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O OLHAR DO OUTRO: A GESTÃO DE MUSEUS E A SUSTENTABILIDADE NA MUSEOLOGIA Júlio César Bittencourt Francisco 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Valdir José Morigi 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 1 Professor Assistente no Departamento de Ciência da Informação, Fabico/UFRGS, Professor de Muse- ologia. Mestre em Memória Social e Documento. PPGMS/UNIRIO. 2 Professor Adjunto II do Departamento de Ciências da Informação, Fabico/UFRGS. Professor do pro- grama de Pós-Graduação em Comunicação e Informação. Doutor em sociologia, FFLCH/USP. ABSTRACT: Reflect on Museum management practices and its role in the XXI century. The Museums through their assets, specimens and equipment have the mission of stimulate appreciation of culture, represent the broadest spectrum of human achievement at the highest level of quality, as well as educate and entertain the public. However, these essential activities need to be rethought,because it alone no longer meets the needs of changing times. The study proposes the designing of Museum Planning chart to be applied in situations and examples of social and environmental programs in Brazilian Museums. We conclude that Museum practice should also encourage active community participation in environmental issues and the full exercise of citizenship, placing itself as an institution that enables the reflexivity of the community members before reality. KEY-WORDS: Museology. Management. Sustainability. Community. Citizenship. RESUMO: Reflete sobre a prática museológica e o papel da Gestão de Museus no século XXI.Os Museus através de seus acervos, espécimes e equipamentos têm a missão de divulgar a cultura, comunicar os bens da memória social, além de educar e entreter os cidadãos. Entretanto, essas atividades essenciais precisam ser repensadas, pois já não satisfazem as necessidades dos novos tempos. O estudo propõe a construção do Plano Museológico como prática de Gestão de Museus a partir da Política Nacional de Museus e da análise de dois manuais de gestão museal e de programas socioambientais em Museus brasileiros. Conclui-se que a prática museológica também deve fomentar a participação ativa da comunidade em questões socioambientais e do exercício pleno da cidadania, colocando-se como instituição que possibilita a reflexividade dos sujeitos diante da realidade. PALAVRAS-CHAVES: Museologia. Gestão museal. Sustentabilidade. Práticas socioambientais. Cidadania.

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  • O OLHAR DO OUTRO: A GESTO DE MUSEUS E A SUSTENTABILIDADE NA

    MUSEOLOGIA

    Jlio Csar Bittencourt Francisco1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Valdir Jos Morigi2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    1 Professor Assistente no Departamento de Cincia da Informao, Fabico/UFRGS, Professor de Muse-ologia. Mestre em Memria Social e Documento. PPGMS/UNIRIO.

    2 Professor Adjunto II do Departamento de Cincias da Informao, Fabico/UFRGS. Professor do pro-grama de Ps-Graduao em Comunicao e Informao. Doutor em sociologia, FFLCH/USP.

    ABSTRACT: Reflect on Museum management practices and its role in the XXI century. The Museums through their assets, specimens and equipment have the mission of stimulate appreciation of culture, represent the broadest spectrum of human achievement at the highest level of quality, as well as educate and entertain the public. However, these essential activities need to be rethought, because it alone no longer meets the needs of changing times. The study proposes the designing of Museum Planning chart to be applied in situations and examples of social and environmental programs in Brazilian Museums. We conclude that Museum practice should also encourage active community participation in environmental issues and the full exercise of citizenship, placing itself as an institution that enables the reflexivity of the community members before reality.

    KEY-WORDS:Museology. Management. Sustainability. Community. Citizenship.

    RESUMO: Reflete sobre a prtica museolgica e o papel da Gesto de Museus no sculo XXI. Os Museus atravs de seus acervos, espcimes e equipamentos tm a misso de divulgar a cultura, comunicar os bens da memria social, alm de educar e entreter os cidados. Entretanto, essas atividades essenciais precisam ser repensadas, pois j no satisfazem as necessidades dos novos tempos. O estudo prope a construo do Plano Museolgico como prtica de Gesto de Museus a partir da Poltica Nacional de Museus e da anlise de dois manuais de gesto museal e de programas socioambientais em Museus brasileiros. Conclui-se que a prtica museolgica tambm deve fomentar a participao ativa da comunidade em questes socioambientais e do exerccio pleno da cidadania, colocando-se como instituio que possibilita a reflexividade dos sujeitos diante da realidade.

    PALAVRAS-CHAVES: Museologia. Gesto museal. Sustentabilidade. Prticas socioambientais. Cidadania.

