A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA...

61
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO ANTONIA IARA EVARISTO LIMA A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL FORTALEZA 2013

description

Trata-se de um trabalho monográfico de conclusão de curso de Jornalismo do tipo estudo comparativo, baseado em pesquisa quantitativa sobre cobertura jornalística da mídia independente Rapadura Ninja na desocupação do Parque do Cocó, frente à descoberta dos telejornais de Fortaleza, no Ceará. Aborda os conceitos de Jornalismo cidadão e Jornalismo convencional e, em seguida, mede o tempo de fala dos atores sociais entrevistados nas duas modalidades de cobertura. Ao final, afere a hipótese de que a cobertura jornalística do Rapadura Ninja na desocupação do Parque do Cocó deu mais espaço às falas de atores sociais que o telejornalismo tradicional.

Transcript of A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA...

Page 1: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO

ANTONIA IARA EVARISTO LIMA

A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO

COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

FORTALEZA

2013

Page 2: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

ANTONIA IARA EVARISTO LIMA

A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO

COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

Monografia apresentada ao curso

de Comunicação Social com

habilitação em Jornalismo da

Universidade de Fortaleza como

requisito para obtenção do grau de

bacharel, sob a orientação do

Professor Ms. Alberto Perdigão.

FORTALEZA

2013

Page 3: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO

TERMO DE APROVAÇÃO

A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO

COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

Por

ANTONIA IARA EVARISTO LIMA

Monografia apresentada no dia __ de dezembro de 2013, como requisito parcial para obtenção

do título de bacharel em COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM

JORNALISMO da Universidade de Fortaleza, tendo sido aprovada pela Banca Examinadora

composta pelos professores:

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Prof.(a) Ms. Alberto Perdigão

Orientador(a)

__________________________________________

Prof.(a) Dr. Márcio Acserald

Examinador(a)

__________________________________________

Prof.(a) Esp. Júlio Alcântara

Examinador(a)

FORTALEZA

2013

Page 4: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

i

AGRADECIMENTOS

A Deus, o que seria de mim sem a fé que eu tenho nEle?

A minha mãe Margarida, por ser um exemplo na minha vida. Por me apoiar, sem

medir esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.

A toda a minha família.

Ao meu professor e orientador Alberto Perdigão pela paciência, por seu apoio,

inspiração na orientação e incentivo no amadurecimento dos meus conhecimentos e conceitos

que me levaram à execução e conclusão desta monografia.

A todos os professores do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza, em

especial, Angela Julita, Aderson Sampaio, Márcio Acserald, Júlio Alcântara, Adriana

Santiago, que foram tão importantes na minha vida acadêmica.

Ao proprietário da empresa Total Clipping, Luiz Viana, por permitir a realização

da minha pesquisa em sua empresa.

Aos amigos e colegas, em especial, a Lilian, pelo incentivo e pelo apoio

constantes.

A todos que, de alguma forma, passaram pela minha vida e contribuíram para a

construção de quem sou hoje.

Page 5: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

ii

RESUMO

Trata-se de um trabalho monográfico de conclusão de curso de Jornalismo do tipo estudo

comparativo, baseado em pesquisa quantitativa sobre cobertura jornalística da mídia

independente Rapadura Ninja na desocupação do Parque do Cocó, frente à descoberta dos

telejornais de Fortaleza, no Ceará. Aborda os conceitos de Jornalismo cidadão e Jornalismo

convencional e, em seguida, mede o tempo de fala dos atores sociais entrevistados nas duas

modalidades de cobertura. Ao final, afere a hipótese de que a cobertura jornalística do

Rapadura Ninja na desocupação do Parque do Cocó deu mais espaço às falas de atores sociais

que o telejornalismo tradicional.

Palavras-chave: Jornalismo Cidadão. Jornalismo Convencional. Critérios de Noticiabiliada.

Rapadura Ninja.

Page 6: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

iii

ABSTRACT

This is a monograph of completion of Journalism comparative study based on quantitative

research on media coverage of independent media in vacating the Rapadura Ninja Cocó Park,

due to the discovery of the newscasts of Fortaleza, Ceara type. Discusses the concepts of

Citizen Journalism and Conventional Journalism and then measures the time speaks of social

actors interviewed in the two types of coverage. At the end, assesses the hypothesis that media

coverage of Rapadura Ninja unemployment in the Cocó Park gave more space to the words

that traditional television journalism social actors.

Keywords: Citizen Journalism. Conventional Journalism. Noticiabiliada Criteria. Rapadura

Ninja.

Page 7: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

iv

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Critérios substantivos ............................................................................................. 19

Quadro 2 - Critérios contextuais ............................................................................................... 19

Quadro 3 - Valores-notícia de construção ................................................................................ 20

Page 8: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

v

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Em 1962, as salinas do Cocó passaram a ser consideradas como zonas de

proteção paisagística, sendo proibido o desvio do curso d’água ............................. 23

Figura 2 - Shopping Center Iguatemi ainda em construção ..................................................... 24

Figura 3 - O Parque do Cocó está localizado na Região Metropolitana de Fortaleza .............. 25

Figura 4 - Show no Anfiteatro do Parque do Cocó da Orquestra Sinfônica do Estado de

São Paulo ................................................................................................................. 25

Figura 5 - Garotos pescando no Parque Ecológico do Cocó .................................................... 26

Figura 6 - Lixo despejado na rua que dá acesso a uma das trilhas do Parque do Cocó

(Avenida Sebastião de Abreu) ................................................................................. 27

Figura 7 - Construções ao redor do Parque .............................................................................. 27

Figura 8 - Área de construção do Iguatemi Empresarial em Fortaleza, construído às

margens do rio Cocó. Ao lado, Shopping Center Iguatemi ..................................... 28

Figura 9 - Protesto contra o Iguatemi Empresarial realizado no Shopping Iguatemi............... 28

Figura 10 - Matéria publicada no O Povo Online – 08/08/2013 .............................................. 31

Figura 11 - Ilustração do projeto .............................................................................................. 33

Figura 12 - Manifestantes no Parque do Cocó ......................................................................... 33

Figura 13 - Reunião com o governador Cid Gomes no acampamento do Parque do Cocó ..... 34

Figura 14 - Manifestantes resistiam em frente ao Parque à tentativa da Guarda

Municipal de dispersá-los ...................................................................................... 35

Figura 15 - Sem diálogo, a Guarda Municipal jogou spray ..................................................... 35

de pimenta nos manifestantes ................................................................................ 35

Figura 16 - Guardas faziam a proteção do Parque, enquanto árvores eram cortadas ............... 35

Figura 17 - Guardas municipais utilizando arma de choque em manifestante ......................... 36

Figura 18 - Paulo Neto usou seu perfil pessoal no Facebook ................................................... 37

Figura 19 - Vídeo da entrada da Guarda Municipal no Parque do Cocó ................................. 37

Figura 20 -Vereador João Alfredo e a Guarda Municipal ........................................................ 37

Figura 21 - Trânsito caótico em várias vias distantes ao cruzamento da Avenida Antônio

Sales com Engenheiro Santana Jr. ......................................................................... 38

Figura 22 - Manifestante protesta em cima da árvore. ............................................................. 39

Figura 23 - Jornalista exibe marcas da agressão com cassetete. .............................................. 39

Figura 24 - Capa do jornal Diário do Nordeste, publicado no dia seguinte da

desocupação ........................................................................................................... 41

Page 9: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

vi

Figura 25 - Capa do jornal O Estado, publicado no dia seguinte da desocupação. .................. 42

Figura 26 - Capa do jornal O Povo, publicado no dia seguinte da desocupação...................... 43

Figura 27 - Cartazes em frente ao acampamento ..................................................................... 44

Figura 28 - Mapa com a localização das emissoras e o Parque do Cocó. ................................ 44

Page 10: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

vii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Jornal Jangadeiro ..................................................................................................... 45

Tabela 2 - Jornal União Brasil .................................................................................................. 46

Tabela 3 - Jornal Nordestv Notícias ......................................................................................... 47

Tabela 4 - Jornal da Cidade ...................................................................................................... 47

Tabela 5 - Jornal do Meio Dia .................................................................................................. 48

Tabela 6 - CETV 1ª Edição ...................................................................................................... 49

Tabela 7 - Jornal da TVC ......................................................................................................... 50

Tabela 8 - O Povo Notícias....................................................................................................... 50

Tabela 9 - Rapadura Ninja ........................................................................................................ 51

Tabela 10 - Conclusão 1 ........................................................................................................... 51

Tabela 11 - Conclusão 2 ........................................................................................................... 51

Page 11: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9

1 JORNALISMO CIDADÃO .................................................................................................. 11

1.1 Novo jornalismo e novas vozes - uma questão................................................................... 11

1.2 Critérios de noticiabilidade e valor notícia – uma comparação.......................................... 16

2 FATOS E VERSÕES ............................................................................................................ 23

2.1 Parque do Cocó ................................................................................................................... 23

2.2 Rapadura Ninja ................................................................................................................... 30

3 AS VOZES E AS FALAS ..................................................................................................... 32

3.1 Desocupação anunciada de resultado surpreendente .......................................................... 32

3.2 Distância física e distância política na cobertura ................................................................ 40

3.3 Quem fala e tempos de fala ................................................................................................ 45

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 55

Page 12: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

9

INTRODUÇÃO

A era tecnológica modificou a maneira de passar informação ao público. Hoje, há

um novo mandatário da informação a dividir o fluxo de fala e o poder do discurso com

aqueles que eram, até pouco tempo, únicos donos da mídia. É o cidadão comum que já pode

manufaturar, fabricar, registrar e transmitir dados, fatos ou opiniões sobre acontecimentos da

realidade a qualquer momento, a partir de qualquer lugar do mundo.Neste caso, desde que

tenha em suas mãos um aparelho móvel conectado à internet.

Desde o momento em que os dispositivos digitais conectados entraram no

mercado, o cidadão deixou de apenas receber a informação. Sua influência mudou o formato

do lead1, a tal ponto que, hoje, já é normal falar-se em um novo jornalismo, não mais

controlado pelos donos das empresas jornalísticas, por editores ou pelos próprios jornalistas.

O jornalista cidadão, como é chamado, é responsável pela sua própria empresa jornalística,

assumindo as funções da captação, processamento e distribuição de notícias.

Em Fortaleza, no Ceará, um coletivo de jornalismo cidadão, chamado Rapadura

Ninja, fez a cobertura jornalística de uma ação condenada pelo grupo como violenta,

protagonizada pela Guarda Municipal da cidade na operação de retirada de manifestantes que

acampavam no Parque do Cocó. O movimento tinha o objetivo de impedir a retirada de 94

árvores do Parque, que dariam lugar à construção de viadutos. Às 4 horas da manhã do dia 8

de agosto de 2013, uma quinta-feira, a Guarda Municipal invadiu o acampamento retirando de

maneira violenta cerca de 20 manifestantes que estavam no local. Quinze minutos após a

invasão, a notícia começou a repercutir nas redes sociais, não por jornalistas, mas por um

cidadão comum.

Esse trabalho monográfico de conclusão de curso aborda a cobertura do Rapadura

Ninja na desocupação do Parque do Cocó, comparando-a com os telejornais de Fortaleza.

A escolha do tema foi baseada nos critérios de afinidade com o assunto, já que a

pesquisadora acompanhou o que acontecia no dia da desocupação pelas redes sociais; por

oportunidade, dada a chance de aprofundar o conhecimento sobre o assunto do jornalismo

cidadão; mas, principalmente, pela relevância do assunto, já que o acontecimento, além de

novidade, teve grande repercussão política e social em Fortaleza (JUNQUEIRA; BARROS,

2006).

1 O lead é a primeira parte de uma notícia que fornece ao leitor a informação básica sobre o tema e pretende

prender-lhe o interesse. É uma expressão inglesa que significa “guia” ou “o que vem à frente”.

Page 13: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

10

O objetivo do trabalho é quantificar as falas e os tempos ocupados por esses

discursos, na cobertura do telejornalismo de Fortaleza, na cobertura da desocupação do

Parque do Cocó. Assim, foram identificados os atores sociais e atores políticos entrevistados e

que tempo ocuparam na cobertura do Rapadura Ninja e do telejornalismo convencional.

Como hipótese tem-se que a cobertura jornalística do Rapadura Ninja na desocupação do

Parque do Cocó deu mais espaço às falas de atores sociais que o telejornalismo convencional.

A metodologia utilizada foi a de uma pesquisa social em Comunicação Social,

com ênfase no jornalismo e foco no telejornalismo, do tipo estudo comparativo, quantitativo,

acolhendo o método da observação, e tendo o formulário padrão como instrumento de coleta

de dados.

Como referencial teórico, buscaram-se conceitos como do jornalismo cidadão,

jornalismo tradicional e critérios de noticiabilidade - e seus entornos-, por meio de autores de

referência como Pascual Serrano, Ignácio Romonet, Maria das Graças Targino, Sergio

Amadeu da Silveira e Nelson Traquina, entre outros.

