72 casos de assédio R$ 14,00 público 62você fica entediado...

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GALILEU.GLOBO.COM TESTE: QUÃO FACILMENTE VOCÊ FICA ENTEDIADO ? 62 UNIVERSIDADES ENCOBREM CASOS DE ASSÉDIO 72 A QUÍMICA EXPLICA O VÍCIO DOS CHOCÓLATRAS P. 28 DOSSIÊ TRANSPORTE PÚBLICO PREçO DA PASSAGEM AUMEN- TOU BEM MAIS QUE A INFLAçãO 296 EDIÇÃO R$ 14,00 MAR. 16 50 A PREPARAÇÃO DO ARTISTA QUE VAI PARA O ESPAÇO CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL APROX. 4,65% 125% 192% Inflação Ônibus e metrô ESCRAVOS Ansioso pela próxima liquidação? Conheça a história de quem paga caro pela sua roupa nova P. 38 DA

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galileu.globo.com

TesTe: quão facilmenTe você fica e n t e d i a d o ?62

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Ansioso pela próxima liquidação? Conheça a história de quem paga caro pela sua roupa nova

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foto marcio rodrigues

design rafael Quick

produção de moda joão durão

texto thiago tanji

Compre rápido, Compre muito, Compre mais: Com 80 bilhões de

peças de roupa vendidas por ano, a indústria da

moda mantém uma fórmula que Combina o Consumo

desenfreado Com a explo-ração da mão de obra. e voCê é

parte do problema (e da solução)

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Homem encurvado, de testa enrugada e aparência dura, trabalhava em um tear mecânico — era uma mão en-tre centenas de outras que ajuda-vam os motores das máquinas a transformar o algodão em tecido. Quando publicou Tempos Difíceis, em 1854, o escritor britânico Charles Dic-kens utilizou a história de persona-gens como Blackpool para descrever as mudanças econômicas e sociais vividas pela Inglaterra do século 19, quando a criação da máquina a vapor aumentou a produção de mercado-

rias de modo exponencial. Com a tecnologia veio uma nova re-

má operação da máquina e, claro, a baixa remuneração oferecida: uma ínfima par-te dos ganhos do patrão.

O problema é que, mes-mo após mais de 160 anos da publicação de Tempos Difíceis, a história de Ste-phen Blackpool ainda não se tornou assunto restrito às discussões acadêmicas de literatura. Shima Akhter tinha 12 anos quando saiu de seu vilarejo para morar com uma tia em Daca, ca-pital de Bangladesh, país localizado no Sudeste Asiático com população superior a 150 milhões de habitantes. Ela era uma entre os 4 milhões de habitantes do país que trabalham na confecção de roupas para o mercado externo — de acordo com a Organi-zação Mundial do Comércio (OMC), Bangladesh é o segundo maior expor-tador de vestuário do mundo, com um volume de US$ 28 bilhões em transações, e 85% da mão de obra é formada por mulheres. Com um sa-lário inferior a US$ 3 por dia, Shima e outros colegas uniram-se para pedir melhores condições de trabalho e en-tregaram uma lista de propostas aos supervisores da fábrica. A negociação entre trabalhadores e patrões não de-

para explicar como o poder cultural das roupas é utilizado por grandes redes varejistas para estimular o consumo desenfreado e aumentar suas margens de lucro enquanto produzem peças a baixo custo por meio de força de trabalho barata.

Desde a década de 1990, quando a Nike foi acusada de utilizar trabalho infantil em fábricas na Ásia, a falta de ética no processo de fabricação de mercadorias por grandes empresas é discutida pela sociedade. O problema é que o questionamento costuma re-sistir apenas até a primeira promo-ção imperdível no shopping. “A rou-pa não fala, mas ela transmite uma informação: ao vestir determinada peça, você pode ser reconhecido

to de prestígio e ascensão social.” Por falar em capitalismo, as mu-

danças que aconteceram no sistema a partir da década de 1980, com a descentralização da produção e ne-gociações feitas em escala global, são a principal razão para entender como a indústria da moda criou um novo padrão de consumo, sustenta-do com base em um tripé: baixo cus-to de produção, rápido escoamento da distribuição e preços atrativos — anualmente, cerca de 80 bilhões de roupas são vendidas em todo o mundo, média superior a 11 peças por habitante da Terra.

