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A BIBLIOTECA ESCOLAR E SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO DE LEITORES NA REPRESENTAÇÃO DOS ALUNOS DA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL

DE RIO DO SUL - EAFRS

Caroline da Rosa Ferreira Becker1 - EAFRS (SC) Maria Selma Grosch2 - FURB (SC)

1 INTRODUÇÃO

A leitura deve ser algo de elevada significância para o leitor, acrescentando-lhe novas experiências e reformulando as idéias já existentes. Que faça parte do seu contexto e que lhe permita aprender ou re-aprender. Abordando este novo sentido sobre a leitura e sua função, surge o termo letramento, que significa o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. Não basta apenas saber ler e escrever, ser alfabetizado. É preciso saber fazer uso do ler e do escrever, respondendo às exigências de leitura da sociedade. É preciso ser letrado.

Neste sentido, as bibliotecas assumem papel fundamental ao possibilitar às pessoas o acesso à leitura, através do seu acervo e mais precisamente, através daqueles que são a mais fiel tradução do conhecimento disponibilizado no mundo: os livros.

Possibilitar o acesso aos livros é uma das atividades oferecidas pelas bibliotecas, porém, nem sempre as leituras feitas ou mediadas transformam o imaginário do leitor, indo ao encontro do significado da palavra letramento.

A preocupação com os leitores existentes em nossas escolas, onde muitos alunos realizam leituras que nada significam para eles e que, em breve período de tempo, são esquecidas, e a consciência do papel da biblioteca escolar como forte fator de influência na formação de leitor dos alunos, foi, portanto, objeto desta pesquisa que realizou-se no primeiro semestre de 2005 e foi tema da monografia do Curso de Pós-Graduação em Educação: Leitura, Letramento e Literatura.

A problemática observada foi relacionada com a constatação de um número reduzido de leitores, a ida à biblioteca apenas quando havia solicitação do professor ou para encontrar e conversar com colegas, a falta de espaço físico e de acervo qualificado, a história de leitor sem contato com livros e com bibliotecas e um longo período de tempo sem a contratação de um profissional bibliotecário. Estas foram às evidências que levaram a acreditar que a biblioteca da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul parecia não estar favorecendo a formação de leitor nos alunos. Será que a biblioteca escolar “Ezequiel Duarte de Souza” da Escola Agrotécnica Federal

1 Bacharel em Biblioteconomia – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Educação:

Leitura, Literatura e Letramento - 2005(FEHH). Bibliotecária da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul – SC. E-mail: [email protected]

2 Mestre em Educação. Docente na Universidade Regional de Blumenau – FURB e Coordenadora do Programa de Formação Continuada de Professores na FURB. E-mail: [email protected]

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de Rio do Sul influencia na formação de leitor dos alunos e nas suas práticas de leitura?

O pressuposto foi de que o estudo teria sua relevância, já que, se quisermos contribuir para uma educação de qualidade e formar um país de leitores, temos primeiramente que desenvolver ações que façam parte do contexto de nossos leitores, promovendo nossas bibliotecas, guardiãs do saber, que são, em muitos casos, as únicas fontes de leituras de nossos alunos. O mercado editorial brasileiro é vasto, porém o custo da aquisição dos livros é muito alto.

O estudo foi feito através de uma fundamentação teórica sobre a história da leitura nas bibliotecas e sobre leitura e letramento. A coleta de dados foi através de um questionário, elencando aspectos sobre a influência da “Biblioteca Ezequiel Duarte de Souza” na formação de leitor dos alunos da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul.

Além de um exercício na prática de pesquisa tínhamos como objetivo refletir e reavaliar as práticas de nossas bibliotecas escolares, contribuindo para mudanças no que diz respeito à promoção da leitura. Objetivou-se também, verificar se a biblioteca da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul assemelhava-se à realidade das bibliotecas escolares brasileiras, funcionando como apêndice secundário da educação, ou se diferenciava proporcionando e incentivando em seus alunos o prazer de ler.

Assim, pretendeu-se com esta pesquisa investigar se a biblioteca “Ezequiel Duarte de Souza” da EAFRS influenciava, ou não, na formação de leitor dos seus alunos, evidenciando se através das leituras feitas ou mediadas, através de atividades e serviços oferecidos pela biblioteca, havia o favorecimento da formação do leitor.