Como amostra, tomaram-se os vídeos do Rapadura Ninja e as reportagens dos

principais telejornais de 10 emissoras de televisão de Fortaleza: TV Jangadeiro (Jornal

Jangadeiro 1ª Edição), TV Fortaleza (Jornal da Câmara 1ª Edição), TV União (União Brasil),

Nordestv (Nordestv Notícias), TV Cidade (Jornal da Cidade), TV Diário (Jornal do Meio

Dia), TV Verdes Mares (CETV 1ª Edição), TV O Povo (O Povo Notícias) e TV Ceará (Jornal

TVC).

O primeiro capítulo aborda o jornalismo cidadão como uma nova forma de fazer

jornalismo, analisando os critérios de noticiabilidade e comparando-o com o jornalismo

tradicional. O segundo capítulo trata a história do Parque do Cocó, a questão judicial para sua

delimitação e as construções irregulares em torno do Parque, além de relatar a história do

Rapadura Ninja. O terceiro capítulo tem foco sobre o dia da desocupação do Parque do Cocó,

sobre as distâncias física e política na cobertura feita pelas emissoras tradicionais de televisão

e, por último, apresenta os dados das pesquisas, apresentando a participação dos atores sociais

e dos atores políticos, entrevistados pelos principais telejornais de cada emissora e pelo

Rapadura Ninja, apresentando os tempos das respectivas falas.

Page 14: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

11

1 JORNALISMO CIDADÃO

1.1 Novo jornalismo e novas vozes - uma questão

A informação exerce um papel fundamental na comunidade jornalística. É através

dela que se constrói uma notícia. Há algumas décadas, essa produção da notícia era

exclusivamente feita por jornalistas. Mas, com o passar dos anos, essa produção foi migrando

para a sociedade.

É possível observar na contemporaneidade um crescimento massivo da cidadania

nos segmentos da sociedade civil que têm acesso à informação. O cidadão não está exercendo

só o papel de consumidor de conteúdo dos meios de comunicação de massa, mas também, a

de produtor de novos conteúdos, através de novos meios de comunicação. Tal mudança foi

impulsionada pelo avanço da tecnologia, mais precisamente da internet, que proporcionou ao

usuário não só um novo meio de comunicação, mas um novo meio de se comunicar.

Com a internet “os usuários têm a chance de atuar, simultaneamente, como

produtores, emissores e receptores de ideias e conhecimentos, dependendo dos acessos,

habilidades técnicas e lastros de cada um” (MORAES, 2013, p. 104).

Hoje, cada indivíduo, instituição ou associação pode ter seu próprio veículo de

informação, bem como criar um blog ou uma página em uma rede social. Com um simples

smarthphone ou notebook, cada cidadão pode enviar mensagens, corrigir as informações

dadas pelos meios de comunicação de massa ou completá-las com imagens, textos e vídeos.

Lemos e Lévy (2010, p. 76) apontam que:

[...] com as atuais tecnologias móveis, esses usuários-produtores desempenham uma

função muito maior do que a comunicação interpessoal. Fala-se também de ‘mobile

journalism’ ou ‘locative journalism’ para práticas que utilizam essas novas

tecnologias para localizar e publicar notícias, seja por jornalistas profissionais, seja

pelo cidadão ‘comum’.

Com a referida mudança, surge, então, um novo personagem que se coloca em

posição de concorrência com os meios de comunicação, e que Romonet (2013) identifica

como “neojornalistas”, testemunhas-observadoras dos acontecimentos, sejam sociais,

políticos, culturais ou de variedades. Esse personagem “informante”, conhecido como

jornalista cidadão2, participa de um grupo de pessoas comuns, sem formação jornalística,

2 Conceito criado pelo jornalista norte americano Dan Gilmor.

Page 15: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

12

participando de forma ativa no processo de coleta, reportagem, análise ou compartilhamento

de notícias e informações.

Pode-se dizer que a produção colaborativa3 de informações não é recente, pois

vem sendo observada desde a descoberta da imprensa, há 500 anos (CASTILHO; FIALHO,

2009). No Brasil, a imprensa alternativa teve um período fértil nos anos de 1970 e 1980,

quando a censura aos meios de comunicação passou a ser exercida no país. Nesse período,

surge uma nova imprensa, composta por pequenos jornais4 de oposição que, embora tivessem

suas divergências, mantinham-se contrários à ditadura militar. Seu papel era “analisar

corajosa e criticamente a realidade, contestando o modelo de desenvolvimento excludente e o

sistema repressivo” (MORAES, 2013, p. 114).

Em meados da década de 1990, iniciada a era digital, o jornalismo cidadão marca

o reaparecimento, nos Estados Unidos, por influência do jornalismo cívico5, uma variante do

jornalismo profissional. Um grupo de repórteres, editores e professores descontentes com a

imprensa local decidiu criar seu próprio jornal. O projeto, patrocinado pelo Pew Center For

Civic Journalism, contou com a participação de 30 jornais locais de diferentes estados norte-

americanos. Os jornais passaram a convocar a população para participar de assembleias, em

que questionavam as autoridades municipais. Após tentar aumentar a participação dos

moradores em eleições locais, o jornalismo cívico perde seu financiador, pois os resultados

das eleições de 1994 não foram satisfatórios.

Quase 10 anos depois, com a popularização da internet e a expansão dos

webjornalismo6, a ideia do jornalista cidadão ganhou um novo impulso. Um jornalista

coreano, Oh Yeon-Ho7, criou um jornal online chamado OhmyNews

8. A proposta era

desenvolver um novo fazer jornalístico, dando oportunidade a todo cidadão de ser repórter

(TARGINO, 2009). O jornal, produzido por cerca de 30 mil colaboradores voluntários e

3 Conforme o professor e pesquisador austrilano Axel Brun, essas contribuições podem assumir quatro formatos

finais: weblogs noticiosos individuais; autoria coletiva, em que vários colaboradores publicam notícias em uma

mesma página da web ou usam sistemas de produção colaborativa, como a plataforma wiki; reportagens e

textos colaborativos; newsletters impressa. 4 São exemplos PIF-PAF (1964), Pasquim (1969), Opinião (1972), EX (1973), Movimento (1975), Coojornal

(1975), Versus, (1974), De Fato (1975), entre outros. 5 Jornalismo cidadão possui uma diferença em relação ao jornalismo cívico ou público, pois é elaborado,

essencialmente, por jornalistas não formados, ou seja, por pessoas sem treinamento especifico em jornalismo,

mas que possuem outra formação profissional ou educacional, e é realizado de maneira não remunerado de

forma “amadoristica”. 6 John Pavlik identifica três fases no webjornalismo: (1) os conteúdos disponibilizados on-line idênticos aos

editados nas versões em papel; (2) os conteúdos existem em formato on-line, às vezes contendo hipertextos,

iniciativas de interatividade, imagens e som; (3) conteúdos desenvolvidos exclusivamente para a web,

primando pela convergência de meios. 7 Às vezes, é citado como o pioneiro do jornalismo de fonte aberta.

8 Em agosto de 2006, Oh Yeon-Ho

lançou o Ohmy News Japan, na fase inicial o jornal tinham aproximadamente

mil cidadão-repórteres e com dois anos de atividade pretendiam ter cerca de 40 mil.

Page 16: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

13

editado por um grupo de 35 jornalistas profissionais, já chegou ao patamar de 10 milhões de

visitantes diários.

O processo colaborativo envolve mais de um protagonista. Geralmente, é formado

em uma comunidade virtual, por indivíduos com algum interesse, que vivenciam um

problema em comum, que se comunicam de forma basicamente não presencial, usando algum

tipo de ferramenta midiática para alcançar uma meta coletiva.

Projetos, nos quais os leitores são também produtores, representam uma tendência

mundial do que se chama de citizen journalism, ou jornalismo cidadão (LEMOS; LÉVY,

2010). No Brasil, há o exemplo do Mídia Ninja (acrônimo de Narrativas Independentes,

Jornalismo e Ação), que ficou conhecido por fazer a cobertura com transmissões via internet e

sem edição, das manifestações ocorridas em junho de 2013, quando milhares de cidadãos

foram às ruas, em diferentes cidades, para protestar.

Os protestos surgiram para contestar o aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte

público em São Paulo. Mas, sendo transmitido ao vivo a milhares de jovens conectados à

internet, pode ter influenciado a proliferação dos protestos pelas capitais, como Fortaleza, Rio

de Janeiro, Porto Alegre e Manaus, entre outras cidades.

Em um segundo momento, segundo noticiaram os websites, blogs, redes sociais e

meios tradicionais, o objetivo do protesto se ampliou, alcançando temas como a corrupção e o

gasto excessivo com as obras da Copa do Mundo de 2014.

A credibilidade do Mídia Ninja se tornou uma referência de contra informação

que os manifestantes identificaram como um modelo novo de jornalismo, passaram a se negar

a dar entrevista aos veículos de comunicação tradicionais, e até impedi-los de fazer a

cobertura das manifestações.

O fenômeno do jornalismo cidadão não só estaria alterando os processos

informativos da sociedade, mas estaria também gerando uma mudança na comunidade

jornalística, principalmente, no telejornalismo. Não se trata apenas de uma mudança na forma

de consumo midiático, mas nas formas de produção e distribuição de conteúdo. “[...] não são

mais os atores da vida pública que entram em nosso espaço privado pelo truque da televisão.

É, ao contrario, pela nossa iniciativa que eles são convocados à tela do nosso computador.

[...]” (LEMOS; LEVY, 2010, p. 79).

O campo da produção passou a contar com um novo autor, o público, que se

tornou uma fonte de informação extremamente solicitada. Está cada vez mais frequente, nos

telejornais brasileiros, a participação do público, seja com a utilização de imagens ou vídeos

enviados, captada pelo público, através de celulares e câmeras digitais, de fatos cotidianos,

Page 17: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

14

que são notícias. Uma audiência que não assiste só ao telejornal, mas pode contribuir para a

produção de notícias e reportagens, como explica Vizeu e Siqueira (2010, p. 92):

As possibilidades de utilizar conteúdos que não foram produzidos pelas equipes de

reportagem foram ampliadas e incorporadas às rotinas produtivas das emissoras. Ao

mesmo tempo em que as empresas de televisão abriram espaço para que as pessoas

encaminhem o material que produzem, elas estimulam essa participação e atraem o

telespectador. Estabelece-se um novo laço de proximidade entre emissora e o

público [...].

Não se pode deixar de citar que o telejornalismo cumpre uma função social e

política importante, pois alcança 97,2% dos domicílios brasileiros, atingindo um público com

baixa cognição, baixo letramento escolar. Portanto, pouco habituado à leitura e que tem o

telejornalismo como a principal fonte de informação.

Em relação à internet, acontece o contrário: o leitor só lê e assiste àquilo que lhe

interessa. Por outro lado, a internet permite que cidadãos tenham acesso à informação, sem

depender dos grandes meios de comunicação. E destituindo, assim, uma alternativa ao modelo

que foi único durante muito tempo, desde o advento dos meios de comunicação.

Desse modo, o monopólio da informação que os meios de comunicação

dominantes exerciam na sociedade vai chegando ao fim. Abrindo espaço para outros modelos

informativos que estariam mais identificados com a expectativa do cidadão. Para Serrano

(2013, p. 147), “o jornalismo abandonou sua origem principal de sistema de aproximação,

transformando-se em um mecanismo de intercepção que impõe obstáculos e desvirtua a

comunicação entre os governantes e os cidadãos”.

Teoricamente, o jornalismo por analogia, o telejornalismo, também é uma atividade

essencial e genuinamente pública, sua função é informar, relatar a verdade sobre o fato. Mas

essa informação, muitas vezes, tem chegado de maneira desvirtuada para o cidadão, como

analisa Amaral (2002, p. 82), para quem

A informação audiovisual é, por definição, por essência, por necessidade, uniforme.

Uniformizada. Unilateral e, principalmente fragmentada. E, assim, não enseja nem a

reflexão, nem o juízo crítico. Não possibilita a visão de conjunto, descontextualiza,

desenraíza, ‘des-historiciza’, autonomiza os fatos, rompe com o nexo causal,

dilacera a realidade, destrói o pensamento político e a possibilidade de opinião.

Além de informar, o jornalismo também tem a função de exercer o papel de

contrapoder, fiscalizando os três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas se esse

poder fiscalizador se afasta da sua missão, deixa- se comandar pelos interesses, influências e

Page 18: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

15

pressões dos três Poderes e de tantos outros os quais a imprensa também fiscaliza. Dessa

forma, perderá sua credibilidade, e será como Seabra (2002) identifica, apenas um simulacro

da realidade, e não uma representação documental da mesma.

A cumplicidade do chamado “quarto poder” com os poderes dominantes faz com

que ele deixe de funcionar. Deixando, assim, de cumprir sua missão de contrapoder

(ROMONET, 2013). Uma imprensa sem credibilidade faz com que a sociedade busque outras

fontes de informações, por não confiar mais na veracidade dos fatos que os meios de

comunicação divulgam, ou por comprovar muitas vezes como eles mentem ou escondem

elementos fundamentais (SERRANO, 2013).

