A Biblioteca 2.0 e as bibliotecas públicas: o caso português: abordagem metodológica

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1 Paulo Jorge de Oliveira Leitão O CASO PORTUGUÊS Abordagem metodológica A BIBLIOTECA 2.0 E AS BIBLIOTECAS PÚBLICAS

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Publica-se neste texto a abordagem metodológica usada no processo de investigação que deu lugar à tese de doutoramento intitulada "A Biblioteca 2.0 e as bibliotecas públicas: o caso português", defendida na Universidade de Évora em 2014.

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    Paulo Jorge de Oliveira Leito

    O CASO PORTUGUS

    Abordagem metodolgica

    A BIBLIOTECA 2.0 E AS BIBLIOTECAS PBLICAS

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    INTRODUO

    A seleo de um tema de investigao prende-se com as mais diversas

    motivaes, que podem ir desde as relativamente acessrias como um particular

    interesse do investigador, at s verdadeiramente relevantes como sejam a

    importncia do tema no contexto de uma determinada rea cientfica, a ausncia de

    conhecimento no domnio selecionado ou ainda os impactos que essa investigao

    pode ter na sociedade. A seleo do tema para esta investigao decorreu

    exatamente do concurso destas trs ordens de razes.

    Uma investigao realiza-se na tentativa de atingir determinados fins e

    objetivos relevantes. A sua importncia advm em grande parte como resultado das

    razes que conduziram investigao, no sentido em que a sua prossecuo pode

    colmatar falhas do conhecimento existente ou ter um impacto social ou

    organizacional de qualquer natureza. No entanto, a definio dos objetivos neste

    caso no foi determinada por nenhuma hiptese apriorstica nem pela verificao de

    uma determinada teoria. O que se pretendeu foi compreender o objeto de estudo

    as bibliotecas pblicas da RNBP na sua relao com a Web 2.0 / Biblioteca 2.0 na

    dupla perspetiva das prticas e das concepes.

    A comunicao dos resultados deste processo pode ser realizada de vrias

    formas. No caso vertente, selecionou-se uma forma cannica de apresentao, que,

    depois de identificar a abordagem metodolgica utilizada, faz a reviso da literatura

    para em seguida apresentar os resultados da investigao e, finalmente concluir com

    uma viso holstica da realidade analisada.

    Assim, nesta introduo, identificam-se os motivos que conduziram

    emergncia desta investigao, definem-se os seus fins e objetivos, desmultiplicado

    em objetivos gerais e especficos, e descreve-se a forma como o estudo est

    organizado.

    1. Biblioteca 2.0 e as bibliotecas pblicas portuguesas: a urgncia de uma investigao

    A adaptao das bibliotecas evoluo da sociedade contempornea, e mais

    especificamente, s transformaes que a WWW tem vindo a conhecer desde 2005,

    genericamente designadas por Web 2.0, fizeram nascer o conceito de Biblioteca 2.0.

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    Este conceito est, no entanto, longe de ser definido de forma consensual.

    Para alguns apenas uma questo de utilizao de tecnologia, para outros trata-se

    de continuar o trabalho que as bibliotecas tm desenvolvido agora com o recurso a

    novos instrumentos que a tecnologia proporciona. Finalmente, para os que mais

    valorizam as novas tendncias evolutivas na WWW, trata-se de um novo paradigma

    de servio e de biblioteca que dar lugar a uma organizao de tipo novo.

    A controvrsia sobre o que seja a Biblioteca 2.0 ainda hoje em pleno

    desenvolvimento no impede completamente a possibilidade de identificar alguns

    aspetos bsicos que se encontram predominantemente na literatura. Tendo

    comeado com um especial enfoque sobre a tecnologia e sobre a Web 2.0, o que

    levou mesmo alguns a sintetizar o conceito numa espcie de equao Web 2.0 +

    Biblioteca = Biblioteca 2.0, foi sendo construda uma abordagem mais centrada nos

    servios prestados pelas bibliotecas, onde se destaca como aspeto fundamental a

    participao ativa do utilizar na construo desse servio e uma constante adaptao

    mudana.

    A forma como as bibliotecas pblicas se iro eventualmente transformar em

    consequncia destas novas realidades, nomeadamente na definio de novos papis

    informacionais e sociais, no ainda clara. No obstante, pode prever-se que o

    impacto que estas transformaes tero nestas bibliotecas ser decisivo, o que

    conduziu j alguns autores definio de uma nova misso para estas bibliotecas.

    Por exemplo, Chowdhury, Poulter e McMenemy (2006, p.459) partindo da assuno

    de que o conhecimento existente numa dada comunidade de extrema relevncia

    para essa comunidade, postulam que a biblioteca pblica deve assumir a nova

    misso de se tornar a platform for the storage and dissemination of local

    community knowledge within the global context created by twenty-first century

    digital technologies. Esta nova misso aproxima-se igualmente de uma das

    recomendaes das diretrizes da IFLA/UNESCO (2006, p.17) para a implementao do

    Manifesto sobre a Internet quando refere: Libraries should identify, facilitate the

    production of, and promote locally produced and locally relevant information

    content.

    Qualquer que seja o modelo definitivo que venha a ser construdo para uma

    biblioteca pblica 2.0, uma realidade parecer ser incontornvel: o mundo da

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    informao conheceu recentemente novas e decisivas transformaes e as

    bibliotecas no podem alhear-se destas mudanas sem pr em risco o seu papel na

    sociedade. Num recente documento da Seco de Bibliotecas Pblicas da IFLA (2009)

    recomenda-se, para promover a adaptao das bibliotecas pblicas

    contemporaneidade, entre outras ideias, Liberate our services using the World

    Wide Web 2.0 and look towards Web 3.0 e 4.0.

    Este novo mundo apresenta, assim, um conjunto de desafios os quais as

    bibliotecas pblicas tm vindo a considerar, definindo algumas estratgias de

    resposta. O sucesso e a rapidez destas transformaes dependero de vrios fatores

    tais como competncias dos profissionais, infraestrutura tecnolgica das bibliotecas,

    competncias dos utilizadores e diverso tipo de fatores situacionais.

    Estas bibliotecas parecem estar, neste momento, numa fase de

    transformao na qual, embora j tendo eventualmente reconhecido a importncia

    da Web 2.0 (Lietzau e Helgren, 2011; Carlsson, 2012a) e das novas formas como os

    indivduos se relacionam com a informao, esto ainda longe de ter chegado a uma

    nova configurao de biblioteca (Aharony, 2010, 2011), o que torna essencial a

    investigao, quer sobre as estratgias e as prticas que estas tm vindo a

    desenvolver para responder aos novos desafios e as concepes que os profissionais

    tm vindo a elaborar; quer sobre a utilizao e aceitao desta tecnologia e seus

    instrumentos pelos seus utilizadores.

    Esta investigao inscreve-se exatamente no quadro da primeira perspetiva,

    ou seja, a das bibliotecas. Se a anlise segundo este ponto de vista se justificaria em

    qualquer contexto, dada a exiguidade dos estudos sobre as bibliotecas pblicas,

    ainda mais crucial no caso portugus, essencialmente pelas seguintes ordens de

    razes: em primeiro lugar, a investigao sobre esta realidade bastante diminuta e

    tem analisado apenas aspetos parcelares, embora apresente algumas evidncias que

    demonstram que, sobretudo relativamente a algumas das plataformas da Web 2.0,

    se tem verificado um crescimento da utilizao; em segundo, alguns resultados de

    investigao sobre stios Web destas bibliotecas tm vindo a revelar uma viso

    pouco adequada sua natureza e potencialidades, mesmo na fase da Web 1.0, o que

    torna ainda mais relevante compreender como que as bibliotecas adaptaram essa

    viso realidade desta nova fase da Web. Portanto, pode afirmar-se que uma

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    investigao desta natureza se tornou urgente exatamente na medida em que ela

    permitiu um conhecimento mais aprofundado da realidade e poder contribuir para

    uma transformao e melhoria do trabalho das bibliotecas.

    Assim, o objeto de estudo desta investigao foram as bibliotecas que

    compem da Rede Nacional de Bibliotecas Pblicas no territrio continental sob dois

    pontos de vista fundamentais: a utilizao que fazem das plataformas da Web 2.0 e

    a formas como os seus stios Web e Web OPACs tm vindo a evoluir neste contexto;

    e as perspetivas e concepes dos profissionais sobre a Web 2.0 e sua utilizao por

    estas bibliotecas. O racional para a escolha das bibliotecas da RNBP e

    particularmente aquelas que j se encontram em funcionamento em Portugal

    continental est ligado ao facto de partilharem um conjunto de caractersticas

    estruturais bsicas, de possurem uma infraestrutura tecnolgica mnima que

    permite a participao e de estarem dotadas de um quadro de profissionais com,

    pelo menos, conhecimento e competncias bsicas em Cincias da Informao. A

    excluso das regies autnomas fica a dever-se ao facto de ali o projeto de rede de

    bibliotecas pblicas ser de implementao recente.

    2. Fins, objetivos e questes da investigao

    Os fins e objetivos desta investigao foram, desta forma, definidos no

    contexto terico do conceito de Biblioteca 2.0. A Biblioteca 2.0, no dizer dos autores

    deste conceito (Casey e Savastinuk, 2006, 2007), traduz, como de certa forma j foi

    enunciado, a ideia de um novo modelo de servio para as bibliotecas, que visa quer a

    criao de novos servios, quer a transformao dos tradicionais para permitir a

    adaptao da biblioteca mudana social e tecnolgica e captar novos utilizadores.

    atravs da mudana constante com um propsito definido e da participao dos

    utilizadores que as bibliotecas podero implementar este modelo. A natureza no

    prescritiva destes aspetos implica, em primeiro lugar, como afirmam os autores, que

    no single definition criterion makes a service fit under the banner of Library 2.0;

    there is no precise litmus test designed to identify Library 2.0 models (Casey e

    Savastinuk, 2007, p.66-67). Assim, qualquer servio, desde que se transforme ao

    longo do tempo de acordo com as necessidades dos utilizadores e incorpore a

    participao destes, pode ser considerado um servio 2.0. Por outro lado, isto

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    implica necessariamente uma adaptao caso a caso, de acordo com as

    circunstncias locais, quer em termos de pblicos, quer em termos organizacionais.