Com mais de 6,6 mil lojas distri-buídas em 88 países e faturamen-to em vendas que chega a quase US$ 15 bilhões, a rede espanhola Zara é uma das empresas precur-soras da fast fashion, nome dado a essa nova maneira de consumir a moda. Criada em 1975 por Aman-cio Ortega, dono de uma fortuna de US$ 67,1 bilhões e quarto homem mais rico do mundo, a marca ino-vou ao adaptar para a indústria têx-til as lições da montadora japonesa Toyota, que desenvolveu um sistema de logística para eliminar os gran-des estoques das fábricas. “A Zara produz 11 mil modelos diferentes de roupas por ano e renova sua vitrine

dias são impossíveis de ignorar: em abril de 2013, por exemplo, um prédio de oito andares desabou na periferia da capital de Bangladesh, matando 1.133 pessoas. Conhecido como Rana Plaza, o edifício abrigava cinco fábri-cas de confecção de roupas e empre-gava mais de 2 mil trabalhadores, que produziam itens para empresas como Walmart e Primark — o salá-rio mensal era de aproximadamente R$ 360, com jornadas de trabalho de 10 horas durante seis dias da semana. Pouco antes do desabamento, os fun-cionários relataram o aparecimento de rachaduras nas paredes do prédio aos gerentes, mas eles decidiram seguir trabalhando normalmente. “Para diminuir os custos da produção,

izem que cada vida tem suas rosas e espinhos.

lação econômica, fundamentada em uma troca: os operários cediam seu tempo e a força de trabalho enquanto os donos das fábricas ofereciam um salário pago mensalmente. Negocia-ção que não era das mais justas, se contar o expediente de 14 horas por dia, o ambiente infestado pela fumaça do carvão que alimentava os teares mecânicos, o risco de morrer com a

morou muito a ser resolvida: os geren-tes fecharam as portas da confecção, reuniram quase 40 pessoas e ataca-ram Shima e seus colegas utilizando cadeiras, pedaços de pau e tesouras. A história da trabalhadora de 23 anos foi relatada no documentário True Cost, dirigido pelo norte-americano Andrew Morgan. No filme, a cadeia produtiva da moda é destrinchada

como uma pessoa bem informada ou que tem dinheiro para comprar, por exemplo”, afirma João Braga, profes-sor de História da Moda da Faculda-de Santa Marcelina, em São Paulo. “Como um fenômeno capitalista e ocidental, o desenvolvimento da moda também surge com o concei-

de modo permanente, esse é o seu segredo de marketing”, explica Ro-berto Minadeo, doutor em Engenha-ria de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de um estudo sobre a empresa espanhola. Se as grifes tradicionais euro-peias lançavam coleções de roupas de acordo com as estações do ano, as marcas de fast fashion despejam no mercado novos produtos a cada semana. “A Zara tra-balha com o que há de mais atual na moda: assim que ocorre um desfile ou tão logo alguma celebridade aponta para uma possível demanda, ela já coloca pro-dutos com uma estética similar em suas lojas”, diz Daniela Delgado, consul-tora de moda e marketing. Tudo isso a preços relati-vamente acessíveis para uma parcela considerável da sociedade: enquanto um vestido da grife fran-cesa Dior custa por volta de R$ 9 mil, um modelo similar da Zara sai por apenas R$ 300 — na Eu-ropa, peças vendidas pela marca espanhola chegam a custar € 10 (ou R$ 44).

O ritmo de comerciali-zação imposto por essas redes de varejo causou impacto em empresas tra-dicionais no ramo. Fundada no sé-culo 19 e fabricante de itens de luxo, a britânica Burberry afirmou neste ano que disponibilizaria suas novas coleções logo após a realização dos desfiles, tendência acompanhada por outras grifes, como Tommy Hilfiger, Versace e Marc Jacobs. “As pessoas costumavam ir uma vez por ano às lojas, mas então inventaram duas, três, quatro novas coleções, e agora o fast fashion renova suas prateleiras com novidades todos os dias”, afirma Isabella Prata, fundadora da Escola São Paulo, que organiza cursos sobre economia criativa. “As marcas que-rem que a experiência de visitar uma loja se repita, para aumentar a chance de compra de um novo produto.”

E com esse mercado de cores, tex-turas e novidades, não surpreende que você se esqueça da história de Shima Akhter. Mas algumas tragé-

No caso de Ste-phen Blackpool, houve algum erro ou engano, porque alguém recebera suas rosas e ele fica-ra com os espi-nhos desse alguém, além dos dele.

PARTICIPAÇÃO MUNDIAL NA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO

MÃO DE OBRA BRASILEIRA NA CONFECÇÃO DE ROUPAS

medicamentos vestuário brinquedos

R$54 bi

R$182 bi

R$6,6 bi

FATURAMENTO EM VENDAS NO BRASIL, POR INDÚSTRIA

CONSUMO DE ROUPAS DE CADA SEGMENTO NO PAÍS

20,4%

33,3%

46,3% feminino

masculino

infantil

china

Índia

Paquistão

brasil

1

23 4

47,2%

7,1%

3,1

%

2,6

%

75% 25%

outros mulheres

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as grandes corporações descentraliza-ram sua produção”, destaca Marcela Soares, professora da Escola de Ser-viço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Ao longo dos anos 1980, essa pulverização se des-locou para países em que não existiam leis trabalhistas ou muita tradição sin-dical.” Meses após o desastre no Rana Plaza, um incêndio em outra confec-ção de Bangladesh causou a morte de nove trabalhadores. Pressionadas pela opinião pública, as grandes mar-cas de fast fashion afirma-ram que controlariam a sua produção de maneira mais cuidadosa. Por sua vez, a Justiça de Bangladesh ini-ciou, em janeiro deste ano, um processo legal contra Sohel Rana, dono do Rana Plaza, além de 40 envolvi-dos na tragédia, como ge-rentes e oficiais do governo que sabiam dos problemas estruturais do edifício. De-pois do julgamento, os réus poderão ser condenados à prisão perpétua.