Castilho e Fialho (2009, p. 137) assim expressam:

O descrédito da mídia local também foi influenciado pelo fato de que a maioria dos

jornais e rádios em pequenas cidades geralmente é controlada por empresários ou

políticos da região, que usam o veículo em beneficio próprio. O jornalismo local

passou a ser visto com desconfiança pelos leitores, o que também contribuiu para a

queda de circulação e de suas receitas com vendagem.

O cidadão nessa nova esfera pública9 não está mais obrigado a restringir o seu

ponto de vista ou seu acesso à informação ao que se inscreve ou é dito na esfera pública

midiática de massa. Agora, ele está, em tese, aparelhado a manifestar sua opinião, porque

passou a ter acesso à informação, além de estar habilitado a processar essa informação, ou

seja, a proceder a um juízo de valor. Isso é criar um quinto poder.

Não se trata de um exercício profissional do jornalismo, mas de uma ampliação

inédita de fontes testemunhais, de relatos em primeiro grau de fatos e de possibilidades de

veiculação desses relatos, como as experiências do “VC no G1”10

.

O que os conservadores “críticos” não veem é que não é uma subtração ou

substituição de uma mediação pela outra, mas de um processo de adicionar complexidade e

oferecer formas novas de colaboração, comunicação e conhecimento. Teóricos, a exemplo de

M. E. McCombs (2006), L. B. Becker (1979), MSchudson (1997), P. J. Shoemaker (1991) e

Mauro Wolf (1995), além de S. Moretzsohn (2006) e J. Zafra (2006) acreditam que se trata de

9 A esfera pública pode ser entendida como estabelecimento de um espaço comunicacional que congrega

ambientes físicos e virtuais, como temporalidades múltiplas (a imagem ao vivo se combina com documentos

de arquivo, dispostos on-line, a notícia do jornal dialoga com o depoimento de um leitor, num blog, em

processos que convergem para a formação de consensos ou de disputas), em torno de temas que dizem respeito

às pazes e aos propósitos de vida em sociedade dos cidadãos integrados por esse mesmo espaço

comunicacional, cujas vidas são afetadas por ele. 10

Disponível em: <http://g1.globo.com/ceara/vc-no-g1-ce/enviar-noticia.html>. Acesso em: 20 set. 2013.

Page 19: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

16

reestruturação do fazer jornalístico, e não de extinção do jornalismo ou da profissão de

jornalista (TARGINO, 2009).

A rede mundial de computadores permite ao internauta tornar-se produtor de

informação (um jornalista, no sentido essencial da palavra), em jornalista de si, dada a

condição de narrar e distribuir tudo aquilo que lhe é possível testemunhar com smartphones,

iPad ou laptop nas mãos. Para Serrano (2013, p. 153), o imediatismo da internet quer dizer

que não se deve ter o mesmo cuidado com a redação que se tem no papel. Um meio digital

deve ser elaborado por pessoas qualificadas; não é preciso que tenham diploma, e sim que

saibam jornalismo.

1.2 Critérios de noticiabilidade e valor notícia – uma comparação

Não existe uma definição única do que seja notícia, tampouco uma lista de

assuntos que enumere o que seja digno de publicar em um jornal. Estudos comprovam que os

próprios profissionais da comunicação têm dificuldade para explicar aos demais o que é

notícia e quais critérios são utilizados para escrever uma narrativa voltada a informar

(TRAQUINA, 2005).

Portanto, a noticiabilidade equivale ao “conjunto de critérios, operações e

instrumentos” com o qual a imprensa seleciona, no universo “imprevisível e indefinido de

acontecimentos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícia” (WOLF, 2003,

p. 190).

Para Pinto (2009, p. 59), além de ser uma novidade, a notícia é uma combinação

de importância e interesse. Há algumas muito importantes, mas pouco interessantes, e outras

muito interessantes, mas não tão importantes.

Aguiar (2009, p. 173) esclarece que a importância de uma notícia pode ser

determinada em quatro variáveis:

a) Notoriedade - implica o grau e nível hierárquico dos envolvidos no

acontecimento noticiável.

b) Proximidade - relaciona-se com o impacto sobre a nação e sobre o interesse

nacional, em termos de proximidade geográfica ou da proximidade econômica,

política ou cultural.

c) Relevância - aponta para a quantidade de pessoas que o acontecimento, de fato

ou potencialmente, envolve.

d) Significatividade - relaciona-se com a importância do acontecimento quanto à

evolução futura de uma determinada situação.

Page 20: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

17

Já quanto às chamadas de “interessantes”, Aguiar classifica como notícias que

procuram dar uma interpretação de um acontecimento baseado no fator “interesse humano”,

ou seja, as curiosidades e o insólito que atraem a atenção. Uma informação atrairá mais o

telespectador/leitor/ouvinte quando mais atrair a atenção do público.

Para entender o que é notícia e o que é “estória”, Traquina (2005, p. 63) define os

critérios de noticiabilidade como um conjunto de valores-notícia que determina se o

acontecimento é apto de se tornar notícia.

A previsibilidade do esquema geral das notícias deve-se à existência de critérios de

noticiabilidade, isto é, à existência de valores-notícia que os membros da tribo

jornalística partilham. Podemos definir o conceito de noticiabilidade de critérios e

operações que fornecem aptidão de merecer um tratamento jornalístico, isto é,

possuir valor como notícia. Assim, os critérios de noticiabilidade são o conjunto de

valores-notícia que determina se um acontecimento, o assunto, é susceptível de se

tornar notícia, isto é, de ser julgado como merecedor de ser transformado em matéria

noticiável, e por isso, possuindo ‘valor-notícia’ (‘newsworthiness’).

Em síntese, os valores-notícia são as qualidades da construção jornalística dos

acontecimentos e funcionam como “óculos” (BOURDIEU, 1997) através dos quais os

jornalistas operam uma seleção e uma produção discursiva daquilo que é selecionado. Eles

possuem o controle do que deve ou não ser produzido. Trata-se do controle da emissão na

comunicação massiva por centros editores clássicos da informação (LEMOS; LEVY, 2010).

O jornalista exerce uma função fundamental na construção da notícia, pois

participa do processo de transformação de acontecimentos cotidianos em notícia, conhecido

como newsmaking, processo que evidencia o emissor (jornalista), como mediador entre

acontecimentos e narrativa da notícia, o que requer analisar o relacionamento entre fontes e

jornalistas, as etapas da produção e distribuição. Para Targino (2009, p. 148):

[...] O newsmaking incorpora tanto a cultura profissional, como a organização do

trabalho e da produção da notícia. Assim, são estabelecidos os critérios de

noticiabilidade ou newsworthiness (do inglês news = notícias; worth = valioso,

significante) que comportam os valores-notícia (news value), ou seja, os elementos

que determinam se um evento ou um tema é passível e/ou merecedor de transformar

em notícia.

Exercendo a intermediação entre autores e telespectadores, o editor decide o que o

público vai consumir de conteúdo jornalístico. A comunicação na organização decorre por

Page 21: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

18

meio de gatekeepers11

, conceito que pode ser entendido como o “porteiro” da redação. Sua

função é fazer a seleção da notícia, ou seja, definir, de acordo com critérios editoriais, o que

vai ser veiculado.

Targino (2009) explica que tal prática exige integrar e conciliar interesses aos

mais diversificados: dos autores, do público, da editora, da gráfica, do periódico, da

especialidade e do próprio editor, o que permite interferir que ele exerça dupla função: como

gatekeeper, mantém-se a par das novidades na área de interesse e filtra tais informações para

os pares.

Na realidade, o gatekeeper incorpora procedimento amplo de informação

envolvendo seleção e coleta de dados, elaboração, distribuição e promoção da notícia. Ainda

em nível microscópio de análise, também pode ser visto como o processo de reconstruir o

esquema básico de um evento para transformá-lo em notícia. Aguiar (2009) esclarece que

qualquer acontecimento que não corresponda a esses critérios é excluído.

Nelson Traquina propõe uma série de critérios, que concorrem na seleção de

acontecimentos para serem registrados como notícia. Então, o autor separa tais critérios de

noticiabilidade em dois grupos: valores-notícia de seleção e valores-notícia de construção

(TRAQUINA, 2005, p. 63). Os valores-notícia de seleção referem-se aos critérios que os

jornalistas utilizam para escolher um acontecimento para transformá-lo em notícia. Referido

grupo está fragmentado em dois subgrupos: os critérios substantivos e os critérios contextuais.

Os critérios substantivos são caracterizados pela avaliação direta do

acontecimento em termos de sua importância ou interesse como notícia. São considerados

critérios substantivos: a morte, que será sempre notícia, principalmente, quando um acidente

causar o falecimento de várias pessoas; notoriedade, quanto maior for a celebridade ou

importância hierárquica dos indivíduos envolvidos no acontecimento, maior será seu destaque

na notícia; proximidade, tanto cultural, como geográfica, quanto mais próximo ao leitor,

maior o valor-notícia; relevância, tem a ver com a capacidade de um acontecimento ter

impacto sobre as pessoas ou o país; novidade, um evento que acontece pela primeira vez é

sempre mais importante para a tribo jornalística; tempo, trata-se da atualidade, aniversários,

datas comemorativas; notabilidade, a cobertura jornalística está voltada mais para

acontecimentos do que para problemáticas; inesperado, são considerados mega-

acontecimentos que surpreendem a expectativa da comunidade jornalística; conflitos e

11

Do inglês gate = portão; keeper = guardião. Em sua tradução literal significa porteiro, ou seja, aquele que

define o que será noticiado. Conceito jornalístico para edição

Page 22: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

19

controvérsias, para Traquina (2005), na prática, o uso da violência representa a quebra do que

é normal. Como segue na coluna abaixo:

Quadro 1 - Critérios substantivos

Morte Sempre será notícia, principalmente, quando um acidente causar a morte de várias

pessoas.

Notoriedade Quanto maior for a celebridade ou importância hierárquica dos indivíduos envolvidos no

acontecimento.

Proximidade Tanto cultural, como geográfica, quanto mais próximo ao leitor, maior o valor-notícia.

Novidade Um evento que acontece pela primeira vez é sempre mais importante para a tribo

jornalística.

Tempo Atualidade, aniversários, datas comemorativas sempre terão espaço em veículos de

comunicação.

Notabilidade A cobertura jornalística está voltada mais para acontecimentos do que para problemáticas.

Inesperado São considerados mega-acontecimentos que surpreendem a expectativa da comunidade

jornalística.

Conflitos e

controvérsias

Para Traquina, na prática, o uso da violência representa a quebra do que é normal.

Relevância Tem a ver com a capacidade de um acontecimento ter impacto sobre as pessoas ou o país.

Fonte: Elaborado pela autora

Os critérios contextuais estão relacionados à avaliação direta do acontecimento.

São eles: disponibilidade, facilidade para fazer a cobertura do acontecimento; equilíbrio, esse

valor-notícia tem relação com a quantidade de notícias sobre este acontecimento ou assunto

que já existe, ou publicadas há pouco tempo; visualidade, elementos visuais associados à

informação dão maior valor-notícia; concorrência, devido à busca pelo furo jornalístico e pela

exclusividade; dia noticioso, algumas épocas do ano, assuntos com baixo valor-notícia têm

mais noticiabilidade como nas férias, Carnaval, Natal, etc. Como segue na coluna abaixo:

Quadro 2 - Critérios contextuais

Disponibilidade Facilidade para fazer a cobertura do acontecimento.

Equilíbrio O valor-notícia tem relação com a quantidade de notícias sobre esse assunto que já

existe, ou publicadas há pouco tempo.

Visualidade Elementos visuais associados à informação dão maior valor-notícia.

Concorrência A busca pelo furo jornalístico e pela exclusividade.

Dia noticioso

Assuntos com baixo valor-notícia têm mais noticiabilidade como nas férias, Carnaval,

Natal, etc.

Fonte: Elaborado pela autora.

Os valores-notícia de construção dizem respeito mais à forma de narrar do que ao

conteúdo, como o jornalista aborda a notícia. São eles: simplificação, escrita de forma mais

simples, para que a notícia alcance toda sociedade; amplificação, esse valor relaciona-se com

a dimensão do acontecimento; relevância, que compete ao jornalista demonstrar a importância

do fato para o público; personalização, o jornalista valoriza as pessoas envolvidas no

Page 23: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

20

acontecimento e valorizam o fator “pessoa” como forma de agarrar o leitor; dramatização, o

comunicador reforça o lado dramático dos acontecimentos; consonância, o jornalista insere

novidades num contexto ou numa história já conhecida para facilitar a compreensão pelo

público. Como segue na coluna abaixo:

Quadro 3 - Valores-notícia de construção

Simplificação Escrever de forma mais simples para que a notícia alcance toda sociedade.

Amplificação Relaciona-se com a dimensão do acontecimento.

Relevância Compete ao jornalista demonstrar a importância do fato para o público.

Personalização O jornalista valoriza as pessoas envolvidas no acontecimento e valorizam o fator

“pessoa” como forma de agarrar o leitor.

Dramatização O comunicador reforça o lado dramático dos acontecimentos.

Consonância O jornalista insere novidades num contexto ou numa história já conhecida para facilitar

a compreensão pelo público.

