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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS - -CAMPUS I PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS EDNA MARIA VIANA SOARES UMA CIDADE DIA SIM, DIA NÃO S ALVADOR NAS C RÔNICAS DE V ASCONCELOS M AIA - 1958 /1964 SALVADOR-BA 2010

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS - -CAMPUS I

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS

EDNA MARIA VIANA SOARES

UMA CIDADE DIA SIM, DIA NÃO

SALVADOR NAS CRÔNICAS DE VASCONCELOS MAIA - 1958 /1964

SALVADOR-BA

2010

EDNA MARIA VIANA SOARES

UMA CIDADE DIA SIM, DIA NÃO

SALVADOR NAS CRÔNICAS DE VASCONCELOS MAIA - 1958 /1964

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Estudo de Linguagens

da Universidade do Estado da Bahia

como requisito parcial para obtenção do

título de Mestre por Edna Maria Viana

Soares sob a orientação da Profª Drª

Maria do Socorro Silva Carvalho .

SALVADOR – BA

2010

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial de ste trabalho, por

qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa,

desde que citada a fonte.

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaboração: Biblioteca Central da UNEB

Bibliotecária: Helena Andrade Pitangueiras– CRB: 5/536

Soares, Edna Maria Viana.

Uma cidade dia sim, dia não: Salvador nas crônicas de Vasconcelos Maia – 1958 / 1964. /

Edna Maria Viana Soares. / Salvador , 2010.

162 f.

Orientadora: Profª Drª Maria do Socorro Silva Carvalho.

Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências

Humanas I. 2010

Contém referências, apêndices e anexos

1. Cronistas baianos. 2. Crônicas. 3. Literatura – história e crítica. 4. Maia, Vasconcelos –

1923 - 1988. 5.Jornal da Bahia – 1958-1964. I. Carvalho, Maria do Socorro Silva. II.

Universidade do Estado da Bahia, Programa de Pós-graduação em Estudo de Linguagens. III.

Titulo.

CDD: 869.810342

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens

EDNA MARIA VIANA SOARES

UMA CIDADE DIA SIM, DIA NÃO

SALVADOR NAS CRÔNICAS DE VASCONCELOS MAIA - 1958 /1964

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Estudo de Linguagens

da Universidade do Estado da Bahia como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre.

Salvador, de de 2010.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Ivia Iracema Duarte Alves - UFBA

Julgamento: ______________________________________

Assinatura: _______________________________________

Prof. Dr. Carlos Augusto Magalhães – UNEB

Julgamento: ________________________________________

Assinatura: _______________________________________

Orientadora Profª. Drª. Maria do Socorro Silva Carvalho – UNEB

Julgamento: ________________________________________

Assinatura: _______________________________________

SALVADOR – BA

2010

Este trabalho é dedicado, in memoriam, a meu pai. Seu amor pelo jornal me levou a amar a cidade do Salvador.

AGRADECIMENTOS

À minha dileta orientadora, pela paciência e dedicação no acompanhamento

da construção deste texto.

Aos professores do programa, pelos ensinamentos.

Aos colegas do mestrado, ouvintes de nossos escritos ensaísticos e

companheiros nesta aventura, pelo estímulo.

A Lobão, funcionário da Biblioteca Pública do Estado da Bahia, pela presteza

em atender às urgências da pesquisa.

À minha família, pelo apoio em todos os momentos.

A Lustosa e Pedro, pela compreensão durante as longas horas de ausência.

À SEC, pela licença para realização deste curso.

E a todos aqueles que de alguma forma se sintam contribuintes deste trabalho.

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo o estudo das crônicas jornal ísticas de

Vasconcelos Maia, publicadas no Jornal da Bahia na coluna Dia Sim, Dia

Não, no período de 21 de setembro de 1958 a janeiro de 1964. Contista

consagrado, com obras editadas inclusive no exterior, o escritor baiano, no

momento em que a cidade do Salvador vivia uma expressiva efervescência

cultural, como testemunha privilegiada de seu processo de modernização,

aproxima-se dos meios de comunicação de mass a, tornando-se um cronista

incansável. Ao lado dessa fecunda atividade jornalística, Vasconcelos Maia

responsabiliza-se pela gestão do órgão municipal de turismo, posição que será

determinante no enfoque de suas crônicas sobre a cidade que então definia su a

“vocação turística”. Embora escrevesse sobre os mais variados temas, o

cronista Vasconcelos Maia prioriza a cultura popular, em especial os

elementos oriundos da cultura negra e suas manifestações, imprimindo um

traço de autenticidade e originalidade à cultura local, o que ensejará a

construção de uma “moderna tradição soteropolitana”. Neste estudo, a cultura

emerge como elemento tradutor da modernização cultural da cidade. Num

enfoque triplo, o texto analisa o intelectual e sua trajetória profissional, a s

crônicas e sua temática bem como a visão de cidade por ele concebida.

Intentando colaborar com a pesquisa acadêmica acerca de Vasconcelos Maia,

ao final da dissertação, apresentam-se a relação das crônicas publicadas no

matutino pelo cronista baiano e su a bibliografia completa, além de fac -símiles

de algumas dessas crônicas que foram objeto desta investigação.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Baiana. Vasconcelos Maia. Crônicas

jornalísticas. Modernização Cultural . Cidade do Salvador.

ABSTRACT

The objective of this work is to study Vasconcelos Maia‟s journalistic

chronicles published in Dia Sim, Dia Não column of Jornal da Bahia, from

September 21, 1958 to January, 1964. Established story teller with texts

edited abroad, the writer from Bahia is a privileged witness of the city

modernization process, who approximates of the mass media and becomes a

tireless chronicler in the moment when Salvador lived an expressive cultural

excitement. Beside this fecund journalistic activity, Vasconcelos Maia

becomes responsible by management of Municipal Tourism Bureau, posit ion

which will be decisive in the focus of his chronicles about the city in a

moment when Salvador was defining its “touristic vocation”. Although he

wrote about many themes, the chronicler Vasconcelos Maia gives priority to

popular culture, especially the elements related to Black Culture and its

manifestations, imprinting a trace of authenticity and originality to the local

culture, what will follow the construction of Salvador “modern tradition ”. In

this study, culture comes out as a translator element of the city cultural

modernization. In a triple focus, the text analyses the intellectual and his

professional trajectory, the chronicles and its themes, as well as the vision of

the city that the writer conceives. Attempting to collaborate with the

academic research about Vasconcelos Maia, we present , at the end of the

dissertation, the relation of the chronicles published in matutino by the

chronicler from Bahia and his complete bibliography , and facsimiles of some

of these chronicles which were object of this investigation.

KEY WORDS: Literature of Bahia. Vasconcelos Maia. Journalistic

Chronicles. Cultural Modernization. Salvador City.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

09

2 ZIGUEZAGUEANDO SOBRE A CRÔNICA

2.1 O CRONISTA E SEU TEMPO

2.2 A BOSSA PARA A CRÔNICA

2.3 MANJANDO UMA CRÔNICA

16

21

25

29

2.4 UMA CRÔNICA D IA S IM , D IA NÃO

3 O LEQUE DAS CRÔNICAS

3.1 NAS RUAS , UMA CONFUSÃO DOS PECADOS

3.2 NA BAHIA , É FESTA O ANO INTEIRO

3.3 SE NÃO FOR GENTE BOA , É COISA

3.4 INTERESSES E ORGULHO DOS BAIANOS

4 A CIDADE DAS CRÔNICAS

4.1 UM JEITO DE SER MODERNO

4.2 ENTRE PAISAGENS NATURAIS E URBANAS

4.3 NOS CAMINHOS DE FÉ E FESTAS

4.4 COISAS DA V IDA E DA L IDA

4.5 NAS MALHAS DA CULTURA

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

APÊNDICE A

APÊNDICE B

ANEXO

35

43

51

60

67

75

84

89

92

96

104

110

114

118

133

147

150

1 INTRODUÇÃO

A cidade do Salvador, assim denominada desde antes de sua

fundação, era referida como Bahia ou Cidade da Bahia até meados de 1960.

Seu surgimento, distanciado de qualquer movimento de levas de gentes e

técnicos ou de longínquos embriões urbanos, remonta a um decreto

expressando a vontade criadora da coroa portuguesa que intencionava criar,

nas terras da Colônia, uma nova Lisboa.

Resultante da ação dos “semeadores” – metáfora usada por Sérgio

Buarque de Holanda (1991) ao se referir aos colonizadores portugueses

fundadores de cidades nas baías de regiões litorâneas, nas desembocaduras

dos rios, acompanhando as linhas sinuosas das penínsulas, sem nenhuma

intenção de domar a natureza - a implantação da cidade do Salvador,

acontecida 49 anos depois do descobrimento do Brasil, foi, segundo Cid

Teixeira (2005), determinante para a presença lusa no Atlântico Sul.

Fiel à sua origem, esta cidade vem confirmando ao longo do tempo a

sua vocação para objeto de gestos intelectuais. Foi, e continua sendo,

inspiração para viajantes, poetas, escri tores, historiadores, geógrafos,

arquitetos, compositores e cronistas que almejam com seu discurso d ar-lhe

sentido, contando o seu passado ou seu presente, ensejando -lhe a formação de

um futuro.

Tendo sido uma cidade-fortaleza, cidade-portuária, a cidade do

Salvador viveu, no começo do século XX, sua “euforia progressista” , fase de

transformações em sua geografia urbana, que conformou a cidade atual . Ao

contrário do Rio de Janeiro , vítima do “bota-fora” do prefeito haussmaniano

Pereira Passos, a velha Bahia escapou de um processo acentuado de

demolições de seu passado arquitetônico , lutando por aceitar em sua estrutura

apenas as mudanças indispensáveis aos ditames da modernidade.

Apesar das intervenções em sua trama urbana, indício de

modernidade em curso, a cidade viveu , segundo Heliodório Sampaio (1992),

até meados do século vinte, aquilo que se conven cionou denominar de

“enigma baiano”, um longo período de marasmo, certo atraso social e

12

econômico, em decorrência de ter abortado seu projeto de industrialização e

da decadência da economia açucareira do Recôncavo.

A partir de 1950, sob o manto da ideolog ia nacional

desenvolvimentista existente no país, a Cidade da Bahia viveu momentos

decisivos. Estes culminaram com a sua inserção no processo do capitalismo

industrial brasileiro através da instalação da Petrobrás, da criação do Centro

Industrial de Aratu e dos incentivos fiscais da SUDENE, marcos fundamentais

para a incipiente marcha da industrialização. As transformações na economia

se alongaram pelos anos seguintes, refletindo -se noutras esferas da sociedade,

especialmente no campo cultural .

A renovação cultural da Bahia consolidou-se em decorrência da

presença da Universidade da Bahia, sob o reitorado do Professor Edgar

Santos, e da ampliação dos meios de comunicação de massa materializados na

modernização do rádio e do jornal e na chegada da televisão . A

implementação do jornalismo impresso, o surgimento dos cadernos culturais,

o aumento do alcance dos programas de rádio, a instalação da primeira

emissora de televisão, além da existência de movimentos em torno do cinema

e das revistas culturais constituíram fatores decisivos para o ímpeto

renovador da cultura baiana.

Vivendo uma época marcante de sua história, a cidade é obrigada a

se pensar, a debruçar -se sobre si mesma, o que ela faz com curiosidade,

perplexidade e imaginação. O debate acerca das questões urbanas ocupava a

elite intelectual da época, que se acreditava com a missão de superá -lo,

promovendo a sua “divulgação”. Vasconcelos Maia, escritor urbano, objeto

desta dissertação, não se furtou a este intento. Em suas crônicas, propõe -se

dar conta do processo de modernização da cidade do S alvador que, segundo

Ívia Alves, “não se restringia mais a uma larga avenida e várias alamedas de

bairros nobres, mas abrangia agora, uma complexidade socioeconômica”

(ALVES, 1999).

No papel privilegiado de espectador da urbe, como cronista ,

Vasconcelos Maia lançou o olhar sobre a cidade do Salvador , escrevendo

regularmente em jornais locais. Em dias alternados, assinava a coluna

intitulada Dia Sim, Dia Não , no Jornal da Bahia , matutino, segundo Maria do

Socorro Carvalho, dotado de “orientação nacionalista” e “aspecto moderno” ,

13

tido como uma consequência recente daquela fase em que surgiam “novas

condições de desenvolvimento no estado e que naquele momento buscava o

caminho do moderno jornalismo” (CARVALHO, 1999 , p.115).

Nesta perspectiva, o escritor baiano optou pela crônica, gênero

situado no limiar entre Literatura e Jornalismo, para retratar a cidade do

Salvador em seu processo de modernização.

Se fronteiriço foi o gênero escolhido por Vasconcelos Maia em s eu

propósito divulgador da cidade, situação similar era aquela ocupada pela

cidade do Salvador que se via às voltas com a necessidade de ressignificação

e de maior abertura para o mundo industrializado que se prenunciava.

Lugar de fronteira foi, também, aq uele no qual se si tuou o próprio

cronista em seus posicionamentos frente aos desdobramentos do processo de

modernização da cidade: filho dileto, amante e defensor da integridade da

cultura e do patrimônio da cidade , como se declarava, dividia-se, naquele

momento, entre o papel de jornalista e o de responsável pela gestão de um

órgão público de turismo.

Um escritor em busca de seu leitor, um campo jornalíst ico em

expansão e uma cidade tentando traduzir -se são fios que irão formar a teia,

urdida pelo acaso e pela necessidade, na qual se ligam a Cidade e a

Literatura.

Tendo em vista estes cruzamentos , o propósito deste estudo são as

crônicas jornalísticas de Vasconcelos Maia publicadas no Jornal da Bahia , no

período de 1958 a 1964.

E o que ora se intenciona é identificar as representações da cidade

do Salvador em seus embates frente ao processo de modernização que se

instaura, considerando-se que, na ânsia de modernizar -se, o espaço urbano

passa a ser objeto de um novo e veemente discurso, mostrando que “a

modernização da cidade inspira e força a modernização da alma de seus

cidadãos” (BERMAN, 1987 p.143).

Este é o resultado de uma pesquisa bibliográfica na qual se intentou

uma leitura com a dimensão sócio -histórico-cultural, tendo como abordagem

teórica o caminho orientado por uma reflexão sobre a crônica e sua relação

com a modernidade, a cidade e a cultura, em seus desdobramentos no Brasil .

14

A crônica, se olhada como criação cultural e intelectual, possibilita

estudos do seu conteúdo, das suas condições de pro dução e circulação e do

papel do intelectual que a idealiza, o que permite a realização de análises sob

diferentes referenciais. Dotada de amplo espectro, ela se ocupa com aspectos

de uma realidade que poderão se perpetuar ou se modificar. Seu surgimento s e

atrela ao da cidade, o cenário, por excelência, da modernidade e da vida

moderna.

A modernidade é aqui entendida, seguindo o proposto por Marshall

Berman (1987), como um conjunto de experiências de tempo e espaço, de si

mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida, sem fronteiras

geográficas, raciais, de classe, de nacionalidade, de religião ou de ideologia,

compartilhadas por homens e mulheres em todo o mundo. O desejo de

transformação de si próprio e do mundo em redor, juntamente com o terr or da

desorientação e da desintegração da vida, seriam algumas das preocupações

especificamente modernas, as quais pre veem necessariamente a convivência

com o paradoxo e com a contradição.

A cidade, a “mais preciosa invenção coletiva da civilização [.. .]

superada apenas pela linguagem, na transmissão da cultura” (MUNFORD,

2004, p.63), tem sido um dos temas recorrentes na literatura e em vários

outros campos do conhecimento. Definida por Milton Santos (1959) como um

fato eminentemente geográfico, a cidade é uma forma particular de

organização do espaço, uma paisagem, presidindo relações com um espaço

maior, em seu derredor, sua zona de influência.

O termo paisagem é aqui util izado na concepção de Santos (1988),

que assim nomeia uma combinação de elemento s situados no domínio do

visível, cuja dosagem supõe certo ritmo de evolução e dinamismo, podendo

ser formada tanto por volumes quanto por cores, odores, movimentos, sons

etc.

É sabido que outros olhares foram lançados sobre a obra de

Vasconcelos Maia, mas suas crônicas jornalísticas ainda não mereceram da

academia um olhar mais demorado. Embora não se pretenda averiguar as

causas e subjetividades existentes no campo das instâncias que legitimam

textos, produções e análises literárias, instigou -nos o desejo de um olhar

diferenciado sobre esta produção do escri tor.

15

Este estudo mostra-se duplamente relevante. Inicialmente, sua

importância está em aproximar, do meio acadêmico -científico, os escritos de

redação contínua de Vasconcelos Maia, e assim tornar visív el uma modalidade

de sua obra, bastante significativa para a apropriação da representação de um

tempo pretérito da cultura na Bahia, que, por sua riqueza e variedade de

movimentos, faz -se aberto a novas pesquisas e reflexões. Sua relevância está

ainda em contribuir para a ampliação do campo de pesquisa da literatura

baiana, nordestina e brasileira.

O corpus da pesquisa foi constituído por quinhentas e noventa e sete

crônicas jornalísticas publicadas na Coluna Dia Sim, Dia Não , no Jornal da

Bahia , no período compreendido entre 21 de setembro de 1958, data da

fundação do matutino, até janeiro de 1964, quando ainda foi possível se

encontrar a coluna no periódico .

As fontes de pesquisa foram sistematizadas com o recolhimento das

crônicas por meio da reprodução xerográfica ou fotográfica dos jornais, cujo

acervo pertence à Biblioteca Pública do Estado. Como procedimentos

metodológicos iniciais recorreu-se à ordenação cronológica, leitura preliminar

e classificação temática das crônicas. Em seguida, seleção e agru pamento

daquelas a serem efetivamente util izadas na construção do texto.

Considerando a multiplicidade de assuntos abordados por Vasconcelos Maia,

foram estabelecidos grupos temáticos a fim de viabilizar seu estudo.

Finalizando, procedeu-se a análise dos textos dos grupos temáticos e a

configuração das diversas representações da cidade deles decorrentes.

Em consonância com o tríplice enfoque desta pesquisa, ou seja, o

papel do intelectual Vasconcelos Maia, suas crônicas jornalísticas e sua

representação da cidade, o trabalho está estruturado em três seções. A

primeira, Ziguezagueando sobre a Crônica , discorre sobre o papel do escritor

como intelectual, aborda o momento histórico peculiar vivido pela Bahia e a

forma como o cronista nele se insere, sua trajetória profissional , a escolha do

seu campo de atuação, o jornal, e a opção pela crônica, sua cartada

extraordinária. Tece considerações sobre o seu processo criativo num ofício

nem sempre considerado fácil, o de cronista que se vê na obrigação de

conciliar atividades de naturezas diversas e escrever uma crônica,

16

necessitando às vezes lançar mão de estratégias para dar conta da tarefa

rotineira.

A segunda seção proposta, O Leque das Crônicas , t raz uma visão do

conjunto das crônicas de Vasconcelos Maia, a riqu eza e a amplitude temática

de um cronista que, no afã de ser moderno, na luta travada entre o existente e

o possível passa a se ocupar com a variedade de assuntos do cotidiano da

cidade que se modificava. Devido à vastidão de seu universo narrado, as

crônicas foram classificadas por temas, constituindo-se em grupos: Rua,

Gente, Cotidiano, Festas, Teatro, Cinema, Literatura, Sítios, Turismo,

Paisagem e Outros. Diferentes visões da cidade podem ser esboçadas a cada

movimento de fechamento e abertura do leque temático.

A terceira seção, A Cidade das Crônicas , esboça a representação da

cidade extraída das linhas ou entrelinhas das crônicas. A visão da cidade

delineada por Vasconcelos Maia é pensada como uma paisagem e se desdobra

em cidade paisagem-natural e cidade paisagem-urbana consoante com os

elementos por ele retratados.

A cidade paisagem-natural é aqui entendida como a visão da cidade

delineada sob os aspectos físicos, retratando -lhe a configuração geográfica e

a natureza idealizada e paradisíaca. Em se tratando da cidade de Salvador,

este modo de olhar remonta a um tempo que antecede àquele do processo da

urbanização a todo custo, resultante do advento da industrialização.

Por sua vez, a cidade paisagem-urbana diz respeito à representação

de urbe concretizada por meio de elementos retirados dos aspectos humanos,

sociais e políticos. Representando o domínio do homem sobre a natureza, esta

visão concebe a cidade como espaço de cultura, memória e tradição. A cidade

paisagem-urbana , dual, é composta pela cidade-ordinária e cidade-cultura ,

sendo repleta de elementos que traduzem o processo de modernização, a

riqueza e a diversidade cultural da cidade do Salvador concebida pelo

cronista.

Nesta seção, analisa-se a forma como a modernidade se concretiza

naquela cidade, o papel e a relevância da cultura e da tradição como

tradutoras de modernidade, as seleções e os apagamentos realizados por

Vasconcelos Maia ao esboçar aquilo que aqui se pensa, inspirada em Renato

Ortiz (2006), como a “moderna tradição” soteropolitana.

17

Nas Considerações Finais , retoma-se o fio condutor deste trabalho

destacando o papel de Vasconcelos Maia como intelectual atuante, consciente

do seu ambiente e dos problemas à sua volta, um autor que faz escolhas

acertadas como sua aproximação com o ambiente jornalíst ico, um escritor

transitando entre dois mundos, o povo e os intelectuais, usando sua crônica

como ponte que os liga. Vasconcelos Maia , como historiador de cultura,

retratava uma cidade cujo princípio fundador era ser espaço de cultura e

tradição. Uma cidade que, embora ancorada num tempo pretéri to, voltava -se

para um futuro possível .

A escrita jornalíst ica de Vasconcelos Maia apresentava uma lógica

interna tradutora das contradições do processo de modernização da cidade e

seus múltiplos determinismos. Dotada da força desmistificadora da influência

europeia na formação da cultura baiana, sua crônica marcava como autêntico

tudo aquilo que se reportasse à origem africana, o que se apresenta na ideia

de uma “moderna tradição” da cidade do Salvador.

Finalizando, ressalta -se o caráter não conclusivo deste estudo que

toma para si a responsabilidade de apontar as inúmeras possibilidades de

leitura do importante registro, feito por Vasconcelos Maia, do momento

singular vivido pela Bahia, e que ambos, momento e registro, requerem novos

esforços investigativos.

2 ZIGUEZAGUEANDO SOBRE A CRÔNICA

[ . . .] Sou o cronista atento aos pequenos fenômenos da vida, ao

espetáculo do cotidiano que eu próprio participo, ao

aproveitamento de tudo quanto se passa em redor, e que possa

se transformar em notícia ou emoção. Já à frente de uma

Repartição pública, faço parte de outra engrenagem, com

outros problemas e outra orientação. (MAIA, 30/9/1960)

Foi em Santa Inês, cidade do sudoeste da Bahia, a qual se referi a

como “minha Mesopotâmia”, que nasceu Carlos Vasconcelos Maia, em 20 de

março de 1923. E a Ladeira dos Aflitos onde se fixou quando seus pais

emigraram para Salvador, em 1924, foi seu primeiro lugar de pertencimento e

palco para suas aventuras de menino. Era lá que se encontrava a morada da

família, descri ta na crônica Minha Casa dos Aflitos, “frente para a ladeira,

muro correndo ao longo do caminho para a praia do Unhão e as veredas do

Gamboa”. Era uma casa térrea, vasta, com “telhado em duas águas e sótã o

enorme, perto do céu, sobre a baía azul”, tinha “sala de visitas com móveis

em jacarandá e espelhos venezianos, louça limonge nos armários e quadros

nas paredes”. Segundo o cronista, quando sobreveio uma crise financeira, a

família desfez-se da casa e de todos os seus “pequenos tesouros” (13.

7.1960).

Era dessa Casa dos Afli tos – lugar que “embora tão próximo à Av.

Sete, ao Centro, era como uma vila do sertão, isolado por completo do

movimento e do progresso, tendo o grande mar pelas costas e grandes roç as

pela frente” – que, ainda menino, saía em passeios com o pai, adquirindo o

“gosto pela Bahia”. Guiado pela mão paterna, ia à ponta de Mont Serrat, à

Igreja do Bonfim, à Boca do Rio. Sem lembrar -se se havia ônibus, recordava-

se com muita saudade dos “encantados passeios de bonde” pelo Cabula,

Retiro e Rio Vermelho.

Nitidamente, na memória do menino Carlito, como era conhecido,

ficara o passeio “nem sempre mais constante, entretanto o mais festivo ao

Farol da Barra” (22.2.1961), para ver o mar que povoou sua mente juvenil de

sonhos e fantasias, inclusive “aquela de ser marinheiro” (19.12.1958). Carlos

fez o curso primário no Colégio Ipiranga e o secundário nos ginásios Carneiro

Ribeiro e Colégio da Bahia (o Central).

19

Vasconcelos Maia atribuiu sua opção pe la literatura “à vida

aventurosa de garoto misturada à vida caótica das leituras” . A sua trajetória

de escritor iniciou-se aos 18 anos, vindo a ser “um ficcionista”1. Estreou na

literatura, em 1946, com o livro Fora da Vida, que trazia alguns contos

lançados em periódicos, no intervalo entre os anos 1942 e 1945. Fora da Vida

era o título de um dos contos no qual o autor projetava o seu drama de

enfermo, vez que, no final da adolescência, fora acometido de uma pleurite

(na época tratada como tuberculose), qu e o obrigou a interromper os estudos e

a ficar enclausurado no sótão de sua casa, passando a maior parte do tempo

sozinho. A clausura forçada pela doença levou -o a mergulhar na leitura e a

compensar a imobilidade física com a franca mobilidade imaginativa. Leu

muito e de tudo, como ele próprio afirmou em vários de seus depoimentos.

Gostava “imensamente de ler; livros para crianças, livros para adolescentes,

livros para adultos, além de livros proibidos”2.

O papel de intelectual – termo aqui entendido segundo o exposto

por Pierre Bourdieu em seu diálogo com Roger Chartier (CHARTIER, 2001,

p. 242), como aquele que pode agir à distância ao transformar as visões de

mundo e as práticas cotidianas – foi cedo assumido por Vasconcelos Maia,

marcando a sua trajetóri a profissional ao longo da vida e promovendo sua

inscrição no campo3 art ístico e intelectual da Bahia. O escri tor estabeleceu

uma ampla rede de relações com pessoas das mais diversas áreas, muitas delas

1 Em material datilografado com o título Sobre o Leque de Oxum, gentilmente cedido pelo falecido

professor Pedro Moacyr Maia, irmão do escritor, Vasconcelos Maia informa que não sabe bem quando

se manifestou a sua vocação para a literatura. Era um garoto que vivia intensamente a infância,

gostava de ler, e lia muito. Suas aventuras de garoto somavam-se àquelas das leituras caóticas, o que

resultava numa intensa produção mental. Criava todas as fantasias que lia, sendo ora o autor, ora o

personagem. Nesta entrevista, afirma: “Sou ficcionista. Não quero ser mais do que isso”. 2 Informação constante do material datilografado com o título Sobre o Leque de Oxum mencionado na

nota anterior. 3 De forma sintética, campo é definido por Pierre Bourdieu (2007) como “espaço social de relações

objetivas”. Esta noção permite identificar em distintos domínios ou universos da vida social, tais como

cultura, economia, religião, literatura etc., não só traços invariantes, como também propriedades

específicas de cada um deles. Os traços invariantes seriam comuns a quaisquer deles, e as

propriedades específicas, as relações objetivas, reportam-se a regras, normas e crenças que lhes dão

sustentação, jogos de linguagem, relações de poder e estoque de bens materiais e simbólicos que neles

são produzidos. Na teoria dos campos, a história ganha um papel de destaque. Bourdieu dá um relevo

às condições históricas, à gênese social de cada campo que é constituído através de lutas.

(BOURDIEU, 2007, p. 64)

20

oriundas dos tempos do Colégio Central, “ou da Rua De mocrata” (8.7.1959),

locais que marcaram significativamente o trajeto – não apenas do cronista,

mas de uma geração de jovens intelectuais – tanto na vida social quanto na

cultural.

O Colégio da Bahia, seção Central, era dotado de um quadro

discente “heterogêneo”, constituído, em sua maioria, por alunos provenientes

da classe média. Contava com professores capacitados, administração

competente e dedicada, fomentava ideais inovadores em seu interior e era

respeitado por ocupar lugar de destaque nos desfiles c ívicos, pela qualidade

de sua banda marcial . Por ser uma referência cultural comum a vários artistas

e escri tores, o Colégio Central pode constituir -se numa “cartela de

identidade” (ORTIZ, 1985, p. 129) partilhada por toda uma geração de

intelectuais da Bahia.

Integrante dessa geração de intelectuais, prenunciando a renovação

cultural da Bahia, em 1948, Vasconcelos Maia fundou e dirigiu, com os mais

novos e expressivos nomes da cena cultural de Salvador, a revista de cunho

modernista, cujo objetivo era implementar a vida intelectual de Salvador

dentro do clima de pós -guerra e dar uma ressignificação identitária para a

Bahia. Caderno da Bahia: revista de cultura e divulgação , como se intitulava,

foi publicada, pela primeira vez, em agosto de 1948, por um gru po de

escri tores locais para que tivessem um canal próprio de expressão.

De cunho social, a revista divulgava a cultura popular, tratava da

questão do negro, o caldo cultural de uma Salvador que, então, buscava sua

identidade. O periódico não pretendia ro mper com o passado, preocupava-se

em viver o presente, fugir do academicismo sem investir diretamente contra

os acadêmicos. Era uma revista simples, com o formato tabloide, visando

ampliar o leque de leitores, atingindo não só intelectuais ou pessoas

diretamente ligadas às artes.

Idealizada por Vasconcelos Maia e Cláudio Tuiuti Tavares, poeta e

jornalista, a revista Caderno da Bahia contou com a adesão de Darwin

Brandão, jornalista, e Wilson Rocha, poeta e crítico de arte. Outros

colaboradores vieram reuni r-se aos primeiros. Foram Heron de Alencar,

Adalmir da Cunha Miranda, Pedro Moacir Maia, além de ilustradores e

art istas plásticos iniciantes: Ladislau Bartk, Genaro de Carvalho, Hélio Vaz,

21

Mário Cravo Júnior, Carlos Bastos, Jenner Augusto, Lygia Sampaio, Rubem

Valentim; músicos como Paulo Jatobá e críticos de cinema como Walter da

Silveira. A revista foi publicada até 1952 e contou com seis números e um

suplemento.

Anos mais tarde, em artigo publicado na Revista da Academia de

Letras da Bahia , Vasconcelos Maia (1983) tratou do Caderno da Bahia como

um veículo necessário à geração baiana de então para “desafogar” o seu

talento num ambiente no qual predominava o academicismo. Denunciou

também a inexistência de simultaneidade entre os acontecimentos literário s do

Sul e os da Bahia, afirmando que a ressonância retardatária do Modernismo

por aqui pode ser atribuída a esse fato. Defensor de posturas vanguardistas, o

cronista trouxe à tona a insignificância da vida li terária local , especialmente

para os ficcionistas que sequer gozavam de estímulos financeiros como

prêmios. Sendo raros os concursos, neles não se honravam os compromissos.

Tendo constituído família ainda jovem, para sobreviver,

Vasconcelos Maia foi obrigado a trabalhar no comércio. Foi balconista,

gerente e, mais tarde, com a morte paterna, proprietário de loja de miudezas.

A rotina das duplicatas, contas a pagar e a receber não o encantou, e logo

passou a exercer outras atividades. Tornou -se vendedor de apólices de sorteio

de imóveis, vindo a conhecer todo o interior da Bahia.

O dinamismo de sua personalidade e as vicissitudes econômicas

levaram o jovem escritor a ampliar sua área de atuação. Voltou -se para o

turismo. Como agente de viagens, na tentativa de despertar o interesse dos

leitores para o turismo na Bahia, conseguiu publicar em revistas de âmbito

nacional várias reportagens sobre o Recôncavo baiano. Em 1958, foi

convidado pelo prefeito da cidade do Salvador , Gustavo Fonseca, para dirigir

um recém-criado órgão oficial de turismo, permanecendo no cargo até o início

de 1964. Retornou para cargo público em 1967, como Assessor de Turismo da

Companhia de Navegação Baiana. Paralelamente, Vasconcelos Maia exerceu

as atividades de colaborador e repórter da Revista Quatro Rodas .

A produção literária de Vasconcelos Maia, que se tornou membro da

Academia de Letras da Bahia em 1976, ocupando a cadeira de número 14, é

constituída de contos e novelas, uma grande quantidade de art igos dispersos

22

sobre turismo, candomblé, roteiros de cinema e a crônica jornalíst ica à qual

se dedicou por longo tempo.

No ano de 1951, o escritor baiano publicou Contos da Bahia e

também Feira de Água de Meninos , livros de crônicas; em 1955, o livro de

contos intitulado O Cavalo e a Rosa. Neste livro, Vasconcelos Maia já revela

o seu gosto pela narrativa curta e linguagem elaborada, nele aparecendo o seu

conto mais conhecido, “Sol”, texto que foi traduzido em várias línguas. Em

1957, publicou Diante da Baía Azul , fazendo jus ao prêmio Câmara Municipal

de Salvador. O Primeiro Mistério , um livro de crônicas, foi publicado em

1960. Em 1961, veio a público O Leque de Oxum, volume de novelas

abordando especificamente a temática afro -brasileira. Em 1963, reuniu

algumas crônicas escri tas para periódicos locais em Lembranças da Bahia .

Em 1964, apareceu Histórias da Gente Baiana, uma seleção de contos de

vários livros anteriores, editada pela Cultrix de São Paulo. Em 1977, publicou

crônicas e contos sob o título de Romance de Natal , e, finalmente, em 1986, o

livro de contos Cação de Areia .

Seus contos integraram várias antologias. “Caxinguelê” participou

da Antologia de Escritores Novos do Brasil , editora da Revista Branca, em

1949. Em 1958, Vasconcelos Maia participou de nova antologia da mesma

editora, Contistas Brasileiros , escrita em quatro idiomas – italiano, inglês,

francês e castelhano –, desta vez com “Largo da Palma”. Integrou também

uma antologia editada pela Cultrix , Maravilhas do Conto Moderno Brasileiro ,

com o conto “Sol”. “A Grande Safra” foi publicado na antologia O Conto do

Norte, editada pela Civilização Brasileira, em 1959.

Na Bahia, organizou com Nelson Araújo uma antologia pioneira,

Panorama do Conto Baiano, na qual inseriu o seu conto “Morte”. Em 1963, a

editora GRD lançou a coletânea Histórias da Bahia , da qual fazia parte o

conto “Preto e Branca”. “Romance de Natal” foi publicado na Antologia do

Novo Conto Brasileiro , da Editora Júpiter, no Rio de Janeiro, em 1964.

No exterior, em 1964, o seu conto “Sol” integrou uma antologia

editada pela Universidade de Leningrado, na Rússia , intitulada Antologia da

Literatura Brasileira e Português . Em 1967, o referido conto foi inserido na

antologia Modern Brasilian Short Stories , editada pela University of

Califórnia (USA) e Cambridge University Press (England) em língua inglesa.

23

No mesmo ano, esse conto foi publicado em alemão na antologia Die Reiher

Und Andere Brasilianische Erzahler , editada por Horst Erdmam Verlag, na

Alemanha. E, em 1972, “Sol” voltou a ser publicado em outra antologia

editada na Alemanha, Die Admiralsnacht, de Aufbau Verlag , Berlim und

Weimar. Traduzido para o japonês, “Sol” apareceu pela editora Hakusuisha,

em Kioto, no Japão, na Antologia de Contos Contemporâneos da América

Latina.

Outro conto foi publicado em língua alemã, o “Romance de Natal”,

em 1968, na Moderne Brasilianische Erzahler, editada na Suíça e Alemanha.

No idioma búlgaro, editado em Sófia, o conto “Um Clarão dentro da Noite”

apareceu na Antologia de Contos do Mar (SOARES, 2000).

Em 14 de julho de 1988, Carlos Vasconcelos Maia morreu vit imado

por um ataque cardíaco.

2.1 O CRONISTA E SEU TEMPO

Vasconcelos Maia dedicou-se à crônica jornalística num período em

que a Bahia vivia um processo cultural peculiar . Orquestrava-se uma tentativa

deliberada de devolver à Cidade da Bahia, como era chamada então a cid ade

do Salvador, se não o lugar equivalente àquele que gozara na história, como a

mais importante cidade do hemisfério sul nos séculos XVII e XVIII, pelo

menos, uma posição de destaque no cenário sociocultural do Brasil.

Tendo perdido a condição de primei ra capital do país (1549-1763), a

cidade do Salvador configurava-se na segunda metade do século passado, com

mais de 400 anos de existência e diversos problemas urbanos, como uma

cidade bucólica e pacata. Conservava liames com o passado colonial ,

ostentando sua mancha urbana orientada pelo seu antigo centro.

Uma cidade que, segundo Ana Fernandes e Marco Aurélio Gomes

(1992), passou da condição de cidade escravista à civilizada, colocando lado a

lado o velho e o novo, sustentando diversas projeções urbanas, num processo

que durara um “tempo longo”, “ações múltiplas” e “esferas variadas de

intervenções”. A modernização da cidade ocorreu de forma “segmentada,

excludente e ancorada numa combinação de velhos e novos elementos”

(FERNANDES E GOMES, 1992, p. 53 -65). Salubridade, fluidez e estética

24

foram os elementos que pesaram na construção da moderna cidade do

Salvador, fato que se deu de forma híbrida, colocando no mesmo patamar

mudança e permanência.

Discutindo o processo de modernização da cidade do Salvador,

Heliodório Sampaio (1992) afirma que o desenho inicial de uma Salvador

moderna e progressista remonta à Semana do Urbanismo realizada em 1935, à

força modernizadora assumida pelo planejamento e pelo urbanismo como

disciplinas modernizadoras no pós -guerra, nos países da Europa e nos Estados

Unidos, e também às necessidades espaciais da “Grande Salvador”,

resultantes da vontade político-ideológica de superar-se à estagnação

econômica que ficou conhecida como o “enigma baiano”.

O “enigma baiano”, momento histórico-econômico, correspondia a

não-industrialização, responsável pelo atraso social e econômico em que se

viam mergulhados a Bahia e o seu Recôncavo com a decadência da economia

açucareira, período que corresponde à primeira metade do século XX

(SAMPAIO, 1992). O debate em torno desse enigma ocupava a elite

intelectual da época, que se acreditava com a missão de desvendá -lo, no

intuito de superá-lo a todo o custo, buscando a concretização do processo de

industrialização.

Somente nos idos de 1950, o processo de transformação da cidade

teve seu momento decisivo, de início, com a implantação da Petrobras,

depois, nos anos 1960, com a execução do parque industrial moderno, o

Centro Industrial de Aratu. Nesse tempo, a capital do Estado sofria

modificações intensas em sua configuração urbana e social, enquanto sonhava

com a sua redenção. Foi nesse período que o estado rompeu o isolamento no

qual se situara, sendo alcançado pelo avanço econômico, desenvolvimento

tecnológico e modernização cultural que se espalh avam no sul do país.

Esses avanços deram um impacto no campo cultural da cidade que

tentava desesperadamente voltar a ocupar um lugar de destaque no cenário

nacional. Ganha nitidez, nesse momento, a existência de um campo artístico e

intelectual que envolvia conjuntamente a esfera erudita e a popular, existindo

uma convivência pacífica entre a Universidade e a indústria cultural que se

anunciava. A cidade contava com grupos de jovens intelectuais

25

comprometidos com a renovação da cultura e das artes, que se organizavam

em torno dos jornais e das revistas que surgiam.

A “divulgação da cidade do Salvador” era então a missão do “grupo

de artistas e escri tores que empunhava a bandeira da renovação baiana”, e

nesse grupo se inseria, conforme sua afirmação, o cron ista Vasconcelos Maia.

Num mercado cultural quase inexistente, como era o da Bahia naquele

momento, o jornal representava o campo de exercício i ntelectual da maior

importância. A atividade jornalística proporcionava o exercício paralelo da

criação e da divulgação da cultura aos artistas e escritores, e os jornais, no

final dos anos 1950 e início dos anos 1960 do século passado, constituíam

espaços de produção e divulgação cultural na Bahia, sendo corriqueira a

atuação de intelectuais no campo jornalíst ico.

Vasconcelos Maia rendeu-se à mídia impressa e falada, aderindo à

crônica como gênero, ainda em 1948, quando passou a publicar ,

semanalmente, contos e crônicas, no jornal A Tarde, na coluna Café da

Manhã . Dez anos depois, apresentava crônica radiofônica na Rádio Cultura da

Bahia, num programa diário denominado Bahia de Todas as Coisas , referido

pelo cronista em sua página no jornal com o lembrete: “P .S.: Todas as noites,

às dezenove horas, através da Rádio Cultura, vai ao ar uma crônica de minha

autoria”.

A partir de setembro de 1958, passou a publicar no Jornal da Bahia ,

a coluna Dia Sim, Dia Não , por ele denominada em suas crônicas como “canto

de página” (3-4.02.1963), “minha coluna” (10 -11.02.1963) e “meu canto Dia

Sim, Dia Não”(14.08.1963). O periódico de orientação nacionalista e aspecto

moderno era um dos “signos da modernidade” recebidos pela Bahia, conforme

menciona Carvalho (1999, p. 114), cujo surgimento atrelava -se à ideia de

renovação do jornalismo baiano, reunindo em sua redação velhos jornalist as

militantes comunistas e intelectuais da nova geração baiana.