De acordo com o do-cumentário True Cost, na década de 1960, 95% das roupas vendi-das nos Estados Unidos eram fabricadas em ter-ritório norte-ameri-cano, enquanto hoje esse percentual não passa de 3%. Enquanto a produção é deslocada para outros locais, as empresas continuam com seus quar-téis-generais nos países de origem, responsáveis pela idealização de novas cole-ções, análise do controle de qualidade e, claro, arre-cadação dos lucros. Entre as cinco maiores nações exportadoras de vestuá-rio em 2014, quatro estão localizadas no Sudeste Asiático: a China, com US$ 173,4 bilhões em ex-portações, ainda lidera o ranking por conta das zo-nas econômicas especiais

criadas pelo Partido Comunista Chinês

te, as margens de lucro mais altas — em 2015, oficinas de roupas também se expandiram para a África, com a instalação de fábricas na Etiópia.

Em artigo publicado na revista nor-te-americana Jacobin, a pesquisadora

Anna Plowman associa o aumen-to das fábricas de Bangladesh às mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global: inunda-

ções nas plantações e a degradação do solo obrigaram os camponeses a migrar para a capital do país em bus-ca de uma nova ocupação, como foi

o caso de Shima Akhter. E se a jovem foi agredida por seus patrões depois de pedir melhores condi-

ções de trabalho, pior sorte tiveram os manifestantes que, em janeiro de

2014, protestavam pelo aumento do salário mínimo em Phnom Pehn, capital do Camboja. Os funcionários do setor têxtil do

país asiático pediam uma remune-ração de pelo menos US$ 160 men-sais, enquanto o governo oferecia US$ 95. A polícia disparou munição real contra os trabalhadores, ocasionando em três mortes.

para impulsionar o desenvolvimen-to industrial. Ao longo dos anos, no entanto, o crescimento do país ocasionou um aumento gradual dos salários e das condições de trabalho. O resultado foi que as grandes con-fecções se mudaram imediatamente para países como Bangladesh, Viet-nã e Camboja, onde a competição por postos de trabalho mantinha os salários baixos e, consequentemen-

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US$ 19,7 bilhõeS Zara — espanha

US$ 20,2 bi h&M — suéCia

US$ 16,6 bi Uniqlo — japão

US$ 7,5 bi PriMark — irlanda

US$ 16,4 bi GaP — eua

US$ 3,7 bi abercroMbie & Fitch — eua

US$ 4,4 bi Forever 21 — eua

US$ 3,9 bi toPShoP — reino unido

US$ 11,4 bi l brandS — eua

acerto de coNtaSQuem fica com o seu dinheiro quando você compra uma camiseta de r$ 78

doNoS do Negócio

Grandes redes de varejo de roupas venderam mais de Us$ 100 bilhões em 2014

de acordo com dados divulgados pela associação brasileira do varejo têxtil (abvteX), os pon-tos de vendas de roupas no brasil são pulverizados: pouco mais de 20% do mercado é controlado por grandes redes va-rejistas, enquanto cerca de 30% dos vendedores vivem na informalidade, como sacoleiros e camelôs. quase metade do mer-

cado, portanto, é formada por comércio de bairro e redes lo-cais. nos últimos anos, grandes empresas de fast fashion, como h&m e uniqlo, cogitaram abrir lojas no brasil, mas o alto custo de operação e a competição com outras multinacionais fizeram com que os executivos das companhias mu-dassem de ideia.

e no brasil?

41,6%Mark UP** — r$ 32,40

16,9%iMPoStoS do varejo — r$ 13,20

10,8%tranSPorte e iMPoStoS — r$ 8,40

8,7%Mão de obra — r$ 6,80

13,3%Matéria-PriMa — r$ 10,40

6,7%deSPeSaS — r$ 5,20

2%lUcro da oFicina — r$ 1,60

Fonte: Associação Brasileira da Indústria Têxtil*Preço calculado com base em uma camiseta simples feita no Brasil, de marca genérica, respeitando todas as leis trabalhistas. **Valor do produto definido de acordo com a estratégia de cada marca Fonte: Forbes

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De acordo com informações da Associação

Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), quase

85% do vestuário consumido no país é pro-

duzido por fábricas instaladas aqui mesmo.

