A BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA DE GEOGRAFIA: história e ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GEOGRAFIA E GESTÃO DO TERRITÓRIO A BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA DE GEOGRAFIA: história e pensamento do ensino geográfico no Brasil (1814-1930...) JEANE MEDEIROS SILVA UBERLÂNDIA/MG 2012

Transcript of A BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA DE GEOGRAFIA: história e ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAcircNDIA

INSTITUTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM GEOGRAFIA

AacuteREA DE CONCENTRACcedilAtildeO GEOGRAFIA E GESTAtildeO DO TERRITOacuteRIO

A BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA histoacuteria e pensamento do ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930)

JEANE MEDEIROS SILVA

UBERLAcircNDIAMG

2012

JEANE MEDEIROS SILVA

A BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA histoacuteria e pensamento do ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930)

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da Universidade Federal de Uberlacircndia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutora em Geografia

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Geografia e Gestatildeo do Territoacuterio

Orientadora Profa Dra Vacircnia Rubia Farias Vlach

UberlacircndiaMG

INSTITUTO DE GEOGRAFIA

2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAcircNDIA

Jeane Medeiros Silva

A BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA histoacuteria e pensamento do ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930)

_________________________________________________

Profa Dra Vacircnia Rubia Farias Vlach

Orientadora

_________________________________________________

Profa Dra Mariacutesia Margarida Santiago Buitoni ndash UERJ

Examinadora

_________________________________________________

Profa Dra Rogata Soares Del Gaudio ndash UFMG

Examinadora

_________________________________________________

Prof Dr Deacutecio Gatti Juacutenior ndash UFU

Examinador

_________________________________________________

Profa Dra Rita de Caacutessia Martins de Souza ndash UFU

Examinadora

Data 27junho2012

Resultado Aprovada com Louvor

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Sistema de Bibliotecas da UFU MG Brasil

S586b

2012

Silva Jeane Medeiros 1978-

A bibliografia didaacutetica de geografia histoacuteria e pensamento do

ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930) Jeane Medeiros Silva ndash

2012

394 f il

Orientador Vacircnia Rubia Farias Vlach

Tese (doutorado) ndash Universidade Federal de Uberlacircndia Progra-

ma de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia

Inclui bibliografia

1 Geografia - Teses 2 Geografia - Estudo e ensino - Brasil -

Histoacuteria - Teses 3 Geografia - Bibliografia - Teses I Vlach Vacircnia

Rubia Farias II Universidade Federal de Uberlacircndia Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia III Tiacutetulo

CDU 9101

Aos meus pais Geraldo e Herotildes minha forccedila e meu refuacutegio sempre

AGRADECIMENTOS

Agrave divina forccedila imensuraacutevel que me protege guia e vela pelos meus atos agradeccedilo

pela feacute que me sustenta e me equilibra nos dias difiacuteceis nas alegrias da vida

Agrave Profa Dra Vacircnia Rubia Farias Vlach orientadora e amiga que me acompanha haacute

doze anos indicando-me os caminhos do ensino da Geografia atenta paciente e

generosa sou sua indisfarccedilaacutevel disciacutepula e levarei para sempre as marcas de sua

dedicaccedilatildeo agrave Geografia brasileira transmitidas agrave minha formaccedilatildeo acadecircmica

Agrave minha famiacutelia forccedila oculta que se desvela em zelo e apoio incomensuraacuteveis

Geraldo e Herotildes meus pais Naama minha irmatilde e Deds meu cunhado

Agrave Adrianna Silveira das Neves e ao Itamar Carlos de Jesus Jr pela alegria do

conviacutevio e pela forccedila nos dias difiacuteceis vocecircs satildeo muito especiais e eternos em meu

coraccedilatildeo

Agraves amigas de feacute sonhos e ousadias Liacutevia Silva Sousa e Andreacuteia Mello Laceacute torccedilo

pela forccedila do futuro a nosso favor nenhum plano eacute em vatildeo

Agrave Iacutenia Franco de Novaes amiga tatildeo iacutentegra que me inspira verdadeiramente

Aos amigos da infacircncia geograacutefica Cleacutecio Joseacute Carrilho e Maacutercia Andreacuteia Ferreira

Sousa pelo entusiasmo humor e torcida pessoas muito especiais para mim

Agrave Roberta Afonso Vinhal Wagner e Elza Canuto pelo incentivo sempre

Agrave amiga Miyuki Kurokawa pela torcida carinhosa primeiro do outro lado da ponte do

Araguari e depois do outro lado do mundo mesmo

Agrave Claudia Faacutetima Kuiawinski e agrave Sofia Lorena Vargas Antezana companheiras de

lida sempre dispostas a ouvir e a ajudar

Aos Profs Drs Adriany de Aacutevila melo Sampaio Eucidio Pimenta Arruda e Seacutergio

Luiz Miranda pelo acurado exame e contribuiccedilatildeo por ocasiatildeo da qualificaccedilatildeo da

tese

RESUMO

Considerando que os livros didaacuteticos de Geografia satildeo um dos lugares manifestos do discurso histoacuterico-ideoloacutegico do pensamento geograacutefico no Brasil instituinte tambeacutem da histoacuteria desta ciecircncia o objetivo da tese foi compreender a bibliografia didaacutetica do ensino de Geografia bem como a histoacuteria e o pensamento deste ensino entre as deacutecadas de 1810 e 1930 por meio da descriccedilatildeo da trajetoacuteria constitutiva e da anaacutelise do livro didaacutetico de Geografia e dos discursos dos seus sujeitos Considerou-se a Anaacutelise do Discurso a Histoacuteria das Disciplinas Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo como subsiacutedios teoacuterico-metodoloacutegicos para apreender a bibliografia didaacutetica de Geografia como objeto de pesquisa A bibliografia sistematizou dados referentes a 276 tiacutetulos de 510 ediccedilotildees escrita por 183 autores As primeiras manifestaccedilotildees da Geografia como disciplina independente surgiram no ensino superior na organizaccedilatildeo curricular de alguns dos primeiros cursos cientiacuteficos introduzidos no territoacuterio brasileiro no contexto da formaccedilatildeo da Academia Real Militar (1810) pelo que a Geografia passou a ser estudada em aulas avulsas marcando esse processo o surgimento de livros didaacuteticos no iniacutecio da deacutecada de 1820 ateacute ser introduzida permanentemente no quadro curricular do Coleacutegio Pedro II a partir de 1837 O ensino de Geografia com intensidade variante ao longo de sua trajetoacuteria assumiu um papel cultural um papel nacional e um papel cientiacutefico no contexto da educaccedilatildeo brasileira Os discursos didaacuteticos de Geografia desde seu surgimento inscreveram-se na Geografia moderna em sua vertente claacutessica emergente no seacuteculo XVIII assimilando a estrutura da Geografia Fiacutesica da Geografia Poliacutetica e da Cosmografia como vertentes da sua organizaccedilatildeo modelo que em fins do seacuteculo XIX comeccedilou a apresentar sinais de esgotamento Os anos 1920 foram um divisor de aacuteguas para o ensino de Geografia e para a bibliografia didaacutetica dessa disciplina O sopro da ldquoorientaccedilatildeo modernardquo da Geografia somada ao sentimento de cansaccedilo aferido pela Geografia descritiva a reorientaccedilatildeo dos objetivos do ensino contribuiacuteram para compor um novo quadro didaacutetico para a Geografia O exame da bibliografia permitiu acompanhar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento da Geografia como disciplina escolar Demonstrou como o seu conteuacutedo transgrediu sua funccedilatildeo auxiliar no ensino impliacutecito desse saber caracteriacutestico aos periacuteodos jesuiacuteticos e pombalino ateacute canalizar uma constituiccedilatildeo uacutenica dando voz a uma disciplina formada com lugar e responsabilidades na instituiccedilatildeo escolar entre o reinado e a primeira repuacuteblica Foi possiacutevel ainda examinar questotildees como autoria autoridade legitimaccedilatildeo da disciplina a relaccedilatildeo dos textos com os curriacuteculos propostos a questatildeo das fontes e das traduccedilotildees posicionamentos frentes agrave tradiccedilatildeo agrave metodologia de ensino e agrave formaccedilatildeo dos professores a questatildeo da nacionalidade e outras percebidas enquanto regularidades na dispersatildeo do discurso didaacutetico de Geografia

Palavras-chave Ensino de Geografia Bibliografia didaacutetica de Geografia Geografia Descritiva Curriacuteculo de Geografia Discurso didaacutetico

ABSTRACT

Considering the geography textbooks as one of the places of historical and ideological discourse of geographical thought in Brazil instituting the history of this science the thesis aim to understand the didactic bibliography of geography its history and thought between 1810rsquos and the 1930rsquos through the constitutive description of the trajectory and the analysis of the Geography textbook and the discourses of their subjects It was considered Discourse Analysis History of School Subjects and Curriculum History as theoretical-methodological to grasp the geography teaching for research subject The bibliography systematized data on 276 books 510 editions written by 183 authors The first manifestations of Geography discipline as independent discipline emerged an in superior education in the curriculum of some early science courses introduced in Brazil in the context of Royal Military Academy (1810) formation so the geography began to be studied in independent courses marking this process the emergence of textbooks in the early 1820s being introduced permanently in the curriculum of the Coleacutegio Pedro II from 1837 The geography teaching with an intensity variation along its trajectory assumed a cultural a national and a scientific paper in the context of Brazilian education The didactic discourses of Geography since its inception enrolled in Geography modern classic emerging in the eighteenth century understanding the structure of the Physical Geography the Political Geography and Cosmography as aspects of its organization a model which at the end nineteenth century began to show signs of exhaustion The 1920s were a watershed for the teaching of Geography and the its didactic literature The modern lines of geography coupled with the feeling of fatigue as measured by descriptive geography the reorientation of the education aims contribute to compose a new framework for teaching geography The examination of the literature allowed the monitoring of the formation and development of geography as a school subject Demonstrated its content violated its auxiliary function implicit in the teaching of this knowledge to channel a unique composition giving voice to a discipline formed with place and responsibilities in the school between the kingdom and the first republic It was also possible to examine issues such as authorship authority discipline legitimacy the relationship of the texts with the proposed curriculum the question of sources and translations fronts positions tradition the teaching methodology and teacher training the question nationality and others perceived as regularities in the dispersion of the geography didactic discourse

Keywords Teaching Geography Bibliography teaching of Geography Descriptive Geography Geography Curriculum teaching discourse

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 01

CAPIacuteTULO 1 ndash UMA PERSPECTIVA TEOacuteRICO-METODOLOacuteGICA PARA A

ANAacuteLISE DA BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA disciplina

curriacuteculo e discurso

12

11 A Histoacuteria das Disciplinas Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo algumas

contribuiccedilotildees para uma histoacuteria da disciplina escolar de Geografia e de sua

literatura didaacutetica

13

12 Anaacutelise do Discurso fundamentos teoacuterico-metodoloacutegicos da interpretaccedilatildeo 25

121 O sujeito a histoacuteria e a ideologia na anaacutelise discursiva a questatildeo

da autoria

28

122 O discurso seus elementos e a formaccedilatildeo do dizer didaacutetico 37

13 Procedimentos metodoloacutegicos da pesquisa da Anaacutelise do Discurso 45

CAPIacuteTULO 2 ndash DESCRICcedilAtildeO DA BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA (1814-1939)

discussatildeo da trajetoacuteria constitutiva dos manuais de Geografia

49

21 A bibliografia didaacutetica de Geografia 49

22 A autoria da bibliografia 87

23 A editoraccedilatildeo 93

24 O desenvolvimento fiacutesico-graacutefico dos manuais didaacuteticos de Geografia 108

CAPIacuteTULO 3 ndash DO ENSINO IMPLIacuteCITO AO ENSINO EXPLIacuteCITO DA

GEOGRAFIA prenuacutencios da disciplina e do livro didaacutetico nos movimentos

histoacutericos anteriores agrave independecircncia poliacutetica do Brasil

121

31 A educaccedilatildeo colonial os primeiros indiacutecios de uma educaccedilatildeo geograacutefica 125

32 A educaccedilatildeo colonial a influecircncia do isolacionismo 136

33 Reinado (1808-1821) o surgimento dos primeiros indiacutecios de uma

literatura didaacutetica de Geografia

139

331 Academia Real Militar do Rio de Janeiro (1810) a primeira

explicitaccedilatildeo da Geografia como disciplina

144

34 Uma avaliaccedilatildeo da posiccedilatildeo da Geografia como atividade de ensino entre

1549 e 1821 prenuacutencios da formaccedilatildeo de uma disciplina geograacutefica no Brasil

161

CAPIacuteTULO 4 ndash DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA

ESCOLAR NO IMPEacuteRIO (1822-1889) o estabelecimento de uma disciplina e

de uma bibliografia didaacutetica

169

41 A educaccedilatildeo brasileira e o ensino de Geografia no periacuteodo Imperial 172

411 Da Assembleia Constituinte de 1823 ao Ato Adicional de 1834 o

entreposto da consolidaccedilatildeo da Geografia como disciplina

174

412 Curriacuteculo e ensino de Geografia no Impeacuterio o papel do Coleacutegio

Pedro II

180

42 O curriacuteculo e a constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no

periacuteodo imperial

200

421 A tradiccedilatildeo da Cosmografia da Geografia Fiacutesica e da Geografia

Poliacutetica

201

422 A bibliografia didaacutetica de Geografia no Impeacuterio 205

423 A formaccedilatildeo do curriacuteculo escolar de Geografia no Impeacuterio 212

CAPIacuteTULO 5 ndash DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA

ESCOLAR NA PRIMEIRA REPUacuteBLICA (1889-1930) permanecircncias e

transformaccedilotildees na disciplina e em sua bibliografia didaacutetica

227

51 A educaccedilatildeo brasileira na Repuacuteblica o lugar da Geografia escolar e sua

proposta curricular

229

52 A constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo republicano 252

521 A bibliografia didaacutetica de Geografia na Repuacuteblica 253

522 A contribuiccedilatildeo de Said Ali o significado da sua proposta de

regionalizaccedilatildeo

257

523 A contribuiccedilatildeo de Delgado de Carvalho a orientaccedilatildeo moderna da

Geografia e sua relaccedilatildeo com o livro didaacutetico

260

524 Antonio Firmino Proenccedila siacutentese das transformaccedilotildees no ensino de

Geografia

265

525 Fernando Antocircnio Raja Gabaglia o ensino de Geografia por

praacuteticas

268

CAPIacuteTULO 6 ndash DISCURSOS NO LIVRO DIDAacuteTICO DE GEOGRAFIA

anaacutelises de elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geograacutefico

272

61 O discurso da designaccedilatildeo das obras 275

62 A formaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia estabelecimento da

Geografia descritiva

287

63 Prefaacutecios proacutelogos notas de advertecircncia apresentaccedilotildees e imprensa os

discursos do entorno

300

631 Estabelecimento da autoria e da obra vozes constitutivas dos

sujeitos e dos discursos didaacuteticos

301

632 A identidade e a legitimidade da disciplina 310

633 Os sujeitos da recepccedilatildeo enunciativa 314

634 A relaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia com os curriacuteculos e

programas

315

635 Enfrentamentos das traduccedilotildees fontes e lacunas do discurso

didaacutetico de Geografia

317

636 Discursos emergentes como oposiccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo da bibliografia

didaacutetica de Geografia

325

637 Enunciados ao professor instruccedilotildees e recomendaccedilotildees dos autores

aos docentes de Geografia

329

638 Posiccedilotildees constitutivas da bibliografia didaacutetica de Geografia quanto

ao nacionalismo

334

64 Livro escolar de Geografia e representaccedilotildees sobre o ensino geograacutefico no

periacuteodo em questatildeo

340

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 351

REFEREcircNCIAS 366

APEcircNDICE 389

01 ndash obras de importacircncia direta para a bibliografia didaacutetica de geografia

brasileira

390

LISTA DE FIGURAS

01 ndash Atos de controle e advertecircncia contra a pirataria de obras didaacuteticas em

exemplares de Henrique Martins (1896) Carlos Goacutees (1918) e Joseacute Theodoro

de Souza Lobo (1927)

85

02 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia

no Brasil (1814-1939)

100

03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica na Europa

(1814-1939)

102

04 ndash Baptiste Louis Garnier (1823-1893) pioneiro das atividades editoriais

para o livro didaacutetico brasileiro e Francisco Alves de Oliveira (1848-1917) que

consolidou o mercado das publicaccedilotildees didaacuteticas no Brasil

107

05 ndash Encadernaccedilotildees tiacutepicas da bibliografia didaacutetica de Geografia ateacute fins do

seacuteculo XIX

110

06 ndash Capa da 5 ed da Chorographia do Brasil de Henrique Martins (1896) a

identificaccedilatildeo da obra desloca-se da lombada e da folha de rosto para a capa

frontal

112

07 ndash Reproduccedilatildeo da folha de rosto na capa do exemplar de 1902 de A Terra

illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica

das cinco de Frere Ignace Chaput (FIC)

113

08 ndash Geographia Elementar de A de Rezende Martins ndash exemplar de 1926

das primeiras obras em formato panoracircmico

114

09 ndash Ilustraccedilotildees e um dos mapas coloridos da obra Curso methodico de

Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto

para uso das escolas brazileiras de Lacerda 1887

116

10 ndash Capa da obra Geographia Elementar de Arthur Thireacute 118

11 ndash Algumas paacuteginas internas da obra Geographia Elementar de Arthur

Thireacute

118

12 ndash Fotografias ilustrando a obra Liccedilotildees de Chorographia do Brasil de

Horacio Scrosoppi

119

13 ndash Esquema da explicaccedilatildeo para o processo de Gormaccedilatildeo das chuvas

proposto por Gabaglia (1930)

270

LISTA DE GRAacuteFICOS

01 ndash Produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia por deacutecada (1814-1939) 86

02 ndash Distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo de livros didaacuteticos por localidade (1814-1939) 99

LISTA DE QUADROS

01 ndash Bibliografia didaacutetica brasileira de Geografia (1814-1939) 51

02 ndash Produccedilatildeo por autoria para autores com mais de dois tiacutetulos de manuais

didaacuteticos de Geografia (1814-1939)

91

03 ndash Descriccedilatildeo das casas publicadoras da bibliografia didaacutetica de Geografia

(1814-1939)

94

04 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1838

188

05 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1841

189

06 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1850

191

07 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1855

192

08 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1857

194

09 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1862

195

10 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1870

196

11 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1876

197

12 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1878

197

13 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1881

198

14 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Compendio de Geographia Universal

rezumido de diversos authores e offerecido a mocidade brazileira de Bazilio

Quaresma Torreatildeo 1824

213

15 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Corografia ou abreviada historia

geographica do imperio do Brasil de Domingos Jose Antonio Rebello 1829

216

16 ndash Plataforma curricular do Coleacutegio Pedro II em 1850 ndash ensino secundaacuterio 217

17 ndash Plataforma curricular executada na segunda e quarta ediccedilotildees de

Pompecirco Brasil

220

18 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia no Coleacutegio Pedro II na

vigecircncia do Decreto n 8051 de 25 de marccedilo de 1881

223

19 ndash Plataforma curricular executada no Curso methodico de Geographia de

Joaquim Maria de Lacerda deacutecada de 1880

225

20 ndash Plataforma curricular executada nos Elementos de Chorographia do

Brazil de Henrique Martins deacutecada de 1880

225

21 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia de acordo com o Decreto

n 981 de 8 de novembro de 1890 para a instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria do

Distrito Federal Reforma Benjamim Constant

232

22 ndash Ensino Primaacuterio Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma

Benjamim Constant (1890-1901)

234

23 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma

Benjamim Constant (1890-1901)

235

24 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de

acordo com o Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901 Reforma Epitaacutecio

Pessoa

237

25 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de

acordo com o Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 Reforma Rivadaacutevia

Correcirca

239

26 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia Coleacutegio Pedro II na

vigecircncia da Reforma Rivadaacutevia Correcirca (1911-1915)

240

27 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de

acordo com o Decreto n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 Art 167 Reforma

Carlos Maximiliano

242

28 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de

acordo com o Decreto nordm 16782-A de 13 de janeiro de 1925 Art 47

Reforma Luiz Alves Rocha Vaz

243

29 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia Coleacutegio Pedro II na

vigecircncia da Reforma Luiz Alves-Rocha Vaz (1925-1931)

244

30 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de

acordo com o Decreto nordm 19890 de 18 de abril de 1931 Reforma Francisco

Campos

249

31 ndash Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Francisco Campos

(1931-1937) para o Curso Fundamental

251

32 ndash Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Francisco Campos

(1931-1937) para o curso secundaacuterio

251

33 ndash Exemplos enunciados de sujeitos-destino da bibliografia 281

LISTA DE TABELAS

01 ndash Populaccedilatildeo e educaccedilatildeo no Brasil ndash 1820-1950 171

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

O Ensino de Geografia foi decisivo para a formaccedilatildeo de um discurso cientiacutefico

geograacutefico no Brasil e uma praacutetica anterior agrave sua institucionalizaccedilatildeo em sociedades

ou na academia esse tem sido um consenso entre os que estudam a histoacuteria e o

pensamento do ensino dessa disciplina Os objetivos da Geografia acadecircmica com

tais raiacutezes tecircm fundamentos que permeiam desde a estruturaccedilatildeo territorial das

atividades econocircmicas nacionais ateacute o processo de constituiccedilatildeo e consolidaccedilatildeo das

proacuteprias regiotildees nacionais unificados aos interesses sociais econocircmicos e poliacuteticos

organizados em construccedilotildees discursivas manifestas em praacuteticas artiacutesticas

midiaacuteticas escolares programas governamentais entre outros elaborando corpos

ideoloacutegicos que sustentaram (e sustentam) essa orientaccedilatildeo Dessa forma considero

a educaccedilatildeo geograacutefica como um dos pilares dos discursos sobre o territoacuterio e

nessas circunstacircncias considero os manuais escolares como um dos pilares

tradicionais desta educaccedilatildeo e como contribuiccedilatildeo da presente pesquisa considero-

os parte importante da gecircnese de um pensamento e praacutetica da Geografia bem

como partiacutecipe da histoacuteria da Geografia e do seu ensino no Brasil

Esses livros ou o seu desenvolvimento e expressatildeo satildeo um indicador

cultural importante e como objetivos discursivos abrigam processos sobre a

formaccedilatildeo de sujeitos efeitos de sentido e efeitos ideoloacutegicos sob orientaccedilatildeo de

alguma discursividade geograacutefica qual seja ela

Natildeo obstante o gecircnero didaacutetico por suas contradiccedilotildees e principalmente

por estar sob a oacutetica de um produto cultural menor na linha dos gecircneros que

documentam a pesquisa acadecircmica foi desconsiderado por muito tempo enquanto

objeto de estudo Os livros didaacuteticos de Geografia a propoacutesito apenas em fins do

seacuteculo XX mais precisamente a partir da deacutecada de 1980 passaram a ser alvo de

artigos dissertaccedilotildees de mestrado e teses de doutorado (PINHEIRO 2005a 2005b

SILVA 2006) Anteriormente a essa deacutecada satildeo poucas as contribuiccedilotildees nesse

sentido Considerando essas pesquisas eacute indiscutiacutevel o viacutenculo entre a produccedilatildeo

dos livros didaacuteticos de Geografia e o discurso institucionalizado dessa ciecircncia sem

aprofundar no meacuterito da questatildeo posso afirmar que as denominadas Geografia

Tradicional Geografia(s) Criacutetica(s) Geografia Humaniacutestica ndash principalmente estas ndash

tiveramtecircm seus professores e autores didaacuteticos (Cf SILVA 2006) Mas quais

seriam essas relaccedilotildees anteriormente agrave institucionalizaccedilatildeo brasileira da Geografia

De onde enunciavam aqueles autores Quais formaccedilotildees discursivas e ideoloacutegicas

orientavam suas praacuteticas enunciativas De quem eram essas vozes que

conformavam um discurso pedagoacutegico para a Geografia Que obras foram aquelas

e quais suas marcas na histoacuteria e no pensamento da Geografia e do seu ensino

Esta pesquisa defende a tese de que os livros didaacuteticos de Geografia satildeo

um dos lugares manifestos do discurso histoacuterico-ideoloacutegico do pensamento

geograacutefico no Brasil instituinte tambeacutem de sua histoacuteria e por isso propotildee estudar

a constituiccedilatildeo do discurso escolar da Geografia por meio de sua bibliografia didaacutetica

identificando os autores pioneiros suas instacircncias de interlocuccedilatildeo e as contribuiccedilotildees

identificaacuteveis e manifestas nesses objetos no que tange agrave formaccedilatildeo da Histoacuteria e do

Pensamento Geograacutefico em um periacuteodo especiacutefico isto eacute aquele que antecede agrave

institucionalizaccedilatildeo da Geografia acadecircmica no Brasil na deacutecada de 1930

procurando em paralelo perceber a construccedilatildeo desse discurso enquanto gecircnero

bibliograacutefico um discurso didaacutetico de Geografia O periacuteodo de abordagem portanto

estende-se desde o tempo dos jesuiacutetas perpassando pelos periacuteodos pombalino e

joanino ateacute o Impeacuterio (1822-1889) quando a educaccedilatildeo brasileira em geral e a de

Geografia em especiacutefico comeccedila a ser organizada alcanccedilando as transformaccedilotildees

que acompanharam o estabelecimento da Repuacuteblica (1889) ateacute o surgimento da

Geografia acadecircmica no paiacutes quando a Educaccedilatildeo brasileira jaacute destituiacuteda da Igreja

Catoacutelica como mentora do ensino e sob orientaccedilatildeo do Estado compartilha com a

Academia (ou com a classe intelectual) a regulamentaccedilatildeo do ensino e por

conseguinte da produccedilatildeo dos livros didaacuteticos intervenccedilatildeo que atinge igualmente os

manuais de Geografia

Portanto concentro meu objeto de pesquisa na bibliografia didaacutetica aqui

sistematizada enveredando pela formaccedilatildeo do ensino de Geografia no que respeita

agrave constituiccedilatildeo da disciplina formaccedilatildeo do curriacuteculo perspectivas sobre esse ensino

e sobretudo o discurso do e sobre o livro didaacutetico de Geografia

O livro didaacutetico de Geografia em geral tendo sua relevacircncia denegada pela

academia quando foi enfim objeto de estudo apenas alguns de seus aspectos

despertaram o interesse da pesquisa as poliacuteticas puacuteblicas a ideologia (ainda que

em uma visatildeo marxista base epistemoloacutegica das Geografias Criacuteticas perspectiva

que fez essas primeiras leituras do livro didaacutetico) a metodologia de ensino natildeo

sendo explorado na totalidade seu papel histoacuterico e epistemoloacutegico Apesar de

contraditoacuterio o livro didaacutetico eacute um produto complexo com ampla margem para a

investigaccedilatildeo cientiacutefica sendo uma lacuna a produccedilatildeo de perspectivas histoacutericas que

compreendam e esclareccedilam aspectos que engendram o surgimento e o

desenvolvimento da Geografia e do seu ensino no Brasil

Considerando que os textos didaacuteticos de Geografia (e por conseguinte o

ensino dessa disciplina) anteciparam a institucionalizaccedilatildeo acadecircmica da ciecircncia e

muitos de seus debates inclusive o da ldquoorientaccedilatildeo modernardquo (Said Ali e Delgado de

Carvalho dentre outros que seratildeo examinados nessa pesquisa satildeo exemplos

desse processo sendo esta expressatildeo de Delgado) verifica-se a necessidade de se

avanccedilar no debate sobre os discursos materializados nessa bibliografia mesmo

porque o livro didaacutetico em si foi das primeiras formas de institucionalizaccedilatildeo do

discurso geograacutefico Em pesquisa anterior em niacutevel de dissertaccedilatildeo de mestrado1

identifiquei um significativo desconhecimento sobre a histoacuteria do livro didaacutetico de

Geografia no Brasil particularmente suas relaccedilotildees com a academia e com outras

fontes de produccedilatildeo da pesquisa e do conhecimento geograacutefico sobretudo um

desconhecimento sobre o periacuteodo delimitado para esta pesquisa dado que as

pesquisas existentes sobre o livro didaacutetico se concentram prioritariamente na

produccedilatildeo contemporacircnea

Esse desconhecimento leva a prevalecer lugares comuns simplistas e

simplificadores ao referenciar o ensino de Geografia e os livros didaacuteticos do periacuteodo

em recorte a noccedilatildeo de que existiriam poucos e raros livros de Geografia a

prevalecircncia de textos importados o discurso apoliacutetico natildeo cientiacutefico satildeo algumas

das reduccedilotildees que se engendram no desconhecimento histoacuterico do livro didaacutetico de

Geografia

O preenchimento de tais lacunas anima o debate do ensino de Geografia e

subsidia a formaccedilatildeo de professores desta disciplina pois auxilia o esclarecimento de

um passado ainda sem luz apropriada alocado na penumbra que antecede um

1 SILVA Jeane Medeiros A constituiccedilatildeo de sentidos poliacuteticos em livros didaacuteticos de geografia

na oacutetica da Anaacutelise do Discurso 2006 275 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Instituto de Geografia Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia 2006

periacuteodo bem mais conhecido ndash o da Histoacuteria do Pensamento Geograacutefico e do ensino

dessa ciecircncia ndash apoacutes a institucionalizaccedilatildeo acadecircmica da ciecircncia geograacutefica no

Brasil embora seja parte constituinte da realidade atual Sobretudo contribui para

demover certas anaacutelises destituiacutedas de compreensatildeo do periacuteodo em foco tais como

as mencionadas acima o que leva muitos pesquisadores a fazer avaliaccedilotildees

errocircneas e anacrocircnicas do ensino meacutetodos e materiais daqueles anos tornando-as

um consenso amplamente reproduzido de especial maneira no acircmbito da formaccedilatildeo

de professores de Geografia

O contexto das pesquisas do Ensino de Geografia nesse iniacutecio de milecircnio eacute

propiacutecio agrave valorizaccedilatildeo do livro didaacutetico como objeto de pesquisa e fonte da produccedilatildeo

de conhecimentos a distacircncia entre livro didaacutetico de Geografia e a pesquisa

acadecircmica tende a ser reduzida pelo menos em vista da crescente quantidade e

qualidade de trabalhos sobre o tema a partir do final da deacutecada de 1990 A

propoacutesito em se tratando de uma atividade com linguagem(ns) ndash autoria escrita

formaccedilatildeo bibliograacutefica ndash eacute oportuna a utilizaccedilatildeo da Anaacutelise do Discurso como

sustentaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de uma compreensatildeo do livro didaacutetico de

Geografia aliada a algumas perspectivas da Histoacuteria das Disciplinas Escolares e da

Histoacuteria do Curriacuteculo enquanto sustentaccedilatildeo para a construccedilatildeo de um corpo histoacuterico

para anaacutelise A linguagem por si soacute jaacute contorna com relevacircncia a proposta uma vez

que com a Anaacutelise do Discurso inova-se a questatildeo da interpretaccedilatildeo que perpassa

pelas praacuteticas de produccedilatildeo e recepccedilatildeo textuais fazendo desse campo de estudo

uma contribuiccedilatildeo vigorosa para o debate da educaccedilatildeo geograacutefica quanto agrave

consideraccedilatildeo de relaccedilotildees que atravessam a linguagem a Histoacuteria a ideologia as

condiccedilotildees de produccedilatildeo discursiva e ainda a constituiccedilatildeo dos sujeitos e dos

sentidos que entrecruzam a tessitura da Histoacuteria da Geografia no Brasil

Por objetivo geral proponho compreender a bibliografia didaacutetica do ensino

de Geografia bem como a histoacuteria e o pensamento deste ensino entre as deacutecadas

de 1810 e 1930 por meio da descriccedilatildeo de sua trajetoacuteria constitutiva e da anaacutelise dos

discursos dos seus sujeitos

As etapas de efetivaccedilatildeo dessa proposta objetivam especificamente

a) Buscar elementos teoacutericos e metodoloacutegicos que auxiliem a

compreensatildeo da disciplina e da bibliografia didaacutetica de Geografia

sobretudo na Anaacutelise do Discurso de linha francesa

b) Reunir referecircncias da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo

entre a refuncionalizaccedilatildeo da Colocircnia brasileira para sediar o Reino

portuguecircs ateacute o momento contemporacircneo agrave institucionalizaccedilatildeo da

Geografia acadecircmica no Brasil sistematizando autores e obras que

subsidiaram o ensino de Geografia brasileiro

c) Compreender historicamente a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da

disciplina nos movimentos histoacutericos que a definiram procurando

perceber os reflexos desses movimentos na bibliografia didaacutetica de

Geografia

d) Analisar elementos constitutivos do discurso instituinte da

bibliografia sistematizada na pesquisa identificando posiccedilotildees

autorais discursos e efeitos de sentido que esbocem a partir dela

os lugares da Histoacuteria do Ensino de Geografia brasileiro

Esse percurso agrega significados agrave Geografia brasileira e ao seu ensino

aleacutem de ressignificar o livro didaacutetico de Geografia e seus autores como objeto de

estudo e documento das praacuteticas geograacuteficas no Brasil

Para conduzir a proposta de conhecer o pensamento e o ensino geograacutefico

por meio dos sujeitos sentidos e fundamentos ideoloacutegicos que paulatinamente

tomam forma de um gecircnero integrante do discurso geograacutefico constituindo um

acervo de obras e de referecircncias didaacuteticas utilizo as teacutecnicas da pesquisa

bibliograacutefica como ponto inicial para vislumbrar de acordo com as possibilidades da

pesquisa a histoacuteria do livro didaacutetico de Geografia de 1814 ateacute o final da deacutecada de

1930 Defino este periacuteodo tomando como marco inicial a publicaccedilatildeo da obra

Elementos de Astronomia para uso dos alumnos da Academia Real Militar de

Manoel Ferreira de Arauacutejo Magalhatildees publicada no Rio de Janeiro em 1814 pela

Impressatildeo Reacutegia O periacuteodo de abordagem encerra-se sem limite preciso na deacutecada

de 1930 quando a Geografia foi institucionalizada no Brasil de acordo com o

modelo de produccedilatildeo e formaccedilatildeo que perdura ateacute a atualidade afirmando alguns dos

viacutenculos entre a academia e a produccedilatildeo dos manuais didaacuteticos de Geografia mas

sem necessariamente aprofundar a questatildeo dessa institucionalizaccedilatildeo nesse

momento da pesquisa Apesar de limitar a sistematizaccedilatildeo ao ano de 1939 algumas

ediccedilotildees de anos anteriores satildeo reeditadas nas deacutecadas seguintes registros

contabilizados na pesquisa pois o criteacuterio para a inclusatildeo de um tiacutetulo na relaccedilatildeo foi

o ano da primeira ediccedilatildeo ou ediccedilatildeo mais antiga identificada

Em linhas gerais trata-se de uma pesquisa exploratoacuteria visando

proporcionar a discussatildeo de um problema ndash a produccedilatildeo da literatura didaacutetica de

Geografia no periacuteodo anterior agrave institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica ndash um tema

ainda pouco conhecido entre os historiadores do pensamento e do ensino

geograacutefico

A pesquisa portanto foi iniciada com um exaustivo levantamento de

referecircncias e produccedilatildeo de fichas para localizaccedilatildeo acesso ou obtenccedilatildeo das fontes

primaacuterias ou de dados a elas relacionados Foram consultados cataacutelogos de diversas

bibliotecas de universidades brasileiras bem como cataacutelogos virtuais da Bibliotegraveque

Nationale de France o Banco de Dados de Livros Escolares Brasileiros (1810 a

2005) ndash LIVRES o Acervo Geral e Acervo de Obras Raras da Fundaccedilatildeo Biblioteca

Nacional (Rio de Janeiro RJ) e da Biblioteca Arthur Viana (Beleacutem PA) Consultei

tambeacutem cataacutelogos e extratos de cataacutelogos de editoras cataacutelogos de exposiccedilotildees

geograacutefica e pedagoacutegica aleacutem de consultar acervos particulares e obras de

referecircncia bibliograacutefica (SILVA 1870 BLAKE 1883 1893 1895 1898 1899 1900

1903 GARRAUX 1962 MORAES 1969) Dentre os indicadores de busca

destacaram-se os termos geographia2 chorographia compendio cosmographia

geografia geographico geograacutefico geograacutefica geographica corographia

corografia Seguiram-se o levantamento de criteacuterios histoacutericos para classificaccedilatildeo dos

2 O periacuteodo em abordagem nesta tese passou por diversas formas de ortografia da liacutengua

portuguesa Diante disso as transcriccedilotildees diretas seratildeo sempre de acordo com a ortografia vigente na fixaccedilatildeo do texto agrave eacutepoca agrave exceccedilatildeo de alguma transcriccedilatildeo cujo acesso obtido jaacute constasse com uma atualizaccedilatildeo Os nomes dos autores igualmente teratildeo observados a ortografia corrente agrave eacutepoca de sua existecircncia ou registro

grupos de referecircncias seleccedilatildeo e anaacutelise destas notadamente os periacuteodos Jesuiacutetico

Pombalino do Reinado Imperial e Republicano com subdivisotildees que se fizeram

necessaacuterias Os principais periacuteodos histoacutericos do territoacuterio brasileiro ficam como

expressatildeo maacutexima do recorte pois satildeo responsaacuteveis por transformaccedilotildees

significativas na educaccedilatildeo brasileira que diferenciam um periacuteodo de outro

Esta etapa inicial permitiu a identificaccedilatildeo de tiacutetulos autores anos e locais de

publicaccedilatildeo definindo um panorama histoacuterico-descritivo que permite entrever o

surgimento e o desenvolvimento dos manuais de Geografia e do ensino desta A

composiccedilatildeo de um panorama bibliograacutefico de obras e autores constituiu o arcabouccedilo

de fontes para construccedilatildeo histoacuterica e anaacutelise

Na delimitaccedilatildeo da pesquisa natildeo foram inscritos o levantamento a anaacutelise ou

a historicizaccedilatildeo de atlas dicionaacuterios cartas globos3 literatura para o ensino ciacutevico

literatura pedagoacutegica e demais materiais dessa linha que embora tenham feito a

histoacuteria da disciplina Geografia constituindo sua literatura considero produtos

complementares e de referecircncia sem a abrangecircncia que os livros escolares

propriamente tecircm Eacute fato inegaacutevel que esses materiais subsidiaram o ensino de

Geografia apresentando viacutenculos diretos com esse ensino mas natildeo satildeo oportunos

a este trabalho neste momento pela necessidade de delimitaccedilatildeo e controle da

extensatildeo da pesquisa de acordo com a estrutura de uma tese apenas me utilizei

dos mesmos marginalmente por necessidade da anaacutelise

Enganos e omissotildees satildeo inevitaacuteveis em trabalhos com bibliografia

sobretudo em periacuteodos com tempo dilatado em deacutecadas e sobretudo deacutecadas e

seacuteculos distantes da atualidade A dispersatildeo eleva os objetos culturais agrave categoria

de raros ou desaparecidos sustendo-se em seus contextos pelo valor e impacto

histoacuterico que tiveram ndash uma condiccedilatildeo que o tempo pode lembrar ou esquecer De

acordo com as condiccedilotildees da pesquisa pretendi elaborar uma base ampla a mais

completa de forma que a pesquisa dispotildee de uma bibliografia dentre as possiacuteveis

para anaacutelise

Nesta tese denomino por ldquobibliografia didaacutetica de Geografiardquo o acervo de

documentos em anaacutelise direta ou indireta ndash dado que nem todos os tiacutetulos satildeo

3 Uma histoacuteria da bibliografia didaacutetica na perspectiva cartograacutefica por ser encontrada na tese A

cartografia nos livros didaacuteticos e programas oficiais no periacuteodo de 1824 a 2002 contribuiccedilotildees para a histoacuteria da geografia escolar no Brasil de Levon Boligian (2010)

acessiacuteveis Atualmente tratamos os objetos em estudo pelo termo ldquolivro didaacuteticordquo

para os quais genericamente empregam-se com regularidade enquanto sinocircnimos

obra didaacutetica livro-texto manual didaacutetico compecircndio Essas designaccedilotildees satildeo

historicamente constituiacutedas compecircndio por exemplo foram os nomes gerais desses

livros em boa parte do seacuteculo XIX dada a concepccedilatildeo e a metodologia de

elaboraccedilatildeo nomeando um conjunto de conhecimentos relativos a uma dada aacuterea do

saber dentre os considerados mais importantes em forma de livro compilados ou

natildeo Livro-texto jaacute eacute uma denominaccedilatildeo mais recente bem como livro didaacutetico

Podem ser compreendidos como livros se forem impressos encadernados

legalmente catalogados publicados4 Por apostilas se a divulgaccedilatildeo do texto sofre

variaccedilotildees em relaccedilatildeo ao padratildeo ldquolivrordquo

Esses materiais nessa pesquisa satildeo tratados quando em conjunto por

duas denominaccedilotildees literatura didaacutetica e bibliografia didaacutetica de Geografia

Por bibliografia didaacutetica compreendo a sistematizaccedilatildeo possiacutevel ao

alcance dessa pesquisa do acervo cujas fontes tenham sido identificadas

acessadas ou adquiridas referem-se tambeacutem consequentemente agrave sistematizaccedilatildeo

de dados como indicaccedilatildeo de autoria titulaccedilatildeo e subtitulaccedilatildeo ediccedilatildeo local e casa de

publicaccedilatildeo ano de publicaccedilatildeo quantidade de paacuteginas impressas e registro de

outros dados complementares agrave caracterizaccedilatildeo formal do livro tais como coleccedilotildees

volumes traduccedilatildeo adaptaccedilatildeo revisatildeo ampliaccedilatildeo Para o levantamento das obras

em estudo poreacutem os dados foram organizados em um levantamento bibliograacutefico

no qual constaram as primeiras ediccedilotildees ou a ediccedilatildeo mais antiga que pude localizar

seguindo uma ordem cronoloacutegica conforme pode ser visto no Quadro Relaccedilatildeo geral

de tiacutetulos por autor - iacutendice por data de primeiras e demais ediccedilotildees ou ediccedilatildeo mais

antiga identificada apresentada no Capiacutetulo 2 O levantamento foi organizado para

que a entrada de cada tiacutetulo registre cronologicamente todas as ediccedilotildees

identificadas da obra Esses documentos apresentam especificidades agrave anaacutelise e agrave

construccedilatildeo histoacuterica da pesquisa conforme abordo apropriadamente no desenvolver

das descriccedilotildees e anaacutelises

4 Publicaccedilatildeo enquanto manifestaccedilatildeo notoacuteria de uma obra seja pelo uso (aquisiccedilatildeo leitura adoccedilatildeo

institucional) seja pela visibilidade mesmo quando natildeo institucional pelas finalidades e direcionamento ao puacuteblico pela integraccedilatildeo a acervos cataacutelogos bem como pela citaccedilatildeo em obras de referecircncias

Por literatura didaacutetica de Geografia entendo todos os aspectos que

extrapolam as dimensotildees fiacutesicas de uma obra ou da bibliografia sobretudo os

aspectos teoacuterico-metodoloacutegicos poliacuteticos sociais ideoloacutegicos e outros que

apresentam continuidades rupturas conflitos contradiccedilotildees mas se desenvolvem na

composiccedilatildeo de uma aacuterea ndash perfazendo uma formaccedilatildeo discursiva em torno desses

objetos Nessa categoria tambeacutem satildeo inclusos atlas dicionaacuterios cartas globos

literatura para o ensino ciacutevico literatura pedagoacutegica e demais materiais dessa linha

que conforme demonstrado embora sejam parte integrante da histoacuteria da disciplina

Geografia natildeo estatildeo em foco nesta pesquisa

O corpus estaacute constituiacutedo assim pela bibliografia didaacutetica na qual se

encontram majoritariamente livros compendiados traduzidos adaptados produzidos

ou importados para o ensino de Geografia brasileiro Marginalmente quando

julgados importantes para a anaacutelise outros documentos de outros gecircneros satildeo

tomados como parte do corpus e como unidade de anaacutelise como jaacute mencionei

A propoacutesito da bibliografia e da literatura didaacuteticas de Geografia considero a

partir de uma visatildeo geral do corpus e do seu contexto que haacute um ensino expliacutecito e

um ensino impliacutecito de Geografia O ensino expliacutecito de Geografia compreende os

programas e curriacuteculos elaborados para o ensino e aprendizagem exclusivo desta

disciplina Geografia com os materiais culturais produzidos para esse fim tais como

as obras da bibliografia O ensino impliacutecito de Geografia compreende por sua vez o

aprendizado e o ensino incidental de conteuacutedos de Geografia em outros programas

curriacuteculos e disciplinas Para exemplificar os livros de leitura os livros do ensino

ciacutevico os livros de Histoacuteria estatildeo todos eivados com discursos geograacuteficos pois as

formaccedilotildees discursivas que justificaram e promoveram o ensino de Geografia em

muito extrapolam os interesses desta disciplina

A pesquisa inicia-se com a construccedilatildeo de uma perspectiva teoacuterica

perpassando pela construccedilatildeo histoacuterica da disciplina e dos manuais de Geografia ateacute

alcanccedilar uma siacutentese analiacutetica do periacuteodo delimitado

Por conseguinte no primeiro capiacutetulo Uma perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica

para a anaacutelise da bibliografia didaacutetica de Geografia disciplina curriacuteculo e discurso

apresento discussotildees relativas agrave Anaacutelise do Discurso e a algumas perspectivas da

Histoacuteria das Disciplinas Escolares e da Histoacuteria do Curriacuteculo no que tocam de perto

ao estudo do objeto proposto e aos objetivos lanccedilados Natildeo se trata propriamente de

fazer uma histoacuteria das disciplinas em geral ou do livro didaacutetico como um todo o que

natildeo eacute objetivo da pesquisa mas de buscar elementos que auxiliem a compreensatildeo

da bibliografia didaacutetica de Geografia tendo na Anaacutelise do Discurso elementos

conceituais e metodoloacutegicos que fundamentem essa compreensatildeo Procuro

portanto construir uma perspectiva para compreender os documentos em anaacutelise

como bibliografia especiacutefica do ensino da Geografia e partiacutecipes do processo de

constituiccedilatildeo discursiva do gecircnero didaacutetico

No segundo capiacutetulo Descriccedilatildeo da bibliografia didaacutetica (1814-1939)

discussatildeo da trajetoacuteria constitutiva dos manuais de Geografia apresento os dados

bibliograacuteficos em sua sistematizaccedilatildeo e discuto aspectos relacionados agrave constituiccedilatildeo

do acervo tais como autoria editoraccedilatildeo apresentaccedilatildeo graacutefica dentre outros

No terceiro capiacutetulo Do ensino impliacutecito ao ensino expliacutecito da Geografia

prenuacutencios da disciplina e do livro didaacutetico nos movimentos histoacutericos anteriores agrave

independecircncia poliacutetica do Brasil percebo na dispersatildeo do ensino jesuiacutetico

pombalino e joanino as raiacutezes da disciplina e da bibliografia didaacutetica de Geografia

com particular atenccedilatildeo agrave Academia Real Militar (1810) instituiccedilatildeo integrante do

movimento de introduccedilatildeo do pensamento cientiacutefico no Brasil e marco no ensino de

Geografia brasileiro

No quarto capiacutetulo Delineamentos constitutivos da Geografia escolar no

Impeacuterio (1822-1889) o estabelecimento de uma disciplina e de uma bibliografia

didaacutetica demonstro o surgimento da Geografia como disciplina consolidada na

educaccedilatildeo brasileira bem como seu desenvolvimento curricular aliando essa

trajetoacuteria a um crescente mercado editorial que seraacute aliado das nascentes

instituiccedilotildees escolares sobretudo do ensino secundaacuterio ambientando a consolidaccedilatildeo

da Geografia como disciplina escolar e a constituiccedilatildeo de um acervo bibliograacutefico

desta disciplina na vigecircncia do Impeacuterio

No quinto capiacutetulo Delineamentos constitutivos da Geografia Escolar na

Primeira Repuacuteblica (1889-1930) permanecircncias e transformaccedilotildees na disciplina e

em sua bibliografia didaacutetica examino o debate e os atos que promovem a

transformaccedilatildeo do fazer e modo de ser da disciplina geograacutefica e da sua bibligorafia

durante a vigecircncia da Primeira Repuacuteblica em fins do seacuteculo XIX ateacute a deacutecada de

1930 tempo em que a Geografia estaacute constituida e institucionalizada e incorporada

de certa tradiccedilatildeo quanto a uma literatura didaacutetica

No uacuteltimo capiacutetulo Discursos no livro didaacutetico de Geografia anaacutelises de

elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geograacutefico procuro analisar as

circunstacircncias e viacutenculos constitutivos da bibliografia observando em seu discurso

como os sujeitos autores se impotildeem no cenaacuterio educacional aspectos da

legitimaccedilatildeo da disciplina a relaccedilatildeo com as propostas curriculares o posicionamento

da bibliografia em relaccedilatildeo a sua proacutepria tradiccedilatildeo o posicionamento com suas fontes

com os professores com as formaccedilotildees ideoloacutegicas

Em um aspecto geral a trajetoacuteria delineada pela pesquisa demonstrou uma

atividade intensa embora fragmentada que participou da delineaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da

Geografia como disciplina escolar respondendo agraves necessidades impostas pela

educaccedilatildeo brasileira reagindo agraves criacuteticas colocadas pela intelectualidade brasileira

de forma a compor um material extremamente rico para a compreensatildeo da histoacuteria

da Geografia escolar e mesmo do pensamento geograacutefico brasileiro

CAPIacuteTULO 1

UMA PERSPECTIVA TEOacuteRICO-METODOLOacuteGICA PARA A ANAacuteLISE

DA BIBLIOGRAFIADIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA disciplina curriacuteculo e discurso

Para alcance dos objetivos propostos nesta tese elejo um corpus de anaacutelise

ndash os manuais de Geografia examinados a partir do discurso didaacutetico desta

disciplina o que eacute um recorte de pesquisa isso porque o discurso didaacutetico da

Geografia se enuncia em diferentes materialidades na produccedilatildeo do professor

(resumos anotaccedilotildees relatoacuterios fala) na produccedilatildeo dos alunos na produccedilatildeo do

Estado (legislaccedilatildeo relatoacuterios programas) nos manuais didaacuteticos na ciecircncia

geograacutefica na imprensa e em tantas outras instacircncias aleacutem da literatura didaacutetica de

Geografia propriamente dita Dessa forma a literatura do ensino de Geografia por

meio da bibliografia suscitada eacute colocada como objeto de estudo e a partir dele

incorporar-se-aacute outras materialidades que se fizerem necessaacuterias para a construccedilatildeo

e a anaacutelise de uma histoacuteria do livro e da disciplina escolar da Geografia dentre

tantas possiacuteveis

A Geografia que se ensina tem uma histoacuteria e um desenvolvimento

peculiares que atravessam sua constituiccedilatildeo e sua institucionalizaccedilatildeo Nesta

pesquisa tomo a Anaacutelise do Discurso como fundamentaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica

para compreender este percurso atraveacutes dos livros didaacuteticos como materialidades

discursivas deste ensino Para isso neste capiacutetulo procuro compreender a Anaacutelise

do Discurso a partir da questatildeo do sujeito e do discurso especificamente o dos

sujeitos autores e o didaacutetico

A Anaacutelise do Discurso como o proacuteprio nome enuncia procede por meio da

anaacutelise como meacutetodo e do discurso como teorizaccedilatildeo Ambos anaacutelise e discurso

transitam em uma circunscriccedilatildeo histoacuterica neste caso a histoacuteria da disciplina de

Geografia Para atingir esse enquadramento teoacuterico parto de algumas das

contribuiccedilotildees da Histoacuteria das Disciplinas Escolares e da Histoacuteria do Curriacuteculo como

definiccedilatildeo de uma perspectiva para compreender a histoacuteria do livro didaacutetico de

Geografia no bojo da qual a pesquisa se propotildee a compreender aspectos das

formaccedilotildees discursivas e ideoloacutegicas que acompanham a emergecircncia e o

desenvolvimento desta disciplina no seacuteculo XIX ateacute a deacutecada de 1930

11 A Histoacuteria das Disciplinas Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo algumas contribuiccedilotildees para uma histoacuteria da disciplina escolar de Geografia e de sua literatura didaacutetica

A anaacutelise discursiva leva-nos a identificar e mover-se nas circuntacircncias da

histoacuteria onde os discursos se filiam e produzem sentido A literatura didaacutetica como

as que compotildeem o objeto desta pesquisa soacute tem existecircncia na vida e dinacircmica de

uma disciplina Organizar e analisar uma bibliografia do ensino de Geografia dessa

forma eacute acompanhar o fazer histoacuterico da disciplina de Geografia No campo da

Educaccedilatildeo duas aacutereas de estudo a Histoacuteria das Disciplinas Escolares5 e a Histoacuteria

do Curriacuteculo tecircm contribuiccedilotildees para auxiliar a construccedilatildeo de uma perspectiva

histoacuterica do Ensino de Geografia quanto agrave sua formaccedilatildeo disciplinar o que inclui

uma compreensatildeo do desenvolvimento curricular e quanto agrave formaccedilatildeo dos seus

manuais didaacuteticos

Bittencourt (2008) ao abordar o problema do saber escolar no acircmbito da

Histoacuteria das Disciplinas Escolares lembra que o mesmo se estrutura em uma triacuteade

o saber a ser ensinado o saber ensinado e o saber apreendido O periacuteodo

delineado para esta pesquisa historicamente distante dos dias atuais dinamizado

em geraccedilotildees jaacute extintas apresenta dificuldades documentais para o estudo do saber

ensinado e do saber apreendido sem inteireza de fatos e repercussotildees de modo

que historicizar a disciplina precisa recorrer a meios indiretos para promover e

construir conhecimentos O seacuteculo XIX natildeo apresenta fartos registros sobre o ensino

de Geografia quanto aos aspectos dos saberes ensinados e apreendidos quando

ainda era iniciante no contexto geral da educaccedilatildeo brasileira a imprensa pedagoacutegica

e algo que se assemelhasse agrave produccedilatildeo de saberes acadecircmicos sobre a educaccedilatildeo

5 Histoacuteria das Disciplinas Curriculares Histoacuteria das Mateacuterias Escolares Histoacuteria dos Saberes

Escolares e Histoacuterias dos Conteuacutedos Escolares satildeo outros campos com afinidades na Educaccedilatildeo agrave Histoacuteria das Disciplinas Escolares (SOUZA JUacuteNIOR GALVAtildeO 2005)

geograacutefica Registros oficiais como relatoacuterios inerentes agrave vida burocraacutetica do Estado

obras memorialistas a literatura ficcional (de forma muito fragmentada) satildeo os

documentos mais pertinentes agrave compreensatildeo da Geografia ensinada no periacuteodo

circunscrito a esta pesquisa para se conhecer os discursos instituintes da Geografia

escolar brasileira Apoacuteiam esta proposta ainda as diversas pesquisas acadecircmicas

sobre o tema embora tambeacutem natildeo sejam muitas Nesse conjunto eacute mais acessiacutevel

o saber a ser ensinado do qual os manuais didaacuteticos a legislaccedilatildeo e os programas

educacionais satildeo documentos muito vivos indicativo do caminho trilhado nesta tese

No contexto da Histoacuteria das Disciplinas Escolares para conhecimento do

saber a ser ensinado satildeo importantes os curriacuteculos e programas a legislaccedilatildeo

pareceres os documentos institucionais (editoras oacutergatildeos da administraccedilatildeo do

Estado e escolar) Sobretudo satildeo importantes os livros didaacuteticos os prefaacutecios

proacutelogos advertecircncias textos introdutoacuterios tiacutetulos das obras informaccedilotildees de folhas

de rosto os iacutendices e propriamente os discursos produzidos e armados nessa

estrutura A documentaccedilatildeo de referecircncia do saber a ser ensinado permite entrever a

proposta de um ensino modelar como ponto de partida para as praacuteticas que seriam

exercidas que resultam no saber ensinado e no saber apreendido De acordo com

Chervel (1990 p 209)

O estudo dos conteuacutedos beneficia-se de uma documentaccedilatildeo abundante agrave base de cursos manuscritos manuais e perioacutedicos pedagoacutegicos Verifica-se ai um fenocircmeno de vulgata o qual parece comum agraves diferentes disciplinas Em cada eacutepoca o ensino dispensado pelos professores eacute grosso modo idecircntico para a mesma disciplina e para o mesmo niacutevel Todos os manuais ou quase todos dizem entatildeo a mesma coisa ou quase isso Os conceitos ensinados a terminologia adotada a coleccedilatildeo de rubricas e capiacutetulos a organizaccedilatildeo do corpus de conhecimentos mesmo os exemplos utilizados ou os tipos de exerciacutecios praticados satildeo idecircnticos com variaccedilotildees aproximadas Satildeo apenas essas variaccedilotildees aliaacutes que podem justificar a publicaccedilatildeo de novos manuais e de qualquer modo natildeo apresentam mais do que desvios miacutenimos o problema do plaacutegio eacute uma das constantes da ediccedilatildeo escolar

A Histoacuteria da Educaccedilatildeo em geral (ou as nacionais) tem tradiccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo ampla Nela eacute recente no entanto a Histoacuteria das Disciplinas Escolares

com atenccedilatildeo especial agrave histoacuteria das disciplinas em particular Chervel (1990)

demonstra que da crise dos estudos claacutessicos a partir de 1850 emergiu uma

perspectiva de ensino fundamentado no exerciacutecio intelectual capaz de formar o

espiacuterito do aprendiz e a essa acepccedilatildeo iniciou-se o desenvolvimento de conjuntos

culturais de conteuacutedos que principalmente a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo

XX associaram-se ao termo ldquodisciplinardquo No sentido original enquanto formadoras

de espiacuteritos as disciplinas aplicavam-se agraves humanidades claacutessicas No seacuteculo XX

reforccedilo desse processo tem-se o fortalecimento de outra classe de estudos ndash os

conteuacutedos cientiacuteficos ndash como motrizes da formaccedilatildeo humana e nesse contexto o

termo ldquodisciplinardquo generaliza-se como classificaccedilatildeo das mateacuterias de ensino

consolidando-se como ldquo[] os meacutetodos e as regras para abordar os diferentes

domiacutenios do pensamento do conhecimento e da arterdquo (CHERVEL 1990 p 181)

Paradoxalmente como demonstro nos proacuteximos capiacutetulos esse processo iniciou

cedo no caso do ensino da Geografia brasileira mas em um movimento espiralado

com dificuldade para estabelecer seu centro seu lugar como disciplina oscilando

entre um saber claacutessico e um saber cientiacutefico

Como tal as disciplinas seriam o espaccedilo da sistematizaccedilatildeo de

conhecimentos introdutoacuterios para um puacuteblico iniciante cujo acesso agrave integralidade

ficaria reservado ao ingresso no ensino superior Aos educadores ou a outros

sujeitos autorizados pelas formaccedilotildees institucionais e governamentais caberiam a

responsabilidade dessa realizaccedilatildeo isto eacute o desenvolvimento e a aplicaccedilatildeo de

meacutetodos de ensino bem como o desenvolvimento discursivo das disciplinas

esquema esse de ampla aceitaccedilatildeo dentre os estudiosos da educaccedilatildeo

frequentemente denominado de ldquovulgarizaccedilatildeo da ciecircnciardquo Chervel (1990) e outros

historiadores das disciplinas questionam esse modelo pelo estreitamento da

perspectiva das disciplinas quanto agrave existecircncia autocircnoma de cada uma

No caso da Geografia se tomamos o consenso da precedecircncia do ensino agrave

ciecircncia (pelo menos na perspectiva da Geografia Moderna e quanto agrave

institucionalizaccedilatildeo desta) com as relativas ressalvas como demonstro em capiacutetulo

posterior permite-se creditar agrave criacutetica de Chervel razotildees para desmistificar esse

posicionamento tradicionalmente aceito Pois na Geografia isso eacute incisivamente

particular muitos dos textos a trabalhar o territoacuterio brasileiro na totalidade possiacutevel agrave

eacutepoca apoacutes o trabalho de Ayres de Casal (1817a 1817b) foram textos didaacuteticos

compendiados e produzidos para as praacuteticas educacionais Na gecircnese da histoacuteria e

do pensamento geograacutefico nesse sentido estatildeo os livros escolares Sobretudo as

instacircncias de produccedilatildeo desses conhecimentos em nada se assemelharam a um

recipiente enchendo-se do jorro de uma ciecircncia acadecircmica em porccedilotildees mais

palataacuteveis aos sujeitos alvos ndash os aprendizes esta natildeo deixaraacute de ter a sua

importacircncia e contribuiccedilatildeo significativa inclusive predominante mas ateacute pouco antes

das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX natildeo satildeo poucos os sinais que asseguram um

fazer tambeacutem autocircnomo para o ensino de Geografia no Brasil Natildeo raro os autores

da bibliografia em questatildeo em prefaacutecios ou notas introdutoacuterias deixam claro que na

elaboraccedilatildeo de seus materiais consultaram acadecircmicos de referecircncia na Geografia

europeia sobretudo franceses mas que lanccedilaram matildeo a consultas proacuteprias em

especial agraves estatiacutesticas governamentais Essa trajetoacuteria atesta que os conteuacutedos

geograacuteficos estatildeo longe de ser reflexos exatos simplificados e vulgarizados de uma

ciecircncia dada antes se formando como uma construccedilatildeo histoacuterica da instituiccedilatildeo

escolar da cultura social desta Aleacutem disso os livros didaacuteticos organizaram uma das

primeiras formas de institucionalizaccedilatildeo do saber geograacutefico no Brasil

A finalidade da educaccedilatildeo e a funccedilatildeo dos professores constituem um

nuacutecleo importante da Histoacuteria das Disciplinas Escolares (CHERVEL 1990)

Contrapondo este princiacutepio com a anaacutelise discursiva torna-se evidente a questatildeo

ideoloacutegica e o papel dos sujeitos na produccedilatildeo de sentidos constitutivos do discurso

didaacutetico ndash duas feiccedilotildees dos livros escolares como instacircncia de produccedilatildeo linguageira

O livro escolar converge essas duas perspectivas enquanto inteacuterpretes do curriacuteculo

formadores de uma concepccedilatildeo disciplinar e propositores de uma metodologia de

ensino os sujeitos autores se comportam como professores consolidando a

percepccedilatildeo mais ampla da educaccedilatildeo em seu tempo Nestas circunstacircncias a Histoacuteria

das Disciplinas Escolares atribui ao curriacuteculo especificamente agrave Histoacuteria do

Curriacuteculo a explicaccedilatildeo sobre porque certos conhecimentos em determinado

momento satildeo ensinados e porque satildeo conservados excluiacutedos ou alterados

(MOREIRA 2007)

O manual didaacutetico testemunha as finalidades do ensino de um conteuacutedo

mas certamente natildeo reflete o ensino como acontecimento e praacutetica social nem os

discursos que se articulam em torno dos sentidos produzidos em seu dizer Apesar

disso o livro didaacutetico eacute um dos pilares do estudo das disciplinas escolares e da sua

historicizaccedilatildeo de maneira que uma das formas de se conhecer a histoacuteria de uma

disciplina eacute por sua produccedilatildeo editorial desde que se reuacutena para tanto um corpus

representativo de suas diversas eacutepocas ndash aquelas de inovaccedilatildeo e as de estabilidade

Em sua produccedilatildeo de acordo com Chervel os conteuacutedos satildeo reapropriados por meio

de uma metodologia de ensino que diferencia os estados de aprendizagens na

produccedilatildeo de livros para o ensino nesse sentido haacute pressupostos na motivaccedilatildeo da

aprendizagem e na organizaccedilatildeo dos saberes em uma progressatildeo contiacutenua Os

conteuacutedos jaacute pela seleccedilatildeo e depois pelo tratamento etaacuterio dispensado

descaracterizam-se em relaccedilatildeo aos seus objetivos originais

O que caracteriza o ensino de niacutevel superior eacute que ele transmite diretamente o saber Suas praacuteticas coincidem amplamente com suas finalidades Nenhum hiato entre os objetivos distantes e os conteuacutedos do ensino O mestre ignora aqui a necessidade de adaptar a seu puacuteblico os conteuacutedos de acesso difiacutecil e de modificar esses conteuacutedos em funccedilatildeo das variaccedilotildees de seu puacuteblico nessa relaccedilatildeo pedagoacutegica o conteuacutedo eacute uma variaccedilatildeo (CHERVEL 1990 p 188)

Os conceitos e processos cientiacuteficos precisam de traduccedilatildeo em niacutevel de

linguagem preacute-existente no caso do discurso didaacutetico Por outro lado haacute a

exposiccedilatildeo dos conteuacutedos Nesta fase haacute a execuccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas que

compreende desde a elaboraccedilatildeo de manuais ndash estrutura riacutegida no meacutedio prazo das

relaccedilotildees de ensino e aprendizagem ndash ateacute as praacuteticas docentes ndash estrutura flexiacutevel

dessa mesma relaccedilatildeo ldquo[] eacute uma variaacutevel que em geral potildee em evidecircncia algumas

grandes tendecircncias evoluccedilatildeo que vai do curso ditado para a liccedilatildeo aprendida no

livro da formulaccedilatildeo estrita [] para as exposiccedilotildees mais flexiacuteveis []rdquo (CHERVEL

1990 p 207) Para Bakhtin (1997) o texto eacute composto a partir de uma estruturaccedilatildeo

definida para o exerciacutecio de uma funccedilatildeo e sua comunicaccedilatildeo O estilo natildeo eacute

meramente a marca de um autor em uma produccedilatildeo de niacutevel teacutecnico poreacutem eacute de

igual modo elemento de unidade de um gecircnero

Ainda na relaccedilatildeo entre ciecircncia e discurso didaacutetico os historiadores da

disciplina escolar satildeo criacuteticos quanto agraves visotildees simplistas da vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia

esta eacute o esteio primo de diaacutelogo da disciplina escolar e dos seus curriacuteculos mas o

saber escolar tem uma trajetoacuteria constitutiva proacutepria Na realidade trata-se de uma

relaccedilatildeo conflituosa com acertos e desacertos encontros duradouros e retrocessos

certamente peculiares a cada disciplina Das ciecircncias as disciplinas querem os

resultados mais conclusivos e abertos a explicaccedilotildees assimilaacuteveis pelos alunos No

caso da Geografia as primeiras fases da produccedilatildeo de manuais verificam essa

questatildeo Em sua maioria eram textos que compendiavam livros e documentos de

diversas instacircncias mas ademais eram produtores de conhecimento ou no

miacutenimo sistematizadores dos mesmos6 A anaacutelise vertical dessa proposiccedilatildeo

apresenta dificuldades devido agraves condiccedilotildees autorais proacuteprias agrave eacutepoca da produccedilatildeo

bibliograacutefica em estudo nesta pesquisa principalmente por natildeo ser comum

referenciar fontes uma praacutetica que relativamente nunca deixou de ser usual na

produccedilatildeo de discursos didaacuteticos Como explicitado posteriormente a

heterogeneidade mostrada (processo discursivo que remete e nomeia o Outro no

acircmbito da enunciaccedilatildeo) natildeo eacute uma marca comum no discurso didaacutetico e quando eacute

tem um funcionamento especiacutefico (complementar e para aprofundar

desenvolvimentos de conteuacutedo ou ilustrar as abordagens em foco por exemplo)

As disciplinas constituem-se de forma aditiva avanccedilando ou retrocedendo

para uma nova composiccedilatildeo no que tange agrave constituiccedilatildeo da sua formaccedilatildeo discursiva

nos quais se alojam os curriacuteculos os meacutetodos os objetivos Satildeo de fato produtos

histoacutericos Seus discursos satildeo acrescidos ampliados reduzidos de acordo com as

necessidades socialmente colocadas e de acordo com o puacuteblico definido para elas

Sua histoacuteria curricular e seus livros textos demonstram esse desenvolvimento satildeo

as disciplinas escolares um

[] vasto conjunto cultural amplamente original que ela [a escola] secretou ao longo de dececircnios ou seacuteculos e que funciona como uma indicaccedilatildeo posta a serviccedilo da juventude escolar em sua lenta propensatildeo em direccedilatildeo agrave cultura da sociedade global (CHERVEL 1990 p 205)

As disciplinas escolares se compotildeem assim pelos meacutetodos de exposiccedilatildeo

dos conteuacutedos expliacutecitos o que eacute funccedilatildeo do professor e tambeacutem dos manuais

Os discursos didaacuteticos satildeo selecionados tanto na ciecircncia como em outras

formaccedilotildees discursivas nas artes na administraccedilatildeo puacuteblica na imprensa nos

saberes claacutessicos e na religiatildeo Nesta perspectiva os historiadores da disciplina

escolar criticam a visatildeo da disciplina como simples vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica

acertadamente A percepccedilatildeo da disciplina eacute ampla e natildeo condiz necessariamente

com uma reduccedilatildeo da complexidade de uma ciecircncia ao ponto palataacutevel dos

estudantes em iniciaccedilatildeo E no que diz respeito agrave ciecircncia nem todos os seus

discursos interessam a um ensino baacutesico seja pela complexidade seja pelo estaacutedio

6 Os manuais de Geografia em nosso caso sobretudo aqueles que abordam o Brasil ou sua

corografia tinham um puacuteblico que ultrapassava os interesses escolares como demosntro no uacuteltimo capiacutetulo desta pesquisa

de suas fronteiras O saber cientiacutefico eacute um corpo em composiccedilatildeo em avanccedilo

apresentando espaccedilos de incertezas de debate de problemas natildeo resolvidos

Majoritariamente o discurso didaacutetico opta pela base mais soacutelida da ciecircncia ou dos

conhecimentos de base historicamente consolidada e mesmo por vezes cristalizada

de acordo com os paradigmas dominantes sendo daiacute que o curriacuteculo escolar se

alimenta

Nesse conjunto o curriacuteculo se apresenta como uma plataforma estrutural

para a literatura didaacutetica A base de estruturaccedilatildeo dos manuais escolares (sejam eles

compecircndios livros didaacuteticos apostilas) perpassa pelo curriacuteculo Um passo

importante agrave autonomia de um conjunto de saberes e por conseguinte agrave gecircnese de

uma disciplina eacute a constituiccedilatildeo de um curriacuteculo aplicado ao ensino a proposiccedilatildeo de

objetivos que definem um lugar para esses saberes na formaccedilatildeo em implemento

No Brasil diferentes movimentos histoacutericos e suas formaccedilotildees marcam a

construccedilatildeo do curriacuteculo em termos gerais as concepccedilotildees jesuiacuteticas o movimento

cientificista do periacuteodo joanino o nacionalismo patrioacutetico a concepccedilatildeo positivista no

periacuteodo inicial da Repuacuteblica o movimento escolanovista o movimento tecnicista

chegando ateacute as formaccedilotildees atuais como o construtivismo e as tendecircncias histoacuterico-

culturais Natildeo entrarei em detalhes nesses movimentos porque os atinentes ao

curriacuteculo de Geografia uacutenico com espaccedilo nessa tese teratildeo desenvolvimento em

capiacutetulo posterior Todavia vale ressaltar que a elaboraccedilatildeo de curriacuteculos observando

alguma teorizaccedilatildeo no acircmbito das instituiccedilotildees somente se verificou apoacutes a deacutecada

de 1920 deacutecada na qual eacute marcante a transferecircncia de influecircncia na educaccedilatildeo da

Franccedila para os Estados Unidos da Ameacuterica Em outras palavras ateacute entatildeo o

curriacuteculo era uma praacutetica das instacircncias educacionais mas natildeo necessariamente

objeto de estudos formais De acordo com Moreira (2007 p 15) as reflexotildees e

praacuteticas com fundamentaccedilatildeo em teoria tiveram a partir daiacute trecircs recortes histoacutericos

na educaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX

O primeiro ndash anos vinte e trinta ndash corresponde agraves origens do campo do curriacuteculo no Brasil O segundo ndash final dos anos sessenta e setenta ndash corresponde ao periacuteodo no qual o campo tomou a forma e a disciplina curriacuteculos e programas foi introduzida [nas] faculdades de educaccedilatildeo O terceiro ndash de 1979 a 1987 ndash caracteriza-se pela eclosatildeo de intensos debates sobre curriacuteculo e conhecimento escolar bem como por tentativas de reconceptualizaccedilatildeo do campo

A deacutecada de 1990 representou outro marco Qual seja contudo sua instacircncia de

emersatildeo o curriacuteculo eacute uma construccedilatildeo histoacuterico-cultural reagindo a repercussotildees

sociais poliacuteticas e culturais Apesar de o periacuteodo anterior agrave deacutecada de 1920 natildeo

contar com uma anaacutelise sistecircmica natildeo significa que natildeo tenha existido Como dito

anteriormente a organizaccedilatildeo do ensino sempre implica a organizaccedilatildeo de um

curriacuteculo

O termo curriacuteculo a propoacutesito tem emprego desde a primeira metade do

seacuteculo XVI no entanto as primeiras teorizaccedilotildees remontam ao iniacutecio do seacuteculo XX

Enquanto praacutetica educativa o curriacuteculo passou a ter difusatildeo do seacuteculo XVI em

diante em universidades coleacutegios e escolas europeus na forma do Modus et Ordo

Parisienses Modus referia-se agraves combinaccedilotildees e subdivisotildees das classes escolares

regidas com instruccedilatildeo individualizada Ordo (ordem) por seu lado referia-se agrave

sequecircncia ou ordem de eventos e tambeacutem agrave coerecircncia do ensino (HAMILTON

1992) Dentre os registros histoacutericos referentes ao curriacuteculo Hamilton (1992) relata

que na Universidade de Leiden (1582) o aluno era certificado quando tinha

completado o curriculum de seus estudosrdquo na Universidade de Glasgow (1633) e

na Grammar School de Glasgow (1643) o curriculum condizia ao curso completo

frequentado pelo aluno

Sua teorizaccedilatildeo desde entatildeo tem evoluiacutedo em associaccedilatildeo agrave compreensatildeo

das transformaccedilotildees no mundo do trabalho e aos processos gerais de produccedilatildeo No

campo da educaccedilatildeo o termo foi definido e redefinido de acordo com as perspectivas

de diferentes eacutepocas a partir do seacuteculo XX Inerente a qualquer organizaccedilatildeo de

ensino na concepccedilatildeo mais claacutessica de curriacuteculo7 tem-se uma estrutura organizada

com conteuacutedos indicados para o ensino de um campo do saber em outras palavras

a definiccedilatildeo mais claacutessica de curriacuteculo eacute ser uma relaccedilatildeo de disciplinas em um curso

e uma relaccedilatildeo de conteuacutedos em uma disciplina organizada em sequecircncia a uma

determinada loacutegica ordenada em um tempo de execuccedilatildeo obedecendo a alguma

proposta ou necessidade institucional

Historicamente a praacutetica do curriacuteculo escolar passou por duas tendecircncias de

estudos sistematizados as concepccedilotildees tradicionais ou conservadoras e as

concepccedilotildees criacuteticas todas influentes na educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XX Nas

7 Do latim curriculum derivado de currere significando caminho trajeto percurso Atribui-se

ainda o significado de ldquoordem como sequecircnciardquo ou ldquoordem como estruturardquo (GOODSON 2001)

teorias tradicionais foi muito influente a compreensatildeo do curriacuteculo a partir das

teorias da administraccedilatildeo particularmente a Teoria da Administraccedilatildeo Cientiacutefica de

Frederick W Taylor (1856-1915) prevalecendo a preocupaccedilatildeo com resultados em

razatildeo da valorizaccedilatildeo dos conteuacutedos objetivos e ensino Atuaria assim como uma

seleccedilatildeo na totalidade cultural conhecida seleccedilatildeo essa relacionada agraves dinacircmicas

sociais ndash poliacuteticas culturais econocircmicas ndash intencional portanto Sob influecircncia das

teorias administrativas predominou a elaboraccedilatildeo de curriacuteculos tecnicistas

denunciados a partir dos anos 1960 na perspectiva da criacutetica ao funcionamento da

sociedade capitalista e do funcionamento das instituiccedilotildees nesse contexto dentre as

quais a escolar (APPLE 1982 MOREIRA 2007) Ateacute as deacutecadas iniciais do seacuteculo

XX o curriacuteculo foi uma praacutetica para a elaboraccedilatildeo de planos de estudo embora em

nada se possa dizer que essa praacutetica fosse neutra e despossuiacuteda dos elementos

que permaneceram na elaboraccedilatildeo de curriacuteculos ateacute a atualidade definiccedilatildeo de

objetivos educacionais debate poliacutetico dentre outras A mudanccedila para objeto de um

campo de estudos sistematizados a contemplar a totalidade das experiecircncias

orientadas a serem vivenciadas pelos estudantes no contexto escolar considerando

os interesses destes surgiu a partir do trabalho pioneiro de John Franklin Bobbit

(1876-1956)8 cuja obra The Curriculum foi publicada nos Estados Unidos em 1918

(MOREIRA 2007) O contexto do surgimento desse campo nos EUA compreendia

as transformaccedilotildees soacutecio-econocircmicas que o paiacutes atravessava entre fins do seacuteculo

XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a transformaccedilatildeo de uma economia agraacuteria para uma

economia industrial com uma populaccedilatildeo predominantemente urbana e vivenciando

os primeiros impactos da imigraccedilatildeo massiva (iniciada no seacuteculo XIX) Os

educadores agravequele tempo sentiam uma ameaccedila agrave homogeneidade da cultura

estadunidense

[] uma cultura centrada na cidade pequena e sedimentada em crenccedilas e atitudes da classe meacutedia A comunidade que os antepassados ingleses e protestantes dessa classe lsquolavraram de um desertorsquo parecia desmoronar-se diante de uma sociedade urbana e industrial em expansatildeo [] (APPLE 1982 p 108)

Os trabalhos de Bobbit e de outros pioneiros direcionavam-se a convergir o

curriacuteculo com as necessidades econocircmicas e culturais da eacutepoca e com inspiraccedilatildeo

8 Outros teoacutericos do curriacuteculo contemporacircneos de Bobbit foram Edward L Thorndike (1874-1949)

W W Charters (1875-1952) e David Snedden (1868-1951) dentre outros

nos princiacutepios da Administraccedilatildeo Cientiacutefica procuraram especificar os objetivos

educacionais para as dinacircmicas da vida social Interessava nesses estudos

preservar [] o consenso cultural e ao mesmo tempo [] destinar aos indiviacuteduos o

seu lsquolugarrsquo adequado numa sociedade industrial interdependenterdquo (APPLE 1982 p

107) A escola foi percebida como uma instituiccedilatildeo partiacutecipe na compensaccedilatildeo dos

problemas sociais ampliando-se a concepccedilatildeo do curriacuteculo para aleacutem de um

conjunto de saberes ou seja compreendendo-o como estrutura para organizaccedilatildeo

de atividades e experiecircncias capazes de moldar o comportamento e o pensamento

do aprendiz Natildeo coincidentemente a experiecircncia e a praacutetica foram integrantes da

proposta curricular de Geografia a partir da deacutecada de 1930 Para tanto o curriacuteculo

poderia dispor de representaccedilotildees da sociedade em padrotildees preacute-definidos de forma

a produzir o humano socializado (MOREIRA 1992 p 15) O passo seguinte foi

dado por Ralph W Tyler (1902-1994) na deacutecada de 1940 e por John Dewey (1859-

1952) um pouco antes De acordo com Moreira (1992) Tyler trabalhou a proposta

progressista de um curriacuteculo tecnicista e Dewey com a consideraccedilatildeo dos interesses

e as atividades da crianccedila tornando-se um importante criacutetico da educaccedilatildeo herdada

do seacuteculo XIX amplamente praticada no Brasil ateacute quase a metade do seacuteculo XX ndash a

pedagogia das liccedilotildees

A escola tradicional estaacute organizada para permitir que se pratiquem certas habilidades mecacircnicas e certas ideacuteias sem cogitar da praacutetica de outros traccedilos morais e emocionais desejaacuteveis em uma personalidade Como aprender com efeito honestidade bondade toleracircncia no regime de lsquoliccedilotildeesrsquo marcadas para o dia seguinte Soacute uma situaccedilatildeo real de vida em que se tenha de exercer determinado traccedilo de caraacuteter pode levar agrave sua praacutetica e portanto agrave sua aprendizagem Daiacute ser necessaacuterio que a escola ofereccedila um meio social vivo cujas situaccedilotildees sejam tatildeo reais quanto as fora da escola (DEWEY 1979 p 57)

A proposta de Tyler foi amplamente aceita Basicamente consistia em

controlar o planejamento do estudo em todos os acircngulos definindo os objetivos

educacionais atraveacutes de um triacuteplice que considerava os interesses e necessidades

discentes o cotidiano extraescolar as sugestotildees dos especialistas nos conteuacutedos

repassando-o pelo crivo filosoacutefico e psicoloacutegico isto eacute dos valores e das condiccedilotildees

de aprendizagem Tratava-se de uma teoria pragmaacutetica voltada para implementar a

visatildeo cultural e ideoloacutegica da ordem social e econocircmica estabelecida Sem espaccedilo

portanto para a diversidade embora por preconizar tantas perspectivas

transparecesse neutralidade A questatildeo clarificada na revisatildeo criacutetica posterior

condizia a quais seriam os interesses os cotidianos as especialidades os valores

elegidos

Na concepccedilatildeo dialeacutetica base das interpretaccedilotildees criacuteticas do curriacuteculo que se

seguiram o Estado articula uma classe social dirigente e uma classe social civil

propondo e atingindo objetivos coesos aos interesses de classes a ser legitimado

pela articulaccedilatildeo de uma ideologia dada sustentaacuteculo da hegemonia que manteacutem o

poder em exerciacutecio (GRAMSCI 1995) Essa compreensatildeo levou agraves teorias criacuteticas

que agiram analiticamente nos silenciamentos das abordagens conservadoras sobre

o curriacuteculo Essas criacuteticas operaram com conceitos como ldquoreproduccedilatildeo culturalrdquo

ldquoemancipaccedilatildeordquo e ldquolibertaccedilatildeordquo embasadas na questatildeo da ideologia Concepccedilotildees

como ldquoaparelho ideoloacutegico do estadordquo ldquoreproduccedilatildeo da estrutura socialrdquo e ldquointeresses

da classe capitalistardquo definiram duas linhas de estudo sobre o curriacuteculo uma

enfatizava os conteuacutedos (originando a Pedagogia Criacutetica dos Conteuacutedos) e outra

chamada genericamente de educaccedilatildeo popular trilhou a reflexatildeo sobre as lutas das

classes trabalhadoras orientando o curriacuteculo a contemplar tanto os conteuacutedos

claacutessicos quanto os conhecimentos profissionais Os fundamentos da teoria criacutetica

para o qual igualmente contribuiacuteram referenciais da psicanaacutelise da fenomenologia e

da hermenecircutica permitiram rever as relaccedilotildees de ensino e aprendizagem a partir

das conexotildees entre saber curriacuteculo ideologia e poder discernindo o discurso

escolar como entreposto de problemas expressos na exclusatildeo escolar atraveacutes da

eleiccedilatildeo curricular de determinadas formas de raciociacutenio que privilegiava alguns

conteuacutedos e silenciava outros

Vistos em retrospectiva de fato os curriacuteculos apresentam visotildees de mundo

sectadas em formaccedilotildees discursivas que expressam determinados valores atuantes agrave

eacutepoca embora atuem igualmente vozes dissonantes capazes de perturbar a

estabilidade e implodir determinados consensos Por isso mesmo tais vozes satildeo

contidas e silenciadas por todos os meios possiacuteveis a interdiccedilatildeo dessas vozes em

termos da bibliografia didaacutetica sinaliza a existecircncia ou natildeo desses materiais e seus

discursos no mercado educacional Algumas obras didaacuteticas de Geografia ilustram

esse processo quando propotildeem uma abordagem ou metodologia natildeo concordante

que resultam na natildeo publicaccedilatildeo ou na natildeo adoccedilatildeo nas escolas eacute o caso das Breves

noccedilotildees para se estudar com methodo a Geographia do Brasil de Praxedes Pacheco

(1857) que analisarei em outro momento Agraves vezes tem aceitaccedilatildeo tiacutemida no

mercado escolar

Mais recentemente o curriacuteculo na perspectiva humanista (teorias

tradicionais) na tecnicista bem como na perspectiva dos curriacuteculos emancipatoacuterios

das pedagogias criacuteticas foi questionado por teorias poacutes-criacuteticas O pensamento poacutes-

estruturalista (movimento ao qual a Anaacutelise do Discurso pertence) desenvolveu

formas de anaacutelise proacutepria para a criacutetica agraves instituiccedilotildees teorizando sobre um conjunto

diversificado de objetos e meios tais como a linguagem a miacutedia as artes dentre

outros de modo que o estudo do curriacuteculo questionou a distinccedilatildeo entre

conhecimento claacutessico e cultura cotidiana Passa-se a considerar um curriacuteculo

flexiacutevel sensiacutevel agraves diferenccedilas culturais A construccedilatildeo e o desenvolvimento de

identidades no entreposto de praacuteticas sociais integram a proposta de teorizaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo dos curriacuteculos proposta que tanto envolve o multiculturalismo quanto a

Anaacutelise do Discurso

A tradiccedilatildeo por seu lado perpassa a histoacuteria dos curriacuteculos No pretexto de

transmitir ndash o sentido etimoloacutegico da palavra eacute entregar (no latim traditio tradere) ndash

praacuteticas conhecimentos atitudes valores normas a elaboraccedilatildeo do curriacuteculo

introduz sutilmente as marcas de uma eacutepoca ao mesmo tempo em que seleciona no

passado o que condiz e silencia ou exclui o que for inconveniente aos interesses em

sustentaccedilatildeo

Esse breve exame teoacuterico e histoacuterico sobre o curriacuteculo a ser aprofundado na

medida em que for necessaacuterio agrave anaacutelise da tese introduz o curriacuteculo como um

nuacutecleo motor ao fazer da literatura didaacutetica contacta os espaccedilos sujeitos

instituiccedilotildees que se cruzam na formulaccedilatildeo do discurso didaacutetico e dos seus objetivos

educacionais

Eacute importante ressaltar que o periacuteodo em anaacutelise tem deficiecircncia de estudos

gerais no sentido epistemoloacutegico do curriacuteculo cujos estudos sistematizados satildeo

marcados a partir do seacuteculo XX como visto No entanto o desenvolvimento atual do

estudo do curriacuteculo permite perceber nuances e tendecircncias integradas agraves praacuteticas

antigas do curriacuteculo no que tange agrave constituiccedilatildeo e agraves transformaccedilotildees de um

curriacuteculo para a Geografia escolar brasileira e para a constituiccedilatildeo de sua bibliografia

didaacutetica

12 Anaacutelise do Discurso fundamentos teoacuterico-metodoloacutegicos da interpretaccedilatildeo

A Anaacutelise do Discurso eacute um campo de estudo interdisciplinar que dialoga a

Linguiacutestica com ciecircncias de formaccedilatildeo social destacando-se por considerar e

valorizar em seu corpo teoacuterico a historicidade inscrita na linguagem e romper a

noccedilatildeo de transparecircncialiteralidade desta demonstrando-a como histoacuterica e

ideoloacutegica

A partir do acervo teoacuterico-metodoloacutegico da anaacutelise discursiva eacute possiacutevel agrave

pesquisa considerar a linguagem como categoria para investigar o processo de

produccedilatildeo de sentidos e seu funcionamento histoacuterico-social Com a Anaacutelise do

Discurso a linguagem passa a ser entendida como produccedilatildeo social circunscrita por

operadores como o sujeito a ideologia a histoacuteria

O campo da Linguiacutestica atual gravita em torno das noccedilotildees de fala liacutengua

linguagem e discurso como objetos de sua construccedilatildeo Essa abrangecircncia permite

que outros domiacutenios do conhecimento dialoguem com seus recursos teoacuterico-

metodoloacutegicos o que auxilia o entendimento de seus objetos de estudo quando em

abordagem linguageira dentre os quais os dispositivos de interpretaccedilatildeo a partir de

uma fundamentaccedilatildeo soacutelida sobre as questotildees da linguagem A Linguiacutestica estrutural

focada na Fala e na Liacutengua9 tal qual se desenvolvia desde a obra seminal de

Ferdinand de Saussure (2008) Curso de Linguiacutestica Geral limitava a compreensatildeo

da linguagem em suas diversas formas e performances

Na Linguumliacutestica estrutural de matriz saussureana a enunciaccedilatildeo podia ser entendida como uma realizaccedilatildeo livre e independente empreendida pelo indiviacuteduo falante o que ademais excluiacutea o discurso do campo dos estudos linguumliacutesticos em um plano de anaacutelise fonoloacutegica ou morfossintaacutetica estavam exclusas as variaacuteveis soacutecio-culturais (SILVA 2006 p 159)

As rupturas com o Positivismo no entanto a partir dos anos 1960

permitiram agrave Linguiacutestica iniciar um diaacutelogo profiacutecuo com diferentes campos do saber

particularmente com a Histoacuteria a Filosofia (em especial com o Materialismo

Histoacuterico) e a Psicanaacutelise Esta interdisciplinaridade interna por sua vez passou a

9 Liacutengua e Fala na acepccedilatildeo saussureana implicam uma oposiccedilatildeo dicotocircmica na qual a Liacutengua eacute

compreendida como o sistema social da linguagem humana e a Fala como apropriaccedilatildeo individual da Liacutengua

permitir que outros campos se aproximassem para o estabelecimento de pesquisas

fundamentadas na interdisciplinaridade conforme assinalado acima Este eacute o

contexto da Anaacutelise do Discurso francesa que procura compreender o discurso

como praacutetica da linguagem De acordo com Gregolin (2003) o deslocamento teoacuterico-

metodoloacutegico da liacutenguafala para o discurso como unidade de anaacutelise despertou o

interesse para aspectos marginalizados na Linguiacutestica estrutural como a conotaccedilatildeo

a retoacuterica a estiliacutestica as estrateacutegias discursivas da argumentaccedilatildeo e sobretudo a

inscriccedilatildeo social na linguagem

Em siacutentese a Anaacutelise do Discurso eacute um dispositivo de interpretaccedilatildeo uacutetil a

qualquer pesquisa que eleja a linguagem como categoria de investigaccedilatildeo O Ensino

de Geografia no comeccedilo do milecircnio presenciou o surgimento de alguns trabalhos

com fundamento teoacuterico-metodoloacutegico na Anaacutelise do Discurso para a compreensatildeo

do livro didaacutetico dessa disciplina dentre os quais Gonzaga (2000) que pesquisou a

terminologia das Geografias Tradicional e Criacutetica Ferreira (2004) com uma anaacutelise

do discurso geograacutefico criacutetico e Silva (2006) com uma anaacutelise discursiva dos

sentidos poliacuteticos em livros didaacuteticos desta disciplina este o primeiro trabalho com

essa perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica no interior da ciecircncia geograacutefica

A Anaacutelise do Discurso como diz o nome desses estudos portanto

desenvolve-se em torno do discurso compreendido a partir da ideia de movimento

curso percurso dos sentidos Por meio desses estudos conforme Orlandi (2002 p

15) ldquo[] procura-se compreender a liacutengua fazendo sentido enquanto trabalho

simboacutelico parte do trabalho social geral constitutivo do homem e da sua histoacuteriardquo A

anaacutelise da linguagem em uma perspectiva discursiva permite um enfoque no

funcionamento da linguagem com as instacircncias da Histoacuteria da ideologia e dos

sentidos pois eacute nessa correlaccedilatildeo que discursos e praacuteticas satildeo produzidos os

conteuacutedos em si (o ldquoo querdquo) apesar de considerados cedem espaccedilo analiacutetico para

uma dimensatildeo processual maior ndash o ldquocomordquo se constituem ldquopor querdquo e como foram

dinamizados

Situada na Linguiacutestica como jaacute aferido a Anaacutelise do Discurso desenvolve-se

desde a deacutecada de 1960 incialmente na Franccedila no momento em que Michel

Pecirccheux apresenta uma obra de rompimento com a Linguiacutestica da frase

estruturalista e positivista centrada na descriccedilatildeo anaacutelise e compreensatildeo interiores

ao enunciado predominantemente delimitado pela frase ndash do fonema agrave sintaxe ndash

que se desloca entatildeo com Pecirccheux em direccedilatildeo a uma Linguiacutestica do discurso

Trata-se de uma Linguiacutestica referente ao imanente segundo o qual se define a frase

de acordo com as relaccedilotildees de seus termos interiores ou seja intrafrasais Nessa

perspectiva natildeo interessava aos linguistas por natildeo conceberem como importantes

ndash dado o objeto e os objetivos circunscritos entatildeo ndash as relaccedilotildees extralinguiacutesticas da

enunciaccedilatildeo ou melhor dizendo as relaccedilotildees transfraacutesticas da enunciaccedilatildeo as

relaccedilotildees para aleacutem da frase

Pecirccheux certamente natildeo estava isolado nessa orientaccedilatildeo10 O

deslocamento da liacutengua para a linguagem interessava a inuacutemeros linguistas em

locais geograacuteficos distintos e assim a Anaacutelise do Discurso foi um dos campos

emergentes dentre os quais se encontram a Sociolinguiacutestica a Linguiacutestica Textual

a Pragmaacutetica a Anaacutelise da Conversaccedilatildeo A Anaacutelise do Discurso se distingue destes

campos pois enquanto aqueles se encaminharam para uma investigaccedilatildeo dos fatos

linguiacutesticos a Anaacutelise do Discurso se expandiu para a investigaccedilatildeo das condiccedilotildees

constitutivas da enunciaccedilatildeo e do discurso pondo em relevo o contexto soacutecio-

histoacuterico na produccedilatildeo dos sentidos e dos sujeitos

Michel Pecirccheux (1938-1983) na Franccedila no que diz respeito agrave formulaccedilatildeo

de uma teoria para a anaacutelise discursiva publicou um dos textos fundadores nesse

sentido nos anos 1960 o livro Anaacutelise automaacutetica do discurso no qual propunha

dispositivos de anaacutelise do discurso como um novo objeto A partir da obra que

escreveria ateacute iniacutecio dos anos 1980 (PEcircCHEUX 1981 1997 1999a 1999b 2001a

2001b 2001c 2002 dentre outras) desenvolveu-se a Anaacutelise do Discurso de linha

francesa ou ldquoderivada de Pecirccheuxrdquo filiada ainda a outros ldquoquatro pilaresrdquo autorais

Louis Althusser (1918-1990) Michel Foucault (1926-1984) Mikhail Bakhtin (1895-

1975) e Jacques Lacan (1901-1981) quanto ao desenvolvimento de um corpo

teoacuterico-metodoloacutegico O substrato epistemoloacutegico portanto da Anaacutelise do Discurso

entrecruza a Linguiacutestica o Marxismo e a Psicanaacutelise para instituir duas categorias

preciacutepuas o sujeito e o sentido no discurso

10

Jean Dubois autor como Pecirccheux ligado agrave Linguiacutestica ao marxismo e agrave anaacutelise poliacutetica igualmente publicou um texto fundante da Anaacutelise do Discurso francesa o artigo ldquoLexicologia e anaacutelise do enunciadordquo em fins dos anos 1960 Nessa mesma eacutepoca surgia outra vertente de rompimento com a Linguiacutestica estrutural na Inglaterra com Norman Fairclough A Anaacutelise do Discurso francesa foi introduzida no Brasil em fins da deacutecada de 1970 por Eni Puccinelli Orlandi que divulgou a obra de Michel Pecirccheux em liacutengua portuguesa e implementou a formaccedilatildeo de analistas discursivos no Brasil (GREGOLIN 2003)

121 O sujeito a histoacuteria e a ideologia na anaacutelise discursiva a questatildeo da autoria

O sujeito na Anaacutelise do Discurso natildeo eacute concebido como centro e origem do

seu discurso poreacutem como uma construccedilatildeo polifocircnica enunciando a partir de um

lugar onde a significaccedilatildeo eacute constituiacuteda historicamente Por conseguinte o sujeito

pode ser compreendido a partir de sua diferenciaccedilatildeo do indiviacuteduo O indiviacuteduo eacute

sujeito porque diz porque eacute imerso no discurso pertencendo a diversas memoacuterias

discursivas sendo por elas constituiacutedo A ideologia nesse sentido eacute condiccedilatildeo

constitutiva do sujeito A partir das contribuiccedilotildees de Mikhail Bakhtin o sujeito

discursivo eacute descentrado na sua enunciaccedilatildeo pois eacute constituiacutedo em uma interaccedilatildeo

social em sua voz haacute um conjunto de vozes vozes essas heterogecircneas Bakhtin

propriamente desenvolveu uma filosofia da linguagem na qual teve espaccedilo para o

sujeito ser compreendido em suas relaccedilotildees com a histoacuteria Sua abordagem eacute

particularmente interessante ao entendimento discursivo do sujeito a partir dos

enfoques teoacutericos que desenvolveu para noccedilotildees como gecircnero vozes e sobretudo

polifonia Jacqueline Authier-Revuz por exemplo a partir do pensamento de

Bakhtin elaborou o conceito de heterogeneidade discursiva explicada adiante Por

conseguinte

[] o sujeito discursivo deve ser considerado sempre como um ser social apreendido em um espaccedilo coletivo portanto trata-se de um sujeito natildeo fundamentado em uma individualidade em um ldquoeurdquo individualizado e sim um sujeito que tem existecircncia em um espaccedilo social e ideoloacutegico em um dado momento da histoacuteria e natildeo em outro A voz desse sujeito revela o lugar social logo expressa um conjunto de outras vozes integrantes de dada realidade social de sua voz ecoam as vozes constitutivas eou integrantes desse lugar soacutecio-histoacuterico (FERNANDES 2005 p 33-34)

O sujeito discursivo assim eacute um sujeito polifocircnico A leitura pelos analistas

da obra de Jacques Lacan completou a abordagem discursiva do sujeito pois

pressupondo-o clivado em consciente e inconsciente estabeleceu viacutenculos entre a

Psicanaacutelise e a Linguiacutestica evidenciando que o inconsciente estrutura-se em

linguagem atravessado pelo discurso do Outro O sujeito discursivo nesses termos

pode ser compreendido a partir dos conceitos de formaccedilatildeo imaginaacuteria da noccedilatildeo do

simboacutelico e do inconsciente na constituiccedilatildeo sujeitudinal

Por ser apreendido no social na ideologia e na histoacuteria por estar imerso nos

discursos e interagir por eles o sujeito eacute captado na anaacutelise discursiva por meio da

enunciaccedilatildeo ou seja pelos sentidos produzidos entre sujeitos diferentes

posicionados que estatildeo soacutecio-histoacuterico-ideologicamente em lugares distintos de

onde enunciam e se apercebem da enunciaccedilatildeo No desenvolvimento atual da

anaacutelise discursiva o sujeito eacute visto como marcado pela heterogeneidade discursiva

ou seja clivado cindido divido e descentrado embora em outras eacutepocas desta

disciplina tenha sido compreendido como um ser uacutenico assujeitado agraves maquinarias

institucionais desta concepccedilatildeo o sujeito evoluiu ao chamado sujeito-posiccedilatildeo e

desta para o sujeito clivado percepccedilatildeo atual (Pecirccheux 2001b 2001c 2002 1997)

Fundamentado em Pecirccheux Possenti (2002 p 99) procura sistematizar a

concepccedilatildeo do sujeito discursivo nos seguintes termos

1 - os sujeitos satildeo integralmente sociais e histoacutericos e integralmente individuais ndash para evitar o subjetivismo desvairado e a identificaccedilatildeo do sujeito com uma peccedila

2 - cada discurso eacute integralmente histoacuterico e social e integralmente pessoal e circunstancial ndash para evitar a ideacuteia de que o sujeito eacute fonte de seu discurso e a de que eacute o discurso que se daacute

3 - cada discurso eacute integralmente interdiscurso e integralmente relativo a um mundo exterior ndash para evitar a ideacuteia de que o discurso refere-se diretamente agraves coisas e a de que tudo eacute discurso ou que a realidade se houver uma eacute criada pelo discurso

4 - cada discurso eacute integralmente ideoloacutegico eou inconsciente e integralmente cooperativo e interpessoal - para evitar a ideacuteia de que o sujeito diz o que diz materializando as suas intenccedilotildees e a de que o sujeito natildeo tem nenhum poder de manobra e que o interlocutor concreto eacute irrelevante

5 - o falante sabe (integralmente) o que estaacute dizendo e ilude-se (integralmente) se pensar que sabe o que diz (ou que soacute diz o que quer) - para evitar que se desconheccedilam os saberes que os sujeitos acumulam em sua praacutetica histoacuterica e que se conclua disso que nada lhes eacute estranho ou desconhecido

A questatildeo pode ser formulada em termos anaacutelogos a certos problemas da microfiacutesica Uma partiacutecula pode ser integralmente onda e integralmente corpuacutesculo sendo que a anaacutelise em um ou outro dos termos natildeo equivale a uma negaccedilatildeo de propriedades do real mas eacute sempre uma questatildeo de relevacircncia ou mesmo de preferecircncia

Com isso percebe-se que o sujeito atua em uma esfera de intermediaccedilatildeo entre o

seu plano e o plano do mundo em uma rede de sentidos que interage e retroage de

forma complexa e contiacutenua O discurso tem uma feiccedilatildeo aparentemente uacutenica mas

na verdade eacute uma apropriaccedilatildeo na qual haacute um encontro de vozes constituintes a que

Bakhtin denomina polifonia ou conjunto de vozes possiacuteveis de serem identificadas

em um discurso Ao conceito de polifonia segue-se outro bakhtiniano tambeacutem o

dialogismo em que na instacircncia da enunciaccedilatildeo o sujeito dialoga com o interlocutor

e com outros discursos O sujeito ainda eacute marcado pela construccedilatildeo da identidade

em um processo de identificaccedilatildeo no qual as diferenccedilas satildeo negociadas em seu

processo de constituiccedilatildeo

A ideologia eacute indispensaacutevel para a concepccedilatildeo analiacutetica do discurso e para a

compreensatildeo do sujeito A noccedilatildeo de ldquoformaccedilatildeo ideoloacutegicardquo foi formulada na Anaacutelise

do Discurso a partir da obra de Louis Althusser Partindo do materialismo histoacuterico

em Althusser (1980) a noccedilatildeo de ideologia foi revista de forma diferente daquela

proposta por Marx ndash ideologia como uma ldquofalsa consciecircnciardquo ndash passando a ser

entendida como a relaccedilatildeo do sujeito com as condiccedilotildees materiais da existecircncia a

ideologia seria mais que ideias seria praacuteticas sociais exercidas nas relaccedilotildees de

produccedilatildeo do cotidiano Para Althusser os sujeitos satildeo determinados pela ideologia

inconscientes dela e assujeitados pela posiccedilatildeo discursiva que ocupam o que o

levou a conceituar os ldquoaparelhos ideoloacutegicos de estadordquo e das instituiccedilotildees como

instacircncias sociais nas quais as ideologias se materializam Por meio da ideologia

portanto tem-se o encontro da Linguiacutestica com o discurso

[] como a ideologia deve ser estudada em sua materialidade a linguagem se apresenta como o lugar privilegiado em que a ideologia se materializa A linguagem se coloca para Althusser como uma via por meio da qual se pode depreender o funcionamento da ideologia (MUSSALIM 2001 p 104)

A partir da noccedilatildeo de ldquoformaccedilatildeo ideoloacutegicardquo Pecirccheux teorizou as ldquocondiccedilotildees

de produccedilatildeo do discursordquo ou as relaccedilotildees de forccedila que atuam dentro do discurso em

outras palavras o funcionamento da liacutengua com a ideologia e com a histoacuteria cuja

relaccedilatildeo desvenda a posiccedilatildeo do sujeito no discurso

[] os fenocircmenos linguumliacutesticos de dimensatildeo superior agrave frase podem efetivamente ser concebidos como um funcionamento mas com a condiccedilatildeo de acrescentar imediatamente que este funcionamento natildeo eacute integralmente linguumliacutestico no sentido atual desse termo [tal como na Linguiacutestica estrutural] e que natildeo podemos defini-lo senatildeo em referecircncia ao mecanismo de colocaccedilatildeo dos protagonistas e do objeto de discurso mecanismo que chamamos de ldquocondiccedilotildees de produccedilatildeordquo do discurso (PEcircCHEUX 2001c p 78 ndash itaacutelicos do autor)

Dupla face de um mesmo erro central que consiste de um lado em considerar as ideologias como ideacuteias e natildeo como forccedilas materiais e de

outro lado em conceber que elas tecircm sua origem nos sujeitos quando na verdade elas constituem os indiviacuteduos em sujeitos (PEcircCHEUX 1997 p 129 ndash itaacutelicos do autor)

Natildeo ser a ideologia ideias natildeo significa ser por conseguinte uma visatildeo ou

representaccedilatildeo do mundo muito menos um processo de ocultaccedilatildeo da realidade a

ideologia eacute as accedilotildees em praacutetica no mundo e o que delas resulta Assim a

bibliografia didaacutetica aqui suscitada eacute a(as) formaccedilatildeo(otildees) ideoloacutegica(as) de seu

tempo da Histoacuteria que permitiu sua existecircncia

As condiccedilotildees do discurso sugerem o rompimento proposto entre frase e

discurso pois para Pecirccheux (2001c p 79 grifos do autor) o discurso natildeo se

submete a uma anaacutelise ldquo[] como um texto isto eacute como uma sequumlecircncia linguumliacutestica

fechada sobre si mesma mas [] eacute necessaacuterio referi-lo ao conjunto de discursos

possiacuteveis a partir de um estado definido de condiccedilotildees de produccedilatildeordquo

Fernandes (2005 p 20-21) considerando o discurso do Sem-Terra

demonstra de forma bem sucinta como o discurso do sujeito exterioriza suas

condiccedilotildees de produccedilatildeo por meio do uso e das escolhas lexicais evidenciando um

conflito social com representantes distintos no acircmbito da discursividade

[] observemos o emprego dos substantivos ocupaccedilatildeo e invasatildeo em revistas e jornais que circulam em nosso cotidiano Tais substantivos satildeo constantemente encontrados em reportagens eou entrevistas que versam sobre os movimentos dos trabalhadores rurais Sem-Terra e revelam diferentes discursos que se opotildeem e se contestam Em torno do Sem-Terra ocupaccedilatildeo eacute empregado pelos proacuteprios Sem-Terra e por aqueles que os apoacuteiam e os defendem para designar a utilizaccedilatildeo de algo obsoleto ateacute entatildeo natildeo utilizado no caso a terra Invasatildeo referindo-se agrave mesma accedilatildeo eacute empregado por aqueles que se opotildeem aos Sem-Terra contestam-nos e designa um ato ilegal e considera os sujeitos em questatildeo como criminosos invasores

No discurso histoacuterico brasileiro tambeacutem encontramos outro exemplo

bastante significativo aos acontecimentos poliacutetico-militares de 1964 duas

denominaccedilotildees foram comuns ndash ldquorevoluccedilatildeordquo e ldquogolpe militarrdquo ou ldquoditadurardquo Os

discursos que emergiam o lexema ldquorevoluccedilatildeordquo revela(va)m os partidaacuterios do

movimento militar e ldquogolpe de estadordquo ou ldquoditadurardquo os seus oposicionistas

Todo sujeito portanto compreende a realidade ideologicamente e isto o

posiciona na ordem social as filiaccedilotildees ideoloacutegicas o condicionam A Anaacutelise do

Discurso e tambeacutem outros campos do conhecimento em relaccedilatildeo a Althusser

colocaram em criacutetica a interpelaccedilatildeo pelo assujeitamento que este filoacutesofo evidenciou

de forma quase engessada nas noccedilotildees de aparelho ndash do qual o escape seria quase

impossiacutevel Sobretudo na Anaacutelise do Discurso esse assujeitamento riacutegido foi

desconstruiacutedo pela consideraccedilatildeo da interpelaccedilatildeo pelo inconsciente e pela

resistecircncia do sujeito no que diz respeito agrave formaccedilatildeo de sua identidade ou aos

desvios discursivos e mesmo em relaccedilatildeo ao ldquoacontecimentordquo compreendido por

Pecirccheux como o momento em que o discurso se reestrutura O sujeito submete-se

livremente agraves condiccedilotildees de produccedilatildeo impostas pelas formaccedilotildees do discurso e da

ideologia Livremente no sentido de que pode reagir a elas Natildeo haacute contudo outra

forma de constituiccedilatildeo do sujeito que natildeo seja o assujeitamento agrave ideologia

A subjetividade do sujeito eacute determinada pelo assujeitamento assumindo

uma dimensatildeo histoacuterica ldquoa forma-sujeito histoacuterica que corresponde agrave da sociedade

atual representa bem a contradiccedilatildeo eacute um sujeito ao mesmo tempo livre e submisso

Ele eacute capaz de uma liberdade sem limites e uma submissatildeo sem falhasrdquo (ORLANDI

2002 p 50)

As forccedilas materiais da ideologia embrenhada nos discursos natildeo satildeo da

ordem da consciecircncia

Eacute a ideologia que fornece as evidecircncias pelas quais ldquotodo mundo saberdquo o que eacute um soldado um operaacuterio um patratildeo uma faacutebrica uma greve etc evidecircncias que fazem com que uma palavra ou um enunciado ldquoqueiram dizer o que realmente dizemrdquo e que mascaram assim sob a ldquotransparecircncia da linguagemrdquo aquilo que chamaremos o caraacuteter material do sentido das palavras e dos enunciados (PEcircCHEUX 1997 p 129 ndash itaacutelicos do autor)

Sobretudo os discursos agem pelo apagamento

[] se uma palavra uma mesma expressatildeo e uma mesma proposiccedilatildeo podem receber sentidos diferentes ndash todos igualmente ldquoevidentesrdquo ndash conforme se refiram a esta ou aquela formaccedilatildeo discursiva eacute porque [] uma palavra uma expressatildeo ou uma proposiccedilatildeo natildeo tem um sentido que lhe seria ldquoproacutepriordquo vinculado a sua literalidade Ao contraacuterio seu sentido se constitui em cada formaccedilatildeo discursiva nas relaccedilotildees que tais palavras expressotildees ou proposiccedilotildees mantecircm com outras palavras expressotildees ou proposiccedilotildees da mesma formaccedilatildeo discursiva (PEcircCHEUX 1997 p 161)

Orlandi (2002 p 46) demonstra que esse apagamento eacute um mecanismo

proacuteprio da interpretaccedilatildeo Todo discurso eacute interpretado natildeo haacute literalidade no dizer o

alcance dos sentidos e dos seus efeitos eacute onerado pelas filiaccedilotildees histoacuterico-

ideoloacutegicas do sujeito O sentido eacute definido pelo movimento de interpretaccedilatildeo o qual

passa pela posiccedilatildeo ideoloacutegica frente agrave enunciaccedilatildeo quando se escreve quando se

fala quando se lecirc quando se ouve Diante do discurso enunciado o sujeito exerce

um esquecimento da interpretaccedilatildeo de forma a naturalizaacute-la e construir

transparecircncias no dizer (ORLANDI 2002 p 46)

Por esse mecanismo ndash ideoloacutegico ndash de apagamento da interpretaccedilatildeo haacute transposiccedilatildeo de formas materiais em outras construindo-se transparecircncias ndash como se a linguagem e a histoacuteria natildeo tivessem sua espessura sua opacidade ndash para serem interpretadas por determinaccedilotildees histoacutericas que se apresentam como imutaacuteveis naturalizadas Esse eacute o trabalho da ideologia produzir evidecircncias colocando o homem na relaccedilatildeo imaginaacuteria com suas condiccedilotildees materiais de existecircncia

Nesse sentido a ideologia natildeo se oculta no dizer mas opera na linguagem

fazendo com que a palavra cumpra sua funccedilatildeo ndash a de designar alguma coisa ndash

constituindo o sentido Assim toda linguagem eacute ideoloacutegica toda enunciaccedilatildeo parte

de uma formaccedilatildeo ideoloacutegico-discursiva e eacute reinterpretada por outra

A interpretaccedilatildeo do discurso no entanto natildeo eacute vista como subjetiva pois

transita com garantias pela memoacuteria em duas perspectivas de um lado pela

memoacuteria institucionalizada que Foucault (2005a) denomina Arquivo isto eacute a

reuniatildeo de determinadas formaccedilotildees discursivas o que faz com que a interpretaccedilatildeo

seja social de outro pela memoacuteria constitutiva tambeacutem denominada interdiscurso

pela qual o sujeito constitui os sentidos (ORLANDI 2002) todo enunciar se posta

em uma formaccedilatildeo discursiva o que abriga conflitos mas natildeo um arbiacutetrio do tipo

subjetivo

Esta revisatildeo teoacuterica sobre o sujeito me leva a considerar a principal tipologia

de sujeitos com os quais esta pesquisa lida no acircmbito do discurso didaacutetico de

Geografia em abordagem os sujeitos autores

A autoria na Anaacutelise do Discurso pode ser entendida como um

acontecimento na acepccedilatildeo que Pecirccheux (2002 p 19) deu ao termo ldquo[] o fato

novo as cifras as primeiras declaraccedilotildees [] em seu contexto de atualidade e no

espaccedilo de memoacuteria que ele convocardquo A autoria se enquadra em uma das posiccedilotildees

que o sujeito pode assumir na enunciaccedilatildeo discursiva Notabiliza-se por ser uma

posiccedilatildeo extremamente marcada pelas condiccedilotildees sociais histoacutericas e ideoloacutegicas

sendo dele cobradas exigecircncias de coerecircncia natildeo-contradiccedilatildeo e responsabilidade

(FOUCAULT 2005a) O sujeito-autor assume o entrecruzamento de diversas ordens

discursivas precisando imprimir-lhe uma aparente unicidade

A posiccedilatildeo sujeito-autor no caso do discurso didaacutetico eacute uma funccedilatildeo

enunciativa que natildeo implica um desempenho individual embora assim seja nas

aparecircncias Nesse sujeito haacute um efeito construiacutedo em torno de duas imagens a de

autoria e a de autoridade a partir de uma relaccedilatildeo social de poder O discurso

didaacutetico assume o lugar de um discurso competente ldquo[] eacute o lugar do saber definido

pronto acabado correto e dessa forma fonte uacuteltima (e agraves vezes uacutenica) de

referecircnciardquo (SOUZA 1999 p 27) O efeito a ser produzido na face de autoridade eacute

a de veicular sentidos imperativos afirma ou nega incisivamente deixando pouca

margem para questionamentos do que diz A imagem construiacuteda nesses efeitos eacute a

de quem diz o que estaacute dizendo sabe do que fala e eacute isso mesmo O efeito de

autoridade eacute reafirmado por diversas formaccedilotildees ideoloacutegicas que alinham o discurso

didaacutetico o Estado as editoras as idiossincrasias a imprensa as ciecircncias de base

filiando-o a uma imersatildeo histoacuterica definida o que faz dele um instrumento da

institucionalizaccedilatildeo escolar fora da qual natildeo tem aceitaccedilatildeo A autoridade do

discurso didaacutetico responde a outras instacircncias autoritaacuterias portanto ao curriacuteculo e

ao programa por exemplo

Isso significa dizer que o discurso didaacutetico eacute delimitado circunscrito quanto

ao que nele pode ser proposto e dito ao objetivo que pode orientaacute-lo O Estado ou

as instituiccedilotildees por ele autorizadas prescreve os limites e as diretrizes desse

discurso as instituiccedilotildees escolares os cumprem e as editoras ndash intermediaacuterias nessa

relaccedilatildeo de realizaccedilatildeo ndash por sua vez se atentam minuciosamente a esses limites

pois isso faz com que seus produtos tenham coerecircncia com a necessidade do

mercado e por conseguinte aceitaccedilatildeo

A trajetoacuteria da bibliografia didaacutetica de Geografia e do livro didaacutetico em

contexto mais amplo tem fatos exemplares quanto ao cumprimento dessa norma e

quanto agraves medidas incidentes ao rompimento dessa norma Em uacuteltima instacircncia

trata-se de um processo de legitimaccedilatildeo O veto a autorizaccedilatildeo e as recomendaccedilotildees

para correccedilatildeo e refeitura foram os instrumentos finais das instacircncias de autorizaccedilatildeo

das obras didaacuteticas Ao professor restava uma obediecircncia incontinente ao

estabelecido A respeito Bittencourt (2008 p 58) afirma

As regulamentaccedilotildees referentes aos ldquodeveresrdquo ou ldquoobrigaccedilotildeesrdquo dos professores apresentavam sistematicamente artigos expliacutecitos sobre o uso dos livros didaacuteticos adotados pelas autoridades educacionais competentes Os professores que usassem livros proibidos estavam sujeitos a puniccedilotildees admoestaccedilotildees dos superiores com possibilidades de suspensatildeo do exerciacutecio ou multas

Por conseguinte haacute um cruzamento entre autoritarismo e autoridade no

contexto enunciativo do discurso didaacutetico

A autoria por seu lado perpassa pela noccedilatildeo do supersujeito

[] uma espeacutecie de onisciente cognitivo que deteacutem conhecimentos da aacuterea como poucos um domiacutenio aliaacutes totalizante Para isso as fontes satildeo apagadas e a produccedilatildeo do conhecimento eacute retirada de sua formaccedilatildeo histoacuterica Ausente desse processo nas aparecircncias a enunciaccedilatildeo parece vir do autor (SILVA 2006 p 196)

Isso ao mesmo tempo em que faz emergir um efeito de coerecircncia e unidade na

dispersatildeo (GREGOLIN 2004b) as contradiccedilotildees as duacutevidas as ambiguidades do

conhecimento simplesmente desaparecem do discurso do sujeito didaacutetico

A noccedilatildeo de heterogeneidade discursiva introduzida na Anaacutelise do Discurso

por Jacqueline Authier-Revuz (2004 p 12 grifos da autora) eacute elucidativa para se

compreender o comportamento da autoria neste tipo de discurso ldquono fio do discurso

que real e materialmente um locutor uacutenico produz um certo nuacutemero de formas

linguisticamente detectaacuteveis no niacutevel da frase ou do discurso inscrevem em sua

linearidade o outrordquo Todo discurso e por extensatildeo todo sujeito eacute constituiacutedo pelo

Outro embora as formas de manifestaccedilatildeo possam variar Os discursos e os sujeitos

existem porque haacute uma heterogeneidade constitutiva a interaccedilatildeo social permite que

o sujeito apreenda sentidos de diversas formaccedilotildees discursivas e dessa

heterogeneidade o sujeito eacute produzido eacute constituiacutedo tem o que dizer Uma segunda

forma eacute a heterogeneidade mostrada segundo a qual a voz do outro se manifesta

explicitamente no devir do discurso a materialidade discursiva deixa entrever

diretamente por referecircncia a fonte do seu dizer

No discurso didaacutetico de Geografia conforme demonstrado na histoacuteria e na

anaacutelise suscitada por esta pesquisa haacute uma prevalecircncia da heterogeneidade

constitutiva em todas as geraccedilotildees de manuais observadas funcionando para

construir um efeito de autoria e de autoridade perceptiacutevel apenas na instacircncia da

anaacutelise a partir das hipoacuteteses de pesquisa sugeridas pelo analista que se confronte

com esses discursos

O sujeito que enuncia o discurso didaacutetico em primeiro lugar eacute um sujeito

autorizado a dizer o que diz o que significa que tem uma inscriccedilatildeo discursiva

adquirida de alguma forma (FERNANDES 2005) por estudo proacuteprio por formaccedilatildeo

por institucionalizaccedilatildeo ndash lembrando que sua competecircncia e coerecircncia com as

instacircncias do poder escolar eacute regra para que possa existir Todo o processo de

imersatildeo discursiva que o inscreveu nesse discurso resulta de uma dispersatildeo de

vozes na cena da formaccedilatildeo discursiva Esta inscriccedilatildeo no entanto na

heterogeneidade constitutiva eacute assujeitada ao discurso em curso de forma que as

vozes diversas satildeo apagadas na enunciaccedilatildeo O sujeito nesses termos compotildee no

manual didaacutetico em especiacutefico mas tambeacutem em outras instacircncias uma superfiacutecie

discursiva lisa conceito que proponho para compreender no discurso didaacutetico o fio

do dizer que promove o efeito autoria e autoridade repassado aos sujeitos

aprendizes o que eacute feito a partir do apagamento da heterogeneidade o fio do

discurso responde apenas a um locutor uacutenico

No livro didaacutetico os espaccedilos do dizer satildeo demarcados e a enunciaccedilatildeo se

imprime mesmo graficamente para construir o efeito de autoria e a autoridade essa

superfiacutecie No discurso cientiacutefico por exemplo soacute para contrapor a heterogeneidade

mostrada eacute uma preocupaccedilatildeo constante o sujeito acadecircmico se posta entre pares

e com eles e a partir deles promove o seu discurso

Na minha dissertaccedilatildeo de mestrado (SILVA 2006) propus a noccedilatildeo de ldquobloco

textual lisordquo como suporte do sujeito enunciador para expressar a mancha autoral

que graficamente se constroacutei nos livros contemporacircneos de Geografia em grande

parte da enunciaccedilatildeo como suporte agrave heterogeneidade constitutiva Na ocasiatildeo

percebi que as heterogeneidades constitutivas e mostradas ocupam espaccedilos bem

delimitados no discurso didaacutetico de Geografia contemporacircneo

Textualmente ou melhor graficamente os enunciados satildeo organizados hierarquicamente haacute uma enunciaccedilatildeo principal a do sujeito-enunciador em fonte tipograacutefica de tamanho maior sobre fundo branco e haacute caixas de textos com fundo em diversas cores e tons nas quais estatildeo escritas notas explicativas (como designaccedilatildeo de conceitos) e nas quais o sujeito-enunciador cede a palavra para outros sujeitos colocarem pequenas enunciaccedilotildees complementares Textos complementares marcados com as

respectivas assinaturas costumam abrir e fechar capiacutetulos unidades partes etc (SILVA 2006 p 216)

Neste momento considero que os efeitos desse processo excedem bastante o niacutevel

dos significantes Por extensatildeo proponho nomear esse processo de superfiacutecie

discursiva lisa aliando aos significantes outras propriedades discursivas dentre as

quais os efeitos de sentidos que essa estrateacutegia enunciativa do discurso didaacutetico

promove

122 O discurso seus elementos e a formaccedilatildeo do dizer didaacutetico

O discurso na Anaacutelise do Discurso eacute tomado como conceito mestre dessa

construccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica e por isso difere do dado empiacuterico isto eacute dos

textos falados ouvidos impressos visualizados embora estes sejam as

materialidades ou cadeia de significantes que permitem o acesso aos discursos e

seus sentidos Pecirccheux (2001c) relaciona o dado linguiacutestico a um acircmbito de

confluecircncia entre a liacutengua o sujeito e a Histoacuteria e daiacute resulta um funcionamento na

ordem do sujeito e do sentido resultando na acepccedilatildeo de discurso O discurso

frequentemente eacute confundido como um recurso retoacuterico vazio de sentidos reais e

empiacutericos Na Anaacutelise do Discurso no entanto a acepccedilatildeo cientiacutefica do termo difere

da acepccedilatildeo usual pois o termo eacute um conceito complexo manifesto materialmente

por meio da liacutengua e da linguagem mas implicando uma exterioridade agrave liacutengua

posto ser detectada no social e absorver compreensotildees para aleacutem das questotildees

linguiacutesticas Por conseguinte diferencia-se do emprego cotidiano aquele do senso

comum

Discurso como uma palavra corrente no cotidiano da liacutengua portuguesa eacute constantemente utilizada para efetuar referecircncia a pronunciamentos poliacuteticos a um texto construiacutedo a partir de recursos estiliacutesticos mais rebuscados a um pronunciamento marcado por eloquumlecircncia a uma frase proferida de forma primorosa agrave retoacuterica e muitas outras situaccedilotildees de uso da liacutengua em diferentes contextos sociais (FERNANDES 2005 p 19-20)

Enunciar o discurso assim perpassa pelas condiccedilotildees histoacutericas como meio para a

interpretaccedilatildeo posicionando o lugar soacutecio-ideoloacutegico dos sujeitos nele envolvidos

A Anaacutelise do Discurso nega a imanecircncia dos sentidos pela qual a palavra

teria significado e natildeo sentido negando portanto sua representaccedilatildeo pelo

significante ou pelo texto extraindo-se dela a naturalidade ou a-historicidade

Significado assim eacute como a palavra definida em estado de dicionaacuterio o que a

Anaacutelise do Discurso procura eacute o sentido ou seja o acontecimento das

representaccedilotildees nos contextos soacutecio-histoacutericos dados A enunciaccedilatildeo para a Anaacutelise

do Discurso natildeo eacute literal mas interpretada embora os fatos linguiacutesticos ndash tais como

os elementos fonoloacutegicos morfoloacutegicos e sintaacuteticos ndash ou semioacuteticos sejam a

materialidade da anaacutelise a forma de acesso ao discurso pressupondo este

portanto Os sentidos nesse aspecto sempre satildeo produzidos na interaccedilatildeo

discursiva

[] no discurso os sentidos das palavras natildeo satildeo fixos natildeo satildeo imanentes conforme geralmente atestam os dicionaacuterios Os sentidos satildeo produzidos face aos lugares ocupados pelos sujeitos em interlocuccedilatildeo Assim uma mesma palavra pode ter diferentes sentidos em conformidade com o lugar socioideoloacutegico daqueles que a empregam (FERNANDES 2005 p 22-23)

Portanto os sentidos pertencem ao acontecimento e ao funcionamento dos

discursos que por sua vez pertencem a uma instacircncia histoacuterico-ideoloacutegica dada

delimitados em uma formaccedilatildeo discursiva que pode ser compreendida como o que

ldquo[] se pode dizer somente em determinada eacutepoca e espaccedilo social ao que tem

lugar e realizaccedilatildeo a partir de condiccedilotildees de produccedilotildees especiacuteficas historicamente

definidasrdquo (FERNANDES 2005 p 60) Na formaccedilatildeo discursiva cada enunciado

encontra seu lugar e seu comportamento ou regra de apariccedilatildeo Nas palavras de

Pecirccheux (1997 p 160) a formaccedilatildeo discursiva refere-se agravequilo ldquo[] que numa

formaccedilatildeo ideoloacutegica dada isto eacute a partir de uma posiccedilatildeo dada numa conjuntura

dada determinada pelo estado da luta de classes determina o que pode e deve ser

ditordquo A noccedilatildeo de formaccedilatildeo discursiva permite o entendimento de sentido para

Pecirccheux (1997 p 160 grifos do autor) uma mesma palavra expressatildeo proposiccedilatildeo

assume sentidos diversos quando transferida para outra formaccedilatildeo discursiva outro

lugar e situaccedilatildeo enunciativa

[] o sentido de uma palavra de uma expressatildeo de uma proposiccedilatildeo etc natildeo existe ldquoem si mesmordquo (isto eacute em sua relaccedilatildeo transparente com a literalidade do significante [o que eacute mais proacuteprio ao significado como demonstrado anteriormente]) mas ao contraacuterio eacute determinado pelas posiccedilotildees ideoloacutegicas que estatildeo em jogo no processo soacutecio-histoacuterico no qual as palavras expressotildees e proposiccedilotildees satildeo produzidas (isto eacute reproduzidas) Poderiacuteamos resumir essa tese dizendo as palavras expressotildees proposiccedilotildees etc mudam de sentido segundo as proposiccedilotildees sustentadas por aqueles que as empregam o que quer dizer que elas adquirem seu sentido em referecircncia a essas posiccedilotildees isto eacute em referecircncia agraves formaccedilotildees ideoloacutegicas [] nas quais essas posiccedilotildees se inscrevem

A noccedilatildeo de ldquoformaccedilatildeo discursivardquo foi dialogada na Anaacutelise do Discurso com

a obra de Michel Foucault sobretudo com os livros Arqueologia do saber (publicaccedilatildeo

original de 1969) e A ordem do discurso (original de 1970) Para Foucault a

formaccedilatildeo discursiva se evidencia pela regecircncia de regularidades nas relaccedilotildees entre

saber e poder em que a produccedilatildeo daquele eacute controlada selecionada organizada e

distribuiacuteda de forma a natildeo ameaccedilar este

Foucault (2005a p 135-136) define discurso nos seguintes termos

Chamaremos de discurso um conjunto de enunciados na medida em que se apoacuteiem na mesma formaccedilatildeo discursiva ele natildeo forma uma unidade retoacuterica ou formal indefinidamente repetiacutevel e cujo aparecimento ou utilizaccedilatildeo poderiacuteamos assinalar (e explicar se for o caso) na histoacuteria eacute constituiacutedo de um nuacutemero limitado de enunciados para os quais podemos definir um conjunto de condiccedilotildees de existecircncia O discurso assim entendido natildeo eacute uma forma ideal e intemporal que teria aleacutem do mais uma histoacuteria o problema natildeo consiste em saber como e por que ele pocircde emergir e tomar corpo num determinado ponto do tempo eacute de parte a parte histoacuterico ndash fragmentos da histoacuteria unidade e descontinuidade na proacutepria histoacuteria que coloca o problema de seus proacuteprios limites de seus cortes de suas transformaccedilotildees dos modos especiacuteficos de sua temporalidade e natildeo de seu surgimento abrupto em meio agraves cumplicidades do tempo

Foucault (2005a) no contexto de emergecircncia da Nova Histoacuteria11 na obra

Arqueologia do saber promove diversas rupturas principalmente em relaccedilatildeo a

noccedilotildees como tradiccedilatildeo influecircncia mentalidade equiliacutebrio continuidade causalidade

linearidade apresentando outras no lugar dispersatildeo descontinuidade limite seacuterie

transformaccedilatildeo dentre outras Procurando compreender a relaccedilatildeo entre discurso e

11

Corrente historiograacutefica surgida nos anos 1970 em um terceiro movimento da denominada Escola dos Annales Caracteriza-se por ser a histoacuteria das mentalidades coagindo as formas de representaccedilatildeo coletivas e as estruturas mentais das sociedades filtradas pelo historiador por meio da anaacutelise e da interpretaccedilatildeo racional dos dados (VEYNE 1995)

poder institui o enunciado como unidade de anaacutelise no meacutetodo arqueoloacutegico

compreendendo-o ainda como unidade do discurso

[] o enunciado natildeo eacute uma unidade do mesmo gecircnero da frase proposiccedilatildeo ou ato de linguagem natildeo se apoacuteia nos mesmos criteacuterios mas natildeo eacute tampouco uma unidade como um objeto material poderia ser tendo seus limites e sua independecircncia [] Natildeo eacute preciso procurar no enunciado uma unidade longa ou breve forte ou debilmente estruturada mas tomada como as outras em um nexo loacutegico gramatical ou locutoacuterio Mais que um elemento entre outros mais que um recorte demarcaacutevel em um certo niacutevel de anaacutelise trata-se antes de uma funccedilatildeo que se exerce verticalmente [] a propoacutesito de uma seacuterie de signos [] O enunciado natildeo eacute pois uma estrutura [] eacute uma funccedilatildeo de existecircncia que pertence exclusivamente aos signos e a partir da qual se pode decidir em seguida pela anaacutelise ou pela intuiccedilatildeo se eles ldquofazem sentidordquo ou natildeo [] e que espeacutecie de ato se encontra realizado por sua formulaccedilatildeo (oral ou escrita) [] eacute que ele natildeo eacute em si mesmo uma unidade mas sim uma funccedilatildeo que cruza um domiacutenio de estruturas e de unidades possiacuteveis e que faz com que apareccedilam com conteuacutedos concretos no tempo e no espaccedilo (FOUCAULT 2005a p 98-99)

O enunciado na percepccedilatildeo de Foucault eacute uma funccedilatildeo dispersa em sua

singularidade mas regular em sua repeticcedilatildeo

A questatildeo da autoria tambeacutem eacute problematizada por Foucault A partir da

noccedilatildeo da funccedilatildeo-sujeito desloca-se a autoria do desempenho individual

reafirmando o sujeito como posiccedilatildeo reforccedilando que o enunciado natildeo eacute algo isolado

mas vizinho a uma seacuterie de outros enunciados e sujeitos e inscrito e delineado em

um campo enunciativo que lhe afere lugar e status inserindo-o na Histoacuteria

sublinhando a posiccedilatildeo sujeito-autor como uma funccedilatildeo

Foucault (2005a p 43) define formaccedilatildeo discursiva do seguinte modo

No caso em que se puder descrever entre um certo nuacutemero de enunciados [um] sistema de dispersatildeo e no caso em que entre os objetos os tipos de enunciaccedilatildeo os conceitos as escolhas temaacuteticas se puder definir uma regularidade (uma ordem correlaccedilotildees posiccedilotildees e funcionamentos transformaccedilotildees) diremos por convenccedilatildeo que se trata de uma formaccedilatildeo discursiva []

Trata-se portanto da regularidade na dispersatildeo dos enunciados embora essa

estrutura natildeo seja estanque e possa em seu interior ter subarticulaccedilotildees

O conceito formaccedilatildeo discursiva contribuiu para romper a noccedilatildeo de

maquinaria estrutural na qual os discursos eram percebidos de forma fechada na

primeira eacutepoca de formulaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica da Anaacutelise do Discurso

Contribui por conseguinte para implodir a noccedilatildeo de sujeito homogecircneo

Outra noccedilatildeo importante para a compreensatildeo do discurso e do sujeito eacute a

ldquoformaccedilatildeo ideoloacutegicardquo Pecirccheux Fuchs (2001 p 166) caracterizam-na como o

elemento

[] suscetiacutevel de intervir como uma forccedila em confronto com outras forccedilas na conjuntura ideoloacutegica caracteriacutestica de uma formaccedilatildeo social em dado momento desse modo cada formaccedilatildeo ideoloacutegica constitui um conjunto complexo de atitudes e de representaccedilotildees que natildeo satildeo nem ldquoindividuaisrdquo nem ldquouniversaisrdquo mas se relacionam mais ou menos diretamente a posiccedilotildees de classes em conflito umas com as outras

O discurso interage atraveacutes do sujeito entre as formaccedilotildees discursivas e

ideoloacutegicas por meio do interdiscurso que pode ser entendido como a ldquo[] presenccedila

de diferentes discursos oriundos de diferentes momentos na histoacuteria e de diferentes

lugares sociais entrelaccedilados no interior de uma formaccedilatildeo discursivardquo (FERNANDES

2005 p 61) Por extensatildeo ao interdiscurso compreender o discurso perpassa pela

noccedilatildeo de memoacuteria que difere da acepccedilatildeo corrente de uma memoacuteria individual ndash

centrada nas lembranccedilas de uma pessoa Para Pecirccheux (1999b) a memoacuteria eacute

exterior ao estrato psicofisioloacutegico do indiviacuteduo Nesses termos eacute colocado como

ldquo[] um conjunto complexo preacute-existente e exterior ao organismo constituiacutedo por

uma seacuterie de lsquotecidos de iacutendices legiacuteveisrsquo que constitui um corpo soacutecio-histoacuterico de

traccedilosrdquo (PEcircCHEUX 1990 f 1) A memoacuteria assim transpotildee-se para o campo social

de onde descreve as condiccedilotildees de um acontecimento aliando portanto discurso e

histoacuteria As formaccedilotildees discursivas ideoloacutegicas e imaginaacuterias12 de uma sociedade

tramitando no interdiscurso situam os sujeitos e os discursos fazendo com estes

signifiquem A memoacuteria sempre que praacutetica social eacute operacionalizada por meio de

impliacutecitos isto eacute elementos preacute-construiacutedos que atuam na produccedilatildeo dos sentidos

(PEcircCHEUX 1999b) Dessa forma a memoacuteria discursiva re-estabelece os impliacutecitos

que significam o discurso reconstituindo um imaginaacuterio no acircmbito da enunciaccedilatildeo

12

Pecirccheux dialogando com a obra de Lacan sobre o conceito de imaginaacuterio definiu as formaccedilotildees imaginaacuterias como resultantes de processos discursivos que antecedem a enunciaccedilatildeo agindo portanto como antecipaccedilatildeo de sentidos com a qual o sujeito faz uma representaccedilatildeo do receptor discursivo (natildeo confundido com sujeitos ou lugares fiacutesicos mas agraves representaccedilotildees deles suscitadas) orientando seu enunciar da imagem que daiacute resulta

Uma operaccedilatildeo taacutecita natildeo expliacutecita mas presente na construccedilatildeo dos sentidos e dos

seus efeitos De acordo com Achard (1999 p 13)

[] a explicitaccedilatildeo desses impliacutecitos em geral natildeo eacute necessaacuteria a priori e natildeo existe em parte alguma um texto de referecircncia expliacutecita que forneceria a chave Essa ausecircncia natildeo faz falta a paraacutefrase de explicitaccedilatildeo aparece antes como um trabalho posterior sobre o expliacutecito do que uma preacute-condiccedilatildeo [] Do ponto de vista discursivo o impliacutecito trabalha sobre a base de um imaginaacuterio que o representa como memorizado enquanto cada discurso ao pressupocirc-lo vai fazer apelo a sua (re)construccedilatildeo sob a restriccedilatildeo ldquono vaziordquo de que eles respeitem as formas que permitam sua inserccedilatildeo por paraacutefrase

Um dos impliacutecitos possiacuteveis por exemplo eacute o da ordem do icocircnico tanto como

materialidade verbal ou semioacutetica pois visiacutevel Este eacute um dos operadores dentre os

mais atuantes do discurso da Geografia que antes de tudo se empenha na

construccedilatildeo de uma visatildeo do mundo ldquo[] a imagem seria um operador de memoacuteria

social comportando no interior dela mesma um programa de leitura um percurso

inscrito discursivamente em outro lugarrdquo (PEcircCHEUX 1999b p 51)

O silecircncio e seu processo o silenciamento eacute outro elemento constitutivo do

discurso Foucault indica que a enunciaccedilatildeo implica um funcionamento de permissatildeo

no qual haacute o dito o natildeo dito o que natildeo pode ser dito Na enunciaccedilatildeo interagem as

formaccedilotildees discursivas e ideoloacutegicas de cada eacutepoca por meio das vozes plurais que

constituem e instituem o sujeito discursivo levando-o a dizer o que diz Um dizer

sempre controlado e freado pelos limites que o acircmbito da enunciaccedilatildeo impotildee A

propoacutesito Foucault demonstra como os discursos satildeo socialmente controlados

organizados selecionados e distribuiacutedos fato que coaduna em especiacutefico com a

posiccedilatildeo defendida pela Histoacuteria das Disciplinas Escolares e pela Histoacuteria do

Curriacuteculo que veremos adiante Se necessaacuterio o discurso pode ser interditado

Mesmo natildeo o sendo ele sempre eacute delimitado e controlado

[] em toda sociedade a produccedilatildeo do discurso eacute ao mesmo tempo controlada selecionada organizada e redistribuiacuteda por certos nuacutemeros de procedimentos que tecircm por funccedilatildeo conjurar seus poderes e perigos dominar seu acontecimento aleatoacuterio esquivar sua pesada e temiacutevel materialidade [] em uma sociedade como a nossa conhecemos eacute certo procedimentos de exclusatildeo O mais evidente o mais familiar tambeacutem eacute a interdiccedilatildeo Sabe-se bem que natildeo se tem o direito de dizer tudo que natildeo se pode falar de tudo em qualquer circunstacircncia que qualquer um enfim natildeo pode falar de qualquer coisa Tabu do objeto ritual de circunstacircncia direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala [] (FOUCAULT 2005b p 8-9)

O dialogismo bakhtiniano tambeacutem estabelece o silecircncio como uma das

vozes que atravessam a interaccedilatildeo enunciativa De acordo com Villarta-Neder (2004

p 173) o apagamento eacute um dos efeitos do silecircncio discursivo

[] as palavras natildeo soacute apagam silecircncios porque se sobrepotildeem a eles ndash e estabelecem assim um silecircncio por excesso ndash mas tambeacutem silenciam outras palavras pelo mesmo processo de sobreposiccedilatildeo Igualmente o silecircncio natildeo somente apaga as palavras porque as sobrepotildee (excesso) mas porque cria uma virtualidade em que outras palavras possiacuteveis sobrepotildeem (excesso ainda) as que natildeo foram ditas (ausecircncia) Portanto o apagamento mesmo provocado pela palavra implica sempre a instauraccedilatildeo de um tipo de silecircncio o leva a consideraacute-lo como uma decorrecircncia do silecircncio (VILLARTA-NEDER 2004 p 173)

A anaacutelise do silecircncio geralmente depreende as relaccedilotildees de poder colocadas

ao discurso

Nesses termos apoacutes essas consideraccedilotildees qual seria a caracterizaccedilatildeo do

discurso didaacutetico

Em uma perspectiva discursiva o ensino eacute uma ritualizaccedilatildeo de discursos

conjugados por sujeitos qualificados adequados a uma forma poliacutetica de

manutenccedilatildeo modificaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo ndash relaccedilatildeo na qual os saberes e os poderes

estatildeo em um conflito de definiccedilatildeo (FOUCAULT 2005b p 43) Isto porque eacute pela

educaccedilatildeo que uma sociedade moderna se molda se reproduz e se preserva de

acordo com as orientaccedilotildees impostas e negociadas nessa permanecircncia Essa

educaccedilatildeo molda sua forccedila para sobrepor-se a qualquer outra inclusive a educaccedilatildeo

tradicional como a familiar A sociedade por exemplo precisa na percepccedilatildeo do

Estado ter a feiccedilatildeo requerida por seus propoacutesitos gerais ndash aquelas permitidas por

ele

O discurso didaacutetico para esse fim eacute construiacutedo para transparecer

neutralidade surtir um efeito paciacutefico sendo influente o controle do Estado e das

instituiccedilotildees deste o controle da Ciecircncia o controle da sociedade civil O curriacuteculo

nesses termos como estrutura exposta quanto agrave proposiccedilatildeo e impliacutecita ao discurso

didaacutetico eacute controlado pelos programas dos departamentos educacionais Agrave escola

antecedem instacircncias preliminares que delimitam o discurso didaacutetico para que nele

haja efeitos de uma visatildeo social e de um sujeito direcionado mas tambeacutem eacute um

acircmbito de produccedilatildeo discursiva

O construto da Anaacutelise do Discurso de linha francesa pecheuxtiana como

demonstrado referencia-se na intersecccedilatildeo dos discursos e da histoacuteria para

compreender a linguagem em funcionamento na construccedilatildeo dos sujeitos e dos

sentidos O discurso portanto tem uma ordem que prevalece acima dos sujeitos

revelada natildeo em si em sua materialidade mas nas condiccedilotildees de sua produccedilatildeo ele

aparece em uma formaccedilatildeo parece desaparecer e ressurge adiante com novas

condiccedilotildees Algo do discurso didaacutetico eacute uacutenico e proacuteprio a ele mesmo mas com

materialidades e manifestaccedilotildees enunciativas diferentes dos quais os manuais

didaacuteticos em suas geraccedilotildees satildeo dessas instacircncias enunciativas O espaccedilo do

saber eacute simultaneamente um espaccedilo de descontinuidades e de permanecircncia

Coube agrave escola enquanto instituiccedilatildeo responsaacutevel por ensinar formalmente

princiacutepios da vida civil e da cultura instituiacutedas aos indiviacuteduos a criaccedilatildeo das

disciplinas sempre como tradiccedilotildees culturais expressas em um movimento e

dinacircmicas proacuteprios direcionando os aprendizes para uma cultura geral a cultura da

sociedade nacional ndash no caso das sociedades modernas sendo o curriacuteculo a ser

ensinado uma manifestaccedilatildeo desse processo O dizer e o fazer da escola nesse

sentido promoveu discursos gerais e particulares manifestos em diferentes

materialidades e notadamente aqueles componentes das disciplinas constituiacuteram

uma literatura didaacutetica consecuccedilatildeo de qualquer campo do conhecimento que se

ensine13 Como materialidades dos discursos didaacuteticos os manuais escolares

permitem entrever a linguagem e seu papel importante na constituiccedilatildeo do processo

do ensino e da aprendizagem permitindo ainda uma compreensatildeo histoacuterica dessas

relaccedilotildees

Diversas formaccedilotildees discursivas habitam o discurso didaacutetico A obra de

Mikhail Bakhtin (1997 1998 2004) permite compreender os gecircneros do discurso

como combinaccedilatildeo de formas e coacutedigos relativamente estaacuteveis quanto a seus

enunciados em grupos sociais especiacuteficos peculiares a estes no que se enquadra

o dizer didaacutetico como um discurso

Bakhtin (1998 p 10) para quem os gecircneros do discurso compotildeem-se de

uma estratificaccedilatildeo da linguagem que se cliva em instacircncias soacutecio-ideoloacutegicas

13

Um exemplo desse desenvolvimento eacute sua inclusatildeo em miacutedias diversas e veiculaccedilatildeo em meios de comunicaccedilatildeo de diferentes ordens como caracteriacutesticos atualmente da modalidade Educaccedilatildeo a Distacircncia

diversas utilizou a noccedilatildeo de ldquoconstruccedilatildeo hiacutebridardquo para compreender ldquoo enunciado

que segundo iacutendices gramaticais (sintaacuteticos) e composicionais pertence a um uacutenico

falante mas onde na realidade estatildeo confundidos dois enunciados dois modos de

falar dois estilos duas lsquolinguagensrsquo duas perspectivas semacircnticas e axioloacutegicasrdquo

atingindo a reformulaccedilatildeo das formaccedilotildees discursivas como o discurso cientiacutefico o

discurso cotidiano o discurso do Estado e outros que com reflexos dos objetivos e

das condiccedilotildees do meio social de inserccedilatildeo estabelecem um gecircnero discursivo

aquele que se pode encontrar materializado no livro didaacutetico

13 Procedimentos metodoloacutegicos da pesquisa da Anaacutelise do Discurso

O procedimento da anaacutelise discursiva implica uma performance de escuta no

dizer a partir de uma concepccedilatildeo teoacuterica sobre o objeto em pesquisa Nesses

termos o funcionamento e a constituiccedilatildeo do discurso satildeo processos previstos

movendo-se o analista por meio da descriccedilatildeo e da anaacutelise da materialidade

linguiacutestica ateacute o discurso De acordo com Silva (2006 p 184)

A anaacutelise um proceder agrave procura do funcionamento dos sentidos difere do curso descarteano de seu emprego ou seja o desmonte do todo em partes para se entrever o funcionamento do objeto e com isso produzir o conhecimento A anaacutelise discursiva se situa mais proacutexima agrave Psicanaacutelise lacaniana como uma ldquoescuta engajadardquo da linguagem a partir da qual se percorre a constitutividade do sujeito

E percorrer a constitutividade do sujeito eacute embrenhar-se na movecircncia dos sentidos

Assim a estrutura eacute desvelada natildeo unicamente para concepccedilatildeo e produccedilatildeo do

conhecimento da materialidade em si dos objetos visiacuteveis vai aleacutem perscruta o

invisiacutevel no dizer o que na materialidade deixa apenas vestiacutegios indicaccedilotildees e sinais

mesmo que remotos Sobretudo uma sombra dispersa que reunificada indica uma

unicidade natildeo anunciada natildeo prevista no esquema da enunciaccedilatildeo

Esse caminho metodoloacutegico aproxima-se portanto do procedimento

analiacutetico no qual a anaacutelise se comporta como caminho ldquo[] eacute um caminho limitado

mas infinito Limitado porque sempre se ergue um limite que o faz parar E infinito

porque esse limite uma vez tocado desloca-se para o infinito sempre mais distanterdquo

(NASIO 1993 p 38) Perfaz um caminho espiralado de idas e vindas de

aproximaccedilatildeo e distanciamento procurando os sentidos na movecircncia dos

enunciados procurando regularidades na dispersatildeo De acordo com Santos

(2004 p 114) as regularidades satildeo

[] as evidecircncias significativas observadas na conjuntura enunciativa da manifestaccedilatildeo discursiva em estudo Essas evidecircncias aparecem como elementos de recorrecircncia de idiossincrasia enunciativa ou ainda de efeito provocado pela natureza na organizaccedilatildeo dos sentidos na enunciaccedilatildeo Eacute por meio das regularidades que se emoldura com mais clareza o toacutepico em investigaccedilatildeo pelo analista corroborando assim com as projeccedilotildees determinantes advindas dos objetivos hipoacuteteses e questotildees de pesquisa

Dada uma materialidade discursiva procura-se evidenciar os sentidos

histoacuterico-ideoloacutegicos nos discursos que constituem os sujeitos e suas praacuteticas O

corpus ndash reuniatildeo de discursos de uma formaccedilatildeo discursiva ndash expressa a

materialidade empiacuterica e objetiva a ser analisada Trata-se de

[] um banco de dados relativamente extenso e exaustivo coletado em documentos grafos condizentes agrave pesquisa ou documentado (anotado gravado ou filmado) a partir do dizer dos sujeitos em investigaccedilatildeo O registro do corpus portanto refere-se agrave descriccedilatildeo da accedilatildeo linguageira agrave sua seleccedilatildeo e organizaccedilatildeo de acordo com uma orientaccedilatildeo (SILVA 2006 p 185)

Os discursos do corpus geralmente passam por recortes seletivos

orientados pela intuiccedilatildeo do analista quanto a regularidades previstas nos

enunciados Na dispersatildeo eles calam mas seus sentidos aproximados

entrecruzados detidos no acircmbito histoacuterico-ideoloacutegico satildeo desentranhados da

opacidade e da transparecircncia aparente evocando outros sentidos que natildeo aqueles

encenados na enunciaccedilatildeo Isso distancia os recortes de mera ilustraccedilatildeo ou

exemplificaccedilatildeo remetendo o analista para o processo histoacuterico-ideoloacutegico para as

condiccedilotildees de produccedilatildeo para a incompletude para o contingente isto eacute para o

discurso

Esta acepccedilatildeo coloca a anaacutelise discursiva no paracircmetro de um dispositivo

de interpretaccedilatildeo ou seja ldquo[] ouvir naquilo que o sujeito diz aquilo que ele natildeo

diz mas que constitui igualmente os sentidos de suas palavrasrdquo (ORLANDI 2002 p

59) apreendendo deste modo o funcionamento dos sentidos a constituiccedilatildeo do

sujeito

A performance metodoloacutegica desta pesquisa trabalha assim com quatro

tipos de unidade de anaacutelise o discurso o fragmento discursivo a sequecircncia

discursiva e o lexema O fragmento discursivo a sequecircncia discursiva e o lexema

satildeo recortes na extensatildeo do discurso para propoacutesitos da anaacutelise lexema eacute a

unidade baacutesica de um leacutexico entendido como oposiccedilatildeo a um vocabulaacuterio o lexema

eacute colocado em relaccedilatildeo agrave Liacutengua e o vocaacutebulo em relaccedilatildeo agrave Fala O fragmento e a

sequecircncia discursivos estatildeo para recortes maiores e menores do discurso

respectivamente

Como visto neste capiacutetulo a Histoacuteria das Disciplinas Escolares me permite

circunscrever o saber a ser ensinado como recorte dentre outras possibilidades tais

como o saber ensinado e o saber apreendido o que nos remete diretamente aos

manuais didaacuteticos como documentos constitutivos do objeto da pesquisa Sobretudo

apresenta uma perspectiva pela qual determinados conhecimentos no ambiente

escolar revelam-se e consolidam-se como disciplinas sendo ressignificados para

um puacuteblico especiacutefico cumprindo certa finalidade da educaccedilatildeo bem como a

distribuiccedilatildeo dos papeis sociais nas relaccedilotildees de ensino e aprendizagem E nessa

direccedilatildeo o curriacuteculo e a legislaccedilatildeo educacional incluem-se como circunscriccedilatildeo

constitutiva do objeto de pesquisa

As abordagens sobre curriacuteculo em uma perspectiva mais histoacuterica que

teoacuterica ndash embora os laccedilos entre histoacuteria e teoria natildeo se separem ndash situam essa tese

a pensar historicamente a organizaccedilatildeo do curriacuteculo da Geografia escolar no periacuteodo

assinalado quanto aos interesses institucionais de sua proposiccedilatildeo a motivaccedilatildeo

poliacutetica a percepccedilatildeo da aprendizagem discente o estabelecimento do cotidiano

escolar e da metodologia de ensino A Histoacuteria do Curriacuteculo indica que compreender

o curriacuteculo e o programa eacute sondar as relaccedilotildees entre ideologia poder e saber bem

como a tradiccedilatildeo e o constructo histoacuterico inerente agrave sua composiccedilatildeo a indicaccedilatildeo

desse caminho faz encontro com a Anaacutelise do Discurso como perspectiva teoacuterico-

metodoloacutegica ou a compreensatildeo que tenho do ob

jeto em estudo e dos objetivos propostos A essa discussatildeo se remete o que

compreendo por discurso sujeito ideologia sentido formaccedilatildeo (histoacuterica ideoloacutegica

discursiva) heterogeneidade (constitutiva e mostrada) memoacuteria

No capiacutetulo seguinte apresento a pesquisa bibliograacutefica e faccedilo uma

discussatildeo descritiva sobre a mesma expondo aspectos gerais da trajetoacuteria do livro

didaacutetico de Geografia no Brasil

CAPIacuteTULO 2

DESCRICcedilAtildeO DA BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA (1814-1939) discussatildeo da trajetoacuteria constitutiva dos manuais de Geografia

Neste capiacutetulo apresento e discuto o levantamento bibliograacutefico suscitado

pela pesquisa expondo o conjunto de referecircncias que indicam os tiacutetulos autores

ediccedilotildees anos e locais de publicaccedilatildeo indicando a trajetoacuteria dos textos didaacuteticos de

Geografia A partir dele procuro definir um panorama histoacuterico que descreva o

surgimento e o desenvolvimento dos manuais de Geografia Aleacutem disso instituo as

fontes discursivas da tese dessa bibliografia que apresenta livros produzidos ndash

compendiados traduzidos adaptados ndash ou importados para o ensino de Geografia

brasileiro Algumas obras de relevacircncia direta agrave produccedilatildeo desses textos mas que

natildeo satildeo propriamente textos didaacuteticos foram relacionadas no Apecircndice 1 como

Casal (1817) Wappoeus (1884) Sellin (1889) indicados como manuais didaacuteticos

por Colesanti (1984) Lourenccedilo (1996) e outros

21 A bibliografia didaacutetica de Geografia

Para esse levantamento pesquisei informaccedilotildees em diversas fontes sobre

cada tiacutetulo e autor confrontando-as para listar as referecircncias com fidelidade14 Em

sua maior parte como em programas curriculares extratos de cataacutelogos cataacutelogos

de bibliotecas dentre outros as informaccedilotildees satildeo incompletas haacute divergecircncias

ortograacuteficas abreviaccedilotildees que dificultam a fixaccedilatildeo das informaccedilotildees suscitando

duacutevidas Em Sacramento Blake (1893 a 1903) por exemplo eacute comum encontrar

unicamente o nome do autor o tiacutetulo e o ano de uma publicaccedilatildeo agraves vezes soacute o

14

A principal relaccedilatildeo de fontes estaacute mencionada nas Consideraccedilotildees Iniciais e apresentada nas referecircncias

autor e o tiacutetulo tambeacutem muitas vezes divergentes embora tenha sido uma fonte

indispensaacutevel para o estabelecimento de pistas investigadas em outros lugares

Recapitulando entendo por ldquobibliografia didaacutetica de Geografiardquo o acervo

material e sua referenciaccedilatildeo dos tiacutetulos didaacuteticos da disciplina em questatildeo satildeo as

materialidades que tiveram uma vida escolar servindo ao ensino expliacutecito da

Geografia por extensatildeo igualmente pode ser compreendida como bibliografia toda

descriccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo pertinente ao Acervo aquele que agrega toda a

produccedilatildeo existente ou ao acervo de pesquisa Como sistematizaccedilatildeo da bibliografia

em questatildeo o levantamento do Quadro 01 exposto a seguir organiza-se em ordem

cronoloacutegica expondo as primeiras ediccedilotildees ou a ediccedilatildeo mais antiga localizada

constando ainda todas as ediccedilotildees identificadas da obra de forma que a par da

trajetoacuteria do livro didaacutetico de Geografia procurei registrar o percurso de cada

documento indicando as ediccedilotildees que o tiacutetulo teve ao longo de sua trajetoacuteria o que

demonstra as alteraccedilotildees que a obra passou em seu curso de vida uacutetil tais como

alteraccedilotildees no tiacutetulo cooperaccedilatildeo de terceiros autores transferecircncias casas

publicadoras dentre outras

Nomeio duas distinccedilotildees para cada documento elencado tiacutetulo como uma

obra individual apesar das alteraccedilotildees que possam ter sofrido sua nomeaccedilatildeo e

ediccedilatildeo que corresponde agraves tiragens ou conjunto de sucessivas tiragens de uma

obra incorporando ou natildeo alteraccedilotildees correccedilotildees ampliaccedilatildeo desde que assim for

nomeada a tiragem Esta distinccedilatildeo eacute necessaacuteria pois dimensiona e redimensiona a

reproduccedilatildeo de uma bibliografia

Assim posto o levantamento bibliograacutefico apresentado a seguir no periacuteodo

compreendido entre 1814 e 1939 expressa 276 tiacutetulos perfazendo 510 ediccedilotildees

identificadas15 Natildeo identificadas pela pesquisa mas deduzidas a partir da maior

ediccedilatildeo indicada teriacuteamos outras 441 ediccedilotildees o que sem precisatildeo indica que esse

acervo teve 950 ediccedilotildees ao longo do periacuteodo um nuacutemero apenas aproximado e

com certeza bem abaixo dessa expressatildeo real ateacute porque natildeo tenho garantia de

que a uacuteltima seja realmente a uacuteltima

15

Outros conhecidos levantamentos similares de manuais didaacuteticos para o periacuteodo apontam 25 tiacutetulos para os quais as ediccedilotildees natildeo foram contabilizadas (COLESANTI 1984) e 117 ediccedilotildees (LOURENCcedilO 1996)

QUADRO 01 ndash Bibliografia didaacutetica brasileira de Geografia (1814-1939)

1ordf Ed ou ediccedilatildeo mais

antiga identifica-

da

Demais ediccedilotildees

identifica-das

BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA

1814 - GUIMARAtildeES Manoel Ferreira de Arauacutejo Elementos de Astronomia Para uso dos alumnos da Academia Real Militar Rio de Janeiro Impressatildeo Reacutegia 1814

1818

1821

1822

1824

PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinaacuterios agraves idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Impressatildeo Reacutegia 1818

PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Typ Real 1821

PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Typ Nacional 1822

PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Typ Nacional 1824

1823 -

TILBURY Guilherme Paulo Breve introducccedilatildeo ao estudo de Geographia adaptado ao uso dos mappas francezes e inglezes Offerecida a S M o Senhor D Pedro I Rio de Janeiro Typ Nacional 1823 197 p

1824 - TORREAtildeO Bazilio Quaresma Compendio de Geographia universal Rezumido de diversos authores e offerecido aacute mocidade brazileira London L Thompson (na officina portugueza) 1824 528 p

1824 -

HUM BRASILIANNO Noccedilotildees elementares de Geographia por hum antigo professor da Universidade de Paris impressas no anno de 1820 e tradusidas em 1823 por hum brasilianno para instrucccedilatildeo da mocidade do Brasil Rio de Janeiro Typographia de Silva Porto 1824 26 p

1826 -

CASAL Pe Manoel Ayres de Introducccedilatildeo da Geographia brazilica da parte que trata da Bahia composta por um presbytero secular do gratildeo-priorado do Crato e mandada imprimir para instrucccedilatildeo da mocidade bahiense por um professor da mesma Organizada anonimamente por Ignaacutecio Apriacutegio da Fonseca Galvatildeo Bahia [s n] 1826

1827 -

ARAUacuteJO Joseacute Paulo de Figueiroa Nabuco de Compendio cientifico para a mocidade brazileira destinado ao uso das escolas dos dois sexos ornado de nove estampas acomodadas aacute arte e aacutes sciencias de que nele se trata tiradas por litografia Oferecido agrave heroacuteica e

briosa naccedilatildeo brasileira etc Rio de Janeiro P Plancher 1827

1829 -

REBELLO Domingos Joseacute Antonio Corografia ou abreviada historia geographica do imperio do Brasil coordenada acrescentada e dedicada aacute casa pia e collegio dos orfatildeos de S Joaquim desta cidade Para uso de seos alumnos a fim de adquirirem conhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em geral e seo descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente da provincia e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos Rio de Janeiro Typographia Imperial e Nacional 1829 260 p

1830 -

LIMA Manoel Ildefonso de Souza Elementos de Geographia astronomica politica e physica Apresenta um mappa Rio de Janeiro [s n] 1830 65 p

1830 -

LISBOA Manoel Ignacio Soares Elementos de Geographia Astronomica Poliacutetica e Physica Dedicados a sua Alteza Imperial o Sr D Pedro Principe Imperial do Brasil para uso das Escolas Brasileiras Rio de Janeiro Typographia Torres 1830 65 p

1832 - GOUVEcircA Agostinho Marques de Novo cathecismo geographico brazileiro Offerecido aos senhores paes de famiacutelia e professores de ambos os sexos Rio de Janeiro [s n] 1832

1835 -

BEAUREPAIRE Jacques Antonio Marcos de [Conde de BEAUREPAIRE] Compendio de Geographia universal contendo a divisatildeo particular de todas as regiotildees do mundo conhecido e com especialidade do impeacuterio do Brazil por um official general do exercito Rio de Janeiro Laemmert 1835 2 tomos

1835 - MULLER Daniel Pedro Cathecismo de Geographia Rio de Janeiro [s n] 1839[]

1835 -

UM OFFICIAL GENERAL DO EXERCITO [Pseud] Compendio de Geographia universal contendo a descripccedilatildeo particular de todas as regiotildees do mundo conhecido e com especialidade do Impeacuterio do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1835

1836 - PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Compendio de Geographia elementar Para uso das escolas brazileiras Rio de Janeiro Typ de R Ogier 1836 210 p

1836 - COMPENDIO de Geographia para uso das aulas de primeiras lettras Recife Typographia de Santos 1836 64 p

1836 - OLIVEIRA Affonso Joseacute de Compendio de Geographia universal extrahida de diversos auctores Recife Typographia de M F de Faria 1836 136 p

1838 -

ROCHA Justiniano Joseacute da Compendio de Geographia elementar Offerecido ao governo de S M I e por ele aceito para uso dos alumnos do Imperial Coleacutegio de Pedro II 2 ed Rio de Janeiro Typ Nacional 1838 142 p

1839 - POELITZ H L Resumo da Historia Universal para uso da aula de Historia e Geographia Adaptaccedilatildeo de Julio Frank Satildeo Paulo Graphica Costa Silveira 1839

1839 -

RESUMO de historia universal para uso da aula dhistoria e Geographia da academia de sciencias Satildeo Paulo Typographia de M F Costa Silveira 1839

184- 1852

BRANDAtildeO Antonio Pinto da Costa de Souza Noccedilotildees preliminares de Geographia em forma de dialogo com especial applicaccedilatildeo ao imperio do Brazil Rio de Janeiro [s n] 184- 74 p

BRANDAtildeO Antonio Pinto da Costa de Souza Noccedilotildees preliminares de Geographia em forma de dialogo com especial applicaccedilatildeo ao imperio do Brazil 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1852 74 p

1840 - BELLEGARDE Pedro drsquoAlcacircntara Introducccedilatildeo corographica a historia do Brazil Rio de Janeiro Typographia de J E S Cabral 1840

1840 - SANTA GERTRUDES Joseacute Policarpo de Elementos de Geographia para uso das escolas da instruccedilatildeo primaria da provincia do Rio de Janeiro Nitheroy Typographia Nietheroy 1840 219 p

1842

1868

1871

FREESE Joatildeo Henrique Compendio de Geographia e historia seguido de um epitome sobre os globos e seus circulos e de um trabalho chronologico dos principaes acontecimentos da historia do Brazil desde o seu descobrimento ateacute a coroaccedilatildeo de S M I o Sr D Pedro II Rio de Janeiro Typ de J E S Cabral 1842 106 p

FREESE Joatildeo Henrique Compendio de Geographia e historia seguido de um breve epitome sobre os globos e seus circulos por Joatildeo Henrique Freese 3 ed revista e consideravelmente augmentada na parte que trata da Geographia physica e inteiramente nova a Geographia com referencia politica segundo os mais recentes acontecimentos com uma descripccedilatildeo do impeacuterio do Brazil e um elenco de todas as cidades e villas por Joatildeo Baptista Collogeras Rio de Janeiro [s n] 1868 124 p

FREESE Joatildeo Henrique Compendio de Geographia e historia seguido de um epitome sobre os globos e seus circulos e de um trabalho chronologico dos principaes acontecimentos da historia do Brazil desde o seu descobrimento ateacute a coroaccedilatildeo de S M I o Sr D Pedro II 4 ed Rio de Janeiro Livraria de Agostinho de Freitas Guimaratildees amp Cia 1871 126 p

1845

(2 ed) 1873

BREVES Noccedilotildees de Geographia Universal mui accrescentadas na parte respectiva ao Impeacuterio do Brasil para uso da mocidade estudiosa 2 ed Rio de Janeiro E amp H Laemmert 1845 70 p

BREVES Noccedilotildees de Geographia Universal mui accrescentadas na parte respectiva ao Impeacuterio do Brasil para uso da mocidade estudiosa 3 ed Rio de Janeiro E amp H Laemmert 1873 70 p

1846 - CAVALCANTI Luiz Paulino Geographia elementar [s l] [s n] 1846

1845 -

SOUZA Francisco Nunes de Nocccedilotildees elementares de Geographia astronomica physica e politica redigidas segundo um novo plano methodico theorico e pratico e adaptadas para servir de compendio nas academias

lyceos etc como para ministrar os rudimentos de Geographia propriamente dita sem auxilio e dependecircncia de professor Rio de Janeiro [s n] 1845

185- - BANDEIRA Antonio Rangel Torres Geographia antiga

16 Recife 185-

Mimeo

1850 - BRANDAtildeO Antonio Pinto da Costa de Souza Diaacutelogo Geographico para uso de suas disciacutepulas e alumnas do Collegio de Satildeo Joatildeo em Satildeo Christovatildeo Rio de Janeiro Typographia Francesa 1850 44 p

1851

1856

1859

1864

1869

BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Elementos de Geographia Offerecidos agrave mocidade cearense Fortaleza Typographia de Paiva e Companhia 1851 284 p

BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio de Geographia Adoptado no collegio de Pedro II e nos lyceos e seminaacuterios do Impeacuterio 2 ed Cearaacute Typographia de Paiva e Companhia 1856 536 p

BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil 3 ed augmentuda e correcta Rio de Janeiro Domingos Joseacute Gomes Brandatildeo e Irmatildeos 1859 519 p

BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil 4 ed augmentada e cuidadosamente corrigida Rio de Janeiro Typographia Universal de Lammert 1864 556 p

BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Typographia Universal de Lammert 1869 556 p

1853[] - MONSERRATE Fr Camillo de Liccedilotildees de Geographia antiga

17 Rio de

Janeiro [s n] 1853[]

1854 - PEREIRA Joatildeo Felix Chorographia do Brazil Lisboa Imprensa de Lucas Evangelista 1854 352 p

1855

(2 ed)

1867

1872

1878

ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia 2 ed Paris Casa de Va J P Aillaud Monlon amp Cia 1855

ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia Traduzidas em portuguez por uma sociedade de litteratos portuguezes Ediccedilatildeo noviacutessima inteiramente refundida e consideravelmente augmentada feita sobre a ultima franceza contendo agora pela vez primeira mui interessantes e numerosas addiccedilotildees e mudanccedilas indispensaacuteveis sobre as novas divisotildees dos estados da Europa e importantiacutessimos desenvolvimentos sobre a Geographia topographia e estatiacutestica do Impeacuterio do Brazil e das republicas americanas e com especialidade a Chorographia portugueza por J-I Roquette acompanhadas de uma estampa geomeacutetrica e cosmographica e com um SUPPLEMENTO mencionando as mudanccedilas que sobrevieram durante a impressatildeo da obra Paris J-P Aillaud Guillard amp Cia 1867

ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia Paris Guillard Aillaud amp

16

De acordo com Sacramento Blake os manuscritos deste livro eram utilizados nas aulas que o autor ministrava

17 Conforme Sacramento Blake nesta obra haacute o programma do curso da aula para o anno de 1853

nas paacuteginas 94 e 95 seguida pelo autor natildeo foi possiacutevel a localizaccedilatildeo dessa obra

Cia 1872 595 p

ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia Paris Guillard Aillaud amp Cia 1878 659 p

1856 1880

ALBUQUERQUE Salvador Henrique de Noccedilotildees de Geographia para uso das escolas Pernambuco Typ Universal 1856 46 p

ALBUQUERQUE Salvador Henrique de Compendio de chorographia universal especial do Brazil e da provincia de Pernambuco approvado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica de Pernambuco 2 ed melhorada e muito augmentada Rio de Janeiro Typ Universal de Eduardo amp Henrique Laemmert 1880 138 p

1857 -

PACHECO Joseacute Praxedes Pereira Breves noccedilotildees para se estudar com methodo a Geographia do Brasil Ensaio para pela primeira vez indicar os tanques mariacutetimos no Atlacircntico as vertentes delles as valladas ou bacias que ellas encerratildeo accommodando o Brasil ao ultimo plano de estudos para o impeacuterio francez se guindo a Geographia da Franccedila Rio de Janeiro Ediccedilatildeo do Autor 1857 204 p

1858

1865

1870

1882

BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios Rio de Janeiro Laemmert 1858 134 p

BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios Rio de Janeiro Laemmert 1865 170 p

BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios 3 ed Rio de Janeiro E amp H Laemmert 1870 181 p

BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios 6 ed Rio de Janeiro Typ Universal de H Laemmert 1882 206 p

1858 -

LEAtildeO Manuel do Rego Barros de Souza Elementos de Geographia compilados de diversos autores Recife [s n] 1858 Tomo I

1859 -

LEAtildeO Manuel do Rego Barros de Souza Elementos de Geographia compilados de diversos autores Trata da Geographia astronoacutemica como se declara no fim onde ha algumas paginas em additamento ao primeiro Recife [s n] 1859 Tomo II

186- - ABREU Pedro Joseacute Pontos de Geographia physica [s l] [s n] 186-

186- -

SANTOS Ignacio Francisco dos Simples noccedilotildees de cosmographia e Geographia compiladas e traduzidas para uso da infacircncia nas escolas de instrucccedilatildeo primaria Pernambuco [s n] 186-

186- - ALBUQUERQUE Severino Bezerra de Geographia geral [s l] [s n]186-

186- - OLIVEIRA Joseacute Joaquim Machado de Liccedilotildees de Geographia Satildeo Paulo [s n] 186-

1860 -

PEREIRA Manuel da Silva Elementos de Geographia e astronomia compendio offerecido e dedicado ao Illm Sr Dr Abiacutelio Cezar Borges Bahia Typographia Poggeti de Catilina amp Cia 1860 228 p

1860 1871

ESPIacuteNDOLA Thomaz do Bonfim Geographia physica politica histoacuterica e administrativa da proviacutencia de Alagoas offerecida ao Exm Sr Dr Pedro Leatildeo Velloso presidente da mesma proviacutencia Maceioacute [s n] 1860 33 p e mais fls de mappas

ESPINDOLA Thomaz do Bom-Fim Geographia alagoana ou descripccedilatildeo phyisica politica e historica da provincia das Alagoas 2 ed muito augmentada e cuidadosamente correcta Maceioacute Typographia do Liberal 1871 483 p

1860

1869

1875

1880

1885

1902

MENEZES Estaacutecio de Saacute [pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier Rio de Janeiro B L Garnier 1860 283 p

MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier 2 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1869 287 p

MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier 3 ed Rev e acres por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1875 287 p

MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methodo Gaultier 4 ed Rev e acres por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1880 291 p

MENEZES Estacio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methodo Gaultier 5 ed Rev e acres por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1885 332 p

MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methodo Gaultier Augmentada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1902 332 p

1861 - MOURE J G Amedeo MALTE-BRUN Tratado de

Geographia elementar physica histoacuterica eclesiaacutestica e politica do imperio do Brasil Paris Aillaud Monlon amp Cia 1861

1862 -

OLIVEIRA Brigadeiro Joseacute Joaquim Machado de Geographia da provincia de S Paulo adaptada aacute liccedilatildeo das escolas e offerecida aacute assembleacutea legislativa provincial Satildeo Paulo Impressatildeo da Proviacutencia de Satildeo Paulo Typ Imparcial de J R Azevedo Marques 1862 122 p

1862 1866

REGO Antonio do Rudimentos de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria Maranhatildeo [s n] 1862 82 p

REGO Antonio do Rudimentos de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria 2 ed Maranhatildeo [s n] 1866 85 p

1863

1867

1870

1871

1875

1882

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna para uso dos alunnos do imperial Collegio de Pedro II Rio de Janeiro Typ de Pinheiro 1863 223 p

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1867 280 p

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 3 ed Rio de Janeiro [s n] 1870

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 4 ed Rio de Janeiro [s n] 1871

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 5 ed Rio de Janeiro Typographia do Apoacutestolo 1875 260 p

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 7 ed Rio de Janeiro Typographia do Apoacutestolo 1882 260 p

1863 1868

1872 BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul Porto Alegre

1877

1881

Typographia Deutsche-Zeitung 1863 54 p

BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 2 ed Porto Alegre Typographia O Rio Grande 1868 54 p

BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 3 ed Porto Alegre J Alves Editor 1872 103 p

BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 4 ed Porto Alegre Typographia Perseveranccedila 1877 103 p

BERLINCK Eudoro Brazileiro [BERLINK] Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 5 ed Porto Alegre J Alves Editor 1881 104 p

1863 -

BORGES Abiacutelio Cezar (Baratildeo de Macahubas) Epitome de Geographia physica para uso dos alumnos da classe elementar da mesma sciencia no gymnasio bahiano Bahia Camillo de Lellis Masson 1863 58 p

1863 - RUBIM Joaquim Frederico Kiappe da Costa Liccedilotildees histoacutericas e geographicas do Brasil extraiacutedas dos melhores autores Rio de Janeiro Typ de Pinheiro 1863 86 p

1863

(8 ed) 1879

FREITAS Joaquim Pedro Correcirca Noccedilotildees de Geographia e de Historia do Brazil para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria da proviacutencia do Paraacute 8 ed corr e aum Paraacute [s n] 1863 100 p

FREITAS Joaquim Pedro Correcirca Noccedilotildees de Geographia e de Historia do Brazil para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria da proviacutencia do Paraacute Paraacute [s n] 1879 100 p

1864 - SOUZA Thomas Pompeu Liccedilotildees de Geographia geral Rio de Janeiro Imprensa Oficial 1864

1865 - CASTRO Eduardo de Saacute Pereira de Postillas de Geographia astronoacutemica Rio de Janeiro Typographia Episcopal de Antonio Gonccedilalves Guimaratildees amp Cia 1865 91 p

1865

(8 ed) -

MONTEVERDE Emilio Achilles Manual encyclopedico para uzo das escolas drsquoinstrucccedilatildeo primaria Approvado pelo Conselho Geral DrsquoInstrucccedilatildeo Publica 8 ed Lisboa Imprensa Nacional 1865 702 p

1869 1874

PINTO Alfredo Moreira Elementos de Geographia moderna Rio de Janeiro [s n] 1869

PINTO Alfredo Moreira Elementos de Geographia moderna 2 ed consideravelmente augmentada Rio de Janeiro [s n] 1874

187-[] - FERREIRA Gustavo Adolpho Ramos Compendio de Geographia [s l] [s n] 187-[]

187- 1880

BITTENCOURT Joseacute Correia de Mello Elementos de Geographia physica contendo a descripccedilatildeo especial de cada paiz e organisados segundo o actual programma de exames geraes da instrucccedilatildeo publica Rio de Janeiro

[s n] 187- 128 p

BITTENCOURT Joseacute Correia de Mello Elementos de Geographia physica contendo a descripccedilatildeo especial de cada paiz e organisados segundo o actual programma de exames geraes da instrucccedilatildeo publica 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1880 128 p

187- - SANTOS Presalindo Lery Curso elementar de Geographia moderna Rio de Janeiro [s n] 187-

187- -

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia elementar ornada com gravuras obra approvada pelo conselho da instrucccedilatildeo publica da corte e mandada admittir pelo ministeacuterio da guerra na escola militar Rio de Janeiro [s n] 187-

1870 - SILVA Vasco de Araujo e Noccedilotildees de Geographia Porto Alegre [s n] 1870

1870 -

LACERDA Joaquim Maria de Tratado elementar de Geographia physica politica e astronocircmica composto para uso das escolas brasileiras Nov Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Livraria de B L Garnier 1870 352 p

1870

1880

1884

1887

1895

LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronomica com estampas coloridas para as classes inferiores da instrucccedilatildeo segundaria Rio de Janeiro H Laemmert amp Cia 1870 256 p

LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronomica compostos para uso das escolas brasileiras 2 ed Paris Typ Pillet et Dumoulin 1880 256 p

LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronocircmica 3 ed Rio de Janeiro Typographia do Commercio 1884 264 p

LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica commercial e astronomica compostos para uso das escolas brasileiras 4 ed Melhorada pelo autor e por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1887 264 p

LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronomica com estampas coloridas para as classes inferiores da instrucccedilatildeo segundaria Contendo 12 cartas geographicas 5 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1895 278 p

1871 -

SAacute Luiz de Franccedila Almeida e Compendio de Geographia da provincia do Paranaacute adaptado ao ensino da mocidade brazileira e acompanhado de cento e trinta notas instructivas Rio de Janeiro Typ Universal de E amp H Laemmert 1871 88 p

1873 - LEITE Dr Tobias Rabello Liccedilotildees de Geographia do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1873

1873 - LIMA Arcelino de Queiroz Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brazil Cearaacute [s n]

1873

1873 -

MACEDO Joaquim Manoel de Noccedilotildees de corographia do Brazil Rio de Janeiro Typ Franco-Americana 1873 233 p

MACEDO Joaquim Manoel de Noccedilotildees de corographia do Brazil Rio de Janeiro [s n] 1873 Tomo I 223 Tomo II 424 p

MACEDO Joaquim Manoel de Noccedilotildees de corographia do Brazil Traduccedilatildeo inglesa por H L Sage Leipzig F A Brocklaus 1873

MACEDO Joaquim Manoel de Notions de chorographie du Breacutesil Traduccedilatildeo francesa por J F Halbout Leipzig F A Brocklaus 1873

MACEDO Joaquim Manoel de Geographische Beschreibung Brasiliens von Joaquim Manoel de Macedo Uebersetzt von M P Alves Nogueira und Wilhelm Theodro v Schiefler Leipzig F A Brocklaus 1873 535 p

1873 - MAURY Tenente Geographia physica Traduccedilatildeo de L A da Costa Aguiar Rio de Janeiro Paris B L Garnier 1873 200 p

1874 1876

MARQUEZ Pilippe Pinto Compendio de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria seguido de brevissimas noccedilotildees do cosmographia physica e historia natural Paraacute Livraria Claacutessica 1874 134 p

MARQUEZ Pilippe Pinto Compendio de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria seguido de brevissimas noccedilotildees do cosmographia physica e historia natural 2 ed Paraacute Livraria Claacutessica 1876 132 p

1875 1878

PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes Elementos de Geographia universal geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infacircncia escolar da provincia de Pernambuco de conformidade com o programma da lei n 1143 art 33 sect 7ordm que rege a instruccedilatildeo na proviacutencia Recife Typographia Mercantil 1875 173 p

PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes Elementos de Geographia universal geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infacircncia escolar da provincia de Pernambuco de conformidade com o programma da lei n 1143 art 33 sect 7ordm que rege a instruccedilatildeo na proviacutencia Recife [s n] 1878 106 p

1876 1884

PEREIRA Jeronymo Sodreacute Compendio de Geographia elementar especialmente do imperio do Brazil Bahia Imprensa Econocircmica 1876

PEREIRA Jeronymo Sodreacute Compendio de Geographia elementar especialmente do Brazil 2 ed Bahia Lopes da Silva amp Amaral 1884

420 p

1876 -

ZALUAR Augusto Emilio Liccedilotildees das cousas inanimadas e animadas guia dos professores e das matildees que quizerem instruir-se para communicar a seus filhos uma grande somma de conhecimentos praticos principiando a explicar-lhes logo que comeccedilam a balbuciar as primeiras palavras o que eacute e para que serve tudo o que os rodeia Com vinhetas e desenhos Rio de Janeiro [s n] 1876

1877 - LOPES Luiza Carolina de Araujo Liccedilotildees de Geographia particular do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1877

1877 - PONTO de Geographia segundo o programa para os exames gerais em 1877 por um professor de Geographia Rio de Janeiro Typographia J G de Azevedo 1877 32 p

1877 -

MACEDO Joaquim Manoel de Liccedilotildees de Corographia do Brazil para uso dos alumnos do imperial Colleacutegio de Pedro II Rio de Janeiro B L Garnier 1877 294 p

1879 - PINTO Colimeacuterio Leite de Faria Compecircndio de Geographia do Brasil

18 Compilaccedilotildees 1879 Mimeo

188-[] -

BRAZIL Thomaz Pompeu de Souza (Filho) Liccedilotildees do Geographia geral Na opiniatildeo de um competente eacute o melhor trabalho sobre o assumpto escripto na liacutengua portugueza [S l] [s n] 188-[]

188-

1902

1904

1920

F I C [Frere Ignace Chaput] Terra illustrada Geographia universal physica etnographica politica economica dos cinco partes do mundo Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Livraria Garnier 188-

F I C [Frere Ignace Chaput] A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica das cinco Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Garnier 1902 651 p

F I C [Frere Ignace Chaput] A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica das cinco Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Garnier 1904 651 p

F I C [Frere Ignace Chaput] A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica politica e economica das cincos partes do Mundo Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Garnier 1920 644 p

188-

(2 ed) -

PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees de Geographia astronoacutemica 2 ed Rio de Janeiro [s n] 188-

188- - LEAL Domingos Theophilo de Carvalho Compendio de noccedilotildees de

18

Natildeo foi editado segundo Sacramento Blake

Geographia Manaus [s n] 188-

188- - OLIVEIRA L C de Geographia Bahia Tipografia de Affonso Ramos amp Cia 188-

188- -

LOPES Joatildeo Baptista Pires de Castro Geographia patria infantil Escripta em verso para uso das classes primarias [S l] [s n] 188-

188- -

PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes Compendio de Geographia da proviacutencia de Pernambuco 188- Mimeo Ineacutedito

1880 1882

GEIKIE Archibald Geographia Physica Trad e adapt de Carlos Jansen Rio de Janeiro Satildeo Paulo Laemmert amp Cia 1880 (Col Bibliotheca do ensino intuitivo Primeira serie de sciencias naturaes Opuacutesculos elementares adaptados ao portuguez 1)

GEIKIE Archibald Geographia Physica 2 ed correta e melhorada Trad e adapt de Carlos Jansen Rio de Janeiro Satildeo Paulo Laemmert amp Cia 1882 (Col Bibliotheca do ensino intuitivo Primeira serie de sciencias naturaes Opuacutesculos elementares adaptados ao portuguez 1)

1881

RIBEIRO Hilaacuterio Geographia do Rio Grande do Sul Porto Alegre Ed Carlos Pinto amp Cia 1880 50 p

RIBEIRO Hilaacuterio Geographia do Rio Grande do Sul 2 ed Porto Alegre Typografia da Livraria Americana 1881 58 p

1880

(2 ed)

1884

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1928

1930

1932

1934

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 2 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1880 96 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 3 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1884 96 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 4 ed Melhorada com seis cartas coloridas das cinco partes do mundo sendo a ultima melhorada com seis cartas das cinco partes do mundo sendo a ultima um lindo mappa do Brazil Rio de Janeiro B L Garnier 1887 97 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 5 ed Corrigida e actualizada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1890 97 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia para uso das escolas primarias 6 ed Feita por L L Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1895 108 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 9 ed Corrigida e actualizada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1898 97 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da Infacircncia composta para uso das escolas primaacuterias Rio de Janeiro Francisco

Alves amp Cia 1908 126 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Francisco Alves amp Cia 1910 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1913 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Francisco Alves 1914 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1915 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1917 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1918 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Enriquecida com 8 bellas cartas coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1924 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da Infacircncia composta para uso das Escolas Primaacuterias Curso Primeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1928 p 128

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1930 128 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Enriquecida com 6 bellas cartas coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil Corrigida e actualizada por por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1932 128 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Enriquecida com 6 bellas cartas coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil Corrigida e actualizada por por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1934 128 p

1880 -

ZALUAR Augusto Emilio Noccedilotildees elementares de Geographia compiladas para uso das escolas primarias Eacute escripto de accocircrdo com os pontos de Geographia que satildeo hoje preparatoacuterio para a matricula do primeiro anno do Collegio de Pedro II Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de N Alves 1880 123 p

1880 - UM PROFESSOR Elementos de Geographia Physica Compilado segundo os melhores autores por um professor Rio de Janeiro Typographia de Pinheiro amp Cia 1880 215 p

1881 1882

1897

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de cosmographia organisados etc Porto Alegre [s n] 1881 96 p

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de cosmographia organisados etc Porto Alegre [s n] 1882 108 p

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de cosmographia 3 ed Rio de Janeiro Cunha 1897 160 p

1881 1883

VEIGA Fernando Augusto da Silva Curso regimental ou livro do soldado organizado etc Segundo anno Comprehende a grammatica arithmetica geometria Geographia geral e noticia abreviada do imperio do Brazil e de sua constituiccedilatildeo Rio de Janeiro [s n] 1881 240 p

VEIGA Fernando Augusto da Silva Curso regimental ou livro do soldado organizado etc Segundo anno Comprehende a grammatica arithmetica geometria Geographia geral e noticia abreviada do imperio do Brazil e de sua constituiccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1883 240 p

1881 - PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees de Geographia universal Rio de Janeiro [s n] 1881

1881 - PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees elementares de Geographia do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1881

1881 1893

PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees elementares de corographia do Brazil para uso das escolas primarias Rio de Janeiro [s n] 1881

PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil Rudimentos Para as escolas primarias 2 ed ornada de tres cartas Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves e Cia 1893

1881 1891

1895

PINTO Alfredo Moreira Rudimentos de corographia do Brazil Para uso das escolas primarias Rio de Janeiro Paris Alves amp C Guillard Aillaud amp Cia 1881 16 p

PINTO Alfredo Moreira Rudimentos de Chorographia do Brazil 2 ed Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves 1891 16 p

PINTO Alfredo Moreira Rudimentos de Chorographia do Brazil 3 ed Rio de Janeiro Paris Alves amp C Guillard Aillaud amp Cia 1895 16 p

1882[] - DrsquoSAacute Lemos Elementos de Geographia [s l] [s n] 1882[]

1882 - SILVA Viriato Augusto da Corographia do Brasil Lisboa [s n] 1882

1883 - CARVALHO Joaquim Joseacute de Breves noccedilotildees de Geographia e corographia do Brazil Formuladas de accordo com o novo programma de exames geraes de

preparatorios Rio de Janeiro [s n] 1883 127 p

1883

1885

1889

190-[]

PINTO Alfredo Moreira Geographia das proviacutencias do Brazil Rio de Janeiro Livraria Nicolau Alves Alves amp Cia 1883 254 p

PINTO Alfredo Moreira Geographia das provincias do Brazil 2 ed Rio de Janeiro Livraria Nicolau Alves Alves amp Cia 1885 254 p

PINTO Alfredo Moreira Geographia das provincias do Brazil 3 ed Rio de Janeiro Livraria claacutessica de Alves amp Cia 1889 288 p

FREIRE [da Silva] Olavo Chorographia do Brasil (curso superior)19 4 ediccedilatildeo muito augmentada Adoptada na escola normal da capital federal no gymnasio nacional na escola normal do estado do Rio de Janeiro na de S Paulo etc [S l] [s n] 190-[]

1883 -

FRAZAtildeO Manoel Joseacute Pereira Noccedilotildees de Geographia do Brazil para uso da mocidade brazileira Rio de Janeiro Typ Esperanccedila de J dAguiar amp C 1883 198 p

1883 - CARVALHO FILHO Joaquim J Breves licccedilotildees de Geographia e corographia do Brasil [S l] [s n] 1883

1883 -

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Corografia do Brasil ndash Pontos escritos de Geographia Porto Alegre Editor Rodolpho Joseacute Machado 1883 78 p

1884 - AZURARA Joatildeo Joseacute Pereira de Pequena Geographia do Brazil Methodo intuitivo para uso dos alumnos do curso primaacuterio do Externato Azurara Santos Typ do Diaacuterio de Santos 1884 99 p

1884 -

VASCONCELLOS Ezequiel Benigno de Pontos de Geographia do Brazil segundo o novo programma para os exames geraes de preparatoacuterios Prova escripta Rio de Janeiro [s n] 1884

1884 -

NERY Raymundo Agostinho Noccedilotildees geraes de Geographia universal contendo particularmente a Geographia do imperio do Brazil e a da provincia do Amazonas acompanhadas de 17 figuras no texto Compendiadas por Raymundo A Nery Paris Guillard Ailtaud et Cia 1884

1884

(3 ed)

1887

1892

1895

1901

1902

1908

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 3 ed Rio de Janeiro H Laemmert amp Cia 1884 424 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas

19

Antigamente publicada com o titulo de Geographia das Proviacutencias do Brasil contendo uma carta geographica de cada Estado do Brasil desenhada por Olavo Freire texto pelo Dr Moreira Pinto obra premiada pelo juri de uma exposiccedilatildeo pedagoacutegica

1910

1911

1912

1914

1915

1918

brazileiras 5 ed Rev por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro H Laemmert amp Cia 1887 424 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 5 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1892 432 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 6 ed Rev por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Garnier 1895 420 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 7 ed Rio de Janeiro Garnier 1898 420 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Rio de Janeiro B L Garnier 1901 432 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Rio de Janeiro B L Garnier 1902 432 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Melhorada pelo Pe Joseacute Severiano de Rezende Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1908 532 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1910 554 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1911 554 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1912 556 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1914 556 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alvesamp Cia 1915 556 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso Methodico de Geographia Physica Poliacutetica Historia Commercial e Astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por

Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1918 464 p

1884 - SANCTOS Affonso Joseacute dos Elementos de Cosmographia Rio de Janeiro Paris Garnier 1884 178 p

1885 -

CARVALHO Joaquim Joseacute de Noccedilotildees elementares de Geographia do Brasil Para uso dos alunnos do curso primario do colegio Amorim Carvalho e das escolas do corpo militar de policia da corte Rio de Janeiro [s n] 1885 74 p

1885 - BURGAIN Joseacute Julio Augusto Geographia patria elementar Rio de Janeiro B L Garnier 1885 110 p

1885 -

PALHA Joseacute Egydio Garcez LAMARE Joseacute Victor de Livro do aprendiz marinheiro Mandado confeccionar por ordem etc de accordo com o art 15 do regulamento que baixou com o decreto n 9371 de 14 de fevereiro de 1885 O primeiro volume sob o tiacutetulo Ensino elementar contam Leitura Grammatica portugueza Doutrina cristatilde Desenho linear Mappas regimentaes Noccedilotildees de Geographia Elementos de arithmetica e principios de systema meacutetrico decimal O segundo sob o titulo Ensino profissional abrange Apparelhos e nomenclatura do todas as peccedilas de architectura dos navios Nomenclatura das armas de fogocomprehendendo artilharia ou canhotildees Whitworth Armstrong Nordenfeldt e Hotchkiss armas portaacuteteis ou carabinas Westley Richard e Kropatscbeck e revolver Nagant carretas da compressor de laminas e de compressor hydraulico Instrucccedilotildees para o exerciacutecio de infantaria Rosas dos ventos e rumos de agulha Noccedilotildees sobre sondas Nomenclatura das machinas aacute vapor Este livro eacute intercallado de figuras no texto eacute um compendio completo para o marinheiro ser instruido Rio de Janeiro [s n] 1885 246 p (v 1) 1889 259 p (v 2)

1886

1890

1896

1901

1906

VILLA-LOBOS Raul Compendio elementar de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Typographia MontrsquoAlverne 1886 168 p 165 p

VILLA-LOBOS Raul Compendio elementar de chorographia do Brasil 2 ed Rio de Janeiro Typographia MontrsquoAlverne 1890 168 p

VILLA-LOBOS Raul Compendio elementar de chorographia do Brasil 3 ed Rio de Janeiro 1896 244 p

VILLA-LOBOS Raul Chorographia do Brasil resumo didactico 5 ed Corr e aumentada Rio de Janeiro Laemmert amp C Editores 1901 234 p

VILLA-LOBOS Raul Chorographia do Brasil resumo didactico 6 ed Rio de Janeiro Laemmert amp C Editores 1906 234 p

1886 -

CALKINS N A Primeiras liccedilotildees de coisas Traduzido e Adaptado por Rui Barbosa Rio de Janeiro Imprensa Nacional 1886 616 p

1887 - ARNOSO Joatildeo [Pedro Moreira] Elementos de chorographia do Brazil Compilados de accocircrdo com o ultimo programma para os exames geraes Maranhatildeo [s n] 1887 136 p

1887 -

LACERDA Joaquim Maria de Resumo de chorographia do Brazil Revisto augmentado e adaptado ao novo programma de exames por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1887 134 p

1887 -

CUNHA Raymundo Cyriaco da Pequena Geographia da provincia do Paraacute Paraacute Typographia do Diaacuterio de Beleacutem 1887 85 p

1887 1893

1906

PINTO Alfredo Moreira Curso de Geographia geral Rio de Janeiro Livraria Classica de Alves amp C 1887 222 p

PINTO Alfredo Moreira Curso de Geographia geral 2 ed Rio de Janeiro Livraria Classica de Alves amp C 1893 256 p

PINTO Alfredo Moreira Geographia geral curso superior 6 ed Rio de Janeiro Livraria Classica de Alves amp C 1906 316 p

1888 - BASTOS Lindolpho de Siqueira Noccedilotildees elementares de Geographia geral e do Brazil Especialmente da proviacutencia do Paranaacute compiladas para uso das escolas da daquela proviacutencia Rio de Janeiro [s n] 1888

1888 - CAVALCANTI Joseacute Pompeu de A Chorographia da provincia do Cearaacute Rio de Janeiro Imprensa Nacional 1888 317 p

1888 - ENEacuteIAS Joatildeo de Simas Epiacutetome da Geographia do Brazil Destinado ao ensino primaacuterio Rio de janeiro [s n] 1888 99 p

1889 - NOGUEIRA Manoel Tomaz Alves Compendio de Geographia e chronographia do Brasil acompanhado de tres mappas e de um indice alphabetico Leipzig F A Brockhaus 1889 234 p

189- - MAYA Elesbatildeo Alves Elementos de Geographia do Brazil [S l] [s n] 189-

189- - PINTO Alfredo Moreira Pontos de Geographia organisados etc Rio de Janeiro [s n] 189-

189-[] - CARVALHO Goeth Galvatildeo de Licccedilotildees elementares de Geographia Especialmente do Amazonas [S l] [s n] 189-[]

189-[] - CARVALHO Goeth Galvatildeo de Geographia do Amazonas [S l] [s n] 189-[]

1890[] 1894

VILLA-LOBOS Raul Noccedilotildees de cosmographia ou rudimentos desta sciencia ao alcance de todos e indispensaacuteveis aos candidatos desta disciplina aos exames geraes de preparatorios Rio de Janeiro Laemmert amp C Editores 1890[]

VILLA-LOBOS Raul Noccedilotildees de cosmographia Com gravuras 2 ed Rio de Janeiro Laemmert 1894

1891 - ESPIacuteRITO SANTO E R T Noccedilotildees geographicas e historicas do estado de Pernambuco Compendio Adoptado pelo Conselho litterario

(6 ed) para uso das Escolas Primaacuterias do Estado de Pernambuco 6 ed Recife Typographia drsquoA Proviacutencia 1891 48 p

1892

1893

1895

1896

1904

1907

1909

AMARAL Tancredo [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias Adoptado unanimemente pelo Conselho superior da instrucccedilatildeo publica de S Paulo e adoptado nas escolas Rio de Janeiro Francisco Alves 1892 78 p

AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 2 ed cor e aum Rio de Janeiro Francisco Alves 1893 213 p

AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 4 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1895 213 p

AMARAL Tancredo [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias Adoptado unanimemente pelo Conselho superior da instrucccedilatildeo publica de S Paulo e adoptado nas escolas 5 ed revista e augmentada com 28 artigos Rio de Janeiro Francisco Alves 1896 213 p

AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 8 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1904 213 p

AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 10 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1907 213 p

AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 11 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1909 210 p

1892

1895

1900

190-

NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias Rio de Janeiro Francisco Alves 1892 164 p

NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias 3 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1895 162 p

NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1900 164 p

NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias 12 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 190- 164 p

1892 1898

1911

REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorografia e historia do Brasil Especialmente do Estado da Bahia Bahia Wilcke Picard amp C 1892

REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorografia e historia do Brasil Especialmente do Estado da Bahia 2 ed Bahia Wilcke Picard amp C 1898

REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorografia e historia do Brasil Especialmente do Estado da Bahia Approvada pelo Conselho Superior de Ensino do mesmo Estado 3 ed Bahia Typographia Reis e Cia 1911 415 p

1892 1895 PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil Para uso dos

(4 ed) 1900

1909

gymnasios e escolas normaes 4 ed Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves amp Cia 1892 227 p

PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Paris Alves amp C Guillard Aillaud amp Cia 1895 272 p

PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1900 272 p

PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil Para uso dos gymnasios e escolas normaes 10 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1909 272 p

1893 - MELO Carlos Elementos de Geographia geral [S l] [s n] 1893

1893

(2 ed) -

COURTURIER Monsenhor C Geographia-Atlas Contendo oito mappas seguida drsquoum ligeiro esboccedilo chronologico da historia do Brazil e de algumas noccedilotildees de cosmographia dedicado aacute infacircncia 2 ed muito melhorada pelo Dr Moreira Pinto Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves e Cia 1893

1894 - BRAZIL Thomaz Pompeu de Souza (Filho) Liccedilotildees de Geographia do Cearaacute Fortaleza [s n] 1894

1894 1898

CUNHA Raimundo Ciriacuteaco Alves da Geographia especial do Paraacute Approvada para uso das escolas primarias Paraacute Typographia e Encadernaccedilatildeo da V Travessa 1894 89 p

CUNHA Raimundo Ciriacuteaco Alves da Geographia especial do Paraacute 2 ed Paraacute Typographia e Encadernaccedilatildeo da V Travessa 1898 89 p

1894

(3 ed) -

PINTO Alfredo Moreira Elementos de cosmographia 3 ed Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves 1894 90 p

1895 1907

ARAUJO Francisco Lentz Geographia do estado de Minas Geraes seguida de noccedilotildees de historia do mesmo estado Rio de Janeiro Francisco Alves 1895 78 p

ARAUJO Francisco Lentz Geographia do estado de Minas Geraes Rio de Janeiro Editores Paes amp Cia 1907

1895

(3 ed) -

ODILON Odorico Octavio Elementos de Geographia moderna 3 ed Bahia [s n] 1895 117 p

1895 - RAMOS Antonio Manuel dos Compendio de Geographia Porto Livraria Portuense de Lopes 1895 324 p

1896

(5 ed) 1910

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de chorographia do Brasil 5 ed Ampliada e mais correcta segundo o programma do Gymnasio Nacional Porto Alegre Livraria Rodolpho Joseacute Machado 1896 232 p

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de chorographia do Brasil 8 ed Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1910 221 p

1897 - LISBOA Luiacutes Carlos da Silva Chorographia do estado de Sergipe

Aprovada pelo Conselho Superior de Instruccedilatildeo e mandada adotar nas escolas puacuteblicas Aracaju SE Imprensa Oficial 1897

1897 1898

SALLABERRY Carlos Jorge Licccedilotildees de Geographia geral Geographia especial Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1897

SALLABERRY Carlos Jorge Licccedilotildees de Geographia Geral 2ordf parte Geographia Especial Rio de Janeiro Livraria Cruz Coutinho 1898 413 p

1898

(100 ed) -

GUIMARAtildeES J Pinto O Rio Grande do Sul para as escolas 100 ed Pelotas Carlos Pinto 1898

1898 1909

1910

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia do Estado do Rio Grande do Sul Porto Alegre Liv Franco amp Irmatildeo 1898 95 p

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia do Estado do Rio Grande do Sul 4 Ed Porto Alegre Liv Globo 1909 103 p

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia do Estado do Rio Grande do Sul Approvada pelo Conselho Escolar e Adoptada Para as Aulas Publicas do Estado 5 ed Porto Alegre Globo 1910 103 p

1898 - MAGALHAtildeES Basilio de Liccedilotildees de Geographia geral Satildeo Paulo Typographia Aurora 1898 120 p

1901

1910

1924

1928

ARAUacuteJO Elysio de Geographia elementar Rio de Janeiro Francisco Alves 1901 107 p

ARAUacuteJO Elysio de Geographia elementar Approvada unanimamente pelo Conselho Superior de Instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal 4 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1910 140 p

ARAUacuteJO Elysio de Geographia elementar Rio de Janeiro Francisco Alves 1924 107 p

ARAUJO Elysio Geographia elementar 7 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1928 201 p

1901

(4 ed)

VILLA-LOBOS Raul Chorographia do Brazil Resumo Didactico 4 Ed Rio de Janeiro Laemmert amp C 1901 245 p

1901 1909

1925

THIREacute Arthur Geographia elementar Compediada para uso das escolas primarias Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1901 164 p

THIREacute Arthur Geographia elementar Compediada para uso das escolas primarias 10 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1909 164 p

THIREacute Arthur Geographia elementar Compediada para uso das escolas primarias 17 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1925 173 p

1901 - FERREIRA Justo Jansen Fragmentos para a Chorographia do Maranhatildeo Maranhatildeo Typ A P Ramos drsquoAlmeida amp Cia 1901 107 p

1905 - ALI Manuel Said Compendio de Geographia elementar Rio de Janeiro Satildeo Paulo Laemmert amp C Editores 1905 161 p

1905

1912

1922

1924

SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia Geral Rio de Janeiro Francisco Alves amp Cia 1905 390 p

SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia Geral 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves amp Cia 1912 396 p

SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia geral 8 ed Rio de Janeiro Paulo Azevedo 1922 555 p

SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia geral 9 ed Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1924 100 p

1906 - PINTO Alfredo Moreira Geographia Geral curso superior 6 ed correcta augmentada principalmente na parte economica Rio de Janeiro Livraria Classica de Francisco Alves 1906 316 p

1907 - BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de Geographia geral De accordo com o programma do Gymmasio Nacional e da Escola Normal Rio de Janeiro Livraria da Viuacuteva Azevedo e Cia 1907 180 p

1907 -

SANTOS Francisco Agenor de Noronha Chorographia do Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro) Approvada e adaptada pelo Conselho Superior de Instrucccedilatildeo Ed consideravelmente melhorada contendo minucioso mappa de Olavo Freire Rio de Janeiro B de Aguila 1907 414 p

1907 - FTD Novo manual de Geographia para uso das escolas primarias Curso elementar Satildeo Paulo FTD 1907 48 p

1908

1911

1917

1921

1927

SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma dos gymnasios Satildeo Paulo Duprat 1908 450 p

SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma dos gymnasios 2 ed Satildeo Paulo Casa Duprat 1911 450 p

SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma do Collegio D Pedro II 3 ed Satildeo Paulo Casa Duprat 1917 456 p

SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Satildeo Paulo Casa Duprat 1921

SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma do Collegio Pedro II 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 450 p

1908

1910

1929

1923

1931

NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria organizada segundo o Programa dos Gymnasios Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1908 643 p

NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria Organizada segundo o Programma dos gymnasios dos lyceus e das escolas normaes 2 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1910 643 p

NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria Organizada segundo o

programa dos gymnasios 4 ed Rio de Janeiro Liv Francisco Alves 1923 547 p

NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria Organizada segundo o programma dos Gymnasios dos Lyceus e das Escolas Normaes do Brasil 11 ed revista e actualizada Rio de Janeiro Francisco Alves 1929 547 p

NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria 13 ed revista e actualizada Rio de Janeiro Francisco Alves 1931 547 p

1908 1909

1914

SAVIO Themistocles Curso Elementar de Geographia Rio de Janeiro Orosco Impressores 1908 583 p

SAVIO Themistocles Curso elementar de Geographia 2 ed Rio de Janeiro Heitor Ribeiro amp Cia 1909 433 p

SAVIO Themistocles Curso elementar de Geographia 3 ed Rio de Janeiro Francisco Alves e Cia 1914 596 p

1909

1910

1911

1914

1916

1918

1919

1925

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional Rio de Janeiro Francisco Alves 1909 298 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 2 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1910 298 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 3 ed rev e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1911 386 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 4 ed rev e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1914 386 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil Compendio de corographia do brasil de accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 5 ed revista e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1916 386 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 6 ed rev e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves 1918 386 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compecircndio de Corographia do Brasil 7 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1919 386 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil Compendio de corographia do brasil de accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional Rio de Janeiro Francisco Alves 1925 386 p

191- - F I C [Frere Ignace Chaput] Elementos de cosmographia por F I C Revistos e adaptados as escolas de instrucccedilatildeo secundaria do Brazil pelo Eugenio de Barros Raja Gabaglia 191- Rio de Janeiro Garnier 228 p

1911 1929

1931

LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul Porto Alegre Officinas Graphicas da Escola 1911

1935

1939

LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul Porto Alegre Livraria do Globo 1929 143 p

LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul Porto Alegre Livraria do Globo 1931 165 p

LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul 7 ed Porto Alegre Livraria do Globo 1935 165 p

LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul 8 ed Porto Alegre Livraria do Globo 1939 165 p

1911 - LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia do Rio Grande do Sul Brasil e globo terrestre Porto Alegre Officinas Graphicas da Escola de Engenharia 1911 124 p

1911 1913

PARANAacute Sebastiatildeo Estados da Repuacuteblica para estudo nos Gymnasios e nas Escolas Normaes Curitiba Buzetti Mori amp Filhos 1911 487 p

PARANAacute Sebastiatildeo Estados da Repuacuteblica para estudo nos Gymnasios e nas Escolas Normaes 2 ed Curitiba Leopoldino Rocha 1913 502 p

1912 -

GEOGRAPHIA - atlas do Brasil e das Cinco Partes do Mundo conforme o ldquoAtlas do Brasilrdquo do Baratildeo Homem de Mello e Dr F Homem de Mello e os melhores auctores para a ldquoparte geralrdquo Proacutelogo do Dr Francisco Cabrita Rio de Janeiro F Briguiet 1912 99 p

1912 1923

1925

NOVAES Carlos Geographia especial ou chorographia do Brazil Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1912

NOVAES Carlos Geographia especial ou corographia do Brazil 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1923 328 p

NOVAES Carlos Geographia especial ou corographia do Brazil 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1925 330 p

1913

1923

1927

1927

1928

1930

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Tomo I Geographia Geral Prefacio do Dr Oliveira Lima Rio de Janeiro Impressotildees Artiacutesticas Empresa Foto-Mecacircnica do Brasil 1913 253 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Tomo I De acordo com o programa do Coleacutegio Pedro II de 1923 (livro indicado pelo programa) Rio de Janeiro Empresa Graacutephico-Editora 1923

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Tomo I 3 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 235 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Volume II Livro adoptado no Collegio Pedro II Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 p 239-516 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil 4 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1928 512 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1930 481 p

1913 - LEME Ezequiel de Moraes Curso de Geographia Geral Pirassununga Typographia Minerva 1913 189 p

1913 1924

FTD Geographia - Atlas curso superior Programma do primeiro anno do Gymnasio Nacional Satildeo Paulo FTD 1913 118 p

FTD Geographia - Atlas curso superior Satildeo Paulo FTD 1924 118 p

1914 - ALBUQUERQUE FILHO M Geographia elementar para as escolas primarias Recife Imprensa Industrial 1914 233 p

1914 - FTD Curso Elementar de Geographia para uso das Escolas Primaacuterias Rio de Janeiro Francisco Alves 1914 48 p

1914 - FTD Geographia Curso medio comprehendendo 1deg Chorographia do Brazil 2deg Geographia universal Rio de Janeiro Francisco Alves 1914 71 p

1915[]

1924

1927

1933

1941

LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar Porto Alegre Selbach amp Mayer 1915[]

LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar 11 ed Porto Alegre Globo 1924 244 p

LOBO Joseacute Theodoro de Souza zGeographia elementar Adoptado nas aulas publicas do Estado do Rio Grande do Sul 12ordf ed correcta e augmentada Porto Alegre Livraria do Globo 1927 247 p

LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar 14 ed Porto Alegre Liv do Globo 1933 214 p

LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar 17 ed Porto Alegre Globo 1941 212 p

1915

(5 ed)

1918

1927

SCROSOPPI Horacio Curso superior de Geographia geral 5 ed Rio de Janeiro Paris Francisco Alves amp Cia Aillaud Alves amp Cia 1915 555 p

SCROSOPPI Horacio Curso superior de Geographia geral 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1918 571 p

SCROSOPPI Horacio Curso superior de Geographia geral 10 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 571 p

1915

(5 ed)

1921

1923

1927

SCROSOPPI Horacio Geographia geral 5 ed Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1915 553 p

SCROSOPPI Horacio Geographia geral Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1921 553 p

SCROSOPPI Horacio Geographia geral Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1923 553 p

SCROSOPPI Horacio Geographia geral Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1927 556 p

1916

1920

1921

1924

1925

1927

1931

CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Brasil Rio de Janeiro Editora Paulo de Azevedo 1916

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1920 373 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1921 363 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1924 363 p

1933

1934

1936

1937

1938

1940

1941

1942

1947

1953

1957

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de Chorographia do Brasil 10 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1925 556 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1926 363 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1927 633 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 17 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1931 633 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 20 ed 228 mileiro Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1933 613 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 21 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 757 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1936 633 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1937 633 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1938 650 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1940 631 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 26 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1941 631 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 27 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1942 635 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de corografia do Brasil 28 ed Rio de Janeiro A Noite 1947 640 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Corografia do Brasil 30 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1953 826 p

Cabral Maacuterio da Veiga Corografia do Brasil 31 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1957 826 p

1917 1924

1942

GOacuteES Carlos Pontos de Geographia para o Estado de Minas 2ordm 3ordm e 4ordm anno primaacuterio Bello Horizonte Imprensa Official de Minas 1917 128 p

GOacuteES Carlos Pontos de Geographia 2ordm 3ordm e 4ordm anno primaacuterio 2 ed Bello Horizonte Imprensa Official de Minas 1924 128 p

GOacuteES Carlos Pontos de Geographia 2ordm 3ordm e 4ordm anos primaacuterios 8 ed Rio de Janeiro P de Azevedo 145 p

1918 -

GOacuteES Carlos Pontos de Geographia De acordo com a ultima Refoacuterma do Ensino em Minas e o Novo Programma Official (Decreto n 4930 de 6 de fevereiro de 1918) 2ordm 3ordm e 4ordm anno primaacuterio Para uso dos Grupos Escolares e Escolas Singulares Bello Horizonte Imprensa Official de Minas 1918 203 p

1918

(2 ed) -

REIS O de Souza Manual de Geographia elementar e noccedilotildees rudimentares de physiographia para uso das classes superiores das escolas primaacuterias e princiacutepios do ensino secundaacuterio 2 ed Rio de Janeiro Ed do Autor 1918 119 p

1919 - LISBOA Coelho BRASIL Etienne Cosmographia De conformidade com o programa dos exames gymnasiaes Rio de Janeiro Leite Ribeiro

amp Maurillom 1919 113 p

1919 1926

MARTINS Ameacutelia de Rezende Geographia elementar Com gravuras e oito mappas coloridos Satildeo Paulo Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1919 79 p

MARTINS Ameacutelia de Rezende Geographia elementar Com gravuras e oito mappas coloridos Approvada e adoptada pela instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal 11ordm milheiro Satildeo Paulo Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1926 79 p

1920 - REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorographia do Brasil Bahia [s n] 1920

1920 - SCHWALBACH Lucci L Compendio de Geographia [S l] [s n] 1920

1920

(5 ed)

1921

1922

LEME Ezequiel de Moraes Elementos de Cosmographia e Geographia geral 5 ed Satildeo Paulo Melhoramentos 1920 215 p

LEME Ezequiel de Moraes Elementos de Cosmographia e Geographia geral 6 ed Satildeo Paulo Nacional 1921 216 p

LEME Ezequiel de Moraes Elementos de Cosmographia e Geographia geral 7 ed Satildeo Paulo Nacional 1922 210 p

1921 - OLIVEIRA J Monteiro F de Geographia geral Rio de Janeiro [s n] 1921 446 p

1921

(2 ed) -

REIS O de Souza Chorographia do Districto Federal Manual de Geographia das escolas primarias Curso Complementar 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1921 151 p

1921 - PORTUGAL A Geo-Atlas curso complementar de Geographia Nicteroy Escola Typ Salesiana 1921 88 p

1921 1925

FREIRE [da Silva] Olavo Geographia Geral Compendio destinado agraves escolas normaes lyceus gymnasios atheneus e coleacutegios militares Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1921 503 p

FREIRE [da Silva] Olavo Geographia geral Compendio Destinado agraves Escolas Normaes Lyceus Gymnasios Atheneus e Colleacutegios Militares 2 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1925 462 p

1922[] - FTD Curso de Cosmographia elementar Programma oficial completo Rio de Janeiro Livraria Paulo de Azevedo e Cia 1922[]

1922[] - FTD Geographia Livro I texto soacute sem mappas programma do 1ordm anno do Coleacutegio Dom Pedro II Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Paulo de Azevedo e Cia 1922[]

1922 -

FTD Chorographia do Brasil segundo os programas officiaes Texto com 35 mappas pretos Segundo os programas oficiaes Rio de Janeiro Paulo de Azevedo 1922 383 p (Col Nova Coleccedilatildeo FTD de Livros Didacticos)

1922 - MILANO Miguel Geographia physica para uso do primeiro anno meacutedio Satildeo Paulo Matano 1922 119 p

1922 1924 XAVIER Lindolpho Geographia commercial Rio de Janeiro Jacintho

1929 Ribeiro dos Santos 1922 555 p

XAVIER Lindolpho Geographia commercial 2 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1924 765 p

XAVIER Lindolpho Geographia commercial 11ordf ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1929 667 p

1923 - FTD Geographia atlas curso elementar Rio de Janeiro Livraria Paulo de Azevedo amp C 1923

1923

(3 ed) -

FTD Geographia Curso elementar 3 ed Satildeo Paulo FTD 1923 110 p

1923 - FTD Geographia Ediccedilatildeo texto soacute para escolas primaacuterias (Admissatildeo ao curso gymnasial) 25 mappas pretos Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Paulo de Azevedo e Cia FTD 1923

1923 1925

CABRAL Maacuterio da Veiga A Europa actual Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1923 363 p

CABRAL Maacuterio da Veiga A Europa actual Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1925 363 p

1923 1924

1940

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia elementar Satildeo Paulo Cia Melhoramentos 1923 328 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia elementar Rio de Janeiro Weizflog Irmatildeo Incorp 1924

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia elementar Satildeo Paulo Melhoramentos 1940

1923

(2 ed)

1927

1930

1949

1963

1967

CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Districto Federal Para uso das escola publicas municipaes 2 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1923 104 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Districto Federal Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1927 82 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Districto Federal Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1930 182 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Corografia do Distrito Federal 8 ed Rio de Janeiro A Noite 1949 304 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia do Estado da Guanabara20

3 ed Rio de Janeiro Graacutefica Ed Livros SA 1963 160 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia do Estado da Guanabara 8 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1967 128 p

1923 - PAUWELS G Apontamentos de Chorographia Porto Alegre Typographia do Centro 1923

20

ldquoCom a transformaccedilatildeo do antigo Distrito Federal em Estado da Guanabara ficou a terra carioca sem um manual por onde se pudesse estudar a sua geografia Para atender a esta lacuna elaboramos a Geografia do Estado da Guanabara crente de que os habitantes desta maravilhosa cidade-Estado principalmente os aqui nascidos hatildeo de dar o devido apreccedilo ao nosso esforccedilo e boa vontaderdquo (CABRAL 1963)

1923 - PEDROSO T Pontos de Geographia Satildeo Sebastiatildeo do Paraiacuteso Casa Prado 1923 22 p

1924 - CABRAL Maacuterio da Veiga Nossa paacutetria Noccedilotildees de chorographia do Brasil para uso das escolas Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1924

1924 - UMA PROFESSORA PRIMAacuteRIA [Pseud] Noccedilotildees preliminares de Geographia Colligidas por uma professora primaria Campos Ed da Casa ldquoA Penna de Bronzerdquo 1924 51 p

1925 - FREIRE [da Silva] Olavo Chorographia do Brasil Satildeo Paulo Monteiro Lobato 1925 607 p

1925 1928

1930

GAMA L D Pontos de Geographia Rio de Janeiro Typographia Barreto Vianna 1925 64 p

GAMA L D Pontos de Geographia 2 ed atualizada Rio de Janeiro Imprensa Naval 1928 110 p

GAMA L D Praacuteticas de Geographia 3 ed Rio de Janeiro Livraria Paulo de Azevedo 1930 225 p

1925 1929

1944

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia primaria Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1925 212 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia primaria Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1929 240 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia primaacuteria 12 ed Rio Janeiro A Noite 1944 242 p

1925

1932

1933

1936

FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia para o curso secundario Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1925 436 p

FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia para o curso secundario 10 ed Rio de Janeiro H Antunes 1932 466 p

FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia para o curso secundario 13 ed Rio de Janeiro H Antunes 1933 479 p

FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia Rio de Janeiro Graphica Sauer 1936

1926 -

GABAGLIA Raja RIBEIRO Joatildeo Exame de admissatildeo para os gymnasios Portuguez Historia do Brazil Geographia Arithmetica Geometria Pratica Appendice Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1926[]

1926 -

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Chorographia do Districto Federal Approvada e adoptada pela Directoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal Rio de Janeiro Francisco Alves 1926 177 p

1926 1930

LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia II Parte Brasil Globo Terrestre Porto Alegre Globo 1926 228 p

LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia II Parte Brasil Globo Terrestre Porto Alegre Globo 1930 228 p

1926[] - NOVAES Carlos Curso de Geographia geral Rio de Janeiro Francisco Alves 1926[]

1928 - DUQUE-ESTRADA Osoacuterio Chorographia do Brasil Para uso das escolas primarias (Classe complementar) Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1928

1929

(7 ed)

1931

1934

1943

CABRAL Mario da Veiga Curso de Geographia geral 7 ed Rio de Janeiro J R dos Santos 1929 711 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Curso de Geographia geral Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1931 724 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Curso de Geographia geral 11 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 757 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Curso de Geographia geral 16 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1943 737 p

193- 1935

PIMENTEL JUNIOR F Menezes Geographia dos principais paises 4ordf seacuterie Satildeo Paulo Ediccedilotildees Rio Branco 193-

PIMENTEL JUNIOR F Menezes Geographia dos principais paises para a 4ordf seacuterie do curso ginasial e normal Rio de Janeiro J R de Oliveira amp Cia 1935 259 p

193- - PIMENTEL JUNIOR F Menezes Geographia geral dos continentes 2ordm ano 2 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Rio Branco 193-

1930 - MARTINS Ameacutelia de Rezende 40 pontos de Geographia Segundo o programa official Rio de Janeiro Laemmert 1930 175 p

1930 - GABAGLIA Raja Praticas de Geographia Para uso do Collegio Pedro II e no ensino secundaacuterio e normal Rio de Janeiro Francisco Alves 1930 216 p

1930 - LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia III Parte Globo Terrestre Porto Alegre Globo 1930 190 p

1931 1936

LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Cosmographia De acordo com o programa da escola normal e escolas complementares Porto Alegre Barcellos Bertaso amp Cia 1931 170 p

LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Cosmographia De acordo com o programa da escola normal e escolas complementares 2 ed Porto Alegre Globo 1936 170 p

1931

(2 ed)

1932

1939

1942

CABRAL Maacuterio da Veiga Primeiro anno de Geographia De acordo como o programa de ensino secundaacuterio 2 ed Rio de Janeiro Livraria de Jacintho 1931 406 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia Primeiro anno Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1932 386 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Primeiro ano de Geographia 14 ed Rio de Janeiro Livraria Jacinto 1939

CABRAL Maacuterio da Veiga Primeiro anno de Geographia De acordo com o programa de ensino secundaacuterio 16 ed Rio de janeiro Livraria Jacintho 1942 303 p

1931 1932 CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1931 381 p

1934

1959

CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia 2 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1932 381 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 381 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1959 387 p

1931 - ALMEIDA Antonio Figueira de Noccedilotildees de physiografia Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1931 148 p

1931 1936

CUNHA M P Geographia geral a Terra e sua evoluccedilatildeo Para o curso secundaacuterio Rio de Janeiro Tip Esporte 1931 304 p

CUNHA M P Geographia geral a Terra e sua evoluccedilatildeo 1ordm ano rigorosamente de acordo com o programa dos coleacutegios militares 4 ed Rio de Janeiro Liv Francisco Alves 1936 475 p

1932 - ELLIS JUNIOR Alfredo Noccedilotildees elementares de Geographia superior e estatistica Satildeo Paulo Livraria Acadecircmica 1932 281 p

1932 193-

PIMENTEL JUNIOR F Menezes Liccedilotildees de Geographia physica 1 ano Curso secundaacuterio Rio de Janeiro J R de Oliveira amp Cia 1932 247 p

PIMENTEL JUNIOR F Menezes Liccedilotildees de Geographia physica 3 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Rio Branco 193-

1932

(2 ed) -

PIMENTEL JUNIOR F Menezes Liccedilotildees de Geographia fiacutesica 2 ed Rio de Janeiro Ed de J R de Oliveira amp Cia 1932

1932 - MILANO Miguel Geographia geral astronocircmica fiacutesica poliacutetica e econocircmica curso secundaacuterio Satildeo Paulo Typ Siqueira 1932 488 p

1932 - PEREIRA J V C VARZEA S Geographia curso secundaacuterio 1ordf seacuterie Rio de Janeiro Ediccedilotildees Alba 1932 549 p

1932

(26 ed) 1937

FREITAS Gaspar de Pontos de Geographia e historia do Brasil para uso de todas as classes primarias 26 ed Rio de Janeiro J O Antunes amp Cia 1932 164 p

FREITAS Gaspar de Pontos de Geographia e historia do Brasil para uso de todas as classes primarias 27 ed Rio de Janeiro Graphica Sauer 1937 190 p

1933

(2 ed) -

SCHIRADER Pe Godofredo S J Compendio de Cosmographia e Geographia geral para o 5ordm ano ginasial 2 ed Porto Alegre Livraria Globo 1933 266 p

1933 - GABAGLIA F A Raja Leituras geograacuteficas Para o ensino secundaacuterio Rio de Janeiro Fernando Briguiet amp Cia 1933

1933

1935

1938

1967

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia humana poliacutetica e econocircmica Satildeo Paulo Editora Nacional 1933 260 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia humana politica e economica 2 ed Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1935 358 p Vol 40

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia humana politica e economica 3 ed Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1938 358 p

Vol 40

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia humana poliacutetica e econocircmica Rio de Janeiro Conselho Nacional de Geographia 1967

1933 1934

1936

JARDIM Renato Geographia da crianccedila Satildeo Paulo Comp Melhoramentos 1933 199 p

JARDIM Renato Geographia da crianccedila 2 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1934 199 p

JARDIM Renato Geographia da crianccedila 5 ed Satildeo Paulo Cia Melhoramentos 1936 199 p

1933 - LIMA Affonso Guerreiro Geographia secundaacuteria 1ordf seacuterie Porto Alegre Liv do Globo 1933 242 p

1933 - LIMA Affonso Guerreiro Geographia secundaacuteria 2ordf seacuterie Porto Alegre Liv do Globo 1933 321 p

1933 - LIMA Affonso Guerreiro Geographia secundaacuteria 3ordf seacuterie Porto Alegre Liv do Globo 1933 207 p

1933 - LIMA Affonso Guerreiro Geographia secundaacuteria 4ordf seacuterie Porto Alegre Liv do Globo 1933 372 p

1933

(3 ed)

1934

1935

CABRAL Maacuterio da Veiga Terceiro anno de Geographia De acordo com o actual programa de ensino secundaacuterio 3 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1933 336 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Terceiro anno de Geographia 3 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 304 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Terceiro anno de Geographia De accocircrdo com o actual programma de ensino secundaacuterio 4 ed Rio de Janeiro Bedeschi 1935

1934 - ELLIS JUNIOR Alfredo Geographia 3ordf seacuterie de acordo com o programa do Coleacutegio D Pedro II Satildeo Paulo Liv Acadecircmica 1934 280 p

1934 - ELLIS JUNIOR Alfredo Geographia 4ordf seacuterie de acordo com o programa do Coleacutegio D Pedro II Satildeo Paulo Liv Acadecircmica 1934 409 p

1934 1943

AZEVEDO Aroldo de Geographia geral para a primeira serie ginasial Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1934

AZEVEDO Aroldo de Geographia geral 1ordf seacuterie ginasial 2 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1943 356 p

1934 - JARDIM Renato Elementos de Geographia geral Para a 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1934 226 p

1934 - AZEVEDO Aroldo de Geographia humana Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1934

1935 - CABRAL Maacuterio da Veiga Quinto anno de Geographia De accocircrdo com o actual programma de ensino secundario Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1935 416 p

1935 - ELLIS JUNIOR Alfredo Geographia 1ordf seacuterie de acordo com o programa do Coleacutegio D Pedro II Satildeo Paulo Liv Saraiva 1935 336 p

1935 - MILANO Miguel Paacutetria e amor para infacircncia e adolescecircncia Officialmente approvado e adoptado nos Estados de Satildeo Paulo Amazonas Paranaacute e Espiacuterito Santo Satildeo Paulo Livraria Teixeira 1935

1935 - ESPINHEIRA A Geographia 3ordf seacuterie Rio de Janeiro Tip Patronato 1935 148 p

1935 - ELLIS JUNIOR Alfredo Geographia 5ordf seacuterie de acordo com o programa do Coleacutegio D Pedro II Satildeo Paulo Liv Acadecircmica 1935 336 p

1935

(7 ed) -

A G L Geographia Curso elementar para as aulas primaacuterias 7 ed Satildeo Paulo Livraria Selbach de J R da Fonseca amp Cia 1935 51 p

1935 - ALMEIDA Antonio Figueira de Caderno de Geographia n 1 Desenhos de Lourival Correcirca Pereira Rio de Janeiro F Briguiet 1935 54 p

1935 - ALVES A Breves Noccedilotildees de Geographia Segundo a mateacuteria exigida no curso propedecircutico dos estabelecimentos officializados Rio de Janeiro J Ribeiro dos Santos 1935 287 p

1935 1936

AZEVEDO Aroldo de Geographia Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1935

AZEVEDO Aroldo de Geographia Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1936

1935

(2 ed) 1941

GABAGLIA Fernando GABAGLIA Raja Curso de Geographia 2ordf seacuterie ginasial Para uso no Coleacutegio Pedro II e no ensino secundaacuterio e Normal 2 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1935 162 p

GABAGLIA Fernando GABAGLIA Raja Curso de Geographia 2ordf seacuterie ginasial 8 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1941 233 p

1936 - FREITAS Gaspar de Geographia secundaacuteria 1ordm Anno Gymnasial 6 ed Rio de Janeiro H Antunes 1936 253 p

1936

(2 ed) 1942

GABAGLIA F A Raja Curso de Geographia 1ordf seacuterie para uso no Coleacutegio Pedro II e no ensino secundaacuterio e normal 2 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1936 162 p

GABAGLIA F A Raja Curso de Geographia 1ordf seacuterie 9 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1942 162 p

1936 1939

LENZ Luiz Gonzaga Geographia 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Saraiva 1936 158 p

LENZ Luiz Gonzaga Geographia 2 ed Satildeo Paulo Saraiva 1939

1936 1939

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a terceira serie secundaria Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1936 341 p

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a terceira serie secundaria 6 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1939 345 p

1936 - JARDIM Renato Geographia gymnasial Elementos de Geographia descriptiva 2 seacuterie Satildeo Paulo Comp Ed Nacional 1936

1936 - MENNUCCI Sud Corografia do estado de Satildeo Paulo Para uso das escolas primaacuterias Rio de Janeiro J R de Oliveira amp Cia 1936 120 p

1937 - AZEVEDO Aroldo de Geographia para a quinta seacuterie secundaacuteria Satildeo Paulo Nacional 1937 477 p

1937 - CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia Quarto anno Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1937

1937 - TABORDA R Geographia ginasial 2ordf seacuterie Porto Alegre Livraria do Globo 1937 116 p

1937 - MILANO Miguel Seriaccedilatildeo geographica Para os gymnasios cursos seriados escolas normaes e preparatoacuterias 1ordf seacuterie Rio de Janeiro Francisco Alves 1937 182 p

1937 - SOUZA A C OMNEGA N Geographia Satildeo Paulo Saraiva 1937

1937 - MILANO Miguel Seriaccedilatildeo geographica para os Gymnasios Cursos Seriados Escolas Normaes e Preparatoacuterias 2ordf seacuterie Rio de Janeiro Francisco Alves 1937 143 p

1937 - UM PROFESSOR Apontamentos de Geographia Organizado por um Professor de Acordo com os Cursos Complementares 2 ed Mossoroacute Typ do Nordeste 1937 23 p

1937 - BRASIL Maacuterio da Silva Elementos de Geophysica Porto Alegre Livraria do Globo 1937 267 p

1937 - LIMA A G [Afonso Guerreiro] Geographia secundaria 5ordf seacuterie Porto Alegre Globo 1937 311 p

1937 - PEREIRA Joseacute Veriacutessimo da Costa VARZEA Affonso ACQUARONE Francisco Geographia humana Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1937[] 608 p

1937

(3 ed) 1938

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a quinta seacuterie secundaacuteria De acordo com o programa de 1931 3 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1937 447 p

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a quinta seacuterie secundaacuteria 4 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1938 478 p

1938 1939

GONCcedilALVES Artur de Campos Noccedilotildees de Cosmographia e Geographia para cursos primaacuterios e de preparatoacuterios ao ginaacutesio Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1938 131 p

GONCcedilALVES Artur de Campos Noccedilotildees de Cosmographia e Geographia para cursos primaacuterios e de preparatoacuterios a ginaacutesio de acocircrdo com os programas oficiais 2 ed Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1939 135 p

1938 - MILANO Miguel Seriaccedilatildeo geographica Para os gymnasios cursos seriados escolas normaes e preparatoacuterias 3ordf seacuterie Rio de Janeiro Francisco Alves 1938 142 p

1938 - CUNHA M P Geographia ao alcance de todos subsiacutedios indispensaacuteveis nos concursos oficiais Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1938 95 p

1938 - ORCIUOLI Henrique Corografia do Brasil 2ordm ano propedecircutico Porto Alegre Globo 1938 204 p

1938 1942

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a segunda seacuterie secundaacuteria de acordo com o programa oficial 7 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1938 341 p

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a segunda seacuterie secundaacuteria De acordo com o programa oficial 12 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1942 392 p

1938

(6 ed) -

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a quarta seacuterie secundaacuteria Consta programa de Geographia para a quarta seacuterie secundaacuteria Contem leituras geograacuteficas de autores escolhidos 6 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1938 389 p

1939 - BARRETO Adolpho Alves Pequena Geographia para a infacircncia pobre [S l] Mundo Novo 1939 56 p

1939 1942

GICOVATE Moiseacutes Geographia para o curso secundaacuterio 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Melhoramentos 1939 266 p

GICOVATE Moiseacutes Geographia para o curso secundaacuterio 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Melhoramentos 1942 266 p

1939 1941

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a primeira seacuterie secundaacuteria de acordo com o programa oficial 8 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1939 298 p

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a primeira seacuterie secundaacuteria De acordo com o programa oficial 17 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1941 478 p

1939 - AZEVEDO Aroldo de Geographia para o curso comercial Satildeo Paulo Satildeo Paulo Editora 1939 380 p

Org Jeane Medeiros Silva 2007-2011

A quase totalidade desse material foi editada regularmente agrave exceccedilatildeo de

Bandeira (185-) Pinto (1879) e Pinheiro (188-) cujas obras foram utilizadas

unicamente nas docecircncias de seus autores como apostilas mas com relevacircncia e

notoriedade suficientes para serem citadas por Sacramento Blake por exemplo

Natildeo se trata objetivamente de um levantamento completo sobretudo

porque haacute indiacutecios de que a produccedilatildeo regional de manuais de Geografia foi muito

expressiva inclusive em cidades interioranas

Todavia satildeo os iacutendices que nas proximidades de duas centenas de anos

depois estatildeo ao alcance dessa pesquisa No conjunto satildeo compilaccedilotildees traduccedilotildees

adaptaccedilotildees obras autorais Predominantemente satildeo obras de ediccedilatildeo uacutenica ao todo

174 nessa condiccedilatildeo Outras 102 tiveram reediccedilotildees Talvez mais difiacutecil do que

rastrear as obras seja conhecer a totalidade de suas ediccedilotildeesreimpressotildees Fato

agravado com o problema da pirataria do livro que foi extremamente alta no seacuteculo

XIX e um dos problemas recorrentersquo do mercado editorial naquele momento como

demonstra Hallewell (2005) cuja anaacutelise relaciona parte do crescimento das casas

publicadoras brasileiras agrave pirataria de obras praacutetica facilitada pela inexistecircncia ateacute

1912 de uma legislaccedilatildeo que protegesse internacionalmente os direitos autorais ou

mesmo o cumprimento dos direitos dos autores nacionais

De igual modo essa questatildeo eacute examinada por Correcirca (2006) no circuito

amazonense de instruccedilatildeo educacional pesquisador que suscita a hipoacutetese natildeo

diretamente comprovada de que um dos livros portugueses mais utilizados no

ensino primaacuterio o Manual encyclopedico para uso das escolas drsquoinstrucccedilatildeo

primaria21 de Emilio Achilles Monteverde22 em sua oitava ediccedilatildeo portuguesa em

1865 ndash e com uma parte dedicada ao ensino da Geografia ndash sofreria ediccedilotildees

brasileiras natildeo autorizadas Esse problema natildeo era isolado e sua produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo incluindo outros paiacuteses alastravam-se por toda a costa do paiacutes

Houve sempre um comeacutercio de ediccedilotildees chamadas clandestinas contrafeitas ou piratas isto eacute ediccedilotildees que natildeo obedeciam ao Privileacutegio concedido agrave ediccedilatildeo original [] Os impressores holandeses chegaram a ser verdadeiros especialistas em ediccedilotildees piratas No seacuteculo XVIII quando a literatura francesa tornou-se a mais lida de todas a Holanda chegou a imprimir mais livros franceses que a Franccedila No seacuteculo XIX foram os belgas os grandes piratas das ediccedilotildees francesas No Brasil em fins do seacuteculo XIX e princiacutepios deste os editores rio-grandenses protegidos por uma constituiccedilatildeo positivista imprimiram toda sorte de livros sem autorizaccedilatildeo do editores legiacutetimos e sem pagar direitos autorais (MORAES 1975 p 112-113)

Estrateacutegias de controle das ediccedilotildees e combate agrave pirataria satildeo encontradas em

exemplares da bibliografia Geralmente o autor ou seu representante legal

numerava eou assinava os exemplares enunciando uma advertecircncia sobre a

propriedade legal da obra ndash uma forma de domiacutenio sobre os direitos autorais da

proacutepria obra e para alertar o consumo do leitor como demonstra a Figura 01 21

Outras obras do autor sofreriam o mesmo processo

22 Escritor diplomata e pedagogo portuguecircs nascido em 1803 em Lisboa e falecido em 1881 Autor

do Methodo facilimo para aprender a ler amplamente utilziado no Brasil Atuou em diversos cargos puacuteblicos em Portugal (ZUIN 2007)

FIGURA 01 ndash Atos de controle e advertecircncia contra a pirataria de obras didaacuteticas em exemplares de Henrique Martins23 (1896) Carlos Goacutees24 (1918) e Joseacute Theodoro de Souza Lobo25 (1927)

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

23

Henrique Martins ndash foi professor do Coleacutegio Militar de Porto Alegre 24

Carlos Goacutees ndash Bacharel em Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais foi professor do Ginaacutesio Oficial de Minas Delegado do Estado de Minas Gerais no 4ordm Congresso Brasileiro de Instruccedilatildeo e Membro da Academia Mineira de Letras e do Instituto Histoacuterico Mineiro (GOacuteES 1918) 25

Joseacute Theodoro de Souza Lobo ndash Engenheiro geoacutegrafo pela Escola Central do Rio de Janeiro educador e escritor gauacutecho nascido a 7 de janeiro de 1846 em Porto Alegre onde faleceu a 9 de agosto de 1913 Atuou como professor de matemaacutetica da Escola Normal de Porto Alegre de 1873 ateacute a extinccedilatildeo desta Em 1877 quando fundou o Coleacutegio Souza Lobo instituiccedilatildeo de reconhecida tradiccedilatildeo na capital gauacutecha (PORTO-ALEGRE 1917)

Praticamente a trajetoacuteria do livro didaacutetico de Geografia no periacuteodo

apresenta quatro fases de produccedilatildeo com diferentes mas crescentes intensidades

(Cf Graacutefico 01)

GRAacuteFICO 01 ndash Produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia por deacutecada (1814-1939)

0

10

20

30

40

50

60

70

1810 1820 1830 1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

A primeira fase abrange as deacutecadas de 1810 e 1840 com 26 tiacutetulos tem-se

nas duas deacutecadas iniciais o aparecimento dos manuais de Geografia em quantidade

relativamente pequena (oito tiacutetulos no total) embora coerente com a demanda desse

ensino agrave eacutepoca (centrada nas aulas avulsas) e tambeacutem com os meacutetodos de ensino

(livro prioritariamente destinado agrave informaccedilatildeo do professor) nas duas outras

deacutecadas a produccedilatildeo corresponde ao iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da Geografia como

disciplina no ensino secundaacuterio em funccedilatildeo dos exames preparatoacuterios de acesso aos

cursos superiores somando 18 tiacutetulos

Apoacutes a deacutecada de 1840 haacute uma segunda fase concentrada entre os anos

1850 e 1870 com 50 tiacutetulos A deacutecada de 1850 foi um marco no desenvolvimento

econocircmico do Brasil que beneficiou a expansatildeo do mercado editorial que jaacute

progredira bastante desde o final do monopoacutelio da Impressatildeo Reacutegia que ocorreu em

1822 A educaccedilatildeo teve algum desenvolvimento e com isso houve fomento na

produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos livros didaacuteticos Por conseguinte passam-se a ter a

partir desse momento manuais didaacuteticos de Geografia reeditados Do periacuteodo

joanino ateacute meados do Impeacuterio essas obras tinham ediccedilotildees uacutenicas agrave exceccedilatildeo de

Pereira (1818) em obra de leitura natildeo exlusiva ao ensino de Geografia

Em termos de mercado editorial em razatildeo dos pedidos locais de impressatildeo

de materiais didaacuteticos Hallewell (2005) assinala que por volta dos anos 1850 os

livros didaacuteticos igualaram-se agraves demandas de impressatildeo de jornais e revistas na

agenda de encomendas das tipografias Imprensa e obras didaacuteticas seriam os motes

de sobrevivecircncia do parque graacutefico e das casas editoriais Nesse periacuteodo cerca de

trecircs deacutecadas apoacutes o processo de independecircncia poliacutetica assinala-se um tempo de

consolidaccedilatildeo do paiacutes particularmente na educaccedilatildeo embora com severa restriccedilatildeo

geograacutefica ndash isto eacute centralizada no municiacutepio da Corte Satildeo desta eacutepoca

[] a criaccedilatildeo da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria e Secundaacuteria do Municiacutepio da Corte destinada a fiscalizar e orientar o ensino puacuteblico e particular (1854) estabelecimento das normas para o exerciacutecio da liberdade de ensino e de um sistema de preparaccedilatildeo do professor primaacuterio (1854) reformulaccedilatildeo dos estatutos do Coleacutegio de Preparatoacuterios tomando-se por base programas e livros adotados nas escolas oficiais (1854) reformulaccedilatildeo dos estatutos da Academia de Belas Artes (1855) reorganizaccedilatildeo do Conservatoacuterio de Muacutesica e reformulaccedilatildeo dos estatutos da Aula de Comeacutercio da Corte (RIBEIRO 2001 p 54-55)

Uma terceira fase compreende as deacutecadas de 1880 e 1900 com um salto

supreendente na primeira deacutecada desse desenvolvimento ndash 80 tiacutetulos ao todo sendo

43 apenas nos anos 1880 Esse periacuteodo coaduna com importantes transformaccedilotildees

histoacutericas do paiacutes como a passagem do Impeacuterio para a Repuacuteblica aleacutem de

importantes configuraccedilotildees na economia na demografia na dinacircmica urbana e na

proacutepria organizaccedilatildeo do ensino brasileiro

Uma uacuteltima fase de produccedilatildeo pode ser identificada a partir dos anos 1910

em um crescendo que atinge o maior pico ateacute entatildeo na deacutecada de 1930 totalizando

120 produccedilotildees Esta fase em que a Geografia jaacute era haacute tempos uma disciplina

consolidada nos ensinos primaacuterio e secundaacuterio eacute marcada por inovaccedilotildees teoacuterico-

metodoloacutegicas bem como pela aproximaccedilatildeo da Geografia acadecircmica

22 A autoria da bibliografia

O acervo apresentado foi escrito por 183 autores incluindo autores

traduzidos A maioria eacute autoria do gecircnero masculino sendo apenas trecircs autorias

femininas Desse conjunto de autores oito satildeo anocircnimos por pseudocircnimos ou por

autorias institucionais Haacute seis traduccedilotildees com adaptaccedilotildees o que reforccedila o

questionamento da noccedilatildeo muitas vezes endossada em pesquisas sobre a formaccedilatildeo

do ensino de Geografia de que principalmente no seacuteculo XIX se utilizariam livros

importados para o ensino dessa mateacuteria ndash esta parece ter sido de fato uma

realidade para obras de outras disciplinas mas natildeo propriamente desta mateacuteria Os

manuais de Histoacuteria e Geografia foram sobretudo nacionais ao passo que os

manuais para o ensino da leitura e da liacutengua portuguesa eram em grande parte

importados de Portugal e os das aacutereas exatas importados ou traduzidos da Franccedila

ou Inglaterra como depotildee Veriacutessimo (1906 p 4-8)

Satildeo muitos os escritores estrangeiros que traduzidos transladados ou quando muito servilmente imitados fazem a educaccedilatildeo da nossa mocidade Seja-me permitida uma recordaccedilatildeo pessoal Os meus estudos feitos de 1867 a 1876 foram sempre em livros estrangeiros Eram portugueses e absolutamente alheios ao Brasil os primeiros livros que li O Manual Enciclopeacutedico de Monteverde a Vida de D Joatildeo de Castro de Jacinto Freire () os Lusiacuteadas de Camotildees e mais tarde no Coleacutegio de Pedro II o primeiro estabelecimento de instruccedilatildeo secundaacuteria do paiacutes as seletas portuguesas de Aulete os Ornamentos da memoacuteria de Roquete - foram os livros em que recebi a primeira instruccedilatildeo E assim foi sem duacutevida para toda a minha geraccedilatildeo Acanhadiacutessimas satildeo as melhorias desse triste estado de cousas e ainda hoje a maioria dos livros de leitura se natildeo satildeo estrangeiros pela origem satildeo-no pelo espiacuterito Os nossos livros de excertos satildeo aos autores portugueses que os vatildeo buscar e a autores cuja claacutessica e hoje quase obsoleta linguagem o nosso mal amanhado preparatoriano de portuguecircs mal percebe Satildeo os Fr Luiacutes de Souzas os Lucenas os Bernardes os Fernatildeo Mendes e todo o classicismo portuguecircs que lemos nas nossas classes da liacutengua que aliaacutes comeccedila a tomar nos programas o nome de liacutengua nacional Pois se pretende a meu ver erradamente comeccedilar o estudo da liacutengua pelos claacutessicos autores brasileiros tratando coisas brasileiras natildeo poderatildeo fornecer relevantes passagens E Santa Rita Duratildeo e Caldas e Basiacutelio da Gama e os poetas da gloriosa escola mineira e entre os modernos Joatildeo Lisboa Gonccedilalves Dias Sotero dos Reis Machado de Assis e Franklin Taacutevora e ainda outros natildeo tecircm paacuteginas que sem serem claacutessicas resistiriam agrave criacutetica do mais meticuloso purista

Assim haacute a tese amplamente divulgada e aceita na histoacuteria do livro didaacutetico

segundo a qual a nacionalizaccedilatildeo do livro didaacutetico ocorreria concretamente no final

do seacuteculo XIX no contexto em que se esboccedilava um sistema de educaccedilatildeo puacuteblica

conforme Lajolo Zilberman (1996) Hallewell (2005) Bittencourt (2008) Razzini

(2004) Mas para o caso do ensino de Geografia essa tese deve ser questionada

pois a proacutepria bibliografia suscitada neste capiacutetulo demonstra que as publicaccedilotildees de

Geografia como uma das primeiras linhas do gecircnero didaacutetico a par com os livros de

Histoacuteria a ter a nacionalidade dos autores e dos conteuacutedos desenvolvidos em uma

produccedilatildeo significativa pelo menos em termos quantitativos inclusive com certo

desenvolvimento regional disperso em pontos referenciais do territoacuterio brasileiro O

que parece eacute que em momentos de reorientaccedilatildeo do ensino natildeo se achava no

mercado livros brasileiros de Geografia que se adequassem agraves novas propostas

Isso se percebe por exemplo na adoccedilatildeo do Manuel du Baccalaureacuteat26 e do Atlas

de Delamarche pelo Coleacutegio Pedro II por ocasiatildeo da reforma induzida pelo Decreto

de 24 de janeiro de 1856 obras essas necessaacuterias para complementar a adoccedilatildeo do

compecircndio de Pompeu Brasil Outra hipoacutetese pode ser as pequenas tiragens o

largo tempo para consumi-las o que as levava agrave desatualizaccedilatildeo ou mesmo agrave natildeo

reediccedilatildeo

O mais comum foram as autorias uacutenicas tendecircncia destoante por exemplo

da produccedilatildeo atual de livros didaacuteticos de Geografia na qual predomina o sistema de

co-autorias No periacuteodo suscitado tecircm-se apenas nove produccedilotildees em co-autorias e

trecircs co-autores interventores mais especificamente Luiz Leopoldo Fernandes

Pinheiro27 Joatildeo Ribeiro28 e Pe Joseacute Severiano de Rezende29 que atuaram na

sobrevida das obras de Joaquim Maria de Lacerda30 apoacutes o falecimento deste autor

Um pouco menos da metade dos tiacutetulos 113 dos 276 satildeo obras de autores

que tiveram pelo menos dois tiacutetulos em sua produccedilatildeo Para o periacuteodo a maior

26

Por natildeo ter tido acesso a essa obra natildeo a inclui na bibliografia parece que atendia mais ao curriacuteculo de Histoacuteria do que propriamente ao de Geografia

27 Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro ndash era sobrinho de Joaquim Maria Lacerda Nasceu em

Campos (RJ) em 1855 e faleceu em 1925 Foi literato atuando na poesia crocircnica romance e traduccedilatildeo Trabalhou como professor de Filologia Geografia e Histoacuteria (RONZANI 2011)

28 Joatildeo Ribeiro ndash atuou em trabalhos editoriais para revisatildeo e ampliaccedilatildeo de manuais didaacuteticos de

Geografia Nasceu em Sergipe em 1860 e faleceu no Rio de Janeiro em 1934 Foi historiador filoacutelogo jornalista e professor do Coleacutegio Pedro II (MOTA 2004)

29 Pe Joseacute Severiano de Rezende ndash nasceu em 1871 e faleceu em 1931 Foi paacuteroco em Mariana

(MG) e atuante no jornalismo (MARTINS 1983)

30 Joaquim Maria de Lacerda ndash filho de um marinheiro capitatildeo de navio nasceu no Rio de Janeiro em 1833 e faleceu em Paris no ano de 1886 Formou-se em Direito e foi membro da Arcaacutedia Romana e outras associaccedilotildees literaacuterias inclusive europeias Sobretudo nos uacuteltimos anos de vida dedicou-se agrave educaccedilatildeo produzindo inuacutemeras obras de Geografia e Histoacuteria (BLAKE 1898)

produccedilatildeo com 12 tiacutetulos pertence a Alfredo Moreira Pinto31 em quase 30 anos de

atividade Destacam-se ainda Maacuterio da Veiga Cabral32 e Aroldo de Azevedo33 com

11 e 10 tiacutetulos respectivamente embora esses nuacutemeros reflitam devo ressaltar

apenas o periacuteodo delimitado pela pesquisa pois a produccedilatildeo dos mesmos foi bem

maior haja vista terem sido atuantes e se situarem dentre os autores mais

significativos da bibliografia didaacutetica de Geografia ateacute a deacutecada de 1970 Aroldo de

Azevedo por exemplo totalizou 30 tiacutetulos didaacuteticos ao longo de sua carreira Com

um caraacuteter mais regional pois em grande parte centrado no Rio Grande do Sul tem-

se A G Lima34 autor de 10 tiacutetulos (Cf Quadro 2)

Todavia a quantidade de tiacutetulos natildeo expressa exatamente a importacircncia de

um autor no contexto da educaccedilatildeo geograacutefica Muitos autores publicaram apenas

uma obra com muitas reediccedilotildees e frequentemente melhoradas alteradas

complementadas prolongando a utilizaccedilatildeo do livro Talvez o caso mais tiacutepico

tenham sido os livros de Joaquim Maria de Lacerda que publicando cinco tiacutetulos em

seus uacuteltimos anos de vida a partir da deacutecada de 1870 foi exaustivamente

republicado ateacute a deacutecada de 1930 Dada a desatualizaccedilatildeo perioacutedica dos livros de

31 Alfredo Moreira Pinto ndash nasceu no Rio de Janeiro em 1847 filho de um comerciante portuguecircs Formou-se bacharel em Letras pelo Coleacutegio Pedro II em 1865 ingressou na Faculdade de Direito de Satildeo Paulo em 1866 curso que natildeo concluiu Foi professor de Geografia e Histoacuteria do curso preparatoacuterio anexo agrave Escola Militar aleacutem de ter sido professor particular dessas disciplinas atuando ainda como jornalista Escreveu extensa obra nas aacutereas de Geografia e Histoacuteria aleacutem de ter sido autor de um dicionaacuterio geograacutefico Faleceu em 1903 (BLAKE 1883 BARBUY 2006) 32

Maacuterio [Vasconcelos] da Veiga Cabral ndash geoacutegrafo e engenheiro agrimensor estudou no Coleacutegio Militar e na Escola de Guerra de Realengo Atuou como professor em instituiccedilotildees como o Ginaacutesio 28 de Setembro Instituto de Educaccedilatildeo Liceu Rio Branco Universidade do Distrito Federal e Escola de Engenharia do Rio de Janeiro sendo autor de extensa obra didaacutetica nas aacutereas de Histoacuteria e Geografia aleacutem de outras Nasceu em 1894 e faleceu em 1973 (SILVA 2009 AGCRJ 2010)

33 Aroldo [Edgard] de Azevedo ndash geoacutegrafo e geomorfoacutelogo brasileiro nascido em Lorena (SP) em

1910 filho de um poliacutetico paulista e falecido em Satildeo Paulo em 1974 Formado em Direito nunca exerceu profissatildeo juriacutedica formado em Geografia e Histoacuteria pela Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras da Universidade de Satildeo Paulo (USP) em 1939 foi um dos primeiros autores didaacuteticos com formaccedilatildeo em Geografia sendo um dos primeiros professores dessa ciecircncia na USP onde foi catedraacutetico de Geografia do Brasil e tambeacutem Diretor do Instituto de Geografia Membro da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e do Instituto Geograacutefico do Brasil publicou 127 livros de Geografia entre didaacuteticos e cientiacuteficos e artigos Na pesquisa geograacutefica destacou-se por propor um importante mapa e uma das primeiras classificaccedilotildees do relevo brasileiro (1949) a partir do criteacuterio altimetria Eacute um dos autores didaacuteticos mais bem sucedidos do seacuteculo XX com cerca de 13 milhotildees de exemplares vendidos (ISSLER 1973 CONTI 1976 PREFEITURA 2010)

34 A G [Affonso Guerreiro] Lima ndash Affonso Guerreiro Lima foi professor da Escola Normal de Porto

Alegre sendo de sua autoria diversas obras didaacuteticas de Histoacuteria e Geografia Eacute lembrado por ter sido um inovador da apresentaccedilatildeo graacutefica nos livros didaacuteticos Era geoacutegrafo e membro do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do RS (IHGRGS 2011)

Geografia sobretudo em um periacuteodo em que as estatiacutesticas a regionalizaccedilatildeo e o

conhecimento geograacutefico eram ampliados eou modificados de diversas maneiras a

continuidade dessas obras soacute foi possiacutevel por meio do trabalho de co-autores como

citado acima E por outro lado haacute autores que publicaram apenas um tiacutetulo mas

com muita importacircncia na perspectiva do meacutetodo da teorizaccedilatildeo ou mesmo na

perspectiva graacutefica

QUADRO 02 ndash Produccedilatildeo por autoria para autores com mais de dois tiacutetulos de manuais didaacuteticos de Geografia (1814-1939)

Obras Autores Periacuteodo de Produccedilatildeo

(1ordf ed ou ediccedilatildeo mais antiga)

