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    Revista Brasileira de Zootecnia 2011 Sociedade Brasileira de ZootecniaISSN 1806-9290www.sbz.org.br

    Correspondncias devem ser enviadas para: [email protected]

    Aval iao de ingredientes convencionais e al ternativos em raes de ces

    e gatos

    Janine Frana1,Flvia Maria de Oliveira Borges Saad2, Carlos Eduardo do Prado Saad2,

    Rosana Claudio Silva3, Jssica Santana dos Reis4

    1 Universidade Federal de Uberlndia.2 Universidade Federal de Lavras.3 Doutoranda em Produo e Nutrio de No-Ruminantes - UFLA.4 Mestranda em Produo e Nutrio de No-Ruminantes - UFLA.

    RESUMO - Os alimentos comerciais para animais de estimao so formulados para atender s necessidades especficas

    de nutrientes para suprir os diferentes estados fisiolgicos de ces e gatos. A principal manipulao ocorre em nutrientes-

    alvo, incluindo as protenas, gorduras, carboidratos, fibras, vitaminas e minerais necessrios para sustentar a vida e otimizar

    o desempenho desses animais. Assim, o melhor ingrediente ser parcialmente definido pela finalidade do alimento ou

    produto final. Outro aspecto a ser questionado como pont o chave dentro da nutr io de ces e gatos a natureza das fontes

    dos ingredientes utilizados e suas relativas digestibilidade e biodisponibilidade em raes ou alimentos balanceados comerciais

    para essas espcies, ass im como a qualidade do ingrediente por cont aminao com microrganismos como Salmonellas e

    metablitos produzidos por fungos como as micotoxinas, que so de grande importncia na sade animal. O manejo

    nutricional relacionado a vrias patologias direcionou a utilizao de ingredientes denominados nutracuticos. Portanto,

    as dietas so formuladas para fins teraputicos ou para atender as diferentes exigncias de estados fisiolgicos, raas,

    ambiente, entre outros. Alm disso, necessria a avaliao in vivo de coprodutos potencialmentes utilizados na alimentao

    animal, principalmente na fabricao de alimentos para ces e gatos, com vistas longevidade, esttica e manuteno da sade

    e bem-estar desses animais de companhia.

    Palavras-chave: animais de companhia, fontes de nutrientes, nutracuticos, produto final

    Evaluation of conventional and alternative foods for pets

    ABSTRACT - Commercial foods for pets are formulated to meet the specific nutrient requirements to supply the different

    physiological stages of dogs and cats . The main manipulat ion occurs in nutri ent targets including proteins , fats , carbohydrates ,

    fiber, vitamins and minerals needed to sustain life and optimize the performance of these animals. Thus, the best ingredient,

    will be partially defined by the purpose of food or product. Further the nutritional requirements intrinsic in each physiological

    state related to the nutritional management of various pathological conditions, suggested the use of ingredients known as

    nutraceuticals. Another aspect to be questioned as a key point in the nutrition of dogs and cats is the nature of the sources

    of ingredients used and their relative bioavailability and digestibility in diets or commercial balanced food for these species,

    as well as ingredient quality for contamination as microorganisms Salmonella and metabolites produced by fungi as mycotoxins,

    which are of great importance in animal health. Furthermore, it is of paramount importance in vivo assessment of potential

    co-products used in animal feed primarily in the manufacture of foods for dogs and cats in order to search for longevity,

    aesthetics and maintenance of health and welfare of pets.

    Key Words: final product, nutraceuticals, pets, sources of nutrients

    Introduo

    Os alimentos comerciais para animais de estimao

    so formulados com o objetivo de atender s necessidades

    especficas de nutrientes para suprir os diferentes estados

    fisiolgicos de ces e gatos, como filhotes, crescimento,

    manuteno, de acordo com a Association of American

    Feed Control Officials. Esses objetivos so extrapolados

    a partir de estudos cientficos que definem os requisitos

    mnimos ou limites mximos seguros de nutrientes para os

    diferentes estados fisiolgicos. Os principais nutrientes

    incluem as protenas, gorduras, carboidratos, fibras,

    vitaminas e minerais necessrios para sustentar a vida e

    otimizar o desempenho dos animais de companhia. Portanto,

    como o objetivo atingir uma quantidade especfica de

    nutrientes, possvel usar diferentes combinaes de

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    Frana et al.

    ingredientes para atingir o mix que resulte em nutrientes

    especficos conforme a necessidade (Zicker, 2008). Antes

    de considerar os ingredientes que compem uma categoria

    dos nutrientes-alvo, deve-se determinar que o conceito de

    escolher o melhor ingrediente ser parcialmente definido

    pela finalidade do alimento (Willard, 2003).

    De acordo com Carciofi & Jeremias (2010), alm das

    exigncias nutricionais inerentes a cada estado fisiolgico,

    a pesquisa nutricional abrange reas como longevidade,

    gerontologia, imunidade, beleza de pele e pelos, funo

    digestiva, sade oral e preveno de doenas degenerativas,

    incluindo-se o manejo nutricional de diversas condies

    patofisiolgicas como urolit ases, nefropatias, artropatias,

    endocrinopatias, obesidade, distrbios gastrointestinais,

    alrgicos, entre outros.

