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FACULDADES OSWALDO CRUZ MBA EM PERÍCIA, AUDITORIA E GESTÃO AMBIENTAL Clarissa Cavalheiro Neves da Fontoura ATRIBUINDO SUSTENTABILIDADE AO M² URBANO FLORIANÓPOLIS 2010

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FACULDADES OSWALDO CRUZ

MBA EM PERÍCIA, AUDITORIA E GESTÃO AMBIENTAL

Clarissa Cavalheiro Neves da Fontoura

ATRIBUINDO SUSTENTABILIDADE AO M² URBANO

FLORIANÓPOLIS

2010

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CLARISSA CAVALHEIRO NEVES DA FONTOURA

ATRIBUINDO SUSTENTABILIDADE AO M² URBANO Monografia apresentada às Faculdades Oswaldo Cruz como parte dos requisitos exigidos para conclusão do MBA em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental.

FLORIANÓPOLIS

2010

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CLARISSA CAVALHEIRO NEVES DA FONTOURA

ATRIBUINDO SUSTENTABILIDADE AO M² URBANO Monografia apresentada às Faculdades Oswaldo Cruz como parte dos requisitos exigidos para conclusão do MBA em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental.

Trabalho aprovado em ______ de ________ de 2010.

___________________________________________

Prof. D. Sc. Josimar Ribeiro de Almeida

(UFRJ/USP)

Presidente da Banca Examinadora

___________________________________________

Profa. D. Sc. Lais Alencar de Aguiar

(UFRJ)

Membro da Banca Examinadora

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À minha mãe, ao meu pai (in memorian), que

me ensinaram o valor do conhecimento e que

nunca mediram esforços para me proporcioná-

lo.

Ao meu companheiro Márcio pela paciência,

apoio e compreensão.

À minha filha Maiana pelo carinho e

dedicação na confecção das ilustrações do

trabalho.

Ao meu filho Tales pelo incentivo e suporte

técnico.

Aos Mestres e a todos que de alguma forma

colaboraram no decorrer deste estudo.

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Lá na cidade a cor da moda agora é cinza Coração cinza, terno cinza, amor cinza... Falta de verde vai fazer chover pra cima Nuvens de aço soltam pingos de metal... Lá na cidade já tem rio pedindo água Pulando cedo do seu leito pra fugir Na esperança de não entrar pelo cano Chegar no mar antes de se poluir Em edifícios que correm batendo palmas Ofuscados pelas luzes de neon Nas avenidas que se vão em paralelas Nunca se encontram pra poderem conversar... São só palavras de um ser dito normal (SOL DE SONRISAL, de Daniel Lucena/Paulo C. V. Velho, do álbum Expresso Rural, gravado em outubro de 1983)

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RESUMO

Este estudo apresenta uma pesquisa bibliográfica que contextualiza a problemática da urbanização e as dificuldades de gestão de águas pluviais urbanas. Além da complexidade do problema em si, não existem mecanismos básicos de decisão e de gestão integrada. A gestão de uma bacia hidrográfica, incluindo o controle da drenagem urbana, acaba sendo mais um problema de controle de uso e ocupação do solo urbano. Por isso, o planejamento não deve ter como objeto as chuvas intensas, mas sim o uso do solo urbano. Busca-se manter o hidrograma natural já existente na bacia antes da interferência antrópica. Desta forma, o enfoque não é mais tubular e escoar toda a água o mais rápido possível, mas sim infiltrar ou reter a água na fonte, utilizando-se soluções de manejo. Além disso, existe uma interferência e interação de diversos elementos que compõem a estrutura física urbana e seus respectivos serviços públicos. Entre outros, o serviço de coleta de lixo, o esgotamento sanitário, o controle das erosões e a estrutura viária. A drenagem pluvial, portanto, só pode ser analisada e desenvolvida como parte desse sistema complexo que é o sistema urbano, e a integração de todos os elementos deve se dar no âmbito da bacia hidrográfica. Percebeu-se que a solução dos problemas urbanos e sanitários de uma bacia será a garantia da salubridade das águas de sua rede hidrográfica e qualidade de vida para a população e meio ambiente, que a impermeabilização do solo é um dos mais nefastos impactos da urbanização e que, quanto mais desequilibradas as relações entre sociedade e natureza, mais destrutivas se tornam as inundações e os escorregamentos de encostas, como o que ocorreu no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, no ano de 2008. Percebeu-se, também, que grande parte dos problemas das águas, tanto quantitativa como qualitativamente, pode ser amenizada ou solucionada localmente com a utilização de técnicas de manejo e medidas de controle na fonte. Essas medidas trazem um forte apelo conscientizador e participativo da população, que se beneficia diretamente com seus efeitos. São alternativas economicamente viáveis e que despertam o reconhecimento interior da nossa unidade com a natureza. PALAVRAS-CHAVE: Urbanização. Drenagem urbana. Manejo das águas pluviais.

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ABSTRACT

This study presents a research which contextualizes the urbanized problems and the difficulties of pluvial urban management. Besides the problem complexity itself, there aren't any basic action mechanisms, as well as integrated management. The watershed management including, urban drainage control, ends up as an extra urban use and soil use uncontrolled problem. Because of that, managing plan cannot focus on deep rains but the urban soil. It´s expected to keep the natural existing hydrograph, based on the basin before anthropic interference, so that the focus is not to tubulate and drain the whole water as soon as possible but infiltrate and keep it in the source by making use of appropriate dealing solutions, besides that, there´s also interaction and interference of amounts of elements which contribute to form the urban physical structure and their public and respective services, among them; wasting gathering service, sanitation, erosion control and road structures. So rain drainage can only be analyzed and properly developed as part of this complex system, which is, the urban one, and the integration of all elements that must be at the basin ambit. It´s clear that the problem-solving of both, urbanization and sanitation, when it comes to a basin, will be the guarantee of the water salubriousness, their hydrographical system, the population, and environmental quality life; not to mention the fact that soil impermeability is one of the most nefarious impacts in urbanization and, the more unbalanced the relations between society and nature, the more destructive is the flood and sliding slopes disasters like the one occurred in Itajai valley, Santa Catarina state, Brazil in 2008. It´s also clear that most of the disasters involving water matters either quantitative or qualitative, can be softened or solved with technical dealing uses and preventive control on the source of it. Preventive work causes people to a strong and participative attraction, interest in their “selves” welfare, benefitting directly from its effects. Those are economically and viable alternatives raising our awareness of environmental sustainability. KEY WORDS: Urbanization. Urban drain. Pluvial water managemen.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela 1: Políticas públicas com reflexos na redução de desastres, seus objetivos e instâncias

de implementação. .................................................................................................................... 26

Tabela 2: Manejo de Águas Pluviais Urbanas .......................................................................... 50

Figura 1: Movimento do tipo rastejo ........................................................................................ 27

Figura 2: Corrida de massa ....................................................................................................... 29

Figura 3: Escorregamento circular (rotacional) ........................................................................ 30

Figura 4: Escorregamento circular (rotacional) - perfil ............................................................ 30

Figura 5: Escorregamento em forma de cunha ......................................................................... 31

Figura 6: Escorregamento planar .............................................................................................. 31

Figura 7: Movimento do tipo queda de blocos ......................................................................... 32

Figura 8: Cortes com altura excessiva e com muita declividade em áreas urbanas e sistemas

vários ........................................................................................................................................ 33

Figura 9: Vazamentos de rede de abastecimento de água, de fossas sanitárias e de águas

servidas provenientes de residências em encostas urbanas ...................................................... 34

Figura 10: Corte, aterro e drenagem superficial de encosta ..................................................... 38

Figura 11: Corte na encosta com a confecção das bermas (terraços), com posterior colocação

de canaletas para drenagem ...................................................................................................... 38

Figura 12: Tipos de drenagem em encostas: vala revestida, canaleta pré-moldada e canaleta

moldada. ................................................................................................................................... 39

Figura 13: Trincheira drenante ................................................................................................. 40

Figura 14: Drenos profundos .................................................................................................... 40

Figura 15: Proteção superficial do talude através de impermeabilização com asfalto, solo-

cimento ou argamassa e drenagem tipo barbacãs. .................................................................... 41

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Figura 16: Detalhe da drenagem tipo barbacãs. ....................................................................... 41

Figura 17: Selagem de trincas e fissuras com argila impermeável, com arbóreas ou gramíneas

na encosta. ................................................................................................................................ 42

Figura 18: Muro de pedra ......................................................................................................... 44

Figura 19: Muro de pedra argamassada .................................................................................... 44

Figura 20: Muro de concreto .................................................................................................... 45

Figura 21: Muro de concreto armado ....................................................................................... 45

Figura 22: Estabilização de encosta com muro gabião, aterro adensado, solo grampeado e

cortina ancorada. ....................................................................................................................... 46

Figura 23: Gestão Integrada da Água no Município ................................................................ 54

Figura 24: Interface entre os planos. (UED = Unidade Executiva Descentralizada). .............. 55

Figura 25: Blocos vazados (1) .................................................................................................. 60

Figura 26: Blocos vazados (2) .................................................................................................. 60

Figura 27: Trincheiras e valas de infiltração (conforme sequência) ........................................ 61

Figura 28: Paisagismo, ruas que não geram aumento do escoamento (sem meio fio) ............. 62

Figura 29: Aproveitamento da planície de inundação na função de um parque ....................... 62

Figura 30: Exemplo de uso adequado de áreas baixas. No exemplo superior, tempo bom. No

inferior, chuva e área inundada. ................................................................................................ 63

Figura 31: Passeios públicos (a água escoa sempre para a área de infiltração). ....................... 64

Figura 32: Construção de coberturas com vegetação ou telhados verdes ................................ 67

Figura 33: Escola de Arte e Design da Universidade de Nanyang em Singapura, onde telhados

e gramas variam de horizontais a quase verticais. .................................................................... 68

Figura 34: Telhados verdes ....................................................................................................... 69

Figura 35: Funcionamento de sistema de aproveitamento de água da chuva ........................... 71

Figura 36: Reservatório em edifício ......................................................................................... 72

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10

2 IMPACTOS E EQUÍVOCOS DO USO, DA OCUPAÇÃO E DA IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO URBANO ............................................................... 132.1 IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO NA SAÚDE DA POPULAÇÃO .............................. 172.2 IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO NO CICLO HIDROLÓGICO .................................. 192.3 IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO NO ECOSSISTEMA AQUÁTICO .......................... 202.4 IMPACTOS DA MACRODRENAGEM URBANA UTILIZADA ATUALMENTE ...... 21

3 DESASTRE DE 2008 NO VALE DO ITAJAÍ (SC) ......................................................... 243.1 CAUSAS DOS MOVIMENTOS DE MASSA .................................................................. 323.2 MEDIDAS DE ESTABILIZAÇÃO DAS ENCOSTAS .................................................... 373.2.1 Estabilização de encostas sem estruturas de contenção ............................................. 373.2.2 Estabilização de encostas com estruturas de contenção ............................................ 433.3 REFLEXÕES TÉCNICAS ................................................................................................. 46

4 GESTÃO SUSTENTÁVEL DAS ÁGUAS PLUVIAIS .................................................... 484.1 MANEJO DISTRIBUÍDO OU CONTROLE NA FONTE ................................................ 574.1.1 Pavimento Permeável – blocos vazados ....................................................................... 594.1.2 Trincheiras e valas de infiltração 0 ............................................................................... 604.1.3 Paisagismo, ruas que não geram aumento do escoamento (sem meio fio) e Recreação Urbana 1 ................................................................................................................ 614.1.4 Passeios Públicos 3 .......................................................................................................... 634.1.5 Telhados Verdes ............................................................................................................. 664.1.6 Utilização da Água Pluvial – Armazenamento e Reuso ............................................. 69

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

GLOSSÁRIO .......................................................................................................................... 80

ANEXOS ................................................................................................................................. 86

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1 INTRODUÇÃO

Ao refletirmos a respeito dos principais problemas desta época,

conscientizamo-nos de que eles não podem ser abordados isoladamente. São problemas

sistêmicos, interligados e interdependentes. Vive-se uma era de limites impostos pela ação

humana. O desenvolvimento da humanidade tem usado o planeta além de sua capacidade de

suporte, e já são visíveis alguns sinais de colapso dos sistemas vivos e as catástrofes naturais

estão mais freqüentes e intensas. Neste cenário a humanidade se encontra em condições

propícias para repensar o seu paradigma de civilização. É hora de plasmar a ética da

sustentabilidade socioambiental e transformar o conceito de desenvolvimento. O verdadeiro

progresso econômico deve ser socialmente justo e ecologicamente sustentável.

O objetivo deste estudo é apresentar uma visão integrada da gestão das águas

pluviais urbanas em uma abordagem cujo planejamento das ações considera questões de

sinergia e economicidade, com soluções técnicas inovadoras e enfatizando o controle das

impermeabilizações advindas da urbanização. Além disso, objetiva mudar a forma

insustentável do desenvolvimento urbano e seus impactos no meio ambiente e na própria

população, que sofre com inundações, deslizamentos de terra, doenças de veiculação hídrica e

atmosférica e perda da qualidade de vida.

É uma ilusão pensar que o ser humano está separado do meio ambiente e que

pode agir sobre este sem sofrer as conseqüências do que faz. Além de compreender

intelectualmente o princípio da unidade ecológica de tudo o que há, é oportuno vivenciar e

deixar-se inspirar pelo sentimento da comunhão com a natureza. Assim, aprende-se a colocar

cada um dos processos econômicos e sociais a serviço da vida, não colocar a vida a serviço

dos processos.

