A Construo Da Psicologia - Epistemologia e Psicologia-Apostila

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FMU Teorias e Sistemas Psicológicos I Apostila: A CONSTRUÇAO DA PSICOLOGIA Professores : Armando Chibante P. Coelho Tânia M. Magarian

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FMU

Teorias e Sistemas Psicológicos I

Apostila:A CONSTRUÇAO DA PSICOLOGIA

Professores :Armando Chibante P. Coelho

Tânia M. Magarian

São Paulo2010

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Apostila elaborada pelo Prof. Armando Chibante P. CoelhoFMU - EPISTEMOLOGIA E PSICOLOGIA

O processo de conhecimento

O desejo de conhecer o mundo, as coisas, o homem, faz com que paremos para refletir sobre o significado da palavra conhecimento, costumeiramente usada por todos nós no cotidiano. Embora a palavra seja de uso comum, o seu significado deve ser amplamente discutido e aprofundado se pretendermos contribuir para o desenvolvimento da psicologia como ciência e como profissão.

Embora, indistintamente a palavra tenha sido usada para fenômenos das mais diversas procedências, como por exemplo, o “conhecimento” que o cachorro tem em relação ao seu dono que lhe dá o alimento, ou o “conhecimento” que o lavrador tem a respeito das coisas do campo, nos interessa, particularmente, discutir sobre como se dá o processo pelo qual o homem é capaz de conhecer, processo este que o distingue das outras espécies, e que lhe permite atingir a condição de ser humano.

Quando falamos de conhecimento, estamos fundamentalmente nos referindo à relação entre um sujeito , chamado de cognoscente (que conhece) e um objeto, chamado de cognoscível (que é conhecido). Trata-se portanto de uma relação onde o sujeito vai apreender o objeto e o objeto será apreendido pelo sujeito. Por exemplo, na ciência, existe o sujeito (cientista) que vai apreender as propriedades do seu objeto de estudo.

Desde a Grécia antiga, a relação sujeito-objeto tem sido alvo de reflexão por parte de filósofos preocupados com essa questão, cuja temática tem suscitado muita polêmica até os nossos dias.

Por essa razão, observamos a falta de consenso sobre o processo inserido na relação sujeito-objeto. Ao contrário, encontramos diversas concepções que procuram explicá-la, e que constitui matéria prima de várias obras filosóficas. Dentre as várias concepções existentes, podemos grosseiramente destacar três: a) Idealista, b) mecanicista; c) dialética.

Na concepção idealista, a relação sujeito-objeto é esquematizada da seguinte maneira: S ®O, isto é, considera-se que o sujeito é o elemento central do conhecimento. Ele é ativo e determinante da relação. Neste caso, o conhecimento recai sobre o subjetivo. Em outras palavras, entende-se que um objeto conhecido, só o é verdadeiramente, enquanto representação mental daquele sujeito que o conhece. O objeto só existe enquanto “objeto pensado”, enquanto “idéia” do sujeito.

Na concepção mecanicista, a relação sujeito-objeto é esquematizada da seguinte maneira: S¬O, isto é, considera-se que o objeto é o elemento central do conhecimento. O sujeito neste caso é passivo e meramente receptor de imagens sensoriais, ao passo que o objeto será o elemento determinante da imagem sensorial do sujeito. Trata-se de uma concepção que não admite o subjetivo. Tal concepção admite a representação fiel do objeto na idéia, como sendo possível. Em outras palavras, o conhecimento neste caso é uma “cópia” da realidade, o que em última instância representa uma inversão da concepção idealista, como se coubesse ao homem apenas “perceber sensorialmente” as imagens do mundo externo, sem influenciá-lo.

A concepção dialética encara a relação sujeito-objeto enquanto processo que pode ser esquematizado da seguinte maneira: S « O. Neste caso, o sujeito e o objeto existem

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independentemente um do outro, mas interagem entre si, isto é, o sujeito e o objeto ao entrarem em relação, passam a exercer influência mútua. Esta concepção incorpora as duas anteriores, mas ao mesmo tempo é diferente de ambas, já que as supera qualitativamente na compreensão do real. Em outras palavras, esta concepção considera sujeito e objeto como realidades objetivas, porém, admite que tal relação implica numa influência mútua, transformando-os. Desta forma, entende-se que o conhecimento da realidade (considerando o próprio sujeito como parte da realidade) se dá no momento em que o homem age sobre ela e a transforma; sendo esse processo de transformação do real, o momento da apreensão subjetiva-objetiva da realidade (objetiva) que está sendo transformada pelo ser humano.

Grosseiramente podemos dizer que o psicólogo, enquanto “sujeito” cognoscente, procura estudar o homem enquanto “objeto” a ser conhecido. Esse objeto a ser conhecido tem uma identidade com o sujeito, na medida que o psicólogo é também um ser humano. É, portanto, nessa relação, que ao afirmarmos ou ouvirmos algo sobre o ser humano, somos levados a fazer uma auto-observação, que intenciona levar-nos a um questionamento e a uma maior auto-compreensão. É preciso ressaltar, entretanto, que essa relação não é mecânica, tal como foi exposto, tendo assim sido feita, apenas por questões didáticas.

A PROBLEMÁTICA DA DEFINIÇÃO DA PSICOLOGIA

INTRODUÇÃO:

A palavra psicologia é composta de dois termos gregos: “psique” que significa alma, e o sufixo “logia”, derivado de logos, que significa estudo.

