A Cartilha da "Professorinha" de 85 anos

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SALVADOR TERÇA-FEIRA 18/12/2012 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA A5 SAÚDE Dona Canô tem melhoras, mas não há previsão de alta médica HIEROS VASCONCELOS REGO Dona Canô Veloso, 105 anos, apresentava melhoras ontem e já reconhecia familiares que a visitavam no Hospital São Rafael, em Salvador. Ela foi internada na manhã do úl- timo sábado após sofrer um ataque isquêmico cerebral. Apesar de os médicos não terem previsão de alta, a ma- triarca dos Veloso esboçou, já pela manhã, sua vontade de retornar para casa, no muni- cípio de Santo Amaro da Pu- rificação, distante 80 km de Salvador. O neurologista Haroldo Ba- celar, que acompanha a idosa, afirmou na tarde de ontem, após boletim médico, que não houve um déficit neurológico importante, mas que o qua- dro permanece agudo. Segundo o médico, D. Canô chegou ao hospital com o lado direito do corpo semiparali- sado, mas já tem os movimen- tos normais. “Não houve se- quelas”, informou. O boletim médico acrescenta que houve discreta “melhora da força muscular, respirando sem a ajuda de aparelhos, porém com necessidade de medica- ções para manutenção da pressão arterial”. Abalada O filho de D. Canô, Rodrigo Veloso disse em coletiva à im- prensa que a mãe ficou muito abalada com a morte do ar- quiteto Oscar Niemeyer, no dia 5 passado. Segundo Ro- drigo, ao perceber que ela es- tava fragilizada, resolveu tra- zê-la para Salvador na sex- ta-feira, quando se hospeda- ram em um hotel em Ondina. No sábado, Canô Veloso teve o ataque isquêmico. VOLUNTARISMO Aposentada de Salvador não se acomoda e sai diariamente pela cidade distribuindo seus kits educativos A CARTILHA DA “PROFESSORINHA” DE 85 ANOS MARIA GARCIA É lugar comum dizer que pe- quenos gestos podem fazer toda a diferença. Mas no caso da aposentada Zilda Cidreira, 85, é um bom resumo. Nós últimos 12 anos, ela sai todos os dias pelas ruas da periferia de Salvador distri- buindo cartilhas e tabuadas a crianças, adultos e idosos. Ela mora no Abrigo Lar Franciscano, que funciona no bairro da Saúde. “Os trabalhadores agrade- cem bastante e dizem que vão dar a seus filhos e sobrinhos. Tem gente que me reconhece também”, observa Zilda. Feiras, escolas e igrejas são alguns dos pontos de distri- buição em bairros como Mata Escura, Plataforma e Paripe. Além da doação do mate- rial, Zilda procura mostrar to- da a importância do estudo, frisando que “estudar valori- za o indivíduo”. É um trabalho que exige tempo e disposição. Ela de- dica parte de sua aposenta- doria (cerca de R$ 500) à com- pra de material escolar em uma distribuidora de Feira de Santana. Cada kit contém car- tilha do ABC, tabuada, cader- no, lápis, estojo e um bloco de caligrafia. O maior sonho de Zilda era se tornar professora, mas sua família não tinha condições desustentá-laapóscompletar o ginásio. A alternativa foi trabalhar como técnica de enfermagem onde atualmente é o Comple- xo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (Ca- nela). Após se mudar para o abrigo, há 12 anos, Zilda de- cidiu colocar em prática a vontade de ajudar ao próxi- mo e, por conseguinte, a edu- cação brasileira. Exemplo “Além de ajudar os outros, eu não sinto solidão”, assinala a idosa, que não tem mais fa- Lúcio Távora / Ag. A TARDE Ela também usa o trabalho como ‘antídoto’ contra a solidão miliares vivos. Zilda menciona o trabalho de Cosme de Farias como sua principal inspiração. Rábula e político baiano, Cosme de Fa- rias foi um combatente do analfabetismo no Estado. Ele (Cosme de Farias 1875-1972) publicou cartilhas e viabilizou o acesso à escola para a população pobre. “Sempre me perguntei como ninguém continuou uma obra tão importante para a educação”, diz Zilda. Vida ativa Ativa e independente são ad- jetivos aplicados a Zilda pela assistente social Graça Senna, que trabalha no abrigo Fran- siscano. “Ela criou esse tra- balho como objetivo de vida. Além disso, vai a espaços cul- turais, participa de audiên- cias públicas no Ministério Público e se dá bem com as pessoas”, avalia. O professor Jorge Portugal a considera uma pessoa “ma- ravilhosa”, motivo que o le- vou a mencionar seu nome no texto “Louvando quem bem merece”, publicado na editoria de Opinião de A TAR- DE no dia 4 passado. “Pessoas assim são santos do meu altar. E eu acredito em milagres”, falou Portugal so- bre Zilda. “Ela me procurou dizendo que era uma admi- radora minha. Quando me disse o que fazia, eu que aca- bei admirando-a mais”. Feiras, escolas e igrejas são alguns dos pontos de distribuição do material escolar Parte da aposentadoria de Zilda, R$ 500, é usada na compra do kit educativo A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral sempre acreditou no futuro do nosso Estado. Por isso, há 40 anos investe, todos os dias, em pesquisa e no conhecimento geológico. Uma marca histórica de uma vida feita de luta, que vem gerando trabalho, emprego e renda para os baianos e que, em breve, nos levará a ser um dos principais produtores de minério no Brasil. Este é o caminho de um trabalho de grande importância que gera descoberta de novas jazidas, proporciona a diversificação da base econômica, a interiorização do desenvolvimento econômico e social, a criação de empregos e a distribuição de renda nas regiões mais carentes do Estado. Uma história que merece ser comemorada e compartilhada com todos que trilham este caminho de sucesso com a gente. CBPM Há 40 anos trilhando um caminho de sucesso. Crédito: Ficção - Cinema e Vídeo