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    1.Introduo

    Os Museus tm se tornado instituies de grande sucesso em todo mundo contemporneo. Seu crescimento se d por diversos fatores, entre eles, est o novo papel das instituies museolgicas na educao, mas tambm por servir me-lhor as necessidades da sociedade. Destaca-se ainda a expanso das colees, quer seja atravs de doaes ou de fatos histricos, que, ao se tornarem memria, vem sendo valorizados pela sociedade; como a imigrao, para citar apenas um exemplo.

    O crescimento dos Museus se deve ao aumento das verbas atravs de iseno de impostos de particulares, mas tambm pela ateno social pblica, uma vez que os objetivos dos Museus atendem questes polticas. Aqui nos refe-rimos a direitos difusos, ou seja, aquela gerao de direitos que apareceu depois da II Grande Guerra e que foram consagrados a partir da Declarao Universal dos Direitos do Homem. Assim, em seu artigo 27 afirma:

    Toda pessoa tem direito de tomar parte livremente na vida cultural e da comunidade e desfrutar das artes e a participar do progresso cien-tfico e dos benefcios que deles resultem.

    A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, por sua vez, garante esses mesmos direitos difusos especialmente em seus artigos 215 e 216 que tratam da cultura e do patrimnio cultural brasileiro, respectivamente, entretanto, a nossa Constituio inova ao destacar um captulo inteiro as ques-tes ambientais sintetizadas seu artigo 225, que diz: Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida [...].

    A multiplicao e diversificao que se observa atravs do crescimento dos Museus,

    [...] no se devem a questes de marketing simplesmente, mas por um anseio popular profundo de prestigiar e participar da produo cultural da sociedade, que so motivadas pela vontade de conservar os vest-gios de uma sociedade em mudanas. (HERNANDZ, 1998, p. 287).

    Segundo Cury, (2009, p. 2) o Museu deve resistir tambm a concepo equivocada de desenvolvimento distanciando-o de interesses de segmentao do mercado que buscam o lucro em detrimento de valores sociais e culturais.

    O Museu ento o olhar do outro sem amarras como quem v um qua-dro pelo lado de fora. Ele um espao privilegiado em termos de ferramentas eficazes para propor mudanas, mas tambm para educar com vistas aos gran-des desafios que se impe neste incio de milnio.

    2 A Poltica Nacional de Museus

    Durante a gesto do Ministrio da Cultura entre 2003 e 2006, foram dese-nhadas as primeiras iniciativas prticas para a poltica nacional voltada para o setor museolgico brasileiro. Em Maio de 2003 foi apresentado o caderno contendo a Poltica Nacional de Museus Memria e Cidadania1. O objetivo desta poltica :

    1 INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS. Poltica Nacional de Museus. Braslia, 2003. Disponvel em: . Acesso em: 14 mar. 2013.

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    Promover a valorizao, a preservao e a fruio do patrimnio cultu-ral brasileiro, considerado como um dos dispositivos de incluso social e cidadania, por meio de desenvolvimento e da revitalizao das insti-tuies museolgicas existentes [...] (IBRAM, 2003).

    A Poltica Nacional de Museus apresenta sete pilares de sustentao que estruturam aes a serem desenvolvidas, sendo que a primeira delas compre-ende a gesto e configurao de processos museolgicos. As outras seis so: a democratizao e acesso aos bens culturais, formao de recursos humanos, informatizao de Museus, modernizao da infraestrutura, financiamento e aquisio de acervos e gesto de acervos museolgicos.

    Para consolidar esta poltica pblica o Governo Federal criou o Sistema Brasileiro de Museus, que o rgo responsvel pela gesto da Poltica Nacional de Museus. O rgo gestor tem sua composio formada por membros da socie-dade civil e do setor governamental, e tem como objetivo propor as diretrizes e as aes para o setor museolgico. A entidade funciona atravs de um formato democrtico que garante o debate e permite uma ampla participao da socieda-de civil organizada em suas decises. Assim afirma Storino, (2007, p. 55):

    Gestores do Instituto Brasileiro de Museus/IBRAM apontam para a necessidade de se construir na atualidade, modelos democrticos de gesto cultural. Um dos desafios atuais , segundo eles, o encontro de um ponto de equilbrio dinmico, na qual a participao da iniciativa privada, das comunidades populares e dos movimentos sociais no implique na exonerao do Estado no papel que lhe cabe na preser-vao da memria. [...].