Pretendeu-se também, contribuir para as práticas realizadas por bibliotecários nas bibliotecas escolares, onde há preocupação muito evidente com o desenvolvimento de atividades técnicas da biblioteconomia, o que é importante, mas torna-se distante da função social das bibliotecas se estas atividades não estiverem diretamente relacionadas com a promoção da leitura e a formação do leitor. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral

Verificar se as leituras feitas ou mediadas através das atividades e serviços oferecidos pela biblioteca escolar “Ezequiel Duarte de Souza” favorecem a formação de leitor dos alunos. 1.1.2 Objetivos Específicos:

Elaborar o referencial teórico sobre a história da leitura nas bibliotecas e leitura e letramento;

Identificar aspectos da formação de leitor dos alunos; Relatar quais são os tipos de leitores da biblioteca.

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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.1 HISTÓRIA DA LEITURA NAS BIBLIOTECAS A história da leitura remete-nos aos homens mais primitivos que habitaram o

planeta Terra. Através de repertórios mitológicos que englobavam danças e cantos, mesmo sem ainda existir o código escrito, o homem se comunicava, ou seja, lia. As interpretações, o imaginário, a cultura e a memorização faziam com que fossem realizadas várias leituras pelos expectadores.

Com o advento da escrita na Grécia antiga, dá-se o início à organização do discurso e ao controle do que é comunicado. A partir de então, são registrados por aqueles considerados letrados os fatos e acontecimentos que existiram na época. Através do código escrito, o discurso descritivo da ação alterou o equilíbrio em favor da reflexão. O homem começou a analisar, a questionar, a interpretar e a aprender com as leituras daquilo que estava escrito.

A natureza do código escrito sistematizado alfabeticamente compreende a possibilidade de um controle novo sobre o que é comunicado, a partir de um exercício renovável continuamente, sem que renovem as circunstâncias de sua produção: conseqüentemente, a escrita se fortalece na medida em que, pela leitura, pode de novo re-presentar3 o vivido e, portanto, submeter o dito a uma análise. (YUNES, 2002, p.53)

Representar o vivido e analisá-lo são algumas das características presentes no ato de ler. Mas será que nas leituras, principalmente dos jovens de hoje, está acontecendo esta representatividade e esta análise? Passaram-se séculos e observa-se nos jovens leitores práticas que distanciam a leitura do seu real propósito, de ampliar conhecimentos e idéias acerca do mundo, e os espaços da biblioteca, constituírem-se em local de encontro com o prazer de ler. Seja através da Internet e/ou da mídia, o mundo já aparece interpretado pelas vozes que o manipulam. O acesso é mais rápido e todo o ato de pensar, pesquisar, discutir, dialogar, criticar e adquirir conhecimentos é dispensado, o formato e a receita já vêm prontos e basta apenas copiar e colar.

O ato de ler, para se efetivar, necessita do preenchimento de determinadas condições do contexto social. Cada aluno possui sua história de leitura, uns foram influenciados pela família, outros não, uns possuíram um bom contato com a leitura, outros foram obrigados a ler, têm também àqueles que nunca tiveram contato com uma biblioteca. Ler é, numa primeira instância, possuir elementos de combate à alienação e ignorância. (SILVA, 1993, p.49)

Já as bibliotecas, que deveriam ser os locais mais procurados para a prática da leitura, ficam trancafiadas e distantes do centro da aprendizagem dos estudantes, localizam-se em locais impróprios que não propiciam o prazer de ler, possuem acervos desatualizados e, sem profissionais bibliotecários.

O histórico de nossas bibliotecas escolares no Brasil evidencia tempos de efetiva contradição em suas práticas de leitura. Ora foram vistas apenas como depósitos de livros; ora foram incluídas no currículo com tempos de leitura e escrita,

3 A escritora Eliane Yunes destaca no re-presentar as diversas formas de interpretar a leitura.

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onde o ato de ler foi realmente efetivado; ora foi alvo da censura onde seus acervos foram queimados e dizimados, deixando a população à mercê do que deveria ou não ser lido.