    As tecnologias da informao e da comunicao, particularmente a Web 2.0,

    desempenham um importante papel na concretizao deste modelo, embora os

    seus autores afirmem inicialmente que este no o seu principal componente. No

    entanto, acabam por escrever que with Web 2.0 technologies we have at our

    disposal a vast array of tools that invite user participation. If used properly, these

    Web 2.0 tools give you the ability to reach out new and existing users, increasing

    your ability to reach the long tail of users, a primary goal of Library 2.0 (Casey e

    Savastinuk, 2007, p. 78), depois de terem reconhecido que indeed, this new

    changing world of technology will do nothing less than change the very way we do

    business (Casey e Savastinuk 2007, p. 73).

    Esta breve descrio do conceito de Biblioteca 2.0 serve, neste momento,

    apenas para contextualizar a definio dos fins e objetivos desta investigao. O

    modelo ser verdadeiramente desenvolvido e problematizado no cap. II deste

    trabalho.

    Partindo deste conceito e tendo em conta a realidade das bibliotecas pblicas

    portuguesas, quer do ponto de vista mais estrutural, quer mais circunstancial no

    sentido da sua participao no contexto da Web 2.0 (cf. cap. VI), esta investigao

    pretendeu essencialmente contribuir para seu o desenvolvimento em Portugal,

    atravs da compreenso das prticas e das concepes atualmente em presena,

    condio fundamental para sugerir caminhos para a implementao de um novo

    modelo de biblioteca, a Biblioteca 2.0.

    A implementao deste modelo permitir s bibliotecas pblicas

    portuguesas, em primeira instncia quelas que j aderiram utilizao das

    ferramentas da Web 2.0, repensar criticamente as suas prticas, criar novos servios

    ao utilizador, bem como reconfigurar servios tradicionais, adaptando-se s

    tendncias recentes de utilizao da Web por parte dos seus pblicos.

    Relativamente s bibliotecas que esto mais afastadas deste ambiente, os resultados

    da investigao podem permitir um melhor conhecimento da situao e

    eventualmente conduzir a uma transformao.

    Pretendeu-se atingir estes fins atravs dos seguintes objetivos:

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    1. Discutir a emergncia de um novo paradigma de biblioteca: a Biblioteca 2.0;

    2. Analisar processos e servios de base tecnolgica que constituem

    instrumentos de implementao do modelo de Biblioteca 2.0;

    3. Conhecer as prticas de utilizao da Web 2.0 pelos portugueses, incluindo

    os municpios;

    4. Caracterizar e compreender a participao bibliotecas pblicas portuguesas

    nas plataformas da Web 2.0, bem como a evoluo dos seus stios Web e

    Web OPACs neste mbito. No que concerne s plataformas da Web 2.0, as

    principais dimenses de anlise foram: produo de contedos, organizao

    da informao e dos contedos, resultados e impactos. Estas dimenses

    determinaram a definio de objetivos especficos, como se ver a seguir.

    5. Compreender as perspetivas dos bibliotecrios das bibliotecas pblicas

    portuguesas sobre a Biblioteca 2.0 e a sua aplicabilidade local, bem como

    determinar a existncia de eventuais dificuldades e desafios sua

    concretizao. Neste mbito foram apenas objeto de anlise os profissionais

    com responsabilidades de gesto nas bibliotecas que, pelo menos, aderiram

    com alguma intensidade utilizao das plataformas da Web 2.0.

    6. Elaborar contributos para uma teoria sobre a participao das bibliotecas

    pblicas portuguesas na Web 2.0. Trata-se apenas de contributos j que uma

    teoria abrangente deveria incluir, pelo menos, a componente pblicos, de

    forma estruturada e abrangente.

    Assim, esta investigao posiciona-se claramente, como j foi indicado, do

    ponto de vista das bibliotecas tentado compreender as suas prticas atuais e as

    concepes dos profissionais sobre essas prticas, fundamentalmente na utilizao

    de um dos principais instrumentos do modelo, a Web 2.0. Reconhece-se, por um

    lado, que as outras componentes do modelo so perspetivadas tendo a tecnologia

    como veculo, o que constitui apenas uma das formas possveis de considerar a

    questo. Por outro lado, uma perspetiva mais holstica na compreenso deste

    fenmeno ter que necessariamente incluir outro tipo de abordagens que

    considerem agentes igualmente relevantes neste contexto, desde logo, por exemplo,

    os pblicos das bibliotecas, atuais e potenciais, e os stakeholders organizacionais, ou

    seja, o nvel da administrao municipal. No entanto, havia que conceber um projeto

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    de investigao que se conformasse a um horizonte temporal preciso e produo

    de apenas um investigador.

    Neste mbito, cabe uma referncia relevante questo dos objetivos no

    contexto de estudos qualitativos, mbito onde este trabalho fundamentalmente se

    insere. De acordo com a literatura (Flick, 2009) este tipo de estudos pode perseguir

    diferentes tipos de objetivos, nomeadamente descrio de uma realidade, teste de

    hipteses, embora seja o menos frequente, e desenvolvimento de uma teoria. Entre

    a descrio e a elaborao de uma teoria dever posicionar-se a compreenso do

    fenmeno, que representa um nvel de conceptualizao superior descrio e

    anterior ao da teoria, no sentido em que a compreenso pode ser entendida como o

    ato de perceber, de apreender alguma coisa. Assim, o que aqui se pretendeu foi

    essencialmente a uma compreenso aprofundada e holstica sobre as questes

    referidas. A tentativa de elaborao de uma teoria foi, pelas razes j referidas, isso

    mesmo, mas tambm porque requirement of theory development is an excessive

    burden for many types of qualitative studies (Flick, 2009, p. 129)

    Considerando a abrangncia de alguns dos objetivos, particularmente os 4 e

    5, foi julgado relevante, a fim de manter o foco da investigao, o seu

    desmembramento em objetivos especficos, o que ajudou a direcion-la para os

    resultados que se pretendiam obter.

    Assim, no que respeita ao Objetivo 4, foram definidos os seguintes trs

    objetivos especficos:

    1. Compreender os propsitos e as prticas de utilizao das plataformas da Web 2.0

    pelas bibliotecas;

    2. Avaliar resultados e impactos da participao da biblioteca juntos dos pblicos;

    Este objetivo no estava previsto no incio da investigao. No entanto, em

    primeiro lugar, a reviso da literatura revelou que este aspeto era muito

    insuficientemente considerado. Mesmo no caso portugus, se bem que os estudos

    de Alvim (2011) considerem a questo dos pblicos quando estudam a comunicao,

    no s no o relacionam de forma aprofundada com os contedos efetivamente

    produzidos (a anlise efetuada maioritariamente quantitativa), como estes tm

    como objeto apenas os blogues e o Facebook. De qualquer forma, o nico aspeto

    estudado o da comunicao. Por outro lado, o discurso dos profissionais revelou

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    um certo desencanto quanto ao nvel de participao dos pblicos e uma

    desvalorizao de determinadas formas de reao destes, o que determinou que,

    sobretudo em relao ao Facebook, a plataforma mais popular entre as bibliotecas,

    fosse desenvolvida a anlise das reaes do pblico.

    Assim, o que aqui se pretendeu foi contribuir para um estudo mais

    diversificado dos resultados e impactos da participao das bibliotecas, atravs da

    reao que os pblicos demonstram a essa participao. A conjugao dos

    resultados obtidos desta forma com os que resultaram da investigao de Alvim

    (2011) permitiu obter uma compreenso mais profunda desta problemtica. Para

    alm disto, a considerao deste aspeto possibilitou entender melhor as prticas de

    utilizao das bibliotecas, sobretudo na forma como tratam as reaes do pblico.

    No entanto, esta abordagem apresenta a limitao de apenas utilizar para

    estudo desses resultados e impactos as formas de reao s publicaes das

    bibliotecas que as plataformas produzem e, mesmo assim, essas formas de reao

    so apenas as que esto visveis ao investigador na anlise de cada conta.

    3. Conhecer como que os tradicionais produtos de informao publicados pelas

    bibliotecas na Web (stio Web e Web OPAC) evoluram de acordo com o ambiente da

    Web 2.0, considerando que a Web 2.0 no apenas as plataformas especficas

    criadas de novo, tambm a forma como os produtos da Web 1.0 se

    transformaram. Esta tendncia atingiu igualmente as bibliotecas, sobretudo atravs

    do conceito de catlogo 2.0 (cf. ponto 4.7.1).

    Relativamente ao 5 objetivo e sempre do ponto de vista dos profissionais,

    pretendeu-se compreender:

    1. Significado e importncia que estes atribuam ao conceito de biblioteca 2.0 e

    como perspetivavam a sua aplicabilidade s bibliotecas pblicas;

    2. Perspetivas e reflexes sobre prticas de utilizao das plataformas da Web 2.0

    pelas bibliotecas pblicas;

    3. Impactos da utilizao das plataformas na prestao dos servios;

    4. Impactos da utilizao das plataformas na relao com os pblicos;

    5. Desafios e problemas de implementao durante o processo de adeso s

    plataformas da Web 2.0.

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    Os temas da entrevista e as perguntas que deles derivam permitiram a concretizao

    destes objetivos especficos (cf. ponto 1.3.4).