    Por outro lado, o manejo nutricional relacionado svrias patologias direcionou a utilizao de ingredientes

    denominados nutracuticos, especialmente devido ao fato

    de a manipulao do estado de sade por meio de medicao

    no ser mais aceita como preferida ou como o nico meio de

    tratamento para os animais de estimao. O termo

    nutracutico pode se referir a diferentes produtos e

    significados. Em geral, nutracuticos so compostos de

    ingredientes biologicamente ativos com efeitos benficos

    sobre o animal e, geralmente, possuem mais de um alvo ou

    mais de uma funo no organismo. A maioria desses

    produtos deriva de fontes naturais e incorporada emdietas especficas (Krestel-Rickert & Kisic, 2002).

    A natureza, digestibilidade e biodisponibilidade dos

    ingredientes utilizados, no caso de minerais em raes ou

    alimentos balanceados comerciais, para ces e gatos

    outro aspecto sobre a nutrio de animais de companhia a

    ser questionado. Neste contexto esta reviso abordar a

    avaliao de diferentes fontes de ingredientes e/ou

    nutrientes e sua finalidade na formulao de raes e/ou

    alimentos para ces e gatos.

    Qualidade do ingrediente utilizado

    A qualidade das matrias-primas utilizadas para a

    fabricao de alimentos destinados a animais de

    companhia to importante quanto a eficincia de

    ingredientes e/ou nutrientes relacionados sade animal.

    Isso nos leva a considerar os principais contaminantes

    de ingredientes utilizados na formulao de raes as

    micotoxinas, que so metablitos secundrios dos

    fungos, presentes em mais de 25% de todos os gros

    produzidos mundialmente (Rocha, 2008). Os fungos que

    produzem micotoxinas de importncia veterinria incluemuma variedade de substratos, entre gros e seus

    subprodutos, principalmente milho, trigo, soja e arroz,

    ingredientes geralmente utilizados na fabricao de raes

    para ces e gatos (Santin & Bona, 2009).

    As diferentes micotoxinas apresentam diferentes

    rgos-alvo, como fgado, aparelho digestrio, rins,

    aparelho reprodutor e sistema nervoso central, alm de

    exercerem efeitos sobre a imunidade e coagulao sangunea(Santin & Bona, 2009). As aflatoxinas, ocratoxinas,

    tr icotecenos, zearalenona, fumonisinas, toxinas

    tremorgnica e alcalides do centeio so as micotoxinas de

    maior importncia agro-econmica (Zain, 2010).

    Em ces e gatos, os efeitos das micotoxinas so severos

    e podem levar morte, alm da perda de nutrientes, alterao

    das propriedades organolpticas e reduo do tempo de

    prateleira do produto no mercado (Campos, 2006). Os ces

    so animais particularmente sensveis aos efeitos

    hepatotxicos agudos, e a exposio regular a aflatoxinaspode causar dano crnico no fgado desses animais (Maia

    & Siqueira, 2007).

    As aflatoxinas metablitos secundrios de fungos

    Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus so um

    grupo de micotoxinas estruturalmente relacionado e bem

    conhecido por seus efeitos txicos e carcinognicos em

    certas espcies de animais susceptveis, bem como nos

    seres humanos. Estas toxinas no podem ser inteiramente

    evitadas ou eliminadas dos alimentos e raes por correntes

    agronmicas e processos de fabricao e so consideradas

    contaminantes inevitveis (Wood, 1989). Comercialmenteum dos critrios adotado de qualidade dos produtos

    alimentcios para animais a quantidade de aflatoxinas

    presente (Niedwetzki & Gunter, 1994). Portanto, os efeitos

    das micotoxinas em animais de companhia so graves e

    podem levar morte. Em 1952, um caso de hepatite em ces

    foi diretamente relacionado ao consumo de alimento

    contaminado. Aps a descoberta da aflatoxina, o agente

    responsvel pelo caso de 1952 foi identificado como

    aflatoxina B1 e os sintomas de aflatoxicoses em ces foram

    elucidados (Devegowda & Castaldo, 2000).

    Segundo Santos et al. (2000), a prtica adotada para aqualidade higinica dos alimentos a determinao de

    organismos indicadores. Em relao aos microrganismos

    indicativos ou representativos da qualidade sanitria,

    destaca-se o grupo coliforme fecal e, no caso das raes, a

    presena de Salmonellas. Um exemplo clssico de

    contaminao de ingredientes de origem animal a farinha

    de carne e ossos. Essa matria-prima encontra-se

    freqentemente contaminada por patgenos, destacando-

    se a Salmonella.

    Os ingredientes so testados antes de serem utilizados

    na fabricao dos produtos para garantir a ausncia de

    adulterantes ou problemas de qualidade que possam afetar

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    Aval iao de ingredientes convencionais e alternativos em raes de ces e gatos

    a integridade do produto final. O produto final tambm

    testado para determinar a segurana e ou o nvel de

    qualidade. Apesar de existirem vrios mtodos de ensaio,

    difcil determinar o mais apropriado para determinado

    ingrediente ou tipo de produto (Stawick, 2003).

    Segundo a Associao Nacional dos Fabricantes de

    Alimentos para Animais de Estimao - ANFALPET (2008),

    os alimentos de animais de companhia tm predisposio a

    alguns tipos de micotoxinas, como aflatoxina, ocratoxina A,

    fumonosina, zealerona e Don (vomitoxina) (Tabela 1).

    Segundo Bellaver et al. (2005), a padronizao dos

    ingredientes para raes regulamentada pela Portaria no.

