919079_5

download 919079_5

of 277

Transcript of 919079_5

  • 8/8/2019 919079_5

    1/277

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    FACULDADE DE EDUCAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM INFORMTICA NA EDUCAO

    CURSO DE DOUTORADO EM INFORMTICA NA EDUCAO

    TESE DE DOUTORADO

    APRENDIZAGEM DE ESCRITA DE LNGUA DE SINAIS PELO SISTEMA

    SIGN

    WRITING

    :

    LINGUAS DE

    SINAIS NO PAPEL E NO COMPUTADOR

    Marianne Rossi Stumpf

    Porto Alegre

    2005

  • 8/8/2019 919079_5

    2/277

    Marianne Rossi Stumpf

    APRENDIZAGEM DE ESCRITA DE LNGUA DE SINAIS PELO SISTEMASIGNWRITING:LNGUAS DE SINAIS NO PAPEL E NO COMPUTADOR

    Tese apresentada ao Programa de Ps-graduao emInformtica na Educao do Centro Interdisciplinar deNovas Tecnologias na Educao da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul, para obteno do ttulo deDoutor em Informtica na Educao.

    Orientador: Prof. Dr. Antnio Carlos Rocha da Costa

    UFRGS

    Co-orientadora: Prof. Dra. Carla Beatris ValentiniUCS

    Porto Alegre

    2005

  • 8/8/2019 919079_5

    3/277

    CIPCATALOGAONAPUBLICAO

    STUMPF, Marianne Rossi.Aprendizagem de Escrita de Lngua de Sinais pelo sistema SignWriting: Lnguas de Sinaisno papel e no computador / Marianne Rossi Stumpf Porto Alegre: UFRGS, CINTED,PGIE, 2005.

    Tese (doutorado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Centro de EstudosInterdisciplinares em Novas Tecnologias na Educao. Curso de Ps-Graduao emInformtica na Educao. Porto Alegre, RS, 2005. Orientador: Prof Dr. Antnio Carlos

    Rocha da Costa UFRGS. Co-orientador: Prof. Dra. Carla Beatris Valentini - UCSTese: Educao de Surdos, Lngua de Sinais, Escrita de Lngua de Sinais. SistemaSignWriting

  • 8/8/2019 919079_5

    4/277

    (TERMO DE APROVAO)

  • 8/8/2019 919079_5

    5/277

  • 8/8/2019 919079_5

    6/277

    Agradecimentos

    Ao concluir este trabalho, gostaria de agradecer a todos os que contriburam etornaram ele possvel.

    Ao Prof. Dr. Antnio Carlos da Rocha Costa, meu orientador, meu amigo. Sempremuito exigente, demonstrou otimismo e confiana em meus estudos, durante todo o tempo.Com sua motivao e incentivos me orientou a analisar os problemas por diferentes pontosde vista.

    Prof. Dra. Carla Beatris Valentini, minha co-orientadora que, com sensibilidadee interesse, sem se assustar com o tempo reduzido, disps-se a rever comigo todas asmincias de meu trabalho possibilitando a que ele se apresentasse mais correto eorganizado.

    Prof. Dra. Margaret Axt, representando a Coordenao deste programa de Ps-Graduao em Informtica na Educao, por tornar possvel este curso de Doutorado.

    todos os professores de PGIE pela forma compreensiva e agradvel com que meensinaram em suas aulas.

    Maria do Carmo que emprestou sua experincia e compreenso a facilitar meustrmites burocrticos e a tornar a questo do intrprete e da concesso da bolsa dedoutorado possveis para mim.

    Dra. Mrcia Campos minha primeira mentora no mundo da informtica naeducao e minha amiga incondicional.

    Aos intrpretes de Libras por sua presena quando da traduo da novidade desentido.

    Valerie Sutton pela amizade e pelos valiosos livros de SignWriting. Federao Nacional de Educao e Integrao dos Surdos FENEIS, aos colegas

    e aos funcionrios que me apoiaram com a fora e a inspirao para concluir o curso dedoutorado.

    De forma especial, a Escola de Ensino Fundamental Frei Pacfico e ao Institut deRecherches sur les Implications de la Langue des Signes de Toulouse - Frana que mereceberam de portas abertas, apostando nos meus projetos e compartilhando,solidariamente, minhas inquietaes.

    Aos professores Patrice Dalle e Michel Lamothe e s Doutoras Ivani Fusellier eBrigitte Garcia que me orientaram em terra estrangeira e at em suas casas me acolheram.

    s queridas colegas de Toulouse: Juliette Dalle e Mary Laurent que abraaramminha causa compartilhando comigo o mesmo desejo de contribuirmos, com um trabalhocuidadoso, para tornar mais conhecidas e valorizadas nossas lnguas de sinais.

    E a todos os meus amigos, cada um seu modo, pela presena constante nosdiferentes momentos vividos neste perodo.

    todos os que participaram dos experimentos desta pesquisa, pelo interesse,dedicao e riqueza de seus depoimentos. Muito obrigada! Deus, pela vida !

  • 8/8/2019 919079_5

    7/277

    SUMRIO

    RESUMO............................................................................................................................14

    ABSTRACT........................................................................................................................15

    1 APRESENTAO ......................................................................................................... 161.1 MINHA HISTRIA........................................................................................................161.2ORIGEM DA PESQUISA .................................................................................................17

    2 INTRODUO E ESTUDOS TERICOS.................................................................22

    2.1NOVOS PARADIGMAS OFERECIDOS PELAS CINCIAS DA MENTE ...................................262.2AQUISIO DA LINGUAGEM ........................................................................................282.3ASPECTOS FORMAIS DA LNGUA DE SINAIS BRASILEIRA...............................................322.4AQUISIO DA ESCRITA ..............................................................................................342.5ESCRITA ALFABETIZAO E LETRAMENTO ..................................................................362.6REGISTRO DA CULTURA SURDA ...................................................................................37

    2.7A ESCRITA DA LNGUA DE SINAIS ................................................................................432.8SISTEMAS DE NOTAES ESCRITAS DE LNGUAS DE SINAIS........................................47

    2.8.1 A notao de Stokoe............................................................................................472.8.2 Notao de Franois Neve..................................................................................482.8.3 O Hamnosys - 1989.............................................................................................492.8.4 O Sistema D` Sing de Paul Jouison - 1990........................................................ 502.8.5 O Sistema SignWriting - 1974 ............................................................................512.8.6 Estrutura do sistema SignWriting - Representao da sinalizao e daespacializao..............................................................................................................53

    3 OBJETIVOS....................................................................................................................97

    4 PROBLEMA DE PESQUISA........................................................................................98

    5 MTODO ......................................................................................................................101

    5.1PESQUISA-AO: UMA ESCOLHA DE PRTICA SOCIAL ...............................................101

    6 RESULTADOS E ANLISE DOS DADOS...............................................................108

    6.1PRIMEIRO ESTUDO ....................................................................................................1086.2RELATOS ...................................................................................................................119

    7 RESULTADOS E ANLISE.......................................................................................213

    7.1PRIMEIRO ESTUDO ....................................................................................................2147.2SEGUNDO ESTUDO ....................................................................................................225

    8 SOFTWARES UTILIZADOS NA PESQUISA .........................................................2268.1OSIGN WRITER ........................................................................................................2288.2SIGNPUDDLE 1..........................................................................................................232

    9 RELATOS .....................................................................................................................234

    9.1RELATOS DAS TRANSCRIES...................................................................................244

  • 8/8/2019 919079_5

    8/277

    10 CONCLUSES, LIMITAES E TRABALHOS FUTUROS.............................266

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...........................................................................271

    ANEXOS...........................................................................................................................277

  • 8/8/2019 919079_5

    9/277

    NDICE DE FIGURAS

    FIGURA 1: CONFIGURAES DAS MOS STOKOE...........................................................................48FIGURA 2: CONFIGURAES DAS MOS FRANOIS XAVIER NVE ........................................... 49FIGURA 3: CONFIGURAES DAS MOS FORMAS BSICAS HAMNOSYS .............................. 50FIGURA 4: EXEMPLO DE D`SIGN DE PAUL JOUISON...........................................................................51FIGURA 5: A CABEA E O CORPO ESTO AO CENTRO.......................................................................55FIGURA 6: O CORPO DESCOLA-SE PARA FORA DO CENTRO............................................................55FIGURA 7: UMA SENTENA EM COLUNA..............................................................................................56FIGURA 8: SINAIS DE SURDOS..................................................................................................................57FIGURA 9: PONTO DE VISTA EXPRESSIVO............................................................................................62FIGURA 10: SINAL DE CERTO ................................................................................................................... 62FIGURA 11: SMBOLOS DE CONFIGURAES DE MOS SEM ESPECIFICAR QUAL DELAS....... 63FIGURA 12: A POSIO DO CONTATO.................................................................................................... 63FIGURA 13: REGRA DE GRAFIA................................................................................................................ 64FIGURA 14: SINAIS COMPOSTOS..............................................................................................................65FIGURA 15: ORIENTAO DA PLANA.....................................................................................................65FIGURA 16: ROTAO DE MO................................................................................................................ 65FIGURA 17: TIPOS DE SMBOLOS DE MOVIMENTOS...........................................................................77FIGURA 18: TIPOS DE SMBOLOS DE CONTATOS.................................................................................78FIGURA 19: SEIS SMBOLOS DE MOVIMENTOS DOS DEDOS.............................................................79FIGURA 20: SMBOLOS DE MOVIMENTOS DOS DEDOS...................................................................... 80FIGURA 21: SOBRANCELHAS.................................................................................................................... 80FIGURA 22: BOCA ........................................................................................................................................81FIGURA 23: DENTES....................................................................................................................................82FIGURA 24: LNGUA....................................................................................................................................82FIGURA 25: OLHOS......................................................................................................................................83FIGURA 26: BOCHECHA .............................................................................................................................83FIGURA 27: NARIZ .......................................................................................................................................84FIGURA 28: OUTRO......................................................................................................................................84FIGURA 29: MOVIMENTO DE CABEA................................................................................................... 85FIGURA 30: CORPO......................................................................................................................................85FIGURA 31: EXEMPLOS DE CORPO.......................................................................................................... 86FIGURA 32: POSIO DE CABEA........................................................................................................... 86