Para Vasconcelos Maia, a opção pela crônica jornalística

representava dupla oportunidade. Uma delas, a concretização do sonho

modernista de aproximação com o leitor, uma vez que o jornal e a crônica –

de fácil leitura e amplo alcance do leitor – serviam perfeitamente ao seu

objetivo; a outra, resolver suas questões pecuniárias diante da dificuldade de

sobreviver apenas como escritor.

26

Nas mãos de Vasconcelos Maia, a crônica jornalística config urou-se

como uma “cartada extraordinária” (CHARTIER, 2001, p. 243). A cidade do

Salvador – sob o signo da modernidade, vivenciando transformações que iam

além de sua trama urbana, experimentando seu processo de modernização

cultural que suscitava uma variedade de experiências e tensões, dentre elas a

possibilidade de abrir -se para o turismo – passa a ser não apenas cenário, mas

presença incorporada nas crônicas de Vasconcelos Maia.

Segundo Carvalho (1999, p. 100), pelos idos de 1956, o então

prefeito Hélio Machado, mesmo demonstrando certo constrangimento, já

havia determinado a abertura da primeira temporada oficial de turismo na

cidade. Essa abertura – um fato que se tornaria irreversível devido aos

predicados físicos, belezas naturais e ao patrimônio his tórico-cultural da

cidade do Salvador – , atrelada às questões econômicas e à industrialização,

tornava-se uma das recentes tensões vividas pela cidade.

É sabido que a crônica guarda afinidade com a narrativa oral ,

conforme Walter Benjamin (1993), porque e la incorpora a experiência e

autoridade do narrador, e Vasconcelos Maia, em suas representações, detém

“a sabedoria” para dar conselhos, transmitir ensinamentos, o que fez em

muitas de suas crônicas. O cronista, tal qual o narrador benjaminiano, contou

histórias das tradições da Bahia, falou do passado e do presente da cidade do

Salvador, enaltecendo suas qualidades, mostrou o talento e engenho daqueles

que são seus filhos legítimos e dos que a adotaram como sua terra.

A coluna Dia Sim, Dia Não do Jornal da Bahia presenciava o

cotidiano de uma cidade que se modificava sem, contudo, romper com o

passado. Nela, o cronista representava a cidade que concretizava seu projeto

modernizador solidamente edificado numa base constituída por suas tradições,

enfatizando em suas crônicas os aspectos arquitetônico, histórico, social,

rel igioso e gastronômico da cidade. Destacava suas particularidades culturais,

mostrando a riqueza de sua tradição e de sua cultura ordinária, construindo,

desse modo, a imagem de uma cultura urbana singular, edificada por cada um

de seus moradores que eram, de forma subliminar, responsabilizados para a

tessitura dessa singularidade. Guiado pelo seu amor à Bahia, o cronista

divulgava a cidade, mostrando para as novas gerações os restos de uma B ahia

27

tradicional, enfatizando sempre, em suas descrições, os aspectos originalidade

e autenticidade.

2.2 A BOSSA PARA A CRÔNICA

A crônica classifica-se como expressão literária híbrida por

apresentar, de um lado, a natureza literária e , do outro, a ensaística, podendo

assumir a forma de alegoria, entrevista, apelo, resenha, monólogo, diálogo,

em torno de fatos ou personagens quer sejam reais quer imaginários. Ocupa o

entrelugar no eixo poesia (lírica) e conto. É a visão, carregada de

subjetivismo, de um fato cotidiano. Alimenta a veia poética do prosador e , ao

mesmo tempo, faculta-lhe revelar os dotes de contador de histórias, uma vez

que pode gerar um conto. Por seu traço híbrido, a crônica, para galgar foros

estéticos, necessita recriar a realidade em vez de fazer mera transcrição.

Muitos escritores no Brasil renderam-se à crônica, que teve o seu

ápice no Romantismo, prestando-se também a familiarizar o público leitor

com o estilo do escri tor , além de entreter o público feminino. A crônica social

iniciada por Paulo Barreto, popularizado sob o pseudônimo de João do Rio,

que a via como espelho com capacidade de conservar as imagens da cidade

para o historiador do futuro, ganha relevo no iníci o do século passado, mas é

somente a partir do modernismo que a crônica ganha novas feições. Coutinho

(1986) menciona o favorecimento desse gênero sob novos e múltiplos

aspectos e destaca autores como Ribeiro Couto, Mário de Andrade, Peregrino

Júnior, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, Marques Rebelo, Carlos

Drummond de Andrade, Aníbal Machado, Rubem Braga, Guilherme

Figueiredo, Sérgio Milliet, José Lins do Rego, Brito Broca, Raquel de

Queiroz, Eneida, Elsie Lessa, Lúcia Benedeti, Cecília Meirelles, Helena

Silveira, Dinah Silveira de Queiroz, [ . . . ] Fernando Sabino, Ledo Ivo, Paulo

Mendes Campos, José Conde, Almeida Fischer, Saldanha Coelho, Antônio

Olinto, José Carlos Silveira, Antonio Maria e Sérgio Porto.

Perguntado sobre os dez acontecimentos mais importantes da

história literária de ficção do Brasil, Vasconcelo s Maia, eximindo-se dos

papéis de crítico literário e de historiador de literatura, tomando para si o

status de escritor de ficção, para assim poder falar de modo impressionista,

28

segundo o próprio autor , cita nomes de vários escritores e obras , afirmando

que, se fosse historiador da li teratura no Brasil, faria duas grandes

classificações em sua manifestação, uma antes e outra depois da Semana de

Arte Moderna. Relacionando autores e obras, o décimo acontecimento para

Vasconcelos Maia foi por ele denominado como “Renovação e Valorização do

Conto Moderno Brasileiro” pela geração pós -II Guerra Mundial. Em sua

opinião, o gênero ganhou importância, atingiu o leitor com a força do

romance, “sucedendo -se uma verdadeira cachoeira de livros de um só autor ou

vários, colecionados em antologias cujas edições têm feito a fortuna dos

editores” (MAIA, 1959).

Segundo Vasconcelos Maia, l iberto das influências diretas das

linhas clássicas, o conto moderno brasileiro projetou -se no panorama

internacional, sendo comparado ao mod erno conto norte-americano. Embora

lhe tenha sido solicitado apenas dez acontecimentos mais importantes em

nossa literatura, o escri tor acrescentou o décimo primeiro: o da crônica

moderna, no Brasil , “esplendidamente representada pelo velho Braga, o

príncipe Rubem Braga, mestre do gênero” . Para o escritor baiano, Rubem

Braga teria dado “alta significação a um tipo de literatura aparentemente

fácil , enganosamente frágil, cuja colaboração nenhum jornal brasileiro

prescinde hoje” (MAIA, 1959).

Como Vasconcelos Maia tornou-se cronista é uma pergunta cuja

resposta buscou-se na lei tura da crônica Escravo de Assunto. Produzida por

um cronista-narrador, sem o emprego do pronome na primeira pessoa, a

crônica discorre sobre o problema do intelectual brasileiro e, por tanto, sobre

a opção feita pelo cronista Vasconcelos Maia , que assim escreve:

O Secretário do jornal vai em sua casa e o convida para escrever

diariamente. Lhe dará (sic) uma coluna e pagará a colaboração. Você tem

bossa por escrever e precisa aumentar a renda. (10.11.1959).

Eis aí o mote para aquele que – infere-se – seja o próprio escri tor,

atônito, indeciso quanto à resposta, não por outro motivo que não seja o medo

confesso de tornar-se aquilo que vai chamar de “escravo de assunto”. O

secretário do jornal, diante da indecisão do cronista -narrador, aumenta o valor

da proposta “um bocadinho” e argumenta que não precisa preocupar -se,

porque ele “tem fé no escritor” e “escrever crônica é bobagem”. Basta sentar

29

diante da máquina, colocar o papel no rolo e “malhar o teclado”, sem precisar

pensar, pois a crônica nasce por si mesma, a reflexão não se faz necessária.

Inventar assunto muito menos, pois a crônica “se cria por si mesma”. Sem

enfeites, sem pretensão, reduzida a apenas uma lauda de papel ofício, em

espaço dois, porquanto crônica curta é importante.

O discurso do secretário, na crônica, pode ser visto como síntese de

um pensamento dominante à época. A crônica moderna teve sua origem

relacionada ao surgimento da cidade e do jornal quando este tornou -se

cotidiano, com tiragem aumentada e teor acessível , fato que remonta a 180

anos4 (MOISÉS, 1985). É sabido que, mesmo para os próprios cronistas, a

crônica é tida como um “gênero menor” (CANDIDO, 1992), em relação aos

outros gêneros literários5. Uma provável razão para o descaso estaria no

aspecto pecuniário, ou financeiramente utilitário da crônica, uma vez que ela

possibilita aos escritores um salário fixo, uma vida financeira estável que não

seria possível apenas com os livros. No caso do cronista baiano , a questão

financeira foi a pá de cal. Dúvidas para trás, sentença assinada: “ Daí em

diante viver em função de assunto”. Vasconcelos Maia escreveu sobre os mais

diversos assuntos, em modalidades variadas de crônicas.

Uma tentativa de classificação das crônicas de Vasconcelos Maia

evoca o estudo proposto por Afrânio Coutinho (1986) para os cronistas

brasileiros. Lembrando que não se deve considerar como rígidas separações,

uma vez que há possibilidade de os diversos tipos comunicarem -se, o

estudioso sugere as seguintes categorias: crônica-narrativa, aquela cujo fato

central é uma história narrada com a estrutura característica do conto, ou seja,

a narração de uma estória dotada de começo, meio e fim ; crônica-metafísica ,

4 Preciso no tocante a datas, Massaud Moisés (1985) menciona o ano de 1799 como aquele do

aparecimento da crônica moderna nos feuilletons publicados no Jounal de Débats, em Paris.

5 Para Candido (1992), a crônica vem a ser um gênero menor por considerar que nenhuma literatura

ganha projeção e brilho universal por ser feita de grandes cronistas. Entretanto, “graças a Deus”, diz o

crítico, porquanto sendo gênero menor tem maior proximidade com os leitores. Candido adverte que o

gênero, por ser corriqueiro, rompe a ênfase e o monumental, sendo proveitoso para a visão das coisas

com a retidão indispensável à reflexão. Despretensiosa, insinuante e reveladora, a perspectiva da

crônica é a de quem escreve “do rés do chão”, transformando a linguagem em algo íntimo,

relacionando-a com a vida de cada um. Humanizada, desvestida de artifícios e buscando proximidade

com a linguagem oral, no tempo atual do crítico (1981), o gênero gozava de “grande prestígio”. Aqui

se acrescenta que o aumento constante do número de blogs na Internet, nos dias atuais, testemunha que

esse gênero, hábil em metamorfosear-se, continua forte e vigoroso.

30

constituída de reflexões de teor mais ou menos filosófico ou meditações

acerca de acontecimentos ou sobre os homens; a crônica poema-em-prosa,

carregada de lirismo, constitui -se num extravasamento da sensibilidade do

art ista perante o espetáculo da vida; a crônica-comentário é comumente usada

para discorrer sobre temas díspares; a crônica-informação, muito próxima do

seu sentido original , permite a divulgação de fatos com comentários ligeiros,

de modo impessoal.

Se seguirmos a classificação proposta por Coutinho (1986), as

crônicas de Vasconcelos Maia poderiam ser englobadas nas categorias:

crônica-narrativa, crônica-comentário , crônica-informação e também

crônica-metafísica . Na primeira categoria estão , por exemplo, A Mulher e o

Vestido , A Moça dos Cabelos de Sol , Uma Campeã de Bridge e Milagre . A

crônica-comentário é usada frequentemente pelo escritor que, lançando mão

de um estímulo factual, empreende a seleção dos dados mais importantes a ele

referentes e, assim, desveste a sua escrita do traço da acidentalidade,

chamando-a para a essencialidade. Esta categoria servirá a Vasconcelos Maia

como veículo para divulgar os elementos da cultura negra, acentuando o traço

híbrido da cultura baiana, bem como para alertar a cidade sobre a necessidade

de preservar seu patrimônio histórico e ainda sobre o s problemas que dizem

respeito à vida ordinária da cidade em processo de transformação. É o que se

dá na crônica Candomblé das Arábias , na qual Maia comenta um convite que

recebera para a inusitada inauguração de um clube de candomblé; Perfume da

Bahia serve para discorrer sobre os diversos aromas que enchiam de

encantamento as noites baianas, enquanto reclama do l ixo que tomava conta

da cidade; Carta de Protesto, uma declaração de apoio ao jornalista e colega

Darwin Brandão, que fora vítima de uma estúpida censura (sic) em sua

crônica sobre a construção de Brasília; Vivaldo Costa Lima, crônica na qual

tece elogios ao personagem que lhe dá t ítulo; O Pintor Rubem Valentim, que

serve ao cronista para enaltecer o trabalho do artista e denunciar

indiretamente o obscurantismo cultural da Bahia de então; Outra Fada

Cozinheira e muitas outras.

Eclético, o cronista não desprezará a categoria marcadamente

metafísica, como nas crônicas Chuva e Domingo. Nelas, Vasconcelos Maia

retrata o indivíduo em seu estranhamento na cidade moderna. Na primeira, o

31

homem sente saudades da vida na zona rural que deixara para trás, na

segunda, ele vive de forma solitária um domingo que, como o restante das

coisas na cidade que se moderniza, era desprovido de nexo.

A crônica pode ser útil para a vida, a quem ela serve de perto, ou

para a literatura, sustenta Candido (1992), tratando dos cronistas Carlos

Drummond de Andrade, Rubens Braga, Fernando Sabino ou Paulo Mendes

Campos. Em se tratando de Vasconcelos Maia, a isto se acrescentaria que suas

crônicas são indispensáveis para a leitura da cidade do Salvador em seu

processo de transformação nos anos 1950/1960 do século passado, não se

furtando a sê-lo para a compreensão dos modos de produção do cronista

baiano.

2.3 MANJANDO UMA CRÔNICA

O projeto estético traduzido nas crônicas de Vasconcelos Maia

deixa entrever a modernidade sendo traduzida até mesmo na consciência das

dificuldades com o novo gênero. Atividade absorvente, o fazer crônicas se

misturava aos afazeres diários do cronista, exi gindo tempo, inspiração,

paciência e até mesmo renúncia.

O romance está aberto sobre o sofá [...] prendendo a atenção. A vontade de

ler absorve e o fio da crônica se dissolve. A paisagem de Charentes, com

suas videiras, arma-se sobre os teclados da máquina, suplanta o ambiente.

[...] O jornal tem hora para sair, a crônica precisa ser feita. Como, porém, a

gente pode arrumar ideias para uma crônica besta e fútil, com este mundo

poderoso de Charles Morgan fervendo na cabeça? (30.11.1960)

Nos moldes dos modernistas das décadas de 1920 e 1930, conforme

menciona Davi Arrigucci Junior (1990) ao falar sobre a procura da poesia

empreendida pelos poetas de então, que a desentranham do mundo usando a

linguagem mais simples, Vasconcelos Maia, escrevendo em terceira p essoa,

revela certa “falta de jeito” para com o novo gênero, traduzindo assim uma

sinceridade que associada à simplicidade torna -se sua marca.

Escrever diariamente uma crônica? Será possível? Terá assunto?

Hesita se aceita ou não aceita e diante de sua indecisão o Secretário do jornal

fica julgando que o preço foi pouco: aumenta-o um bocadinho. Fica julgando

que é modéstia e insiste mais. O que você sente, porém é medo. Medo de

não corresponder à confiança. Como poderá escrever todo o santo dia um

assunto que seja leve, curioso, desperte a atenção do público, mantenha seu

32

público? Mas o secretário não desiste. Tem ou finge ter uma fé danada em

você e diz que escrever crônica é bobagem. É só sentar diante da máquina,

botar o papel no rolo, malhar o teclado. Nem precisa pensar. Nem precisa

refletir. Nem precisa inventar assunto. A crônica se cria por si mesma. E

quanto menos presunçosa for, melhor sairá. Tamanho? Basta uma lauda de

papel ofício, espaço dois. Crônica curta é importante. Crônica longa

ninguém lê. O Secretário tem forte poder de persuasão e você precisa de

mais alguns contos de réis. Acaba acreditando que tem mesmo talento para

escrever crônicas e topa a parada. Assina o contrato. E se torna escravo. [...]

Escravo do assunto.

[...] O Secretário do jornal foi em sua casa e o prendeu a um contrato

de crônica diária. Disse que você tinha bossa para a coisa, infundiu-lhe

confiança, acrescentou que escrever crônica é bobagem. Depois que você

começa a escrever acha que ele teve razão. Não verá, porém, jeito algum da

crônica se livrar. (10.11.1959).

O seu amor pela cidade e sua estreita relação com ela são

componentes decisivos na configuração de uma crônica que pode ser

percebida como a tradução de sua perplexidade, do seu espanto diante da

cidade que se coloca à sua frente. Com um olhar repleto de um entusiasmo

que não diminui mesmo diante do atraso que ela manifestava, ele redescobre a

cidade que, juntamente com a crônica e o jornal, irá constituir o seu achado

modernista para a elaboração de um projeto estético.

O uso da narrativa curta em sua trajetória intelectual representou

seu envolvimento com o momento histórico -social enquanto sua escolha

temática, sempre atrelada a sua ideologia, configura -se pertinente e válida

para representar a literatura ba iana. A cultura baiana era um tema de especial

relevância do ponto de vista dos intelectuais da época, pois as festas

populares, as tradições, os modos de viver da e na cidade, cheios de verdade e

originalidade, prestavam-se para a construção de uma ideia de Bahia como

cidade dona de uma cultura original que a distinguia das demais. Sua temática

atendia assim às propostas modernistas e seus objetivos, dentre os quais a

proximidade com a cultura popular.

Sua afinidade com o prosaico, com o cotidiano, pressup õe o uso de

uma linguagem que dele se aproxime. Vasconcelos Maia prezava pelo uso de

frases curtas, com estilo marcado pela oralidade qualquer que fosse o tema

tratado. Lançou mão da linguagem coloquial caracterizando -a com traços

singularizadores ou local istas que determinavam a fala popular daquele

momento. Com desenvoltura empregou termos como arenga em lugar de

33

conversa, brocotó referindo-se a lugar distante , calhambeque por carro usado ,

duque para roupa masculina, mandinga para idiossincrasias, plaquete

correspondendo a folheto, raso por soldado, zona por bairro, além de verbos e

expressões como bolar e manjar significando imaginar, bordejar em lugar de

passear, embiocar valendo como entrar, embirrar e inticar significando

implicar, gramar em lugar de andar, grenar por zangar, dar facada como

contrair empréstimo, queimar o serviço em lugar de faltar, ver o sol nascer

quadrado como ir preso, dentre outros.

As crônicas de Vasconcelos Maia fornecem pistas para que se teçam

algumas considerações a respeito do seu processo criativo. A primeira delas

diz respeito à identificação existente entre sua atuação como ficcionista e sua

produção jornalística. Algumas crônicas escritas para o Jornal da Bahia

deixam perceber que, para o cronista, e star preso ao circunstante não o

distancia do aspecto literário . O fato apresenta-se aos olhos de Maia, que com

ele se ocupa como exige o ofício, mas a subjetividade se faz presente. O

acontecimento é pretexto para exercitar a virtuosidade de seu estilo, sua

inventividade, sua graça. Quando descreve a sereia, a sua musa inspiradora,

que mora numa loca na Ponta de Humaitá, entoando suas doces cantigas ou

contando suaves histórias até ver o cronista “alegre e refeito”, exercita sua

subjetividade e sua imaginação criadora na constru ção de um lugar mágico.

Desse modo, o seu leitor do jornal não é privado da emoção estética.

Procuro escutar a sereia que eu sempre escuto antes de ir para o escritório –

nada. Ela também deve estar aborrecida. E a sereia? A musa que situei no

meu mundo de inspiração. (15.4.1959).

O mesmo se dá quando, para denunciar a existência de lixo nas ruas,

descreve os perfumes que emanavam nas noites da Bahia, despertando prazer

e encanto em seu leitor:

Aqueles que amam a Bahia noturna, gozando a sua fresca, o seu

perfume, sua atmosfera, seu romanticismo, sua cor e seu gosto já não podem

vivê-la. Digo noturna porque a noite é a hora do passeio, da caminhada, da

meditação, dos reparos, da boemia. Durante o dia estamos nos matando para

ganhar dinheiro, para ganhar a vida, passamos céleres e indiferentes pelas

ruas ao sol.

Até [..] das casas adquiriram tons novos. Em cada esquina enroladas

em seus panos engomados, alumiados por seus bibianos vermelhos,

“baianas” legítimas faziam serão. E com seus tabuleiros vendiam sarapatel,

caruru, vatapá, pamonhas de puba, mingau de carimã e tapioca.

Havia alguma coisa de mágico, nas claras e frescas noites baianas.

Alguma coisa de impalpável, invisível, mas tão presente que a sentíamos

34

fisicamente. Talvez pelos perfumes de que eram tão ricas. Perfumes que

deliciavam nossa sensibilidade, mesmo habituada e que perturbavam os

visitantes. Que perfumes misteriosos eram esses? Mar ou sereno? Flores ou

frutas? Folha ou incenso? Acarajé se fazendo? Azeite fritando? Eram vários

perfumes distintos, misturando-se, confundindo-se num só perfume rico e

aliciante, o perfume da Bahia. Entretanto e alguns anos para cá, ninguém

pode aventurar-se pelas noites baianas. A paisagem é quase a mesma. As

estrelas são iguais. Assim a luz, e a brisa. Semelhantes também são o

silêncio, os tipos, as cores e os costumes, qual a transformação?

O que sobretudo tornava incomparável, encantadora, a noite baiana

era seu mágico perfume. Perfumes de flores e frutas, de mar e sereno, folhas

e incenso, acarajé se fazendo, azeite fritando. O lixo matou esse perfume.

Lixo nas portas, nos passeios, nas ruas, nas esquinas. O lixo está afogando a

cidade. (30.12.1958).

Avesso ao improviso, tendo declarado “Sou uma nulidade completa

quando pegado de surpresa” (MAIA, 1960a), Vasconcelos Maia afirmava

existir “na crônica assinada”, o “compromisso poético”, o lirismo e a

subjetividade do autor. Essa preocupação com estes três aspectos, às vezes,

faz surgir em suas crônicas certa ambiguidade, que se traduz na dificuldade

em definir se aquele texto fora escrito para o jornal ou publicado no jornal .

Em alguns momentos, a identidade de ficcionista fala mais alto e suplanta a

voz do cronista do cotidiano . Na crônica Pelourinho e Casbah (2.2.1959), ao

descrever uma visita de técnicos norte-americanos de turismo ao centro

histórico de Salvador, comenta os fatos ocorridos, mas surpreende o leitor,

dando um tom misterioso ao desaparecimento de um dos técnicos norte-

americanos entre os corredores sombrios e as ladeiras tortuosas do centro da

cidade. Fica mais evidenciada a estreita identificação entre os textos

jornalísticos e ficcionais de Vasconcelos Maia quando recorre à publicação de

trechos de novelas ou contos de sua autoria em sua coluna do jornal.

O uso do humor, um dos meios para se desvestir a crônica do traço

de pura reportagem, também foi feito por Vasconcelos Maia . O emprego desse

recurso pelo cronista foi flagrado nas crônicas que tratam de questões éticas,

morais, políticas ou sociais com profundidade, porém com leveza. De forma

bem-humorada, por exemplo, ele narra o episódio de uma velhinha de 80 anos

que acordara dizendo haver engolido a dentadura, e que, tossindo

desesperada, mão na garganta, apontando para o peito , foi levada ao pronto-

socorro, no qual o médico de plantão não aparece, estrutura para exames não

havia, só restando apelar para uma clínica particular. De igual forma, narra

35

fatos acontecidos em uma zona eleitoral – o de uma mulher, amamentando, às

voltas com a senha perdida e as fi las enormes, e o de um analfabeto que, após

votar, confessa não saber escrever o seu nome (29.10.1958). É com esse

mesmo recurso que ele aborda a questão dos táxis, inexistentes na cidade nos

horários de pique, principalmente na Rua Chile, razão para o cronista dar com

a mão para um amigo que passa, pedindo carona, quando em “frente à

Livraria”, juntamente com o escritor Jorge Amado, tentava chegar a um

restaurante da cidade (27.1.1961).

Atento ao seu leitor, responde aos questionamentos deles, cita

nomes, faz referências. Apesar do tom leve e bem humorado das crônicas, sua

atitude perante o lei tor é a de um cronist a sério, sóbrio. Estando doente, em

repouso por ordens médicas , impossibili tado de trabalhar , escreve a Crônica

do Outro, na qual transcreve um trecho de um livro de Eneida – jornalista e

escri tora que publicava no Diário de Notícias , do Rio de Janeiro – antecedido

por uma minuciosa exposição de motivos a um “leitor que irá lucrar com isto”

(15.1.1960).

O diálogo virtual com um leitor implícito, buscando a cumplicidade

ou isenção ao tratar de temas que porventura lhe pareciam delicados, era um

recurso ao qual Vasconcelos Maia recorria lançando mão de expressões como:

resposta a uma pergunta do leitor , um leitor me pergunta ou recebo carta de

um leitor querendo saber sobre tal assunto . Ao falar sobre Pedro Moacir

Maia, seu irmão, que se encontrava em Dakar, a convite do governo,

lecionando as disciplinas Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, para

mostrar de forma detalhada o plano de ensino do professor, ele diz ter

recebido uma carta de um leitor que lhe perguntava sobre o parentesco e por

onde andava o mestre Moacir (16.5.1961). A sua amizade com Érico

Veríssimo, padrinho de um dos seus fi lhos, é comentada na rápida biografia

feita a pretexto de responder a um leitor que pergunta ra se conhecia o escritor

(27.1.1960).

O recurso “pergunta do leitor” é também usado por Vasconcelos

Maia para introduzir temas em que necessita exercer certa pedagogia.

“Angustiada” leitora solicita um roteiro para levar amigo, vindo de São

Paulo, para conhecer a cidade em vinte e quatro horas (17 e 18.4.1960).

Alguém quer saber a que horas deve chegar num terreiro de candomblé

36

(31.8.1960). Esposa de amigo, que não só lê muito, como pode discutir

assuntos literários, pergunta sobre a existência de tradução para o inglês das

obras de Jorge Amado à venda na Bahia, uma vez que o número de

estrangeiros aqui residentes era grande (21.6.1961). Cartas de leitores

mencionadas pelo cronista comprovam que suas crônicas têm repercussão no

sul do país, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Uma leitora de São Paulo quer

saber o significado da palavra “balangandã” (29.4.1960), outra escreve de lá

para indicar livros para jovens (27.5.1961).

Na obrigação de sempre estar informado, o cronista Vasconcelos

Maia, não distante de seus outros colegas, às vezes, recorre a ardis:

Sobre o bambolê muita gente falou. Quando surge um assunto assim,

pitoresco e popular, o cronista profissional fica obrigado a tratá-lo. Todo

mundo na rua lhe indaga: - Como é? Não vai escrever sobre o bambolê?

Confesso que desde o seu aparecimento, pus-me a manjar uma crônica. Dei

tratos à bola. A crônica não saía. Que é bambolê? Sinceramente eu não

atinava para a sua serventia. O poeta Paulo Gil foi quem me deu a receita:

[...](10.12.1958).

Passa então o cronista a discorrer sobre a receita dada pelo poeta e

amigo, que sugeria a compra do objeto, a forma de definir o tamanho, o local

em que se deveria treinar o uso. A provável conversa com o conselheiro se dá

em frente à Livraria Civilização e o escritor dis corre ainda acerca de seus

prováveis informantes a respeito do tema em questão, citando nomes de

jornalistas, intelectuais e políticos de então. Outras vezes, o próprio cronista

sugere a origem de seu universo temático, usando tom galhofeiro:

Um dia destes vou ter que dividir o que ganho com essas crônicas com

o poeta Paulo Gil mais o jornalista Ariovaldo Matos. O primeiro por me

assaltar continuamente com assuntos. O segundo, por vivê-los. Ontem

mesmo o Paulo Gil me falou o que se passou com Ariovaldo e com o

contínuo do JORNAL DA BAHIA.

Sentindo-se com terrível dor de cabeça e precisando mesmo assim

trabalhar, o autor de “Corta-braços” chamou o tal contínuo. E, - olhe aqui

seu Ari, Corifedrina não tem. Prá o senhor escolher trouxe dois envelopes:

um aéreo outro azul [...] (31.12.1958).

É sabido que são requisitos básicos da crônica a ambig uidade,

brevidade, subjetividade, presença do diálogo, efemeridade, e que no Brasil o

gênero foi se distanciando da função informar e comentar para aproximar -se

da diversão.

Travando uma luta entre o efêmero e o duradouro, a crônica de

Vasconcelos Maia expande suas fronteiras e dialoga com a história e a

37

cultura, ganhando assim um traço peculiar, marcante. Traço este que por si

justificaria a frequência dos leitores ou pe squisadores aos “blocos totêmicos”

– expressão de Massaud Moisés (1985) referindo -se aos velhos jornais nos

quais as crônicas repousariam, nas bibliotecas, buscando sua insólita

permanência.

Na esteira de Wanderley de Pinho, Pedro Calmon, Xavier Marques e

outros intelectuais que antes o fizeram, o cronista investe na defesa das

tradições e dos monumentos históricos, não contra as ameaças do progresso

demolidor sobre estes últimos, mas contra o descaso e abandono em que se

encontravam na cidade do Salvador e no seu Recôncavo, afirmando:

[...] amante que sou, até as últimas consequências, de minha cidade,

empregado remunerado seu, obrigado por atribuições e sentimentos a

respeitá-la, cultivá-la e fazer sua propaganda. (17.4.1963).

Ao empreender a defesa das tradições e da cultura e posicionar -se

como espectador de urbe que narra as transformações de sua cidade,

Vasconcelos Maia retira a efemeridade de suas crônicas e, em troca, atribui -

lhes o requisito da historicidade. Une, com traço firme, no jornal, a hist ória e

a literatura.

2.4 UMA CRÔNICA D IA S IM , D IA NÃO

O tempo, paradoxalmente, matéria e ameaça dos cronistas,

representou, algumas vezes, uma armadilha para o escritor baiano. Na cidade

moderna, escrever diariamente, sempre um assunto novo às voltas com

ocupações outras, não se constituiu em tarefa fácil para Vasconcelos Maia,

que se viu obrigado a recorrer a estratégias como repetição e reformulação de

algumas crônicas, além da transcrição de trechos de contos e novelas.

Atentando-se estritamente ao processo criativo, observou-se na

produção do cronista baiano a repetição de crônicas, com pequena ou

nenhuma alteração, no decorrer do período em que escreveu para o Jornal da

Bahia . Foram publicadas, reiteradamente, as crônicas Barracas Ciganas ,

Lavagem do Bonfim, A Procissão Marítima de Nossa Senhora , Bom Jesus dos

Navegantes, Segunda-feira da Ribeira, “Ternos” e “Ranchos”, O Forte de

38

Monte Serrat , Ciclo das Arraias, Estória de Cangaço, Chuva, O Homem

Emboscado, Escola Primária, Ladrão e Outra Fada Coz inheira e Força da

Cor, que aparece com texto inalterado, porém sob o título de Riqueza da Cor.

Constatou-se a repetição, em três anos não consecutivos, da crônica

As Barracas Ciganas , versando sobre o caráter móvel das barracas que

serviam as comidas típicas na cidade. Transportadas pelas carroças ciganas

puxadas por mulas, elas acompanhavam toda a jornada das festas populares.

Esta crônica foi publicada pela primeira vez em 19 de fevereiro de 1959.

Contava com uma ilustração na qual se via uma baiana debr uçada sobre algo

que lembrava um balcão, ao fundo, prateleiras com copos e garrafas e ao lado,

um jarro com flores.

São duas horas da madrugada, começo de um novo dia. Até há pouco, há

duas horas precisamente, era domingo. Domingo do Bonfim. (20.1.1963).

O título Lavagem do Bonfim foi usado sete vezes pelo cronista no

Jornal da Bahia , a part ir de 1961.

Amanhã, quinta-feira vai acontecer a famosa “lavagem” do Bonfim.

É uma das festas mais belas, mais puras, mais emocionantes que a Bahia

possui. Partem carroças, aguadeiros, cavaleiros, “baianas”, parte o povo da

Conceição da Praia rumo ao Bonfim. São carroças que fazem feriado nesse

dia, que se enfeitam de folhas e festões, que se engrinaldam de bandeirolas

coloridas de papel de seda. São aguadeiros levando seus burricos, seus potes

cheios da água de Oxalá. São cavaleiros montados e ajaezados que vieram de

longe para cumprir sua romaria. E são as lindíssimas “baianas”, todas de

branco, porque branca é a cor do Senhor do Bonfim, conduzindo seus potes

cheios de água e perfume, transbordantes de rosas. É o povo de todas as

classes, de todas as cores que, entre cânticos de alegrias sustenta com

autenticidade, mais outra de suas tradições invioláveis.

Vêm também bandas de música, ciclistas, os meninos de São Geraldo,

todos dando contribuição para a magnificência do desfile. Ao chegar ao

Adro do Bonfim, entre hinos e foguetório, processa-se a lavagem

“simbólica”. O presidente da lavagem, o folclorista Antônio Monteiro abre

as festividades, o Prefeito, naturalmente faz uma breve saudação e sem

política nem demagogia as “baianas” despejam o conteúdo dos potes: água,

perfumes e flores, nas pedras respeitáveis, na escadaria de mármore da

Basílica do Bonfim.

Entra ano, sai ano, a “lavagem” não morre, a “lavagem” se efetua, a

tradição se perpetua. Anos houve que enfraqueceu. Mas a fé do povo e o

entusiasmo de Antônio Monteiro têm persistido e os mais velhos acham que,

embora as portas da igreja não se abram, a festa ultimamente tem sido tão

grandiosa, tão eloquente, tão vibrante quanto antigamente.

Amanhã, quinta-feira, repetir-se-á a tradição. O povo com suas

“baianas” atravessará meia cidade entre cânticos, músicas e foguetório e irá

render graças ao Senhor. Ao Senhor do Bonfim, Que recebe de braços

abertos, pretos e brancos, ricos e pobres, pois todos são filhos iguais, todos

são filhos de Deus. (11.1.1961).

39

No dia 13 de janeiro de 1961, apareceu na coluna a crônica Bonfim ,

que se referia ao sucesso de uma festa que não havia morrido, trazendo de

forma reiterada a descr ição daqueles elementos que a compunham e

imprimiam a beleza plástica ao festejo. Por três anos consecutivos, de 1962 a

1964, o cronista repetiu, num ritmo de ladainha, uma crônica -roteiro

descrevendo a festa da Lavagem do Bonfim, que, por ser móvel, tem a penas as

datas alteradas.

As modificações podem não ter alcançado o festejo, mas a crônica

sofreu, ano a ano, um acréscimo significativo em seu sentido. Equânime, o

Senhor do Bonfim passou a acolher com seus braços abertos, além de todos

aqueles filhos, os “nacionais e estrangeiros, pois todos são filhos de Deus”.

[...] a cidade se verá enriquecida com a renovação de uma das

manifestações místicas mais puras e mais lindas de quantas o povo baiano é

capaz. Das escadarias da Igreja da Conceição partirão carroças, cavaleiros,

ciclistas, aguadeiros, bandas de música, fogueteiros, e dezenas de belas

baianas, com suas roupas mais luxuosas carregando potes cheios de flores,

transbordantes de água perfumada.

[...] e o povo de todas as classes, povo de todas as cores, sustentando

inviolável a tradição bem forte da terra antiga [...]

[...] o Senhor do Bom Jesus, que receberá mais uma vez, de braços abertos,

todos os seus filhos, pretos e brancos, pobres e ricos, nacionais e estrangeiros

– pois todos são iguais, filhos de Deus. (15.1.1964).

A crônica Segunda-Feira da Ribeira versa sobre a origem de uma

festa que, apesar de convertida no primeiro grito do carnaval baiano, teve

origem religiosa. Esta narrativa pôde ser lida no dia 28 de janeiro de 1959, e

14 e 15 de janeiro de 1962. Publicada em 11 de setembro de 1959 e 9 de

setembro de 1960, respectivamente, a crônica A Procissão Marítima de Nossa

Senhora descreve a beleza plástica do espetáculo da procissão na qual a “bela

morena, a imagem de Nossa Senhora dos Navega ntes, atravessa a Baía de

Todos os Santos e com a boca da noite encosta no caisinho da Praça Cairu”.

Bom Jesus dos Navegantes , crônica na qual narra as duas versões da história

de outra festa religiosa, foi publicada em 30 de janeiro de 1959, 30 e 31 de

dezembro de 1962 e 1º de janeiro de 1964. Outra festa religiosa que teve o

seu relato repetido foi a dos Santos Reis. Em 4 de janeiro de 1961, apareceu

“Ternos” e “Ranchos” , e três anos depois, em 5 e 6 de janeiro de 1964,

identificamos o mesmo texto sob o t ítulo “Ternos e Ranchos”: Hoje .

40

O Forte de Monte Serrat, em 10 de julho de 1959, deu tí tulo a uma

crônica narrando sua história, caracterizando -o como “o monumento mais

bonito de nossa arquitetura militar”. Em 1º de novembro de 1963, esta

narrativa voltou, com pequenas alterações e despida de alguns adjetivos, à

coluna Dia Sim, Dia Não. Descrevendo as belezas naturais da baía, a crônica

Força da Cor, publicada em 18 de março de 1963, reapareceu, inalterada, em

novembro desse mesmo ano, sob o título de Riqueza da Cor.

Se o cronista retirava das experiências da vida os assuntos a

comentar, sendo Vasconcelos Maia pai de filhos pequenos, a infância mereceu

seu destaque. Brincadeiras como arraias, bolas de gudes, carrinhos de rolimãs

foram cuidadosamente descritas por ele e uma delas recebeu tratamento

especial. O jogo das arraias, tema aprofundado ao longo dos anos, gera quase

um tratado sobre a brincadeira infantil, não tão restrita às crianças, e que

parece ter caído no gosto popular por aquela época. Iniciado em 1959, com a

Arraia Cortada, aprofundou a técnica de sua confecção na próxima crônica, a

pretexto de falar sobre o interesse dos filhos pelas arraias e periquitos,

descreveu algo que se aproximava de uma cultura das arraias, trazendo

vocabulário específico, nomenclaturas usadas nas diversas regiões, diferenças

de formatos que ostentava. Em outra crônica falou da “fome de arraia” de

alguns pequenos, mais tarde descreveu uma “pegada”, adiante, uma “peleja”,

e, finalmente, repetiu uma delas. A crônica Ciclo das Arraias , publicada pela

primeira vez em 30 de dezembro de 1959, vai reaparecer na íntegra em 26 e

27 de maio de 1963.

Um olhar mais demorado sobre a oficina literária de Vasconcelos

Maia capta a transcrição de trechos de novelas ou contos de s ua autoria. Foi o

que se deu com um fragmento do conto O Cavalo e a Rosa , transcrito sob o

título de Eliana e o Mar (14 e 15 de junho de 1959), com trechos da novela O

Leque de Oxum , publicada em 1961, sob os títulos Eguns (19.7.1961) e Início

de Festa (21.7.1961). Evidenciando a sinceridade, sua marca, nos dois

últimos, o leitor foi informado do processo de que lançou mão o autor.

Nos bastidores da produção literária do escri tor baiano flagra -se a

repetição de algumas crônicas dotadas de características de conto sugerindo a

hipótese de experimentações para ficções maiores ou não. Estória de

Cangaço, dona das característ icas de conto, mostra outra cultura singular

41

existente na Bahia. Foi publicada em 3 de maio de 1963 e repetida, sem

alterações em seu teor, em 28 e 29 de julho de 1963. Chuva, uma crônica

metafísica na qual um cronista-narrador denuncia as contradições do processo

de modernização da cidade, deixa perceber os hábitos burgueses como “comer

bobagens”, ler um “livro policial” ou fumar um “Suerdick” , bem como

aspectos que remetem à vida rural, tais como a existência das bananeiras no

quintal, os sapos alegres, a horta do sergipano, a cachoeirinha que

engrossava. Chuva foi publicada em 11 de março e 1960 e 29 de março de

1963. O Homem Emboscado , crônica datada de 14 de dezembro de 1958, que

descreve a baía vista pelo cronista, a partir de “uma cadeira do „Manhattan‟

solitário àquela hora de sol e beleza”, retorna à coluna em 18 de outubro de

1963.