    Questes de investigao

    A formulao de perguntas de investigao considerada pela literatura

    como um dos aspetos cruciais do processo de definio de um projeto e condio

    essencial do seu sucesso. Flick (2009, p.97) afirma mesmo que If you want to start

    your qualitative study, a first and central step, and one that essentially determines

    success in qualitative research but tends to be ignored in most presentations of

    methods, is how to formulate the research question(s). As perguntas devem

    caracterizar-se por solidez e clareza sob pena de pr decisivamente em causa os

    resultados. O mesmo autor (2009, p.98) refora esta ideia quando escreve you

    should formulate research questions in concrete terms with the aim of clarifying

    what the field contacts are supposed to reveal. The less clearly you formulate your

    research question, the greater is the danger that you will find yourself in the end

    confronted with mountains of data helplessly to analyse them.

    O nvel de generalidade vs. especificidade destas questes objeto de

    alguma diferena conceptual. Gorman e Clayton (2005) preveem dois nveis de

    questes, um mais genrico, o qual no chegam a designar por questo, mas sim

    problema de investigao, e um mais especfico ento designado por questes de

    investigao. Flick (2009) prev igualmente dois nveis, mas designa-os sempre como

    perguntas de investigao, as quais podem ser gerais e especficas.

    Parece, assim, existir nestas concepes a considerao de dois nveis de

    questes de investigao que vo progredindo do geral para o particular. No

    entanto, no caso desta investigao e tendo em conta que j foram definidos

    objetivos gerais e especficos, decidiu-se utilizar este conceito de questes de

    investigao na sua dimenso de especificidade.

    No mbito desta deciso, optou-se por definir um conjunto de perguntas

    especficas de investigao que permitiram concretizar de forma precisa cada um

    dos objetivos definidos e contribuir de forma eficaz para a sua prossecuo. Assim,

    na lista que se segue elencam-se as perguntas nas reas relacionadas com a

    concretizao de cada um dos objetivos:

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    1. Adeso das bibliotecas plataforma. Quais, quantas e quando aderiram as

    bibliotecas da RNBP s plataformas selecionadas?

    2. Construo da identidade na plataforma. Como constroem as bibliotecas ou seus

    perfis em cada plataforma? Como se descrevem?

    3. Produo da informao. Que quantidades de contedos produzem ou carregam

    em cada plataforma? Que ritmos de produo/carregamento ao longo do tempo?

    4. Organizao da informao. Como organizam os contedos em cada plataforma?

    Como descrevem os contedos? Os contedos so descritos uniforme e

    sistematicamente? A resposta a estas perguntas teve, evidentemente em conta, as

    possibilidades de organizao da informao proporcionadas pelas plataformas.

    Considerando que essas possibilidades diferem substancialmente de caso para caso,

    a anlise teve em conta essas diferenas. Por outro lado, tambm no se partiu para

    esta anlise com nenhum tipo de paradigma da organizao da informao pr-

    definido.

    5. Contedos produzidos/carregados. Que contedos so produzidos e/ou

    carregados em cada plataforma? Qual a natureza desses contedos? A resposta a

    estas questes foi particularmente relevante para compreender os propsitos de

    utilizao das plataformas pelas bibliotecas.

    6. Compromisso de socializao das bibliotecas em cada plataforma. Como exploram

    as bibliotecas as possibilidade de socializao em cada plataforma?

    7. Abertura participao dos pblicos. As bibliotecas restringem ou abrem as

    formas de participao do pblico em cada plataforma? Quais so as formas de

    participao do pblico permitidas e recusadas?

    8. Que resultados e impactos obtm as bibliotecas junto dos pblicos como

    resultado da sua participao em cada plataforma?

    Estas questes sobre a utilizao das plataformas da Web 2.0 pelas

    bibliotecas foram orientadas descrio do estado atual da sua participao, bem

    como, em alguns aspetos, da sua evoluo ao longo do tempo (FLICK, 2009, p. 102),

    tendo sido aplicada, na sua construo, uma triangulao de perspetivas (FLICK,

    2009, pp. 100-101), j que no se estudaram apenas as quantidades produzidas ao

    longo do tempo, mas tambm a forma como os contedos so organizados, um

    aspeto essencial para a sua recuperao e apropriao pelos pblicos, e a sua

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    caracterizao aprofundada atravs da anlise de contedo das publicaes

    efetuadas pelas bibliotecas, bem como a reao dos pblicos. Este conjunto de

    questes permitiu efetivamente uma caracterizao da participao das bibliotecas

    em vrias dimenses.

    9. Stios Web. Que formas implementaram as bibliotecas nos seus stios Web que

    permitam a interao e/ou participao com/dos utilizadores? Que possibilidades

    so dadas aos utilizadores de apropriao e reutilizao da informao publicada?

    Como se relacionam os stios Web com as plataformas da Web 2.0 onde a biblioteca

    est presente?

    10. Catlogos em linha na Web. Qual o nvel de aproximao ou distanciamentos dos

    catlogos em linha na Web com o modelo de catlogo 2.0?

    Relativamente abordagem das perspetivas dos profissionais, formas as

    seguintes as questes a que se pretendeu responder:

    a) Qual o conceito que os bibliotecrios associam ao termo Biblioteca 2.0? Como

    avaliam a sua adequao s bibliotecas pblicas?

    b) Como perspetivam a utilizao das plataformas da Web 2.0 pelas bibliotecas

    pblicas? Que vantagens e desvantagens podem as bibliotecas retirar da utilizao

    dessas plataformas?

    c) Que estratgia definiram para a participao da biblioteca de que so

    responsveis nas plataformas da Web 2.0?

    d) Como avaliam os resultados e impactos dessa participao, particularmente no

    que diz respeito aos servios, aos utilizadores e biblioteca como um todo?

    e) Como consideram os papis do utilizador e das comunidades no contexto das

    novas formas de expresso, comunicao e participao que as plataformas da Web

    2.0 possibilitam?

    f) Como descrevem as condies e os requisitos necessrios participao no caso

    das bibliotecas de que so responsveis? Que dificuldades ou constrangimentos

    tiveram que enfrentar?

    g) Como perspetivam os desafios de gesto da participao no mdio prazo?

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    3. Organizao dos contedos

    Os temas abordados neste estudo so estruturados, em primeiro lugar, em

    dois grandes blocos ou partes. A primeira, que se desenvolve entre os captulos II e

    VII, constitui essencialmente uma reviso da literatura. Pode considerar-se que esta

    se decompe, por sua vez, em duas grandes subpartes: a primeira (captulos II a V),

    parte do conceito de Biblioteca 2.0 (cap. II) e tendo em conta a importncia da sua

    base estrutural, ou seja, a Web 2.0, traa, em primeiro lugar, um quadro sntese de

    caracterizao desta fase da Web (cap. III). A partir desta viso global e tendo em

    conta a importncia que assumem determinadas plataformas e recursos

    tecnolgicos, at pela utilizao que as bibliotecas delas fazem, caracterizam-se as

    vrias solues (cap. IV) que vo desde blogues, passando por wikis, favoritos sociais

    at s redes sociais propriamente ditas, classificadas de acordo com critrios de

    generalidade/especificidade e tipologia de contedos. A anlise destas plataformas

    ora feita atravs de concretizaes especficas quando elas assumem uma

    importncia relevante, como o caso do Twitter ou do Facebook, ou a partir das suas

    caractersticas transversais como no caso dos blogues. Em cada tipologia so

    tambm sintetizados os resultados de estudos que analisam as formas como as

    bibliotecas tm vindo a utilizar essas plataformas. A incluso de RSS neste contexto

    justifica-se na medida em que constitui o principal formato criado no contexto da

    Web 2.0 para permitir novas formas de publicao e partilha de informao. Embora

    na anlise de cada plataforma tenham sido referidos os aspetos especficos relativos

    sua utilizao e gesto, considerou-se relevante identificar e problematizar as

    questes transversais da implementao de uma estratgia e da sua correspondente

    gesto tendo em conta, fundamentalmente, as bibliotecas (ponto 4.6).

    Considerando que a Web 2.0 contaminou todas as formas de utilizao da

    Web, so tambm analisadas as tendncias de evoluo dos stios Web e dos

    catlogos em linha das bibliotecas (ponto 4.7).

    Por ltimo, e tendo em conta que o objeto central deste estudo so as

    bibliotecas pblicas, so revistos de forma exaustiva os estudos sobre a utilizao

    que estas bibliotecas, escala internacional, tm vindo a fazer do universo de

    possibilidades que a Web 2.0 proporciona (cap. V).

  • 14

    O segundo bloco de contedos desta primeira parte (captulos VI e VII)

    pretende elaborar um retrato da situao portuguesa em dois domnios, a saber: a

    utilizao da Web 2.0 pela sociedade portuguesa (cap. VI) e a Rede Nacional de

    Bibliotecas Pblicas (RNBP) (cap. VII). A reviso da literatura sobre a RNBP

    fundamental tendo em conta que se trata do objeto de estudo desta investigao. O

    racional para a incluso do primeiro tema prende-se com a necessidade de

    compreender como que os pblicos das bibliotecas participam neste ambiente

    tendo em conta que as caractersticas desta participao devem orientar o trabalho

    desenvolvido por estas.

    A segunda parte (captulos VIII e IX) descreve e analisa os resultados da

    investigao levada a cabo sobre a utilizao das plataformas da Web 2.0 pelas

    bibliotecas pblicas da RNBP numa dupla perspetiva: a das prticas, ou seja, das

    formas de utilizao de cada uma das principais plataformas revistas na parte

    anterior; e a das concepes dos profissionais dessas bibliotecas exatamente sobre

    este universo e a experincia de utilizao das suas bibliotecas.

    Em relao s prticas (cap. VIII), a participao nas principais plataformas

    (blogues, Facebook, Twitter, YouTube, Flickr, Slidehare, Scribd, Delicious) analisada

    exaustivamente dos pontos de vista da produo e organizao dos contedos, seus

    resultados e impactos. Ainda neste mbito so analisados os stios Web e os Web

    Opacs das bibliotecas no que respeita sua transformao por ao das tecnologias

    e do esprito da Web 2.0.