12 PINTO Alfredo Moreira 18691906

11 CABRAL Maacuterio da Veiga 19161937

10 LIMA A G [Afonso Guerreiro] 19111937

10 FTD 19071923

10 AZEVEDO Aroldo de 19341939

07 MILANO Miguel 19221938

05 MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Deacutecada de 1870 a 1898

05 ELLIS JUNIOR Alfredo 19321935

05 LACERDA Joaquim Maria de 18701887

04 CARVALHO Carlos Miguel Delgado de 19131933

04 PIMENTEL JUNIOR F Menezes Entre 1930 e 1932

04 SCROSOPPI Horacio 19051915

04 NOVAES Carlos 18821926[]

03 FREITAS Gaspar de 19251936

03 JARDIM Renato 19331936

03 GABAGLIA F A Raja 19331936

03 GABAGLIA Raja 19251936

02 ALMEIDA Antonio Figueira de 19311935

02 BITTENCOURT Feliciano Pinheiro 19071909

02 BRAZIL Thomaz Pompeu de Souza (Filho) Deacutecada de 18801894

02 CARVALHO Goeth Galvatildeo de Deacutecada de 1890

02 CARVALHO Joaquim Joseacute de 18831885

02 CUNHA M P 19311938

02 CUNHA Raymundo Cyriaco da 18871894

02 F I C [Frere Ignace Chaput] Deacutecadas de 1880 a 1910

02 FREIRE [da Silva] Olavo 1921-1925

02 GOacuteES Carlos 1917-1918

02 LEAtildeO Manuel do Rego Barros de Souza 1858-1859

02 LEME Ezequiel de Moraes 1913-1920

02 MACEDO Joaquim Manoel de 1873-1877

02 MARTINS Ameacutelia de Rezende 1919-1930

02 PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa 18181836

02 PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes 1875 e deacutecada de 1880

02 REIS Antocircnio Alexandre Borges dos 18921920

02 REIS O de Souza 19181921

02 VILLA-LOBOS Raul 18861890[]

02 ZALUAR Augusto Emilio 18761880

Org Jeane Medeiros Silva 2011

Dois outros casos de adequaccedilatildeo de uma mesma obra agora por seus

autores chamam a atenccedilatildeo Primeiro temos Thomaz Pompeu de Souza Brasil que

publicou os Elementos de Geographia em 1851 em Fortaleza para uso dos alunos

do Liceu local ganhando uma nova ediccedilatildeo em 1856 com o tiacutetulo de Compendio de

Geographia ainda editado no Cearaacute A obra no entanto ganhou dimensatildeo nacional

ao ser adotada no Rio de Janeiro e em outras cidades (inclusive adotada pelo

Coleacutegio Pedro II liceus e seminaacuterios do Impeacuterio como clarifica uma chamada em

sua capa) passando a ter uma terceira ediccedilatildeo aumentada e corrigida publicada no

Rio de Janeiro com novo tiacutetulo Compendio elementar de Geographia geral e

especial do Brasil Nessa forma apenas com correccedilotildees e ampliaccedilotildees pontuais teve

mais duas ediccedilotildees em 1864 e 1869

Os autores mais comuns foram professores natildeo unicamente de Geografia

No entanto principalmente no seacuteculo XIX pessoas de diferentes formaccedilotildees e

ocupaccedilotildees profissionais produziram as obras da bibliografia literatos advogados

poliacuteticos jornalistas militares graduados religiosos engenheiros Alguns de

renome na cultura geral brasileira como Osoacuterio Duque-Estrada35 Joaquim Manoel

de Macedo36 outros com renome na poliacutetica como Thomaz Pompeu de Souza

Brasil37 ou com reconhecimento na tradiccedilatildeo cientiacutefica brasileira como Said Ali38

35

Osoacuterio Duque-Estrada ndash Nascido em Pati do Alferes municiacutepio de Vassouras (RJ) em 29 de abril de 1870 e falecido no Rio de Janeiro em 5 de fevereiro de 1927 Duque-Estrada eacute reconhecido por ter sido autor da letra do hino nacional brasileiro Foi poeta ensaiacutesta criacutetico de literatura e atuou como professor sendo autor de diversas obras didaacuteticas Na educaccedilatildeo exerceu as funccedilotildees de inspetor geral do ensino bibliotecaacuterio e professor de francecircs chegando a ser professor da cadeira de Histoacuteria Geral do Brasil no Coleacutegio Pedro II instituiccedilatildeo na qual se formou bacharel em Letras em princiacutepios do seacuteculo XX Abandonou o magisteacuterio para dedicar-se apenas agrave imprensa (ABL 2011)

36 Joaquim Manoel de Macedo ndash Nasceu em Itaboraiacute a 24 de junho de 1820 e faleceu no Rio de

Janeiro em 11 de abril de 1882 Formado em medicina destacou-se como escritor brasileiro e trabalhou como professor de Histoacuteria e Geografia do Brasil no Coleacutegio Pedro II Em 1845 foi soacutecio secretaacuterio e orador do Instituto Histoacuterico e geograacutefico Brasileiro Em sua extensa obra literaacuteria destaca-se o romance A moreninha sua obra mais reconhecida Escreveu livros didaacuteticos de Geografia e Histoacuteria (ABL 2011)

37 Thomaz Pompeu de Souza Brasil ndash Nasceu em Santa Quiteacuteria em 6 de junho de 1818 e faleceu

em Fortaleza a 2 de setembro de 1877 Formado em Direito ocupou cargos na poliacutetica e na educaccedilatildeo sendo um dos fundadores diretor e docente de Histoacuteria e Geografia do Liceu do Cearaacute aleacutem de contribuir com a imprensa Pertenceu ao quadro de diversas instituiccedilotildees cientiacuteficas dentre as quais a Sociedade de Geografia de Paris o Instituto Arqueoloacutegico Histoacuterico e Geograacutefico de Pernambuco e o Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro (SOUSA NETO 1997)

Frequentemente as editoras com especializaccedilatildeo em livros didaacuteticos como a

Francisco Alves agiam por encomendas procurando por autores institucionalizados

no Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro ndash IHGB e sobretudo no Coleacutegio Pedro

II em razatildeo da visibilidade desses autores e de sua experiecircncia com os programas e

a metodologia de ensino da instituiccedilatildeo modelar do ensino secundaacuterio no Brasil

Muitos autores quando professores para a escrita de suas obras didaacuteticas

desenvolviam apenas suas anotaccedilotildees e roteiros de aulas

Na perspectiva discursiva desta tese percebo esses autores como sujeitos

ou seres sociais natildeo fundamentados em uma individualidade mas como

expressotildees de um espaccedilo social e ideoloacutegico em determinado momento da histoacuteria

(FERNANDES 2005) Dessa forma seratildeo compreendidos no desenvolvimento da

tese

23 A editoraccedilatildeo

A loacutegica de mercado situa-se por detraacutes da histoacuteria do livro como um todo e

do livro didaacutetico em particular A aceitaccedilatildeo do livro junto ao puacuteblico escolar definiu

muitos aspectos da produccedilatildeo de uma obra dependente ainda para existir como

material escolar de atos autorizativos do Estado

De iniacutecio a primeira casa em territoacuterio brasileiro a imprimir manuais

escolares foi a Impressatildeo Reacutegia criada para produzir materiais subservientes agrave

administraccedilatildeo puacuteblica ldquo[] predominando publicaccedilotildees sobre economia poliacutetica

geografia agrimensura sauacutede puacuteblica incluindo-se obras ligadas ao curriacuteculo das

escolas criadas no periacuteodo joanino que visavam formar especiaistas e teacutecnicos para

o corpo burocraacutetico []rdquo da administraccedilatildeo instalada no novo territoacuterio que servia agrave

gestatildeo do reino portuguecircs (BITTENCOURT 2008 p 65) Serviu portanto como

marco a uma editoraccedilatildeo que evoluiria para a formaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de

livros ou pelo menos editorial haja vista que ateacute princiacutepios do seacuteculo XX o parque 38

Manuel Said Ali Ida ndash Nasceu em Petroacutepolis em 21 de outubro de 1861 e faleceu no Rio de Janeiro em 27 de maio de 1953 Filoacutelogo destacou-se nas pesquisas sobre a sintaxe da liacutengua portuguesa De descendecircncia alematilde foi professor de alematildeo na Escola Militar e no Coleacutegio Pedro II Aleacutem do alematildeo lecionou francecircs inglecircs e Geografia (INSTITUTO CAMOtildeES 2011)

graacutefico brasileiro ainda foi depentente de mateacuterias primas teacutecnica e matildeo de obra

europeia no que concerne a impressotildees

Ao longo do periacuteodo em anaacutelise conforme dados sistematizados no Quadro

03 teve-se a atuaccedilatildeo de 117 casas publicadoras identificadas entre nacionais

predominantes e estrangeiras aleacutem de tipografias Como casa publicadora natildeo

identificada sem registro de tipografia ou editora somam-se 75 ediccedilotildees

QUADRO 03 ndash Descriccedilatildeo das casas publicadoras39 da bibliografia didaacutetica de Geografia (1814-1939)

LOCAL DE PUBLICA-

CcedilAtildeO CASA PUBLICADORA

INIacuteCIO DA(S) PUBLICA-

CcedilOtildeE(S)

QUANTI- DADE DE PUBLICA-

CcedilOtildeES

RIO DE JANEIRO (RJ) 322 Ediccedilotildees

01

Impressatildeo Reacutegia 1814

11

Typographia Real 1821

Typographia Nacional 1822

Typographia Nacional 1828

Typographia Imperial e Nacional 1829

Imprensa Oficial 1864

Imprensa Nacional 1886

02 Typographia de Silva Porto 1824 1

03 P Plancher 1827 1

04 Typographia Torres 1830 1

05

Laemmert 1835

21

E amp H Laemmert 1845

Typographia Universal de Laemmert 1864

H Laemmert amp Cia 1870

Typographia Universal de Eduardo e Henrique Laemmert

1871

Laemmert amp Cia 1880

Typographia Universal de Henrique Laemmert 1882

07 Typographia de R Ogier 1836 1

08 Typographia de J E S Cabral 1840 2

09 Livraria de Agostinho de Freitas Guimaratildees amp Cia 1871 1

10 Typographia Francesa 1850 1

11 Domingos Joseacute Gomes Brandatildeo e Irmatildeos 1859 1

12

B L Garnier 1860

30 Livraria de B L Garnier 1870

Garnier 1902

13 Typographia de Pinheiro 1863

3 Typographia de Pinheiro amp Cia 1880

14 Typographia do Apoacutestolo 1875 2

15 Typographia Episcopal de Antonio Gonccedilalves Guimaratildees amp Cia

1865 1

39

Considero literalmente o nome das casas publicadoras conforme expresso nas obras ou nas referecircncias frequentemente satildeo as mesmas mas as alteraccedilotildees dos nomes podem se referir a mudanccedilas na razatildeo social das empresas Apesar das alteraccedilotildees nominais considero o quantitativo de publicaccedilotildees no seu conjunto referente a cada casa

16 Typographia do Commercio 1884 1

17 Typographia Franco-Americana 1873 1

18 Typographia J G de Azevedo 1877 1

19

Francisco Alves amp Cia 1908

110

Livraria Francisco Alves 1913

Francisco Alves 1914

Livraria Claacutessica de Nicolau Alves 1880

Livraria Claacutessica de Alves e Cia 1889

20 Cunha 1897 1

21 Typographia Esperanccedila de J drsquoAguiar amp Cia 1883 1

22 Typographia MontrsquoAlverne 1886 2

23 Editores Paes amp Cia 1907 1

24 Jacintho Ribeiros dos Santos 1897

43 Livraria Jacintho 1933

25 Livraria Cruz Coutinho 1898 1

26

Editora Paulo de Azevedo 1916

9 Livraria Paulo de Azevedo e Cia 1922

Livraria Azevedo 1930

27 Livraria da Viuacuteva Azevedo e Cia 1907 1

28 B de Aacutequila 1907 1

29 Orosco Impressores 1908 1

30 Heitor Ribeiro e Cia 1909 1

31 F Briguiet 1912

7 Fernando Briguiet amp Cia 1933

32 Impressotildees ArtiacutesticasEmpresa Foto-Mecacircnica do Brasil

1913 1

33 Empresa Graacutephico-Editora 1923 1

34 A noite 1947 3

35 Leite Ribeiro amp Maurillom 1919 1

36 Weizflog Irmatildeo Incorp 1924 1

37 Graacutefica Ed Livros SA 1963 1

38 Typographia Barreto Vianna 1925 1

39 Imprensa Naval 1928 1

40 Graphica Sauer 1936 2

41 H Antunes 1932 3

42 J R de Oliveira amp Cia 1935 4

43 Typographia Esporte 1931 1

44 Ediccedilotildees Alba 1932 1

45 J O Antunes amp Cia 1932 1

46 Bedeschi 1935 1

47 Typographia Patronato 1935 1

48 Conselho Nacional de Geografia 1967 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1830 38

SAtildeO PAULO (SP) 64 ediccedilotildees

01 Graphica Costa Silveira 1839

2 Typographia de M F Costa Silveira 1839

02 Impressatildeo da Proviacutencia de Satildeo Paulo Typographia Imparcial de J R Azevedo Marques

1862 1

03 FTD 1907 4

04 Duprat 1908

4 Casa de Duprat 1911

05 Melhoramentos 1920

7 Cia Melhoramentos 1923

06

Nacional 1921

25 Companhia Editora Nacional 1931

Editora Nacional 1934

07 Matano 1922 2

08 Monteiro Lobato 1925 1

09 Ediccedilotildees Rio Branco 193- 3

10 Livraria Acadecircmica 1932 4

11 Typographia Siqueira 1932 1

12 Editora Saraiva 1935 4

13 Livraria Teixeira 1935 1

14 Livraria Selbach de J R da Fonseca amp Cia 1935 1

15 Satildeo Paulo Editora 1939 1

16 Typographia Aurora 1898 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 186- 2

PORTO ALEGRE (RS) 39 Ediccedilotildees

01 Typographia Deutsche-Zeitung 1863 1

02 Typographia O Rio Grande 1868 1

03 J Alves Editor 1972 1

04 Typographia Perseveranccedila 1877 1

05 J Alves Editor 1881 1

06 Ed Carlos Pinto amp Cia 187- 1

07 Editor Rodolpho Joseacute Machado 1883 1

08 Livraria Rodolpho Joseacute Machado 1896 1

09 Liv Franco amp Irmatildeo 1898 1

10

Liv Globo 1909

22 Globo 1910

Livraria do Globo 1929

11 Officinas Graphicas da Escola 1911

2 Officinas Graphicas da Escola de Engenharia 1911

12 Selbach amp Mayer 1915[] 1

13 Typographia do Centro 1923 1

14 Barcellos Bertaso amp Cia 1931 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1870 3

SALVADOR (BA) 11 Ediccedilotildees

01 Typographia Poggeti de Catilina amp Cia 1860 1

02 Camillo de Lellis Masson 1863 1

03 Imprensa Econocircmica 1876 1

04 Lopes da Silva amp Amaral 1884 1

05 Typographia de Affonso Ramos amp Cia 188- 1

06 Wilcke Picard amp C 1892 2

07 Typographia Reis e Cia 1911 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1826 3

RECIFE (PE) 11 Ediccedilotildees

01 Typographia de Santos 1836 1

02 Typographia de M F de Faria 1836 1

03 Typographia Universal 1856 1

04 Typographia Mercantil 1875 1

05 Typographia drsquoA Proviacutencia 1891 1

06 Imprensa Industrial 1914 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 185- 5

BELEacuteM (PA) 07 Ediccedilotildees

01 Livraria Claacutessica 1874 2

02 Typographia do Diaacuterio de Beleacutem 1887 1

03 Typographia e Encadernaccedilatildeo da V Travessa 1894 2

- Casa Publicadora natildeo identificada 1863 2

FORTALEZA (CE) 04 Ediccedilotildees

01 Typographia de Paiva e Companhia 1851 2

- Casa Publicadora natildeo identificada 1873 2

MARANHAtildeO 04 Ediccedilotildees

01 Typ A P Ramos drsquoAlmeida amp Cia 1901 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1862 3

BELO HORIZONTE (MG) 03 Ediccedilotildees

01 Imprensa Official de Minas 1917

03

NITEROacuteI (RJ) 02 Ediccedilotildees

01 Typographia Nitheroy 1840 1

02 Escola Typographia Salesiana 1921 1

MACEacuteIO (AL) 02 Ediccedilotildees

01 Typographia do Liberal 1971 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1860 1

CURITIBA (PR) 02 Ediccedilotildees

01 Buzetti Mori amp Filhos 1911 1

02 Leopoldina Rocha 1913 1

SANTOS (SP) 01 Ediccedilatildeo

01 Typ do Diaacuterio de Santos 1884 1

ARACAJU (SE) 01 Ediccedilatildeo

01 Imprensa Oficial 1897 1

PELOTAS40

(RS) 01 Ediccedilatildeo

01 Carlos Pinto 1898 1

PIRASSUNUN-GA (SP) 01 Ediccedilatildeo

01 Typographia Minerva 1913 1

SAtildeO SEBASTIAtildeO DO PARAIacuteSO (MG) 01 Ediccedilatildeo

01 Casa Prado 1923 1

CAMPOS (SP) 01 Ediccedilatildeo

01 Ed da Casa ldquoA Penna de Bronzerdquo 1924 1

MOSSOROacute (RN) 01 Ediccedilatildeo

01 Typographia do Nordeste 1937 1

MANAUS (AM) 01 Ediccedilatildeo

Casa Publicadora natildeo identificada 188- 1

LOCAL NAtildeO IDENTIFICADO 17 Ediccedilotildees

01 Mundo Novo 1939 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1840 16

40

Identifiquei apenas uma ediccedilatildeo mas o tiacutetulo produzido em Pelotas O Rio Grande do Sul para as escolas teve mais de 100 ediccedilotildees de acordo com Bittencourt (2008)

PARIS (Franccedila) 06 Ediccedilotildees

01 Casa de Va J P Aillaud Monlon amp Cia 1855 2

02 J-P Aillaud Guillard amp Cia 1867 1

03 Guillard Aillaud amp Cia 1872 3

04 Typographia Pillet et Dumoulin 1880 1

LEIPZIG (Alemanha) 04 Ediccedilotildees

F A Brocklaus 1873 4

LISBOA (Portugal) 03 Ediccedilotildees

01 Imprensa de Lucas Evangelista 1854 1

02 Imprensa Nacional 1865 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1882 1

PORTO (Portugal) 01 Ediccedilatildeo

01 Livraria Portuense de Lopes 1895 1

LONDRES (Inglaterra) 01 Ediccedilatildeo

01 L Thompson (na officina portugueza) 1824 1

Org Jeane Medeiros Silva 2011

O Rio de Janeiro ao longo do seacuteculo XIX e no periacuteodo delimitado liderou a

produccedilatildeo dessa bibliografia com 66 do total Satildeo Paulo assumiu essa lideranccedila

no seacuteculo XX mas com expansatildeo mais significativa apenas apoacutes a deacutecada de 1930

pelo menos no que concerne agraves publicaccedilotildees didaacuteticas de Geografia em um

crescendo no qual assumiria a ponta na segunda metade daquele seacuteculo De

qualquer forma para o periacuteodo entre 1839 e os anos 1930 teve suas casas

editoriais participantes com 14 das publicaccedilotildees didaacuteticas de Geografia O terceiro

lugar eacute ocupado por Porto Alegre com 8 da produccedilatildeo no periacuteodo (Cf Graacutefico 02)

Geograficamente a produccedilatildeo do acervo da bibliografia didaacutetica de Geografia

distribuiu-se por 25 localidadades incluindo cinco cidades estrangeiras citadas como

sede da ediccedilatildeo No Brasil conforme indica o mapa da Figura 02 a produccedilatildeo dividiu-

se por 14 proviacutenciasestados Rio de Janeiro (Rio de Janeiro Niteroacutei Campos) Satildeo

Paulo (Satildeo Paulo Santos Pirassununga) Rio Grande do Sul (Porto Alegre

Pelotas) Paranaacute (Curitiba) Bahia (Salvador) Pernambuco (Recife) Paraacute (Beleacutem)

Amazocircnia (Manaus) Cearaacute (Fortaleza) Maranhatildeo (Satildeo Luiz) Minas Gerais (Belo

Horizonte Satildeo Sebastiatildeo do Paraiacuteso) Alagoas (Maceioacute) Sergipe (Aracaju) Rio

Grande do Norte (Mossoroacute)

GRAacuteFICO 02 ndash Distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo de livros didaacuteticos por localidade (1814-1939)

6614

8

2

2

1

3

3 1

RIO DE JANEIRO

SAtildeO PAULO

PORTO ALEGRE

SALVADOR

RECIFE

BELEacuteM

OUTROS COM MENOS DE 05

EDICcedilOtildeES

LOCAIS NAtildeO IDENTIFICADOS

PARIS

Org Jeane Medeiros Silva 2011 Fonte Pesquisa direta 2007-2011

Nota-se em todo esse percurso o predomiacutenio das cidades e regiotildees

litoracircneas e o destaque para as proviacutencias (depois estados) mais proacutesperas no

periacuteodo a comeccedilar pelo Rio de Janeiro e por Satildeo Paulo mais tarde muito influentes

nacionalmente

Destacam-se tambeacutem outros pontos regionais importantes como o Rio

Grande do Sul marcado por produzir manuais didaacuteticos com muita ecircnfase na

abordagem do proacuteprio estado aleacutem da Bahia Pernambuco e Recife

Bittencourt (2008) jaacute assinalou o fato de Manaus e Beleacutem aleacutem de Satildeo Luiz

do Maranhatildeo assumirem certa especializaccedilatildeo na produccedilatildeo de obras de Geografia

no contexto da iniciaccedilatildeo da exploraccedilatildeo geograacutefica da regiatildeo amazocircnica coadunado

com o interesse de proteger a regiatildeo igualmente da cobiccedila internacional fato que

potildee em relevo os conhecimentos espaciais

FIGURA 02 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica41 da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no Brasil (1814-1939)

Fonte Pesquisa direta 2007-2011

Porto Alegre foi outro centro regional importante na produccedilatildeo de livros

didaacuteticos de Geografia O interessante eacute notar que a educaccedilatildeo geograacutefica do Rio

Grande do Sul apresentou uma tradiccedilatildeo de estudo do seu territoacuterio provincial bem

maior que outras regiotildees Natildeo se limitou a abordar o Rio Grande do Sul como parte

41

Delimitaccedilatildeo poliacutetica atual Natildeo corresponde ao traccedilado das regionalizaccedilotildees do periacuteodo

da Corografia ou Geografia brasileira mas dedicando obras especiacuteficas ao Rio

Grande como exemplificam algumas das produccedilotildees didaacuteticas dessa regiatildeo Eudoro

Brazileiro Berlink42 com o Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do

Rio Grande do Sul (cinco ediccedilotildees ateacute 1881) Hilaacuterio Ribeiro43 com a Geographia do

Rio Grande do Sul (1880 1881) A G Lima com Noccedilotildees de Geographia Curso

complementar I parte Rio Grande do Sul (sete ediccedilotildees ateacute 1935) e J Pinto

Guimaratildees44 com O Rio Grande do Sul para as escolas obra que foi um verdadeiro

best-seller com 100 ediccedilotildees ateacute 1898

Com indicaccedilatildeo de sede no estrangeiro tem-se Franccedila (Paris) Alemanha

(Leipzig) Portugal (Lisboa Porto) e Inglarerra (Londres) ndash (Cf Figura 03) Devo

frisar ainda outra vez que uma parte significativa das obras referenciadas por

editoras ou filiais brasileiras tinha as impressotildees realizadas na Europa As

mencionadas acima ou eram obras importadas ou foram relatadas como obras

editadas nestes locais

Eacute interessante notar a convivecircncia entre editoras e tipografias Das 948

ediccedilotildees registradas neste trabalho apenas 287 foram publicadas propriamente por

editoras com expressatildeo nacional como a Impressatildeo Reacutegia a Laemmert a Garnier

a Francisco Alves a Jacintho Ribeiro dos Santos a Paulo Azevedo A Noite a

FTD a Melhoramentos a Companhia Editora Nacional e a Globo sendo todo o

restante a maioria publicado por pequenas tipografias ou casas editorias de

alcance local

As pequenas editoras ou graacuteficas prestavam-se geralmente para imprimir as obras encomendadas pelos proacuteprios autores Ao acompanharmos as ediccedilotildees dos livros escolares observamos que ao obter sucesso de vendagem havia a transferecircncia ou compra de obras ou dos direitos autorais pelas editoras maiores (BITTENCOURT 2008 p 74)

42

Eudoro Brazileiro Berlink ndash Nasceu em Porto Alegre em 1843 e faleceu no Rio de Janeiro em 1880 De filiaccedilatildeo poliacutetica conservadora foi professor e jornalista Dirigiu o jornal Rio-Grandense oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo do Partido Conservador No Rio de Janeiro para onde se mudou em 1876 trabalhou no jornal O Cruzeiro Foi autor da obra de Geografia mencionada acima e de Caxias Apontamentos para a Histoacuteria Militar do Duque de Caxias (1870) Para o teatro escreveu Georgina (BLAKE 1893 ALMEIDA 2007 PORTO-ALEGRE 1917)

43 Hilaacuterio Ribeiro ndash Nasceu em Porto Alegre em 1847 e faleceu no Rio de Janeiro em 1886 Cursou

Medicina no Rio de Janeiro mas precisou abandonar os estudos por motivos de sauacutede passando a dedicar-se ao ensino atuando como professor e proprietaacuterio de escola Escreveu poesias e peccedilas de teatro aleacutem de obras didaacuteticas (PORTO-ALEGRE 1917 HALLEWELL 2005)

44 J Pinto Guimaratildees ndash Natildeo foi possiacutevel localizar informaccedilotildees sobre esse autor

FIGURA 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica45 da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica na Europa (1814-1939)

Fonte Pesquisa direta 2007-2011

Esse fato eacute aferido diversas vezes na bibliografia didaacutetica de Geografia Thomaz

Pompeu de Souza Brasil publica seus Elementos de Geographia em Fortaleza pela

Typographia de Paiva e Companhia em 1851 pela qual saiu a segunda ediccedilatildeo em

1856 e transfere a terceira ediccedilatildeo em 1859 para a tipografia Domingos Joseacute

45

Delimitaccedilatildeo poliacutetica atual Natildeo corresponde ao traccedilado das regionalizaccedilotildees do periacuteodo

Gomes Brandatildeo e Irmatildeos a quarta ediccedilatildeo em diante que eacute de 1864 foi transferida

para o Rio de Janeiro onde foi editada pela Laemmert Jaacute no seacuteculo XX Carlos

Miguel Delgado de Carvalho publica a Geographia do Brasil Tomo I Geographia

Geral pelas Impressotildees ArtiacutesticasEmpresa Foto-Mecacircnica do Brasil em 1913 e a

partir da terceira ediccedilatildeo em 1927 a obra com todas as modificaccedilotildees endossadas eacute

editada pela Francisco Alves

Poreacutem por editoras ou tipografias os dados reafirmam o Rio de Janeiro

como centro econocircmico e cultural brasileiro acircmbito das decisotildees poliacuteticas agraves quais

a existecircncia do livro didaacutetico sempre esteve atrelada mas natildeo necessariamente o

uacutenico lugar Resgardadas as proporccedilotildees houve uma descentralizaccedilatildeo nesse

processo do sul ao norte do paiacutes excluindo-se os estados interioranos

A Impressatildeo Reacutegia que depois assumiria outros nomes (Imprensa Nacional

Imprensa Oficial Tipografia Nacional) foi a primeira casa dos manuais de

Geografia ao longo do seacuteculo XIX editou 11 ediccedilotildees a partir de 1814 A lideranccedila

contudo no seacuteculo XIX foi dividida com a Garnier casa que publicou 30 ediccedilotildees de

1860 em diante e com a Laemmert com 35 ediccedilotildees sendo a primeira de 1835 A

partir de 1880 a Francisco Alves entatildeo Livraria Claacutessica de Nicolau Alves passou a

atuar no mercado dos livros didaacutetico de Geografia liderando todas as casas com

110 ediccedilotildees das que identifiquei

Na segunda metade do seacuteculo XIX algumas editoras passaram a assumir os

riscos comerciais para suprir o mercado com livros didaacuteticos o estado nacional da

educaccedilatildeo jaacute permitia assumi-los O editor francecircs radicalizado no Brasil Baptiste

Louis Garnier (1823-1893) foi o pioneiro nesse sentido aleacutem de um grande inovador

dos projetos graacuteficos como um todo introduziu diversos padrotildees que passariam a

ser comerciais para o livro brasileiro como o formato francecircs ndash in-oitavo (165 x 105

cm) e in-doze (175 x 110 cm) o volume uacutenico preccedilos de capa fixo o pagamento

de direitos autorais ndash assumindo assim todos os encargos inerentes a uma ediccedilatildeo

Isso permite afirmar que Garnier foi um editor inovador

Transferir um autor para um editor o trabalho completo e o risco financeiro de publicar seu livro e ser pago por isso jaacute era possiacutevel haacute muitos anos na Inglaterra e na Franccedila no Novo Mundo isso ainda constituiacutea novidade [] (HALLEWELL 2005 p 209)

Embora Laemmert outro editor importante ao tempo de Garnier tenha

publicado livros didaacuteticos considerando todas as aacutereas sem duacutevida Garnier foi o

principal impressor e comerciante de livros didaacuteticos em geral posto que perderia

apenas para a casa de Francisco Alves deacutecadas depois embora Laemmert tenha

publicado mais tiacutetulos de Geografia que a Garnier

No conjunto dos materiais impressos das tipografias e editoras o valor

dimensionado a esse gecircnero pode ser perceptivo na abertura e incentivos a essas

produccedilotildees Lajolo Zilberman (1996) a esse respeito mencionam direitos a autores

de livros didaacuteticos que chegavam a 20 sobre o valor do volume percentagem que

era (eacute) o dobro de qualquer pagamento autoral em qualquer eacutepoca

O interessante eacute que no cenaacuterio geral dessas publicaccedilotildees a maioria das

obras didaacuteticas destinava-se ao ensino primaacuterio mas especificamente no que diz

respeito agrave Geografia a maioria dos tiacutetulos tinha por alvo o ensino secundaacuterio

Somente a partir do fim do seacuteculo XIX passariam a ser mais frequentes obras

individualizadas para o ensino de Geografia em niacutevel primaacuterio

Ateacute 1912 natildeo havia proteccedilatildeo internacional aos direitos autorais no Brasil

sobretudo para os autores natildeo residentes Muito da sobrevivecircncia e crescimento das

editoras nacionais se deveram a esse fato Os rudimentos legais de proteccedilatildeo aos

direitos autorais de estrangeiros originaram-se no artigo 261 do Coacutedigo Criminal do

Impeacuterio de dezembro de 1830 cujo texto criminalizava as apropriaccedilotildees indevidas

mas sem efeitos diretos Para os brasileiros era tradiccedilatildeo o proacuteprio autor custear

suas ediccedilotildees situaccedilatildeo que se observa de perto na bibliografia didaacutetica de Geografia

na accedilatildeo do amplo conjunto das pequenas tipografias Aleacutem disso muitas instacircncias

responsaacuteveis pela avaliaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo do livro didaacutetico soacute o recebiam para esse

procedimento uma vez impresso natildeo os originais Por isso se nota que

praticamente todo livro bem sucedido aqueles que tiveram reediccedilotildees migravam de

tipografias particulares para casas comerciais o que soacute acontecia sob a proteccedilatildeo e

aceitaccedilatildeo dos especialistas ou da criacutetica ndash o que os levava a ser adotados por

importantes instituiccedilotildees escolares O livro nessas condiccedilotildees garantia seu sucesso

comercial aferido tambeacutem pelo renome e tradiccedilatildeo do autor Com certeza esse

esquema aferia dificuldades para o autor que natildeo raro por natildeo ter pecuacutelio para

financiar uma tiragem agia por meio de subscriccedilotildees cotizando o valor da impressatildeo

entre amigos ndash uma espeacutecie de venda antecipada Garnier que introduziu o

pagamento regular de direitos autorais na base de 10 sobre o valor da capa era

extremamente conservador quanto agrave ediccedilatildeo de didaacuteticos raramente endossando

primeiras ediccedilotildees Francisco Alves por sua vez tinha habilidades para identificar

uma boa obra comercial e frequentemente agia por encomenda solicitando aos

autores determinadas obras Todavia talvez fossem os autores de livros didaacuteticos os

uacutenicos a realmente ter na produccedilatildeo destes alguma renda regular considerando-se

que algumas tiragens da Livraria Alves anos apoacutes o Impeacuterio variavam entre cinco e

cinquenta mil exemplares

A accedilatildeo de pequenas editoras revela sobretudo as dificuldades de

integraccedilatildeo de um mercado editorial mas natildeo soacute No Impeacuterio o Estado preocupou-se

essencialmente com o ensino da Corte delegando autonomia agraves proviacutencias para

cuidar de seus interesses educacionais Com isso era comum que os curriacuteculos

sofressem divergecircncias apresentando regionalidades curriculares que poderiam

conflitar com os da corte Assim surgiram manuais locais com perspectivas

geograacuteficas e histoacutericas particulares sobretudo se para o ensino primaacuterio Obras

como a Pequena Geographia da provincia do Paraacute de Cunha ou Noccedilotildees de

Geographia e de Historia do Brazil para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria da

proviacutencia do Paraacute de Freitas eram essencialmente regionais natildeo atendendo a um

mercado mais amplo

Em um prospecto particular diferentemente do panorama geral do livro

didaacutetico apoacutes a reabertura das importaccedilotildees para o manual didaacutetico de Geografia

natildeo se aplica o relato de Hallewell (2005 p 215) ldquocom o reestabelecimento dos

intercacircmbios durante muitos anos pouca coisa ouvimos de livros escolares

brasileirosrdquo Embora em nuacutemero natildeo expressivo a primeira metade do seacuteculo XIX

presenciou a gecircnese de um acervo bibliograacutefico para o ensino de Geografia bastante

significativo Afora a Impressatildeo Reacutegia a editora Laemmert juntamente com a

Garnier foram as casas comerciais pioneiras no desenvolvimento de uma linha

editorial de obras didaacuteticas em particular as de Geografia mas a par delas e desde

a deacutecada de 1830 a quantidade de tiacutetulos nacionais de Geografia foi significativa

Se a editora e livraria de Garnier foram pioneiras no mercado editorial do

livro didaacutetico brasileiro Francisco Alves foi o consolidador ao fazer deste mercado

sua principal fonte empresarial Sem duacutevida contribuiu para isso a conjuntura

educacional do Brasil nas deacutecadas precedentes e subsequentes agrave virada para o

seacuteculo XX conforme veremos adiante

Na avaliaccedilatildeo de Hallewell (2005 p 289) o livro didaacutetico difundido a partir

da Livraria Francisco Alves teve um papel maior que seus fins metodoloacutegicos de

ensino ldquo[] ao analisar a contribuiccedilatildeo de Alves para a difusatildeo da literatura brasileira

natildeo devemos desprezar a inegaacutevel importacircncia de seus compecircndios escolares e

antologiasrdquo (HALLEWELL 2005 p 289) Francisco Alves de Oliveira levou ao limite

em sua eacutepoca a experiecircncia de uma editora com os didaacuteticos Sua importacircncia

como editor costuma ser relegada justamente por esse motivo como analisa

Hallewell (2005 p 277 e 289) ldquoAs reminiscecircncias da vida literaacuteria do Rio de Janeiro

na virada do seacuteculo [] deixam totalmente de lado outro editor e livreiro tatildeo

importante quanto [outros] talvez porque lidasse principalmente com livros

didaacuteticosrdquo no entanto ldquo[] ao analisar a contribuiccedilatildeo de Alves para a difusatildeo da

literatura brasileira natildeo devemos desprezar a inegaacutevel importacircncia de seus

compecircndios escolares e antologiasrdquo E de fato o livro didaacutetico eacute um mal estar

completo entre escritores e acadecircmicos no Brasil jaacute naquele tempo e ainda o eacute na

atualidade Na avaliaccedilatildeo dos criacuteticos este gecircnero pertence a obras de menor conta

no conjunto de fatores que circunscrevem os manuais escolares devido a um

conjunto de estranhamentos a autoria ndash no sentido socioloacutegico ndash os manuais

enquanto obras de divulgaccedilatildeo natildeo satildeo percebidos como uma criaccedilatildeo completa

portanto exclusas das instacircncias de formulaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica atuante na

criacutetica mesmo na especializada a acadecircmica compilam simplificam natildeo

contribuem com o avanccedilo da aacuterea na qual se inserem o puacuteblico alvo ndash satildeo obras

destinadas agrave instruccedilatildeo alcanccedilando por isso um puacuteblico imaturo cujo ldquoacontecer em

cenardquo dificilmente reverbera no ldquodebaterdquo ou ldquocomposiccedilatildeo do cenaacuteriordquo no qual uma

obra comum se posiciona

Estes dentre outros fatores levam o livro didaacutetico a um lugar quase maldito

na cena editorial e acadecircmica de maneira que o anonimato frequentemente foieacute

uma recorrecircncia como se nota mesmo entre as personagens mais engendradas no

processo criativo e produtivo dos manuais escolares como o eacute Francisco Alves

O uso de diversos pseudocircnimos manteve desconhecido esse lado de suas atividades [autoria de livros didaacuteticos ndash a maioria na linha da linguagem] ateacute mesmo para amigos de trinta anos apoacutes sua morte poreacutem Oswaldo de

Melo Braga conseguiu identificar nada menos que trinta e nove livros de autoria de Francisco Alves (HALLEWELL 2005 p 279)

A Livraria Francisco Alves emergiu de outra empresa a Livraria Claacutessica do

editor Nicolao A Alves que desde 1872 anunciava sua especializaccedilatildeo na linha de

livros escolares e acadecircmicos (identifiquei o primeiro de Geografia no ano de 1880)

Naquele tempo atuava mais com livros importados do que propriamente com obras

da produccedilatildeo nacional Francisco Alves sobrinho de Nicolao quando adquiriu a

casa apoacutes um periacuteodo de sociedade manteve a aacuterea de atuaccedilatildeo da Livraria

Claacutessica ampliando-a com a inclusatildeo de manuais para as escolas primaacuterias e

incrementando o desenvolvimento editorial praticado tambeacutem por questatildeo de

barateamento dos custos de produccedilatildeo na Europa A grande inovaccedilatildeo de Francisco

Alves aleacutem do centramento do seu negoacutecio nos manuais didaacuteticos ndash um mercado

estaacutevel de vendas seguras e de maior volume ndash consistiu no incentivo e

incorporaccedilatildeo de uma produccedilatildeo nacional haja vista a vantagem para o editor

nacional uma vez que apenas com dificuldades os competidores estrangeiros

inseriam-se no mercado brasileiro pois os produtos destes ldquo[] jamais podem

adaptar-se tatildeo bem agraves condiccedilotildees ou aos curriacuteculos locaisrdquo (HALLEWELL 2005 p

280)

FIGURA 04 ndash Baptiste Louis Garnier (1823-1893) pioneiro das atividades editoriais para o livro didaacutetico brasileiro e Francisco Alves de Oliveira (1848-1917) que consolidou o mercado das publicaccedilotildees didaacuteticas no Brasil

Fonte HALLEWELL (2005 p 198 e 277)

As relaccedilotildees sociais de Francisco Alves muito o favoreceram a exemplo da

amizade que manteve com Teoacutefilo das Neves Leatildeo Secretaacuterio da Educaccedilatildeo na

presidecircncia de Prudente de Morais que foi leitor dos originais da Livraria e seu

conselheiro muito auxiliando o editor na tomada de decisotildees corretas e coerentes

na definiccedilatildeo do acervo didaacutetico de sua empresa de acordo com o movimento

educacional do seu tempo (HALLEWELL 2005)

A importacircncia da Livraria Francisco Alves fez com que os negoacutecios tivessem

necessidade de expansatildeo jaacute no periacuteodo republicano sendo abertas filiais em Satildeo

Paulo e Belo Horizonte ldquoa firma havia crescido rapidamente a partir de meados da

deacutecada de 1890 e logo chegou a deter o quase monopoacutelio no campo do livro didaacutetico

brasileirordquo tambeacutem por um meacutetodo econocircmico uma vez que conseguira a ldquo[]

suplantaccedilatildeo dos concorrentes mediante a praacutetica de tiragens maiores o que

barateava os preccedilos e em parte com a aquisiccedilatildeo das firmas rivaisrdquo (HALLEWELL

2005 p 285) Periacutecia econocircmica escolhas apropriadas e uma massiva propaganda

foram a receita empresarial de Francisco Alves para o mercado do livro didaacutetico

Por fim vale mencionar que a atuaccedilatildeo das editoras comerciais foi central na

questatildeo da distribuiccedilatildeo dos livros sobretudo nacionalmente Muito trabalharam na

divulgaccedilatildeo de seus cataacutelogos por meio de jornais submetendo os tiacutetulos agrave

apreciaccedilatildeo criacutetica dos jornalistas promovendo resenhas ou anuacutencios publicitaacuterios

24 O desenvolvimento fiacutesico-graacutefico dos manuais didaacuteticos de Geografia

O aspecto fiacutesico-graacutefico dos livros didaacuteticos em geral conforma uma histoacuteria

e uma significaccedilatildeo particulares nas quais os manuais de Geografia tecircm suas

especificidades com implicaccedilatildeo direta na organizaccedilatildeo do ensino e da aprendizagem

dessa disciplina Entre os designers semioacuteticos e analistas do discurso ndash quanto agrave

materialidade impressa ndash eacute consenso que a leitura tem iniacutecio pela visualizaccedilatildeo do

objeto e sobretudo pela visualizaccedilatildeo graacutefica que causa ldquo[] um impacto no

observador e uma inconsciente primeira leitura [] do material impresso A partir daiacute

o arranjo graacutefico passa a atuar como discurso e como discurso possui uma

linguagem especiacutefica e uma rede encadeada de significaccedilatildeordquo (SILVA 1985 p 40)

De acordo com Martins (2006) nas materialidades impressas conjugam-se pelo

menos trecircs modalidades de linguagem a linguagem verbal que expressa a escrita

a linguagem matemaacutetica ndash as equaccedilotildees graacuteficos notaccedilotildees tabelas e a linguagem

imageacutetica que apresenta desenhos fotografias mapas diagramas (MARTINS

2006)

Os manuais de Geografia relacionados na bibliografia da pesquisa

apresentam um quadro graacutefico que passaraacute por poucas transformaccedilotildees satildeo de

certa forma homogecircneos ateacute a virada para o seacuteculo XX quando haveraacute algumas

inovaccedilotildees relevantes embora pontuais no padratildeo graacutefico desses materiais

Ateacute a deacutecada de 1960 a linguagem do livro didaacutetico em geral esteve inscrita

no universo da cultura escolar a partir de entatildeo inscreve-se em outras linguagens

sobretudo a da comunicaccedilatildeo impressa (MORAES 2008) Ou seja a linguagem

instrucional do gecircnero foi basicamente verbal opositiva agrave miscelacircnea linguageira

que se alinhou agrave produccedilatildeo do livro didaacutetico a partir dos anos 1960 por exemplo

quando se instituiu uma semioacutetica didaacutetica com recursos iconograacuteficos de diversas

estirpes ampliando a compreensatildeo do leitor e diversificando a experiecircncia da leitura

e do estudo do livro didaacutetico O layout das uacuteltimas deacutecadas praticamente perdeu a

simplicidade e certa inocecircncia identificaacutevel nas teacutecnicas de composiccedilatildeo do bloco

impresso dos livros do periacuteodo ganhando traccedilos e efeitos que inovam a

diagramaccedilatildeo e potencializam o funcionamento discursivo das disciplinas Ateacute com

certo exagero havendo casos em que se percebe um predomiacutenio dos recursos

iconograacuteficos sobre os recursos textuais

O livro brasileiro formalmente foi influenciado pelo modelo de impressatildeo

francecircs Talvez por uma razatildeo teacutecnica jaacute que a maioria das impressotildees era feita

diretamente na Franccedila ou por alguns dos principais livreiros e editores do paiacutes

terem sido franceses Predominantemente satildeo livros de capa dura O mais comum

ateacute os anos 1870 era que a capa identificasse apenas o tiacutetulo da obra e a autoria

geralmente na lombada As primeiras ediccedilotildees da Impressatildeo Reacutegia por exemplo

ldquo[] eram vendidos brochados Geralmente saiacuteam cobertos com uma simples capa

de papel cinzento ou azulado papel barato como se usava na Europa O comprador

eacute que os mandava encadernar por sua conta e a seu gostordquo (MORAES 1975) Agraves

vezes o livreiro jaacute os vendia encadernados mas natildeo era regra De qualquer forma

encadernaccedilatildeo e impressatildeo ateacute final do seacuteculo XIX natildeo eram sempre partiacutecipes do

mesmo processo industrial Muitos dos livros impressos na Europa sequer eram

exportados prontos vinham em rolos impressos aquartelados em barris sendo pelo

livreiro cortados montados e agregados por colagem ou costura (HALLEWELL

2005) Agrave maneira da Franccedila satildeo comuns os encadernamentos marmorizados com

falsas nervuras e filigramas como se observa ainda em um exemplar de 1878 das

Liccedilotildees de Geographia do Abbade Gaultier46 ou encadernados de forma mais

simples com cartonado espesso e tecido sem identificaccedilotildees como o exemplar de

Joaquim Maria de Lacerda Curso methodico de Geographia physica politica

histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras de

1887 (Figura 05)

46

Abbade Gaultier ndash Religioso nascido na Itaacutelia (1745-1818) mas radicalizado na Franccedila do seacuteculo XVIII migrou para a Inglaterra quando da Revoluccedilatildeo Francesa onde abriu um curso puacuteblico e implementou um meacutetodo de ensino que ficou conhecido como ldquomeacutetodo Gaultierrdquo prenuacutencio do meacutetodo de ensino muacutetuo Sua geografia didaacutetica utilizada por quase um seacuteculo foi estruturada no meacutetodo socraacutetico ou dialogada em que alunos fazem perguntas e o mestre responde desenvolvendo o conteuacutedo (SCROSOPPI 1939)

FIGURA 05 ndash Encadernaccedilotildees tiacutepicas da bibliografia didaacutetica de Geografia ateacute fins do seacuteculo XIX

Autoria Jeane Medeiros Silva 2011

Esse padratildeo passaria por transformaccedilotildees como ademais o livro brasileiro em geral

no que se refere agrave constituiccedilatildeo do encapamento das obras A folha de rosto desde a

constituiccedilatildeo dos livros impressos destacou-se como uma espeacutecie de certidatildeo de

nascimento da obra apresentando identificaccedilotildees como autoria titulaccedilatildeo editoraccedilatildeo

e outras informaccedilotildees O que se nota na bibliografia a partir dos anos 1880 eacute uma

transferecircncia do constituto das folhas de rosto para as capas que importam ou

mesmo reproduzem o layout das folhas de rosto ou constituem uma informaccedilatildeo

mais personalizada deslocando a identificaccedilatildeo exclusivamente das lombadas A

contracapa tambeacutem passa a ser utilizada geralmente para comerciais do editor ou

da livraria anunciando outros lanccedilamentos ou sortimentos relacionados ao ambiente

escolar (Figuras 06 e 07)

A maioria dos manuais de Geografia editados ateacute o final do seacuteculo XIX tinha

tamanho in-oitavo (165 x 105 cm) e in-doze (175 x 110 cm) Nesse periacuteodo

geralmente os livros para o ensino primaacuterio eram menores que esse padratildeo como a

Pequena Geographia da Infacircncia de Lacerda Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX

no entanto esse padratildeo eacute modificado em alguns casos com o aparecimento de

obras mais largas e em formato panoracircmico especificamente para o ensino

primaacuterio a exemplo da obra Geographia Elementar de A de Rezende Martins47

(Figura 08)

47

Ameacutelia de Rezende Martins ndash Renomada musicista paulista pianista e camerista neta do Baratildeo Geraldo Rezende nascida em Campinas (Satildeo Paulo) em 1877 e falecendo em data ignorada no Rio de Janeiro cidade onde viveu a maior parte de sua vida Apesar de na muacutesica estar registrada suas contribuiccedilotildees mais relevantes foi ainda autora de livros didaacuteticos de Histoacuteria e Geografia em um total de seis todos ldquoapprovados e adoptados pela Instrucccedilatildeo do Districto Federalrdquo aleacutem de filmes pedagoacutegicos ensaios e criacuteticas atuando ainda como polemista e conferencista Suas atividades intelectuais foram iniciadas na deacutecada de 1910 com a escrita de livros didaacuteticos contextualizados na Escola Nova e na linha montessoriana Sua contribuiccedilatildeo para a educaccedilatildeo brasileira inclui ainda a produccedilatildeo de diversos filmes pedagoacutegicos cujo propoacutesito era complementar aulas expositivas Como conferencista e polemista participou de eventos e debates sobre questotildees sociais polecircmicas contribuindo para diversos perioacutedicos e diaacuterios cariocas Juntamente com Theodoro Heuberger e Frei Pedro Sinzig em 1931 no Rio de Janeiro fundou e presidiu a Pro-Arte Sociedade de Artes Letras e Ciecircncias em cujos salotildees realizaram-se exposiccedilotildees conferecircncias e concertos e posteriormente difundiu trabalhos artiacutesticos e instituiccedilotildees de muacutesica A despeito das dificuldades de comunicaccedilatildeo e transportes participou de caravanas artiacutesticas que transitaram por cidades do Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul levando muacutesica exposiccedilotildees e obras de artesanato (TINHORAtildeO 2000 COELHO PRO-ARTE 2009) Reformadora e arquiconservadora em diversas questotildees incluindo gecircnero e educaccedilatildeo chegou a afirmar que ldquo[] eacute preferiacutevel a ignoracircncia completa e uma satilde moral ciecircncia nenhuma e muito catecismo a todo esse simulacro de instruccedilatildeo que serve apenas para infelicitar uma onda de meninas brasileirasrdquo (MARTINS apud BESSE 1999 p 133)

FIGURA 06 ndash Capa da 5 ed da Chorographia do Brasil de Henrique Martins (1896) a identificaccedilatildeo da obra desloca-se da lombada e da folha de rosto para a capa frontal

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

A qualidade do papel igualmente reflete alguns nuances da trajetoacuteria do livro

didaacutetico de Geografia Ateacute a deacutecada de 1880 os livros espelham o prestiacutegio de um

consumo mais elitizado sendo impressos em papel de qualidade em sua maioria o

que inclusive garantiu uma maior preservaccedilatildeo dos exemplares sobreviventes

Apenas na entrada do seacuteculo XX se consta uma oscilaccedilatildeo na qualidade do papel

quando o livro jaacute consolidado como objeto pedagoacutegico do discente tem

aumentadas suas tiragens e por conseguinte o consumo processo que visou o seu

barateamento

FIGURA 07 ndash Reproduccedilatildeo da folha de rosto na capa do exemplar de 1902 de A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica das cinco de Frere Ignace Chaput (FIC)

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

O uso de imagens jaacute era uma recomendaccedilatildeo na Didaacutetica de Comenius

(1986) no seacuteculo XVII Mas a viabilidade desse uso em escala mais ampla foi

possiacutevel apenas com o aparecimento da litografia em fins do seacuteculo XVIII uma

teacutecnica de gravura realizada a partir do desenho com um laacutepis gorduroso sobre uma

pedra calcaacuteria reproduzido posteriormente com impressatildeo manual Ao passo que

alguns livros soacute passaram a contar com recursos iconograacuteficos a partir de meados

do seacuteculo XX (NAKAMOTO 2010) os livros de ciecircncias e Geografia tiveram alguma

tradiccedilatildeo no uso de ilustraccedilotildees A cor eacute outro recurso relevante na teacutecnica graacutefica

Particularmente satildeo relevantes no discurso pedagoacutegico da Geografia haja vista a

semiologia graacutefica empregada nas representaccedilotildees cartograacuteficas na

iconoinformaccedilotildees da Geografia Fiacutesica e na diferenciaccedilatildeo de elementos na

paisagem nas simbologias nacionais etc No periacuteodo em anaacutelise a predominacircncia

foi do preto e do branco e quando dispostas representaccedilotildees das hachuras Natildeo

que fosse desconhecida sua importacircncia mas propriamente por uma questatildeo

econocircmica esses recursos encareciam a produccedilatildeo No contexto dos projetos

graacuteficos as cores tecircm seu proacuteprio funcionamento ldquoao utilizar deliberadamente uma

determinada cor num projeto esta exerce trecircs accedilotildees no sujeito receptor de iniacutecio

fiacutesico impressiona a retina depois psiacutequico pois provoca uma reaccedilatildeo e eacute tambeacutem

construtiva visto que possui um valor podendo assim comunicar uma ideiardquo

(NAKAMOTO 2010 p 70)

FIGURA 08 ndash Geographia Elementar de A de Rezende Martins ndash exemplar de 1926 das primeiras obras em formato panoracircmico

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

O uso de imagens jaacute era uma recomendaccedilatildeo na Didaacutetica de Comenius

(1986) no seacuteculo XVII Mas a viabilidade desse uso em escala mais ampla foi

possiacutevel apenas com o aparecimento da litografia em fins do seacuteculo XVIII uma

teacutecnica de gravura realizada a partir do desenho com um laacutepis gorduroso sobre uma

pedra calcaacuteria reproduzido posteriormente com impressatildeo manual Ao passo que

alguns livros soacute passaram a contar com recursos iconograacuteficos a partir de meados

do seacuteculo XX (NAKAMOTO 2010) os livros de ciecircncias e Geografia tiveram alguma

tradiccedilatildeo no uso de ilustraccedilotildees A cor eacute outro recurso relevante na teacutecnica graacutefica

Particularmente satildeo relevantes no discurso pedagoacutegico da Geografia haja vista a

semiologia graacutefica empregada nas representaccedilotildees cartograacuteficas na

iconoinformaccedilotildees da Geografia Fiacutesica e na diferenciaccedilatildeo de elementos na

paisagem nas simbologias nacionais etc No periacuteodo em anaacutelise a predominacircncia

foi do preto e do branco e quando dispostas representaccedilotildees das hachuras Natildeo

que fosse desconhecida sua importacircncia mas propriamente por uma questatildeo

econocircmica esses recursos encareciam a produccedilatildeo No contexto dos projetos

graacuteficos as cores tecircm seu proacuteprio funcionamento ldquoao utilizar deliberadamente uma

determinada cor num projeto esta exerce trecircs accedilotildees no sujeito receptor de iniacutecio

fiacutesico impressiona a retina depois psiacutequico pois provoca uma reaccedilatildeo e eacute tambeacutem

construtiva visto que possui um valor podendo assim comunicar uma ideiardquo

(NAKAMOTO 2010 p 70)

Os primeiros manuais de Geografia sobretudo ateacute a deacutecada de 1870 natildeo

possuiacuteam ilustraccedilotildees Os mapas foram as primeiras representaccedilotildees a serem

introduzidas geralmente um mapa mundi ou do Brasil Os livros de maior

repercussatildeo nesse periacuteodo como o do Abbade Gaultier o de Thomaz Pompeu de

Souza Brasil o de Luiz Antonio Burgain48 natildeo possuiacuteam nenhum tipo de ilustraccedilatildeo

ou mapa Geralmente custeado pelo proacuteprio autor ou por uma casa editora que natildeo

contava com uma demanda de mercado certa natildeo se podia arcar com os dispecircndios

da produccedilatildeo ou com o encarecimento da obra fatos ligados agrave implementaccedilatildeo de

ilustraccedilotildees como fica aclarado no discurso de Torreatildeo (1824 apud BOGLIAN 2010

p 80)

Conheccedilo que para melhor intelligencia eu devia gravar Mappas Geographicos para esclarecer as divisoens dos Paizes que descrevo mas as minhas circuntancias actuaes natildeo me offerecem as necessaacuterias proporccedilotildeens para huma empreza tatildeo delicada portanto como seja o meu

48

Luiz Antonio Burgain ndash Foi um recohecido professor e dramaturgo brasileiro nascido em 1812 e falecido em 1877 Escreveu obras didaacuteticas de Geografia e de Liacutengua Portuguesa (BLAKE 1899)

objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographia resolvi-me a publicar mesmo com essa falta na persuasatildeo de que as Cartas Universaes e Geraes poacutedem muito bem applicar-se-lhe com pequenas faltas que seratildeo supridas por qualquer haacutebil explicador

Em 1830 os Elementos de Geographia Astronomica poliacutetica e physica de

Manoel Ildefonso de Souza inovam nesse sentido apresentando um mapa fato

posto em destaque no subtiacutetulo da obra

No final do seacuteculo XIX alguns manuais de prestiacutegio passaram a ostentar

maior variedade de litografias e sobretudo mapas coloridos como eacute o caso do Curso

methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica

composto para uso das escolas brazileiras de Joaquim Maria de Lacerda que

apresentava ldquo[] 14 mappas coloridos illustrada com grande numero de finissimas

gravuras instructivas e interessantesrdquo (LACERDA 1898) Comumente eram

ilustraccedilotildees anocircnimas retratando paisagens ou descrevendo elementos da natureza

como plantas e animais (Figura 09)

FIGURA 09 ndash Ilustraccedilotildees e um dos mapas coloridos da obra Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras de Lacerda 1887

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

Na primeira deacutecada do seacuteculo XX os livros da bibliografia passam por

inovaccedilotildees nas apresentaccedilotildees e representaccedilotildees Em 1901 eacute publicado o livro de

Arthur Thireacute49 Geografia Elementar para o ensino primaacuterio pela Francisco Alves O

livro apresentava um projeto graacutefico completamente novo capa ilustrada colorida

mapas e desenhos coloridos reproduccedilotildees fotograacuteficas (Figuras 10 e 11) Foi

aprovado pelo governo do Estado de Satildeo Paulo em ato legislativo de 08 de agosto

de 1901 sendo apresentado por meio de carta publicada na obra por Theodoro

Sampaio (1855-1937) A obra foi medalha de prata na Exposiccedilatildeo Internacional e

Universal de Bruxelas em 1910

Nesse momento os manuais de Geografia comeccedilavam a incorporar as

fotografias como recursos iconograacuteficos embora apresentassem nitidez inferior agraves

ilustraccedilotildees sobretudo ao enquadrarem paisagens ou representaccedilotildees que

diversificassem e dispusessem de muitos detalhes As Liccedilotildees de Chorographia do

Brasil de Horacio Scrosoppi50 na segunda ediccedilatildeo em 1911 eacute outra obra que

incorpora as fotografias em seu corpo (Figura 12) Proacuteximo agrave deacutecada seguinte a

qualidade graacutefica das fotografias presentes na bibliografia melhorou sensivelmente

embora tal como antes as ilustraccedilotildees que persisitiram presentes tivessem um uso

meramente ilustrativo sem integrar o texto em abordagem natildeo eram comentadas

nem exploradas como recurso didaacutetico No maacuteximo contavam com um curto tiacutetulo de

identificaccedilatildeo do objeto em representaccedilatildeo

49

Arthur [Charles] Thireacute ndash Nasceu na Franccedila em Caen em novembro de 1853 Formou-se em Paris em Matemaacutetica e Engenharia Civil e de Minas na Eacutecole Polytechnique de Paris Em 1878 a convite de Dom Pedro II mudou-se para o Brasil para lecionar na Escola de Minas de Ouro Preto (MG) Permaneceu no Brasil ateacute sua morte trabalhando como engenheiro diretor agriacutecola e como professor Em 1910 assumiu a caacutetedra de Matemaacutetica no Internato do Coleacutegio Pedro II O autor traduziu obras teacutecnicas da aacuterea de mineraccedilatildeo e escreveu diversas obras cientiacuteficas e didaacuteticas sobretudo de matemaacutetica ensino para o qual apresentou muitas contribuiccedilotildees significativas aleacutem da Geografia e das Ciecircncias (THIENGO 2005 SANTOS 2009)

50 Horacio Scrosoppi ndash Nasceu em 1850 e faleceu em 1928 Foi educador

FIGURA 10 ndash Capa da obra Geographia Elementar de Arthur Thireacute

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

FIGURA 11 ndash Algumas paacuteginas internas da obra Geographia Elementar de Arthur Thireacute

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

FIGURA 12 ndash Fotografias ilustrando a obra Liccedilotildees de Chorographia do Brasil de Horacio Scrosoppi

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

Graficamente o texto da bibliografia tem uma composiccedilatildeo simeacutetrica agraves

vezes mesmo sem colunamento constituiacuteda basicamente pelos fios tipograacuteficos do

texto ateacute a deacutecada de 1870 A partir dos anos 1880 se verifica uma maior

abundacircncia de vinhetas notas de rodapeacute uma acentuaccedilatildeo das pregnacircncias

(recursos expressivos) aleacutem de glossaacuterios boxes de textos complementares e

outros As teacutecnicas graacuteficas desse periacuteodo compreendem a tipografia como forma de

impressatildeo dos textos embasado na composiccedilatildeo de caracteres (tipologia) com os

tipos ou fontes produzindo diversos efeitos no texto corrido na titulaccedilatildeo O principal

destaque dos tipos sua teacutecnica mais elementar satildeo as serifas pequenos efeitos

nos caracteres que criam a ilusatildeo de uma linha movendo instantaneamente o leitor

de uma letra a outra de uma palavra a outra o que define o valor e a qualidade da

impressatildeo A expressividade da tipografia conta com recursos denominados

ldquopregnacircnciardquo como itaacutelico negrito caixa alta sublinhado e sinalizaccedilotildees como traccedilos

manchetes etc que ocupam uma funccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos sentidos alinhando

significados a mais agraves palavras e agrave organizaccedilatildeo dos textos O efeito graacutefico principal

eacute a legibilidade para o que influi a forma dos tipos o cumprimento das linhas o

entrelinhamento os espaccedilos definidos e as margens O tamanho da fonte precisa

ser compatiacutevel com o cumprimento da letra e ambos com o espacejamento e tanto

melhor seraacute a leitura quanto for o equiliacutebrio entre a mancha graacutefica e o espaccedilo em

branco (SILVA 1985 NAKAMOTO 2010)

Na bibliografia em questatildeo a qualidade da impressatildeo oscila dependendo

das ediccedilotildees em geral satildeo boas Apenas com a ampliaccedilatildeo das tiragens e iniacutecio do

processo de ampliaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo eacute que se observa agraves vezes uma ou outra

ediccedilatildeo com menor qualidade graacutefica e de impressatildeo em razatildeo de barateamento de

custos

No proacuteximo capiacutetulo procuro perceber a gecircnese do ensino geograacutefico no

Brasil considerando como marcadores histoacutericos os periacuteodos jesuiacutetico pombalino e

joanino momentos que datildeo os primeiros indiacutecios de uma disciplina e da bibliografia

didaacutetica de Geografia com particular atenccedilatildeo agrave Academia Real Militar (1810)

instituiccedilatildeo integrante do movimento de introduccedilatildeo do pensamento cientiacutefico no

Brasil e marco no ensino de Geografia brasileiro

CAPIacuteTULO 3

DO ENSINO IMPLIacuteCITO AO ENSINO EXPLIacuteCITO DA GEOGRAFIA prenuacutencios da disciplina e do livro didaacutetico nos movimentos

histoacutericos anteriores agrave independecircncia poliacutetica do Brasil

A histoacuteria do livro didaacutetico no Brasil incluindo os de Geografia no periacuteodo

delimitado para a pesquisa teve o primeiro centro de irradiaccedilatildeo no Rio de Janeiro

onde predominou como atividade cultural e editorial ateacute fins do seacuteculo XIX gestando

nesse espaccedilo sua formaccedilatildeo posteriormente deslocado para Satildeo Paulo processo

iniciado nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX e consolidado na segunda metade

deste seacuteculo ressalvando-se algumas manifestaccedilotildees regionais importantes nesse

entretempo (HALLEWELL 2005 BITTENCOURT 2008)

As raiacutezes da literatura didaacutetica de Geografia engendram-se na formaccedilatildeo

desta disciplina cujos primeiros movimentos constitutivos se enunciam de forma

evidente nas deacutecadas iniciais do seacuteculo XIX embora nos trecircs primeiros seacuteculos de

histoacuteria do Brasil se encontrem vestiacutegios de praacuteticas deste ensino ainda natildeo

autocircnomo nem expresso como necessidade nos objetivos educacionais de entatildeo

poreacutem significativos Compreender esse movimento educacional evidencia alguns

dos contextos de emersatildeo e desenvolvimento da disciplina Geografia e do seu livro

didaacutetico

O livro didaacutetico portanto engendra-se no desenvolvimento de uma

disciplina e esta soacute eacute compreendida no contexto geral da educaccedilatildeo (CHERVEL

1990 MOREIRA 2007)

A propoacutesito a gecircnese da educaccedilatildeo brasileira consensualmente encontra-

se nas praacuteticas educacionais dos padres da Companhia de Jesus e soacute mais tarde

no seacuteculo XIX o ensino de Geografia em especiacutefico comeccedilaria a ganhar corpo e

independecircncia Os livros didaacuteticos de Geografia por sua vez incorporaratildeo conteuacutedo

e expressatildeo na medida em que a educaccedilatildeo brasileira passou a ser sistematizada e

normatizada quando a Geografia escolar ocupou um lugar nessa educaccedilatildeo como

uma das disciplinas autocircnomas ou ainda em caminho da autonomia haja vista a

fronteira cega que fez par com a Histoacuteria muitas vezes Seus status como disciplina

autocircnoma e consolidada no sistema educacional foi um processo lento certificado

aos poucos

Que praacuteticas geograacuteficas foram essas Quais os seus objetivos Quais suas

referecircncias Quais os seus agentes Qual a sua relaccedilatildeo e influecircncia na literatura

didaacutetica de Geografia

Ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a educaccedilatildeo geograacutefica passou por

um longo e difuso caminho ateacute estreitar seu diaacutelogo com as instacircncias de produccedilatildeo

da ciecircncia orientar a formaccedilatildeo dos professores de Geografia consolidar seu espaccedilo

na instituiccedilatildeo escolar e ser partiacutecipe na institucionalizaccedilatildeo da Geografia acadecircmica

Essa gecircnese inicia-se externamente agraves fronteiras do que na atualidade conhecemos

como Geografia Moderna de matriz cientiacutefica que demoraria ainda algumas

deacutecadas a partir da segunda metade do seacuteculo XIX para ter expressatildeo na Europa

embora as condiccedilotildees histoacutericas para tanto jaacute estivessem lanccediladas e em andamento

Procurando-se a histoacuteria da literatura didaacutetica de Geografia busca-se

igualmente a dimensatildeo de sua importacircncia o papel que exerceu na sistematizaccedilatildeo

e divulgaccedilatildeo de um saber geograacutefico brasileiro a funccedilatildeo exercida para preparar e

orientar professores desprovidos de bases formativas nesse conhecimento

Natildeo que a disciplina Geografia viesse necessariamente a ser uma

vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica pois a estrutura da disciplina se ergue do entrecruzamento de

diversas instacircncias sendo a ciecircncia apenas uma delas a ciecircncia a seu tempo teve

contribuiccedilotildees importantes no processo de sustentaccedilatildeo da Geografia escolar assim

como o contraacuterio tambeacutem se deu pois a Geografia escolar contribuiu para

institucionalizar a Geografia acadecircmica a formaccedilatildeo de professores foi uma das suas

razotildees de existecircncia

No Brasil as primeiras manifestaccedilotildees da Geografia como disciplina

independente surgiram no ensino superior na composiccedilatildeo curricular de alguns dos

primeiros cursos cientiacuteficos especificamente nas formaccedilotildees estabelecidas pela

Academia Real Militar (1810) Teria essa presenccedila influenciado o iniacutecio do ensino de

Geografia nos niacuteveis secundaacuterio e elementar Como se teria dado esse processo

Quais os outros influxos no mesmo De antematildeo respondo que as implicaccedilotildees

dessa dinacircmica foram determinantes para a composiccedilatildeo da literatura didaacutetica de

Geografia no Brasil

O palco do nascimento e fortalecimento no Brasil da disciplina escolar de

Geografia e tambeacutem da Histoacuteria foi o seacuteculo XIX Esse acontecer eacute abordado em

duas teorias na literatura geograacutefica na primeira delas teria emergido da forccedila e

necessidade dos nacionalismos (VLACH 1988 PEREIRA 1999) no acircmbito da

educaccedilatildeo das elites na segunda sua emergecircncia se deveria ao fato de ter sido um

instrumento da divulgaccedilatildeo de uma cultura universal necessaacuteria ao ingresso na

civilizaccedilatildeo predominante a europeia (ROCHA 1996)

Neste capiacutetulo defendo uma outra tese que natildeo necessariamente anula ou

contradiz as duas anteriores mas as amplia Trata-se da hipoacutetese de que o

aparecimento da Geografia como ensino teve iniacutecio com a introduccedilatildeo de uma

educaccedilatildeo cientiacutefica na Colocircnia em um primeiro momento posteriormente no

alvorecer do Impeacuterio sua consolidaccedilatildeo se acentua com o projeto poliacutetico de

formaccedilatildeo do Estado brasileiro ou das elites deste Estado momento em que vamos

ao encontro do movimento proposto por Vlach (1988) notadamente marcado no

discurso de nacionalizaccedilatildeo do livro didaacutetico esse movimento nas primeiras deacutecadas

do seacuteculo XX se expande no sentido de descentrar-se das elites e ser popularizado

Complementando esta hipoacutetese o processo de formaccedilatildeo poliacutetica do Brasil

coincide entre as deacutecadas de 10 e 50 dos Oitocentos no acircmbito da educaccedilatildeo com

a crise dos estudos claacutessicos e a emergecircncia das abordagens cientiacuteficas que

advindas do Iluminismo adentram a cena educacional brasileira por meio das

faculdades e escolas de estudos superiores no periacuteodo joanino e daiacute permeiam a

educaccedilatildeo baacutesica em um processo paulatino que em fins do seacuteculo XIX conta com a

forccedila das ideias positivistas para sua consolidaccedilatildeo jaacute no periacuteodo republicano

Haacute que se considerar como demonstro com mais detalhes adiante que a

Geografia Claacutessica com sua dupla orientaccedilatildeo ndash a matemaacutetica e a descritiva ndash eacute o

que encontraremos como referecircncia para o ensino de Geografia no Brasil ao longo

do seacuteculo XIX e a encontraremos em crise ao findar desse seacuteculo abrindo espaccedilo

para a ascensatildeo da Geografia Moderna que comeccedila a ser introduzida no cenaacuterio da

educaccedilatildeo geograacutefica antes mesmo de sua institucionalizaccedilatildeo como ciecircncia na

academia nas primeiras deacutecadas do seacuteculo seguinte Em outras palavras o ensino

superior no Brasil se organizou em trecircs nuacutecleos Medicina Engenharias e um pouco

mais tarde Direito A Geografia matemaacutetica especialmente foi valorizada no acircmbito

dos cursos de engenharias e a Geografia descritiva foi colocada como condiccedilatildeo

cultural e ideoloacutegica nos exames dos cursos de humanidades Uma e outra sem

fronteiras claras Mesclaram-se por fim com avanccedilos e recuos para estabelecer as

bases curriculares da Geografia escolar

Em uma perspectiva discursiva na qual se consideram as formaccedilotildees

histoacutericas e ideoloacutegicas inerentes agrave construccedilatildeo da realidade por meio da linguagem

haacute comprometimentos poliacuteticos indissociaacuteveis a qualquer praacutetica do discurso dos

quais natildeo se isenta o discurso da Geografia seja por manifestaccedilatildeo seja pelos

silenciamentos impostos a ela isso impede que seja vista unicamente nos

Oitocentos como instrumento de uma cultura universal como percebe Rocha

(1996) A linguagem e suas praacuteticas necessariamente satildeo ideoloacutegicas filiam-se a

determinadas formaccedilotildees ndash a cultura inclusive

No periacuteodo joanino e nos anos iniciais do Impeacuterio esses movimentos

geograacuteficos foram sutis mas anunciavam o que estava por vir e natildeo devem ser

desconsiderados A fundaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II em 1837 faraacute um ordenamento

modelar no curriacuteculo do ensino de Geografia Poreacutem ateacute o surgimento desta

instituiccedilatildeo o ensino de Geografia tem uma trajetoacuteria que se anuncia e precisa ser

analisada (praticamente sem abordagem sistecircmica na literatura especiacutefica) pois o

ensino da Geografia e a instauraccedilatildeo desse saber como disciplina escolar natildeo eacute um

ato inaugural do Coleacutegio Pedro II ndash fato tomado como marco por muitos historiadores

do ensino de Geografia brasileiro51

As obras de Geografia com o propoacutesito do ensino sempre primaram pela

atualizaccedilatildeo da realidade apresentada gerando no meio autoral e editorial uma

espeacutecie de ldquoanguacutestia da desatualizaccedilatildeordquo Historicamente construiacutedas as geografias

em representaccedilatildeo ano a ano rapidamente envelheciam desatualizando essas obras

sempre reescritas acrescentadas refundidas aumentadas a cada nova ediccedilatildeo Em

um dos exemplos mais claacutessicos tem-se a Geacuteographie moderne et universelle do

Abade Nicolle de la Croix morto em 1760 cuja obra ainda em circulaccedilatildeo nos

51

COLESANTI 1984 ROCHA 1996 PINHEIRO 2005a e 2005b dentre outros

Oitocentos contava com ampliaccedilotildees e atualizaccedilotildees a cada ediccedilatildeo como a feita por

Victor Comeiras em 1800 adentrando outras o seacuteculo XIX

Outra necessidade que se impunha era a de adaptaccedilotildees em duas vertentes

de um lado adaptaccedilotildees de obras cientiacuteficas para uso escolar (eacute o caso do Abreacutegeacute

de la Geacuteographie Moderne adaptaccedilatildeo francesa com fins didaacuteticos da obra de

Pinkerton) de outro adaptaccedilotildees de obras estrangeiras agrave realidade nacional

Historicamente esse material foi constituiacutedo pela agregaccedilatildeo de padrotildees e

elementos que o foram caracterizando com construccedilotildees proacuteprias a ele tornando-o

uma materialidade uacutenica e tiacutepica de forma que a sua discursividade pode identificaacute-

lo como um gecircnero do discurso

Os livros escolares integram a constituiccedilatildeo e a autonomia dos conteuacutedos

enquanto disciplinas do ensino baacutesico Analisando e revisitando a histoacuteria do livro

escolar de Geografia brasileiro a presente pesquisa faz face com alguns campos

histoacutericos e socioloacutegicos da Educaccedilatildeo particularmente a Histoacuteria das Disciplinas

Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo Nesta tese estes campos histoacutericos satildeo

ressignificados na perspectiva da Anaacutelise do Discurso na medida em que os textos

satildeo vistos a partir da bibliografia sistematizada como materialidades discursivas e

seus produtores como sujeitos destes discursos

31 A educaccedilatildeo colonial os primeiros indiacutecios de uma educaccedilatildeo geograacutefica

A educaccedilatildeo colonial brasileira teve duas fases a jesuiacutetica e a pombalina

Como se sabe promovida pela Sociedade de Jesus52 a escola elementar eacute o que

houve de mais expressivo em termos de educaccedilatildeo formal na Colocircnia brasileira

perdurando por pouco mais de 200 anos desde a chegada do padre Manoel da

Noacutebrega em companhia de outros jesuiacutetas em 1549 acompanhando Tomeacute de

Souza ateacute o desmembramento da Sociedade em Portugal no ano de 1759 e por

extensatildeo em todos os territoacuterios coloniais da coroa portuguesa A escola elementar

52

Como amplamente conhecido a Companhia de Jesus foi uma ordem catoacutelica fundada em 1534 por Ignaacutecio de Loyola com o objetivo de conter o avanccedilo do Protestantismo por meio da educaccedilatildeo e da accedilatildeo missionaacuteria

complementava-se com cursos preparatoacuterios para o ensino superior e para a

formaccedilatildeo eclesiaacutestica Os jesuiacutetas a esse propoacutesito edificaram um plano

educacional que monopolizou a educaccedilatildeo em dois planos no primeiro a catequese

cujo empenho estava na conversatildeo dos indiacutegenas (catequisados) no segundo o

empenho na instruccedilatildeo dos filhos dos colonos quanto agrave escrita e agrave leitura domiacutenio

da aritmeacutetica e um curso de Humanidades (aulas avulsas de Latim Grego Filosofia

e Retoacuterica) que servia como preparaccedilatildeo para os estudantes frequentarem cursos

superiores em Portugal (instruiacutedos) e como preparatoacuterios para a formaccedilatildeo de

eclesiaacutesticos53

O plano de estudos propriamente dito foi elaborado de forma diversificada com o objetivo de atender agrave diversidade de interesses e de capacidades Comeccedilando com o aprendizado de portuguecircs incluiacutea o ensino da doutrina cristatilde a escola de ler e escrever Daiacute em diante continua em caraacuteter opcional o ensino de canto orfeocircnico e de muacutesica instrumental e uma bifurcaccedilatildeo tendo em um dos lados o aprendizado profissional e agriacutecola e de outro aula de gramaacutetica e viagem de estudo agrave Europa (RIBEIRO 2001 p 21-22)

A rigor os jesuiacutetas introduziram a estrutura baacutesica da formaccedilatildeo elementar no

Brasil abrindo duas direccedilotildees de atuaccedilatildeo educacional as escolas de letramento e a

preparaccedilatildeo mais apurada para formaccedilatildeo do ilustrado comum ou preparaccedilatildeo para o

ingresso no ensino superior De acordo com Moura (2000 p 28)

A distinccedilatildeo entre escola e coleacutegio eacute importante no trabalho educacional dos jesuiacutetas O tiacutetulo de coleacutegio foi desde cedo reservado para designar uma instituiccedilatildeo devidamente fundada do ponto de vista monetaacuterio e dotada de uma abrangecircncia mais vasta do ponto de vista educacional

As escolas ministravam alfabetizaccedilatildeo e catequese e praticamente eram

anexas a todas as residecircncias jesuiacuteticas jaacute os coleacutegios ministravam estudos de

humanidades e situavam-se nas cidades de maior projeccedilatildeo na Colocircnia

Apesar de os jesuiacutetas terem um monopoacutelio do ensino formal houve tambeacutem

outras iniciativas sejam privadas sejam de outras ordens religiosas que tambeacutem

atuaram na educaccedilatildeo embora com menor expressatildeo (como eacute o caso dos

53

Era tradiccedilatildeo na aristocracia brasileira ter dentre os filhos geralmente o mais velho um religioso Para aleacutem da tradiccedilatildeo cultural a presenccedila de um padre na famiacutelia significava status social e expressatildeo da pureza eacutetnica dado que a Igreja natildeo permitia a formaccedilatildeo de cleacuterigos entre mesticcedilos negros ou iacutendios

beneditinos e dos franciscanos) ldquodeve-se admitir no Brasil o fato universal de que

todo sacerdote secular sempre foi mestre de algum menino de famiacutelias locais das

suas relaccedilotildeesrdquo (MOURA 2000 p 54)

A educaccedilatildeo emergente na sociedade colonial do Brasil (estruturada

basicamente por duas classes sociais ndash proprietaacuterios (de terras e escravos) e

escravos ndash visava atender e manter uma ordem poliacutetica de pertencimento agrave famiacutelia

aristocraacutetica que detinha com exclusividade os bens culturais importados de

Portugal (ROMANELLI 1985) Para isso do denominado Descobrimento aos

meados do seacuteculo XVIII os jesuiacutetas levantaram a educaccedilatildeo desde a construccedilatildeo de

edifiacutecios agrave elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios E nesses quase trecircs seacuteculos (incluindo o

periacuteodo posterior agrave expulsatildeo dos jesuiacutetas do Brasil) os livros de Geografia natildeo

chegaram a existir pois ainda natildeo havia uma disciplina para esses conteuacutedos o

ensino dessa aacuterea como veremos dava-se por meios indiretos natildeo possuindo

propriamente um objetoobjetivos de ensino mesmo o que havia de uma educaccedilatildeo

geograacutefica era distante da realidade vivenciada pelos educandos referindo-se

sobretudo a uma geografia histoacuterica e eclesiaacutetica

Trata-se nesses termos de um ensino impliacutecito de Geografia

A existecircncia de manuais didaacuteticos estaacute intrinsecamente relacionada agrave

formulaccedilatildeo de disciplinas autocircnomas e agrave presenccedila de um curriacuteculo formulado e

ativo ou seja vincula-se agrave dinacircmica institucional de uma disciplina pois satildeo

produtos integrantes e ao mesmo tempo constituintes da autonomia dos conteuacutedos

no contexto escolar

A inexistecircncia da Geografia enquanto ensino de uma visatildeo territorial dos

espaccedilos geograacuteficos com suas perspectivas fiacutesicas ou societaacuterias quais sejam as

verticalidades a estas associadas explica-se pelos objetivos da educaccedilatildeo ou

melhor pelos objetivos da formaccedilatildeo pretendida Natildeo havia entatildeo nada que os

definisse Natildeo havia um sistema educacional independente para a Colocircnia que

refletisse as necessidades e os interesses desta nem esses em si eram

independentes e constituiacutedos em outras instacircncias ndash culturais poliacuteticas econocircmicas

A educaccedilatildeo cristatilde e humaniacutestica dos jesuiacutetas permitia-se ndash como toda a tradiccedilatildeo

escolaacutestica ndash produzir o instruiacutedo sem fronteiras Natildeo havia portanto ainda as

condiccedilotildees histoacutericas para o surgimento da Geografia escolar O conteuacutedo geograacutefico

mais expressivo do Ratio Ataque Institutio Studiorum Societatis Iesu54 a propoacutesito

foi a Cosmologia ndash neutra em sua amplitude universal Todavia por outro lado a

concepccedilatildeo subjacente ao Ratio era a de que ldquoeducar natildeo eacute formar um homem

abstrato intemporal eacute preparar um homem concreto para viver no cenaacuterio deste

mundordquo de acordo com Franca (1952 p 76) Este era o sentido da formaccedilatildeo

humanista que no vieacutes jesuiacutetico tinha como ponto de partida princiacutepios da doutrina

catoacutelica formar o cristatildeo jaacute era uma preparaccedilatildeo da humanidade para viver

plenamente no mundo

Portanto no periacuteodo colonial natildeo se teve um curriacuteculo para o ensino de

Geografia inexistiam necessidades histoacutericas para isso E natildeo haver a disciplina

Geografia natildeo invalidava haver saberes geograacuteficos em circulaccedilatildeo no ensino formal

qual fosse ele Eram saberes relacionados agrave Geografia Claacutessica ou agrave Antiga sendo

desta selecionados para serem incorporados agraves diretrizes incidentes no aprendizado

espacial inerente a outros aprendizados

A colocircnia brasileira foi instituiacuteda em torno do modelo econocircmico

agroexportador passando posteriormente por um ciclo de mineraccedilatildeo que pouco

alterou a formaccedilatildeo social Caracterizou-se portanto pela monocultura latifundiaacuteria

operado por matildeo de obra escrava dirigida por uma classe de proprietaacuterios que

tambeacutem incorporava funccedilotildees liberais acomodando ainda o clero por sua vez

pouco diversificado nos quais sobressaiacuteram os jesuiacutetas por dois seacuteculos Sem uma

sociedade poliacutetica autocircnoma compunham-se as elites aleacutem dos proprietaacuterios por

representantes do poder poliacutetico metropolitano O sentido da educaccedilatildeo portanto foi

bem explicitado e praticado pelos jesuiacutetas letramento catequese aprimoramento da

cultura ou preparatoacuterio para a formaccedilatildeo de profissionais liberais ou eclesiaacutesticos em

Portugal majoritariamente Na anaacutelise claacutessica de Freitag (1986 p 47) encontra-se

uma perspectiva para a questatildeo da educaccedilatildeo no Brasil colonial

[] a fase colonial caracterizava-se pela inexistecircncia de instituiccedilotildees autocircnomas que compusessem a sociedade poliacutetica Essa se reduzia agraves representaccedilotildees locais do poder da metroacutepole [] natildeo havia nenhuma funccedilatildeo de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho a ser preenchida pela escola [] A escola como mecanismo de re-colocaccedilatildeo dos indiviacuteduos na estrutura de classes era portanto dispensaacutevel Restavam-lhe ainda duas funccedilotildees a de reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e a de reproduccedilatildeo da ideologia dominante (FREITAG 1986 p 47)

54

ldquoPlano e Metodologia dos Estudos da Sociedade de Jesusrdquo

Conforme a anaacutelise da autora uma forma de perpetuaccedilatildeo da sociedade cristalizada

O Ratio Studiorum a propoacutesito foi o documento educacional mais influente

nos territoacuterios coloniais de tradiccedilatildeo catoacutelica Produzido por uma comissatildeo

internacional de padres jesuiacutetas em 1586 e finalizado definitivamente em 1599

sofreu alteraccedilotildees apenas em 1832 apoacutes o retorno dos jesuiacutetas agraves suas atividades

em 1814 quando cessaram algumas deacutecadas de suspensatildeo da ordem55 mas sem

atuaccedilatildeo expressiva no Brasil Todavia o Ratio resultou de um amplo processo

endossando as experiecircncias de uma ordem religiosa que surgiu sobretudo para

educar Conforme Franca (1952 p 41)

O trabalho de sua redaccedilatildeo prolongou-se por obra de 15 anos (1584-1599) e obedeceu ao criteacuterio com que se preparam os curriacuteculos modernos mais bem elaborados Primeira redaccedilatildeo aproveitando um imenso material pedagoacutegico acumulado em dezenas de anos criacuteticas dos melhores pedagogos de todas as proviacutencias europeacuteias da Ordem segunda redaccedilatildeo nova remessa agraves proviacutencias para que a submetessem por um triecircnio agrave prova da vida real dos coleacutegios aproveitamento das uacuteltimas sugestotildees sugeridas agrave luz dos fatos promulgaccedilatildeo definitiva

Sistematizando a pedagogia jesuiacutetica o Ratio Studiorum continha 467 regras

para o ensino e a orientaccedilatildeo dos estudos preconizados na filosofia de Aristoacuteteles e

na teologia de Satildeo Tomaacutes de Aquino As regras prescritas no Ratio abrangiam todas

as fases do ensino e indicavam accedilotildees e comportamentos para todo o sistema

educacional que impunha Interessante eacute notar que a educaccedilatildeo jesuiacutetica se

comportou na educaccedilatildeo brasileira posterior como uma das mais significativas

influecircncias a estruturar o ensino inclusive o de Geografia ao lado de leituras do

cientificismo oriundo do Iluminismo Na educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX ocorreraacute

uma clivagem um tanto contraditoacuteria com o ensino superior voltado inicialmente

para o ensino cientiacutefico mas o ensino secundaacuterio teraacute um forte influxo da tradiccedilatildeo

literaacuteria dos jesuiacutetas A educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX lidaraacute com ambas as

influecircncias

55

O governo portuguecircs suspendeu as atividades da ordem em seus territoacuterios em 1759 Em 1779 a Companhia de Jesus tambeacutem foi suspensa pelo papa Clemente XIV

O Ratio procurava orientar as atividades do ensino fundamentando-se em

grande parte no pedagogo claacutessico Quintiliano56 Vaacuterios elementos do Ratio

sobreviveram no seacuteculo XIX e agraves vezes mais adiante Na metodologia didaacutetica

ficaram os exerciacutecios como praacutetica as leituras como meacutetodo as dramatizaccedilotildees a

organizaccedilatildeo e a disposiccedilatildeo dos discentes em sala os exames escritos e orais

(sabatina liccedilotildees ditado) a periodicidade dos exames a memorizaccedilatildeo das liccedilotildees

aleacutem da delimitaccedilatildeo dos periacuteodos de feacuterias regras de comportamento costumes e

disciplina

Cabe observar que o Ratio foi uma espeacutecie de manual pedagoacutegico natildeo

propriamente um documento curricular embora este esteja parcialmente impliacutecito

portanto em sua redaccedilatildeo

No sentido mais apurado da organizaccedilatildeo dos conteuacutedos educacionais dos

jesuiacutetas ou seja para aleacutem das accedilotildees de catequese e letramento57 e que seria

correspondente a um embriatildeo do ldquoensino secundaacuteriordquo brasileiro o Ratio prescrevia

trecircs orientaccedilotildees de ensino o curriacuteculo teoloacutegico o curriacuteculo filosoacutefico e o curriacuteculo

humanista A forma mais direta de um ensino geograacutefico incidia na orientaccedilatildeo

filosoacutefica cujo primeiro ano deveria abranger estudos de loacutegica e introduccedilatildeo as

ciecircncias seguidas no segundo ano por estudos de cosmologia psicologia fiacutesica e

matemaacutetica e por fim no terceiro ano estudos de psicologia metafiacutesica filosofia

moral ndash de acordo com siacutentese apresentada por Franca (1952 p 47)

O estudo de liacutenguas era primazia com destaque para o latim tanto nos

estudos superiores quanto nos inferiores amplamente recomendado ao longo do

documento para versotildees traduccedilotildees escrita leitura representaccedilatildeo teatral fala

ldquoTodos mas de modo especial os que se aplicam aos estudos de humanidades

falem latim aprendam de cor o que lhes for prescrito pelo professor e nas

composiccedilotildees trabalhem com esmero o estilordquo (Regra 9 aos Escolaacutesticos da Nossa

Companhia HISTEDBR 2009)

56

Marcus Fabius Quintilianus (35-95 dC) - escritor e retoacuterico latino preconizava a organizaccedilatildeo do tempo dos estudos aconselhando a leitura como elemento fundamental da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo do caraacuteter

57 Grosso modo o Ratio circunscreve o ensino secundaacuterio e superior sendo que este natildeo foi

autorizado pela metroacutepole portuguesa a funcionar nos territoacuterios da colocircnia

Tendo a leitura como um dos veacutertices definidores da educaccedilatildeo os coleacutegios

jesuiacutetas eram notaacuteveis por suas amplas bibliotecas ideologicamente cindidas e

fechadas a influecircncias que fugissem do modelo escolaacutestico aceitaacutevel Hallewell

(2005 p 83) analisando o fim do periacuteodo jesuiacutetico na colocircnia brasileira observa que

A grande perda que o Brasil sofreu com a dissoluccedilatildeo da Companhia pode ser sentida na destruiccedilatildeo de suas bibliotecas quinze mil volumes se perderam no Coleacutegio em Salvador outros cinco mil no do Rio de Janeiro aleacutem de mais de doze mil apenas nos coleacutegios do Maranhatildeo e do Paraacute

Moraes (1975) afirma que algumas dessas bibliotecas retornaram a

Portugal outras tiveram partes dos acervos doadas ou foram destruiacutedas pelo

abandono A formaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de bibliotecas todavia tinham atenccedilatildeo

especial dos jesuiacutetas ldquoA fim de que aos nossos natildeo faltem os livros convenientes

aplique ao da biblioteca [sic] uma renda anual proveniente dos bens do coleacutegio ou

de outra fonte e que de modo algum poderaacute ser desviada para outros finsrdquo (Regra 32

ao Provincial HISTEDBR 2009) Agrave biblioteca recomendava-se uma economia

cultural que preconizava ldquo[] natildeo faltem os livros uacuteteis nem sobrem os inuacuteteis []rdquo

(Regra 29 ao Prefeito de Estudos HISTEDBR 2009) Eram bibliotecas sobretudo

devidamente orientadas aos fins institucionais

Tome todo o cuidado e considere este ponto como da maior importacircncia que de modo algum se sirvam os nossos nas aulas de livros de poetas ou outros que possam ser prejudiciais agrave honestidade e aos bons costumes enquanto natildeo forem expurgados dos fatos e palavras inconvenientes e se de todo natildeo puderem ser expurgados como Terecircncio eacute preferiacutevel que natildeo se leiam para que a natureza do contendo natildeo ofenda a pureza da alma (Regra 33 ao Provincial HISTEDBR 2009)

A preleccedilatildeo (prelectio) estava dentre os esteios metodoloacutegicos para o ensino

nas classes inferiores Por esse meio a instruccedilatildeo se iniciava pela leitura explicaccedilatildeo

e resumo passando-se ao estudo mais detalhado do vocabulaacuterio e da gramaacutetica Da

sintaxe passava-se para o estudo do estilo da composiccedilatildeo momento em que as

ideias sobrepunham-se aos elementos sintaacuteticos e lexicais Na compreensatildeo do

texto entrava o aprendizado de noccedilotildees auxiliares dentre os quais as de Geografia

ldquo[] acrescente-se se for o caso alguma cousa de histoacuteria e erudiccedilatildeo de vaacuterias

fontes relativa ao assuntordquo ldquo[] procure-se na histoacuteria na mitologia e em todos os

domiacutenios do conhecimento o que possa contribuir para esclarecer a passagemrdquo

(Regras 7 e 8 ao Professor de Retoacuterica HISTEDBR 2009) Todo o circuito central

ou perifeacuterico contudo restringia-se aos produtos selecionados da Antiguidade

Claacutessica ldquoNa preleccedilatildeo soacute se expliquem os autores antigos de modo algum os

modernosrdquo (Regra 27 aos Professores das Classes Inferiores HISTEDBR 2009) E

mesmo os claacutessicos antigos eram amplamente censurados para natildeo contrariar os

dogmas e as diretrizes cristatildes da feacute catoacutelica

Para conhecimento da liacutengua que consiste principalmente na propriedade e riqueza das palavras explique-se nas liccedilotildees quotidianas dos oradores exclusivamente Ciacutecero e de regra escolham-se os seus livros de filosofia moral dos historiadores Cesar Saluacutestio Liacutevio Curtius e outros semelhantes dos poetas principalmente Virgiacutelio com exceccedilatildeo de algumas eacuteclogas e do 4ordm livro da Eneida odes seletas de Horaacutecio e tambeacutem elegias epigramas e outras composiccedilotildees de poetas ilustres contanto que expurgados de qualquer inconveniecircncia de expressatildeo (Regra 1 ao Professor de Humanidades HISTEDBR 2009)

Foram cerca de 200 anos de reuniatildeo desses acervos fazendo deles

conjuntos bem representativos dos usos culturais perpetuados agravequele tempo

refletindo ainda as restriccedilotildees ideoloacutegicas da ordem Os inventaacuterios que

sobreviveram indicam a presenccedila de obras geograacuteficas na maioria trabalhos

cartograacuteficos Atlas da Antiguidade tratados descritivos

Predominam livros de cunho religioso nos campos de teologia direito moral asceacutetica escrituriacutesitca apologeacutetica liturgia e filosofia No sermoniaacuterio registram-se obras da oratoacuteria sacra da eacutepoca Aparecem obras poeacuteticas de Homero em grego e em latim obras de Virgiacutelio Horaacutecio Marcial Oviacutedio Terecircncio e Ciacutecero A histoacuteria e a geografia estavam representadas com diversas obras [] Eram livrarias especializadas Seus acervos cobriam em primeiro lugar as disciplinas ministradas nos coleacutegios [ aleacutem de serem] essenciais para auxiliar os padres nas atividades religiosas (SILVA 2008 p 231-232)

Serafim Leite (1949 p 171) igualmente registra a presenccedila da Geografia entre os

Jesuiacutetas ldquoa Geografia tambeacutem presente com seus livros Corografias Atlas e

Mapas de Portugal e do mundo em todos os grandes coleacutegios como consta dos

respectivos inventaacuterios completava esta secccedilatildeo de ensinordquo

O Arquivo Nacional Torre do Tombo por exemplo deteacutem um documento

intitulado Tratado da esfera e do globo terrestre traduzido da Geografia do Abade

La Croix e aumentado de algumas notas necessaacuterias caderno manuscrito que

pertenceu a escolas da Companhia cujo conteuacutedo eacute a traduccedilatildeo do Tratado da

Esfera e do Globo do Abade Louis-Antoine Nicolle apresentando trecircs gravuras

calcograacuteficas que representam a ldquoEsfera Artificialrdquo o ldquoMapa-Mundordquo e a ldquoRosa dos

Ventosrdquo (MSLIV 2010) O Tractatus de Sphaera obra de 1220 de Johannes de

Sacrobosco (1195-1256) foi tambeacutem uma das obras que fundamentaram o ensino

de Cosmografia pelos jesuiacutetas (SOBREIRA 2005)

Os jesuiacutetas ainda deram sua contribuiccedilatildeo para o conhecimento geograacutefico

da Colocircnia Andreacute Joatildeo Antonil (1649-1716) autor de Cultura e opulecircncia no Brasil

fez importantes registros sobre a vida econocircmica sendo amplamente conhecidos os

roteiros que descreveu de Satildeo Paulo para Minas Gerais entre o Rio de Janeiro e

Minas a ligaccedilatildeo entre Minas e a proviacutencia da Bahia e os circuitos do gado no Rio

Satildeo Francisco comumente conhecidos como os Cinco Roteiros de Antonil

Natildeo tinham os livros de Geografia representatividade ampla como os livros

dos demais assuntos pois funcionavam como obras de referecircncia para um

conteuacutedo de referecircncia atendendo ao papel secundaacuterio e auxiliar que a

Geografia a par da Histoacuteria e outros campos exerciam na pedagogia dos jesuiacutetas

Esta em si eacute a principal caracteriacutestica e propoacutesito de um ensino impliacutecito diluiacutedo em

outros objetivos de ensino e aprendizagem mas indispensaacutevel A Regra 14 do Ratio

direcionada ao Professor de Sagradas Escrituras eacute elucidativa da relaccedilatildeo didaacutetica

com os conteuacutedos geograacuteficos dispondo sua posiccedilatildeo referencial e auxiliar

Natildeo se detenha muito tempo em investigar questotildees de cronologia ou de geografia da terra santa ou outras menos uacuteteis a menos que a passagem o exija bastaraacute indicar os autores que tratam amplamente estes assuntos (Regra 14 ao Professor de Sagradas Escrituras HISTEDBR 2009)

Aleacutem da leitura na conduccedilatildeo do esclarecimento literaacuterio o conhecimento

geograacutefico associava-se agrave matemaacutetica disciplina autocircnoma do Ratio em seu

programa para as Humanidades complementar ao ensino de cosmologia aliando a

geometria agrave cartografia e agrave astronomia

Aos alunos de fiacutesica explique na aula durante 34 de hora os elementos de Euclides depois de dois meses quando os alunos jaacute estiverem um pouco familiares com estas explicaccedilotildees acrescente alguma cousa de Geografia da Esfera ou de outros assuntos que eles gostam de ouvir e isto simultaneamente com Euclides no mesmo dia ou em dias alternados (Regra 14 ao Professor de Sagradas Escrituras HISTEDBR 2009)

Nota-se que a Geografia eacute qualificada como um dos assuntos de predileccedilatildeo dos

discentes E aleacutem da matemaacutetica os saberes geograacuteficos integravam a abordagem

da ciecircncia da natureza recomendando-se expressamente a obra de Aristoacuteteles58

sect1 No segundo ano os oito livros Physicorunt os livros De Cœlo e o primeiro De generatione Dos oito livros Physicorum decirc sumariamente os textos do livro 6ordm e 7ordm e do 1ordm a comeccedilar do ponto em que refere as opiniotildees dos antigos No livro 8ordm nada exponha do nuacutemero das inteligecircncias nem da liberdade nem da infinidade do primeiro motor Estas questotildees seratildeo discutidas na metafiacutesica e somente segundo a opiniatildeo de Aristoacuteteles

sect2 O texto do 2ordm 3ordm e 4ordm livro De Cœlo deveraacute ser dado brevemente e em grande parte omitido Nestes livros soacute se tratem algumas poucas questotildees sobre os elementos sobre o Ceacuteu as que se referem agrave sua substacircncia e influecircncias as outras deixem-se ao professor de matemaacutetica ou reduzam-se a compecircndio

sect3 Os livros meteoroloacutegicos percorram-se nos meses de veratildeo na uacuteltima hora da tarde pelo professor ordinaacuterio se possiacutevel ou se parecer mais conveniente por um professor extraordinaacuterio (Regra 10 ao Professor de Filosofia HISTEDBR 2009)

Dependente e auxiliar essa Geografia nutria-se nos tratados claacutessicos que

organizavam o saber geograacutefico da Antiguidade agrave Idade Meacutedia ndash a conhecida

sistemaacutetica dual a tradiccedilatildeo descritiva ou Geografia histoacuterico-poliacutetica de Estrabatildeo e

a tradiccedilatildeo matemaacutetica de Ptolomeu (GOMES 2000 KIMBLE 2005) Natildeo eacute demais

salientar que a interceptaccedilatildeo dessa dualidade a irromper na Geografia Moderna

ainda gestava-se na Europa a exemplo das contribuiccedilotildees de Immanuel Kant (1724-

1804) que no fervor dos ideais iluministas em seu projeto de separaccedilatildeo entre a

metafiacutesica e a razatildeo revestiria de ciecircncia esse saber antigo

Apoacutes a desintegraccedilatildeo da Companhia de Jesus no Brasil a educaccedilatildeo

brasileira passou por um retrocesso o que eacute consenso entre historiadores da

educaccedilatildeo e estudiosos da cultura brasileira (ALMEIDA 1989 AZEVEDO 1963

MOURA 2000 ORTIZ 1994 RIBEIRO 2001 ROMANELLI 1985) periacuteodo esse

conhecido como pombalino em vigor por quase 50 anos entre 1759 e 1808 em

referecircncia agraves reformas de Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo influente poliacutetico e

ministro portuguecircs mais conhecido como Marquecircs de Pombal (1699-1792) as quais

impactaram tambeacutem na educaccedilatildeo da colocircnia brasileira

58

Recomendaccedilotildees ao curso Superior que formava os teoacutelogos embora decirc para discernir algumas das noccedilotildees do ensino da natureza para os estudantes das aulas avulsas

Os coleacutegios e escolas dos jesuiacutetas embora natildeo sobrepujassem tinham um

soacutelido sistema de financiamento com recursos advindos do padroado de donativos

reacutegios e de fieacuteis aleacutem dos recursos gerados pela proacutepria Companhia haja vista que

os jesuiacutetas foram exiacutemios comerciantes e produtores latifundiaacuterios Tal situaccedilatildeo

permitia a oferta de uma educaccedilatildeo puacuteblica e gratuita (MOURA 2000) embora natildeo

democraacutetica Outras ordens religiosas e demais elementos educacionais alccediladas

em continuaccedilatildeo ao trabalho dos jesuiacutetas natildeo contaram com este esteio econocircmico

nem com os ideais pedagoacutegicos da Companhia

A gestatildeo educacional passou a ser gerida pelo Estado que ateacute entatildeo se

abstinha de interferecircncia nos ensinos equivalentes ao elementar e ao secundaacuterio

Por conseguinte o Estado ldquo[] tomou a seu cargo por iniciativa de Pombal a

funccedilatildeo educativa que passava a exercer em colaboraccedilatildeo com a Igreja

aventurando-se a um largo plano de oficializaccedilatildeo do ensinordquo (AZEVEDO 1963 p)

Desarticulando o Ratio dos jesuiacutetas instituiu as aulas reacutegias chamadas tambeacutem

aulas avulsas cujo principal retrocesso foi diluir os cursos graduados e

sistematizados Nas cidades e vilas as escolas e coleacutegios atuaram por aulas

isoladas ateacute a Regecircncia na deacutecada de 1840 quando o modelo do Coleacutegio Pedro II

fundado em 1837 passou a ser disseminado nas proviacutencias O curriacuteculo nesse

entretempo reduziu-se a aulas avulsas de gramaacutetica e latim e nos seminaacuterios

filosofia eacutetica e retoacuterica A grande transformaccedilatildeo curricular foi o banimento de

liacutenguas indiacutegenas e a institucionalizaccedilatildeo pelo Estado da liacutengua portuguesa

A reforma educacional brasileira implementada por Pombal a tiacutetulo de experimento [que a histoacuteria mostrou natildeo ter sido bem sucedida] tinha como meta levar a educaccedilatildeo para o controle do Estado secularizaacute-la e uniformizar o curriacuteculo Em cada aldeia indiacutegena os diretores deveriam ocupar o lugar dos missionaacuterios e duas escolas puacuteblicas ndash uma para meninos e outra para meninas ndash deveriam ser implantadas (MOURA 2000 p 70)

Para financiar o sistema puacuteblico desprovido das substanciais verbas

jesuiacuteticas o Estado portuguecircs instituiu na colocircnia um imposto chamado ldquosubsiacutedio

literaacuteriordquo em 1772 apoacutes 13 anos de inaniccedilatildeo incidentes sobre a produccedilatildeo de carne

sal aguardente e outros produtos O subsiacutedio sem sistema eficiente de arrecadaccedilatildeo

e envolto em fraudes jamais foi suficiente para financiar a educaccedilatildeo colonial que se

tornou deploraacutevel

Descontinuidade improvisaccedilatildeo amadorismo e falta absoluta de senso pedagoacutegico caracterizaram muito da empreitada educacional de Pombal Surgiram aulas de disciplinas isoladas sem planos sistemaacuteticos de estudos (aulas reacutegias) dadas por professores em sua maior parte desinformados O latim o grego e a retoacuterica eram mais ensinados que a liacutengua portuguesa O ensino superior que comeccedilava a se esboccedilar no Brasil com os cursos de artes de base jesuiacutetica natildeo se desenvolveu (MOURA 2000 p 70)

O clero como a classe mais culta seguiu com prioridade nas regecircncias

pedagoacutegicas Na falta de instituiccedilotildees e de uma hierarquia organizacional das

atividades educativas59 com ele permanecia a orientaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo do ensino

ldquoos professores eram geralmente padres embora natildeo faltassem leigos em todos os

graus de ensinordquo (MOURA 2000 p 66) poreacutem subvencionados e nomeados pelo

Estado

32 A educaccedilatildeo colonial a influecircncia do isolacionismo

Todavia haacute que se ressaltar que as marcas sociais deixadas pelo ensino

jesuiacutetico por muito tempo seratildeo influentes para a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo brasileira

inclusive nas bases de constituiccedilatildeo do ensino de Geografia no seacuteculo XIX Tendo a

doutrina catoacutelica como lastro o planejamento da educaccedilatildeo jesuiacutetica cercou-se de

todas as precauccedilotildees possiacuteveis para afastar influecircncias entatildeo consideradas nocivas

determinavam o que aprender como aprender quem poderia ensinar Os

professores que somente poderiam ensinar apoacutes os 30 anos de idade em sua

preparaccedilatildeo lidavam com os livros e as questotildees selecionadas pelos jesuiacutetas Se

dados a novidades ou ao espiacuterito livre deveriam ser afastados da docecircncia (PAIM

1967) Com base nessas praacuteticas Ribeiro (2001 p 26) assinala que o objetivo

religioso o conteuacutedo literaacuterio e a metodologia de imitaccedilatildeo

[] faziam com que natildeo soacute os religiosos de profissatildeo como os intelectuais de forma geral se afastassem natildeo apenas de outras orientaccedilotildees religiosas

59

Haja vista a enorme distacircncia entre os mestres e o Diretor Geral de Estudos que era o proacuteprio Vice-Rei sem subordinaccedilotildees intermediaacuterias

como tambeacutem do espiacuterito cientiacutefico nascente [na Europa] e que atinge durante o seacuteculo XVII uma etapa bastante significativa

A ciecircncia nascia justamente como reaccedilatildeo ao meacutetodo escolaacutestico medieval

que direcionava o conhecimento agrave metafiacutesica Romanelli (1985 p 34) igualmente

demonstra que este espiacuterito combalido em outros espaccedilos da Europa era persistente

e cultivado na educaccedilatildeo portuguesa e na educaccedilatildeo colonial ibeacuterica pois se tratava

antes de qualquer coisa

[] da materializaccedilatildeo do proacuteprio espiacuterito da Contra-Reforma que se caracterizou sobretudo por uma eneacutergica reaccedilatildeo ao espiacuterito criacutetico que comeccedilava a despontar na Europa por um apego a formas dogmaacuteticas de pensamento pela revalorizaccedilatildeo da Escolaacutestica como meacutetodo e como filosofia pela reafirmaccedilatildeo da autoridade quer da igreja quer dos antigos []

O isolamento intelectual da Colocircnia brasileira era agravado um pouco mais

pelo fato de a metroacutepole portuguesa acircmbito de formaccedilatildeo das elites brasileiras

igualmente estar em separado do conhecimento pleno e das ideias cientiacuteficas que se

desenvolviam em alguns paiacuteses europeus pois instituiccedilotildees como a Universidade de

Coimbra e o Coleacutegio dos Nobres fizeram leituras e absorccedilotildees parciais do Iluminismo

Portugal chega em meados do seacuteculo XVIII com sua Universidade ndash a de Coimbra ndash tatildeo medieval como sempre fora A filosofia moderna (Descartes) a ciecircncia fiacutesico-matemaacutetica os novos meacutetodos de estudo da liacutengua latina eram desconhecidos em Portugal O ensino jesuiacutetico solidamente instalado continuava formando elementos da corte dentro dos moldes do Ratio Studiorum (RIBEIRO 2001 p 32)

Conforme veremos adiante o avanccedilo intelectual dos portugueses no

contexto do Renascimento natildeo ultrapassou um empirismo mitigado60 capaz de

afastar certos ranccedilos da escolaacutestica mas ultrapassando o fazer da ciecircncia ndash a

pesquisa no sentido amplo ndash para calcar-se em certo pragmatismo ou aplicaccedilatildeo

simploacuteria da ciecircncia

60

Expressatildeo cunhada por Joaquim de Carvalho (18921958) para denominar a adoccedilatildeo do empirismo no acircmbito do conhecimento sem problematizaccedilatildeo apenas como forma de difundir uma nova doutrina como criacutetica ao aristotelismo Esse movimento foi inspirado pelas obras Instituiccedilotildees loacutegicas do italiano Antonio Genovesi (1713-1792) e O verdadeiro meacutetodo de estudar de Antoacutenio Verney (1713-1792) ndash (PAIM 1999)

Apoacutes os jesuiacutetas61 cuja estrutura e administraccedilatildeo escolar nos territoacuterios

portugueses ruiacuteram em 1759 influenciadas pela modernizaccedilatildeo da cultura lusa

atrelada ao processo de recuperaccedilatildeo econocircmica no periacuteodo pombalino houve um

lento processo de reestruturaccedilatildeo do aparelho administrativo da colocircnia que passou

a ldquo[] exigir um pessoal com um preparo elementar As teacutecnicas de leitura e de

escrita se fazem necessaacuterias surgindo com isto a instruccedilatildeo primaacuteria dada na

escola que antes cabia agrave famiacuteliardquo (RIBEIRO 2001 p 31) pelo menos na intenccedilatildeo

dos planos jaacute que na realidade se assistiu a uma desestruturaccedilatildeo sem par A

educaccedilatildeo foi assumida pelo governo colonial (encargo administrativo do Vice-Rei) e

ministrada por leigos e religiosos sem contudo ocorrer mudanccedilas nas bases e

fundamentos que sustentavam o ensino anteriormente (ROMANELLI 1985) ou seja

prevalecem a educaccedilatildeo com objetivos religiosos e literaacuterios Aleacutem disso as

tentativas de organizaccedilatildeo estiveram longe de igualar ou superar a estrutura jesuiacutetica

Na contramatildeo em Portugal tinha-se uma paulatina penetraccedilatildeo das novas ideias no

meio intelectual posterior agrave reforma poliacutetica do Marquecircs de Pombal direcionado ao

pragmatismo acima mencionado A influecircncia dessas ideias no ensino colonial

portanto seria de assimilaccedilatildeo mais morosa ainda aliaacutes pode-se afirmar que

praticamente foram nulas Somente na primeira metade do seacuteculo XIX com as

transformaccedilotildees do cenaacuterio poliacutetico da Colocircnia vestiacutegios semelhantes comeccedilariam a

aparecer no ensino brasileiro particularmente propiciando o aparecimento da

Geografia como disciplina escolar

Eacute importante ressaltar que a Geografia natildeo teve uma gecircnese uacutenica formou-

se da reuniatildeo de algumas disciplinas geograacuteficas Na formaccedilatildeo posterior da

Geografia escolar disciplinas momentaneamente autocircnomas e subservientes a

diversos propostos seriam elencadas em um curriacuteculo uacutenico a Cosmologia a

Corografia a Astronomia a Cartografia62 dentre outras

Um marco para a ascensatildeo da Geografia escolar sem duacutevida foi a

transferecircncia da corte portuguesa para o Brasil (1808) pois este fato impocircs outra

visatildeo e interesse para a educaccedilatildeo praticamente reinaugurando-a no Brasil Todavia

a Geografia escolar por vir jaacute tinha lanccedilados alguns dos seus fundamentos na

61

Piletti Piletti (2002) indicam que com a saiacuteda dos jesuiacutetas deixaram de existir 18 estabelecimentos de ensino secundaacuterio e 25 escolas de ler e escrever 62

Curiosamente ateacute a Astrologia fez parte do ensino e dos manuais de Geografia

Geografia Claacutessica em alguns aspectos da tradiccedilatildeo da Antiguidade e da Idade

Meacutedia por meio das praacuteticas educacionais dos Jesuiacutetas O paradigma dos estudos

claacutessicos prevaleceria ateacute meados do seacuteculo XIX tempo no qual os paracircmetros

cientiacuteficos comeccedilaram a se infiltrar de forma renovada e a predominar no cenaacuterio da

educaccedilatildeo brasileira estabelecendo-a definitivamente anos mais tarde nas primeiras

deacutecadas do seacuteculo XX

33 Reinado (1808-1821) o surgimento dos primeiros indiacutecios de uma literatura didaacutetica de Geografia

Com a chegada da Famiacutelia Real e da Corte portuguesa ao Brasil a

educaccedilatildeo colonial jaacute desvinculada anteriormente do monopoacutelio jesuiacutetico foi

reorganizada no sentido poliacutetico-administrativo pois a nova ordem poliacutetica precisava

de matildeo de obra especializada para atender aos imperativos de uma classe poliacutetica e

social completamente distinta da entatildeo existente A estrutura social anterior havia

sido implodida com o surgimento e o fortalecimento no tempo da mineraccedilatildeo de uma

classe intermediaacuteria teacutecnica e poliacutetica alheia agrave classe dos proprietaacuterios rurais e que

seria ao longo do seacuteculo XIX permanentemente ascendente e determinante para as

direccedilotildees poliacuteticas da monarquia e mais adiante da repuacuteblica (ROMANELLI 1985) e

a essa forccedila agregavam-se as necessidades da Corte instalada na Colocircnia quanto agrave

instruccedilatildeo de sua elite dirigente

As medidas poliacutetico-administrativas de D Joatildeo foram programaacuteticas para

refuncionalizar a colocircnia como centro do Impeacuterio portuguecircs O que se inovou na

educaccedilatildeo contemplava as necessidades imediatas e praacuteticas com espaccedilos

geograacuteficos marcados ndash Bahia e principalmente Rio de Janeiro Na educaccedilatildeo

prevaleceu a homogeneidade instaurada pelos jesuiacutetas embora o sentido

humaniacutestico da educaccedilatildeo tenha sofrido algumas reorientaccedilotildees de ordem

pragmaacutetica

Este contexto o do reinado eacute o nascedouro contudo de uma cultura

cientiacutefica brasileira apesar de natildeo vingar nenhuma universidade e apesar de natildeo se

instalar escolas voltadas para a pesquisa cientiacutefica (OLIVEIRA 2005 p 106)

Surgiram faculdades e a pesquisa foi um processo de instauraccedilatildeo mais lenta

posterior

A educaccedilatildeo brasileira nesses termos tem seu primeiro esboccedilo sistemaacutetico

a partir de um ensino primaacuterio em continuidade agraves escolas de ler e escrever de um

ensino secundaacuterio preparatoacuterio para o ensino superior sendo que por sinal tem

inauguradas as primeiras instituiccedilotildees em solo brasileiro devido ao mesmo bloqueio

continental que trouxe a Corte portuguesa para o Brasil O ensino superior ateacute

entatildeo estava completamente erradicado dos planos da colonizaccedilatildeo portuguesa no

sentido de tolher qualquer iniciativa para a independecircncia poliacutetica ou cultural apesar

de diversas tentativas para sua implementaccedilatildeo seja pelos jesuiacutetas com iniciativas

em Salvador Olinda Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que talvez pudessem ter esboccedilado

o iniacutecio do ensino superior na colocircnia seja a intenccedilatildeo dos inconfidentes mineiros

(FAacuteVERO 2006)

O ensino cientiacutefico pelo menos no tocante ao aspecto teacutecnico foi

introduzido por meio de diversas escolas de ensino superior Na Bahia surgia um

Curso Meacutedico de Cirurgia em 1808 aos quais se seguiriam cursos de Agricultura

(1812) Comeacutercio (1809) Quiacutemica (1817) e Desenho Teacutecnico (1818) No Hospital

Militar do Rio de Janeiro se instituiu um Curso de Anatomia Cirurgia e Medicina

(1808-1909) seguindo-se a implantaccedilatildeo de outros Cursos Quiacutemica (1812)

Agricultura (1814) Ciecircncias Artes e Ofiacutecios (1816) ndash (COLESANTI 1984 FAacuteVERO

2006) Tratava-se de cursos e academias profissionalizantes distantes do modelo

europeu de ensino superior As atividades meacutedicas as edificaccedilotildees as bases da

economia (agricultura e comeacutercio) respondem agraves necessidades iniciais ao que

Neva Collaccedilo (2006) denominam de ldquocorporaccedilotildees de ofiacuteciordquo Somente apoacutes a

independecircncia (1822) por exemplo surgiram cursos juriacutedicos e outros ndash em um

momento no qual mais que de teacutecnica necessitava-se de pensamentos e ideias

para erigir e consolidar a naccedilatildeo a qual natildeo dispensaria um iacutendice de burocracia

para implementar a constituiccedilatildeo e organizar a administraccedilatildeo puacuteblica

Eacute notaacutevel nesse periacuteodo a tutela do Estado no arregimento da educaccedilatildeo

brasileira para aleacutem da tutela da Igreja e de iniciativas particulares vigentes entatildeo

Permaneciam poreacutem o lastro da preparaccedilatildeo teacutecnica antes percebido nas escolas

de ler e escrever (no sentido de uma instrumentalizaccedilatildeo rudimentar para produzir

aptos agrave leitura agrave escrita e ao caacutelculo baacutesico) continuando agora no ensino

superior Nessa tutela contudo foram muitas as inovaccedilotildees dentre elas a condizente

ao livro

A questatildeo do livro de fato ganhou status e referecircncia especiacuteficos no

periacuteodo joanino tanto em termos de produccedilatildeo material quanto de elaboraccedilatildeo Na

situaccedilatildeo educacional o livro assumiu uma funccedilatildeo no ordenamento em um cenaacuterio

destituiacutedo desde a implementaccedilatildeo das aulas reacutegias

Houve necessidade de formular um novo saber escolar substituindo o Ratio Studiorum com seu minucioso meacutetodo e regras pormenorizadas dos jesuiacutetas e das ordens religiosas que os seguiam por um outro projeto pouco detalhado nos conteuacutedos e meacutetodos bem como o problema de transmiti-lo a um corpo docente leigo que passaria a ser remunerado compondo o quadro do funcionalismo puacuteblico (BITTENCOURT 2008 p 28)

O surgimento da Impressa Reacutegia em 1808 casa impressora para veicular

os atos administrativos e normativos da Coroa Portuguesa assim marcou o iniacutecio

de uma editoraccedilatildeo em territoacuterio brasileiro Toda publicaccedilatildeo ateacute 1821 ano em que D

Joatildeo VI retornou com sua corte a Portugal passava necessariamente pela censura

palaciana Ateacute o surgimento da Impressa Reacutegia qualquer trabalho de impressatildeo no

territoacuterio colonial era ilegal e apoacutes essa se estendeu como monopoacutelio ateacute 1822

Antes da Impressatildeo Reacutegia praticamente inexistia um mercado livreiro no

Brasil Em 1792 no Rio de Janeiro havia somente duas livrarias com oferta

paupeacuterrima de livros a maioria sobre medicina e religiatildeo Os tiacutetulos mais

interessantes agrave populaccedilatildeo letrada (e proibidos) adentravam as fronteiras da colocircnia

por contrabando promovido por ingleses franceses e holandeses (HALLEWELL

2005) esclarecimento ilegal cujos frutos a coroa portuguesa sempre temeu dentre

os quais a Inconfidecircncia severamente reprimida Mesmo a Biacuteblia em vernaacuteculo era

um tiacutetulo proibido

Em 1808 permaneciam duas livrarias estabelecidas na sede da colocircnia ndash

ano inicial de transformaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais e culturais inerentes agrave

chegada da corte portuguesa ao Brasil Como sintoma dessas transformaccedilotildees no

ano seguinte 1809 o nuacutemero de livrarias passou para cinco alcanccedilando 12 em

1816 Para evidenciar um pouco mais a evoluccedilatildeo intelectual do Brasil assinala-se

que em 1890 havia no Rio de Janeiro 45 livrarias 67 tipografias e 16 litografias

bem como trecircs fundidores de tipos (HALLEWELL 2005) Estes nuacutemeros revelam

natildeo soacute o crescimento da atividade econocircmica e cultural ao longo do seacuteculo XIX pois

expressam e foram alimentadas por diversas atividades primeiro o interesse pela

poliacutetica nacional que continuamente soergueu uma imprensa nacional segundo a

implantaccedilatildeo e o fortalecimento igualmente contiacutenuos de uma estrutura educacional

que nunca em tempos de modernidade prescindiu de livros ou materiais impressos

de leitura

A censura intelectual anterior ao periacuteodo joanino estendia-se agrave proibiccedilatildeo

completa de atividades graacuteficas antes de 1808 e a partir de entatildeo ao monopoacutelio

governamental sobre a impressatildeo com a instauraccedilatildeo da Impressatildeo Reacutegia que

perdurou ateacute 1821 quando foi permitida a instalaccedilatildeo de graacuteficas privadas no paiacutes A

exceccedilatildeo legal a esse monopoacutelio talvez seja apenas Salvador onde desde 1811

publicavam-se livros impressos com permissatildeo governamental com autorizaccedilatildeo de

D Joatildeo VI para o tipoacutegrafo Manoel Antocircnio da Silva Serva (MORAES 1975)

Outra explicaccedilatildeo para natildeo haver implantaccedilatildeo de tipografias no Brasil ateacutem-

se ao temor de uma concorrecircncia ou proteccedilatildeo ao mercado metropolitano esta

estrateacutegia mercantilista foi por exemplo outra razatildeo apresentada pelo governo para

abortar a iniciativa de um graacutefico portuguecircs Isidoro da Fonseca que em 1747

instalara no Brasil sua oficina e iniciara trabalhos graacuteficos (MORAES 1975) Outro

mecanismo seria uma questatildeo juriacutedica relativa agraves licenccedilas governamentais que um

texto necessitava para vir a puacuteblico uma vez que a mesa censoacuteria ndash eclesiaacutestica e

civil ndash estava sediada em Lisboa

Para driblar a censura e o monopoacutelio havia em Londres uma induacutestria

editorial em liacutengua portuguesa paralela agrave outra na Franccedila abastecendo ambas o

contrabando de livros para o Brasil Essa induacutestria permaneceu apoacutes o fim da

censura e do monopoacutelio por razatildeo de custos (acesso a maacutequinas mateacuteria-prima

matildeo de obra especializada) era mais barato imprimir na Europa do que no Brasil

passando o mercado editorial inglecircs e francecircs a mercado graacutefico tambeacutem sendo

presenccedilas marcantes ateacute a deacutecada de 1930 Um expressivo volume de livros

didaacuteticos de Geografia foi impresso fora do Brasil embora editado no paiacutes

De qualquer forma a Impressatildeo Reacutegia inaugurou as bases editoriais de

livros de interesse agrave Geografia e seu ensino no Brasil Hallewell (2005 p 114) sobre

essa atividade diz

Muitos dos ldquotrabalhos uacuteteisrdquo [] estavam direta ou indiretamente relacionados com problemas de interesse do governo economia poliacutetica geografia agrimensura medicina sauacutede puacuteblica ateacute desenho e astronomia pois eram mateacuterias do curriacuteculo da Academia Militar

Realmente dentre os volumes do cataacutelogo editorial da Impressatildeo Reacutegia

chamam atenccedilatildeo alguns tiacutetulos de maior ou menor importacircncia agrave Geografia

integrantes da gecircnese da histoacuteria e do ensino brasileiro desta A esse propoacutesito haacute

dois atos inaugurais em termos bibliograacuteficos para a Geografia brasileira e seu

ensino o primeiro livro didaacutetico com conteuacutedos geograacuteficos os Elementos de

Astronomia Para uso dos alumnos da Academia Real Militar de Arauacutejo Guimaratildees

(1814) e o primeiro livro a sistematizar conhecimentos geograacuteficos sobre o Brasil

Corografia braziacutelica ou relaccedilatildeo histoacuterico-geograacutefica do reino do Brazil composta a

sua magestade fideliacutessima por hum presbitero secular do gram priorado do Crato do

Padre Manoel Ayres de Casal (1817a 1817b) Aleacutem desses livros haacute um outro com

fins propriamente didaacuteticos que faz menccedilatildeo agrave Geografia dentre outros temas

Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios

as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal

e historia natural publicado em 1818 de autoria de Joseacute Saturnino da Costa

Pereira

Em um prospecto geral a Impressatildeo Reacutegia teve um significado para aleacutem de

atender as necessidades graacuteficas da administraccedilatildeo puacuteblica Com as guerras

napoleocircnicas e por conseguinte com o bloqueio continental importar ou editar

livros na Europa ficou difiacutecil Eacute por esse motivo que o cataacutelogo da Impressatildeo Reacutegia

incluiu manuais didaacuteticos Ateacute entatildeo quando presentes no ensino eram importados

importaccedilatildeo que nunca arrefeceu poreacutem tiacutetulos nacionais ou compilaccedilotildees nacionais

passaram a ser agregadas e nesse processo se diferenciam os livros de Histoacuteria e

Geografia sendo que estes conforme demonstrado no capiacutetulo anterior foram

sobretudo nacionais Com o fim da instabilidade internacional e com o

restabelecimento das importaccedilotildees a produccedilatildeo de livros didaacuteticos permaneceu e

progrediu ganhando um amplo impulso na uacuteltima metade do seacuteculo XIX

Esse cenaacuterio editorial apoacuteia-se em diversos fatores dentre os quais

evidencio o pequeno mercado da educaccedilatildeo sem dinacircmica suficiente para

impulsionar ativos comerciais a metodologia de ensino centrada na coacutepia e na

memorizaccedilatildeo de liccedilotildees que dispensavam a utilizaccedilatildeo de livros pelos alunos no

maacuteximo se exigindo essa posse do professor Um terceiro fator a este propoacutesito eacute

visiacutevel na histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira a qual foi estruturada a partir de um centro

o ensino superior e por extensatildeo o ensino secundaacuterio

Conforme demonstrado anteriormente as primeiras determinaccedilotildees

governamentais nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX voltaram-se para

cursos de formaccedilatildeo profissional permanecendo o ensino secundaacuterio na claacutessica

constituiccedilatildeo de classes independentes ndash as ldquoaulas avulsasrdquo ndash ao passo que o ensino

primaacuterio natildeo se distanciou das aulas de ler e escrever Mesmo apoacutes o iniacutecio do

periacuteodo republicano a preocupaccedilatildeo do governo estava fixada no ensino superior e

secundaacuterio haja vista as diversas reformas educacionais vigorantes por todo o

periacuteodo em anaacutelise

Visualizar o raiar do ensino de Geografia no Brasil no periacuteodo joanino

significa entrever as necessidades pedagoacutegicas engendradas em alguns cursos do

ensino superior especificamente na Academia Militar

331 Academia Real Militar do Rio de Janeiro (1810) a primeira explicitaccedilatildeo da Geografia como disciplina

A demanda curricular do ensino superior determina a demanda das

formaccedilotildees de base quando esta tem por alvo o ingresso do aluno naquela O ensino

de Geografia no Brasil sobretudo no ensino secundaacuterio dentre vaacuterios

pressupostos tem o fato de ser objeto de exame para ingresso nas faculdades de

Direito a partir de 1831 (HAIDAR 1972 VLACH 1988) Em 1827 haviam sido

fundadas as Faculdades de Direito de Satildeo Paulo e Olinda jaacute em um segundo

movimento do estabelecimento do ensino superior brasileiro O ensino de Geografia

foi proponente no surgimento da Geografia como uma ciecircncia institucional no Brasil

Todavia antes de ser uma ciecircncia isto eacute uma aacuterea do conhecimento com objeto

corpo teoacuterico-metodoloacutegico e espaccedilo institucional independente o que viria a ocorrer

apenas na deacutecada de 1930 e antes de ser uma disciplina estaacutevel no ensino

secundaacuterio e posteriormente no ensino elementar foi disciplina autocircnoma do

ensino superior ainda no periacuteodo joanino Este fato praticamente ainda natildeo foi

abordado na bibliografia referencial sobre o ensino de Geografia Deve ser

mencionado pois tem uma relaccedilatildeo muito proacutexima com o desenvolvimento posterior

da disciplina e da literatura didaacutetica de Geografia

Dessa forma de um saber auxiliar sobretudo em cursos secundaacuterios como

visto no ensino jesuiacutetico a Geografia integrou o processo de introduccedilatildeo do ensino

superior no paiacutes bem como a introduccedilatildeo desse ensino no movimento cientiacutefico

testemunhado nas escolas teacutecnicas do ensino superior iniciantes apoacutes a chegada da

corte portuguesa ao Brasil

Os primeiros cursos a receberem os conteuacutedos geograacuteficos de forma

independente foram da Academia Real Militar do Rio de Janeiro63 Esta instituiccedilatildeo

fundada em 04 de dezembro de 1810 por carta reacutegia foi inaugurada em 23 de abril

de 1811 num contexto que respondia agrave criaccedilatildeo dessas academias na Europa e na

instauraccedilatildeo do ensino superior na colocircnia brasileira (MOACYR 1936) Foi a primeira

escola de engenharia do paiacutes respondendo por diversos nomes mais tarde

Imperial Academia Militar (1822) Academia Militar da Corte (1832) Escola Militar

(1840) Na deacutecada de 1850 houve um desmembramento entre a formaccedilatildeo dos

militares e a formaccedilatildeo em engenharia consolidada apoacutes a Guerra do Paraguai

(1864-1870) pelo Decreto 5529 de 17 de janeiro de 1874 que liberou o exeacutercito

brasileiro da formaccedilatildeo de engenheiros centralizando institucionalmente a formaccedilatildeo

de militares (LUCENA 2005) Dessa forma a antiga Academia Real Militar que jaacute

natildeo respondia a esse nome desmembrou-se em instituiccedilotildees outras como em 1858

a Escola Central que originaria a atual politeacutecnica da Universidade Federal do Rio

de Janeiro (ESCOLA POLITEacuteCNICA 2011) a Escola Militar da Praia Vermelha a

Escola Superior de Guerra (1890)64 a Escola Astronocircmica e de Engenharia

Geograacutefica (1890) e outras denominaccedilotildees e instituiccedilotildees A Academia Real Militar

63

A Real Academia natildeo foi a primeira experiecircncia da colocircnia nesse sentido Cerca de duas deacutecadas antes exatamente em 1792 a metroacutepole portuguesa fundou no Rio de Janeiro a Real Academia da Artilharia Fortificaccedilatildeo e Desenho da cidade do Rio de Janeiro para formar soldados da infantaria cavalaria e artilharia da cidade bem como formar engenheiros e arquitetos para construir zelar e defender as fortificaccedilotildees aleacutem de outras construccedilotildees civis Poreacutem a experiecircncia da Real Academia foi muito mais ampla

64 Esta se diferencia da tambeacutem Escola Superior de Guerra - ESG fundada em 1949 pelos

geopoliacuteticos militares brasileiros

assim eacute a base histoacuterica de algumas instituiccedilotildees que sobrevivem na atualidade

como a citada Politeacutecnica da UFRJ e o Instituto Militar de Engenharia ndash IME

As academias militares assim como as sociedades cientiacuteficas foram alguns

dos efeitos imediatos e influentes da nova mentalidade intelectual e cultural

emergente na Europa apoacutes o seacuteculo XVIII que fundamentou o surgimento do

pensamento e da ciecircncia moderna

Espaccedilos de formaccedilatildeo cientiacutefica essas academias militares possibilitaram a formaccedilatildeo de um novo tipo de oficial atraveacutes de curriacuteculos e diretrizes pedagoacutegico-cientiacuteficos que eram verdadeiros porta-vozes de um novo modelo cientiacutefico - que privilegiava a observaccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo - resultante da fusatildeo da matemaacutetica e da fiacutesica sob uma perspectiva praacutetica (DUARTE 2003 p 241)

Em Portugal vaacuterias academias surgiram na ampla reforma do periacuteodo

pombalino cuja inovaccedilatildeo no ensino superior portuguecircs conta com a criaccedilatildeo de

faculdades de matemaacutetica ciecircncia de grande impacto nos estudos militares Inicia

portanto na cultura luso-brasileira o arqueacutetipo do cientificismo como forma

modernizadora introduzida pelo Marquecircs de Pombal intermediada natildeo raras vezes

por militares processo que no Brasil teraacute mais de 200 anos de influecircncia notaacutevel ldquoo

Positivismo brasileiro tornou-se o desdobramento natural da tradiccedilatildeo cientificista

iniciada sob Pombal Mais que isto transformou-se no fundamento doutrinaacuterio do

autoritarismo republicano []rdquo (PAIM 2002 p 1) O Marquecircs de Pombal foi

expoente de um movimento cultural que perpassou as elites portuguesas no qual se

incluiacutea a corrente filosoacutefica do jaacute mencionado empirismo mitigado que tentou a

superaccedilatildeo no acircmbito do ensino superior do aristotelismo Ao passo que em outros

paiacuteses filoacutesofos como Hume Locke Kant em torno do conhecimento promoviam

um debate intenso a que Kant nos seus Prolegocircmenos se referiu a si mesmo

nesse processo como o despertar de um ldquosono dogmaacuteticordquo em Portugal natildeo se

pretendeu ir e natildeo se foi tatildeo longe Mesmo assim esse movimento opocircs-se ao

ensino escolaacutestico e ao monopoacutelio educacional dos jesuiacutetas promovendo uma

concepccedilatildeo de filosofia que tivesse alguma identificaccedilatildeo com a ciecircncia aplicada no

sentido de modernizar o Estado portuguecircs Um conjunto de accedilotildees despoacuteticas pois

centrado nas necessidades do Estado natildeo da naccedilatildeo portuguesa No exemplo maior

de um pragmatismo absoluto o empirismo mitigado reduziu a filosofia agrave ciecircncia e a

ciecircncia agraves aplicaccedilotildees em um gesto necessariamente simploacuterio e foi o esteio

principal para a reformulaccedilatildeo da Universidade de Coimbra e do Coleacutegio dos Nobres

Nesse sentido a Geografia foi uma das disciplinas de rompimento com a

praacutetica pedagoacutegica escolaacutestica compondo o processo de renovaccedilatildeo do ensino visto

como cientiacutefico

Este movimento acompanhou a corte portuguesa ao Brasil em 1808 e

influenciou amplamente os intelectuais brasileiros e os portugueses migrados que

aqui atuaram fundamentando as escolas de ensino superior que surgiram no

reinado Tais eram as influecircncias do Conde de Linhares D Rodrigo de Souza

Coutinho (1755-1812) organizador da Academia Real Militar do Rio de Janeiro e

ex-aluno do Coleacutegio de Nobres e da Universidade de Coimbra Tratava-se da

aplicaccedilatildeo da ldquoaritmeacutetica poliacuteticardquo de Pombal conforme Rodriacuteguez (2010 p 3)

a) o Estado empresaacuterio com o auxiacutelio da ciecircncia aplicada garante a riqueza da naccedilatildeo b) o Estado com o auxiacutelio da ciecircncia aplicada garante a ordem poliacutetica e a moral dos cidadatildeos c) o Estado ainda com o auxiacutelio da ciecircncia aplicada garante a formaccedilatildeo da elite burocraacutetico-teacutecnica de que precisa

Ainda de acordo com Rodriacuteguez (2010 p 4-5)

A ideacuteia cientificista em siacutentese surgira em Portugal sob o marquecircs de Pombal na segunda metade do seacuteculo XVIII como alternativa modernizadora que substituiu a crenccedila na tradiccedilatildeo religiosa sobre a qual ateacute entatildeo assentava o poder patrimonial do Estado Em que pese o caraacuteter modernizador da reforma pombalina em nada modificou o esquema concentrado do poder patrimonial natildeo surgira entatildeo da queda do absolutismo teocraacutetico um regime de democracia representativa como tinha acontecido na Inglaterra apoacutes a Revoluccedilatildeo Gloriosa de 1688 Apareceu assim como alternativa modernizadora no seio da cultura lusa o despotismo ilustrado ou patrimonialismo modernizador que exerceria forte influxo no desenvolvimento do cientificismo no Brasil

Na instacircncia do ensino superior brasileiro observou-se um afastamento do saber

humaniacutestico que calccedilou tradicionalmente as formaccedilotildees de base por meio dos

jesuiacutetas continuado agrave sua maneira nas aulas reacutegias e na acircnsia das necessidades

profissionalizantes visou agrave aplicaccedilatildeo maacutexima que as ciecircncias do tempo permitiriam

Conveacutem lembrar que esta anaacutelise refere-se ao periacuteodo joanino Apoacutes a

Independecircncia na aurora do Impeacuterio cursos juriacutedicos e outros humanistas foram

instituiacutedos com forte teor literaacuterio apresentando uma continuidade da tradiccedilatildeo

estabelecida pelos jesuiacutetas e a custo mantida apoacutes eles e que confrontou as

rupturas que o ensino superior joanino incorporaria nesse cenaacuterio

O objetivo da Academia Real Militar do Rio de Janeiro era a formaccedilatildeo de

oficiais militares e oficiais teacutecnicos com uma centralidade bem especiacutefica o territoacuterio

e a nascente infraestrutura brasileira O espaccedilo geograacutefico da Colocircnia pela primeira

vez a partir de uma instituiccedilatildeo firmada no espaccedilo brasileiro detinha a atenccedilatildeo de um

novo olhar o olhar do Estado diferente das percepccedilotildees anteriores essencialmente

econocircmicas Seu curriacuteculo pautava-se nas ciecircncias exatas aplicadas para formar

oficiais de artilharia infantaria e cavalaria engenheiros (inclusive os denominados

ldquoengenheiros geoacutegrafosrdquo) e topoacutegrafos habilitados a administrar a construccedilatildeo civil

conforme enunciava os Estatutos da Academia

[] Faccedilo saber a todos os que esta Carta virem que Tendo consideraccedilatildeo ao muito que interessa ao Meu Real Serviccedilo ao bem puacuteblico dos Meus Vassalos e agrave defesa e seguranccedila dos meus vastos Domiacutenios que se estabeleccedila no Brasil e na minha atual Corte e cidade do Rio de Janeiro um curso regular das Ciecircncias Exatas e de Observaccedilatildeo assim como de todas aquelas que satildeo aplicaccedilotildees das mesmas aos Estudos Militares e Praacuteticos que formam a Ciecircncia Militar em todos os seus difiacuteceis e interessantes ramos de maneira que dos mesmos Cursos de estudos se formem haacutebeis oficiais de Artilharia Engenharia e ainda mesmo Oficiais da Classe de Engenheiros Geoacutegrafos e Topoacutegrafos que possam tambeacutem ter o uacutetil emprego de dirigir objetos administrativos de Minas de Caminhos Portos Canais Pontes Fontes e Calccediladas Hei por bem que na minha atual Corte e Cidade do Rio de Janeiro se estabeleccedila uma Academia Real Militar para um Curso completo de Ciecircncias de Observaccedilatildeo quais a Fiacutesica Quiacutemica Mineralogia Metalurgia e Historia Natural que compreenderaacute o Reino Vegetal e Animal e das Ciecircncias Militares em toda a sua extensatildeo tanto de Taacutetica como de Fortificaccedilatildeo e Artilharia [] Dada no Palaacutecio do Rio de Janeiro em quatro de Dezembro de mil oitocentos e dez PRIacuteNCIPE Com Guarda Conde de Linhares (BRASIL 2004 p 3)

Somente apoacutes 1874 a jaacute entatildeo Escola Central desligou-se das atividades militares

vinculando-se agrave Secretaria do Impeacuterio para formar exclusivamente engenheiros civis

Para graduar engenheiro-geoacutegrafo nas deacutecadas finais do seacuteculo XIX o aluno

deveria seguir primeiramente o curso geral cujo curriacuteculo era

1ordm ano Aacutelgebra (teoria das equaccedilotildees e teoria e uso dos logaritmos) Geometria Analiacutetica Geometria no Espaccedilo Trigonometria Retiliacutenea Fiacutesica Experimental Meteorologia Desenho Geomeacutetrico e Topograacutefico

2ordm ano Caacutelculo Diferencial e Caacutelculo Integral Mecacircnica Racional e Aplicaccedilatildeo agraves Maacutequinas Elementares Geometria Descritiva Trabalhos Graacuteficos a respeito da soluccedilatildeo dos principais problemas de Geometria

Descritiva Quiacutemica Inorgacircnica Noccedilotildees de Mineralogia Botacircnica Zoologia (CUNHA 2007 p 96-97)

Apoacutes o curso geral o acadecircmico deveria optar por uma especializaccedilatildeo A do

engenheiro-geoacutegrafo tinha duraccedilatildeo de um ano e correspondia ao segundo ano do

Curso de Ciecircncias Fiacutesicas e Matemaacuteticas ldquo2ordm ano Trigonometria Esfeacuterica

Astronomia (observaccedilotildees astronocircmicas e caacutelculos de astronomia praacutetica)

Construccedilatildeo e desenho de Cartas Geograacuteficas Topografia Geodeacutesia Hidrografiardquo

(CUNHA 2007 p 97) Formaccedilatildeo que natildeo fugia muito da proposta inicial da

Academia

De fato o pragmatismo da eacutepoca conduzia os militares a uma

profissionalizaccedilatildeo das carreiras com postos oficiais ocupados por homens do povo

natildeo mais exclusivamente pela nobreza O poderio militar ampliava sua dimensatildeo de

utilidade ao Estado Para isso o Estatuto que instituiu a Academia Militar prescrevia

um curso com duraccedilatildeo de sete anos para os oficiais de artilharia e engenharia com

disciplinas dos domiacutenios da Matemaacutetica e da Fiacutesica desenho disciplinas de

aplicaccedilotildees a obras de engenharia ciecircncias naturais No quarto ano os Estatutos

preconizavam Trigonometria Esfeacuterica Fiacutesica Astronomia Geodeacutesia Geografia

Geral e Desenho

O ensino militar no Brasil em niacutevel superior estaacute dentre os primeiros a

desenvolver-se sob orientaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e nele a Geografia

encontrou um lugar Lembrando poreacutem que essas referecircncias cientiacuteficas natildeo eram

ainda as que seriam instituiacutedas no Brasil nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX no

caso da Geografia

O que se teria ensinado sob a eacutegide de uma Geografia Geral Qual a

formaccedilatildeo agregada aos engenheiros geoacutegrafos Os militares propunham um

conhecimento mais sistemaacutetico do territoacuterio brasileiro a ser conhecido e produzido

suas cartas sua histoacuteria constitutiva a organizaccedilatildeo urbana os locais estrateacutegicos

o lugar do territoacuterio brasileiro no contexto do mundo Tais espaccedilos eram alvo da

atividade dos egressos da academia Desde o seacuteculo anterior o governo portuguecircs

vinha realizando trabalhos sobre o territoacuterio brasileiro o que pode supor que a

transferecircncia da Corte em 1808 natildeo foi um rompante a despeito da decisatildeo

repentina de embarque

Durante a segunda metade do seacuteculo XVIII expandiram-se ainda no Brasil as obras de cartografia e demais levantamentos realizados pelos engenheiros portugueses em missatildeo oficial que produziram um conjunto de informaccedilotildees detalhadas e ricas acerca das principais caracteriacutesticas fiacutesicas do territoacuterio cujo objetivo primordial era garantir o controle sobre as fronteiras e os recursos naturais [] Durante grande parte do periacuteodo colonial da histoacuteria brasileira a presenccedila de teacutecnicos das mais variadas formaccedilotildees foi [] uma das estrateacutegias baacutesicas de afirmaccedilatildeo do mando metropolitano Em caso dos engenheiros militares em especial essa funccedilatildeo ficava ainda mais evidente Coube exatamente a essa categoria profissional a determinaccedilatildeo de limites e o reconhecimento de aspectos topograacuteficos fundamentais do imenso territoacuterio da Ameacuterica portuguesa As expediccedilotildees comandadas pelos engenheiros militares portugueses tinham ainda um exerciacutecio essencial ndash levantar as condiccedilotildees fiacutesicas para a construccedilatildeo das fortalezas para a defesa do paiacutes (CURY 2002 p 253-254)

Atividades tais evidentemente natildeo poderiam ser desconsideradas por

qualquer administraccedilatildeo puacuteblica Em 1750 Portugal e Espanha haviam assinado o

Tratado de Madri e outro em 1777 o Tratado de Santo Ildefonso Esses tratados

por si soacute abriam um enorme flanco de trabalho no que diz respeito ao territoacuterio da

Colocircnia E havia no iniacutecio dos Oitocentos o conflito napoleocircnico que deixava em

vigilacircncia o Estado portuguecircs

O modelo acadecircmico francecircs foi influente na formaccedilatildeo da Real Academia

Militar Os livros mandados adotar pela Carta Reacutegia que a criou eram

majoritariamente franceses A Geografia contextualizava-se no plano de estudo do

espaccedilo o ldquosistema do mundordquo compreendido fiacutesica e matematicamente com

noccedilotildees precisas de localizaccedilatildeo e representaccedilatildeo acrescendo-se noccedilotildees gerais da

Geografia descritiva Dos autores indicados para esse programa tinham-se os

matemaacuteticos franceses Adrien-Marie Le Gendre (1752-1833) e Nicolas Louis La

Caille (1713-1762) e o fiacutesico francecircs Pierre-Simon de La Place (1749-1827) aos

quais se acrescia a obra do religioso e geoacutegrafo francecircs Abbeacute Nicolle de La Croix

(1704-1760) e do escocecircs John Pinkerton (1758-1826)

O Lente do quarto ano explicaraacute a trigonometria espherica de le Gendre em toda a sua extensatildeo e os princiacutepios de oacutetica catoacuteptrica e dioacuteptrica daraacute noccedilotildees de toda a qualidade de oacuteculos de refraccedilatildeo e de reflexatildeo e depois passaraacute a explicar o sistema do mundo para o que muito se serviraacute das obras de la Caille e de Ia Lande e da mecacircnica celeste de la Place natildeo entrando nas suas sublimes teorias porque para isso lhe faltaria o tempo mas mostrando os grandes resultados que ele tatildeo elegantemente expocircs e dali explicando todos os meacutetodos para as determinaccedilotildees das latitudes e longitudes no mar e na terra fazendo todas as observaccedilotildees com a maior regularidade e mostrando as aplicaccedilotildees convenientes as medidas

geodeacutesicas que novamente daraacute em toda a sua extensatildeo Exporaacute igualmente uma noccedilatildeo das cartas geograacuteficas das diversas projeccedilotildees e das suas aplicaccedilotildees as cartas geograacuteficas e as topograacuteficas explicando tambeacutem os princiacutepios das cartas mariacutetimas reduzidas e do novo meacutetodo com que foi construiacuteda a carta de Franccedila dando tambeacutem noccedilotildees gerais sobre a geografia do globo e suas divisotildees As obras de la Place de la Lande de la Caille e a introduccedilatildeo de la Croix a geografia de Pinkerton serviratildeo de base ao compendio que deve formar e no qual ha de procurar encher toda a extensatildeo destas vistas (BRASIL 2004 p 6 grifos meus)

O Abbeacute Nicolle de la Croix foi o autor da Geacuteographie moderne et universelle

preacutecedeacutee drsquoun Traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomiehellip avec un abreacutegeacute de

la geacuteographie ancienne sacreacutee et eccleacutesiastiquehellip que em 1800 tinha uma nova

ediccedilatildeo refundida por Victor Comeiras em circulaccedilatildeo nas escolas nacionais da

Franccedila como base para cursos de Geografia Possivelmente a Carta refere-se ao

ldquoTratado da Esferardquo texto introdutoacuterio agrave obra divulgado e trabalhado no ensino

desde os jesuiacutetas

A principal obra de Pinkerton por sua vez ndash autor que na Carta eacute remetido

a um aproveitamento maior ndash intitula-se Modern geography a description of the

empires kingdoms states and colonies with the oceans seas and isles in all parts

of the world including the most recent discoveries and political alterations digested

on a new plan obra publicada em dois tomos em 1802 e 1804 de ampla circulaccedilatildeo

na Europa em princiacutepio do seacuteculo XIX com traduccedilotildees para o francecircs e para o

italiano ainda na primeira deacutecada daquele seacuteculo Possivelmente uma vez que a

Carta natildeo explicita o tiacutetulo da obra indicada esta seja a traduccedilatildeo francesa intitulada

Abreacutegeacute de la Geacuteographie Moderne Redigeacutee sur un Nouveau Plan refundida em

1805 por J-N Buache tambeacutem seu tradutor tendo uma segunda ediccedilatildeo ampliada

em 1806 Leva-me a crer tenha sido esta traduccedilatildeo adotada pois aleacutem do influente

modelo francecircs na articulaccedilatildeo da Academia esta obra praticamente remodelada foi

adotada pelo ensino francecircs

Fait sur la traduction franccedilaise de la Geacuteographie moderne de cet auteur et augmenteacute des deacutecouvertes puiseacutees dans les Voyages les plus reacutecens orneacute de neuf cartes revues par J N Buache de lrsquoInstitut National de France [] Revue et corrigeacutee diviseacutee quant agrave lrsquoAllemagne et agrave lrsquoItalie drsquoapregraves le traiteacute de Presbourg de 1805 consideacuterablement augmenteacutee sur-tout relativement agrave la France agrave plusieurs Etats de lrsquoEurope et agrave lrsquoAfrique septentrionale termineacutee par des Eleacutements de Geacuteographie ancienne compareacutee fort eacutetendus disposeacutes dans un ordre nouveau et meacutethodique et speacutecialement adapteacutes agrave la Geacuteographie moderne de Pinkerton [] Ouvrage adopteacute par la

Commission de lrsquoInstruction publique et destineacute pour lrsquoenseignement des Lyceacutees et Eacutecoles secondaires

65

Uma raacutepida anaacutelise da Geografia de Pinkerton se faz necessaacuteria pois foi

influente no ensino de Geografia francecircs que por sua vez foi modelo do ensino de

Geografia brasileiro A obra de Pinkerton foi composta por uma introduccedilatildeo

astronocircmica (escrita pelo reverendo S Vince) seguida por unidades

correspondentes a cada um dos entatildeo quatro continentes ndash Europa Aacutesia Ameacuterica e

Aacutefrica subdividindo-se em capiacutetulos com cada paiacutes do continente Nas observaccedilotildees

preliminares eacute interessante a concepccedilatildeo geograacutefica apresentada se hoje quando

pensamos o mundo e seus territoacuterios pensamos o espaccedilo geograacutefico em sua

totalidade ndash e esta eacute a visatildeo da modernidade geograacutefica ndash a discussatildeo proposta por

Pinkerton poreacutem coloca a questatildeo da divisatildeo do objeto e do saber como uma das

preocupaccedilotildees fundamentais da Geografia possivelmente um debate iniciado a esse

tempo ldquoThe word Geography is derived from the Greek language and implies a

description of the earthrdquo66 O lexema ldquoearthrdquo aqui remontando a discussotildees da

Antiguidade estaacute transitando de ldquoterrardquo para ldquoplaneta Terrardquo O sentido de ldquoterrardquo na

derivaccedilatildeo do termo grego ldquoGeordquo natildeo se referia ao planeta jaacute que este natildeo era um

conceito construiacutedo pelos antigos ndash a totalidade deles eacute bem relativa em referecircncia agrave

mesma percepccedilatildeo no sentido moderno Assim conforme apresenta Pinkerton (1804

p 1) a Geografia contrastaria com a Hidrografia ldquo[] wich signifies a description of

the water that is of seas lakes rives ampc this including marine charts but in

general hydrography is rather regarded as a province of geographyrdquo67 (PINKERTON

1804 p 1) Estes fragmentos apresentam certa dubiedade de circunscriccedilatildeo e

objetividade da Geografia na transiccedilatildeo dos seacuteculos XVIII e XIX jaacute vista e nomeada

como uma ciecircncia testemunhando incertezas para as quais a Geografia Moderna

65

ldquoProduzido a partir da traduccedilatildeo francesa da Geografia moderna do autor e aumentado com as descobertas das viagens mais recentes ornado com nove mapas revista por J N Buache membro do Instituto Nacional da Franccedila [] Revisto e corrigido dividido quanto agrave Alemanha e agrave Itaacutelia de acordo com o Tratado de Presburgo de 1805 aumentado consideravelmente sobretudo em relaccedilatildeo agrave Franccedila e a vaacuterios paiacuteses da Europa e da Aacutefrica do Norte terminando com os Elementos de Geografia antiga comparada dispostos em ordem nova e metoacutedica e especialmente adaptados agrave Geografia Moderna de Pinkerton [] Obra adotada pela Comissatildeo da Instruccedilatildeo Puacuteblica e destinada para o ensino dos Liceus e das Escolas Secundaacuteriasrdquo (Traduccedilatildeo da autora)

66 A palavra Geografia deriva da liacutengua grega e significa a descriccedilatildeo da terra (Traduccedilatildeo da autora)

67 [] que significa uma descriccedilatildeo da aacutegua isto eacute dos mares lagos rios etc este incluindo cartas

mariacutetimas mas em geral a hidrografia eacute bastante considerada como uma proviacutencia da geografia (Traduccedilatildeo da autora)

apresentaria um avanccedilo mas por outro lado evidencia a Geografia Claacutessica em

gestos de independecircncia em relaccedilatildeo agrave Geografia Antiga como demonstra a

seguinte assertiva ldquoboth [Geografia e Hidrografia] were anciently considered along

with astronomy as parts of Cosmography wich aspired to delineate the universerdquo68

(PINKERTON 1804 p 1) Ainda outro problema de recorte e escala eacute colocado

ldquoGeography is more justly contrasted with Chorography wich illustrates a country or

province and still more with Topography wich describes a particular place or small

districtrdquo69 (PINKERTON 1804 p 1) No caminho de afirmaccedilatildeo de uma Geografia

cientiacutefica havia uma oscilaccedilatildeo entre a compreensatildeo da Cosmografia e da

Corografia e a tentativa de conciliaccedilatildeo denominava-se Geografia Geral

What is called General Geography embraces a wide view of the subject regarding the earth astronomically as a planet the grand divisions of land and water the winds tides metereoroly ampc and may extend to what is called the mechanical of part geography in directions for the construction of globes maps and charts

70 (PINKERTON 1804 p 1)

Dentre as demais subdivisotildees da Geografia evidenciadas por Pinkerton

tem-se a Geografia Sacra respaldada nas escrituras a Geografia Eclesiaacutestica a

compreender a administraccedilatildeo da Igreja a Geografia Fiacutesica ndash pelo autor tambeacutem

denominada Geologia Agrave parte todas essas consideraccedilotildees Pinkerton (1808 p 1-2)

apresenta a consideraccedilatildeo popular dessa ciecircncia da qual parece ocupar-se em sua

obra com fronteiras diluiacutedas para aleacutem do domiacutenio interior da Histoacuteria a saber

Geography populary considered is occupied in the description of the various regions of this globe chiefly as being divided among various nations and improved by human art industry If a scientific term were indispensable for this popular acceptation that of Historical Geography might be adopted not only from its professed subservience to history but because it is in fact a narrative so nearly approaching the historical that Herodotus and many other ancient historians have diversified theirs works with large portions of

68

ldquoAmbas [Geografia e Hidrografia] foram antigamente consideradas juntamente com a astronomia como partes da Cosmografia que aspirava delinear o universordquo (Traduccedilatildeo da autora)

69 ldquoA geografia mais aproximadamente contrasta com a corografia que ilustra um paiacutes ou proviacutencia

e ainda mais com a topografia que descreve um determinado lugar ou pequeno distritordquo (Traduccedilatildeo da autora)

70 ldquoO que eacute chamada de Geografia Geral abarca uma visatildeo ampla do assunto sobre a Terra como um

planeta no contexto astronocircmico as grandes divisotildees de terra e aacutegua os ventos as mareacutes a meteorologia etc podendo-se estender agrave construccedilatildeo mecacircnica da Geografia construccedilatildeo de globos mapas e cartasrdquo (Traduccedilatildeo da autora)

geography and the celebrated description of Germany by Tacitus contains most of the materials adopted in modern treatises of geography

71

A Geografia de Pinkerton inicia com consideraccedilotildees gerais sobre o continente

europeu passando a abordar a Inglaterra em quatro enfoques uma abordagem

preliminar sobre os nomes extensatildeo populaccedilatildeo e eacutepocas histoacutericas Geografia

Poliacutetica religiatildeo geografia eclesiaacutestica governo leis populaccedilatildeo colocircnias forccedilas

armadas diplomacia Geografia Civil costumes liacutengua literatura artes educaccedilatildeo

cidades edifiacutecios estradas induacutestrias e comeacutercio Geografia Natural clima solo e

agricultura rios lagos montanhas florestas botacircnica zoologia mineralogia aacuteguas

minerais curiosidades naturais Os demais continentes e paiacuteses satildeo inseridos com

variaccedilotildees nesse enquadramento descritivo

O sentido metodoloacutegico de Pinkerton assim eacute descrever os espaccedilos da

Terra tendo por princiacutepio sua divisatildeo poliacutetica apresentando a onomaacutestica a

estatiacutestica a hierarquia e a Histoacuteria como meios de fazer conhecidas as naccedilotildees

constituiacutedas do mundo de sua eacutepoca Agraves vezes alguns debates satildeo introduzidos

mas como efeitos colaterais sem compor o objetivo da sua constituiccedilatildeo discursiva

como por exemplo quando questiona e se mostra incerto se a populaccedilatildeo exterior agrave

Inglaterra aquela congregada nas colocircnias do impeacuterio seria ou natildeo populaccedilatildeo

inglesa em funccedilatildeo da possiacutevel natildeo permanecircncia da anexaccedilatildeo dos territoacuterios

ocupados

To enumeration of the inhabitants os England may be added many exterior colonies and settements the most important of wich are now in Asia but as the climate of Hindostan is rather adverse to European constitutions it may be doubt whether our settlements there though containing a considerable population can be considered as permanent colonies

72 (PINKERTON 1804

p 41)

71

ldquoA Geografia considerada popularmente ocupa-se da descriccedilatildeo das diversas regiotildees do globo principalmente quanto agrave divisatildeo das vaacuterias naccedilotildees do globo acrescida da produccedilatildeo humana Se um termo cientiacutefico for indispensaacutevel para esta aceitaccedilatildeo popular talvez a denominaccedilatildeo de Geografia Histoacuterica possa ser adotada mas natildeo pela sua subserviecircncia professa agrave histoacuteria mas porque eacute de fato uma narrativa muito aproximada do dizer histoacuterico jaacute que Heroacutedoto e muitos outros historiadores antigos diversificou seus trabalhos com grandes porccedilotildees de geografia tal qual a ceacutelebre descriccedilatildeo da Alemanha por Taacutecito que conteacutem a maioria das mateacuterias aprovadas nos tratados modernos de geografiardquo (Traduccedilatildeo da autora)

72 ldquoPara quantificaccedilatildeo dos habitantes da Inglaterra podem ser adicionados muitas colocircnias e

assentamentos exteriores dos quais os mais importantes estatildeo agora na Aacutesia mas como o clima no Sul Asiaacutetico eacute bastante adverso para as constituiccedilotildees europeias eacute duvidoso que estas colocircnias embora contendo uma populaccedilatildeo consideraacutevel possam ser consideradas como colocircnias permanentesrdquo (Traduccedilatildeo da autora)

Basicamente esta estrutura ldquocontinentenaccedilotildeesrdquo e ldquonaccedilotildeesGeografia

PoliacuteticaGeografia CivilGeografia Naturalrdquo eacute reproduzida como proposta para a

abordagem dos demais continentes e paiacuteses embora natildeo com a extensatildeo da

abordagem dada agrave Inglaterra ou agrave Franccedila na versatildeo adaptada da traduccedilatildeo

francesa

Os trabalhos de La Croix e Pinkerton enquadram-se na tradiccedilatildeo dos grandes

tratados (alguns denominados de Geografia Histoacuterica) atlas e dicionaacuterios

geograacuteficos que surgiram ao longo do seacuteculo XVIII momento em que o saber

geograacutefico dos antigos gregos romanos e outros foram reinterpretados nos

fundamentos cientiacuteficos do Iluminismo constituindo as contribuiccedilotildees uacuteltimas da

Geografia Claacutessica ndash performance anterior agrave Geografia Moderna

Os desdobramentos da Geografia de Pinkerton da sua inclusatildeo como base

para a disciplina da Academia Real Militar do filtro francecircs como modelo e influecircncia

ndash quadros gerais da Geografia Claacutessica ndash tiveram impactos na organizaccedilatildeo do

ensino de Geografia brasileiro ao longo do seacuteculo XIX Dessa fonte surgiratildeo

disciplinas como Astronomia Cosmografia Corografia Geografia Geral Geografia

Universal as Corografia Histoacutericas e seratildeo influentes para a Corografia do Brasil a

Geografia do Brasil Eacute possiacutevel que se natildeo somente Pinkerton mas outros autores

estejam dentre as leituras que referenciaram a primeira geografia brasileira a de

Ayres de Casal alguns anos apoacutes a fundaccedilatildeo da Academia

Kimble (2005) natildeo sem razatildeo denominou a Geografia como a ldquoCinderela

das Ciecircnciasrdquo pelo papel indefinido que cumpriu tanto entre os antigos quanto na

Idade Meacutedia A Geografia ndash saber que mesmo deslocado nunca foi menosprezado ndash

foi defendido como um dos ramos da fiacutesica (como queriam os platocircnicos) e tambeacutem

como um dos ramos da matemaacutetica aplicada (como queriam os aristoteacutelicos) sendo

que estas vertentes introduziram uma das tradiccedilotildees componentes da Geografia

Claacutessica a tradiccedilatildeo matemaacutetica no tratamento do espaccedilo e dos instrumentais

cartograacuteficos Por outro lado os relatos descritivos de outro grego Estrabatildeo na

ordem de trabalhos como o de Heroacutedoto fundaram outra tradiccedilatildeo revalorizada a

partir dos Quinhentos a Geografia como descriccedilatildeo dos povos dos costumes e das

formas de viver

Na Idade Meacutedia a inconsistecircncia de uma unidade para a Geografia tambeacutem

natildeo permitiu que fosse inclusa no Quadrivium (saberes matemaacuteticos constituiacutedos

pela aritmeacutetica muacutesica geometria e astronomia) nem no Trivium (gramaacutetica

dialeacutetica e retoacuterica) Um encaminhamento distinto poreacutem passou a deslocar os

saberes geograacuteficos desse impasse durante a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII

no processo de redescoberta das ciecircncias antigas e da revalorizaccedilatildeo destas na

proposiccedilatildeo das nascentes ciecircncias modernas as tradiccedilotildees de Ptolomeu e de

Estrabatildeo de certa forma se encontraram preanunciando a Geografia que seria

institucionalizada com meacutetodo e com um objeto mais definido (pelo menos no que

diz respeito agrave sua procura) na Alemanha no seacuteculo XIX Para isso foram as

Grandes Navegaccedilotildees o fator antecedente e decisivo a partir das quais ldquo[] um

renovado ardor pelas descobertas geograacuteficas se manifesta e apesar do estado

primitivo da arte da navegaccedilatildeo a aacuterea da lsquoterra coacutegnitarsquo foi ampliada rapidamenterdquo

(KIMBLE 2005 p 257) As ldquogeografias histoacutericasrdquo comeccedilavam a surgir

ultrapassando a simples produccedilatildeo dos documentos cartograacuteficos Delimitar os

espaccedilos e conhececirc-los estava na ordem do dia

Sem duacutevida eacute nestas circunstacircncias que podemos compreender a obra de

La Croix e principalmente a de Pinkerton e outras semelhantes que surgiram com

relativos valores dentre as quais podemos enquadrar a Corografia Brasiacutelica de

Ayres de Casal no caso brasileiro A obra de Casal certamente teve amplo impacto

por preencher uma lacuna importante no que diz respeito a uma sistematizaccedilatildeo dos

conhecimentos sobre o territoacuterio brasileiro

Em uma perspectiva oficial a obra de La Croix e de Pinkerton eacute a mais

antiga referecircncia geograacutefica recomendada pelo Estado para o ensino de Geografia

A Geografia estudada na Academia Militar foi aquela introduzida para as elites

dentre as quais alguns se tornaram futuros lentes do ensino secundaacuterio eou autores

dos livros textos de Geografia Compreender essa Geografia eacute testemunhar o

momento de fecundaccedilatildeo do ensino de Geografia brasileiro

Em um prospecto geral e embora direcionado ao Ensino Superior a Carta

Reacutegia de 04 de dezembro de 1810 tem outra importacircncia ainda para o livro didaacutetico

brasileiro Haacute neste documento uma formalizaccedilatildeo dos livros com o propoacutesito de

estudo na Colocircnia indicando naquele momento uma ponte entre autores de

referecircncia cientiacutefica formaccedilatildeo de curriacuteculo e formaccedilatildeo de uma literatura didaacutetica

propriamente dita Em contexto amplo define aacutereas que deveriam contemplar a

formaccedilatildeo dos engenheiros para o que a Academia foi criada mas natildeo lanccedila em

extensatildeo o curriacuteculo

Para a educaccedilatildeo a Carta Reacutegia reproduz manifestaccedilotildees discursivas que

estavam na ponta da reestruturaccedilatildeo da educaccedilatildeo colonial desde 1808 Para a

Geografia institui pela primeira vez seu ensino O modo de organizaccedilatildeo do ensino

superior teve reflexos na organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio e por extensatildeo do

ensino elementar natildeo em efeito imediato mas ao longo da trajetoacuteria inicial e

posterior da educaccedilatildeo brasileira

Considerando a Carta em um plano geral fiz recortes de fragmentos

discursivos desse documento para uma anaacutelise mais detalhada das orientaccedilotildees que

circunstanciam a emergecircncia de um ensino independente de Geografia no contexto

da educaccedilatildeo proposta

Fragmento 331173

O lente do primeiro ano [] formaraacute o compecircndio ao seu curso e depois explicaraacute a excelente Geometria Trigonometria Retiliacutenea de Le Gendre dando tambeacutem as primeiras noccedilotildees da Trigonometria Esfeacuterica []

Fragmento 3312

O lente deveraacute formar o seu compecircndio debaixo dos princiacutepios de Aacutelgebra Caacutelculo Diferencial e Integral de Le Croix e teraacute cuidado de ir adicionando todos os meacutetodos e novas descobertas que possam ir fazendo-se

Fragmento 3313

O lente do terceiro ano ensinaraacute os princiacutepios de Mecacircnica tanto na Estaacutetica como na Dinacircmica e os da Hidrodinacircmica tanto na Hidrostaacutetica como na Hidraacuteulica e regularaacute seu compecircndio pelos uacuteltimos tratados que maior celebridade merecem servindo-lhe de base aos princiacutepios rigorosos das duas ciecircncias a obra de Francoeur unindo-lhe as aplicaccedilotildees teoacutericas e praacuteticas que puder tirar das excelentes obras de Prony Abade Bossut Fabre e da obra de Gregory []

Fragmento 3314

Deveraacute tirar da obra de Bezout Robins Memoacuterias de Eulero tudo o que toca aos problemas dos projeacuteteis de que deveraacute dar todos os princiacutepios teoacutericos a fim que depois no ano de Artilharia natildeo tenham em tal mateacuteria a ocuparse senatildeo das aplicaccedilotildees praacuteticas deduzidas dos princiacutepios teoacutericos

73

Quando necessaacuterio sequenciar uma ordem de fragmentos para anaacutelise optei por organizar esse conjunto de dizeres pela numeraccedilatildeo da seccedilatildeo seguido de barra e numeraccedilatildeo crescente Os fragmentos natildeo sequenciados natildeo seratildeo numerados

Fragmento 3315

As obras de Laplace La Landre La Caille e introduccedilatildeo de La Croix e a Geografia de Pinkerton serviratildeo de base ao compecircndio que deve formar e no qual haacute de procurar toda extensatildeo destas vistas []

Fragmento 3316

O lente de Fiacutesica formaraacute seu compecircndio sobre os elementos de Fiacutesica do Abade Hauy que nada deixam a desejar em tal mateacuteria quanto aos nossos conhecimentos atuais tendo tambeacutem em vista o Compecircndio de Fiacutesica de Brisson e o que julgue dever aproveitar das obras de outros ceacutelebres fiacutesicos

Fragmento 3317

Formaraacute o seu compecircndio sobre as melhores obras que tem aparecido sobre tatildeo importante mateacuteria seguindo muito agrave primeira parte Guy de Vernon e agrave uacuteltima a obra de Cessac as belas memoacuterias que se acham no Manual Topograacutefico que publica o Arquivo Militar de Franccedila

Fragmento 3318

O lente formaraacute seu compecircndio sobre as melhores e mais modernas obras servindo-se das de Guy de Vernon das Memoacuterias do Abade Bossut Muumlller etc (ESTATUTO 2004 p 5 6 e 7)

Nesses recortes indentificam-se primeiramente um conjunto de sujeitos

constitutivos da instituiccedilatildeo em fundamento e em seguida eacute possiacutevel distinguir um

conjunto de lexemas e sequecircncias discursivas cujos significados e sentidos

reconstituem concepccedilotildees e direccedilotildees propostas agrave educaccedilatildeo formal ao tempo do

estabelecimento da Academia Real Militar

Nos recortes ficam evidenciadas duas categorias de sujeitos os lentes e

diversos autores (Abade Bossut Abade Hauy Bezout Cessac Eulero Fabre

Francoeur Gregory Guy de Vernon La Caille La Landre Laplace Le Croix Le

Gendre Muumlller Pinkerton Prony Robins dentre os mencionados) Os primeiros os

lentes satildeo exortados a determinadas accedilotildees na proposiccedilatildeo de um curriacuteculo e de

suas materialidades a partir das obras dos autores O lexema compecircndio comparece

com um efeito de sentido duplo tanto se refere a uma organizaccedilatildeo dos conteuacutedos

quanto em modo de apreensatildeo agrave construccedilatildeo de materiais para subsidiar o estudo

das quais podemos supor anotaccedilotildees roteiros de aulas apostilas e mesmo os livros

didaacuteticos propriamente ditos Ambos os sentidos confluem deixando essa margem

para interpretaccedilatildeo em sequecircncias discursivas tais como ldquoformaraacute o seu compecircndio

sobre as melhores obras que tem aparecido sobre tatildeo importante mateacuteriardquo ldquoformaraacute

seu compecircndio sobre as melhores e mais modernas obrasrdquo ldquoformaraacute seu compecircndio

sobre os elementos derdquo Na ausecircncia de instituiccedilotildees reguladoras do conteuacutedo eacute

atribuiacutedo ao sujeito-docente e posteriormente como demonstra a histoacuteria dessa

instituiccedilatildeo aos colegiados gestores da Academia a funccedilatildeo de propor ou regular

um programa curricular e suas referecircncias condutoras das relaccedilotildees de ensino e

aprendizagem

Dessa forma tecircm-se de um lado dois lexemas opostos e complementares ndash

obras e compecircndios postos em relaccedilatildeo as primeiras representam as ciecircncias das

quais a seguinte sequecircncia discursiva eacute bem elucidativa quanto ao seu papel

ldquoserviratildeo de base ao compecircndio que deve formar e no qual haacute de procurar toda

extensatildeo destas vistasrdquo os segundos os compecircndios seratildeo regulados pela

apresentaccedilatildeo e formaccedilatildeo de princiacutepios noccedilotildees elementos mateacuteria Esse conjugado

objetiva elaborar mateacuterias a partir das ciecircncias dos princiacutepios destas compor noccedilotildees

e elementos daquelas Entra aqui um dos principais mecanismos de composiccedilatildeo

curricular e da elaboraccedilatildeo da literatura didaacutetica o processo de seleccedilatildeo dispositivo

recorrente na Histoacuteria do Curriacuteculo e da Histoacuteria das Disciplinas Escolares No

documento em anaacutelise haacute um criteacuterio claro comunicado em dois lexemas -

celebridade e ceacutelebres para a seleccedilatildeo das discursividades e sujeitos a serem eleitos

para esta relaccedilatildeo como afirmam as seguintes sequecircncias discursivas ldquoregularaacute seu

compecircndio pelos uacuteltimos tratados que maior celebridade merecemrdquo e ldquotendo tambeacutem

em vista o Compecircndio de Fiacutesica de Brisson e o que julgue dever aproveitar das

obras de outros ceacutelebres fiacutesicosrdquo Selecionados os sujeitos-autores caberaacute aos

sujeitos-professores as accedilotildees prescritivas e deveres constitutivos do saber escolar

ldquodeveraacute tirar da obrardquo ldquoensinaraacute os princiacutepiosrdquo ldquoexplicaraacuterdquo ldquoformar o seu

compecircndiordquo ldquoformaraacute o compecircndiordquo O interessante eacute que a Carta daacute abertura para

que o sujeito-docente tenha nesse processo uma contribuiccedilatildeo a mais que a

sugerida quando o aconselha a ldquoir adicionando todos os meacutetodos e novas

descobertasrdquo

A anaacutelise discursiva da Carta Reacutegia instituinte da Academia Real Militar

exemplifica as circunstacircncias envoltas agrave educaccedilatildeo colonial naquele momento

faltavam instituiccedilotildees matildeo de obra especializada materiais de estudo organizaccedilatildeo

sistecircmica tanto institucional quanto curricular Este eacute o contexto em que pela

primeira vez a Geografia eacute chamada ao processo de instruccedilatildeo no Brasil como

disciplina independente Uma participaccedilatildeo pequena mas importante inaugural E

essa introduccedilatildeo ao ensino geograacutefico estabelecia uma relaccedilatildeo com a Geografia de

Pinkerton e de La Croix por sua vez representativa da Geografia Claacutessica

Este eacute o momento da passagem de um ensino impliacutecito para um ensino

expliacutecito da Geografia

Esta anaacutelise claramente demonstra que as prescriccedilotildees da Carta tinham por

centro a atividade docente Por que essa preocupaccedilatildeo

Repondo uma questatildeo jaacute abordada podemos afirmar que os jesuiacutetas tinham

seus meacutetodos e programas organizados em torno de suas abastadas bibliotecas ndash

para as quais pouco tiveram problemas de financiamento e com as quais

contornavam as dificuldades de custo para o alunado uma vez que os livros entatildeo

eram artigos muito caros importados A educaccedilatildeo pombalina na Colocircnia se viu

desprovida de obras e em paralelo de pessoas qualificadas para o ensino

Consequentemente os livros declinaram muito enquanto instrumental da

metodologia de ensino na vigecircncia das aulas reacutegias A ausecircncia de obras didaacuteticas

e de professores preparados coadunou a decadecircncia e a desarticulaccedilatildeo das

relaccedilotildees de ensino e aprendizagem apoacutes a saiacuteda dos jesuiacutetas e este foi o cenaacuterio

encontrado pelo Estado portuguecircs No seacuteculo XIX a Colocircnia e o Reinado se viram

com a necessidade de compecircndios sobretudo compecircndios secularizados

Neste cenaacuterio antes de as obras didaacuteticas servirem ao estudo dos

discentes tiveram outro papel importante instruir os professores74 e instruiacute-los de

acordo com os preceitos do Estado como bem analisa Bittencourt (2008 p 29)

Os livros que os professores deveriam utilizar foram pensados pelas autoridades brasileiras [] pelo custo e raridade das obras propriamente didaacuteticas [pelo que] impunha-se aos professores o uso de livros de autores consagrados [] Os professores fariam ditados e os alunos copiariam trechos ou ouviriam as preleccedilotildees em sala de aula As propostas de produccedilatildeo de livros escolares concentravam-se primordialmente na elaboraccedilatildeo de textos didaacuteticos para uso exclusivo dos professores dando-se preferecircncia agraves traduccedilotildees

Pensando em especiacutefico o ensino de Geografia natildeo havia obras didaacuteticas

dessa disciplina em portuguecircs nem na Colocircnia nem aleacutem mar Particularmente o

74

Entatildeo inexistiam obras pedagoacutegicas para a formaccedilatildeo dos professores que somente apareceriam concomitantemente ao surgimento das Escolas Normais

conteuacutedo geograacutefico ensinado a partir de La Croix e de Pinkerton assemelhava-se

ao que seria instituiacutedo no ensino secundaacuterio jaacute no Impeacuterio Nos movimentos

posteriores a Geografia descritiva embora permanecesse no ensino politeacutecnico

seria deslocada para os programas do ensino secundaacuterio e sua interface com o

ensino superior se limitaria aos exames de admissatildeo

34 Uma avaliaccedilatildeo da posiccedilatildeo da Geografia como atividade de ensino entre 1549 e 1821 prenuacutencios da formaccedilatildeo de uma disciplina geograacutefica no Brasil

Tendo em vista as abordagens deste capiacutetulo cabe-me introduzir uma

questatildeo importante para esta pesquisa e para a compreensatildeo da literatura didaacutetica

de Geografia no Brasil o que eacute a disciplina Geografia escolar Na tentativa de

discutir essa questatildeo finalizo esse capiacutetulo fazendo uma avaliaccedilatildeo do periacuteodo

antecedente agrave independecircncia poliacutetica do Brasil no que concerne agrave gecircnese da

Geografia escolar

O seacuteculo XIX principalmente a partir da criaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II torna

possiacutevel uma visatildeo completa do que seria a disciplina escolar de Geografia

enquanto um curriacuteculo independente constituiacutedo e instituiacutedo na escola nascido a

par com a Histoacuteria e a partir do qual teria oscilaccedilotildees avanccedilos e retrocessos mas

pronto para desenvolver sua trajetoacuteria proacutepria Mais precisamente quando a

Geografia escolar reuniu nuacutecleos de conhecimentos que antes frequentemente e

mesmo depois cumprindo os objetivos da educaccedilatildeo proposta tiveram e teriam

existecircncia autocircnoma Destes nuacutecleos constituintes posso enumerar a Cartografia a

Cosmografia a Corografia a Geografia Fiacutesica a Geografia Humana ou Poliacutetica

Sobretudo caracterizaria a Geografia escolar como disciplina a circunscriccedilatildeo de

duas escalas geograacuteficas o mundo por um lado e os recortes regionais no espaccedilo

total por outro

A proposta desta pesquisa eacute historicizar e analisar o livro didaacutetico de

Geografia mas esta histoacuteria natildeo se desvincula da histoacuteria da disciplina escolar de

Geografia pois aquela tem laccedilos indissociaacuteveis com esta Desse modo o que

encontramos como contribuiccedilatildeo ao debate que a questatildeo acima suscita no periacuteodo

correspondente ao ensino jesuiacutetico pombalino e joanino

De iniacutecio posso afirmar que o ensino jesuiacutetico aleacutem de fazer presenccedila com

conteuacutedos geograacuteficos como saberes auxiliares agrave conduccedilatildeo do seu meacutetodo

preciacutepuo o prelectio introduziu conteuacutedos que seriam geograacuteficos na educaccedilatildeo

elementar por meio do estudo da Cosmologia disciplina integrante das aulas de

Filosofia O que se seguiu posteriomente natildeo foi necessariamente continuaccedilatildeo

dessas noccedilotildees pois o periacuteodo pombalino significou um rompimento e um retrocesso

em todo o curriacuteculo jesuiacuteta

Contemporaneamente a Cosmologia eacute uma disciplina da Fiacutesica Teoacuterica

embora alguns de seus princiacutepios elementares marquem presenccedila ateacute a atualidade

no ensino de Geografia Funciona ainda como um preacircmbulo ao ensino da

Cartografia O termo vem do grego (κοσμολογία κόσμος cosmosordemmundo e

λογία discursoestudo) em sentido amplo significa o estudo da origem estrutura e

evoluccedilatildeo do Universo Cosmologia eacute uma terminologia atual Para o campo que os

jesuiacutetas utilizavam essa denominaccedilatildeo ao longo do seacuteculo XIX e primeira metade do

seacuteculo XX associada agrave Geografia e agrave Matemaacutetica utilizou-se o termo Cosmografia

No seacuteculo XIX com a autonomia acadecircmica da Geografia a Cosmografia que nunca teve caracteriacutesticas de Ciecircncia independente tombou e cedeu espaccedilo ao desenvolvimento da Cosmologia Moderna e da Cartografia caindo parcialmente em esquecimento universitaacuterio e escolar atualmente (SOBREIRA 2005 p 18)

Na tradiccedilatildeo curricular dos jesuiacutetas o ensino da Cosmografia associava-se

mais particularmente agrave Matemaacutetica embora natildeo deixasse de ser uma introduccedilatildeo ao

estudo da Terra ldquoo Ensino da Astronomia escolar era vinculado agrave Astrologia e agrave

Matemaacutetica [] poreacutem no Brasil os jesuiacutetas ensinavam a Cosmografia []

abalizada no lsquoTratado da Esferarsquo de Sacroboscordquo (SOBREIRA 2005 p 41) Numa

perspectiva histoacuterica para que se compreendam suas implicaccedilotildees com o ensino de

Geografia e portanto com a formaccedilatildeo da disciplina escolar e em sequecircncia o lugar

ocupado na literatura didaacutetica dessa disciplina tem-se que sua trajetoacuteria chegou a

ser independente como disciplina mas se extinguiu na deacutecada de 1930 natildeo sem

antes manter viacutenculos com a Cartografia a Astronomia a Naacuteutica e a Geografia Na

siacutentese de Sobreira (2005 p 25-26) temos o seguinte

[] Na Antiguumlidade ateacute a Idade Meacutedia predominaram os modelos de concepccedilotildees da estrutura do Universo a forma e a posiccedilatildeo coacutesmica da Terra inclusive com as primeiras estimativas das dimensotildees da Terra [] No final da Idade Meacutedia ateacute a Modernidade o destaque foi quanto agrave aplicaccedilatildeo das teacutecnicas astronocircmicas na Naacuteutica por cosmoacutegrafos que atuavam tambeacutem como cartoacutegrafos teacutecnicos de instrumentos astronocircmicos e pilotos Este foi o auge da Cosmografia em uso nas navegaccedilotildees [] Na Idade Moderna teve iniacutecio o Ensino de Cosmografia em escolas jesuiacuteticas poreacutem no final do Renascimento a Cosmografia mundial foi perdendo importacircncia na Naacuteutica [] O seacuteculo XVIII foi o periacuteodo das melhores e mais precisas medidas das dimensotildees e o estabelecimento da forma da Terra ateacute aquele momento [] No seacuteculo XIX ocorreu a influecircncia da Filosofia Positivista de Auguste Comte quanto agrave introduccedilatildeo do Ensino de Astronomia nos manuais didaacuteticos europeus e brasileiros e a publicaccedilatildeo por Humboldt da obra ldquoCosmosrdquo que foi um marco para a estruturaccedilatildeo da Geografia Fiacutesica e tambeacutem para o Ensino da Cosmografia que em consequumlecircncia marcou sua permanecircncia nas escolas brasileiras (Imperial Coleacutegio Pedro II no Rio de Janeiro) como disciplina independente [] A primeira metade do seacuteculo XX se caracterizou pela extinccedilatildeo da disciplina de Cosmografia no Brasil e a sobrevivecircncia dela em conteuacutedos diluiacutedos nas disciplinas de Geografia Ciecircncias e Fiacutesica ateacute os dias atuais [] Poacutes-guerra a Era Astronaacuteutica e da Ecologia Coacutesmica e Planetaacuteria que aproximou a Cosmografia da Geografia escolar ldquoCosmografia Geograacuteficardquo

O termo ldquoCartografiardquo na verdade foi criado apenas no seacuteculo XIX pelo

portuguecircs Visconde de Santareacutem que ldquo[] eacute recordado internacionalmente entre os

estudiosos dos mapas antigos como um dos fundadores dessa aacuterea do saber e

tambeacutem como o autor do termo lsquoCartografiarsquordquo (GARCIA FEIJAtildeO 2006 p 8)

empregado pela primeira vez numa carta de 1839 escrita em Paris para o

historiador brasileiro Francisco Adolpho Varnhagem Na segunda metade dos

Oitocentos o termo teria o uso ampliado denominando uma praacutetica do saber

geograacutefico Pinkerton (1804) por exemplo agrave falta de uma denominaccedilatildeo especiacutefica

chamava as representaccedilotildees dos globos mapas e cartas de ldquopart mechanical of

geographyrdquo De fato estes conteuacutedos eram estudados na Astronomia e

principalmente na Cosmografia Mais aleacutem o ensino jesuiacutetico natildeo foi

Por outro lado na Europa no periacuteodo de vigecircncia do ensino jesuiacutetico e

pombalino na Colocircnia a Geografia passava por um desenvolvimento expressivo

inclusive com as primeiras organizaccedilotildees do ensino desse saber apenas

parcialmente absorvido pelos jesuiacutetas A posiccedilatildeo dos jesuiacutetas corresponde agrave tradiccedilatildeo

geograacutefica do grego Claacuteudio Ptolomeu autor da obra Geographike Syntaxis que

em traduccedilatildeo os aacuterabes nomearam Almagesto forma pela qual influiu o pensamento

sobre o mundo na Idade Meacutedia O conhecimento geograacutefico entre os gregos surgiu

como um estudo descritivo da terra com produccedilatildeo de mapas para localizaccedilatildeo de

territoacuterios Nesse ponto a Cosmografia convergia saberes matemaacuteticos e

astronocircmicos instaurando-se uma linhagem geograacutefica conhecida como Geografia

matemaacutetica (KIMBLE 2005) Orientaccedilatildeo e posiccedilatildeo espacial eram a preocupaccedilatildeo

dominante na Cosmografia como em toda a Geografia matemaacutetica e que se firmou

como um dos modelos que compuseram o ensino de Geografia no seacuteculo XIX

expresso sobretudo no ensino dos conteuacutedos cartograacuteficos O ponto de encontro

das tradiccedilotildees geograacuteficas da Antiguidade na formulaccedilatildeo da Geografia Claacutessica

apresentaraacute condiccedilotildees epistemoloacutegicas para uma concepccedilatildeo de Geografia modelar

para aquela esboccedilada na Colocircnia por ocasiatildeo das institucionalizaccedilotildees

empreendidas por D Joatildeo VI isto eacute na institucionalizaccedilatildeo da Academia Militar

Certamente o estabelecimento da Academia Real Militar mais que

representar o primeiro passo em direccedilatildeo ao ensino de Geografia no Brasil esteve no

processo decisoacuterio para iniacutecio de traduccedilotildees e produccedilotildees de obras didaacuteticas Quatro

anos apoacutes sua fundaccedilatildeo apareciam em especiacutefico no campo geograacutefico os

Elementos de Astronomia de Arauacutejo Guimaratildees75 (1814) autor de compecircndios para

outras disciplinas da Academia Militar da qual foi professor Joseacute Saturnino da

Costa Pereira76 tambeacutem membro da equipe de lentes da Academia dentre outros

tantos seria autor de um dos primeiros compecircndios de Geografia na deacutecada de

1830

75

Manoel Ferreira de Arauacutejo Guimaratildees - Aleacutem de militar (chegou a brigadeiro do Real Corpo de Engenheiros) foi professor da Academia Real Militar onde atuava no 4ordm ano Filho de Manoel Ferreira de Arauacutejo (negociante) e Maria do Coraccedilatildeo de Jesus nasceu na Bahia em 05 de marccedilo de 1777 e faleceu em 24 de outubro de 1838 Iniciou seus estudos aos sete anos no Brasil continuando-os em Lisboa Teve soacutelida formaccedilatildeo em liacutenguas (latim grego francecircs inglecircs italiano) Dentre as suas produccedilotildees bibliograacuteficas constam traduccedilotildees do francecircs e produccedilatildeo de obras teacutecnicas e didaacuteticas nas aacutereas de matemaacutetica astronomia e engenharia militar Foi editor da Revista O Patriota Bibliografia Elementos de Geometria Traduzido de A M Legendre 1809 Tratado de trigonometria por A M Legendre 1809 Variaccedilatildeo dos triacircngulos esfeacutericos para uso da Academia Real Militar 1812 Elementos de astronomia para uso dos alumnos da Academia Real Militar 1815 Manual do engenheiro ou elementos de geometria praacutetica de fortificaccedilatildeo de campanha 1815 Elementos de geodeacutesia para uso dos disciacutepulos da Academia Real Militar 1815 Elementos de geometria de Lacroix 1824 (OLIVEIRA 2005 p 317-318)

76 Joseacute Saturnino da Costa Pereira ndash Nasceu na Colocircnia do Sacramento em 1771 e faleceu no Rio

de Janeiro em 09 de janeiro de 1852 Cursou Ciecircncias Matemaacuteticas na Universidade de Coimbra entre 1802 e 1806 e atuou como engenheiro militar e poliacutetico brasileiro (presidiu a proviacutencia de Mato Grosso e foi senador do Impeacuterio entre 1828 e 1952) aleacutem de ter sido professor da Academia Real Militar Bibliografia Dicionaacuterio Topograacutefico do Impeacuterio do Brasil 1834 Recreaccedilatildeo Moral e Cientiacutefica - 1834-1839 Elementos de Loacutegica 1834 Compecircndio de Geografia Elementar 1836 Elementos de Geodeacutesia 1840 Liccedilotildees Elementares de Oacuteptica 1841 Aplicaccedilatildeo da Aacutelgebra agrave Geometria ou Geometria Analiacutetica 1842 Elementos de Caacutelculo Diferencial e de Caacutelculo Integral 1842 Elementos de Mecacircnica 1842 Elementos de Astronomia e Geodeacutesia 1845 Plano para Divisatildeo das Comarcas Cidades Vilas Povoaccedilotildees e Paroacutequias da Proviacutencia de Mato Grosso 1827-1828 (MORAIS 1940 MAGALHAtildeES 2006)

A chegada da famiacutelia real foi propiacutecia tambeacutem para a educaccedilatildeo das

crianccedilas sendo do periacuteodo da Impressatildeo Reacutegia o surgimento dos primeiros livros

impressos para o puacuteblico infantil embora de modo ainda muito precaacuterio e com

periodicidade esporaacutedica traduccedilotildees de contos e poemas ainda muito tocantes agrave

moral cristatilde comeccedilavam a formar um acervo utilizado no ensino da leitura e da

escrita atividades que contariam ainda alguns anos mais tarde com textos da

Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Coacutedigo Criminal dos Evangelhos Dessa forma em

niacutevel do ensino de primeiras letras temos dentre os primeiros livros didaacuteticos as

Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios

as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal

e historia natural publicado em 1818 de autoria de Joseacute Saturnino da Costa

Pereira obra que teve outras trecircs ediccedilotildees em 1821 1822 e 1824 Este livro dos

primeiros editados no Brasil para o ensino das primeiras letras eacute exemplar pois

demonstra a linha de elaboraccedilatildeo que os livros de leitura assumiriam ao longo do

seacuteculo XIX incluiriam leituras geograacuteficas histoacutericas e literatura com forte teor

ideoloacutegico Esta obra de Pereira marca um diferencial no cataacutelogo da Impressatildeo

Reacutegia jaacute que quase nunca fazia novas ediccedilotildees das obras publicadas

Em um contexto externo ao cenaacuterio da educaccedilatildeo mas muito relacionado ao

futuro do ensino de Geografia e com certeza favorecido pelas condiccedilotildees histoacutericas

do momento surgiu a Corografia braziacutelica do Padre Manoel Ayres de Casal77

(1817a 1817b) A trajetoacuteria exposta acima no tocante ao movimento geograacutefico

introduzido pela criaccedilatildeo da Academia Real Militar e de outras instituiccedilotildees

reestruturadoras do territoacuterio colonial na aacuterea de abrangecircncia da Corte e de sua aacuterea

de influecircncia nos traz um contexto esclarecedor da importacircncia e da recepccedilatildeo da

Corografia braziacutelica

77

Manoel Ayres de Casal ndash Haacute poucas informaccedilotildees biograacuteficas sobre o autor tambeacutem conhecido como Padre Ayres de Casal Eacute controverso por exemplo o local e o ano de nascimento teria sido portuguecircs nascido em Pedroacutegatildeo em 1754 ou teria nascido em Cachoeira cidade baiana em 1757 Faleceu em Portugal em 1821 Aleacutem de sacerdote eacute considerado historiador e frequentemente reconhecido como ldquopai da Geografia brasileirardquo (Saint-Hilare) Escreveu uma obra sistecircmica sobre a Geografia do Brasil a primeira aleacutem de ter sido a primeira obra a imprimir em toda extensatildeo a Carta de Pero Vaz de Caminha embora censurando partes que considerava imoral Apoacutes os estudos preparatoacuterios cursou Teologia e Filosofia exercendo no Brasil a funccedilatildeo de Capelatildeo da Santa Casa de Misericoacuterdia do Rio de Janeiro a partir de 1796 Em 1815 vivia no Crato (Cearaacute) no cargo de presbiacutetero secular Fez parte da comitiva de retorno da Famiacutelia Real a Portugal em 1821 Natildeo se conhece outra obra de Ayres de Casal aleacutem da Corografia Brasiacutelica (BLAKE 1900)

Vlach (1988 p 133) considerando o ensino de Geografia estabelecido a

partir dos programas educacionais instituiacutedos na e apoacutes a deacutecada de 1830

questiona ldquoque geografia estava presente nas escolas secundaacuterias nas escolas

primaacuterias superiores ou complementares nas escolas normais em sua grande

maioria privadasrdquo Dois modelos de Geografia lhe ocorrem a Geografia da Revista

do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro fonte instituiacuteda apoacutes o processo de

autonomia poliacutetica brasileiro e outra que a antecede a Corografia Brasiacutelica

A Corografia de fato foi uma obra lida citada e incorporada com relativa

exaustatildeo por deacutecadas seguidas A influecircncia de Ayres de Casal chegaria ao seacuteculo

XX Ele eacute citado explicitamente pelo menos trecircs vezes em Os Sertotildees por exemplo

obra de Euclides da Cunha (2003 p 137) publicada originalmente em 1902 quando

o autor aborda a funccedilatildeo histoacuterica do Rio Satildeo Francisco quando fala sobre os

primeiros povoadores da Bahia e sobre a relaccedilatildeo destes com os tupiniquins (2003

p 125 126) ndash o que eacute notoacuterio posto que Euclides indicou poucas referecircncias em

seu texto Natildeo que fosse a Corografia a mais completa ou correta obra de Geografia

mas justamente pelo seu maior meacuterito ocupar a seu modo a ausecircncia de um saber

abrangente e sistematizado para tanto e diverso territoacuterio como o do Brasil Mesmo

Ayres de Casal sabia das limitaccedilotildees e deslizes de sua obra tanto que no periacuteodo

antecedente agrave sua morte preparava uma segunda ediccedilatildeo reformulada como narra

Moraes (1858 p 111-112)

O padre Manoel Ayres do [sic] Casal depois de imprimir e publicar em 1817 no Rio de Janeiro a sua Corographia Brasiacutelica continuou a trabalhar nesta obra para dar della uma segunda ediccedilatildeo ampliada e corrigida com as sua observaccedilotildees e outras que lhe foratildeo suggeridas por Joseacute Bonifaacutecio de Andrada que entatildeo era secretario perpetuo da academia de sciencias de Lisboa e por outras pessoas igualmente idocircneas que leratildeo e estudaratildeo a sua obra

Regressou para Portugal levando comsigo a sua segunda ediccedilatildeo jaacute completa que pretendia ali publicar Antes disso falleceu em casa de Fr Joaquim Damaso Encontrou um sobrinho deste com loja de gracador na rua do Oiro e outros parentes em Sacavem dos quaes soube que os papeis de Fr Joaquim e do padre Ayres tinhatildeo sido vendidos a peso nas tendas de Lisboa O sobrinho da rua do Oiro deu ao conselheiro Drummond alguns manuscriptos que por acaso restavatildeo marcado com um M e a coroa real sobreposta que tinhatildeo pertencido a seu tio e disse que alguns Brasileiros jaacute o tinhatildeo procurado para saberem da segunda ediccedilatildeo da Corographia do padre Ayres natildeo sabendo elle o caminho que ella tinha levado

Fazemos votos para que tatildeo precioso manuscripto natildeo tenha cahido nas matildeos assassinas de algum taberneiro e que possa apparecer aacute luz da imprensa ainda que seja sob diverso nome de seu verdadeiro autor

Evidentemente esses originais nunca reapareceram Em geral Ayres de Casal tem

sido avaliado com perspectivas anacrocircnicas Caio Prado Jr (1961 p 182)

reconhece com muitas restriccedilotildees o meacuterito da Corografia ldquoexcluamos o desataviado

da linguagem a puerilidade do estilo da apresentaccedilatildeo e de certas afirmaccedilotildees e

podemos comparar a Corografia Basiacutelica a qualquer uma das obras claacutessicas de

geografia do seu tempordquo Prado Jr (1955) ajuiacuteza o autor e obra por dois acircngulos

primeiro pela imprecisatildeo cientiacutefica e desvirtuamento das contribuiccedilotildees cientiacuteficas da

eacutepoca segundo pelo meacutetodo ldquoestanquerdquo o que teria originado uma obra mais

literaacuteria que cientiacutefica ldquo[] natildeo satildeo apenas rudimentos de ciecircncia que faltam ao

nosso autor Natildeo se percebe nele vocaccedilatildeo ou instinto cientiacutefico algum isto eacute

qualidade de observaccedilatildeo anaacutelise comparaccedilatildeo e siacutentese que fazem a base do

pensamento nas ciecircnciasrdquo (PRADO Jr 1955 p 53) Este parecer natildeo eacute correto se

recontextualizado A Corografia eacute sim uma obra de siacutentese de sistematizaccedilatildeo reuacutene

em um sistema conhecimentos dispersos por mais questionaacuteveis que sejam as

fontes de sua pesquisa e por si apresenta pela primeira vez uma visatildeo geograacutefica

sobre o territoacuterio brasileiro nunca antes empreendida nesta escala

Metodologicamente inspira-se nos modelos dos tratados geograacuteficos do seu tempo

para fazer recortes e delimitaccedilotildees espaciais e para fazer conhecidos esses espaccedilos

a partir de determinadas categorias de conteuacutedos Eacute possiacutevel que Casal tenha lido

Pinkerton La Croix e outros geoacutegrafos como mencionei anteriormente sobretudo

por serem autores postos pela proposta educacional da Coroa portuguesa para o

ensino na Academia Militar sendo proacuteximos os laccedilos de Casal com a Corte Sua

obra muito se assemelha a tratados histoacuterico-geograacuteficos de seu tempo ou em

circulaccedilatildeo na Colocircnia do iniacutecio do XIX como a Geografia de Pinkerton

O Renascimento e o Iluminismo foram os movimentos caracteriacutesticos nos

seacuteculos XVI e XVII que propiciaram uma reinterpretaccedilatildeo dos saberes e artes antigos

procurando um desenvolvimento que foi responsaacutevel pelo surgimento da ciecircncia

moderna De acordo com Foucault (2005a p 16-17)

[] por volta do seacuteculo XVI e do seacuteculo XVII (na Inglaterra sobretudo) apareceu uma vontade de saber que antecipando-se a seus conteuacutedos atuais desenhava planos de objetos possiacuteveis observaacuteveis mensuraacuteveis classificaacuteveis uma vontade de saber que impunha ao sujeito cognoscente (e de certa forma antes de qualquer experiecircncia) certa posiccedilatildeo certo olhar

e certa funccedilatildeo (ver em vez de ler verificar em vez de comentar) uma vontade de saber que prescrevia (e de um modo mais geral do que qualquer instrumento determinado) o niacutevel teacutecnico do qual deveriam investir-se os conhecimentos para serem verificaacuteveis e uacuteteis

Esta brilhante interpretaccedilatildeo ao mesmo tempo em que sintetiza o espiacuterito

cientiacutefico do Iluminismo a vontade de saber e sua diferenciaccedilatildeo funcional sobretudo

para os campos dos conhecimentos exatos e bioloacutegicos indica como a Geografia

encontrou dificuldades para sua definiccedilatildeo para estabelecer seu meacutetodo quando

tudo o que podia ser posto como seu objeto nada mais era do que o volume de

civilizaccedilatildeo habitante do planeta A descriccedilatildeo como meacutetodo na transiccedilatildeo da

Geografia Antiga-Claacutessica para uma Geografia Moderna terminou por enveredar

esse saber em direccedilatildeo a um inventaacuterio do mundo e de suas regiotildees A posteridade

avaliaria essa tradiccedilatildeo como exaustiva seu ensino de maccedilante ambos quase

inuacuteteis

Mas para a Geografia o caminho natildeo foi de flores As Geografias possiacuteveis

foram a de La Croix de Pinkerton de Casal bases das primeiras publicaccedilotildees

didaacuteticas de Geografia ateacute o seacuteculo XIX demonstrar outros caminhos outras

abordagens que chegaram ao ensino poreacutem bem mais tarde

No proacuteximo capiacutetulo passo a abordar a constituiccedilatildeo e a institucionalizaccedilatildeo

da disciplina Geografia e a emergecircncia de uma bibliografia didaacutetica desta disciplina

durante o Impeacuterio entre 1822 e a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica

CAPIacuteTULO 4

DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA ESCOLAR NO IMPEacuteRIO (1822-1889) o estabelecimento de uma disciplina e de

uma bibliografia didaacutetica

Editar obras juriacutedicas ou escolares natildeo eacute mui difiacutecil a necessidade eacute grande a procura certa

Machado de Assis A Semana 08101893 no dia seguinte ao falecimento do editor Garnier

O regime imperial do Brasil apoacutes o processo de independecircncia poliacutetica

outorgado em 1822 trouxe ao territoacuterio brasileiro a condiccedilatildeo da nacionalidade Isso

significaria muito para todas as instacircncias da vida brasileira Significou tambeacutem para

a educaccedilatildeo e para o ensino de Geografia O periacuteodo joanino fora feacutertil no

estabelecimento de instituiccedilotildees e no esboccedilo de um aparelho de Estado se se

considerar o curto periacuteodo de sua duraccedilatildeo e ainda que atento agraves necessidades do

Estado portuguecircs Basicamente essa atuaccedilatildeo local foi levada a termos e

literalmente quanto a ser local a beneficiaacuteria direta dessas transformaccedilotildees foi uma

cidade o Rio de Janeiro e o restante do territoacuterio se beneficiou apenas do que

atendendo agrave Corte sobrepujava ou se permitia

A primeira reorientaccedilatildeo imposta por essa nacionalidade portanto foi a

questatildeo da integraccedilatildeo territorial no sentido de construir uma administraccedilatildeo puacuteblica

desenvolver uma cultura amadurecer um povo ndash na perspectiva da unicidade ou do

que se poderia denominar ldquointeresses nacionaisrdquo A educaccedilatildeo evidentemente foi

objetivo e meio dessa proposta partiacutecipe da grande questatildeo histoacuterica do Impeacuterio no

periacuteodo inicial a centralizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo dos atos poliacuteticos entre a Corte

e as proviacutencias Nos primeiros anos de um Estado genuinamente brasileiro apoacutes o

processo de autonomia poliacutetica de 1822 o Brasil teve outorgada sua primeira

Constituiccedilatildeo (1824) a qual especificamente para o ensino previa um ldquosistema

nacional de educaccedilatildeordquo que alcanccedilasse o territoacuterio brasileiro e flexionasse uma

organizaccedilatildeo de niacuteveis e graus garantindo-se ademais a gratuidade do ensino

primaacuterio Esse projeto teve execuccedilatildeo muito rudimentar tolhido por investimentos

precaacuterios e pela vontade das elites de manter a concentraccedilatildeo geograacutefica e

demograacutefica do acesso ao ensino medida que os privilegiava e contribuiacutea para a

manutenccedilatildeo das posiccedilotildees sociais e econocircmicas que detinham De qualquer forma o

notaacutevel nesse movimento legislador foi a organizaccedilatildeo e a orientaccedilatildeo do ensino

puacuteblico e privado passarem a ser do Estado brasileiro fato que certamente gerou

numerosos e conflituosos embates com a Igreja Catoacutelica e internamente entre

conservadores e liberais que por todo o Impeacuterio e deacutecadas iniciais da Repuacuteblica

trariam transformaccedilotildees significativas ao ensino brasileiro

O Artigo 179 da Constituiccedilatildeo do Impeacuterio instruiu o acesso gratuito agrave

educaccedilatildeo reforccedilado por lei em 1827 quanto ao ensino primaacuterio que foi instituiacutedo na

maioria das localidades habitadas do Brasil mas de forma completamente precaacuteria

escolas sem materiais impressos com professores despreparados e mal

remunerados com infraestrutura aqueacutem do necessaacuterio De fato ateacute a deacutecada de

1930 com raras exceccedilotildees a atuaccedilatildeo do Impeacuterio e da Repuacuteblica restringia-se ao

ensino secundaacuterio e superior Apesar de avanccedilos isolados na educaccedilatildeo do Brasil

apenas ao findar do seacuteculo XIX a educaccedilatildeo em conjunto sistecircmico passou por

melhorias

A revoluccedilatildeo da educaccedilatildeo brasileira comeccedilou mais ou menos no uacuteltimo ano do Impeacuterio quando os poliacuteticos finalmente tomaram consciecircncia do atraso da naccedilatildeo e a crescente prosperidade do comeacutercio cafeeiro proporcionou os recursos necessaacuterios pelo menos no centro e no sul do paiacutes (HALLEWELL 2005 p 281)

Natildeo se trata apenas de um desenvolvimento horizontal ndash quantitativo e

econocircmico ndash mas de uma verticalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo com melhorias nos meacutetodos

de ensino o que permitiu a ascensatildeo do livro didaacutetico ao niacutevel do consumo de

massa Mas ateacute laacute o processo educacional ndash enquanto elementos e dinacircmicas ndash

desenvolve-se de forma muito lenta a constituiccedilatildeo histoacuterica da bibliografia didaacutetica

coloca claras evidecircncias desse fazer o que se nota no iacutendice das ediccedilotildees pois

apenas na segunda metade do seacuteculo XIX surgiriam obras geograacuteficas com

reediccedilotildees produzindo os primeiros best-sellers se assim se pode dizer da

bibliografia didaacutetica de Geografia como indica as obras de Thomaz Pompeu de

Souza Brasil Eudoro Brasileiro Berlink e sobretudo Joaquim Maria de Lacerda

Observando a Tabela 01 eacute possiacutevel ter uma visatildeo em um periacuteodo quase

coeso com a delimitaccedilatildeo dessa tese e ao longo do desenvolvimento demograacutefico

do comportamento da educaccedilatildeo brasileira desde o penuacuteltimo ano do periacuteodo joanino

ateacute meados do seacuteculo XX embora os dados censitaacuterios sejam bastante deficitaacuterios e

natildeo sejam confiaacuteveis devido agrave manipulaccedilatildeo de resultados em alguns periacuteodos

poliacuteticos

TABELA 01 ndash Populaccedilatildeo e educaccedilatildeo no Brasil ndash 1820-1950

Fonte Almeida (1989) Hallewell (2005 p 249 375) Ribeiro (2001 p 81) Org e Adapt Jeane Medeiros Silva 2008

De acordo com estes dados o comportamento educacional nas linhas dos

alfabetizados e das matriacuteculas nos ensinos primaacuterio e secundaacuterio eacute extremamente

desarticulado da linha de progressatildeo do crescimento demograacutefico houve um

crescimento interno nas matriacuteculas mas sempre distantes do total da populaccedilatildeo Os

Ano Populaccedilatildeo Alfabetizados Matriacutecula

Primaacuterio Secundaacuterio

1820 4000000 20000 - -

1863 - - - 8600

1869 9650000 125017 11529

1872 10010000 1560000 139325 9389

1875 10690000 - 172802 -

1878 - - 175714 -

1883 - - - 10427

1888 13670000 - 258302 -

1889 266084 24889

1890 14330000 2120559 - -

1900 17320000 4448681 - -

1907 20860000 - 638378 20000

1920 30640000 7793357 1250729 50000

1925 - - 1700000 -

1930 33570000 - 2084000 83000

1935 37150000 - 24135947 93829

1940 41110000 - 3302830 170057

1945 46220000 - 3496664 256467

1950 51980000 - 5175887 406920

nuacutemeros do ensino primaacuterio e secundaacuterio satildeo ascendentes natildeo haacute nenhuma

involuccedilatildeo no processo com exceccedilatildeo do contorno de 1869 para 1872 quanto ao

secundaacuterio Contudo apenas para exemplificar tomando os dados de 1869 em

relaccedilatildeo ao total demograacutefico tem-se apenas 12 da populaccedilatildeo frequentando o

ensino primaacuterio e 011 o secundaacuterio no uacuteltimo desses anos 1950 seriam 99 de

matriculados no ensino primaacuterio e 078 no ensino secundaacuterio De acordo com o

Censo de 1950 em termos absolutos 887 da populaccedilatildeo com mais de cinco anos

de idade era analfabeta

Todavia se a distacircncia entre populaccedilatildeo e educaccedilatildeo eacute alta no interior da

educaccedilatildeo as disparidades satildeo igualmente marcantes As matriacuteculas entre o ensino

primaacuterio e o ensino secundaacuterio satildeo desproporcionais com a mesma amplitude Natildeo

estaacute indicado na tabela o ensino superior mas este seria ainda muito mais desigual

se comparado ao ensino secundaacuterio e muito mais ainda se comparado ao ensino

primaacuterio Os dados demonstram claramente o comportamento numeacuterico da

educaccedilatildeo no Brasil mas sobretudo estes satildeo indiacutecios dos problemas poliacuteticos e

sociais que nunca tiraram nesse periacuteodo a educaccedilatildeo da estagnaccedilatildeo O coeficiente

de acesso agrave educaccedilatildeo formal sempre esteve aqueacutem do desenvolvimento

demograacutefico revelando-se um serviccedilo precaacuterio e elitizado com iacutendices muito altos

de analfabetismo e iacutendices muito baixos de indiviacuteduos com qualificaccedilatildeo teacutecnica

Este eacute o cenaacuterio no qual o ensino de Geografia vai amadurecer seu

processo constitutivo ascender como uma das disciplinas regulares do ensino

baacutesico e constituir uma bibliografia de estudo

41 A educaccedilatildeo brasileira e o ensino de Geografia no periacuteodo Imperial

Nas deacutecadas iniciais do Impeacuterio houve alguma expansatildeo das escolas

primaacuterias nas proviacutencias centradas no ensino de leitura escrita caacutelculo Houve a

fundaccedilatildeo de Liceus e Coleacutegios nas proviacutencias No entanto as escolas de primeiras

letras continuaram em nuacutemero reduzido em relaccedilatildeo agrave demanda enfrentando

dificuldades como a falta de professores preparados ou motivados a seguir carreira ndash

em face disso surgem as primeiras escolas normais em Niteroacutei (1835) Bahia

(1836) Cearaacute (1845) e Satildeo Paulo (1846) e outras nos anos e deacutecadas seguintes O

ensino secundaacuterio por sua vez teve como marco amplamente reconhecido pelos

historiadores da educaccedilatildeo a criaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II na capital em 1837

orientado para a formaccedilatildeo de bachareacuteis em Letras grau que dispensava seus

estudantes de exames de admissatildeo no ensino superior Representa pela primeira

vez uma formaccedilatildeo de fato em niacutevel do secundaacuterio pois ateacute entatildeo este ensino natildeo

dispunha de nenhuma titulaccedilatildeo aos seus frequentes apenas exercendo a

intermediaccedilatildeo preparatoacuteria em direccedilatildeo ao ensino superior preparaccedilatildeo instituiacuteda

pelos jesuiacutetas e continuada pelas aulas avulsas O Coleacutegio Pedro II assim foi

concebido para ser padratildeo e modelo nacional para o ensino secundaacuterio do restante

do paiacutes concretizando um plano antecedido como tentativa de congregaccedilatildeo dos

cursos avulsos nas atividades dos primeiros liceus fundados nas proviacutencias e

anteriores ao Coleacutegio o Liceu do Rio Grande do Norte (1834) o da Bahia e o da

Paraiacuteba (ambos em 1836) Coube ao Coleacutegio Pedro II a adoccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de

meacutetodos e conteuacutedos e isso seraacute extremamente influente no processo de produccedilatildeo

de manuais didaacuteticos de Geografia No periacuteodo o ensino superior diferenciou-se da

eacutepoca de D Joatildeo VI pela criaccedilatildeo no Rio de Janeiro de um curso juriacutedico (1825)

aleacutem da inauguraccedilatildeo de algumas instituiccedilotildees cientiacuteficas a Academia de Belas Artes

(1831) e o Observatoacuterio Astronocircmico (1827) entre outras que surgiratildeo

O Coleacutegio Pedro II e os cursos juriacutedicos influenciaram diretamente na

consolidaccedilatildeo da Geografia como disciplina

A maior parte das publicaccedilotildees didaacuteticas relacionadas na bibliografia desta

pesquisa se direciona ao ensino secundaacuterio O ensino de Geografia introduzido

como disciplina no ensino superior ganhou forccedilas no ensino secundaacuterio e

posteriormente ampliou-se para o ensino primaacuterio ndash onde participou de um processo

significativo de nacionalizaccedilatildeo

Como se deu esse processo De antematildeo eacute importante sublinhar que todos

esses movimentos foram articulados e regidos por um agente preciacutepuo o Estado

brasileiro

411 Da Assembleia Constituinte de 1823 ao Ato Adicional de 1834 o entreposto da consolidaccedilatildeo da Geografia como disciplina

O Estado brasileiro de fato do seacuteculo XIX em diante foi o grande agente

articulador da educaccedilatildeo seja pela sua presenccedila em niacutevel de forccedila legisladora seja

pelas lacunas deixadas por sua ausecircncia que criavam respostas como as iniciativas

e o fomento do setor privado sobretudo o confessional Como visto anteriormente a

ordenaccedilatildeo do ensino brasileiro com raiacutezes no tempo de D Joatildeo VI comeccedilou com o

ensino superior O ensino de Geografia jaacute existia formalmente desde o periacuteodo

joanino e implicitamente desde os jesuiacutetas Com surgimento no interior do ensino

superior significava que na formaccedilatildeo de base concentrava-se nos estudos

posteriores ao letramento isto eacute nos estudos secundaacuterios preparatoacuterios ao ingresso

no ensino superior concentrado portanto nas aulas avulsas e nas transformaccedilotildees

pelas quais este sistema passaria

Esse primeiro curriacuteculo exposto em lei contudo natildeo isenta o ensino de

elementos de Geografia no ensino primaacuterio pois desde a Colocircnia havia

recomendaccedilotildees de acordo com Issler (1972 p 38) para o ensino de conteuacutedos

com enquadramento na Histoacuteria e na Geografia

Portanto natildeo sendo o ensino de Geografia introduzido ainda por toda

extensatildeo do ensino elementar tem o segundo passo ndash sendo o primeiro o lugar

aferido no espaccedilo disciplinar disposto na formaccedilatildeo militar de niacutevel superior ndash nas

cadeiras puacuteblicas e nas liccedilotildees particulares de cunho preparatoacuterio ao ingresso no

ensino superior Desde os anos 1810 havia aulas avulsas de Geografia se natildeo no

ensino puacuteblico pelo menos na iniciativa privada para o que corrobora o surgimento

de livros didaacuteticos no iniacutecio da deacutecada de 1820 sendo que o preparatoacuterio para as

carreiras militares eacute com certeza da deacutecada de 1810 Isso porque nos primeiros

anos a Geografia foi objeto de exame para a carreira militar mas natildeo o era para os

cursos de Medicina e Direito o que somente aconteceria apoacutes o segundo lustre do

seacuteculo XIX Dentre alguns exemplos tem-se na proviacutencia do Maranhatildeo em Satildeo

Luiacutes a criaccedilatildeo da cadeira de Geografia em 11 de novembro de 1831 na proviacutencia

de Paraiacuteba do Norte em 07 de junho de 1831 na capital entatildeo denominada Paraiacuteba

(Felipeia) na proviacutencia do Piauiacute em 23 de julho de 1833 na cidade de Oeiras na

proviacutencia de Pernambuco em Olinda foi criada em 07 de setembro de 1930

(ALMEIDA 1989)

Terceiro passo nesse processo de consolidaccedilatildeo da Geografia como

disciplina tem-se em 1837 a fundaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II a Geografia

estabeleceu-se definitivamente como uma das disciplinas do curriacuteculo escolar

brasileiro pois desde entatildeo natildeo seria prescindido do ensino secundaacuterio ndash presenccedila

que ademais aferiu sua inserccedilatildeo na educaccedilatildeo primaacuteria pois o ingresso no ensino

secundaacuterio tambeacutem se dava por exames que incluiacuteam conteuacutedos geograacuteficos

Portanto os exames de admissatildeo variavam e de iniacutecio a Geografia nem

sempre foi exigecircncia Pode-se supor que nesse momento havia um movimento

espiralado quanto agrave definiccedilatildeo das bases culturais sobre as quais assentar a

formaccedilatildeo superior o comum eram as habilidades de escrita e leitura o que

assegura a presenccedila da Retoacuterica o domiacutenio de liacutenguas traccedilo indispensaacutevel agrave

interaccedilatildeo entre a cultura universal necessariamente o Latim seguido do Francecircs e

ocasionalmente do Inglecircs conhecimentos matemaacuteticos conhecimentos filosoacuteficos

e numa zona fronteiriccedila insinuam-se a Histoacuteria e a Geografia O conhecimento

histoacuterico e geograacutefico distanciado da realidade claacutessica e antiga foram

necessidades construiacutedas na medida em que amadureciam as perspectivas

nacionais agrave medida que a formaccedilatildeo superior impunha funccedilotildees sociais que

transpunham os limites de uma educaccedilatildeo escolaacutestica Como visto anteriormente a

Geografia na Real Academia Militar marca uma presenccedila ao mesmo tempo teacutecnica

ndash no sentido da orientaccedilatildeo e representaccedilatildeo espacial ndash e cultural no sentido de

apresentar o mundo e sua descriccedilatildeo aos cursistas passados os tumultuados anos

1820 eacute a partir do amadurecimento do Brasil como paiacutes ou melhor da exposiccedilatildeo de

necessidades da naccedilatildeo das tentativas de organizar e ordenar o territoacuterio que o

saber histoacuterico e geograacutefico passa a vivenciar a experiecircncia da educaccedilatildeo

Criada por lei de 11 de agosto de 1827 os cursos juriacutedicos de Satildeo Paulo e

Olinda exigiam que os ingressantes fossem aprovados em Francecircs Latim Retoacuterica

Filosofia Racional e Moral e Geometria Todavia mais tarde com a aprovaccedilatildeo dos

Estatutos dos Cursos de Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais do Impeacuterio em 07 de novembro

de 1831 a habilitaccedilatildeo necessaacuteria a ser demonstrada nos exames foi ampliada

Latim Francecircs Inglecircs Retoacuterica Filosofia Racional e Moral Aritmeacutetica e Geometria

Histoacuteria e Geografia (HAIDAR 1972) periacuteodo concordante com a institucionalizaccedilatildeo

de cadeiras puacuteblicas para o ensino avulso de Geografia

A partir dessa normativa foram criados coleacutegios de artes preparatoacuterias dos

cursos juriacutedicos Em 1854 a Geografia passaria a ser exame tambeacutem para os

cursos de Medicina por meio do decreto n 1387 de 28 de abril daquele ano mas

entatildeo a Geografia jaacute era uma das disciplinas regulares do ensino secundaacuterio papel

consolidado na institucionalizaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II Como ressalta Haidar (1972)

ao longo do seacuteculo XIX o ensino secundaacuterio foi simples preparatoacuterio para o ingresso

no ensino superior e a partir da deacutecada de 1830 a presenccedila de exames de

Geografia na admissatildeo a esse ensino foi o marco de consolidaccedilatildeo dessa disciplina

Tem-se assim nos anos de 1830 dois marcos regulatoacuterios e consolidadores da

Geografia como disciplina do ensino de base os exames preparatoacuterios e a criaccedilatildeo

do Coleacutegio Pedro II (1837)

As primeiras propostas para uma educaccedilatildeo nacional apoacutes a

regulamentaccedilatildeo do Impeacuterio foram discutidas na Assembleia Constituinte de 1823

mas seus projetos natildeo integraram a constituiccedilatildeo de 1824 porque esta foi dissolvida

antes que fossem levados a termo Dentre as discussotildees havia a proposiccedilatildeo de

estabelecer um sistema de instruccedilatildeo puacuteblica e gratuita o que apareceu no texto final

da Carta uma vez que a gratuidade da educaccedilatildeo foi aferida na Constituiccedilatildeo de

1824 quando no Artigo 179 o Estado promulgou a seguinte garantia ldquoA

inviolabilidade dos Direitos Civis e Politicos dos Cidadatildeos Brazileiros que tem por

base a liberdade a seguranccedila individual e a propriedade eacute garantida pela

Constituiccedilatildeo do Imperio pela maneira seguinterdquo descrevendo dentre os previstos

no inciso XXXII que ldquoA Instrucccedilatildeo primaria eacute gratuita a todos os Cidadatildeosrdquo (BRASIL

1824 p 19 21) Essa gratuidade nunca efetivada plenamente ou com afericcedilatildeo

satisfatoacuteria em razatildeo da estrutura extremamente deficitaacuteria da instruccedilatildeo puacuteblica

imperial praticamente desapareceu na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica em 1891

(CHIZZOTTI 2001)

O principal problema da primeira constituiccedilatildeo brasileira foi a excessiva

centralizaccedilatildeo das decisotildees poliacutetico-administrativas que desencadearia dois outros

atos legislativos com relevacircncia e maior praticidade para a educaccedilatildeo nacional a Lei

de 15 de outubro de 1827 e o Ato Adicional agrave Constituiccedilatildeo do Impeacuterio de 1834

ambos com indicativos claros de descentralizaccedilatildeo do poder da Corte mas sempre

com supervisatildeo desta

Por conseguinte em 1827 a Lei de 15 de outubro se tornou a primeira

legislaccedilatildeo de fato sobre a instruccedilatildeo puacuteblica no Impeacuterio cujo texto orientava a

organizaccedilatildeo do ensino elementar a ser criado nas cidades vilas e locais mais

populosos das proviacutencias Para isso atribuiacutea aos presidentes das proviacutencias a

marcaccedilatildeo do nuacutemero e localidades das escolas atribuindo-lhes ainda a extinccedilatildeo de

escolas menos funcionais por nuacutemero de acesso reordenando os professores

disponiacuteveis ndash o que ainda centralizava as decisotildees pois os presidentes natildeo

poderiam ldquocriarrdquo efetivamente os estabelecimentos (Art 2ordm) fixou os salaacuterios dos

professores (Art 3ordm) recomendou o ensino muacutetuo78 (Art 4ordm) disponibilizou os

recursos da Fazenda Puacuteblica para aparelhar as instituiccedilotildees e capacitar os

professores em curto prazo (Art 5ordm) instituiu exames puacuteblicos para admissatildeo de

docentes e as condiccedilotildees para assumir uma cadeira (Art 7ordm e 8ordm) previu as

condiccedilotildees para a educaccedilatildeo feminina bem como seu curriacuteculo e para a atuaccedilatildeo de

professoras (Art 11ordm e 12ordm) estabeleceu os castigos previstos pelo meacutetodo

Lancaster (Art 15ordm) e sobretudo pela primeira vez em legislaccedilatildeo estabeleceu um

quadro curricular para o ensino primaacuterio em seu Art 6ordm

Os professores ensinaratildeo a ler escrever as quatro operaccedilotildees de arithimetica pratica de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais de geometria pratica a grammatica de lingua nacional e os principios de moral cristatilde e da doutrina da religiatildeo catolica e apostolica romana proporcionados aacute compreensatildeo dos meninos preferindo para as leituras a Constituiccedilatildeo do Imperio e a Historia do Brasil (BRASIL 1827 p 71)

Percebe-se nessas disposiccedilotildees legais que o ensino primaacuterio apresentava

parcialmente um ato poliacutetico de coesatildeo para a sociedade nacional que emergia com

o novo regime administrativo e estado territorial impotildee a gramaacutetica nacional da

liacutengua portuguesa e faz preferidas a legislaccedilatildeo e a histoacuteria nacional como subisiacutedio agrave

leitura O ensino de Geografia natildeo eacute expliacutecito nessa proposta mas seus viacutenculos

satildeo indiretos conforme lembra Vlach (1988 2005) de forma que por algum tempo

78

O ensino muacutetuo tambeacutem conhecido por ldquomeacutetodo muacutetuordquo ou ldquomeacutetodo monitorialrdquo e consistia em um professor apenas ensinar a um nuacutemero grande de alunos por meio do auxiacutelio de monitores os quais eram escolhidos entre os alunos mais avanccedilados em termos da aprendizagem A instruccedilatildeo dos monitores era agrave parte mantendo a capacitaccedilatildeo para lidar com a decuacuteria ou grupo de 10 alunos em monitoramento (NEVES 2007)

a educaccedilatildeo geograacutefica no acircmbito do ensino primaacuterio manteve as condiccedilotildees e as

caracteriacutesticas das escolas de ler e escrever atuantes desde os jesuiacutetas e

perpetuadas nos periacuteodos seguintes presente mas natildeo incidente e nem explicitada

A implementaccedilatildeo dessa instruccedilatildeo ocorreu contudo nas condiccedilotildees

possiacuteveis agraves proviacutencias e dependente da vontade poliacutetica dos gestores puacuteblicos e

de acordo com os interesses das classes dirigentes predominando sempre a

ausecircncia de estruturas apropriadas e de matildeo de obra qualificada (RIBEIRO 2001

HALLEWELL 2005) o que fez prevalecer as condiccedilotildees remontantes agraves aulas de

letramento quando passaram para a eacutegide do Estado em 1772 sem que nada de

significativo melhorasse ou ampliasse a educaccedilatildeo primaacuteria

Eacute evidente que o Estado reagia agraves criacuteticas e agrave insatisfaccedilatildeo geradas pela

qualidade ruim que os rudimentos da educaccedilatildeo nacional apresentavam Percebe-se

que o governo tinha ciecircncia da necessidade de a instruccedilatildeo ter uma propagaccedilatildeo

raacutepida e ordenada e o sucesso do meacutetodo Lancaster entre os ingleses pareceu

inspirar essa decisatildeo (CHIZZOTTI 2001) Este meacutetodo tinha amplo reconhecimento

entre os militares (NEVES 2007) pela disciplina que impunha e por centrar na

memorizaccedilatildeo e na repeticcedilatildeo como meio eficaz de aprender aleacutem de dispersar a real

demanda de professores de organizaccedilatildeo e limpeza do espaccedilo escolar ndash atividades

cobertas por monitores selecionados dentre os proacuteprios alunos O ensino muacutetuo

tinha uma experiecircncia precedente pois havia sido normalizado pelo decreto de 1ordm de

marccedilo de 1823 que criava na Corte uma escola de primeiras letras orientada por

esse meacutetodo A disciplina era tida em primazia por um estado em formaccedilatildeo

necessitado de espiacuterito militar e de composiccedilotildees administrativas Poreacutem jaacute na

deacutecada seguinte os relatoacuterios do governo indicariam a permanecircncia do quadro

caoacutetico da instruccedilatildeo puacuteblica e a ineficaacutecia do meacutetodo intuitivo bem como a peacutessima

qualidade do ensino ofertado (SUCUPIRA 2001) sendo portanto abandonado

Apoacutes a Lei de 15 de outubro o proacuteximo passo significativo para a educaccedilatildeo

brasileira e por extensatildeo para o ensino de Geografia foi o Ato Adicional de 1834

aprovado pela Lei n 16 de 12 de agosto deste ano O Ato foi a uacutenica emenda

apresentada agrave Constituiccedilatildeo de 1824 suscitou um amplo debate sobre a

centralizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo entre o poder geral e a autonomia das proviacutencias

sendo relevante por ter criado as Assembleias Legislativas Provinciais as quais no

campo da educaccedilatildeo puacuteblica dentre outros atos administrativos poderia gerir e

legislar

Sobre instruccedilatildeo puacuteblica e estabelecimentos proacuteprios a promovecirc-la natildeo compreendendo as faculdades de medicina os cursos juriacutedicos academias atualmente existentes e outros quaisquer estabelecimentos de instruccedilatildeo que para o futuro forem criados por lei geral (Ato Adicional de 1834 Artigo 10 sect 2 Apud BONAVIDES ANDRADE 1991 p 595)

O Ato terminou por ser um marco para a educaccedilatildeo nacional sobretudo por

eximir o poder central de responsabilidades sobre o ensino puacuteblico que natildeo fosse o

da Corte sufocando os projetos em discussatildeo sobre a instruccedilatildeo elementar

colocados desde a Assembleia Constituinte de 1824 pois descentralizada a

responsabilidade sobre sua organizaccedilatildeo e sustentaccedilatildeo viu-se um quadro de

desorganizaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo estabelecido no cenaacuterio geral do ensino

(AZEVEDO 1963) Com isso houve um fortalecimento do ensino secundaacuterio e

primaacuterio na iniciativa privada com a educaccedilatildeo das elites concentrando-se nas

escolas confessionais O poder central encarregou-se da educaccedilatildeo do municiacutepio do

Rio de Janeiro considerado neutro e responsabilizando-se pelo ensino superior

existente e natildeo criando as proviacutencias outros passou a ter influecircncia direta na

organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio no que tange aos objetivos e agrave organizaccedilatildeo

curricular

Destinando-se precipuamente ao preparo de candidatos para as escolas superiores do Impeacuterio o ensino secundaacuterio em todo o paiacutes com um ou outro acrescentamento com uma ou outra lacuna reproduzia em seu curriacuteculo o conjunto de disciplinas fixadas pelo Centro para os exames de ingresso nas Academias (HAIDAR 1972 p 19)

Ateacute o Ato Adicional o ensino secundaacuterio ainda estruturava-se na forma de aulas

avulsas tradiccedilatildeo instituiacuteda pelos jesuiacutetas e mantida no periacuteodo pombalino com a

denominaccedilatildeo de ldquoaulas reacutegiasrdquo No ensino puacuteblico existiam de modo bastante

reduzido concentradas nos seminaacuterios e no Coleacutegio da Serra do Caraccedila aleacutem de

alguns estabelecimentos provinciais ldquo[] um punhado de aulas de latim retoacuterica

filosofia geometria francecircs e comeacutercio Somadas tocircdas as aulas puacuteblicas providas

entatildeo existentes na Cocircrte e nas proviacutencias mal se ultrapassava uma centenardquo

(HAIDAR 1972 p 20) O Atheneu Norte-Riograndense por exemplo fundado em

03 de fevereiro de 1834 pelo entatildeo presidente da Proviacutencia Quaresma Torreatildeo

autor de um compecircndio de Geografia surgiu para reunir em uma mesma instituiccedilatildeo

as disciplinas das Humanidades que antes sediavam-se em estabelecimentos

diferentes Filosofia Retoacuterica Geometria Francecircs e Latim A partir do Ato Adicional

houve a tentativa de estruturar o ensino secundaacuterio nas proviacutencias tentando sua

equiparaccedilatildeo ao Coleacutegio Pedro II alguns anos mais tarde

O Ato Adicional promulgou portanto agraves proviacutencias o poder de legislar sobre

a instruccedilatildeo puacuteblica primaacuteria e secundaacuteria agindo diretamente sobre os

estabelecimentos poreacutem com supervisatildeo do poder geral algo que praticamente

inexistiu a preocupaccedilatildeo do poder imperial nunca excedeu os limites da comarca da

Corte embora o centro natildeo deixasse de ser referecircncia e modelo Essa duacutebia

descentralizaccedilatildeo foi vital para o desenvolvimento de estabelecimentos de ensino

secundaacuterio na extensatildeo do paiacutes e para iniciar o processo de organizaccedilatildeo do ensino

secundaacuterio Esse processo culminou na transformaccedilatildeo do Seminaacuterio de Satildeo

Joaquim no Coleacutegio Pedro II em 02 de dezembro de 1937 em decreto consignado

pelo Ministro da Justiccedila Interino Bernardo Pereira de Vasconcellos ndash fato que

interessa diretamente agrave gecircnese da Geografia como disciplina institucionalizada no

ensino secundaacuterio

412 Curriacuteculo e ensino de Geografia no Impeacuterio o papel do Coleacutegio Pedro II

O surgimento do Coleacutegio Pedro II seguiu o modelo dos liceus franceses e

apresentou uma reforma educacional importante (restrita a ele de iniacutecio) introduziu

os estudos simultacircneos e seriados o que oscilou as aulas avulsas como perspectiva

de organizaccedilatildeo curricular ndash processo que iniciaria o enfraquecimento dessa

organizaccedilatildeo do ensino dos preparatoacuterios cuja presenccedila passou a ser oscilante ateacute

sua extinccedilatildeo definitiva nos anos 1870 ndash passando a aprovaccedilatildeo a ser por seacuterie e

natildeo por disciplina e introduziu o curriacuteculo obrigatoacuterio como curso regular de seis a

oito anos assim colocado no Art 3ordm do Decreto de 02 de dezembro de 1937 que

instituiu o coleacutegio ldquoNeste collegio seratildeo ensinadas as linguas latina grega franceza

e ingleza rhetorica e os princiacutepios elementares de geographia historia philosophia

zoologia mineralogia botanica chimica physica arithmetica algebra geometria e

astronomiardquo (BRASIL 1837)

A extensatildeo do curriacuteculo do Coleacutegio Pedro II cobria a necessidade de

preparatoacuterios para qualquer curso acadecircmico do paiacutes e um pouco aleacutem visto

objetivar por si uma formaccedilatildeo completa que habilitaria o egresso com o bacharelado

em Letras e a posse desse tiacutetulo permitiria a admissatildeo em qualquer curso superior

sem a necessidade de exames Contudo o Coleacutegio jaacute nascia com um desafio a

enfrentar concorrer com os estabelecimentos particulares que ofereciam

preparatoacuterios em um tempo muito inferior aos oito anos do curso do Pedro II

O ano de 1837 teve mudanccedilas poliacuteticas importantes que favoreceram as

transformaccedilotildees no cenaacuterio da instruccedilatildeo puacuteblica da Corte dentre as quais a renuacutencia

do regente79 Diogo Antonio Feijoacute (1784-1843) passando a constituir um novo

ministeacuterio Pedro de Arauacutejo Lima (1793-1870) o que trouxe uma renovaccedilatildeo ao

cenaacuterio poliacutetico concretizando antigas discussotildees quanto agrave educaccedilatildeo (DOacuteRIA

1937) A imprensa os relatoacuterios provinciais os discursos nas cacircmaras legislativas jaacute

de algum tempo colocavam em pauta a necessidade de melhorar a instruccedilatildeo

puacuteblica solicitando a reuniatildeo e a fiscalizaccedilatildeo das aulas avulsas em uma uacutenica

instituiccedilatildeo (HAIDAR 1972) como indica o relatoacuterio despachado para a Assembleia

Legislativa em 1835 pelo presidente da proviacutencia do Rio de Janeiro Joaquim Joseacute

Rodrigues Torres

[] fora meu parecer que quando mesmo se julgasse dever continuar inteiramente gratuito o ensino dessas mateacuterias [da instruccedilatildeo avulsa] conviera reunir em collegios e em tres ou quatro differentes pontos da Proviacutencia todas as Cadeiras jaacute creadas e que se houverem de crear Assim tornava-se mais faacutecil a disciplina destes estabelecimentos e a despeza com que o Estado deve carregar achar-se-haacute mais modica e proficua (BRASIL 1850 p 3-4)

A posiccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II no cenaacuterio geral da instruccedilatildeo secundaacuteria do

Impeacuterio foi legitimar e de certa forma padronizar os saberes escolares

O Coleacutegio Pedro II foi criado para ser uma instituiccedilatildeo escolar paradigmaacutetica natildeo soacute no que diz respeito agrave sua organizaccedilatildeo e funcionamento mas tambeacutem em relaccedilatildeo aos saberes que por ele deveriam ser veiculados O fato de que os conteuacutedos a serem ministrados assim como os compecircndios

79

Apoacutes o retorno de D Pedro I a Portugal ficou em seu lugar D Pedro II ainda infante pelo que o paiacutes era governado por regecircncias

adotados pelos professores soacute poderem vigorar a partir da aprovaccedilatildeo legal dos legisladores de entatildeo deixa expliacutecita a tentativa de exercer um controle sobre a cultura a ser legitimada (ROCHA 1996 p 61)

Isto estaacute enunciado nas palavras do ministro Bernardo Pereira de Vasconcellos no

discurso proferido por ocasiatildeo da abertura das aulas do Coleacutegio em marccedilo de 1838

quando afirma ser ldquo[] intento do Regente Interino criando este Collegio []

offerecer hum exemplar ou norma aos que jaacute se acham instituiacutedos nesta Capital por

alguns particulares convencido como estaacute de que a educaccedilatildeo collegial he preferiacutevel

agrave educaccedilatildeo privada80rdquo (VASCONCELLOS 1937 p 274)

Essa posiccedilatildeo era partiacutecipe dos entrelaccedilos do projeto poliacutetico de legitimar a

Monarquia e civilizar a naccedilatildeo com padrotildees inspirados no modelo europeu liderado

pela elite poliacutetica representante dos ideais econocircmicos e intelectuais pactuados e

representados pela classe do Estado Era incipiente entatildeo o sentimento de

pertenccedila a uma paacutetria brasileira no acircmbito geral do territoacuterio nacional ainda

permeado da influecircncia portuguesa povoado por migrantes e descentes diretos de

migrantes A nacionalidade brasileira foi um modelado principiado nas deacutecadas

iniciais do Impeacuterio amadurecido e consolidado ao longo do seacuteculo XIX (VLACH

1988 ANDRADE 1999) e era uma forma de contrapor as ameaccedilas internas e

externas que rondavam o jovem territoacuterio independente dentre as quais as rebeliotildees

e conflitos armados em diversas proviacutencias o receio de perder sua base de

sustentaccedilatildeo econocircmica ndash a matildeo de obra escrava ndash por pressatildeo da Inglaterra o

receio de uma recolonizaccedilatildeo portuguesa Nesse projeto de nacionalidade no

tocante agrave educaccedilatildeo teve-se a criaccedilatildeo dos cursos juriacutedicos de Satildeo Paulo e Olinda

(1827) a fundaccedilatildeo do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro e do Arquivo

Nacional (1838) dos primeiros liceus provinciais e escolas normais e a proacutepria

criaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II estatildeo como consolidaccedilatildeo desse projeto civilizador O

Coleacutegio particularmente emergia como instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo daqueles que

conduziriam os rumos do paiacutes quanto agrave organizaccedilatildeo nacional emergente para uma

ldquomocidaderdquo que aiacute aprenderia ldquo[] a independecircncia da virtude a firmeza de caraacuteter

a energia e o valor da sciencia a pureza da moral e o respeito da Religiatildeo [e o que

isso] tem de dar aacute Pratria aacute naccedilatildeo aacute Liberdade ao Throno e ao Altar servidores

fieacuteis honra e gloacuteria do nome Brasileirordquo como anunciado pelo ministro Vasconcellos

80

Subtende-se aiacute uma criacutetica ao modelo de oferta avulsa de disciplinas

(1937 p 275) no discurso supracitado sendo ele um dos nomes poliacuteticos atuantes

por uma unidade nacional (SOUZA 1937) e sendo essa considerada uma tarefa de

ldquodedicaccedilatildeo patrioacuteticardquo conforme palavras do ministro

De fato Moises (2007 p 126) apoacutes analisar diversos documentos da eacutepoca

da institucionalizaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II incluindo a repercussatildeo da nascente

imprensa fluminense conclui que

a formaccedilatildeo organizada e defendida pelos principais mentores da iniciativa governamental de 1837 natildeo estava de fato preocupada em oferecer uma instruccedilatildeo que atendesse agrave grande maioria da populaccedilatildeo constituiacuteda majoritariamente de analfabetos mas buscava por meio da educaccedilatildeo uma maneira de consolidar a unidade nacional ameaccedilada constantemente naquele momento O Coleacutegio Pedro II ao ter como prioridade a restauraccedilatildeo das disciplinas claacutessicas pretendeu assegurar uma formaccedilatildeo aos alunos que poderiam chegar a posiccedilotildees de destaque no paiacutes relacionadas em especial agrave direccedilatildeo poliacutetica de modo que pudessem contribuir para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da nacionalidade brasileira

Sendo a supervisatildeo do Estado uma forma de controle este significa a

implementaccedilatildeo de objetivos do estado a configuraccedilatildeo dos sujeitos de acordo com

uma proposta oficial ndash que natildeo era outra a natildeo ser a formaccedilatildeo de nacionais como

explicita Vasconcellos (1937 p 274 ndash grifos meus)

Soacute assim [com a implementaccedilatildeo do Coleacutegio e seu regulamento] deixaratildeo receios infundados de tomar a natureza de difficuldades reaes soacute assim se evitaraacute o escacircndalo de estylos arbitraacuterios e porventura oppostos agraves providecircncias e agraves intenccedilotildees do Governo e a mocidade de par com as doutrinas que hatildeo de formar o seu coraccedilatildeo e aperfeiccediloar a sua intelligecircncia aprenderaacute a respeitar as leis e as instituiccedilotildees e conheceraacute as vantagens da subordinaccedilatildeo e da obediecircncia

A accedilatildeo do Estado nesse momento no campo educacional queria elevar o

paiacutes para ombrear as naccedilotildees civilizadas agindo portanto nos cursos superiores e

notadamente no que interferisse no acircmbito deles como eacute o caso dos preparatoacuterios e

do ensino secundaacuterio O fio condutor dessas accedilotildees era no miacutenimo a criaccedilatildeo de

modelos Se o Ato Institucional de 1834 deixara para as proviacutencias a organizaccedilatildeo da

instruccedilatildeo puacuteblica por outro atrelou os exames do ensino superior ndash instacircncia

educacional aos cuidados diretos do Estado ndash ao Coleacutegio Pedro II por conseguinte

influindo no ensino privado e no pequeno nuacutemero de instituiccedilotildees de instruccedilatildeo

secundaacuteria surgentes nas proviacutencias em particular em Pernambuco Bahia Paraiacuteba

e Rio Grande do Norte (HAIDAR 1972)

O curriacuteculo do Coleacutegio Pedro II posteriormente foi incorporado pelo disposto

nos exames de admissatildeo ao ensino superior como deixa claro a Portaria de 4 de

maio de 1856 (apud HAIDAR 1972 p 82) cujo teor era a regulaccedilatildeo do ensino

preparatoacuterio e que afirmava o seguinte em dois de seus artigos

Art 7ordm Os compecircndios e livros usados nas aulas de preparatoacuterios seratildeo os mesmos que tiverem sido ou forem adotados pelo govecircrno para a instruccedilatildeo secundaacuteria Os professocircres guiar-se-atildeo em suas explicaccedilotildees pelo sistema do programa dos estudos das aulas secundaacuterias da Cocircrte e segundo as instruccedilotildees que para ecircsse fim receberem o diretor

Art 8ordm Para a execuccedilatildeo do artigo antecedente o inspetor geral da instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria do Municiacutepio da Cocircrte enviaraacute aos diretores das Faculdades natildeo soacute a relaccedilatildeo dos compecircndios e livros aprovados para uso das aulas de ensino secundaacuterio e 30 exemplares do referido programa como tambeacutem lhes comunicaraacute imediatamente qualquer alteraccedilatildeo que haja neste objeto

Por si soacute essa medida jaacute impunha o modelo curricular do coleacutegio como orientaccedilatildeo

para os demais estabelecimentos de ensino do paiacutes Para Vechia Lorenz (1998 p

VII)

[] os programas de ensino do Coleacutegio exerceram influecircncia ainda que de forma indireta sobre as escolas secundaacuterias existentes nos meados do seacuteculo XIX e as que surgiram em nuacutemero crescente ateacute o final do impeacuterio e inclusive nos primeiros anos da Repuacuteblica Com a chegada da corte portuguesa ao Brasil foram criados cursos de niacutevel superior nas aacutereas de Medicina e Engenharia e posteriormente na de Direito A partir de 1838 o Coleacutegio Pedro II passou a desempenhar o importante papel de preparar os alunos para entrar nessas instituiccedilotildees [] O curriacuteculo era um mecanismo utilizado na tentativa de conciliar os interesses do ensino superior e os objetivos proacuteprios do ensino secundaacuterio Os demais coleacutegios eram incentivados a adequar os seus curriacuteculos e programas aos do Coleacutegio de Pedro II principalmente a partir de 1854 quando os exames preparatoacuterios passaram a ser realizados em conformidade com os programas daquela instituiccedilatildeo A loacutegica exigia portanto a adoccedilatildeo da emulaccedilatildeo desses programas pelos coleacutegios provinciais e particulares

Essa trajetoacuteria iniciou-se em 1838 totalizando ateacute o fim do Impeacuterio 10 atos

legais de regulaccedilatildeo da estrutura pedagoacutegica da grade curricular e dos saberes a

serem ministrados no Pedro II81 Essa legislaccedilatildeo determinou a organizaccedilatildeo do

81

No periacuteodo republicano ateacute meados do seacuteculo XX o Coleacutegio contaria ainda com mais oito programas (VECHIA LORENZ 1998)

ensino secundaacuterio e delimitou os espaccedilos que a Geografia assumiu na grade das

disciplinas escolares

O primeiro destes atos foi o Regulamento n 8 de 31 de janeiro de 1838 que

consolidou os estudos claacutessicos como plano de ensino e aprendizagem mas

abrindo espaccedilo para liacutenguas modernas e disciplinas cientiacuteficas estudos entatildeo

considerados modernos Organizado em oito seacuteries distribuiacutedas em seis anos e

executadas por disciplinas simultacircneas a Geografia foi inserida na 8ordf e 7ordf seacuteries

com cinco liccedilotildees semanais e na 6ordf seacuterie com uma liccedilatildeo semanal Este regulamento

predispunha 239 artigos estabelecendo orientaccedilotildees para os diversos aspectos

relacionados ao funcionamento da instituiccedilatildeo como sintetiza Joaquim Manoel de

Macedo (1991 p 202)

[] marcando as funccedilotildees do reitor vice-diretor professocircres e todos os empregados estabelecendo o plano de estudos dividindo o ensino em oito aulas ou anos letivos em que se devia ensinar gramaacutetica portuguecircsa latim grego francecircs inglecircs geografia histoacuteria retoacuterica e poeacutetica e filosofia Matemaacuteticas compreendendo aritmeacutetica aacutelgebra geometria trigonometria e mecacircnica Astronomia Histoacuteria natural compreendendo zoologia botacircnica e mineralogia Ciecircncias fiacutesicas compreendendo fiacutesica e quiacutemica Desenho e muacutesica vocal Especificando o enxoval dos alunos as condiccedilotildees para o bacharelado o regime econocircmico e tudo enfim quanto era de mister que focircsse regulado

O ministro Vasconcellos na elaboraccedilatildeo dos estatutos do Coleacutegio Pedro II

consultou a organizaccedilatildeo dos estudos secundaacuterios na Pruacutessia Holanda e Franccedila

procurando adaptar ao caso nacional o que parecia mais conveniente os mais

influentes foram os estatutos franceses agraves vezes literalmente copiados (DORIA

1937) Em pronunciamento na Cacircmara dos Deputados no ano da transformaccedilatildeo do

Seminaacuterio Satildeo Joaquim no Coleacutegio o ministro Vasconcelos intencionou a orientaccedilatildeo

de elevar os estudos de Humanidades e das liacutenguas claacutessicas no Brasil (ANAIS DA

CAcircMARA DOS DEPUTADOS 1837 p 117) agrupando seacuteries para em primeiro

lugar os estudos claacutessicos de Gramaacutetica Retoacuterica Poeacutetica Filosofia Latim e

Grego As inovaccedilotildees curriculares contaram com o ensino da Gramaacutetica Nacional

duas liacutenguas vivas o Francecircs e o Inglecircs Histoacuteria e Geografia aleacutem de Matemaacutetica

Ciecircncias Naturais Muacutesica e Desenho

O Inglecircs e o Francecircs inseriam-se pelo reconhecimento de que eram

necessaacuterias para uma comunicaccedilatildeo aleacutem das fronteiras sendo ainda formas para

aquisiccedilatildeo de conhecimentos sobre cultura ciecircncias e artes em um momento em

que o latim declinava como linguagem universal do saber formal Da mesma forma

a matemaacutetica e as ciecircncias impunham-se paulatinamente como plataforma para o

desenvolvimento ou desempenho cientiacutefico e tecnoloacutegico Sem duacutevida tratava-se de

um curriacuteculo influenciado pelas ideias liberais que percorriam todos os cantos da

Europa esclarecida

Em fins da deacutecada de 1830 o ensino de Geografia por sua vez jaacute era um

paracircmetro em qualquer discussatildeo curricular para o ensino elementar A presenccedila da

Geografia na grade curricular do Pedro II notadamente eacute uma das influecircncias do

modelo francecircs de ensino secundaacuterio no qual haacute tempos figurava essa disciplina

como parte da formaccedilatildeo dos sujeitos nacionais Mas natildeo somente pois a essa altura

da formaccedilatildeo do paiacutes a necessidade de um ensino espacial nos processos de

escolarizaccedilatildeo se impunha no debate geral sobre a educaccedilatildeo Para exemplificar

veja-se a posiccedilatildeo da imprensa um dos veiacuteculos de oposiccedilatildeo ao status poliacutetico dos

regentes monaacuterquicos em veiculaccedilatildeo desde 1827 foi o jornal Aurora Fluminense

Essa folha em relaccedilatildeo agrave transformaccedilatildeo do Seminaacuterio de Satildeo Joaquim (que educava

crianccedilas pobres) no Coleacutegio Pedro II criticou severamente a subversatildeo social que

essa institucionalizaccedilatildeo representou

O estabelecimento das classes pobres foi transformado em monopoacutelio da instrucccedilatildeo do rico Disemos do rico e em todo rigor do termo porque soacute uma porccedilatildeo miacutenima da nossa sociedade a mais abastada poderaacute participar hoje das vantagens do collegio Pedro II tatildeo levantadas satildeo as condiccedilotildees da admissatildeo para aquelle estabelecimento cujas formas gymnasticas satildeo o grego e o latim (AURORA FLUMINENSE 1838 f 3)

E como representantes da sociedade civil apresentam uma proposta de ensino ndash

sem luxos claacutessicos como o aprendizado das liacutenguas grega e latina ndash que atendesse

agrave populaccedilatildeo como um todo na qual se inclui o ensino geograacutefico

Nos fariacuteamos ensinar no Seminaacuterio de S Joaquim os elementares princiacutepios das letras e algumas ideacuteias gerais das sciencias ensino comum e conforme a necessidade de todas as proffissotildees Eis aqui quaes seriam as mateacuterias drsquoeste ensino 1 da liacutengua materna aprendendo-se da grammaacutetica tatildeo somente aquillo que eacute essencial para entender a construcccedilatildeo do discurso 2 um epithome que nrsquouma colleccedilatildeo de maacuteximas explique de um modo curto e claro o systema solar as leis do movimento da attracccedilatildeo e da gravidade 3 outro cathecismo de geographia feito conforme o mesmo plano 4 uma synopsis de chronologia e de histoacuteria geral que de uma succinta e poreacutem compreensiva relaccedilatildeo dos principais acontecimentos do mundo 5

noccedilotildees geraes de psycologia e de moral 6 um cathecismo poliacutetico onde explicada fosse a constituiccedilatildeo do estado a importacircncia das leis a necessidade dos tributos os princiacutepios porque regula o uso da moeda e o valor das cousas e finalmente as ideacuteias as mais geraes relativas ao commeacutercio a agricultura e a industria 7 as lingoas francesa e inglesa (AURORA FLUMINENSE 1838 f 3 ndash grifos meus)

Nos primeiros anos os professores foram empossados e indicados pelo

governo sendo selecionados dentre representantes da inteligecircncia oitocentista A

cadeira de Histoacuteria e Geografia por exemplo foi ocupada inauguralmente por

Justiniano Joseacute da Rocha Durante a vigecircncia do Impeacuterio a Cadeira de Histoacuteria e

Geografia separadas na deacutecada de 1850 quando passou a existir entatildeo uma

caacutetedra exclusiva para a Geografia foi ocupada pelo cocircnego Dr Marcelino Joseacute de

Ribeiro Silva Bueno (1840 Geografia e Histoacuteria) Joatildeo Baptista Caloacutegeras (1847

Geografia e Histoacuteria) Dr Joaquim Manoel de Macedo (1849 Corografia e Histoacuteria

do Brasil) Frei Camilo de Monserrat (1850 Geografia e Histoacuteria) Joatildeo Antonio

Gonccedilalves da Silva (1855 Histoacuteria Geral e Geografia) Pedro Joseacute de Abreu (1858

Geografia) Dr Francisco Joseacute Xavier (1879 Geografia) Joatildeo Capistrano de Abreu

(1883 Corografia e Histoacuteria do Brasil)

No curriacuteculo de Ciecircncias alguns dos conteuacutedos ensinados seriam mais

tarde incorporados ao ensino de Geografia sobretudo os relacionados agrave Geografia

Fiacutesica eacute o caso da Geologia e da Mineralogia Contudo jaacute na primeira formaccedilatildeo

curricular do Pedro II conforme mencionado anteriormente a Geografia comparece

nas trecircs primeiras seacuteries com um total de seis liccedilotildees semanais cinco nos primeiras

e uma na sexta seacuterie (Quadro 04) Somente apoacutes o aluno ter adquirido noccedilotildees

gerais de Geografia no primeiro ano passava a estudar Histoacuteria a partir do segundo

e em todos os anos

QUADRO 04 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1838

Ano Seriaccedilatildeo Disciplinas Geograacuteficas Observaccedilotildees

1838

Regulamento n 8 de 31 de janeiro de 1838 (Coleacutegio Pedro II)

S

ecun

daacuteri

o d

e 8

Seacuteri

es 0

6 A

nos 8ordf e 7ordf

Seacuteries Geografia 5 liccedilotildees semanais

6ordf Seacuterie Geografia 1 liccedilatildeo semanal

5ordf e 4ordf Seacuterie

-

3ordf Seacuterie -

2ordf Seacuterie -

1ordf Seacuterie -

Fonte Brasil (1838) Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Em primeiro de fevereiro de 1841 o Regulamento n 62 que fez algumas

alteraccedilotildees no estatuto do Coleacutegio implementado em 1838 estabeleceu um curso de

sete anos para a integraccedilatildeo curricular do bacharelado sendo proposto ldquo[] uma

redistribuiccedilatildeo das mateacuterias pelas diferentes seacuteries com o objetivo de melhor atender

ao desenvolvimento intelectual dos alunosrdquo (HAIDAR 1972 p 102) Certa

observaccedilatildeo da aptidatildeo e do raciociacutenio dos alunos enquanto capacidade intelectual

foi considerada em outros termos a capacidade de memorizaccedilatildeo habilidade

pedagoacutegica apreciada entatildeo e por muito tempo depois como justifica o proacuteprio