Com faturamento de US$ 55,4 bilhões em

2014, o Brasil é o quarto maior produtor de

roupas do mundo, gerando 1,6 milhão de

empregos — 75% da mão de obra é com-

posta de mulheres. “Esse é um setor estra-

tégico: diga uma cidade do país em que não

tenha pelo menos uma lojinha para vender

roupas”, afirma Rafael Cervone, presiden-

te da Abit. De fato, o setor conta com 160

mil postos de venda espalhados pelo Brasil,

emprega quase 1,5 milhão de pessoas e ven-

deu 6,5 bilhões de peças em 2014.

Porém, apesar da importância para a

economia nacional, o setor também so-

fre do mal da equação “produção rápida

+ preço baixo”. Em janeiro deste ano, o

Tribunal Superior do Trabalho condenou

uma confecção ligada ao grupo Riachuelo

a pagar uma indenização no valor de

R$ 10 mil a uma funcionária que ganhava

um salário de R$ 550 e cumpria metas diá-

rias como a colocação de 500 elásticos em

calças por hora ou a costura de 300 bolsos

no mesmo período. Por conta do ritmo

de trabalho, a funcionária, do Rio Grande

do Norte, sentia dores nas mãos e nos

braços, mas era medicada com anal-

gésicos na enfermaria da empresa e

obrigada a retornar ao trabalho.

Ela também recebeu o direito

a uma pensão mensal por con-

ta dos prejuízos causados pelas

repetições de movimentos du-

rante a confecção das calças.

Casos mais graves envolven-

do grandes marcas também

foram registrados quando, em

2011, uma inspeção con-

duzida pelo Ministério

do Trabalho e Emprego

(MTE) encontrou imi-

grantes bolivianos e

peruanos expostos a

condições análogas à es-

cravidão trabalhan-

do em uma oficina

de roupas que pro-

duzia peças para a Zara na ci-

dade de São Paulo. Além das

longas jornadas de trabalho,

que chegavam a até 16 horas

por dia, os trabalhadores pre-

cisavam pedir autorização para

sair de casa. Em depoimen-

to à Comissão Parlamentar

de Inquérito (CPI) instaurada pela

Assembleia Legislativa de São Paulo

em 2014 para discutir o trabalho escra-

vo contemporâneo, a Zara admitiu a con-

tratação de fornecedores irregulares para

realizar os serviços de confecção. “O ob-

jetivo, ao utilizar mão de obra escrava, é

a maximização do lucro e a obtenção de

vantagem em relação aos concorrentes”,

afirma o procurador do trabalho Rafael

Garcia Rodrigues, que está à frente da

Coordenadoria Nacional de Erradicação

do Trabalho Escravo (Conaete), iniciativa

do Ministério Público do Trabalho (MPT).

A legislação brasileira é considerada uma

das mais avançadas do mundo no comba-

te ao trabalho escravo contemporâneo, e

caracteriza esse crime partindo de quatro

situações: jornada exaustiva, servidão por

dívida, trabalho forçado e condições de-

gradantes no ambiente laboral.

De acordo com dados do MPT, dos 14

termos de ajustamento de conduta rea-

lizados em 2015 em São Paulo por con-

dições análogas à escravidão, dez eram

referentes a empresas do setor têxtil —

nesses termos, os autuados se compro-

metem a resolver o problema ou com-

pensar danos e prejuízos já causados.

“Verificamos que não adianta responsa-

bilizar a última camada da cadeia produ-

tiva, já que aquele dono de uma oficina da

uma ação civil pública que determinava

multa no valor R$ 10 milhões contra a

marca M.Officer, depois de uma investi-

gação que percorreu diferentes pontos da

cadeia produtiva de roupas da empresa.

Em 13 de novembro de 2013, representan-

tes do Ministério Público e policiais civis

realizaram uma fiscalização em uma ofi-

cina de costura no bairro do Bom Retiro,

tradicional centro de confecções têxteis

da cidade de São Paulo. Imigrantes pa-

vida segurança. Na única janela existente

e que tinha visibilidade para a rua, havia

um pano cobrindo a vista”, diz o proces-

so. Os auditores verificaram que a oficina

produzia exclusivamente para a marca

M.Officer, com a presença de peças-pilo-

to responsáveis por servir como modelo

a ser reproduzido pelos trabalhadores.

Os imigrantes tinham uma jornada diária

que se iniciava às 7 horas e se estendia

até às 22 horas, e eram remunerados de

acordo com a produção das peças, re-

cebendo R$ 850 por mês, em média.

suíam ficha técnica com instruções sobre

medidas, tamanho e técnica do corte. Os

agentes públicos encontraram documentos

com particularidades no contrato: peças

sujas teriam desconto de R$ 1, enquanto

costuras erradas receberiam a penaliza-

ção de R$ 0,50 por peça. A marca enco-

mendou a produção de 331 calças a uma

fornecedora, pagando o valor unitário de

R$ 52. Essa empresa terceirizou o trabalho

para a oficina da Vila Santa Inês, com um

periferia de São Paulo não é quem real-

mente lucra com a exploração”, diz a pro-

curadora do trabalho Christiane Vieira

Nogueira, vice-coordenadora do Conaete.