    As concepes e perspetivas dos bibliotecrios das bibliotecas pblicas

    portuguesas so analisadas a partir dos dados recolhidos em 14 entrevistas feitas

    aos responsveis por bibliotecas de diversas tipologias dentro da RNBP.

    A anlise destas duas perspetivas empregou como abordagem metodolgica

    (cap. I) a triangulao dos dados e dos resultados obtidos atravs do uso de

    procedimentos metodolgicos de tipo quantitativo no mbito das prticas das

    bibliotecas e de tipo qualitativo no domnio das concepes dos profissionais. A

    abordagem quantitativa s prticas no excluiu, bem ao contrrio, uma anlise de

    contedo qualitativa aos contedos publicados pelas bibliotecas, o que se revelou

    essencial para uma compreenso mais profunda das formas de utilizao.

    Independentemente da utilizao de uma abordagem quantitativa para anlise de

  • 15

    alguns dos aspetos da realidade, esta investigao no partiu para a recolha e

    anlise dos dados a tentar demonstrar qualquer teoria ou hiptese.

    Nas concluses finais constri-se uma viso integradora das concluses

    parciais que foram sendo obtidas, quer ao longo da reviso da literatura, quer dos

    resultados da investigao de campo, numa tentativa contribuir para uma teoria

    abrangente sobre a atuao das bibliotecas pblicas neste ambiente e sugerir

    algumas linhas de fora fundamentais de uma estratgia futura. Quer do ponto de

    vista da prtica, quer das concepes, as bibliotecas pblicas portuguesas, mas

    tambm parte das suas congneres internacionais, revelam alguma dificuldade na

    explorao das potencialidades que os novos recursos tecnolgicos vieram

    possibilitar, integrando-os num paradigma tradicional de biblioteca, bastante

    distante daquele que a Biblioteca 2.0 anuncia.

    Os elementos no textuais (tabelas e grficos) foram includos no texto

    quando tal se revelou indispensvel para ilustrar ou apoiar a anlise e numerados

    individualmente em cada captulo. Outros elementos deste mesmo tipo foram

    reunidos nos Anexos que so apresentados divididos conforme os captulos em que

    ocorrem e numerados sequencialmente.

    Quer as referncias bibliogrficas no texto, quer a bibliografia utilizadas

    foram organizadas de acorda com Norma Portuguesa 405.

    Com este trabalho, pela primeira vez, a comunidade dos profissionais, a

    academia, mas tambm o cidado interessado nestes temas, tem acesso, no s a

    um conjunto de dados que nesta extenso e diversidade nunca tinham sido

    apresentados, mas sobretudo aos resultados de uma abordagem que associa dois

    aspetos fundamentais, tantas vezes tratados de forma separada, o que permite ter

    uma viso integradora da realidade estudada.

  • 16

    I. ABORDAGEM METODOLGICA

    Uma vez definida a rea de estudo e os objetivos que se pretendem atingir

    num projeto de investigao, a construo do caminho para atingir esse desiderato

    constitui a pedra de toque fundamental. Alis, mais do que atingir verdades

    universais, o que verdadeiramente caracteriza a produo de conhecimento nas

    cincias sociais, como referia Marc Bloch (1993) em relao Histria, o estudo

    cientificamente conduzido. A cientificidade avalia-se, em grande parte, pela

    adequao da abordagem metodolgica para atingir os objetivos definidos e a sua

    aplicao transparente e rigorosa.

    O presente captulo trata exatamente desse caminho, ou seja, descreve-se o

    desenho da investigao posta em prtica, o que inclui as opes relativas aos

    mtodos utilizados, recolha e ao tratamento dos dados, bem como ao estudo da

    literatura at agora produzida. Identificam-se tambm os pressupostos ticos que

    nortearam o processo e os critrios de avaliao da qualidade da investigao

    aplicados.

    Considerando que se pretendia fundamental abordar a realidade de dois

    pontos de vista, o das prticas das bibliotecas na utilizao da Web 2.0 e as

    concepes dos profissionais sobre essas prticas e seus impactos nas bibliotecas, foi

    utilizada uma abordagem que passou pela triangulao de dados e resultados,

    usando uma abordagem quantitativa e qualitativa para estudar as prticas e uma de

    natureza apenas qualitativa para anlise das concepes.

    1.1 Seleo dos mtodos

    A escolha da abordagem metodolgica adequada para atingir os objetivos de

    uma investigao depende, de forma genrica, da opo filosfica do investigador

    relativamente realidade e ao ato de conhecer. De forma sinttica pode dizer-se,

    sem a classificao das vrias correntes possveis, que existem duas grande

    concepes: uma que v a realidade de forma exterior ao sujeito, ou seja, a

    realidade existe de per si, e pode ser conhecida por mtodos objetivos que

    permitam encontrar a verdade explicativa de um fenmeno; outra que considera

    que a realidade uma construo social e, portanto, s pode ser conhecida atravs

  • 17

    dos olhos desse sujeito. Mais do que considerar a existncia de uma realidade

    qual s atravs do sujeito se poderia aceder, nesta perspetiva, a realidade uma

    construo exclusivamente social, ou seja, s existe enquanto o sujeito a construir.

    Destas duas concepes decorrem genericamente, pelo menos nos seus

    extremos, duas diferentes abordagens metodolgicas, designadas respetivamente

    por quantitativas e qualitativas. O racional da primeira abordagem o de que uma

    das formas de melhor conhecer essa realidade atravs da sua expresso em

    quantidades, donde o desenvolvimento de tcnicas de tratamento quantitativo dos

    dados. Esta perspetiva estendeu-se inclusive s cincias sociais atravs da

    quantificao das qualidades. Pelo contrrio, o racional da segunda abordagem

    considera que as qualidades no so quantificveis, elas expressam-se no mbito de

    um discurso do sujeito, donde conhecer a realidade conhecer os discursos dos

    sujeitos que se apresentam dentro de um determinado contexto que os torna

    nicos, donde o material da abordagem qualitativa sobretudo o texto, enquanto

    corporizao desse discurso e intermedirio para o conhecimento da realidade, o

    pensamento do sujeito (Gorman e Clayton, 2005; Pickard, 2008; Flick, 2009)

    No entanto, as diferenas entre estas duas abordagens concretizam-se de

    forma mais complexa do que a dicotomia do pargrafo anterior faz crer. De facto, a

    abordagem metodolgica genericamente designada por quantitativa aquela que

    tem como base o comumente designado mtodo cientfico, ou seja, um processo

    linear e dedutivo de abordagem realidade e sua interpretao classicamente

    definido nas seguintes fazes: contexto terico (reviso da literatura) --- hipteses ---

    seleo do(s) mtodos apropriados --- definio da amostra --- desenho os

    instrumentos de recolha de dados --- recolha de dados --- anlise dos dados---

    generalizao dos resultados --- leis gerais.

    Pelo contrrio, a abordagem qualitativa pretende fundamentalmente

    compreender o sentido dos fenmenos dentro de um determinado contexto a partir

    do ponto de vista dos seus participantes e desenvolver teorias com base nesses

    dados. Assim, em sintese, pode afirmar-se que a investigao qualitativa um

    process of enquiry that draws from the context in which events occur, in an

    attempt to describe these occurrences, as a means of determine the process in

    which events are embedded and the perspectives of those participating in the

  • 18

    events, using induction to derive possible explanation based on the observed

    phenomena (Gorman e Clayton, 2005, p. 3).

    Esta abordagem apresenta como caractersticas essenciais a escolha correta

    dos mtodos e teorias apropriadas, a anlise da diversidade de perspetivas dos

    participantes, a variedade de abordagens e mtodos, a permanente e estreita

    relao com os dados empricos e um processo de gerao do conhecimento que se

    baseia na induo (Gorman e Clayton, 2005; Flick, 2009). Assim, como afirma Flick

    (2009, p. 15) qualitative researchs central criteria depend on whether findings are

    grounded in empirical material or whether the methods are appropriately selected

    and applied as well as the relevance of findings and the reflexivity of proceedings.

    Estas duas abordagens de base apresentam diversas foras e fraquezas, o que

    fez emergir, desde h alguns anos, o que poderia ser designado por 3 via e que se

    traduz numa combinao de estratgias qualitativas e quantitativas como alternativa

    uma certa guerrilha entre os paradigmas de conhecimento (Flick, 2009).

    Esta 3 via designada na literatura quer com uma terminologia diferente,

    quer, em alguns aspetos, com uma concepo com algumas divergncias,

    apresentando, no entanto, uma base de aspetos convergentes.

    Conhecida inicialmente como triangulao, Gorman e Clayton (2005)

    referiam j no incio da primeira dcada deste sculo, apoiando-se em Burgess, que

    esta terminologia estava j desatualizada porque ela implica a ideia de trs pontos

    num tringulo. Assim, a terminologia Mtodos Mistos parece ter-se tornado a

    preferida. No entanto, Denscombe (2007) esclarece que no h nada de novo nesta

    estratgia, embora reconhea que a identificao de uma abordagem designada por

    Mtodos Mistos relativamente nova.

    A partir daqui, parece existir aparentemente uma diferena conceptual entre

    alguns autores. Denscombe (2007, pp. 107-108) v a triangulao como um aspeto

    da utilizao dos mtodos mistos, que so definidos como aqueles que, em primeiro

    lugar, utilizam abordagens quantitativas e qualitativas no mesmo projeto de

    investigao. Mas, para alm de utilizar o quantitativo / qualitativo, fundamental

    estabelecer as formas da relao entre os dois e este aspeto que o autor designa

    especificamente como triangulao, esclarecendo que the Mixed Methods

    approach emphasizes the need to explain why the alternative approaches are

  • 19

    beneficial and how the alternatives are to be brought together (Denscombe, 2007,

    p. 108). Por ltimo, para este mesmo autor, os mtodos mistos pem o enfase numa

    abordagem prtica a um problema de investigao, ou seja, the Mixed Methods

    approach is problem-driven in the sense that it treats the research problem more

    specifically answers to the research problem as a overriding concern (Denscombe,

    2007, p. 108).