    FIGURA 33: OMBRO.....................................................................................................................................86FIGURA 34: POSIO DE TRONCO...........................................................................................................87FIGURA 35: POSIO DO BRAO............................................................................................................. 87FIGURA 36: PLANO PAREDE......................................................................................................................89FIGURA 37: PLANO CHO.......................................................................................................................... 89FIGURA 38: MOVIMENTO CIRCULAR...................................................................................................... 90FIGURA 39: POSIES DE MOVIMENTO CIRCULAR............................................................................90FIGURA 40: EXEMPLOS DE SMBOLOS DE MOVIMENTOS EM CRCULOS. ....................................91FIGURA 41: PONTUAO........................................................................................................................... 91FIGURA 42: EXEMPLO DE PONTUAO.................................................................................................92FIGURA 43: ALFABETO MANUAL............................................................................................................92FIGURA 44:FORMA SIMPLIFICADA .........................................................................................................94FIGURA 45: FORMA PADRO....................................................................................................................95

    FIGURA 46: SINAL ESCRITO DE MARIANN..........................................................................................106FIGURA 47: SINAL DE LOBO....................................................................................................................120FIGURA 48: SINAL DE CASA E MOS FAZENDO O SINAL DE CASA..............................................120 FIGURA 49: SINAL DE COMER E DESENHO DE PRATO.....................................................................120FIGURA 50: SINAL DE PSSARO ...........................................................................................................121FIGURA 51: SINAL DE PSSARO COM EXPRESSO FACIAL ........................................................... 121FIGURA 52: SINAL DE CASA.................................................................................................................... 122FIGURA 53: SINAL DE PAPAI...................................................................................................................122FIGURA 54: DESENHO DE BOLA.............................................................................................................122

  • 8/8/2019 919079_5

    10/277

    FIGURA 55: SINAL DE BOLA....................................................................................................................122FIGURA 56: SINAL DE FUTEBOL ............................................................................................................123FIGURA 57: DEDO INDICADOR...............................................................................................................123FIGURA 58: GRUPO 1................................................................................................................................. 124FIGURA 59: SINAIS DO GRUPO 1 ............................................................................................................124FIGURA 60: GRUPO 2................................................................................................................................. 125

    FIGURA 61: SINAL DE SEGUNDA-FEIRA...............................................................................................125FIGURA 62: SINAL DE NICOLE................................................................................................................ 125FIGURA 63: SINAL DE ROSA.................................................................................................................... 125FIGURA 64: GRUPO 3................................................................................................................................. 127FIGURA 65: GRUPO 4................................................................................................................................. 128FIGURA 66: JOGO DE DOMIN................................................................................................................128FIGURA 67: JOGO DE MEMRIA............................................................................................................. 129FIGURA 68: GRUPO 5................................................................................................................................. 130FIGURA 69: GRUPO 6................................................................................................................................. 131FIGURA 70: REDAO EM SIGNWRITING............................................................................................133FIGURA 71: GRUPO 7 E 8 ..........................................................................................................................135FIGURA 72: JOGO DE MEMRIA............................................................................................................ 136FIGURA 73: GRUPO 9................................................................................................................................. 137FIGURA 74: GRUPO 10............................................................................................................................... 138

    FIGURA 75: SINAL DE MOTO................................................................................................................... 139FIGURA 76: CONFIGURAO DA MO.................................................................................................139FIGURA 77: FRASE EM SIGNWRITING...................................................................................................140FIGURA 78: JOGO DE MMICA.................................................................................................................141FIGURA 79: SMBOLO DE MOVIMENTO ..............................................................................................142FIGURA 80: DIA DAS CRIANAS ............................................................................................................143FIGURA 81: ESPAO DE SINALIZAO................................................................................................157FIGURA 82: OFICINA DE SIGNWRITING NA ASSOCIAO DE SURDOS EM TOULOUSE...........168FIGURA 83: O CARTAZ NO QUADRO-NEGRO......................................................................................173FIGURA 84: O JOGO DE RECONHECER O NMERO............................................................................ 174FIGURA 85: CADERNO DO ALUNO......................................................................................................... 181FIGURA 86: OS CARTAZES COM OS SEUS SINAIS ESCRITOS QUE OS ALUNOS PENDURARAM

    NO ARMRIO. ...................................................................................................................................183FIGURA 87: O ALUNO ESCREVEU A HISTRIA DO CAVALO COMPLETA ....................................185FIGURA 88: CADERNO DE MENINO.......................................................................................................186FIGURA 89: OS SMBOLOS DE PERSONAGENS DO LIVRO................................................................187FIGURA 90: OS TRS SINAIS ESCRITOS COM OS NOMES DOS ALUNOS.......................................189 FIGURA 91: PRIMEIRO DIA, QUANDO DISTRIBU O RESUMO DO MANUAL DE SIGNWRITING

    .............................................................................................................................................................. 193FIGURA 92: ALUNA USOU RGUA.........................................................................................................193FIGURA 93: A PROFESSORA AUXILIAR EXPLICA PARA A ALUNA COMO LER O SINAL

    ESCRITO ............................................................................................................................................. 194FIGURA 94: A PROFESSORA AUXILIAR EXPLICA PARA OS ALUNOS USANDO O QUADRO .... 194FIGURA 95: ALUNA ESCREVENDO UM SINAL ESCRITO NO QUADRO-BRANCO .......... ........... ... 196FIGURA 96: ONDE ESTOU EXPLICANDO SOBRE OS SMBOLOS DOS VRIOS TIPOS DE

    MOVIMENTOS................................................................................................................................... 198FIGURA 97: FRASES EM SIGNWRITING ...............................................................................................199FIGURA 98: ELAS ESTO LENDO A CARTA E SINALIZANDO..........................................................201FIGURA 99: ELES ESTO CONSTRUINDO OS SINAIS ESCRITOS DOS SINAIS DOS SEUS NOMES

    NO QUADRO...................................................................................................................................... 202FIGURA 100: ELE COLOCOU OS CARTAZES NA PAREDE ................................................................202FIGURA 101: ELAS ESTO CONSTRUINDO O SINALRIO PARA O CARTAZ DE BEM -VINDO.203 FIGURA 102: ESTE TRABALHO DE PROFESSORA AUXILIAR COM DUAS ALUNAS....................204 FIGURA 103: ELAS ESTO LENDO O TEXTO SOBRE MINHA VIAGEM A PARIS. .......... .......... ..... 205FIGURA 104: EU ESCREVI A PERGUNTA: O QUE PENSAM DA AULA DE SIGNWRITING, NO

    QUADRO BRANCO...........................................................................................................................208

  • 8/8/2019 919079_5

    11/277

    FIGURA 105: ALUNA RESPONDENDO A PERGUNTA NO QUADRO BRANCO ............................... 208FIGURA 106: OUTRA ALUNA RESPONDENDO NO QUADRO BRANCO .......................................... 209FIGURA 107: ALUNA COPIOU O QUADRO BRANCO .......................................................................... 209FIGURA 108: ALUNA ESCREVEU A HISTRIA DO NIBUS..............................................................210FIGURAS 109: DESENHO E SINAL DE CASA.........................................................................................217FIGURA 110: SINAL DE SURDO...............................................................................................................218

    FIGURA 111: SINAL DE MAME .............................................................................................................219FIGURA 112: O ALUNO ESCREVEU A HISTRIA DO CAVALO ........................................................ 224FIGURA 113: SOFTWARE DE SW-EDIT .................................................................................................. 227FIGURA 114: SMBOLO NO TEXTO.........................................................................................................227FIGURA 115: ESCOLHA OS SIGNOS........................................................................................................ 228FIGURA 116: SIGN WRITER OPO ESCRITA DE LNGUA DE SINAIS ........................................229FIGURA 117: TECLAS ESPECIAIS............................................................................................................229FIGURA 118: TECLADO DE SIGN WRITER............................................................................................230FIGURA 119: LUGAR DOS DEDOS ..........................................................................................................230FIGURA 120: OS DEDOS NAS TECLAS................................................................................................... 230FIGURA 121: O SITE DE SIGNPUDDLE...................................................................................................233FIGURA 122: E-MAIL EM SIGNWRITING............................................................................................... 233FIGURA 123: O EXERCCIO PARA LIGAR O DESENHO DA CONFIGURAO DA MO COM O

    SMBOLO CORRESPONDENTE ...................................................................................................... 235

    FIGURA:124: POSIES SMBOLOS DAS CONFIGURAES DAS MOS.......................................236FIGURA 125: COMPARANDO A MO COM O SMBOLO ....................................................................238FIGURA 126: SINAIS ESCRITOS PELAS DUAS ALUNAS.....................................................................239FIGURA 127: MANUAL DO TECLADO....................................................................................................241FIGURA 128: OS DILOGOS EM VDEO................................................................................................. 255FIGURA 129: A HISTRIA EM VDEO.....................................................................................................261

  • 8/8/2019 919079_5

    12/277

    INDICE DE TABELAS

    TABELA 1: GRUPOS DE SMBOLOS NO SIGNWRITING ....................................................................... 60TABELA 2: CONFIGURAES BSICAS DE MO NO SISTEMA SIGNWRITING.............................61TABELA 3: ADICIONAR LINHAS PARA OS DEDOS...............................................................................61TABELA 4: GRUPO 1 ....................................................................................................................................66TABELA 5: GRUPO 2 ....................................................................................................................................67TABELA 6: GRUPO 3 ....................................................................................................................................68TABELA 7: GRUPO 4 ....................................................................................................................................69TABELA 8: GRUPO 5 PARTE 1 ................................................................................................................ 70TABELA 9: GRUPO 5 PARTE 2 ................................................................................................................ 71TABELA 10: GRUPO 5 PARTE 3 ..............................................................................................................72TABELA 11: GRUPO 6 ..................................................................................................................................73TABELA 12: GRUPO 7 ..................................................................................................................................74TABELA 13: GRUPO 8 ..................................................................................................................................74TABELA 14: GRUPO 9 PARTE 1 ..............................................................................................................75TABELA 15: GRUPO 9 PARTE 2 ..............................................................................................................76TABELA 16: GRUPO 10................................................................................................................................ 77TABELA 17: DINMICAS............................................................................................................................ 88TABELA 18: TURMA DE 2 SRIE............................................................................................................108TABELA 19: TURMAS E ATENDIMENTOS DO PRIMRIO DA ESCOLA CENTRE DE