Outra estratégia da qual lança mão em seu fazer literário é a

alteração dos meios expressivos, fazendo existir uma oscilação entre o conto

e a crônica. A crônica Sortilégio , na qual seu personagem referido como o

homem , após ler as histórias sobre amores de Xangô, mergulha num torpor

misturando sonho e realidade, tem características de conto. Por outro lado,

Madrugada na Praia da Jaqueira , escrita por um cronista -narrador na terceira

pessoa, publicada pela primeira vez em 7 de março de 1959, narra, com

riqueza descritiva, um idílico jantar no Anjo Azul , protagonizado por uma

alemãzinha e um suposto habitante da cidade que a leva, na madrugada, a um

passeio inesquecível pelos becos e ladeiras da região até a praia da Jaqueira,

para ver Janaína e as estrelas. Em 24 e 25 de março de 1963, ela ressurge,

com algumas modificações que a enriquecem, com detalhes da cultura baiana

e das transformações sofridas pela cidade, convertida em conto, sob o título

Noturno.

O Homem e as Vitrines, crônica publicada em 16 de janeiro de 1959,

descreve com lirismo e subjetividade o deslumbramento de um homem diante

das vitrines iluminadas para o Natal . Ele sonha com presentes para seus

filhos, mas, acordando de seus devaneios, mete as mãos nos bolsos vazios e

afasta-se das vitrines, sumindo nas sombras das ruas. Esta crônica foi

selecionada pelo escritor para compor o livro O Primeiro Mistério (MAIA,

1960b). Sofrendo o processo de reescrita, ela se converte no conto É Natal! É

Natal! , publicado no livro Romance de Natal (MAIA, 1977), tendo sido objeto

42

de estudo de Sérgio Rivero Gomez (2000) . No capítulo intitulado Duas

histórias que contam uma mesma história , Rivero Gomez compara os contos

O Homem e as Vitrines , extraído do livro O Primeiro Mistério (MAIA,

1960b), e É Natal! É Natal! , do Romance de Natal (MAIA, 1977). O

pesquisador não mencionou a existência, no Jornal da Bahia, daquela que,

dezoito anos depois, sofrendo três transformações sucessivas, converter -se-ia

no conto é Natal! É Natal!

Tratando das obras produzidas pelos meios de comunicação de

massa às quais foram negados, em seu su rgimento, valores art ísticos, pelo

fato de serem repeti tivas e seguirem um modelo sempre igual, Umberto Eco

(1989) abordou a questão da repetição. Ela seria a reprodução de uma “réplica

do mesmo tipo abstrato”, de alguma coisa que tenha as mesmas proprieda des,

apresentando como sendo originais e diferentes, embora repita o já conhecido.

Para o autor, a repetição se resolve em série , serialidade, retomada, recalque,

saga e no dialogismo intertextual. Ressalta Eco (1989) que tais fenômenos

devem ser revistos sob o ponto de vista de uma nova concepção do valor

estético. Assim, a atual estética da repetição destaca duas características em

qualquer mensagem bem organizada: uma dialética entre ordem e novidade,

ou seja, entre esquema e inovação, e a percepção clar a dessa dialética pelo

destinatário.

No âmbito da Literatura, Gilberto Mendonça Teles (1976) realizou

estudo acerca da repetição na obra de Carlos Drummond de Andrade. Segundo

o crí tico, as preocupações estilísticas de 1945 poderiam ter concorrido para o

aumento do uso deste recurso na obra do poeta mineiro. A repetição vocabular

ou silábica consistia em um traço característico da linguagem modernista no

Brasil, t raduzindo a sua proximidade com a linguagem coloquial. Em

Drummond, esse traço assumiu aspecto expressivo especial, sendo a repetição

associada à lucidez de um poeta que busca a lição pelas coisas, sabendo que o

mundo se repete mesmo compreendendo que “não possa banhar -se duas vezes

no mesmo rio” (TELES, 1976, p. 62).

Não se pretende exaurir nesta abordagem uma questão que pode

suscitar estudos diversos, entretanto, o uso da repetição de crônicas, recurso

ao qual Vasconcelos Maia lançou mão, mais de uma dezena de vezes no

corpus estudado, pode ser pensado, à luz dos estudos mencionados. Se

43

tomarmos como base o pensamento de Gilberto Teles, tendo em vista a forma

como se desenvolve a relação de Vasconcelos Maia com a cidade da qual é

profundo conhecedor, pode-se supor que o cronista tinha consciência de que,

mesmo passando por profundas mudanças, moder nizando-se, na cidade do

Salvador alguns fatos se repetiam. Não de forma binária ou ternária como os

vocábulos na poesia, mas de forma cíclica sustentados na tradição das festas

que sucediam ano após ano, ou aleatórios, como o discurso da necessidade de

preservação do patrimônio histórico e aquele da continuidade de práticas não

necessariamente modernas, como o hábito de comer em barracas ou empinar

arraias nos terrenos baldios da cidade.

O uso da repetição, em seus escritos de redação contínua, produz

uma espécie de choque, de surpresa. O cronista narra a cidade recorrendo à

repetição não de palavras, mas de episódios. Ele seleciona e repete, talvez,

aqueles que se lhe afigurem como mais significativos para marcar o aspecto

que deseja realçar, seja ele a força da tradição, a singularidade da cultura, a

suntuosidade das belezas naturais. Demonstra, dessa forma, uma atitude bem

próxima à de fuga ao convencionalismo buscada pelos modernistas.

Pensada sob a ótica do meio de divulgação, o jornal e seu público

leitor, a repetição pode ser lida como uma estratégia para articular um

discurso orientador visando a construção de uma identidade pela reafirmação

de suas tradições e seus valores. É sabido que na construção de uma

identidade social os integrantes de grupo s utilizam o patrimônio composto por

suas lendas, histórias, imagens, canções que dizem respeito à cidade, com o

fim de construir uma visão compartilhada por todos . Repetir a crônica pode

ser ainda um recurso do cronista para revelar seu traço irônico. A m anutenção

dos antigos hábitos naquela cidade que se modernizava poderia ser o insólito

e a repetição dos seus relatos seria a expressão da perplexidade de um

cronista.

Quer seja lida como simples forma de lidar com o tempo ou com a

falta dele na cidade que se moderniza, como recurso de construção identitária,

ou como expressão da ironia do cronista, importa salientar que a repetição se

caracteriza aqui como uma atitude essencialmente estética que traduz a busca

deliberada da coerência com os princípios mod ernistas. O uso da repetição

não retira o valor estético da mensagem uma vez que o seu leitor percebe a

44

dialética entre o fato novo e o corriqueiro e não estranha a reiteração das

crônicas que narram os fatos que se sucedem regularmente.

Por sua vez, a publicação indistinta de contos, trechos de livros ou

crônicas na coluna, aponta para a existência de uma espécie de livre trânsito

entre os dois gêneros por parte do cronista, além de uma perfeita

identificação entre o escritor e sua coluna no jornal, por el e referida, de

forma carinhosa, como “meu canto de página”, “minha coluna”.

Tradutora de seu desgosto por “improvisos”, a ação de reformular

crônicas convertendo-as em contos, bem como aquela de publicar narrativas

curtas no matutino são estratégias do in telectual. Elas delineiam o fazer

literário de Vasconcelos Maia como o trabalho consciente de um escritor

artesão, que “malha” o teclado em busca da melhor forma para o seu texto,

enquanto deixam perceber a existência, por parte daquele que se dizia “apena s

ficcionista”, de uma perfeita identificação com o jornal como meio de

divulgação de sua obra, além da absoluta cumplicidade com o leitor que

testemunha seu fazer artístico.

45

3 O LEQUE DAS CRÔNICAS

Entre 21 de setembro de 1958 e 20 de janeiro de 1964,

correspondendo a seis anos de colaboração, três vezes por semana, ou seja,

Dia Sim, Dia Não, no alto superior esquerdo, da página 5, do primeiro

caderno do novo matutino baiano, o Jornal da Bahia , Vasconcelos Maia

publicava sob forma de crônicas sua visão de mundo, materializando a cidade.

Nos anos iniciais do jornal, algumas crônicas apresentavam -se

ilustradas6. Tais ilustrações não se mostravam assinadas, tampouco existiam

indicativos de sua autoria, entretanto, o próprio cronista fornece pist as de um

provável autor numa crônica inti tulada Lauzier , na qual presta uma

homenagem ao desenhista do Jornal da Bahia :

[...] Ele se chama Lauzier. Veio trazido por João Falcão diretamente

para a primeira página do Jornal da Bahia. E desde o primeiro exemplar foi a

principal vedete da primeira página, mesmo Kruschev e Eisenhower

apertando as mãos da paz, mesmo Juracy sorrindo ou Heitor comparecendo.

Ele desenhando todos sem ofender a nenhum, traçando com sua pena mágica

a caricatura de cada, interpretando com sua malícia jocosa, seu humor feliz,

os acontecimentos universais e regionais, diplomáticos, políticos, esportivos,

literários, sempre o seu burrinho, com sua rosa na boca, gozando o papel que

todos representam na vida (13 e 14.12.1959)7.

Segundo Vasconcelos Maia, as charges eram “o melhor aperitivo

para a digestão do querido matutino”, mas, infelizmente, o chargista não

ficaria na Bahia, rumaria para a África para servir na Legião Estrangeira.

Uma exposição com os desenhos do francês foi organizada pelos amigos a

título de festa de despedida (13 e 14.12.1959).

Nem todas as crônicas foram ilustradas, mas a última a apresentar

ilustração foi Milagre, publicada na edição datada de 10 e 11 de janeiro de

1960, período que coincidiu com a partida de Lauzi er.

No decurso do tempo de sua publicação, o jornal sofreu

modificações em sua forma de apresentação e essas mudanças manifestaram -

se, inclusive, na coluna assinada pelo cronista. Nos três últimos meses do ano

6 As crônicas Sortilégio (21 fev.1959), Madrugada na Praia da Jaqueira (7 mar.1959), Rosa

Vermelha do Beco do Mingau (18 mar.1959) e Ainda sobre o Turismo(25 mar.1959), integrantes do

Anexo aqui apresentado, exemplificam as ilustrações referidas. 7 Por não fazê-lo aos domingos, o Jornal da Bahia circulava na segunda-feira com data

correspondendo aos dois dias da semana.

46

de 1958 – época do surgimento do matutino – e nos dois anos seguintes, a

coluna Dia Sim, Dia Não apareceu em forma de retângulo, com um tamanho

regular – 8cm de largura e altura variando entre 15cm e 20cm conforme o

assunto – e a linha demarcatória em seu entorno bem acentuada. O título

trazia apenas a inicial da primeira palavra em maiúscula. No período de abril

de 1959 a setembro de 1960, o nome da coluna apresentou -se em caixa alta. A

partir dessa data, passou a ostentar apenas as iniciais dos quatro termos do

seu título, em letras maiúsculas, mantendo a forma retangular.

A linha demarcatória das bordas da coluna apresentou -se diferente

no ano de 1962 – não mais o traço contínuo, e, sim, meio espiralado. No final

desse ano, essa linha sofreu nova modificação e a coluna começou a perder

um pouco em largura, tornando-se mais alongada, chegando a apresentar -se

com 7cm. Em setembro de 1963, a coluna apareceu com 4cm de largura,

estendendo-se até quase a metade da página, bordas em linhas contínuas e

mais finas, título em duas linhas e sublinhado, nome do autor mantendo a

forma original. Assim se apresentou até janeiro 1964, sempre na página 5 do

primeiro caderno do Jornal da Bahia , Dia Sim, Dia Não8.

O estudo dos aspectos gráficos da crônica não é objeto do enfoque

proposto neste trabalho, mas as transformações sofridas pela coluna Dia Sim,

Dia Não , ao longo do período, bem poderiam ser explicadas à luz das

modificações percebidas no papel de Vasconcelos Maia como intelectual que

caminha, cada vez mais, em direção ao cronista, ao leitor de cidade,

distanciando-se do ficcionista. À medida que a temática de suas crônicas

afasta-se da ficção e aproxima-se dos fatos do cotidiano, ou seja, na

proporção em que a cidade se põe para Maia como algo que precisa ser

narrado, ser representado, o espaço da coluna, antes claramente delimitado,

vai sendo incorporado no e pelo jornal.

8 Escrevendo em máquina datilográfica, o cronista faz referência a “laudas” e menciona, na crônica

Escravo de Assunto (10 nov.1959), a necessidade de escrever apenas “uma lauda de papel ofício,

espaço dois”. Tendo cada linha cerca de 70 caracteres e suas crônicas variando entre 40 e 50 linhas,

tem-se que elas apresentavam 3100 caracteres, ainda que algumas exibissem em torno de 2400. A

crônica Segunda Feira Gorda, datada de 19 e 20 de janeiro de 1964, embora redigida com 2610

caracteres, apresentava-se com 87 linhas contendo 30 caracteres cada, traduzindo a modificação dos

aspectos gráficos da coluna Dia Sim, Dia Não.

47

Pode-se afirmar que nessas crônicas jornalísticas o ficcionista se

cala dando voz ao cronista do cotidiano, ao espectador de urbe imbuído da

missão de transformar a sua coluna num espaço para narrar o processo de

transformação da cidade, as mudanças nas sensibilidades e sociabilidades

daqueles que nela vivem e com suas ações a constroem.

Ao tratar das visões do urbano na li teratura, Sandra Pesavento

(2002) afirma que o trabalho do cronista é exercitar o “olhar l iterário”,

traduzido no pleno domínio sobre a sua sensibilidade para idealizar a cidade

em seu pensamento e depois convertê -la em palavras e imagens mentais e,

assim, narrá-la em seu processo de transformação. As crônicas de

Vasconcelos Maia podem ser entendidas como forma de compreender o

processo de transformação vivido pela cidade do Salvador , tendo em vista o

resgate do passado na modernidade que então se instaurava.

A crônica, este fato moderno que se submete ao consumo imediato,

à transformação e fugacidade da vida moderna, serviu a Vasconcelos Maia

para a construção da sua representação. Por seu caráter fragmentário,

diversificadas foram as visões nelas concebidas, porém como elementos que

facultam a visualização da cidade em pleno processo de modernização.

O cronista Vasconcelos Maia retratou o mundo vivido, o cotidiano

da cidade, humanizando-a sob a sua pena, elegendo um tema em detrimento de

outro como uma testemunha de seu tempo.

Dotado de sensibilidade, múltiplas e variadas fo ram as experiências

vividas por Vasconcelos Maia como leitor da cidade do Salvador , fato que

tornou vasto o seu universo representado e amplo o leque temático9 de cerca

de 600 crônicas publicadas na coluna Dia Sim, Dia Não em quase seis anos de

produção.

9 Definidos como fatores de contextualização por Ingedore Koch e Luis Carlos Travaglia (2001), os

títulos, elementos “perspectivos”, comumente avançam informações sobre o conteudo. Optando por

escrever, normalmente, sobre um único tema em cada dia, mesmo fazendo uso do humor, poucas

vezes Vasconcelos Maia lançou mão de títulos “despistadores”. Dando preferência aos “perspectivos”,

construiu indicativos seguros dos assuntos tratados em seus textos jornalísticos. Este fato converte o

Apêndice – A, constitutivo deste trabalho, contendo relação da totalidade das crônicas publicadas pelo

escritor no Jornal da Bahia, ordenadas cronologicamente, em objetiva fonte de consulta para

pesquisadores futuros.

48

A visão da rua e do cotidiano da cidade, concretizada em cerca de

100 crônicas, ensejou a presença de assuntos diversos, como os costumes e as

tradições em sua luta pela perpetuação e os hábitos simples dos moradores,

como o da compra de produtos nas barrac as da esquina, das serestas, dos

pregões, do passeio noturno, do namoro nos bancos de jardins.

Foi o olhar sobre a rua que levou o cronista a discorrer sobre a

agitação da vida moderna, a mulher, a moda, a beleza, os hábitos modernos,

como o do jogo de bridge e do passeio para olhar vitrines, os encontros

fortuitos, as conversas de esquina, os concursos de misses, o transporte

urbano, as marinetes, as lambretas, a barulheira, as crianças que brincavam

nas calçadas e os flagelados que dormiam sob as marquis es.

O arranjo espacial da cidade – com seu traçado no qual se

inscreviam o centro antigo, o Comércio, o Mercado Modelo, a rampa, os

bairros tradicionais, seus becos e ladeiras, suas igrejas e edificações, seu

valioso patrimônio histórico e a luta pela sua conservação – foi representado

em 98 crônicas.

Confessando gostar de “gente”, Vasconcelos Maia teve sob a sua

mira os habitantes da cidade – políticos, intelectuais, art istas, escritores,

boêmios, trovadores, estudantes, vendedores ambulantes, as “fadas

cozinheiras” que faziam comida baiana, as baianas de acarajé, os “tipos”

diversos que surgiam – , sobre os quais escreveu cerca de 78 crônicas.

O cronista dedicou 29 crônicas às questões da infância . Nelas, as

crianças são vistas trepadas nos pés de araçás na s ribanceiras dos quintais, no

alto dos muros empinando arraias, nas calçadas em seus carrinhos de rolimãs,

recitando trava-línguas e buscando respostas para suas adivinhações.

Com igual desenvoltura, comentou fatos relevantes que diziam

respeito à cidade e sua gente, ou qualquer assunto “pitoresco e popular” de

que todo “cronista profissional fica obrigado a falar”. Foi essa obrigação que

o levou a comentar o constrangimento passado por um intelectual baiano ao

ser flagrado subindo a Rua Chile, transport ando um indiscreto “bambolê”,

objeto que dissera ser para sua neta. O hulla hoop , como era conhecido no

resto do mundo, o fetiche do momento, fazia crianças, velhos e jovens

deixarem de temer o ridículo, contorcendo -se dentro de um aro de plástico .

49

Como bom cronista, Vasconcelos Maia falou sobre o bambolê, “antes que ele

caísse da moda” (10.12.1958).

As Festas, os festejos populares, religiosos e históricos da cidade do

Salvador marcaram presença nas crônicas de Vasconcelos Maia. Foram

identificadas 61 crônicas que versavam sobre festas em geral , apenas na

cidade, sem levar em conta aquelas do Recôncavo.

Próximo às festas populares, o Candomblé – elemento

intrinsecamente ligado à tradição, ao povo e à cultura afro -baiana, pleno de

relevância para a construção da identidade cultural da Bahia – foi tratado com

didatismo e autoridade por um cronista dotado de profundo conhecimento do

assunto em 16 crônicas. Intencionava menos ressaltar a prática religiosa de

origem africana que resgatar o passado histórico cul tural dos segmentos

populares da cidade, dando visibilidade a uma vertente cultural singular.

O Carnaval, tema de 13 crônicas, foi tratado inicialmente como

problema administrativo sem dotação das escassas verbas públicas que se

destinavam a outras prioridades. Entretanto, o caráter de forte manifestação

popular deste festejo levou o cronista a defender a necessidade do resgat e de

seu brilhantismo, bem como a vislumbrar seu potencial de converter-se em

poderoso veículo para a promoção turística da cidade .

A efervescência cultural vivida pela cidade do Salvador e a cultura

peculiar que nela se desenvolvia constituíram -se como situação-matriz da

qual emanava a riqueza da temática do cronista. Essa situação ensejou a

produção de 67 páginas jornalísticas do cro nista baiano sobre um campo que

lhe era muito caro – o da literatura. A crônica, suas dificuldades como

cronista, suas preferências literárias, seus hábitos como leitor, sua própria

formação l iterária e seu modo de ler foram seus temas. Vasconcelos Maia

aconselhou novos escri tores, fez crítica de rodapé, deu apoio àqueles

inseridos no mundo das letras, comentando os lançamentos de seus l ivros,

bem como as exposições, conferências, tardes de autógrafos, feiras de livros e

os concursos li terários que se reali zavam em Salvador.

No campo das letras são entrevistos os movimentos culturais que se

traduziram em revistas e suplementos li terários, como o Caderno da Bahia,

idealizado pelo cronista, por Cláudio Tavares, Darwin Brandão, Wilson Rocha

e tantos outros modernistas que a ele se congregaram, e sobre o qual já se

50

comentou neste trabalho. Ocupou-se, ainda que de forma rápida, com os

movimentos dos jovens secundaristas Glauber Rocha, Paulo Gil Soares,

Fernando da Rocha Peres, Sante Scaldaferri e outros que viriam compor a

geração Mapa , com a sua Jogralesca, que consistia na leitura teatralizada de

textos de poetas modernistas, fato que acontecia no Colégio da Bahia, seção

Central. A revista Ângulos, fruto do trabalho dos estudantes da Faculdade de

Direito da Universidade da Bahia, que se abria também para a literatura e a

cultura, também teve sua trajetória assinalada nas crônicas de Vasconcelos

Maia.

Vários locais de cultura foram mostrados na Coluna Dia Sim, Dia

Não . A Universidade da Bahia, sob o reitorado do Pr ofessor Edgar Santos,

desdobrava-se em outros, como o Laboratório de Fonética do Professor Rossi,

no Centro de Estudos Afro-Orientais – CEAO, que nascia no rés do chão da

reitoria sob o comando do professor português George Agostinho, e nas

escolas de Teat ro, Música e Dança. Locais de produção e divulgação de

cultura eram os clubes de cinema, os jornais e seus suplementos culturais que

se abriam aos debates dos intelectuais e dos jovens artistas que começavam a

surgir na Bahia, bem como as galerias que desp ontavam na cidade.

Sintetizadas no “Anjo Azul”, uma espécie de bar -boate onde José Pedreira

precariamente juntava pinturas, desenhos e esculturas de vários art istas para a

venda, as galerias eram lugares de destaque naquele momento, na cidade. A

Galeria Oxumaré, no Passeio Público, era espaço obrigatório não só para

exposições e vendas, como também para “bate -papos”. A Galeria Manuel

Quirino, inovando, iniciou um sistema mercantil de compra e venda apoiada

no Banco Irmãos Guimarães, que fazia empréstimos ao s adquirentes.

Segundo Walter Benjamin (1989), a assimilação do li terato à

sociedade em que se encontrava consumava -se no bulevar, local em que se

“desdobravam os ornamentos de suas relações com os colegas e boas-vidas”

(BENJAMIN, 1989, p. 25). Era lá que eles passavam suas horas ociosas,

antecipando a “hora do aperitivo”, como parte de seu horário de trabalho.

Também Vasconcelos Maia apresentava a porta da livraria Civilização

Brasileira, na Rua Chile, como local de encontro regular, às 11 da manhã e às

5 horas da tarde, dos intelectuais da cidade do Salvador . As descrições do

cronista sugerem que, inexistindo na cidade um ambiente conspirativo da

51

boemia, como havia na Paris do século XIX, aquele era um lugar de difusão

de uma nova cultura.

O Teatro mostrava-se fortalecido pela ação corajosa do “Reitor

Edgar Santos”, com a criação da Escola de Teatro da Universidade da Bahia,

tendo chegado a um estágio mais alto que o de muitos Estados do Brasil. Essa

modalidade artística vivia seu “belo e terrível” momento com o surgimento de

novos grupos de teatro popular, que se profissionalizavam, ou com o

ressurgimento de alguns mais antigos. “Belo e terrível momento” foi a

maneira como Vasconcelos Maia referiu -se à situação do campo artístico, que

foi mote para 11 de suas crônicas10

, várias delas reiterando o pedido da

construção de novas casas de espetáculo para aquela descrita como “terra do

já teve” ou uma “cidade desgraçadamente sem teatro”. O Teatro Castro Alves

era, naquele contexto, obra “demagógica”, um “vazio el efante branco”, ao

passo que o Teatro dos Novos, grupo teatral que surgia, já começava a

construção de sua casa de espetáculos , o futuro Teatro Vila Velha. Ligados à

questão da construção das casas teatrais estavam nomes como Adroaldo

Ribeiro Costa e Nair da Costa e Silva . Além de tornar patente a situação

vivida pelo movimento teatral , o cronista, que se declarava sem a autoridade

de crít ico, comentou peças, discorreu sobre realizações dos novos grupos

criadores de acontecimentos artíst icos “de primeira or dem” e sobre o

“silêncio” da imprensa quanto às realizações dos novos grupos teatrais.

O Cinema e a cultura cinematográfica eram questões relevantes para

a vida cultural da cidade do Salvador de então e Vasconcelos Maia, postulante

e defensor de posturas vanguardistas, não se furtou ao assunto. O cronista

teceu, em 21 crônicas11

, comentários sobre filmes exibidos nas salas da

10

As crônicas “Tourbillon” de mulheres lindas (31 mai.1959), Festival Nortista de Teatro Amador

(1 e 2 jan.1961), Teatro dos Novos ( 6 jan. 1961), História da Paixão ( 17 mar.1961), Teatro dos

Novos (9 jul.1961), Baianada ( 11 abr.1962), Evangelho de Couro (27 jul.1962), O Pagador de

Promessas ( 12 set.1962), Teatro Popular da Bahia ( 7 ago.1963), Revistas & Entrevista (13

set.1963), Teatro para a Bahia( 11 mai.1962) versam, especificamente, sobre a questão do teatro na

Bahia.

11

Rio, Zona Norte publicada em 28 e 29 de dezembro de 1958 foi a crônica com a qual Vasconcelos

Maia inaugurou sua incursão sobre o tema. Seguiram-se a ela Paulino e Glauber (11 mar.1959),

Impróprio até dez anos (10 jun.1959), Cinema (6 jan.1960), Cinema (18 mar.1960) Rifle de quinze

tiros (10 jun.1960), “Bahia de Todos os Santos” (18 e 19 set.1960), Barravento (18 e 19 dez 1960),

Lenços para “Ben-Hur” (28 abr.1961), Cinema Nacional (11 e 12 jun.1961), Adriano no Cinema (11

ago.1961), Milagre de Carlitos ( 6 out.1961), “A Grande Feira” (30 nov.1961), Filme, Regata,

52

cidade, acerca da produção cinematográfica na Bahia, das pessoas nela

envolvidas, do seu interesse pela arte cinematográfica, de sua a tuação nos

clubes de cinema e até sobre o fato de uma obra sua vir a ser usada como

roteiro de fi lme.

A paisagem, as belezas naturais da cidade do Salvador , a magia de

suas cores e odores, seu frescor, o encanto do mar azul e de suas belas praias,

sua verdejante paisagem, a exuberância das ilhas da Baía de Todos os Santos

e do seu Recôncavo foram temas que resultaram em cerca de 25 crônicas.

O incremento da indústria do turismo, visto como a salvação

econômica do Estado era, naquele momento, a ambição de vários segmentos

da intelectualidade da Bahia. Portanto, foi como um narrador, na acepção

benjaminiana do termo, que Vasconcelos Maia, gestor de órgão responsável

pela atividade turíst ica no município, discorreu, em cerca de 61 crônicas,

sobre as questões referentes à política de turismo e seus desdobramentos, a

saber, o desenvolvimento de uma mentalidade turíst ica e a criação de uma

infraestrutura composta por estradas, hotéis e restaurantes.

O Brasil, naquele período, vivia também sua efervescência. Est a

dizia respeito a propostas políticas, movimentos artíst icos e à reflexão sobre a

realidade nacional, além da viabilidade do florescimento de um modo próprio

e rico de expressão da sua diversidade cultural . Ampliando mais ainda a

extensão de seu leque temático, Vasconcelos Maia, intelectual que não se

preocupava apenas com os temas oferecidos por sua região, produziu 12

crônicas sobre variados assuntos nesta esfera.

A respeito da “invenção” de Brasília, da criação da estrada Belém -

Brasília e da intenção de se “inventar” o Bananal, idealizados pelo Presidente

Juscelino Kubitschek, dialogou com o cronista Rubem Braga, a quem

solicitou em crônica que transmitisse ao Presidente um apelo para que,

utilizando as “duas invenções” como chamariz, incluísse Rio de J aneiro, São

Paulo e Bahia num roteiro turístico. Aproveitando o potencial resultante dessa

união, ele tornaria o Brasil o centro turístico das Américas e esta seria uma

obra “autofinanciável”. Vasconcelos Maia escreveu sobre as eleições

Humbert ( 16 fev.1962), Sobre Cinema (31 mai.1962), Quando a vida é cruel ( 03 out.1962), Festival

de Cinema ( 02 nov.1962), Ídolo antigo ( 31 mar.1963), Vadim, Rescala etc. (7 e 8 abr.1963), Deus e

o Diabo na Terra do Sol (23 e 24 jun.1963), Sol sobre a lama ( 31 jul 1963), Bandido não existe ( 24

e 25 nov 1963), O Caipora ( 3 jan.1964).

53

presidenciais, a si tuação política do Brasil, problemas relacionados a cidades

como Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre, dentre outros.

A variedade de assuntos abordados pelo cronista suscitou a

necessidade de um ordenamento das crônicas para o alcance do objetivo aqui

proposto, a saber, a visão da cidade em seu processo de modernização.

Inicialmente, a leitura das crônicas, distribuídas em ordem cronológica,

revelou uma visão fragmentada dos aspectos aqui perseguidos. A amplitude

do recorte temporal e a extensão do uni verso temático ocasionaram a

necessidade de um agrupamento tomando como base o tema, constituindo-se,

inicialmente, cerca de 22 blocos12

. Novamente agrupadas, configurou-se

aquilo aqui denominado de Leque das Crônicas, cujo eixo foi constituído

pelos seguintes grupos temáticos: Rua, Gente, Cotidiano, Festas, Teatro,

Cinema, Literatura, Sítios, Turismo, Paisagem e Outros/País.

Este leque temático de crônicas, em seu movimento de abertura e

fechamento, proporcionou diferentes perspectivas para se visualizar a cidade

do Salvador representada por Vasconcelos Maia, apontando para mudança e

permanência de elementos ou enfoques ocorridos no universo temático do

escri tor baiano.

A presença das crônicas, ou seja, a transcrição de trechos mais ou

menos longos, contr ibui para a identificação de elementos como a linguagem,

o ritmo, a ironia, a presença de vários assuntos numa mesma crônica, a

indicação de uma leitura particular num universo de possibilidades, além da

obtenção de dados que possibilitem a configuração da representação da cidade

das crônicas.

3.1 NAS RUAS , UMA CONFUSÃO DOS PECADOS

Longe de denunciar transformações na estrutura física da cidade, o

olhar que Vasconcelos Maia lançou sobre a Rua captou imagens qu e

traduziam desenvolvimento e progresso acelerados convivendo pacificamente

12

Inicialmente as crônicas foram reunidas nos seguintes grupos temáticos: Costumes, Tradição, Rua,

Infância, Carnaval, Festas de Largo, Festejos Históricos, Festejos Religiosos, Candomblé,

Personalidades e Talentos Baianos, Literatura, Crítica Literária, Artes, Cinema, Teatro, Sítios

Históricos, Políticas de Turismo, Hotéis e Restaurantes, Itinerários Turísticos, Paisagem Natural –

Mar, Paisagem-Natural – Cores e Odores, além de Outros/ País.

54

com a tradição. A sua visão deixa transparecer a existência de uma cidade que

se modificava rapidamente, mas ainda convivia com traços ou marcas de seu

passado.

O olhar inaugural de Vasconcelos Maia sobre a cidade, na condição

de cronista do moderno matutino Jornal da Bahia, recaiu sobre a rua como

palco, também, para a mulher, a beleza feminina, sua sensualidade, a moda,

os costumes da época. Traduziu sua admiração diante de uma mu lher que

subia a Rua Chile usando um vestido saco:

A mulher era jovem, alta, pernas longas, vinha dentro dum fantástico

vestido saco, bem caído, bem manjado. Uma obra de arte, a mulher e o

vestido. Era morena do tipo que fica a metade do dia na praia, deitada na

areia banhada de sol, de mar, da gula dos homens. Era tão bonita, tão

apetitosamente bonita de deixar a gente descontrolado. Cabeça de cabelos

pretos, de olhos castanhos, de boca vermelha e carnuda. Os tornozelos mais

que perfeitos, as pernas divinais. E o vestido impecável, maravilhosamente

saco, translúcido, velando a cintura fina e esbelta, mas deixando bem

delineadas as belas ancas flutuantes dentro do vestido que eram mais obra de

arte que o vestido e o resto do corpo.

Era jovem, alta, e morena. E tão suntuosamente bela que como uma

força da natureza requintada pela inteligência e pela coqueteria passou pela

Rua Chile; cada passo era um passo de dança. O andar um bailado inteiro.

Era jovem, virgem talvez, tamanho o fogo que exalava do seu corpo. Passou

deixando a gente terrivelmente nervoso (sic). A pele arrepiada, o desejo

irritado, o coração rugindo, o sangue fervendo.

Morena, alta, pernas longas. O rosto uma fruta irrecusável de tentação.

Passou dentro do fantástico vestido saco, as ancas soltas e flutuantes.

Mulher, ancas e vestido - legítima obra de arte! (21.9.1958).

A beleza feminina foi elemento caro à composição da visão da Rua

para Vasconcelos Maia, que se dizia “sensibilíssimo” aos atributos da mulher.

Talvez por isso não lhe tenha s ido indiferente a beleza de Maria Olivia, a

jovem que passava sob a sua janela, usando saia escura e blusa branca de

colegial , com um “andar suave e elegante, o rosto semi -velado pelos óculos

contra-sol”, que acabou tornando -se Miss Bahia, vindo a ser depo is, no

Maracanãzinho, eleita para representar o Brasil como Miss Universo

(19.6.1962).

De igual maneira, foi sensível à mulher madura da sociedade

moderna – “patrona da cultura social”, detentora de todas as artes dos “livros

do bom-tom”. Ela, brilhando nas rodas sociais, dobrava os homens e

encantava as mulheres com seus atributos, dentre os quais o de “jogar bridge”

como uma campeã, usar vestidos “Dior” e perfumar -se com “Fleur de

55

Rocalle” (26.9.1958). Foi atento à condição feminina na sociedade, lembrand o

que de há muito a mulher havia deixado de ser “objeto possuído ou mãe dos

filhos ou joia de salão”, passando a ter influência política, intelectual, moral

e doméstica tão grande quanto à dos homens (12.8.1960). O cronista não se

esqueceu das meninas “espertas” que iam aos escritórios “vender rifas” em

benefícios de instituições de caridade (12.11.1958).

Curiosa e objeto de curiosidade, a mulher de sardas – uma

mulherzinha pequena, delicada de formas e graciosa de gestos, uma turista

que, mal chegara por aqui, largara as malas no hotel e se pusera no “mundo da

Bahia”, conhecendo gente e perdendo -se nos lugares, um “labirinto de cores e

sol” – foi vista por Vasconcelos Maia nas ruas da cidade. Encantada, ela

contara ao cronista que tinha comprado bugigangas de um velho, mulato e

triste, de voz “doce como uma carícia”, num “beco lindo” cheio de arcos e

quitandas onde vendiam “a civil ização de milênios sintetizada em colares de

contas, molhos de raízes, artefatos de flandres e uma infinidade de objetos de

palha”. Descreveu seu encantamento convertido em surpresa diante da

gentileza do velho, que se recusara a receber o pagamento, dizendo: “Custa

nada não, dona! Não é todo dia que se vê por aqui uma mulher de sardas”

(4.11.1959).

Os namorados, os casais de adoles centes que respondiam às

perguntas em “cadernos de confidências” também compunham a visão da rua

do cronista humanista, bem-humorado, atento ao povo simples que andava na

cidade.

O cronista viu a Rua como um panorama e ateve -se ao indivíduo que

nela transitava. O olhar sobre a Rua Chile, a Praça Cairu, ou sobre as pacatas

ruas do bairro de Monte Serrat despertaram em Vasconcelos Maia certo

“fisiólogo”, levando -o a ocupar-se com alguns t ipos humanos nelas

existentes.

Havia um que entrava nos restaurantes na Rua Chile, portando “a

mais moderna máquina fotográfica a tiracolo”, vestindo um paletó “bem

cortado” e sentava-se à mesa. Enquanto aguardava a chegada da comida, o

homem fazia aparecer de seus “bolsos mágicos”, de seus “dedos de

feiticeiro”, objetos de natureza variada – pulseiras, broches, ouro, prata,

“relógios de virtudes incomparáveis”, lapiseiras “infensas a garrancho que

56

dão até inteligência ao comprador” – , sendo identificado, pelo cronista, como

um “elegante prestidigitador” (4 e 5.10.1959).

Outros, os boêmios, eram tipos que viviam nos bares da cidade

tomando conhaque ou fumando charuto, enquanto “faziam crônica à luz da

lua, empacotando sereno” (4.9.1963), ou, ainda, no bar Castro Alves, defronte

da Igreja da Barroquinha, em plena luz do dia, na s tardes de sábado, bebiam o

Lord Mayor : uísque nacional que “nem se compara ao melhor escocês”,

enquanto faziam versos para a Belle Maryon :

[...] ah! rumbeira de nome castelhano, originária de Jaguaribe, talvez, claro,

claro, és realmente de Buenos Aires, foste convidada para atriz de cinema,

mas adoras o Brasil só pelo Brasil danças em cassinos mambembes, para

bêbados poetas loucos! (21.1.1959).

Uma variante do último tipo era o “boêmio doméstico”, o “excelente

funcionário, melhor chefe de família duran te os dias da semana, ou melhor,

até as oito da noite de sábado”. Após esse horário, tendo feito a feira em

Água de Meninos, abastecido a despensa de casa, ele se tornava um boêmio

doméstico: sentava-se na varandinha de sua própria casa, que podia ser na

Pedra Furada, “deitando vistas para a enseada” e, como num ritual , bebia 24

garrafas de cerveja gelada, “de casco suado, que sua feira hebdomadária

incluía, sendo todas selecionadas – casco verde”. Essa prática não o impedia

de, segunda-feira, “voltar a ser o excelente funcionário e melhor pai de

família” (14.11.1959).

O “Delegado Rafael”, barbeiro de profissão, pai zeloso de filhas

mulheres, tipo saído das memórias de infância do cronista, era morador das

proximidades do Solar do Unhão. Impecável, em sua ro upa branca, dedicava

seu tempo a perseguir e ser perseguido pelos meninos que brincavam e faziam

“artes” nas proximidades de sua casa ou no velho solar, convertendo -se assim

no “delegado do Unhão” (6.4.1960).

Jonas Rojão tinha este nome porque sabia “botar banca” e era do

tipo “funcionário público federal”. Dono de um corpo franzino andava de

braços abertos, balançando como um “caubói” e de uma voz grossa e

autoritária, o que muito lhe orgulhava. Segundo Vasconcelos Maia, para Jonas

Rojão, vereador que tivesse sua voz logo seria deputado estadual, e este,

federal, senador etc., porque sua voz t inha um “rojão danado”. Quando o

57

rádio já havia “transviado” a juventude da cidade e fazia os jovens “berrarem

no meio da noite” em suas barulhentas serestas, ele era o último remanescente

de uma nação de trovadores noturnos. Desafiando os vizinhos insones ou

avessos as suas cantigas melosas, ele ficava pelas esquinas, nas noites mornas

da Ponta de Humaitá na amurada perto da praia, com o violão bem afinado e

uma “purinha” no bolso, entoando “lúgubres lamentos, tristes cantigas e

ladainhas de amor” (19.10.1958).

A “Iemanjá dos cabelos verdes” foi um travesti cujo aparecimento

provocou rebuliço nas “ruas católicas” da Cidade Baixa. “A mulher de

cabelos verdes” cruzara as ruas em direção a uma loja de miudezas e

despertara curiosidade e ajuntamento de gente nas imediações da casa

comercial , cujo dono se vira obrigado a chamar “a ronda policial”, que não

encontrou nenhum fato que gerasse uma ocorrência. A presença do corpo d e

bombeiros se fez necessária para a construção de um cordão de isolamento

por onde desfilou:

Uma Iemanjá de duas pernas fortes, morenas, grossas saísse, com seu

vestido amarelo muito justo, levando na mão os objetos comprados, batom e

rouge nas cores da moda, um frasco de perfume e um pente dourado [...]

com um sorriso amarelo, sob as vaias da multidão (12.7.1963).

O Sabidório e o Ladrão , diferentes dos demais tipos que viviam nas

ruas da cidade, foram extraídos pelo cronista das páginas policiais dos jor nais

locais. O primeiro era um “molecote da redondeza” que vendia mercadoria ao

mesmo comerciante a quem roubara. Era um tipo que estava multiplicando -se

na pacata cidade, tendo sido o cronista vít ima de um deles:

Isto me fez lembrar que um tempo atrás fui ludibriado neste mesmo

conto. [...] Por causa da passarinhada cantando tinindo no quintal, deu para

me visitar toda a esperta quadrilha de molecotes da redondeza. [...] havia um,

sobretudo, um sarará de olho de gato, de gestos displicentes e fala macia que

conseguiu insinuar-se e se tornar meu maior fornecedor de passarinhos. [...]

Ele aparecia com um risinho que eu pensava fosse de amizade, de gratidão,

de simpatia. [...] é que vim a descobrir: o moleque, domingo de noite,

entrava no meu quintal, com seu jeito manso apanhava os passarinhos que

queria, dentro do viveiro, e no dia seguinte, vendia-os a quem roubava

(27.11.1959).

Já o Ladrão, segundo Maia, existia em decorrência do desleixo dos

moradores da cidade quanto ao uso de fechaduras nas portas. Este

comportamento facil itava a vida desse novo personagem. Não um larápio

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qualquer, mas um “ladrão fino” que invadia as casas para roubar joias,

dinheiro, relógios e pratarias (29.7.1960).

Para Benjamin (1989), a fisiologia – uma visão do próximo

distanciada da experiência – era uma forma de resolver a “inquietação”

originária da preponderância da atividade visual, típica das relações

estabelecidas nas ruas das grandes metrópoles. Para o cronista, talvez, dupla

função tivesse sua descrição desses personagens: um recurso para atenuar, em

seus lei tores, a inquietude, diante das novas formas de viver e, ao mesmo

tempo, um elemento para representar uma cidade que se modernizava.