    No Brasil, se apresenta como modelo de Gesto de Museus as aes contidas no Plano Museolgico, que retirou conceitos e metodologia do Museu-ms & Galleries Commission (MGC), um rgo britnico criado em 1931. (DA-VIES, 2001) Em 2006 o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional / IPHAN publicou a Portaria Normativa n 01, assinada pelo Presidente do rgo, sobre a obrigatoriedade de elaborao do Plano Museolgico nos Museus do IPHAN: O ato inovador no campo museolgico e servir de base para que outros Museus, no vinculados ao Iphan, possam adot-lo para elaborao de seus prprios planos museolgicos (BRASIL, 2006). Em Janeiro de 2009, a Lei 11.9042, que institui o Estatuto de Museus, estendeu essa obrigatoriedade para todos os Museus pblicos brasileiros. Como expe Silvana Canado, da Secre-taria de Cultura do Estado de Minas Gerais:

    [...] a Seo III do Estatuto de Museus, artigos 44 a 47, dedicada ao Pla-no Museolgico, estruturando-o e estabelecendo seu contedo. Essa Lei encontra-se em pleno vigor e dever nortear todos os procedimentos afetos s instituies museolgicas no Brasil (CANADO, 2010, p. 9).

    O documento apresenta os procedimentos para a organizao e gesto dos Museus pblicos brasileiros, alm de detalhar as diretrizes e procedimentos para elaborao do Plano Museolgico, indicando inclusive, quais programas ele deve conter e est dividido em trs partes, a saber:

    2 Texto completo da Lei disponvel em: . Acesso em: 15 jan. 2009.

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    Introduo: Questes da instituio, histrico, regimento interno, metas e misso.Programas: A que se dispe a instituio, atravs de que meios. Gesto, finan-

    as, arquitetura, aquisio, conservao, segurana, pesquisa, educao e cultura.Projeto de gesto: Como se pretende gerir o patrimnio e o acervo: or-

    amento e tambm como fazer para conservar e exibir. Analisando as informaes contidas no Plano Museolgico, quando deta-

    lhadas atravs de suas diversas aes, possvel adaptar o planejamento para toda a diversidade, variedade e a ampla tipologia que os Museus e centros cul-turais assumem na prtica.

    As informaes sugerem uma reestruturao por meio de um roteiro administrativo para Museus j implantados ou em funcionamento, mas tambm para aqueles em fase de projeto. A primeira parte compreende desde a formu-lao da misso e mandato, mas tambm a formatao jurdica do Museu, seu estatuto e regimento interno, tipo institucional de governana, cdigo de tica entre outras formalidades. Estes contedos devem estar conectados com a rea-lidade e a prtica dos Museus atravs de um constante exerccio de diagnstico e avaliao. Esta prtica torna-se essencial, em instituies que lidam com Pa-trimnio Cultural, exposies, pesquisa, colees, documentao, aquisies e descarte de acervo, entre outras funes tpicas de Museus.

    atravs da segunda parte do Plano Museolgico, dedicado aos progra-mas, que se podem ordenar as atuaes em cada mbito do Museu, que inclui a relao das necessidades para o cumprimento de suas funes que se concreti-zaro em diferentes projetos. Tambm deve compor a pauta social do Museu ao incluir entre um de seus programas as questes socioambientais e de cidadania. Essas temticas no podem ser esquecidas quando tratamos de Gesto de Mu-seus. Tais questes esto na agenda social e necessitam de encaminhamento e debate entre a comunidade universitria e a sociedade. As questes socioam-bientais que se impe na agenda poltica e social no mundo contemporneo, quando no encaminhadas, tm trazido consequncias devastadoras a natureza e os efeitos da falta de articulao entre as questes de educao ambiental po-dem causar danos a todo o sistema social. De acordo com lvares (2012, p. 12):

    Aos Muselogos, cabe abraar as dinmicas da mudana social, acen-tuar a voz do nacionalismo histrico e contemporneo, remover ho-mogeneidade e pontos de vista nico, rejeitar a excluso, incentivar a complexidade e o pluralismo, tornando-o local para o dilogo da iden-tidade nacional e da incluso social. Aos professores de Museologia, cabe a formao obrigatria tambm do cidado.

    A terceira parte do Plano Museolgico dedicada aos projetos. Esses projetos so derivativos dos programas e se caracterizam por serem documen-tos executveis que possibilitam a materializao das especificaes tcnicas reconhecidas nos diferentes programas. Nos projetos so definidas, descritas e propostas as solues ajustadas para as necessidades das instituies no cum-primento de suas misses.

    Assim, conclui-se que os Museus devem considerar a insero em seu Plano Museolgico, desde a misso e objetivos, passando pelos programas e projetos uma especial ateno as questes socioambientais. Desta forma eles se colocam em consonncias com as demandas dos novos tempos e se mantm na vanguarda das mudanas sociais.