    Assim, para Denscombe (2007, p.134) a triangulao involves the practice of

    viewing things from more than one perspective. This can mean the use of different

    methods, different sources of data or even different researchers within the study.

    The principle behind this is that researcher can get a better understanding of the

    thing that is being investigated if she/he views it from different positions. Se

    comparada esta definio com as caractersticas que o mesmo autor atribui aos

    mtodos mistos no so claras as suas radicais diferenas. Parece que se est em

    presena de uma nova terminologia que pretende afastar a ideia de um certo

    determinismo implcito no termo triangulao, mas que olha o problema

    essencialmente da mesma perspetiva. Nem mesmo existe uma diferena de ponto

    de vista, j que, embora os termos mtodos mistos apontem para uma mistura de

    mtodos, in practice, the term mixed methods has come to be used in a general

    sense to cover the spectrum of ways in which mixing can occur in the research

    process. In effect, it has given its name to a broad approach to research

    (Denscombe, 2007, p. 108).

    Flick (2009, p. 445) parece preferir o termo triangulao que define como a

    abordagem na qual os investigadores respondem s questes da investigao de

    acordo com vrias perspetivas. Estas perspetivas podem ser, segundo o mesmo

    autor, substantiated in using several methods and/or in several theoretical

    approaches. Both are or should be linked. Furthermore it refers to combining

    different sorts of data on the background of the theoretical perspectives, which are

    applied to the data. As far as possible, these perspectives should be treated and

    applied on an equal footing and in an equally consequent way. At the same time,

    triangulation (of different methods or data sorts) should allow a principal surplus of

    knowledge..

  • 20

    Assim, como resultado desta discusso, pode concluir-se que triangulao

    significa: a) a utilizao de abordagens metodolgicas quantitativas e qualitativas na

    prossecuo dos objetivos da investigao; b) a definio de formas de relao entre

    estas duas abordagens no mbito concreto de um projeto de investigao; c) a

    possibilidade de combinar as duas abordagens de diversas formas.

    A escolha dos mtodos a utilizar deve ser orientada fundamentalmente pelo

    critrio da adequabilidade aos objetivos da investigao. Como refere Denscombe

    (2007, p. 134), researchers should ask themselves which method is best suited to

    the task at hand and operate on the premise that when choosing a method for the

    collection of data, it is a matter of horses for courses. No existe, portanto, uma

    nica e melhor soluo, mas deve ter-se em conta que cada mtodo tem as suas

    foras e fraquezas e que, embora algumas estratgias de investigao estejam

    associadas a um determinado tipo de mtodos, isto no exclui a possibilidade de

    escolha, pelo que estes no so mutuamente exclusivos. (Denscombe, 2007, pp.

    133-134).

    A utilizao de diferentes abordagens metodolgicas levanta vrias questes

    conceptuais que o investigador deve ter linha de conta. Em primeiro lugar, so

    invocados diferentes paradigmas de investigao. Para os apoiantes menos crticos,

    esta circunstncia no levanta qualquer problema. Pelo contrrio, mixed methods

    approach is built on the belief that not only is allowable to mix methods from

    alternative and incompatible paradigms of research but it is also desirable to do so in

    order to provide answers that work (Denscombe, 2007, p. 117).

    Para outros, como Flick (2009), a utilizao da triangulao ao nvel

    metodolgico, sobretudo dentro da mesma abordagem, est ferida de insanveis

    incompatibilidades epistemolgicas exatamente porque impossvel compatibilizar

    duas abordagens to distintas ao ato de conhecer. Efetivamente, para este autor

    (p.33), the problems in combining qualitative and quantitative research

    nevertheless have not yet been solved in a satisfying way. Attempts to integrate

    both approaches often end up in a one-after-the-other (with different preferences),

    a side-by-side (with various degrees of independence of both strategies), or a

    dominance (also with different preferences) approach. Embora seja possvel admitir

    que uma das formas de ultrapassar esta incompatibilidade a de ver a aplicao das

  • 21

    duas abordagens de forma paralela durante o percurso da investigao, a questo

    est em saber se essa incompatibilidade epistemolgica no deve ser claramente

    admitida e, portanto, ser tida em linha de conta na construo final do

    conhecimento por parte do investigador em vez de discutir, por exemplo, a

    subordinao de uma abordagem a outra como forma de validao dos resultados.

    Denscombe (2007, p.138) parece, neste aspeto, apontar para uma perspetiva

    mais equilibrada, no deixando exatamente de reconhecer a existncia deste tipo de

    problemas. Assim, para este autor triangulation cannot prove that the researcher as

    got it right. In view of the nature of social reality and the nature of social

    measurement devices, triangulations potential needs to be seen more cautiously as

    providing more support, increasing confidence and reducing the possibility of

    error.

    Tendo em conta estas limitaes, a triangulao pode ser, no entanto,

    utilizada para obter vrios tipos de objetivos. Em primeiro lugar, tem potencialidade

    para permitir obter uma viso mais alargada e completa do fenmeno em estudo

    que pode ser abordado de diferentes pontos de vista. Como esclarece Denscombe

    (2007, p. 110), the benefit of the Mixed Methods approach in this instance is that

    the data produced by the different methods can be complementary. They can

    provide alternative perspectives that, when combined, go further towards an all-

    embracing vision of the subject than could be produced using a mono-method

    approach.

    Por outro lado, o emprego da triangulao pode compensar as fraquezas das

    abordagens individuais, o que no limite possibilita a validao dos resultados em

    termos de preciso (Gorman e Clayton, 2005; Denscombe, 2007, Flick, 2009). Assim,

    by combining multiple observers, theories, methods and data sources, (researchers)

    can hope to overcome the intrinsic bias that comes from single-methods, single

    observer, and single theory studies (Denzin, citado por Denscombe, 2007, p. 11).

    Flick (2009) v neste aspeto um dos principais objetivos da triangulao quantitativo

    / qualitativo, partindo do princpio que os mtodos qualitativos e quantitativos

    devem ser vistos mais de forma complementar do que em oposio. No entanto,

    para este autor (2009, p.27), e em virtude das incompatibilidades epistemolgicas j

  • 22

    assinaladas, the different methods remain autonomous; operating side by side, and

    their meeting point is the issue under study.

    Para alm de permitir uma viso mais abrangente do fenmeno, a

    triangulao pode tambm ser utilizada como forma de desenvolver a anlise, no

    sentido em que novos dados sero procurados a partir dos resultados da aplicao

    de uma das abordagens. Finalmente, a triangulao pode tambm ser utilizada para

    o desenvolvimento de instrumentos de investigao, como no caso da realizao de

    entrevistas exploratrias para construir um questionrio ou vice-versa (Denscombe,

    2007) e para proporcionar uma generalizao dos resultados (Flick, 2009).

    Existem, como se verificar em seguida, muitas formas de combinar as duas

    perspetivas, mas a escolha da forma mais adequada should be determined by the

    reasons for doing so, set against the circumstances, context and practical aspects of

    the research (Gorman e Clayton, 2005, p. 13). Portanto, de acordo

    fundamentalmente com os objetivos e as questes de investigao que se dever

    selecionar a melhor combinatria, embora a literatura sugira uma multiplicidade de

    possibilidades.

    Ao nvel do desenho da investigao, as duas abordagens podem ser

    combinadas sinteticamente das seguintes formas, a saber (Denscombe, 2007; Flick,

    2009):

    Estatuto equivalente: QUAL QUAN // QUAN QUAL, ou seja, as duas

    abordagens so igualmente relevantes e no se estabelece qualquer forma

    de subordinao;

    Estatuto mais e menos dominante: qual QUAN // QUAL quan, ou seja,

    neste caso h uma clara subordinao de uma das perspetivas, podendo ser a

    qualitativa ou a quantitativa.

    Particularmente no primeiro caso em que o estatuto das duas abordagens

    equivalente, parte-se do princpio de que treating qualitative and quantitative

    approaches to research as incompatible opposites is neither helpful nor realistic

    when it comes to research activity (Denscombe, 2007, p. 108).

    Para alm deste nvel, a literatura define ainda os seguintes tipos possveis de

    triangulao (Denscombe, 2007; Flick, 2009; Saldaa, 2013):

  • 23

    a) Triangulao metodolgica (entre mtodos), que apresenta vantagem de os

    resultados poderem ser corroborados ou questionados comparando dados obtidos

    com diferentes mtodos. Os resultados podem ser complementados adicionando

    qualquer coisa de novo e de diferente ao que conhecido atravs da utilizao de

    um s mtodo;

    b) Triangulao metodolgica (dentro dos mtodos), ou seja, a comparao

    utilizando mtodos similares. Este tipo de triangulao particularmente adaptado

    para a anlise e avaliao de dados quantitativos e para o desenvolvimento de

    instrumentos de recolha de dados;

    c) Triangulao dos dados, ou seja, a utilizao de fontes de informao

    contrastantes e posterior anlise. Neste mbito Flick, que v a triangulao

    sobretudo dentro da abordagem qualitativa, refere duas possibilidades: a

    transformao de dados qualitativos em quantitativos e vice-versa. (Flick, 2009, p.

    444). Esta triangulao na anlise dos dados pode ser aplicada segundo trs

    diferentes abordagens: a) utilizao de vrios mtodos para analisar os dados; b)

    usar diferentes formas de anlise dos dados; c) misturar os dados no processo de

    anlise em geral (Flick, 2009, p. 449);

    d) Triangulao do investigador, ou seja, a investigao envolve vrios investigadores

    que analisam os mesmos dados (Flick, 2009);

    e) Triangulao das teorias, quer dizer, utilizao de mais do que uma teoria na

    interpretao dos dados. (Denscombe, 2007; Flick, 2009).