Em sua visão de Rua, Vasconcelos Maia traduziu também certo

“choque” ao mostrar a coex istência de padrões modernos e tradicionais nos

diversos modos de viver. Tornou visível o homem comum, seus hábitos, seus

costumes, seu apego às origens. Ele foi visto comprando peixe na esquina na

volta do trabalho, saboreando a moqueca cozida na frigidei ra de barro,

tomando o vinho nacional, o café forte moído em casa, o licor de maracujá.

Gozando o frescor dos jasmineiros na varanda, o perfume das noites baianas.

O cronista agrupou a ruína dos hábitos e dos costumes da antiga

vida, as reminiscências dos seus pregões tradicionais, dos vendedores de rua,

ainda não de todo sucumbidos pela sociedade de consumo.

Em minha rua ainda há pregões. Tem um velho curvo e seco, o corpo

parecendo um nervo só. Seu pregão é como seu corpo: seco. Sempre que eu

ouço tenho a impressão de um disco arranhado:

- Ovos, ovos. Tenho ovos freguês!

O Outro, toda a Bahia o conhece. Só vende abricó. E nem sei como sustenta

a si e ao animal vendendo abricó. Montado no jegue, talvez tão velho quanto

ele, merca com sua voz grossa:

- Abricó! Olha o abricó!

Em tudo quanto é rua que passa, e também na minha, os moleques o

provocam:

- Este jegue não é homem não!! O pobre velho se grena, continua seu

caminho, mas todos os nomes feios do mundo, em português e nagô,

borbotoam de sua boca.

E ainda havia o doce gostoso e dengoso feito de gengibre com ardores

de pimenta, que era vendido pela velha baiana que fazia ponto no Cinema

Itapagipe, chamando os passantes, num convite que lembrava uma prece:

- À moda, olha à moda, vem benzer! (24.12.1958).

A visão dos padrões tradicionais que insistiam em permanecer não

toldava a do processo de modernização da cidade que se dava por meio da rua,

pela avenida, pelo seu tráfego intenso. O crescimento da indústria

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automobilística no Brasil, segundo Carvalho (1999), denunciava a ideia da

industrialização acelerada, então proposta, sendo o automóvel um indicativo

forte da presença da ideologia do desenvolvimento. Assim sendo, os

automóveis e seus nomes não poderiam deixar de constar na temática de Maia:

O melhor automóvel que tive foi um Kaiser 1949. Era forte, possante,

brilhante. Era carro para passeio no asfalto e na estrada. Servia para

distração e para trabalho e quase todas as tardinhas quando eu fechava nossa

loja de miudezas carregava-o de embrulhos, levava-o a tudo quanto é

brocotó desta Cidade [...]

Tive também um Vanguard tipo camioneta, carro trêfego e manejável

do qual me recordo pouco, por pouco tempo ter ficado em minhas mãos, foi

para uma terra onde não havia estrada de rodagem subindo barranco e caindo

em buraco, vencendo pasto, atravessando riacho. [...]

Carro folclórico também tive. E foi o primeiro. E talvez por nele ter

aprendido a dirigir, por ter nele cometido barbeiragens de praxe [...] quem

sabe lá as turras de automóveis?

[...] o pequeno Studebacker [...]

Desde o dia em que entrei nele, não se cansou de me armar patota.

Mas se ele tinha mandinga, meu santo era mais forte. (6.3.1963).

A cidade, a esta altura, já passara por “urgentes medidas” que

buscavam soluções para amenizar os engarrafamentos diários vividos pelos

moradores nos horários de pico. Tinha sido implantado o sistema de “mão

única” na Avenida Sete, assim como a retirada dos bondes da área central ,

proibição do estacionamento na Rua Chile, alteração em itinerários de ônibus,

bem como a sinalização das ruas centrais, fato que se deu em 1958, conforme

relata Carvalho (1999). Por isso, Vasconcelos Maia retratou a rua com um

trânsito caótico e problemas como os engarrafamentos, a inexistência de

táxis, o péssimo estado de conservação dos carros e dos ônibus que

circulavam em determinados bairros, ou que corriam demasiado, pondo em

risco a segurança das pessoas:

Na esquina do Armazém Peri, tomamos um desses lotações a jato,

Ribeira 18, e nos atiramos na aventura do pintacudíssimo chofer que, tanto

nos levaria ao Elevador Lacerda, como para o céu. (10.6.1959).

A marinete vinha cheia, mas mesmo assim consegui me infiltrar entre

a massa suada, vestida, que barrava a porta. Depois de alguma luta, me

firmei, no único centímetro vago e aí heroicamente me mantive, apesar de

todas as tentativas de outros aventureiros que queriam lançar pés nele. Era

depois de meio-dia, todo mundo ansiando chegar em casa. (28.10.1959).

Eu vinha angustiadamente dentro do “lotação”, rezando para chegar

são e salvo ao almoço programado. A angústia não era pelo possível atraso a

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encontro: nunca fui pontual. Nem pela perspectiva de pratos saborosos:

nunca fui guloso. Mas pela antevisão da morte ou do desastre em cada

contra-mão, nos “finos” nas curvas. Felizmente vencemos a primeira etapa.

E o congestionamento do tráfego fez com que o chofer diminuísse a marcha.

(14.10.1960).

Vinha o caminhão subindo a pequena ladeira, acesso da Avenida

Centenário-Bom Gosto do Canela. Vinha o caminhão carregado de areia. O

caminhão era velho demais, estava bom unicamente, para ser jogado no lixo.

Mas continuava pelo meio das ruas, carregando areia em tempo de estourar.

E estourou. [...] precipitou-se sobre a minha casa, rebentou parte da minha

parede e foi esbarrar no outro lado da rua (13.6.1962).

A sujeira das ruas, resultante do “abandono” pela gestão anterior

àquela do momento em que escrevia, causou indignação levando o cronista a

lembrar que a higiene era o primeiro sinal de civilização que uma cidade

podia oferecer. Ele comentou o ingrato trabalho do setor da l impeza pública,

no qual as pessoas lutavam arduamente para devolver “à Cidade do Salvador a

fama de „mais limpa‟ do Brasil”(6.9.1963).

Os problemas da cidade não se limitavam às questões do trânsito ou

limpeza urbana, havia ainda o barulho que incomodava. Modernizando -se, ela

apresentava os sons característicos e surgiam as reclamações sobre o

incômodo provocado pelos ônibus que passavam buzinando e rangendo pneus,

o rádio em seu volume ensurdecedor , alto-falantes que “berravam”, as buzinas

“estridulantes‟, os bondes que “matraqueavam”. A cidade era invadida por

“golfadas de barulho” que entravam pela janela do local de trabalho do

cronista, dificultando a concentração necessária ao exercício de sua lida

diária (8.5.1963).

Indicativo da existência de uma incipiente indústria cultural

(ORTIZ, 2006), uma das “provas concretas de que a mentalidade do

desenvolvimento atingia a Bahia” (CARVALHO, 1999, p. 99), o rádio, que já

se havia incorporado aos hábitos dos moradores da cidade, foi visto por ele

como algo que não apenas “transviava a juventude” por meio do rock , mas

podia oferecer “coisas interessantes”. Referia -se o cronista aos programas de

reportagens com a participação dos ouvintes, que foram idealiza dos por

Darwin Brandão e Polito, dois jornalistas que:

Acompanharam os tempos: seriam repórteres de rádio e televisão.

Fariam suas reportagens para rádio-ouvintes e telespectadores. [...] Numa

rádio local irradiavam o encontro com perguntas à queima-roupa, sem

ensaio. Foi sucesso. Aprovado pelo público e pela Real, o programa

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estendeu-se até Porto Alegre. Sucesso idêntico. Passou a Belo Horizonte.

Chegou a São Paulo. Hoje está também na Bahia. (18.9.1959).

Por seu turno, a televisão, aspiração de consumo, chegava à cidade,

provocando reações diversas, mudanças nos hábitos e rebuliço na vida das

pessoas:

Para desespero de meus filhos, não tenho televisão. Ficam indóceis, as

terças e sábados só vão dormir depois de assistirem os patrulheiros Toddy e

Roy Rogers, no aparelho de algum vizinho. Quanto a mim, ocupo minhas

noites em viver um pouco mais ou ainda, lendo ou escrevendo! (16.6.1961).

Não sendo ainda possuidor do moderno aparato, o cronista bancava

o “televizinho”, convertendo -se, rapidamente, à novidade. O motivo era a

programação “com função educativa”, “para adultos”, apresentada pela TV

Itapuã. Eram dois programas de debates, um com Thales de Azevedo e outro,

denominado “Bahia. .. t radição e mistério”, destinado a “divulgar para os

baianos as histórias e as belezas de sua terra” (16.6.1961).

Atitude “moderna”, os novos hábitos urbanos foram vistos por

Vasconcelos Maia, que mencionou, dentre outros, o banho de mar, ou de bar,

aos domingos. Segundo ele, mesmo o “católico praticante”, morador à beira -

mar, reunia os amigos para um “vibrante banho”, cuja programação começava

com “missa na capelinha” e depois prosseguia, “nada católico embora muito

respeitoso e doméstico”, com as famílias deliciando -se na praia, as mulheres

fofocando na areia e os meninos t raquinando em torno. Voltando para casa,

almoçavam os meninos e as senhoras, enquanto os homens pegavam o “ Drurys

amigo” e prosseguiam o “banho de bar” (29.3.1962).

Ainda com respeito aos novos hábitos dos moradores da cidade,

Vasconcelos Maia demonstrou p reocupação com as programações noturnas

nela oferecidas. Elas variavam entre leitura, cinema (costume já arraigado do

baiano), concertos na Reitoria da Universidade da Bahia, passeios a pé para

desfrutar o frescor do clima e os perfumes da cidade, uma volt a de canoa na

lagoa do Dique ou na Ribeira, televisão, visita ao Museu de Arte Moderna, ou

uma ida ao teatro (16.06.1961).

Dentre os hábitos cosmopolitas, o cronista comentou ainda o

costume de sair à noite para dançar, o uso de bebida alcoólica, de origem

nacional, nas rodas sociais, além da frequência a boates. O “Anjo Azul”, a

mais original do Brasil, a “Clock”, na Gamboa, com sua bela paisagem, a do

62

Hotel da Bahia, além da “Rosa Vermelha” no Beco do Mingau, segundo ele,

eram frequentadas sobretudo por jornalistas e intelectuais da época (24 e

25.04.1960).

Essa visão das Ruas apresentadas por Vasconcelos Maia denunciava

as mudanças e permanências que se processavam na pacata cidade do

Salvador, enquanto anunciava um novo estilo de vida que se impunha em

decorrência de uma onda de modernização social e cultural .

3.2 NA BAHIA , É FESTA O ANO INTEIRO

É riquíssimo o calendário de festas populares da Bahia. O ano todo,

essas festas se desenvolvem, tornando o ano inteiro uma festa só. Uma só

festa que exclusivamente na Bahia pode haver e unicamente a Bahia pode

oferecer. Em qualquer mês, em quase todas as semanas, às vezes numa

semana corrida de fio a pavio, ocorrem festas populares na Bahia. Festa de

branco, festa de negro, festas de ricos e pobres, festas de católicos e nagôs,

festas oficiais ou não. [...] O ano inteiro em festas, o ano inteiro na Bahia é

uma grande festa. (10 e 11.11.1963).

Oriundas de simples promessas a um santo protetor, repletas de

misticismo, ou provenientes de mera brincadeira, as festas ocorriam

frequentemente. Democráticas, segundo o cronista, genuínos festejos

populares, nelas não havia distinção de raça, credo ou condição social . Tendo

como palco as igrejas, os terreiros, o mar o u terra firme, sua origem

remontava à tradição longínqua. Às vezes, depois de tantos séculos, eram

fidelíssimas às suas raízes, outras, eram festas novíssimas, de improviso, mas

que cedo alcançavam o gosto popular, ganhando foros de permanência. Festas

de esbaldar, sacrílegas ou religiosas atestavam o gosto baiano por essa

manifestação lúdico-religiosa e aconteciam nos bairros tradicionais da cidade.

O calendário festivo da Bahia, retratado nas crônicas de Maia, era aberto, no

mês de janeiro com a Procissão do Senhor dos Navegantes.

A mais bela procissão que se pode ter notícia, procissão com todas as velas

dos saveiros do Recôncavo - quando, de braços abertos o Senhor dos

Navegantes passeia, abençoando as águas azuis da baia. (10 e 11.11.1963).

Segundo o cronista, a história da origem dessa festa possuía várias

versões, uma delas talvez tenha sido uma promessa feita ainda nos tempos dos

navios negreiros por um comandante que, surpreendido por uma tempestade

que lançara no mar seu mastro e partira seu leme, desesperado, prometera ao

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Senhor dos Oceanos, caso viesse a ser salvo, realizar uma procissão. A outra

versão, o cronista buscara no livro de Silva Campos, Procissões Tradicionais

da Bahia , que acrescentava, apenas, o fato de que seus instituidores foram o s

capitães e devotos dos navios que faziam o tráfego entre o Brasil e a Costa da

África (30.1.1959). Com roteiro variando ao longo do tempo, a procissão que

termina em Boa Viagem permanece na agenda festiva baiana, no tempo do

cronista, sem perder seu brilho e beleza.

[...] se perdeu o furor da devoção, permaneceu em beleza plástica, no

colorido das velas brancas contra o verde do mar e o azul do céu. (1º.

1.1964)

Na sequência vinha o festejo dos “Ternos” de Reis para abrilhantar

as ruas da cidade. Ao esboçar o roteiro da festa de cunho religioso, que se

desenrolava do Terreiro à Lapinha, passando pelas Portas do Carmo, Largo do

Pelourinho, Taboão, Ladeira do Carmo, Cruz do Pascoal, Ladeira do

Boqueirão, Adobes, Quitandinha do Capim, Perdões, São José de Cima, Largo

da Soledade, Corredor da Lapinha e finalmente Largo da Lapinha,

Vasconcelos Maia vai delineando a configuração da cidade com seus bairros

tradicionais. Esse festejo teve sua história narrada pelo cronista que falava

em estandartes, lanternas, guirlandas, charangas, coretos, roupas coloridas,

vidrilhos e lantejoulas, e conclamava a população a contribuir para o seu

brilhantismo:

Desde 1949, ano das comemorações do quarto centenário da Cidade

do Salvador, que os ternos e ranchos de Reis não saem às ruas da Bahia para

adorar, no Largo da Lapinha, o nascimento do Menino Jesus. Dois ou três

teimosos, mais ciosos de sua responsabilidade na tradição local, depois de

muito esforço, não deixaram de cumprir sua tarefa [...] estão todos

contribuindo no sentido da noite do dia 5 e dia 6 sejam inesquecíveis para o

povo baiano e para os que atraídos pela beleza de nossas tradições, procuram

nossa terra. (3 e 4.1.1960). Aproxima-se o dia dos Santos Reis. E a cidade já está preparada para

comemorá-lo. Com os festejos da véspera de Reis voltarão os “ternos” e os

“ranchos” a abrilhantar as ruas da cidade. Já tiveram dias gloriosos, já

atingiram raro esplendor esses “ternos”, esses “ranchos” [...] Como no ano

passado esses grupos voltarão às ruas da Bahia. Enternecerão os baianos das

gerações mais velhas, comoverão as gerações mais novas [...]. (4.1.1961)

Viveu a Bahia memorável véspera de Reis neste ano de 1961. (8 e

9.1.1961).

Os ternos de Reis vão de novo voltar às velhas e novas ruas da cidade

do Salvador da Bahia. Os ternos de Reis que os saudosistas severos acham

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que nunca estão como nos tempos antigos, vão novamente desfilar no asfalto

da Rua Chile, nas pedras cabeça-de-negro do Pelourinho, nos

paralelepípedos da Lapinha, nos barrancos de seus bairros. Há dez anos se

dizia que os ternos e ranchos tinham morrido. Que o progresso, cinema,

rádio, luz elétrica, a trepidação da vida moderna, aliados à carestia, ao

desinteresse dos “poderes públicos” e outros lugares comuns tinham

liquidado estes ternos e ranchos que antigamente enchiam de encanto, de

música, de danças e lanternas a Praça do Palácio, o Largo da Lapinha, o

Adro do Bonfim, a Ponta da Penha. (5.1.1962).

Como nos últimos anos, alguns desses grupos voltarão hoje às ruas da

Bahia. Enternecerão os baianos das gerações mais velhas, comoverão as

gerações mais novas [...]. (5 e 6.1.1964).

De acordo com o calendário festivo, em seguida era a vez de todas

as iaôs dos candomblés e as fi lhas -de-Maria, vestidas de branco, curvarem -se

diante do Senhor do Bonfim. Era a famosa lavagem do Bonfim, festa que,

segundo o cronista, naquela época, não tinha fenecido, mantinha -se viva

dentro do espíri to e da alma do povo, embora tivesse sofrido, ao longo do

tempo, algumas modificações. Com suas carroças, aguadeiros, cavaleir os,

baianas, a procissão partia da Conceição indo até o Bonfim, com o povo

entoando cânticos, clarins retinindo nos ares, foguetório pipocando e

belíssimas baianas de branco, sinal de “puro luxo”, levando flores e perfumes

para render graças ao Senhor do Bonfim, que recebia de braços abertos pretos

e brancos, ricos e pobres, pois todos são iguais, são filhos de Deus.

Depois da Lavagem do Bonfim, era a vez da festa sacrílega, festa de

se esbaldar, a Segunda-feira da Ribeira, da qual, segundo Maia, todos os

cronistas que se ocupam das tradições da Bahia devem conhecer a origem.

Segunda-feira da Ribeira! Uns chamam-na também Segunda-feira

Gorda. Mas antigamente era conhecida como Segunda-feira do Bonfim.

Qual a sua origem? Todos os cronistas que se ocupam das tradições da Bahia

sabem como a “Segunda-feira da Ribeira” começou. E apesar de ter hoje um

cunho eminentemente carnavalesco, foi um ato religioso quem a deflagrou.

A guerra do Paraguai tinha terminado. Muito macho morrera, muito sangue

se derramara. Dos que conseguiram escapar, estava o cabo dum Corpo de

Voluntários. Chamava-se Pero Luciano das Virgens e era homem de religião

e fé. Inscrevera-se por vontade própria, fora para a guerra, mas não queria

morrer. Entregou a alma e o corpo ao seu santo. Senhor do Bonfim o ouviu.

E graças aos seus milagres o cabo Pero Luciano conseguiu enganar a morte,

nas sortidas sangrentas, nas emboscadas quase fatais, nos combates de

centenas de perdas para as forças brasileiras.

Retornando à Bahia, mais que depressa, o bravo cabo quis pagar sua

promessa. Botou seu equipamento nas costas e marchou para o Bonfim.

Chegando ao Largo do Papagaio acampou. Armou sua barraca de campanha

e ajoelhando-se rezou, de frente para a igreja do Bonfim. Com os anos,

outros devotos atingidos pelos milagres do Santo bondoso, imitaram o cabo

65

Pero Luciano. E depois das orações, os folguedos começaram. Desde então o

número dos que vão render graças ao Senhor do Bonfim tem aumentado de

ano para ano. Cresceu tanto que se foi estendendo para a Madragôa, daí para

os Tainheiros e para a Ribeira. Com o correr dos tempos as barracas dos

crentes foram substituídas pelas tendas de comidas e bebidas. E beatos

viraram foliões.

A Segunda-feira da Ribeira é o primeiro grito de Carnaval na Cidade

do Salvador. Mas um grito de carnaval bem baiano, bem popular, bem

colorido. Muito mais regional do que os carnavais de clubes, de rua Chile, de

Avenida Sete. Junto ao mar, alimentado por azeite e dendê, o Carnaval da

Segunda-feira da Ribeira vive de animação do verdadeiro homem do povo

que, com suas cabrochas ardentes, dança e canta legítimas peças locais, nos

gostosos sambas de rodas, nos cordões frenéticos, nas batucadas angustiosas,

na capoeira de Angola. Com chapelões de palha sobre os olhos, roupas

coloridas, flechas nas mãos, e muita energia no corpo, o baiano de verdade,

filho legítimo do Senhor do Bonfim, mantém firme, embora

carnavalescamente a fé católica do cabo Pero Luciano, que nunca supôs na

vida iniciar uma tradição. (28.1.1959).

O mês de fevereiro foi ass im descrito por Vasconcelos Maia:

[...] um mês com rosas, perfumes, joias à mãe d‟água. E bandos de festas no

Rio Vermelho, e logo após um carnaval extraordinário que leva setecentos

mil habitantes às ruas sentadinhos nas cadeiras de beira de calçada ou

pulando, gritando, cantando ao som de tamborins, cuícas e baterias. (10 e

11.11.1963).

Durante o mês do “presente -à-Mãe-d‟Água”, do “dois-de-

fevereiro”, várias manifestações do festejo das oferendas àquela que habitava

no fundo do mar aconteciam na cidade . As mais famosas eram a do Rio

Vermelho e a de Itapuã, no entanto, segundo o cronista, a festa do Dique do

Tororó ressurgia com beleza e brilhantismo. Era a manifestação daquilo

nomeado por Vasconcelos Maia como “surpreendente avareza do povo baiano,

em guardar suas tradições”. Ela fazia ressuscitar festejos asfixiados pelo

tempo “com a pureza de nascença, imbuídos da influência natural do tempo”,

mas sempre com a „autenticidade comovente e força espantosa‟. Era neste

clima que ressurgiam os festejos de No ssa Senhora da Luz, na Pituba, com

direito a lavagem do Adro da Ermida, no dia 8 de fevereiro, procissão

terrestre com “banda de música, foguete, incenso e padre distribuindo

bênçãos”, no dia 11, e, no dia 12, a “força e beleza” da procissão das

jangadas. (27.1.1962).

Em março, o povo baiano ia às ruas ajoelhar -se à passagem do

Senhor Morto, part icipando das festas religiosas da Semana Santa. Nessa

ocasião, o “Senhor dos Passos e a Senhora das Dores encontravam -se no

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Terreiro de Jesus, antecipando a paixão de Cristo”. Depois desse evento, a

população, “de luto”, refletia. Segundo o cronista, “até no grande sacrifício

expande-se o gosto do povo baiano pelas festas”, pois se abstendo da carne o

baiano “banqueteia-se nos pratos dourados de dendê” e depois, est ourando em

aleluias, queimava o Judas .

Sucediam-se outras festas católicas como a do padroeiro da cidade,

São Francisco Xavier. Na Quaresma, o Espíri to Santo era celebrado no Santo

Antônio do Além Carmo, coroando um rei menino e soltando sentenciados,

depois a Ajuda e a Sé cobriam-se de pétalas de flores para a festa de Corpus

Christi .

Em junho, precisamente no dia 29, os atabaques ressoavam abrindo

o ciclo dos “mais puros candomblés” baianos. Antes disso, porém, as

mocinhas casadoiras louvavam Santo Antônio e a cidade envolvia -se na

“cortina de fumaça” dos “já proibidos” fogos de artifícios e fogueiras de São

João, aguardando as festas de São Pedro que coincidiam com as de Xangô.

Chegando julho, era a hora de festejar os heróis da Independência

da Bahia e de louvar São Cristovão. O cronista anunciava que, identificada

com Nossa Senhora de Santana, Nanã era festejada “sempre no primeiro

domingo depois do dia 26 de agosto”.

A partir de setembro, os bons católicos tinham os olhos “voltados

para a lírica Erm ida da Ponta de Monte Serrat”, pois Nossa Senhora de Monte

Serrat visitava sua “irmã da Conceição”, a Casa Branca do Engenho Velho

festejava Oxalá e Cosme e Damião comiam caruru fazendo pândegas. Exu era

festejado com azeite e os Oguns rodopiavam em combat es. Omolu fazia festa

de saúde e pipoca, Oxum, de “mãos dadas com Iansã”, dava festa de luxo e

beleza.

Chegando dezembro, na igreja, nos terreiros e “em seu mercado da

Baixa dos Sapateiros”, Santa Bárbara festejava sua data. Em seguida, diante

do mar e da Igreja da Conceição da Praia, acontecia a festa das frutas e das

comidas baianas que se seguiam àquelas “do incenso”. Santa Luzia do Pilar

pedia olhos agradecidos, enquanto a cidade preparava -se para um Natal que,

enfeitado com “tantos presépios, tantas m issas de galo, tantas igrejas e tantos

sinos tocando” tornava -se sem igual no mundo.

67

Sustentando que o “ano inteiro na Bahia é uma grande festa”,

sucediam-se as descrições das festas e dos festejos com as quais Vasconcelos

Maia compunha um mosaico colorido e brilhante.

Ganhando destaque especial , próximo às festas populares, o

Candomblé teve suas celebrações descritas enquanto o calendário dos ciclos

das festas religiosas africanas na Bahia era mostrado aos leitores :

O dia 29 de junho marca entre nós a abertura oficial dos grandes

candomblés baianos. É o início de seus calendários, dos ciclos anuais que

vão até outubro. E até outubro raríssima é a semana que não ocorrem duas

ou três festas nos candomblés espalhados pelos morros e pelos vales da

cidade “que tem um cinturão de atabaques a rodeá-la”. O dia 29 de junho

abre para o público, para seus adeptos e visitantes, os terreiros dos grandes

candomblés kêtos, quase todos homenageando Xangô, o violento, o

voluntarioso e varonil orixá das tempestades. E os espaços se enchem do

batuque dos atabaques, da melodia de cantos iorubanos, da doçura das rezas

em nagô.

[...] Três domingos são dedicados a Xangô e o primeiro é embelezado

pela “fogueira de Airá”. Airá é o digno príncipe, filho querido de Xangô, e

seu amigo mais fiel. [...] Nas festas que os candomblés ortodoxos permitem

ao público, a dança da fogueira de Airá é dos mais lindos, dos mais

dramáticos, dos mais emocionantes. Ao chamado frenético dos toques da

alujá, o orixá acorre veloz como o raio e como o raio precipita-se e toma

suas filhas que daí por diante, passam a ser o próprio Xangô [...] (1º.

7.1959).

O cronista descreveu detalhadamente a coreografia, as roupas, os sons

das festas dedicadas aos diversos orixás, bem como as “casas” existentes na

cidade, sua localização e seus responsáveis.

[...] Quatro filhas-de-santo eleitas de Omolu, Oxum e Nanã fizeram

anos de consagradas aos orixás; e os atabaques de São Gonçalo do Retiro

elevaram seus toques às estrelas festejando o acontecimento. [...]

Hoje, ainda fora do calendário, de novo, bichos de dois pés serão

imolados na alvorada, padê se rezará para Exu antes que o sol se esconda, e,

na noite misteriosa e alegre, outro Obá se confirmará no nobre posto da

hierarquia real dos servidores de Xangô. É o poeta e ensaísta Antonio Olinto,

[...] do Rio, de muitos estudos sobre a religião dos negros baianos, que veio à

terra-mãe beber a seiva da certeza, que veio à terra-mística tocar a testa no

chão. Nos altos de São Gonçalo do Retiro os atabaques repicarão alujás e

ijexás, os orixás acorrerão para dançar diante de Senhora e o novo Ossi Obá

Aré, digno braço esquerdo de um dos doze ministros de Xangô, patrono da

casa Aché do Opó do Afonjá. (29.07.1959)

Nos altos do Bogum, no topo de uma ladeira quase inexpugnável,

protegida pelos difíceis caminhos, do engenho Velho de São Gonçalo, fica a

“casa” do candomblé de dona Valentina. [...] da nação gege, cujas raízes se

perdem no passado nobre e longínquo. Apareci por lá nestes dias de chuva e

frio, levado pela curiosidade das possíveis diferenças de liturgia africana e

68

pela perspectiva de festa bonita. Três “iaôs” iam sair, iam dizer seus nomes.

(24 e 25.07.1960).

15 de agosto foi um dia de gala no calendário das destas africanas na

Bahia. Pois, Olga, filha de santo de finada Dionísia, fez aniversário. Não

simplesmente aniversário natalício. [...] Olga de Alaketo completou 25 anos

de consagrada “iaô”. De “feita” filha de santo. [...]

Do coração de todos surgiu uma só saudação:

EPARREI! Iansã! (17.8.1960).

Uma das melhores “casas” de candomblés existentes na Bahia é a de

dona Maria Escolástica da Conceição Nazaré, ou como é mais conhecida,

Menininha. Fica no fim de linha de ônibus do bairro da Federação, num

lugar chamado Gantois. O candomblé de Menininha do Gantois, de nação

keto, é bem fundamentado. Suas festas sempre são notáveis pelos preceitos a

que obedecem, pela disciplina que reina, pela alegria que dali se expande,

pela beleza das músicas, das danças, dos cantos, das roupas. E também pela

hospitalidade com que se é recebido e tratado. Uma das festas mais bonitas e

grandiosas do calendário de Menininha do Gantois é a dedicada a Nanã,

sempre no primeiro domingo depois do dia 26 de agosto. Nanã forma com

Iemanjá e Oxum, a trindade dos orixás das águas. (19.8.1960).

O PRESENTE-À-MÃE-D‟ÁGUA mais conhecido, mais famosos de

quantos se fazem na Bahia, é o de dois-de-fevereiro, no Rio Vermelho, e em

Itapuã. No entanto, igualmente belo, embora menos divulgado, é o presente-

à-mãe-d‟água do Dique. Estou escrevendo esta crônica uma hora antes de ir

ao candomblé de Olga, no Alaketo, para assistir à sua festa de Oxalá. Estou

chegando agora do Dique, onde, no saveiro Vitória, acompanhei o

movimento e a execução do presente à mãe d‟água do povo daquelas bandas.

Foi um dia primeiro repleto de excelentes emoções [...] Oraieieô!(3.1.1962).

O assunto candomblé despertava o interesse dos leitores, cujas

“oportunas perguntas” eram respondidas por um cronista que o conhecia

profundamente. Aflitos, queriam saber como se portar naquele novo ambiente:

Várias cartas me chegam pedindo informações sobre o candomblé. E

se vou nos [sic] candomblés, se gosto deles, se entendo seu ritual. Se

distingo os toques, as danças, os “orixás”. Eu vou muito aos candomblés.

Não só agora, por ocupar um cargo no qual são importantes as relações com

os candomblés baianos. No começo não conseguia entender o seu ritual. Mas

desde cedo gostei de tudo o que via. O seu colorido, a sua coreografia, a sua

música, impressionaram-me logo. E só com o tempo, a convivência dos

entendidos, mantendo conversas com os babalaôs e ialorixás, é que vim a

notar as diferenças dos toques, dos cânticos, das danças e dos gestos.

[...] É sem conta o número de “casa” de candomblé na Bahia. E em

crônicas futuras contarei outras coisas sobre esta religião que hoje não é só

dos pretos africanos, mas de muito branco também (12 e 13.6.1960).

Nas crônicas Como proceder num Candomblé (31.8.1960), Como

proceder num Candomblé II (1.9.1960) e Uma Festa de Candomblé

(5.10.1960), a promessa do cronista foi cumprida e seu leitor pode contar com

69

um verdadeiro manual de instruções para frequentar as “casas” de candomblé

na Bahia.

Com títulos modificados, ampliadas ou não, essas crônicas foram,

posteriormente, publicadas no livro ABC do Can domblé, no qual, referindo-se

à época em que “escrevia para as gazetas”, o cronista apresenta essa prática

religiosa como um “assunto constante” e de grande interesse para o leitor de

então. Frequentador das “Casas de culto” desde os 22 anos, tendo o “pai

Cosme” como seu primeiro mestre, confessa ter sido levado mais tarde, pelo

amigo José Pedreira, ao Axé Opô Afonjá. Neste local , soube que Oxalá era o

“dono de sua cabeça” e que também tinha parte com Xangô. Aqui, recebeu de

Senhora, a ialorixá de quem se t ornou amigo, o tí tulo de “Otum Oju Obá”,

que se traduzia como “braço direito de um dos 12 ministros de Xangô, Oju

Obá”. No caso, tratava -se de “Pierre Verger, um tipo notável [ .. .]”. O cronista

explica que a posse desse título conferiu -lhe a competência para divulgar o

calendário das festas públicas do Axé Opô Afonjá, “abstendo -se de fazer o

mesmo com o das outras Casas” (MAIA, 1985, p. 16 -18).

Vasconcelos Maia, ao descrever as festas e a disponibilidade do

habitante da cidade para os festejos em sua crônic a jornalíst ica, promove a

difusão de uma experiência mediada por um meio de comunicação de massa,

alimenta a imaginação dos seus leitores que se abrem para as possibilidades

por ele sugeridas e, dessa forma, reordena a tradição existente na cidade,

oxigenando-a, dando-lhe novo vigor. Por meio de seus relatos, o cronista

baiano proporciona novas formas de pertencimento e identidade.

3.3 SE NÃO FOR GENTE BOA , É COISA

Outro dia um leitor, muito leitor, me pegou na rua para se queixar que

eu estava escrevendo demais sobre gente e menos sobre coisas. Este leitor

possivelmente é dos que apreciam anedotas. Não é sempre que a gente está

disposta a contar anedotas. Lhe expliquei isto, acrescentando que, por outro

lado, escrevo muito sobre gente porque gosto de gente. A melhor coisa do

mundo é gente. Gente boa. Mesmo porque gente ruim pra mim é coisa (13 e

14.08.1961).

Intelectual de seu tempo e apaixonado por “sua terrinha”,

Vasconcelos Maia pôde se ocupar, de igual maneira, com o homem do povo

que vendia peixe nas bancas próximo ao Forte de São Pedro, com D. Bertolina

70

e seo Colatino, zeladores da Igreja de Monte Serrat , com a professora

aposentada da escola pública, com a boa negra Maria de São Pedro e com a

dona da barraca Santo Antônio – Arlinda, a cozinheira que tornava a “vida

rica para os pobres”, seus fregueses habituais. O contínuo atrapalhado que

atuava no jornal, os políticos das várias esferas do governo, os jornalistas, os

estudantes, os artistas e intelectuais, todos estiveram igualmente presentes em

seu “canto de página”.

Vasconcelos Maia mostrou, rigorosa e atentamente, os elementos

que traduziam a ideia de uma cidade vivendo um momento descrito por Maria

do Socorro Carvalho como:

[...] os anos dourados da Bahia, foi um período em que a smart society

esteve na Krista da onda. Ou seja, um determinado segmento da população,

uma classe média alta, próxima à elite econômica baiana, composta por

profissionais liberais, políticos, intelectuais, professores e estudantes

universitários destacou-se por suas preocupações em inteirar-se do mundo e,

principalmente, integrar-se ao mundo civilizado. Eram esses os

frequentadores de duas colunas sociais – Smart Society, do vespertino

Estado da Bahia, e Krista, do matutino Diário de Notícia, ambos os jornais

pertencentes aos Diários Associados de Assis Chateaubriand – e principais

responsáveis pelas discussões que iriam orientar e refletir as transformações

que ocorriam em Salvador. (CARVALHO, 1999, p. 96).

Também a coluna jornalíst ica de Vasconcelos Maia era

compartilhada por este segmento da população que seria o elemento

constitutivo da representação da cidade moderna, afeita às questões culturais,

que definia sua vocação turíst ica e o sonho de tornar -se a capital cultural do

Brasil.

É como testemunha que Vasconcelos Maia narra a aurora da

renovação modernista das artes plásticas, das letras, do teatro e do cinema

baianos. O mundo das artes se delineia nas crônicas de Vasconcelos Maia com

um dinamismo bem peculiar. Desvendando suas cortinas, no contato estreito

com as pessoas que dele faziam parte, sustentando que a pintura era uma das

“poucas vocações artísticas aqui bem realizadas” por contar com nomes

expressivos, o cronista deixa perceber vestígios de um passado com o qual

este mundo não conseguia romper. As relaçõ es de favoritismos, preferências,

preconceitos, apesar da existência da roupagem moderna que tentava

escamotear sua presença, insistiam em aparecer no campo das artes, das

letras, do teatro e do cinema. O campo art ístico mostrava -se pouco receptivo

71

à entrada das mulheres e apresentava ambivalência em seu ordenamento. Ao

tempo em que se abria, acolhendo em seu seio art istas dos mais diversos

lugares, este campo virava as costas para alguns dos seus talentos, obrigando -

os à migração para o Sul em busca do rec onhecimento.

Na tentativa de configurar o desenvolvimento de uma indústria

cultural e artística na Bahia, Vasconcelos Maia se ocupou com uma elite

composta por artistas e intelectuais, part ícipes ativos do seu processo de

transformação social e cultural po r meio das obras que realizavam cada um

em seu campo de atuação. Com muitos deles, compartilhava, além do hábito

de frequentar a porta da Livraria Civil ização Brasileira, na Rua Chile, no

intervalo do almoço e no final da tarde, a experiência da atuação em

movimentos culturais diversos desde a participação no “Caderno da Bahia”.

Esta elite intelectual marcou presença na coluna Dia Sim, Dia Não,

mobilizando o olhar, a inspiração e os mais diversos sentimentos do cronista,

que transformou seu espaço no jornal em verdadeira galeria de artistas e

intelectuais.

A crônica inaugural dessa galeria composta por Maia já era em si um

elemento tradutor daquele momento cultural vivido pela cidade que recebia

visitantes ilustres. O primeiro intelectual a passar pela pena do cronista, fato

que se deu logo após a sua estreia no matutino, foi Aldous Huxley, por ele

referido como o gênio . Tendo ido recepcioná-lo no aeroporto, escreveu a

respeito:

Profundamente emocionado, gaguejando palavras digo-lhe algumas

besteiras à guisa de boas vindas. Velho, mas nem por isso alquebrado, a

cabeleira quase branca, alto e descarnado me parece, não tenho vergonha de

confessar, um ente superior, um ser mais que humano. Tão acima de mim

que possivelmente não me ouve, não me vê, nem me entende. (24.9.1958).

Na sequência das crônicas pesquisadas, essa galeria foi se

configurando com personalidades do mundo das artes ou das letras baianas,

cujos talentos despertaram admiração do cronista, que delineou as

particularidades do campo artíst ico da Bah ia de então – o obscurantismo, o

protecionismo, a sua configuração. Dentre os nomes de artistas das tintas e

pincéis, e ainda dos cinzéis, que desfi laram pela galeria de Maia estão:

Rubem Valentin, Hélio Basto, Sante Scaldaferri , Jenner Augusto, Carlos

Bastos, Carybé, Mário Cravo Júnior, além das mulheres pintoras – Lygia

72

Milton, Maria Célia. O trabalho, a evolução artística e as qualidades pessoais

de cada um foram comentadas com admiração, respeito, carinho e orgulho:

Rubem Valentim [...] Eis outro caso singular no panorama das artes

baianas. Originário de família humilde, excelente estudante em todos os

cursos por onde passou. [...] A sua pintura era única na Bahia. Abstrata e por

isto mesmo incompreendida e difícil de aceitar-se. Fugia dos cânones da

pintura habitual, paisagística, figurativa. Combatido por muitos, sabotado

por outros, até mesmo ridicularizado por despeitados, ignorantes ou pobres

de espírito, que não sabiam, não podiam ou se recusavam a aceitar seu

vigoroso temperamento artístico.

[...] quando a Bahia se lhe insuportável pela ausência de oportunidade

de ganhar o seu próprio sustento com algum trabalho correlato à sua

vocação, ele não se dobrou e nem quis se adaptar aviltando seu ideal.

Emigrou. Jogou-se para o Rio de Janeiro [...]. (10.10.1958).

Hélio Basto é um pintor muito jovem, mas de uma maturidade

artística que surpreende. Mora na Ladeira de São Roque, num velho sobrado

de janelas com guilhotinas, onde tem seu atelier aberto para os telhados

marrons da Barroquinha. [...] Com Hélio Basto moram seus quadros – que se

amontoam pelo chão, sobem os móveis, trepam as paredes, moram também

seus gatos, dez a quinze gatos [...]. (6.5.1959)

Há muitos anos, no tempo em que os comunistas faziam comícios,

assisti uma cena que jamais esquecerei. Era nas escadarias d‟A Tarde [...]

E sem receio de receber a sobra gritava:

- Por que vocês só batem neles?... Por que não surram também os

filhos dos deputados, o filho do milionário, o filho de família?

Era Sante [Scaldaferri] já meio careca, [...], magro e frágil no meio

dos milicos, Quixote inútil contra os moinhos de vento.

- É louco! Pensei comigo mesmo. Mas era um romântico. Romântico

que continua até agora.

[...] Romântico nos desenhos e na pintura [...] Romântico nas centenas

de amores de todas as cores que já teve. Romântico na lenta, mas segura

evolução pictórica que seu talento lhe levava. [..] Sua atual fase madura e

excelente que vai expor no dia 23, no Museu de Arte Moderna da Bahia.

(20.5.1961).