Fonte: Elaborado pela autora.

Todos os valores-notícia apresentados por Traquina são importantes, mas alguns

são fundamentais em uma notícia, tanto para o emissor, quanto para o receptor. Como

exemplo, tem-se o valor- notícia inesperado, é o momento mágico para o emissor da notícia,

como explica Vizeu e Siqueira (2010). É o momento em que os jornalistas entram em ação,

num ritmo heróico contra o tempo e em dedicação ao imperativo de informar os cidadãos.

Traquina (2005, p. 63) se refere ao caso:

Outro valor-notícia importante na cultura jornalística é o inesperado, isto é, aquilo

que irrompe e que surpreende a expectativa da comunidade jornalística. Segundo

Tuchman (1978), o inesperado é muitas vezes um componente de um tipo de

acontecimento que designa o ‘What a story’!, ou seja, o mega-acontecimento com

enorme noticiabilidade que subverte a rotina e provoca o caos na sala de redação.

Um exemplo de mega-acontecimento foram os ataques a diferentes sítios, sobretudo

ao Wolrd Trade Center, no dia 11 de setembro de 2001.

Saber transmitir uma notícia inesperada é fundamental para uma cobertura

jornalística, pois a notícia tem um tempo de vida. Quando não é transmitida ao telespectador,

torna-se passado, caduca, perdendo o seu valor. Assim, explica Traquina (2005, p. 37):

[...] as notícias são vistas como um ‘bem altamente perecível’, valorizando assim a

velocidade. O imediatismo age como medida de combate à deterioração do valor da

informação. Os membros da comunidade jornalística querem as notícias tão

‘quentes’ quanto o possível, de preferência ‘em primeira mão’. Notícias ‘frias’ são

notícias ‘velhas’, que deixaram de ser notícia.

Por serem imprevistas, geralmente, as notícias inesperadas são transmitidas ao

vivo, por isso se tornam mais evidentes. Consegue-se lembrar, com poucos ou muitos

Page 24: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

21

detalhes, o que se está fazendo no exato momento em que está vendo uma notícia sendo

transmitida ao vivo, principalmente, quando é um acontecimento que envolve morte ou

escândalo. Para Machado (2003, p. 125), a transmissão ao vivo marca mais profundamente a

experiência no telejornalismo:

A transmissão ao vivo talvez seja, dentre todas as possibilidades de televisão, aquela

que marca mais profundamente a experiência desse meio. A televisão nasceu ao

vivo, desenvolveu todo o seu repertório básico de recursos expressivos num

momento que ainda operava ao vivo e esse continua sendo o seu traço distintivo

mais importante dentro do universo audiovisual [...].

Quando se fala de “ao vivo”, logo se relaciona notícia ao imediatismo, devido à

velocidade com que é transmitida. Para Traquina (2005), o imediatismo é definido como um

conceito temporal que se refere ao espaço de tempo (dias, horas e segundos) que decorre entre

o acontecimento e o momento que a notícia é transmitida.

Nesse momento, entre a notícia e o imediatismo, o comunicador se torna o

principal elemento. O jornalista tem a função de encontrar fontes que atestam a mesma coisa

para garantir a veracidade da informação. Porém, diante da rapidez e da concorrência, entre

diversos meios de comunicação, ele não pode perder muito tempo com isso, pois perderá o

furo de reportagem, a exclusividade. Traquina (2005) diz que a relação entre o fator tempo e o

jornalista é fundamental, pois constitui um fator central na definição de competência

profissional. Ser profissional implica possuir uma capacidade performativa avaliada pela

aptidão de dominar o tempo em vez de ser vítima dele.

Mas para Baudrillard (1991, p. 49), o imediatismo na informação pode perder o

sentido. Uma vez que se torna mais difícil passar uma notícia correta e segura para o

telespectador.

A uma velocidade determinada, a da informação, as coisas perdem o seu sentido.

Torna-se mais arriscado enunciar (ou denunciar) o apocalipse do tempo real, uma

vez que é nesse momento que o acontecimento se desvanece e se converte em um

buraco negro de que a luz já não pode escapar.

A noticiabilidade configura-se, portanto, como resultado de negociações entre

editor e emissor, com o objetivo de definir a parcela íntima de fatos que se transformarão em

notícias por diversas possibilidades. O jornalista capacitado deve nutrir acentuada perspicácia

noticiosa, no sentido de antever e perceber os fatos com rapidez, sutileza de espírito,

Page 25: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

22

sagacidade e certa astúcia e malícia para lidar com os valores-notícia. Afinal, os cidadãos

estão expostos a permanente aprendizagem acerca das questões públicas.

O capítulo a seguir tratará da história do Parque Ecológico do Cocó, da questão

judicial para a sua delimitação e das construções irregulares em torno do Parque, bem como

relata ainda historia do Rapadura Ninja.

Page 26: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

23

2 FATOS E VERSÕES

2.1 Parque do Cocó

O Parque Ecológico do Cocó, localizado no município de Fortaleza, no Ceará, é

uma extensão de terra às margens do rio12

que lhe dá nome, em seu último trecho de 11km.

Compreendido entre a rodovia Santos Dumont (BR-116) e a sua foz, na praia do Caça e

Pesca. É uma mancha verde encravada numa das áreas de mais intensa expansão mobiliária da

cidade que, desde sua criação, preserva uma superfície de 526 hectares de mangue.

Na década de 1960, na região onde hoje se encontra o Parque, havia sítios, onde

funcionavam salinas. As instalações salineiras foram desativadas por terem causado prejuízos

ao meio ambiente, tendo em vista a eliminação de espécies animais próprias do ecossistema,

além de acarretarem a erosão e assoreamento do curso fluvial do rio Cocó.

Figura 1 - Em 1962, as salinas do Cocó passaram a ser

consideradas como zonas de proteção

paisagística, sendo proibido o desvio do curso

d’água.

Fonte: Blog Fortaleza em Fotos (2013).

A campanha para implantação de um parque urbano às margens do rio Cocó teve

início no final da década de 1970. Em 15 de novembro de 1980, o Parque Adahil Barreto1313

,

porção que compõe a área do atual Parque do Cocó, foi inaugurado pelo então prefeito de

Fortaleza, Lúcio Alcântara.

12

A bacia do rio Cocó ocupa dois terços da área urbana de Fortaleza, atingindo 60% dos cursos d'água. 13

O Parque Adahil Barreto, que já foi chamado de Parque Ecológico do Cocó, possui uma área de 137.103,19 m²

e uma rica biodiversidade marcada pela presença de centenas de árvores de 63 espécies, entre nativas e

exóticas. A área foi o primeiro ponto do rio Cocó protegido através do Decreto Nº 4852/1977.

Page 27: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

24

O local seria a sede administrativa do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). O que

não se concretizou, devido à campanha massiva promovida por entidades da sociedade civil,

que tinham o objetivo de estabelecer leis normativas do uso e ocupação da área do parque.

Lopes e Carleial (2012, p. 11, online) explicam que:

O movimento ambientalista percebendo essa situação atuou com mais força a favor

de uma proteção de fato dessa região da cidade, buscando o estabelecimento de uma

Área de Proteção Ambiental (APA) e a criação do Parque Ecológico a ser

implantado pelo governo do Estado do Ceará.

Apesar dos muitos protestos, em abril de 1982, o Shopping Center Iguatemi foi

construído. Para a realização da obra, foi necessário desmatar e aterrar grande parte do

mangue, como se vê na Figura 2.

Figura 2 - Shopping Center Iguatemi ainda em construção.

Fonte: Jornal O Povo (1981).

Em setembro de 1989, o Parque Ecológico do Cocó14

foi juridicamente instituído

pelo Decreto Estadual Número 20.253. O referido decreto declarava a desapropriação das

áreas delimitadas para a implementação do denominado Parque, como área de interesse

social.

A área compreendia o trecho entre a Avenida Sebastião de Abreu, a jusante, e a

BR-116, a montante. Posteriormente, no dia 8 de julho de 1993, a área de abrangência foi

14

O Parque tem esse nome devido ao rio que forma o bioma de mangue, o rio Cocó. Somente após o 4º Anel

Rodoviário, no bairro Ancuri, o riacho recebe a denominação de Rio Cocó, onde dá início ao Parque.

Page 28: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

25

ampliada por meio do Decreto nº 22.587, abrangendo também a área situada entre a Rua

Sebastião de Abreu até a foz do Rio Cocó.

O Parque do Cocó é a principal área verde de Fortaleza. Na imagem abaixo, é

possível visualizar toda a sua extensão e as dificuldade enfrentadas para manter sua

conservação. É possível identificar pequenas áreas de desmatamento no interior do Parque.

Figura 3 - O Parque do Cocó está localizado na Região Metropolitana

de Fortaleza.

Fonte: Google Maps (2013).

Segundo a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace)15

, o Parque

dispõe de área urbanizada com anfiteatro, quadras esportivas, pistas para cooper, dois parques

infantis, área para promoção de shows, eventos, competições esportivas, além de trilhas

ecológicas para a prática de atividades físicas, contemplação e educação ambiental.

Figura 4 - Show no Anfiteatro do Parque do Cocó da

Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

Fonte: Diário do Nordeste (2008).

15

Disponível em: <http://www.semace.ce.gov.br/2010/12/paque-ecologico-do-rio-coco/>. Acesso em: 20 set. 2013.

Page 29: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

26

Algumas atividades apontadas no site da Semace16

(2010) são indicadas como

proibidas dentro da área do Parque. Entre elas, estão a implantação ou ampliação de quaisquer

tipos de construção civil, sem o devido licenciamento ambiental; supressão de vegetação e

uso do fogo; atividades que possam poluir ou degradar o recurso hídrico, como também o

despejo de efluentes, resíduos sólidos ou detritos capazes de provocar danos ao meio

ambiente; tráfego de veículos; intervenção em áreas de preservação permanente, como

margens do rio, campo de dunas e demais áreas que possuem restrições de uso; pesca

predatória; uso de veículos náuticos motorizados, salvo para fins de interesse público; demais

atividades danosas previstas na legislação ambiental. Tais práticas, na maioria das vezes, não

são respeitadas. Como se pode observar nas Figuras 5 e 6.

Figura 5 - Garotos pescando no Parque Ecológico do Cocó

Fonte: Gleison Maia Lopes (2008).

16

Disponível em: <http://www.semace.ce.gov.br/2010/12/paque-ecologico-do-rio-coco/>. Acesso em: 20 set. 2013.

Page 30: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

27

Figura 6 - Lixo despejado na rua que dá acesso a uma das

trilhas do Parque do Cocó (Avenida Sebastião

de Abreu)

Fonte: Blog do Eliomar (2012)

Apesar das vitórias conquistadas pelo movimento ambientalista, os loteamentos e

as ocupações irregulares continuam. Ao longo dos anos, desde a sua criação, o Parque do

Cocó sofre pressão de residentes que ocupam cada vez mais áreas ao redor do Parque, seja

para moradia ou para uso comercial, como pode ser observado na Figura 7.

Figura 7 - Construções ao redor do Parque

Fonte: Dunas do Cocó (2013).

No ano de 2007, noticiou-se, na imprensa local, a construção de um edifício

comercial, o Iguatemi Empresarial, próximo ao Rio Cocó. O tema tornou-se amplamente

discutido, não apenas pela imprensa e grupos sociais organizados, mas pela população em

Page 31: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

28

geral, promovendo-se debates no meio acadêmico e outros setores da sociedade. Um grupo

com cerca de 30 jovens (ver Figura 8) promoveu uma manifestação dentro do shopping

Iguatemi. A manifestação durou vinte minutos, os seguranças cercaram os manifestantes e os

expulsaram do shopping. Segundo relatos do blog Raízes do Mangue17

(2007), o grupo

gritava palavras de ordem contra a construção do empreendimento.

Figura 8 - Área de construção do Iguatemi Empresarial

em Fortaleza, construído às margens do rio

Cocó. Ao lado, Shopping Center Iguatemi

Fonte: Centro de Mídia Independente do Brasil (CMI, 2007).

Figura 9 - Protesto contra o Iguatemi Empresarial

realizado no Shopping Iguatemi.

Fonte: Centro de Mídia Independente do Brasil (CMI, 2007)

17

Disponível em: <http://raizesdomangue.blogspot.com.br/search/label/1%C2%BA%20Manifesta%C3%A7%C3%

A3o%20do%20Bloco%20Verde%20dentro%20do%20Iguatemi>. Acesso em: 20 set. 2013.

Page 32: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

29

No mesmo ano, o Ministério Público Federal (MPF) fez um requerimento na

Justiça para impedir que União, Estado e Município de Fortaleza concedessem licenças para

novas construções na área do Parque do Cocó, no raio de 500 metros de seu entorno. A

medida não atingiria os empreendimentos que já possuíssem autorização para construção. A

liminar foi concedida, mas, em 2008, o Estado obteve junto ao Tribunal Regional Federal

(TRF) a suspensão da determinação.