Regulamento

Tendo em consideraccedilatildeo por huma parte que o tempo de seis annos ora empregados no curso da Instrucccedilatildeo secundaria no Collegio de Pedro Segundo natildeo he sufficiente para os lumnos poderem adquirir as necessaacuterias noccedilotildees das Artes e Sciencias que se ensinatildeo no referudi Collegio e por outra parte que nos primeiros annos se dedicao os mesmos alumnos alguns estudos para os quaes ainda se natildeo achatildeo aptos por quanto supposto tenhatildeo sufficientemente desenvolvida a memoria natildeo tem com tudo desenvolvido no mesmo gratildeo o raciocinio do qual esses estudos principalmente dependem [] (BRASIL 1841 p 13)

A matemaacutetica e as ciecircncias foram reduzidas e postergadas aos uacuteltimos

anos ao passo que a Geografia teve sua carga horaacuteria ampliada e distribuiacuteda por

mais seacuteriesanos (Quadro 05) A Geografia passa a estar em todas as seacuteries a partir

do 2ordm ano sendo renomeada ldquoGeographia Descriptivardquo Aleacutem dessa havia ainda

uma outra disciplina geograacutefica denominada ldquoGeographia Mathematica e

Chronologiardquo esta disciplina no entanto pertencia agrave cadeira de Matemaacutetica e natildeo agrave

docecircncia de Geografia (Art 3ordm) Tambeacutem a Geografia precedia nessa grade ao

ensino de Histoacuteria introduzida apenas no 3ordm ano apoacutes o estudo de Geografia com

trecircs liccedilotildees semanais no 2ordm ano nos demais o ensino geograacutefico dispunha de um

horaacuterio semanal

Em fins dos anos 1840 havia entre os poliacuteticos uma preocupaccedilatildeo com a

situaccedilatildeo geral do ensino fora do acircmbito do Coleacutegio Pedro II Inexistia da parte do

governo um controle sobre os estabelecimentos privados e as aulas puacuteblicas ainda

existentes pouco acrescentavam agrave formaccedilatildeo dos estudantes Certamente a

experiecircncia do Coleacutegio Pedro II acompanhado de perto pelo governo influiu na

defesa de propostas para esse cenaacuterio dentre as quais a criaccedilatildeo de uma comissatildeo

permanente de instruccedilatildeo puacuteblica e a extinccedilatildeo das aulas avulsas Soacute mais tarde a

esse propoacutesito em 1854 foi criada a Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria e

Secundaacuteria do Municiacutepio da Corte oacutergatildeo que assumiu os exames gerais dos

preparatoacuterios agiu sobre a liberdade de ensino e reformulou os estatutos do

Coleacutegio Pedro II

QUADRO 05 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1841

1841

Regulamento n 62 de 01021841 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e 0

7 a

nos

1ordm ano - -

2ordm ano Geografia descritiva 3 liccedilotildees semanais

3ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal

4ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal

5ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal

6ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal

7ordm ano

Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal

Geografia descritiva

1 liccedilotildees semanais

Geografia Matemaacutetica e Cronologia 2 liccedilotildees semanais

Fonte Brasil (1841) Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Com o Ato Adicional de 1834 o governo do Impeacuterio descentralizou a

educaccedilatildeo permitindo agraves Proviacutencias a oferta e a manutenccedilatildeo do ensino primaacuterio e

secundaacuterio Poreacutem nesse processo centralizou uma referecircncia com a

institucionalizaccedilatildeo do Imperial Coleacutegio de Pedro II que a partir de sua criaccedilatildeo

passou a difundir ideias sobre a educaccedilatildeo a partir de modelos externos sobretudo

europeus influindo no comportamento dos estabelecimentos puacuteblicos e particulares

de todo o paiacutes Natildeo deixou de ser conforme lembra Haidar (1972) uma medida de

orientaccedilatildeo e controle de todo o ensino ofertado no territoacuterio brasileiro ateacute porque o

ensino secundaacuterio em grande parte teve a performance de preparatoacuterio para o

ingresso no ensino superior e os exames de admissatildeo aos cursos superiores

estavam atrelados aos programas do Coleacutegio Pedro II ldquoos dezesseis liceus

existentes em 1854 e os vinte existentes em 1872 eram incentivados a adequar seus

planos de estudos e programas de ensino aos do Coleacutegio bem como adotar os

mesmos livros didaacuteticosrdquo como lembram Vechia Lorens (2006 p 6009) As

proviacutencias resistiram a essa imposiccedilatildeo sendo as matriacuteculas avulsas uma prova

dessa posiccedilatildeo haja vista que desde sua fundaccedilatildeo o Coleacutegio Pedro II teve a

proposiccedilatildeo de um programa formativo seriado e integrado mas a frequecircncia avulsa

praticamente acompanhou com avanccedilos e retrocessos por todo o periacuteodo imperial

Na entrada dos anos 1850 os relatoacuterios provinciais indicavam graves

deficiecircncias no ensino secundaacuterio de todo o paiacutes o que urgia providecircncias do

governo central mas que natildeo ferissem a constituiccedilatildeo que descentralizara o ensino

da naccedilatildeo Dentre as reaccedilotildees do governo esteve a mencionada criaccedilatildeo da Inspetoria

Geral da Instruccedilatildeo Publica no Municiacutepio da Corte que atuando para o municiacutepio

neutro influenciava as demais instituiccedilotildees de ensino A Inspetoria era responsaacutevel

ainda pela anaacutelise dos relatoacuterios chegados das proviacutencias com pareceres influentes

sobre a legislaccedilatildeo e sobre a formaccedilatildeo discursiva condizente ao ensino no paiacutes

Dentre as medidas gerais impostas pela Inspetoria estaacute a equiparaccedilatildeo dos

programas de ensino e dos livros didaacuteticos adotados no Coleacutegio Pedro II (HAIDAR

1972) os quais fundamentavam a elaboraccedilatildeo dos exames admissionais

O programa de Geografia divulgado no iniacutecio de 1850 pelo Coleacutegio Pedro II

manteve a estrutura introduzida em 1841 apenas alterando os nomes das

disciplinas geograacuteficas a ldquoGeografia Descritivardquo se torna soacute ldquoGeografiardquo a Geografia

Matemaacutetica passa a se chamar Cosmografia e a Cronologia cede para a Geografia

Antiga (Quadro 06)

QUADRO 06 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1850

1850

Programa do Coleacutegio Pedro II

Secun

daacuteri

o d

e

07 a

nos

2ordm ano Geografia

3ordm ano Geografia

4ordm ano Geografia

5ordm ano Geografia

6ordm ano Geografia

7ordm ano Cosmografia Geografia Antiga

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

A deacutecada de 1850 na Europa foi marcada por reformas educacionais que

procuravam adequar os sistemas de ensino agraves necessidades impostas pela

economia em pleno desenvolvimento Esse movimento teve repercussatildeo no Brasil

Nesse contexto o Coleacutegio Pedro II introduziu a reforma do Decreto n 1556 de 17

de fevereiro de 1855 ato decorrente da Lei n 630 apresentada na Assembleia

Geral Legislativa em 17 de setembro de 1851 por Couto Ferraz a qual a autorizava

reformas no ensino primaacuterio e secundaacuterio no Municiacutepio da Corte Dentre os

principais pontos da reforma no Coleacutegio Pedro II tem-se a compatibilizaccedilatildeo entre

ensino secundaacuterio e ensino teacutecnico por meio da divisatildeo das seacuteries em dois ciclos

um de quatro e outro de trecircs anos Os Estudos de Primeira Classe em quatro anos

obrigatoriamente deveriam ser frequentados por todos os matriculados findos os

quais poderiam continuar os estudos no proacuteprio coleacutegio ou uma vez certificados

ingressar em outros cursos sem a necessidade de prestar exames Os Estudos de

Segunda Classe por sua vez de trecircs anos sucediam ao primeiro ciclo e sua

conclusatildeo bacharelava em Letras o secundarista Com essa nova estrutura houve

uma redistribuiccedilatildeo das disciplinas pelas seacuteries Geografia e Histoacuteria tiveram suas

cadeiras separadas embora ainda coetacircneas ambas abordavam o periacuteodo

moderno o periacuteodo antigo e o Brasil sendo a abordagem nacional denominada

Corografia isso nos dois anos finais dos estudos da Primeira Classe Nos cursos da

Segunda Classe ambas enquadravam o periacuteodo antigo e a Idade Meacutedia Observa-

se aiacute uma proposta que procura uma transiccedilatildeo que atenda os estudos claacutessicos e

outro que no conjunto refere-se a uma formaccedilatildeo cientiacutefica organizada para os

interesses e as necessidades entatildeo atuais que requeriam uma praacutetica mais

presente mais distante da erudiccedilatildeo (Quadro 07)

QUADRO 07 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1855

1855

Decreto n 1556 17021855 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e 0

7 a

nos

Primeira Classe (1ordm ao 4ordm ano)

1ordm ano - 2ordm ano -

3ordm ano

Geografia e Histoacuteria Moderna

4ordm ano Geografia e Histoacuteria Moderna Corografia e Histoacuteria do Brasil

Segunda Classe (5ordm ao 7ordm ano)

5ordm ano Geografia e Histoacuteria Antiga

6ordm ano Geografia e Histoacuteria da Idade Meacutedia

7ordm ano -

Fonte Brasil (1855) Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

O que se observa inicialmente nessa estrutura eacute a proximidade entre

Geografia e Histoacuteria O comportamento da Geografia nessa plataforma eacute

basicamente o que os historiadores do ensino de Geografia denominam como

ldquopalcordquo do desenrolar da Histoacuteria Ateacute entatildeo e muito depois ou o ensino de

Geografia precedia o de Histoacuteria ou ocorriam simultaneamente por este motivo

Esse modelo foi influenciado pela reforma educacional promovida na Franccedila

pelo conde Narcisse Archille Salvandy (1795-1856) em 1847 e tambeacutem pela

reforma proposta por outro ministro Fouroul em 1852 (VECHIA LORENZ 2002)

Em ambas as reformas destacaram-se a estrutura de quatro mais trecircs anos para

oferta do secundaacuterio tradicional e do ensino teacutecnico relevando o ensino de ciecircncias

tendo em vista o ensino teacutecnico sobretudo Couto Ferraz quanto agraves reformas

francesas foi atraiacutedo pela possibilidade de atendimento a classes sociais diferentes

e pelo acesso agrave ciecircncia como formaccedilatildeo teacutecnica

Todavia jaacute na vigecircncia do Impeacuterio se constituiacutea uma praacutetica permanente na

poliacutetica educacional brasileira a descontinuidade de projetos em razatildeo das

mudanccedilas dos cenaacuterios poliacuteticos A reforma de Couto Ferraz foi tolhida pela queda

do Ministeacuterio da Conciliaccedilatildeo (como ficou conhecida a tentativa do imperador Pedro II

para promover uma gestatildeo comum a liberais e conservadores) em 1856 quando

morreu o Marquecircs do Paranaacute sendo substituiacutedo pelo Marquecircs de Olinda que atuou

como Presidente do Conselho de Ministros e Ministro e Secretaacuterio de Estado dos

Negoacutecios do Impeacuterio a partir de 1857

Os vacilos legislativos ndash proposiccedilatildeo natildeo cumprimento novas proposiccedilotildees

em um espiralar constante ndash no plano praacutetico significavam uma desorientaccedilatildeo por

exemplo na docecircncia e na produccedilatildeo de materiais para o ensino o que eacute sentido nas

poucas alteraccedilotildees possiacuteveis de observar nos exemplares da bibliografia desse

tempo Por esse motivo o curriacuteculo dos manuais natildeo respondia necessariamente agrave

urgecircncia das proposiccedilotildees legais como se veria posteriormente na bibliografia do

ensino da Geografia em que os autores procuravam permanentemente enquadrar-

se aos curriacuteculos e programas propostos ateacute como forma de sobrevivecircncia da obra

Possivelmente isso levava as obras a ficarem disponiacuteveis havendo ou natildeo um

trabalho seletivo do professor ou dos colegiados responsaacuteveis pelo ensino Em

geral as obras dispunham os conteuacutedos como requeridos frequentemente ndash uma

Geografia poliacutetica uma Geografia fiacutesica (geral e corograacutefica) e uma Cosmografia ndash e

daiacute seriam encorpadas em tal ou qual seacuterieano em que fossem requeridos mais

tarde se veria o contraacuterio as obras sendo escritas especificamente para uma seacuterie

de ensino atendendo plenamente o curriacuteculo sugerido

Com o novo ministeacuterio entrou em vigor o Decreto n 2006 de 24 de outubro

de 1857 alterando o Regulamento relativo aos estudos de Instruccedilatildeo Secundaacuteria do

Municiacutepio da Corte A partir desse ato o Coleacutegio Pedro II deixou a estrutura de

quatro e trecircs anos em sete anos o estudante graduava-se bacharel em Letras

podendo ingressar automaticamente no ensino superior em paralelo instituiu um

curso de cinco anos que preparava para o ingresso em outros cursos teacutecnicos

sendo os primeiros quatro anos obrigatoacuterios a qualquer uma das frequecircncias A

justificativa para essa mudanccedila seria uma readequaccedilatildeo das disciplinas para

distribuiacute-las sem peso excessivo para umas e pouco aproveitamento para outras

(DORIA 1937) Assim a Geografia ficou presente nos trecircs primeiros anos e no

quarto e quinto se emparelhou a Corografia e a Histoacuteria do Brasil (Quadro 08)

QUADRO 08 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1857

1857

Decreto n 2006 de 24101857 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e 0

7

anos

Curso Especial

Anos

com

uns 1ordm ano Geografia

2ordm ano Geografia

3ordm ano Geografia

4ordm ano Corografia e Histoacuteria do Brasil

5ordm ano Corografia e Histoacuteria do Brasil

6ordm ano -

7ordm ano -

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

O ato legal de 1857 permaneceu ateacute primeiro de janeiro de 1862 quando

Joseacute Ildefonso de Souza Ramos ministro e secretaacuterio de Estado dos Negoacutecios do

Impeacuterio assinou o Decreto n 2883 alterando o regulamento do Coleacutegio Pedro II As

Humanidades foram repostas como em vigor ateacute 1841 Esse modelo que sofreu

poucas alteraccedilotildees ateacute o findar do Impeacuterio periacuteodo no qual

[] houve um interesse geral no sentido de diagnosticar e solucionar os problemas de ensino puacuteblico Em consequumlecircncia surgiram vaacuterios debates Atos Legislativos reformas e propostas de reformas visando reestruturar o ensino brasileiro e em particular o ensino secundaacuterio As reformas efetuadas tais como as de 1870 1876 1878 e 1881 alteraram aspectos diversos do sistema de ensino secundaacuterio em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo administrativa do Collegio ao sistema de avaliaccedilatildeo e exames e aos planos de estudos (VECHIA LORENS 2006 p 6007)

Observa-se entatildeo a Geografia nos quatro primeiros anos do ensino

secundaacuterio o retorno da Cosmografia no quarto ano e o descolocamento da

Corografia para o uacuteltimo (Quadro 09)

QUADRO 09 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1862

1862

Decreto n 2883 de 01021862 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e

07 a

nos

1ordm ano Geografia

2ordm ano Geografia

3ordm ano Geografia

4ordm ano Geografia e Cosmografia

5ordm ano -

6ordm ano -

7ordm ano Corografia

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

O proacuteximo ministro Paulino de Souza fez vigorar o Decreto n 4468 2 de

fevereiro de 1870 no qual foram introduzidos exames de admissatildeo agrave matriacutecula no

secundaacuterio e exames finais para todas as disciplinas do seriado Jaacute por uma

visualizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo da grade de Geografia a partir desse decreto

se nota que a Geografia entatildeo adentrava em outro patamar dividindo-se em

elementar e geral A Corografia do Brasil permanece como uma das uacuteltimas

disciplinas (Quadro 10) A denominaccedilatildeo de Geografia passou por alteraccedilotildees em sua

denominaccedilatildeo de Geografia para ldquoGeografia elementar e descritiva geralrdquo e

ldquoGeografia Antigardquo

Em 1876 a 1ordm de marccedilo o Senador e Ministro do Impeacuterio Joseacute Bento da

Cunha Figueiredo consignou o Decreto n 6130 tambeacutem para o Coleacutegio Pedro II

com alguma alteraccedilatildeo na distribuiccedilatildeo das disciplinas e permanecircncia no estabelecido

anteriormente quanto aos exames de admissatildeo e aos exames finais Destacou

neste decreto a revogaccedilatildeo do disposto no decreto de 1857 ou seja abolindo

definitivamente as matriacuteculas avulsas no Coleacutegio Pedro II medida que

evidentemente visava frear a aceleraccedilatildeo do teacutermino dos preparatoacuterios ao ingresso

no ensino superior estendida depois para todos os estabelecimentos secundaacuterios o

que ainda natildeo foi verificado na praacutetica

QUADRO 10 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1870

1870

Decreto 4468 de 1870 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e 0

7

anos

1ordm ano Geografia elementar e descritiva em geral

2ordm ano Geografia elementar e descritiva em geral Europa e Ameacuterica

3ordm ano Geografia elementar e descritiva em geral e Geografia Antiga

4ordm ano -

5ordm ano -

6ordm ano -

7ordm ano Corografia do Brasil

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Todavia permanecia o problema da extensatildeo do curriacuteculo problema

impliacutecito aos programas do Coleacutegio Pedro II desde sua fundaccedilatildeo e que de certa

forma impacientava o alunado A organizaccedilatildeo da plataforma curricular desse

estabelecimento legal visava de alguma forma flexibilizar essa estrutura como

explica Vechia Lorens (2006 p 6008)

Os estudos da maioria das disciplinas foram concentrados em menor nuacutemero de seacuteries do que em 1870 Tal organizaccedilatildeo permitia que os alunos vencessem as etapas do curso de uma forma mais raacutepida pois cada disciplina era ensinada no maacuteximo em trecircs anos ao final do uacuteltimo poderia prestar os exames finais por disciplina O aluno portanto natildeo precisava esperar ateacute o termino do seacutetimo ano para prestar os exames preparatoacuterios visto que ao final do 5ordm ano jaacute teria prestado todos os exames necessaacuterios para o ingresso nos cursos superiores A decisatildeo de localizar as disciplinas da aacuterea de Ciecircncias nas duas uacuteltimas seacuteries juntamente com Grego Alematildeo Literatura nacional Histoacuteria e Corografia do Brasil consagrou o fato de que os alunos poderiam terminar seus estudos antes de ingressar no 6ordm ano pois o exame final nestas disciplinas natildeo eram exigidos para ingresso na maioria das instituiccedilotildees de ensino superior

Dessa forma para concentrarem-se em trecircs anos os conhecimentos

geograacuteficos passaram a ser vistos no primeiro terceiro e sexto ano obedecendo

sempre agrave estrutura organizada na segunda metade do seacuteculo XIX Geografia

elementar Geografia geral Corografia do Brasil e Cosmografia (Quadro 11)

QUADRO 11 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1876

1876

Decreto n 6130 de 01031876 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e 0

7

anos

1ordm ano Elementos de Geografia

2ordm ano -

3ordm ano Geografia

4ordm ano -

5ordm ano -

6ordm ano Cosmografia Corografia do Brasil

7ordm ano -

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Dois anos mais tarde contudo houve mudanccedilas no veacutertice de influecircncia

externa na pedagogia do Coleacutegio Pedro II quando da posse de Carlos Leocircncio de

Carvalho professor da Faculdade de Direito de Satildeo Paulo na Pasta do Ministeacuterio do

Impeacuterio O eixo deslocava-se da Franccedila para as ideias estadunidenses calcadas na

noccedilatildeo de liberdade no ensino e no influxo da consciecircncia individual Isso implicou no

Decreto n 6884 de 20 de abril de 1878 talvez a reforma mais radical do Impeacuterio

que calcou como livre a frequecircncia no Externato e tornou facultativo o ensino

religioso aos natildeo-catoacutelicos Como em todas as reformas anteriores houve

alteraccedilotildees na plataforma curricular mas natildeo soacute as matriacuteculas avulsas foram

reestabelecidas no curso do externato do Pedro II possibilitando acesso aos

exames finais agravequeles que natildeo tinham frequentado as aulas regulares A Geografia

fica nos dois primeiros anos no quinto e sexto ano satildeo aplicadas as disciplinas de

Cosmografia e Corografia do Brasil (Quadro 12)

QUADRO 12 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1878

1878

Decreto n 6884 de 20041878 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e

07 a

nos

1ordm ano Geografia

2ordm ano Geografia

3ordm ano -

4ordm ano -

5ordm ano Cosmografia

6ordm ano Histoacuteria e Corografia do Brasil

7ordm ano -

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

As alteraccedilotildees seguintes no plano de estudo vieram com o Decreto n 8051

de 24 de marccedilo de 1881 que alterou os Regulamentos do Imperial Collegio de

Pedro II modificou o plano de estudos mantendo significativamente as propostas de

1878 de Leocircncio de Carvalho Particularmente no que diz respeito agrave Geografia

percebe-se mudanccedilas sutis ainda sobretudo com a separaccedilatildeo de uma Geografia

Fiacutesica independente das demais (Quadro 13)

QUADRO 13 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1881

1881

Decreto n 8051 de 25031881 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e

07 a

nos

1ordm ano Noccedilotildees de Geografia

2ordm ano -

3ordm ano Geografia Fiacutesica

4ordm ano Geografia e Cosmografia

5ordm ano -

6ordm ano -

7ordm ano Corografia e Histoacuteria do Brasil

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

A trajetoacuteria dessa legislaccedilatildeo e normatizaccedilotildees demonstram o

estabelecimento da Geografia como disciplina Presente desde o curriacuteculo inicial

esteve permanentemente nas grades escolares com maior ou menor carga horaacuteria

em todas ou em apenas algumas seacuteries Natildeo tem um nome comum natildeo eacute apenas

ainda ldquoGeografiardquo seus saberes respondem por Cosmografia por Corografia eacute

qualificada e dividida em Antiga Matemaacutetica Geral Elementar Descritiva Sua

sucessatildeo de nomes demonstra pensamentos diferentes e em construccedilatildeo sobre esse

saber didaacutetico

A Geografia surgente no ensino elementar do Impeacuterio era irmanada com o

ensino de Histoacuteria Natildeo havia separaccedilatildeo clara nos programas e nas regecircncias

Mesmo a literatura didaacutetica e de referecircncia ateacute a deacutecada de 1850 evidenciam essa

conjugaccedilatildeo materializando ambas sem limites claros frequentemente Conforme

Moacyr (1937 v 2 p 27 e 28) eacute da deacutecada de 1850 a separaccedilatildeo da Geografia e da

Histoacuteria por meio da criaccedilatildeo de cadeiras individuais para ambas as disciplinas no

acircmbito da organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio do Coleacutegio Pedro II embora desde a

fundaccedilatildeo deste operassem tambeacutem programas independentes a cada conteuacutedo

mas com a mesma regecircncia A existecircncia dessa lei natildeo foi garantia de divisatildeo das

regecircncias na praacutetica pois ainda em 1881 no Coleacutegio Pedro II se ensinava

Corografia e Histoacuteria do Brasil conjuntamente

Diversos historiadores do ensino de Geografia delimitam a criaccedilatildeo do

Coleacutegio Pedro II como iniacutecio da trajetoacuteria dessa disciplina Sem duacutevida foi um marco

importante todavia deve-se ponderar que esta instituiccedilatildeo consolidou um processo

anunciado desde a deacutecada de 1810 periacuteodo lacunar na histoacuteria da Geografia

escolar e que procurei expor alguns esclarecimentos ateacute o momento conforme

demonstrado em capiacutetulo anterior Quando o Ato de 1834 surgiu o ensino puacuteblico do

Rio de Janeiro para exemplo ofertava cursos de Filosofia Retoacuterica Grego

Francecircs Inglecircs Comeacutercio (um dos mais frequentados) Geometria Aritmeacutetica e

Aacutelgebra (HAIDAR 1972) Basicamente estas eram as disciplinas tambeacutem ofertadas

nas proviacutencias Com menor regularidade eram ofertadas aulas avulsas de Geografia

e Histoacuteria desde os anos 1810 E o Coleacutegio Pedro II nesse contexto foi o cenaacuterio

de fortalecimento desse saber como disciplina escolar em niacutevel da educaccedilatildeo

elementar

No contexto do Coleacutegio Pedro II viu-se os cursos independentes ndash as aulas

avulsas ndash converterem-se (natildeo sem resistecircncia) em programas seriados e anuais os

quais respondiam a visotildees pedagoacutegicas institucionalizadas por meio de decretos

estabelecendo modelos ldquoforccediladosrdquo a serem seguidos nas proviacutencias sobretudo

quanto aos curriacuteculos impostos haja vista sua presenccedila nos exames admissionais

dos cursos superiores ndash todos em matildeos da vontade imperial

A marca dos estudos secundaacuterios continuava e continuaria portanto a

mesma desde os tempos dos jesuiacutetas preparar os discentes para o ingresso no

ensino superior cujos cursos tinham suas exigecircncias curriculares revelados nos

exames requeridos para o ingresso O aluno nesses termos frequentava aulas de

acordo com seu interesse ndash as chamadas aulas avulsas apesar do modelo e

orientaccedilatildeo que o Coleacutegio Pedro II assinalaria anos antes a partir de fins da deacutecada

de 1830 e apesar de sempre retornarem em alguma condiccedilatildeo (permitida ao

externato por exemplo)

A presenccedila da Geografia no ensino secundaacuterio ao mesmo tempo em que

respondia a uma necessidade de formaccedilatildeo do ensino superior respondia agraves

necessidades formativas do Estado ndash tanto para constituiccedilatildeo dos cidadatildeos

sobretudo as elites quanto para a constituiccedilatildeo de uma maacutequina administrativa Por

outro lado uma vez que a admissatildeo no ensino secundaacuterio se dava por meio de

exames os quais incluiacuteam os conhecimentos da Geografia haacute sua inserccedilatildeo no

curriacuteculo das escolas primaacuterias

42 O curriacuteculo e a constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo imperial

Conforme analisado no Graacutefico 01 apresentado no capiacutetulo 02 no periacuteodo

imperial se teve uma produccedilatildeo superior a 150 tiacutetulos distintos de manuais didaacuteticos

de Geografia em um movimento quantitativo ascendente marcado por uma

verdadeira explosatildeo na deacutecada de 1880 quando soacute nela vieram a puacuteblico 43

tiacutetulos Eacute interessante notar como uma produccedilatildeo relativamente alta pouco atendeu

agraves demandas educacionais do ensino da Geografia Os poliacuteticos os intelectuais

envolvidos na questatildeo educacional os historiadores do ensino da Geografia satildeo

unacircnimes quanto a esse parecer indicando ademais a desatualizaccedilatildeo das obras

existentes e sua inadequaccedilatildeo pedagoacutegica

Para esse fato talvez haja uma explicaccedilatildeo na organizaccedilatildeo do mercado

editorial satildeo baixas as tiragens o preccedilo dos volumes eacute caro pois se trata de um

material com produccedilatildeo externa natildeo haacute um sistema eficiente de distribuiccedilatildeo a maior

parte dos tiacutetulos eacute de produccedilotildees regionais com circulaccedilatildeo regional e aleacutem disso

pelo menos a parte inicial dessa produccedilatildeo destina-se mais aos professores e

instrutores do que propriamente aos alunos os livros didaacuteticos foram em largas

deacutecadas do princiacutepio dessa histoacuteria a uacutenica forma de instruccedilatildeo e formaccedilatildeo docente

as quais estiveram impliacutecitas tambeacutem em outras formaccedilotildees como a militar a

juriacutedica as engenharias

Essa bibliografia em si contudo natildeo deixa de ser um reflexo do poder

disciplinador exercido pelo Estado brasileiro na construccedilatildeo de uma nacionalidade

brasileira e no estabelecimento de uma cultura escolar (VLACH 1988 ROCHA

1996) De acordo com Foucault (2004) dentre todas as praacuteticas disciplinadoras a

escola foi um dos espaccedilos para organizaccedilatildeo (disposiccedilatildeo de ordem e hierarquia

disposiccedilatildeo do tempo) exame (verificaccedilatildeo de desempenho) e elaboraccedilatildeo de certos

saberes Para Vlach (1988 p 19) esta ldquo[] regulamentaccedilatildeo eacute uma variaccedilatildeo do

poder disciplinar que reforccedila a sua tendecircncia agrave homogeneidade socialrdquo pois havia

necessidade de controlar o corpo (e o saber) ldquo[] individual e coletivamente ndash no

sentido de adestraacute-lo enquanto forccedila de trabalho para uma sociedade que estava

irrompendo sob a lsquocaparsquo da igualdade (formal) dos homensrdquo O curriacuteculo em si foi o

espaccedilo do saber requisitado e autorizado para disciplinar certa visatildeo do mundo e

de suas regiotildees inclusive e sobretudo a nacional

Do Rio de Janeiro da Bahia e de Pernambuco na deacutecada de 1820 vieram

as primeiras presenccedilas da bibliografia didaacutetica de Geografia Eacute o iniacutecio de uma

tradiccedilatildeo didaacutetico-geograacutefica orientada pela Cosmografia pela Geografia Fiacutesica e

pela Geografia Poliacutetica em acepccedilatildeo diferente da que teriam no desenvolvimento

posterior da Geografia e do seu ensino

421 A tradiccedilatildeo da Cosmografia da Geografia Fiacutesica e da Geografia Poliacutetica

Por todo o Impeacuterio a produccedilatildeo dos manuais de Geografia se daraacute pelo

ldquoparadigmardquo da Geografia moderna claacutessica aquela que fez a transiccedilatildeo da forma de

conceber o conhecimento na Idade Meacutedia para o periacuteodo que com seus

rompimentos epistecircmicos direcionou a compreensatildeo e a produccedilatildeo do conhecimento

para um fazer cientiacutefico Enquanto a Geografia moderna claacutessica conta com essas

trecircs compartimentaccedilotildees a Geografia moderna cientiacutefica ou institucionalizada

sobretudo a partir da Alemanha de Humboldt e Ritter se enveredaria em duas

perspectivas a Geografia Humana e a Geografia Fiacutesica quando da emergecircncia da

dualidade no discurso geograacutefico desta ciecircncia fato este demonstrado por Gomes

(2000) e outros historiadores do pensamento geograacutefico

A esse propoacutesito os termos Cosmografia Geografia Fiacutesica e Geografia

Poliacutetica foram terminologias em uso desde o seacuteculo XVII (CAPEL 1989) Varenius

quando publica sua Geografia Geral em 1650 divide-a em uma Geografia Geral

que considera a Terra em seu conjunto e em uma Geografia Especial que objetiva

as regiotildees subdividindo esse conhecimento em corografia ndash para regiotildees de maior

extensatildeo e topografia ndash para regiotildees de menor extensatildeo (BAUAB 2005) O objeto

colocado em tela a partir de Varenius e assumido por geoacutegrafos que o sucederam

ateacute o seacuteculo XVIII eacute a superfiacutecie terrestre e suas partes Os Descobrimentos dos

europeus ofertam ao mundo uma quantidade imensa de informaccedilotildees geograacuteficas

tanto da natureza quanto da organizaccedilatildeo dos gecircneros de vida o que amplia e

renova esse saber A esse tempo emerge uma racionalidade cientiacutefica que procura

separar o conhecimento em categorias encaminhando para um lado a metafiacutesica o

saber baseado nas crenccedilas nos mitos etc procurando focar o conhecimento em

uma objetividade e descriccedilatildeo precisas

Os discursos geograacuteficos de grande parte do seacuteculo XIX sobretudo o

didaacutetico inscrevem-se direta ou indiretamente na Geografia moderna em sua

vertente claacutessica aquela emergente no seacuteculo XVIII com viacutenculos nos movimentos

que formataram as bases do pensamento cientiacutefico Daiacute surgiram os modelos e as

vertentes de gecircnero que acomodam os discursos do conhecimento dessa eacutepoca

Gomes (2000) procurou compreender o surgimento da Geografia cientiacutefica

na formaccedilatildeo epistemoloacutegica da modernidade situando o projeto de ciecircncia

emergente no Seacuteculo das Luzes por um lado em que o racionalismo fez a criacutetica

necessaacuteria para romper as formas de estabelecimento do conhecimento O meacutetodo

loacutegico racional perseguiu sistemas explicativos para entrever ldquo[] o resultado de

uma anaacutelise dos aspectos regulares de um dado fenocircmeno [] uma ordem formal

instrumentalizada por uma loacutegica coerente e geral e de uma ordem material que

relaciona o modelo abstrato agrave realidaderdquo (GOMES 2000 p 31) De outro lado a

modernidade estabeleceu-se tambeacutem a partir de posiccedilotildees anti-racionalistas para as

quais a ldquo[] razatildeo humana natildeo eacute universal ou pelo menos ela natildeo possui sempre a

mesma natureza as mesmas manifestaccedilotildees e a mesma formardquo (GOMES 2000 p

32)

Com a Renascenccedila houve a proposiccedilatildeo de um novo modelo cosmoloacutegico

em substituiccedilatildeo ao modelo geocecircntrico aceito pela Igreja Catoacutelica revistado a partir

da Antiguidade Claacutessica que para a Geografia centrou-se sobretudo na

redescoberta de Ptolomeu e Estrabatildeo No modelo totalizador a concepccedilatildeo

ptolomeica deu as condiccedilotildees para o estabelecimento de uma cosmografia

Ateacute o seacuteculo XVIII vaacuterios autores trabalharam de acordo com os princiacutepios das cosmografias como por exemplo Buache Muumlnster e Enciso Vaacuterios problemas de base da cartografia o caacutelculo das latitudes e sobretudo o das longitudes bem como os sistemas de projeccedilatildeo foram amplamente tratados nestes estudos Ao mesmo tempo os fenomenos naturais e

sobretudo climaacuteticos ao fazer parte desta geografia escapavam agraves interpretaccedilotildees livres religiosas ou maacutegicas da tradiccedilatildeo medieval As cosmografias estatildeo pois na origem da tradiccedilatildeo que define simultaneamente a escolha temaacutetica e confere uma metodologia geral agrave geograacutefica Estas duas preocupaccedilotildees faziam parte do pIano fundamental das cosmografias e sobreviveram na geografia cientiacutefica Foi atraveacutes delas que a geografia considerou que era sua a tarefa de produzir imagens do mundo de compreender sua organizaccedilatildeo e de decifrar sua ordem em suma de veicular uma cosmovisatildeo (GOMES 2000 p 129)

Considerando Estrabatildeo como origem outra perspectiva se desenvolveu no

sentido de se criar uma visatildeo das regiotildees ndash a corografia ldquoo modelo de Estrabatildeo eacute

considerado como histoacuterico-descritivo em oposiccedilatildeo agravequele de Ptolomeu tido como

matemaacutetico-cartograacutefico Estes dois autores fundaram entatildeo duas escolas de

Geografia que conviveram lado a lado ateacute a revoluccedilatildeo cientiacuteficardquo de modo que

ldquocertos geoacutegrafos procuraram reunir ao mesmo tempo os princiacutepios gerais

cosmograacuteficos e as descriccedilotildees regionais corograacuteficas integrando assim em uma

mesma obra essas duas abordagens ateacute aiacute distintasrdquo sendo justamente a

construccedilatildeo dessa imagem do mundo que vai figurar nos tratados de Geografia do

seacuteculo XVIII ao seacuteculo XIX adentro ldquoesta concepccedilatildeo eacute talvez a origem da

aproximaccedilatildeo retida pelos manuais tradicionais de geografia moderna que fazem

figurar em geral uma cosmografia seguida de descriccedilotildees regionaisrdquo (GOMES 2000

p 130) o que sem duacutevida foi o modelo dos manuais didaacuteticos de Geografia

No sentido corograacutefico no Brasil a obra de Ayres de Casal foi o expoente e

a perspectiva dominante no seacuteculo XIX serviu de modelo ao ter amplamente

utilizada sua estrutura de regionalizaccedilatildeo do territoacuterio por proviacutencias das quais se

indicava por vezes com certo contexto histoacuterico as principais descriccedilotildees poliacuteticas e

fiacutesicas sofrendo apenas atualizaccedilotildees Anterior ainda a Ayres e tambeacutem influente

haacute os saberes produzidos pela empresa colonial portuguesa (ISSLER 1973)

embora tenham sido amplamente sintetizadas por Casal E por quase um seacuteculo a

obra de Casal referenciou direta ou indiretamente a concepccedilatildeo geograacutefica escolar e

tambeacutem a produccedilatildeo geograacutefica como um todo haja vista que seu modelo foi

impregnado nas produccedilotildees do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Rio de Janeiro

fundado em 1838 e reproduzido nos institutos da mesma estirpe fundados nas

proviacutencias (ISSLER 1973 VLACH 1988)

A Geografia escolar descritiva foi rigorosamente criticada em 1882 por Rui

Barbosa no Parecer e projecto de reforma do ensino primario

Para mostrar quatildeo infinitamente longe estamos desses modelos bastaraacute folhear alguns dos nossos manuais elementares de geografia Tomemos por exemplo a Pequena Geografia da Infacircncia composta para uso das escolas primaacuterias Depois de algumas definiccedilotildees geomeacutetricas que ocupam as duas primeiras paacuteginas do texto outras definiccedilotildees constituem o introacuteito definiccedilatildeo da geografia das linhas e ciacuterculos do globo dos poacutelos de horizonte clima latitude longitude e estaccedilotildees do ano continente regiatildeo paiacutes ilha peniacutensula cabo istmo monte montanha serra vulcatildeo mar oceano golfo estreito mancha passo lago e rio Enfiando este rosaacuterio de abstraccedilotildees ininteligiacuteveis ao espiacuterito despreparado da crianccedila segue-selhe imediatamente a tarefa de decorar o nuacutemero total de quilocircmetros e habitantes em cada continente a lista das religiotildees e raccedilas humanas com a sua distribuiccedilatildeo pelas vaacuterias partes e Estados que se pressupotildeem assim conhecidos antes de aprendidos as fases da civilizaccedilatildeo e as formas de governo rematando tudo pelo questionaacuterio de costume Entatildeo em vez de principiar pelo municiacutepio pela proviacutencia ou pelo paiacutes o curso consagra as suas primeiras liccedilotildees agrave Europa agrave Aacutesia agrave Aacutefrica agrave Ameacuterica (onde o disciacutepulo repete simplesmente o nome da paacutetria confundindo sem uma palavra de distinccedilatildeo entre os demais Estados) e agrave Oceania para depois recomeccedilando estudar a geografia particular de todos os paiacuteses das cinco partes do mundo e soacute no fim receber notiacutecias do seu O ensino por nomenclatura domina exclusivamente salvo algumas observaccedilotildees frias e sem cor acerca do aspecto fiacutesico e indicaccedilatildeo dos sistemas de governo tudo o mais reduz-se agrave reparticcedilatildeo monoacutetona dos cultos e das famiacutelias humanas por entre as diversas naccedilotildees cabendo poreacutem quasi todo o espaccedilo agrave enumeraccedilatildeo das terras e aacuteguas Na geografia geral a grande questatildeo o empenho quasi absoluto do curso estaacute em gravar na memoacuteria os nomes de todos os paiacuteses mares golfos estreitos lagos rios montes ilhas peniacutensulas cabos cerca de mil Na geografia particular recrudesce a impertinecircncia e a preocupaccedilatildeo fixa invariaacutevel de decorar e soacute decorar [] Praticado assim pelo bordatildeo da rotina o ensino da geografia eacute inuacutetil embrutecedor Nulo como meio de cultura incapaz mesmo de atuar duradoramente na memoacuteria natildeo faz senatildeo oprimir canccedilar e estupidificar a infacircncia em vez de eclarececirc-la e educaacute-la (BARBOSA 1946 p 306-307)

Em termos gerais essa situaccedilatildeo do ensino se estendia para o ensino

secundaacuterio e caracteriza os livros em geral do periacutedo imperial Todavia eacute no final

desse periacutedo que novas ideias pedagoacutegicas comeccedilam a surgir influenciando a

praacutetica da educaccedilatildeo Para a Geografia comeccedilou-se a introduzir a cartografia como

auxiliar do ensino o que se fez a partir dos chamados processos intuitivos ldquo[] o

ensino pelo aspecto como iniciaccedilatildeordquo (PROENCcedilA 1928 p 31) embora de modo

muito esparso e na iniciativa privada Houve inclusive certo exagero a ponto de se

imaginar que ensinar Geografia seria ensinar cartografia Extensivo ateacute as primeiras

deacutecadas do seacuteculo XX fundamentada na Geografia descritiva assim seraacute o ensino

de Geografia

Os nossos professores ainda vivem um tanto escravizados pelos compendios natildeo haacute trabalho systematizado de intuiccedilatildeo directa ou indirecta a cartographia ou se desenvelve independentemente da geographia ou

usurpa-lhe a lugar deixando em segundo plana aquillo que deve constituir propriamente o saber geographico Eis approximadamente o nossa estado actual quanta ao ensino de geagraphia (PROENCcedilA 1928 p 32)

A Geografia descritiva engendrada nessa tradiccedilatildeo apenas declinou na

passagem para o seacuteculo XX quando houve importantes movimentaccedilotildees na

concepccedilatildeo e conhecimento geograacutefico em circulaccedilatildeo nos meios intelectuais e

quando particularmente no contexto escolar houve mudanccedilas pedagoacutegicas nos

meacutetodos e objetivos do ensino Desse periacuteodo ficou uma praacutetica escolar da

Geografia organizada na nomenclatura na enumeraccedilatildeo dos fatos geograacuteficos na

descriccedilatildeo formal e informativa do espaccedilo (PRADO Jr 1945) que apesar disso

construiu uma tradiccedilatildeo lanccedilou bases soacutelidas que extrapolaram os limites da escola

e permitiu reaccedilotildees para ampliar as fronteiras da Geografia escolar como veremos

adiante

422 A bibliografia didaacutetica de Geografia no Impeacuterio

No ano seguinte agrave Independecircncia poliacutetica do Brasil haacute iniacutecio de fato da

publicaccedilatildeo de obras que principiam a construccedilatildeo do gecircnero discursivo da Geografia

escolar Entatildeo comeccedilava de certa forma a haver um afrouxamento no controle

sobre a publicaccedilatildeo de obras imposto pela colonizaccedilatildeo portuguesa de modo que em

oficinas proacuteprias ou mandados imprimir na Europa comeccedilavam a surgir tiacutetulos que

interessavam ao puacuteblico e agraves causas nacionais Havendo jaacute instituiccedilotildees de ensino

superior e muitas outras surgiriam os cursos preparatoacuterios esboccedilavam uma

demanda escolar

Nesses termos a primeira obra escolar de Geografia a vir a lume foi a Breve

introducccedilatildeo ao estudo de Geographia adaptado ao uso dos mappas francezes e

inglezes Offerecida a S M o Senhor D Pedro I de 1823 escrita pelo padre

Guilherme Paulo Tilbury82 radicado no Brasil que atuava como professor dessa

82

Guilherme Paulo Tilbury [Tillbury] ndash Nascido William Paul Tilbury na Inglaterra Guilherme Paulo Tilbury (1784-1863) converteu-se ao catolicismo e se formou padre seguindo como missionaacuterio para o Rio de Janeiro onde faleceu Aleacutem da Breve introducccedilatildeo foi autor de Breve explicaccedilatildeo sobre a grammatica tambeacutem de 1823 Foi professor do Seminaacuterio Satildeo Joseacute professor puacuteblico de Liacutengua

mateacuteria inclusive como preceptor da famiacutelia real Talvez por esta ligaccedilatildeo a obra foi

editada na Tipografia Nacional antiga Impressatildeo Reacutegia e provavelmente circulou no

acircmbito da atuaccedilatildeo docente do autor na Corte

No ano seguinte outro professor dessa mateacuteria Bazilio Quaresma

Torreatildeo83 editou em Londres o Compendio de Geographia universal Rezumido de

diversos authores e offerecido aacute mocidade brazileira Ainda em 1824 tem-se a

primeira traduccedilatildeo de uma obra escolar de Geografia por autor natildeo identificado as

Noccedilotildees elementares de Geographia por hum antigo professor da Universidade de

Paris impressas no anno de 1820 e tradusidas em 1823 por hum brasilianno para

instrucccedilatildeo da mocidade do Brasil

Essas obras iniciais instrumentalizavam notadamente o professor e o

ensino avulso da mateacuteria tendo uma circulaccedilatildeo local

Uma questatildeo importante que percebo eacute a preocupaccedilatildeo com uma abordagem

regional da Geografia A Bahia foi a primeira das proviacutencias a apresentar uma

preocupaccedilatildeo com o ensino de sua territorialidade como atestam as primeiras obras

regionais publicadas para esse fim A primeira delas foi uma reproduccedilatildeo da

Corografia de Ayres de Casal da qual se recortou por inteiro um de seus capiacutetulos

sobre a Bahia publicado como volume independente para o ensino em

estabelecimentos da proviacutencia em 1826 Muito da obra de Casal eacute facilmente

perceptiacutevel na outra produccedilatildeo regional em Corografia ou abreviada historia

geographica do imperio do Brasil coordenada acrescentada e dedicada aacute casa pia

e collegio dos orfatildeos de S Joaquim desta cidade Para uso de seos alumnos a fim

de adquirirem conhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em geral e seo

descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente da provincia

e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos publicada por Domingos Jose

Antonio Rebello84 em 1829

Francesa e Geografia e capelatildeo da Divisatildeo Militar da Guarda Imperial da Poliacutecia Aleacutem dos livros didaacuteticos eacute lembrado ter lecionado liacutengua inglesa a D Pedro I e ter sido preceptor das princesas D Maria Teresa D Maria Isabel D Maria Francisca D Isabel Maria D Maria da Assumpccedilatildeo e D Ana de Jesus irmatildes de D Pedro (SILVA 1870 SOUSA 1972 ACCIOLI TAUNAY 1973)

83 Confira informaccedilotildees sobre este autor no Capiacutetulo 6 desta tese

84 Domingos Joseacute Antonio Rebello ndash natildeo haacute precisatildeo sobre seu nascimento e falecimento apenas

se sabe que nasceu em fins do seacuteculo XVIII Foi comerciante atuando na Bahia como diretor da Companhia de Seguros Commercio Mariacutetimo a Corografia eacute sua uacutenica obra (BLAKE 1893)

Uma caracteriacutestica comum a muitas obras do periacuteodo era ser escrita para

um consumo local ou para um puacuteblico restrito como acontece com a obra de

Rebello dedicada aacute casa pia e collegio dos orfatildeos de S Joaquim da cidade de

Salvador os Elementos de Geographia de Santa Gertudres (1840) escrito para as

escolas primaacuterias do Rio de Janeiro o Dialogo geographico de Brandatildeo (1850)

escrito para as alunas do Coleacutegio de Satildeo Joatildeo situado na cidade de Satildeo Cristovatildeo

(RJ) ou as Noccedilotildees e depois Compendio de Geographia de Albuquerque (1856

1880) para uso na Proviacutencia de Pernambuco Talvez por essa razatildeo por ser uma

produccedilatildeo de consumo local portanto fora de uma estrateacutegia comercial integrada se

tenha reclamado tanto da insuficiecircncia de materiais geograacuteficos para o ensino

Entre as deacutecadas de 1830 e 1850 os autores que mais se destacaram pelo

menos quanto agrave aceitaccedilatildeo adoccedilatildeo e reediccedilotildees foram Thomaz Pompeu de Souza

Brasil (pai) Abbade Gaultier Joatildeo Henrique Freese e Luis Antonio Burgain Destes

possivelmente o mais influente tenha sido Pompeu Brasil seguido de Gaultier

Nesses anos se teraacute um aumento progressivo do conjunto de obras e um lento

amadurecimento dessa produccedilatildeo Uma visatildeo panoracircmica do periacuteodo curiosamente

revela um predomiacutenio de Geografias gerais contra compecircndios corograacuteficos eacute o

caso de Lima (1830) Lisboa (1830) Beaurepaire (1835) Um Official General do

Exercito (1835) Oliveira (1836) Poelitz (1839) Resumo de Histoacuteria Universal para

uso da aula drsquoHistoacuteria e Geographia (1839) Souza (1845) Brasil (1851) Abbade

Gaultier (1855) dentre outros opondo-se aos trabalhos corograacuteficos de Brandatildeo

(184-) Bellegarde (1840) Freese (1842) e outros embora as Geografias gerais

evidentemente destaquem bem o Brasil Isso porque as primeiras produccedilotildees de

manuais de Geografia destinam-se precipuamente para o ensino secundaacuterio que

tem com o ensino superior alguma atenccedilatildeo do Estado Portanto eacute maior a

produccedilatildeo para o ensino secundaacuterio se comparada agrave produccedilatildeo para o ensino

primaacuterio

Apenas em 1836 surgiram os primeiros livros produzidos diretamente para o

ensino primaacuterio com o Compendio de Geographia elementar Para uso das escolas

brazileiras de Pereira no Rio de Janeiro e em Recife o Compendio de Geographia

para uso das aulas de primeiras letras de autor natildeo identificado Na deacutecada

seguinte vieram outros como o de Santa Gertrudes (1840) e Cavalcanti (1846) Eacute a

esse tempo que o ensino primaacuterio comeccedila a desprender-se da alfabetizaccedilatildeo e

primeiras instruccedilotildees gerais e passa a ser organizado como um preparatoacuterio para o

ensino secundaacuterio e para uma formaccedilatildeo elementar85 Na bibliografia ainda eacute

perceptiacutevel a forte influecircncia das aulas avulsas (que poderiam ser ministradas nas

instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas sob regecircncia bem como por estudos individuais)

nessas circunstacircncias identifica-se uma obra como a de Souza (1845) Nocccedilotildees

elementares de Geographia astronomica physica e politica redigidas segundo um

novo plano methodico theorico e pratico e adaptadas para servir de compendio nas

academias lyceos etc como para ministrar os rudimentos de Geographia

propriamente dita sem auxilio e dependecircncia de professor cujo tiacutetulo por si soacute eacute

esclarecedor quanto agrave forma de aprendizado geograacutefico Afinal o que importava

eram os exames de admissatildeo seja no secundaacuterio seja no ensino superior

Na deacutecada de 1830 situaccedilatildeo permanente por muitos dececircnios ainda livros

configuram a irmandade entre Geografia e Histoacuteria ndash uma caracteriacutestica geral dessas

disciplinas a princiacutepio Traduzida e adaptada por Julio Frank86 em 1839 publicou-se

o Resumo da Histoacuteria Universal para uso da aula de Historia e Geographia de H L

Poelitz87 e sem autoria declarada Resumo da Histoacuteria Universal para uso da aula

de hrsquoHistoria e Geographia

A histoacuteria do livro de Julio Frank eacute esclarecedora do processo de emergecircncia

e produccedilatildeo de muitos manuais nessas deacutecadas iniciais A obra nasceu das

anotaccedilotildees feitas para as aulas que ministrava nos preparatoacuterios do Curso Anexo agrave

Faculdade de Direito de Satildeo Paulo Essas anotaccedilotildees eram feitas a partir da leitura e

estudo de um original alematildeo de autoria de H L Poelitz Com as devidas licenccedilas

governamentais publicou o volume em 1839 mas agrave exceccedilatildeo de outros autores

contemporacircneos natildeo assumiu a autoria do livro apenas situando-se nele como

adaptador

85

O livro Noccedilotildees elementares de Geographia compiladas para uso das escolas primarias de Zaluar a esse propoacutesito ldquoeacute escripto de accocircrdo com os pontos de Geographia que satildeo hoje preparatoacuterio para a matricula do primeiro anno do Collegio de Pedro IIrdquo (ZALUAR 1880)

86 Julio Frank ndash nasceu na Alemanha em Gotha em 08 de dezembro de 1808 e faleceu em Satildeo

Paulo em 19 de junho de 1841 Foi professor de Histoacuteria e Geografia nos preparatoacuterios do Curso Anexo da Academia de Direito de 1834 ateacute o ano do seu falecimento Apoacutes chegar ao Brasil fugindo de problemas financeiros em seu paiacutes trabalha no comeacutercio e ministra aulas particulares para estudantes que prestariam exames na Academia de Direito de satildeo Paulo (SCHMIDT sd MUumlLLER 1978 SERQUEIRA 1841)

87 H L Poelitz ndash historiador e geoacutegrafo alematildeo

Quando natildeo fazia visitas aos amigos das outras ldquorepuacuteblicasrdquo nem estendia o passeio ao Chico Ilheacuteu passava as horas sem sono a escrever liccedilotildees de Histoacuteria que no dia seguinte durante as aulas repetia aos alunos Assim dentro de pouco quase sem dar por isso jaacute havia acumulado mateacuteria para um compecircndio Entatildeo lembrando-se talvez do tempo do Goettingue teve ideacuteia de publicaacute-lo Com esse intuito dirigiu-se em 1837 ao governo explicando na peticcedilatildeo que o fazia para remediar a carecircncia de livros sobre a mateacuteria com que lutavam os estudantes O primeiro volume do compecircndio foi enfim publicado e trazia na capa os seguintes dizeres ldquoResumo de Histoacuteria Universal mdash Para uso da Aula de Histoacuteria e Geografia da Academia de Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais desta Cidade de S Paulo mdash Vol I mdash Contendo a Histoacuteria Antiga e da Idade Meacutedia mdash Impresso na Tipografia de M F Costa Silveira mdash Rua S Gonccedilalo n 14 mdash S Paulo mdash 1839rdquo As liccedilotildees contidas nesse volume eram adaptadas do historiador alematildeo H L Poelitz por isso nele natildeo figurava o nome de Juacutelio Frank que era de inacreditaacutevel modeacutestia (SCHMIDT sd p 40)

Na eacutepoca eram comuns livros de conhecimentos destinados ao puacuteblico em

geral sem visar propriamente a uma clientela escolar poreacutem sem necessariamente

excluiacute-la os quais eram denominados ldquocatecismosrdquo como estes identifiquei dois

para a Geografia ndash Novo Cathecismo geograacutefico brasileiro Offerecido aos senhores

pais de famiacutelia e professores de ambos os sexos de Gouvecirca (1832) e Cathecismo

de Geographia de Muller (1835) Surgem em um momento em que a Geografia de

certa forma potildee-se socialmente em evidecircncia

Nos anos 1840 surgiram algumas obras que mereceram reediccedilotildees

posteriores embora estas fossem com espaccedilamento agraves vezes superior a uma

deacutecada Eacute o caso de Antonio Pinto da Costa de Souza Brandatildeo88 (184- 1852) e

Joatildeo Henrique Freese89 (1842 1868 e 187190)

Na deacutecada seguinte nos anos 1850 surge um autor emblemaacutetico desse

periacuteodo Thomaz Pompeu de Souza Brasil que publicou Elementos de Geographia

Offerecidos agrave mocidade cearense em 1851 Surgiu como uma obra regional mas

que a partir da segunda ediccedilatildeo de 1856 passou a ser adotado no Coleacutegio Pedro II

e em outros liceus do paiacutes Sua uacuteltima ediccedilatildeo foi de 1869 O Compendio Elementar

de Geographia Geral e Especial do Brasil primeiro tiacutetulo da obra foi escrito no

contexto das atividades docentes do autor que era lente de Geografia no Liceu do

88

Antonio Pinto da Costa de Souza Brandatildeo ndash autor desconhecido

89 Joatildeo Henrique Freese ndash cidadatildeo inglecircs estabelecido no Brasil foi negociante e educador sendo

proprietaacuterio de um Instituto Colegial em Nova Friburgo (RJ) Eacute lembrado por ter obtido do Impeacuterio concessotildees para abrir uma estrada de ligaccedilatildeo entre Nova Friburgo Cantagalo e Macaeacute (MORAIS 2010)

90 Haacute ainda outra ediccedilatildeo cujo ano natildeo consegui identificar

Cearaacute Esse comportamento foi tiacutepico entre os sujeitos autores da bibliografia que

organizavam e editavam livros a partir de suas anotaccedilotildees e planejamento de aula

As duas primeiras ediccedilotildees do Compendio de Brasil foram organizados pelo

meacutetodo dialogiacutestico tambeacutem conhecido como meacutetodo Gaultier O Abbade Gaultier

traduzido por portugueses foi muito influente em ambos os lados do oceano No

Brasil chegou em 1838 e permaneceu reeditado ateacute a deacutecada de 1870 A obra de

Estaacutecio de Saacute Menezes tambeacutem foi organizada por esse meacutetodo e muitas outras

De acordo com esse meacutetodo as obras estruturavam-se em liccedilotildees natildeo capiacutetulos os

quais eram sequenciados por perguntas e respostas ndash um diaacutelogo automaacutetico entre

mestres e alunos

Intelectualmente Thomaz Pompeu de Souza Brasil situava-se em um

ecletismo cuja ldquo[] alquimia de ideacuteias ateacute certo ponto antagocircnicas ocorria pela

hibridaccedilatildeo da teologia catoacutelica com elementos de uma educaccedilatildeo esteacutetica fundada no

romantismo e conhecimentos voltados para uma accedilatildeo eminentemente pragmaacutetica

tiacutepica do liberalismordquo (SOUZA NETO 1997 p 24) Talvez por isso alguns aspectos

da obra tenham escandalizado Issler (1973) quando fazendo a primeira revisatildeo

criacutetica desse livro deparou-se a partir de um olhar da Geografia cientiacutefica com

fragmentos tais como esse

A Aacutesia eacute o paiz das faacutebulas dos sonhos e das imaginaccedilotildees phantaacutesticas se o judaiacutesmo e o cristianismo nasceratildeo alli em compensaccedilatildeo que cousas extravagantes e absurdas natildeo foram inventadas como religiatildeo por todos os povos asiaacuteticos As crenccedilas mais espalhadas satildeo o Boudhismo o Brahmanismo o Islamismo o Christianismo o Judaismo a dos Espiritos de Confucio dos Magos de Sintoacute etc (BRASIL 1864 p 196)

Como exemplo da descontextualizaccedilatildeo com que a maior parte da bibliografia

didaacutetica antiga de Geografia tem sido tratada e que vale a pena abordar aqui pois

haacute certa unidade na forma expressional e na organizaccedilatildeo dos conteuacutedos desse

periacuteodo Issler (1973 p 43) apoacutes elencar algumas distorccedilotildees de conteuacutedos e

sequecircncias discursivas assim conclui sobre os Elementos de Pompeu

Eacute o retorno agrave literatura fantaacutestica medieval com o sabor das aventuras de Marco polo O autor de imaginaccedilatildeo feacutertil e desinibida estava oferecendo como Geografia um produto que jaacute em sua eacutepoca era inacreditaacutevel os exageros e disparetes apresentados na obra natildeo satildeo encontrados nem mesmo nos mais exagerados cronistas de alguns seacuteculos antes

Se compreendido a partir da perspectiva da Geografia moderna cientiacutefica eacute

isso mesmo Todavia se recolocado em seu contexto a anaacutelise enriquece e

aproxima-se uma compreensatildeo mais adequada Pois se deve considerar o sujeito

dessa enunciaccedilatildeo religioso padre enunciando de um contexto no qual o

catolicismo era religiatildeo de Estado e a uacutenica aceita E a grande forccedila intelectual ativa

no Brasil desse periacuteodo eacute o Romantismo aacutegil em idealizar lugares e situaccedilotildees Eacute o

encontro da ldquoteologia catoacutelicardquo com a ldquoeducaccedilatildeo esteacuteticardquo como lembra Souza Neto

(1997)

Em seu juiacutezo criacutetico Issler prossegue identificando a utilizaccedilatildeo de Ayres de

Casal como modelo na parte referente ao Brasil e o meacutetodo de produccedilatildeo

transcriccedilotildees com algumas alteraccedilotildees Corrigido alterado pelas contigecircncias pouco

criticado seraacute Ayres de Casal a grande referecircncia para a contruccedilatildeo de uma imagem

do paiacutes na maioria das abordagens sobre o Brasil

Nos anos 1860 editado duas vezes nessa deacutecada e em outros anos ateacute

1902 temos em destaque as Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o

methode Gaultier de Estaacutecio de Saacute Menezes (pseudocircnimo de Joaquim Caetano

Fernandes Pinheiro) e aleacutem dele Pedro Joseacute de Abreu adotado no Coleacutegio Pedro

II e regionalmente Eudoro Brazileiro Berlink cujo compecircndio versando sobre o Rio

Grande do Sul teraacute uma boa aceitaccedilatildeo naquela proviacutencia Em 1863 o Baratildeo de

Macahubas (Abiacutelio Cezar Borges) um dos mais destacados educares dos

oitocentos publicou um volume de Geografia tratou-se de uma publicaccedilatildeo restrita a

uma instituiccedilatildeo baiana e com um recorte temaacutetico a Geografia Fiacutesica pelo que natildeo

teve a repercussatildeo de outros para outras disciplinas que escreveu amplamente

aceitas

Nos anos 1870 jaacute no fim de sua vida surgem os livros de Joaquim Maria de

Lacerda sem duacutevida o maior fenocircmeno da bibliografia didaacutetica de Geografia no

seacuteculo XIX cujas obras somente foram depostas no seacuteculo seguinte Jaacute eacute notaacutevel

nessa deacutecada a presenccedila de editoras comerciais sendo a maioria editada no Rio

de Janeiro

Os anos 1880 marcam o auge da produccedilatildeo bibliograacutefica da Geografia

escolar no seacuteculo XIX 44 tiacutetulos satildeo publicados Destacam-se Frere Ignace Chaput

(FIC) traduzido do francecircs Alfredo Moreira Pinto e Raul Villa-Lobos

423 A formaccedilatildeo do curriacuteculo escolar de Geografia no Impeacuterio

Nos anos iniciais da bibliografia natildeo havia proposiccedilatildeo curricular como se

teria apoacutes o estabelecimento do Coleacutegio Pedro II em fins da deacutecada de 1830 como

se teve na fundaccedilatildeo da Real Academia Militar em 1810 Da histoacuteria dos curriacuteculos

tem-se a institucionalizaccedilatildeo frequentemente como regra normatizadora dos

conteuacutedos No entanto pode-se tomar a obra de Bazilio Quaresma Torreatildeo91

Compendio de Geographia Universal se natildeo como a primeira proposta curricular

realizada como uma das mais completas desse tempo para o ensino de base Veja-

se no Quadro 14 a plataforma descritiva do curriacuteculo executado por este autor

Em uma versatildeo mais enxuta essa eacute a estrutura e forma de abordagem do

universo geograacutefico presente em Pinkerton (1804a 1804b) Tomando para exemplo

a abordagem sobre o clima em Portugal desconsiderando-se as descriccedilotildees

teacutecnicas vemos a seguinte enunciaccedilatildeo neste autor (1804a p 432) ldquoClimate and

seasons The climate of Portugal is familiarly known to be most excellent and

salutary []rdquo na versatildeo francesa ldquoClimat et saisons Tout le monde sait que le climat

du Portugal est singuliegraverement salubrerdquo (PINKERTON 1806 p 274) em Torreatildeo

(1824 p 62) ldquoPortugal que antigamente se chamava Luzitacircnia92 he hum dos

Paizes da Europa o mais execellente e o mais proprio para satisfazer as precisotildees e

comodidades da vida pela temperatura e salubridade do seu ar []rdquo

Em uma formaccedilatildeo discursiva mais ampla a dos tratados geograacuteficos e

tambeacutem no discurso didaacutetico de ampla aceitaccedilatildeo na eacutepoca como o francecircs

desenvolve-se sobre o clima de Portugal a ideia da salubridade (pois dessa forma o

clima de acordo com suas caracteriacutesticas era descrito e avaliado) como fato

ldquofamiliary known to be mostrdquoldquotout le mond saitrdquo que na enunciaccedilatildeo de Torreatildeo

91

Bazilio Quaresma Torreatildeo ndash nasceu na proviacutencia de Pernambuco em Olinda em fins do seacuteculo XVIII e faleceu em 1867 no Rio de Janeiro Foi poliacutetico brasileiro presidente da Proviacutencia da Paraiacuteba Tambeacutem atuou como professor de Geografia e Histoacuteria sendo relatado possuir grande erudiccedilatildeo nessas mateacuterias Integrou os rebeldes de 1817 que queriam a independecircncia da proviacutencia de Pernambuco Enquanto preso na Bahia em companhia do Frei Caneca lecionou trecircs cursos de Geografia e escreveu seu compendio o segundo no Brasil bem recebido pela criacutetica da eacutepoca e editado em Londres para onde se exilou por participar de outra rebeliatildeo em 1824 No exiacutelio residiu em outros paiacuteses europeus aleacutem da Inglaterra Quando retornou na deacutecada seguinte presidiu a proviacutencia do Rio Grande do Norte (1833-1836) e a da Paraiacuteba (1836-1838) Enquanto presidente do Rio Grande do Norte fundou o Atheneu Norte-Riograndense em 1834 Apoacutes 1838 atuou como deputado do Impeacuterio no Rio de Janeiro ndash (BLAKE 1883 BOLIGIAN 2010)

92 Em Pinkerton igualmente haacute consideraccedilotildees sobre os nomes antigos de Portugal

assume uma forma direta (verbo conjugado sem nenhuma condicional modal e

dispensando o reconhecimento do senso comum) sobrepondo a qualquer outro

europeu como ldquoo mais excellente e o mais proacutepriordquo concretizando um forte efeito de

sentido sobre sua salubridade sobretudo porque a ldquosingularidaderdquo como efeito no

discurso francecircs e a determinaccedilatildeo ldquoto be mostrdquo no discurso didaacutetico brasileiro se

diferencia pela determinaccedilatildeo do artigo ldquoardquo que atribui agrave sequecircncia discursiva uma

exclusividade que natildeo tem nas outras enunciaccedilotildees Eacute um momento o da produccedilatildeo

dessa obra em que os viacutenculos entre Brasil e Portugal satildeo sem duacutevida ainda muito

importantes Sobretudo trata-se de um diferencial que alccedila Portugal ndash origem

etnograacutefica importante para o povo brasileiro ndash por sobre todos os outros paiacuteses de

clima temperado quanto a esse criteacuterio

QUADRO 14 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Compendio de Geographia Universal rezumido de diversos authores e offerecido a mocidade brazileira de Bazilio Quaresma Torreatildeo 1824

Conteuacutedos GEOGRAFIA ASTRONOcircMICA Dos ceacuteos dos Astros e do Systema de Copernico Das differentes posiccedilotildees da Esfeacutera Das dimensotildees do Glocircbo Terrestre Do uso do Glocircbo Achar a Latitude dos Lugares Achar a Longitude dos Lugares Achar a distancia de dois lugares no Glocircbo Achar que horas satildeo em hum lugar quando he Meio dia em outro Achar a hora em que o Soacutel nasce e se potildeem em qualquer lugar da Terra Achar os Pericioanos Achar os Antecianos Achar os Antipodas GEOGRAFIA FIZICA E POLIacuteTICA Definiccedilotildees de differentes porccedilotildees de Terra e de Mar Religiatildeo Governo EUROPA - Golpe de vista Situaccedilatildeo Limites Extensatildeo e Populaccedilatildeo Mares e Gocirclfos Rios e Canaes Montanhas e Volcotildees Cabos e Estreitos Lagos Ilhas Peninsulas e Isthmos Divisatildeo Geral da Europa Portugal ndash situaccedilatildeo e limites Clima e Caracter dos Habitantes Governo Religiatildeo e Populaccedilatildeo Divisatildeo Geral Topographia Hespanha - Franccedila - Alemanha Confederaccedilatildeo Germanica - Imperio DrsquoAustria - Italia - Suiccedila - Paizes Baixos - Ilhas Britanicas - Denamarca - Suecia - Russia - Prussia - Imperio Turco - Ilhas da Europa - AZIA - Russia drsquoAzia - Imperio da China - Imperio do Japam - India - Persia - Arabia - Turquia Aziatica - Ilhas drsquoAzia - AFRICA - Africa do Norte - Aacutefrica a Leacuteste - Africa ao Sul - Africa ao Oeste Africa ao Centro - Ilhas drsquoAfrica - AMERICA SEPTENTRIONAL - Groelanda - Nova Bretanha - Canada - Nova Escossia - Costa do Noroeste - Estados Unidos - (acresce uma ldquoidea histoacutericardquo e descriccedilatildeo de todos os estados) Florida - Mexico - Campo do Asilo - Ilhas da America Septentrional - America Meridional - Novo Reino de Granada - Peru - La Plata - Antigo Chile - Patagotildees - Guyena - Paiz da Amazonas - Brazil ndash para cada proviacutencia descreve situaccedilatildeo extensatildeo limites uma ideacuteia histoacuterica clima terreno producccedilatildeo e commeacutercio habitantes governo religiatildeo populaccedilatildeo divisatildeo geral topographia aspecto do paiz [sic] rios ilhas lagocircas producccedilotildees e commeacutercio governo e subdivisatildeo Ilhas da America Meridional -

Fonte Torreatildeo (1824) Org Jeane Medeiros Silva 2012

Jaacute entatildeo se tinha o pensamento que seria acentuado quando do

determinismo geograacutefico em fins do seacuteculo XIX sobre as vantagens e desvantagens

do clima como fator geograacutefico formador da iacutendole de um povo (MACHADO 2000)

O que faz muito sentido quando Torreatildeo enquadra na mesma entrada o clima e o

Caracte r dos Habitantes exposto o clima afirma ldquoos Portuguezes em geral

satildeo polidos Generosos soacutebrios e melancoacutelicos e ainda que amatildeo a ostentaccedilatildeo

satildeo bravos e dados aacutes Artesrdquo (1824 p 63)

Essa construccedilatildeo se prolonga por outras obras em muitas das deacutecadas

seguintes ou simplesmente desaparece Na obra de Brasil (1864 p 158) o autor

considera que sobre Portugal ldquo[] o clima eacute benigno temperado e saudavel na

seacutetima ediccedilatildeo do Curso Methodico de Geogaphia Lacerda (1898 p 171) afirma ldquoO

clima de Portugal eacute temperado e saudaacutevel excepto em alguns siacutetios pantanososrdquo

Novaes (1929 p 322) apoacutes caracterizar o clima portuguecircs conclui ldquoem geral o

clima eacute satildeordquo ao passo que nenhuma consideraccedilatildeo sobre o clima de Portugal pode

ser encontrada em Scrosoppi (1915) e Lobo (1927) Estaacute em Torreatildeo uma aceitaccedilatildeo

teoacuterico-ideoloacutegica que se reproduz ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a

despeito dos avanccedilos sobre a questatildeo do clima que descartaram essa noccedilatildeo

valorativa Um sentido que desentranhado de suas origens se reproduz se altera

se preserva e desaparece mas somente apoacutes uma longa permanecircncia e apoacutes o

surgimento de outros contextos histoacutericos

Essas permanecircncias satildeo constantes e algumas inclusive atuais Eacute notaacutevel

a esse propoacutesito que jaacute na fundaccedilatildeo de um discurso didaacutetico brasileiro de Geografia

operavam certos indicadores de valores que passados diversos movimentos e

feiccedilotildees geograacuteficas e do ensino geograacutefico constatei na anaacutelise desse discurso na

contemporaneidade em minha dissertaccedilatildeo de mestrado Naquela ocasiatildeo analisei

dois capiacutetulos de um corpus didaacutetico um denominado ldquoAacutefricardquo e outro ldquoEstados

Unidos a superpotecircncia mundialrdquo percebi neles sobre o estabelecimento do espaccedilo

discursivo um capiacutetulo dado a um continente em sua totalidade e um outro para um

uacutenico paiacutes A distinccedilatildeo natildeo se limitava a esse aspecto formal pois jaacute nos tiacutetulos se

percebia um silenciamento no capiacutetulo africano (um uacutenico lexema ldquoAacutefricardquo) e uma

projeccedilatildeo qualitativa no tiacutetulo do capiacutetulo americano seguindo no fio do discurso

efeitos de sentidos contraditoacuterios e mesmo preconceituosos negativando a Aacutefrica e

positivando os Estados Unidos (SILVA 2006) De qualquer forma ali o valor poliacutetico

da contemporaneidade definia a forma de construir estas regionalidades

notadamente o espaccedilo discursivo a elas delimitado Na organizaccedilatildeo discursiva de

Torreatildeo nota-se jaacute o mesmo padratildeo de abordagem regional com destaque para os

paiacuteses considerados importantes e aglutinaccedilatildeo de outros natildeo tatildeo considerados em

blocos regionais Em especiacutefico sobre o Brasil Torreatildeo de fato fez uma siacutentese

bastante acentuada da uacutenica fonte que declara a obra de Ayres de Casal

Publicando sua obra em 1817 Casal aborda 21 proviacutencias ao passo que Torreatildeo

discorre sobre 15 Para cada uma delas como demonstrado no Quadro 14

descreve situaccedilatildeo extensatildeo limites uma ideacuteia histoacuterica clima terreno producccedilatildeo

e commeacutercio habitantes governo religiatildeo populaccedilatildeo divisatildeo geral topographia

aspecto do paiz [sic] rios ilhas lagocircas producccedilotildees e commeacutercio governo e

subdivisatildeo Resume praticamente os principais fatos histoacutericos a onomaacutestica e as

principais caracteriacutesticas fiacutesicas naturais e poliacuteticas dessas regiotildees

A estrutura da obra de Ayres de Casal (1817a 1817b) lanccedilou as bases do

curriacuteculo corograacutefico sobre o Brasil assim como Pinkerton e de La Croix

introduzidos no ensino de Geografia da Real Academia Militar e possivelmente

outros autores como os geoacutegrafos italiano Adrien Balbi (1782-1848) e o geoacutegrafo

alematildeo Conrad Malte-Brun (1755-1826) geoacutegrafos muito populares na Europa e no

Brasil (presentes nas principais bibliotecas do paiacutes) estabelecerem as bases de uma

Geografia geral para o ensino dessa disciplina

O modelo de Casal eacute levado ainda mais a termo na obra de Rabello (1829)

conforme se pode ver no Quadro 15 Esta obra pode ser considerada como a

primeira produccedilatildeo didaacutetica de Geografia de fato com enfoque regional seguindo-se

outras nas deacutecadas seguintes Apesar de o tiacutetulo propor uma descriccedilatildeo corograacutefica

do Brasil a obra restringe-se agrave proviacutencia da Bahia ficando o Brasil como um leve

contexto da forma como os trabalhos corograacuteficos abordavam as proviacutencias

Rebello abordou as comarcas da Bahia Muito proacutexima agrave forma de abordagem

casaliana daacute notiacutecias histoacutericas sobre a formaccedilatildeo territorial evidencia localizaccedilotildees e

com detalhes aborda as plantas e animais de cada territoacuterio ndash um conteuacutedo que teraacute

consideraacutevel decliacutenio nos manuais de Geografia agrave medida que as ciecircncias

consolidam um lugar na escola como disciplina escolar apenas sendo retomado

mais tarde por influecircncia da Geografia moderna cientiacutefica

QUADRO 15 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Corografia ou abreviada historia geographica do imperio do Brasil de Domingos Jose Antonio Rebello 1829

Conteuacutedos

Descobrimento da America em Outubro de 1842 por Christovam Colombo Piloto Genovez derivando-se o nome ndash America ndash de Americo Vespucio Piloto Florentino tambeacutem celebre nesta descoberta

Descobrimento do Brasil

Ideacutea geral dos Indigenas habitantes do Brasil

Notiacutecia dos Indigenas habitantes da Bahia de Todos os Santos antes do seo descobrimento

Naufragio de Diogo Alves Correia na Bahia em 1510 e o mais notaacutevel ateacute a chegada em 1547 de Francisco Pereira Coutinho aacute mesma

Situaccedilatildeo Extensatildeo e Limites do Brasil Serraniacuteas Cabos Bahias ou Portos principaes Ilhas Rio Clima Terreno Producccedilatildeo Commercio Lagocircas mais notaveis em diversas Provincias Mineralogia Fythologia Zoologia Reptis Anphibios Aves Insectos Arvores Resinas uteis Fructas Plantas medicinaacutees Raizes Hortaliccedilas e legumes Balsamos alguns medicinaes Especiarias Flores e plantas de cheiros

Historia em resumo e Epochas mais notaacuteveis do Brasil desde o seo descobrimento ateacute o presente e especialmente as desta Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos

Habitantes Governo religiatildeo e Populaccedilatildeo conforme o Estado actual do Impeacuterio do Brasil suas capitaes Cidades e Comarcas respectivas com as suas Villas

Provincia da Bahia em geral Aspecto do paiz Rios e Lagos Montanhas Mineralogia Fithologia Zoologia Estaccedilatildeo Commercio Governo e subdivisatildeo da Proviacutencia nas sus quatro Comarcas Comarca da bahia com 17 Villas Comarca da Bahia Portos Peixes Mariscos Ilhas Rios Rios nos Suburbos da Cidade Eacutepoca da Fundaccedilatildeo da Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos em 1549 primeira Cidade do Brasil Capital e primeira Comarca desta proviacutencia seos Estabelecimentos Governos assim Civil como Eclesiastico seo estado actual

Freguezias do lado Occidental da Costa da Enseada da Bahia Freguezias na contra-costa da parte do Norte Villas Julgados Arraiaacutees e Freguezias pertencentes aacute Cidade Villas e Freguezias do Recocircncavo da Cidade Comarca de Porto Seguro conhecida tambeacutem por Vera Cruz por ser o primeiro nome que teve dado pelo Navegante Pedro Aacutelvares Cabral em allusatildeo ao dia 3 de Maio invenccedilatildeo da Santa Cruz e por isso o Brasil todo tomou o nome de Terra de Santa Cruz Montes Rios Lagos e Portos Mineralogtia Zoologia Fythologia Comarca de Porto Seguro com 9 Villas Comarca de Satildeo Jorge dos Ilheacuteos Montes Rios e Lagos Portos e Ilhas Mineralogia Fithologia Zoologia Comarca de S Jorge dos Ilheacuteos com 10 Villas Comarca de Jacobina Montes Rios Mineralogia Fythologia Zoologia Comarca de Jacobina com seis Villas Comarca da Cidade Comarca de Porto Seguro Comarca de Ilheacuteos Resumo das particularidades da Proviacutencia da Bahia

Fonte Rebello (1829) Org Jeane Medeiros Silva 2011

O manual eacute emblemaacutetico de um momento em que o discurso didaacutetico de

Geografia tateia no escuro sua organizaccedilatildeo natildeo tem referecircncias ou orientaccedilotildees

claras Assim os conteuacutedos sofrem diversas ordens de instabilidade tais como

repeticcedilatildeo de temas ausecircncia de um sequenciamento loacutegico e outras Em um sentido

mais restrito proacuteprio ao zelo e cuidados expressivos de um autor o que demonstra

muito do improviso e do amadorismo dessas produccedilotildees a obra de Rabello que era

comerciante aponta incoerecircncias tais como intitular uma seccedilatildeo por Montes Rios

Lagos (os subtiacutetulos internos da bibliografia didaacutetica satildeo praticamente idecircnticos ndash

quase constituindo uma foacutermula) mesmo que na localidade abordada natildeo se faccedila

menccedilatildeo a nenhum lago por natildeo tecirc-los

Na deacutecada de 1850 o Coleacutegio Pedro II apresentava o curriacuteculo descrito no

Quadro 16 que se orienta metodologicamente do sentido geral para o particular dos

continentes para o Brasil direcionado agraves seacuteries da sua estrutura de ensino No

uacuteltimo ano encerra os estudos geograacuteficos com uma abordagem cosmograacutefica e

geograacutefica antiga De acordo com Issler (1973 p 41) essa cadeira ldquo[] cumpria um

programa de geografia histoacuterica com evidentes intenccedilotildees de erudiccedilatildeo retornando ao

mundo mediterracircneo que certamente atenderia aos interesses dos estudos

claacutessicos de filosofia e religiatildeo nas outras mateacuteriasrdquo

QUADRO 16 ndash Plataforma curricular do Coleacutegio Pedro II em 1850 ndash ensino secundaacuterio Ano Disciplina Conteuacutedos

2ordm ano Geografia

Os cinco continentes estudados nos seus aspectos fiacutesico-descritivos tais como limites paiacuteses mares golfos estreitos rios etc

3ordm ano Geografia Aacutefrica e Oceania destacando aleacutem dos aspectos fiacutesicos paiacuteses populaccedilotildees raccedilas religiotildees governos etc

4ordm ano Geografia Aacutesia ndash o mesmo tratamento

5ordm ano Geografia Europa ndash o mesmo tratamento mas com destaque agraves cidades principais dos vaacuterios paiacuteses

6ordm ano Geografia Ameacuterica e Brasil ndash Ameacuterica em geral aspectos fiacutesicos descoberta e Brasil em geral e estudo de cada proviacutencia

7ordm ano Cosmografia Geografia Antiga

Duas cadeiras uma de Cosmografia e Cronologia mistura de elementos de astronomia geografia fiacutesica climas e astrologia e outra de Geografia Antiga um estudo geograacutefico da divisatildeo do mundo antigo Aacutesia Menor e mundo Mediterracircneo

Fonte Isller (1973 p 39-40) Org Jeane Medeiros Silva 2011

No aspecto geral haacute poucas alteraccedilotildees significativas no curriacuteculo

estabelecido ao longo das primeiras deacutecadas do Coleacutegio Pedro II Os conteuacutedos

obedecem agrave divisatildeo quantitativa por seacuteries e agrave distribuiccedilatildeo destas pelos anos

escolares permanecendo sempre uma abordagem da Geografia Poliacutetica da

Geografia Fiacutesica e da Cosmografia

Na praacutetica desse curriacuteculo que considera a concepccedilatildeo de uma descriccedilatildeo do

mundo tem-se objetivamente a elaboraccedilatildeo de uma espeacutecie de mapa mental a ser

construiacutedo de fatos dados e descriccedilotildees de superfiacutecie por sua vez a serem somados

pelo estudante por meio da memorizaccedilatildeo

Trata-se assim em primeiro lugar de delinear os contornos fiacutesicos para

neles pontilhar ou dar a saber sem localizaccedilatildeo precisa (pois nos manuais

oitocentistas os mapas satildeo pouco frequentes e quando os haacute satildeo bem gerais em

escala muito reduzidas) os principais acidentes os mais importantes como as

terras os oceanos os mares e rios as montanhas e o que mais aprouver para para

uma descriccedilatildeo fiacutesica O objetivo eacute que o estudante estime em sua mente uma

organizaccedilatildeo das formas do planeta sua diferenciaccedilatildeo e suas unidades constitutivas

Em segundo plano vem o mesmo trabalho e expressatildeo agora condizente

agraves obras humanas as cidades mais importantes com descriccedilotildees ligeiras tais como

anotaccedilatildeo dos edifiacutecios mais importantes ou instituiccedilotildees representativas nelas

situadas das principais atividades rurais e industriais das entidades poliacuteticas

assentadas nesses territoacuterios

Isto posto em niacutevel global o proacuteximo passo era fazecirc-lo por continentes

adentrando os principais paiacuteses com a mesma abordagem O mesmo se faria com o

territoacuterio nacional apresentando um contexto histoacuterico desenhando os contornos

poliacuteticos e fiacutesicos para entatildeo entalhar as proviacutencias ndash uacutenica regionalizaccedilatildeo praticada

em todo o oitocentos e nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX

Em terceiro plano em ordem variaacutevel (pois agraves vezes precedia ou sucedia a

descriccedilatildeo geral) vinha a Cosmografia para descrever os astros os planetas e

cometas apresentar o sistema solar os movimentos do planeta Terra e o

estabeleciemento das estaccedilotildees as dimensotildees da terra as longitudes e latitudes as

zonas climaacuteticas e outras ordens nesse sentido Para atender aos estudos claacutessicos

a disciplina Geografia e seu curriacuteculo estabelecia uma abordagem do mundo Antigo

circunscrito agrave Aacutesia menor e aos paiacuteses mediterracircneos com o mesmo movimento

descritivo

Este era o conjunto de conteuacutedos e sua expressatildeo presente nos manuais de

Geografia em todo o periacuteodo imperial com pouca variaccedilatildeo Compare-se o curriacuteculo

exercido em duas ediccedilotildees da obra de Pompeu Brasil (Quadro 17)

O manual de Pompeu tem o mesmo comportamento das demais produccedilotildees

da segunda metade do seacuteclo XIX Divide-se em Cosmografia Geografia Fiacutesica e

Geografia Poliacutetica para as quais descreve os elementos e fatos essenciais Essa

essencialidade evidentemente eacute imbricada pela visatildeo do sujeito autor ou das

instacircncias sociais que representa e que justamente o constitui como sujeito isto eacute

eurocecircntrica burguesa catoacutelica Natildeo se trata de uma enumeraccedilatildeo isenta e neutra

A variaccedilatildeo de uma ediccedilatildeo para outra implica uma atualizaccedilatildeo geograacutefica e a

ampliaccedilatildeo da descriccedilatildeo Na quarta ediccedilatildeo por exemplo Brasil inclui a Oceania natildeo

presente nas ediccedilotildees anteriores e paiacuteses tambeacutem natildeo abordados anteriormente

O mesmo se verifica da ediccedilatildeo de um autor para a produccedilatildeo de um novo

autor Procede-se nesse sentido ao que observou Chervel (1990 p 209) citado

anteriormente

Todos os manuais ou quase todos dizem entatildeo a mesma coisa ou quase isso Os conceitos ensinados a terminologia adotada a coleccedilatildeo de rubricas e capiacutetulos a organizaccedilatildeo do corpus de conhecimentos mesmo os exemplos utilizados ou os tipos de exerciacutecios praticados satildeo idecircnticos com variaccedilotildees aproximadas Satildeo apenas essas variaccedilotildees aliaacutes que podem justificar a publicaccedilatildeo de novos manuais e de qualquer modo natildeo apresentam mais do que desvios miacutenimos o problema do plaacutegio eacute uma das constantes da ediccedilatildeo escolar

A Geografia escolar descritiva parece estruturar-se em um traccedilo cartograacutefico

como objetivo do seu modo de ser a fazer uma imagem seletiva clivada

ideologicamente dada por fatos e nomenclatura Seu ponto de partida foi a

Geografia claacutessica que antecedeu agrave fase cientiacutefica sendo tal qual ela de natureza

quantitativa e onomaacutestica

QUADRO 17 ndash Plataforma curricular executada na segunda e quarta ediccedilotildees de Pompeu Brasil

Div

isatildeo

Conteuacutedos (2 ed)

Div

isatildeo

Conteuacutedos (4 ed)

Co

sm

og

rafi

a

Dos Astros em geral Dos Planetas Da Esphera Do Zodiaco e Estaccedilotildees Da Terra Das longitude e latitudes Das Zonas sombras climas Da lua e fases

Co

sm

og

rap

hia

e

defi

niccedil

otildees

gera

es

Principios geraes de geographia astronocircmica Astros errantes Planetas e Cometas Systema solar movimento diurno e annual da terra e das estaccedilotildees Da esphera circulo linhas e pontos Zodiaco precessatildeo do equinocios e posiccedilatildeo da esphera Da terra sua figura e dimensotildees Das longitudes e latitudes Dos habitantes da terra em relaccedilatildeo aacutes suas zonas e sombras aos seus climas e a longitude e latitude Da lua suas phases e eclipses

Geo

gra

ph

ia

Ph

ysic

a Physica - parte liquida Atmosphera e Meteorologia

Geographia applicada Europa Physica Azia Physica Africa Physica America Physica Oceania Physica

Pri

nc

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s

Gera

es d

a

Desc

rip

ccedilatildeo

Ph

ysic

a

Descripccedilatildeo physica da terra Parte liquida do globo Atmosphera e meteorologia O grande continente divisatildeo do mundo e os oceanos Da sociedade civil foacutermas de governo leis e industria Da religiatildeo e dos diversos cultos do mundo Das raccedilas linguas e populaccedilatildeo do mundo

Geo

gra

ph

ia P

oliti

ca

Europa Politica Suecia e Norwega Dinamarca Russia Inglaterra Pruacutessia Hollanda e Beacutelgica Allemanha Aacuteustria Suissa Franccedila Portugal e Hespanha Turquia Grecia e Ilhas Jocircnicas Itaacutelia

Geo

gra

ph

ia d

esc

rip

tiva

Europa ndash Geographia Geral Descripccedilatildeo physica Descripccedilatildeo poliacutetica Geographia Particular Da Europa Septentrional e oriental ndash Ruacutessia Da Europa Septentrional ndash Reino Noruego-Sueco Da Europa Septentrional - Da Dinamarca Da Europa Septentrional ndash Inglaterra Da Europa Central ndash Pruacutessia Da Europa Central ndash Holanda Da Europa Central ndash Beacutelgica Da Europa Central ndash Allemanha ou Confederaccedilatildeo Germacircnica Europa Central ndash Aacuteustria Europa Central ndash Suissa ou Confederaccedilatildeo Helvetica Europa Central ndash Franccedila Europa Meridional ndash Hespanha Europa Meridional ndash Portugal Europa Meridional ndash Itaacutelia Europa Meridional ndash Estados Italianos Europa Oriental ndash Grecia e Ilhas Jocircnicas Europa Oriental ndash Turquia e Principados Danubianos

Azia e sua divisatildeo Siberia e Caacuteucaso China e Japatildeo Indostaatilde Turquia e Araacutebia Persia e Tartaria Belutchistan Kabul

Asia ndash Geographia Geral Descripccedilatildeo Physica Descripccedilatildeo Poliacutetica Geographia Particular Da Asia Septentrional e Meridional ndash Ruacutessia Asiatica (Siberia e Caucaso) Da Asia Occidental ndash Turquia Asiaacutetica Da Asia Ocidental ndash Araacutebia Da Asia Meridional ndash Persia Kaboul Belout-chiston e Herat Da Asia Meridional ndash Indostao e Indo-China Da Asia Oriental ndash Divisatildeo Politica das Iacutendias India independente India Colonial ou Estado Europecircos India-China ou aleacutem do Ganges Da Asia Oriental ndash China e paizes sujeitos Da Asia Oriental ndash Japatildeo Da Asia Central ndash Tartaria ou Turquestam independente

Africa e sua divisatildeo Egypto e Berberia Outros Estados da Aacutefrica

Africa - Geographia Geral Descripccedilatildeo Physica Descripccedilatildeo Poliacutetica Geographia Particular Da regiatildeo do Nilo - I Abyxinia (Ethiopia dos Anyigos) II Paiz do Bahr-el-Abiad III Nubia IV Egypto Da regiatildeo de Magheb Marrocos Argel Tripoli e Tunis Da regiatildeo austral e oriental Regiatildeo da Negricia e Africa Colonial

Ameacuterica America Russa Dinamarquesa e Inglesa Estados Unidos Meacutexico Antilhas Nova Granada Venesuela Equador Peru e Boliacutevia Chile Paraguay e Uruguay Confederaccedilatildeo Argentina Guayna e Patagocircnia

America - Geographia Geral Descripccedilatildeo physica Descripccedilatildeo poliacutetica Geographia Particular Da America Septentrional ndash America Russa dinamarqueza e inglesa Da America Septentrional ndash Estados Unidos Da America Septentrional ndash Meacutexico Da America Septentrional ndash America Central ou as cinco Republicas Das Antilhas e Guyanas ndash Hayti Cuba Porto Rico Jamaica e Martinica Da America Meridional ndash Columbia ou as Republicas de Nova Granada Equador Venezuela e Panamaacute Da America Meridional ndash Peru e Boliacutevia Da America Meridional ndash Paraguay La Plata e Uruguay Da America Meridional ndash Chile e America Indiacutegena

Brasil - Descoberta limites e extensatildeo Serras Cabos e Portos Ilhas lagos e rios Affluentes clima Producccedilotildees naturaes Populaccedilatildeo e Industria Forccedila Publica Religiatildeo Governo e sua divisatildeo eclesiaacutestica Divisatildeo Civil judiciaria e administrativa do Impeacuterio do Brasil Provincia do Amasonas Provincia do Para Provincia do Maranhatildeo Provincia do Piauhy Provincia do Cearaacute Provincia do Rio Grande do Norte Provincia da Parahiba Provincia de Pernambuco Provincia de Allagoas Provincia de Sergipe Provincia da Bahia Provincia do Espirito Santo Provincia do Rio de Janeiro Corte do Rio Provincia de Satildeo Paulo Provincia do Paranaacute Provincia de Santa Catharina Provincia do Rio Grande do Sul Provincia de Minas Geraes Provincia de Goiaz Provincia de Mato Grosso

Oceania ndash Geografia Geral Descripccedilatildeo physica Descripccedilatildeo poliacutetica

Imperio do Brasil America Meridional Fundaccedilatildeo posiccedilatildeo dimensotildees limites clima e salubridade Serras cabos ilhas portos e lagos Rios e affluentes Producccedilotildees naturaes mineralogia phictologia e zoologia Industria agricola manufatora e commercial Governo organizaccedilatildeo politica populaccedilatildeo e religiatildeo Organisaccedilatildeo administrativa financcedilas forccedilas correio e instrucccedilatildeo publica Divisatildeo eclesiatica judiciaria e civil Quadro das Provincias com sua superficie e populaccedilatildeo Provincia do Amazonas Provincia do Para Provincia do Maranhatildeo Provincia do Piauhy Provincia do Ceara Provincia do Rio Grande do Norte Provincia Parahyba Provincia de Pernambuco Provincia de Alagoas Provincia de Sergipe Provincia da Bahia Provincia do Espirito Santo Provincia do Rio de Janeiro Municipio da Corte Provincia de Satildeo Paulo Provincia do Parana Provincia de Santa Catharina Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul Provincia de Minas Geraes Provincia de Goyaz Provincia de Matto-Grosso

Oceania Estado Social da Oceania

FONTE Sousa Neto (1997 p 34-37) Brasil (1864) Org e Adapt Jeane Medeiros Silva 2011

A divulgaccedilatildeo dessas informaccedilotildees e a concretizaccedilatildeo maacutexima desse modo de entender a geografia aconteceu [sic] nos fins do seacuteculo passado e primeiros anos do seacuteculo XX com a publicaccedilatildeo de dicionaacuterios histoacutericos e geograacuteficos fartamente descritivos e encontrados em quase todas as bibliotecas puacuteblicas brasileiras Publicados tanto no Impeacuterio como na Repuacuteblica na sua maioria formam um arrolamento do quadro natural e histoacuterico disposto em ordem alfabeacutetica e quase sempre mateacuteria prima para o conteuacutedo dos muitos livros didaacuteticos [] (ISSLER 1972 p 17)

Organizou-se pela palavra em razatildeo dos meios disponiacuteveis das teacutecnicas

entatildeo alcanccedilaacuteveis E tendo essa Geografia por base limitou-se a ela mesmo

quando alternativas jaacute fizessem contexto para alterar o mundo estaacutetico tatildeo pleno de

informaccedilotildees excessivas Por quecirc

Talvez por faltar um debate sobre ensino por faltar uma classe de

profissionais de formaccedilatildeo especiacutefica que cuidasse do desenvolvimento desse saber

escolar

Talvez pelos objetivos da educaccedilatildeo natildeo exigirem nada aleacutem do que estava

ofertado

No Quadro 18 tem-se o curriacuteculo proposto no acircmbito do Coleacutegio Pedro II

em princiacutepios da deacutecada de 1880 cujos anos foram significativos para a bibliografia

escolar brasileira em razatildeo de certa explosatildeo no niacutevel e na quantidade de tiacutetulos

entatildeo publicados Em siacutentese regimenta-se pelo mesmo padratildeo curricular vigente

ateacute entatildeo embora com maior organizaccedilatildeo dos conteuacutedos O que o diferencia dos

demais eacute certa preocupaccedilatildeo metoloacutegica quanto ao ensino

Dar-se-ha mais desenvolvimento ao que disser respeito a Ameacuterica e principalmente a Meridional Exame intuitivo de mappas muraes desenho no quadro preto dos pormenores geographicos que abranger cada ponto viagens simuladas para diferentes partes em que os examinandos indiquem os acidentes physicos que podem encontrar e as curiosidades naturaes ou artisticas notaacuteveis

[]

Uso de espheras problemas

O Brasil passava por transformaccedilotildees significativas no acircmbito econocircmico e

poliacutetico que resultariam no advento da Repuacuteblica

QUADRO 18 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia no Coleacutegio Pedro II na vigecircncia do Decreto n 8051 de 25 de marccedilo de 1881

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos Geografia 1ordm ano Noccedilotildees de Geografia ndash sem especificaccedilotildees

Geografia 3ordm ano

GEOGRAPHIA Terra sua superficie seus movimentos principais circulos que nella se traccedilam para localizar as terras e determinar as zonas thermaes Divisatildeo das terras e do oceano Clima e sua influecircncia sobre a distribuiccedilatildeo dos vegetaes e animaes pela superficie da terra Das cinco grandes divisotildees das terras Mares golfos estreitos seus accidentes physicos Ilhas seus accidentes physicos Lagos rios lagunas seus limites suas dimensotildees e posiccedilotildees Populaccedilatildeo absoluta e relativa Governo e suas principaes formas Confederaccedilatildeo Estados soberanos e meio soberanos Divisatildeo dos povos segundo seu desenvolvimento moral e suas raccedilas Dos principaes paiacutezes do globo Posiccedilatildeo limites superfiacutecie Populaccedilatildeo governo religiatildeo Divisatildeo aspecto e clima Producccedilatildeo commercio e industria importancia politica Cidades principaes Dar-se-ha mais desenvolvimento ao que disser respeito a Ameacuterica e principalmente a Meridional Exame intuitivo de mappas muraes desenho no quadro preto dos pormenores geographicos que abranger cada ponto viagens simuladas para diferentes partes em que os examinandos indiquem os acidentes physicos que podem encontrar e as curiosidades naturaes ou artisticas notaacuteveis

Geografia e Cosmografia

4ordm ano

Universo Astros sua divisatildeo e aglomeraccedilatildeo em grandes grupos ou nebulosas Estrellas planetas cometas estrellas cadentes bolidos e aerolithos Systema de Ptolomeu e de Copernico Leis de Kepler Attraccedilatildeo e repulsatildeo Figura rotaccedilatildeo e revoluccedilatildeo da terra Ciacuterculos da esphera Estaccedilotildees Posiccedilotildees da esphera e dias Lua Eclipses Uso de espheras problemas

Corografia do Brasil

7ordm ano

Limites do Brazil e sua posiccedilatildeo astronocircmica Ethnographia e clima do Brazil Ilhas estreitos e cabos principaes do Brazil Bahias e portos do Brazil Systema orographico brazileiro Systema hidrographico brazileiro Produccedilotildees naturaes do Brazil Industria agricultura commercio e progresso material do paiz Systema de governo e administraccedilatildeo do Estado (militar judiciario e eclesiastico) Instituiccedilotildees e estatistica Synopse da Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Imperio e Coacutedigo Criminal Colonizaccedilatildeo e catechese Provincia do Amazonas Provincia do Gratildeo Paraacute Provincia do Maranhatildeo Provincia do Piauhy Provincia do Cearaacute Provincia do Rio Grande do Norte Provincia da Parahyba Provincia de Pernambuco Provincia das Alagoas Provincia de Sergipe Provincia da Bahia Provincia do Espirito Santo Municipio Neutro Provincia de Satildeo Paulo Provincia do Parana Provincia de Santa Catharina Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul Provincia de Minas Geraes Provincia de Goyaz Provincia de Mato Grosso

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Se antes se fazia uma abordagem geral do mundo recortando-se em

imediato uma corografia nacional o ato legislador nesse momento pede maior

atenccedilatildeo a um entreposto agrave Ameacuterica das nossas vizinhanccedilas as relaccedilotildees comerciais

entrelaccedilavam-se havia problemas geopoliacuteticos quanto agrave demarcaccedilatildeo de fronteiras

entatildeo recentemente encerrara-se talvez o mais importante conflito beacutelico da histoacuteria

nacional (a Guerra com o Paraguai)

Haacute ainda a tentativa de fazer certo movimento certa dinacircmica na Geografia

estaacutetica que caracterizara o ensino ateacute esse momento o que se pretendia natildeo pela

alteraccedilatildeo do discurso mas da praacutetica desse discurso ou seja na metodologia de

ensino Por isso mesmo no contexto de uma plataforma curricular reforccedila o

emprego de exame de mapas desenhos simulaccedilatildeo de viagens o uso de esfera e a

formulaccedilatildeo de problemas geograacuteficos tenta-se entatildeo um meio de se tirar da

inaniccedilatildeo as informaccedilotildees por vezes caudalosas por vezes sem sentido que habitam

as superfiacutecies discursivas do livro didaacutetico de Geografia

Esse modelo curricular seraacute encontrado nas obras da bibliografia do final do

Impeacuterio e nos anos iniciais da Repuacuteblica Nos Quadros 19 e 20 tem-se a plataforma

curricular de uma corografia e de uma Geografia geral publicadas na deacutecada de

1880 e reeditada ateacute no princiacutepio do seacuteculo XX

Assim em Lacerda (1898) tem-se a abordagem do Brasil no mesmo

contexto de abordagem das Ameacutericas com as proviacutencias jaacute renomeadas como

Estados em vigecircncia da Repuacuteblica atualizaccedilatildeo feita por Luiz Leopoldo Fernandes

Pinheiro responsaacutevel pelo prolongamento da vida uacutetil das obras do autor entatildeo jaacute

falecido

Se por um lado comeccedilava-se a ter uma preocupaccedilatildeo com a metodologia do

ensino por outro a referenciaccedilatildeo discursiva ainda se caracterizava pela

fragmentaccedilatildeo do saber com a qual se esperava compor quadros isolados fiacutesicos e

poliacuteticos a serem sobrepostos pelos alunos presumidamente na tentativa de

compor uma imagem geograacutefica do mundo ou de suas partes

Essas obras exemplares do periacuteodo indicam os tracircmites transitivos do

Impeacuterio para a Repuacuteblica Essencialmente os conteuacutedos e seu meacutetodo ou a

concepccedilatildeo geograacutefica permanecem o mesmo a despeito das diversas tentativas de

reformas educacionais implementadas pela Repuacuteblica Atualizam-se as proviacutencias

para estados mas permanece a ecircnfase numa divisatildeo territorial eclesiaacutestica como

ainda recomendado no programa de 1881 o Impeacuterio e a Igreja Catoacutelica tinham um

consoacutercio que a Repuacuteblica aboliria

QUADRO 19 ndash Plataforma curricular executada no Curso methodico de Geographia de Joaquim Maria de Lacerda deacutecada de 1880

Geographia Geral Noccedilotildees preliminares Definiccedilotildees geometricas Noccedilotildees de Cosmographia Definiccedilotildees geographicas Producccedilotildees do globo Classificacao dos homens Europa descripccedilatildeo physica descripccedilatildeo politica Aacutesia Aacutefrica Ameacuterica Oceania Quadro comparativos dos principaes lagos rios e montes

Geographia Particular

Paizes da Europa Ilhas Britannicas Dinamarca Suecia e Noruega Russia Europecirca Franccedila Beacutelgica Hollanda Allemanha Austria-Hungria Suissa Portugal Hespanha ltalia Turquia Europecirca Grecia Rumania Servia Bulgaacuteria Montenegro Paizes da Aacutesia Russia da Aacutesia Turquia da Aacutesia Araacutebia Peacutersia Afghanistan Belutchistan Turkestan independente India ou Hindostatildeo lndo-China Imperio Chinecircs Corea Japatildeo Paizes da Aacutefrica Egypto Abyssinia Barbaria Sahara Senegambia Guineacute Superior Guineacute Inferior Hotentotia Colonia do Cabo Cafraria Moccedilambique Zanguebar Somal Sudan Nigricia Meridional Ilhas da Aacutefrica Paizes da Ameacuterica Groenlacircndia America Septent Ingleza Estados-Unidos Meacutexico America Central Antilhas Guyanas Venezuela Colombia ou Nova Granada Republica do Equador Peruacute Boliacutevia Chile Republica Argentina Republica do Uruguay Republica do Paraguay Republica Patagocircnia Estados-Unidos do Brazil Estado do Amazonas Estado do Paraacute Estado do Maranhatildeo Estado do Piauhy Estado do Cearaacute Estado do Rio Grande do Norte Estado da Parahyba do N Estado de Pernambuco Estado das Alagoas Estado de Sergipe Estado da Bahia Estado do Espirito-Santo Estado do Rio de Janeiro Districto federal Estado de S Paulo Estado do Paranaacute Estado de S Catharina Estado do Rio Grande do Sul Estado de Minas Geraes Estado de Goyaz Estado do Matto-Grosso Estatistica do Brazil Oceania Possessotildees Inglezas Possessotildees Hollandezas Possessotildees das outras naccedilotildees Esiados independentes

Cosmografia

Definiccedilotildees geomeacutetricas Do Universo em geral Atraccedilatildeo e forccedila centrifuga Parallaxe O sol Manchas do Sol Densidade do Sol A terra Antipodas Redondeza da Terra Atmosphera Ventos Chuvas Refracccedilatildeo astronomica Aurora e crepusculo Climas Linhas pontos e circulos da esphera Medida da longitude Medida da latitude Movimento diurno da Terra Movimento annual da Terra Estaccedilotildees Dia sideral e solar Tempo verdadeiro e meacutedio Equa-ccedilatildeo do tempo Anno sideral e solar Precessatildeo dos equinoxios A Lua Caracteres geraes Mo-vimentos Orbita Retrogradaccedilatildeo dos noacutes Phases da Lua Influencia da Lua sobre as mares Revoluccedilatildeo sideral e synodica da Lua Libraccedilatildeo Eclipses Systema solar ou planetario Cometas Estrellas cadentes etc Estrellas fixas Nebulosas Posiccedilotildees da esphera Globos cartas geographicas Projeccedilotildees Calendario Cyclo lunario e Aureo numero Epacta Cyclo solar Indicccedilatildeo Romana Lettra dominical Festas do anno Problemas de Cosmographia Fonte Lacerda (1898) Org Jeane Medeiros Silva 2011

QUADRO 20 ndash Plataforma curricular executada nos Elementos de Chorographia do Brazil de Henrique Martins deacutecada de 1880

Descripccedilatildeo Physica Bahias Ilhas Cabos Pontas Montanhas Chapadotildees Lagos e lagoas Bacias fluviaes Bacia do Amazonas Bacia Oriental Bacia do Prata

Descripccedilatildeo Politica

Posiccedilatildeo astronomica Extensatildeo Superficie Limites Populaccedilatildeo Grupos ethnographicos Descripccedilatildeo do littoral Estructura physica Aspecto physico Clima Producccedilatildeo Flora Fauna Agricultura Industria Mineraccedilatildeo Commercio Creaccedilatildeo de gado Estradas de ferro Telegrapho Navegaccedilatildeo Governo Divisatildeo administrativa Divisao judiciaria Financcedilas Religiatildeo Divisao ecclesiastica Industria

Descripccedilatildeo dos Estados

Amazonas Paraacute Maranhatildeo Piauhy Cearaacute Rio Grande do Norte Parahyba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Espirito Santo Rio de Janeiro Districto Federal S Paulo Paranaacute Santa Catharina Rio Grande do Sul Minas Geraes Goyaz Matto Grosso Fonte Martins (1896) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Por outro lado esses curriacuteculos aleacutem dos movimentos poliacuteticos indicam as

transformaccedilotildees econocircmicas pelas quais o Brasil passava O curriacuteculo de 1881

orienta a abordagem da ldquoIndustria agricultura commercio e progresso material do

paizrdquo no curriacuteculo das obras as inovaccedilotildees vatildeo sendo colocadas paulatinamento

Em Martins (1896 ndash 5ordf ediccedilatildeo) por exemplo uma parcela desse progresso material

eacute colocado ao lado das tradicionais abordagens da ldquoAgricultura Industria

Mineraccedilatildeo Commercio Creaccedilatildeo de gadordquo eacute o caso das ldquoEstradas de ferrordquo e do

ldquoTelegraphordquo

No proacuteximo capiacutetulo considerando constituida e institucionalizada a

disciplina Geografia com uma bibligorafia didaacutetica consolidada e jaacute enquadrada em

uma tradiccedilatildeo passo a abordar os movimentos de sua conformaccedilatildeo e

desenvolvimento discursivo considerando o contexto histoacuterico do debate que

promove transformaccedilatildeo em seu fazer e modo de ser durante a vigecircncia da Primeira

Repuacuteblica em fins do seacuteculo XIX ateacute a deacutecada de 1930

CAPIacuteTULO 5

DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA ESCOLAR NA PRIMEIRA REPUacuteBLICA (1889-1930) permanecircncias e

transformaccedilotildees na disciplina e em sua bibliografia didaacutetica

Ordinariamente se faz o estudo do paiz pelos compendios Ainda que o livro natildeo vaacute aacutes matildeos do alumno eacute pelo livro que o professor ensina e portanto eacute pelo livro que o alumno aprende

Antonio Firmino Proenccedila 1928

A transiccedilatildeo do periacuteodo imperial para o periacuteodo republicano sinalizou

evidentemente transformaccedilotildees que atingiram toda a dinacircmica social do paiacutes

inclusive a educaccedilatildeo O Brasil propriamente enfrentava uma reestruturaccedilatildeo social a

partir da nova organizaccedilatildeo da sociedade com aboliccedilatildeo da escravatura a chegada

de imigrantes em massa e a presenccedila da matildeo de obra livre Economicamente havia

o surgimento do esboccedilo de uma produccedilatildeo industrial Jaacute entatildeo havia uma plataforma

cultural efervescente sinalizando para a consolidaccedilatildeo de uma classe intelectual

constituiacuteda por profissionais liberais militares funcionaacuterios puacuteblicos e outros

interessados pela direccedilatildeo do destino da naccedilatildeo e dos proacuteprios negoacutecios O paiacutes

passava por um periacuteodo de modernizaccedilatildeo estrutural com impacto significativo nas

relaccedilotildees sociais que incluiacutea

[] o encurtamento das distacircncias com a construccedilatildeo de vias feacuterreas e a expansatildeo das jaacute existentes a agilizaccedilatildeo dos transportes mariacutetimos atraveacutes dos barcos a vapor a modernizaccedilatildeo dos processos de fabrico do accediluacutecar e a construccedilatildeo de engenhos sem contar o importante avanccedilo nos processos de beneficiamento do cafeacute que aumentaram a sua produtividade Todas essas alteraccedilotildees foram decisivas no surgimento de novas relaccedilotildees e novos interesses na sociedade Da mesma forma que estas mudanccedilas o incremento das induacutestrias a urbanizaccedilatildeo e a modernizaccedilatildeo das capitais e das cidades portuaacuterias bem como a imigraccedilatildeo contribuiacuteram de algum modo para a Repuacuteblica e para a federalizaccedilatildeo do paiacutes Aleacutem eacute claro de

todas as ideacuteias trazidas da Revoluccedilatildeo Francesa que tiveram igualmente sua influecircncia (CARTOLANO 1994 p 94)

A Repuacuteblica assim significou uma reorganizaccedilatildeo radical da plataforma

poliacutetica do paiacutes pois ldquoDo impeacuterio unitaacuterio o Brasil passou bruscamente com a

Repuacuteblica para uma federaccedilatildeo largamente descentralizada que entregou agraves antigas

Proviacutencias agora Estados uma consideraacutevel autonomia administrativa financeira e

ateacute poliacuteticardquo (PRADO JUacuteNIOR 1998 p 218)

O conjunto dessas mudanccedilas natildeo foi isento no campo educacional embora

continuasse como privileacutegio das elites que sustentavam as instituiccedilotildees particulares e

ainda se valiam do Estado para estabelecer um ensino puacuteblico que as favorecesse

A nova constituiccedilatildeo da Repuacuteblica promulgada em 1891 incluiu os municiacutepios e as

instituiccedilotildees privadas como responsabilidade do Estado (AZEVEDO 1963) A

estrutura educacional herdada do Impeacuterio dividia-se entre a responsabilidade federal

que se ocupava do ensino secundaacuterio e do ensino superior ndash o que significava a

formaccedilatildeo das elites e a responsabilidade das proviacutencias que se centrava no ensino

primaacuterio embora lhes fosse facultada a atuaccedilatildeo em todas as esferas do ensino

elementar por limitaccedilotildees econocircmicas as proviacutencias limitaram-se a liceus nas

capitais e em alguma ou outra cidade de maior vulto no interior de seus territoacuterios

Ao passo que no periacuteodo imperial o governo central tivesse vistas apenas para o

ensino superior e para o ensino secundaacuterio este quase que exclusivamente restrito

ao Coleacutegio Pedro II no periacuteodo republicano a preocupaccedilatildeo pelo menos em niacutevel

legislativo foi mais abrangente Eacute o que demonstram as propostas ditas reformas

promulgadas por ministros da Repuacuteblica responsaacuteveis pela orientaccedilatildeo da educaccedilatildeo

que no periacuteodo em anaacutelise foram as seguintes Decreto n 981 de 8 de novembro

de 1890 ndash Reforma Benjamim Constant Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901

ndash Reforma Epitaacutecio Pessoa Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 ndash Reforma

Rivadaacutevia Correcirca Decreto de n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 ndash Reforma Carlos

Maximiliano Decreto nordm 16782-A de 13 de janeiro de 1925 ndash Reforma Luiz Alves

Rocha Vaz Decreto nordm 19890 de 18 de abril de 1931 ndash Reforma Francisco

Campos

51 A educaccedilatildeo brasileira na Repuacuteblica o lugar da Geografia escolar e sua proposta curricular

Com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica a primeira iniciativa importante para a

educaccedilatildeo foi o surgimento em 19 de abril de 1890 do Ministeacuterio da Instruccedilatildeo

Correio e Teleacutegrafos93 que sob responsabilidade do nomeado ministro Benjamim

Constant Botelho de Magalhatildees (de formaccedilatildeo positivista) promulgou meses mais

tarde em 08 de novembro do mesmo ano o Decreto n 981 que se destaca por ser

uma plataforma de propostas que pela primeira vez desde a Independecircncia

abarcava todos os niacuteveis de ensino

A Reforma de Benjamin Constant instituiu a seriaccedilatildeo obrigatoacuteria uma

proposta que tenta combater a longa tradiccedilatildeo dos preparatoacuterios (aulas avulsas com

exames comprobatoacuterios) tantas vezes vizada pela legislaccedilatildeo imperial e tantas vezes

enfraquecida pela pressatildeo das elites que desejavam acelerar a formaccedilatildeo de seus

filhos e ingressaacute-los com rapidez nas instituiccedilotildees superiores O modelo seriado

posteriormente foi incorporado tambeacutem ao ensino primaacuterio Para a educaccedilatildeo

nacional seu meacuterito foi instituir-se como modelo de organizaccedilatildeo para os

estabelecimentos provinciais agora estatizados (RIBEIRO 2001)

Essa reforma contemplando todos os niacuteveis da educaccedilatildeo teve inspiraccedilatildeo

positivista o que implicava uma tendecircncia cientiacutefica ndash e que jaacute estava na

mentalidade brasileira apoacutes meados do seacuteculo XIX mas com maior sucesso nas

aacutereas exatas (AZEVEDO 1963) propondo um rompimento com a tradiccedilatildeo literaacuteria e

claacutessica que sempre fora predominante no ensino brasileiro Assim a reforma

pretendeu contextualizar a educaccedilatildeo na ciecircncia opondo-se agrave tradiccedilatildeo claacutessica

colocando em ordem uma influecircncia positivista e liberal Poreacutem seria criticada por

natildeo compreender adequadamente o Positivismo como orientaccedilatildeo e por isso

apenas sobrepor disciplinas cientiacuteficas ao quadro constituiacutedo pelos estudos

claacutessicos

Pode-se dizer de uma mudanccedila de pensamento no meio intelectual

brasileiro pois a Repuacuteblica alvorece sob a conduccedilatildeo de militares que tinham em

93

Extinto como pasta educacional pouco depois poreacutem a partir de entatildeo a educaccedilatildeo sempre teve uma pasta ministerial para por ela responsabilizar-se

comum aleacutem de uma visatildeo liberal uma inspiraccedilatildeo positivista quanto agrave concepccedilatildeo

do conhecimento e de suas praacuteticas

Benjamin Constant esteve entre os intelectuais empenhados em introduzir o

Positivismo no Brasil particularmente na Lei com a qual introduziu as diretrizes de

reorganizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em princiacutepio para a capital federal mas podendo ser

extensiva ao restante do paiacutes Todos os siacutembolos e heranccedilas do Impeacuterio de alguma

forma foram afetados pela nova forma de pensar da qual natildeo escapou nem mesmo

a bandeira nacional a qual teve agregado o lema ldquoOrdem e Progressordquo (palavras

chaves no Positivismo) por proposiccedilatildeo de Benjamin Constant (Decreto nordm 4 de 19

de novembro de 1889) Com a educaccedilatildeo natildeo seria diferente

Augusto Comte (1798-1857) cujas ideias satildeo marcantes nesse periacuteodo do

Brasil formulou o estado cientiacutefico ou positivo em oposiccedilatildeo a dois outros de acordo

com seu sistema histoacuterico-epistemoloacutegico ndash o estado teoloacutegico ou fictiacutecio e o estado

metafiacutesico ou abstrato Comte (1983 p 4 ndash grifos meus) assim define o Positivismo

[] o espiacuterito humano reconhecendo a impossibilidade de obter noccedilotildees absolutas renuncia a procurar a origem e o destino do universo a conhecer as causas iacutentimas dos fenocircmenos para preocupar-se unicamente em descobrir graccedilas ao uso bem combinado do raciociacutenio e da observaccedilatildeo suas leis efetivas a saber suas relaccedilotildees invariaacuteveis de sucessatildeo e de similitude A explicaccedilatildeo dos fatos reduzida entatildeo a seus termos reais se resume de agora em diante na ligaccedilatildeo estabelecida entre os diversos fenocircmenos particulares e alguns fatos gerais cujo nuacutemero o progresso da ciecircncia tende cada vez mais a diminuir (COMTE 1978 p 4)

Desde o Iluminismo de certa forma essas eram ideias que fundamentavam

o fazer da ciecircncia O diferencial do Positivismo foi a praticidade que perseguiu e

sobretudo a aplicaccedilatildeo dos modelos do conhecimento da fiacutesica para o social

visando uma evoluccedilatildeo e desenvolvimento do ser humano No Brasil locais como a

Escola Militar o Coleacutegio Pedro II (Oliveira Guimaratildees professor de matemaacutetica

fundou a primeira sociedade positivista em 1876) e a Escola Politeacutecnica do Rio de

Janeiro ndash centros importantes de formaccedilatildeo da classe poliacutetica e intelectual do paiacutes ndash

tiveram papel na assimilaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo do pensamento positivista Pode-se dizer

de uma inflecircncia positivista poreacutem natildeo propriamente de uma orientaccedilatildeo positivista

pois segundo Azevedo (1963) muitos dos preceitos dessa filosofia eram mal

interpretadas pelos intelectuais brasileiros Comte por exemplo era avesso ao

ensino de ciecircncias a menores de 14 anos pois a faixa etaacuteria ateacute essa idade deveria

a seu ver ter uma educaccedilatildeo sobretudo esteacutetica

Nessas circunstacircncias a Reforma de Benjamin Constant objetivou tornar o

ensino elementar formador natildeo unicamente preparatoacuterio para o ingresso no ensino

superior ndash uma ideia antiga poreacutem sempre com dificuldades para sua regularizaccedilatildeo

e implantaccedilatildeo A lei planejava nove periacuteodos letivos denominados de classes para

o ensino primaacuterio com um 1ordm grau dividido em elementar meacutedio e superior para

alunos de 7 a 13 anos e um segundo grau para alunos maiores de 13 anos com

certificaccedilatildeo correspondente a cada grau Para ingresso no ensino secundaacuterio e para

se obter emprego administrativo nas reparticcedilotildees puacuteblicas seria necessaacuterio

apresentar certificado de 1ordm grau Nessa organizaccedilatildeo em niacutevel do ensino

secundaacuterio ainda elaborado para o Coleacutegio Pedro II ndash que passou a ser denominado

Ginaacutesio Nacional ndash o ensino de Geografia ficou presente em todos os sete anos do

curso como demonstrado no Quadro 21

Com a nova reforma foi sugerida a ldquoliccedilatildeo de coisasrdquo como meacutetodo

educacional Polecircmica no final do seacuteculo XIX e incursatildeo metodoloacutegica desde os

anos 1870 a liccedilatildeo de coisas oscilou entre ser um meacutetodo ou uma disciplina (como

proposto pelo Decreto n 7247 de 19 de abril de 1878 de autoria do ministro Carlos

Leocircncio de Carvalho)

Rui Barbosa (1849-1923) no Parecer-Projeto Reforma do Ensino Primaacuterio e

Vaacuterias Instituiccedilotildees Complementares da Instruccedilatildeo Puacuteblica (1981) recomendou a

implantaccedilatildeo das Liccedilotildees de coisas como meacutetodo nas escolas primaacuterias da capital do

Impeacuterio

Por esse meacutetodo haveria ldquo[] o ensino pelo aspecto pela realidade pela

intuiccedilatildeo pelo exerciacutecio reflexivo dos sentidos pelo cultivo complexo das faculdades

de observaccedilatildeo como o destinado a suceder triunfantemente aos processos

verbalistas ao absurdo formalismo da escola antigardquo (BARBOSA 1886 p VII grifos

do autor) e

A liccedilatildeo de coisas natildeo eacute um assunto especial no plano de estudos eacute um meacutetodo de estudo natildeo se circunscreve a uma secccedilatildeo do programa abrange o programa inteiro natildeo ocupa na classe um lugar separado como a leitura a geografia o caacutelculo ou as ciecircncias naturais eacute o processo geral a que se devem subordinar todas as disciplinas professadas na instruccedilatildeo elementar No pensamento do substitutivo pois a liccedilatildeo de coisas natildeo se

inscreve no programa porque constitue o espiacuterito dele natildeo tem lugar exclusivo no horaacuterio preceitua-se para o ensino de todas as mateacuterias como o meacutetodo comum adaptaacutevel e necessaacuterio a todas (BARBOSA 1981 v X t II p 214-215 grifos do autor)

QUADRO 21 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia de acordo com o Decreto n 981 de 8 de novembro de 1890 para a instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria do Distrito Federal Reforma Benjamim Constant

1890

Prim

aacuterio d

e 0

9 a

nos

Decreto n 981 de 8 de novembro de 1890 Art 3 Reforma Benjamim Constant

Ensino Primaacuterio do 1ordm Grau

Curso Elementar Classe 1ordf Geografia

Classe 2ordf Geografia

Curso Meacutedio Classe 1ordf Geografia

Classe 2ordf Geografia

Curso Superior Classe 1ordf Geografia

Classe 2ordf Geografia

Ensino Primaacuterio do 2ordm Grau

Classe 1ordf -

Classe 2ordf Geografia

Classe 3ordf Geografia

Programa proposto para o Gymnaacutesio Nacional

Secun

daacuteri

o d

e 0

7

anos

Ensino Secundaacuterio Integral

1ordm ano Geografia Fiacutesica (3 horas)

2ordm ano Geografia poliacutetica e econocircmica (3 horas)

3ordm ano Geografia Revisatildeo - 01 hora

4ordm ano Geografia Revisatildeo - 01 hora

5ordm ano Geografia Revisatildeo - 01 hora

6ordm ano Geografia Revisatildeo - 01 hora

7ordm ano Geografia Revisatildeo - 01 hora

Fonte Brasil (1890) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Contrapostos aos meacutetodos vigentes ateacute entatildeo baseados na repeticcedilatildeo por esse

meio se procuraria trabalhar a reflexatildeo iniciando o aprendizado pela ldquocuriosidaderdquo

pela motivaccedilatildeo

No caminho que a proacutepria crianccedila costuma seguir examinando os vaacuterios objetos que derredor se lhe deparam estaacute ensinando a natureza mesma o verdadeiro plano para a realizaccedilatildeo desse desejaacutevel propoacutesito Aproveite-se o educador dessa sede de saber do menino e induza-o a exercer os sentidos em cada objeto que sucessivamente se lhe oferecer vendo apalpando ouvindo saboreando ou cheirando conforme couber Esse meacutetodo por onde a natureza ensina e o homem ainda natildeo foi dado excede-lo Pelo emprego das faculdades perceptivas nas realidades que o cercam junta o menino de si mesmo antes de ir a escola um copioso pecuacutelio de ideacuteias (BARBOSA 1886 p 4-5)

E como visto ldquoa Geografia ocupa posiccedilatildeo destacada natildeo soacute em funccedilatildeo da

nova metodologia mas tambeacutem por causa do reconhecimento de seus meacuteritos

educativosrdquo (ISSLER 1973 p 97) nesse momento eacute claro que a educaccedilatildeo tem um

papel edificante no estabelecimento e desenvolvimento de uma naccedilatildeo (VLACH

1988) sobretudo quanto ao apagamento de marcas do Impeacuterio haacute uma nova

configuraccedilatildeo poliacutetico-administrativa Essas mudanccedilas precisam de divulgaccedilatildeo e a

escola eacute um de seus meios de propagaccedilatildeo Apesar de estar presente em todos os

anos do ensino primaacuterio (agrave exceccedilatildeo da Classe 1ordf do ensino primaacuterio de 2deg grau e do

secundaacuterio) sua carga horaacuteria natildeo era tatildeo ampla quanto o conteuacutedo indicado para o

desenvolvimento da disciplina ndash o que continuava o problema dos extensos

conteuacutedos geograacuteficos do periacuteodo imperial

Em sua essecircncia as propostas da Reforma Benjamim Constant passaram

por dificuldades de implantaccedilatildeo muitas medidas sequer chegando agrave efetivaccedilatildeo

Comeccedilam pela saiacuteda de Benjamin da pasta ministerial por desentendimentos

poliacuteticos Mas se trata de uma legislaccedilatildeo influente na forma de se pensar a estrutura

do ensino no futuro evidenciando as preocupaccedilotildees que se faziam presentes no

alvorecer da Repuacuteblica

As propostas de Benjamin Constant foram pensadas e expressas em um

momento histoacuterico propiacutecio a uma classe meacutedia ascendente com ascensatildeo tambeacutem

das cidades com uma efervececircncia cultural que privilegiava o racionalismo

descarteano o positivismo comtiano as teorias de Darwin o evolucionismo

spenceriano A nacionalidade mais que uma causa era uma praacutetica na obra de

Castro Alves Aluiacutesio de Azevedo Machado de Assis Raul Pompeacuteia e outros ndash que

com perspectivas diversas pensavam a realidade brasileira apresentavam criacuteticas

sugeriam propostas

Pensando-se o ensino primaacuterio estabeleceu-se a esse tempo a proposta

curricular de Geografia exposta no Quadro 22 Para o ensino secundaacuterio a proposta

no Quadro 23

Na Reforma Benjamin Constant (1890) no acircmbito do ensino secundaacuterio

orientado para os preparatoacuterios pretendendo-se introduzir um curriacuteculo positivista

duas perspectivas curriculares foram visadas uma com foco nas humanidades

claacutessicas e outra mais centrada nas ciecircncias para privilegiar a teacutecnica o comeacutercio

a induacutestria e a agricultura tracircmites do progresso ndash o lema ideaacuterio dos republicanos

QUADRO 22 ndash Ensino Primaacuterio Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Benjamim Constant (1890-1901)

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

ESCOLA PRIMAacuteRIA DE 1deg GRAacuteO

Geographia Curso

Elementar Classe 1ordf

Os pontos cardeais Determinar os pontos onde nasce o sol e onde se potildee Indicar os pontos cardeais em relaccedilatildeo aacute sala da classe Topographia do districto e4scolar com designaccedilatildeo de seus limites ruas que nelle existem e seus edifiacutecios notaacuteveis Conhecer nos mapas a situaccedilatildeo da Capital Federal do Estado do Rio de Janeiro e dos Estados limiacutetrofes Limites da Capital Federal Estradas de ferro que dela partem designando as suas direcccedilotildees Explicaccedilatildeo dos termos geograacuteficos e preparaccedilatildeo para o estudo da geografia geral pelo methodo descriptivo Ideacutea da terra sua forma extensatildeo e suas grandes divisotildees

Geographia Curso

Elementar Classe 2ordf

Conhecimento geral e gradual dos 21 Estados (pelo mappa) qual a sua situaccedilatildeo e seus produtos principaes Ideacutea do relevo do solo brasileiro das grandes bacias fluviais e dos portos Viagens da Capital para cada Estado Principaes vias feacuterreas e linhas de navegaccedilatildeo no Brazil Revisatildeo da geographiaia geral e sua amplificaccedilatildeo gradual o globo terrestre continentes e oceanos principaes paizes do mundo Ideacutea da representaccedilatildeo cartograacutefica elementos de leitura das cartas e plantas

Geographia Curso Meacutedio

Classe 1ordf

Revisatildeo do programma anterior Geographia physica dos Estados Unidos do Brazil sem pormenores que fatiguem inultimente a memoria Conhecimento geral da geographia physica da terra Uso dos mappas e globosExercicios de cartografia

Geographia Curso Meacutedio

Classe 2ordf

Noccedilotildeesde geographia physica da America do Sul Central e do Norte relaccedilotildees commerciaes dos Estados americanos com o Brazil Viagens Noccedilotildees elementares sobre as raccedilas liacutenguas religiotildees e formas de governo dos diferenttespaizes do mundo Circulos e zonas da terra Horizonte Zenith Nadir Antipodes Movimentos da terra e seus efeitos explicados por meio de apparelhos Latitude e longitude estudadas praticamente no globo

Geographia Curso

Superior Classe 1ordf

Revisatildeo do estudo da Ameacuterica sua geographia politica e economica e particularmente do Brazil Noccedilotildees de geographia politica e econocircmica da Europa relaccedilotildees commerciaes daquele continente com o Brazil Viagens Noccedilotildees de cosmografia ndash Descripccedilatildeo simples dos astros principaes sol lua estrelas planetas e cometas

Geographia Curso

Superior Classe 2ordf

Revisatildeo geral da geographia poliacutetica e econocircmica e particularmente do Brazil Viagens Noccedilotildees de cosmographia amplificaccedilatildeo do programma precedente noccedilatildeo das leis que regem o movimento dos astros phases da lua eclipses Systema geral do mundo Explicaccedilatildeo do dia da noite e das estaccedilotildees

ESCOLA PRIMAacuteRIA DE 1deg GRAacuteO

Geographia Classe 1ordf -

Geographia Classe 2ordf Geographia physica da Europa Aacutesia Aacutefrica Oceania e Ameacuterica Geographia physica do Brazil em particular

Geographia Classe 3ordf

Geographia poliacutetica e economica da Europa Aacutesia Africam Oceania e Ameacuterica e duas relaccedilotildees com o Brazil em particular Geographia poliacutetica do Brazil Estados divisotildees administrativas Zonas de cultura productos industriaes vias de comunicaccedilatildeo Noccedilotildees de cosmographia

Fonte Brasil (1890) Org Jeane Medeiros Silva 2011

QUADRO 23 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Benjamim Constant (1890-1901) Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

Geografia Fiacutesica

1ordm ano

Esphera celeste astros e estrellas Sol Movimentos reaes e apparentes Eclipitica Constellaccedilotildees zodiacaes Planetas e cometas Estrellas cadentes Bolides Aerolitnos Luz zodiacal Systema de Ptolomeu e Copernico Leis de Kepler Attracccedilatildeo e Repulsatildeo Foacuterma da terra Suas dimensotildees Movimentos da terra Consequencias physicas desses movimentos Horizonte Differenccedila horaria Superficie da terra Eixo Polos Linhas e zonas traccediladas em sua superficie Continentes e ilhas e seus accidentes Dimensotildees comparadas Definiccedilotildees relativas agraves terras Oceanos e suas divisotildees Lagos Rios Definiccedilotildees relativas agraves aguas Pontos cardeaes e collateraes Carthas geographicas Escalas e principaes medidas intinerarias Latitude e longitude Clima Distribuiccedilatildeo dos vegetaes e animaes pela superficie da terra Linhas isoghermicas isotheras e isochimenas Extremas de temperatura Brazil posiccedilatildeo superficie e configuraccedilatildeo geral Clima e principaes producccedilotildees Divisatildeo politica em geral Principaes cidades Estados limitrophes Brazil Bahias Ilhas Brazil Systema orographico grandes planicies Brazil Rio Amazonas S Francisco e Paranaacute Brazil Rios secundarios Lagos Brazil Divisatildeo politica em geral da America Limites e posiccedilatildeo astronomica Grandes cidades Producccedilotildees mais importantes Idem para Europa Aacutesia Aacutefrica Oceania Mares golfos e estreitos da America Ilhas da Ameacuterica (Naccedilotildees a que pertencem) Peninsulas isthmos e cabos da America Systema orographico da America Volcotildees massiccedilos planicies e steppes da America Vertentes linha de divisatildeo das aguas lagos e lagunas da America Rios da America Mares golfos e estreitos da Europa Ilhas da Europa Peninsulas isthmos e cabos da Europa Systema orographico da Europa Volcotildees massiccedilos planicies steppes vertentes linha de divisatildeo de aguas lagos e lagunas da Europa Rios da Europa Mares golfos e estreitos da Asia Ilhas da Asia Penninsulas isthmos e cabo da Asia Systema orographico da Asia Volcotildees massiccedilos depressotildees steppes desertos vertentes e lagos da Asia Rios da Asia Mares golfos estreitos e ilhas da Africa Peninsulas cabos systema orographico volcotildees e desertos da Africa Lagos lagunas e rios da Africa Mares golfos estreitos lagos lagunas e rios da Oceania Peninsulas cabos systema orographicos e volcotildees da Oceania Mais altos massiccedilos montanhas e volcotildees do globo Idem do Brazil Exercicios chartographicos sobre os continentes no principio a vista e depois de cor procedendo sempre dos traccedilos geraes para particulares

Geografia Poliacutetica e

Econocircmica 2ordm ano

Geographia politica e economica superficie populaccedilatildeo divisatildeo e formas de governo de um Estado Populaccedilatildeo geral do Globo As religiotildees Povos selvagens barbaros e civilizados Raccedilas humanas Brazil producccedilotildees commercio e industria vias de communicaccedilatildeo e telegraphicas Brazil populaccedilatildeo organizaccedilatildeo politica e administrativa religiatildeo instrucccedilatildeo Brazil Estados do Amazonas e Matto Grosso Brazil Estados de Goyaz e Paraacute Brazil Estado de Minas Geraes Brazil Estados do Maranhatildeo e Piauhy Brazil Estados do Cearaacute Rio Grande do Norte e Parahyba Brazil Estados de Pernambuco e Alagocircas Brazil Estados de Sergipe e Bahia Brazil Estados do Espirito Santo do Rio de Janeiro e do Distrito Federal Brazil Estados de Satildeo Paulo e Paranaacute Brazil Estados de Santa Catharina e Rio Grande do Sul Republicas do Paraguay Uruguay e Argentina Republicas do Chile Bolivia e Peruacute Republicas do Equador Colombia Venezuela e Guyanas Antilhas e America Central Mexico e Confederaccedilatildeo Canadiana Estados Unidos Inglaterra e possessotildees Dinamarca e possessotildees Suecia e Noruega Franccedila e possessotildees Principado de Monaco Belgica e Hollanda e possessotildees Allemanha e possessotildees Austria Hungria Principado de Liechtenstein Suissa e Portugal

Hespanha Republica de Andorra Italia Republica de S Marino Russia Romania Servia Montenegro e Bulgaria Turquia e Grecia Possessotildees russas na Asia Turkestatildeo Turquia drsquoAsia Persia Arabia Afghanistatildeo e Belutchistatildeo Hindostatildeo Indo-China Japatildeo China Barbaria e Sahara Egypto Nubia e Abyssinia Africa occidental e Colonia do Cabo Africa oriental e central Malasia e Polynesia Australia e Terras Antarcticas Circulos da esphera celeste Estaccedilotildees Posiccedilatildeo da esphera Dias sua duraccedilatildeo nas diversas latitudes Lua Suas phases Revoluccedilatildeo sideral e revoluccedilatildeo synodica Mareacutes Eclipses da lua e do sol Sua periodicidade Exercicios chartographicos no principio agrave vista e depois de coacuter sobre os diversos paizes estudados especialmente o Brazil limitando-se poreacutem a traccedilos geraes

Geografia 3ordm ano Revisatildeo

Geografia 4ordm ano Revisatildeo Geografia 5ordm ano Revisatildeo Geografia 6ordm ano Revisatildeo Geografia 7ordm ano Revisatildeo

Fonte Isller (1973) Colesanti (1985) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Esse programa apresentava inovaccedilotildees no ensino de Geografia sobretudo

por introduzir alteraccedilotildees metodoloacutegicas e pedagoacutegicas o aprendizado geograacutefico

apresenta uma orientaccedilatildeo dos conteuacutedos no sentido geralparticular e no sentido

simplescomplexo assinalando uma tentativa de excluir o excesso de detalhes que

aborreciam um aprendizado geograacutefico centrado na memorizaccedilatildeo como

explicitamente cita o programa ldquosem pormenores que fatiguem inutilmente a

memoacuteriardquo A partir dessa constataccedilatildeo Issler (1973 p 103) afirma que ldquoo programa

natildeo fez mais do que concretizar os apelos e os reclames de renovaccedilatildeo que se

fizeram sentir nas uacuteltimas deacutecadas do impeacuterio e que jaacute tinham atestado sua validade

em diversas escolas da iniciativa privadardquo

Em essecircncia os conteuacutedos prescritos satildeo os mesmos de programas

anteriores e haacute permanecircncias como a fragmentaccedilatildeo de aacutereas com recortes

espaciais sendo estudados em sua abordagem fiacutesica em um ano e a abordagem

econocircmica e poliacutetica em outro Para Issler (1973) isso se deve agrave tentativa de

descongestionar as informaccedilotildees incidentes no aprendizado

Poreacutem eacute necessaacuteria uma ressalva importante talvez a grande inovaccedilatildeo

desse programa foi a consolidaccedilatildeo da Geografia local como meacutetodo para organizar o

ensino geograacutefico E talvez a Geografia local seja o primeiro impacto de

desestruturaccedilatildeo do ensino geograacutefico descritivo (que ainda permaneceraacute por

deacutecadas) pois pelo menos em niacutevel de curriacuteculo e da produccedilatildeo bibliograacutefica didaacutetica

seria impossiacutevel estabelecer uma descriccedilatildeo de todos os locais a serem ensinados

pois haveria tantos quantas localidades de ensino houvesse limitando assim a

prescrever e produzir orientaccedilotildees a serem executadas pelos professores Liccedilatildeo de

coisas

O programa eacute enfaacutetico quanto agrave presenccedila de mapas como ferramentas

pedagoacutegicas do ensino geograacutefico Outra inovaccedilatildeo eacute o ensino da Cosmografia com

melhor estruturaccedilatildeo e utilizando-se pela primeira vez e por influecircncia do sistema

positivista o termo Astronomia

Joaquim Maria de Lacerda eacute um dos autores didaacuteticos de Geografia em

destaque nesse periacuteodo estando ativos todos os tiacutetulos dessa disciplina que deixou

atualizados apoacutes sua morte em 1886 por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro

outras publicaccedilotildees continuam ativas igualmente como a Terra Illustrada de FIC e

os tiacutetulos de Henrique Martins

Em 1901 foi publicado o Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901 a

chamada Reforma Epitaacutecio Pessoa trazendo um novo regulamento para o entatildeo

Ginaacutesio Nacional equiparado por essa ocasiatildeo como padratildeo para as instituiccedilotildees

particulares e puacuteblicas do ensino secundaacuterio com sujeiccedilatildeo agrave fiscalizaccedilatildeo federal O

ensino secundaacuterio foi organizado em seis anos estando a Geografia presente em

quatro (Quadro 24)

QUADRO 24 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de acordo com o Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901 Reforma Epitaacutecio Pessoa

1901

Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901 Reforma Epitaacutecio Pessoa (Regulamenta o Gymnasio Nacional)

Secun

daacuteri

o

de 0

6 a

nos

1ordm ano Geografia 04 horas

2ordm ano Geografia 03 horas

3ordm ano Geografia 02 horas

4ordm ano -

5ordm ano -

6ordm ano Geografia 01 hora

Fonte Brasil (1901) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Aprovado para Ginaacutesio Nacional assinado pelo Ministro de Estado da

Justiccedila e Negoacutecios Interiores M Ferraz de Campos Salles sancionado por Epitacio

Pessoa que nomeia a reforma regimentava o ensino secundaacuterio daquele

estabelecimento para conforme o Art 1ordm ldquo[] proporcionar a cultura intellectual

necessaria para a matricula nos cursos de ensino superior e para a obtenccedilatildeo do

grau de bacharel em sciencias e lettrasrdquo Define as disciplinas os nuacutemeros de horas

de aulas por semana o periacuteodo de duraccedilatildeo o regime dos exames e aprovaccedilatildeo as

condiccedilotildees de matriacutecula normas de comportamento e disciplina regras sobre

frequecircncia e disposiccedilotildees quanto ao quadro docente e administrativo Se a Reforma

de Benjamim Constant foi marcada por certo idealismo a Reforma de Epitaacutecio

Pessoa fez correccedilotildees e adequaccedilotildees agravequela proposta Prioriza assim o ensino

secundaacuterio bem mais ao alcance das possibilidades do Estado federal

sedimentando no interior institucional o modelo seriado ao tornar obrigatoacuteria a

frequecircncia extinguindo para isso os exames que dispensavam o cotidiano

presencial agraves aulas dentre os seus matriculados embora os permitisse para alunos

natildeo matriculados Impocircs assim a matriacutecula por disciplina e o seu sequenciamento

Como o Estado natildeo podia dispor de escolaridade para todos permitia o acesso agrave

formaccedilatildeo daqueles que adquiriam conhecimento fora dos estabelecimentos

escolares

De acordo com o inciso IX do Art 9deg

No ensino da geographia o intuito fundamental seraacute a descripccedilatildeo methodica e racional da superficie da terra por meio de desenhos na pedra e no papel copiados mas nunca trasfoleados e de memoria das cinco partes do mundo dos paizes da America especialmente do Brazil e dos da Europa com a preoccupaccedilatildeo de evitar minucias nomenclaturas extensas dados estatisticos exagerados e tudo quanto possa sobrecarregar a memoria do alumno ou natildeo a exercitar com real proveito quer no estudo da geographia physica quer no da geographia politica e do ramo economico No 1ordm anno far-se-ha o estudo da geographia physica particularmente do Brazil no 2ordm o da geographia politica em geral e em particular do Brazil no 3ordm da chorographia do Brazil propriamente dita (BRASIL 1901 p 687)

A reforma seguinte conhecida como Rivadaacutevia Correcirca entrou em vigor pelo

Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 Criou os chamados ldquoparceladosrdquo ndash algo

como exames preparatoacuterios organizados em torno de uma anuidade escolar ndash e o

vestibular para o ensino superior o qual dispensaria comprovaccedilatildeo de escolaridade

uma vez que natildeo se exigia a comprovaccedilatildeo de escolaridade preparatoacuteria Foi uma

forma de retirar responsabilidade do Estado pela instruccedilatildeo A Reforma Rivadaacutevia

interrompeu qualquer interferecircncia da Uniatildeo nos assuntos das instituiccedilotildees de ensino

e sobre os exames

A Geografia foi postulada nos trecircs primeiros dos seis anos do curso

secundaacuterio com uma Geografia Geral e uma Geografia Poliacutetica seguida de uma

Corografia do Brasil e de noccedilotildees de Cosmografia (Quadro 25)

QUADRO 25 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de acordo com o Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 Reforma Rivadaacutevia Correcirca

1911

Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 Reforma Rivadaacutevia Correcirca (Regulamenta o Collegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e

06 a

nos

1ordm ano Geografia do Brasil

2ordm ano Geografia Poliacutetica do Brasil

3ordm ano Corografia do Brasil e Noccedilotildees de Cosmografia

4ordm ano -

5ordm ano -

6ordm ano -

Fonte Issler (1973) Org Jeane Medeiros Silva 2011

No plano curricular o programa proposto para o ensino da Geografia estava

como indicado no Quadro 26 sendo observado que

Art 7ordm Os programmas deveratildeo attender aacutes seguintes linhas geraes [] f) No ensino da geographia o intuito fundamental seraacute a descripccedilatildeo methodica e racional da superficie da terra por meio de desenhos na pedra e no papel copiados mas nunca trasfoliados e de exercicios de memoria referentes aacutes cinco partes do mundo aos paizes da America e especialmente ao Brazil e aos da Europa com a preoccupaccedilatildeo de evitar minucias nomenclaturas extensas dados estatisticos exaggerados e tudo quanto possa sobrecarregar quer no estudo da geographia physica quer ao da geographia politica e do ramo economico Na 1ordf serie far-se-ha o estudo da geographia physica particularmente do Brazil na 2ordf o da geographia politica geral e em particular do Brazil na 3ordf o da chorographia do Brazil propriamente dita e o das noccedilotildees de cosmographia (BRASIL 1911 Art 7ordm Inciso f)

No acircmbito do discurso legal recomendaccedilotildees eram feitas para se alterar os

meacutetodos riacutegidos e improdutivos da velha Geografia descritiva ndash que a essa altura jaacute

atingira certo cansaccedilo Se por um lado o espaccedilo da Geografia como disciplina era

um fato consolidado por outro a Geografia exercida jaacute natildeo era capaz de inspirar

uma educaccedilatildeo que atendesse agrave proposta da educaccedilatildeo como cultura era falha pois

apenas era informativa com atendimento a uma formaccedilatildeo sobretudo nacional

igualmente apresentava limitaccedilotildees dependendo muito mais do desempenho do

professor para ter algum sucesso As bases de sua orientaccedilatildeo tal como a

fragmentaccedilatildeo em aacutereas a fragmentaccedilatildeo interna em cada uma dessas aacutereas faziam

com que essa disciplina encontrasse limites Parece que as primeiras tentativas de

se alterar esse quadro partiu natildeo de uma reforma dos conteuacutedos mas do modo de

ensinar ndash embora na praacutetica uma coisa dependa da outra Como se vecirc na citaccedilatildeo

acima o que se pede eacute uma disciplina mais leve sem minuacutecias mas suficiente para

estrapolar por representaccedilotildees espaciais que realmente notifiquem certo aprendizado

ao aluno

QUADRO 26 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia Coleacutegio Pedro II na vigecircncia da Reforma Rivadaacutevia Correcirca (1911-1915)

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

Geografia do Brasil

1ordm ano

Geographia suas divisotildees o globo terrestre suas dimensotildees Circulos da esphera terrestre equador paralelos meridianos tropicos e circulos polares Escala Latitudes e Longitudes Rosa dos Ventos pontos cardeaes e collateraes Orientaccedilatildeo pelo nascer do sol bussula orientaccedilatildeo pela bussula Partes liquidas e solidas da terra denominaccedilotildees de suas diversas formas Oceanos mares correntes oceanicas Europa ndash posiccedilatildeo astronomica limites dimensotildees clima e producccedilotildees Paizes da Europa seus mares golphos estreitos ilhas peninsulas isthmos e cabos Orographia e potamographia da Europa America posiccedilatildeo astronomica limites dimensotildees clima e producccedilotildees Paiacutezes da America seus mares golphos estreitos ilhas peninsulas isthmos e cabos Orographia e potamographia da America Brazil posiccedilatildeo astronocircmica limites dimensotildees litoral clima producccedilotildees Asia posiccedilatildeo astronomica limites dimensotildees clima e producccedilotildees Paizes da Asia seus mares golphos estreitos ilhas peninsulas isthmos e cabos Orographia e potamographia da Asia Africa posiccedilatildeo astronomica limites dimensotildees climas e producccedilotildees Paizes da Africa seus mares golphos estreitos ilhas peninsulas isthmos e cabos Orographia e potamographia da Africa Oceania posiccedilatildeo astronomica limites dimensotildees clima e producccedilotildees Terras da Oceania seus mares golphos estreitos ilhas peninsulas isthmos e cabos Orographia e potamographia da Oceania

Geografia Poliacutetica do

Brasil 2ordm ano

Geographia politica formas sociaes estados formas de governo Noccedilotildees de ethnographia raccedilas humanas linguas e religiotildees Noccedilotildees de geographia economica e de estatiacutestica poliacutetica e commercial Grecia antiga noccedilotildees historicas e geographicas Grecia moderna e Turquia Roma antiga noccedilotildees histoacutericas e geographicas Geographia poliacutetica situaccedilatildeo limites superficie populaccedilatildeo governo religiatildeo lingua divisatildeo administrativa populaccedilatildeo commercio industria vias de communicaccedilatildeo cidades importantes da Italia Idem da Franccedila Idem da Hespanha Idem de Portugal Idem da Suissa e Belgica e noccedilotildees de Roumania e Montenegro Germania antiga noccedilotildees historicas e geographicas Geographia politica situaccedilatildeo limites superficie populaccedilatildeo religiatildeo lingua divisatildeo administrativa producccedilatildeo commercio industria vias de communicaccedilatildeo cidades importantes e noticia historica da Allemanha Idem da Inglaterra Idem da Austria-Hungria Idem da Hollanda Idem da Russia noccedilotildees de Servia e Bulgaria Idem da Suecia e Noruega Idem da Dinamarca Idem do Brazil Idem da Argentina Idem do Paraguay e Uruguay Idem do Chile Idem da Bolivia e Peruacute Idem do Equador e Colombia Idem da

Venezuela e Goyanas Idem das Antilhas e America Central Idem do Mexico Idem dos Estados Unidos do Norte Idem do Canadaacute Idem da Persia e Indostatildeo Idem do Imperio das Indias e Indo-China Idem da China Idem do Japatildeo Idem do Egypto e Abyssinia Idem do Imperio do Marrocos Republica da Liberia e Congo Livre Idem da Australia Descripccedilatildeo de viagens no paiz e no estrangeiro

Corografia do Brasil e Noccedilotildees de

Cosmografia

3ordm ano

Corographia situaccedilatildeo superficie limites aspectos physicos clima salubridade orographia potamographia noticia historica e governo dos Estados do Amazonas e Paraacute Idem dos Estados do Maranhatildeo e Piauhy Idem dos Estados do Cearaacute e Rio Grande do Norte Idem dos Estados da Parahyba do Norte e Pernambuco Idem dos Estados de Alagocircas e Sergipe Idem dos Estados da Bahia e Espirito Santo Idem do Estado do Rio de Janeiro e do Distrito Federal Idem dos Estados de Satildeo Paulo e Paranaacute Idem dos Estados de Santa Catharina e Rio Grande do Sul Idem do Estado de Minas Geraes Idem dos Estados de Goyaz e Matto Grosso Costa portos de primeira ordem cabotagem commercio com o exterior importaccedilatildeo e exportaccedilatildeo do Brazil Costa portos de segunda ordem cabotagem commercio interestadual Vertentes navegaccedilatildeo fluvial commercio interior portos fluviaes Estructura geologica mineralogia flora e fauna Climatologia e salubridade aclimaccedilatildeo nos diversos Estados Agricultura industria e commercio Viaccedilatildeo companhias de navegaccedilatildeo nacionaes e estrangeiras Viaccedilatildeo estradas de ferro principaes estradas de ferro principaes de rodagem Correios e Telegraphos Ethnographia e colonizaccedilatildeo do Brazil Estudo comparativo da populaccedilatildeo do Brazil com a dos diversos paizes e da populaccedilatildeo dos Estados entre si Cosmographia astros esphera celeste Estrellas constellaccedilotildees Systemas planetarios Gravitaccedilatildeo universal leis de Kepler e Newton Terra forma posiccedilatildeo dimensotildees e movimentos Atmosphera e meteoros Desigualdades dos dias e noites zonas e estaccedilotildees Lua movimentos e phases da lua sua influecircncia sobre as mareacutes Eclipses Estrellas fixas constellaccedilotildees zodiacaes estrellas cadentes bolidos e aerolitos nebulosas Carta geographica seus elementos projecccedilotildees Calendarios Problemas de cosmographia

- 4ordm ano -

- 5ordm ano

-

- 6ordm ano -

Fonte Brasil (1911) Org Jeane Medeiros Silva 2011

A Reforma Carlos Maximiliano foi a proacutexima cerca de quatro anos depois

promulgada pelo Decreto n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 De inspiraccedilatildeo

europeia determinou a observaccedilatildeo de um curriacuteculo miacutenimo seriado para se obter

formaccedilatildeo escolar e prestar exame para o ensino superior devendo os exames

observar os conteuacutedos das seacuteries Endossa das reformas anteriores a seriaccedilatildeo

escolar proposta em 1890 a estrutura curricular de 1901 e o exame vestibular

proposto em 1911

Nessa proposta o ensino secundaacuterio foi reduzido a cinco anos e a Geografia

condensada em dois a Geografia Geral eminentemente fiacutesica une-se com a

Geografia Poliacutetica (abordagem global) seguindo-se no ano seguinte a Corografia do

Brasil (Quadro 27)

QUADRO 27 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de acordo com o Decreto n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 Art 167 Reforma Carlos Maximiliano

1915

Decreto de n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 Art 167 Reforma Carlos Maximiliano (Regulamenta o Collegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e

06 a

nos

1ordm ano Geografia Geral Geografia Fiacutesica e Poliacutetica dos continentes

2ordm ano Corografia do Brasil e noccedilotildees de Cosmografia

3ordm ano -

4ordm ano -

5ordm ano -

Fonte Brasil (1915) Org Jeane Medeiros Silva 2011

A Reforma Rocha Vaz promulgada pelo Decreto n 16782-A de 13 de

janeiro de 1925 tentou extinguir os preparatoacuterios ou parcelados ao fazer sobrevaler

o ensino seriado como meio de impor continuidade no curriacuteculo obrigatoacuterio a ser

seguido em pelo menos cinco anos medida que na realidade foi de difiacutecil

implementaccedilatildeo apenas efetivada plenamente em outras reformas Tratou-se de

uma reforma mais administrativa que propriamente pedagoacutegica Eacute de entatildeo a

tentativa de romper os estudos obrigatoacuterios como simples preparaccedilatildeo para o

ingresso superior propondo-os como preparatoacuterio para a vida egressa do estudante

algo que jaacute se pensava no ascedente debate sobre a educaccedilatildeo brasileira Nessa

proposta a situaccedilatildeo da Geografia no ensino secundaacuterio permaneceu inalterada agrave

exceccedilatildeo da separaccedilatildeo da Cosmografia deslocada para o 5ordm ano talvez pelo

surgimento de mais espaccedilo posto que o ensino secundaacuterio retornou a ter seis anos

(Quadro 28)

QUADRO 28 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de acordo com o Decreto nordm 16782-A de 13 de janeiro de 1925 Art 47 Reforma Luiz Alves Rocha Vaz

1925

Decreto nordm 16782-A de 13 de janeiro de 1925 Art 47 Reforma Luiz Alves Rocha Vaz

Secun

daacuteri

o

de 0

6 a

nos

1ordm ano Geografia Geral

2ordm ano Geografia (Corografia do Brasil)

3ordm ano -

4ordm ano -

5ordm ano Cosmografia

6ordm ano -

Fonte Brasil (1925) Org Jeane Medeiros Silva 2011

A extensatildeo do curriacuteculo de Geografia a esse tempo (Quadro 29) com um

niacutevel de detalhamento bem maior que qualquer um precedente eacute uma tentativa de

controle do que se deve ensinar apesar de incorporar algumas inovaccedilotildees como

temas novos as migraccedilotildees por exemplo Haacute entatildeo uma tentativa e sem duacutevida eacute

influente nisso a ldquoorientaccedilatildeo modernardquo da Geografia conforme discutirei adiante de

sair do quadro puramente descritivo para formar uma base conceitual para os

estudos para aleacutem do conceito de Geographia Politica seguido de algumas

definiccedilotildees centrais o curriacuteculo propotildee

O conceito da geographia humana social ou politica A geographia economica Raccedilas Linguas Religiotildees Classificaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo geographica Formas sociaes Civilizaccedilatildeo seus elementos seus estaacutegios evolucionarios Instituiccedilotildees sociaes o Estado suas modalidades Os grupos humanos Migraccedilotildees causas e resultados A colonizaccedilatildeo Formaccedilatildeo das cidades Actividade econocircmica Criaccedilatildeo Agricultura Industria Transporte Commercio O lsquofactor geographicorsquo

propondo um desenvolvimento ao tema antes de aplicaacute-lo Sugere a colocaccedilatildeo de

relaccedilotildees para a migraccedilatildeo apresentar as causas e as consequecircncias

Aleacutem disso inclui recomendaccedilotildees metodoloacutegicas ldquoAs aulas seratildeo sempre

dadas com o auxilio de cartas e numerosos deveratildeo ser os exercicios de leitura das

mesmas e de esboccedilo cartographicos e do mappa mudo emprestando assim ao

ensino um cunho praticordquo Satildeo os anos 1920 quando em niacutevel do ensino da

Geografia se tenta uma reaccedilatildeo ao aspecto descritivo pelo ensino e mnecircmonico pelo

aprendizado Como afirmei em outra ocasiatildeo tenta-se inicialmente transformar o

ensino da Geografia pelos meacutetodos do ensino procurando-se em primeiro lugar

tornar esse saber um conhecimento praacutetico que apresente resultados

QUADRO 29 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia Coleacutegio Pedro II na vigecircncia da Reforma Luiz Alves-Rocha Vaz (1925-1931)

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

Geografia Geral

1ordm ano

PRIMEIRO ANO

PROLEGOMENOS (10 liccedilotildees) A Geographia - Definiccedilatildeo e divisotildees Sua utilidade A Terra - Forma dimensotildees movimentos O Systema solar - Planetas satellites A lua e suas phases Dos systemas de Ptolomeu Copernico O Universo - Estrellas As constellaccedilotildees o Cruzeiro do Sul Orientaccedilatildeo - Pontos cardeaes Rosa dos Ventos A bussola Circulos da esphera terrestre - Coordenadas geographicas a latitude e a longitude Obliquidade da ecliptica - Desigualdade dos dias e das noites As estaccedilotildees Cartas geographicas - Escalas Unidades de extensatildeo linear e de superficie

GEOGRAPHIA PHYSICA (6 liccedilotildees) Nomenclatura geographica - Denominaccedilatildeo das formas da Terra Elementos solido liquido gazoso Os continentes e os Mares - Typos de relevo Relaccedilotildees entre relevo e as costas Hidrographia elementos de comparaccedilatildeo - Classificaccedilatildeo dos mares - Os oceanos - As correntes oceanicas sua disposiccedilatildeo geral - Mar de sargaccedilo - Estudo sumario do Atlantico - O Gulf Stream A Atmosphera - Noccedilotildees sobre a temperatura os ventos as chuvas Climas Os Continentes comparados entre si - Analogias e contrastes baseados na geographia physica Recursos mineraes do globo Flora - Fauna

GEOGRAPHIA POLITICA (6 liccedilotildees) Definiccedilotildees - O conceito da geographia humana social ou politica A geographia economica Raccedilas - Linguas - Religiotildees - Classificaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo geographica Formas sociaes - Civilizaccedilatildeo seus elementos seus estaacutegios evolucionarios - Instituiccedilotildees sociaes o Estado suas modalidades Os grupos humanos - Migraccedilotildees causas e resultados - A colonizaccedilatildeo - Formaccedilatildeo das cidades Actividade economica - Criaccedilatildeo - Agricultura - Industria - Transporte - Commercio - O ldquofactor geographicordquo

GEOGRAPHIA GERAL DOS CONTINENTES (18 liccedilotildees) Estudo ou descripccedilatildeo geral de cada continente na ordem seguinte Posiccedilatildeo limites e dimensotildees - Aspecto geral do relevo e do litoral - Typos de climas - Hydrographia - Vegetaccedilatildeo e animaes caracteristicos - Populaccedilotildees - Divisatildeo politica - Os recursos economicos

GEOGRAPHIA REGIONAL (40 liccedilotildees) Estudo ou descriccedilatildeo geral de cada regiatildeo na ordem seguinte Situaccedilatildeo limites superficie - Aspecto geral do relevo - Litoral - Clima - Hydrographia - Vegetaccedilatildeo - Populaccedilatildeo e principaes cidades - Governo - Recursos economicos

REGIOtildeES NORTE-AMERICANAS America do Norte (Regiotildees polares Canadaacute Estados Unidos) Indias Occidentaes (Mexico America Central Antilhas)

REGIOtildeES SUL-AMERICANAS Estados Septentrionais (Colombia Venezuela as Guianas) Estados do Paciacutefico (Equador Peruacute Bolivia Chile) Estados do Prata (Argentina Uruguai Paraguai)

REGIOtildeES DA EUROPA Europa Occidental (Gratilde Bretanha Franccedila Belgica Hollanda) Europa Meridional (Portugal Espanha Italia os Balkans) Europa Central (Allemanha Austria Suissa Tchecoslovaquia Hungria Rumania) Europa Occidental e Septentrional (Russia Polonia Estados Balticos Finlandia Suecia Noruega Dinamarca e Islandia)

REGIOtildeES DA ASIA Asia Oriental (China e Japatildeo) Asia Meridional (Indo-China Indostatildeo e dependencias) Asia Occidental (Persia Arabia Turquia Syria Palestina) Asia Septentrional (Siberia e mais

dominios da Russia) Insulindia (Malasia as Filippinas)

REGIOtildeES DA OCEANIA Australasia (Australia e Tasmania Nova Zelandia)

Terras Oceanicas (Melanesia e Micronesia)

REGIOtildeES DA AFRICA Africa do Norte (Egypto e Sudatildeo Libia Argelia e Tunisia Marrocos) Africa Occidental e Equatorial (regiotildees francezas espanholas inglezas portuguesas e regiatildeo belga as ilhas oceanicas Libeacuteria)

Africa Oriental (Abissinia regiotildees italianas francezas britannicas e portuguezas) Africa do Sul (regiotildees portuguezas e britannicas) Ilhas africanas do Oceano Indico No ldquoestudordquoou ldquodescripccedilatildeo geralrdquo o professor examinaraacute os elementos geographicos geraes aplicados agrave regiatildeo considerada Aleacutem disso em cada regiatildeo faraacute pelo menos um ldquoestudo especialrdquo examinando um aspecto interessante e proprio da regiatildeo As aulas seratildeo sempre dadas com o auxilio de cartas e numerosos deveratildeo ser os exercicios de leitura das mesmas e de esboccedilo cartographicos e do mappa mudo emprestando assim ao ensino um cunho pratico

Geografia (Corografia do Brasil)

2ordm ano

COROGRAFIA DO BRASIL - PARTE GERAL (40 liccedilotildees) Situaccedilatildeo geographica - Aspecto geral - Area e pontos extremos - A posiccedilatildeo do Brasil no Continente Sul-Americano dados comparativos Fronteiras terrestres - Typos de fronteiras Historico summario de sua formaccedilatildeo Linhas convencionaes demarcadas e a demarcar - Esboccedilo geographico Uruguai a lagoa Mirim Argentina o territorio das ldquoMissotildeesrdquo Paraguay Bolivia o Acre Peruacute Colombia Venezuela as Guianas - os arbitramentos a obra de Rio Branco Relevo - Aspecto geologico - Classificaccedilatildeo por systemas orographicos - Massiccedilo Atlantico (Serra do Mar Serra Geral Mantiqueira) Massiccedilo Central (Systema Goiano Systema Mattogrossense) - Massiccedilo Nortista - Massiccedilo Guianense Estudo especial da Serra do Mar e da Mantiqueira - Formaccedilatildeo orientaccedilatildeo altitudes gargantas e passos Planaltos e planicies - Relaccedilotildees geographicas e intercomunicaccedilotildees entre as bacias fluviaes Litoral - Morphologia aspectos e relaccedilotildees geographicas com o relevo - Typos de costas - Mangues recifes barreiras lagoas costeiras dunas - Elevaccedilatildeo do litoral os sambaquis O Atlantico do Sul - Relevo - Correntes mareacutes - Ilhas Oceanicas Discripccedilatildeo do litoral - Litoral septentrional o archipelago amazonico - Litoral oriental a Bahia - Litoral meridional bahias de Guanabara Paranaguaacute cabos e ilhas - A costa do Rio Grande do Sul Clima - Posiccedilatildeo astronomica do Brasil - Latitude e altitude - Distribuiccedilatildeo das temperaturas dos ventos e das chuvas - Typos de climas super-humido semi-aacuterido e semi-humido de planicie e de altitude - Exemplos especiaes Paraacute Recife Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Salubridade e colonizaccedilatildeo - Importancia dos serviccedilos meteorologicos para a agricultura

Hydrografia - Os grandes centros de dispersatildeo de aguas - Vertentes - Rios do planalto e de planicie - Dados comparativos - Os lagos e regiotildees lacustres Bacias Hydrographicas Amazonas regimen curso e delta - Rios temporarios do Nordeste - Vertente oriental dos planaltos estudo especial do Satildeo Francisco - O Parahiba e seus afluentes - Rios meridionais Recursos naturaes - Mineraccedilatildeo ouro ferro manganez carvatildeo pedras preciosas - Distribuiccedilatildeo geographica Vegetaccedilatildeo - Zonas principaes - Mattas e campos caatingas pantanaes Producccedilotildees do reino animal Populaccedilatildeo - Esboccedilo ethnographico - Grupos indigenas antigos e actuaes - Linguas e religiotildees - O elemento europeu na populaccedilatildeo - Recenseamento do Brasil - Os grandes centros urbanos Os Estados Limites aacuterea populaccedilatildeo e cidades principaes Divisatildeo administrativa da Republica - O Governo -

Instrucccedilatildeo puacuteblica - O Districto Federal Economia Nacional - Condiccedilotildees geraes - As terras e a prosperidade - Agricultura productos tropicaes cafeacute cacaacuteo algodatildeo assucar - Os cereaes milho trigo arroz - Zonas de producccedilatildeo - Criaccedilatildeo de gado frigoriacuteficos - Industrias extrativas mineraccedilatildeo borracha madeira mate carnauacuteba castanha - Industria manufactureira - Fabricas do Brasil - Exposiccedilotildees Apparelhamento economico - Viaccedilatildeo navegaccedilatildeo e portos - Telegrapho - Financcedilas - Os grandes troncos ferroviarios Commercio exterior - o seu desenvolvimento Artigos de exportaccedilatildeo

PARTE REGIONAL (40 liccedilotildees) As regiotildees naturaes do Brasil - Divisatildeo Regional do paiz - Bases geographicas racionais desta divisatildeo - Distribuiccedilatildeo dos Estados I - BRASIL SPTENTRIONAL OU AMAZONICO (Estados do Paraacute e Amazonas territorio do Acre) Descripccedilatildeo geral Posiccedilatildeo extensatildeo aspecto physico hydrographia - Vegetaccedilatildeo e recursos naturaes - Cidades principaes Descripccedilatildeo especial o rio Amazonas como rede de viaccedilatildeo e caminho de penetraccedilatildeo - A pesca fluvial e recursos economicos da Amazocircnia - A questatildeo da borracha - Os campos de criaccedilatildeo - Os portos de Manaacuteos e Beleacutem II- BRASIL NORTE-ORIENTAL (Estados do Maranhatildeo Piauhi Rio Grande do Norte Parahiba Pernambuco e Alagoas) Descripccedilatildeo geral Posiccedilatildeo extensatildeo aspecto physico litoral - A zona semi-arida - Recursos naturaes - Cidade Descripccedilatildeo especial O nordeste primeira colonizaccedilatildeo dominios estrangeiros formaccedilatildeo das unidades politicas - Zonas de criaccedilatildeo e zonas agricolas - A lucta contra as seccas grandes accediludes - O Maranhatildeo como regiatildeo de transiccedilatildeo entre a Amazonia e o Nordeste - A emigraccedilatildeo cearense - As salinas do Rio Grande do Norte - O porto de Recife III- BRASIL ORIENTAL (Estados de Sergipe Bahia Minas Espirito Santo e Rio de Janeiro o Districto Federal) Descripccedilatildeo geral Posiccedilatildeo extensatildeo sub-regiotildees naturaes litoral serra e planalto - Climas - Rios - Os recursos economicos - Cidades Descripccedilatildeo especial Bahia a antiga metropole e os bandeirantes bahianos - O caminho das minas - Historia do Rio de Janeiro - Minas Geraes provincia e Estado - Os periodos economicos periodo da mineraccedilatildeo periodo cafeeiro a evoluccedilatildeo actual para a polycultura - Os climas typos de climas de montanhas cidades de veratildeo e cidades drsquoagua - A Bahia cafeacute cacaacuteo couros fumo borracha - Minas reservas de ferro manganez e pedras o gado - O porto do Rio de Janeiro - A Capital da Republica centro economico social politico e intellectual

IV- BRASIL MERIDIONAL (Estados de Satildeo Paulo Paranaacute Santa Catharina Rio Grande do Sul) Descripccedilatildeo geral Posiccedilatildeo extensatildeo sub-regiotildees naturaes litoral serra planalto e planicie rio-grandense Climas rios recursos naturaes populaccedilatildeo cidades Descripccedilatildeo especial S Paulo centro historico da colonizaccedilatildeo sul - Historia do Rio Grande do Sul - A terra roxa e o cafeacute colonizaccedilatildeo os Estados do Sul e a evoluccedilatildeo para a polycultura - A criaccedilatildeo do gado e os frigoriacuteficos - Industria manufatureira em SPaulo - As mattas do Paranaacute - O matte e os mercados sul-americanos - O Rio Grande a regiatildeo serrana colonial e agricola a regiatildeo da campanha criadora - Recircdes ferroviarias do sul e portos - Santos emporio mundial do cafeacute - Os mercados estrangeiros a importaccedilatildeo americana - A barra do Rio Grande - O Porto das Torres V- BRASIL CENTRAL (Estados de Matto Grosso e Goiaz) Descripccedilatildeo geral e especial O Relevo - A hydrographia - A penetraccedilatildeo do interior fundaccedilatildeo de Goiaz - O acesso de Matto Grosso por via fluvial e por via ferrea a ldquoNoroesterdquo - Principaes centros e recursos economicos Durante o anno o professor faraacute exercicios de esboccedilos cartographicos e de mappa mudo

A descripccedilatildeo ldquoespecialrdquo consta de themas que serviratildeo de assumpto agraves prelecccedilotildees do professor procurando este apontar os aspectos mais interessantes e proacuteprios de cada regiatildeo do Brasil

- 3ordm ano

- 4ordm ano

Cosmografia 5ordm ano

Introducccedilatildeo - Revisatildeo das principaes noccedilotildees de geographia astronomica elementar jaacute ministradas no curso no curso de geographia (1ordm anno) e indispensaveis para a comprehensatildeo da materia cujo estudo se vae iniciar Objetivo e definiccedilatildeo da Astronomia e da Cosmografia suas divisotildees Ceacuteo esphera celeste Universo e mundo Astros sua classificaccedilatildeo summaria Distancias angulares e diametro apparente Movimento diurno apparente dos astros suas leis Pontos linhas e circulos da esphera celeste Coordenadas astronomicas horizonte equatoriaes e eclipticas Theodolito Luneta meridiana Relogio sideral Estrellas e constellaccedilotildees O Sol constituiccedilatildeo movimentos Systemas planetarios systema solar Leis de Kepler Newton e Bode Estudo summario dos planetas e de seus satelites Cometas Estudo particular da Terra forma posiccedilatildeo no espaccedilo dimensotildees Pontos linhas circulos e zonas da Terra Pontos do horizonte Orientaccedilatildeo Bussola Coordenadas geographicas Principaes movimentos da Terra Consequecircncia dos movimentos da Terra e da inclinaccedilatildeo do eixo Meteoros cosmicos Lua Forma constituiccedilatildeo movimentos phases Eclipses occultaccedilotildees passagens Mareacutes Medida de tempo Calendarios Coacutemputo ecclesiastico Methodos de observaccedilatildeo astronomica Revisatildeo dos principaes instrumentos Observatorios annuarios ephemerides Correcccedilotildees na observaccedilatildeo astronomica depressatildeo refracccedilatildeo parallaxe semi-diametro Cartas e globos terrestres e celestes Projecccedilotildees e desenvolvimento Problemas fundamentaes da astronomia indicaccedilatildeo dos methodos para determinaccedilatildeo das coordenadas terrestres de um logar da posiccedilatildeo dos astros e da hora Noccedilotildees de historia da astronomia Principaes hypoteses cosmogonicas

- 6ordm ano

Fonte Issler (1973) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Quando em 1930 ruiu a Primeira Repuacuteblica e com ela muitas instituiccedilotildees

tradicionais o Brasil viveu um dos periacuteodos de maior radicalizaccedilatildeo poliacutetica de sua

histoacuteria (AZEVEDO 1963) A Reforma Francisco Campos ocorreu sobre o fim da

Repuacuteblica Velha em 1930 assim teve-se o Decreto nordm 19890 de 18 de abril de

1931 antecedido e seguido de uma seacuterie de decretos complementares Com ela de

fato se procurou constituir no Brasil um fortalecimento do curriacuteculo adicionado com

um quadro teacutecnico e administrativo como suporte Eacute nesse momento que os cursos

preparatoacuterios satildeo abandonados encerrando mais de um seacuteculo de aulas avulsas O

ensino secundaacuterio foi organizado em cinco anos com predomiacutenio dos estudos

cientiacuteficos sobre os estudos claacutessicos Agrave Reforma Francisco Campos faltou um

equiliacutebrio com os outros niacuteveis de ensino e sobretudo professores para sua plena

implementaccedilatildeo sendo que o corpo docente existente teve dificuldades para lidar

com os curriacuteculos enciclopeacutedicos dispostos

Em 1924 criou-se a Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo que realizou

diversas conferecircncias importantes para repensar a educaccedilatildeo brasileira Seraacute

lanccedilado no bojo dessas discussotildees em marccedilo de 1931 o Manifesto dos Pioneiros

influente inclusive nas legislaccedilotildees educacionais que viriam O veacutertice desses

debates era o rompimento do isolamento da educaccedilatildeo procurando-a atrair para o

contexto das necessidades e interesses sociais para diluir nas praacuteticas e poliacuteticas

da educaccedilatildeo o princiacutepio da escola puacuteblica leiga obrigatoacuteria e gratuita comum aos

dois sexos e em regime de co-educaccedilatildeo A principal clivagem dessa proposta foi

afastar a rede de ensino dos interesses das classes sociais mais privilegiadas

atuando como agente organizador da sociedade

Francisco Campos Ministro da Educaccedilatildeo e Sauacutede impocircs a Reforma do

Ensino Secundaacuterio cuja marca foi uma atribuiccedilatildeo generalizada da responsabilidade

do Estado sobre esse niacutevel inclusive com uma oficializaccedilatildeo de fato da equiparaccedilatildeo

de todos os estabelecimentos puacuteblicos e privados ao padratildeo do Coleacutegio Pedro II

nivelando a ele as instituiccedilotildees estaduais e uniformizando os estabelecimentos

privados que haviam crescido muito na ausecircncia de uma oferta de ensino puacuteblico A

lei consolidou definitivamente o ensino seriado implementou um sistema federal de

regulamentaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo para as instituiccedilotildees comprometendo a Uniatildeo com o

seu desempenho Ao propor perspectivas para o ensino teacutecnico e do magisteacuterio

rompeu com a funccedilatildeo sempre prevalente ateacute entatildeo do ensino secundaacuterio como

preparatoacuterio para o ensino superior Em definitivo encerrou a questatildeo dos exames

preparatoacuterios como antes apenas a Reforma Rivadaacutevia conseguira certo ecircxito em

vez de uma certificaccedilatildeo do ensino secundaacuterio propocircs uma prova mais rigorosa

aliada agrave oferta das disciplinas do secundaacuterio denominada ldquoexames de madurezardquo A

reforma Campos propocircs que o acesso ao ensino superior fosse feito somente

mediante o cumprimento completo da seriaccedilatildeo secundaacuteria ou seu equivalente

atribuindo-se a esse ciclo natildeo somente a preparaccedilatildeo para o ingresso nas

faculdades mas tambeacutem como um fim em si que fosse capaz de dar formaccedilatildeo ao

estudante (RIBEIRO 2001)

A Reforma Francisco Campos procurou homogeneizar os curriacuteculos Para

isso negociou com as instituiccedilotildees catoacutelicas introduzindo o ensino religioso como

proposta curricular em contracorrente ao caraacuteter laico que o curriacuteculo republicano

propocircs e defendeu ateacute entatildeo uma vez que a Igreja atribuiacutea a si a responsabilidade

exclusiva pela educaccedilatildeo moral da sociedade brasileira como forma de um esforccedilo

patriota de sua parte na conformaccedilatildeo da pureza dos costumes (MOURA 2000) As

instituiccedilotildees privadas sobretudo as confessionais ateacute esse tempo tinham uma forccedila

autocircnoma por natildeo dependerem do Estado ao passo que este natildeo as

supervisionavam

Na proposiccedilatildeo do quadro curricular da Reforma Francisco Campos

realizada pelo Decreto nordm 198901931 e consolidada pelo Decreto nordm 212411932 o

ensino secundaacuterio dividiu-se em um curso fundamental em cinco seacuteries nas quais

constava a Geografia em todas e um curso complementar de dois anos tambeacutem se

fazendo presente a Geografia acrescida da Cosmografia (Quadro 30)

QUADRO 30 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de acordo com o Decreto nordm 19890 de 18 de abril de 1931 Reforma Francisco Campos

1931

Decreto nordm 19890 de 18 de abril de 1931 Art 2ordm 3ordm Reforma Francisco Campos

Secun

daacuteri

o d

e 0

6 a

nos

Ensino Secundaacuterio Curso Fundamental

1ordf seacuterie Geografia

2ordf seacuterie Geografia

3ordf seacuterie Geografia

4ordf seacuterie Geografia

5ordf seacuterie Geografia

Ensino Secundaacuterio Curso Complementar

1ordf seacuterie Geografia e Cosmografia

2ordf seacuterie Geografia e Cosmografia

Ensino Secundaacuterio Curso Complementar (ingresso nos cursos juriacutedicos)

1ordf seacuterie -

2ordf seacuterie Geografia

Ensino Secundaacuterio Curso Complementar (ingresso nos cursos de engenharia e arquiterura)

1ordf seacuterie Cosmografia

2ordf seacuterie -

Fonte Brasil (1931) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Quanto ao curso complementar seria escolha do aluno ingressar em outros

dois cursos possiacuteveis um curso preparatoacuterio para ingresso nos cursos juriacutedicos e

outro para ingresso nos cursos de engenharia e arquitetura Para os cursos juriacutedicos

a Geografia constava como disciplina na segunda seacuterie para as engenharias e

arquitetura se aplicaria a cosmografia na primeira seacuterie

O ensino secundaacuterio nesse momento ensaiava os passos que trilharia na

direccedilatildeo do modelo que seria prevalecente ateacute os dias atuais ndash criando-se um curso

intermediaacuterio entre o ensino primaacuterio e o secundaacuterio propriamente dito o ginaacutesio ndash

modelo esse que jaacute estaria em vigecircncia a partir da deacutecada de 1940 Na vigecircncia do

Estado Novo apoacutes o primaacuterio o ensino organizava-se com um 1ordm ciclo chamado

ginasial de quatro anos seguido de um curso claacutessico ou de um curso cientiacutefico

com trecircs seacuteries em todos constando o ensino de uma Geografia Geral e de uma

Geografia do Brasil

O curriacuteculo em vigecircncia nesse periacuteodo (Quadros 31 e 32) diferencia-se de

todos os anteriores Apesar de ter ainda heranccedilas claras da Geografia descritiva

(como a Cosmografia ndash que mais tarde seria apenas um dos temas internos agrave

Geografia escolar) organizando-se na triacuteade Cosmografia Geografia Fiacutesica e

Geografia Poliacutetica mas co-habitando com a Geografia Humana eacute sensiacutevel sua

atualizaccedilatildeo em termos teoacuterico-metodoloacutegicos Agrave descriccedilatildeo sobrepotildee-se a explicaccedilatildeo

como processo ldquoformaccedilatildeo de cidadesrdquo ldquoinfluecircncia do meio sobre a distribuiccedilatildeo da

vida do Globordquo ldquodemonstraccedilatildeo da accedilatildeo das aacuteguas sobre o modeladordquo A

Biogeografia a Geografia comparada conceitos como ldquozonas fisiograacuteficasrdquo ou

hidrosfera satildeo contribuiccedilotildees presentes da Geografia moderna cientiacutefica

O Brasil passa a ser estudado por regiotildees Nos livros do periacuteodo a funccedilatildeo

nacional-patrioacutetica dada as condiccedilotildees poliacuteticas instituiacutedas pelo Estado Novo vai

encontrar um ambiente de ampliaccedilatildeo desse uso Conforme Proenccedila (1928 p 22)

Todas as naccedilotildees cuidam seriamente do ensino da geographia nacional O fim immediato eacute sempre o mesmo - a cultura do sentimento de patriotismo Cada uma poreacutem visa um objectivo remoto segundo o qual se faz a orientaccedilatildeo do ensino Esta eacute porque tem as suas fronteiras ameaccediladas aquella eacute porque pensa numa reivindicaccedilatildeo aquelloacuteutra eacute porque sente necessidade de expansatildeo de seu territoacuterio [] Noacutes tambem temos o nosso ponto de vista Paiz enorme como eacute o Brazil e sem facilidade de communicaccedilotildees as suas populaccedilotildees se desconhecem O Norte natildeo sabe o que eacute o Sul e o Sul ignora o que eacute o centro Aleacutem disto eacute grande e por toda parte o numero de brasileiros novos que natildeo podem deixar de soffrer a influencia dos pais para a continuaccedilatildeo da propria nacionalidade A nossa obra portanto eacute de unificaccedilatildeo do sentimento nacional pelo conhecimento de todo o territorio e de todo o povo brasileiro pelos brasileiros

QUADRO 31 ndash Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Francisco Campos (1931-1937) para o Curso Fundamental

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

Ensino Secundaacuterio Curso Fundamental

Geografia 1ordm seacuterie

I - Prolegocircmenos Sistema Solar a Terra no Espaccedilo a lua constelaccedilotildees coordenadas fusos estaccedilotildees etc II - Geografia Fiacutesica Estrutura da Terra distribuiccedilatildeo das terras e mares O elemento soacutelido elementos liacutequidos elementos gazozos Litorais e tipos de costas dunas relaccedilotildees A vida animal e vegetal sobre o globo III - Praacuteticas de Geografia Demonstraccedilatildeo e experiecircncias com o teluacuterio e o pecircndulo de Foucault Processos de orientaccedilatildeo determinaccedilatildeo de latitude longitude hora legal escalas Leituras de cartas

Geografia 2ordm seacuterie

I - Geografia Geral dos Continentes posiccedilatildeo limites dimensotildees comparadas relevo climas etc Descriccedilatildeo sumaacuteria de cada continente com as divisotildees naturais II - Geografia Fiacutesica do Brasil situaccedilatildeo aspectos dimensotildees fronteiras relevo classificaccedilatildeo dos sistemas e maciccedilos litoral clima etc III - Praacuteticas de geografia experiencias sobre formas do relevo formaccedilatildeo de chuvas e demonstraccedilatildeo da accedilatildeo das aacuteguas sobre o modelado

Geografia 3ordm seacuterie

I - Geografia Poliacutetica e econocircmica populaccedilotildees e raccedilas liacutenguas e religiotildees migraccedilotildees e civilizaccedilatildeo formaccedilatildeo de cidades As capitais Circulaccedilatildeo e transportes Cultivos agriacutecolas alimenticios e industriais Criaccedilatildeo de animais e exploraccedilatildeo mineral Utilizaccedilatildeo de focircrccedilas naturais II - Geografia Poliacutetica e Econocircmica do Brasil Populaccedilotildees grupos eacutetnicos elemento europeu colonizaccedilatildeo recenceamento Recursos naturais e mananciais de energia Condiccedilotildees gerais de agricultura o gado induacutestria extrativa Transporte e comeacutercio

Geografia 4ordm seacuterie

I - Geografia dos principais Paiacuteses estudo espacial de cada uma das seguintes potecircncias nas suas feiccedilotildees fiacutesicas e poliacuteticas particulares salientando os principais problemas sociais ou econocircmicos Inglaterra e o Impeacuterio Britacircnico a Alemanha e a Europa Central Franccedila e colocircnias Itaacutelia e Adriaacutetico peninsula Ibeacuterica Repuacuteblicas Russas Japatildeo China Estados Unidos e Argentina II - Geografia Regional do Brasil Descriccedilatildeo fiacutesica e poliacutetica de cada uma das regiotildees naturais do paiacutes Estudo dos principais problemas sociais e econocircmicos da atualidade e da evoluccedilatildeo econocircmica das regiotildees naturais Brasil setentrional Brasil Norte-Oriental Brasil Oriental Brasil Meridional Brasil Central

Geografia 5ordm seacuterie

I - Elementos de Cosmografia Sistema Solar planetas cometas etc II - Meteorologia e climas Atmosfera composiccedilatildeo ventos temperatura do ar meacutedias teacutermicas umidade precipitaccedilotildees climas da Terra classificaccedilotildees dos principais tipos Climas do Brasil III - O elemento soacutelido a crosta terrestre relevo do solo erosatildeo e tectocircnica erosatildeo fluvial e seu ciacuteclo formaccedilatildeo de vales tipos de planaltos e planiacutecies influecircncias das rochas sobre a topografia Relecircvo vulcacircnico deseacutertico costas e recifes IV - O elemento liacutequido Oceanos e mares relevo submarino aacutegua do mar salinidade correntes vagas ressacas Lagos aacuteguas correntes escoamento fluvial ciclo vital dos rios tipos de regimes Estudo de rios brasileiros V - Elementos de Biogeografia Influecircncia do meio sobre a distribuiccedilatildeo da vida do Globo as plantas animais e Homem

Distribuiccedilatildeo e tipos de vegetais Distribuiccedilatildeo dos animais fauna terrestre e condiccedilotildees de vida do Homem nos diferentes meios VI - Geografia Comparada da Ameacuterica Estrutura relecircvo litorais vegetais recursos naturais zonas fisiograacuteficas etnografia etc

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

QUADRO 32 ndash Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Francisco Campos (1931-1937) para o curso secundaacuterio

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

Ensino Secundaacuterio Ginasial (1ordm Ciclo)

Geografia Geral

1ordm seacuterie A Terra no espaccedilo estrutura da Terra os grupos humanos a circulaccedilatildeo a agricultura e a pecuaria industria e comeacutercio

Geografia Geral

2ordm seacuterie Geografia Geral Fiacutesca Humana Poliacutetica e Econocircmica dos continentes

Geografia do Brasil

3ordm seacuterie Geografia Fiacutesica e Humana do Brasil

Geografia Brasil

4ordm seacuterie Geografia Regional do Brasil

Ensino Secundaacuterio Colegial ndash Claacutessico ou Cientiacutefico (2ordm Ciclo)

Geografia Geral

1ordm seacuterie A ciecircncia geograacutefica a Terra no espaccedilo atmosfera a hidrosfera o relevo

Geografia Geral

2ordm seacuterie Ameacuterica Meridional e Setentrional Comunidade Britacircnica o Continente Europeu a China e o Japatildeo Indostatildeo Persia Aacutesia Menor Egito

Geografia do Brasil

3ordm seacuterie Posiccedilatildeo geograacutefica do Brasil Fronteiras Fisiografia do Brasil Desenvolvimento econocircmico Circulaccedilatildeo e Comeacutercio

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

52 A constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo republicano

Em um sentido epistemoloacutegico a entrada do periacuteodo republicano marcou-se

por movimentos de transiccedilatildeo para o saber geograacutefico escolar a partir da primeira

deacutecada do seacuteculo XX A Geografia descritiva ainda era ativa e seria por muitos anos

continuando a serem reeditados livros dos anos 1880 1890 bem como surgindo

novas ediccedilotildees com a mesma proposta e abordagem geograacutefica que instituiacutea a

tradiccedilatildeo da bibliografia ateacute entatildeo

Todavia um paulatino processo de substituiccedilatildeo estava em andamento A

ciecircncia geograacutefica tendia a natildeo ser mais a mesma dos antigos tratados e dicionaacuterios

A Corografia Brasiacutelica a Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro bem

como os proacuteprios manuais da Geografia utilizados como fontes referecircncias do

ensino de Geografia continuariam essa tradiccedilatildeo mas o seacuteculo XX apresentaria

outras perspectivas geograacuteficas para se superar essa reproduccedilatildeo ndash as descriccedilotildees e

as nomenclaturas topograacuteficas Inovaccedilotildees na bibliografia poderatildeo ser aferidas

iniciamente a partir das obras de Manuel Said Ali Miguel Delgado de Carvalho e

Fernando de Raja Gabaglia as quais influenciaram natildeo soacute o modo de ser da

Geografia brasileira mas anteciparam e reorganizaram o rumo da Geografia escolar

que teriam em Aroldo de Azevedo e em Mario da Veiga Cabral dentre outros os

expoentes de sucesso e de estabelecimento de outro padratildeo geograacutefico

521 A bibliografia didaacutetica de Geografia na Repuacuteblica

Observando o Graacutefico 01 apresentado no capiacutetulo 02 vecirc-se que a

bibliografia didaacutetica apoacutes os anos 1880 tem um decreacutescimo em sua produccedilatildeo ateacute a

primeira deacutecada do seacuteculo XX voltando a ascender nos anos 1910 e atingindo seu

pico na deacutecada de 1930 considerando-se o periacuteodo em anaacutelise Essa curva delineia

as transformaccedilotildees pelas quais a bibliografia passou nesses anos Com o novo

regime poliacutetico ideias que estavam em discussatildeo haacute alguns anos encontraratildeo

ambiente para sua inserccedilatildeo como demonstrado nas legislaccedilotildees orgacircnicas para

reorganizar em especial o ensino secundaacuterio o positivismo o meacutetodo intuitivo a

orientaccedilatildeo moderna da Geografia mais tarde A Geografia descritiva seria abalada

por essas novas propostas como abordado acima alterando o modo de enunciar as

discursividades geograacuteficas no acircmbito escolar Apesar disso haacute um periacuteodo inicial

de estabilidade nessa mesma Geografia descritiva surgem poucos tiacutetulos porque

permanecem os mesmos anteriores A partir da deacutecada de 1910 com auge na

deacutecada de 1930 apareceratildeo muitos autores novos com obras que superam aquelas

dos oitocentos em termos de qualidade e expressatildeo geograacutefica

Dentre os livros mais significativos desse tempo jaacute na deacutecada de 1890 tem-

se a Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias de Tancredo

Leite do Amaral Coutinho editada pela Francisco Alves e adotada pelo Conselho

Superior da Instrucccedilatildeo Puacuteblica de Satildeo Paulo O livro teve 11 ediccedilotildees ateacute 1909

Tambeacutem no princiacutepio desta deacutecada eacute editada a Geographia primaacuteria composto para

uso das Escolas Primaacuterias de Carlos Novaes tambeacutem pela Francisco Alves e com

12 ediccedilotildees ateacute os primeiros anos do seacuteculo XX Percebe-se nesse periacuteodo fruto

tanto da organizaccedilatildeo e logiacutestica comercial dos livros brasileiros agrave eacutepoca quanto da

poliacutetica de centralizaccedilatildeo e descentralizaccedilatildeo do comando poliacutetico da educaccedilatildeo

vestiacutegios regionais ainda muito intensos Nesses termos regionalmente destacam-

se Antocircnio Alexandre Borges dos Reis com a Chorografia e historia do Brasil

Especialmente do Estado da Bahia com quatro ediccedilotildees Raimundo Ciriacuteaco Alves da

Cunha com Geographia especial do Paraacute Approvada para uso das escolas

primarias com duas ediccedilotildees Haacute tambeacutem Noccedilotildees geographicas e historicas do

estado de Pernambuco Compendio Adoptado pelo Conselho litterario para uso das

Escolas Primaacuterias do Estado de Pernambuco de R T Espiacuterito Santo com seis

ediccedilotildees Geographia do estado de Minas Geraes seguida de noccedilotildees de historia do

mesmo estado de Francisco Lentz Arauacutejo este editado pela Francisco Alves

Chorographia do estado de Sergipe Aprovada pelo Conselho Superior de Instruccedilatildeo

e mandada adotar nas escolas puacuteblicas de Luiacutes Carlos da Silva Lisboa O Rio

Grande do Sul para as escolas de J Pinto Guimaratildees Geographia do Estado do

Rio Grande do Sul de Henrique Martins As obras regionais desse final de seacuteculo

geralmente satildeo iniciativas de seus autores sendo editadas em tipografias locais

Nesta deacutecada continuam ativos autores dos tempos imperiais como Alfredo Moreira

Pinto com sua Chorographia do Brasil Para uso dos gymnasios e escolas normaes

editado pela Francisco Alves e com Elementos de cosmographia

Na passagem do seacuteculo XIX para o XX nota-se em primeiro lugar uma

forte atuaccedilatildeo das casas publicadoras comerciais sobretudo a Francisco Alves que

exploram obras destinadas para o ensino primaacuterio cujo puacuteblico apresentava maior

clientela e de certa forma sem as amarras que o ensino secundaacuterio sofria com a

supervisatildeo direta do Estado e sob forte influecircncia do Coleacutegio Pedro II e dos seus

colegiados as geografia gerais estatildeo completamente nesse domiacutenio sendo comum

que os autores enfatizem a concordacircncia com os esquadros curriculares sugeridos

nessa instacircncia maneira usual para estabelecer suas obras no mercado satildeo

frequentes assim as obras destacarem essa concordacircncia ldquoDe accocircrdo com o

programma do Gymnasio Nacionalrdquo (BITTENCOURT 1908) ldquoOrganizadas conforme

o programma dos gymnasiosrdquo (SCROSOPPI 1908) ldquoDe accordo com o programma

do Gymmasio Nacional e da Escola Normalrdquo (BITTENCOURT 1909) Outro

destaque satildeo os manuais didaacuteticos que tematizam a Geografia nacional tendecircncia

que se acentuaria ateacute o fim do periacuteodo em anaacutelise Em princiacutepios do novo seacuteculo

Elysio de Arauacutejo publica Geographia elementar pela Francisco Alves que teraacute sete

ediccedilotildees ateacute o fim da deacutecada de 1920 Em 1901 Arthur Thireacute publica sua Geographia

elementar Compediada para uso das escolas primarias obra que apresentou

importantes progressos graacuteficos como analisei anteriormente Em 1905 surge um

autor relevante Horacio Scrosoppi com o Curso elementar de Geographia Geral e

Liccedilotildees de Chorographia do Brasil de 1908 e editado ateacute fins dos anos 1920 depois

publicaria Liccedilotildees de Chorographia do Brasil (1908 cinco ediccedilotildees) Curso superior de

Geographia geral (dez ediccedilotildees) Eacute desse mesmo ano a Geografia de Said Ali

analisada adiante ndash marco na renovaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica da bibliografia

didaacutetica desta disciplina Ainda nessa primeira deacutecada igualmente surge Carlos

Novaes com sua Geographia secundaacuteria reeditada ateacute a deacutecada de 1930 e que

publicaria ainda Geographia especial ou chorographia do Brazil (1912) e o Curso de

Geographia geral (1926) destacando-se tambeacutem a obra de Feliciano Pinheiro

Bittencourt Compendio de corographia do Brasil publicado em 1909 e reeditado ateacute

1925

O destaque na deacutecada seguinte eacute a obra pioneira de Delgado de Carvalho

Geographia do Brasil Tomo I Geographia Geral (1913) obra que natildeo teve a

representaccedilatildeo comercial de muitos outros autores contemporacircneos mas que se

destacou pelas transformaccedilotildees histoacutericas e teoacuterico-metodoloacutegicas que introduziu

com a ldquoorientaccedilatildeo modernardquo Geographia do Brasil Volume II (1927) entatildeo adotado

no Collegio Pedro II ambos unificados na Geographia do Brasil a partir da quarta

ediccedilatildeo de 1928 O autor publicaria anos depois Geographia elementar (1923)

Chorographia do Districto Federal (1926) e Geographia humana poliacutetica e

econocircmica (1933) Posteriormente escreveu outras obras

Em 1916 surge Mario da Veiga Cabral com Chorografia do Brasil obra

editada ateacute 1957 totalizando 31 ediccedilotildees Ao lado de Aroldo de Azevedo que publica

Geographia humana e Geographia geral para a primeira serie ginasial em 1934

Cabral foi um dos expoentes do livro didaacutetico de Geografia autores ambos de

significativo volume de vendas e influecircncia do ensino ateacute o terceiro lustre do seacuteculo

XX No periacuteodo enfocado pela pesquisa Cabral publica ainda A Europa actual

(1923) Chorographia do Districto Federal (1923 editado ateacute 1967) Nossa paacutetria

Noccedilotildees de chorographia do Brasil para uso das escolas (1924) Aroldo de Azevedo

na deacutecada de 1930 publica ainda Geographia Geographia para a segunda seacuterie

secundaacuteria Geographia para a terceira serie secundaria Geographia para a quarta

seacuterie secundaacuteria Geographia para a quinta seacuterie secundaacuteria e encerra essa

deacutecada publicando Geographia para o curso comercial (1939) Na deacutecada de 1930

quando o ensino estabiliza-se em determinado nuacutemero de seacuterie como visto

anteriormente Aroldo de Azevedo e seus editores tiveram o tino de seriar as obras

em volumes diferentes padratildeo que seria comum daiacute em diante Em vez de um

determinado curso adotar um uacutenico volume ou recorrer a volumes de outros autores

com essa medida tinha-se todo o conteuacutedo do curriacuteculo contemplado com a obra

seriada de um mesmo autor

Observa-se que o iniacutecio da deacutecada de 1930 foi um freio para as antigas

geografias descritivas Nesse momento natildeo mais satildeo editados Joaquim Maria de

Lacerda Alfredo Moreira Pinto Henrique Martins FIC Estaacutecio de Menezes e

outros estes nos primeiros vinte anos do novo seacuteculo foram sendo deixados para

traacutes sumindo suas obras da oferta didaacutetica E isso natildeo se dava soacute pelo

desaparecimento do autor mas pela qualidade das obras haja vista que os editores

sempre tiveram meios para substituir o autor em funccedilatildeo da longevidade dos

conteuacutedos como eacute tiacutepico o caso do Abbade Gaultier FIC e Joaquim Maria de

Lacerda A deacutecada de 1920 por conseguinte tornou-se o iniacutecio de uma ponte

transicionando modos de ser da bibligrafia didaacutetica de Geografia Autores que

insistiam na Geografia descritiva natildeo foram muito longe tendo ediccedilotildees uacutenicas ou

com poucas reediccedilotildees como Themistocles Saacutevio com o Curso Elementar de

Geographia de 1908 ou Geographia elementar para as escolas primarias de M

Albuquerque Filho de 1914 Para continuar em atividade nessa transiccedilatildeo o autor

teria que fazer constantes adaptaccedilotildees a exemplo de A G Lima que publicando

suas Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul em

1911 reedita-a ateacute fins da deacutecada de 1930

522 A contribuiccedilatildeo de Said Ali o siginificado da sua proposta de regionalizaccedilatildeo

Manuel Said Ali Ida (1861-1953) foi professor de Geografia embora tenha

sido lembrado principalmente por ter sido um dos introdutores dos estudos

linguiacutesticos no Brasil Acima de sua atuaccedilatildeo profissional sobressai-se a formaccedilatildeo

cientiacutefica que detinha o que o fez bem posicionado sobre os fundamentos

epistemoloacutegicos e metodoloacutegicos que se discutiam na Europa sobretudo quanto ao

meacutetodo histoacuterico-comparativo e ao desempenho deste nos estudos linguiacutesticos

(SILVA 2006) Natildeo lhe era desconhecido igualmente as discussotildees que

embalavam a Geografia cientiacutefica os ldquoprogressos geographicosrdquo estavam a seu ver

ldquonatildeo soacute obras de larga envergadura mas tambem em preciosos livros collegiaesrdquo

(ALI 1905 p III) Reconhecia que a Geografia escolar tinha sua importacircncia e lugar

mas natildeo necessariamente como a tradiccedilatildeo a colocava nos bancos escolares

brasileiros Para o autor a educaccedilatildeo geograacutefica era ldquo[] um conhecimento hoje tatildeo

imprescindiacutevel como a mathematica e as sciencias naturaes quer para os cursos

acadecircmicos quer para as necessidades praticas da vidardquo (ALI 1905 p V)

Para essa Geografia escolar identificou uma falha importante da qual fez

uma criacutetica e uma contribuiccedilatildeo fundamental a importacircncia e utilidade dos saberes

geograacuteficos natildeo se sustentariam com manuais que ldquo[] pretendendo descrever a

superficie do globo esquarteje e retalhe a crosta terrestre para poder limitar-se a

um catalogo ou amontoamento de nomes geograacuteficos qual e qual mais arrevezado

em determinados grupos artificiaesrdquo (ALI 1905 p III) age portanto diretamente

sobre a fragmentaccedilatildeo do saber responsaacutevel em grande medida pela forma de se

ensinar e aprender a Geografia escolar

Assim para Said Ali o meacutetodo de abordagem do espaccedilo geograacutefico em

especiacutefico o brasileiro levava a problemas de expressatildeo desse saber agrave

quantificaccedilatildeo sem nexo acarretando um ensino desconexo e exaustivo

Nesses termos sua proposiccedilatildeo era a de que o aprendizado geograacutefico

tivesse uma abordagem que permitisse ao estudante isolar-se dessa fragmentaccedilatildeo

podendo ldquo[] fixar na memoria natildeo os objetos isoladamente porem em cada liccedilatildeo

a imagem de um todo pelos seus traccedilos mais caracteriacutesticosrdquo (ALI 1905 p III)

Inspirado em Alexander Georg Supan (1847-1920) geoacutegrafo austriacuteaco observa que

este autor especificamente em um livro escolar de sua produccedilatildeo ldquo[] em vez das

tradicionaes enumeraccedilotildees vemos esboccedilados [na obra] quadros plasticos dos paizes

e seus habitantes habilitando o espiacuterito do estudante a comprehender a evoluccedilatildeo da

historia (nas suas relaccedilotildees com a geographia) e bem assim as actuaes condiccedilotildees

politicas e economicas dos povosrdquo (ALI 1905 p III)

Com estas bases Said Ali propocircs uma nova organizaccedilatildeo do territoacuterio

nacional na forma de regiotildees agrupando o traccedilado dos estados federativos da

Repuacuteblica sob o criteacuterio da atividade econocircmica e outras condiccedilotildees territoriais ao

que denominou ldquozonas geograacuteficasrdquo Distinguiu as seguintes zonas geograacuteficas

Brasil Central ou Ocidental Brasil Setentrional Brasil de Nordeste Brasil Oriental e

Brasil Meridional Essa inovaccedilatildeo foi aplicada e publicada na obra Compecircndio de

Geografia Elementar editada em 1905 De ediccedilatildeo uacutenica eacute de se crer que a obra

tenha tido pouca circulaccedilatildeo No entanto revelou-se uma obra de inestimaacutevel valor

pois foi endossada posteriormente por Delgado de Carvalho e outros autores

didaacuteticos estando inclusive na raiz da divisatildeo regional proposta anos mais tarde

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE Sudoeste Norte Sul

Nordeste e Centro-Oeste A esse respeito Silva (2006 p 75) afirma que

Se for colocado em pauta que toda a tradiccedilatildeo geograacutefica anterior apenas visibilizava o espaccedilo brasileiro em termos de estados costeiros (mariacutetimos) e estados interiores (sertatildeo) subdivididos em proviacutencias tem-se uma tentativa de racionalizar o enfoque metodoloacutegico da abordagem territorial considerando preliminarmente o mover da vida social do paiacutes quando da entrada no seacuteculo XX e natildeo apenas considerando o passado histoacuterico de ocupaccedilatildeo como criteacuterio da descriccedilatildeo geograacutefica

Para Vlach (2004 p 192) essa contribuiccedilatildeo foi um marco expoente no pensamento

geograacutefico brasileiro

Cumpre destacar que a tentativa do professor M Said Ali assinalou em livro didaacutetico para o ensino secundaacuterio natildeo apenas sua preocupaccedilatildeo de acompanhar os ldquoprogressos geograacuteficosrdquo que ocorriam no exterior mas fundamentalmente representou o marco inicial de discussotildees de ordem teoacuterico-metodoloacutegica buscando inaugurar a geografia cientiacutefica no Brasil

O conceito de regiatildeo natildeo o sendo por delimitaccedilatildeo de fronteiras poliacuteticas

nunca havia sido empregado antes na bibliografia didaacutetica de Geografia Assim

organiza o autor essa regionalizaccedilatildeo

Se attendermos as affinidades economicas dos Estados entre si e com

ellas conciliarmos tanto quanto possivel as condiljoes geographicas

teremos a seguinte divisao racional

A ndash Brasil Central ou Occidental) comprehendendo as cabeceiras dos

tributarios amazonicos (e Tocantins-Araguaya) Mato Grosso e Goyaz

B ndash Brasil Septentrional ou Estados da Amazonia Amazonas e Para

C ndash Brasil de Nordeste Zona a leste das duas precedentes limitada ao sul

pelo rio S Francisco (trecho inferior) e caracterisada pela falta de rios

navegaveis seccas mais ou menos periodicas e pela producatildeo de algodatildeo

assucar e gado no interior Comprehende Maranhao Piauhy Ceara Rio

Grande do Norte Parahyba Pernambuco e Alagoas

D ndash Brasil Oriental Regiao dos Estados productores de cafe e fumo (alem

do assucar) e situada a leste da linha que assignala a fronteira de Goyaz

(divisor daguas entre o Tocantins e a bacia do S Francisco) e cujo

prolongamento ao sul eacute o rio Paranaacute ate a sua confluencia com o

Paranapanema Comprehende os Estados Sergipe Bahia Espirito-Santo

Minas-Geraes Rio de Janeiro e S Paulo

E ndash Brasil Meridional ou regiatildeo productora de mate araucarias e cereaes

Paranaacute Santa-Catharina e Rio Grande do Sul (ALI 1905 p 136)

Tratava-se em uacuteltima instacircncia de uma nova organizaccedilatildeo para a

abordagem dos estados posto que na bibliografia em geral natildeo havia uma

organizaccedilatildeo no tratamento das proviacutenciasestados geralmente se escolhia uma das

unidades e continuava-se pela vizinhanccedila como criteacuterio de organizaccedilatildeo geralmente

comeccedilando com o Amazonas passando por todos as unidades por ordem de

vizinhanccedila encerrando com o Mato Grosso ndash tradiccedilatildeo instituiacuteda por Ayres de Casal

e perpetuada apoacutes sua obra Essa proposta serviu para que Said Ali tivesse um

criteacuterio no agrupamento dos Estados em estudo pois no mais sua descriccedilatildeo pouco

alterou em relaccedilatildeo agraves abordagens descritivas A abordagem do mundo tambeacutem natildeo

teve nenhuma alteraccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo praticada na Geografia geral

Apesar de possuir um pequeno nuacutemero de ilustraccedilotildees o manual de Said Ali

natildeo concretizou em mapa ou qualquer outra representaccedilatildeo sua proposta o que de

certa forma diminuiu a visibilidade de sua sugestatildeo Talvez pelo mesmo motivo que

grassou o grosso da bibliografia ndash o barateamento das ediccedilotildees ou mais

provavelmente por dificuldades teacutecnicas e informacionais para produzir uma carta

tatildeo revolucionaacuteria (VLACH 2004)

523 A contribuiccedilatildeo de Delgado de Carvalho a orientaccedilatildeo moderna da Geografia e sua relaccedilatildeo com o livro didaacutetico

Carlos Miguel Delgado de Carvalho (1884-1980) foi o autor didaacutetico mais

ousado em toda a bibliografia do periacuteodo e de perto o que teve mais condiccedilotildees e

contexto para isso Formado na Franccedila Carvalho teve contato com a Geografia

cientiacutefica que se organizava em torno das obras de Humboldt Ritter Ratzel

Wappaeus Reacuteclus No Brasil desde fins do seacuteculo XIX embora de forma mais

isolada havia pesquisadores produzindo conhecimentos geograacuteficos tambeacutem de

orientaccedilatildeo moderna ou estrangeiros produzindo sobre o Brasil os quais tambeacutem

era de conhecimento de Carvalho ldquoBranner Derby Capanema Homem de Mello

Morize Cruls Barbosa Rodrigues Theodoro Sampaio Caloacutegeras Sylvio Romero

Gustavo drsquoUtra Belfort Mattos Uchocirca Cavalcanti Homero Baptista Viveiro de

Castro Joatildeo Ribeiro Euclydes da Cunhas []rdquo nomes referenciados por Oliveira

Lima (1913 p IV) ao prefaciar a obra Geografia do Brasil Tomo I Geografia geral

publicada em 1913

Embora tenha passado despercebida pelos demais autores didaacuteticos da

eacutepoca a proposiccedilatildeo de Said Ali natildeo foi desconsiderada por Delgado de Carvalho

como o proacuteprio autor reconhece

Natildeo soacutemente acceitamos esta visatildeo [de Said Ali] sob o ponto de vista racional como digna de ser citada mas passamos a adoptal-a totalmente para amoldar sob ella o estudo geographico ateacute hoje exclusivamente baseado sobre a divisatildeo administrativa do paiz Acreditamos que essas grandes divisotildees topographicas apesar de nada terem de absoluto e de preciso satildeo mais adequadas do que quaesquer outras a salientar as profundas differenccedilas physicas climatericas e sociaes que caracterizam a vida e as condiccedilotildees especiaes das differentes regiotildees de nossa terra (DELGADO DE CARVALHO 1925 p 85)

No entanto Delgado de Carvalho foi bem mais longe que Said Ali ndash a ideia

de regiatildeo foi desenvolvida a partir da teoria de Vidal De La Blache e Jean Bruhnes

procurando um sentido harmocircnico como criteacuterio para a ldquodivisatildeo geograacuteficardquo que

propocircs Brasil Amazocircnico Brasil Norte-Oriental Brasil Oriental Brasil Meridional e

Brasil Central Para ele a ldquoGeographia de uma regiatildeo tem por fim descrever o

conjunto dos caracteres que constituem a physionomia desta regiatildeordquo colocando aiacute

sua criacutetica agrave tradiccedilatildeo da Geografia descritiva ldquo[] considerados isoladamente esses

caracteres soacute tem o valor de um facto adquirem poreacutem valor scientifico quando

collocados no encadeamento natural na connexatildeo da qual fazem parterdquo (1913 p

V)

O que caracteriza de fato a ruptura dessa Geografia didaacutetica com a

Geografia descritiva eacute a presenccedila de uma divisatildeo geograacutefica de fato em oposiccedilatildeo agrave

divisatildeo administrativa ldquoentre noacutes a divisatildeo por Estados para o ensino da

geographia tem sido o maior obstaacuteculo ao progresso da sciencia geographica no

dominio didacticordquo (CARVALHO 1913 p VI) Essa divisatildeo geograacutefica incide nas

ldquoregiotildees naturaisrdquo como primeiro passo do novo meacutetodo O segundo seraacute a

abordagem das ldquocondiccedilotildees econocircmicasrdquo E com isso Carvalho (1913 p IX)

demonstra sua atenccedilatildeo agraves contribuiccedilotildees inovadoras surgentes em diversos lugares

do mundo

Hoje em Franccedila natildeo se cogita mais dos methodos de Cortambert da

geographia por departamentos servem de modelo as obras de Vidal de la

Blache de Schrader e Fallex e Marey Na geographia da Italia de Angelo

Mariani notamos a mesma tendencia identica tambem nos novos

compendios norte-americanos (Cyrus Adams Spencer Trotter Alexis

Everett Frye Tarr e Murry etc)

Delgado publica a segunda parte da Geografia do Brasil em 1927 reunida

ambas em um soacute volume no ano seguinte

Em 1925 Delgado de Carvalho publicou um importante tratado sobre o

ensino geograacutefico Methodologia do Ensino Geographico (Introducccedilatildeo aos estudos

de Geographia Moderna) em que expocircs suas ideias sobre a pedagogia da

Geografia e sobre o livro didaacutetico

Sobre o livro didaacutetico conclamava a necessidade de modernizar a

abordagem da Geografia trazendo para sua arena a clareza a concisatildeo o poder de

ser sugestivo e capaz de despertar no estudante a vontade de saber mais de

procurar aprofundar seus conhecimentos Para tanto lembra a necessidade de o

compecircndio ldquo[] ser exacto a par dos progressos scientificos da geographia das

descobertas das innovaccedilotildees e mudanccedilasrdquo (CARVALHO 1925 p 116) Carvalho

defendia um certo ldquoespiacuterito cientiacuteficordquo que a Geografia poderia proporcionar a uacutenica

forma de se superar as deficiecircncias do programa estipulado para a Geografia sua

limitaccedilatildeo e concisatildeo conformando a obra didaacutetica agrave inteligecircncia do aluno e natildeo agrave

sua memoacuteria ldquoo que deve ser retido eacute um estricto miacutenimo que vae ser entregue aacute

reflexatildeordquo (CARVALHO 1925 p 112)

O movimento introduzido por Delgado de Carvalho assinala uma

transformaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica tanto no sentido epistemoloacutegico da ciecircncia

geograacutefica brasileira quanto na pedagogia do seu ensino fundamentada na

migraccedilatildeo de uma Geografia ancorada na nomenclatura descritiva em direccedilatildeo agrave

explicaccedilatildeo dos processos espaciais um avanccedilo que moveria a Geografia da

fragmentaccedilatildeo completa para uma compartimentaccedilatildeo relativa a Geografia descritiva

com uma abordagem fiacutesica uma abordagem poliacutetica e uma abordagem

cosmograacutefica que paulatinamente se reorganizaratildeo em uma Geografia Fiacutesica e uma

Geografia Humana Por exemplo a Geografia fiacutesica em sua abordagem moderna

claacutessica espraiava-se em uma superfiacutecie discursiva que elencava os fatos e

fenocircmenos unicamente em sua distribuiccedilatildeo espacial na abordagem da Geografia

moderna cientiacutefica se procuraraacute uma verticalizaccedilatildeo desses fatos e fenocircmenos na

tentativa de explicaacute-los natildeo apenas citaacute-los Veja-se sobre o rio Amazonas como

era tipicamente o discurso da Geografia escolar descritiva

O Amazonas que eacute o maior rio do globo em volume daguas nasce do lago Lauricocha no Peru corre ao principio para o N e depois para L atravessando o Peru separando este do Equador e percorrendo de O a L os Estados brazileiros do Amazonas e Para e se lanccedila no oceano Atlantico depois de um curso de 6000 kilom dos quaes percorre 3828 em territorio brazileiro Tem antes de entrar no Brazil os nomes de Tunguragua e Maranhatildeo e no Brazil o nome de Solimotildees ateacute receber o rio Negro e drsquoahi ateacute o oceano o de Amazonas propriamente dito Seus affluentes principaes no Brazil satildeo na margem direita o Javary que separa o Brazil do Peru o Jutahy o Juruaacute o Teffeacute o Coari o Purus o Madeira o Tapajoz e o Xingu na margem esquerda o Iccedila ou Putumayo o Japuraacute ou Caquetaacute o Negro o Jamundaacute o Nhamundaacute que separa em parte o Paraacute do Alto-Amazonas e o Trombetas Quasi todos satildeo rios de primeira ordem A extensatildeo francamente navegavel no Amazonas e seus affluentes dentro do territorio do Brazil eacute de 43250 kilom aacutequem das primeiras cachoeiras Por elles o Brazil communica com a Bolivia Peru Equador Colombia e Venezuela (LACERDA 1898 p 332)

O discurso descritivo caracteriza-se por uma totalizaccedilatildeo de fatos ou seja

nomenclatura e distribuiccedilatildeo espacial de localidades Em Lacerda tem-se um

discurso enxuto em que se sobressai a substantivaccedilatildeo como armaccedilatildeo dos sentidos

Sobre o Amazonas as palavras constroem um sentido unilateral o de construir uma

superfiacutecie explicitada em qualquer mapa diz os nomes a disposiccedilatildeo e orientaccedilatildeo

classifica-se e quantifica-se A forma de estudar esse discurso eacute o da memorizaccedilatildeo

(que a propoacutesito do rio Amazonas e seus afluentes chegou no imaginaacuterio popular a

ser mote para narrativas jocosas)

Por outro lado no discurso da Geografia escolar cientiacutefica veja-se como

ficou a abordagem do mesmo objeto

O regimen do rio Amazonas acha-se como alias o regimen de todos os rios intimamente ligado natildeo soacute a geologia da bacia mas tambem ao regimen das chuvas a inclinaccedilatildeo das terras e a vegetaccedilatildeo o marginal A estaccedilatildeo das chuvas provoca as enchentes comeccedilam no mez de Fevereiro eacute a epocha em que de retem as neves dos Andes e cahem as chuvas torrenciaes que caracterisam as regiotildees tropicaes a cheia eacute variavel pode attingir de 12 a 17 metros (acima da estiagem) Essas enchentes de Fevereiro a Julho correspondem aacutes enchentes dos affluentes da margem direita Da-se porem o facto do rio Amazonas ser paralelo ao Equador e muito proximo desta linha seu affluentes fazem por conseguinte parte dos dois hemipherios a epoca de enchente de um correspondendo a epoca de vasante do outro A curva de seu regimen eacute pois produzida pela interferencia das dos seus affluentes Os affluentes da margem direita satildeo deve-se notar mais importantes do que os da margem esquerda mas o phenomeno eacute todavia sensivel e dota o Amazonas de um regimen estavel devido a esta compensaccedilatildeo

A vegetaccedilatildeo marginal do Amazonas e de seus affluentes tem tambem grande importancia para o regimen As florestas agindo sabre a evaporaccedilatildeo impedindo a queda directa da chuva sobre o solo e tornando o escoamento mais difficil retem parte das aguas destinadas ao rio que apezar da sua despesa ftuvial colossal natildeo carrega nem 20 por cento das aguas cahidas na sua immensa hacia (O calculo foi feito para o rio Madeira e deu 15 mais ou menos) A vegetaccedilatildeo marginal tambem protege as costas contra a erosatildeo e as plantas aquaticas e ribanceiras enfraquecem a correnteza (CARVALHO 1913 p 36)

Esta eacute somente parte do desenvolvimento do conteuacutedo Nele o sujeito autor procura

explicar o rio como um processo demonstrando sua correlaccedilatildeo com as feiccedilotildees

geoloacutegicas geomorfoloacutegicas e climaacuteticas a influecircncia da vegetaccedilatildeo o porquecirc das

cheias o porquecirc da estabilidade do seu volume aquaacutetico

Afirmo anteriormente de uma compartimentaccedilatildeo relativa pois ainda haveraacute

pelo menos ateacute os anos 1980 uma fragmentaccedilatildeo no saber didaacutetico da Geografia a

saber sua divisatildeo em um discurso triplo racionalizado entre a natureza o homem e

a economia (VLACH 1990) forma discursiva que seraacute rompida pelas Geografias

criacuteticas

Na Methodologia do Ensino Geographico Carvalho enfatiza que pouco vale

o livro sem uma docecircncia que se aproprie a ele Na sala de aula de acordo com ele

pouco vale o estudo dos ldquopontosrdquo marcados com antecedecircncia pelo professor e

cobrados a cada aluno na aula subsequente por ldquo[] recitaccedilatildeo da liccedilatildeo com o livro

fechadordquo (CARVALHO 1925 p 114) Dever-se-ia privilegiar a discussatildeo e a

colocaccedilatildeo de problemas estimulando os discentes a aprender pela reflexatildeo pelo

exerciacutecio do pensamento e natildeo da memoacuteria utilizando o livro nesse contexto como

instrumento ou fonte de informaccedilatildeo

Ensinar pela colocaccedilatildeo de problemas e conduccedilatildeo de debates insinua um

ensino por correlaccedilotildees levando a uma movecircncia por dentre o discurso geograacutefico

pois ldquoMuitas vezes um lsquopor quersquo do mestre natildeo pode ser respondido senatildeo pondo

lado a lado vaacuterios ldquoo querdquo e ldquoonderdquo disseminados no compendiordquo o que levaria o

aluno a uma atitude independente ldquo[] acostumado a achar soluccedilotildees no seu

compendio cedo teraacute facilidade em manusear outros livros e a nelles encontrar

tambeacutem o que precisardquo (CARVALHO 1925 p 115)

Carvalho filiando-se discursivamente a uma nova orientaccedilatildeo (moderna e

cientiacutefica) quanto ao pensamento geograacutefico brasileiro mesmo sem

institucionalizaccedilatildeo ainda direcionou diretamente para o ensino de Geografia essas

novas perspectivas privilegiando o livro didaacutetico como meio de divulgaccedilatildeo e de

implementaccedilatildeo de uma nova praacutetica geograacutefica reconhecendo inclusive o papel

desse artefato no contexto ldquodos compendios de geographia eacute que depende hoje no

Brasil a adopccedilatildeo de uma nova orientaccedilatildeo no ensino da mateacuteria Eacute por conseguinte

nelles que deve ser procurada a realizaccedilatildeo do que jaacute exigem nossos principaes

programmasrdquo (CARVALHO 1925 p 116) Apesar de relegado por anos pela

academia o livro didaacutetico desde o iniacutecio da bibliografia demonstrou ser um lugar

institucional para sistematizar saberes sobre a Geografia em particular sobre o

Brasil sendo que sua importacircncia como demonstrarei no proacuteximo capiacutetulo excedia

os bancos escolares formava professores informava a sociedade circulava entre os

intelectuais

524 Antonio Firmino Proenccedila siacutentese das transformaccedilotildees no ensino de Geografia

Colocadas as contribuiccedilotildees de Said Ali e Delgado de Carvalho fora do

acircmbito da produccedilatildeo dos livros didaacuteticos surge um manual sobre o ensino de

Geografia que vale a pena ser posto em cena pela sobriedade da criacutetica e da siacutentese

do espiacuterito do debate incidente sobre o ensino de Geografia na deacutecada de 1920 a

obra Como se ensina Geographia de Antonio Firmino Proenccedila (1880-1946)

publicada em 1928 e reeditada em 1932 destinada agrave formaccedilatildeo de estudantes das

escolas normais A partir de meados da deacutecada de 1920 havia um discurso

amadurecido sobre a renovaccedilatildeo do ensino de Geografia natildeo mais postulado em

projetos ou em criacuteticas puras mas de fato direcionado a alterar a ordem das coisas

as praacuteticas de ensino a produccedilatildeo de materiais didaacuteticos Eacute nesse contexto que

Proenccedila faz uma anaacutelise criacutetica da situaccedilatildeo geral do ensino dessa disciplina

endossando as contribuiccedilotildees em curso desde final do seacuteculo XIX as quais

perpassam por Rui Barbosa por Said Ali e por Delgado de Carvalho

necessariamente no que diz respeito ao ensino e agrave bibliografia didaacutetica de

Geografia

Esse debate natildeo significa uma mudanccedila repentina na forma de ensinar

Geografia de se produzir os manuais didaacuteticos Contudo significa uma alternativa

aos termos dessas praacuteticas com reflexos futuros

Sobre como ensinar a Geografia Proenccedila sistematiza uma ordem de

consideraccedilotildees a saber a organizaccedilatildeo do curso a seleccedilatildeo de mateacuteria a questatildeo de

ordem a correlaccedilatildeo as liccedilotildees Sobre a organizaccedilatildeo do curso considera a evoluccedilatildeo

da ciecircncia como predominante de forma que o ensino natildeo pode ser parte dela

apenas Ensinar Geografia assim eacute componente da ciecircncia geograacutefica e dela o que

for colocado para a crianccedila deve ser de compreensatildeo imediata natildeo posterior pois

conhecimento natildeo funciona de modo provisoacuterio

Relativamente aacute geographia eacute frequente a violaccedilatildeo do principio da sequencia natural dos factos Ensinam-se generalizaccedilotildees antes que a crianccedila tenha adquirido conhecimento dos factos particulares que as condicionam tenta-se fazer a crianccedila imaginar antes que tenha adquirido material para imaginaccedilatildeo O clima de tal regiao eacute quente e humido dizem os oompendios e os professores o repetem Ora aqui esta uma noccedilatildeo apparentemente muito simples e que entretanto offerece difficuldade a comprehensatildeo infantil A noccedilatildeo de clima soacute por si ja eacute complexa agora

aggregando-se-lhe as qualidades quente e humido ainda mais complicada se torna Aacutequelle poreacutem que ja se habituou a observar o thermometro a cuja numeraccedilatildeo associou a sensaccedilatildeo de quentura propria e que ja se habituou a observar o aspecto do ar nos dias de humidade e a tudo isso associou um certo aspecto da natureza como consequencia do estado atmospherico a noccedilatildeo de clima quente e humido natildeo se apresenta simplesmente como um conjunto de palavras Quanto ao exercicio da imaginaccedilatildeo ainda se torna mais flagrante a violaccedilatildeo do principio do aprendizado natural Um porto de mar um cabo um estreito determinados tecircm de ser construidos pela imaginaccedilatildeo sem que a crianccedila tenha visto nem mesmo em estampa um certo porto um certo cabo ou um certo estreito (PROENCcedilA 1928 p 34-35)

Haacute aiacute um movimento das palavras para a praacutetica considerada de alguma forma ndash

antes de abstrair apresentar o concreto

O nosso primeiro estudo de geagraphia seraacute para oonhecer as coisas e os factos de todo o mundo Eacute a que se chama a geographia descriptiva ou regional Mas o canhecimento das coisas por infarmaccedilatildeo ainda que essa informaccedilatildeo venha completada por imagens descriptivas ou estampadas exige uma preacutevia preparaccedilatildeo mental Eacute necessario que o individuo tenha visto por si e examinado por si para poder ter elementos para comparaccedilatildeo e construccedilatildeo das imagens das coisas distantes (PROENCcedilA 1928 p 36-37)

O estudo geral nesses termos deve ser precedido do estudo local da realidade que

esquadra o aluno da localidade se veraacute o mundo Essa inclusive a partir daiacute seraacute

uma atribuiccedilatildeo comum ao ensino primaacuterio de Geografia

Sobre a seleccedilatildeo da mateacuteria considera-a como necessaacuteria agrave docecircncia

geograacutefica dada a extensatildeo da proacutepria Geografia e dos programas escolares dessa

disciplina Para tanto o autor observa dois princiacutepios o interesse dos alunos e a

finalidade do ensino Se agrave crianccedila natildeo for circunstanciada uma motivaccedilatildeo natildeo

haveraacute aprendizado real e esse muito se filia ao que eacute proposto para a

aprendizagem Isso traz para a arena do debate um questionamento silenciado no

discurso da Geografia descritiva escolar ldquoVecirc-se muitas vezes os autores de

compendios se preoccuparem com a enumeraccedilatildeo de todos os affluentes de um rio

Qual eacute o valor deste saber como geographiardquo (PROENCcedilA 1928 p 39) Por um

propoacutesito ao ensino geograacutefico seria inverter a loacutegica expressiva e a conduccedilatildeo do

saber para uma finalidade essencialmente humana

No curso primario e no secundario embora mereccedilam attenccedilatildeo as influencias mutuas dos factores de ordem astronomica e physica o interesse deve concentrar-se principalmente no elemento humano Um rio uma montanha ou um lugar devem antes de tudo ser estudado porque affectam as condiccedilotildees da vida humana As industrias o commercio e os meios de comununicaccedilotildeo seratildeo assirn postos em evidencia nas suas relaccedilotildees de dependencia com o meio physico (PROENCcedilA 1928 p 39)

Eacute o princiacutepio de um discurso capaz de promover o indiviacuteduo agrave sociedade colocando

esta no cenaacuterio do ensino geograacutefico

Agrave questatildeo da ordem por seu lado o autor propotildee uma metodologia que

priorize o conhecido ao desconhecido que aborde o proacuteximo antes do distante

procurando um equiliacutebrio nessa escolha uma unidade que se possa chamar de

geograacutefica a localidade o municiacutepio o estado o paiacutes e entatildeo o mundo O papel da

correlaccedilatildeo por sua vez estaacute tanto em dialogar a disciplina com outras mateacuterias

quanto em aplicar o conhecimento ldquono estudo elementar da materia convem levar

as crianccedilas a applicar os conhecimentos que forem adquirindo e mesmo auxliarem-

se de conhecimentos de outras materiasrdquo (PROENCcedilA 1928 p 43) Por liccedilotildees o

autor distingue a observaccedilatildeo na variacircncia da escala geograacutefica da aprendizagem O

mundo seraacute conhecido pela imaginaccedilatildeo mas para tanto o aprendiz deveraacute ter as

condiccedilotildees para compreendecirc-lo O aprendizado local seraacute intuitivo variando em ser

direta ou indireta

Preocupado em preparar o professor de Geografia Proenccedila faz criacuteticas

especiacuteficas ao livro didaacutetico de Geografia ldquoem geral os nossos compendios apenas

enumeram e informam A quem jaacute conhece a materia taes livros servem para

reavivar noccedilotildees jaacute adquiridas ou para fornecer dados ou informaccedilotildees Para aprender

por eles natildeo servem []rdquo uma vez que satildeo ldquo[] syntheticos demais satildeo demais

desattrahentesrdquo (PROENCcedilA 1928 p 95) Acusa-os de natildeo apresentarem

correlaccedilotildees entre os assuntos Em uma siacutentese muito luacutecida afirma ldquoapparecem a

natureza e a obra do homem mas o homem natildeo apparece A terra fica assim como

um vasto deserto onde a humanidade viveu e de onde desappareceu deixando

apenas os traccedilos de sua passagem nos monumentos de toda especierdquo (PROENCcedilA

1928 p 96)

A recomendaccedilatildeo de leituras para ampliar a discussatildeo proposta em seu livro

revela as fontes e a filiaccedilatildeo discursiva de Proenccedila Cita La terre et lhomme (J

LrsquoEspagnol) Geographie Physique (E Martonne) Physical Geography (Maury-

Simonds) Diccionario Historico e Geographico do Brasil Geographia Elementar

(Delgado de Carvalho) Geographia do Brasil (1ordf e 2ordf partes Delgado de Carvalho)

Geographia e Cosmographia (Ezequiel de Moraes Leme) Special Method in

Geography (Mc Murry) The Teaching of Geography (Archibald Geikie) Como se

Debe Estudiar la Geografia (trauzido de Parker) e Methodologia do Ensino

Geographico (Delgado de Carvalho)

A obra de Proenccedila demonstra como as contribuiccedilotildees iniciadas timidamente

por Said Ali e de forma mais impactuante por Delgado de Carvalho encontra

continuidade no discurso do ensino da Geografia agindo entatildeo e jaacute na formaccedilatildeo de

professores Natildeo significa que esse discurso tenha sido revolucionaacuterio a ponto de

mudar o curso e os esquadros curriculares do ensino geograacutefico mas sem duacutevida

iluminava um caminho novo mais rico e atraente que aquele palmilhado pela

educaccedilatildeo geograacutefica desde o iniacutecio de suas praacuteticas nas escolas brasileiras

525 Fernando Antocircnio Raja Gabaglia o ensino de Geografia por praacuteticas

Em 1930 Fernando Antocircnio Raja Gabaglia filho do engenheiro-geoacutegrafo

Eugecircnio de Barros Raja Gabaglia autor de As fronteiras do Brasil e professor

catedraacutetico de Geografia do Coleacutegio Pedro II contemporacircneo e colega de trabalho

de Delgado de Carvalho publicou uma pequena obra intitulada Praacuteticas de

Geografia (1930) A obra exemplo dos ares novos que incidiam sobre o ensino da

Geografia ldquopara uso no Collegio Pedro II e no ensino secundario e normalrdquo

materializa uma das vertentes de inovaccedilatildeo colocadas no debate da educaccedilatildeo

geograacutefica ndash a questatildeo da praacutetica do saber Citando Lord Kelvin a epiacutegrafe do livro

ressalva o espiacuterito que a constitui ldquoquando consigo construir para um phenomeno

um modelo mecacircnico eu comprehendo quando natildeo natildeo comprehendordquo Nesses

termos afirma o autor

O ensino da Geographia deve ter sempre um cunho pratico Para attender a este objectivo eacute que organizamos o presente livro que serviraacute de guia nas aulas praticas para os professores e os alumnos de Geographia Geral e Chorographia do Brasil do Collegio Pedro II dos institutos a elle equiparados e em geral de todos os estabelecimentos de ensino secundaacuterio e normal do paiz (GABAGLIA 1930 p 01)

Gabaglia traduziu essa praacutetica em termos de demonstraccedilotildees concretas e

experiecircncias Notadamente eacute um livro para o ensino da Geografia Fiacutesica

expressando uma forma nunca antes registrada na bibliografia didaacutetica da

Geografia

As Praacuteticas de Ensino tanto foram concebidas para uso como compecircndio

como para manual didaacutetico que instrumentalizasse o trabalho do professor

sobressaindo-se como tal sobretudo para os cursos normais Dividido em quatro

partes inicia com Demonstraccedilotildees e Experiecircncias seccedilatildeo que se alia com a Fiacutesica

para produzir compreensatildeo sobre noccedilotildees geograacuteficas como rotaccedilatildeo formas

terrestres formaccedilatildeo das chuvas modelaccedilatildeo do relevo etc Seguem-se os Processos

de Orientaccedilatildeo por meio das estrelas do sol da sombra ndash ensinando diversas

teacutecnicas para o aprendizado dessas noccedilotildees ndash maneiras de determinar as latitudes e

longitudes formas de estudar e determinar o tempo a instrumentalizaccedilatildeo do clima e

outros toacutepicos similares Nos Trabalhos graphicos e plasticos ensina a produccedilatildeo de

escalas como representar informaccedilotildees em cartas e plantas produccedilatildeo de curvas de

niacuteveis semiologia graacutefica reproduccedilatildeo de cartas produccedilatildeo de diagramas e

cartogramas Na Leitura de cartas o autor percorre os modos e as distinccedilotildees da

interpretaccedilatildeo das representaccedilotildees Seguem-se anexos com Dados e estatisticas para

a construcccedilatildeo de diagrammas e cartogrammas para a Geografia Fiacutesica a Geografia

Poliacutetica e a Geografia Econocircmica bem como para o Brasil um Glossario de termos

technicos seguido de Notas nas quais faz um ensaio geral sobre a grafia dos

termos geograacuteficos sobre os materiais para compor um gabinete de Geografia uma

lista de pontos praacuteticos para servirem de exames notas bibliograacuteficas e uma seacuterie de

tabelas com anotaccedilotildees e foacutermulas numeacutericas para referenciar as atividades

propostas

Para uma disciplina cuja Cosmografia e Geografia armavam-se quase que

puramente na citaccedilatildeo aleacutem de detentora de uma cartografia simplesmente

demonstrativa a proposta de Gabaglia consolidava um avanccedilo extraordinaacuterio Para

exemplificar o processo da formaccedilatildeo das chuvas eacute explicado a partir do

experimento apresentado na Figura 13

Em face da figura Gabaglia (1930 p 21-22) explica

Demonstraccedilatildeo experimental da formaccedilatildeo de chuvas ndash Ponha-se agua a ferver numa caacutepsula O vapor formado se condensaraacute nas paredes de um vaso ou copo cheio de agua fria e cujo fundo conico permittiraacute que a agua torne a cahir na caacutepsula

A caacutepsula representa o mar o fundo conico do vaso ou copo as altas regiotildees da atmosphera []

FIGURA 13 ndash Esquema da explicaccedilatildeo para o processo de formaccedilatildeo das chuvas proposto por Gabaglia (1930) FONTE Gabaglia (1930 p 21) Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2012

O discurso do ensino da Geografia caminha seja na docecircncia seja nas

obras didaacuteticas para um outro patamar de existecircncia embora a formaccedilatildeo docente

em processo natildeo fosse universal e embora continuassem pelo menos ateacute os

primeiros anos da deacutecada de 1930 a existir manuais com os padrotildees antigos

Uma vez percorrida a trajetoacuteria evidenciada ateacute aqui sobre a constituiccedilatildeo e

a institucionalizaccedilatildeo da disciplina geograacutefica no proacuteximo capiacutetulo analiso alguns

aspectos constitutivos da bibliografia observando em seu discurso como os

sujeitos autores se impotildeem no cenaacuterio educacional aspectos da legitimaccedilatildeo da

disciplina a relaccedilatildeo com as propostas curriculares o posicionamento da bibliografia

em relaccedilatildeo a sua proacutepria tradiccedilatildeo o posicionamento com suas fontes com os

professores com as formaccedilotildees ideoloacutegicas

CAPIacuteTULO 6

DISCURSOS NO LIVRO DIDAacuteTICO DE GEOGRAFIA anaacutelises de elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geograacutefico

A organizaccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia parece obedecer a um

padratildeo similar de organizaccedilatildeo e expressatildeo Geralmente precedem um prefaacutecio

uma introduccedilatildeo seguindo o desenvolvimento propriamente dito dos conteuacutedos

organizados por sua vez na triacuteade da Cosmografia da Geografia Fiacutesica e da

Geografia Poliacutetica tanto na escala global quanto na corograacutefica Embora no

panorama geral do periacuteodo em anaacutelise pareccedila haver uma homogeneidade

discursiva fato expresso de forma generalizante por muitos historiadores do ensino

da Geografia conforme aferido anteriormente na realidade eacute possiacutevel perceber

diversos movimentos de reorganizaccedilatildeo de acomodaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo discursiva

ocorrendo a imposiccedilatildeo de forccedilas para qualificar o discurso e estabelececirc-lo no

ambiente da bibliografia e seu uso Eacute ao longo do periacuteodo em anaacutelise que a

disciplina Geografia eacute construiacuteda que seus objetivos satildeo feitos e refeitos que a sua

necessidade eacute (re)dimensionada E a bibliografia reflete esse contexto e registra as

contribuiccedilotildees a esse movimento

Decididamente natildeo se pode encontrar em um periacuteodo histoacuterico de suas

dinacircmicas e praacuteticas aquilo que natildeo integrou sua constituiccedilatildeo No entanto haacute mais

na superfiacutecie discursiva dessa bibliografia do que expressam as generalizantes

anaacutelises da educaccedilatildeo geograacutefica sobre o periacuteodo antecedente agrave institucionalizaccedilatildeo

desse saber como ciecircncia (deacutecada de 1930) que a qualifica como um saber a-

cientiacutefico tal como conclui Azevedo (1954 p 45) ldquoos estudos de caraacuteter geograacutefico

anteriores agrave criaccedilatildeo da FFLCH-USP satildeo estudos puramente descritivos tipo

cataacutelogo ou uma lsquogeografia que se confunde com a topografia e a cartografiarsquordquo o que

parece reduzir a importacircncia se natildeo epistemoloacutegica histoacuterica desses livros embora

ambas ndash fundamentos teoacuterico e metodoloacutegico e participaccedilatildeo histoacuterica sejam um

desempenho testemunhal da Geografia brasileira

Agrave primeira impressatildeo quando se examina os programas e a bibliografia

didaacutetica da eacutepoca com facilidade se remete o estudioso a um parecer semelhante

ao de Azevedo e de outros correlatos Percebe-se realmente a descriccedilatildeo empiacuterica

como caracteriacutestica do ensino da Geografia ateacute princiacutepios do seacuteculo XX Todavia eacute

funccedilatildeo e procedimento comum ao discurso didaacutetico operar com os resultados da

ciecircncia e natildeo qualquer um mas aqueles consolidados em seu contexto Ser ou

natildeo ser um ensino geograacutefico cientiacutefico tem importacircncia relativa desde que no

acircmbito da produccedilatildeo desse saber a questatildeo estava colocada com um destacado

descompasso em relaccedilatildeo a outras ciecircncias Sem duacutevida tambeacutem se identifica um

descompasso do ensino da Geografia brasileira em relaccedilatildeo agrave ciecircncia geograacutefica em

toda a extensatildeo do periacuteodo analisado agrave exceccedilatildeo de algumas poucas e significativas

obras que alterando a configuraccedilatildeo regional (ALI 1905) introduzindo o discurso

moderno cientiacutefico (CARVALHO 1913) conclamando a praacutetica ao ensino

(GABAGLIA 1930) marcam um novo paradigma influente em certa produccedilatildeo entatildeo

contemporacircnea sobretudo Veiga Cabral e Aroldo de Azevedo redirecionando a

produccedilatildeo futura da bibliografia aquela produzida nos anos 1930 em diante O erro eacute

analisar esse ensino com referenciais cientiacuteficos natildeo correspondentes compreendecirc-

lo com os referenciais da Geografia atual por exemplo ou mesmo da Geografia

Moderna cientiacutefica A Geografia eacute uma aacuterea do saber cuja definiccedilatildeo moderna

principia no seacuteculo XVIII quando passou a formar um caminho epistemoloacutegico a

partir de dois pontos do deslocamento temporal da sua escala de abordagem e da

conformaccedilatildeo sistecircmica do saber

Deslocamento da idade antiga e medieval que configurava uma Geografia

Histoacuterica e muitas vezes uma Geografia sacra ainda presente no ensino do seacuteculo

XIX em direccedilatildeo aos espaccedilos e agraves feiccedilotildees entatildeo contemporacircneas em que se

destacam os recortes corograacuteficos com a emersatildeo dos espaccedilos nacionais

Em decorrecircncia surge o outro ponto de partida o esforccedilo de reunir

conhecimentos dispersos em uma expressatildeo sistecircmica de que resultaram

importantes e influentes tratados Conforme lembra Claval (1987 p 71) por um

vasto periacuteodo a partir do seacuteculo XVIII a Geografia esteve ldquo[] absorvida pela

descriccedilatildeo do mundo []rdquo e sua primeira direccedilatildeo ou seja para quem produzia essa

descriccedilatildeo era para o Estado de forma que foram os viajantes ldquo[] os uacutenicos a

responder a uma das curiosidades do puacuteblico geograacutefico []rdquo embora sem agregar

sistematizaccedilatildeo explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo a essa oferta Sendo estranha aos

produtores da Geografia a interpretaccedilatildeo e muitas vezes a explicaccedilatildeo ldquobastava

desenhar os contornos das proviacutencias ou regiotildees e dizer como satildeo preenchidas para

satisfazer as curiosidadesrdquo (CLAVAL 1987 p 72) havia quase que uma curiosidade

pictoacuterica em se obter os desenhos que contornavam as regiotildees e as generalidades

que as caracterizassem No seacuteculo XIX essa foi por exemplo a Geografia do

Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro (VLACH 1988)

Esse comportamento estaacute presente no fundamento da maior parte das

primeiras produccedilotildees da Geografia inclusive na didaacutetica sendo que nesta essa

posiccedilatildeo se prolonga mais chegando ao seacuteculo XX Tambeacutem nessa bibliografia se

faratildeo sentir sintomas de mudanccedilas de transformaccedilotildees constitutivas do discurso

didaacutetico da Geografia Mas esta eacute apenas uma das dimensotildees do livro didaacutetico de

Geografia Este tambeacutem se constitui como material instrucional como objeto de

debates como meio para a propagaccedilatildeo de pensamentos e de silecircncios Sua

trajetoacuteria vai mostrando como vatildeo sendo agregados iacutendices ilustraccedilotildees exerciacutecios

notas de rodapeacute pregnacircncias O livro didaacutetico de Geografia eacute um dos gecircneros da

bibliografia geral poreacutem como todo gecircnero natildeo nasceu pronto frutifica-se na

Histoacuteria por ela eacute construiacutedo e constituiacutedo Natildeo havendo exerciacutecios ou atividades

para os discentes nas obras ofertava-se apenas os conteuacutedos ficando a cargo do

regente do curso orientaccedilotildees quanto agraves atividades o livro aiacute se inteira para o

professor ainda natildeo eacute uma conquista do alunado A histoacuteria do livro didaacutetico de

Geografia mostra que suas muacuteltiplas dimensotildees como essa vatildeo se compondo

demonstra como vai se propondo como se destina para quem se destina para que

serve para o que contribui como se institucionaliza como se datildeo as relaccedilotildees

retroativas que nutre com a disciplina

Neste capiacutetulo procuro trabalhar essa trajetoacuteria em uma perspectiva

analiacutetica perseguindo a constituiccedilatildeo do discurso sobre o ensino de Geografia a

partir de sua materializaccedilatildeo na bibliografia didaacutetica Na verdade trata-se de uma

anaacutelise muito seletiva pois mais que um objeto de pesquisa essa bibliografia eacute todo

um campo aberto agrave investigaccedilatildeo com infindaacuteveis trilheiros para o historiador do

ensino da Geografia e tambeacutem da histoacuteria do pensamento geograacutefico

Tendo em vista essas consideraccedilotildees passo agraves anaacutelises de aspectos

discursivos selecionados na bibliografia que circunstanciam o saber a ser ensinado

encerrando-a com uma consideraccedilatildeo geral sobre o saber ensinado acircmbito de

vivecircncia da bibliografia e do ensino organizado para ela e a partir dela

61 O discurso da designaccedilatildeo das obras

Se a Geografia chega ao Brasil como projeto de uma educaccedilatildeo cientiacutefica e

teacutecnica nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX pode-se dizer jaacute da existecircncia da

Geografia como uma disciplina escolar constituiacuteda com um consideraacutevel acervo

didaacutetico alguns tiacutetulos de circulaccedilatildeo regional e outros com circulaccedilatildeo nacional

atuando nos ensinos primaacuterio e secundaacuterio sendo projeto de uma formaccedilatildeo cultural

com algumas especificaccedilotildees ideoloacutegicas como eacute o caso do nacionalismo patrioacutetico

Essa bibliografia em niacutevel secundaacuterio visava preparar o estudante do ensino

superior tanto tecnicamente quanto culturalmente Sobretudo as corografias

nacionais notadamente apoacutes os primeiros anos do seacuteculo XX diluiacuteam um discurso

sobre a nacionalidade brasileira No sentido teacutecnico voltavam-se sobretudo para os

alunos das engenharias e outras formaccedilotildees teacutecnicas (como o comeacutercio e a

agricultura) para o que se focava nos estudos cartograacuteficos e cosmograacuteficos agraves

vezes especializando-se nessas aacutereas No sentido cultural as representaccedilotildees do

paiacutes e do mundo situavam os futuros bachareacuteis quanto agrave organizaccedilatildeo do espaccedilo

geograacutefico Isso porque o saber geograacutefico no nascente mundo das naccedilotildees das

interrelaccedilotildees comerciais e da induacutestria fazia-se um lastro necessaacuterio ao melhor

entendimento entre os povos e agrave administraccedilatildeo dos interesses econocircmicos tanto os

puacuteblicos quanto os de classe

A geographia eacute de todas as sciencias a menos auxiliada a menos estimada e a mais ignorada no entanto que ouvimos aos mais celebres estadistas da eacutepoca aos mais haacutebeis administradores aos mais notaacuteveis negociantes aos mais distinctos aos mais insignos agricultores lamentarem-se com pezar natildeo terem recebido quando estudantes o ensino geographico adaptado aacutes funcccedilotildees para que se encaminhavatildeo (PACHECO 1857 p 9)

No acircmbito do ensino primaacuterio com maior ecircnfase mas atravessando os

discursos de toda a bibliografia para todos os niacuteveis de instruccedilatildeo a Geografia

direcionava fundamentos para o estabelecimento de uma identidade nacional ou no

miacutenimo de apresentaccedilatildeo descritiva do espaccedilo nacional e tambeacutem o mundial De

qualquer forma a Geografia chegaraacute ao fim dos oitocentos como parte do cotidiano

da escola formal poreacutem no todo tinha uma abrangecircncia muito restrita haja vista o

pequeno percentual da populaccedilatildeo geral que atingia e dentre estes a forma como

instituiacutea uma percepccedilatildeo do mundo embora natildeo seja de se desconsiderar que essa

formaccedilatildeo atingia diretamente as elites instruiacutedas (VLACH 1988)

Examinando a bibliografia em seu periacuteodo inicial conforme visto

anteriormente vecircm-se registros de duas obras de interesse imediato ao ensino de

Geografia mas natildeo propriamente para o ensino deste saber seguidas de uma

sucessatildeo de nove publicaccedilotildees ateacute o Ato Adicional posto como marco para a

organizaccedilatildeo das primeiras instituiccedilotildees puacuteblicas do ensino secundaacuterio de acordo

com Haidar (1972) A primeira delas Guimaratildees (1814) aborda um dos

conhecimentos que comporatildeo o conjunto de saberes da disciplina Geografia a

Astronomia A obra de Pereira (1818) por sua vez eacute indicada por muitos

historiadores da educaccedilatildeo como a primeira obra infantil brasileira um livro de leitura

destinado ao ensino de letramento Passando para a deacutecada de 1820 temos o

primeiro livro didaacutetico de Geografia do reverendo Guilherme Paulo Tilbury Breve

introducccedilatildeo ao estudo de Geographia adaptado ao uso dos mappas francezes e

inglezes Offerecida a S M o Senhor D Pedro I de 1823 No ano seguinte surge a

publicaccedilatildeo de Bazilio Quaresma Torreatildeo e uma outra obra publicada sob o

pseudocircnimo de Hum Brasilianno Em 1826 tem-se a primeira manifestaccedilatildeo regional

de uma obra geograacutefica com a preparaccedilatildeo de um volume por Ignaacutecio Apriacutegio da

Fonseca Galvatildeo94 que recortou da obra de Ayres de Casal o que diz respeito agrave

proviacutencia da Bahia editando-a como publicaccedilatildeo escolar E apesar de editado no

Rio de Janeiro mas destinado a discentes da Bahia especificamente Salvador tem-

se o volume de Domingos Joseacute Antonio Rebello de 1829 Em 1830 dois autores

publicam obras praticamente homocircnimas Manoel Ildefonso de Souza Lima95 e

94

Ignaacutecio [Joseacute] Apriacutegio da Fonseca Galvatildeo ndash obtive poucas informaccedilotildees sobre este autor foi coronel do Estado Maior do exeacutercito e professor de Geografia e Histoacuteria sendo um dos revoltosos da Sabinada (IHGB [s d])

95 Ildefonso de Souza Lima ndash natildeo foi possiacutevel localizar informaccedilotildees sobre esse autor

Manoel Ignacio Soares Lisboa96 Fecha esse periacuteodo a ediccedilatildeo de Agostinho

Marques de Gouvecirca97 publicada em 1832 Essa sequecircncia de obras bem como a

que viria a seguir eacute bastante reveladora quanto aos primeiros anos de formaccedilatildeo do

ensino de Geografia e da continuidade da bibliografia e da disciplina geograacuteficas

Tomando os tiacutetulos e subtiacutetulos desses manuais (processo que em uma perspectiva

discursiva chama-se de designaccedilatildeo ou nomeaccedilatildeo) como manifestaccedilotildees discursivas

conseguimos encontrar diversas questotildees praacuteticas e dispositivos ativos na aurora

do ensino de Geografia e no seu desenvolvimento posterior Vejamos

Fragmento 611 Elementos de Astronomia Para uso dos alumnos da Academia Real Militar (GUIMARAtildeES 1814) Fragmento 612 Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinaacuterios agraves idades tenras e hum diaacutelogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural (PEREIRA 1818) Fragmento 613 Breve introducccedilatildeo ao estudo de Geographia adaptado ao uso dos mappas francezes e inglezes Offerecida a S M o Senhor D Pedro I (TILBURY 1823) Fragmento 614 Compendio de Geographia universal Rezumido de diversos authores e offerecido aacute mocidade brazileira (TORREAtildeO 1824) Fragmento 615 Noccedilotildees elementares de Geographia por hum antigo professor da Universidade de Paris impressas no anno de 1820 e tradusidas em 1823 por hum brasilianno para instrucccedilatildeo da mocidade do Brasil (HUM BRASILIANNO 1824) Fragmento 616 Introducccedilatildeo da Geographia brazilica da parte que trata da Bahia composta por um presbytero secular do gratildeo-priorado do Crato e mandada imprimir para instrucccedilatildeo da mocidade bahiense por um professor da mesma (CASAL 1826) Fragmento 617 Corografia ou abreviada historia geographica do imperio do Brasil coordenada acrescentada e dedicada aacute casa pia e collegio dos orfatildeos de S Joaquim desta cidade Para uso de seos alumnos a fim de adquirirem conhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em geral e seo descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente da provincia e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos (REBELLO 1829)

96

Manoel Ignacio Soares Lisboa ndash natildeo foi possiacutevel localizar informaccedilotildees sobre esse autor

97 Agostinho Marques de Gouvecirca ndash natildeo foi possiacutevel localizar informaccedilotildees sobre esse autor

Fragmento 618 Elementos de Geographia astronoacutemica politica e physica Apresenta um mappa (LIMA 1830) Fragmento 619 Elementos de Geographia Astronomica Poliacutetica e Physica Dedicados a sua Alteza Imperial o Sr D Pedro Principe Imperial do Brasil para uso das Escolas Brasileiras (LISBOA 1830) Fragmento 6110 Novo cathecismo geographico brazileiro Offerecido aos senhores paes de famiacutelia e professores de ambos os sexos (GOUVEcircA 1832) Fragmento 6111 Noccedilotildees preliminares de Geographia em forma de dialogo com especial applicaccedilatildeo ao imperio do Brazil (BRANDAtildeO 184-) Fragmento 6112 BREVES Noccedilotildees de Geographia Universal mui accrescentadas na parte respectiva ao Impeacuterio do Brasil para uso da mocidade estudiosa (BREVES 1845) Fragmento 6113 Nocccedilotildees elementares de Geographia astronomica physica e politica redigidas segundo um novo plano methodico theorico e pratico e adaptadas para servir de compendio nas academias lyceos etc como para ministrar os rudimentos de Geographia propriamente dita sem auxilio e dependecircncia de professor (SOUZA 1845) Fragmento 6114 Diaacutelogo Geographico para uso de suas disciacutepulas e alumnas do Collegio de Satildeo Joatildeo em Satildeo Christovatildeo (BRANDAtildeO 1850) Fragmento 6115 Elementos de Geographia Offerecidos agrave mocidade cearense (BRASIL 1851) Fragmento 6116 Compendio de Geographia Adoptado no collegio de Pedro II e nos lyceos e seminaacuterios do Impeacuterio (BRASIL 1856) Fragmento 6117 Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil (BRASIL 1851 1864 1869) Fragmento 6118 Breves noccedilotildees para se estudar com methodo a Geographia do Brasil Ensaio para pela primeira vez indicar os tanques mariacutetimos no Atlacircntico as vertentes delles as valladas ou bacias que ellas encerratildeo accommodando o Brasil ao ultimo plano de estudos para o impeacuterio francez se guindo a Geographia da Franccedila (PACHECO 1857) Fragmento 6119 Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exerciacutecios (BURGAIN 1958) Fragmento 6120 Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier (MENEZES 1860)