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    3 Processos e questes: a gesto sustentvel

    Para Yudelson (2008, p. 55):[...] gesto sustentvel a capacidade de gerenciar um empreendimen-to por meio de processos que valorizem e aprimorem capitais naturais, financeiros e humanos, conciliando diferenas e pontos de vista dspa-res em prol de objetivos comuns.

    Mas, afinal, a que se refere o conceito de sustentabilidade? E, como pode-mos reconhecer um empreendimento culturalmente sustentvel?

    Apesar das controvrsias em torno desta questo, segundo as Naes Unidas, um empreendimento para ser sustentvel deve ser: socialmente justo, economica-mente vivel e ambientalmente aceitvel. De acordo com Nascimento (2012, p. 8):

    Nos embates ocorridos nas reunies de Estocolmo (1972) e Rio (1992), nasce a noo de que o desenvolvimento tem, alm de um cer-ceamento ambiental, uma dimenso social. Nessa, est contida a ideia de que a pobreza provocadora de agresses ambientais e, por isso, a sustentabilidade deve contemplar a equidade social e a qualidade de vida dessa gerao e das prximas. A solidariedade com as prximas geraes introduz, de forma transversal, a dimenso tica.

    A sustentabilidade encontra-se na interseo entre essas trs foras que esto presentes em nossas realidades: a social, a econmica e a ambiental. No caso de empreendimentos culturais como Museus, exposies de arte, histricas ou cientficas, stios culturais em suas mais diversas formas, tambm sero sus-tentveis quando se introduz um quarto elemento na frmula acima mencionada.

    A disseminao da cultura justamente o quarto elemento, que junta-mente como o econmico, o social e o ambiental vo possibilitar que um em-preendimento seja culturalmente sustentvel (LORD, 2009, p. 22). atravs de prticas e exemplos que promovam a conscincia e o desenvolvimento cultural das pessoas que se pode evitar que as atividades humanas no iro se voltar con-tra a prpria sociedade no futuro. Um exemplo disso a falta de critrio na reci-clagem de resduos slidos que infestam o meio ambiente ou na emisso, muitas vezes desnecessria, de gases nocivos como o dixido de carbono na atmosfera.

    3.1 A sustentabilidade econmica

    Como coloca Rendeiro, (2011, p. 6) a sustentabilidade econmica se aplica no Museu atravs de recursos financeiros que sempre limitado.

    O atual estado de carncia financeira que afeta os Museus nacionais obriga a que se reformulem os modelos de gesto vigentes. Nesse senti-do, tendo em conta as medidas de austeridade, os cortes oramentais, as reestruturaes na administrao central, entre outros fatores que per-turbam o setor cultural e que colocam os Museus nacionais nas mais cr-ticas condies de sobrevivncia, torna-se premente que se estabeleam linhas de atuao que os reintegrem no desenvolvimento da sua misso.

    Gastar os recursos disponveis de forma eficaz vital para manter a trans-parncia e a confiana dos patrocinadores, do pblico e do governo. O Museu

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    deve investir cada centavo que ganha em seu prprio benefcio, que coletivo. Nesse sentido, uma gesto pautada em princpios ticos, atravs de escolhas bem feitas, planejamento cuidadoso e ateno ambiental podem garantir seu crescimento e mais importante; manter-se no tempo. Simples aes de gesto que vo desde a escolha de matrias economicamente eficientes at a implan-tao de sistemas de monitoramento contra desperdcios podem ajudar na sus-tentabilidade econmica do Museu.

    3.2 A sustentabilidade socioambiental

    A sustentabilidade ambiental um dos assuntos que exercem grande pres-so global na atualidade; os Museus devem estimular discusses sobre educao ambiental pblica e dar o exemplo de prticas ambientais corretas. O meio ambiente no qual realizamos nossas atividades cotidianas, por sua vez tambm exerce impacto em cada aspecto da cultura humana, da natureza e da histria. Cada Museu, independentemente de sua especialidade, atravs da sua progra-mao pode contribuir no processo reflexivo em relao sustentabilidade e ao nosso futuro no planeta. Como afirma Correia (2012, p. 87):

    O desenvolvimento sustentvel tem se tornado um desafio para toda e qualquer atividade que tem compromisso socioambiental. A sustentabili-dade ambiental consiste em um novo paradigma que deve ser alcanado, sob pena de os custos ambientais serem to elevados para a sociedade e muitas atividades humanas no poderem persistir num futuro muito pr-ximo. Todos ns dependemos dos recursos naturais e ambientais, e, por-tanto, nesta perspectiva temos de prolongar a vida til desses recursos.

    A sustentabilidade social o que d nimo ao Museu; especialmente se o trabalho realizado nele repercutir nas aes de cada membro da comunidade, tornando um sujeito participativo e coresponsvel pela construo da coletivi-dade. Entretanto, necessrio trabalhar na direo de questionar estilos de vida baseados em padres do consumismo e do desperdcio.