    RAMONVILLE ...................................................................................................................................114TABELA 20. TURMA E ATENDIMENTO DO MATERNAL DA ESCOLA SAJU DE RAMONVILLE 115TABELA 21: TURMAS E ATENDIMENTOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO COLGIO ANDR

    MALRAUX DE RAMONVILLE........................................................................................................115TABELA 22: ATIVIDADES NA ESCOLA CENTRE DE RAMONVILLE ...............................................151TABELA 23: ESCOLA CENTRE DE RAMONVILLE...............................................................................170TABELA 24: TURMA DE CE2....................................................................................................................176TABELA 25: TURMA DE CM1................................................................................................................... 179TABELA 26: TURMA DE MG/GS ..............................................................................................................185TABELA 27: TURMA DE COLGIO .........................................................................................................190

  • 8/8/2019 919079_5

    13/277

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ASL American Sign Language

    ELS Escrita de Lngua de SinaisLIBRAS Lngua Brasileira de SinasLS Lngua de SinaisLSF Lngua de Sinais FrancesaFENEIS Federao Nacional de Educao e Integrao dos SurdosTI Tecnologias de Informao

  • 8/8/2019 919079_5

    14/277

    RESUMO

    APRENDIZAGEM DA ESCRITA DE LNGUA DE SINAIS PELO SISTEMASIGNWRITING: LNGUAS DE SINAIS NO PAPEL E NO COMPUTADOR

    Esta tese trata de como o sistema SignWriting pode servir de suporte a uma nova propostapedaggica ao ensino da escrita de lngua de sinais e letramento para crianas surdasusurias da Lngua Brasileira de Sinais - Libras e da Lngua de Sinais Francesa - LSF.Escrever deve ser uma atividade significativa para a criana. No caso da criana surda, aescrita fundamenta-se em sua competncia na lngua de sinais, sem precisar daintermediao da lngua oral.A criana surda, quando em um ambiente onde ela e seus colegas se comunicam em lnguade sinais, efetivamente tenta escrever sinais, quando incentivada a faz-lo.Em nossos experimentos, usamos o sistema SignWriting para mostrar s crianas surdas (ea seus pais e professores) como escrever textos em lnguas de sinais de ambas as formas:manuscrita e impressa, usando o programa Sign Writer para editar textos em lnguas desinais.A base terica que apia a tese a abordagem bilnge para a educao de surdos, a lnguade sinais, a teoria de Piaget, e de Ferreiro quando trata das etapas da alfabetizao emlngua oral. Esta investigao possui um carter exploratrio, em que o delineamentometodolgico dado pela pesquisa-ao.O primeiro estudo apresenta um levantamento do processo de aquisio da escrita desinais, em sua forma manuscrita, pela criana e jovem surdo no Brasil e na Frana.O segundo estudo trata da ajuda que a informtica pode dar a essa aquisio e de comoutilizamos os softwares de escrita de lngua de sinais em aulas de introduo ao uso docomputador e em transcries da LSF de corpus vdeo para a escrita de lngua de sinais.Os resultados sugerem que as crianas evoluem em sua escrita, pois muitos signos que elasescreveram no foram sugeridos pela experimentadora, nem por outro meio, mas surgiram

    espontaneamente. A introduo de um software como o Sign Writer ou o SW-Edit nasclasses para introduzir as TI traz a essas aulas muito maior interesse do que quando usamosum editor de textos na lngua oral. Tambm as produes das crianas so maissofisticadas.As concluses indicam que a escrita de lngua de sinais incorporada educao dascrianas surdas pode significar um avano significativo na consolidao de uma educaorealmente bilnge, na evoluo das lnguas de sinais e aponta para a possibilidade denovas abordagens ao ensino da lngua oral como segunda lngua.

    Palavras-chave: Educao de Surdos, Lngua de Sinais, Escrita de Lngua de Sinais,Informtica na Educao, Softwares em SignWriting.

  • 8/8/2019 919079_5

    15/277

    ABSTRACT

    THELEARNINGPROCESSOFSIGNLANGUAGEWRITINGTHROUGHTHESIGNWRITINGSYSTEM:SIGNLANGUAGESONPAPERANDINTHECOMPUTER

    This thesis describes how the SignWriting system can support a new pedagogic proposal tothe teaching of written sign language and literacy for deaf children using the Brazilian SignLanguage Libras and the French Sign Language LSF.Writing should be a significant activity for the child. In the case of a deaf child, writing isbased on his/her competence in sign language, needless of the intermediation of the spokenlanguage.The deaf child, when in an environment where he/she and her colleagues communicateusing sign language, indeed tries to write using signs, when encouraged to do so.In our experiments, we used the SignWriting system to show the deaf children (and theirparents and teachers) how to write texts in sign languages in both forms: handwritten andprinted, using the SignWriter program to edit texts in sign languages.The theoretical basis supporting this thesis is the bilingual approach for the education ofthe deaf, sign language, and the theories of Piaget and of Ferreiro, with their approach ofthe stages of literacy in oral language.This investigation has an exploratory character, where the methodological alignment isgiven by research-action. The first study presents a description of the sign language writingacquisition process by the children and youngsters in Brazil and in France.The second study presents how information technology (I.T.) can support this acquisitionand the way sign language writing softwares can be used in introductory lessons ofcomputer skills and in transcriptions of LSF from corpus video to written sign language.The results observed suggest that children evolve in their writing, since many signs and

    phrases they wrote were not suggested by the researcher nor by other means, they ratherappeared spontaneously. The introduction of a software such as Sign Writer or SW-Editduring the I.T. classes brings significantly higher interest to these lessons when comparedto a text editor in oral language. Also the childrens productions are more sophisticate.The conclusion indicates that sign language writing, when incorporated to the education ofdeaf children, can represent a significant advance in the consolidation of a really bilingualeducation, as well as in the evolution of sign languages, and also indicates the possibilityof new approaches to the teaching of oral language as a second language.

    Key words: Education of the Deaf, Sign Language, Written Sign Language, InformationTechnology in Education, Sign Writing Softwares.

  • 8/8/2019 919079_5

    16/277

    1 APRESENTAO

    1.1 Minha histria

    Em 11 de setembro de 1973 aconteceu uma revoluo em Santiago do Chile. Foi

    onde e quando eu nasci, no dia 2 de outubro. Minha famlia brasileira, mas nessa poca

    meu pai trabalhava l como diretor do Banco do Brasil. Logo depois fui morar no Paraguai

    e em seguida na Espanha, tambm algum tempo na Argentina e Estados Unidos. Aos nove

    anos, vindo viver no Brasil, encontrei a minha lngua de sinais na escola de surdos, mas

    antes, j usava muitos sinais inventados com a minha famlia. Tambm na escola de

    surdos de Madri, que era oralista, ns os pequenos, usvamos os sinais inventados

    misturados com os copiados dos grandes.

    Minha famlia toda ouvinte, sou a nica surda, mas respeitaram minha diferena e

    aprovaram a minha convivncia com a comunidade surda.

    Algumas vezes, quando minha famlia mudava de cidade estudei em escolas para

    ouvintes, sempre, no me sentia bem. Na escola de surdos me sentia muito feliz, queria

    ficar mais na escola e nas frias convidava amigos surdos.

    Durante minha adolescncia, participei de muitos campeonatos esportivos de surdos

    pelo Brasil e outros eventos dos surdos onde podia me comunicar em sinais. Na

    Universidade cursei Tecnologia em Informtica. Tive intrpretes de lngua de sinais para

    algumas aulas mas no suficientes. Tive muitos professores particulares, minha me,

    escrevia os tapes que eu gravava em aula, me ajudava com as leituras e revisava meus

    textos, organizando as frases. Precisei me esforar bastante e muitas vezes sentia raiva.

    At chegar a este diploma a luta foi longa. Para os surdos de Porto Alegre que usam

    a Lngua Brasileira de Sinais - Libras para se comunicar, esta luta comeou com a criao

    de um Ensino Mdio na Escola Especial Concrdia onde adotavam a filosofia da

    Comunicao Total. Da primeira turma que terminou o Ensino Mdio em 1988, nenhum

    dos formandos conseguiu entrar na universidade, nem tentaram, j que as universidades

    no ofereciam nenhum apoio aos surdos.

  • 8/8/2019 919079_5

    17/277

    O seguinte passo importante, para ns surdos, foi quando a Universidade Luterana do

    Brasil - ULBRA concordou em colocar um intrprete da lngua de sinais na prova

    vestibular e a corrigir a redao dando mais valor ao contedo do que forma. A Escola

    Especial Concrdia, que tinha como diretora a professora Beatriz Raymann, empenhou se

    muito para conseguir isto.

    Eu fui desta primeira turma que comeou a cursar a universidade em 1995, com

    intrprete no vestibular. Antes alguns surdos cursaram a Universidade e no usaram

    intrpretes, pois que no exerciam sua identidade surda explicitada no uso da Libras. Hoje

    so quase 60 surdos usurios da Libras cursando sua graduao na ULBRA. Eles vm de

    muitos estados brasileiros. Nesse momento, h muitas outras universidades brasileiras que

    trabalham com intrpretes de Libras.