Fragmento 6121 Elementos de Geographia e Astronomia compendio offerecido ao Ill Sr Dr Abiacutelio Cezar Borges (PEREIRA 1860) Fragmento 6122 Rudimentos de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria (REGO 1862) Fragmento 6123 Elementos de Geographia moderna para uso dos alunnos do imperial Collegio de Pedro II (ABREU 1863) Fragmento 6124 Elementos de Geographia moderna (PINTO 1869) Fragmento 6125 Curso elementar de Geographia moderna (SANTOS 187-) Fragmento 6126 Elementos de Geographia universal geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infacircncia escolar da provincia de Pernambuco de conformidade com o programma da lei n 1143 art 33 sect 7ordm que rege a instruccedilatildeo na proviacutencia (PINHEIRO 1875) Fragmento 6127 Terra illustrada Geographia universal physica etnographica politica economica dos cinco partes do mundo (F I C 188-) Fragmento 6128 Geographia patria infantil (LOPES 188-) Fragmento 6129 Curso Elementar de Geographia (SAVIO 1908) Fragmento 6130 Geographia elementar para as escolas primarias (ALBUQUERQUE FILHO 1914) Fragmento 6131 Terceiro anno de Geographia (CABRAL 1933) Fragmento 6132 Geographia geral para a primeira serie ginasial (AZEVEDO 1934)

Diversas matrizes discursivas se entrecruzam na nomeaccedilatildeo dessas obras refletindo

as condiccedilotildees histoacutericas de sua produccedilatildeo e publicaccedilatildeo Os dizeres da nomeaccedilatildeo

permitem assim entrever questotildees relacionadas aos sujeitos agrave ideologia aos

relacionamentos poliacuteticos aos fundamentos teoacuterico-metodoloacutegicos que

contextualizam as obras pois seu funcionamento discursivo comporta-se como uma

frente de confronto em face do puacuteblico contribuindo para a inserccedilatildeo do texto em

uma circunstacircncia sobretudo nas deacutecadas iniciais da bibliografia em que nem tudo

estaacute consolidado em que se tem uma praacutetica educacional em construccedilatildeo Levaraacute

aproximadamente 100 anos para os tiacutetulos ficarem mais simples sinteacuteticos para

perderem o espaccedilo de uma enunciaccedilatildeo relativamente complexa jaacute entatildeo plena de

significados ateacute atingir o silenciamento em que a menccedilatildeo ao nome da disciplina e

um ou outro lexema qualitativo seja suficiente para dizer a que vem a obra (F6130

F6131 F6132) A extensatildeo dos tiacutetulos certamente coaduna com o estilo

bibliograacutefico da eacutepoca poreacutem natildeo deixa de ter do mesmo modo uma

funcionalidade com sentidos relevantes para afirmar o ensino de Geografia pois a

nomeaccedilatildeo dessas obras incorpora um certo processo de divulgaccedilatildeo quando indica o

puacuteblico de destino mostrando por seleccedilatildeo os sujeitos receptores desse discurso e

sublinhando-os na titulaccedilatildeo

Primeiro na ordem dos sujeitos examino o direcionamento da enunciaccedilatildeo

esses dizeres natildeo se destinam a um puacuteblico geral mas agrave esfera de sujeitos

envolvidos no processo da educaccedilatildeo especificamente a geograacutefica para a maioria

dos casos o que evidencia os primeiros indiacutecios de particularizaccedilatildeo ou

especializaccedilatildeo do puacuteblico alvo tornando a literatura entatildeo iniciada uma literatura

especializada de seu contexto de suas condiccedilotildees histoacutericas diz algo especiacutefico a

um puacuteblico especiacutefico Dois dos sujeitos autores se dirigem agrave representaccedilatildeo do

Estado S M o Senhor D Pedro I e ao Priacutencipe Pedro II como no caso dos

Fragmentos 613 e 619 respectivamente em um procedimento que tornaria

comum ao longo da bibliografia o oferecimento da obra agraves autoridades poliacuteticas

Aleacutem das autoridades poliacuteticas outras tambeacutem eram lembradas como Pereira que

dedicou seus Elementos de Geographia e astronomia (1860) ldquoao Illm Sr Dr Abiacutelio

Cezar Borges98rdquo reconhecido educador bahiano autor de inuacutemeros livros didaacuteticos

de prestiacutegio e tambeacutem de um manual de Geografia De acordo com Bittencourt

(2008) a dedicatoacuteria de obras a autoridades era uma forma de estreitar a relaccedilatildeo

com o poder do qual se dependia a autorizaccedilatildeo para um livro vir a puacuteblico ou seu

veto Ou uma forma de buscar proteccedilatildeo intelectual como no caso de Pereira (1860)

Satildeo menccedilotildees com todos os pronomes de tratamento merecidos tanto de respeito

98

Abiacutelio Cezar Borges ndash nascido em 1824 e falecido em 1891 Formado em Medicina em 1856 o baiano Abiacutelio Ceacutesar Borges trocou a carreira meacutedica pela de professor Nove anos apoacutes de se formar em medicina e se impor nos meios cultos com estudos cientiacuteficos histoacutericos e literaacuterios decidiu consagrar-se exclusivamente ao ensino Durante trinta e cinco anos ateacute a morte Abiacutelio Ceacutesar Borges Baratildeo de Macauacutebas empenhou-se em vasta obra educacional como insigne pedagogo O Primeiro Livro de Leitura do ldquoMeacutetodo de Abiacuteliordquo representa um surpreendente salto na pedagogia brasileira Ateacute entatildeo a aprendizagem de leitura se iniciava com abecedaacuterios manuscritos papeacuteis de cartoacuterio e toscas cartilhas Dentre as suas obras destacam-se Epiacutetome da Gramaacutetica Portuguesa (1860) Geografia Fiacutesica (1863) seacuterie de livros para de leitura Primeiro segundo e Terceiro Livro de Leitura (1868) Desenho Linear ou Geografia Praacutetica Popular (1876) dentre outros (BLAKE 1970)

moral quanto da autoridade exercida pelo sujeito centrado Haacute tambeacutem referecircncia a

sujeitos em uma ordem metodoloacutegica Menezes (1860) organiza seu discurso na

forma dialogiacutestica meacutetodo de expressatildeo consagrado por Gaultier (F6120)

Ainda como oferecimento poreacutem mais em um sentido de direcionamento ou

seja em niacutevel de seleccedilatildeo do puacuteblico tem-se a enunciaccedilatildeo dedicando os textos a um

determinado grupo de sujeitos aos ldquoalumnos da Academia Realrdquo (F611) aos

ldquomeninosrdquo (F612) agrave ldquomocidade brazileirardquo (F614) agrave ldquoinstrucccedilatildeo da mocidade

bahienserdquo (F616) aos alunos da ldquocasa pia e collegio dos orfatildeos de S Joaquim

desta cidade [Salvador] Para uso de seos alumnosrdquo (F617) aos ldquosenhores paes de

familia e professores de ambos os sexosrdquo (F6110) ao ldquouso da mocidade

estudiosardquo (F6112) ao ldquouso de suas discipulas e alumnas do Collegio de Satildeo Joatildeo

em Satildeo Christiovatildeordquo (F6114) agrave ldquomocidade cearenserdquo (F6115) nesses lexemas e

sequecircncias discursivas abrangendo pouco mais de 30 anos os primeiros da

trajetoacuteria da bibliografia vecirc-se a marcaccedilatildeo dos sujeitos-destino da enunciaccedilatildeo

didaacutetica da Geografia como uma das regularidades na dispersatildeo desse discurso

Considerando os fragmentos selecionados trecircs categorias de sujeitos podem ser

agrupadas conforme sistematizado no Quadro 33

QUADRO 33 ndash Exemplos enunciados de sujeitos-destino da bibliografia

Grupos de sujeitos pertencentes a

Instituiacuteccedilotildees Grupos de sujeitos gerais

Grupos de sujeitos especiacuteficos

Academia Real Militar Coleacutegio Satildeo Joaquim Coleacutegio Satildeo Joatildeo

Meninos Mocidade brasileira Mocidade estudiosa Professores de ambos os sexos Senhores pais de famiacutelia

Disciacutepulas e alunas do Coleacutegio Satildeo Joatildeo de Satildeo Cristoacutevatildeo Mocidade bahiense Mocidade cearense

Org Jeane Medeiros Silva 2011

Essa unidade discursiva deixa entrever algumas condiccedilotildees de emersatildeo da

bibliografia didaacutetica de Geografia Em um plano haacute o destino certo embora restrito

da obra escrita e publicada para uma instituiccedilatildeo como a Academia Militar o

Orfanato de Satildeo Joaquim (Salvador) o Coleacutegio de Satildeo Joatildeo Dada a quantidade

ascedente de instituiccedilotildees privadas eacute possiacutevel a existecircncia de muitos manuais de

circulaccedilatildeo interna sobre os quais natildeo teremos mais acesso pois esquecidos estatildeo

pela histoacuteria ou que natildeo foram contemplados por esta pesquisa Aleacutem disso esse

grupo evidencia muito dos limites de circulaccedilatildeo das obras sendo produzidas para

um consumo estritamemente local Em segundo lugar estatildeo as obras sem essa

especificaccedilatildeo institucional mas igualmente com uma delimitaccedilatildeo geral dirigindo-se

genericamente agraves escolas brasileiras agrave juventude brasileira ldquoestudiosardquo Nesse

conjunto de sujeitos receptores chama a atenccedilatildeo o oferecimento do Cathecismo

geographico aos professores e aos pais nesse momento mais do que instrumento

didaacutetico de aprendizagem os manuais satildeo instrumentos de ensino servem aos

professores e aos responsaacuteveis pela educaccedilatildeo em uma eacutepoca na qual era comum a

educaccedilatildeo formal no contexto domeacutestico por responsabilidade de preceptores

mestres avulsos parentes ou mesmo pelos pais O direcionamento aos docentes

deixa entrever o funcionamento desses manuais na lacuna da formaccedilatildeo docente de

entatildeo A uacuteltima unidade discursiva direciona a grupos especiacuteficos de sujeitos as

obras em questatildeo notando-se aleacutem do laccedilo institucional o viacutenculo regional de

circulaccedilatildeo dessas obras

Nesse niacutevel enunciativo haacute tambeacutem sentidos de exclusatildeo ldquosem auxilio e

dependencia de professorrdquo (F6113) Em um ambiente educacional cujo estudo

formal fora da classe escolar talvez superasse a matriacutecula regular em instituiccedilotildees

este fato foi observado na bibliografia criando-se materiais que dispensassem a

docecircncia das relaccedilotildees de aprendizado

Eacute interessante notar ainda questotildees de gecircnero que se deixam entrever em

alguns dos enunciados ndash por um lado uma obra que esclarece se propor aos

professores de ambos os sexos por outro uma obra proposta restritamente agraves

ldquodisciacutepulasrdquo (lexema que designa irmatildes religiosas) e alunas de uma instituiccedilatildeo A

esse tempo inexistiam classes mistas e mesmo havia debates questionando a

necessidade da ou o conteuacutedo aferido agrave educaccedilatildeo feminina

Aproximadamente pela deacutecada de 1850 esse tipo de enunciaccedilatildeo

(selecionando os sujeitos alvos) desaparece indicando talvez uma afirmaccedilatildeo

definitiva desse gecircnero textual com um puacuteblico regular Provavelmente sim

Ainda na ordem dos sujeitos mas com referecircncia agrave autoria tecircm-se as

seguintes referecircncias enunciativas ldquorezumido de diversos authoresrdquo (F614) ldquopor

hum antigo professor da Universidade de Parisrdquo e ldquotradusidas por hum brasilianordquo

(F13) ldquopor um presbiacutetero secular do gratildeo-priorado do Cratordquo ldquomandado imprimir por

um professor da mesma [mocidade bahiense]rdquo (F616) satildeo identificaccedilotildees expostas

reforccediladas no tiacutetulo e natildeo propriamente nos lugares de praxe da enunciaccedilatildeo das

autorias seja na capa ou folha de rosto Esse recurso enunciativo existe nesse

momento natildeo soacute como forma de expor o anonimato em alguns casos mas tambeacutem

como indicativo de fontes e da confiabilidade dos conteuacutedos a serem expressos no

desenvolvimento dos textos Essas sequecircncias ademais expotildeem alguns acircngulos

do processo elaborativo dos discursos didaacuteticos iniciais para a disciplina Geografia

tais como as compilaccedilotildees empreendidas uma obra nasce do entrecruzamento de

diversas fontes como eacute procedimento comum a todo acontecer discursivo embora

aqui natildeo sejam necessariamente expliacutecitas aleacutem de expor a seleccedilatildeo de conteuacutedos

pela qual se passa uma obra didaacutetica e o processo de reelaboraccedilatildeo da linguagem

nos moldes de resumos e adaptaccedilotildees A questatildeo da autoridade igualmente se

evidencia seja pela exposiccedilatildeo do cargo e lugar social seja pela representaccedilatildeo e

projeccedilatildeo do sujeito no grupo (ldquoum professor da mesmardquo) Trata-se de uma

heterogenidade mostrada por referecircncia aos sujeitos em sua funccedilatildeo-tipo mas

velada pelo anominato Havendo anominato ficam vazios os cabeccedilalhos de

assinatura da autoria como eacute comum na capa lombada ou folha de rosto e por

conseguinte a autoria migra para o tiacutetulo Um indiacutecio de modeacutestia conflito de

interesses ou ausecircncia de qualidades soacutecio-pessoais para sustentar interesse na

obra Difiacutecil precisar

Esse procedimento foi comum no iniacutecio natildeo soacute da bibliografia didaacutetica de

Geografia mas a toda bibliografia didaacutetica A partir da deacutecada de 1830 contudo foi

pouco observado restrito quase sempre agrave comercializaccedilatildeo editorial de obras

didaacuteticas quando novamente se passou a se exercer uma espeacutecie de anonimato

com obras assinadas por editoras como foi muito comum agrave FTD embora tenha

havido autores que assinassem suas obras por pseudocircnimos como Estaacutecio de Saacute

Menezes (pseudocircnimo de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro) ou abreviaturas

Em princiacutepio o Estado ou suas instacircncias administrativas reconhecendo a

necessidade de obras didaacuteticas para o ensino estimulou a escrita de manuais ndash uma

tarefa considerada patrioacutetica ndash ateacute mesmo com a oferta de precircmios e recompensas

como responsabilidade da elite cultural (BITTENCOURT 2008) e de fato a autoria

de muitas obras didaacuteticas ateacute fins dos oitocentos seria de representantes da Igreja

do poderio militar de docentes das instituiccedilotildees com projeccedilotildees principais A esse

respeito se pronuncia a Meza da Casa Pia e Collegio dos Orphatildeos S Joaquim a

Domingos Joseacute Antonio Rebello sobre o patriotismo de se escrever uma obra

didaacutetica nacional ldquoA Meza [] reconhecendo os philantropicos sentimentos de

Patriotismo que ornatildeo o caracter de V S me determina que em nome della haja

agradecer a V S o presente da bem organisada historia Corographicardquo (Joaquim

Carneiro de Campos 1828 apud REBELLO 1928 p 254)

Na ordem dos sentidos os tiacutetulos apresentam em quase todo o periacuteodo

marcas lexicais bem claras quanto a um discurso didaacutetico ldquoElementos derdquo (F611

F618 F619 F6115 F6121 F6123 F6124) ldquoLeiturasrdquo (F612) ldquoBreve

introducccedilatildeo ao estudo derdquo (F613) ldquoadaptado ao usordquo (F613) ldquoadaptadas parardquo

(F6113) ldquoCompendiordquo (F614 F6116 F6117) ldquoRezumidordquo (F614) ldquoNoccedilotildees

elementares derdquo (F615 F613 F6113) ldquoNoccedilotildees preliminaresrdquo (F6111) ldquoBreves

noccedilotildeesrdquo (F6118) ldquoIntroduccedilatildeo dardquo (F616) ldquoAbreviadardquo (F617) ldquoRudimentosrdquo

(F6122) ldquoCurso elementarrdquo (F6125 F6129) ldquoadquirirem conhecimentos []

preliminaresrdquo ldquocoordenada acrescentadardquo (F617) ldquocathecismordquo (F6110)

Esses lexemas e sequecircncias discursivas se referem ao modo de

organizaccedilatildeo do discurso didaacutetico remetendo-se ao dispositivo de escolha e de

adequaccedilatildeo do saber para as relaccedilotildees de ensino e aprendizagem ou seja migrando-

o de uma instacircncia enunciativa para outra com um processo transformativo nesse

movimento Esse dispositivo depreende-se em um sentido amplo o de modificar um

ldquotodordquo com a absorccedilatildeo de um ldquopoucordquo para um determinado propoacutesito os lexemas

enunciam assim accedilotildees como introduzir adaptar resumir abreviar coordenar

acrescentar compendiar accedilotildees essas qualificadas como breve elementar

preliminar para compor elementos noccedilotildees e rudimentos o que define o discurso e

o desempenho da sua funccedilatildeo construindo o efeito de sentido de simplificar o

conhecimento tornando-o palataacutevel ou acessiacutevel ao niacutevel intelectual e ao niacutevel de

instruccedilatildeo necessaacuterios ao estudante ou principiante nos assuntos em questatildeo Satildeo

traccedilos lexicais que designam um discurso preparado e pronto para a instruccedilatildeo

Esses atos enunciativos evocam a transiccedilatildeo e a construccedilatildeo de um saber

especiacutefico para um grupo especiacutefico de sujeitos

Como discutido anteriormente basicamente natildeo havia uma proposiccedilatildeo

curricular nas deacutecadas iniciais do ensino de Geografia agrave exceccedilatildeo do disposto em lei

para a Real Escola Militar ateacute o surgimento do Coleacutegio Pedro II No entanto os

tiacutetulos respondem a abordagens curriculares apresentando as filiaccedilotildees teoacuterico-

metodoloacutegicas a constituiccedilatildeo dos nuacutecleos de saberes ndash o ldquopoucordquo faz referecircncia

ao ldquotudordquo especificado acima ldquoAstronomiardquo (F611) ldquoGeographiardquo ldquochronologiardquo

ldquohistoria de Portugalrdquo ldquohistoria naturalrdquo (F612) ldquoGeographia (F612 e todos os

demais) ldquomappas francezes e inglezesrdquo (F613) ldquoGeographia universalrdquo (F614

F6112 F6125) ldquoGeographia brazilicardquo (F616) ldquoCorografiardquo ldquohistoria geographica

do imperio do Brasilrdquo ldquoconhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em

geral e seo descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente

da provincia e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santosrdquo (F617)

ldquoGeographia Astronomicardquo ldquoGeographia Poliacuteticardquo ldquoGeographia Physicardquo (F16 F17)

Esta Geografia rompera com a Geografia Claacutessica aquela da Antiguidade e

da Idade Meacutedia praacutetica dos jesuiacutetas vinculando-se com a nascente Geografia

Moderna claacutessica florescente desde o Iluminismo a Geografia Universal Poliacutetica

Astronocircmica Fiacutesica Corograacutefica Eacute interessante notar o destaque que se daacute aos

mapas Durante longo periacuteodo ter uma obra mapas com novas atualizaccedilotildees ou em

quantidade acima da meacutedia era motivo para se por em evidecircncia projetando-as na

tela designativa pois nem sempre os manuais de Geografia apresentavam esse

recurso notadamente pelo dispecircndio graacutefico que apresentava agrave obra ou agrave

dificuldade de se produzi-las A Corografia ou abreviada historia geographica do

imperio do Brasil de Rebello (1829) por exemplo natildeo apresenta nenhum mapa O

mesmo se daacute com a obra de Torreatildeo (1824) que reconhecendo o lugar dos mapas

como expressatildeo do saber geograacutefico e recurso de ensino e aprendizagem indica a

ausecircncia deles devido aos custos proibitivos de impressatildeo agrave eacutepoca Na sequecircncia

ldquomappas francezes e inglezesrdquo percebe-se a filiaccedilatildeo da Geografia de Quaresma

Torreatildeo agrave Geografia de La Croix e Pinkerton ndash referecircncias nem sempre expliacutecitas

mas em circulaccedilatildeo nas primeiras deacutecadas dos oitocentos entre os brasileiros

Na verdade nesse periacuteodo eacute bem influente o modelo sistematizado por

Ayres de Casal conforme jaacute discuti Os manuais quanto agrave abordagem do territoacuterio

nacional seratildeo organizados com variaccedilotildees do estabelecido na Corografia Basiacutelica

Rebello (1829) por exemplo organiza sua abordagem dos conteuacutedos em itens como

Descobrimento da Ameacuterica Descobrimento do Brasil Situaccedilatildeo extensatildeo e limites

do Brasil Serranias Cabos Bahias ou Portos principaes Ilhas Rios Clima

Terreno Producccedilatildeo Commercio Mineralogia Fythologia Zoologia Individuaccedilatildeo

das 19 Provincias do Impeacuterio suas capitaes cidades e comarcas respectivas com

suas villas uma linha aproximada da organizaccedilatildeo de Ayres de Casal (1817a)

Torreatildeo (1824) indica Ayres dentre as suas fontes de consultas procedendo da

mesma forma Somente nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX haveraacute variaccedilatildeo a esse

modelo

A bibliografia didaacutetica emerge com evidentes viacutenculos com a Histoacuteria com a

qual constituiraacute um movimento de agregaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo ateacute instituiacuterem

caminhos distintos e independentes Haacute aiacute de novo uma influecircncia do modelo de

Ayres de Casal que por sua vez remete-se agrave Geografia Claacutessica moderna no qual

se antecede a descriccedilatildeo das proviacutencias e consideraccedilotildees gerais sobre o territoacuterio

nacional com uma abordagem histoacuterica da Ameacuterica e do Brasil inclusive com uma

transcriccedilatildeo censurada da carta do descobrimento de Pero Vaz de Caminha (1450-

1500)

Aleacutem disso a bibliografia surge jaacute com a feiccedilatildeo de uma Geografia nacional

diversa das leituras auxiliares pelos jesuiacutetas embasada na Geografia sacra ou na

Geografia da Antiguidade ou mesmo do ensino de Geografia principiado na

Academia Real em seu aspecto geral com a Independecircncia o territoacuterio do Brasil

comeccedila a evidenciar-se como realidade paupaacutevel a ser dada reconhecida e

valorizada pelos brasileiros ndash a ldquoGeographia brazilicardquo a ldquohistoria geographica do

imperio do Brasilrdquo os ldquoconhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em

geral e seo descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente

da provincia e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santosrdquo O discurso da

nacionalidade que sobretudo a partir dos anos 1930 assumiu uma perspectiva

patrioacutetica comeccedila a se armar nesse momento em que se constitui a ldquoparticular

individuaccedilatildeo do Brasilrdquo (F617) oposta agrave ldquohistoria de Portugalrdquo (F612) como no

livro de leitura de Pereira (1818) ainda na vigecircncia do Reinado haacute uma histoacuteria e

uma territorialidade proacutepria agora e para elas se reserva um lugar enunciativo Esse

discurso inflama-se e esfria-se na ordem dos acontecimentos poliacuteticos eacute palataacutevel

nos discursos gerais sobre a educaccedilatildeo e mesmo nos manuais nos anos iniciais da

Independecircncia na transiccedilatildeo para a Repuacuteblica dimensionando auges na vigecircncia do

Estado Novo e bem depois no regime militar instaurado nos anos 1960 Nas

enunciaccedilotildees descritivas em todo o corpo do texto raramente se encontraraacute

manifestaccedilotildees expliacutecitas de patriotismo essa seraacute uma enunciaccedilatildeo tiacutepica dos anos

1930 em diante Na bibliografia didaacutetica essa discursividade seraacute mais posiccedilatildeo do

que enunciaccedilatildeo algo muito aclarado por exemplo nos prefaacutecios e textos

introdutoacuterios a exemplo de Rebello (1829 p 2)

Servir-me-ha soacute de desculpa o grande e verdadeiro amor da Paacutetria que me inflamma e me excitou a emprehender animoso a coordinaccedilatildeo desta Corographia Brasiacutelica na qual procurei aproximar-me a melhor methodo para clara intelligencia e mais facil percepccedilatildeo dos principiantes servindo a mesma de ideacuteias preliminares de todo este Impeacuterio nas suas 19 Provincias designadas nas 19 Estrellas da nossa auri-verde Bandeira Nacional e soacute particularmente extensa nas quatro Comarcas que compotildeem esta Provincia []

O efeito de sentido preciacutepuo nessas enunciaccedilotildees ndash a nomeaccedilatildeo do conjunto

de obras inicial da bibliografia ndash eacute o da facilitaccedilatildeo de um conhecimento a Geografia

em uma perspectiva nacional (ver a si proacutepria e ver o mundo para nele ver-se)

alccedilando-o ao niacutevel cognitivo do puacuteblico alvo entatildeo gradativamente em formaccedilatildeo

Adiante analisando os discursos do entorno agraves obras essa questatildeo poderaacute ser

melhor compreendida

Portanto apoacutes essa breve anaacutelise percebe-se que os tiacutetulos concretizam de

forma nuclear o estabelecimento do discurso didaacutetico da Geografia Em segundo

plano evidenciam a utilidade e o destino do corpo discursivo definindo e expondo

os tipos de sujeitos envolvidos nessa enunciaccedilatildeo discursiva bem como as filiaccedilotildees

discursivas que estaratildeo em curso

62 A formaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia estabelecimento da Geografia descritiva

O Compendio de Geographia Universal rezumido de diversos authores e

offerecido a mocidade brazileira por Bazilio Quaresma Torreatildeo natural de Olinda ou

simplesmente o Compendio de Geographia Universal evidencia-se no pequeno

conjunto de obras inaugurais da bibliografia didaacutetica do ensino de Geografia

brasileiro no sentido de que surge em um patamar de tradiccedilatildeo nula quanto agrave

produccedilatildeo de obras escritas para a educaccedilatildeo geograacutefica no Brasil Evidencia-se

igualmente por surgir com todos os componentes que estruturam ndash tanto na forma

quanto no discurso ndash a maioria das obras estabelecidas na bibliografia Dentre seus

diferenciais em relaccedilatildeo agraves obras precedentes (GUIMARAtildeES 1814 PEREIRA 1818

e outros ndash identificadas por esta pesquisa) destacam-se especificamente o fato de

primeiro ter sido escrita para educar e educar aprendizes em preparatoacuterio para

ingresso no ensino superior segundo por abranger um programa completo de

abordagem geograacutefica de acordo com a Geografia claacutessica no miacutenimo em maior

extensatildeo em relaccedilatildeo agrave obra de Tilbury (1823 propriamente o primeiro livro didaacutetico

de Geografia brasileiro ao qual natildeo tive acesso) reconhecimento e enquadro destes

conhecimentos como uma ciecircncia acompanhando as divisotildees que estruturam essa

Geografia isto eacute a Geografia Astronocircmica a Geografia Fiacutesica e a Geografia

Poliacutetica99

Bazilio Quaresma Torreatildeo nasceu em Olinda proviacutencia de Pernambuco em

data imprecisa nos fins do seacuteculo XVIII falecendo no Rio de Janeiro em 1867 Aleacutem

de professor de Geografia e Histoacuteria ciecircncias nas quais foi renomado pela erudiccedilatildeo

que possuiacutea desses conhecimentos atuou na poliacutetica chegando a presidente de

proviacutencia Tambeacutem foi um revolucionaacuterio integrando o corpo dos rebeldes de 1817

os quais reivindicavam a independecircncia da Proviacutencia de Pernambuco Por essa

participaccedilatildeo ficou preso na Bahia em companhia de Frei Caneca (BLAKE 1883)

Enquanto preso lecionou aulas avulsas de Geografia ndash sabe-se de pelo menos trecircs

cursos ministrados ndash e sobretudo escreveu seu Compendio de Geographia

Universal o terceiro no gecircnero produzido no Brasil e o segundo com propoacutesitos

didaacuteticos Apoacutes editar sua obra ainda em 1824 participou de outra rebeliatildeo

precisando por esse motivo exilar-se em Londres e em outros paiacuteses europeus

Somente retornou ao paiacutes nos anos 1830 quando passou a ocupar cargos poliacuteticos

presidindo primeiramente a proviacutencia do Rio Grande do Norte (1833-1836) e depois

a Proviacutencia da Paraiacuteba (1836-1838) Enquanto presidente do Rio Grande do Norte

fundou o Atheneu Norte-Riograndense situado em Natal em 1834 Apoacutes 1838

continuou na poliacutetica como deputado do Impeacuterio no Rio de Janeiro ateacute sua morte

(BLAKE 1883)

O Compendio de uacutenica ediccedilatildeo foi impresso em Londres em 1824 pelo

editor L Thompson na conhecida Officina Portugueza sendo esta produccedilatildeo

99

Enquanto a Geografia Moderna Claacutessica conta com essas trecircs compartimentaccedilotildees a Geografia Moderna cientifica ou institucionalizada sobretudo a partir da Alemanha de Humboldt e Ritter se enveredaria em duas perspectivas a Geografia Humana e a Geografia Fiacutesica quando da emergecircncia da dualidade no discurso geograacutefico desta ciecircncia fato este demonstrado por Gomes (2000)

supervisionada por J A drsquoOliveira entatildeo ldquonegociante estabelecido em

Pernambucordquo a respeito de quem natildeo obtive maiores informaccedilotildees possivelmente

tratava-se de comerciante ligado a importaccedilotildees com contatos na Inglaterra

encarregado dos tracircmites para a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da obra jaacute que eacute

citado nas credenciais de informaccedilotildees identitaacuterias do livro Em muitos exemplares da

bibliografia e tambeacutem dos livros em geral era comum identificar um comerciante ou

casa comercial agrave parte das casas editoriais onde o leitor interessado ou outros

comerciantes poderiam adquirir exemplares Quando da publicaccedilatildeo ou pelo menos

no iniacutecio do moroso tempo de preparaccedilatildeo e ediccedilatildeo de um livro Torreatildeo encontrava-

se preso portanto sem trabalho vultoso aleacutem das aulas que ministrava o que o

deixou sem recursos como o proacuteprio autor admite quando assume natildeo ter editado

mapas na obra por falta de pecuacutelio Em razatildeo dessas ldquominhas circunstancias

actuaesrdquo (TORREAtildeO 1824 p 11) o autor utilizou-se de outro procedimento comum

agrave ediccedilatildeo de obras na eacutepoca as subscriccedilotildees processo no qual um autor procurava

financiamento ou venda antecipada de exemplares Em retribuiccedilatildeo aleacutem da

aquisiccedilatildeo de um ou mais exemplares os signataacuterios tinham seus nomes registrados

na obra No Compendio a esse propoacutesito haacute uma lista ldquodas pessoas que hatildeo de

contribuir para a Impressatildeo desta Obrardquo em 10 paacuteginas com 353 assinantes Essa

listagem apresenta algumas peculiaridades dentre as pessoas comuns com certeza

dentre os mais ilustrados ou bem sucedidos da sociedade (todos nomes

portugueses ou de ascendecircncia portuguesa e todos homens sem exceccedilatildeo) haacute

uma quantidade significativa de doutores e reverendos 10 e 51 respectivamente O

particular interesse dos cleacuterigos pela obra talvez se deva agraves bibliotecas sempre

disponiacuteveis nos conventos e paroacutequias sobremaneira em funccedilatildeo da atividade

educativa exercida pelos religiosos Outros nomes destacam-se por se identificar as

localidades de origem ou residecircncia do leitor ndash Cabo Parahiba Searaacute Portugal o

que leva a crer que o principal dos assinantes fosse de Pernambuco As assinaturas

natildeo deixavam de ser uma forma tambeacutem de projeccedilatildeo na sociedade uma atividade

tiacutepica da elite Considerando-se o periacuteodo de prisatildeo do autor possivelmente o

negociante J A drsquoOliveira possa ter participado na articulaccedilatildeo do levantamento de

fundos para a publicaccedilatildeo

A vida e o Compendio pelas informaccedilotildees atuais disponiacuteveis demonstram

que Torreatildeo era uma pessoa articulada na sociedade de seu tempo bem

relacionado e conhecido Blake (1883) aponta que o Compendio foi bem recebido

pela criacutetica da eacutepoca De fato eacute uma obra bem escrita em linguagem fluente em

que o estilo apaga a monotonia descritiva que caracterizaria um longo futuro da

bibliografia didaacutetica de Geografia o que faz do livro uma leitura interessante Sou do

parecer que com o tempo com o aumento do volume de informaccedilotildees e de fatos

geograacuteficos o discurso tendeu a perder sua fluecircncia enunciativa ficando mais

enxuto mais nodal centrado de fato na descriccedilatildeo e na apresentaccedilatildeo de estatiacutesticas

O Prefaacutecio do Compendio eacute um documento fundamental para o discurso do

ensino de Geografia em seus momentos iniciais Veja-se

Prefaccccedilatildeo

Todo o bom Cidadatildeo deve segundo as suas forccedilas concorrer quanto lhe for possiacutevel para o bem da sociedade de que he membro esta verdade gravada no fundo de meu Coraccedilatildeo he quem me inspirou o desejo de offerecer ao Publico este pequeno Tractado de Geographia que collegi dos melhores authores modernos e o expuacutes com a clareza e methodo que me foi possiacutevel para proveito da Mocidade Brazileira dando huma pequena ideacutea da Geographia Astronomica e tocando de passagem por todos os lugares da Terra demorando-me mais no Brazil para cuja descripccedilatildeo me servi da Corographia do Reverendo Ayres e de algumas informaccedilotildees de pessoas fidedignas Conheccedilo que para melhor intelligencia eu devia gravar Mappas Geographicos para esclarecer as divisoens dos Paizes que descrevo mas as minhas circuntancias actuaes natildeo me offerecem as necessaacuterias proporccedilotildeens para huma empreza tatildeo delicada por tanto como seja o meu objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographia resolvi-me a publicar mesmo com essa falta na persuasatildeo de que as Cartas Universaes e Geraes poacutedem muito bem applicar-se-lhe com pequenas faltas que seratildeo supridas por qualquer haacutebil explicador

Seria ocioso persuadir aos meus Leitores a utilidade e necessidade do estudo da Geographia pois que em qualquer estado ou condiccedilatildeo que nos achemos seraacute impossiacutevel poder tomar parte nos acontecimentos da Histoacuteria dos Povos sem o conhecimento desta tatildeo bella sciencia com a qual podemos correr o Mundo inteiro sem nos apartar do recinto de nossas habitaccedilotildeens A historia de huma simples gazeta huma conversa solida sobre o interesse dos Principes e dos Povos da Religiatildeo e do Commercio demandatildeo necessariamente o estudo da Geographia e he isto que ella com justiccedila he chamada ndash hum dos Olhos da Historia ndash He para lamentar poreacutem que em o nosso idioma natildeo tiacutenhamos hum soacute volume de Geographia capaz de servir de guia aos principiantes por quanto ou lhes falta methodo e clareza ou satildeo tatildeo antigos que a parte histoacuterica e poliacutetica pelas variaccedilotildees dos tempos jaacute se encontra toda differente Eis mais hum motivo que me obriga a daacuter aacute Luz este epithome do qual rogo aos meus Leitores natildeo julguem soacutemente pelo nome do Author mas depois de o lerem avaliem pelo nome do Author mas depois de o lerem avaliem entatildeo o zelo e trabalho com que procurei quanto pude proporciona-lo aos seus e meus desejos

Dos fatos e dados geograacuteficos e histoacutericos como o proacuteprio tiacutetulo da obra

expressa trata-se de uma obra resumida de diversos autores ldquocollegi dos melhores

authores modernosrdquo ndash mas cuja referenciaccedilatildeo expliacutecita apenas menciona na parte

de abordagem do Brasil a obra de Ayres de Casal como fonte aleacutem de fontes orais

de confianccedila tampouco identificadas Essa coleta do conhecimento visa um meacutetodo

expositivo expresso no lexema ldquodescripccedilatildeordquo constitutivo do discurso didaacutetico da

Geografia Eacute desse tempo a preocupaccedilatildeo em se elaborar materiais diferenciados

especificamente para o ensino e o aprendizado reunindo em um mesmo local

discursos esparsos e expondo-os de forma compreensiacutevel ao puacuteblico alvo o que eacute

mencionado diretamente nesta sequecircncia ldquoexpuacutes com a clareza e methodo que me

foi possiacutevel para proveito da Mocidade Brazileirardquo Eacute a afirmaccedilatildeo de um gecircnero

enquanto uma produccedilatildeo tiacutepica de construccedilatildeo textual os compecircndios ndash obras

coligidas adaptadas reunidas para o ensino Numa perspectiva discursiva esse

procedimento ao passo que institui um gecircnero institui tambeacutem regularidade na

dispersatildeo discursiva tratando-se dos pontos que tornam comuns e proacuteximos esses

discursos impondo-os como um movimento respondendo agraves mesmas dinacircmicas

(curriacuteculos poliacuteticas educacionais necessidades do puacuteblico etc) Vejam-se as

seguintes sequecircncias discursivas ldquopequeno Tractado de Geographiardquo ldquoseja o meu

objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographiardquo Em ambos

projeta-se o sentido da construccedilatildeo didaacutetica a didatizaccedilatildeo ndash o apurar o conhecimento

para alccedilaacute-lo aos fins propostos ou agrave educaccedilatildeo de principiantes um tratado

geograacutefico mas ldquopequenordquo da Geografia inteira e disponiacutevel ldquouma tinturardquo

ldquopequena ideacutea da Geographiardquo Esse tratamento lexicograacutefico seraacute igualmente uma

unidade na dispersatildeo do discurso didaacutetico como um todo e tambeacutem no discurso do

ensino geograacutefico noccedilotildees elementos introduccedilatildeo dentre outros lexemas como

referecircncia agraves disciplinas e a seu gecircnero bibliograacutefico

Na Prefacccedilatildeo haacute posicionamentos do autor frente agrave nascente naccedilatildeo

brasileira e agrave ciecircncia geograacutefica Em primeiro lugar assume sua produccedilatildeo como um

dever de cidadatildeo que deve de acordo com este fragmento ldquoconcorrer quanto lhe

for possiacutevel para o bem da sociedaderdquo prestando-se assim a um serviccedilo puacuteblico

Anima-o ainda em segundo lugar o fato de que ldquoem o nosso idioma natildeo tiacutenhamos

hum soacute volume de Geographia capaz de servir de guia aos principiantesrdquo Essa

afirmaccedilatildeo com certeza enuncia-se ao tempo da escrita do Compendio pois em

1823 um ano antes Tilbury publicara um manual didaacutetico de Geografia Poreacutem haacute

que se considerar que ambas as obras surgem em poacutelos diferentes do Brasil

praticamente coetacircneos Tilbury publica no Rio de Janeiro e Torreatildeo em

Pernambuco Basicamente eram dois paiacuteses diferentes ambos locais com forccedilas

econocircmicas capazes de fazecirc-los dois centros distintos com comunicaccedilatildeo morosa

entre ambos De qualquer forma Torreatildeo tece uma criacutetica que perduraria adiante

por todo o periacuteodo em anaacutelise nesta tese a saber a desatualizaccedilatildeo e a pouca

disponibilidade de materiais textuais para o ensino de Geografia referindo-se aos

documentos disponiacuteveis afirma que ldquoou lhes falta methodo e clareza ou satildeo tatildeo

antigos que a parte histoacuterica e poliacutetica pelas variaccedilotildees dos tempos jaacute se encontra

toda differenterdquo O lexema ldquomethodordquo articulado agrave ausecircncia e se existente obscuro

aponta para a existecircncia de materiais inapropriados ao ensino e agrave aprendizagem de

Geografia nas aulas avulsas materiais produzidos de saber geograacutefico expliacutecito ou

impliacutecito mas natildeo organizados para as relaccedilotildees de ensino e de aprendizagem

Quanto agrave Geografia estabelece um curriacuteculo geral propondo uma

ldquoGeographia Astronomica e tocando de passagem por todos os lugares da Terra

demorando-me mais no Brazilrdquo Nessa sequecircncia eacute interessante notar que se trata

de uma das primeiras propostas para se ensinar a Geografia do Brasil fora do

contexto do ensino superior No incidental ensino de Geografia dos jesuiacutetas como

visto precedentemente ensinava-se uma Geografia sacra e cosmoloacutegica e no

periacuteodo joanino em especial na Real Academia Militar ensinava-se uma Geografia

geral ldquoDemorando-se mais no Brazilrdquo denota um sentido mais profundo do que o

expresso no conjunto da obra Estaacute-se em 1824 dois anos apoacutes a Independecircncia

poliacutetica do Brasil ano de Constituinte tempo em que os interesses gerais

comeccedilavam a convergir para as necessidades de uma naccedilatildeo por construir E eacute

justamente pela Histoacuteria e pela Geografia que em um territoacuterio praticamente sem

tradiccedilatildeo proacutepria aconteceraacute certa nacionalizaccedilatildeo da praacutetica educacional Como

abordei em outros momentos Geografia e Histoacuteria irmanam-se e seguem uma

trajetoacuteria paralela Torreatildeo enuncia essa posiccedilatildeo quando reconhece ser a Geografia

os ldquoOlhos da Historiardquo Natildeo esconde sua admiraccedilatildeo por essa sciencia a qual

permite ldquocorrer o Mundo inteiro sem nos apartar do recinto de nossas habitaccedilotildeensrdquo

Nesse contexto o autor anuncia ldquoa utilidade e necessidade do estudo da

Geographiardquo Jaacute entatildeo era claro que os saberes geograacuteficos tambeacutem seriam

norteadores na formaccedilatildeo do cidadatildeo sobretudo daqueles que estariam agrave frente dos

interesses da economia do Estado da cultura Duas sequecircncias desse fragmento

constroem esse sentido ldquoseraacute impossiacutevel poder tomar parte nos acontecimentos da

Histoacuteria dos Povos sem o conhecimento desta tatildeo bella sciencia []rdquo ldquoA historia de

huma simples gazeta huma conversa solida sobre o interesse dos Principes e dos

Povos da Religiatildeo e do Commercio demandatildeo necessariamente o estudo da

Geographiardquo

Indica-se aiacute primeiramente a Geografia como lugar de saberes

relacionados a uma cultura geral ldquotomar parte nos acontecimentos da Histoacuteria dos

Povosrdquo depois destacam-se vivecircncias cotidianas (ldquoa historia de uma simples

gazetardquo) os interesses do Estado e da Igreja bem como da economia que nesse

enunciado se colocam como praacuteticas que demandam uma orientaccedilatildeo do

aprendizado geograacutefico

Por fim outro noacutedulo essencial nesse discurso eacute o papel atribuiacutedo ao

professor Conforme mencionei anteriormente Torreatildeo publicou seu Compendio

sem mapas por questotildees econocircmicas embora reconhecesse a utilidade e a

necessidade de documentos cartograacuteficos em um discurso geograacutefico Mas se

tranquiliza em seu prefaacutecio ao atribuir ao ldquohaacutebil explicadorrdquo ou professor a funccedilatildeo

de suprir essa falha Trata-se de outro funcionamento do discurso didaacutetico ou seja

estabelecer um discurso materializado que embora aparentemente inerte contaraacute

com a intermediaccedilatildeo da docecircncia como complementaccedilatildeo como apoio para o

aprendizado do estudante

Outro documento importante da obra de Torreatildeo eacute a Introduccedilatildeo transcrita

abaixo

Sciencia geralmente fallando he o conhecimento certo que adquirimos de qualquer cousa Por tres modo se podem adquirir as Sciencias ou Conhecimento veacutem a ser por meio da leitura reflectida pela experiencia e pela meditaccedilatildeo Entre todas as Sciencias a que he mais natural ou a que parece dever preceder ao estudo da Mocidade he a Geographia que faz o nosso objecto Geographia pois He a descripccedilatildeo do Glocircbo terrestre Ella tira seu nome de duas palavras Gregas ndash Geos e Graphos ndash que quer dizer ndash Tractado da Terra Divide-se a Geographia em tres partes a saber Geographia Astronomica Geografia Fizica e Geographia Politica Geographia Astronomica He aquella que nos ensina a descrever a Terra em relaccedilatildeo aos Corpos Celestes os effeitos principaes que resultatildeo drsquoesta

correspondecircncia as medidas Mathematicas que teacutem feito da Terra aos Astros e finalmente a relaccedilatildeo que estes teacutem com os fenocircmenos terrestres que satildeo as variaccedilotildees das Estaccedilotildees e os diversos temperamentos dos Climas ampordf ampordf Geographia Fizica he a descripccedilatildeo da Terra considerada em relaccedilatildeo aacute Natureza Ella nos ensina a forma externa do Glocircbo Terrestre sua divisatildeo em terra e aacutegua sua situaccedilatildeo e limites os montes os bosques os rios os cabos os lagos e finalmente as producccedilotildees dos tres Reinos naturaes animal vegetal e mineral Geographia Politica que se chama tambeacutem Geographia descriptiva he a descripccedilatildeo da Terra em relaccedilatildeo aos habitantes e suas convenccedilotildees Ella divide a Terra em differentes Naccedilotildees suapopulaccedilatildeo caracter costumes e linguagem sua industria seu commercio e Governo e suas Leis e Religiatildeo Do que temos dito segue-se que se poacutede chamar aacute Geographia ndash Huma descripccedilatildeo Mathematica Fizica e Politica da Terra Eis a mateacuteria deste Compendio que nos dividiremos em duas partes A primeira tractaraacute da Geographia Astronomica e a segunda compreenderaacute a Geographia Fizica e poliacutetica porque estas duas se datildeo as matildeos e dependem mutuamente A primeira parte a dividiremos em quatro Secccedilotildees tratando a 1ordf dos Ceos dos Astros e dos systemas de Copernico a 2ordf das differentes posiccedilotildees da Esfera a 3ordf das dimensotildees do Globo Terrestre e a 4ordf do uso do Glocircbo Nota agrave introducccedilatildeo Sciencia he a ligaccedilatildeo systematica das percepccedilotildees e ideacuteas que temos de alguma mateacuteria ou a subordinaccedilatildeo dos conhecimentos individuaes a huma ideacutea primeira e geral

Em essecircncia essa introduccedilatildeo reflete toda a concepccedilatildeo da Geografia

didaacutetica descritiva ativa por todo o periacuteodo da bibliografia em anaacutelise agrave exceccedilatildeo da

tradiccedilatildeo iniciadaintroduzida por Delgado de Carvalho a saber os conhecimentos

satildeo enquadrados como ciecircncia na acepccedilatildeo de um ldquoconhecimento certo que

adquirimos de qualquer cousardquo ou como ldquoa ligaccedilatildeo systematica das percepccedilotildees e

ideacuteas que temos de alguma mateacuteria ou a subordinaccedilatildeo dos conhecimentos

individuaes a huma ideacutea primeira e geralrdquo Essas sequecircncias trabalham com trecircs

sentidos que atravessam as manifestaccedilotildees discursivas sobre ciecircncia presente na

bibliografia primeiro o sentido da certeza segundo o sentido da sistematizaccedilatildeo

terceiro o sentido da movecircncia do saber sob a regecircncia de princiacutepios universais ndash o

que eacute em siacutentese a percepccedilatildeo iluminista do saber cientiacutefico

E situando-se nessa acepccedilatildeo de ciecircncia a geograacutefica eacute tratada sempre

como a ldquoa descripccedilatildeo do Glocircbo terrestrerdquo definiccedilatildeo empreendida pelo entendimento

etimoloacutegico do proacuteprio termo ldquoElla tira seu nome de duas palavras Gregas ndash Geos e

Graphos ndash que quer dizer ndash Tractado da Terrardquo ou descriccedilatildeo da Terra Isto posto

passa-se agrave divisatildeo do corpo geograacutefico na triacuteade da Geografia claacutessica ldquoDivide-se a

Geographia em tres partes a saber Geographia Astronomica Geografia Fizica e

Geographia Politicardquo Como visto no capiacutetulo trecircs quando da abordagem da obra de

Pinkerton essa era a organizaccedilatildeo estrutural da Geografia Claacutessica moderna

estabelecida nos tratados geograacuteficos

A ldquoGeographia Astronomicardquo tambeacutem chamada Cosmografia centra-se na

descriccedilatildeo da ldquoTerra em relaccedilatildeo aos Corpos Celestes os effeitos principaes que

resultatildeo drsquoesta correspondecircncia as medidas Mathematicas que teacutem feito da Terra

aos Astros e finalmente a relaccedilatildeo que estes teacutem com os fenocircmenos terrestres que

satildeo as variaccedilotildees das Estaccedilotildees e os diversos temperamentos dos Climas ampordf ampordfrdquo

Na tradiccedilatildeo moderna da Geografia cientiacutefica essa discursividade migraraacute para os

conteuacutedos relacionados agrave Cartografia e agrave Geografia Fiacutesica mas nas manifestaccedilotildees

da Geografia descritiva constituiraacute uma linhagem agrave parte isolada dos demais

tratamentos e sempre precedendo ou poacutes sucedendo a Geografia Fiacutesica e a

Geografia Poliacutetica

Relacionando a Geografia Fiacutesica com a descriccedilatildeo da Terra no que tange agrave

natureza afirma que ldquoElla nos ensina a forma externa do Glocircbo Terrestrerdquo a divisatildeo

e a situaccedilatildeo dos elementos naturais de terra ou de aacutegua sendo que a

Geografia Poliacutetica procede a mesma descriccedilatildeo mas em relaccedilatildeo aos habitantes

naccedilotildees populaccedilotildees e atividades econocircmicas e culturais Apesar de Torreatildeo

entender que Fiacutesica e Poliacutetica ldquose datildeo as matildeos e dependem mutuamenterdquo

dificilmente em sua obra mesmo e nas demais seriam estabelecidas estas

relaccedilotildees

O que estaacute proposto em Torreatildeo funcionou como estrutura geral do gecircnero

para a bibliografia enquanto viccedilou a Geografia descritiva A variaccedilatildeo de obra para

obra praticamente resumiu-se agrave agregaccedilatildeo de novas descriccedilotildees e atualizaccedilatildeo de

dados Essa questatildeo eacute lembrada por Brasil (1864 p v-vi)

A Geographia sendo a descripccedilatildeo da Terra em geral e de suas divisotildees polticas em particular natildeo eacute uma sciencia estacionaria porque todos os dias o horizonte dos conhecimentos humanos se dilata fazem-se novas descobertas e novas conquistas vem enriquecer o thesouro que a sciencia accumula de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Natildeo soacute o mundo physico soffre alteraccedilotildees como quase sempre as circumscripccedilotildees politicas se modificatildeo ora por annexaccedilotildees ora por separaccedilotildees e conquistas A sciencia tem pois a obrigaccedilatildeo de acompanhar esse movimento se quizer exprimir fielmente o estado actual do mundo ou dos paizes que descreve

Qualquer desvio discursivo dessa concepccedilatildeo geograacutefica foi prontamente

silenciado A exemplo disso tem-se a obra de Joseacute Praxedes Pereira Pacheco

Breves noccedilotildees para se estudar com methodo a Geographia do Brasil Ensaio para

pela primeira vez indicar os tanques mariacutetimos no Atlacircntico as vertentes delles as

valladas ou bacias que ellas encerratildeo accommodando o Brasil ao ultimo plano de

estudos para o impeacuterio francez se guindo a Geographia da Franccedila publicada pelo

autor em 1857 e natildeo aprovada para uso escolar pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico

Brasileiro (VLACH 1988) A obra tinha certa acepccedilatildeo criacutetica de demolir o que

estava posto em termos do ensino geograacutefico proposto e pretendia algumas ligeiras

mudanccedilas em relaccedilatildeo a este quadro De acordo com o autor havia a necessidade

de se apresentar um texto mais conciso tarefa a que sem modeacutestia se propotildee

[] pois que hoje sem preparo geographico antecipado a publicaccedilatildeo de uma obra complicada e volumosa soacute serviria para pasto de maledicecircncia ornato de poucas biliothecas indagaccedilatildeo de algum desses raros averiguadores que a folheasse e ruina e esquecimento do autor que veria consumida pela traccedila estragadora com intacta pureza como se observa todos os dias o fructo de todas as suas vigilias privaccedilotildees e sacrifiacutecios porem como eu e meus filhos somos principiantes em estudos do Brasil apresento este trabalho que eacute no todo original e que deveraacute servir de base para maior desenvolvimento e perfeiccedilatildeo nos futuros (PACHECO 1857 p 01)

Isto posto expotildee a sua filiaccedilatildeo reconhecendo um procedimento comum agraves

demais produccedilotildees que o precedem nesse gecircnero

Tendo estudado jaacute a predilecccedilatildeo que datildeo os nossos patriacutecios aacute producccedilotildees estrangeiras e achando-a justa pois que a ellas soacutemente a ellas devemos o que natildeo ignoramos a respeito da nossa paacutetria resolvi-me fazer um leve estracto do cabedal que tenho obtido e collecionado e assim fundir esta obrazinha pelo molde e com as mesmas foacutermas da ndash Petite geacuteographie de la France agrave lrsquousage decircs classes eacuteleacutementaires par J L Sanis (PACHECO 1857 p 01)

Defendendo sua escolha Pacheco dispara mais uma criacutetica agrave bibliografia

didaacutetica posta para o ensino da Geografia denunciando-a como uma exploraccedilatildeo

comercial portanto sem compromisso com o ensino e embasando-se em sua

proacutepria vivecircncia por essa opccedilatildeo ldquoO eu preferir o Sr Sanis a essa multidatildeo de

publicadores profissionaes na geographia aleacutem de ser o testemunho da attenccedilatildeo

que me mereceu pelo ter podido apreciar por mim mesmo na applicaccedilatildeo do seu

excellente methodo quando vivi na capital da Franccedilardquo (PACHECO 1857 p 01) O

ldquomeacutetodo de Sanisrdquo seria estudar separadamente a Geografia Fiacutesica e depois a

Geografia Poliacutetica ndash o que natildeo era novidade para entatildeo de posse dos dados

simular ldquoviagens imaginaacuteriasrdquo metodologia de ensino que apenas vigoraraacute no Brasil

em fins do seacuteculo XIX A simulaccedilatildeo de viagens foi uma das formas posteriores para

se pensar um vieacutes praacutetico ao ensino da Geografia sobretudo quando demonstrado

em um mapa e proposto no Brasil pela primeira vez por Pacheco

Pacheco em outro ataque veemente afirma que sua contribuiccedilatildeo

metodoloacutegica seria uma maneira de se ldquo[] publicar um trabalho util no Brasil para

que natildeo seja immediatamente conspurcado pela ineacutepcia e atassalhado pelos

omniscientes que nada apresentando nesse gecircnero por egoismo tudo depreciatildeordquo

(PACHECO 1857 p 01)

Talvez a natildeo aceitaccedilatildeo de Pacheco pelo IHGB seja por sua imposiccedilatildeo

ofuscante e demolidora dos intelectuais entatildeo em accedilatildeo e da tradiccedilatildeo instituiacuteda Sua

imodeacutestia parece mesmo natildeo ter tamanho

Fui o primeiro a organisar um opuacutesculo methodico de geographia e desde 1852 que o plano foi publicado e adoptado em Franccedila ateacute hoje ninguem no Brasil deu por elle symptomas de vida aqui vai bom ou maacuteo este original inteiramente meu e assim como o fez com os catalogos botacircnicos tambem originaes que compuz e publiquei delle se haacute de apoderar a inveja para me negar a authentica originalidade allegando ter recorrido aacutes mesmas fontes que me saciaratildeo isto eacute aacutes minhas elucubraccedilotildees [] e mesmo que natildeo tenha o premio de geographia do Instituto Historico e Geographico do Brasil por esta nihilidade methodica terei as benccedilatildeos geraes como todos os dias mrsquoas dirige o povo reconhecido PACHECO 1857 p 01)

Natildeo haacute propriamente um rompimento de Pacheco com a Geografia

descritiva utiliza-se das mesmas bases e construccedilotildees

A geographia tem por fim descrever o mundo natural ou socialmente A geographia physica occupa-se com a natureza e trata das terras e das aacuteguas A geographia politica descreve as sociedades humanas discorrendo a respeito dos governos das naccedilotildees e dos trabalhos de qualquer especie praticados pelos homens (PACHECO 1857 p 11)

Agrave exceccedilatildeo da menccedilatildeo central a Sanis ausentam-se as fontes traccedilando

uma exposiccedilatildeo didaacutetica tiacutepica desse discurso No entanto seu texto apresenta

diferenciais alguns desenvolvimentos ateacute com certo traccedilo doutrinaacuterio que natildeo se

encontra tipicamente na Geografia das nomenclaturas tais como

Desengano Eacute tempo para os Brasileiros se desenganarem que as minas e as preciosidades que a terra guarda quando exploradas natildeo soacute se extiguem como deixam o terreno revolto e esteacuteril e que a agricultura renova annualmente o solo e o torna mais productivo O rei de Franccedila Henrique IV dizia com criterio de estadista ldquolavragem e pastagem satildeo as duas tetas da naccedilatildeordquo Clamem embora as folhas diarias advogando as empresas as riquezas espontaneas do territorio as industrias fabril e esthetica e mesmo o commercio tudo isso soacute serve quando eacute applicado para desenvolver a uberdade com que os colonos tratatildeo a agricultura (PACHECO 1857 p 137-138)

Afora isso faz outros tratamentos nada tiacutepicos ao discurso didaacutetico ou agraves

convenccedilotildees jaacute admitidas ao gecircnero a essa altura como um extenso

pronunciamento aos proacuteprios filhos como adendo ao manual

De qualquer forma o paradigma descritivo da Geografia escolar seguiu

inalterado Jaacute em fins do seacuteculo XIX essa mesma Geografia ainda estaraacute ativa

A Geographia [nota de rodapeacute Compotildee-se de duas palavras gregas ndash geo terra e grapho descrevo [sic]] eacute a sciencia que trata da descripccedilatildeo da Terra Comprehende tres partes principaes 1ordf A Geographia astronocircmica que considera a Terra como corpo celeste e estuda as relaccedilotildees em que ella se acha com o sol e os outros corpos celestes chama-se-lhe tambeacutem geographia mathematica e forma a parte mais importante da Cosmographia que eacute a descripccedilatildeo astronocircmica do Universo 2ordf A Geographia Physica que considera a Terra em si mesma e trata do seu aspecto das divisotildees naturaes da sua superfiacutecie de seus differentes climas e de suas producccedilotildees naturaes 3ordf A Geographia politica que estuda a Terra como os homens a dividiram e trata dos differentes paizes ou Estados de suas divisotildees governos populaccedilotildees raccedilas liacutenguas civilisaccedilatildeo industria commercio financcedilas forccedilas militares etc (LACERDA 1898 p 5-6)

Por mais de 100 anos a transposiccedilatildeo da Geografia Claacutessica moderna cedeu

seus traccedilos ao dizer didaacutetico da disciplina movendo essas vertentes na escala geral

e particular da descriccedilatildeo terrestre Mesmo quando vinda de fora por meio de

traduccedilotildees continuava-se sua praacutetica o que eacute sintoma de ser essa Geografia natildeo

uma exclusividade do Brasil mas um padratildeo estabelecido ao redor do mundo como

se vecirc no texto de Gaultier francecircs em traduccedilatildeo via Portugal

DISCIPULO Que cousa eacute a Geographia MESTRE Eacute uma sciencia que ensina o nome e situaccedilatildeo dos diversos paizes e naccedilotildees da Terra E que eacute que significa a palavra Geographia ndash Siginifica descripccedilatildeo da terra e se entende por essa palavra a descripccedilatildeo da superfiacutecie da terra em suas diversas relaccedilotildees

Que figura tem a terra ndash Eacute sensivelmente redonda e tem a foacuterma drsquoum globo ou drsquouma bola De quantos modos poacutede ser considerada a terra ndash De tres modos ou como planeta em relaccedilatildeo com os mais corpos celestes ou como planeta em relaccedilatildeo com os mais corpos celestes ou como um corpo physico e seres physicos que a povoam e entatildeo tambeacutem se lhe chama globo terraacutequeo ou esphera terrestre ou finalmente como um corpo poliacutetico ou moral em relaccedilatildeo aacute sociedade civil isto genero humano e tambeacutem se lhe pode chmar mundo Drsquoaqui vem dividir-se a geographia em mathematica physica e politica Mathematica ou astronocircmica eacute a que ensina a descrever a terra em quanto aacute sua figura dimensotildees e posiccedilatildeo no systema do Universo e seus movimentos Physica a que ensina a descrever a superficie da terra em quanto soacutelida liquida plana montuosa occupada por indiviacuteduos dos tres reinos da natureza e cercada do fluido atmospherico Politica a que ensina a descrever os mais nobres habitantes da terra que satildeo os homens formando naccedilotildees selvagens baacuterbaras e mais ou menos civilizadas A geographia ainda poacutede ser considerada em quanto aos objetos que descreve e entatildeo chama-se Histoacuterica ou Anterior a que descreve a terra como se achava em differentes eacutepocas anteriores aos nosos dias Actual quando trata da terra como ella se acha actualmente ndash Drsquoaqui vecircm as denominaccedilotildees de geographia antiga da edade media moderna sagrada ecclesiastica Em quanto ao seu objecto chama-se Geral quando descreve as coisas principaes da terra considerada em sua totalidade CHOROGRAPHIA quando descreve as cousas principaes de qualquer regiatildeo TOPOGRAPHIA quando desce aacute descripccedilatildeo de algum sitio em particular HIDROGRAPHIA quando daacute a descripccedilatildeo physica das aacuteguas de um paiz OROGRAPHIA quando descreve os montes e as serras de qualquer regiatildeo METEREOLOGIA eacute a parte da physica que explica os phenomenos da atmosphera ETHOGRAPHIA a sciencia que tem por objecto a descripccedilatildeo divisatildeo e filiaccedilatildeo dos povos sua natureza caracteres physicos iacutendole costumes usos liacutengua e religiatildeo GEOLOGIA em sua accepccedilatildeo mais extensa eacute a descripccedilatildeo physica da terra e dos seus phenomenos e principalmente de sua estructura interior ou antes conhecimento scientifico da estructura do globo da formaccedilatildeo e da disposiccedilatildeo das substancias que ella encerra COSMOGRAPHIA eacute a descripccedilatildeo do Universo (GAULTIER 1878 p 3-5)

Todo o discurso didaacutetico da Geografia eacute construiacutedo agrave maneira dessa

enunciaccedilatildeo de Gaultier quanto ao silenciamento de outras vozes de natildeo expor uma

heterogeneidade mostrada mas apenas heterogeneidades constitutivas resvaladas

nas formaccedilotildees discursivas da Geografia Moderna claacutessica nos levantamentos

estatiacutesticos governamentais e outras fontes o Outro natildeo tem voz pois esse tipo

discursivo procura construir a imagem do sujeito autorizado a dizer o que diz sendo

o efeito a construccedilatildeo de uma superfiacutecie discursiva lisa conceito que propus para

compreender no discurso didaacutetico o fio do dizer que promove o efeito autoria e

autoridade repassado aos sujeitos receptores da enunciaccedilatildeo e o que se consegue

justamente pelo apagamento da heterogeneidade o fio do discurso responde

apenas a um locutor uacutenico Para isso concorre mesmo um efeito graacutefico com uma

mancha autoral uacutenica espaccedilo de um sujeito rendido agrave heterogeneidade constitutiva

63 Prefaacutecios proacutelogos notas de advertecircncia apresentaccedilotildees e imprensa os discursos do entorno

Na anaacutelise discursiva haacute duas perspectivas para confrontar um discurso

isola-se a enunciaccedilatildeo de um sujeito e percorre-se o seu tracircnsito nas suas

formaccedilotildees ideoloacutegicas e discursivas trabalhando seus efeitos de sentido ou se

adentra a proacutepria formaccedilatildeo discursiva procurando a unidade na diversidade dos

sentidos em muacuteltiplas enunciaccedilotildees

Agraves margens do discurso didaacutetico da bibliografia escolar geograacutefica a esse

propoacutesito haacute um conjunto de sujeitos enunciando para circunstanciar promover

legitimar e esclarecer o discurso didaacutetico de Geografia os proacuteprios autores

intelectuais reconhecidos os editores a imprensa os oacutergatildeos oficiais de ensino

Eacute dos raros momentos em que o discurso escapa agrave heterogeneidade

constitutiva cedendo espaccedilo ao Outro tambeacutem Satildeo os que denomino ldquodiscursos do

entornordquo que da margem ocupam esse espaccedilo da palavra para convencer e

esclarecer discentes docentes e puacuteblico em geral preparando percursos

enunciativos para o dizer didaacutetico dessa disciplina

De pequenas notas de esclarecimento a vaacuterias paacuteginas de reproduccedilatildeo dos

dizeres na imprensa esses discursos empenham-se a natildeo deixar ilesa a recepccedilatildeo

enunciativa do discurso da bibliografia A partir deles eacute possiacutevel perceber

discursividades sobre questotildees como autoria autoridade legitimaccedilatildeo da disciplina a

relaccedilatildeo dos textos com os curriacuteculos propostos a questatildeo das fontes e das

traduccedilotildees posicionamentos frentes agrave tradiccedilatildeo agrave metodologia de ensino e agrave

formaccedilatildeo dos professores a questatildeo da nacionalidade

631 Estabelecimento da autoria e da obra vozes constitutivas dos sujeitos e dos discursos didaacuteticos

As capas e as folhas de rosto satildeo lugares discursivos quase comum em

todo o periacuteodo em anaacutelise para manifestar as ocupaccedilotildees e a formaccedilatildeo do autor o

que dele se sabe na instacircncia da obra construindo um efeito de sujeito autorizado

ao discurso em curso ndash autoridade que reverbera em credibilidade enunciam porque

podem fazecirc-lo visto serem representantes desses discursos vinculados aos meios

intelectuais propiacutecios a isso sobretudo agrave docecircncia ou a alguma atividade

acadecircmica Sousa Neto (1997 p 41-42) a esse respeito demonstra a partir da

obra de Pompeu o funcionamento dessa construccedilatildeo de sentidos

Uma das coisas mais interessantes na obra satildeo os tiacutetulos de Pompeu que aparecem ediccedilatildeo apoacutes ediccedilatildeo na folha de rosto do livro Deste modo na terceira ediccedilatildeo de 1859 que eacute aquela que apresenta a maior quantidade de titulaccedilotildees aparece a seguinte lista de tiacutetulos ldquoBacharel formado em sciencias sociaes e juridicas pela Academia de Olinda Vigario Geral foraneo da Provincia do Cearaacute Professor de Geographia no Lyceo da mesma Provincia socio correspondente do Instituto Historico e Geographico do Brasil da Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional da Sociedade Amante da Instrucccedilatildeo da Cocircrte socio honorario da Sociedade Philomatica da Cocircrte do Atheneo Paulistano do Instituto de Advogados de Pernambuco do Instituto litterario e da Associaccedilatildeo Typographica do Maranhatildeordquo Enquanto isso na quinta e uacuteltima ediccedilatildeo do Compendio em 1869 aparece a menor lista de tiacutetulos todavia a que mais o qualifica no tocante ao reconhecimento scientifico institucional da eacutepoca ldquoSoacutecio do Instituto Historico e Geographico do Brasil da Sociedade Geographica de Paris etc etcrdquo A reduccedilatildeo curricular demonstra a importacircncia do autor que agora jaacute natildeo necessita mais elencar sua participaccedilatildeo na Sociedade Amante da Instrucccedilatildeo da Cocircrte porque faz parte da primeira sociedade geograacutefica fundada no mundo a Sociedade Geographica de Paris de 1821 e isto basta para revelar suas qualidades intelectuais

As capas e folhas de rosto realmente foram o lugar por excelecircncia para

afirmar um autor e sua credibilidade sendo abundantes os exemplos enunciados

Dr Joaquim Maria de Lacerda ldquoMembro da Arcadia Romanardquo M Said Ali ldquoLente do

Gymnasio Nacional e professor da Escola Preparatoacuteria e de Taacutectica do Realengordquo

C M Delgado de Carvalho ldquoDiplomado pela Escola de Sciencias Politicas de Parisrdquo

Dr Feliciano Pinheiro Bittencourt ldquoLente cathedratico da E Normal e antigo

professor dessa materia Dr Eugenio de Barros Raja Gabaglia ldquoDoutor em

Sciencias physicas e mathematicas lente do Gymnasio Nacional da Escola Naval e

Polytechnica do Rio de Janeirordquo Sem a mesma frequecircncia os discursos do entorno

tambeacutem se revelaram um dos lugares para se por a experiecircncia do autor como

ateste de validade agrave obra Veja-se o fragmento abaixo

Haacute 27 anos desde os saudosos tempos acadecircmicos estudo e ensino a Geographia e a Historia permitindo me tatildeo longa pratica avaliar o que mais convem aos que procuram conhecer taes disciplinas (o autor BITTENCOURT 1907 p 1)

A expressiva contabilidade dos anos de acordo com esse sujeito assevera-lhe juiacutezo

suficiente para saber o que conveacutem ou natildeo no acircmbito do ensino da Geografia Todo

sujeito-autor tem diante de si nesse periacuteodo a temeridade e o risco nas

circunstacircncias de sua publicaccedilatildeo eacute importante o que a criacutetica pode dizer a recepccedilatildeo

dos diretores e professores o parecer das bancas censoacuterias ndash todo o cenaacuterio de

recepccedilatildeo pode influir na aceitaccedilatildeo ou na refutaccedilatildeo de uma obra ou na amplitude de

sua adoccedilatildeo Nesse caso natildeo eacute o sujeito ou sua formaccedilatildeo que o habilita mas

sobretudo em um contexto no qual praticamente eacute nula a formaccedilatildeo de professores

dessa disciplina eacute a experiecircncia docente que conta muito para o estabelecimento de

sua autoridade no assunto Na sequecircncia em que diz ldquodesde os saudosos tempos

acadecircmicosrdquo o sujeito deixa transparecer de sua trajetoacuteria de vida algo comum

entre o professorado de Geografia as atividades de docecircncia e de formaccedilatildeo

superior percorrendo caminho paralelo Era comum por necessidade de

sobrevivecircncia que os acadecircmicos dedicassem parte do seu tempo ao ensino

sobretudo o particular

Em geral a produccedilatildeo de materiais didaacuteticos de Geografia natildeo se ligava ao

centro da atividade profissional do sujeito-autor a menos que essa fosse

relacionada ao ensino da disciplina pois entre os sujeitos satildeo declaradas atuaccedilotildees

como comerciantes advogados poliacuteticos militares Agraves vezes esses discursos da

margem revelam verdadeiras crocircnicas sobre as instacircncias de produccedilatildeo dessas

obras

Apresentamos hoje a terceira ediccedilatildeo desta obra Tendo-se esgotado rapidamente a 1ordf e a 2ordf foi-nos bastante difficil preparar esta 3ordf para acudir aos pedidos do todos os cantos do paiz Felizmente so as ferias do Natal e Reis vieram dar-nos uma clareirasinha por onde escapando aacutes absorventes actividades que hoje nos empolgam pudessemos passar uma revisatildeo neste compendio que vae alargando ascendentemente as suas fronteiras geographicas (O autor 19-2-1929 XAVIER 1929 p 7)

Ao autor de um livro didaacutetico de Geografia consolidado restava o moroso e

permanente trabalho de atualizar suas ediccedilotildees haja vista as alteraccedilotildees constantes

dos conteuacutedos Um fato assinalaacutevel eacute a quase gratuidade desse trabalho Durante

longas deacutecadas as publicaccedilotildees conforme jaacute aferi em outras ocasiotildees eram

custeadas pelos proacuteprios autores quando comercializadas dependiam da extensatildeo

das ediccedilotildees para ter algum retorno pecuniaacuterio ao autor ndash apenas a partir dos anos

1930 se pode observar o surgimento dos primeiros best-sellers da literatura didaacutetica

de Geografia Em algumas ocasiotildees essa falta de estiacutemulo eacute mencionada na

bibliografia em anaacutelise

Outro trabalhador infatigaacutevel eacute o colendo professor Scrosoppi que apezar de sua jaacute avanccedilada edade e da falta de estiacutemulos tatildeo de lamentar em um meio como o nosso prosegue na benemerita faina de augmentar o cabedal didactico da nossa literatura E disto eacute mais uma prova o seu ultimo compendio ndash Liccedilotildees de Chorographia do Brasil que natildeo obstante haver apparecido recentemente jaacute estaacute adoptado em vaacuterios estabelecimentos de ensino natildeo soacute da capital mas ainda do interior e de outros estados (Satildeo Paulo 30051908 SCROSOPPI 1911 p V)

O funcionamento para construir uma imagem do sujeito tambeacutem agiu no

discurso delegado ao outro em especial a jornalistas e intelectuais Nessa instacircncia

a imagem em construccedilatildeo procura alimentar uma mesclagem entre sujeito-autor e

discurso a ser anotada como referecircncia do dizer no caso geograacutefico Em qualquer

literatura dizer um nome uma autoria significa remeter-se a um determinado

conjunto de caracteriacutesticas discursivas ndash o nome reverbera-se em uma marca com

uma apreciaccedilatildeo reconhecida entre o puacuteblico

O Outro eacute chamado agrave instacircncia da enunciaccedilatildeo para avaliar o sujeito em

seus feitos suas qualidades mesmo em seus defeitos ndash o que particularmente se

vincula ao dizer da imprensa uma voz com contradiccedilotildees colocadas de forma sutil

de modo a natildeo desconstruir o autor e sua obra ndash ateacute porque satildeo dizeres aceitos

pelos autores e editores e utilizados com o propoacutesito de promoccedilatildeo dos sentidos

defendidos no acircmbito do discurso Eacute dessa forma que eacute recebida a obra de FIC

traduzida e amplamente utilizada no Brasil

O que caracteriza esta obra natildeo eacute somente a grande quantidade de figuras escolhidas mas tambem os quadros estatisticos sobre as populaccedilotildees as

superfiacutecies as financcedilas dos Estados a industria o commercio etc e sobretudo a grande quantidade de notas interessantes estatisticas etymologias descripccedilotildees etc notas que postas nos fins das paginas natildeo prejudicam em nada e natildeo atrapalham o texto principal que se tem de estudar (A Exploraccedilatildeo revista geographica e jornal das viajens Pariz FIC 1902 p VII)

Nesses fragmentos a obra eacute admirada pela expressiva quantidade de dados e

documentos que apresenta cujos lexemas evidenciam a filiaccedilatildeo agrave Geografia

descritiva O que significa compreender que o discurso geograacutefico jaacute foi elogiado

pelo que posteriormente foi condenado Como demonstrarei adiante as obras

didaacuteticas do periacuteodo em anaacutelise natildeo se reservavam unicamente ao estudo mas a

um puacuteblico mais amplo com necessidade de saberes geograacuteficos menos teacutecnicos e

mais condensados Eacute por essa razatildeo que o sujeito desta enunciaccedilatildeo associa em

forma de admiraccedilatildeo a sequecircncia ldquogrande quantidaderdquo agraves ldquofiguras escolhidasrdquo

ldquoquadros estatiacutesticosrdquo ldquonotasrdquo ldquoestatisticasrdquo ldquoetymologiasrdquo ldquodescripccedilotildeesrdquo como fator

de qualidade da enunciaccedilatildeo do sujeito-autor estimando por aiacute o valor da obra e do

seu autor E ciente dessa necessidade ndash atender o ensino e os interesses gerais ndash

ressalta como o meacutetodo de expressatildeo (ldquonotas que postas nos fins das paginasrdquo)

consegue conciliar as diversas utilidades para as quais esse discurso pode servir

Os discursos do entorno atribuiacutedo ao outro dos quais constam as notiacutecias e criacuteticas

publicadas na imprensa ou atribuiacuteda a convidados satildeo selecionados fragmentados

colocados com intencionalidade para atender a uma determinada vontade do autor

sobre a imagem de obra e autoria que enseja construir ou seja satildeo dispostos a

construir um determinado efeito de sentido Eacute por isso que os sentidos construiacutedos

no fragmento acima encontram ressonacircncia em outra enunciaccedilatildeo do mesmo

contexto

O que me admira eacute como elle poude condensar tantos pormenores preciosos curiosos e novos em um unico volume Demais o plano da obra eacute tatildeo bem concebido quatildeo seguido No Curso de Geographia ha mais do que erudiccedilatildeo Percorrendo os documentos que nelle se acham sente-se uma satisfaccedilatildeo intellectual que induz a lel-os mais de uma vez (P V S A Antigo capitatildeo de marinha FIC 1902 p V)

Nessa enunciaccedilatildeo persiste o sentido de louvaccedilatildeo pela condensaccedilatildeo dos dados

geograacuteficos articulados em um plano expressivo que ultrapassa o funcionamento do

discurso como elemento de ensino e aprendizagem que em outros termos

enunciativos coadunam com a construccedilatildeo anterior A enunciaccedilatildeo atinge o centro do

que se pedia ao discurso didaacutetico nessas circunstacircncias abundacircncia na siacutentese

Notadamente a partir da deacutecada de 1880 quando a comercializaccedilatildeo das

obras didaacuteticas comeccedila a ganhar forccedila o processo de divulgaccedilatildeo de uma obra na

imprensa podia ter iniacutecio ainda no prelo

Jaacute tivemos a occasiatildeo de nos referir a este livro didactico quando se estava ainda imprimindo por alguns fasciculos que o seu autor nos mostraacutera Hoje que o livro estaacute publicado e aacute venda nas principaes livrarias podemos affirmar que na nossa opiniatildeo eacute o melhor tratado que na espeacutecie tem apparecido em todo o nosso paiz (Diaacuterio Popular 20041908 SCROSOPPI 1911 p III)

A imprensa teve uma relaccedilatildeo proacutexima agrave bibliografia no sentido de apresentar

criacuteticas e consideraccedilotildees sobre os autores e obras Uma parte dessas

apresentaccedilotildees foi reproduzida nas obras pelos autores e editores Nos Fragmentos

abaixo Mario da Veiga Cabral eacute projetado pela extensatildeo de suas publicaccedilotildees

(embora ainda com pouca idade F6312) pela quantidade de vendas que as levam

a sucessivas reediccedilotildees um fato que sem duacutevida representava um golpe na tradiccedilatildeo

dos autores estacionaacuterios nas primeiras ediccedilotildees (F6311) Cabral alccedilou esse

sucesso ao reformular a linguagem das obras didaacuteticas (e assumir gradativamente a

abordagem moderna introduzida por Delgado de Carvalho) e tambeacutem por haver em

torno de suas publicaccedilotildees uma massiva campanha de divulgaccedilatildeo

Fragmento 6311

Haacute um nome no magisteacuterio secundaacuterio surgido haacute pouco mas surgido como as manhatildes sonoras com luz proacutepria e seductor encanto Eacute o sr Mario da Veiga Cabral Com pouco mais de trinta anos eacute jaacute um copioso autor de obras didacticas Orccedila por dezoito o numero delas entre as publicadas e as que se acham prontas ou em preparaccedilatildeo para tal fim Dizer que as sucessivas ediccedilotildees de suas obras rapidamente se esgotam eacute fazer-lhe o maior o melhor e o mais positivo dos elogios Em verdade nenhuma delas estaciona na primeira ediccedilatildeo sendo que uma ndash e todas de alguns milheiros de volumes ndash jaacute atingiu a 11ordf [] sucesso que haacute de ter levado a damnaccedilatildeo ao espirito de tantos gecircnios autores de obras de mil exemplares e que envelhecem namorando os mil e um exemplares dessas mesmas obras que emboloram melancolicamente esparramados nos balcotildees ou trepados nas estantes das livrarias irreverentes (Leoncio Correia A Patria 24041926 CABRAL 1935 p 410)

Fragmento 6312

Entre os nossos autores didacticos eacute certamente o Dr Mario Da Veiga Cabral o mais jovem e tambem o que maior ecircxito tem conseguido nos uacuteltimos tempos com os seus excelentes trabalhos de geographia geral e de

chorographia do Brasil (Gazeta de Notiacutecias 05051923 CABRAL 1935 p 409)

Fragmento 6313

E o fez com tamanho acerto e felicidade que os tres livros de que um soacute Estado do Brasil adquiriu cinco mil exemplares satildeo jaacute em 2ordf Ediccedilatildeo mui bem ultimada (A Patria 06021926 CABRAL 1935 p 414)

Fragmento 6314

Engenheiro-agrimensor dono de uma vasta erudiccedilatildeo e de uma intelligencia ampla e forte o dr Mario da Da Veiga Cabral se tem imposto como uma das expressotildees mais puras da mentalidade brasileira (A Patria 06021926 CABRAL 1935 p 411)

Fragmento 6315

Natildeo existe presentemente em todo o Brasil estudante de Historia de Geographia ou de Chorographia que desconheccedila o jovem e jaacute notavel professor que eacute o sr Mario Da Veiga Cabral suas excelente obras didacticas actualmente conhecidas e adoptadas de norte ao sul do paiz e quantos se abeberam na fonte de seus ensinamentos natildeo teem por isso o direito de desconhecer-lhe o nome (A Patria 06021926 CABRAL 1935 p 412)

Tamanho sucesso editorial pois a produtividade certamente advinha da

ampla vendagem soacute eacute compartilhado por Aroldo de Azevedo Para isso aleacutem das

inovaccedilotildees pertinentes agrave abordagem teoacuterico-metodoloacutegica da Geografia e da

divulgaccedilatildeo das obras aliava-se ao estrito cumprimento dos programas prescritos

para o ensino

Fragmento 6316

O sr Dr Frota Pessoa ex-secretario geral da Directoria de Instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal na secccedilatildeo Educaccedilatildeo e Ensino que manteacutem no Jornal do Brasil assim se referiu ao Terceiro Anno de Geographia depois de longa consideraccedilatildeo sobre o estudo desta disciplina lsquo[] Eacute de justiccedila consignar que pela natureza dos assumptos e pela forma de tratal-os este compendio eacute superior aos antigos livros desse gecircnero O autor conhece as modernas exigecircncias do ensino da geographia e fez o que pocircde ao confeccionar um livro que tem de atender ao programma vigente do curso secundaacuteriordquo (Jornal do Brasil 07111933 CABRAL 1935 p 304)

Fragmento 6317

Quanto ao caracter techinico cremos que as obras deste autor nada deixam a desejar Os louvores que lhes tecem os especialistas em historia e geographia satildeo dos mais concludentes Entre outros o professor Joatildeo Ribeiro lovou-lhes a ldquoperfeita clareza e excellencia de methodo na distribuiccedilatildeo das mateacuteriasrdquo (Leoncio Correia A Patria 24041926 CABRAL 1935 p 411)

A imprensa tambeacutem apresenta reclames contra excessos faltas e falhas das

obras seja quanto ao emprego de certos aspectos da linguagem (abuso de termos

gregos) inexatidatildeo de dados ou fatos e outros

Entre os pequenos defeitos que no compendio se podem encontrar que natildeo prejudicaratildeo entretanto o seu merecimento nem minoram a sua utilidade observaacutemos na distribuiccedilatildeo da materia um abuso de technologia grega que as crianccedilas as quaes principalmente o livro vai servir pediriam que lhes poupassem (Jornal do Commercio 30Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 VII)

Entre as editoras e a imprensa sempre houve uma relaccedilatildeo com

compromissos a imprensa vive de seus anuacutencios publicitaacuterios e as editoras nesse

periacuteodo sempre propagavam por ela quase que exclusivamente os reclames de

divulgaccedilatildeo de seus tiacutetulos bem como artigos de criacutetica e conhecimento dos novos

lanccedilamentos Em face disso eacute faacutecil encontrar discursos oscilantes que elogiam as

obras poreacutem natildeo deixam de apresentar igualmente suas fraquezas apresentando

uma ldquoguerra de sentidosrdquo com um cuidado para natildeo anular a obra com seus efeitos

de sentido

Revelada uma ou outra inexactidatildeo ou mesmo uma ou outra apreciaccedilatildeo mal cabida em assumpto tatildeo vasto e complexo como eacute o da geographia e historia paacutetria a parte propriamente descriptiva do compendio eacute bem feita e escripta em linguagem singela ao alcance de todos Haja embora desaccordo como eacute natural entre o A e outras autoridades na mateacuteria no tocante a certas apreciaccedilotildees histoacuterico-geographicas e com relaccedilatildeo aacutes outras que determinam e precisam populaccedilotildees e extensotildees do territoacuterio patrio e outros senotildees que natildeo vecircm ao caso apontar o livro por um conjunto de excellentes predicados torna-se altamente recomendavel e permite presagiar optimos resultados dignos de geraes applausos Natildeo alardecirca por certo erudiccedilatildeo inuacutetil van e por via de regra falsa usando de pedantescas denominaccedilotildees technicas desconhecidas do vulgo como por exemplo ldquoacrotereographiardquo ldquocolpographiardquo ldquolimnegraphiardquo e outras terminaccedilotildees em ldquoiardquo verdadeiros gongorismos scientificos como lhes chamaria Alexandre Herculano Ao manusear o compendio observamos um bom resumo sobre a climatologia salubridade e acclimaccedilatildeo nos diversos Estados onde natildeo se vecirc confundida a geographia medica com o clima geographico como merece ser notado em outros livros que tratam do assumpto [] Outro ponto de resto merecedor de honrosa menccedilatildeo eacute o que se refere a correios e telegraphos e organisaccedilatildeo do serviccedilo postal tratados com methodo e clareza [] Acabemos de vez para sempre com essas enfadonhas e rotineiras liccedilotildees de cor de longas seacuteries de palavras sem significaccedilatildeo verdadeiras castas de nomes (Estado de Satildeo Paulo 05081908 SCROSOPPI 1911 p VI-VII)

Na criacutetica desse fragmento o sujeito coloca depreciaccedilotildees em menor

quantidade que as qualidades da obra fazendo-as contudo de forma geneacuterica sem

alusatildeo direta aos deslizes ldquouma ou outra inexactidatildeordquo ldquouma ou outra apreciaccedilatildeo mal

cabidardquo ldquooutros senotildees que natildeo vecircm ao caso apontarrdquo Estas indiretas funcionam

discursivamente como um silenciamento pois criam oposiccedilotildees natildeo esclarecidas

quais seriam as inexatidotildees as apreciaccedilotildees mal colocadas os senotildees nesse

discurso Aquelas identificadas por esse sujeito as que estatildeo em sua perspectiva

natildeo se sabe Por outro lado chega a ser mais exato na colocaccedilatildeo qualitativa da

obra ressaltando sua descriccedilatildeo bem feita a linguagem clara e acessiacutevel

recomendando-a e prevendo bons resultados pedagoacutegicos com o seu uso Ressalva

a qualidade do resumo sobre a climatologia o fato de natildeo confundir a geografia

meacutedica com a climatologia (repasto de muitos dos determinismos presentes no

discurso da Geografia descritiva) a atenccedilatildeo dada pelo autor aos correios e

teleacutegrafos aleacutem dos serviccedilos postais sem duacutevida um tema novo na bibligrafia Por

inferecircncia o sujeito encontra contexto para posicionar sua anaacutelise em relaccedilatildeo agrave

tradiccedilatildeo da literatura didaacutetica de Geografia mencionar a ldquoerudiccedilatildeo inuacutetil van e por

via de regra falsardquo plena de ldquopedantescas denominaccedilotildees technicas desconhecidas

do vulgordquo o que evidencia caracteriacutesticas perceptiacuteveis agrave eacutepoca em relaccedilatildeo agrave

bibliografia o fato de haver entre os autores discordacircncia sobre pontos das mateacuterias

e uma linhagem de ldquoenfadonhas e rotineiras liccedilotildees de cor de longas seacuteries de

palavras sem significaccedilatildeo verdadeiras castas de nomesrdquo

A imprensa parece ter acompanhado de perto o desenvolvimento da

bibliografia natildeo deixando de elencar aceitaccedilotildees e colocando pontos de vista sobre

os discursos publicados

Fragmento 6318

O distincto professor R Villa-Lobos enviou-nos um exemplar de sua ldquoChorographia do Brazilrdquo o qual agradecemos Neste genero de trabalhos raramente temos visto obra que tatildeo acertada para o ensino esteja ao mesmo tempo bem enxertada de notas e observaccedilotildees criteriosas colhidas com real estudo (Folha Popular 23Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 VI)

Fragmento 6319

O Sr R Villa-Lobos teve a gentileza de nos enviar um exemplar da 2ordf ediccedilatildeo do seu trabalho ndash ldquoCompendio Elementar de Chorographia do Brazilrdquo [] Elementar denomina-o o autor na sua infundada modestia noacutes porem pedir-Ihe-iamos licenccedila para substituir esse quaIificativo por outro que melhor cabido fosse [] Desenvolvido como estaacute o estudo da Chorographia

patria feito pelo autor adaptado aos modernos processos em uso nas escolas seraacute de grande utilidade aacutequelles que procurarem adquirir conhecimentos em fontes insuspeitas fiados no criterio e idoneidade dos autores das obras em que estudam (Democracia 11Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 V)

Fragmento 63110

O Compendio estaacute na 2ordf ediccedilatildeo o que quer dizer que jaacute estaacute criticado [] O autor dum livro em segunda ediccedilatildeo soacute poacutede pedir uma critica juntando a certidatildeo de que distribuiu a primeira tiragem pelos seus numerosos amigos (Correio do Povo 18Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 V)

Fragmento 63111

A cIassificaccedilatildeo dos materiaes contidos na chorographia foi feita com regularidade sendo os varios Estados reunidos em uma parte especial para a analyse geographica e historica de cada um [] Se alguns reparos podem ser feitos a obrinha do Sr Villa-Lobos satildeo basear as informaccedilotildees politicas na Constituiccedilatildeo ainda natildeo decretada e amontoar notas sobre notas no estudo geologico botanico e zoologico do Brazil Natildeo ha duvida que em serem completos natildeo se excIue nos compendios a qualidade didactica da concisatildeo [] Sob pontos scientificos ainda se poderia reparar na acceitaccedilatildeo que faz o Sr Villa-Lobos da velha e decahida denominaccedilatildeo de ldquoraccedila caucasianardquo na falta de notas e observaccedilotildees no que respeita a raccedila negra que sem duvida cruzou mais com o ibeacuterico do que o aborigene na repe-ticcedilatildeo de varios erros de Macedo e do Sr Moreira Pinto Entretanto o que ninguem negara eacute que pela copia de observaccedilotildees pelo cuidado da forma pela boa divisatildeo dos assumptos o livro do Sr Villa-Lobos fez-se credor de animaccedilatildeo [] (Folha Popular 23Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 VI)

Na anaacutelise da obra de Villa-Boas (1901) o sujeito autor considera precipitada a

incorporaccedilatildeo do desenho poliacutetico ainda natildeo garantido pela Constituiccedilatildeo e faz

ressalva ao excesso de notas geoloacutegicas botacircnicas e zooloacutegicas o que ao ver do

sujeito sacrifica a ldquoqualidade didactica da concisatildeordquo (F63111) Acusa a ausecircncia

de consideraccedilotildees sobre a ldquoraccedila negrardquo (F63111) na constituiccedilatildeo do povo brasileiro

continuaccedilatildeo de um erro que o sujeito demonstra conhecer na tradiccedilatildeo da

bibliografia pois remete-o com conhecimento e propriedade a Macedo e a Moreira

Pinto dois autores de destaque no cenaacuterio da bibliografia Natildeo deixa contudo que

esses desvios sejam desmerecimento agrave obra

O sujeito autor e a obra didaacutetica portanto dados agraves especificidades de uma

disciplina dependiam tambeacutem da construccedilatildeo de uma imagem que os qualificasse e

os percebesse como sujeitos autorizados desses discursos As proacuteprias obras em

seus cabeccedilalhos auxiliam nessa produccedilatildeo embora igualmente fosse importante o

papel da imprensa como baliza referencial sobre os valores de autores e obras

632 A identidade e a legitimidade da disciplina

Uma das regularidades discursivas que atravessam os discursos do entorno

e os discursos introdutoacuterios da bibliografia menciona a questatildeo da importacircncia e por

conseguinte da identidade e da legitimidade escolar dos conhecimentos

geograacuteficos

Esses discursos argumentam sobretudo sua utilidade individual e coletiva

na formaccedilatildeo do educando Dentre as principais linhagens nesse sentido destacam-

se a menccedilatildeo ao desenvolvimento da Geografia nos paiacuteses civilizados agrave variedade

de assuntos aos quais se interliga o saber geograacutefico ao serviccedilo que presta agraves

praacuteticas profissionais e aos interesses da naccedilatildeo ao desenvolvimento intelectual do

estudante ao serviccedilo auxiliar agrave compreensatildeo e ao aprendizado da Histoacuteria ao

conjunto de conhecimentos de interesse e curiosidade do educando

O modelo de intelectualidade brasileiro tendo muita influecircncia de paiacuteses

como Inglaterra Alemanha Estados Unidos e sobretudo Franccedila situou nesses

lugares suas referecircncias para o ensino de Geografia

Hoje que o estudo da Geographia vai tornando um desenvolvimento immenso em todos os paizes civilisados que a consideram com razatildeo um dos conhecimentos mais importantes e essenciaes para a prosperidade e forccedila de uma naccedilatildeo julgamos que tambem no Brazil que se ufana de ser a primeira naccedilatildeo em todos os sentidos da America do Sul e uma das mais civilizadas do globo este estudo deveria tomar maior incremento e natildeo contentar-se com os pequenos compendios que satildeo geralmente adoptados Sirva de exemplo a Franccedila cujas recentes calamidades reconhecem todos serem devidas em parte aos poucos conhecimentos da Geographia quanto poreacutem natildeo se applica ella hoje a desenvolvel-os e espalhal-os por todas as classes da sociedade Prescindindo das grandes obras que vai diariamente publicando que excellentes compendios satildeo os que ella adopta em suas escolas Basta citar os nomes de seus autores Cortambert Levasseur Pigeonneau Dussieux Greacutegoire Sardou etc Todos elles datildeo sufficiente desenvolvimento aacutes differentes partes da Geographia aacute parte astronomica physica politica economica e historica Eacute que ldquoa Geographiardquo como bem diz o Sr Levasseur ldquodiffere muito duma nomenclatura ella deve penetrar quanto e possivel o segredo das leis physicas politicas e economicas de que os factos geographicos satildeo a manifestaccedilatildeo e eacute assim que deve ser comprehendida e estudada Por mais compendioso que seja este ensino eacute de necessidade ter sempre em vista provocar a reflexatildeo dos estudantes e desenvolver a sua intelligencia ao menos tanto como a sua memoria Cada nome deve quanto focircr possivel ser acompanhado dum traccedilo descriptivo que interesse a intelligencia e aacute imaginaccedilatildeordquo 0 que noacutes aqui dizemos da importacircncia que hoje em Franccedila se daacute aos estudos geographicos natildeo eacute bastante comparado com o que se passa na Allemanha na Inglaterra e nos Estados-Unidos paizes poderosissimos e mui florescentes que marcham a testa da civilisatildeo moderna (O autor 1880 LACERDA 1898 p 2)

Nesse fragmento o sujeito vincula a importacircncia do ensino geograacutefico ao

amadurecimento das naccedilotildees ldquocivilizadasrdquo indicando essa educaccedilatildeo como caminho

idecircntico para o Brasil proclamado a primeira naccedilatildeo real da Ameacuterica do Sul No

fragmento seguinte o sujeito situando os estudos geograacuteficos na Terra e no

Homem ressalva a variedade ofertada por esses conhecimentos igualando-as em

niacutevel de necessidade a outros saberes escolares consolidados e de importacircncia

pouco questionaacutevel ndash a matemaacutetica e as ciecircncias naturais

Fragmento 6321

De todos os estudos destinados a preparar a intelligencia aquelle que se occupa da Terra e do Homem eacute o que naturalmente maior variedade de aspectos nos offerece Interessante pois mais que qualquer outra essa mesma disciplina torna-se ao mesmo tempo um conhecimento hoje tatildeo imprescindivel como a mathematica e as sciencias naturaes quer para os cursos academicos quer para as necessidades praticas da vida (O autor ALI 1905 p III)

Fragmento 6322

Eacute a Geographia que ensina a Historia a influencia das condiccedilotildees topographicas e climatologicas sobre o desenvolvimento das populaccedilotildees etc a Economia politica a Diplomacia o estado actual dos recursos de cada paiz na paz ou na guerra a Arte militar as estradas estrategicas favoraveis a marcha dos exercitos as Administraccedilotildees civil ecclesiastica aos viajantes aos missionarios aos naturalistas etc a posiccedilatildeo das mais pequenas localidades e os meios de communicaccedilatildeo entre as diversas partes dum paiz (Aleixo M G FIC 1902 p X)

Os saberes satildeo relevados pelo sujeito considerando tanto sua perfomance

acadecircmica quanto ldquoas necesssidades praticas da vidardquo As tais praacuteticas da vida eacute

bem evidenciada em niacutevel de preparaccedilatildeo profissional no seguinte fragmento

[] convem pois que o moccedilo ao sahir do collegio e preparando-se para qualquer carreira no commercio na administraccedilatildeo na diplomacia na arte militar nas missotildees religiosas ou scientificas esteja apto para aproveitar de todos os recursos que datildeo os conhecimentos geographicos e cartographicos Nada prova melhor a importancia pratica que se liga a esta especialidade do que as numerosas Sociedades de Geographia das quaes muitas de Geographia commercial e de Topographia fundadas depois de guerra franco-allematilde de 1870 em todos os paizes do mundo civilisado (Aleixo M G FIC 1902 p XI)

A multiplicaccedilatildeo das sociedades geograacuteficas europeias no contexto da expansatildeo das

poliacuteticas neocolonialistas atesta ao sujeito o niacutevel de relevacircncia adquirida pela

Geografia pois como evidencia o lexema central dessa enunciaccedilatildeo esses saberes

fornecem recursos aproveitaacuteveis no acircmbito de qualquer atuaccedilatildeo profissional

O ensino da Geographia como o de qualquer outra especialidade tem um duplo fim um theorico ou educativo que eacute o desenvolvimento das faculdades do disciacutepulo o outro pratico ou utilitario que consiste em fornecer ao alumno os conhecimentos de que possa precisar no correr da vida [] natildeo eacute mais permittido no nosso seculo de positivo desconhecer a necessidade absoluta desta sciencia que eacute a base ou a chave da maior parte dos conhecimentos humanos historicos politicos physicos naturaes etc (Aleixo M G FIC 1902 p X)

Apesar de boa parte dos estudiosos da educaccedilatildeo e mesmo seus

propositores indicar a feiccedilatildeo aacuterida e maccedilante que comumente acompanhava o

ensino da Geografia descritiva sempre houve vozes a afirmarem o contraacuterio

expondo atrativos inerentes a esse saber Delgado de Carvalho (1925)

responsabiliza os compecircndios mal feitos ou utilizados inadequadamente pela

distorccedilatildeo do ensino geograacutefico Essa criacutetica natildeo eacute exclusiva da educaccedilatildeo brasileira

podemos encontrar Piotr A Kropotikin (1842-1922) em uma abordagem claacutessica do

ensino de Geografia publicada em 1885 fazendo uma anaacutelise interessante dessa

relaccedilatildeo de respulsaatraccedilatildeo no contexto do ensino geograacutefico

Realizaram-se pesquisas e descobriu-se com estupor que haviacuteamos conseguido que esta ciecircncia ndash a mais atrativa e sugestiva para pessoas de todas as idades ndash resulte em nossas escolas como um dos temas mais aacuteridos e carentes de significado Nada interessa tanto agraves crianccedilas como as viagens e nada eacute mais aacuterido e menos atrativo em muitas escolas que aquilo que nelas eacute batizado com o nome de Geografia [] Eacute quase seguro que natildeo existe outra ciecircncia que possa tornar-se tatildeo atrativa para a crianccedila como a Geografia e que possa se constituir num poderoso instrumento para o desenvolvimento geral do pensamento assim como para familiarizar o estudante com o verdadeiro meacutetodo de investigaccedilatildeo cientiacutefica [] (KROPOTKIN 1986 p 2-3)

Tambeacutem a bibliografia se pronuncia a respeito

Fragmento 6323

Ao percorrer o Curso Especial comprehendiamos melhor do que nunca uma verdade ha muito esquecida eacute que a geographia natildeo eacute uma nomenclatura arida mas sim a introduccedilatildeo natural do conhecimento de muitos factos e dados physicos astronomicos historicos industriaes commerciaes e ate litterarios Ninguem melhor que o auctor desta obra conhece o meio de facilitar a assimilaccedilatildeo das noccedilotildees connexas aacute geographia recorrendo alternadamente aacute memoria aacute vista aacute imaginaccedilatildeo dos alumnos e aacutes reproducccedilotildees de mappas que se acham como um ponto

essencial em seu methodo (De La Vallee-Poussin Professor de geologia da universidade de Louvain Extrahido da Revista das Questotildees Scientificas de Bruxellas FIC 1902 p VI)

Fragmento 6324

Entretanto a geografia eacute uma ciencia amavel de suave e amena aprendizagem que desperta como verifiquei sempre em meu tirociacutenio profissional o interesse do educando Basta que a orientemos convenientemente e sagazmente (o autor MENNUCCI 1936 p 7)

No fragmento 6323 o sujeito apresenta o conhecimento geograacutefico natildeo como um

fim em si ou melhor como uma disciplina atenta aos seus objetivos estes

componenentes da proposiccedilatildeo geral do ensino antes vendo-o como um

conhecimento introdutoacuterio a serviccedilo de outros saberes Infere-se em seu dizer que

esse saber de princiacutepios natildeo seria uma nomenclatura aacuterida se o ensino recorresse

ldquoalternadamente aacute memoria aacute vista aacute imaginaccedilatildeordquo bem como aos ldquomappasrdquo

No seacuteculo XIX usualmente natildeo se reconhecia um meacutetodo de ensinar e

aprender que natildeo centrasse na memoacuteria sua organicidade e mesmo fim deslocando

sua funccedilatildeo de ser parte de qualquer atividade de estudo Mas para a Geografia o

sujeito exige mais a realidade como componente (lexema ldquovistardquo) aleacutem da

ldquoimaginaccedilatildeordquo e da representaccedilatildeo de todos os fatos ldquomapasrdquo havendo estas quatro

vertentes metodoloacutegicas a aprendizagem natildeo seria aacuterdua aacuterida

No fragmento 6324 o sujeito se vale de sua experiecircncia docente para

construir uma imagem do ensino geograacutefico qualificando-o como um aprendizado

suave e ameno de uma ciecircncia amaacutevel a orientaccedilatildeo do professor entra neste

debate como diferencial na forma da disciplina ser percebida Haacute relatos como

demonstrarei ao final deste capiacutetulo de que o ensino geograacutefico podia ser tedioso ou

apaixonante na dependecircncia de como fosse regido pelo professor O problema

todavia residia na geral falta de preparaccedilatildeo de professores sem instituiccedilotildees e

orientaccedilotildees apropriadas para formarem professores de Geografia

633 Os sujeitos da recepccedilatildeo enunciativa

Agrave primeira vista pode-se pensar que obras didaacuteticas satildeo escritas para o

ensino e para a aprendizagem o que eacute um fato demonstrado jaacute nessa anaacutelise as

obras iniciais tinham uma preocupaccedilatildeo em indicar uma seleccedilatildeo de puacuteblico o que

com o tempo passou a natildeo ser um uso em face da constituiccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da

disciplina Os alunos os professores os pais ou determinados puacuteblicos eram

apontados como leitores e estudiosos da bibliografia

Contudo encontramos de igual modo com certa frequecircncia outro

funcionamento dos livros didaacuteticos de Geografia a de serem uma referecircncia cultural

fora do ambiente escolar

O compendio de chorographia de Scrosoppi eacute uma excellente obra que se recommenda natildeo soacute para as escolas como para occupar um logar distincto entre os livros de referencia dos jornalistas commerciantes e homens de letras Tolere o illustre professor uma suggestatildeo nossa accrescente em proacutexima ediccedilatildeo um capitulo sobre a historia dos tratados de limites e teraacute augmentado enormemente o jaacute grande valor de seu trabalho (Correio Paulistano 14051908 SCROSOPPI 1911 p IV)

Os livros didaacuteticos em relaccedilatildeo aos dicionaacuterios e tratados geograacuteficos

diferenciavam-se em primeiro lugar por expressar uma sistematizaccedilatildeo mais concisa

e objetiva e em segundo lugar por serem mais atualiados pois publicados com

mais frequecircncia reeditados e atualizados se comparados a outras obras referenciais

da Geografia Daiacute a recomendaccedilatildeo exortada pelo sujeito para que o compecircndio em

anaacutelise assuma esse lugar Em outro local assim se pronuncia o sujeito

E por nossa parte temos a ldquoChorographiardquo aqui aacute mao para as informaccedilotildees de que porventura precisemos no tocante a geographia e aacute historia nacionaes (Folha Popular 23Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 VI)

Esse tipo de observaccedilatildeo eacute bastante regular nos discursos do entorno da bibliografia

sobretudo vindos da imprensa haacute traccedilos discursivos indicando que os livros

didaacuteticos de Geografia servem como obras de referecircncias para os jornalistas os

criacuteticos os intelectuais o que faz com que o uso da bibliografia supere os limites das

classes escolares

634 A relaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia com os curriacuteculos e programas

Em geral os curriacuteculo e programas e o discurso didaacutetico sempre tiveram

uma relaccedilatildeo de aproximaccedilatildeo Em periacuteodos de estabilidade tem-se uma relaccedilatildeo com

poucos conflitos Certamente haacute discursos com discordacircncia e novas propostas mas

nunca no sentido de uma anulaccedilatildeo completa o curriacuteculo eacute uma base soacutelida que

transforma-se com o tempo com acreacutescimos supressotildees e reoganizaccedilatildeo

permanecendo elementos intactos nessa trajetoacuteria Em uma educaccedilatildeo regida pelo

Estado determinada por sua legislaccedilatildeo regrada pelos exames de admissatildeo

naturalmente os programas se impotildeem como paradigma de regecircncia e

normatizaccedilatildeo

Diferentemente da bibligrafia didaacutetica atual a conformaccedilatildeo dos manuais do

periacuteodo em anaacutelise com a proposiccedilatildeo curricular era quase uma obrigaccedilatildeo a ponto

dessa relaccedilatildeo ser anunciada nos tiacutetulos ou em lugares de destaque na capa folhas

de rosto e nos discursos do entorno tal como vemos no Fragmento 6126

Elementos de Geographia universal geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infacircncia escolar da provincia de Pernambuco de conformidade com o programma da lei n 1143 art 33 sect 7ordm que rege a instruccedilatildeo na proviacutencia (PINHEIRO 1875)

A execuccedilatildeo estrita de um programa agraves vezes era lembrada durante o

aparecimento de uma obra como diferencial em relaccedilatildeo agraves demais

Fragmento 6341

Como se vecirc pela nomenclatura das liccedilotildees eacute o uacutenico compendio que existe actualmente para o ensino especial da geographia do nosso paiz pois desenvolve toda a materia exigida pelo programma sendo de notar que eacute illustrado com numerosas e magnificas gravuras o que contribue muito para realccedilar-lhe o valor (Diaacuterio Popular 20041908 SCROSOPPI 1911 p IV)

Fragmento 6342

Escripto com methodo e clareza abrange todo o programma dessa materia do 3ordm anno gymnasial (Diaacuterio Popular 20041908 SCROSOPPI 1911 p III)

Informaccedilotildees como essas divulgadas na imprensa certamente provinham de

releases que os autores e editores faziam acompanhar os exemplares

encaminhados para divulgaccedilatildeo

Nesse periacuteodo como aferido antes foi predominante a ediccedilatildeo de volumes

uacutenicos para todas as seriaccedilotildees devendo atender assim programas de

Cosmografia Geografia Fiacutesica Geografia Poliacutetica geral e corograacutefica aleacutem de

modalidades diversas como os estudos claacutessicos os estudos cientiacuteficos o ensino

teacutecnico o normal De forma que o curriacuteculo executado pelo autor correspondia natildeo

necessariamente agrave exigecircncia de um ou de outro programa mas a um amaacutelgama

deles A diferenciaccedilatildeo mais marcante talvez tenha sido a separaccedilatildeo de manuais

para o ensino primaacuterio e secundaacuterio

Dado isso o posicionamento entre discurso e curriacuteculo proposto eacute sempre

claro

Perfeitamente a par dos programmas de ensino dos nossos estabelecimentos de educaccedilatildeo procurei escrever sempre de accordo com elles quanto aos assumptos e sua dosagem Assim este livro serviraacute ao ensino normal e profissional e ao dos Gimnasios existentes nesta capital e nos Estados Defeitos e lacunas tel-os-a necessariamente como toda obra humana mas conto me seratildeo elevados pelos competentes que bem sabem quanto custam trabalhos desta natureza Enfim fiz o que pude faccedilam melhor os que puderem (O autor BITTENCOURT 1907 p 01-02)

No fragmento acima o dizer do sujeito explicita essa conformaccedilatildeo em que

demonstra a orientaccedilatildeo de sua escrita E o faz porque assim poderaacute atender

segmentos diferenciados da educaccedilatildeo de base o normal os cursos teacutecnicos e os

ginaacutesios A impaciecircncia e certo aborrecimento do sujeito no trato da questatildeo ndash ldquofiz o

que pude faccedilam melhor os que puderemrdquo ndash indiciam as cobranccedilas para que as

obras tivessem adequaccedilatildeo aos curriacuteculos propostos Mas precisando agradar

gregos e troianos nenhuma obra chegava a afeiccediloar-se agraves necessidades

especiacuteficas de cada segmento do ensino de Geografia

Essa realidade passou por alguma mudanccedila a partir dos anos 1930 quando

as diretrizes da educaccedilatildeo ensaia a seriaccedilatildeo em um modelo que seria quase

definitivo daiacute em diante

Fragmento 6343

Logo que o novo programma de ensino foi publicado em julho de 1931 como consequencia logica da reforma levada a efeito pelo Governo Provisorio o professor Dr Mario da Veiga Cabral iniciou a publicaccedilatildeo de uma seacuterie de volumes rigorosamente de accocircrdo com esses novos programmas na parte que diz respeito aacute Geographia que eacute hoje estudada nos cinco anos do curso (A Noite 18041933 CABRAL 1935 p 298)

Fragmento 6344

Agora com a uacuteltima reforma do ensino secundaacuterio e de acordo com o actual programma o sr Mario da Veiga Cabral propoz-se um trabalho que vem executando sem desfallecimentos mantendo em toda a obra o mesmo brilho de explanaccedilatildeo dos pontos e da clareza de estylo a ser assimilado pelo estudante (A Paacutetria 12041933 CABRAL 1935 p 295)

Fragmento 6345

Por ter o novo programma de ensino publicado no Diario Oficial de 31 de Julho de 1931 dado nova orientaccedilatildeo ao estudo da Geographia que passou a ser feito nas cinco series do curso pediu-me a livraria Jacintho naquela mesma data que organizasse uma seacuterie geographica de cinco volumes de maneira a corresponder cada um programma da serie a que se destina (O autor CABRAL 1935 p 1)

Como mencionado anteriormente Cabral foi pioneiro em atentar para essa

divisatildeo escrevendo e publicando obras para cada ano do ensino Com isso

ganhava espaccedilo para desenvolver mais apropriadamente os conteuacutedos em uma

proposta que natildeo deixava de ser interessante na perspectiva editorial No F6345 o

sujeito deixa claro ter partido de sua editora a Livraria Jacintho o pedido para

operar por seriaccedilatildeo

635 Enfrentamentos das traduccedilotildees fontes e lacunas do discurso didaacutetico de Geografia

O discurso didaacutetico da Geografia concentrado na bibliografia em anaacutelise

realiza-se plenamente com rariacutessimas exceccedilotildees por uma heterogeneidade

constitutiva ou seja por um dizer onde o Outro eacute apagado ou silenciado (AUTHIER-

REVUZ 2004) Isso significa que as fontes natildeo satildeo realmente reveladas

procedimento comum a uma heterogeneidade mostrada na qual o sujeito cede a

palavra ao Outro no acircmbito da sua enunciaccedilatildeo O principal efeito de sentido desse

ato eacute o efeito de autoridade criado por esse tipo de enunciaccedilatildeo ndash processo que

denominei de bloco discursivo liso uma superfiacutecie de dizer criada para natildeo suscitar

duacutevidas sobre quem diz e sobre o que esse sujeito diz sendo que isto vem a ser a

sustentaccedilatildeo do discurso didaacutetico como um todo

De forma muito indireta referecircncias agraves fontes satildeo encontradas nos

discursos do entorno mesmo assim sem especificaccedilotildees agraves obras e muito

raramente com indicaccedilotildees de um ou outro autor O mais comum eacute a referecircncia a

tipologias de fontes

Penetrado pois da importancia do estudo da Geographia para o presente e mormente para o futuro o autor applicou-se seacuteriamente a fazer um compendio claro methodico e ao mesmo tempo completo que sirva a diffundir no Brazil o gosto por este tatildeo util ramo dos conhecimentos humanos Para que o trabalho sahisse o mais exacto possivel foram consultadas as melhores obras que sobre a materia tem apparecido na Europa e na America e pelo que diz respeito a estatistica serviram de guia os documentos officiaes e as mais autorizadas das obras especiaes Espera pois o autor que este seu trabalho seraacute bem acolhido pelos Srs Professores e Directores de Collegios (O autor 1880 LACERDA 1898 p 2-3)

Encontram-se aiacute algumas tipologias de fontes com qualificaccedilotildees adjetivas

ldquomelhores obrasrdquo da Europa e da Ameacuterica a ldquoestatistica oficialrdquo ldquodocumentos

officiaesrdquo Resguardado pela autoridade dos melhores dos especiais e da

oficialidade o sujeito propotildee seu discurso ldquoclaro methodico e ao mesmo tempo

completordquo Sem aclarar suas bases e referecircncias daacute como suficiente saber-se que

suas fontes satildeo fidedignas e autorizadas de boa procedecircncia

A questatildeo da atualidade de um manual didaacutetico de Geografia que se alinha

de perto agrave disponibilidade das fontes era crucial O livro de Gaulthier traduzido e

muito adotado no Brasil eacute exemplo do extremo a que se executou esse assunto

Sendo uma obra comercial no sentido de ter acolhida e tradiccedilatildeo nas instituiccedilotildees

escolares continuou a ser editada apoacutes o desaparecimento do seu autor A cada

nova ediccedilatildeo havia novas mudanccedilas ndash acreacutescimos supressotildees ndash de forma a restar

da ediccedilatildeo original resguardados os exageros apenas o tiacutetulo como

orgulhosamente relatam os tradutores portugueses os quais contribuiacuteram para esse

processo com suas emendas sobretudo por dever a traduccedilatildeoadaptaccedilatildeo contemplar

com destaque duas nacionalidades pouco evidenciadas no original ndash a portuguesa e

a brasileira

A obra que hoje damos a luz natildeo eacute propriamente uma nova ediccedilatildeo da Geographia de Gaultier mas um livro inteiramente refundido e verdadeiramente novo como o poderaacute julgar quem quizer comparal-o com a primeira ediccedilatildeo publicada em 1838 Desde entatildeo a obra original foi reimpressa em Franccedila muitas vezes e cada uma dellas com notaveis mu-danccedilas assim que quando quizemos no momento de emprehender a nossa actual publicaccedilatildeo comparar ambas as ediccedilotildees e tomar nota das emendas e additamentos que se haviam feito achamo-nos com um livro em que do primeiro apenas restava o titulo Natildeo contentes porem de operar em nossa traduccedilatildeo igual transformaccedilatildeo ajudando-nos com os trabalhos dos melhores geographos fomos em descoberta das omissotildees ou erros que houvessem podido escapar aos saacutebios autores do nosso modelo e n essa parte tivemos tambem que fazer natildeo poucas emendas As mudanccedilas politicas que sobrevieram durante a impressatildeo foram por nos cuidadosamenle registradas A populaccedilatildeo de todas as cidades importantes foi indicada em seu correspondente lugar em fim nada se omittio para que a presente obra esteja ao nivel dos conhecimentos geographicos actuaes [] Natildeo foi menor o nosso esmero na parte que nos eacute exclusivamente propria queremos dizer no que respeita a Portugal e ao Brazil Assim que o leitor acharaacute as divisotildees administrativa judicial ecclesiastica etc do reino de Portugal redigidas segundo os documentos mais recentes e authenticos [] A descripccedilatildeo do Brazil que natildeo occupava senatildeo oito paginas da primeira ediccedilatildeo tem na presente perto de quarenta aleacutem de outros additamentos que fizemos em differentes partes do volume principalmente nas liccedilotildees em que se explica o curso dos rios principaes do Brazil [] Julgamos que os outros paizes da America tatildeo summariamente tratados na ediccedilatildeo franceza mereciam maior attenccedilatildeo em uma obra destinada em grande parte para leitores americanos Por tanto toda esta parte e especialmente a que diz respeito aacutes republicas da America meridional vai descripta com uma extensatildeo que se natildeo acharaacute certamente em nenhuma obra da mesma classe nem mesmo em algumas de maior volume [] Esperamos pois que o leitor acolhera favoravelmente um livro em que se natildeo poupou nem trabalho nem despeza para que seja digno da sua estima e possa preencher o fim a que nos propuzemos (Os tradutores GAULTIER 1878 p I-II)

A Geografia eacute um saber dinacircmico sujeito agraves leis da natureza e agraves forccedilas da Histoacuteria

e os que lidavam com os conhecimentos geograacuteficos sempre tiveram uma

percepccedilatildeo desse fato observaacutevel ateacute no calor da impressatildeo das obras como

evidencia a seguinte sequecircncia discursiva ldquoAs mudanccedilas politicas que sobrevieram

durante a impressatildeo foram por nos cuidadosamenle registradasrdquo O sujeito da

enunciaccedilatildeo abaixo explicando as circunstacircncias da reediccedilatildeo de sua obra menciona

que apenas em sua segunda ediccedilatildeo pocircde dar por terminadas ou

momentaneamente estabilizadas as questotildees poliacuteticas (e sua regionalizaccedilatildeo) que

grassaram a Europa apoacutes o teacutermino da I Guerra Mundial anos 1920 adentro

Pouco mais de um anno decorrido da 1ordf faz-se 2ordf ediccedilatildeo desta obra prova de que o assumpto natildeo desagradou Quasi todos os institutos de ensino commercial e mesmo muitos gymnasios do Brasil a adoptaram Generosa alviccedilareira foi a recepccedilatildeo pela imprensa e pela critica Drsquoesta

accolhemos as opinioes sensatas fazendo na presente ediccedilatildeo algumas emendas [] Pudemos emfim terminadas as mais azedas querellas da Europa determinar-Ihe a moderna geographia coisa impossivel no momento de encerrar a 1ordf Ediccedilatildeo (O autor 19-2-1924 XAVIER 1929 p 6)

Retornando ao fragmento anterior nota-se que esse documento demonstra ainda

as dificuldades que os tradutores de Gaulthier enfrentavam ao lidar com um

discurso eminentemente nacional ou nacionalista (no caso francecircs) tendo

portanto que atender a uma demanda natildeo contemplada nos originais procedendo

da forma que foi comum aos tradutores de compecircndios geograacuteficos ndash com

acreacutescimos e adaptaccedilotildees ldquoA descripccedilatildeo do Brazil que natildeo occupava senatildeo oito

paginas da primeira ediccedilatildeo tem na presente perto de quarenta aleacutem de outros

additamentos que fizemos em differentes partes do volumerdquo Para essa realizaccedilatildeo

novamente os tradutores se posicionam frente agraves fontes por tipologia natildeo as

indicando ldquoredigidas segundo os documentos mais recentes e authenticosrdquo

No fragmento abaixo o sujeito revelando duas das fontes do autor Jean

Brunhes e Paul Vidal De La Blache contextualiza a obra em sua filiaccedilatildeo agrave

orientaccedilatildeo moderna da Geografia introduzida anos antes por Delgado de Carvalho

Foi seguindo essa orientaccedilatildeo (a moderna orientaccedilatildeo de Jean Brunhes e Vidal Lablache [sic]) que o distincto professor Sr Lindolpho Xavier escreveu este compendio de Geographia Commercial em que com a sua reconhecida competencia estuda no conjuncto dos factores cosmicos o Homem principal factor das riquezas O trabalho eacute quasi novo aleacutem de tudo utiIissimo pois que abrange uma longa serie de conhecimentos praticos e opportunos que visam como bem diz o auctor encaminhar os negocios publicos e particularcs na direcccedilatildeo universal A situaccedilatildeo geral do mundo neste momento as condiccedilotildees do Brasil como paiz de agricultura os grandes problemas da industria e do trabalho ainda dependentes de soluccedilatildeo em consequencia da crise universal - tudo isso concorre para tomar tresdobradamente util e interessante o admiravel trabalho do Sr Lindolpho Xavier (Osorio Duque Estrada Registro Literario Jornal do Brasil 30-9-1922 XAVIER 1929 p 654)

Nesse novo contexto era possiacutevel ao sujeito trabalhar toacutepicos antes pouco

relevantes como os problemas sociais e econocircmicos matriz que a partir dos anos

1920 separaraacute o ldquojoio do trigordquo isto eacute faraacute decair as geografias das nomenclaturas

descritivas e ascender as que apresentassem um discurso inovado

O sujeito abaixo reconhece que para empreender seu discurso compulsou

ldquoinuacutemeras obras alheiasrdquo agraves quais opta natildeo citar apenas destacando os trabalhos

de um comissatildeo do Estado de Satildeo Paulo

Na confecccedilatildeo deste trabalho foi mister como se compreende compulsar inuacutemeras publicaccedilotildees alheias afim de que as afirmaccedilotildees pudessem ser convenientemente controladas Natildeo vou referir-me a tudo quanto consultei mas natildeo quero deixar de fazer uma citaccedilatildeo especial dos excelentes trabalhos da antiga Comissatildeo Geografica e Geologica do Estado hoje reconstituiacuteda como Departamento Geografico e Geologico os quais me foram de grande ajuda na elaboraccedilatildeo do volume e aos quais todos devem conhecer se quiserem ter uma idea exata do Estado de Satildeo Paulo (o autor MENNUCII 1936 p 6)

Este outro sujeito indica agrave sua retarguada o trabalho de outros dois autores

didaacuteticos aleacutem de mais alguns geoacutegrafos alguns tambeacutem autores brasileiros e

estrangeiros

Aleacutem das sabias liccedilotildees dos notaacuteveis mestres Sra D Evangelina Fontella e Sr Olavo Freire serviram-me de guia na elaboraccedilatildeo deste livrinho os tratados e atlas de conhecidos geoacutegrafos como o baratildeo Homem de Mello Carlos de Novaes F Bittencourt Veiga Cabral e outros aleacutem de alguns trabalhos de Liais Gorceix Cruls etc (o autor ESTRADA 1928 p 7)

Os sujeitos editores e autores utilizam os discursos do entorno (no qual

igualmente se pronuncia a respeito a imprensa) tambeacutem para demonstrar certa

inseguranccedila sobre a correccedilatildeo de muitos aspectos das obras ndash satildeo as falhas de

fontes comumente se pronunciando a respeito

Um dos estudos mais difficeis entre noacutes se o quizermos fazer conscienciosamente eacute ndash cousa inacreditaacutevel ndash o da nossa geographia Difiacutecil e ingrato O estudioso dessa especialidade tem de esbarrrar com a falta quase absoluta de dados officiaes e estatiacutesticos natildeo tivemos ainda um recenseamento que merecesse eterna feacute e sobre o qual nos pudeacutessemos basear com seguranccedila No que diz respeito aacutes vinte grandes circunscriccedilotildees em que se divide o territoacuterio soacute o Rio Grande do Sul tem os seus limites fixados sem contestaccedilatildeo Os rios mesmo os mais importantes natildeo estatildeo bem estudados satildeo ainda mal conhecidos e das nossas serras e montanhas em geral natildeo se pode dizer que imperfeitamente conhecida [] E tudo o mais eacute assim [] Ora se o estudo da nossa descurada geographia apresenta taes e tantas difficuldades quatildeo mais difficil natildeo ha de ser escrever uma Chorographia do Brasil O professor que se abalanccedilar a uma tal empreza a menos que se natildeo contente em copiar atrazados falhos e errados compecircndios em voga natildeo pouco trabalho teraacute para fazer obra acceitavel obra de consciecircncia producto de esforccedilos e estudos geographicos bebidas as informaccedilotildees em fontes puras ndash que ainda as ha (posto que poucas) em muitos pontos essenciaes [] E por isso natildeo

hesitaremos em affirmar que os livros que temos para os estudos da nossa geographia seriam bem melhores se os auctores e editores em cada nova ediccedilatildeo procurassem pol-os em dia ao menos em alguns pontos bastava compulsarem para tanto os relatoacuterios dos ministerios e se informarem na hoje excellente reparticcedilatildeo de estatiacutestica que jaacute possuiacutemos Os dados sobre o commercio (importaccedilatildeo e exportaccedilatildeo) industria viaccedilatildeo feacuterrea telegraphos portos geographia economica etc etc teriam a exactidatildeo desejavel e o nosso caro Brasil assim melhor estudados teria tudo a lucrar Aqui bem ao inverso do que em toda a parte se observa o que menos se estuda em geographia eacute o proacuteprio paiz (Neckwer Vozes de Petroacutepolis julho de 1909 SCROSOPPI 1911 p IX-X)

Este sujeito pronunciando da imprensa enuncia uma realidade paupaacutevel

que permanentemente afligiu e pertubou os autores didaacuteticos desta disciplina as

incoerecircncias e incompletudes da estatiacutestica oficial a insolidez da regionalizaccedilatildeo dos

territoacuterios nacionais aleacutem de outras incertezas Evidencia a bibliografia geograacutefica

didaacutetica ou natildeo como atrasada falha e errocircnea a se orientar portanto em poucas

fontes confiaacuteveis Acusa ainda a linhagem ativa das ediccedilotildees de recolocarem-se no

mercado sem atualizaccedilotildees devidas embasadas por exemplo nos relatoacuterios

ministeriais ndash embora inicie sua fala alertando para a ineficaacutecia destas fontes No

todo cabia ao sujeito autor lamentar essa inseguranccedila nunca demonstrada nas

superfiacutecies discursivas

Andamos pois aacutes cegas no que diz respeito aacute populaccedilatildeo movimento commercial industrial e econocircmico tendo necessidade de catar aqui e ali em fontes diversas e deficientes informaccedilotildees que nos guiem em meio do cipoal de incertezas em que nos debatemos em busca da verdade (O Autor BITTENCOURT 1916 p 3)

Pois se nos discursos do entorno ainda haacute indicativos desses problemas o mesmo

natildeo acontece no corpo discursivo das obras sempre afirmativas plenas de certezas

Esse discurso eacute reforccedilado por muitos outros sujeitos

A lamentavel deficiecircncia e o incorrigiacutevel atraso da nossa estatistica oficial que nem siquer conseguiu ateacute hoje determinar ao certo qual a populaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro natildeo me permittiram assentar dados seguros e incontestaveis acerca das populaccedilotildees e superfiacutecies de alguns estados do Brasil Nesse ponto nada temos de positivo variando as opiniotildees conforme os autores (o autor ESTRADA 1928 p 8)

Como natildeo teria custado ao autor juntar estatiacutestica neste paiz em que a estatistica eacute descurada (Correio Paulistano 14051908 SCROSOPPI 1911 p IV)

Ocorria de agraves vezes se agradecer a contribuiccedilatildeo de anocircnimos ou leitores de

diversas procedecircncias para correccedilatildeo de fatos ou estatiacutesticas geograacuteficas ou

mesmo solicitaacute-la visando o labor das novas ediccedilotildees

Os editores agradecem a todos os senhores que tiveram a amabilidade de mandarem correcccedilotildees para a presente ediccedilatildeo e principalmente ao Snr Professor Florindo Netto do Gymnasio de Bello Horizonte e ao Snr Hildebrando Gomes Os editores pedem novamente asi seus amigos de indicarem as correcccedilotildees que acharem convenientes para as futuras ediccedilotildees (Os Editores BITTENCOURT 1916 p 1)

Ou a imprensa alertava os autores dessa necessidade

Seja-nos licito pedir ao illustre auctor que natildeo se esqueccedila de ir sempre ponde de accordo nas novas ediccedilotildees o seu apreciaacutevel trabalho com os novos progressos materiaes e desenvolvimento economico e industrial (Neckwer Vozes de Petroacutepolis julho de 1909 SCROSOPPI 1911 p X)

Em geral os sujeitos nos discursos do entorno defendem a produccedilatildeo

nacional de Geografia em face da presenccedila e do relativo sucesso das obras

traduzidas

Os compendios estrangeiros adoptados em nossas escolas peccam por demasiada extensatildeo sendo deficientes e errados na parte referente ao Brazil justamente a que mais nos importa conhecer (o autor BITTENCOURT 1907 p 1)

A questatildeo do volume ou extensatildeo dos conteuacutedos eacute algo que preocupa

alguns membros do corpo de sujeitos organizados pela educaccedilatildeo geograacutefica Eacute

sensiacutevel como haacute uma reduccedilatildeo retoacuterica do discurso geograacutefico com o passar dos

anos materialmente se percebe uma tendecircncia em diminuir as paacuteginas de um

volume de reduzir o dizer agrave enunciaccedilatildeo de fatos Tomando-se Paracatu cidade

histoacuterica mineira como exemplo dessa reduccedilatildeo compare-se como estaacute nos

discursos de Torreatildeo (1824) e de Bittencourt (1916)

COMMARCA DE PARACATUacute ndash Esta Commarca que foi desmembrada da de Sabaraacute confina com ella mesma ao N e LrsquoE ao S com o Rio das Mortes e a O com a Provincia de Goyaz

Paracatuacute Villa situada em terreno levantado sobre hum arroio denominado Corgo Rico que se perde no Paracatuacute que da o nome aacute Villa he populosa alegre e de grande commercio he cabeccedila de Commarca e residecircncia do Corregedor e teacutem Professores Regios de Primeiras Letras e Latim aleacutem da

Igreja Matriz dedicada a Santo Antonio da Manga teacutem mais quatro Ermidas as ruas satildeo direitas e calccediladas e as casas vistosas notatildeo-se trez fontes de boa agoa Os habitantes satildeo meneiros e lavradores (TORREAtildeO 1824 p 493-494)

Paracatuacute perto das divisas de Goyaz com numerosas e importantes fazendas de creaccedilatildeo de gado (BITTENCOURT 1916 p 366)

Por um lado em um espaccedilo tatildeo grande de tempo haacute mudanccedilas normais na

descriccedilatildeo das atividades de um espaccedilo Bittencourt natildeo cita a atividade mineira que

prosseguia na regiatildeo da cidade mas natildeo eacute este o caso Esta comparaccedilatildeo evidencia

anguacutestias da Geografia descritiva tal como os recortes necessaacuterios para equilibrar

os veacutertices entre ldquodizer tudordquo incluir todos os fatos e fenocircmenos constituintes do

espaccedilo em abordagem (Minas Gerais) ou aprofundar o conhecimento sobre uma

seleccedilatildeo destes mesmos fatos e fenocircmenos A escolha de muitas obras como a do

proacuteprio Bittencourt prescindia dos detalhes como enriquecimento da informaccedilatildeo

para uma abrangecircncia maior de fatos descritivos Essa eacute uma preocupaccedilatildeo que a

curtos passos entra na pauta dos discursos do entorno Eacute assim que o proacuteprio

Bittencourt em obra de 1907 se justifica

A necessidade de um Compendio de Geographia Geral nem muito extenso nem demasiado resumido impunha-se aos estudiosos dessa mateacuteria em nosso paiz (o autor BITTENCOURT 1907 p 1)

Eacute nesse sentido que reside uma das criacuteticas aos manuais traduzidos como

assevera esta sequecircncia do fragmento de Bittencourt (1907) mencionado

anteriormente ldquoOs compendios estrangeiros adoptados em nossas escolas peccam

por demasiada extensatildeordquo os enfoques de obras como a de FIC ou mesmo de

Gaulthier natildeo foram produzidas com a preocupaccedilatildeo de apurar os fatos de forma a

projetar o interesse por exemplo no espaccedilo da nacionalidade daiacute a segunda criacutetica

desse sujeito indicando mais o fato de serem ldquodeficientes e errados na parte

referente ao Brazil justamente a que mais nos importa conhecerrdquo A extensatildeo da

obra por outro lado agraves vezes pendia para a admiraccedilatildeo

O que me admira eacute como ele poude condensar tantos pormenores preciosos curiosos e novos em um uacutenico volume (P V Sarav antigo capitatildeo de marinha FIC 1902 p V)

Todavia produzidos ou traduzidos orientado seguramente por fontes novas

ou simplesmente dilapidados em velhas tradiccedilotildees os livros didaacuteticos de Geografia

durante boa parte do periacuteodo dessa bibliografia eacute o que se tem no Brasil de mais

sistemaacutetico e atualizado em termos de informaccedilatildeo geograacutefica dada ao uso em sala

de aula ou a propoacutesitos gerais da cultura

636 Discursos emergentes como oposiccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia

Desabafo ataque e denuacutencia satildeo construccedilotildees de sentidos que permeiam os

discursos do entorno em posiccedilatildeooposiccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica com os

mais diversos efeitos para que os sujeitos autoafirmem-se como autores (colocando

seus discursos como melhores) para deslumbrar um lugar para seu discurso

didaacutetico na bibliografia ou para realmente transparecer desejos de mudanccedila Os

discursos chegam a ser planfetaacuterios algumas vezes De qualquer forma na

dispersatildeo desses discursos do entorno encontra-se essa unidade destruir pilastras

e monumentos da tradiccedilatildeo para entatildeo impor-se como enunciaccedilatildeo vaacutelida

Esses discursos se potildeem na cena enunciativa sempre a um propoacutesito ou

causa do sujeito autor Veja-se

Esta convicccedilatildeo porem das vantagens da sciencia geographica difficilmente a derivaraacute algueacutem de qualquer compendio que pretendendo descrever a superficie do globo esquarteje e retalhe a crosta terrestre para poder limitar-se a um catalogo ou amontoamento de nomes geograacuteficos qual e qual mais arrevezado em determinados grupos artificiaes (o autor ALI 1905 p III)

Said Ali propondo um novo criteacuterio para a anaacutelise do espaccedilo geograacutefico na instacircncia

das relaccedilotildees de ensino e aprendizagem opotildee-se aos ldquocataacutelogos que a seu ver

encerram a tradiccedilatildeo bibliograacutefica que o antecede os lexemas que utiliza ndash

ldquoamontoamentordquo ldquoarrevezadordquo ldquoartificiaesrdquo ndash por si mesmo cooptam para abalar

qualquer imagem benemeacuterita que por acaso o leitor tenha em relaccedilatildeo agraves estantes de

antes

A desatualizaccedilatildeo das obras corograacuteficas em geral faz jus ao ensejo desse

sujeito

Estamos convencidos de que as Liccedilotildees de Chorographia do Brasil acharatildeo franca entrada nos gymnasios e outros estabelecimentos de instrucccedilatildeo porque aleacutem de constituiacuterem um livro indispensaacutevel para os alumnos tornam-se um poderoso e efficaz auxiliar aos srs Professores que muitas vezes natildeo tecircm tempo para compulsar obras volumosas relatoacuterios estatiacutesticas etc para formularem os pontos que o ensino hodierno da Chorographia do Brasil exige (Diaacuterio Popular 20041908 SCROSOPPI 1911 p III)

Vem em momento oportuno um livro atualizado sobre a Geografia do Brasil pois se

supotildee um aacuterduo trabalho ao professor sem tempo mas preocupado em dispor uma

aula atualizada aos seus discentes

Posicionando-se frente agrave tradiccedilatildeo veja-se a enunciaccedilatildeo desse sujeito

Mas dissemos que o que existe publicado sobre a nossa corographia jaacute quase natildeo corresponde ao estado actual do paiz que tem caminhado muito nestes ultimos anos Com efeito a ldquoCorographia Brasilicardquo de Ayres do Casal appareceu na primeira phase do seacuteculo passado hoje serve apenas de fonte de informaccedilotildees para as cousas drsquoaquele tempo Na segunda phase do mesmo seacuteculo em 1878 o Dr Joaquim Manoel de Macedo publicou as ldquoNoccedilotildees de Corographia do Brasilrdquo em dois pequenos volumes que actualmente carecem de importacircncia Tambeacutem os valiosos trabalhos do incansaacutevel Dr Moreira Pinto apezar de mais recentes deixam muito a desejar Parece-nos pois ter todo cabimento um livro em que o Brasil actual seja descripto com inteira verdade procurando-se tornar bem patente aos olhos do mundo culto todo o immenso progesso que lhe trouxe o regimen republicano (O Autor BITTENCOURT 1916 p 2)

O sujeito reconhece que nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX o conhecimento

geograacutefico sobre o Brasil havia apresentado avanccedilos Como bem assinala Issler

(1973) publicaccedilotildees acuradas como as de Wappoeus (1884) e Sellin (1889) dentre

outros estabeleciam uma Geografia com criteacuterios cientiacuteficos para compreensatildeo do

Brasil100 Talvez por isso o sujeito em questatildeo natildeo vecirc razatildeo para que as antigas

pilastras de sustentaccedilatildeo da bibliografia didaacutetica da Geografia ndash Ayres de Casal

Joaquim Manoel de Macedo Moreira Pinto ndash continuem a ser relevantes para a

abordagem didaacutetica da Geografia nacional Por isso expotildee a superaccedilatildeo dessas

referecircncias ainda influentes de certa forma para nessas ruiacutenas colocar-se como

100

Para Carvalho (1970 p 32) estavam ldquo[] os trabalhos geograacuteficos escolares totalmente alheios aos trabalhos de Geologia e Geomorfologia executados no paiacutes por cientistas como Eschwege Gorceix Paula Oliveira Gonzaga de Campos Hartt Derby Branner Lund Rondon Arrojado Lisboa Euclides da Cunha Teodoro Sampaio e outrosrdquo

discurso de ldquointeira verdaderdquo ndash ademais refletindo a grandeza da Repuacuteblica em

contraponto agraves estruturas falidas do Impeacuterio

Da mesma maneira o sujeito seguinte se coloca no cenaacuterio enunciativo

como um sopro novo sobre a ldquoenfezada anachronica e detestaacutevel literatura

didacticardquo

Varias e ponderosas razotildees concorreram para a publicaccedilatildeo deste modesto livrinho augmentando assim a serie de trabalhos com que sobretudo nos domiacutenios do ensino primaacuterio tenho procurado concorrer para a reforma da nossa enfezada anachronica e detestaacutevel literatura didactica A mais poderosa foi a necessidade [] Isto mesmo ficou exuberantemente patenteado nos ultimos concursos de admissatildeo aacute Escola Normal em que as candidatas aacute mingua de trabalhos elementares e convenientemente dosados houveram de recorrer a massudos tratados de ensino secundario e superior quasi sempre obscuros confusos e demasiado extensos e fastidioso empenho de registrar nequices e frioleiras Nem lhes valeu nesse caso [] a rachitica e aleijadinha Geographia do Dr J M de Lacerda professor cuja bolorenta literatura didactica adoptada ainda por quase todo este Brasil basta para atestar o graacuteo do nosso atraso e da nossa indigecircncia em mateacuteria de instrucccedilatildeo(o autor ESTRADA 1928 p 7)

O sujeito justifica sua contribuiccedilatildeo ao revelar a situaccedilatildeo bibliograacutefica do ensino

primaacuterio deficitaacuteria e sem apropriaccedilatildeo ao niacutevel desses estudos Os livros para o

ensino primaacuterio de Geografia estatildeo presentes desde as primeiras deacutecadas da

bibliografia mas sem duacutevida foram os uacuteltimos a encontrar uma linguagem e

expressatildeo que os aproximassem da faixa etaacuteria dos alunos Praticamente se

orientavam pela definiccedilatildeo dos curriacuteculos expressando uma versatildeo apenas mais

simplificada dos manuais destinados ao ensino secundaacuterio De longe o manual

desse niacutevel mais aceito por deacutecadas a fio foi a Pequena Geographia da Infacircncia de

Lacerda Aiacute procura encaixar sua obra o sujeito acima Sua avaliaccedilatildeo da bibliografia

em geral utiliza lexemas bem pouco encorajadores ldquoobscurosrdquo ldquoconfusosrdquo

ldquodemasiado extensosrdquo ldquofastiososrdquo ldquonequicesrdquo e ldquofrioleirasrdquo em uma construccedilatildeo de

sentidos disposta a criar um efeito negativo da bibliografia que o precede Do mesmo

modo qualifica a mencionada obra de Lacerda como ldquorachiticardquo e ldquoaleijadinhardquo

englobando toda a contribuiccedilatildeo de Lacerda em uma uacutenica sentenccedila ldquobolorenta

literatura didacticardquo Essas criacuteticas como o proacuteprio sujeito reconhece se dirigem a

uma obra ainda em uso embora jaacute decadente agraves veacutesperas dos anos 1930 mesmo

apoacutes quase 50 anos da morte do seu autor Em toda essa extensatildeo de tempo sem

duacutevida mudara a Geografia (apesar do esforccedilo dos editores de Lacerda em manter

atualizada suas obras sua proposta estava em decadecircncia) as orientaccedilotildees do

ensino igualmente natildeo eram mais as mesmas E sobre a educaccedilatildeo geral o sujeito

natildeo deixa de apresentar um veredito atrasada e indigente embora em nada

contribua com a obra que apresenta para alterar o aspecto do ensino da Geografia

pois seu compecircndio vincula-se agrave mesma Geografia descritiva do combalido Lacerda

a despeito de propostas mais amplas e dinacircmicas que vinham sendo apresentadas

por Veiga Cabral Gabaglia Xavier e outros Das limitaccedilotildees e fragilidades possiacuteveis

de identificar em sua obra ao ver do proacuteprio sujeito defende-se apresentando-as

como caracteriacutestica geral do gecircnero extensivas a toda a bibliografia

Certo haveraacute nelle muitas imperfecccedilotildees e lacunas mas para absolver o autor de um ou outro deslise basta lembrar que erros maiores e ateacute palmares avultam em todos os trabalhos de maior tomo que existem sobre o assumpto (o autor ESTRADA 1928 p 8)

Os discursos do entorno configuram-se como espaccedilo para os autores seus

convidados ou avaliadores destacarem contribuiccedilotildees ineacuteditas ou pouco exploradas

na bibliografia ateacute entatildeo

A nossa Iiteratura didactica tatildeo pobre em obras geographicas o era principalmente em assumptos de geographia economica Esta falha tatildeo sensivel especialmente para os que estudam a disciplina nos estabelecimentos em que se precisam especiaIizar fica de ora por diante sanada com o apparecimento do bem organizado methodico e criterioso compendio que o conhecido e iIlustre escritor Sr Lindolpho Xavier acaba de lanccedilar a pubIicidade no que se compendiam as melhores noccedilotildees da materia dadas em linguagem clara e expressiva de accordo com a mentaIidade ainda em formaccedilatildeo dos moccedilos que mais directamente precisaratildeo consultar o utiIissimo volume (Gazeta de Noticias de 4-10mdash1922 XAVIER 1929 p 655)

A Geografia econocircmica de fato apenas recentemente passara a frequentar as

paacuteginas dos manuais dessa disciplina

A imprensa tambeacutem enfraquece a tradiccedilatildeo para dar visibilidade ao

lanccedilamento que defende

Indiscutivelmente o Sr Lindolpho Xavier vem de prestar um excellente serviccedilo as letras geographicas A sua Geographia Commercial vem tirar-nos da situaccedilatildeo embaraccedilosa em que nos achavamos diante das frouxas obras que possuiamos Eacute um trabalho original fundado em seguros dados estatisticos cheio de commentarios interessantes abrangendo perfeitamente a totalidade do assumpto e finalmente trazendo um longo e minucioso repertorio de informaccedilotildees sobre o Brasil (Dr Azevedo Amaral O Dia XAVIER 1929 p 654)

Para asseverar uma obra ldquooriginal que apresenta ldquoseguros dados estatiacutesticosrdquo

qualifica as obras precedentes como ldquofrouxasrdquo propiacutecias a uma situaccedilatildeo

embaraccedilosa Esse ato discursivo eacute tiacutepico da reaccedilatildeo do novo contra o velho destruir

ou desqualificar para construir atacar para propor desmerecer para fazer outros

merecimentos Poreacutem tipicamente aos movimentos ou atos revolucionaacuterios

esquecem o contexto histoacuterico esquecem que a emergecircncia de qualquer cultura

conhecimento ou praacutetica responde a necessidades e aceitaccedilotildees proacuteprias aos

momentos histoacutericos que os caracterizam

Antigamente um livro escolar era um supplicio para as intelligencias dos estudantes Hoje natildeo as obras destinadas aacute instrucccedilatildeo possuem todos os requisitos desejados para o mister a que se destinam Claros concisos e escriptos em linguagem elegante (Diaacuterio de Notiacutecias 14041933 CABRAL 1935 p 296)

Mais alguns anos e o discurso em aceitaccedilatildeo assume o posto do discurso renegado

uma vez que natildeo se perpetua como praacutetica precisando ser reorientado

realimentado redirecionado agraves perspectivas e necessidades do presente

637 Enunciados ao professor instruccedilotildees e recomendaccedilotildees dos autores aos docentes de Geografia

Situaccedilatildeo geral merecedora de reclame dos autores e dos sujeitos agrave frente

da reflexatildeo sobre o ensino de Geografia no periacuteodo analisado haacute a falta de

profissionalismo predominante entre os professores dessa disciplina o que

impactuava diretamente na visatildeo desses sujeitos sobre a forma e os meacutetodos do

ensino geograacutefico

O ensino de geografia estaacute precisando de urgente mudanccedila de meacutetodos e processos Jaacute tive a oportunidade de dizer que no Brasil essa disciplina foi invariavelmente entregue aacutequeles cavalheiros que aacute falta de outra atividade para preencher os seus desejos de ganhar dinheiro em tarefa relativamente cocircmoda e facil se dispunham a ingressar para o magisterio sem credenciais de capacidade Quando um cavalheiro qualquer natildeo tinha jeito para cousa nenhuma mas ao qual era mister por esta ou por aquela circunstancia dar um emprego empurravam-no para o professor de geografia E como ele natildeo entendia do riscado e lecionava a mateacuteria para justificar o estipendio no

fim do mecircs a unica cousa que se conseguiu foi entendiar os alunos e fazer-lhes aborrecer a disciplina ensinada sem seguro conhecimento sem solidez de cultura sem metodologia racional sem amor e sem entusiasmo O decliacutenio e o horror do ensino da geografia eacute fruto exclusivo dos maus professores a que se cometeu a tarefa ingloacuteria de desmoralizar a mateacuteria no conceito dos alunos (o autor MENNUCCII 1936 p 7)

Para o sujeito a educaccedilatildeo estava entregue a pessoas em geral sem credenciais

para a docecircncia e dentre esses para os menos capacitados ainda se destinavam

as aulas de Geografia trabalhando pela recompensa uacutenica do salaacuterio resultando

disso uma praacutetica docente entediante sem fundamentos e sem metodologia O

sujeito deixa transparecer em sua colocaccedilatildeo que a Geografia poderia ter tido um

tempo mais frutiacutefero para entatildeo estar em decliacutenio e desmoralizada nos anos 1930

quando haacute o primeiro esboccedilo de uma ampliaccedilatildeo da oferta do ensino agrave populaccedilatildeo

geral Prova da ineficiecircncia metododoloacutegica do ensino geograacutefico para o autor

residia em os discentes e mesmos os professores natildeo saberem ler um mapa

Na geografia o intuito imediato do ensino eacute obter que o aprendiz saiba ler um mapa cousa que muita gente grande sem excetuar o grosso dos professores natildeo sabe E natildeo sabe porque ningueacutem se preocupou em demonstrar-lhes que o mapa faz o mesmo papel do livro de leitura ou da partitura musical e que eacute um simbolo abreciado de uma realidade concreta Ha entretanto um jogo didaacutetico para levar o aluno da noccedilatildeo da realidade viva e vivida aacute sua transposiccedilatildeo para uma carta geograacutefica a fim de fazer-lhe compreender que a carta eacute a realidade objetiva em resumo Esse jogo nunca foi seriamente estudado pelo menos em nossos tratados de metodologia do ensino de geografia e nunca foi estudado porque toda a gente pensa desarrazoadamente que a geografia eacute material faacutecil muito faacutecil e muito simples mas muitiacutessimo cacete e que depende exclusivamente de ter ou natildeo ter memoria (o autor MENNUCCII 1936 p 8)

Ler o mapa eacute posto pelo sujeito como siacutentese do aprendizado geograacutefico o que por

toda a extensatildeo do periacuteodo parece ter sido o objetivo geral do ensino geograacutefico E a

isso o sujeito atribui a falta de formaccedilatildeo do professor e por extensatildeo do ensino de

uma alfabetizaccedilatildeo geograacutefica Toda essa situaccedilatildeo para o autor reside em uma

questatildeo maior a de ser a Geografia percebida como um conjunto de conhecimentos

faacuteceis dependente apenas da capacidade de memorizaccedilatildeo do aprendiz

A questatildeo dos mapas foi central na produccedilatildeo dos manuais didaacuteticos e nas

praacuteticas de ensino acompanhando toda a trajetoacuteria como no jaacute referido fragmento

de Torreatildeo

Conheccedilo que para melhor intelligencia eu devia gravar Mappas Geographicos para esclarecer as divisoens dos Paizes que descrevo mas as minhas circuntancias actuaes natildeo me offerecem as necessaacuterias proporccedilotildeens para huma empreza tatildeo delicada portanto como seja o meu objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographia resolvi-me a publicar mesmo com essa falta na persuasatildeo de que as Cartas Universaes e Geraes poacutedem muito bem applicar-se-lhe com pequenas faltas que seratildeo supridas por qualquer haacutebil explicador (TORREAtildeO 1824 12)

Esta enunciaccedilatildeo remete-se agraves raiacutezes de muitas praacuteticas posteriores da Geografia

escolar sobretudo agrave questatildeo metodoloacutegica Para os mapas geograacuteficos o sujeito-

autor atribui a funccedilatildeo de ldquoesclarecer as divisoens dos Paizesrdquo os quais satildeo

abordados a partir de outra posiccedilatildeo afirmada pelo sujeito a descriccedilatildeo Remete-se

portanto agrave forma como a accedilatildeo escolar se posicionou face ao gigantismo do mundo a

ser entendido e compreendido em face da Geografia Moderna enciclopeacutedica e

vasta Torreatildeo foi professor de cursos livres de Geografia e em sua fala estatildeo

perspectivas da metodologia de ensino que pouco se modificaraacute nas deacutecadas

seguintes o manual descreve (com ausente ou rariacutessimas ilustraccedilotildees e mapas) e ao

professor cabe a explicaccedilatildeo O sucesso ou eficaacutecia desse ensino eacute atribuiacutedo

unicamente ao professor este deveraacute suprir as deficiecircncias e dificuldades dos

materiais instrucionais desde que seja um ldquohaacutebil explicadorrdquo

De qualquer forma com frequecircncia os discursos do entorno serviam para

instruir metodologicamente os professores

E para concluir cumpre dar algumas indicaccedilotildees aos Srs professores natildeo

habituados a ensinar pelo processo descriptivo [] Evite-se antes de tudo

que os alumnos procurem simplesmente decorar eacute essencial que

apprehendam bem a exposiccedilatildeo do livro e saibam mostrar no mappa as

formas os accidentes de terreno os lugares etc A disposiccedilatildeo por capitulos

extensos nao obriga de forma alguma a uma liccedilatildeo unica pode o professor

repartil-os a vontade por dois ou tres dias de liccedilatildeo ou mais conforme lhrsquoo

aconselhar a pratica e o seu bom criterio Exemplifiquemos Em vez de dar

como uma liccedilatildeo a Franccedila toda marque-se para o prirneiro dia v g ldquolimites

e desenvolvimento de costasrdquo para o segundo ldquorelevo clima e pro-

ducccedilotildeesrdquo para o terceiro ldquohabitantesrdquo e divisatildeo em regiotildees com as cidades

principaes Finalmente uma recapitulaccedilatildeo apuraraacute se os alumnos possuem

noccedilotildees exactas sobre a Franccedila (O autor ALI 1905 p IV)

As instruccedilotildees tanto se referiam ao uso do livro quanto a como ensinar Dado aos

livros nem sempre serem escritos estritamente para o uso escolar (conforme

analisado anteriormente) cabia a alguns sujeitos-autores fazer orientaccedilotildees

pertinentes aos conteuacutedos das obras

Perdoem os alumnos de commercio brasileiros os detalhes desta obra Natildeo os assustem os quadros as synopses que ahi se protraacuteem Esses satildeo para leitura de eruditos de estudiosos Basta que os alumnos brasileiros leiam o essencial e communiquem aos seus mestres a summula das suas pesquizas atraveacutes do livro Estes teratildeo a indulgencia necessaria para lhes dar quitaccedilatildeo de approvados na materia (O autor 19-2-1929 XAVIER 1929 p 7)

Ou como neste caso

Os autores chamam a atenccedilatildeo dos estudantes e professores de Geographia para o facto de que este livro cobre o programma da Terceira Seacuterie do Ensino Secundaacuterio (Curso Fundamental) bem assim a parte de Biogeographia e de Geographia Comparada das Americas da Quinta Seacuterie emquanto que no Ensino Superior (Curso Complementar) atende aos programas de exame vestibular para a Universidade do Districto Federal e para as Escolas de Direito da Universidade do Brasil [] Para o leitor em geral que ama a Geographia como estudo de alcance pratico indispensaacutevel a qualquer base cultural os autores pedem a fineza de atentar na amplitude na autenticidade e no modernismo da documentaccedilatildeo empregada no destaque particular dado aos exemplos brasileiros assim como no criteacuterio de exposiccedilatildeo calcado no que a doutrina geographica vem traccedilando de mais incisivo logico e seguro (os autores VERIacuteSSIMO VARZEA ACQUARONE 1937)

Tampouco os autores tinham formaccedilatildeo na maioria dos casos fato aliaacutes jaacute

mencionado por esta pesquisa Veja-se

Nestas poucas palavras que precedem minha Geographia Elementar peccedilo licenccedila para dar o meu modo de ver acerca do estudo das nossas crianccedilas [] Natildeo tenho autoridade alguma para me externar neste assumpto e eacute inteiramente desinteressada a minha opiniatildeo visto como natildeo sou professora nem minhas filhas seguem essa carreira Quero apenas que meus caros patricios vejam nesta minha nova tentativa o grande interesse que tomo pelo estudo das crianccedilas brasileiras e nesse sentido procuro fazer aproveitar a alguem se eacute que isto merece alguma attenccedilatildeo a pratica que adquiri leccionando os meus filhinhos [] A opiniatildeo corrente dos nossos dias eacute que ha toda a vantagem em abolir o livro dando-se a aula por explicaccedilatildeo Longe de mim a ideia de condemnar tatildeo esclarecido sistema que poupa a intelligencia da crianccedila e natildeo lhe canccedila a memoria mas por outro lado esse methodo de ensino eacute exhustivo para as nossas professoras e se nos interessamos por nossas filhas quando pequeninas devemos continuar a zelar por ellas quando deixam os bancos da escola para assumir a cathedra de professora [] Para a classe superior em que o alumno jaacute sabe tomar suas notas e jaacute tem capacidade para consultar os compendios mais adiantadossoacute haacute vantagem nesse methodo nos primeiros annos poreacutem e bastante pequena a percentagem de meninos que jaacute podem fazer seus pontos e ou a professora tem que tomar sobre si o trabalho de compilaccedilatildeo e distribue em aula as notas passadas nos copiadores ou os alumnos satildeo obrigados a tomar seus apontamentos e entatildeo eacute um martyrio para a professora ter de

corrigil-os gastando seu tempo de repouso nesse trabalho fastidioso [] A mim se me afigura ainda uma desvantagem natildeo sendo provavel que a crianccedila de tatildeo pouca idade possa reter com precisatildeo o que ouviu em classe muitas vezes registraraacute erros que embora corrigidos jaacute lhe teratildeo deixado uma falsa impressatildeo no espirito E se este incoveniente eacute evitado dando-se a licccedilatildeo em dictado ou copia do quadro negro quer me parecer ainda assim que esse methodo mais se applica aacutes aulas de linguas sendo o tempo melhor aproveitado em explicaccedilotildees nas aulas de sciencias [] Em muitas escolas porem satildeo ainda empregados os compendios mas aqui surge uma nova objecccedilatildeo satildeo compendios que em geral satildeo postos entre as matildeos dessas crianccedilas na minha opiniatildeo natildeo estatildeo bastante ao alcance revelam elles muita erudiccedilatildeo mas isso prejudica a crianccedila que natildeo sabe discriminar a parte importante que deve ser retida da parte secundaria que poacutede ser deixada aacute margem e quando a professora toma um interesse directo no estudo de cada um de seus alumnos em particular encontramos em seus compendios trechos gryphados assignalando o mais importante e periodos inteiros numeros e datas entre parenthesis [] Parece-me pois de alguma utilidade o compendio que contenha soacute o essencial sem sobrecarregar a imaginaccedilatildeozinha apenas desabrochada da crianccedila poupando assim muito trabalho as nossas mestras e ensinando os nossos meninos sem os fatigar a estudar no seu livrinho muito facil muito bem impresso para natildeo canccedilar a vista muito sympathico para se tornar agradavel ao jovem estudante [] Estes pequenos compecircndios natildeo evitam a explicaccedilatildeo em aula seratildeo apenas auxiliares e daratildeo as professoras findo o trabalho da escola o repoulso despreoccupado com a certeza de terem o seu programma bem organizado contendo toda a materia exigida [] Sabemos por exemplo que as crianccedilas natildeo podem ainda pela reflexatildeo reter na Geographia as latitudes e longitudes nem tatildeo pouco as dimensotildees da Terra e sua populaccedilatildeo Aprenderatildeo ellas esses numeros mechanicamente para esquecer logo depoi nessas condiccedilotildees para que se ha de canccedilar-lhes a memoria quando mais tarde poderatildeo ter disso uma comprehensatildeo clara e facil Seraacute entatildeo opportuno aprofundar esses pontos [] Neste meu resumo supprimi quasi todos os numeros em classe isso poderaacute ser explicado de passagem Os Srs Professores que me derem a honra de criticar este trabalho me diratildeo se fiz bem [] Natildeo eacute este pequeno compendio que tera todas estas vantagens mas eacute um ensaio [] Ahi fica a ideia e seria uma grande felicidade para mim se o meu Compendio de Historia do Brasil e esta Geographia Elementar fossem os irmatildeos mais velhos de outros pequeninos compendios das materias exigidas nas aulas primarias sempre em estylo muito simples colocando a sciencia aacute altura da intelligencia dos nossos pequenos patricios (A autora 1919 MARTINS 1926 p 1)

Nesse enunciado quase um depoimento o sujeito (aliaacutes uma das poucas autoras

de obras didaacuteticas de Geografia) reconhecendo nem ao menos ser professora traz

a puacuteblico sua obra com base na experiecircncia adquirida na educaccedilatildeo dos proacuteprios

filhos motivada ademais apenas pelo seu interesse pela educaccedilatildeo Mas sua fala

apresenta fatos interessantes como a polecircmica que grassou a educaccedilatildeo em

princiacutepios do seacuteculo XX sobre a adoccedilatildeo ou natildeo do livro didaacutetico pelos discentes

abolir o livro para dar aulas por explicaccedilatildeo O argumento contraacuterio do sujeito eacute sobre

a exaustatildeo que esse meacutetodo pode acarretar agraves ldquoprofessorasrdquo Por um tempo parece

que essa foi uma praacutetica adotada no estado de Satildeo Paulo como evidencia este

outro sujeito

A condenaccedilatildeo eacute pueril e contraproducente Eliminados os livros de texto os professores passaram a ldquodizer pontosrdquo ou a dar apostilas o que eacute o mesmo e fazem-no clandestinamente embora sigam o meacutetodo da elaboraccedilatildeo sistemaacutetica das cartas pelos alunos o que fixa os conhecimentos Revelaram assim que o livro de texto eacute indispensaacutevel principalmente para crianccedilas de curso primaacuterio E que suprimindo-o para evitar a memorizaccedilatildeo como um processo ou expediente didaacutetico caiacutemos num embuste muitas vezes peor a memorizaccedilatildeo pela tradiccedilatildeo oral por intermeacutedio das liccedilotildees do mestre transformado em oraculo [] O que se deve proibir eacute que o livro faccedila tudo e substitua o trabalho de elaboraccedilatildeo das liccedilotildees Isso se consegue com a pratica quotidiana da fatura de mapas pelos alunos em classe e em casa Mas uma vez adotado o processo que se generalizou nas escolas paulistas o livro soacute pode em verdade auxiliar o trabalho de ambos mestre e disciacutepulo (o autor MENNUCCII 1936 p 11-12)

Ambos os sujeitos sinalizam para a inutilidade dessa medida pois o acesso ao

conhecimento apenas mudava de meio ficando mais trabalhoso da leitura para a

coacutepia

638 Posiccedilotildees constitutivas da bibliografia didaacutetica de Geografia quanto ao nacionalismo

O criteacuterio localidade eacute justamente o gatilho que colocaraacute em curso uma

produccedilatildeo paacutetria de manuais didaacuteticos em termos gerais Histoacuteria livros de leitura

livros de Geografia O modelo francecircs foi influente na maior parte da bibliografia em

anaacutelise Natildeo por uma questatildeo de modismo ou de coacutepia cultural O Brasil ao tempo

da Independecircncia e ateacute bem depois basicamente tinha uma intelectualidade muito

rudimentar em desenvolvimento com certeza natildeo tinha pesquisa seria natural

entatildeo a absorccedilatildeo de modelos externos Dentre outros motivos para essa influecircncia

de acordo com Bittencourt (2008) estavam as relaccedilotildees comerciais entre Brasil e

Franccedila e identidades culturais como o catolicismo Ademais o nacionalismo

brasileiro se formou no contexto de uma relativa repulsa agrave heranccedila dos portugueses

substituindo-se esse modelo pelas praacuteticas e perspectivas da Franccedila O que era

francecircs assemelhava-se a progresso ao moderno e Portugal naquele momento

era um paiacutes estagnado sem dianteiras em nenhuma aacuterea distante dos tempos

aacuteureos das grandes navegaccedilotildees e da prosperidade financeira que lhe

proporcionaram as colocircnias

A causa nacional natildeo foi o engajamento de sujeitos individuais perpassou

pela classe dos intelectuais mesmo quando um deles natildeo era tomado por nenhum

ou quase nenhum fervor nacional De Augusto Emiacutelio Zaluar portuguecircs naturalizado

brasileiro Duarte (2010 p 124) faz a seguinte anaacutelise ldquo[] acredita-se que Zaluar

natildeo tenha desenvolvido um sentimento nacionalista em relaccedilatildeo ao Brasil e tambeacutem

natildeo possuiacutesse nenhum interesse aleacutem do comercial e de sobrevivecircncia mas

acabou por contribuir no processo de constituiccedilatildeo de uma ideacuteia de Naccedilatildeo brasileira

e de desenvolvimento de uma literatura nacionalrdquo Zaluar foi examinador da

Instruccedilatildeo Puacuteblica e lente de Pedagogia durante a criaccedilatildeo da Escola Puacuteblica Normal

e autor de inuacutemeras obras dentre as quais uma Noccedilotildees elementares de geographia

(1880) e Liccedilotildees de coisas inanimadas e animadas (1876) escreveu obras como Os

heroacuteis brasileiros na campanha do sul (1865) e Peregrinaccedilatildeo pela proviacutencia de Satildeo

Paulo ndash 1860-1861 (1863) na qual se encontra abundantes superfiacutecies discursivas

tiacutepicas do dizer nacionalista

Eu que jaacute tenho admirado esse rio formoso [Paraiacuteba] em tantos pontos do seu curso natildeo posso subtrahir-me a um involuntaacuterio estremecimento de alegria quando no meio de minhas peregrinaccedilotildees me sahe rapidamente ao encontro a toalha liacutempida de suas aacuteguas abundantes Eacute pelas campinas e encostas drsquoeste soberbo rio que brotatildeo os dous mais preciosos productos da nossa lavoura os dous mais poderesos elementos de nossa riqueza o cafeacute a canna Respecto pois a este rio magestoso que como o Nilo converte em ouro os terrenos que enriquece com seu fecundo baptismo (ZALUAR 1863 p 14)

Percorri quase de um extremo a outro o que haacute de mais curioso na vossa bella grande e heroica proviacutencia de S Paulo Apreciei os homens observei os costumes e admirei sobretudo a opulecircncia e o vigor da natureza americanardquo (ZALUAR 1863 p I)

O discurso nacionalista em sua perspectiva teluacuterica possui um conjunto de

marcadores discursivos em sentido amplo eacute um discurso de demarcaccedilatildeo de uma

propriedade coletiva ndash a propriedade da paacutetria eacute um discurso comparativo em que o

nosso e o deles em diversos manejos colocam os objetos nacionais em destaque

pelo que satildeo iacutempares ou que se pretende que sejam eacute um discurso pontuado por

lexemas adjetivados pois eacute necessaacuterio estabeler as caracteriacutesticas sempre

positivas e exaltadas da propriedade nacional Conforme aferi anteriormente a

nacionalidade ndash matriz ideoloacutegica importante no ensino da Geografia ndash seraacute mais

uma posiccedilatildeo uma perspectiva construiacuteda para o espaccedilo nacional destacando-o

com independecircncia e relevacircncia em relaccedilatildeo agraves demais naccedilotildees (ou em volume

exclusivo) que propriamente uma abordagem dogmaacutetica entrelaccedilada no fio

discursivo da bibliografia didaacutetica

No entanto em primeira ordem claramente se posta nos discursos do

entorno da bibliografia

Nesse sentido o nacionalismo eacute uma rachadura entre a proposiccedilatildeo do

estudo da Geografia como cultura geral e sua proposiccedilatildeo como panorama e base

dos interesses nacionais A partir daiacute se cliva em diversas direccedilotildees e intensidades

inflamando-se de acordo com a imersatildeo poliacutetica e partidaacuteria que caracacteriza o

movimento histoacuterico do paiacutes

Jaacute na fundaccedilatildeo do discurso geograacutefico didaacutetico encontra-se a posiccedilatildeo da

nacionalidade expressando-se na enunciaccedilatildeo dos autores

Todo o bom Cidadatildeo deve segundo as suas forccedilas concorrer quanto lhe for possiacutevel para o bem da sociedade de que he membro esta verdade gravada no fundo de meu Coraccedilatildeo he quem me inspirou o desejo de offerecer ao Publico este pequeno Tractado de Geographia que collegi dos melhores authores modernos e o expuacutes com a clareza e methodo que me foi possiacutevel para proveito da Mocidade Brazileira dando huma pequena ideacutea da Geographia Astronomica e tocando de passagem por todos os lugares da Terra demorando-me mais no Brazil [] para cuja descripccedilatildeo me servi da Corographia do Reverendo Ayres e de algumas informaccedilotildees de pessoas fidedignas Conheccedilo que para melhor intelligencia eu devia gravar Mappas Geographicos para esclarecer as divisoens dos Paizes que descrevo mas as minhas circuntancias actuaes natildeo me offerecem as necessaacuterias proporccedilotildeens para huma empreza tatildeo delicada por tanto como seja o meu objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographia resolvi-me a publicar mesmo com essa falta na persuasatildeo de que as Cartas Universaes e Geraes poacutedem muito bem applicar-se-lhe com pequenas faltas que seratildeo supridas por qualquer haacutebil explicador (O autor TORREAtildeO 1824 p 11-12)

Neste fragmento analisado em outro contexto neste capiacutetulo vecirc-se o sujeito

construindo um valor para a autoria do livro didaacutetico de Geografia ndash coloca-o como

dever de indiviacuteduos comuns para o bem da sociedade incursa um destaque para o

espaccedilo nacional ndash antes praticamente natildeo contemplado no acircmbito do ensino para a

ldquomocidade brasileirardquo Sua relaccedilatildeo com o puacuteblico no momento em que o paiacutes

encontra-se independente e em construccedilatildeo permite certa irmandade vislumbrada no

lexema patriacutecio uma ressignificaccedilatildeo ao termo ldquobrasileirordquo que se durante o periacuteodo

colonial remetia-se apenas agrave condiccedilatildeo de nascimento agora vislumbra uma

comunidade nacional poliacutetico-territorial portanto

A escala de valor das abordagens nacionais continua bibliografia adentro

extensiva a outros paiacuteses relacionados aos interesses de uma educaccedilatildeo aos

brasileiros

Pela sua connexatildeo com larga parte da historia geral e por outro lado pelas suas relaccedilotildees com o Brasil eacute facil de ver que devia dar como dei mais desenvolvimento ao estudo de certas naccedilotildees do que ao de outros paizes Cousas que me pareceram inuteis ou excessivas em um livro elementalar omitti-as todavia rompendo assim mais de uma vez com a rotina (O autor ALI 1905 p IV)

Eacute o caso dos paiacuteses vizinhos ou dos paiacuteses mais proacuteximos em termos de relaccedilotildees

poliacuteticas e econocircmicas Pontualmente o elogio teluacuterico fruto tiacutepico do orgulho

patrioacutetico aparece desaparece e reaparece na bibliografia sendo mais frequente

nas deacutecadas iniciais do seacuteculo XX No fragmento abaixo a sequecircncia discursiva

ldquonossa extraordinaacuteria terrardquo traz toda uma conotaccedilatildeo de sentidos que perpassam

pela admiraccedilatildeo e entusiasmo inerentes ao sentimento da nacionalidade

Nelle se encontram minuciosas informaccedilotildees sobre a nossa extraordinaacuteria terra sendo ateacute um livro necessaacuterio em todas as estantes dos estudiosos (Commercio de Satildeo Paulo 20061908 SCROSOPPI 1911 p VI)

No proacuteximo fragmento o sujeito faz um conclame a que o tratamento feito ao

Brasil tenha ldquointeira verdaderdquo postulado de sua crenccedila sobre ter o territoacuterio

credenciais suficientes apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica para fazer figura digna

frente ao demais paiacuteses

Parece-nos pois ter todo cabimento um livro em que o Brasil actual seja descripto com inteira verdade procurando-se tornar bem patente aos olhos do mundo culto todo o immenso progesso que lhe trouxe o regimen republicano (O Autor BITTENCOURT 1916 p 2)

Estas credenciais satildeo longamente explicadas pelo sujeito

Natildeo eacute certamente tarefa faacutecil pois o nosso paiz tem passado por notaacuteveis transformaccedilotildees tanto materiaes como politicas e sociaes O que haacute

publicado sobre Geographia paacutetria jaacute em grande parte natildeo satisfaz aacutes exigencias modernas ao extraordinaacuterio progresso que o Brasil tem feito nestes ultimos 21 annos apoacutes a implantaccedilatildeo do novo regimen politico resultante da revoluccedilatildeo triumphante de 15 de Novembro de 1889 Aos olhos do observador imparcial ao investigador consciencioso certamente natildeo pode passar despercebido o caminhar do Brasil a largos passos pela senda do progresso acompanhando galhardamente a evoluccedilatildeo geral da humanidade Eacute jaacute hoje impossiacutevel passar o nosso paiz perante as naccedilotildees cultas como terra de botocudos Mas por isso mesmo suas condiccedilotildees materiaes econocircmicas e financeiras suas vias de comunicaccedilatildeo terrestres mariacutetimas e fluviais sua forccedila armada sua induacutestria e commercio tudo emfim tem experimentado o influxo benefico da expansatildeo civilizadora Infelizmente a todo esse desenvolvimento material mal corresponde a cultura intelectual Ainda campeia o anaphalbetismo nas classes populares retardando a marcha da locomotiva do progresso O problema da educaccedilatildeo nacional eacute momentoso e tem forccedilosamente de impor-se ao estudo e meditaccedilatildeo dos estadistas republicanos responsaacuteveis directos pelos futuros destinos desta grande paacutetria Todos poreacutem devem cooperar para o adiantamento da instrucccedilatildeo A imprensa a tribuna as conferencias publicas os livros didacticos muito podem conseguir em tal assumpto Por nossa parte procuraacutemos carregar algumas pedras para o monumento aproveitando o tempo que nos sobra do exerciacutecio activo do magisteacuterio para a confecccedilatildeo de algumas obras que sirvam aacute mocidade estudiosa (O Autor BITTENCOURT 1916 p 1-2)

Para o sujeito o regime republicano perpetrou no paiacutes transformaccedilotildees notaacuteveis ndash

poliacuteticas e sociais perpceptiacuteveis pela imparcialidade da qual explicitamente natildeo

compartilha Haacute uma visatildeo gloriosa nos ldquolargos passosrdquo que percorrem a ldquosenda do

progressordquo fazendo companhia galharda agrave ldquoevoluccedilatildeo geral da humanidaderdquo o que

faz da naccedilatildeo uma superaccedilatildeo do que se suponha ser antes ndash ldquoterra de botocudosrdquo ndash

aos olhos dos paiacuteses civilizados Tais passos se materializam nas ldquovias de

comunicaccedilatildeo terrestres mariacutetimas e fluviaisrdquo na ldquoforccedila armadardquo na ldquoinduacutestria e

commerciordquo expressatildeo ldquoda expansatildeo civilizadorardquo Haacute o poreacutem da ldquocultura

intelectualrdquo em descompasso agrave cultura material o analfabetismo popular colocado

como empecilho ao progresso lexema chave dos partidaacuterios republicanos E

caracteriacutestico da oratoacuteria nacionalista haacute a confianccedila no futuro para superaccedilatildeo dos

valores e percalccedilos que impeccedilam uma gloacuteria plena da paacutetria a questatildeo educacional

eacute momentacircnea a ser resolvida pelos ldquoestadistas republicanosrdquo ldquoresponsaacuteveis

directos pelos futuros destinos desta grande paacutetriardquo E ainda tipicamente ao dizer

patrioacutetico congraccedila os nacionais a esse esforccedilo pela paacutetria ldquotodos poreacutem devem

cooperar para o adiantamento da instrucccedilatildeordquo Quem seria esse todo ldquoA imprensa a

tribuna as conferencias publicas os livros didacticosrdquo dentre outros sendo com os

livros a cooperaccedilatildeo do sujeito

A partir dos anos 1920 vecirc-se um compromentimento maior da Geografia

escolar com a causa nacional A ideologia nacional-patrioacutetica migraraacute dos discursos

do entorno registrados ou natildeo nos livros didaacuteticos e penetraraacute no proacuteprio dizer

sobre as coisas do Brasil Essa saiacuteda dos bastidores viraacute ao propoacutesito de dar uma

visatildeo aos jovens e agraves crianccedilas sobre os assuntos da paacutetria

Cumpre abrir diante dos olhos das geraccedilotildees novas o quadro bem amplo do nosso paiz para que o contemplem Ha tanto mister em estudal-o quanto pouco eacute o que se tem feito para tal O Brasil eacute um mundo e merece bem que delle se occupe a maior e principal parte de uma obra que destinada as escolas commerciaes e tambem compulsavel por todos os que se interessam pela vida economica modema (O autor 19-2-1929 XAVIER 1929 p 7)

Haacute de nascer nessas instacircncias o endosso ao paiacutes-continente o paiacutes do futuro o

paiacutes potecircncia que seraacute comum em vaacuterios momentos histoacutericos no futuro da

bibliografia didaacutetica de Geografia

Sente-se agrave entrada dos anos 1930 a temperatura dessa ideologia que se

faria acompanhar de uma das primeiras ditaduras poliacuteticas nacionalista ndash o Estado

Novo ndash internalizando-se amplamente do dizer didaacutetico-geograacutefico

Um bom autor deve considerar o conjuncto historico e geographico Deve pocircr o homem no meio como agente economico e traccedilar-lhe o papel [] Depois de quatro seculos de preparaccedilatildeo chegou o momento da acccedilatildeo Tirar das suas immensas riquezas o quinhao que o destino lhe deu e o seu dever Um paiz natildeo chega inutilmente a 40 miIhotildees de habitantes e natildeo occupa impunemente oito milhotildees e meio de kilometros quadrados Para gozar e dominar esse patrimonio e preciso armar-se cavalleiro A tendencia agora eacute para os phenomenos economicos A phase consquistadora passou Passou a phase militar Estivemos tres seculos e meio no periodo das experiencias politicas Toda a sorte de erros commettemos Entretanto grandes cousas fizemos Erguemos uma nacionalidade Fixaacutemos os contornos garantimos a nossa soberania Desbravamos o sertatildeo libertamos os escravos creamos um commercio [] Passou pois a phase defensiva Entramos decisivamente na era das realizaccedilotildees O periodo critico da infancia esta transposto O mal do crescimento deixou laivos profundos mas deixou ensinamentos Enveredamos abertamente para a competiccedilatildeo internacional O Brasil eacute jaacute uma potencia com que o mundo conta Precisamos nos apparelhar para sermos dignos da espectativa mundial O que nos cumpre eacute fazer-nos fortes pela produccedilatildeo e pelo commercio respeitados pela satilde politica amados pelo cavalheirismo uteis pelo intercambio O ensino pratico vae resolver esses problemas (O autor 19-2-1929 XAVIER 1929 p 12-13)

A extensatildeo do territoacuterio e as riquezas naturais satildeo acordadas no contexto da

expansatildeo industrial e do acirramento da loacutegica capitalista que comeccedila a esboccedilar-se

no paiacutes Eacute o despertar de ldquoquatro seculos de preparaccedilatildeordquo de ldquoexperiencias politicasrdquo

nas quais o esboccedilo da nacionalidade fora traccedilado (ldquoerguemos uma nacionalidaderdquo)

se consolidara a soberania se tomara posse das extensotildees sertanejas devendo-se

partir portanto da defesa para a accedilatildeo para a ldquocompeticcedilatildeo internacionalrdquo

O Brasil potecircncia estava emergindo de suas condiccedilotildees histoacuterico-ideoloacutegicas

e essa perspectiva passaria agora mais do que nunca a irmanar-se com o discurso

didaacutetico da Geografia

64 Livro escolar de Geografia e representaccedilotildees sobre o ensino geograacutefico no periacuteodo em questatildeo

Notadamente o periacuteodo histoacuterico delineado na pesquisa sobretudo nas

deacutecadas iniciais foi marcado pela ausecircncia de livros A Revista do Ensino

publicaccedilatildeo mineira em ediccedilatildeo comemorativa ao centenaacuterio da lei de 25 de outubro

a esse propoacutesito tem um depoimento interessante sobre a questatildeo dos livros

quando afirma

Natildeo havia livros o mestre tinha de fazer cartas para todos os disciacutepulos Depois do a-b-c a carta de nomes e depois a carta de fora O mestre e os proacuteprios meninos obtinham dos negociantes cartas comerciais para leitura na escola os proacuteprios pais as forneciam e quando faltavam recorria-se aos cartoacuterios onde o mestre obtinha e agraves vezes comprava autos antigos escritos ainda com pena de pato que eram o terror da meninada Eu mesmo passei pelo supliacutecio de decifrar as abreviaturas dos escrivatildees do tempo drsquoel rei (PEREIRA 1927 p 21)

Oliveira Guimaratildees Bomeacuteny (1984 p 23) corroboram esse depoimento

Dos relatos sobre a histoacuteria da literatura didaacutetica no Brasil sabemos que tudo comeccedilou e foi assim ateacute muito longe no tempo com a leitura de cartas manuscritas que professores e pais de alunos forneciam Capistrano de Abreu chegou a atribuir a carecircncia de documentos antigos no Brasil ao consumo deles nas escolas para leitura dos alunos

Vem daiacute a etimologia entre noacutes das cartilhas como gecircnero de letramento Mas com

certeza houve livros que se fizeram presenccedila na vida escolar de professores e de

alunos

Em se tratando da relaccedilatildeo entre livro e ensino de Geografia podemos

indagar como era o ensino dessa disciplina Como os livros participavam desse

cotidiano Para encerrar a trajetoacuteria percorrida com essa disciplina repasso por

algumas representaccedilotildees culturais sobre como a educaccedilatildeo geograacutefica se manifestou

no ambiente escolar e na sociedade utilizando-me para isso de alguns recortes

dos discursos memorialista e ficcional para precisar representaccedilotildees do ensino de

Geografia no seacuteculo XIX

Na realidade contemporacircnea natildeo seria necessaacuterio um estudo formal para

que o indiviacuteduo comum tenha uma noccedilatildeo da diversidade e da constituiccedilatildeo do

mundo do paiacutes em que vive da regiatildeo que habita das relaccedilotildees sociais

estabelecidas a partir da perspectiva do espaccedilo geograacutefico nem sempre esse saber

eacute manifesto e percebido como geograacutefico poreacutem integra as praacuteticas cotidianas pois

a informaccedilatildeo geograacutefica atravessa abundantemente o entretenimento a imprensa

as relaccedilotildees e a circulaccedilatildeo humanas atuais Ateacute o seacuteculo XIX e mesmo muito depois

contudo a cultura ampla e geral era domiacutenio de poucos dos letrados dos que

tinham recursos e possibilidades para viajar e consumir essa cultura O elemento

comum tinha uma percepccedilatildeo bem limitada do mundo como apresentado por

Machado de Assis (1997a p 754) por meio da personagem principal do romance

Quincas Borba

Para laacute da barra o mar imenso o ceacuteu fechado e a solidatildeo Rubiatildeo renovou os sonhos do mundo antigo criou uma Atlacircntida sem nada saber da tradiccedilatildeo Natildeo tendo noccedilotildees de geografia formava uma ideacuteia confusa dos outros paiacuteses e a imaginaccedilatildeo rodeava-os de um nimbo misterioso Como natildeo lhe custava viajar assim navegou de cor algum tempo naquele vapor alto e comprido sem enjocirco sem vagas sem ventos sem nuvens

Esse recorte denomina a que vinha o ensino de Geografia o que instituiacutea

seu objetivo na forma mais simples de apresentar essa formaccedilatildeo discursiva

introduzir o aprendiz nas noccedilotildees geograacuteficas A cultura predominante natildeo mais se

restringia ao universo cristatildeo grego ou romano ndash centralidade nos estudos claacutessicos

e religiosos A Europa ascendia como centro cultural e grande parte do mundo era

sua periferia com isso houve no seacuteculo XIX aproximadamente em seus meados

uma crise dos estudos claacutessicos e por conseguinte um deslocamento no eixo dos

objetos de estudo escolar o que eacute particularmente notaacutevel na Histoacuteria e na

Geografia bem como no fortalecimento do ensino de mateacuterias cientiacuteficas Noccedilotildees e

elementos satildeo lexemas abundantemente utilizados no discurso geograacutefico didaacutetico

apresenta-se nos tiacutetulos da bibliografia didaacutetica nas orientaccedilotildees curriculares na

legislaccedilatildeo pertinente agrave questatildeo No caso Rubiatildeo apresentava dificuldades para

supor a organizaccedilatildeo do mundo seu funcionamento sua constituiccedilatildeo O mais comum

ao brasileiro da eacutepoca geralmente sem bases da educaccedilatildeo formal era conhecer

unicamente a geografia pessoal e representaccedilotildees distorcidas dos demais espaccedilos

Esta era uma realidade tiacutepica dos tempos precedentes agrave escolarizaccedilatildeo A literatura

popular de todos os lugares reflete essa neblina geograacutefica apresentando enredos

entranhados em reinos e paiacuteses distantes apresentando florestas sem

especificaccedilotildees proacuteprias povos de cultura homogecircnea

Neste periacuteodo portanto havendo ensino de Geografia e houve alccedilava um

alcance restrito Todavia como eram as relaccedilotildees do ensino entatildeo existente

No recorte a seguir encontramos no romance A Normalista de Adolfo

Caminha um tiacutepico cotidiano do ensino de Geografia em uma escola do ensino

Normal que merece ser transcrito e examinado pela diversidade de detalhes

Ao meio dia pontualmente chegou o professor de geografia o Berredo um homenzarratildeo alto grosso e trigueiro barba espessa e rente quase cobrindo o rosto olhos pequenos e concupiscentes Cumprimentou o diretor muito afetuoso limpando o suor da testa E consultando o reloacutegio

- Meio dia Satildeo horas de dar o meu recado Com licenccedila

Contavam-se na sala drsquoaula pouco mais de umas dez alunas quase todas de livro aberto sobre as carteiras silenciosas agora agrave espera do professor Maria ocupava um dos bancos da primeira fila

Ao entrar o Berredo houve um arrastar de peacutes todas simularam levantar-se e o ilustre preceptor sentou-se na forma do louvaacutevel costume passeando o olhar na sala vagarosamente com bonomia paternal tal um pastor drsquoovelhas a velar o casto rebanho

A sala era bastante larga para comportar outras tantas disciacutepulas com janelas para a rua e para os terrenos devolutos muito ventilada Era ali que funcionavam as aulas de ciecircncia fiacutesicas e naturais em horas diferentes das de geografia Natildeo se via um soacute mapa uma soacute carta geograacutefica na paredes onde punham sombras escuras peles de animais selvagens colocadas por cima de vidraccedilas que guardavam intactos aparelhos de quiacutemica e fiacutesica redomas de vidro bojudas e reluzentes velhas maacutequinas pneumaacuteticas nunca servidas pilhas eleacutetricas de Bunsen incompletas sem o amaacutelgamas de zinco os condutores pendentes num abandono glacial coleccedilotildees de minerais numerados em caixinhas no fundo da sala em prateleiras volantes Nenhum indiacutecio poreacutem de esfera terrestre

O professor pediu um compecircndio que folheou de relance Qual era a liccedilatildeo A Oceania Pois bem

- Diga-me senhora Da Maria do Carmo A Oceania eacute ilha ou continente

- Maria fechou depressa o compecircndio que estivera lendo muito embaraccedilada e fitando o mestre batendo com os dedos na carteira com um risinho

- Somente uma parte da Oceania pode ser considerada um continente

- Perfeitamente bem

E perguntou radiante como se chama essa parte da Oceania que pode ser considerada continente explicou demoradamente e categoricamente a natureza das ilhas australianas elogiando as belas paisagens claras da Nova Zelacircndia a sua vegetaccedilatildeo opulenta as riquezas do seu solo o seu clima a sua fauna com entusiasmo de touriste animando-se pouco e pouco dando pulinhos intermitentes na cadeira de braccedilos que gemia ao peso de seu corpo

Maria muito seacuteria sem mover-se ouvia com atenccedilatildeo o olhar fixo nos olhos do Berredo bebendo-lhe as palavras admirando-o adorando-o quase como se visse nele um doutor em ciecircncias um saacutebio consumado um grande espiacuterito Decididamente era um talento o Berredo Gostava imenso de o ouvir falar achava-o eloquumlente claro expliacutecito capaz de prender um auditoacuterio ilustrado Era a sua aula predileta a de geografia o Berredo tornava-a mais interessante ainda Os outros o professor de francecircs e o de ciecircncias nem por isso davam sua liccedilatildeo como papagaios e adeus ateacute amanhatilde O Berredo natildeo senhores tinha um excelente meacutetodo de ensino sabia atrair a atenccedilatildeo das alunas com descriccedilotildees pitorescas e pilheacuterias encaixadas a jeito no fio do discurso

ldquoMuitas ilhas da Oceania dizia ele coccedilando a barba satildeo habitadas por selvagens antropoacutefagos como os da Ameacuterica antes de sua descobertardquo

ldquoImaginem as senhoras que horror Homens devorando-se uns aos outros comendo-se com a mesma satisfaccedilatildeo com a mesma voracidade com o mesmo canibalismo com que noacutes outros civilizados trinchamos um beef-steak ao almoccedilordquo

Houve um casquinada de risos agrave surdina

Agora se o Zuza [diretor da instituiccedilatildeo] te come disse baixinho por traacutes de Maria do Carmo uma moccediloila de pincenez Toma cuidado menina o bicho tem cara de antropoacutefago

ldquoE note-se continuou o Berredo as proacuteprias mulheres natildeo escapam agrave fuacuteria das tribos inimigas devoram-se tambeacutemrdquo

- Virgem fez Maria com espanto

ldquoAs senhoras com certeza preferem viver no Cearaacute a habitar a Papuaacutesiardquo

Credo fizeram muitas a uma voz

E no Brasil haacute desses selvagens perguntou estouvadamente uma loura que se escondia na uacuteltima fila estirando o pescoccedilo

O pedagogo sorriu passando a matildeo cabeluda na barba e muito delicado num tom beneacutevolo

ldquoAtualmente existem poucos Restos de tribos extintasrdquo

E continuou a falar com a loquacidade de um sacerdote a pregar a moral explicando a vida e costumes dos selvagens da Nova Zelacircndia citando Juacutelio Verne cujas obras recomendava agraves normalistas com um ldquoprecioso tesouro de conhecimentos uacuteteis e agradaacuteveisrdquo Lessem Juacutelio Verne nas horas drsquooacutecio era sempre melhor do que perder tempo com leituras sem proveito muitas vezes improacuteprias de uma moccedila de famiacutelia

Vaacute esperando murmurou a Liacutedia

ldquoEu estou certo dizia o Berredo convicto de que as senhoras natildeo lecircem livro obscenos mas refiro-me a esses romances sentimentais que as moccedilas geralmente gostam de ler umas historiazinhas fuacuteteis de amores galantes que natildeo significam absolutamente coisa alguma e soacute servem de transtornar o espiacuterito agraves incautas Aposto em como quase todas as senhoras conhecem a Dama das cameacutelias a Luciacuteolardquo

Quase todas conheciam

ldquoEntretanto rigorosamente satildeo peacutessimos exemplosrdquo

Tomou um gole drsquoaacutegua e continuando

ldquoNada As moccedilas deviam ler somente o grande Juacutelio Verne o propagandista das ciecircncias Comprem a Viagem ao Centro da Terra Os filhos do Capitatildeo Grant e tantos outros romances uacuteteis e encontraratildeo neles alta soma de ensinamentos valiosos de conhecimentos praacuteticosrdquo

O contiacutenuo veio anunciar que estava terminada a hora (CAMINHA 1936 p 76-79)

Vaacuterias nuances da educaccedilatildeo geograacutefica podem ser percebidas nesse

recorte Em primeiro lugar nota-se o nuacutemero reduzido de alunos por turma ndash dez

normalistas no caso O seacuteculo XIX natildeo teve um movimento massivo de

escolarizaccedilatildeo sobretudo no ensino secundaacuterio A massificaccedilatildeo do ensino brasileiro

teria um movimento caracteriacutestico apenas no iniacutecio no seacuteculo XX notadamente a

partir dos anos 1930 nos primeiros sinais de um movimento desse tipo ndash embora

apenas nos anos 1990 se teria uma intensificaccedilatildeo nesse sentido Toda a histoacuteria

editorial dos livros didaacuteticos nos oitocentos por meio de suas ediccedilotildees indicia esse

acesso restrito agrave educaccedilatildeo formal baixas tiragens longo periacuteodo entre as reediccedilotildees

quando as havia

Haacute no recorte ainda vestiacutegios do saber ensinado e do saber apreendido No

recorte anterior temos a representaccedilatildeo de um adulto Rubiatildeo que havia sido

professor no interior de Minas Gerais escolarizado portanto mas que natildeo tinha

uma percepccedilatildeo formalizada do mundo sendo propenso mais agrave fantasia que agrave

realidade em seus pensamentos Neste trecho de A Normalista vemos uma

situaccedilatildeo de ensino e aprendizado da Geografia inclusive com a utilizaccedilatildeo do livro no

ensino ldquoO professor pediu um compecircndio que folheou de relance Qual era a liccedilatildeo

A Oceania Pois bemrdquo e tambeacutem a libertaccedilatildeo desse discurso ndash ldquo[] elogiando as

belas paisagens claras da Nova Zelacircndia a sua vegetaccedilatildeo opulenta as riquezas do

seu solo o seu clima a sua fauna com entusiasmo de touriste animando-se pouco

e pouco dando pulinhos intermitentes na cadeira de braccedilos que gemia ao peso de

seu corpordquo O oposto condizente agrave situaccedilatildeo dos professores de francecircs e de

ciecircncias perfeitamente pode ser extendido a outros professores de Geografia pois

era um comportamento tiacutepico muitas vezes testemunhado e entrevisto por

historiadores da educaccedilatildeo ldquo[] davam sua liccedilatildeo como papagaios e adeus ateacute

amanhatilderdquo ndash o despreparo do professor frequentemente coadunava com as poliacuteticas

de favorecimento que usurpavam dos cargos docentes como moeda poliacutetica para

distribuiccedilatildeo de empregos aleacutem do despreparo pedagoacutegico e de formaccedilotildees

especiacuteficas na aacuterea de atuaccedilatildeo (BITTENCOURT 2008)

O recorte vislumbra tambeacutem a constituiccedilatildeo dos ambientes fiacutesicos das salas

de aula de Geografia no ensino secundaacuterio disposiccedilatildeo precaacuteria de materiais os

mapas e esfera no exemplo limitados ainda talvez pelo dispecircndio desses artigos

graacuteficos Adiante demonstro que Helena Morley101 (1988 p 87) faz referecircncia a

essa escassez ldquoeu natildeo tenho mapa e mesmo que tivesse natildeo estudaria no mapardquo

Lembro que era um tempo informacional e iconicamente sem abundacircncia embora o

ensino da Geografia nunca tenha podido indispor-se das representaccedilotildees sua

essecircncia para aleacutem dos significados e sentidos instituiacutedos parte da compreensatildeo da

materialidade do mundo No caso acima a sala era compartilhada com as disciplinas

de ciecircncias fiacutesicas e naturais e ali entre o aparelhamento dessas mateacuterias ldquoNatildeo se

via um soacute mapa uma soacute carta geograacutefica nas paredes [] Nenhum indiacutecio poreacutem

de esfera terrestrerdquo A posiccedilatildeo que o sujeito narrador assume de forma criacutetica deixa

entrever o pressuposto de que uma sala de ensino de Geografia deveria dispor de

certos materiais como mapas e esferas ndash algo que talvez fosse possiacutevel encontrar

em algumas instituiccedilotildees a exemplo do Coleacutegio Pedro II ou Liceus provinciais

Observa-se igualmente a organizaccedilatildeo curricular com professores

nomeados para cada disciplina em horaacuterios proacuteprios e a presenccedila de compecircndios

em uso pelo professor e pelas discentes O ensino de Geografia pode ser notado a

princiacutepio como classificatoacuterio o que eacute uma ilha o que eacute um continente como essas

definiccedilotildees enquadrariam a Oceania O dizer do professor eacute o que difere a estrutura

do livro de ensino e aprendizagem o ldquoentusiamo touristerdquo que ldquo[] com descriccedilotildees

pitorescas e pilheacuterias encaixadas a jeito no fio do discursordquo despertava o interesse

das discentes particularmente da personagem Maria E aqui se tem um exemplo

101

Pseudocircnimo de Alice Dayrell Caldeira Brant (1880-1970) que publicou seu diaacuterio da adolescecircncia em 1942

notoacuterio em que a Geografia tambeacutem foi uma disciplina de predileccedilatildeo acentuada pelo

carisma do professor mas atrativa em si para a personagem

As praacuteticas metodoloacutegicas pouco modificaram e pouco se modificariam ao

fim do periacuteodo delimitado nesta tese Manteve-se a memorizaccedilatildeo como forma de

aquisiccedilatildeo do saber por meio de liccedilotildees ou de pontos ndash trechos demarcados pelos

professores para estudo aferido nos testes ou verificaccedilatildeo cotidiana do aprendizado

Domingo 17 de setembro de 1893

Ontem foi dia de decorar pontos de Geografia Eu natildeo tenho mapa e mesmo que tivesse natildeo estudava no mapa eacute tatildeo mais faacutecil decorar A sala de visitas estava vazia eu me tranquei laacute e fiquei estudando alto passeando de um lado para outro Vovoacute abriu a porta umas duas vezes durante esse tempo para me dizer Chega minha filha isto cansa Vocecirc eacute tatildeo magrinha Mas eu respondia Natildeo vovoacute deixa-me decorar todos os pontos de uma vez depois recordar eacute mais faacutecilrdquo (MORLEY 1998 p 87)

- O diretor o diretor veio avisar a Jacintinha uma feiosa drsquoolho vazado com sinais de bexiga no rosto e que estava acabando de decorar alto a liccedilatildeo de geografia (CAMINHA 1936 p 75)

Memorizar recordar a memorizaccedilatildeo e transpocirc-la para os testes orais e

escritos foram movimentos que perfaziam o ato de estudar e aprender neste

periacuteodo e ateacute depois dele ldquoa forma de ensino que predominou de modo

generalizado foi a da memorizaccedilatildeo Outro tipo de ensino natildeo poderia conciliar-se

com a geografia descritivardquo (ISSLER 1973 p 76) Tatildeo automaacutetica era essa

metodologia de ensino e de aprendizagem que um autor didaacutetico conforme

menciona Issler estendendo o texto um pouco aleacutem com explicaccedilotildees notas e

observaccedilotildees foi especiacutefico ao dividir sua superfiacutecie discursiva com dois tamanhos

de tipos graacuteficos alertando ldquoaquilo que estaacute em typo miudo eacute soacute para lerrdquo

(BURGAIN 1885 p 71) sem a necessidade de decorar portanto

Por extensatildeo as avaliaccedilotildees procuravam aferir esse saber memorizado

tanto nas avaliaccedilotildees escritas quanto nas orais

Saacutebado 9 de dezembro de 1893

Natildeo passei do primeiro ano soacute e soacute por falta de sorte e mais nada

No exame de Geografia quase ningueacutem deixa de colar Todas noacutes preferimos fazer sanfona eacute tatildeo mais faacutecil Fiz todas com o maior cuidado e fui para o exame com o bolso cheio delas

Saiu para a prova escrita o ponto Rios do Brasil Oacutetimo Tirei minha sanfoninha ia copiando e dizendo alto para as outras tambeacutem escreverem Penso que foi isto que deu na vista Seu Artur Queiroga desce do estrado fica perto de minha mesa e eu sem poder continuar a escrever Meti a sanfona na carteira e pus as matildeos na mesa Ele disse Vamos continue Eu estava nessa hora descrevendo o Rio Amazonas Nem sei por que me veio a ideacuteia de falar o que falei foi o que atrapalhou tudo Ele repetia Vamos Escreva Eu respondi Natildeo posso Seu Artur Estou afogada no Rio Amazonas Ele dobrou uma gargalhada que chamou a atenccedilatildeo dos outros examinadores e eles vieram tambeacutem para a minha mesa Seu Artur disse Pois vou salvaacute-la Vamos ver se tirando vocecirc do Amazonas vocecirc segue e foi dizendo Corre para aqui recebe estes afluentes desemboca acolaacute Mas foi impossiacutevel seguir A coisa soacute serviu para distrair os professores as outras colarem sossegadas e eu e a minha turma natildeo fazermos exame

Tive de entregar a sanfona e Seu Artur soacute querendo que eu explicasse por que fazia aquilo em vez de estudar Respondi que eu mesma natildeo sabia que me ensinaram assim e eu achei o sistema bom

Depois desse exame os outros foram na mesma toada Vinham os professores se distrair comigo e as outras colavam descansadas Foi minha sorte Que fazer (MORLEY 1998 p 112)

Aleacutem das provas escritas eram comuns os exames orais sobretudo aqueles

perioacutedicos que semanalmente procuravam aferir o aprendizado dos uacuteltimos dias ndash

como a ldquosabatinardquo praacutetica instituiacuteda desde os jesuiacutetas ndash ou para afericcedilatildeo do

desenvolvimento das turmas para autoridades escolares como o diretor

- Diga-me a Sra D Sofia de Oliveira quantos satildeo os poacutelos da Terra Veja como responde eacute uma pequena recapitulaccedilatildeo Natildeo se acanhe Quantos satildeo os poacutelos da Terra

O Berredo lembrou-se de fazer uma ligeira recapitulaccedilatildeo para dar ideacuteia do adiantamento de suas alunas

Sofia de Oliveira era uma pequerrucha de olhos acesos morena verdadeiro tipo de cearense queixo fino em angulo reto fronte estreita olhos negros e inteligentes

- Quantos satildeo os poacutelos da Terra fez ela olhando para o teto como procurando a resposta embatucada Os poacutelos Os poacutelos satildeo quatro

Risos

- Quatro Pelo amor de Deus Tenha a bondade de nomeaacute-los

- Norte sul leste oeste

Nova hilaridade

- Ateacute eacute uma das minhas melhores alunas Natildeo confunda tornou para a normalista Olhe que satildeo poacutelos e natildeo pontos cardeais

Outro disparate

- Haacute uma infinidade de poacutelos

- Ora Adiante D Maria do Carmo

Maria estremeceu embatucando tambeacutem sem dizer palavra sufocada A presenccedila do Zuza anestesiava-a incomodava-lhe atrozmente Sob a pressatildeo do olhar magneacutetico do estudante que a fixava sua fisionomia transformou-se

- Entatildeo D Maria Tambeacutem estaacute acanhada

- Passe adiante pediu o Zuza compadecido

Duas laacutegrimas rorejaram nas faces da normalista caindo com um sonzinho seco sobre a carteira Estava numa das suas crises nervosas Outras duas laacutegrimas acompanharam a primeira vieram outras outras e Maria cobrindo o rosto com seu lencinho de rendas desatou a chorar escandalosamente

- Sente-se incomodada tornou o Berredo D Maria Olhe Tenha a bondade de levantar a cabeccedila

- Estaacute nervosa disse o presidente com o seu belo ar de ceacuteptico elegante

Pudores de donzela murmurou o diretor Isso acontece

O Berredo passou a matildeo no bigode desapontado e encontrando o olhar faiscante de Liacutedia A senhora Quantos satildeo os poacutelos da Terra

- Dois o poacutelo norte e o poacutelo sul

- Perfeitamente confirmou o professor batendo com o peacute no estrado e esfregando as matildeos satisfeito Dois minhas senhoras disse mostrando os dois dedos abertos em acircngulo dois O poacutelo norte que eacute o extremo norte da linha imaginaacuteria que passa pelo centro da Terra e o poacutelo sul isto eacute a outra extremidade diametralmente oposta eis aqui estaacute Estaacute ouvindo D Sofia Estaacute ouvindo D Maria do Carmo Satildeo os dois poacutelos da Terra

- Estou satisfeito disse o presidente erguendo-se (CAMINHA 1936 p 80-82)

A emulaccedilatildeo e seu contraacuterio dividiam o caminho pedagoacutegico colocando o

aluno entre o galardatildeo (estrelas menccedilotildees honrosas medalhas de prata e de ouro) e

a desonra (desfiles ou uso de ldquoorelhas de burrordquo bolos de palmatoacuteria ajoelhamento

sobre gratildeos e outros castigos corporais e constrangimentos morais)

O domiacutenio da onomaacutestica e da estatiacutestica norteava o sucesso da

aprendizagem geograacutefica

Entrei pela geografia como em casa minha As anfractuosidades marginais dos continentes desfaziam-se nas cartas por maior brevidade do meu trabalho os rios dispensavam detalhes complicados dos meandros e afluiacuteam-me para a memoacuteria abandonando o pendor natural das vertentes as cordilheiras imensa tropa de amestrados elefantes arranjavam-se em sistemas de orografia faciacutelima reduzia-se o nuacutemero das cidades principais do mundo sumindo-se no chatildeo para que eu natildeo tivesse de decorar tanto nome arredondava-se a cota das populaccedilotildees perdendo as fraccedilotildees importunas com prejuiacutezo dos recenseamentos e maior gravame dos uacuteteros nacionais uma mnemocircnica feliz ensinava-me a enumeraccedilatildeo dos estados e das proviacutencias Graccedilas agrave destreza do Sanches natildeo havia incidente estudado da superfiacutecie terrestre que se me natildeo colasse ao ceacuterebro como se

fosse minha cabeccedila por dentro o que eacute por fora a esfera do mundo (POMPEacuteIA 1971 p 27)

A formaccedilatildeo de professores era outra questatildeo ainda insoluacutevel Em pleno

seacuteculo XX essa situaccedilatildeo passaria por transformaccedilotildees embora sem universalizaccedilatildeo

a proacutepria criaccedilatildeo das escolas normais sinalizava as tentativas nesse sentido Uma

crocircnica de Graciliano Ramos (2007 p 148-149) todavia indica alguma reflexatildeo do

perfil meacutedio do professor no interior do paiacutes

Realmente esse professor que para livrar-se de um obstaacuteculo mistura alhos com bugalhos mete os peacutes pelas matildeos deixa os rapazes em jejum natildeo eacute daqui nem dali eacute de quase todas as cidades do interior Muacutesico de sete instrumentos criatura fatigada depois de exercer dez ofiacutecios sem se fixar em nenhum esbarra com um dilema temeroso ndash queimar os miolos ou abrir uma escola [] Creio que os professores sertanejos satildeo com diferenccedilas pouco sensiacuteveis indiviacuteduos como eu Ensinam antes de aprenderem Talvez fosse mais razoaacutevel aprender para ensinar Mas poderei eu sensuraacute-los Natildeo decerto Todos precisamos viver E desejamos naturalmente aparentar quem nao somos

O domiacutenio de conteuacutedos geograacuteficos considerando-se a vida cultural

brasileira acondicionava-se ao verniz cultural necessaacuterio agrave educaccedilatildeo e agrave ilustraccedilatildeo

dos indiviacuteduos (ROCHA 1996) inclusive das mulheres

Digam-me se em tais condiccedilotildees a vida de Caetaninha podia ser alegre Natildeo lhe faltava nada eacute verdade porque o padrinho era rico Foi ele mesmo que a educou desde os sete anos quando perdeu a mulher ensinou-lhe a ler e escrever francecircs um pouco de histoacuteria e geografia para natildeo dizer quase nada e incumbiu uma das mucamas de lhe ensinar crivo renda e costura Tudo isso eacute verdade (ASSIS 1997b p 457-458)

No entanto a educaccedilatildeo geograacutefica igualmente entalhou com a Histoacuteria

nesse contexto o discurso patrioacutetico (VLACH 1988) natildeo poucas vezes inflamado

como na saacutetira feita por Lima Barreto

Durante os lazeres burocraacuteticos estudou mas estudou a Paacutetria nas suas riquezas naturais na sua histoacuteria na sua geografia na sua literatura e na sua poliacutetica Quaresma sabia as espeacutecies de minerais vegetais e animais que o Brasil continha sabia o valor do ouro dos diamantes exportados por Minas as guerras holandesas as batalhas do Paraguai as nascentes e o curso de todos os rios Defendia com azedume e paixatildeo a proeminecircncia do Amazonas sobre todos os demais rios do mundo Para isso ia ateacute ao crime de amputar alguns quilocircmetros ao Nilo e era com este rival do seu rio que ele mais implicava Ai de quem o citasse na sua frente Em geral calmo e

delicado o major ficava agitado e malcriado quando se discutia a extensatildeo do Amazonas em face da do Nilo (BARRETO 1981 p 27)

Estes recortes satildeo representativos mas distantes de caracterizar o

significado e a presenccedila cultural da Geografia na vida brasileira um flanco de

pesquisa que ainda requer muita dedicaccedilatildeo No entanto aborda suficientemente a

questatildeo para deixar entrever algo do que representou e como agiu a Geografia e

seu ensino nas deacutecadas iniciais de sua trajetoacuteria

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta pesquisa partiu do pressuposto de que na bibliografia didaacutetica de

Geografia contemporacircnea eacute claramente perceptiacutevel a correlaccedilatildeo da produccedilatildeo dos

livros com o discurso institucionalizado da Geografia processo que se estreita desde

a institucionalizaccedilatildeo desta ciecircncia no Brasil na deacutecada de 1930 que afere a

importacircncia do saber produzido na academia e da formaccedilatildeo de professores nessa

instacircncia Pressuposto isso coloquei-me algumas indagaccedilotildees anteriormente agrave

institucionalizaccedilatildeo dessa ciecircncia como se dava a inscriccedilatildeo discursiva dos manuais

de Geografia Quais as condiccedilotildees histoacutericas e que movimentos de fato definiram a

formaccedilatildeo do ensino de Geografia Como se deu a relaccedilatildeo entre a produccedilatildeo de

manuais e a disciplina de Geografia Como se caracterizam aqueles manuais de

Geografia

Satildeo questotildees relevantes a meu ver pois considero a tese de que os livros

didaacuteticos de Geografia satildeo um dos lugares manifestos do discurso histoacuterico-

ideoloacutegico do pensamento geograacutefico no Brasil instituinte tambeacutem da histoacuteria desta

ciecircncia

Por conseguinte o objetivo desta tese foi compreender a bibliografia didaacutetica

do ensino de Geografia bem como a histoacuteria e o pensamento deste ensino entre

1814 e a deacutecada de 1930 por meio da descriccedilatildeo de sua trajetoacuteria constitutiva e da

anaacutelise dos discursos dos seus sujeitos Para isso parti do pressuposto de que

pesquisar uma bibliografia didaacutetica eacute conhecer tambeacutem a disciplina que a constitui

e sua histoacuteria percorrendo o pensamento e os saberes escolares que a sustenta

Para empreender o cumprimento desse objetivo busquei na Anaacutelise do

Discurso na Histoacuteria das Disciplinas Escolares e na Histoacuteria do Curriacuteculo subsiacutedios

teoacuterico-metodoloacutegicos que me possibilitassem apreender a bibliografia didaacutetica de

Geografia como objeto de pesquisa

A Anaacutelise do Discurso por inovar a questatildeo da interpretaccedilatildeo demonstra ser

uma contribuiccedilatildeo importante para conhecer a educaccedilatildeo geograacutefica quanto agrave

consideraccedilatildeo de relaccedilotildees que atravessam a linguagem a Histoacuteria a ideologia as

condiccedilotildees de produccedilatildeo a constituiccedilatildeo dos sujeitos e dos sentidos Permite que se

busque o discurso didaacutetico em sua inscriccedilatildeo na conjuntura pedagoacutegica poliacutetica e

legislativa que aferem as condiccedilotildees para a produccedilatildeo e a circulaccedilatildeo deste discurso

na macroinstacircncia histoacuterica ao passo que permite uma outra trajetoacuteria em uma

microinstacircncia referente aos sentidos aos enunciados aos sujeitos possibilitando a

identificaccedilatildeo de regularidades constituiacutedas na dispersatildeo do dizer

Para a Histoacuteria das Disciplinas Escolares a disciplina enquanto organizaccedilatildeo

institucional dos saberes escolares atua em atendimento agraves finalidades pretendidas

para a educaccedilatildeo conformando para isso os sujeitos desse processo dentre os

quais destaquei o papel do sujeito-autor Estes relacionando-se essa aacuterea com a

Anaacutelise do Discurso no contexto das condiccedilotildees histoacuterico-discursivas de seus

tempos operam como professores interpretando e desenvolvendo o curriacuteculo

disciplinar para um outro sujeito o aluno entatildeo abstrato sem rosto sem nome sem

regionalidade alojado e isolado em uma faixa etaacuteria De forma que o sujeito autor

procura estabelecer um texto embasado em certa autoridade do dizer enunciando

uma superfiacutecie discursiva lisa (marcada pelo apagamento do Outro como proacuteprio agrave

heterogeneidade constitutiva) dizendo certezas inquestionaacuteveis que ocultam as

duacutevidas os conflitos as contradiccedilotildees Os conceitos e processos cientiacuteficos dentre

outros ndash tais como os documentos da administraccedilatildeo puacuteblica ndash satildeo a esse propoacutesito

traduzidos (adaptados resumidos compendiados) formando com isso o discurso

didaacutetico Trabalhando pois com os resultados mais conclusivos e assimilaacuteveis para

o alunado o discurso didaacutetico atravessa os tempos constituindo-se de forma aditiva

subtrativa ampliando reduzindo excluindo silenciando dizeres concernentes ao

objeto e aos objetivos da disciplina

Nesse contexto o saber escolar perpassa por trecircs instacircncias o saber a ser

ensinado o saber ensinado e o saber apreendido O que o professor ensinou e o

que o aluno aprendeu desviam-se do alcance histoacuterico circunscrito pelo objeto dessa

tese Por conseguinte centrei a pesquisa no saber a ser ensinado aquele que estaacute

documentado na legislaccedilatildeo nos curriacuteculos prescritos o que nos leva diretamente ao

livro didaacutetico como testemunho histoacuterico das formas de organizar e desenvolver uma

disciplina escolar bem como inscrever os seus discursos

A bibliografia compreendida como a sistematizaccedilatildeo do acervo de fontes

identificadas acessadas ou adquiridas reuniu dados referentes a 276 tiacutetulos de 510

ediccedilotildees que potencialmente alcanccedilaram 950 ediccedilotildees Desse total 174 obras

tiveram ediccedilatildeo uacutenica e 102 foram reeditadas uma ou mais vezes Esse acervo foi

escrito por 183 autores que por formaccedilatildeo ou praacutetica profissional foram literatos

advogados poliacuteticos jornalistas religiosos engenheiros e professores de diversas

formaccedilotildees dentre outros Publicadas em 25 localidades em sua maioria os

exemplares circularam localmente ou regionalmente o que talvez tenha sido

responsaacutevel pela frequente queixa de ausecircncia de livros para esse ensino

sobretudo atualizados Esse conjunto bibliograacutefico instituiu o corpus da pesquisa

constituiacutedo por livros compendiados traduzidos adaptados produzidos ou

importados para o ensino de Geografia brasileiro no periacuteodo delimitado

Na literatura sobre a histoacuteria do ensino de Geografia brasileiro haacute poucas

referecircncias ao periacuteodo anterior agrave institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica no que diz

respeito aos livros didaacuteticos desse ensino Prevalece sobretudo o argumento de

que existiram poucos e raros livros de Geografia com predomiacutenio de textos

importados apresentando discursos apoliacuteticos natildeo cientiacuteficos o que considerei

reduccedilotildees que se engendram no desconhecimento histoacuterico do livro didaacutetico dessa

disciplina

A descriccedilatildeo e a anaacutelise em especial a discursiva permitiram-me perceber

para aleacutem da histoacuteria factual o processo histoacuterico da constituiccedilatildeo da Geografia

escolar pelo testemunho dos seus manuais didaacuteticos

Ao longo da histoacuteria do Brasil passaram-se cerca de trezentos anos sem

que a Geografia se fizesse notar como um objetivo educacional Durante a vigecircncia

da atuaccedilatildeo dos padres da Companhia de Jesus no ensino os saberes geograacuteficos

atuaram em um papel secundaacuterio como referecircncia e como saber auxiliar ao estudo

da retoacuterica e ao aprendizado da leitura ndash ao que denominei ensino impliacutecito A

existecircncia de manuais didaacuteticos estaacute intrinsecamente relacionada agrave existecircncia de

disciplinas autocircnomas e agrave presenccedila de um curriacuteculo formulado e ativo Natildeo estando

a Geografia articulada nesses termos nos periacuteodos jesuiacutetico e pombalino os livros

didaacuteticos de Geografia inexistiram No acervo dos jesuiacutetas constavam apenas obras

geograacuteficas da Antiguidade e da Idade Meacutedia a exemplo drsquoO Tractatus de Sphaera

de Sacrobosco posto que o conhecimento mais proacuteximo do saber geograacutefico

ensinado nos cursos jesuiacuteticos foi a Cosmografia recomendada no Ratio Studiorum

Esse cenaacuterio apresentou mudanccedilas significativas apoacutes a expulsatildeo dos

jesuiacutetas e o ostracismo do periacuteodo pombalino De fato as deacutecadas iniciais do seacuteculo

XIX foram o tempo do surgimento da Geografia como disciplina autocircnoma no Rio de

Janeiro cidade que teve a primazia das atividades culturais e editoriais da educaccedilatildeo

brasileira daquele seacuteculo e foi nesse cenaacuterio que surgiram as primeiras geraccedilotildees de

uma bibliografia para o ensino de Geografia A Corte joanina foi o ponto de partida

posto que as primeiras manifestaccedilotildees da Geografia como disciplina independente

surgiram no ensino superior na organizaccedilatildeo curricular de alguns dos primeiros

cursos cientiacuteficos introduzidos no territoacuterio brasileiro no contexto da formaccedilatildeo da

Academia Real Militar (1810) tese essa defendida nessa pesquisa Nesses termos

o contexto de emergecircncia da educaccedilatildeo geograacutefica foi a introduccedilatildeo de uma

educaccedilatildeo cientiacutefica na Colocircnia em niacutevel superior Provavelmente por essa inserccedilatildeo

a Geografia passa a ser estudada em aulas avulsas como preparatoacuterio para o

ingresso no ensino superior

As obras que fundamentam essa iniciativa foram as do Abbeacute Nicolle de La

Croix e do geoacutegrafo escocecircs John Pinkerton influentes no ensino de Geografia

francecircs que por sua vez foi modelo do ensino de Geografia brasileiro nesse e em

outros periacuteodos e que satildeo a mais antiga referecircncia geograacutefica recomendada pelo

Estado para o ensino de Geografia Tratava-se de uma Geografia articulada na

descriccedilatildeo dos espaccedilos da Terra tendo por princiacutepio sua divisatildeo poliacutetica

apresentando a onomaacutestica a estatiacutestica a hierarquia e a Histoacuteria como meios de

fazer conhecidas as naccedilotildees constituiacutedas do mundo com atenccedilatildeo particular agraves

corografias nacionais embora a brasileira de iniacutecio natildeo tenha tido representaccedilatildeo o

que soacute ocorreria mais tarde apoacutes o processo de independecircncia poliacutetica Este seraacute o

contexto do surgimento alguns anos depois da Corografia Brasiacutelica de Ayres de

Casal A Geografia estudada na Academia Militar foi aquela introduzida para as

elites dentre as quais alguns se tornaram futuros lentes do ensino secundaacuterio eou

autores dos manuais de Geografia

Compreender essa Geografia permitiu conhecer o surgimento do ensino de

Geografia brasileiro em um momento no qual faltavam instituiccedilotildees matildeo de obra

especializada materiais de estudo organizaccedilatildeo sistecircmica tanto institucional quanto

curricular Este foi o cenaacuterio em que pela primeira vez a Geografia foi convocada

como disciplina independente para o processo de instruccedilatildeo no Brasil

A bibliografia didaacutetica comeccedilou a se formar e a ganhar forccedila no contexto em

que se desenvolveu um mercado editorial brasileiro a par de um certo

desenvolvimento da educaccedilatildeo que seraacute por todo o periacuteodo em anaacutelise aqueacutem das

demandas reais revelando-se um serviccedilo precaacuterio e elitizado com iacutendices muito

altos de analfabetismo e iacutendices muito baixos de indiviacuteduos com qualificaccedilatildeo teacutecnica

mas que permitiraacute a ascensatildeo e a consolidaccedilatildeo da Geografia como saber escolar

com uma bibliografia constituiacuteda

O Estado brasileiro do seacuteculo XIX em diante foi o grande agente

articulador da educaccedilatildeo por forccedila legisladora A fundaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II

consolidou um processo anunciado desde a deacutecada de 1810 a partir de quando o

ensino de Geografia em niacutevel elementar sobreviveu inicialmente nas aulas avulsas

de Geografia o que marcou o surgimento de livros didaacuteticos no iniacutecio da deacutecada de

1820 No iniacutecio dos anos 1830 dos cursos avulsos migrou para diversas instituiccedilotildees

puacuteblicas provinciais e em 1837 integrou o quadro curricular do Coleacutegio Pedro II

estabelecendo-se definitivamente no ensino secundaacuterio O Coleacutegio Pedro II (e os

cursos juriacutedicos) influenciou diretamente na consolidaccedilatildeo da Geografia como

disciplina de forma que o ensino de Geografia introduzido como disciplina no

ensino superior ganhou forccedilas no ensino secundaacuterio e posteriormente ampliou-se

para o ensino primaacuterio ndash onde participou de um processo significativo de

nacionalizaccedilatildeo sobretudo mais tarde ao findar da Primeira Repuacuteblica No acircmbito do

Coleacutegio Pedro II os cursos independentes transformaram-se em programas seriados

e anuais A partir daiacute o ensino de Geografia atuou no contexto do fortalecimento da

Monarquia sendo chamada para contribuir com a civilizaccedilatildeo da naccedilatildeo a partir do

modelo europeu liderado pela elite poliacutetica participando da construccedilatildeo da

nacionalidade brasileira A accedilatildeo do Estado nesse momento no campo educacional

queria ombrear o paiacutes com as naccedilotildees civilizadas agindo portanto nos cursos

superiores e notadamente no que interferisse no acircmbito deles como eacute o caso dos

preparatoacuterios e do ensino secundaacuterio como parte desta manobra

Assim o ensino de Geografia com intensidade variante assumiu um duplo

papel o da nacionalizaccedilatildeo e o da cultura geral aleacutem de formar cientificamente

profissionais liberais e teacutecnicos Perpassou portanto por um papel cultural um

papel nacional e um papel cientiacutefico

Ateacute o fim do Impeacuterio houve 10 atos legais de regulaccedilatildeo da estrutura

pedagoacutegica da grade curricular e dos saberes a serem ministrados no Coleacutegio

Pedro II determinando a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio e delimitando os

espaccedilos que a Geografia assumiu na grade das disciplinas escolares A trajetoacuteria

dessa legislaccedilatildeo demonstra o estabelecimento da Geografia como disciplina com

maior ou menor carga horaacuteria em todas ou em apenas algumas seacuteries Natildeo teve um

nome comum natildeo era apenas ainda ldquoGeografiardquo seus saberes responderam por

Cosmografia por Corografia foi qualificada e dividida em Antiga Matemaacutetica Geral

Descritiva Sua sucessatildeo de nomes demonstra pensamentos diferentes e em

construccedilatildeo sobre esse saber didaacutetico pensamentos que dizem respeito com

frequecircncia agrave divisatildeo do globo para estudo ou agrave complexidade da organizaccedilatildeo do

ensino A Geografia surge e desenvolve-se irmanada com a Histoacuteria ou o ensino de

Geografia precedia o de Histoacuteria ou ocorriam simultaneamente Natildeo havia

separaccedilatildeo clara nos programas e nas regecircncias Mesmo a literatura didaacutetica e de

referecircncia ateacute a deacutecada de 1850 evidencia essa conjunccedilatildeo materializando ambas

sem limites claros de maneira dependente

Os discursos didaacuteticos de Geografia desde seu surgimento inscreveram-se

direta ou indiretamente na Geografia moderna em sua vertente claacutessica emergente

no seacuteculo XVIII Por todo o periacuteodo do Impeacuterio a produccedilatildeo dos manuais de

Geografia se deu por esse ldquoparadigmardquo assimilando a estrutura da Geografia Fiacutesica

da Geografia Poliacutetica e da Cosmografia como vertentes da sua organizaccedilatildeo

Nacionalmente por quase um seacuteculo a obra de Ayres de Casal referenciou a

concepccedilatildeo geograacutefica escolar sendo portanto o expoente e a perspectiva

dominante no seacuteculo XIX quanto aos estudos corograacuteficos foi amplamente utilizada

sua estrutura de regionalizaccedilatildeo do territoacuterio por proviacutencias as principais descriccedilotildees

poliacuteticas e fiacutesicas com as alteraccedilotildees pertinentes

Essa Geografia denominada descritiva organizada na nomenclatura na

estatiacutestica na enumeraccedilatildeo dos fatos geograacuteficos na descriccedilatildeo formal e informativa

do espaccedilo construiu uma tradiccedilatildeo longeva na bibliografia didaacutetica permanecendo

por mais de cem anos no bojo do ensino brasileiro dessa disciplina esforccedilando-se

para construir um traccedilo cartograacutefico do mundo como seu modo de ser comporta-se

tanto na expressatildeo dos manuais quanto nas recomendaccedilotildees metodoloacutegicas do

ensino como tentativa de elaborar uma espeacutecie de mapa mental a ser construiacutedo

de fatos dados e descriccedilotildees de superfiacutecie por sua vez a serem somados pelo

estudante por meio da memorizaccedilatildeo ndash delinear os contornos fiacutesicos para neles

pontilhar ou dar a saber os principais acidentes espaciais o mesmo trabalho e

expressatildeo condizente tambeacutem agraves obras humanas passando essas abordagens pelo

niacutevel global pelo continentes adentrando os principais paiacuteses o territoacuterio nacional

as proviacutencias ndash uacutenica regionalizaccedilatildeo praticada em todo os oitocentos e nas primeiras

deacutecadas do seacuteculo XX A seleccedilatildeo espacial nas obras claramente demonstra

inscriccedilotildees discursivo-ideoloacutegicas dimensionando valores a mais ou a menos a

certos paiacuteses por influecircncia cultural ou econocircmica evidenciando os interesses

gerais da naccedilatildeo brasileira E havia a Cosmografia para descrever os astros os

planetas e cometas apresentar o sistema solar os movimentos do planeta Terra e o

estabelecimento das estaccedilotildees as dimensotildees as longitudes e latitudes as zonas

climaacuteticas e outras configuraccedilotildees semelhantes

Este foi o conjunto de conteuacutedos e sua expressatildeo presente nos manuais de

Geografia em todo o periacuteodo imperial com pouca variaccedilatildeo O ensino de Geografia

e dos seus manuais organizou-se pela palavra em razatildeo dos meios disponiacuteveis

das teacutecnicas entatildeo alcanccedilaacuteveis E tendo a descriccedilatildeo por base limitou-se a ela

mesmo quando alternativas jaacute fizessem contexto para alterar o mundo estaacutetico tatildeo

pleno de informaccedilotildees excessivas

Poreacutem em fins do seacuteculo XIX a Geografia escolar descritiva comeccedilou a

apresentar sinais de esgotamento de seu modelo Eacute o tempo em que comeccedilavam a

surgir novas ideias pedagoacutegicas fazendo-se notadas nas relaccedilotildees educacionais

Para a Geografia comeccedilou-se a introduzir a Cartografia como auxiliar do ensino o

que se fez a partir dos chamados processos intuitivos Nem sempre o mapa apesar

de reconhecida importacircncia esteve presente nos manuais e no seu ensino

Outra tentativa importante de transformaccedilatildeo do quadro de ensino foi o de se

fazer certo movimento certa dinacircmica na Geografia estaacutetica que caracterizara o

ensino ateacute esse momento o que se pretendia natildeo pela alteraccedilatildeo do discurso mas

da praacutetica desse discurso ou seja na metodologia de ensino Para tanto reforccedila-se

o emprego de exame de mapas desenhos simulaccedilatildeo de viagens o uso de esfera e

a formulaccedilatildeo de problemas geograacuteficos tenta-se entatildeo um meio de se tirar da

inaniccedilatildeo as informaccedilotildees por vezes caudalosas por vezes sem sentido que habitam

as superfiacutecies discursivas do livro didaacutetico de Geografia

Com o advento da Repuacuteblica sob a lideranccedila de militares de formaccedilatildeo

positivista apresentou-se uma nova plataforma poliacutetica para o paiacutes A accedilatildeo do

Estado que ateacute o Impeacuterio centrara-se no ensino superior e no Coleacutegio Pedro II

passou a ser mais abrangente nesse periacuteodo histoacuterico pelo menos em niacutevel

legislativo foi mais abrangente apresentando o conjunto de seis reformas

educacionais ateacute a deacutecada de 1930 A primeira delas a Reforma de Benjamin

Constant contemplou todos os niacuteveis da educaccedilatildeo De inspiraccedilatildeo positivista e liberal

pretendeu contextualizar a educaccedilatildeo na ciecircncia opondo-se agrave tradiccedilatildeo claacutessica

colocando em ordem uma influecircncia positivista e liberal embora tenha sido criticada

por natildeo compreender adequadamente o Positivismo como orientaccedilatildeo e por isso

apenas sobrepor disciplinas cientiacuteficas ao quadro constituiacutedo pelos estudos

claacutessicos

Sob influecircncia da ldquoliccedilatildeo de coisasrdquo se pretendeu uma educaccedilatildeo intuiacuteda na

realidade cerceada pelos sentidos reagente ao aprendizado retoacuterico predominante

em todo o seacuteculo XIX O aprendizado pela ldquocuriosidaderdquo pela motivaccedilatildeo sobreporia-

se ao aprendizado pela repeticcedilatildeo Foi nessa atmosfera que o ensino de Geografia e

seus livros didaacuteticos passariam por transformaccedilotildees

A Geografia escolar nesse contexto ocupa uma posiccedilatildeo destacada por

reconhecimento dos seus meacuteritos no estabelecimento e desenvolvimento da naccedilatildeo

e por contribuir para apagar as marcas do Impeacuterio na reconstruccedilatildeo da nova

configuraccedilatildeo poliacutetico-administrativa bem como no redimensionamento do paiacutes no

contexto mundial dadas as novas relaccedilotildees capitalistas que comeccedilavam a esse

tempo

Contudo os conteuacutedos prescritos continuaram os mesmos dos programas

anteriores de igual modo fragmentado em aacutereas observando uma permanecircncia da

Geografia descritiva escolar agrave exceccedilatildeo do acreacutescimo de temas novos (a exemplo

das migraccedilotildees) Apesar disso eacute nessas circunstacircncias que talvez se identifique a

terceira tentativa de inovar o ensino de Geografia e a produccedilatildeo dos manuais

didaacuteticos a saber a valorizaccedilatildeo da Geografia local como meacutetodo para organizar o

ensino geograacutefico o que provavelmente se deve agrave maior atenccedilatildeo dada ao ensino

primaacuterio mas igualmente extensivo ao ensino secundaacuterio Satildeo discutidos nesse

momento os meacutetodos riacutegidos e improdutivos da Geografia descritiva falha como

cultura por ser apenas informativa limitada quanto a uma formaccedilatildeo nacional pois

muito isenta

O Estado passa a ter um maior controle sobre os conteuacutedos a serem

ensinados o que se observa na extensatildeo e detalhamento dos curriacuteculos de

Geografia prescritos nas deacutecadas iniciais da Repuacuteblica

Os anos 1920 foram um divisor de aacuteguas para o ensino de Geografia e para

a bibliografia didaacutetica de Geografia

O sopro da ldquoorientaccedilatildeo modernardquo da Geografia introduzida sobretudo por

Delgado de Carvalho somada ao sentimento de cansaccedilo aferido pela Geografia

descritiva a reorientaccedilatildeo dos objetivos do ensino (ensino elementar como formaccedilatildeo

habilitaccedilatildeo para o exerciacutecio de profissotildees teacutecnicas e outros) comporaacute um novo

quadro didaacutetico para a Geografia Possivelmente tenha-se percebido que apenas

mudar a metodologia do ensino sem mudar seu discurso natildeo seria suficiente para

dinamizar o aprendizado geograacutefico

Os curriacuteculos e os livros comeccedilam a pautar a Geografia Humana em

substituiccedilatildeo agrave Geografia Poliacutetica (na acepccedilatildeo descritiva que a filiou agrave Geografia

Moderna claacutessica) A explicaccedilatildeo de processos passa a combalir a descriccedilatildeo como

efeito uacutenico do discurso explicar a formaccedilatildeo das cidades demonstrar o

funcionamento das bacias hiacutedricas em vez de somente expor a onomaacutestica desses e

de outros objetos geograacuteficos A antiga divisatildeo poliacutetico-administrativa das proviacutencias

(durante o Impeacuterio) e dos Estados (na vigecircncia da Repuacuteblica) comeccedila a ceder para o

estudo do Brasil por regiotildees

Tudo isso natildeo significou o fim da Geografia descritiva mas abalou seus

alicerces Obras dos anos 1880 1890 continuaram editadas ateacute a deacutecada de 1930

e tambeacutem surgiram no periacuteodo novos tiacutetulos com a mesma proposta e abordagem

geograacutefica que instituiacutea a tradiccedilatildeo da bibliografia ateacute entatildeo A diferenccedila eacute que esses

tiacutetulos declinaram os antigos sobre o proacuteprio esgotamento discursivo e os novos na

linha descritiva natildeo encontraram funcionalidade no mercado saiacuteram de cena

Joaquim Maria de Lacerda Alfredo Moreira Pinto Henrique Martins FIC Estaacutecio

de Menezes e outros Isso propiciou a ascensatildeo de novos autores a exemplo do

proacuteprio Delgado de Carvalho (adotado no Coleacutegio Pedro II) e de autores como

Aroldo de Azevedo e Mario da Veiga Cabral dentre outros inovadores da linguagem

e dos conteuacutedos e meacutetodos do ensino geograacutefico

Essas transformaccedilotildees foram iniciadas com Manuel Said Ali (1905) que

identificou uma falha importante na bibliografia e no ensino de Geografia a

fragmentaccedilatildeo do saber referente ao territoacuterio nacional que por sua vez ndash dada a

quantidade de estadosproviacutencias ndash levava ao estudo da Geografia nacional a ser

exaustivo Para isolar as relaccedilotildees de ensino e aprendizagem dessa praacutetica trouxe

para o acircmbito do discurso didaacutetico dessa disciplina o conceito de regiatildeo em sua

perspectiva cientiacutefica contrapondo a delimitaccedilatildeo de fronteiras poliacuteticas com a

adoccedilatildeo de criteacuterios naturais sobretudo para agrupar a compreensatildeo espacial

Em seguida vieram as contribuiccedilotildees de Carlos Miguel Delgado de Carvalho

(1913) que endossou e desenvolveu a divisatildeo regional em oposiccedilatildeo agrave divisatildeo

administrativa observando para aleacutem das ldquoregiotildees naturaisrdquo as ldquocondiccedilotildees

econocircmicasrdquo inerentes ao espaccedilo Amplamente fundamentado nos autores que

desenvolviam a Geografia Moderna cientiacutefica na Europa consegue introduzir por

meio do ensino e para o ensino uma transformaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica tanto no

sentido epistemoloacutegico da ciecircncia geograacutefica brasileira quanto na pedagogia do seu

ensino movendo essa disciplina de uma fragmentaccedilatildeo completa para uma

compartimentaccedilatildeo relativa a Geografia descritiva com uma abordagem fiacutesica uma

abordagem poliacutetica e uma abordagem cosmograacutefica paulatinamente se reorganizou

a partir de sua contribuiccedilatildeo em uma Geografia Fiacutesica e em uma Geografia Humana

instituindo o paradigma da terra do homem e da economia que prevaleceraacute ateacute

pelo menos os anos 1980 Sua superfiacutecie discursiva procurou verticalizar a

distribuiccedilatildeo espacial dos fatos e fenocircmenos geograacuteficos na tentativa de explicaacute-los

natildeo apenas citaacute-los

O pensamento geograacutefico brasileiro pelo menos no tocante ao ensino

atingia um novo patamar e o livro didaacutetico de Geografia como havia sido ao longo

do seacuteculo XIX foi o lugar privilegiado para a materializaccedilatildeo desse discurso

Outros autores merecem destaque na continuidade dessas transformaccedilotildees

como Antonio Firmino Proenccedila que em obra de 1928 fez importantes colocaccedilotildees

sobre a metodologia do ensino dessa disciplina revisando sua histoacuteria e refletindo

sobre o papel do livro didaacutetico nesse contexto Suas consideraccedilotildees contornam o

ensino da Geografia como componente da ciecircncia geograacutefica indicando como

desta o que fosse colocado para a crianccedila deve ser de compreensatildeo imediata natildeo

posterior pois conhecimento natildeo funciona de modo provisoacuterio antes de abstrair o

ensino dever apresentar o concreto O que seria feito a partir do estudo local da

realidade que circunscreve o aluno partindo da localidade para a compreensatildeo

entatildeo do mundo Conclama os livros a basearem-se nas correlaccedilotildees entre os

assuntos a fazerem emergir o homem como agente do espaccedilo e natildeo contraacuterio A

obra de Proenccedila evidencia as contribuiccedilotildees da ldquoorientaccedilatildeo modernardquo da Geografia

fazendo encontro e continuidade no discurso do ensino dessa disciplina agora no

acircmbito da formaccedilatildeo de professores em certa medida a nova geraccedilatildeo de autores

pareceu endossar essa direccedilatildeo

Outro autor que destaquei eacute Fernando Antocircnio Raja Gabaglia que em obra

de 1930 propocircs o ensino sobretudo da Geografia Fiacutesica em termos de praacuteticas por

demonstraccedilotildees concretas e experiecircncias

Toda essa perspectiva histoacuterica frutifica do discurso dos sujeitos envolvidos

na produccedilatildeo do ensino de Geografia e da sua bibliografia didaacutetica registrada e

testemunhada nas paacuteginas desta

A homogeneidade discursiva referente agrave e na bibliografia didaacutetica

demonstrou ser apenas aparente pois seu discurso acomoda diversos gestos de

reorganizaccedilatildeo de acomodaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo jogando contra forccedilas procurando

alocaccedilatildeo no conjunto das praacuteticas didaacuteticas Seus fundamentos satildeo cientiacuteficos mas

de fases diferentes da ciecircncia geograacutefica o que precisa realocar as referecircncias para

a leitura desses textos do contraacuterio sua apreensatildeo seraacute descontextualizada

Considerando a totalidade da bibliografia suscitada fiz uma anaacutelise das

matrizes discursivas entrelaccediladas na nomeaccedilatildeo dos compecircndios na qual foi

possiacutevel apreender efeitos relacionados aos sujeitos agrave ideologia aos

relacionamentos poliacuteticos aos fundamentos teoacuterico-metodoloacutegicos que inscrevem as

obras em suas formaccedilotildees discursivas De iniacutecio proacuteprio ao estilo da eacutepoca os tiacutetulos

satildeo quase eacutepicos extensos lutando pela inserccedilatildeo justificativa e explicaccedilatildeo da obra

Na ordem dos sujeitos selecionam seus puacuteblicos alvos especificando a quem se

destinam estudantes pais professores instituiccedilotildees proviacutencias Satildeo oferecidas a

autoridades para lograr benesses poliacuteticas e intelectuais Em meados do seacuteculo XX

esse tipo de enunciaccedilatildeo (selecionando os sujeitos alvos) desaparece indicando

provavelmente uma afirmaccedilatildeo definitiva do gecircnero nas estantes gerais da cultura e

da educaccedilatildeo Na ordem dos sentidos os tiacutetulos apresentam em quase todo o

periacuteodo marcas lexicais bem claras quanto a um discurso didaacutetico com lexemas e

sequecircncias discursivas que remetem o sentido para um dispositivo de escolha e de

adequaccedilatildeo do saber para as relaccedilotildees de ensino e aprendizagem migrando-o de

uma instacircncia enunciativa para outra com um processo de ressignificaccedilatildeo de

sentidos nesse processo accedilotildees como introduzir adaptar resumir abreviar

coordenar acrescentar compendiar Os tiacutetulos apresentam ainda as filiaccedilotildees

teoacuterico-metodoloacutegicas a constituiccedilatildeo dos nuacutecleos de saberes ndash referecircncias agrave

Geografia Moderna claacutessica em geral As corografias por si mesmas satildeo discursos

sobre a nacionalidade O corpo dos enunciados raramente expressa manifestaccedilotildees

expliacutecitas de patriotismo ao longo do seacuteculo XIX de forma que esse discurso se

afirma mais como posiccedilatildeo do que enunciaccedilatildeo Em geral os tiacutetulos concretizam o

estabelecimento do discurso didaacutetico da Geografia indicando a especialidade a

utilidade e o destino do corpo discursivo

Sobre a formaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia e o estabelecimento da

Geografia descritiva fiz uma anaacutelise da obra de Bazilio Quaresma Torreatildeo (1984)

que sendo dos primeiros a estabelecer um texto didaacutetico de Geografia o faz na

estrutura discursiva que permaneceraacute praticamente inalterada nos proacuteximos cem

anos De fontes natildeo identificadas ou mencionadas indiretamente o sujeito autor

qual seja ele comeccedila nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX (mas de um processo

que eacute bem anterior) a elaborar materiais diferenciados especificamente para o

ensino e o aprendizado compilando para isso discursos esparsos e expondo-os

de forma compreensiacutevel ao puacuteblico alvo Um discurso destinado a relacionar saberes

para a cultura geral mas tambeacutem para sintonizar os interesses do Estado e da

Igreja bem como da economia Torreatildeo no princiacutepio dessa tradiccedilatildeo no tocante agrave

Geografia e ao contexto brasileiro enquadra os saberes que registra como ciecircncia

na acepccedilatildeo do meacutetodo no sentido da certeza no sentido da sistematizaccedilatildeo no

sentido da movecircncia do saber sob a regecircncia de princiacutepios universais ndash o que eacute em

siacutentese a percepccedilatildeo iluminista do saber cientiacutefico A partir disso propotildee uma

abordagem da natureza da poliacutetica (ou feitos humanos) e da cosmografia O que

ficou proposto em Torreatildeo funcionou como estrutura geral do gecircnero para a

bibliografia enquanto viccedilou a Geografia descritiva enunciada sob auspiacutecios da

heterogeneidade constitutiva com o traccedilo de uma superfiacutecie discursiva lisa

promovendo o efeito autoria repassado pela autoridade dos sujeitos autores

Os prefaacutecios proacutelogos notas de advertecircncia apresentaccedilotildees e falas da

imprensa abordagens agraves quais chamei de ldquodiscursos do entornordquo foram outro ponto

de apoio para a anaacutelise da tese posto que nessas margens discursivas identifica-se

um conjunto de sujeitos enunciando para circunstanciar promover legitimar e

esclarecer o discurso didaacutetico de Geografia tais como os proacuteprios autores Questotildees

como autoria autoridade legitimaccedilatildeo da disciplina a relaccedilatildeo dos textos com os

curriacuteculos propostos a questatildeo das fontes e das traduccedilotildees posicionamentos frentes

agrave tradiccedilatildeo agrave metodologia de ensino e agrave formaccedilatildeo dos professores a questatildeo da

nacionalidade e outras satildeo regularidades na dispersatildeo do discurso didaacutetico de

Geografia

Estes discursos satildeo utilizados para construir uma imagem do sujeito autor

pela enunciaccedilatildeo de suas experiecircncias atuaccedilatildeo profissional elaborando uma

imagem e por conseguinte um espelho da autoria e da autoridade de quem enuncia

o dizer didaacutetico Haacute elogios e incentivos sobre qualidades que na posteridade ou

em geraccedilotildees seguintes revertem em desqualificaccedilatildeo e criacuteticas ndash o que eacute proacuteprio ao

calibrar de perspectivas do discurso em face das formaccedilotildees discursivas que o

sustenta A imprensa parece exerceu um papel influente na bibliografia atribuindo

valores apresentando reclames contra excessos faltas e falhas das obras Em

termos gerais o sujeito autor e a obra didaacutetica dependiam de igual modo da

construccedilatildeo de uma imagem que os qualificasse e os percebesse como sujeitos

autorizados desses discursos

Os discursos do entorno tambeacutem mencionam a identidade e a legitimidade

escolar dos conhecimentos geograacuteficos como uma das regularidades discursivas

que atravessam a bibliografia Tramam a utilidade individual e coletiva na formaccedilatildeo

do educando sua existecircncia no contexto de outras naccedilotildees as potencialidades de

seus temas o desenvolvimento intelectual do aluno suas relaccedilotildees com a Histoacuteria o

conjunto de conhecimentos de interesse e curiosidade para a crianccedila

Os discursos dimensionam o alcance de puacuteblico das obras escritas para o

ensino e para a aprendizagem igualmente satildeo uma referecircncia cultural fora do

ambiente escolar seja para jornalistas criacuteticos intelectuais o que faz com que o

uso da bibliografia supere os limites das classes escolares

Em relaccedilatildeo aos curriacuteculos e programas o discurso didaacutetico eacute sempre

apresentado em uma relaccedilatildeo estreita Expor a adesatildeo agrave proposiccedilatildeo curricular era

quase uma obrigaccedilatildeo evidenciada sempre que possiacutevel e em lugares de destaque

como capas e folhas de rosto aleacutem de explicitada nos discursos do entorno Essa

demonstra ser uma relaccedilatildeo conflituosa pois frequentemente a obra tinha que

atender modalidades anos e seacuteries distintos

Apesar de natildeo indicadas a questatildeo das fontes satildeo uma regularidade

discursiva recorrente Geralmente indicam-se tipologias de fontes valorizadas como

as melhores as oficiais as autorizadas mas sem expocirc-las Nesse tema atrela-se a

questatildeo da atualidade do manual didaacutetico de Geografia que se alinha de perto agrave

disponibilidade das fontes que incomodam os sujeitos autores pela inseguranccedila em

relaccedilatildeo agrave correccedilatildeo e confiabilidade dos dados e fatos nelas pesquisados

incoerecircncias e incompletudes da estatiacutestica oficial a mobilidade e falta de definiccedilatildeo

das fronteiras e outras

Nesses discursos emergem ainda posicionamentos em relaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo

da bibliografia didaacutetica Desabafo ataque e denuacutencia satildeo construccedilotildees de sentidos

que permeiam os discursos do entorno em posiccedilatildeooposiccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo da

bibliografia didaacutetica com os mais diversos efeitos para que os sujeitos autoafirmem-

se como autores (colocando seus discursos como melhores) para deslumbrar um

lugar para seu discurso didaacutetico na bibliografia ou realmente tentar alterar a ordem

dos sentidos redirecionando o discurso desejos de mudanccedila Os discursos chegam

a ser planfetaacuterios algumas vezes De qualquer forma na dispersatildeo deles encontra-

se essa unidade destruir pilastras e monumentos da tradiccedilatildeo para entatildeo impor-se

como enunciaccedilatildeo vaacutelida

Situaccedilatildeo geral merecedora de reclame dos autores e dos sujeitos agrave frente

da reflexatildeo sobre o ensino de Geografia no periacuteodo analisado haacute a falta de

profissionalismo predominante entre os professores dessa disciplina o que

impactava diretamente na visatildeo desses sujeitos sobre a forma e os meacutetodos do

ensino geograacutefico de modo que os discursos do entorno serviam para instruir

metodologicamente os professores quanto ao uso do livro e quanto a como ensinar

Dado aos livros natildeo terem sempre uso estritamente escolar cabia a alguns sujeitos-

autores fazerem orientaccedilotildees pertinentes aos conteuacutedos das obras

O discurso nacionalista em sua perspectiva teluacuterica possui um conjunto de

marcadores discursivos em sentido amplo eacute um discurso de demarcaccedilatildeo de uma

propriedade coletiva ndash a propriedade da paacutetria eacute um discurso comparativo em que o

nosso e o deles em diversos manejos colocam os objetos nacionais em destaque

pelo que satildeo iacutempares ou que se pretende que sejam eacute um discurso pontuado por

lexemas adjetivados pois eacute necessaacuterio estabelecer as caracteriacutesticas sempre

positivas e exaltadas da propriedade nacional Conforme aferi anteriormente a

nacionalidade ndash matriz ideoloacutegica importante no ensino da Geografia ndash seraacute mais

uma posiccedilatildeo uma perspectiva construiacuteda para o espaccedilo nacional destacando-o

com independecircncia e relevacircncia em relaccedilatildeo agraves demais naccedilotildees (ou em volume

exclusivo) que propriamente uma abordagem dogmaacutetica entrelaccedilada no fio

discursivo da bibliografia didaacutetica Essa discursividade pontua-se com frequecircncia no

dizer do entorno O nacionalismo eacute uma rachadura entre a proposiccedilatildeo do estudo da

Geografia como cultura geral e sua proposiccedilatildeo como panorama e base dos

interesses nacionais A partir daiacute se cliva em diversas direccedilotildees e intensidades

inflamando-se de acordo com a imersatildeo poliacutetica e partidaacuteria que caracteriza o

movimento histoacuterico do paiacutes

Evidentemente todas as transformaccedilotildees apresentadas foram proacuteprias agrave

eacutepoca apresentando elas mesmos limitaccedilotildees que o avanccedilo da ciecircncia geograacutefica e

da pesquisa sobre o ensino de Geografia demonstraria na posteridade mas

frutificaram e serviram ao tempo que as constituiacuteram historicamente

A bibliografia permitiu acompanhar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento da

Geografia como disciplina escolar Demonstrou como o seu conteuacutedo transgrediu

sua funccedilatildeo auxiliar no ensino impliacutecito desse saber caracteriacutestico aos periacuteodos

jesuiacuteticos e pombalino ateacute canalizar uma constituiccedilatildeo uacutenica dando voz a uma

disciplina formada com lugar e responsabilidades na instituiccedilatildeo escolar entre o

reinado e a primeira repuacuteblica

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________ O Coleacutegio Pedro II Centro de Referecircncia das ideacuteias educacionais transnacionais para o Ensino Secundaacuterio Brasileiro no Periacuteodo Imperial In Congresso Luso-Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo VI 2006 Uberlacircndia Anais Uberlacircndia Faced 2006 p 6003-6010

VERIacuteSSIMO Joseacute A educaccedilatildeo nacional 2 ed aumentada Rio de Janeiro Francisco Alves 1906 207 p

VEYNE Paul Como se escreve a Histoacuteria Foucault revoluciona a histoacuteria Traduccedilatildeo de Alda Baltar e Maria Auxiliadora Kneipp 3 ed Brasiacutelia UnB 1995

VILLA-LOBOS Raul Chorographia do Brazil Resumo Didactico 4 Ed Rio de Janeiro Laemmert amp C 1901 245 p

VILLARTA-NEDER Marco Antonio Silecircncio livro didaacutetico e concepccedilotildees de linguagem In FERNANDES Cleudemar Alves SANTOS Joatildeo Bocircsco Cabral (Org) Anaacutelise do Discurso unidade e dispersatildeo Uberlacircndia Entremeios 2004 p 169-182

________ Silecircncio livro didaacutetico e concepccedilotildees de linguagem In FERNANDES Cleudemar Alves SANTOS Joatildeo Bocircsco Cabral (Org) Anaacutelise do Discurso unidade e dispersatildeo Uberlacircndia Entremeios 2004 p 169-182

VLACH Vacircnia Rubia Farias A propoacutesito do Ensino de Geografia em questatildeo o nacionalismo patrioacutetico 1988 206 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndashUniversidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988

________ Carlos Miguel de Carvalho e a ldquoorientaccedilatildeo modernardquo em Geografia In VESENTINI Joseacute William (Org) Geografia e ensino textos criacuteticos 5 ed Campinas Papirus 2001 p 149-160

________ Geografia em construccedilatildeo Belo Horizonte Lecirc 1991 128 p

________ Geografia em debate Belo Horizonte Lecirc 1990 104 p

________ O ensino de Geografia no Brasil uma perspectiva histoacuterica VESENTINI Joseacute William (Org) O ensino de Geografia no seacuteculo XXI Campinas Papirus 2004 p 187-218 (Col Papirus Educaccedilatildeo)

WAPPOEUS J E A Geographia physica do Brazil refundida Ediccedilatildeo condensada Traduccedilatildeo de Joatildeo Capistrano de Abreu et al Rio de Janeiro Typographia de G Leuzinger amp Filhos 1884 470 p

XAVIER Lindolpho Geographia commercial 11 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1929 667 p

ZALUAR Augusto Emiacutelio Peregrinaccedilatildeo pela provincia de S Paulo 1860-1861 Rio de Janeiro Livraria de B-L Garnier 1863 402 p

ZARUR Jorge A Geografia no curso secundaacuterio Revista Brasileira de Geografia Satildeo Paulo ano III n 2 p 227-268 abr-jun 1941

ZUIN Elenice de Souza Lodron Por uma nova arithmetica o sistema meacutetrico decimal como um saber escolar em Portugal e no Brasil oitocentistas 2007 318 f ndash Tese (Doutorado em Matemaacutetica) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2007

APEcircNDICE

APEcircNDICE 01 ndash OBRAS DE IMPORTAcircNCIA DIRETA PARA A BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA BRASILEIRA

1ordf Ed ou

ediccedilatildeo

mais antiga identificada

Demais

ediccedilotildees identifica-

das

BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA

1758

1761

1769

1777

1788

1800

1812

1817

1830

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne Preacuteceacutedeacutee dun petit Traiteacute de la sphegravere et du globe orneacutee de traits dhistoire naturelle et politique et termineacutee par une geacuteographie eccleacutesiastique par M labbeacute Nicolle de La Croix Nouvelle eacutedition augmenteacutee [avec la collaboration de J-L Barbeau de La Bruyegravere] Paris J-T Heacuterissant 1758

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne Preacuteceacutedeacutee dun petit Traiteacute de la sphegravere et du globe orneacutee de traits dhistoire naturelle et politique et termineacutee par une geacuteographie eccleacutesiastique par M labbeacute Nicolle de La Croix Nouvelle eacutedition augmenteacutee [avec la collaboration de J-L Barbeau de La Bruyegravere] Paris J-T Heacuterissant 1761

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne et universelle Preacuteceacutedeacutee dun petit Traiteacute de la sphegravere et du globe et termineacutee par une geacuteographie sacreacutee et une geacuteographie eccleacutesiastique par M labbeacute Nicolle de La Croix Nouvelle eacutedition revue [par E-F Drouet] Paris Heacuterissant fils 1769 (2 v)

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne et universelle preacuteceacutedeacutee drsquoun traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomie Nouvelle eacutedition revue corrigeacutee et consideacuterablement augmenteacutee Paris Heacuterissant fils 1777 (2 v)

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne et universelle preacuteceacutedeacutee drsquoun traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomie Nouvelle eacutedition revue corrigeacutee et consideacuterablement augmenteacutee Paris Heacuterissant fils 1788 (2 v)

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne et universelle preacuteceacutedeacutee drsquoun traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomie Avec abreacutegeacute de la Geacuteographie Anncienne Sacreacutee et Eccleacutesiastique pour servir agrave lrsquointelligence de lrsquoHistorie Paris De LrsquoImprimerie de Crapelet 1800

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne Par M labbeacute Nicolle de La Croix Nouvelle eacutedition avec les nouvelles divisions de lEmpire franccedilais et celles des autres Eacutetats de lEurope par un ancien professeur Paris A Delalain 1812

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne et universelle preacuteceacutedeacutee drsquoun traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomie Nouvelle eacutedition revue dapregraves les actes du Congregraves de Vienne par un ancien professeur de geacuteographie Paris A Delalain 1817

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne Par Nicolle de La Croix Nouvelle eacutedition avec la nouvelle division eccleacutesiastique de la France et un abreacutegeacute de geacuteographie ancienne dapregraves Danville par M J-G Masselin Paris A Delalain 1830 (2 v)

1805 1806

PINKERTON John Abreacutegeacute de la Geographie Moderne Redigeacutee sur un nouveau plan par J Pinkerton Fait sur la traduction franccedilaise de la Geacuteographie moderne de cet auteur et augementeacute des deacutecouvertes puiseacutees dans les voyages les plus reacutecens 2 ed Traduccedilatildeo de J-N Buache Paris Dentu 1805 780 p

PINKERTON John Abreacutegeacute de la Geographie Moderne Redigeacutee sur un nouveau plan par J Pinkerton Fait sur la traduction franccedilaise de la Geacuteographie moderne de cet auteur et augementeacute des deacutecouvertes puiseacutees dans les voyages les plus reacutecens 2 ed Traduccedilatildeo de J-N Buache Paris Dentu 1806 924 p