    O uso desta abordagem apresenta, segundo os autores que tm vindo a ser

    citados, vrias vantagens e desvantagens. Entre as primeiras contam-se um

    conhecimento mais aprofundado do fenmeno em estudo, atravs do desenho de

    uma imagem mais completa, mas tambm da possibilidade de responder a um leque

    mais variado de questes de investigao. Como explicitamente refere Denscombe

    (2007, p.118), by encouraging the use of qualitative and quantitative methods and

    by facilitating a blend of exploratory and explanatory research, the findings are likely

    to address a wider range of the questions relating to how, why, what, who,

    when and how many. Em segundo lugar, a possibilidade de melhorar a preciso e

    a autenticidade, como forma de validao dos resultados, caso em que os mtodos

    so vistos como forma de corroborar os resultados (Denscombe, 2007; Flick, 2009).

  • 24

    No que concerne s desvantagens, contam-se, a possibilidade do tempo e

    custos necessrios ao desenvolvimento do projeto de investigao poderem ser

    superiores. Em segundo lugar, a distino entre QUAL / QUAN tende a simplificar

    muito as questes, porque se the labels QUAL and QUAN are convenient to use and

    easy to understand, a clear dividing line between qualitative and quantitative

    approaches is hard to sustain at either a practical or philosophical level

    (Denscombe, 2007, p. 119). Por outro lado, os resultados de diferentes mtodos

    podem no corroborar-se uns aos outros e, segundo Denscombe (2007, p. 120), the

    Mixed Methods approach, to a large degree, operates on the assumption that

    findings will coincide and that this will be a positive contribution to the research

    project. Flick (2009, pp. 450-451) apresenta, sobre este aspeto, uma perspetiva

    diferente que no v na divergncia um problema, mas uma oportunidade,

    exatamente para teorizar sobre essa divergncia e compreender as suas formas e

    motivaes. , assim, que para este autor, a triangulao becomes fruitful as a

    strategy for a more comprehensive understanding and a challenge to look for more

    and better explanation.

    Efetivamente, podem esperar-se, pelo menos, trs tipos de resultados

    possveis de uma abordagem desta natureza, a saber: a) resultados convergentes,

    que suportam as mesmas concluses; b) os resultados focam-se em diferentes

    aspetos de um fenmeno, mas so complementares uns dos outros e levam a uma

    imagem mais completa; c) os resultados so divergentes (Flick, 2009).

    A definio de uma amostra em triangulao deve assegurar que uma

    estratgia adequada a cada mtodo pode ser posta em prtica neste contexto e, em

    segundo lugar, definir que formas de a entrelaar que fazem sentido (Flick, 2009).

    Finalmente a literatura sugere algumas diretrizes para a utilizao eficiente e

    eficaz de uma abordagem deste tipo. O investigador deve, em primeira instncia,

    explicitar quais os objetivos que pretende atingir com a triangulao, os quais so,

    em sntese aumentar a preciso dos resultados e, portanto, assegurar uma maior

    validade; e obter uma imagem mais completa do fenmeno. Por outro lado, na

    escrita dos resultados, deve dar-se especial destaque comparao, contraste e

    integrao dos dados em vez de deixar as diferentes fontes ou tipo de dados em

    separado (Denscombe, 2007). No emprego das duas abordagens deve ainda refletir-

  • 25

    se sobre o peso a conferir a cada uma delas no que respeita ao plano da

    investigao, relevncia dos resultados e ao julgamento da qualidade da

    investigao; e decidir qual a relao entre as duas. Segundo Flick (2009, p. 33), ter

    em conta estas diretrizes permitir the development of sensitive designs of using

    qualitative and quantitative research in a pragmatic and reflexive way.

    Considerando os propsitos fundamentais desta investigao, a anlise das

    prticas e das concepes, foi decidido utilizar a triangulao como abordagem

    metodolgica fundamental. De entre os vrios tipos de triangulao possveis

    utilizou-se sobretudo de triangulao dos resultados (dados e interpretao) e no

    tanto dos mtodos, j que no so exatamente os mesmos dados que so analisados

    de acordo com mtodos diferentes, mas dados de vrio tipo sobre o mesmo

    fenmeno que so triangulados na interpretao final.

    Esta abordagem metodolgica foi utilizada tendo em conta se pretendiam

    atingir os seguintes objetivos:

    a) Obter uma perspetiva mais alargada e diversificada do fenmeno em estudo.

    Assim, na anlise das prticas das bibliotecas nas plataformas selecionadas foi feita

    uma abordagem quantitativa e qualitativa, no ltimo caso aplicada s suas

    publicaes e definio dos seus perfis na rede. O racional desta ltima escolha

    tem por base a perspetiva de que a flexibilidade da abordagem qualitativa permite

    uma adaptabilidade e compreenso em profundidade do seu contedo. A anlise

    das concepes e percepes dos profissionais foi exclusivamente realizada atravs

    de uma abordagem qualitativa.

    O facto de se encararem de forma relativamente independente estas duas

    dimenses do mesmo fenmeno decorre da perspetiva de que, embora

    intimamente relacionadas no sentido em que as prticas resultam de determinadas

    concepes e estas podem ser transformadas pelo exerccio continuado de certas

    prticas, elas as prticas - podem apresentar algum nvel de autonomia

    considerando que nem todas as prticas humanas so racionais ou tm um

    determinado racional assumido e sistematicamente aplicado.

    Por outro lado, nem sempre os sujeitos, mesmo na sua qualidade de

    profissionais, assumem um discurso sobre determinadas prticas. Por exemplo,

    embora este aspeto tenha emergido do discurso dos profissionais e no tenha sido

  • 26

    sistematicamente abordado, a fim de evitar situaes de eventual confronto

    entrevistador/entrevistado, verdade que em alguns casos no existe uma exata

    coincidncia entre a participao verificada e a participao assumida. De outro

    ponto de vista, a opo de entrevistar apenas os bibliotecrios responsveis, se

    apresenta vantagens em relao aos objetivos pretendidos, tem tambm a

    desvantagem de estes poderem estar (como acontece em alguns casos) distantes da

    efetiva operao nas plataformas e, portanto, a prtica revelar outro tipo de

    realidades para alm daquelas que as perspetivas expostas no discurso fariam

    antever.

    No entanto, na anlise destas duas dimenses do fenmeno no est

    assumido qualquer determinismo explicativo, mas apenas uma tentativa de

    compreender as suas vrias dimenses.

    b) Aumentar a probabilidade de generalizao dos resultados (validade externa).

    Esta maior probabilidade foi conseguida fundamentalmente pela utilizao

    sistemtica do universo das bibliotecas participantes nas plataformas da Web 2.0,

    mas tambm pela seleo da amostra qualitativa tendo em conta as caractersticas

    desse universo.

    O investigador est consciente que esta abordagem deixa de fora as

    bibliotecas e os profissionais que no utilizam este tipo de ferramentas, cuja

    perspetiva seria tambm interessante conhecer.

    Na aplicao destas duas abordagens, a construo do conhecimento usou

    sempre um processo indutivo. No se partiu para os dados a tentar demonstrar

    qualquer teoria (at porque no existe nenhuma teoria efetivamente digna desse

    nome neste mbito aplicada s bibliotecas pblicas), nem para verificar qualquer

    hiptese. Neste sentido, necessrio admitir o uso no cannico da abordagem

    quantitativa, j que o investigador no abordou a realidade com qualquer

    construo analtica pr-definida, nem quanto ao tipo de dados a recolher, nem

    quanto sua forma de tratamento. Foi sobretudo a observao da realidade que

    determinou a escolha dos dados a recolher. Os resultados da reviso da literatura

    tiveram aqui algum papel, mas no existe qualquer estudo que trate to

    aprofundadamente as prticas das bibliotecas pblicas. Tambm em relao ao

    discurso profissional, no foi claro que os estudos sobre bibliotecas pblicas que

  • 27

    observam o fenmeno sob este ponto de vista tenham abordado as concepes dos

    profissionais numa to grande diversidade de dimenses. Por outro lado, como j se

    assinalou, foi igualmente utilizada a abordagem qualitativa para a anlise de

    determinados aspetos da participao das bibliotecas, o que exclui qualquer

    tentativa de quantificar esse tipo de dados. Assim, nesta investigao, a abordagem

    quantitativa pode ser assim designada apenas por duas ordens de razes: utilizao

    de quantidades e tratamentos dos dados de acordo com essa natureza.

    Por outro lado, as perspetivas quantitativa e qualitativa foram aplicadas par a

    par, predominantemente de forma autnoma, embora tenham sido exploradas as

    possibilidades de contacto. A relao entre estas verificou-se predominantemente

    nas seguintes situaes:

    a) Universo/ Amostra. Considerando que o que fundamentalmente interessava era a

    anlise do conjunto das bibliotecas participantes, a amostra intencional utilizada

    para a recolha de dados sobre as concepes foi selecionada a partir do universo das

    bibliotecas que emergiu do estudo das prticas de participao;

    b) Anlise de resultados e impactos. Como j se referiu (cf. Introduo, ponto 2) o

    aprofundamento da anlise no mbito dos resultados e impactos, particularmente

    em algumas das plataformas, foi determinada, entre outras razes, pelos resultados

    preliminares da anlise de algumas entrevistas;

    c) Definio de alguns dos temas da entrevista. Determinadas dimenses dos temas

    1 e 2 da entrevista, nomeadamente as relacionadas com a definio de uma

    estratgia de participao e com os servios prestados nas plataformas da Web 2.0

    emergiram de algumas constataes que a anlise da participao foi revelando.

    Ainda neste mbito, quer a recolha de dados no mbito da participao das

    bibliotecas, quer nas entrevistas determinaram a necessidade de voltar reviso da

    literatura para aprofundar determinados aspetos. Por exemplo, a utilizao,

    particularmente por duas bibliotecas, das plataformas na rea do Fundo Local e a

    importncia dessa dimenso no discurso desses profissionais, obrigou o investigador

    a pesquisar a existncia de literatura neste domnio, tendo dado origem ao ponto

    5.3.