    Uma sociedade sustentvel que promova a qualidade de vida dos seus cidados necessita estar vigilante aos processos de gesto da produo, circulao, consumo e destino dos resduos. A participao comunitria na resoluo e encaminhamento de problemas socioambientais possibilita a compreenso de que as prticas do passado so capazes de definir o presente e estas redefinirem as geraes do futuro.

    3.3 A sustentabilidade cultural

    No mundo contemporneo, o papel do Museu no se limita a ser o guardio da herana cultural do passado. O Museu um espao de reflexo, discusso, de debates sobre as questes que nos inquietam no presente e, ao mesmo tempo, pode servir de abrigo a elas, transpassando os tempos, auxiliando os cidados construrem um mundo mais sustentvel. Assim, pensar na gesto de um Museu significa repensar prticas, rever aes, debater, questionar, mobilizar e, sobretudo, participar socialmen-te da criao de uma cultura para construo de um mundo mais sustentvel.

    Um exemplo de Museu e sustentabilidade no sculo XXI o projeto de construo e gesto do Museu de Imagem e do Som MIS, que est sendo

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    edificado no Rio de Janeiro. Segundo os planos de implantao do MIS, ele j vai nascer com um projeto arquitetnico que leva em conta as questes am-bientais e de sustentabilidade. Seu objetivo conquistar de uma Organizao no Governamental (ONG) a certificao LEED (Leadership in Energy and En-vironmental Design) ouro, ou seja, bem acima das metas mnimas necessrias para obteno desta certificao ambiental internacional de sustentabilidade3. O MIS/RJ manter dilogo constante com a comunidade do entorno do Museu, atravs de uma sala exclusiva para este fim. Tambm est previsto um programa permanente de palestras peridicas com o pblico e com os funcionrios do Museu sobre o conceito de sustentabilidade e educao ambiental.

    4 Gesto museal: o plano museolgico e os manuais de gesto

    Cotejando a produo bibliografia disponvel para a didtica e o ensino da Gesto museolgica, percebemos que h poucos trabalhos, a maioria em forma de manuais cujos autores so europeus ou norte-americanos. No entanto, desta-camos dois ttulos que so dignos de referencia. O primeiro da professora da Uni-versidade Complutense de Madrid, Francisca Hernndez Manual de Museologia.

    Trata-se de um manual de 300 pginas que abrange todos os aspectos museolgicos que vo desde a histria dos Museus, passando pela arquitetura deles, exposies museolgicas, aes educativas em Museus, conservao e proteo de bens culturais, programas de Museus at a disciplina que nos inte-ressa, e que pela autora foi chamado de Administrao, Gesto e Organizao de Museus (traduo dos autores).

    No captulo correspondente a Gesto de Museus o manual trata das caracte-rsticas das administraes a partir dos tipos de instituies espanholas: Museus es-tatais, particulares, eclesisticos e fundaes mantenedoras com suas caractersticas diferenciadas, para finalmente entrar especificamente na rea de Gesto de Museus.

    Observa-se entre as pginas 101 a 113, como so abordados assuntos inerentes as funes de um Museu como as reas de conservao e pesquisa, difuso e administrao, direo e os diversos profissionais que trabalham den-tro de uma instituio museolgica; restauradores, conservadores, Muselogos entre outros. A autora discorre sobre um tema que julgamos interessante para a rea de gesto, o qual chamou de: mudanas sociais e as novas perspectivas da Museologia. Neste captulo so tratados os seguintes temas como a relao aos Museus: A civilizao do cio, a cultura de massas, marketing, recursos e econo-mia, novas tecnologias aplicadas, e o Museu numa sociedade ps-moderna.

    Outro ttulo interessante o Manual of Museum Management4 de Gail e Barry Lord. O casal canadense atua no ramo da Museologia por mais de quatro dcadas e so proprietrios da empresa Lord Cultural Resources que projeta, constri, equipa, treina pessoal e administra Museus por todos os continentes. O Manual de Gesto Museolgica (traduo livre), em sua segunda edio de

    3 No projeto est previsto uma economia de energia de 26%, e de gua em 35% atravs de sistemas efi-cientes como captao de luz do meio ambiente e de energia solar, reaproveitamento das guas utilizadas nos servios do Museu, uso de lmpadas e luminrias de alta eficincia, sistema de monitoramento contra vazamentos e desperdcio de energia e iluminao inteligente nas dependncias do Museu. SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Site. Disponvel em: . Acesso em: 14 mar. 2013.