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A Tarde, Salvador, Bahia, Brasil

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SALVADOR TERÇA-FEIRA 18/12/2012 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA A5

SAÚDE

Dona Canô temmelhoras, masnão há previsãode alta médica

HIEROS VASCONCELOS REGO

Dona Canô Veloso, 105 anos,apresentava melhoras onteme já reconhecia familiares quea visitavam no Hospital SãoRafael, em Salvador. Ela foiinternada na manhã do úl-timo sábado após sofrer umataque isquêmico cerebral.

Apesar de os médicos nãoterem previsão de alta, a ma-triarca dos Veloso esboçou, jápela manhã, sua vontade deretornar para casa, no muni-cípio de Santo Amaro da Pu-rificação, distante 80 km deSalvador.

O neurologista Haroldo Ba-celar, que acompanha a idosa,afirmou na tarde de ontem,após boletim médico, que nãohouve um déficit neurológicoimportante, mas que o qua-dro permanece agudo.

Segundo o médico, D. Canôchegouaohospitalcomoladodireito do corpo semiparali-sado,masjátemosmovimen-tos normais. “Não houve se-quelas”, informou. O boletimmédico acrescenta que houvediscreta “melhora da forçamuscular, respirando sem aajuda de aparelhos, porémcom necessidade de medica-ções para manutenção dapressão arterial”.

AbaladaO filho de D. Canô, RodrigoVeloso disse em coletiva à im-prensa que a mãe ficou muitoabalada com a morte do ar-quiteto Oscar Niemeyer, nodia 5 passado. Segundo Ro-drigo, ao perceber que ela es-tava fragilizada, resolveu tra-zê-la para Salvador na sex-ta-feira, quando se hospeda-ram em um hotel em Ondina.No sábado, Canô Veloso teve oataque isquêmico.

VOLUNTARISMO Aposentada de Salvador não se acomoda esai diariamente pela cidade distribuindo seus kits educativos

A CARTILHA DA“PROFESSORINHA”DE 85 ANOSMARIA GARCIA

É lugar comum dizer que pe-quenos gestos podem fazertoda a diferença. Mas no casoda aposentada Zilda Cidreira,85, é um bom resumo.