    Uma viso completa e integradora do desenho desta investigao est

    representada na fig.1, na qual a partir da definio dos fins e objetivos e da reviso

  • 28

    da literatura se abrem dois percursos de investigao, um dirigido anlise das

    prticas das bibliotecas num conjunto de plataformas da Web 2.0 e outro s

    concepes dos seus agentes profissionais, dos quais derivam resultados que sero

    integradas numa interpretao final.

    Fig. 1 Desenho da investigao

    Embora se reconhea que esta abordagem no chega a configurar um

    rigoroso desenho emergente da investigao, tal como a literatura o define, tambm

    no pode ser qualificado como um processo completamente linear.

  • 29

    1.2 Reviso da Literatura

    A reviso da literatura constitui-se como uma das primeiras etapas do

    processo de investigao, depois da seleo do tpico, da definio dos objetivos e

    da abordagem metodolgica. Ela pode ser definida como:

    The selection of available documents on the topic, which contain information,

    ideas, data and evidence written from a particular standpoint to fulfill certain aims

    or express certain views on the nature of the topic and how it is to be investigated,

    and the effective evaluation of these documents in relation to the research being

    proposed. (Hart, 2009, p.13).

    Desta definio decorrem dois aspetos fundamentais: a seleo dos

    documentos disponveis e a sua avaliao. No primeiro caso, e se uma tese de

    doutoramento deve demonstrar um conhecimento profundo do tpico objecto de

    investigao e esse conhecimento deve ter como base a anlise do que foi

    produzido, tambm verdade que no atual estado da produo e disseminao da

    informao claramente impossvel ler toda a produo sobre um determinado

    assunto.

    Esta realidade, bem como os objetivos de investigao que se pretende

    atingir, obrigam definio de critrios de seleo dos documentos a analisar. No

    ambiente da investigao cientfica, o critrio de validao pelos pares continua a ser

    ainda hoje o critrio base que assegura a validade dos resultados da investigao,

    sendo, portanto, os documentos publicados neste contexto os privilegiados em

    qualquer tentativa de identificao e leitura do que foi produzido sobre um

    determinado assunto. Sendo assim, a reviso da literatura nesta tese selecionou os

    documentos a analisar fundamentalmente de acordo com este critrio. O corpus

    documental que resultou desta seleo foi ainda submetido a um outro critrio, que

    foi o da centralidade que os temas objeto desta investigao tenham na literatura

    identificada. Por centralidade entenda-se que o tratamento dado pela literatura a

    esses temas deve ser nuclear e no meramente marginal ou exemplificativo.

    A utilizao exclusiva de literatura validada pelos pares excluiria claramente

    contributos importantes editados e disponibilizados fora desse contexto de

    produo cientfica. A produo intelectual sobre, quer a Web 2.0 quer a biblioteca

  • 30

    2.0, nasceu maioritariamente no ambiente Web utilizando a pluralidade de formas

    de comunicao existentes nesse contexto. De entre elas, os blogues assumem uma

    importncia primordial. A ttulo de exemplo refira-se que as primeiras tentativas de

    definio da Web 2.0 e da biblioteca 2.0 nasceram nos blogues da empresa OReilly

    Media (Tim OReilly) e de Michael Casey (OReilly Media; Casey). No entanto, o

    universo dos blogues , por um lado, extraordinariamente vasto, e por outro os

    contributos apresentam uma desigual valia para a investigao (Tomaiuolo, 2012).

    Assim, os blogues foram selecionados como fontes para a reviso da literatura de

    acordo com os seguintes critrios:

    a) Importncia do contributo para os objetivos da investigao;

    b) Outra produo validada do autor do blogue, quer monogrfica, quer em

    publicaes peridicas

    c) Autoridade do autor, verificada atravs das referncias acadmicas e profissionais.

    As anlises empreendidas, particularmente sobre a Web 2.0, por empresas

    na rea do marketing e da consultadoria de mercados foram utilizadas desde que

    cumprissem os seguintes critrios: importncia dos resultados para os objetivos da

    investigao e reputao da empresa.

    Assim, o tipo de cobertura do universo de possibilidades pode ser classificada

    como exaustiva com citao seletiva, tendo-se chegado a um conjunto de

    referncias bibliogrficas suficientemente exaustivo para atingir os objectivos da

    investigao. (Randolph, 2009).

    Para o assunto Bibliotecas Pblicas portuguesas o tipo de cobertura ser

    completamente exaustivo no que respeita aos textos de alguma forma publicados

    (excluem-se, portanto, textos no publicados), tendo em conta que se trata do

    objeto de investigao, que este objeto considerado na totalidade e que, por

    ltimo, um dos objetivos da dissertao o de sugerir uma estratgia para aplicao

    do modelo biblioteca 2.0 s bibliotecas pblicas portuguesas.

    A definio de Hart (2009, p.22), que tem vindo a ser referida, aponta um

    outro aspeto que o da avaliao dos resultados e argumentos dos autores. Assim,

    fazer uma reviso da literatura claramente muito mais do que elaborar uma

    bibliografia anotada. ento, como afirma o prprio autor, think critically in terms

    of evaluating ideas, methodologies and techniques to collect data, and reflect on

  • 31

    implication and possibilities for certain ideas. Como adiante se ver, a avaliao da

    literatura foi conduzida de acordo com procedimentos metodolgicos especficos.

    No processo de investigao, a reviso da literatura cumpre vrios

    propsitos, a saber:

    a) Compreender de forma aprofundada o tema objeto de investigao, o que implica

    identificar os conceitos, teorias e dados mais relevantes, quer numa perspetiva

    histrica, quer numa perspetiva de atualidade. A questo da perspetiva histrica

    fundamental, levando alguns autores a referir claramente que da responsabilidade

    do autor da tese investigate this history in order to provide the story of how a topic

    was defined, established and developed. (Hart, 2009, p.173).

    b) Identificar metodologias e tcnicas de pesquisa utilizadas por outros para o

    estudo do mesmo tpico ou tpicos em campos do saber relacionados (Hart, 2009;

    Gorman, 2005)

    c) Construir uma abordagem original ao tema, ainda que condicionada pela

    investigao realizada por outros (Hart, 2009);

    d) Refletir nos impactos possveis sobre o tema. Distinguindo o que j foi investigado

    do que necessita ser investigado e adquirindo uma nova perspetiva, o investigador

    deve elaborar / reelaborar a sua investigao atravs de um conjunto de

    recomendaes para a pesquisa que podem versar aspetos como a definio do

    tpico ou as metodologias a aplicar. (Hart, 2009; Gorman, 2005);

    d) Comparar os resultados da investigao realizada com os resultados j existentes

    (Randolph, 2009).

    Para atingir estes propsitos uma reviso da literatura deve demonstrar uma

    clara compreenso do tpico, que todos os estudos importantes foram citados e a

    maioria discutido, mostrar a variedade de definies e abordagens ao tpico e

    mostrar falha (s) no conhecimento atual (Hart, 2009).

    No contexto das abordagens qualitativas, as funes e papel da reviso da

    literatura tm sido questionadas, identificando alguns autores duas escolas de

    pensamento: uma que considera ser importante realizar a reviso da literatura antes

    da recolha dos dados comungando dos propsitos j referidos, e outra que

    considera que esta fase deve ser executada aps a recolha para evitar que o

    investigador aborde a realidade com conceitos e noes pr-definidas que podero

  • 32

    conduzir a uma anlise enviesada e mutilada da realidade, j que uma das

    caractersticas deste tipo de abordagens o seu forte enraizamento nos dados da

    investigao chegando s concluses predominantemente por um processo indutivo.

    Para esta corrente de pensamento o propsito da reviso da literatura posteriori ,

    por um lado, integrar os resultados num contexto mais lato, e por outro, compar-

    los a fim de inferir dissemelhanas / semelhanas e eventualmente propor solues.

    (Johnson, 2007).

    Esta segunda corrente de pensamento est particularmente relacionada com

    a um tipo de investigao qualitativa especfica designada por Teoria do Campo ou

    Teoria Emergente (Grounded Theory), visto que foram os fundadores (Glasser e

    Strauss) desta abordagem que em 1967 problematizaram pela primeira vez a

    questo (Johnson, 2007; Flick, 2009).

    A diferente forma de considerar a reviso da literatura no processo de

    investigao dentro deste tipo de abordagens explica-se, de acordo com outros

    autores (Flick, 2009), por circunstncias histricas precisas onde se verificava a

    existncia de campos de investigao virgens, momento no qual tambm a

    investigao qualitativa ensaiava os primeiros passos. Mas, depois de mais de um

    sculo de desenvolvimento da investigao em Cincias Socais e de vrias dcadas

    de utilizao deste tipo de investigao, , segundo Flick (2009, p. 48), rather nave

    to think there are still new fields to explore, where nothing ever been published

    before. (). Not everything has been researched, but almost everything you want to

    research will probably connect with an existing neighboring field. No entanto, como

    refere o mesmo autor, apesar de Strauss ter revisto esta posio h j algum tempo,

    esta perspetiva continua presente nas imagens sobre a pesquisa qualitativa.

    A desconstruo do problema empreendida por este autor no deve fazer

    esquecer que a questo continua a ser problematizada, tendo-se chegado para

    alguns a uma posio de compromisso entre os investigadores qualitativos, que

    sintetizada de forma clara por Johnson quando escreve In sum, the current position

    among qualitative researchers seems to be that a literature review can be of value,

    but the researcher must make sure that this does not constraint and stifle the

    discovery of new constructs, relationships and theories (Johnson, 2007, p. 67). Foi

    exatamente esta a perspetiva utilizada neste projeto, at porque frequente o

  • 33

    investigador encontrar novas fontes de informao embora uma pesquisa

    bibliogrfica bem conduzida deva evitar a descoberta tardia de documentos

    importantes (Gorman, 2005), mas tambm porque a investigao qualitativa implica

    frequentemente a necessidade de voltar literatura visto que da anlise dos dados

    pode decorrer um problema, uma questo at a no levantada; igualmente porque

    importante contextualizar e comparar os resultados da investigao com outros; e

    finalmente porque o objeto de anlise relativamente recente e com frequncia

    surgem novas abordagens ou resultados de investigao.