1817 -

CASAL Manoel Ayres do Corographia brasiacutelica ou relaccedilatildeo historico-geographica do reino do Brazil composta por um presbytero secular do Gratildeo-Priorado do Crato e dedicada a S M Fideliacutessima etc Com licenccedila e privilegio real Tomo I Rio de Janeiro Impressatildeo Reacutegia 1817 432 p

1817 -

CASAL Manoel Ayres do Corographia brasiacutelica ou relaccedilatildeo historico-geographica do reino do Brazil composta por um presbytero secular do Gratildeo-Priorado do Crato e dedicada a S M Fideliacutessima etc Com licenccedila e privilegio real Tomo II Rio de Janeiro Impressatildeo Reacutegia 1817 483 p

CASAL Manoel Ayres do Notice sur les capitainies de Paraacute et Solimotildees au Bresil Nouveaux Annales des Voyages Tomo 9ordm 1821

1884 - WAPPOEUS J E A Geographia physica do Brazil refundida Ediccedilatildeo condensada Traduccedilatildeo de Joatildeo Capistrano de Abreu et al Rio de Janeiro Typographia de G Leuzinger amp Filhos 1884 470 p

1889 - SELLIN Alfred W Geographia geral do Brasil Traduzido e consideravelmente augmentada por Joatildeo Capistrano de Abreu Rio de Janeiro Liv Classica de Alves amp Cia Imprensa Nacional 1889 210 p

1925 -

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Metodologia do Ensino Geograacutefico (Introduccedilatildeo aos Estudos da Geographia Moderna) Rio de Janeiro Francisco Alves 1925

1928

PROENCcedilA Antonio Firmino Como ensinar geographia Satildeo Paulo Melhoramentos 1928

JEANE MEDEIROS SILVA

A BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA histoacuteria e pensamento do ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930)

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da Universidade Federal de Uberlacircndia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutora em Geografia

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Geografia e Gestatildeo do Territoacuterio

Orientadora Profa Dra Vacircnia Rubia Farias Vlach

UberlacircndiaMG

INSTITUTO DE GEOGRAFIA

2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAcircNDIA

Jeane Medeiros Silva

A BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA histoacuteria e pensamento do ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930)

_________________________________________________

Profa Dra Vacircnia Rubia Farias Vlach

Orientadora

_________________________________________________

Profa Dra Mariacutesia Margarida Santiago Buitoni ndash UERJ

Examinadora

_________________________________________________

Profa Dra Rogata Soares Del Gaudio ndash UFMG

Examinadora

_________________________________________________

Prof Dr Deacutecio Gatti Juacutenior ndash UFU

Examinador

_________________________________________________

Profa Dra Rita de Caacutessia Martins de Souza ndash UFU

Examinadora

Data 27junho2012

Resultado Aprovada com Louvor

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Sistema de Bibliotecas da UFU MG Brasil

S586b

2012

Silva Jeane Medeiros 1978-

A bibliografia didaacutetica de geografia histoacuteria e pensamento do

ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930) Jeane Medeiros Silva ndash

2012

394 f il

Orientador Vacircnia Rubia Farias Vlach

Tese (doutorado) ndash Universidade Federal de Uberlacircndia Progra-

ma de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia

Inclui bibliografia

1 Geografia - Teses 2 Geografia - Estudo e ensino - Brasil -

Histoacuteria - Teses 3 Geografia - Bibliografia - Teses I Vlach Vacircnia

Rubia Farias II Universidade Federal de Uberlacircndia Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia III Tiacutetulo

CDU 9101

Aos meus pais Geraldo e Herotildes minha forccedila e meu refuacutegio sempre

AGRADECIMENTOS

Agrave divina forccedila imensuraacutevel que me protege guia e vela pelos meus atos agradeccedilo

pela feacute que me sustenta e me equilibra nos dias difiacuteceis nas alegrias da vida

Agrave Profa Dra Vacircnia Rubia Farias Vlach orientadora e amiga que me acompanha haacute

doze anos indicando-me os caminhos do ensino da Geografia atenta paciente e

generosa sou sua indisfarccedilaacutevel disciacutepula e levarei para sempre as marcas de sua

dedicaccedilatildeo agrave Geografia brasileira transmitidas agrave minha formaccedilatildeo acadecircmica

Agrave minha famiacutelia forccedila oculta que se desvela em zelo e apoio incomensuraacuteveis

Geraldo e Herotildes meus pais Naama minha irmatilde e Deds meu cunhado

Agrave Adrianna Silveira das Neves e ao Itamar Carlos de Jesus Jr pela alegria do

conviacutevio e pela forccedila nos dias difiacuteceis vocecircs satildeo muito especiais e eternos em meu

coraccedilatildeo

Agraves amigas de feacute sonhos e ousadias Liacutevia Silva Sousa e Andreacuteia Mello Laceacute torccedilo

pela forccedila do futuro a nosso favor nenhum plano eacute em vatildeo

Agrave Iacutenia Franco de Novaes amiga tatildeo iacutentegra que me inspira verdadeiramente

Aos amigos da infacircncia geograacutefica Cleacutecio Joseacute Carrilho e Maacutercia Andreacuteia Ferreira

Sousa pelo entusiasmo humor e torcida pessoas muito especiais para mim

Agrave Roberta Afonso Vinhal Wagner e Elza Canuto pelo incentivo sempre

Agrave amiga Miyuki Kurokawa pela torcida carinhosa primeiro do outro lado da ponte do

Araguari e depois do outro lado do mundo mesmo

Agrave Claudia Faacutetima Kuiawinski e agrave Sofia Lorena Vargas Antezana companheiras de

lida sempre dispostas a ouvir e a ajudar

Aos Profs Drs Adriany de Aacutevila melo Sampaio Eucidio Pimenta Arruda e Seacutergio

Luiz Miranda pelo acurado exame e contribuiccedilatildeo por ocasiatildeo da qualificaccedilatildeo da

tese

RESUMO

Considerando que os livros didaacuteticos de Geografia satildeo um dos lugares manifestos do discurso histoacuterico-ideoloacutegico do pensamento geograacutefico no Brasil instituinte tambeacutem da histoacuteria desta ciecircncia o objetivo da tese foi compreender a bibliografia didaacutetica do ensino de Geografia bem como a histoacuteria e o pensamento deste ensino entre as deacutecadas de 1810 e 1930 por meio da descriccedilatildeo da trajetoacuteria constitutiva e da anaacutelise do livro didaacutetico de Geografia e dos discursos dos seus sujeitos Considerou-se a Anaacutelise do Discurso a Histoacuteria das Disciplinas Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo como subsiacutedios teoacuterico-metodoloacutegicos para apreender a bibliografia didaacutetica de Geografia como objeto de pesquisa A bibliografia sistematizou dados referentes a 276 tiacutetulos de 510 ediccedilotildees escrita por 183 autores As primeiras manifestaccedilotildees da Geografia como disciplina independente surgiram no ensino superior na organizaccedilatildeo curricular de alguns dos primeiros cursos cientiacuteficos introduzidos no territoacuterio brasileiro no contexto da formaccedilatildeo da Academia Real Militar (1810) pelo que a Geografia passou a ser estudada em aulas avulsas marcando esse processo o surgimento de livros didaacuteticos no iniacutecio da deacutecada de 1820 ateacute ser introduzida permanentemente no quadro curricular do Coleacutegio Pedro II a partir de 1837 O ensino de Geografia com intensidade variante ao longo de sua trajetoacuteria assumiu um papel cultural um papel nacional e um papel cientiacutefico no contexto da educaccedilatildeo brasileira Os discursos didaacuteticos de Geografia desde seu surgimento inscreveram-se na Geografia moderna em sua vertente claacutessica emergente no seacuteculo XVIII assimilando a estrutura da Geografia Fiacutesica da Geografia Poliacutetica e da Cosmografia como vertentes da sua organizaccedilatildeo modelo que em fins do seacuteculo XIX comeccedilou a apresentar sinais de esgotamento Os anos 1920 foram um divisor de aacuteguas para o ensino de Geografia e para a bibliografia didaacutetica dessa disciplina O sopro da ldquoorientaccedilatildeo modernardquo da Geografia somada ao sentimento de cansaccedilo aferido pela Geografia descritiva a reorientaccedilatildeo dos objetivos do ensino contribuiacuteram para compor um novo quadro didaacutetico para a Geografia O exame da bibliografia permitiu acompanhar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento da Geografia como disciplina escolar Demonstrou como o seu conteuacutedo transgrediu sua funccedilatildeo auxiliar no ensino impliacutecito desse saber caracteriacutestico aos periacuteodos jesuiacuteticos e pombalino ateacute canalizar uma constituiccedilatildeo uacutenica dando voz a uma disciplina formada com lugar e responsabilidades na instituiccedilatildeo escolar entre o reinado e a primeira repuacuteblica Foi possiacutevel ainda examinar questotildees como autoria autoridade legitimaccedilatildeo da disciplina a relaccedilatildeo dos textos com os curriacuteculos propostos a questatildeo das fontes e das traduccedilotildees posicionamentos frentes agrave tradiccedilatildeo agrave metodologia de ensino e agrave formaccedilatildeo dos professores a questatildeo da nacionalidade e outras percebidas enquanto regularidades na dispersatildeo do discurso didaacutetico de Geografia

Palavras-chave Ensino de Geografia Bibliografia didaacutetica de Geografia Geografia Descritiva Curriacuteculo de Geografia Discurso didaacutetico

ABSTRACT

Considering the geography textbooks as one of the places of historical and ideological discourse of geographical thought in Brazil instituting the history of this science the thesis aim to understand the didactic bibliography of geography its history and thought between 1810rsquos and the 1930rsquos through the constitutive description of the trajectory and the analysis of the Geography textbook and the discourses of their subjects It was considered Discourse Analysis History of School Subjects and Curriculum History as theoretical-methodological to grasp the geography teaching for research subject The bibliography systematized data on 276 books 510 editions written by 183 authors The first manifestations of Geography discipline as independent discipline emerged an in superior education in the curriculum of some early science courses introduced in Brazil in the context of Royal Military Academy (1810) formation so the geography began to be studied in independent courses marking this process the emergence of textbooks in the early 1820s being introduced permanently in the curriculum of the Coleacutegio Pedro II from 1837 The geography teaching with an intensity variation along its trajectory assumed a cultural a national and a scientific paper in the context of Brazilian education The didactic discourses of Geography since its inception enrolled in Geography modern classic emerging in the eighteenth century understanding the structure of the Physical Geography the Political Geography and Cosmography as aspects of its organization a model which at the end nineteenth century began to show signs of exhaustion The 1920s were a watershed for the teaching of Geography and the its didactic literature The modern lines of geography coupled with the feeling of fatigue as measured by descriptive geography the reorientation of the education aims contribute to compose a new framework for teaching geography The examination of the literature allowed the monitoring of the formation and development of geography as a school subject Demonstrated its content violated its auxiliary function implicit in the teaching of this knowledge to channel a unique composition giving voice to a discipline formed with place and responsibilities in the school between the kingdom and the first republic It was also possible to examine issues such as authorship authority discipline legitimacy the relationship of the texts with the proposed curriculum the question of sources and translations fronts positions tradition the teaching methodology and teacher training the question nationality and others perceived as regularities in the dispersion of the geography didactic discourse

Keywords Teaching Geography Bibliography teaching of Geography Descriptive Geography Geography Curriculum teaching discourse

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 01

CAPIacuteTULO 1 ndash UMA PERSPECTIVA TEOacuteRICO-METODOLOacuteGICA PARA A

ANAacuteLISE DA BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA disciplina

curriacuteculo e discurso

12

11 A Histoacuteria das Disciplinas Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo algumas

contribuiccedilotildees para uma histoacuteria da disciplina escolar de Geografia e de sua

literatura didaacutetica

13

12 Anaacutelise do Discurso fundamentos teoacuterico-metodoloacutegicos da interpretaccedilatildeo 25

121 O sujeito a histoacuteria e a ideologia na anaacutelise discursiva a questatildeo

da autoria

28

122 O discurso seus elementos e a formaccedilatildeo do dizer didaacutetico 37

13 Procedimentos metodoloacutegicos da pesquisa da Anaacutelise do Discurso 45

CAPIacuteTULO 2 ndash DESCRICcedilAtildeO DA BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA (1814-1939)

discussatildeo da trajetoacuteria constitutiva dos manuais de Geografia

49

21 A bibliografia didaacutetica de Geografia 49

22 A autoria da bibliografia 87

23 A editoraccedilatildeo 93

24 O desenvolvimento fiacutesico-graacutefico dos manuais didaacuteticos de Geografia 108

CAPIacuteTULO 3 ndash DO ENSINO IMPLIacuteCITO AO ENSINO EXPLIacuteCITO DA

GEOGRAFIA prenuacutencios da disciplina e do livro didaacutetico nos movimentos

histoacutericos anteriores agrave independecircncia poliacutetica do Brasil

121

31 A educaccedilatildeo colonial os primeiros indiacutecios de uma educaccedilatildeo geograacutefica 125

32 A educaccedilatildeo colonial a influecircncia do isolacionismo 136

33 Reinado (1808-1821) o surgimento dos primeiros indiacutecios de uma

literatura didaacutetica de Geografia

139

331 Academia Real Militar do Rio de Janeiro (1810) a primeira

explicitaccedilatildeo da Geografia como disciplina

144

34 Uma avaliaccedilatildeo da posiccedilatildeo da Geografia como atividade de ensino entre

1549 e 1821 prenuacutencios da formaccedilatildeo de uma disciplina geograacutefica no Brasil

161

CAPIacuteTULO 4 ndash DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA

ESCOLAR NO IMPEacuteRIO (1822-1889) o estabelecimento de uma disciplina e

de uma bibliografia didaacutetica

169

41 A educaccedilatildeo brasileira e o ensino de Geografia no periacuteodo Imperial 172

411 Da Assembleia Constituinte de 1823 ao Ato Adicional de 1834 o

entreposto da consolidaccedilatildeo da Geografia como disciplina

174

412 Curriacuteculo e ensino de Geografia no Impeacuterio o papel do Coleacutegio

Pedro II

180

42 O curriacuteculo e a constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no

periacuteodo imperial

200

421 A tradiccedilatildeo da Cosmografia da Geografia Fiacutesica e da Geografia

Poliacutetica

201

422 A bibliografia didaacutetica de Geografia no Impeacuterio 205

423 A formaccedilatildeo do curriacuteculo escolar de Geografia no Impeacuterio 212

CAPIacuteTULO 5 ndash DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA

ESCOLAR NA PRIMEIRA REPUacuteBLICA (1889-1930) permanecircncias e

transformaccedilotildees na disciplina e em sua bibliografia didaacutetica

227

51 A educaccedilatildeo brasileira na Repuacuteblica o lugar da Geografia escolar e sua

proposta curricular

229

52 A constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo republicano 252

521 A bibliografia didaacutetica de Geografia na Repuacuteblica 253

522 A contribuiccedilatildeo de Said Ali o significado da sua proposta de

regionalizaccedilatildeo

257

523 A contribuiccedilatildeo de Delgado de Carvalho a orientaccedilatildeo moderna da

Geografia e sua relaccedilatildeo com o livro didaacutetico

260

524 Antonio Firmino Proenccedila siacutentese das transformaccedilotildees no ensino de

Geografia

265

525 Fernando Antocircnio Raja Gabaglia o ensino de Geografia por

praacuteticas

268

CAPIacuteTULO 6 ndash DISCURSOS NO LIVRO DIDAacuteTICO DE GEOGRAFIA

anaacutelises de elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geograacutefico

272

61 O discurso da designaccedilatildeo das obras 275

62 A formaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia estabelecimento da

Geografia descritiva

287

63 Prefaacutecios proacutelogos notas de advertecircncia apresentaccedilotildees e imprensa os

discursos do entorno

300

631 Estabelecimento da autoria e da obra vozes constitutivas dos

sujeitos e dos discursos didaacuteticos

301

632 A identidade e a legitimidade da disciplina 310

633 Os sujeitos da recepccedilatildeo enunciativa 314

634 A relaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia com os curriacuteculos e

programas

315

635 Enfrentamentos das traduccedilotildees fontes e lacunas do discurso

didaacutetico de Geografia

317

636 Discursos emergentes como oposiccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo da bibliografia

didaacutetica de Geografia

325

637 Enunciados ao professor instruccedilotildees e recomendaccedilotildees dos autores

aos docentes de Geografia

329

638 Posiccedilotildees constitutivas da bibliografia didaacutetica de Geografia quanto

ao nacionalismo

334

64 Livro escolar de Geografia e representaccedilotildees sobre o ensino geograacutefico no

periacuteodo em questatildeo

340

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 351

REFEREcircNCIAS 366

APEcircNDICE 389

01 ndash obras de importacircncia direta para a bibliografia didaacutetica de geografia

brasileira

390

LISTA DE FIGURAS

01 ndash Atos de controle e advertecircncia contra a pirataria de obras didaacuteticas em

exemplares de Henrique Martins (1896) Carlos Goacutees (1918) e Joseacute Theodoro

de Souza Lobo (1927)

85

02 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia

no Brasil (1814-1939)

100

03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica na Europa

(1814-1939)

102

04 ndash Baptiste Louis Garnier (1823-1893) pioneiro das atividades editoriais

para o livro didaacutetico brasileiro e Francisco Alves de Oliveira (1848-1917) que

consolidou o mercado das publicaccedilotildees didaacuteticas no Brasil

107

05 ndash Encadernaccedilotildees tiacutepicas da bibliografia didaacutetica de Geografia ateacute fins do

seacuteculo XIX

110

06 ndash Capa da 5 ed da Chorographia do Brasil de Henrique Martins (1896) a

identificaccedilatildeo da obra desloca-se da lombada e da folha de rosto para a capa

frontal

112

07 ndash Reproduccedilatildeo da folha de rosto na capa do exemplar de 1902 de A Terra

illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica

das cinco de Frere Ignace Chaput (FIC)

113

08 ndash Geographia Elementar de A de Rezende Martins ndash exemplar de 1926

das primeiras obras em formato panoracircmico

114

09 ndash Ilustraccedilotildees e um dos mapas coloridos da obra Curso methodico de

Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto

para uso das escolas brazileiras de Lacerda 1887

116

10 ndash Capa da obra Geographia Elementar de Arthur Thireacute 118

11 ndash Algumas paacuteginas internas da obra Geographia Elementar de Arthur

Thireacute

118

12 ndash Fotografias ilustrando a obra Liccedilotildees de Chorographia do Brasil de

Horacio Scrosoppi

119

13 ndash Esquema da explicaccedilatildeo para o processo de Gormaccedilatildeo das chuvas

proposto por Gabaglia (1930)

270

LISTA DE GRAacuteFICOS

01 ndash Produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia por deacutecada (1814-1939) 86

02 ndash Distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo de livros didaacuteticos por localidade (1814-1939) 99

LISTA DE QUADROS

01 ndash Bibliografia didaacutetica brasileira de Geografia (1814-1939) 51

02 ndash Produccedilatildeo por autoria para autores com mais de dois tiacutetulos de manuais

didaacuteticos de Geografia (1814-1939)

91

03 ndash Descriccedilatildeo das casas publicadoras da bibliografia didaacutetica de Geografia

(1814-1939)

94

04 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1838

188

05 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1841

189

06 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1850

191

07 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1855

192

08 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1857

194

09 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1862

195

10 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1870

196

11 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1876

197

12 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1878

197

13 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na

vigecircncia do Impeacuterio ndash 1881

198

14 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Compendio de Geographia Universal

rezumido de diversos authores e offerecido a mocidade brazileira de Bazilio

Quaresma Torreatildeo 1824

213

15 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Corografia ou abreviada historia

geographica do imperio do Brasil de Domingos Jose Antonio Rebello 1829

216

16 ndash Plataforma curricular do Coleacutegio Pedro II em 1850 ndash ensino secundaacuterio 217

17 ndash Plataforma curricular executada na segunda e quarta ediccedilotildees de

Pompecirco Brasil

220

18 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia no Coleacutegio Pedro II na

vigecircncia do Decreto n 8051 de 25 de marccedilo de 1881

223

19 ndash Plataforma curricular executada no Curso methodico de Geographia de

Joaquim Maria de Lacerda deacutecada de 1880

225

20 ndash Plataforma curricular executada nos Elementos de Chorographia do

Brazil de Henrique Martins deacutecada de 1880

225

21 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia de acordo com o Decreto

n 981 de 8 de novembro de 1890 para a instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria do

Distrito Federal Reforma Benjamim Constant

232

22 ndash Ensino Primaacuterio Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma

Benjamim Constant (1890-1901)

234

23 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma

Benjamim Constant (1890-1901)

235

24 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de

acordo com o Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901 Reforma Epitaacutecio

Pessoa

237

25 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de

acordo com o Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 Reforma Rivadaacutevia

Correcirca

239

26 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia Coleacutegio Pedro II na

vigecircncia da Reforma Rivadaacutevia Correcirca (1911-1915)

240

27 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de

acordo com o Decreto n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 Art 167 Reforma

Carlos Maximiliano

242

28 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de

acordo com o Decreto nordm 16782-A de 13 de janeiro de 1925 Art 47

Reforma Luiz Alves Rocha Vaz

243

29 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia Coleacutegio Pedro II na

vigecircncia da Reforma Luiz Alves-Rocha Vaz (1925-1931)

244

30 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de

acordo com o Decreto nordm 19890 de 18 de abril de 1931 Reforma Francisco

Campos

249

31 ndash Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Francisco Campos

(1931-1937) para o Curso Fundamental

251

32 ndash Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Francisco Campos

(1931-1937) para o curso secundaacuterio

251

33 ndash Exemplos enunciados de sujeitos-destino da bibliografia 281

LISTA DE TABELAS

01 ndash Populaccedilatildeo e educaccedilatildeo no Brasil ndash 1820-1950 171

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

O Ensino de Geografia foi decisivo para a formaccedilatildeo de um discurso cientiacutefico

geograacutefico no Brasil e uma praacutetica anterior agrave sua institucionalizaccedilatildeo em sociedades

ou na academia esse tem sido um consenso entre os que estudam a histoacuteria e o

pensamento do ensino dessa disciplina Os objetivos da Geografia acadecircmica com

tais raiacutezes tecircm fundamentos que permeiam desde a estruturaccedilatildeo territorial das

atividades econocircmicas nacionais ateacute o processo de constituiccedilatildeo e consolidaccedilatildeo das

proacuteprias regiotildees nacionais unificados aos interesses sociais econocircmicos e poliacuteticos

organizados em construccedilotildees discursivas manifestas em praacuteticas artiacutesticas

midiaacuteticas escolares programas governamentais entre outros elaborando corpos

ideoloacutegicos que sustentaram (e sustentam) essa orientaccedilatildeo Dessa forma considero

a educaccedilatildeo geograacutefica como um dos pilares dos discursos sobre o territoacuterio e

nessas circunstacircncias considero os manuais escolares como um dos pilares

tradicionais desta educaccedilatildeo e como contribuiccedilatildeo da presente pesquisa considero-

os parte importante da gecircnese de um pensamento e praacutetica da Geografia bem

como partiacutecipe da histoacuteria da Geografia e do seu ensino no Brasil

Esses livros ou o seu desenvolvimento e expressatildeo satildeo um indicador

cultural importante e como objetivos discursivos abrigam processos sobre a

formaccedilatildeo de sujeitos efeitos de sentido e efeitos ideoloacutegicos sob orientaccedilatildeo de

alguma discursividade geograacutefica qual seja ela

Natildeo obstante o gecircnero didaacutetico por suas contradiccedilotildees e principalmente

por estar sob a oacutetica de um produto cultural menor na linha dos gecircneros que

documentam a pesquisa acadecircmica foi desconsiderado por muito tempo enquanto

objeto de estudo Os livros didaacuteticos de Geografia a propoacutesito apenas em fins do

seacuteculo XX mais precisamente a partir da deacutecada de 1980 passaram a ser alvo de

artigos dissertaccedilotildees de mestrado e teses de doutorado (PINHEIRO 2005a 2005b

SILVA 2006) Anteriormente a essa deacutecada satildeo poucas as contribuiccedilotildees nesse

sentido Considerando essas pesquisas eacute indiscutiacutevel o viacutenculo entre a produccedilatildeo

dos livros didaacuteticos de Geografia e o discurso institucionalizado dessa ciecircncia sem

aprofundar no meacuterito da questatildeo posso afirmar que as denominadas Geografia

Tradicional Geografia(s) Criacutetica(s) Geografia Humaniacutestica ndash principalmente estas ndash

tiveramtecircm seus professores e autores didaacuteticos (Cf SILVA 2006) Mas quais

seriam essas relaccedilotildees anteriormente agrave institucionalizaccedilatildeo brasileira da Geografia

De onde enunciavam aqueles autores Quais formaccedilotildees discursivas e ideoloacutegicas

orientavam suas praacuteticas enunciativas De quem eram essas vozes que

conformavam um discurso pedagoacutegico para a Geografia Que obras foram aquelas

e quais suas marcas na histoacuteria e no pensamento da Geografia e do seu ensino

Esta pesquisa defende a tese de que os livros didaacuteticos de Geografia satildeo

um dos lugares manifestos do discurso histoacuterico-ideoloacutegico do pensamento

geograacutefico no Brasil instituinte tambeacutem de sua histoacuteria e por isso propotildee estudar

a constituiccedilatildeo do discurso escolar da Geografia por meio de sua bibliografia didaacutetica

identificando os autores pioneiros suas instacircncias de interlocuccedilatildeo e as contribuiccedilotildees

identificaacuteveis e manifestas nesses objetos no que tange agrave formaccedilatildeo da Histoacuteria e do

Pensamento Geograacutefico em um periacuteodo especiacutefico isto eacute aquele que antecede agrave

institucionalizaccedilatildeo da Geografia acadecircmica no Brasil na deacutecada de 1930

procurando em paralelo perceber a construccedilatildeo desse discurso enquanto gecircnero

bibliograacutefico um discurso didaacutetico de Geografia O periacuteodo de abordagem portanto

estende-se desde o tempo dos jesuiacutetas perpassando pelos periacuteodos pombalino e

joanino ateacute o Impeacuterio (1822-1889) quando a educaccedilatildeo brasileira em geral e a de

Geografia em especiacutefico comeccedila a ser organizada alcanccedilando as transformaccedilotildees

que acompanharam o estabelecimento da Repuacuteblica (1889) ateacute o surgimento da

Geografia acadecircmica no paiacutes quando a Educaccedilatildeo brasileira jaacute destituiacuteda da Igreja

Catoacutelica como mentora do ensino e sob orientaccedilatildeo do Estado compartilha com a

Academia (ou com a classe intelectual) a regulamentaccedilatildeo do ensino e por

conseguinte da produccedilatildeo dos livros didaacuteticos intervenccedilatildeo que atinge igualmente os

manuais de Geografia

Portanto concentro meu objeto de pesquisa na bibliografia didaacutetica aqui

sistematizada enveredando pela formaccedilatildeo do ensino de Geografia no que respeita

agrave constituiccedilatildeo da disciplina formaccedilatildeo do curriacuteculo perspectivas sobre esse ensino

e sobretudo o discurso do e sobre o livro didaacutetico de Geografia

O livro didaacutetico de Geografia em geral tendo sua relevacircncia denegada pela

academia quando foi enfim objeto de estudo apenas alguns de seus aspectos

despertaram o interesse da pesquisa as poliacuteticas puacuteblicas a ideologia (ainda que

em uma visatildeo marxista base epistemoloacutegica das Geografias Criacuteticas perspectiva

que fez essas primeiras leituras do livro didaacutetico) a metodologia de ensino natildeo

sendo explorado na totalidade seu papel histoacuterico e epistemoloacutegico Apesar de

contraditoacuterio o livro didaacutetico eacute um produto complexo com ampla margem para a

investigaccedilatildeo cientiacutefica sendo uma lacuna a produccedilatildeo de perspectivas histoacutericas que

compreendam e esclareccedilam aspectos que engendram o surgimento e o

desenvolvimento da Geografia e do seu ensino no Brasil

Considerando que os textos didaacuteticos de Geografia (e por conseguinte o

ensino dessa disciplina) anteciparam a institucionalizaccedilatildeo acadecircmica da ciecircncia e

muitos de seus debates inclusive o da ldquoorientaccedilatildeo modernardquo (Said Ali e Delgado de

Carvalho dentre outros que seratildeo examinados nessa pesquisa satildeo exemplos

desse processo sendo esta expressatildeo de Delgado) verifica-se a necessidade de se

avanccedilar no debate sobre os discursos materializados nessa bibliografia mesmo

porque o livro didaacutetico em si foi das primeiras formas de institucionalizaccedilatildeo do

discurso geograacutefico Em pesquisa anterior em niacutevel de dissertaccedilatildeo de mestrado1

identifiquei um significativo desconhecimento sobre a histoacuteria do livro didaacutetico de

Geografia no Brasil particularmente suas relaccedilotildees com a academia e com outras

fontes de produccedilatildeo da pesquisa e do conhecimento geograacutefico sobretudo um

desconhecimento sobre o periacuteodo delimitado para esta pesquisa dado que as

pesquisas existentes sobre o livro didaacutetico se concentram prioritariamente na

produccedilatildeo contemporacircnea

Esse desconhecimento leva a prevalecer lugares comuns simplistas e

simplificadores ao referenciar o ensino de Geografia e os livros didaacuteticos do periacuteodo

em recorte a noccedilatildeo de que existiriam poucos e raros livros de Geografia a

prevalecircncia de textos importados o discurso apoliacutetico natildeo cientiacutefico satildeo algumas

das reduccedilotildees que se engendram no desconhecimento histoacuterico do livro didaacutetico de

Geografia

O preenchimento de tais lacunas anima o debate do ensino de Geografia e

subsidia a formaccedilatildeo de professores desta disciplina pois auxilia o esclarecimento de

um passado ainda sem luz apropriada alocado na penumbra que antecede um

1 SILVA Jeane Medeiros A constituiccedilatildeo de sentidos poliacuteticos em livros didaacuteticos de geografia

na oacutetica da Anaacutelise do Discurso 2006 275 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Instituto de Geografia Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia 2006

periacuteodo bem mais conhecido ndash o da Histoacuteria do Pensamento Geograacutefico e do ensino

dessa ciecircncia ndash apoacutes a institucionalizaccedilatildeo acadecircmica da ciecircncia geograacutefica no

Brasil embora seja parte constituinte da realidade atual Sobretudo contribui para

demover certas anaacutelises destituiacutedas de compreensatildeo do periacuteodo em foco tais como

as mencionadas acima o que leva muitos pesquisadores a fazer avaliaccedilotildees

errocircneas e anacrocircnicas do ensino meacutetodos e materiais daqueles anos tornando-as

um consenso amplamente reproduzido de especial maneira no acircmbito da formaccedilatildeo

de professores de Geografia

O contexto das pesquisas do Ensino de Geografia nesse iniacutecio de milecircnio eacute

propiacutecio agrave valorizaccedilatildeo do livro didaacutetico como objeto de pesquisa e fonte da produccedilatildeo

de conhecimentos a distacircncia entre livro didaacutetico de Geografia e a pesquisa

acadecircmica tende a ser reduzida pelo menos em vista da crescente quantidade e

qualidade de trabalhos sobre o tema a partir do final da deacutecada de 1990 A

propoacutesito em se tratando de uma atividade com linguagem(ns) ndash autoria escrita

formaccedilatildeo bibliograacutefica ndash eacute oportuna a utilizaccedilatildeo da Anaacutelise do Discurso como

sustentaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de uma compreensatildeo do livro didaacutetico de

Geografia aliada a algumas perspectivas da Histoacuteria das Disciplinas Escolares e da

Histoacuteria do Curriacuteculo enquanto sustentaccedilatildeo para a construccedilatildeo de um corpo histoacuterico

para anaacutelise A linguagem por si soacute jaacute contorna com relevacircncia a proposta uma vez

que com a Anaacutelise do Discurso inova-se a questatildeo da interpretaccedilatildeo que perpassa

pelas praacuteticas de produccedilatildeo e recepccedilatildeo textuais fazendo desse campo de estudo

uma contribuiccedilatildeo vigorosa para o debate da educaccedilatildeo geograacutefica quanto agrave

consideraccedilatildeo de relaccedilotildees que atravessam a linguagem a Histoacuteria a ideologia as

condiccedilotildees de produccedilatildeo discursiva e ainda a constituiccedilatildeo dos sujeitos e dos

sentidos que entrecruzam a tessitura da Histoacuteria da Geografia no Brasil

Por objetivo geral proponho compreender a bibliografia didaacutetica do ensino

de Geografia bem como a histoacuteria e o pensamento deste ensino entre as deacutecadas

de 1810 e 1930 por meio da descriccedilatildeo de sua trajetoacuteria constitutiva e da anaacutelise dos

discursos dos seus sujeitos

As etapas de efetivaccedilatildeo dessa proposta objetivam especificamente

a) Buscar elementos teoacutericos e metodoloacutegicos que auxiliem a

compreensatildeo da disciplina e da bibliografia didaacutetica de Geografia

sobretudo na Anaacutelise do Discurso de linha francesa

b) Reunir referecircncias da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo

entre a refuncionalizaccedilatildeo da Colocircnia brasileira para sediar o Reino

portuguecircs ateacute o momento contemporacircneo agrave institucionalizaccedilatildeo da

Geografia acadecircmica no Brasil sistematizando autores e obras que

subsidiaram o ensino de Geografia brasileiro

c) Compreender historicamente a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da

disciplina nos movimentos histoacutericos que a definiram procurando

perceber os reflexos desses movimentos na bibliografia didaacutetica de

Geografia

d) Analisar elementos constitutivos do discurso instituinte da

bibliografia sistematizada na pesquisa identificando posiccedilotildees

autorais discursos e efeitos de sentido que esbocem a partir dela

os lugares da Histoacuteria do Ensino de Geografia brasileiro

Esse percurso agrega significados agrave Geografia brasileira e ao seu ensino

aleacutem de ressignificar o livro didaacutetico de Geografia e seus autores como objeto de

estudo e documento das praacuteticas geograacuteficas no Brasil

Para conduzir a proposta de conhecer o pensamento e o ensino geograacutefico

por meio dos sujeitos sentidos e fundamentos ideoloacutegicos que paulatinamente

tomam forma de um gecircnero integrante do discurso geograacutefico constituindo um

acervo de obras e de referecircncias didaacuteticas utilizo as teacutecnicas da pesquisa

bibliograacutefica como ponto inicial para vislumbrar de acordo com as possibilidades da

pesquisa a histoacuteria do livro didaacutetico de Geografia de 1814 ateacute o final da deacutecada de

1930 Defino este periacuteodo tomando como marco inicial a publicaccedilatildeo da obra

Elementos de Astronomia para uso dos alumnos da Academia Real Militar de

Manoel Ferreira de Arauacutejo Magalhatildees publicada no Rio de Janeiro em 1814 pela

Impressatildeo Reacutegia O periacuteodo de abordagem encerra-se sem limite preciso na deacutecada

de 1930 quando a Geografia foi institucionalizada no Brasil de acordo com o

modelo de produccedilatildeo e formaccedilatildeo que perdura ateacute a atualidade afirmando alguns dos

viacutenculos entre a academia e a produccedilatildeo dos manuais didaacuteticos de Geografia mas

sem necessariamente aprofundar a questatildeo dessa institucionalizaccedilatildeo nesse

momento da pesquisa Apesar de limitar a sistematizaccedilatildeo ao ano de 1939 algumas

ediccedilotildees de anos anteriores satildeo reeditadas nas deacutecadas seguintes registros

contabilizados na pesquisa pois o criteacuterio para a inclusatildeo de um tiacutetulo na relaccedilatildeo foi

o ano da primeira ediccedilatildeo ou ediccedilatildeo mais antiga identificada

Em linhas gerais trata-se de uma pesquisa exploratoacuteria visando

proporcionar a discussatildeo de um problema ndash a produccedilatildeo da literatura didaacutetica de

Geografia no periacuteodo anterior agrave institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica ndash um tema

ainda pouco conhecido entre os historiadores do pensamento e do ensino

geograacutefico

A pesquisa portanto foi iniciada com um exaustivo levantamento de

referecircncias e produccedilatildeo de fichas para localizaccedilatildeo acesso ou obtenccedilatildeo das fontes

primaacuterias ou de dados a elas relacionados Foram consultados cataacutelogos de diversas

bibliotecas de universidades brasileiras bem como cataacutelogos virtuais da Bibliotegraveque

Nationale de France o Banco de Dados de Livros Escolares Brasileiros (1810 a

2005) ndash LIVRES o Acervo Geral e Acervo de Obras Raras da Fundaccedilatildeo Biblioteca

Nacional (Rio de Janeiro RJ) e da Biblioteca Arthur Viana (Beleacutem PA) Consultei

tambeacutem cataacutelogos e extratos de cataacutelogos de editoras cataacutelogos de exposiccedilotildees

geograacutefica e pedagoacutegica aleacutem de consultar acervos particulares e obras de

referecircncia bibliograacutefica (SILVA 1870 BLAKE 1883 1893 1895 1898 1899 1900

1903 GARRAUX 1962 MORAES 1969) Dentre os indicadores de busca

destacaram-se os termos geographia2 chorographia compendio cosmographia

geografia geographico geograacutefico geograacutefica geographica corographia

corografia Seguiram-se o levantamento de criteacuterios histoacutericos para classificaccedilatildeo dos

2 O periacuteodo em abordagem nesta tese passou por diversas formas de ortografia da liacutengua

portuguesa Diante disso as transcriccedilotildees diretas seratildeo sempre de acordo com a ortografia vigente na fixaccedilatildeo do texto agrave eacutepoca agrave exceccedilatildeo de alguma transcriccedilatildeo cujo acesso obtido jaacute constasse com uma atualizaccedilatildeo Os nomes dos autores igualmente teratildeo observados a ortografia corrente agrave eacutepoca de sua existecircncia ou registro

grupos de referecircncias seleccedilatildeo e anaacutelise destas notadamente os periacuteodos Jesuiacutetico

Pombalino do Reinado Imperial e Republicano com subdivisotildees que se fizeram

necessaacuterias Os principais periacuteodos histoacutericos do territoacuterio brasileiro ficam como

expressatildeo maacutexima do recorte pois satildeo responsaacuteveis por transformaccedilotildees

significativas na educaccedilatildeo brasileira que diferenciam um periacuteodo de outro

Esta etapa inicial permitiu a identificaccedilatildeo de tiacutetulos autores anos e locais de

publicaccedilatildeo definindo um panorama histoacuterico-descritivo que permite entrever o

surgimento e o desenvolvimento dos manuais de Geografia e do ensino desta A

composiccedilatildeo de um panorama bibliograacutefico de obras e autores constituiu o arcabouccedilo

de fontes para construccedilatildeo histoacuterica e anaacutelise

Na delimitaccedilatildeo da pesquisa natildeo foram inscritos o levantamento a anaacutelise ou

a historicizaccedilatildeo de atlas dicionaacuterios cartas globos3 literatura para o ensino ciacutevico

literatura pedagoacutegica e demais materiais dessa linha que embora tenham feito a

histoacuteria da disciplina Geografia constituindo sua literatura considero produtos

complementares e de referecircncia sem a abrangecircncia que os livros escolares

propriamente tecircm Eacute fato inegaacutevel que esses materiais subsidiaram o ensino de

Geografia apresentando viacutenculos diretos com esse ensino mas natildeo satildeo oportunos

a este trabalho neste momento pela necessidade de delimitaccedilatildeo e controle da

extensatildeo da pesquisa de acordo com a estrutura de uma tese apenas me utilizei

dos mesmos marginalmente por necessidade da anaacutelise

Enganos e omissotildees satildeo inevitaacuteveis em trabalhos com bibliografia

sobretudo em periacuteodos com tempo dilatado em deacutecadas e sobretudo deacutecadas e

seacuteculos distantes da atualidade A dispersatildeo eleva os objetos culturais agrave categoria

de raros ou desaparecidos sustendo-se em seus contextos pelo valor e impacto

histoacuterico que tiveram ndash uma condiccedilatildeo que o tempo pode lembrar ou esquecer De

acordo com as condiccedilotildees da pesquisa pretendi elaborar uma base ampla a mais

completa de forma que a pesquisa dispotildee de uma bibliografia dentre as possiacuteveis

para anaacutelise

Nesta tese denomino por ldquobibliografia didaacutetica de Geografiardquo o acervo de

documentos em anaacutelise direta ou indireta ndash dado que nem todos os tiacutetulos satildeo

3 Uma histoacuteria da bibliografia didaacutetica na perspectiva cartograacutefica por ser encontrada na tese A

cartografia nos livros didaacuteticos e programas oficiais no periacuteodo de 1824 a 2002 contribuiccedilotildees para a histoacuteria da geografia escolar no Brasil de Levon Boligian (2010)

acessiacuteveis Atualmente tratamos os objetos em estudo pelo termo ldquolivro didaacuteticordquo

para os quais genericamente empregam-se com regularidade enquanto sinocircnimos

obra didaacutetica livro-texto manual didaacutetico compecircndio Essas designaccedilotildees satildeo

historicamente constituiacutedas compecircndio por exemplo foram os nomes gerais desses

livros em boa parte do seacuteculo XIX dada a concepccedilatildeo e a metodologia de

elaboraccedilatildeo nomeando um conjunto de conhecimentos relativos a uma dada aacuterea do

saber dentre os considerados mais importantes em forma de livro compilados ou

natildeo Livro-texto jaacute eacute uma denominaccedilatildeo mais recente bem como livro didaacutetico

Podem ser compreendidos como livros se forem impressos encadernados

legalmente catalogados publicados4 Por apostilas se a divulgaccedilatildeo do texto sofre

variaccedilotildees em relaccedilatildeo ao padratildeo ldquolivrordquo

Esses materiais nessa pesquisa satildeo tratados quando em conjunto por

duas denominaccedilotildees literatura didaacutetica e bibliografia didaacutetica de Geografia

Por bibliografia didaacutetica compreendo a sistematizaccedilatildeo possiacutevel ao

alcance dessa pesquisa do acervo cujas fontes tenham sido identificadas

acessadas ou adquiridas referem-se tambeacutem consequentemente agrave sistematizaccedilatildeo

de dados como indicaccedilatildeo de autoria titulaccedilatildeo e subtitulaccedilatildeo ediccedilatildeo local e casa de

publicaccedilatildeo ano de publicaccedilatildeo quantidade de paacuteginas impressas e registro de

outros dados complementares agrave caracterizaccedilatildeo formal do livro tais como coleccedilotildees

volumes traduccedilatildeo adaptaccedilatildeo revisatildeo ampliaccedilatildeo Para o levantamento das obras

em estudo poreacutem os dados foram organizados em um levantamento bibliograacutefico

no qual constaram as primeiras ediccedilotildees ou a ediccedilatildeo mais antiga que pude localizar

seguindo uma ordem cronoloacutegica conforme pode ser visto no Quadro Relaccedilatildeo geral

de tiacutetulos por autor - iacutendice por data de primeiras e demais ediccedilotildees ou ediccedilatildeo mais

antiga identificada apresentada no Capiacutetulo 2 O levantamento foi organizado para

que a entrada de cada tiacutetulo registre cronologicamente todas as ediccedilotildees

identificadas da obra Esses documentos apresentam especificidades agrave anaacutelise e agrave

construccedilatildeo histoacuterica da pesquisa conforme abordo apropriadamente no desenvolver

das descriccedilotildees e anaacutelises

4 Publicaccedilatildeo enquanto manifestaccedilatildeo notoacuteria de uma obra seja pelo uso (aquisiccedilatildeo leitura adoccedilatildeo

institucional) seja pela visibilidade mesmo quando natildeo institucional pelas finalidades e direcionamento ao puacuteblico pela integraccedilatildeo a acervos cataacutelogos bem como pela citaccedilatildeo em obras de referecircncias

Por literatura didaacutetica de Geografia entendo todos os aspectos que

extrapolam as dimensotildees fiacutesicas de uma obra ou da bibliografia sobretudo os

aspectos teoacuterico-metodoloacutegicos poliacuteticos sociais ideoloacutegicos e outros que

apresentam continuidades rupturas conflitos contradiccedilotildees mas se desenvolvem na

composiccedilatildeo de uma aacuterea ndash perfazendo uma formaccedilatildeo discursiva em torno desses

objetos Nessa categoria tambeacutem satildeo inclusos atlas dicionaacuterios cartas globos

literatura para o ensino ciacutevico literatura pedagoacutegica e demais materiais dessa linha

que conforme demonstrado embora sejam parte integrante da histoacuteria da disciplina

Geografia natildeo estatildeo em foco nesta pesquisa

O corpus estaacute constituiacutedo assim pela bibliografia didaacutetica na qual se

encontram majoritariamente livros compendiados traduzidos adaptados produzidos

ou importados para o ensino de Geografia brasileiro Marginalmente quando

julgados importantes para a anaacutelise outros documentos de outros gecircneros satildeo

tomados como parte do corpus e como unidade de anaacutelise como jaacute mencionei

A propoacutesito da bibliografia e da literatura didaacuteticas de Geografia considero a

partir de uma visatildeo geral do corpus e do seu contexto que haacute um ensino expliacutecito e

um ensino impliacutecito de Geografia O ensino expliacutecito de Geografia compreende os

programas e curriacuteculos elaborados para o ensino e aprendizagem exclusivo desta

disciplina Geografia com os materiais culturais produzidos para esse fim tais como

as obras da bibliografia O ensino impliacutecito de Geografia compreende por sua vez o

aprendizado e o ensino incidental de conteuacutedos de Geografia em outros programas

curriacuteculos e disciplinas Para exemplificar os livros de leitura os livros do ensino

ciacutevico os livros de Histoacuteria estatildeo todos eivados com discursos geograacuteficos pois as

formaccedilotildees discursivas que justificaram e promoveram o ensino de Geografia em

muito extrapolam os interesses desta disciplina

A pesquisa inicia-se com a construccedilatildeo de uma perspectiva teoacuterica

perpassando pela construccedilatildeo histoacuterica da disciplina e dos manuais de Geografia ateacute

alcanccedilar uma siacutentese analiacutetica do periacuteodo delimitado

Por conseguinte no primeiro capiacutetulo Uma perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica

para a anaacutelise da bibliografia didaacutetica de Geografia disciplina curriacuteculo e discurso

apresento discussotildees relativas agrave Anaacutelise do Discurso e a algumas perspectivas da

Histoacuteria das Disciplinas Escolares e da Histoacuteria do Curriacuteculo no que tocam de perto

ao estudo do objeto proposto e aos objetivos lanccedilados Natildeo se trata propriamente de

fazer uma histoacuteria das disciplinas em geral ou do livro didaacutetico como um todo o que

natildeo eacute objetivo da pesquisa mas de buscar elementos que auxiliem a compreensatildeo

da bibliografia didaacutetica de Geografia tendo na Anaacutelise do Discurso elementos

conceituais e metodoloacutegicos que fundamentem essa compreensatildeo Procuro

portanto construir uma perspectiva para compreender os documentos em anaacutelise

como bibliografia especiacutefica do ensino da Geografia e partiacutecipes do processo de

constituiccedilatildeo discursiva do gecircnero didaacutetico

No segundo capiacutetulo Descriccedilatildeo da bibliografia didaacutetica (1814-1939)

discussatildeo da trajetoacuteria constitutiva dos manuais de Geografia apresento os dados

bibliograacuteficos em sua sistematizaccedilatildeo e discuto aspectos relacionados agrave constituiccedilatildeo

do acervo tais como autoria editoraccedilatildeo apresentaccedilatildeo graacutefica dentre outros

No terceiro capiacutetulo Do ensino impliacutecito ao ensino expliacutecito da Geografia

prenuacutencios da disciplina e do livro didaacutetico nos movimentos histoacutericos anteriores agrave

independecircncia poliacutetica do Brasil percebo na dispersatildeo do ensino jesuiacutetico

pombalino e joanino as raiacutezes da disciplina e da bibliografia didaacutetica de Geografia

com particular atenccedilatildeo agrave Academia Real Militar (1810) instituiccedilatildeo integrante do

movimento de introduccedilatildeo do pensamento cientiacutefico no Brasil e marco no ensino de

Geografia brasileiro

No quarto capiacutetulo Delineamentos constitutivos da Geografia escolar no

Impeacuterio (1822-1889) o estabelecimento de uma disciplina e de uma bibliografia

didaacutetica demonstro o surgimento da Geografia como disciplina consolidada na

educaccedilatildeo brasileira bem como seu desenvolvimento curricular aliando essa

trajetoacuteria a um crescente mercado editorial que seraacute aliado das nascentes

instituiccedilotildees escolares sobretudo do ensino secundaacuterio ambientando a consolidaccedilatildeo

da Geografia como disciplina escolar e a constituiccedilatildeo de um acervo bibliograacutefico

desta disciplina na vigecircncia do Impeacuterio

No quinto capiacutetulo Delineamentos constitutivos da Geografia Escolar na

Primeira Repuacuteblica (1889-1930) permanecircncias e transformaccedilotildees na disciplina e

em sua bibliografia didaacutetica examino o debate e os atos que promovem a

transformaccedilatildeo do fazer e modo de ser da disciplina geograacutefica e da sua bibligorafia

durante a vigecircncia da Primeira Repuacuteblica em fins do seacuteculo XIX ateacute a deacutecada de

1930 tempo em que a Geografia estaacute constituida e institucionalizada e incorporada

de certa tradiccedilatildeo quanto a uma literatura didaacutetica

No uacuteltimo capiacutetulo Discursos no livro didaacutetico de Geografia anaacutelises de

elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geograacutefico procuro analisar as

circunstacircncias e viacutenculos constitutivos da bibliografia observando em seu discurso

como os sujeitos autores se impotildeem no cenaacuterio educacional aspectos da

legitimaccedilatildeo da disciplina a relaccedilatildeo com as propostas curriculares o posicionamento

da bibliografia em relaccedilatildeo a sua proacutepria tradiccedilatildeo o posicionamento com suas fontes

com os professores com as formaccedilotildees ideoloacutegicas

Em um aspecto geral a trajetoacuteria delineada pela pesquisa demonstrou uma

atividade intensa embora fragmentada que participou da delineaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da

Geografia como disciplina escolar respondendo agraves necessidades impostas pela

educaccedilatildeo brasileira reagindo agraves criacuteticas colocadas pela intelectualidade brasileira

de forma a compor um material extremamente rico para a compreensatildeo da histoacuteria

da Geografia escolar e mesmo do pensamento geograacutefico brasileiro

CAPIacuteTULO 1

UMA PERSPECTIVA TEOacuteRICO-METODOLOacuteGICA PARA A ANAacuteLISE

DA BIBLIOGRAFIADIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA disciplina curriacuteculo e discurso

Para alcance dos objetivos propostos nesta tese elejo um corpus de anaacutelise

ndash os manuais de Geografia examinados a partir do discurso didaacutetico desta

disciplina o que eacute um recorte de pesquisa isso porque o discurso didaacutetico da

Geografia se enuncia em diferentes materialidades na produccedilatildeo do professor

(resumos anotaccedilotildees relatoacuterios fala) na produccedilatildeo dos alunos na produccedilatildeo do

Estado (legislaccedilatildeo relatoacuterios programas) nos manuais didaacuteticos na ciecircncia

geograacutefica na imprensa e em tantas outras instacircncias aleacutem da literatura didaacutetica de

Geografia propriamente dita Dessa forma a literatura do ensino de Geografia por

meio da bibliografia suscitada eacute colocada como objeto de estudo e a partir dele

incorporar-se-aacute outras materialidades que se fizerem necessaacuterias para a construccedilatildeo

e a anaacutelise de uma histoacuteria do livro e da disciplina escolar da Geografia dentre

tantas possiacuteveis

A Geografia que se ensina tem uma histoacuteria e um desenvolvimento

peculiares que atravessam sua constituiccedilatildeo e sua institucionalizaccedilatildeo Nesta

pesquisa tomo a Anaacutelise do Discurso como fundamentaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica

para compreender este percurso atraveacutes dos livros didaacuteticos como materialidades

discursivas deste ensino Para isso neste capiacutetulo procuro compreender a Anaacutelise

do Discurso a partir da questatildeo do sujeito e do discurso especificamente o dos

sujeitos autores e o didaacutetico

A Anaacutelise do Discurso como o proacuteprio nome enuncia procede por meio da

anaacutelise como meacutetodo e do discurso como teorizaccedilatildeo Ambos anaacutelise e discurso

transitam em uma circunscriccedilatildeo histoacuterica neste caso a histoacuteria da disciplina de

Geografia Para atingir esse enquadramento teoacuterico parto de algumas das

contribuiccedilotildees da Histoacuteria das Disciplinas Escolares e da Histoacuteria do Curriacuteculo como

definiccedilatildeo de uma perspectiva para compreender a histoacuteria do livro didaacutetico de

Geografia no bojo da qual a pesquisa se propotildee a compreender aspectos das

formaccedilotildees discursivas e ideoloacutegicas que acompanham a emergecircncia e o

desenvolvimento desta disciplina no seacuteculo XIX ateacute a deacutecada de 1930

11 A Histoacuteria das Disciplinas Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo algumas contribuiccedilotildees para uma histoacuteria da disciplina escolar de Geografia e de sua literatura didaacutetica

A anaacutelise discursiva leva-nos a identificar e mover-se nas circuntacircncias da

histoacuteria onde os discursos se filiam e produzem sentido A literatura didaacutetica como

as que compotildeem o objeto desta pesquisa soacute tem existecircncia na vida e dinacircmica de

uma disciplina Organizar e analisar uma bibliografia do ensino de Geografia dessa

forma eacute acompanhar o fazer histoacuterico da disciplina de Geografia No campo da

Educaccedilatildeo duas aacutereas de estudo a Histoacuteria das Disciplinas Escolares5 e a Histoacuteria

do Curriacuteculo tecircm contribuiccedilotildees para auxiliar a construccedilatildeo de uma perspectiva

histoacuterica do Ensino de Geografia quanto agrave sua formaccedilatildeo disciplinar o que inclui

uma compreensatildeo do desenvolvimento curricular e quanto agrave formaccedilatildeo dos seus

manuais didaacuteticos

Bittencourt (2008) ao abordar o problema do saber escolar no acircmbito da

Histoacuteria das Disciplinas Escolares lembra que o mesmo se estrutura em uma triacuteade

o saber a ser ensinado o saber ensinado e o saber apreendido O periacuteodo

delineado para esta pesquisa historicamente distante dos dias atuais dinamizado

em geraccedilotildees jaacute extintas apresenta dificuldades documentais para o estudo do saber

ensinado e do saber apreendido sem inteireza de fatos e repercussotildees de modo

que historicizar a disciplina precisa recorrer a meios indiretos para promover e

construir conhecimentos O seacuteculo XIX natildeo apresenta fartos registros sobre o ensino

de Geografia quanto aos aspectos dos saberes ensinados e apreendidos quando

ainda era iniciante no contexto geral da educaccedilatildeo brasileira a imprensa pedagoacutegica

e algo que se assemelhasse agrave produccedilatildeo de saberes acadecircmicos sobre a educaccedilatildeo

5 Histoacuteria das Disciplinas Curriculares Histoacuteria das Mateacuterias Escolares Histoacuteria dos Saberes

Escolares e Histoacuterias dos Conteuacutedos Escolares satildeo outros campos com afinidades na Educaccedilatildeo agrave Histoacuteria das Disciplinas Escolares (SOUZA JUacuteNIOR GALVAtildeO 2005)

geograacutefica Registros oficiais como relatoacuterios inerentes agrave vida burocraacutetica do Estado

obras memorialistas a literatura ficcional (de forma muito fragmentada) satildeo os

documentos mais pertinentes agrave compreensatildeo da Geografia ensinada no periacuteodo

circunscrito a esta pesquisa para se conhecer os discursos instituintes da Geografia

escolar brasileira Apoacuteiam esta proposta ainda as diversas pesquisas acadecircmicas

sobre o tema embora tambeacutem natildeo sejam muitas Nesse conjunto eacute mais acessiacutevel

o saber a ser ensinado do qual os manuais didaacuteticos a legislaccedilatildeo e os programas

educacionais satildeo documentos muito vivos indicativo do caminho trilhado nesta tese

No contexto da Histoacuteria das Disciplinas Escolares para conhecimento do

saber a ser ensinado satildeo importantes os curriacuteculos e programas a legislaccedilatildeo

pareceres os documentos institucionais (editoras oacutergatildeos da administraccedilatildeo do

Estado e escolar) Sobretudo satildeo importantes os livros didaacuteticos os prefaacutecios

proacutelogos advertecircncias textos introdutoacuterios tiacutetulos das obras informaccedilotildees de folhas

de rosto os iacutendices e propriamente os discursos produzidos e armados nessa

estrutura A documentaccedilatildeo de referecircncia do saber a ser ensinado permite entrever a

proposta de um ensino modelar como ponto de partida para as praacuteticas que seriam

exercidas que resultam no saber ensinado e no saber apreendido De acordo com

Chervel (1990 p 209)

O estudo dos conteuacutedos beneficia-se de uma documentaccedilatildeo abundante agrave base de cursos manuscritos manuais e perioacutedicos pedagoacutegicos Verifica-se ai um fenocircmeno de vulgata o qual parece comum agraves diferentes disciplinas Em cada eacutepoca o ensino dispensado pelos professores eacute grosso modo idecircntico para a mesma disciplina e para o mesmo niacutevel Todos os manuais ou quase todos dizem entatildeo a mesma coisa ou quase isso Os conceitos ensinados a terminologia adotada a coleccedilatildeo de rubricas e capiacutetulos a organizaccedilatildeo do corpus de conhecimentos mesmo os exemplos utilizados ou os tipos de exerciacutecios praticados satildeo idecircnticos com variaccedilotildees aproximadas Satildeo apenas essas variaccedilotildees aliaacutes que podem justificar a publicaccedilatildeo de novos manuais e de qualquer modo natildeo apresentam mais do que desvios miacutenimos o problema do plaacutegio eacute uma das constantes da ediccedilatildeo escolar

A Histoacuteria da Educaccedilatildeo em geral (ou as nacionais) tem tradiccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo ampla Nela eacute recente no entanto a Histoacuteria das Disciplinas Escolares

com atenccedilatildeo especial agrave histoacuteria das disciplinas em particular Chervel (1990)

demonstra que da crise dos estudos claacutessicos a partir de 1850 emergiu uma

perspectiva de ensino fundamentado no exerciacutecio intelectual capaz de formar o

espiacuterito do aprendiz e a essa acepccedilatildeo iniciou-se o desenvolvimento de conjuntos

culturais de conteuacutedos que principalmente a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo

XX associaram-se ao termo ldquodisciplinardquo No sentido original enquanto formadoras

de espiacuteritos as disciplinas aplicavam-se agraves humanidades claacutessicas No seacuteculo XX

reforccedilo desse processo tem-se o fortalecimento de outra classe de estudos ndash os

conteuacutedos cientiacuteficos ndash como motrizes da formaccedilatildeo humana e nesse contexto o

termo ldquodisciplinardquo generaliza-se como classificaccedilatildeo das mateacuterias de ensino

consolidando-se como ldquo[] os meacutetodos e as regras para abordar os diferentes

domiacutenios do pensamento do conhecimento e da arterdquo (CHERVEL 1990 p 181)

Paradoxalmente como demonstro nos proacuteximos capiacutetulos esse processo iniciou

cedo no caso do ensino da Geografia brasileira mas em um movimento espiralado

com dificuldade para estabelecer seu centro seu lugar como disciplina oscilando

entre um saber claacutessico e um saber cientiacutefico

Como tal as disciplinas seriam o espaccedilo da sistematizaccedilatildeo de

conhecimentos introdutoacuterios para um puacuteblico iniciante cujo acesso agrave integralidade

ficaria reservado ao ingresso no ensino superior Aos educadores ou a outros

sujeitos autorizados pelas formaccedilotildees institucionais e governamentais caberiam a

responsabilidade dessa realizaccedilatildeo isto eacute o desenvolvimento e a aplicaccedilatildeo de

meacutetodos de ensino bem como o desenvolvimento discursivo das disciplinas

esquema esse de ampla aceitaccedilatildeo dentre os estudiosos da educaccedilatildeo

frequentemente denominado de ldquovulgarizaccedilatildeo da ciecircnciardquo Chervel (1990) e outros

historiadores das disciplinas questionam esse modelo pelo estreitamento da

perspectiva das disciplinas quanto agrave existecircncia autocircnoma de cada uma

No caso da Geografia se tomamos o consenso da precedecircncia do ensino agrave

ciecircncia (pelo menos na perspectiva da Geografia Moderna e quanto agrave

institucionalizaccedilatildeo desta) com as relativas ressalvas como demonstro em capiacutetulo

posterior permite-se creditar agrave criacutetica de Chervel razotildees para desmistificar esse

posicionamento tradicionalmente aceito Pois na Geografia isso eacute incisivamente

particular muitos dos textos a trabalhar o territoacuterio brasileiro na totalidade possiacutevel agrave

eacutepoca apoacutes o trabalho de Ayres de Casal (1817a 1817b) foram textos didaacuteticos

compendiados e produzidos para as praacuteticas educacionais Na gecircnese da histoacuteria e

do pensamento geograacutefico nesse sentido estatildeo os livros escolares Sobretudo as

instacircncias de produccedilatildeo desses conhecimentos em nada se assemelharam a um

recipiente enchendo-se do jorro de uma ciecircncia acadecircmica em porccedilotildees mais

palataacuteveis aos sujeitos alvos ndash os aprendizes esta natildeo deixaraacute de ter a sua

importacircncia e contribuiccedilatildeo significativa inclusive predominante mas ateacute pouco antes

das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX natildeo satildeo poucos os sinais que asseguram um

fazer tambeacutem autocircnomo para o ensino de Geografia no Brasil Natildeo raro os autores

da bibliografia em questatildeo em prefaacutecios ou notas introdutoacuterias deixam claro que na

elaboraccedilatildeo de seus materiais consultaram acadecircmicos de referecircncia na Geografia

europeia sobretudo franceses mas que lanccedilaram matildeo a consultas proacuteprias em

especial agraves estatiacutesticas governamentais Essa trajetoacuteria atesta que os conteuacutedos

geograacuteficos estatildeo longe de ser reflexos exatos simplificados e vulgarizados de uma

ciecircncia dada antes se formando como uma construccedilatildeo histoacuterica da instituiccedilatildeo

escolar da cultura social desta Aleacutem disso os livros didaacuteticos organizaram uma das

primeiras formas de institucionalizaccedilatildeo do saber geograacutefico no Brasil

A finalidade da educaccedilatildeo e a funccedilatildeo dos professores constituem um

nuacutecleo importante da Histoacuteria das Disciplinas Escolares (CHERVEL 1990)

Contrapondo este princiacutepio com a anaacutelise discursiva torna-se evidente a questatildeo

ideoloacutegica e o papel dos sujeitos na produccedilatildeo de sentidos constitutivos do discurso

didaacutetico ndash duas feiccedilotildees dos livros escolares como instacircncia de produccedilatildeo linguageira

O livro escolar converge essas duas perspectivas enquanto inteacuterpretes do curriacuteculo

formadores de uma concepccedilatildeo disciplinar e propositores de uma metodologia de

ensino os sujeitos autores se comportam como professores consolidando a

percepccedilatildeo mais ampla da educaccedilatildeo em seu tempo Nestas circunstacircncias a Histoacuteria

das Disciplinas Escolares atribui ao curriacuteculo especificamente agrave Histoacuteria do

Curriacuteculo a explicaccedilatildeo sobre porque certos conhecimentos em determinado

momento satildeo ensinados e porque satildeo conservados excluiacutedos ou alterados

(MOREIRA 2007)

O manual didaacutetico testemunha as finalidades do ensino de um conteuacutedo

mas certamente natildeo reflete o ensino como acontecimento e praacutetica social nem os

discursos que se articulam em torno dos sentidos produzidos em seu dizer Apesar

disso o livro didaacutetico eacute um dos pilares do estudo das disciplinas escolares e da sua

historicizaccedilatildeo de maneira que uma das formas de se conhecer a histoacuteria de uma

disciplina eacute por sua produccedilatildeo editorial desde que se reuacutena para tanto um corpus

representativo de suas diversas eacutepocas ndash aquelas de inovaccedilatildeo e as de estabilidade

Em sua produccedilatildeo de acordo com Chervel os conteuacutedos satildeo reapropriados por meio

de uma metodologia de ensino que diferencia os estados de aprendizagens na

produccedilatildeo de livros para o ensino nesse sentido haacute pressupostos na motivaccedilatildeo da

aprendizagem e na organizaccedilatildeo dos saberes em uma progressatildeo contiacutenua Os

conteuacutedos jaacute pela seleccedilatildeo e depois pelo tratamento etaacuterio dispensado

descaracterizam-se em relaccedilatildeo aos seus objetivos originais

O que caracteriza o ensino de niacutevel superior eacute que ele transmite diretamente o saber Suas praacuteticas coincidem amplamente com suas finalidades Nenhum hiato entre os objetivos distantes e os conteuacutedos do ensino O mestre ignora aqui a necessidade de adaptar a seu puacuteblico os conteuacutedos de acesso difiacutecil e de modificar esses conteuacutedos em funccedilatildeo das variaccedilotildees de seu puacuteblico nessa relaccedilatildeo pedagoacutegica o conteuacutedo eacute uma variaccedilatildeo (CHERVEL 1990 p 188)

Os conceitos e processos cientiacuteficos precisam de traduccedilatildeo em niacutevel de

linguagem preacute-existente no caso do discurso didaacutetico Por outro lado haacute a

exposiccedilatildeo dos conteuacutedos Nesta fase haacute a execuccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas que

compreende desde a elaboraccedilatildeo de manuais ndash estrutura riacutegida no meacutedio prazo das

relaccedilotildees de ensino e aprendizagem ndash ateacute as praacuteticas docentes ndash estrutura flexiacutevel

dessa mesma relaccedilatildeo ldquo[] eacute uma variaacutevel que em geral potildee em evidecircncia algumas

grandes tendecircncias evoluccedilatildeo que vai do curso ditado para a liccedilatildeo aprendida no

livro da formulaccedilatildeo estrita [] para as exposiccedilotildees mais flexiacuteveis []rdquo (CHERVEL

1990 p 207) Para Bakhtin (1997) o texto eacute composto a partir de uma estruturaccedilatildeo

definida para o exerciacutecio de uma funccedilatildeo e sua comunicaccedilatildeo O estilo natildeo eacute

meramente a marca de um autor em uma produccedilatildeo de niacutevel teacutecnico poreacutem eacute de

igual modo elemento de unidade de um gecircnero

Ainda na relaccedilatildeo entre ciecircncia e discurso didaacutetico os historiadores da

disciplina escolar satildeo criacuteticos quanto agraves visotildees simplistas da vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia

esta eacute o esteio primo de diaacutelogo da disciplina escolar e dos seus curriacuteculos mas o

saber escolar tem uma trajetoacuteria constitutiva proacutepria Na realidade trata-se de uma

relaccedilatildeo conflituosa com acertos e desacertos encontros duradouros e retrocessos

certamente peculiares a cada disciplina Das ciecircncias as disciplinas querem os

resultados mais conclusivos e abertos a explicaccedilotildees assimilaacuteveis pelos alunos No

caso da Geografia as primeiras fases da produccedilatildeo de manuais verificam essa

questatildeo Em sua maioria eram textos que compendiavam livros e documentos de

diversas instacircncias mas ademais eram produtores de conhecimento ou no

miacutenimo sistematizadores dos mesmos6 A anaacutelise vertical dessa proposiccedilatildeo

apresenta dificuldades devido agraves condiccedilotildees autorais proacuteprias agrave eacutepoca da produccedilatildeo

bibliograacutefica em estudo nesta pesquisa principalmente por natildeo ser comum

referenciar fontes uma praacutetica que relativamente nunca deixou de ser usual na

produccedilatildeo de discursos didaacuteticos Como explicitado posteriormente a

heterogeneidade mostrada (processo discursivo que remete e nomeia o Outro no

acircmbito da enunciaccedilatildeo) natildeo eacute uma marca comum no discurso didaacutetico e quando eacute

tem um funcionamento especiacutefico (complementar e para aprofundar

desenvolvimentos de conteuacutedo ou ilustrar as abordagens em foco por exemplo)

As disciplinas constituem-se de forma aditiva avanccedilando ou retrocedendo

para uma nova composiccedilatildeo no que tange agrave constituiccedilatildeo da sua formaccedilatildeo discursiva

nos quais se alojam os curriacuteculos os meacutetodos os objetivos Satildeo de fato produtos

histoacutericos Seus discursos satildeo acrescidos ampliados reduzidos de acordo com as

necessidades socialmente colocadas e de acordo com o puacuteblico definido para elas

Sua histoacuteria curricular e seus livros textos demonstram esse desenvolvimento satildeo

as disciplinas escolares um

[] vasto conjunto cultural amplamente original que ela [a escola] secretou ao longo de dececircnios ou seacuteculos e que funciona como uma indicaccedilatildeo posta a serviccedilo da juventude escolar em sua lenta propensatildeo em direccedilatildeo agrave cultura da sociedade global (CHERVEL 1990 p 205)

As disciplinas escolares se compotildeem assim pelos meacutetodos de exposiccedilatildeo

dos conteuacutedos expliacutecitos o que eacute funccedilatildeo do professor e tambeacutem dos manuais

Os discursos didaacuteticos satildeo selecionados tanto na ciecircncia como em outras

formaccedilotildees discursivas nas artes na administraccedilatildeo puacuteblica na imprensa nos

saberes claacutessicos e na religiatildeo Nesta perspectiva os historiadores da disciplina

escolar criticam a visatildeo da disciplina como simples vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica

acertadamente A percepccedilatildeo da disciplina eacute ampla e natildeo condiz necessariamente

com uma reduccedilatildeo da complexidade de uma ciecircncia ao ponto palataacutevel dos

estudantes em iniciaccedilatildeo E no que diz respeito agrave ciecircncia nem todos os seus

discursos interessam a um ensino baacutesico seja pela complexidade seja pelo estaacutedio

6 Os manuais de Geografia em nosso caso sobretudo aqueles que abordam o Brasil ou sua

corografia tinham um puacuteblico que ultrapassava os interesses escolares como demosntro no uacuteltimo capiacutetulo desta pesquisa

de suas fronteiras O saber cientiacutefico eacute um corpo em composiccedilatildeo em avanccedilo

apresentando espaccedilos de incertezas de debate de problemas natildeo resolvidos

Majoritariamente o discurso didaacutetico opta pela base mais soacutelida da ciecircncia ou dos

conhecimentos de base historicamente consolidada e mesmo por vezes cristalizada

de acordo com os paradigmas dominantes sendo daiacute que o curriacuteculo escolar se

alimenta

Nesse conjunto o curriacuteculo se apresenta como uma plataforma estrutural

para a literatura didaacutetica A base de estruturaccedilatildeo dos manuais escolares (sejam eles

compecircndios livros didaacuteticos apostilas) perpassa pelo curriacuteculo Um passo

importante agrave autonomia de um conjunto de saberes e por conseguinte agrave gecircnese de

uma disciplina eacute a constituiccedilatildeo de um curriacuteculo aplicado ao ensino a proposiccedilatildeo de

objetivos que definem um lugar para esses saberes na formaccedilatildeo em implemento

No Brasil diferentes movimentos histoacutericos e suas formaccedilotildees marcam a

construccedilatildeo do curriacuteculo em termos gerais as concepccedilotildees jesuiacuteticas o movimento

cientificista do periacuteodo joanino o nacionalismo patrioacutetico a concepccedilatildeo positivista no

periacuteodo inicial da Repuacuteblica o movimento escolanovista o movimento tecnicista

chegando ateacute as formaccedilotildees atuais como o construtivismo e as tendecircncias histoacuterico-

culturais Natildeo entrarei em detalhes nesses movimentos porque os atinentes ao

curriacuteculo de Geografia uacutenico com espaccedilo nessa tese teratildeo desenvolvimento em

capiacutetulo posterior Todavia vale ressaltar que a elaboraccedilatildeo de curriacuteculos observando

alguma teorizaccedilatildeo no acircmbito das instituiccedilotildees somente se verificou apoacutes a deacutecada

de 1920 deacutecada na qual eacute marcante a transferecircncia de influecircncia na educaccedilatildeo da

Franccedila para os Estados Unidos da Ameacuterica Em outras palavras ateacute entatildeo o

curriacuteculo era uma praacutetica das instacircncias educacionais mas natildeo necessariamente

objeto de estudos formais De acordo com Moreira (2007 p 15) as reflexotildees e

praacuteticas com fundamentaccedilatildeo em teoria tiveram a partir daiacute trecircs recortes histoacutericos

na educaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX

O primeiro ndash anos vinte e trinta ndash corresponde agraves origens do campo do curriacuteculo no Brasil O segundo ndash final dos anos sessenta e setenta ndash corresponde ao periacuteodo no qual o campo tomou a forma e a disciplina curriacuteculos e programas foi introduzida [nas] faculdades de educaccedilatildeo O terceiro ndash de 1979 a 1987 ndash caracteriza-se pela eclosatildeo de intensos debates sobre curriacuteculo e conhecimento escolar bem como por tentativas de reconceptualizaccedilatildeo do campo

A deacutecada de 1990 representou outro marco Qual seja contudo sua instacircncia de

emersatildeo o curriacuteculo eacute uma construccedilatildeo histoacuterico-cultural reagindo a repercussotildees

sociais poliacuteticas e culturais Apesar de o periacuteodo anterior agrave deacutecada de 1920 natildeo

contar com uma anaacutelise sistecircmica natildeo significa que natildeo tenha existido Como dito

anteriormente a organizaccedilatildeo do ensino sempre implica a organizaccedilatildeo de um

curriacuteculo

O termo curriacuteculo a propoacutesito tem emprego desde a primeira metade do

seacuteculo XVI no entanto as primeiras teorizaccedilotildees remontam ao iniacutecio do seacuteculo XX

Enquanto praacutetica educativa o curriacuteculo passou a ter difusatildeo do seacuteculo XVI em

diante em universidades coleacutegios e escolas europeus na forma do Modus et Ordo

Parisienses Modus referia-se agraves combinaccedilotildees e subdivisotildees das classes escolares

regidas com instruccedilatildeo individualizada Ordo (ordem) por seu lado referia-se agrave

sequecircncia ou ordem de eventos e tambeacutem agrave coerecircncia do ensino (HAMILTON

1992) Dentre os registros histoacutericos referentes ao curriacuteculo Hamilton (1992) relata

que na Universidade de Leiden (1582) o aluno era certificado quando tinha

completado o curriculum de seus estudosrdquo na Universidade de Glasgow (1633) e

na Grammar School de Glasgow (1643) o curriculum condizia ao curso completo

frequentado pelo aluno

Sua teorizaccedilatildeo desde entatildeo tem evoluiacutedo em associaccedilatildeo agrave compreensatildeo

das transformaccedilotildees no mundo do trabalho e aos processos gerais de produccedilatildeo No

campo da educaccedilatildeo o termo foi definido e redefinido de acordo com as perspectivas

de diferentes eacutepocas a partir do seacuteculo XX Inerente a qualquer organizaccedilatildeo de

ensino na concepccedilatildeo mais claacutessica de curriacuteculo7 tem-se uma estrutura organizada

com conteuacutedos indicados para o ensino de um campo do saber em outras palavras

a definiccedilatildeo mais claacutessica de curriacuteculo eacute ser uma relaccedilatildeo de disciplinas em um curso

e uma relaccedilatildeo de conteuacutedos em uma disciplina organizada em sequecircncia a uma

determinada loacutegica ordenada em um tempo de execuccedilatildeo obedecendo a alguma

proposta ou necessidade institucional

Historicamente a praacutetica do curriacuteculo escolar passou por duas tendecircncias de

estudos sistematizados as concepccedilotildees tradicionais ou conservadoras e as

concepccedilotildees criacuteticas todas influentes na educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XX Nas

7 Do latim curriculum derivado de currere significando caminho trajeto percurso Atribui-se

ainda o significado de ldquoordem como sequecircnciardquo ou ldquoordem como estruturardquo (GOODSON 2001)

teorias tradicionais foi muito influente a compreensatildeo do curriacuteculo a partir das

teorias da administraccedilatildeo particularmente a Teoria da Administraccedilatildeo Cientiacutefica de

Frederick W Taylor (1856-1915) prevalecendo a preocupaccedilatildeo com resultados em

razatildeo da valorizaccedilatildeo dos conteuacutedos objetivos e ensino Atuaria assim como uma

seleccedilatildeo na totalidade cultural conhecida seleccedilatildeo essa relacionada agraves dinacircmicas

sociais ndash poliacuteticas culturais econocircmicas ndash intencional portanto Sob influecircncia das

teorias administrativas predominou a elaboraccedilatildeo de curriacuteculos tecnicistas

denunciados a partir dos anos 1960 na perspectiva da criacutetica ao funcionamento da

sociedade capitalista e do funcionamento das instituiccedilotildees nesse contexto dentre as

quais a escolar (APPLE 1982 MOREIRA 2007) Ateacute as deacutecadas iniciais do seacuteculo

XX o curriacuteculo foi uma praacutetica para a elaboraccedilatildeo de planos de estudo embora em

nada se possa dizer que essa praacutetica fosse neutra e despossuiacuteda dos elementos

que permaneceram na elaboraccedilatildeo de curriacuteculos ateacute a atualidade definiccedilatildeo de

objetivos educacionais debate poliacutetico dentre outras A mudanccedila para objeto de um

campo de estudos sistematizados a contemplar a totalidade das experiecircncias

orientadas a serem vivenciadas pelos estudantes no contexto escolar considerando

os interesses destes surgiu a partir do trabalho pioneiro de John Franklin Bobbit

(1876-1956)8 cuja obra The Curriculum foi publicada nos Estados Unidos em 1918

(MOREIRA 2007) O contexto do surgimento desse campo nos EUA compreendia

as transformaccedilotildees soacutecio-econocircmicas que o paiacutes atravessava entre fins do seacuteculo

XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a transformaccedilatildeo de uma economia agraacuteria para uma

economia industrial com uma populaccedilatildeo predominantemente urbana e vivenciando

os primeiros impactos da imigraccedilatildeo massiva (iniciada no seacuteculo XIX) Os

educadores agravequele tempo sentiam uma ameaccedila agrave homogeneidade da cultura

estadunidense

[] uma cultura centrada na cidade pequena e sedimentada em crenccedilas e atitudes da classe meacutedia A comunidade que os antepassados ingleses e protestantes dessa classe lsquolavraram de um desertorsquo parecia desmoronar-se diante de uma sociedade urbana e industrial em expansatildeo [] (APPLE 1982 p 108)

Os trabalhos de Bobbit e de outros pioneiros direcionavam-se a convergir o

curriacuteculo com as necessidades econocircmicas e culturais da eacutepoca e com inspiraccedilatildeo

8 Outros teoacutericos do curriacuteculo contemporacircneos de Bobbit foram Edward L Thorndike (1874-1949)

W W Charters (1875-1952) e David Snedden (1868-1951) dentre outros

nos princiacutepios da Administraccedilatildeo Cientiacutefica procuraram especificar os objetivos

educacionais para as dinacircmicas da vida social Interessava nesses estudos

preservar [] o consenso cultural e ao mesmo tempo [] destinar aos indiviacuteduos o

seu lsquolugarrsquo adequado numa sociedade industrial interdependenterdquo (APPLE 1982 p

107) A escola foi percebida como uma instituiccedilatildeo partiacutecipe na compensaccedilatildeo dos

problemas sociais ampliando-se a concepccedilatildeo do curriacuteculo para aleacutem de um

conjunto de saberes ou seja compreendendo-o como estrutura para organizaccedilatildeo

de atividades e experiecircncias capazes de moldar o comportamento e o pensamento

do aprendiz Natildeo coincidentemente a experiecircncia e a praacutetica foram integrantes da

proposta curricular de Geografia a partir da deacutecada de 1930 Para tanto o curriacuteculo

poderia dispor de representaccedilotildees da sociedade em padrotildees preacute-definidos de forma

a produzir o humano socializado (MOREIRA 1992 p 15) O passo seguinte foi

dado por Ralph W Tyler (1902-1994) na deacutecada de 1940 e por John Dewey (1859-

1952) um pouco antes De acordo com Moreira (1992) Tyler trabalhou a proposta

progressista de um curriacuteculo tecnicista e Dewey com a consideraccedilatildeo dos interesses

e as atividades da crianccedila tornando-se um importante criacutetico da educaccedilatildeo herdada

do seacuteculo XIX amplamente praticada no Brasil ateacute quase a metade do seacuteculo XX ndash a

pedagogia das liccedilotildees

A escola tradicional estaacute organizada para permitir que se pratiquem certas habilidades mecacircnicas e certas ideacuteias sem cogitar da praacutetica de outros traccedilos morais e emocionais desejaacuteveis em uma personalidade Como aprender com efeito honestidade bondade toleracircncia no regime de lsquoliccedilotildeesrsquo marcadas para o dia seguinte Soacute uma situaccedilatildeo real de vida em que se tenha de exercer determinado traccedilo de caraacuteter pode levar agrave sua praacutetica e portanto agrave sua aprendizagem Daiacute ser necessaacuterio que a escola ofereccedila um meio social vivo cujas situaccedilotildees sejam tatildeo reais quanto as fora da escola (DEWEY 1979 p 57)

A proposta de Tyler foi amplamente aceita Basicamente consistia em

controlar o planejamento do estudo em todos os acircngulos definindo os objetivos

educacionais atraveacutes de um triacuteplice que considerava os interesses e necessidades

discentes o cotidiano extraescolar as sugestotildees dos especialistas nos conteuacutedos

repassando-o pelo crivo filosoacutefico e psicoloacutegico isto eacute dos valores e das condiccedilotildees

de aprendizagem Tratava-se de uma teoria pragmaacutetica voltada para implementar a

visatildeo cultural e ideoloacutegica da ordem social e econocircmica estabelecida Sem espaccedilo

portanto para a diversidade embora por preconizar tantas perspectivas

transparecesse neutralidade A questatildeo clarificada na revisatildeo criacutetica posterior

condizia a quais seriam os interesses os cotidianos as especialidades os valores

elegidos

Na concepccedilatildeo dialeacutetica base das interpretaccedilotildees criacuteticas do curriacuteculo que se

seguiram o Estado articula uma classe social dirigente e uma classe social civil

propondo e atingindo objetivos coesos aos interesses de classes a ser legitimado

pela articulaccedilatildeo de uma ideologia dada sustentaacuteculo da hegemonia que manteacutem o

poder em exerciacutecio (GRAMSCI 1995) Essa compreensatildeo levou agraves teorias criacuteticas

que agiram analiticamente nos silenciamentos das abordagens conservadoras sobre

o curriacuteculo Essas criacuteticas operaram com conceitos como ldquoreproduccedilatildeo culturalrdquo

ldquoemancipaccedilatildeordquo e ldquolibertaccedilatildeordquo embasadas na questatildeo da ideologia Concepccedilotildees

como ldquoaparelho ideoloacutegico do estadordquo ldquoreproduccedilatildeo da estrutura socialrdquo e ldquointeresses

da classe capitalistardquo definiram duas linhas de estudo sobre o curriacuteculo uma

enfatizava os conteuacutedos (originando a Pedagogia Criacutetica dos Conteuacutedos) e outra

chamada genericamente de educaccedilatildeo popular trilhou a reflexatildeo sobre as lutas das

classes trabalhadoras orientando o curriacuteculo a contemplar tanto os conteuacutedos

claacutessicos quanto os conhecimentos profissionais Os fundamentos da teoria criacutetica

para o qual igualmente contribuiacuteram referenciais da psicanaacutelise da fenomenologia e

da hermenecircutica permitiram rever as relaccedilotildees de ensino e aprendizagem a partir

das conexotildees entre saber curriacuteculo ideologia e poder discernindo o discurso

escolar como entreposto de problemas expressos na exclusatildeo escolar atraveacutes da

eleiccedilatildeo curricular de determinadas formas de raciociacutenio que privilegiava alguns

conteuacutedos e silenciava outros

Vistos em retrospectiva de fato os curriacuteculos apresentam visotildees de mundo

sectadas em formaccedilotildees discursivas que expressam determinados valores atuantes agrave

eacutepoca embora atuem igualmente vozes dissonantes capazes de perturbar a

estabilidade e implodir determinados consensos Por isso mesmo tais vozes satildeo

contidas e silenciadas por todos os meios possiacuteveis a interdiccedilatildeo dessas vozes em

termos da bibliografia didaacutetica sinaliza a existecircncia ou natildeo desses materiais e seus

discursos no mercado educacional Algumas obras didaacuteticas de Geografia ilustram

esse processo quando propotildeem uma abordagem ou metodologia natildeo concordante

que resultam na natildeo publicaccedilatildeo ou na natildeo adoccedilatildeo nas escolas eacute o caso das Breves

noccedilotildees para se estudar com methodo a Geographia do Brasil de Praxedes Pacheco

(1857) que analisarei em outro momento Agraves vezes tem aceitaccedilatildeo tiacutemida no

mercado escolar

Mais recentemente o curriacuteculo na perspectiva humanista (teorias

tradicionais) na tecnicista bem como na perspectiva dos curriacuteculos emancipatoacuterios

das pedagogias criacuteticas foi questionado por teorias poacutes-criacuteticas O pensamento poacutes-

estruturalista (movimento ao qual a Anaacutelise do Discurso pertence) desenvolveu

formas de anaacutelise proacutepria para a criacutetica agraves instituiccedilotildees teorizando sobre um conjunto

diversificado de objetos e meios tais como a linguagem a miacutedia as artes dentre

outros de modo que o estudo do curriacuteculo questionou a distinccedilatildeo entre

conhecimento claacutessico e cultura cotidiana Passa-se a considerar um curriacuteculo

flexiacutevel sensiacutevel agraves diferenccedilas culturais A construccedilatildeo e o desenvolvimento de

identidades no entreposto de praacuteticas sociais integram a proposta de teorizaccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo dos curriacuteculos proposta que tanto envolve o multiculturalismo quanto a

Anaacutelise do Discurso

A tradiccedilatildeo por seu lado perpassa a histoacuteria dos curriacuteculos No pretexto de

transmitir ndash o sentido etimoloacutegico da palavra eacute entregar (no latim traditio tradere) ndash

praacuteticas conhecimentos atitudes valores normas a elaboraccedilatildeo do curriacuteculo

introduz sutilmente as marcas de uma eacutepoca ao mesmo tempo em que seleciona no

passado o que condiz e silencia ou exclui o que for inconveniente aos interesses em

sustentaccedilatildeo

Esse breve exame teoacuterico e histoacuterico sobre o curriacuteculo a ser aprofundado na

medida em que for necessaacuterio agrave anaacutelise da tese introduz o curriacuteculo como um

nuacutecleo motor ao fazer da literatura didaacutetica contacta os espaccedilos sujeitos

instituiccedilotildees que se cruzam na formulaccedilatildeo do discurso didaacutetico e dos seus objetivos

educacionais

Eacute importante ressaltar que o periacuteodo em anaacutelise tem deficiecircncia de estudos

gerais no sentido epistemoloacutegico do curriacuteculo cujos estudos sistematizados satildeo

marcados a partir do seacuteculo XX como visto No entanto o desenvolvimento atual do

estudo do curriacuteculo permite perceber nuances e tendecircncias integradas agraves praacuteticas

antigas do curriacuteculo no que tange agrave constituiccedilatildeo e agraves transformaccedilotildees de um

curriacuteculo para a Geografia escolar brasileira e para a constituiccedilatildeo de sua bibliografia

didaacutetica

12 Anaacutelise do Discurso fundamentos teoacuterico-metodoloacutegicos da interpretaccedilatildeo

A Anaacutelise do Discurso eacute um campo de estudo interdisciplinar que dialoga a

Linguiacutestica com ciecircncias de formaccedilatildeo social destacando-se por considerar e

valorizar em seu corpo teoacuterico a historicidade inscrita na linguagem e romper a

noccedilatildeo de transparecircncialiteralidade desta demonstrando-a como histoacuterica e

ideoloacutegica

A partir do acervo teoacuterico-metodoloacutegico da anaacutelise discursiva eacute possiacutevel agrave

pesquisa considerar a linguagem como categoria para investigar o processo de

produccedilatildeo de sentidos e seu funcionamento histoacuterico-social Com a Anaacutelise do

Discurso a linguagem passa a ser entendida como produccedilatildeo social circunscrita por

operadores como o sujeito a ideologia a histoacuteria

O campo da Linguiacutestica atual gravita em torno das noccedilotildees de fala liacutengua

linguagem e discurso como objetos de sua construccedilatildeo Essa abrangecircncia permite

que outros domiacutenios do conhecimento dialoguem com seus recursos teoacuterico-

metodoloacutegicos o que auxilia o entendimento de seus objetos de estudo quando em

abordagem linguageira dentre os quais os dispositivos de interpretaccedilatildeo a partir de

uma fundamentaccedilatildeo soacutelida sobre as questotildees da linguagem A Linguiacutestica estrutural

focada na Fala e na Liacutengua9 tal qual se desenvolvia desde a obra seminal de

Ferdinand de Saussure (2008) Curso de Linguiacutestica Geral limitava a compreensatildeo

da linguagem em suas diversas formas e performances

Na Linguumliacutestica estrutural de matriz saussureana a enunciaccedilatildeo podia ser entendida como uma realizaccedilatildeo livre e independente empreendida pelo indiviacuteduo falante o que ademais excluiacutea o discurso do campo dos estudos linguumliacutesticos em um plano de anaacutelise fonoloacutegica ou morfossintaacutetica estavam exclusas as variaacuteveis soacutecio-culturais (SILVA 2006 p 159)

As rupturas com o Positivismo no entanto a partir dos anos 1960

permitiram agrave Linguiacutestica iniciar um diaacutelogo profiacutecuo com diferentes campos do saber

particularmente com a Histoacuteria a Filosofia (em especial com o Materialismo

Histoacuterico) e a Psicanaacutelise Esta interdisciplinaridade interna por sua vez passou a

9 Liacutengua e Fala na acepccedilatildeo saussureana implicam uma oposiccedilatildeo dicotocircmica na qual a Liacutengua eacute

compreendida como o sistema social da linguagem humana e a Fala como apropriaccedilatildeo individual da Liacutengua

permitir que outros campos se aproximassem para o estabelecimento de pesquisas

fundamentadas na interdisciplinaridade conforme assinalado acima Este eacute o

contexto da Anaacutelise do Discurso francesa que procura compreender o discurso

como praacutetica da linguagem De acordo com Gregolin (2003) o deslocamento teoacuterico-

metodoloacutegico da liacutenguafala para o discurso como unidade de anaacutelise despertou o

interesse para aspectos marginalizados na Linguiacutestica estrutural como a conotaccedilatildeo

a retoacuterica a estiliacutestica as estrateacutegias discursivas da argumentaccedilatildeo e sobretudo a

inscriccedilatildeo social na linguagem

Em siacutentese a Anaacutelise do Discurso eacute um dispositivo de interpretaccedilatildeo uacutetil a

qualquer pesquisa que eleja a linguagem como categoria de investigaccedilatildeo O Ensino

de Geografia no comeccedilo do milecircnio presenciou o surgimento de alguns trabalhos

com fundamento teoacuterico-metodoloacutegico na Anaacutelise do Discurso para a compreensatildeo

do livro didaacutetico dessa disciplina dentre os quais Gonzaga (2000) que pesquisou a

terminologia das Geografias Tradicional e Criacutetica Ferreira (2004) com uma anaacutelise

do discurso geograacutefico criacutetico e Silva (2006) com uma anaacutelise discursiva dos

sentidos poliacuteticos em livros didaacuteticos desta disciplina este o primeiro trabalho com

essa perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica no interior da ciecircncia geograacutefica

A Anaacutelise do Discurso como diz o nome desses estudos portanto

desenvolve-se em torno do discurso compreendido a partir da ideia de movimento

curso percurso dos sentidos Por meio desses estudos conforme Orlandi (2002 p

15) ldquo[] procura-se compreender a liacutengua fazendo sentido enquanto trabalho

simboacutelico parte do trabalho social geral constitutivo do homem e da sua histoacuteriardquo A

anaacutelise da linguagem em uma perspectiva discursiva permite um enfoque no

funcionamento da linguagem com as instacircncias da Histoacuteria da ideologia e dos

sentidos pois eacute nessa correlaccedilatildeo que discursos e praacuteticas satildeo produzidos os

conteuacutedos em si (o ldquoo querdquo) apesar de considerados cedem espaccedilo analiacutetico para

uma dimensatildeo processual maior ndash o ldquocomordquo se constituem ldquopor querdquo e como foram

dinamizados

Situada na Linguiacutestica como jaacute aferido a Anaacutelise do Discurso desenvolve-se

desde a deacutecada de 1960 incialmente na Franccedila no momento em que Michel

Pecirccheux apresenta uma obra de rompimento com a Linguiacutestica da frase

estruturalista e positivista centrada na descriccedilatildeo anaacutelise e compreensatildeo interiores

ao enunciado predominantemente delimitado pela frase ndash do fonema agrave sintaxe ndash

que se desloca entatildeo com Pecirccheux em direccedilatildeo a uma Linguiacutestica do discurso

Trata-se de uma Linguiacutestica referente ao imanente segundo o qual se define a frase

de acordo com as relaccedilotildees de seus termos interiores ou seja intrafrasais Nessa

perspectiva natildeo interessava aos linguistas por natildeo conceberem como importantes

ndash dado o objeto e os objetivos circunscritos entatildeo ndash as relaccedilotildees extralinguiacutesticas da

enunciaccedilatildeo ou melhor dizendo as relaccedilotildees transfraacutesticas da enunciaccedilatildeo as

relaccedilotildees para aleacutem da frase

Pecirccheux certamente natildeo estava isolado nessa orientaccedilatildeo10 O

deslocamento da liacutengua para a linguagem interessava a inuacutemeros linguistas em

locais geograacuteficos distintos e assim a Anaacutelise do Discurso foi um dos campos

emergentes dentre os quais se encontram a Sociolinguiacutestica a Linguiacutestica Textual

a Pragmaacutetica a Anaacutelise da Conversaccedilatildeo A Anaacutelise do Discurso se distingue destes

campos pois enquanto aqueles se encaminharam para uma investigaccedilatildeo dos fatos

linguiacutesticos a Anaacutelise do Discurso se expandiu para a investigaccedilatildeo das condiccedilotildees

constitutivas da enunciaccedilatildeo e do discurso pondo em relevo o contexto soacutecio-

histoacuterico na produccedilatildeo dos sentidos e dos sujeitos

Michel Pecirccheux (1938-1983) na Franccedila no que diz respeito agrave formulaccedilatildeo

de uma teoria para a anaacutelise discursiva publicou um dos textos fundadores nesse

sentido nos anos 1960 o livro Anaacutelise automaacutetica do discurso no qual propunha

dispositivos de anaacutelise do discurso como um novo objeto A partir da obra que

escreveria ateacute iniacutecio dos anos 1980 (PEcircCHEUX 1981 1997 1999a 1999b 2001a

2001b 2001c 2002 dentre outras) desenvolveu-se a Anaacutelise do Discurso de linha

francesa ou ldquoderivada de Pecirccheuxrdquo filiada ainda a outros ldquoquatro pilaresrdquo autorais

Louis Althusser (1918-1990) Michel Foucault (1926-1984) Mikhail Bakhtin (1895-

1975) e Jacques Lacan (1901-1981) quanto ao desenvolvimento de um corpo

teoacuterico-metodoloacutegico O substrato epistemoloacutegico portanto da Anaacutelise do Discurso

entrecruza a Linguiacutestica o Marxismo e a Psicanaacutelise para instituir duas categorias

preciacutepuas o sujeito e o sentido no discurso

10

Jean Dubois autor como Pecirccheux ligado agrave Linguiacutestica ao marxismo e agrave anaacutelise poliacutetica igualmente publicou um texto fundante da Anaacutelise do Discurso francesa o artigo ldquoLexicologia e anaacutelise do enunciadordquo em fins dos anos 1960 Nessa mesma eacutepoca surgia outra vertente de rompimento com a Linguiacutestica estrutural na Inglaterra com Norman Fairclough A Anaacutelise do Discurso francesa foi introduzida no Brasil em fins da deacutecada de 1970 por Eni Puccinelli Orlandi que divulgou a obra de Michel Pecirccheux em liacutengua portuguesa e implementou a formaccedilatildeo de analistas discursivos no Brasil (GREGOLIN 2003)

121 O sujeito a histoacuteria e a ideologia na anaacutelise discursiva a questatildeo da autoria

O sujeito na Anaacutelise do Discurso natildeo eacute concebido como centro e origem do

seu discurso poreacutem como uma construccedilatildeo polifocircnica enunciando a partir de um

lugar onde a significaccedilatildeo eacute constituiacuteda historicamente Por conseguinte o sujeito

pode ser compreendido a partir de sua diferenciaccedilatildeo do indiviacuteduo O indiviacuteduo eacute

sujeito porque diz porque eacute imerso no discurso pertencendo a diversas memoacuterias

discursivas sendo por elas constituiacutedo A ideologia nesse sentido eacute condiccedilatildeo

constitutiva do sujeito A partir das contribuiccedilotildees de Mikhail Bakhtin o sujeito

discursivo eacute descentrado na sua enunciaccedilatildeo pois eacute constituiacutedo em uma interaccedilatildeo

social em sua voz haacute um conjunto de vozes vozes essas heterogecircneas Bakhtin

propriamente desenvolveu uma filosofia da linguagem na qual teve espaccedilo para o

sujeito ser compreendido em suas relaccedilotildees com a histoacuteria Sua abordagem eacute

particularmente interessante ao entendimento discursivo do sujeito a partir dos

enfoques teoacutericos que desenvolveu para noccedilotildees como gecircnero vozes e sobretudo

polifonia Jacqueline Authier-Revuz por exemplo a partir do pensamento de

Bakhtin elaborou o conceito de heterogeneidade discursiva explicada adiante Por

conseguinte

[] o sujeito discursivo deve ser considerado sempre como um ser social apreendido em um espaccedilo coletivo portanto trata-se de um sujeito natildeo fundamentado em uma individualidade em um ldquoeurdquo individualizado e sim um sujeito que tem existecircncia em um espaccedilo social e ideoloacutegico em um dado momento da histoacuteria e natildeo em outro A voz desse sujeito revela o lugar social logo expressa um conjunto de outras vozes integrantes de dada realidade social de sua voz ecoam as vozes constitutivas eou integrantes desse lugar soacutecio-histoacuterico (FERNANDES 2005 p 33-34)

O sujeito discursivo assim eacute um sujeito polifocircnico A leitura pelos analistas

da obra de Jacques Lacan completou a abordagem discursiva do sujeito pois

pressupondo-o clivado em consciente e inconsciente estabeleceu viacutenculos entre a

Psicanaacutelise e a Linguiacutestica evidenciando que o inconsciente estrutura-se em

linguagem atravessado pelo discurso do Outro O sujeito discursivo nesses termos

pode ser compreendido a partir dos conceitos de formaccedilatildeo imaginaacuteria da noccedilatildeo do

simboacutelico e do inconsciente na constituiccedilatildeo sujeitudinal

Por ser apreendido no social na ideologia e na histoacuteria por estar imerso nos

discursos e interagir por eles o sujeito eacute captado na anaacutelise discursiva por meio da

enunciaccedilatildeo ou seja pelos sentidos produzidos entre sujeitos diferentes

posicionados que estatildeo soacutecio-histoacuterico-ideologicamente em lugares distintos de

onde enunciam e se apercebem da enunciaccedilatildeo No desenvolvimento atual da

anaacutelise discursiva o sujeito eacute visto como marcado pela heterogeneidade discursiva

ou seja clivado cindido divido e descentrado embora em outras eacutepocas desta

disciplina tenha sido compreendido como um ser uacutenico assujeitado agraves maquinarias

institucionais desta concepccedilatildeo o sujeito evoluiu ao chamado sujeito-posiccedilatildeo e

desta para o sujeito clivado percepccedilatildeo atual (Pecirccheux 2001b 2001c 2002 1997)

Fundamentado em Pecirccheux Possenti (2002 p 99) procura sistematizar a

concepccedilatildeo do sujeito discursivo nos seguintes termos

1 - os sujeitos satildeo integralmente sociais e histoacutericos e integralmente individuais ndash para evitar o subjetivismo desvairado e a identificaccedilatildeo do sujeito com uma peccedila

2 - cada discurso eacute integralmente histoacuterico e social e integralmente pessoal e circunstancial ndash para evitar a ideacuteia de que o sujeito eacute fonte de seu discurso e a de que eacute o discurso que se daacute

3 - cada discurso eacute integralmente interdiscurso e integralmente relativo a um mundo exterior ndash para evitar a ideacuteia de que o discurso refere-se diretamente agraves coisas e a de que tudo eacute discurso ou que a realidade se houver uma eacute criada pelo discurso

4 - cada discurso eacute integralmente ideoloacutegico eou inconsciente e integralmente cooperativo e interpessoal - para evitar a ideacuteia de que o sujeito diz o que diz materializando as suas intenccedilotildees e a de que o sujeito natildeo tem nenhum poder de manobra e que o interlocutor concreto eacute irrelevante

5 - o falante sabe (integralmente) o que estaacute dizendo e ilude-se (integralmente) se pensar que sabe o que diz (ou que soacute diz o que quer) - para evitar que se desconheccedilam os saberes que os sujeitos acumulam em sua praacutetica histoacuterica e que se conclua disso que nada lhes eacute estranho ou desconhecido

A questatildeo pode ser formulada em termos anaacutelogos a certos problemas da microfiacutesica Uma partiacutecula pode ser integralmente onda e integralmente corpuacutesculo sendo que a anaacutelise em um ou outro dos termos natildeo equivale a uma negaccedilatildeo de propriedades do real mas eacute sempre uma questatildeo de relevacircncia ou mesmo de preferecircncia

Com isso percebe-se que o sujeito atua em uma esfera de intermediaccedilatildeo entre o

seu plano e o plano do mundo em uma rede de sentidos que interage e retroage de

forma complexa e contiacutenua O discurso tem uma feiccedilatildeo aparentemente uacutenica mas

na verdade eacute uma apropriaccedilatildeo na qual haacute um encontro de vozes constituintes a que

Bakhtin denomina polifonia ou conjunto de vozes possiacuteveis de serem identificadas

em um discurso Ao conceito de polifonia segue-se outro bakhtiniano tambeacutem o

dialogismo em que na instacircncia da enunciaccedilatildeo o sujeito dialoga com o interlocutor

e com outros discursos O sujeito ainda eacute marcado pela construccedilatildeo da identidade

em um processo de identificaccedilatildeo no qual as diferenccedilas satildeo negociadas em seu

processo de constituiccedilatildeo

A ideologia eacute indispensaacutevel para a concepccedilatildeo analiacutetica do discurso e para a

compreensatildeo do sujeito A noccedilatildeo de ldquoformaccedilatildeo ideoloacutegicardquo foi formulada na Anaacutelise

do Discurso a partir da obra de Louis Althusser Partindo do materialismo histoacuterico

em Althusser (1980) a noccedilatildeo de ideologia foi revista de forma diferente daquela

proposta por Marx ndash ideologia como uma ldquofalsa consciecircnciardquo ndash passando a ser

entendida como a relaccedilatildeo do sujeito com as condiccedilotildees materiais da existecircncia a

ideologia seria mais que ideias seria praacuteticas sociais exercidas nas relaccedilotildees de

produccedilatildeo do cotidiano Para Althusser os sujeitos satildeo determinados pela ideologia

inconscientes dela e assujeitados pela posiccedilatildeo discursiva que ocupam o que o

levou a conceituar os ldquoaparelhos ideoloacutegicos de estadordquo e das instituiccedilotildees como

instacircncias sociais nas quais as ideologias se materializam Por meio da ideologia

portanto tem-se o encontro da Linguiacutestica com o discurso

[] como a ideologia deve ser estudada em sua materialidade a linguagem se apresenta como o lugar privilegiado em que a ideologia se materializa A linguagem se coloca para Althusser como uma via por meio da qual se pode depreender o funcionamento da ideologia (MUSSALIM 2001 p 104)

A partir da noccedilatildeo de ldquoformaccedilatildeo ideoloacutegicardquo Pecirccheux teorizou as ldquocondiccedilotildees

de produccedilatildeo do discursordquo ou as relaccedilotildees de forccedila que atuam dentro do discurso em

outras palavras o funcionamento da liacutengua com a ideologia e com a histoacuteria cuja

relaccedilatildeo desvenda a posiccedilatildeo do sujeito no discurso

[] os fenocircmenos linguumliacutesticos de dimensatildeo superior agrave frase podem efetivamente ser concebidos como um funcionamento mas com a condiccedilatildeo de acrescentar imediatamente que este funcionamento natildeo eacute integralmente linguumliacutestico no sentido atual desse termo [tal como na Linguiacutestica estrutural] e que natildeo podemos defini-lo senatildeo em referecircncia ao mecanismo de colocaccedilatildeo dos protagonistas e do objeto de discurso mecanismo que chamamos de ldquocondiccedilotildees de produccedilatildeordquo do discurso (PEcircCHEUX 2001c p 78 ndash itaacutelicos do autor)

Dupla face de um mesmo erro central que consiste de um lado em considerar as ideologias como ideacuteias e natildeo como forccedilas materiais e de

outro lado em conceber que elas tecircm sua origem nos sujeitos quando na verdade elas constituem os indiviacuteduos em sujeitos (PEcircCHEUX 1997 p 129 ndash itaacutelicos do autor)

Natildeo ser a ideologia ideias natildeo significa ser por conseguinte uma visatildeo ou

representaccedilatildeo do mundo muito menos um processo de ocultaccedilatildeo da realidade a

ideologia eacute as accedilotildees em praacutetica no mundo e o que delas resulta Assim a

bibliografia didaacutetica aqui suscitada eacute a(as) formaccedilatildeo(otildees) ideoloacutegica(as) de seu

tempo da Histoacuteria que permitiu sua existecircncia

As condiccedilotildees do discurso sugerem o rompimento proposto entre frase e

discurso pois para Pecirccheux (2001c p 79 grifos do autor) o discurso natildeo se

submete a uma anaacutelise ldquo[] como um texto isto eacute como uma sequumlecircncia linguumliacutestica

fechada sobre si mesma mas [] eacute necessaacuterio referi-lo ao conjunto de discursos

possiacuteveis a partir de um estado definido de condiccedilotildees de produccedilatildeordquo

Fernandes (2005 p 20-21) considerando o discurso do Sem-Terra

demonstra de forma bem sucinta como o discurso do sujeito exterioriza suas

condiccedilotildees de produccedilatildeo por meio do uso e das escolhas lexicais evidenciando um

conflito social com representantes distintos no acircmbito da discursividade

[] observemos o emprego dos substantivos ocupaccedilatildeo e invasatildeo em revistas e jornais que circulam em nosso cotidiano Tais substantivos satildeo constantemente encontrados em reportagens eou entrevistas que versam sobre os movimentos dos trabalhadores rurais Sem-Terra e revelam diferentes discursos que se opotildeem e se contestam Em torno do Sem-Terra ocupaccedilatildeo eacute empregado pelos proacuteprios Sem-Terra e por aqueles que os apoacuteiam e os defendem para designar a utilizaccedilatildeo de algo obsoleto ateacute entatildeo natildeo utilizado no caso a terra Invasatildeo referindo-se agrave mesma accedilatildeo eacute empregado por aqueles que se opotildeem aos Sem-Terra contestam-nos e designa um ato ilegal e considera os sujeitos em questatildeo como criminosos invasores

No discurso histoacuterico brasileiro tambeacutem encontramos outro exemplo

bastante significativo aos acontecimentos poliacutetico-militares de 1964 duas

denominaccedilotildees foram comuns ndash ldquorevoluccedilatildeordquo e ldquogolpe militarrdquo ou ldquoditadurardquo Os

discursos que emergiam o lexema ldquorevoluccedilatildeordquo revela(va)m os partidaacuterios do

movimento militar e ldquogolpe de estadordquo ou ldquoditadurardquo os seus oposicionistas

Todo sujeito portanto compreende a realidade ideologicamente e isto o

posiciona na ordem social as filiaccedilotildees ideoloacutegicas o condicionam A Anaacutelise do

Discurso e tambeacutem outros campos do conhecimento em relaccedilatildeo a Althusser

colocaram em criacutetica a interpelaccedilatildeo pelo assujeitamento que este filoacutesofo evidenciou

de forma quase engessada nas noccedilotildees de aparelho ndash do qual o escape seria quase

impossiacutevel Sobretudo na Anaacutelise do Discurso esse assujeitamento riacutegido foi

desconstruiacutedo pela consideraccedilatildeo da interpelaccedilatildeo pelo inconsciente e pela

resistecircncia do sujeito no que diz respeito agrave formaccedilatildeo de sua identidade ou aos

desvios discursivos e mesmo em relaccedilatildeo ao ldquoacontecimentordquo compreendido por

Pecirccheux como o momento em que o discurso se reestrutura O sujeito submete-se

livremente agraves condiccedilotildees de produccedilatildeo impostas pelas formaccedilotildees do discurso e da

ideologia Livremente no sentido de que pode reagir a elas Natildeo haacute contudo outra

forma de constituiccedilatildeo do sujeito que natildeo seja o assujeitamento agrave ideologia

A subjetividade do sujeito eacute determinada pelo assujeitamento assumindo

uma dimensatildeo histoacuterica ldquoa forma-sujeito histoacuterica que corresponde agrave da sociedade

atual representa bem a contradiccedilatildeo eacute um sujeito ao mesmo tempo livre e submisso

Ele eacute capaz de uma liberdade sem limites e uma submissatildeo sem falhasrdquo (ORLANDI

2002 p 50)

As forccedilas materiais da ideologia embrenhada nos discursos natildeo satildeo da

ordem da consciecircncia

Eacute a ideologia que fornece as evidecircncias pelas quais ldquotodo mundo saberdquo o que eacute um soldado um operaacuterio um patratildeo uma faacutebrica uma greve etc evidecircncias que fazem com que uma palavra ou um enunciado ldquoqueiram dizer o que realmente dizemrdquo e que mascaram assim sob a ldquotransparecircncia da linguagemrdquo aquilo que chamaremos o caraacuteter material do sentido das palavras e dos enunciados (PEcircCHEUX 1997 p 129 ndash itaacutelicos do autor)

Sobretudo os discursos agem pelo apagamento

[] se uma palavra uma mesma expressatildeo e uma mesma proposiccedilatildeo podem receber sentidos diferentes ndash todos igualmente ldquoevidentesrdquo ndash conforme se refiram a esta ou aquela formaccedilatildeo discursiva eacute porque [] uma palavra uma expressatildeo ou uma proposiccedilatildeo natildeo tem um sentido que lhe seria ldquoproacutepriordquo vinculado a sua literalidade Ao contraacuterio seu sentido se constitui em cada formaccedilatildeo discursiva nas relaccedilotildees que tais palavras expressotildees ou proposiccedilotildees mantecircm com outras palavras expressotildees ou proposiccedilotildees da mesma formaccedilatildeo discursiva (PEcircCHEUX 1997 p 161)

Orlandi (2002 p 46) demonstra que esse apagamento eacute um mecanismo

proacuteprio da interpretaccedilatildeo Todo discurso eacute interpretado natildeo haacute literalidade no dizer o

alcance dos sentidos e dos seus efeitos eacute onerado pelas filiaccedilotildees histoacuterico-

ideoloacutegicas do sujeito O sentido eacute definido pelo movimento de interpretaccedilatildeo o qual

passa pela posiccedilatildeo ideoloacutegica frente agrave enunciaccedilatildeo quando se escreve quando se

fala quando se lecirc quando se ouve Diante do discurso enunciado o sujeito exerce

um esquecimento da interpretaccedilatildeo de forma a naturalizaacute-la e construir

transparecircncias no dizer (ORLANDI 2002 p 46)

Por esse mecanismo ndash ideoloacutegico ndash de apagamento da interpretaccedilatildeo haacute transposiccedilatildeo de formas materiais em outras construindo-se transparecircncias ndash como se a linguagem e a histoacuteria natildeo tivessem sua espessura sua opacidade ndash para serem interpretadas por determinaccedilotildees histoacutericas que se apresentam como imutaacuteveis naturalizadas Esse eacute o trabalho da ideologia produzir evidecircncias colocando o homem na relaccedilatildeo imaginaacuteria com suas condiccedilotildees materiais de existecircncia

Nesse sentido a ideologia natildeo se oculta no dizer mas opera na linguagem

fazendo com que a palavra cumpra sua funccedilatildeo ndash a de designar alguma coisa ndash

constituindo o sentido Assim toda linguagem eacute ideoloacutegica toda enunciaccedilatildeo parte

de uma formaccedilatildeo ideoloacutegico-discursiva e eacute reinterpretada por outra

A interpretaccedilatildeo do discurso no entanto natildeo eacute vista como subjetiva pois

transita com garantias pela memoacuteria em duas perspectivas de um lado pela

memoacuteria institucionalizada que Foucault (2005a) denomina Arquivo isto eacute a

reuniatildeo de determinadas formaccedilotildees discursivas o que faz com que a interpretaccedilatildeo

seja social de outro pela memoacuteria constitutiva tambeacutem denominada interdiscurso

pela qual o sujeito constitui os sentidos (ORLANDI 2002) todo enunciar se posta

em uma formaccedilatildeo discursiva o que abriga conflitos mas natildeo um arbiacutetrio do tipo

subjetivo

Esta revisatildeo teoacuterica sobre o sujeito me leva a considerar a principal tipologia

de sujeitos com os quais esta pesquisa lida no acircmbito do discurso didaacutetico de

Geografia em abordagem os sujeitos autores

A autoria na Anaacutelise do Discurso pode ser entendida como um

acontecimento na acepccedilatildeo que Pecirccheux (2002 p 19) deu ao termo ldquo[] o fato

novo as cifras as primeiras declaraccedilotildees [] em seu contexto de atualidade e no

espaccedilo de memoacuteria que ele convocardquo A autoria se enquadra em uma das posiccedilotildees

que o sujeito pode assumir na enunciaccedilatildeo discursiva Notabiliza-se por ser uma

posiccedilatildeo extremamente marcada pelas condiccedilotildees sociais histoacutericas e ideoloacutegicas

sendo dele cobradas exigecircncias de coerecircncia natildeo-contradiccedilatildeo e responsabilidade

(FOUCAULT 2005a) O sujeito-autor assume o entrecruzamento de diversas ordens

discursivas precisando imprimir-lhe uma aparente unicidade

A posiccedilatildeo sujeito-autor no caso do discurso didaacutetico eacute uma funccedilatildeo

enunciativa que natildeo implica um desempenho individual embora assim seja nas

aparecircncias Nesse sujeito haacute um efeito construiacutedo em torno de duas imagens a de

autoria e a de autoridade a partir de uma relaccedilatildeo social de poder O discurso

didaacutetico assume o lugar de um discurso competente ldquo[] eacute o lugar do saber definido

pronto acabado correto e dessa forma fonte uacuteltima (e agraves vezes uacutenica) de

referecircnciardquo (SOUZA 1999 p 27) O efeito a ser produzido na face de autoridade eacute

a de veicular sentidos imperativos afirma ou nega incisivamente deixando pouca

margem para questionamentos do que diz A imagem construiacuteda nesses efeitos eacute a

de quem diz o que estaacute dizendo sabe do que fala e eacute isso mesmo O efeito de

autoridade eacute reafirmado por diversas formaccedilotildees ideoloacutegicas que alinham o discurso

didaacutetico o Estado as editoras as idiossincrasias a imprensa as ciecircncias de base

filiando-o a uma imersatildeo histoacuterica definida o que faz dele um instrumento da

institucionalizaccedilatildeo escolar fora da qual natildeo tem aceitaccedilatildeo A autoridade do

discurso didaacutetico responde a outras instacircncias autoritaacuterias portanto ao curriacuteculo e

ao programa por exemplo

Isso significa dizer que o discurso didaacutetico eacute delimitado circunscrito quanto

ao que nele pode ser proposto e dito ao objetivo que pode orientaacute-lo O Estado ou

as instituiccedilotildees por ele autorizadas prescreve os limites e as diretrizes desse

discurso as instituiccedilotildees escolares os cumprem e as editoras ndash intermediaacuterias nessa

relaccedilatildeo de realizaccedilatildeo ndash por sua vez se atentam minuciosamente a esses limites

pois isso faz com que seus produtos tenham coerecircncia com a necessidade do

mercado e por conseguinte aceitaccedilatildeo

A trajetoacuteria da bibliografia didaacutetica de Geografia e do livro didaacutetico em

contexto mais amplo tem fatos exemplares quanto ao cumprimento dessa norma e

quanto agraves medidas incidentes ao rompimento dessa norma Em uacuteltima instacircncia

trata-se de um processo de legitimaccedilatildeo O veto a autorizaccedilatildeo e as recomendaccedilotildees

para correccedilatildeo e refeitura foram os instrumentos finais das instacircncias de autorizaccedilatildeo

das obras didaacuteticas Ao professor restava uma obediecircncia incontinente ao

estabelecido A respeito Bittencourt (2008 p 58) afirma

As regulamentaccedilotildees referentes aos ldquodeveresrdquo ou ldquoobrigaccedilotildeesrdquo dos professores apresentavam sistematicamente artigos expliacutecitos sobre o uso dos livros didaacuteticos adotados pelas autoridades educacionais competentes Os professores que usassem livros proibidos estavam sujeitos a puniccedilotildees admoestaccedilotildees dos superiores com possibilidades de suspensatildeo do exerciacutecio ou multas

Por conseguinte haacute um cruzamento entre autoritarismo e autoridade no

contexto enunciativo do discurso didaacutetico

A autoria por seu lado perpassa pela noccedilatildeo do supersujeito

[] uma espeacutecie de onisciente cognitivo que deteacutem conhecimentos da aacuterea como poucos um domiacutenio aliaacutes totalizante Para isso as fontes satildeo apagadas e a produccedilatildeo do conhecimento eacute retirada de sua formaccedilatildeo histoacuterica Ausente desse processo nas aparecircncias a enunciaccedilatildeo parece vir do autor (SILVA 2006 p 196)

Isso ao mesmo tempo em que faz emergir um efeito de coerecircncia e unidade na

dispersatildeo (GREGOLIN 2004b) as contradiccedilotildees as duacutevidas as ambiguidades do

conhecimento simplesmente desaparecem do discurso do sujeito didaacutetico

A noccedilatildeo de heterogeneidade discursiva introduzida na Anaacutelise do Discurso

por Jacqueline Authier-Revuz (2004 p 12 grifos da autora) eacute elucidativa para se

compreender o comportamento da autoria neste tipo de discurso ldquono fio do discurso

que real e materialmente um locutor uacutenico produz um certo nuacutemero de formas

linguisticamente detectaacuteveis no niacutevel da frase ou do discurso inscrevem em sua

linearidade o outrordquo Todo discurso e por extensatildeo todo sujeito eacute constituiacutedo pelo

Outro embora as formas de manifestaccedilatildeo possam variar Os discursos e os sujeitos

existem porque haacute uma heterogeneidade constitutiva a interaccedilatildeo social permite que

o sujeito apreenda sentidos de diversas formaccedilotildees discursivas e dessa

heterogeneidade o sujeito eacute produzido eacute constituiacutedo tem o que dizer Uma segunda

forma eacute a heterogeneidade mostrada segundo a qual a voz do outro se manifesta

explicitamente no devir do discurso a materialidade discursiva deixa entrever

diretamente por referecircncia a fonte do seu dizer

No discurso didaacutetico de Geografia conforme demonstrado na histoacuteria e na

anaacutelise suscitada por esta pesquisa haacute uma prevalecircncia da heterogeneidade

constitutiva em todas as geraccedilotildees de manuais observadas funcionando para

construir um efeito de autoria e de autoridade perceptiacutevel apenas na instacircncia da

anaacutelise a partir das hipoacuteteses de pesquisa sugeridas pelo analista que se confronte

com esses discursos

O sujeito que enuncia o discurso didaacutetico em primeiro lugar eacute um sujeito

autorizado a dizer o que diz o que significa que tem uma inscriccedilatildeo discursiva

adquirida de alguma forma (FERNANDES 2005) por estudo proacuteprio por formaccedilatildeo

por institucionalizaccedilatildeo ndash lembrando que sua competecircncia e coerecircncia com as

instacircncias do poder escolar eacute regra para que possa existir Todo o processo de

imersatildeo discursiva que o inscreveu nesse discurso resulta de uma dispersatildeo de

vozes na cena da formaccedilatildeo discursiva Esta inscriccedilatildeo no entanto na

heterogeneidade constitutiva eacute assujeitada ao discurso em curso de forma que as

vozes diversas satildeo apagadas na enunciaccedilatildeo O sujeito nesses termos compotildee no

manual didaacutetico em especiacutefico mas tambeacutem em outras instacircncias uma superfiacutecie

discursiva lisa conceito que proponho para compreender no discurso didaacutetico o fio

do dizer que promove o efeito autoria e autoridade repassado aos sujeitos

aprendizes o que eacute feito a partir do apagamento da heterogeneidade o fio do

discurso responde apenas a um locutor uacutenico

No livro didaacutetico os espaccedilos do dizer satildeo demarcados e a enunciaccedilatildeo se

imprime mesmo graficamente para construir o efeito de autoria e a autoridade essa

superfiacutecie No discurso cientiacutefico por exemplo soacute para contrapor a heterogeneidade

mostrada eacute uma preocupaccedilatildeo constante o sujeito acadecircmico se posta entre pares

e com eles e a partir deles promove o seu discurso

Na minha dissertaccedilatildeo de mestrado (SILVA 2006) propus a noccedilatildeo de ldquobloco

textual lisordquo como suporte do sujeito enunciador para expressar a mancha autoral

que graficamente se constroacutei nos livros contemporacircneos de Geografia em grande

parte da enunciaccedilatildeo como suporte agrave heterogeneidade constitutiva Na ocasiatildeo

percebi que as heterogeneidades constitutivas e mostradas ocupam espaccedilos bem

delimitados no discurso didaacutetico de Geografia contemporacircneo

Textualmente ou melhor graficamente os enunciados satildeo organizados hierarquicamente haacute uma enunciaccedilatildeo principal a do sujeito-enunciador em fonte tipograacutefica de tamanho maior sobre fundo branco e haacute caixas de textos com fundo em diversas cores e tons nas quais estatildeo escritas notas explicativas (como designaccedilatildeo de conceitos) e nas quais o sujeito-enunciador cede a palavra para outros sujeitos colocarem pequenas enunciaccedilotildees complementares Textos complementares marcados com as

respectivas assinaturas costumam abrir e fechar capiacutetulos unidades partes etc (SILVA 2006 p 216)

Neste momento considero que os efeitos desse processo excedem bastante o niacutevel

dos significantes Por extensatildeo proponho nomear esse processo de superfiacutecie

discursiva lisa aliando aos significantes outras propriedades discursivas dentre as

quais os efeitos de sentidos que essa estrateacutegia enunciativa do discurso didaacutetico

promove

122 O discurso seus elementos e a formaccedilatildeo do dizer didaacutetico

O discurso na Anaacutelise do Discurso eacute tomado como conceito mestre dessa

construccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica e por isso difere do dado empiacuterico isto eacute dos

textos falados ouvidos impressos visualizados embora estes sejam as

materialidades ou cadeia de significantes que permitem o acesso aos discursos e

seus sentidos Pecirccheux (2001c) relaciona o dado linguiacutestico a um acircmbito de

confluecircncia entre a liacutengua o sujeito e a Histoacuteria e daiacute resulta um funcionamento na

ordem do sujeito e do sentido resultando na acepccedilatildeo de discurso O discurso

frequentemente eacute confundido como um recurso retoacuterico vazio de sentidos reais e

empiacutericos Na Anaacutelise do Discurso no entanto a acepccedilatildeo cientiacutefica do termo difere

da acepccedilatildeo usual pois o termo eacute um conceito complexo manifesto materialmente

por meio da liacutengua e da linguagem mas implicando uma exterioridade agrave liacutengua

posto ser detectada no social e absorver compreensotildees para aleacutem das questotildees

linguiacutesticas Por conseguinte diferencia-se do emprego cotidiano aquele do senso

comum

Discurso como uma palavra corrente no cotidiano da liacutengua portuguesa eacute constantemente utilizada para efetuar referecircncia a pronunciamentos poliacuteticos a um texto construiacutedo a partir de recursos estiliacutesticos mais rebuscados a um pronunciamento marcado por eloquumlecircncia a uma frase proferida de forma primorosa agrave retoacuterica e muitas outras situaccedilotildees de uso da liacutengua em diferentes contextos sociais (FERNANDES 2005 p 19-20)

Enunciar o discurso assim perpassa pelas condiccedilotildees histoacutericas como meio para a

interpretaccedilatildeo posicionando o lugar soacutecio-ideoloacutegico dos sujeitos nele envolvidos

A Anaacutelise do Discurso nega a imanecircncia dos sentidos pela qual a palavra

teria significado e natildeo sentido negando portanto sua representaccedilatildeo pelo

significante ou pelo texto extraindo-se dela a naturalidade ou a-historicidade

Significado assim eacute como a palavra definida em estado de dicionaacuterio o que a

Anaacutelise do Discurso procura eacute o sentido ou seja o acontecimento das

representaccedilotildees nos contextos soacutecio-histoacutericos dados A enunciaccedilatildeo para a Anaacutelise

do Discurso natildeo eacute literal mas interpretada embora os fatos linguiacutesticos ndash tais como

os elementos fonoloacutegicos morfoloacutegicos e sintaacuteticos ndash ou semioacuteticos sejam a

materialidade da anaacutelise a forma de acesso ao discurso pressupondo este

portanto Os sentidos nesse aspecto sempre satildeo produzidos na interaccedilatildeo

discursiva

[] no discurso os sentidos das palavras natildeo satildeo fixos natildeo satildeo imanentes conforme geralmente atestam os dicionaacuterios Os sentidos satildeo produzidos face aos lugares ocupados pelos sujeitos em interlocuccedilatildeo Assim uma mesma palavra pode ter diferentes sentidos em conformidade com o lugar socioideoloacutegico daqueles que a empregam (FERNANDES 2005 p 22-23)

Portanto os sentidos pertencem ao acontecimento e ao funcionamento dos

discursos que por sua vez pertencem a uma instacircncia histoacuterico-ideoloacutegica dada

delimitados em uma formaccedilatildeo discursiva que pode ser compreendida como o que

ldquo[] se pode dizer somente em determinada eacutepoca e espaccedilo social ao que tem

lugar e realizaccedilatildeo a partir de condiccedilotildees de produccedilotildees especiacuteficas historicamente

definidasrdquo (FERNANDES 2005 p 60) Na formaccedilatildeo discursiva cada enunciado

encontra seu lugar e seu comportamento ou regra de apariccedilatildeo Nas palavras de

Pecirccheux (1997 p 160) a formaccedilatildeo discursiva refere-se agravequilo ldquo[] que numa

formaccedilatildeo ideoloacutegica dada isto eacute a partir de uma posiccedilatildeo dada numa conjuntura

dada determinada pelo estado da luta de classes determina o que pode e deve ser

ditordquo A noccedilatildeo de formaccedilatildeo discursiva permite o entendimento de sentido para

Pecirccheux (1997 p 160 grifos do autor) uma mesma palavra expressatildeo proposiccedilatildeo

assume sentidos diversos quando transferida para outra formaccedilatildeo discursiva outro

lugar e situaccedilatildeo enunciativa

[] o sentido de uma palavra de uma expressatildeo de uma proposiccedilatildeo etc natildeo existe ldquoem si mesmordquo (isto eacute em sua relaccedilatildeo transparente com a literalidade do significante [o que eacute mais proacuteprio ao significado como demonstrado anteriormente]) mas ao contraacuterio eacute determinado pelas posiccedilotildees ideoloacutegicas que estatildeo em jogo no processo soacutecio-histoacuterico no qual as palavras expressotildees e proposiccedilotildees satildeo produzidas (isto eacute reproduzidas) Poderiacuteamos resumir essa tese dizendo as palavras expressotildees proposiccedilotildees etc mudam de sentido segundo as proposiccedilotildees sustentadas por aqueles que as empregam o que quer dizer que elas adquirem seu sentido em referecircncia a essas posiccedilotildees isto eacute em referecircncia agraves formaccedilotildees ideoloacutegicas [] nas quais essas posiccedilotildees se inscrevem

A noccedilatildeo de ldquoformaccedilatildeo discursivardquo foi dialogada na Anaacutelise do Discurso com

a obra de Michel Foucault sobretudo com os livros Arqueologia do saber (publicaccedilatildeo

original de 1969) e A ordem do discurso (original de 1970) Para Foucault a

formaccedilatildeo discursiva se evidencia pela regecircncia de regularidades nas relaccedilotildees entre

saber e poder em que a produccedilatildeo daquele eacute controlada selecionada organizada e

distribuiacuteda de forma a natildeo ameaccedilar este

Foucault (2005a p 135-136) define discurso nos seguintes termos

Chamaremos de discurso um conjunto de enunciados na medida em que se apoacuteiem na mesma formaccedilatildeo discursiva ele natildeo forma uma unidade retoacuterica ou formal indefinidamente repetiacutevel e cujo aparecimento ou utilizaccedilatildeo poderiacuteamos assinalar (e explicar se for o caso) na histoacuteria eacute constituiacutedo de um nuacutemero limitado de enunciados para os quais podemos definir um conjunto de condiccedilotildees de existecircncia O discurso assim entendido natildeo eacute uma forma ideal e intemporal que teria aleacutem do mais uma histoacuteria o problema natildeo consiste em saber como e por que ele pocircde emergir e tomar corpo num determinado ponto do tempo eacute de parte a parte histoacuterico ndash fragmentos da histoacuteria unidade e descontinuidade na proacutepria histoacuteria que coloca o problema de seus proacuteprios limites de seus cortes de suas transformaccedilotildees dos modos especiacuteficos de sua temporalidade e natildeo de seu surgimento abrupto em meio agraves cumplicidades do tempo

Foucault (2005a) no contexto de emergecircncia da Nova Histoacuteria11 na obra

Arqueologia do saber promove diversas rupturas principalmente em relaccedilatildeo a

noccedilotildees como tradiccedilatildeo influecircncia mentalidade equiliacutebrio continuidade causalidade

linearidade apresentando outras no lugar dispersatildeo descontinuidade limite seacuterie

transformaccedilatildeo dentre outras Procurando compreender a relaccedilatildeo entre discurso e

11

Corrente historiograacutefica surgida nos anos 1970 em um terceiro movimento da denominada Escola dos Annales Caracteriza-se por ser a histoacuteria das mentalidades coagindo as formas de representaccedilatildeo coletivas e as estruturas mentais das sociedades filtradas pelo historiador por meio da anaacutelise e da interpretaccedilatildeo racional dos dados (VEYNE 1995)

poder institui o enunciado como unidade de anaacutelise no meacutetodo arqueoloacutegico

compreendendo-o ainda como unidade do discurso

[] o enunciado natildeo eacute uma unidade do mesmo gecircnero da frase proposiccedilatildeo ou ato de linguagem natildeo se apoacuteia nos mesmos criteacuterios mas natildeo eacute tampouco uma unidade como um objeto material poderia ser tendo seus limites e sua independecircncia [] Natildeo eacute preciso procurar no enunciado uma unidade longa ou breve forte ou debilmente estruturada mas tomada como as outras em um nexo loacutegico gramatical ou locutoacuterio Mais que um elemento entre outros mais que um recorte demarcaacutevel em um certo niacutevel de anaacutelise trata-se antes de uma funccedilatildeo que se exerce verticalmente [] a propoacutesito de uma seacuterie de signos [] O enunciado natildeo eacute pois uma estrutura [] eacute uma funccedilatildeo de existecircncia que pertence exclusivamente aos signos e a partir da qual se pode decidir em seguida pela anaacutelise ou pela intuiccedilatildeo se eles ldquofazem sentidordquo ou natildeo [] e que espeacutecie de ato se encontra realizado por sua formulaccedilatildeo (oral ou escrita) [] eacute que ele natildeo eacute em si mesmo uma unidade mas sim uma funccedilatildeo que cruza um domiacutenio de estruturas e de unidades possiacuteveis e que faz com que apareccedilam com conteuacutedos concretos no tempo e no espaccedilo (FOUCAULT 2005a p 98-99)

O enunciado na percepccedilatildeo de Foucault eacute uma funccedilatildeo dispersa em sua

singularidade mas regular em sua repeticcedilatildeo

A questatildeo da autoria tambeacutem eacute problematizada por Foucault A partir da

noccedilatildeo da funccedilatildeo-sujeito desloca-se a autoria do desempenho individual

reafirmando o sujeito como posiccedilatildeo reforccedilando que o enunciado natildeo eacute algo isolado

mas vizinho a uma seacuterie de outros enunciados e sujeitos e inscrito e delineado em

um campo enunciativo que lhe afere lugar e status inserindo-o na Histoacuteria

sublinhando a posiccedilatildeo sujeito-autor como uma funccedilatildeo

Foucault (2005a p 43) define formaccedilatildeo discursiva do seguinte modo

No caso em que se puder descrever entre um certo nuacutemero de enunciados [um] sistema de dispersatildeo e no caso em que entre os objetos os tipos de enunciaccedilatildeo os conceitos as escolhas temaacuteticas se puder definir uma regularidade (uma ordem correlaccedilotildees posiccedilotildees e funcionamentos transformaccedilotildees) diremos por convenccedilatildeo que se trata de uma formaccedilatildeo discursiva []

Trata-se portanto da regularidade na dispersatildeo dos enunciados embora essa

estrutura natildeo seja estanque e possa em seu interior ter subarticulaccedilotildees

O conceito formaccedilatildeo discursiva contribuiu para romper a noccedilatildeo de

maquinaria estrutural na qual os discursos eram percebidos de forma fechada na

primeira eacutepoca de formulaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica da Anaacutelise do Discurso

Contribui por conseguinte para implodir a noccedilatildeo de sujeito homogecircneo

Outra noccedilatildeo importante para a compreensatildeo do discurso e do sujeito eacute a

ldquoformaccedilatildeo ideoloacutegicardquo Pecirccheux Fuchs (2001 p 166) caracterizam-na como o

elemento

[] suscetiacutevel de intervir como uma forccedila em confronto com outras forccedilas na conjuntura ideoloacutegica caracteriacutestica de uma formaccedilatildeo social em dado momento desse modo cada formaccedilatildeo ideoloacutegica constitui um conjunto complexo de atitudes e de representaccedilotildees que natildeo satildeo nem ldquoindividuaisrdquo nem ldquouniversaisrdquo mas se relacionam mais ou menos diretamente a posiccedilotildees de classes em conflito umas com as outras

O discurso interage atraveacutes do sujeito entre as formaccedilotildees discursivas e

ideoloacutegicas por meio do interdiscurso que pode ser entendido como a ldquo[] presenccedila

de diferentes discursos oriundos de diferentes momentos na histoacuteria e de diferentes

lugares sociais entrelaccedilados no interior de uma formaccedilatildeo discursivardquo (FERNANDES

2005 p 61) Por extensatildeo ao interdiscurso compreender o discurso perpassa pela

noccedilatildeo de memoacuteria que difere da acepccedilatildeo corrente de uma memoacuteria individual ndash

centrada nas lembranccedilas de uma pessoa Para Pecirccheux (1999b) a memoacuteria eacute

exterior ao estrato psicofisioloacutegico do indiviacuteduo Nesses termos eacute colocado como

ldquo[] um conjunto complexo preacute-existente e exterior ao organismo constituiacutedo por

uma seacuterie de lsquotecidos de iacutendices legiacuteveisrsquo que constitui um corpo soacutecio-histoacuterico de

traccedilosrdquo (PEcircCHEUX 1990 f 1) A memoacuteria assim transpotildee-se para o campo social

de onde descreve as condiccedilotildees de um acontecimento aliando portanto discurso e

histoacuteria As formaccedilotildees discursivas ideoloacutegicas e imaginaacuterias12 de uma sociedade

tramitando no interdiscurso situam os sujeitos e os discursos fazendo com estes

signifiquem A memoacuteria sempre que praacutetica social eacute operacionalizada por meio de

impliacutecitos isto eacute elementos preacute-construiacutedos que atuam na produccedilatildeo dos sentidos

(PEcircCHEUX 1999b) Dessa forma a memoacuteria discursiva re-estabelece os impliacutecitos

que significam o discurso reconstituindo um imaginaacuterio no acircmbito da enunciaccedilatildeo

12

Pecirccheux dialogando com a obra de Lacan sobre o conceito de imaginaacuterio definiu as formaccedilotildees imaginaacuterias como resultantes de processos discursivos que antecedem a enunciaccedilatildeo agindo portanto como antecipaccedilatildeo de sentidos com a qual o sujeito faz uma representaccedilatildeo do receptor discursivo (natildeo confundido com sujeitos ou lugares fiacutesicos mas agraves representaccedilotildees deles suscitadas) orientando seu enunciar da imagem que daiacute resulta

Uma operaccedilatildeo taacutecita natildeo expliacutecita mas presente na construccedilatildeo dos sentidos e dos

seus efeitos De acordo com Achard (1999 p 13)

[] a explicitaccedilatildeo desses impliacutecitos em geral natildeo eacute necessaacuteria a priori e natildeo existe em parte alguma um texto de referecircncia expliacutecita que forneceria a chave Essa ausecircncia natildeo faz falta a paraacutefrase de explicitaccedilatildeo aparece antes como um trabalho posterior sobre o expliacutecito do que uma preacute-condiccedilatildeo [] Do ponto de vista discursivo o impliacutecito trabalha sobre a base de um imaginaacuterio que o representa como memorizado enquanto cada discurso ao pressupocirc-lo vai fazer apelo a sua (re)construccedilatildeo sob a restriccedilatildeo ldquono vaziordquo de que eles respeitem as formas que permitam sua inserccedilatildeo por paraacutefrase

Um dos impliacutecitos possiacuteveis por exemplo eacute o da ordem do icocircnico tanto como

materialidade verbal ou semioacutetica pois visiacutevel Este eacute um dos operadores dentre os

mais atuantes do discurso da Geografia que antes de tudo se empenha na

construccedilatildeo de uma visatildeo do mundo ldquo[] a imagem seria um operador de memoacuteria

social comportando no interior dela mesma um programa de leitura um percurso

inscrito discursivamente em outro lugarrdquo (PEcircCHEUX 1999b p 51)

O silecircncio e seu processo o silenciamento eacute outro elemento constitutivo do

discurso Foucault indica que a enunciaccedilatildeo implica um funcionamento de permissatildeo

no qual haacute o dito o natildeo dito o que natildeo pode ser dito Na enunciaccedilatildeo interagem as

formaccedilotildees discursivas e ideoloacutegicas de cada eacutepoca por meio das vozes plurais que

constituem e instituem o sujeito discursivo levando-o a dizer o que diz Um dizer

sempre controlado e freado pelos limites que o acircmbito da enunciaccedilatildeo impotildee A

propoacutesito Foucault demonstra como os discursos satildeo socialmente controlados

organizados selecionados e distribuiacutedos fato que coaduna em especiacutefico com a

posiccedilatildeo defendida pela Histoacuteria das Disciplinas Escolares e pela Histoacuteria do

Curriacuteculo que veremos adiante Se necessaacuterio o discurso pode ser interditado

Mesmo natildeo o sendo ele sempre eacute delimitado e controlado

[] em toda sociedade a produccedilatildeo do discurso eacute ao mesmo tempo controlada selecionada organizada e redistribuiacuteda por certos nuacutemeros de procedimentos que tecircm por funccedilatildeo conjurar seus poderes e perigos dominar seu acontecimento aleatoacuterio esquivar sua pesada e temiacutevel materialidade [] em uma sociedade como a nossa conhecemos eacute certo procedimentos de exclusatildeo O mais evidente o mais familiar tambeacutem eacute a interdiccedilatildeo Sabe-se bem que natildeo se tem o direito de dizer tudo que natildeo se pode falar de tudo em qualquer circunstacircncia que qualquer um enfim natildeo pode falar de qualquer coisa Tabu do objeto ritual de circunstacircncia direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala [] (FOUCAULT 2005b p 8-9)

O dialogismo bakhtiniano tambeacutem estabelece o silecircncio como uma das

vozes que atravessam a interaccedilatildeo enunciativa De acordo com Villarta-Neder (2004

p 173) o apagamento eacute um dos efeitos do silecircncio discursivo

[] as palavras natildeo soacute apagam silecircncios porque se sobrepotildeem a eles ndash e estabelecem assim um silecircncio por excesso ndash mas tambeacutem silenciam outras palavras pelo mesmo processo de sobreposiccedilatildeo Igualmente o silecircncio natildeo somente apaga as palavras porque as sobrepotildee (excesso) mas porque cria uma virtualidade em que outras palavras possiacuteveis sobrepotildeem (excesso ainda) as que natildeo foram ditas (ausecircncia) Portanto o apagamento mesmo provocado pela palavra implica sempre a instauraccedilatildeo de um tipo de silecircncio o leva a consideraacute-lo como uma decorrecircncia do silecircncio (VILLARTA-NEDER 2004 p 173)

A anaacutelise do silecircncio geralmente depreende as relaccedilotildees de poder colocadas

ao discurso

Nesses termos apoacutes essas consideraccedilotildees qual seria a caracterizaccedilatildeo do

discurso didaacutetico

Em uma perspectiva discursiva o ensino eacute uma ritualizaccedilatildeo de discursos

conjugados por sujeitos qualificados adequados a uma forma poliacutetica de

manutenccedilatildeo modificaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo ndash relaccedilatildeo na qual os saberes e os poderes

estatildeo em um conflito de definiccedilatildeo (FOUCAULT 2005b p 43) Isto porque eacute pela

educaccedilatildeo que uma sociedade moderna se molda se reproduz e se preserva de

acordo com as orientaccedilotildees impostas e negociadas nessa permanecircncia Essa

educaccedilatildeo molda sua forccedila para sobrepor-se a qualquer outra inclusive a educaccedilatildeo

tradicional como a familiar A sociedade por exemplo precisa na percepccedilatildeo do

Estado ter a feiccedilatildeo requerida por seus propoacutesitos gerais ndash aquelas permitidas por

ele

O discurso didaacutetico para esse fim eacute construiacutedo para transparecer

neutralidade surtir um efeito paciacutefico sendo influente o controle do Estado e das

instituiccedilotildees deste o controle da Ciecircncia o controle da sociedade civil O curriacuteculo

nesses termos como estrutura exposta quanto agrave proposiccedilatildeo e impliacutecita ao discurso

didaacutetico eacute controlado pelos programas dos departamentos educacionais Agrave escola

antecedem instacircncias preliminares que delimitam o discurso didaacutetico para que nele

haja efeitos de uma visatildeo social e de um sujeito direcionado mas tambeacutem eacute um

acircmbito de produccedilatildeo discursiva

O construto da Anaacutelise do Discurso de linha francesa pecheuxtiana como

demonstrado referencia-se na intersecccedilatildeo dos discursos e da histoacuteria para

compreender a linguagem em funcionamento na construccedilatildeo dos sujeitos e dos

sentidos O discurso portanto tem uma ordem que prevalece acima dos sujeitos

revelada natildeo em si em sua materialidade mas nas condiccedilotildees de sua produccedilatildeo ele

aparece em uma formaccedilatildeo parece desaparecer e ressurge adiante com novas

condiccedilotildees Algo do discurso didaacutetico eacute uacutenico e proacuteprio a ele mesmo mas com

materialidades e manifestaccedilotildees enunciativas diferentes dos quais os manuais

didaacuteticos em suas geraccedilotildees satildeo dessas instacircncias enunciativas O espaccedilo do

saber eacute simultaneamente um espaccedilo de descontinuidades e de permanecircncia

Coube agrave escola enquanto instituiccedilatildeo responsaacutevel por ensinar formalmente

princiacutepios da vida civil e da cultura instituiacutedas aos indiviacuteduos a criaccedilatildeo das

disciplinas sempre como tradiccedilotildees culturais expressas em um movimento e

dinacircmicas proacuteprios direcionando os aprendizes para uma cultura geral a cultura da

sociedade nacional ndash no caso das sociedades modernas sendo o curriacuteculo a ser

ensinado uma manifestaccedilatildeo desse processo O dizer e o fazer da escola nesse

sentido promoveu discursos gerais e particulares manifestos em diferentes

materialidades e notadamente aqueles componentes das disciplinas constituiacuteram

uma literatura didaacutetica consecuccedilatildeo de qualquer campo do conhecimento que se

ensine13 Como materialidades dos discursos didaacuteticos os manuais escolares

permitem entrever a linguagem e seu papel importante na constituiccedilatildeo do processo

do ensino e da aprendizagem permitindo ainda uma compreensatildeo histoacuterica dessas

relaccedilotildees

Diversas formaccedilotildees discursivas habitam o discurso didaacutetico A obra de

Mikhail Bakhtin (1997 1998 2004) permite compreender os gecircneros do discurso

como combinaccedilatildeo de formas e coacutedigos relativamente estaacuteveis quanto a seus

enunciados em grupos sociais especiacuteficos peculiares a estes no que se enquadra

o dizer didaacutetico como um discurso

Bakhtin (1998 p 10) para quem os gecircneros do discurso compotildeem-se de

uma estratificaccedilatildeo da linguagem que se cliva em instacircncias soacutecio-ideoloacutegicas

13

Um exemplo desse desenvolvimento eacute sua inclusatildeo em miacutedias diversas e veiculaccedilatildeo em meios de comunicaccedilatildeo de diferentes ordens como caracteriacutesticos atualmente da modalidade Educaccedilatildeo a Distacircncia

diversas utilizou a noccedilatildeo de ldquoconstruccedilatildeo hiacutebridardquo para compreender ldquoo enunciado

que segundo iacutendices gramaticais (sintaacuteticos) e composicionais pertence a um uacutenico

falante mas onde na realidade estatildeo confundidos dois enunciados dois modos de

falar dois estilos duas lsquolinguagensrsquo duas perspectivas semacircnticas e axioloacutegicasrdquo

atingindo a reformulaccedilatildeo das formaccedilotildees discursivas como o discurso cientiacutefico o

discurso cotidiano o discurso do Estado e outros que com reflexos dos objetivos e

das condiccedilotildees do meio social de inserccedilatildeo estabelecem um gecircnero discursivo

aquele que se pode encontrar materializado no livro didaacutetico

13 Procedimentos metodoloacutegicos da pesquisa da Anaacutelise do Discurso

O procedimento da anaacutelise discursiva implica uma performance de escuta no

dizer a partir de uma concepccedilatildeo teoacuterica sobre o objeto em pesquisa Nesses

termos o funcionamento e a constituiccedilatildeo do discurso satildeo processos previstos

movendo-se o analista por meio da descriccedilatildeo e da anaacutelise da materialidade

linguiacutestica ateacute o discurso De acordo com Silva (2006 p 184)

A anaacutelise um proceder agrave procura do funcionamento dos sentidos difere do curso descarteano de seu emprego ou seja o desmonte do todo em partes para se entrever o funcionamento do objeto e com isso produzir o conhecimento A anaacutelise discursiva se situa mais proacutexima agrave Psicanaacutelise lacaniana como uma ldquoescuta engajadardquo da linguagem a partir da qual se percorre a constitutividade do sujeito

E percorrer a constitutividade do sujeito eacute embrenhar-se na movecircncia dos sentidos

Assim a estrutura eacute desvelada natildeo unicamente para concepccedilatildeo e produccedilatildeo do

conhecimento da materialidade em si dos objetos visiacuteveis vai aleacutem perscruta o

invisiacutevel no dizer o que na materialidade deixa apenas vestiacutegios indicaccedilotildees e sinais

mesmo que remotos Sobretudo uma sombra dispersa que reunificada indica uma

unicidade natildeo anunciada natildeo prevista no esquema da enunciaccedilatildeo

Esse caminho metodoloacutegico aproxima-se portanto do procedimento

analiacutetico no qual a anaacutelise se comporta como caminho ldquo[] eacute um caminho limitado

mas infinito Limitado porque sempre se ergue um limite que o faz parar E infinito

porque esse limite uma vez tocado desloca-se para o infinito sempre mais distanterdquo

(NASIO 1993 p 38) Perfaz um caminho espiralado de idas e vindas de

aproximaccedilatildeo e distanciamento procurando os sentidos na movecircncia dos

enunciados procurando regularidades na dispersatildeo De acordo com Santos

(2004 p 114) as regularidades satildeo

[] as evidecircncias significativas observadas na conjuntura enunciativa da manifestaccedilatildeo discursiva em estudo Essas evidecircncias aparecem como elementos de recorrecircncia de idiossincrasia enunciativa ou ainda de efeito provocado pela natureza na organizaccedilatildeo dos sentidos na enunciaccedilatildeo Eacute por meio das regularidades que se emoldura com mais clareza o toacutepico em investigaccedilatildeo pelo analista corroborando assim com as projeccedilotildees determinantes advindas dos objetivos hipoacuteteses e questotildees de pesquisa

Dada uma materialidade discursiva procura-se evidenciar os sentidos

histoacuterico-ideoloacutegicos nos discursos que constituem os sujeitos e suas praacuteticas O

corpus ndash reuniatildeo de discursos de uma formaccedilatildeo discursiva ndash expressa a

materialidade empiacuterica e objetiva a ser analisada Trata-se de

[] um banco de dados relativamente extenso e exaustivo coletado em documentos grafos condizentes agrave pesquisa ou documentado (anotado gravado ou filmado) a partir do dizer dos sujeitos em investigaccedilatildeo O registro do corpus portanto refere-se agrave descriccedilatildeo da accedilatildeo linguageira agrave sua seleccedilatildeo e organizaccedilatildeo de acordo com uma orientaccedilatildeo (SILVA 2006 p 185)

Os discursos do corpus geralmente passam por recortes seletivos

orientados pela intuiccedilatildeo do analista quanto a regularidades previstas nos

enunciados Na dispersatildeo eles calam mas seus sentidos aproximados

entrecruzados detidos no acircmbito histoacuterico-ideoloacutegico satildeo desentranhados da

opacidade e da transparecircncia aparente evocando outros sentidos que natildeo aqueles

encenados na enunciaccedilatildeo Isso distancia os recortes de mera ilustraccedilatildeo ou

exemplificaccedilatildeo remetendo o analista para o processo histoacuterico-ideoloacutegico para as

condiccedilotildees de produccedilatildeo para a incompletude para o contingente isto eacute para o

discurso

Esta acepccedilatildeo coloca a anaacutelise discursiva no paracircmetro de um dispositivo

de interpretaccedilatildeo ou seja ldquo[] ouvir naquilo que o sujeito diz aquilo que ele natildeo

diz mas que constitui igualmente os sentidos de suas palavrasrdquo (ORLANDI 2002 p

59) apreendendo deste modo o funcionamento dos sentidos a constituiccedilatildeo do

sujeito

A performance metodoloacutegica desta pesquisa trabalha assim com quatro

tipos de unidade de anaacutelise o discurso o fragmento discursivo a sequecircncia

discursiva e o lexema O fragmento discursivo a sequecircncia discursiva e o lexema

satildeo recortes na extensatildeo do discurso para propoacutesitos da anaacutelise lexema eacute a

unidade baacutesica de um leacutexico entendido como oposiccedilatildeo a um vocabulaacuterio o lexema

eacute colocado em relaccedilatildeo agrave Liacutengua e o vocaacutebulo em relaccedilatildeo agrave Fala O fragmento e a

sequecircncia discursivos estatildeo para recortes maiores e menores do discurso

respectivamente

Como visto neste capiacutetulo a Histoacuteria das Disciplinas Escolares me permite

circunscrever o saber a ser ensinado como recorte dentre outras possibilidades tais

como o saber ensinado e o saber apreendido o que nos remete diretamente aos

manuais didaacuteticos como documentos constitutivos do objeto da pesquisa Sobretudo

apresenta uma perspectiva pela qual determinados conhecimentos no ambiente

escolar revelam-se e consolidam-se como disciplinas sendo ressignificados para

um puacuteblico especiacutefico cumprindo certa finalidade da educaccedilatildeo bem como a

distribuiccedilatildeo dos papeis sociais nas relaccedilotildees de ensino e aprendizagem E nessa

direccedilatildeo o curriacuteculo e a legislaccedilatildeo educacional incluem-se como circunscriccedilatildeo

constitutiva do objeto de pesquisa

As abordagens sobre curriacuteculo em uma perspectiva mais histoacuterica que

teoacuterica ndash embora os laccedilos entre histoacuteria e teoria natildeo se separem ndash situam essa tese

a pensar historicamente a organizaccedilatildeo do curriacuteculo da Geografia escolar no periacuteodo

assinalado quanto aos interesses institucionais de sua proposiccedilatildeo a motivaccedilatildeo

poliacutetica a percepccedilatildeo da aprendizagem discente o estabelecimento do cotidiano

escolar e da metodologia de ensino A Histoacuteria do Curriacuteculo indica que compreender

o curriacuteculo e o programa eacute sondar as relaccedilotildees entre ideologia poder e saber bem

como a tradiccedilatildeo e o constructo histoacuterico inerente agrave sua composiccedilatildeo a indicaccedilatildeo

desse caminho faz encontro com a Anaacutelise do Discurso como perspectiva teoacuterico-

metodoloacutegica ou a compreensatildeo que tenho do ob

jeto em estudo e dos objetivos propostos A essa discussatildeo se remete o que

compreendo por discurso sujeito ideologia sentido formaccedilatildeo (histoacuterica ideoloacutegica

discursiva) heterogeneidade (constitutiva e mostrada) memoacuteria

No capiacutetulo seguinte apresento a pesquisa bibliograacutefica e faccedilo uma

discussatildeo descritiva sobre a mesma expondo aspectos gerais da trajetoacuteria do livro

didaacutetico de Geografia no Brasil

CAPIacuteTULO 2

DESCRICcedilAtildeO DA BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA (1814-1939) discussatildeo da trajetoacuteria constitutiva dos manuais de Geografia

Neste capiacutetulo apresento e discuto o levantamento bibliograacutefico suscitado

pela pesquisa expondo o conjunto de referecircncias que indicam os tiacutetulos autores

ediccedilotildees anos e locais de publicaccedilatildeo indicando a trajetoacuteria dos textos didaacuteticos de

Geografia A partir dele procuro definir um panorama histoacuterico que descreva o

surgimento e o desenvolvimento dos manuais de Geografia Aleacutem disso instituo as

fontes discursivas da tese dessa bibliografia que apresenta livros produzidos ndash

compendiados traduzidos adaptados ndash ou importados para o ensino de Geografia

brasileiro Algumas obras de relevacircncia direta agrave produccedilatildeo desses textos mas que

natildeo satildeo propriamente textos didaacuteticos foram relacionadas no Apecircndice 1 como

Casal (1817) Wappoeus (1884) Sellin (1889) indicados como manuais didaacuteticos

por Colesanti (1984) Lourenccedilo (1996) e outros

21 A bibliografia didaacutetica de Geografia

Para esse levantamento pesquisei informaccedilotildees em diversas fontes sobre

cada tiacutetulo e autor confrontando-as para listar as referecircncias com fidelidade14 Em

sua maior parte como em programas curriculares extratos de cataacutelogos cataacutelogos

de bibliotecas dentre outros as informaccedilotildees satildeo incompletas haacute divergecircncias

ortograacuteficas abreviaccedilotildees que dificultam a fixaccedilatildeo das informaccedilotildees suscitando

duacutevidas Em Sacramento Blake (1893 a 1903) por exemplo eacute comum encontrar

unicamente o nome do autor o tiacutetulo e o ano de uma publicaccedilatildeo agraves vezes soacute o

14

A principal relaccedilatildeo de fontes estaacute mencionada nas Consideraccedilotildees Iniciais e apresentada nas referecircncias

autor e o tiacutetulo tambeacutem muitas vezes divergentes embora tenha sido uma fonte

indispensaacutevel para o estabelecimento de pistas investigadas em outros lugares

Recapitulando entendo por ldquobibliografia didaacutetica de Geografiardquo o acervo

material e sua referenciaccedilatildeo dos tiacutetulos didaacuteticos da disciplina em questatildeo satildeo as

materialidades que tiveram uma vida escolar servindo ao ensino expliacutecito da

Geografia por extensatildeo igualmente pode ser compreendida como bibliografia toda

descriccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo pertinente ao Acervo aquele que agrega toda a

produccedilatildeo existente ou ao acervo de pesquisa Como sistematizaccedilatildeo da bibliografia

em questatildeo o levantamento do Quadro 01 exposto a seguir organiza-se em ordem

cronoloacutegica expondo as primeiras ediccedilotildees ou a ediccedilatildeo mais antiga localizada

constando ainda todas as ediccedilotildees identificadas da obra de forma que a par da

trajetoacuteria do livro didaacutetico de Geografia procurei registrar o percurso de cada

documento indicando as ediccedilotildees que o tiacutetulo teve ao longo de sua trajetoacuteria o que

demonstra as alteraccedilotildees que a obra passou em seu curso de vida uacutetil tais como

alteraccedilotildees no tiacutetulo cooperaccedilatildeo de terceiros autores transferecircncias casas

publicadoras dentre outras

Nomeio duas distinccedilotildees para cada documento elencado tiacutetulo como uma

obra individual apesar das alteraccedilotildees que possam ter sofrido sua nomeaccedilatildeo e

ediccedilatildeo que corresponde agraves tiragens ou conjunto de sucessivas tiragens de uma

obra incorporando ou natildeo alteraccedilotildees correccedilotildees ampliaccedilatildeo desde que assim for

nomeada a tiragem Esta distinccedilatildeo eacute necessaacuteria pois dimensiona e redimensiona a

reproduccedilatildeo de uma bibliografia

Assim posto o levantamento bibliograacutefico apresentado a seguir no periacuteodo

compreendido entre 1814 e 1939 expressa 276 tiacutetulos perfazendo 510 ediccedilotildees

identificadas15 Natildeo identificadas pela pesquisa mas deduzidas a partir da maior

ediccedilatildeo indicada teriacuteamos outras 441 ediccedilotildees o que sem precisatildeo indica que esse

acervo teve 950 ediccedilotildees ao longo do periacuteodo um nuacutemero apenas aproximado e

com certeza bem abaixo dessa expressatildeo real ateacute porque natildeo tenho garantia de

que a uacuteltima seja realmente a uacuteltima

15

Outros conhecidos levantamentos similares de manuais didaacuteticos para o periacuteodo apontam 25 tiacutetulos para os quais as ediccedilotildees natildeo foram contabilizadas (COLESANTI 1984) e 117 ediccedilotildees (LOURENCcedilO 1996)

QUADRO 01 ndash Bibliografia didaacutetica brasileira de Geografia (1814-1939)

1ordf Ed ou ediccedilatildeo mais

antiga identifica-

da

Demais ediccedilotildees

identifica-das

BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA

1814 - GUIMARAtildeES Manoel Ferreira de Arauacutejo Elementos de Astronomia Para uso dos alumnos da Academia Real Militar Rio de Janeiro Impressatildeo Reacutegia 1814

1818

1821

1822

1824

PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinaacuterios agraves idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Impressatildeo Reacutegia 1818

PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Typ Real 1821

PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Typ Nacional 1822

PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Typ Nacional 1824

1823 -

TILBURY Guilherme Paulo Breve introducccedilatildeo ao estudo de Geographia adaptado ao uso dos mappas francezes e inglezes Offerecida a S M o Senhor D Pedro I Rio de Janeiro Typ Nacional 1823 197 p

1824 - TORREAtildeO Bazilio Quaresma Compendio de Geographia universal Rezumido de diversos authores e offerecido aacute mocidade brazileira London L Thompson (na officina portugueza) 1824 528 p

1824 -

HUM BRASILIANNO Noccedilotildees elementares de Geographia por hum antigo professor da Universidade de Paris impressas no anno de 1820 e tradusidas em 1823 por hum brasilianno para instrucccedilatildeo da mocidade do Brasil Rio de Janeiro Typographia de Silva Porto 1824 26 p

1826 -

CASAL Pe Manoel Ayres de Introducccedilatildeo da Geographia brazilica da parte que trata da Bahia composta por um presbytero secular do gratildeo-priorado do Crato e mandada imprimir para instrucccedilatildeo da mocidade bahiense por um professor da mesma Organizada anonimamente por Ignaacutecio Apriacutegio da Fonseca Galvatildeo Bahia [s n] 1826

1827 -

ARAUacuteJO Joseacute Paulo de Figueiroa Nabuco de Compendio cientifico para a mocidade brazileira destinado ao uso das escolas dos dois sexos ornado de nove estampas acomodadas aacute arte e aacutes sciencias de que nele se trata tiradas por litografia Oferecido agrave heroacuteica e

briosa naccedilatildeo brasileira etc Rio de Janeiro P Plancher 1827

1829 -

REBELLO Domingos Joseacute Antonio Corografia ou abreviada historia geographica do imperio do Brasil coordenada acrescentada e dedicada aacute casa pia e collegio dos orfatildeos de S Joaquim desta cidade Para uso de seos alumnos a fim de adquirirem conhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em geral e seo descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente da provincia e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos Rio de Janeiro Typographia Imperial e Nacional 1829 260 p

1830 -

LIMA Manoel Ildefonso de Souza Elementos de Geographia astronomica politica e physica Apresenta um mappa Rio de Janeiro [s n] 1830 65 p

1830 -

LISBOA Manoel Ignacio Soares Elementos de Geographia Astronomica Poliacutetica e Physica Dedicados a sua Alteza Imperial o Sr D Pedro Principe Imperial do Brasil para uso das Escolas Brasileiras Rio de Janeiro Typographia Torres 1830 65 p

1832 - GOUVEcircA Agostinho Marques de Novo cathecismo geographico brazileiro Offerecido aos senhores paes de famiacutelia e professores de ambos os sexos Rio de Janeiro [s n] 1832

1835 -

BEAUREPAIRE Jacques Antonio Marcos de [Conde de BEAUREPAIRE] Compendio de Geographia universal contendo a divisatildeo particular de todas as regiotildees do mundo conhecido e com especialidade do impeacuterio do Brazil por um official general do exercito Rio de Janeiro Laemmert 1835 2 tomos

1835 - MULLER Daniel Pedro Cathecismo de Geographia Rio de Janeiro [s n] 1839[]

1835 -

UM OFFICIAL GENERAL DO EXERCITO [Pseud] Compendio de Geographia universal contendo a descripccedilatildeo particular de todas as regiotildees do mundo conhecido e com especialidade do Impeacuterio do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1835

1836 - PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Compendio de Geographia elementar Para uso das escolas brazileiras Rio de Janeiro Typ de R Ogier 1836 210 p

1836 - COMPENDIO de Geographia para uso das aulas de primeiras lettras Recife Typographia de Santos 1836 64 p

1836 - OLIVEIRA Affonso Joseacute de Compendio de Geographia universal extrahida de diversos auctores Recife Typographia de M F de Faria 1836 136 p

1838 -

ROCHA Justiniano Joseacute da Compendio de Geographia elementar Offerecido ao governo de S M I e por ele aceito para uso dos alumnos do Imperial Coleacutegio de Pedro II 2 ed Rio de Janeiro Typ Nacional 1838 142 p

1839 - POELITZ H L Resumo da Historia Universal para uso da aula de Historia e Geographia Adaptaccedilatildeo de Julio Frank Satildeo Paulo Graphica Costa Silveira 1839

1839 -

RESUMO de historia universal para uso da aula dhistoria e Geographia da academia de sciencias Satildeo Paulo Typographia de M F Costa Silveira 1839

184- 1852

BRANDAtildeO Antonio Pinto da Costa de Souza Noccedilotildees preliminares de Geographia em forma de dialogo com especial applicaccedilatildeo ao imperio do Brazil Rio de Janeiro [s n] 184- 74 p

BRANDAtildeO Antonio Pinto da Costa de Souza Noccedilotildees preliminares de Geographia em forma de dialogo com especial applicaccedilatildeo ao imperio do Brazil 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1852 74 p

1840 - BELLEGARDE Pedro drsquoAlcacircntara Introducccedilatildeo corographica a historia do Brazil Rio de Janeiro Typographia de J E S Cabral 1840

1840 - SANTA GERTRUDES Joseacute Policarpo de Elementos de Geographia para uso das escolas da instruccedilatildeo primaria da provincia do Rio de Janeiro Nitheroy Typographia Nietheroy 1840 219 p

1842

1868

1871

FREESE Joatildeo Henrique Compendio de Geographia e historia seguido de um epitome sobre os globos e seus circulos e de um trabalho chronologico dos principaes acontecimentos da historia do Brazil desde o seu descobrimento ateacute a coroaccedilatildeo de S M I o Sr D Pedro II Rio de Janeiro Typ de J E S Cabral 1842 106 p

FREESE Joatildeo Henrique Compendio de Geographia e historia seguido de um breve epitome sobre os globos e seus circulos por Joatildeo Henrique Freese 3 ed revista e consideravelmente augmentada na parte que trata da Geographia physica e inteiramente nova a Geographia com referencia politica segundo os mais recentes acontecimentos com uma descripccedilatildeo do impeacuterio do Brazil e um elenco de todas as cidades e villas por Joatildeo Baptista Collogeras Rio de Janeiro [s n] 1868 124 p

FREESE Joatildeo Henrique Compendio de Geographia e historia seguido de um epitome sobre os globos e seus circulos e de um trabalho chronologico dos principaes acontecimentos da historia do Brazil desde o seu descobrimento ateacute a coroaccedilatildeo de S M I o Sr D Pedro II 4 ed Rio de Janeiro Livraria de Agostinho de Freitas Guimaratildees amp Cia 1871 126 p

1845

(2 ed) 1873

BREVES Noccedilotildees de Geographia Universal mui accrescentadas na parte respectiva ao Impeacuterio do Brasil para uso da mocidade estudiosa 2 ed Rio de Janeiro E amp H Laemmert 1845 70 p

BREVES Noccedilotildees de Geographia Universal mui accrescentadas na parte respectiva ao Impeacuterio do Brasil para uso da mocidade estudiosa 3 ed Rio de Janeiro E amp H Laemmert 1873 70 p

1846 - CAVALCANTI Luiz Paulino Geographia elementar [s l] [s n] 1846

1845 -

SOUZA Francisco Nunes de Nocccedilotildees elementares de Geographia astronomica physica e politica redigidas segundo um novo plano methodico theorico e pratico e adaptadas para servir de compendio nas academias

lyceos etc como para ministrar os rudimentos de Geographia propriamente dita sem auxilio e dependecircncia de professor Rio de Janeiro [s n] 1845

185- - BANDEIRA Antonio Rangel Torres Geographia antiga

16 Recife 185-

Mimeo

1850 - BRANDAtildeO Antonio Pinto da Costa de Souza Diaacutelogo Geographico para uso de suas disciacutepulas e alumnas do Collegio de Satildeo Joatildeo em Satildeo Christovatildeo Rio de Janeiro Typographia Francesa 1850 44 p

1851

1856

1859

1864

1869

BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Elementos de Geographia Offerecidos agrave mocidade cearense Fortaleza Typographia de Paiva e Companhia 1851 284 p

BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio de Geographia Adoptado no collegio de Pedro II e nos lyceos e seminaacuterios do Impeacuterio 2 ed Cearaacute Typographia de Paiva e Companhia 1856 536 p

BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil 3 ed augmentuda e correcta Rio de Janeiro Domingos Joseacute Gomes Brandatildeo e Irmatildeos 1859 519 p

BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil 4 ed augmentada e cuidadosamente corrigida Rio de Janeiro Typographia Universal de Lammert 1864 556 p

BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Typographia Universal de Lammert 1869 556 p

1853[] - MONSERRATE Fr Camillo de Liccedilotildees de Geographia antiga

17 Rio de

Janeiro [s n] 1853[]

1854 - PEREIRA Joatildeo Felix Chorographia do Brazil Lisboa Imprensa de Lucas Evangelista 1854 352 p

1855

(2 ed)

1867

1872

1878

ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia 2 ed Paris Casa de Va J P Aillaud Monlon amp Cia 1855

ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia Traduzidas em portuguez por uma sociedade de litteratos portuguezes Ediccedilatildeo noviacutessima inteiramente refundida e consideravelmente augmentada feita sobre a ultima franceza contendo agora pela vez primeira mui interessantes e numerosas addiccedilotildees e mudanccedilas indispensaacuteveis sobre as novas divisotildees dos estados da Europa e importantiacutessimos desenvolvimentos sobre a Geographia topographia e estatiacutestica do Impeacuterio do Brazil e das republicas americanas e com especialidade a Chorographia portugueza por J-I Roquette acompanhadas de uma estampa geomeacutetrica e cosmographica e com um SUPPLEMENTO mencionando as mudanccedilas que sobrevieram durante a impressatildeo da obra Paris J-P Aillaud Guillard amp Cia 1867

ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia Paris Guillard Aillaud amp

16

De acordo com Sacramento Blake os manuscritos deste livro eram utilizados nas aulas que o autor ministrava

17 Conforme Sacramento Blake nesta obra haacute o programma do curso da aula para o anno de 1853

nas paacuteginas 94 e 95 seguida pelo autor natildeo foi possiacutevel a localizaccedilatildeo dessa obra

Cia 1872 595 p

ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia Paris Guillard Aillaud amp Cia 1878 659 p

1856 1880

ALBUQUERQUE Salvador Henrique de Noccedilotildees de Geographia para uso das escolas Pernambuco Typ Universal 1856 46 p

ALBUQUERQUE Salvador Henrique de Compendio de chorographia universal especial do Brazil e da provincia de Pernambuco approvado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica de Pernambuco 2 ed melhorada e muito augmentada Rio de Janeiro Typ Universal de Eduardo amp Henrique Laemmert 1880 138 p

1857 -

PACHECO Joseacute Praxedes Pereira Breves noccedilotildees para se estudar com methodo a Geographia do Brasil Ensaio para pela primeira vez indicar os tanques mariacutetimos no Atlacircntico as vertentes delles as valladas ou bacias que ellas encerratildeo accommodando o Brasil ao ultimo plano de estudos para o impeacuterio francez se guindo a Geographia da Franccedila Rio de Janeiro Ediccedilatildeo do Autor 1857 204 p

1858

1865

1870

1882

BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios Rio de Janeiro Laemmert 1858 134 p

BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios Rio de Janeiro Laemmert 1865 170 p

BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios 3 ed Rio de Janeiro E amp H Laemmert 1870 181 p

BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios 6 ed Rio de Janeiro Typ Universal de H Laemmert 1882 206 p

1858 -

LEAtildeO Manuel do Rego Barros de Souza Elementos de Geographia compilados de diversos autores Recife [s n] 1858 Tomo I

1859 -

LEAtildeO Manuel do Rego Barros de Souza Elementos de Geographia compilados de diversos autores Trata da Geographia astronoacutemica como se declara no fim onde ha algumas paginas em additamento ao primeiro Recife [s n] 1859 Tomo II

186- - ABREU Pedro Joseacute Pontos de Geographia physica [s l] [s n] 186-

186- -

SANTOS Ignacio Francisco dos Simples noccedilotildees de cosmographia e Geographia compiladas e traduzidas para uso da infacircncia nas escolas de instrucccedilatildeo primaria Pernambuco [s n] 186-

186- - ALBUQUERQUE Severino Bezerra de Geographia geral [s l] [s n]186-

186- - OLIVEIRA Joseacute Joaquim Machado de Liccedilotildees de Geographia Satildeo Paulo [s n] 186-

1860 -

PEREIRA Manuel da Silva Elementos de Geographia e astronomia compendio offerecido e dedicado ao Illm Sr Dr Abiacutelio Cezar Borges Bahia Typographia Poggeti de Catilina amp Cia 1860 228 p

1860 1871

ESPIacuteNDOLA Thomaz do Bonfim Geographia physica politica histoacuterica e administrativa da proviacutencia de Alagoas offerecida ao Exm Sr Dr Pedro Leatildeo Velloso presidente da mesma proviacutencia Maceioacute [s n] 1860 33 p e mais fls de mappas

ESPINDOLA Thomaz do Bom-Fim Geographia alagoana ou descripccedilatildeo phyisica politica e historica da provincia das Alagoas 2 ed muito augmentada e cuidadosamente correcta Maceioacute Typographia do Liberal 1871 483 p

1860

1869

1875

1880

1885

1902

MENEZES Estaacutecio de Saacute [pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier Rio de Janeiro B L Garnier 1860 283 p

MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier 2 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1869 287 p

MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier 3 ed Rev e acres por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1875 287 p

MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methodo Gaultier 4 ed Rev e acres por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1880 291 p

MENEZES Estacio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methodo Gaultier 5 ed Rev e acres por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1885 332 p

MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methodo Gaultier Augmentada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1902 332 p

1861 - MOURE J G Amedeo MALTE-BRUN Tratado de

Geographia elementar physica histoacuterica eclesiaacutestica e politica do imperio do Brasil Paris Aillaud Monlon amp Cia 1861

1862 -

OLIVEIRA Brigadeiro Joseacute Joaquim Machado de Geographia da provincia de S Paulo adaptada aacute liccedilatildeo das escolas e offerecida aacute assembleacutea legislativa provincial Satildeo Paulo Impressatildeo da Proviacutencia de Satildeo Paulo Typ Imparcial de J R Azevedo Marques 1862 122 p

1862 1866

REGO Antonio do Rudimentos de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria Maranhatildeo [s n] 1862 82 p

REGO Antonio do Rudimentos de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria 2 ed Maranhatildeo [s n] 1866 85 p

1863

1867

1870

1871

1875

1882

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna para uso dos alunnos do imperial Collegio de Pedro II Rio de Janeiro Typ de Pinheiro 1863 223 p

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1867 280 p

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 3 ed Rio de Janeiro [s n] 1870

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 4 ed Rio de Janeiro [s n] 1871

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 5 ed Rio de Janeiro Typographia do Apoacutestolo 1875 260 p

ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 7 ed Rio de Janeiro Typographia do Apoacutestolo 1882 260 p

1863 1868

1872 BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul Porto Alegre

1877

1881

Typographia Deutsche-Zeitung 1863 54 p

BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 2 ed Porto Alegre Typographia O Rio Grande 1868 54 p

BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 3 ed Porto Alegre J Alves Editor 1872 103 p

BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 4 ed Porto Alegre Typographia Perseveranccedila 1877 103 p

BERLINCK Eudoro Brazileiro [BERLINK] Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 5 ed Porto Alegre J Alves Editor 1881 104 p

1863 -

BORGES Abiacutelio Cezar (Baratildeo de Macahubas) Epitome de Geographia physica para uso dos alumnos da classe elementar da mesma sciencia no gymnasio bahiano Bahia Camillo de Lellis Masson 1863 58 p

1863 - RUBIM Joaquim Frederico Kiappe da Costa Liccedilotildees histoacutericas e geographicas do Brasil extraiacutedas dos melhores autores Rio de Janeiro Typ de Pinheiro 1863 86 p

1863

(8 ed) 1879

FREITAS Joaquim Pedro Correcirca Noccedilotildees de Geographia e de Historia do Brazil para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria da proviacutencia do Paraacute 8 ed corr e aum Paraacute [s n] 1863 100 p

FREITAS Joaquim Pedro Correcirca Noccedilotildees de Geographia e de Historia do Brazil para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria da proviacutencia do Paraacute Paraacute [s n] 1879 100 p

1864 - SOUZA Thomas Pompeu Liccedilotildees de Geographia geral Rio de Janeiro Imprensa Oficial 1864

1865 - CASTRO Eduardo de Saacute Pereira de Postillas de Geographia astronoacutemica Rio de Janeiro Typographia Episcopal de Antonio Gonccedilalves Guimaratildees amp Cia 1865 91 p

1865

(8 ed) -

MONTEVERDE Emilio Achilles Manual encyclopedico para uzo das escolas drsquoinstrucccedilatildeo primaria Approvado pelo Conselho Geral DrsquoInstrucccedilatildeo Publica 8 ed Lisboa Imprensa Nacional 1865 702 p

1869 1874

PINTO Alfredo Moreira Elementos de Geographia moderna Rio de Janeiro [s n] 1869

PINTO Alfredo Moreira Elementos de Geographia moderna 2 ed consideravelmente augmentada Rio de Janeiro [s n] 1874

187-[] - FERREIRA Gustavo Adolpho Ramos Compendio de Geographia [s l] [s n] 187-[]

187- 1880

BITTENCOURT Joseacute Correia de Mello Elementos de Geographia physica contendo a descripccedilatildeo especial de cada paiz e organisados segundo o actual programma de exames geraes da instrucccedilatildeo publica Rio de Janeiro

[s n] 187- 128 p

BITTENCOURT Joseacute Correia de Mello Elementos de Geographia physica contendo a descripccedilatildeo especial de cada paiz e organisados segundo o actual programma de exames geraes da instrucccedilatildeo publica 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1880 128 p

187- - SANTOS Presalindo Lery Curso elementar de Geographia moderna Rio de Janeiro [s n] 187-

187- -

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia elementar ornada com gravuras obra approvada pelo conselho da instrucccedilatildeo publica da corte e mandada admittir pelo ministeacuterio da guerra na escola militar Rio de Janeiro [s n] 187-

1870 - SILVA Vasco de Araujo e Noccedilotildees de Geographia Porto Alegre [s n] 1870

1870 -

LACERDA Joaquim Maria de Tratado elementar de Geographia physica politica e astronocircmica composto para uso das escolas brasileiras Nov Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Livraria de B L Garnier 1870 352 p

1870

1880

1884

1887

1895

LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronomica com estampas coloridas para as classes inferiores da instrucccedilatildeo segundaria Rio de Janeiro H Laemmert amp Cia 1870 256 p

LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronomica compostos para uso das escolas brasileiras 2 ed Paris Typ Pillet et Dumoulin 1880 256 p

LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronocircmica 3 ed Rio de Janeiro Typographia do Commercio 1884 264 p

LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica commercial e astronomica compostos para uso das escolas brasileiras 4 ed Melhorada pelo autor e por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1887 264 p

LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronomica com estampas coloridas para as classes inferiores da instrucccedilatildeo segundaria Contendo 12 cartas geographicas 5 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1895 278 p

1871 -

SAacute Luiz de Franccedila Almeida e Compendio de Geographia da provincia do Paranaacute adaptado ao ensino da mocidade brazileira e acompanhado de cento e trinta notas instructivas Rio de Janeiro Typ Universal de E amp H Laemmert 1871 88 p

1873 - LEITE Dr Tobias Rabello Liccedilotildees de Geographia do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1873

1873 - LIMA Arcelino de Queiroz Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brazil Cearaacute [s n]

1873

1873 -

MACEDO Joaquim Manoel de Noccedilotildees de corographia do Brazil Rio de Janeiro Typ Franco-Americana 1873 233 p

MACEDO Joaquim Manoel de Noccedilotildees de corographia do Brazil Rio de Janeiro [s n] 1873 Tomo I 223 Tomo II 424 p

MACEDO Joaquim Manoel de Noccedilotildees de corographia do Brazil Traduccedilatildeo inglesa por H L Sage Leipzig F A Brocklaus 1873

MACEDO Joaquim Manoel de Notions de chorographie du Breacutesil Traduccedilatildeo francesa por J F Halbout Leipzig F A Brocklaus 1873

MACEDO Joaquim Manoel de Geographische Beschreibung Brasiliens von Joaquim Manoel de Macedo Uebersetzt von M P Alves Nogueira und Wilhelm Theodro v Schiefler Leipzig F A Brocklaus 1873 535 p

1873 - MAURY Tenente Geographia physica Traduccedilatildeo de L A da Costa Aguiar Rio de Janeiro Paris B L Garnier 1873 200 p

1874 1876

MARQUEZ Pilippe Pinto Compendio de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria seguido de brevissimas noccedilotildees do cosmographia physica e historia natural Paraacute Livraria Claacutessica 1874 134 p

MARQUEZ Pilippe Pinto Compendio de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria seguido de brevissimas noccedilotildees do cosmographia physica e historia natural 2 ed Paraacute Livraria Claacutessica 1876 132 p

1875 1878

PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes Elementos de Geographia universal geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infacircncia escolar da provincia de Pernambuco de conformidade com o programma da lei n 1143 art 33 sect 7ordm que rege a instruccedilatildeo na proviacutencia Recife Typographia Mercantil 1875 173 p

PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes Elementos de Geographia universal geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infacircncia escolar da provincia de Pernambuco de conformidade com o programma da lei n 1143 art 33 sect 7ordm que rege a instruccedilatildeo na proviacutencia Recife [s n] 1878 106 p

1876 1884

PEREIRA Jeronymo Sodreacute Compendio de Geographia elementar especialmente do imperio do Brazil Bahia Imprensa Econocircmica 1876

PEREIRA Jeronymo Sodreacute Compendio de Geographia elementar especialmente do Brazil 2 ed Bahia Lopes da Silva amp Amaral 1884

420 p

1876 -

ZALUAR Augusto Emilio Liccedilotildees das cousas inanimadas e animadas guia dos professores e das matildees que quizerem instruir-se para communicar a seus filhos uma grande somma de conhecimentos praticos principiando a explicar-lhes logo que comeccedilam a balbuciar as primeiras palavras o que eacute e para que serve tudo o que os rodeia Com vinhetas e desenhos Rio de Janeiro [s n] 1876

1877 - LOPES Luiza Carolina de Araujo Liccedilotildees de Geographia particular do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1877

1877 - PONTO de Geographia segundo o programa para os exames gerais em 1877 por um professor de Geographia Rio de Janeiro Typographia J G de Azevedo 1877 32 p

1877 -

MACEDO Joaquim Manoel de Liccedilotildees de Corographia do Brazil para uso dos alumnos do imperial Colleacutegio de Pedro II Rio de Janeiro B L Garnier 1877 294 p

1879 - PINTO Colimeacuterio Leite de Faria Compecircndio de Geographia do Brasil

18 Compilaccedilotildees 1879 Mimeo

188-[] -

BRAZIL Thomaz Pompeu de Souza (Filho) Liccedilotildees do Geographia geral Na opiniatildeo de um competente eacute o melhor trabalho sobre o assumpto escripto na liacutengua portugueza [S l] [s n] 188-[]

188-

1902

1904

1920

F I C [Frere Ignace Chaput] Terra illustrada Geographia universal physica etnographica politica economica dos cinco partes do mundo Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Livraria Garnier 188-

F I C [Frere Ignace Chaput] A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica das cinco Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Garnier 1902 651 p

F I C [Frere Ignace Chaput] A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica das cinco Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Garnier 1904 651 p

F I C [Frere Ignace Chaput] A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica politica e economica das cincos partes do Mundo Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Garnier 1920 644 p

188-

(2 ed) -

PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees de Geographia astronoacutemica 2 ed Rio de Janeiro [s n] 188-

188- - LEAL Domingos Theophilo de Carvalho Compendio de noccedilotildees de

18

Natildeo foi editado segundo Sacramento Blake

Geographia Manaus [s n] 188-

188- - OLIVEIRA L C de Geographia Bahia Tipografia de Affonso Ramos amp Cia 188-

188- -

LOPES Joatildeo Baptista Pires de Castro Geographia patria infantil Escripta em verso para uso das classes primarias [S l] [s n] 188-

188- -

PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes Compendio de Geographia da proviacutencia de Pernambuco 188- Mimeo Ineacutedito

1880 1882

GEIKIE Archibald Geographia Physica Trad e adapt de Carlos Jansen Rio de Janeiro Satildeo Paulo Laemmert amp Cia 1880 (Col Bibliotheca do ensino intuitivo Primeira serie de sciencias naturaes Opuacutesculos elementares adaptados ao portuguez 1)

GEIKIE Archibald Geographia Physica 2 ed correta e melhorada Trad e adapt de Carlos Jansen Rio de Janeiro Satildeo Paulo Laemmert amp Cia 1882 (Col Bibliotheca do ensino intuitivo Primeira serie de sciencias naturaes Opuacutesculos elementares adaptados ao portuguez 1)

1881

RIBEIRO Hilaacuterio Geographia do Rio Grande do Sul Porto Alegre Ed Carlos Pinto amp Cia 1880 50 p

RIBEIRO Hilaacuterio Geographia do Rio Grande do Sul 2 ed Porto Alegre Typografia da Livraria Americana 1881 58 p

1880

(2 ed)

1884

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1930

1932

1934

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 2 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1880 96 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 3 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1884 96 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 4 ed Melhorada com seis cartas coloridas das cinco partes do mundo sendo a ultima melhorada com seis cartas das cinco partes do mundo sendo a ultima um lindo mappa do Brazil Rio de Janeiro B L Garnier 1887 97 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 5 ed Corrigida e actualizada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1890 97 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia para uso das escolas primarias 6 ed Feita por L L Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1895 108 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 9 ed Corrigida e actualizada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1898 97 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da Infacircncia composta para uso das escolas primaacuterias Rio de Janeiro Francisco

Alves amp Cia 1908 126 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Francisco Alves amp Cia 1910 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1913 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Francisco Alves 1914 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1915 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1917 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1918 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Enriquecida com 8 bellas cartas coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1924 116 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da Infacircncia composta para uso das Escolas Primaacuterias Curso Primeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1928 p 128

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1930 128 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Enriquecida com 6 bellas cartas coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil Corrigida e actualizada por por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1932 128 p

LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Enriquecida com 6 bellas cartas coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil Corrigida e actualizada por por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1934 128 p

1880 -

ZALUAR Augusto Emilio Noccedilotildees elementares de Geographia compiladas para uso das escolas primarias Eacute escripto de accocircrdo com os pontos de Geographia que satildeo hoje preparatoacuterio para a matricula do primeiro anno do Collegio de Pedro II Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de N Alves 1880 123 p

1880 - UM PROFESSOR Elementos de Geographia Physica Compilado segundo os melhores autores por um professor Rio de Janeiro Typographia de Pinheiro amp Cia 1880 215 p

1881 1882

1897

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de cosmographia organisados etc Porto Alegre [s n] 1881 96 p

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de cosmographia organisados etc Porto Alegre [s n] 1882 108 p

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de cosmographia 3 ed Rio de Janeiro Cunha 1897 160 p

1881 1883

VEIGA Fernando Augusto da Silva Curso regimental ou livro do soldado organizado etc Segundo anno Comprehende a grammatica arithmetica geometria Geographia geral e noticia abreviada do imperio do Brazil e de sua constituiccedilatildeo Rio de Janeiro [s n] 1881 240 p

VEIGA Fernando Augusto da Silva Curso regimental ou livro do soldado organizado etc Segundo anno Comprehende a grammatica arithmetica geometria Geographia geral e noticia abreviada do imperio do Brazil e de sua constituiccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1883 240 p

1881 - PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees de Geographia universal Rio de Janeiro [s n] 1881

1881 - PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees elementares de Geographia do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1881

1881 1893

PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees elementares de corographia do Brazil para uso das escolas primarias Rio de Janeiro [s n] 1881

PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil Rudimentos Para as escolas primarias 2 ed ornada de tres cartas Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves e Cia 1893

1881 1891

1895

PINTO Alfredo Moreira Rudimentos de corographia do Brazil Para uso das escolas primarias Rio de Janeiro Paris Alves amp C Guillard Aillaud amp Cia 1881 16 p

PINTO Alfredo Moreira Rudimentos de Chorographia do Brazil 2 ed Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves 1891 16 p

PINTO Alfredo Moreira Rudimentos de Chorographia do Brazil 3 ed Rio de Janeiro Paris Alves amp C Guillard Aillaud amp Cia 1895 16 p

1882[] - DrsquoSAacute Lemos Elementos de Geographia [s l] [s n] 1882[]

1882 - SILVA Viriato Augusto da Corographia do Brasil Lisboa [s n] 1882

1883 - CARVALHO Joaquim Joseacute de Breves noccedilotildees de Geographia e corographia do Brazil Formuladas de accordo com o novo programma de exames geraes de

preparatorios Rio de Janeiro [s n] 1883 127 p

1883

1885

1889

190-[]

PINTO Alfredo Moreira Geographia das proviacutencias do Brazil Rio de Janeiro Livraria Nicolau Alves Alves amp Cia 1883 254 p

PINTO Alfredo Moreira Geographia das provincias do Brazil 2 ed Rio de Janeiro Livraria Nicolau Alves Alves amp Cia 1885 254 p

PINTO Alfredo Moreira Geographia das provincias do Brazil 3 ed Rio de Janeiro Livraria claacutessica de Alves amp Cia 1889 288 p

FREIRE [da Silva] Olavo Chorographia do Brasil (curso superior)19 4 ediccedilatildeo muito augmentada Adoptada na escola normal da capital federal no gymnasio nacional na escola normal do estado do Rio de Janeiro na de S Paulo etc [S l] [s n] 190-[]

1883 -

FRAZAtildeO Manoel Joseacute Pereira Noccedilotildees de Geographia do Brazil para uso da mocidade brazileira Rio de Janeiro Typ Esperanccedila de J dAguiar amp C 1883 198 p

1883 - CARVALHO FILHO Joaquim J Breves licccedilotildees de Geographia e corographia do Brasil [S l] [s n] 1883

1883 -

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Corografia do Brasil ndash Pontos escritos de Geographia Porto Alegre Editor Rodolpho Joseacute Machado 1883 78 p

1884 - AZURARA Joatildeo Joseacute Pereira de Pequena Geographia do Brazil Methodo intuitivo para uso dos alumnos do curso primaacuterio do Externato Azurara Santos Typ do Diaacuterio de Santos 1884 99 p

1884 -

VASCONCELLOS Ezequiel Benigno de Pontos de Geographia do Brazil segundo o novo programma para os exames geraes de preparatoacuterios Prova escripta Rio de Janeiro [s n] 1884

1884 -

NERY Raymundo Agostinho Noccedilotildees geraes de Geographia universal contendo particularmente a Geographia do imperio do Brazil e a da provincia do Amazonas acompanhadas de 17 figuras no texto Compendiadas por Raymundo A Nery Paris Guillard Ailtaud et Cia 1884

1884

(3 ed)

1887

1892

1895

1901

1902

1908

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 3 ed Rio de Janeiro H Laemmert amp Cia 1884 424 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas

19

Antigamente publicada com o titulo de Geographia das Proviacutencias do Brasil contendo uma carta geographica de cada Estado do Brasil desenhada por Olavo Freire texto pelo Dr Moreira Pinto obra premiada pelo juri de uma exposiccedilatildeo pedagoacutegica

1910

1911

1912

1914

1915

1918

brazileiras 5 ed Rev por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro H Laemmert amp Cia 1887 424 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 5 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1892 432 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 6 ed Rev por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Garnier 1895 420 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 7 ed Rio de Janeiro Garnier 1898 420 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Rio de Janeiro B L Garnier 1901 432 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Rio de Janeiro B L Garnier 1902 432 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Melhorada pelo Pe Joseacute Severiano de Rezende Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1908 532 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1910 554 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1911 554 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1912 556 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1914 556 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alvesamp Cia 1915 556 p

LACERDA Joaquim Maria de Curso Methodico de Geographia Physica Poliacutetica Historia Commercial e Astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por

Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1918 464 p

1884 - SANCTOS Affonso Joseacute dos Elementos de Cosmographia Rio de Janeiro Paris Garnier 1884 178 p

1885 -

CARVALHO Joaquim Joseacute de Noccedilotildees elementares de Geographia do Brasil Para uso dos alunnos do curso primario do colegio Amorim Carvalho e das escolas do corpo militar de policia da corte Rio de Janeiro [s n] 1885 74 p

1885 - BURGAIN Joseacute Julio Augusto Geographia patria elementar Rio de Janeiro B L Garnier 1885 110 p

1885 -

PALHA Joseacute Egydio Garcez LAMARE Joseacute Victor de Livro do aprendiz marinheiro Mandado confeccionar por ordem etc de accordo com o art 15 do regulamento que baixou com o decreto n 9371 de 14 de fevereiro de 1885 O primeiro volume sob o tiacutetulo Ensino elementar contam Leitura Grammatica portugueza Doutrina cristatilde Desenho linear Mappas regimentaes Noccedilotildees de Geographia Elementos de arithmetica e principios de systema meacutetrico decimal O segundo sob o titulo Ensino profissional abrange Apparelhos e nomenclatura do todas as peccedilas de architectura dos navios Nomenclatura das armas de fogocomprehendendo artilharia ou canhotildees Whitworth Armstrong Nordenfeldt e Hotchkiss armas portaacuteteis ou carabinas Westley Richard e Kropatscbeck e revolver Nagant carretas da compressor de laminas e de compressor hydraulico Instrucccedilotildees para o exerciacutecio de infantaria Rosas dos ventos e rumos de agulha Noccedilotildees sobre sondas Nomenclatura das machinas aacute vapor Este livro eacute intercallado de figuras no texto eacute um compendio completo para o marinheiro ser instruido Rio de Janeiro [s n] 1885 246 p (v 1) 1889 259 p (v 2)

1886

1890

1896

1901

1906

VILLA-LOBOS Raul Compendio elementar de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Typographia MontrsquoAlverne 1886 168 p 165 p

VILLA-LOBOS Raul Compendio elementar de chorographia do Brasil 2 ed Rio de Janeiro Typographia MontrsquoAlverne 1890 168 p

VILLA-LOBOS Raul Compendio elementar de chorographia do Brasil 3 ed Rio de Janeiro 1896 244 p

VILLA-LOBOS Raul Chorographia do Brasil resumo didactico 5 ed Corr e aumentada Rio de Janeiro Laemmert amp C Editores 1901 234 p

VILLA-LOBOS Raul Chorographia do Brasil resumo didactico 6 ed Rio de Janeiro Laemmert amp C Editores 1906 234 p

1886 -

CALKINS N A Primeiras liccedilotildees de coisas Traduzido e Adaptado por Rui Barbosa Rio de Janeiro Imprensa Nacional 1886 616 p

1887 - ARNOSO Joatildeo [Pedro Moreira] Elementos de chorographia do Brazil Compilados de accocircrdo com o ultimo programma para os exames geraes Maranhatildeo [s n] 1887 136 p

1887 -

LACERDA Joaquim Maria de Resumo de chorographia do Brazil Revisto augmentado e adaptado ao novo programma de exames por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1887 134 p

1887 -

CUNHA Raymundo Cyriaco da Pequena Geographia da provincia do Paraacute Paraacute Typographia do Diaacuterio de Beleacutem 1887 85 p

1887 1893

1906

PINTO Alfredo Moreira Curso de Geographia geral Rio de Janeiro Livraria Classica de Alves amp C 1887 222 p

PINTO Alfredo Moreira Curso de Geographia geral 2 ed Rio de Janeiro Livraria Classica de Alves amp C 1893 256 p

PINTO Alfredo Moreira Geographia geral curso superior 6 ed Rio de Janeiro Livraria Classica de Alves amp C 1906 316 p

1888 - BASTOS Lindolpho de Siqueira Noccedilotildees elementares de Geographia geral e do Brazil Especialmente da proviacutencia do Paranaacute compiladas para uso das escolas da daquela proviacutencia Rio de Janeiro [s n] 1888

1888 - CAVALCANTI Joseacute Pompeu de A Chorographia da provincia do Cearaacute Rio de Janeiro Imprensa Nacional 1888 317 p

1888 - ENEacuteIAS Joatildeo de Simas Epiacutetome da Geographia do Brazil Destinado ao ensino primaacuterio Rio de janeiro [s n] 1888 99 p

1889 - NOGUEIRA Manoel Tomaz Alves Compendio de Geographia e chronographia do Brasil acompanhado de tres mappas e de um indice alphabetico Leipzig F A Brockhaus 1889 234 p

189- - MAYA Elesbatildeo Alves Elementos de Geographia do Brazil [S l] [s n] 189-

189- - PINTO Alfredo Moreira Pontos de Geographia organisados etc Rio de Janeiro [s n] 189-

189-[] - CARVALHO Goeth Galvatildeo de Licccedilotildees elementares de Geographia Especialmente do Amazonas [S l] [s n] 189-[]

189-[] - CARVALHO Goeth Galvatildeo de Geographia do Amazonas [S l] [s n] 189-[]

1890[] 1894

VILLA-LOBOS Raul Noccedilotildees de cosmographia ou rudimentos desta sciencia ao alcance de todos e indispensaacuteveis aos candidatos desta disciplina aos exames geraes de preparatorios Rio de Janeiro Laemmert amp C Editores 1890[]

VILLA-LOBOS Raul Noccedilotildees de cosmographia Com gravuras 2 ed Rio de Janeiro Laemmert 1894

1891 - ESPIacuteRITO SANTO E R T Noccedilotildees geographicas e historicas do estado de Pernambuco Compendio Adoptado pelo Conselho litterario

(6 ed) para uso das Escolas Primaacuterias do Estado de Pernambuco 6 ed Recife Typographia drsquoA Proviacutencia 1891 48 p

1892

1893

1895

1896

1904

1907

1909

AMARAL Tancredo [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias Adoptado unanimemente pelo Conselho superior da instrucccedilatildeo publica de S Paulo e adoptado nas escolas Rio de Janeiro Francisco Alves 1892 78 p

AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 2 ed cor e aum Rio de Janeiro Francisco Alves 1893 213 p

AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 4 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1895 213 p

AMARAL Tancredo [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias Adoptado unanimemente pelo Conselho superior da instrucccedilatildeo publica de S Paulo e adoptado nas escolas 5 ed revista e augmentada com 28 artigos Rio de Janeiro Francisco Alves 1896 213 p

AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 8 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1904 213 p

AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 10 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1907 213 p

AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 11 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1909 210 p

1892

1895

1900

190-

NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias Rio de Janeiro Francisco Alves 1892 164 p

NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias 3 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1895 162 p

NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1900 164 p

NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias 12 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 190- 164 p

1892 1898

1911

REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorografia e historia do Brasil Especialmente do Estado da Bahia Bahia Wilcke Picard amp C 1892

REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorografia e historia do Brasil Especialmente do Estado da Bahia 2 ed Bahia Wilcke Picard amp C 1898

REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorografia e historia do Brasil Especialmente do Estado da Bahia Approvada pelo Conselho Superior de Ensino do mesmo Estado 3 ed Bahia Typographia Reis e Cia 1911 415 p

1892 1895 PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil Para uso dos

(4 ed) 1900

1909

gymnasios e escolas normaes 4 ed Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves amp Cia 1892 227 p

PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Paris Alves amp C Guillard Aillaud amp Cia 1895 272 p

PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1900 272 p

PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil Para uso dos gymnasios e escolas normaes 10 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1909 272 p

1893 - MELO Carlos Elementos de Geographia geral [S l] [s n] 1893

1893

(2 ed) -

COURTURIER Monsenhor C Geographia-Atlas Contendo oito mappas seguida drsquoum ligeiro esboccedilo chronologico da historia do Brazil e de algumas noccedilotildees de cosmographia dedicado aacute infacircncia 2 ed muito melhorada pelo Dr Moreira Pinto Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves e Cia 1893

1894 - BRAZIL Thomaz Pompeu de Souza (Filho) Liccedilotildees de Geographia do Cearaacute Fortaleza [s n] 1894

1894 1898

CUNHA Raimundo Ciriacuteaco Alves da Geographia especial do Paraacute Approvada para uso das escolas primarias Paraacute Typographia e Encadernaccedilatildeo da V Travessa 1894 89 p

CUNHA Raimundo Ciriacuteaco Alves da Geographia especial do Paraacute 2 ed Paraacute Typographia e Encadernaccedilatildeo da V Travessa 1898 89 p

1894

(3 ed) -

PINTO Alfredo Moreira Elementos de cosmographia 3 ed Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves 1894 90 p

1895 1907

ARAUJO Francisco Lentz Geographia do estado de Minas Geraes seguida de noccedilotildees de historia do mesmo estado Rio de Janeiro Francisco Alves 1895 78 p

ARAUJO Francisco Lentz Geographia do estado de Minas Geraes Rio de Janeiro Editores Paes amp Cia 1907

1895

(3 ed) -

ODILON Odorico Octavio Elementos de Geographia moderna 3 ed Bahia [s n] 1895 117 p

1895 - RAMOS Antonio Manuel dos Compendio de Geographia Porto Livraria Portuense de Lopes 1895 324 p

1896

(5 ed) 1910

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de chorographia do Brasil 5 ed Ampliada e mais correcta segundo o programma do Gymnasio Nacional Porto Alegre Livraria Rodolpho Joseacute Machado 1896 232 p

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de chorographia do Brasil 8 ed Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1910 221 p

1897 - LISBOA Luiacutes Carlos da Silva Chorographia do estado de Sergipe

Aprovada pelo Conselho Superior de Instruccedilatildeo e mandada adotar nas escolas puacuteblicas Aracaju SE Imprensa Oficial 1897

1897 1898

SALLABERRY Carlos Jorge Licccedilotildees de Geographia geral Geographia especial Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1897

SALLABERRY Carlos Jorge Licccedilotildees de Geographia Geral 2ordf parte Geographia Especial Rio de Janeiro Livraria Cruz Coutinho 1898 413 p

1898

(100 ed) -

GUIMARAtildeES J Pinto O Rio Grande do Sul para as escolas 100 ed Pelotas Carlos Pinto 1898

1898 1909

1910

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia do Estado do Rio Grande do Sul Porto Alegre Liv Franco amp Irmatildeo 1898 95 p

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia do Estado do Rio Grande do Sul 4 Ed Porto Alegre Liv Globo 1909 103 p

MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia do Estado do Rio Grande do Sul Approvada pelo Conselho Escolar e Adoptada Para as Aulas Publicas do Estado 5 ed Porto Alegre Globo 1910 103 p

1898 - MAGALHAtildeES Basilio de Liccedilotildees de Geographia geral Satildeo Paulo Typographia Aurora 1898 120 p

1901

1910

1924

1928

ARAUacuteJO Elysio de Geographia elementar Rio de Janeiro Francisco Alves 1901 107 p

ARAUacuteJO Elysio de Geographia elementar Approvada unanimamente pelo Conselho Superior de Instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal 4 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1910 140 p

ARAUacuteJO Elysio de Geographia elementar Rio de Janeiro Francisco Alves 1924 107 p

ARAUJO Elysio Geographia elementar 7 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1928 201 p

1901

(4 ed)

VILLA-LOBOS Raul Chorographia do Brazil Resumo Didactico 4 Ed Rio de Janeiro Laemmert amp C 1901 245 p

1901 1909

1925

THIREacute Arthur Geographia elementar Compediada para uso das escolas primarias Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1901 164 p

THIREacute Arthur Geographia elementar Compediada para uso das escolas primarias 10 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1909 164 p

THIREacute Arthur Geographia elementar Compediada para uso das escolas primarias 17 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1925 173 p

1901 - FERREIRA Justo Jansen Fragmentos para a Chorographia do Maranhatildeo Maranhatildeo Typ A P Ramos drsquoAlmeida amp Cia 1901 107 p

1905 - ALI Manuel Said Compendio de Geographia elementar Rio de Janeiro Satildeo Paulo Laemmert amp C Editores 1905 161 p

1905

1912

1922

1924

SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia Geral Rio de Janeiro Francisco Alves amp Cia 1905 390 p

SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia Geral 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves amp Cia 1912 396 p

SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia geral 8 ed Rio de Janeiro Paulo Azevedo 1922 555 p

SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia geral 9 ed Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1924 100 p

1906 - PINTO Alfredo Moreira Geographia Geral curso superior 6 ed correcta augmentada principalmente na parte economica Rio de Janeiro Livraria Classica de Francisco Alves 1906 316 p

1907 - BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de Geographia geral De accordo com o programma do Gymmasio Nacional e da Escola Normal Rio de Janeiro Livraria da Viuacuteva Azevedo e Cia 1907 180 p

1907 -

SANTOS Francisco Agenor de Noronha Chorographia do Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro) Approvada e adaptada pelo Conselho Superior de Instrucccedilatildeo Ed consideravelmente melhorada contendo minucioso mappa de Olavo Freire Rio de Janeiro B de Aguila 1907 414 p

1907 - FTD Novo manual de Geographia para uso das escolas primarias Curso elementar Satildeo Paulo FTD 1907 48 p

1908

1911

1917

1921

1927

SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma dos gymnasios Satildeo Paulo Duprat 1908 450 p

SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma dos gymnasios 2 ed Satildeo Paulo Casa Duprat 1911 450 p

SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma do Collegio D Pedro II 3 ed Satildeo Paulo Casa Duprat 1917 456 p

SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Satildeo Paulo Casa Duprat 1921

SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma do Collegio Pedro II 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 450 p

1908

1910

1929

1923

1931

NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria organizada segundo o Programa dos Gymnasios Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1908 643 p

NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria Organizada segundo o Programma dos gymnasios dos lyceus e das escolas normaes 2 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1910 643 p

NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria Organizada segundo o

programa dos gymnasios 4 ed Rio de Janeiro Liv Francisco Alves 1923 547 p

NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria Organizada segundo o programma dos Gymnasios dos Lyceus e das Escolas Normaes do Brasil 11 ed revista e actualizada Rio de Janeiro Francisco Alves 1929 547 p

NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria 13 ed revista e actualizada Rio de Janeiro Francisco Alves 1931 547 p

1908 1909

1914

SAVIO Themistocles Curso Elementar de Geographia Rio de Janeiro Orosco Impressores 1908 583 p

SAVIO Themistocles Curso elementar de Geographia 2 ed Rio de Janeiro Heitor Ribeiro amp Cia 1909 433 p

SAVIO Themistocles Curso elementar de Geographia 3 ed Rio de Janeiro Francisco Alves e Cia 1914 596 p

1909

1910

1911

1914

1916

1918

1919

1925

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional Rio de Janeiro Francisco Alves 1909 298 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 2 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1910 298 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 3 ed rev e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1911 386 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 4 ed rev e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1914 386 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil Compendio de corographia do brasil de accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 5 ed revista e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1916 386 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 6 ed rev e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves 1918 386 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compecircndio de Corographia do Brasil 7 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1919 386 p

BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil Compendio de corographia do brasil de accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional Rio de Janeiro Francisco Alves 1925 386 p

191- - F I C [Frere Ignace Chaput] Elementos de cosmographia por F I C Revistos e adaptados as escolas de instrucccedilatildeo secundaria do Brazil pelo Eugenio de Barros Raja Gabaglia 191- Rio de Janeiro Garnier 228 p

1911 1929

1931

LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul Porto Alegre Officinas Graphicas da Escola 1911

1935

1939

LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul Porto Alegre Livraria do Globo 1929 143 p

LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul Porto Alegre Livraria do Globo 1931 165 p

LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul 7 ed Porto Alegre Livraria do Globo 1935 165 p

LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul 8 ed Porto Alegre Livraria do Globo 1939 165 p

1911 - LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia do Rio Grande do Sul Brasil e globo terrestre Porto Alegre Officinas Graphicas da Escola de Engenharia 1911 124 p

1911 1913

PARANAacute Sebastiatildeo Estados da Repuacuteblica para estudo nos Gymnasios e nas Escolas Normaes Curitiba Buzetti Mori amp Filhos 1911 487 p

PARANAacute Sebastiatildeo Estados da Repuacuteblica para estudo nos Gymnasios e nas Escolas Normaes 2 ed Curitiba Leopoldino Rocha 1913 502 p

1912 -

GEOGRAPHIA - atlas do Brasil e das Cinco Partes do Mundo conforme o ldquoAtlas do Brasilrdquo do Baratildeo Homem de Mello e Dr F Homem de Mello e os melhores auctores para a ldquoparte geralrdquo Proacutelogo do Dr Francisco Cabrita Rio de Janeiro F Briguiet 1912 99 p

1912 1923

1925

NOVAES Carlos Geographia especial ou chorographia do Brazil Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1912

NOVAES Carlos Geographia especial ou corographia do Brazil 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1923 328 p

NOVAES Carlos Geographia especial ou corographia do Brazil 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1925 330 p

1913

1923

1927

1927

1928

1930

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Tomo I Geographia Geral Prefacio do Dr Oliveira Lima Rio de Janeiro Impressotildees Artiacutesticas Empresa Foto-Mecacircnica do Brasil 1913 253 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Tomo I De acordo com o programa do Coleacutegio Pedro II de 1923 (livro indicado pelo programa) Rio de Janeiro Empresa Graacutephico-Editora 1923

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Tomo I 3 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 235 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Volume II Livro adoptado no Collegio Pedro II Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 p 239-516 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil 4 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1928 512 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1930 481 p

1913 - LEME Ezequiel de Moraes Curso de Geographia Geral Pirassununga Typographia Minerva 1913 189 p

1913 1924

FTD Geographia - Atlas curso superior Programma do primeiro anno do Gymnasio Nacional Satildeo Paulo FTD 1913 118 p

FTD Geographia - Atlas curso superior Satildeo Paulo FTD 1924 118 p

1914 - ALBUQUERQUE FILHO M Geographia elementar para as escolas primarias Recife Imprensa Industrial 1914 233 p

1914 - FTD Curso Elementar de Geographia para uso das Escolas Primaacuterias Rio de Janeiro Francisco Alves 1914 48 p

1914 - FTD Geographia Curso medio comprehendendo 1deg Chorographia do Brazil 2deg Geographia universal Rio de Janeiro Francisco Alves 1914 71 p

1915[]

1924

1927

1933

1941

LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar Porto Alegre Selbach amp Mayer 1915[]

LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar 11 ed Porto Alegre Globo 1924 244 p

LOBO Joseacute Theodoro de Souza zGeographia elementar Adoptado nas aulas publicas do Estado do Rio Grande do Sul 12ordf ed correcta e augmentada Porto Alegre Livraria do Globo 1927 247 p

LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar 14 ed Porto Alegre Liv do Globo 1933 214 p

LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar 17 ed Porto Alegre Globo 1941 212 p

1915

(5 ed)

1918

1927

SCROSOPPI Horacio Curso superior de Geographia geral 5 ed Rio de Janeiro Paris Francisco Alves amp Cia Aillaud Alves amp Cia 1915 555 p

SCROSOPPI Horacio Curso superior de Geographia geral 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1918 571 p

SCROSOPPI Horacio Curso superior de Geographia geral 10 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 571 p

1915

(5 ed)

1921

1923

1927

SCROSOPPI Horacio Geographia geral 5 ed Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1915 553 p

SCROSOPPI Horacio Geographia geral Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1921 553 p

SCROSOPPI Horacio Geographia geral Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1923 553 p

SCROSOPPI Horacio Geographia geral Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1927 556 p

1916

1920

1921

1924

1925

1927

1931

CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Brasil Rio de Janeiro Editora Paulo de Azevedo 1916

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1920 373 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1921 363 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1924 363 p

1933

1934

1936

1937

1938

1940

1941

1942

1947

1953

1957

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de Chorographia do Brasil 10 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1925 556 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1926 363 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1927 633 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 17 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1931 633 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 20 ed 228 mileiro Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1933 613 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 21 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 757 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1936 633 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1937 633 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1938 650 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1940 631 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 26 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1941 631 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 27 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1942 635 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de corografia do Brasil 28 ed Rio de Janeiro A Noite 1947 640 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Corografia do Brasil 30 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1953 826 p

Cabral Maacuterio da Veiga Corografia do Brasil 31 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1957 826 p

1917 1924

1942

GOacuteES Carlos Pontos de Geographia para o Estado de Minas 2ordm 3ordm e 4ordm anno primaacuterio Bello Horizonte Imprensa Official de Minas 1917 128 p

GOacuteES Carlos Pontos de Geographia 2ordm 3ordm e 4ordm anno primaacuterio 2 ed Bello Horizonte Imprensa Official de Minas 1924 128 p

GOacuteES Carlos Pontos de Geographia 2ordm 3ordm e 4ordm anos primaacuterios 8 ed Rio de Janeiro P de Azevedo 145 p

1918 -

GOacuteES Carlos Pontos de Geographia De acordo com a ultima Refoacuterma do Ensino em Minas e o Novo Programma Official (Decreto n 4930 de 6 de fevereiro de 1918) 2ordm 3ordm e 4ordm anno primaacuterio Para uso dos Grupos Escolares e Escolas Singulares Bello Horizonte Imprensa Official de Minas 1918 203 p

1918

(2 ed) -

REIS O de Souza Manual de Geographia elementar e noccedilotildees rudimentares de physiographia para uso das classes superiores das escolas primaacuterias e princiacutepios do ensino secundaacuterio 2 ed Rio de Janeiro Ed do Autor 1918 119 p

1919 - LISBOA Coelho BRASIL Etienne Cosmographia De conformidade com o programa dos exames gymnasiaes Rio de Janeiro Leite Ribeiro

amp Maurillom 1919 113 p

1919 1926

MARTINS Ameacutelia de Rezende Geographia elementar Com gravuras e oito mappas coloridos Satildeo Paulo Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1919 79 p

MARTINS Ameacutelia de Rezende Geographia elementar Com gravuras e oito mappas coloridos Approvada e adoptada pela instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal 11ordm milheiro Satildeo Paulo Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1926 79 p

1920 - REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorographia do Brasil Bahia [s n] 1920

1920 - SCHWALBACH Lucci L Compendio de Geographia [S l] [s n] 1920

1920

(5 ed)

1921

1922

LEME Ezequiel de Moraes Elementos de Cosmographia e Geographia geral 5 ed Satildeo Paulo Melhoramentos 1920 215 p

LEME Ezequiel de Moraes Elementos de Cosmographia e Geographia geral 6 ed Satildeo Paulo Nacional 1921 216 p

LEME Ezequiel de Moraes Elementos de Cosmographia e Geographia geral 7 ed Satildeo Paulo Nacional 1922 210 p

1921 - OLIVEIRA J Monteiro F de Geographia geral Rio de Janeiro [s n] 1921 446 p

1921

(2 ed) -

REIS O de Souza Chorographia do Districto Federal Manual de Geographia das escolas primarias Curso Complementar 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1921 151 p

1921 - PORTUGAL A Geo-Atlas curso complementar de Geographia Nicteroy Escola Typ Salesiana 1921 88 p

1921 1925

FREIRE [da Silva] Olavo Geographia Geral Compendio destinado agraves escolas normaes lyceus gymnasios atheneus e coleacutegios militares Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1921 503 p

FREIRE [da Silva] Olavo Geographia geral Compendio Destinado agraves Escolas Normaes Lyceus Gymnasios Atheneus e Colleacutegios Militares 2 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1925 462 p

1922[] - FTD Curso de Cosmographia elementar Programma oficial completo Rio de Janeiro Livraria Paulo de Azevedo e Cia 1922[]

1922[] - FTD Geographia Livro I texto soacute sem mappas programma do 1ordm anno do Coleacutegio Dom Pedro II Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Paulo de Azevedo e Cia 1922[]

1922 -

FTD Chorographia do Brasil segundo os programas officiaes Texto com 35 mappas pretos Segundo os programas oficiaes Rio de Janeiro Paulo de Azevedo 1922 383 p (Col Nova Coleccedilatildeo FTD de Livros Didacticos)

1922 - MILANO Miguel Geographia physica para uso do primeiro anno meacutedio Satildeo Paulo Matano 1922 119 p

1922 1924 XAVIER Lindolpho Geographia commercial Rio de Janeiro Jacintho

1929 Ribeiro dos Santos 1922 555 p

XAVIER Lindolpho Geographia commercial 2 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1924 765 p

XAVIER Lindolpho Geographia commercial 11ordf ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1929 667 p

1923 - FTD Geographia atlas curso elementar Rio de Janeiro Livraria Paulo de Azevedo amp C 1923

1923

(3 ed) -

FTD Geographia Curso elementar 3 ed Satildeo Paulo FTD 1923 110 p

1923 - FTD Geographia Ediccedilatildeo texto soacute para escolas primaacuterias (Admissatildeo ao curso gymnasial) 25 mappas pretos Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Paulo de Azevedo e Cia FTD 1923

1923 1925

CABRAL Maacuterio da Veiga A Europa actual Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1923 363 p

CABRAL Maacuterio da Veiga A Europa actual Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1925 363 p

1923 1924

1940

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia elementar Satildeo Paulo Cia Melhoramentos 1923 328 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia elementar Rio de Janeiro Weizflog Irmatildeo Incorp 1924

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia elementar Satildeo Paulo Melhoramentos 1940

1923

(2 ed)

1927

1930

1949

1963

1967

CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Districto Federal Para uso das escola publicas municipaes 2 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1923 104 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Districto Federal Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1927 82 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Districto Federal Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1930 182 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Corografia do Distrito Federal 8 ed Rio de Janeiro A Noite 1949 304 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia do Estado da Guanabara20

3 ed Rio de Janeiro Graacutefica Ed Livros SA 1963 160 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia do Estado da Guanabara 8 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1967 128 p

1923 - PAUWELS G Apontamentos de Chorographia Porto Alegre Typographia do Centro 1923

20

ldquoCom a transformaccedilatildeo do antigo Distrito Federal em Estado da Guanabara ficou a terra carioca sem um manual por onde se pudesse estudar a sua geografia Para atender a esta lacuna elaboramos a Geografia do Estado da Guanabara crente de que os habitantes desta maravilhosa cidade-Estado principalmente os aqui nascidos hatildeo de dar o devido apreccedilo ao nosso esforccedilo e boa vontaderdquo (CABRAL 1963)

1923 - PEDROSO T Pontos de Geographia Satildeo Sebastiatildeo do Paraiacuteso Casa Prado 1923 22 p

1924 - CABRAL Maacuterio da Veiga Nossa paacutetria Noccedilotildees de chorographia do Brasil para uso das escolas Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1924

1924 - UMA PROFESSORA PRIMAacuteRIA [Pseud] Noccedilotildees preliminares de Geographia Colligidas por uma professora primaria Campos Ed da Casa ldquoA Penna de Bronzerdquo 1924 51 p

1925 - FREIRE [da Silva] Olavo Chorographia do Brasil Satildeo Paulo Monteiro Lobato 1925 607 p

1925 1928

1930

GAMA L D Pontos de Geographia Rio de Janeiro Typographia Barreto Vianna 1925 64 p

GAMA L D Pontos de Geographia 2 ed atualizada Rio de Janeiro Imprensa Naval 1928 110 p

GAMA L D Praacuteticas de Geographia 3 ed Rio de Janeiro Livraria Paulo de Azevedo 1930 225 p

1925 1929

1944

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia primaria Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1925 212 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia primaria Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1929 240 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia primaacuteria 12 ed Rio Janeiro A Noite 1944 242 p

1925

1932

1933

1936

FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia para o curso secundario Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1925 436 p

FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia para o curso secundario 10 ed Rio de Janeiro H Antunes 1932 466 p

FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia para o curso secundario 13 ed Rio de Janeiro H Antunes 1933 479 p

FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia Rio de Janeiro Graphica Sauer 1936

1926 -

GABAGLIA Raja RIBEIRO Joatildeo Exame de admissatildeo para os gymnasios Portuguez Historia do Brazil Geographia Arithmetica Geometria Pratica Appendice Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1926[]

1926 -

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Chorographia do Districto Federal Approvada e adoptada pela Directoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal Rio de Janeiro Francisco Alves 1926 177 p

1926 1930

LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia II Parte Brasil Globo Terrestre Porto Alegre Globo 1926 228 p

LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia II Parte Brasil Globo Terrestre Porto Alegre Globo 1930 228 p

1926[] - NOVAES Carlos Curso de Geographia geral Rio de Janeiro Francisco Alves 1926[]

1928 - DUQUE-ESTRADA Osoacuterio Chorographia do Brasil Para uso das escolas primarias (Classe complementar) Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1928

1929

(7 ed)

1931

1934

1943

CABRAL Mario da Veiga Curso de Geographia geral 7 ed Rio de Janeiro J R dos Santos 1929 711 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Curso de Geographia geral Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1931 724 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Curso de Geographia geral 11 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 757 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Curso de Geographia geral 16 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1943 737 p

193- 1935

PIMENTEL JUNIOR F Menezes Geographia dos principais paises 4ordf seacuterie Satildeo Paulo Ediccedilotildees Rio Branco 193-

PIMENTEL JUNIOR F Menezes Geographia dos principais paises para a 4ordf seacuterie do curso ginasial e normal Rio de Janeiro J R de Oliveira amp Cia 1935 259 p

193- - PIMENTEL JUNIOR F Menezes Geographia geral dos continentes 2ordm ano 2 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Rio Branco 193-

1930 - MARTINS Ameacutelia de Rezende 40 pontos de Geographia Segundo o programa official Rio de Janeiro Laemmert 1930 175 p

1930 - GABAGLIA Raja Praticas de Geographia Para uso do Collegio Pedro II e no ensino secundaacuterio e normal Rio de Janeiro Francisco Alves 1930 216 p

1930 - LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia III Parte Globo Terrestre Porto Alegre Globo 1930 190 p

1931 1936

LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Cosmographia De acordo com o programa da escola normal e escolas complementares Porto Alegre Barcellos Bertaso amp Cia 1931 170 p

LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Cosmographia De acordo com o programa da escola normal e escolas complementares 2 ed Porto Alegre Globo 1936 170 p

1931

(2 ed)

1932

1939

1942

CABRAL Maacuterio da Veiga Primeiro anno de Geographia De acordo como o programa de ensino secundaacuterio 2 ed Rio de Janeiro Livraria de Jacintho 1931 406 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia Primeiro anno Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1932 386 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Primeiro ano de Geographia 14 ed Rio de Janeiro Livraria Jacinto 1939

CABRAL Maacuterio da Veiga Primeiro anno de Geographia De acordo com o programa de ensino secundaacuterio 16 ed Rio de janeiro Livraria Jacintho 1942 303 p

1931 1932 CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1931 381 p

1934

1959

CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia 2 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1932 381 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 381 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1959 387 p

1931 - ALMEIDA Antonio Figueira de Noccedilotildees de physiografia Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1931 148 p

1931 1936

CUNHA M P Geographia geral a Terra e sua evoluccedilatildeo Para o curso secundaacuterio Rio de Janeiro Tip Esporte 1931 304 p

CUNHA M P Geographia geral a Terra e sua evoluccedilatildeo 1ordm ano rigorosamente de acordo com o programa dos coleacutegios militares 4 ed Rio de Janeiro Liv Francisco Alves 1936 475 p

1932 - ELLIS JUNIOR Alfredo Noccedilotildees elementares de Geographia superior e estatistica Satildeo Paulo Livraria Acadecircmica 1932 281 p

1932 193-

PIMENTEL JUNIOR F Menezes Liccedilotildees de Geographia physica 1 ano Curso secundaacuterio Rio de Janeiro J R de Oliveira amp Cia 1932 247 p

PIMENTEL JUNIOR F Menezes Liccedilotildees de Geographia physica 3 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Rio Branco 193-

1932

(2 ed) -

PIMENTEL JUNIOR F Menezes Liccedilotildees de Geographia fiacutesica 2 ed Rio de Janeiro Ed de J R de Oliveira amp Cia 1932

1932 - MILANO Miguel Geographia geral astronocircmica fiacutesica poliacutetica e econocircmica curso secundaacuterio Satildeo Paulo Typ Siqueira 1932 488 p

1932 - PEREIRA J V C VARZEA S Geographia curso secundaacuterio 1ordf seacuterie Rio de Janeiro Ediccedilotildees Alba 1932 549 p

1932

(26 ed) 1937

FREITAS Gaspar de Pontos de Geographia e historia do Brasil para uso de todas as classes primarias 26 ed Rio de Janeiro J O Antunes amp Cia 1932 164 p

FREITAS Gaspar de Pontos de Geographia e historia do Brasil para uso de todas as classes primarias 27 ed Rio de Janeiro Graphica Sauer 1937 190 p

1933

(2 ed) -

SCHIRADER Pe Godofredo S J Compendio de Cosmographia e Geographia geral para o 5ordm ano ginasial 2 ed Porto Alegre Livraria Globo 1933 266 p

1933 - GABAGLIA F A Raja Leituras geograacuteficas Para o ensino secundaacuterio Rio de Janeiro Fernando Briguiet amp Cia 1933

1933

1935

1938

1967

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia humana poliacutetica e econocircmica Satildeo Paulo Editora Nacional 1933 260 p

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia humana politica e economica 2 ed Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1935 358 p Vol 40

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia humana politica e economica 3 ed Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1938 358 p

Vol 40

CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia humana poliacutetica e econocircmica Rio de Janeiro Conselho Nacional de Geographia 1967

1933 1934

1936

JARDIM Renato Geographia da crianccedila Satildeo Paulo Comp Melhoramentos 1933 199 p

JARDIM Renato Geographia da crianccedila 2 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1934 199 p

JARDIM Renato Geographia da crianccedila 5 ed Satildeo Paulo Cia Melhoramentos 1936 199 p

1933 - LIMA Affonso Guerreiro Geographia secundaacuteria 1ordf seacuterie Porto Alegre Liv do Globo 1933 242 p

1933 - LIMA Affonso Guerreiro Geographia secundaacuteria 2ordf seacuterie Porto Alegre Liv do Globo 1933 321 p

1933 - LIMA Affonso Guerreiro Geographia secundaacuteria 3ordf seacuterie Porto Alegre Liv do Globo 1933 207 p

1933 - LIMA Affonso Guerreiro Geographia secundaacuteria 4ordf seacuterie Porto Alegre Liv do Globo 1933 372 p

1933

(3 ed)

1934

1935

CABRAL Maacuterio da Veiga Terceiro anno de Geographia De acordo com o actual programa de ensino secundaacuterio 3 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1933 336 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Terceiro anno de Geographia 3 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 304 p

CABRAL Maacuterio da Veiga Terceiro anno de Geographia De accocircrdo com o actual programma de ensino secundaacuterio 4 ed Rio de Janeiro Bedeschi 1935

1934 - ELLIS JUNIOR Alfredo Geographia 3ordf seacuterie de acordo com o programa do Coleacutegio D Pedro II Satildeo Paulo Liv Acadecircmica 1934 280 p

1934 - ELLIS JUNIOR Alfredo Geographia 4ordf seacuterie de acordo com o programa do Coleacutegio D Pedro II Satildeo Paulo Liv Acadecircmica 1934 409 p

1934 1943

AZEVEDO Aroldo de Geographia geral para a primeira serie ginasial Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1934

AZEVEDO Aroldo de Geographia geral 1ordf seacuterie ginasial 2 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1943 356 p

1934 - JARDIM Renato Elementos de Geographia geral Para a 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1934 226 p

1934 - AZEVEDO Aroldo de Geographia humana Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1934

1935 - CABRAL Maacuterio da Veiga Quinto anno de Geographia De accocircrdo com o actual programma de ensino secundario Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1935 416 p

1935 - ELLIS JUNIOR Alfredo Geographia 1ordf seacuterie de acordo com o programa do Coleacutegio D Pedro II Satildeo Paulo Liv Saraiva 1935 336 p

1935 - MILANO Miguel Paacutetria e amor para infacircncia e adolescecircncia Officialmente approvado e adoptado nos Estados de Satildeo Paulo Amazonas Paranaacute e Espiacuterito Santo Satildeo Paulo Livraria Teixeira 1935

1935 - ESPINHEIRA A Geographia 3ordf seacuterie Rio de Janeiro Tip Patronato 1935 148 p

1935 - ELLIS JUNIOR Alfredo Geographia 5ordf seacuterie de acordo com o programa do Coleacutegio D Pedro II Satildeo Paulo Liv Acadecircmica 1935 336 p

1935

(7 ed) -

A G L Geographia Curso elementar para as aulas primaacuterias 7 ed Satildeo Paulo Livraria Selbach de J R da Fonseca amp Cia 1935 51 p

1935 - ALMEIDA Antonio Figueira de Caderno de Geographia n 1 Desenhos de Lourival Correcirca Pereira Rio de Janeiro F Briguiet 1935 54 p

1935 - ALVES A Breves Noccedilotildees de Geographia Segundo a mateacuteria exigida no curso propedecircutico dos estabelecimentos officializados Rio de Janeiro J Ribeiro dos Santos 1935 287 p

1935 1936

AZEVEDO Aroldo de Geographia Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1935

AZEVEDO Aroldo de Geographia Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1936

1935

(2 ed) 1941

GABAGLIA Fernando GABAGLIA Raja Curso de Geographia 2ordf seacuterie ginasial Para uso no Coleacutegio Pedro II e no ensino secundaacuterio e Normal 2 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1935 162 p

GABAGLIA Fernando GABAGLIA Raja Curso de Geographia 2ordf seacuterie ginasial 8 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1941 233 p

1936 - FREITAS Gaspar de Geographia secundaacuteria 1ordm Anno Gymnasial 6 ed Rio de Janeiro H Antunes 1936 253 p

1936

(2 ed) 1942

GABAGLIA F A Raja Curso de Geographia 1ordf seacuterie para uso no Coleacutegio Pedro II e no ensino secundaacuterio e normal 2 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1936 162 p

GABAGLIA F A Raja Curso de Geographia 1ordf seacuterie 9 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1942 162 p

1936 1939

LENZ Luiz Gonzaga Geographia 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Saraiva 1936 158 p

LENZ Luiz Gonzaga Geographia 2 ed Satildeo Paulo Saraiva 1939

1936 1939

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a terceira serie secundaria Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1936 341 p

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a terceira serie secundaria 6 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1939 345 p

1936 - JARDIM Renato Geographia gymnasial Elementos de Geographia descriptiva 2 seacuterie Satildeo Paulo Comp Ed Nacional 1936

1936 - MENNUCCI Sud Corografia do estado de Satildeo Paulo Para uso das escolas primaacuterias Rio de Janeiro J R de Oliveira amp Cia 1936 120 p

1937 - AZEVEDO Aroldo de Geographia para a quinta seacuterie secundaacuteria Satildeo Paulo Nacional 1937 477 p

1937 - CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia Quarto anno Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1937

1937 - TABORDA R Geographia ginasial 2ordf seacuterie Porto Alegre Livraria do Globo 1937 116 p

1937 - MILANO Miguel Seriaccedilatildeo geographica Para os gymnasios cursos seriados escolas normaes e preparatoacuterias 1ordf seacuterie Rio de Janeiro Francisco Alves 1937 182 p

1937 - SOUZA A C OMNEGA N Geographia Satildeo Paulo Saraiva 1937

1937 - MILANO Miguel Seriaccedilatildeo geographica para os Gymnasios Cursos Seriados Escolas Normaes e Preparatoacuterias 2ordf seacuterie Rio de Janeiro Francisco Alves 1937 143 p

1937 - UM PROFESSOR Apontamentos de Geographia Organizado por um Professor de Acordo com os Cursos Complementares 2 ed Mossoroacute Typ do Nordeste 1937 23 p

1937 - BRASIL Maacuterio da Silva Elementos de Geophysica Porto Alegre Livraria do Globo 1937 267 p

1937 - LIMA A G [Afonso Guerreiro] Geographia secundaria 5ordf seacuterie Porto Alegre Globo 1937 311 p

1937 - PEREIRA Joseacute Veriacutessimo da Costa VARZEA Affonso ACQUARONE Francisco Geographia humana Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1937[] 608 p

1937

(3 ed) 1938

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a quinta seacuterie secundaacuteria De acordo com o programa de 1931 3 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1937 447 p

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a quinta seacuterie secundaacuteria 4 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1938 478 p

1938 1939

GONCcedilALVES Artur de Campos Noccedilotildees de Cosmographia e Geographia para cursos primaacuterios e de preparatoacuterios ao ginaacutesio Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1938 131 p

GONCcedilALVES Artur de Campos Noccedilotildees de Cosmographia e Geographia para cursos primaacuterios e de preparatoacuterios a ginaacutesio de acocircrdo com os programas oficiais 2 ed Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1939 135 p

1938 - MILANO Miguel Seriaccedilatildeo geographica Para os gymnasios cursos seriados escolas normaes e preparatoacuterias 3ordf seacuterie Rio de Janeiro Francisco Alves 1938 142 p

1938 - CUNHA M P Geographia ao alcance de todos subsiacutedios indispensaacuteveis nos concursos oficiais Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1938 95 p

1938 - ORCIUOLI Henrique Corografia do Brasil 2ordm ano propedecircutico Porto Alegre Globo 1938 204 p

1938 1942

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a segunda seacuterie secundaacuteria de acordo com o programa oficial 7 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1938 341 p

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a segunda seacuterie secundaacuteria De acordo com o programa oficial 12 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1942 392 p

1938

(6 ed) -

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a quarta seacuterie secundaacuteria Consta programa de Geographia para a quarta seacuterie secundaacuteria Contem leituras geograacuteficas de autores escolhidos 6 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1938 389 p

1939 - BARRETO Adolpho Alves Pequena Geographia para a infacircncia pobre [S l] Mundo Novo 1939 56 p

1939 1942

GICOVATE Moiseacutes Geographia para o curso secundaacuterio 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Melhoramentos 1939 266 p

GICOVATE Moiseacutes Geographia para o curso secundaacuterio 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Melhoramentos 1942 266 p

1939 1941

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a primeira seacuterie secundaacuteria de acordo com o programa oficial 8 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1939 298 p

AZEVEDO Aroldo de Geographia para a primeira seacuterie secundaacuteria De acordo com o programa oficial 17 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1941 478 p

1939 - AZEVEDO Aroldo de Geographia para o curso comercial Satildeo Paulo Satildeo Paulo Editora 1939 380 p

Org Jeane Medeiros Silva 2007-2011

A quase totalidade desse material foi editada regularmente agrave exceccedilatildeo de

Bandeira (185-) Pinto (1879) e Pinheiro (188-) cujas obras foram utilizadas

unicamente nas docecircncias de seus autores como apostilas mas com relevacircncia e

notoriedade suficientes para serem citadas por Sacramento Blake por exemplo

Natildeo se trata objetivamente de um levantamento completo sobretudo

porque haacute indiacutecios de que a produccedilatildeo regional de manuais de Geografia foi muito

expressiva inclusive em cidades interioranas

Todavia satildeo os iacutendices que nas proximidades de duas centenas de anos

depois estatildeo ao alcance dessa pesquisa No conjunto satildeo compilaccedilotildees traduccedilotildees

adaptaccedilotildees obras autorais Predominantemente satildeo obras de ediccedilatildeo uacutenica ao todo

174 nessa condiccedilatildeo Outras 102 tiveram reediccedilotildees Talvez mais difiacutecil do que

rastrear as obras seja conhecer a totalidade de suas ediccedilotildeesreimpressotildees Fato

agravado com o problema da pirataria do livro que foi extremamente alta no seacuteculo

XIX e um dos problemas recorrentersquo do mercado editorial naquele momento como

demonstra Hallewell (2005) cuja anaacutelise relaciona parte do crescimento das casas

publicadoras brasileiras agrave pirataria de obras praacutetica facilitada pela inexistecircncia ateacute

1912 de uma legislaccedilatildeo que protegesse internacionalmente os direitos autorais ou

mesmo o cumprimento dos direitos dos autores nacionais

De igual modo essa questatildeo eacute examinada por Correcirca (2006) no circuito

amazonense de instruccedilatildeo educacional pesquisador que suscita a hipoacutetese natildeo

diretamente comprovada de que um dos livros portugueses mais utilizados no

ensino primaacuterio o Manual encyclopedico para uso das escolas drsquoinstrucccedilatildeo

primaria21 de Emilio Achilles Monteverde22 em sua oitava ediccedilatildeo portuguesa em

1865 ndash e com uma parte dedicada ao ensino da Geografia ndash sofreria ediccedilotildees

brasileiras natildeo autorizadas Esse problema natildeo era isolado e sua produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo incluindo outros paiacuteses alastravam-se por toda a costa do paiacutes

Houve sempre um comeacutercio de ediccedilotildees chamadas clandestinas contrafeitas ou piratas isto eacute ediccedilotildees que natildeo obedeciam ao Privileacutegio concedido agrave ediccedilatildeo original [] Os impressores holandeses chegaram a ser verdadeiros especialistas em ediccedilotildees piratas No seacuteculo XVIII quando a literatura francesa tornou-se a mais lida de todas a Holanda chegou a imprimir mais livros franceses que a Franccedila No seacuteculo XIX foram os belgas os grandes piratas das ediccedilotildees francesas No Brasil em fins do seacuteculo XIX e princiacutepios deste os editores rio-grandenses protegidos por uma constituiccedilatildeo positivista imprimiram toda sorte de livros sem autorizaccedilatildeo do editores legiacutetimos e sem pagar direitos autorais (MORAES 1975 p 112-113)

Estrateacutegias de controle das ediccedilotildees e combate agrave pirataria satildeo encontradas em

exemplares da bibliografia Geralmente o autor ou seu representante legal

numerava eou assinava os exemplares enunciando uma advertecircncia sobre a

propriedade legal da obra ndash uma forma de domiacutenio sobre os direitos autorais da

proacutepria obra e para alertar o consumo do leitor como demonstra a Figura 01 21

Outras obras do autor sofreriam o mesmo processo

22 Escritor diplomata e pedagogo portuguecircs nascido em 1803 em Lisboa e falecido em 1881 Autor

do Methodo facilimo para aprender a ler amplamente utilziado no Brasil Atuou em diversos cargos puacuteblicos em Portugal (ZUIN 2007)

FIGURA 01 ndash Atos de controle e advertecircncia contra a pirataria de obras didaacuteticas em exemplares de Henrique Martins23 (1896) Carlos Goacutees24 (1918) e Joseacute Theodoro de Souza Lobo25 (1927)

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

23

Henrique Martins ndash foi professor do Coleacutegio Militar de Porto Alegre 24

Carlos Goacutees ndash Bacharel em Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais foi professor do Ginaacutesio Oficial de Minas Delegado do Estado de Minas Gerais no 4ordm Congresso Brasileiro de Instruccedilatildeo e Membro da Academia Mineira de Letras e do Instituto Histoacuterico Mineiro (GOacuteES 1918) 25

Joseacute Theodoro de Souza Lobo ndash Engenheiro geoacutegrafo pela Escola Central do Rio de Janeiro educador e escritor gauacutecho nascido a 7 de janeiro de 1846 em Porto Alegre onde faleceu a 9 de agosto de 1913 Atuou como professor de matemaacutetica da Escola Normal de Porto Alegre de 1873 ateacute a extinccedilatildeo desta Em 1877 quando fundou o Coleacutegio Souza Lobo instituiccedilatildeo de reconhecida tradiccedilatildeo na capital gauacutecha (PORTO-ALEGRE 1917)

Praticamente a trajetoacuteria do livro didaacutetico de Geografia no periacuteodo

apresenta quatro fases de produccedilatildeo com diferentes mas crescentes intensidades

(Cf Graacutefico 01)

GRAacuteFICO 01 ndash Produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia por deacutecada (1814-1939)

0

10

20

30

40

50

60

70

1810 1820 1830 1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

A primeira fase abrange as deacutecadas de 1810 e 1840 com 26 tiacutetulos tem-se

nas duas deacutecadas iniciais o aparecimento dos manuais de Geografia em quantidade

relativamente pequena (oito tiacutetulos no total) embora coerente com a demanda desse

ensino agrave eacutepoca (centrada nas aulas avulsas) e tambeacutem com os meacutetodos de ensino

(livro prioritariamente destinado agrave informaccedilatildeo do professor) nas duas outras

deacutecadas a produccedilatildeo corresponde ao iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da Geografia como

disciplina no ensino secundaacuterio em funccedilatildeo dos exames preparatoacuterios de acesso aos

cursos superiores somando 18 tiacutetulos

Apoacutes a deacutecada de 1840 haacute uma segunda fase concentrada entre os anos

1850 e 1870 com 50 tiacutetulos A deacutecada de 1850 foi um marco no desenvolvimento

econocircmico do Brasil que beneficiou a expansatildeo do mercado editorial que jaacute

progredira bastante desde o final do monopoacutelio da Impressatildeo Reacutegia que ocorreu em

1822 A educaccedilatildeo teve algum desenvolvimento e com isso houve fomento na

produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos livros didaacuteticos Por conseguinte passam-se a ter a

partir desse momento manuais didaacuteticos de Geografia reeditados Do periacuteodo

joanino ateacute meados do Impeacuterio essas obras tinham ediccedilotildees uacutenicas agrave exceccedilatildeo de

Pereira (1818) em obra de leitura natildeo exlusiva ao ensino de Geografia

Em termos de mercado editorial em razatildeo dos pedidos locais de impressatildeo

de materiais didaacuteticos Hallewell (2005) assinala que por volta dos anos 1850 os

livros didaacuteticos igualaram-se agraves demandas de impressatildeo de jornais e revistas na

agenda de encomendas das tipografias Imprensa e obras didaacuteticas seriam os motes

de sobrevivecircncia do parque graacutefico e das casas editoriais Nesse periacuteodo cerca de

trecircs deacutecadas apoacutes o processo de independecircncia poliacutetica assinala-se um tempo de

consolidaccedilatildeo do paiacutes particularmente na educaccedilatildeo embora com severa restriccedilatildeo

geograacutefica ndash isto eacute centralizada no municiacutepio da Corte Satildeo desta eacutepoca

[] a criaccedilatildeo da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria e Secundaacuteria do Municiacutepio da Corte destinada a fiscalizar e orientar o ensino puacuteblico e particular (1854) estabelecimento das normas para o exerciacutecio da liberdade de ensino e de um sistema de preparaccedilatildeo do professor primaacuterio (1854) reformulaccedilatildeo dos estatutos do Coleacutegio de Preparatoacuterios tomando-se por base programas e livros adotados nas escolas oficiais (1854) reformulaccedilatildeo dos estatutos da Academia de Belas Artes (1855) reorganizaccedilatildeo do Conservatoacuterio de Muacutesica e reformulaccedilatildeo dos estatutos da Aula de Comeacutercio da Corte (RIBEIRO 2001 p 54-55)

Uma terceira fase compreende as deacutecadas de 1880 e 1900 com um salto

supreendente na primeira deacutecada desse desenvolvimento ndash 80 tiacutetulos ao todo sendo

43 apenas nos anos 1880 Esse periacuteodo coaduna com importantes transformaccedilotildees

histoacutericas do paiacutes como a passagem do Impeacuterio para a Repuacuteblica aleacutem de

importantes configuraccedilotildees na economia na demografia na dinacircmica urbana e na

proacutepria organizaccedilatildeo do ensino brasileiro

Uma uacuteltima fase de produccedilatildeo pode ser identificada a partir dos anos 1910

em um crescendo que atinge o maior pico ateacute entatildeo na deacutecada de 1930 totalizando

120 produccedilotildees Esta fase em que a Geografia jaacute era haacute tempos uma disciplina

consolidada nos ensinos primaacuterio e secundaacuterio eacute marcada por inovaccedilotildees teoacuterico-

metodoloacutegicas bem como pela aproximaccedilatildeo da Geografia acadecircmica

22 A autoria da bibliografia

O acervo apresentado foi escrito por 183 autores incluindo autores

traduzidos A maioria eacute autoria do gecircnero masculino sendo apenas trecircs autorias

femininas Desse conjunto de autores oito satildeo anocircnimos por pseudocircnimos ou por

autorias institucionais Haacute seis traduccedilotildees com adaptaccedilotildees o que reforccedila o

questionamento da noccedilatildeo muitas vezes endossada em pesquisas sobre a formaccedilatildeo

do ensino de Geografia de que principalmente no seacuteculo XIX se utilizariam livros

importados para o ensino dessa mateacuteria ndash esta parece ter sido de fato uma

realidade para obras de outras disciplinas mas natildeo propriamente desta mateacuteria Os

manuais de Histoacuteria e Geografia foram sobretudo nacionais ao passo que os

manuais para o ensino da leitura e da liacutengua portuguesa eram em grande parte

importados de Portugal e os das aacutereas exatas importados ou traduzidos da Franccedila

ou Inglaterra como depotildee Veriacutessimo (1906 p 4-8)

Satildeo muitos os escritores estrangeiros que traduzidos transladados ou quando muito servilmente imitados fazem a educaccedilatildeo da nossa mocidade Seja-me permitida uma recordaccedilatildeo pessoal Os meus estudos feitos de 1867 a 1876 foram sempre em livros estrangeiros Eram portugueses e absolutamente alheios ao Brasil os primeiros livros que li O Manual Enciclopeacutedico de Monteverde a Vida de D Joatildeo de Castro de Jacinto Freire () os Lusiacuteadas de Camotildees e mais tarde no Coleacutegio de Pedro II o primeiro estabelecimento de instruccedilatildeo secundaacuteria do paiacutes as seletas portuguesas de Aulete os Ornamentos da memoacuteria de Roquete - foram os livros em que recebi a primeira instruccedilatildeo E assim foi sem duacutevida para toda a minha geraccedilatildeo Acanhadiacutessimas satildeo as melhorias desse triste estado de cousas e ainda hoje a maioria dos livros de leitura se natildeo satildeo estrangeiros pela origem satildeo-no pelo espiacuterito Os nossos livros de excertos satildeo aos autores portugueses que os vatildeo buscar e a autores cuja claacutessica e hoje quase obsoleta linguagem o nosso mal amanhado preparatoriano de portuguecircs mal percebe Satildeo os Fr Luiacutes de Souzas os Lucenas os Bernardes os Fernatildeo Mendes e todo o classicismo portuguecircs que lemos nas nossas classes da liacutengua que aliaacutes comeccedila a tomar nos programas o nome de liacutengua nacional Pois se pretende a meu ver erradamente comeccedilar o estudo da liacutengua pelos claacutessicos autores brasileiros tratando coisas brasileiras natildeo poderatildeo fornecer relevantes passagens E Santa Rita Duratildeo e Caldas e Basiacutelio da Gama e os poetas da gloriosa escola mineira e entre os modernos Joatildeo Lisboa Gonccedilalves Dias Sotero dos Reis Machado de Assis e Franklin Taacutevora e ainda outros natildeo tecircm paacuteginas que sem serem claacutessicas resistiriam agrave criacutetica do mais meticuloso purista

Assim haacute a tese amplamente divulgada e aceita na histoacuteria do livro didaacutetico

segundo a qual a nacionalizaccedilatildeo do livro didaacutetico ocorreria concretamente no final

do seacuteculo XIX no contexto em que se esboccedilava um sistema de educaccedilatildeo puacuteblica

conforme Lajolo Zilberman (1996) Hallewell (2005) Bittencourt (2008) Razzini

(2004) Mas para o caso do ensino de Geografia essa tese deve ser questionada

pois a proacutepria bibliografia suscitada neste capiacutetulo demonstra que as publicaccedilotildees de

Geografia como uma das primeiras linhas do gecircnero didaacutetico a par com os livros de

Histoacuteria a ter a nacionalidade dos autores e dos conteuacutedos desenvolvidos em uma

produccedilatildeo significativa pelo menos em termos quantitativos inclusive com certo

desenvolvimento regional disperso em pontos referenciais do territoacuterio brasileiro O

que parece eacute que em momentos de reorientaccedilatildeo do ensino natildeo se achava no

mercado livros brasileiros de Geografia que se adequassem agraves novas propostas

Isso se percebe por exemplo na adoccedilatildeo do Manuel du Baccalaureacuteat26 e do Atlas

de Delamarche pelo Coleacutegio Pedro II por ocasiatildeo da reforma induzida pelo Decreto

de 24 de janeiro de 1856 obras essas necessaacuterias para complementar a adoccedilatildeo do

compecircndio de Pompeu Brasil Outra hipoacutetese pode ser as pequenas tiragens o

largo tempo para consumi-las o que as levava agrave desatualizaccedilatildeo ou mesmo agrave natildeo

reediccedilatildeo

O mais comum foram as autorias uacutenicas tendecircncia destoante por exemplo

da produccedilatildeo atual de livros didaacuteticos de Geografia na qual predomina o sistema de

co-autorias No periacuteodo suscitado tecircm-se apenas nove produccedilotildees em co-autorias e

trecircs co-autores interventores mais especificamente Luiz Leopoldo Fernandes

Pinheiro27 Joatildeo Ribeiro28 e Pe Joseacute Severiano de Rezende29 que atuaram na

sobrevida das obras de Joaquim Maria de Lacerda30 apoacutes o falecimento deste autor

Um pouco menos da metade dos tiacutetulos 113 dos 276 satildeo obras de autores

que tiveram pelo menos dois tiacutetulos em sua produccedilatildeo Para o periacuteodo a maior

26

Por natildeo ter tido acesso a essa obra natildeo a inclui na bibliografia parece que atendia mais ao curriacuteculo de Histoacuteria do que propriamente ao de Geografia

27 Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro ndash era sobrinho de Joaquim Maria Lacerda Nasceu em

Campos (RJ) em 1855 e faleceu em 1925 Foi literato atuando na poesia crocircnica romance e traduccedilatildeo Trabalhou como professor de Filologia Geografia e Histoacuteria (RONZANI 2011)

28 Joatildeo Ribeiro ndash atuou em trabalhos editoriais para revisatildeo e ampliaccedilatildeo de manuais didaacuteticos de

Geografia Nasceu em Sergipe em 1860 e faleceu no Rio de Janeiro em 1934 Foi historiador filoacutelogo jornalista e professor do Coleacutegio Pedro II (MOTA 2004)

29 Pe Joseacute Severiano de Rezende ndash nasceu em 1871 e faleceu em 1931 Foi paacuteroco em Mariana

(MG) e atuante no jornalismo (MARTINS 1983)

30 Joaquim Maria de Lacerda ndash filho de um marinheiro capitatildeo de navio nasceu no Rio de Janeiro em 1833 e faleceu em Paris no ano de 1886 Formou-se em Direito e foi membro da Arcaacutedia Romana e outras associaccedilotildees literaacuterias inclusive europeias Sobretudo nos uacuteltimos anos de vida dedicou-se agrave educaccedilatildeo produzindo inuacutemeras obras de Geografia e Histoacuteria (BLAKE 1898)

produccedilatildeo com 12 tiacutetulos pertence a Alfredo Moreira Pinto31 em quase 30 anos de

atividade Destacam-se ainda Maacuterio da Veiga Cabral32 e Aroldo de Azevedo33 com

11 e 10 tiacutetulos respectivamente embora esses nuacutemeros reflitam devo ressaltar

apenas o periacuteodo delimitado pela pesquisa pois a produccedilatildeo dos mesmos foi bem

maior haja vista terem sido atuantes e se situarem dentre os autores mais

significativos da bibliografia didaacutetica de Geografia ateacute a deacutecada de 1970 Aroldo de

Azevedo por exemplo totalizou 30 tiacutetulos didaacuteticos ao longo de sua carreira Com

um caraacuteter mais regional pois em grande parte centrado no Rio Grande do Sul tem-

se A G Lima34 autor de 10 tiacutetulos (Cf Quadro 2)

Todavia a quantidade de tiacutetulos natildeo expressa exatamente a importacircncia de

um autor no contexto da educaccedilatildeo geograacutefica Muitos autores publicaram apenas

uma obra com muitas reediccedilotildees e frequentemente melhoradas alteradas

complementadas prolongando a utilizaccedilatildeo do livro Talvez o caso mais tiacutepico

tenham sido os livros de Joaquim Maria de Lacerda que publicando cinco tiacutetulos em

seus uacuteltimos anos de vida a partir da deacutecada de 1870 foi exaustivamente

republicado ateacute a deacutecada de 1930 Dada a desatualizaccedilatildeo perioacutedica dos livros de

31 Alfredo Moreira Pinto ndash nasceu no Rio de Janeiro em 1847 filho de um comerciante portuguecircs Formou-se bacharel em Letras pelo Coleacutegio Pedro II em 1865 ingressou na Faculdade de Direito de Satildeo Paulo em 1866 curso que natildeo concluiu Foi professor de Geografia e Histoacuteria do curso preparatoacuterio anexo agrave Escola Militar aleacutem de ter sido professor particular dessas disciplinas atuando ainda como jornalista Escreveu extensa obra nas aacutereas de Geografia e Histoacuteria aleacutem de ter sido autor de um dicionaacuterio geograacutefico Faleceu em 1903 (BLAKE 1883 BARBUY 2006) 32

Maacuterio [Vasconcelos] da Veiga Cabral ndash geoacutegrafo e engenheiro agrimensor estudou no Coleacutegio Militar e na Escola de Guerra de Realengo Atuou como professor em instituiccedilotildees como o Ginaacutesio 28 de Setembro Instituto de Educaccedilatildeo Liceu Rio Branco Universidade do Distrito Federal e Escola de Engenharia do Rio de Janeiro sendo autor de extensa obra didaacutetica nas aacutereas de Histoacuteria e Geografia aleacutem de outras Nasceu em 1894 e faleceu em 1973 (SILVA 2009 AGCRJ 2010)

33 Aroldo [Edgard] de Azevedo ndash geoacutegrafo e geomorfoacutelogo brasileiro nascido em Lorena (SP) em

1910 filho de um poliacutetico paulista e falecido em Satildeo Paulo em 1974 Formado em Direito nunca exerceu profissatildeo juriacutedica formado em Geografia e Histoacuteria pela Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras da Universidade de Satildeo Paulo (USP) em 1939 foi um dos primeiros autores didaacuteticos com formaccedilatildeo em Geografia sendo um dos primeiros professores dessa ciecircncia na USP onde foi catedraacutetico de Geografia do Brasil e tambeacutem Diretor do Instituto de Geografia Membro da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e do Instituto Geograacutefico do Brasil publicou 127 livros de Geografia entre didaacuteticos e cientiacuteficos e artigos Na pesquisa geograacutefica destacou-se por propor um importante mapa e uma das primeiras classificaccedilotildees do relevo brasileiro (1949) a partir do criteacuterio altimetria Eacute um dos autores didaacuteticos mais bem sucedidos do seacuteculo XX com cerca de 13 milhotildees de exemplares vendidos (ISSLER 1973 CONTI 1976 PREFEITURA 2010)

34 A G [Affonso Guerreiro] Lima ndash Affonso Guerreiro Lima foi professor da Escola Normal de Porto

Alegre sendo de sua autoria diversas obras didaacuteticas de Histoacuteria e Geografia Eacute lembrado por ter sido um inovador da apresentaccedilatildeo graacutefica nos livros didaacuteticos Era geoacutegrafo e membro do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do RS (IHGRGS 2011)