Com a intenção de incluir a delimitação física como uma das ações de

revitalização do Parque do Cocó, foi criado no dia 6 de março de 2008 um Grupo de

Trabalho, mediante o Decreto de nº 29.215. Segundo o blog SOS Cocó18

(2008), um Grupo de

Trabalho do Conpam (Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente), órgão do Governo

do Estado, deu seguimento à liminar que determinava a delimitação correta do Parque

Ecológico do Cocó. O Grupo de Trabalho identificou as agressões ao Parque (que

correspondem ao histórico de denúncias dos movimentos sociais), e o Conpactem aprovou

uma nova proposta de demarcação do Parque, que será acrescida de 266,08 hectares.

No mesmo ano, a Semace entregou ao governador Cid Gomes um estudo que

determinou a nova poligonal - os limites - da região. Pelo levantamento, a área do Cocó

diminuiria de 1.046 para 942,54 hectares.

Mais de duas décadas após sua criação, o Parque ainda espera uma

regulamentação legal. Não ter estabelecida uma delimitação oficial impede que sejam

traçadas ações sistemáticas para a resolução de problemas que podem interferir diretamente

na conservação da área. Além de impedir que a Semace, o órgão responsável pelo Parque,

cumpra efetivamente sua tarefa de administrar.

Até a efetiva implantação do Parque do Cocó, o Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), ficou responsável por todos os

procedimentos de licenciamento ambiental na área destinada à futura implantação do Parque e

de seu entorno

Em julho de 2013, o Parque passou por mais uma mudança. A Prefeitura de

Fortaleza iniciou a construção de viadutos entre as avenidas Antônio Sales e Engenheiro

Santana Júnior. Para a realização da obra, seriam sacrificadas 90 árvores de espaços

próximos. Para compensar a retirada, a Prefeitura faria o plantio de 270 outras árvores no

Parque.

18

Disponível em: <http://soscoco.blogspot.com.br/2008/06/parque-do-coc-ter-226-hectares-mais.html>. Acesso

em: 20 set. 2013.

Page 33: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

30

Sete dias após o início das obras, um grupo de pessoas contrário à obra acampou

no Parque, obrigando a paralisação das obras no local. Na madrugada do dia 8 de agosto de

2013, a Guarda Municipal de Fortaleza retirou, com violência, o grupo de manifestantes que

ocupava o local.

2.2 Rapadura Ninja

Conhecido nas redes sociais como Rapadura Ninja, Tiago Fabrício foi um dos

responsáveis pela transmissão da retirada de manifestantes do Parque do Cocó pela Guarda

Municipal de Fortaleza, no dia 8 de agosto.

Sua história com a mídia independente começou no início da ocupação, no

movimento Pé no Chão19

. No grupo, Tiago transmitia vídeos do acampamento para a TV

PeNo Chão20

, um canal de web que pertence ao coletivo. Sua ideia era divulgar o que estava

acontecendo, já que, segundo Tiago, a mídia tradicional não era esclarecedora nos primeiros

dias da ocupação.

Com dois meses de participação no movimento Pé no Chão, Tiago se desvinculou

do movimento para participar do Mídia Ninja. Seu contato com os Ninjas foi por e-mails,

através dos quais recebeu orientações de como fazer e enviar as transmissões.

Como integrante do Mídia Ninja, Tiago decidiu adotar o codinome de Rapadura

Ninja. Sua inspiração para o nome veio de um doce artesanal da cana-de-açúcar, típico da

região Nordeste.

O Rapadura Ninja utiliza duas redes sociais, Twitter e Facebook, para a

divulgação de suas transmissões, através do aplicativo Twitcasting21

. Segundo Tiago, baseado

nos dados apresentados pelo aplicativo, 3.500 pessoas visualizaram a transmissão do

Rapadura Ninja, realizada no dia da desocupação do Cocó.

A repercussão e o ineditismo de seus vídeos fizeram com que a transmissão do

Rapadura Ninja virasse matéria no portal do Jornal O Povo22

. Na matéria, destaca-se a

transmissão do Rapadura Ninja na desocupação e dá ao leitor a opção de assistir ao vivo,

como pode ser observado na imagem abaixo.

19

Segundo a descrição no blog (http://movimentopenochao.blogspot.com.br/p/quem-somos.html), o Movimento

Pé no Chão é um grupo aberto, pacífico, heterogêneo, democrático e apartidário (mas não antipartidário) de

pessoas que exigem alternativas concretas e viáveis à crise de representatividade e a tantos outros problemas

experimentados atualmente pela sociedade brasileira. 20

Disponível em: <http://www.youtube.com/channel/UCnWZx1MqmYeWnJWhNn44BBA>. Acesso em: 20

set. 2013. 21

Aplicativo onde os usuários podem transmitir vídeos ao vivo de smartphones e tablets. 22

Disponível em: <http://www.opovo.com.br/>. Acesso em: 20 set. 2013.

Page 34: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

31

Figura 10 - Matéria publicada no O Povo Online – 08/08/2013

Fonte: (ASSISTA, 2013, online).

O capítulo a seguir tem foco sobre o dia da desocupação do Parque do Cocó,

sobre as distâncias física e política na cobertura feita pelas emissoras tradicionais de televisão

e, por último, apresenta os dados das pesquisas, apresentando a participação dos atores sociais

e dos atores políticos entrevistados pelos principais telejornais de cada emissora, e pelo

Rapadura Ninja, apresentando os tempos das respectivas falas.

Page 35: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

32

3 AS VOZES E AS FALAS

Agora, serão narrados alguns momentos da trajetória percorrida neste trabalho, de

forma exploratória, que muito ajudaram a montar o projeto de pesquisa. Os primeiros serão

relatados como no diário de campo, para, em seguida, levar o leitor de forma mais segura ao

episódio da desocupação, que é o objeto da pesquisa.

Por conhecer algumas pessoas que participaram do movimento ou moravam

próximo ao local, essas foram as primeiras fontes procuradas para dar início à pesquisa.

Precisava-se entender o porquê do movimento e como a Guarda Municipal agiu durante o dia

da desocupação. Entre todos os colegas que noticiavam a desocupação nas redes sociais,

optou-se conversar com o Paulo Neto, que morava próximo ao local e acompanhou, desde o

início, a ação da Guarda Municipal.

Para desenvolver uma história cronológica dos fatos, foram realizadas consultas a

edições dos jornais O Povo, Diário do Nordeste e O Estado, todas publicadas no dia posterior

à desocupação do Parque. No dia 13 de setembro, foi realizada visita ao acampamento. Ao

entrar no local, fui acolhida pelo manifestante Rondinelly Matos. Conversamos durante uma

hora, sobre o movimento e o dia da desocupação.

Considero a entrevista com o Rapadura Ninja a parte mais difícil da minha

pesquisa. Minha primeira tentativa de contato foi através de um grupo no Facebook. Na

manhã do dia 3 de setembro, deixei um recado explicando minha pesquisa e que precisava

conversar com o Rapadura Ninja.

À noite, um dos manifestantes, Fabio Santos, respondeu ao meu recado pedindo o

número do meu telefone para entregar no acampamento. Feito isso, no dia seguinte, recebi

uma ligação de outro participante do movimento perguntando sobre minha pesquisa e o que

eu queria conversar com o Rapadura Ninja. Em meio à conversa, ele solicitou ver minha

página pessoal no Facebook. Queria ter a certeza de que não estava mentindo. Após ser

entrevistada novamente por outro manifestante, consegui, finalmente, fazer meu primeiro

contado com o Rapadura Ninja através do Facebook. Mantive contato com ele durante um

mês e no dia 4 de novembro, tive a oportunidade de entrevistá-lo.

3.1 Desocupação anunciada de resultado surpreendente

Na manhã do dia 5 de julho, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, assinou

uma ordem de serviço para a implantação de dois viadutos no cruzamento das avenidas

Page 36: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

33

Engenheiro Santana Júnior e Antônio Sales. O objetivo do empreendimento seria melhorar o

serviço do transporte coletivo e dar maior agilidade ao trânsito na região.

Para realização do projeto, seria necessário o corte de 94 árvores do Parque do Cocó.

De acordo com a Prefeitura de Fortaleza, para compensar o impacto ambiental provocado pelo

desmatamento, seriam plantadas três novas árvores para cada uma que fosse retirada.

Figura 11 - Ilustração do projeto.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste (2013).

Após a derrubada de 79 árvores, as manifestações contra os viadutos se

intensificaram no local. No dia 16 de julho, a obra foi embargada pela Superintendência do

Patrimônio da União, sob a alegação de que parte da obra estaria dentro do terreno da União e

não foi solicitada autorização para o procedimento. No mesmo dia, um grupo de pessoas

contrário à construção do empreendimento acampou no Parque para evitar o início das obras.

Figura 12 - Manifestantes no Parque do Cocó

Fonte: Portal G1 (2013).

Page 37: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

34

O presidente do Tribunal de Justiça do Ceará, Gerardo Brígido, derrubou no dia

24, do mesmo mês, a liminar que havia suspendido a construção dos viadutos entre as

avenidas. As obras no local podiam ser retomadas.

Em agosto, na noite de uma segunda-feira, 5, o governador Cid Gomes visitou o

acampamento do Parque do Cocó para negociar a saída dos manifestantes. No local, Cid ficou

sentado com o grupo ouvindo reivindicações. A reunião estendeu-se até a madrugada da

terça-feira, 6, e contou com a participação de dois vereadores da Capital, Toinha Rocha

(PSOL) e João Alfredo (PSOL), ambos contra a construção do empreendimento.

Para tentar solucionar o problema, o governador propôs legalizar o Parque em

troca da construção dos viadutos. Sem nenhuma negociação, os manifestantes continuaram

acampados no local.

Figura 13 - Reunião com o governador Cid Gomes no

acampamento do Parque do Cocó

Fonte: Jornal O Povo (2013).

Três dias após a visita do governador Cid Gomes ao acampamento, o prefeito de

Fortaleza, Roberto Cláudio, deu ordem para o Grupo de Operações Especiais da Guarda

Municipal expulsar os integrantes do movimento que estavam dentro do Parque.

A desocupação ocorreu por volta de 4 horas da manhã. Segundo os jornais locais,

a Guarda Municipal utilizou spray de pimenta, balas de borracha e bombas de efeito moral.

Após a retirada das barracas, caminhões limparam a área do Parque e iniciaram a derrubada

de árvores.

Page 38: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

35

Figura 14 - Manifestantes resistiam em frente ao Parque à

tentativa da Guarda Municipal de dispersá-los

Fonte: Jornal O Povo (2013).

Figura 15 - Sem diálogo, a Guarda Municipal jogou spray

de pimenta nos manifestantes

Fonte: Jornal O Povo (2013).

Figura 16 - Guardas faziam a proteção do Parque,

enquanto árvores eram cortadas

Fonte: Jornal O Povo (2013).

Page 39: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

36

Conforme o Ministério Público do Ceará, as ordens judiciais deveriam ser

cumpridas nos dias úteis das 6 às 18 horas, só podendo ultrapassar o horário se fosse para

conclusão da operação. A Prefeitura de Fortaleza, através da Assessoria de Imprensa, admitiu

apenas o emprego do armamento de efeito moral. Já o prefeito Roberto Cláudio, em entrevista

ao Jornal O Povo23,17

, afirmou que não houve “violência” contra os manifestantes.

Mas não foi assim. Toda a operação da retirada dos manifestantes foi violenta. No

embate com manifestantes na Avenida Engenheiro Santana Júnior, os guardas municipais,

além de usar os armamentos já citados, usaram também pistolas Taser, que disparam descarga

elétrica.

Figura 17 - Guardas municipais utilizando arma de choque

em manifestante

Fonte: Jornal O Povo (2013).

Moradores que residem próximo ao Parque utilizaram as redes sociais para

descrever o que acontecia no local no exato momento da desocupação. O universitário Paulo

Neto presenciou cenas fortes durante a madrugada. Da janela do seu apartamento, ele gravou

dois vídeos, em que é possível identificar a ação da Guarda Municipal. O momento mais

crítico do vídeo é quando gritos de socorro ecoam na avenida, clarões são vistos dentro do

acampamento.

23

Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/politica/2013/08/08/noticiaspoliticas,3107482/roberto-claudio-

defende-legalidade-de-acao-da-guarda-municipal-mpce-q.shtml>. Aceso em: 20 set. 2013.

Page 40: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

37

Figura 18 - Paulo Neto usou seu perfil pessoal no Facebook

Fonte: https://www.facebook.com/pauletow acessado em 8/8/2013 às 10h.

Figura 19 - Vídeo da entrada da Guarda Municipal no

Parque do Cocó

Fonte: https://www.facebook.com/pauletow acessado em 8/8/2013 às 10h

Ainda na madrugada, os vereadores João Alfredo (PSOL), Toinha Rocha (PSOL) e a

deputada estadual Eliane Novaes (PSB) foram ao local prestar apoio aos manifestantes. Enquanto

tentava dialogar com a Guarda Municipal, João Alfredo foi atingido com spray de pimenta.

Figura 20 -Vereador João Alfredo e a Guarda Municipal

Fonte: Blog do Bernardo Pilotto, 2013.