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Com efeito, o reconhecimento interior da unidade com a natureza,

oportunizado por experiências de contato direto com o mundo natural, é fonte de inspiração

para a alma humana em seu crescimento interior. A sobrevivência da humanidade dependerá

da capacidade humana de entender os princípios da ecologia e de viver em conformidade com

eles.

O presente estudo analisa os impactos gerados pelo crescimento da

urbanização, pela forma desordenada do uso e ocupação do solo, enfatiza e dissemina o

conceito de gestão integrada de águas pluviais, demonstra sua importância em áreas urbanas,

e exalta a necessidade da gestão dos recursos hídricos, visto que o recurso água é

indispensável à vida, mas pode, também, ser responsável por grandes perdas humanas e

materiais diante da ocorrência de eventos extremos. Além disso, propõe reflexões sobre

alternativas e propostas de planejamento ecologicamente sustentável e sobre cidadania local e

global como base para a construção de uma civilização mais ética e solidária.

Este material é voltado a todos que de alguma forma atuam no meio ambiente

urbano, seja na administração, legislação, arquitetura, urbanismo, paisagismo, engenharia,

geografia, biologia, geologia e, principalmente, para o cidadão e as comunidades, objetivando

despertar em cada um o vislumbrar de uma nova forma de conceber o espaço a partir da

percepção da unicidade reinante em tudo que há. Faz-se necessária uma abordagem conjunta e

compromissada para mudar a forma insustentável do desenvolvimento urbano, de forma que,

dentro de uma visão global, seja lançada a ideia mestra desta nova forma de conceber a vida, e

que cada um individualmente internalize o sentido deste todo e possa agir localmente em prol

deste objetivo que é de todos e é de cada um. Precisam-se mudar as ações das pessoas, pois as

reações do planeta já dão sinais do desequilíbrio instaurado pela ação insensata do homem. Os

“desastres climáticos” são cada vez mais frequentes e violentos, assim como no dia-a-dia da

população cada vez mais se impõem as dificuldades criadas pela atual organização urbana.

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Atribuir qualidade e saúde à vida e ao meio ambiente, portanto, é uma meta a ser alcançada

coletivamente.

O trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, obtida junto a

livros, textos monográficos e por acesso a diversos sítios na rede mundial de computadores. O

método está associado à análise e síntese de tais conteúdos.

Ao longo do texto será abordada a estreita relação entre o uso do solo e águas

pluviais urbanas.

No capítulo 2 será focada a compilação bibliográfica nos impactos gerados

pelas águas pluviais, subordinadas à urbanização acelerada e desordenada, demonstrando por

que o processo de desenvolvimento atual precisa ser revisto.

No capítulo 3 buscar-se-á desmistificar o caso do “desastre” ocorrido em 2008

em Santa Catarina, apontando causas, medidas preventivas e técnicas e cuidados para

recuperação das áreas afetadas.

No capítulo 4 será abordada a necessidade de um planejamento integrado de

gestão dos sistemas e serviços urbanos, no âmbito da bacia hidrográfica, e os princípios

básicos para a gestão sustentável das águas pluviais, além de sugerir soluções de manejo e

controle das águas pluviais na fonte como forma de minimizar os impactos atuais e

conscientizar a população e as comunidades a respeito dos desdobramentos futuros.

No quinto e último capítulo serão mencionadas as conclusões sobre os

problemas e soluções levantados no decorrer da pesquisa.

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2 IMPACTOS E EQUÍVOCOS DO USO, DA OCUPAÇÃO E DA

IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO URBANO

A forma de uso e ocupação do solo urbano acontece, não raro, de maneira não

planejada, desconsiderando a característica de uma determinada bacia hidrográfica. Segundo

NASCIMENTO (1998) uma bacia hidrográfica adquire uma determinada forma física de

equilíbrio após milênios de interação de vários fatores e períodos de transformação geológica.

As águas das chuvas escoam e infiltram-se pelo terreno, interagindo com solos e rochas,

modificando-os e definindo seu percurso de escoamento de acordo com a forma que o terreno

assumiu. Esta condição natural é modificada pela ocupação urbana, que transforma o relevo,

impermeabiliza grandes áreas e acaba alterando o percurso natural das águas. Os rios e valas

naturais sofrem transformações ao serem invadidos por aterros, assoreamentos, construções e

sistema viário, provocando problemas de inundações e requerendo soluções de drenagem

urbana.

Observa-se que, nas últimas décadas, grande parte dos problemas urbanos

relativos à drenagem foi gerada por alguns fatores isolados, os quais, porém, quando juntos,

potencializam-se e incubam muitos desastres ditos ambientais.

Além das inundações, a ocupação das áreas de encostas íngremes nas cidades

pode levar a muitas mortes em períodos chuvosos, em virtude do escorregamento de terra pela

infiltração de água no solo e da falta de sustentação de maciços naturais e alterados como o

desastre de 2008 ocorrido no Vale do Itajaí.

A desatualização dos profissionais de diversas áreas, que atuam como

planejadores e gestores urbanos, quanto a uma visão ambiental integrada resulta na

implantação de soluções que alteram o ambiente natural e maximizam problemas ao suprimir

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áreas verdes e criar um excesso de áreas impermeáveis. Ao extinguir a vegetação, eleva-se a

temperatura ambiente, interfere-se no ciclo hidrológico da bacia, favorecendo inundações,

deslizamentos de encostas, poluição e doenças, distanciando-se cada vez mais de soluções

sustentáveis.

Esta postura profissional não considera as possibilidades de gestão da bacia,

com medidas que previnam impermeabilizações desnecessárias e excessivas. Desta forma,

tem-se cada vez mais água a escoar (impermeabilização progressiva dos terrenos) e,

proporcionalmente, menos capacidade de escoamento (terrenos disponíveis a custos viáveis).

Este conflito tem levado planejadores a considerar outras possibilidades de soluções além das

convencionais de engenharia.

Segundo FRANK (1993 apud NASCIMENTO, 1998), as intervenções para

drenagem numa bacia podem ser divididas em medidas estruturais e não estruturais. As

medidas estruturais dizem respeito a obras de ampliação de seções de escoamento, diques,

represas, novos canais e galerias etc.; as medidas não estruturais referem-se a plano diretor de

drenagem, estudos e planejamento da bacia, manejo da cobertura vegetal, controle da

impermeabilização de grandes áreas, controle da ocupação de várzeas e zonas sujeitas à

inundação, sistema de alerta, educação, legislação e gerenciamento.

Conforme o International Workshop on Non-Structural Flood Control in

Urban Areas (IRTCUD) (1997 apud NASCIMENTO, 1998), as medidas não estruturais

abrangem uma variedade de possibilidades de concepção moderna acerca da problemática da

drenagem urbana que envolve o planejamento urbano integrado, concepção em que o sistema

de drenagem faz parte de um sistema muito mais amplo de infraestrutura urbana. A concepção

dessas medidas não pode ser dissociada da problemática do lixo, dos esgotos sanitários, do

sistema viário, do zoneamento urbano, do uso do solo, da cobertura vegetal das áreas de

encostas, e devem-se prever periodicamente ações para desobstrução e limpeza de ruas e

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galerias. A vantagem dessas medidas é que, em geral, elas são menos dispendiosas, de fácil

implementação e com maior abrangência e consolidação junto à sociedade. Entretanto,

necessitam de uma participação ativa da população, de programas de educação coletiva e de

grande mobilização interinstitucional.

É fundamental informar a população sobre a natureza e a origem do problema

das enchentes, apresentando e esclarecendo sobre soluções possíveis e formas de prevenção.

Além disso, é fundamental proporcionar respaldo técnico à solicitação de recursos com

adequado conhecimento do ambiente físico e geográfico, com visão espacial de componentes

básicos como rios, córregos, valas e outros escoadouros da bacia de captação. A localização

de encostas, baixadas, áreas de preservação, sistema viário principal, áreas urbanizadas e

declividades também é indispensável, visando perceber todo o contexto em que ocorrem os

problemas de drenagem.

De acordo com ALMEIDA et al (2004), de uma maneira geral as atividades

humanas alteram e destroem os sistemas naturais para suprir suas necessidades e,

inevitavelmente, causam perdas na biodiversidade. Conforme vai mudando um ecossistema e

a diversidade de espécies, altera-se também a sua capacidade de absorver impactos diversos,

de manter solos férteis e climas estáveis, de manter águas de boa qualidade e repor estoques

de nutrientes essenciais para a sobrevivência de espécies.

Esse processo necessita de ações de conscientização, planejamento e gestão

que tenham como fundamento a visão da bacia como um todo e a adoção de medidas não

estruturais, as quais, além de mais econômicas, minimizam os impactos e viabilizam um

desenvolvimento sustentável. Cada vez mais as águas pluviais urbanas necessitam ser tratadas

de forma integrada com outros sistemas. Nas últimas décadas, aumentou muito o lixo urbano

proveniente de embalagens plásticas com pouca reciclagem e garrafas do tipo pet que acabam

obstruindo todo sistema de drenagem, aumentando as enchentes e poluindo os rios. O desafio

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da sustentabilidade nas cidades brasileiras impõe ainda mudanças profundas nos sistemas de

limpeza urbana.

Além disso, apesar dos grandes prejuízos causados pelas enchentes, o

gerenciamento atual não tem a prática de preveni-los, pois uma vez declarado calamidade

pública, o município recebe recursos a fundo perdido e não necessita fazer concorrência

pública para gastá-los. Aliada a esta postura está a população, que associa uma boa gestão ao

número de obras construídas. Por outro lado, a adoção de medidas não estruturais desagrada,

pois interfere em interesses de proprietários de áreas de risco e exige enfrentar questões

complicadas e de baixa receptividade. Faz-se necessária a implementação de programas

voltados à educação da população.

É importante considerar que não existem soluções únicas, mas soluções

integradas e adequadas a cada realidade de forma a atender, também, os aspectos higiênicos e

os ambientais.

A impermeabilização do solo resultante de empreendimentos imobiliários e

viários, somada à canalização das águas, é um dos mais nefastos impactos da urbanização. O

que se observa é um aumento da gravidade dos alagamentos e das cheias e uma intensificação

dos processos erosivos dos solos, trazendo desastres para as populações, para o meio ambiente

e para a qualidade de vida das cidades. Impõem-se nesse contexto uma reorganização do uso

do solo e uma conscientização da importância do assunto e, ainda, da participação da

sociedade na influência sobre os rumos e a fiscalização das aplicações dos recursos

disponíveis.

Ademais, segundo ALMEIDA et al (2004) soluções diferentes das usuais, para

a progressiva ocupação dos espaços urbanos pelo transporte, devem passar à luz da

internalização de seus custos ambientais (poluição e saúde) e sociais (horas perdidas em

deslocamentos). É necessário romper com as práticas que preconizam a utilização preferencial

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do automóvel e priorizar deslocamentos a pé ou de bicicleta, reduzir o tráfego de passagem e

criar espaços de convívio, substituir combustíveis fósseis por alternativas menos poluentes e

menos produtoras de ruídos.

Sustentabilidade – “Não é um problema, é uma oportunidade.” Bill Clinton – Greenbuild, Chicago – Novembro de 2007

2.1 IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO NA SAÚDE DA POPULAÇÃO

Segundo o Ministério das Cidades (2004), existem muitas doenças de

veiculação hídrica ou que podem ser transmitidas por vetores que se reproduzem em ambiente

aquático, como cólera, tuberculose, hepatite, giardíase, salmonela, diarreia, leptospirose,

infecções diversas, conjuntivite bacteriana aguda, malária, esquistossomose e dengue. O

consumo, pela população, de água imprópria resultante de cargas domésticas e industriais

pode, pela toxidade, provocar doenças degenerativas do fígado, como câncer e cirrose. A

concepção de salubridade ambiental subentende a promoção da saúde pública e a integridade

do meio ambiente, e estabelece a interface necessária com o desenvolvimento urbano, em

particular, com a gestão do uso e ocupação do solo. O manejo das águas pluviais urbanas

vislumbra uma relação direta entre a forma do uso e da ocupação do solo com a infraestrutura

de saneamento.