Hipocondríaco até a raiz dos cabelos, os olhos azuis bem fundos nas

órbitas cavadas, contador de zebrumes que nem Carybé, [...] é assim Jenner

Augusto, um dos mais legítimos “cabras da peste” que conheço. Pintor de

grandes recursos expõe no momento, belíssimos guaches na Galeria Manuel

Quirino. [...] É um autêntico profissional da pintura, uma das poucas

vocações artísticas bem realizadas na Bahia. [...] Depois de vários títulos

invejáveis e honrosas “Medalhas de Ouro” [...] com trabalhos espalhados

pelos quatro cantos do mundo, o reaparecimento de Jenner Augusto, em

plena fase de amadurecimento, é dos acontecimentos artísticos mais

importantes deste ano, dos mais brilhantes para as artes da Bahia.

(13.3.1963).

[..] dei com os costados no esplêndido palácio da Jaqueira que o pintor

baiano restaurou e lhe conferiu nobre e digna serventia. Ainda se

restabelecendo do acidente sofrido no rio de Janeiro, no qual se salvou por

milagre [...] O traço fundamental da personalidade de Carlos Bastos sempre

73

foi uma integridade intelectual a toda a prova e, como consequência desta, o

esforço pela pesquisa, o interesse pelo estudo, a constância no trabalho.

[...] Juntando mais esta exposição à sua série, vasta de legítimos

triunfos artísticos, confirma Carlos Bastos também a sua reintegração na

vida e participação de suas lições. (19.7.1963).

É um grande prazer que a gente sente quando assiste um amigo

ascender em qualquer digna profissão que abraça. Que abraça só, não. Que a

vocação lhe ordena seguir. É o caso de Lygia Milton.

[...] a primeira exposição de Lygia Milton era a de uma senhora

inteligente e habilidosa, com algum pendor artístico, a mostrar seus dotes

razoáveis a um grupo limitado de amigos. Hoje, porém o meu pensamento se

modificou. O que encontrei na Galeria foi uma pintora. Uma pintora ainda

não plenamente realizada. Mas, absolutamente pintora. (10.e 11.3.1963).

Os jornais trazem a notícia de que a pintora Maria Célia voltará a

expor na Bahia, sua terra natal. É uma notícia agradável para aqueles que,

como eu, admiram a excelente artista e vem acompanhando com vivo

interesse o seu trabalho. (4.9.1959).

[...] Gente boa, por exemplo, sobre a qual sinto prazer em me referir,

em escrever, em dar notícia é Maria Célia. A que soube querer, a que tinha

querer, a que estudou, a que se tornou uma das melhores pintoras da Bahia...

(13 e 14.8.1961).

Venho de uma excursão pela Baía de Todos os Santos, depois de

visitar pelo mar, diversas ilhas, eu encontro em casa duas agradáveis

surpresas: um bilhete de Dona Lina Bo Bardi e por ele as notícias da

chegada e da exposição de Maria Célia. Da chegada não diz precisamente o

dia. Quanto à exposição, foi inaugurada ontem, no Museu de Arte Moderna.

(17.7.1963).

[...] Mas há a considerar também a sua contribuição fora daqui, fora da

Bahia e do Brasil, para o conhecimento e a compreensão, a curiosidade e a

paixão, de nossas coisas, nossos costumes, nossa razão de ser. Através de

seu desenho, excepcionalmente expressivo, sugestivo, impressivo, Carybé

transmitiu a pureza, a força, a alma do povo baiano. De tal maneira que

muitas vezes ficamos na dúvida se realmente foi um modelos de carne e osso

quem inspirou seu traço ou se a figura que vemos nas ruas saiu de seus

croquis.(26.7.1963).

Não vou falar do valor artístico das esculturas que Mário Cravo

apresentará ao mundo como contribuição brasileira. Seriam comentários

impressionistas [...] Quero recordar um momento do começo da carreira de

Mário Cravo Júnior. Isto foi antes de ele ir aos Estados Unidos onde

estudaria com Mestrovich. Quando então era uma temeridade se fazer arte

sincera na Bahia, quando os artistas tinham que ser carneirinhos acadêmicos,

quando eram obrigados a ignorar as conquistas da arte no mundo e sua

natural evolução. [...] A importância de se seu nome e o valor de sua obra

estão merecendo agora o pronunciamento da crítica mundial. (20.4.1960).

Vasconcelos Maia apoiou diversas ideias que poderiam traduzir-se

em modernização cultural , defendendo ardorosamente em suas crônicas

74

aquelas nas quais identificava a possibil idade de comunhão com o ideal da

transformação cultural da cidade do Salvador. Esse apoio fez com que em sua

galeria surgissem nomes de atuantes nas várias áreas de atividades, tais como

antropólogos, professores, poetas, jornalistas, escritores como Vivaldo Costa

Lima, Nelson Rossi , Jair Gramacho , Nelson Araújo. Luiz Henrique Dias

Tavares, Odorico Tavares:

É um talento enorme, uma inteligência terrível, fonte permanente de

informações culturais. Leitor de Kierkegaard e de Cuíca de Santo Amaro,

cirurgião dentista na esquina do Corta-braço com a Estrada da Liberdade,

ogã ortodoxo do Aché do Opó Afonjá, filho de Ogum e afilhado de Xangô,

íntimo de Rainer Maria Rilke e Fernando Pessoa. É - “o que é um exagero” -

crítico dos mais severos, dos mais conscientes das valorações literárias.

Sua conversa é rutilante, e um “espargir de pedras preciosas” - como

certo acadêmico poderia dizer dessa vez com propriedade. [...]. Mas Vivaldo

Costa Lima não escreve. Compreendo porque não possa escrever. Não é

possível transformar-se um rio caudaloso, encachoeirado, sempre correndo

para o vasto oceano, numa lagoa parada. (2.11.1958).

Estávamos no Hotel da Bahia. Éramos cinco: Jorge Amado e senhora,

a líder cultural da Polônia no Brasil, D. Monika Miradel, Pascoal Carlos

Magno e eu. Conversa, conversa vem, Pascoal, grande causeur, falava mais

do que todos. E falava sobre um assunto muito caro para mim: o Professor

Rossi. E de outra coisa muito cara, caríssima, para o professor Rossi, seu

laboratório de fonética. ...

- Este Rossi – continuou Pascoal Carlos Magno – é um dos indivíduos

mais fortes, mais dignos e de mais caráter que tenho conhecido. Gosto

muitíssimo dele. Somos muitíssimo amigos. (23.11.1958).

[...]

O silêncio e a tristeza são seus camaradas permanentes. Por isto pouca

gente entende o poeta. Aliás, é bom que se diga em honra a sua

independência: pouco se lhe dá que alguém, até mesmo os amigos, o

entenda. [...]

Faz ponto na porta da Livraria onde participa [...]das animadas

conversas[...] todo santo dia, chova ou faça sol [...] depois das onze e depois

das dezessete horas, quando sai do jornal: a mesma roupa, bate e torce,

canário de uma muda só. O mesmo cabelo grande e gazo, o mesmo ar de

tristeza e alheamento.

[...] Fiquei alegre com a notícia; o poeta Gramacho, instado pelos

raros amigos que mantém, vai editar dois livros, um de suas belas traduções;

outro de seus belíssimos sonetos que o elegeram como dos melhores poetas

do Brasil. (3.06.1959).

Vem desde o tempo quando eu morava num velho sobrado da Rua

Democrata – ali se reunia, sem toque de chamada, espontaneamente, quase

todos os então jovens da cidade que tentavam fazer artes e letras.

[...] Poucos sujeitos conheço da altura intelectual de Nelson Araújo,

que tanta dureza tenha comido na vida...

[...] Embora tenha escrito muito, na redação dos jornais onde é

disputado ou em seu gabinete cheio de edições de várias línguas, Nelson de

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Araújo publicara apenas um livro “Um Acidente na Estrada” [...] como um

dos melhores contistas de sua geração. [..] Agora lança uma peça de teatro

“A Companhia das Índias”. (8.7.1959).

Hoje às 17h30 horas na Civilização Brasileira, vão ser entregues ao

público dois livros. São as últimas edições da Imprensa Oficial, atualmente

sob a orientação do professor Milton Santos. São dois volumes da Coleção

Tule [...] Estes livros são “A Noite do Homem” e o “Primeiro Mistério”. “A

Noite do Homem” é de autoria do escritor Luiz Henrique [Dias Tavares] [...]

Luis Henrique ocupa uma coluna do Jornal da Bahia, intitulado “Cidade,

Homens e Bichos”. O outro livro [...] é de minha autoria. (17.2.1961).

Eu tinha chegado de viagem, vi na porta da Livraria Civilização a

faixa anunciando o lançamento do novo livro de Luiz Henrique. “Moça

Sozinha na Sala”. (3.10.1961).

Coincidindo com a abertura do ano letivo foi lançada no Rio de

Janeiro e já está sendo distribuída neste Estado, a segunda edição da

“História da Bahia” [...]. (3.04.1963).

Ao chegar à Bahia, há já muito tempo, Odorico [Tavares] vinha como

diretor de jornal e como repórter de “O Cruzeiro”. Assim iniciou nas páginas

da revista de maior tiragem do Brasil, uma das melhores divulgações

turísticas de nossa terra – não era coadjuvado pelas belas fotos de Pierre

Verger. Não passavam então aquelas reportagens, de simples divulgação de

aspectos de nossa civilização. E o próprio repórter, deslumbrado pela cidade

que o acolhia, não tinha outra intenção senão a de um trabalho de rotina.

Mas o diabo do homem era também literato, era poeta. E o assunto

rico demais para ficar apenasmente na superfície. Terminada a série Odorico

por ela apaixonou-se, recomeçou a trabalhá-la e publicou em livro a que deu

o nome de “Bahia, imagens da terra e do povo”. A primeira edição esgotou-

se, saiu a segunda, que Odorico passou a limpo, revisando-a, atualizando-a.

Essa segunda edição não chegou para quem quis.

Premida pela exigência dos leitores a Editora agora decidiu expedir a

terceira tiragem, justamente a que vai ser entregue dia 11 próximo [...]

(9.8.1961).

Jorge Amado, amigo dileto, de quem enalteceu as virtudes na

crônica Um Sujeito Bom (9.10.1959), presente em vários momentos vividos

pela cronista, juntamente com sua obra, ocupou lugar de destaque nesta

galeria. Foi quase uma dezena de crônicas dedicadas ao criador de Gabriela.

Elas teciam comentários não apenas sobre os livros, as ações do escritor, cuja

ousadia temática Vasconcelos Maia sugeria como modelo para os jovens

escri tores, como também sobre a atuação do escritor grapiúna, em prol do

projeto de divulgação da cidade do Salvador .

Ainda que versassem sobre uma extensão de matérias, suas crônicas

mostravam uma alta densidade autobiográfica. O cronista, o ficcionista, o pai,

o amigo, o esposo compareciam como tema, ao lado de questões sobre crônica

76

enquanto gênero, o jornal, as dificuldades de ser cronista, o seu papel como

empregado de turismo. Sua vida , suas amizades, suas habilidades, seus

interesses, seus medos estiveram sob a mira da sua pena. Assim sendo, o

escri tor Vasconcelos Maia integrou sua própria galeria:

Quando vocês estiverem lendo-me, deverei estar no Rio. [...] O que

vou fazer no Rio? Passear? Não. Vou trabalhar em próprio proveito e no

proveito da Bahia [...] Vou fazer outra promoção: vou lançar um livro de

muitos baianos, editado na Bahia, que está despertando um interesse danado.

Chama-se PANORAMA DO CONTO BAIANO. (23.9.1959)

De novo estou me preparando para viajar. Vou trancar o medo de

avião e subir os espaços em busca do Rio de Janeiro. Esperava a

oportunidade há muito tempo: um livro meu publicado em grande editora e

lançado à venda. O Lóide Aéreo me ofereceu passagem, o Hotel Glória me

ofereceu hospedagem, Jorge Amado me ofereceu cobertura, a Livraria

Eldorado ofereceu a casa. E eu ofereço o meu convite a quem quer que

deseje participar de minha festa. Escrito há uns quatro anos vai sair

finalmente a minha novela “O Leque de Oxum‟, no dia 24, incluída por

Herberto Sales nas Edições de “O Cruzeiro”. [...] (22.3.1961).

Adoram me pregar peças:

- Papai, „tão batendo na porta. Vou ver quem é. Brisa... Eles estouram

na risada, pulando, cantando: “Enganei meu burrinho com sela e tudo. Tirei

a sela ficou barrigudo.” Primeiro de Abril então, é um caso sério. Eles me

acordam dizendo que o fogão a gás está pegando fogo. Me jogam quarto a

fora, cozinha adentro.

- Primeiro de Abril! Berram eufóricos:

- Levem este burrinho onde ele quiser ir! (9.11.1958).

Em matéria de cinema sou eclético. Não tanto quanto Vivaldo Costa

Lima, pois não me atrevo a ir ver Zé Trindade ou Libertad Lamarque. Mas

sei apreciar tanto um filme cômico quanto um dramático, tragédia, ou sátira,

documentário, desenho animado, policial ou faroeste. Fui um dos 5 ou 6

fundadores do Clube do Cinema. Tentei com Edio Gantois a fundação do

Clube Experimental de Cinema. A cidade teve o privilégio de ver a obra-

prima de Einsenstein, “Encouraçado Potenkin”, velha comédia de Charles

Chapplin do princípio de sua carreira e alguns experimentos do canadense

Mc Laren.

Daí o meu apoio desde às primeiras conversas ao Clube Westerm de

Cinema. É um dos meus fracos confessáveis e, pelo grande número de sócios

que o novo clube vem recebendo, é um fraco generalizado: o gosto pelos

filmes de caubói. Quando minha mulher me chama para ir ao cinema,

pergunto que tipo de filme está em mira. Como gosto de ir na certa, procuro

ver o diretor, ou pelo menos, os atores. Mas se é fita de caubói, vou na raça,

vou às cegas.(18.3.1960).

A galeria de personalidades edificada nas crônicas de Maia foi

composta também por Alfredo Villa Flor dos Santos, relações públicas da

Petrobras, que tinha como companheiro mais estimado o repórter Darwin

77

Brandão (5.8.1959), Milton Santos, que nessa época tornava-se diretor da

Imprensa Oficial da Bahia (15.6.1960), Pinto de Aguiar (8.6.1960), Lia Mara,

que lançava a primeira agência de publicidade (14, 15, e 16.8.1960), Roschild

Moreira, jornalista de A Tarde (11 e 12.9.1960) , o Prefeito Heitor Dias, dono

da amizade e admiração do cronista, bem como o secretário Virgildásio Sena

(27 e 28.11.1960), Margarida Maria Silva Costa, advogada e professora

escolhida por Milton Santos para dirigir a “Revista da Bahia”, publicação da

Imprensa Oficial (11 e 12.12.1960), o já falecido professor do Ginásio da

Bahia – Sílvio Valente (5.5.1961), Pedro Moacyr Maia, irmão do cronista,

professor que se encontrava em Dakar numa missão diplomática (16.5.1961),

Adalmir da Cunha Miranda, amigo, um do s “crânios” do “Caderno da Bahia” e

um dos diretores da revista “Ângulos”, que estava publicando seu l ivro e, por

morar em São Paulo, pedia notícias do mundo cultural da Bahia (18.5.1961), o

poeta Sadala Maron, então de partida para Hong Kong (18.8.1961), Manuel

Carvalheira, gerente de banco, “patrimônio nosso”, sendo transferido da

cidade (3 e 4.9.1961), Rosalvo Barbosa Romeu, homem das finanças do

município, depois vereador (29.1.1962), e Antônio Rebouças, arquiteto e

desenhista de casas (11 e 12.8.1963).

A afirmação de Vasconcelos Maia como intelectual moderno e como

ator no processo de transformação social não se limitou às obras realizadas

em seus campos de ação cultural. O escritor sentiu necessidade de uma

intervenção mais efetiva e de maior abrangência, vendo na divulgação dos

trabalhos dos demais integrantes da elite intelectual da Bahia um dos meios

de concretização da modernização social e cultural por eles ansiada . Por isso,

imerso naquele turbilhão de dizeres e modos de expressar a mudança cultu ral

da cidade, fez de sua crônica um ícone de modernidade de que se serviu, não

apenas para a criação de uma mentalidade voltada para o consumo de produtos

culturais, como também para divulgar art istas e obras partícipes daquele

projeto.

3.4 INTERESSES E ORGULHO DOS BAIANOS

Para Walter Benjamin, “de todas as relações estabelecidas pela

modernidade, a mais notável é a que tem com a antiguidade” (BENJAMIN,

78

1989, p. 80). Esta modalidade de relação foi cara ao cronista Vasconcelos

Maia, que representou uma cidade na qual a modernidade atava-se fortemente

à antiguidade. A sua cidade não foi “débil” nem “quebradiça como o vidro

transparente”, como a Paris do poeta Charles Baudelaire representada em seu

poema O Cisne . A cidade do Salvador nas crônicas de Vasconcelos Maia é

apegada aos seus monumentos e símbolos históricos. Nela surgem os fortes,

os faróis, as igrejas, os sobrados, o casario antigo, o Pelourinho. Dotado de

uma visão moderna, o cronista pratica certa pedagogia para o olhar da cidade

como espaço de memória e tradição postulando a preservação daquilo que

resta da cidade histórica.

Baiano cioso, como se declarava, como os grandes modernistas do

século XIX, também criticava a modernização exacerbada, vendo -a como

ameaça à estrutura da cidade, cujo aspec to original lutava por preservar, não

aceitando sacrificá-lo em nome de outros valores modernos, como a higiene e

a fluidez, por exemplo. Ao olhar a cidade, Vasconcelos Maia relembrou a

fome de destruição que estragava todas as administrações ao derrubar m uita

preciosidade, muitas relíquias históricas, citando o caso do bairro da Sé,

considerado por ele como “um caso de arrepiar, que até hoje choca muita

gente” (17.2.1959).

Interessado pelo tema, o cronista demonstrava acompanhar o que se

fazia e se escrevia a respeito no Brasil . Em Assassinemos a Cidade, afirma ter

se inspirado nos escritos da diretora do Museu de Sabará, que discorria sobre

a forma como os americanos l idavam com suas velhas cidades, e comparava

com o descaso brasileiro. Fez coro às lament ações da diretora do museu

mineiro dizendo que

[...] os brasileiros, e com especialidade, os baianos depois que assassinarem

suas velhas cidades em nome dum suposto e falso „progresso‟ haveriam de

querer reconstruir com matéria plástica ou concreto aquilo que possuíam em

pedra, cal e madeira de lei (1º. 7.1960).

Sustentou Vasconcelos Maia que “nossa Bahia” ainda contava com

conjuntos inteiros de fachadas antigas, os quais “o baiano rico despreza, o

pobre não dá valor e pouquíssimas autoridades respeitam de fato” (1.7.1960).

Para solucionar os problemas de trânsito e buscar a fluidez, o

recurso utilizado nas diversas cidades que se modernizavam no Brasil ainda

era a demolição, a destruição dos sít ios sem levar em conta seu valor

79

histórico. Naquele momento , na cidade do Salvador, ainda se falava em

demolições de igrejas e, na mira das picaretas, estava a capela de Santana, no

Rio Vermelho. Vasconcelos Maia manifestou o seu descontentamento

bradando: “a Bahia precisa de soluções inteligentes para seus proble mas

urbanos” (17.2.1959). Denunciou aquilo que chamou de “crime lesa

município”. Otimista, o cronista lembrou que naquelas alturas, as condições

eram outras, “as vozes dos intelectuais, dos artistas e dos homens civilizados”

iriam levantar-se contra tais barbáries. Estava, assim, desfraldando a bandeira

que defenderia com garra e tenacidade – a defesa da riqueza arquitetônica,

dos monumentos e do aspecto original da cidade do Salvador.

Outra relíquia da terra desfilou sob a pena do cronista. O prédio da

Associação Comercial, situado na Praça Conde dos Arcos, uma raridade

arquitetônica do Brasil, foi exemplo para a resistência à sede de destruição

resultante dos processos de modernização:

Esta história muito triste me foi contada por José Valadares - o que

muito contribuiu para a salvação de outras relíquias da terra. E foi verdade.

A Cidade Baixa crescia. O tráfego aumentava. Como sempre acontecia aos

governantes sem imaginação, os da época só achavam um jeito simplista de

dar condições “modernas” ao “comércio”: destruir seus belos casarões e

sobre as cinzas plantar avenidas. Da Praça Cairu à Praça Conde dos Arcos,

assim foi feito. No corte estava também o Palácio da Associação Comercial,

que se tornava assim a pedra no caminho das picaretas.

Contra a derrubada de tantos monumentos, de insubstituível

arquitetura tinha-se erguido a voz dos intelectuais, dos eruditos, dos artistas.

Quando viram a iminência da queda do Palácio levantou-se outro clamor. O

governo de então, suspendeu por algum tempo a execução da sentença,

esperando que a onda contrária arrefecesse (16 e 17.7.1961).

Vasconcelos Maia prosseguiu contando que, por estes tempos,

chegara à Bahia um desses notáveis e cultos excursionistas, o rei da Bélgica,

tendo o Estado se preparado “com honras e glór ias para receber a majestade”.

Entrando pela baía de Todos os Santos, já os olhos de monarca se

deslumbravam com a cidade. Saltando no porto, ao deparar com o

esplêndido palácio construído pelo Conde dos Arcos, parou toda a comitiva

para admirá-lo demoradamente. E enquanto durou sua visita entre nós,

continuava a citar o seu encanto pelo palácio da linha Adams (16 e

17.7.1961).

Assim, o “pobre condenado à morte” fora salvo, não pela voz dos

mais esclarecidos da terra, mas pela de um turista importante, pr ovidencial.

Visitada por “um desses reis europeus que, por desfastio, viajam por países

exóticos”, a cidade teve preservada uma de suas riquezas arquitetônicas, o

80

Palácio da Associação Comercial, hoje apontado como o único em seu estilo

existente nas Américas (19.1.1962).

A Casa Régia, situada no Viaduto, à direita de quem se dirige à

Praça da Sé, chegara a ser “triste tapera a dizer aos estrangeiros um pouco de

nossa burrice” (07.6.1961), mas estava passando por uma restauração levada a

termo pelo empenho do provedor da Santa Casa de Misericórdia, apoiado por

Godofredo Filho, então diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional, seção da Bahia.

Vasconcelos Maia escreveu sobre fortes e solares da Bahia. Além

dos mestres do assunto, Valdemar Matos, Cid Teixeira, Fernando Fonseca,

Godofredo Filho ou Jair Brandão (15.11.1963), ele afirmava que “um time de

primeira água”, constituído por Lina Bo Bardi, Martin Gonçalves, Mário

Cravo, Caribé, também se interessava pelo tema, especialmente pelo Forte da

Gamboa. Em Viva o Forte da Gamboa comentou a entrevista do advogado

Benedito Pati, encarregado dos interesses de Ciccilo Matarazzo, que

idealizava restaurar o Forte de São Paulo da Gamboa para fazer um centro de

estudos de arte e cultura. A ideia interessou ao prefeito e a Godofredo Filho.

Vasconcelos Maia ressaltou que a importância “da visão de que o melhor e

mais digno de seu [da Bahia] excesso de capital é o da permanência

revitalizada e divinizada da cultura baiana”, que evitaria a “destruição de

seus monumentos, a dilapidação de seus tesouros e muito pior do que tudo – a

migração de grande número de seus filhos” (14 e 15.4.1963).

Em se tratando da luta pela conservação e manutenção dos

monumentos históricos da cidade, o cronista contava com a vigilância de seus

leitores. Uma leitora escreveu para denunciar o estado de abandono em que se

encontrava o Forte Monte Serrat, lembrando que a loca das sereias, tão falada

pelo cronista em “Lembrança da Bahia”13

, “o recanto mais belo da Cidade do

Salvador” (09.08.1963), tornou -se inacessível devido ao descaso público.

Igualmente empenhados nesta luta estavam os órgãos competentes. Maia

afirmou ter recebido como “encomenda” de um representante do governo:

[...] uma lista preferencial dos pontos não só de interesse turístico, mas,

sobretudo do orgulho e do patrimônio baianos, a fim de aprimorar com

urgência os seus melhoramentos (9.8.1963).

13

Trata-se de guia turístico de Salvador, com fotografias, mapas e estatísticas, publicado pela Editora

Globo, em 1963.

81

A preservação do Pelourinho esteve sob a mira da pena do cronista.

Ele descreveu uma visita realizada em companhia de d ois técnicos americanos

de turismo, que sugeriram a criação, para o lugar, de uma “mística de amor,

de terror, de assombração que o tornasse irresist ível, excitante, incitante”,

comparando-o a Casbah . Segundo Vasconcelos Maia, os técnicos acharam o

Pelourinho “muito quieto, muito pacato, muito doméstico” (2.2.1959). O local

histórico foi mencionado quando o cronista, retornando de uma curta viagem

de oito dias, disse ter encontrado mudanças na cidade: “já não há o barulho

danado na Praça Municipal e, no bai rro do Pelourinho, processa -se

esperançosa renovação”. Passou então a discorrer sobre o “desalojamento do

meretrício do bairro do Pelourinho”, uma medida tomada “sem violência, sem

perseguição, mas, também, sem fraqueza”. A administração municipal

encontrou, “com inteligência e compreensão, o caminho para apagar o

meretrício do centro da cidade” (25.4.1959).

São duas crônicas dedicadas ao Pelourinho para falar do “deslavado

cinismo” compactuado por todos de se exibir, ostensivamente, essa “miséria

da sociedade”, e que, após a mudança do meretrício da “zona mais bela, mais

nobre de Salvador, para a beira do porto, forçosamente, o Pelourinho tornar -

se-á o que já foi”. O local iria tomar um “banho completo”. Fez o cronista um

apelo ao prefeito Heitor Dias para não atender à sugestão de “um vereador”

de asfaltar as suas ladeiras. Lembrou Vasconcelos Maia que muitas

“modernices inqualificáveis, impróprias já se fizeram nesta Bahia”, e que o

passar do tempo trazia consigo o arrependimento para o qual não havia

remédio. O cronista investiu contra a descaracterização do bairro “mais

original e mais invejado do Brasil” dizendo:

[...] basta que se virem suas pedras centenárias, pedras bonitas, pedras tão

plásticas, pedras moleques, que serviram às carruagens de rodas de ferro, por

que não servir também às rodas de borracha? Internamente, as casas também

devem sofrer os melhoramentos a fim de poderem voltar a sua função

familiar. Que se introduza em seu interior o conforto das conquistas

modernas. Mas pelo [menos] que, restauradas e limpas, frescas e pintadas,

permaneçam suas fachadas no belo estilo que lhes deram fama e glória

(29.4.1959).

O assunto “limpeza” (grifo do próprio cronista) de sítios, tão caro

em processos de modernização de cidades, voltou a aparecer nas crônicas.

Desta vez era a Rampa do Mercado Modelo que sofreria a transformação,

82

deixando de ser “chaga”, “ferida”. Voltariam os tempos em que ela fora uma

“paisagem viva e luminosa”, um lugar que não “envergonhava a cidade”. A

Rampa voltaria a ser

[...] Aquela que fora cantada por Pablo Neruda, endeusada por Jorge Amado,

filmada por Rosselini, fotografada por Verger, cenário poético do idílio de

Guma e Lívia, citada nos roteiros turísticos (24 e 25.9.1961).

A prefeitura solucionaria “sua problemática hum ana e social”, os

barraqueiros teriam “seus interesses respeitados sem prejuízos de qualquer

ordem” e o lugar deixaria de ser a “babel de panos rotos e madeira podre, de

lixo e de lama”. Decorridos seis meses dessa crônica denunciadora da

imundície da Rampa, deu-se a “limpeza” vivamente apoiada pelo cronista.

Isso porque, descrita por Vasconcelos Maia como “um dos pontos

mais belos da cidade, um dos portos que, por sua própria razão de ser, deveria

permanecer sempre l ivre, sempre limpo” (17.4.1962), a Ramp a, tal como os

passeios do Mercado, vinha sendo palco de uma “indústria”, e acabara

transformando-se em “hospedaria vagabunda, antro de ladrões, prostíbulo e

refúgio de maconheiros”. De “ambiente de trabalho vigoroso e forte poesia,

devido à poli tiquice se degradara”, mas, naquele momento, o capitão dos

portos, “fazendo uso de sua autoridade, sem matar, nem ferir, mas também

sem fraqueza”, mandou proceder a “limpeza” da Rampa (17.4.1962).

O Parque do Unhão foi descri to por Vasconcelos Maia como “um

cenário de lendas e paisagem de beleza” (26.8.1959). O cronista contou a

história do solar, que teria pertencido também ao Ouvidor -Desembargador

Unhão Castelo Branco. Naquele momento, nos idos de 1959, descreveu seu

interior, a beleza do seu entorno e lamentou o e stado de abandono em que se

encontrava. Em agosto de 1961, Vasconcelos Maia lembrou que o Solar,

convertido num depósito de inflamáveis, e sua igreja, numa serraria, estariam

“fadados a desaparecer num incêndio”, desfalcando a cidade do Salvador de

uma das “mais esplêndidas marcas de sua arquitetura colonial e um dos

melhores momentos de sua história”, destino que seria revertido por um

decreto, uma mensagem “poderosa em sua transcendência” assinada pelo

governador Juracy Magalhães, que declara:

[...]

83

de utilidade pública para fins de desapropriação total o antigo Solar do

Unhão, para que restaurado, venha a ter a finalidade adequada a sua

importância, a sua beleza, a sua história (23.8.1961).

Seguindo a trajetória do tema Solar do Unhão nas crônicas de

Vasconcelos Maia, vamos encontrá-lo ressurreto em 20 de fevereiro de 1963,

dessa vez noticiando a destinação dada ao antigo sítio, pelo governador

Juracy Magalhães. Seria o Museu de Arte Popular da Bahia. O sítio fora

entregue a Lina Bo Bardi , “importação das mais importantes que a Bahia já

lucrou e a quem já deve a organização e continuidade do Museu de Arte

Moderna”. Na próxima crônica, dois dias depois, o cronista convidaria o

baiano, “pobre e rico, preto e branco, inteligente e burro, ignorante ou culto”,

a dar “um pulo até o Solar do Unhão” (22.2.1963).

Espaço caro ao cronista, o Dique do Tororó, em 1959, era descrito

como um dos mais l indos, mais pitorescos e mais fascinantes logradouros de

Salvador, mas encontrava-se também ameaçado de desaparecimento, tragado

pela desídia dos administradores que nunca tiveram sensibilidade de perceber

seu drama . Segundo Vasconcelos Maia, um “salvador” surgira para exterminar

o “mal”. Esse patrimônio de beleza, o próprio espelho da beleza natural,

pictórica e muito humana de nossa terra seria devolvido ao povo por meio do

trabalho do engenheiro Fernando Carneiro, responsável por devolver o “Dique

redivivo” à cidade “que tanto merece o nosso amor”. Lembrou que, enquanto

cidades como Belo Horizonte e Brasíl ia gastam fortuna s para dar-se ao luxo

de terem lagos artificiais, a Bahia, de modo impune, deixava aterrar o “mais

lindo e colorido lago natural , citadino, do Brasil” (12.5.1959).

Há indícios de que o Dique não fora redivivo. Novamente em 1962,

a pretexto de falar sobre uma regata lá realizada, o cronista voltou a reclamar

do seu lento, constante e implacável aterro e das invasões indébitas de suas

margens (26.9.1962). Esperançoso, declarava que conseguira reunir pessoas

em torno do assunto Dique naquele momento em que se estava ampliando a

pista da Avenida Vasco da Gama.

Não foi encontrada “a lista preferencial” (9.8.1963), com pontos de

interesse turístico, do orgulho e do patrimônio baianos solicitada pelo

secretário de governo ao nosso cronista enquanto ocupava a chefia do

Departamento de Turismo do Município, contudo a bandeira da preservação

84

do patrimônio histórico da cidade foi, tenazmente, defendida por Vasconcelos

Maia, que não se furtou em empunhá -la em prol do turismo baiano.

Essa defesa do patrimônio histór ico estava fortemente ligada ao

projeto da incipiente indústria do turismo encampada pessoalmente pelo

cronista. Projeto que, para ele, era então a esperança e o orgulho dos baianos,

fato que por si só justificaria a adoção da temática por qualquer cronist a

imbuído do compromisso de retratar o cotidiano. E Vasconcelos Maia, diante

de máquina de escrever, em sua escrivaninha, ou numa carteira de jornal,

assumia-se como tal .

Buscando o envolvimento dos leitores de sua coluna, informava -os

sobre as visitas i lustres que acorriam à cidade. Elas vinham atraídas pelas

belezas e pelo potencial da cidade do Salvador e não se cansavam em

demonstrar seu encantamento.

A paisagem original da Bahia, o conjunto de cores e formas, de gente

e de costumes, as praias, a cor do céu e do mar, o clima ameno, as ruas

vetustas, os velhos solares, as belas igrejas, as magníficas fortalezas, a força

e o colorido do candomblé, a coreografia viva da capoeira, a riqueza das

peças de arte religiosa, de mobiliário colonial, de antiguidades outras,

igualmente preciosas, deixaram-na em exaltação (31.7.1959).

Por outro lado, segundo o cronista, os visitantes aqui chegando não

encontravam a estrutura necessária ao turismo. Os turistas mostravam -se

desconcertados com a falta de aproveitamento de todo esse potencial, de toda

essa riqueza, chegando a comentar:

- Se São Paulo tivesse sido conservado como a Bahia, se possuísse

este conjunto maravilhosos de coisas seria o maior parque turístico da

América do Sul. Não sei como vocês ainda não compreenderam que o

turismo é renda, é dinheiro vivo e poderia redimir a Bahia. É preciso

organizar turisticamente sua terra e fazer hotéis, melhorar as ruas, urbanizar

a cidade, sem prejuízo de suas características. [...] (31.7.1959).

O desejo de se criar uma mentalidade turística na Bahia e a

necessidade de uma infraestrutura adequada foram fatos comentados por um

cronista que defendia o projeto de industrialização do turismo, uma vez que

acreditava ser impossível “trancar as portas à corrente turística”. Dia nte da

oposição de alguns intelectuais, que também contribuíram para a divulgação

de sua “riqueza histórica, artística, religiosa, folclórica, etnográfica,

paisagística e culinária”, Vasconcelos Maia garantia que a cidade, em sua

gestão, não corria o risco de transformar-se “numa cortesã ainda formosa e

85

exótica, mas vulgar e sórdida”. Segundo o cronista, a cidade do Salvador

encontrava-se amadurecida para o crescimento,

[...] “sem precisar aviltar-se, sem fazer concessões”, apenas, como noiva,

necessita se preparar para um “casamento do qual não sairá virgem, mas

donde frutos saudáveis poderão nascer. (11.10.1963).

Assim, os intelectuais, inclusive o próprio Vasconcelos Maia e seu

projeto de industrial ização do turismo – que seria feito “sem prejudicar sua

aparência, sem ultrajar seu pudor, sem distorcer sua natureza, sem forçar sua

espontaneidade” – , atuariam como guardiões daquela que deixara de ser a

austera “rainha viúva” e se transformara numa distinta senhora, pronta a se

mostrar para os turistas sem o risco de converter-se numa “cidade -rameira”,

porquanto seus “amantes em pânico”, vigilantes, estariam a defendê -la do

“turismo acanalhante”, preservando a sua imagem de “cidade -donzela”.

A crônica de Vasconcelos Maia delineia as rupturas e fragmentaçõe s

que caracterizavam as sociedades na modernidade tardia. Relata as

contradições pelas quais passava a cidade em seu processo de modernização

(transformação de uma cidade/sociedade, reflexo de uma cultura agrária, para

uma sociedade capitalista ancorada na industrialização e na urbanização).

Ilumina a convivência entre o moderno e o tradicional, o urbano e o rural, o

erudito e o popular, além de retratar os diferentes comportamentos e modos

de pensar da sociedade baiana.

A partir da construção do Leque das Crônicas, que se oferece a

múltiplas aberturas, pode-se afirmar que Vasconcelos Maia, profundo

conhecedor de sua cidade, lançou sobre ela um olhar dotado de “pulsão

escópica” , projetando em suas crônicas a imagem da cidade do Salvador vista

em sua totalidade. Representou-a em seus aspectos físicos e sócio-culturais

configurada numa visão dual: a Cidade paisagem-natural e Cidade paisagem-

urbana .

4 A CIDADE DAS CRÔNICAS

Fechado o leque das crônicas, sem desprezar os adjetivos e epítetos

empregados por Vasconcelos Maia em sua descrição, enseja -se, inicialmente,

apresentar um esboço da concepção da cidade do Salvador construída por um

cronista entusiasta. Em seguida, intenta -se ampliar a visão do escritor -

cronista esboçando a Cidade das Crônicas que tão cl aramente se delineia para

o leitor que sobre elas se debruça.

Original, bela e consciente de sua força , apesar de viver sob a

constante ameaça da destruição de seu patrimônio histórico e a rt ístico, a

cidade do Salvador de Vasconcelos Maia configurava -se em uma mancha

urbana inscrita numa circularidade. Não se divorciando de seu passado, ela

marcava o próprio início e fim no seu centro histórico. Delineavam-se a Rua

Chile, a Avenida Sete, o Largo dos Aflitos, o Campo Grande, o Passei o

Público, o Forte de São Pedro, a Piedade, a Mouraria, o Largo da Palma , a

Praça da Sé, o Terreiro de Jesus, o Largo do Carmo, o Pelourinho, o Taboão,

a Cruz do Pascoal, o Boqueirão, o Adobes, a Quitandinha do Capim, os

Perdões, São José de Cima, a Soledade até a Lapinha. Passando pelos becos e

ladeiras centrais, alcançava a Cidade Baixa, o Cais, o Mercado Modelo, a

Calçada, a Ribeira, Monte Serrat , indo até o Bonfim. A cidade ampliando-se,

modernizando-se, seguia pelo Canela em direção à Federação, ou pelo

Corredor da Vitória , ponto pelo qual se chegava ao Largo da Graça ou à

Ladeira da Barra , ao Farol, e aos bairros mais distantes como Rio Vermelho,

Amaralina e Pituba.

Mencionada pelos viajantes que por aqui passavam, conforme

Fernandes e Gomes (1992), a reiterada oposição atraso versus

desenvolvimento, embutida no caráter cosmopolita da Cidade Alta em

contraste com a imagem de “desordem”, “sujeira” e “feiúra” da Cidade Baixa,

em particular de seu bair ro Comercial, não se explicitava na urbe

representada nas crônicas de Vasconcelos Maia. Diluída pela existência do

Elevador Lacerda em sua função plena, pelas ladeiras em profusão, a referida

dualidade se resolvia numa relação de aparente complementaridade .

87

O conjunto arquitetônico soteropolitano foi descrito por

Vasconcelos Maia como uma massa compacta, uma fortaleza única formada

por becos, sobradões, casarões sombrios e escurecidos pelo tempo agarrados,

uns aos outros, para não rolarem rua abaixo, lajes eternas, muros quebrados,

mas insubstituíveis, ruínas invadidas por samambaia s e musgos, túneis e

pontes. Viam-se palácios e solares, muralhas de pedras e fortes, casario

subindo nas escarpas, torres majestosas contra o céu, igrejinhas mu ito claras

nas enseadas líricas, trapiches avançando para o mar e muitas ladeiras.

Ladeiras subindo e descendo, com nomes gostosos e suaves, indo ao

Céu ou descendo ao Inferno. Da Água Brusca, do Canto da Cruz, da Preguiça

ou da Aflição. Ladeira da Montanha , cavada na rocha, da Conceição ,

descambando pela Gameleira, que sobe ao Sodré ou desce ao ma r. Ladeira da

Jaqueira, tortuosa e caprichosa, a da Gamboa, a Peça Vovó. Segundo o

cronista, tantas são as ladeiras existentes que, sem elas, a cidade do Salvador

seria como mulher bonita sem redondezas.

Sofrida, temerosa do “progresso demolidor” que a pr ivara de muita

preciosidade artística e muita relíquia histórica, a velha cidade se ressentia da

falta de um plano de expansão urbanística e, por extensão, da preservação de

seus monumentos enquanto experimentava um estrangulamento no trânsito em

suas ruas principais, além do crescimento da ocupação imobiliária nos bairros

distanciados do centro.

Tradicional e orgulhosa de si mesma, descobrira em sua beleza um

potencial que, racionalmente explorado, daria mais lucro qu e o petróleo ou

outra indústria, e lutava contra o processo de destruição que afetava sua

feição estética e sua economia futura. Empreendia árdua batalha contra a

descaracterização urbanística, a estandardização arquitetônica, a destruição

de seu patrimônio histórico, a “copacabanização” de suas praias e a

adulteração de seus costumes populares.

Caprichosa, acolhedora e amigável , abrigava em seu seio os filhos

naturais além de muitos estrangeiros. Na cidade das crônicas viviam

escritores, jornalistas, poetas, professores, escultores, pintores, d esenhistas,

políticos, gerentes de bancos e estudantes . Em suas calçadas seculares

trilhavam ainda homens e mulheres do povo, baianas com seus turbantes,

88

mães-de-santo, mercadores ambulantes, barraqueiros, boêmios, todos

traduzindo a alegria de viver na cidade do Salvador.

Evidenciava-se o esboço de uma incipiente classe média formada

por profissionais liberais, pequenos comerciantes, funcionários públicos e a

existência de uma ampla classe pobre constituída por empregados do

comércio, caixeiros ou gente sem ocupação definida. O problema da exclusão

social era vagamente sinalizado pelo cronista em seus comentários sobre a

“limpeza” da rampa do Mercado Modelo, da retirada das prostitutas do

Pelourinho ou dos flagelados que dormiam sob as marquises dos prédio s.