O interessante é que, por mais clássica que seja, a palavra psicologia só surgiu no século XVIII, ou mais precisamente em 1734, quando Christian Wolff empregou este termo para significar uma disciplina, então, fazendo parte da Filosofia. Sua “Psichologia Rationalis” era aquela parte da Filosofia que estudava a natureza e as faculdades da alma. No entanto devemos recuar a um passado mais distante, na Grécia Antiga, para encontrarmos os fios históricos da psicologia.

Aristóteles (384 - 322 AC) filósofo grego descreveu muitas categorias de comportamento tais como a percepção dos sentidos, memória, as diferenças de raça, cultura etc.

Depois de Aristóteles, ninguém melhor que René Descartes (1596 - 1650) pode ser considerado como marco histórico da psicologia pré-científica. Para ele, a mente era o que pensa. Sua sede era a cabeça e não ocupava espaço físico. O corpo era uma substância material, mecânica na sua própria ação, sujeita a todas as leis físicas. A mente influía no corpo e este interferia nela. Esta interferência se faria num ponto do cérebro - a glândula Pineal.

Após Descartes há toda uma escola filosófica, Empirismo (século XVIII), preocupada com temas psicológicos, mas todos tratados de maneira puramente teórica. A filosofia Empirista enfatizou sobretudo o papel da percepção sensorial no desenvolvimento da mente.

Porém, o verdadeiro fundador da psicologia como ciência foi Wilhelm Wundt (1832 - 1920). Em 1879, na Universidade de Leipzig, na Alemanha, Wundt criou o primeiro laboratório

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experimental de psicologia - marco histórico da psicologia como ciência. A psicologia separa-se da filosofia e torna-se ciência.

A psicologia é criada por Wundt como ciência da consciência ou da mente (consciência e mente aqui são sinônimos). A tarefa da psicologia consistia em se descobrir à natureza das experiências conscientes elementares, isto é, analisar a consciência em partes separadas e assim, descobrir a estrutura da consciência.

Segundo Wundt, as sensações (ato de captar os estímulos através dos sentidos) constituem as unidades elementares da consciência ou percepção (processo interno, dinâmico, no qual as sensações são selecionadas, interpretadas e organizadas).

O método empregado foi o da introspecção (auto observação) que consistia num relato controlado da própria atividade mental.

Wundt estabeleceu regras muito explícitas para o uso da introspecção em seu laboratório: o observador deveria encontrar-se num estado de atenção concentrada e deveria ser capaz de repetir a observação tantas vezes quantas fossem necessárias. Logo, a introspecção como era usada em seu laboratório exigia treinamento prévio dos estudantes.

A transição do objeto de estudo da psicologia de consciência para comportamento foi devida, em grande parte, ao trabalho da psicologia americana (Behaviorismo), embora, até onde se pode saber, William Mc Dougall tenha sido o primeiro a definir a psicologia como “ciência do comportamento”, em 1908.

Assim, chegamos ao século XX com a psicologia sendo definida como ciência do comportamento.

A DEFINIÇÃO DA PSICOLOGIA

A psicologia vem sendo definida como a “ciência que estuda basicamente o comportamento humano”. Esta definição nos leva a uma primeira questão: O que é ciência?

Ciência significa, para nós, não mais uma reflexão sobre o conhecimento ou sobre o que se conhece - que é papel da filosofia - mas já um conjunto organizado de conhecimentos sobre determinada coisa ou objeto, em especial o conhecimento obtido mediante a observação dos fatos, utilizando-se, para isso, tanto uma forma de observação explicativa (modelo explicativo - causa e efeito), quanto uma forma de observação compreensiva (modelo compreensivo - descritivo).

O modelo explicativo é próprio das ciências naturais, especialmente a biologia e a física. Segundo esse modelo, entende-se por explicação o estabelecimento de causalidade e a combinação de elementos (associacionismo), onde o complexo é explicado pelo simples (atomismo).

Dilthey, procurando separar as ciências humanas das exigências metodológicas das ciências naturais, propôs a utilização do modelo compreensivo.

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O modelo compreensivo exclui a causalidade, o atomismo e a explicação, características essas das ciências naturais. Segundo este modelo, o fenômeno deve ser captado intuitivamente, na sua totalidade, sem reduzi-lo a uma mera combinação de elementos. Assim, as leis são encontradas através de um exame cuidadoso que é fornecido pela experiência da consciência.

O que seria ciência psicológica?

Ciência psicológica seria então, um conjunto organizado de conhecimentos sobre o comportamento humano.

Desta colocação advêm as primeiras dúvidas e divergências: O que é comportamento?

Tentando encontrar esta resposta surgem as diversas teorias psicológicas, ou seja, os diversos conjuntos organizados de conhecimentos, trazendo pressupostos e crenças provenientes da filosofia. Na tentativa de responder o que é comportamento vamos encontrar o nome dos teóricos: Skinner, Freud, Rogers, Perls dentre inúmeros outros.

Portanto, a própria definição de psicologia não é universal como se propõe. Defini-la, perfeitamente, vai depender do que se entende por comportamento e do que se entende por ciência.

UMA VISÃO GLOBAL DAS PRINCIPAIS CORRENTES DA PSICOLOGIA

A primeira Força da Psicologia - O Movimento Behaviorista.

O Behaviorismo surgiu nos Estados Unidos como uma reação à psicologia introspectiva (Estruturalismo de Wundt). Na tentativa de elevar a psicologia ao mesmo grau de objetividade das ciências naturais, Watson, fundador do Behaviorismo atacou veementemente a psicologia introspectiva. Isto é, se a psicologia quisesse ser ciência, ela não poderia estudar a consciência e nem usar o método introspectivo, pois a consciência não pode ser observada e nem é verificável por terceiros. Somente o próprio sujeito é quem tem acesso a ela pela introspecção.