“Também é necessário responsabilizar as

grifes, que exercem um controle muito

grande no modelo de produção.”

Em julho de 2014, o MPT protocolou

raguaios e bolivianos trabalhavam no lo-

cal, que também servia de residência —

no quarto da família de origem boliviana

havia apenas uma cama, em que dormia

o casal e duas crianças. “As condições de

trabalho, saúde e segurança eram péssi-

mas: instalação elétrica em más condições

e material altamente inflamável sem a de-

Após a M.Officer negar sua relação com

a oficina, o Ministério Público continuou

a investigação e, em 6 de maio de 2014,

realizou uma auditoria na Vila Santa Inês,

bairro da periferia de São Paulo. Em um

imóvel aparentemente residencial, seis

bolivianos trabalhavam em condições se-

melhantes às da primeira inspeção — os

auditores apreenderam duas peças-piloto

da marca, um blazer e uma calça, que pos-

pagamento de R$ 13 pelo serviço — deste

valor, apenas um terço era destinado aos

funcionários. Cada trabalhador produzia

de 110 a 190 unidades por mês e a re-

muneração era feita apenas no momento

em que a encomenda era paga, o que po-

dia demorar mais de um mês. Para pagar

as contas, os imigrantes recorriam a va-

em território nacional, não se impor-tam tantas peças de roupa quanto nos estados unidos e, felizmente, também não se explora a mão de obra de manei-ra generalizada como em bangladesh.

da matéria-prima até a venda nas lojas, a produção de peças do vestuário envolve a parti-cipação de trabalhadores de diferentes partes do planeta

de onde vem sua roupa?

MATÉRIA-PRIMA Índia e China são os maiores produtores de algodão do mundo — o Brasil possui a quinta maior lavoura. Há casos de exploração de trabalho em plantações

TERCEIRIZAÇÃO Após a concepção do produto e o planejamento comercial, as empresas solicitam encomendas das peças de roupas para as confecções

EMPRESAS DE FAST FASHION As principais marcas de redes de varejo de moda estão sediadas em países europeus, além dos estados Unidos e do Japão

QUARTEIRIZAÇÃO Para conseguir atender ao grande volume de pedidos, as confecções repassam o trabalho para oficinas menores. Aqui há riscos de trabalho análogo à escravidão

CONSUMIDOR o mercado bilionário de vendas é alimentado anualmente por conta do descarte de roupas: só nos estados Unidos são produzidas 11 milhões de toneladas de lixo têxtil

os principais países que participam da cadeia produtiva da moda

1

2

3

4

5

o ciclo produtivo de fabricação e venda de uma peça de roupa

Fibras naturais

colheita

semente de algodão

concepção da peça

contratação de fornecedores

Fibras sintéticas

síntese industrial

substânciasquímicas

FiaçãoTecelagemestamparia

confecção

consumidor

Tingimento

empresa fast fashion

centro de distribuição

oficina terceirizada

oficina “quarteirizada”

oficina “quarteirizada”

oficina “quarteirizada”

lojas físicas

TransporteVendas online

1

1

1

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11

3

1

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1

3

444

222

2

1

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por imigrantes dos países vizinhos que vie-

ram para cá pelo mesmo motivo. “Basta sair

poucas horas de La Paz (capital da Bolívia)

para encontrar comunidades sem energia”,

diz João Paulo Cândia Veiga, professor do

Instituto de Relações Internacionais da USP

que realizou uma pesquisa com bolivianas

que trabalhavam em oficinas de costura de

São Paulo. “Nas entrevistas, nos surpreen-

demos porque elas sabem que vão traba-

lhar muito e ganhar pouco, o que já é uma

oportunidade que não teriam nos seus paí-

ses de origem.” Como explica a professora

Marcela Soares, da Universidade Federal

ela está em risco, graças a um projeto de

autoria do senador Romero Jucá (PMDB/

RR), que pretende retirar as caracteriza-

ções de “condições degradantes de traba-

lho” e “jornada exaustiva” como atribu-

tos capazes de identificar a exploração de

trabalhadores. “Esse projeto mostra um

brutal retrocesso, em que se leva em conta

apenas a liberdade e não a dignidade”, diz

o procurador do trabalho Rafael Garcia

Rodrigues. O Ministério Público, o gover-

no federal e diferentes organizações de di-

reitos humanos são contrários ao projeto

de lei, que ainda não tem previsão de ser

votado no Congresso Nacional.

Para que casos como o da Zara ou o

da M.Officer não se repitam no país, a

Associação Brasileira do Varejo Têxtil de-

senvolveu um projeto para monitorar os

fornecedores responsáveis pela fabrica-

ção das peças de roupas para as grandes

marcas. Até agora, quase 8 mil empresas

estão cadastradas no programa e mais de

5,2 mil auditorias foram realizadas em

2015. Um número tímido se comparado

às dezenas de milhares de confecções

existentes em todo o território nacional,

mas uma iniciativa importante para que

as redes varejistas não contratem ofici-

nas terceirizadas envolvidas com a explo-

ração de trabalhadores. “Ganhar dinhei-

ro não está errado, desde que isso seja

obtido sem transgredir a ética”, afirma

Isabella Prata, da Escola São Paulo.