Com base em DIRCEU RODRIGUES ALVES JÚNIOR (2009), ressalta-se

que a interferência do homem tem causado muitos danos em diversas regiões da terra: níveis

altos de contaminação da água, do ar, da terra e dos seres vivos; desequilíbrios da biosfera;

graves deficiências nocivas para a saúde física, mental e social do ser humano no meio por ele

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criado, onde vive e trabalha. As agressões e os transtornos dos transportes ao homem e ao

meio ambiente são resultado de carros e mais carros que são lançados diariamente para um

espaço virtual, provocando engarrafamentos, acidentes, agressões pela emissão de uma massa

gasosa, vapores, poeiras, fuligens, ruído, vibração. O Brasil é um dos cinco maiores emissores

de material particulado do mundo. A quantidade de ozônio liberada é preocupante. A

Sociedade Brasileira de Cardiologia afirma que, num congestionamento de trânsito, a

inalação de poluentes equivale a fumar oito cigarros. Até mesmo aquele que está em sua casa

ou escritório é acometido por toda essa poluição gerada pelo transporte. Outro dano causado

ao organismo é o barulho produzido pelo transporte, que causa lesão irreversível ao ouvido

interno, inicialmente um zumbido, o qual evolui para perda auditiva, culminando com a

surdez e, com ela, incapacidade, limitações e custos à saúde. A vibração produzida pelo

veículo leva a uma utilização excessiva de toda a musculatura corporal, ao comprometimento

das articulações e do sistema circulatório à medida que permite liberar placas de gordura ou

coágulos, os quais podem levar à ocorrência de embolia ou tromboembolismo. Da vibração

também aparecem dores musculares e fadiga. No entanto, o estresse é a principal patologia

desenvolvida pelos motoristas. O estresse físico, devido à vibração e aos movimentos

repetitivos ao dirigir, pode desenvolver Lesão por Esforço Repetitivo (LER) ou Doença

Osteoarticular Relacionada ao Trabalho (DORT), de onde aparecerão: fibromialgias,

tendinites, doenças articulares; estresse psicológico, por exemplo, pelo medo de acidentes,

assaltos, sequestros, levando à fadiga mental e podendo causar distúrbios de comportamento,

síndrome depressiva, síndrome do pânico e outras fobias; estresse social pela preocupação

com o trabalho, a família, a situação econômica, a falta de apoio direto à esposa e aos filhos.

Dependendo da capacidade de tolerância e adaptação de cada um, o estresse pode evoluir para

o “Road Rage” (violência no trânsito), que é hoje responsável por agressões e mortes. Além

disto, a massa gasosa, poeiras e fuligens são capazes de gerar problemas respiratórios como

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rinite, sinusite, laringite, traqueíte, bronquite, irritação conjuntival, acne pela obstrução dos

poros cutâneos da face e alergias que acometem mais crianças, idosos e gestantes. No inverno

este quadro se agrava pela dificuldade de dissipação dos poluentes atmosféricos. Uma das

formas de amenizar esses problemas é programar e implantar o uso da bicicleta, estimular

pequenos trajetos a pé ou mesmo o transporte intermodal como soluções alternativas.

Também, criar transporte coletivo de qualidade, estimular a retirada de veículos mal

conservados das ruas e promover alternativas de combustíveis menos poluentes.

2.2 IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO NO CICLO HIDROLÓGICO

Segundo TUCCI (2005) o ciclo hidrológico natural é profundamente alterado

quando submetido ao processo de urbanização, em detrimento da cobertura vegetal, e à

progressiva impermeabilização do solo por meio de telhados, ruas, calçadas e quintais. O

escoamento superficial aumenta, pois não mais dispõe das plantas que faziam com que o

escoamento fosse mais lento e houvesse uma maior infiltração das águas. Com a redução da

infiltração, o aquífero tende a diminuir o nível do lençol freático por falta de alimentação.

Quando se substitui a vegetação por impermeabilizações, diminui-se a evapotranspiração

pelas folhagens e solo.

O ciclo hidrológico natural constitui-se de diferentes processos físicos,

químicos e biológicos, que são violentamente alterados quando o ser humano atua e se

concentra no espaço urbano e quando se utiliza de produtos químicos na indústria, na

agricultura e no ambiente em geral. A ação antrópica de contaminação pelos efluentes, em

épocas de chuva, transporta grande quantidade de poluição difusa (orgânica e de metais)

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20

levando à deterioração dos mananciais superficiais, de diferentes camadas do subsolo e do

manancial subterrâneo, reduzindo qualitativamente a água segura para a população, numa

retroalimentação negativa, ou seja, num ciclo de contaminação das águas que, por fim,

retornam à atmosfera e precipitam-se sob a condição de chuva ácida e carregada de metais,

comprometendo o abastecimento de água e exigindo maior tratamento químico.

2.3 IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO NO ECOSSISTEMA AQUÁTICO

Ainda conforme TUCCI (2005), com o desenvolvimento urbano, vários

elementos antrópicos são introduzidos na bacia hidrográfica e passam a atuar no meio

ambiente. As áreas urbanas mais impermeabilizadas, onde há o predomínio de concreto e

asfalto, absorvem parte da energia solar. Mais ainda quando o asfalto escurece com o passar

do tempo e, pela própria cor, aumenta a absorção de radiação solar e a consequente emissão

de radiação térmica que, de volta para o ambiente, gera mais calor. A partir daí ocorre um

aumento da temperatura ambiente, produzindo ilhas de calor na área central urbana. Nestas

condições, podem surgir correntes de ar ascendentes que aumentem a precipitação.

Ocorre, também, um aumento de sedimentos e de material sólido na bacia

hidrográfica decorrente, por exemplo, de construções, limpeza de terrenos, pavimentações de

ruas, avenidas e rodovias. A produção de sedimentos traz como consequência a erosão das

superfícies, gerando: fortes áreas degradadas; assoreamento das seções da drenagem,

reduzindo o escoamento de condutos, rios e lagos urbanos; contaminação das águas pluviais

pelo transporte de poluentes agregados ao sedimento. À medida que a bacia é urbanizada e a

densificação consolidada, a produção de sedimentos pode reduzir, mas surge outro problema

que é a produção de lixo. O lixo obstrui ainda mais a drenagem e cria condições ambientais

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21

ainda piores, a menos que ocorra uma adequada e frequente coleta e educação da população

sobre isso.

A qualidade da água pluvial equivale-se à do efluente de um tratamento

secundário. A quantidade de material suspenso na drenagem pluvial é superior à encontrada

no esgoto in natura. Os poluentes que ocorrem na área urbana são desde compostos orgânicos

a metais altamente tóxicos, inseticidas, fertilizantes, chumbo das emissões de automóveis,

óleos de vazamento de caminhões, ônibus e carros. A fuligem resultante das emissões de

gases dos veículos e indústrias e a queima de resíduos se depositam nas superfícies e são

lavadas pela chuva, chegando aos rios e, assim, os contaminando. Dentre os poluentes

encontrados no escoamento superficial pode-se listar: sedimentos, nutrientes (fertilizantes,

hormônios para crescimento), substâncias que consomem oxigênio, metais pesados,

hidrocarbonetos de petróleo, bactérias e vírus patogênicos.

Outro ponto a considerar é evitar a escolha de locais para construção de aterros

sanitários em áreas de recarga de aquíferos e procurar áreas com pouca permeabilidade, pois

pelo processo natural de precipitação e infiltração ocorre a contaminação das águas

subterrâneas. A utilização de fossas sépticas como destino final do esgoto tende a contaminar

a parte superior do aquífero, podendo comprometer o abastecimento de água urbana quando

existe comunicação entre diferentes camadas do aquífero por meio de percolação e de

perfuração inadequada de poços artesianos. Também, a rede de condutos de águas pluviais

pode contaminar o solo pela infiltração ou entupimento de trechos da rede, pressionando a

água para fora do sistema.

2.4 IMPACTOS DA MACRODRENAGEM URBANA UTILIZADA ATUALMENTE

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Atualmente o controle do escoamento da drenagem urbana tem sido realizado,

via de regra, trazendo prejuízos à população à medida que fundamenta os projetos na visão de

que a melhor solução é retirar a água pluvial o mais rápido do seu local de origem e

considerar a bacia por trechos isolados. Desse modo, transfere para a jusante todo o volume

das águas, aumentando a vazão, ou seja, transfere a inundação de um lugar para outro1

O importante é ter uma visão ampla da bacia em estudo e projetar uma solução

criativa que atenda o conceito da não transferência de impactos para a bacia. Caso contrário,

com o passar dos anos o impacto pelo aumento do desenvolvimento urbano à montante

restarão apenas soluções de alto custo, como o aumento do fundo do rio pelo seu

aprofundamento, e aumento de sua rugosidade, túneis de desvios, entre outros. Estas são obras

. Além

disto, segundo TUCCI (2006), com a expansão urbana para montante e o consequente

aumento das áreas impermeabilizadas ocorre um saturamento do sistema da drenagem

existente e a necessidade de aumento das seções de canalização. Segue assim até que, perante

a inexistência de espaços laterais para ampliar canais à jusante, parte-se para o

aprofundamento do canal com custos que podem chegar a US$ 50 milhões por quilômetro. A

sociedade paga um preço muito alto seja porque o custo desta solução é em torno de 1.000% a

mais do que soluções de amortecimento, e porque ocorre um aumento das inundações para

população de jusante. (TUCCI, 2006, p. 81). Normalmente o corpo técnico justifica adotar

esta solução estrutural pela falta de espaço para soluções de amortecimento. No entanto, com

um pouco de persistência e vontade é possível identificar estas áreas, pois as mesmas

representam somente 1% na bacia hidrográfica e podem ser distribuídas por diferentes áreas

ou até mesmo utilizando-se combinações de transferência de escoamento e amortecimento.

_______________ 1 Quando a água é tubulada em um local alagável, ao invés de tratar o problema no local, com soluções

de amortecimento, transfere-se toda a água para jusante. Esta área à jusante que recebe mais esta quantidade de água, então, precisa aumentar a sua tubulação, pois ocorreu um aumento na vazão.

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economicamente inviáveis e reduzem o valor das propriedades e aumentam os prejuízos

ambientais e socioeconômicos.

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3 DESASTRE DE 2008 NO VALE DO ITAJAÍ (SC)

Segundo FRANK e SEVEGNANI (2009) as chuvas intensas que caíram em

novembro de 2008 em Santa Catarina provocaram um desastre deixando 14 municípios

obrigados a decretar estado de calamidade pública e 63 a decretar situação de emergência,

principalmente os localizados no vale do Itajaí - nas regiões do médio vale e foz do rio Itajaí.

O evento foi alvo de atenção da imprensa nacional e colocado de forma a difundir a ideia de

um fenômeno natural destrutivo e trágico, fazendo prevalecer a sensação de impotência ante

as forças da natureza. Mas não é assim que os especialistas vêem o fenômeno. O fato de a

região apresentar um dos maiores índices de desenvolvimento humano (IDH 850) registrados

entre as regiões metropolitanas brasileiras versus uma comunidade altamente vulnerável aos

desastres (68 enchentes registradas em Blumenau em 158 anos) - apesar da importante

aplicação de recursos públicos (barragens no alto vale, melhoramentos fluviais, canais, diques

e comportas) - fez com que os técnicos se perguntassem por que isso ocorre. Infelizmente

problemas complexos não admitem soluções simples e tende-se a assumir uma espécie de

“fatalismo passivo”.

Desastre sintetiza a ideia de calamidade, tragédia e catástrofe. Todo desastre

resulta da combinação de dois conjuntos de variáveis: fatores naturais que desencadeiam o

desastre e fatores sociais que incubam os impactos do desastre. Não existe o desastre por

inundação se não ocorrer chuvas intensas, também não existem desastres sem população

afetada. Pode-se, então, dizer que o que aconteceu no vale do Itajaí foi a materialização dos

riscos produzidos pela interação constante de variáveis naturais e sociais ao longo do processo

de desenvolvimento. Como variáveis naturais o vale do Itajaí apresenta eventos de

precipitação intensa, solos frágeis e relevo acidentado muito dependente da cobertura vegetal

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para sua proteção. Como variáveis sociais a região apresenta desenvolvimento baseado na

derrubada da floresta, na ocupação das margens dos rios e das encostas para habitação e

indústria, e na retificação e canalização dos ribeirões. Esta combinação produziu um território

vulnerável aos desastres. A não percepção da relação entre estas variáveis e de intervir

consistentemente reproduzem e aumentam o risco de desastres. A destruição que se verificou

no período pós-impacto foi sendo incubada socialmente por ações cotidianas e de escolhas

políticas. Por exemplo, altera-se o plano diretor para permitir aterros em áreas inundáveis sem

se considerar o aumento do risco de inundação à jusante. O padrão de desenvolvimento

socioeconômico predominante, com o aumento da utilização dos recursos e dos espaços

naturais e a concentração da população em áreas urbanas, converteu eventos naturais em

problemas sociais. Quanto mais desequilibradas as relações entre sociedade e natureza, mais

destrutivos se tornam inundações e escorregamentos. Os desastres não foram somente um

problema para o desenvolvimento da região, mas, principalmente, uma conseqüência do

próprio desenvolvimento. Os desastres levam a sociedade à oportunidade de repensar a

trajetória do seu desenvolvimento, contribuem para a formação de cidadãos mais conscientes

e críticos, de governantes mais responsáveis para com a vida, de forma que sejam produzidas

e executadas políticas públicas mais condizentes com o conhecimento da realidade regional, e

existem leis federais capazes de minimizar a vulnerabilidade socioambiental à medida que tais

leis preveem ações no âmbito da União, Estados e municípios, conforme indica a tabela 1.

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Tabela 1: Políticas públicas com reflexos na redução de desastres, seus objetivos e instâncias de implementação.

Fonte: Frank e Sevegnani (2009, p. 56). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Esse conjunto de leis aponta para um desenvolvimento sustentado, para o bem-

estar das comunidades, para a proteção dos recursos naturais e segurança das populações. São

elas que deveriam nortear as políticas públicas municipais, para reduzir a vulnerabilidade das

comunidades aos desastres.

