

com

eçar

pel

o pr

ópri

o ac

to

de n

arra

ção

em v

oz-o

ver

com

o re

curs

o vi

ndo

dire

ctam

ente

da

liter

atur

a. M

as n

ão s

e fic

a po

r aq

ui.

Se n

o liv

ro d

e C

onra

d to

da a

gen

te o

uvia

, no

film

e de

Cop

pola

tod

a a

gent

e lê

. Sem

exc

ep-

ção,

tod

os o

s el

emen

tos

da t

ripu

laçã

o de

Will

ard

lêem

des

de o

sim

ples

jor

nal

até

a um

liv

ro d

e ba

nda

dese

nhad

a, p

assa

ndo

por

Hen

ry M

iller

ou

a r

evis

ta P

layb

oy. S

e, p

ara

Mar

low

, Kur

tz e

ra

apen

as u

ma

voz,

par

a W

illar

d, t

iran

do n

o in

ício

on

de s

e ou

ve u

ma

grav

ação

sua

, Kur

tz a

pres

enta

--s

e at

ravé

s da

leit

ura

de v

ário

s do

cum

ento

s es

cri-

tos

que

rela

tam

os

vári

os e

pisó

dios

da

sua

vida

. Se

no

livro

se

tem

o re

sult

ado

escr

ito

das

hist

ória

s qu

e se

ouv

em a

bor

do d

o N

ellie

, no

film

e te

m-s

e,

na s

ua m

aior

ia,

o re

sult

ado

audí

vel

das

hist

ória

s qu

e se

lêem

.N

este

asp

ecto

, liv

ro e

film

e en

caix

am n

a pe

r-fe

ição

e,

proc

uran

do c

ontr

aria

r as

sua

s pr

ópri

as

natu

reza

s, e

scri

ta n

o liv

ro e

fala

no

film

e, re

alça

m

“Se

no

liv

ro d

e C

on

rad

to

da

a

ge

nte

ou

via

, no

film

e d

e

Co

pp

ola

to

da

a g

en

te l

ê.

Se

m e

xce

ão

, to

do

s o

s

ele

me

nto

s d

a t

rip

ula

çã

o d

e

Wil

lard

em

[..

.]”

53

e re

forç

am a

s su

as p

ropr

ieda

des

cont

rári

as.

E

apro

veit

am p

ara

colo

car

em c

onfr

onto

a m

enti

ra

e a

verd

ade

nos

rela

tos

orai

s (n

a ob

ra d

e C

onra

d)

e no

s re

lato

s es

crit

os (

na o

bra

de C

oppo

la).

No

livro

as

fala

s en

tram

em

con

flito

um

a co

m a

s ou

-tr

as. C

ada

fala

apr

esen

ta-s

e um

a co

ntra

a o

utra

. A

men

tira

de

Mar

low

à I

nten

ded

é ap

enas

um

dos

m

ais

notá

veis

exe

mpl

os d

e fa

las

cont

radi

tóri

as: a

qu

e K

urtz

dis

se e

a q

ue M

arlo

w d

isse

que

ele

di

sse.

Nes

te m

esm

o co

nfro

nto

entr

e ve

rdad

e e

men

tira

, ap

arec

e o

Kur

tz d

o fil

me

rode

ado

de

cria

nças

a le

r a

Will

ard

um a

rtig

o da

rev

ista

Tim

e de

Dez

embr

o de

196

9, d

enun

cian

do a

men

tira

da

pro

paga

nda

gove

rnam

enta

l am

eric

ana.

Se

no

livro

se

tem

a m

enti

ra f

alad

a, n

o fil

me

tem

-se

a m

enti

ra e

scri

ta.

As

duas

obr

as e

stru

tura

m-s

e de

man

eira

a q

ue s

e ou

ça/le

ia o

s re

spec

tivo

s te

xtos

. E a

mba

s ap

rese

n-ta

m o

par

tex

to e

scri

to/t

exto

fal

ado.

Se

Mar

low

func

iona

com

o um

a vo

z qu

e se

ouv

e, a

voz

-ove

r de

Will

ard,

rem

eten

do p

ara

a lit

erat

ura

e pa

ra

a fo

rma

escr

ita,

fun

cion

a co

mo

uma

voz

que

se

lê. E

am

bos

just

apõe

m e

stas

par

ticu

lari

dade

s da

lin

guag

em d

e um

a m

anei

ra q

ue s

ublin

ha a

im

-po

ssib

ilida

de d

e co

mun

icaç

ão. C

onra

d e

Cop

pola

qu

esti

onam

ass

im a

int

egri

dade

, a

coer

ênci

a e

a au

tent

icid

ade

da v

erda

de d

e ca

da v

oz, f

alad

a ou

es

crit

a, r

epre

sent

ando

um

a in

equí

voca

im

poss

i-bi

lidad

e de

com

unic

ar.