Geografia sobretudo em um periacuteodo em que as estatiacutesticas a regionalizaccedilatildeo e o

conhecimento geograacutefico eram ampliados eou modificados de diversas maneiras a

continuidade dessas obras soacute foi possiacutevel por meio do trabalho de co-autores como

citado acima E por outro lado haacute autores que publicaram apenas um tiacutetulo mas

com muita importacircncia na perspectiva do meacutetodo da teorizaccedilatildeo ou mesmo na

perspectiva graacutefica

QUADRO 02 ndash Produccedilatildeo por autoria para autores com mais de dois tiacutetulos de manuais didaacuteticos de Geografia (1814-1939)

Obras Autores Periacuteodo de Produccedilatildeo

(1ordf ed ou ediccedilatildeo mais antiga)

12 PINTO Alfredo Moreira 18691906

11 CABRAL Maacuterio da Veiga 19161937

10 LIMA A G [Afonso Guerreiro] 19111937

10 FTD 19071923

10 AZEVEDO Aroldo de 19341939

07 MILANO Miguel 19221938

05 MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Deacutecada de 1870 a 1898

05 ELLIS JUNIOR Alfredo 19321935

05 LACERDA Joaquim Maria de 18701887

04 CARVALHO Carlos Miguel Delgado de 19131933

04 PIMENTEL JUNIOR F Menezes Entre 1930 e 1932

04 SCROSOPPI Horacio 19051915

04 NOVAES Carlos 18821926[]

03 FREITAS Gaspar de 19251936

03 JARDIM Renato 19331936

03 GABAGLIA F A Raja 19331936

03 GABAGLIA Raja 19251936

02 ALMEIDA Antonio Figueira de 19311935

02 BITTENCOURT Feliciano Pinheiro 19071909

02 BRAZIL Thomaz Pompeu de Souza (Filho) Deacutecada de 18801894

02 CARVALHO Goeth Galvatildeo de Deacutecada de 1890

02 CARVALHO Joaquim Joseacute de 18831885

02 CUNHA M P 19311938

02 CUNHA Raymundo Cyriaco da 18871894

02 F I C [Frere Ignace Chaput] Deacutecadas de 1880 a 1910

02 FREIRE [da Silva] Olavo 1921-1925

02 GOacuteES Carlos 1917-1918

02 LEAtildeO Manuel do Rego Barros de Souza 1858-1859

02 LEME Ezequiel de Moraes 1913-1920

02 MACEDO Joaquim Manoel de 1873-1877

02 MARTINS Ameacutelia de Rezende 1919-1930

02 PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa 18181836

02 PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes 1875 e deacutecada de 1880

02 REIS Antocircnio Alexandre Borges dos 18921920

02 REIS O de Souza 19181921

02 VILLA-LOBOS Raul 18861890[]

02 ZALUAR Augusto Emilio 18761880

Org Jeane Medeiros Silva 2011

Dois outros casos de adequaccedilatildeo de uma mesma obra agora por seus

autores chamam a atenccedilatildeo Primeiro temos Thomaz Pompeu de Souza Brasil que

publicou os Elementos de Geographia em 1851 em Fortaleza para uso dos alunos

do Liceu local ganhando uma nova ediccedilatildeo em 1856 com o tiacutetulo de Compendio de

Geographia ainda editado no Cearaacute A obra no entanto ganhou dimensatildeo nacional

ao ser adotada no Rio de Janeiro e em outras cidades (inclusive adotada pelo

Coleacutegio Pedro II liceus e seminaacuterios do Impeacuterio como clarifica uma chamada em

sua capa) passando a ter uma terceira ediccedilatildeo aumentada e corrigida publicada no

Rio de Janeiro com novo tiacutetulo Compendio elementar de Geographia geral e

especial do Brasil Nessa forma apenas com correccedilotildees e ampliaccedilotildees pontuais teve

mais duas ediccedilotildees em 1864 e 1869

Os autores mais comuns foram professores natildeo unicamente de Geografia

No entanto principalmente no seacuteculo XIX pessoas de diferentes formaccedilotildees e

ocupaccedilotildees profissionais produziram as obras da bibliografia literatos advogados

poliacuteticos jornalistas militares graduados religiosos engenheiros Alguns de

renome na cultura geral brasileira como Osoacuterio Duque-Estrada35 Joaquim Manoel

de Macedo36 outros com renome na poliacutetica como Thomaz Pompeu de Souza

Brasil37 ou com reconhecimento na tradiccedilatildeo cientiacutefica brasileira como Said Ali38

35

Osoacuterio Duque-Estrada ndash Nascido em Pati do Alferes municiacutepio de Vassouras (RJ) em 29 de abril de 1870 e falecido no Rio de Janeiro em 5 de fevereiro de 1927 Duque-Estrada eacute reconhecido por ter sido autor da letra do hino nacional brasileiro Foi poeta ensaiacutesta criacutetico de literatura e atuou como professor sendo autor de diversas obras didaacuteticas Na educaccedilatildeo exerceu as funccedilotildees de inspetor geral do ensino bibliotecaacuterio e professor de francecircs chegando a ser professor da cadeira de Histoacuteria Geral do Brasil no Coleacutegio Pedro II instituiccedilatildeo na qual se formou bacharel em Letras em princiacutepios do seacuteculo XX Abandonou o magisteacuterio para dedicar-se apenas agrave imprensa (ABL 2011)

36 Joaquim Manoel de Macedo ndash Nasceu em Itaboraiacute a 24 de junho de 1820 e faleceu no Rio de

Janeiro em 11 de abril de 1882 Formado em medicina destacou-se como escritor brasileiro e trabalhou como professor de Histoacuteria e Geografia do Brasil no Coleacutegio Pedro II Em 1845 foi soacutecio secretaacuterio e orador do Instituto Histoacuterico e geograacutefico Brasileiro Em sua extensa obra literaacuteria destaca-se o romance A moreninha sua obra mais reconhecida Escreveu livros didaacuteticos de Geografia e Histoacuteria (ABL 2011)

37 Thomaz Pompeu de Souza Brasil ndash Nasceu em Santa Quiteacuteria em 6 de junho de 1818 e faleceu

em Fortaleza a 2 de setembro de 1877 Formado em Direito ocupou cargos na poliacutetica e na educaccedilatildeo sendo um dos fundadores diretor e docente de Histoacuteria e Geografia do Liceu do Cearaacute aleacutem de contribuir com a imprensa Pertenceu ao quadro de diversas instituiccedilotildees cientiacuteficas dentre as quais a Sociedade de Geografia de Paris o Instituto Arqueoloacutegico Histoacuterico e Geograacutefico de Pernambuco e o Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro (SOUSA NETO 1997)

Frequentemente as editoras com especializaccedilatildeo em livros didaacuteticos como a

Francisco Alves agiam por encomendas procurando por autores institucionalizados

no Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro ndash IHGB e sobretudo no Coleacutegio Pedro

II em razatildeo da visibilidade desses autores e de sua experiecircncia com os programas e

a metodologia de ensino da instituiccedilatildeo modelar do ensino secundaacuterio no Brasil

Muitos autores quando professores para a escrita de suas obras didaacuteticas

desenvolviam apenas suas anotaccedilotildees e roteiros de aulas

Na perspectiva discursiva desta tese percebo esses autores como sujeitos

ou seres sociais natildeo fundamentados em uma individualidade mas como

expressotildees de um espaccedilo social e ideoloacutegico em determinado momento da histoacuteria

(FERNANDES 2005) Dessa forma seratildeo compreendidos no desenvolvimento da

tese

23 A editoraccedilatildeo

A loacutegica de mercado situa-se por detraacutes da histoacuteria do livro como um todo e

do livro didaacutetico em particular A aceitaccedilatildeo do livro junto ao puacuteblico escolar definiu

muitos aspectos da produccedilatildeo de uma obra dependente ainda para existir como

material escolar de atos autorizativos do Estado

De iniacutecio a primeira casa em territoacuterio brasileiro a imprimir manuais

escolares foi a Impressatildeo Reacutegia criada para produzir materiais subservientes agrave

administraccedilatildeo puacuteblica ldquo[] predominando publicaccedilotildees sobre economia poliacutetica

geografia agrimensura sauacutede puacuteblica incluindo-se obras ligadas ao curriacuteculo das

escolas criadas no periacuteodo joanino que visavam formar especiaistas e teacutecnicos para

o corpo burocraacutetico []rdquo da administraccedilatildeo instalada no novo territoacuterio que servia agrave

gestatildeo do reino portuguecircs (BITTENCOURT 2008 p 65) Serviu portanto como

marco a uma editoraccedilatildeo que evoluiria para a formaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de

livros ou pelo menos editorial haja vista que ateacute princiacutepios do seacuteculo XX o parque 38

Manuel Said Ali Ida ndash Nasceu em Petroacutepolis em 21 de outubro de 1861 e faleceu no Rio de Janeiro em 27 de maio de 1953 Filoacutelogo destacou-se nas pesquisas sobre a sintaxe da liacutengua portuguesa De descendecircncia alematilde foi professor de alematildeo na Escola Militar e no Coleacutegio Pedro II Aleacutem do alematildeo lecionou francecircs inglecircs e Geografia (INSTITUTO CAMOtildeES 2011)

graacutefico brasileiro ainda foi depentente de mateacuterias primas teacutecnica e matildeo de obra

europeia no que concerne a impressotildees

Ao longo do periacuteodo em anaacutelise conforme dados sistematizados no Quadro

03 teve-se a atuaccedilatildeo de 117 casas publicadoras identificadas entre nacionais

predominantes e estrangeiras aleacutem de tipografias Como casa publicadora natildeo

identificada sem registro de tipografia ou editora somam-se 75 ediccedilotildees

QUADRO 03 ndash Descriccedilatildeo das casas publicadoras39 da bibliografia didaacutetica de Geografia (1814-1939)

LOCAL DE PUBLICA-

CcedilAtildeO CASA PUBLICADORA

INIacuteCIO DA(S) PUBLICA-

CcedilOtildeE(S)

QUANTI- DADE DE PUBLICA-

CcedilOtildeES

RIO DE JANEIRO (RJ) 322 Ediccedilotildees

01

Impressatildeo Reacutegia 1814

11

Typographia Real 1821

Typographia Nacional 1822

Typographia Nacional 1828

Typographia Imperial e Nacional 1829

Imprensa Oficial 1864

Imprensa Nacional 1886

02 Typographia de Silva Porto 1824 1

03 P Plancher 1827 1

04 Typographia Torres 1830 1

05

Laemmert 1835

21

E amp H Laemmert 1845

Typographia Universal de Laemmert 1864

H Laemmert amp Cia 1870

Typographia Universal de Eduardo e Henrique Laemmert

1871

Laemmert amp Cia 1880

Typographia Universal de Henrique Laemmert 1882

07 Typographia de R Ogier 1836 1

08 Typographia de J E S Cabral 1840 2

09 Livraria de Agostinho de Freitas Guimaratildees amp Cia 1871 1

10 Typographia Francesa 1850 1

11 Domingos Joseacute Gomes Brandatildeo e Irmatildeos 1859 1

12

B L Garnier 1860

30 Livraria de B L Garnier 1870

Garnier 1902

13 Typographia de Pinheiro 1863

3 Typographia de Pinheiro amp Cia 1880

14 Typographia do Apoacutestolo 1875 2

15 Typographia Episcopal de Antonio Gonccedilalves Guimaratildees amp Cia

1865 1

39

Considero literalmente o nome das casas publicadoras conforme expresso nas obras ou nas referecircncias frequentemente satildeo as mesmas mas as alteraccedilotildees dos nomes podem se referir a mudanccedilas na razatildeo social das empresas Apesar das alteraccedilotildees nominais considero o quantitativo de publicaccedilotildees no seu conjunto referente a cada casa

16 Typographia do Commercio 1884 1

17 Typographia Franco-Americana 1873 1

18 Typographia J G de Azevedo 1877 1

19

Francisco Alves amp Cia 1908

110

Livraria Francisco Alves 1913

Francisco Alves 1914

Livraria Claacutessica de Nicolau Alves 1880

Livraria Claacutessica de Alves e Cia 1889

20 Cunha 1897 1

21 Typographia Esperanccedila de J drsquoAguiar amp Cia 1883 1

22 Typographia MontrsquoAlverne 1886 2

23 Editores Paes amp Cia 1907 1

24 Jacintho Ribeiros dos Santos 1897

43 Livraria Jacintho 1933

25 Livraria Cruz Coutinho 1898 1

26

Editora Paulo de Azevedo 1916

9 Livraria Paulo de Azevedo e Cia 1922

Livraria Azevedo 1930

27 Livraria da Viuacuteva Azevedo e Cia 1907 1

28 B de Aacutequila 1907 1

29 Orosco Impressores 1908 1

30 Heitor Ribeiro e Cia 1909 1

31 F Briguiet 1912

7 Fernando Briguiet amp Cia 1933

32 Impressotildees ArtiacutesticasEmpresa Foto-Mecacircnica do Brasil

1913 1

33 Empresa Graacutephico-Editora 1923 1

34 A noite 1947 3

35 Leite Ribeiro amp Maurillom 1919 1

36 Weizflog Irmatildeo Incorp 1924 1

37 Graacutefica Ed Livros SA 1963 1

38 Typographia Barreto Vianna 1925 1

39 Imprensa Naval 1928 1

40 Graphica Sauer 1936 2

41 H Antunes 1932 3

42 J R de Oliveira amp Cia 1935 4

43 Typographia Esporte 1931 1

44 Ediccedilotildees Alba 1932 1

45 J O Antunes amp Cia 1932 1

46 Bedeschi 1935 1

47 Typographia Patronato 1935 1

48 Conselho Nacional de Geografia 1967 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1830 38

SAtildeO PAULO (SP) 64 ediccedilotildees

01 Graphica Costa Silveira 1839

2 Typographia de M F Costa Silveira 1839

02 Impressatildeo da Proviacutencia de Satildeo Paulo Typographia Imparcial de J R Azevedo Marques

1862 1

03 FTD 1907 4

04 Duprat 1908

4 Casa de Duprat 1911

05 Melhoramentos 1920

7 Cia Melhoramentos 1923

06

Nacional 1921

25 Companhia Editora Nacional 1931

Editora Nacional 1934

07 Matano 1922 2

08 Monteiro Lobato 1925 1

09 Ediccedilotildees Rio Branco 193- 3

10 Livraria Acadecircmica 1932 4

11 Typographia Siqueira 1932 1

12 Editora Saraiva 1935 4

13 Livraria Teixeira 1935 1

14 Livraria Selbach de J R da Fonseca amp Cia 1935 1

15 Satildeo Paulo Editora 1939 1

16 Typographia Aurora 1898 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 186- 2

PORTO ALEGRE (RS) 39 Ediccedilotildees

01 Typographia Deutsche-Zeitung 1863 1

02 Typographia O Rio Grande 1868 1

03 J Alves Editor 1972 1

04 Typographia Perseveranccedila 1877 1

05 J Alves Editor 1881 1

06 Ed Carlos Pinto amp Cia 187- 1

07 Editor Rodolpho Joseacute Machado 1883 1

08 Livraria Rodolpho Joseacute Machado 1896 1

09 Liv Franco amp Irmatildeo 1898 1

10

Liv Globo 1909

22 Globo 1910

Livraria do Globo 1929

11 Officinas Graphicas da Escola 1911

2 Officinas Graphicas da Escola de Engenharia 1911

12 Selbach amp Mayer 1915[] 1

13 Typographia do Centro 1923 1

14 Barcellos Bertaso amp Cia 1931 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1870 3

SALVADOR (BA) 11 Ediccedilotildees

01 Typographia Poggeti de Catilina amp Cia 1860 1

02 Camillo de Lellis Masson 1863 1

03 Imprensa Econocircmica 1876 1

04 Lopes da Silva amp Amaral 1884 1

05 Typographia de Affonso Ramos amp Cia 188- 1

06 Wilcke Picard amp C 1892 2

07 Typographia Reis e Cia 1911 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1826 3

RECIFE (PE) 11 Ediccedilotildees

01 Typographia de Santos 1836 1

02 Typographia de M F de Faria 1836 1

03 Typographia Universal 1856 1

04 Typographia Mercantil 1875 1

05 Typographia drsquoA Proviacutencia 1891 1

06 Imprensa Industrial 1914 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 185- 5

BELEacuteM (PA) 07 Ediccedilotildees

01 Livraria Claacutessica 1874 2

02 Typographia do Diaacuterio de Beleacutem 1887 1

03 Typographia e Encadernaccedilatildeo da V Travessa 1894 2

- Casa Publicadora natildeo identificada 1863 2

FORTALEZA (CE) 04 Ediccedilotildees

01 Typographia de Paiva e Companhia 1851 2

- Casa Publicadora natildeo identificada 1873 2

MARANHAtildeO 04 Ediccedilotildees

01 Typ A P Ramos drsquoAlmeida amp Cia 1901 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1862 3

BELO HORIZONTE (MG) 03 Ediccedilotildees

01 Imprensa Official de Minas 1917

03

NITEROacuteI (RJ) 02 Ediccedilotildees

01 Typographia Nitheroy 1840 1

02 Escola Typographia Salesiana 1921 1

MACEacuteIO (AL) 02 Ediccedilotildees

01 Typographia do Liberal 1971 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1860 1

CURITIBA (PR) 02 Ediccedilotildees

01 Buzetti Mori amp Filhos 1911 1

02 Leopoldina Rocha 1913 1

SANTOS (SP) 01 Ediccedilatildeo

01 Typ do Diaacuterio de Santos 1884 1

ARACAJU (SE) 01 Ediccedilatildeo

01 Imprensa Oficial 1897 1

PELOTAS40

(RS) 01 Ediccedilatildeo

01 Carlos Pinto 1898 1

PIRASSUNUN-GA (SP) 01 Ediccedilatildeo

01 Typographia Minerva 1913 1

SAtildeO SEBASTIAtildeO DO PARAIacuteSO (MG) 01 Ediccedilatildeo

01 Casa Prado 1923 1

CAMPOS (SP) 01 Ediccedilatildeo

01 Ed da Casa ldquoA Penna de Bronzerdquo 1924 1

MOSSOROacute (RN) 01 Ediccedilatildeo

01 Typographia do Nordeste 1937 1

MANAUS (AM) 01 Ediccedilatildeo

Casa Publicadora natildeo identificada 188- 1

LOCAL NAtildeO IDENTIFICADO 17 Ediccedilotildees

01 Mundo Novo 1939 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1840 16

40

Identifiquei apenas uma ediccedilatildeo mas o tiacutetulo produzido em Pelotas O Rio Grande do Sul para as escolas teve mais de 100 ediccedilotildees de acordo com Bittencourt (2008)

PARIS (Franccedila) 06 Ediccedilotildees

01 Casa de Va J P Aillaud Monlon amp Cia 1855 2

02 J-P Aillaud Guillard amp Cia 1867 1

03 Guillard Aillaud amp Cia 1872 3

04 Typographia Pillet et Dumoulin 1880 1

LEIPZIG (Alemanha) 04 Ediccedilotildees

F A Brocklaus 1873 4

LISBOA (Portugal) 03 Ediccedilotildees

01 Imprensa de Lucas Evangelista 1854 1

02 Imprensa Nacional 1865 1

- Casa Publicadora natildeo identificada 1882 1

PORTO (Portugal) 01 Ediccedilatildeo

01 Livraria Portuense de Lopes 1895 1

LONDRES (Inglaterra) 01 Ediccedilatildeo

01 L Thompson (na officina portugueza) 1824 1

Org Jeane Medeiros Silva 2011

O Rio de Janeiro ao longo do seacuteculo XIX e no periacuteodo delimitado liderou a

produccedilatildeo dessa bibliografia com 66 do total Satildeo Paulo assumiu essa lideranccedila

no seacuteculo XX mas com expansatildeo mais significativa apenas apoacutes a deacutecada de 1930

pelo menos no que concerne agraves publicaccedilotildees didaacuteticas de Geografia em um

crescendo no qual assumiria a ponta na segunda metade daquele seacuteculo De

qualquer forma para o periacuteodo entre 1839 e os anos 1930 teve suas casas

editoriais participantes com 14 das publicaccedilotildees didaacuteticas de Geografia O terceiro

lugar eacute ocupado por Porto Alegre com 8 da produccedilatildeo no periacuteodo (Cf Graacutefico 02)

Geograficamente a produccedilatildeo do acervo da bibliografia didaacutetica de Geografia

distribuiu-se por 25 localidadades incluindo cinco cidades estrangeiras citadas como

sede da ediccedilatildeo No Brasil conforme indica o mapa da Figura 02 a produccedilatildeo dividiu-

se por 14 proviacutenciasestados Rio de Janeiro (Rio de Janeiro Niteroacutei Campos) Satildeo

Paulo (Satildeo Paulo Santos Pirassununga) Rio Grande do Sul (Porto Alegre

Pelotas) Paranaacute (Curitiba) Bahia (Salvador) Pernambuco (Recife) Paraacute (Beleacutem)

Amazocircnia (Manaus) Cearaacute (Fortaleza) Maranhatildeo (Satildeo Luiz) Minas Gerais (Belo

Horizonte Satildeo Sebastiatildeo do Paraiacuteso) Alagoas (Maceioacute) Sergipe (Aracaju) Rio

Grande do Norte (Mossoroacute)

GRAacuteFICO 02 ndash Distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo de livros didaacuteticos por localidade (1814-1939)

6614

8

2

2

1

3

3 1

RIO DE JANEIRO

SAtildeO PAULO

PORTO ALEGRE

SALVADOR

RECIFE

BELEacuteM

OUTROS COM MENOS DE 05

EDICcedilOtildeES

LOCAIS NAtildeO IDENTIFICADOS

PARIS

Org Jeane Medeiros Silva 2011 Fonte Pesquisa direta 2007-2011

Nota-se em todo esse percurso o predomiacutenio das cidades e regiotildees

litoracircneas e o destaque para as proviacutencias (depois estados) mais proacutesperas no

periacuteodo a comeccedilar pelo Rio de Janeiro e por Satildeo Paulo mais tarde muito influentes

nacionalmente

Destacam-se tambeacutem outros pontos regionais importantes como o Rio

Grande do Sul marcado por produzir manuais didaacuteticos com muita ecircnfase na

abordagem do proacuteprio estado aleacutem da Bahia Pernambuco e Recife

Bittencourt (2008) jaacute assinalou o fato de Manaus e Beleacutem aleacutem de Satildeo Luiz

do Maranhatildeo assumirem certa especializaccedilatildeo na produccedilatildeo de obras de Geografia

no contexto da iniciaccedilatildeo da exploraccedilatildeo geograacutefica da regiatildeo amazocircnica coadunado

com o interesse de proteger a regiatildeo igualmente da cobiccedila internacional fato que

potildee em relevo os conhecimentos espaciais

FIGURA 02 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica41 da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no Brasil (1814-1939)

Fonte Pesquisa direta 2007-2011

Porto Alegre foi outro centro regional importante na produccedilatildeo de livros

didaacuteticos de Geografia O interessante eacute notar que a educaccedilatildeo geograacutefica do Rio

Grande do Sul apresentou uma tradiccedilatildeo de estudo do seu territoacuterio provincial bem

maior que outras regiotildees Natildeo se limitou a abordar o Rio Grande do Sul como parte

41

Delimitaccedilatildeo poliacutetica atual Natildeo corresponde ao traccedilado das regionalizaccedilotildees do periacuteodo

da Corografia ou Geografia brasileira mas dedicando obras especiacuteficas ao Rio

Grande como exemplificam algumas das produccedilotildees didaacuteticas dessa regiatildeo Eudoro

Brazileiro Berlink42 com o Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do

Rio Grande do Sul (cinco ediccedilotildees ateacute 1881) Hilaacuterio Ribeiro43 com a Geographia do

Rio Grande do Sul (1880 1881) A G Lima com Noccedilotildees de Geographia Curso

complementar I parte Rio Grande do Sul (sete ediccedilotildees ateacute 1935) e J Pinto

Guimaratildees44 com O Rio Grande do Sul para as escolas obra que foi um verdadeiro

best-seller com 100 ediccedilotildees ateacute 1898

Com indicaccedilatildeo de sede no estrangeiro tem-se Franccedila (Paris) Alemanha

(Leipzig) Portugal (Lisboa Porto) e Inglarerra (Londres) ndash (Cf Figura 03) Devo

frisar ainda outra vez que uma parte significativa das obras referenciadas por

editoras ou filiais brasileiras tinha as impressotildees realizadas na Europa As

mencionadas acima ou eram obras importadas ou foram relatadas como obras

editadas nestes locais

Eacute interessante notar a convivecircncia entre editoras e tipografias Das 948

ediccedilotildees registradas neste trabalho apenas 287 foram publicadas propriamente por

editoras com expressatildeo nacional como a Impressatildeo Reacutegia a Laemmert a Garnier

a Francisco Alves a Jacintho Ribeiro dos Santos a Paulo Azevedo A Noite a

FTD a Melhoramentos a Companhia Editora Nacional e a Globo sendo todo o

restante a maioria publicado por pequenas tipografias ou casas editorias de

alcance local

As pequenas editoras ou graacuteficas prestavam-se geralmente para imprimir as obras encomendadas pelos proacuteprios autores Ao acompanharmos as ediccedilotildees dos livros escolares observamos que ao obter sucesso de vendagem havia a transferecircncia ou compra de obras ou dos direitos autorais pelas editoras maiores (BITTENCOURT 2008 p 74)

42

Eudoro Brazileiro Berlink ndash Nasceu em Porto Alegre em 1843 e faleceu no Rio de Janeiro em 1880 De filiaccedilatildeo poliacutetica conservadora foi professor e jornalista Dirigiu o jornal Rio-Grandense oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo do Partido Conservador No Rio de Janeiro para onde se mudou em 1876 trabalhou no jornal O Cruzeiro Foi autor da obra de Geografia mencionada acima e de Caxias Apontamentos para a Histoacuteria Militar do Duque de Caxias (1870) Para o teatro escreveu Georgina (BLAKE 1893 ALMEIDA 2007 PORTO-ALEGRE 1917)

43 Hilaacuterio Ribeiro ndash Nasceu em Porto Alegre em 1847 e faleceu no Rio de Janeiro em 1886 Cursou

Medicina no Rio de Janeiro mas precisou abandonar os estudos por motivos de sauacutede passando a dedicar-se ao ensino atuando como professor e proprietaacuterio de escola Escreveu poesias e peccedilas de teatro aleacutem de obras didaacuteticas (PORTO-ALEGRE 1917 HALLEWELL 2005)

44 J Pinto Guimaratildees ndash Natildeo foi possiacutevel localizar informaccedilotildees sobre esse autor

FIGURA 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica45 da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica na Europa (1814-1939)

Fonte Pesquisa direta 2007-2011

Esse fato eacute aferido diversas vezes na bibliografia didaacutetica de Geografia Thomaz

Pompeu de Souza Brasil publica seus Elementos de Geographia em Fortaleza pela

Typographia de Paiva e Companhia em 1851 pela qual saiu a segunda ediccedilatildeo em

1856 e transfere a terceira ediccedilatildeo em 1859 para a tipografia Domingos Joseacute

45

Delimitaccedilatildeo poliacutetica atual Natildeo corresponde ao traccedilado das regionalizaccedilotildees do periacuteodo

Gomes Brandatildeo e Irmatildeos a quarta ediccedilatildeo em diante que eacute de 1864 foi transferida

para o Rio de Janeiro onde foi editada pela Laemmert Jaacute no seacuteculo XX Carlos

Miguel Delgado de Carvalho publica a Geographia do Brasil Tomo I Geographia

Geral pelas Impressotildees ArtiacutesticasEmpresa Foto-Mecacircnica do Brasil em 1913 e a

partir da terceira ediccedilatildeo em 1927 a obra com todas as modificaccedilotildees endossadas eacute

editada pela Francisco Alves

Poreacutem por editoras ou tipografias os dados reafirmam o Rio de Janeiro

como centro econocircmico e cultural brasileiro acircmbito das decisotildees poliacuteticas agraves quais

a existecircncia do livro didaacutetico sempre esteve atrelada mas natildeo necessariamente o

uacutenico lugar Resgardadas as proporccedilotildees houve uma descentralizaccedilatildeo nesse

processo do sul ao norte do paiacutes excluindo-se os estados interioranos

A Impressatildeo Reacutegia que depois assumiria outros nomes (Imprensa Nacional

Imprensa Oficial Tipografia Nacional) foi a primeira casa dos manuais de

Geografia ao longo do seacuteculo XIX editou 11 ediccedilotildees a partir de 1814 A lideranccedila

contudo no seacuteculo XIX foi dividida com a Garnier casa que publicou 30 ediccedilotildees de

1860 em diante e com a Laemmert com 35 ediccedilotildees sendo a primeira de 1835 A

partir de 1880 a Francisco Alves entatildeo Livraria Claacutessica de Nicolau Alves passou a

atuar no mercado dos livros didaacutetico de Geografia liderando todas as casas com

110 ediccedilotildees das que identifiquei

Na segunda metade do seacuteculo XIX algumas editoras passaram a assumir os

riscos comerciais para suprir o mercado com livros didaacuteticos o estado nacional da

educaccedilatildeo jaacute permitia assumi-los O editor francecircs radicalizado no Brasil Baptiste

Louis Garnier (1823-1893) foi o pioneiro nesse sentido aleacutem de um grande inovador

dos projetos graacuteficos como um todo introduziu diversos padrotildees que passariam a

ser comerciais para o livro brasileiro como o formato francecircs ndash in-oitavo (165 x 105

cm) e in-doze (175 x 110 cm) o volume uacutenico preccedilos de capa fixo o pagamento

de direitos autorais ndash assumindo assim todos os encargos inerentes a uma ediccedilatildeo

Isso permite afirmar que Garnier foi um editor inovador

Transferir um autor para um editor o trabalho completo e o risco financeiro de publicar seu livro e ser pago por isso jaacute era possiacutevel haacute muitos anos na Inglaterra e na Franccedila no Novo Mundo isso ainda constituiacutea novidade [] (HALLEWELL 2005 p 209)

Embora Laemmert outro editor importante ao tempo de Garnier tenha

publicado livros didaacuteticos considerando todas as aacutereas sem duacutevida Garnier foi o

principal impressor e comerciante de livros didaacuteticos em geral posto que perderia

apenas para a casa de Francisco Alves deacutecadas depois embora Laemmert tenha

publicado mais tiacutetulos de Geografia que a Garnier

No conjunto dos materiais impressos das tipografias e editoras o valor

dimensionado a esse gecircnero pode ser perceptivo na abertura e incentivos a essas

produccedilotildees Lajolo Zilberman (1996) a esse respeito mencionam direitos a autores

de livros didaacuteticos que chegavam a 20 sobre o valor do volume percentagem que

era (eacute) o dobro de qualquer pagamento autoral em qualquer eacutepoca

O interessante eacute que no cenaacuterio geral dessas publicaccedilotildees a maioria das

obras didaacuteticas destinava-se ao ensino primaacuterio mas especificamente no que diz

respeito agrave Geografia a maioria dos tiacutetulos tinha por alvo o ensino secundaacuterio

Somente a partir do fim do seacuteculo XIX passariam a ser mais frequentes obras

individualizadas para o ensino de Geografia em niacutevel primaacuterio

Ateacute 1912 natildeo havia proteccedilatildeo internacional aos direitos autorais no Brasil

sobretudo para os autores natildeo residentes Muito da sobrevivecircncia e crescimento das

editoras nacionais se deveram a esse fato Os rudimentos legais de proteccedilatildeo aos

direitos autorais de estrangeiros originaram-se no artigo 261 do Coacutedigo Criminal do

Impeacuterio de dezembro de 1830 cujo texto criminalizava as apropriaccedilotildees indevidas

mas sem efeitos diretos Para os brasileiros era tradiccedilatildeo o proacuteprio autor custear

suas ediccedilotildees situaccedilatildeo que se observa de perto na bibliografia didaacutetica de Geografia

na accedilatildeo do amplo conjunto das pequenas tipografias Aleacutem disso muitas instacircncias

responsaacuteveis pela avaliaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo do livro didaacutetico soacute o recebiam para esse

procedimento uma vez impresso natildeo os originais Por isso se nota que

praticamente todo livro bem sucedido aqueles que tiveram reediccedilotildees migravam de

tipografias particulares para casas comerciais o que soacute acontecia sob a proteccedilatildeo e

aceitaccedilatildeo dos especialistas ou da criacutetica ndash o que os levava a ser adotados por

importantes instituiccedilotildees escolares O livro nessas condiccedilotildees garantia seu sucesso

comercial aferido tambeacutem pelo renome e tradiccedilatildeo do autor Com certeza esse

esquema aferia dificuldades para o autor que natildeo raro por natildeo ter pecuacutelio para

financiar uma tiragem agia por meio de subscriccedilotildees cotizando o valor da impressatildeo

entre amigos ndash uma espeacutecie de venda antecipada Garnier que introduziu o

pagamento regular de direitos autorais na base de 10 sobre o valor da capa era

extremamente conservador quanto agrave ediccedilatildeo de didaacuteticos raramente endossando

primeiras ediccedilotildees Francisco Alves por sua vez tinha habilidades para identificar

uma boa obra comercial e frequentemente agia por encomenda solicitando aos

autores determinadas obras Todavia talvez fossem os autores de livros didaacuteticos os

uacutenicos a realmente ter na produccedilatildeo destes alguma renda regular considerando-se

que algumas tiragens da Livraria Alves anos apoacutes o Impeacuterio variavam entre cinco e

cinquenta mil exemplares

A accedilatildeo de pequenas editoras revela sobretudo as dificuldades de

integraccedilatildeo de um mercado editorial mas natildeo soacute No Impeacuterio o Estado preocupou-se

essencialmente com o ensino da Corte delegando autonomia agraves proviacutencias para

cuidar de seus interesses educacionais Com isso era comum que os curriacuteculos

sofressem divergecircncias apresentando regionalidades curriculares que poderiam

conflitar com os da corte Assim surgiram manuais locais com perspectivas

geograacuteficas e histoacutericas particulares sobretudo se para o ensino primaacuterio Obras

como a Pequena Geographia da provincia do Paraacute de Cunha ou Noccedilotildees de

Geographia e de Historia do Brazil para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria da

proviacutencia do Paraacute de Freitas eram essencialmente regionais natildeo atendendo a um

mercado mais amplo

Em um prospecto particular diferentemente do panorama geral do livro

didaacutetico apoacutes a reabertura das importaccedilotildees para o manual didaacutetico de Geografia

natildeo se aplica o relato de Hallewell (2005 p 215) ldquocom o reestabelecimento dos

intercacircmbios durante muitos anos pouca coisa ouvimos de livros escolares

brasileirosrdquo Embora em nuacutemero natildeo expressivo a primeira metade do seacuteculo XIX

presenciou a gecircnese de um acervo bibliograacutefico para o ensino de Geografia bastante

significativo Afora a Impressatildeo Reacutegia a editora Laemmert juntamente com a

Garnier foram as casas comerciais pioneiras no desenvolvimento de uma linha

editorial de obras didaacuteticas em particular as de Geografia mas a par delas e desde

a deacutecada de 1830 a quantidade de tiacutetulos nacionais de Geografia foi significativa

Se a editora e livraria de Garnier foram pioneiras no mercado editorial do

livro didaacutetico brasileiro Francisco Alves foi o consolidador ao fazer deste mercado

sua principal fonte empresarial Sem duacutevida contribuiu para isso a conjuntura

educacional do Brasil nas deacutecadas precedentes e subsequentes agrave virada para o

seacuteculo XX conforme veremos adiante

Na avaliaccedilatildeo de Hallewell (2005 p 289) o livro didaacutetico difundido a partir

da Livraria Francisco Alves teve um papel maior que seus fins metodoloacutegicos de

ensino ldquo[] ao analisar a contribuiccedilatildeo de Alves para a difusatildeo da literatura brasileira

natildeo devemos desprezar a inegaacutevel importacircncia de seus compecircndios escolares e

antologiasrdquo (HALLEWELL 2005 p 289) Francisco Alves de Oliveira levou ao limite

em sua eacutepoca a experiecircncia de uma editora com os didaacuteticos Sua importacircncia

como editor costuma ser relegada justamente por esse motivo como analisa

Hallewell (2005 p 277 e 289) ldquoAs reminiscecircncias da vida literaacuteria do Rio de Janeiro

na virada do seacuteculo [] deixam totalmente de lado outro editor e livreiro tatildeo

importante quanto [outros] talvez porque lidasse principalmente com livros

didaacuteticosrdquo no entanto ldquo[] ao analisar a contribuiccedilatildeo de Alves para a difusatildeo da

literatura brasileira natildeo devemos desprezar a inegaacutevel importacircncia de seus

compecircndios escolares e antologiasrdquo E de fato o livro didaacutetico eacute um mal estar

completo entre escritores e acadecircmicos no Brasil jaacute naquele tempo e ainda o eacute na

atualidade Na avaliaccedilatildeo dos criacuteticos este gecircnero pertence a obras de menor conta

no conjunto de fatores que circunscrevem os manuais escolares devido a um

conjunto de estranhamentos a autoria ndash no sentido socioloacutegico ndash os manuais

enquanto obras de divulgaccedilatildeo natildeo satildeo percebidos como uma criaccedilatildeo completa

portanto exclusas das instacircncias de formulaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica atuante na

criacutetica mesmo na especializada a acadecircmica compilam simplificam natildeo

contribuem com o avanccedilo da aacuterea na qual se inserem o puacuteblico alvo ndash satildeo obras

destinadas agrave instruccedilatildeo alcanccedilando por isso um puacuteblico imaturo cujo ldquoacontecer em

cenardquo dificilmente reverbera no ldquodebaterdquo ou ldquocomposiccedilatildeo do cenaacuteriordquo no qual uma

obra comum se posiciona

Estes dentre outros fatores levam o livro didaacutetico a um lugar quase maldito

na cena editorial e acadecircmica de maneira que o anonimato frequentemente foieacute

uma recorrecircncia como se nota mesmo entre as personagens mais engendradas no

processo criativo e produtivo dos manuais escolares como o eacute Francisco Alves

O uso de diversos pseudocircnimos manteve desconhecido esse lado de suas atividades [autoria de livros didaacuteticos ndash a maioria na linha da linguagem] ateacute mesmo para amigos de trinta anos apoacutes sua morte poreacutem Oswaldo de

Melo Braga conseguiu identificar nada menos que trinta e nove livros de autoria de Francisco Alves (HALLEWELL 2005 p 279)

A Livraria Francisco Alves emergiu de outra empresa a Livraria Claacutessica do

editor Nicolao A Alves que desde 1872 anunciava sua especializaccedilatildeo na linha de

livros escolares e acadecircmicos (identifiquei o primeiro de Geografia no ano de 1880)

Naquele tempo atuava mais com livros importados do que propriamente com obras

da produccedilatildeo nacional Francisco Alves sobrinho de Nicolao quando adquiriu a

casa apoacutes um periacuteodo de sociedade manteve a aacuterea de atuaccedilatildeo da Livraria

Claacutessica ampliando-a com a inclusatildeo de manuais para as escolas primaacuterias e

incrementando o desenvolvimento editorial praticado tambeacutem por questatildeo de

barateamento dos custos de produccedilatildeo na Europa A grande inovaccedilatildeo de Francisco

Alves aleacutem do centramento do seu negoacutecio nos manuais didaacuteticos ndash um mercado

estaacutevel de vendas seguras e de maior volume ndash consistiu no incentivo e

incorporaccedilatildeo de uma produccedilatildeo nacional haja vista a vantagem para o editor

nacional uma vez que apenas com dificuldades os competidores estrangeiros

inseriam-se no mercado brasileiro pois os produtos destes ldquo[] jamais podem

adaptar-se tatildeo bem agraves condiccedilotildees ou aos curriacuteculos locaisrdquo (HALLEWELL 2005 p

280)

FIGURA 04 ndash Baptiste Louis Garnier (1823-1893) pioneiro das atividades editoriais para o livro didaacutetico brasileiro e Francisco Alves de Oliveira (1848-1917) que consolidou o mercado das publicaccedilotildees didaacuteticas no Brasil

Fonte HALLEWELL (2005 p 198 e 277)

As relaccedilotildees sociais de Francisco Alves muito o favoreceram a exemplo da

amizade que manteve com Teoacutefilo das Neves Leatildeo Secretaacuterio da Educaccedilatildeo na

presidecircncia de Prudente de Morais que foi leitor dos originais da Livraria e seu

conselheiro muito auxiliando o editor na tomada de decisotildees corretas e coerentes

na definiccedilatildeo do acervo didaacutetico de sua empresa de acordo com o movimento

educacional do seu tempo (HALLEWELL 2005)

A importacircncia da Livraria Francisco Alves fez com que os negoacutecios tivessem

necessidade de expansatildeo jaacute no periacuteodo republicano sendo abertas filiais em Satildeo

Paulo e Belo Horizonte ldquoa firma havia crescido rapidamente a partir de meados da

deacutecada de 1890 e logo chegou a deter o quase monopoacutelio no campo do livro didaacutetico

brasileirordquo tambeacutem por um meacutetodo econocircmico uma vez que conseguira a ldquo[]

suplantaccedilatildeo dos concorrentes mediante a praacutetica de tiragens maiores o que

barateava os preccedilos e em parte com a aquisiccedilatildeo das firmas rivaisrdquo (HALLEWELL

2005 p 285) Periacutecia econocircmica escolhas apropriadas e uma massiva propaganda

foram a receita empresarial de Francisco Alves para o mercado do livro didaacutetico

Por fim vale mencionar que a atuaccedilatildeo das editoras comerciais foi central na

questatildeo da distribuiccedilatildeo dos livros sobretudo nacionalmente Muito trabalharam na

divulgaccedilatildeo de seus cataacutelogos por meio de jornais submetendo os tiacutetulos agrave

apreciaccedilatildeo criacutetica dos jornalistas promovendo resenhas ou anuacutencios publicitaacuterios

24 O desenvolvimento fiacutesico-graacutefico dos manuais didaacuteticos de Geografia

O aspecto fiacutesico-graacutefico dos livros didaacuteticos em geral conforma uma histoacuteria

e uma significaccedilatildeo particulares nas quais os manuais de Geografia tecircm suas

especificidades com implicaccedilatildeo direta na organizaccedilatildeo do ensino e da aprendizagem

dessa disciplina Entre os designers semioacuteticos e analistas do discurso ndash quanto agrave

materialidade impressa ndash eacute consenso que a leitura tem iniacutecio pela visualizaccedilatildeo do

objeto e sobretudo pela visualizaccedilatildeo graacutefica que causa ldquo[] um impacto no

observador e uma inconsciente primeira leitura [] do material impresso A partir daiacute

o arranjo graacutefico passa a atuar como discurso e como discurso possui uma

linguagem especiacutefica e uma rede encadeada de significaccedilatildeordquo (SILVA 1985 p 40)

De acordo com Martins (2006) nas materialidades impressas conjugam-se pelo

menos trecircs modalidades de linguagem a linguagem verbal que expressa a escrita

a linguagem matemaacutetica ndash as equaccedilotildees graacuteficos notaccedilotildees tabelas e a linguagem

imageacutetica que apresenta desenhos fotografias mapas diagramas (MARTINS

2006)

Os manuais de Geografia relacionados na bibliografia da pesquisa

apresentam um quadro graacutefico que passaraacute por poucas transformaccedilotildees satildeo de

certa forma homogecircneos ateacute a virada para o seacuteculo XX quando haveraacute algumas

inovaccedilotildees relevantes embora pontuais no padratildeo graacutefico desses materiais

Ateacute a deacutecada de 1960 a linguagem do livro didaacutetico em geral esteve inscrita

no universo da cultura escolar a partir de entatildeo inscreve-se em outras linguagens

sobretudo a da comunicaccedilatildeo impressa (MORAES 2008) Ou seja a linguagem

instrucional do gecircnero foi basicamente verbal opositiva agrave miscelacircnea linguageira

que se alinhou agrave produccedilatildeo do livro didaacutetico a partir dos anos 1960 por exemplo

quando se instituiu uma semioacutetica didaacutetica com recursos iconograacuteficos de diversas

estirpes ampliando a compreensatildeo do leitor e diversificando a experiecircncia da leitura

e do estudo do livro didaacutetico O layout das uacuteltimas deacutecadas praticamente perdeu a

simplicidade e certa inocecircncia identificaacutevel nas teacutecnicas de composiccedilatildeo do bloco

impresso dos livros do periacuteodo ganhando traccedilos e efeitos que inovam a

diagramaccedilatildeo e potencializam o funcionamento discursivo das disciplinas Ateacute com

certo exagero havendo casos em que se percebe um predomiacutenio dos recursos

iconograacuteficos sobre os recursos textuais

O livro brasileiro formalmente foi influenciado pelo modelo de impressatildeo

francecircs Talvez por uma razatildeo teacutecnica jaacute que a maioria das impressotildees era feita

diretamente na Franccedila ou por alguns dos principais livreiros e editores do paiacutes

terem sido franceses Predominantemente satildeo livros de capa dura O mais comum

ateacute os anos 1870 era que a capa identificasse apenas o tiacutetulo da obra e a autoria

geralmente na lombada As primeiras ediccedilotildees da Impressatildeo Reacutegia por exemplo

ldquo[] eram vendidos brochados Geralmente saiacuteam cobertos com uma simples capa

de papel cinzento ou azulado papel barato como se usava na Europa O comprador

eacute que os mandava encadernar por sua conta e a seu gostordquo (MORAES 1975) Agraves

vezes o livreiro jaacute os vendia encadernados mas natildeo era regra De qualquer forma

encadernaccedilatildeo e impressatildeo ateacute final do seacuteculo XIX natildeo eram sempre partiacutecipes do

mesmo processo industrial Muitos dos livros impressos na Europa sequer eram

exportados prontos vinham em rolos impressos aquartelados em barris sendo pelo

livreiro cortados montados e agregados por colagem ou costura (HALLEWELL

2005) Agrave maneira da Franccedila satildeo comuns os encadernamentos marmorizados com

falsas nervuras e filigramas como se observa ainda em um exemplar de 1878 das

Liccedilotildees de Geographia do Abbade Gaultier46 ou encadernados de forma mais

simples com cartonado espesso e tecido sem identificaccedilotildees como o exemplar de

Joaquim Maria de Lacerda Curso methodico de Geographia physica politica

histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras de

1887 (Figura 05)

46

Abbade Gaultier ndash Religioso nascido na Itaacutelia (1745-1818) mas radicalizado na Franccedila do seacuteculo XVIII migrou para a Inglaterra quando da Revoluccedilatildeo Francesa onde abriu um curso puacuteblico e implementou um meacutetodo de ensino que ficou conhecido como ldquomeacutetodo Gaultierrdquo prenuacutencio do meacutetodo de ensino muacutetuo Sua geografia didaacutetica utilizada por quase um seacuteculo foi estruturada no meacutetodo socraacutetico ou dialogada em que alunos fazem perguntas e o mestre responde desenvolvendo o conteuacutedo (SCROSOPPI 1939)

FIGURA 05 ndash Encadernaccedilotildees tiacutepicas da bibliografia didaacutetica de Geografia ateacute fins do seacuteculo XIX

Autoria Jeane Medeiros Silva 2011

Esse padratildeo passaria por transformaccedilotildees como ademais o livro brasileiro em geral

no que se refere agrave constituiccedilatildeo do encapamento das obras A folha de rosto desde a

constituiccedilatildeo dos livros impressos destacou-se como uma espeacutecie de certidatildeo de

nascimento da obra apresentando identificaccedilotildees como autoria titulaccedilatildeo editoraccedilatildeo

e outras informaccedilotildees O que se nota na bibliografia a partir dos anos 1880 eacute uma

transferecircncia do constituto das folhas de rosto para as capas que importam ou

mesmo reproduzem o layout das folhas de rosto ou constituem uma informaccedilatildeo

mais personalizada deslocando a identificaccedilatildeo exclusivamente das lombadas A

contracapa tambeacutem passa a ser utilizada geralmente para comerciais do editor ou

da livraria anunciando outros lanccedilamentos ou sortimentos relacionados ao ambiente

escolar (Figuras 06 e 07)

A maioria dos manuais de Geografia editados ateacute o final do seacuteculo XIX tinha

tamanho in-oitavo (165 x 105 cm) e in-doze (175 x 110 cm) Nesse periacuteodo

geralmente os livros para o ensino primaacuterio eram menores que esse padratildeo como a

Pequena Geographia da Infacircncia de Lacerda Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX

no entanto esse padratildeo eacute modificado em alguns casos com o aparecimento de

obras mais largas e em formato panoracircmico especificamente para o ensino

primaacuterio a exemplo da obra Geographia Elementar de A de Rezende Martins47

(Figura 08)

47

Ameacutelia de Rezende Martins ndash Renomada musicista paulista pianista e camerista neta do Baratildeo Geraldo Rezende nascida em Campinas (Satildeo Paulo) em 1877 e falecendo em data ignorada no Rio de Janeiro cidade onde viveu a maior parte de sua vida Apesar de na muacutesica estar registrada suas contribuiccedilotildees mais relevantes foi ainda autora de livros didaacuteticos de Histoacuteria e Geografia em um total de seis todos ldquoapprovados e adoptados pela Instrucccedilatildeo do Districto Federalrdquo aleacutem de filmes pedagoacutegicos ensaios e criacuteticas atuando ainda como polemista e conferencista Suas atividades intelectuais foram iniciadas na deacutecada de 1910 com a escrita de livros didaacuteticos contextualizados na Escola Nova e na linha montessoriana Sua contribuiccedilatildeo para a educaccedilatildeo brasileira inclui ainda a produccedilatildeo de diversos filmes pedagoacutegicos cujo propoacutesito era complementar aulas expositivas Como conferencista e polemista participou de eventos e debates sobre questotildees sociais polecircmicas contribuindo para diversos perioacutedicos e diaacuterios cariocas Juntamente com Theodoro Heuberger e Frei Pedro Sinzig em 1931 no Rio de Janeiro fundou e presidiu a Pro-Arte Sociedade de Artes Letras e Ciecircncias em cujos salotildees realizaram-se exposiccedilotildees conferecircncias e concertos e posteriormente difundiu trabalhos artiacutesticos e instituiccedilotildees de muacutesica A despeito das dificuldades de comunicaccedilatildeo e transportes participou de caravanas artiacutesticas que transitaram por cidades do Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul levando muacutesica exposiccedilotildees e obras de artesanato (TINHORAtildeO 2000 COELHO PRO-ARTE 2009) Reformadora e arquiconservadora em diversas questotildees incluindo gecircnero e educaccedilatildeo chegou a afirmar que ldquo[] eacute preferiacutevel a ignoracircncia completa e uma satilde moral ciecircncia nenhuma e muito catecismo a todo esse simulacro de instruccedilatildeo que serve apenas para infelicitar uma onda de meninas brasileirasrdquo (MARTINS apud BESSE 1999 p 133)

FIGURA 06 ndash Capa da 5 ed da Chorographia do Brasil de Henrique Martins (1896) a identificaccedilatildeo da obra desloca-se da lombada e da folha de rosto para a capa frontal

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

A qualidade do papel igualmente reflete alguns nuances da trajetoacuteria do livro

didaacutetico de Geografia Ateacute a deacutecada de 1880 os livros espelham o prestiacutegio de um

consumo mais elitizado sendo impressos em papel de qualidade em sua maioria o

que inclusive garantiu uma maior preservaccedilatildeo dos exemplares sobreviventes

Apenas na entrada do seacuteculo XX se consta uma oscilaccedilatildeo na qualidade do papel

quando o livro jaacute consolidado como objeto pedagoacutegico do discente tem

aumentadas suas tiragens e por conseguinte o consumo processo que visou o seu

barateamento

FIGURA 07 ndash Reproduccedilatildeo da folha de rosto na capa do exemplar de 1902 de A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica das cinco de Frere Ignace Chaput (FIC)

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

O uso de imagens jaacute era uma recomendaccedilatildeo na Didaacutetica de Comenius

(1986) no seacuteculo XVII Mas a viabilidade desse uso em escala mais ampla foi

possiacutevel apenas com o aparecimento da litografia em fins do seacuteculo XVIII uma

teacutecnica de gravura realizada a partir do desenho com um laacutepis gorduroso sobre uma

pedra calcaacuteria reproduzido posteriormente com impressatildeo manual Ao passo que

alguns livros soacute passaram a contar com recursos iconograacuteficos a partir de meados

do seacuteculo XX (NAKAMOTO 2010) os livros de ciecircncias e Geografia tiveram alguma

tradiccedilatildeo no uso de ilustraccedilotildees A cor eacute outro recurso relevante na teacutecnica graacutefica

Particularmente satildeo relevantes no discurso pedagoacutegico da Geografia haja vista a

semiologia graacutefica empregada nas representaccedilotildees cartograacuteficas na

iconoinformaccedilotildees da Geografia Fiacutesica e na diferenciaccedilatildeo de elementos na

paisagem nas simbologias nacionais etc No periacuteodo em anaacutelise a predominacircncia

foi do preto e do branco e quando dispostas representaccedilotildees das hachuras Natildeo

que fosse desconhecida sua importacircncia mas propriamente por uma questatildeo

econocircmica esses recursos encareciam a produccedilatildeo No contexto dos projetos

graacuteficos as cores tecircm seu proacuteprio funcionamento ldquoao utilizar deliberadamente uma

determinada cor num projeto esta exerce trecircs accedilotildees no sujeito receptor de iniacutecio

fiacutesico impressiona a retina depois psiacutequico pois provoca uma reaccedilatildeo e eacute tambeacutem

construtiva visto que possui um valor podendo assim comunicar uma ideiardquo

(NAKAMOTO 2010 p 70)

FIGURA 08 ndash Geographia Elementar de A de Rezende Martins ndash exemplar de 1926 das primeiras obras em formato panoracircmico

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

O uso de imagens jaacute era uma recomendaccedilatildeo na Didaacutetica de Comenius

(1986) no seacuteculo XVII Mas a viabilidade desse uso em escala mais ampla foi

possiacutevel apenas com o aparecimento da litografia em fins do seacuteculo XVIII uma

teacutecnica de gravura realizada a partir do desenho com um laacutepis gorduroso sobre uma

pedra calcaacuteria reproduzido posteriormente com impressatildeo manual Ao passo que

alguns livros soacute passaram a contar com recursos iconograacuteficos a partir de meados

do seacuteculo XX (NAKAMOTO 2010) os livros de ciecircncias e Geografia tiveram alguma

tradiccedilatildeo no uso de ilustraccedilotildees A cor eacute outro recurso relevante na teacutecnica graacutefica

Particularmente satildeo relevantes no discurso pedagoacutegico da Geografia haja vista a

semiologia graacutefica empregada nas representaccedilotildees cartograacuteficas na

iconoinformaccedilotildees da Geografia Fiacutesica e na diferenciaccedilatildeo de elementos na

paisagem nas simbologias nacionais etc No periacuteodo em anaacutelise a predominacircncia

foi do preto e do branco e quando dispostas representaccedilotildees das hachuras Natildeo

que fosse desconhecida sua importacircncia mas propriamente por uma questatildeo

econocircmica esses recursos encareciam a produccedilatildeo No contexto dos projetos

graacuteficos as cores tecircm seu proacuteprio funcionamento ldquoao utilizar deliberadamente uma

determinada cor num projeto esta exerce trecircs accedilotildees no sujeito receptor de iniacutecio

fiacutesico impressiona a retina depois psiacutequico pois provoca uma reaccedilatildeo e eacute tambeacutem

construtiva visto que possui um valor podendo assim comunicar uma ideiardquo

(NAKAMOTO 2010 p 70)

Os primeiros manuais de Geografia sobretudo ateacute a deacutecada de 1870 natildeo

possuiacuteam ilustraccedilotildees Os mapas foram as primeiras representaccedilotildees a serem

introduzidas geralmente um mapa mundi ou do Brasil Os livros de maior

repercussatildeo nesse periacuteodo como o do Abbade Gaultier o de Thomaz Pompeu de

Souza Brasil o de Luiz Antonio Burgain48 natildeo possuiacuteam nenhum tipo de ilustraccedilatildeo

ou mapa Geralmente custeado pelo proacuteprio autor ou por uma casa editora que natildeo

contava com uma demanda de mercado certa natildeo se podia arcar com os dispecircndios

da produccedilatildeo ou com o encarecimento da obra fatos ligados agrave implementaccedilatildeo de

ilustraccedilotildees como fica aclarado no discurso de Torreatildeo (1824 apud BOGLIAN 2010

p 80)

Conheccedilo que para melhor intelligencia eu devia gravar Mappas Geographicos para esclarecer as divisoens dos Paizes que descrevo mas as minhas circuntancias actuaes natildeo me offerecem as necessaacuterias proporccedilotildeens para huma empreza tatildeo delicada portanto como seja o meu

48

Luiz Antonio Burgain ndash Foi um recohecido professor e dramaturgo brasileiro nascido em 1812 e falecido em 1877 Escreveu obras didaacuteticas de Geografia e de Liacutengua Portuguesa (BLAKE 1899)

objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographia resolvi-me a publicar mesmo com essa falta na persuasatildeo de que as Cartas Universaes e Geraes poacutedem muito bem applicar-se-lhe com pequenas faltas que seratildeo supridas por qualquer haacutebil explicador

Em 1830 os Elementos de Geographia Astronomica poliacutetica e physica de

Manoel Ildefonso de Souza inovam nesse sentido apresentando um mapa fato

posto em destaque no subtiacutetulo da obra

No final do seacuteculo XIX alguns manuais de prestiacutegio passaram a ostentar

maior variedade de litografias e sobretudo mapas coloridos como eacute o caso do Curso

methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica

composto para uso das escolas brazileiras de Joaquim Maria de Lacerda que

apresentava ldquo[] 14 mappas coloridos illustrada com grande numero de finissimas

gravuras instructivas e interessantesrdquo (LACERDA 1898) Comumente eram

ilustraccedilotildees anocircnimas retratando paisagens ou descrevendo elementos da natureza

como plantas e animais (Figura 09)

FIGURA 09 ndash Ilustraccedilotildees e um dos mapas coloridos da obra Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras de Lacerda 1887

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

Na primeira deacutecada do seacuteculo XX os livros da bibliografia passam por

inovaccedilotildees nas apresentaccedilotildees e representaccedilotildees Em 1901 eacute publicado o livro de

Arthur Thireacute49 Geografia Elementar para o ensino primaacuterio pela Francisco Alves O

livro apresentava um projeto graacutefico completamente novo capa ilustrada colorida

mapas e desenhos coloridos reproduccedilotildees fotograacuteficas (Figuras 10 e 11) Foi

aprovado pelo governo do Estado de Satildeo Paulo em ato legislativo de 08 de agosto

de 1901 sendo apresentado por meio de carta publicada na obra por Theodoro

Sampaio (1855-1937) A obra foi medalha de prata na Exposiccedilatildeo Internacional e

Universal de Bruxelas em 1910

Nesse momento os manuais de Geografia comeccedilavam a incorporar as

fotografias como recursos iconograacuteficos embora apresentassem nitidez inferior agraves

ilustraccedilotildees sobretudo ao enquadrarem paisagens ou representaccedilotildees que

diversificassem e dispusessem de muitos detalhes As Liccedilotildees de Chorographia do

Brasil de Horacio Scrosoppi50 na segunda ediccedilatildeo em 1911 eacute outra obra que

incorpora as fotografias em seu corpo (Figura 12) Proacuteximo agrave deacutecada seguinte a

qualidade graacutefica das fotografias presentes na bibliografia melhorou sensivelmente

embora tal como antes as ilustraccedilotildees que persisitiram presentes tivessem um uso

meramente ilustrativo sem integrar o texto em abordagem natildeo eram comentadas

nem exploradas como recurso didaacutetico No maacuteximo contavam com um curto tiacutetulo de

identificaccedilatildeo do objeto em representaccedilatildeo

49

Arthur [Charles] Thireacute ndash Nasceu na Franccedila em Caen em novembro de 1853 Formou-se em Paris em Matemaacutetica e Engenharia Civil e de Minas na Eacutecole Polytechnique de Paris Em 1878 a convite de Dom Pedro II mudou-se para o Brasil para lecionar na Escola de Minas de Ouro Preto (MG) Permaneceu no Brasil ateacute sua morte trabalhando como engenheiro diretor agriacutecola e como professor Em 1910 assumiu a caacutetedra de Matemaacutetica no Internato do Coleacutegio Pedro II O autor traduziu obras teacutecnicas da aacuterea de mineraccedilatildeo e escreveu diversas obras cientiacuteficas e didaacuteticas sobretudo de matemaacutetica ensino para o qual apresentou muitas contribuiccedilotildees significativas aleacutem da Geografia e das Ciecircncias (THIENGO 2005 SANTOS 2009)

50 Horacio Scrosoppi ndash Nasceu em 1850 e faleceu em 1928 Foi educador

FIGURA 10 ndash Capa da obra Geographia Elementar de Arthur Thireacute

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

FIGURA 11 ndash Algumas paacuteginas internas da obra Geographia Elementar de Arthur Thireacute

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

FIGURA 12 ndash Fotografias ilustrando a obra Liccedilotildees de Chorographia do Brasil de Horacio Scrosoppi

Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011

Graficamente o texto da bibliografia tem uma composiccedilatildeo simeacutetrica agraves

vezes mesmo sem colunamento constituiacuteda basicamente pelos fios tipograacuteficos do

texto ateacute a deacutecada de 1870 A partir dos anos 1880 se verifica uma maior

abundacircncia de vinhetas notas de rodapeacute uma acentuaccedilatildeo das pregnacircncias

(recursos expressivos) aleacutem de glossaacuterios boxes de textos complementares e

outros As teacutecnicas graacuteficas desse periacuteodo compreendem a tipografia como forma de

impressatildeo dos textos embasado na composiccedilatildeo de caracteres (tipologia) com os

tipos ou fontes produzindo diversos efeitos no texto corrido na titulaccedilatildeo O principal

destaque dos tipos sua teacutecnica mais elementar satildeo as serifas pequenos efeitos

nos caracteres que criam a ilusatildeo de uma linha movendo instantaneamente o leitor

de uma letra a outra de uma palavra a outra o que define o valor e a qualidade da

impressatildeo A expressividade da tipografia conta com recursos denominados

ldquopregnacircnciardquo como itaacutelico negrito caixa alta sublinhado e sinalizaccedilotildees como traccedilos

manchetes etc que ocupam uma funccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos sentidos alinhando

significados a mais agraves palavras e agrave organizaccedilatildeo dos textos O efeito graacutefico principal

eacute a legibilidade para o que influi a forma dos tipos o cumprimento das linhas o

entrelinhamento os espaccedilos definidos e as margens O tamanho da fonte precisa

ser compatiacutevel com o cumprimento da letra e ambos com o espacejamento e tanto

melhor seraacute a leitura quanto for o equiliacutebrio entre a mancha graacutefica e o espaccedilo em

branco (SILVA 1985 NAKAMOTO 2010)

Na bibliografia em questatildeo a qualidade da impressatildeo oscila dependendo

das ediccedilotildees em geral satildeo boas Apenas com a ampliaccedilatildeo das tiragens e iniacutecio do

processo de ampliaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo eacute que se observa agraves vezes uma ou outra

ediccedilatildeo com menor qualidade graacutefica e de impressatildeo em razatildeo de barateamento de

custos

No proacuteximo capiacutetulo procuro perceber a gecircnese do ensino geograacutefico no

Brasil considerando como marcadores histoacutericos os periacuteodos jesuiacutetico pombalino e

joanino momentos que datildeo os primeiros indiacutecios de uma disciplina e da bibliografia

didaacutetica de Geografia com particular atenccedilatildeo agrave Academia Real Militar (1810)

instituiccedilatildeo integrante do movimento de introduccedilatildeo do pensamento cientiacutefico no

Brasil e marco no ensino de Geografia brasileiro

CAPIacuteTULO 3

DO ENSINO IMPLIacuteCITO AO ENSINO EXPLIacuteCITO DA GEOGRAFIA prenuacutencios da disciplina e do livro didaacutetico nos movimentos

histoacutericos anteriores agrave independecircncia poliacutetica do Brasil

A histoacuteria do livro didaacutetico no Brasil incluindo os de Geografia no periacuteodo

delimitado para a pesquisa teve o primeiro centro de irradiaccedilatildeo no Rio de Janeiro

onde predominou como atividade cultural e editorial ateacute fins do seacuteculo XIX gestando

nesse espaccedilo sua formaccedilatildeo posteriormente deslocado para Satildeo Paulo processo

iniciado nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX e consolidado na segunda metade

deste seacuteculo ressalvando-se algumas manifestaccedilotildees regionais importantes nesse

entretempo (HALLEWELL 2005 BITTENCOURT 2008)

As raiacutezes da literatura didaacutetica de Geografia engendram-se na formaccedilatildeo

desta disciplina cujos primeiros movimentos constitutivos se enunciam de forma

evidente nas deacutecadas iniciais do seacuteculo XIX embora nos trecircs primeiros seacuteculos de

histoacuteria do Brasil se encontrem vestiacutegios de praacuteticas deste ensino ainda natildeo

autocircnomo nem expresso como necessidade nos objetivos educacionais de entatildeo

poreacutem significativos Compreender esse movimento educacional evidencia alguns

dos contextos de emersatildeo e desenvolvimento da disciplina Geografia e do seu livro

didaacutetico

O livro didaacutetico portanto engendra-se no desenvolvimento de uma

disciplina e esta soacute eacute compreendida no contexto geral da educaccedilatildeo (CHERVEL

1990 MOREIRA 2007)

A propoacutesito a gecircnese da educaccedilatildeo brasileira consensualmente encontra-

se nas praacuteticas educacionais dos padres da Companhia de Jesus e soacute mais tarde

no seacuteculo XIX o ensino de Geografia em especiacutefico comeccedilaria a ganhar corpo e

independecircncia Os livros didaacuteticos de Geografia por sua vez incorporaratildeo conteuacutedo

e expressatildeo na medida em que a educaccedilatildeo brasileira passou a ser sistematizada e

normatizada quando a Geografia escolar ocupou um lugar nessa educaccedilatildeo como

uma das disciplinas autocircnomas ou ainda em caminho da autonomia haja vista a

fronteira cega que fez par com a Histoacuteria muitas vezes Seus status como disciplina

autocircnoma e consolidada no sistema educacional foi um processo lento certificado

aos poucos

Que praacuteticas geograacuteficas foram essas Quais os seus objetivos Quais suas

referecircncias Quais os seus agentes Qual a sua relaccedilatildeo e influecircncia na literatura

didaacutetica de Geografia

Ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a educaccedilatildeo geograacutefica passou por

um longo e difuso caminho ateacute estreitar seu diaacutelogo com as instacircncias de produccedilatildeo

da ciecircncia orientar a formaccedilatildeo dos professores de Geografia consolidar seu espaccedilo

na instituiccedilatildeo escolar e ser partiacutecipe na institucionalizaccedilatildeo da Geografia acadecircmica

Essa gecircnese inicia-se externamente agraves fronteiras do que na atualidade conhecemos

como Geografia Moderna de matriz cientiacutefica que demoraria ainda algumas

deacutecadas a partir da segunda metade do seacuteculo XIX para ter expressatildeo na Europa

embora as condiccedilotildees histoacutericas para tanto jaacute estivessem lanccediladas e em andamento

Procurando-se a histoacuteria da literatura didaacutetica de Geografia busca-se

igualmente a dimensatildeo de sua importacircncia o papel que exerceu na sistematizaccedilatildeo

e divulgaccedilatildeo de um saber geograacutefico brasileiro a funccedilatildeo exercida para preparar e

orientar professores desprovidos de bases formativas nesse conhecimento

Natildeo que a disciplina Geografia viesse necessariamente a ser uma

vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica pois a estrutura da disciplina se ergue do entrecruzamento de

diversas instacircncias sendo a ciecircncia apenas uma delas a ciecircncia a seu tempo teve

contribuiccedilotildees importantes no processo de sustentaccedilatildeo da Geografia escolar assim

como o contraacuterio tambeacutem se deu pois a Geografia escolar contribuiu para

institucionalizar a Geografia acadecircmica a formaccedilatildeo de professores foi uma das suas

razotildees de existecircncia

No Brasil as primeiras manifestaccedilotildees da Geografia como disciplina

independente surgiram no ensino superior na composiccedilatildeo curricular de alguns dos

primeiros cursos cientiacuteficos especificamente nas formaccedilotildees estabelecidas pela

Academia Real Militar (1810) Teria essa presenccedila influenciado o iniacutecio do ensino de

Geografia nos niacuteveis secundaacuterio e elementar Como se teria dado esse processo

Quais os outros influxos no mesmo De antematildeo respondo que as implicaccedilotildees

dessa dinacircmica foram determinantes para a composiccedilatildeo da literatura didaacutetica de

Geografia no Brasil

O palco do nascimento e fortalecimento no Brasil da disciplina escolar de

Geografia e tambeacutem da Histoacuteria foi o seacuteculo XIX Esse acontecer eacute abordado em

duas teorias na literatura geograacutefica na primeira delas teria emergido da forccedila e

necessidade dos nacionalismos (VLACH 1988 PEREIRA 1999) no acircmbito da

educaccedilatildeo das elites na segunda sua emergecircncia se deveria ao fato de ter sido um

instrumento da divulgaccedilatildeo de uma cultura universal necessaacuteria ao ingresso na

civilizaccedilatildeo predominante a europeia (ROCHA 1996)

Neste capiacutetulo defendo uma outra tese que natildeo necessariamente anula ou

contradiz as duas anteriores mas as amplia Trata-se da hipoacutetese de que o

aparecimento da Geografia como ensino teve iniacutecio com a introduccedilatildeo de uma

educaccedilatildeo cientiacutefica na Colocircnia em um primeiro momento posteriormente no

alvorecer do Impeacuterio sua consolidaccedilatildeo se acentua com o projeto poliacutetico de

formaccedilatildeo do Estado brasileiro ou das elites deste Estado momento em que vamos

ao encontro do movimento proposto por Vlach (1988) notadamente marcado no

discurso de nacionalizaccedilatildeo do livro didaacutetico esse movimento nas primeiras deacutecadas

do seacuteculo XX se expande no sentido de descentrar-se das elites e ser popularizado

Complementando esta hipoacutetese o processo de formaccedilatildeo poliacutetica do Brasil

coincide entre as deacutecadas de 10 e 50 dos Oitocentos no acircmbito da educaccedilatildeo com

a crise dos estudos claacutessicos e a emergecircncia das abordagens cientiacuteficas que

advindas do Iluminismo adentram a cena educacional brasileira por meio das

faculdades e escolas de estudos superiores no periacuteodo joanino e daiacute permeiam a

educaccedilatildeo baacutesica em um processo paulatino que em fins do seacuteculo XIX conta com a

forccedila das ideias positivistas para sua consolidaccedilatildeo jaacute no periacuteodo republicano

Haacute que se considerar como demonstro com mais detalhes adiante que a

Geografia Claacutessica com sua dupla orientaccedilatildeo ndash a matemaacutetica e a descritiva ndash eacute o

que encontraremos como referecircncia para o ensino de Geografia no Brasil ao longo

do seacuteculo XIX e a encontraremos em crise ao findar desse seacuteculo abrindo espaccedilo

para a ascensatildeo da Geografia Moderna que comeccedila a ser introduzida no cenaacuterio da

educaccedilatildeo geograacutefica antes mesmo de sua institucionalizaccedilatildeo como ciecircncia na

academia nas primeiras deacutecadas do seacuteculo seguinte Em outras palavras o ensino

superior no Brasil se organizou em trecircs nuacutecleos Medicina Engenharias e um pouco

mais tarde Direito A Geografia matemaacutetica especialmente foi valorizada no acircmbito

dos cursos de engenharias e a Geografia descritiva foi colocada como condiccedilatildeo

cultural e ideoloacutegica nos exames dos cursos de humanidades Uma e outra sem

fronteiras claras Mesclaram-se por fim com avanccedilos e recuos para estabelecer as

bases curriculares da Geografia escolar

Em uma perspectiva discursiva na qual se consideram as formaccedilotildees

histoacutericas e ideoloacutegicas inerentes agrave construccedilatildeo da realidade por meio da linguagem

haacute comprometimentos poliacuteticos indissociaacuteveis a qualquer praacutetica do discurso dos

quais natildeo se isenta o discurso da Geografia seja por manifestaccedilatildeo seja pelos

silenciamentos impostos a ela isso impede que seja vista unicamente nos

Oitocentos como instrumento de uma cultura universal como percebe Rocha

(1996) A linguagem e suas praacuteticas necessariamente satildeo ideoloacutegicas filiam-se a

determinadas formaccedilotildees ndash a cultura inclusive

No periacuteodo joanino e nos anos iniciais do Impeacuterio esses movimentos

geograacuteficos foram sutis mas anunciavam o que estava por vir e natildeo devem ser

desconsiderados A fundaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II em 1837 faraacute um ordenamento

modelar no curriacuteculo do ensino de Geografia Poreacutem ateacute o surgimento desta

instituiccedilatildeo o ensino de Geografia tem uma trajetoacuteria que se anuncia e precisa ser

analisada (praticamente sem abordagem sistecircmica na literatura especiacutefica) pois o

ensino da Geografia e a instauraccedilatildeo desse saber como disciplina escolar natildeo eacute um

ato inaugural do Coleacutegio Pedro II ndash fato tomado como marco por muitos historiadores

do ensino de Geografia brasileiro51

As obras de Geografia com o propoacutesito do ensino sempre primaram pela

atualizaccedilatildeo da realidade apresentada gerando no meio autoral e editorial uma

espeacutecie de ldquoanguacutestia da desatualizaccedilatildeordquo Historicamente construiacutedas as geografias

em representaccedilatildeo ano a ano rapidamente envelheciam desatualizando essas obras

sempre reescritas acrescentadas refundidas aumentadas a cada nova ediccedilatildeo Em

um dos exemplos mais claacutessicos tem-se a Geacuteographie moderne et universelle do

Abade Nicolle de la Croix morto em 1760 cuja obra ainda em circulaccedilatildeo nos

51

COLESANTI 1984 ROCHA 1996 PINHEIRO 2005a e 2005b dentre outros

Oitocentos contava com ampliaccedilotildees e atualizaccedilotildees a cada ediccedilatildeo como a feita por

Victor Comeiras em 1800 adentrando outras o seacuteculo XIX

Outra necessidade que se impunha era a de adaptaccedilotildees em duas vertentes

de um lado adaptaccedilotildees de obras cientiacuteficas para uso escolar (eacute o caso do Abreacutegeacute

de la Geacuteographie Moderne adaptaccedilatildeo francesa com fins didaacuteticos da obra de

Pinkerton) de outro adaptaccedilotildees de obras estrangeiras agrave realidade nacional

Historicamente esse material foi constituiacutedo pela agregaccedilatildeo de padrotildees e

elementos que o foram caracterizando com construccedilotildees proacuteprias a ele tornando-o

uma materialidade uacutenica e tiacutepica de forma que a sua discursividade pode identificaacute-

lo como um gecircnero do discurso

Os livros escolares integram a constituiccedilatildeo e a autonomia dos conteuacutedos

enquanto disciplinas do ensino baacutesico Analisando e revisitando a histoacuteria do livro

escolar de Geografia brasileiro a presente pesquisa faz face com alguns campos

histoacutericos e socioloacutegicos da Educaccedilatildeo particularmente a Histoacuteria das Disciplinas

Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo Nesta tese estes campos histoacutericos satildeo

ressignificados na perspectiva da Anaacutelise do Discurso na medida em que os textos

satildeo vistos a partir da bibliografia sistematizada como materialidades discursivas e

seus produtores como sujeitos destes discursos

31 A educaccedilatildeo colonial os primeiros indiacutecios de uma educaccedilatildeo geograacutefica

A educaccedilatildeo colonial brasileira teve duas fases a jesuiacutetica e a pombalina

Como se sabe promovida pela Sociedade de Jesus52 a escola elementar eacute o que

houve de mais expressivo em termos de educaccedilatildeo formal na Colocircnia brasileira

perdurando por pouco mais de 200 anos desde a chegada do padre Manoel da

Noacutebrega em companhia de outros jesuiacutetas em 1549 acompanhando Tomeacute de

Souza ateacute o desmembramento da Sociedade em Portugal no ano de 1759 e por

extensatildeo em todos os territoacuterios coloniais da coroa portuguesa A escola elementar

52

Como amplamente conhecido a Companhia de Jesus foi uma ordem catoacutelica fundada em 1534 por Ignaacutecio de Loyola com o objetivo de conter o avanccedilo do Protestantismo por meio da educaccedilatildeo e da accedilatildeo missionaacuteria

complementava-se com cursos preparatoacuterios para o ensino superior e para a

formaccedilatildeo eclesiaacutestica Os jesuiacutetas a esse propoacutesito edificaram um plano

educacional que monopolizou a educaccedilatildeo em dois planos no primeiro a catequese

cujo empenho estava na conversatildeo dos indiacutegenas (catequisados) no segundo o

empenho na instruccedilatildeo dos filhos dos colonos quanto agrave escrita e agrave leitura domiacutenio

da aritmeacutetica e um curso de Humanidades (aulas avulsas de Latim Grego Filosofia

e Retoacuterica) que servia como preparaccedilatildeo para os estudantes frequentarem cursos

superiores em Portugal (instruiacutedos) e como preparatoacuterios para a formaccedilatildeo de

eclesiaacutesticos53

O plano de estudos propriamente dito foi elaborado de forma diversificada com o objetivo de atender agrave diversidade de interesses e de capacidades Comeccedilando com o aprendizado de portuguecircs incluiacutea o ensino da doutrina cristatilde a escola de ler e escrever Daiacute em diante continua em caraacuteter opcional o ensino de canto orfeocircnico e de muacutesica instrumental e uma bifurcaccedilatildeo tendo em um dos lados o aprendizado profissional e agriacutecola e de outro aula de gramaacutetica e viagem de estudo agrave Europa (RIBEIRO 2001 p 21-22)

A rigor os jesuiacutetas introduziram a estrutura baacutesica da formaccedilatildeo elementar no

Brasil abrindo duas direccedilotildees de atuaccedilatildeo educacional as escolas de letramento e a

preparaccedilatildeo mais apurada para formaccedilatildeo do ilustrado comum ou preparaccedilatildeo para o

ingresso no ensino superior De acordo com Moura (2000 p 28)

A distinccedilatildeo entre escola e coleacutegio eacute importante no trabalho educacional dos jesuiacutetas O tiacutetulo de coleacutegio foi desde cedo reservado para designar uma instituiccedilatildeo devidamente fundada do ponto de vista monetaacuterio e dotada de uma abrangecircncia mais vasta do ponto de vista educacional

As escolas ministravam alfabetizaccedilatildeo e catequese e praticamente eram

anexas a todas as residecircncias jesuiacuteticas jaacute os coleacutegios ministravam estudos de

humanidades e situavam-se nas cidades de maior projeccedilatildeo na Colocircnia

Apesar de os jesuiacutetas terem um monopoacutelio do ensino formal houve tambeacutem

outras iniciativas sejam privadas sejam de outras ordens religiosas que tambeacutem

atuaram na educaccedilatildeo embora com menor expressatildeo (como eacute o caso dos

53

Era tradiccedilatildeo na aristocracia brasileira ter dentre os filhos geralmente o mais velho um religioso Para aleacutem da tradiccedilatildeo cultural a presenccedila de um padre na famiacutelia significava status social e expressatildeo da pureza eacutetnica dado que a Igreja natildeo permitia a formaccedilatildeo de cleacuterigos entre mesticcedilos negros ou iacutendios

beneditinos e dos franciscanos) ldquodeve-se admitir no Brasil o fato universal de que

todo sacerdote secular sempre foi mestre de algum menino de famiacutelias locais das

suas relaccedilotildeesrdquo (MOURA 2000 p 54)

A educaccedilatildeo emergente na sociedade colonial do Brasil (estruturada

basicamente por duas classes sociais ndash proprietaacuterios (de terras e escravos) e

escravos ndash visava atender e manter uma ordem poliacutetica de pertencimento agrave famiacutelia

aristocraacutetica que detinha com exclusividade os bens culturais importados de

Portugal (ROMANELLI 1985) Para isso do denominado Descobrimento aos

meados do seacuteculo XVIII os jesuiacutetas levantaram a educaccedilatildeo desde a construccedilatildeo de

edifiacutecios agrave elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios E nesses quase trecircs seacuteculos (incluindo o

periacuteodo posterior agrave expulsatildeo dos jesuiacutetas do Brasil) os livros de Geografia natildeo

chegaram a existir pois ainda natildeo havia uma disciplina para esses conteuacutedos o

ensino dessa aacuterea como veremos dava-se por meios indiretos natildeo possuindo

propriamente um objetoobjetivos de ensino mesmo o que havia de uma educaccedilatildeo

geograacutefica era distante da realidade vivenciada pelos educandos referindo-se

sobretudo a uma geografia histoacuterica e eclesiaacutetica

Trata-se nesses termos de um ensino impliacutecito de Geografia

A existecircncia de manuais didaacuteticos estaacute intrinsecamente relacionada agrave

formulaccedilatildeo de disciplinas autocircnomas e agrave presenccedila de um curriacuteculo formulado e

ativo ou seja vincula-se agrave dinacircmica institucional de uma disciplina pois satildeo

produtos integrantes e ao mesmo tempo constituintes da autonomia dos conteuacutedos

no contexto escolar

A inexistecircncia da Geografia enquanto ensino de uma visatildeo territorial dos

espaccedilos geograacuteficos com suas perspectivas fiacutesicas ou societaacuterias quais sejam as

verticalidades a estas associadas explica-se pelos objetivos da educaccedilatildeo ou

melhor pelos objetivos da formaccedilatildeo pretendida Natildeo havia entatildeo nada que os

definisse Natildeo havia um sistema educacional independente para a Colocircnia que

refletisse as necessidades e os interesses desta nem esses em si eram

independentes e constituiacutedos em outras instacircncias ndash culturais poliacuteticas econocircmicas

A educaccedilatildeo cristatilde e humaniacutestica dos jesuiacutetas permitia-se ndash como toda a tradiccedilatildeo

escolaacutestica ndash produzir o instruiacutedo sem fronteiras Natildeo havia portanto ainda as

condiccedilotildees histoacutericas para o surgimento da Geografia escolar O conteuacutedo geograacutefico

mais expressivo do Ratio Ataque Institutio Studiorum Societatis Iesu54 a propoacutesito

foi a Cosmologia ndash neutra em sua amplitude universal Todavia por outro lado a

concepccedilatildeo subjacente ao Ratio era a de que ldquoeducar natildeo eacute formar um homem

abstrato intemporal eacute preparar um homem concreto para viver no cenaacuterio deste

mundordquo de acordo com Franca (1952 p 76) Este era o sentido da formaccedilatildeo

humanista que no vieacutes jesuiacutetico tinha como ponto de partida princiacutepios da doutrina

catoacutelica formar o cristatildeo jaacute era uma preparaccedilatildeo da humanidade para viver

plenamente no mundo

Portanto no periacuteodo colonial natildeo se teve um curriacuteculo para o ensino de

Geografia inexistiam necessidades histoacutericas para isso E natildeo haver a disciplina

Geografia natildeo invalidava haver saberes geograacuteficos em circulaccedilatildeo no ensino formal

qual fosse ele Eram saberes relacionados agrave Geografia Claacutessica ou agrave Antiga sendo

desta selecionados para serem incorporados agraves diretrizes incidentes no aprendizado

espacial inerente a outros aprendizados

A colocircnia brasileira foi instituiacuteda em torno do modelo econocircmico

agroexportador passando posteriormente por um ciclo de mineraccedilatildeo que pouco

alterou a formaccedilatildeo social Caracterizou-se portanto pela monocultura latifundiaacuteria

operado por matildeo de obra escrava dirigida por uma classe de proprietaacuterios que

tambeacutem incorporava funccedilotildees liberais acomodando ainda o clero por sua vez

pouco diversificado nos quais sobressaiacuteram os jesuiacutetas por dois seacuteculos Sem uma

sociedade poliacutetica autocircnoma compunham-se as elites aleacutem dos proprietaacuterios por

representantes do poder poliacutetico metropolitano O sentido da educaccedilatildeo portanto foi

bem explicitado e praticado pelos jesuiacutetas letramento catequese aprimoramento da

cultura ou preparatoacuterio para a formaccedilatildeo de profissionais liberais ou eclesiaacutesticos em

Portugal majoritariamente Na anaacutelise claacutessica de Freitag (1986 p 47) encontra-se

uma perspectiva para a questatildeo da educaccedilatildeo no Brasil colonial

[] a fase colonial caracterizava-se pela inexistecircncia de instituiccedilotildees autocircnomas que compusessem a sociedade poliacutetica Essa se reduzia agraves representaccedilotildees locais do poder da metroacutepole [] natildeo havia nenhuma funccedilatildeo de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho a ser preenchida pela escola [] A escola como mecanismo de re-colocaccedilatildeo dos indiviacuteduos na estrutura de classes era portanto dispensaacutevel Restavam-lhe ainda duas funccedilotildees a de reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e a de reproduccedilatildeo da ideologia dominante (FREITAG 1986 p 47)

54

ldquoPlano e Metodologia dos Estudos da Sociedade de Jesusrdquo

Conforme a anaacutelise da autora uma forma de perpetuaccedilatildeo da sociedade cristalizada

O Ratio Studiorum a propoacutesito foi o documento educacional mais influente

nos territoacuterios coloniais de tradiccedilatildeo catoacutelica Produzido por uma comissatildeo

internacional de padres jesuiacutetas em 1586 e finalizado definitivamente em 1599

sofreu alteraccedilotildees apenas em 1832 apoacutes o retorno dos jesuiacutetas agraves suas atividades

em 1814 quando cessaram algumas deacutecadas de suspensatildeo da ordem55 mas sem

atuaccedilatildeo expressiva no Brasil Todavia o Ratio resultou de um amplo processo

endossando as experiecircncias de uma ordem religiosa que surgiu sobretudo para

educar Conforme Franca (1952 p 41)

O trabalho de sua redaccedilatildeo prolongou-se por obra de 15 anos (1584-1599) e obedeceu ao criteacuterio com que se preparam os curriacuteculos modernos mais bem elaborados Primeira redaccedilatildeo aproveitando um imenso material pedagoacutegico acumulado em dezenas de anos criacuteticas dos melhores pedagogos de todas as proviacutencias europeacuteias da Ordem segunda redaccedilatildeo nova remessa agraves proviacutencias para que a submetessem por um triecircnio agrave prova da vida real dos coleacutegios aproveitamento das uacuteltimas sugestotildees sugeridas agrave luz dos fatos promulgaccedilatildeo definitiva

Sistematizando a pedagogia jesuiacutetica o Ratio Studiorum continha 467 regras

para o ensino e a orientaccedilatildeo dos estudos preconizados na filosofia de Aristoacuteteles e

na teologia de Satildeo Tomaacutes de Aquino As regras prescritas no Ratio abrangiam todas

as fases do ensino e indicavam accedilotildees e comportamentos para todo o sistema

educacional que impunha Interessante eacute notar que a educaccedilatildeo jesuiacutetica se

comportou na educaccedilatildeo brasileira posterior como uma das mais significativas

influecircncias a estruturar o ensino inclusive o de Geografia ao lado de leituras do

cientificismo oriundo do Iluminismo Na educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX ocorreraacute

uma clivagem um tanto contraditoacuteria com o ensino superior voltado inicialmente

para o ensino cientiacutefico mas o ensino secundaacuterio teraacute um forte influxo da tradiccedilatildeo

literaacuteria dos jesuiacutetas A educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX lidaraacute com ambas as

influecircncias

55

O governo portuguecircs suspendeu as atividades da ordem em seus territoacuterios em 1759 Em 1779 a Companhia de Jesus tambeacutem foi suspensa pelo papa Clemente XIV

O Ratio procurava orientar as atividades do ensino fundamentando-se em

grande parte no pedagogo claacutessico Quintiliano56 Vaacuterios elementos do Ratio

sobreviveram no seacuteculo XIX e agraves vezes mais adiante Na metodologia didaacutetica

ficaram os exerciacutecios como praacutetica as leituras como meacutetodo as dramatizaccedilotildees a

organizaccedilatildeo e a disposiccedilatildeo dos discentes em sala os exames escritos e orais

(sabatina liccedilotildees ditado) a periodicidade dos exames a memorizaccedilatildeo das liccedilotildees

aleacutem da delimitaccedilatildeo dos periacuteodos de feacuterias regras de comportamento costumes e

disciplina

Cabe observar que o Ratio foi uma espeacutecie de manual pedagoacutegico natildeo

propriamente um documento curricular embora este esteja parcialmente impliacutecito

portanto em sua redaccedilatildeo

No sentido mais apurado da organizaccedilatildeo dos conteuacutedos educacionais dos

jesuiacutetas ou seja para aleacutem das accedilotildees de catequese e letramento57 e que seria

correspondente a um embriatildeo do ldquoensino secundaacuteriordquo brasileiro o Ratio prescrevia

trecircs orientaccedilotildees de ensino o curriacuteculo teoloacutegico o curriacuteculo filosoacutefico e o curriacuteculo

humanista A forma mais direta de um ensino geograacutefico incidia na orientaccedilatildeo

filosoacutefica cujo primeiro ano deveria abranger estudos de loacutegica e introduccedilatildeo as

ciecircncias seguidas no segundo ano por estudos de cosmologia psicologia fiacutesica e

matemaacutetica e por fim no terceiro ano estudos de psicologia metafiacutesica filosofia

moral ndash de acordo com siacutentese apresentada por Franca (1952 p 47)

O estudo de liacutenguas era primazia com destaque para o latim tanto nos

estudos superiores quanto nos inferiores amplamente recomendado ao longo do

documento para versotildees traduccedilotildees escrita leitura representaccedilatildeo teatral fala

ldquoTodos mas de modo especial os que se aplicam aos estudos de humanidades

falem latim aprendam de cor o que lhes for prescrito pelo professor e nas

composiccedilotildees trabalhem com esmero o estilordquo (Regra 9 aos Escolaacutesticos da Nossa

Companhia HISTEDBR 2009)

56

Marcus Fabius Quintilianus (35-95 dC) - escritor e retoacuterico latino preconizava a organizaccedilatildeo do tempo dos estudos aconselhando a leitura como elemento fundamental da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo do caraacuteter

57 Grosso modo o Ratio circunscreve o ensino secundaacuterio e superior sendo que este natildeo foi

autorizado pela metroacutepole portuguesa a funcionar nos territoacuterios da colocircnia

Tendo a leitura como um dos veacutertices definidores da educaccedilatildeo os coleacutegios

jesuiacutetas eram notaacuteveis por suas amplas bibliotecas ideologicamente cindidas e

fechadas a influecircncias que fugissem do modelo escolaacutestico aceitaacutevel Hallewell

(2005 p 83) analisando o fim do periacuteodo jesuiacutetico na colocircnia brasileira observa que

A grande perda que o Brasil sofreu com a dissoluccedilatildeo da Companhia pode ser sentida na destruiccedilatildeo de suas bibliotecas quinze mil volumes se perderam no Coleacutegio em Salvador outros cinco mil no do Rio de Janeiro aleacutem de mais de doze mil apenas nos coleacutegios do Maranhatildeo e do Paraacute

Moraes (1975) afirma que algumas dessas bibliotecas retornaram a

Portugal outras tiveram partes dos acervos doadas ou foram destruiacutedas pelo

abandono A formaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de bibliotecas todavia tinham atenccedilatildeo

especial dos jesuiacutetas ldquoA fim de que aos nossos natildeo faltem os livros convenientes

aplique ao da biblioteca [sic] uma renda anual proveniente dos bens do coleacutegio ou

de outra fonte e que de modo algum poderaacute ser desviada para outros finsrdquo (Regra 32

ao Provincial HISTEDBR 2009) Agrave biblioteca recomendava-se uma economia

cultural que preconizava ldquo[] natildeo faltem os livros uacuteteis nem sobrem os inuacuteteis []rdquo

(Regra 29 ao Prefeito de Estudos HISTEDBR 2009) Eram bibliotecas sobretudo

devidamente orientadas aos fins institucionais

Tome todo o cuidado e considere este ponto como da maior importacircncia que de modo algum se sirvam os nossos nas aulas de livros de poetas ou outros que possam ser prejudiciais agrave honestidade e aos bons costumes enquanto natildeo forem expurgados dos fatos e palavras inconvenientes e se de todo natildeo puderem ser expurgados como Terecircncio eacute preferiacutevel que natildeo se leiam para que a natureza do contendo natildeo ofenda a pureza da alma (Regra 33 ao Provincial HISTEDBR 2009)

A preleccedilatildeo (prelectio) estava dentre os esteios metodoloacutegicos para o ensino

nas classes inferiores Por esse meio a instruccedilatildeo se iniciava pela leitura explicaccedilatildeo

e resumo passando-se ao estudo mais detalhado do vocabulaacuterio e da gramaacutetica Da

sintaxe passava-se para o estudo do estilo da composiccedilatildeo momento em que as

ideias sobrepunham-se aos elementos sintaacuteticos e lexicais Na compreensatildeo do

texto entrava o aprendizado de noccedilotildees auxiliares dentre os quais as de Geografia

ldquo[] acrescente-se se for o caso alguma cousa de histoacuteria e erudiccedilatildeo de vaacuterias

fontes relativa ao assuntordquo ldquo[] procure-se na histoacuteria na mitologia e em todos os

domiacutenios do conhecimento o que possa contribuir para esclarecer a passagemrdquo

(Regras 7 e 8 ao Professor de Retoacuterica HISTEDBR 2009) Todo o circuito central

ou perifeacuterico contudo restringia-se aos produtos selecionados da Antiguidade

Claacutessica ldquoNa preleccedilatildeo soacute se expliquem os autores antigos de modo algum os

modernosrdquo (Regra 27 aos Professores das Classes Inferiores HISTEDBR 2009) E

mesmo os claacutessicos antigos eram amplamente censurados para natildeo contrariar os

dogmas e as diretrizes cristatildes da feacute catoacutelica

Para conhecimento da liacutengua que consiste principalmente na propriedade e riqueza das palavras explique-se nas liccedilotildees quotidianas dos oradores exclusivamente Ciacutecero e de regra escolham-se os seus livros de filosofia moral dos historiadores Cesar Saluacutestio Liacutevio Curtius e outros semelhantes dos poetas principalmente Virgiacutelio com exceccedilatildeo de algumas eacuteclogas e do 4ordm livro da Eneida odes seletas de Horaacutecio e tambeacutem elegias epigramas e outras composiccedilotildees de poetas ilustres contanto que expurgados de qualquer inconveniecircncia de expressatildeo (Regra 1 ao Professor de Humanidades HISTEDBR 2009)

Foram cerca de 200 anos de reuniatildeo desses acervos fazendo deles

conjuntos bem representativos dos usos culturais perpetuados agravequele tempo

refletindo ainda as restriccedilotildees ideoloacutegicas da ordem Os inventaacuterios que

sobreviveram indicam a presenccedila de obras geograacuteficas na maioria trabalhos

cartograacuteficos Atlas da Antiguidade tratados descritivos

Predominam livros de cunho religioso nos campos de teologia direito moral asceacutetica escrituriacutesitca apologeacutetica liturgia e filosofia No sermoniaacuterio registram-se obras da oratoacuteria sacra da eacutepoca Aparecem obras poeacuteticas de Homero em grego e em latim obras de Virgiacutelio Horaacutecio Marcial Oviacutedio Terecircncio e Ciacutecero A histoacuteria e a geografia estavam representadas com diversas obras [] Eram livrarias especializadas Seus acervos cobriam em primeiro lugar as disciplinas ministradas nos coleacutegios [ aleacutem de serem] essenciais para auxiliar os padres nas atividades religiosas (SILVA 2008 p 231-232)

Serafim Leite (1949 p 171) igualmente registra a presenccedila da Geografia entre os

Jesuiacutetas ldquoa Geografia tambeacutem presente com seus livros Corografias Atlas e

Mapas de Portugal e do mundo em todos os grandes coleacutegios como consta dos

respectivos inventaacuterios completava esta secccedilatildeo de ensinordquo

O Arquivo Nacional Torre do Tombo por exemplo deteacutem um documento

intitulado Tratado da esfera e do globo terrestre traduzido da Geografia do Abade

La Croix e aumentado de algumas notas necessaacuterias caderno manuscrito que

pertenceu a escolas da Companhia cujo conteuacutedo eacute a traduccedilatildeo do Tratado da

Esfera e do Globo do Abade Louis-Antoine Nicolle apresentando trecircs gravuras

calcograacuteficas que representam a ldquoEsfera Artificialrdquo o ldquoMapa-Mundordquo e a ldquoRosa dos

Ventosrdquo (MSLIV 2010) O Tractatus de Sphaera obra de 1220 de Johannes de

Sacrobosco (1195-1256) foi tambeacutem uma das obras que fundamentaram o ensino

de Cosmografia pelos jesuiacutetas (SOBREIRA 2005)

Os jesuiacutetas ainda deram sua contribuiccedilatildeo para o conhecimento geograacutefico

da Colocircnia Andreacute Joatildeo Antonil (1649-1716) autor de Cultura e opulecircncia no Brasil

fez importantes registros sobre a vida econocircmica sendo amplamente conhecidos os

roteiros que descreveu de Satildeo Paulo para Minas Gerais entre o Rio de Janeiro e

Minas a ligaccedilatildeo entre Minas e a proviacutencia da Bahia e os circuitos do gado no Rio

Satildeo Francisco comumente conhecidos como os Cinco Roteiros de Antonil

Natildeo tinham os livros de Geografia representatividade ampla como os livros

dos demais assuntos pois funcionavam como obras de referecircncia para um

conteuacutedo de referecircncia atendendo ao papel secundaacuterio e auxiliar que a

Geografia a par da Histoacuteria e outros campos exerciam na pedagogia dos jesuiacutetas

Esta em si eacute a principal caracteriacutestica e propoacutesito de um ensino impliacutecito diluiacutedo em

outros objetivos de ensino e aprendizagem mas indispensaacutevel A Regra 14 do Ratio

direcionada ao Professor de Sagradas Escrituras eacute elucidativa da relaccedilatildeo didaacutetica

com os conteuacutedos geograacuteficos dispondo sua posiccedilatildeo referencial e auxiliar

Natildeo se detenha muito tempo em investigar questotildees de cronologia ou de geografia da terra santa ou outras menos uacuteteis a menos que a passagem o exija bastaraacute indicar os autores que tratam amplamente estes assuntos (Regra 14 ao Professor de Sagradas Escrituras HISTEDBR 2009)

Aleacutem da leitura na conduccedilatildeo do esclarecimento literaacuterio o conhecimento

geograacutefico associava-se agrave matemaacutetica disciplina autocircnoma do Ratio em seu

programa para as Humanidades complementar ao ensino de cosmologia aliando a

geometria agrave cartografia e agrave astronomia

Aos alunos de fiacutesica explique na aula durante 34 de hora os elementos de Euclides depois de dois meses quando os alunos jaacute estiverem um pouco familiares com estas explicaccedilotildees acrescente alguma cousa de Geografia da Esfera ou de outros assuntos que eles gostam de ouvir e isto simultaneamente com Euclides no mesmo dia ou em dias alternados (Regra 14 ao Professor de Sagradas Escrituras HISTEDBR 2009)

Nota-se que a Geografia eacute qualificada como um dos assuntos de predileccedilatildeo dos

discentes E aleacutem da matemaacutetica os saberes geograacuteficos integravam a abordagem

da ciecircncia da natureza recomendando-se expressamente a obra de Aristoacuteteles58

sect1 No segundo ano os oito livros Physicorunt os livros De Cœlo e o primeiro De generatione Dos oito livros Physicorum decirc sumariamente os textos do livro 6ordm e 7ordm e do 1ordm a comeccedilar do ponto em que refere as opiniotildees dos antigos No livro 8ordm nada exponha do nuacutemero das inteligecircncias nem da liberdade nem da infinidade do primeiro motor Estas questotildees seratildeo discutidas na metafiacutesica e somente segundo a opiniatildeo de Aristoacuteteles

sect2 O texto do 2ordm 3ordm e 4ordm livro De Cœlo deveraacute ser dado brevemente e em grande parte omitido Nestes livros soacute se tratem algumas poucas questotildees sobre os elementos sobre o Ceacuteu as que se referem agrave sua substacircncia e influecircncias as outras deixem-se ao professor de matemaacutetica ou reduzam-se a compecircndio

sect3 Os livros meteoroloacutegicos percorram-se nos meses de veratildeo na uacuteltima hora da tarde pelo professor ordinaacuterio se possiacutevel ou se parecer mais conveniente por um professor extraordinaacuterio (Regra 10 ao Professor de Filosofia HISTEDBR 2009)

Dependente e auxiliar essa Geografia nutria-se nos tratados claacutessicos que

organizavam o saber geograacutefico da Antiguidade agrave Idade Meacutedia ndash a conhecida

sistemaacutetica dual a tradiccedilatildeo descritiva ou Geografia histoacuterico-poliacutetica de Estrabatildeo e

a tradiccedilatildeo matemaacutetica de Ptolomeu (GOMES 2000 KIMBLE 2005) Natildeo eacute demais

salientar que a interceptaccedilatildeo dessa dualidade a irromper na Geografia Moderna

ainda gestava-se na Europa a exemplo das contribuiccedilotildees de Immanuel Kant (1724-

1804) que no fervor dos ideais iluministas em seu projeto de separaccedilatildeo entre a

metafiacutesica e a razatildeo revestiria de ciecircncia esse saber antigo

Apoacutes a desintegraccedilatildeo da Companhia de Jesus no Brasil a educaccedilatildeo

brasileira passou por um retrocesso o que eacute consenso entre historiadores da

educaccedilatildeo e estudiosos da cultura brasileira (ALMEIDA 1989 AZEVEDO 1963

MOURA 2000 ORTIZ 1994 RIBEIRO 2001 ROMANELLI 1985) periacuteodo esse

conhecido como pombalino em vigor por quase 50 anos entre 1759 e 1808 em

referecircncia agraves reformas de Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo influente poliacutetico e

ministro portuguecircs mais conhecido como Marquecircs de Pombal (1699-1792) as quais

impactaram tambeacutem na educaccedilatildeo da colocircnia brasileira

58

Recomendaccedilotildees ao curso Superior que formava os teoacutelogos embora decirc para discernir algumas das noccedilotildees do ensino da natureza para os estudantes das aulas avulsas

Os coleacutegios e escolas dos jesuiacutetas embora natildeo sobrepujassem tinham um

soacutelido sistema de financiamento com recursos advindos do padroado de donativos

reacutegios e de fieacuteis aleacutem dos recursos gerados pela proacutepria Companhia haja vista que

os jesuiacutetas foram exiacutemios comerciantes e produtores latifundiaacuterios Tal situaccedilatildeo

permitia a oferta de uma educaccedilatildeo puacuteblica e gratuita (MOURA 2000) embora natildeo

democraacutetica Outras ordens religiosas e demais elementos educacionais alccediladas

em continuaccedilatildeo ao trabalho dos jesuiacutetas natildeo contaram com este esteio econocircmico

nem com os ideais pedagoacutegicos da Companhia

A gestatildeo educacional passou a ser gerida pelo Estado que ateacute entatildeo se

abstinha de interferecircncia nos ensinos equivalentes ao elementar e ao secundaacuterio

Por conseguinte o Estado ldquo[] tomou a seu cargo por iniciativa de Pombal a

funccedilatildeo educativa que passava a exercer em colaboraccedilatildeo com a Igreja

aventurando-se a um largo plano de oficializaccedilatildeo do ensinordquo (AZEVEDO 1963 p)

Desarticulando o Ratio dos jesuiacutetas instituiu as aulas reacutegias chamadas tambeacutem

aulas avulsas cujo principal retrocesso foi diluir os cursos graduados e

sistematizados Nas cidades e vilas as escolas e coleacutegios atuaram por aulas

isoladas ateacute a Regecircncia na deacutecada de 1840 quando o modelo do Coleacutegio Pedro II

fundado em 1837 passou a ser disseminado nas proviacutencias O curriacuteculo nesse

entretempo reduziu-se a aulas avulsas de gramaacutetica e latim e nos seminaacuterios

filosofia eacutetica e retoacuterica A grande transformaccedilatildeo curricular foi o banimento de

liacutenguas indiacutegenas e a institucionalizaccedilatildeo pelo Estado da liacutengua portuguesa

A reforma educacional brasileira implementada por Pombal a tiacutetulo de experimento [que a histoacuteria mostrou natildeo ter sido bem sucedida] tinha como meta levar a educaccedilatildeo para o controle do Estado secularizaacute-la e uniformizar o curriacuteculo Em cada aldeia indiacutegena os diretores deveriam ocupar o lugar dos missionaacuterios e duas escolas puacuteblicas ndash uma para meninos e outra para meninas ndash deveriam ser implantadas (MOURA 2000 p 70)

Para financiar o sistema puacuteblico desprovido das substanciais verbas

jesuiacuteticas o Estado portuguecircs instituiu na colocircnia um imposto chamado ldquosubsiacutedio

literaacuteriordquo em 1772 apoacutes 13 anos de inaniccedilatildeo incidentes sobre a produccedilatildeo de carne

sal aguardente e outros produtos O subsiacutedio sem sistema eficiente de arrecadaccedilatildeo

e envolto em fraudes jamais foi suficiente para financiar a educaccedilatildeo colonial que se

tornou deploraacutevel

Descontinuidade improvisaccedilatildeo amadorismo e falta absoluta de senso pedagoacutegico caracterizaram muito da empreitada educacional de Pombal Surgiram aulas de disciplinas isoladas sem planos sistemaacuteticos de estudos (aulas reacutegias) dadas por professores em sua maior parte desinformados O latim o grego e a retoacuterica eram mais ensinados que a liacutengua portuguesa O ensino superior que comeccedilava a se esboccedilar no Brasil com os cursos de artes de base jesuiacutetica natildeo se desenvolveu (MOURA 2000 p 70)

O clero como a classe mais culta seguiu com prioridade nas regecircncias

pedagoacutegicas Na falta de instituiccedilotildees e de uma hierarquia organizacional das

atividades educativas59 com ele permanecia a orientaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo do ensino

ldquoos professores eram geralmente padres embora natildeo faltassem leigos em todos os

graus de ensinordquo (MOURA 2000 p 66) poreacutem subvencionados e nomeados pelo

Estado

32 A educaccedilatildeo colonial a influecircncia do isolacionismo

Todavia haacute que se ressaltar que as marcas sociais deixadas pelo ensino

jesuiacutetico por muito tempo seratildeo influentes para a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo brasileira

inclusive nas bases de constituiccedilatildeo do ensino de Geografia no seacuteculo XIX Tendo a

doutrina catoacutelica como lastro o planejamento da educaccedilatildeo jesuiacutetica cercou-se de

todas as precauccedilotildees possiacuteveis para afastar influecircncias entatildeo consideradas nocivas

determinavam o que aprender como aprender quem poderia ensinar Os

professores que somente poderiam ensinar apoacutes os 30 anos de idade em sua

preparaccedilatildeo lidavam com os livros e as questotildees selecionadas pelos jesuiacutetas Se

dados a novidades ou ao espiacuterito livre deveriam ser afastados da docecircncia (PAIM

1967) Com base nessas praacuteticas Ribeiro (2001 p 26) assinala que o objetivo

religioso o conteuacutedo literaacuterio e a metodologia de imitaccedilatildeo

[] faziam com que natildeo soacute os religiosos de profissatildeo como os intelectuais de forma geral se afastassem natildeo apenas de outras orientaccedilotildees religiosas

59

Haja vista a enorme distacircncia entre os mestres e o Diretor Geral de Estudos que era o proacuteprio Vice-Rei sem subordinaccedilotildees intermediaacuterias

como tambeacutem do espiacuterito cientiacutefico nascente [na Europa] e que atinge durante o seacuteculo XVII uma etapa bastante significativa

A ciecircncia nascia justamente como reaccedilatildeo ao meacutetodo escolaacutestico medieval

que direcionava o conhecimento agrave metafiacutesica Romanelli (1985 p 34) igualmente

demonstra que este espiacuterito combalido em outros espaccedilos da Europa era persistente

e cultivado na educaccedilatildeo portuguesa e na educaccedilatildeo colonial ibeacuterica pois se tratava

antes de qualquer coisa

[] da materializaccedilatildeo do proacuteprio espiacuterito da Contra-Reforma que se caracterizou sobretudo por uma eneacutergica reaccedilatildeo ao espiacuterito criacutetico que comeccedilava a despontar na Europa por um apego a formas dogmaacuteticas de pensamento pela revalorizaccedilatildeo da Escolaacutestica como meacutetodo e como filosofia pela reafirmaccedilatildeo da autoridade quer da igreja quer dos antigos []

O isolamento intelectual da Colocircnia brasileira era agravado um pouco mais

pelo fato de a metroacutepole portuguesa acircmbito de formaccedilatildeo das elites brasileiras

igualmente estar em separado do conhecimento pleno e das ideias cientiacuteficas que se

desenvolviam em alguns paiacuteses europeus pois instituiccedilotildees como a Universidade de

Coimbra e o Coleacutegio dos Nobres fizeram leituras e absorccedilotildees parciais do Iluminismo

Portugal chega em meados do seacuteculo XVIII com sua Universidade ndash a de Coimbra ndash tatildeo medieval como sempre fora A filosofia moderna (Descartes) a ciecircncia fiacutesico-matemaacutetica os novos meacutetodos de estudo da liacutengua latina eram desconhecidos em Portugal O ensino jesuiacutetico solidamente instalado continuava formando elementos da corte dentro dos moldes do Ratio Studiorum (RIBEIRO 2001 p 32)

Conforme veremos adiante o avanccedilo intelectual dos portugueses no

contexto do Renascimento natildeo ultrapassou um empirismo mitigado60 capaz de

afastar certos ranccedilos da escolaacutestica mas ultrapassando o fazer da ciecircncia ndash a

pesquisa no sentido amplo ndash para calcar-se em certo pragmatismo ou aplicaccedilatildeo

simploacuteria da ciecircncia

60

Expressatildeo cunhada por Joaquim de Carvalho (18921958) para denominar a adoccedilatildeo do empirismo no acircmbito do conhecimento sem problematizaccedilatildeo apenas como forma de difundir uma nova doutrina como criacutetica ao aristotelismo Esse movimento foi inspirado pelas obras Instituiccedilotildees loacutegicas do italiano Antonio Genovesi (1713-1792) e O verdadeiro meacutetodo de estudar de Antoacutenio Verney (1713-1792) ndash (PAIM 1999)

Apoacutes os jesuiacutetas61 cuja estrutura e administraccedilatildeo escolar nos territoacuterios

portugueses ruiacuteram em 1759 influenciadas pela modernizaccedilatildeo da cultura lusa

atrelada ao processo de recuperaccedilatildeo econocircmica no periacuteodo pombalino houve um

lento processo de reestruturaccedilatildeo do aparelho administrativo da colocircnia que passou

a ldquo[] exigir um pessoal com um preparo elementar As teacutecnicas de leitura e de

escrita se fazem necessaacuterias surgindo com isto a instruccedilatildeo primaacuteria dada na

escola que antes cabia agrave famiacuteliardquo (RIBEIRO 2001 p 31) pelo menos na intenccedilatildeo

dos planos jaacute que na realidade se assistiu a uma desestruturaccedilatildeo sem par A

educaccedilatildeo foi assumida pelo governo colonial (encargo administrativo do Vice-Rei) e

ministrada por leigos e religiosos sem contudo ocorrer mudanccedilas nas bases e

fundamentos que sustentavam o ensino anteriormente (ROMANELLI 1985) ou seja

prevalecem a educaccedilatildeo com objetivos religiosos e literaacuterios Aleacutem disso as

tentativas de organizaccedilatildeo estiveram longe de igualar ou superar a estrutura jesuiacutetica

Na contramatildeo em Portugal tinha-se uma paulatina penetraccedilatildeo das novas ideias no

meio intelectual posterior agrave reforma poliacutetica do Marquecircs de Pombal direcionado ao

pragmatismo acima mencionado A influecircncia dessas ideias no ensino colonial

portanto seria de assimilaccedilatildeo mais morosa ainda aliaacutes pode-se afirmar que

praticamente foram nulas Somente na primeira metade do seacuteculo XIX com as

transformaccedilotildees do cenaacuterio poliacutetico da Colocircnia vestiacutegios semelhantes comeccedilariam a

aparecer no ensino brasileiro particularmente propiciando o aparecimento da

Geografia como disciplina escolar

Eacute importante ressaltar que a Geografia natildeo teve uma gecircnese uacutenica formou-

se da reuniatildeo de algumas disciplinas geograacuteficas Na formaccedilatildeo posterior da

Geografia escolar disciplinas momentaneamente autocircnomas e subservientes a

diversos propostos seriam elencadas em um curriacuteculo uacutenico a Cosmologia a

Corografia a Astronomia a Cartografia62 dentre outras

Um marco para a ascensatildeo da Geografia escolar sem duacutevida foi a

transferecircncia da corte portuguesa para o Brasil (1808) pois este fato impocircs outra

visatildeo e interesse para a educaccedilatildeo praticamente reinaugurando-a no Brasil Todavia

a Geografia escolar por vir jaacute tinha lanccedilados alguns dos seus fundamentos na

61

Piletti Piletti (2002) indicam que com a saiacuteda dos jesuiacutetas deixaram de existir 18 estabelecimentos de ensino secundaacuterio e 25 escolas de ler e escrever 62

Curiosamente ateacute a Astrologia fez parte do ensino e dos manuais de Geografia

Geografia Claacutessica em alguns aspectos da tradiccedilatildeo da Antiguidade e da Idade

Meacutedia por meio das praacuteticas educacionais dos Jesuiacutetas O paradigma dos estudos

claacutessicos prevaleceria ateacute meados do seacuteculo XIX tempo no qual os paracircmetros

cientiacuteficos comeccedilaram a se infiltrar de forma renovada e a predominar no cenaacuterio da

educaccedilatildeo brasileira estabelecendo-a definitivamente anos mais tarde nas primeiras

deacutecadas do seacuteculo XX

33 Reinado (1808-1821) o surgimento dos primeiros indiacutecios de uma literatura didaacutetica de Geografia

Com a chegada da Famiacutelia Real e da Corte portuguesa ao Brasil a

educaccedilatildeo colonial jaacute desvinculada anteriormente do monopoacutelio jesuiacutetico foi

reorganizada no sentido poliacutetico-administrativo pois a nova ordem poliacutetica precisava

de matildeo de obra especializada para atender aos imperativos de uma classe poliacutetica e

social completamente distinta da entatildeo existente A estrutura social anterior havia

sido implodida com o surgimento e o fortalecimento no tempo da mineraccedilatildeo de uma

classe intermediaacuteria teacutecnica e poliacutetica alheia agrave classe dos proprietaacuterios rurais e que

seria ao longo do seacuteculo XIX permanentemente ascendente e determinante para as

direccedilotildees poliacuteticas da monarquia e mais adiante da repuacuteblica (ROMANELLI 1985) e

a essa forccedila agregavam-se as necessidades da Corte instalada na Colocircnia quanto agrave

instruccedilatildeo de sua elite dirigente

As medidas poliacutetico-administrativas de D Joatildeo foram programaacuteticas para

refuncionalizar a colocircnia como centro do Impeacuterio portuguecircs O que se inovou na

educaccedilatildeo contemplava as necessidades imediatas e praacuteticas com espaccedilos

geograacuteficos marcados ndash Bahia e principalmente Rio de Janeiro Na educaccedilatildeo

prevaleceu a homogeneidade instaurada pelos jesuiacutetas embora o sentido

humaniacutestico da educaccedilatildeo tenha sofrido algumas reorientaccedilotildees de ordem

pragmaacutetica

Este contexto o do reinado eacute o nascedouro contudo de uma cultura

cientiacutefica brasileira apesar de natildeo vingar nenhuma universidade e apesar de natildeo se

instalar escolas voltadas para a pesquisa cientiacutefica (OLIVEIRA 2005 p 106)

Surgiram faculdades e a pesquisa foi um processo de instauraccedilatildeo mais lenta

posterior

A educaccedilatildeo brasileira nesses termos tem seu primeiro esboccedilo sistemaacutetico

a partir de um ensino primaacuterio em continuidade agraves escolas de ler e escrever de um

ensino secundaacuterio preparatoacuterio para o ensino superior sendo que por sinal tem

inauguradas as primeiras instituiccedilotildees em solo brasileiro devido ao mesmo bloqueio

continental que trouxe a Corte portuguesa para o Brasil O ensino superior ateacute

entatildeo estava completamente erradicado dos planos da colonizaccedilatildeo portuguesa no

sentido de tolher qualquer iniciativa para a independecircncia poliacutetica ou cultural apesar

de diversas tentativas para sua implementaccedilatildeo seja pelos jesuiacutetas com iniciativas

em Salvador Olinda Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que talvez pudessem ter esboccedilado

o iniacutecio do ensino superior na colocircnia seja a intenccedilatildeo dos inconfidentes mineiros

(FAacuteVERO 2006)

O ensino cientiacutefico pelo menos no tocante ao aspecto teacutecnico foi

introduzido por meio de diversas escolas de ensino superior Na Bahia surgia um

Curso Meacutedico de Cirurgia em 1808 aos quais se seguiriam cursos de Agricultura

(1812) Comeacutercio (1809) Quiacutemica (1817) e Desenho Teacutecnico (1818) No Hospital

Militar do Rio de Janeiro se instituiu um Curso de Anatomia Cirurgia e Medicina

(1808-1909) seguindo-se a implantaccedilatildeo de outros Cursos Quiacutemica (1812)

Agricultura (1814) Ciecircncias Artes e Ofiacutecios (1816) ndash (COLESANTI 1984 FAacuteVERO

2006) Tratava-se de cursos e academias profissionalizantes distantes do modelo

europeu de ensino superior As atividades meacutedicas as edificaccedilotildees as bases da

economia (agricultura e comeacutercio) respondem agraves necessidades iniciais ao que

Neva Collaccedilo (2006) denominam de ldquocorporaccedilotildees de ofiacuteciordquo Somente apoacutes a

independecircncia (1822) por exemplo surgiram cursos juriacutedicos e outros ndash em um

momento no qual mais que de teacutecnica necessitava-se de pensamentos e ideias

para erigir e consolidar a naccedilatildeo a qual natildeo dispensaria um iacutendice de burocracia

para implementar a constituiccedilatildeo e organizar a administraccedilatildeo puacuteblica

Eacute notaacutevel nesse periacuteodo a tutela do Estado no arregimento da educaccedilatildeo

brasileira para aleacutem da tutela da Igreja e de iniciativas particulares vigentes entatildeo

Permaneciam poreacutem o lastro da preparaccedilatildeo teacutecnica antes percebido nas escolas

de ler e escrever (no sentido de uma instrumentalizaccedilatildeo rudimentar para produzir

aptos agrave leitura agrave escrita e ao caacutelculo baacutesico) continuando agora no ensino

superior Nessa tutela contudo foram muitas as inovaccedilotildees dentre elas a condizente

ao livro

A questatildeo do livro de fato ganhou status e referecircncia especiacuteficos no

periacuteodo joanino tanto em termos de produccedilatildeo material quanto de elaboraccedilatildeo Na

situaccedilatildeo educacional o livro assumiu uma funccedilatildeo no ordenamento em um cenaacuterio

destituiacutedo desde a implementaccedilatildeo das aulas reacutegias

Houve necessidade de formular um novo saber escolar substituindo o Ratio Studiorum com seu minucioso meacutetodo e regras pormenorizadas dos jesuiacutetas e das ordens religiosas que os seguiam por um outro projeto pouco detalhado nos conteuacutedos e meacutetodos bem como o problema de transmiti-lo a um corpo docente leigo que passaria a ser remunerado compondo o quadro do funcionalismo puacuteblico (BITTENCOURT 2008 p 28)

O surgimento da Impressa Reacutegia em 1808 casa impressora para veicular

os atos administrativos e normativos da Coroa Portuguesa assim marcou o iniacutecio

de uma editoraccedilatildeo em territoacuterio brasileiro Toda publicaccedilatildeo ateacute 1821 ano em que D

Joatildeo VI retornou com sua corte a Portugal passava necessariamente pela censura

palaciana Ateacute o surgimento da Impressa Reacutegia qualquer trabalho de impressatildeo no

territoacuterio colonial era ilegal e apoacutes essa se estendeu como monopoacutelio ateacute 1822

Antes da Impressatildeo Reacutegia praticamente inexistia um mercado livreiro no

Brasil Em 1792 no Rio de Janeiro havia somente duas livrarias com oferta

paupeacuterrima de livros a maioria sobre medicina e religiatildeo Os tiacutetulos mais

interessantes agrave populaccedilatildeo letrada (e proibidos) adentravam as fronteiras da colocircnia

por contrabando promovido por ingleses franceses e holandeses (HALLEWELL

2005) esclarecimento ilegal cujos frutos a coroa portuguesa sempre temeu dentre

os quais a Inconfidecircncia severamente reprimida Mesmo a Biacuteblia em vernaacuteculo era

um tiacutetulo proibido

Em 1808 permaneciam duas livrarias estabelecidas na sede da colocircnia ndash

ano inicial de transformaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais e culturais inerentes agrave

chegada da corte portuguesa ao Brasil Como sintoma dessas transformaccedilotildees no

ano seguinte 1809 o nuacutemero de livrarias passou para cinco alcanccedilando 12 em

1816 Para evidenciar um pouco mais a evoluccedilatildeo intelectual do Brasil assinala-se

que em 1890 havia no Rio de Janeiro 45 livrarias 67 tipografias e 16 litografias

bem como trecircs fundidores de tipos (HALLEWELL 2005) Estes nuacutemeros revelam

natildeo soacute o crescimento da atividade econocircmica e cultural ao longo do seacuteculo XIX pois

expressam e foram alimentadas por diversas atividades primeiro o interesse pela

poliacutetica nacional que continuamente soergueu uma imprensa nacional segundo a

implantaccedilatildeo e o fortalecimento igualmente contiacutenuos de uma estrutura educacional

que nunca em tempos de modernidade prescindiu de livros ou materiais impressos

de leitura

A censura intelectual anterior ao periacuteodo joanino estendia-se agrave proibiccedilatildeo

completa de atividades graacuteficas antes de 1808 e a partir de entatildeo ao monopoacutelio

governamental sobre a impressatildeo com a instauraccedilatildeo da Impressatildeo Reacutegia que

perdurou ateacute 1821 quando foi permitida a instalaccedilatildeo de graacuteficas privadas no paiacutes A

exceccedilatildeo legal a esse monopoacutelio talvez seja apenas Salvador onde desde 1811

publicavam-se livros impressos com permissatildeo governamental com autorizaccedilatildeo de

D Joatildeo VI para o tipoacutegrafo Manoel Antocircnio da Silva Serva (MORAES 1975)

Outra explicaccedilatildeo para natildeo haver implantaccedilatildeo de tipografias no Brasil ateacutem-

se ao temor de uma concorrecircncia ou proteccedilatildeo ao mercado metropolitano esta

estrateacutegia mercantilista foi por exemplo outra razatildeo apresentada pelo governo para

abortar a iniciativa de um graacutefico portuguecircs Isidoro da Fonseca que em 1747

instalara no Brasil sua oficina e iniciara trabalhos graacuteficos (MORAES 1975) Outro

mecanismo seria uma questatildeo juriacutedica relativa agraves licenccedilas governamentais que um

texto necessitava para vir a puacuteblico uma vez que a mesa censoacuteria ndash eclesiaacutestica e

civil ndash estava sediada em Lisboa

Para driblar a censura e o monopoacutelio havia em Londres uma induacutestria

editorial em liacutengua portuguesa paralela agrave outra na Franccedila abastecendo ambas o

contrabando de livros para o Brasil Essa induacutestria permaneceu apoacutes o fim da

censura e do monopoacutelio por razatildeo de custos (acesso a maacutequinas mateacuteria-prima

matildeo de obra especializada) era mais barato imprimir na Europa do que no Brasil

passando o mercado editorial inglecircs e francecircs a mercado graacutefico tambeacutem sendo

presenccedilas marcantes ateacute a deacutecada de 1930 Um expressivo volume de livros

didaacuteticos de Geografia foi impresso fora do Brasil embora editado no paiacutes

De qualquer forma a Impressatildeo Reacutegia inaugurou as bases editoriais de

livros de interesse agrave Geografia e seu ensino no Brasil Hallewell (2005 p 114) sobre

essa atividade diz

Muitos dos ldquotrabalhos uacuteteisrdquo [] estavam direta ou indiretamente relacionados com problemas de interesse do governo economia poliacutetica geografia agrimensura medicina sauacutede puacuteblica ateacute desenho e astronomia pois eram mateacuterias do curriacuteculo da Academia Militar

Realmente dentre os volumes do cataacutelogo editorial da Impressatildeo Reacutegia

chamam atenccedilatildeo alguns tiacutetulos de maior ou menor importacircncia agrave Geografia

integrantes da gecircnese da histoacuteria e do ensino brasileiro desta A esse propoacutesito haacute

dois atos inaugurais em termos bibliograacuteficos para a Geografia brasileira e seu

ensino o primeiro livro didaacutetico com conteuacutedos geograacuteficos os Elementos de

Astronomia Para uso dos alumnos da Academia Real Militar de Arauacutejo Guimaratildees

(1814) e o primeiro livro a sistematizar conhecimentos geograacuteficos sobre o Brasil

Corografia braziacutelica ou relaccedilatildeo histoacuterico-geograacutefica do reino do Brazil composta a

sua magestade fideliacutessima por hum presbitero secular do gram priorado do Crato do

Padre Manoel Ayres de Casal (1817a 1817b) Aleacutem desses livros haacute um outro com

fins propriamente didaacuteticos que faz menccedilatildeo agrave Geografia dentre outros temas

Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios

as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal

e historia natural publicado em 1818 de autoria de Joseacute Saturnino da Costa

Pereira

Em um prospecto geral a Impressatildeo Reacutegia teve um significado para aleacutem de

atender as necessidades graacuteficas da administraccedilatildeo puacuteblica Com as guerras

napoleocircnicas e por conseguinte com o bloqueio continental importar ou editar

livros na Europa ficou difiacutecil Eacute por esse motivo que o cataacutelogo da Impressatildeo Reacutegia

incluiu manuais didaacuteticos Ateacute entatildeo quando presentes no ensino eram importados

importaccedilatildeo que nunca arrefeceu poreacutem tiacutetulos nacionais ou compilaccedilotildees nacionais

passaram a ser agregadas e nesse processo se diferenciam os livros de Histoacuteria e

Geografia sendo que estes conforme demonstrado no capiacutetulo anterior foram

sobretudo nacionais Com o fim da instabilidade internacional e com o

restabelecimento das importaccedilotildees a produccedilatildeo de livros didaacuteticos permaneceu e

progrediu ganhando um amplo impulso na uacuteltima metade do seacuteculo XIX

Esse cenaacuterio editorial apoacuteia-se em diversos fatores dentre os quais

evidencio o pequeno mercado da educaccedilatildeo sem dinacircmica suficiente para

impulsionar ativos comerciais a metodologia de ensino centrada na coacutepia e na

memorizaccedilatildeo de liccedilotildees que dispensavam a utilizaccedilatildeo de livros pelos alunos no

maacuteximo se exigindo essa posse do professor Um terceiro fator a este propoacutesito eacute

visiacutevel na histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira a qual foi estruturada a partir de um centro

o ensino superior e por extensatildeo o ensino secundaacuterio

Conforme demonstrado anteriormente as primeiras determinaccedilotildees

governamentais nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX voltaram-se para

cursos de formaccedilatildeo profissional permanecendo o ensino secundaacuterio na claacutessica

constituiccedilatildeo de classes independentes ndash as ldquoaulas avulsasrdquo ndash ao passo que o ensino

primaacuterio natildeo se distanciou das aulas de ler e escrever Mesmo apoacutes o iniacutecio do

periacuteodo republicano a preocupaccedilatildeo do governo estava fixada no ensino superior e

secundaacuterio haja vista as diversas reformas educacionais vigorantes por todo o

periacuteodo em anaacutelise

Visualizar o raiar do ensino de Geografia no Brasil no periacuteodo joanino

significa entrever as necessidades pedagoacutegicas engendradas em alguns cursos do

ensino superior especificamente na Academia Militar

331 Academia Real Militar do Rio de Janeiro (1810) a primeira explicitaccedilatildeo da Geografia como disciplina

A demanda curricular do ensino superior determina a demanda das

formaccedilotildees de base quando esta tem por alvo o ingresso do aluno naquela O ensino

de Geografia no Brasil sobretudo no ensino secundaacuterio dentre vaacuterios

pressupostos tem o fato de ser objeto de exame para ingresso nas faculdades de

Direito a partir de 1831 (HAIDAR 1972 VLACH 1988) Em 1827 haviam sido

fundadas as Faculdades de Direito de Satildeo Paulo e Olinda jaacute em um segundo

movimento do estabelecimento do ensino superior brasileiro O ensino de Geografia

foi proponente no surgimento da Geografia como uma ciecircncia institucional no Brasil

Todavia antes de ser uma ciecircncia isto eacute uma aacuterea do conhecimento com objeto

corpo teoacuterico-metodoloacutegico e espaccedilo institucional independente o que viria a ocorrer

apenas na deacutecada de 1930 e antes de ser uma disciplina estaacutevel no ensino

secundaacuterio e posteriormente no ensino elementar foi disciplina autocircnoma do

ensino superior ainda no periacuteodo joanino Este fato praticamente ainda natildeo foi

abordado na bibliografia referencial sobre o ensino de Geografia Deve ser

mencionado pois tem uma relaccedilatildeo muito proacutexima com o desenvolvimento posterior

da disciplina e da literatura didaacutetica de Geografia

Dessa forma de um saber auxiliar sobretudo em cursos secundaacuterios como

visto no ensino jesuiacutetico a Geografia integrou o processo de introduccedilatildeo do ensino

superior no paiacutes bem como a introduccedilatildeo desse ensino no movimento cientiacutefico

testemunhado nas escolas teacutecnicas do ensino superior iniciantes apoacutes a chegada da

corte portuguesa ao Brasil

Os primeiros cursos a receberem os conteuacutedos geograacuteficos de forma

independente foram da Academia Real Militar do Rio de Janeiro63 Esta instituiccedilatildeo

fundada em 04 de dezembro de 1810 por carta reacutegia foi inaugurada em 23 de abril

de 1811 num contexto que respondia agrave criaccedilatildeo dessas academias na Europa e na

instauraccedilatildeo do ensino superior na colocircnia brasileira (MOACYR 1936) Foi a primeira

escola de engenharia do paiacutes respondendo por diversos nomes mais tarde

Imperial Academia Militar (1822) Academia Militar da Corte (1832) Escola Militar

(1840) Na deacutecada de 1850 houve um desmembramento entre a formaccedilatildeo dos

militares e a formaccedilatildeo em engenharia consolidada apoacutes a Guerra do Paraguai

(1864-1870) pelo Decreto 5529 de 17 de janeiro de 1874 que liberou o exeacutercito

brasileiro da formaccedilatildeo de engenheiros centralizando institucionalmente a formaccedilatildeo

de militares (LUCENA 2005) Dessa forma a antiga Academia Real Militar que jaacute

natildeo respondia a esse nome desmembrou-se em instituiccedilotildees outras como em 1858

a Escola Central que originaria a atual politeacutecnica da Universidade Federal do Rio

de Janeiro (ESCOLA POLITEacuteCNICA 2011) a Escola Militar da Praia Vermelha a

Escola Superior de Guerra (1890)64 a Escola Astronocircmica e de Engenharia

Geograacutefica (1890) e outras denominaccedilotildees e instituiccedilotildees A Academia Real Militar

63

A Real Academia natildeo foi a primeira experiecircncia da colocircnia nesse sentido Cerca de duas deacutecadas antes exatamente em 1792 a metroacutepole portuguesa fundou no Rio de Janeiro a Real Academia da Artilharia Fortificaccedilatildeo e Desenho da cidade do Rio de Janeiro para formar soldados da infantaria cavalaria e artilharia da cidade bem como formar engenheiros e arquitetos para construir zelar e defender as fortificaccedilotildees aleacutem de outras construccedilotildees civis Poreacutem a experiecircncia da Real Academia foi muito mais ampla

64 Esta se diferencia da tambeacutem Escola Superior de Guerra - ESG fundada em 1949 pelos

geopoliacuteticos militares brasileiros

assim eacute a base histoacuterica de algumas instituiccedilotildees que sobrevivem na atualidade

como a citada Politeacutecnica da UFRJ e o Instituto Militar de Engenharia ndash IME

As academias militares assim como as sociedades cientiacuteficas foram alguns

dos efeitos imediatos e influentes da nova mentalidade intelectual e cultural

emergente na Europa apoacutes o seacuteculo XVIII que fundamentou o surgimento do

pensamento e da ciecircncia moderna

Espaccedilos de formaccedilatildeo cientiacutefica essas academias militares possibilitaram a formaccedilatildeo de um novo tipo de oficial atraveacutes de curriacuteculos e diretrizes pedagoacutegico-cientiacuteficos que eram verdadeiros porta-vozes de um novo modelo cientiacutefico - que privilegiava a observaccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo - resultante da fusatildeo da matemaacutetica e da fiacutesica sob uma perspectiva praacutetica (DUARTE 2003 p 241)

Em Portugal vaacuterias academias surgiram na ampla reforma do periacuteodo

pombalino cuja inovaccedilatildeo no ensino superior portuguecircs conta com a criaccedilatildeo de

faculdades de matemaacutetica ciecircncia de grande impacto nos estudos militares Inicia

portanto na cultura luso-brasileira o arqueacutetipo do cientificismo como forma

modernizadora introduzida pelo Marquecircs de Pombal intermediada natildeo raras vezes

por militares processo que no Brasil teraacute mais de 200 anos de influecircncia notaacutevel ldquoo

Positivismo brasileiro tornou-se o desdobramento natural da tradiccedilatildeo cientificista

iniciada sob Pombal Mais que isto transformou-se no fundamento doutrinaacuterio do

autoritarismo republicano []rdquo (PAIM 2002 p 1) O Marquecircs de Pombal foi

expoente de um movimento cultural que perpassou as elites portuguesas no qual se

incluiacutea a corrente filosoacutefica do jaacute mencionado empirismo mitigado que tentou a

superaccedilatildeo no acircmbito do ensino superior do aristotelismo Ao passo que em outros

paiacuteses filoacutesofos como Hume Locke Kant em torno do conhecimento promoviam

um debate intenso a que Kant nos seus Prolegocircmenos se referiu a si mesmo

nesse processo como o despertar de um ldquosono dogmaacuteticordquo em Portugal natildeo se

pretendeu ir e natildeo se foi tatildeo longe Mesmo assim esse movimento opocircs-se ao

ensino escolaacutestico e ao monopoacutelio educacional dos jesuiacutetas promovendo uma

concepccedilatildeo de filosofia que tivesse alguma identificaccedilatildeo com a ciecircncia aplicada no

sentido de modernizar o Estado portuguecircs Um conjunto de accedilotildees despoacuteticas pois

centrado nas necessidades do Estado natildeo da naccedilatildeo portuguesa No exemplo maior

de um pragmatismo absoluto o empirismo mitigado reduziu a filosofia agrave ciecircncia e a

ciecircncia agraves aplicaccedilotildees em um gesto necessariamente simploacuterio e foi o esteio

principal para a reformulaccedilatildeo da Universidade de Coimbra e do Coleacutegio dos Nobres

Nesse sentido a Geografia foi uma das disciplinas de rompimento com a

praacutetica pedagoacutegica escolaacutestica compondo o processo de renovaccedilatildeo do ensino visto

como cientiacutefico

Este movimento acompanhou a corte portuguesa ao Brasil em 1808 e

influenciou amplamente os intelectuais brasileiros e os portugueses migrados que

aqui atuaram fundamentando as escolas de ensino superior que surgiram no

reinado Tais eram as influecircncias do Conde de Linhares D Rodrigo de Souza

Coutinho (1755-1812) organizador da Academia Real Militar do Rio de Janeiro e

ex-aluno do Coleacutegio de Nobres e da Universidade de Coimbra Tratava-se da

aplicaccedilatildeo da ldquoaritmeacutetica poliacuteticardquo de Pombal conforme Rodriacuteguez (2010 p 3)

a) o Estado empresaacuterio com o auxiacutelio da ciecircncia aplicada garante a riqueza da naccedilatildeo b) o Estado com o auxiacutelio da ciecircncia aplicada garante a ordem poliacutetica e a moral dos cidadatildeos c) o Estado ainda com o auxiacutelio da ciecircncia aplicada garante a formaccedilatildeo da elite burocraacutetico-teacutecnica de que precisa

Ainda de acordo com Rodriacuteguez (2010 p 4-5)

A ideacuteia cientificista em siacutentese surgira em Portugal sob o marquecircs de Pombal na segunda metade do seacuteculo XVIII como alternativa modernizadora que substituiu a crenccedila na tradiccedilatildeo religiosa sobre a qual ateacute entatildeo assentava o poder patrimonial do Estado Em que pese o caraacuteter modernizador da reforma pombalina em nada modificou o esquema concentrado do poder patrimonial natildeo surgira entatildeo da queda do absolutismo teocraacutetico um regime de democracia representativa como tinha acontecido na Inglaterra apoacutes a Revoluccedilatildeo Gloriosa de 1688 Apareceu assim como alternativa modernizadora no seio da cultura lusa o despotismo ilustrado ou patrimonialismo modernizador que exerceria forte influxo no desenvolvimento do cientificismo no Brasil

Na instacircncia do ensino superior brasileiro observou-se um afastamento do saber

humaniacutestico que calccedilou tradicionalmente as formaccedilotildees de base por meio dos

jesuiacutetas continuado agrave sua maneira nas aulas reacutegias e na acircnsia das necessidades

profissionalizantes visou agrave aplicaccedilatildeo maacutexima que as ciecircncias do tempo permitiriam

Conveacutem lembrar que esta anaacutelise refere-se ao periacuteodo joanino Apoacutes a

Independecircncia na aurora do Impeacuterio cursos juriacutedicos e outros humanistas foram

instituiacutedos com forte teor literaacuterio apresentando uma continuidade da tradiccedilatildeo

estabelecida pelos jesuiacutetas e a custo mantida apoacutes eles e que confrontou as

rupturas que o ensino superior joanino incorporaria nesse cenaacuterio

O objetivo da Academia Real Militar do Rio de Janeiro era a formaccedilatildeo de

oficiais militares e oficiais teacutecnicos com uma centralidade bem especiacutefica o territoacuterio

e a nascente infraestrutura brasileira O espaccedilo geograacutefico da Colocircnia pela primeira

vez a partir de uma instituiccedilatildeo firmada no espaccedilo brasileiro detinha a atenccedilatildeo de um

novo olhar o olhar do Estado diferente das percepccedilotildees anteriores essencialmente

econocircmicas Seu curriacuteculo pautava-se nas ciecircncias exatas aplicadas para formar

oficiais de artilharia infantaria e cavalaria engenheiros (inclusive os denominados

ldquoengenheiros geoacutegrafosrdquo) e topoacutegrafos habilitados a administrar a construccedilatildeo civil

conforme enunciava os Estatutos da Academia

[] Faccedilo saber a todos os que esta Carta virem que Tendo consideraccedilatildeo ao muito que interessa ao Meu Real Serviccedilo ao bem puacuteblico dos Meus Vassalos e agrave defesa e seguranccedila dos meus vastos Domiacutenios que se estabeleccedila no Brasil e na minha atual Corte e cidade do Rio de Janeiro um curso regular das Ciecircncias Exatas e de Observaccedilatildeo assim como de todas aquelas que satildeo aplicaccedilotildees das mesmas aos Estudos Militares e Praacuteticos que formam a Ciecircncia Militar em todos os seus difiacuteceis e interessantes ramos de maneira que dos mesmos Cursos de estudos se formem haacutebeis oficiais de Artilharia Engenharia e ainda mesmo Oficiais da Classe de Engenheiros Geoacutegrafos e Topoacutegrafos que possam tambeacutem ter o uacutetil emprego de dirigir objetos administrativos de Minas de Caminhos Portos Canais Pontes Fontes e Calccediladas Hei por bem que na minha atual Corte e Cidade do Rio de Janeiro se estabeleccedila uma Academia Real Militar para um Curso completo de Ciecircncias de Observaccedilatildeo quais a Fiacutesica Quiacutemica Mineralogia Metalurgia e Historia Natural que compreenderaacute o Reino Vegetal e Animal e das Ciecircncias Militares em toda a sua extensatildeo tanto de Taacutetica como de Fortificaccedilatildeo e Artilharia [] Dada no Palaacutecio do Rio de Janeiro em quatro de Dezembro de mil oitocentos e dez PRIacuteNCIPE Com Guarda Conde de Linhares (BRASIL 2004 p 3)

Somente apoacutes 1874 a jaacute entatildeo Escola Central desligou-se das atividades militares

vinculando-se agrave Secretaria do Impeacuterio para formar exclusivamente engenheiros civis

Para graduar engenheiro-geoacutegrafo nas deacutecadas finais do seacuteculo XIX o aluno

deveria seguir primeiramente o curso geral cujo curriacuteculo era

1ordm ano Aacutelgebra (teoria das equaccedilotildees e teoria e uso dos logaritmos) Geometria Analiacutetica Geometria no Espaccedilo Trigonometria Retiliacutenea Fiacutesica Experimental Meteorologia Desenho Geomeacutetrico e Topograacutefico

2ordm ano Caacutelculo Diferencial e Caacutelculo Integral Mecacircnica Racional e Aplicaccedilatildeo agraves Maacutequinas Elementares Geometria Descritiva Trabalhos Graacuteficos a respeito da soluccedilatildeo dos principais problemas de Geometria

Descritiva Quiacutemica Inorgacircnica Noccedilotildees de Mineralogia Botacircnica Zoologia (CUNHA 2007 p 96-97)

Apoacutes o curso geral o acadecircmico deveria optar por uma especializaccedilatildeo A do

engenheiro-geoacutegrafo tinha duraccedilatildeo de um ano e correspondia ao segundo ano do

Curso de Ciecircncias Fiacutesicas e Matemaacuteticas ldquo2ordm ano Trigonometria Esfeacuterica

Astronomia (observaccedilotildees astronocircmicas e caacutelculos de astronomia praacutetica)

Construccedilatildeo e desenho de Cartas Geograacuteficas Topografia Geodeacutesia Hidrografiardquo

(CUNHA 2007 p 97) Formaccedilatildeo que natildeo fugia muito da proposta inicial da

Academia

De fato o pragmatismo da eacutepoca conduzia os militares a uma

profissionalizaccedilatildeo das carreiras com postos oficiais ocupados por homens do povo

natildeo mais exclusivamente pela nobreza O poderio militar ampliava sua dimensatildeo de

utilidade ao Estado Para isso o Estatuto que instituiu a Academia Militar prescrevia

um curso com duraccedilatildeo de sete anos para os oficiais de artilharia e engenharia com

disciplinas dos domiacutenios da Matemaacutetica e da Fiacutesica desenho disciplinas de

aplicaccedilotildees a obras de engenharia ciecircncias naturais No quarto ano os Estatutos

preconizavam Trigonometria Esfeacuterica Fiacutesica Astronomia Geodeacutesia Geografia

Geral e Desenho

O ensino militar no Brasil em niacutevel superior estaacute dentre os primeiros a

desenvolver-se sob orientaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e nele a Geografia

encontrou um lugar Lembrando poreacutem que essas referecircncias cientiacuteficas natildeo eram

ainda as que seriam instituiacutedas no Brasil nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX no

caso da Geografia

O que se teria ensinado sob a eacutegide de uma Geografia Geral Qual a

formaccedilatildeo agregada aos engenheiros geoacutegrafos Os militares propunham um

conhecimento mais sistemaacutetico do territoacuterio brasileiro a ser conhecido e produzido

suas cartas sua histoacuteria constitutiva a organizaccedilatildeo urbana os locais estrateacutegicos

o lugar do territoacuterio brasileiro no contexto do mundo Tais espaccedilos eram alvo da

atividade dos egressos da academia Desde o seacuteculo anterior o governo portuguecircs

vinha realizando trabalhos sobre o territoacuterio brasileiro o que pode supor que a

transferecircncia da Corte em 1808 natildeo foi um rompante a despeito da decisatildeo

repentina de embarque

Durante a segunda metade do seacuteculo XVIII expandiram-se ainda no Brasil as obras de cartografia e demais levantamentos realizados pelos engenheiros portugueses em missatildeo oficial que produziram um conjunto de informaccedilotildees detalhadas e ricas acerca das principais caracteriacutesticas fiacutesicas do territoacuterio cujo objetivo primordial era garantir o controle sobre as fronteiras e os recursos naturais [] Durante grande parte do periacuteodo colonial da histoacuteria brasileira a presenccedila de teacutecnicos das mais variadas formaccedilotildees foi [] uma das estrateacutegias baacutesicas de afirmaccedilatildeo do mando metropolitano Em caso dos engenheiros militares em especial essa funccedilatildeo ficava ainda mais evidente Coube exatamente a essa categoria profissional a determinaccedilatildeo de limites e o reconhecimento de aspectos topograacuteficos fundamentais do imenso territoacuterio da Ameacuterica portuguesa As expediccedilotildees comandadas pelos engenheiros militares portugueses tinham ainda um exerciacutecio essencial ndash levantar as condiccedilotildees fiacutesicas para a construccedilatildeo das fortalezas para a defesa do paiacutes (CURY 2002 p 253-254)

Atividades tais evidentemente natildeo poderiam ser desconsideradas por

qualquer administraccedilatildeo puacuteblica Em 1750 Portugal e Espanha haviam assinado o

Tratado de Madri e outro em 1777 o Tratado de Santo Ildefonso Esses tratados

por si soacute abriam um enorme flanco de trabalho no que diz respeito ao territoacuterio da

Colocircnia E havia no iniacutecio dos Oitocentos o conflito napoleocircnico que deixava em

vigilacircncia o Estado portuguecircs

O modelo acadecircmico francecircs foi influente na formaccedilatildeo da Real Academia

Militar Os livros mandados adotar pela Carta Reacutegia que a criou eram

majoritariamente franceses A Geografia contextualizava-se no plano de estudo do

espaccedilo o ldquosistema do mundordquo compreendido fiacutesica e matematicamente com

noccedilotildees precisas de localizaccedilatildeo e representaccedilatildeo acrescendo-se noccedilotildees gerais da

Geografia descritiva Dos autores indicados para esse programa tinham-se os

matemaacuteticos franceses Adrien-Marie Le Gendre (1752-1833) e Nicolas Louis La

Caille (1713-1762) e o fiacutesico francecircs Pierre-Simon de La Place (1749-1827) aos

quais se acrescia a obra do religioso e geoacutegrafo francecircs Abbeacute Nicolle de La Croix

(1704-1760) e do escocecircs John Pinkerton (1758-1826)

O Lente do quarto ano explicaraacute a trigonometria espherica de le Gendre em toda a sua extensatildeo e os princiacutepios de oacutetica catoacuteptrica e dioacuteptrica daraacute noccedilotildees de toda a qualidade de oacuteculos de refraccedilatildeo e de reflexatildeo e depois passaraacute a explicar o sistema do mundo para o que muito se serviraacute das obras de la Caille e de Ia Lande e da mecacircnica celeste de la Place natildeo entrando nas suas sublimes teorias porque para isso lhe faltaria o tempo mas mostrando os grandes resultados que ele tatildeo elegantemente expocircs e dali explicando todos os meacutetodos para as determinaccedilotildees das latitudes e longitudes no mar e na terra fazendo todas as observaccedilotildees com a maior regularidade e mostrando as aplicaccedilotildees convenientes as medidas

geodeacutesicas que novamente daraacute em toda a sua extensatildeo Exporaacute igualmente uma noccedilatildeo das cartas geograacuteficas das diversas projeccedilotildees e das suas aplicaccedilotildees as cartas geograacuteficas e as topograacuteficas explicando tambeacutem os princiacutepios das cartas mariacutetimas reduzidas e do novo meacutetodo com que foi construiacuteda a carta de Franccedila dando tambeacutem noccedilotildees gerais sobre a geografia do globo e suas divisotildees As obras de la Place de la Lande de la Caille e a introduccedilatildeo de la Croix a geografia de Pinkerton serviratildeo de base ao compendio que deve formar e no qual ha de procurar encher toda a extensatildeo destas vistas (BRASIL 2004 p 6 grifos meus)

O Abbeacute Nicolle de la Croix foi o autor da Geacuteographie moderne et universelle

preacutecedeacutee drsquoun Traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomiehellip avec un abreacutegeacute de

la geacuteographie ancienne sacreacutee et eccleacutesiastiquehellip que em 1800 tinha uma nova

ediccedilatildeo refundida por Victor Comeiras em circulaccedilatildeo nas escolas nacionais da

Franccedila como base para cursos de Geografia Possivelmente a Carta refere-se ao

ldquoTratado da Esferardquo texto introdutoacuterio agrave obra divulgado e trabalhado no ensino

desde os jesuiacutetas

A principal obra de Pinkerton por sua vez ndash autor que na Carta eacute remetido

a um aproveitamento maior ndash intitula-se Modern geography a description of the

empires kingdoms states and colonies with the oceans seas and isles in all parts

of the world including the most recent discoveries and political alterations digested

on a new plan obra publicada em dois tomos em 1802 e 1804 de ampla circulaccedilatildeo

na Europa em princiacutepio do seacuteculo XIX com traduccedilotildees para o francecircs e para o

italiano ainda na primeira deacutecada daquele seacuteculo Possivelmente uma vez que a

Carta natildeo explicita o tiacutetulo da obra indicada esta seja a traduccedilatildeo francesa intitulada

Abreacutegeacute de la Geacuteographie Moderne Redigeacutee sur un Nouveau Plan refundida em

1805 por J-N Buache tambeacutem seu tradutor tendo uma segunda ediccedilatildeo ampliada

em 1806 Leva-me a crer tenha sido esta traduccedilatildeo adotada pois aleacutem do influente

modelo francecircs na articulaccedilatildeo da Academia esta obra praticamente remodelada foi

adotada pelo ensino francecircs

Fait sur la traduction franccedilaise de la Geacuteographie moderne de cet auteur et augmenteacute des deacutecouvertes puiseacutees dans les Voyages les plus reacutecens orneacute de neuf cartes revues par J N Buache de lrsquoInstitut National de France [] Revue et corrigeacutee diviseacutee quant agrave lrsquoAllemagne et agrave lrsquoItalie drsquoapregraves le traiteacute de Presbourg de 1805 consideacuterablement augmenteacutee sur-tout relativement agrave la France agrave plusieurs Etats de lrsquoEurope et agrave lrsquoAfrique septentrionale termineacutee par des Eleacutements de Geacuteographie ancienne compareacutee fort eacutetendus disposeacutes dans un ordre nouveau et meacutethodique et speacutecialement adapteacutes agrave la Geacuteographie moderne de Pinkerton [] Ouvrage adopteacute par la

Commission de lrsquoInstruction publique et destineacute pour lrsquoenseignement des Lyceacutees et Eacutecoles secondaires

65

Uma raacutepida anaacutelise da Geografia de Pinkerton se faz necessaacuteria pois foi

influente no ensino de Geografia francecircs que por sua vez foi modelo do ensino de

Geografia brasileiro A obra de Pinkerton foi composta por uma introduccedilatildeo

astronocircmica (escrita pelo reverendo S Vince) seguida por unidades

correspondentes a cada um dos entatildeo quatro continentes ndash Europa Aacutesia Ameacuterica e

Aacutefrica subdividindo-se em capiacutetulos com cada paiacutes do continente Nas observaccedilotildees

preliminares eacute interessante a concepccedilatildeo geograacutefica apresentada se hoje quando

pensamos o mundo e seus territoacuterios pensamos o espaccedilo geograacutefico em sua

totalidade ndash e esta eacute a visatildeo da modernidade geograacutefica ndash a discussatildeo proposta por

Pinkerton poreacutem coloca a questatildeo da divisatildeo do objeto e do saber como uma das

preocupaccedilotildees fundamentais da Geografia possivelmente um debate iniciado a esse

tempo ldquoThe word Geography is derived from the Greek language and implies a

description of the earthrdquo66 O lexema ldquoearthrdquo aqui remontando a discussotildees da

Antiguidade estaacute transitando de ldquoterrardquo para ldquoplaneta Terrardquo O sentido de ldquoterrardquo na

derivaccedilatildeo do termo grego ldquoGeordquo natildeo se referia ao planeta jaacute que este natildeo era um

conceito construiacutedo pelos antigos ndash a totalidade deles eacute bem relativa em referecircncia agrave

mesma percepccedilatildeo no sentido moderno Assim conforme apresenta Pinkerton (1804

p 1) a Geografia contrastaria com a Hidrografia ldquo[] wich signifies a description of

the water that is of seas lakes rives ampc this including marine charts but in

general hydrography is rather regarded as a province of geographyrdquo67 (PINKERTON

1804 p 1) Estes fragmentos apresentam certa dubiedade de circunscriccedilatildeo e

objetividade da Geografia na transiccedilatildeo dos seacuteculos XVIII e XIX jaacute vista e nomeada

como uma ciecircncia testemunhando incertezas para as quais a Geografia Moderna

65

ldquoProduzido a partir da traduccedilatildeo francesa da Geografia moderna do autor e aumentado com as descobertas das viagens mais recentes ornado com nove mapas revista por J N Buache membro do Instituto Nacional da Franccedila [] Revisto e corrigido dividido quanto agrave Alemanha e agrave Itaacutelia de acordo com o Tratado de Presburgo de 1805 aumentado consideravelmente sobretudo em relaccedilatildeo agrave Franccedila e a vaacuterios paiacuteses da Europa e da Aacutefrica do Norte terminando com os Elementos de Geografia antiga comparada dispostos em ordem nova e metoacutedica e especialmente adaptados agrave Geografia Moderna de Pinkerton [] Obra adotada pela Comissatildeo da Instruccedilatildeo Puacuteblica e destinada para o ensino dos Liceus e das Escolas Secundaacuteriasrdquo (Traduccedilatildeo da autora)

66 A palavra Geografia deriva da liacutengua grega e significa a descriccedilatildeo da terra (Traduccedilatildeo da autora)

67 [] que significa uma descriccedilatildeo da aacutegua isto eacute dos mares lagos rios etc este incluindo cartas

mariacutetimas mas em geral a hidrografia eacute bastante considerada como uma proviacutencia da geografia (Traduccedilatildeo da autora)

apresentaria um avanccedilo mas por outro lado evidencia a Geografia Claacutessica em

gestos de independecircncia em relaccedilatildeo agrave Geografia Antiga como demonstra a

seguinte assertiva ldquoboth [Geografia e Hidrografia] were anciently considered along

with astronomy as parts of Cosmography wich aspired to delineate the universerdquo68

(PINKERTON 1804 p 1) Ainda outro problema de recorte e escala eacute colocado

ldquoGeography is more justly contrasted with Chorography wich illustrates a country or

province and still more with Topography wich describes a particular place or small

districtrdquo69 (PINKERTON 1804 p 1) No caminho de afirmaccedilatildeo de uma Geografia

cientiacutefica havia uma oscilaccedilatildeo entre a compreensatildeo da Cosmografia e da

Corografia e a tentativa de conciliaccedilatildeo denominava-se Geografia Geral

What is called General Geography embraces a wide view of the subject regarding the earth astronomically as a planet the grand divisions of land and water the winds tides metereoroly ampc and may extend to what is called the mechanical of part geography in directions for the construction of globes maps and charts

70 (PINKERTON 1804 p 1)

Dentre as demais subdivisotildees da Geografia evidenciadas por Pinkerton

tem-se a Geografia Sacra respaldada nas escrituras a Geografia Eclesiaacutestica a

compreender a administraccedilatildeo da Igreja a Geografia Fiacutesica ndash pelo autor tambeacutem

denominada Geologia Agrave parte todas essas consideraccedilotildees Pinkerton (1808 p 1-2)

apresenta a consideraccedilatildeo popular dessa ciecircncia da qual parece ocupar-se em sua

obra com fronteiras diluiacutedas para aleacutem do domiacutenio interior da Histoacuteria a saber

Geography populary considered is occupied in the description of the various regions of this globe chiefly as being divided among various nations and improved by human art industry If a scientific term were indispensable for this popular acceptation that of Historical Geography might be adopted not only from its professed subservience to history but because it is in fact a narrative so nearly approaching the historical that Herodotus and many other ancient historians have diversified theirs works with large portions of

68

ldquoAmbas [Geografia e Hidrografia] foram antigamente consideradas juntamente com a astronomia como partes da Cosmografia que aspirava delinear o universordquo (Traduccedilatildeo da autora)

69 ldquoA geografia mais aproximadamente contrasta com a corografia que ilustra um paiacutes ou proviacutencia

e ainda mais com a topografia que descreve um determinado lugar ou pequeno distritordquo (Traduccedilatildeo da autora)

70 ldquoO que eacute chamada de Geografia Geral abarca uma visatildeo ampla do assunto sobre a Terra como um

planeta no contexto astronocircmico as grandes divisotildees de terra e aacutegua os ventos as mareacutes a meteorologia etc podendo-se estender agrave construccedilatildeo mecacircnica da Geografia construccedilatildeo de globos mapas e cartasrdquo (Traduccedilatildeo da autora)

geography and the celebrated description of Germany by Tacitus contains most of the materials adopted in modern treatises of geography

71

A Geografia de Pinkerton inicia com consideraccedilotildees gerais sobre o continente

europeu passando a abordar a Inglaterra em quatro enfoques uma abordagem

preliminar sobre os nomes extensatildeo populaccedilatildeo e eacutepocas histoacutericas Geografia

Poliacutetica religiatildeo geografia eclesiaacutestica governo leis populaccedilatildeo colocircnias forccedilas

armadas diplomacia Geografia Civil costumes liacutengua literatura artes educaccedilatildeo

cidades edifiacutecios estradas induacutestrias e comeacutercio Geografia Natural clima solo e

agricultura rios lagos montanhas florestas botacircnica zoologia mineralogia aacuteguas

minerais curiosidades naturais Os demais continentes e paiacuteses satildeo inseridos com

variaccedilotildees nesse enquadramento descritivo

O sentido metodoloacutegico de Pinkerton assim eacute descrever os espaccedilos da

Terra tendo por princiacutepio sua divisatildeo poliacutetica apresentando a onomaacutestica a

estatiacutestica a hierarquia e a Histoacuteria como meios de fazer conhecidas as naccedilotildees

constituiacutedas do mundo de sua eacutepoca Agraves vezes alguns debates satildeo introduzidos

mas como efeitos colaterais sem compor o objetivo da sua constituiccedilatildeo discursiva

como por exemplo quando questiona e se mostra incerto se a populaccedilatildeo exterior agrave

Inglaterra aquela congregada nas colocircnias do impeacuterio seria ou natildeo populaccedilatildeo

inglesa em funccedilatildeo da possiacutevel natildeo permanecircncia da anexaccedilatildeo dos territoacuterios

ocupados

To enumeration of the inhabitants os England may be added many exterior colonies and settements the most important of wich are now in Asia but as the climate of Hindostan is rather adverse to European constitutions it may be doubt whether our settlements there though containing a considerable population can be considered as permanent colonies

72 (PINKERTON 1804

p 41)

71

ldquoA Geografia considerada popularmente ocupa-se da descriccedilatildeo das diversas regiotildees do globo principalmente quanto agrave divisatildeo das vaacuterias naccedilotildees do globo acrescida da produccedilatildeo humana Se um termo cientiacutefico for indispensaacutevel para esta aceitaccedilatildeo popular talvez a denominaccedilatildeo de Geografia Histoacuterica possa ser adotada mas natildeo pela sua subserviecircncia professa agrave histoacuteria mas porque eacute de fato uma narrativa muito aproximada do dizer histoacuterico jaacute que Heroacutedoto e muitos outros historiadores antigos diversificou seus trabalhos com grandes porccedilotildees de geografia tal qual a ceacutelebre descriccedilatildeo da Alemanha por Taacutecito que conteacutem a maioria das mateacuterias aprovadas nos tratados modernos de geografiardquo (Traduccedilatildeo da autora)

72 ldquoPara quantificaccedilatildeo dos habitantes da Inglaterra podem ser adicionados muitas colocircnias e

assentamentos exteriores dos quais os mais importantes estatildeo agora na Aacutesia mas como o clima no Sul Asiaacutetico eacute bastante adverso para as constituiccedilotildees europeias eacute duvidoso que estas colocircnias embora contendo uma populaccedilatildeo consideraacutevel possam ser consideradas como colocircnias permanentesrdquo (Traduccedilatildeo da autora)

Basicamente esta estrutura ldquocontinentenaccedilotildeesrdquo e ldquonaccedilotildeesGeografia

PoliacuteticaGeografia CivilGeografia Naturalrdquo eacute reproduzida como proposta para a

abordagem dos demais continentes e paiacuteses embora natildeo com a extensatildeo da

abordagem dada agrave Inglaterra ou agrave Franccedila na versatildeo adaptada da traduccedilatildeo

francesa

Os trabalhos de La Croix e Pinkerton enquadram-se na tradiccedilatildeo dos grandes

tratados (alguns denominados de Geografia Histoacuterica) atlas e dicionaacuterios

geograacuteficos que surgiram ao longo do seacuteculo XVIII momento em que o saber

geograacutefico dos antigos gregos romanos e outros foram reinterpretados nos

fundamentos cientiacuteficos do Iluminismo constituindo as contribuiccedilotildees uacuteltimas da

Geografia Claacutessica ndash performance anterior agrave Geografia Moderna

Os desdobramentos da Geografia de Pinkerton da sua inclusatildeo como base

para a disciplina da Academia Real Militar do filtro francecircs como modelo e influecircncia

ndash quadros gerais da Geografia Claacutessica ndash tiveram impactos na organizaccedilatildeo do

ensino de Geografia brasileiro ao longo do seacuteculo XIX Dessa fonte surgiratildeo

disciplinas como Astronomia Cosmografia Corografia Geografia Geral Geografia

Universal as Corografia Histoacutericas e seratildeo influentes para a Corografia do Brasil a

Geografia do Brasil Eacute possiacutevel que se natildeo somente Pinkerton mas outros autores

estejam dentre as leituras que referenciaram a primeira geografia brasileira a de

Ayres de Casal alguns anos apoacutes a fundaccedilatildeo da Academia

Kimble (2005) natildeo sem razatildeo denominou a Geografia como a ldquoCinderela

das Ciecircnciasrdquo pelo papel indefinido que cumpriu tanto entre os antigos quanto na

Idade Meacutedia A Geografia ndash saber que mesmo deslocado nunca foi menosprezado ndash

foi defendido como um dos ramos da fiacutesica (como queriam os platocircnicos) e tambeacutem

como um dos ramos da matemaacutetica aplicada (como queriam os aristoteacutelicos) sendo

que estas vertentes introduziram uma das tradiccedilotildees componentes da Geografia

Claacutessica a tradiccedilatildeo matemaacutetica no tratamento do espaccedilo e dos instrumentais

cartograacuteficos Por outro lado os relatos descritivos de outro grego Estrabatildeo na

ordem de trabalhos como o de Heroacutedoto fundaram outra tradiccedilatildeo revalorizada a

partir dos Quinhentos a Geografia como descriccedilatildeo dos povos dos costumes e das

formas de viver

Na Idade Meacutedia a inconsistecircncia de uma unidade para a Geografia tambeacutem

natildeo permitiu que fosse inclusa no Quadrivium (saberes matemaacuteticos constituiacutedos

pela aritmeacutetica muacutesica geometria e astronomia) nem no Trivium (gramaacutetica

dialeacutetica e retoacuterica) Um encaminhamento distinto poreacutem passou a deslocar os

saberes geograacuteficos desse impasse durante a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII

no processo de redescoberta das ciecircncias antigas e da revalorizaccedilatildeo destas na

proposiccedilatildeo das nascentes ciecircncias modernas as tradiccedilotildees de Ptolomeu e de

Estrabatildeo de certa forma se encontraram preanunciando a Geografia que seria

institucionalizada com meacutetodo e com um objeto mais definido (pelo menos no que

diz respeito agrave sua procura) na Alemanha no seacuteculo XIX Para isso foram as

Grandes Navegaccedilotildees o fator antecedente e decisivo a partir das quais ldquo[] um

renovado ardor pelas descobertas geograacuteficas se manifesta e apesar do estado

primitivo da arte da navegaccedilatildeo a aacuterea da lsquoterra coacutegnitarsquo foi ampliada rapidamenterdquo

(KIMBLE 2005 p 257) As ldquogeografias histoacutericasrdquo comeccedilavam a surgir

ultrapassando a simples produccedilatildeo dos documentos cartograacuteficos Delimitar os

espaccedilos e conhececirc-los estava na ordem do dia

Sem duacutevida eacute nestas circunstacircncias que podemos compreender a obra de

La Croix e principalmente a de Pinkerton e outras semelhantes que surgiram com

relativos valores dentre as quais podemos enquadrar a Corografia Brasiacutelica de

Ayres de Casal no caso brasileiro A obra de Casal certamente teve amplo impacto

por preencher uma lacuna importante no que diz respeito a uma sistematizaccedilatildeo dos

conhecimentos sobre o territoacuterio brasileiro

Em uma perspectiva oficial a obra de La Croix e de Pinkerton eacute a mais

antiga referecircncia geograacutefica recomendada pelo Estado para o ensino de Geografia

A Geografia estudada na Academia Militar foi aquela introduzida para as elites

dentre as quais alguns se tornaram futuros lentes do ensino secundaacuterio eou autores

dos livros textos de Geografia Compreender essa Geografia eacute testemunhar o

momento de fecundaccedilatildeo do ensino de Geografia brasileiro

Em um prospecto geral e embora direcionado ao Ensino Superior a Carta

Reacutegia de 04 de dezembro de 1810 tem outra importacircncia ainda para o livro didaacutetico

brasileiro Haacute neste documento uma formalizaccedilatildeo dos livros com o propoacutesito de

estudo na Colocircnia indicando naquele momento uma ponte entre autores de

referecircncia cientiacutefica formaccedilatildeo de curriacuteculo e formaccedilatildeo de uma literatura didaacutetica

propriamente dita Em contexto amplo define aacutereas que deveriam contemplar a

formaccedilatildeo dos engenheiros para o que a Academia foi criada mas natildeo lanccedila em

extensatildeo o curriacuteculo

Para a educaccedilatildeo a Carta Reacutegia reproduz manifestaccedilotildees discursivas que

estavam na ponta da reestruturaccedilatildeo da educaccedilatildeo colonial desde 1808 Para a

Geografia institui pela primeira vez seu ensino O modo de organizaccedilatildeo do ensino

superior teve reflexos na organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio e por extensatildeo do

ensino elementar natildeo em efeito imediato mas ao longo da trajetoacuteria inicial e

posterior da educaccedilatildeo brasileira

Considerando a Carta em um plano geral fiz recortes de fragmentos

discursivos desse documento para uma anaacutelise mais detalhada das orientaccedilotildees que

circunstanciam a emergecircncia de um ensino independente de Geografia no contexto

da educaccedilatildeo proposta

Fragmento 331173

O lente do primeiro ano [] formaraacute o compecircndio ao seu curso e depois explicaraacute a excelente Geometria Trigonometria Retiliacutenea de Le Gendre dando tambeacutem as primeiras noccedilotildees da Trigonometria Esfeacuterica []

Fragmento 3312

O lente deveraacute formar o seu compecircndio debaixo dos princiacutepios de Aacutelgebra Caacutelculo Diferencial e Integral de Le Croix e teraacute cuidado de ir adicionando todos os meacutetodos e novas descobertas que possam ir fazendo-se

Fragmento 3313

O lente do terceiro ano ensinaraacute os princiacutepios de Mecacircnica tanto na Estaacutetica como na Dinacircmica e os da Hidrodinacircmica tanto na Hidrostaacutetica como na Hidraacuteulica e regularaacute seu compecircndio pelos uacuteltimos tratados que maior celebridade merecem servindo-lhe de base aos princiacutepios rigorosos das duas ciecircncias a obra de Francoeur unindo-lhe as aplicaccedilotildees teoacutericas e praacuteticas que puder tirar das excelentes obras de Prony Abade Bossut Fabre e da obra de Gregory []

Fragmento 3314

Deveraacute tirar da obra de Bezout Robins Memoacuterias de Eulero tudo o que toca aos problemas dos projeacuteteis de que deveraacute dar todos os princiacutepios teoacutericos a fim que depois no ano de Artilharia natildeo tenham em tal mateacuteria a ocuparse senatildeo das aplicaccedilotildees praacuteticas deduzidas dos princiacutepios teoacutericos

73

Quando necessaacuterio sequenciar uma ordem de fragmentos para anaacutelise optei por organizar esse conjunto de dizeres pela numeraccedilatildeo da seccedilatildeo seguido de barra e numeraccedilatildeo crescente Os fragmentos natildeo sequenciados natildeo seratildeo numerados

Fragmento 3315

As obras de Laplace La Landre La Caille e introduccedilatildeo de La Croix e a Geografia de Pinkerton serviratildeo de base ao compecircndio que deve formar e no qual haacute de procurar toda extensatildeo destas vistas []

Fragmento 3316

O lente de Fiacutesica formaraacute seu compecircndio sobre os elementos de Fiacutesica do Abade Hauy que nada deixam a desejar em tal mateacuteria quanto aos nossos conhecimentos atuais tendo tambeacutem em vista o Compecircndio de Fiacutesica de Brisson e o que julgue dever aproveitar das obras de outros ceacutelebres fiacutesicos

Fragmento 3317

Formaraacute o seu compecircndio sobre as melhores obras que tem aparecido sobre tatildeo importante mateacuteria seguindo muito agrave primeira parte Guy de Vernon e agrave uacuteltima a obra de Cessac as belas memoacuterias que se acham no Manual Topograacutefico que publica o Arquivo Militar de Franccedila

Fragmento 3318

O lente formaraacute seu compecircndio sobre as melhores e mais modernas obras servindo-se das de Guy de Vernon das Memoacuterias do Abade Bossut Muumlller etc (ESTATUTO 2004 p 5 6 e 7)

Nesses recortes indentificam-se primeiramente um conjunto de sujeitos

constitutivos da instituiccedilatildeo em fundamento e em seguida eacute possiacutevel distinguir um

conjunto de lexemas e sequecircncias discursivas cujos significados e sentidos

reconstituem concepccedilotildees e direccedilotildees propostas agrave educaccedilatildeo formal ao tempo do

estabelecimento da Academia Real Militar

Nos recortes ficam evidenciadas duas categorias de sujeitos os lentes e

diversos autores (Abade Bossut Abade Hauy Bezout Cessac Eulero Fabre

Francoeur Gregory Guy de Vernon La Caille La Landre Laplace Le Croix Le

Gendre Muumlller Pinkerton Prony Robins dentre os mencionados) Os primeiros os

lentes satildeo exortados a determinadas accedilotildees na proposiccedilatildeo de um curriacuteculo e de

suas materialidades a partir das obras dos autores O lexema compecircndio comparece

com um efeito de sentido duplo tanto se refere a uma organizaccedilatildeo dos conteuacutedos

quanto em modo de apreensatildeo agrave construccedilatildeo de materiais para subsidiar o estudo

das quais podemos supor anotaccedilotildees roteiros de aulas apostilas e mesmo os livros

didaacuteticos propriamente ditos Ambos os sentidos confluem deixando essa margem

para interpretaccedilatildeo em sequecircncias discursivas tais como ldquoformaraacute o seu compecircndio

sobre as melhores obras que tem aparecido sobre tatildeo importante mateacuteriardquo ldquoformaraacute

seu compecircndio sobre as melhores e mais modernas obrasrdquo ldquoformaraacute seu compecircndio

sobre os elementos derdquo Na ausecircncia de instituiccedilotildees reguladoras do conteuacutedo eacute

atribuiacutedo ao sujeito-docente e posteriormente como demonstra a histoacuteria dessa

instituiccedilatildeo aos colegiados gestores da Academia a funccedilatildeo de propor ou regular

um programa curricular e suas referecircncias condutoras das relaccedilotildees de ensino e

aprendizagem

Dessa forma tecircm-se de um lado dois lexemas opostos e complementares ndash

obras e compecircndios postos em relaccedilatildeo as primeiras representam as ciecircncias das

quais a seguinte sequecircncia discursiva eacute bem elucidativa quanto ao seu papel

ldquoserviratildeo de base ao compecircndio que deve formar e no qual haacute de procurar toda

extensatildeo destas vistasrdquo os segundos os compecircndios seratildeo regulados pela

apresentaccedilatildeo e formaccedilatildeo de princiacutepios noccedilotildees elementos mateacuteria Esse conjugado

objetiva elaborar mateacuterias a partir das ciecircncias dos princiacutepios destas compor noccedilotildees

e elementos daquelas Entra aqui um dos principais mecanismos de composiccedilatildeo

curricular e da elaboraccedilatildeo da literatura didaacutetica o processo de seleccedilatildeo dispositivo

recorrente na Histoacuteria do Curriacuteculo e da Histoacuteria das Disciplinas Escolares No

documento em anaacutelise haacute um criteacuterio claro comunicado em dois lexemas -

celebridade e ceacutelebres para a seleccedilatildeo das discursividades e sujeitos a serem eleitos

para esta relaccedilatildeo como afirmam as seguintes sequecircncias discursivas ldquoregularaacute seu

compecircndio pelos uacuteltimos tratados que maior celebridade merecemrdquo e ldquotendo tambeacutem

em vista o Compecircndio de Fiacutesica de Brisson e o que julgue dever aproveitar das

obras de outros ceacutelebres fiacutesicosrdquo Selecionados os sujeitos-autores caberaacute aos

sujeitos-professores as accedilotildees prescritivas e deveres constitutivos do saber escolar

ldquodeveraacute tirar da obrardquo ldquoensinaraacute os princiacutepiosrdquo ldquoexplicaraacuterdquo ldquoformar o seu

compecircndiordquo ldquoformaraacute o compecircndiordquo O interessante eacute que a Carta daacute abertura para

que o sujeito-docente tenha nesse processo uma contribuiccedilatildeo a mais que a

sugerida quando o aconselha a ldquoir adicionando todos os meacutetodos e novas

descobertasrdquo

A anaacutelise discursiva da Carta Reacutegia instituinte da Academia Real Militar

exemplifica as circunstacircncias envoltas agrave educaccedilatildeo colonial naquele momento

faltavam instituiccedilotildees matildeo de obra especializada materiais de estudo organizaccedilatildeo

sistecircmica tanto institucional quanto curricular Este eacute o contexto em que pela

primeira vez a Geografia eacute chamada ao processo de instruccedilatildeo no Brasil como

disciplina independente Uma participaccedilatildeo pequena mas importante inaugural E

essa introduccedilatildeo ao ensino geograacutefico estabelecia uma relaccedilatildeo com a Geografia de

Pinkerton e de La Croix por sua vez representativa da Geografia Claacutessica

Este eacute o momento da passagem de um ensino impliacutecito para um ensino

expliacutecito da Geografia

Esta anaacutelise claramente demonstra que as prescriccedilotildees da Carta tinham por

centro a atividade docente Por que essa preocupaccedilatildeo

Repondo uma questatildeo jaacute abordada podemos afirmar que os jesuiacutetas tinham

seus meacutetodos e programas organizados em torno de suas abastadas bibliotecas ndash

para as quais pouco tiveram problemas de financiamento e com as quais

contornavam as dificuldades de custo para o alunado uma vez que os livros entatildeo

eram artigos muito caros importados A educaccedilatildeo pombalina na Colocircnia se viu

desprovida de obras e em paralelo de pessoas qualificadas para o ensino

Consequentemente os livros declinaram muito enquanto instrumental da

metodologia de ensino na vigecircncia das aulas reacutegias A ausecircncia de obras didaacuteticas

e de professores preparados coadunou a decadecircncia e a desarticulaccedilatildeo das

relaccedilotildees de ensino e aprendizagem apoacutes a saiacuteda dos jesuiacutetas e este foi o cenaacuterio

encontrado pelo Estado portuguecircs No seacuteculo XIX a Colocircnia e o Reinado se viram

com a necessidade de compecircndios sobretudo compecircndios secularizados

Neste cenaacuterio antes de as obras didaacuteticas servirem ao estudo dos

discentes tiveram outro papel importante instruir os professores74 e instruiacute-los de

acordo com os preceitos do Estado como bem analisa Bittencourt (2008 p 29)

Os livros que os professores deveriam utilizar foram pensados pelas autoridades brasileiras [] pelo custo e raridade das obras propriamente didaacuteticas [pelo que] impunha-se aos professores o uso de livros de autores consagrados [] Os professores fariam ditados e os alunos copiariam trechos ou ouviriam as preleccedilotildees em sala de aula As propostas de produccedilatildeo de livros escolares concentravam-se primordialmente na elaboraccedilatildeo de textos didaacuteticos para uso exclusivo dos professores dando-se preferecircncia agraves traduccedilotildees

Pensando em especiacutefico o ensino de Geografia natildeo havia obras didaacuteticas

dessa disciplina em portuguecircs nem na Colocircnia nem aleacutem mar Particularmente o

74

Entatildeo inexistiam obras pedagoacutegicas para a formaccedilatildeo dos professores que somente apareceriam concomitantemente ao surgimento das Escolas Normais

conteuacutedo geograacutefico ensinado a partir de La Croix e de Pinkerton assemelhava-se

ao que seria instituiacutedo no ensino secundaacuterio jaacute no Impeacuterio Nos movimentos

posteriores a Geografia descritiva embora permanecesse no ensino politeacutecnico

seria deslocada para os programas do ensino secundaacuterio e sua interface com o

ensino superior se limitaria aos exames de admissatildeo

34 Uma avaliaccedilatildeo da posiccedilatildeo da Geografia como atividade de ensino entre 1549 e 1821 prenuacutencios da formaccedilatildeo de uma disciplina geograacutefica no Brasil

Tendo em vista as abordagens deste capiacutetulo cabe-me introduzir uma

questatildeo importante para esta pesquisa e para a compreensatildeo da literatura didaacutetica

de Geografia no Brasil o que eacute a disciplina Geografia escolar Na tentativa de

discutir essa questatildeo finalizo esse capiacutetulo fazendo uma avaliaccedilatildeo do periacuteodo

antecedente agrave independecircncia poliacutetica do Brasil no que concerne agrave gecircnese da

Geografia escolar

O seacuteculo XIX principalmente a partir da criaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II torna

possiacutevel uma visatildeo completa do que seria a disciplina escolar de Geografia

enquanto um curriacuteculo independente constituiacutedo e instituiacutedo na escola nascido a

par com a Histoacuteria e a partir do qual teria oscilaccedilotildees avanccedilos e retrocessos mas

pronto para desenvolver sua trajetoacuteria proacutepria Mais precisamente quando a

Geografia escolar reuniu nuacutecleos de conhecimentos que antes frequentemente e

mesmo depois cumprindo os objetivos da educaccedilatildeo proposta tiveram e teriam

existecircncia autocircnoma Destes nuacutecleos constituintes posso enumerar a Cartografia a

Cosmografia a Corografia a Geografia Fiacutesica a Geografia Humana ou Poliacutetica

Sobretudo caracterizaria a Geografia escolar como disciplina a circunscriccedilatildeo de

duas escalas geograacuteficas o mundo por um lado e os recortes regionais no espaccedilo

total por outro

A proposta desta pesquisa eacute historicizar e analisar o livro didaacutetico de

Geografia mas esta histoacuteria natildeo se desvincula da histoacuteria da disciplina escolar de

Geografia pois aquela tem laccedilos indissociaacuteveis com esta Desse modo o que

encontramos como contribuiccedilatildeo ao debate que a questatildeo acima suscita no periacuteodo

correspondente ao ensino jesuiacutetico pombalino e joanino

De iniacutecio posso afirmar que o ensino jesuiacutetico aleacutem de fazer presenccedila com

conteuacutedos geograacuteficos como saberes auxiliares agrave conduccedilatildeo do seu meacutetodo

preciacutepuo o prelectio introduziu conteuacutedos que seriam geograacuteficos na educaccedilatildeo

elementar por meio do estudo da Cosmologia disciplina integrante das aulas de

Filosofia O que se seguiu posteriomente natildeo foi necessariamente continuaccedilatildeo

dessas noccedilotildees pois o periacuteodo pombalino significou um rompimento e um retrocesso

em todo o curriacuteculo jesuiacuteta

Contemporaneamente a Cosmologia eacute uma disciplina da Fiacutesica Teoacuterica

embora alguns de seus princiacutepios elementares marquem presenccedila ateacute a atualidade

no ensino de Geografia Funciona ainda como um preacircmbulo ao ensino da

Cartografia O termo vem do grego (κοσμολογία κόσμος cosmosordemmundo e

λογία discursoestudo) em sentido amplo significa o estudo da origem estrutura e

evoluccedilatildeo do Universo Cosmologia eacute uma terminologia atual Para o campo que os

jesuiacutetas utilizavam essa denominaccedilatildeo ao longo do seacuteculo XIX e primeira metade do

seacuteculo XX associada agrave Geografia e agrave Matemaacutetica utilizou-se o termo Cosmografia

No seacuteculo XIX com a autonomia acadecircmica da Geografia a Cosmografia que nunca teve caracteriacutesticas de Ciecircncia independente tombou e cedeu espaccedilo ao desenvolvimento da Cosmologia Moderna e da Cartografia caindo parcialmente em esquecimento universitaacuterio e escolar atualmente (SOBREIRA 2005 p 18)

Na tradiccedilatildeo curricular dos jesuiacutetas o ensino da Cosmografia associava-se

mais particularmente agrave Matemaacutetica embora natildeo deixasse de ser uma introduccedilatildeo ao

estudo da Terra ldquoo Ensino da Astronomia escolar era vinculado agrave Astrologia e agrave

Matemaacutetica [] poreacutem no Brasil os jesuiacutetas ensinavam a Cosmografia []

abalizada no lsquoTratado da Esferarsquo de Sacroboscordquo (SOBREIRA 2005 p 41) Numa

perspectiva histoacuterica para que se compreendam suas implicaccedilotildees com o ensino de

Geografia e portanto com a formaccedilatildeo da disciplina escolar e em sequecircncia o lugar

ocupado na literatura didaacutetica dessa disciplina tem-se que sua trajetoacuteria chegou a

ser independente como disciplina mas se extinguiu na deacutecada de 1930 natildeo sem

antes manter viacutenculos com a Cartografia a Astronomia a Naacuteutica e a Geografia Na

siacutentese de Sobreira (2005 p 25-26) temos o seguinte

[] Na Antiguumlidade ateacute a Idade Meacutedia predominaram os modelos de concepccedilotildees da estrutura do Universo a forma e a posiccedilatildeo coacutesmica da Terra inclusive com as primeiras estimativas das dimensotildees da Terra [] No final da Idade Meacutedia ateacute a Modernidade o destaque foi quanto agrave aplicaccedilatildeo das teacutecnicas astronocircmicas na Naacuteutica por cosmoacutegrafos que atuavam tambeacutem como cartoacutegrafos teacutecnicos de instrumentos astronocircmicos e pilotos Este foi o auge da Cosmografia em uso nas navegaccedilotildees [] Na Idade Moderna teve iniacutecio o Ensino de Cosmografia em escolas jesuiacuteticas poreacutem no final do Renascimento a Cosmografia mundial foi perdendo importacircncia na Naacuteutica [] O seacuteculo XVIII foi o periacuteodo das melhores e mais precisas medidas das dimensotildees e o estabelecimento da forma da Terra ateacute aquele momento [] No seacuteculo XIX ocorreu a influecircncia da Filosofia Positivista de Auguste Comte quanto agrave introduccedilatildeo do Ensino de Astronomia nos manuais didaacuteticos europeus e brasileiros e a publicaccedilatildeo por Humboldt da obra ldquoCosmosrdquo que foi um marco para a estruturaccedilatildeo da Geografia Fiacutesica e tambeacutem para o Ensino da Cosmografia que em consequumlecircncia marcou sua permanecircncia nas escolas brasileiras (Imperial Coleacutegio Pedro II no Rio de Janeiro) como disciplina independente [] A primeira metade do seacuteculo XX se caracterizou pela extinccedilatildeo da disciplina de Cosmografia no Brasil e a sobrevivecircncia dela em conteuacutedos diluiacutedos nas disciplinas de Geografia Ciecircncias e Fiacutesica ateacute os dias atuais [] Poacutes-guerra a Era Astronaacuteutica e da Ecologia Coacutesmica e Planetaacuteria que aproximou a Cosmografia da Geografia escolar ldquoCosmografia Geograacuteficardquo

O termo ldquoCartografiardquo na verdade foi criado apenas no seacuteculo XIX pelo

portuguecircs Visconde de Santareacutem que ldquo[] eacute recordado internacionalmente entre os

estudiosos dos mapas antigos como um dos fundadores dessa aacuterea do saber e

tambeacutem como o autor do termo lsquoCartografiarsquordquo (GARCIA FEIJAtildeO 2006 p 8)

empregado pela primeira vez numa carta de 1839 escrita em Paris para o

historiador brasileiro Francisco Adolpho Varnhagem Na segunda metade dos

Oitocentos o termo teria o uso ampliado denominando uma praacutetica do saber

geograacutefico Pinkerton (1804) por exemplo agrave falta de uma denominaccedilatildeo especiacutefica

chamava as representaccedilotildees dos globos mapas e cartas de ldquopart mechanical of

geographyrdquo De fato estes conteuacutedos eram estudados na Astronomia e

principalmente na Cosmografia Mais aleacutem o ensino jesuiacutetico natildeo foi

Por outro lado na Europa no periacuteodo de vigecircncia do ensino jesuiacutetico e

pombalino na Colocircnia a Geografia passava por um desenvolvimento expressivo

inclusive com as primeiras organizaccedilotildees do ensino desse saber apenas

parcialmente absorvido pelos jesuiacutetas A posiccedilatildeo dos jesuiacutetas corresponde agrave tradiccedilatildeo

geograacutefica do grego Claacuteudio Ptolomeu autor da obra Geographike Syntaxis que

em traduccedilatildeo os aacuterabes nomearam Almagesto forma pela qual influiu o pensamento

sobre o mundo na Idade Meacutedia O conhecimento geograacutefico entre os gregos surgiu

como um estudo descritivo da terra com produccedilatildeo de mapas para localizaccedilatildeo de

territoacuterios Nesse ponto a Cosmografia convergia saberes matemaacuteticos e

astronocircmicos instaurando-se uma linhagem geograacutefica conhecida como Geografia

matemaacutetica (KIMBLE 2005) Orientaccedilatildeo e posiccedilatildeo espacial eram a preocupaccedilatildeo

dominante na Cosmografia como em toda a Geografia matemaacutetica e que se firmou

como um dos modelos que compuseram o ensino de Geografia no seacuteculo XIX

expresso sobretudo no ensino dos conteuacutedos cartograacuteficos O ponto de encontro

das tradiccedilotildees geograacuteficas da Antiguidade na formulaccedilatildeo da Geografia Claacutessica

apresentaraacute condiccedilotildees epistemoloacutegicas para uma concepccedilatildeo de Geografia modelar

para aquela esboccedilada na Colocircnia por ocasiatildeo das institucionalizaccedilotildees

empreendidas por D Joatildeo VI isto eacute na institucionalizaccedilatildeo da Academia Militar

Certamente o estabelecimento da Academia Real Militar mais que

representar o primeiro passo em direccedilatildeo ao ensino de Geografia no Brasil esteve no

processo decisoacuterio para iniacutecio de traduccedilotildees e produccedilotildees de obras didaacuteticas Quatro

anos apoacutes sua fundaccedilatildeo apareciam em especiacutefico no campo geograacutefico os

Elementos de Astronomia de Arauacutejo Guimaratildees75 (1814) autor de compecircndios para

outras disciplinas da Academia Militar da qual foi professor Joseacute Saturnino da

Costa Pereira76 tambeacutem membro da equipe de lentes da Academia dentre outros

tantos seria autor de um dos primeiros compecircndios de Geografia na deacutecada de

1830

75

Manoel Ferreira de Arauacutejo Guimaratildees - Aleacutem de militar (chegou a brigadeiro do Real Corpo de Engenheiros) foi professor da Academia Real Militar onde atuava no 4ordm ano Filho de Manoel Ferreira de Arauacutejo (negociante) e Maria do Coraccedilatildeo de Jesus nasceu na Bahia em 05 de marccedilo de 1777 e faleceu em 24 de outubro de 1838 Iniciou seus estudos aos sete anos no Brasil continuando-os em Lisboa Teve soacutelida formaccedilatildeo em liacutenguas (latim grego francecircs inglecircs italiano) Dentre as suas produccedilotildees bibliograacuteficas constam traduccedilotildees do francecircs e produccedilatildeo de obras teacutecnicas e didaacuteticas nas aacutereas de matemaacutetica astronomia e engenharia militar Foi editor da Revista O Patriota Bibliografia Elementos de Geometria Traduzido de A M Legendre 1809 Tratado de trigonometria por A M Legendre 1809 Variaccedilatildeo dos triacircngulos esfeacutericos para uso da Academia Real Militar 1812 Elementos de astronomia para uso dos alumnos da Academia Real Militar 1815 Manual do engenheiro ou elementos de geometria praacutetica de fortificaccedilatildeo de campanha 1815 Elementos de geodeacutesia para uso dos disciacutepulos da Academia Real Militar 1815 Elementos de geometria de Lacroix 1824 (OLIVEIRA 2005 p 317-318)

76 Joseacute Saturnino da Costa Pereira ndash Nasceu na Colocircnia do Sacramento em 1771 e faleceu no Rio

de Janeiro em 09 de janeiro de 1852 Cursou Ciecircncias Matemaacuteticas na Universidade de Coimbra entre 1802 e 1806 e atuou como engenheiro militar e poliacutetico brasileiro (presidiu a proviacutencia de Mato Grosso e foi senador do Impeacuterio entre 1828 e 1952) aleacutem de ter sido professor da Academia Real Militar Bibliografia Dicionaacuterio Topograacutefico do Impeacuterio do Brasil 1834 Recreaccedilatildeo Moral e Cientiacutefica - 1834-1839 Elementos de Loacutegica 1834 Compecircndio de Geografia Elementar 1836 Elementos de Geodeacutesia 1840 Liccedilotildees Elementares de Oacuteptica 1841 Aplicaccedilatildeo da Aacutelgebra agrave Geometria ou Geometria Analiacutetica 1842 Elementos de Caacutelculo Diferencial e de Caacutelculo Integral 1842 Elementos de Mecacircnica 1842 Elementos de Astronomia e Geodeacutesia 1845 Plano para Divisatildeo das Comarcas Cidades Vilas Povoaccedilotildees e Paroacutequias da Proviacutencia de Mato Grosso 1827-1828 (MORAIS 1940 MAGALHAtildeES 2006)

A chegada da famiacutelia real foi propiacutecia tambeacutem para a educaccedilatildeo das

crianccedilas sendo do periacuteodo da Impressatildeo Reacutegia o surgimento dos primeiros livros

impressos para o puacuteblico infantil embora de modo ainda muito precaacuterio e com

periodicidade esporaacutedica traduccedilotildees de contos e poemas ainda muito tocantes agrave

moral cristatilde comeccedilavam a formar um acervo utilizado no ensino da leitura e da

escrita atividades que contariam ainda alguns anos mais tarde com textos da

Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Coacutedigo Criminal dos Evangelhos Dessa forma em

niacutevel do ensino de primeiras letras temos dentre os primeiros livros didaacuteticos as

Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios

as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal

e historia natural publicado em 1818 de autoria de Joseacute Saturnino da Costa

Pereira obra que teve outras trecircs ediccedilotildees em 1821 1822 e 1824 Este livro dos

primeiros editados no Brasil para o ensino das primeiras letras eacute exemplar pois

demonstra a linha de elaboraccedilatildeo que os livros de leitura assumiriam ao longo do

seacuteculo XIX incluiriam leituras geograacuteficas histoacutericas e literatura com forte teor

ideoloacutegico Esta obra de Pereira marca um diferencial no cataacutelogo da Impressatildeo

Reacutegia jaacute que quase nunca fazia novas ediccedilotildees das obras publicadas

Em um contexto externo ao cenaacuterio da educaccedilatildeo mas muito relacionado ao

futuro do ensino de Geografia e com certeza favorecido pelas condiccedilotildees histoacutericas

do momento surgiu a Corografia braziacutelica do Padre Manoel Ayres de Casal77

(1817a 1817b) A trajetoacuteria exposta acima no tocante ao movimento geograacutefico

introduzido pela criaccedilatildeo da Academia Real Militar e de outras instituiccedilotildees

reestruturadoras do territoacuterio colonial na aacuterea de abrangecircncia da Corte e de sua aacuterea

de influecircncia nos traz um contexto esclarecedor da importacircncia e da recepccedilatildeo da

Corografia braziacutelica

77

Manoel Ayres de Casal ndash Haacute poucas informaccedilotildees biograacuteficas sobre o autor tambeacutem conhecido como Padre Ayres de Casal Eacute controverso por exemplo o local e o ano de nascimento teria sido portuguecircs nascido em Pedroacutegatildeo em 1754 ou teria nascido em Cachoeira cidade baiana em 1757 Faleceu em Portugal em 1821 Aleacutem de sacerdote eacute considerado historiador e frequentemente reconhecido como ldquopai da Geografia brasileirardquo (Saint-Hilare) Escreveu uma obra sistecircmica sobre a Geografia do Brasil a primeira aleacutem de ter sido a primeira obra a imprimir em toda extensatildeo a Carta de Pero Vaz de Caminha embora censurando partes que considerava imoral Apoacutes os estudos preparatoacuterios cursou Teologia e Filosofia exercendo no Brasil a funccedilatildeo de Capelatildeo da Santa Casa de Misericoacuterdia do Rio de Janeiro a partir de 1796 Em 1815 vivia no Crato (Cearaacute) no cargo de presbiacutetero secular Fez parte da comitiva de retorno da Famiacutelia Real a Portugal em 1821 Natildeo se conhece outra obra de Ayres de Casal aleacutem da Corografia Brasiacutelica (BLAKE 1900)

Vlach (1988 p 133) considerando o ensino de Geografia estabelecido a

partir dos programas educacionais instituiacutedos na e apoacutes a deacutecada de 1830

questiona ldquoque geografia estava presente nas escolas secundaacuterias nas escolas

primaacuterias superiores ou complementares nas escolas normais em sua grande

maioria privadasrdquo Dois modelos de Geografia lhe ocorrem a Geografia da Revista

do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro fonte instituiacuteda apoacutes o processo de

autonomia poliacutetica brasileiro e outra que a antecede a Corografia Brasiacutelica

A Corografia de fato foi uma obra lida citada e incorporada com relativa

exaustatildeo por deacutecadas seguidas A influecircncia de Ayres de Casal chegaria ao seacuteculo

XX Ele eacute citado explicitamente pelo menos trecircs vezes em Os Sertotildees por exemplo

obra de Euclides da Cunha (2003 p 137) publicada originalmente em 1902 quando

o autor aborda a funccedilatildeo histoacuterica do Rio Satildeo Francisco quando fala sobre os

primeiros povoadores da Bahia e sobre a relaccedilatildeo destes com os tupiniquins (2003

p 125 126) ndash o que eacute notoacuterio posto que Euclides indicou poucas referecircncias em

seu texto Natildeo que fosse a Corografia a mais completa ou correta obra de Geografia

mas justamente pelo seu maior meacuterito ocupar a seu modo a ausecircncia de um saber

abrangente e sistematizado para tanto e diverso territoacuterio como o do Brasil Mesmo

Ayres de Casal sabia das limitaccedilotildees e deslizes de sua obra tanto que no periacuteodo

antecedente agrave sua morte preparava uma segunda ediccedilatildeo reformulada como narra

Moraes (1858 p 111-112)

O padre Manoel Ayres do [sic] Casal depois de imprimir e publicar em 1817 no Rio de Janeiro a sua Corographia Brasiacutelica continuou a trabalhar nesta obra para dar della uma segunda ediccedilatildeo ampliada e corrigida com as sua observaccedilotildees e outras que lhe foratildeo suggeridas por Joseacute Bonifaacutecio de Andrada que entatildeo era secretario perpetuo da academia de sciencias de Lisboa e por outras pessoas igualmente idocircneas que leratildeo e estudaratildeo a sua obra

Regressou para Portugal levando comsigo a sua segunda ediccedilatildeo jaacute completa que pretendia ali publicar Antes disso falleceu em casa de Fr Joaquim Damaso Encontrou um sobrinho deste com loja de gracador na rua do Oiro e outros parentes em Sacavem dos quaes soube que os papeis de Fr Joaquim e do padre Ayres tinhatildeo sido vendidos a peso nas tendas de Lisboa O sobrinho da rua do Oiro deu ao conselheiro Drummond alguns manuscriptos que por acaso restavatildeo marcado com um M e a coroa real sobreposta que tinhatildeo pertencido a seu tio e disse que alguns Brasileiros jaacute o tinhatildeo procurado para saberem da segunda ediccedilatildeo da Corographia do padre Ayres natildeo sabendo elle o caminho que ella tinha levado

Fazemos votos para que tatildeo precioso manuscripto natildeo tenha cahido nas matildeos assassinas de algum taberneiro e que possa apparecer aacute luz da imprensa ainda que seja sob diverso nome de seu verdadeiro autor

Evidentemente esses originais nunca reapareceram Em geral Ayres de Casal tem

sido avaliado com perspectivas anacrocircnicas Caio Prado Jr (1961 p 182)

reconhece com muitas restriccedilotildees o meacuterito da Corografia ldquoexcluamos o desataviado

da linguagem a puerilidade do estilo da apresentaccedilatildeo e de certas afirmaccedilotildees e

podemos comparar a Corografia Basiacutelica a qualquer uma das obras claacutessicas de

geografia do seu tempordquo Prado Jr (1955) ajuiacuteza o autor e obra por dois acircngulos

primeiro pela imprecisatildeo cientiacutefica e desvirtuamento das contribuiccedilotildees cientiacuteficas da

eacutepoca segundo pelo meacutetodo ldquoestanquerdquo o que teria originado uma obra mais

literaacuteria que cientiacutefica ldquo[] natildeo satildeo apenas rudimentos de ciecircncia que faltam ao

nosso autor Natildeo se percebe nele vocaccedilatildeo ou instinto cientiacutefico algum isto eacute

qualidade de observaccedilatildeo anaacutelise comparaccedilatildeo e siacutentese que fazem a base do

pensamento nas ciecircnciasrdquo (PRADO Jr 1955 p 53) Este parecer natildeo eacute correto se

recontextualizado A Corografia eacute sim uma obra de siacutentese de sistematizaccedilatildeo reuacutene

em um sistema conhecimentos dispersos por mais questionaacuteveis que sejam as

fontes de sua pesquisa e por si apresenta pela primeira vez uma visatildeo geograacutefica

sobre o territoacuterio brasileiro nunca antes empreendida nesta escala

Metodologicamente inspira-se nos modelos dos tratados geograacuteficos do seu tempo

para fazer recortes e delimitaccedilotildees espaciais e para fazer conhecidos esses espaccedilos

a partir de determinadas categorias de conteuacutedos Eacute possiacutevel que Casal tenha lido

Pinkerton La Croix e outros geoacutegrafos como mencionei anteriormente sobretudo

por serem autores postos pela proposta educacional da Coroa portuguesa para o

ensino na Academia Militar sendo proacuteximos os laccedilos de Casal com a Corte Sua

obra muito se assemelha a tratados histoacuterico-geograacuteficos de seu tempo ou em

circulaccedilatildeo na Colocircnia do iniacutecio do XIX como a Geografia de Pinkerton

O Renascimento e o Iluminismo foram os movimentos caracteriacutesticos nos

seacuteculos XVI e XVII que propiciaram uma reinterpretaccedilatildeo dos saberes e artes antigos

procurando um desenvolvimento que foi responsaacutevel pelo surgimento da ciecircncia

moderna De acordo com Foucault (2005a p 16-17)

[] por volta do seacuteculo XVI e do seacuteculo XVII (na Inglaterra sobretudo) apareceu uma vontade de saber que antecipando-se a seus conteuacutedos atuais desenhava planos de objetos possiacuteveis observaacuteveis mensuraacuteveis classificaacuteveis uma vontade de saber que impunha ao sujeito cognoscente (e de certa forma antes de qualquer experiecircncia) certa posiccedilatildeo certo olhar

e certa funccedilatildeo (ver em vez de ler verificar em vez de comentar) uma vontade de saber que prescrevia (e de um modo mais geral do que qualquer instrumento determinado) o niacutevel teacutecnico do qual deveriam investir-se os conhecimentos para serem verificaacuteveis e uacuteteis

Esta brilhante interpretaccedilatildeo ao mesmo tempo em que sintetiza o espiacuterito

cientiacutefico do Iluminismo a vontade de saber e sua diferenciaccedilatildeo funcional sobretudo

para os campos dos conhecimentos exatos e bioloacutegicos indica como a Geografia

encontrou dificuldades para sua definiccedilatildeo para estabelecer seu meacutetodo quando

tudo o que podia ser posto como seu objeto nada mais era do que o volume de

civilizaccedilatildeo habitante do planeta A descriccedilatildeo como meacutetodo na transiccedilatildeo da

Geografia Antiga-Claacutessica para uma Geografia Moderna terminou por enveredar

esse saber em direccedilatildeo a um inventaacuterio do mundo e de suas regiotildees A posteridade

avaliaria essa tradiccedilatildeo como exaustiva seu ensino de maccedilante ambos quase

inuacuteteis

Mas para a Geografia o caminho natildeo foi de flores As Geografias possiacuteveis

foram a de La Croix de Pinkerton de Casal bases das primeiras publicaccedilotildees

didaacuteticas de Geografia ateacute o seacuteculo XIX demonstrar outros caminhos outras

abordagens que chegaram ao ensino poreacutem bem mais tarde

No proacuteximo capiacutetulo passo a abordar a constituiccedilatildeo e a institucionalizaccedilatildeo

da disciplina Geografia e a emergecircncia de uma bibliografia didaacutetica desta disciplina

durante o Impeacuterio entre 1822 e a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica

CAPIacuteTULO 4

DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA ESCOLAR NO IMPEacuteRIO (1822-1889) o estabelecimento de uma disciplina e de

uma bibliografia didaacutetica

Editar obras juriacutedicas ou escolares natildeo eacute mui difiacutecil a necessidade eacute grande a procura certa

Machado de Assis A Semana 08101893 no dia seguinte ao falecimento do editor Garnier

O regime imperial do Brasil apoacutes o processo de independecircncia poliacutetica

outorgado em 1822 trouxe ao territoacuterio brasileiro a condiccedilatildeo da nacionalidade Isso

significaria muito para todas as instacircncias da vida brasileira Significou tambeacutem para

a educaccedilatildeo e para o ensino de Geografia O periacuteodo joanino fora feacutertil no

estabelecimento de instituiccedilotildees e no esboccedilo de um aparelho de Estado se se

considerar o curto periacuteodo de sua duraccedilatildeo e ainda que atento agraves necessidades do

Estado portuguecircs Basicamente essa atuaccedilatildeo local foi levada a termos e

literalmente quanto a ser local a beneficiaacuteria direta dessas transformaccedilotildees foi uma

cidade o Rio de Janeiro e o restante do territoacuterio se beneficiou apenas do que

atendendo agrave Corte sobrepujava ou se permitia

A primeira reorientaccedilatildeo imposta por essa nacionalidade portanto foi a

questatildeo da integraccedilatildeo territorial no sentido de construir uma administraccedilatildeo puacuteblica

desenvolver uma cultura amadurecer um povo ndash na perspectiva da unicidade ou do

que se poderia denominar ldquointeresses nacionaisrdquo A educaccedilatildeo evidentemente foi

objetivo e meio dessa proposta partiacutecipe da grande questatildeo histoacuterica do Impeacuterio no

periacuteodo inicial a centralizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo dos atos poliacuteticos entre a Corte

e as proviacutencias Nos primeiros anos de um Estado genuinamente brasileiro apoacutes o

processo de autonomia poliacutetica de 1822 o Brasil teve outorgada sua primeira

Constituiccedilatildeo (1824) a qual especificamente para o ensino previa um ldquosistema

nacional de educaccedilatildeordquo que alcanccedilasse o territoacuterio brasileiro e flexionasse uma

organizaccedilatildeo de niacuteveis e graus garantindo-se ademais a gratuidade do ensino

primaacuterio Esse projeto teve execuccedilatildeo muito rudimentar tolhido por investimentos

precaacuterios e pela vontade das elites de manter a concentraccedilatildeo geograacutefica e

demograacutefica do acesso ao ensino medida que os privilegiava e contribuiacutea para a

manutenccedilatildeo das posiccedilotildees sociais e econocircmicas que detinham De qualquer forma o

notaacutevel nesse movimento legislador foi a organizaccedilatildeo e a orientaccedilatildeo do ensino

puacuteblico e privado passarem a ser do Estado brasileiro fato que certamente gerou

numerosos e conflituosos embates com a Igreja Catoacutelica e internamente entre

conservadores e liberais que por todo o Impeacuterio e deacutecadas iniciais da Repuacuteblica

trariam transformaccedilotildees significativas ao ensino brasileiro

O Artigo 179 da Constituiccedilatildeo do Impeacuterio instruiu o acesso gratuito agrave

educaccedilatildeo reforccedilado por lei em 1827 quanto ao ensino primaacuterio que foi instituiacutedo na

maioria das localidades habitadas do Brasil mas de forma completamente precaacuteria

escolas sem materiais impressos com professores despreparados e mal

remunerados com infraestrutura aqueacutem do necessaacuterio De fato ateacute a deacutecada de

1930 com raras exceccedilotildees a atuaccedilatildeo do Impeacuterio e da Repuacuteblica restringia-se ao

ensino secundaacuterio e superior Apesar de avanccedilos isolados na educaccedilatildeo do Brasil

apenas ao findar do seacuteculo XIX a educaccedilatildeo em conjunto sistecircmico passou por

melhorias

A revoluccedilatildeo da educaccedilatildeo brasileira comeccedilou mais ou menos no uacuteltimo ano do Impeacuterio quando os poliacuteticos finalmente tomaram consciecircncia do atraso da naccedilatildeo e a crescente prosperidade do comeacutercio cafeeiro proporcionou os recursos necessaacuterios pelo menos no centro e no sul do paiacutes (HALLEWELL 2005 p 281)

Natildeo se trata apenas de um desenvolvimento horizontal ndash quantitativo e

econocircmico ndash mas de uma verticalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo com melhorias nos meacutetodos

de ensino o que permitiu a ascensatildeo do livro didaacutetico ao niacutevel do consumo de

massa Mas ateacute laacute o processo educacional ndash enquanto elementos e dinacircmicas ndash

desenvolve-se de forma muito lenta a constituiccedilatildeo histoacuterica da bibliografia didaacutetica

coloca claras evidecircncias desse fazer o que se nota no iacutendice das ediccedilotildees pois

apenas na segunda metade do seacuteculo XIX surgiriam obras geograacuteficas com

reediccedilotildees produzindo os primeiros best-sellers se assim se pode dizer da

bibliografia didaacutetica de Geografia como indica as obras de Thomaz Pompeu de

Souza Brasil Eudoro Brasileiro Berlink e sobretudo Joaquim Maria de Lacerda

Observando a Tabela 01 eacute possiacutevel ter uma visatildeo em um periacuteodo quase

coeso com a delimitaccedilatildeo dessa tese e ao longo do desenvolvimento demograacutefico

do comportamento da educaccedilatildeo brasileira desde o penuacuteltimo ano do periacuteodo joanino

ateacute meados do seacuteculo XX embora os dados censitaacuterios sejam bastante deficitaacuterios e

natildeo sejam confiaacuteveis devido agrave manipulaccedilatildeo de resultados em alguns periacuteodos

poliacuteticos

TABELA 01 ndash Populaccedilatildeo e educaccedilatildeo no Brasil ndash 1820-1950

Fonte Almeida (1989) Hallewell (2005 p 249 375) Ribeiro (2001 p 81) Org e Adapt Jeane Medeiros Silva 2008

De acordo com estes dados o comportamento educacional nas linhas dos

alfabetizados e das matriacuteculas nos ensinos primaacuterio e secundaacuterio eacute extremamente

desarticulado da linha de progressatildeo do crescimento demograacutefico houve um

crescimento interno nas matriacuteculas mas sempre distantes do total da populaccedilatildeo Os

Ano Populaccedilatildeo Alfabetizados Matriacutecula

Primaacuterio Secundaacuterio

1820 4000000 20000 - -

1863 - - - 8600

1869 9650000 125017 11529

1872 10010000 1560000 139325 9389

1875 10690000 - 172802 -

1878 - - 175714 -

1883 - - - 10427

1888 13670000 - 258302 -

1889 266084 24889

1890 14330000 2120559 - -

1900 17320000 4448681 - -

1907 20860000 - 638378 20000

1920 30640000 7793357 1250729 50000

1925 - - 1700000 -

1930 33570000 - 2084000 83000

1935 37150000 - 24135947 93829

1940 41110000 - 3302830 170057

1945 46220000 - 3496664 256467

1950 51980000 - 5175887 406920

nuacutemeros do ensino primaacuterio e secundaacuterio satildeo ascendentes natildeo haacute nenhuma

involuccedilatildeo no processo com exceccedilatildeo do contorno de 1869 para 1872 quanto ao

secundaacuterio Contudo apenas para exemplificar tomando os dados de 1869 em

relaccedilatildeo ao total demograacutefico tem-se apenas 12 da populaccedilatildeo frequentando o

ensino primaacuterio e 011 o secundaacuterio no uacuteltimo desses anos 1950 seriam 99 de

matriculados no ensino primaacuterio e 078 no ensino secundaacuterio De acordo com o

Censo de 1950 em termos absolutos 887 da populaccedilatildeo com mais de cinco anos

de idade era analfabeta

Todavia se a distacircncia entre populaccedilatildeo e educaccedilatildeo eacute alta no interior da

educaccedilatildeo as disparidades satildeo igualmente marcantes As matriacuteculas entre o ensino

primaacuterio e o ensino secundaacuterio satildeo desproporcionais com a mesma amplitude Natildeo

estaacute indicado na tabela o ensino superior mas este seria ainda muito mais desigual

se comparado ao ensino secundaacuterio e muito mais ainda se comparado ao ensino

primaacuterio Os dados demonstram claramente o comportamento numeacuterico da

educaccedilatildeo no Brasil mas sobretudo estes satildeo indiacutecios dos problemas poliacuteticos e

sociais que nunca tiraram nesse periacuteodo a educaccedilatildeo da estagnaccedilatildeo O coeficiente

de acesso agrave educaccedilatildeo formal sempre esteve aqueacutem do desenvolvimento

demograacutefico revelando-se um serviccedilo precaacuterio e elitizado com iacutendices muito altos

de analfabetismo e iacutendices muito baixos de indiviacuteduos com qualificaccedilatildeo teacutecnica

Este eacute o cenaacuterio no qual o ensino de Geografia vai amadurecer seu

processo constitutivo ascender como uma das disciplinas regulares do ensino

baacutesico e constituir uma bibliografia de estudo

41 A educaccedilatildeo brasileira e o ensino de Geografia no periacuteodo Imperial

Nas deacutecadas iniciais do Impeacuterio houve alguma expansatildeo das escolas

primaacuterias nas proviacutencias centradas no ensino de leitura escrita caacutelculo Houve a

fundaccedilatildeo de Liceus e Coleacutegios nas proviacutencias No entanto as escolas de primeiras

letras continuaram em nuacutemero reduzido em relaccedilatildeo agrave demanda enfrentando

dificuldades como a falta de professores preparados ou motivados a seguir carreira ndash

em face disso surgem as primeiras escolas normais em Niteroacutei (1835) Bahia

(1836) Cearaacute (1845) e Satildeo Paulo (1846) e outras nos anos e deacutecadas seguintes O

ensino secundaacuterio por sua vez teve como marco amplamente reconhecido pelos

historiadores da educaccedilatildeo a criaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II na capital em 1837

orientado para a formaccedilatildeo de bachareacuteis em Letras grau que dispensava seus

estudantes de exames de admissatildeo no ensino superior Representa pela primeira

vez uma formaccedilatildeo de fato em niacutevel do secundaacuterio pois ateacute entatildeo este ensino natildeo

dispunha de nenhuma titulaccedilatildeo aos seus frequentes apenas exercendo a

intermediaccedilatildeo preparatoacuteria em direccedilatildeo ao ensino superior preparaccedilatildeo instituiacuteda

pelos jesuiacutetas e continuada pelas aulas avulsas O Coleacutegio Pedro II assim foi

concebido para ser padratildeo e modelo nacional para o ensino secundaacuterio do restante

do paiacutes concretizando um plano antecedido como tentativa de congregaccedilatildeo dos

cursos avulsos nas atividades dos primeiros liceus fundados nas proviacutencias e

anteriores ao Coleacutegio o Liceu do Rio Grande do Norte (1834) o da Bahia e o da

Paraiacuteba (ambos em 1836) Coube ao Coleacutegio Pedro II a adoccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de

meacutetodos e conteuacutedos e isso seraacute extremamente influente no processo de produccedilatildeo

de manuais didaacuteticos de Geografia No periacuteodo o ensino superior diferenciou-se da

eacutepoca de D Joatildeo VI pela criaccedilatildeo no Rio de Janeiro de um curso juriacutedico (1825)

aleacutem da inauguraccedilatildeo de algumas instituiccedilotildees cientiacuteficas a Academia de Belas Artes

(1831) e o Observatoacuterio Astronocircmico (1827) entre outras que surgiratildeo

O Coleacutegio Pedro II e os cursos juriacutedicos influenciaram diretamente na

consolidaccedilatildeo da Geografia como disciplina

A maior parte das publicaccedilotildees didaacuteticas relacionadas na bibliografia desta

pesquisa se direciona ao ensino secundaacuterio O ensino de Geografia introduzido

como disciplina no ensino superior ganhou forccedilas no ensino secundaacuterio e

posteriormente ampliou-se para o ensino primaacuterio ndash onde participou de um processo

significativo de nacionalizaccedilatildeo

Como se deu esse processo De antematildeo eacute importante sublinhar que todos

esses movimentos foram articulados e regidos por um agente preciacutepuo o Estado

brasileiro

411 Da Assembleia Constituinte de 1823 ao Ato Adicional de 1834 o entreposto da consolidaccedilatildeo da Geografia como disciplina

O Estado brasileiro de fato do seacuteculo XIX em diante foi o grande agente

articulador da educaccedilatildeo seja pela sua presenccedila em niacutevel de forccedila legisladora seja

pelas lacunas deixadas por sua ausecircncia que criavam respostas como as iniciativas

e o fomento do setor privado sobretudo o confessional Como visto anteriormente a

ordenaccedilatildeo do ensino brasileiro com raiacutezes no tempo de D Joatildeo VI comeccedilou com o

ensino superior O ensino de Geografia jaacute existia formalmente desde o periacuteodo

joanino e implicitamente desde os jesuiacutetas Com surgimento no interior do ensino

superior significava que na formaccedilatildeo de base concentrava-se nos estudos

posteriores ao letramento isto eacute nos estudos secundaacuterios preparatoacuterios ao ingresso

no ensino superior concentrado portanto nas aulas avulsas e nas transformaccedilotildees

pelas quais este sistema passaria

Esse primeiro curriacuteculo exposto em lei contudo natildeo isenta o ensino de

elementos de Geografia no ensino primaacuterio pois desde a Colocircnia havia

recomendaccedilotildees de acordo com Issler (1972 p 38) para o ensino de conteuacutedos

com enquadramento na Histoacuteria e na Geografia

Portanto natildeo sendo o ensino de Geografia introduzido ainda por toda

extensatildeo do ensino elementar tem o segundo passo ndash sendo o primeiro o lugar

aferido no espaccedilo disciplinar disposto na formaccedilatildeo militar de niacutevel superior ndash nas

cadeiras puacuteblicas e nas liccedilotildees particulares de cunho preparatoacuterio ao ingresso no

ensino superior Desde os anos 1810 havia aulas avulsas de Geografia se natildeo no

ensino puacuteblico pelo menos na iniciativa privada para o que corrobora o surgimento

de livros didaacuteticos no iniacutecio da deacutecada de 1820 sendo que o preparatoacuterio para as

carreiras militares eacute com certeza da deacutecada de 1810 Isso porque nos primeiros

anos a Geografia foi objeto de exame para a carreira militar mas natildeo o era para os

cursos de Medicina e Direito o que somente aconteceria apoacutes o segundo lustre do

seacuteculo XIX Dentre alguns exemplos tem-se na proviacutencia do Maranhatildeo em Satildeo

Luiacutes a criaccedilatildeo da cadeira de Geografia em 11 de novembro de 1831 na proviacutencia

de Paraiacuteba do Norte em 07 de junho de 1831 na capital entatildeo denominada Paraiacuteba

(Felipeia) na proviacutencia do Piauiacute em 23 de julho de 1833 na cidade de Oeiras na

proviacutencia de Pernambuco em Olinda foi criada em 07 de setembro de 1930

(ALMEIDA 1989)

Terceiro passo nesse processo de consolidaccedilatildeo da Geografia como

disciplina tem-se em 1837 a fundaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II a Geografia

estabeleceu-se definitivamente como uma das disciplinas do curriacuteculo escolar

brasileiro pois desde entatildeo natildeo seria prescindido do ensino secundaacuterio ndash presenccedila

que ademais aferiu sua inserccedilatildeo na educaccedilatildeo primaacuteria pois o ingresso no ensino

secundaacuterio tambeacutem se dava por exames que incluiacuteam conteuacutedos geograacuteficos

Portanto os exames de admissatildeo variavam e de iniacutecio a Geografia nem

sempre foi exigecircncia Pode-se supor que nesse momento havia um movimento

espiralado quanto agrave definiccedilatildeo das bases culturais sobre as quais assentar a

formaccedilatildeo superior o comum eram as habilidades de escrita e leitura o que

assegura a presenccedila da Retoacuterica o domiacutenio de liacutenguas traccedilo indispensaacutevel agrave

interaccedilatildeo entre a cultura universal necessariamente o Latim seguido do Francecircs e

ocasionalmente do Inglecircs conhecimentos matemaacuteticos conhecimentos filosoacuteficos

e numa zona fronteiriccedila insinuam-se a Histoacuteria e a Geografia O conhecimento

histoacuterico e geograacutefico distanciado da realidade claacutessica e antiga foram

necessidades construiacutedas na medida em que amadureciam as perspectivas

nacionais agrave medida que a formaccedilatildeo superior impunha funccedilotildees sociais que

transpunham os limites de uma educaccedilatildeo escolaacutestica Como visto anteriormente a

Geografia na Real Academia Militar marca uma presenccedila ao mesmo tempo teacutecnica

ndash no sentido da orientaccedilatildeo e representaccedilatildeo espacial ndash e cultural no sentido de

apresentar o mundo e sua descriccedilatildeo aos cursistas passados os tumultuados anos

1820 eacute a partir do amadurecimento do Brasil como paiacutes ou melhor da exposiccedilatildeo de

necessidades da naccedilatildeo das tentativas de organizar e ordenar o territoacuterio que o

saber histoacuterico e geograacutefico passa a vivenciar a experiecircncia da educaccedilatildeo

Criada por lei de 11 de agosto de 1827 os cursos juriacutedicos de Satildeo Paulo e

Olinda exigiam que os ingressantes fossem aprovados em Francecircs Latim Retoacuterica

Filosofia Racional e Moral e Geometria Todavia mais tarde com a aprovaccedilatildeo dos

Estatutos dos Cursos de Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais do Impeacuterio em 07 de novembro

de 1831 a habilitaccedilatildeo necessaacuteria a ser demonstrada nos exames foi ampliada

Latim Francecircs Inglecircs Retoacuterica Filosofia Racional e Moral Aritmeacutetica e Geometria

Histoacuteria e Geografia (HAIDAR 1972) periacuteodo concordante com a institucionalizaccedilatildeo

de cadeiras puacuteblicas para o ensino avulso de Geografia

A partir dessa normativa foram criados coleacutegios de artes preparatoacuterias dos

cursos juriacutedicos Em 1854 a Geografia passaria a ser exame tambeacutem para os

cursos de Medicina por meio do decreto n 1387 de 28 de abril daquele ano mas

entatildeo a Geografia jaacute era uma das disciplinas regulares do ensino secundaacuterio papel

consolidado na institucionalizaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II Como ressalta Haidar (1972)

ao longo do seacuteculo XIX o ensino secundaacuterio foi simples preparatoacuterio para o ingresso

no ensino superior e a partir da deacutecada de 1830 a presenccedila de exames de

Geografia na admissatildeo a esse ensino foi o marco de consolidaccedilatildeo dessa disciplina

Tem-se assim nos anos de 1830 dois marcos regulatoacuterios e consolidadores da

Geografia como disciplina do ensino de base os exames preparatoacuterios e a criaccedilatildeo

do Coleacutegio Pedro II (1837)

As primeiras propostas para uma educaccedilatildeo nacional apoacutes a

regulamentaccedilatildeo do Impeacuterio foram discutidas na Assembleia Constituinte de 1823

mas seus projetos natildeo integraram a constituiccedilatildeo de 1824 porque esta foi dissolvida

antes que fossem levados a termo Dentre as discussotildees havia a proposiccedilatildeo de

estabelecer um sistema de instruccedilatildeo puacuteblica e gratuita o que apareceu no texto final

da Carta uma vez que a gratuidade da educaccedilatildeo foi aferida na Constituiccedilatildeo de

1824 quando no Artigo 179 o Estado promulgou a seguinte garantia ldquoA

inviolabilidade dos Direitos Civis e Politicos dos Cidadatildeos Brazileiros que tem por

base a liberdade a seguranccedila individual e a propriedade eacute garantida pela

Constituiccedilatildeo do Imperio pela maneira seguinterdquo descrevendo dentre os previstos

no inciso XXXII que ldquoA Instrucccedilatildeo primaria eacute gratuita a todos os Cidadatildeosrdquo (BRASIL

1824 p 19 21) Essa gratuidade nunca efetivada plenamente ou com afericcedilatildeo

satisfatoacuteria em razatildeo da estrutura extremamente deficitaacuteria da instruccedilatildeo puacuteblica

imperial praticamente desapareceu na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica em 1891

(CHIZZOTTI 2001)

O principal problema da primeira constituiccedilatildeo brasileira foi a excessiva

centralizaccedilatildeo das decisotildees poliacutetico-administrativas que desencadearia dois outros

atos legislativos com relevacircncia e maior praticidade para a educaccedilatildeo nacional a Lei

de 15 de outubro de 1827 e o Ato Adicional agrave Constituiccedilatildeo do Impeacuterio de 1834

ambos com indicativos claros de descentralizaccedilatildeo do poder da Corte mas sempre

com supervisatildeo desta

Por conseguinte em 1827 a Lei de 15 de outubro se tornou a primeira

legislaccedilatildeo de fato sobre a instruccedilatildeo puacuteblica no Impeacuterio cujo texto orientava a

organizaccedilatildeo do ensino elementar a ser criado nas cidades vilas e locais mais

populosos das proviacutencias Para isso atribuiacutea aos presidentes das proviacutencias a

marcaccedilatildeo do nuacutemero e localidades das escolas atribuindo-lhes ainda a extinccedilatildeo de

escolas menos funcionais por nuacutemero de acesso reordenando os professores

disponiacuteveis ndash o que ainda centralizava as decisotildees pois os presidentes natildeo

poderiam ldquocriarrdquo efetivamente os estabelecimentos (Art 2ordm) fixou os salaacuterios dos

professores (Art 3ordm) recomendou o ensino muacutetuo78 (Art 4ordm) disponibilizou os

recursos da Fazenda Puacuteblica para aparelhar as instituiccedilotildees e capacitar os

professores em curto prazo (Art 5ordm) instituiu exames puacuteblicos para admissatildeo de

docentes e as condiccedilotildees para assumir uma cadeira (Art 7ordm e 8ordm) previu as

condiccedilotildees para a educaccedilatildeo feminina bem como seu curriacuteculo e para a atuaccedilatildeo de

professoras (Art 11ordm e 12ordm) estabeleceu os castigos previstos pelo meacutetodo

Lancaster (Art 15ordm) e sobretudo pela primeira vez em legislaccedilatildeo estabeleceu um

quadro curricular para o ensino primaacuterio em seu Art 6ordm

Os professores ensinaratildeo a ler escrever as quatro operaccedilotildees de arithimetica pratica de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais de geometria pratica a grammatica de lingua nacional e os principios de moral cristatilde e da doutrina da religiatildeo catolica e apostolica romana proporcionados aacute compreensatildeo dos meninos preferindo para as leituras a Constituiccedilatildeo do Imperio e a Historia do Brasil (BRASIL 1827 p 71)

Percebe-se nessas disposiccedilotildees legais que o ensino primaacuterio apresentava

parcialmente um ato poliacutetico de coesatildeo para a sociedade nacional que emergia com

o novo regime administrativo e estado territorial impotildee a gramaacutetica nacional da

liacutengua portuguesa e faz preferidas a legislaccedilatildeo e a histoacuteria nacional como subisiacutedio agrave

leitura O ensino de Geografia natildeo eacute expliacutecito nessa proposta mas seus viacutenculos

satildeo indiretos conforme lembra Vlach (1988 2005) de forma que por algum tempo

78

O ensino muacutetuo tambeacutem conhecido por ldquomeacutetodo muacutetuordquo ou ldquomeacutetodo monitorialrdquo e consistia em um professor apenas ensinar a um nuacutemero grande de alunos por meio do auxiacutelio de monitores os quais eram escolhidos entre os alunos mais avanccedilados em termos da aprendizagem A instruccedilatildeo dos monitores era agrave parte mantendo a capacitaccedilatildeo para lidar com a decuacuteria ou grupo de 10 alunos em monitoramento (NEVES 2007)

a educaccedilatildeo geograacutefica no acircmbito do ensino primaacuterio manteve as condiccedilotildees e as

caracteriacutesticas das escolas de ler e escrever atuantes desde os jesuiacutetas e

perpetuadas nos periacuteodos seguintes presente mas natildeo incidente e nem explicitada

A implementaccedilatildeo dessa instruccedilatildeo ocorreu contudo nas condiccedilotildees

possiacuteveis agraves proviacutencias e dependente da vontade poliacutetica dos gestores puacuteblicos e

de acordo com os interesses das classes dirigentes predominando sempre a

ausecircncia de estruturas apropriadas e de matildeo de obra qualificada (RIBEIRO 2001

HALLEWELL 2005) o que fez prevalecer as condiccedilotildees remontantes agraves aulas de

letramento quando passaram para a eacutegide do Estado em 1772 sem que nada de

significativo melhorasse ou ampliasse a educaccedilatildeo primaacuteria

Eacute evidente que o Estado reagia agraves criacuteticas e agrave insatisfaccedilatildeo geradas pela

qualidade ruim que os rudimentos da educaccedilatildeo nacional apresentavam Percebe-se

que o governo tinha ciecircncia da necessidade de a instruccedilatildeo ter uma propagaccedilatildeo

raacutepida e ordenada e o sucesso do meacutetodo Lancaster entre os ingleses pareceu

inspirar essa decisatildeo (CHIZZOTTI 2001) Este meacutetodo tinha amplo reconhecimento

entre os militares (NEVES 2007) pela disciplina que impunha e por centrar na

memorizaccedilatildeo e na repeticcedilatildeo como meio eficaz de aprender aleacutem de dispersar a real

demanda de professores de organizaccedilatildeo e limpeza do espaccedilo escolar ndash atividades

cobertas por monitores selecionados dentre os proacuteprios alunos O ensino muacutetuo

tinha uma experiecircncia precedente pois havia sido normalizado pelo decreto de 1ordm de

marccedilo de 1823 que criava na Corte uma escola de primeiras letras orientada por

esse meacutetodo A disciplina era tida em primazia por um estado em formaccedilatildeo

necessitado de espiacuterito militar e de composiccedilotildees administrativas Poreacutem jaacute na

deacutecada seguinte os relatoacuterios do governo indicariam a permanecircncia do quadro

caoacutetico da instruccedilatildeo puacuteblica e a ineficaacutecia do meacutetodo intuitivo bem como a peacutessima

qualidade do ensino ofertado (SUCUPIRA 2001) sendo portanto abandonado

Apoacutes a Lei de 15 de outubro o proacuteximo passo significativo para a educaccedilatildeo

brasileira e por extensatildeo para o ensino de Geografia foi o Ato Adicional de 1834

aprovado pela Lei n 16 de 12 de agosto deste ano O Ato foi a uacutenica emenda

apresentada agrave Constituiccedilatildeo de 1824 suscitou um amplo debate sobre a

centralizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo entre o poder geral e a autonomia das proviacutencias

sendo relevante por ter criado as Assembleias Legislativas Provinciais as quais no

campo da educaccedilatildeo puacuteblica dentre outros atos administrativos poderia gerir e

legislar

Sobre instruccedilatildeo puacuteblica e estabelecimentos proacuteprios a promovecirc-la natildeo compreendendo as faculdades de medicina os cursos juriacutedicos academias atualmente existentes e outros quaisquer estabelecimentos de instruccedilatildeo que para o futuro forem criados por lei geral (Ato Adicional de 1834 Artigo 10 sect 2 Apud BONAVIDES ANDRADE 1991 p 595)

O Ato terminou por ser um marco para a educaccedilatildeo nacional sobretudo por

eximir o poder central de responsabilidades sobre o ensino puacuteblico que natildeo fosse o

da Corte sufocando os projetos em discussatildeo sobre a instruccedilatildeo elementar

colocados desde a Assembleia Constituinte de 1824 pois descentralizada a

responsabilidade sobre sua organizaccedilatildeo e sustentaccedilatildeo viu-se um quadro de

desorganizaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo estabelecido no cenaacuterio geral do ensino

(AZEVEDO 1963) Com isso houve um fortalecimento do ensino secundaacuterio e

primaacuterio na iniciativa privada com a educaccedilatildeo das elites concentrando-se nas

escolas confessionais O poder central encarregou-se da educaccedilatildeo do municiacutepio do

Rio de Janeiro considerado neutro e responsabilizando-se pelo ensino superior

existente e natildeo criando as proviacutencias outros passou a ter influecircncia direta na

organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio no que tange aos objetivos e agrave organizaccedilatildeo

curricular

Destinando-se precipuamente ao preparo de candidatos para as escolas superiores do Impeacuterio o ensino secundaacuterio em todo o paiacutes com um ou outro acrescentamento com uma ou outra lacuna reproduzia em seu curriacuteculo o conjunto de disciplinas fixadas pelo Centro para os exames de ingresso nas Academias (HAIDAR 1972 p 19)

Ateacute o Ato Adicional o ensino secundaacuterio ainda estruturava-se na forma de aulas

avulsas tradiccedilatildeo instituiacuteda pelos jesuiacutetas e mantida no periacuteodo pombalino com a

denominaccedilatildeo de ldquoaulas reacutegiasrdquo No ensino puacuteblico existiam de modo bastante

reduzido concentradas nos seminaacuterios e no Coleacutegio da Serra do Caraccedila aleacutem de

alguns estabelecimentos provinciais ldquo[] um punhado de aulas de latim retoacuterica

filosofia geometria francecircs e comeacutercio Somadas tocircdas as aulas puacuteblicas providas

entatildeo existentes na Cocircrte e nas proviacutencias mal se ultrapassava uma centenardquo

(HAIDAR 1972 p 20) O Atheneu Norte-Riograndense por exemplo fundado em

03 de fevereiro de 1834 pelo entatildeo presidente da Proviacutencia Quaresma Torreatildeo

autor de um compecircndio de Geografia surgiu para reunir em uma mesma instituiccedilatildeo

as disciplinas das Humanidades que antes sediavam-se em estabelecimentos

diferentes Filosofia Retoacuterica Geometria Francecircs e Latim A partir do Ato Adicional

houve a tentativa de estruturar o ensino secundaacuterio nas proviacutencias tentando sua

equiparaccedilatildeo ao Coleacutegio Pedro II alguns anos mais tarde

O Ato Adicional promulgou portanto agraves proviacutencias o poder de legislar sobre

a instruccedilatildeo puacuteblica primaacuteria e secundaacuteria agindo diretamente sobre os

estabelecimentos poreacutem com supervisatildeo do poder geral algo que praticamente

inexistiu a preocupaccedilatildeo do poder imperial nunca excedeu os limites da comarca da

Corte embora o centro natildeo deixasse de ser referecircncia e modelo Essa duacutebia

descentralizaccedilatildeo foi vital para o desenvolvimento de estabelecimentos de ensino

secundaacuterio na extensatildeo do paiacutes e para iniciar o processo de organizaccedilatildeo do ensino

secundaacuterio Esse processo culminou na transformaccedilatildeo do Seminaacuterio de Satildeo

Joaquim no Coleacutegio Pedro II em 02 de dezembro de 1937 em decreto consignado

pelo Ministro da Justiccedila Interino Bernardo Pereira de Vasconcellos ndash fato que

interessa diretamente agrave gecircnese da Geografia como disciplina institucionalizada no

ensino secundaacuterio

412 Curriacuteculo e ensino de Geografia no Impeacuterio o papel do Coleacutegio Pedro II

O surgimento do Coleacutegio Pedro II seguiu o modelo dos liceus franceses e

apresentou uma reforma educacional importante (restrita a ele de iniacutecio) introduziu

os estudos simultacircneos e seriados o que oscilou as aulas avulsas como perspectiva

de organizaccedilatildeo curricular ndash processo que iniciaria o enfraquecimento dessa

organizaccedilatildeo do ensino dos preparatoacuterios cuja presenccedila passou a ser oscilante ateacute

sua extinccedilatildeo definitiva nos anos 1870 ndash passando a aprovaccedilatildeo a ser por seacuterie e

natildeo por disciplina e introduziu o curriacuteculo obrigatoacuterio como curso regular de seis a

oito anos assim colocado no Art 3ordm do Decreto de 02 de dezembro de 1937 que

instituiu o coleacutegio ldquoNeste collegio seratildeo ensinadas as linguas latina grega franceza

e ingleza rhetorica e os princiacutepios elementares de geographia historia philosophia

zoologia mineralogia botanica chimica physica arithmetica algebra geometria e

astronomiardquo (BRASIL 1837)

A extensatildeo do curriacuteculo do Coleacutegio Pedro II cobria a necessidade de

preparatoacuterios para qualquer curso acadecircmico do paiacutes e um pouco aleacutem visto

objetivar por si uma formaccedilatildeo completa que habilitaria o egresso com o bacharelado

em Letras e a posse desse tiacutetulo permitiria a admissatildeo em qualquer curso superior

sem a necessidade de exames Contudo o Coleacutegio jaacute nascia com um desafio a

enfrentar concorrer com os estabelecimentos particulares que ofereciam

preparatoacuterios em um tempo muito inferior aos oito anos do curso do Pedro II

O ano de 1837 teve mudanccedilas poliacuteticas importantes que favoreceram as

transformaccedilotildees no cenaacuterio da instruccedilatildeo puacuteblica da Corte dentre as quais a renuacutencia

do regente79 Diogo Antonio Feijoacute (1784-1843) passando a constituir um novo

ministeacuterio Pedro de Arauacutejo Lima (1793-1870) o que trouxe uma renovaccedilatildeo ao

cenaacuterio poliacutetico concretizando antigas discussotildees quanto agrave educaccedilatildeo (DOacuteRIA

1937) A imprensa os relatoacuterios provinciais os discursos nas cacircmaras legislativas jaacute

de algum tempo colocavam em pauta a necessidade de melhorar a instruccedilatildeo

puacuteblica solicitando a reuniatildeo e a fiscalizaccedilatildeo das aulas avulsas em uma uacutenica

instituiccedilatildeo (HAIDAR 1972) como indica o relatoacuterio despachado para a Assembleia

Legislativa em 1835 pelo presidente da proviacutencia do Rio de Janeiro Joaquim Joseacute

Rodrigues Torres

[] fora meu parecer que quando mesmo se julgasse dever continuar inteiramente gratuito o ensino dessas mateacuterias [da instruccedilatildeo avulsa] conviera reunir em collegios e em tres ou quatro differentes pontos da Proviacutencia todas as Cadeiras jaacute creadas e que se houverem de crear Assim tornava-se mais faacutecil a disciplina destes estabelecimentos e a despeza com que o Estado deve carregar achar-se-haacute mais modica e proficua (BRASIL 1850 p 3-4)

A posiccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II no cenaacuterio geral da instruccedilatildeo secundaacuteria do

Impeacuterio foi legitimar e de certa forma padronizar os saberes escolares

O Coleacutegio Pedro II foi criado para ser uma instituiccedilatildeo escolar paradigmaacutetica natildeo soacute no que diz respeito agrave sua organizaccedilatildeo e funcionamento mas tambeacutem em relaccedilatildeo aos saberes que por ele deveriam ser veiculados O fato de que os conteuacutedos a serem ministrados assim como os compecircndios

79

Apoacutes o retorno de D Pedro I a Portugal ficou em seu lugar D Pedro II ainda infante pelo que o paiacutes era governado por regecircncias

adotados pelos professores soacute poderem vigorar a partir da aprovaccedilatildeo legal dos legisladores de entatildeo deixa expliacutecita a tentativa de exercer um controle sobre a cultura a ser legitimada (ROCHA 1996 p 61)

Isto estaacute enunciado nas palavras do ministro Bernardo Pereira de Vasconcellos no

discurso proferido por ocasiatildeo da abertura das aulas do Coleacutegio em marccedilo de 1838

quando afirma ser ldquo[] intento do Regente Interino criando este Collegio []

offerecer hum exemplar ou norma aos que jaacute se acham instituiacutedos nesta Capital por

alguns particulares convencido como estaacute de que a educaccedilatildeo collegial he preferiacutevel

agrave educaccedilatildeo privada80rdquo (VASCONCELLOS 1937 p 274)

Essa posiccedilatildeo era partiacutecipe dos entrelaccedilos do projeto poliacutetico de legitimar a

Monarquia e civilizar a naccedilatildeo com padrotildees inspirados no modelo europeu liderado

pela elite poliacutetica representante dos ideais econocircmicos e intelectuais pactuados e

representados pela classe do Estado Era incipiente entatildeo o sentimento de

pertenccedila a uma paacutetria brasileira no acircmbito geral do territoacuterio nacional ainda

permeado da influecircncia portuguesa povoado por migrantes e descentes diretos de

migrantes A nacionalidade brasileira foi um modelado principiado nas deacutecadas

iniciais do Impeacuterio amadurecido e consolidado ao longo do seacuteculo XIX (VLACH

1988 ANDRADE 1999) e era uma forma de contrapor as ameaccedilas internas e

externas que rondavam o jovem territoacuterio independente dentre as quais as rebeliotildees

e conflitos armados em diversas proviacutencias o receio de perder sua base de

sustentaccedilatildeo econocircmica ndash a matildeo de obra escrava ndash por pressatildeo da Inglaterra o

receio de uma recolonizaccedilatildeo portuguesa Nesse projeto de nacionalidade no

tocante agrave educaccedilatildeo teve-se a criaccedilatildeo dos cursos juriacutedicos de Satildeo Paulo e Olinda

(1827) a fundaccedilatildeo do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro e do Arquivo

Nacional (1838) dos primeiros liceus provinciais e escolas normais e a proacutepria

criaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II estatildeo como consolidaccedilatildeo desse projeto civilizador O

Coleacutegio particularmente emergia como instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo daqueles que

conduziriam os rumos do paiacutes quanto agrave organizaccedilatildeo nacional emergente para uma

ldquomocidaderdquo que aiacute aprenderia ldquo[] a independecircncia da virtude a firmeza de caraacuteter

a energia e o valor da sciencia a pureza da moral e o respeito da Religiatildeo [e o que

isso] tem de dar aacute Pratria aacute naccedilatildeo aacute Liberdade ao Throno e ao Altar servidores

fieacuteis honra e gloacuteria do nome Brasileirordquo como anunciado pelo ministro Vasconcellos

80

Subtende-se aiacute uma criacutetica ao modelo de oferta avulsa de disciplinas

(1937 p 275) no discurso supracitado sendo ele um dos nomes poliacuteticos atuantes

por uma unidade nacional (SOUZA 1937) e sendo essa considerada uma tarefa de

ldquodedicaccedilatildeo patrioacuteticardquo conforme palavras do ministro

De fato Moises (2007 p 126) apoacutes analisar diversos documentos da eacutepoca

da institucionalizaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II incluindo a repercussatildeo da nascente

imprensa fluminense conclui que

a formaccedilatildeo organizada e defendida pelos principais mentores da iniciativa governamental de 1837 natildeo estava de fato preocupada em oferecer uma instruccedilatildeo que atendesse agrave grande maioria da populaccedilatildeo constituiacuteda majoritariamente de analfabetos mas buscava por meio da educaccedilatildeo uma maneira de consolidar a unidade nacional ameaccedilada constantemente naquele momento O Coleacutegio Pedro II ao ter como prioridade a restauraccedilatildeo das disciplinas claacutessicas pretendeu assegurar uma formaccedilatildeo aos alunos que poderiam chegar a posiccedilotildees de destaque no paiacutes relacionadas em especial agrave direccedilatildeo poliacutetica de modo que pudessem contribuir para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da nacionalidade brasileira

Sendo a supervisatildeo do Estado uma forma de controle este significa a

implementaccedilatildeo de objetivos do estado a configuraccedilatildeo dos sujeitos de acordo com

uma proposta oficial ndash que natildeo era outra a natildeo ser a formaccedilatildeo de nacionais como

explicita Vasconcellos (1937 p 274 ndash grifos meus)

Soacute assim [com a implementaccedilatildeo do Coleacutegio e seu regulamento] deixaratildeo receios infundados de tomar a natureza de difficuldades reaes soacute assim se evitaraacute o escacircndalo de estylos arbitraacuterios e porventura oppostos agraves providecircncias e agraves intenccedilotildees do Governo e a mocidade de par com as doutrinas que hatildeo de formar o seu coraccedilatildeo e aperfeiccediloar a sua intelligecircncia aprenderaacute a respeitar as leis e as instituiccedilotildees e conheceraacute as vantagens da subordinaccedilatildeo e da obediecircncia

A accedilatildeo do Estado nesse momento no campo educacional queria elevar o

paiacutes para ombrear as naccedilotildees civilizadas agindo portanto nos cursos superiores e

notadamente no que interferisse no acircmbito deles como eacute o caso dos preparatoacuterios e

do ensino secundaacuterio O fio condutor dessas accedilotildees era no miacutenimo a criaccedilatildeo de

modelos Se o Ato Institucional de 1834 deixara para as proviacutencias a organizaccedilatildeo da

instruccedilatildeo puacuteblica por outro atrelou os exames do ensino superior ndash instacircncia

educacional aos cuidados diretos do Estado ndash ao Coleacutegio Pedro II por conseguinte

influindo no ensino privado e no pequeno nuacutemero de instituiccedilotildees de instruccedilatildeo

secundaacuteria surgentes nas proviacutencias em particular em Pernambuco Bahia Paraiacuteba

e Rio Grande do Norte (HAIDAR 1972)

O curriacuteculo do Coleacutegio Pedro II posteriormente foi incorporado pelo disposto

nos exames de admissatildeo ao ensino superior como deixa claro a Portaria de 4 de

maio de 1856 (apud HAIDAR 1972 p 82) cujo teor era a regulaccedilatildeo do ensino

preparatoacuterio e que afirmava o seguinte em dois de seus artigos

Art 7ordm Os compecircndios e livros usados nas aulas de preparatoacuterios seratildeo os mesmos que tiverem sido ou forem adotados pelo govecircrno para a instruccedilatildeo secundaacuteria Os professocircres guiar-se-atildeo em suas explicaccedilotildees pelo sistema do programa dos estudos das aulas secundaacuterias da Cocircrte e segundo as instruccedilotildees que para ecircsse fim receberem o diretor

Art 8ordm Para a execuccedilatildeo do artigo antecedente o inspetor geral da instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria do Municiacutepio da Cocircrte enviaraacute aos diretores das Faculdades natildeo soacute a relaccedilatildeo dos compecircndios e livros aprovados para uso das aulas de ensino secundaacuterio e 30 exemplares do referido programa como tambeacutem lhes comunicaraacute imediatamente qualquer alteraccedilatildeo que haja neste objeto

Por si soacute essa medida jaacute impunha o modelo curricular do coleacutegio como orientaccedilatildeo

para os demais estabelecimentos de ensino do paiacutes Para Vechia Lorenz (1998 p

VII)

[] os programas de ensino do Coleacutegio exerceram influecircncia ainda que de forma indireta sobre as escolas secundaacuterias existentes nos meados do seacuteculo XIX e as que surgiram em nuacutemero crescente ateacute o final do impeacuterio e inclusive nos primeiros anos da Repuacuteblica Com a chegada da corte portuguesa ao Brasil foram criados cursos de niacutevel superior nas aacutereas de Medicina e Engenharia e posteriormente na de Direito A partir de 1838 o Coleacutegio Pedro II passou a desempenhar o importante papel de preparar os alunos para entrar nessas instituiccedilotildees [] O curriacuteculo era um mecanismo utilizado na tentativa de conciliar os interesses do ensino superior e os objetivos proacuteprios do ensino secundaacuterio Os demais coleacutegios eram incentivados a adequar os seus curriacuteculos e programas aos do Coleacutegio de Pedro II principalmente a partir de 1854 quando os exames preparatoacuterios passaram a ser realizados em conformidade com os programas daquela instituiccedilatildeo A loacutegica exigia portanto a adoccedilatildeo da emulaccedilatildeo desses programas pelos coleacutegios provinciais e particulares

Essa trajetoacuteria iniciou-se em 1838 totalizando ateacute o fim do Impeacuterio 10 atos

legais de regulaccedilatildeo da estrutura pedagoacutegica da grade curricular e dos saberes a

serem ministrados no Pedro II81 Essa legislaccedilatildeo determinou a organizaccedilatildeo do

81

No periacuteodo republicano ateacute meados do seacuteculo XX o Coleacutegio contaria ainda com mais oito programas (VECHIA LORENZ 1998)

ensino secundaacuterio e delimitou os espaccedilos que a Geografia assumiu na grade das

disciplinas escolares

O primeiro destes atos foi o Regulamento n 8 de 31 de janeiro de 1838 que

consolidou os estudos claacutessicos como plano de ensino e aprendizagem mas

abrindo espaccedilo para liacutenguas modernas e disciplinas cientiacuteficas estudos entatildeo

considerados modernos Organizado em oito seacuteries distribuiacutedas em seis anos e

executadas por disciplinas simultacircneas a Geografia foi inserida na 8ordf e 7ordf seacuteries

com cinco liccedilotildees semanais e na 6ordf seacuterie com uma liccedilatildeo semanal Este regulamento

predispunha 239 artigos estabelecendo orientaccedilotildees para os diversos aspectos

relacionados ao funcionamento da instituiccedilatildeo como sintetiza Joaquim Manoel de

Macedo (1991 p 202)

[] marcando as funccedilotildees do reitor vice-diretor professocircres e todos os empregados estabelecendo o plano de estudos dividindo o ensino em oito aulas ou anos letivos em que se devia ensinar gramaacutetica portuguecircsa latim grego francecircs inglecircs geografia histoacuteria retoacuterica e poeacutetica e filosofia Matemaacuteticas compreendendo aritmeacutetica aacutelgebra geometria trigonometria e mecacircnica Astronomia Histoacuteria natural compreendendo zoologia botacircnica e mineralogia Ciecircncias fiacutesicas compreendendo fiacutesica e quiacutemica Desenho e muacutesica vocal Especificando o enxoval dos alunos as condiccedilotildees para o bacharelado o regime econocircmico e tudo enfim quanto era de mister que focircsse regulado

O ministro Vasconcellos na elaboraccedilatildeo dos estatutos do Coleacutegio Pedro II

consultou a organizaccedilatildeo dos estudos secundaacuterios na Pruacutessia Holanda e Franccedila

procurando adaptar ao caso nacional o que parecia mais conveniente os mais

influentes foram os estatutos franceses agraves vezes literalmente copiados (DORIA

1937) Em pronunciamento na Cacircmara dos Deputados no ano da transformaccedilatildeo do

Seminaacuterio Satildeo Joaquim no Coleacutegio o ministro Vasconcelos intencionou a orientaccedilatildeo

de elevar os estudos de Humanidades e das liacutenguas claacutessicas no Brasil (ANAIS DA

CAcircMARA DOS DEPUTADOS 1837 p 117) agrupando seacuteries para em primeiro

lugar os estudos claacutessicos de Gramaacutetica Retoacuterica Poeacutetica Filosofia Latim e

Grego As inovaccedilotildees curriculares contaram com o ensino da Gramaacutetica Nacional

duas liacutenguas vivas o Francecircs e o Inglecircs Histoacuteria e Geografia aleacutem de Matemaacutetica

Ciecircncias Naturais Muacutesica e Desenho

O Inglecircs e o Francecircs inseriam-se pelo reconhecimento de que eram

necessaacuterias para uma comunicaccedilatildeo aleacutem das fronteiras sendo ainda formas para

aquisiccedilatildeo de conhecimentos sobre cultura ciecircncias e artes em um momento em

que o latim declinava como linguagem universal do saber formal Da mesma forma

a matemaacutetica e as ciecircncias impunham-se paulatinamente como plataforma para o

desenvolvimento ou desempenho cientiacutefico e tecnoloacutegico Sem duacutevida tratava-se de

um curriacuteculo influenciado pelas ideias liberais que percorriam todos os cantos da

Europa esclarecida

Em fins da deacutecada de 1830 o ensino de Geografia por sua vez jaacute era um

paracircmetro em qualquer discussatildeo curricular para o ensino elementar A presenccedila da

Geografia na grade curricular do Pedro II notadamente eacute uma das influecircncias do

modelo francecircs de ensino secundaacuterio no qual haacute tempos figurava essa disciplina

como parte da formaccedilatildeo dos sujeitos nacionais Mas natildeo somente pois a essa altura

da formaccedilatildeo do paiacutes a necessidade de um ensino espacial nos processos de

escolarizaccedilatildeo se impunha no debate geral sobre a educaccedilatildeo Para exemplificar

veja-se a posiccedilatildeo da imprensa um dos veiacuteculos de oposiccedilatildeo ao status poliacutetico dos

regentes monaacuterquicos em veiculaccedilatildeo desde 1827 foi o jornal Aurora Fluminense

Essa folha em relaccedilatildeo agrave transformaccedilatildeo do Seminaacuterio de Satildeo Joaquim (que educava

crianccedilas pobres) no Coleacutegio Pedro II criticou severamente a subversatildeo social que

essa institucionalizaccedilatildeo representou

O estabelecimento das classes pobres foi transformado em monopoacutelio da instrucccedilatildeo do rico Disemos do rico e em todo rigor do termo porque soacute uma porccedilatildeo miacutenima da nossa sociedade a mais abastada poderaacute participar hoje das vantagens do collegio Pedro II tatildeo levantadas satildeo as condiccedilotildees da admissatildeo para aquelle estabelecimento cujas formas gymnasticas satildeo o grego e o latim (AURORA FLUMINENSE 1838 f 3)

E como representantes da sociedade civil apresentam uma proposta de ensino ndash

sem luxos claacutessicos como o aprendizado das liacutenguas grega e latina ndash que atendesse

agrave populaccedilatildeo como um todo na qual se inclui o ensino geograacutefico

Nos fariacuteamos ensinar no Seminaacuterio de S Joaquim os elementares princiacutepios das letras e algumas ideacuteias gerais das sciencias ensino comum e conforme a necessidade de todas as proffissotildees Eis aqui quaes seriam as mateacuterias drsquoeste ensino 1 da liacutengua materna aprendendo-se da grammaacutetica tatildeo somente aquillo que eacute essencial para entender a construcccedilatildeo do discurso 2 um epithome que nrsquouma colleccedilatildeo de maacuteximas explique de um modo curto e claro o systema solar as leis do movimento da attracccedilatildeo e da gravidade 3 outro cathecismo de geographia feito conforme o mesmo plano 4 uma synopsis de chronologia e de histoacuteria geral que de uma succinta e poreacutem compreensiva relaccedilatildeo dos principais acontecimentos do mundo 5

noccedilotildees geraes de psycologia e de moral 6 um cathecismo poliacutetico onde explicada fosse a constituiccedilatildeo do estado a importacircncia das leis a necessidade dos tributos os princiacutepios porque regula o uso da moeda e o valor das cousas e finalmente as ideacuteias as mais geraes relativas ao commeacutercio a agricultura e a industria 7 as lingoas francesa e inglesa (AURORA FLUMINENSE 1838 f 3 ndash grifos meus)

Nos primeiros anos os professores foram empossados e indicados pelo

governo sendo selecionados dentre representantes da inteligecircncia oitocentista A

cadeira de Histoacuteria e Geografia por exemplo foi ocupada inauguralmente por

Justiniano Joseacute da Rocha Durante a vigecircncia do Impeacuterio a Cadeira de Histoacuteria e

Geografia separadas na deacutecada de 1850 quando passou a existir entatildeo uma

caacutetedra exclusiva para a Geografia foi ocupada pelo cocircnego Dr Marcelino Joseacute de

Ribeiro Silva Bueno (1840 Geografia e Histoacuteria) Joatildeo Baptista Caloacutegeras (1847

Geografia e Histoacuteria) Dr Joaquim Manoel de Macedo (1849 Corografia e Histoacuteria

do Brasil) Frei Camilo de Monserrat (1850 Geografia e Histoacuteria) Joatildeo Antonio

Gonccedilalves da Silva (1855 Histoacuteria Geral e Geografia) Pedro Joseacute de Abreu (1858

Geografia) Dr Francisco Joseacute Xavier (1879 Geografia) Joatildeo Capistrano de Abreu

(1883 Corografia e Histoacuteria do Brasil)

No curriacuteculo de Ciecircncias alguns dos conteuacutedos ensinados seriam mais

tarde incorporados ao ensino de Geografia sobretudo os relacionados agrave Geografia

Fiacutesica eacute o caso da Geologia e da Mineralogia Contudo jaacute na primeira formaccedilatildeo

curricular do Pedro II conforme mencionado anteriormente a Geografia comparece

nas trecircs primeiras seacuteries com um total de seis liccedilotildees semanais cinco nos primeiras

e uma na sexta seacuterie (Quadro 04) Somente apoacutes o aluno ter adquirido noccedilotildees

gerais de Geografia no primeiro ano passava a estudar Histoacuteria a partir do segundo

e em todos os anos

QUADRO 04 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1838

Ano Seriaccedilatildeo Disciplinas Geograacuteficas Observaccedilotildees

1838

Regulamento n 8 de 31 de janeiro de 1838 (Coleacutegio Pedro II)