Sonhadora, era uma cidade que queria ser mais conhecida e amada

pelos próprios baianos, que deveriam evitar a distorção de sua topografia, a

ruína de sua arquitetura, a devassa de seus templos e a venda de seus

tesouros, para não viver em desacordo com seu espírito. A Bahia tinha, nesta

empreitada, aliados “poderosos” como a Faculdade de Arquitetura da

Universidade da Bahia , que numa “profissão de fé” distribuía folhetos à

população reunindo signatários na luta contra os vândalos promo tores de

deformações arquitetônicas, ou contra atitudes de ignorância, desídia,

omissão e passividade do povo ou dos governantes.

O mercado ambulante, o transporte realizado pelo escravo, bem

como o comércio português foram outrora indispensáveis ao funcionamento

da cidade. Naquele momento, entretanto, já tinham sido substituídos pelas

relações capitalistas de trabalho, inscrevendo -a na modernidade.

Desconstruía-se assim um mundo impregnado de característ icas e tradições

seculares. As atividades econômicas urbanas traduziam mudanças que se

faziam notar. Rareavam-se os vendedores ambulantes, os mercadores de rua,

enquanto surgiam os balconistas, os caixeiros, os lojistas, os motoristas de

táxi e de ônibus e os garçons. Nas lojas da Avenida Sete, as vitrines eram um

apelo irresistível . Na cidade do Salvador das crônicas de Vasconcelos Maia

existia um comércio em franco crescimento, organizado em federação,

sindicatos e clubes, destacadas casas comerciais como a loja Duas Américas,

a famosa livraria Civilização Brasileira da Rua Chile, além de bancos que

faziam empréstimos populares. Com uma pequena rede hoteleira, centrada no

moderno Hotel da Bahia, contava com alguns restaurantes e barracas

populares que vendiam refeições.

89

As atividades comerciais concentravam-se nas imediações da Rua

Chile e Avenida Sete, além da Baixa dos Sapateiros , com seus pequenos

comerciantes. A publicidade feita por meio de anúncios em jornais, rádios,

alto-falantes e nas vitrines atingia as crianças que esperavam ardorosamente a

chegada de Papai Noel para lhes atender aos pedidos, levando alguns pais

angustiados a recorrerem às “periquitas” em bancos amigos, e outros a

fugirem das vitrines para esconder sua miséria. Jornais, cinemas, clubes,

boates eram elementos constitutivos daquela cidade rica em mov imentos

teatrais, mas desgraçadamente sem teatro.

Pacata e ordeira, a cidade que ainda não havia explodido

demograficamente, mantendo sob controle suas relações de exclusão social , só

via rompida a tranquilidade de suas ruas pelos bêbados que faziam arruaç as

em seus bairros centrais, os seresteiros com seus violões nas amu radas ou nas

calçadas, os “tipos”14

como o travesti da Praça Cairu, ou pelos sabidórios de

plantão, que tentavam enganar os incautos. Raríssima vez aparecia um ladrão

fino que invadia as casas, de portas fechadas com displicência, para roubar

joias e objetos de arte.

Barulhenta, a cidade apresentava os sons característicos da

modernização, sobre os quais se ouviam reclamações : dos ônibus que

passavam buzinando e rangendo pneus ao rádio ouvido em volume

ensurdecedor. Estes ruídos ressoavam em uníssono com os desafios dos

meninos que empinavam arraias, com o chiado dos carrinhos de rolimãs, com

os latidos de cachorros, o canto dos galos, e com o som do vento no bambuzal

vindo dos vales ainda desabitados.

14

A presença dos “tipos” nas ruas da cidade do Salvador sinaliza a “sensibilidade etnográfica” de

Vasconcelos Maia. Esta expressão foi usada por Júlia O‟Donnel (2008) referindo-se a João do Rio, o

“pesquisador do mundo urbano” que narrou a cidade do Rio de Janeiro que se transformava. O escritor

baiano, na crônica Perfume da Bahia (30 dez.1958), retratou uma cidade na qual, pelo menos à noite,

ainda era possível aos moradores deixar de lado o “caráter intelectualista” da vida na cidade grande, e

assumir uma postura baseada “no ânimo e nas relações pautadas pelo sentimento” (SIMMEL, 1903,

p.578). O cronista fazia referência à existência da prática costumeira do passeio noturno pelas ruas,

para apreciar as claras noites baianas, sentir seu perfume, olhar as estrelas, a paisagem, os costumes e

os “tipos”. Também em Jonas Rojão (19 out.1958), Boemia Doméstica (14 nov. 1958), Sombra e

Água Fresca (18 nov.1959), O Empacotador de Sereno (4 set.1963) Maia mencionou a existência dos

“tipos”, sugerindo uma cidade que foi submetida a sucessivas perdas, remontando de forma nostálgica

a um tempo anterior no qual existia maior sociabilidade entre os indivíduos.

90

Altiva, madura, dona de uma miséria já colorida pelas cores de sua

invenção, a cidade do Salvador buscava restaurar o gosto popular por suas

antigas tradições. Mostrava-se vivamente interessada em abrir-se para o

turismo a fim de resolver seus complexos problemas econômicos. Confessava -

se disposta a lidar com as questões daí resultantes, tais como os reflexos na

vida da população e a ameaça de um progresso material indisciplinado.

Emoldurada por um mar com tons de verdes e azuis, com um céu

luminoso e nuvens brancas, um sol que em tudo punha o seu calor, sua

quentura e sua beleza, uma vegetação luxuriante que atapetava os morros da

baia, saveiros flutuando, praias sem mácula de civilização, contando com

igrejas em profusão, a cidade do Salvador referida na coluna Dia Sim, Dia

Não , com setecentos mil habitantes em 1963, tinha ainda a rodeá -la um

cinturão de atabaques.

Com uma visão humanista, Vasconcelos Maia retrata a cidade do

Salvador em seu processo de modernização, vivenciando transformações

profundas e marcantes que lhe modificam o perfil , atingindo de roldão a vida

de seus habitantes, o que resultará na construção daquela aqui referida como

cidade das crônicas .

O olhar sobre a produção jornalística de Vasconcelos Maia intuiu a

utilização, pelo cronista baiano, de um processo indutivo e sensível para com

os fenômenos da vida cotidiana, buscando captar a realidade complexa em que

se via mergulhada a concreta cidade do Salvador. Para apreender a visão de

mundo entrevista nas crônicas, identificar os diversos modos e práticas

cotidianas delineados em suas entrelinhas ou objetivamente expostos, modos

estes que podem se configurar como “astúcias” ou “resistências” dos usuários

da cidade moderna buscou-se procedimento idêntico àquele supost amente

usado pelo cronista. As crônicas foram tomadas como janelas abertas para a

cidade, intentando-se uma leitura benjaminiana , tendo em vista que a cidade

moderna, não se constituindo num todo uno e harmônico passível de ser

compreendido em sua uniformidade, dá-se a perceber por partes, fragmentos.

E o cronista, ao dizer a cidade, tratou da paisagem, das ruas, dos costumes e

dos habitantes que a povoam e lhe dão existência.

91

4.1 UM JEITO DE SER MODERNO

Resultado de um projeto maior que simples intento divulgador , a

cidade referida nas crônicas é associada à ideia de modernidade e concebida

como um espaço de tensão por refletir, numa relação dialética, sobre o seu

próprio processo de modernização.

A cidade do Salvador não foi pensada por Vasconcelos Maia como

uma metrópole moderna tal como o foram Paris, Buenos Aires ou o Rio de

Janeiro em suas diversas representações na literatura . Afigura-se a hipótese

de que isto se deve, menos ao fato de estas cidades ostentarem a

materialização de fenômenos sociais que davam margem a este conceito , do

que ao próprio momento histórico -social no qual estava inserido o cronista,

por conseguinte, ao caráter específico das questões com as quais se debatia a

antiga Cidade da Bahia. Esta cidade ingressou nos anos cinq uenta do século

passado ostentando a forma adquirida após sucessivas intervenções em sua

estrutura urbana e, lidando com uma modernização econômica precipitada

pela instalação da Petrobrás, cuja implantação foi decisiva para a

transformação econômica da Bahia.

É sabido que a modernidade, dotada de contornos imprecisos e

múltiplas definições, possui características e temporalidades que variam de

um lugar para outro. Tida como um conjunto de experiências de tempo e

espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e peri gos da vida, sem

fronteiras de qualquer natureza, compartilhada por homens e mulheres em

todo o mundo, a modernidade elegeu a cidade como seu lugar privilegiado

para estabelecer-se. Esta seria a configuração espacial na qual se

concretizariam as instalações dos equipamentos modernos tais como a

indústria, a ferrovia, a iluminação pública, o maquinário, os edifícios, as

largas avenidas. De acordo com o pensamento de Marshall Berman (1987), a

modernidade se deu em três fases. Na primeira, do início do século XVI ao

fim do século XVIII, sem dela se aperceber, as pessoas viviam uma nova

realidade. Na segunda, denominada de momento de transição, o tradicional e

o moderno caminhavam lado a lado. Iniciada com a grande onda

revolucionária de 1790, esta fase se este ndeu até o início do século XIX com

uma mudança radical nos níveis social , polí tico e econômico a partir da

92

Revolução Francesa. E por fim, na terceira fase, já no século XX, o mundo foi

alcançado por inteiro pelo processo de modernização, gerando uma

diversificação e uma perda da sua capacidade de dar sentido à vida.

A modernização, um fenômeno complexo, amplo, palpável, passível

de ser determinado cronológica e geograficamente, define -se como o conjunto

de processos e mudanças operadas nas esferas política , econômica e social,

que tem caracterizado os séculos mais recentes, originando o turbilhão da

vida moderna. A modernização urbana, em sua acepção mais simples,

significa a conversão da cidade tradicional, medieval ou colonial, em

moderna, por via de profundas alterações em seu espaço territorial e social.

Tendo ocorrido em tempos históricos diversos, este processo gerou

paradigmas a serem seguidos, tais como as cidades de Londres, Paris e

Buenos Aires para a América Latina.

No Brasil , a cidade do Rio de Janeiro, seduzida por Paris, se

constitui no paradigma da modernidade desejada, na possibilidade de um

padrão identitário a ser seguido por Salvador, embora ambas evidenciem

caráter diferenciado da manifestação da experiência da modernidade. O Rio

de Janeiro, sob os auspícios do prefeito Pereira Passos (1902 -1906), e

Salvador, na fase seabrista (1912 -1916), passaram por significativo processo

de modernização, tendo perseguido os ideais de higiene, estética e fluidez

instaurados inicialmente em Londres e Paris e, posteriormente, propagados

para o mundo como basilares da cidade moderna .

Na cidade do Salvador das crônicas de Vasconcelos Maia , ao

contrário do acontecido no Rio de Janeiro do prefeito dotado de inspiração

haussmaniana, retratado na literatura po r romancistas, poetas e cronistas

diversos a exemplo do cronista João do Rio, a sanha demolidora não teve

destaque como indício de modernização, já que mudanças significativas em

sua estrutura aconteceram em épocas anteriores, como apontam estudos

realizados por Fernandes e Gomes (1992), Heliodório Sampaio (1992) e

Fernando da Rocha Peres (1974/2010).

A Cidade Maravilhosa, que se configurava como modelo, já passara,

no começo do século passado, por importantes reformas em sua estrutura

urbana com o objetivo de tornar-se uma cidade moderna e viável para atrair

investimentos e visi tantes de todo o mundo, para tornar -se, no Brasil, um

93

cartão postal , como Paris, a mais autêntica referência de cidade moderna e de

progresso no cenário mundial . A necessidade de se espelhar no Rio de

Janeiro, onde se apegavam “à cultura brasileira como elemento vitalizador de

seus negócios”, na expressão do próprio Vasconcelos Maia, irá surgir e se

acentuar, porquanto o elemento cultura se configurará como índice de

modernidade, consti tuinte do produto que a Bahia oferecerá ao turista,

convertendo-se, para o cronista, em recurso gerador da emancipação

econômica da Bahia.

A cidade das crônicas de Vasconcelos Maia delineia-se como em

busca de seu próprio modo de ser moderno. Ainda que sua transformação não

se tenha concretizado por meio de avenidas abertas à custa de demolições,

tampouco da construção de suntuosos edifícios, ou até mesmo por um

vertiginoso crescimento da indústria, o espaço dessa cidade representada seria

construído, ordenado e transformado a fim de suscitar a percepção e sensação

de modernidade com outros padrões de referência, evidenciando uma

aderência e ao mesmo tempo certa recusa ao novo modo de ser.

Medidas de saneamento urbano, qualificadas como “limpeza”, foram

fatos aos quais nenhuma cidade se furtou em seu processo de modernização

urbana, inclusive Salvador, que teve vendedores ambulantes, desocupados,

vadios e prostitutas retirados da rampa do Mercado Modelo e do Pelourinho.

Vivendo sua “dicotomia”, a cidade mudava rapidamente, mas nela o mundo

não chegava a “ser moderno por inteiro” (BERMAN, 1987, p.16). Suas ruas

eram mostradas como palco para práticas consideradas não de todo modernas,

nelas convivendo pacificamente vendedores ambulantes, baianas com seus

tabuleiros, transeuntes de toda natureza, crianças e “tipos” diversos que se

vinculam ou não, ao pré-moderno, à sociedade escravista.

Ao contrário dos escritores modernistas do século XX, como lembra

Marshall Berman (1987), que não souberam usar o modernism o por terem

perdido ou rompido a conexão entre a cultura e a vida, não se reconhecendo

como participantes e protagonistas da arte e do pensamento da época,

Vasconcelos Maia, escovando a história a contrapelo, leu, indistintamente, a

cidade das manifestações populares de cultura, especialmente aquelas da

cultura negra, suas festas, seus cultos religiosos, as ações prosaicas dos seus

moradores, até mesmo acontecimentos singulares como batismos de

94

caminhões ou escolha de nomes de saveiros. Mesmo tendo mostrado o povo

dançando e rezando nas ruas, o cronista baiano privilegiou o indivíduo em

detrimento da multidão, tema que “se impôs de forma marcante no século

XIX” (BENJAMIN, 1989, p.114), e que foi tão caro a Baudelaire ao descrever

a moderna cidade de Paris. Vasconcelos Maia mostrou becos e ladeiras da

cidade, o colorido de sua miséria, bem como seus bairros populares, sendo

assim essencialmente moderno. Seu ideal pode ser definido como fazer com

que a cidade do Salvador se abrisse às possibilidades que aquele mundo

oferecia.

4.2 ENTRE PAISAGENS NATURAIS E URBANAS

O olhar aprofundado sobre as crônicas vislumbrou uma

representação de cidade do Salvador construída sob uma perspectiva estética.

Numa relação amorosa, “a única considerada válida e fecunda entre o artista

culto e a vida popular” (BOSI, 1992, p. 331), sem a cegueira do demagógico

populismo, Vasconcelos Maia, um apaixonado pela cidade, como confessara

várias vezes em sua coluna, praticou dois distintos modos de olhar

representando-a em seus aspectos físicos e sócio-culturais. Configurou duas

visões distintas de urbe: a cidade paisagem-natural e cidade paisagem-

urbana, nas quais coexistem a tradição e a modernidade. O cronista concebe

uma cidade rica em aspectos até estão transparentes à percepção e ao

reconhecimento, não só do restante do país como também de seus próprios

habitantes.

Elegendo como local de contemplação ora o Forte de Monte Serrat ,

onde, ao acordar, buscava a sereia, sua musa inspiradora, ora o Passeio

Público, sentado na cadeira do Manhatann, ora as amuradas do Belvedere da

Sé, seu olhar mergulhava na cidade paisagem-natural, retratando-a em seu

aspecto físico, numa perspectiva idealizada e paradisíaca de uma visão

edênica da natureza passivamente à espera do explorador. O mar, seu c aráter

selvagem, era a moldura sobre a qual a cidade se debruçava buscando seu

limite e sua complementação.

95

Inspirado nos tons de verdes, azuis, brancos e amarelos, como na

crônica “Força da Cor”, Vasconcelos Maia esboça uma paisagem, um quadro

luminoso composto por essas cores, em que quase se via o verde do mar,

“reino de Iemanjá, o azul do céu luminoso, cujas tintas pareciam renovadas na

véspera; o branco das nuvens; o amarelo do sol, que em tudo punha o seu

calor, sua quentura, sua beleza”. Mas havia “mais verdes”, aqueles da costa

da baia, das i lhas com sua “vegetação luxuriante que atapetava os morros da

baia”; outros azuis se espalhavam na superfície do mar; outros brancos nas

praias que “se entregavam às ondas”. E num aprofundamento da perspectiva,

outros brancos podiam ser vistos “nas igrejinhas que surgiam muito claras,

nas enseadas líricas, nas grandes asas dos saveiros que flutuavam velozes ao

impulso dos ventos”. Tons de ouro apareciam nos reflexos de sol no mar, no

dorso dos cações, nos peixes voadores que saltavam.

Havia, portanto, um esbanjamento de cores na cidade, e mesmo as

ilhas, nuvens, igrejas, areia, mulheres - seus corpos e suas vestes - sol,

peixes, saveiros que se vislumbravam, eram formas que compunham um

segundo plano daquele espectro luminoso, já que, para o cronista, eram

“simples elementos decorativos que entravam também na concepção da

paisagem sem espectador”. Isto é, em Salvador, todos se sujeitavam às

exigências da cor, “da liberdade, da força, da riqueza da cor” . (12 e

13.3.1963). Nesta cidade, o mar foi tema presente e determinante. Elemento

marcante na ação e na produção diária de um cronista que a ele se dirigia

buscando a sereia, sua musa, cuja ausência trazia prenúncios sombrios: “Hoje

será meu dia ruim!” (15.4.1959).

Entretanto, num testemunho inconteste de que a crônica e o cronista

informam e são, a um só tempo, conformados pela cidade, o olhar de

Vasconcelos Maia deixa-se descolar da paisagem natural, das exigências das

cores e dos mistérios do mar para aderir aos apelos da cidade que crescia e se

transformava. Levantando-se da cadeira do Manhattan, abdicando de uma

postura contemplativa, o cronista foi atraído pela atitude do homem seduzido

pelo brilho das vitrines da Avenida Sete, pelo movimento ruidoso das ruas,

pela animação das rodas de conversa da Rua Chile, pelo entusiasmo das festas

populares, pela autenticidade dos festejos religiosos, pelos movimentos

96

art ísticos e culturais, cingindo o seu olhar, de forma mais estreita, à cidade

paisagem-urbana que então passava a dominar.

Angel Rama (1985), ao discorrer sobre a constituição das cidades

americanas, enfatiza o papel relevante do grupo letrado, detentor do poder,

que ocupa lugar de destaque na estrutura administrativa. Afirma que no

centro dessas cidades sempre houve uma “cidade letrada” configurando um

elo protetor do poder e o executor de suas ordens. Aqueles que detinham o

poder de manejar a pena ligavam-se, de um modo ou outro, às funções de

poder sejam elas religiosas, administrativas ou educativas.

Idealizada por um cronista integrante de um grupo de intelectuais

que naquele momento sonhava com a redenção econômica daquela que já fora

“uma metrópole de âmbito mundial , um dos grandes centros de comércio ”

(SENNA, 2005, p.114), mas que vivia então o “enigma” do seu

empobrecimento, a cidade paisagem-urbana caracterizava-se como uma

“cidade letrada” . Para Angel Rama (1985), assim eram as cidades pensadas

por aqueles detentores do domínio da escri ta, ocupantes de lugar de destaque

em sua estrutura administ rativa, conhecedores de seus mecanismos que

acabavam se tornando desenhistas de modelos culturais ou forjadores de

ideologias.

Resultante de um olhar repleto de encantamento e paixão,

integrando um conjunto rico e harmônico, a cidade paisagem-urbana se

apresenta numa configuração dual: a cidade-ordinária e a cidade-cultura . O

cronista baiano não se ocupou em descrever as melhorias e transformações

ocorridas na estrutura da cidade, e sim tudo que dizia respeito ao homem, às

ações recíprocas que nela se davam. O traçado da cidade-ordinária , em sua

circularidade, delimitava-se pelas relações sociais na dinâmica peculiar de

uma cidade real , já modificada para a circulação da população que se

adensava, oferecendo-se para ser vista com seus costumes e sua gente.

A cidade-cultura pensada pelo cronista mostrava -se glamourosa e

bem configurada. Seus filhos talentosos – não apenas os legít imos como

aqueles por ela adotados – dedicavam-se a retratá-la, fazendo sua propaganda.

Seu povo era elemento partícipe em todas as formas de representação da

cidade. Ele via a cidade e seus moradores, perpassando seu discurso pela

preocupação em converter cada um deles num construtor consciente. O apego

97

àquilo que fosse verdadeira manifestação popular, a vida do dia -a-dia, ao

prosaico - uma preocupação modernista – levou Vasconcelos Maia a se

aproximar do substrato de uma cultura que pretendia ser genuinamente baiana.

Olhando para o prosaico, o cronista explicitou aspectos da realidade da cidade

escamoteados no decorrer de um processo histórico gerador do seu atraso

econômico-social.

Na cidade-cultura , os componentes da cultura negra, outrora

subtraídos das descrições e relatos da “cidade letrada”, ganham destaque.

Seus costumes, história , religião passam a ser mostrados profusament e. O

candomblé, ocupando lugar de destaque, tinha suas diversas casas descritas de

forma minuciosa, bem como indicadas normas de procedimentos para

conhecimento de todos aqueles que quisessem visitar um “barracão”,

presenciar uma festa litúrgica. Também os festejos religiosos católicos, como

as procissões e as festas dos seus santos, da cidade e de seu Recôncavo, eram

destacados. As festas populares de todas as ordens, assim como grande parte

dos fatos que consistiam em temas para as suas crônicas, implicav am

fenômenos sociais carregados de características relacionais, denotando uma

cidade aberta a uma relacionalidade interna e, mais tarde, externa, por meio

do turismo. A cultura se destaca como um traço capaz de dar especificidade e

identidade à cidade representada em suas crônicas, pois a individualiza,

dando-lhe aspecto singular. O uso da cultura pode ser apontado como uma

estratégia da qual lança mão o cronista para construir a representação de uma

cidade que se revitaliza, que se reinventa.

A cidade das crônicas, edificada em perspectiva estética, não

fomentava a existência de diferenças no grau da beleza das coisas, pois que

tudo contribuía para torná-la bela, até mesmo a sua miséria, que se mostrava

colorida pelas cores da criatividade de seus filhos. S e dual foi o modo de

olhar a cidade, una foi a perspectiva usada pelo cronista Vasconcelos Maia,

que procurou a sua totalidade retratando o homem, a paisagem e os diversos

sentimentos que animam suas relações.

98

4.3 NOS CAMINHOS DE FÉ E FESTAS

Para Michel de Certeau (2007), os relatos, dotados de valor de

sintaxe espacial, sejam cotidianos ou literários, são o transporte,

methaphorai, para se andar na cidade. Eles realizam o incessante trabalho de

converter lugares em espaços ou vice -versa, pondo em destaque os jogos

relacionais mantidos uns com os outros, que se modificam constantemente. O

historiador menciona procedimentos detentores do poder de traduzir uma

prática de cidade, qualificando-os de multiformes, resistentes, astuciosos e

teimosos. Ser lugar ou ser espaço da cidade é uma condição que se atém à

experiência. Assim, o lugar é “uma configuração instantânea de posições”,

implicando certa estabilidade, enquanto o espaço se caracteriza por ser “um

lugar praticado” (CERTEAU, 2007, p.202).

O exercício de acompanhamento dos procedimentos que podem ser

lidos como práticas de cidade pelo povo, nas crônicas de Vasconcelos Maia -

vistas aqui como relatos -, dentre os quais se prioriza aqueles tradutores de

movimento, mostra um modo de fazer a cidade, toman do-a como espaço

praticado. A “retórica ambulatória”, ou os atos de caminhar descrevem os

deslocamentos, organizam os trajetos e convertem a rua, e por vezes o mar,

em espaços, além de delinearem o mapa de uma cidade que cresce e se

transforma, modernizando-se, ao tempo em que, narrando as práticas

culturais, oxigenam a tradição.

Uma cidade cujo povo, num passado não distante, andava em

procissões marítimas ou terrestres, sendo praticante de gestos e ações como

jogar f lores, trazer água em potes ou barris, soltar foguetes, cantar hinos,

desejar vivas, carregar andores, suar, ajoelhar, tirar o chapéu, por a mão no

peito, dobrar a cabeça, atravessar meia cidade, embarcar em saveiros ou

barcos e singrar a baia no encalço de alguma igreja , ou ainda, engrossar

procissões cheios de fé, andar em carroças ou a pé ou empunhando velas

acesas como a crença em seus corações.

Entretanto, no tempo narrado pelo cronista, este mesmo povo tinha

a fé enfraquecida, revelando certo descaso pelos festejos religiosos. Neste

tempo, as procissões católicas, consideradas uma das mais belas formas de

expressão popular, “gabadas, ci tadas e comentadas” em outros estados,

99

manifestações nas quais o povo, movido pela força da fé, prestigiava

entusiasticamente a movimentação dos santos pela s ruas da cidade, vinham

decaindo, passando de cortejos definidos como “ardentes, vibrantes e

apoteóticos”, a um desfile frio, monótono e arrastado. Neles, o “descaso e

frouxidão dos adeptos” bem poderiam causar vergonha aos santos. Vê -se que

Vasconcelos Maia narra uma cidade cuja “tradicional e genuína fé católica”

se debilita, cedendo lugar a outras práticas religiosas.

O enfraquecimento da fé católica, e a conseq uente redução do

entusiasmo do povo, demonstrado em ações cujo brilhantismo decaía ano a

ano, como apontava o cronista , era compensado pelo vigor dos festejos

populares, ou festas religiosas com caráter profano e pelas práticas

tradicionais do candomblé, uma manifestação de caráter religioso, que, pelos

relatos do cronista, ocupando o lugar das austeras procissões católicas,

ganhava seu espaço na moderna Cidade do Salvador.

Culturalmente associada ao povo, restrita ao rés do chão, de caráter

espontâneo e de notável beleza plástica, a prática do candomblé, dona de

“rica e pura” tradição, segundo o cronista, tinha como espaço, inicialmente,

“o meio do mato”, lugares distantes, a partir dos quais se vislumbrava a

cidade “como se fosse um país estrangeiro”. Freq uentadas por “adeptos e

visitantes”, as festas do candomblé passam dos morros e vales para o s bairros

populares da cidade: Engenho Velho, Avenida Vasco da Gama, Gantois ,

Federação, alto de São Gonçalo do Retiro. É fácil supor que esta prática

religiosa teria espaço numa cidade interessada em se mostrar possuidora de

caráter singular, detentora de uma cultura eminentemente popular.

Enquanto faz estas trocas simbólicas, o cronista vai desenhando o

mapa de uma cidade em crescimento, conformando a cultura baiana, o seu

caráter híbrido substituindo antigas por novas tradições. O esforço em

realizar essa troca de tradições apenas confirma o compromisso e o

envolvimento de Vasconcelos Maia em um projeto cultural maior. Por outro

lado, ao narrar o enfraquecimento da fé católica, os festejos profanos e o

crescimento do gosto baiano, especialmente das camad as médias da

população, pela prática do candomblé, Vasconcelos Maia consegue oxigenar a

tradição existente e promover o seu reordenamento, confirmando a ideia de

100

uma cidade que se modernizava ressaltando seu traço acentuadamente

marcado pela presença da cultura popular.

A mudança do caráter religioso para profano das festas tradicionais

católicas fica evidenciada nos relatos da Segunda-feira da Ribeira , também

conhecida por Segunda-feira Gorda . Revestido de historicidade, feito no

alvorecer do ano de 1959, é o primeiro relato do cronista sobre festas e

festejos, excetuando-se o candomblé, sobre o qual já falara antes. O cronista

narra a origem da festa, enquanto deixa entrever a cidade da Bahia,

antecessora da Cidade do Salvador . Genuinamente católica, a Ci dade da

Bahia fora dona de um lugar específico para pagar promessas e cumprir

sacrifícios, o Bonfim do santo bondoso, com sua igreja e seu entorno

constituído pelo Largo do Papagaio. Segundo o cronista, transcorrido algum

tempo, a manifestação religiosa “c resceu tanto” que se estendeu para a

Madragoa, Tainheiros e para a Ribeira, junto ao mar, passando a ser

“alimentada por azeite e dendê”.

Essa metáfora do sustento das festas católicas na cidade do Salvador

sugere um gesto peculiar de aculturação enquanto trai o olhar pós-colonial do

cronista. Transplantada pelo colonizador para as terras baianas, a festa não

teria cá seu alimento natural, a fé austera e sisuda do colonizador português

que, com o decorrer do tempo, enfraqueceu -se. Os alimentos oferecidos pelo

novo berço - o dendê e o azeite - conferem ao festejo católico natureza

diversa daquela de sua origem, fazendo nascer, ao lado da antiga tradição,

uma moderna tradição na cidade.

No relato do cronista baiano, identifica -se o momento da mudança

do caráter da tradicional festa católica, desenhada nos moldes dos europeus,

para um festejo de caráter profano, ricamente alimentado pelos componentes

da cultura da população descendente do povo africano. Na avaliação de

Vasconcelos Maia, a Festa da Ribeira, que a esta altura padecia de inanição,

ressurge e se mostra forte e vigorosa. A Ribeira foi o espaço no qual a

barraca dos crentes que seguiam o exemplo do soldado Pero Luciano das

Virgens, sobrevivente da guerra do Paraguai, que ali viera render homenagem

ao Senhor do Bonfim, jamais tendo imaginado estar iniciando uma tradição,

foi substi tuída pelas tendas das comidas e bebidas e os “beatos viraram

foliões”. Neste lugar, a festa religiosa se converte num “grito de carnaval” e

101

uma nova cidade começa a ser ges tada. Nomeada na crônica com iniciais

maiúsculas, a “Cidade do Salvador”, não mais a Bahia, ou Cidade da Bahia,

surge como continente de um espaço democrático e festivo.

A Ribeira foi escolhida para cenário de um grito de carnaval “bem

baiano, bem popular , bem colorido”, muito mais “regional” do que os

carnavais de clube que ocorriam na Rua Chile e na Avenida Sete, sendo o

marco inaugural desta cidade festeira que se constitui em espaço do “homem

do povo”, do baiano de verdade, descrito como o “legítimo fi lho do Senhor do

Bonfim”, portando chapelões de palha, roupas coloridas, flechas nas mãos,

além de enorme energia no corpo. Cabia ainda neste espaço a mulher, referida

como “cabrocha ardente”, capaz de juntamente com o homem dançar e cantar,

pois era na Ribeira que se praticavam as legítimas “peças locais” – os sambas

de rodas, os cordões, as batucadas e a capoeira de Angola.

A tradicional festa de Bom Jesus dos Navegantes, de cunho popular

e religioso, aqui tomada como outro elemento ilustrativo, foi narra da sob um

enfoque que, tal como na festa da Ribeira, sugeria uma cidade em processo de

mudança. Expressões como a princípio , depois e hoje denotam a existência de

diferentes instâncias temporais e traem em seu conteúdo a troca do caráter do

festejo, de devocional para popular. Seu espaço, que também tinha o mar em

sua composição, faz referência à Barra, ao Cais da Alfândega, ao de Santa

Bárbara, naquele momento já Praça da Inglaterra, ao Cais Dourado,

correspondente à Praça Deodoro no momento em que escrevi a o cronista.

Refere-se à Ladeira da Lapinha e a Feira de Água de Meninos, mencionando,

por fim, Boa Viagem, conformando uma amplitude espacial. E sua

permanência sinaliza, para o cronista, um genuíno apego às tradições -

elemento constituinte da “gênese” do baiano - a existência da fé, não

necessariamente a católica, além do gosto pelas festas do povo da Cidade do

Salvador.

Vale dizer que a reiterada referência à tradição feita pelo escri tor

não significava a simples permanência da antiga e austera tradi ção herdada do

colonizador europeu. Naquele contexto, com a força do intelectual, ele

tentava explicitamente contribuir para a construção de uma tradição na qual o

povo se visse representado e que bem traduzisse a moderna cidade do

Salvador. Valeu-se para isto, inclusive, da repetição destes relatos em sua

102

coluna, fato que denota a intenção deliberada da construção de uma tradição

com a cor local, ou seja, uma tradição alimentada com “azeite e dendê”.

Mas não foi apenas esse o alimento para a “moderna tradi ção” da

cidade do Salvador narrada por Vasconcelos Maia. O relato de uma prática

singular, o das festas juninas, naquele contexto , resistência ou teimosia de

seus moradores, enseja a construção de um mapa da cidade, traduz a

existência de uma estratificação das práticas ordinárias, enquanto mostra uma

prática cultural de cunho diferente, atestando a riqueza e a diversidade da

cultura popular da Bahia. Estas festas tinham sua falta lamentada, não pelo

povo, mas por “infelizes moradores de apartamentos, no c entro da cidade ou

em bairro grã fino”, expressão sugestiva da existência de uma cidade que

crescia e se modernizava seguindo novos rumos, afastando -se do velho centro

e dos bairros populares, como Monte Serrat que se enfeitava todo para os

festejos juninos. Todo era traduzido como do Largo da Boa Viagem à Ponta

de Humaitá e da Imperatriz ao Adro do Bonfim, lugares nos quais, na noite de

São João, a luz elétrica era substituída pelo vermelho intenso da claridade das

fogueiras.

Os relatos das festas juninas, mais especificamente, denunciam

novos lugares eleitos para morada da eli te que pensava a cidade. É fato que

noutros momentos o cronista deixou perceber que o crescimento da cidade

acontecia de forma a sugerir certa estratificação que não se resolvia apena s

com extensão da mancha urbana da cidade nos planos alto e baixo. Ele fez

referência a reuniões para discutir questões da cidade com membros do Rotary

Club, num “palacete” situado na Rua Rio São Pedro, na Graça, descrevendo -a

como dotada de “bom gosto res idencial moderno”, sugerindo ser aquele o

lugar preferido pelos ricos da cidade que escolhiam ainda a Avenida Sete,

Nazaré, o Campo Grande, o Canela para moradia, buscando distanciar -se dos

pobres da cidade que residiam na Liberdade, Largo do Tanque, Godin ho, Pau

Miúdo, Cabula, São Gonçalo do Retiro, Baixa dos Sapateiros, Federação, na

parte baixa do Rio Vermelho, que corresponde à Avenida Vasco da Gama,

enquanto a classe média estava em bairros como Rio Vermelho, Amaralina,

Tororó, Santo Antônio, Saúde, Lapinha, Brotas, Barbalho, Quintas, Soledade,

Calçada, Roma, Monte Serrat, Bonfim, Itapagipe.

103

O mapa da cidade que se movimentava conforme o calendário dos

festejos populares apresentava marcas que evidenciavam os lugares

transformados em espaços. Nos idos de 1959, o ciclo das festas baianas era

mostrado com a deambulação das barracas ciganas que trafegavam pelas

calçadas de pedra na madrugada, com as patas das mulas quebrando o silêncio

da cidade repousada. As barracas andavam pela Conceição da Praia, Pil ar,

Boa Viagem, chegavam ao Bonfim, de onde iam para o Rio Vermelho. Eram

elas que, sem luxo, com decoração ingênua, nomes de batismo dotados de

pureza e poesia, guardavam “valores permanentes”. Segundo o cronista, elas

vendiam a comida baiana não encontrada em nenhum hotel de luxo: “saboroso

vatapá, efó mais fino, caruru mais quiabado, onde o ouro do azeite vale tanto

como as joias”.

O Carnaval, um festejo popular cujo relato é marcadamente

assinalado pela “retórica deambulatória”, ainda que não tenha sid o um dos

temas recorrentes do cronista, que confessava não ser nele especialista, serve

de mote para relatos que ilustram o estudo aqui desenvolvido. Este festejo,

considerado pelos “sisudos e práticos senhores” como desnecessário para uma

Bahia que “precisava de água, energia, abastecimento, transporte, ruas,

limpeza pública etc.”, não vivia seu momento de brilhantismo, resumindo a

manifestação carnavalesca em um constante passear de gente pelas ruas e

espectadores passivos sentados nas calçadas. Mereceu, todavia, a defesa do

cronista que o integrou, por seu caráter de “forte manifestação de arte e

cultura populares”, aos interesses a serem defendidos pela cidade por

considerá-lo um “excelente veículo de propaganda turística”, um negócio

rentável, que dependia apenas da viabilização de uma estrutura hoteleira para

atrair brasileiros e estrangeiros à cidade. Deveria o carnaval ser somado às

tradições que a cidade precisava fazer reviver. Em seu relato, Vasconcelos

Maia lança mão de expressões como eu me lembro , antes, depois, olhando o

futuro e futuro bem próximo para falar de espaços e lugares do carnaval

baiano, apontando as mudanças que ocorriam na cidade, ao lado de outras que

ainda deveriam ocorrer.

A Baixa dos Sapateiros, descrita como “a rua mais canta da da

Bahia”, aparece associada ao antigo carnaval, assim como a Barroquinha, a

Ladeira da Praça e a Ladeira do Ferrão, vistos como espaços por onde

104

“escorriam” o rastilho aceso da alegria e da animação do carnaval da Avenida

Sete e da Rua Chile até alcançar a “velha e boa” Baixa dos Sapateiros. Por

seu turno, a Avenida Sete, a Rua Chile e a Praça da Sé atam -se ao hoje, no

tempo do cronista, como o “nervo central da cidade”.

Para Michel de Certeau, “Caminhar é ter falta de lugar. É o

processo indefinido de estar ausente e à procura de um próprio” (CERTEAU,

2007, p.183). Sustenta o historiador que a “errância” pela cidade, experiência

social de privação de lugar, cria um tecido urbano. De fato, na cidade

retratada nas crônicas, as festas não possuíam um luga r definido, mudavam-se

sucessivamente, buscando ganhar novos espaços, criando novas práticas e

experiências de uma cidade que se ampliava e ganhava nova feição. O Campo

Grande se configurou, como o foram outrora, a Ribeira, Praça da Sé e o Largo

da Lapinha, como espaço de confluência, ponto de partida ou chegada de

cordões, batucadas e afoxés que ali desfi lavam participando de concursos. De

lá, a cidade, palco das festas, seguia em direção à Avenida Sete e à Rua

Chile, até alcançar a Praça da Sé e seu entor no já delineado em suas crônicas.

Nos relatos carnavalescos de um cronista -observador “burguês” e tranquilo,

além dos agogôs, tidos como reis dos ritmos baianos, dos tambores,

tamborins, cornetas, cuícas, pandeiros, alto -falantes, que animavam blocos,

cordões e batucadas, a multidão vibrava, fremia, cantava e dançava, não mais

assistindo ao carnaval, e sim vivendo o festejo por três dias ininterruptos,

num espetáculo descrito como capaz de “encher os olhos”. A massa humana

agitava-se, ondeava-se em explosões de alegria, com a passagem do trio

elétrico na avenida.

Configurando mudanças e permanências, ocorridas ao longo do

período em que escreveu no matutino baiano, na crônica Pré-carnavalesca do

ano de 1962, o cronista anunciava que, na Rua Chile, iria acont ecer “uma

farra , talvez, o primeiro carnaval-de-rua do Brasil”. Nela, cerca de sessenta

clubes, entre blocos, cordões, afoxés, etc. , sem importar o tamanho ou o

porte, encheriam a cidade com seu ritmo forte, a cor de suas fantasias, a graça

de suas evoluções, numa demonstração daquilo que o cronista chamou de

“arte autêntica, vibrante e magnífica”. No mesmo relato, mostrava um novo

lugar, a Concha Acústica do Teatro Castro Alves, como palco para entrega de

prêmios aos vencedores de concursos de música carna valesca e coroação da

105

rainha do Carnaval, e ainda comentava a realização do baile do Ziriguidum,

no Hotel da Bahia, a festa do Zé Pereira, na Praça da Sé, além do baile da

Associação Atlética.

Nas descrições das festas de natureza religiosa ou profana, as ações

do povo são traduzidas pelo cronista através de expressões como comparecer

em massa, formar blocos, engrossar fileiras, desfilar pelas ruas, demonstrar

não ter perdido a ligação com seu nobre passado, participar integralmente

dos festejos, integrar-se no espírito da festa, ou ainda como, pular, dançar,

gritar, cantar, desfi lar, exibir, e também rezar e render graças. O caráter do

povo que habita a cidade também vai sendo definido por expressões como f iel

às tradições e avaro em guardá-las, alegre, brincalhão, expansivo, festeiro,

entusiasta e ingênuo.

O cronista, nos relatos de cunho histórico, faz menção a um passado

no qual, em entusiastas e calorosas provas de fé, andava o povo, organizado

em procissões, verdadeiros cortejos ardentes pelas ruas da antiga cidade da

Bahia. Entretanto, esta referência ao passado vem tão -somente ilustrar a

origem do apego às tradições, bem como da fé, como traços constituintes do

caráter do povo baiano que, já no tempo narrado pelo cronista, convertido em

multidão, ainda acompanha cortejos, mas agora transformados em genuínos

festejos populares, edificando com seus passos outra cidade, um novo mapa e,

ao mesmo tempo, construindo uma nova tradição em ritmo de dança e de fé.