Por esta razão, o Behaviorismo aboliu a consciência como objeto de estudo propondo o comportamento como objeto de estudo da psicologia.

No Behaviorismo, o comportamento é descrito em termos precisos, absolutos. Ele é influenciado pelo meio ambiente e pode ser explicado pelo seguinte esquema: S - R (S = estímulo ® alterações do meio ambiente que são detectados pelos nossos sentidos; R = resposta ® comportamento ou ações e reações que o organismo apresenta em decorrência dos estímulos).

O Behaviorismo admite o princípio do determinismo (princípio da causalidade), que é fundamental em todos os campos científicos. Segundo este princípio, todos os fenômenos obedecem a um condicionamento causal, isto é, não existe fenômeno sem causa. Logo, todo e qualquer fenômeno existente na natureza física que nos cerca, foi causado ou determinado por algum evento que o antecedeu e o provocou. Assim, não existe o livre arbítrio (liberdade de escolha).

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No Behaviorismo o meio ambiente é considerado o determinante do comportamento (as ações e reações humanas e animais são determinadas pelos estímulos do meio).

O método usado é o experimental que exige a observação direta e objetiva bem como a submissão do objeto de estudo às condições de controle realizadas em laboratório.

No Behaviorismo, a visão de homem é objetivista e materialista, isto é, o homem é um organismo passivo, manipulado pelos estímulos do meio. Seu comportamento é produto do meio. Ele não tem liberdade de escolha.

Os principais representantes do Behaviorismo foram: John Watson, fundador dessa escola; Burrhus Frederick Skinner, que se tornou o mais célebre e importante Behaviorista do século XX graças a sua famosa contribuição: “A Análise Experimental do Comportamento”; Edward Chace Tolman, que propôs a existência de um Behaviorismo Intencional, atribuindo intenção ao organismo; e muitos outros.

A Segunda Força da Psicologia - O Movimento Psicanalítico.

A psicanálise surgiu na Europa a partir da experiência clínica de Sigmund Freud.

É uma teoria científica constituída por um corpo teórico de hipóteses a respeito do funcionamento e desenvolvimento da mente no homem, com o objetivo de compreender o seu funcionamento “normal” e “anormal”, embora, sua prática tenha se originado do tratamento de pessoas que se encontravam mentalmente enfermas.

O objeto de estudo da psicanálise é o inconsciente. O comportamento humano é considerado como a expressão final de um mundo interno, de forças ocultas e desconhecidas que o governam.

A psicanálise admite a existência da consciência, porém, a considera um atributo excepcional dos processos mentais, isto é, a consciência não é o atributo principal responsável pelo aparecimento das nossas ações.

Segundo a Psicanálise, o inconsciente é o atributo comum e responsável pelo aparecimento dos processos mentais e das nossas ações. Donde se conclui que a consciência é a qualidade que oculta e encobre processos mentais inconscientes que são desconhecidos para nós.

Como qualquer teoria científica, a Psicanálise admite o determinismo (princípio da causalidade). No entanto, não se fala de um determinismo da natureza física, como no Behaviorismo, e sim de um determinismo psíquico (mente), isto é, admite-se que na nossa vida mental nada se dá por acaso e que todo e qualquer evento mental é determinado por algum outro evento psíquico que o precedeu. Assim, não existe o livre arbítrio (liberdade de escolha).

Embora, determinadas ações possam parecer casuais ou acidentais, na realidade, elas não o são. Simplesmente existem intenções que permanecem ocultas da própria consciência.

Na psicanálise, o determinante do nosso comportamento e ações conscientes é o inconsciente.

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O método usado é o clínico, onde as conclusões são tiradas a partir do estudo de caso.

Na psicanálise a visão de homem é pessimista, isto é, o homem é um organismo irracional, animalesco, governado, manipulado por forças instintivas e ocultas que ele desconhece.

Os principais representantes da Psicanálise foram: Freud (seu fundador), Melanie Klein, Lacan, dentre muitos outros.

A Terceira Força da Psicologia - O Movimento Fenomenológico, Existencial-Humanista.

A noção de Terceira Força em Psicologia foi criada por Maslow na década de 60 numa tentativa de fornecer uma identidade que fosse comum aos que contestavam o Behaviorismo e a Psicanálise. Por essa razão, a terceira força representa a convergência de diversas teorias psicológicas sem se identificar com uma teoria específica.

Esse movimento surgiu nos Estados Unidos e Europa como uma reação ao determinismo presente nas duas forças anteriores (Behaviorismo e Psicanálise). Critica a visão objetivista, determinista e mecanicista do Behaviorismo que “coisifica” o homem ao reduzi-lo à condição de matéria, pois, ao explicarem o comportamento humano pela relação funcional entre o estímulo (S) e a resposta (R), estariam praticando uma violência contra o homem, desumanizando-o e deixando de lado a sua subjetividade. Critica igualmente a visão pessimista e determinista da Psicanálise já que o homem ao ser determinado pelo inconsciente seria irracional, violento, animalesco e essencialmente destrutivo.

Este movimento propõe uma visão otimista da natureza humana, onde a verdadeira essência humana é construtiva, criativa, dotada de potencial e impulso para a auto-realização.

Seu objeto de estudo é a consciência intencional. Admite que o comportamento é a expressão final de um mundo interno (único, pessoal, privado) que só pode ser descrito em termos relativos por ser produto de uma consciência que dá sentido e significado as coisas.

Aceita, portanto, a existência de uma consciência humana livre e intencional que atribui sentido as coisas.

O movimento da Terceira Força nega o determinismo, acredita no livre arbítrio (liberdade de escolha). Assim, as ações humanas são livres, e revelam uma intenção e um propósito.