O direito à liberdade dos seres huma-

nos, afinal, não pode ser quantifi-

cado por valor algum de mercado.

os camponeses recebiam um

salário mensal de pouco mais

de R$ 450 e eram submetidos

a jornadas de trabalho supe-

riores a 10 horas. A colheita

do algodão é conhecida por

requerer grande esforço físi-

co da mão de obra. “Temos

quase 60% de trabalhadores

informais no campo, quase o

dobro do número registrado

nas cidades, e essa informa-

lidade possibilita a entrada

para o trabalho escravo”, afir-

ma D’Angelo. “Essas pessoas

têm pouca escolaridade e cos-

tumam ser bem pobres: mui-

tas vezes são escravos e não

sabem de sua condição.”

De acordo com dados da

Organização Internacional

do Trabalho (OIT), quase 21

milhões de pessoas no mun-

do estão expostas a trabalhos forçados.

Das vítimas, 11,5 milhões são mulheres.

“Não há um consenso definido sobre o

conceito de exploração do trabalho, mas

podemos dizer que ele está presente em

todos os setores da economia”, diz Hans

Von Rohland, porta-voz da OIT. O Brasil

só reconheceu que ainda abrigava ca-

sos de escravidão contemporânea em

1995 (!) e, desde então, resgatou mais de

50 mil trabalhadores expostos a essas

condições. Mas sabe aquela nossa legisla-

ção elogiada por conta da abrangência de

caracterização do trabalho escravo? Pois

Fluminense, com o aumento da mão de

obra disponível por conta da globalização,

há uma quantidade quase permanente de

pessoas dispostas a vender sua força de tra-

balho por salários baixíssimos.

As contradições da cadeia produtiva

de roupas no Brasil, no entanto, não es-

tão restritas ao momento da confecção

das peças (confira o quadro na página 45): com um volume colhido de 1,4 mi-

lhão de toneladas em 2015, o país é um

dos cinco maiores produtores de algo-

dão do mundo. E o cultivo de algodão é

um dos que mais utiliza agrotóxicos para

combate de pragas. “O trabalhador rural

que realiza a sinalização para a aplicação

do veneno é exposto com a pulverização

das substâncias”, diz Elias D’Angelo, se-

cretário da Confederação Nacional dos

Trabalhadores da Agricultura, que na in-

fância trabalhou na colheita manual do

algodão em plantações de Goiás. Além

dos problemas de saúde ocasionados pelo

contato com os agrotóxicos, muitas ve-

zes os trabalhadores são expostos a con-

dições de trabalho escravo: em 2009, o

Ministério do Trabalho e Emprego ins-

pecionou uma fazenda na Bahia em que

altas costurasQuantos vestidos de r$ 120 o dono da Zara e um

trabalhador de bangladesh poderiam comprar atual modelo econômico explica desigualdade

les feitos com o dono da oficina, em que

os valores eram anotados e descontados

de seus ganhos. O processo protocolado

pelo Ministério Público do Trabalho ainda

corre na Justiça brasileira, sem previsão

para uma conclusão. Procurada pela re-

portagem por meio de sua assessoria de

imprensa, a M.Officer não se pronunciou

até o fechamento desta edição.

Se em Bangladesh a força de trabalho é

composta de camponeses que são obrigados

a sair do interior para a capital em busca de

condições mínimas de sobrevivência,

no Brasil ela é geralmente formada

2,2 bi de peçasaMancio orteGa

fortuna de r$ 275 bilhões

em janeiro, informações dilvulgadas pela ong britânica oxfam indi-caram uma tendência dos últimos anos: as 62 pessoas mais ricas do mundo somam fortunas estimadas em us$ 1,7 trilhão de dólares, o equivalente a todo o dinheiro acumulado

pelos 3,6 bilhões de pessoas mais pobres do mundo. a organização afirmou ainda que 1% da população mundial possuía o mesmo patrimônio do que 99% do restante do planeta. “a desigualdade social é um reflexo direto da exploração do trabalho

assalariado”, afirma o professor ruy braga, do instituto de sociolo-gia da usP. “uma parcela significativamente me-nor da riqueza social é distribuída aos trabalha-dores.” o dono da Zara e seu potencial guarda--roupa com 2 bilhões de peças que o diga...

e o de cima sobe...

dono da Zara

18,6 peçasrenda do braSileiro

r$ 2.235 por mês

1,8 peçatrabalhador de banGladeSh

salário de r$ 176 por mês

7,8 peçasSalÁrio MÍniMor$ 880 no brasil

Page 7: 72 casos de assédio R$ 14,00 público 62você fica entediado ...editora.globo.com/premios/assets/galileu-escravos.pdf · gens como Blackpool para descrever as mudanças econômicas

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dor tem acesso a informações, ele se tor-

na mais responsável e escolhe para qual

marca quer dar seu dinheiro”, diz Eloisa

Artuso, uma das organizadoras brasilei-

ras do Fashion Revolution, organização

presente em 83 países que trabalha com a

conscientização do consumo da moda.