S

ecun

daacuteri

o d

e 8

Seacuteri

es 0

6 A

nos 8ordf e 7ordf

Seacuteries Geografia 5 liccedilotildees semanais

6ordf Seacuterie Geografia 1 liccedilatildeo semanal

5ordf e 4ordf Seacuterie

-

3ordf Seacuterie -

2ordf Seacuterie -

1ordf Seacuterie -

Fonte Brasil (1838) Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Em primeiro de fevereiro de 1841 o Regulamento n 62 que fez algumas

alteraccedilotildees no estatuto do Coleacutegio implementado em 1838 estabeleceu um curso de

sete anos para a integraccedilatildeo curricular do bacharelado sendo proposto ldquo[] uma

redistribuiccedilatildeo das mateacuterias pelas diferentes seacuteries com o objetivo de melhor atender

ao desenvolvimento intelectual dos alunosrdquo (HAIDAR 1972 p 102) Certa

observaccedilatildeo da aptidatildeo e do raciociacutenio dos alunos enquanto capacidade intelectual

foi considerada em outros termos a capacidade de memorizaccedilatildeo habilidade

pedagoacutegica apreciada entatildeo e por muito tempo depois como justifica o proacuteprio

Regulamento

Tendo em consideraccedilatildeo por huma parte que o tempo de seis annos ora empregados no curso da Instrucccedilatildeo secundaria no Collegio de Pedro Segundo natildeo he sufficiente para os lumnos poderem adquirir as necessaacuterias noccedilotildees das Artes e Sciencias que se ensinatildeo no referudi Collegio e por outra parte que nos primeiros annos se dedicao os mesmos alumnos alguns estudos para os quaes ainda se natildeo achatildeo aptos por quanto supposto tenhatildeo sufficientemente desenvolvida a memoria natildeo tem com tudo desenvolvido no mesmo gratildeo o raciocinio do qual esses estudos principalmente dependem [] (BRASIL 1841 p 13)

A matemaacutetica e as ciecircncias foram reduzidas e postergadas aos uacuteltimos

anos ao passo que a Geografia teve sua carga horaacuteria ampliada e distribuiacuteda por

mais seacuteriesanos (Quadro 05) A Geografia passa a estar em todas as seacuteries a partir

do 2ordm ano sendo renomeada ldquoGeographia Descriptivardquo Aleacutem dessa havia ainda

uma outra disciplina geograacutefica denominada ldquoGeographia Mathematica e

Chronologiardquo esta disciplina no entanto pertencia agrave cadeira de Matemaacutetica e natildeo agrave

docecircncia de Geografia (Art 3ordm) Tambeacutem a Geografia precedia nessa grade ao

ensino de Histoacuteria introduzida apenas no 3ordm ano apoacutes o estudo de Geografia com

trecircs liccedilotildees semanais no 2ordm ano nos demais o ensino geograacutefico dispunha de um

horaacuterio semanal

Em fins dos anos 1840 havia entre os poliacuteticos uma preocupaccedilatildeo com a

situaccedilatildeo geral do ensino fora do acircmbito do Coleacutegio Pedro II Inexistia da parte do

governo um controle sobre os estabelecimentos privados e as aulas puacuteblicas ainda

existentes pouco acrescentavam agrave formaccedilatildeo dos estudantes Certamente a

experiecircncia do Coleacutegio Pedro II acompanhado de perto pelo governo influiu na

defesa de propostas para esse cenaacuterio dentre as quais a criaccedilatildeo de uma comissatildeo

permanente de instruccedilatildeo puacuteblica e a extinccedilatildeo das aulas avulsas Soacute mais tarde a

esse propoacutesito em 1854 foi criada a Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria e

Secundaacuteria do Municiacutepio da Corte oacutergatildeo que assumiu os exames gerais dos

preparatoacuterios agiu sobre a liberdade de ensino e reformulou os estatutos do

Coleacutegio Pedro II

QUADRO 05 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1841

1841

Regulamento n 62 de 01021841 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e 0

7 a

nos

1ordm ano - -

2ordm ano Geografia descritiva 3 liccedilotildees semanais

3ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal

4ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal

5ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal

6ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal

7ordm ano

Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal

Geografia descritiva

1 liccedilotildees semanais

Geografia Matemaacutetica e Cronologia 2 liccedilotildees semanais

Fonte Brasil (1841) Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Com o Ato Adicional de 1834 o governo do Impeacuterio descentralizou a

educaccedilatildeo permitindo agraves Proviacutencias a oferta e a manutenccedilatildeo do ensino primaacuterio e

secundaacuterio Poreacutem nesse processo centralizou uma referecircncia com a

institucionalizaccedilatildeo do Imperial Coleacutegio de Pedro II que a partir de sua criaccedilatildeo

passou a difundir ideias sobre a educaccedilatildeo a partir de modelos externos sobretudo

europeus influindo no comportamento dos estabelecimentos puacuteblicos e particulares

de todo o paiacutes Natildeo deixou de ser conforme lembra Haidar (1972) uma medida de

orientaccedilatildeo e controle de todo o ensino ofertado no territoacuterio brasileiro ateacute porque o

ensino secundaacuterio em grande parte teve a performance de preparatoacuterio para o

ingresso no ensino superior e os exames de admissatildeo aos cursos superiores

estavam atrelados aos programas do Coleacutegio Pedro II ldquoos dezesseis liceus

existentes em 1854 e os vinte existentes em 1872 eram incentivados a adequar seus

planos de estudos e programas de ensino aos do Coleacutegio bem como adotar os

mesmos livros didaacuteticosrdquo como lembram Vechia Lorens (2006 p 6009) As

proviacutencias resistiram a essa imposiccedilatildeo sendo as matriacuteculas avulsas uma prova

dessa posiccedilatildeo haja vista que desde sua fundaccedilatildeo o Coleacutegio Pedro II teve a

proposiccedilatildeo de um programa formativo seriado e integrado mas a frequecircncia avulsa

praticamente acompanhou com avanccedilos e retrocessos por todo o periacuteodo imperial

Na entrada dos anos 1850 os relatoacuterios provinciais indicavam graves

deficiecircncias no ensino secundaacuterio de todo o paiacutes o que urgia providecircncias do

governo central mas que natildeo ferissem a constituiccedilatildeo que descentralizara o ensino

da naccedilatildeo Dentre as reaccedilotildees do governo esteve a mencionada criaccedilatildeo da Inspetoria

Geral da Instruccedilatildeo Publica no Municiacutepio da Corte que atuando para o municiacutepio

neutro influenciava as demais instituiccedilotildees de ensino A Inspetoria era responsaacutevel

ainda pela anaacutelise dos relatoacuterios chegados das proviacutencias com pareceres influentes

sobre a legislaccedilatildeo e sobre a formaccedilatildeo discursiva condizente ao ensino no paiacutes

Dentre as medidas gerais impostas pela Inspetoria estaacute a equiparaccedilatildeo dos

programas de ensino e dos livros didaacuteticos adotados no Coleacutegio Pedro II (HAIDAR

1972) os quais fundamentavam a elaboraccedilatildeo dos exames admissionais

O programa de Geografia divulgado no iniacutecio de 1850 pelo Coleacutegio Pedro II

manteve a estrutura introduzida em 1841 apenas alterando os nomes das

disciplinas geograacuteficas a ldquoGeografia Descritivardquo se torna soacute ldquoGeografiardquo a Geografia

Matemaacutetica passa a se chamar Cosmografia e a Cronologia cede para a Geografia

Antiga (Quadro 06)

QUADRO 06 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1850

1850

Programa do Coleacutegio Pedro II

Secun

daacuteri

o d

e

07 a

nos

2ordm ano Geografia

3ordm ano Geografia

4ordm ano Geografia

5ordm ano Geografia

6ordm ano Geografia

7ordm ano Cosmografia Geografia Antiga

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

A deacutecada de 1850 na Europa foi marcada por reformas educacionais que

procuravam adequar os sistemas de ensino agraves necessidades impostas pela

economia em pleno desenvolvimento Esse movimento teve repercussatildeo no Brasil

Nesse contexto o Coleacutegio Pedro II introduziu a reforma do Decreto n 1556 de 17

de fevereiro de 1855 ato decorrente da Lei n 630 apresentada na Assembleia

Geral Legislativa em 17 de setembro de 1851 por Couto Ferraz a qual a autorizava

reformas no ensino primaacuterio e secundaacuterio no Municiacutepio da Corte Dentre os

principais pontos da reforma no Coleacutegio Pedro II tem-se a compatibilizaccedilatildeo entre

ensino secundaacuterio e ensino teacutecnico por meio da divisatildeo das seacuteries em dois ciclos

um de quatro e outro de trecircs anos Os Estudos de Primeira Classe em quatro anos

obrigatoriamente deveriam ser frequentados por todos os matriculados findos os

quais poderiam continuar os estudos no proacuteprio coleacutegio ou uma vez certificados

ingressar em outros cursos sem a necessidade de prestar exames Os Estudos de

Segunda Classe por sua vez de trecircs anos sucediam ao primeiro ciclo e sua

conclusatildeo bacharelava em Letras o secundarista Com essa nova estrutura houve

uma redistribuiccedilatildeo das disciplinas pelas seacuteries Geografia e Histoacuteria tiveram suas

cadeiras separadas embora ainda coetacircneas ambas abordavam o periacuteodo

moderno o periacuteodo antigo e o Brasil sendo a abordagem nacional denominada

Corografia isso nos dois anos finais dos estudos da Primeira Classe Nos cursos da

Segunda Classe ambas enquadravam o periacuteodo antigo e a Idade Meacutedia Observa-

se aiacute uma proposta que procura uma transiccedilatildeo que atenda os estudos claacutessicos e

outro que no conjunto refere-se a uma formaccedilatildeo cientiacutefica organizada para os

interesses e as necessidades entatildeo atuais que requeriam uma praacutetica mais

presente mais distante da erudiccedilatildeo (Quadro 07)

QUADRO 07 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1855

1855

Decreto n 1556 17021855 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e 0

7 a

nos

Primeira Classe (1ordm ao 4ordm ano)

1ordm ano - 2ordm ano -

3ordm ano

Geografia e Histoacuteria Moderna

4ordm ano Geografia e Histoacuteria Moderna Corografia e Histoacuteria do Brasil

Segunda Classe (5ordm ao 7ordm ano)

5ordm ano Geografia e Histoacuteria Antiga

6ordm ano Geografia e Histoacuteria da Idade Meacutedia

7ordm ano -

Fonte Brasil (1855) Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

O que se observa inicialmente nessa estrutura eacute a proximidade entre

Geografia e Histoacuteria O comportamento da Geografia nessa plataforma eacute

basicamente o que os historiadores do ensino de Geografia denominam como

ldquopalcordquo do desenrolar da Histoacuteria Ateacute entatildeo e muito depois ou o ensino de

Geografia precedia o de Histoacuteria ou ocorriam simultaneamente por este motivo

Esse modelo foi influenciado pela reforma educacional promovida na Franccedila

pelo conde Narcisse Archille Salvandy (1795-1856) em 1847 e tambeacutem pela

reforma proposta por outro ministro Fouroul em 1852 (VECHIA LORENZ 2002)

Em ambas as reformas destacaram-se a estrutura de quatro mais trecircs anos para

oferta do secundaacuterio tradicional e do ensino teacutecnico relevando o ensino de ciecircncias

tendo em vista o ensino teacutecnico sobretudo Couto Ferraz quanto agraves reformas

francesas foi atraiacutedo pela possibilidade de atendimento a classes sociais diferentes

e pelo acesso agrave ciecircncia como formaccedilatildeo teacutecnica

Todavia jaacute na vigecircncia do Impeacuterio se constituiacutea uma praacutetica permanente na

poliacutetica educacional brasileira a descontinuidade de projetos em razatildeo das

mudanccedilas dos cenaacuterios poliacuteticos A reforma de Couto Ferraz foi tolhida pela queda

do Ministeacuterio da Conciliaccedilatildeo (como ficou conhecida a tentativa do imperador Pedro II

para promover uma gestatildeo comum a liberais e conservadores) em 1856 quando

morreu o Marquecircs do Paranaacute sendo substituiacutedo pelo Marquecircs de Olinda que atuou

como Presidente do Conselho de Ministros e Ministro e Secretaacuterio de Estado dos

Negoacutecios do Impeacuterio a partir de 1857

Os vacilos legislativos ndash proposiccedilatildeo natildeo cumprimento novas proposiccedilotildees

em um espiralar constante ndash no plano praacutetico significavam uma desorientaccedilatildeo por

exemplo na docecircncia e na produccedilatildeo de materiais para o ensino o que eacute sentido nas

poucas alteraccedilotildees possiacuteveis de observar nos exemplares da bibliografia desse

tempo Por esse motivo o curriacuteculo dos manuais natildeo respondia necessariamente agrave

urgecircncia das proposiccedilotildees legais como se veria posteriormente na bibliografia do

ensino da Geografia em que os autores procuravam permanentemente enquadrar-

se aos curriacuteculos e programas propostos ateacute como forma de sobrevivecircncia da obra

Possivelmente isso levava as obras a ficarem disponiacuteveis havendo ou natildeo um

trabalho seletivo do professor ou dos colegiados responsaacuteveis pelo ensino Em

geral as obras dispunham os conteuacutedos como requeridos frequentemente ndash uma

Geografia poliacutetica uma Geografia fiacutesica (geral e corograacutefica) e uma Cosmografia ndash e

daiacute seriam encorpadas em tal ou qual seacuterieano em que fossem requeridos mais

tarde se veria o contraacuterio as obras sendo escritas especificamente para uma seacuterie

de ensino atendendo plenamente o curriacuteculo sugerido

Com o novo ministeacuterio entrou em vigor o Decreto n 2006 de 24 de outubro

de 1857 alterando o Regulamento relativo aos estudos de Instruccedilatildeo Secundaacuteria do

Municiacutepio da Corte A partir desse ato o Coleacutegio Pedro II deixou a estrutura de

quatro e trecircs anos em sete anos o estudante graduava-se bacharel em Letras

podendo ingressar automaticamente no ensino superior em paralelo instituiu um

curso de cinco anos que preparava para o ingresso em outros cursos teacutecnicos

sendo os primeiros quatro anos obrigatoacuterios a qualquer uma das frequecircncias A

justificativa para essa mudanccedila seria uma readequaccedilatildeo das disciplinas para

distribuiacute-las sem peso excessivo para umas e pouco aproveitamento para outras

(DORIA 1937) Assim a Geografia ficou presente nos trecircs primeiros anos e no

quarto e quinto se emparelhou a Corografia e a Histoacuteria do Brasil (Quadro 08)

QUADRO 08 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1857

1857

Decreto n 2006 de 24101857 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e 0

7

anos

Curso Especial

Anos

com

uns 1ordm ano Geografia

2ordm ano Geografia

3ordm ano Geografia

4ordm ano Corografia e Histoacuteria do Brasil

5ordm ano Corografia e Histoacuteria do Brasil

6ordm ano -

7ordm ano -

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

O ato legal de 1857 permaneceu ateacute primeiro de janeiro de 1862 quando

Joseacute Ildefonso de Souza Ramos ministro e secretaacuterio de Estado dos Negoacutecios do

Impeacuterio assinou o Decreto n 2883 alterando o regulamento do Coleacutegio Pedro II As

Humanidades foram repostas como em vigor ateacute 1841 Esse modelo que sofreu

poucas alteraccedilotildees ateacute o findar do Impeacuterio periacuteodo no qual

[] houve um interesse geral no sentido de diagnosticar e solucionar os problemas de ensino puacuteblico Em consequumlecircncia surgiram vaacuterios debates Atos Legislativos reformas e propostas de reformas visando reestruturar o ensino brasileiro e em particular o ensino secundaacuterio As reformas efetuadas tais como as de 1870 1876 1878 e 1881 alteraram aspectos diversos do sistema de ensino secundaacuterio em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo administrativa do Collegio ao sistema de avaliaccedilatildeo e exames e aos planos de estudos (VECHIA LORENS 2006 p 6007)

Observa-se entatildeo a Geografia nos quatro primeiros anos do ensino

secundaacuterio o retorno da Cosmografia no quarto ano e o descolocamento da

Corografia para o uacuteltimo (Quadro 09)

QUADRO 09 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1862

1862

Decreto n 2883 de 01021862 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e

07 a

nos

1ordm ano Geografia

2ordm ano Geografia

3ordm ano Geografia

4ordm ano Geografia e Cosmografia

5ordm ano -

6ordm ano -

7ordm ano Corografia

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

O proacuteximo ministro Paulino de Souza fez vigorar o Decreto n 4468 2 de

fevereiro de 1870 no qual foram introduzidos exames de admissatildeo agrave matriacutecula no

secundaacuterio e exames finais para todas as disciplinas do seriado Jaacute por uma

visualizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo da grade de Geografia a partir desse decreto

se nota que a Geografia entatildeo adentrava em outro patamar dividindo-se em

elementar e geral A Corografia do Brasil permanece como uma das uacuteltimas

disciplinas (Quadro 10) A denominaccedilatildeo de Geografia passou por alteraccedilotildees em sua

denominaccedilatildeo de Geografia para ldquoGeografia elementar e descritiva geralrdquo e

ldquoGeografia Antigardquo

Em 1876 a 1ordm de marccedilo o Senador e Ministro do Impeacuterio Joseacute Bento da

Cunha Figueiredo consignou o Decreto n 6130 tambeacutem para o Coleacutegio Pedro II

com alguma alteraccedilatildeo na distribuiccedilatildeo das disciplinas e permanecircncia no estabelecido

anteriormente quanto aos exames de admissatildeo e aos exames finais Destacou

neste decreto a revogaccedilatildeo do disposto no decreto de 1857 ou seja abolindo

definitivamente as matriacuteculas avulsas no Coleacutegio Pedro II medida que

evidentemente visava frear a aceleraccedilatildeo do teacutermino dos preparatoacuterios ao ingresso

no ensino superior estendida depois para todos os estabelecimentos secundaacuterios o

que ainda natildeo foi verificado na praacutetica

QUADRO 10 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1870

1870

Decreto 4468 de 1870 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

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7

anos

1ordm ano Geografia elementar e descritiva em geral

2ordm ano Geografia elementar e descritiva em geral Europa e Ameacuterica

3ordm ano Geografia elementar e descritiva em geral e Geografia Antiga

4ordm ano -

5ordm ano -

6ordm ano -

7ordm ano Corografia do Brasil

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Todavia permanecia o problema da extensatildeo do curriacuteculo problema

impliacutecito aos programas do Coleacutegio Pedro II desde sua fundaccedilatildeo e que de certa

forma impacientava o alunado A organizaccedilatildeo da plataforma curricular desse

estabelecimento legal visava de alguma forma flexibilizar essa estrutura como

explica Vechia Lorens (2006 p 6008)

Os estudos da maioria das disciplinas foram concentrados em menor nuacutemero de seacuteries do que em 1870 Tal organizaccedilatildeo permitia que os alunos vencessem as etapas do curso de uma forma mais raacutepida pois cada disciplina era ensinada no maacuteximo em trecircs anos ao final do uacuteltimo poderia prestar os exames finais por disciplina O aluno portanto natildeo precisava esperar ateacute o termino do seacutetimo ano para prestar os exames preparatoacuterios visto que ao final do 5ordm ano jaacute teria prestado todos os exames necessaacuterios para o ingresso nos cursos superiores A decisatildeo de localizar as disciplinas da aacuterea de Ciecircncias nas duas uacuteltimas seacuteries juntamente com Grego Alematildeo Literatura nacional Histoacuteria e Corografia do Brasil consagrou o fato de que os alunos poderiam terminar seus estudos antes de ingressar no 6ordm ano pois o exame final nestas disciplinas natildeo eram exigidos para ingresso na maioria das instituiccedilotildees de ensino superior

Dessa forma para concentrarem-se em trecircs anos os conhecimentos

geograacuteficos passaram a ser vistos no primeiro terceiro e sexto ano obedecendo

sempre agrave estrutura organizada na segunda metade do seacuteculo XIX Geografia

elementar Geografia geral Corografia do Brasil e Cosmografia (Quadro 11)

QUADRO 11 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1876

1876

Decreto n 6130 de 01031876 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

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7

anos

1ordm ano Elementos de Geografia

2ordm ano -

3ordm ano Geografia

4ordm ano -

5ordm ano -

6ordm ano Cosmografia Corografia do Brasil

7ordm ano -

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Dois anos mais tarde contudo houve mudanccedilas no veacutertice de influecircncia

externa na pedagogia do Coleacutegio Pedro II quando da posse de Carlos Leocircncio de

Carvalho professor da Faculdade de Direito de Satildeo Paulo na Pasta do Ministeacuterio do

Impeacuterio O eixo deslocava-se da Franccedila para as ideias estadunidenses calcadas na

noccedilatildeo de liberdade no ensino e no influxo da consciecircncia individual Isso implicou no

Decreto n 6884 de 20 de abril de 1878 talvez a reforma mais radical do Impeacuterio

que calcou como livre a frequecircncia no Externato e tornou facultativo o ensino

religioso aos natildeo-catoacutelicos Como em todas as reformas anteriores houve

alteraccedilotildees na plataforma curricular mas natildeo soacute as matriacuteculas avulsas foram

reestabelecidas no curso do externato do Pedro II possibilitando acesso aos

exames finais agravequeles que natildeo tinham frequentado as aulas regulares A Geografia

fica nos dois primeiros anos no quinto e sexto ano satildeo aplicadas as disciplinas de

Cosmografia e Corografia do Brasil (Quadro 12)

QUADRO 12 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1878

1878

Decreto n 6884 de 20041878 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e

07 a

nos

1ordm ano Geografia

2ordm ano Geografia

3ordm ano -

4ordm ano -

5ordm ano Cosmografia

6ordm ano Histoacuteria e Corografia do Brasil

7ordm ano -

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

As alteraccedilotildees seguintes no plano de estudo vieram com o Decreto n 8051

de 24 de marccedilo de 1881 que alterou os Regulamentos do Imperial Collegio de

Pedro II modificou o plano de estudos mantendo significativamente as propostas de

1878 de Leocircncio de Carvalho Particularmente no que diz respeito agrave Geografia

percebe-se mudanccedilas sutis ainda sobretudo com a separaccedilatildeo de uma Geografia

Fiacutesica independente das demais (Quadro 13)

QUADRO 13 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1881

1881

Decreto n 8051 de 25031881 (Coleacutegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e

07 a

nos

1ordm ano Noccedilotildees de Geografia

2ordm ano -

3ordm ano Geografia Fiacutesica

4ordm ano Geografia e Cosmografia

5ordm ano -

6ordm ano -

7ordm ano Corografia e Histoacuteria do Brasil

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

A trajetoacuteria dessa legislaccedilatildeo e normatizaccedilotildees demonstram o

estabelecimento da Geografia como disciplina Presente desde o curriacuteculo inicial

esteve permanentemente nas grades escolares com maior ou menor carga horaacuteria

em todas ou em apenas algumas seacuteries Natildeo tem um nome comum natildeo eacute apenas

ainda ldquoGeografiardquo seus saberes respondem por Cosmografia por Corografia eacute

qualificada e dividida em Antiga Matemaacutetica Geral Elementar Descritiva Sua

sucessatildeo de nomes demonstra pensamentos diferentes e em construccedilatildeo sobre esse

saber didaacutetico

A Geografia surgente no ensino elementar do Impeacuterio era irmanada com o

ensino de Histoacuteria Natildeo havia separaccedilatildeo clara nos programas e nas regecircncias

Mesmo a literatura didaacutetica e de referecircncia ateacute a deacutecada de 1850 evidenciam essa

conjugaccedilatildeo materializando ambas sem limites claros frequentemente Conforme

Moacyr (1937 v 2 p 27 e 28) eacute da deacutecada de 1850 a separaccedilatildeo da Geografia e da

Histoacuteria por meio da criaccedilatildeo de cadeiras individuais para ambas as disciplinas no

acircmbito da organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio do Coleacutegio Pedro II embora desde a

fundaccedilatildeo deste operassem tambeacutem programas independentes a cada conteuacutedo

mas com a mesma regecircncia A existecircncia dessa lei natildeo foi garantia de divisatildeo das

regecircncias na praacutetica pois ainda em 1881 no Coleacutegio Pedro II se ensinava

Corografia e Histoacuteria do Brasil conjuntamente

Diversos historiadores do ensino de Geografia delimitam a criaccedilatildeo do

Coleacutegio Pedro II como iniacutecio da trajetoacuteria dessa disciplina Sem duacutevida foi um marco

importante todavia deve-se ponderar que esta instituiccedilatildeo consolidou um processo

anunciado desde a deacutecada de 1810 periacuteodo lacunar na histoacuteria da Geografia

escolar e que procurei expor alguns esclarecimentos ateacute o momento conforme

demonstrado em capiacutetulo anterior Quando o Ato de 1834 surgiu o ensino puacuteblico do

Rio de Janeiro para exemplo ofertava cursos de Filosofia Retoacuterica Grego

Francecircs Inglecircs Comeacutercio (um dos mais frequentados) Geometria Aritmeacutetica e

Aacutelgebra (HAIDAR 1972) Basicamente estas eram as disciplinas tambeacutem ofertadas

nas proviacutencias Com menor regularidade eram ofertadas aulas avulsas de Geografia

e Histoacuteria desde os anos 1810 E o Coleacutegio Pedro II nesse contexto foi o cenaacuterio

de fortalecimento desse saber como disciplina escolar em niacutevel da educaccedilatildeo

elementar

No contexto do Coleacutegio Pedro II viu-se os cursos independentes ndash as aulas

avulsas ndash converterem-se (natildeo sem resistecircncia) em programas seriados e anuais os

quais respondiam a visotildees pedagoacutegicas institucionalizadas por meio de decretos

estabelecendo modelos ldquoforccediladosrdquo a serem seguidos nas proviacutencias sobretudo

quanto aos curriacuteculos impostos haja vista sua presenccedila nos exames admissionais

dos cursos superiores ndash todos em matildeos da vontade imperial

A marca dos estudos secundaacuterios continuava e continuaria portanto a

mesma desde os tempos dos jesuiacutetas preparar os discentes para o ingresso no

ensino superior cujos cursos tinham suas exigecircncias curriculares revelados nos

exames requeridos para o ingresso O aluno nesses termos frequentava aulas de

acordo com seu interesse ndash as chamadas aulas avulsas apesar do modelo e

orientaccedilatildeo que o Coleacutegio Pedro II assinalaria anos antes a partir de fins da deacutecada

de 1830 e apesar de sempre retornarem em alguma condiccedilatildeo (permitida ao

externato por exemplo)

A presenccedila da Geografia no ensino secundaacuterio ao mesmo tempo em que

respondia a uma necessidade de formaccedilatildeo do ensino superior respondia agraves

necessidades formativas do Estado ndash tanto para constituiccedilatildeo dos cidadatildeos

sobretudo as elites quanto para a constituiccedilatildeo de uma maacutequina administrativa Por

outro lado uma vez que a admissatildeo no ensino secundaacuterio se dava por meio de

exames os quais incluiacuteam os conhecimentos da Geografia haacute sua inserccedilatildeo no

curriacuteculo das escolas primaacuterias

42 O curriacuteculo e a constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo imperial

Conforme analisado no Graacutefico 01 apresentado no capiacutetulo 02 no periacuteodo

imperial se teve uma produccedilatildeo superior a 150 tiacutetulos distintos de manuais didaacuteticos

de Geografia em um movimento quantitativo ascendente marcado por uma

verdadeira explosatildeo na deacutecada de 1880 quando soacute nela vieram a puacuteblico 43

tiacutetulos Eacute interessante notar como uma produccedilatildeo relativamente alta pouco atendeu

agraves demandas educacionais do ensino da Geografia Os poliacuteticos os intelectuais

envolvidos na questatildeo educacional os historiadores do ensino da Geografia satildeo

unacircnimes quanto a esse parecer indicando ademais a desatualizaccedilatildeo das obras

existentes e sua inadequaccedilatildeo pedagoacutegica

Para esse fato talvez haja uma explicaccedilatildeo na organizaccedilatildeo do mercado

editorial satildeo baixas as tiragens o preccedilo dos volumes eacute caro pois se trata de um

material com produccedilatildeo externa natildeo haacute um sistema eficiente de distribuiccedilatildeo a maior

parte dos tiacutetulos eacute de produccedilotildees regionais com circulaccedilatildeo regional e aleacutem disso

pelo menos a parte inicial dessa produccedilatildeo destina-se mais aos professores e

instrutores do que propriamente aos alunos os livros didaacuteticos foram em largas

deacutecadas do princiacutepio dessa histoacuteria a uacutenica forma de instruccedilatildeo e formaccedilatildeo docente

as quais estiveram impliacutecitas tambeacutem em outras formaccedilotildees como a militar a

juriacutedica as engenharias

Essa bibliografia em si contudo natildeo deixa de ser um reflexo do poder

disciplinador exercido pelo Estado brasileiro na construccedilatildeo de uma nacionalidade

brasileira e no estabelecimento de uma cultura escolar (VLACH 1988 ROCHA

1996) De acordo com Foucault (2004) dentre todas as praacuteticas disciplinadoras a

escola foi um dos espaccedilos para organizaccedilatildeo (disposiccedilatildeo de ordem e hierarquia

disposiccedilatildeo do tempo) exame (verificaccedilatildeo de desempenho) e elaboraccedilatildeo de certos

saberes Para Vlach (1988 p 19) esta ldquo[] regulamentaccedilatildeo eacute uma variaccedilatildeo do

poder disciplinar que reforccedila a sua tendecircncia agrave homogeneidade socialrdquo pois havia

necessidade de controlar o corpo (e o saber) ldquo[] individual e coletivamente ndash no

sentido de adestraacute-lo enquanto forccedila de trabalho para uma sociedade que estava

irrompendo sob a lsquocaparsquo da igualdade (formal) dos homensrdquo O curriacuteculo em si foi o

espaccedilo do saber requisitado e autorizado para disciplinar certa visatildeo do mundo e

de suas regiotildees inclusive e sobretudo a nacional

Do Rio de Janeiro da Bahia e de Pernambuco na deacutecada de 1820 vieram

as primeiras presenccedilas da bibliografia didaacutetica de Geografia Eacute o iniacutecio de uma

tradiccedilatildeo didaacutetico-geograacutefica orientada pela Cosmografia pela Geografia Fiacutesica e

pela Geografia Poliacutetica em acepccedilatildeo diferente da que teriam no desenvolvimento

posterior da Geografia e do seu ensino

421 A tradiccedilatildeo da Cosmografia da Geografia Fiacutesica e da Geografia Poliacutetica

Por todo o Impeacuterio a produccedilatildeo dos manuais de Geografia se daraacute pelo

ldquoparadigmardquo da Geografia moderna claacutessica aquela que fez a transiccedilatildeo da forma de

conceber o conhecimento na Idade Meacutedia para o periacuteodo que com seus

rompimentos epistecircmicos direcionou a compreensatildeo e a produccedilatildeo do conhecimento

para um fazer cientiacutefico Enquanto a Geografia moderna claacutessica conta com essas

trecircs compartimentaccedilotildees a Geografia moderna cientiacutefica ou institucionalizada

sobretudo a partir da Alemanha de Humboldt e Ritter se enveredaria em duas

perspectivas a Geografia Humana e a Geografia Fiacutesica quando da emergecircncia da

dualidade no discurso geograacutefico desta ciecircncia fato este demonstrado por Gomes

(2000) e outros historiadores do pensamento geograacutefico

A esse propoacutesito os termos Cosmografia Geografia Fiacutesica e Geografia

Poliacutetica foram terminologias em uso desde o seacuteculo XVII (CAPEL 1989) Varenius

quando publica sua Geografia Geral em 1650 divide-a em uma Geografia Geral

que considera a Terra em seu conjunto e em uma Geografia Especial que objetiva

as regiotildees subdividindo esse conhecimento em corografia ndash para regiotildees de maior

extensatildeo e topografia ndash para regiotildees de menor extensatildeo (BAUAB 2005) O objeto

colocado em tela a partir de Varenius e assumido por geoacutegrafos que o sucederam

ateacute o seacuteculo XVIII eacute a superfiacutecie terrestre e suas partes Os Descobrimentos dos

europeus ofertam ao mundo uma quantidade imensa de informaccedilotildees geograacuteficas

tanto da natureza quanto da organizaccedilatildeo dos gecircneros de vida o que amplia e

renova esse saber A esse tempo emerge uma racionalidade cientiacutefica que procura

separar o conhecimento em categorias encaminhando para um lado a metafiacutesica o

saber baseado nas crenccedilas nos mitos etc procurando focar o conhecimento em

uma objetividade e descriccedilatildeo precisas

Os discursos geograacuteficos de grande parte do seacuteculo XIX sobretudo o

didaacutetico inscrevem-se direta ou indiretamente na Geografia moderna em sua

vertente claacutessica aquela emergente no seacuteculo XVIII com viacutenculos nos movimentos

que formataram as bases do pensamento cientiacutefico Daiacute surgiram os modelos e as

vertentes de gecircnero que acomodam os discursos do conhecimento dessa eacutepoca

Gomes (2000) procurou compreender o surgimento da Geografia cientiacutefica

na formaccedilatildeo epistemoloacutegica da modernidade situando o projeto de ciecircncia

emergente no Seacuteculo das Luzes por um lado em que o racionalismo fez a criacutetica

necessaacuteria para romper as formas de estabelecimento do conhecimento O meacutetodo

loacutegico racional perseguiu sistemas explicativos para entrever ldquo[] o resultado de

uma anaacutelise dos aspectos regulares de um dado fenocircmeno [] uma ordem formal

instrumentalizada por uma loacutegica coerente e geral e de uma ordem material que

relaciona o modelo abstrato agrave realidaderdquo (GOMES 2000 p 31) De outro lado a

modernidade estabeleceu-se tambeacutem a partir de posiccedilotildees anti-racionalistas para as

quais a ldquo[] razatildeo humana natildeo eacute universal ou pelo menos ela natildeo possui sempre a

mesma natureza as mesmas manifestaccedilotildees e a mesma formardquo (GOMES 2000 p

32)

Com a Renascenccedila houve a proposiccedilatildeo de um novo modelo cosmoloacutegico

em substituiccedilatildeo ao modelo geocecircntrico aceito pela Igreja Catoacutelica revistado a partir

da Antiguidade Claacutessica que para a Geografia centrou-se sobretudo na

redescoberta de Ptolomeu e Estrabatildeo No modelo totalizador a concepccedilatildeo

ptolomeica deu as condiccedilotildees para o estabelecimento de uma cosmografia

Ateacute o seacuteculo XVIII vaacuterios autores trabalharam de acordo com os princiacutepios das cosmografias como por exemplo Buache Muumlnster e Enciso Vaacuterios problemas de base da cartografia o caacutelculo das latitudes e sobretudo o das longitudes bem como os sistemas de projeccedilatildeo foram amplamente tratados nestes estudos Ao mesmo tempo os fenomenos naturais e

sobretudo climaacuteticos ao fazer parte desta geografia escapavam agraves interpretaccedilotildees livres religiosas ou maacutegicas da tradiccedilatildeo medieval As cosmografias estatildeo pois na origem da tradiccedilatildeo que define simultaneamente a escolha temaacutetica e confere uma metodologia geral agrave geograacutefica Estas duas preocupaccedilotildees faziam parte do pIano fundamental das cosmografias e sobreviveram na geografia cientiacutefica Foi atraveacutes delas que a geografia considerou que era sua a tarefa de produzir imagens do mundo de compreender sua organizaccedilatildeo e de decifrar sua ordem em suma de veicular uma cosmovisatildeo (GOMES 2000 p 129)

Considerando Estrabatildeo como origem outra perspectiva se desenvolveu no

sentido de se criar uma visatildeo das regiotildees ndash a corografia ldquoo modelo de Estrabatildeo eacute

considerado como histoacuterico-descritivo em oposiccedilatildeo agravequele de Ptolomeu tido como

matemaacutetico-cartograacutefico Estes dois autores fundaram entatildeo duas escolas de

Geografia que conviveram lado a lado ateacute a revoluccedilatildeo cientiacuteficardquo de modo que

ldquocertos geoacutegrafos procuraram reunir ao mesmo tempo os princiacutepios gerais

cosmograacuteficos e as descriccedilotildees regionais corograacuteficas integrando assim em uma

mesma obra essas duas abordagens ateacute aiacute distintasrdquo sendo justamente a

construccedilatildeo dessa imagem do mundo que vai figurar nos tratados de Geografia do

seacuteculo XVIII ao seacuteculo XIX adentro ldquoesta concepccedilatildeo eacute talvez a origem da

aproximaccedilatildeo retida pelos manuais tradicionais de geografia moderna que fazem

figurar em geral uma cosmografia seguida de descriccedilotildees regionaisrdquo (GOMES 2000

p 130) o que sem duacutevida foi o modelo dos manuais didaacuteticos de Geografia

No sentido corograacutefico no Brasil a obra de Ayres de Casal foi o expoente e

a perspectiva dominante no seacuteculo XIX serviu de modelo ao ter amplamente

utilizada sua estrutura de regionalizaccedilatildeo do territoacuterio por proviacutencias das quais se

indicava por vezes com certo contexto histoacuterico as principais descriccedilotildees poliacuteticas e

fiacutesicas sofrendo apenas atualizaccedilotildees Anterior ainda a Ayres e tambeacutem influente

haacute os saberes produzidos pela empresa colonial portuguesa (ISSLER 1973)

embora tenham sido amplamente sintetizadas por Casal E por quase um seacuteculo a

obra de Casal referenciou direta ou indiretamente a concepccedilatildeo geograacutefica escolar e

tambeacutem a produccedilatildeo geograacutefica como um todo haja vista que seu modelo foi

impregnado nas produccedilotildees do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Rio de Janeiro

fundado em 1838 e reproduzido nos institutos da mesma estirpe fundados nas

proviacutencias (ISSLER 1973 VLACH 1988)

A Geografia escolar descritiva foi rigorosamente criticada em 1882 por Rui

Barbosa no Parecer e projecto de reforma do ensino primario

Para mostrar quatildeo infinitamente longe estamos desses modelos bastaraacute folhear alguns dos nossos manuais elementares de geografia Tomemos por exemplo a Pequena Geografia da Infacircncia composta para uso das escolas primaacuterias Depois de algumas definiccedilotildees geomeacutetricas que ocupam as duas primeiras paacuteginas do texto outras definiccedilotildees constituem o introacuteito definiccedilatildeo da geografia das linhas e ciacuterculos do globo dos poacutelos de horizonte clima latitude longitude e estaccedilotildees do ano continente regiatildeo paiacutes ilha peniacutensula cabo istmo monte montanha serra vulcatildeo mar oceano golfo estreito mancha passo lago e rio Enfiando este rosaacuterio de abstraccedilotildees ininteligiacuteveis ao espiacuterito despreparado da crianccedila segue-selhe imediatamente a tarefa de decorar o nuacutemero total de quilocircmetros e habitantes em cada continente a lista das religiotildees e raccedilas humanas com a sua distribuiccedilatildeo pelas vaacuterias partes e Estados que se pressupotildeem assim conhecidos antes de aprendidos as fases da civilizaccedilatildeo e as formas de governo rematando tudo pelo questionaacuterio de costume Entatildeo em vez de principiar pelo municiacutepio pela proviacutencia ou pelo paiacutes o curso consagra as suas primeiras liccedilotildees agrave Europa agrave Aacutesia agrave Aacutefrica agrave Ameacuterica (onde o disciacutepulo repete simplesmente o nome da paacutetria confundindo sem uma palavra de distinccedilatildeo entre os demais Estados) e agrave Oceania para depois recomeccedilando estudar a geografia particular de todos os paiacuteses das cinco partes do mundo e soacute no fim receber notiacutecias do seu O ensino por nomenclatura domina exclusivamente salvo algumas observaccedilotildees frias e sem cor acerca do aspecto fiacutesico e indicaccedilatildeo dos sistemas de governo tudo o mais reduz-se agrave reparticcedilatildeo monoacutetona dos cultos e das famiacutelias humanas por entre as diversas naccedilotildees cabendo poreacutem quasi todo o espaccedilo agrave enumeraccedilatildeo das terras e aacuteguas Na geografia geral a grande questatildeo o empenho quasi absoluto do curso estaacute em gravar na memoacuteria os nomes de todos os paiacuteses mares golfos estreitos lagos rios montes ilhas peniacutensulas cabos cerca de mil Na geografia particular recrudesce a impertinecircncia e a preocupaccedilatildeo fixa invariaacutevel de decorar e soacute decorar [] Praticado assim pelo bordatildeo da rotina o ensino da geografia eacute inuacutetil embrutecedor Nulo como meio de cultura incapaz mesmo de atuar duradoramente na memoacuteria natildeo faz senatildeo oprimir canccedilar e estupidificar a infacircncia em vez de eclarececirc-la e educaacute-la (BARBOSA 1946 p 306-307)

Em termos gerais essa situaccedilatildeo do ensino se estendia para o ensino

secundaacuterio e caracteriza os livros em geral do periacutedo imperial Todavia eacute no final

desse periacutedo que novas ideias pedagoacutegicas comeccedilam a surgir influenciando a

praacutetica da educaccedilatildeo Para a Geografia comeccedilou-se a introduzir a cartografia como

auxiliar do ensino o que se fez a partir dos chamados processos intuitivos ldquo[] o

ensino pelo aspecto como iniciaccedilatildeordquo (PROENCcedilA 1928 p 31) embora de modo

muito esparso e na iniciativa privada Houve inclusive certo exagero a ponto de se

imaginar que ensinar Geografia seria ensinar cartografia Extensivo ateacute as primeiras

deacutecadas do seacuteculo XX fundamentada na Geografia descritiva assim seraacute o ensino

de Geografia

Os nossos professores ainda vivem um tanto escravizados pelos compendios natildeo haacute trabalho systematizado de intuiccedilatildeo directa ou indirecta a cartographia ou se desenvelve independentemente da geographia ou

usurpa-lhe a lugar deixando em segundo plana aquillo que deve constituir propriamente o saber geographico Eis approximadamente o nossa estado actual quanta ao ensino de geagraphia (PROENCcedilA 1928 p 32)

A Geografia descritiva engendrada nessa tradiccedilatildeo apenas declinou na

passagem para o seacuteculo XX quando houve importantes movimentaccedilotildees na

concepccedilatildeo e conhecimento geograacutefico em circulaccedilatildeo nos meios intelectuais e

quando particularmente no contexto escolar houve mudanccedilas pedagoacutegicas nos

meacutetodos e objetivos do ensino Desse periacuteodo ficou uma praacutetica escolar da

Geografia organizada na nomenclatura na enumeraccedilatildeo dos fatos geograacuteficos na

descriccedilatildeo formal e informativa do espaccedilo (PRADO Jr 1945) que apesar disso

construiu uma tradiccedilatildeo lanccedilou bases soacutelidas que extrapolaram os limites da escola

e permitiu reaccedilotildees para ampliar as fronteiras da Geografia escolar como veremos

adiante

422 A bibliografia didaacutetica de Geografia no Impeacuterio

No ano seguinte agrave Independecircncia poliacutetica do Brasil haacute iniacutecio de fato da

publicaccedilatildeo de obras que principiam a construccedilatildeo do gecircnero discursivo da Geografia

escolar Entatildeo comeccedilava de certa forma a haver um afrouxamento no controle

sobre a publicaccedilatildeo de obras imposto pela colonizaccedilatildeo portuguesa de modo que em

oficinas proacuteprias ou mandados imprimir na Europa comeccedilavam a surgir tiacutetulos que

interessavam ao puacuteblico e agraves causas nacionais Havendo jaacute instituiccedilotildees de ensino

superior e muitas outras surgiriam os cursos preparatoacuterios esboccedilavam uma

demanda escolar

Nesses termos a primeira obra escolar de Geografia a vir a lume foi a Breve

introducccedilatildeo ao estudo de Geographia adaptado ao uso dos mappas francezes e

inglezes Offerecida a S M o Senhor D Pedro I de 1823 escrita pelo padre

Guilherme Paulo Tilbury82 radicado no Brasil que atuava como professor dessa

82

Guilherme Paulo Tilbury [Tillbury] ndash Nascido William Paul Tilbury na Inglaterra Guilherme Paulo Tilbury (1784-1863) converteu-se ao catolicismo e se formou padre seguindo como missionaacuterio para o Rio de Janeiro onde faleceu Aleacutem da Breve introducccedilatildeo foi autor de Breve explicaccedilatildeo sobre a grammatica tambeacutem de 1823 Foi professor do Seminaacuterio Satildeo Joseacute professor puacuteblico de Liacutengua

mateacuteria inclusive como preceptor da famiacutelia real Talvez por esta ligaccedilatildeo a obra foi

editada na Tipografia Nacional antiga Impressatildeo Reacutegia e provavelmente circulou no

acircmbito da atuaccedilatildeo docente do autor na Corte

No ano seguinte outro professor dessa mateacuteria Bazilio Quaresma

Torreatildeo83 editou em Londres o Compendio de Geographia universal Rezumido de

diversos authores e offerecido aacute mocidade brazileira Ainda em 1824 tem-se a

primeira traduccedilatildeo de uma obra escolar de Geografia por autor natildeo identificado as

Noccedilotildees elementares de Geographia por hum antigo professor da Universidade de

Paris impressas no anno de 1820 e tradusidas em 1823 por hum brasilianno para

instrucccedilatildeo da mocidade do Brasil

Essas obras iniciais instrumentalizavam notadamente o professor e o

ensino avulso da mateacuteria tendo uma circulaccedilatildeo local

Uma questatildeo importante que percebo eacute a preocupaccedilatildeo com uma abordagem

regional da Geografia A Bahia foi a primeira das proviacutencias a apresentar uma

preocupaccedilatildeo com o ensino de sua territorialidade como atestam as primeiras obras

regionais publicadas para esse fim A primeira delas foi uma reproduccedilatildeo da

Corografia de Ayres de Casal da qual se recortou por inteiro um de seus capiacutetulos

sobre a Bahia publicado como volume independente para o ensino em

estabelecimentos da proviacutencia em 1826 Muito da obra de Casal eacute facilmente

perceptiacutevel na outra produccedilatildeo regional em Corografia ou abreviada historia

geographica do imperio do Brasil coordenada acrescentada e dedicada aacute casa pia

e collegio dos orfatildeos de S Joaquim desta cidade Para uso de seos alumnos a fim

de adquirirem conhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em geral e seo

descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente da provincia

e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos publicada por Domingos Jose

Antonio Rebello84 em 1829

Francesa e Geografia e capelatildeo da Divisatildeo Militar da Guarda Imperial da Poliacutecia Aleacutem dos livros didaacuteticos eacute lembrado ter lecionado liacutengua inglesa a D Pedro I e ter sido preceptor das princesas D Maria Teresa D Maria Isabel D Maria Francisca D Isabel Maria D Maria da Assumpccedilatildeo e D Ana de Jesus irmatildes de D Pedro (SILVA 1870 SOUSA 1972 ACCIOLI TAUNAY 1973)

83 Confira informaccedilotildees sobre este autor no Capiacutetulo 6 desta tese

84 Domingos Joseacute Antonio Rebello ndash natildeo haacute precisatildeo sobre seu nascimento e falecimento apenas

se sabe que nasceu em fins do seacuteculo XVIII Foi comerciante atuando na Bahia como diretor da Companhia de Seguros Commercio Mariacutetimo a Corografia eacute sua uacutenica obra (BLAKE 1893)

Uma caracteriacutestica comum a muitas obras do periacuteodo era ser escrita para

um consumo local ou para um puacuteblico restrito como acontece com a obra de

Rebello dedicada aacute casa pia e collegio dos orfatildeos de S Joaquim da cidade de

Salvador os Elementos de Geographia de Santa Gertudres (1840) escrito para as

escolas primaacuterias do Rio de Janeiro o Dialogo geographico de Brandatildeo (1850)

escrito para as alunas do Coleacutegio de Satildeo Joatildeo situado na cidade de Satildeo Cristovatildeo

(RJ) ou as Noccedilotildees e depois Compendio de Geographia de Albuquerque (1856

1880) para uso na Proviacutencia de Pernambuco Talvez por essa razatildeo por ser uma

produccedilatildeo de consumo local portanto fora de uma estrateacutegia comercial integrada se

tenha reclamado tanto da insuficiecircncia de materiais geograacuteficos para o ensino

Entre as deacutecadas de 1830 e 1850 os autores que mais se destacaram pelo

menos quanto agrave aceitaccedilatildeo adoccedilatildeo e reediccedilotildees foram Thomaz Pompeu de Souza

Brasil (pai) Abbade Gaultier Joatildeo Henrique Freese e Luis Antonio Burgain Destes

possivelmente o mais influente tenha sido Pompeu Brasil seguido de Gaultier

Nesses anos se teraacute um aumento progressivo do conjunto de obras e um lento

amadurecimento dessa produccedilatildeo Uma visatildeo panoracircmica do periacuteodo curiosamente

revela um predomiacutenio de Geografias gerais contra compecircndios corograacuteficos eacute o

caso de Lima (1830) Lisboa (1830) Beaurepaire (1835) Um Official General do

Exercito (1835) Oliveira (1836) Poelitz (1839) Resumo de Histoacuteria Universal para

uso da aula drsquoHistoacuteria e Geographia (1839) Souza (1845) Brasil (1851) Abbade

Gaultier (1855) dentre outros opondo-se aos trabalhos corograacuteficos de Brandatildeo

(184-) Bellegarde (1840) Freese (1842) e outros embora as Geografias gerais

evidentemente destaquem bem o Brasil Isso porque as primeiras produccedilotildees de

manuais de Geografia destinam-se precipuamente para o ensino secundaacuterio que

tem com o ensino superior alguma atenccedilatildeo do Estado Portanto eacute maior a

produccedilatildeo para o ensino secundaacuterio se comparada agrave produccedilatildeo para o ensino

primaacuterio

Apenas em 1836 surgiram os primeiros livros produzidos diretamente para o

ensino primaacuterio com o Compendio de Geographia elementar Para uso das escolas

brazileiras de Pereira no Rio de Janeiro e em Recife o Compendio de Geographia

para uso das aulas de primeiras letras de autor natildeo identificado Na deacutecada

seguinte vieram outros como o de Santa Gertrudes (1840) e Cavalcanti (1846) Eacute a

esse tempo que o ensino primaacuterio comeccedila a desprender-se da alfabetizaccedilatildeo e

primeiras instruccedilotildees gerais e passa a ser organizado como um preparatoacuterio para o

ensino secundaacuterio e para uma formaccedilatildeo elementar85 Na bibliografia ainda eacute

perceptiacutevel a forte influecircncia das aulas avulsas (que poderiam ser ministradas nas

instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas sob regecircncia bem como por estudos individuais)

nessas circunstacircncias identifica-se uma obra como a de Souza (1845) Nocccedilotildees

elementares de Geographia astronomica physica e politica redigidas segundo um

novo plano methodico theorico e pratico e adaptadas para servir de compendio nas

academias lyceos etc como para ministrar os rudimentos de Geographia

propriamente dita sem auxilio e dependecircncia de professor cujo tiacutetulo por si soacute eacute

esclarecedor quanto agrave forma de aprendizado geograacutefico Afinal o que importava

eram os exames de admissatildeo seja no secundaacuterio seja no ensino superior

Na deacutecada de 1830 situaccedilatildeo permanente por muitos dececircnios ainda livros

configuram a irmandade entre Geografia e Histoacuteria ndash uma caracteriacutestica geral dessas

disciplinas a princiacutepio Traduzida e adaptada por Julio Frank86 em 1839 publicou-se

o Resumo da Histoacuteria Universal para uso da aula de Historia e Geographia de H L

Poelitz87 e sem autoria declarada Resumo da Histoacuteria Universal para uso da aula

de hrsquoHistoria e Geographia

A histoacuteria do livro de Julio Frank eacute esclarecedora do processo de emergecircncia

e produccedilatildeo de muitos manuais nessas deacutecadas iniciais A obra nasceu das

anotaccedilotildees feitas para as aulas que ministrava nos preparatoacuterios do Curso Anexo agrave

Faculdade de Direito de Satildeo Paulo Essas anotaccedilotildees eram feitas a partir da leitura e

estudo de um original alematildeo de autoria de H L Poelitz Com as devidas licenccedilas

governamentais publicou o volume em 1839 mas agrave exceccedilatildeo de outros autores

contemporacircneos natildeo assumiu a autoria do livro apenas situando-se nele como

adaptador

85

O livro Noccedilotildees elementares de Geographia compiladas para uso das escolas primarias de Zaluar a esse propoacutesito ldquoeacute escripto de accocircrdo com os pontos de Geographia que satildeo hoje preparatoacuterio para a matricula do primeiro anno do Collegio de Pedro IIrdquo (ZALUAR 1880)

86 Julio Frank ndash nasceu na Alemanha em Gotha em 08 de dezembro de 1808 e faleceu em Satildeo

Paulo em 19 de junho de 1841 Foi professor de Histoacuteria e Geografia nos preparatoacuterios do Curso Anexo da Academia de Direito de 1834 ateacute o ano do seu falecimento Apoacutes chegar ao Brasil fugindo de problemas financeiros em seu paiacutes trabalha no comeacutercio e ministra aulas particulares para estudantes que prestariam exames na Academia de Direito de satildeo Paulo (SCHMIDT sd MUumlLLER 1978 SERQUEIRA 1841)

87 H L Poelitz ndash historiador e geoacutegrafo alematildeo

Quando natildeo fazia visitas aos amigos das outras ldquorepuacuteblicasrdquo nem estendia o passeio ao Chico Ilheacuteu passava as horas sem sono a escrever liccedilotildees de Histoacuteria que no dia seguinte durante as aulas repetia aos alunos Assim dentro de pouco quase sem dar por isso jaacute havia acumulado mateacuteria para um compecircndio Entatildeo lembrando-se talvez do tempo do Goettingue teve ideacuteia de publicaacute-lo Com esse intuito dirigiu-se em 1837 ao governo explicando na peticcedilatildeo que o fazia para remediar a carecircncia de livros sobre a mateacuteria com que lutavam os estudantes O primeiro volume do compecircndio foi enfim publicado e trazia na capa os seguintes dizeres ldquoResumo de Histoacuteria Universal mdash Para uso da Aula de Histoacuteria e Geografia da Academia de Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais desta Cidade de S Paulo mdash Vol I mdash Contendo a Histoacuteria Antiga e da Idade Meacutedia mdash Impresso na Tipografia de M F Costa Silveira mdash Rua S Gonccedilalo n 14 mdash S Paulo mdash 1839rdquo As liccedilotildees contidas nesse volume eram adaptadas do historiador alematildeo H L Poelitz por isso nele natildeo figurava o nome de Juacutelio Frank que era de inacreditaacutevel modeacutestia (SCHMIDT sd p 40)

Na eacutepoca eram comuns livros de conhecimentos destinados ao puacuteblico em

geral sem visar propriamente a uma clientela escolar poreacutem sem necessariamente

excluiacute-la os quais eram denominados ldquocatecismosrdquo como estes identifiquei dois

para a Geografia ndash Novo Cathecismo geograacutefico brasileiro Offerecido aos senhores

pais de famiacutelia e professores de ambos os sexos de Gouvecirca (1832) e Cathecismo

de Geographia de Muller (1835) Surgem em um momento em que a Geografia de

certa forma potildee-se socialmente em evidecircncia

Nos anos 1840 surgiram algumas obras que mereceram reediccedilotildees

posteriores embora estas fossem com espaccedilamento agraves vezes superior a uma

deacutecada Eacute o caso de Antonio Pinto da Costa de Souza Brandatildeo88 (184- 1852) e

Joatildeo Henrique Freese89 (1842 1868 e 187190)

Na deacutecada seguinte nos anos 1850 surge um autor emblemaacutetico desse

periacuteodo Thomaz Pompeu de Souza Brasil que publicou Elementos de Geographia

Offerecidos agrave mocidade cearense em 1851 Surgiu como uma obra regional mas

que a partir da segunda ediccedilatildeo de 1856 passou a ser adotado no Coleacutegio Pedro II

e em outros liceus do paiacutes Sua uacuteltima ediccedilatildeo foi de 1869 O Compendio Elementar

de Geographia Geral e Especial do Brasil primeiro tiacutetulo da obra foi escrito no

contexto das atividades docentes do autor que era lente de Geografia no Liceu do

88

Antonio Pinto da Costa de Souza Brandatildeo ndash autor desconhecido

89 Joatildeo Henrique Freese ndash cidadatildeo inglecircs estabelecido no Brasil foi negociante e educador sendo

proprietaacuterio de um Instituto Colegial em Nova Friburgo (RJ) Eacute lembrado por ter obtido do Impeacuterio concessotildees para abrir uma estrada de ligaccedilatildeo entre Nova Friburgo Cantagalo e Macaeacute (MORAIS 2010)

90 Haacute ainda outra ediccedilatildeo cujo ano natildeo consegui identificar

Cearaacute Esse comportamento foi tiacutepico entre os sujeitos autores da bibliografia que

organizavam e editavam livros a partir de suas anotaccedilotildees e planejamento de aula

As duas primeiras ediccedilotildees do Compendio de Brasil foram organizados pelo

meacutetodo dialogiacutestico tambeacutem conhecido como meacutetodo Gaultier O Abbade Gaultier

traduzido por portugueses foi muito influente em ambos os lados do oceano No

Brasil chegou em 1838 e permaneceu reeditado ateacute a deacutecada de 1870 A obra de

Estaacutecio de Saacute Menezes tambeacutem foi organizada por esse meacutetodo e muitas outras

De acordo com esse meacutetodo as obras estruturavam-se em liccedilotildees natildeo capiacutetulos os

quais eram sequenciados por perguntas e respostas ndash um diaacutelogo automaacutetico entre

mestres e alunos

Intelectualmente Thomaz Pompeu de Souza Brasil situava-se em um

ecletismo cuja ldquo[] alquimia de ideacuteias ateacute certo ponto antagocircnicas ocorria pela

hibridaccedilatildeo da teologia catoacutelica com elementos de uma educaccedilatildeo esteacutetica fundada no

romantismo e conhecimentos voltados para uma accedilatildeo eminentemente pragmaacutetica

tiacutepica do liberalismordquo (SOUZA NETO 1997 p 24) Talvez por isso alguns aspectos

da obra tenham escandalizado Issler (1973) quando fazendo a primeira revisatildeo

criacutetica desse livro deparou-se a partir de um olhar da Geografia cientiacutefica com

fragmentos tais como esse

A Aacutesia eacute o paiz das faacutebulas dos sonhos e das imaginaccedilotildees phantaacutesticas se o judaiacutesmo e o cristianismo nasceratildeo alli em compensaccedilatildeo que cousas extravagantes e absurdas natildeo foram inventadas como religiatildeo por todos os povos asiaacuteticos As crenccedilas mais espalhadas satildeo o Boudhismo o Brahmanismo o Islamismo o Christianismo o Judaismo a dos Espiritos de Confucio dos Magos de Sintoacute etc (BRASIL 1864 p 196)

Como exemplo da descontextualizaccedilatildeo com que a maior parte da bibliografia

didaacutetica antiga de Geografia tem sido tratada e que vale a pena abordar aqui pois

haacute certa unidade na forma expressional e na organizaccedilatildeo dos conteuacutedos desse

periacuteodo Issler (1973 p 43) apoacutes elencar algumas distorccedilotildees de conteuacutedos e

sequecircncias discursivas assim conclui sobre os Elementos de Pompeu

Eacute o retorno agrave literatura fantaacutestica medieval com o sabor das aventuras de Marco polo O autor de imaginaccedilatildeo feacutertil e desinibida estava oferecendo como Geografia um produto que jaacute em sua eacutepoca era inacreditaacutevel os exageros e disparetes apresentados na obra natildeo satildeo encontrados nem mesmo nos mais exagerados cronistas de alguns seacuteculos antes

Se compreendido a partir da perspectiva da Geografia moderna cientiacutefica eacute

isso mesmo Todavia se recolocado em seu contexto a anaacutelise enriquece e

aproxima-se uma compreensatildeo mais adequada Pois se deve considerar o sujeito

dessa enunciaccedilatildeo religioso padre enunciando de um contexto no qual o

catolicismo era religiatildeo de Estado e a uacutenica aceita E a grande forccedila intelectual ativa

no Brasil desse periacuteodo eacute o Romantismo aacutegil em idealizar lugares e situaccedilotildees Eacute o

encontro da ldquoteologia catoacutelicardquo com a ldquoeducaccedilatildeo esteacuteticardquo como lembra Souza Neto

(1997)

Em seu juiacutezo criacutetico Issler prossegue identificando a utilizaccedilatildeo de Ayres de

Casal como modelo na parte referente ao Brasil e o meacutetodo de produccedilatildeo

transcriccedilotildees com algumas alteraccedilotildees Corrigido alterado pelas contigecircncias pouco

criticado seraacute Ayres de Casal a grande referecircncia para a contruccedilatildeo de uma imagem

do paiacutes na maioria das abordagens sobre o Brasil

Nos anos 1860 editado duas vezes nessa deacutecada e em outros anos ateacute

1902 temos em destaque as Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o

methode Gaultier de Estaacutecio de Saacute Menezes (pseudocircnimo de Joaquim Caetano

Fernandes Pinheiro) e aleacutem dele Pedro Joseacute de Abreu adotado no Coleacutegio Pedro

II e regionalmente Eudoro Brazileiro Berlink cujo compecircndio versando sobre o Rio

Grande do Sul teraacute uma boa aceitaccedilatildeo naquela proviacutencia Em 1863 o Baratildeo de

Macahubas (Abiacutelio Cezar Borges) um dos mais destacados educares dos

oitocentos publicou um volume de Geografia tratou-se de uma publicaccedilatildeo restrita a

uma instituiccedilatildeo baiana e com um recorte temaacutetico a Geografia Fiacutesica pelo que natildeo

teve a repercussatildeo de outros para outras disciplinas que escreveu amplamente

aceitas

Nos anos 1870 jaacute no fim de sua vida surgem os livros de Joaquim Maria de

Lacerda sem duacutevida o maior fenocircmeno da bibliografia didaacutetica de Geografia no

seacuteculo XIX cujas obras somente foram depostas no seacuteculo seguinte Jaacute eacute notaacutevel

nessa deacutecada a presenccedila de editoras comerciais sendo a maioria editada no Rio

de Janeiro

Os anos 1880 marcam o auge da produccedilatildeo bibliograacutefica da Geografia

escolar no seacuteculo XIX 44 tiacutetulos satildeo publicados Destacam-se Frere Ignace Chaput

(FIC) traduzido do francecircs Alfredo Moreira Pinto e Raul Villa-Lobos

423 A formaccedilatildeo do curriacuteculo escolar de Geografia no Impeacuterio

Nos anos iniciais da bibliografia natildeo havia proposiccedilatildeo curricular como se

teria apoacutes o estabelecimento do Coleacutegio Pedro II em fins da deacutecada de 1830 como

se teve na fundaccedilatildeo da Real Academia Militar em 1810 Da histoacuteria dos curriacuteculos

tem-se a institucionalizaccedilatildeo frequentemente como regra normatizadora dos

conteuacutedos No entanto pode-se tomar a obra de Bazilio Quaresma Torreatildeo91

Compendio de Geographia Universal se natildeo como a primeira proposta curricular

realizada como uma das mais completas desse tempo para o ensino de base Veja-

se no Quadro 14 a plataforma descritiva do curriacuteculo executado por este autor

Em uma versatildeo mais enxuta essa eacute a estrutura e forma de abordagem do

universo geograacutefico presente em Pinkerton (1804a 1804b) Tomando para exemplo

a abordagem sobre o clima em Portugal desconsiderando-se as descriccedilotildees

teacutecnicas vemos a seguinte enunciaccedilatildeo neste autor (1804a p 432) ldquoClimate and

seasons The climate of Portugal is familiarly known to be most excellent and

salutary []rdquo na versatildeo francesa ldquoClimat et saisons Tout le monde sait que le climat

du Portugal est singuliegraverement salubrerdquo (PINKERTON 1806 p 274) em Torreatildeo

(1824 p 62) ldquoPortugal que antigamente se chamava Luzitacircnia92 he hum dos

Paizes da Europa o mais execellente e o mais proprio para satisfazer as precisotildees e

comodidades da vida pela temperatura e salubridade do seu ar []rdquo

Em uma formaccedilatildeo discursiva mais ampla a dos tratados geograacuteficos e

tambeacutem no discurso didaacutetico de ampla aceitaccedilatildeo na eacutepoca como o francecircs

desenvolve-se sobre o clima de Portugal a ideia da salubridade (pois dessa forma o

clima de acordo com suas caracteriacutesticas era descrito e avaliado) como fato

ldquofamiliary known to be mostrdquoldquotout le mond saitrdquo que na enunciaccedilatildeo de Torreatildeo

91

Bazilio Quaresma Torreatildeo ndash nasceu na proviacutencia de Pernambuco em Olinda em fins do seacuteculo XVIII e faleceu em 1867 no Rio de Janeiro Foi poliacutetico brasileiro presidente da Proviacutencia da Paraiacuteba Tambeacutem atuou como professor de Geografia e Histoacuteria sendo relatado possuir grande erudiccedilatildeo nessas mateacuterias Integrou os rebeldes de 1817 que queriam a independecircncia da proviacutencia de Pernambuco Enquanto preso na Bahia em companhia do Frei Caneca lecionou trecircs cursos de Geografia e escreveu seu compendio o segundo no Brasil bem recebido pela criacutetica da eacutepoca e editado em Londres para onde se exilou por participar de outra rebeliatildeo em 1824 No exiacutelio residiu em outros paiacuteses europeus aleacutem da Inglaterra Quando retornou na deacutecada seguinte presidiu a proviacutencia do Rio Grande do Norte (1833-1836) e a da Paraiacuteba (1836-1838) Enquanto presidente do Rio Grande do Norte fundou o Atheneu Norte-Riograndense em 1834 Apoacutes 1838 atuou como deputado do Impeacuterio no Rio de Janeiro ndash (BLAKE 1883 BOLIGIAN 2010)

92 Em Pinkerton igualmente haacute consideraccedilotildees sobre os nomes antigos de Portugal

assume uma forma direta (verbo conjugado sem nenhuma condicional modal e

dispensando o reconhecimento do senso comum) sobrepondo a qualquer outro

europeu como ldquoo mais excellente e o mais proacutepriordquo concretizando um forte efeito de

sentido sobre sua salubridade sobretudo porque a ldquosingularidaderdquo como efeito no

discurso francecircs e a determinaccedilatildeo ldquoto be mostrdquo no discurso didaacutetico brasileiro se

diferencia pela determinaccedilatildeo do artigo ldquoardquo que atribui agrave sequecircncia discursiva uma

exclusividade que natildeo tem nas outras enunciaccedilotildees Eacute um momento o da produccedilatildeo

dessa obra em que os viacutenculos entre Brasil e Portugal satildeo sem duacutevida ainda muito

importantes Sobretudo trata-se de um diferencial que alccedila Portugal ndash origem

etnograacutefica importante para o povo brasileiro ndash por sobre todos os outros paiacuteses de

clima temperado quanto a esse criteacuterio

QUADRO 14 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Compendio de Geographia Universal rezumido de diversos authores e offerecido a mocidade brazileira de Bazilio Quaresma Torreatildeo 1824

Conteuacutedos GEOGRAFIA ASTRONOcircMICA Dos ceacuteos dos Astros e do Systema de Copernico Das differentes posiccedilotildees da Esfeacutera Das dimensotildees do Glocircbo Terrestre Do uso do Glocircbo Achar a Latitude dos Lugares Achar a Longitude dos Lugares Achar a distancia de dois lugares no Glocircbo Achar que horas satildeo em hum lugar quando he Meio dia em outro Achar a hora em que o Soacutel nasce e se potildeem em qualquer lugar da Terra Achar os Pericioanos Achar os Antecianos Achar os Antipodas GEOGRAFIA FIZICA E POLIacuteTICA Definiccedilotildees de differentes porccedilotildees de Terra e de Mar Religiatildeo Governo EUROPA - Golpe de vista Situaccedilatildeo Limites Extensatildeo e Populaccedilatildeo Mares e Gocirclfos Rios e Canaes Montanhas e Volcotildees Cabos e Estreitos Lagos Ilhas Peninsulas e Isthmos Divisatildeo Geral da Europa Portugal ndash situaccedilatildeo e limites Clima e Caracter dos Habitantes Governo Religiatildeo e Populaccedilatildeo Divisatildeo Geral Topographia Hespanha - Franccedila - Alemanha Confederaccedilatildeo Germanica - Imperio DrsquoAustria - Italia - Suiccedila - Paizes Baixos - Ilhas Britanicas - Denamarca - Suecia - Russia - Prussia - Imperio Turco - Ilhas da Europa - AZIA - Russia drsquoAzia - Imperio da China - Imperio do Japam - India - Persia - Arabia - Turquia Aziatica - Ilhas drsquoAzia - AFRICA - Africa do Norte - Aacutefrica a Leacuteste - Africa ao Sul - Africa ao Oeste Africa ao Centro - Ilhas drsquoAfrica - AMERICA SEPTENTRIONAL - Groelanda - Nova Bretanha - Canada - Nova Escossia - Costa do Noroeste - Estados Unidos - (acresce uma ldquoidea histoacutericardquo e descriccedilatildeo de todos os estados) Florida - Mexico - Campo do Asilo - Ilhas da America Septentrional - America Meridional - Novo Reino de Granada - Peru - La Plata - Antigo Chile - Patagotildees - Guyena - Paiz da Amazonas - Brazil ndash para cada proviacutencia descreve situaccedilatildeo extensatildeo limites uma ideacuteia histoacuterica clima terreno producccedilatildeo e commeacutercio habitantes governo religiatildeo populaccedilatildeo divisatildeo geral topographia aspecto do paiz [sic] rios ilhas lagocircas producccedilotildees e commeacutercio governo e subdivisatildeo Ilhas da America Meridional -

Fonte Torreatildeo (1824) Org Jeane Medeiros Silva 2012

Jaacute entatildeo se tinha o pensamento que seria acentuado quando do

determinismo geograacutefico em fins do seacuteculo XIX sobre as vantagens e desvantagens

do clima como fator geograacutefico formador da iacutendole de um povo (MACHADO 2000)

O que faz muito sentido quando Torreatildeo enquadra na mesma entrada o clima e o

Caracte r dos Habitantes exposto o clima afirma ldquoos Portuguezes em geral

satildeo polidos Generosos soacutebrios e melancoacutelicos e ainda que amatildeo a ostentaccedilatildeo

satildeo bravos e dados aacutes Artesrdquo (1824 p 63)

Essa construccedilatildeo se prolonga por outras obras em muitas das deacutecadas

seguintes ou simplesmente desaparece Na obra de Brasil (1864 p 158) o autor

considera que sobre Portugal ldquo[] o clima eacute benigno temperado e saudavel na

seacutetima ediccedilatildeo do Curso Methodico de Geogaphia Lacerda (1898 p 171) afirma ldquoO

clima de Portugal eacute temperado e saudaacutevel excepto em alguns siacutetios pantanososrdquo

Novaes (1929 p 322) apoacutes caracterizar o clima portuguecircs conclui ldquoem geral o

clima eacute satildeordquo ao passo que nenhuma consideraccedilatildeo sobre o clima de Portugal pode

ser encontrada em Scrosoppi (1915) e Lobo (1927) Estaacute em Torreatildeo uma aceitaccedilatildeo

teoacuterico-ideoloacutegica que se reproduz ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a

despeito dos avanccedilos sobre a questatildeo do clima que descartaram essa noccedilatildeo

valorativa Um sentido que desentranhado de suas origens se reproduz se altera

se preserva e desaparece mas somente apoacutes uma longa permanecircncia e apoacutes o

surgimento de outros contextos histoacutericos

Essas permanecircncias satildeo constantes e algumas inclusive atuais Eacute notaacutevel

a esse propoacutesito que jaacute na fundaccedilatildeo de um discurso didaacutetico brasileiro de Geografia

operavam certos indicadores de valores que passados diversos movimentos e

feiccedilotildees geograacuteficas e do ensino geograacutefico constatei na anaacutelise desse discurso na

contemporaneidade em minha dissertaccedilatildeo de mestrado Naquela ocasiatildeo analisei

dois capiacutetulos de um corpus didaacutetico um denominado ldquoAacutefricardquo e outro ldquoEstados

Unidos a superpotecircncia mundialrdquo percebi neles sobre o estabelecimento do espaccedilo

discursivo um capiacutetulo dado a um continente em sua totalidade e um outro para um

uacutenico paiacutes A distinccedilatildeo natildeo se limitava a esse aspecto formal pois jaacute nos tiacutetulos se

percebia um silenciamento no capiacutetulo africano (um uacutenico lexema ldquoAacutefricardquo) e uma

projeccedilatildeo qualitativa no tiacutetulo do capiacutetulo americano seguindo no fio do discurso

efeitos de sentidos contraditoacuterios e mesmo preconceituosos negativando a Aacutefrica e

positivando os Estados Unidos (SILVA 2006) De qualquer forma ali o valor poliacutetico

da contemporaneidade definia a forma de construir estas regionalidades

notadamente o espaccedilo discursivo a elas delimitado Na organizaccedilatildeo discursiva de

Torreatildeo nota-se jaacute o mesmo padratildeo de abordagem regional com destaque para os

paiacuteses considerados importantes e aglutinaccedilatildeo de outros natildeo tatildeo considerados em

blocos regionais Em especiacutefico sobre o Brasil Torreatildeo de fato fez uma siacutentese

bastante acentuada da uacutenica fonte que declara a obra de Ayres de Casal

Publicando sua obra em 1817 Casal aborda 21 proviacutencias ao passo que Torreatildeo

discorre sobre 15 Para cada uma delas como demonstrado no Quadro 14

descreve situaccedilatildeo extensatildeo limites uma ideacuteia histoacuterica clima terreno producccedilatildeo

e commeacutercio habitantes governo religiatildeo populaccedilatildeo divisatildeo geral topographia

aspecto do paiz [sic] rios ilhas lagocircas producccedilotildees e commeacutercio governo e

subdivisatildeo Resume praticamente os principais fatos histoacutericos a onomaacutestica e as

principais caracteriacutesticas fiacutesicas naturais e poliacuteticas dessas regiotildees

A estrutura da obra de Ayres de Casal (1817a 1817b) lanccedilou as bases do

curriacuteculo corograacutefico sobre o Brasil assim como Pinkerton e de La Croix

introduzidos no ensino de Geografia da Real Academia Militar e possivelmente

outros autores como os geoacutegrafos italiano Adrien Balbi (1782-1848) e o geoacutegrafo

alematildeo Conrad Malte-Brun (1755-1826) geoacutegrafos muito populares na Europa e no

Brasil (presentes nas principais bibliotecas do paiacutes) estabelecerem as bases de uma

Geografia geral para o ensino dessa disciplina

O modelo de Casal eacute levado ainda mais a termo na obra de Rabello (1829)

conforme se pode ver no Quadro 15 Esta obra pode ser considerada como a

primeira produccedilatildeo didaacutetica de Geografia de fato com enfoque regional seguindo-se

outras nas deacutecadas seguintes Apesar de o tiacutetulo propor uma descriccedilatildeo corograacutefica

do Brasil a obra restringe-se agrave proviacutencia da Bahia ficando o Brasil como um leve

contexto da forma como os trabalhos corograacuteficos abordavam as proviacutencias

Rebello abordou as comarcas da Bahia Muito proacutexima agrave forma de abordagem

casaliana daacute notiacutecias histoacutericas sobre a formaccedilatildeo territorial evidencia localizaccedilotildees e

com detalhes aborda as plantas e animais de cada territoacuterio ndash um conteuacutedo que teraacute

consideraacutevel decliacutenio nos manuais de Geografia agrave medida que as ciecircncias

consolidam um lugar na escola como disciplina escolar apenas sendo retomado

mais tarde por influecircncia da Geografia moderna cientiacutefica

QUADRO 15 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Corografia ou abreviada historia geographica do imperio do Brasil de Domingos Jose Antonio Rebello 1829

Conteuacutedos

Descobrimento da America em Outubro de 1842 por Christovam Colombo Piloto Genovez derivando-se o nome ndash America ndash de Americo Vespucio Piloto Florentino tambeacutem celebre nesta descoberta

Descobrimento do Brasil

Ideacutea geral dos Indigenas habitantes do Brasil

Notiacutecia dos Indigenas habitantes da Bahia de Todos os Santos antes do seo descobrimento

Naufragio de Diogo Alves Correia na Bahia em 1510 e o mais notaacutevel ateacute a chegada em 1547 de Francisco Pereira Coutinho aacute mesma

Situaccedilatildeo Extensatildeo e Limites do Brasil Serraniacuteas Cabos Bahias ou Portos principaes Ilhas Rio Clima Terreno Producccedilatildeo Commercio Lagocircas mais notaveis em diversas Provincias Mineralogia Fythologia Zoologia Reptis Anphibios Aves Insectos Arvores Resinas uteis Fructas Plantas medicinaacutees Raizes Hortaliccedilas e legumes Balsamos alguns medicinaes Especiarias Flores e plantas de cheiros

Historia em resumo e Epochas mais notaacuteveis do Brasil desde o seo descobrimento ateacute o presente e especialmente as desta Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos

Habitantes Governo religiatildeo e Populaccedilatildeo conforme o Estado actual do Impeacuterio do Brasil suas capitaes Cidades e Comarcas respectivas com as suas Villas

Provincia da Bahia em geral Aspecto do paiz Rios e Lagos Montanhas Mineralogia Fithologia Zoologia Estaccedilatildeo Commercio Governo e subdivisatildeo da Proviacutencia nas sus quatro Comarcas Comarca da bahia com 17 Villas Comarca da Bahia Portos Peixes Mariscos Ilhas Rios Rios nos Suburbos da Cidade Eacutepoca da Fundaccedilatildeo da Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos em 1549 primeira Cidade do Brasil Capital e primeira Comarca desta proviacutencia seos Estabelecimentos Governos assim Civil como Eclesiastico seo estado actual

Freguezias do lado Occidental da Costa da Enseada da Bahia Freguezias na contra-costa da parte do Norte Villas Julgados Arraiaacutees e Freguezias pertencentes aacute Cidade Villas e Freguezias do Recocircncavo da Cidade Comarca de Porto Seguro conhecida tambeacutem por Vera Cruz por ser o primeiro nome que teve dado pelo Navegante Pedro Aacutelvares Cabral em allusatildeo ao dia 3 de Maio invenccedilatildeo da Santa Cruz e por isso o Brasil todo tomou o nome de Terra de Santa Cruz Montes Rios Lagos e Portos Mineralogtia Zoologia Fythologia Comarca de Porto Seguro com 9 Villas Comarca de Satildeo Jorge dos Ilheacuteos Montes Rios e Lagos Portos e Ilhas Mineralogia Fithologia Zoologia Comarca de S Jorge dos Ilheacuteos com 10 Villas Comarca de Jacobina Montes Rios Mineralogia Fythologia Zoologia Comarca de Jacobina com seis Villas Comarca da Cidade Comarca de Porto Seguro Comarca de Ilheacuteos Resumo das particularidades da Proviacutencia da Bahia

Fonte Rebello (1829) Org Jeane Medeiros Silva 2011

O manual eacute emblemaacutetico de um momento em que o discurso didaacutetico de

Geografia tateia no escuro sua organizaccedilatildeo natildeo tem referecircncias ou orientaccedilotildees

claras Assim os conteuacutedos sofrem diversas ordens de instabilidade tais como

repeticcedilatildeo de temas ausecircncia de um sequenciamento loacutegico e outras Em um sentido

mais restrito proacuteprio ao zelo e cuidados expressivos de um autor o que demonstra

muito do improviso e do amadorismo dessas produccedilotildees a obra de Rabello que era

comerciante aponta incoerecircncias tais como intitular uma seccedilatildeo por Montes Rios

Lagos (os subtiacutetulos internos da bibliografia didaacutetica satildeo praticamente idecircnticos ndash

quase constituindo uma foacutermula) mesmo que na localidade abordada natildeo se faccedila

menccedilatildeo a nenhum lago por natildeo tecirc-los

Na deacutecada de 1850 o Coleacutegio Pedro II apresentava o curriacuteculo descrito no

Quadro 16 que se orienta metodologicamente do sentido geral para o particular dos

continentes para o Brasil direcionado agraves seacuteries da sua estrutura de ensino No

uacuteltimo ano encerra os estudos geograacuteficos com uma abordagem cosmograacutefica e

geograacutefica antiga De acordo com Issler (1973 p 41) essa cadeira ldquo[] cumpria um

programa de geografia histoacuterica com evidentes intenccedilotildees de erudiccedilatildeo retornando ao

mundo mediterracircneo que certamente atenderia aos interesses dos estudos

claacutessicos de filosofia e religiatildeo nas outras mateacuteriasrdquo

QUADRO 16 ndash Plataforma curricular do Coleacutegio Pedro II em 1850 ndash ensino secundaacuterio Ano Disciplina Conteuacutedos

2ordm ano Geografia

Os cinco continentes estudados nos seus aspectos fiacutesico-descritivos tais como limites paiacuteses mares golfos estreitos rios etc

3ordm ano Geografia Aacutefrica e Oceania destacando aleacutem dos aspectos fiacutesicos paiacuteses populaccedilotildees raccedilas religiotildees governos etc

4ordm ano Geografia Aacutesia ndash o mesmo tratamento

5ordm ano Geografia Europa ndash o mesmo tratamento mas com destaque agraves cidades principais dos vaacuterios paiacuteses

6ordm ano Geografia Ameacuterica e Brasil ndash Ameacuterica em geral aspectos fiacutesicos descoberta e Brasil em geral e estudo de cada proviacutencia

7ordm ano Cosmografia Geografia Antiga

Duas cadeiras uma de Cosmografia e Cronologia mistura de elementos de astronomia geografia fiacutesica climas e astrologia e outra de Geografia Antiga um estudo geograacutefico da divisatildeo do mundo antigo Aacutesia Menor e mundo Mediterracircneo

Fonte Isller (1973 p 39-40) Org Jeane Medeiros Silva 2011

No aspecto geral haacute poucas alteraccedilotildees significativas no curriacuteculo

estabelecido ao longo das primeiras deacutecadas do Coleacutegio Pedro II Os conteuacutedos

obedecem agrave divisatildeo quantitativa por seacuteries e agrave distribuiccedilatildeo destas pelos anos

escolares permanecendo sempre uma abordagem da Geografia Poliacutetica da

Geografia Fiacutesica e da Cosmografia

Na praacutetica desse curriacuteculo que considera a concepccedilatildeo de uma descriccedilatildeo do

mundo tem-se objetivamente a elaboraccedilatildeo de uma espeacutecie de mapa mental a ser

construiacutedo de fatos dados e descriccedilotildees de superfiacutecie por sua vez a serem somados

pelo estudante por meio da memorizaccedilatildeo

Trata-se assim em primeiro lugar de delinear os contornos fiacutesicos para

neles pontilhar ou dar a saber sem localizaccedilatildeo precisa (pois nos manuais

oitocentistas os mapas satildeo pouco frequentes e quando os haacute satildeo bem gerais em

escala muito reduzidas) os principais acidentes os mais importantes como as

terras os oceanos os mares e rios as montanhas e o que mais aprouver para para

uma descriccedilatildeo fiacutesica O objetivo eacute que o estudante estime em sua mente uma

organizaccedilatildeo das formas do planeta sua diferenciaccedilatildeo e suas unidades constitutivas

Em segundo plano vem o mesmo trabalho e expressatildeo agora condizente

agraves obras humanas as cidades mais importantes com descriccedilotildees ligeiras tais como

anotaccedilatildeo dos edifiacutecios mais importantes ou instituiccedilotildees representativas nelas

situadas das principais atividades rurais e industriais das entidades poliacuteticas

assentadas nesses territoacuterios

Isto posto em niacutevel global o proacuteximo passo era fazecirc-lo por continentes

adentrando os principais paiacuteses com a mesma abordagem O mesmo se faria com o

territoacuterio nacional apresentando um contexto histoacuterico desenhando os contornos

poliacuteticos e fiacutesicos para entatildeo entalhar as proviacutencias ndash uacutenica regionalizaccedilatildeo praticada

em todo o oitocentos e nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX

Em terceiro plano em ordem variaacutevel (pois agraves vezes precedia ou sucedia a

descriccedilatildeo geral) vinha a Cosmografia para descrever os astros os planetas e

cometas apresentar o sistema solar os movimentos do planeta Terra e o

estabeleciemento das estaccedilotildees as dimensotildees da terra as longitudes e latitudes as

zonas climaacuteticas e outras ordens nesse sentido Para atender aos estudos claacutessicos

a disciplina Geografia e seu curriacuteculo estabelecia uma abordagem do mundo Antigo

circunscrito agrave Aacutesia menor e aos paiacuteses mediterracircneos com o mesmo movimento

descritivo

Este era o conjunto de conteuacutedos e sua expressatildeo presente nos manuais de

Geografia em todo o periacuteodo imperial com pouca variaccedilatildeo Compare-se o curriacuteculo

exercido em duas ediccedilotildees da obra de Pompeu Brasil (Quadro 17)

O manual de Pompeu tem o mesmo comportamento das demais produccedilotildees

da segunda metade do seacuteclo XIX Divide-se em Cosmografia Geografia Fiacutesica e

Geografia Poliacutetica para as quais descreve os elementos e fatos essenciais Essa

essencialidade evidentemente eacute imbricada pela visatildeo do sujeito autor ou das

instacircncias sociais que representa e que justamente o constitui como sujeito isto eacute

eurocecircntrica burguesa catoacutelica Natildeo se trata de uma enumeraccedilatildeo isenta e neutra

A variaccedilatildeo de uma ediccedilatildeo para outra implica uma atualizaccedilatildeo geograacutefica e a

ampliaccedilatildeo da descriccedilatildeo Na quarta ediccedilatildeo por exemplo Brasil inclui a Oceania natildeo

presente nas ediccedilotildees anteriores e paiacuteses tambeacutem natildeo abordados anteriormente

O mesmo se verifica da ediccedilatildeo de um autor para a produccedilatildeo de um novo

autor Procede-se nesse sentido ao que observou Chervel (1990 p 209) citado

anteriormente

Todos os manuais ou quase todos dizem entatildeo a mesma coisa ou quase isso Os conceitos ensinados a terminologia adotada a coleccedilatildeo de rubricas e capiacutetulos a organizaccedilatildeo do corpus de conhecimentos mesmo os exemplos utilizados ou os tipos de exerciacutecios praticados satildeo idecircnticos com variaccedilotildees aproximadas Satildeo apenas essas variaccedilotildees aliaacutes que podem justificar a publicaccedilatildeo de novos manuais e de qualquer modo natildeo apresentam mais do que desvios miacutenimos o problema do plaacutegio eacute uma das constantes da ediccedilatildeo escolar

A Geografia escolar descritiva parece estruturar-se em um traccedilo cartograacutefico

como objetivo do seu modo de ser a fazer uma imagem seletiva clivada

ideologicamente dada por fatos e nomenclatura Seu ponto de partida foi a

Geografia claacutessica que antecedeu agrave fase cientiacutefica sendo tal qual ela de natureza

quantitativa e onomaacutestica

QUADRO 17 ndash Plataforma curricular executada na segunda e quarta ediccedilotildees de Pompeu Brasil

Div

isatildeo

Conteuacutedos (2 ed)

Div

isatildeo

Conteuacutedos (4 ed)

Co

sm

og

rafi

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Dos Astros em geral Dos Planetas Da Esphera Do Zodiaco e Estaccedilotildees Da Terra Das longitude e latitudes Das Zonas sombras climas Da lua e fases

Co

sm

og

rap

hia

e

defi

niccedil

otildees

gera

es

Principios geraes de geographia astronocircmica Astros errantes Planetas e Cometas Systema solar movimento diurno e annual da terra e das estaccedilotildees Da esphera circulo linhas e pontos Zodiaco precessatildeo do equinocios e posiccedilatildeo da esphera Da terra sua figura e dimensotildees Das longitudes e latitudes Dos habitantes da terra em relaccedilatildeo aacutes suas zonas e sombras aos seus climas e a longitude e latitude Da lua suas phases e eclipses

Geo

gra

ph

ia

Ph

ysic

a Physica - parte liquida Atmosphera e Meteorologia

Geographia applicada Europa Physica Azia Physica Africa Physica America Physica Oceania Physica

Pri

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Gera

es d

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Desc

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ccedilatildeo

Ph

ysic

a

Descripccedilatildeo physica da terra Parte liquida do globo Atmosphera e meteorologia O grande continente divisatildeo do mundo e os oceanos Da sociedade civil foacutermas de governo leis e industria Da religiatildeo e dos diversos cultos do mundo Das raccedilas linguas e populaccedilatildeo do mundo

Geo

gra

ph

ia P

oliti

ca

Europa Politica Suecia e Norwega Dinamarca Russia Inglaterra Pruacutessia Hollanda e Beacutelgica Allemanha Aacuteustria Suissa Franccedila Portugal e Hespanha Turquia Grecia e Ilhas Jocircnicas Itaacutelia

Geo

gra

ph

ia d

esc

rip

tiva

Europa ndash Geographia Geral Descripccedilatildeo physica Descripccedilatildeo poliacutetica Geographia Particular Da Europa Septentrional e oriental ndash Ruacutessia Da Europa Septentrional ndash Reino Noruego-Sueco Da Europa Septentrional - Da Dinamarca Da Europa Septentrional ndash Inglaterra Da Europa Central ndash Pruacutessia Da Europa Central ndash Holanda Da Europa Central ndash Beacutelgica Da Europa Central ndash Allemanha ou Confederaccedilatildeo Germacircnica Europa Central ndash Aacuteustria Europa Central ndash Suissa ou Confederaccedilatildeo Helvetica Europa Central ndash Franccedila Europa Meridional ndash Hespanha Europa Meridional ndash Portugal Europa Meridional ndash Itaacutelia Europa Meridional ndash Estados Italianos Europa Oriental ndash Grecia e Ilhas Jocircnicas Europa Oriental ndash Turquia e Principados Danubianos

Azia e sua divisatildeo Siberia e Caacuteucaso China e Japatildeo Indostaatilde Turquia e Araacutebia Persia e Tartaria Belutchistan Kabul

Asia ndash Geographia Geral Descripccedilatildeo Physica Descripccedilatildeo Poliacutetica Geographia Particular Da Asia Septentrional e Meridional ndash Ruacutessia Asiatica (Siberia e Caucaso) Da Asia Occidental ndash Turquia Asiaacutetica Da Asia Ocidental ndash Araacutebia Da Asia Meridional ndash Persia Kaboul Belout-chiston e Herat Da Asia Meridional ndash Indostao e Indo-China Da Asia Oriental ndash Divisatildeo Politica das Iacutendias India independente India Colonial ou Estado Europecircos India-China ou aleacutem do Ganges Da Asia Oriental ndash China e paizes sujeitos Da Asia Oriental ndash Japatildeo Da Asia Central ndash Tartaria ou Turquestam independente

Africa e sua divisatildeo Egypto e Berberia Outros Estados da Aacutefrica

Africa - Geographia Geral Descripccedilatildeo Physica Descripccedilatildeo Poliacutetica Geographia Particular Da regiatildeo do Nilo - I Abyxinia (Ethiopia dos Anyigos) II Paiz do Bahr-el-Abiad III Nubia IV Egypto Da regiatildeo de Magheb Marrocos Argel Tripoli e Tunis Da regiatildeo austral e oriental Regiatildeo da Negricia e Africa Colonial

Ameacuterica America Russa Dinamarquesa e Inglesa Estados Unidos Meacutexico Antilhas Nova Granada Venesuela Equador Peru e Boliacutevia Chile Paraguay e Uruguay Confederaccedilatildeo Argentina Guayna e Patagocircnia

America - Geographia Geral Descripccedilatildeo physica Descripccedilatildeo poliacutetica Geographia Particular Da America Septentrional ndash America Russa dinamarqueza e inglesa Da America Septentrional ndash Estados Unidos Da America Septentrional ndash Meacutexico Da America Septentrional ndash America Central ou as cinco Republicas Das Antilhas e Guyanas ndash Hayti Cuba Porto Rico Jamaica e Martinica Da America Meridional ndash Columbia ou as Republicas de Nova Granada Equador Venezuela e Panamaacute Da America Meridional ndash Peru e Boliacutevia Da America Meridional ndash Paraguay La Plata e Uruguay Da America Meridional ndash Chile e America Indiacutegena

Brasil - Descoberta limites e extensatildeo Serras Cabos e Portos Ilhas lagos e rios Affluentes clima Producccedilotildees naturaes Populaccedilatildeo e Industria Forccedila Publica Religiatildeo Governo e sua divisatildeo eclesiaacutestica Divisatildeo Civil judiciaria e administrativa do Impeacuterio do Brasil Provincia do Amasonas Provincia do Para Provincia do Maranhatildeo Provincia do Piauhy Provincia do Cearaacute Provincia do Rio Grande do Norte Provincia da Parahiba Provincia de Pernambuco Provincia de Allagoas Provincia de Sergipe Provincia da Bahia Provincia do Espirito Santo Provincia do Rio de Janeiro Corte do Rio Provincia de Satildeo Paulo Provincia do Paranaacute Provincia de Santa Catharina Provincia do Rio Grande do Sul Provincia de Minas Geraes Provincia de Goiaz Provincia de Mato Grosso

Oceania ndash Geografia Geral Descripccedilatildeo physica Descripccedilatildeo poliacutetica

Imperio do Brasil America Meridional Fundaccedilatildeo posiccedilatildeo dimensotildees limites clima e salubridade Serras cabos ilhas portos e lagos Rios e affluentes Producccedilotildees naturaes mineralogia phictologia e zoologia Industria agricola manufatora e commercial Governo organizaccedilatildeo politica populaccedilatildeo e religiatildeo Organisaccedilatildeo administrativa financcedilas forccedilas correio e instrucccedilatildeo publica Divisatildeo eclesiatica judiciaria e civil Quadro das Provincias com sua superficie e populaccedilatildeo Provincia do Amazonas Provincia do Para Provincia do Maranhatildeo Provincia do Piauhy Provincia do Ceara Provincia do Rio Grande do Norte Provincia Parahyba Provincia de Pernambuco Provincia de Alagoas Provincia de Sergipe Provincia da Bahia Provincia do Espirito Santo Provincia do Rio de Janeiro Municipio da Corte Provincia de Satildeo Paulo Provincia do Parana Provincia de Santa Catharina Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul Provincia de Minas Geraes Provincia de Goyaz Provincia de Matto-Grosso

Oceania Estado Social da Oceania

FONTE Sousa Neto (1997 p 34-37) Brasil (1864) Org e Adapt Jeane Medeiros Silva 2011

A divulgaccedilatildeo dessas informaccedilotildees e a concretizaccedilatildeo maacutexima desse modo de entender a geografia aconteceu [sic] nos fins do seacuteculo passado e primeiros anos do seacuteculo XX com a publicaccedilatildeo de dicionaacuterios histoacutericos e geograacuteficos fartamente descritivos e encontrados em quase todas as bibliotecas puacuteblicas brasileiras Publicados tanto no Impeacuterio como na Repuacuteblica na sua maioria formam um arrolamento do quadro natural e histoacuterico disposto em ordem alfabeacutetica e quase sempre mateacuteria prima para o conteuacutedo dos muitos livros didaacuteticos [] (ISSLER 1972 p 17)

Organizou-se pela palavra em razatildeo dos meios disponiacuteveis das teacutecnicas

entatildeo alcanccedilaacuteveis E tendo essa Geografia por base limitou-se a ela mesmo

quando alternativas jaacute fizessem contexto para alterar o mundo estaacutetico tatildeo pleno de

informaccedilotildees excessivas Por quecirc

Talvez por faltar um debate sobre ensino por faltar uma classe de

profissionais de formaccedilatildeo especiacutefica que cuidasse do desenvolvimento desse saber

escolar

Talvez pelos objetivos da educaccedilatildeo natildeo exigirem nada aleacutem do que estava

ofertado

No Quadro 18 tem-se o curriacuteculo proposto no acircmbito do Coleacutegio Pedro II

em princiacutepios da deacutecada de 1880 cujos anos foram significativos para a bibliografia

escolar brasileira em razatildeo de certa explosatildeo no niacutevel e na quantidade de tiacutetulos

entatildeo publicados Em siacutentese regimenta-se pelo mesmo padratildeo curricular vigente

ateacute entatildeo embora com maior organizaccedilatildeo dos conteuacutedos O que o diferencia dos

demais eacute certa preocupaccedilatildeo metoloacutegica quanto ao ensino

Dar-se-ha mais desenvolvimento ao que disser respeito a Ameacuterica e principalmente a Meridional Exame intuitivo de mappas muraes desenho no quadro preto dos pormenores geographicos que abranger cada ponto viagens simuladas para diferentes partes em que os examinandos indiquem os acidentes physicos que podem encontrar e as curiosidades naturaes ou artisticas notaacuteveis

[]

Uso de espheras problemas

O Brasil passava por transformaccedilotildees significativas no acircmbito econocircmico e

poliacutetico que resultariam no advento da Repuacuteblica

QUADRO 18 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia no Coleacutegio Pedro II na vigecircncia do Decreto n 8051 de 25 de marccedilo de 1881

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos Geografia 1ordm ano Noccedilotildees de Geografia ndash sem especificaccedilotildees

Geografia 3ordm ano

GEOGRAPHIA Terra sua superficie seus movimentos principais circulos que nella se traccedilam para localizar as terras e determinar as zonas thermaes Divisatildeo das terras e do oceano Clima e sua influecircncia sobre a distribuiccedilatildeo dos vegetaes e animaes pela superficie da terra Das cinco grandes divisotildees das terras Mares golfos estreitos seus accidentes physicos Ilhas seus accidentes physicos Lagos rios lagunas seus limites suas dimensotildees e posiccedilotildees Populaccedilatildeo absoluta e relativa Governo e suas principaes formas Confederaccedilatildeo Estados soberanos e meio soberanos Divisatildeo dos povos segundo seu desenvolvimento moral e suas raccedilas Dos principaes paiacutezes do globo Posiccedilatildeo limites superfiacutecie Populaccedilatildeo governo religiatildeo Divisatildeo aspecto e clima Producccedilatildeo commercio e industria importancia politica Cidades principaes Dar-se-ha mais desenvolvimento ao que disser respeito a Ameacuterica e principalmente a Meridional Exame intuitivo de mappas muraes desenho no quadro preto dos pormenores geographicos que abranger cada ponto viagens simuladas para diferentes partes em que os examinandos indiquem os acidentes physicos que podem encontrar e as curiosidades naturaes ou artisticas notaacuteveis

Geografia e Cosmografia

4ordm ano

Universo Astros sua divisatildeo e aglomeraccedilatildeo em grandes grupos ou nebulosas Estrellas planetas cometas estrellas cadentes bolidos e aerolithos Systema de Ptolomeu e de Copernico Leis de Kepler Attraccedilatildeo e repulsatildeo Figura rotaccedilatildeo e revoluccedilatildeo da terra Ciacuterculos da esphera Estaccedilotildees Posiccedilotildees da esphera e dias Lua Eclipses Uso de espheras problemas

Corografia do Brasil

7ordm ano

Limites do Brazil e sua posiccedilatildeo astronocircmica Ethnographia e clima do Brazil Ilhas estreitos e cabos principaes do Brazil Bahias e portos do Brazil Systema orographico brazileiro Systema hidrographico brazileiro Produccedilotildees naturaes do Brazil Industria agricultura commercio e progresso material do paiz Systema de governo e administraccedilatildeo do Estado (militar judiciario e eclesiastico) Instituiccedilotildees e estatistica Synopse da Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Imperio e Coacutedigo Criminal Colonizaccedilatildeo e catechese Provincia do Amazonas Provincia do Gratildeo Paraacute Provincia do Maranhatildeo Provincia do Piauhy Provincia do Cearaacute Provincia do Rio Grande do Norte Provincia da Parahyba Provincia de Pernambuco Provincia das Alagoas Provincia de Sergipe Provincia da Bahia Provincia do Espirito Santo Municipio Neutro Provincia de Satildeo Paulo Provincia do Parana Provincia de Santa Catharina Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul Provincia de Minas Geraes Provincia de Goyaz Provincia de Mato Grosso

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Se antes se fazia uma abordagem geral do mundo recortando-se em

imediato uma corografia nacional o ato legislador nesse momento pede maior

atenccedilatildeo a um entreposto agrave Ameacuterica das nossas vizinhanccedilas as relaccedilotildees comerciais

entrelaccedilavam-se havia problemas geopoliacuteticos quanto agrave demarcaccedilatildeo de fronteiras

entatildeo recentemente encerrara-se talvez o mais importante conflito beacutelico da histoacuteria

nacional (a Guerra com o Paraguai)

Haacute ainda a tentativa de fazer certo movimento certa dinacircmica na Geografia

estaacutetica que caracterizara o ensino ateacute esse momento o que se pretendia natildeo pela

alteraccedilatildeo do discurso mas da praacutetica desse discurso ou seja na metodologia de

ensino Por isso mesmo no contexto de uma plataforma curricular reforccedila o

emprego de exame de mapas desenhos simulaccedilatildeo de viagens o uso de esfera e a

formulaccedilatildeo de problemas geograacuteficos tenta-se entatildeo um meio de se tirar da

inaniccedilatildeo as informaccedilotildees por vezes caudalosas por vezes sem sentido que habitam

as superfiacutecies discursivas do livro didaacutetico de Geografia

Esse modelo curricular seraacute encontrado nas obras da bibliografia do final do

Impeacuterio e nos anos iniciais da Repuacuteblica Nos Quadros 19 e 20 tem-se a plataforma

curricular de uma corografia e de uma Geografia geral publicadas na deacutecada de

1880 e reeditada ateacute no princiacutepio do seacuteculo XX

Assim em Lacerda (1898) tem-se a abordagem do Brasil no mesmo

contexto de abordagem das Ameacutericas com as proviacutencias jaacute renomeadas como

Estados em vigecircncia da Repuacuteblica atualizaccedilatildeo feita por Luiz Leopoldo Fernandes

Pinheiro responsaacutevel pelo prolongamento da vida uacutetil das obras do autor entatildeo jaacute

falecido

Se por um lado comeccedilava-se a ter uma preocupaccedilatildeo com a metodologia do

ensino por outro a referenciaccedilatildeo discursiva ainda se caracterizava pela

fragmentaccedilatildeo do saber com a qual se esperava compor quadros isolados fiacutesicos e

poliacuteticos a serem sobrepostos pelos alunos presumidamente na tentativa de

compor uma imagem geograacutefica do mundo ou de suas partes

Essas obras exemplares do periacuteodo indicam os tracircmites transitivos do

Impeacuterio para a Repuacuteblica Essencialmente os conteuacutedos e seu meacutetodo ou a

concepccedilatildeo geograacutefica permanecem o mesmo a despeito das diversas tentativas de

reformas educacionais implementadas pela Repuacuteblica Atualizam-se as proviacutencias

para estados mas permanece a ecircnfase numa divisatildeo territorial eclesiaacutestica como

ainda recomendado no programa de 1881 o Impeacuterio e a Igreja Catoacutelica tinham um

consoacutercio que a Repuacuteblica aboliria

QUADRO 19 ndash Plataforma curricular executada no Curso methodico de Geographia de Joaquim Maria de Lacerda deacutecada de 1880

Geographia Geral Noccedilotildees preliminares Definiccedilotildees geometricas Noccedilotildees de Cosmographia Definiccedilotildees geographicas Producccedilotildees do globo Classificacao dos homens Europa descripccedilatildeo physica descripccedilatildeo politica Aacutesia Aacutefrica Ameacuterica Oceania Quadro comparativos dos principaes lagos rios e montes

Geographia Particular

Paizes da Europa Ilhas Britannicas Dinamarca Suecia e Noruega Russia Europecirca Franccedila Beacutelgica Hollanda Allemanha Austria-Hungria Suissa Portugal Hespanha ltalia Turquia Europecirca Grecia Rumania Servia Bulgaacuteria Montenegro Paizes da Aacutesia Russia da Aacutesia Turquia da Aacutesia Araacutebia Peacutersia Afghanistan Belutchistan Turkestan independente India ou Hindostatildeo lndo-China Imperio Chinecircs Corea Japatildeo Paizes da Aacutefrica Egypto Abyssinia Barbaria Sahara Senegambia Guineacute Superior Guineacute Inferior Hotentotia Colonia do Cabo Cafraria Moccedilambique Zanguebar Somal Sudan Nigricia Meridional Ilhas da Aacutefrica Paizes da Ameacuterica Groenlacircndia America Septent Ingleza Estados-Unidos Meacutexico America Central Antilhas Guyanas Venezuela Colombia ou Nova Granada Republica do Equador Peruacute Boliacutevia Chile Republica Argentina Republica do Uruguay Republica do Paraguay Republica Patagocircnia Estados-Unidos do Brazil Estado do Amazonas Estado do Paraacute Estado do Maranhatildeo Estado do Piauhy Estado do Cearaacute Estado do Rio Grande do Norte Estado da Parahyba do N Estado de Pernambuco Estado das Alagoas Estado de Sergipe Estado da Bahia Estado do Espirito-Santo Estado do Rio de Janeiro Districto federal Estado de S Paulo Estado do Paranaacute Estado de S Catharina Estado do Rio Grande do Sul Estado de Minas Geraes Estado de Goyaz Estado do Matto-Grosso Estatistica do Brazil Oceania Possessotildees Inglezas Possessotildees Hollandezas Possessotildees das outras naccedilotildees Esiados independentes

Cosmografia

Definiccedilotildees geomeacutetricas Do Universo em geral Atraccedilatildeo e forccedila centrifuga Parallaxe O sol Manchas do Sol Densidade do Sol A terra Antipodas Redondeza da Terra Atmosphera Ventos Chuvas Refracccedilatildeo astronomica Aurora e crepusculo Climas Linhas pontos e circulos da esphera Medida da longitude Medida da latitude Movimento diurno da Terra Movimento annual da Terra Estaccedilotildees Dia sideral e solar Tempo verdadeiro e meacutedio Equa-ccedilatildeo do tempo Anno sideral e solar Precessatildeo dos equinoxios A Lua Caracteres geraes Mo-vimentos Orbita Retrogradaccedilatildeo dos noacutes Phases da Lua Influencia da Lua sobre as mares Revoluccedilatildeo sideral e synodica da Lua Libraccedilatildeo Eclipses Systema solar ou planetario Cometas Estrellas cadentes etc Estrellas fixas Nebulosas Posiccedilotildees da esphera Globos cartas geographicas Projeccedilotildees Calendario Cyclo lunario e Aureo numero Epacta Cyclo solar Indicccedilatildeo Romana Lettra dominical Festas do anno Problemas de Cosmographia Fonte Lacerda (1898) Org Jeane Medeiros Silva 2011

QUADRO 20 ndash Plataforma curricular executada nos Elementos de Chorographia do Brazil de Henrique Martins deacutecada de 1880

Descripccedilatildeo Physica Bahias Ilhas Cabos Pontas Montanhas Chapadotildees Lagos e lagoas Bacias fluviaes Bacia do Amazonas Bacia Oriental Bacia do Prata

Descripccedilatildeo Politica

Posiccedilatildeo astronomica Extensatildeo Superficie Limites Populaccedilatildeo Grupos ethnographicos Descripccedilatildeo do littoral Estructura physica Aspecto physico Clima Producccedilatildeo Flora Fauna Agricultura Industria Mineraccedilatildeo Commercio Creaccedilatildeo de gado Estradas de ferro Telegrapho Navegaccedilatildeo Governo Divisatildeo administrativa Divisao judiciaria Financcedilas Religiatildeo Divisao ecclesiastica Industria

Descripccedilatildeo dos Estados

Amazonas Paraacute Maranhatildeo Piauhy Cearaacute Rio Grande do Norte Parahyba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Espirito Santo Rio de Janeiro Districto Federal S Paulo Paranaacute Santa Catharina Rio Grande do Sul Minas Geraes Goyaz Matto Grosso Fonte Martins (1896) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Por outro lado esses curriacuteculos aleacutem dos movimentos poliacuteticos indicam as

transformaccedilotildees econocircmicas pelas quais o Brasil passava O curriacuteculo de 1881

orienta a abordagem da ldquoIndustria agricultura commercio e progresso material do

paizrdquo no curriacuteculo das obras as inovaccedilotildees vatildeo sendo colocadas paulatinamento

Em Martins (1896 ndash 5ordf ediccedilatildeo) por exemplo uma parcela desse progresso material

eacute colocado ao lado das tradicionais abordagens da ldquoAgricultura Industria

Mineraccedilatildeo Commercio Creaccedilatildeo de gadordquo eacute o caso das ldquoEstradas de ferrordquo e do

ldquoTelegraphordquo

No proacuteximo capiacutetulo considerando constituida e institucionalizada a

disciplina Geografia com uma bibligorafia didaacutetica consolidada e jaacute enquadrada em

uma tradiccedilatildeo passo a abordar os movimentos de sua conformaccedilatildeo e

desenvolvimento discursivo considerando o contexto histoacuterico do debate que

promove transformaccedilatildeo em seu fazer e modo de ser durante a vigecircncia da Primeira

Repuacuteblica em fins do seacuteculo XIX ateacute a deacutecada de 1930

CAPIacuteTULO 5

DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA ESCOLAR NA PRIMEIRA REPUacuteBLICA (1889-1930) permanecircncias e

transformaccedilotildees na disciplina e em sua bibliografia didaacutetica

Ordinariamente se faz o estudo do paiz pelos compendios Ainda que o livro natildeo vaacute aacutes matildeos do alumno eacute pelo livro que o professor ensina e portanto eacute pelo livro que o alumno aprende

Antonio Firmino Proenccedila 1928

A transiccedilatildeo do periacuteodo imperial para o periacuteodo republicano sinalizou

evidentemente transformaccedilotildees que atingiram toda a dinacircmica social do paiacutes

inclusive a educaccedilatildeo O Brasil propriamente enfrentava uma reestruturaccedilatildeo social a

partir da nova organizaccedilatildeo da sociedade com aboliccedilatildeo da escravatura a chegada

de imigrantes em massa e a presenccedila da matildeo de obra livre Economicamente havia

o surgimento do esboccedilo de uma produccedilatildeo industrial Jaacute entatildeo havia uma plataforma

cultural efervescente sinalizando para a consolidaccedilatildeo de uma classe intelectual

constituiacuteda por profissionais liberais militares funcionaacuterios puacuteblicos e outros

interessados pela direccedilatildeo do destino da naccedilatildeo e dos proacuteprios negoacutecios O paiacutes

passava por um periacuteodo de modernizaccedilatildeo estrutural com impacto significativo nas

relaccedilotildees sociais que incluiacutea

[] o encurtamento das distacircncias com a construccedilatildeo de vias feacuterreas e a expansatildeo das jaacute existentes a agilizaccedilatildeo dos transportes mariacutetimos atraveacutes dos barcos a vapor a modernizaccedilatildeo dos processos de fabrico do accediluacutecar e a construccedilatildeo de engenhos sem contar o importante avanccedilo nos processos de beneficiamento do cafeacute que aumentaram a sua produtividade Todas essas alteraccedilotildees foram decisivas no surgimento de novas relaccedilotildees e novos interesses na sociedade Da mesma forma que estas mudanccedilas o incremento das induacutestrias a urbanizaccedilatildeo e a modernizaccedilatildeo das capitais e das cidades portuaacuterias bem como a imigraccedilatildeo contribuiacuteram de algum modo para a Repuacuteblica e para a federalizaccedilatildeo do paiacutes Aleacutem eacute claro de

todas as ideacuteias trazidas da Revoluccedilatildeo Francesa que tiveram igualmente sua influecircncia (CARTOLANO 1994 p 94)

A Repuacuteblica assim significou uma reorganizaccedilatildeo radical da plataforma

poliacutetica do paiacutes pois ldquoDo impeacuterio unitaacuterio o Brasil passou bruscamente com a

Repuacuteblica para uma federaccedilatildeo largamente descentralizada que entregou agraves antigas

Proviacutencias agora Estados uma consideraacutevel autonomia administrativa financeira e

ateacute poliacuteticardquo (PRADO JUacuteNIOR 1998 p 218)

O conjunto dessas mudanccedilas natildeo foi isento no campo educacional embora

continuasse como privileacutegio das elites que sustentavam as instituiccedilotildees particulares e

ainda se valiam do Estado para estabelecer um ensino puacuteblico que as favorecesse

A nova constituiccedilatildeo da Repuacuteblica promulgada em 1891 incluiu os municiacutepios e as

instituiccedilotildees privadas como responsabilidade do Estado (AZEVEDO 1963) A

estrutura educacional herdada do Impeacuterio dividia-se entre a responsabilidade federal

que se ocupava do ensino secundaacuterio e do ensino superior ndash o que significava a

formaccedilatildeo das elites e a responsabilidade das proviacutencias que se centrava no ensino

primaacuterio embora lhes fosse facultada a atuaccedilatildeo em todas as esferas do ensino

elementar por limitaccedilotildees econocircmicas as proviacutencias limitaram-se a liceus nas

capitais e em alguma ou outra cidade de maior vulto no interior de seus territoacuterios

Ao passo que no periacuteodo imperial o governo central tivesse vistas apenas para o

ensino superior e para o ensino secundaacuterio este quase que exclusivamente restrito

ao Coleacutegio Pedro II no periacuteodo republicano a preocupaccedilatildeo pelo menos em niacutevel

legislativo foi mais abrangente Eacute o que demonstram as propostas ditas reformas

promulgadas por ministros da Repuacuteblica responsaacuteveis pela orientaccedilatildeo da educaccedilatildeo

que no periacuteodo em anaacutelise foram as seguintes Decreto n 981 de 8 de novembro

de 1890 ndash Reforma Benjamim Constant Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901

ndash Reforma Epitaacutecio Pessoa Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 ndash Reforma

Rivadaacutevia Correcirca Decreto de n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 ndash Reforma Carlos

Maximiliano Decreto nordm 16782-A de 13 de janeiro de 1925 ndash Reforma Luiz Alves

Rocha Vaz Decreto nordm 19890 de 18 de abril de 1931 ndash Reforma Francisco

Campos

51 A educaccedilatildeo brasileira na Repuacuteblica o lugar da Geografia escolar e sua proposta curricular

Com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica a primeira iniciativa importante para a

educaccedilatildeo foi o surgimento em 19 de abril de 1890 do Ministeacuterio da Instruccedilatildeo

Correio e Teleacutegrafos93 que sob responsabilidade do nomeado ministro Benjamim

Constant Botelho de Magalhatildees (de formaccedilatildeo positivista) promulgou meses mais

tarde em 08 de novembro do mesmo ano o Decreto n 981 que se destaca por ser

uma plataforma de propostas que pela primeira vez desde a Independecircncia

abarcava todos os niacuteveis de ensino

A Reforma de Benjamin Constant instituiu a seriaccedilatildeo obrigatoacuteria uma

proposta que tenta combater a longa tradiccedilatildeo dos preparatoacuterios (aulas avulsas com

exames comprobatoacuterios) tantas vezes vizada pela legislaccedilatildeo imperial e tantas vezes

enfraquecida pela pressatildeo das elites que desejavam acelerar a formaccedilatildeo de seus

filhos e ingressaacute-los com rapidez nas instituiccedilotildees superiores O modelo seriado

posteriormente foi incorporado tambeacutem ao ensino primaacuterio Para a educaccedilatildeo

nacional seu meacuterito foi instituir-se como modelo de organizaccedilatildeo para os

estabelecimentos provinciais agora estatizados (RIBEIRO 2001)

Essa reforma contemplando todos os niacuteveis da educaccedilatildeo teve inspiraccedilatildeo

positivista o que implicava uma tendecircncia cientiacutefica ndash e que jaacute estava na

mentalidade brasileira apoacutes meados do seacuteculo XIX mas com maior sucesso nas

aacutereas exatas (AZEVEDO 1963) propondo um rompimento com a tradiccedilatildeo literaacuteria e

claacutessica que sempre fora predominante no ensino brasileiro Assim a reforma

pretendeu contextualizar a educaccedilatildeo na ciecircncia opondo-se agrave tradiccedilatildeo claacutessica

colocando em ordem uma influecircncia positivista e liberal Poreacutem seria criticada por

natildeo compreender adequadamente o Positivismo como orientaccedilatildeo e por isso

apenas sobrepor disciplinas cientiacuteficas ao quadro constituiacutedo pelos estudos

claacutessicos

Pode-se dizer de uma mudanccedila de pensamento no meio intelectual

brasileiro pois a Repuacuteblica alvorece sob a conduccedilatildeo de militares que tinham em

93

Extinto como pasta educacional pouco depois poreacutem a partir de entatildeo a educaccedilatildeo sempre teve uma pasta ministerial para por ela responsabilizar-se

comum aleacutem de uma visatildeo liberal uma inspiraccedilatildeo positivista quanto agrave concepccedilatildeo

do conhecimento e de suas praacuteticas

Benjamin Constant esteve entre os intelectuais empenhados em introduzir o

Positivismo no Brasil particularmente na Lei com a qual introduziu as diretrizes de

reorganizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em princiacutepio para a capital federal mas podendo ser

extensiva ao restante do paiacutes Todos os siacutembolos e heranccedilas do Impeacuterio de alguma

forma foram afetados pela nova forma de pensar da qual natildeo escapou nem mesmo

a bandeira nacional a qual teve agregado o lema ldquoOrdem e Progressordquo (palavras

chaves no Positivismo) por proposiccedilatildeo de Benjamin Constant (Decreto nordm 4 de 19

de novembro de 1889) Com a educaccedilatildeo natildeo seria diferente

Augusto Comte (1798-1857) cujas ideias satildeo marcantes nesse periacuteodo do

Brasil formulou o estado cientiacutefico ou positivo em oposiccedilatildeo a dois outros de acordo

com seu sistema histoacuterico-epistemoloacutegico ndash o estado teoloacutegico ou fictiacutecio e o estado

metafiacutesico ou abstrato Comte (1983 p 4 ndash grifos meus) assim define o Positivismo

[] o espiacuterito humano reconhecendo a impossibilidade de obter noccedilotildees absolutas renuncia a procurar a origem e o destino do universo a conhecer as causas iacutentimas dos fenocircmenos para preocupar-se unicamente em descobrir graccedilas ao uso bem combinado do raciociacutenio e da observaccedilatildeo suas leis efetivas a saber suas relaccedilotildees invariaacuteveis de sucessatildeo e de similitude A explicaccedilatildeo dos fatos reduzida entatildeo a seus termos reais se resume de agora em diante na ligaccedilatildeo estabelecida entre os diversos fenocircmenos particulares e alguns fatos gerais cujo nuacutemero o progresso da ciecircncia tende cada vez mais a diminuir (COMTE 1978 p 4)

Desde o Iluminismo de certa forma essas eram ideias que fundamentavam

o fazer da ciecircncia O diferencial do Positivismo foi a praticidade que perseguiu e

sobretudo a aplicaccedilatildeo dos modelos do conhecimento da fiacutesica para o social

visando uma evoluccedilatildeo e desenvolvimento do ser humano No Brasil locais como a

Escola Militar o Coleacutegio Pedro II (Oliveira Guimaratildees professor de matemaacutetica

fundou a primeira sociedade positivista em 1876) e a Escola Politeacutecnica do Rio de

Janeiro ndash centros importantes de formaccedilatildeo da classe poliacutetica e intelectual do paiacutes ndash

tiveram papel na assimilaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo do pensamento positivista Pode-se dizer

de uma inflecircncia positivista poreacutem natildeo propriamente de uma orientaccedilatildeo positivista

pois segundo Azevedo (1963) muitos dos preceitos dessa filosofia eram mal

interpretadas pelos intelectuais brasileiros Comte por exemplo era avesso ao

ensino de ciecircncias a menores de 14 anos pois a faixa etaacuteria ateacute essa idade deveria

a seu ver ter uma educaccedilatildeo sobretudo esteacutetica

Nessas circunstacircncias a Reforma de Benjamin Constant objetivou tornar o

ensino elementar formador natildeo unicamente preparatoacuterio para o ingresso no ensino

superior ndash uma ideia antiga poreacutem sempre com dificuldades para sua regularizaccedilatildeo

e implantaccedilatildeo A lei planejava nove periacuteodos letivos denominados de classes para

o ensino primaacuterio com um 1ordm grau dividido em elementar meacutedio e superior para

alunos de 7 a 13 anos e um segundo grau para alunos maiores de 13 anos com

certificaccedilatildeo correspondente a cada grau Para ingresso no ensino secundaacuterio e para

se obter emprego administrativo nas reparticcedilotildees puacuteblicas seria necessaacuterio

apresentar certificado de 1ordm grau Nessa organizaccedilatildeo em niacutevel do ensino

secundaacuterio ainda elaborado para o Coleacutegio Pedro II ndash que passou a ser denominado

Ginaacutesio Nacional ndash o ensino de Geografia ficou presente em todos os sete anos do

curso como demonstrado no Quadro 21

Com a nova reforma foi sugerida a ldquoliccedilatildeo de coisasrdquo como meacutetodo

educacional Polecircmica no final do seacuteculo XIX e incursatildeo metodoloacutegica desde os

anos 1870 a liccedilatildeo de coisas oscilou entre ser um meacutetodo ou uma disciplina (como

proposto pelo Decreto n 7247 de 19 de abril de 1878 de autoria do ministro Carlos

Leocircncio de Carvalho)

Rui Barbosa (1849-1923) no Parecer-Projeto Reforma do Ensino Primaacuterio e

Vaacuterias Instituiccedilotildees Complementares da Instruccedilatildeo Puacuteblica (1981) recomendou a

implantaccedilatildeo das Liccedilotildees de coisas como meacutetodo nas escolas primaacuterias da capital do

Impeacuterio

Por esse meacutetodo haveria ldquo[] o ensino pelo aspecto pela realidade pela

intuiccedilatildeo pelo exerciacutecio reflexivo dos sentidos pelo cultivo complexo das faculdades

de observaccedilatildeo como o destinado a suceder triunfantemente aos processos

verbalistas ao absurdo formalismo da escola antigardquo (BARBOSA 1886 p VII grifos

do autor) e

A liccedilatildeo de coisas natildeo eacute um assunto especial no plano de estudos eacute um meacutetodo de estudo natildeo se circunscreve a uma secccedilatildeo do programa abrange o programa inteiro natildeo ocupa na classe um lugar separado como a leitura a geografia o caacutelculo ou as ciecircncias naturais eacute o processo geral a que se devem subordinar todas as disciplinas professadas na instruccedilatildeo elementar No pensamento do substitutivo pois a liccedilatildeo de coisas natildeo se

inscreve no programa porque constitue o espiacuterito dele natildeo tem lugar exclusivo no horaacuterio preceitua-se para o ensino de todas as mateacuterias como o meacutetodo comum adaptaacutevel e necessaacuterio a todas (BARBOSA 1981 v X t II p 214-215 grifos do autor)

QUADRO 21 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia de acordo com o Decreto n 981 de 8 de novembro de 1890 para a instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria do Distrito Federal Reforma Benjamim Constant

1890

Prim

aacuterio d

e 0

9 a

nos

Decreto n 981 de 8 de novembro de 1890 Art 3 Reforma Benjamim Constant

Ensino Primaacuterio do 1ordm Grau

Curso Elementar Classe 1ordf Geografia

Classe 2ordf Geografia

Curso Meacutedio Classe 1ordf Geografia

Classe 2ordf Geografia

Curso Superior Classe 1ordf Geografia

Classe 2ordf Geografia

Ensino Primaacuterio do 2ordm Grau

Classe 1ordf -

Classe 2ordf Geografia

Classe 3ordf Geografia

Programa proposto para o Gymnaacutesio Nacional

Secun

daacuteri

o d

e 0

7

anos

Ensino Secundaacuterio Integral

1ordm ano Geografia Fiacutesica (3 horas)

2ordm ano Geografia poliacutetica e econocircmica (3 horas)

3ordm ano Geografia Revisatildeo - 01 hora

4ordm ano Geografia Revisatildeo - 01 hora

5ordm ano Geografia Revisatildeo - 01 hora

6ordm ano Geografia Revisatildeo - 01 hora

7ordm ano Geografia Revisatildeo - 01 hora

Fonte Brasil (1890) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Contrapostos aos meacutetodos vigentes ateacute entatildeo baseados na repeticcedilatildeo por esse

meio se procuraria trabalhar a reflexatildeo iniciando o aprendizado pela ldquocuriosidaderdquo

pela motivaccedilatildeo

No caminho que a proacutepria crianccedila costuma seguir examinando os vaacuterios objetos que derredor se lhe deparam estaacute ensinando a natureza mesma o verdadeiro plano para a realizaccedilatildeo desse desejaacutevel propoacutesito Aproveite-se o educador dessa sede de saber do menino e induza-o a exercer os sentidos em cada objeto que sucessivamente se lhe oferecer vendo apalpando ouvindo saboreando ou cheirando conforme couber Esse meacutetodo por onde a natureza ensina e o homem ainda natildeo foi dado excede-lo Pelo emprego das faculdades perceptivas nas realidades que o cercam junta o menino de si mesmo antes de ir a escola um copioso pecuacutelio de ideacuteias (BARBOSA 1886 p 4-5)

E como visto ldquoa Geografia ocupa posiccedilatildeo destacada natildeo soacute em funccedilatildeo da

nova metodologia mas tambeacutem por causa do reconhecimento de seus meacuteritos

educativosrdquo (ISSLER 1973 p 97) nesse momento eacute claro que a educaccedilatildeo tem um

papel edificante no estabelecimento e desenvolvimento de uma naccedilatildeo (VLACH

1988) sobretudo quanto ao apagamento de marcas do Impeacuterio haacute uma nova

configuraccedilatildeo poliacutetico-administrativa Essas mudanccedilas precisam de divulgaccedilatildeo e a

escola eacute um de seus meios de propagaccedilatildeo Apesar de estar presente em todos os

anos do ensino primaacuterio (agrave exceccedilatildeo da Classe 1ordf do ensino primaacuterio de 2deg grau e do

secundaacuterio) sua carga horaacuteria natildeo era tatildeo ampla quanto o conteuacutedo indicado para o

desenvolvimento da disciplina ndash o que continuava o problema dos extensos

conteuacutedos geograacuteficos do periacuteodo imperial

Em sua essecircncia as propostas da Reforma Benjamim Constant passaram

por dificuldades de implantaccedilatildeo muitas medidas sequer chegando agrave efetivaccedilatildeo

Comeccedilam pela saiacuteda de Benjamin da pasta ministerial por desentendimentos

poliacuteticos Mas se trata de uma legislaccedilatildeo influente na forma de se pensar a estrutura

do ensino no futuro evidenciando as preocupaccedilotildees que se faziam presentes no

alvorecer da Repuacuteblica

As propostas de Benjamin Constant foram pensadas e expressas em um

momento histoacuterico propiacutecio a uma classe meacutedia ascendente com ascensatildeo tambeacutem

das cidades com uma efervececircncia cultural que privilegiava o racionalismo

descarteano o positivismo comtiano as teorias de Darwin o evolucionismo

spenceriano A nacionalidade mais que uma causa era uma praacutetica na obra de

Castro Alves Aluiacutesio de Azevedo Machado de Assis Raul Pompeacuteia e outros ndash que

com perspectivas diversas pensavam a realidade brasileira apresentavam criacuteticas

sugeriam propostas

Pensando-se o ensino primaacuterio estabeleceu-se a esse tempo a proposta

curricular de Geografia exposta no Quadro 22 Para o ensino secundaacuterio a proposta

no Quadro 23

Na Reforma Benjamin Constant (1890) no acircmbito do ensino secundaacuterio

orientado para os preparatoacuterios pretendendo-se introduzir um curriacuteculo positivista

duas perspectivas curriculares foram visadas uma com foco nas humanidades

claacutessicas e outra mais centrada nas ciecircncias para privilegiar a teacutecnica o comeacutercio

a induacutestria e a agricultura tracircmites do progresso ndash o lema ideaacuterio dos republicanos

QUADRO 22 ndash Ensino Primaacuterio Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Benjamim Constant (1890-1901)

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

ESCOLA PRIMAacuteRIA DE 1deg GRAacuteO

Geographia Curso

Elementar Classe 1ordf

Os pontos cardeais Determinar os pontos onde nasce o sol e onde se potildee Indicar os pontos cardeais em relaccedilatildeo aacute sala da classe Topographia do districto e4scolar com designaccedilatildeo de seus limites ruas que nelle existem e seus edifiacutecios notaacuteveis Conhecer nos mapas a situaccedilatildeo da Capital Federal do Estado do Rio de Janeiro e dos Estados limiacutetrofes Limites da Capital Federal Estradas de ferro que dela partem designando as suas direcccedilotildees Explicaccedilatildeo dos termos geograacuteficos e preparaccedilatildeo para o estudo da geografia geral pelo methodo descriptivo Ideacutea da terra sua forma extensatildeo e suas grandes divisotildees

Geographia Curso

Elementar Classe 2ordf

Conhecimento geral e gradual dos 21 Estados (pelo mappa) qual a sua situaccedilatildeo e seus produtos principaes Ideacutea do relevo do solo brasileiro das grandes bacias fluviais e dos portos Viagens da Capital para cada Estado Principaes vias feacuterreas e linhas de navegaccedilatildeo no Brazil Revisatildeo da geographiaia geral e sua amplificaccedilatildeo gradual o globo terrestre continentes e oceanos principaes paizes do mundo Ideacutea da representaccedilatildeo cartograacutefica elementos de leitura das cartas e plantas

Geographia Curso Meacutedio

Classe 1ordf

Revisatildeo do programma anterior Geographia physica dos Estados Unidos do Brazil sem pormenores que fatiguem inultimente a memoria Conhecimento geral da geographia physica da terra Uso dos mappas e globosExercicios de cartografia

Geographia Curso Meacutedio

Classe 2ordf

Noccedilotildeesde geographia physica da America do Sul Central e do Norte relaccedilotildees commerciaes dos Estados americanos com o Brazil Viagens Noccedilotildees elementares sobre as raccedilas liacutenguas religiotildees e formas de governo dos diferenttespaizes do mundo Circulos e zonas da terra Horizonte Zenith Nadir Antipodes Movimentos da terra e seus efeitos explicados por meio de apparelhos Latitude e longitude estudadas praticamente no globo

Geographia Curso

Superior Classe 1ordf

Revisatildeo do estudo da Ameacuterica sua geographia politica e economica e particularmente do Brazil Noccedilotildees de geographia politica e econocircmica da Europa relaccedilotildees commerciaes daquele continente com o Brazil Viagens Noccedilotildees de cosmografia ndash Descripccedilatildeo simples dos astros principaes sol lua estrelas planetas e cometas

Geographia Curso

Superior Classe 2ordf

Revisatildeo geral da geographia poliacutetica e econocircmica e particularmente do Brazil Viagens Noccedilotildees de cosmographia amplificaccedilatildeo do programma precedente noccedilatildeo das leis que regem o movimento dos astros phases da lua eclipses Systema geral do mundo Explicaccedilatildeo do dia da noite e das estaccedilotildees

ESCOLA PRIMAacuteRIA DE 1deg GRAacuteO

Geographia Classe 1ordf -

Geographia Classe 2ordf Geographia physica da Europa Aacutesia Aacutefrica Oceania e Ameacuterica Geographia physica do Brazil em particular

Geographia Classe 3ordf

Geographia poliacutetica e economica da Europa Aacutesia Africam Oceania e Ameacuterica e duas relaccedilotildees com o Brazil em particular Geographia poliacutetica do Brazil Estados divisotildees administrativas Zonas de cultura productos industriaes vias de comunicaccedilatildeo Noccedilotildees de cosmographia

Fonte Brasil (1890) Org Jeane Medeiros Silva 2011

QUADRO 23 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Benjamim Constant (1890-1901) Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

Geografia Fiacutesica

1ordm ano

Esphera celeste astros e estrellas Sol Movimentos reaes e apparentes Eclipitica Constellaccedilotildees zodiacaes Planetas e cometas Estrellas cadentes Bolides Aerolitnos Luz zodiacal Systema de Ptolomeu e Copernico Leis de Kepler Attracccedilatildeo e Repulsatildeo Foacuterma da terra Suas dimensotildees Movimentos da terra Consequencias physicas desses movimentos Horizonte Differenccedila horaria Superficie da terra Eixo Polos Linhas e zonas traccediladas em sua superficie Continentes e ilhas e seus accidentes Dimensotildees comparadas Definiccedilotildees relativas agraves terras Oceanos e suas divisotildees Lagos Rios Definiccedilotildees relativas agraves aguas Pontos cardeaes e collateraes Carthas geographicas Escalas e principaes medidas intinerarias Latitude e longitude Clima Distribuiccedilatildeo dos vegetaes e animaes pela superficie da terra Linhas isoghermicas isotheras e isochimenas Extremas de temperatura Brazil posiccedilatildeo superficie e configuraccedilatildeo geral Clima e principaes producccedilotildees Divisatildeo politica em geral Principaes cidades Estados limitrophes Brazil Bahias Ilhas Brazil Systema orographico grandes planicies Brazil Rio Amazonas S Francisco e Paranaacute Brazil Rios secundarios Lagos Brazil Divisatildeo politica em geral da America Limites e posiccedilatildeo astronomica Grandes cidades Producccedilotildees mais importantes Idem para Europa Aacutesia Aacutefrica Oceania Mares golfos e estreitos da America Ilhas da Ameacuterica (Naccedilotildees a que pertencem) Peninsulas isthmos e cabos da America Systema orographico da America Volcotildees massiccedilos planicies e steppes da America Vertentes linha de divisatildeo das aguas lagos e lagunas da America Rios da America Mares golfos e estreitos da Europa Ilhas da Europa Peninsulas isthmos e cabos da Europa Systema orographico da Europa Volcotildees massiccedilos planicies steppes vertentes linha de divisatildeo de aguas lagos e lagunas da Europa Rios da Europa Mares golfos e estreitos da Asia Ilhas da Asia Penninsulas isthmos e cabo da Asia Systema orographico da Asia Volcotildees massiccedilos depressotildees steppes desertos vertentes e lagos da Asia Rios da Asia Mares golfos estreitos e ilhas da Africa Peninsulas cabos systema orographico volcotildees e desertos da Africa Lagos lagunas e rios da Africa Mares golfos estreitos lagos lagunas e rios da Oceania Peninsulas cabos systema orographicos e volcotildees da Oceania Mais altos massiccedilos montanhas e volcotildees do globo Idem do Brazil Exercicios chartographicos sobre os continentes no principio a vista e depois de cor procedendo sempre dos traccedilos geraes para particulares

Geografia Poliacutetica e

Econocircmica 2ordm ano

Geographia politica e economica superficie populaccedilatildeo divisatildeo e formas de governo de um Estado Populaccedilatildeo geral do Globo As religiotildees Povos selvagens barbaros e civilizados Raccedilas humanas Brazil producccedilotildees commercio e industria vias de communicaccedilatildeo e telegraphicas Brazil populaccedilatildeo organizaccedilatildeo politica e administrativa religiatildeo instrucccedilatildeo Brazil Estados do Amazonas e Matto Grosso Brazil Estados de Goyaz e Paraacute Brazil Estado de Minas Geraes Brazil Estados do Maranhatildeo e Piauhy Brazil Estados do Cearaacute Rio Grande do Norte e Parahyba Brazil Estados de Pernambuco e Alagocircas Brazil Estados de Sergipe e Bahia Brazil Estados do Espirito Santo do Rio de Janeiro e do Distrito Federal Brazil Estados de Satildeo Paulo e Paranaacute Brazil Estados de Santa Catharina e Rio Grande do Sul Republicas do Paraguay Uruguay e Argentina Republicas do Chile Bolivia e Peruacute Republicas do Equador Colombia Venezuela e Guyanas Antilhas e America Central Mexico e Confederaccedilatildeo Canadiana Estados Unidos Inglaterra e possessotildees Dinamarca e possessotildees Suecia e Noruega Franccedila e possessotildees Principado de Monaco Belgica e Hollanda e possessotildees Allemanha e possessotildees Austria Hungria Principado de Liechtenstein Suissa e Portugal

Hespanha Republica de Andorra Italia Republica de S Marino Russia Romania Servia Montenegro e Bulgaria Turquia e Grecia Possessotildees russas na Asia Turkestatildeo Turquia drsquoAsia Persia Arabia Afghanistatildeo e Belutchistatildeo Hindostatildeo Indo-China Japatildeo China Barbaria e Sahara Egypto Nubia e Abyssinia Africa occidental e Colonia do Cabo Africa oriental e central Malasia e Polynesia Australia e Terras Antarcticas Circulos da esphera celeste Estaccedilotildees Posiccedilatildeo da esphera Dias sua duraccedilatildeo nas diversas latitudes Lua Suas phases Revoluccedilatildeo sideral e revoluccedilatildeo synodica Mareacutes Eclipses da lua e do sol Sua periodicidade Exercicios chartographicos no principio agrave vista e depois de coacuter sobre os diversos paizes estudados especialmente o Brazil limitando-se poreacutem a traccedilos geraes

Geografia 3ordm ano Revisatildeo

Geografia 4ordm ano Revisatildeo Geografia 5ordm ano Revisatildeo Geografia 6ordm ano Revisatildeo Geografia 7ordm ano Revisatildeo

Fonte Isller (1973) Colesanti (1985) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Esse programa apresentava inovaccedilotildees no ensino de Geografia sobretudo

por introduzir alteraccedilotildees metodoloacutegicas e pedagoacutegicas o aprendizado geograacutefico

apresenta uma orientaccedilatildeo dos conteuacutedos no sentido geralparticular e no sentido

simplescomplexo assinalando uma tentativa de excluir o excesso de detalhes que

aborreciam um aprendizado geograacutefico centrado na memorizaccedilatildeo como

explicitamente cita o programa ldquosem pormenores que fatiguem inutilmente a

memoacuteriardquo A partir dessa constataccedilatildeo Issler (1973 p 103) afirma que ldquoo programa

natildeo fez mais do que concretizar os apelos e os reclames de renovaccedilatildeo que se

fizeram sentir nas uacuteltimas deacutecadas do impeacuterio e que jaacute tinham atestado sua validade

em diversas escolas da iniciativa privadardquo

Em essecircncia os conteuacutedos prescritos satildeo os mesmos de programas

anteriores e haacute permanecircncias como a fragmentaccedilatildeo de aacutereas com recortes

espaciais sendo estudados em sua abordagem fiacutesica em um ano e a abordagem

econocircmica e poliacutetica em outro Para Issler (1973) isso se deve agrave tentativa de

descongestionar as informaccedilotildees incidentes no aprendizado

Poreacutem eacute necessaacuteria uma ressalva importante talvez a grande inovaccedilatildeo

desse programa foi a consolidaccedilatildeo da Geografia local como meacutetodo para organizar o

ensino geograacutefico E talvez a Geografia local seja o primeiro impacto de

desestruturaccedilatildeo do ensino geograacutefico descritivo (que ainda permaneceraacute por

deacutecadas) pois pelo menos em niacutevel de curriacuteculo e da produccedilatildeo bibliograacutefica didaacutetica

seria impossiacutevel estabelecer uma descriccedilatildeo de todos os locais a serem ensinados

pois haveria tantos quantas localidades de ensino houvesse limitando assim a

prescrever e produzir orientaccedilotildees a serem executadas pelos professores Liccedilatildeo de

coisas

O programa eacute enfaacutetico quanto agrave presenccedila de mapas como ferramentas

pedagoacutegicas do ensino geograacutefico Outra inovaccedilatildeo eacute o ensino da Cosmografia com

melhor estruturaccedilatildeo e utilizando-se pela primeira vez e por influecircncia do sistema

positivista o termo Astronomia

Joaquim Maria de Lacerda eacute um dos autores didaacuteticos de Geografia em

destaque nesse periacuteodo estando ativos todos os tiacutetulos dessa disciplina que deixou

atualizados apoacutes sua morte em 1886 por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro

outras publicaccedilotildees continuam ativas igualmente como a Terra Illustrada de FIC e

os tiacutetulos de Henrique Martins

Em 1901 foi publicado o Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901 a

chamada Reforma Epitaacutecio Pessoa trazendo um novo regulamento para o entatildeo

Ginaacutesio Nacional equiparado por essa ocasiatildeo como padratildeo para as instituiccedilotildees

particulares e puacuteblicas do ensino secundaacuterio com sujeiccedilatildeo agrave fiscalizaccedilatildeo federal O

ensino secundaacuterio foi organizado em seis anos estando a Geografia presente em

quatro (Quadro 24)

QUADRO 24 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de acordo com o Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901 Reforma Epitaacutecio Pessoa

1901

Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901 Reforma Epitaacutecio Pessoa (Regulamenta o Gymnasio Nacional)

Secun

daacuteri

o

de 0

6 a

nos

1ordm ano Geografia 04 horas

2ordm ano Geografia 03 horas

3ordm ano Geografia 02 horas

4ordm ano -

5ordm ano -

6ordm ano Geografia 01 hora

Fonte Brasil (1901) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Aprovado para Ginaacutesio Nacional assinado pelo Ministro de Estado da

Justiccedila e Negoacutecios Interiores M Ferraz de Campos Salles sancionado por Epitacio

Pessoa que nomeia a reforma regimentava o ensino secundaacuterio daquele

estabelecimento para conforme o Art 1ordm ldquo[] proporcionar a cultura intellectual

necessaria para a matricula nos cursos de ensino superior e para a obtenccedilatildeo do

grau de bacharel em sciencias e lettrasrdquo Define as disciplinas os nuacutemeros de horas

de aulas por semana o periacuteodo de duraccedilatildeo o regime dos exames e aprovaccedilatildeo as

condiccedilotildees de matriacutecula normas de comportamento e disciplina regras sobre

frequecircncia e disposiccedilotildees quanto ao quadro docente e administrativo Se a Reforma

de Benjamim Constant foi marcada por certo idealismo a Reforma de Epitaacutecio

Pessoa fez correccedilotildees e adequaccedilotildees agravequela proposta Prioriza assim o ensino

secundaacuterio bem mais ao alcance das possibilidades do Estado federal

sedimentando no interior institucional o modelo seriado ao tornar obrigatoacuteria a

frequecircncia extinguindo para isso os exames que dispensavam o cotidiano

presencial agraves aulas dentre os seus matriculados embora os permitisse para alunos

natildeo matriculados Impocircs assim a matriacutecula por disciplina e o seu sequenciamento

Como o Estado natildeo podia dispor de escolaridade para todos permitia o acesso agrave

formaccedilatildeo daqueles que adquiriam conhecimento fora dos estabelecimentos

escolares

De acordo com o inciso IX do Art 9deg

No ensino da geographia o intuito fundamental seraacute a descripccedilatildeo methodica e racional da superficie da terra por meio de desenhos na pedra e no papel copiados mas nunca trasfoleados e de memoria das cinco partes do mundo dos paizes da America especialmente do Brazil e dos da Europa com a preoccupaccedilatildeo de evitar minucias nomenclaturas extensas dados estatisticos exagerados e tudo quanto possa sobrecarregar a memoria do alumno ou natildeo a exercitar com real proveito quer no estudo da geographia physica quer no da geographia politica e do ramo economico No 1ordm anno far-se-ha o estudo da geographia physica particularmente do Brazil no 2ordm o da geographia politica em geral e em particular do Brazil no 3ordm da chorographia do Brazil propriamente dita (BRASIL 1901 p 687)

A reforma seguinte conhecida como Rivadaacutevia Correcirca entrou em vigor pelo

Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 Criou os chamados ldquoparceladosrdquo ndash algo

como exames preparatoacuterios organizados em torno de uma anuidade escolar ndash e o

vestibular para o ensino superior o qual dispensaria comprovaccedilatildeo de escolaridade

uma vez que natildeo se exigia a comprovaccedilatildeo de escolaridade preparatoacuteria Foi uma

forma de retirar responsabilidade do Estado pela instruccedilatildeo A Reforma Rivadaacutevia

interrompeu qualquer interferecircncia da Uniatildeo nos assuntos das instituiccedilotildees de ensino

e sobre os exames

A Geografia foi postulada nos trecircs primeiros dos seis anos do curso

secundaacuterio com uma Geografia Geral e uma Geografia Poliacutetica seguida de uma

Corografia do Brasil e de noccedilotildees de Cosmografia (Quadro 25)

QUADRO 25 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de acordo com o Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 Reforma Rivadaacutevia Correcirca

1911

Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 Reforma Rivadaacutevia Correcirca (Regulamenta o Collegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e

06 a

nos

1ordm ano Geografia do Brasil

2ordm ano Geografia Poliacutetica do Brasil

3ordm ano Corografia do Brasil e Noccedilotildees de Cosmografia

4ordm ano -

5ordm ano -

6ordm ano -

Fonte Issler (1973) Org Jeane Medeiros Silva 2011

No plano curricular o programa proposto para o ensino da Geografia estava

como indicado no Quadro 26 sendo observado que

Art 7ordm Os programmas deveratildeo attender aacutes seguintes linhas geraes [] f) No ensino da geographia o intuito fundamental seraacute a descripccedilatildeo methodica e racional da superficie da terra por meio de desenhos na pedra e no papel copiados mas nunca trasfoliados e de exercicios de memoria referentes aacutes cinco partes do mundo aos paizes da America e especialmente ao Brazil e aos da Europa com a preoccupaccedilatildeo de evitar minucias nomenclaturas extensas dados estatisticos exaggerados e tudo quanto possa sobrecarregar quer no estudo da geographia physica quer ao da geographia politica e do ramo economico Na 1ordf serie far-se-ha o estudo da geographia physica particularmente do Brazil na 2ordf o da geographia politica geral e em particular do Brazil na 3ordf o da chorographia do Brazil propriamente dita e o das noccedilotildees de cosmographia (BRASIL 1911 Art 7ordm Inciso f)

No acircmbito do discurso legal recomendaccedilotildees eram feitas para se alterar os

meacutetodos riacutegidos e improdutivos da velha Geografia descritiva ndash que a essa altura jaacute

atingira certo cansaccedilo Se por um lado o espaccedilo da Geografia como disciplina era

um fato consolidado por outro a Geografia exercida jaacute natildeo era capaz de inspirar

uma educaccedilatildeo que atendesse agrave proposta da educaccedilatildeo como cultura era falha pois

apenas era informativa com atendimento a uma formaccedilatildeo sobretudo nacional

igualmente apresentava limitaccedilotildees dependendo muito mais do desempenho do

professor para ter algum sucesso As bases de sua orientaccedilatildeo tal como a

fragmentaccedilatildeo em aacutereas a fragmentaccedilatildeo interna em cada uma dessas aacutereas faziam

com que essa disciplina encontrasse limites Parece que as primeiras tentativas de

se alterar esse quadro partiu natildeo de uma reforma dos conteuacutedos mas do modo de

ensinar ndash embora na praacutetica uma coisa dependa da outra Como se vecirc na citaccedilatildeo

acima o que se pede eacute uma disciplina mais leve sem minuacutecias mas suficiente para

estrapolar por representaccedilotildees espaciais que realmente notifiquem certo aprendizado

ao aluno

QUADRO 26 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia Coleacutegio Pedro II na vigecircncia da Reforma Rivadaacutevia Correcirca (1911-1915)

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

Geografia do Brasil

1ordm ano

Geographia suas divisotildees o globo terrestre suas dimensotildees Circulos da esphera terrestre equador paralelos meridianos tropicos e circulos polares Escala Latitudes e Longitudes Rosa dos Ventos pontos cardeaes e collateraes Orientaccedilatildeo pelo nascer do sol bussula orientaccedilatildeo pela bussula Partes liquidas e solidas da terra denominaccedilotildees de suas diversas formas Oceanos mares correntes oceanicas Europa ndash posiccedilatildeo astronomica limites dimensotildees clima e producccedilotildees Paizes da Europa seus mares golphos estreitos ilhas peninsulas isthmos e cabos Orographia e potamographia da Europa America posiccedilatildeo astronomica limites dimensotildees clima e producccedilotildees Paiacutezes da America seus mares golphos estreitos ilhas peninsulas isthmos e cabos Orographia e potamographia da America Brazil posiccedilatildeo astronocircmica limites dimensotildees litoral clima producccedilotildees Asia posiccedilatildeo astronomica limites dimensotildees clima e producccedilotildees Paizes da Asia seus mares golphos estreitos ilhas peninsulas isthmos e cabos Orographia e potamographia da Asia Africa posiccedilatildeo astronomica limites dimensotildees climas e producccedilotildees Paizes da Africa seus mares golphos estreitos ilhas peninsulas isthmos e cabos Orographia e potamographia da Africa Oceania posiccedilatildeo astronomica limites dimensotildees clima e producccedilotildees Terras da Oceania seus mares golphos estreitos ilhas peninsulas isthmos e cabos Orographia e potamographia da Oceania

Geografia Poliacutetica do

Brasil 2ordm ano

Geographia politica formas sociaes estados formas de governo Noccedilotildees de ethnographia raccedilas humanas linguas e religiotildees Noccedilotildees de geographia economica e de estatiacutestica poliacutetica e commercial Grecia antiga noccedilotildees historicas e geographicas Grecia moderna e Turquia Roma antiga noccedilotildees histoacutericas e geographicas Geographia poliacutetica situaccedilatildeo limites superficie populaccedilatildeo governo religiatildeo lingua divisatildeo administrativa populaccedilatildeo commercio industria vias de communicaccedilatildeo cidades importantes da Italia Idem da Franccedila Idem da Hespanha Idem de Portugal Idem da Suissa e Belgica e noccedilotildees de Roumania e Montenegro Germania antiga noccedilotildees historicas e geographicas Geographia politica situaccedilatildeo limites superficie populaccedilatildeo religiatildeo lingua divisatildeo administrativa producccedilatildeo commercio industria vias de communicaccedilatildeo cidades importantes e noticia historica da Allemanha Idem da Inglaterra Idem da Austria-Hungria Idem da Hollanda Idem da Russia noccedilotildees de Servia e Bulgaria Idem da Suecia e Noruega Idem da Dinamarca Idem do Brazil Idem da Argentina Idem do Paraguay e Uruguay Idem do Chile Idem da Bolivia e Peruacute Idem do Equador e Colombia Idem da

Venezuela e Goyanas Idem das Antilhas e America Central Idem do Mexico Idem dos Estados Unidos do Norte Idem do Canadaacute Idem da Persia e Indostatildeo Idem do Imperio das Indias e Indo-China Idem da China Idem do Japatildeo Idem do Egypto e Abyssinia Idem do Imperio do Marrocos Republica da Liberia e Congo Livre Idem da Australia Descripccedilatildeo de viagens no paiz e no estrangeiro

Corografia do Brasil e Noccedilotildees de

Cosmografia

3ordm ano

Corographia situaccedilatildeo superficie limites aspectos physicos clima salubridade orographia potamographia noticia historica e governo dos Estados do Amazonas e Paraacute Idem dos Estados do Maranhatildeo e Piauhy Idem dos Estados do Cearaacute e Rio Grande do Norte Idem dos Estados da Parahyba do Norte e Pernambuco Idem dos Estados de Alagocircas e Sergipe Idem dos Estados da Bahia e Espirito Santo Idem do Estado do Rio de Janeiro e do Distrito Federal Idem dos Estados de Satildeo Paulo e Paranaacute Idem dos Estados de Santa Catharina e Rio Grande do Sul Idem do Estado de Minas Geraes Idem dos Estados de Goyaz e Matto Grosso Costa portos de primeira ordem cabotagem commercio com o exterior importaccedilatildeo e exportaccedilatildeo do Brazil Costa portos de segunda ordem cabotagem commercio interestadual Vertentes navegaccedilatildeo fluvial commercio interior portos fluviaes Estructura geologica mineralogia flora e fauna Climatologia e salubridade aclimaccedilatildeo nos diversos Estados Agricultura industria e commercio Viaccedilatildeo companhias de navegaccedilatildeo nacionaes e estrangeiras Viaccedilatildeo estradas de ferro principaes estradas de ferro principaes de rodagem Correios e Telegraphos Ethnographia e colonizaccedilatildeo do Brazil Estudo comparativo da populaccedilatildeo do Brazil com a dos diversos paizes e da populaccedilatildeo dos Estados entre si Cosmographia astros esphera celeste Estrellas constellaccedilotildees Systemas planetarios Gravitaccedilatildeo universal leis de Kepler e Newton Terra forma posiccedilatildeo dimensotildees e movimentos Atmosphera e meteoros Desigualdades dos dias e noites zonas e estaccedilotildees Lua movimentos e phases da lua sua influecircncia sobre as mareacutes Eclipses Estrellas fixas constellaccedilotildees zodiacaes estrellas cadentes bolidos e aerolitos nebulosas Carta geographica seus elementos projecccedilotildees Calendarios Problemas de cosmographia

- 4ordm ano -

- 5ordm ano

-

- 6ordm ano -

Fonte Brasil (1911) Org Jeane Medeiros Silva 2011

A Reforma Carlos Maximiliano foi a proacutexima cerca de quatro anos depois

promulgada pelo Decreto n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 De inspiraccedilatildeo

europeia determinou a observaccedilatildeo de um curriacuteculo miacutenimo seriado para se obter

formaccedilatildeo escolar e prestar exame para o ensino superior devendo os exames

observar os conteuacutedos das seacuteries Endossa das reformas anteriores a seriaccedilatildeo

escolar proposta em 1890 a estrutura curricular de 1901 e o exame vestibular

proposto em 1911

Nessa proposta o ensino secundaacuterio foi reduzido a cinco anos e a Geografia

condensada em dois a Geografia Geral eminentemente fiacutesica une-se com a

Geografia Poliacutetica (abordagem global) seguindo-se no ano seguinte a Corografia do

Brasil (Quadro 27)

QUADRO 27 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de acordo com o Decreto n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 Art 167 Reforma Carlos Maximiliano

1915

Decreto de n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 Art 167 Reforma Carlos Maximiliano (Regulamenta o Collegio Pedro II)

Secun

daacuteri

o d

e

06 a

nos

1ordm ano Geografia Geral Geografia Fiacutesica e Poliacutetica dos continentes

2ordm ano Corografia do Brasil e noccedilotildees de Cosmografia

3ordm ano -

4ordm ano -

5ordm ano -

Fonte Brasil (1915) Org Jeane Medeiros Silva 2011

A Reforma Rocha Vaz promulgada pelo Decreto n 16782-A de 13 de

janeiro de 1925 tentou extinguir os preparatoacuterios ou parcelados ao fazer sobrevaler

o ensino seriado como meio de impor continuidade no curriacuteculo obrigatoacuterio a ser

seguido em pelo menos cinco anos medida que na realidade foi de difiacutecil

implementaccedilatildeo apenas efetivada plenamente em outras reformas Tratou-se de

uma reforma mais administrativa que propriamente pedagoacutegica Eacute de entatildeo a

tentativa de romper os estudos obrigatoacuterios como simples preparaccedilatildeo para o

ingresso superior propondo-os como preparatoacuterio para a vida egressa do estudante

algo que jaacute se pensava no ascedente debate sobre a educaccedilatildeo brasileira Nessa

proposta a situaccedilatildeo da Geografia no ensino secundaacuterio permaneceu inalterada agrave

exceccedilatildeo da separaccedilatildeo da Cosmografia deslocada para o 5ordm ano talvez pelo

surgimento de mais espaccedilo posto que o ensino secundaacuterio retornou a ter seis anos

(Quadro 28)

QUADRO 28 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de acordo com o Decreto nordm 16782-A de 13 de janeiro de 1925 Art 47 Reforma Luiz Alves Rocha Vaz

1925

Decreto nordm 16782-A de 13 de janeiro de 1925 Art 47 Reforma Luiz Alves Rocha Vaz

Secun

daacuteri

o

de 0

6 a

nos

1ordm ano Geografia Geral

2ordm ano Geografia (Corografia do Brasil)

3ordm ano -

4ordm ano -

5ordm ano Cosmografia

6ordm ano -

Fonte Brasil (1925) Org Jeane Medeiros Silva 2011

A extensatildeo do curriacuteculo de Geografia a esse tempo (Quadro 29) com um

niacutevel de detalhamento bem maior que qualquer um precedente eacute uma tentativa de

controle do que se deve ensinar apesar de incorporar algumas inovaccedilotildees como

temas novos as migraccedilotildees por exemplo Haacute entatildeo uma tentativa e sem duacutevida eacute

influente nisso a ldquoorientaccedilatildeo modernardquo da Geografia conforme discutirei adiante de

sair do quadro puramente descritivo para formar uma base conceitual para os

estudos para aleacutem do conceito de Geographia Politica seguido de algumas

definiccedilotildees centrais o curriacuteculo propotildee

O conceito da geographia humana social ou politica A geographia economica Raccedilas Linguas Religiotildees Classificaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo geographica Formas sociaes Civilizaccedilatildeo seus elementos seus estaacutegios evolucionarios Instituiccedilotildees sociaes o Estado suas modalidades Os grupos humanos Migraccedilotildees causas e resultados A colonizaccedilatildeo Formaccedilatildeo das cidades Actividade econocircmica Criaccedilatildeo Agricultura Industria Transporte Commercio O lsquofactor geographicorsquo

propondo um desenvolvimento ao tema antes de aplicaacute-lo Sugere a colocaccedilatildeo de

relaccedilotildees para a migraccedilatildeo apresentar as causas e as consequecircncias

Aleacutem disso inclui recomendaccedilotildees metodoloacutegicas ldquoAs aulas seratildeo sempre

dadas com o auxilio de cartas e numerosos deveratildeo ser os exercicios de leitura das

mesmas e de esboccedilo cartographicos e do mappa mudo emprestando assim ao

ensino um cunho praticordquo Satildeo os anos 1920 quando em niacutevel do ensino da

Geografia se tenta uma reaccedilatildeo ao aspecto descritivo pelo ensino e mnecircmonico pelo

aprendizado Como afirmei em outra ocasiatildeo tenta-se inicialmente transformar o

ensino da Geografia pelos meacutetodos do ensino procurando-se em primeiro lugar

tornar esse saber um conhecimento praacutetico que apresente resultados

QUADRO 29 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia Coleacutegio Pedro II na vigecircncia da Reforma Luiz Alves-Rocha Vaz (1925-1931)

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

Geografia Geral

1ordm ano

PRIMEIRO ANO

PROLEGOMENOS (10 liccedilotildees) A Geographia - Definiccedilatildeo e divisotildees Sua utilidade A Terra - Forma dimensotildees movimentos O Systema solar - Planetas satellites A lua e suas phases Dos systemas de Ptolomeu Copernico O Universo - Estrellas As constellaccedilotildees o Cruzeiro do Sul Orientaccedilatildeo - Pontos cardeaes Rosa dos Ventos A bussola Circulos da esphera terrestre - Coordenadas geographicas a latitude e a longitude Obliquidade da ecliptica - Desigualdade dos dias e das noites As estaccedilotildees Cartas geographicas - Escalas Unidades de extensatildeo linear e de superficie

GEOGRAPHIA PHYSICA (6 liccedilotildees) Nomenclatura geographica - Denominaccedilatildeo das formas da Terra Elementos solido liquido gazoso Os continentes e os Mares - Typos de relevo Relaccedilotildees entre relevo e as costas Hidrographia elementos de comparaccedilatildeo - Classificaccedilatildeo dos mares - Os oceanos - As correntes oceanicas sua disposiccedilatildeo geral - Mar de sargaccedilo - Estudo sumario do Atlantico - O Gulf Stream A Atmosphera - Noccedilotildees sobre a temperatura os ventos as chuvas Climas Os Continentes comparados entre si - Analogias e contrastes baseados na geographia physica Recursos mineraes do globo Flora - Fauna

GEOGRAPHIA POLITICA (6 liccedilotildees) Definiccedilotildees - O conceito da geographia humana social ou politica A geographia economica Raccedilas - Linguas - Religiotildees - Classificaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo geographica Formas sociaes - Civilizaccedilatildeo seus elementos seus estaacutegios evolucionarios - Instituiccedilotildees sociaes o Estado suas modalidades Os grupos humanos - Migraccedilotildees causas e resultados - A colonizaccedilatildeo - Formaccedilatildeo das cidades Actividade economica - Criaccedilatildeo - Agricultura - Industria - Transporte - Commercio - O ldquofactor geographicordquo

GEOGRAPHIA GERAL DOS CONTINENTES (18 liccedilotildees) Estudo ou descripccedilatildeo geral de cada continente na ordem seguinte Posiccedilatildeo limites e dimensotildees - Aspecto geral do relevo e do litoral - Typos de climas - Hydrographia - Vegetaccedilatildeo e animaes caracteristicos - Populaccedilotildees - Divisatildeo politica - Os recursos economicos

GEOGRAPHIA REGIONAL (40 liccedilotildees) Estudo ou descriccedilatildeo geral de cada regiatildeo na ordem seguinte Situaccedilatildeo limites superficie - Aspecto geral do relevo - Litoral - Clima - Hydrographia - Vegetaccedilatildeo - Populaccedilatildeo e principaes cidades - Governo - Recursos economicos

REGIOtildeES NORTE-AMERICANAS America do Norte (Regiotildees polares Canadaacute Estados Unidos) Indias Occidentaes (Mexico America Central Antilhas)

REGIOtildeES SUL-AMERICANAS Estados Septentrionais (Colombia Venezuela as Guianas) Estados do Paciacutefico (Equador Peruacute Bolivia Chile) Estados do Prata (Argentina Uruguai Paraguai)

REGIOtildeES DA EUROPA Europa Occidental (Gratilde Bretanha Franccedila Belgica Hollanda) Europa Meridional (Portugal Espanha Italia os Balkans) Europa Central (Allemanha Austria Suissa Tchecoslovaquia Hungria Rumania) Europa Occidental e Septentrional (Russia Polonia Estados Balticos Finlandia Suecia Noruega Dinamarca e Islandia)

REGIOtildeES DA ASIA Asia Oriental (China e Japatildeo) Asia Meridional (Indo-China Indostatildeo e dependencias) Asia Occidental (Persia Arabia Turquia Syria Palestina) Asia Septentrional (Siberia e mais

dominios da Russia) Insulindia (Malasia as Filippinas)

REGIOtildeES DA OCEANIA Australasia (Australia e Tasmania Nova Zelandia)

Terras Oceanicas (Melanesia e Micronesia)

REGIOtildeES DA AFRICA Africa do Norte (Egypto e Sudatildeo Libia Argelia e Tunisia Marrocos) Africa Occidental e Equatorial (regiotildees francezas espanholas inglezas portuguesas e regiatildeo belga as ilhas oceanicas Libeacuteria)

Africa Oriental (Abissinia regiotildees italianas francezas britannicas e portuguezas) Africa do Sul (regiotildees portuguezas e britannicas) Ilhas africanas do Oceano Indico No ldquoestudordquoou ldquodescripccedilatildeo geralrdquo o professor examinaraacute os elementos geographicos geraes aplicados agrave regiatildeo considerada Aleacutem disso em cada regiatildeo faraacute pelo menos um ldquoestudo especialrdquo examinando um aspecto interessante e proprio da regiatildeo As aulas seratildeo sempre dadas com o auxilio de cartas e numerosos deveratildeo ser os exercicios de leitura das mesmas e de esboccedilo cartographicos e do mappa mudo emprestando assim ao ensino um cunho pratico

Geografia (Corografia do Brasil)

2ordm ano

COROGRAFIA DO BRASIL - PARTE GERAL (40 liccedilotildees) Situaccedilatildeo geographica - Aspecto geral - Area e pontos extremos - A posiccedilatildeo do Brasil no Continente Sul-Americano dados comparativos Fronteiras terrestres - Typos de fronteiras Historico summario de sua formaccedilatildeo Linhas convencionaes demarcadas e a demarcar - Esboccedilo geographico Uruguai a lagoa Mirim Argentina o territorio das ldquoMissotildeesrdquo Paraguay Bolivia o Acre Peruacute Colombia Venezuela as Guianas - os arbitramentos a obra de Rio Branco Relevo - Aspecto geologico - Classificaccedilatildeo por systemas orographicos - Massiccedilo Atlantico (Serra do Mar Serra Geral Mantiqueira) Massiccedilo Central (Systema Goiano Systema Mattogrossense) - Massiccedilo Nortista - Massiccedilo Guianense Estudo especial da Serra do Mar e da Mantiqueira - Formaccedilatildeo orientaccedilatildeo altitudes gargantas e passos Planaltos e planicies - Relaccedilotildees geographicas e intercomunicaccedilotildees entre as bacias fluviaes Litoral - Morphologia aspectos e relaccedilotildees geographicas com o relevo - Typos de costas - Mangues recifes barreiras lagoas costeiras dunas - Elevaccedilatildeo do litoral os sambaquis O Atlantico do Sul - Relevo - Correntes mareacutes - Ilhas Oceanicas Discripccedilatildeo do litoral - Litoral septentrional o archipelago amazonico - Litoral oriental a Bahia - Litoral meridional bahias de Guanabara Paranaguaacute cabos e ilhas - A costa do Rio Grande do Sul Clima - Posiccedilatildeo astronomica do Brasil - Latitude e altitude - Distribuiccedilatildeo das temperaturas dos ventos e das chuvas - Typos de climas super-humido semi-aacuterido e semi-humido de planicie e de altitude - Exemplos especiaes Paraacute Recife Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Salubridade e colonizaccedilatildeo - Importancia dos serviccedilos meteorologicos para a agricultura

Hydrografia - Os grandes centros de dispersatildeo de aguas - Vertentes - Rios do planalto e de planicie - Dados comparativos - Os lagos e regiotildees lacustres Bacias Hydrographicas Amazonas regimen curso e delta - Rios temporarios do Nordeste - Vertente oriental dos planaltos estudo especial do Satildeo Francisco - O Parahiba e seus afluentes - Rios meridionais Recursos naturaes - Mineraccedilatildeo ouro ferro manganez carvatildeo pedras preciosas - Distribuiccedilatildeo geographica Vegetaccedilatildeo - Zonas principaes - Mattas e campos caatingas pantanaes Producccedilotildees do reino animal Populaccedilatildeo - Esboccedilo ethnographico - Grupos indigenas antigos e actuaes - Linguas e religiotildees - O elemento europeu na populaccedilatildeo - Recenseamento do Brasil - Os grandes centros urbanos Os Estados Limites aacuterea populaccedilatildeo e cidades principaes Divisatildeo administrativa da Republica - O Governo -

Instrucccedilatildeo puacuteblica - O Districto Federal Economia Nacional - Condiccedilotildees geraes - As terras e a prosperidade - Agricultura productos tropicaes cafeacute cacaacuteo algodatildeo assucar - Os cereaes milho trigo arroz - Zonas de producccedilatildeo - Criaccedilatildeo de gado frigoriacuteficos - Industrias extrativas mineraccedilatildeo borracha madeira mate carnauacuteba castanha - Industria manufactureira - Fabricas do Brasil - Exposiccedilotildees Apparelhamento economico - Viaccedilatildeo navegaccedilatildeo e portos - Telegrapho - Financcedilas - Os grandes troncos ferroviarios Commercio exterior - o seu desenvolvimento Artigos de exportaccedilatildeo

PARTE REGIONAL (40 liccedilotildees) As regiotildees naturaes do Brasil - Divisatildeo Regional do paiz - Bases geographicas racionais desta divisatildeo - Distribuiccedilatildeo dos Estados I - BRASIL SPTENTRIONAL OU AMAZONICO (Estados do Paraacute e Amazonas territorio do Acre) Descripccedilatildeo geral Posiccedilatildeo extensatildeo aspecto physico hydrographia - Vegetaccedilatildeo e recursos naturaes - Cidades principaes Descripccedilatildeo especial o rio Amazonas como rede de viaccedilatildeo e caminho de penetraccedilatildeo - A pesca fluvial e recursos economicos da Amazocircnia - A questatildeo da borracha - Os campos de criaccedilatildeo - Os portos de Manaacuteos e Beleacutem II- BRASIL NORTE-ORIENTAL (Estados do Maranhatildeo Piauhi Rio Grande do Norte Parahiba Pernambuco e Alagoas) Descripccedilatildeo geral Posiccedilatildeo extensatildeo aspecto physico litoral - A zona semi-arida - Recursos naturaes - Cidade Descripccedilatildeo especial O nordeste primeira colonizaccedilatildeo dominios estrangeiros formaccedilatildeo das unidades politicas - Zonas de criaccedilatildeo e zonas agricolas - A lucta contra as seccas grandes accediludes - O Maranhatildeo como regiatildeo de transiccedilatildeo entre a Amazonia e o Nordeste - A emigraccedilatildeo cearense - As salinas do Rio Grande do Norte - O porto de Recife III- BRASIL ORIENTAL (Estados de Sergipe Bahia Minas Espirito Santo e Rio de Janeiro o Districto Federal) Descripccedilatildeo geral Posiccedilatildeo extensatildeo sub-regiotildees naturaes litoral serra e planalto - Climas - Rios - Os recursos economicos - Cidades Descripccedilatildeo especial Bahia a antiga metropole e os bandeirantes bahianos - O caminho das minas - Historia do Rio de Janeiro - Minas Geraes provincia e Estado - Os periodos economicos periodo da mineraccedilatildeo periodo cafeeiro a evoluccedilatildeo actual para a polycultura - Os climas typos de climas de montanhas cidades de veratildeo e cidades drsquoagua - A Bahia cafeacute cacaacuteo couros fumo borracha - Minas reservas de ferro manganez e pedras o gado - O porto do Rio de Janeiro - A Capital da Republica centro economico social politico e intellectual

IV- BRASIL MERIDIONAL (Estados de Satildeo Paulo Paranaacute Santa Catharina Rio Grande do Sul) Descripccedilatildeo geral Posiccedilatildeo extensatildeo sub-regiotildees naturaes litoral serra planalto e planicie rio-grandense Climas rios recursos naturaes populaccedilatildeo cidades Descripccedilatildeo especial S Paulo centro historico da colonizaccedilatildeo sul - Historia do Rio Grande do Sul - A terra roxa e o cafeacute colonizaccedilatildeo os Estados do Sul e a evoluccedilatildeo para a polycultura - A criaccedilatildeo do gado e os frigoriacuteficos - Industria manufatureira em SPaulo - As mattas do Paranaacute - O matte e os mercados sul-americanos - O Rio Grande a regiatildeo serrana colonial e agricola a regiatildeo da campanha criadora - Recircdes ferroviarias do sul e portos - Santos emporio mundial do cafeacute - Os mercados estrangeiros a importaccedilatildeo americana - A barra do Rio Grande - O Porto das Torres V- BRASIL CENTRAL (Estados de Matto Grosso e Goiaz) Descripccedilatildeo geral e especial O Relevo - A hydrographia - A penetraccedilatildeo do interior fundaccedilatildeo de Goiaz - O acesso de Matto Grosso por via fluvial e por via ferrea a ldquoNoroesterdquo - Principaes centros e recursos economicos Durante o anno o professor faraacute exercicios de esboccedilos cartographicos e de mappa mudo

A descripccedilatildeo ldquoespecialrdquo consta de themas que serviratildeo de assumpto agraves prelecccedilotildees do professor procurando este apontar os aspectos mais interessantes e proacuteprios de cada regiatildeo do Brasil

- 3ordm ano

- 4ordm ano

Cosmografia 5ordm ano

Introducccedilatildeo - Revisatildeo das principaes noccedilotildees de geographia astronomica elementar jaacute ministradas no curso no curso de geographia (1ordm anno) e indispensaveis para a comprehensatildeo da materia cujo estudo se vae iniciar Objetivo e definiccedilatildeo da Astronomia e da Cosmografia suas divisotildees Ceacuteo esphera celeste Universo e mundo Astros sua classificaccedilatildeo summaria Distancias angulares e diametro apparente Movimento diurno apparente dos astros suas leis Pontos linhas e circulos da esphera celeste Coordenadas astronomicas horizonte equatoriaes e eclipticas Theodolito Luneta meridiana Relogio sideral Estrellas e constellaccedilotildees O Sol constituiccedilatildeo movimentos Systemas planetarios systema solar Leis de Kepler Newton e Bode Estudo summario dos planetas e de seus satelites Cometas Estudo particular da Terra forma posiccedilatildeo no espaccedilo dimensotildees Pontos linhas circulos e zonas da Terra Pontos do horizonte Orientaccedilatildeo Bussola Coordenadas geographicas Principaes movimentos da Terra Consequecircncia dos movimentos da Terra e da inclinaccedilatildeo do eixo Meteoros cosmicos Lua Forma constituiccedilatildeo movimentos phases Eclipses occultaccedilotildees passagens Mareacutes Medida de tempo Calendarios Coacutemputo ecclesiastico Methodos de observaccedilatildeo astronomica Revisatildeo dos principaes instrumentos Observatorios annuarios ephemerides Correcccedilotildees na observaccedilatildeo astronomica depressatildeo refracccedilatildeo parallaxe semi-diametro Cartas e globos terrestres e celestes Projecccedilotildees e desenvolvimento Problemas fundamentaes da astronomia indicaccedilatildeo dos methodos para determinaccedilatildeo das coordenadas terrestres de um logar da posiccedilatildeo dos astros e da hora Noccedilotildees de historia da astronomia Principaes hypoteses cosmogonicas

- 6ordm ano

Fonte Issler (1973) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Quando em 1930 ruiu a Primeira Repuacuteblica e com ela muitas instituiccedilotildees

tradicionais o Brasil viveu um dos periacuteodos de maior radicalizaccedilatildeo poliacutetica de sua

histoacuteria (AZEVEDO 1963) A Reforma Francisco Campos ocorreu sobre o fim da

Repuacuteblica Velha em 1930 assim teve-se o Decreto nordm 19890 de 18 de abril de

1931 antecedido e seguido de uma seacuterie de decretos complementares Com ela de

fato se procurou constituir no Brasil um fortalecimento do curriacuteculo adicionado com

um quadro teacutecnico e administrativo como suporte Eacute nesse momento que os cursos

preparatoacuterios satildeo abandonados encerrando mais de um seacuteculo de aulas avulsas O

ensino secundaacuterio foi organizado em cinco anos com predomiacutenio dos estudos

cientiacuteficos sobre os estudos claacutessicos Agrave Reforma Francisco Campos faltou um

equiliacutebrio com os outros niacuteveis de ensino e sobretudo professores para sua plena

implementaccedilatildeo sendo que o corpo docente existente teve dificuldades para lidar

com os curriacuteculos enciclopeacutedicos dispostos

Em 1924 criou-se a Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo que realizou

diversas conferecircncias importantes para repensar a educaccedilatildeo brasileira Seraacute

lanccedilado no bojo dessas discussotildees em marccedilo de 1931 o Manifesto dos Pioneiros

influente inclusive nas legislaccedilotildees educacionais que viriam O veacutertice desses

debates era o rompimento do isolamento da educaccedilatildeo procurando-a atrair para o

contexto das necessidades e interesses sociais para diluir nas praacuteticas e poliacuteticas

da educaccedilatildeo o princiacutepio da escola puacuteblica leiga obrigatoacuteria e gratuita comum aos

dois sexos e em regime de co-educaccedilatildeo A principal clivagem dessa proposta foi

afastar a rede de ensino dos interesses das classes sociais mais privilegiadas

atuando como agente organizador da sociedade

Francisco Campos Ministro da Educaccedilatildeo e Sauacutede impocircs a Reforma do

Ensino Secundaacuterio cuja marca foi uma atribuiccedilatildeo generalizada da responsabilidade

do Estado sobre esse niacutevel inclusive com uma oficializaccedilatildeo de fato da equiparaccedilatildeo

de todos os estabelecimentos puacuteblicos e privados ao padratildeo do Coleacutegio Pedro II

nivelando a ele as instituiccedilotildees estaduais e uniformizando os estabelecimentos

privados que haviam crescido muito na ausecircncia de uma oferta de ensino puacuteblico A

lei consolidou definitivamente o ensino seriado implementou um sistema federal de

regulamentaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo para as instituiccedilotildees comprometendo a Uniatildeo com o

seu desempenho Ao propor perspectivas para o ensino teacutecnico e do magisteacuterio

rompeu com a funccedilatildeo sempre prevalente ateacute entatildeo do ensino secundaacuterio como

preparatoacuterio para o ensino superior Em definitivo encerrou a questatildeo dos exames

preparatoacuterios como antes apenas a Reforma Rivadaacutevia conseguira certo ecircxito em

vez de uma certificaccedilatildeo do ensino secundaacuterio propocircs uma prova mais rigorosa

aliada agrave oferta das disciplinas do secundaacuterio denominada ldquoexames de madurezardquo A

reforma Campos propocircs que o acesso ao ensino superior fosse feito somente

mediante o cumprimento completo da seriaccedilatildeo secundaacuteria ou seu equivalente

atribuindo-se a esse ciclo natildeo somente a preparaccedilatildeo para o ingresso nas

faculdades mas tambeacutem como um fim em si que fosse capaz de dar formaccedilatildeo ao

estudante (RIBEIRO 2001)

A Reforma Francisco Campos procurou homogeneizar os curriacuteculos Para

isso negociou com as instituiccedilotildees catoacutelicas introduzindo o ensino religioso como

proposta curricular em contracorrente ao caraacuteter laico que o curriacuteculo republicano

propocircs e defendeu ateacute entatildeo uma vez que a Igreja atribuiacutea a si a responsabilidade

exclusiva pela educaccedilatildeo moral da sociedade brasileira como forma de um esforccedilo

patriota de sua parte na conformaccedilatildeo da pureza dos costumes (MOURA 2000) As

instituiccedilotildees privadas sobretudo as confessionais ateacute esse tempo tinham uma forccedila

autocircnoma por natildeo dependerem do Estado ao passo que este natildeo as

supervisionavam

Na proposiccedilatildeo do quadro curricular da Reforma Francisco Campos

realizada pelo Decreto nordm 198901931 e consolidada pelo Decreto nordm 212411932 o

ensino secundaacuterio dividiu-se em um curso fundamental em cinco seacuteries nas quais

constava a Geografia em todas e um curso complementar de dois anos tambeacutem se

fazendo presente a Geografia acrescida da Cosmografia (Quadro 30)

QUADRO 30 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de acordo com o Decreto nordm 19890 de 18 de abril de 1931 Reforma Francisco Campos

1931

Decreto nordm 19890 de 18 de abril de 1931 Art 2ordm 3ordm Reforma Francisco Campos

Secun

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Ensino Secundaacuterio Curso Fundamental

1ordf seacuterie Geografia

2ordf seacuterie Geografia

3ordf seacuterie Geografia

4ordf seacuterie Geografia

5ordf seacuterie Geografia

Ensino Secundaacuterio Curso Complementar

1ordf seacuterie Geografia e Cosmografia

2ordf seacuterie Geografia e Cosmografia

Ensino Secundaacuterio Curso Complementar (ingresso nos cursos juriacutedicos)

1ordf seacuterie -

2ordf seacuterie Geografia

Ensino Secundaacuterio Curso Complementar (ingresso nos cursos de engenharia e arquiterura)

1ordf seacuterie Cosmografia

2ordf seacuterie -

Fonte Brasil (1931) Org Jeane Medeiros Silva 2011

Quanto ao curso complementar seria escolha do aluno ingressar em outros

dois cursos possiacuteveis um curso preparatoacuterio para ingresso nos cursos juriacutedicos e

outro para ingresso nos cursos de engenharia e arquitetura Para os cursos juriacutedicos

a Geografia constava como disciplina na segunda seacuterie para as engenharias e

arquitetura se aplicaria a cosmografia na primeira seacuterie

O ensino secundaacuterio nesse momento ensaiava os passos que trilharia na

direccedilatildeo do modelo que seria prevalecente ateacute os dias atuais ndash criando-se um curso

intermediaacuterio entre o ensino primaacuterio e o secundaacuterio propriamente dito o ginaacutesio ndash

modelo esse que jaacute estaria em vigecircncia a partir da deacutecada de 1940 Na vigecircncia do

Estado Novo apoacutes o primaacuterio o ensino organizava-se com um 1ordm ciclo chamado

ginasial de quatro anos seguido de um curso claacutessico ou de um curso cientiacutefico

com trecircs seacuteries em todos constando o ensino de uma Geografia Geral e de uma

Geografia do Brasil

O curriacuteculo em vigecircncia nesse periacuteodo (Quadros 31 e 32) diferencia-se de

todos os anteriores Apesar de ter ainda heranccedilas claras da Geografia descritiva

(como a Cosmografia ndash que mais tarde seria apenas um dos temas internos agrave

Geografia escolar) organizando-se na triacuteade Cosmografia Geografia Fiacutesica e

Geografia Poliacutetica mas co-habitando com a Geografia Humana eacute sensiacutevel sua

atualizaccedilatildeo em termos teoacuterico-metodoloacutegicos Agrave descriccedilatildeo sobrepotildee-se a explicaccedilatildeo

como processo ldquoformaccedilatildeo de cidadesrdquo ldquoinfluecircncia do meio sobre a distribuiccedilatildeo da

vida do Globordquo ldquodemonstraccedilatildeo da accedilatildeo das aacuteguas sobre o modeladordquo A

Biogeografia a Geografia comparada conceitos como ldquozonas fisiograacuteficasrdquo ou

hidrosfera satildeo contribuiccedilotildees presentes da Geografia moderna cientiacutefica

O Brasil passa a ser estudado por regiotildees Nos livros do periacuteodo a funccedilatildeo

nacional-patrioacutetica dada as condiccedilotildees poliacuteticas instituiacutedas pelo Estado Novo vai

encontrar um ambiente de ampliaccedilatildeo desse uso Conforme Proenccedila (1928 p 22)

Todas as naccedilotildees cuidam seriamente do ensino da geographia nacional O fim immediato eacute sempre o mesmo - a cultura do sentimento de patriotismo Cada uma poreacutem visa um objectivo remoto segundo o qual se faz a orientaccedilatildeo do ensino Esta eacute porque tem as suas fronteiras ameaccediladas aquella eacute porque pensa numa reivindicaccedilatildeo aquelloacuteutra eacute porque sente necessidade de expansatildeo de seu territoacuterio [] Noacutes tambem temos o nosso ponto de vista Paiz enorme como eacute o Brazil e sem facilidade de communicaccedilotildees as suas populaccedilotildees se desconhecem O Norte natildeo sabe o que eacute o Sul e o Sul ignora o que eacute o centro Aleacutem disto eacute grande e por toda parte o numero de brasileiros novos que natildeo podem deixar de soffrer a influencia dos pais para a continuaccedilatildeo da propria nacionalidade A nossa obra portanto eacute de unificaccedilatildeo do sentimento nacional pelo conhecimento de todo o territorio e de todo o povo brasileiro pelos brasileiros

QUADRO 31 ndash Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Francisco Campos (1931-1937) para o Curso Fundamental

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

Ensino Secundaacuterio Curso Fundamental

Geografia 1ordm seacuterie

I - Prolegocircmenos Sistema Solar a Terra no Espaccedilo a lua constelaccedilotildees coordenadas fusos estaccedilotildees etc II - Geografia Fiacutesica Estrutura da Terra distribuiccedilatildeo das terras e mares O elemento soacutelido elementos liacutequidos elementos gazozos Litorais e tipos de costas dunas relaccedilotildees A vida animal e vegetal sobre o globo III - Praacuteticas de Geografia Demonstraccedilatildeo e experiecircncias com o teluacuterio e o pecircndulo de Foucault Processos de orientaccedilatildeo determinaccedilatildeo de latitude longitude hora legal escalas Leituras de cartas

Geografia 2ordm seacuterie

I - Geografia Geral dos Continentes posiccedilatildeo limites dimensotildees comparadas relevo climas etc Descriccedilatildeo sumaacuteria de cada continente com as divisotildees naturais II - Geografia Fiacutesica do Brasil situaccedilatildeo aspectos dimensotildees fronteiras relevo classificaccedilatildeo dos sistemas e maciccedilos litoral clima etc III - Praacuteticas de geografia experiencias sobre formas do relevo formaccedilatildeo de chuvas e demonstraccedilatildeo da accedilatildeo das aacuteguas sobre o modelado

Geografia 3ordm seacuterie

I - Geografia Poliacutetica e econocircmica populaccedilotildees e raccedilas liacutenguas e religiotildees migraccedilotildees e civilizaccedilatildeo formaccedilatildeo de cidades As capitais Circulaccedilatildeo e transportes Cultivos agriacutecolas alimenticios e industriais Criaccedilatildeo de animais e exploraccedilatildeo mineral Utilizaccedilatildeo de focircrccedilas naturais II - Geografia Poliacutetica e Econocircmica do Brasil Populaccedilotildees grupos eacutetnicos elemento europeu colonizaccedilatildeo recenceamento Recursos naturais e mananciais de energia Condiccedilotildees gerais de agricultura o gado induacutestria extrativa Transporte e comeacutercio

Geografia 4ordm seacuterie

I - Geografia dos principais Paiacuteses estudo espacial de cada uma das seguintes potecircncias nas suas feiccedilotildees fiacutesicas e poliacuteticas particulares salientando os principais problemas sociais ou econocircmicos Inglaterra e o Impeacuterio Britacircnico a Alemanha e a Europa Central Franccedila e colocircnias Itaacutelia e Adriaacutetico peninsula Ibeacuterica Repuacuteblicas Russas Japatildeo China Estados Unidos e Argentina II - Geografia Regional do Brasil Descriccedilatildeo fiacutesica e poliacutetica de cada uma das regiotildees naturais do paiacutes Estudo dos principais problemas sociais e econocircmicos da atualidade e da evoluccedilatildeo econocircmica das regiotildees naturais Brasil setentrional Brasil Norte-Oriental Brasil Oriental Brasil Meridional Brasil Central

Geografia 5ordm seacuterie

I - Elementos de Cosmografia Sistema Solar planetas cometas etc II - Meteorologia e climas Atmosfera composiccedilatildeo ventos temperatura do ar meacutedias teacutermicas umidade precipitaccedilotildees climas da Terra classificaccedilotildees dos principais tipos Climas do Brasil III - O elemento soacutelido a crosta terrestre relevo do solo erosatildeo e tectocircnica erosatildeo fluvial e seu ciacuteclo formaccedilatildeo de vales tipos de planaltos e planiacutecies influecircncias das rochas sobre a topografia Relecircvo vulcacircnico deseacutertico costas e recifes IV - O elemento liacutequido Oceanos e mares relevo submarino aacutegua do mar salinidade correntes vagas ressacas Lagos aacuteguas correntes escoamento fluvial ciclo vital dos rios tipos de regimes Estudo de rios brasileiros V - Elementos de Biogeografia Influecircncia do meio sobre a distribuiccedilatildeo da vida do Globo as plantas animais e Homem

Distribuiccedilatildeo e tipos de vegetais Distribuiccedilatildeo dos animais fauna terrestre e condiccedilotildees de vida do Homem nos diferentes meios VI - Geografia Comparada da Ameacuterica Estrutura relecircvo litorais vegetais recursos naturais zonas fisiograacuteficas etnografia etc

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

QUADRO 32 ndash Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Francisco Campos (1931-1937) para o curso secundaacuterio

Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos

Ensino Secundaacuterio Ginasial (1ordm Ciclo)

Geografia Geral

1ordm seacuterie A Terra no espaccedilo estrutura da Terra os grupos humanos a circulaccedilatildeo a agricultura e a pecuaria industria e comeacutercio

Geografia Geral

2ordm seacuterie Geografia Geral Fiacutesca Humana Poliacutetica e Econocircmica dos continentes

Geografia do Brasil

3ordm seacuterie Geografia Fiacutesica e Humana do Brasil

Geografia Brasil

4ordm seacuterie Geografia Regional do Brasil

Ensino Secundaacuterio Colegial ndash Claacutessico ou Cientiacutefico (2ordm Ciclo)

Geografia Geral

1ordm seacuterie A ciecircncia geograacutefica a Terra no espaccedilo atmosfera a hidrosfera o relevo

Geografia Geral

2ordm seacuterie Ameacuterica Meridional e Setentrional Comunidade Britacircnica o Continente Europeu a China e o Japatildeo Indostatildeo Persia Aacutesia Menor Egito

Geografia do Brasil

3ordm seacuterie Posiccedilatildeo geograacutefica do Brasil Fronteiras Fisiografia do Brasil Desenvolvimento econocircmico Circulaccedilatildeo e Comeacutercio

Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011

52 A constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo republicano

Em um sentido epistemoloacutegico a entrada do periacuteodo republicano marcou-se

por movimentos de transiccedilatildeo para o saber geograacutefico escolar a partir da primeira

deacutecada do seacuteculo XX A Geografia descritiva ainda era ativa e seria por muitos anos

continuando a serem reeditados livros dos anos 1880 1890 bem como surgindo

novas ediccedilotildees com a mesma proposta e abordagem geograacutefica que instituiacutea a

tradiccedilatildeo da bibliografia ateacute entatildeo

Todavia um paulatino processo de substituiccedilatildeo estava em andamento A

ciecircncia geograacutefica tendia a natildeo ser mais a mesma dos antigos tratados e dicionaacuterios

A Corografia Brasiacutelica a Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro bem

como os proacuteprios manuais da Geografia utilizados como fontes referecircncias do

ensino de Geografia continuariam essa tradiccedilatildeo mas o seacuteculo XX apresentaria

outras perspectivas geograacuteficas para se superar essa reproduccedilatildeo ndash as descriccedilotildees e

as nomenclaturas topograacuteficas Inovaccedilotildees na bibliografia poderatildeo ser aferidas

iniciamente a partir das obras de Manuel Said Ali Miguel Delgado de Carvalho e

Fernando de Raja Gabaglia as quais influenciaram natildeo soacute o modo de ser da

Geografia brasileira mas anteciparam e reorganizaram o rumo da Geografia escolar

que teriam em Aroldo de Azevedo e em Mario da Veiga Cabral dentre outros os

expoentes de sucesso e de estabelecimento de outro padratildeo geograacutefico

521 A bibliografia didaacutetica de Geografia na Repuacuteblica

Observando o Graacutefico 01 apresentado no capiacutetulo 02 vecirc-se que a

bibliografia didaacutetica apoacutes os anos 1880 tem um decreacutescimo em sua produccedilatildeo ateacute a

primeira deacutecada do seacuteculo XX voltando a ascender nos anos 1910 e atingindo seu

pico na deacutecada de 1930 considerando-se o periacuteodo em anaacutelise Essa curva delineia

as transformaccedilotildees pelas quais a bibliografia passou nesses anos Com o novo

regime poliacutetico ideias que estavam em discussatildeo haacute alguns anos encontraratildeo

ambiente para sua inserccedilatildeo como demonstrado nas legislaccedilotildees orgacircnicas para

reorganizar em especial o ensino secundaacuterio o positivismo o meacutetodo intuitivo a

orientaccedilatildeo moderna da Geografia mais tarde A Geografia descritiva seria abalada

por essas novas propostas como abordado acima alterando o modo de enunciar as

discursividades geograacuteficas no acircmbito escolar Apesar disso haacute um periacuteodo inicial

de estabilidade nessa mesma Geografia descritiva surgem poucos tiacutetulos porque

permanecem os mesmos anteriores A partir da deacutecada de 1910 com auge na

deacutecada de 1930 apareceratildeo muitos autores novos com obras que superam aquelas

dos oitocentos em termos de qualidade e expressatildeo geograacutefica

Dentre os livros mais significativos desse tempo jaacute na deacutecada de 1890 tem-

se a Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias de Tancredo

Leite do Amaral Coutinho editada pela Francisco Alves e adotada pelo Conselho

Superior da Instrucccedilatildeo Puacuteblica de Satildeo Paulo O livro teve 11 ediccedilotildees ateacute 1909

Tambeacutem no princiacutepio desta deacutecada eacute editada a Geographia primaacuteria composto para

uso das Escolas Primaacuterias de Carlos Novaes tambeacutem pela Francisco Alves e com

12 ediccedilotildees ateacute os primeiros anos do seacuteculo XX Percebe-se nesse periacuteodo fruto

tanto da organizaccedilatildeo e logiacutestica comercial dos livros brasileiros agrave eacutepoca quanto da

poliacutetica de centralizaccedilatildeo e descentralizaccedilatildeo do comando poliacutetico da educaccedilatildeo

vestiacutegios regionais ainda muito intensos Nesses termos regionalmente destacam-

se Antocircnio Alexandre Borges dos Reis com a Chorografia e historia do Brasil

Especialmente do Estado da Bahia com quatro ediccedilotildees Raimundo Ciriacuteaco Alves da

Cunha com Geographia especial do Paraacute Approvada para uso das escolas

primarias com duas ediccedilotildees Haacute tambeacutem Noccedilotildees geographicas e historicas do

estado de Pernambuco Compendio Adoptado pelo Conselho litterario para uso das

Escolas Primaacuterias do Estado de Pernambuco de R T Espiacuterito Santo com seis

ediccedilotildees Geographia do estado de Minas Geraes seguida de noccedilotildees de historia do

mesmo estado de Francisco Lentz Arauacutejo este editado pela Francisco Alves

Chorographia do estado de Sergipe Aprovada pelo Conselho Superior de Instruccedilatildeo

e mandada adotar nas escolas puacuteblicas de Luiacutes Carlos da Silva Lisboa O Rio

Grande do Sul para as escolas de J Pinto Guimaratildees Geographia do Estado do

Rio Grande do Sul de Henrique Martins As obras regionais desse final de seacuteculo

geralmente satildeo iniciativas de seus autores sendo editadas em tipografias locais

Nesta deacutecada continuam ativos autores dos tempos imperiais como Alfredo Moreira

Pinto com sua Chorographia do Brasil Para uso dos gymnasios e escolas normaes

editado pela Francisco Alves e com Elementos de cosmographia

Na passagem do seacuteculo XIX para o XX nota-se em primeiro lugar uma

forte atuaccedilatildeo das casas publicadoras comerciais sobretudo a Francisco Alves que

exploram obras destinadas para o ensino primaacuterio cujo puacuteblico apresentava maior

clientela e de certa forma sem as amarras que o ensino secundaacuterio sofria com a

supervisatildeo direta do Estado e sob forte influecircncia do Coleacutegio Pedro II e dos seus

colegiados as geografia gerais estatildeo completamente nesse domiacutenio sendo comum

que os autores enfatizem a concordacircncia com os esquadros curriculares sugeridos

nessa instacircncia maneira usual para estabelecer suas obras no mercado satildeo

frequentes assim as obras destacarem essa concordacircncia ldquoDe accocircrdo com o

programma do Gymnasio Nacionalrdquo (BITTENCOURT 1908) ldquoOrganizadas conforme

o programma dos gymnasiosrdquo (SCROSOPPI 1908) ldquoDe accordo com o programma

do Gymmasio Nacional e da Escola Normalrdquo (BITTENCOURT 1909) Outro

destaque satildeo os manuais didaacuteticos que tematizam a Geografia nacional tendecircncia

que se acentuaria ateacute o fim do periacuteodo em anaacutelise Em princiacutepios do novo seacuteculo

Elysio de Arauacutejo publica Geographia elementar pela Francisco Alves que teraacute sete

ediccedilotildees ateacute o fim da deacutecada de 1920 Em 1901 Arthur Thireacute publica sua Geographia

elementar Compediada para uso das escolas primarias obra que apresentou

importantes progressos graacuteficos como analisei anteriormente Em 1905 surge um

autor relevante Horacio Scrosoppi com o Curso elementar de Geographia Geral e

Liccedilotildees de Chorographia do Brasil de 1908 e editado ateacute fins dos anos 1920 depois

publicaria Liccedilotildees de Chorographia do Brasil (1908 cinco ediccedilotildees) Curso superior de

Geographia geral (dez ediccedilotildees) Eacute desse mesmo ano a Geografia de Said Ali

analisada adiante ndash marco na renovaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica da bibliografia

didaacutetica desta disciplina Ainda nessa primeira deacutecada igualmente surge Carlos

Novaes com sua Geographia secundaacuteria reeditada ateacute a deacutecada de 1930 e que

publicaria ainda Geographia especial ou chorographia do Brazil (1912) e o Curso de

Geographia geral (1926) destacando-se tambeacutem a obra de Feliciano Pinheiro

Bittencourt Compendio de corographia do Brasil publicado em 1909 e reeditado ateacute

1925

O destaque na deacutecada seguinte eacute a obra pioneira de Delgado de Carvalho

Geographia do Brasil Tomo I Geographia Geral (1913) obra que natildeo teve a

representaccedilatildeo comercial de muitos outros autores contemporacircneos mas que se

destacou pelas transformaccedilotildees histoacutericas e teoacuterico-metodoloacutegicas que introduziu

com a ldquoorientaccedilatildeo modernardquo Geographia do Brasil Volume II (1927) entatildeo adotado

no Collegio Pedro II ambos unificados na Geographia do Brasil a partir da quarta

ediccedilatildeo de 1928 O autor publicaria anos depois Geographia elementar (1923)

Chorographia do Districto Federal (1926) e Geographia humana poliacutetica e

econocircmica (1933) Posteriormente escreveu outras obras

Em 1916 surge Mario da Veiga Cabral com Chorografia do Brasil obra

editada ateacute 1957 totalizando 31 ediccedilotildees Ao lado de Aroldo de Azevedo que publica

Geographia humana e Geographia geral para a primeira serie ginasial em 1934

Cabral foi um dos expoentes do livro didaacutetico de Geografia autores ambos de

significativo volume de vendas e influecircncia do ensino ateacute o terceiro lustre do seacuteculo

XX No periacuteodo enfocado pela pesquisa Cabral publica ainda A Europa actual

(1923) Chorographia do Districto Federal (1923 editado ateacute 1967) Nossa paacutetria

Noccedilotildees de chorographia do Brasil para uso das escolas (1924) Aroldo de Azevedo

na deacutecada de 1930 publica ainda Geographia Geographia para a segunda seacuterie

secundaacuteria Geographia para a terceira serie secundaria Geographia para a quarta

seacuterie secundaacuteria Geographia para a quinta seacuterie secundaacuteria e encerra essa

deacutecada publicando Geographia para o curso comercial (1939) Na deacutecada de 1930

quando o ensino estabiliza-se em determinado nuacutemero de seacuterie como visto

anteriormente Aroldo de Azevedo e seus editores tiveram o tino de seriar as obras

em volumes diferentes padratildeo que seria comum daiacute em diante Em vez de um

determinado curso adotar um uacutenico volume ou recorrer a volumes de outros autores

com essa medida tinha-se todo o conteuacutedo do curriacuteculo contemplado com a obra

seriada de um mesmo autor

Observa-se que o iniacutecio da deacutecada de 1930 foi um freio para as antigas

geografias descritivas Nesse momento natildeo mais satildeo editados Joaquim Maria de

Lacerda Alfredo Moreira Pinto Henrique Martins FIC Estaacutecio de Menezes e

outros estes nos primeiros vinte anos do novo seacuteculo foram sendo deixados para

traacutes sumindo suas obras da oferta didaacutetica E isso natildeo se dava soacute pelo

desaparecimento do autor mas pela qualidade das obras haja vista que os editores

sempre tiveram meios para substituir o autor em funccedilatildeo da longevidade dos

conteuacutedos como eacute tiacutepico o caso do Abbade Gaultier FIC e Joaquim Maria de

Lacerda A deacutecada de 1920 por conseguinte tornou-se o iniacutecio de uma ponte

transicionando modos de ser da bibligrafia didaacutetica de Geografia Autores que

insistiam na Geografia descritiva natildeo foram muito longe tendo ediccedilotildees uacutenicas ou

com poucas reediccedilotildees como Themistocles Saacutevio com o Curso Elementar de

Geographia de 1908 ou Geographia elementar para as escolas primarias de M

Albuquerque Filho de 1914 Para continuar em atividade nessa transiccedilatildeo o autor

teria que fazer constantes adaptaccedilotildees a exemplo de A G Lima que publicando

suas Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul em

1911 reedita-a ateacute fins da deacutecada de 1930

522 A contribuiccedilatildeo de Said Ali o siginificado da sua proposta de regionalizaccedilatildeo

Manuel Said Ali Ida (1861-1953) foi professor de Geografia embora tenha

sido lembrado principalmente por ter sido um dos introdutores dos estudos

linguiacutesticos no Brasil Acima de sua atuaccedilatildeo profissional sobressai-se a formaccedilatildeo

cientiacutefica que detinha o que o fez bem posicionado sobre os fundamentos

epistemoloacutegicos e metodoloacutegicos que se discutiam na Europa sobretudo quanto ao

meacutetodo histoacuterico-comparativo e ao desempenho deste nos estudos linguiacutesticos

(SILVA 2006) Natildeo lhe era desconhecido igualmente as discussotildees que

embalavam a Geografia cientiacutefica os ldquoprogressos geographicosrdquo estavam a seu ver

ldquonatildeo soacute obras de larga envergadura mas tambem em preciosos livros collegiaesrdquo

(ALI 1905 p III) Reconhecia que a Geografia escolar tinha sua importacircncia e lugar

mas natildeo necessariamente como a tradiccedilatildeo a colocava nos bancos escolares

brasileiros Para o autor a educaccedilatildeo geograacutefica era ldquo[] um conhecimento hoje tatildeo

imprescindiacutevel como a mathematica e as sciencias naturaes quer para os cursos

acadecircmicos quer para as necessidades praticas da vidardquo (ALI 1905 p V)

Para essa Geografia escolar identificou uma falha importante da qual fez

uma criacutetica e uma contribuiccedilatildeo fundamental a importacircncia e utilidade dos saberes

geograacuteficos natildeo se sustentariam com manuais que ldquo[] pretendendo descrever a

superficie do globo esquarteje e retalhe a crosta terrestre para poder limitar-se a

um catalogo ou amontoamento de nomes geograacuteficos qual e qual mais arrevezado

em determinados grupos artificiaesrdquo (ALI 1905 p III) age portanto diretamente

sobre a fragmentaccedilatildeo do saber responsaacutevel em grande medida pela forma de se

ensinar e aprender a Geografia escolar

Assim para Said Ali o meacutetodo de abordagem do espaccedilo geograacutefico em

especiacutefico o brasileiro levava a problemas de expressatildeo desse saber agrave

quantificaccedilatildeo sem nexo acarretando um ensino desconexo e exaustivo

Nesses termos sua proposiccedilatildeo era a de que o aprendizado geograacutefico

tivesse uma abordagem que permitisse ao estudante isolar-se dessa fragmentaccedilatildeo

podendo ldquo[] fixar na memoria natildeo os objetos isoladamente porem em cada liccedilatildeo

a imagem de um todo pelos seus traccedilos mais caracteriacutesticosrdquo (ALI 1905 p III)

Inspirado em Alexander Georg Supan (1847-1920) geoacutegrafo austriacuteaco observa que

este autor especificamente em um livro escolar de sua produccedilatildeo ldquo[] em vez das

tradicionaes enumeraccedilotildees vemos esboccedilados [na obra] quadros plasticos dos paizes

e seus habitantes habilitando o espiacuterito do estudante a comprehender a evoluccedilatildeo da

historia (nas suas relaccedilotildees com a geographia) e bem assim as actuaes condiccedilotildees

politicas e economicas dos povosrdquo (ALI 1905 p III)

Com estas bases Said Ali propocircs uma nova organizaccedilatildeo do territoacuterio

nacional na forma de regiotildees agrupando o traccedilado dos estados federativos da

Repuacuteblica sob o criteacuterio da atividade econocircmica e outras condiccedilotildees territoriais ao

que denominou ldquozonas geograacuteficasrdquo Distinguiu as seguintes zonas geograacuteficas

Brasil Central ou Ocidental Brasil Setentrional Brasil de Nordeste Brasil Oriental e

Brasil Meridional Essa inovaccedilatildeo foi aplicada e publicada na obra Compecircndio de

Geografia Elementar editada em 1905 De ediccedilatildeo uacutenica eacute de se crer que a obra

tenha tido pouca circulaccedilatildeo No entanto revelou-se uma obra de inestimaacutevel valor

pois foi endossada posteriormente por Delgado de Carvalho e outros autores

didaacuteticos estando inclusive na raiz da divisatildeo regional proposta anos mais tarde

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE Sudoeste Norte Sul

Nordeste e Centro-Oeste A esse respeito Silva (2006 p 75) afirma que

Se for colocado em pauta que toda a tradiccedilatildeo geograacutefica anterior apenas visibilizava o espaccedilo brasileiro em termos de estados costeiros (mariacutetimos) e estados interiores (sertatildeo) subdivididos em proviacutencias tem-se uma tentativa de racionalizar o enfoque metodoloacutegico da abordagem territorial considerando preliminarmente o mover da vida social do paiacutes quando da entrada no seacuteculo XX e natildeo apenas considerando o passado histoacuterico de ocupaccedilatildeo como criteacuterio da descriccedilatildeo geograacutefica

Para Vlach (2004 p 192) essa contribuiccedilatildeo foi um marco expoente no pensamento

geograacutefico brasileiro

Cumpre destacar que a tentativa do professor M Said Ali assinalou em livro didaacutetico para o ensino secundaacuterio natildeo apenas sua preocupaccedilatildeo de acompanhar os ldquoprogressos geograacuteficosrdquo que ocorriam no exterior mas fundamentalmente representou o marco inicial de discussotildees de ordem teoacuterico-metodoloacutegica buscando inaugurar a geografia cientiacutefica no Brasil

O conceito de regiatildeo natildeo o sendo por delimitaccedilatildeo de fronteiras poliacuteticas

nunca havia sido empregado antes na bibliografia didaacutetica de Geografia Assim

organiza o autor essa regionalizaccedilatildeo

Se attendermos as affinidades economicas dos Estados entre si e com

ellas conciliarmos tanto quanto possivel as condiljoes geographicas

teremos a seguinte divisao racional

A ndash Brasil Central ou Occidental) comprehendendo as cabeceiras dos

tributarios amazonicos (e Tocantins-Araguaya) Mato Grosso e Goyaz

B ndash Brasil Septentrional ou Estados da Amazonia Amazonas e Para

C ndash Brasil de Nordeste Zona a leste das duas precedentes limitada ao sul

pelo rio S Francisco (trecho inferior) e caracterisada pela falta de rios

navegaveis seccas mais ou menos periodicas e pela producatildeo de algodatildeo

assucar e gado no interior Comprehende Maranhao Piauhy Ceara Rio

Grande do Norte Parahyba Pernambuco e Alagoas

D ndash Brasil Oriental Regiao dos Estados productores de cafe e fumo (alem

do assucar) e situada a leste da linha que assignala a fronteira de Goyaz

(divisor daguas entre o Tocantins e a bacia do S Francisco) e cujo

prolongamento ao sul eacute o rio Paranaacute ate a sua confluencia com o

Paranapanema Comprehende os Estados Sergipe Bahia Espirito-Santo

Minas-Geraes Rio de Janeiro e S Paulo

E ndash Brasil Meridional ou regiatildeo productora de mate araucarias e cereaes

Paranaacute Santa-Catharina e Rio Grande do Sul (ALI 1905 p 136)

Tratava-se em uacuteltima instacircncia de uma nova organizaccedilatildeo para a

abordagem dos estados posto que na bibliografia em geral natildeo havia uma

organizaccedilatildeo no tratamento das proviacutenciasestados geralmente se escolhia uma das

unidades e continuava-se pela vizinhanccedila como criteacuterio de organizaccedilatildeo geralmente

comeccedilando com o Amazonas passando por todos as unidades por ordem de

vizinhanccedila encerrando com o Mato Grosso ndash tradiccedilatildeo instituiacuteda por Ayres de Casal

e perpetuada apoacutes sua obra Essa proposta serviu para que Said Ali tivesse um

criteacuterio no agrupamento dos Estados em estudo pois no mais sua descriccedilatildeo pouco

alterou em relaccedilatildeo agraves abordagens descritivas A abordagem do mundo tambeacutem natildeo

teve nenhuma alteraccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo praticada na Geografia geral

Apesar de possuir um pequeno nuacutemero de ilustraccedilotildees o manual de Said Ali

natildeo concretizou em mapa ou qualquer outra representaccedilatildeo sua proposta o que de

certa forma diminuiu a visibilidade de sua sugestatildeo Talvez pelo mesmo motivo que

grassou o grosso da bibliografia ndash o barateamento das ediccedilotildees ou mais

provavelmente por dificuldades teacutecnicas e informacionais para produzir uma carta

tatildeo revolucionaacuteria (VLACH 2004)

523 A contribuiccedilatildeo de Delgado de Carvalho a orientaccedilatildeo moderna da Geografia e sua relaccedilatildeo com o livro didaacutetico

Carlos Miguel Delgado de Carvalho (1884-1980) foi o autor didaacutetico mais

ousado em toda a bibliografia do periacuteodo e de perto o que teve mais condiccedilotildees e

contexto para isso Formado na Franccedila Carvalho teve contato com a Geografia

cientiacutefica que se organizava em torno das obras de Humboldt Ritter Ratzel

Wappaeus Reacuteclus No Brasil desde fins do seacuteculo XIX embora de forma mais

isolada havia pesquisadores produzindo conhecimentos geograacuteficos tambeacutem de

orientaccedilatildeo moderna ou estrangeiros produzindo sobre o Brasil os quais tambeacutem

era de conhecimento de Carvalho ldquoBranner Derby Capanema Homem de Mello

Morize Cruls Barbosa Rodrigues Theodoro Sampaio Caloacutegeras Sylvio Romero

Gustavo drsquoUtra Belfort Mattos Uchocirca Cavalcanti Homero Baptista Viveiro de

Castro Joatildeo Ribeiro Euclydes da Cunhas []rdquo nomes referenciados por Oliveira

Lima (1913 p IV) ao prefaciar a obra Geografia do Brasil Tomo I Geografia geral

publicada em 1913

Embora tenha passado despercebida pelos demais autores didaacuteticos da

eacutepoca a proposiccedilatildeo de Said Ali natildeo foi desconsiderada por Delgado de Carvalho

como o proacuteprio autor reconhece

Natildeo soacutemente acceitamos esta visatildeo [de Said Ali] sob o ponto de vista racional como digna de ser citada mas passamos a adoptal-a totalmente para amoldar sob ella o estudo geographico ateacute hoje exclusivamente baseado sobre a divisatildeo administrativa do paiz Acreditamos que essas grandes divisotildees topographicas apesar de nada terem de absoluto e de preciso satildeo mais adequadas do que quaesquer outras a salientar as profundas differenccedilas physicas climatericas e sociaes que caracterizam a vida e as condiccedilotildees especiaes das differentes regiotildees de nossa terra (DELGADO DE CARVALHO 1925 p 85)

No entanto Delgado de Carvalho foi bem mais longe que Said Ali ndash a ideia

de regiatildeo foi desenvolvida a partir da teoria de Vidal De La Blache e Jean Bruhnes

procurando um sentido harmocircnico como criteacuterio para a ldquodivisatildeo geograacuteficardquo que

propocircs Brasil Amazocircnico Brasil Norte-Oriental Brasil Oriental Brasil Meridional e

Brasil Central Para ele a ldquoGeographia de uma regiatildeo tem por fim descrever o

conjunto dos caracteres que constituem a physionomia desta regiatildeordquo colocando aiacute

sua criacutetica agrave tradiccedilatildeo da Geografia descritiva ldquo[] considerados isoladamente esses

caracteres soacute tem o valor de um facto adquirem poreacutem valor scientifico quando

collocados no encadeamento natural na connexatildeo da qual fazem parterdquo (1913 p

V)

O que caracteriza de fato a ruptura dessa Geografia didaacutetica com a

Geografia descritiva eacute a presenccedila de uma divisatildeo geograacutefica de fato em oposiccedilatildeo agrave

divisatildeo administrativa ldquoentre noacutes a divisatildeo por Estados para o ensino da

geographia tem sido o maior obstaacuteculo ao progresso da sciencia geographica no

dominio didacticordquo (CARVALHO 1913 p VI) Essa divisatildeo geograacutefica incide nas

ldquoregiotildees naturaisrdquo como primeiro passo do novo meacutetodo O segundo seraacute a

abordagem das ldquocondiccedilotildees econocircmicasrdquo E com isso Carvalho (1913 p IX)

demonstra sua atenccedilatildeo agraves contribuiccedilotildees inovadoras surgentes em diversos lugares

do mundo

Hoje em Franccedila natildeo se cogita mais dos methodos de Cortambert da

geographia por departamentos servem de modelo as obras de Vidal de la

Blache de Schrader e Fallex e Marey Na geographia da Italia de Angelo

Mariani notamos a mesma tendencia identica tambem nos novos

compendios norte-americanos (Cyrus Adams Spencer Trotter Alexis

Everett Frye Tarr e Murry etc)

Delgado publica a segunda parte da Geografia do Brasil em 1927 reunida

ambas em um soacute volume no ano seguinte

Em 1925 Delgado de Carvalho publicou um importante tratado sobre o

ensino geograacutefico Methodologia do Ensino Geographico (Introducccedilatildeo aos estudos

de Geographia Moderna) em que expocircs suas ideias sobre a pedagogia da

Geografia e sobre o livro didaacutetico

Sobre o livro didaacutetico conclamava a necessidade de modernizar a

abordagem da Geografia trazendo para sua arena a clareza a concisatildeo o poder de

ser sugestivo e capaz de despertar no estudante a vontade de saber mais de

procurar aprofundar seus conhecimentos Para tanto lembra a necessidade de o

compecircndio ldquo[] ser exacto a par dos progressos scientificos da geographia das

descobertas das innovaccedilotildees e mudanccedilasrdquo (CARVALHO 1925 p 116) Carvalho

defendia um certo ldquoespiacuterito cientiacuteficordquo que a Geografia poderia proporcionar a uacutenica

forma de se superar as deficiecircncias do programa estipulado para a Geografia sua

limitaccedilatildeo e concisatildeo conformando a obra didaacutetica agrave inteligecircncia do aluno e natildeo agrave

sua memoacuteria ldquoo que deve ser retido eacute um estricto miacutenimo que vae ser entregue aacute

reflexatildeordquo (CARVALHO 1925 p 112)

O movimento introduzido por Delgado de Carvalho assinala uma

transformaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica tanto no sentido epistemoloacutegico da ciecircncia

geograacutefica brasileira quanto na pedagogia do seu ensino fundamentada na

migraccedilatildeo de uma Geografia ancorada na nomenclatura descritiva em direccedilatildeo agrave

explicaccedilatildeo dos processos espaciais um avanccedilo que moveria a Geografia da

fragmentaccedilatildeo completa para uma compartimentaccedilatildeo relativa a Geografia descritiva

com uma abordagem fiacutesica uma abordagem poliacutetica e uma abordagem

cosmograacutefica que paulatinamente se reorganizaratildeo em uma Geografia Fiacutesica e uma

Geografia Humana Por exemplo a Geografia fiacutesica em sua abordagem moderna

claacutessica espraiava-se em uma superfiacutecie discursiva que elencava os fatos e

fenocircmenos unicamente em sua distribuiccedilatildeo espacial na abordagem da Geografia

moderna cientiacutefica se procuraraacute uma verticalizaccedilatildeo desses fatos e fenocircmenos na

tentativa de explicaacute-los natildeo apenas citaacute-los Veja-se sobre o rio Amazonas como

era tipicamente o discurso da Geografia escolar descritiva

O Amazonas que eacute o maior rio do globo em volume daguas nasce do lago Lauricocha no Peru corre ao principio para o N e depois para L atravessando o Peru separando este do Equador e percorrendo de O a L os Estados brazileiros do Amazonas e Para e se lanccedila no oceano Atlantico depois de um curso de 6000 kilom dos quaes percorre 3828 em territorio brazileiro Tem antes de entrar no Brazil os nomes de Tunguragua e Maranhatildeo e no Brazil o nome de Solimotildees ateacute receber o rio Negro e drsquoahi ateacute o oceano o de Amazonas propriamente dito Seus affluentes principaes no Brazil satildeo na margem direita o Javary que separa o Brazil do Peru o Jutahy o Juruaacute o Teffeacute o Coari o Purus o Madeira o Tapajoz e o Xingu na margem esquerda o Iccedila ou Putumayo o Japuraacute ou Caquetaacute o Negro o Jamundaacute o Nhamundaacute que separa em parte o Paraacute do Alto-Amazonas e o Trombetas Quasi todos satildeo rios de primeira ordem A extensatildeo francamente navegavel no Amazonas e seus affluentes dentro do territorio do Brazil eacute de 43250 kilom aacutequem das primeiras cachoeiras Por elles o Brazil communica com a Bolivia Peru Equador Colombia e Venezuela (LACERDA 1898 p 332)

O discurso descritivo caracteriza-se por uma totalizaccedilatildeo de fatos ou seja

nomenclatura e distribuiccedilatildeo espacial de localidades Em Lacerda tem-se um

discurso enxuto em que se sobressai a substantivaccedilatildeo como armaccedilatildeo dos sentidos

Sobre o Amazonas as palavras constroem um sentido unilateral o de construir uma

superfiacutecie explicitada em qualquer mapa diz os nomes a disposiccedilatildeo e orientaccedilatildeo

classifica-se e quantifica-se A forma de estudar esse discurso eacute o da memorizaccedilatildeo

(que a propoacutesito do rio Amazonas e seus afluentes chegou no imaginaacuterio popular a

ser mote para narrativas jocosas)

Por outro lado no discurso da Geografia escolar cientiacutefica veja-se como

ficou a abordagem do mesmo objeto

O regimen do rio Amazonas acha-se como alias o regimen de todos os rios intimamente ligado natildeo soacute a geologia da bacia mas tambem ao regimen das chuvas a inclinaccedilatildeo das terras e a vegetaccedilatildeo o marginal A estaccedilatildeo das chuvas provoca as enchentes comeccedilam no mez de Fevereiro eacute a epocha em que de retem as neves dos Andes e cahem as chuvas torrenciaes que caracterisam as regiotildees tropicaes a cheia eacute variavel pode attingir de 12 a 17 metros (acima da estiagem) Essas enchentes de Fevereiro a Julho correspondem aacutes enchentes dos affluentes da margem direita Da-se porem o facto do rio Amazonas ser paralelo ao Equador e muito proximo desta linha seu affluentes fazem por conseguinte parte dos dois hemipherios a epoca de enchente de um correspondendo a epoca de vasante do outro A curva de seu regimen eacute pois produzida pela interferencia das dos seus affluentes Os affluentes da margem direita satildeo deve-se notar mais importantes do que os da margem esquerda mas o phenomeno eacute todavia sensivel e dota o Amazonas de um regimen estavel devido a esta compensaccedilatildeo

A vegetaccedilatildeo marginal do Amazonas e de seus affluentes tem tambem grande importancia para o regimen As florestas agindo sabre a evaporaccedilatildeo impedindo a queda directa da chuva sobre o solo e tornando o escoamento mais difficil retem parte das aguas destinadas ao rio que apezar da sua despesa ftuvial colossal natildeo carrega nem 20 por cento das aguas cahidas na sua immensa hacia (O calculo foi feito para o rio Madeira e deu 15 mais ou menos) A vegetaccedilatildeo marginal tambem protege as costas contra a erosatildeo e as plantas aquaticas e ribanceiras enfraquecem a correnteza (CARVALHO 1913 p 36)

Esta eacute somente parte do desenvolvimento do conteuacutedo Nele o sujeito autor procura

explicar o rio como um processo demonstrando sua correlaccedilatildeo com as feiccedilotildees

geoloacutegicas geomorfoloacutegicas e climaacuteticas a influecircncia da vegetaccedilatildeo o porquecirc das

cheias o porquecirc da estabilidade do seu volume aquaacutetico

Afirmo anteriormente de uma compartimentaccedilatildeo relativa pois ainda haveraacute

pelo menos ateacute os anos 1980 uma fragmentaccedilatildeo no saber didaacutetico da Geografia a

saber sua divisatildeo em um discurso triplo racionalizado entre a natureza o homem e

a economia (VLACH 1990) forma discursiva que seraacute rompida pelas Geografias

criacuteticas

Na Methodologia do Ensino Geographico Carvalho enfatiza que pouco vale

o livro sem uma docecircncia que se aproprie a ele Na sala de aula de acordo com ele

pouco vale o estudo dos ldquopontosrdquo marcados com antecedecircncia pelo professor e

cobrados a cada aluno na aula subsequente por ldquo[] recitaccedilatildeo da liccedilatildeo com o livro

fechadordquo (CARVALHO 1925 p 114) Dever-se-ia privilegiar a discussatildeo e a

colocaccedilatildeo de problemas estimulando os discentes a aprender pela reflexatildeo pelo

exerciacutecio do pensamento e natildeo da memoacuteria utilizando o livro nesse contexto como

instrumento ou fonte de informaccedilatildeo

Ensinar pela colocaccedilatildeo de problemas e conduccedilatildeo de debates insinua um

ensino por correlaccedilotildees levando a uma movecircncia por dentre o discurso geograacutefico

pois ldquoMuitas vezes um lsquopor quersquo do mestre natildeo pode ser respondido senatildeo pondo

lado a lado vaacuterios ldquoo querdquo e ldquoonderdquo disseminados no compendiordquo o que levaria o

aluno a uma atitude independente ldquo[] acostumado a achar soluccedilotildees no seu

compendio cedo teraacute facilidade em manusear outros livros e a nelles encontrar

tambeacutem o que precisardquo (CARVALHO 1925 p 115)

Carvalho filiando-se discursivamente a uma nova orientaccedilatildeo (moderna e

cientiacutefica) quanto ao pensamento geograacutefico brasileiro mesmo sem

institucionalizaccedilatildeo ainda direcionou diretamente para o ensino de Geografia essas

novas perspectivas privilegiando o livro didaacutetico como meio de divulgaccedilatildeo e de

implementaccedilatildeo de uma nova praacutetica geograacutefica reconhecendo inclusive o papel

desse artefato no contexto ldquodos compendios de geographia eacute que depende hoje no

Brasil a adopccedilatildeo de uma nova orientaccedilatildeo no ensino da mateacuteria Eacute por conseguinte

nelles que deve ser procurada a realizaccedilatildeo do que jaacute exigem nossos principaes

programmasrdquo (CARVALHO 1925 p 116) Apesar de relegado por anos pela

academia o livro didaacutetico desde o iniacutecio da bibliografia demonstrou ser um lugar

institucional para sistematizar saberes sobre a Geografia em particular sobre o

Brasil sendo que sua importacircncia como demonstrarei no proacuteximo capiacutetulo excedia

os bancos escolares formava professores informava a sociedade circulava entre os

intelectuais

524 Antonio Firmino Proenccedila siacutentese das transformaccedilotildees no ensino de Geografia

Colocadas as contribuiccedilotildees de Said Ali e Delgado de Carvalho fora do

acircmbito da produccedilatildeo dos livros didaacuteticos surge um manual sobre o ensino de

Geografia que vale a pena ser posto em cena pela sobriedade da criacutetica e da siacutentese

do espiacuterito do debate incidente sobre o ensino de Geografia na deacutecada de 1920 a

obra Como se ensina Geographia de Antonio Firmino Proenccedila (1880-1946)

publicada em 1928 e reeditada em 1932 destinada agrave formaccedilatildeo de estudantes das

escolas normais A partir de meados da deacutecada de 1920 havia um discurso

amadurecido sobre a renovaccedilatildeo do ensino de Geografia natildeo mais postulado em

projetos ou em criacuteticas puras mas de fato direcionado a alterar a ordem das coisas

as praacuteticas de ensino a produccedilatildeo de materiais didaacuteticos Eacute nesse contexto que

Proenccedila faz uma anaacutelise criacutetica da situaccedilatildeo geral do ensino dessa disciplina

endossando as contribuiccedilotildees em curso desde final do seacuteculo XIX as quais

perpassam por Rui Barbosa por Said Ali e por Delgado de Carvalho

necessariamente no que diz respeito ao ensino e agrave bibliografia didaacutetica de

Geografia

Esse debate natildeo significa uma mudanccedila repentina na forma de ensinar

Geografia de se produzir os manuais didaacuteticos Contudo significa uma alternativa

aos termos dessas praacuteticas com reflexos futuros

Sobre como ensinar a Geografia Proenccedila sistematiza uma ordem de

consideraccedilotildees a saber a organizaccedilatildeo do curso a seleccedilatildeo de mateacuteria a questatildeo de

ordem a correlaccedilatildeo as liccedilotildees Sobre a organizaccedilatildeo do curso considera a evoluccedilatildeo

da ciecircncia como predominante de forma que o ensino natildeo pode ser parte dela

apenas Ensinar Geografia assim eacute componente da ciecircncia geograacutefica e dela o que

for colocado para a crianccedila deve ser de compreensatildeo imediata natildeo posterior pois

conhecimento natildeo funciona de modo provisoacuterio

Relativamente aacute geographia eacute frequente a violaccedilatildeo do principio da sequencia natural dos factos Ensinam-se generalizaccedilotildees antes que a crianccedila tenha adquirido conhecimento dos factos particulares que as condicionam tenta-se fazer a crianccedila imaginar antes que tenha adquirido material para imaginaccedilatildeo O clima de tal regiao eacute quente e humido dizem os oompendios e os professores o repetem Ora aqui esta uma noccedilatildeo apparentemente muito simples e que entretanto offerece difficuldade a comprehensatildeo infantil A noccedilatildeo de clima soacute por si ja eacute complexa agora

aggregando-se-lhe as qualidades quente e humido ainda mais complicada se torna Aacutequelle poreacutem que ja se habituou a observar o thermometro a cuja numeraccedilatildeo associou a sensaccedilatildeo de quentura propria e que ja se habituou a observar o aspecto do ar nos dias de humidade e a tudo isso associou um certo aspecto da natureza como consequencia do estado atmospherico a noccedilatildeo de clima quente e humido natildeo se apresenta simplesmente como um conjunto de palavras Quanto ao exercicio da imaginaccedilatildeo ainda se torna mais flagrante a violaccedilatildeo do principio do aprendizado natural Um porto de mar um cabo um estreito determinados tecircm de ser construidos pela imaginaccedilatildeo sem que a crianccedila tenha visto nem mesmo em estampa um certo porto um certo cabo ou um certo estreito (PROENCcedilA 1928 p 34-35)

Haacute aiacute um movimento das palavras para a praacutetica considerada de alguma forma ndash

antes de abstrair apresentar o concreto

O nosso primeiro estudo de geagraphia seraacute para oonhecer as coisas e os factos de todo o mundo Eacute a que se chama a geographia descriptiva ou regional Mas o canhecimento das coisas por infarmaccedilatildeo ainda que essa informaccedilatildeo venha completada por imagens descriptivas ou estampadas exige uma preacutevia preparaccedilatildeo mental Eacute necessario que o individuo tenha visto por si e examinado por si para poder ter elementos para comparaccedilatildeo e construccedilatildeo das imagens das coisas distantes (PROENCcedilA 1928 p 36-37)

O estudo geral nesses termos deve ser precedido do estudo local da realidade que

esquadra o aluno da localidade se veraacute o mundo Essa inclusive a partir daiacute seraacute

uma atribuiccedilatildeo comum ao ensino primaacuterio de Geografia

Sobre a seleccedilatildeo da mateacuteria considera-a como necessaacuteria agrave docecircncia

geograacutefica dada a extensatildeo da proacutepria Geografia e dos programas escolares dessa

disciplina Para tanto o autor observa dois princiacutepios o interesse dos alunos e a

finalidade do ensino Se agrave crianccedila natildeo for circunstanciada uma motivaccedilatildeo natildeo

haveraacute aprendizado real e esse muito se filia ao que eacute proposto para a

aprendizagem Isso traz para a arena do debate um questionamento silenciado no

discurso da Geografia descritiva escolar ldquoVecirc-se muitas vezes os autores de

compendios se preoccuparem com a enumeraccedilatildeo de todos os affluentes de um rio

Qual eacute o valor deste saber como geographiardquo (PROENCcedilA 1928 p 39) Por um

propoacutesito ao ensino geograacutefico seria inverter a loacutegica expressiva e a conduccedilatildeo do

saber para uma finalidade essencialmente humana

No curso primario e no secundario embora mereccedilam attenccedilatildeo as influencias mutuas dos factores de ordem astronomica e physica o interesse deve concentrar-se principalmente no elemento humano Um rio uma montanha ou um lugar devem antes de tudo ser estudado porque affectam as condiccedilotildees da vida humana As industrias o commercio e os meios de comununicaccedilotildeo seratildeo assirn postos em evidencia nas suas relaccedilotildees de dependencia com o meio physico (PROENCcedilA 1928 p 39)

Eacute o princiacutepio de um discurso capaz de promover o indiviacuteduo agrave sociedade colocando

esta no cenaacuterio do ensino geograacutefico

Agrave questatildeo da ordem por seu lado o autor propotildee uma metodologia que

priorize o conhecido ao desconhecido que aborde o proacuteximo antes do distante

procurando um equiliacutebrio nessa escolha uma unidade que se possa chamar de

geograacutefica a localidade o municiacutepio o estado o paiacutes e entatildeo o mundo O papel da

correlaccedilatildeo por sua vez estaacute tanto em dialogar a disciplina com outras mateacuterias

quanto em aplicar o conhecimento ldquono estudo elementar da materia convem levar

as crianccedilas a applicar os conhecimentos que forem adquirindo e mesmo auxliarem-

se de conhecimentos de outras materiasrdquo (PROENCcedilA 1928 p 43) Por liccedilotildees o

autor distingue a observaccedilatildeo na variacircncia da escala geograacutefica da aprendizagem O

mundo seraacute conhecido pela imaginaccedilatildeo mas para tanto o aprendiz deveraacute ter as

condiccedilotildees para compreendecirc-lo O aprendizado local seraacute intuitivo variando em ser

direta ou indireta

Preocupado em preparar o professor de Geografia Proenccedila faz criacuteticas

especiacuteficas ao livro didaacutetico de Geografia ldquoem geral os nossos compendios apenas

enumeram e informam A quem jaacute conhece a materia taes livros servem para

reavivar noccedilotildees jaacute adquiridas ou para fornecer dados ou informaccedilotildees Para aprender

por eles natildeo servem []rdquo uma vez que satildeo ldquo[] syntheticos demais satildeo demais

desattrahentesrdquo (PROENCcedilA 1928 p 95) Acusa-os de natildeo apresentarem

correlaccedilotildees entre os assuntos Em uma siacutentese muito luacutecida afirma ldquoapparecem a

natureza e a obra do homem mas o homem natildeo apparece A terra fica assim como

um vasto deserto onde a humanidade viveu e de onde desappareceu deixando

apenas os traccedilos de sua passagem nos monumentos de toda especierdquo (PROENCcedilA

1928 p 96)

A recomendaccedilatildeo de leituras para ampliar a discussatildeo proposta em seu livro

revela as fontes e a filiaccedilatildeo discursiva de Proenccedila Cita La terre et lhomme (J

LrsquoEspagnol) Geographie Physique (E Martonne) Physical Geography (Maury-

Simonds) Diccionario Historico e Geographico do Brasil Geographia Elementar

(Delgado de Carvalho) Geographia do Brasil (1ordf e 2ordf partes Delgado de Carvalho)

Geographia e Cosmographia (Ezequiel de Moraes Leme) Special Method in

Geography (Mc Murry) The Teaching of Geography (Archibald Geikie) Como se

Debe Estudiar la Geografia (trauzido de Parker) e Methodologia do Ensino

Geographico (Delgado de Carvalho)

A obra de Proenccedila demonstra como as contribuiccedilotildees iniciadas timidamente

por Said Ali e de forma mais impactuante por Delgado de Carvalho encontra

continuidade no discurso do ensino da Geografia agindo entatildeo e jaacute na formaccedilatildeo de

professores Natildeo significa que esse discurso tenha sido revolucionaacuterio a ponto de

mudar o curso e os esquadros curriculares do ensino geograacutefico mas sem duacutevida

iluminava um caminho novo mais rico e atraente que aquele palmilhado pela

educaccedilatildeo geograacutefica desde o iniacutecio de suas praacuteticas nas escolas brasileiras

525 Fernando Antocircnio Raja Gabaglia o ensino de Geografia por praacuteticas

Em 1930 Fernando Antocircnio Raja Gabaglia filho do engenheiro-geoacutegrafo

Eugecircnio de Barros Raja Gabaglia autor de As fronteiras do Brasil e professor

catedraacutetico de Geografia do Coleacutegio Pedro II contemporacircneo e colega de trabalho

de Delgado de Carvalho publicou uma pequena obra intitulada Praacuteticas de

Geografia (1930) A obra exemplo dos ares novos que incidiam sobre o ensino da

Geografia ldquopara uso no Collegio Pedro II e no ensino secundario e normalrdquo

materializa uma das vertentes de inovaccedilatildeo colocadas no debate da educaccedilatildeo

geograacutefica ndash a questatildeo da praacutetica do saber Citando Lord Kelvin a epiacutegrafe do livro

ressalva o espiacuterito que a constitui ldquoquando consigo construir para um phenomeno

um modelo mecacircnico eu comprehendo quando natildeo natildeo comprehendordquo Nesses

termos afirma o autor

O ensino da Geographia deve ter sempre um cunho pratico Para attender a este objectivo eacute que organizamos o presente livro que serviraacute de guia nas aulas praticas para os professores e os alumnos de Geographia Geral e Chorographia do Brasil do Collegio Pedro II dos institutos a elle equiparados e em geral de todos os estabelecimentos de ensino secundaacuterio e normal do paiz (GABAGLIA 1930 p 01)

Gabaglia traduziu essa praacutetica em termos de demonstraccedilotildees concretas e

experiecircncias Notadamente eacute um livro para o ensino da Geografia Fiacutesica

expressando uma forma nunca antes registrada na bibliografia didaacutetica da

Geografia

As Praacuteticas de Ensino tanto foram concebidas para uso como compecircndio

como para manual didaacutetico que instrumentalizasse o trabalho do professor

sobressaindo-se como tal sobretudo para os cursos normais Dividido em quatro

partes inicia com Demonstraccedilotildees e Experiecircncias seccedilatildeo que se alia com a Fiacutesica

para produzir compreensatildeo sobre noccedilotildees geograacuteficas como rotaccedilatildeo formas

terrestres formaccedilatildeo das chuvas modelaccedilatildeo do relevo etc Seguem-se os Processos

de Orientaccedilatildeo por meio das estrelas do sol da sombra ndash ensinando diversas

teacutecnicas para o aprendizado dessas noccedilotildees ndash maneiras de determinar as latitudes e

longitudes formas de estudar e determinar o tempo a instrumentalizaccedilatildeo do clima e

outros toacutepicos similares Nos Trabalhos graphicos e plasticos ensina a produccedilatildeo de

escalas como representar informaccedilotildees em cartas e plantas produccedilatildeo de curvas de

niacuteveis semiologia graacutefica reproduccedilatildeo de cartas produccedilatildeo de diagramas e

cartogramas Na Leitura de cartas o autor percorre os modos e as distinccedilotildees da

interpretaccedilatildeo das representaccedilotildees Seguem-se anexos com Dados e estatisticas para

a construcccedilatildeo de diagrammas e cartogrammas para a Geografia Fiacutesica a Geografia

Poliacutetica e a Geografia Econocircmica bem como para o Brasil um Glossario de termos

technicos seguido de Notas nas quais faz um ensaio geral sobre a grafia dos

termos geograacuteficos sobre os materiais para compor um gabinete de Geografia uma

lista de pontos praacuteticos para servirem de exames notas bibliograacuteficas e uma seacuterie de

tabelas com anotaccedilotildees e foacutermulas numeacutericas para referenciar as atividades

propostas

Para uma disciplina cuja Cosmografia e Geografia armavam-se quase que

puramente na citaccedilatildeo aleacutem de detentora de uma cartografia simplesmente

demonstrativa a proposta de Gabaglia consolidava um avanccedilo extraordinaacuterio Para

exemplificar o processo da formaccedilatildeo das chuvas eacute explicado a partir do

experimento apresentado na Figura 13

Em face da figura Gabaglia (1930 p 21-22) explica

Demonstraccedilatildeo experimental da formaccedilatildeo de chuvas ndash Ponha-se agua a ferver numa caacutepsula O vapor formado se condensaraacute nas paredes de um vaso ou copo cheio de agua fria e cujo fundo conico permittiraacute que a agua torne a cahir na caacutepsula

A caacutepsula representa o mar o fundo conico do vaso ou copo as altas regiotildees da atmosphera []

FIGURA 13 ndash Esquema da explicaccedilatildeo para o processo de formaccedilatildeo das chuvas proposto por Gabaglia (1930) FONTE Gabaglia (1930 p 21) Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2012

O discurso do ensino da Geografia caminha seja na docecircncia seja nas

obras didaacuteticas para um outro patamar de existecircncia embora a formaccedilatildeo docente

em processo natildeo fosse universal e embora continuassem pelo menos ateacute os

primeiros anos da deacutecada de 1930 a existir manuais com os padrotildees antigos

Uma vez percorrida a trajetoacuteria evidenciada ateacute aqui sobre a constituiccedilatildeo e

a institucionalizaccedilatildeo da disciplina geograacutefica no proacuteximo capiacutetulo analiso alguns

aspectos constitutivos da bibliografia observando em seu discurso como os

sujeitos autores se impotildeem no cenaacuterio educacional aspectos da legitimaccedilatildeo da

disciplina a relaccedilatildeo com as propostas curriculares o posicionamento da bibliografia

em relaccedilatildeo a sua proacutepria tradiccedilatildeo o posicionamento com suas fontes com os

professores com as formaccedilotildees ideoloacutegicas

CAPIacuteTULO 6

DISCURSOS NO LIVRO DIDAacuteTICO DE GEOGRAFIA anaacutelises de elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geograacutefico

A organizaccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia parece obedecer a um

padratildeo similar de organizaccedilatildeo e expressatildeo Geralmente precedem um prefaacutecio

uma introduccedilatildeo seguindo o desenvolvimento propriamente dito dos conteuacutedos

organizados por sua vez na triacuteade da Cosmografia da Geografia Fiacutesica e da

Geografia Poliacutetica tanto na escala global quanto na corograacutefica Embora no

panorama geral do periacuteodo em anaacutelise pareccedila haver uma homogeneidade

discursiva fato expresso de forma generalizante por muitos historiadores do ensino

da Geografia conforme aferido anteriormente na realidade eacute possiacutevel perceber

diversos movimentos de reorganizaccedilatildeo de acomodaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo discursiva

ocorrendo a imposiccedilatildeo de forccedilas para qualificar o discurso e estabelececirc-lo no

ambiente da bibliografia e seu uso Eacute ao longo do periacuteodo em anaacutelise que a

disciplina Geografia eacute construiacuteda que seus objetivos satildeo feitos e refeitos que a sua

necessidade eacute (re)dimensionada E a bibliografia reflete esse contexto e registra as

contribuiccedilotildees a esse movimento

Decididamente natildeo se pode encontrar em um periacuteodo histoacuterico de suas

dinacircmicas e praacuteticas aquilo que natildeo integrou sua constituiccedilatildeo No entanto haacute mais

na superfiacutecie discursiva dessa bibliografia do que expressam as generalizantes

anaacutelises da educaccedilatildeo geograacutefica sobre o periacuteodo antecedente agrave institucionalizaccedilatildeo

desse saber como ciecircncia (deacutecada de 1930) que a qualifica como um saber a-

cientiacutefico tal como conclui Azevedo (1954 p 45) ldquoos estudos de caraacuteter geograacutefico

anteriores agrave criaccedilatildeo da FFLCH-USP satildeo estudos puramente descritivos tipo

cataacutelogo ou uma lsquogeografia que se confunde com a topografia e a cartografiarsquordquo o que

parece reduzir a importacircncia se natildeo epistemoloacutegica histoacuterica desses livros embora

ambas ndash fundamentos teoacuterico e metodoloacutegico e participaccedilatildeo histoacuterica sejam um

desempenho testemunhal da Geografia brasileira

Agrave primeira impressatildeo quando se examina os programas e a bibliografia

didaacutetica da eacutepoca com facilidade se remete o estudioso a um parecer semelhante

ao de Azevedo e de outros correlatos Percebe-se realmente a descriccedilatildeo empiacuterica

como caracteriacutestica do ensino da Geografia ateacute princiacutepios do seacuteculo XX Todavia eacute

funccedilatildeo e procedimento comum ao discurso didaacutetico operar com os resultados da

ciecircncia e natildeo qualquer um mas aqueles consolidados em seu contexto Ser ou

natildeo ser um ensino geograacutefico cientiacutefico tem importacircncia relativa desde que no

acircmbito da produccedilatildeo desse saber a questatildeo estava colocada com um destacado

descompasso em relaccedilatildeo a outras ciecircncias Sem duacutevida tambeacutem se identifica um

descompasso do ensino da Geografia brasileira em relaccedilatildeo agrave ciecircncia geograacutefica em

toda a extensatildeo do periacuteodo analisado agrave exceccedilatildeo de algumas poucas e significativas

obras que alterando a configuraccedilatildeo regional (ALI 1905) introduzindo o discurso

moderno cientiacutefico (CARVALHO 1913) conclamando a praacutetica ao ensino

(GABAGLIA 1930) marcam um novo paradigma influente em certa produccedilatildeo entatildeo

contemporacircnea sobretudo Veiga Cabral e Aroldo de Azevedo redirecionando a

produccedilatildeo futura da bibliografia aquela produzida nos anos 1930 em diante O erro eacute

analisar esse ensino com referenciais cientiacuteficos natildeo correspondentes compreendecirc-

lo com os referenciais da Geografia atual por exemplo ou mesmo da Geografia

Moderna cientiacutefica A Geografia eacute uma aacuterea do saber cuja definiccedilatildeo moderna

principia no seacuteculo XVIII quando passou a formar um caminho epistemoloacutegico a

partir de dois pontos do deslocamento temporal da sua escala de abordagem e da

conformaccedilatildeo sistecircmica do saber

Deslocamento da idade antiga e medieval que configurava uma Geografia

Histoacuterica e muitas vezes uma Geografia sacra ainda presente no ensino do seacuteculo

XIX em direccedilatildeo aos espaccedilos e agraves feiccedilotildees entatildeo contemporacircneas em que se

destacam os recortes corograacuteficos com a emersatildeo dos espaccedilos nacionais

Em decorrecircncia surge o outro ponto de partida o esforccedilo de reunir

conhecimentos dispersos em uma expressatildeo sistecircmica de que resultaram

importantes e influentes tratados Conforme lembra Claval (1987 p 71) por um

vasto periacuteodo a partir do seacuteculo XVIII a Geografia esteve ldquo[] absorvida pela

descriccedilatildeo do mundo []rdquo e sua primeira direccedilatildeo ou seja para quem produzia essa

descriccedilatildeo era para o Estado de forma que foram os viajantes ldquo[] os uacutenicos a

responder a uma das curiosidades do puacuteblico geograacutefico []rdquo embora sem agregar

sistematizaccedilatildeo explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo a essa oferta Sendo estranha aos

produtores da Geografia a interpretaccedilatildeo e muitas vezes a explicaccedilatildeo ldquobastava

desenhar os contornos das proviacutencias ou regiotildees e dizer como satildeo preenchidas para

satisfazer as curiosidadesrdquo (CLAVAL 1987 p 72) havia quase que uma curiosidade

pictoacuterica em se obter os desenhos que contornavam as regiotildees e as generalidades

que as caracterizassem No seacuteculo XIX essa foi por exemplo a Geografia do

Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro (VLACH 1988)

Esse comportamento estaacute presente no fundamento da maior parte das

primeiras produccedilotildees da Geografia inclusive na didaacutetica sendo que nesta essa

posiccedilatildeo se prolonga mais chegando ao seacuteculo XX Tambeacutem nessa bibliografia se

faratildeo sentir sintomas de mudanccedilas de transformaccedilotildees constitutivas do discurso

didaacutetico da Geografia Mas esta eacute apenas uma das dimensotildees do livro didaacutetico de

Geografia Este tambeacutem se constitui como material instrucional como objeto de

debates como meio para a propagaccedilatildeo de pensamentos e de silecircncios Sua

trajetoacuteria vai mostrando como vatildeo sendo agregados iacutendices ilustraccedilotildees exerciacutecios

notas de rodapeacute pregnacircncias O livro didaacutetico de Geografia eacute um dos gecircneros da

bibliografia geral poreacutem como todo gecircnero natildeo nasceu pronto frutifica-se na

Histoacuteria por ela eacute construiacutedo e constituiacutedo Natildeo havendo exerciacutecios ou atividades

para os discentes nas obras ofertava-se apenas os conteuacutedos ficando a cargo do

regente do curso orientaccedilotildees quanto agraves atividades o livro aiacute se inteira para o

professor ainda natildeo eacute uma conquista do alunado A histoacuteria do livro didaacutetico de

Geografia mostra que suas muacuteltiplas dimensotildees como essa vatildeo se compondo

demonstra como vai se propondo como se destina para quem se destina para que

serve para o que contribui como se institucionaliza como se datildeo as relaccedilotildees

retroativas que nutre com a disciplina

Neste capiacutetulo procuro trabalhar essa trajetoacuteria em uma perspectiva

analiacutetica perseguindo a constituiccedilatildeo do discurso sobre o ensino de Geografia a

partir de sua materializaccedilatildeo na bibliografia didaacutetica Na verdade trata-se de uma

anaacutelise muito seletiva pois mais que um objeto de pesquisa essa bibliografia eacute todo

um campo aberto agrave investigaccedilatildeo com infindaacuteveis trilheiros para o historiador do

ensino da Geografia e tambeacutem da histoacuteria do pensamento geograacutefico

Tendo em vista essas consideraccedilotildees passo agraves anaacutelises de aspectos

discursivos selecionados na bibliografia que circunstanciam o saber a ser ensinado

encerrando-a com uma consideraccedilatildeo geral sobre o saber ensinado acircmbito de

vivecircncia da bibliografia e do ensino organizado para ela e a partir dela

61 O discurso da designaccedilatildeo das obras

Se a Geografia chega ao Brasil como projeto de uma educaccedilatildeo cientiacutefica e

teacutecnica nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX pode-se dizer jaacute da existecircncia da

Geografia como uma disciplina escolar constituiacuteda com um consideraacutevel acervo

didaacutetico alguns tiacutetulos de circulaccedilatildeo regional e outros com circulaccedilatildeo nacional

atuando nos ensinos primaacuterio e secundaacuterio sendo projeto de uma formaccedilatildeo cultural

com algumas especificaccedilotildees ideoloacutegicas como eacute o caso do nacionalismo patrioacutetico

Essa bibliografia em niacutevel secundaacuterio visava preparar o estudante do ensino

superior tanto tecnicamente quanto culturalmente Sobretudo as corografias

nacionais notadamente apoacutes os primeiros anos do seacuteculo XX diluiacuteam um discurso

sobre a nacionalidade brasileira No sentido teacutecnico voltavam-se sobretudo para os

alunos das engenharias e outras formaccedilotildees teacutecnicas (como o comeacutercio e a

agricultura) para o que se focava nos estudos cartograacuteficos e cosmograacuteficos agraves

vezes especializando-se nessas aacutereas No sentido cultural as representaccedilotildees do

paiacutes e do mundo situavam os futuros bachareacuteis quanto agrave organizaccedilatildeo do espaccedilo

geograacutefico Isso porque o saber geograacutefico no nascente mundo das naccedilotildees das

interrelaccedilotildees comerciais e da induacutestria fazia-se um lastro necessaacuterio ao melhor

entendimento entre os povos e agrave administraccedilatildeo dos interesses econocircmicos tanto os

puacuteblicos quanto os de classe

A geographia eacute de todas as sciencias a menos auxiliada a menos estimada e a mais ignorada no entanto que ouvimos aos mais celebres estadistas da eacutepoca aos mais haacutebeis administradores aos mais notaacuteveis negociantes aos mais distinctos aos mais insignos agricultores lamentarem-se com pezar natildeo terem recebido quando estudantes o ensino geographico adaptado aacutes funcccedilotildees para que se encaminhavatildeo (PACHECO 1857 p 9)

No acircmbito do ensino primaacuterio com maior ecircnfase mas atravessando os

discursos de toda a bibliografia para todos os niacuteveis de instruccedilatildeo a Geografia

direcionava fundamentos para o estabelecimento de uma identidade nacional ou no

miacutenimo de apresentaccedilatildeo descritiva do espaccedilo nacional e tambeacutem o mundial De

qualquer forma a Geografia chegaraacute ao fim dos oitocentos como parte do cotidiano

da escola formal poreacutem no todo tinha uma abrangecircncia muito restrita haja vista o

pequeno percentual da populaccedilatildeo geral que atingia e dentre estes a forma como

instituiacutea uma percepccedilatildeo do mundo embora natildeo seja de se desconsiderar que essa

formaccedilatildeo atingia diretamente as elites instruiacutedas (VLACH 1988)

Examinando a bibliografia em seu periacuteodo inicial conforme visto

anteriormente vecircm-se registros de duas obras de interesse imediato ao ensino de

Geografia mas natildeo propriamente para o ensino deste saber seguidas de uma

sucessatildeo de nove publicaccedilotildees ateacute o Ato Adicional posto como marco para a

organizaccedilatildeo das primeiras instituiccedilotildees puacuteblicas do ensino secundaacuterio de acordo

com Haidar (1972) A primeira delas Guimaratildees (1814) aborda um dos

conhecimentos que comporatildeo o conjunto de saberes da disciplina Geografia a

Astronomia A obra de Pereira (1818) por sua vez eacute indicada por muitos

historiadores da educaccedilatildeo como a primeira obra infantil brasileira um livro de leitura

destinado ao ensino de letramento Passando para a deacutecada de 1820 temos o

primeiro livro didaacutetico de Geografia do reverendo Guilherme Paulo Tilbury Breve

introducccedilatildeo ao estudo de Geographia adaptado ao uso dos mappas francezes e

inglezes Offerecida a S M o Senhor D Pedro I de 1823 No ano seguinte surge a

publicaccedilatildeo de Bazilio Quaresma Torreatildeo e uma outra obra publicada sob o

pseudocircnimo de Hum Brasilianno Em 1826 tem-se a primeira manifestaccedilatildeo regional

de uma obra geograacutefica com a preparaccedilatildeo de um volume por Ignaacutecio Apriacutegio da

Fonseca Galvatildeo94 que recortou da obra de Ayres de Casal o que diz respeito agrave

proviacutencia da Bahia editando-a como publicaccedilatildeo escolar E apesar de editado no

Rio de Janeiro mas destinado a discentes da Bahia especificamente Salvador tem-

se o volume de Domingos Joseacute Antonio Rebello de 1829 Em 1830 dois autores

publicam obras praticamente homocircnimas Manoel Ildefonso de Souza Lima95 e

94

Ignaacutecio [Joseacute] Apriacutegio da Fonseca Galvatildeo ndash obtive poucas informaccedilotildees sobre este autor foi coronel do Estado Maior do exeacutercito e professor de Geografia e Histoacuteria sendo um dos revoltosos da Sabinada (IHGB [s d])

95 Ildefonso de Souza Lima ndash natildeo foi possiacutevel localizar informaccedilotildees sobre esse autor

Manoel Ignacio Soares Lisboa96 Fecha esse periacuteodo a ediccedilatildeo de Agostinho

Marques de Gouvecirca97 publicada em 1832 Essa sequecircncia de obras bem como a

que viria a seguir eacute bastante reveladora quanto aos primeiros anos de formaccedilatildeo do

ensino de Geografia e da continuidade da bibliografia e da disciplina geograacuteficas

Tomando os tiacutetulos e subtiacutetulos desses manuais (processo que em uma perspectiva

discursiva chama-se de designaccedilatildeo ou nomeaccedilatildeo) como manifestaccedilotildees discursivas

conseguimos encontrar diversas questotildees praacuteticas e dispositivos ativos na aurora

do ensino de Geografia e no seu desenvolvimento posterior Vejamos

Fragmento 611 Elementos de Astronomia Para uso dos alumnos da Academia Real Militar (GUIMARAtildeES 1814) Fragmento 612 Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinaacuterios agraves idades tenras e hum diaacutelogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural (PEREIRA 1818) Fragmento 613 Breve introducccedilatildeo ao estudo de Geographia adaptado ao uso dos mappas francezes e inglezes Offerecida a S M o Senhor D Pedro I (TILBURY 1823) Fragmento 614 Compendio de Geographia universal Rezumido de diversos authores e offerecido aacute mocidade brazileira (TORREAtildeO 1824) Fragmento 615 Noccedilotildees elementares de Geographia por hum antigo professor da Universidade de Paris impressas no anno de 1820 e tradusidas em 1823 por hum brasilianno para instrucccedilatildeo da mocidade do Brasil (HUM BRASILIANNO 1824) Fragmento 616 Introducccedilatildeo da Geographia brazilica da parte que trata da Bahia composta por um presbytero secular do gratildeo-priorado do Crato e mandada imprimir para instrucccedilatildeo da mocidade bahiense por um professor da mesma (CASAL 1826) Fragmento 617 Corografia ou abreviada historia geographica do imperio do Brasil coordenada acrescentada e dedicada aacute casa pia e collegio dos orfatildeos de S Joaquim desta cidade Para uso de seos alumnos a fim de adquirirem conhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em geral e seo descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente da provincia e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos (REBELLO 1829)

96

Manoel Ignacio Soares Lisboa ndash natildeo foi possiacutevel localizar informaccedilotildees sobre esse autor