Percebe-se que, na cidade das crônicas , na condição de povo,

elemento dotado da capacidade de construir uma cultura, mesmo morando

distante dos ricos, os pobres da cidade do Salvador tinham acesso, pela fé e

pelos passos da dança, aos diversos novos espaços então criados na moderna

cidade do Salvador. Como num ritual , este povo passava emprestando seu

ritmo, seu jeito, suas cores, sua alegria aos lugares, conformando um espaço

de cultura e tradição. Uma tradição criada pela força do seu relato, pois neles,

sem arrefecimento, ano a ano, os festejos popu lares aconteciam e tinham sua

força aumentada. É possível se imaginar uma relação simbiótica, na qual o

povo e a cidade vão conformando um complexo cultural singular ao aproximar

os lugares das festas com aqueles da vida cotidiana.

Os relatos do cronista, atos culturalmente criadores, mapeando o

movimento festivo do povo baiano, “autorizam” um campo, delimitam uma

106

cidade, traçam-lhe um mapa e criam-lhe um “teatro de ações” que se repetem.

Dotada de autoridade, a ação narrativa de Vasconcelos Maia não apenas

realiza a operação demarcatória de espaço. Legitimada pela repetição e

fundada na força do movimento festivo de um povo, ela tem como função

primeira a construção de uma “moderna tradição soteropolitana”.

4.4 COISAS DA V IDA E DA L IDA

Vivendo numa cidade cujo esboço de modernidade se distanciava do

seu centro histórico em direção ao Campo Grande, onde se encontravam as

obras sínteses da moderna arquitetura baiana, a saber, o teatro Castro Alves, o

Hotel da Bahia e o prédio da Reitoria da Universidade da B ahia, Vasconcelos

Maia, em seus relatos jornalísticos, explicita mais e mais uma estreita relação

com a cidade do Salvador.

O próprio ato de morar do cronista, pertencente à classe média,

como o intelectual brasileiro da época, dono de uma mentalidade peq ueno-

burguesa contra a qual sempre luta, como o fazem seus pares, conforme o diz

Walter Benjamim, traduz os novos rumos da cidade, metaforizando sua

transformação. Vasconcelos Maia, na infância, no berço da pequena

burguesia, condição traduzida pela descri ção da mobília de jacarandá, louça

“limonge” e dos pequenos tesouros que compunham sua sala de visita, morou

em uma ampla casa térrea, dona de quintal e jardim com fonte e carranca, no

Largo dos Aflitos, próximo ao centro de uma cidade que descobria, de pr onto,

novos lugares para ser moderna. Uma casa que, já em 1960, o olhar de um

cronista saudoso viu “assombrada, irreconhecível, com pretensões a bangalô”.

Jovem adulto, já casado, fixou suas raízes em Monte Serrat , próximo ao forte,

numa ruazinha bucólica de onde se avistava o mar e a sereia - sua musa. Uma

região dona de uma vizinhança amigável, ainda servida por lotações que

tinham nomes como a “Infantil” de Pelé - seu jovem e sorridente motorista

negro, serviço de ônibus elétrico, ruas calçadas com pedra s, enormes terrenos

baldios e uma zona de casebres na Pedra Furada. O caráter amistoso do bairro

se revelava, por ocasião dos festejos juninos, na abertura confiante e pródiga

das portas das casas aos amigos e visitantes, além daqueles que se esqueciam

de homenagear os “santos pagodeiros”. Em suas mesas exibiam licor de

107

jenipapo, canjica de milho verde, milho assado e cozido, bolo de São João,

amendoim cozido, batata assada e ainda realizavam os “assustados”, pequenos

bailes caseiros que não competiam com o grande baile do Iate Clube

Itapagipe.

Naquela cidade que crescia e se modernizava, a especulação

imobiliária empurra o preço dos aluguéis para o alto e alcança o cronista que

se vê às voltas com a necessidade de “dobrar o trabalho” e mudar de

residência, indo para uma “casa menor” e com aluguel “três vezes mais caro”,

longe do azul do mar, do forte, da capela e das asas dos saveiros. Trata -se de

uma mudança que sintetiza o processo no qual estão imersos o cronista e a

cidade frente às contradições da modernidade. Apaixonado pelo mar da

Cidade Baixa, ele passa a morar nas cercanias dos vales da Cidade Alta,

lugares que representam as possibil idades de modernização da cidade.

Na nova casa, num jogo de mais e menos, ele deixa ver que a

distância do mar e da se reia, paisagem conhecida e amada, é compensada pela

proximidade da nova e moderna cidade, pelo afastamento do calor, da

constante falta de água, das muriçocas e maruins da Cidade Baixa, pois a

residência atual, além de prometer um silêncio noturno inexiste nte na

anterior, “embiocada” por um vento, que não era “racionado nem triste”,

estava situada numa “paisagem nova”, na definição do cronista, na ladeira que

liga Federação e Canela. Um lugar de onde se avistavam ícones da moderna

cidade como o Campo Santo, descrito por Vasconcelos Maia como dono de

torres presunçosas e de muito mau gosto, o Hospital das Clínicas, como um

monstro que “vomitava cinzas toda manhã”, além dos telhados amarelados dos

bangalôs brancos dos novos bairros dos ricos. A casa tinha, ao fundo, a partir

do quintal , riacho, cascata, grilos, sapos, além da imensidão do vale que dava

acesso, através de trilhas ladeadas de heras, cansanção, mamona, orelha -de-

elefante, carrapicho, flores de bonina ao Garcia ou ao Rio Vermelho de Cima.

Outros atos do cronista também conformam e são conformados pela

nova cidade do Salvador. Um deles, destacado neste enfoque, o ato de

contemplar. No início de 1959, encantado pela paisagem natural, era da janela

de sua casa em Monte Serrat que, pela manhã, num ritua l, buscava contemplar

o mar, não apenas presente na paisagem como “pegado” em sua alma, e a

sereia, sua musa inspiradora. Para a gruta, morada da sereia, localizada na

108

Ponta do Humaitá, ao lado da Ermida de Nossa Senhora de Monte Serrat, ele

se dirigia quando “chateado e cansado” por certo dos problemas da vida na

cidade moderna. Outro lugar de destino do cronista, em busca do mar com

suas velas e saveiros, era o Passeio Público, no Campo Grande. Mas, neste

mesmo ano, na nova casa, ele conquistou a possibil idade de escolha, podendo

ver ora o vale, ora os ônibus que desciam velozes a ladeira da Federação, ou

seja, a natureza e a urbanidade.

Tece-se aqui um antes e um depois, no tocante ao olhar do cronista

sobre a cidade vista como paisagem -natural ou paisagem-urbana, sem um

rigoroso critério temporal. Na verdade, é impossível precisar o momento em

que ocorre a guinada do olhar do cronista que, a partir do Belvedere da Sé,

em seu escritório, da porta da Livraria Civilização Brasileira, na Rua Chile,

dos bairros populares, ao acompanhar suas manifestações diversas, ou ainda

dos novos bairros, passou a ver a cidade, em processo flagrante de

modificação, numa perspectiva diversa, ocupando -se com a sua cultura.

Outras práticas vistas nas crônicas de Vasconcelos Ma ia mostram-se

significativas para a representação da cidade, apontando as “astúcias” do

cronista. Dentre estas, atenta -se para os modos de comer vistos na cidade das

crônicas. Traduzindo uma perspectiva sinestésica, as comidas são descritas

com ênfase em seus perfumes, cores e sabores. Antecipada por uma

“cachacinha de Santo Amaro”, a moqueca “que enternecia a alma”, prato

predileto do cronista, resultava da mistura feita com peixe, pimenta, limão e

azeite. O restante do cardápio era constituído por vinho nacional, seco e

branco, da “Granja União”, seguido de um “doce de pitanga, rubro e

delicioso”, de um “café forte, feito na hora, moído em casa sem misturas de

espanhol” e por um “generoso” licor de maracujá que confortava o sangue

enquanto se revelava tão valioso quanto o Beneditinni . A presença da toalha

branca cobrindo a mesa, associada à higiene e l impeza, trai valores modernos

enquanto a necessidade de ensinar aos filhos “como saber comer” sem

precisar de “artigos de importação” indica a postura do inte lectual frente às

questões do seu momento histórico-social.

Na cidade retratada por Vasconcelos Maia, os padrões de interação

entre seus habitantes são marcadamente acentuados pela relacionalidade,

inexistindo ideias como separação, distância ou solidão. A ssim, o ato de

109

comer na cidade das crônicas não se concretizava, apenas, ao redor de mesas

cobertas por alvas toalhas no interior das residências. É certo que a Rua

Chile, a Avenida Sete, o Campo Grande eram dotados de restaurantes

modernos, destacando-se o restaurante do Hotel da Bahia, local onde vez ou

outra o cronista se deixa ver acompanhando intelectuais, visitantes ou figuras

da sociedade. Entretanto, ser de luxo ou zelar pela higiene eram atributos que

não atestavam a boa qualidade da comida servida nos restaurantes, em sua

maioria, segundo o cronista, explorados por estrangeiros que não primavam

pelo “apuro do tempero”, nem tinham a consciência da tradição da comida

baiana. Diferente, singular, esta era servida em barracas espalhadas pela

cidade, por verdadeiras “fadas cozinheiras”. No interior do Mercado Modelo

havia o restaurante Maria de São Pedro , para os ricos, talvez, e na Rampa

ficava a barraca “Santo Antônio”, de Arlinda, uma “fada cozinheira” que

tornava a “vida rica” para os saveiristas e o s caixeiros do Mercado, seus

fregueses, além do cronista. Situada de frente para a Igreja de Nossa Senhora

da Conceição, foi descri ta como pobre e tosca, sem soalho, com mesas e

cadeiras da Feira de Água de Meninos, sem artifícios modernos como

fogareiro a gás, panelas de barro, cozinhando em trempes de ferro sob o calor

do carvão vegetal . Para o cronista, dos “antiquados”, porém “milagrosos”

pilões, colheres de pau e panelas de barro de Arlinda saiam “delícias e

surpresas culinárias” como moqueca de peixe , galinha ao molho pardo e

fígado com caldo de ferrugem.

Com o crescimento desordenado da cidade das crônicas,

aumentavam os problemas urbanos. Para o cronista, a volta da escola com as

crianças transcorria de forma muito mais segura se fosse feita saltan do pelas

pedras do riacho que havia nas proximidades, já que atravessar as ruas era

uma façanha perigosa devido à velocidade dos ônibus que desciam a ladeira ,

vindos da Federação. O transporte urbano - seus ônibus velhos e motoristas

despreparados - era objeto de preocupações dos moradores d aquela cidade na

qual achar um táxi consist ia “num verdadeiro milagre”. Os lotações (dito no

masculino) corriam muito, t iravam “finos” nas curvas fechadas, convertendo a

viagem numa “aventura”, na qual seus passageiros t emerosos rezavam até

chegar ao destino. Somente o congestionamento do tráfego obrigava o chofer

a diminuir a marcha.

110

Esta cidade se organizava e se desenvolvia tendo como base a

singularidade particular de cada indivíduo. Nela , o acento da vida e do

desenvolvimento era direcionado ao absolutamente peculiar e menos ao igual,

sendo alguns de seus personagens pensados como tipos. A descrição dos

tipos, de forma pueril e amistosa , era feita na li teratura em voga em Paris , no

século XIX, com o objetivo de fami liarizar os cidadãos, dissolvendo os

elementos estranhos criados pela própria metrópole, na tentativa de atenuar

seus medos e inquietações e assim amenizar os conflitos decorrentes da sua

existência. Na cidade das crônicas conviviam tipos curiosos e in teressantes

com origens, por certo, atreladas à questão da própria configuração da cidade ,

integrando-a de forma alegre e bem humorada. Havia o seresteiro, o trovador

noturno, o trovador da Praça Cairu, o barbeiro que se entendia delegado do

Solar do Unhão, o travesti que apareceu nas ruas do Comércio, as prostitutas

que ocupavam as ruas próximas ao centro da cidade.

O “elegante prestidigitador” , singularmente marcado pelo modo de

vida na cidade moderna foi descri to pelo cronista como uma espécie de

contrabandista que fazia aparecer, dos bolsos de seu paletó bem cortado ,

objetos de natureza variada. Estes eram verdadeiros “sonhos cintilantes”

distanciados da realidade do cronista pela barreira dos “contos de réis”. A

presença do tipo na cidade das crônicas traduz a ruptura, o estranhamento do

cronista diante da lógica da modernidade tardia que se mostra va uma

experiência insólita para seus habitantes. O processo de crescimento

tumultuado e irregular daquela cidade perturbava e transtornava o homem

comum, e as descrições dos personagens auxiliavam a sua assimilação.

A cidade convivia de modo pacífico com situações de contrastes e

paradoxos. Contando com uma atividade comercial em crescimento, dotada de

lojas modernas com vitrines brilhantes, ainda apresenta prátic as com liames

que as prendem ao passado, como os velhos “curvos” e “centenários” que

vendiam doces às portas da casa gritando seus pregões, as “velhas baianas”

com seus tabuleiros nas esquinas das ruas, as barracas e feiras livres

espalhadas pela cidade, sendo a mais famosa a de Água de Meninos.

A cidade das crônicas foi descrita como lugar agradável à infância,

especialmente para os meninos, que eram vistos através de práticas que se

configuram como “resistências”. Eram os banhos de mar no Porto da Barra ou

111

na Praia do Unhão, as brincadeiras com carrinhos de rolimãs nas calçadas, o

jogo de gudes, as “pegadas” das arraias empinadas em profusão, o retorno da

escola saltando riachos e chutando pedrinhas, nos barrancos dos vales

trepados nas árvores colhendo frutos, nas brincadeiras domésticas pregando

sustos nos adultos, fazendo questionamentos. Meninas, na cidade das

crônicas, foram poucas e já apresentavam atitudes mais “adultas”: espertas,

elas vendiam rifas nos escritórios para ajudar instituições. Indicativo de

mudança foi o quarto de criança - não mais compartilhado com adultos, o

quarto “dos meninos” foi descrito contendo duas caminhas, flâmulas nas

paredes, livros de Zorro e Tarzan, bola de couro, caderno de deveres. Práticas

aprendidas de pronto eram ainda a leitura do Tesouro da Juventude , a ida

dominical ao cinema, o gosto pelas viagens de avião e o ato de escrever cartas

a Papai Noel.

Vasconcelos Maia, a exemplo do poeta francês Charles Baudelaire

em seu ensaio O pintor da vida moderna, mencionado por Benjamim (1989),

discorreu sobre os costumes, a representação da vida burguesa , os espetáculos

da moda e os novos modos de viver na cidade que se modernizava de forma

clara e ágil, atento aos mínimos detalhes. A passarela da moda desfilou diante

do leitor que percorreu com os olhos as primeiras l inhas da crônica A Mulher

e o Vestido, fruto do olhar inaugural do cronista sobre a cidade, no dia de

estreia do Jornal da Bahia. Como o Baudelaire de As Flores do Mal, no

frenético movimento das ruas da moderna Pa ris do século XIX, Vasconcelos

Maia quedou-se perplexo diante de sua “Passante”, e rendeu-se àquela que

“era jovem, alta, pernas longas, vinha dentro dum fantástico vestido saco” ,

constituindo “Uma obra de arte a mulher e o vestido”. Como o poeta, o

cronista não conseguiu separar a mulher de suas vestes e fez delas, mulher e

vestido, uma imagem inseparável de beleza, uma “totalidade indivisível”.

Longe iam os dias em que a mulher soteropolitana vivia ao abrigo do

aposento escurecido do sobrado colonial, vez que a rua não consistia em

espaço para senhoras. Na cidade das crônicas, livrando-se das cortinas e dos

reposteiros, a mulher precisou se liberar do vestido longo e de cintura

apertada por esparti lhos, das inúmeras anáguas de cambr aia e assim poder

viver a e na moderna cidade do Salvador. E seu vestido, “maravilhosamente

saco e translúcido, velando a cintura fina e esbelta”, mostrava, “à gula dos

112

homens” , um corpo moreno, queimado de sol , “belas ancas flutuantes” num

passo de dança, além de sua inteligência e coqueteria. A moda foi mostrada

não na vitrine, sem vida, amorfa, mas vivificada por uma bela mulher que ,

com um “vestido saco”, encobria a sua beleza e jovialidade.

A cidade das crônicas tem em sua vida ordinária elementos

estratégicos para a tradução de sua modernidade.

4.5 NAS MALHAS DA CULTURA

Sandra Pesavento (1995) , analisando a construção da história

cultural do urbano, cita a distinção feita por Marcel Roncayolo entre

produtores e consumidores de espaço, afirmando a existência de um sistema

de ideias daqueles que “fazem a cidade” , projetando-a, discutindo-a ou

executando-a. Estando no interior das classes dominantes ou das elites

dirigentes, os profissionais da cidade concebem uma maneira d e construir

e/ou transformar o artefato moderno através de práticas definidas, construindo

também um modo de pensar, viver ou sonhar o espaço urbano. Estes

espectadores de urbe apresentam uma variação de sensibilidade e educação do

olhar, um modo próprio de ler a cidade.

Por seu turno, discutindo sobre as formas de “se orientar e estudar

as cidades modernas”, Stela Bresciani (1992) menciona “não sete, mas cinco

portas de entradas conceituais” que seriam “problemas a serem solucionados

pontualmente”. A primeira delas, a questão técnica, impondo a necessidade de

avaliação da materialidade da teia urbana; a segunda, a dimensão social , que

diz respeito ao homem e sua forma de convivência na cidade, a seus projetos

políticos; a terceira, a da formação de novas identidades sociais, pensadas a

partir do surgimento da classe burguesa; a quarta, a da educação dos sentidos,

que mostra a cidade como lugar de formação de nova sensibilidade; a quinta

porta seria a de acesso à cidade conceitual, a do lugar na história. A

historiadora introduz uma “porta mais estreita” que permitiria vislumbrar a

cultura popular que foi “abafada sob o pesado manto dos valores burgueses,

destinada ao silêncio e a desaparecer” (BRESCIANI, 1992, p.13).

Esta últ ima pode ser pensada como a porta que o leitor de cidade

Vasconcelos Maia escolheu para se orientar. Elegeu uma porta de entrada

113

conceitual , constituída pela cultura e pela identidade, estruturando com estes

dois pilares o problema da cidade do Salvador a ser resolvido naquele

contexto. Da leitura de suas crônicas depreende -se o surgimento de um campo

intelectual e artístico, tradutor da modernidade da cidade que até então

vivera, após a perda da condição de capital colonial para o Rio de Janeiro, um

longo período de isolamento e solidão no qual desenvolveu a trama

psicossocial de uma nova cultura, oriunda “das experiências da gente lusa, da

gente banto e da gente iorubana”, que iria resultar “num complexo cultural ,

historicamente datável”, conforme sustenta Antonio Risério (1995, p. 158).

A cultura da cidade emerge como um ser que se narra pela pena do

cronista, não sendo mais um discurso sobre a cidade, e sim um discurso

identitário, dotado de característ icas próprias. Pelos relatos de um cronista

que escreve a partir do “olho do vulcão”, a cidade do Salvador que foi, desde

os tempos coloniais, objeto do discurso do Outro, passa a ser um sujeito, cujo

discurso é constituído por sua própria história.

Vasconcelos Maia consegue perceber ou lançar sobre a cidade do

Salvador o olhar de estranhamento, ver em sua identidade pontos de

similaridade e, ao mesmo tempo, aspectos de acentuada diferença com relação

à pretensa identidade nacional. De forma explícita, comparava a cidade com

outras do Sul e Sudeste do país, processo no qual o Rio de Janeiro seria o

espelho da modernidade no qual Salvador pr ecisava se mirar; São Paulo, de

modo racional, dava lições de como aproveitar sua riqueza e potencial

turístico; e Porto Alegre, “a amiga” da cidade do Salvador, era a mais

parecida por seu modo de ser amistoso. Sendo a construção de uma

identidade cultural um processo que se dá pela falta, pela ausência e, segundo

Stuart Hall (2003), não uma essencialidade, mas proveniente de alguma parte,

processo sujeito ao jogo da história, da cultura e do poder, em constante

transformação, cada uma dessas três cidades brasileiras oferecia meios para

construção de uma identidade baiana.

Ao criar uma nova ordem simbólica, um princípio ordenador, no

campo da representação, o cronista faz uma reversão, pondo o mundo

soteropolitano às avessas. Desse modo, novas unidades cu lturais passam a

representar o reencontro com as origens, modificando uma ordem social

existente. Propõe uma reversão dos valores de avaliação do Outro, usando

114

como lei maior mostrar como positivo aquilo que outrora fora negativo.

Alguns discursos si lenciados são ditos num tom de exaltação. É o que faz com

os elementos da cultura negra, como o candomblé, as festas populares, a

comida, a própria cultura da cidade. O escritor baiano constrói em sua

representação da cidade do Salvador aquilo que bem pode ser c onsiderada

uma história da cultura baiana.

O povo, segundo Antonio Candido (2004), surge na representação

literária dos modernistas para dar “sentido humano‟ àquele programa estético,

não como assunto, mas como realidade criadora. E Vasconcelos Maia, no

momento em que o país vivia uma fase desenvolvimentista e entrava

definit ivamente na modernidade, mostrava uma cidade moderna, mas nem

tanto, apresentando contradições, e um povo desassistido pelas melhorias

proporcionadas pela modernização, tendo ainda com o principal atividade

social a vida lúdico-religiosa, que ia além do ambiente familiar, estendendo -

se aos bairros.

Sua representação de uma cidade moderna pelas ações de um povo

pobre, dançando ou rezando pelas ruas, à medida que aproxima modernidade e

povo, mostrando o atraso da cidade, revela não somente uma ideologia, como

também, o olhar antropológico do cronista, calcado nas leituras inteligentes

dos aspectos da cultura da cidade. Ao retirar este povo da condição de fiéis

tristes e passivos, enfileirados em procissões católicas soturnas e austeras,

Vasconcelos Maia sugere a busca por um processo de construção de uma

identidade cultural baiana, repudiando influências externas, notadamente

aquelas que remetam à herança colonial.

Vasconcelos Maia foi um cronista dotado de plena consciência dos

problemas reais vividos pela cidade e com total inserção em seu campo

cultural, atributos que justificam os recortes de sua narrativa. O cronista faz

alusão a descrições diversas veiculadas em jornais locais, ainda que a elas

não se refira diretamente, nas quais o povo era retratado como aprisionado em

valores e comportamentos que não o caracterizavam, e no agora das crônicas

jornalísticas, este mesmo povo se vê representado como uma multidão

ondeando em explosões de alegria pelas ruas da cidade. Esta forma de

representar, consti tuindo uma realidade criadora, delineia a busca por uma

identidade cultural marcada pela redução do brilho da influência portuguesa,

115

mostrando-a sobrepujada pelo alegre e festeiro caráter bai ano. Na análise de

suas crônicas nota-se que houve claramente o apagamento de uma certa

presença do Outro, visto como o colonizador europeu.

Os relatos de Vasconcelos Maia têm a força de realizar uma

operação de desmistificação da influência europeia na formação da cultura

baiana, marcando-a, naquele momento, como desprovida de força

determinante da cultura daquela que fora pensada como um bairro de Lisboa.

Naquele contexto, na Bahia, a busca do original , surpreendentemente, não

remontava à ordem colonial, a Portugal, ou Lisboa. A cultura que se queria

autêntica surgia dando as costas a tudo que fosse europeu e com a face

voltada para o Atlântico de onde a África se fazia ouvir.

Diante disso, ainda que práticas culturais distintas tenham aparecido

em suas crônicas, a seleção feita pelo cronista para determinar o caráter

original e genuíno da cultura baiana, que deveria refletir tudo aquilo dotado

do caráter de autêntico e ligado ao povo, foi resolvida mais enfaticamente,

por meio das manifestações e práticas religiosas afro-descendentes.

Afigura-se a hipótese de que, na cidade do Salvador, o surgimento

de uma “moderna tradição” não se dá simplesmente pela chegada dos meios

de comunicação de massa, mas pela possibilidade por eles criada, como

defende Renato Ortiz (2006). O candomblé, prática religiosa associada ao

“autêntico”, ao “primitivo”, com capacidade de imprimir caráter singular a

uma cultura, teria tido no jornal, especialmente nas crônicas de Vasconcelos

Maia, um aliado para se consolidar, a partir das camadas médias da

população, como um dos mais fortes tradutores da modernização da cidade.

Foi com o povo cantando e dançando, transformando lugares em

espaços, com o ressoar dos passos das mulas que transportavam as barracas

ciganas levando a comida bai ana pelos becos e ladeiras da cidade em festa e

com o som dos atabaques nos terreiros de candomblé, falando com as razões

do coração, numa busca apaixonada, denunciando a existência de elementos

de uma cultura silenciada ao longo do tempo pelo discurso dom inante,

colocando-se aberto ao progresso e à cultura, especialmente à cultura popular,

às experiências negras sujeitadas ao apagamento que Vasconcelos Maia

traduziu o processo de modernização da cidade do Salvador.

116

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As seleções temáticas feitas por Vasconcelos Maia traduzem o

processo de modernização da cidade do Salvador e refletem as diversas visões

da sua vida cultural, suscitando discussões pertinentes ainda em nossos dias.

Algumas delas dizem respeito às atitudes do intelectual e sua forma de

representar a si mesmo, ao espaço urbano e, mais especificamente, à cultura

baiana.

Vasconcelos Maia foi percebido como um intelectual dotado da

capacidade de representar, influenciar, promover mudanças no modo de

pensar, e ainda ser porta-voz das preocupações e aspirações de seus leitores.

Seu discurso, desprovido de inocência, e sua atuação, ultrapassando a de mero

observador, propõem um sentimento mais íntimo com a cidade , não sendo

portanto mera descrição ufanística. Sua ação denotava um historiador de

cultura dotado de visão anti -imperialista e nacionalista, que valorizava, de

forma irrestrita, o povo e suas diversas manifestações culturais, apoiando as

variadas expressões da arte moderna. Ainda que não explicitamente, em

consonância com a “ideologia desenvolvimentista” do Governo de Juscelino

Kubitscheck, seu pensamento exprimia o anseio por uma modernização

nacionalizada, identificando como inimigo a ser combatido os aspectos

arcaicos da sociedade baiana. Estes se revelavam na dificulda de em acertar o

passo com os movimentos da esfera econômica do Sul do país e no

apagamento do traço marcadamente híbrido da cultura local.

Intelectual atuante, presente naquele contexto histórico -social como

escri tor de contos, o cronista, por certo, padec ia dos mesmos problemas que

afl igiam seus pares no tocante ao alcance do leitor. Possivelmente, via -se às

voltas com questões referentes a pu blicação, mercado e outras mais relativas

à instituição literária. Infere -se que a escolha pela escri ta jornalístic a, feita

por Vasconcelos Maia, aqui nunca pensada como gratuita, aproximava -se de

uma seleção historicamente determinada, já que a cidade parecia clamar por

um cronista e pela crônica para explicar aquele seu momento histórico -social.

As crônicas de Vasconcelos Maia não apenas indicam acuidade de

leitura dos fenômenos sociais à sua volta, mas lidas em seu conjunto,

permitem ver certa intencionalidade na narrativa de aspectos da história da

117

cultura da cidade do Salvador de então, fato que lhes dá uma config uração de

unidade. O conteúdo quase pré -determinado não lhes rouba o mérito da

criação, da inventividade, porquanto a lei tura e a representação consistem por

si em atos criadores. Alguns aspectos formais por ele empregados, como a

ironia, o diálogo implíci to com o leitor, o recurso da repetição exigem, para

sua clara compreensão, uma leitura atenta, não somente ao gênero, como

também ao momento em que escreve o cronista .

Vasconcelos Maia, em sua prática jornalística, dialoga com o

contexto local que vivia sua efervescência cultural, fazendo o mesmo com os

meios de comunicação de massa e com a l iteratura. Sua relação com os media,

ainda incipientes na cultura baiana, não ficou restrita ao jornal, uma vez que

o cronista alcançou o rádio, publicando crônicas ra diofônicas. Quanto à

literatura, estabeleceu diálogo especialmente com os escri tores modernistas,

seus pares, aos quais confessou sua dívida literária, além de fazê -lo com o

movimento modernista em seu conjunto.

O ato criador do cronista baiano é sincroni camente ligado às

mudanças vividas por Salvador. Sensível, sem reducionismo, ele não se põe

alheio às contradições ou mesmo aos disparates vistos no processo da

modernização urbana. A sua escri ta diária é a ponte que liga os diversos

mundos pelos quais transita, a saber, o povo e os intelectuais, as massas e os

movimentos culturais eruditos, a cidade tradicional e a moderna. Afeita a

hibridismos, na cidade dos relatos do escri tor, a cultura erudita, representada

pela Universidade da Bahia, um poderoso difus or de cultura, não se

distanciava de forma significativa da cultura popular.

O intelectual Vasconcelos Maia revelou -se fiel à história

soteropolitana, narrando acontecimentos grandes ou pequenos de forma

indistinta. Traduziu-lhe a cultura com seu nascimento distanciado do capital,

pois, representando a relação dialética cidade e povo, retratou -a moderna e

pobre, com habitantes que não conheciam a modernidade tal qual era mostrada

no Rio de Janeiro, modelo no qual Salvador espe lhava-se, evidenciando dessa

forma a existência de um abismo entre as duas.

Demonstrando profundo conhecimento daquele espaço urbano, e

completa consciência das peculiaridades de suas relações sociais,

Vasconcelos Maia apresentava uma maneira própria de nele inserir -se,

118

emitindo dele sua visão diferenciada. Tendo examinado a gente, a casa, a rua,

o bairro, o mar e a baía em seu entorno, personifica a urbe, tratando -a com a

um ser natural. A cidade do Salvador é referida como uma mulher dotada de

atributos como maturidade, beleza, integ ridade e força íntima. Às vezes, ela é

a mãe devotada de fi lhos zelosos, ou a dama que tem amantes sinceros, leais e

eternos. Outras, converte-se em uma virgem dotada de pureza, espontaneidade

e ingenuidade, preparando-se para o casamento, mas vivendo a constante

ameaça de se aviltar, de se tornar uma cortesã formosa, exótica, vulgar e

sórdida. Indefesa, ela requer ora guardiães zelosos, ora amantes devotados.

Os escritos jornalísticos de Maia trazem ainda uma explicação da cidade

através do caráter do povo baiano, representado como puro, desprendido,

alegre e festeiro.

Fruto de um olhar sensível e do perfeito engajamento nos campos

cultural e intelectual , que lhe possibilitavam o exercício da reflexão sobre a

modernização urbana, a escrita jornalística de Vasconcelos Maia tinha o traço

de uma literatura empenhada, aspecto que foi determ inante no modernismo

brasileiro. Sua crônica, rica em aspectos cotidianos das transformações

vividas pela urbe naquele período, identificava -se fortemente com um projeto

divulgador. Ela narrava uma cidade vivenciando intensas modificações em sua

esfera social, cultural e econômica, lidando com a necessidade de abrir-se ou

concretizar sua abertura para o turismo. Dava ênfase em retratar a

metamorfose daquela que, não sendo mais um próspero e movimentado porto

ou uma extensão de Lisboa, sem realizar seus anseios de progresso por outras

vias, enxergava no turismo a sua possibil idade de redenção econômica.

Ao confessar gostar primordialmente de gente, difundir a

importância da defesa do patrimônio histórico e cultural da Bahia, chamar a

atenção dos habitantes para a luta pela preservação de suas riquezas

arquitetônicas, dar significado às práticas culturais afro-descendentes,

atribuir relevância ao caráter de festejo popular manifes tado pelo carnaval

baiano de então, descrever as diversas festas de seu entorno e traçar roteiros

turísticos para o Recôncavo ou para as ilhas da Baía de Todos os Santos,

numa visão proativa, Vasconcelos Maia levava a cidade a tomar consciência

de si mesma, enquanto alicerçava as bases daquela que viria a ser a turística

Salvador dos dias atuais.

119

Um dos resultados mais relevantes desta pesquisa pode ser a

constatação de que os escritos jornalísticos de Vasconcelos Maia, iluminados

pela luz da história da urbe soteropolitana, de estudos literários outros ou da

sociologia, caracterizam-se como uma forma diversa, mas importante, de

expressão de um escritor já consagrado como contista. Tal fato converte

Vasconcelos Maia em um desafio a ser enfrentado pela histor iografia literária

ou cultural da Bahia considerando que, ainda que ele tenha selecionado e

dado forma livresca a algumas de suas crônicas, parte significativa de sua

obra encontra-se dispersa nos periódicos para os quais contribuiu

regularmente ao longo de sua trajetória. Seus escritos jornalísticos

apresentam uma lógica interna tradutora dos paradoxos do processo de

modernização ou das contradições sociais do capitalismo na cidade do

Salvador, sem buscar harmonizá -los, forçando uma unidade ou coesão

inexistentes. O conjunto de sua produção contínua para os jornais resulta

numa visão da cidade permeada por múltiplos determinismos, não apenas o

econômico, como poderia sugerir uma leitura mais ligeira, sobretudo aquelas

ligadas às suas estreitas relações com o projeto de sua industrialização pela

via do turismo.

Esta abordagem, voltada exclusivamente para as crônicas publicadas

no Jornal da Bahia - embora o cronista também escrevesse, no Jornal A

Tarde , a coluna semanal Café da Manhã -, buscou trazer a lume uma vertente

pouco conhecida da produção de Vasconcelos Maia, aproximá -la dos meios

acadêmicos, salientando a riqueza e a variedade temática dos escritos

jornalísticos deste escritor baiano que, sendo um contista renomado, com

publicações no exterior, conver teu-se em um cronista incansável, narrando

detidamente a cidade do Salvador em seu processo de modernização. Este, que

não pretende ser um estudo conclusivo, uma vez que suas questões não se

esgotam neste enfoque, tomou para si a responsabilidade de aponta r as

múltiplas possibilidades de leitura daquilo que se configura como um

importante registro de um momento singular vivido pela Bahia, reclamando,

ambos, momento e registro, por maior esforço de investigação.

120

REFERÊNCIAS

1 CRÔNICAS DO AUTOR NO JORNAL DA BAHIA

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Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 21 set. 1958.

______. Um gênio diante de mim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 24 set. 1958.

______. A campeã de bridge. Jornal da Bahia , Dia Sim, Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 26 set . 1958.

______. A lotação de Pelé. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 28 set . 1958.

______. Santa Clara clareou. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 01 out. 1958.

______. A rosa e a sereia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 3 out. 1958.

______. Carta de protesto. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 5 out. 1958.

______. O pintor Rubem Valentim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 10 out. 1958.

______. Serenatas de hoje. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 17 out. 1958.

______. Jonas “rojão”. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 19 out. 1958.

______. Eleitoreiras. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 29 out. 1958.

______. Vivaldo Costa Lima. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 2 nov. 1958.

______. Algumas de criança. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 9 nov. 1958.

______. Caridade e esperteza. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 12 nov. 1958.

______. O professor Rossi. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 23 nov. 1958.

______. A moça dos cabelos de sol. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 28 nov. 1958.

121

______. Para sempre. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 3 dez. 1958.

______. Gente bamboleai! Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 10 dez. 1958.

______. O homem emboscado. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 14 dez. 1958.

______. Da frustração de não ser marinheiro. Jornal da Bahia , Caderno 1,

Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 19 dez. 1958.

______. Pregões que ainda não morreram. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia

Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 24 dez.1958.

______. Perfume da Bahia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 30 dez. 1958.

______. Paulo e Ari. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 31 dez. 1958.

______. Flagelados sob as marquises. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 4-5 jan. 1959.

______. Arraia cortada. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 9 jan.1959.

______. Candomblé das arábias. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 11-12 jan. 1959.

______. O homem e as vitrines. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador , p.5, 16 jan.1959.

______. La Belle Marion banhada em Lord Mayor. Jornal da Bahia , Caderno

1, Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 21 jan. 1959.

______. Segunda-feira da Ribeira. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 28 jan. 1959.

______. Bom Jesus dos Navegantes. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 30 jan. 1959.

______. O Pelourinho e Casbah. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 1 -2 fev. 1959.

______. A Bahia precisa de soluções inteligen tes para seus problemas

urbanos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 17

fev. 1959.

______. As barracas ciganas. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 19 fev. 1959.

122

______. Sortilégio. Jornal da Bahia , Dia Sim, Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 21 fev. 1959.

______. Ladeiras. Jornal da Bahia , Dia Sim, Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 27 fev. 1959.

______. Madrugada na praia da Jaqueira. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia

Sim, Dia Não, Salvador , p.5, 7 mar. 1959.

______. Outra fada cozinheira. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 15-16 mar. 1959.

______. Fiapo de nuvem. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 1º abr. 1959.

______. (Sem título). Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 15 abr. 1959.

______. Viagem. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 24 abr. 1959.

______. Meretrício e Pelourinho - I. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5 , 25 abr. 1959.

______. Meretrício e Pelourinho II. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 29 abr. 1959.

______. Hélio Basto. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 6 maio 1959.

______. O dique. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 12 maio 1959.

______. Encontro com o governador. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 14 maio 1959.

______. O poeta Jair Gramacho. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p .5, 3 jun. 1959.

______. Impróprio até dez anos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 10 jun. 1959.

______. Eliana e o mar. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 14-15 jun. 1959.

______. Fogueira de Airá. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 1º jul. 1959.

______. Nelson de Araújo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 8 jul. 1959.

123

______. Duas festas litúrgicas. Jornal da Bahia Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador , p.5, 29 jul . 1959.

______. Uma senhora de São Paulo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 31 jul. 1959.

______. Alfredo Santos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

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______. Cenário de lendas, paisagem de beleza. Jornal da Bahia , Caderno 1,

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______. Maria Célia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

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Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 16 set. 1959.

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_____. Cangaço. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

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______. O prestidigitador. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

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______. Agripino Grieco. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 7 out. 1959.

______. Miséria colorida. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 14 out. 1959.

______. Jânio e a Imprensa. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 21 out. 1959.

______. Mudança. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 23 out. 1959.

______. Casa nova. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 25-26 out. 1959.

______. Gesto misterioso. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 28 out. 1959.

124

______. Sarda. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5,

4 nov. 1959.

______. Escravo de assunto. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 10 nov. 1959.

______. Boêmia doméstica. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 14 nov. 1959.

______. “Conto” do passarinho. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 27 nov. 1959.

______. Santinesense. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 11 dez. 1959.

______. Lauzier. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 13-14 dez. 1959.

______. O ciclo das arraias. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 30 dez. 1959.

______. “Ternos” de reis. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 3-4 jan. 1960.

______. Milagre. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 10-11 jan. 1960.

______. Crônica de outro. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 15 jan. 1960.

______. Érico Veríssimo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 27 jan. 1960.

______. Domingo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 31 jan./1º fev. 1960.

______. Chuva. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 11 mar.1960.

______. Chicharro. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 13-14 mar. 1960.

______. Cinema. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 18 mar. 1960.

______. O “Delegado” Rafael . Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 6 abr. 1960.

______. Roteiro para um d ia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 17-18 abr. 1960.

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______. Mário Cravo Júnior. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 20 abr. 1960.

______. Barangandan. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

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______. Uma ideia ao presidente. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 8 jun. 1960.

______. Candomblé e suas “nações”. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

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______. I.O.B. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5,

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______. Assassinemos a cidade. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 1º jul . 1960.

______. Minha casa dos Aflitos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

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______. Loko. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5,

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______. O ladrão. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 29 jul . 1960.

______. Para senhoras baianas. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 12 ago. 1960.

______. Bilhete à Lia Mara. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

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______. Eparrêi , Iansã! Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

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______. Como proceder num candomblé. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia

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______. Como proceder num candomblé -II. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia

Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 2 set . 1960.

______. A procissão marítima de Nossa Senhora. Jornal da Bahia , Caderno

1, Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 9 set. 1960.

______. Roschild, o bom. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

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______. Uma festa de candomblé - I. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

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______. Momento. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

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______. Sante, o últ imo romântico. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 20 maio 1961.