    1.2 Origem da pesquisa

    Desde que entrei na escola de surdos de Porto Alegre participo da comunidade surda.

    Hoje trabalho como voluntria e sou diretora de polticas educacionais da Federao

    Nacional de Educao e Integrao dos Surdos - Feneis, para conquistar o respeito

    Lngua Brasileira de Sinais - Libras e aos direitos humanos dos surdos.

    Em 1995 logo depois que entrei na ULBRA trabalhei como bolsista da FAPERGS

    junto professora Dra. Lucila Santarosa na UFRGS, era um trabalho com informtica

    aplicada construo de softwares educativos para os surdos. Eu servia como auxiliar das

    facilitadoras, comunicando em lngua de sinais, o que elas orientavam para os usurios do

    programa que eram alunos surdos do Ensino Fundamental. A dificuldade de escrever e

    compreender o portugus era muito grande.

    De 1996 a 2001, enquanto ainda cursava minha graduao, fui auxiliar de pesquisa

    na Pontifcia Universidade Catlica de Porto Alegre do professor Dr. Antnio Carlos

    Rocha da Costa, para desenvolver o sistema de SignWriting, adaptando-o a Libras, foi

    quando me apaixonei pela escrita da lngua de sinais. Do trabalho resultou a construo deum manual que explica como escrever os sinais da nossa Lngua Brasileira de Sinais -

    Libras usando o sistema.

    Tambm fui auxiliar de pesquisa da professora Dra. Mrcia Campos que

    desenvolveu softwares da escrita de lngua de sinais, pelo mesmo sistema, construindo

  • 8/8/2019 919079_5

    18/277

    sinais escritos no banco de dados dos softwares que ela desenvolveu. Apresentamos juntas

    alguns trabalhos em congressos de informtica e de educao de surdos.

    Desde 1996, quando iniciamos o trabalho com a escrita de lngua de sinais ligado

    informtica, tenho participado de muitos eventos sobre educao de surdos em todo o

    Brasil e at no exterior. Participei de muito poucos na rea de informtica. A grande

    dificuldade que nesses eventos no h contratao de intrprete. Nos poucos em que

    participei, a interpretao aconteceu de forma precria, contando com a boa vontade de

    algum que conhecia a Libras e se dispunha a interpretar minha participao em lngua de

    sinais. Esse dado demonstra como, na maioria das situaes, a incluso ainda apenas um

    conceito vazio de contedo real.

    A escrita de lngua de sinais importante para ns surdos que temos muita

    dificuldade de escrever em portugus. Meu pensamento se d nas duas lnguas, s vezes

    em lngua de sinais e s vezes em portugus. Como o texto deve ser escrito em portugus,minha me, que foi logopeda por muitos anos em escolas de surdos, l o texto j escrito e

    organiza as frases colocando palavras de ligao, mudando tempos de verbos ou pedindo

    para eu escrever novamente pargrafos que no ficaram claros pelo mau uso da sintaxe que

    no a de um falante da lngua e s vezes, embaralha o sentido. Minha escrita do

    portugus melhorou muito, ao longo de meu doutorado e tambm minha compreenso das

    leituras, eu relia vrias vezes meus prprios escritos e as teorias para chegar a um ponto em

    que podia compreender bem o que havia escrito.

    No ano de 2001 comecei a participar do Ncleo de Pesquisa em Polticas

    Educacionais para Surdos Nuppes, formado por um grupo de alunos e professores do

    Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    Esse grupo foi criado no ano de 1996, com o objetivo de gerar um espao de reflexo,

    ao, participao e discusso em torno da Educao de Surdos.

    O grupo era orientado pelo Doutor Carlos Skliar, professor que com sua vinda para

    Porto Alegre fez nascer os estudos surdos em nossa comunidade. Foi ele o primeiro

    educador, entre ns, a propor uma nova abordagem para a surdez, substituindo a viso

    mdico/clnica at ento incontestada, que nos tratava como deficientes, pouco capazes,

    pela viso scio/antropolgica/cultural que criou espaos para crescermos e assumirmos

    nossa diferena de forma consciente.

  • 8/8/2019 919079_5

    19/277

    O Nuppes organizava um Frum de Discusso sobre Educao de Surdos que

    acontecia uma vez por ms no auditrio da UFRGS, dele participavam professores de

    surdos, intrpretes, pesquisadores, alunos surdos, famlias, alunos ouvintes etc. Uma das

    discusses foi sobre escrita de lngua de sinais com o palestrante Charles Butler que

    americano com quem, e com a orientao do Dr. Antnio Carlos Rocha da Costa,

    construmos um dicionrio em quatro lnguas: duas escritas com o sistema SignWriting aLngua de Sinais Americana - ASL e a Lngua Brasileira de Sinais - Libras e duas com a

    escrita alfabtica do portugus e do ingls.

    Durante todo esse perodo participei como professora de vrios cursos de formao

    para professores de surdos, incluindo aulas de escrita de lngua de sinais e tambm aulas de

    Informtica na Educao de Surdos nos interiores do Rio Grande do Sul e em algumas

    cidades de outros estados do Brasil.

    De 1996 at 2000 dei aulas na Escola Especial Concrdia-ULBRA, lecionando, deforma experimental, para as stimas sries, escrita de lngua de sinais utilizando o sistema

    SignWriting, e de informtica, utilizando o programa Sign Writer que o editor de textos

    do sistema.

    Em 2000 e 2001 trabalhei como professora de Informtica na Escola de Ensino

    Fundamental Frei Pacfico com as crianas do jardim at a quarta srie utilizando

    softwares educativos. Com a terceira srie usava o mesmo Sign Writer, editor de textos

    para lngua de sinais.Em agosto de 2001 iniciei meu trabalho de doutorado com dedicao integral,

    projeto que inclui essa proposta de pesquisa e a participao, como palestrante, em

    inmeros cursos, seminrios e encontros relacionados a ela.

    Em janeiro de 2004 apresentei minha proposta de tese, tendo a banca aprovado e

    colocado inmeras questes pertinentes que serviram de guia para a continuao de meu

    trabalho.

    Em janeiro de 2005 parti para a cidade de Toulouse na Frana, convidada comoespecialista em SignWriting, para trabalhar junto com um grupo de pesquisa formado por

    lingistas da Sorbonne - Universidade Paris 8, educadores de surdos da cidade de Toulouse

    e doutorandos da rea de informtica da Universidade Paul Sabatier, com propostas de

    teses na rea de informtica para a lngua de sinais francesa, orientados pelo Prof. Patrice

    Dalle, tambm de Toulouse. L tive tambm oportunidade de participar de algumas

  • 8/8/2019 919079_5

    20/277

    reunies com um grupo de pesquisa que est criando um sistema de escrita de lngua de

    sinais, o qual no utiliza o sistema SignWriting, no Institut de Recherches sur les

    Implications de la Langue des Signes IRIS.

    A primeira parte, de minha pesquisa, consta de relatos de minha vida e

    apresentao de teorias sobre conhecimento, linguagem e surdez que estudei nas diversas

    disciplinas cursadas durante meu trabalho de doutorado, de meus conhecimentos anteriores

    e de minhas experincias de lder surda. A universidade proporcionou-me uma intrprete

    de lngua de sinais para a assistncia s aulas das disciplinas cursadas que me permitiu

    acompanhar e participar. Minhas apresentaes de trabalhos contaram sempre com os

    recursos visuais de datashow e do trabalho da intrprete.

    Minhas produes escritas partiram das minhas leituras, resumos feitos das mesmas,

    anotaes nas aulas, construo de relaes entre diversos contedos, esquemas e demais

    recursos possveis de usar na construo de uma escrita que, partindo de meus estudos,pudesse dar conta da problemtica que me propus. Os relatrios constituem a narrativa

    detalhada e descritiva do trabalho de experimentao realizado com os diversos grupos de

    surdos que trabalharam comigo na tentativa de usar o sistema SignWriting na escrita da

    Libras, o editor de textos Sign Writer e o mesmo sistema SignWriting de escrita de lngua

    de sinais adaptado Lngua de Sinais Francesa - LSF.

    Com meu orientador e co-orientadora de doutorado trabalhei as teorias da construo

    da linguagem, da alfabetizao e do sistema de escrita SignWriting e a organizao da

    pesquisa ancorada nas praticas de difuso de um sistema de escrita para as lnguas de

    sinais, nas formas manuscrita e no computador.

    Igualmente importantes, para minhas construes, foram as disciplinas tericas

    oferecidas pela UFRGS a seus doutorandos, e as escolas de surdos que me acolheram.

    Minha participao na Federao Nacional de Educao e Integrao de Surdos Feneis

    proporcionou o convvio permanente e responsvel com meus pares, de muitos lugares do

    Brasil, uma viso abrangente de nossa realidade educativa e experincias de vida

    compartilhadas.O convite do grupo de pesquisa da Frana trouxe a possibilidade de acrescentar um

    carter mais amplo s minhas observaes, sendo, como pude observar, um trabalho de

    qualidade aquele realizado junto populao surda, pelo pas que ofereceu ao mundo

    ocidental seus paradigmas modernos de humanismo e igualdade, e continua a representar,

  • 8/8/2019 919079_5

    21/277

    mesmo no ps-moderno, resistncia significativa s tendncias de desrespeito pessoa em

    sua individualidade e massificao consumista e alienada.

    Trilhados os caminhos indicados pelo meu orientador, para por em prtica minhas

    metas, as teorias postas e os dados coletados, submeti-os a minha co-orientadora. Muito

    bem, disse ela, est tudo aqui, vamos organizar. Finalmente, o texto completo, foi corrigido

    por uma professora de portugus.

  • 8/8/2019 919079_5

    22/277

    2 INTRODUO E ESTUDOS TERICOS

    O reconhecimento formal do status lingstico das lnguas de sinais muito recente.

    A UNESCO somente em 1984 declarou: A lngua de sinais um sistema lingstico

    legtimo e deveria merecer o mesmo status que os outros sistemas lingsticos.