    7 de 9/11/1988, pelo Ministrio da Agricultura, cujo limite

    mximo de aflatoxinas admissvel para todos os ingredientes

    de origem vegetal de 50 ppb. O Colgio Brasileiro de

    Nutrio Animal, por sua vez, props um valor mximoadmissvel de aflatoxinas de 20 ppb.

    No intuito de avaliar os nveis de aflatoxina e fumonosina

    em ingredientes utilizados na fabricao de raes para

    animais de companhia na cidade de Porto Ferreira/SP, Cruz

    (2010) analisou 24 amostras de milho em gro na etapa da

    recepo utilizado para fabricao de rao para animais de

    companhia. Nesse experimento foi detectada aflatoxina em

    10 amostras (41,66%) na concentrao total (AFB1 + AFB2

    + AFG1 + AFG2). Das 24 amostras analisadas 100%

    apresentaram nveis de concentrao total de aflatoxina

    abaixo de 5 g/kg (ppb). Verificou-se que 20 amostras(83,33%) foram positivas tanto para FB1 como FB2, com

    nveis acima dos detectveis.

    Santos et al. (2000), avaliando 10 tipos diferentes do

    ingrediente farinha de carne e ossos, verificaram que 90%

    (9/10) das amostras apresentaram contaminao por

    Salmonella.Nesse mesmo estudo tambm foram avaliados

    os farelos de milho e soja quanto presena ou ausncia de

    Salmonella, no se constatando contaminao. Apesar de

    a grande incidncia de contaminao da rao ocorrer

    atravs de ingredientes de origem animal, como as farinhas

    de carne, ossos, pena e vsceras, foi constatada a

    possibilidade de contaminao de produtos de origem

    vegetal.

    Fontes proticas em raes de ces e gatos

    Segundo Seixas et al. (2003) e ANFALPET (2008), as

    fontes para ces e gatos podem ser classificadas em duascategorias: origem vegetal, que incluem os gros e os

    farelos provenientes de subprodutos de processos

    industriais de gros e vegetais, e origem animal,

    provenientes de tecidos animais ou de subprodutos da

    indstria de carnes de frango, bovinos, sunos, ovinos,

    peixes, ovos, leite etc.

    Alguns exemplos de ingredientes proticos de origem

    animal utilizados na formulao de raes para ces e gatos

    so farinha de frango, farinha de fgado de frango, farinha

    de subprodutos de frango, frango, farinha de penas

    hidrolisadas, farinha de peixe, peixe, farinha de carneiro,

    carneiro, farinha de carne e ossos, farinha de vsceras de

    aves, carne mecanicamente separada (CMS), ovos em p,

    leite em p (integral, semi-desnatado e desnatado). Os

    ingredientes de origem vegetal so: soja gro, farelo de

    soja, farinha de glten de milho, protena texturizada de

    soja, farelo de canola, gro de ervilha, farelo de amendoim,

    entre outros (Case et al., 1998; ANFALPET, 2008). Consta

    nas Tabelas 2 e 3 a composio analtica de fontes proticas

    de origem animal e vegetal, respectivamente.

    As fontes proteicas de origem animal so matrias-primas importantes em dietas de ces e gatos. No entanto,

    deve-se considerar a variabilidade na sua composio e sua

    qualidade nutricional, relacionadas com a origem das

    matrias-primas, o contedo de cinzas e a temperatura

    durante o processamento capaz de reduzir a digestibilidade

    do alimento (Carciofi, 2008). Segundo Bednar et al. (2000),

    Seixas et al. (2003) e Carciofi (2008), as variaes da

    composio qumica das fontes de protena vegetal existem,

    mas so relativamente menores, quando comparadas s

    fontes de origem animal. No entanto, possuem fatores

    antinutricionais, como inibidores de enzimas, lectinas,tanino, fitato, polissacardeos no-amilceos, entre outros

    que, quando presentes, podem influenciar negativamente a

    disponibilidade de seus nutrientes. O tratamento trmico e

    industrial a que so submetidos, no entanto, pode reduzir

    e, ou, eliminar alguns fatores, melhorando significativamente

    a qualidade dessas matrias-primas.

    Segundo Aldrich (2009), as carnes frescas seriam o

    material preferido nas formulaes de raes para animais

    de companhia, mas isso nem sempre praticado, por vrias

    razes: 1) despesas associadas com congelamento erefrigerao; 2) despesas envolvidas com o transporte de

    matrias-primas com grandes quantidades de umidade; 3)

    Tabela 1 - Limites de aflatoxina, ocratoxina A, fumonosina,zealerona e Don (vomitoxina) em ppb (g/kg) noproduto acabado para animais de companhia

    Micotoxinas Limites para o produto acabado

    Aflatoxinas total (B1+B2+G1+G2) 20 ppbAflatoxina B1 10 ppbOcratoxina A 50 ppbFumonosina (B1+B2) 4000 ppb

    Zearalenona 100 ppbDon (Vomitoxina) 1250 ppb

    Fonte: Adaptado de ANFALPET (2008).

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    Frana et al.

    processo de extruso no suporta mais de 25% de carne

    fresca em uma frmula; 4) carnes frescas reduzem a eficincia

    de produo e 5) dietas base de carne fresca podem ser

    mais difceis de estabilizar. Assim, o uso de alimentos secoscom protena concentrada , muitas vezes, necessrio.