    4 O livro foi traduzido para o espanhol e publicado na Espanha. Um dos autores deste artigo, por iniciativa prpria, traduziu a obra do original em ingls, sendo que, atualmente encontra-se em fase de negociao com os autores canadenses para uma edio em portugus no Brasil.

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    2009, tem 330 pginas dedicadas exclusivamente a Gesto de Museus. O li-vro est dividido em trs partes: A primeira chamada de Por qu? e abrange os aspectos dos propsitos da gesto, da misso e do papel da gesto de um Museu. A segunda parte chamada de Quem? trata da estrutura organizacional do Museu, de seus diversos modos de governana, do conselho, do papel dos voluntrios e do papel da sociedade civil no Museu. A terceira e ltima parte, chamada de Como?, abrange os mtodos de gesto e as suas diversas gerncias: colees, programas pblicos, arquitetura e finanas.

    4.1 O papel da museologia e dos muselogos

    A abertura de mais de uma dezena de cursos de Museologia no Brasil, a partir de 2008, vem mudar o quadro da oferta de profissionais no mercado de trabalho dos Museus. As universidades atravs da criao dos cursos de Mu-seologia, j esto capacitando profissionais para atuar nas centenas de Museus brasileiros, que at ento, no podiam contar com a colaborao desses profis-sionais, uma vez que os dois nicos cursos que havia5, no poderiam dar conta desta demanda em nvel nacional e nem to pouco em nvel regional6.

    A nova realidade liga-se a formao dos Muselogos, passa pelos curr-culos das escolas de Museologia, e tambm pela questo de onde se inserem os cursos dentro das universidades brasileiras. Neste sentido, a formao do Muselogo dialoga com diferentes e variados corpus de saberes que vo desde a Cincia da Informao, da Histria, das Artes Visuais, da Antropologia, da Ad-ministrao, da Geografia e da Biologia. De acordo com lvares, (2012, p. 43).

    Os Museus e, por conseguinte, os Muselogos tem o notvel dever de repre-sentar a identidade nacional. Os debates sobre o assunto realam novos de-safios para a profisso em torno da questo, dentre eles, a promoo da inte-grao nacional dentro da pluralidade e diversidade de identidades regionais.

    Como um campo de saber multidisciplinar por natureza, a Museologia e as prticas dos novos Muselogos, podem criar tenses com outros profissionais de diferentes reas e que realizam atividades a mais tempo do que eles em di-versos segmentos dentro dos Museus. Esses profissionais esto em posies nas quais dominam com natural competncia, e o desafio dos egressos dos novos cursos de Museologia tem um efeito positivo.

    A colocao de novos Muselogos nos quadros dos Museus vai exigir de-les a conquista de espaos pelo mrito, mas tambm atravs dos conhecimentos e aprendizados que lhes foram comunicados em seus respectivos cursos. Isto traz novas inquietaes dentro das universidades e neste contexto, mostra a ne-cessidade de abertura e dilogo com reas j consolidadas no espao acadmico sobre a convenincia e o lugar do curso de Museologia, ao lado ou vinculado a esta ou aquela rea de conhecimento. Assim afirma Stuart, (2012, p. 63)

    Pontos de vistas variados; diversidade; estmulo ao senso crtico; abertura; respeito a diferentes opinies; confronto de ideias; contextualizao cultu-

    5 Rio de Janeiro UNIRIO e Bahia UFBA.

    6 inegvel constatar que ambos os cursos mais antigos sofreram o impacto desta avalanche de novos cursos. Apesar de possveis resistncias, uma srie de novas ideias trazidas por intelectuais, professores, pesquisadores e cientistas da informao, que atuam nesses novos cursos, dinamizaram o que estava es-tagnado e uma profcua discusso que envolve os currculos dos cursos de Museologia est acontecendo atualmente na maioria das universidades onde h este curso de graduao.

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    ral e histrica; olhares multidisciplinares; conscincia cidad; estas e outras estratgias e valores devem estar presentes nas exposies dos Museus caso queiramos que estes espaos sejam promotores da cidadania.

    H grande diversidade das tarefas conduzidas nas dependncias de um Museu, por um nmero de variados profissionais. Arquitetos podem organizar exposies no s do ponto de vista tcnico estrutural, mas tambm enquanto desenhistas (planejadores) de exposies, ou na museografia dessas exposies. Historiadores e antroplogos encontram colocao junto s colees dos Mu-seus e produzindo planos interpretativos para exposies, Socilogos esto ap-tos a realizar e analisar pesquisas de pblico em Museus, Administradores so bons gestores, mas tambm podem preparar processos de captao de recursos. Historiadores da Arte, Bilogos e Arquelogos so curadores de exposies e os Educadores os responsveis pelos projetos pedaggicos dos Museus. Todas as reas possibilitam a criao de um espao para a colaborao de Muselogos que podem enriquecer o trabalho e a viso de todos esses profissionais.