    Atualmente, 20% da populao surda mundial tm algum nvel de escolarizao, e

    apenas, 1% recebe essa escolarizao na lngua de sinais, por isso a FMS (Federao

    Mundial dos Surdos) tem como prioridade o desenvolvimento de atividades para as

    comunidades surdas mais excludas.

    A Federao Mundial dos Surdos FMS1 uma organizao no governamental

    em nvel internacional e representa aproximadamente 70 milhes de surdos em todo o

    mundo que fazem parte das comunidades surdas de 123 paises. Sua principal funo a de

    congregar as Associaes, Federaes e outras Organizaes Nacionais de Surdos. No

    Brasil a Federao Nacional de Educao e Integrao de Surdos FENEIS sua

    representante e conta, por sua vez, com cerca de 130 filiadas brasileiras entre escolas e

    associaes de surdos. O surdo politizado no se considera deficiente e sim membro de

    uma comunidade cultural elingstica. Por isso muito importante, para ele, divulgar sua

    lngua, que sua maior especificidade, sendo essa atualmente sua luta maior.

    Paradoxalmente, para os surdos, no presente processo, a informao e a comunicaotm sido suas principais ferramentas. A forte coeso existente entre essa populao, fruto

    do isolamento construdo pela dificuldade de comunicao com o mundo ouvinte, forma

    um lao moral apertado e empurra suas lideranas a no admitir disfarces e a lutar pela sua

    autodeterminao.

    O objetivo das federaes servir desinteressadamente s pessoas surdas, tendo

    carter educacional, assistencial e scio-cultural. Nossos esforos tem sido pelo

    reconhecimento da Libras que agora j o por lei, mas precisa ser difundida, respeitada e

    estudada. A comunidade surda que sofreu um grande crime, quando teve sua lngua

    discriminada por sculos, merece o apoio dos pesquisadores e lingistas para resgatar seu

    papel.

    1 World Federation of the Deaf - WFD

  • 8/8/2019 919079_5

    23/277

    Na Conferncia Mundial de Educao para todos, realizado em 1994 na Espanha, o

    documento resultante, denominado Declarao de Salamanca preconiza a necessidade

    da educao dos surdos ser realizada a partir de sua lngua de sinais, essa necessidade tem

    sido muito pouco respeitada, pois, educar no tem a ver apenas com o que melhor para o

    educando, educar tem tambm muito a ver com quais papis a ideologia dominante atribui

    aos diversos atores que compe a cena educativa.

    Os professores ouvintes da nova escola de surdos centrada na lngua de sinais

    precisam saber usa-la de forma plena, no podem mais simplificar explicaes, facilitar

    textos e articular claramente em portugus ajudando com alguns sinais a exposio dos

    contedos, como se fazia na escola oralista ou na de comunicao total. Agora, devem

    interagir com o aluno em uma lngua que precisa ser plenamente dominada por ambos,

    professor e aluno, que devem ter a mesma possibilidade de comunicar-se.

    A competncia em lngua de sinais por parte dos professores ouvintes poucas vezes

    chega a ser a necessria. Ela uma lngua completa, no uma pantomima. Tem suagramtica e de carter viso-espacial a qual os ouvintes no esto habituados. Tornar-se

    fluente, como um professor precisa ser, uma tarefa sria e demanda tempo e dedicao.

    Novas percepes acompanham a necessidade do esforo por essa nova aquisio e um

    sentimento de inadequao se instala entre os professores, as resistncias embora veladas,

    ou disfaradas de mil maneiras, fazem-se muito presentes.

    Os pais do surdo, (90% dos pais de surdos so ouvintes) tambm precisam aprender

    uma nova lngua e embora muitos manifestem esse desejo a realidade mostra o contrrio.

    Aqueles com filhos j adultos que sabem a lngua de sinais so uma insignificante minoria.Com a melhor aceitao da lngua de sinais, alguns comeam a aprender junto com o filho

    pequeno, ainda poucos.

    Os preconceitos ligados ao rtulo de deficiente so fortes na sociedade, o medo de

    perder o filho para o grupo de surdos com o qual ele sempre quer estar, quando

    compreende o quanto fcil comunicar com a lngua de sinais, latente nas famlias e

    tambm o preconceito contra a lngua de sinais em razo de sua associao com a palavra

    deficincia.

    So poucas as orientaes dadas pelos mdicos aos pais ouvintes que tm uma

    criana diagnosticada surda e muito mais no sentido do oralismo, afinal esta uma conduta

    consolidada. Os fonoaudilogos atentos e atualizados que preconizam a aquisio

    indispensvel da Libras concomitante ao treino da fala ainda no so os mais reconhecidos

    pela comunidade mdica, que envia os pacientes e tenta sempre consert-los. Para isso so

  • 8/8/2019 919079_5

    24/277

    indicadas at medidas extremas de risco para sua sade global, como a dos implantes

    cocleares que, praticados em crianas, so considerados uma violncia pelas comunidades

    surdas organizadas.

    A questo complexa e as lideranas surdas que esto politizadas e tomam a frente

    do processo buscam novas prticas que precisam ser apoiadas pelas instituies que

    pensam a educao com solues novas e criativas que levem em conta, no apenas os

    aspectos formais, mas tambm as relaes subjacentes de poder ainda que veladas,

    inconscientes ou travestidas de boas intenes.

    Geralmente os intrpretes da lngua de sinais so ligados s comunidades surdas,

    em contrapartida aos pais, professores, fonoaudilogos e mdicos que tm uma histria de

    dominao e m comunicao com os surdos. Os surdos sentem-se assegurados pelos

    intrpretes, pois esses, pelo poder de comunicao da lngua de sinais, corporificam a

    possibilidade de resgate da participao. O intrprete ou o tradutor, de qualquer lngua, tem

    grande poder em suas mos. Ele responsvel pela qualidade da comunicao. Os surdosprecisam que esses profissionais sejam bem qualificados, por cursos especficos que se

    estruturem, associados a alguma comunidade surda idnea, isto para que o conhecimento

    que tem da lngua de sinais seja autntico e para que esse profissional possa inserir-se na

    comunidade surda e conhecer sua cultura. necessrio tambm, que essa profisso seja

    regulamentada.

    At hoje muitas famlias ouvintes no concordam com que seus filhos surdos

    participem das comunidades surdas. No valorizam esses espaos que podem construir a

    identidade surda de seus filhos e dar a eles a possibilidade de exercer sua independncia eindividualidade mas, a comunidade ouvinte, com raras excees, no reconhece o lder

    surdo como um interlocutor vlido.

    As aparncias sempre estiveram contra os surdos em relao s suas reais

    capacidades, por sua dificuldade de falar e de compreender aquilo que o ouvinte diz, a

    tendncia natural desses, menosprezar a mensagem da pessoa surda, pela forma como ela

    aparece. Com a lngua de sinais os surdos podem, atravs do intrprete, compreender e ser

    compreendidos, e os ouvintes, so colocados no mesmo nvel, precisam tambm dointrprete ou de aprender uma lngua que no a sua lngua natural.

    O surdo que participa da comunidade surda, quando encontra o grupo de surdos fica

    muitas horas na festa, ou no encontro de rua, ou em qualquer lugar, para dar-se bem

    comunicando com a lngua de sinais. As pessoas surdas que vivem na casa com a famlia

  • 8/8/2019 919079_5

    25/277

    ouvinte se comunicam muito pouco durante a semana. A cultura da famlia um ambiente

    hegemnico ouvinte.

    A coeso das comunidades surdas, embora suas profundas diferenas individuais,

    tem sua explicao na possibilidade da comunicao natural. Em muitas pocas, tachadas

    de guetos, sempre observadas com distanciamento e estranheza pela sociedade, devem sua

    sobrevivncia a esse fator fundamental de ali poder encontrar uma lngua comum.O lder surdo sempre trabalha com o intrprete ou parente da famlia que lhe serve

    de intrprete mas em muitos lugares a viso continua a ser a do colonizado,que muitos

    surdos aceitam. Muitos lderes surdos tm muitas coisas importantes para dizer mas ficam

    prejudicados por um entendimento diferente do intrprete. Por isso nos encontros, quando

    so s surdos, utiliza-se a lngua de sinais para no haver dificuldades de interpretao.

    Acontece de surdos no entenderem algumas mensagens, por estar em outro nvel de

    evoluo poltica, ou mesmo ter pouco conhecimento da lngua de sinais, mas esta uma

    construo que a comunidade surda precisa fazer por si prpria.

    O que pretendo com minha proposta de pesquisa encontra identificao com aquilo

    que uma Pesquisa-Ao pretende que a transformao do objeto social, atravs da

    tomada de conscincia, da construo dos objetivos e da organizao da ao. Na ao,

    essa transformao s pode se dar como prtica poltica, que unifique a prtica cientfica e

    a pedaggica em um objetivo comum.

    Minhas afirmaes esto baseadas na observao, nas discusses, nos documentos da

    literatura impressa sobre o tema, e nas observaes obtidas em minhas intervenes, com o

    objetivo de difundir entre os surdos e os educadores de surdos, o conhecimento e o respeito

    Lngua Brasileira de Sinais - Libras e a sua escrita. Intervenes essas sempre

    acompanhadas de discusses acerca de nossas realidades de vida surda.

    Os encontros pedaggicos semanais, com as crianas, aqui no Brasil, que constam

    dos relatos escolares, tiveram como objetivo especfico o conhecimento e o posterior

    domnio da tecnologia do sistema de escrita SignWriting e do uso do computador com a

    utilizao dos editores de textos Sign Writer e SW-Edit.

    Na Frana, o projeto das entidades francesas que me convidaram a participar da

    sensibilizao a uma escrita de lngua de sinais e a exercer o papel de facilitadora da

    apropriao do sistema SignWriting no inclua o uso da informtica com as crianas, com

    os jovens ou com os grupos de estudos e pesquisa de uma escrita para a LSF.