    Portanto, torna-se importante conhecer alguns

    aspectos do uso de ingredientes proteicos alternativos e de

    origem animal e rever definies de subprodutos,

    processamento, limitaes de uso, as quais envolvem

    aspectos nutricionais e sanitrios e composio dos

    ingredientes (Bellaver, 2001).

    Alm dessas fontes, as leveduras tambm so fontes de

    protena unicelular e microorganismos unicelulares ricos

    em protenas e vitaminas do complexo B, enzimas, cidos

    graxos volteis, minerais quelatados, entre outros, queconferem melhor desempenho, maior resistncia e menor

    estresse ao animal. A composio qumica depende de uma

    srie de fatores natureza do substrato utilizado, grau de

    aerao do meio, espcie da levedura, tratamentos impostos

    ao meio de cultura e concentrao de sais, entre outros

    (Butolo, 2010).

    Um exemplo muito utilizado na nutrio animal o

    extrato de levedura de cepa especfica, que um ingrediente

    classificado como protico de origem microbiana, obtido da

    extrao do contedo celular de cepa especfica da levedura

    Saccharomyces cerevisiae, cuja fonte primria de

    fermentao a garapa de cana-de-acar (Teshima et al.,

    2007). Os estudos realizados em animais de companhia,

    como ces e gatos, utilizando extrato de levedura foram

    direcionados, principalmente, a fatores de digestibilidade e

    palatabilidade (Swanson & Fahey Jnior, 2006).Teshima et al. (2007) verificaram que a adio de 2% do

    extrato de levedura de cepa especfica ao alimento completo

    seco extrusado conferiu palatabilidade superior em ces em

    ensaio de palatabilidade, avaliando uma dieta controle

    versus uma dieta com 2% de extrato de levedura de cepa

    especfica em raes extrusadas. Os resultados

    demonstraram preferncia pela dieta contendo o extrato de

    levedura de cepa especfica, na proporo de 67%:33%. O

    mesmo estudo tambm revelou coeficientes de

    digestibilidade de 70,59% matria seca, 71,49% matria

    orgnica, 72,44% protena bruta e de 69,04% energia bruta,utilizando o extrato de levedura de cepa especfica, pela

    metodologia de substituio de Matterson.

    Com relao s fontes alternativas de protenas,

    procuram-se alimentos que sejam capazes de fornecer a

    quantidade de nutrientes necessria para atender s

    exigncias nutricionais dos animais de companhia, com

    menor custo e sem comprometer sua qualidade, refletindo

    em produtos mais acessveis ao consumidor (Silva, 2003).

    Desta forma, Tavares et al. (2010) realizaram experimento

    com 24 ces, avaliando a digestibilidade aparente e valores

    de energia digestvel e metabolizvel dos alimentos dorso,

    ps e pescoo de aves, que so partes do abate de frangos

    Tabela 2 - Composio em umidade mxima (U), protena bruta mnima (PB), extrato etreo mnimo (EE), matria mineral mxima (MM)em % e presena ou ausncia de Salmonella em 25 g de ingredientes proticos de origem animal

    Ingredientes U (%) PB (%) EE (%) MM (%) Salmonella em 25 g

    Farinha de sangue 10,00 80,00 2,00 4,50 AusenteFarinha de penas hidrolizadas 8,00 80,00 2,00 4,00 Ausente

    Farinha de carne de frango 8,00 58,00 9,00 20,00 AusenteFarinha de carne e ossos 35/40* 8,00 35 4,00 48,00 AusenteFarinha de carne e ossos 45/50* 8,00 50 10,00 35,00 AusenteFarinha de peixe 52 8,00 52,00 4,00 24,00 AusenteFarinha de peixe 55 8,00 55,00 4,00 22,00 AusenteFarinha de peixe 62 8,00 62,00 6,00 18,00 Ausente

    * Composies das farinhas de carne e osso de 35 e 50% PB, variao: 35, 40, 45 e 50%.Fonte: Adaptado de Butolo (2010).

    Tabela 3 - Composio em umidade mxima (U), protena bruta mnima (PB), extrato etreo mnimo (EE), fibra bruta mxima (FB), matriamineral mxima (MM) em % e a flatoxinas mxima em ppb (mg/kg) de alguns ingredientes proticos de origem vegetal

    Ingredientes U (%) PB (%) EE (%) FB (%) MM (%) Aflatoxinas em ppb

    Protena texturizada de soja 9,00 52,00 0.30 3,00 6,50 20Farelo semi-integral de soja 12,00 40,00 8,00 6,50 6,00 20Farelo de soja descascado 46/48 12,50 46 - 7,00 7,00 20Farelo de glten de milho 60 12,00 60,00 1,00 2,00 4,00 20Farelo de amendoim com casca 10,00 32,00 1,50 22,70 8,00 15Farelo de amendoim sem casca 10,00 48,00 1,00 10,00 7,00 15

    Fonte: Adaptado de Butolo (2010).

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    Aval iao de ingredientes convencionais e alternativos em raes de ces e gatos

    de corte obtidas no abatedouro nas formas crua e cozida.