Nós últimos 12 anos, ela saitodos os dias pelas ruas daperiferia de Salvador distri-buindo cartilhas e tabuadas acrianças, adultos e idosos.

Ela mora no Abrigo LarFranciscano, que funciona nobairro da Saúde.

“Os trabalhadores agrade-cem bastante e dizem que vãodar a seus filhos e sobrinhos.Tem gente que me reconhecetambém”, observa Zilda.

Feiras, escolas e igrejas sãoalguns dos pontos de distri-buição em bairros como MataEscura, Plataforma e Paripe.

Além da doação do mate-rial, Zilda procura mostrar to-da a importância do estudo,frisando que “estudar valori-za o indivíduo”.

É um trabalho que exigetempo e disposição. Ela de-dica parte de sua aposenta-doria (cerca de R$ 500) à com-pra de material escolar emuma distribuidora de Feira deSantana. Cada kit contém car-tilha do ABC, tabuada, cader-no, lápis, estojo e um bloco decaligrafia.

O maior sonho de Zilda erase tornar professora, mas suafamília não tinha condiçõesdesustentá-laapóscompletaro ginásio.

A alternativa foi trabalharcomo técnica de enfermagemonde atualmente é o Comple-xo Hospitalar UniversitárioProfessor Edgard Santos (Ca-nela). Após se mudar para oabrigo, há 12 anos, Zilda de-cidiu colocar em prática avontade de ajudar ao próxi-mo e, por conseguinte, a edu-cação brasileira.

Exemplo“Além de ajudar os outros, eunão sinto solidão”, assinala aidosa, que não tem mais fa-

Lúcio Távora / Ag. A TARDE

Ela tambémusa o trabalhocomo ‘antídoto’contra a solidão

miliares vivos.Zilda menciona o trabalho

de Cosme de Farias como suaprincipal inspiração. Rábula epolítico baiano, Cosme de Fa-rias foi um combatente doanalfabetismo no Estado.

Ele (Cosme de Farias –1875-1972) publicou cartilhase viabilizou o acesso à escolapara a população pobre.“Sempre me perguntei comoninguém continuou umaobra tão importante para aeducação”, diz Zilda.

Vida ativaAtiva e independente são ad-jetivos aplicados a Zilda pelaassistente social Graça Senna,que trabalha no abrigo Fran-siscano. “Ela criou esse tra-balho como objetivo de vida.Além disso, vai a espaços cul-turais, participa de audiên-cias públicas no MinistérioPúblico e se dá bem com aspessoas”, avalia.

O professor Jorge Portugala considera uma pessoa “ma-ravilhosa”, motivo que o le-vou a mencionar seu nomeno texto “Louvando quembem merece”, publicado naeditoria de Opinião de A TAR-DE no dia 4 passado.

“Pessoas assim são santosdo meu altar. E eu acredito emmilagres”, falou Portugal so-bre Zilda. “Ela me procuroudizendo que era uma admi-radora minha. Quando medisse o que fazia, eu que aca-bei admirando-a mais”.

Feiras, escolase igrejas sãoalguns dospontos dedistribuição domaterial escolar

Parte daaposentadoriade Zilda, R$ 500,é usada nacompra do kiteducativo

A Companhia Baiana de Pesquisa Mineralsempre acreditou no futuro do nosso Estado.Por isso, há 40 anos investe, todos os dias, empesquisa e no conhecimento geológico. Umamarca histórica de uma vida feita de luta, quevem gerando trabalho, emprego e renda para osbaianos e que, em breve, nos levará a ser umdos principais produtores de minério no Brasil.Este é o caminho de um trabalho de grandeimportância que gera descoberta de novasjazidas, proporciona a diversificação da baseeconômica, a interiorização do desenvolvimentoeconômico e social, a criação de empregos e adistribuição de renda nas regiões mais carentesdo Estado. Uma história que merece sercomemorada e compartilhada com todos quetrilham este caminho de sucesso com a gente.

CBPMHá 40 anos trilhando um

caminho de sucesso.

Crédito:Ficção-Cinem

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