  • 8/8/2019 919079_5

    26/277

    L, a parte de informtica, que me coube, se caracterizou pelo uso do editor de textos

    SW-Edit nos trabalhos de transcrio realizados na Universidade Paul Sabatier, que

    serviram de suporte para as aulas de SignWriting e de material de pesquisa para o grupo de

    lingistas da Universidade Paris 8.

    2.1 Novos paradigmas oferecidos pelas cincias da mente

    A partir dos anos 60, as pesquisas das neurocincias e as observaes das cincias

    cognitivas comearam a oferecer as bases cientficas para uma nova viso de como poderia

    ser a educao e a comunicao das pessoas surdas. Essas pesquisas, que reabilitaram as

    lnguas de sinais atribuindo-lhes o papel legtimo e insubstituvel de instrumento capaz de

    dar conta das necessidades comunicativas dos surdos, provocaram nas comunidades surdas

    movimentos de luta pelo reconhecimento de suas lnguas, que haviam sido preservadas em

    associaes de surdos, num clima de clandestinidade, desde seu banimento das escolas em1880.

    As cincias cognitivas esto relacionadas ao estudo interdisciplinar da aquisio e da

    utilizao do conhecimento. Elas tm por objeto descrever, explicar e s vezes simular as

    principais disposies e capacidades do esprito humano. As cincias cognitivas tm por

    objeto de estudo inmero programas de pesquisa, dependentes de mltiplas disciplinas, s

    quais fornece sua principal caracterstica que uma determinada concepo das relaes

    entre os diferentes fenmenos visados e, em seguida, entre as disciplinas em questo.

    As disciplinas, parte integrante do conjunto das cincias cognitivas so a lingstica,a psicologia, a antropologia, as neurocincias, a inteligncia artificial, a lgica e a filosofia.

    O cognitivismo coloca trs proposies principais como paradigma para servir de

    objeto de estudo e mtodo dentro dessas disciplinas. A primeira proposio define o

    funcionalismo no sentido estrito: o complexo mente/crebro suscetvel de uma dupla

    descrio, material ou fsica no sentido amplo (a fsica intervindo na realidade pelo vis

    das neurocincias) e informacional ou funcional. Esses dois nveis so interdependentes e a

    relao que se estabelece entre eles semelhante quela que une um computador, enquanto

    sistema fsico, com a descrio do mesmo aparelho enquanto tratamento da informao. As

    duas seguintes proposies caracterizam o aspecto computo representacional da

    doutrina:

    No nvel informacional, o sistema cognitivo do homem caracterizado por seusestados internos ou mentais e pelos processos que conduzem de um estado ao

  • 8/8/2019 919079_5

    27/277

    seguinte. Esses estados representacionais so dotados de um contedo remetendo a

    entidades externas (so tambm semanticamente avaliveis).

    Os estados ou representaes internas so frmulas de uma linguagem interna oumentals, prxima das linguagens formais da lgica. Os processos so aqueles

    que a lgica qualifica efetivos: aes primitivas cuja execuo por uma mquina

    evidente (ela no exige nenhuma interpretao). Eles se identificam ao conjunto das

    receitas: procedimentos descritveis, sem ambigidade e realizveis em um

    nmero finito de etapas elementares, da ordem do reflexo.

    Quanto representao, a teoria interacionista coloca que na interao com o

    meio que o indivduo constitui seu mundo simblico.

    Dois importantes tericos Piaget e Vygotsky que se dedicaram a pesquisar como

    surge o conhecimento chegaram mesma crena de que ele evolui das formas elementares

    para as formas superiores, sendo o desenvolvimento humano, um processo de inter-relao

    (interao) entre o meio social e as bases biolgicas. A tese principal de Piaget mostra queexiste uma continuidade, entre a inteligncia e os processos biolgicos, que ultrapassa o

    condicionamento hereditrio.

    As comunicaes, com o advento da informtica, esto sendo totalmente

    modificadas e a escola est tentando adequar-se introduzindo o computador. As novas

    tecnologias associadas ao computador trazem vantagens para os surdos pois so de carter

    predominantemente visual. As dificuldades para o surdo esto no acesso s ferramentas

    que ele tem a sua disposio para trabalhar. A inacessibilidade do portugus dentro do

    contexto de leituras aparece como uma dificuldade importante.A grande maioria das pessoas surdas, aps completar sua vida escolar, no sabe

    utilizar a lngua escrita em toda a amplitude de suas possibilidades: como meio de

    comunicao, para a reflexo e enriquecimento do pensamento, como fonte de prazer. O

    problema se apresenta em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o nvel mdio de

    proficincia em leitura, ao qual chegam os surdos, ao sair da escola, no lhes permite ler o

    jornal. Na maioria dos outros pases a situao a mesma, ou pior, inclusive no Brasil.

    Isto acontece porque as escolas de surdos tm sido objeto de orientaes

    pedaggicas profundamente equivocadas que no oportunizam, a grande maioria dos

    surdos, a apropriao de sua prpria lngua, nem a do portugus escrito com eficincia.

    Enquanto participantes do processo educacional, sentimos que era necessrio

    buscar uma nova postura pedaggica que aliasse o uso das tecnologias construo do

    conhecimento.

  • 8/8/2019 919079_5

    28/277

    Como desafio, tanto para professores como para os alunos participantes, as metas

    foram voltadas para o desenvolvimento do sujeito ativo, dinmico, autnomo, crtico e

    criativo, interagindo com seus colegas, em um ambiente que envolve a construo de suas

    aprendizagens e a manipulao dos materiais relacionados s tarefas. Essas posturas

    remetem ao termo construtivismo quando relacionado a sistemas computacionais.

    2.2 Aquisio da linguagem

    Na criana pequena a atividade fsica fundamental para toda a aprendizagem. Ela

    aprende a perceber e controlar a correo de suas prprias percepes por meio do manejo

    de objetos e de movimentos do corpo.

    Em Crebro y Lenguaje, Lria (1974) diz que a linguagem essencial para o

    desenvolvimento cognitivo, pois a formao dos processos verbais est relacionada com

    importantes mudanas nas estruturas dos sistemas funcionais do crebro. Surgida entre os

    membros da sociedade primitiva para atender a necessidade de formas de comunicaomais complexas, a linguagem, demandou processos de desenvolvimento do organismo

    biolgico fazendo com que caractersticas fixas em vrias zonas do crebro dessem lugar a

    uma concepo mais adequada de sistemas funcionais e mveis, mediante os quais, o

    organismo se adapta ao ambiente. O perodo mximo de desenvolvimento da linguagem

    vai de mais ou menos um ano e meio at aos trs anos. Nesse perodo a criana precisa

    escutar a interpretao verbal daquilo que experimenta. A linguagem torna-se cada vez

    mais efetiva ao guiar as aes como instrumento da ao simblica.

    Primeiro a criana manipula, depois percebe e finalmente representasimbolicamente. As representaes de ordem superior e tambm coletivas, porque

    precisam ser objeto de convenes que lhe atribuem sentido culturalmente definido,

    constituem-se no signo verbal para as lnguas faladas e no sinal gestual para as lnguas de

    sinais.

    Piaget (1970) na obra: O Nascimento da Inteligncia na Criana, usa a expresso

    psicognese para falar da aprendizagem, pois acredita que esta uma construo

    psicolgica. Ele estudou detalhadamente, por meio da observao exaustiva de seus filhos,

    como se desenvolve a inteligncia na criana, como se d o processo da aprendizagem e

    como se constri a representao simblica que possibilita a ocorrncia da linguagem.

    Observou que certos instintos, reflexos, deixam de funcionar normalmente por falta

    de um meio apropriado. Nos bebs surdos podemos observar este fato, em relao aos

  • 8/8/2019 919079_5

    29/277

    balbucios iniciais, comuns a todos os bebs, tambm aos surdos, que desaparecem ao invs

    de evoluir para a fala por falta do estmulo auditivo, que seria proporcionado pelo meio.

    O contato com o meio no tem por resultado apenas desenvolver reflexos, mas

    tambm coorden-los produzindo uma aprendizagem em funo da interao com o meio,

    assim a criana adapta sua conduta aos diferentes objetos. A criana chupa seus dedos,

    depois outros objetos como o brinquedo etc. Ela assimila estes objetos atividade do

    reflexo levando todos os objetos boca e finalmente vai usar esta conduta para reconhecer

    os corpos.

    A fisiologia do organismo oferece uma montagem hereditria inteiramente

    organizada e virtualmente adaptada, mas que nunca funcionou. A psicologia comea com o

    funcionamento desse mecanismo.

    No beb o exerccio de suco um reflexo hereditrio. As manifestaes do beb,

    concomitantes s repeties do exerccio, expressando diferentes estados de conscincia

    (satisfao raiva calma agitao etc..) mostram que o mesmo estado de conscincia no sereproduz duas vezes idntico a si prprio e apontam para uma significao, pressupondo

    uma utilizao individual da experincia e caracterizando o reflexo como um mecanismo

    causador de um exerccio significante, e por conseqncia, de uma aprendizagem.

    Quanto audio e a fonao Piaget (1970) ainda em O Nascimento da Inteligncia

    da Criana, diz que so reflexos hereditrios que por volta do segundo ms do lugar a

    adaptaes adquiridas. Claramente, durante o segundo ms, o som ouvido provoca uma

    parada, mesmo pouco duradoura, da ao em curso e uma busca clara.

    O ouvido e a voz esto ligados, para a criana, desde o incio da adaptaoadquirida, talvez haja at uma ligao hereditria, mais isso Piaget relata que no pode

    comprovar.

    A adaptao manifesta-se no esforo do beb para reencontrar o novo som

    descoberto por acaso; h uma acomodao perptua dos rgos vocais realidade fnica

    percebida pelo ouvido, seja, o som produzido por ele prprio ou imitao de sons

    produzidos por outros. Aparece a seguir a assimilao por repetio, na medida em que

    cada esquema vocal se consolida funcionando. H assimilao generalizadora, na medida

    em que diversifica progressivamente os sons em combinaes indefinidas. H assimilao

    recognitiva na medida em que a reao circular e a imitao nascente implicam na

    discriminao de determinado som em relao a outro.