    Esses autores obtiveram coeficientes de digestibilidade

    aparente da regio do dorso cru e cozido para matria seca

    (MS) de 89,75 e 91,07%, matria orgnica (MO) de 94,75 e

    95,56%, protena bruta (PB) de 90,01 e 92,23%, extrato etreo

    (EE) de 99,27 e 99,46% e valores de energia digestvel (ED)

    de 6719 kcal/kg e 6493 kcal/kg e metabolizvel (EM) variando

    de 6718 a 6493 respectivamente.

    Para os alimentos ps crus e ps cozidos, o efeito de

    cozimento foi significativamente efetivo na melhoria dos

    coeficientes de digestibilidade de MS (54,67 e 78,75%),

    MO (81,70 e 92,79%) e PB (74,82 e 93,70%), respectivamente.

    Os valores mdios de energia digestvel e energia

    metabolizvel foram, respectivamente, de 4994 e 4994 kcal/kg.

    Entretanto, para pescoo cru e pescoo cozido o cozimento

    houve melhora significativa para os coeficientes dedigestibilidade de MO de 93,80 e 95,26% e PB de 90,00 e

    93,50%, respectivamente. Os valores de energia digestvel

    e energia metabolizvel encontrados ficaram acima de 7000

    e 6700 kcal/kg, respectivamente. Infere-se, portanto, que

    possvel a incluso de todos os ingredientes estudados

    nas raes de ces, desde que considerados os reais

    valores nutricionais. Esses dados tambm esto de acordo

    com Saad & Frana (2010), que, ao avaliarem alimentos

    naturais balanceados base de carne bovina e de frango,

    verificaram que os alimentos naturais apresentaram

    parmetros de digestibilidade de nutrientes super iores ousemelhantes aos alimentos comerciais Superpremium

    para ces adultos.

    A dieta pode alterar a qualidade e consistncia fecal em

    ces e gatos; em alguns casos, obrigatoriamente, responde

    manipulao diettica. Estes aspectos so relacionados

    digestibilidade de nutrientes, principalmente das fontes

    proticas. O odor fecal de suma importncia, pois

    pr ov en ien te de su bs tn ci as ge rad as por ba ct r ias

    endgenas e de substratos no-digeridos da degradao

    de protenas amnia, aminas alifticas, cidos graxos de

    cadeia ramificada, indis, fenis e compostos volteis

    contendo enxofre. Quanto maior a quantidade de protena

    indigesta que chega ao intestino grosso, maior sua

    disponibilidade para a microbiota do intestino grosso (Hesta

    et al., 2003), o que consequentemente alterar a qualidade

    fecal, principalmente a concentrao de nitrognio

    amoniacal nas fezes.

    De acordo com Zentek et al. (2002), dietas secas

    proporcionam melhor resultado se comparada a dietas

    enlatadas, que so ricas em protenas. Porm, os alimentos

    naturais base de carne bovina, que continham em mdia73% de umidade, tambm apresentaram melhor escore fecal,

    assim como a rao seca extrusada (Frana et al. (2010). Isto

    sugere que somente o teor de umidade no efetivo para

    avaliar a influncia do contedo de umidade da dieta na

    qualidade fecal (Zentek, 1995) e que fatores potenciais para

    as mudanas na qualidade fecal so a quantidade e o tipo

    de protena diettica, contedo de umidade e agentes

    geleficantes.

    Hesta et al. (2003) utilizaram uma dieta seca controle

    com 29,5% de protena (matria seca) e substituram em 50%

    por outras trs fontes de protena animal: farinha de carne

    e osso, farinha de aves e farinha de sunos (greaves meal),

    constituindo dietas com 48,5% de protena na MS, 53,5% de

    protena na MS e 48,3% de protena na MS respectivamente,

    para ces adultos. Esses autores verificaram que a farinha

    de carne e ossos foi a fonte de protena que proporcionou

    maior quantidade de nitrognio amoniacal, em comparaos demais fontes e ao controle.

    Fontes de carboidratos (amido) e energia alternativa

    O amido dos cereais a mais abundante fonte de

    energia para a maioria dos animais domsticos. Para animais

    no-ruminantes, desejvel maximizar a utilizao do amido,

    por meio de alta digestibilidade no intestino delgado do

    amido contido nos cereais (Nocek & Tamminga, 1991).

    Estudos sobre a utilizao e o aproveitamento de amido em

    animais de companhia demonstraram que, na maioria das

    raes extrusadas para ces e gatos, os amidos constituema maior fonte de energia. Podem representar de 40 a 55% da

    matria seca desses alimentos, fornecendo de 30 a 60% de

    sua energia metabolizvel. Suas caractersticas nutritivas

    dependem da composio de seus acares, do tipo de

    ligao qumica, de fatores fsico-qumicos de digesto e de

    seu processamento (Carciofi, 2008).

    A maioria dos alimentos secos disponveis no mercado

    para ces e gatos fabricada util izando a tecnologia de

    cozimento por extruso (Dziezak, 1989). Caractersticas

    benficas de um tratamento trmico, como a extruso,

    incluem a realizao de forma fsica desejada, a inativaodos fatores antinutricionais, o aumento do prazo de validade,

    o aumento da digestibilidade de nutrientes e a palatabilidade

    reforada. Alm disso, o processo de extruso do amido

    gelatinizado torna-o mais digervel para as enzimas

    digestivas (Murray et al., 2001).