    H poucos trabalhos publicados sobre Gesto de Museus, especialmen-te se considerarmos a abordagem transdisciplinar. Obviamente refletir sobre processos de gesto , em si, uma tarefa complexa, e de Museus, torna-se mais complexa, com suas funes muito especficas. Reunir informaes tcnicas em lies acadmicas requer sistematizao e aproximao anterior a alguns con-ceitos, assim como a necessidade de articular de forma didtica e compreensiva essas duas cincias; Administrao e Museologia. Este o desafio que se impe.

    Entre os processos de gesto de um Museu, a prtica da avaliao de suas atividades e funes um elemento indispensvel porque proporciona transparncia e participao democrtica de todos os envolvidos; gestores, co-laboradores e o pblico. Dessa forma ensina Cury (2009, p. 02) Relacionar-se com o patrimnio um processo, um exerccio democrtico sistemtico um processo educacional no seu sentido amplo, mas profundo.

    A avaliao se d de forma interna e externa no mbito do Museu. A anlise interna ocorre em nvel de cada colaborador que ocupa uma funo especfica em um determinado setor do Museu. A avaliao visa promover um diagnstico da eficincia e da eficcia de cada um que est inserido no quadro funcional da instituio. A avaliao serve para encontrar os problemas e traba-lhar suas solues, fixar estratgias de aes para o efetivo encontro das metas de longo prazo, que foram definidas e controlar os cumprimentos dos diversos objetivos, dentro dos prazos que foram previamente estipulados.

    A avaliao externa se d em relao a imagem que o Museu projeta pe-rante a comunidade de uma maneira geral, frequentadores avulsos, grupos de turistas, nacionais e estrangeiros, professores e estudantes de todos os nveis, alm de pesquisadores e cientistas. A avaliao externa mede o grau de satis-fao de cada um desses grupos de pessoas separadamente e o sucesso do empreendimento museal em suas vises e, em relao a misso da instituio.

    De acordo com Lord, (2009, p. 22) a principal funo do gestor de Museus facilitar a circulao de decises. Tais decises devem visar o cumprimento da mis-so da casa, que por sua vez devem estar em consonncia com as polticas traadas para ela. O gestor o principal incentivador do cumprimento da misso do Museu junto aos colaboradores e visitantes, sendo que, a sua inspirao reflete no dia a dia da instituio, interna e externamente, em seus diversos setores, tornando o gestor uma liderana que todos no Museu naturalmente seguem. Conforme Lord (2009, p. 23):

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    parte das atribuies do gestor de Museus comunicar o mandato da instituio aos colaboradores e ao pblico em geral. importante que todos tenham conscincia plena dos limites deste mandato, principal-mente em relao a outras instituies, inclusive a universidade7.

    Isso importante para que o Museu conhea bem o seu objeto e evite perder o prprio foco, entrando no campo de outro Museu ou instituio, mas tambm para que cada um dos colaboradores saiba exatamente sua funo e responsabilidades den-tro deste quadro. Para Lord (2009, p. 24), o modo como se avalia o gestor simples;

    [...] deve-se questionar se o gestor est ou no facilitando a circulao de decises para que se cumpra a misso do Museu, e se ele est ou no comunicando bem o mandato do Museu todos.

    Assim, segundo o mesmo autor, (LORD, 2009, p. 25) tarefa do gestor : [...] controlar o cumprimento das grandes metas do Museu, dentro de um oramento e calendrio de objetivos menores. Para isso ele deve: avaliar a efi-cincia e a eficcia do pessoal do Museu em relao ao cumprimento das metas estabelecidas, e o esforo que cada um dos colaboradores realiza para que tais metas sejam cumpridas dentro do tempo estabelecido, levando em conta o es-pao que cada um ocupa (que no Museu tende a ser pequeno) e a produtividade em relao as suas tarefas. Assim descreve Lord, (2009, p. 26):

    Eficcia: Mede a extenso na qual os esforos do Museu encontram o re-sultado pretendido, e que deveriam estar quantificados o mximo possvel em detalhes no Plano Museolgico para aquela funo especfica. Eficincia: Mede o efeito em relao ao esforo desprendido em pessoas/horas, em dinheiro, em espao (que so raros nos Museus) ou em uso de equipamen-to. O termo custo-eficcia usado muitas vezes para descrever eficincia em termos financeiros: gente-eficincia ou espao-eficincia so tambm usados para descrever eficincia. (Traduo e grifos dos autores)

    O autor canadense (LORD, 2009, p. 28) pondera que nos ltimos anos [...] os Museus tm se tornando mais alinhados com as instituies da sociedade civil em suas diversas fontes de financiamentos pelas comu-nidades, patrocinadores e mecenatos, pblicos e privados.