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A ocupação desordenada das encostas e planícies interfere na dinâmica natural

de evolução da paisagem, podendo antecipar, ampliar e agravar fenômenos de escorregamento

de encostas e corridas de massa. No vale do Itajaí a face mais trágica do desastre de 2008,

pela velocidade e gravidade, foram os escorregamentos e movimentos de massa. Os

movimentos de massa são classificados de acordo com a quantidade de água, a natureza do

escorregamento e a velocidade do movimento. Ao estudar o desastre foi adotada a seguinte

classificação e conceitos para os movimentos de massa:

1) Rastejo (ver figura 1): consiste de movimentos lentos com maior velocidade

na superfície, diminuindo em profundidade. São movimentos constantes, sazonais ou

intermitentes, podendo incluir solo, rocha alterada e fraturada. Pode-se percebê-los pelos seus

efeitos. Podem ser diagnosticados pela presença de árvores e postes inclinados, muros

desalinhados e trincas nas calçadas e ruas.

Figura 1: Movimento do tipo rastejo Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 81). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

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2) Corridas de massa (ver figura 2): São movimentos gravitacionais com

escoamento rápido e de grandes dimensões, podendo atingir vários quilômetros. Podem ter

características de lama, de terra e de detritos. Estes movimentos de massa são fenômenos

naturais nas encostas íngremes, porém os cortes na base, no meio e no topo, para construir

estradas, residências ou indústrias aumentam a chance de ocorrência e ampliam os seus

efeitos destrutivos. Em 2008, as corridas de massa foram os maiores causadores da perda de

vidas. Após longos períodos de chuvas, seguidos de uma precipitação intensa, é que ocorrem

os escorregamentos de massa. Com o encharcamento o solo perde sua estrutura e coesão e

desequilibra-se, o acréscimo de água provoca liquefação da massa do solo, que passa a fluir

encosta abaixo, levando tudo por diante, podendo inclusive se transformar em corrida de

detritos. Essas corridas de massa podem se realimentar por escorregamentos laterais

secundários, aumentando seu poder destruidor, com velocidade de dezenas de quilômetros por

hora. É como um trator levando pedras, vegetação, cultivos e construções que estejam em seu

caminho. São movimentos muito violentos e destruidores, podendo até transformar a

morfologia local do terreno.

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Figura 2: Corrida de massa Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 81). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

3) Escorregamentos (ver figuras 3 e 4): muito comuns na Serra do Mar,

podem envolver de pequenos até grandes volumes de solo ou rocha, com deslocamento rápido

(em metros/hora ou metros/segundo), podendo ser circulares, em forma de cunha e planares.

Nos escorregamentos circulares o solo já encharcado, com a sobrecarga de uma chuva intensa,

atinge seu limite de resistência e a massa inicia um processo de reacomodação encosta abaixo.

Várias fendas de formas circulares formam-se na parte superior do escorregamento,

facilitando a infiltração de mais água e iniciando o movimento de descida. Quando esta massa

encontra alguma resistência, a parte inferior do escorregamento se deforma provocando

elevações do terreno ou do que estiver sobre ele.

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Figura 3: Escorregamento circular (rotacional) Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 83). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Figura 4: Escorregamento circular (rotacional) - perfil Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 83). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Os escorregamentos em forma de cunha (figura 5) são mais frequentes em

maciços rochosos com superfícies de falhas ou cisalhamentos, em taludes urbanos e em

sistemas viários.

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Figura 5: Escorregamento em forma de cunha Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 85). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Os escorregamentos planares (translacionais) criam lâminas de solo da

superfície até o contato da rocha subjacente e são comuns nas serras litorâneas (ver figura 6).

Figura 6: Escorregamento planar Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 85). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

4) Quedas (figura 7): caracterizam-se por movimentos de blocos rochosos de

formas variadas que, ao se desprenderem das encostas caem ou se movem sobre um plano

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inclinado com elevada velocidade (metros/segundo). Os movimentos podem ser de queda,

rolamento ou tombamento de matacões.

Figura 7: Movimento do tipo queda de blocos Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 85). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

3.1 CAUSAS DOS MOVIMENTOS DE MASSA

Os movimentos de massa são eventos que acontecem naturalmente. No

entanto, o uso e a ocupação do solo de forma desordenada e inadequada aumentam a

frequência e a extensão da área atingida. A ocupação de áreas ambientalmente frágeis como

margens de rios, encostas íngremes, topos de morros e vales em forma de V fechado

aumentam significativamente o risco do movimento de solo, pedras e de detritos. Diversas

ações agravam as possibilidades dos movimentos de massas, como as descritas a seguir.

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1)Cortes nos morros (figura 8): os cortes nos morros sejam na base, no meio

ou no topo fragilizam as encostas e as chuvas intensas e prolongadas desencadeiam os

deslizamentos. Os cortes devem ser evitados, mas quando imprescindíveis devem seguir

rigorosos critérios técnicos;

Figura 8: Cortes com altura excessiva e com muita declividade em áreas urbanas e sistemas vários Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 86). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

2)Aterros em encostas: quando, sem a devida compactação ou dispostos sobre

vegetação pré-existente e sem boa drenagem, são instáveis e tendem a escorregar durante ou

após períodos de chuva;

3)Vazamentos de água (figura 9): a saturação do solo por sumidouros ou

vazamentos de fossas sépticas, de tubulações de esgoto e redes de abastecimento de água

sobrecarrega o solo e favorece o escorregamento de encostas;

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Figura 9: Vazamentos de rede de abastecimento de água, de fossas sanitárias e de águas servidas provenientes de residências em encostas urbanas Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 87). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

4)Alterações na cobertura vegetacional: representados pelos desmatamentos,

cortes seletivos antigos e estágios sucessionais da floresta, os plantios homogêneos e as

pastagens. Os desmatamentos e cortes seletivos de madeira retiram o conjunto de troncos,

ramos e folhas que protegem o solo da erosão superficial. Com o passar dos anos, as raízes

das árvores cortadas apodrecem, deixando vazios dentro do solo, pelos quais a água entra

saturando este e sobrecarregando-o. Tal fragilidade leva longo período de tempo para ser

minimizada. Os capoeirões e as capoeiras são menos eficientes no controle dos movimentos

de massa. Já nas encostas cobertas por florestas nativas bem desenvolvidas e em bom estado

de conservação ocorrem poucos movimentos de massa e os mesmos normalmente são

contidos pela própria floresta. Os plantios homogêneos de bananeiras, pinus e eucaliptos

apresentam uma homogeneidade dos sistemas radiculares e de copas que altera a dinâmica da

água nas encostas e a resistência destas aos escorregamentos. No caso de pastagens

intensamente pastejadas pelo gado, o solo fica compactado e, como o sistema radicular é

superficial, não atende a uma ancoragem profunda do solo nas encostas. Com muita chuva

ocorre pouca infiltração e a água escoa sobre a superfície, provocando erosão superficial e

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alagamento das planícies abaixo. Percebe-se que todos estes fatores interferem isolada ou

conjuntamente na dimensão dos desastres e que as encostas são sistemas complexos e

dinâmicos em que ocorrem sinergias de fatores ambientais em detrimento da população que

os habita.

No caso do espaço urbano, a remoção da vegetação, o aumento da

impermeabilização do solo, a canalização das águas pluviais, os aterros, a retificação e as

dragagens dos canais potencializam a intensidade das inundações bruscas, bem como a

gravidade dos danos que causam. A remoção da mata ciliar que acompanha os cursos d’água

favorece a erosão das suas margens e promove o assoreamento de sua calha, tornando tais

cursos mais rasos.

A impermeabilização do solo por construções ou pavimentações reduz a

capacidade de infiltração da água, sobrecarregando o sistema de drenagem e provocando

inundações bruscas e danosas. A retificação e a canalização de cursos d’água aumentam a

velocidade de escoamento e podem esconder problemas que aparecem em momentos de

precipitação intensa, como solapamento das vias públicas ou incapacidade de escoamento da

água pela galeria ou tubulação, erodindo o entorno e causando danos a outras edificações. Os

cidadãos que lançam resíduos sólidos (lixo) e entulhos nos rios e córregos que margeiam suas

residências ajudam a entupir as bocas de lobo, galerias ou a obstruir cabaceiras de pontes,

gerando represamento em locais impróprios, com riscos de rompimentos bruscos que causem

destruição das edificações próximas. Os aterros efetuados com material proveniente de

dragagens dos cursos d’água ou planícies lindeiras provocam o confinamento do rio na sua

calha com aumento da velocidade da água e do seu potencial erosivo. A jusante do trecho

poderá aumentar a inundação e o poder destrutivo do rio quando o nível estiver elevado. A

retificação e drenagem dos cursos d’água alteram a dinâmica da água e suas margens, a

extensão do rio e o ecossistema fluvial (a vida aquática e a existente nas margens dos rios).

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Quando se vive um desastre, e principalmente nas proporções deste, ocorrido

no Vale do Itajaí, percebe-se o quanto a problemática ambiental está próxima de nós. O

desastre socioambiental de 2008 precisa ser analisado de vários ângulos a fim de se coletar

dados e informações e viabilizar a formulação e implementação de medidas de confrontação

dos problemas por parte dos planejadores e tomadores de decisão. Todas as atividades

produtivas humanas utilizam direta ou indiretamente recursos naturais. Os processos

ambientais mantêm a vida em equilíbrio, garantem a existência humana, pois permitem a

manutenção do nível de água nos rios, o controle do clima, a purificação do ar, a regeneração

de áreas degradadas etc. Os espaços que o ser humano ocupa e nos quais constrói sua casa

refletem sua intervenção nos ambientes. O homem afeta e é afetado pelos ecossistemas. A

humanidade representa uma ligação importante na teia da vida: as pessoas são seres

ecológicos porque fazem parte da natureza e dependem dela para viver. Pessoas que moram

em áreas de risco consideram os rios e encostas ameaças, sem levar em conta a forma como

ocuparam o espaço. Portanto, há que se considerar os fatores naturais associados aos fatores

socioeconômicos. É importante que o cidadão se conscientize da necessidade de atitudes

condizentes e ações adequadas para evitar os riscos no ambiente em que vive.

O desastre de 2008 foi um misto de movimentos de massa, inundações bruscas

e inundações graduais interconectadas. Os movimentos de massa exigiram ações imediatas

dos proprietários e dos agentes públicos. O cidadão sente-se impotente diante das enchentes e

enxurradas. Diferente são as exigências diante dos movimentos de massa que exigem ações

emergenciais e obras para reabilitar a infraestrutura, removendo as barreiras e fazendo

contenção de encostas. Estas medidas apresentam altos custos e técnicas rigorosas para serem

eficazes. A situação é muito grave, pois quando executadas sem os devidos critérios técnicos

podem sugerir a falsa sensação de segurança e contribuir para o próximo desastre. Diante de

uma encosta desestabilizada é preciso uma análise da necessidade e viabilidade técnica de

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intervenção e considerando que, dependendo da situação, pode ocorrer desestabilização do

entorno e criação do risco de novos escorregamentos.

3.2 MEDIDAS DE ESTABILIZAÇÃO DAS ENCOSTAS

As obras de estabilização de encostas podem ser classificadas em obras sem

estruturas de contenção (retaludamento com cortes, aterros, drenagens, proteção superficial,

com materiais naturais tipo cobertura vegetal e com materiais artificiais tipo

impermeabilização asfáltica, telas e outros) e obras com estruturas de contenção (muros de

pedra, muros gabiões e estruturas ancoradas).

3.2.1 Estabilização de encostas sem estruturas de contenção

Estas medidas consistem na mudança da forma ou geometria dos taludes

procedendo cortes na parte superior e aterros na parte inferior. A geometria final dos taludes

vai depender da altura, inclinação e constituição geológica da encosta. É necessário projeto

detalhado e acompanhamento por profissional habilitado. Dada a importância da implantação

da solução e sua execução, lista-se abaixo detalhes de possibilidades de intervenção:

1) Cortes e aterros (figuras 10, 11 e 12): A remoção de material (cortes) deve

ser sempre iniciada no topo e seguir em direção à base. O material retirado não deve ser

colocado em áreas de proteção permanente como em calhas e margens de córregos e rios,

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evitando-se o aterramento de planícies de inundação. Eventualmente, se for bem adensado e

tiver propriedades físicas adequadas, o material pode ser colocado na base da encosta,

aumentando a estabilidade desta. Devem ser evitados materiais como argilas orgânicas

(escuras) e resíduos vegetais.

Figura 10: Corte, aterro e drenagem superficial de encosta Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 183). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Figura 11: Corte na encosta com a confecção das bermas (terraços), com posterior colocação de canaletas para drenagem Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 183). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

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Figura 12: Tipos de drenagem em encostas: vala revestida, canaleta pré-moldada e canaleta moldada. Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 184). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

O perfil final do retaludamento deve ser semelhante ao de uma escada,

associando taludes com degraus chamados bermas, terraços ou banquetas, aumentando a

estabilidade do talude, diminuindo o comprimento da rampa e impedindo que a água escorra

pelo talude. Toda vegetação e solo orgânico na base do talude devem ser retirados para, então,

se colocar o aterro e compactá-lo, finalizando com impermeabilização para evitar a infiltração

da água.

2) Drenagens: são medidas complementares e necessárias em obras de

estabilização de encostas. Consistem na retirada das águas da situação-problema. As

drenagens podem ser superficiais (meio tubo, valas revestidas e canaletas) representadas nas

figuras 11 e 12, subterrâneas (tipo trincheiras ou tubos horizontais profundos) e drenagem de

estruturas de contenção ou barbacãs (ver figuras 13 a 16). É necessário considerar toda a área

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de drenagem para fazer um dimensionamento adequado e, nos pontos de descarga, utilizar

caixas de dissipação de energia para evitar a erosão. O objetivo destas estruturas é retirar a

água subterrânea para evitar o encharcamento do solo e a conseqüente desestabilização das

encostas. Em estruturas de contenção como muros utilizam-se os barbacãs (ver figura 16).