    Existem duas fraes distintas que compem o amido:

    a amilopectina, que consiste em cadeias de glicose com

    ligaes a 1-4 e com ramificaes frequentes devido a

    ligaes a 1-6, e a amilose caracterizada por poucas

    ramificaes. Segundo Svihus et al. (2005), as caractersticasestruturais do amido afetam a taxa de digesto, sendo a

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    R. Bras. Zootec., v.40, p.222-231, 2011 (supl. especial)

    Frana et al.

    razo amilose/amilopectina de extrema importncia sobre

    a digestibilidade do amido.

    A maior parte dos amidos contm entre 200 e 250 g de

    amilose/kg, porm amidos cerosos, como amylomaize, podem

    conter de 650-700 g de amilose/kg. A proporo de amilose

    no amido de cevada varia de 30 a 460 g/kg e, no milho,

    0-700 g/kg. No trigo, foi relatada variao de 30 a 310 g/kg

    (Svihus et al. 2005).

    Essas informaes so importantes, visto que a

    amilopectina tem maior capacidade de gelatinizao,

    responsvel por maior digestibilidade do amido, enquanto

    a amilose, maior poder de retrogradao, proporcionando

    menor digestibilidade do amido (Saad et al., 2005). De

    modo geral, o contedo mdio de amido nos cereais de

    70%, sendo de 70 a 80% de amilopectina e de 20 a 30% de

    amilose.Segundo ANFALPET (2008), alguns ingredientes

    podem ser ci tados como fontes de carboidratos: fcula de

    mandioca, milho (gro integral), amido de milho, milho

    integral extrusado, arroz integral, sorgo, farelo de trigo,

    farelo de grmen de milho, sorgo, arroz gro integral, quirera

    de arroz, gro integral de cevada, entre outras. Ainda,

    segundo Thompson (2008), fontes de carboidratos de fcil

    digesto em alimentos para animais incluem vrias farinhas

    de trigo, arroz, aveia, sorgo e batata (Tabela 4).

    Twomey et al. (2002) avaliaram a digestibilidade e

    qualidade fecal de trs dietas experimentais extrusadas: aprimeira com 49% de incluso de arroz, a segunda com 51%

    de incluso de milho e terceira com 46% de incluso de

    sorgo para ces adultos. Esse autores verificaram

    coeficientes de digestibilidade aparente do amido de 100%

    para os trs cereais e a qualidade fecal de todos os ces foi

    considerada ideal.

    Em relao fonte alternativa de energia em alimentos

    para ces e gatos, a glicerina se destaca, pois o principal

    coproduto associado produo do biodiesel, em alta

    escala. A alta disponibilidade de glicerina no mercado fez

    com que esse coproduto fosse testado e utilizado como um

    ingrediente de alto valor energtico em raes para

    alimentao animal. Experimentos na rea de nutrio

    animal foram realizados em ces mais recentemente

    (Ponciano Neto et al., 2011).

    Ponciano Neto et al. (2011), utilizaram 20 ces adultos,

    distribudos em cinco tratamentos constitudos por uma

    rao referncia e quatro raes-teste em que a glicerina

    semipurificada (78,9% de glicerol) foi includa em nveis de

    2,5; 5,0; 7,0 e 10,0% na rao-teste em substituio MS da

    rao-referncia. Esses autores verificaram que, com o

    aumento da incluso de glicerina na dieta, os valores de

    energia bruta urinria reduziu de forma linear, indicando

    que o glicerol consumido foi metabolizado. O valor da EM

    da glicerina semipurificada foi de 5381 kcal/kg, com

    coeficiente de digestibilidade da EB de 97,8%, demonstrando

    ser importante fonte energtica para ces.

    Fontes de lipdeos utilizadas em raes de ces e gatos

    Os lipdeos desempenham pelo menos trs funes em

    raes para carnvoros (e em alguns herbvoros) e devem

    ser observadas antes mesmo do incio da formulao. Eles

    fornecem energia, cidos graxos essenciais e flavor,este

    ltimo diretamente relacionado ao aroma e paladar do

    alimento. O consumo alimentar mais uma funo regulada

    por ambos, energia e teor de gordura da dieta, porm

    varivel conforme a espcie. Em muitas espcies, incluindo

    ces, o consumo de energia (nveis de energia da dieta) o

    primeiro regulador do consumo de alimento (Zoran, 2002).

    Segundo Willard (2003), os lipdeos animais so maispalatveis que os vegetais. Consequentemente, a melhor

    fonte de lipdeo determinada pela funo requerida na

    formulao. Se a energia o primeiro objetivo, um tipo de

    lipdeo escolhido; se o perfil ou razo de cido graxo

    requerido, outro tipo de lipdeo adicional pode ser

    escolhido; e se a energia, o perfil de cido graxo e a

    palatabil idade so todos igualmente importantes, ento

    seguramente haver necessidade de ser uma mistura de

    duas ou mais fontes de lipdeos.

    Devido sua alta densidade energtica, quando

    comparada de carboidratos e protenas, os lipdeos

    dietticos contribuem significativamente para o

    fornecimento de energia aos ces. Estes so compostos,

    Tabela 4 - Composio em umidade mxima (U), protena bruta mnima (PB), extrato etreo mnimo (EE), fibra bruta mxima (FB), matriamineral mxima (MM) em % e aflatoxinas mxima em ppb de ingredientes com contedo em carboidratos (amido)

    Ingredientes U (%) PB (%) EE (%) FB (%) MM (%) Aflatoxinas em ppb

    Sorgo* 13,00 7,00 2,00 3,00 1,20 20Milho integral extrusado 12,00 8,00 3,00 3,50 2,00 20Farelo de trigo 13,50 14,00 3,00 11,00 6,00 20Farelo desengordurado de arroz 12,00 15,00 1,00 12,00 12,00 20

    Quirera de arroz 12,00 8,00 - 1,00 1,50 20* Quantidade de tanino mxima permitida 1,20%.Fonte: Adaptado de Butolo (2010).