97 Agostinho Marques de Gouvecirca ndash natildeo foi possiacutevel localizar informaccedilotildees sobre esse autor

Fragmento 618 Elementos de Geographia astronoacutemica politica e physica Apresenta um mappa (LIMA 1830) Fragmento 619 Elementos de Geographia Astronomica Poliacutetica e Physica Dedicados a sua Alteza Imperial o Sr D Pedro Principe Imperial do Brasil para uso das Escolas Brasileiras (LISBOA 1830) Fragmento 6110 Novo cathecismo geographico brazileiro Offerecido aos senhores paes de famiacutelia e professores de ambos os sexos (GOUVEcircA 1832) Fragmento 6111 Noccedilotildees preliminares de Geographia em forma de dialogo com especial applicaccedilatildeo ao imperio do Brazil (BRANDAtildeO 184-) Fragmento 6112 BREVES Noccedilotildees de Geographia Universal mui accrescentadas na parte respectiva ao Impeacuterio do Brasil para uso da mocidade estudiosa (BREVES 1845) Fragmento 6113 Nocccedilotildees elementares de Geographia astronomica physica e politica redigidas segundo um novo plano methodico theorico e pratico e adaptadas para servir de compendio nas academias lyceos etc como para ministrar os rudimentos de Geographia propriamente dita sem auxilio e dependecircncia de professor (SOUZA 1845) Fragmento 6114 Diaacutelogo Geographico para uso de suas disciacutepulas e alumnas do Collegio de Satildeo Joatildeo em Satildeo Christovatildeo (BRANDAtildeO 1850) Fragmento 6115 Elementos de Geographia Offerecidos agrave mocidade cearense (BRASIL 1851) Fragmento 6116 Compendio de Geographia Adoptado no collegio de Pedro II e nos lyceos e seminaacuterios do Impeacuterio (BRASIL 1856) Fragmento 6117 Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil (BRASIL 1851 1864 1869) Fragmento 6118 Breves noccedilotildees para se estudar com methodo a Geographia do Brasil Ensaio para pela primeira vez indicar os tanques mariacutetimos no Atlacircntico as vertentes delles as valladas ou bacias que ellas encerratildeo accommodando o Brasil ao ultimo plano de estudos para o impeacuterio francez se guindo a Geographia da Franccedila (PACHECO 1857) Fragmento 6119 Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exerciacutecios (BURGAIN 1958) Fragmento 6120 Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier (MENEZES 1860)

Fragmento 6121 Elementos de Geographia e Astronomia compendio offerecido ao Ill Sr Dr Abiacutelio Cezar Borges (PEREIRA 1860) Fragmento 6122 Rudimentos de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria (REGO 1862) Fragmento 6123 Elementos de Geographia moderna para uso dos alunnos do imperial Collegio de Pedro II (ABREU 1863) Fragmento 6124 Elementos de Geographia moderna (PINTO 1869) Fragmento 6125 Curso elementar de Geographia moderna (SANTOS 187-) Fragmento 6126 Elementos de Geographia universal geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infacircncia escolar da provincia de Pernambuco de conformidade com o programma da lei n 1143 art 33 sect 7ordm que rege a instruccedilatildeo na proviacutencia (PINHEIRO 1875) Fragmento 6127 Terra illustrada Geographia universal physica etnographica politica economica dos cinco partes do mundo (F I C 188-) Fragmento 6128 Geographia patria infantil (LOPES 188-) Fragmento 6129 Curso Elementar de Geographia (SAVIO 1908) Fragmento 6130 Geographia elementar para as escolas primarias (ALBUQUERQUE FILHO 1914) Fragmento 6131 Terceiro anno de Geographia (CABRAL 1933) Fragmento 6132 Geographia geral para a primeira serie ginasial (AZEVEDO 1934)

Diversas matrizes discursivas se entrecruzam na nomeaccedilatildeo dessas obras refletindo

as condiccedilotildees histoacutericas de sua produccedilatildeo e publicaccedilatildeo Os dizeres da nomeaccedilatildeo

permitem assim entrever questotildees relacionadas aos sujeitos agrave ideologia aos

relacionamentos poliacuteticos aos fundamentos teoacuterico-metodoloacutegicos que

contextualizam as obras pois seu funcionamento discursivo comporta-se como uma

frente de confronto em face do puacuteblico contribuindo para a inserccedilatildeo do texto em

uma circunstacircncia sobretudo nas deacutecadas iniciais da bibliografia em que nem tudo

estaacute consolidado em que se tem uma praacutetica educacional em construccedilatildeo Levaraacute

aproximadamente 100 anos para os tiacutetulos ficarem mais simples sinteacuteticos para

perderem o espaccedilo de uma enunciaccedilatildeo relativamente complexa jaacute entatildeo plena de

significados ateacute atingir o silenciamento em que a menccedilatildeo ao nome da disciplina e

um ou outro lexema qualitativo seja suficiente para dizer a que vem a obra (F6130

F6131 F6132) A extensatildeo dos tiacutetulos certamente coaduna com o estilo

bibliograacutefico da eacutepoca poreacutem natildeo deixa de ter do mesmo modo uma

funcionalidade com sentidos relevantes para afirmar o ensino de Geografia pois a

nomeaccedilatildeo dessas obras incorpora um certo processo de divulgaccedilatildeo quando indica o

puacuteblico de destino mostrando por seleccedilatildeo os sujeitos receptores desse discurso e

sublinhando-os na titulaccedilatildeo

Primeiro na ordem dos sujeitos examino o direcionamento da enunciaccedilatildeo

esses dizeres natildeo se destinam a um puacuteblico geral mas agrave esfera de sujeitos

envolvidos no processo da educaccedilatildeo especificamente a geograacutefica para a maioria

dos casos o que evidencia os primeiros indiacutecios de particularizaccedilatildeo ou

especializaccedilatildeo do puacuteblico alvo tornando a literatura entatildeo iniciada uma literatura

especializada de seu contexto de suas condiccedilotildees histoacutericas diz algo especiacutefico a

um puacuteblico especiacutefico Dois dos sujeitos autores se dirigem agrave representaccedilatildeo do

Estado S M o Senhor D Pedro I e ao Priacutencipe Pedro II como no caso dos

Fragmentos 613 e 619 respectivamente em um procedimento que tornaria

comum ao longo da bibliografia o oferecimento da obra agraves autoridades poliacuteticas

Aleacutem das autoridades poliacuteticas outras tambeacutem eram lembradas como Pereira que

dedicou seus Elementos de Geographia e astronomia (1860) ldquoao Illm Sr Dr Abiacutelio

Cezar Borges98rdquo reconhecido educador bahiano autor de inuacutemeros livros didaacuteticos

de prestiacutegio e tambeacutem de um manual de Geografia De acordo com Bittencourt

(2008) a dedicatoacuteria de obras a autoridades era uma forma de estreitar a relaccedilatildeo

com o poder do qual se dependia a autorizaccedilatildeo para um livro vir a puacuteblico ou seu

veto Ou uma forma de buscar proteccedilatildeo intelectual como no caso de Pereira (1860)

Satildeo menccedilotildees com todos os pronomes de tratamento merecidos tanto de respeito

98

Abiacutelio Cezar Borges ndash nascido em 1824 e falecido em 1891 Formado em Medicina em 1856 o baiano Abiacutelio Ceacutesar Borges trocou a carreira meacutedica pela de professor Nove anos apoacutes de se formar em medicina e se impor nos meios cultos com estudos cientiacuteficos histoacutericos e literaacuterios decidiu consagrar-se exclusivamente ao ensino Durante trinta e cinco anos ateacute a morte Abiacutelio Ceacutesar Borges Baratildeo de Macauacutebas empenhou-se em vasta obra educacional como insigne pedagogo O Primeiro Livro de Leitura do ldquoMeacutetodo de Abiacuteliordquo representa um surpreendente salto na pedagogia brasileira Ateacute entatildeo a aprendizagem de leitura se iniciava com abecedaacuterios manuscritos papeacuteis de cartoacuterio e toscas cartilhas Dentre as suas obras destacam-se Epiacutetome da Gramaacutetica Portuguesa (1860) Geografia Fiacutesica (1863) seacuterie de livros para de leitura Primeiro segundo e Terceiro Livro de Leitura (1868) Desenho Linear ou Geografia Praacutetica Popular (1876) dentre outros (BLAKE 1970)

moral quanto da autoridade exercida pelo sujeito centrado Haacute tambeacutem referecircncia a

sujeitos em uma ordem metodoloacutegica Menezes (1860) organiza seu discurso na

forma dialogiacutestica meacutetodo de expressatildeo consagrado por Gaultier (F6120)

Ainda como oferecimento poreacutem mais em um sentido de direcionamento ou

seja em niacutevel de seleccedilatildeo do puacuteblico tem-se a enunciaccedilatildeo dedicando os textos a um

determinado grupo de sujeitos aos ldquoalumnos da Academia Realrdquo (F611) aos

ldquomeninosrdquo (F612) agrave ldquomocidade brazileirardquo (F614) agrave ldquoinstrucccedilatildeo da mocidade

bahienserdquo (F616) aos alunos da ldquocasa pia e collegio dos orfatildeos de S Joaquim

desta cidade [Salvador] Para uso de seos alumnosrdquo (F617) aos ldquosenhores paes de

familia e professores de ambos os sexosrdquo (F6110) ao ldquouso da mocidade

estudiosardquo (F6112) ao ldquouso de suas discipulas e alumnas do Collegio de Satildeo Joatildeo

em Satildeo Christiovatildeordquo (F6114) agrave ldquomocidade cearenserdquo (F6115) nesses lexemas e

sequecircncias discursivas abrangendo pouco mais de 30 anos os primeiros da

trajetoacuteria da bibliografia vecirc-se a marcaccedilatildeo dos sujeitos-destino da enunciaccedilatildeo

didaacutetica da Geografia como uma das regularidades na dispersatildeo desse discurso

Considerando os fragmentos selecionados trecircs categorias de sujeitos podem ser

agrupadas conforme sistematizado no Quadro 33

QUADRO 33 ndash Exemplos enunciados de sujeitos-destino da bibliografia

Grupos de sujeitos pertencentes a

Instituiacuteccedilotildees Grupos de sujeitos gerais

Grupos de sujeitos especiacuteficos

Academia Real Militar Coleacutegio Satildeo Joaquim Coleacutegio Satildeo Joatildeo

Meninos Mocidade brasileira Mocidade estudiosa Professores de ambos os sexos Senhores pais de famiacutelia

Disciacutepulas e alunas do Coleacutegio Satildeo Joatildeo de Satildeo Cristoacutevatildeo Mocidade bahiense Mocidade cearense

Org Jeane Medeiros Silva 2011

Essa unidade discursiva deixa entrever algumas condiccedilotildees de emersatildeo da

bibliografia didaacutetica de Geografia Em um plano haacute o destino certo embora restrito

da obra escrita e publicada para uma instituiccedilatildeo como a Academia Militar o

Orfanato de Satildeo Joaquim (Salvador) o Coleacutegio de Satildeo Joatildeo Dada a quantidade

ascedente de instituiccedilotildees privadas eacute possiacutevel a existecircncia de muitos manuais de

circulaccedilatildeo interna sobre os quais natildeo teremos mais acesso pois esquecidos estatildeo

pela histoacuteria ou que natildeo foram contemplados por esta pesquisa Aleacutem disso esse

grupo evidencia muito dos limites de circulaccedilatildeo das obras sendo produzidas para

um consumo estritamemente local Em segundo lugar estatildeo as obras sem essa

especificaccedilatildeo institucional mas igualmente com uma delimitaccedilatildeo geral dirigindo-se

genericamente agraves escolas brasileiras agrave juventude brasileira ldquoestudiosardquo Nesse

conjunto de sujeitos receptores chama a atenccedilatildeo o oferecimento do Cathecismo

geographico aos professores e aos pais nesse momento mais do que instrumento

didaacutetico de aprendizagem os manuais satildeo instrumentos de ensino servem aos

professores e aos responsaacuteveis pela educaccedilatildeo em uma eacutepoca na qual era comum a

educaccedilatildeo formal no contexto domeacutestico por responsabilidade de preceptores

mestres avulsos parentes ou mesmo pelos pais O direcionamento aos docentes

deixa entrever o funcionamento desses manuais na lacuna da formaccedilatildeo docente de

entatildeo A uacuteltima unidade discursiva direciona a grupos especiacuteficos de sujeitos as

obras em questatildeo notando-se aleacutem do laccedilo institucional o viacutenculo regional de

circulaccedilatildeo dessas obras

Nesse niacutevel enunciativo haacute tambeacutem sentidos de exclusatildeo ldquosem auxilio e

dependencia de professorrdquo (F6113) Em um ambiente educacional cujo estudo

formal fora da classe escolar talvez superasse a matriacutecula regular em instituiccedilotildees

este fato foi observado na bibliografia criando-se materiais que dispensassem a

docecircncia das relaccedilotildees de aprendizado

Eacute interessante notar ainda questotildees de gecircnero que se deixam entrever em

alguns dos enunciados ndash por um lado uma obra que esclarece se propor aos

professores de ambos os sexos por outro uma obra proposta restritamente agraves

ldquodisciacutepulasrdquo (lexema que designa irmatildes religiosas) e alunas de uma instituiccedilatildeo A

esse tempo inexistiam classes mistas e mesmo havia debates questionando a

necessidade da ou o conteuacutedo aferido agrave educaccedilatildeo feminina

Aproximadamente pela deacutecada de 1850 esse tipo de enunciaccedilatildeo

(selecionando os sujeitos alvos) desaparece indicando talvez uma afirmaccedilatildeo

definitiva desse gecircnero textual com um puacuteblico regular Provavelmente sim

Ainda na ordem dos sujeitos mas com referecircncia agrave autoria tecircm-se as

seguintes referecircncias enunciativas ldquorezumido de diversos authoresrdquo (F614) ldquopor

hum antigo professor da Universidade de Parisrdquo e ldquotradusidas por hum brasilianordquo

(F13) ldquopor um presbiacutetero secular do gratildeo-priorado do Cratordquo ldquomandado imprimir por

um professor da mesma [mocidade bahiense]rdquo (F616) satildeo identificaccedilotildees expostas

reforccediladas no tiacutetulo e natildeo propriamente nos lugares de praxe da enunciaccedilatildeo das

autorias seja na capa ou folha de rosto Esse recurso enunciativo existe nesse

momento natildeo soacute como forma de expor o anonimato em alguns casos mas tambeacutem

como indicativo de fontes e da confiabilidade dos conteuacutedos a serem expressos no

desenvolvimento dos textos Essas sequecircncias ademais expotildeem alguns acircngulos

do processo elaborativo dos discursos didaacuteticos iniciais para a disciplina Geografia

tais como as compilaccedilotildees empreendidas uma obra nasce do entrecruzamento de

diversas fontes como eacute procedimento comum a todo acontecer discursivo embora

aqui natildeo sejam necessariamente expliacutecitas aleacutem de expor a seleccedilatildeo de conteuacutedos

pela qual se passa uma obra didaacutetica e o processo de reelaboraccedilatildeo da linguagem

nos moldes de resumos e adaptaccedilotildees A questatildeo da autoridade igualmente se

evidencia seja pela exposiccedilatildeo do cargo e lugar social seja pela representaccedilatildeo e

projeccedilatildeo do sujeito no grupo (ldquoum professor da mesmardquo) Trata-se de uma

heterogenidade mostrada por referecircncia aos sujeitos em sua funccedilatildeo-tipo mas

velada pelo anominato Havendo anominato ficam vazios os cabeccedilalhos de

assinatura da autoria como eacute comum na capa lombada ou folha de rosto e por

conseguinte a autoria migra para o tiacutetulo Um indiacutecio de modeacutestia conflito de

interesses ou ausecircncia de qualidades soacutecio-pessoais para sustentar interesse na

obra Difiacutecil precisar

Esse procedimento foi comum no iniacutecio natildeo soacute da bibliografia didaacutetica de

Geografia mas a toda bibliografia didaacutetica A partir da deacutecada de 1830 contudo foi

pouco observado restrito quase sempre agrave comercializaccedilatildeo editorial de obras

didaacuteticas quando novamente se passou a se exercer uma espeacutecie de anonimato

com obras assinadas por editoras como foi muito comum agrave FTD embora tenha

havido autores que assinassem suas obras por pseudocircnimos como Estaacutecio de Saacute

Menezes (pseudocircnimo de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro) ou abreviaturas

Em princiacutepio o Estado ou suas instacircncias administrativas reconhecendo a

necessidade de obras didaacuteticas para o ensino estimulou a escrita de manuais ndash uma

tarefa considerada patrioacutetica ndash ateacute mesmo com a oferta de precircmios e recompensas

como responsabilidade da elite cultural (BITTENCOURT 2008) e de fato a autoria

de muitas obras didaacuteticas ateacute fins dos oitocentos seria de representantes da Igreja

do poderio militar de docentes das instituiccedilotildees com projeccedilotildees principais A esse

respeito se pronuncia a Meza da Casa Pia e Collegio dos Orphatildeos S Joaquim a

Domingos Joseacute Antonio Rebello sobre o patriotismo de se escrever uma obra

didaacutetica nacional ldquoA Meza [] reconhecendo os philantropicos sentimentos de

Patriotismo que ornatildeo o caracter de V S me determina que em nome della haja

agradecer a V S o presente da bem organisada historia Corographicardquo (Joaquim

Carneiro de Campos 1828 apud REBELLO 1928 p 254)

Na ordem dos sentidos os tiacutetulos apresentam em quase todo o periacuteodo

marcas lexicais bem claras quanto a um discurso didaacutetico ldquoElementos derdquo (F611

F618 F619 F6115 F6121 F6123 F6124) ldquoLeiturasrdquo (F612) ldquoBreve

introducccedilatildeo ao estudo derdquo (F613) ldquoadaptado ao usordquo (F613) ldquoadaptadas parardquo

(F6113) ldquoCompendiordquo (F614 F6116 F6117) ldquoRezumidordquo (F614) ldquoNoccedilotildees

elementares derdquo (F615 F613 F6113) ldquoNoccedilotildees preliminaresrdquo (F6111) ldquoBreves

noccedilotildeesrdquo (F6118) ldquoIntroduccedilatildeo dardquo (F616) ldquoAbreviadardquo (F617) ldquoRudimentosrdquo

(F6122) ldquoCurso elementarrdquo (F6125 F6129) ldquoadquirirem conhecimentos []

preliminaresrdquo ldquocoordenada acrescentadardquo (F617) ldquocathecismordquo (F6110)

Esses lexemas e sequecircncias discursivas se referem ao modo de

organizaccedilatildeo do discurso didaacutetico remetendo-se ao dispositivo de escolha e de

adequaccedilatildeo do saber para as relaccedilotildees de ensino e aprendizagem ou seja migrando-

o de uma instacircncia enunciativa para outra com um processo transformativo nesse

movimento Esse dispositivo depreende-se em um sentido amplo o de modificar um

ldquotodordquo com a absorccedilatildeo de um ldquopoucordquo para um determinado propoacutesito os lexemas

enunciam assim accedilotildees como introduzir adaptar resumir abreviar coordenar

acrescentar compendiar accedilotildees essas qualificadas como breve elementar

preliminar para compor elementos noccedilotildees e rudimentos o que define o discurso e

o desempenho da sua funccedilatildeo construindo o efeito de sentido de simplificar o

conhecimento tornando-o palataacutevel ou acessiacutevel ao niacutevel intelectual e ao niacutevel de

instruccedilatildeo necessaacuterios ao estudante ou principiante nos assuntos em questatildeo Satildeo

traccedilos lexicais que designam um discurso preparado e pronto para a instruccedilatildeo

Esses atos enunciativos evocam a transiccedilatildeo e a construccedilatildeo de um saber

especiacutefico para um grupo especiacutefico de sujeitos

Como discutido anteriormente basicamente natildeo havia uma proposiccedilatildeo

curricular nas deacutecadas iniciais do ensino de Geografia agrave exceccedilatildeo do disposto em lei

para a Real Escola Militar ateacute o surgimento do Coleacutegio Pedro II No entanto os

tiacutetulos respondem a abordagens curriculares apresentando as filiaccedilotildees teoacuterico-

metodoloacutegicas a constituiccedilatildeo dos nuacutecleos de saberes ndash o ldquopoucordquo faz referecircncia

ao ldquotudordquo especificado acima ldquoAstronomiardquo (F611) ldquoGeographiardquo ldquochronologiardquo

ldquohistoria de Portugalrdquo ldquohistoria naturalrdquo (F612) ldquoGeographia (F612 e todos os

demais) ldquomappas francezes e inglezesrdquo (F613) ldquoGeographia universalrdquo (F614

F6112 F6125) ldquoGeographia brazilicardquo (F616) ldquoCorografiardquo ldquohistoria geographica

do imperio do Brasilrdquo ldquoconhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em

geral e seo descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente

da provincia e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santosrdquo (F617)

ldquoGeographia Astronomicardquo ldquoGeographia Poliacuteticardquo ldquoGeographia Physicardquo (F16 F17)

Esta Geografia rompera com a Geografia Claacutessica aquela da Antiguidade e

da Idade Meacutedia praacutetica dos jesuiacutetas vinculando-se com a nascente Geografia

Moderna claacutessica florescente desde o Iluminismo a Geografia Universal Poliacutetica

Astronocircmica Fiacutesica Corograacutefica Eacute interessante notar o destaque que se daacute aos

mapas Durante longo periacuteodo ter uma obra mapas com novas atualizaccedilotildees ou em

quantidade acima da meacutedia era motivo para se por em evidecircncia projetando-as na

tela designativa pois nem sempre os manuais de Geografia apresentavam esse

recurso notadamente pelo dispecircndio graacutefico que apresentava agrave obra ou agrave

dificuldade de se produzi-las A Corografia ou abreviada historia geographica do

imperio do Brasil de Rebello (1829) por exemplo natildeo apresenta nenhum mapa O

mesmo se daacute com a obra de Torreatildeo (1824) que reconhecendo o lugar dos mapas

como expressatildeo do saber geograacutefico e recurso de ensino e aprendizagem indica a

ausecircncia deles devido aos custos proibitivos de impressatildeo agrave eacutepoca Na sequecircncia

ldquomappas francezes e inglezesrdquo percebe-se a filiaccedilatildeo da Geografia de Quaresma

Torreatildeo agrave Geografia de La Croix e Pinkerton ndash referecircncias nem sempre expliacutecitas

mas em circulaccedilatildeo nas primeiras deacutecadas dos oitocentos entre os brasileiros

Na verdade nesse periacuteodo eacute bem influente o modelo sistematizado por

Ayres de Casal conforme jaacute discuti Os manuais quanto agrave abordagem do territoacuterio

nacional seratildeo organizados com variaccedilotildees do estabelecido na Corografia Basiacutelica

Rebello (1829) por exemplo organiza sua abordagem dos conteuacutedos em itens como

Descobrimento da Ameacuterica Descobrimento do Brasil Situaccedilatildeo extensatildeo e limites

do Brasil Serranias Cabos Bahias ou Portos principaes Ilhas Rios Clima

Terreno Producccedilatildeo Commercio Mineralogia Fythologia Zoologia Individuaccedilatildeo

das 19 Provincias do Impeacuterio suas capitaes cidades e comarcas respectivas com

suas villas uma linha aproximada da organizaccedilatildeo de Ayres de Casal (1817a)

Torreatildeo (1824) indica Ayres dentre as suas fontes de consultas procedendo da

mesma forma Somente nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX haveraacute variaccedilatildeo a esse

modelo

A bibliografia didaacutetica emerge com evidentes viacutenculos com a Histoacuteria com a

qual constituiraacute um movimento de agregaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo ateacute instituiacuterem

caminhos distintos e independentes Haacute aiacute de novo uma influecircncia do modelo de

Ayres de Casal que por sua vez remete-se agrave Geografia Claacutessica moderna no qual

se antecede a descriccedilatildeo das proviacutencias e consideraccedilotildees gerais sobre o territoacuterio

nacional com uma abordagem histoacuterica da Ameacuterica e do Brasil inclusive com uma

transcriccedilatildeo censurada da carta do descobrimento de Pero Vaz de Caminha (1450-

1500)

Aleacutem disso a bibliografia surge jaacute com a feiccedilatildeo de uma Geografia nacional

diversa das leituras auxiliares pelos jesuiacutetas embasada na Geografia sacra ou na

Geografia da Antiguidade ou mesmo do ensino de Geografia principiado na

Academia Real em seu aspecto geral com a Independecircncia o territoacuterio do Brasil

comeccedila a evidenciar-se como realidade paupaacutevel a ser dada reconhecida e

valorizada pelos brasileiros ndash a ldquoGeographia brazilicardquo a ldquohistoria geographica do

imperio do Brasilrdquo os ldquoconhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em

geral e seo descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente

da provincia e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santosrdquo O discurso da

nacionalidade que sobretudo a partir dos anos 1930 assumiu uma perspectiva

patrioacutetica comeccedila a se armar nesse momento em que se constitui a ldquoparticular

individuaccedilatildeo do Brasilrdquo (F617) oposta agrave ldquohistoria de Portugalrdquo (F612) como no

livro de leitura de Pereira (1818) ainda na vigecircncia do Reinado haacute uma histoacuteria e

uma territorialidade proacutepria agora e para elas se reserva um lugar enunciativo Esse

discurso inflama-se e esfria-se na ordem dos acontecimentos poliacuteticos eacute palataacutevel

nos discursos gerais sobre a educaccedilatildeo e mesmo nos manuais nos anos iniciais da

Independecircncia na transiccedilatildeo para a Repuacuteblica dimensionando auges na vigecircncia do

Estado Novo e bem depois no regime militar instaurado nos anos 1960 Nas

enunciaccedilotildees descritivas em todo o corpo do texto raramente se encontraraacute

manifestaccedilotildees expliacutecitas de patriotismo essa seraacute uma enunciaccedilatildeo tiacutepica dos anos

1930 em diante Na bibliografia didaacutetica essa discursividade seraacute mais posiccedilatildeo do

que enunciaccedilatildeo algo muito aclarado por exemplo nos prefaacutecios e textos

introdutoacuterios a exemplo de Rebello (1829 p 2)

Servir-me-ha soacute de desculpa o grande e verdadeiro amor da Paacutetria que me inflamma e me excitou a emprehender animoso a coordinaccedilatildeo desta Corographia Brasiacutelica na qual procurei aproximar-me a melhor methodo para clara intelligencia e mais facil percepccedilatildeo dos principiantes servindo a mesma de ideacuteias preliminares de todo este Impeacuterio nas suas 19 Provincias designadas nas 19 Estrellas da nossa auri-verde Bandeira Nacional e soacute particularmente extensa nas quatro Comarcas que compotildeem esta Provincia []

O efeito de sentido preciacutepuo nessas enunciaccedilotildees ndash a nomeaccedilatildeo do conjunto

de obras inicial da bibliografia ndash eacute o da facilitaccedilatildeo de um conhecimento a Geografia

em uma perspectiva nacional (ver a si proacutepria e ver o mundo para nele ver-se)

alccedilando-o ao niacutevel cognitivo do puacuteblico alvo entatildeo gradativamente em formaccedilatildeo

Adiante analisando os discursos do entorno agraves obras essa questatildeo poderaacute ser

melhor compreendida

Portanto apoacutes essa breve anaacutelise percebe-se que os tiacutetulos concretizam de

forma nuclear o estabelecimento do discurso didaacutetico da Geografia Em segundo

plano evidenciam a utilidade e o destino do corpo discursivo definindo e expondo

os tipos de sujeitos envolvidos nessa enunciaccedilatildeo discursiva bem como as filiaccedilotildees

discursivas que estaratildeo em curso

62 A formaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia estabelecimento da Geografia descritiva

O Compendio de Geographia Universal rezumido de diversos authores e

offerecido a mocidade brazileira por Bazilio Quaresma Torreatildeo natural de Olinda ou

simplesmente o Compendio de Geographia Universal evidencia-se no pequeno

conjunto de obras inaugurais da bibliografia didaacutetica do ensino de Geografia

brasileiro no sentido de que surge em um patamar de tradiccedilatildeo nula quanto agrave

produccedilatildeo de obras escritas para a educaccedilatildeo geograacutefica no Brasil Evidencia-se

igualmente por surgir com todos os componentes que estruturam ndash tanto na forma

quanto no discurso ndash a maioria das obras estabelecidas na bibliografia Dentre seus

diferenciais em relaccedilatildeo agraves obras precedentes (GUIMARAtildeES 1814 PEREIRA 1818

e outros ndash identificadas por esta pesquisa) destacam-se especificamente o fato de

primeiro ter sido escrita para educar e educar aprendizes em preparatoacuterio para

ingresso no ensino superior segundo por abranger um programa completo de

abordagem geograacutefica de acordo com a Geografia claacutessica no miacutenimo em maior

extensatildeo em relaccedilatildeo agrave obra de Tilbury (1823 propriamente o primeiro livro didaacutetico

de Geografia brasileiro ao qual natildeo tive acesso) reconhecimento e enquadro destes

conhecimentos como uma ciecircncia acompanhando as divisotildees que estruturam essa

Geografia isto eacute a Geografia Astronocircmica a Geografia Fiacutesica e a Geografia

Poliacutetica99

Bazilio Quaresma Torreatildeo nasceu em Olinda proviacutencia de Pernambuco em

data imprecisa nos fins do seacuteculo XVIII falecendo no Rio de Janeiro em 1867 Aleacutem

de professor de Geografia e Histoacuteria ciecircncias nas quais foi renomado pela erudiccedilatildeo

que possuiacutea desses conhecimentos atuou na poliacutetica chegando a presidente de

proviacutencia Tambeacutem foi um revolucionaacuterio integrando o corpo dos rebeldes de 1817

os quais reivindicavam a independecircncia da Proviacutencia de Pernambuco Por essa

participaccedilatildeo ficou preso na Bahia em companhia de Frei Caneca (BLAKE 1883)

Enquanto preso lecionou aulas avulsas de Geografia ndash sabe-se de pelo menos trecircs

cursos ministrados ndash e sobretudo escreveu seu Compendio de Geographia

Universal o terceiro no gecircnero produzido no Brasil e o segundo com propoacutesitos

didaacuteticos Apoacutes editar sua obra ainda em 1824 participou de outra rebeliatildeo

precisando por esse motivo exilar-se em Londres e em outros paiacuteses europeus

Somente retornou ao paiacutes nos anos 1830 quando passou a ocupar cargos poliacuteticos

presidindo primeiramente a proviacutencia do Rio Grande do Norte (1833-1836) e depois

a Proviacutencia da Paraiacuteba (1836-1838) Enquanto presidente do Rio Grande do Norte

fundou o Atheneu Norte-Riograndense situado em Natal em 1834 Apoacutes 1838

continuou na poliacutetica como deputado do Impeacuterio no Rio de Janeiro ateacute sua morte

(BLAKE 1883)

O Compendio de uacutenica ediccedilatildeo foi impresso em Londres em 1824 pelo

editor L Thompson na conhecida Officina Portugueza sendo esta produccedilatildeo

99

Enquanto a Geografia Moderna Claacutessica conta com essas trecircs compartimentaccedilotildees a Geografia Moderna cientifica ou institucionalizada sobretudo a partir da Alemanha de Humboldt e Ritter se enveredaria em duas perspectivas a Geografia Humana e a Geografia Fiacutesica quando da emergecircncia da dualidade no discurso geograacutefico desta ciecircncia fato este demonstrado por Gomes (2000)

supervisionada por J A drsquoOliveira entatildeo ldquonegociante estabelecido em

Pernambucordquo a respeito de quem natildeo obtive maiores informaccedilotildees possivelmente

tratava-se de comerciante ligado a importaccedilotildees com contatos na Inglaterra

encarregado dos tracircmites para a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da obra jaacute que eacute

citado nas credenciais de informaccedilotildees identitaacuterias do livro Em muitos exemplares da

bibliografia e tambeacutem dos livros em geral era comum identificar um comerciante ou

casa comercial agrave parte das casas editoriais onde o leitor interessado ou outros

comerciantes poderiam adquirir exemplares Quando da publicaccedilatildeo ou pelo menos

no iniacutecio do moroso tempo de preparaccedilatildeo e ediccedilatildeo de um livro Torreatildeo encontrava-

se preso portanto sem trabalho vultoso aleacutem das aulas que ministrava o que o

deixou sem recursos como o proacuteprio autor admite quando assume natildeo ter editado

mapas na obra por falta de pecuacutelio Em razatildeo dessas ldquominhas circunstancias

actuaesrdquo (TORREAtildeO 1824 p 11) o autor utilizou-se de outro procedimento comum

agrave ediccedilatildeo de obras na eacutepoca as subscriccedilotildees processo no qual um autor procurava

financiamento ou venda antecipada de exemplares Em retribuiccedilatildeo aleacutem da

aquisiccedilatildeo de um ou mais exemplares os signataacuterios tinham seus nomes registrados

na obra No Compendio a esse propoacutesito haacute uma lista ldquodas pessoas que hatildeo de

contribuir para a Impressatildeo desta Obrardquo em 10 paacuteginas com 353 assinantes Essa

listagem apresenta algumas peculiaridades dentre as pessoas comuns com certeza

dentre os mais ilustrados ou bem sucedidos da sociedade (todos nomes

portugueses ou de ascendecircncia portuguesa e todos homens sem exceccedilatildeo) haacute

uma quantidade significativa de doutores e reverendos 10 e 51 respectivamente O

particular interesse dos cleacuterigos pela obra talvez se deva agraves bibliotecas sempre

disponiacuteveis nos conventos e paroacutequias sobremaneira em funccedilatildeo da atividade

educativa exercida pelos religiosos Outros nomes destacam-se por se identificar as

localidades de origem ou residecircncia do leitor ndash Cabo Parahiba Searaacute Portugal o

que leva a crer que o principal dos assinantes fosse de Pernambuco As assinaturas

natildeo deixavam de ser uma forma tambeacutem de projeccedilatildeo na sociedade uma atividade

tiacutepica da elite Considerando-se o periacuteodo de prisatildeo do autor possivelmente o

negociante J A drsquoOliveira possa ter participado na articulaccedilatildeo do levantamento de

fundos para a publicaccedilatildeo

A vida e o Compendio pelas informaccedilotildees atuais disponiacuteveis demonstram

que Torreatildeo era uma pessoa articulada na sociedade de seu tempo bem

relacionado e conhecido Blake (1883) aponta que o Compendio foi bem recebido

pela criacutetica da eacutepoca De fato eacute uma obra bem escrita em linguagem fluente em

que o estilo apaga a monotonia descritiva que caracterizaria um longo futuro da

bibliografia didaacutetica de Geografia o que faz do livro uma leitura interessante Sou do

parecer que com o tempo com o aumento do volume de informaccedilotildees e de fatos

geograacuteficos o discurso tendeu a perder sua fluecircncia enunciativa ficando mais

enxuto mais nodal centrado de fato na descriccedilatildeo e na apresentaccedilatildeo de estatiacutesticas

O Prefaacutecio do Compendio eacute um documento fundamental para o discurso do

ensino de Geografia em seus momentos iniciais Veja-se

Prefaccccedilatildeo

Todo o bom Cidadatildeo deve segundo as suas forccedilas concorrer quanto lhe for possiacutevel para o bem da sociedade de que he membro esta verdade gravada no fundo de meu Coraccedilatildeo he quem me inspirou o desejo de offerecer ao Publico este pequeno Tractado de Geographia que collegi dos melhores authores modernos e o expuacutes com a clareza e methodo que me foi possiacutevel para proveito da Mocidade Brazileira dando huma pequena ideacutea da Geographia Astronomica e tocando de passagem por todos os lugares da Terra demorando-me mais no Brazil para cuja descripccedilatildeo me servi da Corographia do Reverendo Ayres e de algumas informaccedilotildees de pessoas fidedignas Conheccedilo que para melhor intelligencia eu devia gravar Mappas Geographicos para esclarecer as divisoens dos Paizes que descrevo mas as minhas circuntancias actuaes natildeo me offerecem as necessaacuterias proporccedilotildeens para huma empreza tatildeo delicada por tanto como seja o meu objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographia resolvi-me a publicar mesmo com essa falta na persuasatildeo de que as Cartas Universaes e Geraes poacutedem muito bem applicar-se-lhe com pequenas faltas que seratildeo supridas por qualquer haacutebil explicador

Seria ocioso persuadir aos meus Leitores a utilidade e necessidade do estudo da Geographia pois que em qualquer estado ou condiccedilatildeo que nos achemos seraacute impossiacutevel poder tomar parte nos acontecimentos da Histoacuteria dos Povos sem o conhecimento desta tatildeo bella sciencia com a qual podemos correr o Mundo inteiro sem nos apartar do recinto de nossas habitaccedilotildeens A historia de huma simples gazeta huma conversa solida sobre o interesse dos Principes e dos Povos da Religiatildeo e do Commercio demandatildeo necessariamente o estudo da Geographia e he isto que ella com justiccedila he chamada ndash hum dos Olhos da Historia ndash He para lamentar poreacutem que em o nosso idioma natildeo tiacutenhamos hum soacute volume de Geographia capaz de servir de guia aos principiantes por quanto ou lhes falta methodo e clareza ou satildeo tatildeo antigos que a parte histoacuterica e poliacutetica pelas variaccedilotildees dos tempos jaacute se encontra toda differente Eis mais hum motivo que me obriga a daacuter aacute Luz este epithome do qual rogo aos meus Leitores natildeo julguem soacutemente pelo nome do Author mas depois de o lerem avaliem pelo nome do Author mas depois de o lerem avaliem entatildeo o zelo e trabalho com que procurei quanto pude proporciona-lo aos seus e meus desejos

Dos fatos e dados geograacuteficos e histoacutericos como o proacuteprio tiacutetulo da obra

expressa trata-se de uma obra resumida de diversos autores ldquocollegi dos melhores

authores modernosrdquo ndash mas cuja referenciaccedilatildeo expliacutecita apenas menciona na parte

de abordagem do Brasil a obra de Ayres de Casal como fonte aleacutem de fontes orais

de confianccedila tampouco identificadas Essa coleta do conhecimento visa um meacutetodo

expositivo expresso no lexema ldquodescripccedilatildeordquo constitutivo do discurso didaacutetico da

Geografia Eacute desse tempo a preocupaccedilatildeo em se elaborar materiais diferenciados

especificamente para o ensino e o aprendizado reunindo em um mesmo local

discursos esparsos e expondo-os de forma compreensiacutevel ao puacuteblico alvo o que eacute

mencionado diretamente nesta sequecircncia ldquoexpuacutes com a clareza e methodo que me

foi possiacutevel para proveito da Mocidade Brazileirardquo Eacute a afirmaccedilatildeo de um gecircnero

enquanto uma produccedilatildeo tiacutepica de construccedilatildeo textual os compecircndios ndash obras

coligidas adaptadas reunidas para o ensino Numa perspectiva discursiva esse

procedimento ao passo que institui um gecircnero institui tambeacutem regularidade na

dispersatildeo discursiva tratando-se dos pontos que tornam comuns e proacuteximos esses

discursos impondo-os como um movimento respondendo agraves mesmas dinacircmicas

(curriacuteculos poliacuteticas educacionais necessidades do puacuteblico etc) Vejam-se as

seguintes sequecircncias discursivas ldquopequeno Tractado de Geographiardquo ldquoseja o meu

objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographiardquo Em ambos

projeta-se o sentido da construccedilatildeo didaacutetica a didatizaccedilatildeo ndash o apurar o conhecimento

para alccedilaacute-lo aos fins propostos ou agrave educaccedilatildeo de principiantes um tratado

geograacutefico mas ldquopequenordquo da Geografia inteira e disponiacutevel ldquouma tinturardquo

ldquopequena ideacutea da Geographiardquo Esse tratamento lexicograacutefico seraacute igualmente uma

unidade na dispersatildeo do discurso didaacutetico como um todo e tambeacutem no discurso do

ensino geograacutefico noccedilotildees elementos introduccedilatildeo dentre outros lexemas como

referecircncia agraves disciplinas e a seu gecircnero bibliograacutefico

Na Prefacccedilatildeo haacute posicionamentos do autor frente agrave nascente naccedilatildeo

brasileira e agrave ciecircncia geograacutefica Em primeiro lugar assume sua produccedilatildeo como um

dever de cidadatildeo que deve de acordo com este fragmento ldquoconcorrer quanto lhe

for possiacutevel para o bem da sociedaderdquo prestando-se assim a um serviccedilo puacuteblico

Anima-o ainda em segundo lugar o fato de que ldquoem o nosso idioma natildeo tiacutenhamos

hum soacute volume de Geographia capaz de servir de guia aos principiantesrdquo Essa

afirmaccedilatildeo com certeza enuncia-se ao tempo da escrita do Compendio pois em

1823 um ano antes Tilbury publicara um manual didaacutetico de Geografia Poreacutem haacute

que se considerar que ambas as obras surgem em poacutelos diferentes do Brasil

praticamente coetacircneos Tilbury publica no Rio de Janeiro e Torreatildeo em

Pernambuco Basicamente eram dois paiacuteses diferentes ambos locais com forccedilas

econocircmicas capazes de fazecirc-los dois centros distintos com comunicaccedilatildeo morosa

entre ambos De qualquer forma Torreatildeo tece uma criacutetica que perduraria adiante

por todo o periacuteodo em anaacutelise nesta tese a saber a desatualizaccedilatildeo e a pouca

disponibilidade de materiais textuais para o ensino de Geografia referindo-se aos

documentos disponiacuteveis afirma que ldquoou lhes falta methodo e clareza ou satildeo tatildeo

antigos que a parte histoacuterica e poliacutetica pelas variaccedilotildees dos tempos jaacute se encontra

toda differenterdquo O lexema ldquomethodordquo articulado agrave ausecircncia e se existente obscuro

aponta para a existecircncia de materiais inapropriados ao ensino e agrave aprendizagem de

Geografia nas aulas avulsas materiais produzidos de saber geograacutefico expliacutecito ou

impliacutecito mas natildeo organizados para as relaccedilotildees de ensino e de aprendizagem

Quanto agrave Geografia estabelece um curriacuteculo geral propondo uma

ldquoGeographia Astronomica e tocando de passagem por todos os lugares da Terra

demorando-me mais no Brazilrdquo Nessa sequecircncia eacute interessante notar que se trata

de uma das primeiras propostas para se ensinar a Geografia do Brasil fora do

contexto do ensino superior No incidental ensino de Geografia dos jesuiacutetas como

visto precedentemente ensinava-se uma Geografia sacra e cosmoloacutegica e no

periacuteodo joanino em especial na Real Academia Militar ensinava-se uma Geografia

geral ldquoDemorando-se mais no Brazilrdquo denota um sentido mais profundo do que o

expresso no conjunto da obra Estaacute-se em 1824 dois anos apoacutes a Independecircncia

poliacutetica do Brasil ano de Constituinte tempo em que os interesses gerais

comeccedilavam a convergir para as necessidades de uma naccedilatildeo por construir E eacute

justamente pela Histoacuteria e pela Geografia que em um territoacuterio praticamente sem

tradiccedilatildeo proacutepria aconteceraacute certa nacionalizaccedilatildeo da praacutetica educacional Como

abordei em outros momentos Geografia e Histoacuteria irmanam-se e seguem uma

trajetoacuteria paralela Torreatildeo enuncia essa posiccedilatildeo quando reconhece ser a Geografia

os ldquoOlhos da Historiardquo Natildeo esconde sua admiraccedilatildeo por essa sciencia a qual

permite ldquocorrer o Mundo inteiro sem nos apartar do recinto de nossas habitaccedilotildeensrdquo

Nesse contexto o autor anuncia ldquoa utilidade e necessidade do estudo da

Geographiardquo Jaacute entatildeo era claro que os saberes geograacuteficos tambeacutem seriam

norteadores na formaccedilatildeo do cidadatildeo sobretudo daqueles que estariam agrave frente dos

interesses da economia do Estado da cultura Duas sequecircncias desse fragmento

constroem esse sentido ldquoseraacute impossiacutevel poder tomar parte nos acontecimentos da

Histoacuteria dos Povos sem o conhecimento desta tatildeo bella sciencia []rdquo ldquoA historia de

huma simples gazeta huma conversa solida sobre o interesse dos Principes e dos

Povos da Religiatildeo e do Commercio demandatildeo necessariamente o estudo da

Geographiardquo

Indica-se aiacute primeiramente a Geografia como lugar de saberes

relacionados a uma cultura geral ldquotomar parte nos acontecimentos da Histoacuteria dos

Povosrdquo depois destacam-se vivecircncias cotidianas (ldquoa historia de uma simples

gazetardquo) os interesses do Estado e da Igreja bem como da economia que nesse

enunciado se colocam como praacuteticas que demandam uma orientaccedilatildeo do

aprendizado geograacutefico

Por fim outro noacutedulo essencial nesse discurso eacute o papel atribuiacutedo ao

professor Conforme mencionei anteriormente Torreatildeo publicou seu Compendio

sem mapas por questotildees econocircmicas embora reconhecesse a utilidade e a

necessidade de documentos cartograacuteficos em um discurso geograacutefico Mas se

tranquiliza em seu prefaacutecio ao atribuir ao ldquohaacutebil explicadorrdquo ou professor a funccedilatildeo

de suprir essa falha Trata-se de outro funcionamento do discurso didaacutetico ou seja

estabelecer um discurso materializado que embora aparentemente inerte contaraacute

com a intermediaccedilatildeo da docecircncia como complementaccedilatildeo como apoio para o

aprendizado do estudante

Outro documento importante da obra de Torreatildeo eacute a Introduccedilatildeo transcrita

abaixo

Sciencia geralmente fallando he o conhecimento certo que adquirimos de qualquer cousa Por tres modo se podem adquirir as Sciencias ou Conhecimento veacutem a ser por meio da leitura reflectida pela experiencia e pela meditaccedilatildeo Entre todas as Sciencias a que he mais natural ou a que parece dever preceder ao estudo da Mocidade he a Geographia que faz o nosso objecto Geographia pois He a descripccedilatildeo do Glocircbo terrestre Ella tira seu nome de duas palavras Gregas ndash Geos e Graphos ndash que quer dizer ndash Tractado da Terra Divide-se a Geographia em tres partes a saber Geographia Astronomica Geografia Fizica e Geographia Politica Geographia Astronomica He aquella que nos ensina a descrever a Terra em relaccedilatildeo aos Corpos Celestes os effeitos principaes que resultatildeo drsquoesta

correspondecircncia as medidas Mathematicas que teacutem feito da Terra aos Astros e finalmente a relaccedilatildeo que estes teacutem com os fenocircmenos terrestres que satildeo as variaccedilotildees das Estaccedilotildees e os diversos temperamentos dos Climas ampordf ampordf Geographia Fizica he a descripccedilatildeo da Terra considerada em relaccedilatildeo aacute Natureza Ella nos ensina a forma externa do Glocircbo Terrestre sua divisatildeo em terra e aacutegua sua situaccedilatildeo e limites os montes os bosques os rios os cabos os lagos e finalmente as producccedilotildees dos tres Reinos naturaes animal vegetal e mineral Geographia Politica que se chama tambeacutem Geographia descriptiva he a descripccedilatildeo da Terra em relaccedilatildeo aos habitantes e suas convenccedilotildees Ella divide a Terra em differentes Naccedilotildees suapopulaccedilatildeo caracter costumes e linguagem sua industria seu commercio e Governo e suas Leis e Religiatildeo Do que temos dito segue-se que se poacutede chamar aacute Geographia ndash Huma descripccedilatildeo Mathematica Fizica e Politica da Terra Eis a mateacuteria deste Compendio que nos dividiremos em duas partes A primeira tractaraacute da Geographia Astronomica e a segunda compreenderaacute a Geographia Fizica e poliacutetica porque estas duas se datildeo as matildeos e dependem mutuamente A primeira parte a dividiremos em quatro Secccedilotildees tratando a 1ordf dos Ceos dos Astros e dos systemas de Copernico a 2ordf das differentes posiccedilotildees da Esfera a 3ordf das dimensotildees do Globo Terrestre e a 4ordf do uso do Glocircbo Nota agrave introducccedilatildeo Sciencia he a ligaccedilatildeo systematica das percepccedilotildees e ideacuteas que temos de alguma mateacuteria ou a subordinaccedilatildeo dos conhecimentos individuaes a huma ideacutea primeira e geral

Em essecircncia essa introduccedilatildeo reflete toda a concepccedilatildeo da Geografia

didaacutetica descritiva ativa por todo o periacuteodo da bibliografia em anaacutelise agrave exceccedilatildeo da

tradiccedilatildeo iniciadaintroduzida por Delgado de Carvalho a saber os conhecimentos

satildeo enquadrados como ciecircncia na acepccedilatildeo de um ldquoconhecimento certo que

adquirimos de qualquer cousardquo ou como ldquoa ligaccedilatildeo systematica das percepccedilotildees e

ideacuteas que temos de alguma mateacuteria ou a subordinaccedilatildeo dos conhecimentos

individuaes a huma ideacutea primeira e geralrdquo Essas sequecircncias trabalham com trecircs

sentidos que atravessam as manifestaccedilotildees discursivas sobre ciecircncia presente na

bibliografia primeiro o sentido da certeza segundo o sentido da sistematizaccedilatildeo

terceiro o sentido da movecircncia do saber sob a regecircncia de princiacutepios universais ndash o

que eacute em siacutentese a percepccedilatildeo iluminista do saber cientiacutefico

E situando-se nessa acepccedilatildeo de ciecircncia a geograacutefica eacute tratada sempre

como a ldquoa descripccedilatildeo do Glocircbo terrestrerdquo definiccedilatildeo empreendida pelo entendimento

etimoloacutegico do proacuteprio termo ldquoElla tira seu nome de duas palavras Gregas ndash Geos e

Graphos ndash que quer dizer ndash Tractado da Terrardquo ou descriccedilatildeo da Terra Isto posto

passa-se agrave divisatildeo do corpo geograacutefico na triacuteade da Geografia claacutessica ldquoDivide-se a

Geographia em tres partes a saber Geographia Astronomica Geografia Fizica e

Geographia Politicardquo Como visto no capiacutetulo trecircs quando da abordagem da obra de

Pinkerton essa era a organizaccedilatildeo estrutural da Geografia Claacutessica moderna

estabelecida nos tratados geograacuteficos

A ldquoGeographia Astronomicardquo tambeacutem chamada Cosmografia centra-se na

descriccedilatildeo da ldquoTerra em relaccedilatildeo aos Corpos Celestes os effeitos principaes que

resultatildeo drsquoesta correspondecircncia as medidas Mathematicas que teacutem feito da Terra

aos Astros e finalmente a relaccedilatildeo que estes teacutem com os fenocircmenos terrestres que

satildeo as variaccedilotildees das Estaccedilotildees e os diversos temperamentos dos Climas ampordf ampordfrdquo

Na tradiccedilatildeo moderna da Geografia cientiacutefica essa discursividade migraraacute para os

conteuacutedos relacionados agrave Cartografia e agrave Geografia Fiacutesica mas nas manifestaccedilotildees

da Geografia descritiva constituiraacute uma linhagem agrave parte isolada dos demais

tratamentos e sempre precedendo ou poacutes sucedendo a Geografia Fiacutesica e a

Geografia Poliacutetica

Relacionando a Geografia Fiacutesica com a descriccedilatildeo da Terra no que tange agrave

natureza afirma que ldquoElla nos ensina a forma externa do Glocircbo Terrestrerdquo a divisatildeo

e a situaccedilatildeo dos elementos naturais de terra ou de aacutegua sendo que a

Geografia Poliacutetica procede a mesma descriccedilatildeo mas em relaccedilatildeo aos habitantes

naccedilotildees populaccedilotildees e atividades econocircmicas e culturais Apesar de Torreatildeo

entender que Fiacutesica e Poliacutetica ldquose datildeo as matildeos e dependem mutuamenterdquo

dificilmente em sua obra mesmo e nas demais seriam estabelecidas estas

relaccedilotildees

O que estaacute proposto em Torreatildeo funcionou como estrutura geral do gecircnero

para a bibliografia enquanto viccedilou a Geografia descritiva A variaccedilatildeo de obra para

obra praticamente resumiu-se agrave agregaccedilatildeo de novas descriccedilotildees e atualizaccedilatildeo de

dados Essa questatildeo eacute lembrada por Brasil (1864 p v-vi)

A Geographia sendo a descripccedilatildeo da Terra em geral e de suas divisotildees polticas em particular natildeo eacute uma sciencia estacionaria porque todos os dias o horizonte dos conhecimentos humanos se dilata fazem-se novas descobertas e novas conquistas vem enriquecer o thesouro que a sciencia accumula de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Natildeo soacute o mundo physico soffre alteraccedilotildees como quase sempre as circumscripccedilotildees politicas se modificatildeo ora por annexaccedilotildees ora por separaccedilotildees e conquistas A sciencia tem pois a obrigaccedilatildeo de acompanhar esse movimento se quizer exprimir fielmente o estado actual do mundo ou dos paizes que descreve

Qualquer desvio discursivo dessa concepccedilatildeo geograacutefica foi prontamente

silenciado A exemplo disso tem-se a obra de Joseacute Praxedes Pereira Pacheco

Breves noccedilotildees para se estudar com methodo a Geographia do Brasil Ensaio para

pela primeira vez indicar os tanques mariacutetimos no Atlacircntico as vertentes delles as

valladas ou bacias que ellas encerratildeo accommodando o Brasil ao ultimo plano de

estudos para o impeacuterio francez se guindo a Geographia da Franccedila publicada pelo

autor em 1857 e natildeo aprovada para uso escolar pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico

Brasileiro (VLACH 1988) A obra tinha certa acepccedilatildeo criacutetica de demolir o que

estava posto em termos do ensino geograacutefico proposto e pretendia algumas ligeiras

mudanccedilas em relaccedilatildeo a este quadro De acordo com o autor havia a necessidade

de se apresentar um texto mais conciso tarefa a que sem modeacutestia se propotildee

[] pois que hoje sem preparo geographico antecipado a publicaccedilatildeo de uma obra complicada e volumosa soacute serviria para pasto de maledicecircncia ornato de poucas biliothecas indagaccedilatildeo de algum desses raros averiguadores que a folheasse e ruina e esquecimento do autor que veria consumida pela traccedila estragadora com intacta pureza como se observa todos os dias o fructo de todas as suas vigilias privaccedilotildees e sacrifiacutecios porem como eu e meus filhos somos principiantes em estudos do Brasil apresento este trabalho que eacute no todo original e que deveraacute servir de base para maior desenvolvimento e perfeiccedilatildeo nos futuros (PACHECO 1857 p 01)

Isto posto expotildee a sua filiaccedilatildeo reconhecendo um procedimento comum agraves

demais produccedilotildees que o precedem nesse gecircnero

Tendo estudado jaacute a predilecccedilatildeo que datildeo os nossos patriacutecios aacute producccedilotildees estrangeiras e achando-a justa pois que a ellas soacutemente a ellas devemos o que natildeo ignoramos a respeito da nossa paacutetria resolvi-me fazer um leve estracto do cabedal que tenho obtido e collecionado e assim fundir esta obrazinha pelo molde e com as mesmas foacutermas da ndash Petite geacuteographie de la France agrave lrsquousage decircs classes eacuteleacutementaires par J L Sanis (PACHECO 1857 p 01)

Defendendo sua escolha Pacheco dispara mais uma criacutetica agrave bibliografia

didaacutetica posta para o ensino da Geografia denunciando-a como uma exploraccedilatildeo

comercial portanto sem compromisso com o ensino e embasando-se em sua

proacutepria vivecircncia por essa opccedilatildeo ldquoO eu preferir o Sr Sanis a essa multidatildeo de

publicadores profissionaes na geographia aleacutem de ser o testemunho da attenccedilatildeo

que me mereceu pelo ter podido apreciar por mim mesmo na applicaccedilatildeo do seu

excellente methodo quando vivi na capital da Franccedilardquo (PACHECO 1857 p 01) O

ldquomeacutetodo de Sanisrdquo seria estudar separadamente a Geografia Fiacutesica e depois a

Geografia Poliacutetica ndash o que natildeo era novidade para entatildeo de posse dos dados

simular ldquoviagens imaginaacuteriasrdquo metodologia de ensino que apenas vigoraraacute no Brasil

em fins do seacuteculo XIX A simulaccedilatildeo de viagens foi uma das formas posteriores para

se pensar um vieacutes praacutetico ao ensino da Geografia sobretudo quando demonstrado

em um mapa e proposto no Brasil pela primeira vez por Pacheco

Pacheco em outro ataque veemente afirma que sua contribuiccedilatildeo

metodoloacutegica seria uma maneira de se ldquo[] publicar um trabalho util no Brasil para

que natildeo seja immediatamente conspurcado pela ineacutepcia e atassalhado pelos

omniscientes que nada apresentando nesse gecircnero por egoismo tudo depreciatildeordquo

(PACHECO 1857 p 01)

Talvez a natildeo aceitaccedilatildeo de Pacheco pelo IHGB seja por sua imposiccedilatildeo

ofuscante e demolidora dos intelectuais entatildeo em accedilatildeo e da tradiccedilatildeo instituiacuteda Sua

imodeacutestia parece mesmo natildeo ter tamanho

Fui o primeiro a organisar um opuacutesculo methodico de geographia e desde 1852 que o plano foi publicado e adoptado em Franccedila ateacute hoje ninguem no Brasil deu por elle symptomas de vida aqui vai bom ou maacuteo este original inteiramente meu e assim como o fez com os catalogos botacircnicos tambem originaes que compuz e publiquei delle se haacute de apoderar a inveja para me negar a authentica originalidade allegando ter recorrido aacutes mesmas fontes que me saciaratildeo isto eacute aacutes minhas elucubraccedilotildees [] e mesmo que natildeo tenha o premio de geographia do Instituto Historico e Geographico do Brasil por esta nihilidade methodica terei as benccedilatildeos geraes como todos os dias mrsquoas dirige o povo reconhecido PACHECO 1857 p 01)

Natildeo haacute propriamente um rompimento de Pacheco com a Geografia

descritiva utiliza-se das mesmas bases e construccedilotildees

A geographia tem por fim descrever o mundo natural ou socialmente A geographia physica occupa-se com a natureza e trata das terras e das aacuteguas A geographia politica descreve as sociedades humanas discorrendo a respeito dos governos das naccedilotildees e dos trabalhos de qualquer especie praticados pelos homens (PACHECO 1857 p 11)

Agrave exceccedilatildeo da menccedilatildeo central a Sanis ausentam-se as fontes traccedilando

uma exposiccedilatildeo didaacutetica tiacutepica desse discurso No entanto seu texto apresenta

diferenciais alguns desenvolvimentos ateacute com certo traccedilo doutrinaacuterio que natildeo se

encontra tipicamente na Geografia das nomenclaturas tais como

Desengano Eacute tempo para os Brasileiros se desenganarem que as minas e as preciosidades que a terra guarda quando exploradas natildeo soacute se extiguem como deixam o terreno revolto e esteacuteril e que a agricultura renova annualmente o solo e o torna mais productivo O rei de Franccedila Henrique IV dizia com criterio de estadista ldquolavragem e pastagem satildeo as duas tetas da naccedilatildeordquo Clamem embora as folhas diarias advogando as empresas as riquezas espontaneas do territorio as industrias fabril e esthetica e mesmo o commercio tudo isso soacute serve quando eacute applicado para desenvolver a uberdade com que os colonos tratatildeo a agricultura (PACHECO 1857 p 137-138)

Afora isso faz outros tratamentos nada tiacutepicos ao discurso didaacutetico ou agraves

convenccedilotildees jaacute admitidas ao gecircnero a essa altura como um extenso

pronunciamento aos proacuteprios filhos como adendo ao manual

De qualquer forma o paradigma descritivo da Geografia escolar seguiu

inalterado Jaacute em fins do seacuteculo XIX essa mesma Geografia ainda estaraacute ativa

A Geographia [nota de rodapeacute Compotildee-se de duas palavras gregas ndash geo terra e grapho descrevo [sic]] eacute a sciencia que trata da descripccedilatildeo da Terra Comprehende tres partes principaes 1ordf A Geographia astronocircmica que considera a Terra como corpo celeste e estuda as relaccedilotildees em que ella se acha com o sol e os outros corpos celestes chama-se-lhe tambeacutem geographia mathematica e forma a parte mais importante da Cosmographia que eacute a descripccedilatildeo astronocircmica do Universo 2ordf A Geographia Physica que considera a Terra em si mesma e trata do seu aspecto das divisotildees naturaes da sua superfiacutecie de seus differentes climas e de suas producccedilotildees naturaes 3ordf A Geographia politica que estuda a Terra como os homens a dividiram e trata dos differentes paizes ou Estados de suas divisotildees governos populaccedilotildees raccedilas liacutenguas civilisaccedilatildeo industria commercio financcedilas forccedilas militares etc (LACERDA 1898 p 5-6)

Por mais de 100 anos a transposiccedilatildeo da Geografia Claacutessica moderna cedeu

seus traccedilos ao dizer didaacutetico da disciplina movendo essas vertentes na escala geral

e particular da descriccedilatildeo terrestre Mesmo quando vinda de fora por meio de

traduccedilotildees continuava-se sua praacutetica o que eacute sintoma de ser essa Geografia natildeo

uma exclusividade do Brasil mas um padratildeo estabelecido ao redor do mundo como

se vecirc no texto de Gaultier francecircs em traduccedilatildeo via Portugal

DISCIPULO Que cousa eacute a Geographia MESTRE Eacute uma sciencia que ensina o nome e situaccedilatildeo dos diversos paizes e naccedilotildees da Terra E que eacute que significa a palavra Geographia ndash Siginifica descripccedilatildeo da terra e se entende por essa palavra a descripccedilatildeo da superfiacutecie da terra em suas diversas relaccedilotildees

Que figura tem a terra ndash Eacute sensivelmente redonda e tem a foacuterma drsquoum globo ou drsquouma bola De quantos modos poacutede ser considerada a terra ndash De tres modos ou como planeta em relaccedilatildeo com os mais corpos celestes ou como planeta em relaccedilatildeo com os mais corpos celestes ou como um corpo physico e seres physicos que a povoam e entatildeo tambeacutem se lhe chama globo terraacutequeo ou esphera terrestre ou finalmente como um corpo poliacutetico ou moral em relaccedilatildeo aacute sociedade civil isto genero humano e tambeacutem se lhe pode chmar mundo Drsquoaqui vem dividir-se a geographia em mathematica physica e politica Mathematica ou astronocircmica eacute a que ensina a descrever a terra em quanto aacute sua figura dimensotildees e posiccedilatildeo no systema do Universo e seus movimentos Physica a que ensina a descrever a superficie da terra em quanto soacutelida liquida plana montuosa occupada por indiviacuteduos dos tres reinos da natureza e cercada do fluido atmospherico Politica a que ensina a descrever os mais nobres habitantes da terra que satildeo os homens formando naccedilotildees selvagens baacuterbaras e mais ou menos civilizadas A geographia ainda poacutede ser considerada em quanto aos objetos que descreve e entatildeo chama-se Histoacuterica ou Anterior a que descreve a terra como se achava em differentes eacutepocas anteriores aos nosos dias Actual quando trata da terra como ella se acha actualmente ndash Drsquoaqui vecircm as denominaccedilotildees de geographia antiga da edade media moderna sagrada ecclesiastica Em quanto ao seu objecto chama-se Geral quando descreve as coisas principaes da terra considerada em sua totalidade CHOROGRAPHIA quando descreve as cousas principaes de qualquer regiatildeo TOPOGRAPHIA quando desce aacute descripccedilatildeo de algum sitio em particular HIDROGRAPHIA quando daacute a descripccedilatildeo physica das aacuteguas de um paiz OROGRAPHIA quando descreve os montes e as serras de qualquer regiatildeo METEREOLOGIA eacute a parte da physica que explica os phenomenos da atmosphera ETHOGRAPHIA a sciencia que tem por objecto a descripccedilatildeo divisatildeo e filiaccedilatildeo dos povos sua natureza caracteres physicos iacutendole costumes usos liacutengua e religiatildeo GEOLOGIA em sua accepccedilatildeo mais extensa eacute a descripccedilatildeo physica da terra e dos seus phenomenos e principalmente de sua estructura interior ou antes conhecimento scientifico da estructura do globo da formaccedilatildeo e da disposiccedilatildeo das substancias que ella encerra COSMOGRAPHIA eacute a descripccedilatildeo do Universo (GAULTIER 1878 p 3-5)

Todo o discurso didaacutetico da Geografia eacute construiacutedo agrave maneira dessa

enunciaccedilatildeo de Gaultier quanto ao silenciamento de outras vozes de natildeo expor uma

heterogeneidade mostrada mas apenas heterogeneidades constitutivas resvaladas

nas formaccedilotildees discursivas da Geografia Moderna claacutessica nos levantamentos

estatiacutesticos governamentais e outras fontes o Outro natildeo tem voz pois esse tipo

discursivo procura construir a imagem do sujeito autorizado a dizer o que diz sendo

o efeito a construccedilatildeo de uma superfiacutecie discursiva lisa conceito que propus para

compreender no discurso didaacutetico o fio do dizer que promove o efeito autoria e

autoridade repassado aos sujeitos receptores da enunciaccedilatildeo e o que se consegue

justamente pelo apagamento da heterogeneidade o fio do discurso responde

apenas a um locutor uacutenico Para isso concorre mesmo um efeito graacutefico com uma

mancha autoral uacutenica espaccedilo de um sujeito rendido agrave heterogeneidade constitutiva

63 Prefaacutecios proacutelogos notas de advertecircncia apresentaccedilotildees e imprensa os discursos do entorno

Na anaacutelise discursiva haacute duas perspectivas para confrontar um discurso

isola-se a enunciaccedilatildeo de um sujeito e percorre-se o seu tracircnsito nas suas

formaccedilotildees ideoloacutegicas e discursivas trabalhando seus efeitos de sentido ou se

adentra a proacutepria formaccedilatildeo discursiva procurando a unidade na diversidade dos

sentidos em muacuteltiplas enunciaccedilotildees

Agraves margens do discurso didaacutetico da bibliografia escolar geograacutefica a esse

propoacutesito haacute um conjunto de sujeitos enunciando para circunstanciar promover

legitimar e esclarecer o discurso didaacutetico de Geografia os proacuteprios autores

intelectuais reconhecidos os editores a imprensa os oacutergatildeos oficiais de ensino

Eacute dos raros momentos em que o discurso escapa agrave heterogeneidade

constitutiva cedendo espaccedilo ao Outro tambeacutem Satildeo os que denomino ldquodiscursos do

entornordquo que da margem ocupam esse espaccedilo da palavra para convencer e

esclarecer discentes docentes e puacuteblico em geral preparando percursos

enunciativos para o dizer didaacutetico dessa disciplina

De pequenas notas de esclarecimento a vaacuterias paacuteginas de reproduccedilatildeo dos

dizeres na imprensa esses discursos empenham-se a natildeo deixar ilesa a recepccedilatildeo

enunciativa do discurso da bibliografia A partir deles eacute possiacutevel perceber

discursividades sobre questotildees como autoria autoridade legitimaccedilatildeo da disciplina a

relaccedilatildeo dos textos com os curriacuteculos propostos a questatildeo das fontes e das

traduccedilotildees posicionamentos frentes agrave tradiccedilatildeo agrave metodologia de ensino e agrave

formaccedilatildeo dos professores a questatildeo da nacionalidade

631 Estabelecimento da autoria e da obra vozes constitutivas dos sujeitos e dos discursos didaacuteticos

As capas e as folhas de rosto satildeo lugares discursivos quase comum em

todo o periacuteodo em anaacutelise para manifestar as ocupaccedilotildees e a formaccedilatildeo do autor o

que dele se sabe na instacircncia da obra construindo um efeito de sujeito autorizado

ao discurso em curso ndash autoridade que reverbera em credibilidade enunciam porque

podem fazecirc-lo visto serem representantes desses discursos vinculados aos meios

intelectuais propiacutecios a isso sobretudo agrave docecircncia ou a alguma atividade

acadecircmica Sousa Neto (1997 p 41-42) a esse respeito demonstra a partir da

obra de Pompeu o funcionamento dessa construccedilatildeo de sentidos

Uma das coisas mais interessantes na obra satildeo os tiacutetulos de Pompeu que aparecem ediccedilatildeo apoacutes ediccedilatildeo na folha de rosto do livro Deste modo na terceira ediccedilatildeo de 1859 que eacute aquela que apresenta a maior quantidade de titulaccedilotildees aparece a seguinte lista de tiacutetulos ldquoBacharel formado em sciencias sociaes e juridicas pela Academia de Olinda Vigario Geral foraneo da Provincia do Cearaacute Professor de Geographia no Lyceo da mesma Provincia socio correspondente do Instituto Historico e Geographico do Brasil da Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional da Sociedade Amante da Instrucccedilatildeo da Cocircrte socio honorario da Sociedade Philomatica da Cocircrte do Atheneo Paulistano do Instituto de Advogados de Pernambuco do Instituto litterario e da Associaccedilatildeo Typographica do Maranhatildeordquo Enquanto isso na quinta e uacuteltima ediccedilatildeo do Compendio em 1869 aparece a menor lista de tiacutetulos todavia a que mais o qualifica no tocante ao reconhecimento scientifico institucional da eacutepoca ldquoSoacutecio do Instituto Historico e Geographico do Brasil da Sociedade Geographica de Paris etc etcrdquo A reduccedilatildeo curricular demonstra a importacircncia do autor que agora jaacute natildeo necessita mais elencar sua participaccedilatildeo na Sociedade Amante da Instrucccedilatildeo da Cocircrte porque faz parte da primeira sociedade geograacutefica fundada no mundo a Sociedade Geographica de Paris de 1821 e isto basta para revelar suas qualidades intelectuais

As capas e folhas de rosto realmente foram o lugar por excelecircncia para

afirmar um autor e sua credibilidade sendo abundantes os exemplos enunciados

Dr Joaquim Maria de Lacerda ldquoMembro da Arcadia Romanardquo M Said Ali ldquoLente do

Gymnasio Nacional e professor da Escola Preparatoacuteria e de Taacutectica do Realengordquo

C M Delgado de Carvalho ldquoDiplomado pela Escola de Sciencias Politicas de Parisrdquo

Dr Feliciano Pinheiro Bittencourt ldquoLente cathedratico da E Normal e antigo

professor dessa materia Dr Eugenio de Barros Raja Gabaglia ldquoDoutor em

Sciencias physicas e mathematicas lente do Gymnasio Nacional da Escola Naval e

Polytechnica do Rio de Janeirordquo Sem a mesma frequecircncia os discursos do entorno

tambeacutem se revelaram um dos lugares para se por a experiecircncia do autor como

ateste de validade agrave obra Veja-se o fragmento abaixo

Haacute 27 anos desde os saudosos tempos acadecircmicos estudo e ensino a Geographia e a Historia permitindo me tatildeo longa pratica avaliar o que mais convem aos que procuram conhecer taes disciplinas (o autor BITTENCOURT 1907 p 1)

A expressiva contabilidade dos anos de acordo com esse sujeito assevera-lhe juiacutezo

suficiente para saber o que conveacutem ou natildeo no acircmbito do ensino da Geografia Todo

sujeito-autor tem diante de si nesse periacuteodo a temeridade e o risco nas

circunstacircncias de sua publicaccedilatildeo eacute importante o que a criacutetica pode dizer a recepccedilatildeo

dos diretores e professores o parecer das bancas censoacuterias ndash todo o cenaacuterio de

recepccedilatildeo pode influir na aceitaccedilatildeo ou na refutaccedilatildeo de uma obra ou na amplitude de

sua adoccedilatildeo Nesse caso natildeo eacute o sujeito ou sua formaccedilatildeo que o habilita mas

sobretudo em um contexto no qual praticamente eacute nula a formaccedilatildeo de professores

dessa disciplina eacute a experiecircncia docente que conta muito para o estabelecimento de

sua autoridade no assunto Na sequecircncia em que diz ldquodesde os saudosos tempos

acadecircmicosrdquo o sujeito deixa transparecer de sua trajetoacuteria de vida algo comum

entre o professorado de Geografia as atividades de docecircncia e de formaccedilatildeo

superior percorrendo caminho paralelo Era comum por necessidade de

sobrevivecircncia que os acadecircmicos dedicassem parte do seu tempo ao ensino

sobretudo o particular

Em geral a produccedilatildeo de materiais didaacuteticos de Geografia natildeo se ligava ao

centro da atividade profissional do sujeito-autor a menos que essa fosse

relacionada ao ensino da disciplina pois entre os sujeitos satildeo declaradas atuaccedilotildees

como comerciantes advogados poliacuteticos militares Agraves vezes esses discursos da

margem revelam verdadeiras crocircnicas sobre as instacircncias de produccedilatildeo dessas

obras

Apresentamos hoje a terceira ediccedilatildeo desta obra Tendo-se esgotado rapidamente a 1ordf e a 2ordf foi-nos bastante difficil preparar esta 3ordf para acudir aos pedidos do todos os cantos do paiz Felizmente so as ferias do Natal e Reis vieram dar-nos uma clareirasinha por onde escapando aacutes absorventes actividades que hoje nos empolgam pudessemos passar uma revisatildeo neste compendio que vae alargando ascendentemente as suas fronteiras geographicas (O autor 19-2-1929 XAVIER 1929 p 7)

Ao autor de um livro didaacutetico de Geografia consolidado restava o moroso e

permanente trabalho de atualizar suas ediccedilotildees haja vista as alteraccedilotildees constantes

dos conteuacutedos Um fato assinalaacutevel eacute a quase gratuidade desse trabalho Durante

longas deacutecadas as publicaccedilotildees conforme jaacute aferi em outras ocasiotildees eram

custeadas pelos proacuteprios autores quando comercializadas dependiam da extensatildeo

das ediccedilotildees para ter algum retorno pecuniaacuterio ao autor ndash apenas a partir dos anos

1930 se pode observar o surgimento dos primeiros best-sellers da literatura didaacutetica

de Geografia Em algumas ocasiotildees essa falta de estiacutemulo eacute mencionada na

bibliografia em anaacutelise

Outro trabalhador infatigaacutevel eacute o colendo professor Scrosoppi que apezar de sua jaacute avanccedilada edade e da falta de estiacutemulos tatildeo de lamentar em um meio como o nosso prosegue na benemerita faina de augmentar o cabedal didactico da nossa literatura E disto eacute mais uma prova o seu ultimo compendio ndash Liccedilotildees de Chorographia do Brasil que natildeo obstante haver apparecido recentemente jaacute estaacute adoptado em vaacuterios estabelecimentos de ensino natildeo soacute da capital mas ainda do interior e de outros estados (Satildeo Paulo 30051908 SCROSOPPI 1911 p V)

O funcionamento para construir uma imagem do sujeito tambeacutem agiu no

discurso delegado ao outro em especial a jornalistas e intelectuais Nessa instacircncia

a imagem em construccedilatildeo procura alimentar uma mesclagem entre sujeito-autor e

discurso a ser anotada como referecircncia do dizer no caso geograacutefico Em qualquer

literatura dizer um nome uma autoria significa remeter-se a um determinado

conjunto de caracteriacutesticas discursivas ndash o nome reverbera-se em uma marca com

uma apreciaccedilatildeo reconhecida entre o puacuteblico

O Outro eacute chamado agrave instacircncia da enunciaccedilatildeo para avaliar o sujeito em

seus feitos suas qualidades mesmo em seus defeitos ndash o que particularmente se

vincula ao dizer da imprensa uma voz com contradiccedilotildees colocadas de forma sutil

de modo a natildeo desconstruir o autor e sua obra ndash ateacute porque satildeo dizeres aceitos

pelos autores e editores e utilizados com o propoacutesito de promoccedilatildeo dos sentidos

defendidos no acircmbito do discurso Eacute dessa forma que eacute recebida a obra de FIC

traduzida e amplamente utilizada no Brasil

O que caracteriza esta obra natildeo eacute somente a grande quantidade de figuras escolhidas mas tambem os quadros estatisticos sobre as populaccedilotildees as

superfiacutecies as financcedilas dos Estados a industria o commercio etc e sobretudo a grande quantidade de notas interessantes estatisticas etymologias descripccedilotildees etc notas que postas nos fins das paginas natildeo prejudicam em nada e natildeo atrapalham o texto principal que se tem de estudar (A Exploraccedilatildeo revista geographica e jornal das viajens Pariz FIC 1902 p VII)

Nesses fragmentos a obra eacute admirada pela expressiva quantidade de dados e

documentos que apresenta cujos lexemas evidenciam a filiaccedilatildeo agrave Geografia

descritiva O que significa compreender que o discurso geograacutefico jaacute foi elogiado

pelo que posteriormente foi condenado Como demonstrarei adiante as obras

didaacuteticas do periacuteodo em anaacutelise natildeo se reservavam unicamente ao estudo mas a

um puacuteblico mais amplo com necessidade de saberes geograacuteficos menos teacutecnicos e

mais condensados Eacute por essa razatildeo que o sujeito desta enunciaccedilatildeo associa em

forma de admiraccedilatildeo a sequecircncia ldquogrande quantidaderdquo agraves ldquofiguras escolhidasrdquo

ldquoquadros estatiacutesticosrdquo ldquonotasrdquo ldquoestatisticasrdquo ldquoetymologiasrdquo ldquodescripccedilotildeesrdquo como fator

de qualidade da enunciaccedilatildeo do sujeito-autor estimando por aiacute o valor da obra e do

seu autor E ciente dessa necessidade ndash atender o ensino e os interesses gerais ndash

ressalta como o meacutetodo de expressatildeo (ldquonotas que postas nos fins das paginasrdquo)

consegue conciliar as diversas utilidades para as quais esse discurso pode servir

Os discursos do entorno atribuiacutedo ao outro dos quais constam as notiacutecias e criacuteticas

publicadas na imprensa ou atribuiacuteda a convidados satildeo selecionados fragmentados

colocados com intencionalidade para atender a uma determinada vontade do autor

sobre a imagem de obra e autoria que enseja construir ou seja satildeo dispostos a

construir um determinado efeito de sentido Eacute por isso que os sentidos construiacutedos

no fragmento acima encontram ressonacircncia em outra enunciaccedilatildeo do mesmo

contexto

O que me admira eacute como elle poude condensar tantos pormenores preciosos curiosos e novos em um unico volume Demais o plano da obra eacute tatildeo bem concebido quatildeo seguido No Curso de Geographia ha mais do que erudiccedilatildeo Percorrendo os documentos que nelle se acham sente-se uma satisfaccedilatildeo intellectual que induz a lel-os mais de uma vez (P V S A Antigo capitatildeo de marinha FIC 1902 p V)

Nessa enunciaccedilatildeo persiste o sentido de louvaccedilatildeo pela condensaccedilatildeo dos dados

geograacuteficos articulados em um plano expressivo que ultrapassa o funcionamento do

discurso como elemento de ensino e aprendizagem que em outros termos

enunciativos coadunam com a construccedilatildeo anterior A enunciaccedilatildeo atinge o centro do

que se pedia ao discurso didaacutetico nessas circunstacircncias abundacircncia na siacutentese

Notadamente a partir da deacutecada de 1880 quando a comercializaccedilatildeo das

obras didaacuteticas comeccedila a ganhar forccedila o processo de divulgaccedilatildeo de uma obra na

imprensa podia ter iniacutecio ainda no prelo

Jaacute tivemos a occasiatildeo de nos referir a este livro didactico quando se estava ainda imprimindo por alguns fasciculos que o seu autor nos mostraacutera Hoje que o livro estaacute publicado e aacute venda nas principaes livrarias podemos affirmar que na nossa opiniatildeo eacute o melhor tratado que na espeacutecie tem apparecido em todo o nosso paiz (Diaacuterio Popular 20041908 SCROSOPPI 1911 p III)

A imprensa teve uma relaccedilatildeo proacutexima agrave bibliografia no sentido de apresentar

criacuteticas e consideraccedilotildees sobre os autores e obras Uma parte dessas

apresentaccedilotildees foi reproduzida nas obras pelos autores e editores Nos Fragmentos

abaixo Mario da Veiga Cabral eacute projetado pela extensatildeo de suas publicaccedilotildees

(embora ainda com pouca idade F6312) pela quantidade de vendas que as levam

a sucessivas reediccedilotildees um fato que sem duacutevida representava um golpe na tradiccedilatildeo

dos autores estacionaacuterios nas primeiras ediccedilotildees (F6311) Cabral alccedilou esse

sucesso ao reformular a linguagem das obras didaacuteticas (e assumir gradativamente a

abordagem moderna introduzida por Delgado de Carvalho) e tambeacutem por haver em

torno de suas publicaccedilotildees uma massiva campanha de divulgaccedilatildeo

Fragmento 6311

Haacute um nome no magisteacuterio secundaacuterio surgido haacute pouco mas surgido como as manhatildes sonoras com luz proacutepria e seductor encanto Eacute o sr Mario da Veiga Cabral Com pouco mais de trinta anos eacute jaacute um copioso autor de obras didacticas Orccedila por dezoito o numero delas entre as publicadas e as que se acham prontas ou em preparaccedilatildeo para tal fim Dizer que as sucessivas ediccedilotildees de suas obras rapidamente se esgotam eacute fazer-lhe o maior o melhor e o mais positivo dos elogios Em verdade nenhuma delas estaciona na primeira ediccedilatildeo sendo que uma ndash e todas de alguns milheiros de volumes ndash jaacute atingiu a 11ordf [] sucesso que haacute de ter levado a damnaccedilatildeo ao espirito de tantos gecircnios autores de obras de mil exemplares e que envelhecem namorando os mil e um exemplares dessas mesmas obras que emboloram melancolicamente esparramados nos balcotildees ou trepados nas estantes das livrarias irreverentes (Leoncio Correia A Patria 24041926 CABRAL 1935 p 410)

Fragmento 6312

Entre os nossos autores didacticos eacute certamente o Dr Mario Da Veiga Cabral o mais jovem e tambem o que maior ecircxito tem conseguido nos uacuteltimos tempos com os seus excelentes trabalhos de geographia geral e de

chorographia do Brasil (Gazeta de Notiacutecias 05051923 CABRAL 1935 p 409)

Fragmento 6313

E o fez com tamanho acerto e felicidade que os tres livros de que um soacute Estado do Brasil adquiriu cinco mil exemplares satildeo jaacute em 2ordf Ediccedilatildeo mui bem ultimada (A Patria 06021926 CABRAL 1935 p 414)

Fragmento 6314

Engenheiro-agrimensor dono de uma vasta erudiccedilatildeo e de uma intelligencia ampla e forte o dr Mario da Da Veiga Cabral se tem imposto como uma das expressotildees mais puras da mentalidade brasileira (A Patria 06021926 CABRAL 1935 p 411)

Fragmento 6315

Natildeo existe presentemente em todo o Brasil estudante de Historia de Geographia ou de Chorographia que desconheccedila o jovem e jaacute notavel professor que eacute o sr Mario Da Veiga Cabral suas excelente obras didacticas actualmente conhecidas e adoptadas de norte ao sul do paiz e quantos se abeberam na fonte de seus ensinamentos natildeo teem por isso o direito de desconhecer-lhe o nome (A Patria 06021926 CABRAL 1935 p 412)

Tamanho sucesso editorial pois a produtividade certamente advinha da

ampla vendagem soacute eacute compartilhado por Aroldo de Azevedo Para isso aleacutem das

inovaccedilotildees pertinentes agrave abordagem teoacuterico-metodoloacutegica da Geografia e da

divulgaccedilatildeo das obras aliava-se ao estrito cumprimento dos programas prescritos

para o ensino

Fragmento 6316

O sr Dr Frota Pessoa ex-secretario geral da Directoria de Instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal na secccedilatildeo Educaccedilatildeo e Ensino que manteacutem no Jornal do Brasil assim se referiu ao Terceiro Anno de Geographia depois de longa consideraccedilatildeo sobre o estudo desta disciplina lsquo[] Eacute de justiccedila consignar que pela natureza dos assumptos e pela forma de tratal-os este compendio eacute superior aos antigos livros desse gecircnero O autor conhece as modernas exigecircncias do ensino da geographia e fez o que pocircde ao confeccionar um livro que tem de atender ao programma vigente do curso secundaacuteriordquo (Jornal do Brasil 07111933 CABRAL 1935 p 304)

Fragmento 6317

Quanto ao caracter techinico cremos que as obras deste autor nada deixam a desejar Os louvores que lhes tecem os especialistas em historia e geographia satildeo dos mais concludentes Entre outros o professor Joatildeo Ribeiro lovou-lhes a ldquoperfeita clareza e excellencia de methodo na distribuiccedilatildeo das mateacuteriasrdquo (Leoncio Correia A Patria 24041926 CABRAL 1935 p 411)

A imprensa tambeacutem apresenta reclames contra excessos faltas e falhas das

obras seja quanto ao emprego de certos aspectos da linguagem (abuso de termos

gregos) inexatidatildeo de dados ou fatos e outros

Entre os pequenos defeitos que no compendio se podem encontrar que natildeo prejudicaratildeo entretanto o seu merecimento nem minoram a sua utilidade observaacutemos na distribuiccedilatildeo da materia um abuso de technologia grega que as crianccedilas as quaes principalmente o livro vai servir pediriam que lhes poupassem (Jornal do Commercio 30Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 VII)

Entre as editoras e a imprensa sempre houve uma relaccedilatildeo com

compromissos a imprensa vive de seus anuacutencios publicitaacuterios e as editoras nesse

periacuteodo sempre propagavam por ela quase que exclusivamente os reclames de

divulgaccedilatildeo de seus tiacutetulos bem como artigos de criacutetica e conhecimento dos novos

lanccedilamentos Em face disso eacute faacutecil encontrar discursos oscilantes que elogiam as

obras poreacutem natildeo deixam de apresentar igualmente suas fraquezas apresentando

uma ldquoguerra de sentidosrdquo com um cuidado para natildeo anular a obra com seus efeitos

de sentido

Revelada uma ou outra inexactidatildeo ou mesmo uma ou outra apreciaccedilatildeo mal cabida em assumpto tatildeo vasto e complexo como eacute o da geographia e historia paacutetria a parte propriamente descriptiva do compendio eacute bem feita e escripta em linguagem singela ao alcance de todos Haja embora desaccordo como eacute natural entre o A e outras autoridades na mateacuteria no tocante a certas apreciaccedilotildees histoacuterico-geographicas e com relaccedilatildeo aacutes outras que determinam e precisam populaccedilotildees e extensotildees do territoacuterio patrio e outros senotildees que natildeo vecircm ao caso apontar o livro por um conjunto de excellentes predicados torna-se altamente recomendavel e permite presagiar optimos resultados dignos de geraes applausos Natildeo alardecirca por certo erudiccedilatildeo inuacutetil van e por via de regra falsa usando de pedantescas denominaccedilotildees technicas desconhecidas do vulgo como por exemplo ldquoacrotereographiardquo ldquocolpographiardquo ldquolimnegraphiardquo e outras terminaccedilotildees em ldquoiardquo verdadeiros gongorismos scientificos como lhes chamaria Alexandre Herculano Ao manusear o compendio observamos um bom resumo sobre a climatologia salubridade e acclimaccedilatildeo nos diversos Estados onde natildeo se vecirc confundida a geographia medica com o clima geographico como merece ser notado em outros livros que tratam do assumpto [] Outro ponto de resto merecedor de honrosa menccedilatildeo eacute o que se refere a correios e telegraphos e organisaccedilatildeo do serviccedilo postal tratados com methodo e clareza [] Acabemos de vez para sempre com essas enfadonhas e rotineiras liccedilotildees de cor de longas seacuteries de palavras sem significaccedilatildeo verdadeiras castas de nomes (Estado de Satildeo Paulo 05081908 SCROSOPPI 1911 p VI-VII)

Na criacutetica desse fragmento o sujeito coloca depreciaccedilotildees em menor

quantidade que as qualidades da obra fazendo-as contudo de forma geneacuterica sem

alusatildeo direta aos deslizes ldquouma ou outra inexactidatildeordquo ldquouma ou outra apreciaccedilatildeo mal

cabidardquo ldquooutros senotildees que natildeo vecircm ao caso apontarrdquo Estas indiretas funcionam

discursivamente como um silenciamento pois criam oposiccedilotildees natildeo esclarecidas

quais seriam as inexatidotildees as apreciaccedilotildees mal colocadas os senotildees nesse

discurso Aquelas identificadas por esse sujeito as que estatildeo em sua perspectiva

natildeo se sabe Por outro lado chega a ser mais exato na colocaccedilatildeo qualitativa da

obra ressaltando sua descriccedilatildeo bem feita a linguagem clara e acessiacutevel

recomendando-a e prevendo bons resultados pedagoacutegicos com o seu uso Ressalva

a qualidade do resumo sobre a climatologia o fato de natildeo confundir a geografia

meacutedica com a climatologia (repasto de muitos dos determinismos presentes no

discurso da Geografia descritiva) a atenccedilatildeo dada pelo autor aos correios e

teleacutegrafos aleacutem dos serviccedilos postais sem duacutevida um tema novo na bibligrafia Por

inferecircncia o sujeito encontra contexto para posicionar sua anaacutelise em relaccedilatildeo agrave

tradiccedilatildeo da literatura didaacutetica de Geografia mencionar a ldquoerudiccedilatildeo inuacutetil van e por

via de regra falsardquo plena de ldquopedantescas denominaccedilotildees technicas desconhecidas

do vulgordquo o que evidencia caracteriacutesticas perceptiacuteveis agrave eacutepoca em relaccedilatildeo agrave

bibliografia o fato de haver entre os autores discordacircncia sobre pontos das mateacuterias

e uma linhagem de ldquoenfadonhas e rotineiras liccedilotildees de cor de longas seacuteries de

palavras sem significaccedilatildeo verdadeiras castas de nomesrdquo

A imprensa parece ter acompanhado de perto o desenvolvimento da

bibliografia natildeo deixando de elencar aceitaccedilotildees e colocando pontos de vista sobre

os discursos publicados

Fragmento 6318

O distincto professor R Villa-Lobos enviou-nos um exemplar de sua ldquoChorographia do Brazilrdquo o qual agradecemos Neste genero de trabalhos raramente temos visto obra que tatildeo acertada para o ensino esteja ao mesmo tempo bem enxertada de notas e observaccedilotildees criteriosas colhidas com real estudo (Folha Popular 23Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 VI)

Fragmento 6319

O Sr R Villa-Lobos teve a gentileza de nos enviar um exemplar da 2ordf ediccedilatildeo do seu trabalho ndash ldquoCompendio Elementar de Chorographia do Brazilrdquo [] Elementar denomina-o o autor na sua infundada modestia noacutes porem pedir-Ihe-iamos licenccedila para substituir esse quaIificativo por outro que melhor cabido fosse [] Desenvolvido como estaacute o estudo da Chorographia

patria feito pelo autor adaptado aos modernos processos em uso nas escolas seraacute de grande utilidade aacutequelles que procurarem adquirir conhecimentos em fontes insuspeitas fiados no criterio e idoneidade dos autores das obras em que estudam (Democracia 11Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 V)

Fragmento 63110

O Compendio estaacute na 2ordf ediccedilatildeo o que quer dizer que jaacute estaacute criticado [] O autor dum livro em segunda ediccedilatildeo soacute poacutede pedir uma critica juntando a certidatildeo de que distribuiu a primeira tiragem pelos seus numerosos amigos (Correio do Povo 18Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 V)

Fragmento 63111

A cIassificaccedilatildeo dos materiaes contidos na chorographia foi feita com regularidade sendo os varios Estados reunidos em uma parte especial para a analyse geographica e historica de cada um [] Se alguns reparos podem ser feitos a obrinha do Sr Villa-Lobos satildeo basear as informaccedilotildees politicas na Constituiccedilatildeo ainda natildeo decretada e amontoar notas sobre notas no estudo geologico botanico e zoologico do Brazil Natildeo ha duvida que em serem completos natildeo se excIue nos compendios a qualidade didactica da concisatildeo [] Sob pontos scientificos ainda se poderia reparar na acceitaccedilatildeo que faz o Sr Villa-Lobos da velha e decahida denominaccedilatildeo de ldquoraccedila caucasianardquo na falta de notas e observaccedilotildees no que respeita a raccedila negra que sem duvida cruzou mais com o ibeacuterico do que o aborigene na repe-ticcedilatildeo de varios erros de Macedo e do Sr Moreira Pinto Entretanto o que ninguem negara eacute que pela copia de observaccedilotildees pelo cuidado da forma pela boa divisatildeo dos assumptos o livro do Sr Villa-Lobos fez-se credor de animaccedilatildeo [] (Folha Popular 23Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 VI)

Na anaacutelise da obra de Villa-Boas (1901) o sujeito autor considera precipitada a

incorporaccedilatildeo do desenho poliacutetico ainda natildeo garantido pela Constituiccedilatildeo e faz

ressalva ao excesso de notas geoloacutegicas botacircnicas e zooloacutegicas o que ao ver do

sujeito sacrifica a ldquoqualidade didactica da concisatildeordquo (F63111) Acusa a ausecircncia

de consideraccedilotildees sobre a ldquoraccedila negrardquo (F63111) na constituiccedilatildeo do povo brasileiro

continuaccedilatildeo de um erro que o sujeito demonstra conhecer na tradiccedilatildeo da

bibliografia pois remete-o com conhecimento e propriedade a Macedo e a Moreira

Pinto dois autores de destaque no cenaacuterio da bibliografia Natildeo deixa contudo que

esses desvios sejam desmerecimento agrave obra

O sujeito autor e a obra didaacutetica portanto dados agraves especificidades de uma

disciplina dependiam tambeacutem da construccedilatildeo de uma imagem que os qualificasse e

os percebesse como sujeitos autorizados desses discursos As proacuteprias obras em

seus cabeccedilalhos auxiliam nessa produccedilatildeo embora igualmente fosse importante o

papel da imprensa como baliza referencial sobre os valores de autores e obras

632 A identidade e a legitimidade da disciplina

Uma das regularidades discursivas que atravessam os discursos do entorno

e os discursos introdutoacuterios da bibliografia menciona a questatildeo da importacircncia e por

conseguinte da identidade e da legitimidade escolar dos conhecimentos

geograacuteficos

Esses discursos argumentam sobretudo sua utilidade individual e coletiva

na formaccedilatildeo do educando Dentre as principais linhagens nesse sentido destacam-

se a menccedilatildeo ao desenvolvimento da Geografia nos paiacuteses civilizados agrave variedade

de assuntos aos quais se interliga o saber geograacutefico ao serviccedilo que presta agraves

praacuteticas profissionais e aos interesses da naccedilatildeo ao desenvolvimento intelectual do

estudante ao serviccedilo auxiliar agrave compreensatildeo e ao aprendizado da Histoacuteria ao

conjunto de conhecimentos de interesse e curiosidade do educando

O modelo de intelectualidade brasileiro tendo muita influecircncia de paiacuteses

como Inglaterra Alemanha Estados Unidos e sobretudo Franccedila situou nesses

lugares suas referecircncias para o ensino de Geografia

Hoje que o estudo da Geographia vai tornando um desenvolvimento immenso em todos os paizes civilisados que a consideram com razatildeo um dos conhecimentos mais importantes e essenciaes para a prosperidade e forccedila de uma naccedilatildeo julgamos que tambem no Brazil que se ufana de ser a primeira naccedilatildeo em todos os sentidos da America do Sul e uma das mais civilizadas do globo este estudo deveria tomar maior incremento e natildeo contentar-se com os pequenos compendios que satildeo geralmente adoptados Sirva de exemplo a Franccedila cujas recentes calamidades reconhecem todos serem devidas em parte aos poucos conhecimentos da Geographia quanto poreacutem natildeo se applica ella hoje a desenvolvel-os e espalhal-os por todas as classes da sociedade Prescindindo das grandes obras que vai diariamente publicando que excellentes compendios satildeo os que ella adopta em suas escolas Basta citar os nomes de seus autores Cortambert Levasseur Pigeonneau Dussieux Greacutegoire Sardou etc Todos elles datildeo sufficiente desenvolvimento aacutes differentes partes da Geographia aacute parte astronomica physica politica economica e historica Eacute que ldquoa Geographiardquo como bem diz o Sr Levasseur ldquodiffere muito duma nomenclatura ella deve penetrar quanto e possivel o segredo das leis physicas politicas e economicas de que os factos geographicos satildeo a manifestaccedilatildeo e eacute assim que deve ser comprehendida e estudada Por mais compendioso que seja este ensino eacute de necessidade ter sempre em vista provocar a reflexatildeo dos estudantes e desenvolver a sua intelligencia ao menos tanto como a sua memoria Cada nome deve quanto focircr possivel ser acompanhado dum traccedilo descriptivo que interesse a intelligencia e aacute imaginaccedilatildeordquo 0 que noacutes aqui dizemos da importacircncia que hoje em Franccedila se daacute aos estudos geographicos natildeo eacute bastante comparado com o que se passa na Allemanha na Inglaterra e nos Estados-Unidos paizes poderosissimos e mui florescentes que marcham a testa da civilisatildeo moderna (O autor 1880 LACERDA 1898 p 2)

Nesse fragmento o sujeito vincula a importacircncia do ensino geograacutefico ao

amadurecimento das naccedilotildees ldquocivilizadasrdquo indicando essa educaccedilatildeo como caminho

idecircntico para o Brasil proclamado a primeira naccedilatildeo real da Ameacuterica do Sul No

fragmento seguinte o sujeito situando os estudos geograacuteficos na Terra e no

Homem ressalva a variedade ofertada por esses conhecimentos igualando-as em

niacutevel de necessidade a outros saberes escolares consolidados e de importacircncia

pouco questionaacutevel ndash a matemaacutetica e as ciecircncias naturais

Fragmento 6321

De todos os estudos destinados a preparar a intelligencia aquelle que se occupa da Terra e do Homem eacute o que naturalmente maior variedade de aspectos nos offerece Interessante pois mais que qualquer outra essa mesma disciplina torna-se ao mesmo tempo um conhecimento hoje tatildeo imprescindivel como a mathematica e as sciencias naturaes quer para os cursos academicos quer para as necessidades praticas da vida (O autor ALI 1905 p III)

Fragmento 6322

Eacute a Geographia que ensina a Historia a influencia das condiccedilotildees topographicas e climatologicas sobre o desenvolvimento das populaccedilotildees etc a Economia politica a Diplomacia o estado actual dos recursos de cada paiz na paz ou na guerra a Arte militar as estradas estrategicas favoraveis a marcha dos exercitos as Administraccedilotildees civil ecclesiastica aos viajantes aos missionarios aos naturalistas etc a posiccedilatildeo das mais pequenas localidades e os meios de communicaccedilatildeo entre as diversas partes dum paiz (Aleixo M G FIC 1902 p X)

Os saberes satildeo relevados pelo sujeito considerando tanto sua perfomance

acadecircmica quanto ldquoas necesssidades praticas da vidardquo As tais praacuteticas da vida eacute

bem evidenciada em niacutevel de preparaccedilatildeo profissional no seguinte fragmento

[] convem pois que o moccedilo ao sahir do collegio e preparando-se para qualquer carreira no commercio na administraccedilatildeo na diplomacia na arte militar nas missotildees religiosas ou scientificas esteja apto para aproveitar de todos os recursos que datildeo os conhecimentos geographicos e cartographicos Nada prova melhor a importancia pratica que se liga a esta especialidade do que as numerosas Sociedades de Geographia das quaes muitas de Geographia commercial e de Topographia fundadas depois de guerra franco-allematilde de 1870 em todos os paizes do mundo civilisado (Aleixo M G FIC 1902 p XI)

A multiplicaccedilatildeo das sociedades geograacuteficas europeias no contexto da expansatildeo das

poliacuteticas neocolonialistas atesta ao sujeito o niacutevel de relevacircncia adquirida pela

Geografia pois como evidencia o lexema central dessa enunciaccedilatildeo esses saberes

fornecem recursos aproveitaacuteveis no acircmbito de qualquer atuaccedilatildeo profissional

O ensino da Geographia como o de qualquer outra especialidade tem um duplo fim um theorico ou educativo que eacute o desenvolvimento das faculdades do disciacutepulo o outro pratico ou utilitario que consiste em fornecer ao alumno os conhecimentos de que possa precisar no correr da vida [] natildeo eacute mais permittido no nosso seculo de positivo desconhecer a necessidade absoluta desta sciencia que eacute a base ou a chave da maior parte dos conhecimentos humanos historicos politicos physicos naturaes etc (Aleixo M G FIC 1902 p X)

Apesar de boa parte dos estudiosos da educaccedilatildeo e mesmo seus

propositores indicar a feiccedilatildeo aacuterida e maccedilante que comumente acompanhava o

ensino da Geografia descritiva sempre houve vozes a afirmarem o contraacuterio

expondo atrativos inerentes a esse saber Delgado de Carvalho (1925)

responsabiliza os compecircndios mal feitos ou utilizados inadequadamente pela

distorccedilatildeo do ensino geograacutefico Essa criacutetica natildeo eacute exclusiva da educaccedilatildeo brasileira

podemos encontrar Piotr A Kropotikin (1842-1922) em uma abordagem claacutessica do

ensino de Geografia publicada em 1885 fazendo uma anaacutelise interessante dessa

relaccedilatildeo de respulsaatraccedilatildeo no contexto do ensino geograacutefico

Realizaram-se pesquisas e descobriu-se com estupor que haviacuteamos conseguido que esta ciecircncia ndash a mais atrativa e sugestiva para pessoas de todas as idades ndash resulte em nossas escolas como um dos temas mais aacuteridos e carentes de significado Nada interessa tanto agraves crianccedilas como as viagens e nada eacute mais aacuterido e menos atrativo em muitas escolas que aquilo que nelas eacute batizado com o nome de Geografia [] Eacute quase seguro que natildeo existe outra ciecircncia que possa tornar-se tatildeo atrativa para a crianccedila como a Geografia e que possa se constituir num poderoso instrumento para o desenvolvimento geral do pensamento assim como para familiarizar o estudante com o verdadeiro meacutetodo de investigaccedilatildeo cientiacutefica [] (KROPOTKIN 1986 p 2-3)

Tambeacutem a bibliografia se pronuncia a respeito

Fragmento 6323

Ao percorrer o Curso Especial comprehendiamos melhor do que nunca uma verdade ha muito esquecida eacute que a geographia natildeo eacute uma nomenclatura arida mas sim a introduccedilatildeo natural do conhecimento de muitos factos e dados physicos astronomicos historicos industriaes commerciaes e ate litterarios Ninguem melhor que o auctor desta obra conhece o meio de facilitar a assimilaccedilatildeo das noccedilotildees connexas aacute geographia recorrendo alternadamente aacute memoria aacute vista aacute imaginaccedilatildeo dos alumnos e aacutes reproducccedilotildees de mappas que se acham como um ponto

essencial em seu methodo (De La Vallee-Poussin Professor de geologia da universidade de Louvain Extrahido da Revista das Questotildees Scientificas de Bruxellas FIC 1902 p VI)

Fragmento 6324

Entretanto a geografia eacute uma ciencia amavel de suave e amena aprendizagem que desperta como verifiquei sempre em meu tirociacutenio profissional o interesse do educando Basta que a orientemos convenientemente e sagazmente (o autor MENNUCCI 1936 p 7)

No fragmento 6323 o sujeito apresenta o conhecimento geograacutefico natildeo como um

fim em si ou melhor como uma disciplina atenta aos seus objetivos estes

componenentes da proposiccedilatildeo geral do ensino antes vendo-o como um

conhecimento introdutoacuterio a serviccedilo de outros saberes Infere-se em seu dizer que

esse saber de princiacutepios natildeo seria uma nomenclatura aacuterida se o ensino recorresse

ldquoalternadamente aacute memoria aacute vista aacute imaginaccedilatildeordquo bem como aos ldquomappasrdquo

No seacuteculo XIX usualmente natildeo se reconhecia um meacutetodo de ensinar e

aprender que natildeo centrasse na memoacuteria sua organicidade e mesmo fim deslocando

sua funccedilatildeo de ser parte de qualquer atividade de estudo Mas para a Geografia o

sujeito exige mais a realidade como componente (lexema ldquovistardquo) aleacutem da

ldquoimaginaccedilatildeordquo e da representaccedilatildeo de todos os fatos ldquomapasrdquo havendo estas quatro

vertentes metodoloacutegicas a aprendizagem natildeo seria aacuterdua aacuterida

No fragmento 6324 o sujeito se vale de sua experiecircncia docente para

construir uma imagem do ensino geograacutefico qualificando-o como um aprendizado

suave e ameno de uma ciecircncia amaacutevel a orientaccedilatildeo do professor entra neste

debate como diferencial na forma da disciplina ser percebida Haacute relatos como

demonstrarei ao final deste capiacutetulo de que o ensino geograacutefico podia ser tedioso ou

apaixonante na dependecircncia de como fosse regido pelo professor O problema

todavia residia na geral falta de preparaccedilatildeo de professores sem instituiccedilotildees e

orientaccedilotildees apropriadas para formarem professores de Geografia

633 Os sujeitos da recepccedilatildeo enunciativa

Agrave primeira vista pode-se pensar que obras didaacuteticas satildeo escritas para o

ensino e para a aprendizagem o que eacute um fato demonstrado jaacute nessa anaacutelise as

obras iniciais tinham uma preocupaccedilatildeo em indicar uma seleccedilatildeo de puacuteblico o que

com o tempo passou a natildeo ser um uso em face da constituiccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da

disciplina Os alunos os professores os pais ou determinados puacuteblicos eram

apontados como leitores e estudiosos da bibliografia

Contudo encontramos de igual modo com certa frequecircncia outro

funcionamento dos livros didaacuteticos de Geografia a de serem uma referecircncia cultural

fora do ambiente escolar

O compendio de chorographia de Scrosoppi eacute uma excellente obra que se recommenda natildeo soacute para as escolas como para occupar um logar distincto entre os livros de referencia dos jornalistas commerciantes e homens de letras Tolere o illustre professor uma suggestatildeo nossa accrescente em proacutexima ediccedilatildeo um capitulo sobre a historia dos tratados de limites e teraacute augmentado enormemente o jaacute grande valor de seu trabalho (Correio Paulistano 14051908 SCROSOPPI 1911 p IV)

Os livros didaacuteticos em relaccedilatildeo aos dicionaacuterios e tratados geograacuteficos

diferenciavam-se em primeiro lugar por expressar uma sistematizaccedilatildeo mais concisa

e objetiva e em segundo lugar por serem mais atualiados pois publicados com

mais frequecircncia reeditados e atualizados se comparados a outras obras referenciais

da Geografia Daiacute a recomendaccedilatildeo exortada pelo sujeito para que o compecircndio em

anaacutelise assuma esse lugar Em outro local assim se pronuncia o sujeito

E por nossa parte temos a ldquoChorographiardquo aqui aacute mao para as informaccedilotildees de que porventura precisemos no tocante a geographia e aacute historia nacionaes (Folha Popular 23Outubro1890 VILLA-BOAS 1901 VI)

Esse tipo de observaccedilatildeo eacute bastante regular nos discursos do entorno da bibliografia

sobretudo vindos da imprensa haacute traccedilos discursivos indicando que os livros

didaacuteticos de Geografia servem como obras de referecircncias para os jornalistas os

criacuteticos os intelectuais o que faz com que o uso da bibliografia supere os limites das

classes escolares

634 A relaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia com os curriacuteculos e programas

Em geral os curriacuteculo e programas e o discurso didaacutetico sempre tiveram

uma relaccedilatildeo de aproximaccedilatildeo Em periacuteodos de estabilidade tem-se uma relaccedilatildeo com

poucos conflitos Certamente haacute discursos com discordacircncia e novas propostas mas

nunca no sentido de uma anulaccedilatildeo completa o curriacuteculo eacute uma base soacutelida que

transforma-se com o tempo com acreacutescimos supressotildees e reoganizaccedilatildeo

permanecendo elementos intactos nessa trajetoacuteria Em uma educaccedilatildeo regida pelo

Estado determinada por sua legislaccedilatildeo regrada pelos exames de admissatildeo

naturalmente os programas se impotildeem como paradigma de regecircncia e

normatizaccedilatildeo

Diferentemente da bibligrafia didaacutetica atual a conformaccedilatildeo dos manuais do

periacuteodo em anaacutelise com a proposiccedilatildeo curricular era quase uma obrigaccedilatildeo a ponto

dessa relaccedilatildeo ser anunciada nos tiacutetulos ou em lugares de destaque na capa folhas

de rosto e nos discursos do entorno tal como vemos no Fragmento 6126

Elementos de Geographia universal geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infacircncia escolar da provincia de Pernambuco de conformidade com o programma da lei n 1143 art 33 sect 7ordm que rege a instruccedilatildeo na proviacutencia (PINHEIRO 1875)

A execuccedilatildeo estrita de um programa agraves vezes era lembrada durante o

aparecimento de uma obra como diferencial em relaccedilatildeo agraves demais

Fragmento 6341

Como se vecirc pela nomenclatura das liccedilotildees eacute o uacutenico compendio que existe actualmente para o ensino especial da geographia do nosso paiz pois desenvolve toda a materia exigida pelo programma sendo de notar que eacute illustrado com numerosas e magnificas gravuras o que contribue muito para realccedilar-lhe o valor (Diaacuterio Popular 20041908 SCROSOPPI 1911 p IV)

Fragmento 6342

Escripto com methodo e clareza abrange todo o programma dessa materia do 3ordm anno gymnasial (Diaacuterio Popular 20041908 SCROSOPPI 1911 p III)

Informaccedilotildees como essas divulgadas na imprensa certamente provinham de

releases que os autores e editores faziam acompanhar os exemplares

encaminhados para divulgaccedilatildeo

Nesse periacuteodo como aferido antes foi predominante a ediccedilatildeo de volumes

uacutenicos para todas as seriaccedilotildees devendo atender assim programas de

Cosmografia Geografia Fiacutesica Geografia Poliacutetica geral e corograacutefica aleacutem de

modalidades diversas como os estudos claacutessicos os estudos cientiacuteficos o ensino

teacutecnico o normal De forma que o curriacuteculo executado pelo autor correspondia natildeo

necessariamente agrave exigecircncia de um ou de outro programa mas a um amaacutelgama

deles A diferenciaccedilatildeo mais marcante talvez tenha sido a separaccedilatildeo de manuais

para o ensino primaacuterio e secundaacuterio

Dado isso o posicionamento entre discurso e curriacuteculo proposto eacute sempre

claro

Perfeitamente a par dos programmas de ensino dos nossos estabelecimentos de educaccedilatildeo procurei escrever sempre de accordo com elles quanto aos assumptos e sua dosagem Assim este livro serviraacute ao ensino normal e profissional e ao dos Gimnasios existentes nesta capital e nos Estados Defeitos e lacunas tel-os-a necessariamente como toda obra humana mas conto me seratildeo elevados pelos competentes que bem sabem quanto custam trabalhos desta natureza Enfim fiz o que pude faccedilam melhor os que puderem (O autor BITTENCOURT 1907 p 01-02)

No fragmento acima o dizer do sujeito explicita essa conformaccedilatildeo em que

demonstra a orientaccedilatildeo de sua escrita E o faz porque assim poderaacute atender

segmentos diferenciados da educaccedilatildeo de base o normal os cursos teacutecnicos e os

ginaacutesios A impaciecircncia e certo aborrecimento do sujeito no trato da questatildeo ndash ldquofiz o

que pude faccedilam melhor os que puderemrdquo ndash indiciam as cobranccedilas para que as

obras tivessem adequaccedilatildeo aos curriacuteculos propostos Mas precisando agradar

gregos e troianos nenhuma obra chegava a afeiccediloar-se agraves necessidades

especiacuteficas de cada segmento do ensino de Geografia

Essa realidade passou por alguma mudanccedila a partir dos anos 1930 quando

as diretrizes da educaccedilatildeo ensaia a seriaccedilatildeo em um modelo que seria quase

definitivo daiacute em diante

Fragmento 6343

Logo que o novo programma de ensino foi publicado em julho de 1931 como consequencia logica da reforma levada a efeito pelo Governo Provisorio o professor Dr Mario da Veiga Cabral iniciou a publicaccedilatildeo de uma seacuterie de volumes rigorosamente de accocircrdo com esses novos programmas na parte que diz respeito aacute Geographia que eacute hoje estudada nos cinco anos do curso (A Noite 18041933 CABRAL 1935 p 298)

Fragmento 6344

Agora com a uacuteltima reforma do ensino secundaacuterio e de acordo com o actual programma o sr Mario da Veiga Cabral propoz-se um trabalho que vem executando sem desfallecimentos mantendo em toda a obra o mesmo brilho de explanaccedilatildeo dos pontos e da clareza de estylo a ser assimilado pelo estudante (A Paacutetria 12041933 CABRAL 1935 p 295)

Fragmento 6345

Por ter o novo programma de ensino publicado no Diario Oficial de 31 de Julho de 1931 dado nova orientaccedilatildeo ao estudo da Geographia que passou a ser feito nas cinco series do curso pediu-me a livraria Jacintho naquela mesma data que organizasse uma seacuterie geographica de cinco volumes de maneira a corresponder cada um programma da serie a que se destina (O autor CABRAL 1935 p 1)

Como mencionado anteriormente Cabral foi pioneiro em atentar para essa

divisatildeo escrevendo e publicando obras para cada ano do ensino Com isso

ganhava espaccedilo para desenvolver mais apropriadamente os conteuacutedos em uma

proposta que natildeo deixava de ser interessante na perspectiva editorial No F6345 o

sujeito deixa claro ter partido de sua editora a Livraria Jacintho o pedido para

operar por seriaccedilatildeo

635 Enfrentamentos das traduccedilotildees fontes e lacunas do discurso didaacutetico de Geografia

O discurso didaacutetico da Geografia concentrado na bibliografia em anaacutelise

realiza-se plenamente com rariacutessimas exceccedilotildees por uma heterogeneidade

constitutiva ou seja por um dizer onde o Outro eacute apagado ou silenciado (AUTHIER-

REVUZ 2004) Isso significa que as fontes natildeo satildeo realmente reveladas

procedimento comum a uma heterogeneidade mostrada na qual o sujeito cede a

palavra ao Outro no acircmbito da sua enunciaccedilatildeo O principal efeito de sentido desse

ato eacute o efeito de autoridade criado por esse tipo de enunciaccedilatildeo ndash processo que

denominei de bloco discursivo liso uma superfiacutecie de dizer criada para natildeo suscitar

duacutevidas sobre quem diz e sobre o que esse sujeito diz sendo que isto vem a ser a

sustentaccedilatildeo do discurso didaacutetico como um todo

De forma muito indireta referecircncias agraves fontes satildeo encontradas nos

discursos do entorno mesmo assim sem especificaccedilotildees agraves obras e muito

raramente com indicaccedilotildees de um ou outro autor O mais comum eacute a referecircncia a

tipologias de fontes

Penetrado pois da importancia do estudo da Geographia para o presente e mormente para o futuro o autor applicou-se seacuteriamente a fazer um compendio claro methodico e ao mesmo tempo completo que sirva a diffundir no Brazil o gosto por este tatildeo util ramo dos conhecimentos humanos Para que o trabalho sahisse o mais exacto possivel foram consultadas as melhores obras que sobre a materia tem apparecido na Europa e na America e pelo que diz respeito a estatistica serviram de guia os documentos officiaes e as mais autorizadas das obras especiaes Espera pois o autor que este seu trabalho seraacute bem acolhido pelos Srs Professores e Directores de Collegios (O autor 1880 LACERDA 1898 p 2-3)

Encontram-se aiacute algumas tipologias de fontes com qualificaccedilotildees adjetivas

ldquomelhores obrasrdquo da Europa e da Ameacuterica a ldquoestatistica oficialrdquo ldquodocumentos

officiaesrdquo Resguardado pela autoridade dos melhores dos especiais e da

oficialidade o sujeito propotildee seu discurso ldquoclaro methodico e ao mesmo tempo

completordquo Sem aclarar suas bases e referecircncias daacute como suficiente saber-se que

suas fontes satildeo fidedignas e autorizadas de boa procedecircncia

A questatildeo da atualidade de um manual didaacutetico de Geografia que se alinha

de perto agrave disponibilidade das fontes era crucial O livro de Gaulthier traduzido e

muito adotado no Brasil eacute exemplo do extremo a que se executou esse assunto

Sendo uma obra comercial no sentido de ter acolhida e tradiccedilatildeo nas instituiccedilotildees

escolares continuou a ser editada apoacutes o desaparecimento do seu autor A cada

nova ediccedilatildeo havia novas mudanccedilas ndash acreacutescimos supressotildees ndash de forma a restar

da ediccedilatildeo original resguardados os exageros apenas o tiacutetulo como

orgulhosamente relatam os tradutores portugueses os quais contribuiacuteram para esse

processo com suas emendas sobretudo por dever a traduccedilatildeoadaptaccedilatildeo contemplar

com destaque duas nacionalidades pouco evidenciadas no original ndash a portuguesa e

a brasileira

A obra que hoje damos a luz natildeo eacute propriamente uma nova ediccedilatildeo da Geographia de Gaultier mas um livro inteiramente refundido e verdadeiramente novo como o poderaacute julgar quem quizer comparal-o com a primeira ediccedilatildeo publicada em 1838 Desde entatildeo a obra original foi reimpressa em Franccedila muitas vezes e cada uma dellas com notaveis mu-danccedilas assim que quando quizemos no momento de emprehender a nossa actual publicaccedilatildeo comparar ambas as ediccedilotildees e tomar nota das emendas e additamentos que se haviam feito achamo-nos com um livro em que do primeiro apenas restava o titulo Natildeo contentes porem de operar em nossa traduccedilatildeo igual transformaccedilatildeo ajudando-nos com os trabalhos dos melhores geographos fomos em descoberta das omissotildees ou erros que houvessem podido escapar aos saacutebios autores do nosso modelo e n essa parte tivemos tambem que fazer natildeo poucas emendas As mudanccedilas politicas que sobrevieram durante a impressatildeo foram por nos cuidadosamenle registradas A populaccedilatildeo de todas as cidades importantes foi indicada em seu correspondente lugar em fim nada se omittio para que a presente obra esteja ao nivel dos conhecimentos geographicos actuaes [] Natildeo foi menor o nosso esmero na parte que nos eacute exclusivamente propria queremos dizer no que respeita a Portugal e ao Brazil Assim que o leitor acharaacute as divisotildees administrativa judicial ecclesiastica etc do reino de Portugal redigidas segundo os documentos mais recentes e authenticos [] A descripccedilatildeo do Brazil que natildeo occupava senatildeo oito paginas da primeira ediccedilatildeo tem na presente perto de quarenta aleacutem de outros additamentos que fizemos em differentes partes do volume principalmente nas liccedilotildees em que se explica o curso dos rios principaes do Brazil [] Julgamos que os outros paizes da America tatildeo summariamente tratados na ediccedilatildeo franceza mereciam maior attenccedilatildeo em uma obra destinada em grande parte para leitores americanos Por tanto toda esta parte e especialmente a que diz respeito aacutes republicas da America meridional vai descripta com uma extensatildeo que se natildeo acharaacute certamente em nenhuma obra da mesma classe nem mesmo em algumas de maior volume [] Esperamos pois que o leitor acolhera favoravelmente um livro em que se natildeo poupou nem trabalho nem despeza para que seja digno da sua estima e possa preencher o fim a que nos propuzemos (Os tradutores GAULTIER 1878 p I-II)

A Geografia eacute um saber dinacircmico sujeito agraves leis da natureza e agraves forccedilas da Histoacuteria

e os que lidavam com os conhecimentos geograacuteficos sempre tiveram uma

percepccedilatildeo desse fato observaacutevel ateacute no calor da impressatildeo das obras como

evidencia a seguinte sequecircncia discursiva ldquoAs mudanccedilas politicas que sobrevieram

durante a impressatildeo foram por nos cuidadosamenle registradasrdquo O sujeito da

enunciaccedilatildeo abaixo explicando as circunstacircncias da reediccedilatildeo de sua obra menciona

que apenas em sua segunda ediccedilatildeo pocircde dar por terminadas ou

momentaneamente estabilizadas as questotildees poliacuteticas (e sua regionalizaccedilatildeo) que

grassaram a Europa apoacutes o teacutermino da I Guerra Mundial anos 1920 adentro

Pouco mais de um anno decorrido da 1ordf faz-se 2ordf ediccedilatildeo desta obra prova de que o assumpto natildeo desagradou Quasi todos os institutos de ensino commercial e mesmo muitos gymnasios do Brasil a adoptaram Generosa alviccedilareira foi a recepccedilatildeo pela imprensa e pela critica Drsquoesta

accolhemos as opinioes sensatas fazendo na presente ediccedilatildeo algumas emendas [] Pudemos emfim terminadas as mais azedas querellas da Europa determinar-Ihe a moderna geographia coisa impossivel no momento de encerrar a 1ordf Ediccedilatildeo (O autor 19-2-1924 XAVIER 1929 p 6)

Retornando ao fragmento anterior nota-se que esse documento demonstra ainda

as dificuldades que os tradutores de Gaulthier enfrentavam ao lidar com um

discurso eminentemente nacional ou nacionalista (no caso francecircs) tendo

portanto que atender a uma demanda natildeo contemplada nos originais procedendo

da forma que foi comum aos tradutores de compecircndios geograacuteficos ndash com

acreacutescimos e adaptaccedilotildees ldquoA descripccedilatildeo do Brazil que natildeo occupava senatildeo oito

paginas da primeira ediccedilatildeo tem na presente perto de quarenta aleacutem de outros

additamentos que fizemos em differentes partes do volumerdquo Para essa realizaccedilatildeo

novamente os tradutores se posicionam frente agraves fontes por tipologia natildeo as

indicando ldquoredigidas segundo os documentos mais recentes e authenticosrdquo

No fragmento abaixo o sujeito revelando duas das fontes do autor Jean

Brunhes e Paul Vidal De La Blache contextualiza a obra em sua filiaccedilatildeo agrave

orientaccedilatildeo moderna da Geografia introduzida anos antes por Delgado de Carvalho

Foi seguindo essa orientaccedilatildeo (a moderna orientaccedilatildeo de Jean Brunhes e Vidal Lablache [sic]) que o distincto professor Sr Lindolpho Xavier escreveu este compendio de Geographia Commercial em que com a sua reconhecida competencia estuda no conjuncto dos factores cosmicos o Homem principal factor das riquezas O trabalho eacute quasi novo aleacutem de tudo utiIissimo pois que abrange uma longa serie de conhecimentos praticos e opportunos que visam como bem diz o auctor encaminhar os negocios publicos e particularcs na direcccedilatildeo universal A situaccedilatildeo geral do mundo neste momento as condiccedilotildees do Brasil como paiz de agricultura os grandes problemas da industria e do trabalho ainda dependentes de soluccedilatildeo em consequencia da crise universal - tudo isso concorre para tomar tresdobradamente util e interessante o admiravel trabalho do Sr Lindolpho Xavier (Osorio Duque Estrada Registro Literario Jornal do Brasil 30-9-1922 XAVIER 1929 p 654)

Nesse novo contexto era possiacutevel ao sujeito trabalhar toacutepicos antes pouco

relevantes como os problemas sociais e econocircmicos matriz que a partir dos anos

1920 separaraacute o ldquojoio do trigordquo isto eacute faraacute decair as geografias das nomenclaturas

descritivas e ascender as que apresentassem um discurso inovado

O sujeito abaixo reconhece que para empreender seu discurso compulsou

ldquoinuacutemeras obras alheiasrdquo agraves quais opta natildeo citar apenas destacando os trabalhos

de um comissatildeo do Estado de Satildeo Paulo

Na confecccedilatildeo deste trabalho foi mister como se compreende compulsar inuacutemeras publicaccedilotildees alheias afim de que as afirmaccedilotildees pudessem ser convenientemente controladas Natildeo vou referir-me a tudo quanto consultei mas natildeo quero deixar de fazer uma citaccedilatildeo especial dos excelentes trabalhos da antiga Comissatildeo Geografica e Geologica do Estado hoje reconstituiacuteda como Departamento Geografico e Geologico os quais me foram de grande ajuda na elaboraccedilatildeo do volume e aos quais todos devem conhecer se quiserem ter uma idea exata do Estado de Satildeo Paulo (o autor MENNUCII 1936 p 6)

Este outro sujeito indica agrave sua retarguada o trabalho de outros dois autores

didaacuteticos aleacutem de mais alguns geoacutegrafos alguns tambeacutem autores brasileiros e

estrangeiros

Aleacutem das sabias liccedilotildees dos notaacuteveis mestres Sra D Evangelina Fontella e Sr Olavo Freire serviram-me de guia na elaboraccedilatildeo deste livrinho os tratados e atlas de conhecidos geoacutegrafos como o baratildeo Homem de Mello Carlos de Novaes F Bittencourt Veiga Cabral e outros aleacutem de alguns trabalhos de Liais Gorceix Cruls etc (o autor ESTRADA 1928 p 7)

Os sujeitos editores e autores utilizam os discursos do entorno (no qual

igualmente se pronuncia a respeito a imprensa) tambeacutem para demonstrar certa

inseguranccedila sobre a correccedilatildeo de muitos aspectos das obras ndash satildeo as falhas de

fontes comumente se pronunciando a respeito

Um dos estudos mais difficeis entre noacutes se o quizermos fazer conscienciosamente eacute ndash cousa inacreditaacutevel ndash o da nossa geographia Difiacutecil e ingrato O estudioso dessa especialidade tem de esbarrrar com a falta quase absoluta de dados officiaes e estatiacutesticos natildeo tivemos ainda um recenseamento que merecesse eterna feacute e sobre o qual nos pudeacutessemos basear com seguranccedila No que diz respeito aacutes vinte grandes circunscriccedilotildees em que se divide o territoacuterio soacute o Rio Grande do Sul tem os seus limites fixados sem contestaccedilatildeo Os rios mesmo os mais importantes natildeo estatildeo bem estudados satildeo ainda mal conhecidos e das nossas serras e montanhas em geral natildeo se pode dizer que imperfeitamente conhecida [] E tudo o mais eacute assim [] Ora se o estudo da nossa descurada geographia apresenta taes e tantas difficuldades quatildeo mais difficil natildeo ha de ser escrever uma Chorographia do Brasil O professor que se abalanccedilar a uma tal empreza a menos que se natildeo contente em copiar atrazados falhos e errados compecircndios em voga natildeo pouco trabalho teraacute para fazer obra acceitavel obra de consciecircncia producto de esforccedilos e estudos geographicos bebidas as informaccedilotildees em fontes puras ndash que ainda as ha (posto que poucas) em muitos pontos essenciaes [] E por isso natildeo

hesitaremos em affirmar que os livros que temos para os estudos da nossa geographia seriam bem melhores se os auctores e editores em cada nova ediccedilatildeo procurassem pol-os em dia ao menos em alguns pontos bastava compulsarem para tanto os relatoacuterios dos ministerios e se informarem na hoje excellente reparticcedilatildeo de estatiacutestica que jaacute possuiacutemos Os dados sobre o commercio (importaccedilatildeo e exportaccedilatildeo) industria viaccedilatildeo feacuterrea telegraphos portos geographia economica etc etc teriam a exactidatildeo desejavel e o nosso caro Brasil assim melhor estudados teria tudo a lucrar Aqui bem ao inverso do que em toda a parte se observa o que menos se estuda em geographia eacute o proacuteprio paiz (Neckwer Vozes de Petroacutepolis julho de 1909 SCROSOPPI 1911 p IX-X)

Este sujeito pronunciando da imprensa enuncia uma realidade paupaacutevel

que permanentemente afligiu e pertubou os autores didaacuteticos desta disciplina as

incoerecircncias e incompletudes da estatiacutestica oficial a insolidez da regionalizaccedilatildeo dos

territoacuterios nacionais aleacutem de outras incertezas Evidencia a bibliografia geograacutefica

didaacutetica ou natildeo como atrasada falha e errocircnea a se orientar portanto em poucas

fontes confiaacuteveis Acusa ainda a linhagem ativa das ediccedilotildees de recolocarem-se no

mercado sem atualizaccedilotildees devidas embasadas por exemplo nos relatoacuterios

ministeriais ndash embora inicie sua fala alertando para a ineficaacutecia destas fontes No

todo cabia ao sujeito autor lamentar essa inseguranccedila nunca demonstrada nas

superfiacutecies discursivas

Andamos pois aacutes cegas no que diz respeito aacute populaccedilatildeo movimento commercial industrial e econocircmico tendo necessidade de catar aqui e ali em fontes diversas e deficientes informaccedilotildees que nos guiem em meio do cipoal de incertezas em que nos debatemos em busca da verdade (O Autor BITTENCOURT 1916 p 3)

Pois se nos discursos do entorno ainda haacute indicativos desses problemas o mesmo

natildeo acontece no corpo discursivo das obras sempre afirmativas plenas de certezas

Esse discurso eacute reforccedilado por muitos outros sujeitos

A lamentavel deficiecircncia e o incorrigiacutevel atraso da nossa estatistica oficial que nem siquer conseguiu ateacute hoje determinar ao certo qual a populaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro natildeo me permittiram assentar dados seguros e incontestaveis acerca das populaccedilotildees e superfiacutecies de alguns estados do Brasil Nesse ponto nada temos de positivo variando as opiniotildees conforme os autores (o autor ESTRADA 1928 p 8)

Como natildeo teria custado ao autor juntar estatiacutestica neste paiz em que a estatistica eacute descurada (Correio Paulistano 14051908 SCROSOPPI 1911 p IV)

Ocorria de agraves vezes se agradecer a contribuiccedilatildeo de anocircnimos ou leitores de

diversas procedecircncias para correccedilatildeo de fatos ou estatiacutesticas geograacuteficas ou

mesmo solicitaacute-la visando o labor das novas ediccedilotildees

Os editores agradecem a todos os senhores que tiveram a amabilidade de mandarem correcccedilotildees para a presente ediccedilatildeo e principalmente ao Snr Professor Florindo Netto do Gymnasio de Bello Horizonte e ao Snr Hildebrando Gomes Os editores pedem novamente asi seus amigos de indicarem as correcccedilotildees que acharem convenientes para as futuras ediccedilotildees (Os Editores BITTENCOURT 1916 p 1)

Ou a imprensa alertava os autores dessa necessidade

Seja-nos licito pedir ao illustre auctor que natildeo se esqueccedila de ir sempre ponde de accordo nas novas ediccedilotildees o seu apreciaacutevel trabalho com os novos progressos materiaes e desenvolvimento economico e industrial (Neckwer Vozes de Petroacutepolis julho de 1909 SCROSOPPI 1911 p X)

Em geral os sujeitos nos discursos do entorno defendem a produccedilatildeo

nacional de Geografia em face da presenccedila e do relativo sucesso das obras

traduzidas

Os compendios estrangeiros adoptados em nossas escolas peccam por demasiada extensatildeo sendo deficientes e errados na parte referente ao Brazil justamente a que mais nos importa conhecer (o autor BITTENCOURT 1907 p 1)

A questatildeo do volume ou extensatildeo dos conteuacutedos eacute algo que preocupa

alguns membros do corpo de sujeitos organizados pela educaccedilatildeo geograacutefica Eacute

sensiacutevel como haacute uma reduccedilatildeo retoacuterica do discurso geograacutefico com o passar dos

anos materialmente se percebe uma tendecircncia em diminuir as paacuteginas de um

volume de reduzir o dizer agrave enunciaccedilatildeo de fatos Tomando-se Paracatu cidade

histoacuterica mineira como exemplo dessa reduccedilatildeo compare-se como estaacute nos

discursos de Torreatildeo (1824) e de Bittencourt (1916)

COMMARCA DE PARACATUacute ndash Esta Commarca que foi desmembrada da de Sabaraacute confina com ella mesma ao N e LrsquoE ao S com o Rio das Mortes e a O com a Provincia de Goyaz

Paracatuacute Villa situada em terreno levantado sobre hum arroio denominado Corgo Rico que se perde no Paracatuacute que da o nome aacute Villa he populosa alegre e de grande commercio he cabeccedila de Commarca e residecircncia do Corregedor e teacutem Professores Regios de Primeiras Letras e Latim aleacutem da

Igreja Matriz dedicada a Santo Antonio da Manga teacutem mais quatro Ermidas as ruas satildeo direitas e calccediladas e as casas vistosas notatildeo-se trez fontes de boa agoa Os habitantes satildeo meneiros e lavradores (TORREAtildeO 1824 p 493-494)

Paracatuacute perto das divisas de Goyaz com numerosas e importantes fazendas de creaccedilatildeo de gado (BITTENCOURT 1916 p 366)

Por um lado em um espaccedilo tatildeo grande de tempo haacute mudanccedilas normais na

descriccedilatildeo das atividades de um espaccedilo Bittencourt natildeo cita a atividade mineira que

prosseguia na regiatildeo da cidade mas natildeo eacute este o caso Esta comparaccedilatildeo evidencia

anguacutestias da Geografia descritiva tal como os recortes necessaacuterios para equilibrar

os veacutertices entre ldquodizer tudordquo incluir todos os fatos e fenocircmenos constituintes do

espaccedilo em abordagem (Minas Gerais) ou aprofundar o conhecimento sobre uma

seleccedilatildeo destes mesmos fatos e fenocircmenos A escolha de muitas obras como a do

proacuteprio Bittencourt prescindia dos detalhes como enriquecimento da informaccedilatildeo

para uma abrangecircncia maior de fatos descritivos Essa eacute uma preocupaccedilatildeo que a

curtos passos entra na pauta dos discursos do entorno Eacute assim que o proacuteprio

Bittencourt em obra de 1907 se justifica

A necessidade de um Compendio de Geographia Geral nem muito extenso nem demasiado resumido impunha-se aos estudiosos dessa mateacuteria em nosso paiz (o autor BITTENCOURT 1907 p 1)

Eacute nesse sentido que reside uma das criacuteticas aos manuais traduzidos como

assevera esta sequecircncia do fragmento de Bittencourt (1907) mencionado

anteriormente ldquoOs compendios estrangeiros adoptados em nossas escolas peccam

por demasiada extensatildeordquo os enfoques de obras como a de FIC ou mesmo de

Gaulthier natildeo foram produzidas com a preocupaccedilatildeo de apurar os fatos de forma a

projetar o interesse por exemplo no espaccedilo da nacionalidade daiacute a segunda criacutetica

desse sujeito indicando mais o fato de serem ldquodeficientes e errados na parte

referente ao Brazil justamente a que mais nos importa conhecerrdquo A extensatildeo da

obra por outro lado agraves vezes pendia para a admiraccedilatildeo

O que me admira eacute como ele poude condensar tantos pormenores preciosos curiosos e novos em um uacutenico volume (P V Sarav antigo capitatildeo de marinha FIC 1902 p V)

Todavia produzidos ou traduzidos orientado seguramente por fontes novas

ou simplesmente dilapidados em velhas tradiccedilotildees os livros didaacuteticos de Geografia

durante boa parte do periacuteodo dessa bibliografia eacute o que se tem no Brasil de mais

sistemaacutetico e atualizado em termos de informaccedilatildeo geograacutefica dada ao uso em sala

de aula ou a propoacutesitos gerais da cultura

636 Discursos emergentes como oposiccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia

Desabafo ataque e denuacutencia satildeo construccedilotildees de sentidos que permeiam os

discursos do entorno em posiccedilatildeooposiccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica com os

mais diversos efeitos para que os sujeitos autoafirmem-se como autores (colocando

seus discursos como melhores) para deslumbrar um lugar para seu discurso

didaacutetico na bibliografia ou para realmente transparecer desejos de mudanccedila Os

discursos chegam a ser planfetaacuterios algumas vezes De qualquer forma na

dispersatildeo desses discursos do entorno encontra-se essa unidade destruir pilastras

e monumentos da tradiccedilatildeo para entatildeo impor-se como enunciaccedilatildeo vaacutelida

Esses discursos se potildeem na cena enunciativa sempre a um propoacutesito ou

causa do sujeito autor Veja-se

Esta convicccedilatildeo porem das vantagens da sciencia geographica difficilmente a derivaraacute algueacutem de qualquer compendio que pretendendo descrever a superficie do globo esquarteje e retalhe a crosta terrestre para poder limitar-se a um catalogo ou amontoamento de nomes geograacuteficos qual e qual mais arrevezado em determinados grupos artificiaes (o autor ALI 1905 p III)

Said Ali propondo um novo criteacuterio para a anaacutelise do espaccedilo geograacutefico na instacircncia

das relaccedilotildees de ensino e aprendizagem opotildee-se aos ldquocataacutelogos que a seu ver

encerram a tradiccedilatildeo bibliograacutefica que o antecede os lexemas que utiliza ndash

ldquoamontoamentordquo ldquoarrevezadordquo ldquoartificiaesrdquo ndash por si mesmo cooptam para abalar

qualquer imagem benemeacuterita que por acaso o leitor tenha em relaccedilatildeo agraves estantes de

antes

A desatualizaccedilatildeo das obras corograacuteficas em geral faz jus ao ensejo desse

sujeito

Estamos convencidos de que as Liccedilotildees de Chorographia do Brasil acharatildeo franca entrada nos gymnasios e outros estabelecimentos de instrucccedilatildeo porque aleacutem de constituiacuterem um livro indispensaacutevel para os alumnos tornam-se um poderoso e efficaz auxiliar aos srs Professores que muitas vezes natildeo tecircm tempo para compulsar obras volumosas relatoacuterios estatiacutesticas etc para formularem os pontos que o ensino hodierno da Chorographia do Brasil exige (Diaacuterio Popular 20041908 SCROSOPPI 1911 p III)

Vem em momento oportuno um livro atualizado sobre a Geografia do Brasil pois se

supotildee um aacuterduo trabalho ao professor sem tempo mas preocupado em dispor uma

aula atualizada aos seus discentes

Posicionando-se frente agrave tradiccedilatildeo veja-se a enunciaccedilatildeo desse sujeito

Mas dissemos que o que existe publicado sobre a nossa corographia jaacute quase natildeo corresponde ao estado actual do paiz que tem caminhado muito nestes ultimos anos Com efeito a ldquoCorographia Brasilicardquo de Ayres do Casal appareceu na primeira phase do seacuteculo passado hoje serve apenas de fonte de informaccedilotildees para as cousas drsquoaquele tempo Na segunda phase do mesmo seacuteculo em 1878 o Dr Joaquim Manoel de Macedo publicou as ldquoNoccedilotildees de Corographia do Brasilrdquo em dois pequenos volumes que actualmente carecem de importacircncia Tambeacutem os valiosos trabalhos do incansaacutevel Dr Moreira Pinto apezar de mais recentes deixam muito a desejar Parece-nos pois ter todo cabimento um livro em que o Brasil actual seja descripto com inteira verdade procurando-se tornar bem patente aos olhos do mundo culto todo o immenso progesso que lhe trouxe o regimen republicano (O Autor BITTENCOURT 1916 p 2)

O sujeito reconhece que nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX o conhecimento

geograacutefico sobre o Brasil havia apresentado avanccedilos Como bem assinala Issler

(1973) publicaccedilotildees acuradas como as de Wappoeus (1884) e Sellin (1889) dentre

outros estabeleciam uma Geografia com criteacuterios cientiacuteficos para compreensatildeo do

Brasil100 Talvez por isso o sujeito em questatildeo natildeo vecirc razatildeo para que as antigas

pilastras de sustentaccedilatildeo da bibliografia didaacutetica da Geografia ndash Ayres de Casal

Joaquim Manoel de Macedo Moreira Pinto ndash continuem a ser relevantes para a

abordagem didaacutetica da Geografia nacional Por isso expotildee a superaccedilatildeo dessas

referecircncias ainda influentes de certa forma para nessas ruiacutenas colocar-se como

100

Para Carvalho (1970 p 32) estavam ldquo[] os trabalhos geograacuteficos escolares totalmente alheios aos trabalhos de Geologia e Geomorfologia executados no paiacutes por cientistas como Eschwege Gorceix Paula Oliveira Gonzaga de Campos Hartt Derby Branner Lund Rondon Arrojado Lisboa Euclides da Cunha Teodoro Sampaio e outrosrdquo

discurso de ldquointeira verdaderdquo ndash ademais refletindo a grandeza da Repuacuteblica em

contraponto agraves estruturas falidas do Impeacuterio

Da mesma maneira o sujeito seguinte se coloca no cenaacuterio enunciativo

como um sopro novo sobre a ldquoenfezada anachronica e detestaacutevel literatura

didacticardquo

Varias e ponderosas razotildees concorreram para a publicaccedilatildeo deste modesto livrinho augmentando assim a serie de trabalhos com que sobretudo nos domiacutenios do ensino primaacuterio tenho procurado concorrer para a reforma da nossa enfezada anachronica e detestaacutevel literatura didactica A mais poderosa foi a necessidade [] Isto mesmo ficou exuberantemente patenteado nos ultimos concursos de admissatildeo aacute Escola Normal em que as candidatas aacute mingua de trabalhos elementares e convenientemente dosados houveram de recorrer a massudos tratados de ensino secundario e superior quasi sempre obscuros confusos e demasiado extensos e fastidioso empenho de registrar nequices e frioleiras Nem lhes valeu nesse caso [] a rachitica e aleijadinha Geographia do Dr J M de Lacerda professor cuja bolorenta literatura didactica adoptada ainda por quase todo este Brasil basta para atestar o graacuteo do nosso atraso e da nossa indigecircncia em mateacuteria de instrucccedilatildeo(o autor ESTRADA 1928 p 7)

O sujeito justifica sua contribuiccedilatildeo ao revelar a situaccedilatildeo bibliograacutefica do ensino

primaacuterio deficitaacuteria e sem apropriaccedilatildeo ao niacutevel desses estudos Os livros para o

ensino primaacuterio de Geografia estatildeo presentes desde as primeiras deacutecadas da

bibliografia mas sem duacutevida foram os uacuteltimos a encontrar uma linguagem e

expressatildeo que os aproximassem da faixa etaacuteria dos alunos Praticamente se

orientavam pela definiccedilatildeo dos curriacuteculos expressando uma versatildeo apenas mais

simplificada dos manuais destinados ao ensino secundaacuterio De longe o manual

desse niacutevel mais aceito por deacutecadas a fio foi a Pequena Geographia da Infacircncia de

Lacerda Aiacute procura encaixar sua obra o sujeito acima Sua avaliaccedilatildeo da bibliografia

em geral utiliza lexemas bem pouco encorajadores ldquoobscurosrdquo ldquoconfusosrdquo

ldquodemasiado extensosrdquo ldquofastiososrdquo ldquonequicesrdquo e ldquofrioleirasrdquo em uma construccedilatildeo de

sentidos disposta a criar um efeito negativo da bibliografia que o precede Do mesmo

modo qualifica a mencionada obra de Lacerda como ldquorachiticardquo e ldquoaleijadinhardquo

englobando toda a contribuiccedilatildeo de Lacerda em uma uacutenica sentenccedila ldquobolorenta

literatura didacticardquo Essas criacuteticas como o proacuteprio sujeito reconhece se dirigem a

uma obra ainda em uso embora jaacute decadente agraves veacutesperas dos anos 1930 mesmo

apoacutes quase 50 anos da morte do seu autor Em toda essa extensatildeo de tempo sem

duacutevida mudara a Geografia (apesar do esforccedilo dos editores de Lacerda em manter

atualizada suas obras sua proposta estava em decadecircncia) as orientaccedilotildees do

ensino igualmente natildeo eram mais as mesmas E sobre a educaccedilatildeo geral o sujeito

natildeo deixa de apresentar um veredito atrasada e indigente embora em nada

contribua com a obra que apresenta para alterar o aspecto do ensino da Geografia

pois seu compecircndio vincula-se agrave mesma Geografia descritiva do combalido Lacerda

a despeito de propostas mais amplas e dinacircmicas que vinham sendo apresentadas

por Veiga Cabral Gabaglia Xavier e outros Das limitaccedilotildees e fragilidades possiacuteveis

de identificar em sua obra ao ver do proacuteprio sujeito defende-se apresentando-as

como caracteriacutestica geral do gecircnero extensivas a toda a bibliografia

Certo haveraacute nelle muitas imperfecccedilotildees e lacunas mas para absolver o autor de um ou outro deslise basta lembrar que erros maiores e ateacute palmares avultam em todos os trabalhos de maior tomo que existem sobre o assumpto (o autor ESTRADA 1928 p 8)

Os discursos do entorno configuram-se como espaccedilo para os autores seus

convidados ou avaliadores destacarem contribuiccedilotildees ineacuteditas ou pouco exploradas

na bibliografia ateacute entatildeo

A nossa Iiteratura didactica tatildeo pobre em obras geographicas o era principalmente em assumptos de geographia economica Esta falha tatildeo sensivel especialmente para os que estudam a disciplina nos estabelecimentos em que se precisam especiaIizar fica de ora por diante sanada com o apparecimento do bem organizado methodico e criterioso compendio que o conhecido e iIlustre escritor Sr Lindolpho Xavier acaba de lanccedilar a pubIicidade no que se compendiam as melhores noccedilotildees da materia dadas em linguagem clara e expressiva de accordo com a mentaIidade ainda em formaccedilatildeo dos moccedilos que mais directamente precisaratildeo consultar o utiIissimo volume (Gazeta de Noticias de 4-10mdash1922 XAVIER 1929 p 655)

A Geografia econocircmica de fato apenas recentemente passara a frequentar as

paacuteginas dos manuais dessa disciplina

A imprensa tambeacutem enfraquece a tradiccedilatildeo para dar visibilidade ao

lanccedilamento que defende

Indiscutivelmente o Sr Lindolpho Xavier vem de prestar um excellente serviccedilo as letras geographicas A sua Geographia Commercial vem tirar-nos da situaccedilatildeo embaraccedilosa em que nos achavamos diante das frouxas obras que possuiamos Eacute um trabalho original fundado em seguros dados estatisticos cheio de commentarios interessantes abrangendo perfeitamente a totalidade do assumpto e finalmente trazendo um longo e minucioso repertorio de informaccedilotildees sobre o Brasil (Dr Azevedo Amaral O Dia XAVIER 1929 p 654)

Para asseverar uma obra ldquooriginal que apresenta ldquoseguros dados estatiacutesticosrdquo

qualifica as obras precedentes como ldquofrouxasrdquo propiacutecias a uma situaccedilatildeo

embaraccedilosa Esse ato discursivo eacute tiacutepico da reaccedilatildeo do novo contra o velho destruir

ou desqualificar para construir atacar para propor desmerecer para fazer outros

merecimentos Poreacutem tipicamente aos movimentos ou atos revolucionaacuterios

esquecem o contexto histoacuterico esquecem que a emergecircncia de qualquer cultura

conhecimento ou praacutetica responde a necessidades e aceitaccedilotildees proacuteprias aos

momentos histoacutericos que os caracterizam

Antigamente um livro escolar era um supplicio para as intelligencias dos estudantes Hoje natildeo as obras destinadas aacute instrucccedilatildeo possuem todos os requisitos desejados para o mister a que se destinam Claros concisos e escriptos em linguagem elegante (Diaacuterio de Notiacutecias 14041933 CABRAL 1935 p 296)

Mais alguns anos e o discurso em aceitaccedilatildeo assume o posto do discurso renegado

uma vez que natildeo se perpetua como praacutetica precisando ser reorientado

realimentado redirecionado agraves perspectivas e necessidades do presente

637 Enunciados ao professor instruccedilotildees e recomendaccedilotildees dos autores aos docentes de Geografia

Situaccedilatildeo geral merecedora de reclame dos autores e dos sujeitos agrave frente

da reflexatildeo sobre o ensino de Geografia no periacuteodo analisado haacute a falta de

profissionalismo predominante entre os professores dessa disciplina o que

impactuava diretamente na visatildeo desses sujeitos sobre a forma e os meacutetodos do

ensino geograacutefico

O ensino de geografia estaacute precisando de urgente mudanccedila de meacutetodos e processos Jaacute tive a oportunidade de dizer que no Brasil essa disciplina foi invariavelmente entregue aacutequeles cavalheiros que aacute falta de outra atividade para preencher os seus desejos de ganhar dinheiro em tarefa relativamente cocircmoda e facil se dispunham a ingressar para o magisterio sem credenciais de capacidade Quando um cavalheiro qualquer natildeo tinha jeito para cousa nenhuma mas ao qual era mister por esta ou por aquela circunstancia dar um emprego empurravam-no para o professor de geografia E como ele natildeo entendia do riscado e lecionava a mateacuteria para justificar o estipendio no

fim do mecircs a unica cousa que se conseguiu foi entendiar os alunos e fazer-lhes aborrecer a disciplina ensinada sem seguro conhecimento sem solidez de cultura sem metodologia racional sem amor e sem entusiasmo O decliacutenio e o horror do ensino da geografia eacute fruto exclusivo dos maus professores a que se cometeu a tarefa ingloacuteria de desmoralizar a mateacuteria no conceito dos alunos (o autor MENNUCCII 1936 p 7)

Para o sujeito a educaccedilatildeo estava entregue a pessoas em geral sem credenciais

para a docecircncia e dentre esses para os menos capacitados ainda se destinavam

as aulas de Geografia trabalhando pela recompensa uacutenica do salaacuterio resultando

disso uma praacutetica docente entediante sem fundamentos e sem metodologia O

sujeito deixa transparecer em sua colocaccedilatildeo que a Geografia poderia ter tido um

tempo mais frutiacutefero para entatildeo estar em decliacutenio e desmoralizada nos anos 1930

quando haacute o primeiro esboccedilo de uma ampliaccedilatildeo da oferta do ensino agrave populaccedilatildeo

geral Prova da ineficiecircncia metododoloacutegica do ensino geograacutefico para o autor

residia em os discentes e mesmos os professores natildeo saberem ler um mapa

Na geografia o intuito imediato do ensino eacute obter que o aprendiz saiba ler um mapa cousa que muita gente grande sem excetuar o grosso dos professores natildeo sabe E natildeo sabe porque ningueacutem se preocupou em demonstrar-lhes que o mapa faz o mesmo papel do livro de leitura ou da partitura musical e que eacute um simbolo abreciado de uma realidade concreta Ha entretanto um jogo didaacutetico para levar o aluno da noccedilatildeo da realidade viva e vivida aacute sua transposiccedilatildeo para uma carta geograacutefica a fim de fazer-lhe compreender que a carta eacute a realidade objetiva em resumo Esse jogo nunca foi seriamente estudado pelo menos em nossos tratados de metodologia do ensino de geografia e nunca foi estudado porque toda a gente pensa desarrazoadamente que a geografia eacute material faacutecil muito faacutecil e muito simples mas muitiacutessimo cacete e que depende exclusivamente de ter ou natildeo ter memoria (o autor MENNUCCII 1936 p 8)

Ler o mapa eacute posto pelo sujeito como siacutentese do aprendizado geograacutefico o que por

toda a extensatildeo do periacuteodo parece ter sido o objetivo geral do ensino geograacutefico E a

isso o sujeito atribui a falta de formaccedilatildeo do professor e por extensatildeo do ensino de

uma alfabetizaccedilatildeo geograacutefica Toda essa situaccedilatildeo para o autor reside em uma

questatildeo maior a de ser a Geografia percebida como um conjunto de conhecimentos

faacuteceis dependente apenas da capacidade de memorizaccedilatildeo do aprendiz

A questatildeo dos mapas foi central na produccedilatildeo dos manuais didaacuteticos e nas

praacuteticas de ensino acompanhando toda a trajetoacuteria como no jaacute referido fragmento

de Torreatildeo

Conheccedilo que para melhor intelligencia eu devia gravar Mappas Geographicos para esclarecer as divisoens dos Paizes que descrevo mas as minhas circuntancias actuaes natildeo me offerecem as necessaacuterias proporccedilotildeens para huma empreza tatildeo delicada portanto como seja o meu objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographia resolvi-me a publicar mesmo com essa falta na persuasatildeo de que as Cartas Universaes e Geraes poacutedem muito bem applicar-se-lhe com pequenas faltas que seratildeo supridas por qualquer haacutebil explicador (TORREAtildeO 1824 12)

Esta enunciaccedilatildeo remete-se agraves raiacutezes de muitas praacuteticas posteriores da Geografia

escolar sobretudo agrave questatildeo metodoloacutegica Para os mapas geograacuteficos o sujeito-

autor atribui a funccedilatildeo de ldquoesclarecer as divisoens dos Paizesrdquo os quais satildeo

abordados a partir de outra posiccedilatildeo afirmada pelo sujeito a descriccedilatildeo Remete-se

portanto agrave forma como a accedilatildeo escolar se posicionou face ao gigantismo do mundo a

ser entendido e compreendido em face da Geografia Moderna enciclopeacutedica e

vasta Torreatildeo foi professor de cursos livres de Geografia e em sua fala estatildeo

perspectivas da metodologia de ensino que pouco se modificaraacute nas deacutecadas

seguintes o manual descreve (com ausente ou rariacutessimas ilustraccedilotildees e mapas) e ao

professor cabe a explicaccedilatildeo O sucesso ou eficaacutecia desse ensino eacute atribuiacutedo

unicamente ao professor este deveraacute suprir as deficiecircncias e dificuldades dos

materiais instrucionais desde que seja um ldquohaacutebil explicadorrdquo

De qualquer forma com frequecircncia os discursos do entorno serviam para

instruir metodologicamente os professores

E para concluir cumpre dar algumas indicaccedilotildees aos Srs professores natildeo

habituados a ensinar pelo processo descriptivo [] Evite-se antes de tudo

que os alumnos procurem simplesmente decorar eacute essencial que

apprehendam bem a exposiccedilatildeo do livro e saibam mostrar no mappa as

formas os accidentes de terreno os lugares etc A disposiccedilatildeo por capitulos

extensos nao obriga de forma alguma a uma liccedilatildeo unica pode o professor

repartil-os a vontade por dois ou tres dias de liccedilatildeo ou mais conforme lhrsquoo

aconselhar a pratica e o seu bom criterio Exemplifiquemos Em vez de dar

como uma liccedilatildeo a Franccedila toda marque-se para o prirneiro dia v g ldquolimites

e desenvolvimento de costasrdquo para o segundo ldquorelevo clima e pro-

ducccedilotildeesrdquo para o terceiro ldquohabitantesrdquo e divisatildeo em regiotildees com as cidades

principaes Finalmente uma recapitulaccedilatildeo apuraraacute se os alumnos possuem

noccedilotildees exactas sobre a Franccedila (O autor ALI 1905 p IV)

As instruccedilotildees tanto se referiam ao uso do livro quanto a como ensinar Dado aos

livros nem sempre serem escritos estritamente para o uso escolar (conforme

analisado anteriormente) cabia a alguns sujeitos-autores fazer orientaccedilotildees

pertinentes aos conteuacutedos das obras

Perdoem os alumnos de commercio brasileiros os detalhes desta obra Natildeo os assustem os quadros as synopses que ahi se protraacuteem Esses satildeo para leitura de eruditos de estudiosos Basta que os alumnos brasileiros leiam o essencial e communiquem aos seus mestres a summula das suas pesquizas atraveacutes do livro Estes teratildeo a indulgencia necessaria para lhes dar quitaccedilatildeo de approvados na materia (O autor 19-2-1929 XAVIER 1929 p 7)

Ou como neste caso

Os autores chamam a atenccedilatildeo dos estudantes e professores de Geographia para o facto de que este livro cobre o programma da Terceira Seacuterie do Ensino Secundaacuterio (Curso Fundamental) bem assim a parte de Biogeographia e de Geographia Comparada das Americas da Quinta Seacuterie emquanto que no Ensino Superior (Curso Complementar) atende aos programas de exame vestibular para a Universidade do Districto Federal e para as Escolas de Direito da Universidade do Brasil [] Para o leitor em geral que ama a Geographia como estudo de alcance pratico indispensaacutevel a qualquer base cultural os autores pedem a fineza de atentar na amplitude na autenticidade e no modernismo da documentaccedilatildeo empregada no destaque particular dado aos exemplos brasileiros assim como no criteacuterio de exposiccedilatildeo calcado no que a doutrina geographica vem traccedilando de mais incisivo logico e seguro (os autores VERIacuteSSIMO VARZEA ACQUARONE 1937)

Tampouco os autores tinham formaccedilatildeo na maioria dos casos fato aliaacutes jaacute

mencionado por esta pesquisa Veja-se

Nestas poucas palavras que precedem minha Geographia Elementar peccedilo licenccedila para dar o meu modo de ver acerca do estudo das nossas crianccedilas [] Natildeo tenho autoridade alguma para me externar neste assumpto e eacute inteiramente desinteressada a minha opiniatildeo visto como natildeo sou professora nem minhas filhas seguem essa carreira Quero apenas que meus caros patricios vejam nesta minha nova tentativa o grande interesse que tomo pelo estudo das crianccedilas brasileiras e nesse sentido procuro fazer aproveitar a alguem se eacute que isto merece alguma attenccedilatildeo a pratica que adquiri leccionando os meus filhinhos [] A opiniatildeo corrente dos nossos dias eacute que ha toda a vantagem em abolir o livro dando-se a aula por explicaccedilatildeo Longe de mim a ideia de condemnar tatildeo esclarecido sistema que poupa a intelligencia da crianccedila e natildeo lhe canccedila a memoria mas por outro lado esse methodo de ensino eacute exhustivo para as nossas professoras e se nos interessamos por nossas filhas quando pequeninas devemos continuar a zelar por ellas quando deixam os bancos da escola para assumir a cathedra de professora [] Para a classe superior em que o alumno jaacute sabe tomar suas notas e jaacute tem capacidade para consultar os compendios mais adiantadossoacute haacute vantagem nesse methodo nos primeiros annos poreacutem e bastante pequena a percentagem de meninos que jaacute podem fazer seus pontos e ou a professora tem que tomar sobre si o trabalho de compilaccedilatildeo e distribue em aula as notas passadas nos copiadores ou os alumnos satildeo obrigados a tomar seus apontamentos e entatildeo eacute um martyrio para a professora ter de

corrigil-os gastando seu tempo de repouso nesse trabalho fastidioso [] A mim se me afigura ainda uma desvantagem natildeo sendo provavel que a crianccedila de tatildeo pouca idade possa reter com precisatildeo o que ouviu em classe muitas vezes registraraacute erros que embora corrigidos jaacute lhe teratildeo deixado uma falsa impressatildeo no espirito E se este incoveniente eacute evitado dando-se a licccedilatildeo em dictado ou copia do quadro negro quer me parecer ainda assim que esse methodo mais se applica aacutes aulas de linguas sendo o tempo melhor aproveitado em explicaccedilotildees nas aulas de sciencias [] Em muitas escolas porem satildeo ainda empregados os compendios mas aqui surge uma nova objecccedilatildeo satildeo compendios que em geral satildeo postos entre as matildeos dessas crianccedilas na minha opiniatildeo natildeo estatildeo bastante ao alcance revelam elles muita erudiccedilatildeo mas isso prejudica a crianccedila que natildeo sabe discriminar a parte importante que deve ser retida da parte secundaria que poacutede ser deixada aacute margem e quando a professora toma um interesse directo no estudo de cada um de seus alumnos em particular encontramos em seus compendios trechos gryphados assignalando o mais importante e periodos inteiros numeros e datas entre parenthesis [] Parece-me pois de alguma utilidade o compendio que contenha soacute o essencial sem sobrecarregar a imaginaccedilatildeozinha apenas desabrochada da crianccedila poupando assim muito trabalho as nossas mestras e ensinando os nossos meninos sem os fatigar a estudar no seu livrinho muito facil muito bem impresso para natildeo canccedilar a vista muito sympathico para se tornar agradavel ao jovem estudante [] Estes pequenos compecircndios natildeo evitam a explicaccedilatildeo em aula seratildeo apenas auxiliares e daratildeo as professoras findo o trabalho da escola o repoulso despreoccupado com a certeza de terem o seu programma bem organizado contendo toda a materia exigida [] Sabemos por exemplo que as crianccedilas natildeo podem ainda pela reflexatildeo reter na Geographia as latitudes e longitudes nem tatildeo pouco as dimensotildees da Terra e sua populaccedilatildeo Aprenderatildeo ellas esses numeros mechanicamente para esquecer logo depoi nessas condiccedilotildees para que se ha de canccedilar-lhes a memoria quando mais tarde poderatildeo ter disso uma comprehensatildeo clara e facil Seraacute entatildeo opportuno aprofundar esses pontos [] Neste meu resumo supprimi quasi todos os numeros em classe isso poderaacute ser explicado de passagem Os Srs Professores que me derem a honra de criticar este trabalho me diratildeo se fiz bem [] Natildeo eacute este pequeno compendio que tera todas estas vantagens mas eacute um ensaio [] Ahi fica a ideia e seria uma grande felicidade para mim se o meu Compendio de Historia do Brasil e esta Geographia Elementar fossem os irmatildeos mais velhos de outros pequeninos compendios das materias exigidas nas aulas primarias sempre em estylo muito simples colocando a sciencia aacute altura da intelligencia dos nossos pequenos patricios (A autora 1919 MARTINS 1926 p 1)

Nesse enunciado quase um depoimento o sujeito (aliaacutes uma das poucas autoras

de obras didaacuteticas de Geografia) reconhecendo nem ao menos ser professora traz

a puacuteblico sua obra com base na experiecircncia adquirida na educaccedilatildeo dos proacuteprios

filhos motivada ademais apenas pelo seu interesse pela educaccedilatildeo Mas sua fala

apresenta fatos interessantes como a polecircmica que grassou a educaccedilatildeo em

princiacutepios do seacuteculo XX sobre a adoccedilatildeo ou natildeo do livro didaacutetico pelos discentes

abolir o livro para dar aulas por explicaccedilatildeo O argumento contraacuterio do sujeito eacute sobre

a exaustatildeo que esse meacutetodo pode acarretar agraves ldquoprofessorasrdquo Por um tempo parece

que essa foi uma praacutetica adotada no estado de Satildeo Paulo como evidencia este

outro sujeito

A condenaccedilatildeo eacute pueril e contraproducente Eliminados os livros de texto os professores passaram a ldquodizer pontosrdquo ou a dar apostilas o que eacute o mesmo e fazem-no clandestinamente embora sigam o meacutetodo da elaboraccedilatildeo sistemaacutetica das cartas pelos alunos o que fixa os conhecimentos Revelaram assim que o livro de texto eacute indispensaacutevel principalmente para crianccedilas de curso primaacuterio E que suprimindo-o para evitar a memorizaccedilatildeo como um processo ou expediente didaacutetico caiacutemos num embuste muitas vezes peor a memorizaccedilatildeo pela tradiccedilatildeo oral por intermeacutedio das liccedilotildees do mestre transformado em oraculo [] O que se deve proibir eacute que o livro faccedila tudo e substitua o trabalho de elaboraccedilatildeo das liccedilotildees Isso se consegue com a pratica quotidiana da fatura de mapas pelos alunos em classe e em casa Mas uma vez adotado o processo que se generalizou nas escolas paulistas o livro soacute pode em verdade auxiliar o trabalho de ambos mestre e disciacutepulo (o autor MENNUCCII 1936 p 11-12)

Ambos os sujeitos sinalizam para a inutilidade dessa medida pois o acesso ao

conhecimento apenas mudava de meio ficando mais trabalhoso da leitura para a

coacutepia

638 Posiccedilotildees constitutivas da bibliografia didaacutetica de Geografia quanto ao nacionalismo

O criteacuterio localidade eacute justamente o gatilho que colocaraacute em curso uma

produccedilatildeo paacutetria de manuais didaacuteticos em termos gerais Histoacuteria livros de leitura

livros de Geografia O modelo francecircs foi influente na maior parte da bibliografia em

anaacutelise Natildeo por uma questatildeo de modismo ou de coacutepia cultural O Brasil ao tempo

da Independecircncia e ateacute bem depois basicamente tinha uma intelectualidade muito

rudimentar em desenvolvimento com certeza natildeo tinha pesquisa seria natural

entatildeo a absorccedilatildeo de modelos externos Dentre outros motivos para essa influecircncia

de acordo com Bittencourt (2008) estavam as relaccedilotildees comerciais entre Brasil e

Franccedila e identidades culturais como o catolicismo Ademais o nacionalismo

brasileiro se formou no contexto de uma relativa repulsa agrave heranccedila dos portugueses

substituindo-se esse modelo pelas praacuteticas e perspectivas da Franccedila O que era

francecircs assemelhava-se a progresso ao moderno e Portugal naquele momento

era um paiacutes estagnado sem dianteiras em nenhuma aacuterea distante dos tempos

aacuteureos das grandes navegaccedilotildees e da prosperidade financeira que lhe

proporcionaram as colocircnias

A causa nacional natildeo foi o engajamento de sujeitos individuais perpassou

pela classe dos intelectuais mesmo quando um deles natildeo era tomado por nenhum

ou quase nenhum fervor nacional De Augusto Emiacutelio Zaluar portuguecircs naturalizado

brasileiro Duarte (2010 p 124) faz a seguinte anaacutelise ldquo[] acredita-se que Zaluar

natildeo tenha desenvolvido um sentimento nacionalista em relaccedilatildeo ao Brasil e tambeacutem

natildeo possuiacutesse nenhum interesse aleacutem do comercial e de sobrevivecircncia mas

acabou por contribuir no processo de constituiccedilatildeo de uma ideacuteia de Naccedilatildeo brasileira

e de desenvolvimento de uma literatura nacionalrdquo Zaluar foi examinador da

Instruccedilatildeo Puacuteblica e lente de Pedagogia durante a criaccedilatildeo da Escola Puacuteblica Normal

e autor de inuacutemeras obras dentre as quais uma Noccedilotildees elementares de geographia

(1880) e Liccedilotildees de coisas inanimadas e animadas (1876) escreveu obras como Os

heroacuteis brasileiros na campanha do sul (1865) e Peregrinaccedilatildeo pela proviacutencia de Satildeo

Paulo ndash 1860-1861 (1863) na qual se encontra abundantes superfiacutecies discursivas

tiacutepicas do dizer nacionalista

Eu que jaacute tenho admirado esse rio formoso [Paraiacuteba] em tantos pontos do seu curso natildeo posso subtrahir-me a um involuntaacuterio estremecimento de alegria quando no meio de minhas peregrinaccedilotildees me sahe rapidamente ao encontro a toalha liacutempida de suas aacuteguas abundantes Eacute pelas campinas e encostas drsquoeste soberbo rio que brotatildeo os dous mais preciosos productos da nossa lavoura os dous mais poderesos elementos de nossa riqueza o cafeacute a canna Respecto pois a este rio magestoso que como o Nilo converte em ouro os terrenos que enriquece com seu fecundo baptismo (ZALUAR 1863 p 14)

Percorri quase de um extremo a outro o que haacute de mais curioso na vossa bella grande e heroica proviacutencia de S Paulo Apreciei os homens observei os costumes e admirei sobretudo a opulecircncia e o vigor da natureza americanardquo (ZALUAR 1863 p I)

O discurso nacionalista em sua perspectiva teluacuterica possui um conjunto de

marcadores discursivos em sentido amplo eacute um discurso de demarcaccedilatildeo de uma

propriedade coletiva ndash a propriedade da paacutetria eacute um discurso comparativo em que o

nosso e o deles em diversos manejos colocam os objetos nacionais em destaque

pelo que satildeo iacutempares ou que se pretende que sejam eacute um discurso pontuado por

lexemas adjetivados pois eacute necessaacuterio estabeler as caracteriacutesticas sempre

positivas e exaltadas da propriedade nacional Conforme aferi anteriormente a

nacionalidade ndash matriz ideoloacutegica importante no ensino da Geografia ndash seraacute mais

uma posiccedilatildeo uma perspectiva construiacuteda para o espaccedilo nacional destacando-o

com independecircncia e relevacircncia em relaccedilatildeo agraves demais naccedilotildees (ou em volume

exclusivo) que propriamente uma abordagem dogmaacutetica entrelaccedilada no fio

discursivo da bibliografia didaacutetica

No entanto em primeira ordem claramente se posta nos discursos do

entorno da bibliografia

Nesse sentido o nacionalismo eacute uma rachadura entre a proposiccedilatildeo do

estudo da Geografia como cultura geral e sua proposiccedilatildeo como panorama e base

dos interesses nacionais A partir daiacute se cliva em diversas direccedilotildees e intensidades

inflamando-se de acordo com a imersatildeo poliacutetica e partidaacuteria que caracacteriza o

movimento histoacuterico do paiacutes

Jaacute na fundaccedilatildeo do discurso geograacutefico didaacutetico encontra-se a posiccedilatildeo da

nacionalidade expressando-se na enunciaccedilatildeo dos autores

Todo o bom Cidadatildeo deve segundo as suas forccedilas concorrer quanto lhe for possiacutevel para o bem da sociedade de que he membro esta verdade gravada no fundo de meu Coraccedilatildeo he quem me inspirou o desejo de offerecer ao Publico este pequeno Tractado de Geographia que collegi dos melhores authores modernos e o expuacutes com a clareza e methodo que me foi possiacutevel para proveito da Mocidade Brazileira dando huma pequena ideacutea da Geographia Astronomica e tocando de passagem por todos os lugares da Terra demorando-me mais no Brazil [] para cuja descripccedilatildeo me servi da Corographia do Reverendo Ayres e de algumas informaccedilotildees de pessoas fidedignas Conheccedilo que para melhor intelligencia eu devia gravar Mappas Geographicos para esclarecer as divisoens dos Paizes que descrevo mas as minhas circuntancias actuaes natildeo me offerecem as necessaacuterias proporccedilotildeens para huma empreza tatildeo delicada por tanto como seja o meu objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographia resolvi-me a publicar mesmo com essa falta na persuasatildeo de que as Cartas Universaes e Geraes poacutedem muito bem applicar-se-lhe com pequenas faltas que seratildeo supridas por qualquer haacutebil explicador (O autor TORREAtildeO 1824 p 11-12)

Neste fragmento analisado em outro contexto neste capiacutetulo vecirc-se o sujeito

construindo um valor para a autoria do livro didaacutetico de Geografia ndash coloca-o como

dever de indiviacuteduos comuns para o bem da sociedade incursa um destaque para o

espaccedilo nacional ndash antes praticamente natildeo contemplado no acircmbito do ensino para a

ldquomocidade brasileirardquo Sua relaccedilatildeo com o puacuteblico no momento em que o paiacutes

encontra-se independente e em construccedilatildeo permite certa irmandade vislumbrada no

lexema patriacutecio uma ressignificaccedilatildeo ao termo ldquobrasileirordquo que se durante o periacuteodo

colonial remetia-se apenas agrave condiccedilatildeo de nascimento agora vislumbra uma

comunidade nacional poliacutetico-territorial portanto

A escala de valor das abordagens nacionais continua bibliografia adentro

extensiva a outros paiacuteses relacionados aos interesses de uma educaccedilatildeo aos

brasileiros

Pela sua connexatildeo com larga parte da historia geral e por outro lado pelas suas relaccedilotildees com o Brasil eacute facil de ver que devia dar como dei mais desenvolvimento ao estudo de certas naccedilotildees do que ao de outros paizes Cousas que me pareceram inuteis ou excessivas em um livro elementalar omitti-as todavia rompendo assim mais de uma vez com a rotina (O autor ALI 1905 p IV)

Eacute o caso dos paiacuteses vizinhos ou dos paiacuteses mais proacuteximos em termos de relaccedilotildees

poliacuteticas e econocircmicas Pontualmente o elogio teluacuterico fruto tiacutepico do orgulho

patrioacutetico aparece desaparece e reaparece na bibliografia sendo mais frequente

nas deacutecadas iniciais do seacuteculo XX No fragmento abaixo a sequecircncia discursiva

ldquonossa extraordinaacuteria terrardquo traz toda uma conotaccedilatildeo de sentidos que perpassam

pela admiraccedilatildeo e entusiasmo inerentes ao sentimento da nacionalidade

Nelle se encontram minuciosas informaccedilotildees sobre a nossa extraordinaacuteria terra sendo ateacute um livro necessaacuterio em todas as estantes dos estudiosos (Commercio de Satildeo Paulo 20061908 SCROSOPPI 1911 p VI)

No proacuteximo fragmento o sujeito faz um conclame a que o tratamento feito ao

Brasil tenha ldquointeira verdaderdquo postulado de sua crenccedila sobre ter o territoacuterio

credenciais suficientes apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica para fazer figura digna

frente ao demais paiacuteses

Parece-nos pois ter todo cabimento um livro em que o Brasil actual seja descripto com inteira verdade procurando-se tornar bem patente aos olhos do mundo culto todo o immenso progesso que lhe trouxe o regimen republicano (O Autor BITTENCOURT 1916 p 2)

Estas credenciais satildeo longamente explicadas pelo sujeito

Natildeo eacute certamente tarefa faacutecil pois o nosso paiz tem passado por notaacuteveis transformaccedilotildees tanto materiaes como politicas e sociaes O que haacute

publicado sobre Geographia paacutetria jaacute em grande parte natildeo satisfaz aacutes exigencias modernas ao extraordinaacuterio progresso que o Brasil tem feito nestes ultimos 21 annos apoacutes a implantaccedilatildeo do novo regimen politico resultante da revoluccedilatildeo triumphante de 15 de Novembro de 1889 Aos olhos do observador imparcial ao investigador consciencioso certamente natildeo pode passar despercebido o caminhar do Brasil a largos passos pela senda do progresso acompanhando galhardamente a evoluccedilatildeo geral da humanidade Eacute jaacute hoje impossiacutevel passar o nosso paiz perante as naccedilotildees cultas como terra de botocudos Mas por isso mesmo suas condiccedilotildees materiaes econocircmicas e financeiras suas vias de comunicaccedilatildeo terrestres mariacutetimas e fluviais sua forccedila armada sua induacutestria e commercio tudo emfim tem experimentado o influxo benefico da expansatildeo civilizadora Infelizmente a todo esse desenvolvimento material mal corresponde a cultura intelectual Ainda campeia o anaphalbetismo nas classes populares retardando a marcha da locomotiva do progresso O problema da educaccedilatildeo nacional eacute momentoso e tem forccedilosamente de impor-se ao estudo e meditaccedilatildeo dos estadistas republicanos responsaacuteveis directos pelos futuros destinos desta grande paacutetria Todos poreacutem devem cooperar para o adiantamento da instrucccedilatildeo A imprensa a tribuna as conferencias publicas os livros didacticos muito podem conseguir em tal assumpto Por nossa parte procuraacutemos carregar algumas pedras para o monumento aproveitando o tempo que nos sobra do exerciacutecio activo do magisteacuterio para a confecccedilatildeo de algumas obras que sirvam aacute mocidade estudiosa (O Autor BITTENCOURT 1916 p 1-2)

Para o sujeito o regime republicano perpetrou no paiacutes transformaccedilotildees notaacuteveis ndash

poliacuteticas e sociais perpceptiacuteveis pela imparcialidade da qual explicitamente natildeo

compartilha Haacute uma visatildeo gloriosa nos ldquolargos passosrdquo que percorrem a ldquosenda do

progressordquo fazendo companhia galharda agrave ldquoevoluccedilatildeo geral da humanidaderdquo o que

faz da naccedilatildeo uma superaccedilatildeo do que se suponha ser antes ndash ldquoterra de botocudosrdquo ndash

aos olhos dos paiacuteses civilizados Tais passos se materializam nas ldquovias de

comunicaccedilatildeo terrestres mariacutetimas e fluviaisrdquo na ldquoforccedila armadardquo na ldquoinduacutestria e

commerciordquo expressatildeo ldquoda expansatildeo civilizadorardquo Haacute o poreacutem da ldquocultura

intelectualrdquo em descompasso agrave cultura material o analfabetismo popular colocado

como empecilho ao progresso lexema chave dos partidaacuterios republicanos E

caracteriacutestico da oratoacuteria nacionalista haacute a confianccedila no futuro para superaccedilatildeo dos

valores e percalccedilos que impeccedilam uma gloacuteria plena da paacutetria a questatildeo educacional

eacute momentacircnea a ser resolvida pelos ldquoestadistas republicanosrdquo ldquoresponsaacuteveis

directos pelos futuros destinos desta grande paacutetriardquo E ainda tipicamente ao dizer

patrioacutetico congraccedila os nacionais a esse esforccedilo pela paacutetria ldquotodos poreacutem devem

cooperar para o adiantamento da instrucccedilatildeordquo Quem seria esse todo ldquoA imprensa a

tribuna as conferencias publicas os livros didacticosrdquo dentre outros sendo com os

livros a cooperaccedilatildeo do sujeito

A partir dos anos 1920 vecirc-se um compromentimento maior da Geografia

escolar com a causa nacional A ideologia nacional-patrioacutetica migraraacute dos discursos

do entorno registrados ou natildeo nos livros didaacuteticos e penetraraacute no proacuteprio dizer

sobre as coisas do Brasil Essa saiacuteda dos bastidores viraacute ao propoacutesito de dar uma

visatildeo aos jovens e agraves crianccedilas sobre os assuntos da paacutetria

Cumpre abrir diante dos olhos das geraccedilotildees novas o quadro bem amplo do nosso paiz para que o contemplem Ha tanto mister em estudal-o quanto pouco eacute o que se tem feito para tal O Brasil eacute um mundo e merece bem que delle se occupe a maior e principal parte de uma obra que destinada as escolas commerciaes e tambem compulsavel por todos os que se interessam pela vida economica modema (O autor 19-2-1929 XAVIER 1929 p 7)

Haacute de nascer nessas instacircncias o endosso ao paiacutes-continente o paiacutes do futuro o

paiacutes potecircncia que seraacute comum em vaacuterios momentos histoacutericos no futuro da

bibliografia didaacutetica de Geografia

Sente-se agrave entrada dos anos 1930 a temperatura dessa ideologia que se

faria acompanhar de uma das primeiras ditaduras poliacuteticas nacionalista ndash o Estado

Novo ndash internalizando-se amplamente do dizer didaacutetico-geograacutefico

Um bom autor deve considerar o conjuncto historico e geographico Deve pocircr o homem no meio como agente economico e traccedilar-lhe o papel [] Depois de quatro seculos de preparaccedilatildeo chegou o momento da acccedilatildeo Tirar das suas immensas riquezas o quinhao que o destino lhe deu e o seu dever Um paiz natildeo chega inutilmente a 40 miIhotildees de habitantes e natildeo occupa impunemente oito milhotildees e meio de kilometros quadrados Para gozar e dominar esse patrimonio e preciso armar-se cavalleiro A tendencia agora eacute para os phenomenos economicos A phase consquistadora passou Passou a phase militar Estivemos tres seculos e meio no periodo das experiencias politicas Toda a sorte de erros commettemos Entretanto grandes cousas fizemos Erguemos uma nacionalidade Fixaacutemos os contornos garantimos a nossa soberania Desbravamos o sertatildeo libertamos os escravos creamos um commercio [] Passou pois a phase defensiva Entramos decisivamente na era das realizaccedilotildees O periodo critico da infancia esta transposto O mal do crescimento deixou laivos profundos mas deixou ensinamentos Enveredamos abertamente para a competiccedilatildeo internacional O Brasil eacute jaacute uma potencia com que o mundo conta Precisamos nos apparelhar para sermos dignos da espectativa mundial O que nos cumpre eacute fazer-nos fortes pela produccedilatildeo e pelo commercio respeitados pela satilde politica amados pelo cavalheirismo uteis pelo intercambio O ensino pratico vae resolver esses problemas (O autor 19-2-1929 XAVIER 1929 p 12-13)

A extensatildeo do territoacuterio e as riquezas naturais satildeo acordadas no contexto da

expansatildeo industrial e do acirramento da loacutegica capitalista que comeccedila a esboccedilar-se

no paiacutes Eacute o despertar de ldquoquatro seculos de preparaccedilatildeordquo de ldquoexperiencias politicasrdquo

nas quais o esboccedilo da nacionalidade fora traccedilado (ldquoerguemos uma nacionalidaderdquo)

se consolidara a soberania se tomara posse das extensotildees sertanejas devendo-se

partir portanto da defesa para a accedilatildeo para a ldquocompeticcedilatildeo internacionalrdquo

O Brasil potecircncia estava emergindo de suas condiccedilotildees histoacuterico-ideoloacutegicas

e essa perspectiva passaria agora mais do que nunca a irmanar-se com o discurso

didaacutetico da Geografia

64 Livro escolar de Geografia e representaccedilotildees sobre o ensino geograacutefico no periacuteodo em questatildeo

Notadamente o periacuteodo histoacuterico delineado na pesquisa sobretudo nas

deacutecadas iniciais foi marcado pela ausecircncia de livros A Revista do Ensino

publicaccedilatildeo mineira em ediccedilatildeo comemorativa ao centenaacuterio da lei de 25 de outubro

a esse propoacutesito tem um depoimento interessante sobre a questatildeo dos livros

quando afirma

Natildeo havia livros o mestre tinha de fazer cartas para todos os disciacutepulos Depois do a-b-c a carta de nomes e depois a carta de fora O mestre e os proacuteprios meninos obtinham dos negociantes cartas comerciais para leitura na escola os proacuteprios pais as forneciam e quando faltavam recorria-se aos cartoacuterios onde o mestre obtinha e agraves vezes comprava autos antigos escritos ainda com pena de pato que eram o terror da meninada Eu mesmo passei pelo supliacutecio de decifrar as abreviaturas dos escrivatildees do tempo drsquoel rei (PEREIRA 1927 p 21)

Oliveira Guimaratildees Bomeacuteny (1984 p 23) corroboram esse depoimento

Dos relatos sobre a histoacuteria da literatura didaacutetica no Brasil sabemos que tudo comeccedilou e foi assim ateacute muito longe no tempo com a leitura de cartas manuscritas que professores e pais de alunos forneciam Capistrano de Abreu chegou a atribuir a carecircncia de documentos antigos no Brasil ao consumo deles nas escolas para leitura dos alunos

Vem daiacute a etimologia entre noacutes das cartilhas como gecircnero de letramento Mas com

certeza houve livros que se fizeram presenccedila na vida escolar de professores e de

alunos

Em se tratando da relaccedilatildeo entre livro e ensino de Geografia podemos

indagar como era o ensino dessa disciplina Como os livros participavam desse

cotidiano Para encerrar a trajetoacuteria percorrida com essa disciplina repasso por

algumas representaccedilotildees culturais sobre como a educaccedilatildeo geograacutefica se manifestou

no ambiente escolar e na sociedade utilizando-me para isso de alguns recortes

dos discursos memorialista e ficcional para precisar representaccedilotildees do ensino de

Geografia no seacuteculo XIX

Na realidade contemporacircnea natildeo seria necessaacuterio um estudo formal para

que o indiviacuteduo comum tenha uma noccedilatildeo da diversidade e da constituiccedilatildeo do

mundo do paiacutes em que vive da regiatildeo que habita das relaccedilotildees sociais

estabelecidas a partir da perspectiva do espaccedilo geograacutefico nem sempre esse saber

eacute manifesto e percebido como geograacutefico poreacutem integra as praacuteticas cotidianas pois

a informaccedilatildeo geograacutefica atravessa abundantemente o entretenimento a imprensa

as relaccedilotildees e a circulaccedilatildeo humanas atuais Ateacute o seacuteculo XIX e mesmo muito depois

contudo a cultura ampla e geral era domiacutenio de poucos dos letrados dos que

tinham recursos e possibilidades para viajar e consumir essa cultura O elemento

comum tinha uma percepccedilatildeo bem limitada do mundo como apresentado por

Machado de Assis (1997a p 754) por meio da personagem principal do romance

Quincas Borba

Para laacute da barra o mar imenso o ceacuteu fechado e a solidatildeo Rubiatildeo renovou os sonhos do mundo antigo criou uma Atlacircntida sem nada saber da tradiccedilatildeo Natildeo tendo noccedilotildees de geografia formava uma ideacuteia confusa dos outros paiacuteses e a imaginaccedilatildeo rodeava-os de um nimbo misterioso Como natildeo lhe custava viajar assim navegou de cor algum tempo naquele vapor alto e comprido sem enjocirco sem vagas sem ventos sem nuvens

Esse recorte denomina a que vinha o ensino de Geografia o que instituiacutea

seu objetivo na forma mais simples de apresentar essa formaccedilatildeo discursiva

introduzir o aprendiz nas noccedilotildees geograacuteficas A cultura predominante natildeo mais se

restringia ao universo cristatildeo grego ou romano ndash centralidade nos estudos claacutessicos

e religiosos A Europa ascendia como centro cultural e grande parte do mundo era

sua periferia com isso houve no seacuteculo XIX aproximadamente em seus meados

uma crise dos estudos claacutessicos e por conseguinte um deslocamento no eixo dos

objetos de estudo escolar o que eacute particularmente notaacutevel na Histoacuteria e na

Geografia bem como no fortalecimento do ensino de mateacuterias cientiacuteficas Noccedilotildees e

elementos satildeo lexemas abundantemente utilizados no discurso geograacutefico didaacutetico

apresenta-se nos tiacutetulos da bibliografia didaacutetica nas orientaccedilotildees curriculares na

legislaccedilatildeo pertinente agrave questatildeo No caso Rubiatildeo apresentava dificuldades para

supor a organizaccedilatildeo do mundo seu funcionamento sua constituiccedilatildeo O mais comum

ao brasileiro da eacutepoca geralmente sem bases da educaccedilatildeo formal era conhecer

unicamente a geografia pessoal e representaccedilotildees distorcidas dos demais espaccedilos

Esta era uma realidade tiacutepica dos tempos precedentes agrave escolarizaccedilatildeo A literatura

popular de todos os lugares reflete essa neblina geograacutefica apresentando enredos

entranhados em reinos e paiacuteses distantes apresentando florestas sem

especificaccedilotildees proacuteprias povos de cultura homogecircnea

Neste periacuteodo portanto havendo ensino de Geografia e houve alccedilava um

alcance restrito Todavia como eram as relaccedilotildees do ensino entatildeo existente

No recorte a seguir encontramos no romance A Normalista de Adolfo

Caminha um tiacutepico cotidiano do ensino de Geografia em uma escola do ensino

Normal que merece ser transcrito e examinado pela diversidade de detalhes

Ao meio dia pontualmente chegou o professor de geografia o Berredo um homenzarratildeo alto grosso e trigueiro barba espessa e rente quase cobrindo o rosto olhos pequenos e concupiscentes Cumprimentou o diretor muito afetuoso limpando o suor da testa E consultando o reloacutegio

- Meio dia Satildeo horas de dar o meu recado Com licenccedila

Contavam-se na sala drsquoaula pouco mais de umas dez alunas quase todas de livro aberto sobre as carteiras silenciosas agora agrave espera do professor Maria ocupava um dos bancos da primeira fila

Ao entrar o Berredo houve um arrastar de peacutes todas simularam levantar-se e o ilustre preceptor sentou-se na forma do louvaacutevel costume passeando o olhar na sala vagarosamente com bonomia paternal tal um pastor drsquoovelhas a velar o casto rebanho

A sala era bastante larga para comportar outras tantas disciacutepulas com janelas para a rua e para os terrenos devolutos muito ventilada Era ali que funcionavam as aulas de ciecircncia fiacutesicas e naturais em horas diferentes das de geografia Natildeo se via um soacute mapa uma soacute carta geograacutefica na paredes onde punham sombras escuras peles de animais selvagens colocadas por cima de vidraccedilas que guardavam intactos aparelhos de quiacutemica e fiacutesica redomas de vidro bojudas e reluzentes velhas maacutequinas pneumaacuteticas nunca servidas pilhas eleacutetricas de Bunsen incompletas sem o amaacutelgamas de zinco os condutores pendentes num abandono glacial coleccedilotildees de minerais numerados em caixinhas no fundo da sala em prateleiras volantes Nenhum indiacutecio poreacutem de esfera terrestre

O professor pediu um compecircndio que folheou de relance Qual era a liccedilatildeo A Oceania Pois bem

- Diga-me senhora Da Maria do Carmo A Oceania eacute ilha ou continente

- Maria fechou depressa o compecircndio que estivera lendo muito embaraccedilada e fitando o mestre batendo com os dedos na carteira com um risinho

- Somente uma parte da Oceania pode ser considerada um continente

- Perfeitamente bem

E perguntou radiante como se chama essa parte da Oceania que pode ser considerada continente explicou demoradamente e categoricamente a natureza das ilhas australianas elogiando as belas paisagens claras da Nova Zelacircndia a sua vegetaccedilatildeo opulenta as riquezas do seu solo o seu clima a sua fauna com entusiasmo de touriste animando-se pouco e pouco dando pulinhos intermitentes na cadeira de braccedilos que gemia ao peso de seu corpo

Maria muito seacuteria sem mover-se ouvia com atenccedilatildeo o olhar fixo nos olhos do Berredo bebendo-lhe as palavras admirando-o adorando-o quase como se visse nele um doutor em ciecircncias um saacutebio consumado um grande espiacuterito Decididamente era um talento o Berredo Gostava imenso de o ouvir falar achava-o eloquumlente claro expliacutecito capaz de prender um auditoacuterio ilustrado Era a sua aula predileta a de geografia o Berredo tornava-a mais interessante ainda Os outros o professor de francecircs e o de ciecircncias nem por isso davam sua liccedilatildeo como papagaios e adeus ateacute amanhatilde O Berredo natildeo senhores tinha um excelente meacutetodo de ensino sabia atrair a atenccedilatildeo das alunas com descriccedilotildees pitorescas e pilheacuterias encaixadas a jeito no fio do discurso

ldquoMuitas ilhas da Oceania dizia ele coccedilando a barba satildeo habitadas por selvagens antropoacutefagos como os da Ameacuterica antes de sua descobertardquo

ldquoImaginem as senhoras que horror Homens devorando-se uns aos outros comendo-se com a mesma satisfaccedilatildeo com a mesma voracidade com o mesmo canibalismo com que noacutes outros civilizados trinchamos um beef-steak ao almoccedilordquo

Houve um casquinada de risos agrave surdina

Agora se o Zuza [diretor da instituiccedilatildeo] te come disse baixinho por traacutes de Maria do Carmo uma moccediloila de pincenez Toma cuidado menina o bicho tem cara de antropoacutefago

ldquoE note-se continuou o Berredo as proacuteprias mulheres natildeo escapam agrave fuacuteria das tribos inimigas devoram-se tambeacutemrdquo

- Virgem fez Maria com espanto

ldquoAs senhoras com certeza preferem viver no Cearaacute a habitar a Papuaacutesiardquo

Credo fizeram muitas a uma voz

E no Brasil haacute desses selvagens perguntou estouvadamente uma loura que se escondia na uacuteltima fila estirando o pescoccedilo

O pedagogo sorriu passando a matildeo cabeluda na barba e muito delicado num tom beneacutevolo

ldquoAtualmente existem poucos Restos de tribos extintasrdquo

E continuou a falar com a loquacidade de um sacerdote a pregar a moral explicando a vida e costumes dos selvagens da Nova Zelacircndia citando Juacutelio Verne cujas obras recomendava agraves normalistas com um ldquoprecioso tesouro de conhecimentos uacuteteis e agradaacuteveisrdquo Lessem Juacutelio Verne nas horas drsquooacutecio era sempre melhor do que perder tempo com leituras sem proveito muitas vezes improacuteprias de uma moccedila de famiacutelia

Vaacute esperando murmurou a Liacutedia

ldquoEu estou certo dizia o Berredo convicto de que as senhoras natildeo lecircem livro obscenos mas refiro-me a esses romances sentimentais que as moccedilas geralmente gostam de ler umas historiazinhas fuacuteteis de amores galantes que natildeo significam absolutamente coisa alguma e soacute servem de transtornar o espiacuterito agraves incautas Aposto em como quase todas as senhoras conhecem a Dama das cameacutelias a Luciacuteolardquo

Quase todas conheciam

ldquoEntretanto rigorosamente satildeo peacutessimos exemplosrdquo

Tomou um gole drsquoaacutegua e continuando

ldquoNada As moccedilas deviam ler somente o grande Juacutelio Verne o propagandista das ciecircncias Comprem a Viagem ao Centro da Terra Os filhos do Capitatildeo Grant e tantos outros romances uacuteteis e encontraratildeo neles alta soma de ensinamentos valiosos de conhecimentos praacuteticosrdquo

O contiacutenuo veio anunciar que estava terminada a hora (CAMINHA 1936 p 76-79)

Vaacuterias nuances da educaccedilatildeo geograacutefica podem ser percebidas nesse

recorte Em primeiro lugar nota-se o nuacutemero reduzido de alunos por turma ndash dez

normalistas no caso O seacuteculo XIX natildeo teve um movimento massivo de

escolarizaccedilatildeo sobretudo no ensino secundaacuterio A massificaccedilatildeo do ensino brasileiro

teria um movimento caracteriacutestico apenas no iniacutecio no seacuteculo XX notadamente a

partir dos anos 1930 nos primeiros sinais de um movimento desse tipo ndash embora

apenas nos anos 1990 se teria uma intensificaccedilatildeo nesse sentido Toda a histoacuteria

editorial dos livros didaacuteticos nos oitocentos por meio de suas ediccedilotildees indicia esse

acesso restrito agrave educaccedilatildeo formal baixas tiragens longo periacuteodo entre as reediccedilotildees

quando as havia

Haacute no recorte ainda vestiacutegios do saber ensinado e do saber apreendido No

recorte anterior temos a representaccedilatildeo de um adulto Rubiatildeo que havia sido

professor no interior de Minas Gerais escolarizado portanto mas que natildeo tinha

uma percepccedilatildeo formalizada do mundo sendo propenso mais agrave fantasia que agrave

realidade em seus pensamentos Neste trecho de A Normalista vemos uma

situaccedilatildeo de ensino e aprendizado da Geografia inclusive com a utilizaccedilatildeo do livro no

ensino ldquoO professor pediu um compecircndio que folheou de relance Qual era a liccedilatildeo

A Oceania Pois bemrdquo e tambeacutem a libertaccedilatildeo desse discurso ndash ldquo[] elogiando as

belas paisagens claras da Nova Zelacircndia a sua vegetaccedilatildeo opulenta as riquezas do

seu solo o seu clima a sua fauna com entusiasmo de touriste animando-se pouco

e pouco dando pulinhos intermitentes na cadeira de braccedilos que gemia ao peso de

seu corpordquo O oposto condizente agrave situaccedilatildeo dos professores de francecircs e de

ciecircncias perfeitamente pode ser extendido a outros professores de Geografia pois

era um comportamento tiacutepico muitas vezes testemunhado e entrevisto por

historiadores da educaccedilatildeo ldquo[] davam sua liccedilatildeo como papagaios e adeus ateacute

amanhatilderdquo ndash o despreparo do professor frequentemente coadunava com as poliacuteticas

de favorecimento que usurpavam dos cargos docentes como moeda poliacutetica para

distribuiccedilatildeo de empregos aleacutem do despreparo pedagoacutegico e de formaccedilotildees

especiacuteficas na aacuterea de atuaccedilatildeo (BITTENCOURT 2008)

O recorte vislumbra tambeacutem a constituiccedilatildeo dos ambientes fiacutesicos das salas

de aula de Geografia no ensino secundaacuterio disposiccedilatildeo precaacuteria de materiais os

mapas e esfera no exemplo limitados ainda talvez pelo dispecircndio desses artigos

graacuteficos Adiante demonstro que Helena Morley101 (1988 p 87) faz referecircncia a

essa escassez ldquoeu natildeo tenho mapa e mesmo que tivesse natildeo estudaria no mapardquo

Lembro que era um tempo informacional e iconicamente sem abundacircncia embora o

ensino da Geografia nunca tenha podido indispor-se das representaccedilotildees sua

essecircncia para aleacutem dos significados e sentidos instituiacutedos parte da compreensatildeo da

materialidade do mundo No caso acima a sala era compartilhada com as disciplinas

de ciecircncias fiacutesicas e naturais e ali entre o aparelhamento dessas mateacuterias ldquoNatildeo se

via um soacute mapa uma soacute carta geograacutefica nas paredes [] Nenhum indiacutecio poreacutem

de esfera terrestrerdquo A posiccedilatildeo que o sujeito narrador assume de forma criacutetica deixa

entrever o pressuposto de que uma sala de ensino de Geografia deveria dispor de

certos materiais como mapas e esferas ndash algo que talvez fosse possiacutevel encontrar

em algumas instituiccedilotildees a exemplo do Coleacutegio Pedro II ou Liceus provinciais

Observa-se igualmente a organizaccedilatildeo curricular com professores

nomeados para cada disciplina em horaacuterios proacuteprios e a presenccedila de compecircndios

em uso pelo professor e pelas discentes O ensino de Geografia pode ser notado a

princiacutepio como classificatoacuterio o que eacute uma ilha o que eacute um continente como essas

definiccedilotildees enquadrariam a Oceania O dizer do professor eacute o que difere a estrutura

do livro de ensino e aprendizagem o ldquoentusiamo touristerdquo que ldquo[] com descriccedilotildees

pitorescas e pilheacuterias encaixadas a jeito no fio do discursordquo despertava o interesse

das discentes particularmente da personagem Maria E aqui se tem um exemplo

101

Pseudocircnimo de Alice Dayrell Caldeira Brant (1880-1970) que publicou seu diaacuterio da adolescecircncia em 1942

notoacuterio em que a Geografia tambeacutem foi uma disciplina de predileccedilatildeo acentuada pelo

carisma do professor mas atrativa em si para a personagem

As praacuteticas metodoloacutegicas pouco modificaram e pouco se modificariam ao

fim do periacuteodo delimitado nesta tese Manteve-se a memorizaccedilatildeo como forma de

aquisiccedilatildeo do saber por meio de liccedilotildees ou de pontos ndash trechos demarcados pelos

professores para estudo aferido nos testes ou verificaccedilatildeo cotidiana do aprendizado

Domingo 17 de setembro de 1893

Ontem foi dia de decorar pontos de Geografia Eu natildeo tenho mapa e mesmo que tivesse natildeo estudava no mapa eacute tatildeo mais faacutecil decorar A sala de visitas estava vazia eu me tranquei laacute e fiquei estudando alto passeando de um lado para outro Vovoacute abriu a porta umas duas vezes durante esse tempo para me dizer Chega minha filha isto cansa Vocecirc eacute tatildeo magrinha Mas eu respondia Natildeo vovoacute deixa-me decorar todos os pontos de uma vez depois recordar eacute mais faacutecilrdquo (MORLEY 1998 p 87)

- O diretor o diretor veio avisar a Jacintinha uma feiosa drsquoolho vazado com sinais de bexiga no rosto e que estava acabando de decorar alto a liccedilatildeo de geografia (CAMINHA 1936 p 75)

Memorizar recordar a memorizaccedilatildeo e transpocirc-la para os testes orais e

escritos foram movimentos que perfaziam o ato de estudar e aprender neste

periacuteodo e ateacute depois dele ldquoa forma de ensino que predominou de modo

generalizado foi a da memorizaccedilatildeo Outro tipo de ensino natildeo poderia conciliar-se

com a geografia descritivardquo (ISSLER 1973 p 76) Tatildeo automaacutetica era essa

metodologia de ensino e de aprendizagem que um autor didaacutetico conforme

menciona Issler estendendo o texto um pouco aleacutem com explicaccedilotildees notas e

observaccedilotildees foi especiacutefico ao dividir sua superfiacutecie discursiva com dois tamanhos

de tipos graacuteficos alertando ldquoaquilo que estaacute em typo miudo eacute soacute para lerrdquo

(BURGAIN 1885 p 71) sem a necessidade de decorar portanto

Por extensatildeo as avaliaccedilotildees procuravam aferir esse saber memorizado

tanto nas avaliaccedilotildees escritas quanto nas orais

Saacutebado 9 de dezembro de 1893

Natildeo passei do primeiro ano soacute e soacute por falta de sorte e mais nada

No exame de Geografia quase ningueacutem deixa de colar Todas noacutes preferimos fazer sanfona eacute tatildeo mais faacutecil Fiz todas com o maior cuidado e fui para o exame com o bolso cheio delas

Saiu para a prova escrita o ponto Rios do Brasil Oacutetimo Tirei minha sanfoninha ia copiando e dizendo alto para as outras tambeacutem escreverem Penso que foi isto que deu na vista Seu Artur Queiroga desce do estrado fica perto de minha mesa e eu sem poder continuar a escrever Meti a sanfona na carteira e pus as matildeos na mesa Ele disse Vamos continue Eu estava nessa hora descrevendo o Rio Amazonas Nem sei por que me veio a ideacuteia de falar o que falei foi o que atrapalhou tudo Ele repetia Vamos Escreva Eu respondi Natildeo posso Seu Artur Estou afogada no Rio Amazonas Ele dobrou uma gargalhada que chamou a atenccedilatildeo dos outros examinadores e eles vieram tambeacutem para a minha mesa Seu Artur disse Pois vou salvaacute-la Vamos ver se tirando vocecirc do Amazonas vocecirc segue e foi dizendo Corre para aqui recebe estes afluentes desemboca acolaacute Mas foi impossiacutevel seguir A coisa soacute serviu para distrair os professores as outras colarem sossegadas e eu e a minha turma natildeo fazermos exame

Tive de entregar a sanfona e Seu Artur soacute querendo que eu explicasse por que fazia aquilo em vez de estudar Respondi que eu mesma natildeo sabia que me ensinaram assim e eu achei o sistema bom

Depois desse exame os outros foram na mesma toada Vinham os professores se distrair comigo e as outras colavam descansadas Foi minha sorte Que fazer (MORLEY 1998 p 112)

Aleacutem das provas escritas eram comuns os exames orais sobretudo aqueles

perioacutedicos que semanalmente procuravam aferir o aprendizado dos uacuteltimos dias ndash

como a ldquosabatinardquo praacutetica instituiacuteda desde os jesuiacutetas ndash ou para afericcedilatildeo do

desenvolvimento das turmas para autoridades escolares como o diretor

- Diga-me a Sra D Sofia de Oliveira quantos satildeo os poacutelos da Terra Veja como responde eacute uma pequena recapitulaccedilatildeo Natildeo se acanhe Quantos satildeo os poacutelos da Terra

O Berredo lembrou-se de fazer uma ligeira recapitulaccedilatildeo para dar ideacuteia do adiantamento de suas alunas

Sofia de Oliveira era uma pequerrucha de olhos acesos morena verdadeiro tipo de cearense queixo fino em angulo reto fronte estreita olhos negros e inteligentes

- Quantos satildeo os poacutelos da Terra fez ela olhando para o teto como procurando a resposta embatucada Os poacutelos Os poacutelos satildeo quatro

Risos

- Quatro Pelo amor de Deus Tenha a bondade de nomeaacute-los

- Norte sul leste oeste

Nova hilaridade

- Ateacute eacute uma das minhas melhores alunas Natildeo confunda tornou para a normalista Olhe que satildeo poacutelos e natildeo pontos cardeais

Outro disparate

- Haacute uma infinidade de poacutelos

- Ora Adiante D Maria do Carmo

Maria estremeceu embatucando tambeacutem sem dizer palavra sufocada A presenccedila do Zuza anestesiava-a incomodava-lhe atrozmente Sob a pressatildeo do olhar magneacutetico do estudante que a fixava sua fisionomia transformou-se

- Entatildeo D Maria Tambeacutem estaacute acanhada

- Passe adiante pediu o Zuza compadecido

Duas laacutegrimas rorejaram nas faces da normalista caindo com um sonzinho seco sobre a carteira Estava numa das suas crises nervosas Outras duas laacutegrimas acompanharam a primeira vieram outras outras e Maria cobrindo o rosto com seu lencinho de rendas desatou a chorar escandalosamente

- Sente-se incomodada tornou o Berredo D Maria Olhe Tenha a bondade de levantar a cabeccedila

- Estaacute nervosa disse o presidente com o seu belo ar de ceacuteptico elegante

Pudores de donzela murmurou o diretor Isso acontece

O Berredo passou a matildeo no bigode desapontado e encontrando o olhar faiscante de Liacutedia A senhora Quantos satildeo os poacutelos da Terra

- Dois o poacutelo norte e o poacutelo sul

- Perfeitamente confirmou o professor batendo com o peacute no estrado e esfregando as matildeos satisfeito Dois minhas senhoras disse mostrando os dois dedos abertos em acircngulo dois O poacutelo norte que eacute o extremo norte da linha imaginaacuteria que passa pelo centro da Terra e o poacutelo sul isto eacute a outra extremidade diametralmente oposta eis aqui estaacute Estaacute ouvindo D Sofia Estaacute ouvindo D Maria do Carmo Satildeo os dois poacutelos da Terra

- Estou satisfeito disse o presidente erguendo-se (CAMINHA 1936 p 80-82)

A emulaccedilatildeo e seu contraacuterio dividiam o caminho pedagoacutegico colocando o

aluno entre o galardatildeo (estrelas menccedilotildees honrosas medalhas de prata e de ouro) e

a desonra (desfiles ou uso de ldquoorelhas de burrordquo bolos de palmatoacuteria ajoelhamento

sobre gratildeos e outros castigos corporais e constrangimentos morais)

O domiacutenio da onomaacutestica e da estatiacutestica norteava o sucesso da

aprendizagem geograacutefica

Entrei pela geografia como em casa minha As anfractuosidades marginais dos continentes desfaziam-se nas cartas por maior brevidade do meu trabalho os rios dispensavam detalhes complicados dos meandros e afluiacuteam-me para a memoacuteria abandonando o pendor natural das vertentes as cordilheiras imensa tropa de amestrados elefantes arranjavam-se em sistemas de orografia faciacutelima reduzia-se o nuacutemero das cidades principais do mundo sumindo-se no chatildeo para que eu natildeo tivesse de decorar tanto nome arredondava-se a cota das populaccedilotildees perdendo as fraccedilotildees importunas com prejuiacutezo dos recenseamentos e maior gravame dos uacuteteros nacionais uma mnemocircnica feliz ensinava-me a enumeraccedilatildeo dos estados e das proviacutencias Graccedilas agrave destreza do Sanches natildeo havia incidente estudado da superfiacutecie terrestre que se me natildeo colasse ao ceacuterebro como se

fosse minha cabeccedila por dentro o que eacute por fora a esfera do mundo (POMPEacuteIA 1971 p 27)

A formaccedilatildeo de professores era outra questatildeo ainda insoluacutevel Em pleno

seacuteculo XX essa situaccedilatildeo passaria por transformaccedilotildees embora sem universalizaccedilatildeo

a proacutepria criaccedilatildeo das escolas normais sinalizava as tentativas nesse sentido Uma

crocircnica de Graciliano Ramos (2007 p 148-149) todavia indica alguma reflexatildeo do

perfil meacutedio do professor no interior do paiacutes

Realmente esse professor que para livrar-se de um obstaacuteculo mistura alhos com bugalhos mete os peacutes pelas matildeos deixa os rapazes em jejum natildeo eacute daqui nem dali eacute de quase todas as cidades do interior Muacutesico de sete instrumentos criatura fatigada depois de exercer dez ofiacutecios sem se fixar em nenhum esbarra com um dilema temeroso ndash queimar os miolos ou abrir uma escola [] Creio que os professores sertanejos satildeo com diferenccedilas pouco sensiacuteveis indiviacuteduos como eu Ensinam antes de aprenderem Talvez fosse mais razoaacutevel aprender para ensinar Mas poderei eu sensuraacute-los Natildeo decerto Todos precisamos viver E desejamos naturalmente aparentar quem nao somos

O domiacutenio de conteuacutedos geograacuteficos considerando-se a vida cultural

brasileira acondicionava-se ao verniz cultural necessaacuterio agrave educaccedilatildeo e agrave ilustraccedilatildeo

dos indiviacuteduos (ROCHA 1996) inclusive das mulheres

Digam-me se em tais condiccedilotildees a vida de Caetaninha podia ser alegre Natildeo lhe faltava nada eacute verdade porque o padrinho era rico Foi ele mesmo que a educou desde os sete anos quando perdeu a mulher ensinou-lhe a ler e escrever francecircs um pouco de histoacuteria e geografia para natildeo dizer quase nada e incumbiu uma das mucamas de lhe ensinar crivo renda e costura Tudo isso eacute verdade (ASSIS 1997b p 457-458)

No entanto a educaccedilatildeo geograacutefica igualmente entalhou com a Histoacuteria

nesse contexto o discurso patrioacutetico (VLACH 1988) natildeo poucas vezes inflamado

como na saacutetira feita por Lima Barreto

Durante os lazeres burocraacuteticos estudou mas estudou a Paacutetria nas suas riquezas naturais na sua histoacuteria na sua geografia na sua literatura e na sua poliacutetica Quaresma sabia as espeacutecies de minerais vegetais e animais que o Brasil continha sabia o valor do ouro dos diamantes exportados por Minas as guerras holandesas as batalhas do Paraguai as nascentes e o curso de todos os rios Defendia com azedume e paixatildeo a proeminecircncia do Amazonas sobre todos os demais rios do mundo Para isso ia ateacute ao crime de amputar alguns quilocircmetros ao Nilo e era com este rival do seu rio que ele mais implicava Ai de quem o citasse na sua frente Em geral calmo e

delicado o major ficava agitado e malcriado quando se discutia a extensatildeo do Amazonas em face da do Nilo (BARRETO 1981 p 27)

Estes recortes satildeo representativos mas distantes de caracterizar o

significado e a presenccedila cultural da Geografia na vida brasileira um flanco de

pesquisa que ainda requer muita dedicaccedilatildeo No entanto aborda suficientemente a

questatildeo para deixar entrever algo do que representou e como agiu a Geografia e

seu ensino nas deacutecadas iniciais de sua trajetoacuteria

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esta pesquisa partiu do pressuposto de que na bibliografia didaacutetica de

Geografia contemporacircnea eacute claramente perceptiacutevel a correlaccedilatildeo da produccedilatildeo dos

livros com o discurso institucionalizado da Geografia processo que se estreita desde

a institucionalizaccedilatildeo desta ciecircncia no Brasil na deacutecada de 1930 que afere a

importacircncia do saber produzido na academia e da formaccedilatildeo de professores nessa

instacircncia Pressuposto isso coloquei-me algumas indagaccedilotildees anteriormente agrave

institucionalizaccedilatildeo dessa ciecircncia como se dava a inscriccedilatildeo discursiva dos manuais

de Geografia Quais as condiccedilotildees histoacutericas e que movimentos de fato definiram a

formaccedilatildeo do ensino de Geografia Como se deu a relaccedilatildeo entre a produccedilatildeo de

manuais e a disciplina de Geografia Como se caracterizam aqueles manuais de

Geografia

Satildeo questotildees relevantes a meu ver pois considero a tese de que os livros

didaacuteticos de Geografia satildeo um dos lugares manifestos do discurso histoacuterico-

ideoloacutegico do pensamento geograacutefico no Brasil instituinte tambeacutem da histoacuteria desta

ciecircncia

Por conseguinte o objetivo desta tese foi compreender a bibliografia didaacutetica

do ensino de Geografia bem como a histoacuteria e o pensamento deste ensino entre

1814 e a deacutecada de 1930 por meio da descriccedilatildeo de sua trajetoacuteria constitutiva e da

anaacutelise dos discursos dos seus sujeitos Para isso parti do pressuposto de que

pesquisar uma bibliografia didaacutetica eacute conhecer tambeacutem a disciplina que a constitui

e sua histoacuteria percorrendo o pensamento e os saberes escolares que a sustenta

Para empreender o cumprimento desse objetivo busquei na Anaacutelise do

Discurso na Histoacuteria das Disciplinas Escolares e na Histoacuteria do Curriacuteculo subsiacutedios

teoacuterico-metodoloacutegicos que me possibilitassem apreender a bibliografia didaacutetica de

Geografia como objeto de pesquisa

A Anaacutelise do Discurso por inovar a questatildeo da interpretaccedilatildeo demonstra ser

uma contribuiccedilatildeo importante para conhecer a educaccedilatildeo geograacutefica quanto agrave

consideraccedilatildeo de relaccedilotildees que atravessam a linguagem a Histoacuteria a ideologia as

condiccedilotildees de produccedilatildeo a constituiccedilatildeo dos sujeitos e dos sentidos Permite que se

busque o discurso didaacutetico em sua inscriccedilatildeo na conjuntura pedagoacutegica poliacutetica e

legislativa que aferem as condiccedilotildees para a produccedilatildeo e a circulaccedilatildeo deste discurso

na macroinstacircncia histoacuterica ao passo que permite uma outra trajetoacuteria em uma

microinstacircncia referente aos sentidos aos enunciados aos sujeitos possibilitando a

identificaccedilatildeo de regularidades constituiacutedas na dispersatildeo do dizer

Para a Histoacuteria das Disciplinas Escolares a disciplina enquanto organizaccedilatildeo

institucional dos saberes escolares atua em atendimento agraves finalidades pretendidas

para a educaccedilatildeo conformando para isso os sujeitos desse processo dentre os

quais destaquei o papel do sujeito-autor Estes relacionando-se essa aacuterea com a

Anaacutelise do Discurso no contexto das condiccedilotildees histoacuterico-discursivas de seus

tempos operam como professores interpretando e desenvolvendo o curriacuteculo

disciplinar para um outro sujeito o aluno entatildeo abstrato sem rosto sem nome sem

regionalidade alojado e isolado em uma faixa etaacuteria De forma que o sujeito autor

procura estabelecer um texto embasado em certa autoridade do dizer enunciando

uma superfiacutecie discursiva lisa (marcada pelo apagamento do Outro como proacuteprio agrave

heterogeneidade constitutiva) dizendo certezas inquestionaacuteveis que ocultam as

duacutevidas os conflitos as contradiccedilotildees Os conceitos e processos cientiacuteficos dentre

outros ndash tais como os documentos da administraccedilatildeo puacuteblica ndash satildeo a esse propoacutesito

traduzidos (adaptados resumidos compendiados) formando com isso o discurso

didaacutetico Trabalhando pois com os resultados mais conclusivos e assimilaacuteveis para

o alunado o discurso didaacutetico atravessa os tempos constituindo-se de forma aditiva

subtrativa ampliando reduzindo excluindo silenciando dizeres concernentes ao

objeto e aos objetivos da disciplina

Nesse contexto o saber escolar perpassa por trecircs instacircncias o saber a ser

ensinado o saber ensinado e o saber apreendido O que o professor ensinou e o

que o aluno aprendeu desviam-se do alcance histoacuterico circunscrito pelo objeto dessa

tese Por conseguinte centrei a pesquisa no saber a ser ensinado aquele que estaacute

documentado na legislaccedilatildeo nos curriacuteculos prescritos o que nos leva diretamente ao

livro didaacutetico como testemunho histoacuterico das formas de organizar e desenvolver uma

disciplina escolar bem como inscrever os seus discursos

A bibliografia compreendida como a sistematizaccedilatildeo do acervo de fontes

identificadas acessadas ou adquiridas reuniu dados referentes a 276 tiacutetulos de 510

ediccedilotildees que potencialmente alcanccedilaram 950 ediccedilotildees Desse total 174 obras

tiveram ediccedilatildeo uacutenica e 102 foram reeditadas uma ou mais vezes Esse acervo foi

escrito por 183 autores que por formaccedilatildeo ou praacutetica profissional foram literatos

advogados poliacuteticos jornalistas religiosos engenheiros e professores de diversas

formaccedilotildees dentre outros Publicadas em 25 localidades em sua maioria os

exemplares circularam localmente ou regionalmente o que talvez tenha sido

responsaacutevel pela frequente queixa de ausecircncia de livros para esse ensino

sobretudo atualizados Esse conjunto bibliograacutefico instituiu o corpus da pesquisa

constituiacutedo por livros compendiados traduzidos adaptados produzidos ou

importados para o ensino de Geografia brasileiro no periacuteodo delimitado

Na literatura sobre a histoacuteria do ensino de Geografia brasileiro haacute poucas

referecircncias ao periacuteodo anterior agrave institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica no que diz

respeito aos livros didaacuteticos desse ensino Prevalece sobretudo o argumento de

que existiram poucos e raros livros de Geografia com predomiacutenio de textos

importados apresentando discursos apoliacuteticos natildeo cientiacuteficos o que considerei

reduccedilotildees que se engendram no desconhecimento histoacuterico do livro didaacutetico dessa

disciplina

A descriccedilatildeo e a anaacutelise em especial a discursiva permitiram-me perceber

para aleacutem da histoacuteria factual o processo histoacuterico da constituiccedilatildeo da Geografia

escolar pelo testemunho dos seus manuais didaacuteticos

Ao longo da histoacuteria do Brasil passaram-se cerca de trezentos anos sem

que a Geografia se fizesse notar como um objetivo educacional Durante a vigecircncia

da atuaccedilatildeo dos padres da Companhia de Jesus no ensino os saberes geograacuteficos

atuaram em um papel secundaacuterio como referecircncia e como saber auxiliar ao estudo

da retoacuterica e ao aprendizado da leitura ndash ao que denominei ensino impliacutecito A

existecircncia de manuais didaacuteticos estaacute intrinsecamente relacionada agrave existecircncia de

disciplinas autocircnomas e agrave presenccedila de um curriacuteculo formulado e ativo Natildeo estando

a Geografia articulada nesses termos nos periacuteodos jesuiacutetico e pombalino os livros

didaacuteticos de Geografia inexistiram No acervo dos jesuiacutetas constavam apenas obras

geograacuteficas da Antiguidade e da Idade Meacutedia a exemplo drsquoO Tractatus de Sphaera

de Sacrobosco posto que o conhecimento mais proacuteximo do saber geograacutefico

ensinado nos cursos jesuiacuteticos foi a Cosmografia recomendada no Ratio Studiorum

Esse cenaacuterio apresentou mudanccedilas significativas apoacutes a expulsatildeo dos

jesuiacutetas e o ostracismo do periacuteodo pombalino De fato as deacutecadas iniciais do seacuteculo

XIX foram o tempo do surgimento da Geografia como disciplina autocircnoma no Rio de

Janeiro cidade que teve a primazia das atividades culturais e editoriais da educaccedilatildeo

brasileira daquele seacuteculo e foi nesse cenaacuterio que surgiram as primeiras geraccedilotildees de

uma bibliografia para o ensino de Geografia A Corte joanina foi o ponto de partida

posto que as primeiras manifestaccedilotildees da Geografia como disciplina independente

surgiram no ensino superior na organizaccedilatildeo curricular de alguns dos primeiros

cursos cientiacuteficos introduzidos no territoacuterio brasileiro no contexto da formaccedilatildeo da

Academia Real Militar (1810) tese essa defendida nessa pesquisa Nesses termos

o contexto de emergecircncia da educaccedilatildeo geograacutefica foi a introduccedilatildeo de uma

educaccedilatildeo cientiacutefica na Colocircnia em niacutevel superior Provavelmente por essa inserccedilatildeo

a Geografia passa a ser estudada em aulas avulsas como preparatoacuterio para o

ingresso no ensino superior

As obras que fundamentam essa iniciativa foram as do Abbeacute Nicolle de La

Croix e do geoacutegrafo escocecircs John Pinkerton influentes no ensino de Geografia

francecircs que por sua vez foi modelo do ensino de Geografia brasileiro nesse e em

outros periacuteodos e que satildeo a mais antiga referecircncia geograacutefica recomendada pelo

Estado para o ensino de Geografia Tratava-se de uma Geografia articulada na

descriccedilatildeo dos espaccedilos da Terra tendo por princiacutepio sua divisatildeo poliacutetica

apresentando a onomaacutestica a estatiacutestica a hierarquia e a Histoacuteria como meios de

fazer conhecidas as naccedilotildees constituiacutedas do mundo com atenccedilatildeo particular agraves

corografias nacionais embora a brasileira de iniacutecio natildeo tenha tido representaccedilatildeo o

que soacute ocorreria mais tarde apoacutes o processo de independecircncia poliacutetica Este seraacute o

contexto do surgimento alguns anos depois da Corografia Brasiacutelica de Ayres de

Casal A Geografia estudada na Academia Militar foi aquela introduzida para as

elites dentre as quais alguns se tornaram futuros lentes do ensino secundaacuterio eou

autores dos manuais de Geografia

Compreender essa Geografia permitiu conhecer o surgimento do ensino de

Geografia brasileiro em um momento no qual faltavam instituiccedilotildees matildeo de obra

especializada materiais de estudo organizaccedilatildeo sistecircmica tanto institucional quanto

curricular Este foi o cenaacuterio em que pela primeira vez a Geografia foi convocada

como disciplina independente para o processo de instruccedilatildeo no Brasil

A bibliografia didaacutetica comeccedilou a se formar e a ganhar forccedila no contexto em

que se desenvolveu um mercado editorial brasileiro a par de um certo

desenvolvimento da educaccedilatildeo que seraacute por todo o periacuteodo em anaacutelise aqueacutem das

demandas reais revelando-se um serviccedilo precaacuterio e elitizado com iacutendices muito

altos de analfabetismo e iacutendices muito baixos de indiviacuteduos com qualificaccedilatildeo teacutecnica

mas que permitiraacute a ascensatildeo e a consolidaccedilatildeo da Geografia como saber escolar

com uma bibliografia constituiacuteda

O Estado brasileiro do seacuteculo XIX em diante foi o grande agente

articulador da educaccedilatildeo por forccedila legisladora A fundaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II

consolidou um processo anunciado desde a deacutecada de 1810 a partir de quando o

ensino de Geografia em niacutevel elementar sobreviveu inicialmente nas aulas avulsas

de Geografia o que marcou o surgimento de livros didaacuteticos no iniacutecio da deacutecada de

1820 No iniacutecio dos anos 1830 dos cursos avulsos migrou para diversas instituiccedilotildees

puacuteblicas provinciais e em 1837 integrou o quadro curricular do Coleacutegio Pedro II

estabelecendo-se definitivamente no ensino secundaacuterio O Coleacutegio Pedro II (e os

cursos juriacutedicos) influenciou diretamente na consolidaccedilatildeo da Geografia como

disciplina de forma que o ensino de Geografia introduzido como disciplina no

ensino superior ganhou forccedilas no ensino secundaacuterio e posteriormente ampliou-se

para o ensino primaacuterio ndash onde participou de um processo significativo de

nacionalizaccedilatildeo sobretudo mais tarde ao findar da Primeira Repuacuteblica No acircmbito do

Coleacutegio Pedro II os cursos independentes transformaram-se em programas seriados

e anuais A partir daiacute o ensino de Geografia atuou no contexto do fortalecimento da

Monarquia sendo chamada para contribuir com a civilizaccedilatildeo da naccedilatildeo a partir do

modelo europeu liderado pela elite poliacutetica participando da construccedilatildeo da

nacionalidade brasileira A accedilatildeo do Estado nesse momento no campo educacional

queria ombrear o paiacutes com as naccedilotildees civilizadas agindo portanto nos cursos

superiores e notadamente no que interferisse no acircmbito deles como eacute o caso dos

preparatoacuterios e do ensino secundaacuterio como parte desta manobra

Assim o ensino de Geografia com intensidade variante assumiu um duplo

papel o da nacionalizaccedilatildeo e o da cultura geral aleacutem de formar cientificamente

profissionais liberais e teacutecnicos Perpassou portanto por um papel cultural um

papel nacional e um papel cientiacutefico

Ateacute o fim do Impeacuterio houve 10 atos legais de regulaccedilatildeo da estrutura

pedagoacutegica da grade curricular e dos saberes a serem ministrados no Coleacutegio

Pedro II determinando a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio e delimitando os

espaccedilos que a Geografia assumiu na grade das disciplinas escolares A trajetoacuteria

dessa legislaccedilatildeo demonstra o estabelecimento da Geografia como disciplina com

maior ou menor carga horaacuteria em todas ou em apenas algumas seacuteries Natildeo teve um

nome comum natildeo era apenas ainda ldquoGeografiardquo seus saberes responderam por

Cosmografia por Corografia foi qualificada e dividida em Antiga Matemaacutetica Geral

Descritiva Sua sucessatildeo de nomes demonstra pensamentos diferentes e em

construccedilatildeo sobre esse saber didaacutetico pensamentos que dizem respeito com

frequecircncia agrave divisatildeo do globo para estudo ou agrave complexidade da organizaccedilatildeo do

ensino A Geografia surge e desenvolve-se irmanada com a Histoacuteria ou o ensino de

Geografia precedia o de Histoacuteria ou ocorriam simultaneamente Natildeo havia

separaccedilatildeo clara nos programas e nas regecircncias Mesmo a literatura didaacutetica e de

referecircncia ateacute a deacutecada de 1850 evidencia essa conjunccedilatildeo materializando ambas

sem limites claros de maneira dependente

Os discursos didaacuteticos de Geografia desde seu surgimento inscreveram-se

direta ou indiretamente na Geografia moderna em sua vertente claacutessica emergente

no seacuteculo XVIII Por todo o periacuteodo do Impeacuterio a produccedilatildeo dos manuais de

Geografia se deu por esse ldquoparadigmardquo assimilando a estrutura da Geografia Fiacutesica

da Geografia Poliacutetica e da Cosmografia como vertentes da sua organizaccedilatildeo

Nacionalmente por quase um seacuteculo a obra de Ayres de Casal referenciou a

concepccedilatildeo geograacutefica escolar sendo portanto o expoente e a perspectiva

dominante no seacuteculo XIX quanto aos estudos corograacuteficos foi amplamente utilizada

sua estrutura de regionalizaccedilatildeo do territoacuterio por proviacutencias as principais descriccedilotildees

poliacuteticas e fiacutesicas com as alteraccedilotildees pertinentes

Essa Geografia denominada descritiva organizada na nomenclatura na

estatiacutestica na enumeraccedilatildeo dos fatos geograacuteficos na descriccedilatildeo formal e informativa

do espaccedilo construiu uma tradiccedilatildeo longeva na bibliografia didaacutetica permanecendo

por mais de cem anos no bojo do ensino brasileiro dessa disciplina esforccedilando-se

para construir um traccedilo cartograacutefico do mundo como seu modo de ser comporta-se

tanto na expressatildeo dos manuais quanto nas recomendaccedilotildees metodoloacutegicas do

ensino como tentativa de elaborar uma espeacutecie de mapa mental a ser construiacutedo

de fatos dados e descriccedilotildees de superfiacutecie por sua vez a serem somados pelo

estudante por meio da memorizaccedilatildeo ndash delinear os contornos fiacutesicos para neles

pontilhar ou dar a saber os principais acidentes espaciais o mesmo trabalho e

expressatildeo condizente tambeacutem agraves obras humanas passando essas abordagens pelo

niacutevel global pelo continentes adentrando os principais paiacuteses o territoacuterio nacional

as proviacutencias ndash uacutenica regionalizaccedilatildeo praticada em todo os oitocentos e nas primeiras

deacutecadas do seacuteculo XX A seleccedilatildeo espacial nas obras claramente demonstra

inscriccedilotildees discursivo-ideoloacutegicas dimensionando valores a mais ou a menos a

certos paiacuteses por influecircncia cultural ou econocircmica evidenciando os interesses

gerais da naccedilatildeo brasileira E havia a Cosmografia para descrever os astros os

planetas e cometas apresentar o sistema solar os movimentos do planeta Terra e o

estabelecimento das estaccedilotildees as dimensotildees as longitudes e latitudes as zonas

climaacuteticas e outras configuraccedilotildees semelhantes

Este foi o conjunto de conteuacutedos e sua expressatildeo presente nos manuais de

Geografia em todo o periacuteodo imperial com pouca variaccedilatildeo O ensino de Geografia

e dos seus manuais organizou-se pela palavra em razatildeo dos meios disponiacuteveis

das teacutecnicas entatildeo alcanccedilaacuteveis E tendo a descriccedilatildeo por base limitou-se a ela

mesmo quando alternativas jaacute fizessem contexto para alterar o mundo estaacutetico tatildeo

pleno de informaccedilotildees excessivas

Poreacutem em fins do seacuteculo XIX a Geografia escolar descritiva comeccedilou a

apresentar sinais de esgotamento de seu modelo Eacute o tempo em que comeccedilavam a

surgir novas ideias pedagoacutegicas fazendo-se notadas nas relaccedilotildees educacionais

Para a Geografia comeccedilou-se a introduzir a Cartografia como auxiliar do ensino o

que se fez a partir dos chamados processos intuitivos Nem sempre o mapa apesar

de reconhecida importacircncia esteve presente nos manuais e no seu ensino

Outra tentativa importante de transformaccedilatildeo do quadro de ensino foi o de se

fazer certo movimento certa dinacircmica na Geografia estaacutetica que caracterizara o

ensino ateacute esse momento o que se pretendia natildeo pela alteraccedilatildeo do discurso mas

da praacutetica desse discurso ou seja na metodologia de ensino Para tanto reforccedila-se

o emprego de exame de mapas desenhos simulaccedilatildeo de viagens o uso de esfera e

a formulaccedilatildeo de problemas geograacuteficos tenta-se entatildeo um meio de se tirar da

inaniccedilatildeo as informaccedilotildees por vezes caudalosas por vezes sem sentido que habitam

as superfiacutecies discursivas do livro didaacutetico de Geografia

Com o advento da Repuacuteblica sob a lideranccedila de militares de formaccedilatildeo

positivista apresentou-se uma nova plataforma poliacutetica para o paiacutes A accedilatildeo do

Estado que ateacute o Impeacuterio centrara-se no ensino superior e no Coleacutegio Pedro II

passou a ser mais abrangente nesse periacuteodo histoacuterico pelo menos em niacutevel

legislativo foi mais abrangente apresentando o conjunto de seis reformas

educacionais ateacute a deacutecada de 1930 A primeira delas a Reforma de Benjamin

Constant contemplou todos os niacuteveis da educaccedilatildeo De inspiraccedilatildeo positivista e liberal

pretendeu contextualizar a educaccedilatildeo na ciecircncia opondo-se agrave tradiccedilatildeo claacutessica

colocando em ordem uma influecircncia positivista e liberal embora tenha sido criticada

por natildeo compreender adequadamente o Positivismo como orientaccedilatildeo e por isso

apenas sobrepor disciplinas cientiacuteficas ao quadro constituiacutedo pelos estudos

claacutessicos

Sob influecircncia da ldquoliccedilatildeo de coisasrdquo se pretendeu uma educaccedilatildeo intuiacuteda na

realidade cerceada pelos sentidos reagente ao aprendizado retoacuterico predominante

em todo o seacuteculo XIX O aprendizado pela ldquocuriosidaderdquo pela motivaccedilatildeo sobreporia-

se ao aprendizado pela repeticcedilatildeo Foi nessa atmosfera que o ensino de Geografia e

seus livros didaacuteticos passariam por transformaccedilotildees

A Geografia escolar nesse contexto ocupa uma posiccedilatildeo destacada por

reconhecimento dos seus meacuteritos no estabelecimento e desenvolvimento da naccedilatildeo

e por contribuir para apagar as marcas do Impeacuterio na reconstruccedilatildeo da nova

configuraccedilatildeo poliacutetico-administrativa bem como no redimensionamento do paiacutes no

contexto mundial dadas as novas relaccedilotildees capitalistas que comeccedilavam a esse

tempo

Contudo os conteuacutedos prescritos continuaram os mesmos dos programas

anteriores de igual modo fragmentado em aacutereas observando uma permanecircncia da

Geografia descritiva escolar agrave exceccedilatildeo do acreacutescimo de temas novos (a exemplo

das migraccedilotildees) Apesar disso eacute nessas circunstacircncias que talvez se identifique a

terceira tentativa de inovar o ensino de Geografia e a produccedilatildeo dos manuais

didaacuteticos a saber a valorizaccedilatildeo da Geografia local como meacutetodo para organizar o

ensino geograacutefico o que provavelmente se deve agrave maior atenccedilatildeo dada ao ensino

primaacuterio mas igualmente extensivo ao ensino secundaacuterio Satildeo discutidos nesse

momento os meacutetodos riacutegidos e improdutivos da Geografia descritiva falha como

cultura por ser apenas informativa limitada quanto a uma formaccedilatildeo nacional pois

muito isenta

O Estado passa a ter um maior controle sobre os conteuacutedos a serem

ensinados o que se observa na extensatildeo e detalhamento dos curriacuteculos de

Geografia prescritos nas deacutecadas iniciais da Repuacuteblica

Os anos 1920 foram um divisor de aacuteguas para o ensino de Geografia e para

a bibliografia didaacutetica de Geografia

O sopro da ldquoorientaccedilatildeo modernardquo da Geografia introduzida sobretudo por

Delgado de Carvalho somada ao sentimento de cansaccedilo aferido pela Geografia

descritiva a reorientaccedilatildeo dos objetivos do ensino (ensino elementar como formaccedilatildeo

habilitaccedilatildeo para o exerciacutecio de profissotildees teacutecnicas e outros) comporaacute um novo

quadro didaacutetico para a Geografia Possivelmente tenha-se percebido que apenas

mudar a metodologia do ensino sem mudar seu discurso natildeo seria suficiente para

dinamizar o aprendizado geograacutefico

Os curriacuteculos e os livros comeccedilam a pautar a Geografia Humana em

substituiccedilatildeo agrave Geografia Poliacutetica (na acepccedilatildeo descritiva que a filiou agrave Geografia

Moderna claacutessica) A explicaccedilatildeo de processos passa a combalir a descriccedilatildeo como

efeito uacutenico do discurso explicar a formaccedilatildeo das cidades demonstrar o

funcionamento das bacias hiacutedricas em vez de somente expor a onomaacutestica desses e

de outros objetos geograacuteficos A antiga divisatildeo poliacutetico-administrativa das proviacutencias

(durante o Impeacuterio) e dos Estados (na vigecircncia da Repuacuteblica) comeccedila a ceder para o

estudo do Brasil por regiotildees

Tudo isso natildeo significou o fim da Geografia descritiva mas abalou seus

alicerces Obras dos anos 1880 1890 continuaram editadas ateacute a deacutecada de 1930

e tambeacutem surgiram no periacuteodo novos tiacutetulos com a mesma proposta e abordagem

geograacutefica que instituiacutea a tradiccedilatildeo da bibliografia ateacute entatildeo A diferenccedila eacute que esses

tiacutetulos declinaram os antigos sobre o proacuteprio esgotamento discursivo e os novos na

linha descritiva natildeo encontraram funcionalidade no mercado saiacuteram de cena

Joaquim Maria de Lacerda Alfredo Moreira Pinto Henrique Martins FIC Estaacutecio

de Menezes e outros Isso propiciou a ascensatildeo de novos autores a exemplo do

proacuteprio Delgado de Carvalho (adotado no Coleacutegio Pedro II) e de autores como

Aroldo de Azevedo e Mario da Veiga Cabral dentre outros inovadores da linguagem

e dos conteuacutedos e meacutetodos do ensino geograacutefico

Essas transformaccedilotildees foram iniciadas com Manuel Said Ali (1905) que

identificou uma falha importante na bibliografia e no ensino de Geografia a

fragmentaccedilatildeo do saber referente ao territoacuterio nacional que por sua vez ndash dada a

quantidade de estadosproviacutencias ndash levava ao estudo da Geografia nacional a ser

exaustivo Para isolar as relaccedilotildees de ensino e aprendizagem dessa praacutetica trouxe

para o acircmbito do discurso didaacutetico dessa disciplina o conceito de regiatildeo em sua

perspectiva cientiacutefica contrapondo a delimitaccedilatildeo de fronteiras poliacuteticas com a

adoccedilatildeo de criteacuterios naturais sobretudo para agrupar a compreensatildeo espacial

Em seguida vieram as contribuiccedilotildees de Carlos Miguel Delgado de Carvalho

(1913) que endossou e desenvolveu a divisatildeo regional em oposiccedilatildeo agrave divisatildeo

administrativa observando para aleacutem das ldquoregiotildees naturaisrdquo as ldquocondiccedilotildees

econocircmicasrdquo inerentes ao espaccedilo Amplamente fundamentado nos autores que

desenvolviam a Geografia Moderna cientiacutefica na Europa consegue introduzir por

meio do ensino e para o ensino uma transformaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica tanto no

sentido epistemoloacutegico da ciecircncia geograacutefica brasileira quanto na pedagogia do seu

ensino movendo essa disciplina de uma fragmentaccedilatildeo completa para uma

compartimentaccedilatildeo relativa a Geografia descritiva com uma abordagem fiacutesica uma

abordagem poliacutetica e uma abordagem cosmograacutefica paulatinamente se reorganizou

a partir de sua contribuiccedilatildeo em uma Geografia Fiacutesica e em uma Geografia Humana

instituindo o paradigma da terra do homem e da economia que prevaleceraacute ateacute

pelo menos os anos 1980 Sua superfiacutecie discursiva procurou verticalizar a

distribuiccedilatildeo espacial dos fatos e fenocircmenos geograacuteficos na tentativa de explicaacute-los

natildeo apenas citaacute-los

O pensamento geograacutefico brasileiro pelo menos no tocante ao ensino

atingia um novo patamar e o livro didaacutetico de Geografia como havia sido ao longo

do seacuteculo XIX foi o lugar privilegiado para a materializaccedilatildeo desse discurso

Outros autores merecem destaque na continuidade dessas transformaccedilotildees

como Antonio Firmino Proenccedila que em obra de 1928 fez importantes colocaccedilotildees

sobre a metodologia do ensino dessa disciplina revisando sua histoacuteria e refletindo

sobre o papel do livro didaacutetico nesse contexto Suas consideraccedilotildees contornam o

ensino da Geografia como componente da ciecircncia geograacutefica indicando como

desta o que fosse colocado para a crianccedila deve ser de compreensatildeo imediata natildeo

posterior pois conhecimento natildeo funciona de modo provisoacuterio antes de abstrair o

ensino dever apresentar o concreto O que seria feito a partir do estudo local da

realidade que circunscreve o aluno partindo da localidade para a compreensatildeo

entatildeo do mundo Conclama os livros a basearem-se nas correlaccedilotildees entre os

assuntos a fazerem emergir o homem como agente do espaccedilo e natildeo contraacuterio A

obra de Proenccedila evidencia as contribuiccedilotildees da ldquoorientaccedilatildeo modernardquo da Geografia

fazendo encontro e continuidade no discurso do ensino dessa disciplina agora no

acircmbito da formaccedilatildeo de professores em certa medida a nova geraccedilatildeo de autores

pareceu endossar essa direccedilatildeo

Outro autor que destaquei eacute Fernando Antocircnio Raja Gabaglia que em obra

de 1930 propocircs o ensino sobretudo da Geografia Fiacutesica em termos de praacuteticas por

demonstraccedilotildees concretas e experiecircncias

Toda essa perspectiva histoacuterica frutifica do discurso dos sujeitos envolvidos

na produccedilatildeo do ensino de Geografia e da sua bibliografia didaacutetica registrada e

testemunhada nas paacuteginas desta

A homogeneidade discursiva referente agrave e na bibliografia didaacutetica

demonstrou ser apenas aparente pois seu discurso acomoda diversos gestos de

reorganizaccedilatildeo de acomodaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo jogando contra forccedilas procurando

alocaccedilatildeo no conjunto das praacuteticas didaacuteticas Seus fundamentos satildeo cientiacuteficos mas

de fases diferentes da ciecircncia geograacutefica o que precisa realocar as referecircncias para

a leitura desses textos do contraacuterio sua apreensatildeo seraacute descontextualizada

Considerando a totalidade da bibliografia suscitada fiz uma anaacutelise das

matrizes discursivas entrelaccediladas na nomeaccedilatildeo dos compecircndios na qual foi

possiacutevel apreender efeitos relacionados aos sujeitos agrave ideologia aos

relacionamentos poliacuteticos aos fundamentos teoacuterico-metodoloacutegicos que inscrevem as

obras em suas formaccedilotildees discursivas De iniacutecio proacuteprio ao estilo da eacutepoca os tiacutetulos

satildeo quase eacutepicos extensos lutando pela inserccedilatildeo justificativa e explicaccedilatildeo da obra

Na ordem dos sujeitos selecionam seus puacuteblicos alvos especificando a quem se

destinam estudantes pais professores instituiccedilotildees proviacutencias Satildeo oferecidas a

autoridades para lograr benesses poliacuteticas e intelectuais Em meados do seacuteculo XX

esse tipo de enunciaccedilatildeo (selecionando os sujeitos alvos) desaparece indicando

provavelmente uma afirmaccedilatildeo definitiva do gecircnero nas estantes gerais da cultura e

da educaccedilatildeo Na ordem dos sentidos os tiacutetulos apresentam em quase todo o

periacuteodo marcas lexicais bem claras quanto a um discurso didaacutetico com lexemas e

sequecircncias discursivas que remetem o sentido para um dispositivo de escolha e de

adequaccedilatildeo do saber para as relaccedilotildees de ensino e aprendizagem migrando-o de

uma instacircncia enunciativa para outra com um processo de ressignificaccedilatildeo de

sentidos nesse processo accedilotildees como introduzir adaptar resumir abreviar

coordenar acrescentar compendiar Os tiacutetulos apresentam ainda as filiaccedilotildees

teoacuterico-metodoloacutegicas a constituiccedilatildeo dos nuacutecleos de saberes ndash referecircncias agrave

Geografia Moderna claacutessica em geral As corografias por si mesmas satildeo discursos

sobre a nacionalidade O corpo dos enunciados raramente expressa manifestaccedilotildees

expliacutecitas de patriotismo ao longo do seacuteculo XIX de forma que esse discurso se

afirma mais como posiccedilatildeo do que enunciaccedilatildeo Em geral os tiacutetulos concretizam o

estabelecimento do discurso didaacutetico da Geografia indicando a especialidade a

utilidade e o destino do corpo discursivo

Sobre a formaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia e o estabelecimento da

Geografia descritiva fiz uma anaacutelise da obra de Bazilio Quaresma Torreatildeo (1984)

que sendo dos primeiros a estabelecer um texto didaacutetico de Geografia o faz na

estrutura discursiva que permaneceraacute praticamente inalterada nos proacuteximos cem

anos De fontes natildeo identificadas ou mencionadas indiretamente o sujeito autor

qual seja ele comeccedila nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX (mas de um processo

que eacute bem anterior) a elaborar materiais diferenciados especificamente para o

ensino e o aprendizado compilando para isso discursos esparsos e expondo-os

de forma compreensiacutevel ao puacuteblico alvo Um discurso destinado a relacionar saberes

para a cultura geral mas tambeacutem para sintonizar os interesses do Estado e da

Igreja bem como da economia Torreatildeo no princiacutepio dessa tradiccedilatildeo no tocante agrave

Geografia e ao contexto brasileiro enquadra os saberes que registra como ciecircncia

na acepccedilatildeo do meacutetodo no sentido da certeza no sentido da sistematizaccedilatildeo no

sentido da movecircncia do saber sob a regecircncia de princiacutepios universais ndash o que eacute em

siacutentese a percepccedilatildeo iluminista do saber cientiacutefico A partir disso propotildee uma

abordagem da natureza da poliacutetica (ou feitos humanos) e da cosmografia O que

ficou proposto em Torreatildeo funcionou como estrutura geral do gecircnero para a

bibliografia enquanto viccedilou a Geografia descritiva enunciada sob auspiacutecios da

heterogeneidade constitutiva com o traccedilo de uma superfiacutecie discursiva lisa

promovendo o efeito autoria repassado pela autoridade dos sujeitos autores

Os prefaacutecios proacutelogos notas de advertecircncia apresentaccedilotildees e falas da

imprensa abordagens agraves quais chamei de ldquodiscursos do entornordquo foram outro ponto

de apoio para a anaacutelise da tese posto que nessas margens discursivas identifica-se

um conjunto de sujeitos enunciando para circunstanciar promover legitimar e

esclarecer o discurso didaacutetico de Geografia tais como os proacuteprios autores Questotildees

como autoria autoridade legitimaccedilatildeo da disciplina a relaccedilatildeo dos textos com os

curriacuteculos propostos a questatildeo das fontes e das traduccedilotildees posicionamentos frentes

agrave tradiccedilatildeo agrave metodologia de ensino e agrave formaccedilatildeo dos professores a questatildeo da

nacionalidade e outras satildeo regularidades na dispersatildeo do discurso didaacutetico de

Geografia

Estes discursos satildeo utilizados para construir uma imagem do sujeito autor

pela enunciaccedilatildeo de suas experiecircncias atuaccedilatildeo profissional elaborando uma

imagem e por conseguinte um espelho da autoria e da autoridade de quem enuncia

o dizer didaacutetico Haacute elogios e incentivos sobre qualidades que na posteridade ou

em geraccedilotildees seguintes revertem em desqualificaccedilatildeo e criacuteticas ndash o que eacute proacuteprio ao

calibrar de perspectivas do discurso em face das formaccedilotildees discursivas que o

sustenta A imprensa parece exerceu um papel influente na bibliografia atribuindo

valores apresentando reclames contra excessos faltas e falhas das obras Em

termos gerais o sujeito autor e a obra didaacutetica dependiam de igual modo da

construccedilatildeo de uma imagem que os qualificasse e os percebesse como sujeitos

autorizados desses discursos

Os discursos do entorno tambeacutem mencionam a identidade e a legitimidade

escolar dos conhecimentos geograacuteficos como uma das regularidades discursivas

que atravessam a bibliografia Tramam a utilidade individual e coletiva na formaccedilatildeo

do educando sua existecircncia no contexto de outras naccedilotildees as potencialidades de

seus temas o desenvolvimento intelectual do aluno suas relaccedilotildees com a Histoacuteria o

conjunto de conhecimentos de interesse e curiosidade para a crianccedila

Os discursos dimensionam o alcance de puacuteblico das obras escritas para o

ensino e para a aprendizagem igualmente satildeo uma referecircncia cultural fora do

ambiente escolar seja para jornalistas criacuteticos intelectuais o que faz com que o

uso da bibliografia supere os limites das classes escolares

Em relaccedilatildeo aos curriacuteculos e programas o discurso didaacutetico eacute sempre

apresentado em uma relaccedilatildeo estreita Expor a adesatildeo agrave proposiccedilatildeo curricular era

quase uma obrigaccedilatildeo evidenciada sempre que possiacutevel e em lugares de destaque

como capas e folhas de rosto aleacutem de explicitada nos discursos do entorno Essa

demonstra ser uma relaccedilatildeo conflituosa pois frequentemente a obra tinha que

atender modalidades anos e seacuteries distintos

Apesar de natildeo indicadas a questatildeo das fontes satildeo uma regularidade

discursiva recorrente Geralmente indicam-se tipologias de fontes valorizadas como

as melhores as oficiais as autorizadas mas sem expocirc-las Nesse tema atrela-se a

questatildeo da atualidade do manual didaacutetico de Geografia que se alinha de perto agrave

disponibilidade das fontes que incomodam os sujeitos autores pela inseguranccedila em

relaccedilatildeo agrave correccedilatildeo e confiabilidade dos dados e fatos nelas pesquisados

incoerecircncias e incompletudes da estatiacutestica oficial a mobilidade e falta de definiccedilatildeo

das fronteiras e outras

Nesses discursos emergem ainda posicionamentos em relaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo

da bibliografia didaacutetica Desabafo ataque e denuacutencia satildeo construccedilotildees de sentidos

que permeiam os discursos do entorno em posiccedilatildeooposiccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo da

bibliografia didaacutetica com os mais diversos efeitos para que os sujeitos autoafirmem-

se como autores (colocando seus discursos como melhores) para deslumbrar um

lugar para seu discurso didaacutetico na bibliografia ou realmente tentar alterar a ordem

dos sentidos redirecionando o discurso desejos de mudanccedila Os discursos chegam

a ser planfetaacuterios algumas vezes De qualquer forma na dispersatildeo deles encontra-

se essa unidade destruir pilastras e monumentos da tradiccedilatildeo para entatildeo impor-se

como enunciaccedilatildeo vaacutelida

Situaccedilatildeo geral merecedora de reclame dos autores e dos sujeitos agrave frente

da reflexatildeo sobre o ensino de Geografia no periacuteodo analisado haacute a falta de

profissionalismo predominante entre os professores dessa disciplina o que

impactava diretamente na visatildeo desses sujeitos sobre a forma e os meacutetodos do

ensino geograacutefico de modo que os discursos do entorno serviam para instruir

metodologicamente os professores quanto ao uso do livro e quanto a como ensinar

Dado aos livros natildeo terem sempre uso estritamente escolar cabia a alguns sujeitos-

autores fazerem orientaccedilotildees pertinentes aos conteuacutedos das obras

O discurso nacionalista em sua perspectiva teluacuterica possui um conjunto de

marcadores discursivos em sentido amplo eacute um discurso de demarcaccedilatildeo de uma

propriedade coletiva ndash a propriedade da paacutetria eacute um discurso comparativo em que o

nosso e o deles em diversos manejos colocam os objetos nacionais em destaque

pelo que satildeo iacutempares ou que se pretende que sejam eacute um discurso pontuado por

lexemas adjetivados pois eacute necessaacuterio estabelecer as caracteriacutesticas sempre

positivas e exaltadas da propriedade nacional Conforme aferi anteriormente a

nacionalidade ndash matriz ideoloacutegica importante no ensino da Geografia ndash seraacute mais

uma posiccedilatildeo uma perspectiva construiacuteda para o espaccedilo nacional destacando-o

com independecircncia e relevacircncia em relaccedilatildeo agraves demais naccedilotildees (ou em volume

exclusivo) que propriamente uma abordagem dogmaacutetica entrelaccedilada no fio

discursivo da bibliografia didaacutetica Essa discursividade pontua-se com frequecircncia no

dizer do entorno O nacionalismo eacute uma rachadura entre a proposiccedilatildeo do estudo da

Geografia como cultura geral e sua proposiccedilatildeo como panorama e base dos

interesses nacionais A partir daiacute se cliva em diversas direccedilotildees e intensidades

inflamando-se de acordo com a imersatildeo poliacutetica e partidaacuteria que caracteriza o

movimento histoacuterico do paiacutes

Evidentemente todas as transformaccedilotildees apresentadas foram proacuteprias agrave

eacutepoca apresentando elas mesmos limitaccedilotildees que o avanccedilo da ciecircncia geograacutefica e

da pesquisa sobre o ensino de Geografia demonstraria na posteridade mas

frutificaram e serviram ao tempo que as constituiacuteram historicamente

A bibliografia permitiu acompanhar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento da

Geografia como disciplina escolar Demonstrou como o seu conteuacutedo transgrediu

sua funccedilatildeo auxiliar no ensino impliacutecito desse saber caracteriacutestico aos periacuteodos

jesuiacuteticos e pombalino ateacute canalizar uma constituiccedilatildeo uacutenica dando voz a uma

disciplina formada com lugar e responsabilidades na instituiccedilatildeo escolar entre o

reinado e a primeira repuacuteblica

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APEcircNDICE

APEcircNDICE 01 ndash OBRAS DE IMPORTAcircNCIA DIRETA PARA A BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA BRASILEIRA

1ordf Ed ou

ediccedilatildeo

mais antiga identificada

Demais

ediccedilotildees identifica-

das

BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA

1758

1761

1769

1777

1788

1800

1812

1817

1830

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne Preacuteceacutedeacutee dun petit Traiteacute de la sphegravere et du globe orneacutee de traits dhistoire naturelle et politique et termineacutee par une geacuteographie eccleacutesiastique par M labbeacute Nicolle de La Croix Nouvelle eacutedition augmenteacutee [avec la collaboration de J-L Barbeau de La Bruyegravere] Paris J-T Heacuterissant 1758

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne Preacuteceacutedeacutee dun petit Traiteacute de la sphegravere et du globe orneacutee de traits dhistoire naturelle et politique et termineacutee par une geacuteographie eccleacutesiastique par M labbeacute Nicolle de La Croix Nouvelle eacutedition augmenteacutee [avec la collaboration de J-L Barbeau de La Bruyegravere] Paris J-T Heacuterissant 1761

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne et universelle Preacuteceacutedeacutee dun petit Traiteacute de la sphegravere et du globe et termineacutee par une geacuteographie sacreacutee et une geacuteographie eccleacutesiastique par M labbeacute Nicolle de La Croix Nouvelle eacutedition revue [par E-F Drouet] Paris Heacuterissant fils 1769 (2 v)

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne et universelle preacuteceacutedeacutee drsquoun traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomie Nouvelle eacutedition revue corrigeacutee et consideacuterablement augmenteacutee Paris Heacuterissant fils 1777 (2 v)

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne et universelle preacuteceacutedeacutee drsquoun traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomie Nouvelle eacutedition revue corrigeacutee et consideacuterablement augmenteacutee Paris Heacuterissant fils 1788 (2 v)

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne et universelle preacuteceacutedeacutee drsquoun traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomie Avec abreacutegeacute de la Geacuteographie Anncienne Sacreacutee et Eccleacutesiastique pour servir agrave lrsquointelligence de lrsquoHistorie Paris De LrsquoImprimerie de Crapelet 1800

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne Par M labbeacute Nicolle de La Croix Nouvelle eacutedition avec les nouvelles divisions de lEmpire franccedilais et celles des autres Eacutetats de lEurope par un ancien professeur Paris A Delalain 1812

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne et universelle preacuteceacutedeacutee drsquoun traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomie Nouvelle eacutedition revue dapregraves les actes du Congregraves de Vienne par un ancien professeur de geacuteographie Paris A Delalain 1817

LA CROIX Louis Antoine Nicolle de (Abbeacute) Geacuteographie moderne Par Nicolle de La Croix Nouvelle eacutedition avec la nouvelle division eccleacutesiastique de la France et un abreacutegeacute de geacuteographie ancienne dapregraves Danville par M J-G Masselin Paris A Delalain 1830 (2 v)

1805 1806

PINKERTON John Abreacutegeacute de la Geographie Moderne Redigeacutee sur un nouveau plan par J Pinkerton Fait sur la traduction franccedilaise de la Geacuteographie moderne de cet auteur et augementeacute des deacutecouvertes puiseacutees dans les voyages les plus reacutecens 2 ed Traduccedilatildeo de J-N Buache Paris Dentu 1805 780 p

PINKERTON John Abreacutegeacute de la Geographie Moderne Redigeacutee sur un nouveau plan par J Pinkerton Fait sur la traduction franccedilaise de la Geacuteographie moderne de cet auteur et augementeacute des deacutecouvertes puiseacutees dans les voyages les plus reacutecens 2 ed Traduccedilatildeo de J-N Buache Paris Dentu 1806 924 p

1817 -

CASAL Manoel Ayres do Corographia brasiacutelica ou relaccedilatildeo historico-geographica do reino do Brazil composta por um presbytero secular do Gratildeo-Priorado do Crato e dedicada a S M Fideliacutessima etc Com licenccedila e privilegio real Tomo I Rio de Janeiro Impressatildeo Reacutegia 1817 432 p

1817 -

CASAL Manoel Ayres do Corographia brasiacutelica ou relaccedilatildeo historico-geographica do reino do Brazil composta por um presbytero secular do Gratildeo-Priorado do Crato e dedicada a S M Fideliacutessima etc Com licenccedila e privilegio real Tomo II Rio de Janeiro Impressatildeo Reacutegia 1817 483 p

CASAL Manoel Ayres do Notice sur les capitainies de Paraacute et Solimotildees au Bresil Nouveaux Annales des Voyages Tomo 9ordm 1821

1884 - WAPPOEUS J E A Geographia physica do Brazil refundida Ediccedilatildeo condensada Traduccedilatildeo de Joatildeo Capistrano de Abreu et al Rio de Janeiro Typographia de G Leuzinger amp Filhos 1884 470 p

1889 - SELLIN Alfred W Geographia geral do Brasil Traduzido e consideravelmente augmentada por Joatildeo Capistrano de Abreu Rio de Janeiro Liv Classica de Alves amp Cia Imprensa Nacional 1889 210 p

1925 -

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1928

PROENCcedilA Antonio Firmino Como ensinar geographia Satildeo Paulo Melhoramentos 1928