    A primeira fase do processo de construo da reviso da literatura a da

    pesquisa de fontes de informao, que no seu estdio inicial se traduziu por uma

    leitura no sistemtica sobre o tema genrico da investigao, mas que teve como

    objetivo fundamental uma primeira identificao das problemticas, conceitos e

    autores mais relevantes.

    Antes da pesquisa se tornar sistemtica, fundamental a definio dos

    tpicos a pesquisar (Hart, 2009), o que permite uma focalizao sobre o que

    verdadeiramente interessa investigao. Esta definio deve aprofundar-se em

    seguida estabelecendo reas temticas a pesquisar, cronologia de produo da

    informao e as lnguas de pesquisa (Hart, 2009). Os assuntos objeto de investigao

    foram os seguintes:

    a) Web 2.0. O que se pretende como resultado fundamentalmente obter uma

    viso de sntese sobre o que , na atualidade, a Web 2.0 e os impactos sociais mais

    relevantes;

    b) Ferramentas tecnolgicas Web 2.0, com o objetivo de conhecer as tecnologias e

    as plataformas tipicamente associadas Web 2.0;

    c) Biblioteca 2.0, fazendo uma cobertura o mais sistemtica possvel de toda a

    informao relevante sobre este tema;

    d) Biblioteca 2.0 e Bibliotecas Pblicas, identificando e analisando todas as fontes de

    informao disponveis de forma a obter o estado da questo da investigao o mais

    profundado possvel;

    e) Bibliotecas Pblicas Portuguesas. Pretende-se obter uma viso aprofundada desta

    realidade.

  • 34

    f) A utilizao da Web 2.0 pelos portugueses, pretendendo obter um retrato

    sinttico do estado da questo, incluindo neste contexto o caso dos municpios

    portugueses, o qual se considerou relevante conhecer tendo em conta o contexto

    organizacional das bibliotecas pblicas em Portugal.

    As lnguas de pesquisa utilizadas foram fundamentalmente o Portugus, o

    Ingls, o Francs e o Castelhano.

    A definio de um vocabulrio de pesquisa, constitudo pelas palavras e

    frases a utilizar, fundamental (Hart, 2009) para assegurar a exata focalizao sobre

    o tema de investigao, mas igualmente para comparar resultados oriundos de

    vrias fontes de informao. O vocabulrio de pesquisa utilizado por este projeto o

    que consta da tabela 1 (ANEXO I).

    A delimitao temporal da pesquisa foi a seguinte: para os temas Web 2.0,

    Biblioteca 2.0 e Bibliotecas Pblicas e Biblioteca 2.0 tomou-se como marco o ano de

    2005, visto que datam dessa altura as primeiras formulaes destes conceitos; para

    o tema Bibliotecas Pblicas Portuguesas o marco foi o ano de 1983, data do

    Manifesto da Leitura Pblica em Portugal que o momento de viragem na realidade

    portuguesa no sentido de criao de bibliotecas pblicas contemporneas (Nunes,

    1998).

    Em termos de fontes de informao, a investigao utilizou os catlogos das

    principais editoras de referncia na rea das bibliotecas, publicaes peridicas de

    referncia cujas temticas incluem os tpicos de investigao, bases de dados de

    referncias a publicaes cientficas neste mbito ou de texto integral (cf. Tabela 2,

    ANEXO I), bem como a Web genericamente, atravs do motor de pesquisa Google.

    Para o assunto Bibliotecas Pblicas Portuguesas, e para alm das fontes j referidas,

    foram utilizadas as fontes especficas de origem portuguesa, nomeadamente

    publicaes peridicas, atas de congressos, catlogos e repositrios de bibliotecas

    universitrias cujas universidades ministrem cursos de mestrado e doutoramento no

    mbito das bibliotecas (cf. Tabela 3, ANEXO I)

    Um caso deve ser analisado, neste mbito, de forma especfica: a questo da

    metodologia. A reviso da literatura neste domnio teve como objetivo fundamental

    adquirir conhecimento sobre abordagens metodolgicas investigao do ponto de

    vista genrico e na sua aplicao ao campo dos estudos de informao e bibliotecas,

  • 35

    bem como sobre a utilizao de instrumentos de recolha de dados. Assim, foram

    fundamentalmente utilizadas obras de sntese, muitas vezes com carcter

    pedaggico, mas que no excluam as problemticas relevantes sobre a utilizao

    dessas diversas abordagens. A opo de utilizar fundamentalmente uma perspetiva

    qualitativa conduziu a privilegiar documentos onde este seja o assunto principal,

    bem como o vocabulrio de pesquisa, que foi constitudo pelos seguintes termos e

    frases: mtodos qualitativos; mtodos qualitativos E Cincia da Informao;

    Entrevista; Inqurito; Tratamento Dados Qualitativos; Anlise Dados Qualitativos;

    CAQDAS - Computer Assisted Qualitative Data Analysis.

    A leitura das fontes de informao selecionadas destinou-se no s a

    conhecer factos, perspetivas ou teorias, mas igualmente a produzir uma avaliao

    analtica do contedo dessas fontes. Isto significa revelar o raciocnio que

    fundamenta a investigao e os argumentos apresentados pelos autores (Hart,

    2009). Para isto, a leitura dos documentos procurou identificar e extrair os aspetos

    fundamentais dos textos analisados, a saber: conceitos, definies, factos,

    argumentos, evidncias, hipteses, teorias, perspetivas, metodologias,

    interpretaes, problemas, justificaes, tcnicas e concluses.

    De entre os vrios aspetos a extrair da leitura das fontes de informao, os

    argumentos construdos pelos autores que informam as suas concluses foram

    objeto de uma ateno mais aprofundada. Um argumento , genericamente,

    constitudo por dois componentes bsicos: uma afirmao e justificaes ou

    evidncias que permitam a aceitao de outros. Na avaliao de um argumento

    questiona-se a relao entre as premissas de onde parte e as concluses a que

    chega. Para que a concluso possa ser aceite, ela deve decorrer dessas premissas, as

    quais devem, por sua vez, ser verdadeiras, ou sendo suposies, justificveis (Hart,

    2009). Nesta relao entre premissas e concluses, as evidncias desempenham um

    papel fundamental visto que nelas se baseia em grande parte a validade de um

    argumento, e sero analisadas de acordo com critrios de quantidade, relevncia,

    reprodutibilidade e credibilidade.

    A validade das evidncias, por seu turno, baseia-se nas opes metodolgicas

    de cada investigao e na correta utilizao dos instrumentos de recolha de dados

  • 36

    adequados aos objetivos da investigao e da realidade a analisar. Assim, essas

    opes foram igualmente consideradas na anlise dos textos selecionados.

    A utilizao apropriada, sistemtica e consistente de conceitos e palavras

    implica defini-los de forma clara. Assim, a anlise das definies constitui igualmente

    um aspeto a ter em conta neste processo, tendo particularmente em considerao

    que o tema essencial da investigao, a Biblioteca 2.0, se encontra ainda numa fase

    de estudo relativamente pouco estabilizada.

    Aps a anlise, o mapeamento da literatura sobre um assunto, definido como

    o processo de identificar o que foi feito, quando foi feito, que mtodos foram

    usados, quem fez o qu, mas tambm relacionar ideias e argumentos pode ser

    executado com recurso a vrias tcnicas (Hart, 2009). De entre as possveis, optou-se

    pela utilizao de mapas de caractersticas, que se traduzem na anlise sistemtica

    do contedo das fontes selecionadas registada num formato estandardizado,

    permitindo construir um esquema sumrio do argumento proposto pelo estudo e,

    posteriormente, localizar semelhanas e diferenas entre os vrios autores. Assim,

    em termos operacionais, o resultado da leitura das fontes selecionadas foi registado

    no contexto do formulrio disponvel no servio Mendeley 1 , o qual permite

    armazenar, organizar e anotar verses digitais dos documentos selecionados.

    No caso da literatura no acadmica, da literatura profissional ou da que no

    apresenta uma clara metodologia na abordagem do tema, a literatura sobre este

    domnio aconselha a utilizao de uma anlise retrica entendida como the study

    of how language has been used to make an argument appear plausible. It envolves

    analizing the elements authors have employed to construct their arguments (Hart,

    2009, p.158). Estes elementos, ou mecanismos retricos, podem ser de vrios tipo, a

    saber: as credenciais do autor, a perspetiva a partir da qual constri o argumento, a

    forma como expressa as ideias, a estrutura geral do discurso sobre um evento.

    No mbito da literatura de carcter mais tcnico sobre as tecnologias e

    ferramentas tecnolgicas da Web 2.0, a anlise foi empreendida no sentido de obter

    uma descrio das caractersticas e funcionalidades, bem como das potencialidades

    de aplicao.

    1 Disponvel em http://www.mendeley.com/

  • 37

    A anlise das fontes foi, por outro lado, conduzida num pano de fundo de

    atitude crtica, que se traduziu em concordar com uma determinada posio

    avaliando as suas foras e fraquezas; rejeitar, justificando, determinadas

    abordagens; focar a anlise em ideias, teorias e argumentos e no nos autores;

    produzir uma anlise rigorosa; reformular argumentos anteriores no sentido de

    produzir uma sntese, quer dizer, um novo ponto de vista sobre o assunto; encontrar

    falhas em argumentos identificando falcias, desadequaes, falta de evidncias

    (Hart, 2009).

    Na ltima fase d