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    R. Bras. Zootec., v.40, p.222-231, 2011 (supl. especial)

    Aval iao de ingredientes convencionais e alternativos em raes de ces e gatos

    principalmente, por trig licerdeos, contendo uma mistura

    de cidos saturados e insaturados de origem animal e

    vegetal, respectivamente. Os triglicerdeos de origem animal

    so conhecidos pela sua alta proporo de cidos graxos

    saturados em comparao com os de origem vegetal

    (Hussein, 2003).

    Segundo a ANFALPET (2008), as fontes de leo de

    origem vegetal utilizadas nas raes para ces e gatos so:

    leo de abacate, leo de alecrim, leo de arroz, leo de

    linhaa (bruto ou cru), leo de palma, leo de girassol, leo

    de soja (bruto ou cru), leo de soja degomado, leo de soja

    refinado e lecitina de soja. J os de origem animal so leo

    de aves, leo de peixes, gordura bovina e gordura suna.

    Segundo NRC (2006), os leos derivados das fontes

    vegetais so primariamente os triacilglicerois e so

    encontrados na semente (soja, milho) e, em alguns casos,na polpa (azeitona, palma).

    Outras fontes de gordura na dieta de ces e gatos

    podem ser melhoradas, inc luindo-se ovos, msculos e

    midos, que compreendem tpicos ingredientes muito

    usados em alimentospetmanufaturados. A composio

    total de cidos graxos do produto alimentar final depende

    de todos os cidos graxos contidos nos ingredientes. A

    maioria dos ingredientes usados em alimentos

    manufaturados para ces e gatos, como farinha de aves e

    farinha de cordeiro, que no so a fonte primria de

    gordura na dieta, contribuem como fonte de cidos graxospara o produto fina l. Portanto, os perfis de c idos graxos

    destes ingredientes comumente usados devem ser

    includos. Esses ingredientes variam em seu contedo de

    gordura e composio de cidos graxos. Por exemplo,

    trigo, que tm baixa gordura total, pode contribuir com

    quantidade aprecivel de cido linolico. Farinhas de aves

    e cordeiros tambm podem contribuir com muitos cidos

    graxos poliinsaturados, mas seus tipos podem variar

    dependendo da alimentao fornecida aos animais antes

    do abate e da regio de origem dos ingredientes da dieta

    (NRC, 2006). Vale ressaltar a necessidade diettica do

    cido graxo poliinsaturado araquidnico dos gatos, devido

    deficincia enzimtica nesta espcie.

    Fontes de minerais utilizadas em raes para ces e gatos

    Os minerais so importantes nutrientes para a

    manuteno da qualidade de vida atual, mas, principalmente,

    para o futuro bem-estar dos ces e gatos, que esto mais

    longevos. O fornecimento correto dos minerais pode

    contribuir para a preveno de problemas de sade dos

    ossos, articulaes, trato urinrio, corao e metabolismoda glicose, que aparecem com maior freqncia em animais

    idosos. No entanto, benefcios significativos podem ser

    alcanados nos animais jovens, quando observados dois

    aspectos principais: concentrao e fonte dos minerais. O

    ideal uma formulao com nveis timos, sem faltas ou

    excessos que possam ser prejudiciais, mas considerando-

    se a origem da fonte, visto que este fator influi grandemente

    na disponibilidade.

    Existem divergncias quanto ao grau de disponibilidade

    de minerais nas formas orgnicas e inorgnicas

    principalmente de minerais trao. A resposta depende do

    mineral, das condies dietticas e do estado fisiolgico do

    animal. As fontes de minerais mais comumente utilizadas

    na nutrio animal so as inorgnicas (xidos, sulfatos,

    cloretos, carbonatos e fosfatos).

    Em experimento desenvolvido por Frana et al. (2008),

    avaliando diferentes fontes suplementares de zinco para

    gatos adultos, verificou-se a distribuio das diferentesfontes orgnicas e inorgnicas do mineral zinco no

    organismo de gatos adultos. A fonte de zinco orgnico

    apresentou maior deposio do mineral no plo que o

    xido de zinco. Estes resultados tambm esto de acordo

    com Spears (1996), que afirma que determinados quelatos

    de minerais trao ou os complexos podem estimular

    determinados processos biolgicos ou, ainda, o mineral

    pres en te na fo rm a orgnica po de en trar em po ol s

    diferentes dentro do corpo, sob formas inorgnicas.

    Dados compatveis ao deste experimento tambm foram

    encontrados por Lowe et al. (1994), que observarammaior deposio de zinco e maior taxa de crescimento do

    pl o de ce s su pl emen tad os co m fonte de zi nco

    aminocido comparada ao xido de zinco. Da mesma

    forma, resultados obtidos por Kuhlman & Rompola (1998),

    em es tudo comparando compos tos orgnicos e

    inorgnicos de zinco, sob a condio de folculo piloso

    em cadelas, sugeriram que o zinco quelatado proporciona

    crescimento adequado de plo, pois nveis timos do

    mineral foram fornecidos aos folculos pilosos, devido a

    uma absoro mineral mais eficiente ou captao mais

    eficiente pelo tecido.