Page 41: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

38

Para ajudar o movimento, várias pessoas seguiram em direção ao Parque. Às 6h

da manhã, a Avenida Engenheiro Santana Júnior já possuía cerca de 70 pessoas que se

reuniram para apoiar o movimento.

Segundo o jornal Diário do Nordeste, o cruzamento entre as Avenidas Engenheiro

Santana Júnior e Antônio Sales foi totalmente fechado no período da manhã pelos

manifestantes. Nos horários de pico, 7h, 13h e 18h, o acesso às regiões afluentes das vias

bloqueadas ficou caótico. O local, que é conhecido pela dificuldade de escoamento dos

veículos, ficou intransitável.

Figura 21 - Trânsito caótico em várias vias distantes ao

cruzamento da Avenida Antônio Sales com

Engenheiro Santana Jr.

Fonte: Jornal O Povo (2013).

Page 42: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

39

O conflito entre a Guarda Municipal e os manifestantes continuou durante todo o

dia. No começo da tarde, dois manifestantes entraram na área que estava protegida pela

Guarda Municipal e subiram em árvores, gerando um novo confronto entre o grupo e os

agentes. Ao tentar evitar que os jovens fossem retirados, manifestantes jogaram pedras e

foram atingidos por gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Depois de duas horas em cima de

uma árvore, manifestantes decidiram descer.

Figura 22 - Manifestante protesta em cima da árvore.

Fonte: Jornal O Povo (2013).

A imprensa também foi agredida pela Guarda Municipal. O jornalista Bruno de

Castro acompanhava a movimentação desde o início da manhã. Em um confronto entre

agentes de segurança e manifestantes, o jornalista seguiu o ritmo para não ser atingido por

nada vindo dos guardas. Antes de chegar a um lugar protegido, um guarda o surpreendeu com

um golpe nas costas.

Figura 23 - Jornalista exibe marcas da agressão com cassetete.

Fonte: Jornal O Povo (2013).

Page 43: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

40

Em meio ao confronto entre guardas municipais e manifestantes, um pequeno

grupo que participava da manifestação praticou atos de vandalismo. Placas de sinalização na

Avenida Engenheiro Santana Jr. foram quebradas e uma agência bancária foi depredada

enquanto os manifestantes seguiam para o Centro de Eventos.

À noite, mais precisamente, às 19h30, atendendo a um pedido do Ministério

Público Federal, a Justiça concedeu a liminar que embargava as obras dos viadutos no

cruzamento. Com a decisão judicial, os trabalhos só poderiam ser retomados após a

regularização do licenciamento ambiental. A decisão é resultado de ação ajuizada pelo

procurador da República Oscar Costa Filho.

Segundo o procurador, a ação civil pública foi embasada em laudo do Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), que atestou a ilegalidade da intervenção iniciada em

área equivalente a sete metros do Parque do Cocó. Além disso, o procurador afirma que a

legislação ambiental foi ignorada pela União, quando autorizou a intervenção, e pela

Prefeitura de Fortaleza, desde a concepção do projeto dos viadutos.

Embora as máquinas dentro do Parque estivessem paradas, os manifestantes

seguiram à noite com uma mobilização no semáforo onde a Prefeitura pretende erguer os

viadutos. Os ativistas foram embora após as 23h, mas deixaram marcado um novo protesto

para o dia seguinte.

3.2 Distância física e distância política na cobertura

A cobertura jornalística no dia da desocupação do Cocó foi realizada pelos

principais veículos de comunicação. Os jornais impressos de Fortaleza, O Povo, Jornal Diário

do Nordeste e O Estado deram destaque ao acontecimento, como mostram as Figuras 23, 24 e

25. As emissoras de televisão também deram destaque à retirada dos manifestantes no Parque

do Cocó em seus telejornais, com exceção da TV Assembleia.

Para alguns manifestantes, a presença da imprensa no Parque não era bem quista,

uma bandeira com a frase “Não damos entrevista para a Globo-CE” foi colocada em frente ao

acampamento (ver Figura 26). Manifestantes gritavam palavras de ordem contra os veículos

de comunicação. Jornalistas de diferentes veículos foram hostilizados. Equipes de emissoras

de TV chegaram a ser impedidos de fazer imagens e acabaram se afastando para garantir a

própria segurança.

Page 44: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

41

Figura 24 - Capa do jornal Diário do Nordeste, publicado no dia

seguinte da desocupação

Fonte: Iara Evaristo (2013).

Page 45: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

42

Figura 25 - Capa do jornal O Estado, publicado no dia seguinte da

desocupação.

Fonte: Iara Evaristo (2013)

Page 46: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

43

Figura 26 - Capa do jornal O Povo, publicado no dia seguinte da

desocupação

. Fonte: Iara Evaristo, 2013.

Page 47: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

44

Figura 27 - Cartazes em frente ao acampamento

Fonte: Iara Evaristo, 2013.

Analisando o acontecimento nos telejornais, é possível identificar vários critérios

de noticiabilidade, principalmente o critério proximidade. A distância das emissoras para o

local da desocupação, em sua maioria, é mínima. A emissora Nordestv fica a 450m do local; a

TV Jangadeiro, a 1,2km; TV União, a 1,6km; TV Verdes Mares, a 1,7km; TV Cidade e TV

Diário, ambas possuem a mesma distância, 1,8km; TV Assembleia, a 2km; TV Ceará, a

2,1km; TV Fortaleza, a 2,3km e a TV O Povo com a maior distancia, 5,9km. A imagem

abaixo esclarece melhor a distancia de cada emissora para o local da desocupação.

Figura 28 - Mapa com a localização das emissoras e o

Parque do Cocó.

Fonte: Google Mapas (2013).

Page 48: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

45

3.3 Quem fala e tempos de fala

A pesquisa observou os principais telejornais de Fortaleza, segundo indicado

como “principal” pelas emissoras, identificando à ocorrência dos fatos dos entrevistados e o

tempo que ocuparam na cobertura. Os telejornais foram classificados como convencional e

Rapadura Ninja, enquanto os entrevistados foram divididos em ator político e ator social.

Os telejornais escolhidos foram: Jornal Jangadeiro 1ª Edição (TV Jangadeiro),

Jornal da Câmara 1ª Edição (TV Fortaleza), União Brasil (TV União), Nordestv Notícias

(Nordestv), Jornal da Cidade (TV Cidade), Jornal do Meio Dia (TV Diário), CETV 1ª Edição

(TV Verdes Mares), O Povo Notícias (TV O Povo) e Jornal TVC (TV Ceará).

Considerou se o ator político: vereadores, procurador da República, prefeito de

Fortaleza, coordenador do Transfor, secretário de Infraestrutura, Guarda Municipal, Autarquia

Municipal de Trânsito e Polícia Militar. Considerou se ator social: Manifestantes, moradores,

integrante do Movimento Crítica Radical, jornalista e motorista.

No Jangadeiro 1ª Edição, foram observados quatro atores políticos,

correspondendo ao total de 54 segundos de fala, e quatro atores sociais, correspondendo ao

total de 36 segundos de tempo de falas. Entre os atores políticos, o vereador João Alfredo

falou 10 segundos, correspondendo a 18,5% do total; o procurador da República Oscar Filho

falou 14 segundos, correspondendo a 26% do total; o prefeito Roberto Cláudio falou 24

segundos, correspondendo a 44,5% do total; o guarda municipal falou 6 segundos,

correspondendo a 11% do total. Entre os atores sociais, o motorista de ônibus falou 10

segundos, correspondendo a 27,7% do total; o motorista 1 falou 5 segundos, correspondendo

a 14% do total; o motorista 2 falou 10 segundos, correspondendo ao total de 27,7%;

empregada doméstica falou 11 segundos, correspondendo ao total de 30,6%.

Tabela 1 - Jornal Jangadeiro

Ator político Tempo de fala Porcentagem

%

Ator social Tempo de fala Porcentagem

%

Vereador

João Alfredo

10 segundos 18,5% Motorista de

ônibus

10 segundos 27,7 %

Procurador da

República

14 segundos 26% Motorista 1 5 segundos 14%

Prefeito

Roberto

Cláudio

24 segundos 44,5% Motorista 2 10 segundos 27,7%

Guarda

Municipal

6 segundos 11% Empregada

doméstica

11 segundos 30,6%

Total 54 segundos 100% Total 36 segundos 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

Page 49: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

46

No jornal União Brasil, foram observados cinco atores políticos, correspondendo

ao total de 78 segundos de fala, e cinco atores sociais, correspondendo a 247 segundos de fala.

Entre os atores políticos, o prefeito Roberto Cláudio falou 18 segundos, correspondendo a

24,5% do total; o inspetor da Guarda Municipal Disrraelli Brasil falou 7 segundos,

correspondendo a 9% do total; o gerente de operações da Autarquia Municipal de Trânsito

(AMC) falou 9 segundos, correspondendo a 11,5% do total; Carlos Ribeiro, Comandante da

Polícia Militar, falou 9 segundos, correspondendo 11,5% do total; o procurador da República

Oscar Filho falou 34 segundos, correspondendo a 43,5% do total. Entre os atores sociais,

morador falou 18 segundos, correspondendo a 7% do total; Rosa Fonseca, integrante do

movimento Crítica Radical, falou 21 segundos, correspondendo a 8,5% do total; manifestante

1 falou 10 segundos, correspondendo a 4% do total; manifestante 2 falou 12 segundos,

correspondendo a 5% do total; o jornalista Bruno de Castro falou 186 segundos, 75,5% do

total.

Tabela 2 - Jornal União Brasil

Ator político Tempo de fala Porcentagem

%

Ator social Tempo de fala Porcentagem

%

Prefeito

Roberto

Cláudio

19 segundos 24,5% Morador 18 segundos 7%

Inspetor da

Guarda

Municipal

7 segundos 9% Integrante do

movimento

Crítica Radical

21 segundos 8,5%

Gerente de

operações da

AMC

9 segundos 11,5% Manifestante 1 10 segundos 4%

Comandante

da Polícia

Militar

9 segundos 11,5% Manifestante 2 12 segundos 5%

Procurador da

República

34 segundos 43,5% Jornalista 186 segundos 75,5%

Total 78 segundos 100% Total 247 segundos 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

No jornal Nordestv Notícias, foram observados três atores políticos,

correspondendo ao total de 56 segundos de fala, e dois atores sociais, correspondendo a 16

segundos de fala. Entre os atores políticos, o coordenador do Transfor Valdir Santos falou 24

segundos, correspondendo a 43% do total; o guarda municipal falou 7 segundos,

correspondendo a 12,5% do total; o prefeito Roberto Cláudio falou 25 segundos,

correspondendo a 44,55 do total. Entre os atores sociais, um manifestante falou 7 segundos,

correspondendo a 44% do total; a empregada doméstica falou 9 segundos, correspondendo a

56% do total.

Page 50: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

47

Tabela 3 - Jornal Nordestv Notícias

Ator político Tempo de fala Porcentagem

%

Ator social Tempo de fala Porcentagem

%

Coordenador

do Transfor

24 segundos 43% Manifestante 7 segundos 44%

Guarda

Municipal

7 segundos 12,5% Empregada

doméstica

9 segundos 56%

Prefeito

Roberto

Cláudio

25 segundos 44,5%

Total: 56 segundos 100% Total 16 segundos 100%

Fonte: Elaborada pela autora.

No Jornal da Cidade, foram observados oito atores políticos, correspondendo ao

total de 211 segundos de fala, e dois atores sociais, correspondendo a 34 segundos. Entre os

atores políticos, o procurador da República Oscar Filho falou 53 segundos, correspondendo a

25% do total; major Teófilo Gomes, supervisor da Polícia Militar, falou 20 segundos,

correspondendo a 9,5% do total; o vereador João Alfredo falou 15 segundos, correspondendo

a 7% do total; o prefeito Roberto Cláudio falou 27 segundos, correspondendo a 13,5% do

total; vereador Deodato Ramalho falou 31 segundos, correspondendo a 14,5% do total; vice-

líder do prefeito Didi Mangueira falou 34 segundos, correspondendo a 16% do total; o ex-

vereador Alri Nogueira falou 11 segundos, correspondendo a 9,5% do total; o inspetor da

Guarda Municipal Jamal Forte falou 20 segundos, correspondendo a 9,5% do total. Entre os

atores sociais, um manifestante falou 15 segundos, correspondendo a 44% do total; o

motorista falou 19 segundos, correspondendo a 56% do total.

Tabela 4 - Jornal da Cidade

Ator político Tempo de fala Porcentagem

%

Ator social Tempo de fala Porcentagem

%

Ex-vereador 11 segundos 5%

Inspetor da

Guarda Municipal

20 segundos 9,5%

Prefeito Roberto

Cláudio

27 segundos 13,5%

Procurador da

República

53 segundos 25% Manifestante 15 segundos 44%

Supervisor da PM 20 segundos 9,5% Motorista 19 segundos 56%

Vereador

Deodato Ramalho

31 segundos 14,5%

Vereador João

Alfredo

15 segundos 7%

Vice-líder do

prefeito Didi

Mangueira

34 segundos 16%

Total 211 segundos 100% Total 34 segundos 100%

Fonte: Elaborada pela autora.