Figura 13: Trincheira drenante Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 185). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Figura 14: Drenos profundos Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 186). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

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Figura 15: Proteção superficial do talude através de impermeabilização com asfalto, solo-cimento ou argamassa e drenagem tipo barbacãs. Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 186). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Figura 16: Detalhe da drenagem tipo barbacãs. Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 186). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

3) Proteção superficial (figura 17): tem a função de impedir a erosão

superficial e contribuir na ancoragem profunda do solo. Preferencialmente, devem-se utilizar

materiais naturais. Trata-se de cobertura vegetal arbustiva, gramínea ou argila compactada.

Recomenda-se a utilização de diversas espécies nativas, preferencialmente com raízes

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profundas e resistentes de crescimento rápido, de preferência as de pequeno e médio porte,

mas se pode utilizar árvores. Deve-se evitar o uso de espécies não nativas como pinus,

eucaliptos e bananeiras. Diferentes coberturas vegetais têm ação distinta sobre o movimento

da água. Uma alternativa, também, é a utilização de placas de gramíneas, plantio de sementes

ou hidrossemeadura. No entanto, elas não são eficientes no travamento de solos mais

profundos. Quando a inclinação dos taludes é muito acentuada, utilizam-se telas ou grampos

para fixar as placas de grama, evitando escorregamento e/ou morte das placas. Se ocorrerem

trincas e fissuras nas encostas, a solução pode ser a utilização de argila para preenchimento

das mesmas.

Figura 17: Selagem de trincas e fissuras com argila impermeável, com arbóreas ou gramíneas na encosta. Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 187). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Quando a proteção superficial for realizada com materiais artificiais, deve-se

utilizar impermeabilização asfáltica, aplicação de solo-cal-cimento ou argamassa, ou

ancoragem com auxílio de tela grampeada, mas o talude deve estar previamente aplainado,

sem materiais soltos (pedras, entulhos e resíduos vegetais) e com instalação de sistema de

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drenagem do tipo barbacãs. Em áreas urbanas a aplicação de materiais artificiais deve ser

restrita a pequenas áreas, pois apresentam inconvenientes ambientais.

3.2.2 Estabilização de encostas com estruturas de contenção

A estabilização de encostas com estruturas pode ser realizada com duas

categorias de obras: muros de gravidade e as estruturas ancoradas.

1)Muros de gravidade (figuras 18 a 22): utiliza o próprio peso para evitar o

escorregamento. Podem ser de pedra, pedra e argamassa, muros de gabião ou de concreto,

dependendo da altura do talude. Para taludes de até 1,5 m de altura podem-se utilizar muros

de pedras; para contenção de taludes de até 3,0 m de altura o recomendado é o muro de pedra

argamassada; os muros de concreto armado (ou não) são recomendados para taludes com mais

de 4,0 m de altura, porém têm custos mais elevados e utilizam contrafortes de base em forma

de “L” ou “T”; os muros de gabiões constituem caixas formadas por armação de fios

metálicos preenchidas por pedras, e são recomendados para pequenos cortes e aterros. No

entanto, os muros de contenção devem ser acompanhados de adequado sistema de drenagem

do tipo barbacã, dreno de areia, brita ou pedra rolada, e de estudos detalhados da geometria,

dimensionamento e esforços solicitantes do talude e do muro, por técnicos habilitados, com

domínio em geologia, geotecnia e engenharia civil.

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Figura 18: Muro de pedra Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 189). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Figura 19: Muro de pedra argamassada Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 189). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

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Figura 20: Muro de concreto Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 189). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Figura 21: Muro de concreto armado Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 189). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

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Figura 22: Estabilização de encosta com muro gabião, aterro adensado, solo grampeado e cortina ancorada. Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 191). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

2) Estruturas ancoradas: constituídos de chumbadores ou atirantamentos que

têm custos elevados e devem ser aplicados quando outras soluções não são possíveis. Servem

para estabilização de blocos de rochas instáveis, ou para conter materiais alterados (não

rochosos).

3.3 REFLEXÕES TÉCNICAS

Dentre as medidas corretivas para contenção das encostas deve-se priorizar

taludamentos, bermas e drenagens. A contenção de movimentos de massa com técnicas

inadequadas ou mal dimensionadas pode não resolver (e até mesmo agravar) a situação em

períodos de chuvas intensas, levando a perdas materiais e de vidas humanas. O diagnóstico

correto é fundamental para a escolha da técnica adequada a cada caso. Recomenda-se, além

da orientação de um profissional habilitado, que: se aplique a Norma Brasileira nº 11.682/09

(NBR 11682 – Estabilidade de Encostas – Válida a partir de 21/09/2009), a qual prescreve as

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condições exigíveis no estudo e controle da estabilidade de encostas naturais e de taludes

resultantes de cortes e aterros realizados em encostas, incluindo também as condições para

projeto, execução, controle e observação de obras de estabilização; os projetos de engenharia

e de geotecnia devem se adaptar ao meio, e não o contrário; se deve evitar, sempre que

possível, realizar cortes e aterros em encostas e várzeas ou adaptar a morfologia do terreno à

construção civil. Obtém-se, assim, maior estabilidade nas encostas e várzeas.

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4 GESTÃO SUSTENTÁVEL DAS ÁGUAS PLUVIAIS

A gestão das águas pluviais urbanas é um dos principais aspectos da gestão da

água nas cidades e diz respeito à visão integrada dos usos e impactos na bacia hidrográfica,

suas inter-relações socioeconômicas e ambientais.

Segundo TUCCI (apud BRASIL, 2009) as inundações deixam de ser naturais

quando a bacia hidrográfica é alterada pelo desmatamento, impermeabilização do solo e

aceleração do escoamento pelo transporte, pelo meio fio, por bueiros, condutos e canais. Esse

escoamento é denominado drenagem urbana. Os impactos gerados pela drenagem urbana

ocorrem pela implementação urbana e infraestruturas inadequadas. O processo atual é a

principal causa dos impactos negativos. O planejamento setorial tem sido a principal causa

dos problemas gerados e dos investimentos inadequados. A gestão integrada dos componentes

das águas urbanas é interdisciplinar e intersetorial, e só assim atinge a condição de

sustentabilidade. O processo fragmentado da gestão das águas urbanas precisa ser revisto e

estabelecido a partir dos programas federais e estaduais, de modo a apoiar as cidades na

construção adequada do Planejamento do Saneamento Básico Integrado e atendimento dos

condicionantes estabelecidos pelo Plano de Bacia.

A área de drenagem foi muito impactada por implicar um serviço prestado por

estruturas exclusivamente municipais, onde instrumentos normativos, quando existentes,

diferem de um município para outro e comprometem o objetivo básico deste serviço público:

o combate às inundações. Os limites geográficos dos escoamentos pluviais são os divisores de

uma bacia hidrográfica; logo, municípios cujos territórios compartilham a mesma bacia

devem também compartilhar a gestão dos serviços. Neste sentido, a Lei nº 11.445/07 em seu

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Art. 48, X, aponta a bacia como unidade de referência para o planejamento das ações de

saneamento.

Desta maneira, a gestão de águas pluviais deve ser coordenada pelas diferentes

autoridades políticas de forma que se consiga gerir integralmente esse recurso dentro da bacia,

ou seja, a bacia hidrográfica deve ser a unidade territorial da gestão, e os diferentes

municípios devem atuar de forma integrada.

Nas propostas relativas às soluções de drenagem o ideal é fazer com que seja

retomado o ciclo hidrológico natural da bacia, com medidas que favoreçam a infiltração da

água no solo, ou se utilizar de técnicas compensatórias que criem condições as mais próximas

possíveis daquelas naturais.

No entanto, a definição de drenagem urbana contida no corpo da Lei nº

11.445/07 é pouco abrangente, pois apenas faz referência aos elementos estruturais que

compõem este sistema, e não considera que os serviços de drenagem pluvial urbana fazem

parte de um sistema complexo de uso e gestão dos recursos hídricos em meio à busca de se

encontrar soluções para os impactos presentes e seus desdobramentos futuros. A Lei não faz

referência nem projeta questões como: o crescimento demográfico e o aumento das demandas

para o consumo de água; as mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre os processos

naturais; a disponibilidade de água em quantidade e qualidade para seus múltiplos usos.

A qualidade ambiental está baseada na relação entre ações antrópicas e a

resiliência do meio ou capacidade de voltar ao equilíbrio. Quando esse equilíbrio é afetado

torna-se a principal causa de perturbações na biosfera, alterando ecossistemas vitais e o clima.

Com efeito, quando a urbanização nas cidades aumenta, também aumenta o efeito “ilhas de

calor”, ou seja, o sol, ao incidir no asfalto e em construções, aumenta a temperatura em

relação aos sítios da periferia. Esse aumento de temperatura aumenta também a intensidade

das chuvas de curta duração. Por outro lado, a expansão da impermeabilização pela

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compactação do solo, pela pavimentação de vias e de calçadas e pela ocupação dos lotes com

construções adensadas causa aumento significativo dos deflúvios superficiais nas áreas

situadas à jusante. Esta água entra em contato com diversos poluentes, comprometendo sua

qualidade e, quando lançada no corpo d’água receptor, pode contaminar rios, lagos e

aqüíferos subterrâneos. Além disso, a poluição difusa está relacionada com a ocorrência de

endemias e doenças de veiculação hídrica. Na tabela 2 são apresentados os principais tipos de

poluentes urbanos, suas fontes e impactos produzidos.

Tabela 2: Manejo de Águas Pluviais Urbanas

Fonte: Righetto (2009, p. 28). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

A integração dos serviços de drenagem com os demais componentes do

Saneamento Básico passou a ser uma exigência das boas práticas de gestão das águas urbanas,

novos conceitos foram incorporados e outros se tornaram obsoletos, e inovações tecnológicas

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foram introduzidas. Dessa forma as águas pluviais passam a integrar a paisagem urbana e

deve se preconizar a manutenção dos cursos d’água em seus leitos naturais, ou seja, não

adotar a canalização de escoamento rápido. Outra inovação importante foi o reconhecimento

da necessidade de se estabelecer o saneamento da bacia hidrográfica do sistema de drenagem.

Segundo TUCCI (2005) os princípios básicos do controle do escoamento

pluvial, tanto os das enchentes naturais da várzea quanto os provenientes da urbanização,

devem contemplar a bacia como um sistema, adotando soluções com a visão de conjunto de

toda a bacia, compatibilizados com o desenvolvimento urbano e subordinados ao Plano

Diretor, à legislação Municipal/Estadual, e implementados com auxílio de um Manual de

Drenagem, além de uma ação pública preventiva por meio de gerenciamento. Devem ser

adotados critérios sustentáveis partindo-se de duas premissas: nenhum usuário urbano pode

ampliar a cheia natural e a ocupação do espaço urbano e a drenagem das águas pluviais deve

priorizar os mecanismos naturais do escoamento. O controle das enchentes é um processo

permanente de fiscalização para evitar violações da legislação e, também, de conscientização

da comunidade, de profissionais e administradores, sempre considerando os fatores

ambientais na implantação de soluções de drenagem.

O Art. 36 da Lei nº 11.445/07 estabelece que a cobrança pela prestação do

serviço público de drenagem e manejo de águas pluviais urbanas deve levar em conta, em

cada lote urbano, os percentuais de impermeabilização e a existência de dispositivos de

amortecimento ou de retenção de água da chuva.

De acordo com RIGHETTO (2009), a ocupação territorial urbana sem o devido

planejamento integrado, necessário ao desenvolvimento harmônico da cidade, desencadeou o

surgimento de problemas de drenagem por ocasião dos eventos hidrológicos de alta

intensidade. Diante destes graves problemas ambientais percebe-se um avanço nos discursos

políticos e técnicos na entrada do novo milênio, com a introdução e absorção de novos

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paradigmas relacionados às águas urbanas e, particularmente, ao de manejo das águas pluviais

urbanas. Neste contexto ganham destaque as medidas não estruturais, pois estas tratam não só

dos problemas específicos das enchentes, mas, sobretudo, do uso racional do espaço urbano,

de forma a se otimizar o bem-estar, a qualidade de vida, a estética e as múltiplas

possibilidades de utilização do meio ambiente urbano.

Amplia-se, portanto, o escopo de trabalho e de ações relacionadas com a

drenagem pluvial, integrando-a na prática aos problemas ambientais e sanitários das águas

urbanas, em estreita interação com a qualidade das águas pluviais como recurso hídrico

utilizável e de grande valia ao urbanismo e ambientação das cidades. A nova perspectiva

alinha-se com as práticas de infiltração, contenção, reuso, detenção das águas pluviais nas

fontes geradoras de deflúvios superficiais como lotes, praças, parques e o sistema viário.

No manejo a separação das primeiras águas superficiais é um mecanismo

promissor para a utilização das águas das chuvas, captadas pela bacia hidrográfica, no

abastecimento de água, na recarga de aqüíferos, em jardinagem, na limpeza pública etc.