    Ingredientes com funo diettica especfica

    Segundo NRC (2006), desde das ltimas publicaes

    das edies anteriores das necessidades nutricionais para

    ces e gatos (National Research Council, ano de 1985 e

    1986), houve crescente de interesse na utilizao de

    substncias na dieta que podem afetar a estrutura ou

    funo corporal, mas cuja ausncia na dieta no se encaixa

    em modelos clssicos de deficincia nutricional. Muitas

    destas substncias desempenham um papel vital nometabolismo normal do animal, mas no pode ser

    considerada essencial, pois o corpo capaz de sintetiz-las

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    R. Bras. Zootec., v.40, p.222-231, 2011 (supl. especial)

    Frana et al.

    de outros componentes da dieta. Algumas destas

    substncias so divididas em categorias de nutrientes,

    como por exemplo cidos graxos -3, prebitico-fibras,

    algumas vitaminas e minerais trao.

    Os agentes mais comumente usados em alimentos

    para ces e gatos com a funo condroprotetora so a

    glucosamina e o sulfato de condroitina. A glucosamina

    pode ser sintet izada pelo corpo a part ir de outras

    componentes da dieta. Ela usada pelo organismo na

    sntese de novas substncias denominadas

    glicosaminoglicanos (GAGs), que so correlacionadas com

    a cartilagem e tecidos articulares, alm de inibir enzimas de

    degradao. O sulfato de condroitina uma forma de GAG,

    que consiste de um longo polmero de carboidrato associado

    com pequena quantidade de protena. Alm das funes

    semelhantes da glucosamina, tambm auxilia nofornecimento de nutrientes e atua como amortecedor das

    articulaes (NRC, 2006).

    Outra srie de alimentos funcionais so os antioxidantes,

    que incluem substncias que variam em estrutura, funo

    especfica e local da funo no organismo, agindo para

    prevenir danos oxidativos a nutrientes e outros compostos

    no corpo inibindo a formao de radicais livres. Estes

    so produzidos como resultado do metabolismo normal,

    mas tambm pode ser resultado da exposio a agentes

    estressores ambientais, como radiao UV, poluio e outros

    agentes como produtos qumicos. Os radicais livre sso altamente reativos e, posteriormente, destroem outras

    molculas para formar ainda mais radicais livres. O

    efeito desse processo contnuo possivelmente parte

    integrante de vrias condies patognicas, incluindo

    cncer, artrite, doena cardiovascular e at mesmo o

    processo de envelhecimento. O sistema imunolgico

    tambm suscetvel a danos (NRC, 2006).

    As vitaminas E e C podem ser utilizadas como

    antioxidantes em alimentos para ces e gatos. A

    vitamina E age na proteo da membrana da clula rica emlipdios pela preveno da oxidao de cidos graxos

    poli insaturados. Uma falha para evitar a oxidao pode

    resultar em perda da integridade de membrana e provocar a

    ruptura celular. A vitamina E no pode ser sintetizada pelo

    corpo e, por esta razo, considerada um nutriente

    essencial da dieta. J a vitamina C age como antioxidante

    dentro e fora da clula e pode ser sintetizada por ces e

    gatos, entretanto a suplementao pode ser benfica,

    part icularmente em momentos de stress. Alm disso, a

    vitamina C interage com a vitamina E (NRC, 2006).

    Com relao microbiota intestinal, os principaisalimentos funcionais que atuam de maneira significativa

    para a sade intestinal so os probiticos e prebiticos. Os

    probiticos, microorganismos vivos fornecidos diretamente

    na dieta, so colnias de microorganismos vivos

    freqentemente encontrados no trato gastrintestinal de

    animais saudveis, como Lactobaciltus, Bifidobocterium

    e Aspergillus . Quando adicionado dieta, esse

    microrganismos atuam para desfavorecer a colonizao da

    microbiota intestinal por microrganismos patognicos como

    a Salmonella, Esclierichia coli e outros patgenos

    potenciais . Estes microrganismos tambm sintetizam

    vitaminas, enzimas e cidos graxos volteis, que podem ter

    efeito benfico sobre a sade gastrintestinal, bem como

    fornecer e ajudar na absoro de nutrientes. Efeitos benficos

    de Lactobacillus acidophilus sobre a qualidade fecal e

    produo de compostos putrefativos e amnia em ces foi

    mais facilmente observado quando administrado emcombinao com o prebitico frutooligossacardeos

    (Swanson et al., 2002, citados por NRC, 2006).

    Consideraes Finais

    Na avali ao de ingredientes e/ou nu tr ientes em

    raes para ces e gatos, o melhor ingrediente depender

    do objetivo a ser atingido com o produto final, ou seja,

    se a dieta formulada para atender a fins teraputicos

    ou diferentes exigncias de estados fisiolgicos, raas,

    ambiente etc. Alm disso, pesquisas cientficas devemser realizadas com objetivo de avaliar as diferentes

    fon te s de nu t r i en te s , s e j am a l t e rna t iva s ou

    convencionais , e a uti l izao de coprodutos na

    alimentao animal principalmente na fabricao de

    alimentos para ces e gatos, visando longevidade, esttica,

    manuteno da sade e bem-estar.

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