O método usado é o fenomenológico (o sujeito descreve sua própria experiência exatamente como ela se processa segundo a sua consciência). Portanto, o que importa é a vivência da experiência, isto é, o que se vive no “aqui e agora”.

Nesta abordagem, a visão de homem é otimista, pois o homem é a fonte de todos os seus atos. Ele é essencialmente livre para fazer suas escolhas e o ponto central é a sua consciência. Ele tem a capacidade infinita de transformar-se e assim sendo, ele é o artífice de seu próprio destino. Ele cria-se a si mesmo.

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Este movimento tem como principais representantes: Rogers e Maslow (Humanismo), Rollo May e Binswanger (Existencialismo), Frederick Perls (Gestalt-Terapia), Jacob Moreno (Psicodrama), Carl Gustav Jung (Psicologia Analítica) e muitos outros.

A Quarta Força da Psicologia - O Movimento Transpessoal.

O Movimento Transpessoal é a primeira corrente da Psicologia contemporânea que dedica atenção sistemática e privilegiada à dimensão espiritual da experiência humana.

Definir a Psicologia e a terapia transpessoal apresenta dificuldades, por serem as experiências transpessoais, basicamente, estados ampliados da consciência. Sendo assim, as definições e modelos podem ser considerados restritivos, em evolução e incompletos.

Independentemente do fato de haver um interesse milenar pelas dimensões superiores e espirituais da psique humana, somente na década de 60 uma série de fatores contribuiu para o aumento de investigações, teorias e práticas psicológicas relacionadas ao tema, criando condições para a institucionalização da Psicologia Transpessoal enquanto movimento organizado - a Quarta Força da Psicologia.

A Psicologia Transpessoal não surge em oposição ao Movimento de Terceira Força em Psicologia, mas como uma ampliação ou extensão desse movimento. Enquanto a Psicologia Humanista enfatiza o crescimento e a auto-realização, a nova tendência residia no reconhecimento da espiritualidade e das necessidades transcendentais da natureza humana, levando vários psicólogos da Terceira Força a se interessarem por várias áreas negligenciadas tais como experiências místicas, êxtase, meditações, consciência cósmica, etc., que não eram enfocadas pelos movimentos anteriores da psicologia.

A percepção dessas circunstâncias favoreceu a emergência da quarta força, ressaltada por Maslow em 1966 em seu livro “Introdução à Psicologia do Ser”, onde ele considera a Terceira Força transitória, uma preparação para a Quarta Força ainda mais elevada e transpessoal, centrada mais no cosmos do que nas necessidades e interesses humanos.

Finalmente, em 1968 Stanislav Groff e Maslow adotaram o nome de Psicologia Transpessoal.

A Psicologia Transpessoal tem como objeto de estudo os estados ampliados de consciência.

O modelo Transpessoal aceita a intencionalidade da consciência, porém, a considera como um estado contraído e defensivo. A consciência ótima é considerada mais ampla e potencialmente disponível a qualquer momento se a contração defensiva for relaxada.

A ampliação da consciência apresenta o ser humano para além dos aspectos individuais e biográficos de sua personalidade e além do organicamente explicável pelos processos fisiológicos ou cerebrais. É considerada a consciência que a um só tempo é matriz de sua identidade e integra o todo da criação.

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O compromisso com uma visão holística (teoria que, opondo-se às concepções atomistas, propõe como característica fundamental da natureza a tendência para promover a evolução no sentido de totalidades cada vez mais complexas e organizadas - novo paradigma de ciência), assume como proposta a superação de todas as fronteiras interdisciplinares, rompendo com as compartimentalizações das áreas do saber humano, apresentando crescentes aproximações entre filosofia, ciência, arte e religião; e com o objetivo de enfocar ou acessar, e inclusive provocar, os estados ampliados de consciência.

Os principais representantes da Quarta Força são: William James, que formulou arrojadas concepções sobre a natureza da consciência hoje recuperada pela quarta força; Jung, que formulou idéias revolucionárias sobre diversas tendências hoje abarcadas pela Psicologia Transpessoal (arquétipos, inconsciente coletivo, Self, sincronicidade), razão pela qual é considerado precursor da terceira e da quarta força; Maslow (também considerado precursor da Terceira e Quarta Forças da Psicologia) considerava a Psicologia Humanista uma preparação para uma Quarta Força e tal qual Jung estava interessado no crescimento pessoal, que chamou de auto-realização, ampliado pela Quarta Força para autotranscendência.

Além destes, pode-se ainda destacar: Stanislav Groff, Ken Wilber, James Fadimam, Pierre Weill e muitos outros.

ROTEIRO DE ESTUDOS1) Qual a origem etimológica da palavra psicologia?2) Por que Descartes é considerado marco na história da psicologia pré-científica?3) O que Wundt representa na história da psicologia?4) Como Wundt definiu a psicologia?5) Qual era a tarefa da psicologia segundo Wundt?6) Qual foi o método aplicado por Wundt?7) Como se deu à transição da consciência para o comportamento?8) Como a psicologia vem sendo definida no século XX?9) Qual é a primeira questão que se levanta a partir da definição da psicologia?10) O que é ciência?11) O que é ciência psicológica?12) Qual é a segunda questão que se levanta a partir da definição da psicologia?13) Por que surgiram as várias teorias da psicologia?14) Por que a definição da psicologia não é universal?15) Qual foi a primeira força da psicologia?16) Que críticas a primeira força dirigiu ao Estruturalismo?17) Qual é o objeto de estudo do Behaviorismo?18) O que é determinismo?19) Qual é o determinante do comportamento segundo o Behaviorismo?20) Qual é o método usado no Behaviorismo?21) Como o homem é concebido segundo a primeira força da psicologia?22) Qual é a segunda força da psicologia?23) Qual é o objeto de estudo da segunda força da psicologia?