As práticas de hoje em nossas bibliotecas escolares nada mais são do que resultado de um histórico conturbado, sem políticas de incentivo à leitura e de criação de bibliotecas. Ezequiel Theodoro da Silva (1999, p.112), defende a respeito do que deveriam ser nossas bibliotecas escolares:

Ela deve se colocar como o cérebro da escola, ou seja, o local de onde partem os movimentos básicos em direção a recriação ou criação do conhecimento, servindo a professores, alunos e comunidade. Caso seja definida desta maneira, a biblioteca deixa de ser um complemento ou apêndice secundário de trabalho, transformando-se num recurso básico para as decisões curriculares, permitindo a atualização pedagógica dos professores, a aprendizagem significativa dos estudantes e a participação da comunidade em termos de indagações várias.

Dentre os vários suportes informacionais existentes (papel, fita-cassete, fita de vídeo, Cd-rom, DVD, entre outros), a biblioteca conta com os mais diversos atrativos para formar alunos leitores. O acervo que antes contava com obras impressas em papel, e antes do papel a pedra, o papiro4, o pergaminho5, pode hoje proporcionar possibilidades de leituras variadas através do som e da imagem.

Reunidos no espaço da biblioteca escolar, os recursos informacionais irão se constituir num rico manancial para propiciar o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para viver e conviver na sociedade da informação. (KUHLTHAU, 2004, p.10)

Ações em prol da leitura já estão sendo realizadas, mesmo que meio tímidas. Para que se possa promover a leitura em nossas bibliotecas, faz-se necessário um esforço entre bibliotecários, professores, profissionais ligados à área da leitura, governo e entidades, a fim de que se realizem ações concretas para que a biblioteca seja estímulo para a formação de um aluno leitor.

2.2 LEITURA E LETRAMENTO

O ato de ler vem sendo historicamente questionado por pesquisadores, apresentando evolução do seu conceito, do seu objetivo e de suas práticas. O número ilimitado de fontes de informação disponibilizado atualmente faz com que surjam barreiras na busca, filtragem, organização e apropriação da leitura.

Dentro deste contexto, surge nos Estados Unidos da América, em 1974, a expressão information literacy, que no Brasil é conhecida como competência em informação ou letramento. Na década de 70, a information literacy era considerada uma série de conhecimentos para a busca e o uso da informação.

A década de 70 se caracterizou pela admissão de que a informação é essencial à sociedade. Portanto, um novo conjunto de habilidades era necessário para o uso eficiente e eficaz da informação. Antevia-se uma

4 Espécie de vegetal frágil e difícil de preservar utilizado como suporte para a escrita. 5 Couro de animal reciclável e resistente utilizado como suporte para a escrita.

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realidade de mudanças nos sistemas de informação e no papel exercido pelos bibliotecários. (DUDZIAK, 2003, p.4)

Constatou-se que o profissional bibliotecário nos EUA é visto, desde 1970, como profissional da informação. Aquele que não apenas lida com trabalhos técnicos e administrativos, mas também que promove a disseminação e a mediação da informação.

Na década de 80, quando ocorre o surgimento de novas tecnologias da informação no mundo, houve nos EUA a alteração dos sistemas de informação e das bibliotecas. Segundo Elisabeth Adriana Dudziak, (2003, p.5) “[...] os bibliotecários começavam a prestar atenção às conexões existentes entre bibliotecas e educação, a information literacy e o aprendizado ao longo da vida”. Os currículos eram integrados e a construção do conhecimento era feita a partir da busca e do uso da informação, tendo a biblioteca como elemento-chave na educação. Este conceito fez com que diminuíssem as lacunas existentes entre a sala de aula e a biblioteca.

Uma série de programas educacionais voltados para a IL foi implementada ao redor do mundo nos anos 90, principalmente a partir das bibliotecas universitárias. Houve crescente integração e colaboração entre bibliotecários e docentes na implantação destes programas. O bibliotecário é, nesse sentido, visto como educador e participante fundamental na aplicação da information literacy. Foram também nesta década, segundo Doyle (apud Dudziak, 2003), traçadas as diretrizes da IL, considerando-a um conjunto integrado de habilidades, conhecimentos e valores ligados à busca, acesso, organização, uso e apresentação da informação na resolução de problemas, utilizando, para tanto, o pensamento crítico.