As vias públicas são grandes geradoras de deflúvios, pela elevada

impermeabilização do terreno. O controle da geração de deflúvios em vias públicas, lotes e

condomínios habitacionais pode ser eficientemente realizado por meio de um paisagismo que

integre adequadamente as áreas impermeabilizadas com as áreas verdes.

A construção de cisternas e microrreservatórios de infiltração são elementos

hidráulicos eficazes para redução dos efluentes pluviais de áreas urbanizadas e podem ser

amplamente implementados mediante incentivos do Poder Público, por exemplo, com a

redução do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), em função da redução da contribuição

de deflúvios e conseqüente diminuição das cheias nos sistemas de macrodrenagem. Aliados a

estas medidas, serão necessários mecanismos de divulgação, fiscalização e manutenção

contínua dos sistemas adotados.

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Pesquisas e estudos em hidrologia urbana auxiliam no aprofundamento do

conhecimento dos problemas das águas urbanas e buscam novas abordagens e novos

questionamentos relativos à evolução do espaço urbano com aplicação de novas tecnologias e

conceituações atualizadas, face à evolução tecnológica e às complexidades sempre crescentes

do uso e ocupação do espaço urbano. É de grande valia o uso de sistemas de

geoprocessamento que forneçam um cadastro informatizado e atualizado de todo o espaço

urbano, integrando os sistemas viários, abastecimento de água, de esgotamento sanitário, de

drenagem urbana, da distribuição de eletricidade, da logística de coleta dos resíduos sólidos

etc., para evidenciar os problemas e formular soluções a serem desenvolvidas e

compreendidas pelos técnicos, políticos e população em geral.

Com efeito, o manejo eficiente da bacia mostra-se bastante complexo,

considerando a dinâmica do desenvolvimento urbano, os múltiplos sistemas interconectados e

diversos atores envolvidos. As questões são sempre atuais, exigindo constante e ampla

discussão e avaliação, de modo a fornecer conceitos e tecnologias novas, envolvendo as mais

variadas esferas que compõem as forças sociais da cidade. A figura 23 a seguir apresenta um

esquema da gestão integrada da água no município.

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Figura 23: Gestão Integrada da Água no Município Fonte: Tucci ([20--], p. 60). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Segundo VIOLA (2008) os sistemas de drenagem devem ser parte integrante

da organização e do uso do solo urbanos, valorizando os cursos d’água, preservando-os e até

os recuperando, tanto na área interna da cidade, quanto na externa mais a jusante. Desta forma

busca-se a autossustentabilidade das cidades.

O Plano Diretor da Cidade é a base para tão complexa análise e nele deve se

integrar o Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU), que é fundamental para a gestão das

águas pluviais urbanas. Devido à interferência que a ocupação do solo tem sobre a drenagem,

existem elementos do Plano de Drenagem que são utilizados para regulamentar os artigos do

Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental. O Plano Diretor estabelece

legislação, regulamentação e medidas não estruturais para o espaço urbano ocupado e não

ocupado e estabelece plano de controle de impactos na drenagem das áreas ocupadas.

Acrescenta-se ao Plano o Manual de drenagem urbana, que orienta urbanistas e projetistas

quanto às questões relacionadas com o uso e a ocupação dos espaços urbanos e às medidas

estruturais e não estruturais necessárias para um desenvolvimento sustentável, e para a

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eficiência do sistema de drenagem da área ou da bacia. O Plano Diretor de Drenagem Urbana

é o instrumento utilizado para planejar o controle dos impactos dentro da cidade e orientar as

ações de curto e longo prazo para um desenvolvimento sustentável. A figura a seguir

apresenta uma interface entre os planos.

Figura 24: Interface entre os planos. (UED = Unidade Executiva Descentralizada). Fonte: Tucci ([20--], p. 62). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Conforme TUCCI (2006), para um bom desenvolvimento de um programa para

as águas pluviais é essencial:

1) Considerar que a drenagem faz parte da infraestrutura urbana e deve ser

planejada em conjunto com: o plano de controle ambiental, o esgotamento sanitário,

disposição de material sólido e tráfego;

2) Cada usuário urbano não deve ampliar a cheia natural;

3) Os impactos de quaisquer medidas não devem ser transferidos. Caso ocorra

impacto, deve-se prever medida mitigadora;

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4) O saneamento ambiental, com o controle do material sólido e redução da

carga de poluentes, minimiza o impacto ambiental decorrente do escoamento pluvial;

5) O poder público deve agir preventivamente, por meio de gerenciamento,

evitando conseqüências econômicas e sociais futuras;

6) Em áreas ribeirinhas as medidas estruturais poderão ser a solução para

alguns locais, mas estarão associadas à visão do conjunto de toda a bacia onde estas estarão

racionalmente integradas com outras medidas preventivas (não estruturais) e compatibilizadas

com o esperado desenvolvimento urbano;

7) O controle não deve ser feito por trechos isolados e sim considerando a

bacia como um todo;

8) Os meios de implantação do controle de enchentes são: o PDDU, que

estabelece as linhas principais do Plano Diretor de Drenagem Urbana; o controle através das

legislações municipais/estaduais e a orientação fornecida pelo Manual de Drenagem;

9) O controle deve ser permanente, principalmente na possível expansão da

ocupação do solo em áreas de risco;

10) A educação de técnicos, da população e de administradores públicos é

essencial para que as decisões públicas sejam tomadas conscientemente por todos;

11) O custo de implantação de medidas estruturais, da operação e manutenção

da drenagem urbana deve ser transferido aos proprietários dos lotes, proporcionalmente a sua

área impermeável, pois esta adiciona volume de águas no sistema;

12) O conjunto destes princípios baseia-se no controle do escoamento urbano

na fonte, distribuindo as medidas para os que aumentam o escoamento e contaminação das

águas pluviais;

13) É essencial uma gestão eficiente na manutenção de drenagem e na

fiscalização da regulamentação.

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A gestão das águas pluviais deve, entre outras coisas, estimular a elaboração de

planos municipais dentro de princípios ambientais, devidamente adequados às exigências dos

organismos de financiamento; deve também estimular a articulação intermunicipal.

Segundo GONÇALVES (2006) a gestão ou manejo das águas pluviais nas

áreas urbanas, segundo o novo paradigma instaurado internacionalmente, visa adequar os

fenômenos de precipitação e escoamento ao novo meio físico criado pela ocupação urbana,

incluindo entre seus objetivos a prevenção ou minimização de danos causados por

inundações, bem como a manutenção de condições adequadas aos ecossistemas aquáticos e

outros a eles associados.

Portanto, é importante que a gestão de águas pluviais esteja integrada com o

plano urbanístico, com o crescimento urbano, com a gestão das águas superficiais e

subterrâneas, com a gestão do saneamento e, principalmente, com o uso do solo.

4.1 MANEJO DISTRIBUÍDO OU CONTROLE NA FONTE

De acordo com a ação numa determinada bacia, pode-se classificar as medidas

de controle em distribuídas ou na fonte, microdrenagem e macrodrenagem.

Conforme TUCCI (2005) as medidas distribuídas ou de controle na fonte

atuam sobre o lote, praças e passeios, promovendo o aumento da infiltração e/ou

armazenamento através de pavimentos permeáveis, trincheiras e planos de infiltração e

detenção. De acordo com CHAMPS et al (2005 apud BRASIL, 2009), a microdrenagem

reúne as atividades de captação dos escoamentos de superfície por meio de uma infraestrutura

que abrange toda a malha viária de uma cidade, suas sarjetas, suas caixas de captação e sua

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rede subterrânea, e a macrodrenagem constitui-se no conjunto de canais naturais e de galerias

por onde escoam os cursos d’água, ou seja, constitui-se nos meios receptores dos escoamentos

pluviais oriundos da microdrenagem.

A percepção de que grande parte dos problemas urbanos atuais - tanto do ponto

de vista quantitativo como qualitativo das águas pluviais, como saúde, poluição, mobilidade -

podem ser amenizadas ou solucionadas na fonte geradora levou ao detalhamento de algumas

medidas cuja implantação traz consigo um custo-benefício que justifica que estas sejam

estudadas e aprofundadas para efeito de conscientização de diversos segmentos da sociedade

e para que sua implementação se efetive, favorecendo a segurança da população e trazendo

qualidade de vida ao planeta como um todo. Estas soluções acontecem a partir de

planejamento e controle no lote, em estacionamentos, nos parques, em passeios públicos e

sistema viário, priorizando-se medidas que não aumentam o escoamento, a contaminação das

águas pluviais nem a antecipação dos picos de cheias.

Muitas vezes o problema de enchentes tem origem nas soluções arquitetônicas

e paisagísticas implantadas em cada lote urbano que, além de ter o solo impermeabilizado e

consequentemente pouca infiltração da água da chuva, não retém nem parcialmente as águas

que caem dos telhados. O pouco que cada lote contribua na retenção de água na bacia diminui

significativamente os deflúvios superficiais nas áreas situadas a jusante, córregos e rios,

contribuindo assim para evitar enchentes.

Nas últimas décadas vem aumentando a importância das medidas preventivas

de caráter não estrutural, tanto pela eficiência em solucionar o problema na fonte como pela

pulverização dos custos com obras de drenagem. A implantação de dispositivos de retenção e

infiltração de pequeno porte elimina a necessidade de uma estrutura central de grande porte. O

uso de sistemas de biorretenção em parques, áreas de lazer e jardins, e, também, cisternas,

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pavimentos permeáveis, calçadas verdes e telhados verdes propicia a redução do volume de

água escoado e aumenta a filtragem da carga poluidora.

Ações de manutenção de vias contribuem para a preservação dos corpos

d’água, protegendo-os da degradação, à medida que impedem que a ação erosiva da chuva

transfira material poluente da base para o corpo receptor.

O uso de dispositivo de detenção no lote auxilia o armazenamento da água na

bacia, amortece o pico do hidrograma e reduz o volume de escoamento. Em áreas comuns

podem ser adotadas soluções como pavimentos permeáveis (estacionamentos, calçadas) ou

valas de infiltração e canteiros nas áreas centrais e/ou contíguas às vias. O processo natural

desempenhado pela cobertura vegetal é um dos fatores que mais afetam a produção de água

na bacia hidrográfica pela interceptação, transpiração, infiltração, percolação etc.

A adoção de medidas de retenção no lote, tais como cisternas, aumenta a

capacidade de armazenamento na bacia e tende a produzir impactos sociais importantes, à

medida que reparte com a comunidade as responsabilidades e os custos, tornando-a

participante das ações.

4.1.1 Pavimento Permeável – blocos vazados

O Pavimento permeável consiste de blocos de concreto pré-moldados que

podem ter diferentes formatos e que são assentados numa camada de areia onde os espaços

vazios são preenchidos com material granular ou grama. Suportam normalmente veículos

leves e são utilizados em áreas de estacionamentos. Funcionam como alternativa na redução

da impermeabilização sobre a drenagem, atuando como um reservatório. No entanto, exigem

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conservação periódica, com jateamento ou varredura a vácuo, para retirada do sedimento fino

retido entre os blocos, exemplificados nas figuras 25 e 26.

Figura 25: Blocos vazados (1) Fonte: Tucci ([20--], p. 45). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Figura 26: Blocos vazados (2) Fonte: Tucci ([20--], p. 45). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

4.1.2 Trincheiras e valas de infiltração

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Estes dispositivos são utilizados quando o lençol freático é baixo, podendo

dispor de drenagem ou não. Possuem duas funções: armazenagem e infiltração de águas

pluviais. A vala deve ter proteção para evitar erosão quando a velocidade da água for alta.

A vala de infiltração é um dispositivo que consiste numa vala escavada no solo

com aproximadamente 10 a 35 cm de profundidade, revestida internamente com uma manta

geotêxtil e preenchida com brita, criando assim um reservatório subterrâneo em condições de

reter o deflúvio. A água vai se infiltrando no solo através do fundo e das paredes. Recomenda-

se a instalação de caixa de areia à montante da estrutura destinada a reter sedimentos e

resíduos. A figura 27 apresenta exemplo de trincheiras e valas de infiltração.

Figura 27: Trincheiras e valas de infiltração (conforme sequência) Fonte: Tucci ([20--], p. 43). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

4.1.3 Paisagismo, ruas que não geram aumento do escoamento (sem meio fio) e

Recreação Urbana

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A figura 28 apresenta um exemplo da integração de áreas pavimentadas e áreas

verdes que facilita a infiltração das águas pluviais e possibilita caminhadas agradáveis com

conforto térmico e segurança (sem desníveis).

Figura 28: Paisagismo, ruas que não geram aumento do escoamento (sem meio fio) Fonte: Tucci ([20--], p. 41).

É de grande valia também a viabilização de diretriz pública para construção de

parques lineares ao longo de cursos d’água, favorecendo a recuperação do córrego e da mata

ciliar (ver exemplo conforme figura 29).

Figura 29: Aproveitamento da planície de inundação na função de um parque Fonte: Tucci (2006, p. 170).

A construção de campos de futebol em áreas de baixio funciona muito bem em

períodos de enchentes (ver exemplo conforme figura 30).