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24) Como a psicanálise se posicionou em relação à consciência?25) O que é determinismo psíquico?26) Qual é o determinante do comportamento segundo a psicanálise?27) Qual é o método empregado na psicanálise?28) Como o homem é concebido na segunda força da psicologia?29) Qual é a terceira força da psicologia?30) O que significa o movimento da terceira força em psicologia?31) O que o movimento de terceira força propõe?32) Qual é o objeto de estudo da terceira força?33) Por que o Movimento Fenomenológico Existencial-Humanista nega o determinismo?34) Qual é o determinante do comportamento na terceira força?35) Qual é o método usado na terceira força?36) Como o homem é concebido na terceira força da psicologia?37) Qual é a quarta força da psicologia?38) Como podemos definir o movimento transpessoal?39) O que motivou o surgimento da Psicologia Transpessoal?40) Qual é o objeto de estudo da Psicologia Transpessoal?41) Como a consciência é vista pela quarta força da psicologia?

ANTECEDENTES E EVOLUÇÃO DA PRIMEIRA FORÇA DA PSICOLOGIA

Nos primeiros anos do séc XX, Watson trabalhava no Behaviorismo. O objetivismo, o mecanicismo e o materialismo eram fortes. Exerciam influências tão penetrantes, que levaram inexoravelmente a um novo tipo de psicologia, sem consciência, sem mente, sem alma, uma psicologia que só se interessava pelo que pudesse ser visto, ouvido e tocado.

A INFLUÊNCIA DA PSICOLOGIA ANIMAL SOBRE O BEHAVIORISMO

O Behaviorismo é uma conseqüência direta dos estudos realizados na primeira década do século XX, sobre o comportamento animal. (Watson, 1929).

O antecedente mais importante do programa de Watson foi à psicologia animal desenvolvida à partir da teoria evolutiva de Darwin, o que resultou em tentativas de demonstrar a existência da mente em organismos inferiores e a continuidade entre as mentes animal e humana.

Antes de Darwin publicar sua teoria não havia razão para que os cientistas se interessassem pela mente animal já que os animais eram considerados desprovidos de mente, autômatos sem alma, como tinha sido acentuado por Descartes.

A origem das espécies alterou essa noção. As provas de Darwin mostraram que não havia uma distinção bem definida entre as mentes humana e animal. Era possível postular uma continuidade entre todos os aspectos físicos e mentais de ambos, porque os seres humanos eram considerados derivados dos animais por meio do constante processo evolutivo da mudança e do desenvolvimento.

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"Não há diferença fundamental entre os homens e os mamíferos superiores em termos de faculdades mentais”.(Darwin, 1871).

Por isso, iniciou-se a busca de provas da presença da mente ou de inteligência nos animais.

Nos anos posteriores à publicação de A ORIGEM DAS ESPECIES, o tópico da inteligência animal ganhou mais popularidade, não somente entre os cientistas como também para o público em geral. Circulavam milhares de histórias acerca de façanhas de inteligência incomuns realizadas por cães, gatos, cavalos, e porcos.

Pioneiros da Psicologia Animal

Quem formalizou e sistematizou o estudo da inteligência animal foi o fisiologista britânico George Romanes (1848 - 1894). Ele e Darwin se tornaram amigos e este lhe deu suas anotações sobre o comportamento animal.

Em 1883 Romanes publicou: “Inteligência Animal”, considerado o primeiro livro de psicologia comparada. Seu propósito era mostrar o alto grau da inteligência animal.

A metodologia de Romanes é chamada de método anedótico e sua técnica de introspecção por analogia.

Romanes concluiu que os animais são capazes dos mesmos tipos de racionalização, ideação, raciocínio complexo e capacidade de resolução de problemas que os seres humanos exibem.

Foi Romanes, apesar das criticas dirigidas à sua metodologia, quem deu início ao estágio observacional da psicologia comparada.

As fraquezas inerentes ao método anedótico e a introspecção por analogia foram admitidas por C.L. Morgan (1852 - 1936) que Romanes designou como seu sucessor.

Professor de psicologia e educação na Universidade de Bristol, Inglaterra, Morgan foi geólogo e zoólogo.

Ele propôs uma lei da Parcimônia num esforço de opor-se à tendência de antropomorfizar os animais e atribuir-lhes demasiada inteligência. O princípio determina que o comportamento de um animal não deve ser interpretado como resultante de um processo mental superior se puder ser explicado em termos de um processo mental inferior.

Morgan seguiu essencialmente a mesma abordagem metodológica de Romanes: observar o comportamento de um animal e tentar explicá-lo por meio de um exame introspectivo dos seus próprios processos mentais. Entretanto, aplicando sua lei da parcimônia ele evitava atribuir complexos processos mentais de nível superior aos animais quando seu comportamento podia ser explicado mais simplesmente e em termos de processos de nível interior. Ele acreditava que a maior parte dos comportamentos animais podia ser vista como resultado de aprendizagem ou

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associação baseadas na experiência sensorial, sendo a aprendizagem um processo de nível mais baixo do que o pensamento racional ou a ideação.

Com a lei da parcimônia, o uso da introspecção por analogia tornou-se mais restrito, e terminou por ser substituído por métodos mais objetivos.

Morgan foi o primeiro a realizar estudos experimentais em larga escala no campo da psicologia animal.

Esses estudos não permitiam o mesmo grau de controle das experiências de laboratório, mas constituiu um importante avanço em relação ao método anedótico de Romanes.