No Brasil, na segunda metade dos anos 80, é que a palavra letramento surge no discurso dos especialistas das áreas da educação e das ciências lingüísticas. Segundo Magda Soares, (2003, p.17), “literacy é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever”. Não se trata, portanto, de ser alfabetizado, saber ler e escrever, ato adquirido “mecanicamente”. Mas, trata-se sim, de saber que a leitura e a escrita trazem conseqüências sociais, políticas, culturais, econômicas, cognitivas e lingüísticas para o grupo social ou para o indivíduo que aprende a usá-las. É fazer relações com as leituras já realizadas, é avaliar criticamente a informação, é ser aprendiz independente, é aprender a aprender e buscar aprendizado sempre.

No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001, apresenta-se o significado das palavras relacionadas à escrita, à leitura, e ao letramento, a seguir:

ALFABETIZADO: que ou aquele que aprendeu a ler e a escrever; ALFABETISMO: estado ou qualidade dos que foram alfabetizados; ANALFABETO: que ou aquele que não sabe ler nem escrever; ANALFABETISMO: estado ou condição de analfabeto; LETRADO: que ou aquele que possui cultura, erudição, instruído; possui profundo conhecimento literário; ILETRADO: que ou aquele que, alfabetizado, é pobre de cultura literária; que ou aquele que não tem instrução escrita, não lendo nem escrevendo; analfabeto (ou quase); LETRAMENTO: representação da linguagem falada por meio de sinais;

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escrita; conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito.

Observa-se que o significado da palavra letramento vai muito além do significado da palavra alfabetizado, ato de apenas saber ler e escrever. Deve-se, portanto, olhar para este novo pensar, em praticar na educação atos para que se formem alunos letrados, já que os iletrados são considerados analfabetos (ou quase).

Nas escolas, onde podem ser realizados, para muitos alunos, os primeiros contatos com a leitura e a escrita, é preciso possibilitar a implantação de programas educacionais voltados para o letramento, através da integração entre professores e bibliotecários. Promovendo ações que utilizem a biblioteca como fonte influente na formação de leitor dos alunos.

A tarefa de fazer com que os alunos passem da condição de realizar suas leituras comuns, cotidianas, corriqueiras e obrigatórias, para leituras de prestígio e de satisfação, consideradas uma experiência de liberdade, de felicidade e de encantamento, são objetivos expostos nas práticas do letramento.

No obra Livro que te quero livre, dos autores Sueli de Souza Cagneti e Werner Zotz, publicado em 1986, são feitos alguns relatos sobre as práticas de leitura onde, apesar de não serem chamados de relatos de letramento, muito assemelham-se ao tema. Cita-se abaixo um desses relatos, encontrado na página 38:

Mais: não existe um caminho único; cada ser humano, ao longo da existência, traça sua própria vereda, de modo muito particular e individual. Como tomar decisões, optar, escolher, definir, quando não se aprendeu a pensar, a raciocinar? A leitura contribui, de forma decisiva, para preencher esta lacuna na formação do ser humano. Ela desenvolve a reflexão e o espírito crítico. É fonte inesgotável de assuntos para melhor compreender a si e ao mundo. Propicia o crescimento interior. Leva-nos a viver as mais diferentes emoções, possibilitando a formação de parâmetros individuais para medir e codificar nossos próprios sentimentos.

Apesar de ser um tema novo, onde no Brasil inicia-se sua exploração e seu entendimento, os desafios são grandes e o aprendizado é longo. Repensar o papel do bibliotecário e da função educativa de nossas bibliotecas na formação do leitor são projetos que englobam o letramento.

3 MÉTODO E MATERIAL DA PESQUISA

Realizou-se uma pesquisa ação, que abrangeu a área da leitura, da educação e da biblioteconomia.

Com base na fundamentação teórica sobre os assuntos envolvidos no tema central da pesquisa, partiu-se para a elaboração e aplicação dos instrumentos de coleta de dados. Assim, utilizou-se como instrumento de coleta de dados dois questionários, o primeiro como teste-piloto onde se averiguou a possibilidade da pesquisa, e o segundo onde foram coletados os dados discutidos especificamente para esta pesquisa.