Em fevereiro deste ano, a entidade mon-

tou uma instalação na Avenida Paulista,

em São Paulo, com uma vitrine repleta

de promoções. Ao entrar para conferir

os produtos, os visitantes se deparavam

com uma confecção de roupas barulhen-

ta, abafada e que exibia um vídeo sobre

os impactos da cadeia produtiva da moda.

“Algumas pessoas falam ‘sei que esse pro-

blema acontece, mas o que posso fazer? É

culpa do governo, da mídia, de todo mun-

do, menos minha’. Mas a realidade é que

todos temos responsabilidade nessa ques-

tão”, diz Fernanda Simon, tam-

bém coordenadora do Fashion

Revolution. Além do papel exer-

cido pelos consumidores, pro-

fissionais da indústria da moda

pensam em alternativas à lógica da

fast fashion, resgatando o poder cul-

tural da criação de novas roupas.

“O consumo continuará a existir,

mas com uma conscientização cada vez

maior de que não há necessidade de com-

prar de maneira descontrolada”, afirma

João Braga, professor da Faculdade Santa

Marcelina. “A moda acompanha o espírito

de uma época e tem o poder de persuasão

para também realizar mudanças.”

Agora começam a surgir em várias par-

tes do mundo projetos que priorizam as

produções locais, fabricam itens com ma-

térias-primas sustentáveis, monitoram as

cadeias de confecção e oferecem alterna-

tivas para que o bem-estar de vestir uma

roupa nova não seja manchado pela ex-

ploração dos trabalhadores envolvidos na

fabricação da peça. Afinal, como você pode

ver no guia a seguir, proporcionar condi-

ções de trabalho dignas para todos os en-

volvidos no processo de produção é tarefa

que, definitivamente, não sairá da moda.

Você acompanha as denúncias e investi-

gações feitas contra as marcas, se solida-

riza com as pessoas que têm uma jornada

de trabalho extenuante e até fica chocado

com histórias de trabalhadores resgata-

dos em situações análogas à escravidão.

Mas por que então não consegue mudar

seus hábitos de consumo e ajudar a re-

verter essa situação? Para o psicólogo

Luciano Sewaybricker, autor de uma dis-

sertação de mestrado pela Universidade

de São Paulo sobre o conceito de felicida-

de em um mundo pós-moderno, o sistema

econômico motiva as pessoas a pensar de

maneira mais individual. “Os laços com

as pessoas se tornam mais frágeis e você

não consegue pensar em uma mudança,

se sente impotente e vê que seu poder de

mudança é ínfimo”, afirma.

Um primeiro passo para fazer a diferen-

ça nesse caso é escolher com qual roupa

você sairá de casa. “Quando o consumi-

Na esticaG u i a d e c o m p r as atitudes simples de consumo impactam a cadeia de produção da

moda de forma positiva e ajudam a moldar o futuro da indústriaPeoPle Tree Presente em 20 países, a empresa criada em 1991 no japão esta-belece parcerias com agricultores e artesãos para produzir roupas fabricadas com algodão orgânico e oferecem uma justa remunera-ção aos trabalhadores das confecções. a britânica safia Minney, fundadora da empresa, visita periodicamente os locais de trabalho e incentiva a organização dos trabalhadores a realizar projetos que empoderem a mão de obra, formada principal-mente por mulheres.

SveTlana a marca carioca, que não utiliza produtos de origem animal em sua linha de roupas, foi idealizada pela estilista Mariana iacia após um estágio com a britânica stella Mccartney, reconhecida internacionalmente pela indústria da moda por desenvolver peças criadas com matérias--primas sustentáveis.

MeuS 3 PonToS destinada ao público feminino, com peças que variam de r$ 20 a r$ 80, a marca foi criada em 2006 por uma parceria entre Nilsa schneider e sua filha, anelie. resgatando o modo artesanal de confeccionar roupas, a empresa tem quase 20 mil fãs em sua página no Facebook e vende os produtos em lojas de comércio colaborativo.