Page 51: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

48

No Jornal do Meio Dia, foram observados oito atores políticos, correspondendo

ao total de 548 segundos de fala, e seis atores sociais, correspondendo a 67 segundos de fala.

Entre os atores políticos, inspetor da Guarda Municipal Valdenir Silva falou 25 segundos,

correspondendo a 4,5% do total; o procurador da República Oscar Filho falou 40 segundos,

correspondendo a 7,3% do total; Coronel Carlos Ribeiro, comandante da CPC, falou 6

segundos, correspondendo a 1,1% do total; coordenador do Transfor Valdir Santos falou 36

segundos, correspondendo a 6,5% do total; Silva Júnior, Subinspetor da Guarda Municipal,

falou 48 segundos, correspondendo a 8,7% do total; delegada Juliana Pinheiro falou 23

segundos, correspondendo a 4,2% do total; prefeito Roberto Cláudio falou 98 segundos,

correspondendo a 18% do total; secretário de Infraestrutura Samuel Dias falou 272 segundos,

correspondendo a 49,7% do total. Entre os atores sociais, Rosa Fonseca, integrante do

Movimento Critica Radical, falou 10 segundos, correspondendo a 15% do total; manifestante

1 falou 3 segundos, correspondendo a 4,5 do total; manifestante 2 falou 7 segundos,

correspondendo a 10,5% do total; morador falou 8 segundos, correspondendo a 12% do total;

manifestante 3 falou 12 segundos, correspondendo a 18% do total; manifestante 4 falou 27

segundos, correspondendo a 40% do total.

Tabela 5 - Jornal do Meio Dia

Ator político Tempo de fala Porcentagem

% Ator social Tempo de fala

Porcentagem

%

Inspetor da

Guarda

Municipal

25 segundos 4,5% Integrante do

movimento

Critica Radical

10 segundos 15%

Procurador da

República

40 segundos 7,3% Manifestante 1 3 segundos 4,5%

Comandante

CPC

6 segundos 1,1% Manifestante 2 7 segundos 10,5 %

Coordenador

do Transfor

36 segundos 6,5% Morador 8 segundos 12%

Subinspetor da

Guarda

Municipal

48 segundos 8,7% Manifestante 3 12 segundos 18%

Delegada 23 segundos 4,2% Manifestante 4 27 segundos 40%

Prefeito 98 segundos 18%

Secretário de

Infraestrutura

272 segundos 49,7%

Total 548 100% Total 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

No jornal CETV 1ª Edição, foram observados quatro atores políticos,

correspondendo ao total de 55 segundos de fala, e sete atores sociais, correspondendo a 59

segundos de fala. Entre os atores políticos, o gerente de operações da AMC falou 18

Page 52: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

49

segundos, correspondendo a 32,7% do total; o supervisor de policiamento Teófilo Gomes

falou 15 segundos, correspondendo a 27,3% do total; Valdeci da Silva, inspetor do Grupo

Especial de Operações da Guarda Municipal (GOE), falou 4 segundos, correspondendo a

7,3% do total; procurador da República Oscar Filho falou 18 segundos, correspondendo a

32,7% do total. Entre os atores sociais, o manifestante 1 falou 3 segundos, correspondendo a

5% do total; motorista de ônibus falou 10 segundos correspondendo a 17% do total; motorista

2 falou 8 segundos, correspondendo a 13,5% do total; motorista 3 falou 14 segundos,

correspondendo a 23,7 do total; motorista 4 falou 4 segundos, correspondendo a 6,7% do

total; funcionária pública falou 12 segundos, correspondendo a 20,3% do total; jornalista

falou 8 segundos, correspondendo a 13,8% do total.

Tabela 6 - CETV 1ª Edição

Ator

político

Tempo de

fala

Porcentagem

% Ator social

Tempo de

fala

Porcentagem

%

Gerente de

operações da

AMC

18 segundos 32,7% Manifestante 1 3 segundos 5%

Supervisor

de

policiamento

da Capital

15 segundos 27,3% Motorista de

ônibus

10 segundos 17%

Inspetor do

GOE

4 segundos 7,3% Motorista 2 8 segundos 13,5%

Procurador

da

República

18 segundos 32,7 Motorista 3 14 segundos 23,7%

Motorista 4 4 segundos 6,7%

Funcionária

pública

12 segundos 20,3%

Jornalista 8 segundos 13,8%

Total 55 100% Total 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

No Jornal da TVC, foram observados três atores políticos, correspondendo ao

total de 106 segundos de fala, e um ator social, correspondendo a 25 segundos do total. Entre

o ator político, Disrraelli Brasil, gerente de operações da AMC, falou 22 segundos,

correspondendo a 20,7% do total; Marcilio Tavares, comandante do pelotão Ambiental, falou

22 segundos, correspondendo a 20,7% do total; Carlos Ribeiro, Sup.do comando do

policiamento, falou 62 segundos, correspondendo a 58,6% do total. O ator social, um

pedreiro, falou 25 segundos, correspondendo a 100% do total.

Page 53: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

50

Tabela 7 - Jornal da TVC

Ator político Tempo de fala Porcentagem

% Ator social Tempo de fala

Porcentagem

%

Gerente de

operações da

AMC

22 segundos 20,7% Pedreiro 25 segundos 100%

Comandante

do Pelotão

Ambiental

22 segundos 20,7%

Sup.do

comando do

policiamento

na Capital

62 segundos 58,6%

Total 106 segundos 100% Total 25 segundos 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

No O Povo Notícias, foi observado um ator político, o procurador Oscar Filho

falou 8 segundos, correspondendo a 100% do total.

Tabela 8 - O Povo Notícias

Ator político Tempo de fala Porcentagem

%

Ator

social

Tempo de

fala

Porcentagem

%

Procurador da República

Oscar Filho,

8 segundos 100%

Total 8 segundos 100% Total

Fonte: Elaborada pela autora.

No Rapadura Ninja, foram observados um ator político, correspondendo ao total

de 63 segundos de fala, e nove atores sociais, correspondendo a 419 segundos de fala. O ator

político falou 63 segundos, correspondendo a 100% do total. Entre os atores sociais, o

manifestante 1 falou 60 segundos, correspondendo a 14,3% do total; manifestante 2 falou 59

segundos, correspondendo a 14 do total; manifestante 3 falou 52 segundos, correspondendo a

12,5% do total; manifestante 4 falou 11 segundos, correspondendo a 2,7% do total;

manifestante 5 falou 4 segundos, correspondendo a 1% do total; manifestante 6 falou 60

segundos, correspondendo a 14,3% do total; manifestante 7 falou 27 segundos,

correspondendo a 6,5% do total; manifestante 8 falou 130 segundos, correspondendo a 31%

do total; funcionária pública falou 16 segundos, correspondendo a 3,7% do total.

Page 54: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

51

Tabela 9 - Rapadura Ninja

Ator

político

Tempo de

fala

Porcentagem

%

Ator social Tempo de fala Porcentagem

%

Vereador

João

Alfredo

63

segundos

100% Manifestante 1 60 segundos 14,3%

Manifestante 2 59 segundos 14%

Manifestante 3 52 segundos 12,5%

Manifestante 4 11segundos 2,7%

Manifestantes 5 4segundos 1%

Manifestante 6 60 segundos 14,3%

Manifestante 7 27 segundos 6,5%

Manifestante 8 130 segundos 31%

Funcionária

pública

16 segundos 3,7%

Total 63 segundos 100% Total 419 segundos 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

Foram observados 1.600 segundos nas emissoras convencionais. O ator político

falou 1.116 segundos, correspondendo a 69,7% do total. O ator social falou 484 segundos,

correspondendo a 30,3% do total.

Tabela 10 - Conclusão 1

Emissora Convencional Tempo %

Ator político 1.116 segundos 69,7%

Ator social 484 segundos 30,3%

Total 1.600 segundos 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

No Rapadura Ninja, foram observados 482 segundos. O ator político falou 63

segundos, correspondendo a 13,8% do total. O ator social falou 419 segundos,

correspondendo a 86,2% do total.

Tabela 11 - Conclusão 2

Rapadura Ninja Tempo %

Ator político 63 segundos 13,8%

Ator social 419 segundos 86,2%

Total 482 segundos 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

No jornalismo convencional e no Rapadura Ninja, os atores políticos falaram

1.171 segundos. O ator político do jornalismo convencional falou 1116 segundos,

correspondendo 94,6%; o ator político do Rapadura Ninja falou 63 segundos, correspondendo

a 5,4% do total. O ator social do jornalismo convencional falou 484 segundos,

correspondendo a 53,6% do total; o ator social do Rapadura Ninja falou 419 segundos,

correspondendo a 46,4% do total.

Page 55: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

52

Anuncio que, a partir dos dados apresentados na pesquisa bibliográfica e de

campo, a seguir virão as considerações finais.

Page 56: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

53

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo aborda a cobertura do Rapadura Ninja na desocupação do Parque do

Cocó, comparando-a com os telejornais de Fortaleza, identificando os atores sociais e

quantificando as falas e os tempos ocupados por esses discursos. A pesquisa também buscou

apresentar reflexões sobre o jornalismo tradicional, o jornalismo cidadão, os critérios de

noticiabilidade, a transmissão do Rapadura Ninja e a história do Parque do Cocó. Dessa

forma, são propostas algumas assertivas sobre essas reflexões.

O jornalismo tradicional deixou de ser a única fonte de informação da sociedade.

As novas tecnologias, como smarthphones e tablets, proporcionaram ao cidadão comum uma

nova forma de ver e transmitir a notícia. Não se trata apenas de uma mudança na forma de

consumo midiático, mas na forma de distribuição de conteúdo.

A diferença entre o jornalismo cidadão e o jornalismo tradicional, além de ser

desnecessária a formação acadêmica para exercer a função de jornalista, é que não existe uma

edição do que foi gravado. Concedendo ao telespectador a decisão de assistir somente ao que

lhe agrada. Tais projetos, em que cidadãos comuns são capazes de realizar uma cobertura de um

acontecimento, representam uma tendência mundial. Mas essa já seria uma pesquisa futura.

Analisando as notícias veiculadas pelo jornalismo cidadão e pelo jornalismo

tradicional, é possível identificar, em suas informações, critérios de noticiabilidade e valores-

notícias semelhantes. Os dois possuem as mesmas variáveis, a notoriedade, por ter um ou

mais indivíduos de nível hierárquico dos envolvidos no conhecimento; proximidade, seja

geográfica, política, econômica ou cultural; relevância, que aponta para a quantidade de

pessoas que o acontecimento envolve; significatividade relaciona-se com a importância do

acontecimento quanto à evolução futura de uma determinada situação. Embora sejam

semelhantes, diferem em suas transmissões. Enquanto o jornalista tradicional possui uma

pauta, à qual se deve seguir; o jornalista cidadão já não possui. Sua forma de transmitir é livre

de qualquer regra jornalística.

O neojornalista cativou a confiança do cidadão, como também, a confiança de

empresas jornalísticas. Como exemplo, pode-se citar o jornal cearense O Povo, que em sua

cobertura na retirada dos manifestantes que acampavam no Parque do Cocó indicou aos

leitores a mídia independente Rapadura Ninja como fonte de informação.

A transmissão do Rapadura Ninja foi fundamental para a divulgação do

acontecimento, já que ele chegou ao local 15 minutos após a operação da Guarda Municipal.

Page 57: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

54

Superando as emissoras televisivas de Fortaleza, em que sua menor distância era de 450

metros do local.

O Parque do Cocó consolida-se como unidade de conservação na zona urbana de

Fortaleza. Por não possuir uma delimitação da sua área, o Parque já passou por várias

mudanças devido às construções de prédios residenciais e comerciais em seu entorno. O local

é apropriado pelos diferentes indivíduos de maneira formal e legal, e por ações legítimas, mas

não necessariamente legais. O Parque existe legalmente, mas por não ter uma delimitação

oficial da sua área, impede que sejam traçadas ações para a resolução de problemas. Por esse

motivo, não impediu que a Prefeitura de Fortaleza executasse uma obra de mobilidade urbana,

retirando árvores do Parque para a construção de viadutos.

A realização da presente monografia envolveu a pesquisa sobre a cobertura

jornalística da mídia independente Rapadura Ninja na desocupação do Parque do Cocó frente

à cobertura dos principais telejornais, identificando os atores sociais e políticos e seus

respectivos tempos de fala.

A emissora convencional concedeu ao ator político o tempo de fala de 1,116

segundos, correspondendo a 69,7% do total. Enquanto o ator social falou por 484 segundos,

correspondendo a 30,3% do total. Com os dados apresentados, conclui-se que o ator social

teve menos tempo de fala na emissora convencional.

O Rapadura Ninja concedeu ao ator social o tempo de fala de 419 segundos,

correspondendo a 86,2% do total. Enquanto o ator político falou 63 segundos,

correspondendo a 13,8% do total. Com esses dados apresentados, conclui-se que o Rapadura

Ninja concedeu ao ator social o maior tempo de fala em suas transmissões.