    A fonao est organizada em dois sentidos complementares, primeiro na medida

    em que o conjunto de sons produzidos constitui um sistema de articulaes

  • 8/8/2019 919079_5

    30/277

    interdependentes, e depois, na medida em que a fonao se coordena com outros esquemas,

    sobretudo com os esquemas auditivos.

    O beb surdo quando exercita seus reflexos de balbucios iniciais no encontra o

    estmulo externo (sons) que tornaria seu exerccio significativo e, por conseguinte, capaz

    de gerar a aprendizagem da fala.

    A montagem hereditria que se manifesta nos balbucios iniciais (reflexos) deixa de

    funcionar por falta do retorno auditivo impedindo a aprendizagem da fala que se daria na

    troca com o meio. Essa acomodao perptua dos rgos vocais realidade fnica,

    percebida pelo ouvido, deixa de existir no caso dos sujeitos surdos.

    Quanto ao ouvido, at o segundo ms, a nica reao que se observa na criana o

    interesse pela voz. A partir do segundo ms se estabelecem duas coordenaes essenciais:

    coordenao com a fonao e coordenao com a viso. No segundo ms a cabea se move

    em direo ao som e, progressivamente, acontece uma assimilao, que iniciando pelo

    simples prazer de escutar progride para a discriminao e logo o reconhecimento de certossons.

    Da associao entre um som e uma percepo visual pode-se dizer que os esquemas

    visuais e auditivos se assimilam reciprocamente: a criana procura averiguar

    sistematicamente a que quadros visuais correspondem os sons ouvidos isto acontece

    porque ela se esfora para ver tudo.

    Uma vez adquirida a coordenao, do ouvido e da vista, a criana comea a

    procurar sistematicamente, a propsito de tudo, a correspondncia entre os sons e os

    quadros visuais. Nos bebs surdos os esquemas visuais e auditivos, pela ausncia desses,no podem assimilar-se reciprocamente. O beb se esfora para ver tudo, mas chama a

    ateno de seus cuidadores falta de reao aos sons ambientes. O quadro de compensao

    se manifesta na hiper-vigilncia que caracteriza o comportamento de muitos surdos mesmo

    adultos.

    A me surda, trabalha sempre com a ateno visual da criana e jamais inicia um

    jogo ou brincadeira at que a criana olhe para ela. J, quando a me no surda, o beb

    que tenta resolver, pelos seus prprios meios, o problema da comunicao: os bebs surdos

    de pais ouvintes, no expostos lngua de sinais desde o nascimento, comeam a

    desenvolver gestos manuais para expressar seus pensamentos, desejos e necessidades. A

    criana no sofre por parte do meio uma simples presso exterior mas, pelo contrrio,

    procura adaptar-se a ele. Portanto a experincia no recepo, mas ao e construo

    progressiva.

  • 8/8/2019 919079_5

    31/277

    O fato fundamental, para a criana surda que est impedida de adaptar-se

    ativamente ao meio sonoro o de que a lngua oral, cuja representao sonora a palavra,

    no pode ser adquirida naturalmente.

    Observaes realizadas por Karnopp (1999), na aquisio daLibras, investigam trs aspectos do desenvolvimento infantil: a questoda percepo visual, da produo manual e da importncia do inputvisual. O input em lngua de sinais , obviamente, importante para que o

    beb passe para etapas posteriores no desenvolvimento da linguagem.(Karnopp e Quadros, 2001 pg. 217).

    Sobre a aquisio da lngua de sinais, os primeiros sinais ou as primeiras palavras

    aparecem, indiferentemente a qual seja a modalidade da lngua, entre os dez meses e o

    primeiro ano de idade. Esses mesmos estudos mostram que as crianas surdas com pais

    surdos, inicialmente balbuciam com as mos, comeam ento a produzir enunciados de um

    nico sinal, e em seguida, combinam sinais formando sentenas simples. Portanto as

    diferenas na modalidade entre as lnguas orais auditivas e as lnguas gestuais-visuais noobstruem o processo de aquisio de uma lngua.

    A extino da atividade fnica reflexa uma pista importante na descoberta da

    surdez congnita. O ouvido no d nenhum sinal exterior de sua ausncia, por isso, muitas

    vezes a surdez s descoberta quando, na idade apropriada, a criana no comea a falar.

    Testes simples podem ser realizados, ainda no hospital, quando do nascimento dos

    bebs que detectam a surdez, so preconizados pela Organizao Mundial da Sade e

    comeam a ser realizados no Brasil, em alguns locais de excelncia.

    Em sua tese de mestrado (Karnopp, 1994) estabelece um paralelo entredesenvolvimento lingstico de crianas ouvintes e de crianas surdas filhas de pais surdos,

    usurios de Lngua Brasileira de Sinais Libras e conclui pela convergncia das diversas

    etapas de aquisio, incluindo o perodo pr-lingstico e evidenciando os mesmos

    princpios de aquisio compartilhados por crianas surdas e ouvintes.

    O construtivismo de Piaget teve o mrito de superar o empirismo que dizia ser o

    conhecimento fruto exclusivamente da experincia por via das percepes. Ele nos fez ver

    que, entre o dado da realidade e o conhecimento, h uma importante elaborao do

    aprendiz. Conforme Costa (2003), Piaget abstraiu os fatores sociais no estudo do

    desenvolvimento da criana por uma questo metodolgica, durante o processo de

    investigao, porm fica claro no conjunto de sua obra, que considerava o

    desenvolvimento cognitivo dependente de fatores sociais.

  • 8/8/2019 919079_5

    32/277

    Outros pensadores, como Vygotsky, focaram mais a dimenso social dizendo que a

    aprendizagem um fenmeno grupal. O pesquisador russo Vygotsky j em 1925 em ensaio

    sobre a educao de surdos, havia percebido a necessidade do uso da lngua de sinais para

    possibilitar sua educao. Os ensaios infelizmente s foram publicados em ingls em 1989.

    Quando se trata do desenvolvimento das funes psicolgicassuperiores, isto no algo que acontece de modo automtico, para serem

    absorvidas precisam de mediao cultural. Os instrumentos culturaisforam desenvolvidos para as pessoas que tem todos os rgos dossentidos, todas as suas funes biolgicas. A chave para odesenvolvimento da pessoa diferente ser a compensao, o uso de uminstrumento cultural alternativo, para os surdos a lngua de sinais. Elaest voltada para as funes visuais que esto intactas. Constitui o modomais direto e mais simples de permitir o desenvolvimento pleno, o nicoa respeitar a diferena, sua singularidade. (Vygotsky apud Sacks 1989,pg. 63).

    As questes que se referem ao que lngua e como ela est representada no

    crebro, ainda colocam muitos interrogantes para os neurocientistas e lingistas. Quanto necessidade dos surdos utilizarem a lngua de sinais no se encontram mais argumentos

    srios de estudiosos que a contradigam.

    As lnguas de sinais so consideradas pela lingstica como sistemas lingsticos

    legtimos, de modalidade gestual-visual, capazes de proporcionar aos surdos o meio

    apropriado para a realizao de todas suas potencialidades lingsticas.

    No Brasil, a Libras a lngua de sinais que se constitui naturalmente dentro das

    comunidades surdas urbanas. A pesquisadora Ferreira Brito, em 1984, detectou existnciade outra lngua de sinais no Brasil, usada por ndios da floresta Amaznica, no Estado do

    Maranho a Lngua de Sinais Kaapor Brasileira (LKSB).

    A Libras possui suas regras prprias e apresenta estruturas sistemticas em todos os

    nveis lingsticos. Expressa sentimentos, estados psicolgicos, conceitos concretos e

    abstratos, processos de raciocnio.

    2.3 Aspectos formais da lngua de sinais brasileira2

    1.Fonologia:

    - configuraes de mos;

    - alfabeto manual

    - uso de uma mo

    2 De acordo com Karnopp e Quadros, 2001

  • 8/8/2019 919079_5

    33/277

    - usos de ambas as mos com a mesma configurao

    - uso de ambas as mos com configuraes diferentes,

    - uso de movimentos simtricos, uso de movimentos alternados,

    - explorao dos pontos de articulao dentro do espao de sinalizao

    2. Morfologia:

    - marcao de plural,

    - de intensidade,

    - de modo,

    - de tempo,

    - de forma,

    - de tamanho,- classificadores,

    - incorporao de negao

    3. Sintaxe:

    - explorao do uso do espao (organizao de objetos e referentes presentes e no-

    presentes);

    - uso da marcao de concordncia nos verbos com concordncia

    - uso dos elementos necessrios para marcao de concordncia com verbos sem

    concordncia (auxiliar, ordem linear, topicalizao, foco)

    - uso de estruturas complexas (interrogativas, relativas e condicionais)

    - uso de topicalizao

    - uso de estruturas com foco

    - uso de marcao no-manual gramatical para realizao de concordncia,

    perguntas QU e sim/no, negao, topicalizao e foco

    4. Semntica

  • 8/8/2019 919079_5

    34/277

    - emprego de relaes de significado no nvel lexical (antonmia, sinonmia,

    homonmia, do polissemia, etc.)

    - explorao dos aspectos relacionados ao significado da sentena

    5. Pragmtica

    - explorao de implicaturas

    - figuras de linguagem

    - formas de polidez na linguagem

    2.4 Aquisio da escrita

    A evoluo da escrita3, que est intimamente ligada ao processo civilizatrio, no

    foi linear, houve mistura de muitos sistemas e variantes ao longo do tempo. A evoluo da

    escrita, usada no mundo ocidental, corresponde a um aumento da geratividade, com a

    reduo progressiva do nmero de unidades mnimas que se tem de aprender para poder

    escrever. Ela evoluiu, no sistema alfabtico, de milhares de ideogramas, a centenas de

    slabas para apenas cerca de quarenta relaes grafema-fonema.

