A Diferença Entre Conservadores e Radicais Utópicos (Revolucionários e Reacionários)

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    A diferena entre conservadores e

    radicais utpicos (revolucionrios e

    reacionrios).

    PorCarlos Gabriel Cunha

    - 24 de janeiro de 2016

    Usei como principal referncia para escrever este artigo o captulo A ideologia

    conservadora, presente no ensaioAs ideias conservadoras, publicado por Joo Pereira

    Coutinho.

    Era o ano de 1789, quando os radicais jacobinos praticaram a violenta Revoluo Francesa. Efoi neste perodo que surgiu um importante nome para o conservadorismo moderno:

    Edmund Burke (1729-1797). Em 1789, Burke escreveu suas Reflexes sobre a Revoluo na

    Frana, e nesta importante obra, ele se apresentou contra a radicalidade de quem procura

    destruir o presente para inscrever, sobre as suas runas, novas formas de organizao

    poltica (como seus inimigos jacobinos fizeram). Nesta mesma obra, Burke tambm previu

    os abusos violentos que os revolucionrios jacobinos inevitavelmente plantariam na Frana.

    Foi atravs desta reao de Burke contra as atitudes revolucionrias, que o conservadorismo

    se firmou como resposta antirrevolucionria e antiutpica tambm.

    No ensaio Sobre ser conservador, publicado no ano de 1956, Michael Oakeshott apresenta o

    conservadorismo como uma disposio, isto , uma forma de ser e agir que levar o

    http://olharatual.com.br/author/carloscunha/
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    conservador a usar e desfrutar aquilo que est disponvel, em vez de desejar ou procurar

    outra coisa. Conservar a famlia, os amigos, lugares, livros, memrias ou alguma outra coisa

    que estimamos fundamental. Por esse motivo, a pessoa de disposio conservadora tende

    a valorizar primeiro esses confortos do presente. E tais confortos so valorizados e

    preservados no porque eles sejam superiores a uma alternativa hipottica, mas,

    precisamente, porque eles no so uma alternativa hipottica. So reais, tangveis e

    familiares. E a possibilidade de os perder em situaes de mudana, e sobretudo de

    mudana violenta e repentina, afigura-se como uma privao fundamental.

    Oakeshott escreveu neste mesmo ensaio citado acima que

    Ser conservador, ento, preferir o familiar ao desconhecido, o testado ao nunca

    testado, o fato ao mistrio, o atual ao possvel, o limitado ao ilimitado, o prximo

    ao distante, o suficiente ao abundante, o conveniente ao perfeito, o riso presente

    felicidade utpica..

    possvel encontrar radicais utpicos nos dois extremos do horizonte poltico. Enquanto o

    revolucionrio deposita sua f no futuro, o reacionrio deposita sua f no passado. Ambos

    possuem interesse em fazer um corte com o presente. Ambos preferem acreditar na

    felicidade utpica. O revolucionrio acredita na felicidade utpica do futuro e o reacionrio

    na felicidade utpica do passado. Nas palavras de Anthony Quinton, o reacionrio no ser

    mais do que um revolucionrio do avesso. A ideologia revolucionria no deseja apenasinterpretar o mundo, mas, sobretudo, transform-lo.

    O pensamento utpico sempre projetou no passado ou no futuro a soluo mgica final

    para acabar com as injustias do presente. Conceptualmente, reacionrios e revolucionrios

    possuem um ponto de convergncia: ambos atribuem s suas particulares utopias as

    mesmas aparncias exteriores: um mundo harmonioso, esttico e onde os homens, porque

    dotados de uma natureza fixa e inaltervel, desejam necessariamente as mesmas coisas. As

    teorias revolucionrias partem da falsa premissa de que os homens possuem uma naturezafixa e inaltervel e que, por esse motivo, desejam necessariamente as mesmas coisas. Por

    isso elas no passam de meras fantasias.

    O homem conservador (ou a mulher conservadora) tende a recusar qualquer ideologia

    revolucionria ou reacionria. Tal como os homens de disposio conservadora, o

    conservadorismo poltico tambm transportar para a esfera da governana esse gosto pelo

    prximo, pelo suficiente, pelo familiar, pelo conveniente recusando as felicidades utpicas

    que so tpicas dos revolucionrios e reacionrios. Mas o conservadorismo poltico no se

    limita apenas a recusar esses apelos utpicos, que fazem da fuga para o futuro (ou para o

    passado) um programa de ao no momento presente. O conservador, por compreender o

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    potencial de violncia e desumanidade que a poltica utpica transporta, tender a reagir

    defensivamente a tais apelos.

    A histria nos ensinou que os revolucionrios so capazes de fazer qualquer coisa em nome

    da causa utpica deles. Por isso, quando est em causa a perfeio da humanidade, faz

    parte do processo revolucionrio no questionar a incivilidade dos meios e a ferocidade com

    que eles so aplicados. Por isso eles no possuem apreo pela verdade e, muitas vezes,

    apelam para meios criminosos para tentar colocar em prtica suas fantasias utpicas. Por

    esses motivos, no sou um revolucionrio, no sou um reacionrio, no sou um comunista,

    no sou um libertrio. Sou conservador. Prefiro manter meus ps no cho do que flutuar

    numa utopia.

    Referncias bibliogrficas:

    Burke, E. Reflexes sobre a Revoluo na Frana (1790).

    Oakeshott, M. Sobre ser conservador (1956).

    Coutinho, J. As ideias conservadoras (2014).

    Carlos Gabriel Cunha

    Estuda na Universidade de So Paulo (USP) e est cursando a graduao de licenciatura em matemtica.

    Entre seus interesses esto a matemtica, assuntos relacionados educao, poltica, economia, histria ecultura.

    https://web.facebook.com/profile.php?id=100009575585667http://olharatual.com.br/author/carloscunha/