______. Jovens do mundo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 27 maio 1961.

______. Casa Régia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 7 jun. 1961.

______. Cinema nacional. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 11-12 jun. 1961.

______. Televisão. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 16 jun. 1961.

______. Com vistas aos editores. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 21 jun. 1961.

______. Um rei salvou o palácio. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 16-17 jul. 1961.

______. Eguns. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 19 jul . 1961.

______. Início de festa. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 21 jul. 1961.

______. Maria Célia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 13-14 ago. 1961.

______. O poeta em Hong-Kong. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 18 ago. 1961.

______. Unhão. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 23 ago. 1961.

______. Um gerente de banco. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 3 -4 set . 1961.

______. Rampa do mercado. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 24-25 set. 1961.

______. Moça sozinha na sala. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 3 out. 1961.

______. Presente à Mãe d‟Água. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 3 jan. 1962.

______. Os guardiões dos ternos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 5 jan. 1962.

128

______. Lavagem do Bonfim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 10 jan. 1962.

______. Lavagem do Bonfim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 13 jan. 1962.

______. Segunda-feira da Ribeira. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 14-15 jan. 1962.

______. Um palácio em leilão. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 19 jan. 1962.

______. Calendário. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 27 jan. 1962.

______. Seco sentimental Romeu. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 29 jan. 1962.

______. Pré-carnavalesca. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 25-26 fev. 1962.

______. Pré carnavalesca. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 28 fev. 1962.

______. Coquetéis de cores. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 29 mar. 1962.

______. Quantos? Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 13 jun. 1962.

______. Misse Brasil . Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 19 jun. 1962.

______. Outra fada cozinheira. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 2 -3 dez. 1962.

______. Bom Jesus dos Navegantes. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 30 -31 dez. 1962.

______. Lavagem do Bonfim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 11 jan. 1963.

______. Lavagem do Bonfim I. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 16 jan. 1963.

______. Lavagem do Bonfim - II. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 18 jan. 1963.

______. As barracas ciganas. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 8 fev. 1963.

129

______. Unhão ressurreto. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 20 fev. 1963.

______. Ainda o Solar do Unhão-II. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 22 fev. 1963.

______. Automóveis. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 6 mar. 1963.

______. Lygia Milton. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 10-11 mar. 1963.

______. O Pintor de olhos fundos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 13 mar. 1963.

______. Ângulos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 15 mar. 1963.

______. Força da cor. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p .5, 17-18 mar. 1963.

______. “Ângulos”. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 22 mar. 1963.

______. Noturno. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 24-25 mar. 1963.

______. Chuva. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 29 mar. 1963.

______. História da Bahia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 3 abr.1963.

______. Viva o Forte da Gamboa. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 14-15 abr.1963.

______. Indústria de barracas e invasões. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia

Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 17 abr. 1963.

______. Estória de cangaço. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 3 maio 1963.

______. Casal na chuva. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 8 maio 1963.

______. Ciclo das arraias. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 26-27 maio 1963.

______. A mulher de cabelos verdes. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 12 jul. 1963.

130

______. Maria Célia novamente. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 17 jul . 1963.

______. Carlos Bastos redivivo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 19 jul . 1963.

______. Carybé baianíssimo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 26 jul. 1963.

______. Estória de cangaço. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 28-29 jul. 1963.

______. Resposta a uma carta. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 9 ago. 1963.

______. Rebouças, o Antonio. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 11-12 ago. 1963.

______. Vou embora pra Brasília. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 14 ago. 1963.

______. Empacotador de sereno. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 4 set . 1963.

______. Limpeza pública. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 6 set . 1963.

______. Turismo com dignidade (I). Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 11 out. 1963.

______. O Homem emboscado. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 18 out. 1963.

______. Chuva. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,

p.5, 20-21 out. 1963.

______. O Forte de Monte Serrat. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 1º nov. 1963.

______. Riqueza da cor. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 6 nov. 1963.

______. Festas populares: calendário. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5, 10 -11 nov. 1963.

______. Palácios e solares - I. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 15 nov. 1963.

______. Bom Jesus dos Navegantes. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,

Dia Não, Salvador, p.5 , 1º jan. 1964.

131

______. “Ternos e ranchos” hoje. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia

Não, Salvador, p.5, 5 -6 jan. 1964.

______. Lavagem do Bonfim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

Salvador, p.5, 15 jan.1964.

______. Segunda-feira gorda. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,

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135

APÊNDICE - A

RELAÇÃO DE CRÔNICAS DE VASCONCELOS MAIA

PUBLICADAS NO JORNAL DA BAHIA

136

APÊNDICE - A

RELAÇÃO DE CRÔNICAS DE VASCONCELOS MAIA

PUBLICADAS NO JORNAL DA BAHIA, DIA SIM, DIA NÃO, CADERNO 1, PÁGINA 5

1. 21 set .1958 - A Mulher e o vestido

2. 24 set .1958 - Um gênio diante de mim

3. 26 set .1958 - A Campeã de bridge

4. 28 set .1958 - A lotação de Pelé

5. 01 out.1958 - Santa Clara clareou

6. 03 out.1958 - A rosa e a sereia

7. 05 out.1958 - Carta de protesto

8. 08 out.1958 - Domingo, pé de cachimbo

9. 10 out.1958 - O pintor Rubem Valentim

10. 12 out.1958 - Nacib e Gabriela

11. 15 out.1958 - SS – Brasil, coquetel

12. 17 out.1958 - Serenatas de hoje

13. 19 out.1958 - Jonas “Rojão”

14. 22 out.1958 – “Show” do fiscal eleitoral

15. 24 out.1958 – Conversa de Criança

16. 27 out.1958 – O escritor e o estudante

17. 29 out.1958 - Eleitoreiras

18. 02 nov.1958 - Vivaldo Costa Lima

19. 05 nov.1958 - Livro de aventura

20. 07 nov.1958 - Conversa de criança II

21. 09 nov.1958 - Algumas de criança

22. 12 nov.1958 - Caridade e esperteza

23. 14 nov.1958 - Uma lenda de Oxalá em teatro

24. 19 nov.1958 - Bola de gude

25. 21 nov.1958 - Revista Brasileira e concursos brasileiros

26. 23 nov.1958 - O professor Rossi

27. 26 nov.1958 - “Não receiem chorar: o público aguenta”

28. 28 nov.1958 - A moça dos cabelos de sol

29. 03 dez.1958 - Para Sempre

30. 05 dez.1958 - Conversa de crianças III

31. 07 dez.1958 - O menino e o incêndio

32. 10 dez.1958 – Gente, bamboleai!

33. 12 dez.1958 - A Bahia ganha outro defensor

34. 14 dez.1958 - O homem emboscado

35. 17 dez.1958 - O Instituto Pestalozzi

36. 19 dez.1958 - Da frustração de não ser marinheiro

37. 24 dez.1958 - Pregões que ainda não morreram

38. 29 dez.1958 - Rio, Zona Norte

39. 30 dez.1958 - Perfume da Bahia

40. 31 dez.1958 - Paulo e Ari

41. 04 - 05 jan.1959 - Flagelados sob as marquises

42. 09 jan.1959 - Arraia cortada

43. 11 - 12 jan.1959 - Candomblé das Arábias

44. 14 jan.1959 - O trovador da Praça Cairu

45. 16 jan.1959 - O homem e as vitrines

137

46. 18 - 19 jan.1959 - Ter juízo

47. 21 jan.1959 - La Belle Marion banhada em Lord Mayor

48. 28 jan.1959 - Segunda-feira da Ribeira

49. 30 jan.1959 - Bom Jesus dos Navegantes

50. 01 - 02 fev.1959 - O Pelourinho e Casbah

51. 04 fev.1959 - A Velhinha e sua dentadura

52. 06 fev.1959 - Carnaval e turismo

53. 08 - 09 fev.1959 - Concurso de cordões, afoxés e batucadas

54. 13 fev.1959 - Suíte na Ponta do Humaitá

55. 15 - 16 fev.1959 - A terra do fotógrafo Lessa

56. 17 fev.1959 - A Bahia precisa de soluções inteligentes para seus

problemas urbanos

57. 19 fev.1959 - As barracas ciganas

58. 21 fev.1959 - Sortilégio

59. 25 fev.1959 - Depois do Carnaval

60. 27 fev.1959 - Ladeiras

61. 07 mar.1959 - Madrugada na Praia da Jaqueira

62. 11 mar.1959 - Paulino e Glauber

63. 13 mar.1959 - Museu de Arte e História

64. 15 - 16 mar.1959 - Outra fada cozinheira

65. 18 mar.1959 - Rosa Vermelha do Beco do Mingau

66. 21 mar.1959 - A felicidade do casamento

67. 25 mar.1959 - Ainda sobre o turismo

68. 27 mar.1959 - Sexta-feira da Paixão na cidadezinha morta

69. 1ºabr.1959 - Fiapo de Nuvem

70. 02 abr.1959 - Rainha das mulatas

71. 03 abr.1959 - Comidas e restaurantes

72. 08 abr.1959 - Batismo de caminhões

73. 12 - 13 abr.1959 - Tempero de arraias

74. 15 abr.1959 - (Sem título)

75. 24 abr.1959 - Viagem

76. 25 abr.1959 - Meretrício e Pelourinho - I

77. 29 abr.1959 - Meretrício e Pelourinho II

78. 1º mai.1959 - Pedaço de céu

79. 03 - 04 mai.1959 - Humilhados e ofendidos

80. 06 mai.1959 - Hélio Basto

81. 09 mai.1959 - Hotel Janaína, Palácio Iemanjá

82. 12 mai.1959 - O Dique

83. 14 mai.1959 - Encontro com o Governador

84. 16 mai.1959 - O Artista

85. 20 mai.1959 - O “Barão”

86. 22 mai.1959 - Aé e Vadinho

87. 24 - 25 mai.1959 - Pernada

88. 27 mai.1959 - Axexê

89. 31 mai.1959 - “Tourbillon” de mulheres lindas

90. 03 jun.1959 - O poeta Jair Gramacho

91. 07 - 08 jun.1959 - Conferência

92. 10 jun.1959 - Impróprio até dez anos

93. 12 jun.1959 - Dia dos Namorados

94. 14 - 15 jun.1959 - Eliana e o mar

138

95. 17 jun.1959 - Carro de rolimã

96. 19 jun.1959 - (Sem título)

97. 21 - 22 jun.1959 - Propaganda de livros e “Sayonara”

98. 24 jun.1959 - A comissão dos festejos ao 2 de Julho

99. 26 jun.1959 - Fazedor de balões

100. 28 - 29 jun.1959 - Bando Anunciador

101. 1º jul.1959 - Fogueira de Airá

102. 05 - 6 jul .1959 - São João e São Pedro

103. 08 jul.1959 - Nelson de Araújo

104. 10 jul.1959 - O Forte de Monte Serrat

105. 12 e 13 jul.1959 - Duas que parecem piadas

106. 17 jul.1959 - Perigo de vida

107. 19 e 20 jul.1959 - Conto policial

108. 22 jul.1959 - Hotel Restaurante “Yemanjá”

109. 24 jul.1959 - Campinas de Brotas

110. 29 jul.1959 - Duas festas litúrgicas

111. 31 jul.1959 - Uma senhora de São Paulo

112. 05 ago.1959 - Alfredo Santos

113. 07 ago.1959 - No rés do chão da Reitoria

114. 09 - 10 ago.1959 - Janela da Rua do Alecrim

115. 12 ago.1959 - Gripe

116. 14 ago.1959 - Poesia concreta

117. 19 ago.1959 - Procissão bi-centenário da Penha

118. 21 ago.1959 - Volta de Nosso Senhor do Bonfim

119. 26 ago.1959 - Cenário de lendas, paisagem de beleza

120. 30 - 31 ago.1959 - Falta de assunto

121. 04 set.1959 - Maria Célia

122. 09 set.1959 - A vaca de nome Tereza

123. 11 set.1959 - A procissão marítima de Nossa Senhora

124. 16 set.1959 - Nossa Senhora do Monte Serrat

125. 18 set.1959 - Encontro marcado

126. 23 set. 1959- Viagem para o Rio

127. 25 set.1959 - Vitória de baianos

128. 30 set.1959 - Cangaço

129. 02 out.1959 - Gíria de soldado

130. 04 - 05 out.1959 - O prestidigitador

131. 07 out.1959 - Agripino Grieco

132. 09 out.1959 - Um sujeito bom

133. 14 out.1959 - Miséria colorida

134. 21 out.1959 - Jânio e a Imprensa

135. 23 out.1959 - Mudança

136. 25 - 26 out.1959 - Casa nova

137. 28 out.1959 - Gesto misterioso

138. 04 nov. 1959 - Sarda

139. 07 nov. 1959 - Telefone para enterro

140. 10 nov. 1959 - Escravo de assunto

141. 14 nov. 1959 - Boêmia doméstica

142. 18 nov. 1959 - Sombra e água fresca

143. 20 nov. 1959 - Comunhão

144. 22 - 23 nov. 1959 - Pirão de água e farinha

139

145. 25 nov. 1959 - Sinfonia

146. 27 nov. 1959 - “Conto” do passarinho

147. 29 - 30 nov. 1959 - Turismo para Candeias

148. 02 dez.1959 - “Nordeste”

149. 04 dez.1959 - O menino e o cemitério

150. 11 dez.1959 - Santinesense

151. 13 - 14 dez. 1959 - Lauzier

152. 16 dez.1959 - Natal

153. 18 dez.1959 - Abstração

154. 25 dez.1959 - Cartas a Papai Noel

155. 27 - 28 dez.1959 - Escola primária

156. 30 dez.1959 - O Ciclo das arraias

157. 1º jan.1960 - Bailes pastoris

158. 03 - 04 jan.1960 - “Ternos” de Reis

159. 06 jan.1960 - Cinema

160. 08 jan.1960 - Compunctio

161. 10 - 11 jan.1960 - Milagre

162. 13 jan.1960 - Os que ajudam o turismo

163. 15 jan.1960 - Crônica de outro

164. 27 jan.1960 - Érico Veríssimo

165. 31 jan - 1º fev.1960 - Domingo

166. 03 mar.1960 - Burguês no carnaval

167. 06 e 07 mar.1960 - A batucada não falou

168. 09 mar.1960 - O tempo perdido

169. 11 mar.1960 - Chuva

170. 13 - 14 mar.1960 - Chicharro

171. 16 mar.1960 - A sombra da tarde

172. 18 mar.1960 - Cinema

173. 20 - 21 mar.1960 - A arte de receber

174. 23 mar.1960 - Os botos

175. 25 mar.1960 - Stella Maris

176. 27 - 28 mar.1960 - Turismo para Feira

177. 30 mar.1960 - Araçá

178. 1º abr.1960 - Primeiro de abril

179. 03 - 04 abr.1960 - Bahia campeão brasileiro

180. 06 abr.1960 - O “delegado” Rafael

181. 08 abr.1960 - Gestão Heitor Dias

182. 10 - 11 abr.1960 - Presente de aniversário

183. 13 abr.1960 - Passeios de automóvel

184. 15 abr.1960 - O Senhor Morto

185. 17 - 18 abr.1960 - Roteiro para um dia

186. 20 abr.1960 - Mário Cravo Júnior

187. 24 - 25 abr.1960 - Boate do Hotel da Bahia

188. 29 abr.1960 - Barangandan

189. 1º jun.1960 - Ao prefeito de Santa Inês

190. 03 jun.1960 - Outra de São Cristovão

191. 05 - 6 jun.1960 - Bronze para Heitor

192. 08 jun.1960 - Uma ideia ao presidente

193. 10 jun.1960 - Rifle de quinze tiros

194. 12 - 13 jun.1960 - Candomblé e suas “Nações”

140

195. 15 jun.1960 - I.O.B

196. 18 jun.1960 - Ferrari , Faixa Própria

197. 22 jun.1960 - Prêmio Anacleto Alves

198. 26 - 27 jun.1960 - Pescarias

199. 29 jun.1960 - Bando anunciador

200. 1º jul.1960 - Assassinemos a cidade

201. 06 jul.1960 - Três homens, três gestos

202. 08 jul.1960 - Pinto de Aguiar

203. 10 - 11 jul.1960 - Ao Sr. Rafael Cincurá

204. 13 jul.1960 - Minha casa dos Afli tos

205. 15 jul.1960 - Almoço à beira da estrada

206. 17 - 18 jul.1960 - Comerciante

207. 20 jul.1960 - Barragem do rio do Cobre

208. 24 - 25 jul.1960 - Loko

209. 27 jul.1960 - Sonho

210. 29 jul.1960 - O Ladrão

211. 31 jul. e 1º ago.1960 - Ladrão-II

212. 03 ago.1960 - A Virgildásio Sena

213. 05 ago.1960 - Ladrão-III

214. 07 - 8 ago.1960 - O Povo e suas estátuas

215. 09 ago.1960 - A Favor da Bahia

216. 12 ago.1960 - Para senhoras baianas

217. 14-16 ago.1960 - Bilhete à Lia Mara

218. 17 ago.1960 - Eparrêi!, Iansã!

219. 19 ago.1960 - Banquete para Nanã

220. 21 - 22 ago.1960 - Refinaria Landulfo Alves

221. 24 ago.1960 - Igreja da Graça

222. 25 ago.1960 - Roteiro turístico da Igreja da Graça

223. 29 ago.1960 - Terminal de Madre Deus

224. 31 ago.1960 - Como proceder num Candomblé

225. 02 set.1960 - Como proceder num candomblé-II

226. 04 - 5 set.1960 - Fototeca

227. 09 set.1960 - A procissão marítima de Nossa Senhora

228. 11 - 12 set.1960 -Roschild, o bom

229. 18 - 19 set.1960 - “Bahia de Todos os Santos”

230. 21 set.1960 - “Ternos da Terra”

231. 25 - 26 set.1960 - Um nobre chofer

232. 28 set.1960 - Fototeca

233. 30 set.1960 - Atitude diante da crítica

234. 05 out.1960 - Uma festa de candomblé - I

235. 07 out.1960 - Eleições

236. 09 - 10 out.1960 - Empregadas

237. 12 out.1960 - Arredores da cidade

238. 14 out.1960 - Momento

239. 16 - 17 out.1960 - Ao Dr. Valdomiro Farias

240. 19 out.1960 - Conversa de santamarense

241. 21 out.1960 - Frases dos outros

242. 23 - 24 out.1960 - Tarde de autógrafos

243. 26 out.1960 - Beija-Flor

244. 28 out.1960 - “The Limbo Dance”

141

245. 30 - 31 out.1960 - Domingo mar azul

246. 02 nov.1960 - Baía de Todos os Santos

247. 04 nov.1960 - Europa, Ásia, J iquiriçá

248. 06 - 7 nov.1960 - Flamboiant X Pau Brasil

249. 09 nov.1960 - “Tesouro da Juventude”

250. 11 nov.1960 - A Derrota das histórias de quadrinhos

251. 18 - 19 nov.1960 - Barravento

252. 23 nov.1960 - Etiqueta

253. 25 nov.1960 - Três notícias (que a greve atrasou)

254. 27 nov.1960 - Heitor e Virgildásio

255. 30 nov.1960 - “A Viagem”

256. 02 dez.1960 - Mangabeira

257. 04 - 5 dez.1960 - Reunião

258. 07 dez.1960 - Comandante Albano

259. 11 - 12 dez.1960 - Margarida e sua revista

260. 14 dez.1960 - Verbas para o turismo

261. 16 dez.1960 - Bodas de Ouro

262. 18 - 19 dez.1960 - Barravento

263. 21 dez.1960 - A galinha

264. 23 dez.1960 - Natal, 24 e 25

265. 25 - 26 dez.1960 - Cartas para Papai Noel

266. 28 dez.1960 - Caso (verídico) de Natal

267. 30 dez.1960 - “Festas Tradicionais”

268. 01- 2 jan.1961 - Festival Nortista de Teatro Amador

269. 04 jan.1961 - “Ternos” e “Ranchos”

270. 06 jan.1961 - Teatro dos Novos

271. 08 - 9 jan.1961 - “Ternos” brilharam

272. 11 jan.1961 - Lavagem do Bonfim

273. 13 jan.1961 - Bonfim

274. 15 - 16 jan.1961 - O poeta e a caixeirinha

275. 18 jan.1961 - Composição infantil

276. 20 jan.1961 - As barracas ciganas

277. 22 - 23 jan.1961 - Miss Prenda

278. 27 jan.1961 - Coqueijo e seus passageiros

279. 29 - 30 jan.1961 - Não eram de briga

280. 1º fev.1961 - Sambas e marchas para o Carnaval

281. 03 fev.1961 - Três notícias de Carnaval

282. 05 - 6 fev.1961 - Carnaval na Baixa dos Sapateiros

283. 08 fev.1961 - Rei Momo vai chegar

284. 17 fev.1961 - Convite

285. 19 - 20 fev.1961 - Odorico é testemunha

286. 22 fev.1961 - Mergulho

287. 24 fev.1961 - Pronto Socorro

288. 26 - 27 fev.1961 - A santa sem cabeça

289. 03 mar.1961 - História do transporte

290. 08 mar.1961 - História do transporte - II

291. 10 mar.1961 - Jiquiriçá paralisada

292. 15 mar.1961 - Reunião

293. 17 mar.1961 - História da Paixão

294. 19 - 20 mar.1961 - Garçons

142

295. 22 mar.1961- Leque de Oxum

296. 24 mar.1961 - Museu do Estado

297. 26 - 27 mar.1961 - Um escritor do Tietê

298. 02 - 3 abr.1961 - Volta

299. 05 abr.1961- Angústia do espaço

300. 07 abr.1961- Estrangeiros

301. 14 abr.1961- Turismo inter-municipal

302. 18 abr.1961- Proteção ao Museu Sacro

303. 23 - 24 abr.1961- Vinho brasileiro

304. 26 abr.1961- Deputados e vereadores

305. 28 abr.1961- Lenços para “BEN -HUR

306. 30 abr. e 1º mai. 1961- Coronel, telefone e coco

307. 03 mai.1961- Três anos e meio

308. 05 mai.1961- Sílvio Valente

309. 07 - 8 mai.1961- Balzaqueano da literatura

310. 10 mai.1961- “O capitão Vasco Moscoso de Aragão”

311. 14 - 15 mai.1961- Concurso de contos

312. 16 mai.1961- Professor em Dakar

313. 18 mai.1961- O amigo Adalmir

314. 20 mai.1961- Sante, o último romântico

315. 21- 22 mai.1961- Inquérito

316. 23 mai.1961- Frases de espírito

317. 25 mai.1961- Escritores brasileiros contemporâneos

318. 27 mai.1961- Jovens do mundo

319. 31 mai.1961- O Anjo do espaço

320. 04 - 5 jun.1961- Folclore gaúcho

321. 07 jun.1961- Casa Régia

322. 09 jun.1961- II Curso de Tradição e História

323. 11 - 12 jun.1961- Cinema Nacional

324. 14 jun.1961- Exemplo do “Albatroz

325. 16 jun.1961- Televisão

326. 18 - 19 jun.1961- Carta de Jorge Amado

327. 21 jun.1961- Com vistas aos editores

328. 26 jun.1961- São João em Jiquiriçá - I

329. 28 jun.1961- São João em Jiquiriçá - II

330. 05 jul.1961- Auto dos Caboclinhos

331. 07 jul.1961- “Flashes”

332. 09 - 10 jul.1961- Teatro dos Novos

333. 12 jul.1961- Pixangó

334. 15 jul.1961- Ubaldo Osório

335. 16 - 17 jul.1961- Um rei salvou o palácio

336. 19 jul.1961- Eguns

337. 21 jul.1961- Início de festa

338. 23 - 24 jul.1961- Festa do povo

339. 26 jul.1961- Anti-fanático

340. 28 jul.1961- Alina Paim

341. 02 ago.1961- Tabaréu no Rio

342. 04 ago.1961- Rio de Janeiro

343. 06 - 7 ago.1961- Lição do festival

344. 09 ago.1961- Bahia, imagens da terra e do povo

143

345. 11 ago.1961- Adriano no cinema

346. 13 -14 ago.1961- Maria Célia

347. 18 ago.1961- O Poeta em Hong-Kong

348. 20 - 21 ago.1961- Estudo sobre turismo

349. 23 ago.1961 - Unhão

350. 25 ago.1961 - Auto dos Caboclinhos

351. 27 - 28 ago.1961 - Vitrinismo

352. 31 ago.1961 - Administração

353. 03 - 4 set.1961 - Um gerente de banco

354. 10 - 11 set.1961- Constituição

355. 13 set.1961 - Feira, sob luz e azul

356. 15 set.1961 - Nomes antigos

357. 20 set.1961 - Critério dos velhos nomes das ruas

358. 24 - 25 set.1961 - Rampa do Mercado

359. 27 set.1961 - Noite

360. 03 out.1961 - Moça Sozinha na Sala

361. 06 out.1961 - Milagre de Carlitos

362. 10 out.1961 - Um colunista e a Bahia

363. 12 out.1961 - Ausência da Bahia

364. 15 - 16 out.1961 - Sindicato dos motoristas

365. 19 out.1961 - Fraternidade

366. 22 - 23 out.1961- “Lambreta”

367. 27 out.1961- Nomes de caminhões

368. 05 - nov.1961 - Turismo e charutos

369. 10 nov.1961 - Jaguaripe

370. 12 - 13 nov.1961 - Jaguaripe - III

371. 17 nov.1961 - Vemag e o turismo

372. 19 - 20 nov.1961- Por que “dos Frades”?

373. 29 nov.1961 - Onde o Senhor escolheu o seu abrigo

374. 30 nov.1961 - “A Grande Feira”

375. 05 dez.1961 - Governo e cultura

376. 07 dez.1961 - Livros para presente

377. 15 dez.1961 - A glória

378. 17 - 18 dez.1961 - Catavento

379. 29 dez.1961 - Vício de arraia

380. 31 dez.1961 - Passagem de ano

381. 03 jan. 1962 - Presente à Mãe D‟Água

382. 05 jan. 1962 - Os guardiões dos ternos

383. 10 jan. 1962 - Lavagem do Bonfim

384. 13 jan. 1962 - Lavagem do Bonfim

385. 14 - 15 jan. 1962 - Segunda-Feira da Ribeira

386. 17 jan. 1962 - Corta-Braço

387. 19 jan. 1962 - Um palácio em leilão

388. 21 - 22 jan. 1962 - Festival das bandeiras

389. 24 jan. 1962 - Guia dos telefones - 1962

390. 27 jan. 1962 - Calendário

391. 29 jan. 1962 - Seco sentimental Romeu

392. 31 jan. 1962 - Corrida de canoas

393. 04 - 5 fev.1962 - Coisas de ilha e de mar

394. 09 fev.1962 - Procissão em Santo Amaro - I

144

395. 11 - 12 fev.1962 - Nossa Senhora da Purificação

396. 14 fev.1962 - Procissão das jangadas

397. 16 fev.1962 - Filme, Regata, Humbert

398. 18 - 19 fev.1962 - Casa das Sete Mortes

399. 20 fev.1962 - Só para você

400. 23 fev.1962 - Porque trabalho para carnaval

401. 25 - 26 fev.1962 - Pré-carnavalesca

402. 28 fev.1962 - Pré carnavalesca

403. 09 mar.1962 - Alberto Vita

404. 14 mar.1962 - Associação Atlética

405. 16 mar.1962 - “Não queria deixar sua igreja”

406. 20 mar.1962 - Domingo pacato - I

407. 22 mar.1962 - Domingo pacato - II

408. 28 mar.1962 - Motorista

409. 29 mar.1962 - Coquetéis de cores

410. 11 abr.1962 - Baianada

411. 15 - 16 abr.1962 - Programa para Semana Santa

412. 20 abr.1962 - Paulinho e o mar

413. 26 abr.1962 - Lançamento de l ivros

414. 28 abr.1962 - Umas e outras

415. 11 mai.1962 - Teatro para a Bahia

416. 13 mai.1962 - Sem tí tulo

417. 16 mai. 1962 - Brasil iense

418. 24 mai. 1962 - Galinha à jardineira

419. 27 - 28 mai. 1962 - Para Maria Olívia

420. 31 mai. 1962 - Sobre cinema

421. 06 jun. 1962 - Fatos, fotos. ..e turismo

422. 10 - 11 jun. 1962 - Novas de Feira

423. 13 jun. 1962 - Quantos?

424. 15 jun. 1962 - Guias das igrejas

425. 19 jun. 1962 - Miss Brasil

426. 28 jun. 1962 - O Brasil está com tudo

427. 02 jul. 1962 - 2 de Julho e o “caboclo”

428. 04 jul. 1962 - São João do turismo

429. 06 - 7 jul . 1962 - Prêmios a baianos

430. 17 jul. 1962 - Arte é negócio

431. 20 jul. 1962 - Romancistas também personagens

432. 26 jul. 1962 - Evangelho de Couro

433. 29 - 30 jul. 1962 - A nova Itaparica

434. 1º ago. 1962 - Maragojipe - I

435. 03 ago. 1962 - Maragojipe - II

436. 08 ago. 1962 - Reforma agrária às avessas

437. 10 ago. 1962 - Esquartejamento do município

438. 14 ago. 1962 - Igreja de Mataripe

439. 18 ago. 1962 - Centro de estudos do Recôncavo

440. 22 ago. 1962 - Procissão em Cachoeira

441. 24 ago. 1962 - De Cachoeira a Valença

442. 26 - 27 ago. 1962 - Sobrados e igrejas de Valença

443. 29 ago. 1962 - Um fantasma no meio do mato

444. 31 ago. 1962 - Cairu

145

445. 04 set.1962 - Um dia na vida de Brasilino

446. 06 set.1962 - Carta ao prefeito de Jaguaripe - I

447. 09 - 10 set.1962 - Carta ao prefeito de Jaguaripe - II

448. 12 set.1962 - O Pagador de Promessas

449. 16 - 17 set.1962 - Meu voto para prefeito

450. 23 - 24 set.1962 - Amanhã será tarde demais

451. 26 set.1962 - O Dique e os candidatos

452. 28 set.1962 - Prefeitos para o interior

453. 30 set.1962 - Vou a Porto Santo

454. 03 out.1962 - Quando a vida é cruel

455. 05 out.1962 - Dois amigos do turismo

456. 07 - 08 out.1962 - Resposta

457. 10 out.1962 - Viagem inaugural

458. 12 out.1962 - Uma arte francesa

459. 28 - 29 out.1962 - Menino

460. 02 nov.1962 - Festival de cinema

461. 04 - 5 nov.1962 - O grande Ari

462. 07 nov.1962 - Mentira do barulho

463. 11 - 12 nov.1962 - Saturnia serve patrimônio

464. 18 - 19 nov.1962 - “Electra”

465. 21 nov.1962 - Mentira e verdade

466. 28 nov.1962 - Pedaços de paisagem

467. 30 nov.1962 - Turismo ferroviário

468. 02 e 3 dez.1962 - Outra fada cozinheira

469. 05 dez.1962 - Humanização da Rio - Bahia

470. 07 dez.1962 - Administração fecunda

471. 12 dez.1962 - Pescador

472. 19 dez.1962 - Colaboradora do turismo

473. 21 dez.1962 - Bailes pastoris

474. 30 - 31 dez.1962- Bom Jesus dos Navegantes

475. 04 jan. 1963 - Jaguaripe tombada

476. 08 jan. 1963 - Votos de Boas Festas

477. 09 jan. 1963 - Nomes de caminhões

478. 11 jan. 1963 - Lavagem do Bonfim

479. 16 jan. 1963 - Lavagem do Bonfim I

480. 18 jan. 1963 - Lavagem do Bonfim II

481. 23 jan. 1963 - Biblioteca infantil

482. 25 jan. 1963 - Bahiano de fato e lei

483. 03 - 4 fev. 1963 - Edições de Ouro

484. 08 fev. 1963 - As barracas ciganas

485. 10 - 11 fev. 1963 - Um homem e sua sombra

486. 13 fev. 1963 - Notícia sobre Clóvis Moura

487. 15 fev. 1963 - Lanchas de aluguel

488. 17 - 18 fev. 1963 - Dr. Rômulo Serrano cidadão baiano

489. 20 fev. 1963 - Unhão ressurreto

490. 22 fev. 1963 - Ainda o Solar do Unhão-II

491. 24 - 25 fev. 1963 - Desafio a Vênus

492. 06 mar. 1963 - Automóveis

493. 08 mar. 1963 - 2 meninos e um banco

494. 10 - 11 mar. 1963 - Lygia Milton

146

495. 13 mar. 1963 - O pintor de olhos fundos

496. 15 mar. 1963 - Ângulos

497. 17 - 18 mar. 1963 - Força da cor

498. 20 mar. 1963 - Pegada de arraia

499. 22 mar. 1963 - “Ângulos”

500. 24 - 25 mar. 1963 - Noturno

501. 27 mar.1963 - Um roteiro pela Baia de Todos os Santos

502. 29 mar.1963 - Chuva

503. 31 mar. e 1º abr. 1963 - Ídolo antigo

504. 03 abr.1963 - História da Bahia

505. 05 abr.1963 - Histórias (ou estórias) da Bahia

506. 07 - 8 abr.1963 - Vadim, Rescala, etc.

507. 10 abr.1963 - Prestação de contas

508. 12 abr.1963 - Programa da Semana Santa

509. 14 - 15 abr.1963 - Viva o Forte da Gamboa

510. 17 abr.1963 - Indústria de barracas e invasões

511. 19 abr.1963 - Nome de saveiro

512. 21 -22 abr.1963 - Aventura

513. 24 abr.1963 - Peixe de riacho

514. 26 abr.1963 - O velório

515. 28 - 29 abr.1963 - “Desintegração da Morte”

516. 1º mai.1963 - Para gaúcho ver

517. 3 mai.1963 - Estória de cangaço

518. 05 - 6 mai.1963 - Assombração

519. 08 mai.1963 - Casal na chuva

520. 10 mai.1963 - Filhas de Dona Menininha em Port o Alegre

521. 12 - 13 mai.1963 - Noite em Porto Alegre

522. 15 mai.1963 - Epitáfio para Antoninho Onofre

523. 17 mai.1963 - Hotel Embú

524. 22 mai.1963 - Campeão de arraia

525. 26 - 27 mai.1963 - Ciclo das arraias

526. 29 mai.1963 - Saída da escola

527. 05 jun.1963 - Estrada Rio-Bahia

528. 07 jun.1963 - Estrada Rio-Bahia II

529. 09 - 10 jun.1963 - A convite do Sr. Gouveia

530. 12 jun.1963 - Negócio & Cultura

531. 16 - 17 jun.1963 - Uma pessoal e duas de turismo

532. 19 jun.1963 - Dona Magu, a do Largo do Boticário

533. 21 jun.1963 - O Rio de noite

534. 23 - 24 jun.1963 - Deus e o Diabo na Terra do Sol

535. 26 jun.1963 - Obra e milagre do Padre Francisco de Paula

536. 28 jun.1963 - Turismo para Monte Santo

537. 03 jul.1963 - Calvário de Pedra, o Monte Santo

538. 05 jul.1963 - De Cipó a Monte Santo

539. 10 jul.1963 - Ex-votos de Monte Santo

540. 12 jul.1963 - A Mulher de cabelos verdes

541. 14 - 15 jul.1963 - 4 Rodas tem 3

542. 17 jul.1963 - Maria Célia novamente

543. 19 jul.1963 - Carlos Bastos redivivo

544. 26 jul.1963 - Carybé baianíssimo

147

545. 28 - 29 jul.1963 - Estória de cangaço

546. 31 jul.1963 - Sol sobre a lama

547. 02 ago.1963 - Abel

548. 04 - 5 ago.1963 - Erato centenária

549. 07 ago.1963 - Teatro popular da Bahia

550. 09 ago.1963 - Resposta a uma carta

551. 11 - 12 ago.1963 - Rebouças, o Antonio

552. 14 ago.1963 - Vou embora pra Brasíl ia

553. 18 - 19 ago.1963 - Ainda as grutas de Ituaçu

554. 23 ago.1963 - Frei Agostinho da Piedade

555. 25 - 26 ago.1963 - Brasília, cidade

556. 28 ago.1963 - A Sumoc e o Turismo

557. 1º - 2 set.1963 - Simpósio Nacional de Turismo

558. 04 set.1963 - Empacotador de sereno

559. 06 set.1963 - Limpeza pública

560. 11 set.1963 - O ladrão

561. 13 set.1963 - Revistas & Entrevistas

562. 15 - 16 set.1963 - Turismo para Aracaju

563. 18 set.1963 - Cachoeira: exemplos de arquitetura colonial

564. 21 set.1963 - Ainda Cachoeira

565. 27 set.1963 - Laranjeiras, morta, colorida, bela

566. 29 - 30 set.1963 - Aracaju e adjacências

567. 02 out.1963 - Corrida de canoa

568. 09 out.1963 - Eu e o Governador

569. 11 out.1963 - Turismo com dignidade (I)

570. 13 - 14 out.1963 - Turismo com dignidade (II

571. 16 out.1963 - Vela da pureza

572. 18 out.1963 - O homem emboscado

573. 20 - 21 out.1963 - Chuva

574. 25 out.1963 - Roteiro arquipélago Baía de Todos os Santos

575. 27 - 28 out.1963 - Do Recôncavo exemplo às cidades

576. 30 out.1963 - Escola primária

577. 1º nov.1963 - O Forte de Monte Serrat

578. 06 nov.1963 - Riqueza da cor

579. 10 - 11 nov.1963 - Festas populares: calendário

580. 15 nov.1963 - Palácios e solares - I

581. 17 - 18 nov.1963 - Palácios e solares - II

582. 20 nov.1963 - Prêmios Nobel da Literatura

583. 22 nov.1963 - Altar de Santa Rosa de Viterbo

584. 24 - 25 nov.1963 - Bandido não existe

585. 29 nov.1963 - Estrada da Rainha

586. 1º - 2 dez.1963 - Na sombra

587. 04 dez.1963. O assalto - I

588. 06 dez.1963. O assalto - II

589. 08 - 9 dez.1963 - Ladainha para N. S. da Conceição da Praia

590. 20 dez.1963 - Para Odorico ler na rede

591. 25 dez.1963 - O Impossível acontece

592. 1º jan.1964- Bom Jesus dos Navegantes

593. 03 jan.1964 - O Caipora

594. 05 - 6 jan.1964 - “Ternos e Ranchos” hoje

148

595. 09 jan.1964 - Os frutos da terra

596. 15 jan.1964 - Lavagem do Bonfim

597. 19 - 20 jan.1964 - Segunda-feira Gorda

149

APÊNDICE - B

VASCONCELOS MAIA: BIBLIOGRAFIA

150

APÊNDICE - B

VASCONCELOS MAIA: BIBLIOGRAFIA

1. L IVROS PUBLICADOS

MAIA, Vasconcelos. Fora da Vida . Salvador: Elo, 1946 .

MAIA, Vasconcelos. Contos da Bahia . Salvador: Caderno da Bahia, 1951.

MAIA, Vasconcelos. Feira de Água de Meninos: Desenhos de Carybé. Bahia:

Coleção Recôncavo, 1951.

MAIA, Vasconcelos. O Cavalo e a Rosa: contos. Bahia: Livraria Progresso,

1955.

MAIA, Vasconcelos; ARAÚJO, Nelson de (Org.). Panorama do Conto

Baiano. Salvador: Livraria Progresso, 1959.

MAIA, Vasconcelos. O Primeiro Mistério . Salvador: Imprensa Ofic ial da

Bahia, 1960. (Crônicas).

MAIA, Vasconcelos. O Leque de Oxum . Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro,

1961. (Contos).

MAIA, Vasconcelos. Histórias da Gente Baiana . São Paulo: Cultrix, 1964.

(Contos).

MAIA, Vasconcelos. ABC do Candomblé. São Paulo: Edições Grd, 1985.

MAIA, Vasconcelos. Cação de Areia: uma estória de sexo e violência nos

mares da Bahia. São Paulo: Edições Grd, 1986.

2. ANTOLOGIAS DAS QUAIS PARTICIPA

Antologia de Escritores Novos do Brasil . Rio de Janeiro: Revis ta Branca,

1949.

Contistas Brasileiros . Rio de Janeiro: Revista Branca, 1958.

Maravilhas do Conto Moderno Brasileiro . São Paulo: Cultrix, 1958.

O Conto do Norte . Rio de Janeiro: Civil ização Brasileira, 1959.

Panorama do Conto Baiano. Salvador: Livraria Progresso, 1959.

Histórias da Bahia. Rio de Janeiro: Edições GRD, 1963.

151

Antologia da Literatura Portuguesa e Brasileira, séc. XIX – XX .

Leningrado, Rússia: Ed. Universidade de Leningrado, 1964.

Antologia do Novo Conto Brasileiro . Rio de Janeiro: Júpiter, 1964.

Modern Brasilian Short Stories . Califórnia.USA: University of California,

1967.

Die Reiher und Andere Brasil ianische Erzalungen . Alemanha, Horst

Erdmann Verlag, 1967.

Latin American Writing Today . Londres: Penguin Books, 1967.

Moderne Brasilianische Erzahler . Alemanha e Suiça: Walter, 1968.

Textos de Autores Baianos . Bahia: Edições GRD, 1969.

Die Admirals Nach . Aufbau –: Verlag, Berlin & Weimar, 1972.

Antologia de Contos Contemporâneos da América Latina . Japão:

Hakusuisha, Kyoto, 1973.

Antologia de Contos do Mar . Sofia, Bulgária, 1975.

152

ANEXO

VASCONCELOS MAIA - FAC-SÍMILES DE CRÔNICAS ESCOLHIDAS

PUBLICADAS NO JORNAL DA BAHIA

153

Fac-símile 1 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 16 jan.1959.

154

Fac-símile 2 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 21 fev.1959.

155

Fac-símile 3 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 7 mar.1959

156

Fac-símile 4 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 18 mar.1959.

157

Fac-símile 5 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 25 mar.1959.

158

Fac-símile 6 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 21 ago.1959.

159

Fac-símile 7 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada 31 jan -1º fev.1960.

160

Fac-símile 8 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 2 set.1960.

161

Fac-símile 9 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 30 nov.1960.

162

Fac-símile 10 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 3 out. 1961.

163

Fac-símile 11 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 27 jan.1962.

164

Fac-símile 12 - Crônicas de Vasconcelos Maia

Publicada em 11 mai.1962.