    Isso, segundo ele, desafia a ideia de que os Museus devem ser avaliados apenas por suas funes profissionais, mas que (LORD, 2009, p. 29):

    [...] existe uma forte tendncia de se avaliar o Museu em termos dos seus re-sultados, mas tambm pela contribuio para com a sociedade de forma geral.

    E conclui relatando que (LORD, 2009, p. 30):[...] no Reino Unido esta avaliao se d em termos de critrio de in-cluso social enquanto na Amrica do Norte h uma tendncia de se avaliar os programas museolgicos e suas colees em termos de di-versidade a quem servem e representam, mas que, em ambos os casos, a avaliao se d em termos de resultados sociais.

    7 Alguns Museus universitrios tm entre suas funes a pesquisa de ponta, porm os Museus que no so vinculados a academia, segundos os autores (p.23), devem estar limitados aos conhecimentos reconhecidos e transmitidos por ela, ou caso seja possvel, encaminhar suas pesquisas atravs das universidades.

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    O olhar do outro: a gesto de museus e a sustentabilidade na museologia

    No mbito do Plano Museolgico o exerccio de avaliao tambm realiza-do de maneira interna e externa, mas tambm de forma coletiva pelos colaborado-res em seus diversos setores, juntamente com as lideranas da Gesto do Museu. Na prtica realizado um diagnstico que avalia e leva em conta o estado atual do Museu em relao as suas metas. O diagnstico articula as seguintes variveis: Pon-tos fortes, Pontos fracos, Oportunidades e Ameaas. (conhecido na administrao como anlise SWOT Strong and Weak points, Oportunities and Treats).

    5 Consideraes finais

    Assim, tomou lugar no pas um amplo debate sobre o papel da Museologia contempornea, tendo os Museus como agentes de incluso cultural, de afirma-o de identidades de grupos sociais, de reconhecimento da diversidade e de desenvolvimento econmico aliado s questes da sustentabilidade.

    As discusses sobre a sustentabilidade socioambientais tornaram-se ur-gentes e dependem da educao para o meio ambiente, tanto para crianas como para adultos serem agentes de mudanas e compreenderem melhor o complexo mundo que lhes cercam. neste sentido que o Museu contempo-rneo deve se inserir, utilizando suas ferramentas de comunicao, informao, educao e entretenimento para proporcionar o entendimento e uma consci-ncia social, por exemplo: da fragilidade da natureza e dos recursos no renov-veis diante de um mundo cheio de contradies e que sofre presses, at certo ponto legtimas para uma prtica equivocada de um consumismo desenfreado e nefasto ao prprio cidado.

    O Museu pode trazer diferentes olhares e contrapontos sobre as ques-tes socioambientais, uma vez que relativamente livre de presses comerciais e pode proporcionar a populao uma viso realista da necessidade das comuni-dades e consumidores, que, ao se articularem em torno do exerccio organizado da cidadania, exigir tanto das empresas quanto do poder pblico, providncias para que as geraes futuras no sofram as piores consequncias de seus atos que so praticados impunemente e sem a menor conscincia de suas conse-quenciais socioambientais na atualidade.

    Desta maneira, inserido no Museu junto a outros profissionais de diferen-tes reas, que o Muselogo passa a participar de uma ampla rede de saberes, ga-nhando fora para aquisio de uma identidade prpria e uma prtica coerente frente a outras disciplinas acadmicas j consolidadas.

    possvel que o Museu contemporneo seja o maior exemplo de multi-disciplinaridade em um mundo informatizado e digital. nos Museus, nas biblio-tecas e nos arquivos que se encontram os registros e as memrias das diversas cincias. Neles se exibem, guardam e comunicam os avanos cientficos e cul-turais e suas apropriaes podem fazer a diferena para a construo de uma sociedade mais justa e igualitria. A prtica museolgica tambm deve fomentar a participao ativa da comunidade em questes socioambientais e do exerccio pleno da cidadania, colocando-se como instituio que possibilita a reflexividade dos sujeitos diante da realidade.

    Assim o Muselogo traz, em fim, para o Museu, um certo olhar do outro que apenas mais um ponto de vista, mas que pode auxiliar na compreenso e nas diferentes necessidades de uma sociedade que respeita a diversidade.

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    Artigo recebido em fevereiro de 2013. Aprovado em maro de 2013