Um passo significativo na direção de uma maior objetividade na psicologia animal foi dado por Jacques Loeb (1859 - 1924) fisiologista e zoólogo alemão que trabalhou em várias instituições norte-americanas.

Reagindo à tradição antropomórfica de Romanes e ao método da introspecção por analogia, Loeb desenvolveu uma teoria do comportamento animal, baseada no conceito de tropismo, um movimento forçado involuntário.

Assim, a resposta do animal é uma função direta e automática de um estímulo ou reação a ele. Diz-se que o comportamento é forçado pelo estímulo não necessitando, portanto, de nenhuma explicação em termos de consciência animal. A teoria de Loeb teve influência por algum tempo nas ciências biológicas, representando uma mudança com relação ao trabalho de Romanes e Morgan.

Principais Representantes da Psicologia Animal

No começo do século, o estudo do comportamento animal segundo uma perspectiva biológica tornara-se popular nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo a psicologia animal experimental principalmente a obra de E. L. Thorndike (1874 - 1949) na Universidade Colúmbia se desenvolvia com rapidez.

Thorndike, um dos pesquisadores mais importantes da psicologia animal, elaborou uma teoria objetiva e mecanicista da aprendizagem que se concentra no comportamento manifesto. Acreditava que a psicologia tem de estudar o comportamento, e não elementos mentais ou experiências conscientes de qualquer espécie; assim, reforçou a tendência de uma maior objetividade. Ele interpretou a aprendizagem não em termos subjetivos, mas em termos das conexões concretas entre estímulos e respostas.

Thorndike criou uma abordagem experimental em associação a que deu o nome de conexionismo, e que abrangia várias novidades importantes com relação às concepções tradicionais da aprendizagem.

"Aprender é estabelecer conexões. A mente é o sistema de conexões do homem”.(Thorndike, 1931).

Embora se concentrasse nas conexões entre situações e respostas, e alegasse que a

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aprendizagem não envolve reflexão consciente, Thorndike estava voltado para processos mentais ou subjetivos. Mesmo assim podemos observar uma consistente diminuição no papel que a consciência teve, na psicologia animal, desde o seu começo até a época de Thorndike assim como uma concentração maior no uso do método experimental para o estudo do comportamento mais objetivo.

As conclusões de Thorndike derivaram das pesquisas que ele fez empregando um equipamento que projetou, a caixa-problema.

Embora Thorndike preferisse os termos “selecionar e associar”, os termos “tentativa e erro” popularizaram-se e encontraram lugar nos vocabulários de educadores e psicólogos. (Aprendizagem por tentativa e erro). Thorndike ficou impressionado pela natureza de “estímulo e resposta” no comportamento de seus pacientes experimentais.

Concluiu que a aprendizagem era principalmente uma questão de gravar respostas corretas e eliminar repostas incorretas como resultado de suas conseqüências agradáveis ou desagradáveis, isto é, recompensas ou punições. A esse “gravar e eliminar” deu o nome de conseqüências da Lei de Efeito. Essa lei foi estabelecida em sua pesquisa com gatos e caixas de quebra cabeça.

No início dos anos 30, Thorndike reexaminou a lei do efeito num amplo programa de pesquisa com sujeitos humanos.

Os resultados revelaram que recompensar uma dada resposta de fato a fortalece, mas que impor uma punição a uma determinada resposta não produz um efeito negativo comparável. Ele reformulou a lei do efeito dando maior ênfase à recompensa do que à punição.

A obra de Thorndike foi um marco no associacionismo, e o espírito objetivo com que conduziu suas pesquisas foi uma relevante contribuição para o Behaviorismo.

O trabalho sobre a aprendizagem de Ivan Petrovitch Pavlov (1849 - 1936), ajudou a levar o associacionismo, de sua ênfase tradicional nas idéias subjetivas, para o estudo concentrado das secreções glandulares e movimentos musculares, objetivos e quantificáveis. O trabalho de Pavlov forneceu a Watson um novo método de estudo do comportamento, e uma maneira de tentar controlá-lo e modificá-lo.

A descoberta de reflexos condicionados surgiu, como tantos progressos científicos de uma descoberta acidental.

Trabalhando com as glândulas digestivas de cães, Pavlov tinha aperfeiçoado um aparelho que permitia recolher e medir a quantidade de saliva segregada por um cão sob diferentes condições de alimentação. A descoberta de Pavlov consistiu no fato de ter notado a ocorrência persistente de um fluxo salivar antecipatório, ou seja, a constatação de que o animal salivava na presença de estímulos associados previamente à alimentação do animal.

Sua pesquisa demonstrou que funções autônomas, tais como a salivação frente à alimentação, poderiam ser condicionadas de forma que a salivação pudesse ser eliciada por outros estímulos diferentes do alimento, tal como um sinal luminoso.

Um experimento típico de condicionamento era realizado da seguinte maneira: o estímulo

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neutro (uma luz, por exemplo) é apresentado (neste caso, acesa). Imediatamente se apresenta o estímulo não condicionado (o alimento). Depois de algumas apresentações pareadas, de luz e alimento, o animal saliva ao ver a luz. O animal está então condicionado a responder ao estimulo condicionado. Está formada uma associação ou vínculo entre a luz e o alimento.

A aprendizagem ou o condicionamento só ocorre se a luz for seguida pelo alimento algumas vezes.

Para Pavlov, portanto, a aprendizagem consistia na formação de uma associação entre um estímulo e uma resposta aprendida através da contigüidade.