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Figura 30: Exemplo de uso adequado de áreas baixas. No exemplo superior, tempo bom. No inferior, chuva e área inundada. Fonte: Mascaró (1989 apud NASCIMENTO, 1998, p. 17). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

4.1.4 Passeios Públicos

Os passeios públicos desempenham um importante papel no dia-a-dia das

pessoas e no contexto urbano. O passeio público ideal é aquele que oferece condições para um

caminhar seguro e confortável, proporcionado pela escolha de pisos apropriados, ausência de

obstáculos, sem degraus entre os terrenos, facilitando a mobilidade, com mobiliário urbano

convidativo, iluminação conveniente e vegetação adequada para não atrapalhar o pedestre.

As calçadas contribuem com grande área de impermeabilização nas cidades. Se

as calçadas forem construídas com um piso de material drenante e revitalizadas com

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64

vegetação apropriada, os problemas das enchentes podem ser amplamente minimizados.

Existem diversos tipos de pisos que permitem a drenagem das águas pluviais e alimentam o

lençol freático. O plantio de árvores, arbustos e grama enriquecem a paisagem urbana e traz

outros benefícios à população. O conjunto melhora a qualidade ambiental, tornando a cidade

mais permeável (ver exemplos conforme figura 31).

Figura 31: Passeios públicos (a água escoa sempre para a área de infiltração). Fonte: Tucci ([20--], p. 39).

Conforme CARDOSO e LOCH (2008) as cidades se desenvolvem tendo como

uma das prioridades mais comuns as obras do sistema viário que têm como objetivo

primordial dar vazão ao grande número de veículos existentes. O foco de atenção das políticas

públicas é para o veículo, em detrimento de formas mais saudáveis de circulação, como

caminhar e pedalar. As áreas urbanas vão se adaptando sem muito planejamento, com a

abertura de novas vias, construção de túneis, viadutos e pontes. Como resultado, têm-se sérios

prejuízos à qualidade de vida das pessoas, ao meio ambiente, ao patrimônio arquitetônico e

histórico das cidades, que perdem sua beleza natural.

Este incoerente privilégio aos meios motorizados apresenta diversas

desvantagens, dentre elas os congestionamentos, a poluição ambiental e o consumo excessivo

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65

de energias não renováveis. O contexto é agravado pelo pouco incentivo do poder público

para meios não motorizados de mobilidade, reconhecidamente mais saudáveis e sustentáveis.

Conforme o Ministério das Cidades (2004), caminhar, além de ser a forma

mais antiga e básica de transporte humano, constitui-se no modo de transporte mais acessível

e barato.

Os passeios públicos, as calçadas e as áreas de uso comum, que deveriam

servir para facilitar a circulação de pedestres, vão sendo ocupados pelos estacionamentos,

pelo comércio informal, pela ampliação das ruas e avenidas, pela inserção de sinalização e até

mesmo de equipamentos da rede de energia e água.

O Plano Diretor é o instrumento básico para orientar a política de

desenvolvimento e de ordenamento da expansão urbana. É ele que determina e prioriza ações

e investimentos necessários para implementar a política urbana, o planejamento e a

elaboração da legislação urbanística, assim como contribuir para que as cidades sejam

sustentáveis, cumprindo sua função social. O momento é conveniente porque os Planos

Diretores estão em processo de revisão e construção na maioria dos municípios brasileiros,

oportunizando a implantação de uma política de mobilidade que traga mais qualidade de vida,

inclusão social e sustentabilidade às cidades.

O paisagismo da cidade representa uma importante contribuição para a

preservação ambiental e qualidade de vida da comunidade, à medida que favorece a

infiltração das águas pluviais, promove o conforto térmico com a absorção do calor diurno e a

liberação do calor noturno, melhorando a umidade do ar e amenizando a poluição atmosférica

e sonora. A escolha correta do tipo de vegetação e a forma de plantio garantem o crescimento

adequado das raízes, evitando danos nos pisos dos passeios e proporcionando sombreamento,

proteção e conforto aos pedestres, além de embelezar o espaço urbano.

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Nos passeios públicos, além da utilização de pisos drenantes e antiderrapantes,

o piso táctil e rampas, ao invés de degraus ou escadas, permitem autonomia e segurança às

pessoas com alguma deficiência física ou com dificuldades de locomoção, idosas, gestantes,

mães com carrinho de bebê etc. A dimensão disponibilizada para a implantação do passeio é

fundamental para o conforto e convívio dos pedestres, devendo ter no mínimo dois metros de

largura. Se tiver menos do que isto, inviabiliza o plantio de árvores.

Além de vencer a barreira cultural de privilégio do automóvel, faz-se

necessária uma legislação que atenda a estes requisitos, ao conhecimento da mesma, e à

conscientização da população.

O ideal é ter disponível uma cartilha esclarecedora, para facilitar o

entendimento da proposta e a construção e manutenção corretas dos passeios públicos, a

exemplo da cartilha disponibilizada pela Prefeitura de São José dos Campos disponível

integralmente no Anexo A.

4.1.5 Telhados Verdes

Segundo RIGHETTO (2009) o telhado verde, conhecido como jardins em

edifícios, é um dispositivo de controle do escoamento na fonte que ajuda a mitigar o impacto

da urbanização. Esse dispositivo funciona muito bem em áreas onde o adensamento das

construções tem um nível elevado, pois reduz o escoamento pelo aumento da área verde e

pela evapotranspiração.

Além disso, tem a vantagem de manter o ciclo oxigênio-gás carbônico,

diminuindo a poluição atmosférica, assegura efeito visual e estético aos edifícios, agregando

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valor comercial aos empreendimentos e cria condições de vida natural, provendo um habitat

para plantas e pequenos animais, consagrando-se um grande aliado da biodiversidade, bem

como promovendo conforto ambiental e saúde aos habitantes.

No Brasil o conceito de telhados verdes existe há muitas décadas, porém sua

prática mostrou-se muito difícil no passado. Hoje, com o aquecimento global, o aumento das

ilhas de calor, as inundações e a degradação ambiental, o assunto vem ganhando a atenção do

poder público, das empresas privadas e dos cidadãos. As coberturas verdes se beneficiaram da

evolução da técnica construtiva e, especialmente, dos recursos de impermeabilização.

Basicamente, para sua instalação, é necessário uma laje estrutural suficientemente resistente e

alguns cuidados para garantir impermeabilização e boa drenagem. Além disso, deve-se ter

cuidado na escolha das plantas em função de suas características, resistência e porte. A figura

32 apresenta a espessura necessária de substrato conforme o porte da vegetação escolhida e a

carga superficial respectiva em cada situação.

Figura 32: Construção de coberturas com vegetação ou telhados verdes Fonte: CREA-RS (apud REMOR, 2009, p. 48). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

Admite-se a construção de telhados verdes sobre qualquer telhado projetado e

construído adequadamente, seja sobre concreto, aço, madeira, alumínio etc.

O telhado verde é especialmente eficiente na retenção de chuvas intensas e de

curta duração, podendo reter até 75% da chuva, que é liberada, via condensação e

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transpiração, gradualmente na atmosfera. Além disso, tais telhados influenciam diretamente

no conforto térmico da edificação, proporcionando economia energética dos sistemas de

climatização. A massa térmica, a porosidade e a capacidade de absorção das coberturas são

fatores decisivos, pois cerca de 27% da radiação solar incidente é refletida, 60% é absorvida

pelas plantas e apenas 13% é transmitida à superfície inferior.

Os telhados verdes estão ganhando visibilidade em muitos países,

especialmente nas cidades com alta densidade, possibilitando às pessoas uma alternativa de

acesso a espaços verdes, além de todo o encantamento que essas coberturas promovem (ver

exemplos conforme figuras 33 e 34).

Figura 33: Escola de Arte e Design da Universidade de Nanyang em Singapura, onde telhados e gramas variam de horizontais a quase verticais. Fonte: Dunnet e Kingsbury (2008 apud REMOR, 2009, p. 18).

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Figura 34: Telhados verdes Fonte: Tucci ([20--], p. 40).

4.1.6 Utilização da Água Pluvial – Armazenamento e Reuso

Segundo GONÇALVES (2006) a implantação de captação de água da chuva

como forma de amortecer cheias urbanas e a redução de deslizamentos de terras em áreas de

ocupação intensa e desorganizada é uma prática que costuma ter bons resultados.

O uso local de águas pluviais traz como benefício adicional o amortecimento

nos picos das cheias nas áreas urbanas, permitindo que seja mitigado em parte o impacto da

impermeabilização, minimizando com isto a intensidade das correntezas e seus efeitos

erosivos nas margens e tendo o conseqüente assoreamento dos leitos de córregos e rios.

Pode-se dizer que a aplicação em larga escala de sistemas de aproveitamento

de água de chuva deve servir como instrumento de gestão urbana no que se refere às

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inundações, reduzindo os riscos e custos proporcionados por enchentes e deslizamentos de

encostas, além de minimizar a distribuição da carga de água da chuva no sistema de

drenagem.

A água da chuva não possui a qualidade de uma água tratada ou mineral,

entretanto consiste em um recurso limpo se comparado a alguns rios onde é captada água para

tratamento e abastecimento das cidades.

A captação de água pluvial pode reduzir o consumo de energia nacional

utilizada no fornecimento de água encanada para os consumidores. Além disso, favorece a

redução do volume de água a ser captada e tratada, uma vez que minimiza o uso de água

tratada para fins secundários.

Segundo RIGHETTO (2009), nos últimos anos tem ocorrido um avanço na

tecnologia de uso da água pluvial em residências. A água captada em telhados é transferida

por um sistema de calhas e tubulações até um reservatório, para então ser utilizada em

diversos fins, como jardinagem, esgotamento sanitário, lavação de veículos etc. Na região

semi-árida, a água armazenada em cisternas é submetida a um tratamento primário e usada na

dessedentação de pessoas e animais. Nessas instalações, as primeiras chuvas, contaminadas

com poeira, folhas ou resíduos de pássaros, devem ser descartadas. O reuso pode ocorrer em

nível individual, dentro do lote; em nível municipal, pode ser retida em lagos para irrigação de

jardins e parques ou reserva de proteção contra incêndios; em nível regional, em bacias de

detenção na área urbana, podendo propiciar a recarga do aqüífero subterrâneo e, muitas vezes,

em longo prazo, a melhoria da qualidade da água, reduzindo a concentração de poluentes

presentes na mesma.

Existem no mercado, disponíveis para instalação em residências e indústrias,

kits que viabilizam a filtragem e descarte das primeiras chuvas. Deste modo, a água da chuva

pode ser aproveitada para muitos fins, dentre outros: em indústrias (resfriar máquinas e

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equipamentos), instalações rurais (limpeza, irrigação), espaços comerciais e clubes, unindo

benefícios ecológicos e econômicos.

Portanto, a água da chuva pode representar uma fonte alternativa de água para

consumo, desde que passe por um sistema de filtragem e seja direcionada a reservatórios e,

dependendo de sua utilização, receba algum tipo de tratamento.

Muitas cidades brasileiras, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e

Porto Alegre têm adotado legislações específicas sobre a retenção da água da chuva em

reservatórios, para evitar enchentes e seu aproveitamento em lotes residenciais. As figuras 35

e 36 apresentam exemplos de sistema de aproveitamento de água da chuva.

Figura 35: Funcionamento de sistema de aproveitamento de água da chuva Fonte: Bella Calha (2007 apud MARANOSKI, 2007, p. 22). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

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Figura 36: Reservatório em edifício Fonte: Canpana (2004 apud TUCCI, 2006, p. 94). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).

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73

5 CONCLUSÃO

Este trabalho propôs uma maneira de pensar a cidade de forma mais

sustentável, envolvendo a gestão integrada dos sistemas e serviços urbanos, em especial o

manejo das águas pluviais. Ele promove um questionamento sobre o modo de vida e os

padrões que a sociedade adota hoje, e sugere a revisão de alguns parâmetros culturais

vigentes, de forma a promover a autossustentabilidade das cidades.

Os “caminhos percorridos” durante a pesquisa para a confecção do presente

estudo levaram às constatações a seguir.

Nas últimas décadas a substituição das áreas naturais por áreas urbanizadas foi

intensa e impactante, principalmente devido à impermeabilização do solo. A urbanização

inevitavelmente altera a eficiência dos sistemas naturais. O planejamento do uso e ocupação

do solo, articulado com a gestão das águas pluviais, quando tratado no âmbito da bacia

hidrográfica é determinante na redução dos impactos ambientais, assim como nos custos

econômicos e sociais para o governo e sociedade. Este gerenciamento integrado reduz o risco

de inundações, doenças de veiculação hídrica, deslizamento de encostas, poluição, estresse,

minimiza o processo danoso da perda de biodiversidade e garante a disponibilidade hídrica.

Todos os empreendimentos voltados para a vida do homem interferem de

maneira contundente nas relações e dinâmicas antes estabelecidas. Ficou evidente que, para

cada desastre, há causas e consequências ambientais e sociais, cuja severidade e risco

dependem intimamente do grau de interferência inadequada que o ser humano fez dentro do

seu espaço. Os desastres podem ser maiores diante de certas situações de agravo ou atenuados

mediante certas medidas preventivas ou mitigadoras.

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74

As diversas alternativas de uso e ocupação do solo costumam alterar a

dinâmica da paisagem, modificando a capacidade do meio em responder aos processos

naturais; portanto, pode-se alterar para melhor as formas como as intervenções humanas

atuam na paisagem.