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Os dados foram tratados de forma qualitativa, de acordo com os critérios apontados em cada questão. Para uma melhor visualização e entendimento dos resultados, utilizaram-se gráficos.

A população foi formada pelos alunos do 2º e 3º ano do ensino médio, cursando o Técnico em Agropecuária da Escola Agrotécnica de Rio do Sul, que compreendem um total de 105 alunos em cada série. A amostra foi composta por 54 alunos, sendo 25 estudantes do 2º ano do ensino médio, e 29 do 3º ano do ensino médio.

4 A INFLUÊNCIA DA “BIBLIOTECA EZEQUIEL DUARTE DE SOUZA” NAS PRÁTICAS DE LEITURA DOS ALUNOS

Apresenta-se a seguir a análise dos dados com base no referencial teórico sobre a história da leitura nas bibliotecas e sobre leitura e letramento.

A presença ou ausência de dificuldades na leitura e na escrita foi abordada no questionário (Figuras 1 e 2), sendo que 25 alunos possuem dificuldades para ler e 14 para escrever. Dentre as dificuldades na leitura, 19 alunos relataram ler e depois esquecer o assunto lido. Como já evidenciado no referencial teórico, as características do letramento estão nas leituras onde são feitas relações com as leituras já realizadas, onde a informação é avaliada criticamente, onde o leitor é um aprendiz independente, que aprende a aprender e busca o aprendizado sempre. Interessante ressaltar que somente 26% dos entrevistados dizem possuir dificuldades para escrever, e 46% para ler. Se é verdadeiro que a leitura antecede a escrita, pode haver uma outra abordagem de que é possível o aluno possuir facilidade de escrita e dificuldade para leitura? Seria interessante o estudo, abordando também a influência da leitura com o advento da Internet, já que criou-se uma cultura do copiar e colar, em detrimento com o pensar.

Figura 1: Dificuldades de leitura Figura 2: Dificuldades de escrita O acervo da biblioteca “Ezequiel Duarte de Souza” na opinião de 87% dos

entrevistados lhes incentiva à leitura (Fig.3). Conforme referencial teórico, o acervo qualificado é um dos motivos que proporcionam a formação de leitor do aluno, em virtude de satisfazer seus interesses e suas necessidades de leitura.

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Figura 3: Acervo da biblioteca Figura 4: Motivos de freqüentar a biblioteca Segundo os dados da Figura 4, o principal motivo que leva os alunos a

freqüentarem a biblioteca é fazer suas pesquisas escolares. Estes dados são contrariados ao parafrasear Ezequiel Theodoro da Silva (1999), a biblioteca deve se colocar como cérebro da escola, local de onde partem todos os movimentos em direção à formação do leitor, deixando de ser um complemento ou apêndice secundário para pesquisas escolares. Percebe-se também através dos dados, que a biblioteca também é utilizada como local de encontro e conversas com amigos.

A escolha das obras é feita principalmente pela vontade de descobrir coisas novas, segundo a Figura 5. Como o principal motivo para freqüentar a biblioteca é fazer pesquisas escolares (Fig.4), a indicação do professor, o qual solicita as referidas pesquisas, obteve 10 respostas nesta questão. Observa-se pouca existência da participação do profissional bibliotecário na indicação das obras, o que vem reafirmar os escritos do referencial teórico na abordagem de Fragoso (1996, p.257): “precisamos dentro de nossas bibliotecas escolares [...] de articuladores de ações dinamizadoras [...], de contadores de histórias [...] e de qualidade de leitura”.

Figura 5: Fatores que influenciam na escolha de um livro para leitura

Figura 6: Acesso a livros

A biblioteca é utilizada para o acesso a livros por 50% dos questionados. Este

dado afirma a condição que as bibliotecas possuem de serem, em muitas ocasiões, as únicas fontes de leitura dos alunos.

A leitura é considerada algo que faz aprender para 71% dos entrevistados. Apenas para 14% dos questionados a leitura é considerada uma experiência de liberdade, felicidade e encantamento. A leitura através do letramento deve

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possibilitar experiências novas, aquisição de novos conhecimentos e mudar a vida do leitor a cada livro lido (YUNES, 2002). Quanto aos objetivos da leitura, 75% lêem para aumentar conhecimentos.