Est

a im

potê

ncia

com

unic

ativ

a es

tá e

xpos

ta n

a co

mpo

siçã

o po

lifón

ica

a vá

rias

voz

es,

traç

o m

ar-

cant

e da

est

rutu

ra d

e ca

da u

ma

das

obra

s. H

á vo

zes

cont

ra v

ozes

, m

otiv

os c

ontr

a m

otiv

os e

fa

las

e es

crit

as e

ngas

tada

s um

as n

as o

utra

s, d

e-lin

eand

o um

eix

o ve

rtic

al n

as o

bras

lit

erár

ia e

lmic

a.

Ess

a ve

rtic

alid

ade

torn

a-se

m

ais

evi-

dent

e no

film

e po

rque

o c

inem

a pe

rmit

e qu

e se

so

brep

onha

m a

o m

esm

o te

mpo

im

agen

s e

sons

. N

o liv

ro,

a im

poss

ibili

dade

de

uma

orga

niza

ção

vert

ical

dos

ele

men

tos

que

a co

mpõ

em to

rna

este

as

pect

o nã

o tã

o cl

aro,

mas

ain

da a

ssim

sug

erid

o pe

los

suce

ssiv

os e

ncai

xes

de h

istó

rias

den

tro

de

hist

ória

s, d

e fa

las

que

cont

inua

m a

res

soar

e s

e co

ntra

põem

a o

utra

s fa

las.

A p

ertu

rbaç

ão d

e um

com

plex

o si

stem

a al

icer

-ça

do e

m d

ois

eixo

s, v

erti

cal e

hor

izon

tal,

ajud

a a

refo

rçar

ain

da m

ais

a id

eia

de u

ma

estr

utur

a qu

e nã

o se

fixa

em

nen

hum

eix

o co

ncre

to,

mas

cir

-cu

la,

serp

ente

ia-s

e. F

orta

lece

-se

assi

m a

cri

ação

de

um

a es

trut

ura

circ

ular

, qu

er n

uma

obra

que

r no

utra

. Si

met

rica

men

te,

a se

quên

cia

final

do

fil

me

fech

a es

sa fo

rma

circ

ular

, ter

min

ando

com

o co

meç

a co

m a

sob

reim

pres

são

do r

osto

de

Wil-

lard

na

mes

ma

em g

rand

e pl

ano

(mas

não

de

pern

as p

ara

o ar

) e

a im

agem

do

buda

de

pedr

a

que

já t

inha

apa

reci

do n

a se

quên

cia

inic

ial.

Aqu

i se

com

eça

a pe

rceb

er a

fus

ão p

rem

atur

a da

s im

a-ge

ns i

nici

ais,

ant

ecip

ando

a d

irec

ção

do d

esti

no

de t

oda

a co

mpo

siçã

o. D

esde

o i

níci

o qu

e se

en-

cont

rava

enq

uadr

ada

toda

a c

onst

ruçã

o do

film

e,

func

iona

ndo

com

o um

a tr

ansf

erên

cia

de C

oppo

la

à es

trat

ifica

ção

de C

onra

d. O

film

e, n

uma

clar

a co

nstr

ução

si

mét

rica

, ju

stap

õe-s

e es

trut

ural

-m

ente

ao

enqu

adra

men

to, t

ambé

m e

le s

imét

rico

, do

livr

o.A

obr

a es

crit

a ab

re c

omo

uma

atm

osfe

ra d

e ag

ou-

ro.

O n

ebul

oso

hori

zont

e, t

este

mun

hand

o um

m

au p

ress

ágio

. Só

quan

do a

nar

rati

va f

az c

ruza

r o

sinu

oso

Con

go c

omo

o es

tuár

io d

o T

amis

a é

que

se p

erce

be q

ue t

ambé

m o

rio

bri

tâni

co s

eem

ed t

o

lead i

nto

the

hea

rt o

f an i

mm

ense

dark

nes

s. S

ó na

sua

to

tal

cons

truç

ão,

se c

ompr

eend

e a

obra

esc

rita

co

mo

um t

raça

do c

onju

nto

de d

uas

corr

ente

s qu

e fa

zem

enc

aixa

r du

as é

poca

s, li

gand

o te

mpo

s di

fere

ntes

. Q

uand

o o

buda

de

pedr

a ju

nta

e af

asta

, sob

repõ

e e

apag

a o

rost

o de

Will

ard

na s

equê

ncia

fina

l do

fil

me,

com

pree

nde-

se a

com

plex

a ló

gica

con

stru

-ti

va q

ue C

oppo

la e

scol

he t

rans

por:

um

a es

trut

ura

circ

ular

a in

dica

r qu

e as

his

tóri

as s

e re

pete

m e

se

reco

ntam

. Mai

s ev

iden

te a

inda

par

a ch

egar

a e

sta

conc

lusã

o se

tor

nam

as

pala

vras

de

Jim

Mor

riso

n,

this

is

the

end, c

oloc

ando

o fi

m n

o in

ício

, inv

erte

n-do

o s

enti

do d

o fil

me

num

ass

umid

o ac

to a

uto-

refle

xivo

que

con

fere

às

narr

ativ

as u

ma

espé

cie

de e

feit

o lo

op j

á ilu

stra

do p

elas

rot

açõe

s da

ven

-to

inha

e d

a hé

lice

do h

elic

ópte

ro.