InSecTa criada na cidade de Porto alegre, em 2014, a empresa fabrica sapatos utilizando tecidos de roupas encontradas em bre-chós ou materiais que seriam descartados por confecções. o solado é feito de borracha reciclada e o produto é tingido com substân-cias produzidas à base de água. “a indústria da moda sustentável tem o estigma de estar associada a produtos feios, mas modificamos esse conceito ao criar sapatos que as pessoas sintam orgulho de usar”, afirma bárbara Mattivy, uma das fundadoras da marca.

verT Uma empresa francesa com espírito brasilei-ro: criada em 2005, a marca de calçados utiliza algodão orgânico culti-vado no ceará, borracha extraída na amazônia por uma cooperativa de seringueiros e couro vegetal processado no rio Grande do sul. “achamos muito cínica a atitude das empresas europeias, que cobravam auditorias criteriosas, mas fechavam os olhos sobre as condições de vida dos trabalhado-res”, afirma o francês François Morillion, um dos fundadores da Vert.

empresas investem em produtos sustentáveis e se preocupam com o bem-estar dos trabalhadores

seu bolso é o seu poder

projetos incentivam mudanças nos hábitos de consumo e pressionam marcas tradicionais a repensar modelo de produção

scolher a próxima rou-pa que estará em seu guarda-roupa é uma

ferramenta mais poderosa do que você pensa. afinal, caso os consu-midores não deem mais dinheiro para marcas que exploram traba-lhadores, aumentam as chances de toda a cadeia de produção da moda sofrer transformações po-sitivas. “quando os consumido-res exigem maior transparência da indústria, as marcas também são obrigadas a dar uma respos-ta sobre o que está por trás da produção”, ressalta eloisa artuso, do fashion revolution. a pressão exercida pelos consumidores já apresenta resultados: empresa global de fast fashion, a sueca h&m anunciou no ano passado que a preocupação em fabricar roupas de maneira ética se tornaria a nova

e a britânica Tara button, 33 anos, criou uma loja virtual que vende produtos de beleza e roupas fabricadas com materiais de alta durabilidade. Uma calça jeans

vendida na loja virtual da empresa, por exemplo, custa Us$ 341, enquanto uma peça na rede de varejo H&M sai por U$ 20. a diferença de preços, no entanto, é recompensada a longo prazo, já que o consumidor não precisará voltar à loja para substituir uma roupa desgastada após algumas (poucas) utilizações.

Buy Me once

prioridade para a companhia, pro-metendo garantir salários justos para os trabalhadores de confec-ções terceirizadas até 2018, além de produzir roupas com algodão sustentável até 2020. além da conscientização do consumo, ou-tras iniciativas ajudam a repensar a indústria da moda.

lançada em são Paulo, em 2015, a iniciativa é uma espécie de Netflix da moda: o consumidor pode escolher três planos mensais, de r$ 100, r$ 200 ou r$ 300, que

dão direito a retirar uma quantidade de roupas — uma, três ou seis peças. o assinante pode trocar os produtos todos os dias. “Pesquisamos sobre novas formas de consumo da moda e chegamos ao formato da biblioteca de roupas, que já acontece em alguns lugares da europa”, revela daniela ribeiro, uma das criadoras do projeto, que ainda está em versão de testes e disponibiliza mais de 450 peças no acervo.

rouPaTeca

com o objetivo de estender a vida útil das roupas, a

organização conta com um mapa colaborativo em seu site (roupalivre.com.br) para que os usuários identifiquem onde é possível encontrar brechós ou locais para doações, além de indicação de costu-reiras e cursos sobre moda consciente. em dezem-bro, a organização arrecadou quase r$ 26 mil em um financiamento coletivo para o desenvolvimento de um aplicativo para troca de roupas.

rouPa lIvre

Moda lIvre desenvolvido pela orga-nização repórter brasil, que realiza um trabalho jornalístico de combate ao trabalho escravo, o aplicativo para ios e android monitora 45 marcas de varejo que vendem seus produtos no brasil. o serviço, no ar desde 2013, informa se a empresa esteve envolvida em casos de exploração de mão de obra, além de avaliar a

política de transparência e as medidas adotadas pelas companhias para fiscalizar as confecções que produzem suas roupas. “as redes varejis-tas costumam falar da responsabilidade social, mas eles também têm uma responsabilidade legal por aquilo que geram aos trabalhado-res”, diz andré campos, membro do repórter brasil e um dos desen-volvedores do serviço.

1INFORMAÇÃOAntes de sair para comprar uma nova roupa, confira se as empre-sas de varejo estão envol-vidas com exploração da mão de obra por meio de serviços como o aplicativo Moda Livre

2UTLIDADE em quais ocasiões você vestirá aquela camisa da vitrine? Per-guntas como essa ajudam a avaliar se a sua próxima compra terá uma boa utili-dade, além de frear possíveis impulsos de consumo

3QUALIDADEVerifique as matérias-pri-mas utilizadas na produção do tecido e busque infor-mações sobre a satisfação dos clientes em questões como conforto e durabilidade

4ECONOMIA Caso tenha de vestir uma rou-pa para uma ocasião espe-cial, mas que dificilmente será utilizada em outras si-tuações, pense na possibili-dade de alugar a peça ou pedir aquele empréstimo camarada a seus amigos

5MAIS OPÇÕESDê uma olhada em roupas feitas em produções locais, de maneira mais artesenal: o preço e a qualidade são tão bons quanto os en-contrados nas grandes redes de varejo