Figura 7: Significado da leitura Figura 8: Objetivos da leitura

CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo sobre a biblioteca escolar e sua influência na formação de leitor dos

alunos da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul, que teve como objetivo verificar se as leituras feitas ou mediadas através das atividades e serviços oferecidos pela biblioteca escolar “Ezequiel Duarte de Souza” favorecem a formação de leitor dos alunos, faz constatar que há muitos pesquisadores preocupados com a formação de leitor nas escolas. Por outro lado, há uma bibliografia hostil abordando a leitura nas bibliotecas e o bibliotecário como agente na formação do leitor.

Sobre a influência da Biblioteca Ezequiel Duarte de Souza na formação de leitor dos alunos da EAFRS, constatou-se que inexistem evidências significativas de que a leitura feita ou mediada através das atividades e serviços oferecidos pela biblioteca favorece a formação de leitor dos alunos.

Os alunos pesquisados demonstraram seus interesses de leitura para realizarem suas pesquisas escolares através da biblioteca e também como local de encontro com os amigos. Outro fator evidente e preocupante foi o de que sentem dificuldades na leitura. Alunos cursando o ensino médio que possuem dificuldades para ler, evidenciado quando afirmaram que esquecem o que foi lido, não apresentam perfil de leitores letrados. Este fato é influenciado pela freqüência de suas leituras, as quais são realizadas apenas uma vez por semana.

Em contrapartida, há nos alunos o conhecimento sobre o papel social das bibliotecas e sobre o acervo existente, já que relatam que o acervo da biblioteca instiga/convida-os a lerem; a biblioteca é considerada templo do conhecimento e a escolha das obras para leitura é feita através da vontade de descobrir coisas novas.

Segundo as características apresentadas, a amostra da pesquisa permitiu observar que possuímos alunos leitores, porem não letrados. O termo letramento é novo e refere-se a um novo pensar frente às práticas de formação de leitores. Há muito que ser realizado nesta área do conhecimento, e acredita-se que pesquisas como esta podem contribuir para a formação de um país de leitores letrados.

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A falta de profissionais bibliotecários atuando nas bibliotecas é fator relevante na formação do leitor. A realidade das bibliotecas públicas escolares no Brasil é precária, onde profissionais não qualificados são colocados para administrarem as bibliotecas. Se houvessem atividades de formação do leitor com nossos alunos desde a sua infância, através do profissional bibliotecário, teríamos certamente, uma grande parcela de alunos letrados. Em contrapartida, também os profissionais bibliotecários têm que estar atentos para as novas necessidades de leitura e formação de leitor de nossos alunos, diversificando ações que promovam o prazer de ler e a formação do leitor. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR6023: informação e documentação: referências, elaboração. Rio de Janeiro, 2002. 24p. _____. NBR6024: numeração progressiva das seções de um documento. Rio de Janeiro, 2003. 2p. _____. NBR6027: sumário. Rio de Janeiro, 2003. 2p. _____. NBR6028: resumos. Rio de Janeiro, 2003. 2p. _____. NBR10520: informação e documentação, citação em documentos, apresentação. Rio de Janeiro, 2002. 7p. _____. NBR14724: informação e documentação, trabalhos acadêmicos, apresentação. Rio de Janeiro, 2002. 6p. CAGNETI, Sueli de Souza. Livro que te quero livre. Rio de Janeiro: Editorial Nórdica, 1986 DUDZIAK, Elisabeth Adriana. Information literacy: princípios, filosofia e prática. Ciência da Informação, v.32, n.1. Brasília: Editora da UNB, jan./abr. 2003. FRAGOSO, Graça Maria. Biblioteca na escola. Revista ACB: biblioteconomia em Santa Catarina. v.3, n.1/2. Florianópolis: ACB, 1996. HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. KUHLTHAU, Carol. Como usar a biblioteca na escola: um programa de atividades para o ensino fundamental. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. SILVA, Ezequiel Theodoro da. De olhos abertos: reflexões sobre o desenvolvimento da leitura no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1999. ______. Leitura na escola e na biblioteca. 4ª ed. Campinas: Papirus, 1993. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. YUNES, Eliana. Dados para uma história da leitura e da escrita. In: YUNES, Eliana (org). Pensar a leitura: complexidade. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2002. p.52-59.