    Os primeiros registros escritos so os pictogramas desenhos que representavam

    analogicamente objetos e eventos.

    Seguiram-se os ideogramas ou logogramas representaes padronizadas que

    facilitavam o reconhecimento por um maior nmero de pessoas.

    Surge ento, a idia de incorporar aos registros escritos elementos das lnguas

    faladas para tornar o significado mais claro e unvoco, pois acontecia polissemia, isto :

    multiplicidade de significados possveis de se atribuir s figuras. O rebus, que ento surgiu,

    foi uma figura para evocar no os significados visualmente aparentes, mas sim aqueles

    formados pelo encadeamento dos sons da palavra. Ao tornar os sons visveis, o rebus

    passou a permitir representar conceitos abstratos com muito maior clareza. Os rebus j

    eram usados, junto aos hierglifos e misturados a ideogramas para acrescentar pistas. Porexemplo, um rebus de um ramo cujo som era (re) colocado junto figura que representava

    pagar para significar (reembolsar).

    3 Resgate histrico partir de Problemas de Leitura e escrita (Capovilla, 2000) e Alfabetizao e Lingstica(Cagliari, 2002).

  • 8/8/2019 919079_5

    35/277

    Os silabrios, que foram etapa seguinte, ainda tinham uma baixa geratividade. Por

    exemplo, o sistema cuneiforme da Mesopotmia continha quase 600 sinais, o que

    dificultava muito sua aprendizagem.

    A inveno do sistema de escrita alfabtico foi devida percepo de que a escrita

    pode ser organizada mais eficientemente representando cada som da lngua por um sinal

    especfico. Esse tipo de organizao reduz muitos os sinais necessrios, pois em umalngua os sons em geral somam menos de quarenta. A introduo das vogais surgiu apenas

    no primeiro milnio antes de Cristo na Grcia.

    A escrita alfabtica um sistema funcional complexo que tem sua origem na

    anlise dos sons da linguagem, da separao de certos sons do fluxo da linguagem e de sua

    transformao em fonemas constantes e generalizados. Esse primeiro passo que implica a

    funo integrada do sistema udio-articulatrio cria a potencialidade para a escrita. O

    passo seguinte a identificao desses sons, nos diversos contextos sonoros em que

    aparecem, e a anlise de sua dependncia das posies que ocupam nas diferentes palavras.

    Apenas quando correm essas condies torna-se possvel traduzir os fonemas em grafemas,

    que podem ser representados mediante aes motoras e desenvolver o sistema de

    movimentos uniformemente conexos, caractersticos da escrita, quando convertida em uma

    atividade automtica.

    necessrio pontuar que em todo o desenrolar desse complexo funcionamento

    participam as conexes preliminares que se estabelecem em relao com a linguagem

    interna e que, por meio de um feedback contnuo jogam o papel de alimentador e reguladordo processo. A escrita tem a inteno de poder ser lida por algum por isso a escrita tem

    sempre uma motivao.

    A escrita alfabtica um sistema gerativo que possibilita ler qualquer palavra nova.

    Ela permite a auto-aprendizagem pelo leitor. O processo aos poucos contribui para criar

    uma representao ortogrfica de cada palavra, que ser ento lida pela rota lexical, o que

    acontece com as palavras j bem conhecidas e que aparecem com freqncia.

    A configurao atual de uma lngua est na relao entre os seus elementos e nono valor intrnseco deles. Os elementos individuais adquirem sentido, conforme se

    posicionam, dentro da configurao particular que constitui uma determinada lngua.

  • 8/8/2019 919079_5

    36/277

    Quanto ao significado dos elementos, ele arbitrrio, atribudo pela comunidade

    falante, ou sinalizante, que vai incorporando novos vocabulrios, ou no caso das lnguas de

    sinais novos sinalrios4, em uma construo que social.

    2.5 Escrita alfabetizao e letramento

    O modelo descrito de evoluo da escrita ao longo da evoluo cultural da

    humanidade parece se repetir na ontognese, durante o processo de alfabetizao.

    A criana comea desenhando e contando histrias longas sobre seus desenhos,

    nessa fase, para ela, o desenho e a escrita so indiferenciados. Aos poucos a escrita vai se

    diferenciando do desenho, a criana vai construindo hipteses e fazendo experimentaes

    at chegar a busca de uma correspondncia termo a termo entre os fragmentos grficos e

    segmentaes sonoras, sendo conforme Ferreiro e Teberosky....a considerao das

    propriedades formais da escrita e a correspondncia com segmentos sonoros o final dagnese. (Ferreiro 1999, pg. 103)

    A passagem de uma estratgia para a seguinte durante o processo da aquisio

    acompanhada de um aumento na competncia da leitura e escrita. A alfabetizao apenas

    o primeiro passo no exerccio da leitura e da escrita, a capacidade mnima de ler e

    escrever em uma determinada lngua.

    O letramento difere do simples ler e escrever porque pressupe um entendimento

    do uso apropriado dessas capacidades dentro de uma sociedade que est fundamentada notexto impresso. Assim a lectoescrita requer um envolvimento autnomo e ativo com o

    texto impresso e destaca o papel do indivduo no gerar, receber e atribuir interpretaes

    independentes s mensagens.

    Signorini assim define o letramento, conjunto de prticas de comunicao social

    relacionadas ao uso de materiais escritos, e que envolvem aes de natureza no s fsica,

    mental e lingstico discursivas como tambm social e poltico ideolgica

    (Signorini,2001, apud, Lodi,et al, 2002, pg. 35)

    O nvel de letramento que permite um bom funcionamento social varia de uma

    cultura para a outra e tambm dentro de uma mesma cultura. Assim os nveis de letramento

    necessrios ao funcionamento social podem variar. importante, porm que exista uma

    interao entre as exigncias sociais e a competncia individual. Para que isso ocorra, a

    4 Sinalrio: conjunto de expresses que compe o lxico de uma determinada lngua de sinais

  • 8/8/2019 919079_5

    37/277

    escola precisa proporcionar ao indivduo a condio de leitor ativo suficientemente apto

    para que, a partir de suas prprias necessidades, consiga gerar, receber e atribuir

    interpretaes independentes s mensagem.

    2.6 Registro da cultura surda

    Do ponto de vista da cultura surda, o uso da lngua oral de seu pas, como nica

    opo de escrita significa no s que as relaes pessoais entre surdos que so

    contemporneos uns dos outros, mas que esto distanciados no espao, bem como, as

    manifestaes dos surdos de outras pocas, precisam ser mediadas e registradas em forma

    escrita numa lngua que no a prpria, o que implica, necessariamente, na interveno de

    um processo de adaptao entre as lnguas de sinais e falada que esto em questo.

    Para compreender a leitura preciso haver uma complementao entre o conhecido,

    que est na nossa cabea, e o desconhecido, que est no papel; entre o que est atrs e o

    que est diante dos olhos. Teatro, narrativas, literatura surda em geral, s podem ser

    escritos aps serem vertidos para uma lngua falada, mesmo quando criados originalmente

    em lngua de sinais. Os surdos no podem construir sua prpria escrita de acordo com sua

    maneira de sinalizar.

    As pessoas surdas tambm acham a lngua de sinais, comoqualquer outra lngua, uma maneira poderosa de expandir suacriatividade e prazer artstico. Teatros nacionais de surdos em vrios

    paises fizeram programas de grande sucesso. Artistas surdos tmconseguido mostrar linguagem de sinais em suas pinturas, ilustraes outrabalhos esculturais. Pessoas surdas de talento criam poesia e humor emlngua de sinais. (YERKER, Anderson, ex-presidente da FMS, 1981).

    A escrita, o poder e a tecnologia so parceiros nas narrativas ocidentais da origem da

    civilizao. A Cultura Surda est minimamente registrada, porque as situaes que os

    surdos vivem, no conseguem escrever em sua prpria lngua.

    No decurso da ltima dcada, apesar da contnua relutncia dos defensores do

    mtodo oral, programas bilnges/biculturais foram incrementados em vrios paises

    europeus. Diferentes abordagens pedaggicas tm caracterizado esses programas. Na

    Alemanha um projeto piloto contempla um bilingismo contnuo dentro da sala de aulas.

    Na Sucia a lngua de sinais a nica lngua de instruo e a lngua oral/escrita do pas

    vista em termos de segunda lngua estrangeira. Na Frana o programa Deux langues pour

  • 8/8/2019 919079_5

    38/277

    une Educatin oferece criana surda uma rea de suporte em lngua de sinais de tempo

    integral.

    Com esses enfoques, o desenvolvimento intelectual e cultural dessas comunidades

    surdas tem evoludo e o caminho natural dessa evoluo passa pela aquisio de uma

    escrita prpria que pode proporcionar o acesso a um novo patamar em suas expresses

    culturais e comunicativas. Com a aprendizagem da escrita de sinais, os surdos vo ter a

    oportunidade de desenvolver uma nova cultura, que a cultura surda escrita, um pouco

    diferente da cultura surda sinalizada.

    No presente trabalho o ponto de partida a identidade situacional da pesquisadora,

    que toma a deciso de tentar posicionar-se a partir da consistncia de padres percebidos

    que tm sentido para si e para outros, mas muitas vezes no esto em conformidade com

    normas culturais vigentes.

    OMEC5 est patrocinando uma grande mudana na educao dos surdos no Brasil,

    cujo projeto de implementao est previsto para se estender por dez anos e cujo objetivoprimeiro a incluso da populao surda nas escolas de ouvintes. Com esse objetivo inicia

    a capacitao de professores ouvintes no uso da lngua de sinais e introduz a figura do

    instrutor surdo.

    As lideranas surdas, embora reconheam o avano que constitui validar a lngua

    de sinais, e o esforo feito pelos responsveis pelo ensino especial para promover uma

    grande mudana na educao dos surdos no Brasil, pontuam que as mudanas precisam ser

    estruturais. O poder de deciso nas escolas e classes para surdos continua s com os