Os sistemas que compõem a estrutura física urbana e seus respectivos serviços

públicos interagem entre si e integram-se num único corpo, que é a própria cidade. As

exigências ambientais relacionadas tanto ao equilíbrio do meio quanto à qualidade de vida do

homem necessitam de uma leitura sistêmica que considere os resultados sinérgicos dos

diferentes elementos que compõem o meio. Este é o caminho adotado para explicar os

fenômenos de erosão, de enchentes e de deslizamentos de encostas, que em determinadas

situações se transformam em desastres. A proposição de soluções eficientes para deter ou

evitar desastres só é válida se a tomada de decisão for feita a partir de uma base científica

sólida e visão interdisciplinar sobre o meio planejado, somando-se a isto a compreensão de

que não somos capazes de deter os fenômenos naturais. Toda e qualquer situação desastrosa é

sempre precedida por uma mudança.

A vulnerabilidade do sistema e os desastres ambientais nunca dependem de um

único fator ou variável, mas de um conjunto destes, que determinam as condições do meio;

logo, para tomar decisões, mesmo que sob a perspectiva de um único fenômeno, é necessário

compreender a intrincada rede de componentes, variáveis e funções que determinam o

fenômeno e compõem a paisagem. Essa é uma tarefa complexa, pois exige uma leitura

criteriosa baseada em conhecimentos multidisciplinares. Além disso, exige uma compreensão

simultânea de aspectos naturais e humanos.

Um planejamento integrado, tendo por foco a valorização da água em meio

urbano, deve se desenvolver por meio de tratamento multidisciplinar dos problemas,

admitindo soluções em longo prazo, levando em conta a participação social e priorizando

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75

metas de desenvolvimento que têm por finalidade a melhoria da qualidade de vida e a busca

de melhor organização econômica para a sociedade, e a garantia da conservação do meio

ambiente. Esse planejamento também deve levar em conta a interdependência com as bacias à

montante e à jusante e as pessoas que as habitam, buscando o consenso, participação e

cooperação coletiva com o objetivo de implementar novas práticas de manejo das águas

pluviais. Mediante esse modo de planejar será possível organizar formas de gestão solidária e

participativa, e a comunidade poderá auxiliar na escolha das soluções e também compartilhar

com a municipalidade na conservação dos equipamentos públicos e de suas estruturas, no

funcionamento dos diversos sistemas, além de contribuir para mitigar a poluição.

A gestão de águas pluviais faz parte da gestão de águas urbanas, composta pela

gestão das águas superficiais, subterrâneas e atmosféricas dentro do perímetro da bacia

hidrográfica.

As águas pluviais são de grande importância para a humanidade, já que é uma

das fases do ciclo hidrológico, promovendo uma série de serviços ambientais, dentre estes se

podem destacar: a manutenção da biodiversidade e do ecossistema urbano; recarga do

aqüífero – os aqüíferos dependem das águas pluviais para se recompor. Estas podem se dar

naturalmente, proporcionadas pelas águas retidas pela vegetação, infiltradas e retidas no solo,

retidas em depressões e armazenadas dinamicamente nos rios e várzeas, ou artificialmente,

através de reservatórios, indicados para áreas urbanas que já apresentam problemas devido à

impermeabilização; recarga de corpos hídricos – assim como os aqüíferos, algumas

depressões naturais ou artificiais servem de reservatórios; são um solvente universal - vão

carregando todo tipo de impurezas, dissolvidas, suspensas, ou simplesmente arrastadas

mecanicamente, tanto da atmosfera, como do solo ou até de algum curso d’água, realizando

um processo natural de diluição e autodepuração, ao longo de seu percurso hídrico.

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A gestão de águas pluviais envolve muitos aspectos, como aqueles tratados no

presente estudo, mas os principais temas que afetam diretamente o ser humano no curto prazo

são a drenagem de águas pluviais e o abastecimento de água para consumo da população. A

preservação dos recursos hídricos é uma questão imperativa.

Entre os conceitos propostos pela gestão de águas urbanas está a mudança da

percepção da água de chuva, que deixa de ser vista como esgoto e passa a ser vista como

recurso e componente do ciclo hidrológico. Essa mudança deve ser promovida com a

educação ambiental direcionada tanto para o corpo técnico da área de recursos hídricos, para

gestores, quanto para a população em geral.

Importante também é a elaboração de normas e leis que suportem as decisões

políticas e técnicas.

O conceito de sustentabilidade é amplo e está relacionado a todas as atividades

urbanas, por isso há que se pensar de maneira ampla. Cabe uma crítica às cidades que têm

suas atividades urbanas segregadas (como morar, deslocar-se, trabalhar) e negam o espaço

público como um local de convivência.

O manejo das águas pluviais deve ser considerado fundamental no

planejamento de uma cidade, pois, além de estudar a drenagem, utiliza-se de técnicas que

garantam a eficiência necessária do sistema a um menor custo, buscando a redução das redes

de drenagem através de diferentes técnicas e soluções para problemas de excesso ou falta

d’água, assegurando uma melhor qualidade das águas superficiais, pois ao se evitar

inundações haverá uma menor quantidade de lixo carregado e esgoto misturado.

Logo, a correta gestão das águas pluviais está diretamente vinculada à gestão

de águas urbanas e deve ser sempre estudado de forma integrada à gestão do saneamento e o

planejamento do uso do solo.

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77

A gestão de águas pluviais é o conjunto de gerenciamento, planejamento e

criação de políticas e legislação, baseadas em princípios, estratégias e diretrizes de ações e

procedimentos para garantir a disponibilidade hídrica e o funcionamento da drenagem, para

preservar a integridade dos meios físico e biótico, bem como a dos grupos sociais que deles

dependem, de forma a assegurar o desenvolvimento sustentável.

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GLOSSÁRIO

A

Acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos

espaços mobiliários, equipamentos e serviços, por pessoas com deficiência ou mobilidade

reduzida.

Alagamento: evento caracterizado pelo acúmulo de água decorrente da ausência ou

precariedade da drenagem.

Antrópicas: relativo à ação do homem sobre a natureza.

Assoreamento: amontoamento de terras nos leitos de arroios, rios, em reservatórios e no

interior dos condutos.

Área impermeável: superfícies impermeáveis tais como pavimentos ou telhados, que evitam

a infiltração da água no solo.

Aterro sanitário: instalação para destino final dos resíduos sólidos urbanos por meio de sua

adequada disposição no solo, sob controle técnico e operacional permanente, de modo a que

nem os resíduos, nem seus efluentes líquidos e gasosos venham a causar danos à saúde

pública e/ou ao meio ambiente.

B

Barbacãs: estruturas cujo objetivo é retirar a água subterrânea e conduzi-la para fora da área

problema evitando, assim, o encharcamento do solo e a desestabilização da encosta. Durante a

sua construção a extremidade interna deve ser perfurada e revestida com tela geotêxtil e

envolvida com material drenante, como briga ou areia grossa e limpa.

Bermas: intervalos entre uma inclinação e outra (como degraus, patamares). Eles garantem

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mais estabilidade ao talude.

Biosfera: conjunto de todos os ecossistemas da Terra; biociclo, ecosfera.

Bocas-de-lobo: dispositivos localizados em pontos convenientes, nas sarjetas, para captação

de águas pluviais.

C

Canal: espaço subterrâneo ou aberto destinado à passagem de água.

Canalização: redes de esgoto compostas por canos, galerias fechadas ou abertas ou

simplesmente valos a céu aberto.

Carga: é o produto da concentração de um parâmetro de qualidade da água pela vazão. É

mais representativo do que a concentração. Uma concentração pode ser alta com pequena

vazão, e muito baixa com alta vazão.

Chumbadores ou atirantamentos: são estruturas ancoradas, têm custos elevados e devem

ser aplicadas quando outras soluções não são possíveis. Associadas com outras técnicas, como

cortinas ancoradas de concreto, servem para estabilização de blocos de rocha instáveis, ou

para conter materiais alterados (não rochosos).

Comporta: elemento do tipo porta ou tapume que impede a passagem das águas.

Contraforte: massa de alvenaria, tijolos ou concreto, projetando-se de, ou construída de

encontro a uma parede, para dar-lhe resistência adicional; o reforço de muro ou muralha,

geralmente constituído de um pilar de alvenaria na superfície externa ou interna de uma

parede.

D

Desastre: contempla a ideia de calamidade tragédia e catástrofe.

Desenvolvimento sustentável: desenvolvimento econômico e social que conserve e preserve

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os ecossistemas ao longo do tempo.

Dique: palavra aportuguesada a qual designa barreira que impede a passagem das águas.

Disponibilidade hídrica: é a disponibilidade de água num determinado local ao longo do

tempo. A disponibilidade pode ser de água superficial ou subterrânea.

Doenças de veiculação hídrica: são as que dependem da água para sua transmissão, a água

age como veículo passivo para o agente da infecção ou o agente utiliza a água para se

desenvolver. No Brasil 65% das internações hospitalares são provenientes de doenças de

veiculação hídrica.

Drenagem: retirada das águas ou conjunto de medidas destinadas a remover os excessos de

água das superfícies e do subsolo.

E

Encosta: é o nome genérico de todas as superfícies inclinadas que delimitam as áreas

elevadas do relevo, seja natural ou artificial, por exemplo, obras de estradas, terraplanagem,

edificações, aterros sanitários e industriais etc.

F

Fontes poluidoras: fontes difusas e pontuais. As fontes difusas geralmente são de origem

urbana (escoamento pluvial), agrícola (escoamento pluvial que transporta matéria orgânica,

sedimentos, pesticidas, entre outros), produção agropecuária difusa (granjas com aves e

suínos), mineração dispersa (uso de mercúrio, mineração de carvão que deixa a água ácida,

etc.); efluentes de esgoto em fossas. As fontes pontuais tradicionais são os efluentes

domésticos urbanos e rurais e efluentes industriais.

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G

Galeria: canalizações públicas usadas para conduzir as águas pluviais provenientes das

bocas-de-lobo e das ligações privadas.

Gerenciamento Integrado dos Recursos Hídricos: é o processo que promove o

desenvolvimento coordenado e o gerenciamento da água, terra e recursos relacionados para

maximizar o resultado econômico e social de forma equitativa sem comprometer a

sustentabilidade vital do ecossistema.

H

Hidrograma: a variação da vazão com o tempo em uma seção de rio.

I

Infiltração: movimento de passagem da água da superfície para o subsolo, expressa em geral

em mm/h ou cm/dia.

Inundação: ocorre quando o rio sai do seu leito menor, atingindo a várzea.

J

Jusante: refere-se a uma localização rio abaixo com relação a uma seção de referência.

M

Meios-Fios: elementos de pedra ou concreto, colocados entre o passeio e a via pública,

paralelamente ao eixo da rua e com sua face superior no mesmo nível do passeio.

Mobilidade Urbana: Atributo das cidades que se refere à facilidade de deslocamentos de

pessoas e bens no espaço urbano por qualquer modo de deslocamento.

Montante: refere-se a uma localização rio acima com relação a uma seção de referência.

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Muros Gabiões: constituem caixas formadas por armação de fios metálicos preenchidas por

pedras e são recomendados para pequenos cortes e aterros.

P

Percolação: o fenômeno do deslocamento da água através do solo é chamado de percolação

da água. Para o estudo da percolação, é fundamental que seja conhecido o coeficiente de

permeabilidade do solo.

Planícies lindeiras: são planícies próximas a rios e cursos d’água.

Preservação: é entendida como a ação que evita qualquer ação antrópica sobre o ecossistema.

R

Reservatório de detenção: estrutura para o armazenamento temporário do escoamento

pluvial utilizada para controlar os valores de vazões máximas e promover a deposição de

sedimentos por gravidade, mantido seco, na maior parte do tempo.

Reservatório de retenção: estrutura para o armazenamento temporário do escoamento

pluvial utilizada para controlar os valores de vazões máximas e melhoria da qualidade da

água. Mantém uma lâmina de água permanente em seu interior.

Resiliência: capacidade de voltar ao equilíbrio

Retaludamento: modificação das condições topográficas de uma vertente, para a construção

de uma obra de engenharia ou para melhorar as condições de estabilização da encosta. Em

geral, o retaludamento é processado com o recorte da encosta em bancadas denominadas

bermas e complementado com revestimento superficial e com um sistema de drenagem

superficial, ou mesmo com estrutura de contenção.

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S

Sarjetas: faixas de via pública, paralelas e vizinhas ao meio-fio. A calha formada é a

receptora das águas pluviais que incidem sobre as vias públicas e que para estas escoam.

Sistema natural: o sistema natural é formado pelo conjunto de elementos físicos, químicos e

biológicos que caracterizam o sistema natural da bacia hidrográfica e os recursos hídricos

formados pelos rios, lagos e oceanos.

T

Talude: o plano inclinado que limita um aterro. Tem como função garantir a estabilidade do

aterro.

V

Variabilidade climática: são as variações de clima em função dos condicionantes naturais do

globo terrestre e suas interações. Modificação Climática: lnteração do clima em função das

ações antrópicas. De outro lado o IPCC definiu, em 2001, Modificação Climática (Climate

Change) como as mudanças de clima no tempo devido à variabilidade natural e/ou resultado

das atividades humanas (ações antrópicas).

Vazão de pico: valor máximo instantâneo de vazão durante um evento.

Vulnerabilidade a eventos extremos: é a incapacidade da população de retornar as

condições prévias de ocorrência do evento em termos de habitação e condições

socioeconômicas.

Z

Zoneamento: diz respeito ao uso do solo urbano.

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ANEXOS

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