O processo que Pavlov empregou é chamado de condicionamento clássico, através de sua obra, ele introduziu uma terminologia mais precisa e objetiva no estudo da aprendizagem. Ele demonstrou que processos mentais superiores podiam ser estudados em termos fisiológicos com o uso de sujeitos animais, sem referência à consciência.

Percebemos que desde os primeiros momentos da psicologia animal, na obra de Romanes e Morgan há um movimento constante no sentido de uma maior objetividade em termos de objeto de estudo e de metodologia. Os primeiros trabalhos do campo utilizaram os conceitos de consciência e processos mentais empregando métodos de pesquisa que também eram subjetivos.

No início do século XX, contudo, o objeto de estudo e a metodologia da psicologia animal eram totalmente objetivas.

Secreções glandulares, reflexos condicionados, atos, comportamentos, esses termos não deixavam dúvidas de que a área finalmente se livraria do seu passado subjetivo.

Dessa maneira, a psicologia animal iria servir de modelo para o Behaviorismo, cujo líder preferia claramente sujeitos animais ao invés de humanos em sua pesquisa psicológica.

O BEHAVIORISMO

John Watson

O Behaviorismo como sistema de psicologia. Foi pela primeira vez anunciado por John B. Watson (1878 - 1958) num artigo - “A psicologia como o Behaviorista a Vê” (1913).

Para Watson a psicologia deveria ser a ciência do comportamento, e não o estudo introspectivo da consciência, e sim um ramo experimental puramente objetivo das ciências naturais, tendo como objetivo teórico à predição e controle do comportamento. A nova psicologia descartaria todos os conceitos mentalistas e só usaria conceitos comportamentais como estímulo (ambiente, excitações que agem sobre o organismo) e resposta (reação do organismo).

Por comportamento Watson entendia o movimento de músculos e atividades glandulares.

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Dizia que herdamos apenas nossa estrutura física e uns poucos reflexos. Todas as demais diferenças entre nós são atribuídas à aprendizagem.

Argumentava que toda a aprendizagem dependia do meio externo, que toda atividade humana é condicionada e condicionável a despeito da variação na constituição genética.

Watson apoiou a posição ambientalista. A natureza humana para ele seria grandemente sujeita a mudanças e praticamente não há limite para o que o homem pode tornar-se.

Mesmo aceitando e usando em sua pesquisa princípios do condicionamento, ele continuou a acentuar a repetição, a freqüência e a recenticidade como fatores primordiais da aprendizagem, ignorando o reforço ou a recompensa.

Watson sugeriu que as emoções eram somente respostas corporais a estímulos específicos, podendo as mesmas ser condicionadas.

Num estudo, hoje clássico, Watson investigou os estímulos que produzem respostas emocionais em bebês. Ele propôs três emoções fundamentais nos bebês: medo, raiva e amor.

O medo é produzido por sons fortes e pela perda súbita de apoio; a raiva é gerada pelo impedimento dos seus movimentos espontâneos; o amor vem de carícias na pele, embalos e afagos.

Ele acreditava que essas emoções eram as únicas respostas emocionais não aprendidas. As outras respostas emocionais humanas se formam a partir dessas três por meio do processo de condicionamento, isto é, elas podem se ligar a outros estímulos que originalmente não podiam suscitá-las.

Em relação ao pensamento, Watson alegava que este, assim como todos os outros aspectos do funcionamento humanos, têm que ser um comportamento sensório-motor de alguma espécie. Ele raciocinou que o pensamento envolve reações ou movimentos implícitos de fala, da língua e da laringe.

O primeiro estágio da evolução do Behaviorismo, o Watsoniano, durou de 1913 a mais ou menos 1930.

O segundo, o Neobehaviorismo, pode ser datado de 1930 a 1960 e inclui os trabalhos de Edward C. Tolman, B.F. Skinner, entre outros.

Edward Tolman

Um dos primeiros adeptos do Neobehaviorismo, Edward Tolman (1886-1959), não era watsoniano. Em primeiro lugar, ele não se interessava pelo estudo do comportamento em nível molecular, em termos de conexões estímulo-resposta. Ao contrário de Watson, ele não se preocupava com unidades elementares de comportamento, as atividades dos nervos, músculos e glândulas.

O seu foco era o comportamento molar, as ações de resposta total do organismo inteiro.

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Nesse aspecto, seu sistema combina conceitos comportamentalistas e gestaltistas.

Uma segunda diferença, e o principal pilar do sistema de Tolman, é a noção de comportamento intencional. A intenção no comportamento, dizia ele, pode ser definida em termos comportamentais objetivos sem recorrer a introspecção nem a relatos de como o organismo poderia “sentir-se” com relação a uma experiência.

Parecia-lhe evidente que todo comportamento está voltado para algum alvo. Todo comportamento se orienta para a realização de algum objetivo, isto é, o organismo aprende os meios para atingir uma finalidade. Em outras palavras, um rato aprende a encontrar a saída de um labirinto, e isto constitui uma prova comportamental altamente objetiva de intenção.

Os Watsonianos se apressaram a criticar a atribuição de intenção ao comportamento porque, diziam, ela tinha de se basear no pressuposto da consciência. Tolman explicou que pouca diferença fazia se o organismo tinha ou não consciência.

Tolman postulava um conjunto de fatores inferidos e não observados: as variáveis intervenientes. Trata-se dos reais determinantes do comportamento. Essas variáveis são os processos internos que conectam a situação de estímulo com a resposta observada. O enunciado S-R (estímulo - resposta) deve ser agora S-O-R (estímulo-organismo-resposta).

A variável interveniente é o que está acontecendo em O (o organismo) que provoca uma dada resposta comportamental diante de um estímulo dado.

