A "árvore da vida" fortalece artesanato e gera renda no Nambi

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A “árvore da vida” fortalece artesanato Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 9 • nº 2008 Abril/2015 Caridade de timbaúba Osepara o roçado da área de secagem da palha da carnaúba na propriedade de dona Emilce de Paulo Santos. De julho a dezembro, quando a força da chuva diminui no Ceará, a família dela se reúne debaixo da árvore para riscar a carnaúba. A palha nova vai para a produção artesanal de vassouras, o pó extraído da palha seca é vendido em Canindé e o que sobra vira bagana, que protege a umidade do solo do roçado. A secagem só é possível nesse período por conta da ausência de chuvas. Tempo em que a produção do roçado costuma diminuir. Para garantir renda para a família o ano todo, Emilce começou a trabalhar com carnaúba, tradição da região onde mora, Nambi, no município de Caridade. A história já tem 33 anos desde que começou. No início, a carga vinha em burros. Hoje, a família conta com transporte em um pequeno caminhão. Ela traz a palha de Apuiarés e os três filhos e outros parentes se juntam para trabalhar. Um risca, outro põe para secar, outro junta a palha seca e bate para extrair o pó. Depois disso, a palha está pronta para o início da confecção das vassouras. Tudo produzido artesanalmente. Emilce lamenta que o trabalho não seja muito valorizado. O produto é vendido no próprio município a um preço que ela considera baixo (R$ 0,25 a unidade). “Dá um trabalho tão grande e é tão baratinho”, diz. Mesmo assim, a produção das vassouras segue durante boa parte do ano. A casa antiga do irmão de Emilce, em frente à casa onde ela vive com a família atualmente, serve de armazenamento de palha e de fardos de vassouras prontas, além de abrigar também o espaço de confecção do material. e gera renda no Nambi

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O pé de timbaúba separa o roçado da área de secagem da palha da carnaúba na propriedade de dona Emilce de Paulo Santos. De julho a dezembro, quando a força da chuva diminui no Ceará, a família dela se reúne debaixo da árvore para riscar a carnaúba. A palha nova vai para a produção artesanal de vassouras, o pó extraído da palha seca é vendido em Canindé e o que sobra vira bagana, que protege a umidade do solo do roçado.

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A “árvore da vida” fortalece artesanato

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 9 • nº 2008

Abril/2015

Caridade

p é d e t i m b a ú b a Os e p a r a o

roçado da área de secagem da palha da carnaúba na propriedade de dona Emilce de Paulo Santos. De julho a dezembro, quando a força da chuva diminui no Ceará, a família dela se reúne debaixo da árvore para riscar a carnaúba. A palha nova vai para a produção artesanal de vassouras, o pó extraído da palha seca é vendido em Canindé e o que sobra vira bagana, que protege a umidade do solo do roçado.

A secagem só é possível nesse período por conta da ausência de chuvas. Tempo em que a produção do roçado costuma diminuir. Para garantir renda para a família o ano todo, Emilce começou a trabalhar com carnaúba, tradição da região onde mora, Nambi, no município de Caridade. A história já tem 33 anos desde que começou. No início, a carga vinha em burros. Hoje, a família conta com transporte em um pequeno caminhão. Ela traz a palha de Apuiarés e os três filhos e outros parentes se juntam para trabalhar.

Um risca, outro põe para secar, outro junta a palha seca e bate para extrair o pó. Depois disso, a palha está pronta para o início da confecção das vassouras. Tudo produzido artesanalmente. Emilce lamenta que o trabalho não seja muito valorizado. O produto é vendido no próprio município a um preço que ela considera baixo (R$ 0,25 a unidade). “Dá um trabalho tão grande e é tão baratinho”, diz. Mesmo assim, a produção das vassouras segue durante boa parte do ano. A casa antiga do irmão de Emilce, em frente à casa onde ela vive com a família atualmente, serve de armazenamento de palha e de fardos de vassouras prontas, além de abrigar também o espaço de confecção do material.

e gera renda no Nambi

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

Para Emilce, “a carnaúba é a árvore da vida. Ela nasce e se cria e nunca é aguada”. A facilidade de encontrar a planta no território cearense se explica porque a planta é nativa da região nordeste. Símbolo do Ceará, a carnaúba gera renda para várias famílias em todo o estado.

Nos meses de chuva, quando “o inverno é bom”, como o povo do sertão costuma dizer, a extração da palha da carnaúba para e o roçado se fortalece. Beneficiária do P1+2, dona Emilce recebeu a cisterna calçadão, de 52 mil litros, em agosto de 2014 e conta que já conseguiu acumular água das primeiras chuvas de 2015. O roçado recém-plantado já tem garantida a água para se sustentar pelos próximos meses. A água da outra cisterna, de 16 mil litros, fica apenas para beber.

Aproveitando o período chuvoso e também a água da cisterna, dona Emilce plantou no quintal pés de melão e de gergelim. Agora ela pensa em aumentar a criação animal também. Por enquanto são dois porcos e uma galinha, além da égua criada pelo filho de Emilce, Adriano.

A vida de dona Emilce segue como se fizesse ciclos, há tempo de plantar, há tempo de colher, há tempo de riscar a palha da carnaúba e há tempo para confeccionar as vassouras. Uma relação harmônica com a natureza, sem esquecer de poupar água. Mas um dos ciclos de Emilce será interrompido para que um novo comece. A água da chuva, que, antes, ela só via cair do céu e se perder no chão, agora é sinônimo de autonomia. Com as cisternas de placas, Emilce e sua família têm controle sobre a água usada na casa e para produção. Um bom “inverno” é sinal de cisterna cheia, de produção garantida, de alimento de qualidade direto da terra. A vida agora tem promessas de melhora.

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