*C

ompr

eend

er

a es

trut

ura

das

duas

na

rrat

ivas

im

plic

a en

tend

ê-la

s co

mo

um g

rand

e si

ntag

ma

que

com

pree

nde

dife

rent

es a

rran

jos

sint

ácti

cos

capa

zes

de e

stab

elec

er s

uces

siva

s im

bric

açõe

s a

vári

as v

ozes

. A

nalis

ar e

stas

voz

es é

inv

esti

gar

com

o se

des

dobr

am a

s vá

rias

ins

tânc

ias

narr

ati-

vas.

Em

am

bos

os o

bjec

tos

se v

erifi

ca a

oco

rrên

-ci

a de

mai

s do

que

um

act

o na

rrat

ivo,

enu

ncia

dos

por

narr

ador

es a

rrum

ados

em

nív

eis

dieg

étic

os

dist

into

s, f

orm

ando

lin

has

que

se s

obre

põem

e

cont

rapõ

em. E

m c

ada

uma

dess

as li

nhas

a p

esso

a do

nar

rado

r ap

rese

nta-

se e

nqua

nto

enti

dade

por

qu

em p

assa

m e

em

fun

ção

de q

uem

se

dete

rmi-

nam

os

prin

cipa

is s

enti

dos

cria

dos

pelo

s vá

rios

ac

tos

de c

onta

r.O

s na

rrad

ores

-voz

es q

ue s

e fa

zem

ouv

ir/le

r ap

re-

sent

am-s

e in

evit

avel

men

te s

ubm

etid

os a

um

a de

term

inad

a or

gani

zaçã

o in

tern

a qu

e os

tra

ns-

form

a e

enqu

adra

num

a co

mpl

exa

arqu

itec

tura

es

trut

ural

. A s

obre

posi

ção

de l

ivro

e fi

lme

leva

a

anál

ise

a um

a es

péci

e de

lei

tura

de

enca

ixe

que

perm

ite

perc

eber

que

ele

men

tos,

tra

ços

ou m

an-

chas

das

sua

s fo

rmas

se

equi

vale

m e

enc

aixa

m.

Cop

pola

não

faz

mai

s do

que

des

enfo

rmar

a o

bra

de C

onra

d. T

rans

pond

o o

Con

go p

ara

o V

iet-

nam

e, p

reoc

upou

-se

não

só c

om o

que

se

cont

a,

mas

par

ticu

larm

ente

com

a f

orm

a co

mo

se c

onta

. D

a so

brep

osiç

ão d

os d

ois

obje

ctos

não

sai

o q

ue

se r

evel

a, m

as c

omo

se r

evel

a ou

com

o se

ten

ta

reve

lar.

Não

o s

eu c

onte

údo,

mas

a s

ua f

orm

a.A

ada

ptaç

ão d

e C

oppo

la é

um

a co

mpo

siçã

o tr

ans-

post

a de

esp

írit

o ge

omét

rico

que

col

oca

em e

vi-

dênc

ia a

s co

nstr

uçõe

s e

os v

ário

s di

álog

os e

ntre

as

par

tes.

Com

o se

Cop

pola

tiv

esse

olh

ado

de

cim

a o

livro

de

Con

rad

e ne

le o

bser

vass

e co

mo

o se

u pu

zzle

se

mon

ta. C

oppo

la p

erfu

rou

a su

bs-

tânc

ia d

a ob

ra l

iter

ária

de

form

a a

alca

nçar

o s

eu

esqu

elet

o. A

trav

esso

u a

carn

e pa

ra a

ting

ir o

oss

o.

“E a

pro

veit

am

pa

ra c

olo

ca

r e

m c

on

fro

nto

a m

en

tira

e a

ve

rda

de

no

s r

ela

tos

ora

is (

na

o

bra

de

Co

nra

d)

e n

os

re

lato

s

es

cri

tos

(n

a o

bra

de

Co

pp

ola

).

No

liv

ro a

s f

ala

s e

ntr

am

em

c

on

flit

o u

ma

s c

om

as

ou

tra

s.

Ca

da

fa

la a

pre

se

nta

-se

um

a

co

ntr

a a

ou

tra

.”

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55

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