Um exemplo clássico de variável interveniente é a fome que não pode ser vista numa pessoa ou num animal de laboratório. Contudo, é possível relacioná-la precisa e objetivamente com uma variável experimental como a extensão do tempo transcorrido desde a última vez que o organismo foi alimentado.

Tolman acreditava que todo comportamento, animal ou humano, é passível de ser modificado por meio da experiência. Portanto, a aprendizagem tem um papel importante em seu behaviorismo intencional.

O trabalho de Tolman teve uma grande influência na psicologia, em particular, na área da aprendizagem, e seu impacto é reconhecido hoje no movimento cognitivo.

B.F. Skinner

B. F. Skinner (1904 - 1990) foi por décadas, a partir dos anos 50, o mais influente indivíduo no campo da psicologia. São muito amplas suas áreas de interesse em sua longa carreira, bem como suas implicações para a sociedade moderna.

Ele desenvolveu um programa para o controle comportamental da sociedade, inventou um berço automático para cuidar de bebês e foi o principal responsável pela introdução das técnicas de modificação do comportamento e das máquinas de ensinar. Escreveu um romance (Walden Two) que continua a ser popular mais de 40 anos depois de sua primeira publicação.

Skinner defendia um sistema estritamente empírico, sem um quadro teórico de

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referência. Skinner evitava a teoria e preferia praticar um positivismo estrito. Começava com dados empíricos e trabalhava cuidadosa e lentamente, na elaboração de generalizações conjeturais. Seu tipo, exclusivamente descritivo, de comportamentalismo radical se dedica ao estudo das respostas e volta-se para descrever, e não para explicar, o comportamento.

Ele só se ocupava do comportamento observável e acreditava que a tarefa da investigação científica se traduz em estabelecer relações funcionais entre as condições de estímulo controlados pelo experimentador e a resposta subseqüente do organismo.

O organismo humano, dizia Skinner, é uma máquina, e o ser humano, como qualquer outra máquina, se comporta de maneiras previsíveis e regulares em resposta as forças externas, os estímulos, que o afetam.

Skinner não se interessava nem um pouco por teorizar ou especular sobre o que pode estar ocorrendo no interior do organismo. Seu programa não inclui pressupostos sobre entidades internas, descritas quer como variáveis intervenientes ou como processos fisiológicos. O que quer que aconteça entre o estímulo e a resposta não representa, para um comportamentalista Skinneriano, dados objetivos.

Esse comportamentalismo descritivo estrito tem sido chamado, de abordagem do “organismo vazio”, atuamos a partir de forças do ambiente, do mundo exterior, e não de forças interiores.

Skinner enfatiza o comportamento operante, em oposição ao respondente. Na situação de condicionamento pavloviano, um estímulo conhecido é associado a uma resposta em condições de reforço. A resposta comportamental é suscitada por um estímulo observável específico; Skinner dava-lhe o nome de comportamento respondente (comportamento reflexo).

O comportamento operante ocorre sem nenhum estímulo externo observável. A resposta do organismo é aparentemente espontânea - no sentido de não estar relacionada com nenhum estímulo observável. Isso não significa que não haja de fato um estímulo suscitando a resposta, mas sim que não se detecta nenhum estímulo quando da ocorrência da resposta.

Outra diferença entre o comportamento respondente e o operante é que este último opera no ambiente do organismo, ao passo que o respondente não (é controlado em situação experimental).

O comportamento operante é fortalecido ou enfraquecido pelos eventos que seguem a resposta. Enquanto o comportamento respondente é controlado por seus antecedentes, o comportamento operante é controlado por suas conseqüências. O condicionamento depende do que acontece depois que o comportamento termina.

Skinner elaborou a “Lei da Aquisição”, segundo a qual a força de um comportamento operante aumenta quando ele é seguido pela apresentação de uma recompensa ou reforço.

Skinner fez muitas pesquisas sobre problemas de aprendizagem, tais como o papel da punição na aquisição de respostas, o efeito de diferentes programas de reforço, a extinção da resposta operante, o reforço secundário e a generalização.

O programa de Skinner de modificação do comportamento para uma sociedade baseada

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no reforço positivo é apenas ficção, mas o controle ou modificação do comportamento de pessoas e pequenos grupos é muito difundido.

A modificação do comportamento mediante o reforço positivo é uma técnica popular em muitas instituições (escolas, hospitais, indústrias). Um núcleo leal de Skinnerianos permanece ativo na tradição comportamentalista radical promovida por Skinner, mas sua popularidade e influência, alcançaram um ponto de estagnação na década de 80.

Em 1987, Skinner admitiu que sua forma de psicologia comportamentalista estava perdendo terreno e que a abordagem cognitiva estava em ascensão.ROTEIRO DE ESTUDOS

1) Explique a influência de Darwin sobre o Behaviorismo.2) Explique a contribuição de Romanes na Psicologia Animal.3) Explique a contribuição de Morgan na Psicologia Animal.4) Explique a importância de Loeb para a Psicologia Animal.5) Descreva a influência de Thorndike na Psicologia Animal.6) Descreva a influência de Pavlov na Psicologia Animal.7) Explique como se deu a fundação do Behaviorismo.8) Qual é o objeto de estudo do Behaviorismo?9) O que Watson entendia por comportamento?10) Qual foi a posição de Watson?11) Segundo Watson o que é emoção?12) Segundo Watson o que é pensamento?13) Quais as diferenças fundamentais entre o Behaviorismo de Watson e o de Tolman?14) Explique o que é a variável interveniente.15) Explique a posição metodológica de Skinner.16) Explique as diferenças entre comportamento respondente e operante.17) Explique o que era a lei de aquisição.

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