Assim, é possível aferir como totalmente verdadeira a hipótese de que a cobertura

jornalística do Rapadura Ninja na desocupação do Parque do Cocó deu mais espaço às falas

de atores sociais do que o telejornalismo tradicional.

Há muito a se pesquisar sobre o jornalismo cidadão, por se tratar de um tema

bastante recente. Poucos estudiosos se dedicam profundamente ao assunto. São raros os

trabalhos acadêmicos disponíveis. Acredita-se que a popularização da internet proporciona a

democratização da informação, e isso ocasionará mudanças no comportamento do cidadão ao

assistir, ler ou ouvir uma notícia.

Page 58: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

55

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Leonel. A validade dos critérios de noticiabilidade no jornalismo digital. In:

RODRIGUES, Carla (Org.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: Puc-Rio:

Saulina, 2009, 173.

AMARAL, Roberto. Imprensa e controle da opinião pública informação e representação no

mundo da globalização. In: MOTTA, Luiz Gonzaga (Org.). Imprensa e poder. Brasília:

Universidade de Brasília, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002, p. 82.

ASSINADA Ordem de Serviço para viadutos da Engenheiro Santana Júnior. Portal da

Prefeitura de Fortaleza, 5 jul. 2013. Disponível em: <http://www.fortaleza.ce.gov.br/

noticias/infraestrutura/assinada-ordem-de-servico-para-viadutos-da-engenheiro-santana-

junior>. Acesso em: 21 nov. 2013.

ASSISTA ao vivo manifestação contra obras no Cocó. O Povo online, 8 ago. 2013, Fortaleza,

política. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/politica/2013/08/08/noticiaspoliticas,

3107565/assista-ao-vivo-manifestacao-contra-obras-no-coco.shtml>. Acesso em: 21 nov. 2013.

ATRAÇÕES turísticas: atrativos naturais. Portal CityBrazil. Disponível em:

<http://www.citybrazil.com.br/ce/fortaleza/atracoes-turisticas/atrativos-naturais>. Acesso em:

30 out. 2013.

BAUDRILLARD, Jean; La Guerra del Golfo no ha tenido lugar. Barcelona: Anagrama,

1991.

BOURDIER, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

BRAGA, Ubiracy de Souza. “O Cocó é nosso”! Bradam os ativistas cearenses. Portal

Ciência Social Ceará, 8 ago. 2013. Disponível em: <http://cienciasocialceara.blogspot.

com.br/2013/08/o-coco-e-nosso-bradam-os-ativistas.html>. Acesso em: 03 set. 2013.

CAMILA, Karla. Parque do Cocó tem problemas ambientais graves. Diário do Nordeste

online, Fortaleza, 21 jul. 2011, Folha Cidade. Disponível em: <http://diariodonordeste.

globo.com/materia.asp?codigo=1014414>. Acesso em: 30 out. 2013.

CASTILHO, Carlos; FIALHO, Francisco. O jornalismo ingressa na era da produção

colaborativa de notícias. In: RODRIGUES, Carla (Org.). Jornalismo on-line: modos de

fazer, Rio de Janeiro: Puc-Rio: Saulina, 2009, p. 137.

CHAVES, Raquel. "Pulmão verde" da cidade preservado. O Povo online, Fortaleza, 28 abr.

2008, Folha Jornal de Hoje. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/fortaleza/

2008/04/28/noticiasjornalfortaleza,784495/pulmao-verde-da-br-cidade-preservado.shtml>.

Acesso em: 12 nov. 2013.

CONSTRUÇÃO de centro empresarial às margens do Cocó. 28 maio 2007. Portal Programa

Parque Vivo, Disponível em: <http://www.oktiva.net/oktiva.net/1364/nota/48583>. Acesso

em: 11 nov. 2013.

Page 59: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

56

DA SALINA Diogo ao Parque do Cocó. Portal Fortaleza em Fotos. Disponível em:

<http://fortalezaemfotos.blogspot.com.br/2013/02/da-salina-diogo-ao-parque-do-coco.html>.

Acesso em: 9 out. 2013.

ESTATÍSTICAS de domicílios brasileiros (IBGE - PNAD). Portal Teleco, 27 set. 2013.

Disponível em: <http://www.teleco.com.br/pnad.asp>. Acesso em: 7 out. 2013.

FERNANDES, Sobrinho, Manoel. Aspectos geoambientais do mangue do rio Cocó: um

estudo de caso. Fortaleza, UECE, 2008. 66p. Monografia (Especialização em Direito

Ambiental). Universidade Estadual do Ceará, 2008. Disponível em: <http://www.mpce.mp.br/

esmp/biblioteca/monografias/direito_ambiental/ASPECTOS.GEOAMBIENTAIS.DO.

MANGUE.DO.RIO.COCO-MANOEL. FERNANDES.SOBRINHO[2008].pdf >. Acesso em:

11 out. 2013.

FREIRE, Lusiana. Cid Gomes faz visita surpresa em ocupação no Cocó e se reúne com

manifestantes. O Povo online, Fortaleza, 5 ago. 2013, Folha Política. Disponível em:

<http://www.opovo.com.br/app/politica/2013/08/05/noticiaspoliticas,3105576/cid-gomes-

aparece-de-surpresa-em-ocupacao-no-coco-e-se-reune-com-manif.shtml>. Acesso em: 21

nov. 2013.

FREIRE, Marina. Conpam promete delimitação do Parque do Cocó até 2014. O Povo online,

Fortaleza, 4 mar. 2013, Folha Jornal de Hoje. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/

app/opovo/fortaleza/2013/03/14/noticiasjornalfortaleza,3022017/conpam-promete-

delimitacao-do-parque-do-coco-ate-2014.shtml>. Acesso em: 11 out. 2013.

GOBBI, Maria Cristina (Org.). Teoria da comunicação: antologias de pensadores brasileiros.

São Paulo: INTERCOM, 2010.

JUNQUEIRA, Rogério Diniz; BARROS, Antonio. A elaboração do projeto de pesquisa. In:

DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em

comunicação. São Paulo: Atlas, 2006.

LEMOS, André; LÉVY, Pierre. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia.

São Paulo: Paulus, 2010.

LIMA, Eliomar de. O Parque do Cocó não é privada!!!. Blog do Eliomar, Fortaleza, 15 fev.

2012. Disponível em: <http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/2012/02/15/o-parque-do-

coco-nao-e-privada/>. Acesso em: 16 nov. 2013.

LOPES, Gleison Maia. A apropriação do espaço público contemporâneo: o caso do

Parque Ecológico do Cocó, na cidade de Fortaleza/CE. 36º Encontro Anual da Anpocs. GT

07- “Dimensões do urbano: Tempos e escalas em composição”. Disponível em:

<http://www.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=7911&

Itemid=76>. Acesso em: 30 out. 2013.

______. O Parque Ecológico do Cocó como espaço de intervenções públicas e privadas.

Disponível em: <http://www.sbpcnet.org.br/livro/62ra/resumos/resumos/6448.htm>. Acesso

em: 30 out. 2013.

LOPES, Júlia; NETO, Livino; VELOSO, Raissa. Fortaleza: acampamento de ativistas no

Parque do Cocó já dura quase dois meses. Ecodebate, Cidadania & Meio Ambiente.

Page 60: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

57

Disponível em: <http://www.ecodebate.com.br/2013/09/05/fortaleza-acampamento-de-

ativistas-no-parque-do-coco-ja-dura-quase-dois-meses/>. Acesso em: 30 out. 2013.

LOPES, Gleison Maia; CARLEIAL, Adelita Neto. Usos invisíveis do Parque Ecológico do

Cocó, na cidade de Fortaleza/CE. 2012. Disponível em: <http://www.sinteseeventos.com.br/

ciso/anaisxvciso/resumos/GT24-06.pdf>. Acesso em: 30 out. 2013.

MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2003.

MANIFESTAÇÃO contra a construção do Iguatemi empresarial. Portal Midia

Independente, 8 jun. 2007. Disponível em: <http://www.midiaindependente.org/pt/blue/

2007/06/385036.shtml>. Acesso em: 10 out. 2013.

MANIFESTAÇÃO contra todas as obras as margens do rio Cocó. Portal Raízes do Mangue,

2007. Disponível em: <http://raizesdomangue.blogspot.com.br/2007/07/manifestao-contra-

todas-as-obras-as.html>. Acesso em: 10 nov. 2013.

MARQUES, Ângela et al. Esfera pública, redes e jornalismo. Rio de Janeiro: E-Papers,

2009.

MORAIS, Dênis. Agências alternativas em rede e democratização da informação na américa

latina. In: MORAIS, Dênis; ROMONET, Ignacio; SERRANO, Pascual. Mídia, poder e

contrapoder: da concentração monopólica à democratização da informação. São Paulo:

Boitempo; Rio de Janeiro: FAPERJ, 2013, p. 114.

MÚSICA clássica no Parque do Cocó. Diário do Nordeste online, Fortaleza, 10 nov. 2008,

Folha Cidade. Disponível em: <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=

588497>. Acesso em: 11 nov. 2013.

O SHOPPING da vida dos cearenses. Disponível em: <http://www.iguatemifortaleza.

com.br/shopping>. Acesso em: 30 out. 2013.

PALÁCIO, Filipe. Cocó não existe legalmente. Diário do Nordeste online, Fortaleza, 14 dez.

2009, Folha Cidade. Disponível em: <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo

=705639>. Acesso em: 14 nov. 2013.

PARQUE Adhail Barreto: o Cocó velho. Portal Fortaleza Nobre, 9 maio 2012. Disponível

em: <http://fortalezanobre.blogspot.com.br/2012/05/parque-adahil-barreto-o-coco-

velho.html>. Acesso em: 9 out. 2013.

PINTO, Ana Estela de Sousa. Jornalismo diário: reflexões, recomendações, dicas e

exercícios. São Paulo: Publifolha, 2009.

POLÍCIA expulsa acampados no Cocó com choques e bombas de efeito moral e começa o corte

de árvores. O Povo online, Fortaleza, 8 ago. 2013, Política. Disponível em: <http://www.opovo.

com.br/app/politica/2013/08/08/noticiaspoliticas,3107310/policia-expula-acampados-no-coco-

com-choques-e-bombas-de-efeito-moral.shtml>. Acesso em: 23 nov. 2013.

REGULARIZAÇÃO do Cocó. O Povo online, Fortaleza, 24 abr. 2008, Folha Jornal de Hoje.

Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2008/04/24/

noticiasjornalopiniao,783521/regularizacao-do-coco.shtml>. Acesso em: 12 nov. 2013.

Page 61: A COBERTURA DO RAPADURA NINJA NA DESOCUPAÇÃO DO COCÓ: UM ESTUDO COMPARATIVO COM A MÍDIA TRADICIONAL

58

REZENDE, Guilherme Jorge de. Telejornalismo no Brasil: um perfil editorial. São Paulo:

Sammus, 2000.

ROCHA, Davi Aragão; FROTA, Henrique Botelho; MEIRELES, Antonio Jeovah de

Andrade. Ecossistema manguezal do rio Cocó e o licenciamento ambiental do Iguatemi

Empresarial, em Fortaleza/CE. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/

default/files/anexos/33567-43516-1-PB.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2013.

ROMONET, Ignacio. A explosão do jornalismo na era digital. In: MORAIS, Dênis;

ROMONET, Ignacio; SERRANO, Pascual. Mídia, poder e contrapoder: da concentração

monopólica à democratização da informação. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: FAPERJ,

2013.

SERRANO, Pascual. Outro jornalismo possível na internet. In: MORAIS, Dênis;

ROMONET, Ignacio; SERRANO, Pascual. Mídia, poder e contrapoder: da concentração

monopólica à democratização da informação. São Paulo: Boitempo: Rio de Janeiro: FAPERJ,

2013, p. 147-153.

SOARES, Joisa Maria Barroso. Parque ecológico do Cocó: a produção do espaço urbano no

entorno de áreas de proteção ambiental. Fortaleza, UFC, 2005. 151p. Dissertação (Mestrado

em Desenvolvimento e Meio Ambiente) Universidade Federal do Ceará, 2005. Disponível

em: <http://www.prodema.ufc.br/dissertacoes/138.pdf>. Acesso em: 9 out. 2013.

TARGINO, Maria das Graças. Jornalismo cidadão: informa ou deforma?. Brasília: Ibict:

UNESCO, 2009.

TONIATTI, Mariana. Muito além de um cartão postal. Diário do Nordeste online, Fortaleza,

15 maio 2008, Folha Jornal de Hoje. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/

fortaleza/2008/05/12/noticiasjornalfortaleza,788245/muito-alem-de-br-um-cartao-

postal.shtml>. Acesso em: 12 nov. 2013.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. A tribo jornalística - uma comunidade

interpretativa transnacional. Florianópolis: Insular, 2005.

VIZEU, Alfredo; SIQUEIRA, Fabiana Cardoso de. O telejornalismo: o lugar de referência e a

revolução das fontes. In: VIZEU, Alfredo; PORCELLO, Flávio; COUTINHO, Illuska

(Orgs.). 60 anos de telejornalismo no Brasil: história, análise e crítica. Florianópolis:

Insular, 2010, p. 92.

WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins, 2003.